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Notas de aula - 1.

Introdução ao saneamento básico 1


OBS. As notas de aula são apenas um roteiro, estudem pelos livros.

1. Introdução ao saneamento básico


1.1 Introdução
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) – saneamento é o controle de todos os fatores
do meio físico do homem, que exercem ou podem exercer efeitos nocivos sobre seu bem-estar
físico, mental e social.
O preâmbulo da constituição da OMS diz que “o gozo do melhor estado de saúde constitui um
direito fundamental de todos os seres humanos, sejam quais forem suas raças, suas religiões, suas
opiniões políticas e suas condições socioeconômicas”. E saúde é definida pela própria OMS como
o estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doenças.
Saneamento ou saneamento básico é definido como o conjunto de ações relacionadas ao:
abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza pública (coleta, tratamento e disposição
dos resíduos sólidos) e a drenagem das águas pluviais. Enquanto saneamento ambiental está
relacionado a um conjunto mais amplo de ações, tais como ações socioeconômicas cujo objetivo
é alcançar níveis de salubridade ambiental por meio do abastecimento de água potável, coleta e
disposição sanitária de resíduos líquidos, sólidos e gasosos, delineamento sanitário do uso do solo,
drenagem urbana, controle de doenças transmissíveis e demais serviços e obras com a finalidade
de melhorar as condições de vida da população.
Apesar dos esforços e recursos financeiros já despendidos, são muitos os problemas, com que se
defronta a humanidade, para atingir um nível de saúde adequado ao desenvolvimento, bem-estar
geral e compatível com a dignidade humana. O círculo vicioso da doença e da miséria continua a
desafiar o homem.
A partir de estudos epidemiológicos tem sido possível a melhor compreensão da relação entre
saneamento e saúde. Esses estudos possibilitaram a obtenção de dados que indicam a possível
redução da ocorrência de doenças com a implantação de serviços de abastecimento de água e outras
medidas de caráter sanitário.
A análise de dados estatísticos de diversos países, relativos aos coeficientes de mortalidade infantil
e mortalidade geral causada por várias doenças e problemas de ordem socioeconômicos
demonstram, entre outros aspectos, a pesada carga econômica que representa a morte prematura,
bem como a incapacidade física e mental, ocasionada por algumas doenças. De acordo com a
OMS, 80% das doenças e 65% das internações hospitalares, cujos gastos são da ordem de US$ 2,5
bilhões por ano, estão relacionadas com o uso de água contaminada e a falta de esgotamento
sanitário.
Sabe-se que a prevenção de doenças custa mais barato que sua cura ou, em outras palavras, que o
saneamento, apoiando-se na Engenharia Sanitária e na Medicina Preventiva, custa menos que uma
campanha com base na medicina curativa.
Dados sobre saneamento básico no Brasil podem ser encontrados no página do SNIS -
http://www.snis.gov.br, e no site do Instituto trata Brasil (https://www.tratabrasil.org.br/).
Segundos dados do Instituto Trata Brasil (https://www.tratabrasil.org.br/saneamento/principais-
estatisticas acesso em agosto de 2021):
- Aproximadamente 83,7% dos brasileiros são atendidos com abastecimento de água tratada.
No entanto, quase 35 milhões de brasileiros sem o acesso a este serviço básico O consumo
médio de água no país é de 153,9 litros por habitante ao dia (Sistema Nacional de
Informações sobre Saneamento - SNIS 2019).
- Apenas 54,1% dos brasileiros têm acesso à coleta de esgoto. São quase 100 Milhões de
brasileiros sem acesso ao serviço de coleta de esgoto (SNIS 2019).
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- Trinta e cinco municípios nas 100 maiores cidades do país têm menos de 60% da população
com coleta de esgoto (Ranking do Saneamento 2021 – Instituto Trata Brasil).
- No Brasil, a proporção de municípios com serviço de esgotamento sanitário passou de
47,3%, em 1989, para 60,3%, em 2017 (Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2017 –
IBGE).

1.2 Saneamento
As atividades do saneamento envolvem principalmente os seguintes aspectos:
- Abastecimento público e seguro de água;
- Coleta e disposição de águas residuárias (esgotos sanitários, resíduos líquidos industriais e
águas pluviais);
- Acondicionamento, coleta, transporte e tratamento e/ou disposição final dos resíduos sólidos;
- Controle da poluição ambiental – água, ar e solo, acústica e visual;
- Saneamento dos alimentos;
- Saneamento da habitação e dos locais de trabalho, de educação e de recreação e dos hospitais;
- Controle de artrópodes e de roedores de importância em saúde pública;
- Saneamento e planejamento territorial, sistemas de drenagem e de controle de inundações e
de erosão;
- Saneamento em situação de emergência;
- Aspectos diversos de interesse no saneamento do meio (cemitérios, aeroportos, ventilação,
iluminação, insolação etc.).

1.2.1 Sistemas de abastecimento de água


A água é um elemento indispensável à vida animal e vegetal. Além de ser um alimento por
excelência, é também usada nas mais diversas atividades humanas.
Ela possui duas qualidades notáveis as quais são: grande poder de dissolução, por isso é
considerada o solvente universal, e grande capacidade de manter substâncias em suspensão.
Quando a água da chuva atinge o solo e escoa sobre ele, inicia-se um processo de dissolução e
arraste que transportará material retirado do solo até os rios e oceanos. Impurezas comumente
encontradas nas águas superficiais incluem íons como cálcio, magnésio, sódio, potássio,
bicarbonatos, cloretos, sulfatos, nitratos e outros. Aparecem ainda traços de chumbo, cobre,
arsênico, manganês, e um largo espectro de compostos orgânicos. Os compostos orgânicos são
provenientes da decomposição da matéria orgânica de origem animal e vegetal, e podem incluir
resíduos de áreas agrícolas e despejos de efluentes de origem doméstica e industrial. Esses
compostos podem, portanto, incluir desde substâncias húmicas até compostos orgânicos sintéticos
como detergentes, pesticidas e solventes.
Algumas dessas substâncias em solução, quando presentes em excesso, podem ser prejudiciais à
saúde. Além dessas substâncias e compostos em solução, a água pode apresentar material em
suspensão, tais como: bactérias patogênicas que podem provocar doenças quando ingeridas.
O abastecimento de água visa:
- Impedir que a doença venha do indivíduo doente ao são, por intermédio da água;
- Facilitar a instituição de hábitos higiênicos, aproveitando seu poder de dissolução e sua
capacidade de carrear substâncias, gerando conforto, bem-estar e segurança.
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A água tem importância sanitária nos seguintes aspectos:


- No controle e prevenção de doenças;
- Na implantação de hábitos higiênicos na população como, por exemplo, por meio da instalação
de melhorias que facilitam a lavagem das mãos, o banho e a limpeza de utensílios;
- Ao facilitar a limpeza pública;
- Ao facilitar as práticas esportivas;
- Ao propiciar conforto, segurança e facilidade de combate a incêndios.

Por outro lado, a importância econômica do abastecimento de água é também de grande relevância.
Sua implantação, sem dúvida, pode traduzir-se em aumento da vida média, aumento da vida efetiva
e redução do número de horas perdidas com diversas doenças, o que consequentemente resulta em
aumento da produtividade. A influência da água, sob o aspecto econômico, repercute mais
diretamente no desenvolvimento industrial, por constituir a matéria prima ou ser utilizada no
processo ou ainda por ser meio de operação.

1.2.2 Sistemas de esgotamento sanitário


A partir da chamada “revolução industrial”, a formação e o rápido crescimento dos centros urbanos
tornaram-se fenômenos característicos da civilização moderna.
O adensamento demográfico urbano cria e agrava problemas que poderiam outrora ser resolvidos
com relativa facilidade, como por exemplo, o da remoção das águas residuárias e dos resíduos
sólidos resultantes das atividades humanas de um centro habitado e o seu destino final apropriado.
Este problema agrava-se com o aumento da densidade demográfica urbana, pois as soluções
individuais não encontram áreas suficientes dentro dos limites dos lotes urbanos.
O principal objetivo sanitário do sistema de esgotamento sanitário é o controle e prevenção de
doenças, o que é conseguido por:
- Remoção rápida e segura das águas e dos objetos residuais das atividades humanas;
- Tratamento dos resíduos sólidos, se necessário;
- Disposição sanitária dos esgotos por meio de seu lançamento adequado em corpos receptores
naturais.
Além disso, o sistema de esgotamento sanitário tem como objetivos sociais a melhoria das
condições de conforto e segurança da população através da:
- Eliminação dos aspectos ofensivos ao senso estético e o desaparecimento dos odores fétidos;
- Drenagem de terrenos em áreas em que o lençol freático é pouco profundo, com afastamento
das águas precipitadas;
- Utilização dos cursos d`água urbanos, como elementos de recreação e práticas esportivas.
O objetivo econômico fundamental se traduz pelo aumento de vida da população, pelo acréscimo
da renda “per capita” nacional, seja pelo aumento da vida provável, seja pelo aumento da
produtividade, que, em geral, se realiza pela:
- Implantação e desenvolvimento de indústrias e conseqüente fluxo de novos habitantes atraídos
pelas facilidades do conforto e de trabalho;
- Conservação dos recursos hídricos naturais contra a poluição excessiva;
- Conservação de vias públicas, preservação do trânsito e proteção de propriedades e obras de
arte contra a ação erosiva de inundações ocasionadas pelas águas pluviais.
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1.2.3 Resíduos sólidos


É difícil definir “lixo” em termos precisos, que não admitam restrições. Lixo é o conjunto de
resíduos sólidos, resultantes da atividade humana. Constitui, para o leigo como um problema,
principalmente, estético e de incomodidade e, para o técnico, problema sanitário e econômico.
Os problemas de limpeza pública e, particularmente, o acondicionamento, a coleta, o transporte e
o destino final dos resíduos sólidos, ou seja, do lixo, notadamente quanto ao seu aspecto sanitário,
constituem uma questão cuja solução é de grande interesse, principalmente, na época atual, com o
crescimento e o desenvolvimento dos aglomerados urbanos.
Quanto ao aspecto econômico a importância do lixo, encontra-se na possibilidade de recuperação
de vários tipos de refugos e produção de adubo.
Em geral, a inadequada prática da disposição final do lixo, a céu aberto, faz com que as populações
de baixo nível social sejam atraídas ao local do despejo, promovendo a prática de recolher certos
refugos do lixo, expondo-se ao risco de adquirirem doenças ou sofrerem acidentes, o que pode ser
eliminado mediante uma disposição adequada (aterro sanitário, por exemplo).

1.2.4 Controle da poluição da água, do solo e do ar


a) Poluição das águas
Infelizmente o homem nem sempre se comporta de acordo com os ditames da natureza, ao exceder
os limites da capacidade de autodepuração dos cursos d`águas, lagoas, mares, etc. O lançamento
descontrolado dos rejeitos das indústrias ou de outras atividades humanas nestes, leva fatalmente
a toda sorte de inconvenientes e prejuízo ocasionando, no fim, a chamada poluição das águas.
Os inconvenientes da poluição das águas podem ser agrupados da seguinte forma:
- De ordem sanitária: impropriedade da água para banhos, toxicidade e diminuição da flora e
da fauna superior contribuindo para o aparecimento de organismos inferiores, muitos dos
quais patogênicos, e possibilidade de agentes tóxicos de natureza química.
- De ordem econômica-social: desvalorização das terras marginais, eliminação da indústria da
pesca, elevação dos custos do tratamento para o novo uso da água, danos a estruturas fixas e
móveis nas massas de água (cais, pontes, sistemas de captação de água), perigos para a
irrigação, eliminação dos esportes náuticos, da pesca e da caça como recreação.

b) Poluição atmosférica
A poluição atmosférica prejudica a fauna, a flora e a saúde do homem. Ataca os animais, causando-
lhes a morte ou seu desenvolvimento insuficiente, com danos desastrosos para a economia.
Em relação à flora, a poluição pode trazer o decréscimo da penetração da luz, por escurecimento
da atmosfera ou por deposição de resíduos sobre as folhas, prejudicando a fotossíntese.
Relativamente ao homem, a poluição atmosférica é a responsável pelo maior número de doenças
das vias respiratórias, particularmente de fundo alérgico, dos olhos, além de ser cancerígena. Ainda
a poluição atmosférica é responsável pelo aumento da corrosividade da atmosfera, ocasionando
desgaste prematuro em prédios, ferramentas entre outros.

c) Poluição do solo
A poluição do solo poderá resultar em prejuízos tanto para as águas superficiais devido ao arraste
dos poluentes pelo escoamento superficial, como para as águas subterrâneas que poderão ser
contaminadas pela infiltração.
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1.2.5 Controle de vetores (insetos e roedores)


A mosca doméstica contribui para a propagação de várias doenças, transportando mecanicamente
germes de um lugar ao outro. Pode transmitir varíola, oftalmias, parasitoses, diarreias, cólera etc.,
transportando em seu corpo e em suas patas material infectado.
É difícil o controle de moscas por meio de campanhas periódicas. Só se obtém resultados
satisfatórios, por meio das condições de saneamento do meio e de programa de hábitos higiênicos
para a população, provocando uma redução no número de moscas.
Os mosquitos são responsáveis pela transmissão de várias doenças, entre as quais a febre amarela,
a malária, a filariose e a dengue.
A descoberta de que a transmissão da febre amarela ocorre através da picada do mosquito deve-se
ao brasileiro Emílio Ribas.
Para perpetuação da espécie, o mosquito adulto deposita os ovos na superfície das águas preferindo
a água parada, ao abrigo das correntezas e inimigos naturais. Após um dia, os ovos dão nascimento
às larvas que aspiram o ar e se alimentam de matéria orgânica. Em seguida, as larvas se
transformam em ninfas, que não se alimentam, mas respiram através de mecanismo próprio. Essa
fase dura dois dias surgindo então o mosquito alado adulto.
Tanto os ratos domésticos como alguns roedores selvagens podem ser reservatórios de doenças,
tais como: peste pneumônica e tifo murino. A transmissão das moléstias dá-se, normalmente, pela
picada hematófaga da pulga hospedeira dos ratos, que podem depositar no homem a doença.
1.2.6 Saneamento dos alimentos em geral
O uso de alimentos contaminados pode levar-nos a uma série de doenças, tais como botulismo,
intoxicação alimentar por estafilococos e estreptococos, infecções por salmonelas, enterites, entre
outras.
O adequado controle do consumo dos alimentos, em geral, é de responsabilidade dos serviços de
saúde pública.
1.2.7 Saneamento e planejamento territorial
O saneamento contribui sobremaneira para o bom planejamento territorial, por meio do estudo
conveniente dos sistemas de água e esgotos (sanitários e pluviais), coleta e disposição de lixo,
alimentação, controle de insetos e roedores, habitação, locais de trabalho, indústrias, cemitérios,
etc., resultando daí as diretrizes básicas de um Plano Diretor, associando a ele o estudo de sistemas
de vias de transporte, prédios, feiras, comunicação, energia, etc., além dos sistemas de drenagem
e de controle de inundações e de erosão.

1.3. Saneamento e saúde pública


1.3.1 Doenças relacionadas a falta de saneamento básico
A água que se encontra fora dos padrões de qualidade pode transmitir doenças ao homem pela
ação de organismos animais e vegetais e ainda pela presença em excesso de determinadas
substâncias, bem como pela ausência ou presença abaixo de determinados teores de outras.
As doenças, cuja água pode ser o veículo de transmissão, são classificadas em: doenças de
transmissão hídrica e doenças de origem hídrica.
No Quadro 1 são apresentados alguns tipos de doenças relacionadas a água. Nos quadros 2 e 3 são
apresentadas, respectivamente doenças relacionadas a disposição inadequada de lixo e
transmitidas por vetores e doenças relacionadas a presença de esgoto sanitário.
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a) Doenças de transmissão hídrica


Neste caso a água atua como veículo propriamente do agente infeccioso. As doenças de
transmissão hídrica são notadamente do aparelho intestinal. Os microrganismos patogênicos
responsáveis por essas doenças atingem a água com as excretas de pessoas ou de animais
infectados, como consequência tem-se as denominadas “doenças de transmissão hídrica”.
Em geral, os microrganismos presentes na água podem:
- Ter seu “habitat” normal nas águas de superfície;
- Ter sido carreados pelas águas de enxurradas;
- Provir de esgotos domésticos e outros resíduos orgânicos, que atingiram a água por diversos
meios;
- Ter sido trazidos pelas chuvas na lavagem da atmosfera.
Para avaliar a contaminação da água por patogênicos de origem fecal são utilizados organismos
indicadores, tais como Escherichia coli e bactérias coliformes termotolerantes, uma vez que os
primeiros não são de fácil identificação em laboratório e os últimos aparecem em grande número,
no intestino humano e, portanto, na matéria fecal.
Assim sendo, sua presença permite detectar a presença de fezes na água em concentrações
extremamente diluídas, dificilmente verificáveis pelos métodos químicos correntes. Como por
outro lado, as bactérias patogênicas veiculadas por água estão sempre associadas às fezes, a
presença destas constitui presença potencial de patogênicos, que será inferida pela presença dos
organismos indicadores.
Relativamente aos microrganismos patogênicos, as doenças de transmissão hídrica podem ser
ocasionadas por:
-Bactérias: febre tifóide, febres paratifóides, disenteria bacilar, cólera;
-Protozoários: amebíase ou disenteria amebiana;
-Vermes (helmintos) e larvas: esquistossomíase;
-Vírus: hepatite infecciosa e poliomelite.

Na Tabela 1 são apresentados alguns microrganismos de transmissão hídrica e via oral e sua
importância para o abastecimento de água.
Hoje se deve considerar, também, os Patógenos emergentes de veiculação hídrica. Segundo a OMS
patógenos emergentes são considerados aqueles organismos que tem aparecido em uma população
pela primeira vez ou que já ocorreram previamente, mas sua incidência vem aumentando e se
expandindo para outras áreas, onde até então não haviam sido detectados (HELLER e PÁDUA,
2010).
Dentre os organismos emergentes, tem recebido atenção especial os protozoários Giardia e
Cryptosporidium. A giardíase e a criptosporidiose são zoonoses, cujas principais fontes de
contaminação da água são os esgotos sanitários e as atividades agropecuárias.
b) Doenças de origem hídrica
São as doenças decorrentes de certas substâncias contidas na água em teor inadequado.
Quatro tipos de contaminantes tóxicos podem ser encontrados nos sistemas públicos de
abastecimento de água:
- Contaminantes naturais de uma água que esteve em contato com formações minerais, como
exemplo tem-se: flúor, selênio, arsênico, boro.
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- Contaminantes naturais de uma água na qual se desenvolveram determinadas colônias de


microrganismos venenosos ou tóxicos;
- Contaminantes introduzidos por obras hidráulicas defeituosas: cobre, zinco, ferro e chumbo,
este último, por exemplo, pode causar saturnismo;
- Contaminantes introduzidos nos cursos de água por certos despejos industriais.

Medidas gerais de proteção:


- Proteção dos mananciais, inclusive medidas de controle de poluição das águas;
- Tratamento adequado da água;
- Sistema de distribuição da água bem projetado, construído, mantido e operado;
- Solução sanitária para o problema da coleta e da disposição dos esgotos.

Bibliografia
BRASIL, Ministério das Cidades, SNIS. Disponível em < http://www.snis.gov.br/diagnosticos >
Acesso em: 10 de abril de 2016.
DACACH, N. G. Saneamento Básico. Livros Técnicos e Científicos Editora, Rio de Janeiro,
1984.
HELLER, L.; PÁDUA, V. L. Abastecimento de água para consumo humano. 2º Ed. Editora
UFMG. Belo Horizonte, Minas Gerais. 2010.
INSTITUTO TRATA BRASIL. Situação do Saneamento no Brasil. Disponível em <
https://tratabrasil.org.br/pt/saneamento/principais-estatisticas > Acesso em: 08 de agosto de
2021.
LEME, F. P. Engenharia do Saneamento Ambiental. Livros Técnicos e Científicos Editora, Rio
de Janeiro, 1982.
LIBÂNIO, M.. Fundamentos de qualidade e Tratamento de água. 3ª Ed. Editora Átomo,
Campinas, SP. 2010.
TSUTIYA, MILTON TOMOYUKI. Abastecimento de água. 2ª Ed. Departamento de
Engenharia Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica de São Paulo, São Paulo, 2005. 643
p.
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Quadro 1 - Alguns tipos de doenças relacionadas a água (veiculação hídrica), formas de transmissão e prevenção.
Grupo de doenças Formas de transmissão Principais doenças Formas de prevenção
Transmitidas pela via fecal-oral O organismo patogênico (agente -diarréias e disenterias, como: cólera -Proteger e tratar as águas de
(alimentos contaminados por causador de doença) é ingerido. e a giardíase; abastecimento e evitar uso de fontes
fezes) -Febre tifóide e paratifóide contaminadas
-Leptospirose -Fornecer água em quantidades adequada e
promover a higiene pessoal, doméstica e
-Amebíase
dos alimentos.
-Hepatite infecciosa
-Ascaridíase (lombrigas)
Controladas pela limpeza com a A falta de água e de higiene -Infecções na pele e nos olhos, como -Fornecer água em quantidades adequada e
água (associadas ao pessoal criam condições o tracoma e o tifo relacionado com promover a higiene pessoal e doméstica
abastecimento insuficiente de favoráveis para a sua piolhos, e a escabiose.
água) disseminação
Associada à água (uma parte do O patogênico penetra pela pele -Esquistossomose. -evitar o contato de pessoas com águas
ciclo da vida do agente ou é ingerido. infectadas
infeccioso ocorre em um animal -proteger mananciais
aquático)
-adotar medidas adequadas para a
disposição de esgotos
-combater o hospedeiro intermediário.
Transmitidas por vetores que se As doenças são propagadas por -Malária -combater os insetos transmissores
relacionam com a água insetos que nascem na água ou -Febre amarela -eliminar condições que possam favorecer
picam perto dela. criadouros
-Dengue
-filariose (elefantíase) -evitar o contato com criadouros
-utilizar meios de proteção individual
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Quadro 2 Doenças relacionadas com lixo e transmitidas por vetores


Vetores Formas de transmissão Principais doenças
Ratos -Através da mordida, urina e fezes; -Peste bubônica; -tifo murino
-Através da pulga que vive no corpo do rato. -Leptospirose
Moscas -Por via mecânica (através das asas, patas e corpo) -Febre tifoide; -salmonelose
-Através das fezes e saliva -Cólera; -amebíase
-Disenteria; -giardíase
Mosquitos -Através da picada da fêmea -Malária; -leishmaniose
-Febre amarela; -dengue
-filaríose.
Baratas -Por via mecânica (através das asas, patas e corpo) e pelas -Febre tifoide; -cólera
fezes. -Giardíase
Suínos -Pela ingestão de carne contaminada. -Cisticercose; -toxoplasmose
-triquinelose; -teníase
Aves -Através das fezes Toxoplasmose.
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Quadro 3- Doenças relacionadas a presença de fezes (esgotos domésticos)


Grupo de doenças Formas de transmissão Principais doenças Formas de prevenção
Feco-orais (não Contato de pessoa para pessoa, -Poliomielite; -Implantar sistema de abastecimento de água;
bacteriana) quando não há higiene pessoal e -hepatite tipo A; -melhorar as moradias e as instalações sanitárias;
doméstica adequada. -Giardíase; -promover a educação sanitária.
-Disenteria amebiana;
-diarréia por vírus.
Feco-orais Contato de pessoa para pessoa, -Febre tifoide; -implantar sistema de abastecimento de água;
(bacterianas) ingestão e contato com alimentos -Febre paratifóide; -melhorar as moradias e as instalações sanitárias;
contaminados e contato com fontes de -Diarreias e disenterias; -promover a educação sanitária;
águas contaminadas pelas fezes. bacterianas, como a cólera. -implantar sistema adequado de disposição de esgotos.
Helmintos Ingestão de alimentos contaminados e -Ascaridíase (lombriga); -construir e manter limpas as instalações sanitárias;
transmitidos pelo contato da pele com o solo. - Tricuríase -tratar os esgotos antes da disposição no solo;
solo -Ancilostomíase (amarelão). -evitar contato direto da pele com o solo (usar calçado).
Tênia (solitárias) na Ingestão de carne mal-cozida de -Teníase; -construir instalações sanitárias adequadas;
carne de boi e de animais infectados -Cisticercose. -tratar os esgotos antes da disposição no solo;
porco -inspecionar a carne e ter cuidados na sua preparação
(cozimento).
Helmintos associados Contato da pele com água -Esquistossomose. -construir instalações sanitárias adequadas;
à água contaminada -tratar os esgotos antes do lançamento em curso d’água;
-controlar os caramujos;
-evitar contato com água contaminada (banho, etc.).
Insetos vetores Procriação de insetos em locais -Filariose (elefantíase). -combater os insetos transmissores ;
relacionados com as contaminados pelas fezes -eliminar condições que possam favorecer criadouros;
fezes -evitar o contato com criadouros e utilizar meios de proteção
individual.
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Tab. 1- Organismos patogênicos de transmissão hídrica e via oral e sua importância para o
abastecimento de água (HELLER e PÁDUA, 2010).
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Notas de aula -2. Sistema de Abastecimento de Água
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2. SISTEMAS DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA

2.1 Definição:
“É o conjunto de obras civis, equipamentos e serviços destinados à produção e distribuição de água
potável para populações, sob a responsabilidade do poder público, mesmo que administrada em
regime de concessão ou permissão” (HELLER e PÁDUA, 2010).
O sistema de abastecimento de água deve fornecer água, de boa qualidade, quantidade adequada e
pressão suficiente, para o abastecimento da população e para a viabilização de atividades
econômicas.

2.2 Importância e evolução dos sistemas de abastecimento


A água constitui um elemento essencial à vida animal e vegetal. Seu papel no desenvolvimento da
civilização é reconhecido desde a antiguidade.
O homem tem necessidade de água de qualidade adequada e em quantidade suficiente para todas
as suas necessidades, não só para proteção de sua saúde, como também para o seu desenvolvimento
econômico. Assim a importância do abastecimento de água deve ser encarada sob os aspectos
sanitário e econômico.
A implantação ou melhoria dos serviços de abastecimento de água traz como resultado uma rápida
e sensível melhoria na saúde e nas condições de vida de uma comunidade, principalmente através
do controle e prevenção de doenças, da promoção de hábitos higiênicos, do desenvolvimento de
esportes, como natação, e da melhoria da limpeza pública. Reflete-se também, no estabelecimento
de meios que importam em melhoria do conforto e da segurança coletiva, como instalação de ar-
condicionado e de equipamentos de combate a incêndios.
A importância econômica do abastecimento de água é também de grande relevância. Sua
implantação se traduz em aumento da vida média da população servida, diminuição da mortalidade
em geral e, em particular, da infantil, redução do número de horas perdidas com diversas doenças,
fato que resulta num aumento sensível do número de horas de trabalho dos membros de uma
comunidade, e com isto aumento da produção.
A influência da água, do ponto de vista econômico, faz-se sentir mais diretamente no
desenvolvimento industrial, por constituir matéria-prima em muitas indústrias, como as de bebida,
ou meio de operação, como água para caldeiras etc.

2.3 Objetivos do SAA:


Produzir e distribuir água nas seguintes condições:
Quantidade suficiente
-Usos domésticos, comerciais, industriais, públicos;
-Garantia de continuidade do abastecimento;
-Garantia de atendimento às variações de consumo.

Pressões adequadas
-Pressão mínima para atendimento aos usos;
-Pressão máxima para a proteção de equipamentos e a minimização de perdas;
-Prevenção da ocorrência de contaminações devidas a pressões inferiores à atmosférica na rede.
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Notas de aula -2. Sistema de Abastecimento de Água
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Qualidade apropriada
-Características sanitárias;
-Características estéticas (organolépticas);
-Características econômicas.
Essas características são determinadas por meio de exames físicos, análises químicas, exames
bacteriológicos e completados com inspeção sanitária de campo.

Custos aceitáveis
-Implantação (escolha de mananciais, otimização de traçados, técnicas de tratamento etc.);
-Operação e manutenção (pessoal, energia, materiais, perdas e desperdícios, cobranças etc.).

Sustentabilidade
A água potável é um produto industrial e que, como tal, depende das condições da matéria prima,
dos equipamentos, do pessoal etc.
O padrão de potabilidade deve ser considerado sob duplo aspecto:
-Elaboração e distribuição do produto;
-Condição final quando entregue ao consumidor.

2.4 Partes constituintes (unidades constituintes dos SAA)


A configuração dos sistemas de abastecimento de água é extremamente variável, em função do
porte da cidade, topografia, sua posição em relação aos mananciais, etc. De modo geral, os
sistemas são constituídos das seguintes partes: manancial, captação, adutoras, elevatórias, ETA,
reservatório de distribuição e rede de distribuição.

Exemplos de tipos de sistemas de abastecimento de água


a) Sistema sem tratamento (pode ser o caso de poço, em que é necessário apenas a desinfecção e
a adição de fluor).

1 manancial; 2 adutora; 3 reservatório de distribuição; 4 adutora; 5 rede de distribuição

b) Sistema com tratamento

1 reservatório de acumulação; 2 adutora de água bruta; 3 ETA; 4 reservatório de distribuição; 5


adutora de água tratada; 6 rede de distribuição.
14
Notas de aula -2. Sistema de Abastecimento de Água
OBS. As notas de aula são apenas um roteiro, estudem pelos livros.
c) Sistema de abastecimento com tratamento e reservatório de distribuição a montante da rede

1 captação; 2 adutora água bruta; 3 elevatória água bruta; 4 ETA; 5 elevatória água tratada; 6
adutora água tratada; 7 reservatório de distribuição; 8 adutora água tratada; 9 rede de distribuição.

d) Sistema com tratamento, reservatório de acumulação e reservatório de distribuição a montante


da rede.

1 reservatório de acumulação; 2 adutora água bruta; 3 elevatória água bruta; 4 adutora água bruta;
5 ETA; 6 adutora água tratada; 7 reservatório de distribuição; 8 adutora água tratada; 9 rede de
distribuição.

e) sistema com tratamento e reservatório de distribuição a jusante da rede.

1 reservatório de acumulação; 2 adutora água bruta; 3 elevatória água bruta; 4 adutora água bruta;
5 ETA; 6 adutora água tratada; 7 rede de distribuição; 8 adutora água tratada; 9 reservatório de
distribuição (de jusante).

f) Sistema de abastecimento com duas redes de distribuição

1 captação; 2 adutora água bruta; 3 ETA; 4 adutora água tratada; 5 reservatório de distribuição; 6
adutora água tratada; 7 adutora água tratada; 8 rede de distribuição.
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Notas de aula -2. Sistema de Abastecimento de Água
OBS. As notas de aula são apenas um roteiro, estudem pelos livros.
2.6. Estudo de concepção de sistema de abastecimento de água
De um modo geral, a concepção de sistemas de abastecimento depende principalmente do tipo de
manancial, da topografia da área e população a ser atendida. Para o estudo de concepção de um
SAA de água, é necessário o desenvolvimento de uma série de atividades. A NBR 12211/92 fixa
as condições necessárias para estudos de concepção de sistemas públicos de abastecimento de
água.

2.6.1 Planejamento e projeto dos sistemas de abastecimento de água

Usualmente a elaboração de um projeto de engenharia de um SAA é feita nas seguintes fases:


▪ Estudo preliminar, na qual é feita a concepção do sistema;
▪ projeto técnico na qual é feito o dimensionamento do sistema e a elaboração dos desenhos
básicos;
▪ projeto executivo, na qual são feitos os projetos complementares, como arquitetônico,
estrutural, elétrico etc.
▪ Licenciamento ambiental

a) Atividades relacionados ao estudo preliminar

No Quadro 1 são apresentadas as atividades relacionadas ao estudo preliminar.

Quadro 1- Atividades relacionadas ao estudo preliminar

Atividade Discriminação
1.1 Características físicas

1.Caracterização da área 1.2 Aspectos sociais econômicos


de estudo 1.3 Uso e ocupação do solo
1.4 Sistema infraestrutura e condições sanitárias

2. Análise do SAA 2.1 Descrição do sistema existente


existente 2.2 Diagnóstico do sistema existente
3 Levantamento de estudos e planos existentes
4. Estudos demográficos
5. Critérios e parâmetros de projeto
6.1 Estudo de demandas
6. Demanda de água
6.2 Cálculo de demandas
7. Estudo de mananciais 7.1 Tipo de mananciais e seleção
8. Formulação de alternativas de concepção
9. Pré-dimensionamento das unidades para escolha da alternativa
10. Estimativas de custo das alternativas
11. Análise das alternativas
12. Concepção escolhida
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Notas de aula -2. Sistema de Abastecimento de Água
OBS. As notas de aula são apenas um roteiro, estudem pelos livros.
b) Partes do projeto
• memorial descritivo e justificativo;
• desenhos;
• quantitativos, especificações e orçamentos;
• manual de operação
• anexos: elementos que serviram para a elaboração dos estudos, tais como: análise de água,
legislação sobre ocupação urbana etc.

O projeto deverá reunir de maneira clara e objetiva todas as informações necessárias para:
▪ contratação das obras;
▪ construção e fiscalização;
▪ aquisição e instalação de materiais e equipamentos;
▪ operação e manutenção do sistema.

O objetivo da fase “estudo preliminar” é o estudo das soluções alternativas, finalizando com a
seleção da alternativa mais interessante, que será apresentada na forma de um esquema básico, em
geral em escala (conforme indicado na NBR – 12211/92).
O estudo da concepção das alternativas deve ser desenvolvido de acordo com a ABNT – NBR
12211/92- Estudos de concepção de sistemas públicos de abastecimento de água.
O esquema da Figura 1 apresenta uma situação em que existem algumas alternativas para
manancial abastecedor da cidade A:
-Alternativa 1 – captação no Rio B, que exigirá recalque para conduzir a água até a cidade e
tratamento;
-Alternativa 2 – captação na cabeceira do Rio A, que é mais distante, entretanto a água poderá
ser conduzida por gravidade;
-Alternativa 3 – captação de água subterrânea.

Essas alternativas, desde que viáveis tecnicamente, deverão ser pré-dimensionadas e estudadas
economicamente, e deverá ser adotada aquela que propicie o menor custo, mas que atenda os
aspectos técnicos e ambientais.
17
Notas de aula -2. Sistema de Abastecimento de Água
OBS. As notas de aula são apenas um roteiro, estudem pelos livros.

Figura 1 – Esquema do estudo de alternativas para o abastecimento

3. Usos da água

3.1 Introdução
A água constitui parte integrante do organismo humano, representando proporção considerável
(cerca de 70%) de sua composição. Além disso, desempenha funções fisiológicas fundamentais,
como: dissolver e diluir todos os componentes solúveis que entram no organismo ou que
permanecem como constituintes celulares; constituir veículo de elementos e compostos a serem
excretados; regular a temperatura corporal pelo processo de absorção de calor e evaporação no
processo contínuo de transpiração.
Nenhum outro solvente apresenta, reunidas às temperaturas e pressões usuais na superfície de
nosso planeta, as propriedades químicas, físicas e físico-químicas tão compatíveis com os
processos biológicos essenciais reconhecidos na água. Pode-se afirmar, de maneira complementar,
que os processos biológicos têm as características atuais porque se desenvolveram a partir desta
disponibilidade, caso contrário o caminho da evolução deveria ter sido completamente diverso.
Mas, além disso, a água é importante como ambiente para a vida. A maior parte dos seres vivos
na terra é aquática e houve época em que os seres terrestres inexistiam.
Por todas essas razões, a água constitui elemento vital não só à natureza de um modo geral, como
a todas as atividades desenvolvidas pelo homem.
Entre os principais usos da água pode-se citar: abastecimento doméstico, abastecimento industrial,
irrigação, dessedentação de animais, aquicultura, preservação da flora e da fauna, recreação e lazer,
harmonia paisagística, geração de energia elétrica, navegação e diluição de despejos.
A interrelação entre o uso da água e a qualidade requerida para a mesma é direta. Na lista de usos
acima, pode-se considerar que o uso mais nobre seja representado pelo abastecimento de água
doméstico, o qual requer a satisfação de diversos critérios de qualidade. De forma oposta, o uso
menos nobre é o da simples diluição de despejos, o qual não possui nenhum requisito especial em
termos de qualidade. No entanto, diversos cursos d’água têm usos múltiplos previstos para os
mesmos, decorrendo daí a necessidade da satisfação simultânea de diversos critérios de qualidade.
18
Notas de aula -2. Sistema de Abastecimento de Água
OBS. As notas de aula são apenas um roteiro, estudem pelos livros.
O setor de abastecimento é considerado prioritário como usuário dos recursos hídricos segundo a
legislação (Lei Federal no 9.433/1997). As condições de outorga de uso dos recursos hídricos
devem atender a legislação. A captação permitida é de apenas uma parcela da vazão mínima do
manancial, garantindo permanentemente uma vazão residual escoando para jusante.
A vazão de referência para a outorga pode ser: 𝑄𝑜𝑢𝑡𝑜𝑟𝑔𝑎 = 𝑥. 𝑄7,10 ou 𝑄𝑜𝑢𝑡𝑜𝑟𝑔𝑎 = 𝑥. 𝑄𝑦%

A vazão máxima outorgável numa determinada seção do corpo hídrico, pode ser quantificada, de
forma expedita, com base nas seguintes formulações (SUDERHSA, 2006):
𝑄𝑜𝑢𝑡𝑜𝑟𝑔á𝑣𝑒𝑙 𝑖 = 0,50(𝑄95% )𝑖 − 𝑄𝑛ã𝑜 𝑑𝑖𝑠𝑝𝑜𝑛í𝑣𝑒𝑙 𝑖

𝑄𝑛ã𝑜 𝑑𝑖𝑠𝑝𝑜𝑛í𝑣𝑒𝑙 𝑖 = ∑ 𝑄𝑜utorgadas + ∑ 𝑄𝑜utorgadas


𝑚 𝑗
Onde:
- Qoutorgável i: vazão máxima que pode ser outorgada na seção i do corpo hídrico;
- (Q95%)i : vazão natural com permanência de 95% do tempo na seção i;
- ΣQoutorgadas m : somatória das vazões outorgadas a montante da seção i;
- ΣQoutorgadas j : somatória das vazões outorgadas a jusante, que dependem da vazão na seção i.

No Quadro 2 são mostrados exemplos de vazões de outorga das águas e os métodos usados para
aferição da vazão ambiental adotados por alguns estados brasileiros (adaptados de SANTOS e
CUNHA, 2013).

Quadro 2 - vazões de outorga das águas e os métodos utilizados para aferição da vazão ambiental
adotados por alguns estados brasileiros.
Autoridade Vazão máxima outorgável (o complemento para
Legislação
outorgante 100% corresponde à "vazão ecológica")

70% de Q95, podendo variar de acordo com as Não existe devido às


ANA peculiaridades de cada região. peculiaridades do País,
20% para cada usuário individual podendo variar o critério.

Decreto Estadual nº
SHR-CE 90% da Q90reg.
23.067/94.
30% de Q7,10 para captações a fio d'água
Para captações em reservatórios, podem ser liberadas Portarias do IGAM nº 010/98
IGAM-MG
vazões superiores, mantendo o mínimo residual de e 007/99
70% da Q7,10 durante todo o tempo
SUDERHSA- Decreto Estadual nº
50% DA Q95
PR 4646/2001
50% da Q7,10 por Bacia. Individualmente nunca
DAEE-SP Decreto nº 43.284/98
ultrapassar 20% da Q7,10
Fonte: adaptados de SANTOS E CUNHA, 2013

É compreensível que cada tipo de uso da água requeira características qualitativas diferentes, isto
é, as exigências quanto ao grau de pureza absoluta ou relativa variam com o emprego que será
feito da água. Assim, a água usada em processos químicos de alta precisão, como em laboratórios
19
Notas de aula -2. Sistema de Abastecimento de Água
OBS. As notas de aula são apenas um roteiro, estudem pelos livros.
de análise ou mesmo em baterias de automóvel deve ser, tanto quanto possível, isentas de sais e
outras substâncias químicas estranhas em solução ou suspensão. Já para a navegação ou para a
geração de energia, no extremo oposto, a água deverá apenas atender ao requisito de não ser
agressiva às estruturas intervenientes. Para os processos biológicos em geral, isto é, sustentação
da vida aquática, irrigação e alimentação do homem e animais as exigências são intermediárias.
Não se prestam, a essa utilização, as águas com elevado grau de pureza química, uma vez que os
seres vivos necessitam vários tipos de sais e gases em solução que, normalmente, são fornecidos
pela própria água. Além disso, a água em contato com o corpo deve possuir um valor osmótico tal
que não comprometa a manutenção das concentrações internas nos tecidos do organismo.
Levando em conta todas essas propriedades e razões, a expressão corrente qualidade da água não
se refere a um grau de pureza absoluto ou mesmo próximo do absoluto. Refere-se, isto sim, a um
padrão tão próximo quanto possível do natural, isto é, da água tal como se encontra nos rios e
nascentes, antes do contato com o homem. Além disso, há um grau de pureza desejável, o qual
depende do uso que dela será feito. Essa qualidade varia, pois, de uma água destinada à pesca, ao
uso industrial, à geração de energia, à irrigação ou ao consumo humano (água potável). Mesmo
tomando-se o uso potável como o mais nobre, há variações extremas de tolerância às impurezas
pelo sistema de tratamento a que será submetida, dependendo das operações e processos
empregados. Entretanto, embora existam possibilidades técnicas quase infinitas de depuração,
haverá sempre uma limitação econômica que faz com que, mesmo para águas a serem submetidas
ao tratamento, seja exigida uma qualidade mínima a ser preservada no manancial. Daí a
conveniência do estabelecimento de políticas de preservação compreendendo: a realização
frequente ou sistemática de levantamentos sanitários, o zoneamento preventivo, o disciplinamento
do uso do solo nas bacias hidrográficas e medidas de interceptação, derivação ou tratamento de
águas residuárias ou poluídas.
Na Figura 1 é mostrada a inter-relação entre uso e ocupação do solo e agentes alteradores da
qualidade da água.

Figura 1 - Interrelação entre uso e ocupação do solo e agentes alteradores da qualidade da água.
20
Notas de aula -2. Sistema de Abastecimento de Água
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3.2 Critérios e padrões de qualidade das águas
A análise de uma água revela a presença de gases, de substâncias orgânicas e inorgânicas em
suspensão e em solução e organismos vivos. São a qualidade e a quantidade desses diversos
“contaminantes” que caracterizam uma água e condicionam sua aptidão aos usos mais
diversificados.
A água destinada ao consumo humano deve respeitar uma série de requisitos, de maneira que não
venha causar mal à saúde do homem, quer ela seja consumida por um período, quer ela seja
consumida durante toda vida.
Sabe-se que atualmente 80 % das doenças que ocorrem na população humana são de origem
hídrica. A ausência de abastecimento de água, de esgotamento sanitário e de condições de higiene
é responsável por 2.200.000 mortes no mundo, o que corresponde a 4,0% de todas as mortes. As
doenças associadas à falta ou deficiência de saneamento provocaram, segundo a WHO, 2000,
citada por Heller e Pádua, 2010, o seguinte número de ocorrências em 2000:
▪ Doenças diarreicas>2.200.000 mortes de crianças menores de cinco anos;
▪ Ascaridíase: 900.000.000 casos;
▪ Esquistossomose: 200.000.000 casos;
▪ Tracoma: 6.000.000 de pessoas ficaram cegas devido a doença.
Essas considerações iniciais demonstram a responsabilidade e o dever que recaem sobre os
dirigentes, pesquisadores e profissionais que se dedicam ao saneamento, principalmente, aqueles
que vivem em países em desenvolvimento.
Por outro lado, a cada dia que passa, maior se torna o número de novos produtos sintéticos que
têm acesso aos mananciais disponíveis, obrigando a maiores cuidados com o tratamento da água.
Os países desenvolvidos têm sentido com maior intensidade os problemas associados à presença
desses novos produtos no meio ambiente, porém mesmo os países não desenvolvidos acabam por
sofrer a agressão de novos contaminantes em regiões específicas, onde ocorre densidade
populacional elevada associada a grande concentração de indústrias.
A água distribuída para uma comunidade deve respeitar condições mínimas para que possa ser
ingerida e utilizada para fins de higiene, sem provocar danos à saúde do usuário. É importante que
essa água não apresente microrganismos patogênicos, nem substâncias tóxicas ou nocivas ao
Homem. Na Tabela 1 são moatrados alguns usos da água e seus principais requisitos de qualidade.
Como requisito complementar, é desejável, que essa água se apresente agradável ao consumo,
através de suas propriedades organolépticas e que não produza danos ao sistema de distribuição
nem aos sistemas privados.
Ultimamente houve um grande salto tecnológico a respeito do conhecimento dos contaminantes
da água para abastecimento, o que interferiu diretamente na elaboração de recomendações, de
critérios, de padrões e de normas concernentes com a qualidade da água a ser consumida.
Critérios de qualidade da água especificam concentrações e limites de alguns parâmetros que
interferem na manutenção do ecossistema aquático e na proteção da saúde humana. Alguns
parâmetros podem apresentar mais de um critério de controle, dependendo do uso e das condições
naturais da água.
Os critérios de qualidade da água são baseados em levantamentos científicos e devem refletir o
conhecimento sobre:
- Todos os efeitos provocados por poluentes existentes num corpo hídrico sobre a saúde e bem-
estar do homem, sobre o ecossistema aquático, sobre as características estéticas, sobre a
possibilidade de uso recreacional;
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- A concentração e dispersão de poluentes e seus produtos secundários devido a processos
biológicos, físicos e químicos;
- Os efeitos dos poluentes sobre a diversidade, produtividade e estabilidade do ecossistema
aquático.

Tabela 1 – Associação entre usos da água e requisitos de qualidade

Padrões: são formas de exigências legais dos critérios estudados e fixados através de um
dispositivo legal. Padrões regulam, portanto, a qualidade da água: antes de ser usada
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Notas de aula -2. Sistema de Abastecimento de Água
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satisfatoriamente e depois quando ela deve ser lançada de volta ao ambiente.
Os padrões devem ser cumpridos, por força da legislação, pelas entidades envolvidas com a água
a ser utilizada. Da mesma forma que os requisitos, também os padrões são função do uso previsto
para a água.
Em termos práticos, há três tipos de padrão de interesse direto dentro da Engenharia ambiental no
que tange à qualidade da água: padrões de lançamento no corpo receptor; padrões de qualidade do
corpo receptor e padrões de qualidade para determinado uso imediato (ex. padrões de potabilidade,
padrões de balneabilidade).

a) Padrões de lançamento e de qualidade do corpo receptor


Os padrões de qualidade da água são utilizados para que seja possível regulamentar e controlar o
nível de qualidade a serem mantidos num corpo d’água dependendo do uso a que ele está
destinado. A utilização de padrões de qualidade atende a dois propósitos:
- Manter a qualidade dos cursos d’água ou definir uma meta a ser atingida;
- Ser a base para definir os níveis de tratamento das águas residuárias a serem adotados na bacia,
de modo que os efluentes lançados não alterem as características do curso d’água
estabelecidos pelo padrão.
A Resolução CONAMA No 357 de 17.03.2005, complementada e alterada pela Resolução
CONAMA No 430, DE 13.05.2011, dividi as águas do território nacional em águas doces
(salinidade < 0,05%), salobras (salinidade entre 0,05 % e 3 %) e salinas (salinidade > 3 %). Em
função dos usos previstos, foram criadas nove classes. Na Tabela 2 é apresentado um resumo dos
usos preponderantes das classes relativas à água doce, em que a Classe Especial pressupõe os usos
mais nobres, e a Classe 4, os menos nobres.
A cada uma dessas classes corresponde uma determinada qualidade a ser mantida no corpo d’água.
Esta qualidade é expressa na forma de padrões, através da referida Resolução CONAMA. Além
dos padrões de qualidade dos corpos receptores, a resolução CONAMA apresenta ainda padrões
para o lançamento de efluentes nos corpos d’água.
Ambos os padrões estão de certa forma inter-relacionados. O real objetivo de ambos é a
preservação da qualidade no corpo d’água. No entanto, os padrões de lançamento existem apenas
por uma questão prática, já que é difícil manter o controle efetivo das fontes poluidoras com base
apenas na qualidade do corpo receptor. Em princípio, o inter-relacionamento entre os dois padrões
se dá no sentido de que um efluente, além de satisfazer os padrões de lançamento, deve
proporcionar condições tais no corpo receptor, de forma que a qualidade do mesmo se enquadre
dentro dos padrões de sua classe.

Tabela 2 - Tratamento requerido em função da classificação das águas segundo a Resolução


CONAMA No 357/2005
Classificação Tratamento requerido
Classe especial Desinfecção
Classe 1 Tratamento simplificado*
Classe 2 Tratamento convencional
Classe 3 Tratamento convencional
Classe 4 Águas destinadas a usos menos exigentes
*Embora não haja menção explicita ao conceito, admite-se o emprego da filtração lenta neste caso
Fonte: LIBÂNIO (2010)
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b) Padrões de potabilidade

Os padrões de potabilidade estão diretamente associados à qualidade da água fornecida para


consumo humano. Os padrões de potabilidade estão definidos na Portaria GM/MS Nº 888, DE 4
de maio de 2021.

Ver padrões de potabilidade na Portaria GM/MS Nº 888, DE 4 de maio de 2021.

3.3. Consumo de água


3.3.1 Introdução
Num projeto de um SAA, para efeito de dimensionamento, é importante que se efetue
adequadamente a:
- Estimativa da demanda de água da cidade, verificando-se a quantidade de água necessária por
pessoa por dia. Isto se efetua somando-se os consumos domésticos (equipamentos),
comercial, público e as perdas e fugas;
- Estimativa do número de habitantes servidos (previsão da população para um dado período de
alcance do projeto) e da forma em que se encontra distribuída essa população no espaço
público urbano.

3.3.2 Quantidade de água

Um ser humano ingere aproximadamente 2 litros de água por dia, mais um litro por dia nos
alimentos. Tem-se que 80 % do corpo humano é constituído por água, se esta porcentagem cai
para 70 % a capacidade produtiva cai, seguindo-se da morte.
As principais classes de consumo de água são as seguintes: doméstico, comercial ou industrial,
público e perdas e fugas.

3.2.1 Água para uso doméstico

É a água consumida nas habitações e compreende as parcelas destinadas a fins higiênicos, potáveis
e alimentares, e à lavagem em geral (Tabelas 3 e 4).
As vazões destinadas ao uso doméstico variam com o nível de vida da população, sendo tanto
maiores, quanto mais elevado esse padrão.

Tabela 3. Consumo de água para uso doméstico


Usos Consumo aproximado
Bebida e cozinha 10 – 20 L/hab.dia
Lavagem de roupa 10 - 20
Banhos e lavagem de mãos 25 – 55
Instalações sanitárias 15 – 25
Outros usos 15 – 30
Perda e desperdícios 25 - 50
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Tabela 4 – Consumo doméstico de água em prédios
Prédio Consumo (L/hab.dia)
Apartamento 200
Residência 150
Escola - internato 150
Escola – externato 50
Casa popular 120
Alojamento provisório 80

3.2.2 Água para uso comercial ou industrial

Com relação a água para uso comercial, destaca-se a parcela utilizada pelos restaurantes, bares,
hotéis, pensões, postos de gasolina e garagens, onde se manifesta um consumo muito superior ao
das residências.
Quanto às indústrias, aquelas que utilizam a água como matéria-prima ou para lavagens e
refrigeração apresentam consumos mais elevados (Tabela 6).
Em ambos os casos, é difícil conhecer a demanda provável numa cidade sem que seja feito um
levantamento das necessidades de cada estabelecimento.

Tabela 6 – Consumo de água em alguns tipos de estabelecimentos comerciais e industriais

Tipo de estabelecimento consumo


Escritórios comerciais 50 L/pessoa.dia
Restaurantes 25 L/refeição
Hotéis, pensões (sem cozinha e sem 120 L/hospede.dia
lavanderia)
Lavanderia 30 L/kg roupa
Hospitais 500 – 3000 L/leito.dia
Indústrias (uso sanitário) 70 L/operário.dia
Matadouros –animais de grande porte 800 – 2500 L/cabeça abatida
Matadouros –animais de pequeno porte 15 – 25 L/cabeça abatida
Laticínios 1 – 5 L/L de leite processado
Fábrica de papel 100 – 400 L/kg de papel
Tecelagem (sem alvejamento) 10 – 20 L/kg de tecido
Curtumes 15 – 25 L/kg de pele
Postos de serviços para veículos 150 L/veículos. Dia
Garagem 50 L/automóvel
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3.2.3 Água para uso público
Inclui-se nesta classificação a parcela de água utilizada na irrigação de jardins, lavagem de ruas e
passeios, edifícios e sanitários de uso público, alimentação de fontes, esguichos e tanques fluxíveis
de redes de esgoto.

3.3 Consumo per capita de água


Numa cidade com sistema de água em funcionamento regular, obtém-se o valor do
consumo médio per capita, dividindo-se o volume total de água distribuída durante um ano, por
365, e pelo número de habitantes beneficiado. É expresso geralmente em litros por habitante por
dia. No valor de q estão incluídas as perdas.
volume distribuído anualmente
𝑞=
365 x população beneficiada
𝑉𝑐 𝑞𝑒
𝑞𝑒 = 𝑞=
𝑁𝐸.𝑁𝐷.𝑁𝐻/𝐿 1−𝐼
Em que:
Vc: volume consumido;
Vp: volume produzido;
q: consumo per capita médio (qe acrescido das perdas);
qe: consumo per capita efetivo
NE: número de economias;
ND: número de dias do ano;
NH: número de habitantes;
L: número de ligações.
I: índice de perdas.
Cálculos já efetuados, para muitas cidades, permitem conhecer com razoável aproximação o
consumo per capita médio e, assim, aplicá-lo quando se pretende elaborar novos projetos.
As condições indispensáveis para um estudo criterioso são a continuidade de medição da água
aduzida para a cidade, feita por meio de aparelhos apropriados, e a existência de um sistema que
seja capaz de fornecer água ininterruptamente aos consumidores, sem necessidade de forçar a
restrição do consumo. Se isto ocorrer por deficiência de água nos mananciais, insuficiência de
equipamentos e instalações, frequentes interrupções de energia elétrica, ou ainda de má operação
do sistema, os resultados poderão ser falhos.
Na elaboração de projetos para cidades ainda não providas de qualquer sistema distribuidor,
utilizam-se dados mais ou menos consagrados de consumo médio per capita, para se calcular a
quantidade de água necessária no decorrer de determinado período. As normas para projeto
organizadas ou adotadas por entidades locais, estaduais ou regionais, geralmente apresentam os
valores a serem adotados.

3.4 Fatores que interferem no consumo de uma comunidade


Os fatores mais importantes no consumo de água de uma cidade podem ser relacionados:
-Tamanho da cidade;
-Características da cidade;
-Tipos de indústrias;
-Nível de vida da população;
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Notas de aula -2. Sistema de Abastecimento de Água
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-Clima;
-Existência ou não de hidrômetros;
-Pressão e qualidade da rede;
-Existência ou não de rede de esgotos,
- e atualmente a projetos de redução e reuso da água.

a) Tamanho da cidade
O tamanho da cidade está relacionado proporcionalmente ao consumo de água. Quanto maior a
cidade, maior a probabilidade de existirem indústrias e comércio que em cidades menores,
aumentando assim a demanda de água.
Outro fator importante neste sentido é que em cidades maiores as redes de água também são
maiores, aumentando assim as perdas nas canalizações.

b) Características da cidade
Dependendo do tipo de atividade predominante na cidade tem-se um maior ou menor consumo de
água. Nas cidades industriais, por exemplo, o consumo per capita tende a aumentar.

c) Tipo de indústria
Mesmo em cidades industriais pode-se ter diferença de consumo de uma para outra. Isto ocorre de
acordo com o tipo de indústrias instaladas no local. No caso da indústria de calçados o consumo
de água é mínimo, já as indústrias de aço e petróleo tem uma demanda muito grande de água.

d) Nível de vida da população


Quanto maior o nível de vida da população maior é o consumo de água. Isto ocorre porque com o
aumento do poder aquisitivo, as casas geralmente são maiores e a população pode adquirir mais
equipamentos que utilizam água. Aumentam assim os banhos, a lavagem das residências, a
irrigação de jardins, utilização de máquinas de lavar roupas e pratos, etc. Além disto, em bairros
de classe mais alta há a presença de redes de esgotos, o que aumenta o consumo de água.

e) Clima
Teoricamente as regiões mais quentes consomem mais água que as regiões mais frias. E as mais
secas consomem mais que as mais úmidas. Porém em Curitiba o consumo de água é em torno de
250 L/hab.dia e o de salvador é de 210 L/hab.dia. No caso em questão não são levados em conta
apenas fatores climáticos, mas também os socioeconômicos. As regiões onde existem mudanças
bruscas de temperaturas também apresentam maior consumo de água.

f) Existência ou não de hidrômetros


A falta de medição de consumo de água incentiva um maior uso desta. Isto ocorre porque, a
população estando isenta de taxas, consome muito, desperdiçando água. Nos locais onde há
taxação, procura-se economizar para pagar menos.

g) Pressão e qualidade na rede


Redes com maior pressão proporcionam um maior consumo de água, principalmente, pelo
desperdício das torneiras abertas. Outro tipo de desperdícios que ocorre se localiza nos vazamentos
da rede, que com uma maior pressão tendem a perder mais água. Cleasby (1967) cita que um
aumento de pressão na rede de 1,75 para 3,15 atm. ocasiona um aumento de 30 % no consumo de
água.
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h) Existência ou não de rede de esgotos
Pode ocorrer aumento de 50 a 100 % no consumo de água em regiões onde há redes de esgotos.
Isto ocorre devido a demanda de água nas instalações sanitárias, como pias, chuveiros, vasos
sanitários etc.

3.5 Variações de consumo


A água distribuída para uma cidade não tem uma vazão constante, mesmo considerada invariável
a população consumidora. Devido à maior ou menor demanda em certas horas do período diário
ou em certos dias ou épocas do ano, a vazão distribuída sofre variações mais ou menos apreciáveis.
Também nisto, os hábitos da população e as condições climáticas têm influência.

3.5.1 Variações diárias de vazão


O volume distribuído em um ano dividido por 365 permite conhecer a vazão média diária anual.
A relação entre o maior consumo diário verificado, e a vazão média anual fornece o coeficiente do
dia de maior consumo (k1). Valores típicos são mostrados na Tabela 7.

maior consumo diário no ano


𝑘1 =
vazão média diária no ano
Tabela 7 – Valores típicos de k1
Valores típicos K1
típico 1,2 a 2,0
São Paulo 1,5
SUDENE 1,2

3.5.2 Variações horárias de vazão


Também no período de um dia há sensíveis variações na vazão de água distribuída a uma cidade,
em função da maior ou menor demanda no tempo. Nos períodos das refeições (café da manhã,
almoço e jantar) as vazões são maiores, devido ao consumo de água para a preparação de alimentos
e limpeza de materiais. Nestes períodos há também uma maior utilização dos sanitários e dos
banhos, já que as pessoas estarão em seus trabalhos nos outros períodos.
Sendo assim, calcula-se a vazão média horária do dia de maior consumo dividindo-se o volume
diário de água consumida por 24 horas.
A relação entre a maior vazão horária observada num dia e a vazão média horária do mesmo dia
define o coeficiente da hora de maior consumo, ou seja:
maior vazão horária do dia
𝑘2 =
vazão média horária do dia

Valor típico de k2= 1,5.

3.6 Etapa de projeto (período)


O passo inicial na definição de um projeto para abastecimento de água é o estudo do crescimento
da população ao longo dos anos. Se a população cresce muito rapidamente ou se o projetista adotar
maiores períodos de projeto, as obras teriam de ser sobre dimensionadas no início do período de
projeto, o que oneraria muito a comunidade nos anos iniciais.
28
Notas de aula -2. Sistema de Abastecimento de Água
OBS. As notas de aula são apenas um roteiro, estudem pelos livros.
Outro fator importante para a adoção do período de projeto é a vida útil das estruturas e
equipamentos. A seguir são citadas as durações de algumas estruturas e equipamentos:
-Equipamentos de recalque: 10 a 20 anos;
-Adutoras: 20 a 30 anos;
-Condutos de grandes diâmetros: 25 a 50 anos;
-Tomadas d’água: 25 a 50 anos;
-Reservatórios: 20 a 40 anos.

No Brasil, o usual é utilizar de 20 a 25 anos de alcance de projeto, dividindo-o em duas etapas.


Além do crescimento da população e vida útil dos equipamentos e estruturas deve-se levar em
conta ainda:
-Facilidades de ampliação;
-Poder aquisitivo e recursos econômicos da população;
-Recursos (financiamento) e período de amortização

Bibliografia
DACACH, N. G. Saneamento Básico Livros Técnicos e Científicos Editora, Rio de Janeiro, 1984.
HELLER, L.; PÁDUA, V. L. Abastecimento de água para consumo humano. 2º Ed. Editora UFMG.
Belo Horizonte, Minas Gerais. 2010.
LEME, F. P. Engenharia do Saneamento Ambiental. Livros Técnicos e Científicos Editora, Rio de
Janeiro, 1982.
LIBÂNIO, M.. Fundamentos de qualidade e Tratamento de água. 3ª Ed. Editora Átomo, Campinas, SP.
2010.
SUPERINTENDÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS E SANEAMENTO
AMBIENTAL (SUDERHSA) Manual Técnico de Outorgas. Novembro de 2006.
TSUTIYA, MILTON TOMOYUKI. Abastecimento de água. 2ª Ed. Departamento de Engenharia
Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica de São Paulo, São Paulo, 2005. 643 p.
29
Notas de aula -3. Previsão de População
OBS. As notas de aula são apenas um roteiro, estudem pelos livros.
3 Previsão de população
3.1 Introdução
O projeto de obras de saneamento requer a “estimativa” do crescimento da população a ser
beneficiada. A previsão de população aliada à adoção de um período de alcance de projeto
adequado é fundamental para a fixação das vazões de projeto.
A estimativa do crescimento populacional de núcleos urbanos constitui processo bastante
suscetível de erros, pois a dinâmica do crescimento urbano em geral envolve fatores econômicos,
políticos e sociais, todos de difícil previsão.
Diversos são os métodos aplicáveis para o estudo demográfico, destacando-se os seguintes:
- Método dos componentes demográficos
- Métodos matemáticos
- Métodos de extrapolação gráfica

3.2 Método dos componentes demográficos


Este método considera a tendência passada, que é verificada pelas variáveis demográficas e, a
partir delas, são formuladas hipóteses de comportamento futuro.

𝑃 = 𝑃0 + (𝑁 − 𝑀) + (𝐼 − 𝐸)
em que:
P: população numa data futura “T”;
*P0: população na data inicial “T0”;
*N: nascimentos no período “T0” a T;
*M: óbitos no período “T0” a T;
*I: imigrantes no período “T0” a T;
*E: emigrantes no período “T0” a T;
*esses dados dependem de fatores econômicos (atividades comerciais e industriais), políticos ou
sociais (com grau de incerteza).
É importante considerar ainda a população flutuante (por ex. balneários turísticos litorâneos).
Na prática, para previsão de população, utiliza-se métodos simplificados de previsão, é claro que
há necessidade de uma dose de bom senso aliada a visão de conjunto dos fatores anteriormente
citados.

3.2 Métodos matemáticos


a) Método aritmético
Este método admite que a população varia linearmente com o tempo. A verificação dessa hipótese
pode ser feita por meio de gráfico, representando as datas de vários censos em abscissas e tomando-
se os correspondentes valores de população como ordenadas.
𝑃2 − 𝑃1
𝑘𝑎 = 𝑃 = 𝑃2 + 𝑘𝑎 (𝑡 − 𝑡2 )
𝑡2 − 𝑡1
ka: razão ou taxa de crescimento
P1 e P2: retirados dos dois censos mais recentes (inicial)
Tal método quando utilizado para previsões de longo alcance apresenta acentuada discrepância
30
Notas de aula -3. Previsão de População
OBS. As notas de aula são apenas um roteiro, estudem pelos livros.
com a realidade histórica, pois o crescimento é suposto ilimitado.

b) Processo geométrico
Supõe que o crescimento segue uma progressão geométrica, ou seja, admite-se uma porcentagem
constante de crescimento para iguais períodos.

𝑙𝑛 𝑃2 − 𝑙𝑛 𝑃1
𝑘𝑔 = 𝑃 = 𝑃2 . 𝑒 𝑘𝑔(𝑡−𝑡2)
𝑡2 − 𝑡1
Neste método considera-se o logaritmo da população variando linearmente com o tempo. Como
no método aritmético neste caso também o crescimento é considerado ilimitado.
No Brasil cidades com menos de 20.000 hab. (90% do total) tendem a crescer geometricamente
em grande número de casos.
Esse método é aplicável nos casos em que não surgem, acontecimentos que possam perturbar o
ritmo regular de crescimento da cidade. Não é aconselhável para previsões de longo alcance.

c) Método exponencial
Supõe crescimento exponencial da população com taxas crescentes. Os dados censitários devem
ser ajustados para uma curva exponencial através do método dos mínimos quadrados.

𝑃 = 𝑃0 . 𝑒 𝑎(𝑡−𝑡0) 𝑙𝑛
⏟ 𝑃 = 𝑙𝑛
⏟ 𝑃0 + 𝑎. (𝑡
⏟ − 𝑡0 ) 𝑌𝑖 = 𝐴 + 𝑋𝑖
𝑌𝑖 𝐴 𝑋𝑖
onde:
t= data relativa à previsão que se quer;
t0= data de censo mais antigo;
P0= população relativa a t0;

d) Método da curva logística


Esse método foi proposto por VELZ & EICH (1940) baseado no princípio de que populações
seguem curvas características de crescimento de seres vivos dentro de um espaço limitado e com
oportunidade econômica limitada.
Procedimento de cálculo:
-Obtêm-se valores das populações P0, P1 e P2, correspondente a três datas anteriores, t0, t1 e t2;
- Adota-se, como curva de crescimento populacional, uma curva definida por esses três pontos
e que obedeça à equação seguinte:
𝐾
𝑃=
1 + 𝑒 𝑎−𝑏𝑡
onde:
b: é a razão de crescimento da população;
K: é o limite de P (valor de saturação da população);
a
a: é um valor tal que para t = há uma inflexão (mudança no sentido da curvatura) na curva.
b
Faz-se a determinação dos três parâmetros, a, b e K, para a completa individualização dessa
equação. Para isso, resolve-se o sistema de 3 equações e 3 incógnitas, a, b e K, obtidas mediante
introdução de cada um dos valores censitários referidos.
31
Notas de aula -3. Previsão de População
OBS. As notas de aula são apenas um roteiro, estudem pelos livros.
A resolução do sistema de três equações acima fica bastante simplificada se os três pontos
censitários forem cronologicamente eqüidistantes.

Curva logística
Isto é: t0 = 0; t1 = d; t2 = 2d
t: contado a partir de t0, resultam:

2𝑃0 𝑃1 𝑃2 − (𝑃1 )2 . (𝑃0 + 𝑃2 )


𝐾=
𝑃0 𝑃2 − (𝑃1 )2
1 𝑃0 (𝐾−𝑃1 ) 1 𝐾−𝑃0
𝑏=− 𝑙𝑜𝑔 𝑎= 𝑙𝑜𝑔
0,4343𝑑 𝑃1 (𝐾−𝑃0 ) 0.4343 𝑃0

A estabilidade da curva logística, entretanto fica na dependência de estar satisfeita a condição:


P0 P2  (P1 )
2

Sob a hipótese da curva logística, como se viu, a população cresce assintoticamente para um valor
limite de K.
OBS.: esse método é mais aplicável a grandes cidades (capitais) cujas populações se encontram
mais próximas à saturação.

e) Método da extrapolação gráfica (ou prolongamento manual)


A extrapolação gráfica, também chamada de processo de prolongamento manual, consiste no
traçado de uma curva arbitrária que se ajuste aos dados já observados de outras comunidades com
características semelhantes a do estudo em questão, sem se procurar estabelecer a equação da
mesma. As extrapolações ou previsões de populações futuras obtêm-se prolongando a curva
obtida, de acordo com a tendência geral verificada, usando um julgamento próprio.
32
Notas de aula -3. Previsão de População
OBS. As notas de aula são apenas um roteiro, estudem pelos livros.

Previsão da população por extrapolação gráfica

3.3 População flutuante


Em certas cidades, além da população residente, devem ser considerados os afluxos maciços de
pessoas, em determinados períodos. É o caso, por exemplo, de períodos de férias ou de fins de
semana em cidades balneárias ou em estâncias climáticas e hidrominerais.
Os estudos de previsão de população futura flutuante são feitos por métodos análogos àqueles
utilizados para a população fixa. Levantam-se dados estatísticos sobre as ocorrências anteriores e
pressupõe-se o crescimento futuro em conformidade com as curvas observadas na própria cidade,
e em cidades semelhantes.

3.4 Previsão da distribuição geográfica da população


Em complementação à estimativa de população, faz-se necessária a previsão de como essa
população estará distribuída na cidade, o que é de grande importância acima de tudo para o
dimensionamento da rede de distribuição.
A existência de um plano diretor proporciona previsões mais seguras caso contrário há grande
incerteza o que exige muito bom senso, além de conhecimentos relacionados a fatores tais como
desenvolvimento industrial, comercial, facilidades nos transportes, aspectos topográficos, etc.
As previsões de densidades demográficas são feitas mediante aplicação de métodos gerais de
previsão populacional em cada uma das áreas parciais em que a cidade se divide. Estas áreas
parciais são delimitadas em função dos fatores que governam a intensidade de ocupação da área
urbana, tais como: condições topográficas, facilidades de expansão da área urbana, preço de
terrenos, planos urbanos e condições sócio-econômicas da população, existência de serviços de
águas pluviais, etc.
Costuma-se definir o número de habitantes por hectare ou o número de habitantes por metro de
canalização. No primeiro caso, tem-se a densidade demográfica, geralmente usada no
dimensionamento das redes pelo método de Hardy Cross ou similares. O número de habitantes por
metro de canalização é útil no cálculo das redes ramificadas ou nas redes malhadas dimensionadas
pelo método do seccionamento fictício.
A distribuição dos habitantes por unidade de área ou comprimento de tubulação varia de cidade
para cidade. Quando o núcleo populacional tende a desenvolver-se pelo processo natural, alheio a
um plano racional de crescimento, representado pelo plano de urbanização, a distribuição da
população de projeto poderá ser definida em função da população atual, relacionada à área em que
33
Notas de aula -3. Previsão de População
OBS. As notas de aula são apenas um roteiro, estudem pelos livros.
se distribui ou à extensão total das artérias habitadas, conforme o caso.
Existem duas modalidades de densidade demográfica.
- Densidade bruta: é a que resulta da simples divisão da população pela área correspondente,
incluindo parques, jardins, praças e áreas vagas;
- Densidade líquida: é a que se obtém dividindo a população pela área edificada correspondente,
- constituída pelos quarteirões (livres da largura das ruas).
Logo, a densidade líquida é maior que a densidade bruta e na maioria dos casos é de 1,5 a 2,5
vezes maior.
Para as pequenas cidades geralmente tanto a distribuição por área como a linear podem ser
consideradas uniformes. Em alguns casos, todavia, justifica-se o cálculo da distribuição
populacional para cada zona ou bairro.
Nesses estudos, são muito úteis os levantamentos cadastrais da cidade, assim como as fichas
detalhadas por distritos, obtidas por ocasião dos censos nacionais.
Por outro lado, quando a cidade cresce em obediência a um planejamento urbano, então é possível
prefixar os índices demográficos de projeto com maior probabilidade de sucesso.

Tabela 1 – Densidades demográficas (pessoa por hectare)


Densidade Centro Junto ao centro intermediária exterior
Líquida 250 180 125 75
Bruta 125 100 75 50

Tabela 2 – Distribuição das densidades demográficas na área urbana (número de habitantes por
hectare)
Tipo de ocupação Densidade demográfica (hab./ha)
Áreas periféricas, casas isoladas, grandes lotes 25 a 50
Casas isoladas, lotes médios e pequenos 50 a 75
Prédios de apartamentos pequenos 150 a 250
Prédios de apartamentos grandes 250 a 750

Áreas comerciais 50 a 100


Áreas industriais 25 a 100
Densidade global média 50 a 150

3.5 Considerações finais sobre a previsão de população


Os fatores que presidem o crescimento de uma cidade, principalmente nos países em fase de
transição, apresentam características de instabilidade que tornam duvidosas as previsões de longo
prazo. Por razões econômicas, entretanto, o período de projeto abrange prazo relativamente longo,
da ordem de 20 a 25 anos.
Evidentemente, no decurso do período de projeto, fatores inicialmente intangíveis poderão
esporadicamente atuar na lei de crescimento, fazendo com que os valores reais de população
sofram desvios em torno da curva de crescimento previamente definida. Por esse motivo
estatístico, ao invés de fazer previsões futuras em termos de pontos no diagrama, é mais
34
Notas de aula -3. Previsão de População
OBS. As notas de aula são apenas um roteiro, estudem pelos livros.
recomendável definirem-se faixas de valores. Dentro destas, serão finalmente escolhidas as
populações de projeto, em função das conveniências de escalonamento das obras, conveniências
essas decorrentes de motivos de ordem hidráulica, estrutural, financeira etc.
Os valores das populações de projeto, portanto, têm a finalidade principal de definir a magnitude
das etapas de execução, de forma que as obras se sucedam através de um escalonamento lógico.
Se, em função de fatos novos, houver futuramente uma aceleração ou um retardamento no prazo
para atingir-se uma dada etapa, dever-se-á proceder a um reajustamento do programa de obras,
mediante antecipação ou prorrogação de determinadas etapas previstas.
Qualquer que seja o modelo matemático que tenha sido usado na previsão populacional deve ele
ser verificado periodicamente e ajustado às informações mais recentes, por exemplo, fornecidos
por um novo censo.
Os modelos matemáticos, anteriormente descritos, chamados de modelos determinísticos,
conduzem a um único valor de P, para cada t fixado.
Modernamente, vêm sendo desenvolvidos estudos para aplicação do chamado modelo estocástico,
com o qual, para cada valor de t obtém-se uma série de valores de P associados às suas respectivas
probabilidades de ocorrência. Isto é, procura-se levar em conta a flutuação a que estão sujeitos os
valores da variável “população”, no decorrer do tempo. A cada data futura, vai corresponder,
portanto, uma faixa de populações prováveis previsíveis, em lugar de um único valor numérico.

3.6 Áreas a serem abastecidas – concepção e etapas de projeto


Paralelamente ao crescimento populacional, verifica-se em geral uma expansão da área urbanizada
da cidade. Esse aspecto deve ser levado em conta nos projetos de abastecimento de água, em
especial a localização de reservatórios e o traçado de condutos principais e redes distribuidoras,
mediante estudo criterioso das prováveis zonas de crescimento.
Importante é também conceber o projeto de modo que a execução das obras não acarrete um
investimento inicial incompatível com os recursos que poderão ser obtidos.
Excetuadas algumas estruturas cuja construção se aconselha ser completada para a capacidade
final, a maioria das partes constitutivas de um sistema pode ser executada ou montada por etapas,
à medida das necessidades.
As etapas de projeto não devem, contudo, ser em número exagerado, a ponto de obrigar um
permanente estado de execução das obras.

Bibliografia
DACACH, N. G. Saneamento Básico Livros Técnicos e Científicos Editora, Rio de Janeiro, 1984.
HELLER, L.; PÁDUA, V. L. Abastecimento de água para consumo humano. 2º Ed. Editora UFMG. Belo
Horizonte, Minas Gerais. 2010.
TSUTIYA, MILTON TOMOYUKI. Abastecimento de água. 2ª Ed. Departamento de Engenharia
Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica de São Paulo, São Paulo, 2005. 643 p.
35
Notas de aula -4. Mananciais
OBS. As notas de aula são apenas um roteiro, estudem pelos livros.
4. Mananciais
A qualidade e quantidade da água a ser utilizada num sistema de abastecimento estão intimamente
relacionadas às características do manancial. É necessário e conveniente, nos estudos de um
sistema de abastecimento de água, que se considere as diversas finalidades a que se destinam as
águas naturais, inclusive para garantir a qualidade e quantidade suficiente para os usos de uma
comunidade e, também, para a devida proteção dos mananciais de água de uma região contra a
poluição.

4.1 Tipos de mananciais


Os mananciais podem ser divididos em dois tipos principais: superficiais e subterrâneos.

4.1.1 Superficiais
• rios perenes sem necessidade de represamento;
• rio ou curso d’água com reservatórios de acumulação – represa;
• lagos naturais.
As características dos mananciais de superfície dependem da: área da bacia contribuinte, geologia
e topografia da bacia, das condições atmosférica e das atividades humanas na bacia.

Quantidade de água disponível

Avaliação inicial da vazão


𝑄 = 𝐾. 𝐴 (𝑚3 /𝑠)
onde:
Q: vazão da bacia (aproximada) em m3/s;
K: coeficiente de contribuição ou vazão
específica (depende do solo, vegetação,
clima etc.; (L/s/km2)
A: área da bacia em há ou km2.

Os mananciais de superfície apresentam:


- Facilidade de captação (relativo);
- Garantia de vazões (relativo);
- Qualidade suscetível a impactos;

4.1.2 Subterrâneos:
Água subterrânea é a água em condições de escoar, presente nos interstícios, fendas, falhas ou
canais existentes no subsolo.
• Surgência natural: fontes, minas e nascentes;
• Retirada artificial: poços rasos ou profundos (tubulares ou escavados);
• Drenos e galerias filtrantes.

Os mananciais subterrâneos apresentam:


- Relativa facilidade de obtenção (depende da região), embora nem sempre em quantidade
suficiente;
36
Notas de aula -4. Mananciais
OBS. As notas de aula são apenas um roteiro, estudem pelos livros.
- Vazões incertas, exceto alguns aquíferos;
- Qualidade mais favorável, exceto em casos em que a dureza, o ferro e o manganês são
pronunciados;
- Depende das características hidrogeológicas;
- Possibilidade de localização das obras de captação nas proximidades das áreas de consumo.
No caso de mananciais subterrâneos é interessante avaliar poços na região (vazão e qualidade),
consultar firmas de sondagem.

4.1.3 Outros
- Subsuperficiais;
- Pluviais;
- Reuso da água.
Obs. Ver Quadro 1 comparação entre os tipos de mananciais.
Quadro 1 – Comparação entre os diversos tipos de mananciais
Manancial Quantidade de água
depende de fatores como:
Superficial área da bacia de contribuição; relevo da bacia; condições da superfície do solo;
constituição geológica do subsolo; clima; existência de obras de controle e
utilização da água a montante do local de captação.
Subterrâneo
- Geralmente capaz de atender a uma família ou a um pequeno grupo de
Freático
famílias.
artesiano - Pode atender a cidades de pequeno, médio ou grande porte, dependendo das
(confinado) características geológicas do subsolo, entre outros fatores.

Água da chuva -Depende da pluviosidade local

Manancial Qualidade da água

-Depende de fatores como:


Superficial -Grau de ocupação da bacia de contribuição; prática de atividades
potencialmente poluidoras na área da bacia; existência de pontos de
lançamento de esgotos a montante.

Subterrâneo
-Água sofre filtração natural pelas camadas do solo; grande exposição a
contaminação por organismos patogênicos, devido principalmente à
Freático
proximidade de fossas, falta de higiene no manuseio ou entrada de água da
chuva.
artesiano Pouca exposição a contaminação por atividades humanas, podendo haver
(confinado) presença de substâncias químicas nocivas ao homem
-Por não possuir sais dissolvidos é insípida e pouco digestiva. Pode sofrer
Água da chuva
contaminação nos telhados por partículas ou por fezes de pequenos animais
37
Notas de aula -4. Mananciais
OBS. As notas de aula são apenas um roteiro, estudem pelos livros.
4.2 Escolha do manancial

4.2.1 Dados a pesquisar e condições a observar

a) Quantitativos
• -Características da bacia hidrográfica;
• -Registros hidrológicos;
• -Medições de vazão, velocidade e nível d’água;
• -Previsões de vazões máximas e mínimas;
• -Estudos hidrológicos.
Condições a observar:
Se a vazão mínima do manancial for maior que a vazão de demanda da população a tomada de
água poderá ser direta. Pode ser necessária a construção de uma pequena barragem para elevação
do nível.
𝑄𝑚𝑖𝑛. manancial > 𝑄𝑑𝑒𝑚𝑎𝑛𝑑𝑎

Caso a vazão mínima do rio seja menor que a de demanda, mas a vazão média do (rio) manancial
seja maior que a demanda, deverá ser construído um reservatório de acumulação.
𝑄𝑚𝑖𝑛. manancial < 𝑄𝑑𝑒𝑚𝑎𝑛𝑑𝑎

𝑄𝑚é𝑑𝑖𝑎 manancial > 𝑄𝑑𝑒𝑚𝑎𝑛𝑑𝑎 (condição necessária)

Pode ocorrer da vazão de demanda ser maior que a vazão mínima e média do rio.
𝑄𝑚é𝑑𝑖𝑎 manancial < 𝑄𝑑𝑒𝑚𝑎𝑛𝑑𝑎

neste caso, a opção escolhida deve ser abandonada ou utilizada junto com outro manancial.

b) Qualitativos
• -Análises físico-químicas e bacteriológicas;
• -Análises e estudos de tratabilidade;
• -Caracterização do uso e ocupação do solo na bacia.

Condições a observar:
-Viabilidade do manancial para uso em abastecimento público;
-Tipo de tratamento a ser usado;
-Condições de proteção sanitária do manancial: disciplinamento do uso do solo, legislação,
medidas concretas de proteção.

Com o objetivo de balizar a definição da tecnologia de tratamento a ser adotada o CONAMA,


conforme Tabela 1, apresenta as classes para as águas doces e os respectivos níveis de tratamento
recomendados. De forma análoga a NBR 12216/92 apresenta uma classificação das águas naturais
para abastecimento público e a linha (tipo) de tratamento recomendada para cada uma (Tabela 2).
38
Notas de aula -4. Mananciais
OBS. As notas de aula são apenas um roteiro, estudem pelos livros.
c) Econômicas
• dados topográficos (cotas, distâncias);
• dados geológicos;
• custo de terrenos;
• infraestrutura existente (vias de acesso, energia elétrica etc.).

Condições a observar:
-Tipo de adução: gravidade ou recalque;
-Custos de deslocamentos;
-Facilidade de execução das obras;
-Tipos de equipamentos necessários (bombas, equipamentos de tratamento, distância ao ponto
de consumo, etc.).
SEGURANÇA ÁGUA POTÁVEL

EFICIÊNCIA VAZÃO CONTÍNUA

ECONOMIA MENOR CUSTO

As características do manancial podem variar tanto sazonalmente como durante o período de sua
utilização. Portanto a escolha do manancial, além de obedecer aos critérios a que se destina –
consumo humano, também precisa evitar que surjam problemas decorrentes de alterações
significativas de qualidade, que podem, com o tempo, tornar inviável a tecnologia adotada de
tratamento.
O crescimento das populações urbanas, a concentração demográfica, a expansão industrial e os
diferentes usos do solo da bacia hidrográfica do manancial dão uma idéia preliminar das
possibilidades de utilização do manancial.
Economicamente nem sempre se pode tratar qualquer água. No Brasil há normas que
regulamentam o uso das águas para abastecimento, em função da qualidade destas.

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