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PROJETO DE SISTEMAS ANAERÓBIOS DE TRATAMENTO


DE ESGOTOS SANITÁRIOS

MODULO I – Introdução ao tratamento dos esgotos sanitários.

1- O SANEAMENTO, A POLUIÇÃO, A SAÚDE PÚBLICA E O MEIO AMBIENTE; AS


PARTES INTEGRANTES DE UM SISTEMA DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO.

O Saneamento Básico pode ser definido como um conjunto de ações no campo do


abastecimento público de água, da coleta e tratamento dos esgotos sanitários, da
coleta e destinação adequada dos resíduos sólidos urbanos, do controle de vetores e
da drenagem das águas pluviais, objetivando preservar a Saúde Pública ou seja
mantendo em níveis aceitáveis as condições de salubridade e a incidência das doenças
de veiculação hídrica em um determinado grupo humano. Modernamente, o
Saneamento Básico é considerado sob um angulo mais abrangente, uma vez que
através do mesmo é possível a adoção de medidas preventivas e/ou corretivas,
visando o controle da poluição dos corpos receptores, tais como, rios, lagos, lagoas,
baias ou seja permitir a existência de um meio-ambiente saudável , ecologicamente
equilibrado, com a preservação dos recursos naturais e mais diretamente dos recursos
hídricos, para a atual e para as futuras gerações de forma compatível com o princípio
do desenvolvimento sustentável.

Da mesma forma que o Saneamento Básico, a Saúde Pública que inicialmente era vista
como uma prática de caráter médico-curativo para controlar as doenças infecto-
contagiosas, modernamente é encarada como um conjunto de ações de caráter
médico-curativo e também preventivo, não apenas das doenças infecto-contagiosas,
mas também das doenças de veiculação hídrica.

Tendo em vista que ultrapassa os limites do presente tema, o estudo mais detalhado
destas patologias, serão apenas relacionadas algumas das doenças de veiculação
hídrica mais comuns (desinterias microbianas, hepatite, cólera, etc) e informações
relacionadas com as mesmas conforme apresentado no QUADRO I.

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Prof.: Eng. Carlos Branco / e-mail: engbranco@aol.com – www.tratamentodeagua.com.br
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A abordagem mais atual serve para caracterizar nos dias de hoje, o Saneamento
Básico como uma legitima ação de Saúde Pública tendo em vista que ele pode,
especialmente através a implantação e operação de sistemas de abastecimento de
água e de coleta e tratamento de esgotos sanitários, impedir que se estabeleça ou
mesmo destruir, caso existente, o ciclo danoso da contaminação. O exemplo clássico
FIGURA 1 desta situação, seria o caso de uma pequena comunidade que não dispondo
de serviços de abastecimento de água e de coleta e tratamento de esgotos, procede da
seguinte maneira: a população para ver atendida suas necessidades básicas de água,
retira esta de um poço, aberto e operado de forma inadequada, usualmente raso e
atingindo apenas a profundidade do lençol freático. Esta água é utilizada não só para
ingestão como para inúmeros outros usos dentro de um domicilio, transformando-se
assim em água servida. A comunidade não dispondo de um sistema para coleta,
tratamento e disposição final adequada destes efluentes, encaminha-os para um valão
próximo. Estes despejos contaminam as águas do valão, e com o passar do tempo
estas águas contaminadas vão se infiltrando nas camadas sub-superficiais e acabam
por contaminar as águas do lençol freático. Na etapa final do ciclo, a comunidade
utilizará estas águas contaminadas para suas atividades domésticas e assim estará
fechado o ciclo de contaminação. Este processo pode ocorrer em outras situações
como por exemplo o de duas cidades marginais ao mesmo rio, em que as duas ou
especialmente a situada mais a montante não dispõe de um sistema de coleta e
tratamento incluindo desinfecção e disposição adequada das águas servidas. As
situações aqui descritas, embora indesejáveis, ocorrem com freqüência no país,
principalmente em regiões de baixa renda e nas periferias das Regiões Metropolitanas.

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Na FIGURA 2 é mostrada a situação de precariedade sanitária de uma comunidade de
baixa renda na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Sob o ponto de vista
ambiental, o Saneamento Básico, através da implantação de sistemas públicos de
esgotamento sanitário, impede o lançamento de esgotos brutos nos corpos receptores,
assim prevenindo efeitos indesejáveis como por exemplo a eutroficação de um lago,
fato caracterizado pelo crescimento descontrolado de microorganismos vegetais,
especialmente de algas, conforme está acontecendo no lago Maracaibo na Venezuela
mostrado na FIGURA 3.

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Ao longo deste trecho inicial, já tivemos oportunidade de utilizar duas palavras,
poluição e contaminação, as quais por sua importância serão objeto de algumas
considerações. Segundo o Decreto 73 030/73 a poluição da água é entendida como
qualquer alteração de suas propriedades físicas, químicas ou biológicas, que possa
importar em prejuízo à saúde, à segurança e ao bem-estar das populações, causar
danos à flora e à fauna, ou comprometer o seu uso para fins sociais ou econômicos.

Quanto à contaminação, pode ser entendida como a introdução, no meio líquido, de


elementos em concentrações nocivas à vida animal e vegetal, tais como organismos
patogênicos, substancias tóxicas ou radioativas. Pode ser considerada um caso
particular de poluição. É interessante observar que a água pode transportar ou pode
originar fatores patogênicos. O primeiro caso refere-se ás doenças citadas
anteriormente e o segundo caso refere-se às doenças de origem hídrica, que o Prof
Lucas Nogueira Garcez classificou como contaminantes tóxicos e que podem ser de 4
diferentes tipos:

• contaminantes naturais vinculados à ocorrências minerais venenosas, como


altas concentrações de flúor, arsênico, etc.
• contaminantes naturais vinculados à determinadas espécies de algas
• contaminantes introduzidos nas águas em função de obras de engenharia,
como o caso da corrosão de tubulações submersas
• contaminantes introduzidos nas águas pelo lançamento de despejos industriais

À nível federal, a legislação que define as diretrizes básicas de proteção aos recursos
hídricos em todo o território nacional, pode ser sintetizada em dois textos legais que
são respectivamente a Lei Federal 6938/81 que estabeleceu a Política Nacional de Meio
Ambiente e a Resolução CONAMA 020/86 que classificou as águas doces, salinas e
salobras em todo o território nacional, estabelecendo classes vinculadas aos usos
benéficos previstos para as mesmas. Sobre esta Resolução serão feitas algumas

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considerações mais adiante.Complementando esta parte inicial, é oportuno transcrever
as observações do Prof Duncan Mara á respeito da necessidade de tratamento das
águas residuárias domésticas e industriais:

As águas residuárias devem ser tratadas antes de seu lançamento nos corpos
receptores a fim de:

a) reduzir a disseminação de doenças transmissíveis, causadas pelos organismos


patogênicos existentes nas águas.

b) evitar a poluição das águas subterrâneas e de superfície; e mais adiante


complementa: “A demora em proporcionar um adequado sistema de coleta,
tratamento e destinação final de águas residuárias, particularmente em centros
urbanos, pode ser desculpável e infelizmente inevitável, por falta de recursos
econômicos, porem terá um grande impacto na saúde da comunidade , impedindo o
desenvolvimento social e econômico, e como conseqüência, , dificultando
freqüentemente o melhor uso dos escassos recursos disponíveis.”

Segundo estudos realizados, estima-se que para cada 1 real investido em saneamento,
seriam economizados 4 reais em serviços de saúde(atendimentos, internações,
medicamentos,etc).

É oportuno neste ponto que sejam feitas considerações concernentes aos tipos de
sistemas de esgotamento sanitário, com o objetivo de melhor situar o tratamento no
conjunto que caracteriza um sistema de esgotamento sanitário.

Estes podem ser de 3 diferentes tipos ou modalidades, conforme abaixo citados:

- sistema unitário
- sistema separador
- sistema misto

O sistema unitário é aquele que em que os esgotos são coletados na mesma tubulação
em que são coletadas as águas pluviais. Esta modalidade é muito utilizada em cidades
de pequeno porte e principalmente quando existe uma grande carência de recursos
financeiros, sendo em conseqüência a solução adotada nas pequenas comunidades,
principalmente nas regiões mais carentes do pais.

O sistema separador é aquele no qual são projetadas e executadas duas tubulações,


uma destinada às águas pluviais e outra destinada à coleta dos esgotos sanitários.
Esta solução é geralmente adotada nas cidades de médio e grande porte,
especialmente nas grandes capitais tais como, Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e
outras cidades brasileiras.

O sistema misto é utilizado de forma mais restrita e caracteriza-se pelo fato de


envolver a utilização das duas soluções citadas conjuntamente.

Cada uma destas modalidades de sistema, tem suas vantagens e desvantagens. No


caso do sistema unitário, a grande vantagem é a redução dos custos de execução
tendo em vista que é necessária a existência de apenas uma rede. Entretanto este
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sistema apresenta, sob o ponto de vista sanitário, um grande inconveniente, qual seja
o de permitir, não somente nos logradouros públicos, mas até mesmo no interior dos
domicílios, o extravazamento de águas contaminadas, que são as responsáveis pelo
surgimento de casos de leptospirose e outras doenças quando ocorrem chuvas
intensas em uma determinada região ou bairro de uma cidade. Nesta hipótese não é
possível a existência de um dispositivo de tratamento centralizado, tendo em vista que
na ocasião de chuvas intensa é inviável a admissão de toda a vazão afluente na

estação de tratamento. Nestes casos são projetados sistemas de tratamento para


instalação no interior de cada residência ou sistemas locais de tratamento, que
recebem a contribuição de uma área de residências ou de um determinado bairro,
tratam as mesmas e as encaminham para o sistema de drenagem pluvial.

Embora, apresentando um custo de execução razoavelmente maior, o sistema


separador é a solução melhor sob o ponto de vista sanitário, uma vez que neste caso,
as águas servidas são segregadas em uma rede coletora, especialmente projetada e
executada para esta finalidade.

No sistema separador, toda a vazão contribuinte pode ser concentrada em um único


ponto, onde é posicionada a estação de tratamento de esgotos ou simplesmente ETE.

Esta diferença da concepção deve-se também ao fato de que no sistema unitário a


quantidade (vazão) e a qualidade da vazão afluente são muito variáveis, o que
inviabiliza o envio para uma ETE.
Um sistema separador na sua configuração convencional, é constituído por 4 partes ou
etapas, assim denominadas: coleta, transporte, tratamento e disposição final. Na
pratica, pode eventualmente não existir uma ou mais de uma destas partes. Na
FIGURA 4 está apresentado, um croquis no qual podem ser identificadas estas partes
constituintes de um sistema separador de esgotamento sanitário.

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2 - OS PROCESSOS FÍSICOS, QUÍMICOS E BIOLÓGICOS DE TRATAMENTO; A
APLICABILIDADE DOS MESMOS.

O tratamento dos efluentes líquidos domésticos, podem ser feitos segundo cada um
dos processos acima indicados isoladamente ou de forma associada. A utilização de um
determinado processo isoladamente ou a utilização de dois ou mais processos de
forma associada é decisão específica para cada caso que se estude. A escolha da
melhor alternativa somente poderá ser feita após uma criteriosa avaliação de inúmeros
fatores de natureza técnica e econômico- financeira necessariamente envolvidos nesta
análise. Podem ser citados, entre estes, os seguintes: eficiências requeridas, tamanho
da área disponível, local da área disponível, disponibilidade de energia elétrica,
disponibilidade de mão de obra para execução, operação e manutenção, etc.

À seguir serão feitas considerações relativas à cada um dos processos referidos.

PROCESSOS FÍSICOS - são todos os processos que utilizam fenômenos físicos, tais
como a decantação, a filtração, a flotação e outros mais. Neste grupo podem ser
citados entre outros:

gradeamento- consiste na utilização de grades metálicas ou dispositivos correlatos


que são interpostos no percurso do esgoto bruto e permitem a retenção dos
denominados sólidos grosseiros(garrafas plásticas, panos, latas, pedaços de madeira,
caixas, etc.). Este dispositivo é rotineiramente utilizado em estações de tratamento de
esgotos. São adequadamente dimensionados e posicionados imediatamente à
montante das demais unidades que compõem uma ETE. Podem ser de limpeza manual
ou mecânica, dependendo basicamente do porte da estação. Na FIGURA 5 está
apresentada uma grade de limpeza mecânica. Nas pequenas estações são utilizadas
grades de limpeza manual, conforme a apresentada na FIGURA 6

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equalização- consiste na utilização de equipamentos capazes de girar, agitar, etc
permitindo assim a mistura de efluentes diferentes ou a mistura de elementos
presentes em um mesmo efluente. São muito utilizados em estações de tratamento de
despejos industriais.

sedimentação- consiste na supressão de movimentos no interior e na superfície de


um líquido, o que permite que partículas sólidas de pequeno diâmetro, sujeitas à ação
da gravidade, decantem no interior de tanques cilíndricos ou prismáticos denominados,
por este motivo, decantadores. A camada de material fluido formado no fundo é

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denominada lodo. Estas unidades são utilizadas freqüentemente em estações de
tratamento.

Flotação - consiste na introdução de bolhas de ar no interior da massa líquida,


permitindo assim que as mesmas em seu movimento de ascendente, arrastem para a
superfície livre as partículas de pequeno diâmetro e outras matérias em suspensão,
sendo o material formado na superfície denominado escuma. É utilizada em algumas
ETEs.

PROCESSOS QUÍMICOS - são utilizados quando é desejada a remoção de


substancias que não são atingidas pelos processos físicos. Assim sendo, para a
remoção de substancias dissolvidas, é adequado a utilização de processos químicos.
Nestes casos são utilizados os denominados floculantes, tais como o cloreto férrico, o
sulfato de alumínio e outros produtos químicos, que tem a propriedade de formar
grandes e pesados flocos que depois de formados se agregam às partículas muito
pequenas e as arrastam para o fundo.

Uma utilização prática de processo químico é a denominada desinfecção, usualmente


aplicada ao esgoto tratado ou seja a colocação em contato direto do esgoto tratado
com um composto de cloro, durante um determinado tempo, objetivando a destruição
de microorganismos patogênicos que eventualmente tenham sido resistentes às
diversas etapas do tratamento.

Esta operação até algum tempo passado, era classicamente utilizada nas ETEs. Mais
recentemente pesquisadores no Exterior, identificaram uma clara correlação de
incidência de casos de câncer com áreas residenciais onde a água utilizada no sistema
de abastecimento apresentava elevadas concentrações dos denominados compostos
organo-clorados, os quais são gerados pela combinação do cloro com a matéria
orgânica presente nos esgotos.

Em razão deste fato, modernamente está sendo abandonada a cloração dos esgotos,
sendo a mesma substituída por outras alternativas, como a radiação ultra- violeta e a
ozonização. Em nosso país está sendo muito adotada a solução de submeter os
esgotos aos raios ultra-violeta, através de dispositivos adequados e já disponíveis no
mercado, os quais podem ser de diferentes modelos e capacidades. Um destes
modelos está apresentado na FIGURA 7.

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O processo químico também costuma ser empregado no tratamento de efluentes
industriais, para corrigir o pH dos mesmos, de forma à torna-los aptos à serem
encaminhados à uma outra etapa do tratamento, que pode ser um processo físico ou
biológico. Principalmente nesta última hipótese é necessário que seja feita a correção
do pH do efluente, tendo em vistas que, valores muito elevados ou muito reduzidos do
pH podem prejudicar seriamente um processo biológico de tratamento.

PROCESSOS BIOLÓGICOS - são todos os processos que de alguma forma envolvem


o binômio substrato x microorganismos. O substrato pode ser entendido como o
conjunto de substancias que compõem um esgoto, enquanto microorganismos são
seres vivos de dimensões microscópicas (bactérias, protozoários, fungos, etc) que
estão presentes nas águas residuárias e que podem ser observadas ao microscópio sob
a forma de colônias ou agrupamentos, sendo de tamanho, forma e aspecto
extremamente diferenciados.

Na hipótese de um tratamento pelo denominado processo de lodos ativados,


apresentam-se sob a forma de flocos, enquanto no caso dos filtros biológicos
apresentam-se sob a forma de película recobrindo o meio filtrante, a qual é
denominada bio-filme.

Segundo Dunbar em seu livro “Leitfaden fur Abwasserreinigungsfrage”;a retirada das


impurezas orgânicas, realmente se verifica pela adsorção, que é um fenômeno de
superfície.

Entretanto ,o fenômeno seria rapidamente interrompido se as substâncias adsorvidas


não fossem seguidamente metabolizadas pelas bactérias.

Os processos biológicos envolvem necessariamente várias reações bioquímicas que


transformam os compostos orgânicos complexos em substancias mais simples. Os
compostos orgânicos são resultantes da combinação do carbono com outros
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elementos. É oportuno lembrar que as substancias presentes nos esgotos muitas vezes
não são perfeitamente definidas sob o ponto de vista da química, sendo
freqüentemente resíduos complexos do metabolismo animal ou vegetal como por
exemplo a albumina e a uréia, que alem do carbono, apresentam o nitrogênio em sua
composição.

Os processos que acabam de ser caracterizados, tem sua aplicabilidade determinada


em função da natureza do efluente, seus parâmetros de qualidade e dos parâmetros
de qualidade exigidos pela legislação ambiental pertinente. São normalmente
empregados no tratamento tanto de esgotos domésticos/sanitários quanto dos
despejos industriais. No caso específico dos esgotos sanitários, sobre os quais versa o
presente curso, na quase totalidade das situações, são os processos biológicos os
utilizados.

O fluxograma de uma ETE, mesmo operando segundo um processo biológico, engloba


também, a utilização de processos físicos conforme já foi ressaltado anteriormente,
seja no gradeamento, na caixa de areia, nos decantadores primário e secundário e
outras unidades.

3 - OS PROCESSOS BIOLÓGICOS AERÓBIOS E ANAERÓBIOS; AS TECNOLOGIAS


DE BAIXO CUSTO E SUAS VINCULAÇÕES COM OS PROCESSOS ANAERÓBIOS.

Os processos biológicos podem ser classificados em 2 grandes grupos; aeróbios e


anaeróbios. Os primeiros são aqueles que se realizam na presença de oxigênio livre ou
seja aquele que pode ser facilmente obtido até mesmo do ar atmosférico. Nestes
através de equipamentos eletromecânicos especialmente projetados para tal
finalidade, é introduzido ar no interior da massa líquida e conseqüentemente o
oxigênio contido no mesmo. Este entrando em contato com o substrato disponível
provoca a denominada oxidação da matéria orgânica. Este fato propicia o surgimento
de bactérias denominadas aeróbias, que se adaptam à ambientes ricos em oxigênio.
Estas bactérias atuam sobre a matéria orgânica presente, transformando-a em
substancias mais simples, tais como, água e o gás carbônico (CO2).

No campo de utilização dos processos aeróbios existem diversificadas alternativas,


sendo uma das mais conhecidas o denominado, processo de lodos ativados. Em todo o
país estão operando inúmeras ETEs segundo este processo, inclusive no Estado do Rio
de Janeiro, onde podem ser citadas as ETE da Penha, Ilha do Governador, Lemos
Cunha e mais recentemente a ETE Alegria, cuja primeira etapa já foi concluída e
encontra-se presentemente em regime normal de operação, sendo a maior planta de
tratamento do E. do Rio. No Estado de S.Paulo, a SABESP opera inúmeras estações de
tratamento segundo o processo de lodos ativados, podendo ser citadas, entre outras, a
ETE Suzano e a ETE Barueri. Os equipamentos eletromecânicos utilizados podem ser
de 2 tipos principais: os aeradores e os sistemas de ar difuso.

O outro grande grupo de processos, é denominado de anaeróbio. Neste, ao contrário


do anterior, não existe oxigênio disponível, e neste caso, a presença das bactérias
aeróbias é substituída pelas denominadas bactérias anaeróbias. Estas para poderem
atuar sobre a matéria orgânica presente, lançam mão do oxigênio que se encontra
combinado com outros elementos na massa do esgoto bruto, como por exemplo, os

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nitratos e os sulfatos. A retirada do oxigênio do sulfato por exemplo, que é
denominada redução, origina o H2S, o gás sulfidrico que é o responsável pela
produção de odores ofensivos, característicos dos processos anaeróbios.

Até aproximadamente 10 anos passados, os processos aeróbios foram largamente


utilizados no projeto e operação de plantas de tratamento, em todo o mundo, inclusive
no Brasil. Apenas para exemplificar, uma variante dos lodos ativados, o denominado
processo de aeração prolongada, apresenta excelentes resultados, com elevada
eficiência, no tratamento de esgotos domésticos ou industriais, alem de uma relativa
simplicidade operacional, ausência de odores ofensivos, produção de lodo
absolutamente estabilizado, resistência às cargas de choque e outra vantagens, tendo
entretanto, atualmente, sua utilização muita restrita, tendo em vista o elevado
consumo de energia elétrica necessário para o acionamento de aeradores mecânicos,
do tipo fluxo orbital, conforme o mostrado na FIGURA 8.

Face as crescentes dificuldades no que diz respeito à disponibilidade de energia elétrica


no país alem de seu crescente custo e considerando-se ainda às demandas crescentes
e inadiáveis pela ampliação da cobertura dos sistemas de esgotamento sanitário, na
última década a comunidade técnica nacional passou à dar maior atenção à utilização
dos processos anaeróbios, uma vez que os mesmos, alem de não requererem consumo

de energia elétrica, são pelo contrário, capazes de serem utilizados como fonte
alternativa de energia, conforme analisaremos nos parágrafos seguintes. Nestes
processos a estabilização da matéria orgânica, conseguida através de complexas
reações bioquímicas, resulta na geração de uma mistura gasosa, incluindo gás
carbônico, gás sulfidrico e metano (CH4). Este último apresenta um elevado percentual
na mistura e desde que captado,purificado e armazenado, pode ser utilizado segundo
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numerosas formas, como fonte de energia.

Na realidade as vantagens dos processos anaeróbios não limitam -se apenas a


questão energética, mas abrangem inúmeras outros aspectos dos quais apenas alguns
estão listados abaixo, conforme assinalado pelo Prof. Carlos Augusto Chernicharo em
aprofundado trabalho sobre o assunto apresentado no livro “Reatores Anaeróbios”.

1- baixo custo de implantação.


2- baixos custos operacionais.
3- simplicidade de operação, manutenção e controle, refletida na pouca dependência
de engenheiros e operadores altamente especializados.
4- baixo requisito de área.
5- possibilidade de recuperação de subprodutos úteis, visando sua aplicação na
irrigação e na fertilização de culturas agrícolas.

A propósito do item 5, é oportuno ressaltar ser este um aspecto que deve ser
analisado muito criteriosamente por ocasião da concepção e do projeto de uma
unidade de tratamento, tendo em vista que no atual quadro financeiro, econômico e
social do país, a possibilidade de recuperação de subprodutos é de extrema
importância. Assim sendo, a utilização do processo anaeróbio, é o primeiro passo para
viabilizar a utilização de 3 subprodutos típicos, quais sejam:

- o efluente líquido tratado, que dependendo da eficiência do processo, pode ser


aproveitado para o denominado reuso, tema que será abordado mais adiante
- o lodo, que depois de seco, poderá ser utilizado como auxiliar na fertilização de solos
agrícolas, sob condições controladas.
- o gás gerado no processo (biogás) que poderá ser utilizado como matéria-prima em
sistemas alternativos de geração de energia elétrica, conforme ressaltado linhas
acima.

Feitas estas considerações, torna-se agora possível identificar a vinculação direta entre
as tecnologias de baixo custo para tratamento de efluentes e os processos anaeróbios.

Construtivamente, estes processos podem se apresentar sob diversificadas formas,


entretanto na experiência nacional, as formas mais adotadas e que de modo geral tem
apresentado resultados satisfatórios, tem sido os genericamente denominados reatores
anaeróbios.Tendo em vista a impossibilidade de abordar no presente texto, todas as
numerosas formas construtivas dos reatores anaeróbios, foram selecionadas duas que
tem sido com grande freqüência utilizadas em nosso país, com resultados muito
satisfatórios e que são respectivamente:

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1 – tanque séptico
2 – reator UASB

Estas duas formas construtivas de dispositivo de tratamento, fundamentadas no


processo biológico anaeróbio, serão objeto de considerações mais detalhadas, em
outro capitulo deste texto.

4 - PARÂMETROS E EFICIÊNCIAS; GRAU DE TRATAMENTO; AS LEGISLAÇÕES


AMBIENTAIS DE PROTEÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS A NÍVEL FEDERAL E Á
NÍVEL DOS ESTADOS.DE QUALIDADE

Essencialmente, o tratamento tem por objetivo modificar a qualidade de um


determinado esgoto ou efluente, para que o mesmo seja compatível para lançamento
em um corpo receptor. É natural que surja então a pergunta: como é possível
caracterizar a qualidade de um determinado efluente. É simples a resposta à esta
pergunta, pois os autores e pesquisadores no campo da Engenharia Sanitária e
Ambiental, instituíram o que se convencionou denominar “parâmetros de qualidade”.
Em conseqüência qualquer água residuária apresenta um conjunto de parâmetros
numéricos que definem a sua qualidade sob o ponto de vista físico, químico e
bacteriológico e são portanto os seus respectivos parâmetros de qualidade, que são
determinados segundo análises físicas, químicas ou bacteriológicas.

Conforme o tipo de efluente com o qual se esteja trabalhando, é selecionado um


conjunto de parâmetros de qualidade. Assim sendo, os despejos industriais são
geralmente caracterizados por determinados parâmetros, enquanto os esgotos
domésticos ou sanitários, são caracterizados por outros parâmetros mais adequados
para os mesmos.

Para o presente caso, em que estão sendo cogitados apenas esgotos sanitários, os
parâmetros de qualidade mais utilizados são os seguintes:

• demanda bioquímica de oxigênio ( DBO ) expresso em mg/l


• demanda química de oxigênio ( DQO ) expresso em mg/l
• sólidos em suspensão ( SS ) expresso em mg/l
• óleos e graxas expresso em mg/l
• oxigênio dissolvido ( OD )expresso em mg/l
• turbidez
• pH
• colimetria(fecal e total) expressos em NMP/100 ml
• fosfato total expresso em mg/l
• nitrogênio amoniacal expresso em mg/l
• nitrito expresso em mg/l
• nitrato em mg/l

A denominada eficiência, pode ser definida como sendo o percentual de um


determinado poluente que é removido que é removido de um efluente quando este é
submetido à um determinado processo seja ele físico, químico ou biológico. Assim
sendo quando se afirma que um tanque séptico tem uma eficiência de 50% em relação
à carga orgânica, significa que ele remove a metade da demanda bioquímica de
oxigênio de um esgoto que nele é lançado. Se por hipótese, a DBO deste esgoto é de
400mg/l ao entrar no tanque séptico, a DBO do esgoto que se extrai deste tanque será
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de 200mg/l.

É usual classificar-se as unidades de tratamento, em função da redução que as


mesmas propiciam em relação à dois parâmetros de qualidade muito típicos ou seja; a
demanda bioquímica de oxigênio e os sólidos em suspensão. Segundo este enfoque, os
tratamentos podem ser de 4 diferentes tipos ou grau:

- preliminar
- primário
- secundário
- terciário

O tratamento preliminar engloba a remoção de sólidos grosseiros, gorduras e areia.


O tratamento primário engloba principalmente a sedimentação, a flotação e os
sistemas anaeróbios, apresentando pequena redução de matéria orgânica.
O tratamento secundário engloba principalmente a filtração biológica, os lodos
ativados e as lagoas aeróbias, apresentando uma considerável capacidade de remover
matéria orgânica e outros elementos.
O tratamento terciário engloba principalmente as lagoas de maturação e os
sistemas de remoção de nutrientes.

O esgoto, conforme a maior ou menor concentração dos diversos poluentes, pode ser
classificados em forte, médio ou fraco. ( QUADRO II )

Por outro lado, em função da experiência no projeto e operação das diversas


modalidades de tratamento, os autores elaboraram tabelas com as eficiências
esperadas em relação aos principais parâmetros de qualidade, para os tratamento
mais utilizados, conforme está apresentado no ( QUADRO III ), de autoria do
Professor Dr Karl Imhoff

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As denominadas legislações ambientais, entre outros aspectos ( preservação do solo,
da fauna, da flora, etc ), visam igualmente a preservação dos recursos hídricos, e
fixam condições mínimas para a qualidade dos efluentes líquidos à serem lançados nos
corpos receptores, tais como rios, lagos, baías e oceanos.

Nos países mais desenvolvidos, estas leis já foram implementadas de longa data, mas
no Brasil, somente na década de 70 foi iniciado este processo, através da Portaria
n*13 de 15 de janeiro de 1976, expedida pela SEMA (Secretaria Especial do Meio
Ambiente) vinculada ao então Ministério do Interior, a qual fixava os parâmetros para
a classificação das águas interiores nacionais e dispunha sobre o controle da poluição
hídrica.

Posteriormente esta Portaria foi substituída pela Resolução 020 de do Conselho


Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) de 18 de junho de 1986 que estabeleceu a
classificação das águas doces, salinas e salobras em todo o território nacional.
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Ao longo das décadas seguintes, quase todas as unidades da Federação foram
definindo no contexto das políticas estaduais de meio ambiente, as respectivas normas
disciplinadoras no que se refere ao lançamento de resíduos líquidos. Conforme
princípios federativos e constitucionais pertinentes, as legislações estaduais deverão
obrigatoriamente exigir no mínimo o que é exigido na legislação federal correlata.

No Estado de São Paulo em consonância com as considerações acima, foi


implementado o Sistema de Prevenção e Controle da Poluição do Meio Ambiente,
através a Lei Estadual 997 de 31 de maio de 1976 a qual foi regulamentada pelo
Decreto Estadual 8468 da mesma data o qual foi alterado por inúmeros outros
Decretos posteriores.

No QUADRO IV estão apresentados de forma comparativa, os parâmetros exigíveis


pelas legislações acima citadas.

Da mesma forma, outras legislações regulam esta matéria nos demais Estados da
Federação, os quais não são abordados mais detalhadamente, tendo em vista que
ultrapassam o escopo do presente texto.

Para fins do presente curso foi adotada como referência a Resolução Conama 020/86
já referida, a qual está atualmente com 18 anos de vigência e será em futuro próximo
objeto de modificações e atualizações, por parte do Conselho Nacional de Meio
Ambiente. De qualquer forma é a mesma o texto de referencia quando se cogita o
lançamento de efluentes líquidos em corpos receptores.

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5- FATORES INTERVENIENTES NA SELEÇÃO DE UM PROCESSO BIOLÓGICO DE
TRATAMENTO: ÁREA DISPONÍVEL, EFICIÊNCIA REQUERIDA,
OPERACIONALIDADE, CUSTOS DE IMPLANTAÇÃO E DE OPERAÇÃO/
MANUTENÇÃO, ETC.

A seleção da melhor alternativa para o projeto de uma unidade de tratamento, envolve


basicamente a análise criteriosa de inúmeros fatores de natureza técnica e econômico-
financeira. Entre os primeiros podem ser citados:

- área necessária
- eficiência requerida
- facilidade de operação e manutenção
- flexibilidade operacional
- resistência à cargas de choque (pique de vazão e / ou de carga orgânica)
- produção de lodo
- produção de odores, ruídos e fatores adversos.

Quanto ao aspecto econômico-financeiro podem ser citados:

- custo de implantação
- custo de operação, no qual estão incluídos, entre outros os seguintes
- custo de mão de obra para operação
- custo de energia elétrica (por hab atendido, por kg de DBO removida, etc)
- custo de manutenção ( por hab atendido, por kg de DBO removida, etc)

Somente através de uma analise global destes e de outros elementos poderá ser feita
uma seleção adequada da alternativa mais interessante. Apenas acrescentaremos a
observação de que em muitos casos concretos, a análise recomendará a adoção de
uma das denominadas tecnologias de baixo custo, sendo entretanto oportuno assinalar
que em situações especificas as alternativas convencionais podem se constituir em
soluções adequadas para o tratamento.

As soluções ou alternativas são denominadas de baixo custo, porque é uma das


características mais especifica das mesmas, fato que se vincula a não utilização de
equipamento eletromecânico e conseqüentemente torna-se dispensável a execução de
estruturas complexas e de grande porte.
Comparativamente as lagoas de estabilização, a área requerida é bem mais reduzida,
uma vez que a relação m²/hab é mais favorável ou seja, tem um valor numericamente
reduzido.. As estruturas simples e de pequeno porte também contribuem para a
redução do custo de execução. Por outro lado, o custo de operação é fortemente
reduzido pela já comentada, inexistência ou muito reduzida utilização de equipamento
eletromecânico, o que acarreta um reduzido consumo de energia elétrica. Da mesma
forma a inexistência de equipamento reduz o número necessário de operadores e ao
mesmo tempo dispensa custos de contratação de profissionais altamente
especializados, sendo portanto outro fator que contribui para o reduzido custo de
operação e manutenção. Complementando este tópico, consideramos oportuno
apresentar o QUADRO V de autoria do Professor Marcos Von Sperling do
Departamento de Engenharia Sanitária da UFMG, no qual estão apresentadas diversas
modalidades de tratamento de esgotos sanitários e indicados para cada uma delas
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desde a eficiência provável em termos de remoção de DBO até as faixa de oscilação do
custo per capita de implantação, elementos de grande valia na fase do estudo de
alternativas que exige a definição, ainda que em ordem de grandeza, destes
elementos.

6- EXEMPLOS DE APLICAÇÃO PRÁTICA DOS CONCEITOS TEÓRICOS


APRESENTADOS.

Problema 1- Um esgoto bruto apresenta uma DBO5 = 280 mg/l. Deseja-se


obter um efluente tratado com uma DBO5 de no máximo 14 mg/l. Qual
deverá ser a eficiência da unidade de tratamento em relação à remoção de
carga orgânica ( DBO5 ) ?

solução: E = So – Se / So onde:

E = eficiência
So = DBO5 do esgoto bruto
Se = DBO5 do esgoto tratado

E = 280 mg/l – 14 mg/l / 280 mg/l = 0,95 = 95 %

Problema 2- Uma ETE recebe esgoto bruto com uma DQO (demanda química
de oxigênio)
de 600 mg/l. A vazão média afluente é de 80 l/seg. Este esgoto é submetido
à um processo de tratamento que oferece uma eficiência de 75% em termos
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de redução da DQO. Qual será a carga remanescente de DQO que a ETE
lançará no corpo receptor ?

solução: demanda química de oxigênio afluente ao processo:


C afl = 600 mg/l x 80 l/seg = 48 000 mg/seg ou seja, transformando-se as unidades:
C afl = 4 147 200 000 mg/dia = 4 147,2 kg/dia e portanto,
C reman = 4 147,2 kg/dia x 0,25 = 1 036,8 kg/dia será a carga remanescente lançada
no corpo receptor.

Problema 3 – Uma ETE opera segundo 2 etapas. Na primeira o processo


utilizado oferece uma eficiência de 50% em relação à remoção de SS (sólidos
em suspensão) e na segunda o processo utilizado oferece uma eficiência de
70% em relação ao mesmo parâmetro de qualidade. Sendo a concentração de
SS no esgoto bruto de 300 mg/l, qual será a concentração de SS no esgoto
tratado ? Qual será a eficiência global da ETE ?

solução: A eficiência da primeira etapa é de 50%, portanto a concentração de SS no


efluente da primeira etapa será de 300mg/l x 0,5 = 150 mg/l.
A eficiência da segunda etapa é de 70%, portanto a concentração de SS no efluente da
segunda etapa será: SS = 150 mg/l x 0,3 = 45 mg/l
A eficiência global da ETE será: E = 300 mg/l – 45 mg/l / 300 mg/l = 0,85 = 85%

Problema 4 – Será construída uma ETE (reator UASB + lagoa de estabilização)


para tratar o esgoto bruto de uma cidade. Sabe-se que em função da
legislação ambiental da bacia hidrográfica em que está localizada a cidade, a
concentração de máxima permitida de nitrato (no esgoto) lançado é de 12
mg/l . O esgoto bruto segundo análise físico-química realizada apresenta uma
concentração de nitrato de 150 mg/l. No caso em estudo pode-se esperar
uma eficiência de 50% para o reator UASB. Qual deverá ser a eficiência da
lagoa de estabilização ?

solução–A eficiência global em remoção de nitrato deverá ser de:


E = 150 mg/l – 12 mg/l / 150 mg/l = 0.92 = 92%
O efluente do reator terá a seguinte concentração: 150 mg/l x 0.5 = 75 mg/l
A eficiência da lagoa deverá ser de: E = 75 mg/l – 12 mg/l / 75 mg/l = 0,84 = 84%

MODULO II - As características, a aplicabilidade, a geometria, o


calculo e o dimensionamento do tanque séptico e do filtro
anaeróbio.

1 – As características, a aplicabilidade e a geometria do tanque séptico.

Entre os processos anaeróbios, uma forma de tratamento que é muito utilizada é o


denominado tanque séptico. É uma das mais antigas alternativas de tratamento e
atualmente ainda é largamente utilizado no Brasil e em outras partes do mundo.
Segundo diversos autores, esta aceitação é devida principalmente a simplicidade de
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execução e de operação destas unidades. São aplicáveís ao tratamento dos esgotos
domésticos e algumas vezes aos esgotos sanitários. São usualmente utilizados no
tratamento dos esgotos de residências unifamiliares ou mesmo multifamiliares em
regiões que não dispõem de um sistema público de esgotamento ou quando este
sistema ainda não tem destino final adequado. Sob o aspecto da geometria podem ser
cilíndricos ou prismáticos funcionando segundo um fluxo horizontal.

Podem ser ainda subdivididos em 3 tipos diferentes:

- de câmara única
- de câmaras em série
- de câmaras sobrepostas

Na FIGURA 9 está apresentado um desenho esquemático de um tanque séptico.

As principais funções verificadas em um tanque séptico são:

- separação gravitacional da escuma e do lodo em relação ao líquido afluente.


- digestão anaeróbia e liquefação parcial do lodo
- armazenamento do lodo

Os tanque sépticos em pequenas comunidades, para evitar unidades de grande porte e


dar flexibilidade operacional são projetados e executados em paralelo juntamente com
o tratamento complementar ou pós-tratamento usualmente previsto, tema que será
abordado com mais detalhes posteriormente.

O tanque séptico tem critérios específicos de projeto definidos nos textos das Normas
brasileiras pertinentes que são a NBR-7229/86 e a NBR-13 969/97. É oportuno
que, neste ponto sejam analisados alguns dos aspectos mais importantes destes 2
textos técnicos.

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A NBR-7229/93 da ABNT ( Projeto, construção e operação de sistemas de
tanques sépticos ) na realidade é composta por 2 partes em que a segunda (anexo
B) complementa a primeira com uma errata e a seguir com o texto que tem o titulo
geral de: “ Tratamento complementar – Disposição final do efluente do tanque
séptico” e assumiram validade à partir de 01/11/93 e 31/11/93 respectivamente.

Segundo a referida norma no projeto de um tanque séptico devem ser observadas


algumas condições específicas, tais como:

O uso de tanque séptico somente é indicado para:

a)área desprovida de rede pública coletora de esgoto


b)alternativa de tratamento de esgoto em áreas desprovidas de rede coletora local
c)retenção prévia dos sólidos sedimentáveis, quando da utilização de rede coletora
com diâmetro e/ou declividade reduzidos para transporte de efluente livre de sólidos
sedimentáveis

Devem ser observadas as seguintes distâncias horizontais mínimas:

a)1,50m de construções, limites de terreno, sumidouros, valas de infiltração e ramal


predial de água.
b)3,0m de árvores e de qualquer ponto de rede pública de abastecimento de água.
c)15,0m de poços freáticos e de corpos de água de qualquer natureza.

Mais recentemente, em 1997, foi posta em vigor a NBR-13 969/97, intitulada:

”Tanques sépticos – unidades de tratamento complementar e disposição final dos


efluentes líquidos - projeto, construção e operação”
Esta norma complementa a parte referente ao tratamento e disposição dos efluentes
dos tanques sépticos da NBR-7229/93 que contemplava transitóriamente este
assunto em seu anexo B, até a edição da norma mais recente.

A terceira norma, em fase de elaboração, cujo título é "Tratamento e disposição


final de sólidos do sistema de tanque séptico", vai complementar o assunto,
abrangendo desta forma, todos os aspectos de tratamento no sistema local de
tratamento de esgotos.

Segundo a norma supracitada, a definição de sistema local de tratamento de esgotos


é: um sistema de saneamento onde as distancias entre as fontes geradoras de
esgotos, seu tratamento e disposição final são próximas entre si, não necessitando
normalmente de rede coletora extensa, coletor-tronco, poços de visita, emissários,
elevatórias, etc”.

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Segundo a NBR-13 969/97, o tanque séptico, pode ter seu tratamento
complementado segundo uma das 5 alternativas indicadas á seguir.

a)filtro anaeróbio de leito fixo com fluxo ascendente


b) filtro aeróbio submerso
c) valas de filtração e filtros de areia
d) lodo ativado por batelada (LAB)
e) lagoa com plantas aquáticas

Conforme já ressaltado anteriormente, para fins do presente curso serão abordados


em termos de tratamento, o tanque séptico e o reator UASB e em termos de pós-
tratamento apenas o filtro anaeróbio e as lagoas de estabilização. A utilização destas
alternativas de tratamento já demonstrou não apenas a nível de dispositivos em escala
reduzida mas também em escala real, que as eficiências obtidas com o reator
propriamente dito (tanque séptico e reator UASB) não atendem as exigências das
legislações de proteção aos recursos hídricos, o que acarreta a necessidade de ser
previsto um tratamento complementar ou pós-tratamento. As formas usuais de pós-
tratamento são em numero de 5 e estão listadas acima. Para fins do presente curso,
serão estudadas as alternativas a e b.

2 – O CÁLCULO E O DIMENSIONAMENTO DE UM TANQUE SÉPTICO.

A norma brasileira citada anteriormente define claramente o critério e os parâmetros


de projeto de um tanque séptico. Segundo aquele texto, o dimensionamento consiste
basicamente no calculo do volume útil do mesmo e a seguir, através a consideração de
algumas correlações geométricas, definir as dimensões da unidade. O volume útil do
tanque pode ser calculado através a seguinte expresão:

V = 1000 + N ( CT + K Lf ) onde:

V = volume útil, em litros; N = numero de pessoas ou unidades de contribuição; C =


contribuição de despejos, em litros/pessoa x dia; T = período de detenção, em dias; K
= tempo de acumulação de lodo fresco; Lf = contribuição de lodo fresco, em
litro/pessoa x dia. Os valores de C. T, K e Lf podem ser obtidos nas tabelas
correspondentes, reunidas no QUADRO VI apresentado a seguir. Relativamente as
características geométricas, a primeira correlação que deverá ser observada é a que
relaciona o volume útil do tanque com a profundidade útil do mesmo. A seguir estão
apresentadas as faixas de correlação.

Volume útil Profundidade útil mínima Profundidade útil máxima


m3 m m
Até 6,0 1,20 2,20
De 6,0 a 10,0 1,50 2,50
Mais que 10,0 1,80 2,80

Quadro VI

Deverão ser observadas também as seguintes condições:

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No caso de tanques cilíndricos, o diâmetro interno mínimo deverá ser de 1,10 m; no
caso de tanques prismaticos, a largura interna mínima devera ser de 0,80 m e quando
estes tiverem base retangular, relação comprimento/largura devera oscilar entre 2:1 e
4:1. Embora usualmente sejam utilizados tanques de câmara única, é possível
conforme prevê a norma, o emprego de tanques com maior numero de câmaras. Isto
ocorre geralmente quando são projetados tanques para populações pequenas de no
máximo 30 habitantes. A utilização de câmaras em serie tem o objetivo de melhorar o
desempenho da unidade e conseqüentemente melhorar a qualidade do efluente
tratado. Nestes casos, podem ser utilizadas no máximo 3 câmaras em serie se for
cogitado tanque cilíndrico e no máximo 2 câmaras em serie se for cogitado tanque
prismatico com planta retangular. A norma prevê que na utilização de tanques com
mais de uma câmara, tanto cilíndricos quanto prismaticos, deverão ser observadas
proporções entre as câmaras. O texto da norma prevê ainda inúmeras outras
condicionantes quer deverão ser respeitadas no projeto, tais como as relativas aos
dispositivos de entrada e de saída e a intercomunicação entre as câmaras, no caso dos
tanques com câmaras em série.

3- AS CARACTERÍSTICAS, A APLICABILIDADE E A GEOMETRIA DO FILTRO


ANAERÓBIO

Segundo a definição constante do texto da NBR – 13 969/97, o filtro anaeróbio de


leito fixo com fluxo ascendente é um reator biológico com fluxo ascencional, dotado de
uma câmara inferior vazia e de uma câmara superior preenchida com um material
denominado meio-filtrante, estando todos submersos e sob a ação de microorganismos
facultativos e anaeróbios estabelecidos sobre este meio-filtrante e tendo como
resultado a estabilização da matéria orgânica presente no interior do reator.

É oportuno transcrever neste tópico, algumas definições estabelecidas pela supracitada


norma, quais sejam:

SISTEMA LOCAL DE TRATAMENTO – é um sistema de saneamento onde as


distancias entre as fontes geradoras de esgotos, seu tratamento e disposição final são
próximas entre si, não necessitando normalmente de rede coletora extensa, coletor-
tronco, poços de visita, emissários, elevatórias. etc.

REATOR BIOLÓGICO – unidade que concentra microorganismos e onde ocorrem


reações bioquímicas responsáveis pela remoção dos componentes poluentes do esgoto.

Conforme ressaltado anteriormente , o filtro anaeróbio é uma das alternativas de pós-


tratamento de efluentes de reatores anaeróbios. É frequentemente associado em série
ao tanque séptico, tendo sua maior utilização no tratamento dos esgotos de conjuntos
habitacionais para comunidades de baixa renda e também no tratamento dos esgotos
de pequenas comunidades em áreas rurais ou em áreas periféricas aos grandes
centros urbanos ainda não atendidas por um sistema público de esgotamento
sanitário. Algumas vezes é a solução para o atendimento de comunidades localizadas
em áreas de topografia desfavorável nas quais torna-se inviável sob o ponto de vista
técnico e/ou financeiro a vinculação ao sistema principal de coleta e tratamento.
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Segundo a norma pertinente o filtro anaeróbio pode ser de forma cilíndrica conforme
FIGURA 10, ou prismática de seção quadrada. Ambos com fundo falso perfurado
conforme detalhe mostrado na mesma figura. Freqüentemente a forma prismática é
preferida quando são executadas estruturas de grande porte e é necessário a
otimização do aproveitamento da área disponível para implantação da unidade de
tratamento. A utilização do filtro anaeróbio tem sido muito adotada como solução para
associação em serie com tanque séptico e reatores UASB, constituindo-se assim em
unidade de pós-tratamento.

O meio filtrante deve ter altura igual a 1,20m, a qual é constante para qualquer
volume obtido no dimensionamento.

O meio filtrante deve ter a granulometria mais uniforme possível, podendo variar entre
0,04m e 0,07m ou podendo ser utilizada a pedra britada número 4. Atualmente o meio
filtrante convencional está sendo substituído, por material sintético mais leve sendo
geralmente constituído por resinas sintéticas, sob variadas apresentações e nomes
comerciais. O meio filtrante, neste dispositivo, pode ser considerada a peça mais
importante, tendo em vista que no mesmo é realizado um processo de filtração e ao
mesmo tempo um processo biológico/bioquímico uma vez que os microorganismos
responsáveis pela degradação da matéria orgânica, organizam-se de tal forma que se
agregam a superfície do meio filtrante formando uma película ou biofilme sobre o
mesmo, película que é denominada zooglea. Por outro lado a profundidade útil do
filtro deve ser de 1,80m para qualquer volume útil obtido no dimensionamento.

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4 - O CÁLCULO E O DIMENSIONAMENTO DE UM FILTRO ANAERÓBIO.

O dimensionamento consiste basicamente na determinação do volume útil que é obtido


pela fórmula:

V = 1,60 x NCT onde:

N = número de contribuintes
C = contribuição de despejos (em litros / pessoa x dia)
T = período de detenção em dias.

A seção horizontal S será;

S = V / 1,80 onde:

V = volume útil calculado

Para fins de dimensionamento do filtro anaeróbio, a NBR-13 969/97 recomenda os


seguintes valores de contribuição:

EDIFICAÇÃO CONTRIBUIÇÃO DIÁRIA


despejos (l/hab) carga orgânica ( g/hab )

residência de padrão alto 160 50


residência de padrão médio 130 45
residência de padrão baixo 100 40
edifício público ou comercial 50 25
escolas 50 20

No projeto devem ser observadas as seguintes condicionantes:

- o diâmetro mínimo deve ser de 0,95m ou a largura mínima deve ser de 0,85m.
- o diâmetro máximo e a largura não devem exceder 3 vezes a profundidade útil.
- o volume útil mínimo deve ser de 1250 l
- a carga hidrostática mínima no filtro deve ser de 1 kPa ( 0,10m ) e portanto o nível
da saída do efluente do filtro deve estar pelo menos 0,10m abaixo do nível do líquido
no tanque séptico.
- o fundo falso deve ter aberturas de 0,03m, espaçadas em 0,15m entre si.
- o dispositivo de passagem do tanque para o filtro pode constar de tê, tubo e curva
com diâmetro mínimo de 100 mm ou de uma caixa de distribuição, quando houver
mais de um filtro.

Quanto ao aspecto operacional, da mesma forma que o tanque, o filtro é de uma


operação muito simples. A manutenção do mesmo tem seu ponto principal na lavagem

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periódica do meio filtrante, tendo em vista que com a continuidade do uso existe uma
tendência na acumulação de material biológico (biofilme) e de outros resíduos entre os
vazios do material granulado, a denominada colmatação que pode ser controlada
através a lavagem do filtro periodicamente através jato de água em contra-corrente
(fluxo descendente).

Uma informação importante, quando se cogita o uso de tanque séptico associado em


serie com outro dispositivo de tratamento, é o conhecimento da ordem de grandeza
das eficiências correspondentes a diversos tipos de associação em serie, para que a
priori seja descartada uma ou mais alternativa. Algumas faixas de eficiência estão
apresentadas a seguir.

Parâmetro Filtro anaeróbio Filtro aeróbio Filtro de areia


DBO 40 a 75 60 a 95 50 a 85
DQO 40 a 70 50 a 80 40 a 75
SNF 60 a 90 80 a 95 70 a 95
Sólidos sedimentáveis 70 ou mais 90 ou mais 100
Coliformes fecais -------- ----------- 99 ou mais

Concluindo, julgamos oportuno transcrever algumas das considerações feitas a


respeito da associação tanque séptico e filtro anaeróbio, feitas pelo Eng° Hissashi
Kamiyama da SABESP, em trabalho publicado na Revista DAE em 1993, portanto na
mesma época que entrava em vigor a NBR-7229/93:

“ O sistema tanque séptico – filtro anaeróbio de leito fixo com fluxo ascendente tem
sido considerado como sistema de tratamento compacto de esgotos sanitários de baixo
custo, dispensando maiores preocupações quanto a sua operação. A SABESP, como
Orgão responsável pela coleta e tratamento de esgotos em diversas comunidades do
Estado de São Paulo, tem utilizado freqüentemente aquele sistema, principalmente
para o atendimento das comunidades de pequeno porte. A associação do tanque
séptico com o filtro anaeróbio é ainda recente. Porém o uso apenas do tanque séptico
para o tratamento de despejos tem mais de 100 anos, principalmente para
atendimento das áreas desprovidas de rede coletora de esgotos. Nesse caso, o TS, em
suas diversas configurações tem como função básica a remoção de sólidos
sedimentáveis e respectiva digestão anaeróbia, reduzindo desse modo, a carga
orgânica e o volume final dos sólidos, alem de torná-los mais estáveis
bioquimicamente. No entanto, o efluente do tanque séptico está longe de ser ideal
para o lançamento direto ao corpo receptor, uma vez que contem ainda elevadas
concentrações de sólidos, de coliformes, de carga orgânica solúvel, de nutrientes
inorgânicos, alem de cor e cheiro”.

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Por outro lado, o emprego de filtro anaeróbio para remoção de carga poluente teve
evolução em passado recente, basicamente através do trabalho de Young e McCarty na
década de 1960. São várias as vantagens atribuídas ao filtro anaeróbio em relação
aos processos aeróbios:

• não há consumo de energia elétrica, exceto quando se deseja fazer a


recirculação do efluente;
• geração de sólidos em quantidade bem menores do que os processos aeróbios;
• possível aproveitamento do gás metano como fonte energética;
• requer poucos cuidados operacionais “.

O trabalho referido na transcrição acima foi desenvolvido pelos pesquisadores Young e


McCarty em 1969 e publicado no Journal of Water Pollution Control Federation, sob o
titulo “The anaerobic filter for waste treatment”. Neste trabalho os autores relataram
resultados muito interessantes de suas pesquisas desenvolvidas em unidades piloto
utilizando substrato sintético e meio-filtrante constituído com pedras de diâmetro
variando de 2,5 a 3,8 cm.

5- EXEMPLO DE APLICAÇÃO PRÁTICA DOS CONCEITOS TEÓRICOS


APRESENTADOS

Considere-se a implantação de um condomínio residencial e horizontal de casas em


uma região ainda não atendida por um sistema público de esgotamento sanitário. O
empreendimento será constituído por 150 unidades unifamiliares, sendo 50 unidades
de 03 dormitórios cada uma e 100 unidades de 4 dormitórios cada uma. As residências
são do tipo padrão alto.

Deseja-se:

1 - Verificar a necessidade de tratar os esgotos face a legislação que regula o


lançamento de efluentes líquidos nos corpos receptores da região.
2 – Em caso afirmativo, selecionar e dimensionar a unidade de tratamento.

São conhecidas as seguintes características do empreendimento:

• a taxa de ocupação é de 4 hab/unid para as unidades de 3 dormitórios e de 5


hab/unid para as unidades de 4 dormitórios.
• implantação em etapa única
• carga orgânica de 54 g/hab/dia
• per capita de esgoto previsto em 160 l/hab/dia
• a temperatura do mês mais frio é superior a 20 graus centígrados
• o intervalo de limpeza será de 2 anos
• o Órgão de controle ambiental faz a seguinte exigência quanto ao lançamento
de efluentes: VER TABELA

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carga orgânica bruta (kg/dia) eficiência mínima em rem de
DBO (%)
menor ou igual a 10 isento
maior que 10 e igual ou menor que 30 50
maior que 30 e igual ou menor que 100 70
maior que 100 95

solução:
população de projeto: P = 50 x 4 + 100 x 5 = 700 hab
carga orgânica bruta: C = 700 hab x 54 g/hab/dia = 37,80 kg/dia
Verificando-se a tabela, constata-se que será necessária a instalação de um dispositivo
de tratamento com eficiência mínima de 70% em termos de remoção de DBO. Em
consequência optou-se em adotar um tanque séptico associado em série a um filtro
anaeróbio, tendo em vista que a eficiência apenas do tanque séptico é de no máximo
50% e com a associação poderá ser atingido o patamar de 70% requerido.

dimensionamento do tanque séptico


V = 1000 + N ( CT + KLf) ou seja: (V = volume útil)
N = 700 hab C = 160 l/habxdia T = 0,5 dia (a contribuição é de 112000 l/dia maior
que 9000 l/dia)
Para as condições de projeto; K = 97 e Lf = 1,0 l/hab x dia. Substituindo-se,
V = 1000 + 700 ( 160 x 0,5 + 97 x 1 ) V = 124 900 litros = 124,90 m3
adotando-se a altura útil de 2,50m, a área do tanque será : S = 124,90 m3/2,50 m
S = 49,96 m2. (a altura de 2,5 m está de acordo com o volume útil calculado)
Adotando-se uma relação de 3:1 na relação comprimento/largura, tem-se:
c=3L S = 3L x L = 49,96m2 ou seja :
L =4,08m c = 3 x 4,08m = 12,24m

dimensionamento do filtro anaeróbio


V = 1,60 x NCT (V = volume útil)
V = 1,60 x 700 x 160 x 0,5 = 89 600 litros = 89,60 m3
a seção horizontal S será:
S = 89,60 m3/1,80m = 49,78 m2 o que significa uma seção quadrada de 7,05m x
7,05m.
Resumindo, o dispositivo de tratamento será constituído por um tanque séptico
prismático retangular de câmara única com L = 12,24m c = 4,08m e h = 2,50m
associado a um filtro anaeróbio de seção quadrada com: L = 7,05m e h = 1,80m.
Opcionalmente, o sistema poderia ser transformado em 2 conjuntos iguais funcionando
em paralelo cada um dimensionado para 350 hab, o que facilitaria a execução e daria
maior flexibilidade ao sistema na fase de operação. A eficiência global do sistema
projetado, em termos de remoção de DBO, será da ordem de 75% o que atende as
exigências do Órgão de controle ambiental. Finalmente pode-se calcular qual será a
DBO do efluente tratado, da forma:
DBO (esgoto bruto) = 54 g/ hab x dia / 160 /hab x dia = 0,338 g/l = 338 mg/l
Considerando-se que a eficiência do tanque séptico seja de 50%, tem-se que a DBO do
efluente retirado do mesmo será: 338 mg/l x 0,5 = 169 mg/l
Considerando-se que a eficiência do filtro anaeróbio(bem projetado, executado e
operado) seja de 60%, a DBO do efluente retirado do filtro anaeróbio será de:67,6
mg/l ou seja, a eficiência global do sistema será de: E = 338 mg/l – 67,6 mg/l / 338
mg/l = 0,80 = 80%

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Na FIGURA 11 está apresentado um conjunto tanque séptico + filtro anaeróbio, em
funcionamento no Centro de Tratamento de Esgotos (CETE), recentemente inaugurado
no campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), tendo o referido Centro o
objetivo de desenvolver pesquisas, em escala reduzida, de diversos processos de
tratamento de esgotos, entre as quais a associação acima citada.

MÓDULO III- Projeto e dimensionamento de Reatores UASB. A


questão do pós-tratamento.

1- As características, a aplicabilidade, as origens e a experiência nacional e


internacional relacionada aos reatores UASB.

É oportuno inicialmente um esclarecimento quanto a sigla frequentemente utilizada


para designar esta modalidade de reator anaeróbio. Na realidade esta sigla originou-se
da junção das letras iniciais da palavra composta, em Inglês, que identifica este
dispositivo de tratamento, ou seja: Up-flow Anaerobic Sludge Blanket. Em
Português ele é usualmente denominado pela conjunto de letras, RALF, significando
reator anaeróbio de leito fluidificado.
Este tipo de reator apresenta duas características muito específicas; o teor
estritamente anaeróbio do processo e a substituição do meio-suporte (pedra-britada e
outros materiais granulares) pela denominada manta de lodo, cuja existência e
atividade são da maior importância para desempenho satisfatório e a eficiência do
processo na remoção de carga orgânica e outros poluentes presentes nas águas
residuárias.

O tempo necessário para que uma unidade entre em regime normal de operação, ou
seja a denominada operação de “start-up”é relativamente longo podendo atingir até 6
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meses, quando não é utilizado inóculo. Entretanto em função da experiência na
operação de inúmeras instalações em nosso país, mais recentemente já estão sendo
adotados procedimentos que resultam na otimização desta etapa ou seja na redução
do tempo de “start-up”.

Após a introdução do inoculo, gradativamente ao longo do tempo vai surgindo junto ao


fundo do reator, uma camada de lodo muito concentrado, de 5 a 10%, e que
apresenta muito boas características de sedimentação. Sobrepondo-se à camada de
lodo, forma-se uma outra em que os sólidos apresentam uma velocidade de
sedimentação menor e cuja concentração varia de 1,0 a 3%, sendo esta camada
conhecida como a manta de lodo, cuja importância já foi assinalada em parágrafo
anterior. Na FIGURA 12 está apresentado o desenho esquemático de um reator UASB.
Com o movimento ascencional das bolhas de gás formadas na parte inferior, existe
uma tendência de perda de lodo através da parte superior do reator. Este problema
entretanto é contornado através da instalação do denominado separador trifásico na
parte superior da unidade, o qual promove a separação das 3 fases presentes, ou seja
o efluente líquido, o lodo e o gás.

O tratamento com reator UASB é usualmente utilizado para os esgotos domésticos e


também para os despejos industriais. Tanto em nosso país quanto no exterior já é
utilizado para tratar efluentes de numerosas industrias, entre as quais podem ser
citadas:

- cervejarias
- laticínios
- abatedouros
- frigoríficos

Historicamente a utilização destes reatores ocorreu a partir das pesquisas


desenvolvidas pelo Prof. Gatze Lettinga e seus colaboradores na Universidade de
Wageningen na Holanda, na década de 70 e desde então difundiu-se por numerosos
países inclusive o Brasil.

Posteriormente este tipo de tratamento passou a ser tema de inúmeros trabalhos da


comunidade técnica nacional nos quais foram abordados os diversos aspectos
envolvidos no projeto, execução e operação dos mesmos.

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Na década de 80 esta tecnologia passou a interessar os profissionais do setor, que já
começavam a preocupar-se com a necessidade do desenvolvimento de tecnologias
alternativas aos processos aeróbios tradicionais, tendo em vista a crescente demanda
pela implantação de novos sistemas de tratamento e de acréscimo de tratamento nos
sistemas já existentes. Ao mesmo tempo a crescente dificuldade na obtenção de
recursos financeiros para implementação de obras de saneamento básico,
particularmente as de esgotos sanitários, reconhecidamente de custos elevados,
tornou inadiável a incorporação de novas tecnologias para tratamento de efluentes
líquidos.

Na década de 90 ampliou-se consideravelmente a literatura técnica nacional nesta


área, já refletindo a crescente aceitação das novas tecnologias baseadas nos processos
anaeróbios como alternativa válida para a redução dos custos e consequente
viabilização de programas de saneamento na área não apenas da coleta mas também
do tratamento dos esgotos sanitários.

Nesta mesma década foram projetadas e executadas numerosas instalações em


diversos regiões, sendo oportuno esclarecer que atualmente estima-se que já se
encontram em operação no país entre 300 e 400 unidades, especialmente nos Estados

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do Paraná, Minas Gerais, São Paulo, Paraíba e Bahia, onde está concentrado o maior
número de instalações, tendo em vista que lá foram construídas as primeiras unidades
e atualmente a SANEPAR já opera dezenas de reatores UASB. No Estado de Minas
Gerais nos 5 últimos anos o programa de implantação de estações de tratamento de
esgotos está adotando cada vez mais a solução dos reatores anaeróbios UASB,
conforme pode ser verificado na FIGURA 13 na qual está apresentada a ETE
recentemente concluída na cidade de Varginha, no E de Minas Gerais. Inúmeras outras
instalações já estão concluídas ou fase de conclusão, citando-se como exemplo, a ETE
Onça na cidade de Belo Horizonte, no E. de Minas Gerais, a qual quando atingir sua
plena capacidade, tratara os esgotos de uma população de aproximadamente 1,7
milhão de habitantes, constituindo-se no maior reator UASB do país e um dos maiores
do mundo. Na FIGURA 14 está mostrado o setor da ETE Onça, onde foram
construídos os reatores. Os processos anaeróbios e particularmente, os reatores UASB
tem tido grande aceitação no País, tendo em vista que os mesmos são influenciados
pela temperatura ambiente, tendo o seu desempenho otimizado nas faixas mais
elevadas de temperatura Como consequência deste fato os reatores UASB, tem sido
muito utilizados também em outros países de clima tropical e sub-tropical quente,
podendo-se citar os reatores construídos em:

Kampur na Índia
Bucaramanga na Colômbia
Cali na Colômbia

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2 – A geometria; as vantagens e as restrições associadas aos reatores UASB;
a necessidade do pós-tratamento

Sob o ponto de vista da geometria estes reatores podem se apresentar basicamente de


duas formas: cilíndricos ou prismáticos retangulares. Os primeiros são mais adequados
para atender pequenas vazões de projeto tendo em vista que são mais econômicos em
termos execução. No caso do emprego para o atendimento de vazões de médio e
grande porte é mais adequada a utilização das unidades prismáticas retangulares
tendo em vista que as mesmas são mais apropriadas para execução em módulos
justapostos tendo uma parede em comum.

Esta última geometria foi a adotada na construção da ETE Atuba Sul a qual teve uma
primeira etapa inaugurada na cidade de Curitiba, no E. do Paraná. Ela será operada
pela Empresa estadual de saneamento básico daquele Estado, a SANEPAR. É a maior
instalação do gênero no Estado, tendo em vista que, quando operar a plena
capacidade, terá condições de atender uma população de 560 000 habitantes, uma vez
que é constituída por 16 módulos prismaticos, com capacidade para 35 000 habitantes
cada um.

A SANEPAR, na execução de reatores UASB de pequeno porte, tem utilizado muito o


formato tronco-conico conforme apresentado na FIGURA 15.

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As principais vantagens indiscutivelmente apresentadas pelos reatores de manta de
lodo são, conforme ressaltado pelo Prof. Carlos Augusto de Lemos Chernicharo em seu
excelente livro “Reatores anaeróbios”, já referido anteriormente:

- sistema compacto, com baixa demanda de área.


- baixo custo de implantação e operação.
- baixa produção de lodo.
- baixo consumo de energia
- satisfatória eficiência na remoção de DBO e DQO
- possibilidade de rápido reinicio, mesmo após longas paralizações
- elevada concentração do lodo excedente
- boa desidratabilidade do lodo

Relativamente aos itens acima citados, são os mesmos atualmente aceitos pela
comunidade técnica tanto no País quanto no Exterior, não apenas pelas indicações de
caráter teórico mas especialmente pela experiência de operação de centenas de
instalações pelo mundo.

Existem ainda entretanto, restrições por parte de setores técnicos, que se baseiam em
4 questões principais, quais sejam:

- possibilidade de geração de odores


- fragilidade do sistema em relação ao afluxo de cargas tóxicas
- dificuldades operacionais relacionadas com o inicio de operação
- necessidade de pós-tratamento

Quanto ao primeiro item, pode-se afirmar que, embora a produção de odores esteja
muito associada aos processos anaeróbios, não significa que necessariamente haja
produção dos mesmos na operação destes reatores uma vez que a presença de
materiais tóxicos e compostos de enxofre que poderiam estimular o surgimento do
problema, é muito remota no caso dos esgotos domésticos. Acresce ainda o fato que a

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adequada operação da unidade juntamente com procedimentos corretivos atualmente
disponíveis permitem o perfeito controle do problema quanto a geração de odores e
quanto a fragilidade do sistema no que se refere a presença de substancias tóxicas no
esgoto bruto afluente.

Quanto ao aspecto das dificuldades operacionais na fase de partida do sistema,


atualmente a experiência de operação destas unidades já forneceu subsídios capazes
de permitir uma bem ajustada operação desde a fase de partida, o que minimiza a
níveis perfeitamente aceitáveis os problemas na fase inicial de operação.

Quanto a questão do pós-tratamento é fato reconhecido que a qualidade final do


efluente tratado de um reator de manta de lodo não é satisfatória para atender os
requisitos das legislações ambientais vigentes no país, tanto à nível da legislação
federal, a Resolução Conama 020/86, quanto a nível da maioria das legislações
vigentes nos diversos Estados da Federação.

Na realidade os parâmetros de qualidade do efluente destas unidades não são


satisfatórios e consequentemente constata-se a necessidade de ser previsto um pós-
tratamento para complementar a depuração ocorrente nos reatores UASB.

Na experiência brasileira, para o caso dos denominados sistemas coletivos de esgotos,


ou seja sistemas de médio e grande porte, os pós-tratamentos mais utilizados tem
sido se caracterizado pelas associações em série dos seguintes tipos:

UASB + filtro anaeróbio

UASB + lagoa de estabilização

UASB + biofiltro aerado submerso

UASB + aplicação no solo

Para fins do presente curso, na impossibilidade de abordar as inúmeras opções de pós-


tratamento, analisaremos as opções constituídas pelas associações em serie, reator
UASB + lagoa de estabilização e reator UASB + biofiltro aerado submerso

3 - O cálculo e dimensionamento de reatores UASB; Os critérios básicos de


projeto; As eficiências prováveis; Exemplo de dimensionamento

O cálculo e dimensionamento destas unidades ainda não dispõe de um texto normativo


especifico. Entretanto em função das numerosas unidades projetadas e em regime
normal de operação, já são disponíveis critérios razoavelmente seguros para o cálculo
e dimensionamento dos reatores UASB.

Tendo em vista que a eficiência e o perfeito desempenho operacional dependem da


formação e da permanência no conteúdo do reator de um lodo de boas características
especialmente quanto a sedimentabilidade, cuidados especiais deverão ser tomados no
dimensionamento dos mesmos.

Os principais parâmetros utilizados no dimensionamento destes reatores são:

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- carga orgânica volumétrica
- tempo de detenção hidráulica
- carga hidráulica volumétrica
- carga de lodo
- velocidade superficial de fluxo

Precedendo a análise destes parâmetros serão identificadas as diversas grandezas


envolvidas nesta analise, conforme descrito abaixo:

COV = carga orgânica volumétrica ( kg DQO/m3.d )


Q = vazão ( m3/dia )
S = concentração do substrato afluente ( kg DQO/m3 )
V = volume total do reator ( m3 )
TDH = tempo de detenção hidráulica ( d )
CHV = carga hidráulica volumétrica ( m3/m3.d )
CB = carga biológica ou carga de lodo ( kg DQO/kg SVT.d )
v = velocidade superficial de fluxo ( m/h )
A = área da seção transversal do reator ( m2 )
M = massa de microorganismos presentes no reator ( kg SVT )

parâmetros de dimensionamento:

A- carga orgânica volumétrica: COV = Q x S / V ; o valor deste parâmetro deve ser


de no máximo 15 kg DQO/m3.d
No caso de tratamento de esgotos domésticos este parâmetro assume valores
inferiores a 3,0 kg DQO/m3.d tendo em vista que nesta situação prevalece o critério
do tempo de detenção hidráulica ( TDH ). (FIGURA 16)

B- tempo de detenção hidráulica: TDH = V / Q ; este parâmetro é da maior


importância e para o caso de esgotos domésticos em função da temperatura do
esgoto, deve observar os valores constantes do QUADRO VII .

C – carga hidráulica volumétrica: CHV = Q/V = 1 / TDH; a experiência tem


demonstrado que o valor deste parâmetro não deve ser superior a 5,0 m3 / m3.d o
que corresponde à um tempo de detenção mínimo de 4,8 horas.(TDH = 1/5 dia = 0,2
dia = 4,8 hs)

D – carga de lodo ou carga biológica: CB = Q x S / M; a carga biológica


representa a relação entre carga orgânica aplicada ao reator diariamente e a carga de
biomassa presente no reator. A carga biológica durante o regime normal de operação
pode atingir até o valor de 2,0 kg DQO/kg SVT. dia, entretanto na fase de partida ou
seja no período inicial de operação este parâmetro deve oscilar entre 0,05 e 0,15.

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E – velocidade superficial de fluxo: v = Q / A; a velocidade superficial de fluxo é a
relação entre a vazão afluente e a área da seção transversal do reator. Se
considerarmos que a altura do reator é H ( m ), se multiplicarmos a relação por H,
podemos obter a seguinte expressão:

v (velocidade superficial de fluxo) = Q x H / A x H mas A x H = V portanto; v=QxH/V


mas Q / V = 1 / TDH e portanto, v = H / TDH ou seja, a velocidade superficial de fluxo
é o quociente da altura do reator pelo tempo de detenção hidráulico.

Os valores recomendados para a velocidade superficial de fluxo são os indicados


abaixo: sup= superficial

vazão a ser tratada velocidade sup de fluxo


recomendada

média 0,5 a 0,7


máxima 0,9 a 1,1
atípica* até 1,5

Vazão atípica é aquela que ocorre eventualmente assumindo valores superiores a


vazão máxima de projeto e tendo uma duração máxima de 4 horas. Considerando-se
que para as nossas condições de clima, o tempo de detenção hidráulico deve variar
entre 8 e 10 horas, e que a velocidade superficial de fluxo para as vazões medias deve
variar entre 0,5 e 0,7, obtém-se a faixa na qual deve oscilar a altura dos reatores
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UASB que é entre 4,0 e 7,0 m.

Conforme abordado anteriormente, na parte superior do reator é instalado um


dispositivo especial para funcionar como uma unidade de decantação que permita a
retenção de partículas que caso contrário tenderiam a abandonar o sistema, fato este
que ao longo do tempo acarretaria o desequilíbrio do processo. Assim sendo é
necessário um cuidadoso dimensionamento deste dispositivo, o que pode ser obtido
desde que observados os limites indicados abaixo:

vazão taxa de aplic. superf. TDH

média 0,6 a 0,8 1,5 a 2,0


máxima < 1,2 > 1,0
atípica < 1,6 > 0,6

Quanto a eficiência dos reatores UASB, até o presente ainda não foram desenvolvidos
modelos matemáticos ou outras formas confiáveis de previsão da eficiencia operacional
destas unidades de tratamento. Entretanto á partir do monitoramento da operação de
unidades em pleno e normal regime de operação, já foi possível definir formulações
matemáticas de previsão, pelo menos para alguns dos principais parâmetros de
qualidade do efluente tratado, como por exemplo para a DQO e para a DBO.

Em estudo realizado a partir dos dados operacionais de 5 reatores UASB trabalhando


na faixa de temperatura entre 20 e 25 graus centígrados foram obtidas as funções a
seguir apresentadas, para previsão de eficiência em relação à DQO, à DBO e aos
sólidos em suspensão respectivamente.

E = 100 x ( 1 – 0,68 x TDH *-0,35 )

E = 100 x ( 1 – 0,70 x TDH *-0,50 )

SS = 250 / TDH + 10 sendo:

TDH = tempo de detenção hidráulico (h) E = eficiência(%) SS= conc de sólidos em


suspensão no efluente (mg/l)

A configuração gráfica destas funções está apresentada na FIGURA 17. Estas


correlações tendo em vista o numero muito reduzido das unidades em operação, a
partir das quais foram definidas, servem basicamente para se proceder uma estimativa
preliminar da eficiência em relação aos 3 parâmetros de qualidade acima citados. É
provável que a curto/médio prazo, em função das dezenas de unidades em operação
em nosso país, possa a comunidade técnica nacional dispor de informações
consolidadas que permitam a previsão da eficiência dos reatores UASB com mais
precisão. Na FIGURA 18 está apresentada uma vista superior do reator UASB em
operação na cidade de Itabira / MG.

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Exemplo de dimensionamento:

Considere-se uma cidade de médio porte com uma população de 60 000 habitantes,
que dispõe de um sistema de coleta e presentemente deseja complementa-lo com um
tratamento adequado para lançamento posterior em rio da região, sendo o índice de
atendimento do sistema de 100 % da população. São conhecidas as seguintes
informações:

per capita de esgotos adotado no projeto = 200 l/ hab.d


carga orgânica per capita = 54 g/hab.d
DQO(esgoto bruto)= 400 mg/l
Deseja-se dimensionar uma ETE (reator UASB) para a cidade em questão, com uma
eficiência mínima de 60% em remoção de DBO. (considerar valida a correlação
apresentada no texto), sabendo-se também que a temperatura do esgoto é superior a
26 graus centígrados.

SOLUÇÃO:

vazão média de projeto = 60 000 hab x 200 l/hab.d = 12 000 m3/d = 500 m3/h
DBO (esgoto bruto) = 54 000 mg/ hab.d / 200 l/hab.d = 270 mg/l
DQO (esgoto bruto) = 400 mg/l
E = 100(1-0,70 x TDH *-0,50) sendo E = 60% obtém-se TDH = 3,07 hs. Tendo em
vista que a experiência recomenda um tempo de detenção mínimo de 6 horas para
esta faixa de temperatura, será este o valor adotado para o TDH.
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Volume total = 500 m3/h x 6 h = 3 000 m3 adotando-se 3 módulos prismaticos, em
paralelo, cada módulo terá volume = 1 000 m3. Sendo a altura dos módulos 4,5 m, a
área de cada um será: A = 1 000 m3/4,5m = 222,22 m2 ou seja, seção retangular
de 12m x 18,5m.
A vazão afluente a cada modulo será: Q = 500/3 m3/h = 166,66 = 167 m3/h; carga
afluente(DQO) = 400 mg/l x 167 m3/h = 400 mg/l x 46,40 l/s = 1 604,00 kg/d
verificação da carga orgânica volumétrica: 1 604 kg DQO/d / 1 000 m3 = 1,6 kg
DQO/m3.d (satisfatório)
verificação da carga hidráulica volumétrica: CHV = Q/V = 4 000 m3/d / 1 000 m3
= 4,0 m3 / m3.d (satisfatório)
verificação da velocidade superficial de fluxo: Q/A = 4 000 m3/d / 222,22 m2 =
18,0 m/d = 0,75 m/h. Considerando-se que o reator está operando com uma COV =
1,6 kg DQO / m3.d e que o lodo é do tipo floculento, a velocidade superficial de fluxo é
satisfatória tendo em vista que embora no limite superior, está dentro da faixa
recomendada. Se o lodo fosse do tipo granular, a velocidade estaria também
satisfatória uma vez que o limite maximo admissível é ainda maior.

Para as condições de projeto adotadas, a eficiência em remoção de DBO será de 60% e


conseqüentemente A DBO do efluente do reator será: DBO ef = 270 mg/l x 0,4 = 108
mg/l.

4 - O Pós-Tratamento do Efluente de Reatores UASB; A Utilização de Lagoa de


Estabilização e de Biofiltro Aerado Submerso. Exemplos de Dimensionamento

Conforme já ressaltado anteriormente, o efluente dos reatores UASB usualmente não


atendem as exigências das legislações que regulam o lançamento de efluentes líquidos
em corpos receptores hídricos tais como rios, lagos baias outros. Assim sendo, torna-
se imprescindível o pós-tratamento dos mesmos. Para fins do presente texto, serão
estudados o pós-tratamento através de lagoa de estabilização e biofiltro aerado
submerso, conforme esclarecido em capitulo anterior. Certamente considerando-se o
pós-tratamento, a eficiência global da associação permitirá que sejam atendidas as
condicionantes das legislações de proteção aos recursos hídricos, as quais tem se
tornado, gradativamente, mais rígidas tendo em vista a crescente deterioração da
qualidade das águas em todo o mundo e particularmente em nosso país.

Inicialmente será analisada a associação de um reator de manta de lodo com lagoa de


estabilização. É válido esclarecer que este tipo de associação em série comporta
diversas sub - alternativas, podendo ser citadas entre outras, as seguintes:

reator UASB + lagoa facultativa


reator UASB + lagoa facultativa + lagoa de maturação
reator UASB + lagoa de maturação
reator UASB + lagoa aerada
reator UASB + lagoa aerada + lagoa de decantação

Tendo em vista entretanto a necessária limitação do texto, para fins do presente curso,
será analisada a primeira das alternativas acima apresentadas.

Neste caso o fluxograma típico desta associação é o apresentado na FIGURA 19.


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Uma das formas mais utilizadas em nosso país como pós-tratamento de efluentes
de reator UASB, é através de uma lagoa de estabilização e particularmente a
denominada lagoa facultativa. A bem sucedida experiência nacional no emprego de
lagoas facultativas para o tratamento de esgotos sanitários já remonta a
aproximadamente 40 anos, desde que na década de 60 foram projetadas e construídas
as lagoas de São José dos Campos ( SP ), sob orientação do Prof Benoit de Almeida
Vitoretti. Esta modalidade de lagoa apresenta, entre outras, as seguintes vantagens;

- eficiência comprovada na remoção de carga orgânica, sólidos em suspensão,


nutrientes, microorganismos patogênicos e outros elementos presentes no esgoto
bruto.
- simplicidade de operação e manutenção
- ausência de odores ofensivos
- inexistência de equipamento eletromecânico
- baixo custo de implantação
- baixo custo de operação/manutenção

Tendo em vista estes fatores, ela tem sido, mais recentemente, muito utilizada como
unidade de pós – tratamento dos reatores UASB. Este pós – tratamento tem o objetivo
de complementar a remoção da carga orgânica e outros parâmetros de qualidade e
portanto adequar a qualidade do efluente final a níveis compatíveis com as exigências
da legislação ambiental, incluídos parâmetros importantes como por exemplo a
qualidade bacteriológica. Isto pode ser perfeitamente obtido, desde que tenha sido a
lagoa adequadamente projetada, executada e operada. Este parâmetro tem especial
importância tendo em vista que é através dele que se procura controlar a
disseminação das doenças de veiculação hídrica, ainda presentes em nossa realidade
sanitária, principalmente nas regiões norte e nordeste do país conforme ficou
evidenciado na recente divulgação dos resultados da PNSB (Pequisa Nacional de
Saneamento Básico) elaborada pelo IBGE.

Como exemplos concretos desta solução podem ser citados:

• o reator UASB construído no bairro de Vila Macedo na cidade de Piraquara / PR


• o reator UASB construído na cidade de Itabira / MG (apresentado na FIGURA
18)
• o reator UASB construído na cidade de Corinto / MG.

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A literatura técnica nacional ainda é carente de trabalhos específicos nesta matéria,
aspecto que provavelmente será em breve superado, uma vez que a partir do ano de
2001 é que iniciaram operação diversas ETEs utilizando esta associação como
alternativa de solução.

Quanto ao aspecto das eficiências obtidas em relação a vários parâmetros de


qualidade, consideramos oportuno transcrever os resultados do monitoramento de
uma lagoa facultativa durante o período um ano, relativamente aos parâmetros DQO e
SS conforme mostrado no QUADRO VIII.

A eficiência do pós – tratamento feito por intermédio de uma lagoa facultativa pode
ser feito utilizando-se um dos critérios comumente utilizados para tal fim. Para fins do
presente texto, pressupõe – se que a lagoa funcionará segundo o regime de fluxo de
pistão, o que proporcionará uma otimização da eficiência da mesma, e neste caso, a
fórmula básica a ser adotada para estimativa da eficiência em remoção de DBO é a
seguinte:
S = So . e -k.t sendo:
S = DBO no efluente em mg/l
So = DBO no afluente em mg/l -1
k = coeficiente de remoção da DBO expresso em d
t = tempo de detenção em dias

Feitas estas considerações, a seguir será procedido o dimensionamento de um pós-


tratamento para o UASB anteriormente dimensionado, pressupondo-se a utilização de
uma lagoa de estabilização facultativa.

A vazão média afluente será: Q = 60 000 hab x 200 l/hab.d = 12 000 m3/d

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carga orgânica afluente ao reator: C = 60 000 hab x 54 g/hab.d = 3 240 kg/d, sendo a
eficiência do reator igual a 60%, a carga orgânica afluente a lagoa será: C (afl) = 3240
kg/d x 0,4 = 1296 kg/d. Considere-se que a carga superficial aplicada será de 300
kg/há.d Nestas condições, a área da lagoa será: A = 1296 kg/d / 300 kg/ha.d = 4,32
ha, ou seja, a lagoa terá uma área útil de 43 200 m2. Adotando-se uma relação
comprimento/largura = 4,0 tem-se: L = 4 b A = 4b x b = 4 b*2 = 43 200 m2 e
conseqüentemente b = 103,9m = 104 m L = 4 x 104m = 416 m. Se for adotada uma
profundidade útil de 2,00m, o volume útil da lagoa será: V = 43 200 m2 x 2 m =
86 400 m3 e nestas condições o tempo de detenção será: t = 86400 m3/12000 m3/d
= 7,2 dias. Na equação acima indicada já estariam determinados dois valores ou seja a
DBO do afluente a lagoa (So), o tempo de detenção t=7,2 dias e o coeficiente de
remoção k que pode ser definido através de formula adequada que faz a correção em
das temperaturas do ar e do esgoto. Tendo em vista que o dimensionamento
detalhado de lagoas de estabilização ultrapassa o programa do presente curso,vamos
considerar que os cálculos devidos conduziram a obtenção da DBO do efluente da
mesma que assumiu o valor de 30 mg/l, correspondendo a uma eficiência de 72,2%,
uma vez que a DBO afluente já tinha sido calculada em 108 mg/l. Assim sendo
verifica-se que a DBO final de 30 mg/l já é um valor compatível para atender muitas
das legislações vigentes.

5 – EXEMPLO DE DIMENSIONAMENTO DE UM BIOFILTRO COMO UNIDADE DE


PÓS-TRATAMENTO DO EFLUENTE DO REATOR UASB DIMENSIONADO
ANTERIORMENTE.

Outra alternativa que tem sido utilizada no país para o pós - tratamento do efluente de
reator UASB é o denominado biofiltro aerado submerso. Esta unidade é essencialmente
constituída por uma estrutura ( tanque ) preenchido com material poroso, através do
qual o esgoto bruto e o ar transitam continuamente, segundo um fluxo ascendente,
sendo o meio poroso mantido totalmente submerso no líquido. O tanque pode ser de
forma cilíndrica ou prismática, recebendo o esgoto a ser tratado em sua parte inferior,
local em que também é injetado o ar com auxilio de equipamento adequado
(compressores ). Em função desta injeção de ar, existe algum consumo de energia
elétrica, o qual entretanto, apresenta quantitativo muito inferior ao apresentado por
outros tratamentos, sendo da ordem de 2 watts por habitante atendido enquanto no
processo de aeração prolongada, por exemplo, este parâmetro alcança o valor de
aproximadamente 4,5 watts por habitante atendido.

O material poroso que constitui o meio filtrante era usualmente uma material mineral
granular. Mais recentemente foi iniciada, com resultados satisfatórios, a utilização de
materiais granulares sintéticos tais como o poliuretano, o PVC e outros mais, que
apresentam uma porosidade de aproximadamente 40% e uma superfície específica de
1000m2/m3, conforme será abordado mais adiante.

Na FIGURA 20 está apresentado o croquis de uma estação de tratamento constituída


pela associação em serie de um reator UASB e um biofitro aerado.

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Esta associação significa na realidade, um processo anaeróbio sendo complementado
por um processo aeróbio, procedimento que vem crescentemente recebendo uma
avaliação positiva por parte de vários estudiosos dos processos biológicos de
tratamento, sendo de reconhecida utilidade na obtenção de um efluente final de
melhor qualidade.

Construtivamente, esta associação envolve portanto, a execução de 2 unidades


distintas.

Em nosso país esta modalidade de tratamento tem recebido uma atenção especial dos
profissionais da área que vem no mesmo uma alternativa valida no campo das
tecnologias de baixo custo. Entre os estudos e pesquisas neste setor, pode-se citar
especialmente o trabalho que vem sendo empreendido pelo Eng° Ricardo F. Gonçalves
que no âmbito do Departamento de Hidráulica e Saneamento da Universidade Federal
do E. Santo vem estudando e avaliando o desempenho desta associação, desde a nível
de laboratório até ao nível de instalações em pleno funcionamento.

Como resultado das pesquisas nesta área, o Eng° Gonçalves desenvolveu uma
concepção desta associação de forma compacta, em que em uma mesma estrutura
estão contidos o reator UASB e o biofiltro aerado submerso. A unidade compacta é
construída sob a forma de 2 estruturas cilíndricas concêntricas, geralmente em chapas
de aço, em que o cilindro externo funciona como um reator UASB e o cilindro interno
como um biofiltro aerado submerso, conforme a FIGURA 21. Estas unidades
compactas já tem sido empregadas em diversa cidades de pequeno porte,
principalmente no interior E. do Espírito Santo, com resultados satisfatórios, sendo
uma delas, a instalada na cidade de Fundão/ES com capacidade para 10 000
habitantes, apresentada na FIGURA 22.

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Os estudos supracitados feitos em escala de laboratório, permitiram a obtenção de
resultados relacionados com a eficiência das unidades em separado e em conjunto,
pertinentes aos parâmetros SS, DQO, DBO5 e NTK (nitrogênio total kedjal).

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Pela análise do mesmo, no que se refere a eficiência global da associação, observa-se
uma eficiência de ate 94% em relação aos sólidos em suspensão, de ate 96% em
relação a demanda bioquímica de oxigênio e de até 36% em relação ao nitrogênio total
kedjal.

O critério de projeto dos biofiltros, da mesma maneira que dos reatores UASB, ainda
não se encontra definido em texto normativo da ABNT, entretanto em função dos
estudos, pesquisas e monitoramento de unidades já em operação, estão
razoavelmente bem definidos os critérios básicos que são os seguintes:

• taxa de aplicação superficial que corresponde a quantidade de esgotos disposta


diariamente por unidade de superfície do meio filtrante do biofiltro expressa em
m3/m2.dia, deve ser no máximo de 30.
• carga orgânica volumétrica que corresponde a quantidade de matéria orgânica
aplicada diariamente no biofiltro, por unidade de volume do meio filtrante,
expressa em kg DBO/m3.d Para o caso especifico da DBO a carga orgânica
volumétrica deve estar próxima de 1,0 DBO/m3.dia
• Para o fornecimento de ar para o processo, tem sido adotadas usualmente
taxas de aeração de 10 a 40 Nm3 ar/kg DBO aplicada. Em termos de consumo
de oxigênio, pode-se considerar o valor de 0,5 kg O2 / kg DBO aplicada.

De modo geral o fornecimento de oxigênio nestes dispositivos é feito com auxilio de


sopradores, os quais alimentam tubulações de ar. Estas tubulações são comumente
posicionadas um pouco acima do fundo, de tal forma que seja criada uma região com
baixa aeração na parte inferior da estrutura, procedimento este que permitew otimizar
o desempenho do sistema de aeração. Nas associações de reator UASB com biofiltro
aerado em unidade compactas do tipo em operação em varias cidades do E. do Espírito
Santo, citadas anteriormente, o acompanhamento da operação mostrou que o
consumo de energia é da ordem de 2 W/hab sendo que a metade ou seja 1 W/hab é o
consumo efetivamente utilizado na aeração do processo, sendo a outra metade
utilizada em operações complementares, tais como bombas de esgoto e de lodo.

Quanto ao meio filtrante que funcionará como suporte do bio-filme, deve ser
constituído de material inerte, não biodegradável, com resistência à abrasão e de
granulometria homogênea. Podem ser utilizados diversos materiais, sendo a seleção
dos mesmos feita em função de vários fatores, citando-se entre outros: A qualidade do
efluente em tratamento; a periodicidade das operações de lavagem; as condicionante
de natureza econômico-financeira. Nas unidades construídas inicialmente, foram
largamente empregados, os denominados matérias granulares, entre os quais se
destaca a pedra britada. Mais recentemente, entretanto, as pesquisas geraram uma
nova geração de materiais passiveis de utilização como meio filtrante. Na década de 90
começaram a ser utilizados os denominados materiais sintéticos, tais como o
polipropileno, o PVC, o poliestireno e outros derivados da industria petroquimica..
Estes apresentam superfícies especificas que ultrapassam 1000 m2/m3, valores bem
superiores aos materiais granulares cujas superfícies especificas variam entre 200 e
600 m2/m3 e conseqüentemente apresentam um melhor desempenho operacional.

EXEMPLO DE DIMENSIONAMENTO DE UM BF COMO UNIDADE DE PÓS-


TRATAMENTO DO REATOR UASB JÁ DIMENSIONADO ANTERIORMENTE
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.
vazão media = 12 000 m3/d
taxa de aplicação adotada = 20 m3/m2.d
A área superficial do filtro será: 12 000 m3/d / 20 m3/m2.d A = 600 m2
Tendo em vista o elevado valor obtido acima, o biofiltro poderá ser modulado em 3
modulos funcionando em paralelo de forma a permitir um lay-out compatível com o
dimensionamento da unida de montante, ou seja um reator UASB com 3 módulos em
paralelo. Neste caso a área de 1 modulo será:
A = 600 m2 /3 = 200 m2. As unidades terão seção retangular de 10,0m de largura e
20,0 m de comprimento. Opcionalmente a largura dos biofiltros poderá ser de 12,0 m
para se igualar a dos reatores UASB e permitir a justaposição com os mesmos,
otimizando o aproveitamento da área disponível para implantação.
Carga orgânica afluente aos biofiltros: C = 60 000 hab x 54 g/hab.d = 3 240 000 g/d
= 3240 kg/d A carga orgânica afluente ao pós-tratamento será = 3240 kg/d x 040
= 1296 kg/d (considerando-se que a eficiência do reator UASB é prevista em 60%)
Carga orgânica afluente a um biofiltro = c/3 = 1296/3 = 432 kg/d DBO
Carga orgânica volumétrica adotada = 1,0 kg DBO/m3.d
Volume do meio filtrante de um filtro = 432,0 kg DBO/d / 1,0 kg DBO/m3.d = 432,0
m3
altura do meio filtrante = V / A = 432,0 m3/200 m2 =2,16 m adotando-se 2,20 m.
A eficiência provável do biofiltro, pode ser considerada como 90% e conseqüentemente
a DBO do efluente final será : 108,0 mg/l x 0,10 = 10,8 mg/l, valor perfeitamente
aceitável. A etapa seguinte do dimensionamento básico sera a determinação da
quantidade de oxigênio necessária e para isto, foi adotado o coeficiente de 0,5 kg O2 /
kg DBO aplicada. Assim sendo, tem-se: cons de oxig = 0,5 x1296 kg/d = 648 kg/d ou
27,0 kg O2/h. Sendo utilizados 3 biofiltros, cada um necessitara de 9,0 kg O2/h. A
partir deste valor é possível dimensionar os sopradores(compressores) que deverão
ser instalados em cada um dos biofiltros.

ANÁLISE DOS RESULTADOS OBTIDOS

Entre as duas alternativas de pós-tratamento analisadas, constata-se que


tecnicamente a mais adequada, para o presente caso, seria a que utiliza os 3 biofiltros
em paralelo, tendo em vista que nesta hipótese a área necessária seria de pouco mais
de 600 m2 enquanto para a lagoa de estabilização, a área necessária seria de 43 200
m2 (não computadas as áreas adicionais para diques e obras complementares).

Considerando-se que a DBO do efluente a ser lançado, no caso da lagoa será de


aproximadamente 30 mg/l, a solução do biofiltro é a mais recomendada tendo em
vista que a DBO do efluente dos biofiltros será de aproximadamente 10,8 mg/l.

Para finalizar uma análise técnico - econômica preliminar, restaria apenas ser feita
uma estimativa dos custos de implantação e operação/manutenção para as duas
alternativas estudadas.

Resumindo e considerando-se o aspecto de facilidade e flexibilidade operacional, as


duas alternativas estudadas assim poderiam ser descritas:

alternativa I – consistindo em tratamento preliminar, 3 reatores UASB prismaticos de


seção horizontal retangular associados em serie a 1 lagoa de estabilização facultativa

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de seção horizontal retangular, apresentando as unidades, as dimensões indicadas no
respectivo dimensionamento.

alternativa II – consistindo em tratamento preliminar, 3 reatores UASB prismaticos


de seção horizontal retangular associados em serie a 3 biofiltros aerados submersos de
formato prismatico, apresentando as unidades, as dimensões indicadas no respectivo
dimensionamento. Nesta alternativa deverão ser previstos 3 sopradores com
capacidade para introduzir 9,0 kg O2 por hora em cada biofiltro.

Concluindo o presente modulo, consideramos oportuno enfatizar a importância que as


novas tecnologias no campo dos processos anaeróbios, podem proporcionar como uma
alternativa valida para o equacionamento do problema do tratamento dos efluentes
líquidos tanto industriais quanto sanitários, principalmente estes últimos, que foram o
objetivo primordial do presente curso. No Exterior esta tecnologia já demonstrou sua
aplicabilidade, sabendo-se que atualmente mais de 600 reatores UASB operam em
todo o mundo com resultados satisfatórios, sendo que na Holanda, país onde foi
estudado e desenvolvido inicialmente este avanço tecnológico, estão presentemente
em operação, com resultados extremamente favoráveis, cerca de 50 unidades.

MÓDULO IV – A tecnologia de reuso da água e o efluente de


reatores UASB com pós-tratamento.

É oportuno observar que sendo o tema em apreço muito amplo, envolvendo aspectos
diversificados das ciências exatas, e até mesmo das ciências humanas, e portanto de
natureza multidiciplinar, na elaboração do mesmo, optou–se em apresentar os tópicos
de natureza básica evitando-se o aprofundamento de tópicos que inevitavelmente
conduziriam a uma abordagem mais especifica do tema, o que ultrapassaria os
objetivos do presente texto.
A abordagem será feita de acordo com a seguinte itemização.

1 – O PROBLEMA DA ESCASSEZ QUANTITATIVA E QUALITATIVA DA ÁGUA E AS


TECNOLOGIAS DE REUSO.
a – A questão da saúde pública, do meio ambiente e dos recursos hídricos.
b – Os esgotos; modalidades, aspectos quantitativos e qualitativos.
c – Os parâmetros de qualidade e as eficiências prováveis.
d – Os processos de tratamento (físicos, químicos e biológicos).

2 – AS MODALIDADES DE REUSO E AS POSSIBILIDADES RELATIVAS AOS


EFLUENTES DE PROCESSOS ANAERÓBIOS COM PÓS-TRATAMENTO.
e – A legislação ambiental relativa aos recursos hídricos.
f – O reuso: requisitos e modalidades.
g – Aspectos técnicos, econômico– financeiros e de saúde publica.

3 – A EXPERIÊNCIA NACIONAL E INTERNACIONAL

4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

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1 - O PROBLEMA DA ESCASSEZ QUANTITATIVA E QUALITATIVA DA ÁGUA E AS
TECNOLOGIAS REUSO.

A – A questão da saúde publica, do meio ambiente e dos recursos hídricos

A partir do século XX, com a consolidação da Revolução Industrial, e o acelerado


crescimento da população mundial, delineou-se claramente, tanto no aspecto intensivo
quanto extensivo, a não sustentabilidade do modelo vigente no uso dos recursos
hídricos, em todo o planeta.
Presentemente, no inicio do século XXI, a humanidade constata surpresa a situação de
degradação dos recursos naturais e particularmente dos recursos hídricos. Nos últimos
já vem sendo observados graves problemas quanto a disponibilidade da água,
principalmente quando nos reportamos aos usos mais exigentes, fato que está
afetando grandes metrópoles, e no caso do Brasil, um dos exemplos típicos é a Região
Metropolitana de S. Paulo, onde a população já vem enfrentando nos últimos anos,
períodos de verão sob rigoroso racionamento. Constata-se assim que, mesmo
possuindo 12% das reservas mundiais de água doce, o país já enfrenta problemas de
abastecimento nos grandes núcleos urbanos.
A civilização contemporânea assiste perplexa o surgimento, a curto prazo, de
problemas que envolvem não somente o aspecto quantitativo mas também qualitativo
do uso da água.
O uso exacerbado dos recursos naturais, particularmente dos recursos hídricos, a nível
mundial e de forma clara nos paises mais desenvolvidos, acarretou uma surpreendente
redução na disponibilidade da água. Por outro lado, a recorrente carência de recursos
financeiros para investimento em obras de saneamento básico, como sistemas de
coleta, tratamento e disposição final dos esgotos sanitários, nos paises não
desenvolvidos, vem contribuindo de forma significativa para o agravamento da questão
da disponibilidade da água. Para que se tenha uma idéia, segundo pesquisadores e
estudiosos das questões ligadas ao uso da água a nível mundial, o consumo global tem
evoluído segundo os seguintes valores:

1940 --------------------------------------1 000 Km3


1960 --------------------------------------2 000 Km3
1990 --------------------------------------4 130 Km3
2000 --------------------------------------5 190 Km3

Assim sendo, segundo os mesmos pesquisadores, o consumo mundial está próximo da


disponibilidade máxima de água para consumo que é estimada em 9 000 Km3,
correspondendo aproximadamente a 1,8 m3 por pessoa.
De acordo com estes estudos, o consumo em 2015 atingiria o volume de 8 500 Km3
caso a população mundial atinja o quantitativo de 8 bilhões de pessoas, e nesta

situação o consumo mundial estaria chegando próximo a disponibilidade máxima. Na


realidade, o problema da carência quantitativa dos recursos hídricos já está se
apresentando de forma evidente em um grupo de 21 paises que integram o
denominado MENA – Middle East and North África, que estão situados no Oriente
Médio e parte do norte da África, região que abriga aproximadamente 300 milhões de
habitantes e apenas 1% do volume mundial de água passível de ser disponibilizado em
1 ano.

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Complementando a analise sob o aspecto quantitativo, constata-se a necessidade de
rigorosas e imediatas providencias para serem evitadas as perdas nos sistemas de
abastecimento de água, desde a captação até o ponto de consumo final, tais como
torneiras, chuveiros e outros. Alem disto é inadiável, a racionalização do consumo,
devendo ser combatidas praticas nocivas tais como a utilização de água potável para
lavagem de veículos, ruas e pisos, prosseguindo este processo no interior dos
domicílios através a utilização de peças sanitárias com reduzido consumo de água,
através da substituição das atuais dispositivos que se caracterizam pelo exagerado
consumo do liquido, por outros de concepção mais moderna e que apresentam um
consumo razoavelmente menor. Esta ultima questão pode ser melhor compreendida
com auxilio de um exemplo numérico e concreto, conforme a seguir detalhado.

Uma descarga sanitária convencional utiliza 30 litros de água, a cada vez que é
acionada. Se considerarmos um domicilio onde residam 4 pessoas, pode se admitir 16
acionamentos diários o que corresponde a: 30 l x 16 = 480 l/dia. Este valor conduz a
um consumo mensal de: 480 x 30 = 14 400 l ou 14,4 m3. Admitindo-se uma tarifa de
R$ 0,587/m3,(valor inferior da faixa) que era vigente em março de 2004 na cidade de
Estância em Sergipe, o gasto mensal correspondente apenas as descargas sanitárias
seria de R$ 14,4 m3 x 0,587/m3 = R$ 8,45. Se entretanto for utilizada uma descarga
sanitária de consumo reduzido ou seja 6 l, tem-se a seguinte situação:6 l x 16 = 96
l/dia ou 96 x 30 = 2 880 l ou 2,88 m3, correspondendo a um custo de: 2,88 m3 x R$
0,587/m3 = R$ 1,69 significando portanto uma redução de 80% no gasto com água.
Para o Serviço Autônomo fornecedor da água, se considerarmos que este dispositivo
está instalado em 1000 residências, significaria uma redução no consumo de água na
cidade da ordem de:1000 x (14,4 m3 – 2,88 m3) = 11 520 m3 por mês.

Os recursos hídricos tem sido atingidos, de forma grave, em seu aspecto qualitativo. O
lançamento indiscriminado de poluentes e contaminantes de toda a ordem, estão
comprometendo a qualidade das águas, especialmente quanto ao aspecto
bacteriológico, e conseqüentemente impedindo ou dificultando o seu uso,
principalmente quando se cogita o seu emprego em relação aos usos mais exigentes,
tais como o abastecimento público de cidades e pequenas comunidades, a recreação
de contato primário (natação, mergulho, etc e outros
Em relação ao primeiro uso citado, tem-se como exemplo o problema que já se
apresenta na captação de água bruta para abastecimento da maior parte da Região
Metropolitana do Rio de Janeiro, em que a tomada d’água feita no Rio Guandu, que é
originado de uma derivação do Rio Paraíba do Sul, mostra sinais crescentes e
preocupantes de poluição e contaminação. A execução de obras, com o intuito de
temporariamente minorar o problema, consistirá no desvio do curso de um rio afluente
ao Rio Guandu. Na FIGURA 23 pode ser observada a situação atual, da tomada
d’água do sistema de produção do Guandu e o traçado aproximado do trecho a ser
executado.

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Conforme ressaltado, trata-se de medida paliativa, uma vez que a origem básica do
problema é a poluição crescente das águas na bacia do Rio Paraíba do Sul, causada
entre outras razões pelo grande volume de esgotos in natura lançado pelas cidades
ribeirinhas que não dispõem de sistemas públicos de coleta e tratamento.
A carência de água já se apresenta também em outra região do País, como por
exemplo na Região Metropolitana de S. Paulo, onde os principais mananciais em uso,
já demonstram claramente problemas tanto no aspecto quantitativo quanto no aspecto
qualitativo. A Empresa estadual de saneamento a SABESP, já estudando alternativas
para resolver ou pelo menos minimizar o problema. A este respeito é interessante que
sejam transcritos trechos de uma ampla reportagem feita pela jornalista Mariana
Viveiros do jornal Folha de S. Paulo, no dia 25 de julho de 2004.

“A continua degradação da qualidade da água retirada dos três principais sistemas de


abastecimento publico da Grande S. Paulo (Cantareira, Guarapiranga e Alto Tietê)
chegou a mais que duplicar o custo do tratamento para deixa-la adequada e segura ao
consumo domestico(potável) nos últimos cinco anos.

Entre 1998 e 2003, o total de produtos usados para tratar um milhão de litros de água
chegou a aumentar 51% no sistema Guarapiranga, que atende 4 milhões de
moradores nas zonas sul e oeste.
No mesmo intervalo, o Alto Tietê consumiu 9% a mais de produtos para deixar a água
potável para 3 milhões de pessoas.
Se a deterioração das águas dos sistemas Guarapiranga e Alto Tietê não for freada,
será preciso adotar o ozônio, usado no Japão e na França, diz João Carlos Leitão,
gerente do Departamento de Produção Sul da SABESP.”

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Para resolver o problema acima abordado, a SABESP está está elaborando um Plano de
Abastecimento, que engloba 3 intervenções principais que contemplam
respectivamente as 3 seguintes diretrizes;
1 – aumentar e otimizar a vazão do Sistema Produtor do Alto Tietê
2 – realizar a interligação de um braço do Rio Pequeno com um braço do R. Grande
3 – captar água no sistema Juquiá/Juquitiba, captando água no R Juquiá.

Quando se cogita, do tratamento e do eventual reuso de esgoto doméstico, cuidados


especiais deverão ser adotados em relação a qualidade bacteriológica do mesmo,
tendo em vista que o esgoto doméstico, contem elevadas concentrações de bactérias,
vírus, protozoários e outros microorganismos capazes de transmitir doenças graves
sob o ponto de vista da saúde publica, as quais estão descritas no QUADRO IX
abaixo, juntamente com o microorganismo transmissor e as formas mais típicas de
transmissão.

De forma semelhante os recursos hídricos tem sido atingidos de forma contundente em


seu aspecto qualitativo. O lançamento indiscriminado de poluentes e contaminantes
de toda a ordem estão comprometendo a sua qualidade, particularmente quando se
cogita dos usos mais exigentes tais como a água para consumo humano, a água para
recreação de contato primário e outros.Tendo em vista os baixos índices de
atendimento pelos sistemas de coleta e especialmente o reduzido quantitativo de
esgoto tratado, significando assim o lançamento in natura nos corpos receptores (rios,
córregos, lagos, baías, etc) de considerável volume de esgotos contendo
microorganismos patogênicos(capazes de transmitir doenças), no Brasil, a questão da
coleta e do tratamento dos esgotos assume grande relevância. Segundo dados
referentes ao ano de 2001, divulgados pelo Sistema Nacional de Informações em
Saneamento (SNIS), nesta época, relativamente recente, a situação poderia ser
resumida nos seguintes tópicos:

1 – as prestadoras de serviços de abrangência regional (Companhias Estaduais de


Saneamento) no ano de referencia atendiam com sistemas de coleta 38,3% da
população urbana de suas respectivas áreas e tratavam 29,8% do volume de esgoto
gerado nas respectivas áreas.

2 – em termos do país como um todo os percentuais são 50,9% para o esgoto


coletado e 25,6% para o esgoto tratado respectivamente.

3 – os prestadores de serviços de coleta de esgotos atendem 16 milhões de pessoas,


que representam 69,4% da população urbana dos municípios com serviços de água.

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No QUADRO X abaixo estão reunidos os percentuais de atendimento com água e
esgoto dos prestadores segundo a abrangência.
A nível nacional pode-se verificar que o percentual de atendimento com sistemas de
esgotos dispondo de tratamento é de apenas 25,6 % o que significa que a vazão
correspondente a aproximadamente 131 milhões de habitantes não dispõe de
tratamento e destino final.

abrangência atendimento atendimento atend c/ tratamtento


água(%) esgoto(%) de esgoto(%)
regional 91,1 38,3 29,8

microrregional 86,0 3,1 2,1

local 97,8 77.4 17,0

Brasil 92,4 50,9 25,6

QUADRO X

Em termos de danos ambientais, em particular, aos recursos hídricos, é necessário


ainda acrescentar outros fatores adversos como por exemplo a contribuição das águas
residuarias geradas nos processos industriais, os denominados despejos industriais.
Na FIGURA 24 abaixo, pode-se observar na fotografia superior, aspecto de trecho do
Rio Paraíba do Sul atravessando o perímetro urbano da cidade de Volta Redonda e na
fotografia inferior aspecto de um lançamento de despejo industrial no mesmo
rio.(parte escura próxima ao centro da foto)

Em muitos Estados ainda não existe uma política definida de controle da poluição das
águas por despejos industriais e mesmo naqueles em que ela existe, os Órgãos

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estaduais de controle ambiental como a CETESB em S. Paulo, a FEEMA no Rio de
Janeiro e outros, ainda encontram grandes dificuldades para implantação de sistemas
de licenciamento e controle das atividades poluidoras.
As conseqüências do lançamento intencional ou acidental de despejos industriais “in
natura” nos rios e outros corpos receptores, freqüentemente são muito prejudiciais,
atingindo as populações envolvidas de forma extremamente danosa.
Entre outros, os danos causados podem ser os seguintes:

impedimento do uso do corpo receptor como manancial de sistemas de abastecimento


de água das cidades da região.
impedimento da atividade da pesca, a qual é utilizada freqüentemente como supridora
de alimento e como fonte de renda.
impedimento do uso da água como insumo em processos industriais
impedimento do uso da água para fins de irrigação de áreas agrícolas
impedimento do uso da água para atividades de recreação de contato primário
destruição dos ecossistemas aquáticos
emanação de gases e odores ofensivos e/ou tóxicos

Um aspecto concreto das praticas predatórias pode ser evidenciado pelos inúmeros
rios, em praticamente todo o território nacional, que estão sendo gradativamente
destruídos em função do lançamento continuo e indiscriminado de esgotos in natura,
de despejos industriais brutos e de outras substancias nocivas.
Varias bacias hidrográficas já estão apresentando graves problemas de degradação da
qualidade das suas águas e conseqüentemente da crescente restrição do uso,
principalmente para aqueles mais exigentes, entre os quais poderíamos citar;

sistemas públicos de abastecimento de água


recreação de contato primário
irrigação de plantações, particularmente as plantações destinadas a alimentação
humana (verduras, legumes, frutas, etc).

Como exemplo do lançamento in natura, e acidental, mas da mesma forma


extremamente danosa, pode-se mencionar o acidente de vazamento de uma barragem
de rejeitos da Industria Cataguases de Papel localizada no município mineiro de
mesmo nome, o qual atingiu sucessivamente os rios Pomba e Paraíba do Sul causando
enormes prejuízos as comunidades ribeirinhas e as atividades econômicas da região,
conforme a FIGURA 25 a seguir, onde pode-se ver claramente as dimensões da
mancha, a qual no momento da foto, atingia a foz do Rio Paraíba do Sul e lançava-se
no Oceano Atlântico, quando passou a prejudicar as condições de balneabilidade das
praias do litoral norte do E.do Rio de Janeiro.

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Sob o ponto de proximidade geográfica, poderia ser mencionada a bacia do Rio Paraíba
do Sul, a qual é uma das mais conhecidas entre as bacias hidrográficas brasileiras,
uma vez que ela abrange parte dos territórios de 3 dos mais importantes Estados do
País (S. Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro). Nesta bacia, especificamente, já foi
estruturada e está em plena atividade o denominado Comitê de Bacia.
O CEIVAP, desde alguns anos, vem definindo as políticas de gerenciamento dos
recursos hídricos a serem implementadas na área de sua jurisdição. Entre estas
políticas, destaca-se a cobrança pelo uso da água. Segundo as diretrizes implantadas
recentemente, o metro cúbico de água terá um custo de acordo com o principio do
usuário-pagador e do poluidor-pagador. Segundo a legislação vigente, os recursos
arrecadados serão utilizados na própria Bacia para o financiamento de obras tais como
estações de tratamento dos esgotos de cidades localizadas nos limites da mesma.
Assim sendo tanto uma Empresa que capte água quanto uma Empresa que lance
despejo industrial, pagará um custo calculado a partir do volume de água captado ou
do volume de despejo lançado em um rio da Bacia.
Esta política, já adotada em outros paises, estimulará os responsáveis por Empresas
industriais e outros usuários como proprietários agrícolas, Empresas de Saneamento,
etc a restringirem a captação de água bruta e também o lançamento de efluentes
líquidos domésticos ou industriais, o que ensejara a médio e longo prazo, o incremento
da utilização da tecnologia de reuso da água, a qual certamente envolve a utilização de
processos e sistemas de tratamento das águas residuárias, alem de outros requisitos
conforme veremos mais adiante.
Esta tecnologia já vem sendo utilizada no Exterior (Estados Unidos, Europa, Japão e
outras regiões) desde algumas décadas e passou a ser estudada e utilizada em nosso
pais a partir do final da década de 90, com o surgimento dos problemas relacionados
com a utilização e preservação dos recursos hídricos, coincidindo com a implementação

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das primeiras legislações relativas ao gerenciamento dos recursos hídricos em nosso
país.

B – OS ESGOTOS; MODALIDADES; ASPECTOS QUANTITATIVOS E


QUALITATIVOS.

É de grande importância que antecedendo o estudo das tecnologias de reuso da água,


sejam devidamente caracterizados as diversas modalidades de águas residuárias,
conhecidas, na linguagem do cotidiano, como esgotos.

Sob o ponto de vista técnico, podemos afirmar que as águas residuárias podem ser de
3 modalidades principais, ou seja:

esgoto doméstico – é o efluente gerado nas atividades domésticas típicas, como


preparo de alimentos, lavagem de frutas e vegetais, lavagem de utensílios e pisos de
moradias, atividades de higiene pessoal, lavagem de roupas e outras.

esgoto sanitário- é o efluente resultante da mistura do esgoto domestico com outra


substancia liquida, geralmente, despejos industriais.

despejo industrial – é o efluente gerado a partir de atividades e processos industriais


típicos

Todos estes tipos de efluente líquido, podem ser caracterizados segundo a sua
quantidade e segundo a sua qualidade, elementos que são de fundamental importância
para o planejamento e o projeto das unidades que compõem a coleta e o tratamento
dos mesmos. Os critérios para determinação destas duas características em relação a
cada um deles entretanto, apresentam certas especificidades. Assim sendo, sem
entrar em detalhes que fogem ao escopo do presente texto, podemos afirmar que
certas qualidades que para os esgotos domésticos são importantes, para os despejos
industriais podem ser de importância secundaria.
Para fins do presente trabalho, serão feitas considerações apenas para os esgotos
domésticos, ficando subentendido que sempre estaremos nos referindo aos mesmos.
Quantitativamente eles são expressos segundo o parâmetro denominado, vazão, ou
seja, uma unidade de volume que transita em um dispositivo (tubo, canal, vertedor,
etc) em uma determinada unidade de tempo. As vazões são geralmente expressas em
litros por segundo, metros cúbicos por hora ou ainda em metros cúbicos por dia.
Entretanto quando está sendo cogitado o estudo ou projeto de uma unidade de
tratamento, é necessário que se trabalhe com outro parâmetro, que indique a
qualidade do efluente e por isto é denominado, parâmetro de qualidade. Um
determinado efluente é caracterizado qualitativamente por um conjunto de
parâmetros, os quais são denominados parâmetros de qualidade. Os mais usualmente
utilizados para o caso dos esgotos domésticos, que poderão vir a ser utilizados como
água de reuso, são os seguintes:

demanda bioquímica de oxigênio(DBO)


demanda química de oxigênio(DQO)
sólidos em suspensão totais(SS)
sólidos sedimentáveis

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óleos
colimetria total
colimetria fecal
fósforo total
nitrogênio total

c - OS PARÂMETROS DE QUALIDADE E AS EFICIÊNCIAS PROVÁVEIS

No caso especifico dos esgotos domésticos, tendo em vista a sua pequena


variabilidade, os pesquisadores já definiram faixas típicas de variação dos principais
parâmetros de qualidade, ao contrario dos despejos industriais, cujos parâmetros
variam conforme a natureza do despejo e mesmo em despejos da mesma natureza
variam em função de condições especificas de cada processo industrial.
No QUADRO XI apresentado a seguir estão indicados os valores típicos de alguns dos
principais parâmetros de qualidade dos esgotos domésticos, conforme sua
concentração.

constituinte forte (mg/l) médio (mg/l) fraco (mg/l)


sól em suspensão 350 220 100
sól sediment 20 10 5
(ml/l)
DBO 400 220 110
DQO 1000 500 250
óleos 150 100 50
fósforo total 15 8 4
nitrogênio total 85 40 20
QUADRO XI

Partindo-se do conhecimento dos parâmetros de qualidade de um esgoto, e


conhecendo os mesmos parâmetros em relação ao efluente já tratado, para o qual
pretende-se dar uma determinada forma de reuso, pode se determinar perfeitamente
um outro elemento importante que é denominado pelos projetistas, como a eficiência
que o processo de tratamento deverá ter em relação a um determinado parâmetro de
qualidade.
Os especialistas da área, em função do conhecimento dos aspectos de projeto e
operação dos diversos processos de tratamento disponíveis, podem, pelo menos em
caráter preliminar, definir qual ou quais processos de tratamento deverão ser
utilizados para ajustar o efluente bruto as características aceitáveis para as condições
de reuso previamente indicadas.
Quando se está avaliando a geração de água de reuso a partir de um esgoto
domestico, é dada grande atenção a questão da eficiência do processo em relação a
qualidade bacteriológica, que o parâmetro de qualidade mais sensível nesta hipótese.
Quando a água de reuso será gerada a partir de um despejo industrial, costuma-se
conceder grande atenção a eficiência na remoção de metais pesados, produtos
químicos de natureza tóxica e também de carga orgânica, alem de outros parâmetros
que são de importância neste caso.

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Exemplificando-se de uma forma bem objetiva, para o caso da demanda bioquímica de
oxigênio (DBO) por exemplo, tem-se:

Dispondo-se do um efluente bruto de um processo industrial que apresenta uma DBO

de 1000 mg/l,. deseja-se fazer um reuso (água para torres de resfriamento) , que

exige uma DBO máxima 10 mg/l. Qual deverá ser a eficiência, em termos de remoção

de DBO, do processo de tratamento do efluente industrial ?

A eficiência(DBO) deverá ser de: E = 1000 mg/l – 10 mg/l / 1000 mg/l = 0,99 = 99%
O mesmo procedimento deverá ser observado para outros parâmetros de qualidade,
conforme mostrado a seguir:

Um esgoto doméstico bruto apresenta uma concentração de sólidos em suspensão


totais de 300 mg/l. Cogita-se projetar um sistema de reuso para produção de água
de lavagem de pátios industriais e foi estabelecido que a concentração máxima
admissível de sólidos em suspensão deverá ser de 30 mg/l. Qual deverá ser a
eficiência do sistema de tratamento em termos de remoção de sólidos em suspensão ?

A eficiência deverá ser de: E = 300 mg/l – 30 mg/l / 300 mg/l = 0,90 = 90%

É oportuno lembrar que os valores numéricos utilizados nos exemplos acima não são
necessariamente os valores reais, tendo em vista que nos casos concretos os valores
exigíveis são definidos por normas ou regulamentos elaborados por agencias ou órgãos
de controle ambiental. No Brasil, considerando-se que a utilização das tecnologias de
reuso ainda é recente, não existem normas ou regulamentos definindo esta matéria e
os parâmetros a serem utilizados. Em conseqüência, os profissionais que atuam na
área, recorrem usualmente aos textos gerados em outros paises, citando-se como
exemplo a legislação norte-americana, elaborada pela US/EPA (Environmental
Protection Agency), a qual é identificada da seguinte forma: “Guidelines for Water
Reuse, Technology Transfer Manual”- (EPA/625r/R-92/004), Washington-
1992

D-OS PROCESSOS DE TRATAMENTO (FÍSICOS, QUÍMICOS E BIOLÓGICOS).

Considerando-se definidas as eficiências em relação aos diversos parâmetros de


qualidade, envolvidos no projeto de reuso, pode-se passar a etapa de seleção do
processo mais adequado para o problema em estudo.

É oportuno esclarecer que a seleção do processo é uma tarefa de certa complexidade


tendo em vista que a definição do mesmo, deverá ser feita através de uma avaliação
detalhada e criteriosa de todos os fatores intervenientes, não apenas os de natureza
técnica mas também os de natureza econômico-financeira e até mesmo, dependendo
do caso, os de natureza ambiental, social, etc.

Os processos podem ser de 3 modalidades principais, ou seja:

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- físicos

- químicos

- biológicos

A abordagem deste capitulo, terá um enfoque apenas de apresentação dos conceitos


fundamentais tendo em vista que o assunto é consideravelmente extenso, cuja analise
ultrapassa os limites do presente texto, constituindo-se em objeto de estudos
especializados e complexos.

processos físicos – são os processos que se fundamentam em fenômenos físicos.


Podem ser citados como exemplo, a decantação, a flotação, etc.

processos químicos – são os processos que se fundamentam em fenômenos


químicos. Podem ser citados como exemplo a precipitação, a floculação, a correção do
pH, etc. São muito utilizados no tratamento de efluentes industriais.

processos biológicos – são os processos usualmente utilizados no tratamento dos


esgotos domésticos e alguns despejos industriais e se fundamentam na existência de
um substrato orgânico, o qual é utilizado por microorganismos que promovem reações
de natureza bioquímica, havendo ou não disponibilidade de oxigênio livre, que
resultam na transformação da matéria orgânica em substancias mais simples, tais
como, água, gás carbônico e outras.

Quando existe disponibilidade de oxigênio livre, os microorganismos predominantes


são os denominados aeróbios e no caso contrario, os predominantes são denominados
microorganismos anaeróbios.

Enquanto no primeiro caso, é realizada uma oxidação da matéria orgânica presente, no


segundo caso ocorre um fenômeno químico de redução e nesta hipótese, os
microorganismos anaeróbios, realizam reações bioquímicas em que o oxigênio é
retirado dos próprios compostos orgânicos presentes.

Um exemplo de processo biológico aeróbio é o processo de lodos ativados e um


exemplo de processo anaeróbio é o reator UASB, normalmente utilizado com pós-
tratamento.

Em determinadas circunstancias, podem ser utilizadas em uma mesma estação de


tratamento dois ou mais processos atuando de forma integrada e/ou complementar,
situação que ocorre na maioria dos casos.

Nos processos aeróbios nos quais é necessária a disponibilidade de oxigênio livre, este
é obtido a partir do próprio ar atmosférico, com a ajuda de equipamentos
eletromecânicos adequados, os denominados aeradores mecânicos ou através dos
sistemas de aeração por ar difuso.

Os processos aeróbios usualmente permitem maiores eficiências em relação aos


parâmetros de qualidade, entretanto apresentam também algumas desvantagens
como por exemplo, a necessidade de uso de equipamentos eletromecânicos, que
consomem energia elétrica e necessitam de cuidados de operação e manutenção.

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Um valo de oxidação é exemplo concreto de uso de um processo aeróbio, enquanto um
reator UASB associado a um filtro anaeróbio de fluxo ascendente, é exemplo típico de
um processo anaeróbio.

Na FIGURA 26 abaixo está apresentado um croquis sem escala, desta última solução
de tratamento.

Na atualidade, o desenvolvimento tecnológico, disponibilizou aos projetistas, uma


enorme diversidade de processos de tratamento, tanto físicos, quanto químicos,
quanto biológicos. Esta diversidade permite uma grande numero de associações
possíveis ou seja, uma considerável liberdade de opções de tratamento. Entretanto, ao
mesmo tempo, exige do responsável pelo projeto, uma larga experiência e uma
percepção acentuada da adequabilidade da alternativa adotada mais ainda tratando-se
do projeto de um sistema de reuso da água, sob pena de causar severos transtornos
tanto de natureza técnica quanto de natureza econômico-financeira, na hipótese de
adoção de uma alternativa incorreta ou equivocada.

2 – AS MODALIDADES DE REUSO E AS POSSIBILIDADES RELATIVAS AOS


EFLUENTES DE PROCESSOS ANAERÓBIOS COM PÓS-TRATAMENTO.

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A – A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL RELATIVA AOS RECURSOS HÍDRICOS.

No preparo do presente texto, consideramos útil prever um item destinado a


abordagem da legislação ambiental pertinente aos recursos hídricos. Foram listadas as
principais leis e outros textos referentes a matéria, sendo feitos alguns comentários
sobre itens da legislação federal que tenham vinculação com a questão do reuso da
água.
Em conseqüência, poderemos citar, segundo a esfera do Poder Público e nestes
segundo a cronologia dos textos legais, sem considerações quanto a natureza do texto
(Lei, Decreto, Resolução, etc).

A nível federal:

Decreto 24 643 de 10 de julho de 1934(Código de Águas)


Portaria Minter/GM/0013 de 15 de janeiro de 1976 que estabeleceu padrões de
qualidade e de emissão para efluentes líquidos, em 4 classes.
Lei Federal 6 938 de 31 de agosto de 1981 que criou a Política Nacional do Meio
Ambiente.
Decreto federal 88 351 de 01 de junho de 1983 que regulamentou a Lei acima
referida.
Decreto Federal 91 305 de 03 de maio de 1985 que modificou a Política Nacional de
Meio Ambiente, através de medidas tais como a criação do Conama (Conselho Nacional
de Meio Ambiente).
Resoluções Conama 01 de 23 de janeiro de 1986 e 011 de 18 de março de 1986 que
definiram a obrigatoriedade, o conceito e as diretrizes básicas do EIA e do RIMA.
Resolução Conama 020 de 18 de junho de 1986 que alterou os critério de classificação
dos corpos d` água da União e adotou outras providencias
Constituição Federal de 1988, no artigos 225 e seguintes.
A Lei Federal 7 797 de 10 de julho de 1989, que criou o Fundo Nacional de Meio
Ambiente com o objetivo de desenvolver projetos que visem ao uso racional e
sustentável dos recursos naturais.
A Lei Federal 9443 de 08 de janeiro de 1997 que instituiu a Política Nacional de
Recursos Hídricos e criou o Sistema Nacional de Recursos Hídricos.

A nível estadual

Tendo em vista a impossibilidade de transcrição das inúmeras legislações estaduais e


considerando que na área das tecnologias de reuso, o Estado de S. Paulo tem
desenvolvido iniciativas pioneiras, não somente sob o ponto de vista tecnológico, mas
também do ponto de vista da legislação pertinente a matéria, optou-se em citar a
apenas os textos legais vigentes naquele Estado, sendo os principais os seguintes:

Lei Estadual 6 134 de 1988 que dispõe sobre a preservação dos depósitos naturais de

águas subterrâneas do Estado de S.Paulo e dá outras providencias.

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Lei Estadual 7 663 de 1991 que estabeleceu normas de orientação à Política Estadual
de Recursos Hídricos bem como ao Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos
Hídricos.
Lei Estadual 7 750 de 1992 que dispõe sobre a Política Estadual de saneamento.
Decreto Estadual 36 787 de 1993 que adapta o Conselho Estadual de Recursos
Hídricos (CRH) e o Comitê Coordenador do Plano Estadual de Recursos Hídricos
(CORHI) criados pelo Decreto 27 576 de 1987, às disposições da Lei 7 663 de 1991.
Portaria DAEE 717 de 1996 que disciplina o uso dos recursos hídricos superficiais e
subterrâneos do E. de S. Paulo.
Resolução SMA 19/96 que estabelece critérios e procedimentos para o licenciamento
ambiental dos sistemas urbanos de esgotamento sanitário.

A nível municipal

A legislação ainda é muito esparsa e quando existente, em função de sua competência


municipal é muito restrita e especifica, não apresentando maior interesse para o
presente texto.

Comentários relativos a legislação a nível federal

Na esfera da Administração Pública Federal merece atenção especial, pela ordem de


apresentação, a Lei 6938/81 que estabeleceu a Política Nacional de Meio Ambiente,
sendo portanto o texto que institucionalizou as políticas públicas relativas ao meio
ambiente, a nível federal, tendo sido elaborada sobre uma serie de princípios, dentre
os quais, citam-se os seguintes:

o equilíbrio ecológico
o planejamento do uso do solo
a proteção dos ecossistemas
o controle e o zoneamento das atividades poluidoras
o desenvolvimento de tecnologias de proteção aos recursos naturais

Foram ainda criados, entre outros, os seguintes mecanismos para implantação dos
princípios supra citados.

O estabelecimento de padrões de qualidade ambiental


A avaliação de impactos ambientais
O licenciamento ambiental de atividades poluidoras

O outro documento que é da maior importância para o tema em estudo é a Resolução


Conama 020 de 18 de junho de 1986 que modificou o texto vigente anteriormente
(Portaria 013/76 do Minter) e estabeleceu critérios de classificação dos corpos d`água
da União, estendendo sua aplicabilidade as águas doces, salinas e salobras e
acrescentando parâmetros (mais restritivos) em relação aos diversos padrões de
qualidade das águas.

Esta Resolução trouxe em seu conteúdo o principio do enquadramento dos corpos


d`água, feito não para o seu estado atual mas objetivando a qualidade que devem
possuir para atender os usos benéficos previstos, ainda que futuramente. Na mesma
foram estabelecidos ainda:

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Os padrões de balneabilidade através dos quais, tendo-se como referencia a contagem
de coliformes fecais e totais, as águas costeiras (praias) são classificadas em :
excelente, muito boa, satisfatória ou imprópria.

A competência para a aplicação desta Resolução é atribuída aos Órgãos estaduais de


controle ambiental, atuando o IBAMA em caráter supletivo.

Os Estados podem elaborar as suas legislações de proteção aos recursos hídricos,


desde que as mesmas não sejam menos restritivas que a legislação federal
correspondente.
A Resolução 020/86 completou 18 anos de vigência no mês de junho de 2004 e
presentemente já está sendo objeto de estudos que visam a sua atualização em futuro
próximo para que possa melhor atender a seus objetivos.

Merece também citação a Lei Federal 9443 de 08 de janeiro de 1997, que institui a
Política Nacional de Recursos Hídricos e criou o Sistema Nacional de Recursos Hídricos.
A formulação desta Lei foi feita com fundamento nas 6 seguintes premissas:

O domínio das águas


O valor econômico das águas
Os usos prioritários
Os usos múltiplos
A unidade de gestão
A gestão descentralizada

Considerando-se a amplitude destes temas que na realidade podem ser objeto de


inumeráveis considerações e tendo em vista não ser o objetivo especifico deste texto,
nos limitamos em enunciar, as premissa básicas, que norteiam o texto da Lei que
instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos, a qual, em última instancia, objetiva
o uso racional e sustentável dos recursos hídricos em todo o território nacional.

F – O REUSO: REQUISITOS E MODALIDADES

O reuso nos dias atuais, está se tornando uma alternativa em todo o mundo, para a

grave questão da escassez dos recursos hídricos.

Na realidade, o uso intensivo e extensivo das reservas de água a nível mundial e ao


longo de muitos anos, acarretou uma formidável queda da disponibilidade da mesma
em muitos paises.
Na Europa, nos Estados Unidos e outros paises, esta tecnologia já vem sendo utilizada
há algumas décadas. Mais recentemente em nosso país, a tecnologia de reuso da água
vem sendo objeto de cogitação dos profissionais e técnicos das áreas de saneamento

básico e gestão ambiental e até mesmo, dos administradores e gestores das políticas
públicas, porque embora o Brasil detenha uma grande reserva de água doce, os
problemas de escassez de recursos hídricos também já atingem o país, não estando
mais limitado as áreas nordestinas periodicamente assoladas pelas secas, mas
surgindo em outras regiões, como por exemplo a região sudeste, em função de

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alterações climáticas globais, associadas as praticas ambientais danosas aos recursos
hídricos, até mesmo os subterrâneos.
O Professor Hevanildo Hespanhol, um dos maiores estudiosos e especialista na questão
do reuso da água em nosso país, e autor de inúmeros trabalhos abordando este tema,
afirma, a respeito desta tecnologia, que começa a se implantar e ser divulgada junto
ao meio técnico nacional, o seguinte: “O homem, através de sua atividade
antrópica, foi modificando esses recursos e elevando os níveis de poluição.
Quando essas águas atingem determinados níveis de poluição, é possível
fazer um tratamento que permita a sua reutilização para um fim benéfico”.
Na realidade, a ação antrópica significa a intervenção humana sobre o denominado
ciclo hidrológico. O ciclo hidrológico representa a circulação da água no meio ambiente
natural sob as suas três principais formas físicas ou seja a sólida, a liquida e a gasosa.
Na forma sólida ela esta concentrada nas regiões polares e nas montanhas de grande
altitude e na forma liquida ela está presente nos corpos hídricos tais como os rios, os
lagos, as baías, os oceanos e os reservatórios subterrâneos ou aqüíferos. Na sua
forma gasosa ela está concentrada na formação dos diversos tipos de nuvens. Na
FIGURA 27 está apresentado de forma esquemática o denominado ciclo hidrológico.

Esta intervenção humana sobre este ciclo é da maior importância, tendo em vista as
conseqüências que pode acarretar, chegando mesmo a provocar alterações no clima
global do planeta conforme já vem sendo observado pelos pesquisadores e outros
estudiosos do problema.

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Os usos benéficos permitidos pelo reuso da água são essencialmente de 4 principais
modalidades, quais sejam: agrícola, industrial, urbano e para recarga de aqüíferos
subterrâneos.
O Prof Hevanildo Hespanhol, em de seus trabalhos, sistematizou de forma clara e
abrangente estas diversificadas possibilidades, as quais constam da FIGURA 28 a
seguir apresentada.

Procedendo-se uma avaliação preliminar das potencialidades destas formas de reuso,


poderíamos fazer as seguintes considerações:
reúso agrícola - é aquele em que a água residuaria, após tratamento, é utilizada na
irrigação de áreas de lavoura. Esta forma de reuso é muito freqüente, tendo em vista o
enorme volume de água que é requerido para os sistemas de irrigação, tanto no pais
quanto em outras partes do mundo. A este respeito, é oportuno esclarecer que no
Brasil, segundo levantamentos feitos pela ANA (Agencia Nacional de Águas), e
referidos ao ano de 1998, em termos percentuais, a maior demanda de água era
correspondente ao setor agrícola com 63% da demanda total que naquela época
totalizava 2 141 m3/seg. A demanda assim se dividia;

irrigação – 63%
uso humano – 18%
uso industrial – 14%
uso animal – 5%

Em uma avaliação inicial logo constata-se que o uso para fins de irrigação é superior
ao total de todos os outros usos. A partir deste dado, é fácil avaliar as fortes
vinculações entre estes dois temas. Atualmente, alguns autores e pesquisadores, já
questionam alguns aspectos advindos desta vinculação, sendo um dos principais, a
questão que se coloca para os paises grandes exportadores de produtos agrícolas,
grãos e outros, que incorporam grande de água na produção o que significa uma
“exportação de água”, o que equivale a exportação de um produto cuja tendência
mundial é tornar-se de difícil obtenção, escasso e conseqüentemente caro.

De qualquer forma, devem ser adotados os devidos cuidados, na irrigação tanto com
esgotos domésticos tratados, quanto com efluentes industriais tratados, tendo em
vista que os primeiros tem como maior fator de risco para a saúde pública, a presença
de microorganismos patogênicos e os segundos, a presença de produtos químicos
extremamente nocivos a saúde humana e incluindo entre outros, metais pesados
(cádmio, chumbo, mercúrio, etc) também nocivos ao organismo humano.
Alem dos citados, existem ainda outros riscos que devem ser devidamente avaliados
no reuso dos esgotos domésticos, como por exemplo, a presença de compostos
organo-clorados, que segundo pesquisas realizadas, apresentam potencial
carcinogênico e estão presentes em águas receptoras de esgotos que tiveram
compostos de cloro envolvidos em etapa(s) de seu tratamento. Devido a este fato, os

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sistemas de cloração do efluente final em estações de tratamento de esgotos em
muitos paises já foi abandonado, o que já começou a ocorrer aqui, contribuindo para a
utilização crescente de outros sistemas de desinfecção, como por exemplo a radiação
ultra-violeta.

De qualquer forma, na irrigação, quanto mais próximo e direto for o contato dos
usuários com os produtos vegetais ou seja, no caso daqueles utilizados na alimentação
humana e preparados sem cozimento, fritura ou ou procedimento assemelhado,
melhor deverá ser a qualidade da água de reuso.

reúso industrial – o reuso industrial está sendo amplamente utilizado tanto no país
quanto no Exterior.
As políticas de gerenciamento dos recursos hídricos que gradativamente vão sendo
implantadas nas bacias hidrográficas, englobando o principio do usuário-pagador e do
poluidor-pagador, tende a ser fator indutor de praticas de reuso a nível da atividade
industrial, fato que tem sido marcante e pioneiro no E. de S. Paulo.
A água disponibilizada para o reuso industrial tem como principais empregos, os
seguintes;

para torres de refrigeração


para lavagem de pisos, recipientes,etc
para lavagem de equipamentos

Este primeiro item tem sido freqüentemente adotado , tendo em vista que a
refrigeração de maquinas e equipamentos é uma pratica utilizada pela quase totalidade
das industrias, e considerando-se ainda que o elevado custo da água tratada,
distribuída pelas empresas públicas e pelas concessionárias privadas, torna inexeqüível
este procedimento.
Na lavagem de pisos e equipamentos, também é extremamente útil o reuso, até pelo
fato de ser este uns dos menos exigentes reusos, em termos de qualidade da água.
Em alguns casos específicos, é exeqüível a utilização de água de reuso até mesmo
para aproveitamento no processo industrial propriamente dito.

reúso urbano – esta modalidade de reuso é a que apresenta maior diversidade ou


seja o maior número de opções. Podem ser indicados, entre outros, os seguintes
reúsos urbanos.

no aspecto público:

irrigação de parques, jardins e áreas verdes de um modo geral.

chafarizes, fontes, lagos com espelho d’água, etc.


lavagem de logradouros públicos
lavagem de veículos, maquinas e equipamentos públicos.
hidrantes do sistema de combate a incêndios.
lavagem de dispositivos e equipamentos de unidades de tratamento de esgotos

no aspecto residencial
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irrigação de parques, jardins e áreas verdes em geral
lavagem de pisos, quadras e ruas de condomínios
lavagem de veículos, maquinas e outros utensílios
utilização em caixas de descargas, nas instalações prediais de casas, prédios, lojas
comerciais, etc.

no aspecto de transporte coletivo

lavagem de ônibus, táxis, caminhões, etc e até mesmo na lavagem de composições


ferroviárias, conforma já é feito no Japão.

reuso através recarga de aqüíferos subterrâneos – esta modalidade ainda é uma


pratica rara, entre nós, mas já é conhecida e utilizada em outras regiões do mundo.
Em outros paises, citando-se entre outros, os Estados unidos, a crescente demanda
pela água, gerou ao longo dos anos, uma procura exacerbada pelas reservas de água
subterrânea. Esta pratica, nos dias atuais, já causou sérios danos, podendo se citar o
caso do aqüífero Ogallala, que segundo Sandra Postel, já referida neste texto, vem
tendo a capacidade de produção reduzida de maneira vertiginosa, já tendo perdido até
o momento um volume equivalente a 18 vezes a do Rio Colorado.
No Brasil, problemas semelhantes tem ocorrido, sendo oportuno citar o caso do E. de
Pernambuco, onde a deficiência das fontes superficiais, induziu a população da cidade
de Recife a construção poços, de forma sistemática e crescente, o que presentemente,
alem de ter reduzido de forma drástica as reservas, ensejou o fenômeno de salinização
das águas subterrâneas, pela intrusão de lamina salina, que está atingindo as águas
subterrâneas.
Com o objetivo de equacionar problemas desta natureza, através da formação de uma
verdadeira cortina subterrânea que proteje os aqüíferos da intrusão de laminas salinas,
fato que tem conseqüências danosas, uma vez que inutiliza as reservas para usos mais
exigentes, incompatíveis com a salinização dessas águas.
A outra função extremamente importante da técnica de recarga é a obtenção de água
para reuso, através a introdução, na maioria das vezes, de efluente tratado, o que na
prática pode ser feito segundo dois métodos diferentes:

Com auxilio de poços de injeção

Através da infiltração superficial

O primeiro consiste na construção de numerosos poços, em posições, profundidade,


diâmetro, etc previamente estudadas, através dos quais é injetado efluente tratado.
Ocorrem então, fenômenos de natureza hidrogeoquímica, que permitem finalmente a
recarga do aqüífero.
O segundo método, é utilizado em varias regiões do mundo, citando-se os Estados
Unidos, Chipre e Israel. Este último é um dos mais antigos e conhecidos e localiza-se
na região de Dan.

NA FIGURA 29 está apresentado esquematicamente o sistema de recarga por


infiltração.
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Neste caso, o efluente tratado é injetado sem a utilização de poços, ou seja, de forma
natural e gradativa, o efluente desloca-se através das camadas do terreno e
finalmente atinge o aqüífero, onde irá promover o aporte de nova massa liquida, com
sua qualidade físico-química e bacteriológica melhorada que servirá para futura
captação e utilização compatível com sua qualidade.
Consideramos que neste tópico, estas considerações são suficientes, devendo-se
observar que esta técnica tem papel importante na questão do reuso da água e
também na proteção de aqüíferos subterrâneos.
Esta última hipótese, teria aplicabilidade presentemente, em regiões costeiras do país
onde já se constata a ocorrência de intrusão de lamina salina, como o caso da cidade
de Recife, já referido anteriormente.

G – ASPECTOS TÉCNICOS, ECONÔMICO-FINANCEIROS E DE SAÚDE PÚBLICA

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Os aspectos técnicos envolvidos nas tecnologias de reuso, referem-se principalmente,
a questão da definição de um processo de tratamento que seja o mais adequado para
proporcionar ao efluente cogitado os parâmetros de qualidade compatíveis com o
reuso pretendido. Neste contexto, considerando-se os riscos que estão implicitamente
associados ao reuso, como por exemplo, o conhecimento ainda incompleto das
concentrações aceitáveis de compostos orgânicos sintéticos presentes nos efluentes
em função do desenvolvimento de novas tecnologias de produção. De acordo com
estas premissas, tem sido utilizados dois critérios básicos na definição das
possibilidades e tecnologias pertinentes;

I – o reuso para fins não potáveis é mais recomendável que o reuso para fins potáveis.
II – o reuso indireto ou seja com o emprego de um estagio controlado de recuperação
da qualidade é mais recomendável que o reuso direto, no qual inexiste este estagio.

Em linhas gerais pode-se afirmar que o reuso deve ser avaliado segundo 05 diretrizes
básicas, as quais estão a seguir identificadas:

1 – o reuso deve ser feito sem que isto acarrete riscos a saúde publica, ou seja, deve
ser evitada toda e qualquer forma de reuso que possa direta ou indiretamente, criar
riscos a saúde de uma determinada população.

2 – o reuso deve ser avaliado quanto aos riscos que apresente de causar danos
ambientais

3 – o reuso deve ser avaliado em relação ao aspecto da aceitabilidade por parte dos
beneficiários do mesmo.
4 – o ponto gerador da água a ser utilizada deve apresentar uma variabilidade
quantitativa e qualitativa dentro de uma faixa aceitável.

5 – a tecnologia empregada deve assegurar que o efluente apresentará qualidade


compatível com o uso(s) pretendido.

Este último item da questão pode ser ilustrado com alguns exemplos. Se é pretendido
o reuso do efluente como água a ser bombeada em um sistema de refrigeração
industrial, é da maior importância a remoção de amônia tendo em vista que esta
substancia é prejudicial para os equipamentos de refrigeração.
Por outro lado, se está sendo cogitado o reuso para fins de irrigação de culturas de
verduras e hortaliças, é de fundamental importância que o processo utilizado tenha
uma elevadíssima eficiência na remoção de microorganismos patogênicos ou seja que
apresente uma elevada eficiência na remoção dos denominados patógenos o que
significa que deverá apresentar uma qualidade bacteriológica excelente, representada
por um reduzida concentração de coliformes fecais por 100 ml. Conforme já
assinalado, este grupo de microorganismos é utilizado no campo da microbiologia,

como o indicador do potencial patogênico de um efluente. NA FIGURA 30 está


apresentada a imagem de coliforme vista ao microscópio.

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No que se refere a aceitabilidade da água de reuso pelo beneficiário final, é
interessante observar que no caso de reuso para fins não potáveis, o aspecto estético
pode ter grande influencia na aceitabilidade, ou seja, uma água com elevada
concentração de sólidos em suspensão, ainda que apresente os parâmetros de
qualidade exigíveis, pode apresentar uma turbidez geradora de rejeição pelo usuário e
da mesma forma se apresentar uma concentração relativamente elevada de DBO,
poderá a matéria orgânica presente, causar problemas de anaerobiose e/ou produção
de sulfetos que poderão também gerar rejeição. Tendo em vista estas situações, a
legislação federal norte-americana (USEPA-1992) já referida anteriormente,
estabeleceu limites para estas concentrações, vinculadas a diversos tipos de reuso,
conforme o constante do QUADRO XII a seguir apresentado.

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Quanto aos aspectos econômico e financeiro do reuso, é oportuno observar que a
utilização das tecnologias de reuso em nosso país são relativamente recentes e em
função disto são praticamente inexistentes ainda, informações e dados relativos aos
custos de implantação e operação/manutenção de sistemas de reuso. As informações
disponíveis a este respeito são conseqüentemente originarias de outros paises,
particularmente dos Estados Unidos onde presentemente são inumeráveis as
instalações de reuso, operando segundo diversificadas formas e concepções, em vários
Estados daquele país. Assim sendo, a adoção pura e simples dos supracitados custos,
quer sejam de implantação ou de operação/manutenção, não é aconselhável, tendo
em vista que são fundamentados em fatores macro e micro econômicos, diferentes
dos nossos e podem acarretar a obtenção de estimativas de custo equivocadas.
É de grande importância ressaltar que no estudo econômico-financeiro de um
empreendimento para reuso, devem ser considerados três tipos de custos bem
característicos, os quais são respectivamente:

- custo de implantação do sistema


- custo de operação/manutenção
- custo do volume anual produzido, também denominado custo da vida útil.

Quanto ao primeiro é necessário que represente o valor efetivo do investimento o qual


fisicamente é constituído de 03 partes principais, as quais são respectivamente:

a estação de tratamento do efluente


o(s) reservatório(s) para ajustar a produção e o consumo de efluente tratado
o sistema de distribuição do efluente tratado

Este último é obtido associando-se o custo anual de amortização do investimento com


os custos anuais de operação e manutenção, sendo o valor expresso em R$/1000
m3/ano. Este valor é de grande utilidade no estudo comparativo de alternativas e
caso seja feita a estimativa de receita para um determinado período de tempo, por

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exemplo 25 anos, poderá ser identificado o tempo necessário para que ocorra o
equilíbrio entre receita e despesa geradas pelo sistema de reuso.
Finalizando a analise dos aspectos de custo de sistemas de reuso e em caráter
preliminar para permitir a avaliação, em ordem de grandeza, do custo das diversas
formas de tratamento de efluentes, que se constitui na principal parcela de formação
do custo efetivo de investimento, conforme acima assinalado, está apresentado a
seguir o QUADRO XIII

Relativamente aos aspectos de saúde publica, envolvidos no reuso, já foi ressaltada a


importância absolutamente prioritária que merece este tema, tendo em vista que deve
ser evitado de todas formas possíveis que um sistema de reuso possa ser gerador de
problemas de saúde coletiva, tornando-se em conseqüência fator extremamente
negativo, no contexto da qualidade de vida das populações.
Em conformidade com esta diretriz já foi salientada também exeqüibilidade
preferencial do uso não potável e indireto sobre as outras modalidades de reuso.

3 – A EXPERIÊNCIA NACIONAL E INTERNACIONAL

Neste tópico serão apresentadas algumas experiências de reuso tanto no país quanto
no Exterior, as quais são na maioria dos casos extremamente interessantes. Tendo em
vista porem a natural limitação do texto, selecionamos duas experiências a nível
nacional e uma no Exterior, para serem apresentadas no presente capitulo.

Nível nacional

1 – REUSO INDUSTRIAL

Esta descrição refere-se a implantação de um sistema de reuso industrial na fabrica da


Wolkswagen, na cidade de Taubaté no E. de S. Paulo. Este empreendimento já está em

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operação e constitui-se no maior complexo de reaproveitamento de água industrial da
América Latina, tendo significado um investimento de 5 milhões de reais. O projeto foi
desenvolvido por Empresa de consultoria e projetos na área de saneamento básico e
recursos hídricos, a Hidrogesp, através de um contrato do tipo BOT (Building,
Operation and Transfer).
O volume de água reciclada é da ordem de 70 000 m3 por mês, o qual corresponde ao
consumo de aproximadamente 1400 residências(ver OBS) no mesmo espaço de
tempo e representa 70% do consumo mensal da unidade fabril que é de 100 000 m3.
Uma parte da água reciclada será utilizada em sistemas de refrigeração, conservação
de áreas verdes e outros usos menos exigentes.
O processo consiste basicamente em três etapas; uma primeira em que o efluente
industrial é encaminhado para uma ETDI (anteriormente existente), uma segunda em
que este efluente é submetido a um processo de filtração e uma terceira em que o
efluente é bombeado para um moderno sistema de ultrafiltração, onde adquiri
qualidade compatível para os reusos previstos.
Uma parcela do efluente, é ainda submetido a um processo de osmose reversa,
através do qual adquiri qualidade para um reuso mais exigente, que é no presente
caso a utilização no setor de pintura.
A Empresa estima que através da redução do volume de água adquirida da Empresa
Estadual de Saneamento Básico, a SABESP, poderá economizar 200 mil reais
mensalmente.
A Empresa que efetivou o contrato tipo BOT, alem de implantar, deverá operar o
sistema por um período de 5 anos, após o qual transferirá o mesmo a Empresa
automobilística. Durante este período de 60 meses, a Wolkswagen, comprará da
consultora, o volume de água reciclado, porem a um custo razoavelmente inferior ao
da operadora do sistema publico de abastecimento de água.
Neste caso, o usuário do efluente recuperado é a própria Empresa geradora.
Entretanto existem casos, na mesma cidade de S. Paulo, em que o usuário do efluente
tratado não o produz mas sim o importa da Empresa operadora do sistema, no caso a
SABESP.

(OBS) 5 hab x 330 l/haxdia = 1650 l/dia/resid = 1650 x 30 l/dia/resid = 49,5


m3/resid ou seja; 49,5 m3/resid x 1400 resid = 69 300 m3 = 70 000 m3

2 - REUSO URBANO RESIDENCIAL (NÃO POTÁVEL)

Esta experiência de reuso urbano residencial foi realizada na cidade de Natal, no Rio
Grande do Norte, e presentemente já está em pleno funcionamento em um prédio
residencial no bairro de Capim Macio.
O trabalho foi desenvolvido por um grupo de professores do Programa de Pós-
graduação em Engenharia Sanitária da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN).

Neste caso foi desenvolvido um projeto especial para as instalações prediais de


esgotos, prevendo o reuso de parte das águas servidas( originadas de lavatórios,
chuveiros e tanques basicamente) para alimentação das válvulas de descarga das
bacias sanitárias, considerando-se que as mesmas, segundo estudos realizados pela
SABESP, representam de 30 a 40 % do consumo total de água em um domicilio, sendo
o maior percentual, entre os diversos consumos típicos de uma residência. A economia
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no consumo de água foi estimada em 2,88 m3/dia ou seja 86,40 m3/mês (ver OBS)
Os responsáveis pelo trabalho estimam que a implantação do sistema, resultou em um
acréscimo de 0,48 % no custo final da obra e que tendo em vista a economia no
consumo da água fornecida pela operadora do sistema de abastecimento publico, o
custo adicional será compensado no prazo de 3 anos. A maquete do prédio esta
apresentada na FIGURA 31

(OBS) O prédio é constituído de 08 apartamentos, tendo sido prevista uma taxa de


ocupação de 5 hab/apt e um per capita de água da ordem de 200 l/hab/dia. Assim
sendo, o consumo diário de um apartamento será: 200 x 5 = 1000 l = 1,0 m3
Para ass 8 unidades o consumo será de 8 x 1,00 m3 = 8,00 m3 Considerando-se que
no presente caso, em função da bacias utilizadas, o consumo das mesmas corresponde
a 36 % do consumo total ou seja: 8,00 m3/dia x 0,36 = 2,88 m3/dia

Considerando-se que o prédio em apreço é de pequeno porte, é fácil avaliar a


economia que pode ser conseguida em prédios de grande porte. Não foi esclarecido se
alem do reuso, foram utilizadas nas instalações prediais de esgotos, bacias com
descarga reduzida.

Nível internacional
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1 – REUSO URBANO (POTÁVEL INDIRETO)

Entre as inumeráveis experiências de reuso, desenvolvidas no Exterior, selecionamos


uma que está em pleno funcionamento, desde o ano de 1968 na cidade de Windhoek,
capital da Republica da Namíbia.
O sistema de reuso que será descrito a seguir tem 36 anos de operação e não
apresenta problemas, produzindo água potável que atende aos padrões de potabilidade
estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde.
O reuso urbano potável direto, não é recomendado pela Organização Mundial da
Saúde. No caso da cidade de Windhoek, entretanto o esgoto coletado para reuso é
estritamente domestico, sendo inclusive coletado em rede separada e rigorosamente
monitorada para evitar eventuais lançamentos de despejos industriais. Este esgoto
doméstico é inicialmente encaminhado para uma estação de tratamento a nível
secundário (lodos ativados). Este efluente é a seguir direcionado para um tratamento a
nível terciário constituído por 09 lagoas de estabilização em serie (funcionando como
lagoas de maturação) com um tempo total de retenção de 14 dias.
O efluente deste sistema é direcionado para a denominada Goreangab Reclamation
Plant. Nesta unidade é efetivado o processo de potabilização, o qual consta das
seguintes etapas:

pré-ozonização
coagulação/floculação (primeiro estágio)
flotação
adsorção em carvão ativado (pó)
coagulação/floculação (segundo estágio)
sedimentação
filtração rápida
ozonização
reciclagem de ozônio
adsorção em carvão ativado (granular)
cloração
correção de pH
armazenamento (mistura com água do lençol freático)

4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Finalizando este tópico e também o texto como um todo, queremos assinalar a


importância assumida, no conjunto das tecnologias de tratamento de efluentes, pelos
denominados processos anaeróbios, os quais apresentando-se segundo diversificadas
formas de projeto, execução e operação / manutenção, tornam-se a cada dia, soluções

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extremamente validas e eficientes para a questão do tratamento dos efluentes de
forma econômica e financeiramente exequíveis.
Esta técnica de tratamento, nas ultimas décadas já assumiu uma posição sólida, não
somente a nível internacional mas também em nosso meio técnico, uma vez que
apresenta características de projeto, de operação e de custos, efetivamente
compatíveis com a nossa realidade em termos sanitários e econômico-financeiros.
De forma idêntica, a questão do reuso, estabeleceu suas bases em nossa comunidade
técnica e surge em momento adequado, quando já começamos a enfrentar também os
problemas vinculados a disponibilidade quantitativa e qualitativa dos recursos hídricos.

A aplicação adequada e criteriosa desta tecnologia poderá trazer efetivos benefícios


para a nossa realidade sanitária e ambiental.
Acreditamos mesmo que a conjugação destes dois importantes tópicos da Engenharia
Sanitária e Ambiental, os processos anaeróbios de tratamento e as tecnologias de
reuso da água, possam a curto e médio prazo trazer novas soluções para os nossos
problemas nesta área e assim transformar-se em poderoso instrumento para a
melhoria da qualidade de vida de toda a nossa população.
Finalmente acreditamos, possam os subsídios disponibilizados ao longo deste curso,
contribuir de forma efetiva para a ampliação dos conhecimentos e aperfeiçoamento
profissional de todos os que dele participaram.

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