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DESCARTE CLANDESTINO DE ESGOTO IN NATURA NO CÓRREGO DO


ANDRÉ, MIRASSOL D’ OESTE – MT

Andreia Fernanda Lemes Rojas 1

Karla Sarti Miranda Davantel2

Mirela Damacena3

Sarah dos Santos Chagas4

1. INTRODUÇÃO

O consumo de água potável vem aumentando consideravelmente em


todo o mundo, sendo sua utilização necessária para praticamente todas as
áreas de desenvolvimento humano, desde os processos de produção até
atividades domiciliares corriqueiras. Em contrapartida ao aumento do consumo,
os níveis de águas destinadas a esses fins não aumentaram.

Tecnologias empregadas no tratamento da água potável que permitem a


sua reutilização estão ganhando destaque no cenário global. Países
industrializados como os da Europa e Ásia, que ao contrário do Brasil não
possuem recursos hídricos abundantes, utilizam de ferramentas que permitem
a reutilização na água no ambiente urbano para atividades que não demandam
de água potável (MANCUSO e SANTOS, 2003).

Para Leoneti, Prado e Oliveira (2011) um dos meios para prevenir a


escassez dos recursos hídricos é o investimento em saneamento e tratamento
do esgoto sanitário por meio de estações de tratamento de esgoto, uma vez
que o esgoto corresponde a aproximadamente 80% da água utilizada, podendo
ser de origem doméstica, industrial entre outros. A água recuperada por essas
1
Acadêmica do curso de Direito da Faculdade Católica Rainha da Paz (FCARP), Araputanga, Mato
Grosso.
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Acadêmica do curso de Direito da Faculdade Católica Rainha da Paz (FCARP), Araputanga, Mato
Grosso.
3
Acadêmica do curso de Direito da Faculdade Católica Rainha da Paz (FCARP), Araputanga, Mato
Grosso.
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Acadêmica do curso de Direito da Faculdade Católica Rainha da Paz (FCARP), Araputanga, Mato
Grosso.
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estações poderá ser utilizada em diversas finalidades, tais como irrigação de


praças, ruas, uso paisagístico, descarga de toaletes, combate a incêndios. No
setor agrícola o uso de esgoto tratado vem se tornando importante aliado nas
políticas e estratégias de gestão dos recursos hídricos. A reutilização da água
tratada diminuiria significativamente o consumo da água potável para tais fins.

A deficiência no sistema de tratamento do esgoto sanitário afeta


diretamente a saúde e as condições de vida da população, principalmente em
países em desenvolvimento, transformando-se em um dos maiores problemas
ambientais e de saúde pública. As doenças infecciosas representam um alto
índice de morbidade e mortalidade, sendo um importante indicativo da
precariedade dos sistemas públicos sanitários (TEIXEIRA e PUNGIRUM,
2005). Além do mais o descarte irregular de esgoto não tratado causa impactos
severos à vida aquática e ao meio ambiente num todo (PIMENTA et. al.,2002).

Considerando que a água é um dos recursos naturais mais importantes


que a sociedade dispõe, sendo indispensável para a sobrevivência, foi
pensando nesta problemática que se decidiu por esta pesquisa sobre o
“Descarte Clandestino do Esgoto in natura no Córrego do André”, quais as
políticas de saneamento básico implantadas, a coleta, a estação de tratamento
de esgoto, se o sistema é eficaz e atende as necessidades no município de
Mirassol D’Oeste.

Observa-se que no município de Mirassol D’Oeste - MT, o sistema de


coleta e tratamento de esgoto ainda é precário. Apenas uma pequena parcela
do esgoto produzido diariamente é coletada e uma parcela ainda menor recebe
tratamento antes de ser devolvido ao meio ambiente.

Partindo deste pressuposto, o presente trabalho tem por objetivo


analisar o precário tratamento de esgoto sanitário do município de Mirassol
D’Oeste - MT, em especial, sobre o descarte in natura desse esgoto no
Córrego do André, apontando medidas judiciais disponíveis ao caso.

Como se sabe, o Direito Ambiental tem por meta a proteção do direito


fundamental, indisponível e intergeracional relativo à fruição do meio ambiente
ecologicamente equilibrado, essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se
ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
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presentes e futuras gerações, nos exatos termos do que dispõe a Constituição


Federal de 1988 em seu artigo 225, caput.
A abordagem empregada na construção do presente trabalho foi a do
método qualitativo, que, segundo Gerhardt e Silveira (2009, p.32) “preocupa-
se, portanto, com aspectos da realidade que não podem ser quantificados,
centrando-se na compreensão e explicação da dinâmica das relações sociais”,
tendo por característica o empirismo e a subjetividade.

A pesquisa científica resultou de uma investigação minuciosa, sobre o


tema, utilizando-se do procedimento de pesquisa de campo in loco, que
engloba, além da pesquisa bibliográfica e documental, a coleta de dados junto
a pessoas com recursos de diferentes tipos de pesquisa.

Ademais, utilizou-se também do método fenomenológico empírico que,


conforme descrito por Castro e Gomes (2011, pg. 159) “não se restringe à
pesquisa qualitativa. É primordialmente um instrumento de análise lógica e de
confronto à realidade, uma persistente desconfiança sobre o que está posto”.
Neste sentido, através da visita in loco, e da observação por parte de cada
integrante deste grupo de pesquisa e a experiência subjetiva de consciência
individual, por serem todas as integrantes do grupo moradoras no município de
Mirassol D’Oeste, observou-se esse descarte in natura que ocorre no Córrego
do André ao longo dos anos e o descaso da administração pública em tomar
qualquer providência pela via administrativa ou jurídica.

Diante da ineficaz atuação da Administração Pública frente à


problemática do descarte de esgoto in natura que polui os recursos hídricos
disponíveis no Córrego do André, e utilizando-se de instrumentos judiciais e
extrajudiciais para, no mínimo, minimizar a extensão dos danos já causados e
prevenir danos ainda maiores, foi neste contexto que se desenvolveu a
presente pesquisa.

Assim, a presente pesquisa visa propor uma reflexão dentro do cenário


jurídico no âmbito ambiental, apresentar a alternativa legal que visa à solução
desta problemática e ainda propor reflexão sobre a eficácia da atuação jurídica
e os benefícios alcançados com a mesma.
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2. SANEAMENTO BÁSICO E O ESGOTO SANITÁRIO

Saneamento básico pode ser conceituado como um conjunto de ações


socioeconômicos que tem como objetivo promover a saúde e a qualidade de
vida da população, através de serviços de abastecimento de água,
esgotamento e tratamento do esgoto sanitário, manejo de resíduos sólidos,
drenagem das águas pluviais urbanas, etc. (VIEL, 1994).

A Lei 11.445 de 05 de janeiro de 2007, que estabelece diretrizes


nacionais para o saneamento básico, em seu artigo 3º, conceitua saneamento
básico como um conjunto de serviços, infraestruturas e instalações
operacionais de abastecimento de água potável, esgotamento sanitário,
limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, drenagem e manejo das águas
pluviais e limpeza e fiscalização preventiva das respectivas redes urbanas
(BRASIL, 2007)

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (ONU) a cada R$1,00


investido em saneamento básico gera uma economia de R$4,00 em gastos
com saúde. Um sistema de saneamento sanitário carente e até mesmo a
ausência deste, é responsável por aproximadamente 30% de incidência de
doenças nos países em desenvolvimento. A ONU estima que a cada 2,5
minutos uma criança no mundo venha a óbito devido à falta de acesso à água
potável, saneamento e higiene. A diarreia está entre os problemas mais graves
associado a este sistema deficiente e é a segunda maior causa de morte em
crianças abaixo de cinco anos de idade. Estima-se que 1,5 bilhões de crianças
venham a óbito em decorrência de diarreias não tratadas (ONU, 2010). O
principal motivo para essa preocupante realidade é a falta de investimento em
saneamento básico, principalmente no que concerne à coleta e tratamento de
esgoto sanitário.

No Brasil, o sistema de saneamento, em especial a coleta e tratamento


de esgoto sanitário, estão muito distantes do ideal, sendo que, grande parte da
população nem ao menos têm acesso ao serviço, o que demonstra uma grande
desigualdade no país. As consequências dessa deficiência afetam gravemente
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a qualidade de vida da população, principalmente aos menos favorecidos.


Menos de 55% dos municípios brasileiros possuem rede de coleta de esgoto
sanitário e apenas 28% dos municípios tratam esse esgoto coletado (DANTAS
et. al., 2012).

O esgotamento sanitário é definido como um conjunto constituído pelas


atividades, infraestruturas e instalações operacionais de coleta, transporte,
tratamento e disposição final adequados dos esgotos sanitários, desde as
ligações prediais até o seu lançamento final no meio ambiente (BRASIL, 2007).

A composição do esgoto sanitário depende de cada comunidade. É


composto 99,9% de água e 0,1% de substâncias minerais e orgânicas
provenientes de despejos domésticos, industriais e águas de infiltração. O
esgoto doméstico é aquele oriundo do uso pessoal em residências, repartições
públicas e comércio. As águas de infiltração são aquelas que penetram na rede
coletora devido à defeitos nas tubulações, juntas, estruturas dos poços de
visita, etc. Já o esgoto industrial, são os efluentes de industriais, devidamente
tratados, que se admite o descarte na rede de coleta de esgoto (OLIVEIRA,
2006).

O destino mais comum para o esgoto sanitário são as fossas


rudimentares, que correspondem a 53,17%, seguido pela fossa sépticas, com
8,03% e valas a céu aberto e despejo direto em corpos d’água e outras formas
de descarte incorreto. Esse cenário é mais comum em municípios pequenos,
comunidades rurais e com população mais dispersa (LANDAU e MOURA,
2016).

3. SISTEMA DE COLETA E TRATAMENTO DE ESGOTO SANITÁRIO DE


MIRASSOL D’OESTE-MT

O município de Mirassol D’ Oeste está localizado na região Sudoeste do


Estado de Mato Grosso. Conforme o último senso do IBGE o município possui
25.289 habitantes e apresenta PIB per capta em torno de R$23.000,00. A
média salarial da população é de 2.2 salários mínimos mensais e apenas
23.2% são trabalhadores formais (IBGE, 2017).
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Figura 01: Localização do município de Mirassol D’Oeste – MT.

Fonte: IBGE (2017).

Segundo informações do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAEMI)


do município, autarquia municipal (Lei Complementar nº 045/2005) responsável
pelo abastecimento de água e pela coleta e tratamento de esgoto, apenas
34,7% do esgoto produzido por seus habitantes é coletado, e desse total
apenas 25% recebe tratamento (SAEMI, 2018).

O sistema de tratamento do município existe a aproximadamente 30


anos e conta com 27,53km de rede coletora, quatro estações elevatórias
(unidades de bombeamento) e um sistema de lagoas de estabilização,
responsável pelo tratamento do esgoto sanitário urbano. Apresenta cerca de
2.234 ligações de esgoto, com diâmetros variando entre 100mm a 150mm,
sendo os demais atendidos por ações individuais. Após tratamento prévio o
esgoto é descartado no Córrego São Francisco. O restante do município que
não é contemplado com a rede coletora de esgoto sanitário possui sistemas
individuais composto de fossa séptica, algumas ainda rudimentares
(MIRASSOL D’ O’ESTE - MT, 2016).
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Figura 02: Mapa da rede de coleta de esgoto do município de Mirassol


D’ Oeste – MT.

FONTE: Secretaria de Obras de Mirassol D’Oeste – MT (2019)

Figura 03: Localização da Estação de Tratamento de Esgoto e elevatórias .


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FONTE: Mirassol D’Oeste-MT (2016).

Os dados obtidos em campo revelaram que o sistema de tratamento de


esgoto encontra-se em estado de precariedade. As quatro elevatórias
apresentam deficiência em sua infraestrutura funcionando sem a manutenção
devida. Em alguns pontos da cidade o esgoto escorre a céu aberto, como
ocorre próximo a Escola Estadual 12 de Outubro, localizada no Centro da
cidade, lançando grande fluxo de esgoto in natura no Córrego do André, um
efluente do Córrego São Francisco. O córrego do André possui 4km de
extensão, dos quais 1,43km são canalizados e situa-se entre três bairros
populosos, sendo eles Jardim São Paulo, Cohab Parque da Serra e
Bandeirantes II. Suas nascentes situam-se na extensão da Província Serrana
que está inserida no Grupo Alto Paraguai e Complexo Xingu (BARROS e
SOUZA, 2012).

Figura 04: Descarte de esgoto in natura no Córrego do André, próximo à


Escola Estadual 12 de Outubro.

Em pesquisa in loco de todo o percurso que o córrego do André faz ao


longo do município foi possível identificar inúmeras irregularidades no que diz
respeito ao sistema de coleta de esgoto sanitário. São inúmeras ligações
clandestinas que desaguam no curso do córrego contaminando suas águas. É
evidente a falta de manutenção por parte da SAEMI do sistema de
esgotamento sanitário.
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Figura 05: Descarte de esgoto in natura no Córrego do André, Mirassol


D’Oeste – MT.

Figura 06: Descarte de esgoto in natura no Córrego do André, Mirassol


D’Oeste – MT.

Além do descarte de esgoto in natura, foi possível verificar o descarte de


grande volume de lixo doméstico e até mesmo animais mortos, que associado
ao esgoto produz um odor fétido muito forte, que pode ser sentido a uma
distância considerável do córrego.

Figura 07: Descarte de lixo domésticos e animais mortos no Córrego do André,


Mirassol D’Oeste – MT.
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Figura 08: Descarte de lixo domésticos e animais mortos no Córrego do André,


Mirassol D’Oeste – MT.

4. DIPLOMAS JURÍDICOS APLICADOS À TEMÁTICA

Existem inúmeros diplomas legais aplicáveis ao caso em tela, porém


insta destacar os mais relevantes.

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em seu art.


225, caput, dispõe que:
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Art. 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações.

Insta destacar que a carta magna contempla a temática em diversos


artigos, e institui em seu art. 21, inciso XX, que compete a União, por meio de
lei ordinária, instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive
habitação, saneamento básico e transportes urbanos.

O Decreto nº 24.643/1934, que trata sobre o Código de Águas, dispõe


em seu art. 109, que “a ninguém é lícito conspurcar ou contaminar as águas
que não consome, com prejuízo de terceiros” e no art. 110, que os infratores
deverão realizar trabalhos de salubridade, que responderão civil, penal e
administrativamente.

A Lei nº 11.445 de 05 de janeiro de 2007, estabelece a elaboração do


Plano Municipal de Saneamento Básico como instrumento de planejamento
para a prestação de serviços públicos. Estabelece ainda diretrizes para a
Política Federal de Saneamento, determinando que a União elabore o Plano
Nacional de Saneamento Básico (PLANSAB). Em seu art. 2º, inciso III,
determina que:

Art. 2º - Os serviços públicos de saneamento básico serão prestados


com base nos seguintes princípios fundamentais:
(...)
III - abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e
manejo dos resíduos sólidos realizados de formas adequadas à
saúde pública e à proteção do meio ambiente;

No estado de Mato Grosso a Lei nº 7.359/2000, alterada pela Lei n°


7.535/ 2001, autoriza o Estado a conceder incentivos à municipalização dos
sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitário e a Lei nº
7.638/2002 dispõe sobre a política estadual de abastecimento de água e
esgotamento sanitário, cria o Conselho e o Fundo Estadual de Abastecimento
de Água e Esgotamento Sanitário e dá outras providências. Destarte, é
possível notar que o Poder Legislativo do Estado não contemplou a questão do
esgotamento sanitário de forma verticalizada, e sim de forma suscinta sendo
insuficiente em diversos aspectos.
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O município de Mirassol D´Oeste - MT, através da Lei complementar nº


045 de 07 de dezembro de 2005 criou o Serviço Autônomo de Água e Esgoto
(SAEMI) autarquia responsável pelo abastecimento de água e coleta e
tratamento de esgoto. O art. 2º da referida lei dispõe acerca dos objetivos da
SAEMI:

Art. 2º. O Serviço de Saneamento Ambiental de Mirassol D´Oeste


exercerá a sua ação no Município de Mirassol D´Oeste, nos moldes
do Plano de Saneamento Ambiental objetivando:
I - Estudar, projetar, aplicar diretamente ou mediante contrato com
especialistas e organizações especializadas em engenharia sanitária,
de direito público ou privado, as obras relativas à construção,
ampliação, recuperação e remodelação dos sistemas públicos de
abastecimento de água e esgoto sanitário do Município;
II - Administrar, planejar, projetar, gerenciar, operar e manter
diretamente ou mediante contrato com especialistas e organizações
especializadas em engenharia sanitária, de direito público ou privado
os serviços de abastecimento de água, esgotamento sanitário.
III - Gerenciar os serviços relativos a conta, consumo de água e
sistema de esgoto diretamente ou mediante contrato com
especialistas e organizações especializadas em engenharia sanitária,
de direito público ou privado;
IV - Acompanhar o faturamento e arrecadação das taxas e tarifas
decorrentes dos serviços prestados;
V - Promover o treinamento de seu pessoal e promover estudos e
pesquisas para o aperfeiçoamento de seus serviços;
VI - Manter intercâmbio com entidades relacionadas com o campo do
saneamento; VII - Promover atividades voltadas para a preservação
do meio ambiente e combate à poluição ambiental, particularmente
dos cursos d’água do Município, nos limites previstos nesta Lei
Complementar;
VIII - Implementar programas de saneamento rural no âmbito do
Município, mediante o emprego de tecnologia apropriada e de
soluções conjuntas para água-esgoto-módulo sanitário; IX - Exercer
quaisquer outras atividades relacionadas com o saneamento urbano e
rural, desde que assegurados os recursos necessários;
IX - Exercer quaisquer outras atividades relacionadas com o
saneamento urbano e rural, desde que assegurados os recursos
necessários;
X - Promover articulação com os outros setores para o exercício da
política das águas públicas no Município, na forma disposta em
regulamento.
XI – Nos termos da Lei 11107, que dispõe de normas gerais de
contratação de consorcio públicos e dá outras providencias.

Decreto nº 2885/2015, criou o comitê de coordenação e o comitê


executivo e dispõe sobre processo de elaboração da política de saneamento e
do respectivo plano municipal de saneamento básico, com o objetivo de
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desenvolver ações para a participação à sociedade no processo de elaboração


do Plano Municipal de Saneamento Básico.

5. INSTRUMENTOS JURÍDICOS PARA O COMBATE À POLUIÇÃO

Com o intuito de corrigir e prevenir ameaças ou lesões causadas ao


meio ambiente, a Constituição prevê, em seu artigo 225, § 3º, que:

§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio


ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a
sanções penais e administrativas, independente da obrigação de
reparar os danos causados.

O artigo supracitado prevê que atos que atentem contra o meio ambiente
poderão sofrer repercussão jurídica tripla, uma vez que ferem o ordenamento
de três formas, administrativa, civil e penalmente. A responsabilidade
administrativa intenta a prevenção do dano, a responsabilidade civil intenta a
reparação do dano e a responsabilidade penal intenta a repressão ao dano
causado (FIORILLO, 2011).

5.1. Responsabilidade Administrativa

A Lei nº 9.605/2008 (Lei dos Crimes Ambientais), em seu art. 70


considera infração administrativa ambiental como toda ação ou omissão que
viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do
meio ambiente. Segundo Silva e Brauner (2016) trata-se de uma norma penal
em branco, vez que, não traz definição do que vem a ser essas infrações.
Assim, comprovado o nexo de causalidade da conduta ilícita do agente, sendo
ele pessoa física ou jurídica (de direito público ou privado), sofrerá reprimenda
administrativa. Ao agente causador do ilícito é garantido o contraditório e a
ampla defesa.

O Decreto nº 6.514/2008, prevê em seu art. 9º multa para o infrator


ambiental, sendo o mínimo de R$ 50,00 (cinquenta reais) e o máximo de R$
50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais).
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Nesse sentido:

APELAÇÃO. Embargos à execução fiscal. Cobrança de multa


administrativa. Sentença que rejeitou a ação desconstitutiva.
Executado que dispõe de sua própria estação de tratamento de
esgoto ETE, interligada ao sistema da rede coletora de esgoto da
CEDAE. Lançamento incorreto de efluentes provenientes da ETE.
Política nacional do meio ambiente. Responsabilidade do agente
causador de degradação ambiental. Laudo técnico. Aplicação da
Lei federal nº 6.938/81, da Lei federal nº 9.605/98, da Lei estadual nº
5.427/09, do Dec. estadual nº 6.514/08 e do Dec. estadual nº
70.235/72. Auto de infração que não porta vício atraente de nulidade.
Escorreito o aforamento da execução fiscal par a cobrança do valor
da multa administrativa. Processo administrativo que observou o
devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa,
garantias constitucionais do estado democrático de direito
(CF/88, art. 5º, LIV e LV). Precedentes. Recurso a que se nega
provimento (TJ-RJ – APL: 03713808020158190001, Relator: Des (a).
JESSÉ TORRES PEREIRA JÚNIOR, Data de Julgamento:
21/08/2019, SEGUNDA CÂMARA CÍVEL) (grifos nossos).

É de suma importância frisar que a Lei nº 9.433/97, que institui a Política


Nacional de Recursos Hídricos, exige no art. 12, inciso III, outorga para
lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou
gasosos, tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou disposição
final. Portanto, aquele que não possuir outorga para tais fins, estará incurso na
infração administrativamente de que trata o art. 50, do mesmo diploma legal,
estando sujeito a sanções que variam entre advertência, multa e embargo de
atividades.

5.2. Responsabilidade Civil

É no âmbito civil que ocorre a reparação do dano no crime ambiental.


Conforme descrito por Milaré (2011) as normas do direito civil irão funcionar
como mecanismo de tutela e controle da propriedade. Em tais casos,
pressupõe-se prejuízo a terceiro, que gera pedido de reparação do dano, que
consiste em pecúnia ou na obrigação de fazer.

Ainda segundo o autor, para que fique caracterizada a


responsabilidade civil ambiental, de acordo com a teoria objetivista, resta
necessária a prova de que o dano ocorreu e do vínculo causal desse com a
atividade do agente. Tal responsabilidade independe de culpa, sendo
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irrelevante o fato de o agente possuir licenciamento da atividade, cumprimento


de padrões, ocorrência de caso fortuito, basta a conduta e o nexo causal para
que ocorra a responsabilidade de reparação.

O art. 14, § 1º, da Lei de Política Nacional do Meio Ambiente afasta a


responsabilidade subjetiva, ressaltando o sistema de responsabilidade objetiva:

Art. 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação


federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas
necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos
causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os
transgressores:
(...)
§ 1º Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é
o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a
indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a
terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e
dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade
civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.

Alguns doutrinadores, baseados na teoria do risco integral, afirmam que


a responsabilidade civil no Brasil é também solidária. Para Silva (2015, p. 594)
“todos os responsáveis diretos ou indiretos pelo dano causado ao meio
ambiente responderão solidariamente, podendo a obrigação ser reclamada de
qualquer dos devedores”, o que facilita e agiliza que o dano seja reparado.

A reparação civil ao dano ambiental deve ser o mais amplo possível,


para que englobe os danos patrimoniais e não patrimoniais, danos emergentes
e lucros cessantes, de forma que não haja nenhum prejuízo de demais
parcelas, quando a diversos ou eventuais danos (LIMA, 2010).

O Supremo Tribunal de Justiça vem decidindo no mesmo sentido:

PROCESSO CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONSTRUÇÃO DE


TANQUES DE REPRESAMENTO. ÁREA DE PRESERVAÇÃO
PERMANENTE. AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DOS DISPOSITIVOS
LEGAIS AFRONTADOS. SÚMULA 284/STF. NECESSIDADE DE
REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO PROBATÓRIO. SÚMULA
7/STJ. 1. A parte recorrente cita genericamente infringência a norma,
sem apontar com clareza o dispositivo legal desrespeitado, tampouco
o cotejar com a decisão recorrida para demonstrar a alegada
contrariedade. Incide a vedação de admissibilidade preceituada na
Súmula 284/STF no ponto recursal, segundo a qual: "É inadmissível o
recurso extraordinário, quando a deficiência na sua fundamentação
não permitir a exata compreensão da controvérsia." 2. Ainda que a
violação diga respeito a dispositivos do Decreto-Lei 58/1937 e da Lei
12.651/2012, mencionados en passant na peça recursal, a
irresignação não merece prosperar, uma vez que o Tribunal de
origem não emitiu juízo de valor sobre tais dispositivos. O Superior
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Tribunal de Justiça entende ser inviável o conhecimento do Recurso


Especial quando os artigos tidos por violados não foram apreciados
pelo Tribunal a quo, a despeito da oposição de Embargos de
Declaração, haja vista a ausência do requisito do prequestionamento.
Incide, na espécie, a Súmula 211/STJ. 3. O Tribunal de origem
dispôs: "[...] a apelante é a legal proprietária dos lotes nº 69 e 78 [...]
Durante o inquérito civil apurou-se que houve a lavratura de contrato
de compra e venda com a corré Eva Germano da Cruz, referente aos
dois lotes (fls. 126/160), sendo transmitida somente a posse precária
(cláusula sétima dos contratos). A recorrente noticiou que voltou a
gozar de todos os direitos de propriedade sobre o lote 78 e, em
1º/10/2013, esse lote foi objeto de instrumento de compra e venda
(fls. 448/450), ou seja, após ter sido citada nesta demanda houve a
transmissão, mas não da propriedade, e sim da posse precária do
bem (cláusula quarta do contrato de fls. 448/450). Portanto, dos
contratos avençados é que se extrai o cabimento da responsabilidade
da recorrente na forma solidária, pois continua sendo proprietária
tanto do lote 78 quanto do lote 69. De se destacar que a última
avença relativa ao lote 78 ocorrera após a citação, quando já havia
ação em andamento, não sendo obrigatória a inclusão do novo
adquirente no polo passivo até porque, por se tratar de
responsabilidade solidária, a obrigação pode ser requerida tanto
da proprietária quanto do possuidor direto, alternativa ou
cumulativamente. Nesse sentido é a legislação ambiental, como
se verifica das disposições do artigo 14, § 1º, da Lei 6.938/81,
recepcionado pelo artigo 225, § 3º da Constituição Federal, que
institui a responsabilidade objetiva e solidária. Ante tal contexto,
não se verifica qualquer dúvida na sentença impugnada; a recorrente
também é responsável pela reparação ambiental dos dois lotes". 4.
As conclusões a que chegou o Tribunal a quo se basearam no
conjunto fático-probatório dos autos, e sua revisão é vedada em
Recurso Especial, como dispõe a Súmula 7 do STJ. 5. Recurso
Especial não conhecido (STJ – RESP 1.713.532 – SP, Relator: Min.
Herman Benjamin, J. 06/06/2019) (grifos nosso).

Quanto ao Poder Público, sua discricionariedade administrativa não


configura caráter lícito na conduta omissiva que cause lesão ao meio ambiente.
A luz da Constituição é dever do Poder Público promover a defesa do meio
ambiente, não podendo causar poluição, atividade proscrita e que cause danos
à sociedade (SILVA, 2015). Contudo, é um dos principais agentes causadores
de danos ambientais no país, seja por ação ou omissão, direta ou
indiretamente, negligenciando seu dever de proteger os bens e recursos
ambientais.

Segundo o magistrado Álvaro Luiz Valery Mirra (2010), que aborda a


temática de forma profunda, são inúmeros os casos que chegam aos tribunais
onde o Poder Público figura como agente ativo da lesão ambiental, casos como
a poluição de rios e corpos d’água pelo lançamento de efluentes e esgotos
urbanos industriais sem o devido tratamento.
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AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL - DESPEJO DE ESGOTOS "IN


NATURA" EM LEITOS DE RIOS E CÓRREGOS DA REGIÃO -
JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE - CERCEAMENTO DE
DEFESA INOCORRENTE. O julgamento antecipado da lide não
caracteriza cerceamento de defesa, porquanto a prova destina-se ao
Juiz, a quem compete indeferir a produção daquelas reputadas
inúteis, desnecessárias e protelatórias. AÇÃO CIVIL PÚBLICA
AMBIENTAL - DESPEJO DE ESGOTOS "IN NATURA" EM LEITOS
DE RIOS E CÓRREGOS DA REGIÃO. A remessa de esgoto "in
natura", isto é, coletado das residências e sem tratamento, no
leito de rios e córregos da região é incontestavelmente atividade
poluidora em alto grau, descabida a discussão sobre ser o
esgoto lançado tóxico ou não porque esgoto, seja doméstico ou
industrial, é poluente e degradante do meio ambiente, da
condição humana e da saúde pública, devendo ser tomadas
medidas necessárias para cessar tal atividade devastadora, bem
assim para recompor os danos já causados, nada importando
tratar-se o ente poluidor de entidade de economia mista cujo
maior acionista é o Estado, eis que sujeito às mesmas normas
que o particular. RECURSO AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO.
(TJSP, Apelação Com Revisão 0172902-52.2006.8.26.0000; Relator
(a): Regina Capistrano; Órgão Julgador: N/A; Foro de Tabapuã - 1.
VARA DISTRITAL; Data do Julgamento: 12/06/2008; Data de
Registro: 20/06/2008) (grifo nosso).

A Constituição de 1988, prevê expressamente duas ações


que são essenciais à efetiva proteção do meio ambiente: a Ação Civil
Pública e Ação Popular Ambiental. A Ação Civil Pública, sem sombra de
dúvida, é o instrumento processual de maior importância, que permite
que os legitimados ativos bisquem a cessação da ação lesiva ao meio
ambiente, a recuperação de áreas degradas e o pagamento pecuniário
de reparação em decorrência de dano ambiental. O Ministério Público,
conforme o art. 129, inciso III, da Constituição, tem legitimidade para o
ajuizamento da demanda (SILVA, 2015).

5.3. Da Responsabilidade Penal

O crime ambiental pode ser caracterizado como todo e qualquer


dano ocasionado ao meio ambiente em sua flora, fauna, recursos
naturais e patrimônio cultural, que firam a Lei de Crimes Ambientais nº
9.605 de 13 de fevereiro de 1998, a qual tutela o meio ambiente e
embasa as sanções penais e administrativas a serem aplicadas as
condutas lesivas ao meio ambiente.
18

Em regra, as penas cominadas com a lei supracitada, não


ultrapassam quatro anos, mas tem grande importância, pois punem as
pessoas físicas, não através do encarceramento, mas sim com penas
restritivas de direitos, sendo elas: prestação de serviços à comunidade,
interdição de direitos, suspensão parcial ou total de atividades,
prestação pecuniária e recolhimento domiciliar.
A responsabilização das pessoas jurídicas através da Lei Crimes
Ambientais nº 9.608 de 1998 pode ser vista como uma inovação para a
punição na esfera penal, pois através dela, passou-se a ter um olhar
para a responsabilidade das empresas, visto que a poluição, o
desmatamento intensivo, a caça, a pesca predatórias, não são
realizados em pequena escala, mas podendo ser notados como crimes
corporativos, devido as sua extensão e prejuízos ambientais.
De acordo o artigo da Revista de Direito Mackenzie:

A experiência brasileira mostra uma omissão enorme da


Administração Pública na imposição de sanções administrativas
diante das agressões ambientais. “A possibilidade de serem
responsabilizadas penalmente as pessoas jurídicas não irá
desencadear uma frenética persecução penal contra as empresas
criminosas” (MACHADO, 2012, p. 826). Tentar-se-á, contudo, impor
um mínimo de corretivo, para que a nossa descendência possa
encontrar um planeta habitável. (MACKENZIE, P.07).

Para detalhar um pouco a Lei de Crimes Ambientais nº 9.605 de


13 de fevereiro de 1998 é composta por 82 artigos. Os Crimes Contra a
Fauna estão previstos nos artigos 29 a 37, segue o caput:
“Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna
silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão,
licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo
com a obtida”.

Já os Crimes Contra a Flora estão dispostos nos artigos 38 a 53,


conforme elucida o caput “Art. 38. Destruir ou danificar floresta
considerada de preservação permanente, mesmo que em formação, ou
utilizá-la com infringência das normas de proteção”.

Referente à poluição e outros crimes, estão elencados nos artigos


54 a 61. Consoante o caput do Artigo 54: “Causar poluição de qualquer
natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à
19

saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a


destruição significativa da flora”.

No que diz respeito aos Crimes Contra o Ordenamento Urbano e


Patrimônio Cultural, estão comtemplados nos artigos 62 a 65 da referida
lei e tutelam a destruição, inutilização e deterioração.

Em seguida, nos Crimes Contra a Administração Ambiental estão


elencados nos artigos 66 a 79. Posteriormente segue a partir do artigo
70 a 76, que tratam da Infração Administrativa. Após nos artigos 77 a 82,
versam sobre a Cooperação Internacional para a Preservação do Meio
Ambiente, sendo que dispõe o caput do artigo 77:

“Art. 77. Resguardados a soberania nacional, a ordem pública e os


bons costumes, o Governo brasileiro prestará, no que concerne ao
meio ambiente, a necessária cooperação a outro país, sem qualquer
ônus, quando solicitado para”.

No âmbito criminal a conduta para responsabilizar quem polui


encontra respaldo no artigo 54 da lei anteriormente detalhada, onde
sanciona a ação de quem polui de qualquer ordem e resultem prejuízos
à saúde humana, provoque a mortalidade de animais ou a destruição
significativa da flora.

Destarte, a Ação Penal Pública constitui uns dos principais


instrumentos jurídicos adequados para responsabilizar quem polui ou
degrada o meio ambiente, conforme dispõe o artigo 3º da Lei 9.605.

Colhe-se, a propósito, da jurisprudência neste sentido:

PENAL. CRIME AMBIENTAL. CAUSAR POLUIÇÃO AO MEIO


AMBIENTEMEDIANTE O LANÇAMENTO DE ESGOTO EM ARROIO.
MATERIALIDADE EAUTORIA. - Suficiente para configuração da
materialidade e autoria do artigo 54,caput, §4º, incisos IV e V,
da Lei 9.605/98 a prova de que dejetos oriundos da
atividade de um hotel administrado pelo acusado eram lançados em
arroio fluvial apresentando índices de coliformes fecais acima
do permitido em Resolução do CONAMA. (TRF4 - APELAÇÃO
CRIMINAL - Processo: 200072040015318 UF:SC Órgão Julgador:
OITAVA TURMA - Data da decisão: 23/02/2005 - Rel. JuizLuiz
Fernando Wowk Penteado).CRIMINAL. CRIME AMBIENTAL
PRATICADO POR PESSOA JURÍDICA.RESPONSABILIZAÇÃO
PENAL DO ENTE COLETIVO. POSSIBILIDADE.7 Crimes contra
a natureza. São Paulo: Revista dos Tribunais, 6. ed. 1999, p. 180.7
20

PREVISÃO CONSTITUCIONAL REGULAMENTADA POR LEI


FEDERAL.OPÇÃO POLÍTICA DO LEGISLADOR. FORMA DE
PREVENÇÃO DE DANOSAO MEIO-AMBIENTE. CAPACIDADE
DE AÇÃO. EXISTÊNCIA JURÍDICA.ATUAÇÃO DOS
ADMINISTRADORES EM NOME E PROVEITO DA
PESSOAJURÍDICA. CULPABILIDADE COMO
RESPONSABILIDADE SOCIAL. CO-RESPONSABILIDADE.
PENAS ADAPTADAS À NATUREZA JURÍDICA DOENTE
COLETIVO. RECURSO PROVIDO. . Hipótese em que pessoa jurídica
dedireito privado, juntamente com dois administradores, foi
denunciada por crimeambiental, consubstanciado em causar
poluição em leito de um rio, através delançamento de
resíduos, tais como, graxas, óleo, lodo, areia e produtos
químicos,resultantes da atividade do estabelecimento comercial. (STJ
- RESP 564960 – Rel.Min. Gilson Dipp, J. 02/06/2005).

Podemos dizer que o Ministério Público é um dos órgãos


fundamentais para a atuação na proteção ao meio ambiente, sua
atuação se dá da seguinte forma: chegando ao conhecimento do
promotor de justiça a ocorrência de descarte in natura nos rios, o órgão
deverá instaurar por portaria, procedimento administrativo ou inquérito
policial com o fito de verificar a ocorrência e se o município dispõe de
tratamento de seus efluentes sanitários, determinando que se oficie a
administração pública para que informe sobre o atual sistema de coleta e
tratamento de esgoto, inclusive cópia da legislação municipal pertinente.

Após, poderá notificar o prefeito e reduzir a termo suas


declarações sobre o problema em questão. Em seguida, detectada a
ausência ou a deficiência do sistema de coleta e tratamento do esgoto e
os danos ambientais causados através de perícia técnica, o promotor de
justiça deverá tomar as medidas que lhe competem para a
responsabilização dos agentes degradadores, mediante a assinatura do
Termo de Ajustamento de Conduta, em regra preferível, ou Ação Civil
Pública.

Posto isso, os fatos ilícitos devem ser comunicados aos órgãos


ambientais competentes a exemplo a SEMA/MT - Secretaria Estadual de
Maio Ambiente do Estado de Mato Grosso, para a adoção das medidas
administrativas pertinentes.

No que diz respeito à responsabilidade penal por crime ambiental,


será oficiado à Procuradoria de Crimes de Prefeitos Municipais para
cientificá-los dos crimes pelo chefe do Poder Executivo Municipal. Não
21

sendo o agente beneficiado por foro de prerrogativa de função, poderá o


promotor oferecer a denúncia.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme o disposto acima, podemos observar a importância em


se preservar o meio ambiente e o quanto ainda estamos vulneráveis a
ação do homem, que polui sem medidas e sem pensar nas futuras
gerações.

O lançamento do esgoto in natura no Córrego do André no


município de Mirassol D’Oeste se mostra como um grande problema,
gerando consequências preocupantes para o meio ambiente e a saúde
da população. Através desta pesquisa e visita in loco pode-se verificar
que o sistema de tratamento de esgoto em Mirassol D’Oeste é precário,
e que o poder público municipal tem feito poucos investimentos para
prevenir para que isso ocorra e mitigar o que já se encontra deficitário há
muitos anos.

Em hipótese alguma o nosso ordenamento jurídico concebe a


poluição das águas, com o lançamento de esgoto sem o prévio
tratamento. Assim cabe aos entes públicos fiscalizadores, e órgãos
competentes como, por exemplo, o Ministério Público zelarem pela
qualidade ambiental e saúde coletiva, lançando mão dos instrumentos
jurídicos disponíveis como a Ação Civil Pública e Ação Popular para
coibir e responsabilizar aqueles de degradam o meio ambiente, como é
o caso do problema em tela.

Observa-se que os recursos naturais na localidade do Córrego do


André estão em risco, pois o descaso do poder público com eles é
grande, podendo gerar consequências irreversíveis. Por mais que as os
elementos da natureza sejam considerados recursos renováveis, estão
sob o risco de colapsarem, ao ponto de até mesmo se extinguirem.
22

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