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APOSTILA

SANEAMENTO BÁSICO I

UNIDADES DIDÁTICAS :

UNIDADE I - SANEAMENTO BÁSICO

UNIDADE II - ABASTECIMENTO DE ÁGUA

UNIDADE III - TRATAMENTO DE ÁGUAS PARA ABASTECIMENTO


Unidade Didática I – Saneamento Básico
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SANEAMENTO BÁSICO I

A disciplina de Saneamento Básico I possui os seguintes objetivos específicos :

• Apresentar a importância do Saneamento Básico;


• Fornecer subsídios para projetar, especificar e construir sistemas simplificados para
abastecimento de água;
• Fornecer subsídios para projetar, especificar e construir instalações para tratamento
de águas para abastecimento.

UNIDADE I - SANEAMENTO BÁSICO

1. - Conceitos Fundamentais

Saúde : é um estado de completo bem estar físico, mental e social e não apenas a
ausência de doença ou enfermidade (definição do início da década de 70 da
Organização Mundial de Saúde).

Saúde pública : é a ciência e a arte de promover, proteger e recuperar a saúde,


através de medidas de alcance coletivo e de motivação da população. Corresponde a um
esforço organizado da coletividade em prol da saúde definida pela OMS. Refere-se
sempre a coletividade.

Saneamento : é o controle de todos os fatores do meio físico do homem, que


exercem ou podem exercer efeito deletério sobre sobre seu bem-estar físico, mental ou
social (OMS). Corresponde a um conjunto de medidas que tendem a modificar o meio e
quebrar o elo da cadeia de transmissão de doenças com o propósito de promoção e
proteção da saúde. O saneamento é uma das armas da Saúde Pública para a quebra deste
elo da cadeia. O saneamento tem também grande importância econômica na medida em
que reduz o número de enfermidades e de mortes de indivíduos produtivos e o gasto
com internações hospitalares.

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2. - Principais Atividades de Saneamento Básico

As principais atividades de saneamento básico abrangem principalmente os


seguintes itens :

• Abastecimento de água;
• Coleta e disposição de águas residuárias (esgotos sanitários, resíduos líquidos
industriais e águas pluviais);
• Acondicionamento, coleta, transporte, tratamento e/ou destino final dos resíduos
sólidos (lixos de naturezas diversas);
• Controle da poluição ambiental - água, ar e solo (acústica, visual e etc.)
• Saneamento dos alimentos;
• Controle de artrópodes e de roedores de importância em saúde pública (controle de
vetores);
• Saneamento da habitação, dos locais de trabalho, de educação, de recreação e dos
hospitais;
• Saneamento dos meios de transporte;
• Saneamento em situações de emergência (enchentes e calamidade pública).

3. - Evolução histórica do saneamento

Dentre alguns fatos históricos que envolvem as principais atividades de saneamento


podem ser citados :

• Os povos primitivos já se instalavam próximos as margens dos rios para captarem


água dos mesmos;
• No Paquistão à 3.000 a.C. já existiam casa com banheiros, tubos cerâmicos,
alvenaria de tijolos para canalização de águas pluviais;
• Em Creta à 2.000 a.C. já eram empregadas manilhas cerâmicas de ponta e bolsa;
• Os egípcios e japoneses já possuíam técnicas para clarificação da água através de
filtros domésticos;
• As aglomerações humanas mais densas já necessitavam de grandes obras destinadas
à captação, como por exemplo a construção de tanques de reservação;

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• Os romanos possuíam sistemas de abastecimento de água mais completos e grande


complexidade;
• As atividades de captação, transporte e armazenamento de água surgiram em
conseqüência do aumento do consumo;
• As atividades de tratamento de água surgiram em decorrência do crescimento da
poluição;
• Por volta do ano 1240, Londres já possuía água encanada através de tubulações de
chumbo;
• Na Alemanha a partir do ano 1500 tornou-se obrigatório o uso de fossas.
• Com a invenção da máquina a vapor na Revolução Industrial foi possível o
surgimento dos primeiros equipamentos para bombeamento d'água;
• A eficiência da filtração de água só foi reconhecida por engenheiros no início do
século XIX;
• Em 1815 foi autorizado em Londres o lançamento de efluentes domésticos nas
galerias de águas pluviais da cidade;
• Em 1854, Snow comprovou cientificamente a associação entre a fonte de água
consumida pela população de Londres e a incidência de cólera;
• A 1ª rede de esgotos da cidade de São Paulo foi projetada e construída pelos ingleses
em 1876;
• A partir de 1908 foram empregadas como tratamento de água as primeiras
substâncias desinfetantes como o hipoclorito de cálcio;
• Até o início do século XIX não se conheciam os sistemas de esgotos tais como hoje
concebidos;
• No século XVII ocorreram as primeiras experiências com tubos de ferros fundidos.
Antes era de barro, chumbo e madeira, de pequenas dimensões que não suportavam
muitas pressões. Procuravam seguir então a linha piezométrica do sistemas para
evitar pressões maiores.
• Modernamente novos materiais e técnicas vem sendo empregados para
desenvolvimento das atividades de saneamento básico, facilitando a construção de
instalações cujo objetivo principal é o de reduzir e eliminar as doenças causadas ao
homem pela falta de condições sanitárias adequadas.

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4.- Princípios Gerais do Saneamento

Dentre alguns princípios gerais do Saneamento Básico podem ser citados :

4.1 - Princípio da Densidade

O princípio da densidade se baseia no fato de que quanto maior a densidade ou a


concentração de atividades, menor o poder de autodepuração do meio ambiente. Logo,
maiores devem ser as medidas de controle e de saneamento do meio.

4.2 - Princípio de Detalhes

O princípio de detalhes prega a teoria de que a observância dos mínimos


detalhes em saneamento é fundamental. Alguns exemplos citados a seguir explicam tal
princípio :

• Antes de iniciar o funcionamento de qualquer tipo de obra nova em saneamento


principalmente no que se refere ao abastecimento de água, deve-se realizar uma
desinfecção total do sistema com dosagem forte de cloro na água (desinfecção
operacional);

• A concentração de cloro empregada no tratamento de águas para abastecimento é


função também do tipo e resistência do microorganismo possível de estar presente
no sistema. Exemplo : vibrão da cólera e shigella (0,5 mg/l), pólio (1,2 mg/l), vírus
da hepatite (3,0 mg/l) e rotavírus (3,0 mg/l).

4.3 - Princípio do Alcance e do Controle

Este princípio rege que sempre que possível deve-se sanear o todo, ou seja,
proteger somente parte de um todo por algum tipo de medida de saneamento pode
comprometer o todo, inclusive a parte supostamente protegida. Exemplo: sempre deve-
se imunizar um maior número possível de pessoas em uma campanha de vacinação.

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4.4 - Princípio do Período de Carência ou do Silêncio

Existe um período de carência entre os problemas de saneamento e os resultados


obtidos pela implantação de alguma medida de saneamento para resolvê-los. Como
exemplo, na Figura 1 pode-se observar que existe um período a partir da introdução da
cloração no abastecimento de água da cidade de São Paulo em 1926, para o decaimento
do número de casos de febre tifóide. Cabe ressaltar que a introdução de sistemas de
abastecimento de água traz retornos relativamente rápidos no que diz respeito a
melhoria das condições de saúde da população abastecida.

Figura 1 - Coeficiente de mortalidade por febre tifóide no município de São Paulo

5. – Situação do Saneamento Básico e da Saúde Pública no Brasil

O Brasil é um país em grave estado de saúde. Pesquisas realizadas no início dos


anos 90 pela ABES (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária) e pelo IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) possibilitam uma visualização do quadro
sanitário no país, evidenciando as condições precárias a que esta exposta grande parte
da população brasileira.
Em 1991 o Brasil possuía 152,3 milhões de habitantes, sendo que 77 % viviam
em áreas urbanas e apenas 27 % em áreas rurais. Nesta época menos de 70 % dos
habitantes eram atendidos por sistemas coletivos de abastecimento de água, verificando-

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se uma significativa variação de cobertura entre os estados. Alguns problemas dos


sistemas não revelados pelas estatísticas são o não cumprimento dos padrões de
potabilidade pela água distribuída e a ocorrência de intermitência no abastecimento,
comprometendo a quantidade de água fornecida à população e a sua própria qualidade.
Outro problema grave é o elevado índice de perdas, devido a vazamentos e
desperdícios, chegando a índices que superam 50 %.
Os dados referentes ao esgotamento sanitário são bastante impressionantes.
Apenas 30 % da população brasileira era atendida por redes coletoras. O volume de
esgotos tratados era extremamente baixo, com apenas 8 % dos municípios apresentando
unidades de tratamento. Mesmos nesses, em geral, as estações de tratamento atendem a
apenas uma parcela da população, as eficiências são reduzidas e os problemas
operacionais são freqüentes.
As deficiências na coleta e na disposição inadequada do lixo, que é lançado a
céu aberto na grande maioria das cidades brasileiras, constituem outro sério problema
ambiental e de saúde pública.
Carências graves são também observadas na área de drenagem urbana,
submetendo diversos municípios a periódicas enchentes e inundações, além de
problemas de saúde pública resultantes do escoamento deficiente das águas de chuva.
Na área de controle de vetores, por sua vez, a descontinuidade dos programas e a
falta de articulação entre as diversas instâncias institucionais vêm provocando o
ressurgimento ou o recrudescimento de endemias como o dengue, a leptospirose, a
leishmaniose e a febre amarela.
Alguns outros indicadores e índices sobre o estado de saúde e saneamento no
país podem ser visualizados a seguir :
• a taxa de mortalidade infantil no ano de 1992 era de 58 em cada 1.000
habitantes (em Cuba no mesmo ano tínhamos 14/1000 hab e na Argentina
29/1000 hab.);
• 30 % das mortes de crianças com menos de um ano de idade são por diaréia
(cerca de 50.000 casos por ano);
• a epidemia de cólera no Brasil atinge mais de 700 cidades e mais de 100.000
pessoas;

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• os investimentos em saúde no Brasil são da ordem de US$ 60 / hab.dia


enquanto que o mínimo recomendado pela OMS (Organização Mundial de
Saúde) é de US$ 500 / hab.dia;
• existem no Brasil cerca de 5,5 milhões de casos de esquistossomose (cerca
de 3 % da população);
• 65 % das internações hospitalares resultam da inadequação dos serviços e
ações de saneamento.
As tabelas e gráficos a seguir ilustram a situação do saneamento básico no país
no que se refere ao abastecimento de água, coleta de esgoto e de lixo.

Tabela 1 - Acesso a Serviços de Saneamento por Classe de Renda – Brasil (1991)

Domicílios sem Ligação à


Classe Total de Domicílios sem Água
Rede de Esgoto ou Fossa
Domicílios Canalizada
(Salário Séptica
(Milhões)
Mínimo) Quantidade Quantidade
(%) (%)
(mil) (mil)

0a1 1,4 33 462 59 826


1a2 7,8 38 2.964 56 4.368
2a3 4,2 12 504 40 1.680
3a5 3,8 5 190 28 1.064
5 a 10 3,5 3 105 20 700
10 a 20 1,6 1 16 12 192
20 e mais 0,8 1 8 9 72
Fonte : Censo Demográfico 1991, Dados Preliminares, IBGE

Tabela 2 - Evolução de Indicadores de Saneamento no Brasil


(em % de domicílios urbanos e rurais)

Indicadores 1970 1980 1991 1996


ÁGUA
Domicílios urbanos – rede de distribuição 60,47 79,20 86,10 91,11
Domicílios rurais – rede de distribuição 2,61 5,05 9,26 19,76
ESGOTO SANITÁRIO
Domicílios urbanos – rede de coleta 22,16 37,02 41,59 48,88
Domicílios urbanos – fossa séptica 25,28 22,97 18,12 25,43
Domicílios rurais – rede de coleta 0,45 1,39 1,86 3,68
Domicílios rurais – fossa séptica 3,24 7,16 7,21 14,47
Fonte : IBGE. Censos Demográficos de 1970, 1980 e 1991; e PNAD, 1996.

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Tabela 3 - Indicadores de Saneamento no Brasil e Grandes Regiões (1996)


(em % de domicílios urbanos)

Indicadores Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul C.Oeste

ABASTECIMENTO DE ÁGUA

Redes públicas de distribuição 91,11 69,13 86,07 95,45 94,36 82,75


Outras soluções

ESGOTO SANITÁRIO

Rede pública de coleta 48,88 8,91 22,47 75,76 17,41 34,09


Fossas sépticas 25,43 39,66 30,31 13,45 58,40 12,08
Outras soluções

LIXO

Coletado 87,44 64,68 72,93 92,92 95,55 89,23


Sem coleta
Fonte : IBGE. PNAD, 1996.

(1991)

Figura 2 - Indicadores de Saneamento – Abastecimento de água (1991)


Fonte : ABES-IBGE

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Figura 3 - Indicadores de Saneamento – Esgotamento Sanitário (1991)


Fonte : ABES-IBGE

Figura 4 - Indicadores de Saneamento – Lixo (1991)


A falta de saneamento básico Fonte : ABES-IBGE
ocasiona o surgimento de diversas doenças.

Pode-se afirmar que se as condições de saneamento básico no Brasil fossem


mais adequadas, haveria uma substancial melhoria no quadro de saúde da população.

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Além disso o país economizaria com a construção e manutenção de hospitais e com a


compra de medicamentos.
Segundo estimativas da OMS, nos países em desenvolvimento, cerca de 80 %
dos leitos hospitalares vêem sendo ocupados por pacientes com doenças causadas direta
ou indiretamente pela água de má qualidade e por falta de saneamento. O restante, cerca
de 20 % são devido à outros tipos de doenças como de origem genética, acidentes e etc.

6. - Transmissão de Doenças devido a falta de Saneamento Básico

Diversas doenças infecciosas e parasitárias têm no meio ambiente uma fase de


seu ciclo de transmissão, como por exemplo, uma doença de veiculação hídrica com
transmissão feco-oral. A implantação de um sistema de saneamento, nesse caso,
significaria interferir no meio ambiente, de maneira a interromper o ciclo de transmissão
da doença (ver exemplo da Figura 5).

Figura 5 – Transmissão de doença de veiculação hídrica

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Figura 5.1 – Efeito das medidas de Saneamento

6.1 - Conceitos básicos sobre Epidemiologia

Para que os mecanismos de transmissão das doenças devido a falta de


saneamento básico, possam ser entendidos, é importante que sejam conhecidos alguns
conceitos básicos sobre Epidemiologia.

Epidemiologia : é a ciência que estuda a distribuição das doenças e agravos a


saúde nas comunidades e as relaciona a múltiplos fatores, concernentes ao agente
etiológico, ao hospedeiro e ao ambiente, indicando as medidas para a sua profilaxia. É o
estudo das doenças na massa populacional, considerando as causas, o mecanismo de
transmissão e a prevenção de doenças.

Agente etiológico : substância cuja presença ou ausência pode iniciar ou


perpetuar um processo mórbido (doença). Podem ser físicos (radioatividade e etc.),

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químicos (metais pesados e etc.) ou parasíticos (bioagentes patogênicos – vírus,


bactérias, helmintos e etc.).

Hospedeiro : pessoa ou animal que alberga um agente etiológico animado


(bactérias, protozoários, fungos, vírus ou helmintos). O hospedeiro pode ser temporário
ou definitivo. O hospedeiro temporário serve de veículo ao agente até a instalação no
hospedeiro definitivo (ex. caramujos na esquistossomose). O hospedeiro definitivo é a
fonte ou reservatórios dos agentes infecciosos (animal ou homem).

Reservatório ou Fonte de Infecção : é todo ser que contenha um agente


etiológico passível de veiculação a outros seres. (Exemplo : homem portador de
doença).

A transmissão de doenças pode se realizar das seguintes formas principalmente :

• Transmissão direta – ocorre através do contato direto do agente etiológico com o


hospedeiro (ex: doenças venéreas como sífilis, gonorréia, AIDS e etc.)
• Transmissão indireta – ocorre através de contato indireto do agente etiológico com
o hospedeiro através de veículos ou vetores.

Os veículos mais comuns são o ar, a água e o solo. Como exemplo de vetores
podem ser citados os animais que transportam agentes etiológicos.

Os vetores podem ser mecânicos ou biológicos. Os vetores mecânicos apenas


transportam o agente etiológico, como por exemplo as moscas e baratas. Os vetores
biológicos além de transportar o agente etiológico, servem para o desenvolvimento
obrigatório de alguma fase do mesmo, como por exemplo no caso dos caramujos
transmissores da esquistossomose cujas microorganismos denominados de cercárias se
desenvolvem no interior dos mesmos.

Alguns exemplos sobre o modo de transmissão de doenças podem ser visualizado


nas figuras a seguir :

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CONTATO DIRETO

ÁGUA – AR - SOLO

CONTATO
LIXO VETORES MECÂNICOS ALIMENTO HOMEM
INDIRETO

VETORES BIOLÓGICOS

Figura 6 – Modos de propagação de doenças - Lixo

Figura 7 – Modos de propagação - agentes etiológicos eliminados com fezes humanas

Em resumo, para haver transmissão de doenças são necessárias as seguintes


condições (sem as quais se torna impossível a propagação de uma doença por agente
etiológico :

• um agente causador ou etiológico;


• um reservatório ou fonte de infecção do agente causador;
• um modo de sair do reservatório;
• um modo de transmissão do reservatório até a nova vítima em potencial;
• um modo de penetrar em nova pessoa;
• uma pessoa susceptível.

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Alguns outros termos de interesse para a Epidemiologia podem ser citados :

Endemia: é a incidência de uma doença em uma população humana dentro de limites


considerados “normais” para essa população.

Epidemia: elevação brusca, temporária e significativa da incidência de uma doença em


uma comunidade humana, atingindo limites considerados anormais para essa
comunidade, ou seja, ultrapassam a incidência norma esperada.

Incidência: número de casos novos que vão aparecendo em uma comunidade, durante
certo intervalo de tempo, dando uma idéia do desenvolvimento do fenômeno. Pode ser
expressa por números absolutos. (ex : número de casos novos por dia ou mês).

Morbidade ou Prevalência: expressa o número de pessoas enfermas ou de casos de uma


doença em relação à população em que ocorram. Expressa por um coeficiente (ex :
número por 100.000 habitantes).

Mortalidade: expressa o número de óbitos durante determinado período de tempo, em


relação a população total em que essas mortes ocorrem.

Letalidade: indica a relação entre o número de óbitos por uma determinada doença e o
número de casos da doença que deu origem a esses óbitos. Indica portanto a gravidade
da doença e a virulência do agente etiológico.

6.2 – Principais doenças relacionadas com a falta de Saneamento Básico

Os principais grupos de microorganismos que podem provocar doenças no


homem são : os vírus, as bactérias, os protozoários e os helmintos. Além disso vários
componentes químicos presentes nas águas podem causar danos à saúde conforme
Tabela 6.
Os profissionais da área de saneamento devem conhecer as formas de
transmissão e as medidas de prevenção das doenças relacionadas com a falta de
saneamento.

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Unidade Didática I – Saneamento Básico
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Os quadros a seguir resumem os principais tipos de doenças causados pela falta


de saneamento básico relacionadas com a água, com as fezes (esgoto), com o lixo e
transmitidas por vetores bem como as principais formas de transmissão e de prevenção :

Tabela 4 – Doenças relacionadas com a água (inclusive agente etiológico causal)

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Tabela 5 – Doenças relacionadas com a água

Tabela 6 – Componentes químicos que podem afetar a saúde (veiculação hídrica)

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Tabela 7 – Doenças relacionadas com as fezes

Tabela 8 – Doenças relacionadas com vetores

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Tabela 9 – Medidas de Controle dos Vetores

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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UNIDADE II – ABASTECIMENTO DE ÁGUA

1. Importância da água

A água constitui um elemento essencial à vida animal e vegetal. Seu papel no


desenvolvimento da civilização é reconhecida desde a mais alta antigüidade; Hipócrates
(460-354 A.C.) já afirmava : “a influência da água sobre a saúde é muito grande”. Logo a
água é considerada como o primeiro item de saneamento básico e de saúde pública.
O homem tem a necessidade de água em qualidade adequada e em quantidade
suficiente para todas as suas necessidades, não só para proteção de sua saúde, como
também para o seu desenvolvimento econômico. Logo a importância da água deve ser
encarada sob dois aspectos principais : sanitário e econômico. Nos itens seguintes tal
importância é detalhada.

1.1 – Importância Sanitária do Abastecimento de Água

• melhoria da saúde e das condições de vida de uma comunidade;


• diminuição da mortalidade em geral, principalmente infantil;
• aumento de esperança de vida da população;
• diminuição da incidência de doenças relacionadas com a água;
• implantação de hábitos de higiene na população;
• facilidade na implantação e melhoria da limpeza pública;
• facilidade na implantação e melhoria dos sistemas de esgotos sanitários;
• possibilidade de proporcionar conforto e bem-estar.

1.2 – Importância Econômica do Abastecimento de Água

• aumento da vida produtiva dos indivíduos economicamente ativos;


• diminuição dos gastos particulares e públicos com consultas e internações
hospitalares;

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• facilidade para instalação de indústrias onde a água é utilizada como matéria-


prima (ex. indústria de bebidas) ou meio para operação (operação de caldeiras);
• incentivo à indústria turística em localidades com potencialidades para seu
desenvolvimento.

2. - Qualidade da Água

A água pura, no sentido rigoroso do termo, na existe na natureza, pois, sendo a água
um ótimo solvente, nunca é encontrada em estado de absoluta pureza. A água apresenta
uma série de impurezas que imprimem suas características físicas, químicas e biológicas,
cuja qualidade depende dessas características.
As características da água fornecida ao consumidor, vão influenciar no tipo e no
grau de tratamento que a mesma deve sofrer, dependendo este tratamento também, do uso
que será feito da água. Como exemplo pode-se citar o fato de que para o uso doméstico a
água deve ser desprovida de gosto, porém para resfriamento de caldeiras esta característica
não tem importância.
Logo, a qualidade e a quantidade da água requeridas em função de seu uso, irão
influenciar na escolha do manancial de captação e no processo de tratamento. Deve-se
lembrar também o aspecto econômico-financeiro, visto que em muitos casos, a qualidade
da água de um manancial pode ser tão crítica que em função do volume de água que se
deseja captar, seja inviável economicamente seu tratamento.
As águas dos mananciais podem ser utilizadas para diversas finalidades, decorrendo
daí a necessidade da satisfação simultânea de diversos critérios de qualidade.
Os principais usos da água são :
§ Abastecimento doméstico;
§ Abastecimento industrial;
§ Irrigação;
§ Dessedentação de animais;
§ Recreação e lazer;
§ Geração de energia elétrica;
§ Navegação;

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§ Diluição de despejos; e
§ Preservação da flora e da fauna.

2.1 - Características e Impurezas da Água

Á água encontrada na natureza possui uma série de impurezas, que definem suas
características físicas, químicas e biológicas. Essas impurezas podem torná-la imprópria
para o consumo ou para outros usos específicos. Os diversos componentes presentes na
água, e que alteram o seu grau de pureza, são retratados em termos das suas características
físicas, químicas e biológicas, conforme a seguir :
• características físicas : são aquelas associadas, em sua maior parte, à presença de
sólidos na água. Estes sólidos podem estar em suspensão (diâmetro das partículas
maior que 10 0
µm), coloidais (diâmetro entre 10 0
e 10 -3
µm) ou dissolvidos
(diâmetro menor que 10 -3 µm).
• características químicas: podem ser interpretadas como matéria orgânica e
inorgânica;
• características biológicas : obtidas pelos seres presentes na água que podem estar
vivos ou mortos. Dentre os seres vivos, tem-se os dos reinos animal, vegetal e os
protistas (organismos microscópicos como as bactérias, os vírus e as algas).
A figura 7 a seguir apresenta de forma esquemática estas inter-relações :

IMPUREZAS DA ÁGUA

CARACTERÍSTICAS CARACTERÍSTICAS CARACTERÍSTICAS


FÍSICAS QUÍMICAS BIOLÓGICAS

Sólidos Gases Inorgânicos Orgânicos


s

Suspensos Ser vivo

Coloidais
Animais
Dissolvidos Matéria em
decomposição Vegetais
Protistas

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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Para que se possa empregar a água de diversas formas, inclusive para abastecimento
público, é necessário o conhecimento das principais características físicas, químicas e
biológicas da mesma com o intuito de avaliar quais tipos de tratamento que devem ser
realizados para remoção das impurezas, de modo que a água atinja os requisitos de
qualidade em função de seu uso previsto.

2.2 - Principais Características ou Parâmetros das Águas

Parâmetros Físicos

As principais características físicas das águas são: cor, turbidez, sabor, odor e
temperatura. Estas características envolvem em sua grande maioria, aspectos de ordem
estética e psicológica, exercendo uma certa influência no consumidor. Dentro de
determinados limites, não tem relação com inconvenientes de ordem sanitária. Porém, o seu
acentuado teor pode causar certa repugnância a consumidores mais ou menos exigentes.
Cabe destacar que uma água de boa aparência não significa que apresente boas condições
sanitárias. A seguir tem-se alguns detalhes dos principais parâmetros :

Cor :
• Responsável pela coloração da água;
• Originada pela existência de substâncias dissolvidas, que na grande maioria dos
casos, são de natureza orgânica (folhas e matéria turfosa);
• Unidade de medida : uH (Unidade Hazen – escala de platina-cobalto);
• De origem natural não provoca risco à saúde, porém de origem industrial pode
apresentar toxicidade.

Turbidez :
• Representa o grau de interferência com a passagem da luz através da água,
conferindo uma aparência turva à mesma;
• Originada principalmente devido a existência de sólidos em suspensão e de
organismos microscópicos;

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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• Unidade de medida : uT (Unidade de Turbidez – Unidade de Jackson);


• Pode estar associada a compostos tóxicos e organismos patogênicos.

Sabor e odor :
• São consideradas em conjunto, pois o sabor é a interação entre o gosto (salgado,
doce, azedo e amargo) e o odor (sensação olfativa);
• Originado por sólidos em suspensão, sólidos dissolvidos e gases dissolvidos;
• É difícil a adoção de medidas de odor e sabor. As águas quanto ao sabor e odor
devem ser inobjetáveis, ou seja, deve haver ausência de sabor e odor;
• Não representa risco à saúde, porém questiona-se a confiabilidade da água.

Temperatura :
• Medição da intensidade de calor;
• Elevadas temperaturas diminuem a solubilidade dos gases, como por exemplo,
reduzem a quantidade de oxigênio dissolvido na água;
• Unidade de medida : o C.

Parâmetros Químicos

pH :
+
• Indica o potencial de íons hidrogênio H . A faixa de pH vai de 0 a 14. Indica a
condição de acidez, neutralidade ou alcalinidade da água.
• pH baixo : corrosividade e agressividade nas águas de abastecimento;
• pH alto : possibilidade de incrustações nas águas de abastecimento.

Alcalinidade :
• É uma medição da capacidade da água de neutralizar os ácidos;
• É devida a presença de bicarbonatos, carbonatos e hidróxidos, quase sempre
alcalinos ou alcalinos terrosos (sódio, potássio, cálcio, magnésio, etc). A
distribuição entre as três formas na água é função do pH.

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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• Não tem significado sanitário para a água potável, mas em elevadas


concentrações confere um gosto amargo para a água;
• Causado pela dissolução de rochas minerais, reação do CO2 com a água e
efluentes industriais;
• Unidade : mg/l de CaCO3;

Acidez ou Agressividade:
• Característica causada principalmente pela presença em solução, de oxigênio,
gás carbônico e gás sulfídrico;
• Responsável pela corrosão de tubulações e materiais;
• Unidade : mg/l de CaCO3.

Dureza:
• Característica conferida á água pela presença de sais alcalinos-terrosos (cálcio,
magnésio, etc.) e alguns metais de menor intensidade;
• É caracterizada pela extinção da espuma formada pelo sabão, o que dificulta o
banho e a lavagem de utensílios domésticos e roupas, criando problemas
higiênicos;
• Originado pela dissolução de rochas minerais (calcáreas, gipsita e dolomita) e
efluentes industriais;
• As águas duras, principalmente em temperaturas elevadas, podem incrustar as
tubulações, devido as precipitação de cátion Ca2+ e Mg2+ que reagem com os
ânions na água, formando os precipitados;
• Unidade : mg/l de CaCO3.

Ferro e Manganês :
• Na ausência de oxigênio dissolvido (ex : água subterrânea) o ferro e o manganês
se apresentam na forma solúvel (Fe2+ e Mn2+). Quando expostas ao ar
atmosférico o ferro e o manganês voltam a se oxidar às suas formas insolúveis

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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(Fe3+ e Mn4+), o que pode causar cor na água, além de manchar roupas durante
a lavagem;
• Pouco significado sanitário, possível coloração, sabor e odor;
• Usualmente encontrado nas águas naturais;
• Unidade : mg/l.

Iodo e Flúor :

• São substâncias que presentes na água dentro de determinados limites de


concentração, apresentam benefícios para a saúde humana;
• Os iodetos são necessária para a prevenção do bócio endêmico;
• Os fluoretos são necessários para a prevenção da cárie dentária, porém em
concentração excessiva podem causar a fluorose dental das crianças;
• Unidade : mg/l.

Nitratos :
• Os nitratos presentes na água, em grandes quantidades, provocam em crianças o
estado mórbido denominado de cianose também conhecida como síndrome do
bebê azul;
• Em um corpo d’água, a determinação da forma predominante do nitrogênio
(nitrogênio orgânico – amônia – nitrito NO2- e nitrato NO3-) pode fornecer
informações sobre o estágio da poluição. O nitrogênio na forma orgânica ou de
amônia está associada a uma poluição recente enquanto que a forma de nitrato
indica uma poluição mais remota);
• São originados através dos despejos domésticos, industriais, excrementos de
animais e fertilizantes;
• Unidade : mg/l.

Oxigênio Dissolvido :
• O oxigênio dissolvido (OD) é de essencial importância para os organismos
aeróbios (que vivem na presença de oxigênio). Durante a estabilização da

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
_______________________________________________________________________________________

matéria orgânica, as bactérias fazem uso do oxigênio nos seus processos


respiratórios, podendo vir a causar uma redução da sua concentração no meio.
Dependendo da magnitude deste fenômeno, podem vir a morrer diversos seres
aquáticos, inclusive os peixes. Caso o oxigênio seja totalmente consumido, tem-
se as condições anaeróbias (ausência de oxigênio), com geração de maus odores;
• O oxigênio dissolvido é o principal parâmetro de caracterização dos efeitos da
poluição das águas por despejos de matéria orgânica;
• Unidade : mg/l.

Micropoluentes inorgânicos :
• Uma grande parte dos micropoluentes inorgânicos são tóxicos, entre eles os
metais pesados como o arsênio, cádmio, cromo, chumbo, mercúrio e prata;
• Geralmente constituem o produto de lançamentos industriais poluidores ou de
atividades humanas (garimpo por exemplo, no caso do mercúrio);
• Unidade : ìg/l ou mg/l.

Parâmetros Biológicos

Os parâmetros biológicos se resumem na observação dos microrganismos (parte


viva) presentes na água que também constituem impurezas. Os microorganismos
desempenham diversas funções de fundamental importância, principalmente as
relacionadas com a transformação da matéria dentro dos ciclos biogeoquímicos, bem como
à possibilidade da transmissão de doenças.
A determinação da potencialidade de uma água transmitir doenças pode ser efetuada
de forma indireta, através dos organismos indicadores de contaminação fecal, pertencentes
ao grupo de coliformes. Tais organismos não são patogênicos, mas dão uma satisfatória
indicação de quando uma água apresenta contaminação por fezes humanas ou de animais, e
por conseguinte, a sua potencialidade para transmitir doenças, visto que podem veicular
agentes patogênicos. A maioria das bactérias do grupo coliforme pertence aos gêneros
Escherichia, Citrobacter, Klebsiella e Enterobacter, embora vários outros gêneros e espécies
pertençam ao grupo.

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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As seguintes razões principais explicam o emprego do grupo coliforme como


indicador de contaminação fecal :
• Apresentam-se em grande quantidade nas fezes humanas. Cerca de 1/3 a 1/5 do
peso das fezes humanas é constituído por bactérias do grupo coliforme;
• Apresentam-se em grande número apenas nas fezes do homem e de animais de
sangue quente, fato este essencial, pois se existissem também nos intestinos de
animais de sangue frio deixariam de ser bons indicadores de poluição;
• Os coliformes apresentam resistência aproximadamente similar à maioria das
bactérias patogênicas intestinais, característica importante pois não seriam bons
indicadores de contaminação fecal se morressem mais rapidamente que o agente
patogênico.
A determinação do indicador de coliformes se faz por técnica bem estabelecida, que
o expressa em número mais provável (NMP) de coliformes por 100 ml de amostra de água.
Além do indicador de contaminação fecal, são realizados exames hidrobiológicos
para determinação de microorganismos como algas, bactérias, protozoários, vermes, larvas
de inseto e etc.

2.3 - Denominação das águas em função das impurezas

De acordo com a presença de certas impurezas nas águas, ou seja, em função da


presença de determinados microorganismos e de substâncias em suspensão, em solução e
em estado coloidal, a água recebe certas designações conforme a seguir :

• Dura ou salobre : é a água que possui teor acentuado de certos sais que a tornam
desagradável para a bebida, inconveniente para a limpeza corporal e lavagem de
roupas e imprópria para o cozimento de legumes. Os sais causadores da dureza
são geralmente os bicarbonatos, sulfatos, cloretos e nitratos de cálcio e
magnésio. Possui um sabor característico;
• Salgada ou salina : é a água que, além de sais causadores de dureza, possui
elevado teor de cloreto de sódio, como a água do mar;

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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• Mineral : é a água que provém do interior da crosta terrestre, contendo


substâncias em solução que lhe dão valor terapêutico, tais como cloretos,
brometos, iodetos, sulfatos e os sais neutros de magnésio, potássio e sódio;
• Termal : é a água mineral originada de camadas profundas da crosta terrestre e
que atinge a superfície com temperatura elevada;
• Radiativa : é toda água mineral ou termal possuidora naturalmente de
radioatividade;
• Doce : á a água de gosto agradável e que, por exclusão, não é dura, salgada,
mineral, termal ou radiativa;
• Poluída : é toda água de características alteradas devido à presença indesejável
de substâncias estranhas e/ou pequenos organismos que a tornam imprópria para
consumo;
• Contaminada : é a água poluída por germes patogênicos;
• Colorida : água que deixa de ser límpida devido à presença de substâncias
geralmente dissolvidas ou em estado coloidal. A cor da água normalmente é
produzida por substâncias orgânicas, como os corantes vegetais (ex: boa parte
dos rios da Amazônia);
• Turva : é a água que não é límpida em decorrência, sobretudo, da presença de
substâncias em suspensão. A turbidez é geralmente causada pela areia, silte e
argilas (partículas em suspensão e coloidais);
• Ácida : toda água que possui teor acentuado de gás carbônico ou ácidos
minerais. Seu pH (potencial de hidrogênio) é inferior a 7. É denominada de
agressiva ou corrosiva por ser capaz de provocar a corrosão de metais;
• Alcalina : é a água que contém quantidade elevada de bicarbonatos de cálcio e
magnésio ou carbonatos ou hidróxidos de sódio, potássio, cálcio e magnésio.
Seu pH é superior a 7. Toda água dura é alcalina porém a reciproca não é
verdadeira;
• Bruta : é o termo empregado para caracterizar á água antes de sofrer qualquer
tipo de tratamento;
• Tratada : é a água que foi submetida a um ou mais processos de remoção de
impurezas e/ou de correção de impropriedades;

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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• Potável : é a água inofensiva à saúde, agradável aos sentidos e adequada aos


usos domésticos (água própria para o consumo humano).

2.4 - Padrões de Qualidade das Águas

Os requisitos de qualidade de uma água são função de seus usos previstos, conforme
mencionado anteriormente. Porém além dos requisitos de qualidade, que traduzem de uma
forma generalizada e conceitual a qualidade desejada para a água, há uma necessidade de se
estabelecer também padrões de qualidade fixados por dispositivos legais.
Existem três tipos de padrão de interesse direto no que se refere à qualidade da água :
• padrões de lançamento no corpo receptor e padrões de qualidade do corpo receptor
(Resolução n. 20 do CONAMA de 18/06/86);
• padrões de qualidade para determinado uso imediato (ex: padrões de potabilidade)

2.4.1 Padrões de lançamento no corpo receptor e de qualidade do corpo


receptor

O real objetivo dos padrões de lançamento no corpo receptor e de qualidade do


corpo receptor é a preservação e/ou melhoria das condições de qualidade no corpo d’água,
ou seja, manter o mesmo em condições adequadas para que possa ser utilizado de maneira
racional e econômica. Em resumo, estes padrões estão ligados a qualidade do corpo d’água
receptor enquanto que os padrões de potabilidade estão relacionados com a qualidade da
água que é fornecida para consumo.
O principal documento legal que define os padrões de lançamento no corpo receptor
e de qualidade do mesmo é a Resolução n. 20 do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA) de 18/06/86.
Esta resolução dividiu as águas do território nacional em águas doces, salobras e
salinas. Em função dos usos previstos foram criadas 9 classes. As classes relativas à água
doce estão divididas em classe Especial, para usos mais nobres, e Classes 1,2,3,4 em ordem
decrescente de requisitos de qualidade e de nobreza de uso, conforme a Tabela 1 a seguir.

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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Tabela 1 - Classificação das águas doces em função dos usos preponderantes


(Resolução CONAMA n. 20, 18/06/86)
Classe
Uso
Especial 1 2 3 4
x x x
Abastecimento Doméstico x após após após
tratamento tratamento tratamento
simples convencional convencional

Preservação do equilíbrio natural das


comunidades aquáticas x
Recreação de contato primário x x
Proteção das comunidades aquáticas x x
x x
Irrigação x

Criação de espécies (aquicultura) x x


Dessedentação de animais x
Navegação x
Harmonia paisagística x
Usos menos exigentes x

Para cada classe foram criados padrões de qualidade e de lançamento para o corpo
receptor, ou seja, um corpo receptor de acordo com a classe a qual pertence apresenta
limites máximos para as impurezas nele contidas bem como para as impurezas dos
efluentes ou resíduos nele lançados, conforme o exemplo da Tabela 2 a seguir. Em
princípio, um efluente deve satisfazer, tanto ao padrão de lançamento, quanto ao padrão de
qualidade do corpo receptor seguindo a sua classe. No entanto, o padrão de lançamento
pode ser excedido, com permissão do órgão ambiental, caso os padrões de qualidade do
corpo receptor sejam resguardados, como demonstrado por estudos de impacto ambiental.

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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Tabela 2 - Padrões de qualidade e de lançamento para os corpos d’água (água doce)


(alguns valores de acordo com a Resolução CONAMA n. 20/86)
Padrão para Corpo d’água
Padrão de
Parâmetro Unidade Classe
Lançamento
1 2 3 4
Cor uH 30 75 75 - -
Turbidez uT 40 100 100 - -
Sabor e odor - VA VA VA - -
pH - 6a9 6a9 6a9 6a 9 5a9
Oxigênio Dissolvido mg/l ≥6 ≥5 ≥4 ≥2 -
Chumbo mgPb/l 0,03 0,03 0,05 - 0,5
Ferro Solúvel mgFe/l 0,3 0,3 5,0 - 15,0
Coliformes fecais org/100ml 200 1.000 4.000 - -
VA : virtualmente ausente

2.4.2 - Padrões de Potabilidade

Definição
São as quantidades limites que, com relação aos diversos elementos, podem ser
toleradas nas águas de abastecimento ou também “o conjunto de valores máximos
permissíveis, das características das águas destinadas ao consumo humano.” Os padrões
de potabilidade são fixados, em geral, por decretos, regulamentos ou especificações. São
definidos no Brasil pelo Ministério da Saúde, através da recente Portaria 1469 de 29 de
Dezembro de 2000, anexa no final desta apostila. Essa portaria estabelece os procedimentos e
responsabilidades relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu
padrão de potabilidade, substituindo a antiga portaria 36/90.
Seria desejável que a qualidade das águas de abastecimento destinadas às pequenas
coletividades e às comunidades rurais não fosse inferior às das fornecidas aos centros
urbanos maiores. Porém as dificuldades em muitas localidades de atender aos padrões de
potabilidade muitas das vezes se torna difícil devendo ser estabelecidos padrões de
segurança que contenham quantidades limites que, relativamente aos vários elementos,

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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podem ser toleradas nas águas de abastecimento sem causar dano à saúde da população,
embora não atenda bem a certos aspectos tais como a cor, por exemplo.
A seguir são apresentados alguns padrões de potabilidade relativo aos aspectos
físicos, organolépticos (percebidas pelos sentidos humanos), químicos e biológicos.

Tabela 3 - Padrão de potabilidade da água para consumo humano


Parâmetro Unidade Valor máximo permissível
Características Organolépticas
Cor aparente uH (unid. Hazen) 5
Odor - Não objetável
Sabor - Não objetável
Turbidez uT (unid.Turbidez) 1 a 2 (em 95% das amostras)
Componentes que afetam a qualidade organoléptica
Alumínio mg/l 0,2
Cloretos mg/l 250
Cobre mg/l 2,0
Dureza total mg/l CaCO3 500
Ferro total mg/l 0,3
Manganês mg/l 0,1
Sólidos totais dissolvidos mg/l 1000
Componentes inorgânicos que afetam a saúde
Arsênio mg/l 0,01
Chumbo mg/l 0,01
Cianetos mg/l 0,07
Mercúrio mg/l 0,001
Cromo mg/l 0,05
Componentes orgânicos que afetam a saúde
Aldrim e Dieldrin µg/l 0,03
Benzeno µg/l 5
Clordano µg/l 0,2
Lindano µg/l 2
DDT µg/l 2
Características biológicas
Coliformes fecais (Escherichia Coli – preferível) org/100 ml ausentes
Coliformes totais org/100 ml diversas combinações

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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2.5 - Controle da Qualidade da Água

O controle da qualidade da água é uma medida de grande necessidade


particularmente para garantia da saúde da população, além de evitar os prejuízos
econômicos que podem advir da má qualidade da água de consumo. O controle da
qualidade da água é uma atividade de caráter dinâmico, e que deve ser considerado em
todas as etapas de um serviço de abastecimento de água (captação, recalque, adução,
tratamento e distribuição).
A qualidade da água distribuída deve ser rotineiramente controlada através de
exame físico, químico, bacteriológico e hidrobiológico, complementados por inspeção
sanitária (controle dos possíveis pontos de contaminação e etc.).
A seguir são apresentados alguns pontos importantes com relação ao controle da
qualidade das águas :
§ A coleta das amostras para realização dos exames deve sempre ser realizado por
pessoal legalmente habilitado;
§ Os exames técnicos apropriados devem seguir técnicas apropriadas
estabelecidas por órgãos especializados. No Brasil a normalização para coleta e
exame de amostras é fixada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas –
ABNT);
§ Os exames devem ser realizados em diversos pontos de um sistema de
abastecimento como por exemplo, em diversos pontos de uma estação de
tratamento, para permitir entre outras medidas, a correção do processo de
tratamento, inclusive com a possibilidade de torná-lo mais econômico;
§ A qualidade das águas, particularmente as superficiais, só pode ser
suficientemente conhecida através de uma série de exames e análises
abrangendo as diversas estações do ano visto que a qualidade das águas pode
sofrer uma grande variação no decorrer do tempo devido às chuvas, enxurradas,
ocorrência de algas, despejos de resíduos industriais e etc;
§ O controle da qualidade da água não deve se restringir somente a verificar por
meio de exames e análises, se a mesma está preenchendo os padrões de
potabilidade regulamentares, mas deve-se estender a outras medidas gerais de

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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controle, ligadas ao projeto, construção, operação e manutenção dos sistemas de


abastecimento de água;
§ Além do controle direto da poluição das águas, devem também ser controlados a
poluição do ar e do solo que podem vir a contaminar ou poluir os mananciais e
demais pontos do sistema de abastecimento, além de outras medidas
complementares para evitar a deterioração das águas empregadas no
abastecimento.

Exames e análises das águas

As análises efetuadas na água compreendem exames físico-químicos e


bacteriológicos, que visam a determinação das quantidades e concentrações dos parâmetros
de qualidade apresentados anteriormente.
Os exames e análises efetuados com a água podem ser reunidos em quatro
categorias :
§ Análises cujos resultados refletem a segurança e a salubridade da água (substâncias
tóxicas e microorganismos patogênicos);
§ Análises que medem ou refletem o sabor ou a aceitação estética da água como
temperatura, cor, turbidez e odor, complementados por exames microscópicos que
podem explicar a origem de tais parâmetros;
§ Análises que revelam a vantagem econômica da água e que dependem do fim a que
ela se destina (ensaios para determinação de dureza, teores de ferro, manganês,
oxigênio dissolvido, pH, CO2, H2S e etc.);
§ Análises interligadas aos processos de tratamento (alcalinidade, pH, CO2, ferro,
alumínio, cloro, oxigênio dissolvido, hidróxido e etc.).

Cuidados na obtenção das amostras para exames

a) Em água de rio : tirar a amostra abaixo da superfície, colocando o gargalo no


sentido contrário ao da corrente;
b) Em água de poço raso : deve-se mergulhar o frasco com a boca para baixo e não
coletar na sua superfície, pode-se empregar uma vara com rolha e com cordão;

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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c) Torneira ou proveniente de uma bomba : deixar a água escoar por algum tempo
(um minuto), desprezando as primeiras águas.

Amostras para exames físicos e químicos

A amostra de água para exame físico e químico deve ser colhida em 02 (dois) litros,
em garrafas limpas e convenientemente arrolhadas. Uma vez obtidas, as amostras devem
ser enviadas com a máxima brevidade ao laboratório.

Amostras para exame bacteriológico

As coletas de água para exame bacteriológico são realizadas em frascos, geralmente


com 100 cm3 de volume. O frasco deve vir limpo e esterilizado do laboratório e
convenientemente tampado. Antes da coleta da amostra de água para análises
bacteriológicas, deveremos nos informar se foi adicionado cloro na água, pois neste caso, o
vidro além de esterilizado, deve conter em seu interior, 2 cm3 de hiposulfeto de sódio para
eliminação da influência do cloro.

Cuidados na coleta de amostras para exames bacteriológicos

São os seguintes os cuidados indispensáveis para se coletar uma amostra confiável:


• Em caso de torneira ou bomba, deixar correr as primeiras águas;
• Flambar a torneira com chama de papel ou de álcool;
• Não tocar com os dedos na parte da rolha que fica no interior do vidro;
• Exame bacteriológico deve ser feito o mais rápido possível. As amostras devem
ser conservadas à temperatura de 6oC a 10oC (geladeira) para evitar o
crescimento da quantidade de micróbios. O tempo máximo permitido entre a
coleta da amostra e o exame no laboratório é de 06 (seis) horas, isto para água
pouco poluída.

Maiores detalhes podem ser vistos na figura 8 a seguir :

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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A - Esterilizando a torneira
B - Retirando a tampa do frasco
C - Pegando a amostra
D - Vedando o frasco
E - Pegando a amostra num rio

Fig. 8 - Coleta de Água Para Exame

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Unidade II – Abastecimento de Água
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3. - Sistema de Abastecimento de Água

Um sistema de abastecimento de água representa um “conjunto de obras,


equipamento e serviços, destinados ao abastecimento de água potável de uma
comunidade para fins de consumo doméstico, serviços públicos, consumo industrial,
agrícola e demais usos”. Com tal destinação, um sistema de abastecimento de água de
uma comunidade deve ser bem projetado, construído, operado, mantido e conservado,
em todos as suas partes constituintes, entregando a água aos usuários em quantidade e
com qualidade adequada, de maneira contínua a um custo razoável.
As principais características de um bom serviço de água são:
Qualidade : a água deve estar livre de microorganismos patogênicos que causam
problemas à saúde. Deve atender às exigências das normas aprovadas pelas autoridades
sanitárias de cada país.
Quantidade : o sistema de abastecimento deve ser capaz de distribuir volumes
suficientes de água para satisfazer às demandas da população.
Cobertura : a água deve estar disponível para a população já que é um elemento
vital para a saúde.
Continuidade : deve existir um serviço contínuo, sem interrupções, que assegure
água as 24 horas do dia durante todos os dias da semana.
Custo : a água deve ter um custo razoável que permita à população ter este
serviço e que este custo cubra os gastos operacionais e de manutenção.
Controle operacional : a operação e manutenção preventiva e corretiva do
sistema de abastecimento deve ser controlada para assegurar seu bom funcionamento.

3.1 – Unidades constituintes de um Sistema de Abastecimento de Água

Um sistemas de abastecimento de água é composto pelas seguintes unidades :


1) Manancial : é a fonte de onde se retira a água;
2) Captação : conjunto de equipamentos e instalações utilizado para a tomada
d’água do manancial;
3) Adução : conjunto de condutos destinados ao transporte de água do
manancial (água bruta) ou da água tratada;

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Unidade II – Abastecimento de Água
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4) Tratamento : instalações que visam a melhoria das características


qualitativas da água captada a fim de que se torne própria para o consumo. É
feita na chamada Estação de Tratamento de Água (ETA);
5) Reservação : armazenamento a água para atender a diversos propósitos como
a variação de consumo, o fornecimento de água nos casos de interrupção da
adução e manutenção da pressão mínima na rede de distribuição;
6) Rede de distribuição : condução da água para os edifícios e demais pontos de
consumo, por meio de vias instaladas nas vias públicas;
7) Estações elevatórias ou de recalque ou de bombeamento : instalações de
bombeamento destinadas a transportar a água a pontos mais distantes ou
mais elevados, ou para aumentar a vazão de linhas adutoras.

3.1.1 - Configurações de Sistemas de Abastecimento de Água

A configuração de um sistemas de abastecimento de água depende de uma série


de fatores e condicionantes que são pesquisados na fase de elaboração do Relatório
Técnico-Preliminar que corresponde a uma fase do projeto de um sistema onde as
diversas alternativas para as unidades do mesmo são analisadas quanto aos seus
aspectos técnicos e econômicos, que servirá de base para a definição da alternativa mais
conveniente.
Dentre alguns fatores que influenciam na configuração de sistemas podem ser
citadas a topografia da região e a qualidade da água do manancial. Algumas possíveis
configurações :

REDE
CAP ETA R
EB
AT
AB

Esta configuração ocorre quando o manancial e consequentemente a captação


(CAP) se encontram em cotas inferiores a região que será abastecida, sendo necessária a
construção de estação de bombeamento (EB) a adução de água bruta (AB) até a unidade
de tratamento (ETA). Da ETA para a reservação (R) a adução (AT) é feita por
gravidade, bem como da reservação até a rede de distribuição.

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Unidade II – Abastecimento de Água
_____________________________________________________________________________________

REDE
ETA R
CAP
AB AT

Esta configuração ocorre quando o manancial e consequentemente a captação


(CAP) se encontram em cotas superiores a região que será abastecida, sendo feita a
adução de água bruta (AB) por gravidade até a unidade de tratamento (ETA). Da ETA
para a reservação (R) a adução (AT) é feita por gravidade, bem como da reservação até
a rede de distribuição.

REDE
ETA EB
CAP R

AB AT

Esta configuração ocorre quando o manancial e consequentemente a captação


(CAP) se encontram em cotas superiores a região que será abastecida, sendo feita a
adução de água bruta (AB) por gravidade até a unidade de tratamento (ETA). Porém é
necessária uma estação de bombeamento para a adução da água tratada (AT) até o
reservatório de distribuição (R) devido as condições topográficas.
REDE
CAP
R
AB AT

Esta configuração é uma das mais simples e ocorre quando a água do manancial se
encontra dentro dos padrões de potabilidade requeridos sendo necessária apenas uma
desinfecção por cloração, por exemplo, que pode ser feita no próprio reservatório de
distribuição (R). As aduções são por gravidade.

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Unidade II – Abastecimento de Água
_____________________________________________________________________________________

REDE
CAP ETA EB
EB R
AT
AB

Esta configuração ocorre bastante em cidades planas onde são necessárias


estações de bombeamento (EB) tanto na adução de água bruta (AB) como na adução de
água tratada (AT), para dar pressão no sistema de abastecimento devido as condições
topográficas da região.

3.2 – Normas Básicas p/ Execução de Projetos

As principais normas brasileiras para execução de projetos de sistemas de


abastecimento de água são :

• NBR12211/92 (NB587) - Estudos de concepção de sistemas públicos de


abastecimento de água;

• NBR12213/92 (NB589) - Projeto de captação de água de superfície para


abastecimento público;

• NBR12214/92 (NB590) - Projeto de sistema de bombeamento de água para


abastecimento público;

• NBR12215/91 (NB591) - Projeto de adutora de água para abastecimento público;

• NBR12216/92 (NB592) - Projeto de estação de tratamento de água para


abastecimento público;

• NBR12217/94 (NB593) - Projeto de reservatório de distribuição de água para


abastecimento público;

• NBR12218/94 (NB594) - Projeto de rede de distribuição de água para abastecimento


público;

• NBR12212/92 (NB588) - Projeto de poço para captação de água subterrânea;

• NBR12266/92 (NB1349) - Projeto e execução de valas para assentamento de


tubulação de água, esgoto ou drenagem urbana;

• NBR12244/92 (NB1290) - Construção de poço para captação de água subterrânea.


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Unidade II – Abastecimento de Água
_____________________________________________________________________________________

3.3 – Etapas para Implantação de um Sistema de Abastecimento de Água

Para a implantação de um sistema de abastecimento de água as seguintes etapas


principais podem ser destacadas :

§ Movimento e interesse da comunidade;

§ Mobilização do órgão responsável pelo saneamento na região;

§ Obtenção de financiamento;

§ Concorrência e contratação de empresa para execução dos projetos;

§ Elaboração do Relatório Técnico Preliminar :


Levantamento dos elementos básicos e parâmetros p/ a elaboração dos
projetos (será visto mais adiante);
Estudo da concepção do projeto (incluindo estudo de alternativas e de
análise técnica e financeira das alternativas).

§ Elaboração do Projeto Básico (referente a melhor alternativa de projeto


escolhida);

§ Elaboração do Projeto Executivo (detalhamento a nível de construção com


plantas em escala mais precisas);

§ Construção das unidades constituintes do sistema;

§ Operação do sistema;

§ Manutenção do sistema;

§ Revisão das etapas futuras de implantação do sistema em função da evolução


da população e das características da cidade.

3.4 – Elementos Básicos e Parâmetros p/ a Elaboração de Projetos

Para a elaboração de um projeto de sistema de abastecimento público de água,


deverão ser reunidos dados e elementos básicos que possibilitem um perfeito
diagnóstico da localidade a ser abastecida e das suas necessidades.

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Unidade II – Abastecimento de Água
_____________________________________________________________________________________

3.4.1 – Principais elementos a serem considerados e levantados

§ Dados planialtimétricos da localidade a ser abastecida em escala conveniente (de


maneira geral em escala 1:2000 c/ curvas de nível de m em m), incluindo mapas,
fotografias aéreas, dados aerofotogramétricos. O anexo A da NBR 12211/92 fornece
as escalas mais convenientes para as diversas etapas do projeto. Os dados levantados
devem cobrir a região em que se encontra a área a ser abastecida, inclusive suas
expansões, e as possíveis áreas onde poderão estar localizadas as partes constitutivas
do sistema;

§ Outros dados topográficos e geológicos como : geologia da camada sub-superficial


do solo e dos acidentes principais, tipo de solo da região (para escolha dos tipos de
equipamentos que deverão ser usados na construção e também para escolha dos
materiais de construção que podem ser empregados) e conhecimento do nível do
lençol freático (importante para o projeto estrutural das construções devido a sub-
pressão que podem ocorrer nas lajes de fundo, para o estudo das valas, poços, casas
de bombas, escoramentos, sistemas de rebaixamento do lençol e do método de
escavação a empregar);

§ Dados e elementos referentes aos aspectos físicos da localidade : recursos hídricos


superficiais e subterrâneos, geologia, geomorfologia e hidrogeologia; clima
(temperaturas máximas, médias e mínimas, que influenciam no tratamento de água,
por exemplo); estudos hidrológicos (pluviometria e fluviometria, importantes para
escolha do manancial e das obras de captação a serem realizadas);

§ Dados e informações a respeito da economia local e regional : pode-se avaliar o


ritmo de desenvolvimento que a cidade terá, que influencia direto na população. A
situação social e cultural serve para definir o consumo “per capita” usado visto que
o consumo de água varia proporcionalmente com os hábitos da população;

§ Indicação das áreas da localidade atendidas pelos serviços de infra-estrutura


existentes na mesma : água, esgotamento sanitário e pluvial, energia elétrica, sistema
de transporte (devido ao acesso), comunicações (importante para troca de
informações e pedido de material);

42
Unidade II – Abastecimento de Água
_____________________________________________________________________________________

§ Pesquisa da disponibilidade de energia elétrica : empresas concessionárias, grau de


(
confiabilidade e características do sistema de fornecimento existente (voltagem,
freqüência) e tarifas cobradas, fatores que irão influenciar na escolha e no
dimensionamento dos conjuntos elevatórios, por exemplo;

§ Levantamento das condições sanitárias as comunidade : relacionando as doenças de


veiculação hídrica, sistemas de esgoto sanitário, poluição das águas, despejos
domésticos e industriais, dados estes que influenciam na captação e no tratamanto da
água;

§ Pesquisa de mão-de-obra e materiais locais : levantar disponibilidade e custo de


materiais na região e qualidade e salários da mão-de-obra local;

§ Levantamento completo do sistema de abastecimento público de água


eventualmente existente, com características e indicação da capacidade nominal de
cada unidade do sistema, visto que o novo projeto pode ou não aproveitar
parcialmente a rede existente que serve de subsídios para o projeto do novo sistema.
Devem ser coletadas informações como : projetos existentes e modificações
realizadas, cadastros dos condutos existentes, tipos e características dos condutos e
demais unidades, dados sobre a operação do sistema, estado geral da rede (possíveis
perdas no sistema), medição do serviço, tipos de consumo (edifícios, industriais e
etc.);

§ Pesquisa dos mananciais existentes : determinação das características qualitativas e


quantitativas dos mananciais disponíveis na região possíveis de aproveitamento para
fins de abastecimento público;

§ Pesquisa sobre a população :


√ Avaliação do crescimento populacional ano a ano através de publicações
oficiais do IBGE dos censos demográficos realizados;
√ Procurar avaliar ano a ano até o ano de alcance do projeto por base nos
métodos existentes, para a projeção da população de projeto;

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Unidade II – Abastecimento de Água
_____________________________________________________________________________________

√ Verificar a distribuição da população pela cidade (possíveis áreas de expansão


da cidade, para localização e traçado dos dispositivos, condutos e redes de
forma eficiente e racional);
√ Verificar população flutuante (época de afluência das populações, duração da
estadia e locais preferidos para estadia);
√ Verificar hábitos da população (turística, industrial, agrícola, comercial, e
doméstico, que influenciam no tipo de consumo).

§ Avaliar os volumes de água necessários, tanto na configuração atual como na futura,


levando em conta os diversos tipos de consumo de água e o eventual aumento do
consumo específico ao longo do tempo.

3.4.2 – Estudo de Concepção de um Sistema de Abastecimento D’água

Um estudo de concepção corresponde a um estudo de arranjos, sob os pontos de


vista qualitativo e quantitativo, das diferentes partes de um sistema, organizadas de
modo a formarem um todo integrado, para a escolha da concepção básica do sistema de
abastecimento de água. De acordo com a NBR 12211/92 da ABNT, um estudo de
concepção de um sistema de abastecimento de água deve abordar, no mínimo :

a) Problemas relacionados com a configuração topográfica e características


geológicas da região de localização dos elementos constituintes do sistema;
b) Consumidores a serem atendidos até o alcance do plano e sua distribuição na
área a ser abastecida pelo sistema;
c) A quantidade de água exigida por diferentes classes de consumidores e as
vazões de dimensionamento;
d) No caso de existir sistema de distribuição, aintegração das partes deste ao novo
sistema;
e) A pesquisa e definição dos mananciais abastecedores;
f) A demonstração de que o sistema proposto apresenta total compatibilidade entre
as partes;
g) O método de operação do sistema;
h) A definição das etapas de implantação do sistema;
i) A comparação técnico-econômica da concepção;
j) O estudo de viabilidade econômico-financeira da concepção básica.

44
Unidade II – Abastecimento de Água
_____________________________________________________________________________________

3.5 – Consumo de Água e População de Projeto

A elaboração de um projeto de abastecimento de água exige o conhecimento das


vazões de dimensionamento das diversas partes constitutivas do sistema. A
determinação destas vazões implica no conhecimento da demanda de água na cidade,
que é função do número de habitantes a ser abastecido e da quantidade de água
necessária para cada indivíduo conforme figura 9 a seguir :

Estimativa da população de projeto;


Número de habitantes
Alcance do projeto.

DEMANDA
Vazões de projeto

Quantidade de água necessária Tipos de consumo;


para cada indivíduo
Variações de consumo.

Figura 9 – Vazões de Projeto – Variáveis intervenientes

3.5.1 – Consumo de Água

O consumo de água é função de uma série de fatores inerentes à própria


localidade a ser abastecida e varia de cidade para cidade, assim como pode variar de um
setor de distribuição para outro, numa mesma cidade. Os principais tipos de consumo
podem ser vistos a seguir.

Tipos de Consumo

a) Uso doméstico: bebida, banhos, limpeza em geral e etc;


b) Uso comercial: lojas, bares, restaurantes, postos e etc;
c) Uso industrial: água como matéria-prima, para resfriamento, consumida no
processo e etc;
d) Uso público: limpeza de logradouros, irrigação, fontes, bebedouros, edifícios
públicos, piscinas públicas, combate à incêndios e etc;
e) Usos especiais: ferrovias e metropolitanos, portos e aeroportos, estações
rodoviária e etc;

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Unidade II – Abastecimento de Água
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f) Perdas e desperdícios: a perda corresponde a parcela de água que não alcança


os pontos de consumo devidos a vazamentos e falhas na adução, no tratamanto,
na rede de distribuição e etc (responsabilidade do sistema), enquanto que o
desperdício corresponde à má utilização da água pelo consumidor
(responsabilidade do consumidor).

Fatores que Influenciam no Consumo

Os principais fatores que influenciam no consumo de água são:

a) Clima: quanto mais quente maior o consumo;


b) Padrão de Vida da população: quanto mais alto o padrão de vida maior o
consumo;
c) Hábitos da População: higiene, turismo, esportes e etc;
d) Sistema de Fornecimento e Cobrança: se o serviço é medido inibe o consumo;
e) Qualidade da água fornecida: água de boa qualidade tende a aumentar o
consumo;
f) Custo da Tarifa: tarifas altas inibem o consumo;
g) Pressão na rede distribuidora: quanto maior a pressão, maior a vazão fornecida
e conseqüentemente maior o consumo;
h) A natureza, o crescimento e as características da cidade: o consumo por
habitante tende a aumentar com o crescimento da cidade; quanto maior o grau
de desenvolvimento de uma cidade maior o consumo;
i) Atividades industriais, comerciais e públicas: cada atividade desta possui um
tipo de consumo diferenciado; a predominância destas atividades altera o
consumo por habitante.

Exemplos :

Consumo de água “per capita” de acordo c/ o nível sócio-econômico (NSE) :


§ NSE alto : 600 l/hab.dia;
§ NSE médio : 200 a 300 l/hab.dia;
§ NSE baixo : 100 a 150 l/hab.dia;
§ NSE popular : 30 a 80 l/hab.dia

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Unidade II – Abastecimento de Água
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Nas cidades brasileiras o consumo “per capita” varia em média de 100 a 400
l/hab.dia, de acordo com o porte da cidade conforme tabela 4 a seguir :

Tabela 4 – Consumo “per capita” em função da população


Consumo “per capita”
Porte da cidade População (n. habitantes)
(l/hab.dia)
Menores Até 5.000 100 – 150
Pequenas 5000 – 25.000 150 – 200
Médias 25.000 – 100.000 200 – 250
Maiores > 100.000 250 - 300

A estimativa do consumo diário de água para cada tipo de atividade pode ser
encontrada na tabela 5 a seguir :

Tabela 5 – Consumo de acordo com o tipo de atividade


Tipo de prédio Unidade Consumo l/dia
Serviço Doméstico
Apartamento em geral per capita 200 a 250
por quarto de empregada 200
Residências per capita 250
Residências populares e rurais per capita 120 a 150
Alojamentos provisórios de obra per capita 80
Apartamentos de zelador unid. 600 a 1000
Serviço Público
Edifícios de escritórios e comerciais por ocupante efetivo 50 a 80
Escolas, internatos per capita 150
Escolas, externatos per capita 50
Escolas, semi-internatos per capita 100
Hospitais e casas de saúde por leito 250
Hotéis com coz. e lavanderia por hóspede 250 a 350
Hotéis sem coz. e lavanderia por hóspede 120
Lavanderias por kg de roupa seca 30
Quartéis por soldado 150
Cavalariças por cavalo 100
Restaurantes por refeição 25
Mercados por m2 de área 5
Garagens e postos de serviços para automóveis por automóvel 100 a 150
por caminhão 200
Rega de jardins por m2 de área 1,5
Cinemas, teatros por lugar 2
Igrejas por lugar 2
Ambulatórios per capita 25
Creches per capita 50
Serviço Industrial
Fábricas (uso pessoal) por operário 70 a 80
Fábricas com restaurante por operário 100
Usinas de leite por litro de leite 5
Matadouros por animal abatido (grande) 300
Matadouros (pequeno porte) 150

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Unidade II – Abastecimento de Água
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Variações de Consumo

Ocorrem variações de consumo significativas em um sistema de abastecimento


de água, que podem ser mensais, diárias, horárias e instantâneas. Devido a maior ou
menor demanda em certas horas do período ou em certos dias ou épocas do ano, a vazão
distribuída sofre variações mais ou menos apreciáveis.
Em um projeto de sistema de abastecimento de água, algumas dessas variações
de consumo são importantes e entram no cálculo do volume a ser consumido.

Variações diárias

Vazão diária (Vi)


k1 – coeficiente do dia de maior consumo

maior consumo diário


consumo médio
maior consumo diário no ano diário
k1 = ________________________

consumo médio diário no ano


(Ó Vi / 365 dias)

Dias do ano
365 dias

A NBR 12211/92 recomenda que sejam feitas observações ao longo de cinco anos
consecutivos no mínimo, quando possível.

k1 – varia em geral de 1,10 a 1,50 (Valor comumente empregado no Brasil = 1,20).

Valores menores de k1 são empregados em cidades com pequenas variações


climáticas ao longo do ano, ou seja, com maior regularidade de temperaturas.

O coeficiente k1 é aplicado para o cálculo de vazões de captação, de adutoras,


elevatórias, de estações de tratamento e de redes de distribuição.

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Unidade II – Abastecimento de Água
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Variações horárias

k2 – coeficiente da hora de maior consumo


Vazão horária (Qi)
maior vazão horária

maior vazão horária do dia de maior


consumo vazão média
k2 = ________________________ horária

vazão média horária do dia de maior


consumo
(Ó Qi / 24 horas)
0 6 12 18 24
Hora (h)

k2 – varia em geral de 1,50 a 2,00 (Valor comumente empregado no Brasil = 1,50).

Valores maiores de k2 são empregados em cidades que apresentam um pequeno


número de domicílios com reservatórios, como por exemplo nas cidades onde o
abastecimento de água é direto. Os reservatórios equilibram os consumos ao longo do
dia, acumulando água quando o consumo for reduzido para atender aos horários onde
ocorrem picos de demanda.

Montante Jusante

Reservatório
k1 k1 . k2

Portanto, o coeficiente k2, juntamente com o coeficiente k1, é aplicado somente


para o cálculo de vazões de condutos alimentadores que saem dos reservatórios e das
redes de distribuição, conforme figura acima.

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Unidade II – Abastecimento de Água
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Variações instantâneas / Consumos mínimos

Em alguns casos especiais de flutuações repentinas e significativas de vazão


pode-se aplicar o coeficiente k3, como por exemplo, nos locais onde não existam
reservatórios que possam compensar tais variações ao longo do dia.
Algumas vezes, onde houver necessidade de se trabalhar com consumos
mínimos, emprega-se o fator k3, menor do que a unidade (0,50 por exemplo).

3.5.2 – Cálculo das Vazões de Projeto

As vazões de projeto podem para dimensionamentos das unidades de um sistema


de abastecimento podem ser calculadas através das seguintes fórmulas :

P.q P . q . k1 P . q . k1 . k2
Qm = _______________ Qd = _______________ Qmáx = _______________

N . 3600 N . 3600 N . 3600

Onde :
Qd , Qmáx = Vazões de projeto em função da unidade considerada (l/s);
q = Consumo per capita (l/hab.dia);
N = Número de horas de funcionamento do sistema ou da unidade considerada (h);
k1 , k2 = coeficientes do dia e da hora de maior consumo respectivamente.

O consumo per capita (q) leva em conta não só os usos domésticos, como também
os usos comercial, industrial e públicos. Exemplo do consumo per capita recomendado
pelo extinto DOS/SP para as cidades do interior de São Paulo :

Para fins domésticos : 85 l/hab.dia (42,5 %)


Para fins industriais e comercias : 50 l/hab.dia (25,0 %)
Para fins públicos : 25 l/hab.dia (12,5 %)
Perdas : 40 l/hab.dia (20,0 %)
Total : 200 l/hab.dia

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Unidade II – Abastecimento de Água
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3.5.2 – Utilização dos coeficientes k1 e k2 no cálculo das vazões de projeto


das diversas unidades de um sistema de abastecimento de água

Os coeficientes de variação de consumo são utilizados no cálculo das vazões


para o dimensionamento das diversas partes de um sistema de abastecimento de água,
de acordo com a figura abaixo :

REDE
CAP ETA R
k1 . k2
EB
AT
AB AB

k1 k1 k1 k1 . k2

Unidades dimensionadas para a vazão do dia de Unidades dimensionadas para a


maior consumo vazão horária máxima do dia de
maior consumo

O reservatório é que permite esta compensação de variação entre a entrada de


água constante e uma saída variável ao longo do dia, conforme figura a seguir.

Vazão
vazão de saída do reservatório (variável)

vazão de entrada no
reservatório
(constante)

0 6 12 18 24
Hora (h)

3.5.3 – Período e Alcance de Projeto

O período do projeto corresponde ao tempo na qual o sistema pode funcionar


satisfatoriamente sem sobrecarga nas instalações ou deficiências na distribuição. Na

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Unidade II – Abastecimento de Água
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data final do alcance do projeto o sistema planejado passa a operar com a utilização
plena de sua capacidade.
O período de projeto pode estar relacionado com a durabilidade ou vida útil das
obras e equipamentos, com o período de amortização do capital investido na construção,
com os problemas relativos às dificuldades de ampliação de determinadas estruturas ou
partes de um sistema, com o custo de capital a ser investido e também com o ritmo de
crescimento das populações, entre outros fatores. No caso de populações que
apresentam tendências de rápido crescimento, longos períodos de projeto exigiriam
obras grandiosas que oneram a comunidade. No caso de estruturas ou partes de um
sistema de abastecimento em que a ampliação se torna difícil normalmente se aumentam
períodos de projeto.

Alguns períodos de projetos usuais para as diversas partes constituintes:


§ Barragens : 30 – 60 anos;
§ Tomadas d’água : 25 – 50 anos;
§ Elevatórias : 10 – 25 anos;
§ ETA, adutoras, redes de distribuição : 20 – 30 anos;
§ Reservatórios : 30 – 40 anos.

3.5.4 – Previsão de População de Projeto

A população de projeto é aquela que se espera encontrar na localidade ao fim do


período admitido do projeto, de modo que se possa ser feita uma estimativa do consumo
de água na época considerada.

Algumas definições importantes de população segundo a NBR 12211/92 :

§ População residente : aquela formada pelas pessoas que têm o domicílio como
residência habitual, mesmo que ausente na data do censo por período inferior a 12
meses;
§ População flutuante : aquela que, proveniente de outras comunidades se transfere
ocasionalmente para a área considerada, impondo ao sistema de abastecimento de
água, consumo unitário análogo ao da população residente. É o caso de períodos de
férias ou de fins de semana em cidades balneárias ou em estâncias climáticas;

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Unidade II – Abastecimento de Água
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§ População temporária : aquela que, proveniente de outras comunidades ou de outras


áreas da comunidade em estudo, se transfere para a área abastecível, impondo ao
sistema de abastecimento de água, consumo unitário inferior ao atribuído à
população, enquanto presente na área e em função das atividades que aí exerce;

População total = População residente + População flutuante + População temporária

§ População abastecível : parcela da população total, em uma área da comunidade a


ser abastecida pelo sistema de distribuição. A população abastecível no alcance do
projeto, segundo a NBR 12211/92 deve atender aos seguintes critérios principais :
√ deve ser maior do que 80 % da população residente, quando não fixado pelo
contratante;
√ deve inclui parcela das populações flutuantes e temporárias, cujos
abastecimentos apresentem interesse econômico ou social, a juízo do
contratante;
√ deve incluir estabelecimentos comerciais, públicos e industriais que se situem no
interior da área abastecível e que sejam considerados consumidores especiais.

Métodos para Previsão de População de Projeto

Observações iniciais sobre os métodos para previsão de população de projeto :

§ São todos de caráter aproximado;


§ crescimento da população é um fenômeno de grande complexidade que envolve
fatores econômicos, geopolíticos e sociais;
§ Ao longo do período de projeto devem ser verificadas periodicamente e ajustadas as
informações mais recentes, por exemplo, devido a um novo censo, que podem
inclusive alterar a programação de obras previstas para o sistema;
§ ideal é que se adotem faixas de populações na previsão, em lugar de um único valor
numérico;
§ Quanto maior o período de projeto maiores as chances de erros na previsão.

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Unidade II – Abastecimento de Água
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Expressão geral da população de uma comunidade em função do tempo :

Pt = Po + ( N – M ) + ( I – E )

Onde :
Pt = população na data t;
Po = população na data inicial to; Formula sem aplicação prática
N = Número de nascimentos no período (tt-to); imediata, apenas evidencia os fatores
intervenientes no crescimento
M = Número de mortes no período (tt-to); populacional, pois apresenta
I = Número de imigrantes no período (tt-to); componentes difíceis de serem
obtidos ou estimados.
N = Número de emigrantes no período (tt-to);

A) Métodos Matemáticos

1) Progressão Aritmética

Admite que o crescimento da população é linear, ou seja, com taxa de variação


constante que independe do tempo.

P1 – P0
p = taxa de variação de crescimento p = ___________ = constante

T1 – T0

Por este método basta que sejam conhecidas pelos menos as populações de 2
censos demográficos. Quando existirem mais de 2 anos de censo podem ser empregados
para o cálculo de p os dois últimos censos ou então o valor médio dos valores de p
calculados a cada par de pontos. P

Pt = P0 + p ( Tt -T0 ) Pt

P1

P0

0 To T1 Tt
T
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Unidade II – Abastecimento de Água
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Onde : P0, P1 e Pt são as populações nos anos T0, T1 e Tt respectivamente.

O método da progressão aritmética é um método pouco preciso e geralmente


fornece estimativas de populações menores que as reais. Admite que o crescimento
ocorre de maneira ilimitada.

2) Progressão Geométrica

Admite que o crescimento da população de uma cidade se processa segundo uma


progressão geométrica com taxa de crescimento q.

T1 –T0
P1
q= ____ Pt = P0 . q ( Tt -T )
0

P0

Onde :
q = razão ou taxa de crescimento entre os anos Tt e To;
Po e P1 = população na datas T0 e T1 respectivamente (correspondente a 2
censos);
Pt = população na data Tt;

Por este método basta que sejam conhecidas pelos menos as populações de 2
censos demográficos. Quando existirem mais de 2 anos de censo podem ser empregados
para o cálculo de q os dois últimos censos ou então o valor médio dos valores de q
calculados a cada par de pontos.

P Geométrico
Pt

Aritmético A previsão de população pelo


P1
método geométrico fornece valores
maiores que o do método aritmético.

A população real em média fica


P0 entre a geométrica e a aritmética.

0 To T1 Tt
T
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Unidade II – Abastecimento de Água
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O método da progressão geométrica também admite que o crescimento da


população ocorre de maneira ilimitada.

3) Método Exponencial

É um método bastante utilizado no país, pois traz bons resultados. Admite que a
taxa de crescimento da população é variável com o tempo, sendo o logaritmo da
população uma função linear do tempo. O crescimento também é supostamente
ilimitado.
Para este método o ideal é que se tenha mais de 3 censos e quanto maior o
número de pontos, melhor para a obtenção da curva da população. Procura-se obter uma
melhor reta ou a reta de melhor aderência quando quando se plota o logaritmo da
população em função do tempo (utilizar papel semi-log para facilitar). Pode-se usar o
método dos mínimos quadrados para melhor ajuste da reta.

Log P
Ponto extrapolado

Pt

P3
De preferência a reta encontrada deve passar
P2 pelo ponto correspondente ao último censo.
P1

P0

0 To T1 T2 T3 Tt
T

4) Método da Curva Logística

Para este método deve-se conhecer 3 pontos de recenseamento. Neste método


admite-se que a população cresce assintoticamente para um valor de saturação. Não é
empregado no Brasil pois não corresponde as curvas de crescimento das cidades
brasileiras. Precisa de um período longo de dados populacionais para sua aplicação.

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Unidade II – Abastecimento de Água
_____________________________________________________________________________________

População de Saturação
P
Ps
Taxa decrescente de crescimento em virtude da
redução dos recursos e da área de expansão
P2
Crescimento linear : relação menos favorável entre os
recursos econômicos e a população

P1 Crescimento rápido quando a população é pequena


P0 em relação aos recursos e às áreas de expansão

T0 T1 T2 Ts T

B) Métodos Gráficos

1) Método da Projeção Gráfica

Este método é bastante simples, e procura acompanhar e traçar a curva


populacional no “sentimento” tentando acompanhar a tendência original do crescimento
pelo simples prolongamento da curva. É recomendado para populações inferiores a
5.000 habitantes devido a pouca precisão.

Projeção no sentimento.

P3

P2
P1

0 T1 T2 T3
T

2) Método Comparativo

Consiste em se aproveitar como indicação útil o crescimento já experimentado


por outras cidades da região, com população maior e com características semelhantes a

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Unidade II – Abastecimento de Água
_____________________________________________________________________________________

cidade em estudo. Utilizado quando não existem dados censitários recentes. Podem ser
empregadas uma ou mais cidades de comparação.

Cidade A d
P (comparação)

Projeção da população da
d cidade em estudo
P3
Cidade de
Estudo
P2

P1

0 T1 T2 T3
T
Com mais de uma cidade de comparação verifica-se aquela que melhor de
adapta a curva da cidade em estudo.

Cidade 1 Cidade 2 Melhor curva de


(comparação) (comparação) comparação
P
Pt

Cidade 3
P3 (comparação)

Cidade de
P2
Estudo
P1

0 T1 T2 T3 Tt
T

Observações finais sobre projeção de populações :


a) É prioritário nas obras de saneamento analisar como as populações se distribuem ou
como será a tendência de distribuirão sobre as áreas. Para tal, devem ser
consideradas: condições topográficas, custo das áreas, planos urbanísticos,
facilidade de transportes, comunicação, infra-estrutura sanitária e condições sócio-
econômicas. Importante consultar dados cadastrais ao código de obras das cidades;
b) Os estudos de previsão da população flutuante são feitos por métodos análogos
àqueles utilizados para a população fixa (residente);
c) Qualquer que seja o método usado, deve-se sempre verificar periodicamente a
previsão realizada com os dados censitários mais recentes.

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Unidade II – Abastecimento de Água
_____________________________________________________________________________________

3.6 – Manancial

Os principais tipos de mananciais existentes são : subterrâneo, superficial e água


de chuva.
Os mananciais subterrâneos são constituídos pelas nascentes, minas d’água e
lençóis subterrâneos. Os lençóis subterrâneos podem freáticos ou artesianos. Nos
lençóis freáticos á água se encontra livre, submetida à pressão atmosférica, onde o nível
d’água do poço escavado coincide com o nível do lençól d’água. Nos lençóis artesianos
ou confinados a água se encontra confinada por camadas impermeáveis onde a pressão
geralmente é maior que a atmosférica. Logo, para este tipo de lençol o nível do poço se
encontrará acima do nível do lençol.
Os mananciais superficiais são constituídos pelos córregos, ribeirões, rios, lagos,
represas e etc.
A água de chuva pode ser utilizada como manancial abastecedor, sendo
armazenada em cacimbas, que são reservatórios que acumulam a água de chuva captada
na superfície dos telhados das residências ou a que escoa pelo terreno. A seguir tem-se
uma captação típica de água de chuva.
A tabela 6 a seguir apresenta uma comparação entre os diferentes tipos de
manancial no que se refere aos aspectos qualitativos e quantitativos.

Tabela 6 – Comparação entre os tipos de mananciais

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Unidade II – Abastecimento de Água
_____________________________________________________________________________________

As águas dos mananciais devem preencher requisitos mínimos de qualidade do


ponto de vista físico, químico e bacteriológico, assim como no que diz respeito aos
aspectos quantitativos.

3.6.1 – Escolha de um Manancial

O processo de escolha de um manancial deve levar em conta além da qualidade e


quantidade de água disponível, as condições de acesso, a disponibilidade de energia
elétrica, as condições topográficas, a distância ao ponto de consumo entre outros.

3.7 – Captação

A captação é um conjunto de estruturas e dispositivos construídos ou montados


junto à um manancial, para a retirada de água destinada a um sistema de abastecimento.
A escolha do local de captação deve levar em conta os seguintes critérios, de
uma maneira geral :
§ Assegurar condições de fácil entrada de água em qualquer época do ano;
§ Assegurar a melhor qualidade de água do manancial, livre de possíveis fontes
poluidoras;
§ Garantir o funcionamento e a proteção contra danos e obstruções;
§ Favorecer a economia das instalações;
§ Facilitar a operação e manutenção ao longo do tempo;
§ Facilitar a execução das estruturas de captação;
§ Proteger as instalações contra inundações;
§ Nível de segurança contra danos e sabotagens ao sistema.

3.7.1 – Projeto de Captação

Seqüência típica de um projeto de captação :

Definição do Definição do local Definição do tipo


de estrutura de
manancial. de captação.
captação.

função

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Unidade II – Abastecimento de Água
_____________________________________________________________________________________

3.7.2 – Captação de Águas Superficiais

Os componentes principais de uma unidade de captação de águas superficiais,


que podem existir ou não em função das condições da captação são :
q Barragens ou vertedouros para manutenção do nível ou para regularização da
vazão;
q Dispositivos para impedir a entrada de materiais flutuantes ou em suspensão
na água. No caso de materiais flutuantes (folha, galhos, plantas, e etc.) são
empregadas grades e telas. No caso de material em suspensão (areia e etc.)
são utilizadas caixas de areia ou desarenadores;
q Dispositivos para controlar a entrada de água (comportas, válvulas ou
registros e adufas);
q Canais ou tubulações de interligação e órgãos acessórios;
q Poços de sucção e casas de bombas para alojar os conjuntos elevatórios
quando necessários.
A Figura 10 a seguir apresenta alguns destes elementos :

Figura 10 – Elementos principais de uma captação típica

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Unidade II – Abastecimento de Água
_____________________________________________________________________________________

Principais tipos de tomada d’agua e estruturas complementares de


captação de águas superficiais

q Dispositivos para manutenção de nível : barragens, vertedouros e


enrocamentos, que são obras executadas em um rio ou córrego, ocupando
toda a sus largura, com a finalidade de elevar o nível a montante para
assegurar submersão permanente das canalizações de captação.

q Dispositivos para armazenar água : barragens de regularização e açudes


que armazenam água em período de estiagem, quando as vazões reduzidas
do curso d’água seriam menores que a demanda do sistema abastecedor.
Similares a barragem de manutenção de nível.

q Dispositivos para retenção de materiais : grades (Figura 11), crivos e telas


(retenção de materiais flutuantes) e caixa de areia (retenção de material em
suspensão).

Figura 11 – Grade de proteção do dispositivo de captação

62
Unidade II – Abastecimento de Água
_____________________________________________________________________________________

Figuras 12 e 12.1 – Caixas de areia ou desarenadores

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Unidade II – Abastecimento de Água
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q Dispositivos para controlar a entrada de água : destinam-se a regular ou


vedar a entrada de água para o sistema, quando se objetiva efetuar reparos ou
limpezas em caixas de areia, poços de tomada, válvulas de pé ou tubulações.

Figura 13 - Comporta

Figura 14 - Válvula

Figura 15 - Adufa

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Unidade II – Abastecimento de Água
_____________________________________________________________________________________

q Captações em Canais de Derivação: para grandes e médias vazões em rios


de pequena variação de nível.

Figura 16 - Captações em
Canais de Derivação

q Captações em Barragem de Nível para pequenas e médias vazões :


quando o nível mínimo ou a vazão mínima não atende a demanda. Emprego
de caixa de captação ou caixa de tomada.

Figura 17 - Captações em barragem de nível para pequenas e médias vazões

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Unidade II – Abastecimento de Água
_____________________________________________________________________________________

q Captações em Barragem de Nível para grandes vazões (ex: 40 m3/s):


quando o nível mínimo ou a vazão mínima não atende a demanda.

Figura 18 - Captações em Barragem de Nível para grandes vazões

q Captações em Poços ou Tubulões: captação em rios para pequenas ou


médias vazões – até 500 l/s.

Figura 19 - Captações em Poços ou Tubulões

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Unidade II – Abastecimento de Água
_____________________________________________________________________________________

q Captações em Lagos e Represas: emprego de torre de tomada d’água, que


permite a captação em diversas profundidades, pois em lagos e represas a
qualidade da água varia bastante de acordo com a profundidade.

Figura 20 - Captação em lagos e


represas para pequenas vazões

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Unidade II – Abastecimento de Água
_____________________________________________________________________________________

q Captações direta na margem: quando o nível mínimo do curso d’água é


suficiente para atender a demanda.

Figura 21 – Captações diretas na margem

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Unidade II – Abastecimento de Água
_____________________________________________________________________________________

Principais fatores a considerar em um projeto de Captação Superficial :

a) Vazões e Níveis do Curso D’água

O estudo de vazões e níveis de um curso d’água é realizado poe métodos


hidrológicos apropriados :

q Métodos baseados em dados pluviométricos (chuvas);


q Métodos baseados em dados fluviométricos (métodos estatísticos que
utilizam medições diretas de vazão e longos períodos de observação; são
mais precisos que os anteriores).

Principais finalidades do estudo de vazões dos cursos d’água :

q Determinação do tipo de captação :

Se Vazão Mínima > Demanda : Tomada Direta;

Se Vazão Mínima < Demanda < Vazão Média : Barragem ou Açude de Regularização;

Se Vazão Média < Demanda : Não é possível utilizar o manancial.

q Determinação dos níveis máximo e mínimo;


q Dimensionamento das estruturas hidráulicas destinadas a escoar as maiores
vazões (vertedores).

As vazões mínimas e máximas estão sempre associadas a um período de retorno


ou de recorrência (TR) de acordo com o tipo de obra a executar. Para obras de captação
TR varia de 20 a 50 anos.

É necessário a determinação dos níveis mínimo e máximo do curso d’água no


local da tomada d’água, pois :

q A boca de captação deve situar-se sempre abaixo do nível d’água mínimo;


q As estruturas de superfície, motores, casas de bomba etc, devem estar
sempre a uma altura segura acima do nível d’água máximo.

O Tempo de Recorrência para o cálculo do nível d’água máximo segundo a NBR


12213/92 deve ser de 50 anos.

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Unidade II – Abastecimento de Água
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b) Princípios gerais para localização de tomadas d’água e cuidados a


adotar

q De preferência a tomada d’água deve ser implantada em trechos retilíneos dos


cursos d’água (NBR 12213/92), ou quando em curva, junto a sua curvatura
externa (margem côncava (margem côncava), onde as velocidades da água são
maiores. Evita-se assim os bancos de areia que poderiam obstruir as entradas de
água. Na margem côncava as profundidades são sempre maiores e podem
oferecer melhor submersão da entrada da água. Deve-se sempre que possível
evitar a captação em trecho de curva;

q Nas tomadas d’água deve-se sempre procurar os angulos de 90º e 120º com o
curso d’água, pois são os que carregam menos partículas para o canal (valores
mais usuais);

q Deve-se sempre que possível evitar margens instáveis e passíveis de erosão. Se a


captação for direta deve-se sempre proteger as margens instáveis;

q Sempre localizar a montante dos pontos de lançamento de esgotos e demais


cargas poluidoras;

q As obras de captação devem sempre ficar protegidas da ação erosiva das águas e
dos efeitos decorrentes de remanso e da variação de nível do curso d’água;

q A velocidade máxima de aproximação na entrada das tomadas d’água é de 0,60


m/s para reduzir entrada de material grosso em suspensão no sistema.

c) Material em Suspensão

A areia é o principal sólido que pode causar problema aos equipamentos e partes
móveis da captação ou então causar assoreamento no sistema. Partículas de areia com
diâmetro igual ou superior a 0,20 mm são consideradas prejudiciais ao sistema.
Os sólidos decantáveis se mantêm em suspensão devido à agitação ou
velocidade de escoamento da água. São retirados por dispositivos conhecidos como
caixas de areia ou desarenadores, cujo escoamento a baixa velocidade promove a
decantação de tais sólidos.

70
Unidade II – Abastecimento de Água
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Cerca de 70 % das partículas com diâmetro igual ou superior a 0,20 mm são


transportados em geral na terça parte inferior da lâmina d’água de um curso d’água,
logo deve-se evitar localizar a captação nesta profundidade. Em um rio de leito arenoso
cerca de 50 a 60 % das partículas tem diâmetro igual ou superior a 0,20 mm.
Portanto deve-se procurar remover as partículas com diâmetro igual ou superior
a 0,20 mm depois da captação e antes da entrada no sistema.
As velocidades médias de sedimentação das partículas podem ser vistas na
tabela 7 a seguir :

Tabela 7 - Velocidades média de sedimentação de partículas de areia


(peso específico = 2,65 g/cm3)

Velocidade – vs (cm/s)
Diâmetro (mm)
10o C 20o C

0,10 0,8 0,9


0,12 1,1 1,2
0,17 1,7 2,0
0,20 2,1 2,4
0,25 2,7 3,4
0,30 3,2 4,3
0,40 4,2 6,0
0,70 7,3 11,0
1,00 10,0 15,0

c.1) Dimensionamento de Desarenadores ou Caixa de Areia

Recomendação da Norma NBR 12213/92 :

q Deve existir preferencialmente 2 (dois) desarenadores dimensionados para a


vazão total, considerando-se um fora de serviço;

q O desarenador pode ser dispensado quando for comprovado que o transporte


de sólidos sedimentáveis não é prejudicial ao sistema;

q Deve ser dimensionado com velocidade crítica de sedimentação das


partículas igual ou inferior a 0,021 m/s;

71
Unidade II – Abastecimento de Água
_____________________________________________________________________________________

q Deve ser dimensionado com velocidade de escoamento longitudinal igual ou


inferior a 0,30 m/s (porém maior que 0,10 m/s);

q O comprimento do desarenador obtido pelos critérios estipulados deve ser


multiplicado por um coeficiente não inferior a 1,50.

d) Captação em Lagos e Represas

A captação em lagos e represas geralmente é feita através de uma torre de


tomada d’água, pois as águas represadas, propiciam o aparecimento de algas
principalmente nas camadas superiores, onde a temperatura é mais elevada e a
penetração dos raios solares mais intensa. Por outro lado, as camadas inferiores podem
conter em determinadas épocas do ano, principalmente no verão, água com excessivo
teor de matéria orgânica em decomposição, com a produção de compostos causadores
de gosto e cheiro desagradáveis. Logo a captação deve apresentar níveis nas tomadas
d’água devido à qualidade da água do manancial ao longo da profundidade.

e) Reservatórios de Acumulação

As barragens são estruturas implantadas nas calhas dos rios e que modificam o
seu regime, algumas apenas no que se refere aos níveis d’água, as “barragens
regularizadoras de níveis d’água”; outras alteram o regime de níveis d’água e vazões,
denominadas de “barragens regularizadoras de vazões”.
As barragens regularizadoras de níveis d’água correspondem aos
aproveitamentos “ao fio d’água” e destinam-se a elevar os níveis de estiagem e afogar
convenientemente as estruturas de captação das vazões de consumo.
As barragens regularizadoras de vazões dos rios, também chamadas de
Reservatórios de Acumulação tem maior altura do que as anteriores e acumulam em sua
bacia hidráulica os volumes de água que vão suprir as deficiências das vazões de
estiagem dos rios.
Os reservatórios de acumulação podem atender a uma ou mais finalidades :
abastecimento d‘água, aproveitamento hidrelétrico, irrigação, controle de enchentes,
regularização de curso d’água, navegação e etc.

72
Unidade II – Abastecimento de Água
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No caso de abastecimento de água são empregadas quando as vazões médias do


curso d’água são superiores às necessidades de consumo e as vazões mínimas do curso
d’água são inferiores a essas necessidades. Caso as vazões mínimas sejam superiores às
vazões de consumo não haverá necessidade da construção de reservatório de
acumulação.

Vazões Q curso d’água

Q médio curso d’água


Q consumo

Q mínimo

Tempo

Efeitos do represamento sobre a qualidade da água

Efeitos favoráveis do represamento :


q Diminuição da turbidez, devido a sedimentação de matérias em suspensão;
q Redução da cor, devido à ação da luz solar e à ação química da coagulação,
seguida de sedimentação das partículas;
q Redução dos microorganismos patogênicos devido as condições
desfavoráveis à sua vida no lago.

Efeitos desfavoráveis do represamento :


q Decomposição da matéria orgânica depositada no fundo, diminuindo o teor
de oxigênio dissolvido e elevando o teor de gás carbônico (causador da
corrosão das estruturas e canalizações metálicas), que favorece a dissolução
do ferro, manganês, cálcio, magnésio, elevando a dureza;
q Desenvolvimento de microorganismos que podem alterar as características
organolépticas da água e interferir em seu tratamento, prejudicando por
exemplo a filtração.

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Unidade II – Abastecimento de Água
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Cálculo da Capacidade Útil do Reservatório

Para o cálculo da capacidade útil do reservatório de acumulação devem ser


considerados como principais parâmetros :

q Vazão do curso d’água;


q Vazão demandada no abastecimento (geralmente consideradas constante no
tempo);
q Perdas (evaporação da água e infiltração nos terrenos e no maciço da
barragem);
q Vazão à jusante da barragem (para outras finalidades : obras de controle,
regularização de níveis e etc.).

Normalmente considera-se o mês como a unidade de tempo para cálculo e


também um intervalo de tempo suficientemente amplo, abrangendo mais de um ciclo
hidrológico.
Para cálculo emprega-se normalmente o Diagrama de Rippl. O método de Rippl
utiliza a curva dos deflúvios acumulados do rio na seção do barramento e a compara
com a curva dos deflúvios acumulados de consumo, que mais comumente é uma reta,
quando a vazão média de captação é constante.
É feito então um balanço em cada instante, entre a vazão de consumo (Qc)
representada pelo coeficiente angular (tg â) da reta de consumo e as vazões naturais do
rio representadas pelas tangentes (tg á) aos pontos da curva de deflúvios acumulados
(CDA), conforme Gráfico A.
Entre 0 e 1 as tangentes à CDA, apesar de decrescente, tem inclinações
superiores à da reta de consumo, isto é, as vazões do rio são maiores que as de consumo
(Q > Qc), há excesso de oferta e o reservatório se replete (enche). Admita-se que em 1,
instante em que as tangentes tornam-se paralelas (tg á = tg â, ou Q = Qc) o reservatório
está cheio, isto é, seu nível d’água corresponde ao nível d’água normal (Nan), como
indicado no Gráfico C.
A partir de 1, o rio continua em regime decrescente (Q < Qc) até o ponto de
inflexão (PI) do instante 2, que corresponde a um mínimo do seu regime natural. Após 2
as vazões voltam a crescer até o PI do instante 5, tornando-se maiores do que Qc a partir
de 3 até 4, instante em que repõe o nível d’água normal do reservatório. Assim sendo o

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Unidade II – Abastecimento de Água
_____________________________________________________________________________________

reservatório se deplete (esvazia) de 1 até 3 e se reenche ou replete de 3 até 4 (Gráfico


B).
O tempo decorrido de 1 a 4 configura um “período de operação” do
reservatório.
Dentro de cada período de operação, definido como acima, pode-se determinar
em qualquer instante o volume disponível no reservatório e a parcela que está faltando
em relação ao volume correspondente ao nível d’água normal, ou volume útil.
Considere no Gráfico D um instante qualquer t, durante o período de operação
do reservatório. De 1 a t o rio produz o deflúvio dado pela ordenada t t’, e o deflúvio
consumido corresponde à ordenada t t”. Se em 1 o reservatório está cheio (Nan), o
volume faltando na bacia hidráulica no instante t será a diferença : (t t” – t t’ = t’t”).
Para o instante 3, t’t” assume o seu valor máximo (3’ 3”) e corresponde ao
maior volume “em falta” no reservatório nesse período de operação. Nos pontos em que
a tangente toca a CDA, como 1 e 4, segmento t’t” se anula, indicando que o reservatório
está cheio. Como os períodos de operação são isolados e independentes uns dos outros,
escolhe-se entre os definidos no tempo total reproduzido na CDA, aquele que
corresponda ao maior dos máximos volumes em falta, cujo valor será o próprio “volume
útil” do reservatório. Atendida essa situação mais desfavorável, todos os outros períodos
de operação estão cobertos pela capacidade do reservatório. No Gráfico B esse maior
valor correspondente ao 1º período de operação é igual à diferença de ordenadas entre as
tangentes paralelas a Qc nos instantes 1 e 3, que caracteriza o segmento 3’3” indicado
no Gráfico D.

Figura 22 - Dimensionamento e Operação de Reservatório de Estiagem – Gráfico D

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Unidade II – Abastecimento de Água
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Gráfico A - Hidrógrafa

Gráfico B – Curva de Deflúvios Acumulados – Diagrama de Rippl

Gráfico C – Curva de Operação do reservatório

Gráfico D – Período de Operação de um Reservatório

Figura 22 – Dimensionamento e Operação de Reservatório de Estiagem

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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3.7.3 – Captação de Água Subterrânea

Água Subterrânea no Abastecimento Público

A utilização das águas subterrâneas remonta aos primórdios das civilizações, sendo
exploradas através de poços rasos escavados, cujos vestígios mais antigos datam de 12.000
antes de Cristo. O início da arte de perfurar poços é atribuída aos chineses e assinala-se que
em 5.000 antes de Cristo já perfuravam poços até profundidades de centenas de metros. Até
a década de 50 as águas subterrâneas eram, em geral, consideradas como um bem natural
de uso doméstico/industrial precário. O surto de desenvolvimento sócio-econômico
verificado após o término da II Guerra Mundial e a crescente deterioração das águas dos
rios e lagos, engendraram a rápida evolução da importância das águas subterrâneas, ao
ponto de serem consideradas, atualmente, como um recurso de grande valor econômico,
vital ou estratégico. A evolução do conhecimento científico sobre as formas de ocorrência,
hidrodinâmica e hidroquímica das águas subterrâneas, muito tem contribuído à redução do
caráter de golpe de sorte da obtenção de uma água de boa qualidade e/ou de uma vazão
segura de um poço.
Por outro lado, os progressos tecnológicos verificados durante as últimas décadas
nos meios de perfuração, nas bombas submersas e na oferta de energia elétrica, viabilizam a
construção de poços com até milhares de metros de profundidade, para obtenção de vazões
de centenas e até milhares de metros cúbicos por hora dos aquíferos confinados profundos.
Estes fatos são responsáveis pelo verdadeiro surto de crescimento na exploração das águas
subterrâneas, a nível mundial e nacional.
Estima-se que cerca de 12 milhões de poços foram perfurados anualmente nos
últimos 25 anos no mundo. Nos Estados Unidos estima-se que, atualmente, entre 800 e 900
mil poços são perfurados por ano. Os incrementos de consumo de águas subterrâneas,
verificados na última década na Europa e Estados Unidos, são superiores aos 100%, sendo
que o uso para irrigação triplicou nos Estados Unidos. Na Índia cerca de 31 milhões de
hectares são irrigados com água subterrânea. Nos Estados Unidos, 45% do total de terras
irrigadas, 58% no Irã, 67% na Argélia e 100% na Líbia, dependem exclusivamente do
manancial subterrâneo.

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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Em termos de abastecimento público, em muitos países, tais como Arábia Saudita,


Dinamarca e Malta, as águas subterrâneas são o único recurso disponível. Em muitos
outros, tais como Áustria, Alemanha, Bélgica, França, Hungria, Itália, Holanda, Marrocos,
Rússia e Suíça, mais de 70% da demanda é atendida pelo manancial subterrâneo. As obras
de captação são variadas: nascentes, cacimbões simples, cacimbões com drenos radiais,
poços tubulares rasos e profundos. Os aquíferos explorados com maior freqüência, são do
tipo livre, com espessuras de algumas centenas de metros e com recarga garantida a partir
da gestão integrada dos recursos hídricos das bacias hidrográficas em que estão inseridos,
com reuso de água, em alguns casos.
No Brasil a utilização das águas subterrâneas ainda é muito modesta, haja vista que
se perfura entre 8 e 10.000 poços por ano, a grande maioria para abastecimento de
indústrias. Somente nas últimas décadas é que se vem observando uma tendência de se
buscar água subterrânea para o abastecimento público. Segundo os dados mais recentes do
IBGE, 61% da população se abastece do manancial subterrâneo por meio de poços rasos
(6%), nascentes (12%), e poços profundos (43%). O Estado de São Paulo é, certamente, o
maior usuário das águas subterrâneas no Brasil, tendo cerca de 65% dos seus núcleos
urbanos e cerca de 90% das indústrias abastecidas parcial ou totalmente por poços. Neste
particular, deve-se salientar que, face as potencialidades hidrogeológicas do território
brasileiro, para 80% das nossas cidades as águas subterrâneas constituem a alternativa mais
barata, sobretudo por dispensarem as onerosas obras de engenharia para captação, adução e,
sobretudo, pelos crescentes custos de tratamento.
Tendo em vista que 92% dos esgotos é lançado nos rios e 87% do lixo fica à mercê
das enxurradas, a alternativa de uso das águas superficiais (rios, açudes e lagoas) só se
torna viável na ausência de manancial subterrâneo compatível com as demandas. Ademais,
nas áreas metropolitanas, as águas subterrâneas constituem um recurso de importância
estratégica vital ou econômica, sendo utilizadas de forma intensiva para auto abastecimento
de condomínios, hospitais, hotéis e indústrias. Isto decorre das freqüentes faltas de água nas
rêdes públicas, ou por razões econômicas, uma vez que os investimentos necessários à
construção dos poços são, em geral, amortizados em cerca de um terço da vida útil dos
mesmos. Esta situação é bem ilustrada pela existência de cerca de sete mil poços em
operação na Grande São Paulo.

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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Importância da Água Subterrânea para Abastecimentos

A grande importância da água subterrânea para abastecimento de água pode ser


apresentada pelos aspectos abaixo destacados e também pela principais vantagens
apontadas no seu uso, principalmente quando comparadas aos demais tipos de manancial.
Os principais aspectos que podem ser destacados são :

§ 97% de toda água doce disponível existente no planeta é composta por águas
subterrâneas.
• Brasil detém um quinto de toda a água doce disponível no planeta. Somente um dos
reservatórios subterrâneos existentes no Nordeste do Brasil possui um volume de 18
trilhões de metros cúbicos de água disponível para o consumo humano, volume este
suficiente para abastecer toda a atual população brasileira por um período de no mínimo
de 60 anos.
§ A população do planeta cresce 90 milhões pessoas / ano. A saturação populacional é
prevista para o ano de 2040.
• Brasil tem o impressionante volume de 111 trilhões e 661 milhões de metros cúbicos de
água em suas reservas subterrâneas.
§ Somente na região metropolitana de São Paulo cerca de 3 milhões de habitantes são
auto-abastecidos com água de poços profundos.
§ A cidade de Ribeirão Preto é totalmente abastecida por água subterrânea.
• Aquífero Botucatu, o maior do planeta e conhecido como Aquífero Gigante do
Mercosul, possui um volume de água suficiente para abastecer toda a população atual
do mundo até o ano de 2400.
§ A cidade de São Sebastião em Brasília, com 60.000 habitantes, é totalmente abastecida
com água de poços profundos.
§ No Vale do Gurgueia no Piauí e em Mossoró no Rio Grande do Norte existem hoje
importantes plantações irrigadas com água de poços profundos nas culturas de uva e
cítricos que são exportados para diversos países da Europa e E.U.A.
§ A utilização de águas subterrâneas remonta aos primórdios das civilizações, sendo que
existem vestígios de sua utilização que datam do ano 12.000 a.C.

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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§ No ano 5.000 a.C., os chineses já perfuravam poços de até 100 metros de profundidade.
§ 12 milhões de poços profundos foram perfurados no mundo no período de 1970 a 1995.
§ Atualmente nos E.U.A. se perfuram em média entre 800.000 e 900.000 poços / ano e no
Brasil entre 8.000 e 10.000 poços / ano. O Estado de São Paulo e o maior usuário de
águas subterrâneas do Brasil. 70% de seus núcleos urbanos e cerca de 90% das
indústrias são abastecidas parcial ou totalmente por poços profundos.
§ Para 80% das cidades brasileiras a água subterrânea representa a alternativa mais
barata, dispensando obras caras de captação, adução e tratamento.
§ Um poço profundo é amortizado em cerca de um terço da sua vida útil.
§ Os prazos de execução de um poço são de dezenas de dias, contra dezenas de meses nos
casos de captação de águas superficiais.
• Brasil é hoje um dos países mais desenvolvidos do mundo em tecnologia de poços
profundos.
§ 1 litro de água proveniente de poço profundo, em alguns casos, pode custar até 15 vezes
menos que 1 litro de água proveniente de recursos hídricos superficiais.

Principais Vantagens das Águas Subterrâneas

Como principais vantagens das águas subterrâneas podem ser citadas :

§ Os custos de captação da água subterrânea são baixos em relação a água superficial, por
dispensarem a construção de obras de barramento, adutora de recalque e estação d e
tratamento.
§ Os prazos de execução de um poço são de dezenas de dias, em contraposição a dezenas
de meses e até anos no caso da captação de um rio.
§ Os poços podem ser construídos na medida em que cresce a demanda de água,
possibilitando um parcelamento das inversões financeiras.
§ Não se verificam os impactos ambientais decorrentes do barramento de curso de água, e
os recalques de terreno não ocorrem quando os poços são bem construídos.
§ As águas subterrâneas são, geralmente, de boa qualidade para consumo humano sem
tratamento, desde que a captação tenha sido construída e seja operada de forma
adequada.

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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§ As águas subterrâneas acham-se naturalmente melhor protegidas dos agentes de


poluição que atingem rios e lagos, tendo em vista ocorrerem sob uma faixa de rocha não
saturada através da qual as águas de recarga filtram.
§ Os potenciais hidrogeológicos do Brasil possibilitam o abastecimento de cerca de 80%
dos seus núcleos urbanos, a partir de dois a três poços, exceção daqueles localizados
nos domínios de ocorrência de rochas cristalinas no Polígono das Secas.
§ Os poços que apresentam um bom nível de engenharia nas fases de projeto, construção
e operação, tem vida útil entre vinte e trinta anos, com amortização dos investimentos
realizados em apenas cerca de um terço desse período.

Formações Geológicas e Ocorrência das Águas Subterrâneas

A ocorrência de água subterrânea está ligada à existência de formações geológicas


capazes de acumular e fazer circular o líquido. Cada tipo de rocha tem características
determinadas quanto às possibilidades aquíferas. No trato com os problemas de obtenção de
água de lençóis profundos, há necessidade de se ter um conhecimento mínimo das
características aquíferas de algumas rochas comuns.
Água subterrânea é a água que ocorre no subsolo preenchendo os poros e fraturas
das rochas. Estes elementos tem dimensões milimétricas, porém, são em tão grande número
que as águas subterrâneas representam cerca de 97% dos volumes de água doce dos
continentes, com exceção das calotas polares e geleiras. As águas subterrâneas,
naturalmente de boa qualidade para o consumo em geral, são realimentadas pelas
infiltrações de águas de origem meteorológica: chuvas, neblinas, neves, geadas. Essas
águas fluem lentamente (centímetros/dia) pelos poros das rochas e alimentam os rios, lagos
e nascentes durante os períodos sem chuvas, ou vão desaguar diretamente nos oceanos e
mares, de onde evaporam e sobem à atmosfera para dar origem a novas chuvas.
Os processos de filtração e as reações bio-geoquímicas que tem lugar no subsolo,
fazem com que as águas subterrâneas apresentem, geralmente, boa potabilidade e achem-se
melhor protegidas dos agentes de poluição que atingem os rios e lagos. As rochas que
apresentam boas condições de porosidade e permeabilidade são denominadas de aquíferas.
A Tabela 8 abaixo visa esclarecer os principais aspectos com relação às mesmas.

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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Tabela 8 – Formações Geológicas e suas Possibilidades Aquíferas


Formação Geológica Características Possibilidades Aquíferas
Rochas Ígneas Possuem estrutura maciça e são A presença de água está condicionada à existência
também conhecidas como rochas de falhas, fissuras ou fendas, que diminuem de
do cristalino. A determinação da dimensão com o aumento da profundidade, ficando
posição de falhas e rupturas é assim reduzidas as possibilidades de obtenção de
feita por meio de interpretação água. Essas rochas podem estar recobertas por um
fotogeológica ou pela aplicação manto resultante da decomposição da própria
de métodos geofísicos de rocha ou por solos aluvionares transportados,
prospecção. Ex: granitos. resultando em camadas que contém quase sempre
materiais granulares que podem representar bons
aquíferos.
Rochas Eruptivas São de origem vulcânica, como Podem conter água quando estiverem fraturadas ou
os basaltos e diabases. forem do tipo vesicular, isto é, contiverem
numerosos vazios em seu interior. A possibilidade
de dar escoamento à água depende da existência de
ligação entre as vesículas.
Rochas Sedimentares
Calcário São geralmente maciços e Com o tempo, formam-se condutos subterrâneos
impermeáveis sendo, entretanto, que, aflorando, produzem ricas fontes.
rochas bastante solúveis à ação
da água, contendo gás carbônico
ou ácidos orgânicos contêm
freqüentemente poros e cavernas
em seu interior.

Folhelhos Resultam da consolidação de São geralmente impermeáveis e atuam como


argilas. camadas confinantes de aquíferos. As vezes,
contêm material betuminoso em seu interior, que
pode conferir gosto e cheiro característico à água.

Arenitos São formados de partículas muito Os arenitos de um modo geral são tidos como um
finas de areia de origem lacustre dos melhores aquíferos.
ou eólica, podendo ser muito
permeáveis, dependendo do grau
de cimentação e da
granulometria das partículas.

Conglomerados São constituídos de misturas A capacidade aquífera varia grandemente,


heterogêneas de pedregulho dependendo do tipo e quantidade do material de
consolidado. cimentação e enchimento.
Rochas Metamórficas Resultam da formação de rochas O gneiss, rocha metamórfica típica, assemelha-se
ígneas e sedimentares devido ao granito, quanto às possibilidades aquíferas.
principalmente, à ação do calor e O mármore, sendo solúvel, poderá, como no caso
da pressão. dos calcáreos, conter canais para acumulação e
movimentação da água.
Os xistos e ardósias, resultantes da transformação
de argilas e folhelos, são geralmente
impermeáveis, podendo, entretanto, conter água
em juntas, fendas de clivagem e fraturas.

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Tipos de Aquíferos e Formas de Captação

As formações geológicas que contêm e transmitem águas subterrâneas são


chamadas aquíferos. Os aquíferos podem ocorrer formando a superfície dos terrenos e neste
caso constituem os aquíferos livres; podem ter centenas de metros de espessura; podem ter
extensões de milhares de quilômetros quadrados; podem ter o nível de água ou de saturação
a alguns metros de profundidade (freático), ou a centenas de metros. Os aquíferos também
podem ocorrer encerrados entre camadas relativamente menos permeáveis, e neste caso,
formam os aquíferos confinados.
Denomina-se aquífero freático aquele em que o lençol de água se encontra livre
com sua superfície sob ação da pressão atmosférica.
Denomina-se aquífero artesiano aquele em que a água nele contida encontra-se
confinada por camadas impermeáveis e sujeita à pressões maiores do que a atmosférica.
Essa classificação é de interesse técnico uma vez que as fórmulas que governam o
escoamento nos aquíferos, variam em conformidade com a mesma; correspondendo à
classificação em condutos livres e forçados, adotada no estudo em canalizações.
A captação do lençol freático pode ser executada por galerias filtrantes, drenos,
fontes ou poços freáticos. O emprego de galerias filtrantes é característico de terrenos
permeáveis (Fig. 23), mas de pequena espessura (aproximadamente de 1 a 2 metros) onde
há necessidade de se aumentar a área vertical de captação para coleta de maior vazão (Fig.
24). Estas galerias em geral são tubos furados, que convergem para um poço de reunião.

Figura 23 – Posição da galeria filtrante

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Figura 24 – Posição da galeria filtrante

Quando o lençol freático é muito superficial, as canalizações coletoras ficam na


superfície ou a pequenas profundidades de aterramento, então temos os chamados drenos.
Podem ser construídos com tubos furados ou simplesmente com manilhas cerâmicas não
rejuntadas. As galerias são mais comuns sob leitos arenosos de rios com grande variação de
nível, enquanto que os drenos são mais comuns em áreas onde o lençol é aflorante
permanecendo praticamente no mesmo nível do terreno saturado ou sob leitos arenosos de
rios com pequena variação de nível.
Os poços são mais freqüentes nos lençóis freáticos porque normalmente o lençol
freático tem grande variação de nível entre os períodos de chuvas, ou seja, durante os
períodos de estiagem, necessitando de maiores profundidades de escavações para garantia
da permanência da vazão de captação.
Os tipos de poços empregados na captação de água do lençol freático são o raso
comum, o amazonas e o tubular. O poço raso, popularmente chamado de cacimba ou
cacimbão, é um poço construído escavando-se o terreno, em geral na forma cilíndrica, com
revestimento de alvenaria ou com peças pré-moldadas (tubulões), com diâmetro da ordem
de um a quatro metros por cinco a vinte de profundidade em média, a depender da posição
do lençol freático. A parte inferior, em contato com o lençol deve ser de pedra arrumada, de
alvenaria furada ou de peças cilíndricas pré-moldadas furadas quando for o caso (Figura.
25).

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Figura 25 - Estrutura típica de um poço raso comum

Para evitar o carreamento de areia para o interior dos poço ou mesmo dos orifícios
pode-se envolver a área de drenagem com uma camada de pedregulho e areia grossa,
externamente. A retirada da água do seu interior deve ser através de bombeamento por
medida de segurança sanitária, mas para abastecimentos singelos são freqüentes o uso de
sarilhos e outras bombas manuais.
O poço amazonas é uma variável do escavado, próprio de áreas onde o terreno é
muito instável por excesso de água no solo (areias movediças). Seu método construtivo é
que o caracteriza, pois sua construção tem de ser executada por pessoal especializado,
empregando peças pré-fabricadas a medida que a escavação vai desenvolvendo-se. Sua
denominação deve-se ao fato de ser muito comum na região amazônica em função de que
os terrenos terem este comportamento, principalmente nas épocas de enchentes. São poços
para pequenas vazões, destinados a abastecerem pequenas comunidades.
Um poço perfurado em um aquífero freático (poço freático), terá o nível d’água em
seu interior coincidente com o nível do lençol. Em poço que penetra num aquífero artesiano
(poço artesiano), o nível d’água em seu interior subirá acima da camada aquífera, podendo
em determinadas situações atingir a boca do poço produzindo uma descarga contínua,

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sendo denominado, neste caso particular, de poço jorrante ou surgente, dispensando


qualquer bombeamento. Se o nível piezométrico do aquífero se situar abaixo da superfície
do solo, dever-se-á bombear a água.
O volume das águas subterrâneas que se pode conseguir em uma determinada zona
dependerá das características do aquífero situado sob a mesma e da freqüência de recarga.
A alimentação dos aquíferos freáticos ocorre geralmente ao longo do próprio lençol,
ao passo que, nos aquíferos artesianos, ela se verifica somente no contato da formação com
a superfície, podendo ocorrer a uma distância considerável do local do poço, ocorrendo a
recarga do lençol neste ponto. As condições climáticas ou o regime hidrológico observados
na área de perfuração do poço, neste caso, pouco ou nada influirão na produção do poço. A
Figura 26 a seguir, mostra esquematicamente, os tipos de aquíferos e de poços, bem como
as áreas de realimentação ou recarga dos lençóis. Observa-se que o rio é o ponto de
descarga do lençol freático. O lençol artesiano descarrega-se num ponto baixo onde o
mesmo irá novamente aflorar à superfície.

Figura 26 – Tipos de Aquíferos e de Poços

Os aquíferos artesianos geralmente têm uma área de recarga relativamente pequena,


se comparada com os aquíferos freáticos, e têm também menor vazão. A importância
econômica dos aquíferos artesianos reside no fato de que eles transmitem água a distâncias
consideráveis e a elevam acima do nível da camada aquífera reduzindo assim os custos de
bombeamento. O bombeamento de águas artesianas pode provocar o abaixamento do
terreno em algumas regiões, como resultado do adensamento dos aquíferos.

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Princípios Básicos do Escoamento em Meios Porosos

Devem-se ao hidráulico francês Henry Darcy as primeiras observações


experimentais sobre o escoamento através de meios porosos. A facilidade maior ou menor
de um material permitir a circulação de água, é a identificada por uma propriedade física
que se denomina permeabilidade. Ela é medida pelo coeficiente de permeabilidade (K),
definido como sendo a quantidade de água que passa através da unidade de área da seção
do material, quando a perda de carga unitária (gradiente hidráulico) for igual a 1. O
coeficiente de permeabilidade tem a dimensão de uma velocidade.
Examinando as características do fluxo através de filtros de areia, Darcy concluiu
que a vazão era diretamente proporcional à carga hidrostática e inversamente proporcional
à espessura da camada. Essa conclusão, conhecida universalmente como lei de Darcy, pode
ser expressa por :
H Q
Q = KA = KAJ V = = KJ
L A
onde :
Q = vazão;
A= área total da seção do escoamento (incluindo os sólidos);
K = coeficiente de permeabilidade;
H/L = J = perda de carga unitária;
V = velocidade média aparente (pois considera a área total incluindo os sólidos).

Figura 27 – Perda de Carga em um Meio Poroso

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Como se observa na própria representação gráfica acima, nos estudos de filtração,


desprezam-se as alturas de velocidade, considerando-se as perdas de carga como
equivalentes às variações do potencial piezométrico ( z + p/γ ). Na quase totalidade dos
casos, o erro introduzido com essa simplificação é completamente desprezível. De fato, nos
movimentos através de meios porosos, as velocidades de escoamento são geralmente muito
baixas, havendo um predomínio acentuado da viscosidade sobre os efeitos de inércia,
caracterizando geralmente um escoamento laminar.
A velocidade V é uma velocidade aparente, pois a área que está sendo considerada é
a total. A velocidade efetiva varia de ponto para ponto, dentro da massa.
O valor do coeficiente de permeabilidade (K) depende, não somente da porosidade
(relação entre o volume de vazios e o volume total do material), como também da
distribuição granulométrica e da forma e arranjo interno das partículas granulares do solo.
Argilas com 50 % de porosidade são bastante impermeáveis. Ao contrário, arenitos, com
apenas 15 % ou menos de porosidade, podem ser bastante permeáveis. Este é um conceito
importante que nunca pode ser esquecido.
A Tabela 9 abaixo, apresenta os principais valores de porosidade de alguns
materiais sedimentares :
Tabela 9 – Porosidade de Materiais Sedimentares

Material Porosidade (%)


Solos 50 – 60
Argila 45 – 55
Silte 40 – 50
Areia média a grossa misturada 35 – 40
Areia uniforme 30 – 40
Areia Fina a média misturada 30 – 35
Pedregulho 30 – 40
Pedregulho e areia 20 – 35
Arenito 10 – 20
Folhelho 1 – 10
Calcáreo 1 – 10
Fonte : D.K.Todd em “Ground Water Hydrology”

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De um modo geral, os valores de porosidade variam de 1 a 60 %. Acima de 20 % a


porosidade é considerada alta, entre 20 e 5 % é média e abaixo de 5 % é considerada
reduzida. A argila e o silte são materiais de alta porosidade; podem, portanto, receber
grande quantidade de água em seus interstícios.
A Tabela 10 a seguir, apresenta os coeficientes de permeabilidade (K) dos principais
materiais :

Tabela 10 – Coeficientes de Permeabilidade de Materiais

K ( cm/seg ) Material Características de escoamento


1 a 100 Pedregulho limpo Aquíferos bons
0,001 a 1 Areias limpas, misturas de Aquíferos bons
areias limpas e pedregulho
10-7 a 0,001 Areias muito finas, siltes, Aquíferos pobres
mistura de areia, silte e
argila,argilas estratificadas
10-7 a 10-9 Argilas não alteradas Impermeáveis
Fonte : A. Casagrande

Um outro parâmetro importante do ponto de vista de capacidade de fornecimento de


água subterrânea de um material e que apresenta bastante interesse prático é o suprimento
específico (s.e.) . O suprimento específico do material, também denominado de produção
específica, porosidade efetiva ou cessão específica caracteriza a quantidade porcentual de
água que pode ser libertada de uma formação saturada, pela ação da gravidade. Devido a
fenômenos diversos, não é possível drenar toda a água contida nos interstícios, fato que
deve ser levado em conta no cálculo dos volumes aproveitáveis de depósitos subterrâneos
de água. Esta propriedade está intimamente relacionada com a superfície total dos
interstícios. Em termos práticos, tem-se :

VolumeDrenado
s .e. = ⋅ 100
VolumeTotal

Para exemplificar o suprimento específico podemos comparar a argila e a areia


grossa. A argila tem uma grande porosidade, ou seja elevada porcentagem de vazios, mas

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possui um reduzido suprimento específico; não é capaz, portanto, de ceder muita água a
poços ou drenos. A areia grossa, por outro lado, tem também uma elevada porosidade e ao
mesmo tempo um elevado suprimento específico sendo capaz de fornecer bastante água.
A Tabela 11 abaixo fornece os percentuais de suprimento específico de alguns
materiais :
Tabela 11 – Suprimento Específico de Alguns Materiais

Material Suprimento Específico


Pedregulho 25 %
Areia c/ pedregulho misturado 20 %
Areia fina, arenito 10 %
Argila c/ misturas 5%
Argila, silte e outros depósitos 3%
Fonte : Poland, citado por D.K.Todd em “Ground Water Hydrology”

Hidráulica de Poços

Algumas definições são importantes quando se estuda a hidráulica dos poços :

• Nível estático do poço – é o nível de equilíbrio da água no poço, quando o mesmo não
está sendo bombeado.
• Nível dinâmico do poço – é o nível de água no poço, quando o mesmo estiver sendo
bombeado. O nível dinâmico está relacionado com a vazão de água a ser retirada e com
o tempo decorrido desde o início do bombeamento. Quando, para uma dada vazão o
nível se estabiliza, tem-se o denominado nível dinâmico de equilíbrio, relativo à vazão
em causa. Neste caso, portanto, se estabelece um regime permanente, conforme pode
ser visto na figura 28.
• Abaixamento ou Depressão – é a distância vertical compreendida entre os níveis
estático e dinâmico no interior do poço.
• Superfície Piezométrica de Depressão ou Cone de Depressão – em poços freáticos, é a
superfície real formada pelos níveis de água em volta do poço, quando em
bombeamento. Em poços artesianos é a superfície imaginária formada pelos níveis

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piezométricos. Em ambos os casos, tem a forma de um funil com o vértice no próprio


poço.

Figura 28 – Definições de um Poço

• Curva de Abaixamento ou de Depressão – é a curva formada pela interseção da


superfície piezométrica por um plano vertical que passa pelo poço. Os dois ramos da
curva nem sempre são simétricos. A assimetria é mais acentuada em lençóis freáticos e
no plano coincidente com a direção do escoamento da água subterrânea. Pode-se
conhecer a curva de abaixamento abrindo poços de observação num plano diametral em
relação ao poço em bombeamento, e medindo os respectivos níveis de água.
• Zona de Influência do Poço – é constituída por toda a área atingida pelo cone de
depressão de um poço. Um outro poço qualquer, perfurado dentro dessa zona, terá,
quando bombeado, uma redução em seus níveis estático e dinâmico, sendo portanto
prejudicado pelo bombeamento do primeiro.
• Regime de Equilíbrio – situação que se verifica em um poço quando o nível dinâmico
no seu interior para uma vazão de bombeamento constante, mantém-se inalterável no
decorrer do tempo. Essa condição ocorre quando a vazão de escoamento da água
subterrânea, na faixa abrigada pela zona de influência do poço, equilibra a vazão
retirada. Portanto, atingido o regime de equilíbrio, a superfície piezométrica de
depressão, a curva de abaixamento e a zona de influência do poço, não mais variam

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com o tempo. O tempo necessário para se obter o equilíbrio perfeito do nível dinâmico,
varia amplamente com a vazão de bombeamento e as características do aquífero, e
poderá, inclusive, nunca ser alcançado.

Fórmulas do escoamento de água para poços no regime permanente

As fórmulas aplicáveis ao estudos de poços derivam principalmente dos estudos dos


escoamentos bidimensionais, empregando a lei de Darcy. Admitida a validade da lei de
Darcy e a homogeneidade e isotropia dos meios porosos, é possível equacionar-se com
simplicidade diversas situações particulares de escoamentos permanentes representativas
dos problemas práticos mais comuns, verificados na exploração dos lençóis subterrâneos.
As fórmulas apresentadas a seguir para escoamento de água para poços no regime
permanente foram obtidas por Dupuit em 1863 após algumas hipóteses simplificadoras.

Poço em um aquífero artesiano


Considerando-se um poço perfurado em um aquífero confinado de espessura
constante e extensão indefinida na direção horizontal, do qual se extrai uma vazão Q, em
condições de regime permanente, conforme a figura a seguir, pode-se escrever :
dH
Q = K ⋅ 2πrb ⋅
dr

Figura 29 – Poço em um Aquífero Artesiano

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Conhecidos os níveis d’água no poço e no nível da superfície piezométrica


correspondente a um raio R2, a integração da equação fornece :

2πb ⋅ K ( H 2 − H 1 ) R 
∫ ∫
2πb ⋅ K
H2 R2
dr
dH = ∴ = ln 2 
Q H1 R1 r Q  R1 

2πb ⋅ K ( H 2 − H 1 )
logo : Q = (válida para aquíferos artesianos)
R 
ln 2 
 R1 

Poço em um aquífero freático


O problema análogo, em um lençol freático, pode ser resolvido também com
facilidade, através de hipóteses simplificadoras. Observando a figura 30 a seguir tem-se :

dh
Q = K ⋅ 2πrh ⋅
dr

Figura 30 – Poço em um Aquífero Freático

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Integrando entre h1 e h2, tem-se :

π ⋅ K ( h22 − h12 ) R 
∫ ∫
2π ⋅ K
h2 R2
dr
h ⋅ dh = ∴ = ln 2 
Q h1 R1 r Q  R1 

π ⋅ K ( h22 − h12 )
logo : Q = (válida para aquíferos freáticos)
R 
ln 2 
 R1 

As expressões acima obtidas recebem, freqüentemente, a denominação de fórmulas


de Dupuit. As fórmulas de Dupuit propiciam, teoricamente, um instrumento ideal para a
avaliação do coeficiente médio de permeabilidade (K) de um aquífero, por meio de testes
de vazão, em poços explorados em regime permanente :

R 
Q ⋅ ln 2 
 R1  ;
Em aquíferos artesianos : K=
2πb ⋅ ( H 2 − H 1 )

R 
Q ⋅ ln 2 
Em aquíferos freáticos : K=  R1  ;
π ⋅ ( h22 − h12 )

Porém, nos ensaios de poços, baseados nas fórmulas de Dupuit, exige-se uma série
de precauções para a correta avaliação da influência das condições naturais, geralmente,
distintas das ideais utilizadas para a dedução das fórmulas. Deve-se levar em conta que os
poços nem sempre penetram totalmente no aquífero; os estratos não são horizontais e
variam em espessura e permeabilidade; as superfícies freáticas ou piezométricas não
perturbadas raramente são horizontais; além de outras. Um outro fato importante é o de que
o nível medido nos poços não corresponde, em geral, ao nível do lençol, definido pelas
equações teóricas. Não só as condições do escoamento nas proximidades do poço podem
deixar de obedecer a lei de Darcy, devido à elevação das velocidades, como ocorrem perdas

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de carga relativamente importantes através das telas de revestimento e do próprio tubo de


extração da água.
Freqüentemente, os poços captam água de lençóis dotados de escoamento natural,
segundo linhas de corrente paralelas entre si (lençol em escoamento permanente e
uniforme). Pelo fato de estarem em escoamento, a superfície piezométrica apresenta uma
inclinação definida pelas linhas eqüipotenciais,.
Consegue-se o regime de equilíbrio quando a zona de influência do poço para a
permitir que este seja alimentado por uma faixa de lençol de largura L, em que a vazão do
escoamento natural iguala-se à vazão de bombeamento, conforme pode ser visto na Figura
31. Em tais casos, os valores de abaixamento, para um mesmo valor de R, dependem da
posição em que se situam os poços de observação com relação ao poço de bombeamento.

Figura 31 – Regime de Equilíbrio e Zona de Influência de um Poço

Um outro aspecto que deve-se ter em mente é o de que raramente um cone de


depressão no lençol freático em torno de um poço apresenta simetria. A heterogeneidade do
aquífero e a interferência de um poço em outro causam rebaixamento assimétrico. Se os

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cones de depressão se sobrepõem, o rebaixamento em um ponto será a soma dos


rebaixamentos de cada um dos poços. Se os poços forem muito próximos entre si, a vazão
deles é menor porque os maiores rebaixamentos provocam uma redução no gradiente de
energia em direção aos poços. Rios, lagos ou reservatórios nas proximidades de um poço
também tem influência no rebaixamento.

Localização de Poços

Em regiões cujo subsolo é suficientemente conhecido e sabe-se da existência de


aquíferos através de várias perfurações anteriores, a localização e abertura de novos poços
não representa problema de maior preocupação. Devido às irregularidades das camadas,
podem ocorrer variações consideráveis nas características dos poços vizinhos, mas, de
qualquer forma, o problema se circunscreve a áreas não muito extensas.
Porém, face ao custo da perfuração de poços, é conveniente assegurar-se
previamente que um poço a ser aberto irá penetrar em um aquífero produtivo. Projetos de
porte justificarão uma pesquisa mais completa por parte de geólogos e engenheiros
experimentados. A perfuração de poços, sem estudo prévio, poderá levar ao fracasso, pois
muitas vezes não se tem muitas informações sobre o subsolo ou sabe-se da existência de
camadas favoráveis ao fornecimento de água, mas desconhece-se a sua posição. Logo, os
levantamentos geológicos conduzido por especialistas, na área em estudo, podem trazer
grandes informações, especialmente quando complementados por estudos geofísicos, para
caracterização de camadas geológicas e lençóis de água.
Quando os recursos disponíveis permitirem, é conveniente efetuar perfurações de
sondagem, destinadas ao levantamento do perfil geológico e à constatação direta da
presença de aquíferos.
Além de satisfazer à condição de existência de lençol aproveitável, a localização de
um poço deve levar em conta a sua posição mais adequada em relação ao sistema
distribuidor, tendo em vista o aspecto econômico.
Do ponto de vista sanitário, os poços deverão ficar afastados convenientemente de
instalações, estruturas e condutos que contenham ou veiculem líquidos contaminantes.
Recomendam-se as seguintes distâncias mínimas :

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• de privadas secas, fossas negras, redes de irrigação superficial de esgotos, lagoas


de oxidação ........................................................................................... 30 metros;
• de fossas sépticas, canalizações de esgoto, depósitos e despejos de águas
servidas ................................................................................................. 15 metros;
• de galerias de águas pluviais, escavações e edifícios em geral ............. 5 metros;

Métodos Geofísicos de Prospecção

Os métodos geofísicos de prospecção constituem técnicas especializadas que


permitem conhecer a conformação e as características do subsolo e com isso levantar
hipóteses quanto à possível existência de água. Baseiam-se na medida de certas
propriedades físicas da crosta terrestre, tais como a resistividade elétrica, a elasticidade das
rochas, o magnetismo e a gravidade. Complementada com perfurações de sondagem, a
aplicação dos métodos geofísicos poderá conduzir a previsões bastante seguras de posições
de camadas aquíferas em determinada área.
No método da eletro-resistividade, mede-se a variação de resistência que as
diferentes camadas do solo apresentam à passagem de uma corrente elétrica, em razão de
fatores geológicos, tais como porosidade, compactação, presença de minerais condutores de
eletricidade, presença e características da água, etc.
O método sísmico estabelece relação com as propriedades elásticas dos materiais.
Mede-se o tempo requerido para que uma vibração produzida artificialmente por detonação
de dinamite ou o impacto de uma ferramenta, atinja um determinado ponto de captação
após reflexão e refração. Fornecem informações sobre a estrutura geológica e
hidrogeológica da região.
Os métodos magnéticos e gravimétricos medem, respectivamente, variações de
campos magnéticos e diferenças de gravidade terrestre, causadas por influência de massas
portadoras de propriedades magnéticas ou pela presença de rochas de intensidade
diferentes. Como a presença de água não atua sensivelmente nos parâmetros medidos, não
oferecem informações diretas sobre as possibilidades aqüíferas.

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Métodos de Abertura e Construção de Poços

Para a abertura e construção de poços, utilizam-se em geral os seguintes métodos :


escavação direta, jato hidráulico, cravação, hidráulico-rotativo e percussão. Os três
primeiros métodos são aplicados na captação de lençóis freáticos situados a pequena
profundidade empregando ferramentas e dispositivos de pequeno porte e fácil manuseio. Os
dois últimos são utilizados especialmente na abertura de poços freáticos ou artesianos de
maior profundidade, empregando equipamentos conhecidos por sondas ou perfuratrizes de
grande porte e mecanizados, que são operados por técnicos bastante capacitados.

Método de escavação direta


Indicado quando o lençol está próximo a superfície e com boa alimentação do
aquífero para o poço. Aplicável geralmente em abastecimentos individuais ou de pequenas
comunidades.
Consiste no tipo mais simples de poço, ou seja, um simples buraco feito por
escavação direta até se atingir as águas subterrâneas. O trabalho é geralmente manual e as
ferramentas e aparelhos utilizados são os mais simples : picaretas, pás, trados, caçambas,
baldes, roldana, sarilho ou talha.
Pode ser realizada uma escavação total, seguida de um trabalho de revestimento
com alvenaria de tijolos, alvenaria de pedra, concreto, material cerâmico, aço, madeira, etc.
Em terreno firme, sem risco de desmoronamento, a escavação é feita sem precaução
especial; sendo desmoronável, o terreno é escorado com pranchas de madeira ou aço.
A escavação ainda pode ser acompanhada de descida do revestimento protetor,
processo particularmente indicado no caso de solo desmoronável e em presença de muita
água. O escoramento e a ensecadeira são proporcionados pelo próprio tubo de revestimento
feito de concreto armado, metal ou pranchas de madeira.
Os poços escavados possuem diâmetro geralmente acima de 80 cm podendo chegar
até 6 metros no caso de terrenos que só forneçam água de maneira lenta. A profundidade
total é de cerca de 20 ou 30 metros com penetração na camada aquífera de até 7 metros,
dependendo muito da formação geológica e da posição do lençol. As dificuldade de
extração de material removido e da descida do revestimento protetor, limitam a
profundidade praticável dos poços escavados.

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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Em seu funcionamento, a água aflui ao poço pelo fundo e/ou por orifícios abertos no
revestimento protetor. Conforme a vazão de bombeamento e a granulometria do solo, pode
ser necessário, em certos casos, colocar pedregulho no fundo e em torno dos orifícios
laterais visando impedir o afluxo de areia e o conseqüente desmoronamento do poço.

Método do jato hidráulico


O método do jato hidráulico é muito aplicável na construção de pequenos poços,
assim como em perfurações para sondagem do subsolo. Sua aplicação só é possível em
rochas sedimentares, como areias e argilas. A perfuração deverá ser interrompida quando
forem atingidas terrenos ou rochas duras.
Consiste na perfuração do poço através de injeção de água sob pressão através de
uma bomba. Os jatos d’água saem por orifícios existentes em uma broca que possui
formato aguçado. Tais jatos de água expelidos pelos orifícios e a ação mecânica da ponta,
desagregam o material a ser atravessado, conforme pode ser visualizado na Figura 32.

Figura 32 – Método do Jato Hidráulico – Equipamentos

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Em regra, usa-se uma só tubulação de revestimento em toda a profundidade da


perfuração. Geralmente, porém, é difícil descer uma única tubulação em toda a
profundidade. Logo, para maiores profundidades, usam-se tubulações de diâmetro menor.
A quantidade de água exigida para a perfuração e descida do revestimento, depende
do tipo de sedimento e da profundidade.

Método hidráulico-rotativo
Indicado para a perfuração de poços profundos em geral, tanto para obtenção de
água como para sondagens de grande profundidade. Os poços petrolíferos são, geralmente,
abertos por este método.
Nesse método adapta-se uma broca na extremidade de uma série de tubos
conectados entre si ou a uma haste vazada e imprimi-se ao conjunto um movimento
giratório. Faz-se circular continuamente lama especialmente dosada, fazendo-a descer pelo
do conjunto perfurador até o fundo da escavação, e retirando-a por fora desse tubo. A lama
serve para sustentação das paredes do poço durante a perfuração e para carrear o material
escavado pela broca até a superfície.
Vários são os tipos de brocas perfuradoras rotativas, as quais são escolhidas em
função do tipo de rocha a ser atravessado.
Pelo método hidráulico-rotativo podem ser obtidos poços com diâmetros de 100 a
200 mm, a grandes profundidades. A profundidades menores permite perfurar poços de 500
mm ou mais, dependendo das dimensões e potência dos equipamentos.

Projeto de Poços

Uma vez escolhido o local da perfuração, devem ser definidas as principais


características do poço, como o diâmetro, a profundidade, o tipo de revestimento, bem
como o tipo e características do filtro e dos materiais de envolvimento do mesmo. Em
muitos casos, quando se procura construir um poço sem conhecimento prévio das
formações ou se pretende transformar um poço experimental ou de sondagem em poço
definitivo, o projeto deverá ser desenvolvido paralelamente à execução dos trabalhos de
perfuração fazendo uso dos resultados de exames ou ensaios que forem sendo realizados.

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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O projeto final de um poço deverá considerar, essencialmente :


• as posições do nível estático e do nível dinâmico para a vazão desejada;
• o diâmetro útil do poço;
• a profundidade de perfuração;
• os tipos de tubos de revestimento;
• os materiais de envolvimento do filtro; e
• a posição de colocação de bombas submersas ou do injetor de ar comprimido no
caso de se utilizar bombas injetoras.

Diâmetro útil do poço


O diâmetro útil do poço é o diâmetro interno do tubo de revestimento ou do próprio
poço, quando não revestido. Tem relação com a vazão que se pretende extrair, devido às
dimensões externas de bombas normalmente utilizadas.

Tubos de revestimento
Os tubos de revestimento destinam-se especificamente a suportar formações
desmoronantes e a impedir a entrada no poço de água com características indesejáveis
(contendo poluentes ou contaminantes). O tubo de revestimento interno ou principal é
aquele que contém a água em seu interior. Às vezes, por razões construtivas, poderá existir
um outro tubo, externo ao primeiro; nesse caso, o espaço anular formado entre os dois será
cimentado ou enchido com material granular que vai envolver o filtro.
Os tubos de revestimento são geralmente de aço, ferro fundido ou plástico (estes
últimos muito empregados atualmente).

Filtros
Os filtros, também conhecidos por crivos, ou por telas, são peças tubulares
perfuradas, colocadas no prolongamento dos tubos de revestimento e junto às camadas
geológicas que contêm água. São utilizados, geralmente, quando as formações aquíferas são
constituídas de material granular, com o objetivo principal de permitir a fácil passagem da
água para o interior do poço, sem arrastar quantidades prejudiciais de areia.
A velocidade de passagem da água através do filtro é fator determinante de perda de
carga hidráulica. Quanto maior a velocidade, maior será a perda de carga, abaixando o nível

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dinâmico e aumentando a altura de elevação através das bombas, tornando o bombeamento


mais oneroso. As velocidades elevadas, além do inconveniente de produzirem maiores
perdas de carga, favorecem o arrasto da areia, produzindo rápido desgaste das bombas.
Os materiais de fabricação dos filtros devem ter suficiente resistência para suportar
a pressão das camadas e os variados esforços a que estão sujeitos durante a fase de
instalação. Devem também ser resistentes a agressividade da água. Fabricam-se filtros
geralmente de latão ou de bronze. A conexão do filtro à extremidade inferior do tubo de
revestimento é feita por meio de soldas, roscas especiais, flanges ou encaixes particulares
de acordo com o método de colocação ou com patentes de fabricação.
Depois de ser colocado o filtro procede-se ao desenvolvimento do poço por meio de
um bombeamento intenso. Consegue-se assim uma agitação do material em torno do filtro,
o que possibilita a entrada das partículas pequenas para dentro do poço, do qual podem ser
retiradas por bombeamento. Essa ação proporciona um escoamento mais livre em direção
ao poço e aumenta a vazão relativa a um determinado rebaixamento. Se o aquífero for
constituído só de material fino, a agitação não trará vantagens. Nesse caso deve-se fazer,
artificialmente, um envoltório com pedregulho, escavando um diâmetro maior do que o do
projeto, e colocando um revestimento interior concêntrico a um exterior (Figura 33).
Coloca-se pedregulho no espaço anular entre os dois revestimentos, à medida que se retira
o revestimento externo e assim o pedregulho forma um envoltório em torno do filtro.

Figura 33 – Poço com Filtro e Envoltório de Pedregulho

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Proteção Sanitária dos Poços

Uma das importantes vantagens das águas subterrâneas como fonte de


abastecimento doméstico é ser comparativamente isenta de poluição bacteriana. As águas
subterrâneas, escoando-se em grandes veios do subsolo, podem levar a poluição a grandes
distâncias, porém a água que percola através de camadas constituídas de material fino livra-
se, em geral, da poluição bacteriana já em pequenos percursos (6 a 30 m). As águas
poluídas da superfície podem encaminhar-se aos aquíferos passando por cima dos bordos
do revestimento, e o solo em torno do mesmo deve ser cimentado para ficar
impermeabilizado. Não se deve permitir que as águas superficiais se juntem em torno da
borda do poço. Os poços abandonados devem ser enchidos com argila, concreto ou outro
material, para evitar a contaminação do aquífero.
Uma última providência no que se refere aos poços para usos residenciais é a
cloração (desinfecção) para neutralizar qualquer contaminação havida durante a construção.
Procede-se à cloração enchendo o poço com uma solução de cloro (50 partes por milhão –
50 ppm) e deixando permanecer por cerca de 2 horas. Depois, enxágua-se, com água limpa
bombeada bem no fundo do poço.

3.7.4 – Captação de Água de Chuva

A água de chuva pode ser armazenada em cisternas, que são pequenos reservatórios
individuais. A cisterna tem sua aplicação em áreas de grande pluviosidade, ou em casos
extremos, em áreas de seca onde se procura acumular a água da época chuvosa para a época
de estiagem com o propósito de garantir, pelo menos, a água para beber.
A cisterna consiste em um reservatório protegido, que acumula a água da chuva
captada da superfície dos telhados das edificações. A água que cai no telhado vem ter às
calhas, e destas, aos condutores verticais e, finalmente, ao reservatório. Os reservatórios
mais simples são os de tambor, de cimento-amianto e os de plástico.
Para os locais onde há pouca mão-de-obra especializada, aconselham-se cisternas
não enterradas. Deve-se abandonar as águas das primeiras chuvas, pois lavam os telhados
onde se depositam a sujeira proveniente de pássaros, de animais e a poeira. Para evitar que
essas águas caiam nas cisternas, pode-se desconectar os condutores de descida, que

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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normalmente devem permanecer desligados para serem religados manualmente, pouco


depois de iniciada a chuva.
Existem dispositivos automáticos que permitem o desvio, para fora das cisternas,
das águas das primeiras chuvas e as das chuvas fracas, aproveitando-se, unicamente, as das
chuvas fortes (Figura 34).
A cisterna deve sofrer desinfecção antes do uso. A água armazenada, quando for
usada para fins domésticos, deve ser previamente fervida ou clorada.

Figura 34 – Cisterna para captação de água de chuva

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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Dados úteis para projetos de cisternas estão especificados nas tabelas 12, 13 e 14 a
seguir.
Tabela 12 - Área Máxima de Cobertura Coletada por Calhas Semicirculares
(0,5% de Caimento)

Diâmetro Área Máxima de Diâmetro Área Máxima de


Cobertura Cobertura
7.5 cm – 3” 16 m2 15 cm - 6” 89 m2
10 cm - 4” 39 m2 18 cm - 7” 128 m2
13 cm - 5” 58 m2 20 cm - 8” 185 m2
25 cm - 10” 334 m2

Tabela 13 - Área Máxima de Cobertura Coletada por Condutores Cilíndricos

Diâmetro Área Máxima de Diâmetro Área Máxima de


Cobertura Cobertura
5,0 cm – 2” 46 m2 10 cm - 6” 288 m2
6,5 cm – 2 1/2” 89 m2 13 cm - 7” 501 m2
7,6 cm - 3” 139 m2 15 cm - 8” 616 m2
20 cm - 10” 780 m2

Tabela 14 - Área Máxima de Cobertura Esgotada pelo Ramal


Caimento do Ramal (declividade)
Diâmetro 0,5 % 1% 2% 4%
5,0 cm – 2” - - 32 m2 46 m2
7.5 cm – 3” - 69 m2 97 m2 139 m2
10 cm - 4” - 144 m2 199 m2 288 m2
13 cm - 5” 167 m2 255 m2 334 m2 502 m2
15 cm - 8” 278 m2 390 m2 557 m2 780 m2
20 cm - 10” 548 m2 808 m2 1105 m2 1616 m2
25 cm - 10” 910 m2 1412 m2 1820 m2 2824 m2

Exemplo de cálculo de um Sistema de Captação de Água de Chuva

• Quantidade de água para as necessidades mínimas de uma família com cinco pessoas:
- consumo diário : 22 litros/pessoa x 5 pessoas = 110 litros;
- consumo mensal : 110 litros/dia x 30 dias = 3.300 litros;
- consumo anual : 3.300 litros/mês x 12 meses = 39.600 litros.

• Capacidade da Cisterna

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Para se obter a capacidade da cisterna, deve-se considerar somente o consumo durante o período de
estiagem. Assim, se a previsão for de 6 meses sem chuva, deveremos ter a seguinte capacidade de
reservação:
3.300 litros/mês x 6 meses = 19.800 litros.

• Superfície de Coleta
Para se determinar a área da superfície de coleta, deve-se conhecer a precipitação pluviométrica anual
da região, medida em mm. Considerando uma residência com área da projeção horizontal do telhado
igual a 40 m2 e precipitação pluviométrica anual igual a 800 mm, poderemos captar a seguinte
quantidade de água :
40m 2 x 0,8m (800mm) = 32 m3 = 32.000 litros/ano.
Considerando ainda um coeficiente de aproveitamento, para os casos de telhado, igual a 0,80, já que
nem toda área pode ser aproveitada, a quantidade máxima de água a ser captada será de:
32.000 litros x 0,8 = 25.600 litros/ano
Portanto suficiente para suprir a cisterna dimensionada neste exemplo.

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3.8 – Adução

Constituem-se nas canalizações principais destinadas a conduzir água entre as


unidades de um sistema pública de abastecimento de água que antecedem à rede de
distribuição. É o conjunto de encanamentos, peças especiais e obras de arte destinados a
promover o transporte da água em um sistema de abastecimento entre :
§ Captação e reservatório de distribuição;
§ Captação e ETA;
§ Captação e rede de distribuição;
§ ETA e reservatório;
§ ETA e rede;
§ Reservatório à rede;
§ Reservatório à reservatório.

3.8.1 - Classificação das Adutoras :

§ De acordo com a energia de movimentação do líquido : gravidade, recalque e


mista;
§ De acordo com o modo de escoamento do líquido : livre, forçada e mista;
§ De acordo com a natureza da água : bruta e tratada.

3.8.2 - Materiais normalmente empregados nas adutoras :

Os seguintes materiais podem ser empregados em adutoras de abastecimento de


água :
a. Aço carbono;
b. Ferro fundido cinzento e dúctil (revestido ou não internamente);
c. Plásticos PVC;
d. Plástico Polietileno;
e. Concreto : simples, armado e protendido (pouco uso em abastecimento de
água);
f. Fibrocimento (fora de fabricação);

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a. Tubulações em Aço

Entre todos os materiais existentes, o aço carbono é o que apresenta a menor relação
custo / resistência mecânica, tornando a utilização dos tubos deste material em um
sistema de abastecimento de água, ideal em situações onde as redes tenham que suportar
grandes pressões internas e/ou externas.
No Brasil, os tubos de aço utilizados em saneamento básico são fabricados nos
diâmetros de 150 mm a 2500 mm, sendo que pelas suas características, sua aplicação se
torna mais vantajosa nas tubulações com diâmetros superiores a 800 mm.
O processo de fabricação dos tubos de aço, consiste na dobra das chapas de aço e na
soldagem destas, de forma retilínea ou helicoidal. Para aplicação em saneamento básico,
os tubos de aço são fabricados de acordo com a norma americana AWWA C-200, e para
as conexões utiliza-se o aço de acordo com AWWA C-208.
Entre as principais características dos tubos de aço, podemos destacar as seguintes :
§ Ótima resistência às pressões internas e externas, permitindo a utilização de
paredes finas, as quais devem ser observadas as pressões de colapso devido a
pressões negativas no interior da tubulação (que podem ser evitadas, utilizando-
se ventosas adequadamente, conforme será explicado adiante);
§ Facilidade de deformação, necessitando cuidados especiais no transporte,
descarga e montagem;
§ Custo (material e instalação) geralmente muito superior em relação às outras
tubulações;
§ Pouca resistência à corrosão, necessitando sempre de revestimentos especiais e
proteção catódica;
§ Dificilmente apresentam vazamentos, principalmente quando forem soldados;
§ Quando aparentes, estão sujeitos a dilatações, que devem ser sanadas através da
utilização de juntas de expansão;
§ Necessitam de revestimento interno para não oferecerem resistência ao
escoamento.

Os tipos de juntas empregadas são as juntas soldada, flangeada, elástica e especiais.


A junta soldada é o tipo mais utilizado em tubos de aço, sendo realizada através
de solda de topo (Figura 35), e possui como vantagens: grande resistência mecânica,
estanqueidade perfeita, facilidade de aplicação de revestimentos e manutenção

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dispensável. Suas principais desvantagens são a necessidade de mão-de-obra


especializada e a impossibilidade de desmontagem.

Figura 35 – Solda de Topo

A junta flangeada possui os flanges soldados na própria tubulação, sendo


utilizada principalmente em estações elevatórias, onde facilita as desmontagens e
dispensam os blocos de ancoragem.
A junta elástica é utilizada em tubulações do tipo ponta e bolsa com vedação em
anel de borracha, empregada nos diâmetros de 150 mm a 600 mm, oferecendo a
vantagem de dispensar mão de obra especializada, facilitando bastante a sua
montagem e permitindo deflexões máximas de 4,5º, com perfeita estanqueidade.
Dentre as principais juntas especiais podem ser destacadas: Dresser, Gibault, de
expansão e luvas Alvenius.
As tubulações de aço para terem suas vidas úteis garantidas, necessitam de uma
série de precauções, quanto a alguns aspectos, tais como : o colapso de suas paredes,
o transporte e armazenamento dos tubos, a dilatação térmica, a espessura das
paredes e a corrosão.
Nas situações em que ocorrem o esvaziamento das tubulações, existe uma
tendência de surgir pressões negativas no interior destas, fazendo com que o tubo
sofra um achatamento (colapso das paredes), devido às pressões atmosféricas e
externas. Para evitar este tipo de problemas, é necessário que se coloque ventosas
nas tubulações, permitindo a entrada de ar, de forma que sejam igualadas as
pressões interna e atmosférica.
Os principais cuidados que devem ser tomados quanto ao transporte e
armazenamento dos tubos, são referentes à manutenção do bom estado destes e dos
seus revestimentos, sendo que os tubos devem ser colocados em pilhas, não muito

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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altas, sobre berços de madeira com acomodação entre estes, acolchoados com
material não abrasivo.
As tubulações de aço estão sujeitas aos efeitos das dilatações térmicas
principalmente quando expostas ao sol. Neste caso, devem ser pintadas, para reduzir
ao máximo a absorção do calor, e além disto, devem ser utilizadas as juntas de
expansão ou dilatação, a fim de absorverem estes efeitos.
Contra a corrosão as tubulações de aço devem ser protegidas empregando
revestimentos como esmalte de betume de carvão, epóxi ou argamassa de cimento.
Além disto podem ser utilizados dispositivos de proteção catódica.

b. Tubulações em Ferro Fundido (FoFo)

A liga de ferro fundido é formada basicamente de ferro e carbono, sendo que a


proporção deste último na liga, é que determina as variedades de ferro fundido (FoFo)
nas quais destacam-se o FoFo cinzento e o FoFo dúctil, que diferenciam-se pelo
acréscimo de magnésio aplicado durante a fabricação do FoFo dúctil. Devido a sua
estrutura o FoFo cinzento apresenta pouca resistência à ruptura (quebra com facilidade),
porém, é muito resistente à corrosão. Já o FoFo dúctil, que também tem grande
resistência a corrosão, possui elevada resistência mecânica.
Atualmente só são fabricados os tubos de FoFo dúctil com junta elástica, devido às
suas características vantajosas. Os tubos de FoFo cinzento, embora não sejam mais
fabricados, ainda são muito encontrados, na operação de adutoras, redes de distribuição
de água, estações de recalque e de tratamento de água.
Os tubos de FoFo dúctil são revestidos internamente com argamassa de cimento e ,
externamente com pintura betuminosa.
Os tubos de FoFo dúctil são fabricados nos diâmetros de 50 a 1200 mm, nos
comprimentos 3, 6 e 7 metros, nas classes K-7, K-9 e 1 Mpa, referentes às espessuras
das paredes que dependerão das pressões de serviço (Tabela 15), das sobrepressões e da
altura de recobrimento da tubulação (que pode ocasionar ovalizações).
Em comparação com os tubos de FoFo cinzento, os tubos de FoFo dúctil tem as
seguintes características : grande resistência à corrosão (igual ao cinzento), grande
resistência mecânica (superior a do FoFo cinzento), resistência à ruptura pela pressão
interna (três vezes maior que a do cinzento) e grandes resistências às cargas e à ação de
choques (bem maiores do que as do FoFo cinzento).

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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Tabela 15 - Pressões Máximas de Serviço sem Sobrepressão


Diâmetro Nominal Pressões Máximas de Serviço sem Sobrepressão (Mpa)
DN Classe K-9 Classe K-7 Classe 1 MPa
50 4,0 3,2 -
75 4,0 3,2 -
100 4,0 3,2 1,0
150 4,0 3,1 1,0
200 3,5 2,6 1,0
250 3,5 2,2 1,0
300 3,2 2,0 1,0
350 3,1 1,9 -
400 3,1 1,8 -
450 3,0 1,8 -
500 3,0 1,8 -
600 2,9 1,8 -
700 2,8 1,8 -
800 2,7 1,8 -
900 2,7 1,8 -
1000 2,7 1,8 -
1100 2,7 1,8 -
1200 2,6 1,8 -
Fonte : Catálogo da Companhia Metalúrgica Barbará
Obs : Para as pressões máximas com sobrepressão, deve-se adotar os valores desta
tabela, acrescidos de 20 %.

Os tipos de juntas mais empregadas em tubos de FoFo são as juntas de chumbo,


elástica, flangeada, mecânica, travada e as especiais (Dresser e Gibault).
A junta de chumbo, exclusiva das tubulações de FoFo cinzento, que atualmente, só é
utilizada nos casos de manutenção destas canalizações, é executada no sistema de
ligação ponta / bolsa, com vedação feita em estopa e chumbo derretido (Figura 36).

Figura 36 – Confecção de Junta de Chumbo

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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A junta elástica, é atualmente, o tipo de junta mais utilizada nas tubulações de FoFo
dúctil, e constitui-se de um anel de borracha e de um conjunto formado pela ponta de
um tubo com a bolsa contígua de outro tubo ou conexão (Figura 37). Sendo uma junta
de montagem deslizante, tem sua estanqueidade obtida pela compressão do anel de
borracha entre a ponta de um tubo e a bolsa, que evita qualquer deslocamento que o anel
de borracha possa ter. Além disso permite dilatações e deflexões que facilitam os
possíveis movimentos que possam ocorrer na tubulação durante a sua utilização.

Figura 37 – Tubo Ponta e Bolsa e Confecção de Junta Elástica

A junta de flanges é composta por dois flanges entre os quais se interpõe uma junta
de borracha (vedação), que é comprimida pelo aperto de parafusos com porcas,
garantindo sua estanqueidade (Figura 38). A utilização deste tipo de junta, está voltada
para tubulação não enterradas sujeitas a eventuais desmontagens, tais como, às
utilizadas em sistemas de captação de água, estações de bombeamento e câmaras de
válvulas. Os tubos de flanges são fabricados nos diâmetros DN 50 a 1200 mm, em
qualquer comprimento requisitado, com os flanges dimensionados conforme os
gabaritos das normas NBR 7675 e 7560, nas classes de pressões PN-10, PN-16 e PN-25,
suportando, respectivamente, pressões máximas de serviço (sem sobrepressão), de 1,0
MPa, 1,6 MPa e 2,5 MPa.

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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Figura 38 – Junta flangeada

A junta mecânica é preparada para suportar altas pressões (superiores a 150 mca),
podendo ser empregada em qualquer tipo de tubo, proporcionando maior firmeza entre
os tubos e conexões, resistindo muito bem aos golpes de aríete. A montagem da junta
mecânica é muito simples e rápida, ligando dois elementos de uma tubulação: bolsa de
uma conexão e ponta de um tubo ou de uma conexão, conforme figura 39 abaixo. O
aperto é dado com parafusos e porcas realizando a vedação com um anel de borracha.

Figura 39 – Junta mecânica

A junta travada é uma junta elástica, que tem por função neutralizar esforços dinâmicos
que ocorrem nas tubulações, evitando a desconexão destas, através do travamento de
suas bolsas (Figura 40). Os tubos utilizados para esta junta, são fabricados nos
diâmetros nominais de DN 300 a DN 1200, na classe K-9, e no tipo ponta e bolsa. A
principal vantagem desta junta, é a dispensa de construção de blocos de ancoragem.

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Figura 40 – Junta travada

A junta Dresser é um elemento de fácil união para tubos, permitindo a dilatação dos
tubos e facilitando a montagem de válvulas e bombas. Consiste de um cilindro
intermediário, dois flanges de aperto com seus parafusos e porcas e dois anéis de
borracha (vedação), conforme figura 41 a seguir.

Figura 41 – Junta Dresser

A junta Gibault (Figura 42) é semelhante a anterior, diferindo apenas no corpo


central, que consiste de uma luva, capaz de absorver esforços de deflexões, além das
funções referentes às juntas Dresser. Servem para resolver problemas, onde as pressões
das raízes das árvores tendem a arrebentar a tubulação, ou então, quando existem
arrebentamentos, com cisão na tubulação, igual a um corte de serra, provocados por
diferenças bruscas na resistência do material, onde a canalização é assentada.

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Figura 42 – Junta Dresser

c. Tubulações de PVC

O PVC, abreviatura de cloreto de polivinila, é um material termoplástico, ou seja,


um material que quando, sujeito a aplicação de calor, se deforma antes de sofrer
decomposição química, possibilitando assim ser moldado, conforme a necessidade.
Existem dois tipos de tubos de PVC, utilizados em sistemas de abastecimento de
água, que são o PBA (ponta, bolsa e anel de borracha) e o DEFoFo (diâmetro
equivalente ao dos tubos de Ferro Fundido).
Os tubos PBA possuem cor marrom e são fabricados de acordo com a norma NBR
5647 da ABNT, com diâmetros de 50 a 300 mm e nas classes 12, 15 e 20, para pressões
de serviço de 60, 75 e 100 mca, respectivamente. São utilizados com maior freqüência
em redes de distribuição, em conjunto com conexões de mesmo material e junta
(elástica), para pressões de serviço de 100 mca. Em tubulações de PVC, o diâmetro
nominal (DN) corresponde aproximadamente ao diâmetro interno da tubulação, em mm.
Os tubos DEFoFo possuem cor azul e são fabricados de acordo com a norma NBR
7665 da ABNT, com diâmetros nominais de 100 a 300 mm, em uma classe única de
pressão de 100 mca (1 MPa ou 10 kgf/cm2). Possuem diâmetros equivalentes ao dos
tubos de ferro fundido, inclusive suas conexões são fabricadas com este material.
Também possuem juntas elásticas, sendo que o anel de borracha da bolsa do tubo é
diferente do anel das conexões, uma vez que são alojados em peças de diferentes
materiais.

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d. Tubulações de Polietileno

O Polietileno, assim como o PVC, é um termoplástico obtido pela polimerização do


etileno na presença de catalisadores. Sendo que, quando polimerizado à baixa pressão,
obtêm-se o Polietileno de Alta Densidade (PEAD), cujo material, além de ser utilizado
como tubos flexíveis para ligações prediais, também está iniciando-se no Brasil, sua
utilização em redes de distribuição de água e adutoras. Em relação aos tubos
convencionais, os tubos de PEAD apresentam as seguintes vantagens : menor peso, alta
resistência ao impacto, maior flexibilidade, baixa rugosidade, menor número de juntas,
alta resistência a corrosão e agentes químicos, manuseio e instalações mais fáceis e
rápidas e custo total (material e instalação) inferior.
Já a principal desvantagem das tubulações de PEAD, em relação às convencionais, é
a baixa resistência às pressões internas elevadas. Os tubos de PEAD são fabricados nos
diâmetros de 16 a 1200 mm em classes de pressões de serviço de 2.5 , 3.2 , 4.0 , 6.0 ,
8.0 , 10.0 e 12.0 kgf/cm2. Os tubos podem ser fornecidos em barras de 6, 12 ou 18
metros, ou nos diâmetros de 16 a 125 mm em bobinas nos comprimentos de 50, 100 e
200 metros. As juntas podem ser soldadas (aquecimento) ou mecânicas (flangeadas,
encaixe ou de rosca).

e. Tubulações de Fibrocimento

Os tubos de fibrocimento, embora não sendo mais fabricados, ainda se encontram


em operação em algumas redes de distribuição de água, sendo que eram compostos de
fibras de amianto e cimento portland, que misturados sob pressão, ocorria uma forte
ligação entre estes elementos. Estes tubos eram fabricados com comprimentos de 3 e 4
m, nos diâmetros nominais de 50 a 500 mm (sua grande utilização em redes de
distribuição de água, encontra-se na faixa de 75 a 300 mm), nas classes PN-10, PN-15,
PN-20, PN-25 e PN-30, referentes às pressões de ruptura (em kgf/cm2) nos testes de
laboratório.

f. Tubulações de Concreto

As tubulações de concreto, foram utilizadas em sistemas de abastecimento de água,


em linhas de grandes diâmetros, devido, principalmente, ao seu custo (inferior em
relação aos outros materiais) e à sua resistência às cargas externas, no entanto,

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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apresentavam problemas constantes de vazamentos, com grandes dificuldades de


manutenção. Isto, tornou sua utilização inviável. Entretanto, atualmente no Brasil, ainda
existem em operação algumas adutoras com este material.

3.8.3 – Critérios para a escolha de material da tubulação

Embora não exista uma variedade tão grande de materiais utilizados em tubulações
para sistemas de abastecimento de água, deve-se analisar profundamente os critérios
abaixo discriminados, a fim de que se possa atender as condições de qualidade,
quantidade, pressão de água e economia.

§ Condições de serviço : deverá ser avaliada a faixa de variação das pressões


internas, principalmente os valores extremos, aos quais a tubulação estará sujeita
durante a sua operação.

§ Nível de tensão do material : a resistência mecânica do material deverá ser


compatível com o nível de tensões que a tubulação estará sujeita. Definindo
assim a espessura da parede do tubo, em função do material e dos esforços
solicitantes (aos quais a pressão interna nem sempre é o esforço predominante).

§ Natureza dos esforços mecânicos : a escolha do material também poderá estar


condicionada à natureza dos esforços existentes, por exemplo, não deverão ser
escolhidos materiais frágeis, para serem utilizados em situações que ocorram
esforços, tais como, choques e tensões concentradas.

§ Disponibilidade dos materiais : praticamente todos os materiais para tubos (com


alguma exceção do aço-carbono) têm limitações de disponibilidade, ou seja, não
se encontram no mercado para todos os diâmetros, tipos de juntas e etc. Além
disto devem ser considerados : a existência ou não do material em estoque, as
quantidades mínimas exigidas para compra, os prazos de entrega e etc.

§ Sistema de ligações : o sistema de ligações refere-se ao tipo de junta ou união


dos tubos, que dependerá da facilidade de montagem ou desmontagem, custo,
grau de segurança, condições de serviço e etc.

§ Custo do material : é um dos fatores mais importantes e, muitas vezes, o


decisivo para a escolha do material. Sendo que deverá ser considerado além do

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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custo inicial, a facilidade e o custo de instalação da tubulação, a facilidade de


reposição e de possível reparo, e a durabilidade do material.

§ Segurança : em situações onde a possibilidade de vazamentos, rupturas ou


outros acidentes na tubulação, possam provocar desastres ou grandes prejuízos
devido a interrupção do abastecimento, deve-se dar prioridade ao material que
ofereça maior grau de segurança.

§ Experiência prévia : deve-se tomar cuidado na utilização de tubulações de


materiais, aos quais não existe nenhuma experiência prévia em serviços
semelhantes.

§ Facilidades de montagem : na escolha de determinado material devem ser


consideradas as limitações quanto às montagens das tubulações.

§ Perdas de carga : para uma melhor eficiência da operação de abastecimento, as


tubulações deverão possuir o menor coeficiente de atrito interno possível, ou
seja, uma mínima rugosidade das paredes internas. Sendo que deverá ser
considerado também, o aumento das perdas de carga, durante o envelhecimento
do tubo.

§ Vida útil : de uma forma geral, o material deve garantir uma vida útil para
tubulações de rede de água e adutoras, de no mínimo 50 anos.

3.8.4 – Principais Órgãos Acessórios das Adutoras

Órgãos acessórios são os elementos que, instalados em conjunto com as tubulações


do sistema de abastecimento de água (adutoras e redes de distribuição), auxiliam a
operação e manutenção destas.
Numa adutora por gravidade, em conduto forçado, aparecem normalmente as
seguintes peças especiais ou acessórios :
§ Válvulas ou registros de parada;
§ Válvulas ou registros de descarga;
§ Válvulas redutoras de pressão; e
§ Ventosas.
Nas adutoras por recalque há a considerar, além disso :
§ Válvulas de retenção;
§ Válvulas aliviadoras de pressão.

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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Válvulas ou Registros de Parada

As válvulas ou registros de parada destinam-se a interromper o fluxo de água. Uma


delas é geralmente colocada à montante, no início da adutora. Outras são colocadas ao
longo da linha, distribuídas em pontos convenientes para permitir o isolamento e
esgotamento de trechos, por ocasião de reparos, sem necessidade de esgotar toda a
adutora. Essas válvulas permitem também regular a vazão, na operação de enchimento
da linha, de modo gradual e assim evitar os golpes de aríete. Quando possível, é
aconselhável colocar as válvulas de paradas em pontos elevados, onde a pressão é
menor, para que a manobra se torne mais fácil.
As válvulas de gaveta (Figura 43) são as mais importantes e mais utilizadas entre
todas as válvulas existentes (macho, de esfera, de comporta) nos sistemas de
abastecimento de água, onde são mais denominadas de registros de gaveta. Os registros
de gaveta são válvulas em que o fechamento é feito pelo movimento de uma peça
vertical chamada gaveta, que se desloca perpendicularmente ao sentido do escoamento.
São sempre de fechamento lento, sendo que, quanto maior for o seu tamanho, mais lento
deverá ser seu fechamento, atenuando assim, os efeitos dos golpes de aríete.

Figura 43 – Registro de gaveta

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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Válvulas de descarga

As válvulas de descarga são colocadas nos pontos mais baixos das adutoras, em
derivação à linha, para permitir a saída de água sempre que for necessário. Isto ocorre,
geralmente quando se vai esvaziar a adutora para fins de reparos ou outras razões de
natureza operacional. Também, para assegurar saída de ar quando se está enchendo a
linha.
O diâmetro da derivação de descarga não deverá ser inferior a 1/6 do diâmetro da
adutora; preferivelmente, deverá ser bem maior. A metade desse diâmetro é um valor
bastante adequado. Assim, uma adutora de 400 mm poderá ter uma válvula de descarga
de 200 mm. No caso de descarga com redução de diâmetro é necessário facilitar a
retirada completa de água, o que se consegue colocando uma peça especial na adutora
com uma derivação tangente ou dando uma inclinação conveniente ao tê onde será
ligado o registro (Figura 44).

Figura 44 – Derivações para Registros de Descarga

Válvulas redutoras de pressão

As válvulas redutoras de pressão são dispositivos intercalados na rede para permitir


uma diminuição permanente de pressão interna na linha, a partir do ponto de colocação
(figura 45). Desempenham função semelhante às caixas de quebra pressão, com a
diferença de que a água não entra em contato com a atmosfera e, portanto não há perda
total de pressão.

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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Figura 45 – Influência da válvula redutora de pressão na linha piezométrica

As válvulas redutoras de pressão são válvulas adaptadas com um sensor de pressão, que
compara a pressão na saída da válvula, que é aquela que se quer regular, com a pressão
exercida por um limite, determinado pela regulagem de uma mola (figura 46).

Figura 46 – Corte de uma Válvula Redutora de Pressão

Uma tomada de pressão ligada a um diafragma faz com que a pressão de saída da
água se comprima contra a força exercida pela mola. E, enquanto a pressão de saída de

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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água atuar com a mesma força que a mola exerce, em sentido oposto, a válvula estará
com aproximadamente 50 % de abertura. Se a pressão de saída da água aumentar,
ultrapassando a força da mola, causará um movimento do obturador reduzindo a
abertura da válvula. No caso da pressão de saída cair, a força da mola ultrapassará a
pressão de água, aumentando a abertura da válvula.

Ventosas

As ventosas são dispositivos colocados nos pontos elevados de tubulações e


destinam-se a permitir a expulsão de ar durante o enchimento da linha ou do ar que
normalmente se acumula nesses pontos. Por outro lado, as ventosas deixam penetrar o
ar na tubulação quando ela está sendo descarregada (esvaziada). Sem isso, a adutora
passaria a apresentar pressões internas negativas, ocasionando o achatamento e o
colapso das tubulações (aço por exemplo) além da possibilidade de entrada de líquido
externo através de defeitos existentes na tubulação ou através de juntas não estanques.
Para a finalidade de expulsão de ar, as ventosas são dimensionadas em função da
vazão de ar a ser expulso, vazão essa que depende das condições de enchimento da
linha. Os elementos básicos são a vazão de enchimento da tubulação, a pressão interna e
os diâmetros comerciais das ventosas.

Os principais tipos de ventosas são as simples e de tríplice efeito.


A ventosas simples (figura 47) é utilizadas em tubulações de pequena vazão, com a
finalidade de : descarregar o ar, durante o enchimento da tubulação e funcionamento da
bomba; permitir a entrada de ar, durante descarregamento da tubulação. Funcionam de
acordo com o nível da água; quando este desce, o flutuador movimenta-se para baixo
permitindo a entrada do ar, e quando o nível sobe, aciona o flutuador para cima,
fechando a saída do ar. As ventosas simples com rosca são fabricadas nos diâmetros
3/4” a 2”, na classe pressão PN-25, enquanto as ventosas simples com flanges são
fabricadas no diâmetro de 50 mm, para as classes de pressão PN-10, PN-16 e PN-25,
com flanges de acordo com a NBR 7675.
A ventosa de tríplice função (figura 48) é constituída por um corpo dividido em
dois compartimentos (o principal e o auxiliar), sendo que, cada um possui em seu
interior, um flutuador esférico, que além de executar as funções da ventosa simples,
também expele automaticamente o ar que se forma com a linha em operação. Por isso
pode-se afirmar que a ventosa de tríplice função é muito mais eficiente do que a ventosa

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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simples. Essas ventosas são fabricadas nos diâmetros de 50, 100, 150 e 200 mm, nas
pressões PN-10, PN-16 e PN-25, com flanges de acordo com a NBR 7675.

Figura 47 – Ventosa Simples

Figura 48 – Ventosa de Tríplice Função

De acordo com as regras práticas recomendam-se os seguintes diâmetros (d)


nominais das ventosas (onde D é o diâmetro da canalização) :

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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D
§ Para admissão e expulsão de ar : d ≥ ;
8
D
§ Somente para expulsão de ar : d ≥ .
12

É importante que entre a ventosa e a tubulação, exista um registro de parada ou


bloqueio, para permitir a manutenção da ventosa sem a necessidade de parar o
abastecimento.

Válvulas de Retenção

Destinam-se a impedir o retorno brusco da água contra as bombas na sua


paralisação por falta de energia elétrica ou por outra causa qualquer. São instaladas no
início das adutoras por recalque, quase sempre no trecho de saída de cada bomba. Nas
linhas de sucção são também instaladas na extremidade destas com a função de manter a
bomba escorvada (com água).
Existem vários tipos e modelos de válvulas de retenção que são : de pistão, de
esfera e de portinhola. Estas últimas são as mais usuais nos sistemas de abastecimento
de água e possuem uma portinhola (única e dupla) que dá passagem num só sentido;
assim sendo, suportam a coluna de água de toda a linha quando a bomba estiver parada.

Figura 48 – Válvula de Retenção

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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As válvulas de retenção com portinhola única são fabricadas nos diâmetros de 50 a


600 mm nas classes de pressão PN-10 e PN-16; e as com portinhola dupla são
produzidas nos diâmetros de 50 a 1200 mm nas classes de pressão PN-10, PN-16 e PN-
25.
A carcaça das válvulas de retenção deve ser suficientemente robusta para suportar,
sem danos, os golpes de aríete oriundos das bruscas paralisações. Devem estar, também,
convenientemente ancoradas para evitar possíveis deslocamentos.

Válvulas Aliviadoras de Pressão

As válvulas aliviadoras de pressão ou válvulas anti-golpe (figura 49) são


dispositivos que permitem reduzir a pressão interna das tubulações quando estas sofrem
a ação de golpes de aríete. São instaladas geralmente no início das adutoras por
recalque, de grande diâmetro, nas quais as válvulas de retenção sofrem solicitações
maiores e poderão não suportar os esforços resultantes da sobrelevação de pressão.
Alguns desses dispositivos têm um mecanismo complicado, necessitando, às vezes, de
ar comprimido ou de dispositivos elétricos para auxiliar a operação.

Figura 49 – Válvula aliviadora de pressão

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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Resumo da disposição das Válvulas e Ventosas em linhas adutoras

A figura 50 a seguir ilustra o posicionamento típico das válvulas de parada, válvula


de descarga e das ventosas em uma linha adutora.

Figura 50 – Válvula e ventosas em linhas adutoras

3.8.5 – Esforços atuantes nas tubulações

De acordo com as condições de utilização das tubulações, podem se desenvolver


nestas uma série de esforços, que se não forem convenientemente previstos, e nem
exista condições de resistência na tubulação, o sistema de abastecimento de água terá
seu desempenho totalmente comprometido, pelos esforços a seguir relacionados.

§ Pressão interna de ruptura : causada pela pressão estática e pelo golpe de


aríete, produzindo tensão circunferencial e longitudinal em curvas, pontas,
juntas, etc. Os principais dispositivos contra o golpe de aríete são as válvulas de
alívio, válvulas anti-golpe, as chaminés de equilíbrio, tanques amortecedores e
etc. A espessura (e) dos tubos para resistir a este esforço é calculada pela
seguinte fórmula :

p⋅D
e=
2 ⋅ σ adm

onde : p = pressão interna ou de serviço;


D = diâmetro médio;
σadm = tensão admissível do material.

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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§ Mudanças de temperatura : tensão longitudinal e compressão, através da


expansão e contração do tubo, devendo-se prever juntas de dilatação ou
expansão.

§ Fluxo nas curvas, peças de derivação e reduções : produz tensões longitudinais


resultante do fluxo nestas peças, que devem ser absorvidas por ancoragens.

§ Peso da tubulação com água entre apoios : gera esforços flexionais, fazendo
com que a tubulação suporte cargas longitudinais, agindo como uma viga, uma
coluna ou um tirante, devendo-se estudar a necessidade de suportes, para
absorver tais esforços. São os casos de travessias de vãos.

§ Cargas externas : ocorrem nas tubulações enterras, onde deve-se considerar a


carga do aterro e as cargas móveis sobre os tubos, não permitindo sua ruptura
por deflexão diametral. Devem ser criados, portanto, dispositivos de proteção
contra cargas externas, como lajes ou canaletas de concreto.

3.8.6 – Ancoragens

As ancoragens são estruturas dispostas em pontos pré-determinados nas adutoras,


capazes de absorver esforços originados nas curvas, peças de derivação, reduções,
extremidades e trechos de grande inclinação, impedindo assim, movimentos
indesejáveis nas tubulações. As ancoragens têm como objetivo descarregar no solo, o
empuxo resultante do escoamento nas adutoras, por meio de estruturas de concreto
simples, concreto armado, cabos, aço ou estruturas mistas.
Em sistemas de distribuição de água, as ancoragens, mais comuns são as de bloco
de concreto, geralmente executadas quando das construções das linhas. Porém existem
casos em que se utilizam estacas de madeira ou metálicas.
A ancoragem é feita na própria seção onde aparecem os esforços, ou, um pouco
afastadas, desde que os tubos e as juntas tenham resistência para transmitir os esforços.
Para a elaboração de um projeto de ancoragem é necessário conhecer os seguintes
elementos :

§ Características da tubulação : material, tipo de junta, espessura, diâmetro


interno e peso;

§ Características da conexão : ângulo de curva, raio, espessura, posição, diâmetro


interno e peso;

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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§ Planta e perfil cadastral da tubulação;

§ Natureza e características do solo;

§ Cota de localização da peça;

§ Pressão interna (no ponto da peça).

Blocos de Ancoragem ou de Escoramento

São utilizados para conter os esforços, evitando a possibilidade dos tubos


desembocarem das junções, ou ainda, mesmo no caso de juntas rígidas, evitando a
solicitação sobre os flanges ou sobre a tubulação. Existem quatro tipos principais de
blocos de escoramento : blocos de compressão, blocos de peso, blocos de atrito e blocos
estaqueados.
Os blocos de compressão são executados em concreto simples ou ciclópico,
armados ou não, e atuam apoiados na parede ou no fundo das valas (Figuras 51 e 52)

Figura 51 – Bloco de compressão com apoio na lateral da vala

Figura 52 – Bloco de compressão com apoio no fundo da vala

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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Os esforços (E) serão :

§ Para peças em TE e caps ou plugs :

E = p⋅S onde : S = π ⋅ d 2 4 (seção transversal do tubo)

p = pressão interna de serviço

§ Para curvas :

E = 2 ⋅ p ⋅ S ⋅ sen(α 2) onde : α = ângulo externo da curva

§ Para reduções :

E = p ⋅ (S1 − S 2 ) onde : S1 = seção transversal do tubo maior

S2 = seção transversal do tubo menor

O dimensionamento dos blocos será :

E
§ esforço no terreno : σ =
a ⋅b

§ sendo σterreno a tensão admissível no terreno tem-se :

E
a⋅b =
σterreno

§ a altura h do bloco pode ser tomada como 3/4 da maior dimensão entre a e b.

Os blocos de peso são adotados nos casos de curvas ou tês em que o empuxo está
dirigido para cima, conforme a figura 53.

Figura 53 – Bloco de peso

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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A condição de equilíbrio para este caso será : Peso do bloco (P) = Empuxo (E)

P = volume do bloco . peso específico do concreto (γconcreto)

volume do bloco = a . b . h = P / γconcreto

Tirantes de aço : So (seção transversal de uma barra de aço) = E / (4.σadm aço)

Os blocos de atrito (Fig. 54) são utilizados no caso de tubulações aparentes, ou


quando não é possível adotar o bloco de compressão. Atuam pela força de atrito que
aparece entre a base do bloco e o terreno. Geralmente são executados em concreto
ciclópico.

Figura 54 – Bloco de atrito


Nos blocos de atrito, o dimensionamento deve atender a duas condições principais :
§ força de atrito maior ou igual ao empuxo; e
§ não haver tração ou giro da base do bloco;
§ a tensão máxima do terreno deve ficar dentro do valor admissível a compressão.

Os blocos estaqueados (Figura 55) são utilizados quando da impossibilidade de


execução dos outros tipos de blocos; geralmente necessários para grandes diâmetros e
pressões elevadas.

Figura 55 – Bloco estaqueado

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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Em todos os casos de blocos de ancoragem, deve-se ter o cuidado, no projeto e na


execução, de deixar as juntas livres. No caso de flanges deve-se prever um espaço
mínimo para permitir a colocação ou retirada dos parafusos.

3.8.7 – Sistemas de travessias de vãos e tubulações assentes sobre apoio

Os sistemas de travessias de vãos são utilizados, quando se tem um vão de rio,


córrego ou vale, a atravessar. Sendo realizada esta travessia por cima a fim de que a
linha tenha fácil acesso.
Seja qual for o material da tubulação, a travessia deverá ser realizada,
preferencialmente, em aço, devido às suas características físicas fornecerem maiores
resistências e estabilidade à travessia.

As travessias podem ser (figura 56) : direta em vão livre, em quadro e em arco.

Figura 56 – travessias direta em


vão livre (a), em quadro (b) e em
arco (c).
c

Sempre que for necessário utilizar tubulação de aço entre estruturas de apoio, deve-
se prever a utilização de juntas de dilatação.
As travessias em quadro e em arco devem ter obrigatoriamente ventosas em seu
ponto mais alto e descargas nos pontos baixos.
Além das travessias, a necessidade de instalar as linhas de adução apoiadas
(assentes sobe apoios) decorre das seguintes situações básicas :

§ travessias de terrenos de pouca consistência (mangues, etc.);

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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§ terrenos de difícil escavação (rocha, material de decomposição de rocha ou


semelhante);

§ trechos aparentes em declives; e

§ saídas de casas de bombas e entrada e saída de reservatórios.

A distância entre apoios é variável com o tipo de material do tubo e do tipo de


junta. Os esforços devido a flexão devem ser absorvidos pelo próprio material da
tubulação, com um dimensionamento adequado para a espessura das paredes. O
exemplo da Figura 57 a seguir ilustra o diagrama de momentos fletores para uma
tubulação do tipo ponta e bolsa, junta flexível e com 2 apoios por tubo.

Figura 57 – Exemplo de esforços atuantes em uma tubulação apoiada

3.8.8 – Assentamento das Tubulações em Valas

As tubulações enterradas estão sujeitas à carga do próprio solo e às cargas móveis,


que podem afetar sensivelmente a tubulação, provocando vazamentos e arrebentamentos
destas, devido a sua deformação diametral.
Logo, a tubulação deve estar assentada à uma profundidade mínima denominada de
recobrimento (r) medida da superfície do solo até a geratriz superior externa dos tubos.
A tabela 16 a seguir apresenta alguns valores usuais de recobrimento em função do
material da tubulação.

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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Tabela 16 – Profundidades mínimas para tubulações enterradas

Material Recobrimento r (m)

do Trânsito leve Trânsito pesado

tubo

Ferro fundido c/ junta de chumbo 0,70 0,90

Cimento amianto 0,80 1,20

PVC e Polietileno 0,80 1,20

Concreto armado 0,70 0,90

Ferro dúctil c/ junta elástica 0,50 0,70

Aço 0,50 0,70

Para terrenos de boa consistência as valas podem ser retangulares e para terrenos de
média consistência ou para maiores profundidades as valas devem ser executadas com
taludes ou com banquetas (figura 58).

Figura 58 – Tipos de valas em função do terreno e da profundidade

A largura b da vala, de acordo com a norma brasileira, deverá ser igual ao diâmetro
externo D da tubulação acrescido de 15 cm para cada lado, conforme pode ser visto na
figura acima. Logo : b = D + 0,30m .

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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O reaterro das valas deverá ser executado conforme a figura 59 a seguir :

Figura 59 – Reaterro das valas

Para proteção da tubulação, em locais de cargas e tráfego pesado, podem ser


construídas lajes ou canaletas e tubos de concreto, sendo que as tubulações deverão
estar desvinculadas destas proteções e serem envolvidas com material granular ou pó de
pedra, conforme a figura 60 a seguir.

Figura 60 – Proteção sobre as tubulações

No caso de travessias de linhas férreas, devem ser estudadas as profundidades e as


proteções ideais para as tubulações, sedo que para as profundidades, devem ser
acrescidas no mínimo 30 cm em relação às profundidades do trânsito pesado.

3.8.9 – Dimensionamento das Adutoras

A vazão de projeto Q para dimensionamento de uma adutora depende da concepção


do sistema de abastecimento, ou seja, se a adução for ou não contínua e se houver ou
não reservação, conforme as fórmulas seguir :

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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k1 ⋅k 2 ⋅q ⋅ P
§ Adução contínua sem reservatório : Q=
86.400

k1 ⋅ q ⋅ P
§ Adução contínua com reservatório : Q=
86.400

k1 ⋅ q ⋅ P
§ Adução descontínua com reservatório : Q=
3.600 ⋅ n

onde : Q = vazão (l/s)


P = população abastecida ou de projeto (número de habitantes)
q = consumo diário “per capita” (l/hab.dia)
k1 = coeficiente do dia de maior consumo;
k2 = coeficiente da hora de maior consumo do dia de maior consumo;
n = número de horas de funcionamento da adução por dia (horas)

O dimensionamento hidráulico das adutoras é realizado empregando as fórmulas


para escoamento livre e escoamento forçado apresentadas na disciplina de Hidráulica
Básica.

Adutoras por Gravidade

Nas adutoras por gravidade, devem ser conhecidos, além da vazão de projeto, o
comprimento da tubulação e o material do conduto, que determina sua rugosidade. O
comprimento do trecho e a diferença entre os níveis de água são quase sempre dados
físicos previamente fixados. Os coeficientes que estabelecem relação com a rugosidade
do material são estudados e tabelados nos compêndios de hidráulica.
No caso de condutos forçados, utilizam-se geralmente as fórmulas de Hazen-
Williams (para diâmetros de 50 a 3500 mm) e Universal. Para o caso de condutos livres
podem ser empregadas as fórmulas de Bazin, Chezy, Manning e Ganguillet-Kutter.
Entre os problemas hidráulicos, há ainda aqueles que dizem respeito à verificação
das condições de operação de uma adutora existentes, para conhecimento da vazão
aduzida, ou para estudar a substituição ou duplicação de trechos de canalização, visando
aumentar o escoamento.

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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Adutoras por Recalque

Procura-se, nos problemas de adução por recalque, determinar o diâmetro


necessário D da linha e a potência P das bombas, que vão gerar a pressão necessária
para vencer o desnível requerido, para a vazão desejada. Para um pré-dimensionamento
do diâmetro, algumas expressões foram desenvolvidas baseadas em uma série de
hipóteses simplificadoras.
§ Para adução contínua (24 horas) pode-se empregar a fórmula de Bresse :
D=k⋅ Q

onde :
D = diâmetro da tubulação (m);
Q = vazão de adução (m3/s);
k = coeficiente com dimensão de velocidade elevado a ½ . (o valor de k depende do
peso específico da água, do regime de trabalho e rendimento do conjunto
elevatório, da natureza do material da tubulação entre outros. De um modo geral,
poderá ser tomado como 1,2, principalmente quando se utilizam tubos de ferro
fundido.

§ Para adução descontínua (< 24 h) pode-se empregar a fórmula de Forchheimer :


D = 1,3 ⋅ ( X / 24 )1 / 4 ⋅ Q1 / 2
onde :
D = diâmetro da tubulação (m);
Q = vazão de adução (m3/s);
X = ( número de horas de bombeamento / 24 ).

Aspectos a serem considerados no projeto de adutoras

Alguns aspectos devem ser considerados no dimensionamento de linhas adutoras,


conforme descrição a seguir :

§ A rigor, no dimensionamento de linhas adutoras deveriam também ser


computadas as perdas de carga localizadas na entrada e na saída das tubulações,
nas mudanças bruscas de direção e nas peças especiais que possam existir no
seu trajeto. Contudo, em adutoras longas, tais perdas localizadas atingem na
maioria dos casos um valor desprezível, comparativamente às perdas por atrito

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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ao longo da tubulação. Por este motivo, são geralmente desprezadas nos


cálculos mais comuns as perdas de carga localizadas;

§ A velocidade máxima de escoamento nas adutoras por recalque deve ser de


2,50 m/s. Geralmente as velocidades em adutoras devem estar entre 0,75 e 2,50
m/s. O limite máximo de velocidade nas adutoras tem por finalidade evitar
possibilidade de efeitos dinâmicos nocivos, desgaste das tubulações e peças
acessórias e controle da corrosão. A velocidade mínima evita deposições nas
canalizações, porém é estabelecida principalmente para os sistema de adução de
água bruta que contêm material em suspensão, e fica em torno de 0,25 a 0,40
m/s. A tabela a seguir, extraída de Azevedo Netto, permite um pré-
dimensionamento das linhas adutoras.

Tabela 17 – Pré-dimensionamento das adutoras e linhas de recalque

§ Na verificação da pressão interna, considera-se a pressão interna na adutora,


considera-se a pressão de serviço, ou pressão dinâmica, equivalente à distância
compreendida entre a tubulação e a linha piezométrica (figura 61). Se adutora
for dotada de dispositivo de fechamento na extremidade de jusante ou em ponto

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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intermediário, reinará a montante deste ponto uma pressão estática superior à


pressão de serviço, quando o registro estiver completamente fechado, ou seja,
sem escoamento (figura 61).

Figura 61 – Pressão máxima dinâmica e máxima estática - representação

§ Se houver a ocorrência de pressões dinâmicas ou estática excessivas, a adutora


poderá ser dividida em trechos, intercalando-se reservatórios ou caixas
intermediárias de quebra de pressão, em que o nível de água se encontra a
pressão atmosférica. No trecho subseqüente à caixa, as pressões serão contadas
a partir desse último nível. (figura 62);

Figura 62 – Adutora de Gravidade com Caixas de Quebra-Pressão

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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§ No traçado de uma adutora em conduto forçado, deve-se fazer com que a linha
piezométrica fique sempre acima da tubulação. Caso contrário, o trecho situado
na referida linha terá pressão inferior à atmosférica, situação que deverá sempre
ser evitada. Os livros e manuais de hidráulica mostram os diferentes casos de
tubulações situadas acima da linha piezométrica e apontam os danos que podem
causar ao funcionamento da adutora. Lembra-se que há casos em que o
escoamento poderá tornar-se muito irregular ou mesmo deixar de existir.

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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3.9 – Estações Elevatórias

Estações Elevatórias são instalações de bombeamento destinadas a transportar a


água a pontos distantes ou mais elevados, ou para aumentar a vazão de linhas adutoras.
Muito raramente, nos dias atuais, são encontrados sistemas de abastecimento de água
que não possuam um ou vários conjuntos de bombas.
As estações elevatórias são mais utilizadas nos sistemas de abastecimento de água
para :
§ Captar a água de superfície ou de poço;
§ Recalcar a água a pontos distantes ou elevados;
§ Reforçar a capacidade de adução.
A utilização das estações elevatórias dentro do Sistema de Abastecimento de Água
tem as seguintes desvantagens :
§ Elevam despesas de operação devido aos gastos com energia;
§ São vulneráveis a interrupções e falhas no fornecimento de energia;
§ Exigem operação e manutenção especializada, aumentando ainda mais os custos
com pessoal e equipamentos.

3.9.1 – Componentes de uma Estação Elevatória

As instalações elevatórias típicas são formadas por (Figura 63) :


§ Casa de Bombas : edificação própria destinada a abrigar os conjuntos moto-
bomba. Deve ter iluminação e ventilação adequadas e ser suficientemente
espaçosa para a instalação e movimentação dos conjuntos elevatórios, incluindo
espaço para a parte elétrica (quadro se comando, chaves e demais dispositivos
de controle).
§ Bomba : equipamento encarregado de succionar a água retirando-a do
reservatório de sucção e pressurizando-a através de seu rotor, que a impulsiona
para o reservatório ou ponto de recalque.
§ Motor de acionamento : equipamento encarregado do acionamento da bomba.
O tipo de motor mais utilizado nos sistemas de abastecimento de água é o
acionado eletricamente.
§ Linha de Sucção : conjunto de canalizações e peças que vão do poço de sucção
até a bomba.

140
Unidade Didática II – Abastecimento de Água
_____________________________________________________________________________________

§ Linha de Recalque : conjunto de canalizações e peças que vão do poço de


sucção até a entrada da bomba.
§ Poço de Sucção : reservatório de onde a água será recalcada. Sua capacidade ou
volume deve ser estabelecido de maneira a assegurar a regularidade no trabalho
de bombeamento.

Figura 63 – Estação Elevatória Típica de uma Captação Superficial

3.9.2 – Recomendações para Projeto de Elevatórias

A principal norma brasileira de interesse para projeto de elevatórias é a NBR


12214/92 (Projeto de Sistema de Bombeamento de Água para Abastecimento Público).
A seguir tem-se algumas recomendações, não necessariamente desta norma.

Número de Conjuntos

Um sistema de abastecimento de água não pode sofrer soluções de continuidade sob


pena de ter sua eficiência, medida pelo binômio quantidade e qualidade, comprometida.
É tecnicamente inadmissível que em linhas por recalque o bombeamento seja
interrompido por falta de funcionamento dos equipamentos em decorrência de
problemas de problemas mecânicos e de manutenção preventiva. Para que tal situação
não ocorra as estações elevatórias são dimensionadas com conjuntos de reserva de modo

141
Unidade Didática II – Abastecimento de Água
_____________________________________________________________________________________

que sempre que ocorrer impossibilidade de funcionamento de alguma máquina, esta seja
substituída por outra de igual capacidade para manter o pleno funcionamento da linha.
O numero de conjuntos de reserva deve ser compatível com as condições operacionais e
deve ser de, pelo menos, um conjunto reserva.
Cabe ressaltar que em grandes e médios conjunto elevatórios, em termos práticos,
deve ser prevista uma reserva de conjuntos moto-bombas de no mínimo 20 % do total
de conjuntos moto-bombas operacionais (ou seja, deve-se ter uma reserva de no mínimo
20 % da potência operacional). Os conjuntos moto-bombas reservas devem ser
colocados em operação periodicamente, revezando o seu funcionamento com as demais
bombas elevatórias. Tal procedimento objetiva evitar danos nos equipamentos parados
(corrosão, emperramento e etc) e permitir uma vida útil uniforme de todos os
equipamentos da estação elevatória.

Seleção de Bombas

São condições fundamentais para seleção das bombas, as hidráulicas do


escoamento, ou seja, o ponto de funcionamento do sistema, a natureza do projeto, as
características da água a ser recalcada, os equipamentos existentes no mercado e a
similaridade com os já instalados e em operação para flexibilizara reposição de peças
defeituosas ou desgastadas. Além disso, também deve ser elaborado um estudo
intensivo da dimensão da obra e etapas de construção, e um programa que facilite a
operação e a manutenção dos serviços.

Informações Necessárias à Aquisição de Bombas

Para aquisição das bombas, devem ser fornecidas ao fabricante as seguintes


informações principais :

a. Natureza do líquido a recalcar : água limpa (potável), água bruta, esgoto, etc;
b. Vazão necessária (de acordo com a vazão de projeto calculada);
c. Altura manométrica total;
d. Período de funcionamento ou tempo de operação das bombas;
e. Energia disponível no local : número de fases, tensão e ciclagem;
f. Condições de funcionamento : afogada ou não;
g. Número de unidades (operacionais e reserva).

142
Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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Casa de Bombas

As bombas deverão estar alojadas em uma edificação denominada de casa de


bombas. Este edifício deverá ter dimensões tais que tenham espaços suficientes para
permitirem com certa comodidade montagens e desmontagens dos equipamentos e
circulação de pessoal de operação e manutenção, de acordo com as normas técnicas em
vigor e com as recomendações dos fabricantes.
Também devem ter espaço e estrutura para instalação de equipamentos de
manutenção e serviço, tais como vigas (para instalação de pontes rolantes, roldanas,
etc), pórticos e aberturas em pisos e paredes.
Estudos sobre a disposição dos equipamentos e drenagem dos pisos são essenciais.
Na elaboração do projeto arquitetônico é importante o estudo da iluminação, ventilação
e acústica. O emprego de degraus deve ser restrito, mas sempre que for necessário não
poderão ser economizados corrimãos.

Poço de Sucção

Conforme a situação do nível de água no poço de sucção em relação à boca de


entrada da bomba, há dois casos a considerar (Figura 64) :
1. Poço com nível de água abaixo da bomba : existe neste caso uma altura de
sucção a ser vencida pela bomba, necessitando a mesma ser escorvada para
poder funcionar ou ter mecanismo auto-escorvante.
2. Poço com nível de água acima da bomba : existe uma carga permanente sobre a
boca de entrada da bomba que, neste caso, trabalha afogada.

Figura 64 – Bomba afogada (direita) e não afogada (esquerda)

143
Unidade Didática II – Abastecimento de Água
_____________________________________________________________________________________

Em abastecimento de água é mais comum encontrar-se o caso do poço situado


abaixo da bomba (bomba não afogada). Apresenta a vantagem de se poder montar o
conjunto de recalque ao nível do terreno, ou mais acima, em ambiente claro e ao abrigo
das inundações. Entretanto devido a necessidade de escorva a operação torna-se mais
trabalhosa. O sistema de bombas afogadas é freqüentemente utilizado junto a
reservatórios enterrados ou semi-enterrados, para transferência de água para
reservatórios elevados. Como desvantagens tem-se o maior custo das escavações e
estruturas e o perigo de inundações do salão de máquinas.
Deverão ser tomadas precauções especiais, no bombeamento de água tratada, para
que não haja contaminação da mesma com a entrada de líquidos ou materiais estranhos
no poço. É necessário que o poço seja coberto e que as águas de enxurrada, de lavagem
de pisos ou de respingo das bombas sejam impedidas de entrar. A figura 65 a seguir
ilustra detalhes construtivos de proteção sanitária.

Figura 65 – Proteção sanitária de poço de sucção

A seguir serão apresentados alguns detalhes que devem ser observados nas
dimensões dos poços de sucção.
A altura mínima de água acima da boca de sucção recomendada na prática, para
evitar a formação de vórtice, deve ser igual a 2 à 3 vezes o diâmetro (D) da tubulação de
sucção, conforme figura 66 a seguir.

Figura 66 – Altura mínima de


água no poço de sucção

144
Unidade Didática II – Abastecimento de Água
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A distância entre a entrada da boca da sucção e o fundo do poço deve ser superior a
1, 5 D.
As dimensões mínimas recomendadas entre as instalações das bombas e as paredes
de um poço de sucção devem seguir o recomendado pelos fabricantes. A figura 67 a
seguir ilustra algumas distâncias mínimas recomendadas em função do diâmetro D da
tubulação de sucção, para um poço de sucção típico.

Figura 67 – Distâncias mínima em um poço de sucção (detalhe em planta)

Tubulações e órgãos acessórios

As estações elevatórias compreendem além das bombas propriamente ditas, um


conjunto de tubulações, peças especiais e órgãos acessórios. As tubulações das casas de
bombas são geralmente de ferro fundido com juntas de flange. Em se tratando de
diâmetros maiores maiores utilizam-se também tubos de aço.
Os diâmetros das tubulações dentro das estações elevatórias são fixados tendo em
vista não ocasionar demasiadas perdas de carga, pois irão afetar a altura manométrica de
elevação e maior dispêndio de energia elétrica. Na sucção, perdas de cargas elevadas
poderão dar origem a cavitação.
Os principais órgãos acessórios conectados às tubulações de uma estação elevatória
são: registros, válvulas de retenção, válvulas de pé, reduções excêntricas, válvula anti-
golpe de aríete e manômetros.
As válvulas de pé são peças conectadas na extremidade de tubulações de sucção em
instalações de bombas não afogadas. Assegurando a passagem da água somente em
direção a bomba permitem que as tubulações de sucção mantenham-se sempre cheias

145
Unidade Didática II – Abastecimento de Água
_____________________________________________________________________________________

mesmo quando a bomba for paralisada. As válvulas de pé vêm geralmente


acompanhadas de um crivo destinado a reter corpos estranhos.
Em estações elevatórias onde se pretende obter um contínuo controle das pressões,
podem ser instalados manômetros junto à saída das bombas.
As figuras 68 e 69 a seguir apresentam em detalhes, o modo correto de instalação
das tubulações e acessórios de estações elevatórias.

Figura 68 – Instalação típica de bomba não afogada e afogada

Figura 69 – Esquema de montagem de um grupo de recalque de grande capacidade

Dimensionamento do conjunto elevatório

O conjunto elevatório (moto-bomba) deverá vencer a diferença de nível entre os


dois pontos mais as perdas de carga em todo o percurso (perda por atrito ao longo da
canalização e perdas localizadas devidos às peças especiais). Esta altura é conhecida co
altura manométrica total, representada na Figura 70 por pressão total.

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Unidade Didática II – Abastecimento de Água
_____________________________________________________________________________________

Figura 70 – Instalação típica de elevatória e grandezas envolvidas

O cálculo das diversas parcelas que compõem a altura manométrica total pode ser
encontrado em vários livros de hidráulica e não faz parte do programa deste curso
repetir. A potência (P) de um conjunto elevatório é dado pela fórmula :

γ ⋅Q⋅ H
P=
75 ⋅ η
onde :
P = potência (cv) 1 cv = 0,986 HP
γ = peso específico do líquido a ser elevado (água : 1000 kg/m3);
Q = vazão elevada (m3/s);
H = altura manométrica total (m)
η = rendimento do conjunto motor bomba = ηmotor . ηbomba

O rendimento do conjunto motor bomba η pode ser encontrado em catálogos de


fabricantes.

147
Unidade II – Abastecimento de Água
_____________________________________________________________________________________

3.10 - Reservatórios de Distribuição

A principal norma de referência para projeto e dimensionamento de Reservatórios


de Distribuição é a NBR 12217 / 94 da ABNT.

a) Finalidades :

Os reservatórios de distribuição permitem armazenar a água para atender as


seguintes finalidades :

1) Atender as variações de consumo;


2) Atender as demandas de emergência;
3) Melhorar as condições de pressão na rede.

1) Atender as variações de consumo

O consumo de água de uma cidade não é constante, variando no decorrer das 24


horas do dia. As unidades do sistema de abastecimento antes do reservatório são
dimensionadas para a vazão média do dia de maior consumo (através do emprego do
fator k1), enquanto que a rede de distribuição à jusante do reservatório é dimensionada
para a vazão máxima da hora de maior consumo desse dia (através do emprego do fator
k2). Em consequência as unidades à montante do reservatório terão dimensões mais
econômicas e serão operadas com maior eficiência e facilidade devido à vazão de
dimensionamento constante.

2) Atendimento as demandas de Emergência

Os reservatórios permitem a continuidade do abastecimento quando é necessário


interromper o fornecimento para manutenção de unidades como Captação, Adução,
ETA e Elevatórias. Podem também dimensionadas para permitir o combate à incêndios,
em situações especiais onde o patrimônio e a segurança da população estejam
ameaçados.

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Unidade II – Abastecimento de Água
_____________________________________________________________________________________

Algumas outras demandas especiais podem elevar sensivelmente o custo dos


reservatórios e das redes de distribuição como por exemplo no caso de estâncias
balneárias ou climáticas.

3) Melhoria das Condições de Pressão da Rede Distribuidora

A localização dos reservatórios de distribuição pode influir nas condições de pressão


da rede de distribuição, principalmente reduzindo as variações de pressão em certas
áreas, mantendo pressão mínima ou constante na rede. Cuidado especial deve-se ter
também com a pressão máxima estática admissível na rede.
Quando localizados junto as áreas de maior consumo, nas proximidades de locais
onde existam edifícios e instalações a proteger contra incêndio ou nas proximidades do
“Centro de Massa” da distribuição, possibilita uma melhor distribuição da água e
melhores pressões nos hidrantes devido à redução das oscilações de pressão na rede.

b) Tipos de Reservatórios

Quanto à localização no sistema se dividem em Reservatório de Montante e de


Jusante.

Ø Reservatório de Montante

Situados à montante da rede de distribuição. Por ele passam toda água distribuída a
jusante da rede. Causam uma variação relativamente grande de pressão nas
extremidades de jusante da rede. Tem entrada por sobre o nível máximo da água e saída
no nível mínimo, conforme esquema abaixo.

NA máx NA
Entrada
NA mín LP mínimo consumo

Grandes Saída
LP máximo consumo variações de
pressão na ponta
da rede

Figura 71 – Reservatório de Montante

149
Unidade II – Abastecimento de Água
_____________________________________________________________________________________

Ø Reservatório de Jusante

Também chamado de reservatório de sobras porque recebe água durante as horas de


menor consumo e auxilia o abastecimento da cidade durante as horas de maior
consumo. Este reservatório possibilita uma menor oscilação de pressão nas zonas de
jusante da rede. Neles, uma só tubulação, que parte do fundo do reservatório serve para
a entrada e a saída da água. Nas horas de maior consumo da cidade o reservatório ajuda
a abastecer a rede e nas horas de menor consumo da cidade o reservatório é abastecido.

1 - LP mínimo consumo NA máx


1 - NA
NA mín
2 - NA

2 - LP máximo consumo

1 2
2
1

Reservatório de Reservatório de
Montante Jusante
Rede
Adutora Distribuidora

Figura 72 – Reservatório de Jusante e de Montante

Em um sistema de abastecimento pode ser ter somente um dos dois tipos de


reservatório ou os dois atuando ao mesmo tempo de acordo com estudos de pressões e
de vazões no sistema de abastecimento.
Quanto à posição no terreno os reservatórios podem ser Enterrados, Semi-
enterrados, Apoiados ou Elevados, de acordo com as condições topográficas do sistema
de abastecimento.

150
Unidade II – Abastecimento de Água
_____________________________________________________________________________________

Semi-Enterrado
Enterrado

Elevado

Apoiado

Figura 73 – Tipos de reservatório quanto à posição no terreno

Os tipos mais comuns são os semi-enterrados e os elevados. Os elevados são


projetados para quando há necessidade de garantia de uma pressão mínima na rede e as
cotas do terreno disponíveis não oferecem condições para que o mesmo seja apoiado ou
semi-enterrado, isto é, necessita-se de uma cota piezométrica de montante superior a
cota de apoio do reservatório no terreno local.
Desde que as cotas do terreno sejam favoráveis, sempre a preferência será pela
construção de reservatórios semi-enterrados, dependendo dos custos de escavação e de
elevação, bem como da estabilidade permanente da construção. Reservatórios elevados
com volumes superiores a 500 m3 implicam em custos significativamente mais altos,
notadamente os de construção e preocupações adicionais com a estabilidade estrutural.
A preferência é portanto sempre que possível pelo semi-apoiado, considerando-se
problemas construtivos, de escavação, de empuxos e de elevação.
Quanto ao material de construção os Reservatórios podem ser executados em :
Ø Alvenaria;
Ø Concreto Armado Comum (mais comum);
Ø Concreto Protendido;

151
Unidade II – Abastecimento de Água
_____________________________________________________________________________________

Ø Aço;
Ø Madeira;
Ø Fibra de Vidro, etc.

c) Influência da posição do reservatório no dimensionamento dos


condutos alimentadores principais da rede de distribuição

Ø Reservatório de Montante

NA máx R
k1 . k2 . P . q
NA mín
Q = _____________

86.400

Cidade

Q = Vazão de Dimensionamento (l/s)


P = População de Projeto (hab.)
q = vazão “per capita” diária (l/hab.dia)

R
Q A

R
Ø Reservatório de Jusante

D
Rede de
Distribuição

A
B C

Conduto A-B – Dimensionado para a vazão média do dia de maior consumo :

k1 . P . q
QAB = _____________

86.400

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Unidade II – Abastecimento de Água
_____________________________________________________________________________________

Conduto C-D – Dimensionado para a maior das duas vazões : QCD ou QDC.

QCD = Vazão no trecho CD na hora de Menor Consumo da Rede (Sentido do


Escoamento de C para D, ou seja enchendo o reservatório). Será a máxima vazão no
sentido de C para D.

Qmín = Vazão Mínima da Rede Durante a horas de Menor Consumo da Rede

k1 . P . q
QCD = QAB – Qmín QCD = _________ – Qmín

86.400

QDC = Vazão no trecho DC na hora de Maior Consumo da Rede (Sentido do


Escoamento de D para C, ou seja esvaziando o reservatório). Será a máxima vazão no
sentido de D para C, calculada pela diferença entre a vazão máxima consumida pela
rede (Qmáx) e a vazão média do dia de maior consumo (que dimensionou o trecho AB :
QAB).

k1 . k2 . P. q k1 . P . q k1 . P . q
QDC = ____________ – ________ QDC = (k2 –1) . ________
86.400 86.400 86.400

O dimensionamento do trecho CD deverá ser realizado com a maior das duas


vazões : QCD ou QDC.

d) Posição do reservatório de distribuição em cota

O reservatório de distribuição deve ser posicionado em uma cota acima do


terreno que garanta condições de pressão mínima em qualquer ponto da rede. A cota da
lâmina d’água deve então ser calculada levando em conta principalmente os pontos mais
altos e os mais distantes da rede de distribuição. Nos projetos, esta cota corresponde ao
nível médio operativo do Reservatório (NA m).

153
Unidade II – Abastecimento de Água
_____________________________________________________________________________________

Para cálculo da cota do NA devem ser conhecidos as cotas topográficas (Zi) dos
nós, as perdas de carga totais devido ao escoamento da água desde o reservatório até os
nós (hfi) e a pressão mínima requerida em qualquer ponto da rede de distribuição para
garantir um bom funcionamento do sistema (hmin).
Analisam-se então os prováveis pontos críticos da rede (mais afastados e mais
altos) obtendo-se para cada ponto a somatória Zi + hfi + hmin, adotando-se como cota da
lâmina mínima o maior dos valores encontrados.
R
NA m

hf 1
hf 2
hf 3
hf 4
hf 5

Z4
Z2 Z5
Z1
Q Z3

Z 1 + hf 1 + h min
.
Cota NA m = .
(menor dos valores) .
.
.
Z n + hf n + h min

Figura 74 – Posição do reservatório de distribuição em cota

Normalmente se adota, por efeitos práticos, para verificação das pressões na rede
distribuidora, o valor do NA médio operativo do reservatório que corresponde a
média entre o NA máximo e o NA mínimo.

e) Dimensionamento da capacidade dos reservatórios

Os reservatórios de distribuição são dimensionados de modo que tenham a


capacidade de acumular um volume útil que supra as demandas de equilíbrio, de
emergência e antiincêndio.

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Unidade II – Abastecimento de Água
_____________________________________________________________________________________

• Reserva de Equilíbrio ( C h )

Serve para suprir as variações de consumo da rede (oscilações horárias). É a reserva


de água acumulada. É acumulada nas horas de menor consumo para compensação nas
horas de maior demanda da rede, onde a vazão de consumo ultrapassa a vazão de
entrada constante no reservatório.
O volume de equilíbrio pode ser determinado por alguns métodos dentre eles o
Diagrama de Massas ou de Rippl, de maneira análoga ao dimensionamento da
capacidade útil de um reservatório de acumulação.
Um método mais simples é o baseado em Curva de Consumo Assimilada a uma
Senóide, que representa uma simplificação da curva de consumo de uma cidade,
conforme a seguir :

Vazão Volume excedente é


Horária armazenado no período de
(Q) consumo mínimo da rede para
atender o período de consumo
C eq máximo da rede.

Entrada (Qd)

Qmáx = k2 . Qd

Qd = Vdiário / 24

Saída (Q)

0 12 h 24 h Horas
do Dia

k1 . P . q Vazão Constante de Entrada no


Qd = _____________ Reservatório correspondente a vazão
horária média do dia de maior consumo =
3.600 . N (Volume Diário / 24 h)

Q = ( k2 –1 ) . (Vdiário / 24) . sen ( π t / 12 ) + (Vdiário / 24)

Vazão de Consumo da Rede (de Saída do Reservatório)

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Unidade II – Abastecimento de Água
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A Reserva de Equilíbrio (C h) a ser armazenada corresponde ao volume excedente no


período onde a vazão de saída supera a de entrada, conforme indicado no gráfico. Este
volume é representado através da seguinte fórmula :

C h = ( k2 –1 ) . Vdiário / π

Onde :

Vdiário = Volume Total consumido no dia de maior consumo;


k2 = coeficiente da hora de maior consumo do dia de maior consumo.

Tabela em função de k2

k2 C h = ( k2 – 1 ) . Vdiário / π

1,4 0,128 Vdiário

1,5 0,160 Vdiário

1,6 0,191 Vdiário

1,7 0,223 Vdiário

• Reserva Antiincêndio ( C i )

Para determinação da reserva de antiincêndio, deve-se consultar o Corpo de


Bombeiros responsável pela segurança contra incêndios da localidade. Com as normas
oficiais do Corpo de Bombeiros e as Normas da ABNT, e a partir da definição da
ocupação urbana da área, pode-se estimar o volume a armazenar no reservatório
destinada ao combate de incêndios na localidade.
Uma área residencial com casas isoladas tem um tratamento diferente de uma com
edifícios de apartamentos ou de uma área industrial ou comercial. Uma área residencial
com casas de alvenaria também tem um tratamento diferente de uma área com casas de
madeira.
Caracterizado o tipo de sinistro passível de ocorrência (natureza das edificações,
materiais de construção, a duração do incêndio e etc.) tem-se condições de definir o tipo
de hidrante a ser instalado bem como sua capacidade de vazão. Determinado a vazão

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Unidade II – Abastecimento de Água
_____________________________________________________________________________________

necessária por hidrante e a duração do incêndio tem-se condições de calcular o volume a


ser armazenado.

Logo a reserva de incêndio pode ser assim calculada :


C i = ( Q1 – Q2 ) . t

Onde :
• Q1 = Vazão necessária para combate à incêndio crítico;
• Q2 = Vazão auxiliar de emergência durante o incêndio obtida de uma origem
diferente da que fornece água para o reservatório de distribuição (se houver);
• t = duração do incêndio crítico.

Se Q2 = 0 C i = Q1 . t

Valores Usuais :
• Para densidades superiores a 150 hab / ha : Q 1 = 30 l / s;
• Para densidades abaixo de 150 hab /ha : Q 1 = 15 l / s.

Em São Paulo adotam-se para um incêndio com duração de 6 horas as seguintes vazões
e volumes:

Tipo de Edificação Vazões ( l/s ) C i (m3)


Pequenas Edificações 10 216

Edificações maiores e mais altas 20 - 30 432 – 648

Edifícios com grandes dimensões 40 – 50 864 – 1.080

Edifícios com grandes dimensões (diâmetro da rede = 300 mm) 100 2.160

Nos Estados Unidos costumam ser adotados os seguintes valores :

• Cidades menores (até 2.500 hab.) :


t = 5 horas de duração
C i = 1.158,21 . P ½ . [ 1 – 0,01 . P ½ ] P = popul. em milhares de hab.

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Unidade II – Abastecimento de Água
_____________________________________________________________________________________

• Cidades maiores (acima de 2.500 hab.) :


t = 10 horas de duração
C i = 2.316,42 . P ½ . [ 1 – 0,01 . P ½ ] P = popul. em milhares de hab.

• Reserva de Emergência ( C e )

Este volume destina-se a evitar que a distribuição entre em colapso sempre que
houver acidentes imprevistos com o sistema, tal que seja necessário o interrompimento
temporário de parte do sistema para manutenção, por exemplo, como o rompimento de
uma canalização adutora. Enquanto providencia-se o saneamento do problema, o
volume armazenado para suprimentos de emergência, também denominado de reserva
acidental, compensará a falta de entrada de água no reservatório, não deixando que os
consumidores fiquem sem água.
Em geral a Reserva de Emergência (Ce) corresponde a 25 % do Volume Total do
Reservatório (Ctotal), o que corresponde a terça parte da Reserva de Equilíbrio (Ch)
mais a de Incêndio (Ci) :

Ce = ¼ C total C total = Ch + Ci + Ce

Ce = ¼ Ch + ¼ Ci + ¼ Ce ¾ Ce = ¼ Ch + ¼ Ci 3 Ce = Ch + Ci

Ce = 1/3 ( Ch + Ci )

• Volume Total a Reservar ( C total ) :

C total = Ch + Ci + Ce
Corresponde ao maior dos dois valores :
C total = 1/3 Vdiário

Onde : Vdiário = Volume total diário consumido no dia de maior consumo

f) Dimensões econômicas para reservatórios

A forma mais econômica é a circular por gastar menos material de construção,


principalmente se a relação entre a altura do reservatório (H) e o seu diâmetro (D)
estiverem na relação : 1: 2
158
Unidade II – Abastecimento de Água
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D=2H

H 1
___ = ____
H D 2

No caso de reservatórios retangulares divididos em duas células, de mais fácil


execução, a forma mais econômica é a que atende a seguinte relação :

X X

X 3
___ = ____
Y
Y 4

g) Recomendações gerais e detalhes sobre projetos de reservatórios de


distribuição

• Divisão do reservatório em pelo menos dois compartimentos, cada um podendo


funcionar independente do outro, para ocasiões de limpeza ou reparo. Em
reservatórios elevados pode existir um único compartimento, isto é, não são
subdivididos, neste caso um sistema de válvulas deve existir permitindo o
isolamento do reservatório sem interrupção do abastecimento, o que se consegue por
meio de uma passagem direta (“by-pass”);
• Canalizações de entrada de água no reservatório, uma para cada compartimento,
cada uma provida de registro para isolamento da unidade. Dependendo do sistema
de operação previsto para o reservatório, cada canalização deverá ter uma válvula
para fechamento automático ao se atingir o nível d’água máximo;
• Deve existir uma canalização de saída para cada compartimento, provida de registro
para isolamento de cada unidade. A saída deve ser feita pelo fundo com um ressalto

159
Unidade II – Abastecimento de Água
_____________________________________________________________________________________

de 5 a 10 cm. O tudo de saída deve-se conectar ao fundo do reservatório mediante


uma curva de 90º ou diretamente através da parede lateral de um pequeno poço
formado por rebaixamento de um trecho da laje de fundo;
• Canalização extravasora de água, para cada compartimento, descarregando
diretamente (sem válvulas) para fora do reservatório, ao ar livre ou em canalizações
de descarga. Vertedores de extravasamento em forma de reservatório ou em forma
de tubo vertical terminado em boca de sino. O extravasor deve ser dimensionado
para a máxima vazão capaz de alimentar o reservatório. A folga mínima entre a
cobertura e o nível máximo atingido pela água em extravasão é de 0,30 m;
• Canalização de descarga para limpeza do reservatório, uma para cada
compartimento, providas de válvulas. Ligação ao fundo do reservatório de modo
análogo ao das canalizações de saída, porém sem o ressalto mencionado. Inclinação
da laje de fundo do reservatório no sentido do orifício de descarga, com declividade
da ordem de 0,5 % ou mais. Proteção do orifício de descarga com uma grade;
• Aberturas para inspeção do reservatório, com dimensões mínimas de 0,60 m,
convenientemente localizadas e protegidas contra a possibilidade de contaminação.
As bordas da abertura de inspeção devem estar pelo menos 0,10 cm acima da
superfície da cobertura, para impedir infiltração de águas externas;
• Escadas de acesso oferecendo apropriada segurança para os operadores,
especialmente no caso de torres de água. Guarda-corpo, degraus e patamares
intermediários convenientemente estudados. No caso de reservatórios elevados deve
ser prevista escada interna permanente. As escadas devem ter degraus de
espaçamento máximo uniforme de 0,30 m e espaço livre, atrás da escada, não
inferior a 0,18 m;
• Cobertura adequada do reservatório. Impedir ao máximo no interior do reservatório,
a iluminação natural (desenvolvimento de algas);
• Indicador direto do nível d’água no reservatório (sistema flutuador ou pneumático)
e/ou sistema a distância, para o serviço de operação poder controlar corretamente os
volumes armazenados disponíveis;
• Precauções especiais no sentido de assegurar a impermeabilização das paredes do
reservatório;
• Dispositivos de ventilação, de modo a evitar pressões diferenciais perigosas de ar no
interior do reservatório;

160
Unidade II – Abastecimento de Água
_____________________________________________________________________________________

• Sinalização de torres, para proteção áerea, sempre que necessário, a juízo das
autoridades competentes (Ministério da Aeronáutica);
• Sistema de Para-raios também devem ser previsto.

h) Detalhes de reservatórios

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Unidade II – Abastecimento de Água
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Figura 75 – Cortes do Reservatório Semi-Enterrado

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Unidade II – Abastecimento de Água
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Abertura de Inspeção

Escada de Acesso

Chaminés de Ventilação

Figura 76 – Abertura de Inspeção, Escadas de Acesso e Chaminés de Ventilação

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Unidade II – Abastecimento de Água
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Figura 77 – Detalhe de um Reservatório Elevado – Tipo Stand-Pipe

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Unidade II – Abastecimento de Água
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3.11 - Redes de Distribuição

A principal norma de referência para projeto e dimensionamento de Redes de


Distribuição é a Norma de Referência NBR 12218 / 94 da ABNT.

a) Conceito

Uma rede de distribuição é um conjunto de tubulações e de suas partes acessórias


destinado a colocar a água a ser distribuída a disposição dos consumidores, de forma
contínua e em pontos tão próximos quanto possível de suas necessidades. Os condutos
são assentes nas vias públicas, junto aos edifícios, com a função de conduzir a água para
os prédios e para os pontos de consumo público.

b) Condutos de uma rede distribuidora

Em uma rede de distribuição distinguem-se 2 tipos de conduto :


• Condutos Principais ( condutos troncos ou mestres) : são canalizações que
abastecem extensas áreas da cidade e possuem grandes diâmetros;
• Condutos Secundários : são canalizações que estão em contato mais direto com
os pontos de consumo; são abastecidos pelos condutos principais e possuem
menores diâmetros; suas áreas de ação são mais localizadas.

c) Classificação das redes de distribuição

• Quanto ao traçado podem se dividir em ramificada e malhada :

Rede Ramificada : Caracterizada por uma artéria principal, da qual partem transversais
que dão um formato de “espinha de peixe”, nome pelo qual também é conhecida. É
comum em pequenas localidades de traçado linear.

Tubulação Tronco

Figura 78 – Rede Ramificada

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Unidade II – Abastecimento de Água
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Nas tubulações secundárias dessas redes, a água desloca-se invariavelmente em


único sentido, de tubulação tronco para a extremidade morta. Apresenta a desvantagem
de que uma interrupção acidental em um conduto principal prejudica as áreas situadas a
jusante da seção interrompida.

Rede Malhada : São aquelas cujos condutos formam verdadeiras malhas, nas quais a
água pode se deslocar num ou noutro sentido, dependendo da solicitação do consumo.
Isto permite que uma tubulação seja reparada sem prejudicar o abastecimento de
grandes áreas, pois a água efetuará um caminhamento diferente através de outros
condutos. Nesta ocasião basta fechar os registros de manobra das extremidades do
trecho a ser reparado para isolá-lo do conjunto.

Este tipo de rede é adotado em quase todos os centros urbanos. Ao contrário das
redes ramificadas que apresentam uma tubulação tronco, nas redes malhadas existem
várias canalizações principais, formando vários anéis.

Condutos
Condutos Principais
Secundários Anéis

Tubulação Tronco
ou Alimentadora

Figura 79 – Rede malhada

• De acordo com a alimentação dos reservatórios :

− Com reservatório de montante;


− Com reservatório de jusante (pequenos recalques ou adução por gravidade);
− Com reservatório de montante e jusante (grandes cidades);
− Sem reservatório, alimentada diretamente da adutora (pequenas comunidades)
166
Unidade II – Abastecimento de Água
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• De acordo com a água a ser distribuida a rede pode ser simples ou dupla :

− Rede Simples (rede exclusiva de água potável);


− Rede Dupla (uma rede de água potável e uma outra de água sem tratamento, no
caso de cidades onde a água de boa qualidade é escassa, distribuindo água sem
tratamento para usos menos nobres como chafarizes, limpeza pública e etc.)

d) Pressões na rede (zonas de pressão)

Para atender aos consumidores das partes mais elevadas, com uma pressão
estática mínima, o reservatório deverá ser instalado num ponto dominante. Assim, nas
zonas baixas ocorrerão altas pressões na tubulações, havendo necessidade de se usar
nesses trechos tubos com maior resistência e que naturalmente são mais caros. Nestas
regiões, tem-se também agravados os problemas referentes a vazamentos em juntas e
defeitos nas instalações domiciliares.
As pressões recomendadas para uma rede de distribuição são :
• Pressão Mínima Dinâmica : 10 mca (suficiente para garantir o abastecimento
direto para um prédio de 3 andares);
• Pressão Estática Máxima : 60 mca;
Os valores usuais adotados em projetos para as pressões na rede variam entre 15
e 50 mca. As tolerâncias podem ser vistas no quadro a seguir :

Tabela18 – Valores de Pressão Máxima Estática e Dinâmica

Pressão Tolerâncias

Até 60 mca – para 10 % da área total


Pressão Máxima Estática
Até 70 mca – para 5 % da área total

Até 10 mca – para 10 % da área total


Pressão Mínima Dinâmica
Até 8 mca – para 5 % da área total

Quando a cidade se desenvolve em terrenos acidentados com diferenças de nível


muito grandes, a adoção de uma só rede e reservatório abastecendo toda a localidade
pode não ser vantajosa, implicando em pressões elevadas nas zonas baixas,
recomendando para estes casos uma subdivisão da rede por zonas de pressão de modo
que as pressões sejam mantidas dentro dos limites toleráveis.
167
Unidade II – Abastecimento de Água
_____________________________________________________________________________________

Divide-se a cidade então em zonas com diferenças de cotas menores que 50 mca,
lançando-se em cada zona uma rede de distribuição suprida por reservatório próprio. A
adução desses reservatórios pode ser feita por bombas independentes ou de um para o
outro, conforme figura a seguir.

R4 R3 R1
R2

Adução

200
50 100 150

Figura 80 – Redes por Zonas de Pressão

Outra solução adotada quando não se deseja colocar novos reservatórios é a


instalação de “caixas quebra-pressão” (conforme figura 81 abaixo). Nessas caixas há
um sistema de bóias que mantêm o nível d’água a uma altura constante, independente
da pressão de entrada da água. Regulando-se o nível pode-se ter a pressão desejada.

Caixa Quebra Pressão

Água saindo com pressão Água chegando com pressão


igual a H maior que H

Figura 81 – Caixas quebra-pressão

168
Unidade II – Abastecimento de Água
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e) Disposição das tubulações e traçado das redes

Num sistema de distribuição de água, as canalizações são normalmente assentadas


sob as ruas, principalmente em :
• Ruas sem pavimentação;
• Ruas com pavimentação menos onerosa;
• Ruas de menor intensidade de trânsito;
• Proximidades de grandes consumidores;
• Proximidades de área e de edificações que devam ser protegidas contra
incêndios.
Tais disposições, principalmente as 3 primeiras, tem a vantagem de não atrapalhar o
trânsito em ruas de grandes movimentos por ocasião de construção e reduzir o custo de
recomposição do logradouro. Os condutos são colocados a aproximadamente 1/3 da
largura da pista, a contar do meio-fio, para que se tenha espaço para assentar outras
canalizações (esgoto, drenagem, energia elétrica e telefone).
Em certos casos a solução mais correta é a adoção de duas tubulações ao invés de
uma, em determinadas artérias da cidade, onde a largura for muito grande, o tráfego
muito intenso ou revestidas com pavimentos de difícil recomposição. Ao se instalar o
sistema de duas canalizações, estas deverão ser assentadas sob os passeios.
No caso de tubulação única, o custo da rede pública é menor, sendo maior o das
ligações domiciliares por serem mais extensas, o inverso ocorre com tubulação dupla. O
estudo do orçamento global da rede e das ligações domiciliares indicará a largura limite
para emprego de uma ou duas canalizações, de modo a se ter o menor custo possível.

calçada

rua

calçada

Tubulação Única
Tubulação Dupla
Ligações Domiciliares

Figura 82 – Detalhes das Ligações Domiciliares

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Unidade II – Abastecimento de Água
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Ao se instalar rede de distribuição de uma localidade, deve-se ter por meta a


facilidade de instalação do sistema e um fornecimento satisfatório de água a todos os
pontos de consumo, sempre de modo mais econômico possível. A seguir são
apresentadas sugestões para um bom traçado e lançamento da rede :

• Os condutos principais devem passar nas proximidades de grandes consumidores e


de áreas que precisam ser protegidas contra incêndios. Poderão ser obtidas assim,
nesses locais, as grandes vazões necessárias;
• O sistema deve incluir registros em pontos convenientes para possibilitar reparos
sem interrupções prejudiciais ao abastecimento;
• Nas extremidades finais das canalizações ou nos pontos mais baixos devem ser
instalados registros de descarga para facilitar a limpeza desses tubos;
• Sempre que possível as canalizações de água potável devem ser assentadas em valas
situadas a mais de 3,00 m dos esgotos. Nos cruzamentos, a distância vertical não
deve ser inferior a 1,80 m. Quanto tal separação não for possível, recomendam-se
cuidados especiais para proteção da canalização de água contra contaminação por
esgotos;
• Os anéis principais da rede, correspondente aos condutos principais de maneira geral
devem ser traçados de modo que seus trechos fiquem equidistantes do centro e da
periferia da área abastecida, o que favorece a distribuição das pressões e um melhor
atendimento das demandas;
• A distância máxima entre dois condutos principais não deve exceder a 600 metros e
todo o conjunto não deve abranger mais de 36 hectares (360.000 m2);
• É preferível assentar duas canalizações principais moderadamente grandes,
paralelas, em ruas afastadas três ou quatro quarteirões, do que colocar numa só rua
uma canalização de grande diâmetro, mesmo com capacidade levemente superior à
das outras. Tem-se assim uma melhor distribuição de água, evitando-se uma
extensão muito grande de condutos secundários;
• Em ruas onde houver necessidade de se colocar uma tubulação de grande diâmetro,
as ligações domiciliares não devem ser feitas diretamente nela. Usam-se tubos
distribuidores, de diâmetro bem menor, que correm sob a calçada, tornando as
ligações mais econômicas e seguras (conforme figura 83 a seguir);

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Unidade II – Abastecimento de Água
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calçada

Tubulação Única
de Grande Diâmetro rua
(Tronco)

calçada

Ligações Domiciliares

Figura 83 – Detalhe das ligações domiciliares

• Tal artifício também é usado quando a canalização de abastecimento passa em um


lado da rua. Colocando um distribuidor para suprir os consumidores do outro lado,
evitando-se qua a cada ligação feita, haja necessidade de se abrir transversalmente
toda a rua para atingir a tubulação tronco;
• Para efeito de cálculo, admite-se que toda a rede deja suprida através dos anéis,
como se eles sós fossem sangrados em um número relativamente pequeno de
pontos, distanciados entre si geralmente de 100 a 300 metros.

f) ÓRGÃOS ACESSÓRIOS DA REDE

Os principais órgãos acessórios de uma rede de abastecimento são :

• Válvulas ou Registros de Manobra : empregadas para permitir o fechamento da


rede por setores de maneira que se possa executar manobras operacionais no
caso de eventuais reparos na rede. Empregado principalmente nos pontos de
derivação da rede.
• Ventosas : empregada nos pontos altos da rede para remover o ar que tende a
acumular, bem como preencher os vazios provocados por descargas, vazamentos
o sub-pressões.
• Descargas : são executadas com um registro de gaveta ligado a uma derivação
do tubo. São empregadas para retirar o ar quando da colocação do tubo em carga
e para permitir o esvaziamento de trechos da tubulação, no caso de necessidade
de reparo. São localizadas sempre nos pontos mais baixos das redes
distribuidoras.

171
Unidade II – Abastecimento de Água
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• Hidrantes : são empregados para o combate a incêndios, eventualmente podem


ser usados para descargas das linhas distribuidoras e ainda como pontos para
medida de pressão. São localizados nos passeios, derivados de redes
alimentadoras e distribuidoras, em pontos convenientes da rede.

Os hidrantes devem ser derivados, de preferência, de linhas de diâmetro igual ou


superior a 100 mm, sendo sua ligação feita com a interposição de um registro de gaveta.
Existem dois tipos de hidrantes principais : do tipo Coluna e do tipo Subterrâneo.

§ Hidrantes do tipo Coluna

Material : Ferro Fundido Dútil.


Diâmetros de Entrada : 75 mm (para diâmetro da rede de 75 mm) e 100 mm (para
diâmetros da rede iguais ou superiores a 100 mm).
Diâmetros de Saída : 2 bocas de 60 mm e 1 de 100 mm.
Pressão Máxima de Serviço : 10 kg / cm2 (100 mca)
Saídas
2 bocas de 60 mm e
1 de 100 mm
Caixa com
Registro de
Gaveta

Hidrante Tipo Coluna


Rede

Figura 84 – Hidrante do tipo coluna

§ Hidrantes do tipo Subterrâneo

Material : Ferro Fundido Dútil.


Diâmetros de Entrada : 75 mm
Diâmetros de Saída : 1 bocas de 60 mm.
Pressão Máxima de Serviço : 10 kg / cm2 (100 mca)

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Unidade II – Abastecimento de Água
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Caixa
Saída de 60 mm

Hidrante Subterrâneo
Rede

Figura 85 – Hidrante do tipo subterrâneo

Os hidrantes devem ser distribuídos de acordo com a proteção que oferecem,


segundo a categoria de incêndio a prever. O espaçamento entre eles varia de 300 a 400
metros, não devendo ultrapassar 600 metros. A distância do hidrante ao local do risco
não deve ser maior que 200 metros.

Hidrante

Calçada

Entre 300 e 400 m – (máx. 600 m)

Figura 86 – Localização de hidrantes

Um bom local para instalação de hidrantes são as calçadas, nas interseções de ruas.
Um hidrante numa esquina protege duas vezes o comprimento da testada que seria
protegida por outro colocado longe de uma interseção. Quando os quarteirões são
longos e a categoria de risco de incêndio á alta, deve-se distribuí-los também fora dos
cruzamentos.
As vazões mínimas necessárias nos hidrantes variam de acordo com a categoria dos
incêndios, podendo ser adotados os seguintes valores :
• Para pequenos edifícios : 10 l/s;
• Edifícios maiores e mais altos : 20 a 30 l/s;

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Unidade II – Abastecimento de Água
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• Edifícios de grandes dimensões, grandes indústrias, armazéns, escolas, hospitais,


quartéis, quarteirões com edifícios de muitos pavimentos : 40 a 50 l/s;
• Mesmo tipo anterior porém com rede da ordem de 300 mm : 100 l/s.

g) Materiais empregados para as tubulações da rede

Os condutos forçados da rede de um sistema de abastecimento são encontrados nos


mesmos materiais dos condutos adutores: ferro fundido, aço, concreto (armado e
protendido), plástico, fibra e cimento-amianto.
Os tubos são caracterizados normalmente pelo material de que são feitos, pelo tipo
de junta utilizada nas emendas, pela classe a que pertencem e pelo diâmetro. Todas
estas especificações devem constar em planta.
A classe de um tubo é definida pela pressão de ensaio a que o tubo é submetido na
fábrica. Adota-se muitas vezes, a pressão de trabalho como a metade da pressão de
ensaio determinado por normas.
Ao se estudar o tipo de tubo para a rede, é conveniente pedir catálogos aos diversos
fabricantes, pois existem variações quanto ao tipo de junta, diâmetro e outras
características.
As juntas utilizadas nas emendas entre as diversas seções dos condutos devem ser
estanques, elásticas, duráveis, fáceis de montar e desmontar. Devem permitir que a
dilatação do material se processe sem causar esforços danosos aos condutos.

h) Dimensionamento da rede distribuidora

Para o dimensionamento de uma rede ramificada normalmente aplica-se o método


convencional, calculando as perdas de carga em função das vazões e diâmetros. Para o
caso de redes malhadas (com circuitos formando anéis) podem ser empregados o
Método de Hardy-Cross ou o processo de Seccionamento Fictício. Ambos os métodos
já foram apresentados aos alunos na disciplina de Hidráulica.
No projeto da rede distribuidora de água é usual o emprego de folhas de cálculo
(planilhas), onde as operações a serem seguidas são apresentadas em colunas e os
trechos a serem calculados em linhas. Deste modo, preenchendo-se a planilha na
sequência lógica, uma vez concluída, tem-se todos os elementos hidráulicos e
construtivos necessários.
174
Unidade II – Abastecimento de Água
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§ Considerações sobre a vazão de distribuição (vazão específica)

A vazão específica, a partir da qual são determinadas as vazões de


dimensionamento, pode ser referida à extensão dos condutos da rede ou a área da cidade
abastecida pela rede.
No primeiro caso tem-se a vazão de distribuição em marcha (qmarcha), onde Lt
corresponde a extensão total da rede na área abastecida :

k1 . k2 . P . q
q marcha = _________________ ( l / s . m) ou ( l / s . km)

86.400 . Lt

A distribuição na realidade é feita pelas ligações domiciliares, porém, para fins de


cálculo é transformado numa distribuição contínua ao longo do conduto. Este tipo de
distribuição é utilizada no dimensionamento de redes ramificadas e no de redes
malhadas pelo Método do Seccionamento Fictício.

No segundo caso tem-se a vazão de distribuição referida a unidade de área (q d) que


é utilizada no dimensionamento de redes malhadas empregando-se métodos iterativos
como o Método de Hardy-Cross. A variável A corresponde a área abrangida pela rede,
normalmente em hectares (ha).

k1 . k2 . P . q
qd = _________________ ( l / s . ha)

86.400 . A

A relação (P/A) exprime a densidade populacional (Dp) da área a ser abastecida,


que pode variar em um mesmo projeto de acordo com o tipo de ocupação previsto para
as diversas regiões do mesmo. O exemplo abaixo ilustra tal fato :

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Unidade II – Abastecimento de Água
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Zona 1 Qi Zona 2

R
Ai

Exemplo :

População Total (Zona 1 + Zona 2) = P1 + P2 = P (hab)


Area Total (Zona 1 + Zona 2) = A1 + A2 = A (ha)
Zona 1 : Densidade Populacional = D (hab/ha)
Zona 2 : Dendidade Populacional = 2D (hab/ha)
A i = Área de Influência para o Nó i da rede
Q i = Vazão no Nó i da rede

k1 . k2 . D . q k1 . k2 . 2D . q
q d1 = _________________ q d2 = _________________

86.400 86.400

q d2 = 2 . q d1 (l/s.ha) Q i = q d1 . A i (l/s)

§ Velocidades e Vazões Máximas nos Condutos da Rede de Distribuição

Para a determinação dos diâmetros iniciais para o cálculo das redes de distribuição
(pré-dimensionamento), seja ela ramificada ou malhada são adotados os seguintes
valores máximos de velocidade e vazão :

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Unidade II – Abastecimento de Água
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Tabela 19 – Velocidades e Vazões Máximas nos Condutos da Rede de Distribuição

Diâmetro (mm) Veloc. Máxima (m/s) Vazão Máxima (l/s)


50 0,50 1,0
75 0,50 2,2
100 0,60 4,7
150 0,80 14,1
200 0,90 28,3
250 1,10 53,9
300 1,20 84,8
350 1,30 125,0
400 1,40 176,0
450 1,50 238,0
500 1,60 314,0
550 1,70 403,0
600 1,80 509
> 600 < 2,00 -

§ Diâmetro mínimo recomendado para os Condutos da Rede

Para Condutos Secundário : 50 mm;


Para Condutos Principais : 100 mm.

§ Verificação de Pressões na Rede

Ao final do dimensionamento devem ser verificadas as pressões estática e


dinâmica, a montante e a jusante de cada trecho calculado, ou seja, em cada nó da rede.
As pressões dinâmicas disponíveis em cada nó devem estar acima da pressão
dinâmica mínima requerida, de acordo com os valores normatizados.
As pressões estáticas em cada nó devem estar abaixo da pressão estática máxima
requerida em função dos valores de norma e do tipo de material que se está
empregando.
Logo a pressão estática será referida ao nível d’água máximo do reservatório,
enquanto que a pressão dinâmica será referida ao nível d’água mínimo do mesmo.

177
Unidade II – Abastecimento de Água
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Normalmente se adota, por efeitos práticos, para verificação das pressões na rede
distribuidora, o valor do NA médio operativo do reservatório que geralmente
corresponde a média entre o NA máximo e o NA mínimo.
Logo, sendo o limite máximo de pressão referido a pressão estática, não se deve ter,
em princípio, diferenças de cotas topográficas em uma mesma rede superiores à pressão
estátima máxima admissível. Vale ressaltar qua a fixação desse limite visa diminuir os
vazamentos nas juntas das tubulações e danos nas instalações prediais.
Quanto aos limites inferiores, se as pressões dinâmicas disponíveis calculadas não
atenderem, haverá a necessidade de se refazer o dimensionamento das canalizações,
aumentando-se os diâmetros de determinados trechos que tenham influência nas
pressões dos nós desfavoráveis.
No caso do nível d’água do reservatório não ser preestabelecido, a marcha de
cálculo vai levar a uma altura mínima do nível d’água que determinará a necessidade ou
não de um reservatório elevado. Se a altura calculada para o reservatório for elevada,
caberá uma análise detalhada do problema, com a finalidade de diminuir sua cota
aumentando-se os diâmetros de determinados trechos da rede.

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Unidade Didática III – Tratamento de Águas para Abastecimento
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UNIDADE III – TRATAMENTO DE ÁGUAS PARA ABASTECIMENTO

1. Introdução

O tratamento de água tem por objetivo condicionar as características da água bruta,


isto é, da água como encontrada na natureza, a fim de atender à qualidade necessária a um
determinado uso. A água a ser utilizada para o abastecimento público deve ter sua
qualidade ajustada de forma a :
§ Atender aos padrões de qualidade exigidos pelo Ministério da Saúde e aceitos
internacionalmente;
§ Prevenir o aparecimento de doenças de veiculação hídrica, protegendo a saúde
da população;
§ Tornar a água adequada a serviços domésticos;
§ Prevenir o aparecimento da cárie dentária nas crianças, através da fluoretação;
§ Proteger o sistema de abastecimento de água, principalmente tubulações e
órgãos acessórios da rede de distribuição, dos efeitos danosos da corrosão e da
deposição de partículas no interior das tubulações.
O tratamento de água pode ser parcial ou completo, de acordo com a análise prévia
de suas características físicas, químicas e biológicas. O tratamento coletivo é efetuado na
Estação de Tratamento de Água (ETA), onde passa por diversos processos de depuração.

2. Fases de Tratamento numa ETA Convencional

De um modo geral, o tratamento da água em uma ETA convencional, passa pelas


seguintes fases :
§ Mistura rápida;
§ Floculação;
§ Decantação;
§ Filtração;
§ Desinfecção.

179
Unidade Didática III – Tratamento de Águas para Abastecimento
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Fases de uma Estação Convencional de Tratamento de Água

180
Unidade Didática III – Tratamento de Águas para Abastecimento
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Além destas fases principais, tem-se ainda a Fluoretação e a Correção de pH, que
fazem parte do tratamento químico da água, assim como a Desinfecção.
A Fluoretação deve, também, ser realizada sempre. Isto porque, além de ser a
maneira mais segura de garantir grande redução na incidência da cárie dentária em crianças
de idade escolar, a fluoretação das águas é determinada por lei federal.
A Correção de pH da água tratada, também algumas vezes esquecida, deve ser
sempre realizada, com o objetivo de reduzir a agressividade ou incrustabilidade do produto
final. Protege, dessa forma, as redes distribuidoras e as instalações hidráulicas prediais.

3. Tratamento Químico da Água

3.1 Coagulação
As partículas que desejamos remover da água em tratamento apresentam cargas
elétricas negativas. Quando neutralizamos as partículas, através da correta adição de
floculante, praticamente zeramos seu potencial zeta.

A determinação da dosagem correta do floculante é feita através da realização de


ensaios de jarros - Jar Test.

Existem basicamente duas formas de desestabilizar as partículas presentes na água


bruta, sob forma de suspensão ou solução coloidal : a desestabilização por adsorção e a
desestabilização por varredura.

Na desestabilização por adsorção - que ocorre em faixas estreitas do pH da água


floculada e na qual, como sabemos, é importante misturar energicamente o floculante à água
bruta e efetuar essa mistura em tempo muito curto – as partículas presentes na água bruta
adsorvem, em suas superfícies, íons metálicos, de carga positiva, capazes de neutralizá-las.

Na desestabilização por varredura, a desestabilização das partículas é feita pelo


hidróxido metálico, que é o composto que se forma quando adicionamos o floculante à água
bruta. Este composto forma pequenas partículas, sob forma de gel, que chocam-se com as
partículas que desejamos remover da água em tratamento, e as adsorvem.

181
Unidade Didática III – Tratamento de Águas para Abastecimento
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Desestabilização dos colóides (Coagulação)

182
Unidade Didática III – Tratamento de Águas para Abastecimento
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O produto químico mais empregado na coagulação é o Sulfato de Alumínio -


Al2(SO4)3. Além deste, podem ser empregados :

§ Sulfato Ferroso;
§ Sulfato Férrico;
§ Cloreto Férrico;
§ Aluminato de Sódio.
Existem ainda os produtos auxiliares da coagulação, tais como :

§ Bentonita;
§ Carbonato de cálcio;
§ Silicato de sódio;
§ Produtos orgânicos denominados Polieletrólitos; e
§ Gás carbônico.

O sulfato de alumínio quase sempre é fornecido sob a forma sólida (pequenos grãos
em sacas de 50 kg), entretanto pode também ser fornecido sob a forma líquida.

O preparo da solução de sulfato de alumínio é realizado no interior de tanques


apropriados, adequadamente revestidos (de forma a resistirem à agressividade da solução
preparada), usualmente com concentrações entre 2 % e 10 %.

183
Unidade Didática III – Tratamento de Águas para Abastecimento
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3.2 Ajustagem de pH e Abrandamento

O produto químico mais empregado na ajustagem de pH e no abrandamento


(redução da agressividade da água) é a Cal Hidratada. Além deste, podem ser empregados :
§ Carbonato de cálcio;
§ Carbonato de sódio (soda ou barrilha);
§ Hidróxido de sódio (soda cáustica);
§ Gás carbônico;
§ Ácido clorídrico; e
§ Ácido sulfúrico.
A Cal Hidratada - Ca(OH)2 - é o mais popular dos alcalinizantes utilizados nas
estações de tratamento de água. É fornecida sob a forma de pó, em sacas contendo 20 kg do
produto ou em containers plásticos de 300 kg ou 1500 kg. Porém, nas instalações de maior
porte, a cal hidratada pode ser armazenada em silos. As sacas de cal devem ser estocadas
sobre estrados de madeira para evitar que o contato com a umidade “empedre” o produto. A
altura máxima da pilha de sacas deve ser de 1,80 m, no caso de armazenagem manual.
A dosagem da cal hidratada pode ser por via seca ou úmida. No caso de preparo por
via úmida, normalmente prepara-se o denominado “leite de cal”, que é a suspensão do
produto, em concentrações variando entre 2 % e 10 %.

3.3 Fluoretação

A fluoretação das águas como forma de prevenção da cárie é obrigatória no Brasil,


de acordo com a Lei Federal n. 6050, de 24 de maio de 1974, que foi posteriormente
regulamentada pelo Decreto Federal n. 76.872, de 22 de dezembro de 1975.

O composto de flúor é aplicado a meio caminho entre a entrada e a saída do tanque


de contato após a introdução do desinfetante. Os principais produtos empregados na
fluoretação das águas são: o Fluorsilicato de Sódio, o Ácido Fluorsilícico e o Fluoreto de
Sódio (Fluorita). Destes, o Fluorsilicato de Sódio é o mais empregado, sendo um produto
fornecido sob a forma sólida, de baixa solubilidade em água. Corresponde a um pó branco,
muito fino, que é fornecido embalado em sacas plásticas de 50 kg. As sacas do produto
devem ser estocadas sobre estrados de madeira para evitar que o contato com a umidade
“empedre” o produto. A altura máxima da pilha de sacas deve ser de 1,80 m. A dosagem do
produto pode ser por via seca ou úmida.

184
Unidade Didática III – Tratamento de Águas para Abastecimento
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3.4 Desinfecção

Grande parte dos microorganismos patogênicos, especialmente vírus e bactérias,


que, porventura, estejam presentes na água bruta, é atraída pelos flocos. Por este motivo,
quase todos eles são removidos da água em tratamento na decantação e na filtração.
Entretanto alguns deles podem ainda estar presentes na água filtrada, logo, é necessário
realizar a desinfecção. Os principais produtos empregados na desinfecção são :
§ Cloro;
§ Hipoclorito de Sódio;
§ Hipoclorito de Cálcio;
§ Dióxido de cloro;
§ Amônia anidra;
§ Hidróxido de amônia;
§ Sulfato de amônia; e
§ Ozona.
Destes, os mais empregados são o cloro gasoso, o hipoclorito de sódio e o
hipoclorito de cálcio. O cloro e seus derivados, possuem uma vantagem interessante que é o
denominado efeito residual. Dessa forma, se a água tratada vier a contaminar-se no sistema
distribuidor (redes e reservatórios), ou mesmo na instalação predial, o teor adicional de
cloro presente na água tratada assegurará a destruição dos organismos patogênicos.
O cloro gasoso (mais empregado nas grandes e médias estações), é um gás amarelo-
esverdeado, tóxico, de odor irritante e sufocante. Sozinho o mesmo não é corrosivo, porém
ao entrar em contato com a água forma os ácidos clorídrico e hipocloroso, tornando-se
então muito corrosivo para todos os metais comuns. Ele é embalado em cilindros de aço
sob alta pressão, com capacidades para conter 45 kg (conhecido pelos operadores como
“cilindro de 50 kg”), 70 kg e 900 kg (conhecido como “cilindro de 1 tonelada”). A
armazenagem dos cilindros deve ser feita em local separado das demais unidades da casa de
química, abrigados do calor e da incidência dos raios solares, em local ventilado e livres da
ação da umidade.

Para que a desinfecção seja eficiente, a água deve permanecer em contato com o
cloro durante algum tempo. Esse tempo de contato entre o cloro e a água filtrada é

185
Unidade Didática III – Tratamento de Águas para Abastecimento
_______________________________________________________________________________________

conseguido fazendo permanecer a água em tratamento no interior de um tanque, por isto


denominado de tanque de contato.

O tempo que a água deve ficar em contato com o cloro depende de diversos fatores,
entre os quais, são muito importantes : a forma química em que o cloro estiver presente na
água e o pH da água.

De um modo geral, nas ETAs brasileiras, o cloro desinfetante está sob a forma de
ácido hipocloroso e íon hipoclorito. O ácido hipocloroso é mais eficiente que o íon
hipoclorito como agente bactericida. Em determinadas condições, o íon hipoclorito é
apenas cerca de 2 % tão bactericida quanto o ácido hipocloroso.

Quanto mais baixo o pH, maior a concentração de ácido hipocloroso, que desinfeta
melhor que o íon hipoclorito. Por este motivo, é melhor deixar corrigir o pH da água
tratada a jusante do tanque de contato, após a desinfecção.

O cloro residual pode estar presente sob duas formas : livre e combinado. O cloro
residual combinado, em que o cloro está presente combinado com a amônia ou outros
compostos de nitrogênio apresenta menor eficiência para destruir os microorganismos
patogênicos do que o cloro residual livre.

Além da cloração efetuada após a filtração, pode também ser realizada a pré-
cloração, que é a adição de cloro à água bruta antes do tratamento propriamente dito. Em
alguns casos a pré-cloração pode ser interessante pois propicia a oxidação do ferro e do
manganês tornando-os insolúveis e passíveis de serem removidos através da mistura rápida,
floculação, decantação e filtração.

Entretanto, a necessidade da pré-cloração precisa ser avaliada cuidadosamente, pois


ele reage com alguns compostos orgânicos resultantes da decomposição dos vegetais. Esses
compostos, especialmente os ácidos húmicos e fúlvicos, ao reagirem com o cloro, poderão
formar os compostos denominados de trihalometanos, que suspeita-se que sejam
cancerígenos.

A desinfecção pode ser realizada individualmente nas caixas d’água, cisternas e


poços, quando se deseja eliminar possíveis microorganismos patogênicos decorrentes de
eventuais contaminações após obras e serviços.

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Unidade Didática III – Tratamento de Águas para Abastecimento
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Os compostos desinfetantes apresentam a seguinte proporção de cloro ativo :

- hipoclorito de cálcio – Ca (OCl)2 (superior a 65% de Cl2);

- cloreto de cal – CaOCl (cerca de 30% de Cl2);

- hipoclorito de sódio – NaOCl (cerca de 10% a 15% de Cl2);

- água sanitária – solução aquosa a base de hipoclorito de cálcio ou de sódio (cerca de


2% a 2,5% de Cl2).

O tempo de contato influencia na quantidade e na dosagem de cloro usar:

- solução a 50mg/l de Cl2 – tempo de contato 12 horas;

- solução a 100mg/l de Cl2 – tempo de contato 4 horas;

- solução a 200mg/l de Cl2 – tempo de contato 2 horas.

O exemplo a seguir mostra como pode ser calculada a quantidade de desinfetante


para o caso de um poço de água subterrânea.

Exemplo de Cálculo de Desinfecção para Poços

Após a construção de um poço para captação de água subterrânea, o mesmo deve ser
desinfetado com a finalidade de eliminação de uma eventual contaminação decorrente das
obras. Para a desinfecção de um poço que possui um volume de 4.500 litros de água,
empregando uma concentração forte de 100 mg/l (100 ppm) de Cl2, qual deve ser a
quantidade do composto cloreto de cal, em kg, necessária, sabendo-se que este composto
apresenta cerca de 30 % de Cl2.

Solução :
Quantidade de Cl2 necessária : x = 4.500 l x 100 mg/l = 450.000 mg
Quantidade de cloreto de cal necessária :
100 mg cloreto de cal ____________ 30 mg de Cl2
y ____________________________ 450.000 mg de Cl2

y = (450.000 mg Cl2 x 100 mg cloreto de cal) / 30 mg Cl2 = 1.500.000 mg


y = 1,5 kg cloreto de cal

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4. Mistura Rápida - Coagulação - Floculação

A principal Norma de Referência para as unidades constituintes de uma Estação de


Tratamento de Água é a NBR 12216 / 92 da ABNT.

A Mistura Rápida, que tem por finalidade promover a dispersão homogênea do coagulante na
massa fluida, pode ser realizada por :
§ Ressaltos Hidráulicos de canal retangular com mudança de declividade (CALHA
PARSHALL);
§ Mecanizada : por agitadores do tipo hélices, palhetas e turbinas de fluxo axial ou radial;
§ Vertedores retangulares ou triangulares.

A Floculação, que tem por finalidade a formação dos flocos mediante a introdução de energia na
massa fluida (agitação) capaz de favorecer o contato entre os colóides desestabilizados na
coagulação, pode ser :
§ Mecânica : através de paletas paralelas ou perpendiculares ao eixo ou turbinas;
§ Hidráulica : através de floculadores de chicanas horizontais ou verticais.

4.1 Dimensionamento de Unidades de Mistura Rápida e de Floculadores

Os principais parâmetros para dimensionamento de Câmaras ou Unidades de Mistura Rápida


e de Floculadores são o Gradiente de Velocidade (G) e o Tempo de Detenção ou de Mistura (T), que
serão explicados a seguir :

§ Gradiente de Velocidade (G) : é a diferença dV entre as velocidades V1 e V2 de duas partículas


P1 e P2, distanciadas por dy, segundo uma perpendicular à direção do escoamento do líquido.
Tem o mesmo valor para qualquer sistema de unidades (s-1). Exprime o grau de agitação entre
as partículas necessárias para cada fase do tratamento.

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V1 P1

dy
Início Final
-1 V2
G elevado (Máx 70 s ) G reduzido (Mín 10 s-1)

P2

dV
Início Final
Muitas partículas desestabilizadas a Flocos menos numerosos e mais
serem reunidas. volumosos.

§ Tempo de Mistura ou Detenção (T) : tempo que uma partícula da massa fluida permanece
dentro da câmara de mistura rápida ou dentro dos floculadores, ou seja, intervalo de tempo entre
a entrada e a saída de uma partícula da massa fluida nestas fases do tratamento.

Recomendações da Norma NBR 12.216/92

Não sendo possível a realização de ensaios com a água a ser tratada, a NBR 12.216/92 recomenda
para G e T, os seguintes valores :

Para Misturas Rápidas :

G entre 700 e 1.100 s-1


Tempo de Mistura (T) de 1 s (no Máximo 5 s).

Para Floculadores :

G entre 70 s-1 (primeiro compartimento) e 10 s-1 (último compartimento).

Floculadores Hidráulicos : Tempo de detenção total (T) entre 20 e 30 min.

Floculadores Mecânicos : Tempo de detenção total (T) entre 30 e 40 min.

A norma ainda recomenda que deve ser previsto dispositivo que possa alterar o gradiente
de velocidade aplicado, ajustando-o às características da água e permitindo variar de pelo menos 20
% a mais e a menos do fixado para o compartimento.

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4.1.1 Misturador Mecânico


Fórmula Geral do Gradiente de Velocidade (G) para Misturadores Mecânicos :
P / V : Potência introduzida no líquido por
unidade de Volume ( kgf.m/s / m3 );
P
G=
µ.V µ : viscosidade absoluta ou dinâmica do líquido

µ = 10-4 kgf .s / m2 ( água a 20º C)


Exemplo de Cálculo :

Um dispositivo de mistura rápida, instalado em uma estação de tratamento de água que


trata uma vazão de 100 l/s, permite conter 500 litros de água e é equipado com um misturador
mecanizado que dissipa, na água contida em seu interior, a potência de 0,5 KW. Qual o valor do
gradiente de velocidade (G) correspondente ? Atende aos valores preconizados por norma ?

N
Solução : P = 0,5 kW = 500 W V = 500 litros = 0,5 m3 µ = 10 −3 s
m2

P 500
G= = = 1000 s −1 (entre 700 e 1.100 s-1) Logo atende a norma !!!
µ.V − 3
10 .0,5

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4.1.2 Misturador Hidráulico – Calha PARSHALL

O dispositivo hidráulico mais utilizado no Brasil, para promoção da mistura rápida é a Calha
PARSHALL. Hidraulicamente o medidor PARSHALL é definido como um medidor de vazão de
regime crítico.

A largura da garganta W do medidor é a grandeza que o define. A lâmina d’água a montante


do Parshall é alta, e em conseqüência, a velocidade média de escoamento é baixa e o regime de
escoamento é subcrítico. A jusante da garganta a lâmina d’água é baixa, e em conseqüência, a
velocidade média de escoamento é alta e o regime de escoamento é supercrítico.

Para que efetuar a mistura rápida com mais eficiência o floculante deve ser aplicado na
garganta do medidor (figura a seguir), isto porque, sendo o local o de seção mais estreita, e sendo aí a
lâmina d’água bastante pequena, é possível fazer com que o floculante aplicado nesse local se
disperse em praticamente todo o volume de água em tratamento que a atravessa. Para isso deve-se
assegurar um ressalto hidráulico diretamente a jusante da garganta, de preferência no trecho
divergente do Parshall.

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As dimensões padronizadas dos Medidores Parshall podem ser vistas a seguir :

192
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A tabela a seguir apresenta as vazões em função da altura (h) lida nos medidores, em função
de suas dimensões (W) :

Gradientes de Velocidade e Tempos de Detenção em Medidores Parshall :

193
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O ábaco a seguir nos permite determinar os gradientes de velocidade nos Medidores Parshall
em função de suas dimensão W e da vazão Q que o atravessa :

A partir deste ábaco pode ser extraída a fórmula a seguir, somente válida para valores de W
menores ou iguais a 0,30 m.

Q 0,70
G = 1000.
W 1,2
onde :

G = gradiente de velocidade (s-1)

Q = vazão, expressa, em (m3/s);

W = garganta do medidor (m).

Com relação ao tempo de detenção, verifica-se que ele é muito pequeno, freqüentemente
inferior a 1 segundo. Assim sendo, não é necessário preocupar-se com esse parâmetro, pois os
medidores Parshall atendem à NBR 12.216/92.

Exemplo de Cálculo :

Calcule o Gradiente de Velocidade para um Medidor Parshall de W = 1’ (30,5 cm) e altura


medida (h) de 15 cm no ponto de medição de vazão.

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Unidade Didática III – Tratamento de Águas para Abastecimento
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Solução :

Para W = 1’ e h = 15 cm tem-se : Q = 38,4 l/s

Q0,70 0,038 0,70


Logo : G = 1000 . G = 1000 . = 421 s−1
1,2 1,2
W 0,305

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4.1.3 Floculadores Mecânicos

Agitadores do Tipo Paletas – Gradiente de Velocidade :

1) Paletas paralelas ao eixo


n
n
C .n3.b.l.( r13 + r23 + ...)
G = 158 d
µ.V
l l3
2) Paletas perpendiculares ao eixo b
l2

r2=1,12−0,16−0,10=0,86m r1
l1
b
r2
onde :
Cd = coeficiente de arrasto, que depende da relação l/b das paletas. Para Re > 1000 tem-se : Cd =
1,16 (l/b=1), Cd = 1,20 (l/b=5), Cd = 1,50 (l/b=20) e Cd = 1,90 (l/b=∞).
n = velocidade de rotação das paletas em rps (rotações por segundo);
r, l e b= são os elementos geométricos do agitador, instalados em uma câmara de volume V.

Exemplo de Cálculo de Gradiente – Floculador Mecânico de Paletas :

Determine o gradiente de velocidade introduzido pelo agitador da figura abaixo, sabendo-se


que ele gira com uma velocidade de 4 rpm no interior de uma câmara com as seguintes dimensões
úteis. Atende aos valores normativos ?

Dimensões em Planta Dimensões em Elevação

0,10 m 0,16 m
4,20 m 3,45 m

4,20 m
3,20 m
4,20 m

1,20 m

2,40 m

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Solução : Trata-se de um floculador com paletas paralelas ao eixo.

C.n3.b.l.(r3+r3+...)
Cálculo de Cd : G=158d 1 2 Cd = 1,50
µ.V

0,16
r3 = 1,20 − = 1,12 m
2

r2 = 1,12 − 0,16 − 0,10 = 0,86 m

r1 = 0,86 − 0,16 = 0,10 = 0,60 m

Cálculo do Volume : V = 4,20 x 4,20 x 3,45 = 60,86 m3

Cd.n3.b.l.( r13 + r23 + ...)


µ = 10− 4
kgf
Cálculo do Gradiente : G = 158 s
µ.V m2

4 3
1,50.( ) .0,16.3,20.( 0,603 + 0,863 + 1,123 )
G = 158 60 = 46 s−1 (norma entre 70 e 10 s-1).
−4
10 .60,86

4.1.2 Floculadores Hidráulicos

Constituem o tipo mais numeroso de floculadores especialmente no caso de pequenas e


médias estações de tratamento de água. Antes o cálculo era feito por intermédio de velocidades
máximas e mínimas, porém hoje o dimensionamento é feito através do cálculo dos gradientes de
velocidade e dos tempos de detenção em seus diversos compartimentos de acordo com a NBR
12.216/92.

Nestas câmaras a turbulência da água é obtida as custas de perda de carga acentuada, o que
pode ser constatado pela diferença de cotas entre o nível d’água de montante e de jusante.

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Unidade Didática III – Tratamento de Águas para Abastecimento
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O tipo mais empregado no Brasil é o FLOCULADOR DE CHICANAS que podem ser


HORIZONTAIS ou VERTICAIS. O floculador de chicanas verticais é mais comum em estações
de pequena capacidade. O floculador de chicanas horizontais é mais empregado para o tratamento de
vazões mais elevadas.

Recomendações da norma NBR 12.216/92 para floculadores hidráulicos do tipo chicanas :

• Velocidade dentro dos canais : mínima de 0,10 m/s (para evitar decantação dos flocos no
floculador) e máxima de 0,30 m/s (para evitar a quebra dos flocos formados).

• O espaçamento mínimo entre chicanas deve ser de 0,60 m, caso não seja dotado de dispositivo
de fácil remoção (na prática adotam-se espaçamentos menores do que este pois os dispositivos
são removíveis para limpeza e variação do gradiente hidráulico).

FLOCULADOR DE
CHICANAS VERTICAIS

FLOCULADOR DE CHICANAS HORIZONTAIS

• O espaçamento entre a extremidade da chicana e a parede do canal, ou seja a passagem livre


entre 2 chicanas consecutivas, deve ser igual a 1,5 vezes o espaçamento entre as chicanas. Isto
vale analogamente para os dois tipo de chicanas, conforme figura a seguir :

198
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e e

1,5 e

Fórmula do GRADIENTE DE VELOCIDADE (G) para Floculadores Hidráulicos :

g : aceleração da gravidade (m/s2);

g.h h : soma das perdas de carga ao longo do


G= floculador (m)
ν.t
ν : viscosidade cinemática do líquido (m2/s)
(ν = 10-6 m2/s - água a 20º C)
t : tempo de detenção no floculador (s)

h = hf (perdas localizadas nas voltas de 180o) + h’f (perda distribuída nos canais)

v2 η 2 .v 2
hf = 3 (perda de carga localizada para uma volta) h' f = L.
2.g R4 3

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 v2  η 2 .v 2
Logo 
h = (n − 1). 3  + L.
 2.g  R4 3
 
onde :
n = número de canais do floculador;
(n –1) = número de voltas (180o) no floculador
v = velocidade de escoamento nos canais do floculador;
R = raio hidráulico da seção do canal;
L = comprimento total dos canais do floculador (percurso médio da água);
η = coeficiente que depende da rugosidade das paredes do canal (Fórmula Manning)

EXEMPLO DE DIMENSIONAMENTO DE FLOCULADOR HIDRÁULICO :

Dimensionar um floculador de chicanas horizontais com as seguintes características:


• Vazão de projeto a ser tratada (Q) : 120 l/s;
• Tempo de detenção total (T) : 20 minutos.
• Velocidade de escoamento nos canais (v) : 0,20 m/s.
• Espaçamento das chicanas (e) : 0,50 m.
• Largura do floculador (a) : 4,75 m.
• Coeficiente de rugosidade Manning (η) : 0,012
• Adotar ν = 10-6 m2/s

Solução :
a) determinação da seção de escoamento (S) :
3
Q 0,120 m s
S= = = 0,60 m2
v 0,20 m s

b) determinação da profundidade dos canais (h) :


2
S 0,60 m
h= = = 1,20 m
e 0,50 m
c) determinação do percurso médio da água (L) :
L = v.T = 0,20 m / s. 1200 s = 240 m

d) determinação do comprimento útil da chicana (Lu) :


Lu = a − 1,5.e = 4,75 − 1,5.( 0,50) = 4,00 m Lu = 4,00 m

e) determinação do número de canais entre chicanas (n) :


L 240 m
n= = = 60 canais (2 compartimentos interligados c/ 30 canais cada).
Lu 4 m

200
Unidade Didática III – Tratamento de Águas para Abastecimento
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f) comprimento de cada câmara (C) :


n 60
C= .e = .0,50 m = 15 m
2 2
g) perda de carga localizada total (hf) :
v2 0,202
hf = 3 = 3. = 0,006 m (por volta de 180º )
2.g 2.9,8
h f tot = ( n − 1).0,006 = (60 − 1).0,006 = 0,354 m

h) perda de carga total por atrito (h’f) :


η 2 .v 2 h x e 1,20 x 0,50
h' f = L. R= = = 0,207 m
R4 3 2h + e 2.(1,20 ) + 0,50

0,012 2.0,20 2
h'f = 240. = 0,011 m
0,207 4 3
i) perda de carga total no floculador (h) :
h = h f + h'f = 0,354 + 0,011 = 0,365 m = 36,5 cm

j) verificação do Gradiente de velocidade do floculador (G) :


g.h 9,8 .0,365
G= = = 54,6 s−1 (valores de norma entre 10 s-1 e 70 s-1).
ν.t −6
10 .1200
e = 0,50 m

0,75 m

4,75 m

4,75 m

2 x 30 canais entre chicanas (e=0,50 m) – comprimento 15 metros

201
Unidade Didática III – Tratamento de Águas para Abastecimento
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EXEMPLO DE DIMENSIONAMENTO DE FLOCULADORES HIDRÁULICOS :


Dimensionar um floculador de chicanas horizontais com as seguintes características e dados (a
resolver) :
• Vazão de projeto a ser tratada : Q = 60 l/s;
• Número de compartimentos : 3;
• Tempo de detenção total : 24 minutos (adotar tempos iguais de detenção para os
compartimentos).
• Velocidades nos canais dos compartimentos : 0,30 m/s, 0,20 m/s e 0,10 m/s.
• Tirante de água nos canais : 1,10 m.
• Comprimento das placas da chicana : adotar 2,40 m

C1 (n1 canais)
C2 (n2 canais)

C3 (n3 canais)

e’1
e1

l1

e’2

e2
l2

e3
l3

e’3

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Unidade Didática III – Tratamento de Águas para Abastecimento
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Fórmula Prática de Azevedo Neto para FLOCULADORES HIDRÁULICOS :

Como as perdas de cargas devidas aos giros de 180º ao longo do floculador, predominam
sobre as perdas de carga contínuas no canal, Azevedo Neto desenvolveu uma equação que permite o
cálculo direto e rápido do floculador de chicanas, em função dos gradientes de velocidade desejados.

• Para FLOCULADORES DE CHICANAS DE FLUXO HORIZONTAL :

3 2
H.L.G
n = 0,045 ______ . t
Q
n = número de canais entre chicanas;
H = profundidade de água no canal (m)
G = gradiente de velocidade (s-1)
L

L = comprimento do canal ou trecho considerado (m)


Q = vazão de projeto (m3/s);
T = tempo de detenção (min).

• Para FLOCULADORES DE CHICANAS DE FLUXO VERTICAL :

3 2
a.L.G
n = 0,045 ______ . t
onde : a = largura do canal (m) Q

203
Unidade Didática III – Tratamento de Águas para Abastecimento
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5. Decantação
5.1 Classificação dos Decantadores :
Decantadores Clássicos

Decantadores Tubulares

Módulos Tubulares

204
Unidade Didática III – Tratamento de Águas para Abastecimento
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De um modo geral, dois tipos de decantadores são utilizados no Brasil para tratamento de água : os
decantadores clássicos e os decantadores tubulares.

5.2 Decantador Clássico

O tipo mais utilizado é o de seção retangular, em planta, conforme figura anterior.


Entretanto algumas estações de tratamento de água possuem decantadores de seção circular,
também em planta. Embora menos utilizado, este último tipo permite, em determinadas
situações, que se crie um manto de lodo em seu interior, capaz de melhorar muito a
qualidade da água decantada. São dotados na zona de entrada de uma cortina distribuidora
(parede perfurada), que tem por objetivo uniformizar o fluxo da água em tratamento que
entra no decantador. O principal fator para o adequado desempenho dos decantadores
clássicos é a Taxa de Escoamento Superficial (Tes), dada pela fórmula :
Q
Tes = onde :
As
Tes = taxa de escoamento superficial (m3/m2.dia);
Q = vazão que o decantador recebe (m3/dia);
As = área em planta do decantador, contada a partir da cortina distribuidora de água
floculada (m2).
Se a taxa de escoamento superficial for inferior à velocidade de sedimentação dos
flocos que se deseja remover, então ele terá desempenho satisfatório. De acordo com a NBR
12.216/92, a taxa limite de escoamento superficial depende da capacidade da estação de tratamento
de água, conforme a tabela a seguir :
Para assegurar o adequado desempenho do decantador, não é suficiente observar apenas a

205
Unidade Didática III – Tratamento de Águas para Abastecimento
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taxa de escoamento superficial, mas também a velocidade de escoamento horizontal em seu interior,
para evitar que sejam arrastados os flocos sedimentados. A velocidade máxima de escoamento
horizontal segundo a NBR 12.216/92 não deve ser superior aos valor resultante das expressões :

• v máx = ( N R 8 )1 2 para fluxo laminar, com número de Reynolds NR menor que 2000.
• v máx = 18. vs para fluxo turbulento, com número de Reynolds NR maior que 15.000.

onde : vs é a velocidade de sedimentação dos flocos fornecida pela tabela anterior.

Outro detalhe fixado pela norma diz respeito a vazão máxima das calhas coletoras
de água decantada, que não deve ser superior a 1,8 l/s por metro de borda vertente.

5.3 Decantador Tubular

Nos decantadores tubulares, a água floculada é introduzida sob (por baixo) das
placas. Ao escoar entre elas, ocorre a sedimentação dos flocos. A água decantada sai pela
parte de cima do decantador, após haver escoado entre as placas paralelas, e é coletada por
calhas coletoras. Em algumas situações, em que se faz necessário ampliar a capacidade de
tratamento de ETAs, cujos decantadores são clássicos, e em que não há interesse, ou
possibilidade, de se construir novos decantadores desse tipo, eles podem ser convertidos
para decantadores tubulares. Com isto é possível, muitas vezes, dobrar a vazão tratada pelo
decantador, ou até mesmo mais do que isto.
O adequado funcionamento dos módulos tubulares depende, entre outros fatores :
- Do ângulo de inclinação dos módulos em relação à horizontal. Embora, do ponto de
vista teórico, o melhor ângulo seja o de 2 graus e 54 minutos, do ponto de vista
prático ele não funciona, pois seria difícil efetuar a limpeza dos flocos que ficariam
retidos em seu interior. Por este motivo, utiliza-se um ângulo superior a 50 graus
(quase sempre 60 graus, por facilidades construtivas). Com esse ângulo, a maioria
dos flocos sedimentados consegue, por seu peso próprio, despregar-se das placas e
cair para o poço de lodo, localizado no fundo do decantador.
- Da combinação dos fatores da velocidade de escoamento, do espaçamento entre os
dutos ou placas e do comprimento dos dutos.
6. Filtração

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Filtração pode ser definida como a passagem da água por um leito de material
granular, através do qual ocorre a separação das partículas presentes na água. Os filtros são
classificados, de acordo com a velocidade de filtração e de acordo com o sentido do fluxo
da água que passam por eles.

6.1 Classificação dos Filtros

• Filtração de Fluxo Descendente :


q de baixa taxa de filtração (filtros lentos);
q de alta taxa de filtração (filtros rápidos) :
de camada simples (areia);
de camadas múltiplas : dupla (areia e antracito) ou mais.
• Filtração de Fluxo Ascendente (sempre com camada simples):
q de baixa taxa de filtração (filtros lentos ascendentes);
q de alta taxa de filtração (filtros rápidos ascendentes ou filtros russos).

Filtro de Fluxo Descendente Filtro de Fluxo Ascendente

6.2 Leito Filtrante

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É onde ocorre a filtração propriamente dita da água em tratamento.

Materiais Empregados :
√ Filtro Lento : areia;
√ Filtro Rápido : antracito e areia (estratificada : os grãos maiores ficam em baixo, logo
o tamanho dos grãos vai decrescendo de baixo para cima no interior do leito filtrante).

• Areia : pode ser obtida em rios ou lagos, devendo ser limpa, sem barro ou matéria
orgânica. A norma NBR 12216/92 fixa as condições e características granulométricas
para as areias como leito filtrante :

q Areia para Filtros Lentos : Tamanho efetivo de 0,25 a 0,35 mm / Coeficiente de


Uniformidade menor que 3,0 / Espessura Mínima da Camada de 0,90 m;
q Areia para Filtros Rápidos de Fluxo Descendente de Camada Simples :
Tamanho efetivo de 0,45 a 0,55 mm / Coeficiente de Uniformidade entre 1,4 e 1,6 /
Espessura Mínima da Camada de 0,45 m;
q Areia para Filtros Rápidos de Fluxo Descendente de Camada Dupla : Tamanho
efetivo de 0,45 a 0,45 mm / Coeficiente de Uniformidade entre 1,4 e 1,6 / Espessura
Mínima da Camada de 0,25 m;
q Areia para Filtros Rápidos de Fluxo Ascendente : Tamanho efetivo de 0,70 a
0,80 mm / Coeficiente de Uniformidade menor ou igual a 2,0 / Espessura Mínima
da Camada de 2,00 m;

• Antracito : é um carvão mineral de cor negra. Sua massa específica e da oredem de 1,4
a 1,6 g/cm3, isto é inferior à da areia. Isto faz com que ele possa ser utilizado em filtros
rápidos de camada dupla sobre a areia, sem se misturar com ela. Sendo o antracito mais
leve e sendo a granulometria da areia e do antracito adequadamente especificados, todas
as vezes que o filtro for lavado, o antracito subirá mais do que a areia. pode ser obtida
em rios ou lagos, devendo ser limpa, sem barro ou matéria orgânica. Terminada a
lavagem a areia ficará por baixo e o antracito por cima.

6.3 Camada Suporte

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Localizada abaixo do leito filtrante sendo normalmente constituída de seixos


rolados ou pedras, colocadas em camadas sucessivas umas sobre as outras, de forma a
possibilitar a transição entre o tamanho dos grãos do leito filtrante e o tamanho dos orifícios
fundo falso do filtro por onde a água filtrada passa.

6.4 Taxas de Filtração


Corresponde a Vazão Diária Filtrada por Área de Filtro (em planta) expressa normalmente
em m3/m2.dia. As disposições da Norma NBR 12216/92 são :

Filtros Lentos - A taxa de filtração pode ser determinada por experiências em filtros
pilotos, em períodos superiores ao necessário para ocorrência de todas as variações de
qualidade da água. Não sendo possível realizar essas experiências a taxa de filtração não
deve ser superior a 6 m3/m2.dia. Os filtros lentos pela baixa taxa de filtração necessitam de
grandes áreas para tratamento de grandes vazões.

Filtros Rápidos - Não sendo possível proceder a experiências piloto as taxas máximas
recomendadas são as seguintes : filtros com camada simples - 180 m3/m2.dia; filtros com
camada dupla - 360 m3/m2.dia. A taxa máxima em filtros de fluxo ascendente é de 120
m3/m2.dia. Alguns estudos dizem que pode chegar à 300 m3/m2.dia..

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Exemplo : Uma estação de tratamento de água tem 4 filtros rápidos, de leito filtrante
simples de areia, com as seguintes dimensões em planta : Comprimento de 2,50 m e
Largura de 1,00 m. Deseja-se ampliar sua capacidade que passará para 40 l/s. Se os leitos
filtrantes alterados para o tipo camada dupla com areia e antracito, os filtros assim
reformados terão condições de suportar a nova vazão ?
Solução :
Nova vazão em m3/dia = 40 x 86400/1000 = 3.546 m3/dia (Q)
Área filtrante dos 4 filtros = 4 x 2,50 x 1,00 = 10 m2 (A)
Taxa de filtração = Q/A = 3.456/10 = 345,6 m3/m2.dia
345,6 m3/m2.dia < taxa máxima = 360 m3/m2.dia
Assim eles podem suportar a nova vazão de acordo com a norma.

6.5 Fundos Falsos de Filtros

Bocais

Tubulações Perfuradas

Blocos

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6.6 Lavagem de Filtros

Há duas condições para se determinar a hora da lavagem de um filtro, existindo


também, dois critérios para a escolha do filtro a ser lavado :

q Quando o nível d’água atingir um certo limite ( aumento da perda de carga do leito
filtrante ), lava-se o filtro que estiver operando a mais tempo;
q Se houver controle de turbidez no efluente de cada filtro, lava-se o filtro que apresenta
pior resultado.

Os filtros rápidos são lavados a contracorrente (por inversão de fluxo) com uma
vazão capaz de assegurar uma expansão adequada do meio filtrante. Na prática consideram
expansões entre 25 e 50 % como satisfatórias, sendo 40 % um valor comum. A lavagem
pode ser realizada através de um reservatório ou com auxílio de bombas que garantam a
velocidade ascencional de lavagem para expansão do leito filtrante, conforme a seguir.

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A tabela a seguir apresenta os valores das velocidades ascencionais de lavagem que


devem ser empregadas em função da expansão desejada e dos tamanhos efetivos dos grãos
de areia do leito filtrante.

Expansão de areia: velocidade ascensional

Tamanhos efetivos
%
0,35mm 0,40mm 0,45mm 0,50mm 0,55mm 0,60mm
20 0,20-0,40 0,35-0,55 0,45-0,57 0,55-0,60 0,65-0,70 0,75-0,80
25 0,25-0,45 0,38-0,63 0,50-0,66 0,63-0,70 0,70-0,80 0,80-1,00
30 0,30-0,50 0,40-0,70 0,55-0,75 0,70-0,80 0,75-0,90 0,85-1,05
35 0,33-0,55 0,45-0,78 0,60-0,83 0,75-0,90 0,83-1,00 0,95-1,15
40 0,35-0,60 0,50-0,85 0,65-0,90 0,80-1,00 0,90-1,10 1,05-1,30
45 0,38-0,68 0,55-0,93 0,70-0,98 0,85-1,08 0,95-1,18 1,10-1,38
50 0,40-0,75 0,60-1,00 0,75-1,05 0,90-1,15 1,00-1,25 1,15-1,45
55 0,45-0,85 0,65-1,10 0,85-1,25 0,95-1,33 1,05-1,40 1,20-1,55
Fonte: Azevedo Netto1

Ainda existem os Sistemas de Lavagem Auxiliares que melhoram o desempenho


da operação de lavagem do filtro, permitindo entre outros benefícios, economizar água
gasta na operação de lavagem. Atuam na superfície e interior do leito filtrante a ser
expandido, conforme figura a seguir. O segundo caso apresentado se aplica mais à
pequenos filtros.

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Calhas Coletoras das Águas de Lavagem

Devem ser projetadas sobre o leito filtrante de forma a assegurar a coleta da água de
lavagem no leito filtrante de modo mais uniforme possível. A altura do fundo da calha em
relação ao topo filtrante é muito importante. O ideal é colocá-la um pouco acima da altura
atingida pelo topo do leito filtrante expandido, algo em torno de 15 cm.

15 cm

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6.7 Velocidades Máximas recomendadas para as Canalizações e Comportas


Adjacentes aos Filtros :

√ Afluente aos filtros (Chegada de Água) : 0,60 m/s;


√ Efluente dos Filtros (Saída de Água Filtrada) : 1,25 m/s;
√ Água de Lavagem (Descarga) : 1,80 m/s;
√ Água para Lavagem (Entrada) : 3,60 m/s.

6.8 Filtros Lentos – Número de Unidades Recomendadas

Para projeto de filtros lentos (taxas de filtração entre 3 a 9 m3/m2.dia), a tabela a


seguir apresenta o número de unidades usualmente empregado de acordo com a população
atendida.

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População Número de Unidades Observações


2.000 2 1 funcionando com máximo consumo
10.000 3 2 funcionando com máximo consumo
60.000 4 1 de reserva
200.000 6 1 de reserva
400.000 8 1 de reserva
600.000 12 2 de reserva
1.000.000 16 2 de reserva
Obs: 1 mínimo de 2 filtros devem ser construídos

Exemplo :

Calcular a quantidade de filtros lentos e as dimensões dos mesmos para um projeto, de


acordo com os seguintes dados :

√ T= taxa de filtração : 3 m3/m2.dia;

√ P = População de projeto : 15.000 habitantes;

√ q = Consumo per capita : 200 l/hab/dia;

√ coeficiente do dia de maior consumo : k1 = 1,25

Solução :

Vazão de Projeto : Qd = 15.000 hab x 200 l/hab/dia x 1,25 / 1000 = 3.750 m3/dia

Área de Filtração : A = 3.750 m3/dia / 3 m3/m2.dia = 1250 m2

Pela tabela tem-se : 4 unidades + 1 de reserva (10.000 hab < P < 60.000 hab)

Área de cada unidade : 1250 / 4 = 312,5 m2

Supondo filtro retangular com comprimento L igual ao dobro da largura B (recomendado


L=2B), tem-se :

312,5
B . 2B = 312,5 B= = 12,5 m L= 25 m
2

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Portanto devem ser construídos 05 unidades (04 titulares + 01 reserva), com dimensões de
12,5 x 25 m cada (desenho abaixo).

12,5 m 12,5 m 12,5 m 12,5 m 12,5 m

25 m

6.9 Filtros Rápidos – Principais Parâmetros de Projeto Recomendados

Os principais parâmetros de projeto para filtros rápidos podem ser visualizados no


quadro a seguir, de acordo com recomendações da Norma NBR12216/92 e de Azevedo
Netto :

FILTROS
PARÂMETROS ASCENDENTES DESCENDENTES
NBR 12216 Azevedo Netto NBR 12216 Azevedo Netto
Camada filtrante (areia) 200 cm 150 cm Mín. 45cm 60 cm
40cm-mín. 0,45
Tamanho efetivo (TE) Mín. 0,70 Mín. 0,75 Mín. 0,45 e máx. 0,55
(mm) Máx. 0,80 Máx. 0,85 Máx. 0,55 20cm-mín. 0,80
e máx. 1,20
Coeficiente Menor ou Menor ou Mín. 1,40 40cm-menor
uniformidade igual a 2 igual a 2 Máx. 1,60 que 1,7
Maior 25
Camada suporte Maior 40 cm 35 cm 35 cm
cm
Taxa filtração Mín. 120 Máx 180 Mín. 120
120
(m3/m2.dia) Máx. 150 (simples) Máx. 150
Tempo de lavagem 15 min _ 10 min _
Velocidade de lavagem Mín. 70 Mín. 70
Mín 80 Mín 60
(cm/min) Máx. 80 Máx. 80
Fontes: Azevedo Netto e NBR 12216/92

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EXERCÍCIOS - TRATAMENTO DE ÁGUA

Marque Verdadeiro (V) ou Falso (F) :

1. Água bruta é sinônimo de água agressiva. ( )


2. A cor de certa amostra, determinada sem remover previamente as partículas em
suspensão presentes, é a cor aparente e, certamente, terá um valor superior ao de sua
cor real. ( )
3. As águas duras são incrustantes, consomem muito sabão e, quase sempre, são também
alcalinas. ( )
4. Os coliformes são organismos sempre patogênicos. ( )
5. O cloro residual garante que se a água distribuída vier a se contaminar na rede ou nos
reservatórios, ela ainda será capaz de combater essa contaminação. ( )
6. A fluoretação das águas como forma de prevenção da cárie é opcional no Brasil. ( )
7. Nas águas naturais, partículas em suspensão fazem surgir a turbidez e as partículas
dissolvidas fazem surgir a cor real. ( )
8. Na floculação, as partículas desestabilizadas na mistura rápida são aglutinadas umas
com as outras e com o floculante, formando os flocos. ( )
9. A pré-cloração pode propiciar a oxidação do ferro e do manganês tornando-os
insolúveis e passíveis de serem removidos através da mistura rápida, floculação,
decantação e filtração. ( )
10. A pré-cloração não apresenta nenhum inconveniente com relação a qualidade da água
tratada para consumo humano. ( )
11. Chamamos de água decantada a água da qual os flocos foram separados por
sedimentação. ( )
12. De acordo com a NB-592, dois parâmetros são muito importantes na mistura rápida: o
gradiente de velocidade e o tempo de mistura. ( )
13. O gradiente de velocidade é maior na floculação do que na mistura rápida. ( )
14. As partículas que desejamos remover da água em tratamento apresentam cargas
elétricas negativas. Quando neutralizamos as partículas, através da correta adição de
floculante, praticamente zeramos seu potencial zeta. ( )
15. A determinação da dosagem correta do floculante é feita através da realização de
ensaios de jarros - Jar Test. ( )
16. Na desestabilização por adsorção - que ocorre em faixas estreitas do pH da água
floculada e na qual, como sabemos, é importante misturar energicamente o floculante à
água bruta e efetuar essa mistura em tempo muito curto – as partículas presentes na
água bruta adsorvem, em suas superfícies, íons metálicos, de carga positiva, capazes de
neutralizá-las. ( )

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17. Na desestabilização por varredura, a desestabilização das partículas é feita pelo


hidróxido metálico, que é o composto que se forma quando adicionamos o floculante à
água bruta. Este composto forma pequenas partículas, sob forma de gel, que chocam-se
com as partículas que desejamos remover da água em tratamento, e as adsorvem. ( )
18. O medidor Parshall engloba somente a função de medidor de vazão em uma estação de
tratamento de água. ( )
19. O gradiente de velocidade deve ser aumentado no floculador quanto mais próximo se
estiver do decantador, ou seja, o gradiente de velocidade é crescente em um floculador
de montante para jusante. ( )
20. De acordo com a NB-592, quando não puderem ser realizados experimentos, o
gradiente de velocidade na mistura rápida deve estar entre 700 e 1100 s-1 e o tempo de
mistura não superior a 5 s. ( )
21. De acordo com a NB-592, quando não puderem ser realizados experimentos, o
gradiente de velocidade máximo no 1º compartimento de um floculador (montante)
deverá ser de 70 s-1 e o valor mínimo, no último compartimento (jusante), deverá ser
de 10 s-1. ( )
22. Nos floculadores hidráulicos, a agitação é conseguida introduzindo equipamentos
mecânicos, capazes de manter a água em constante agitação. ( )
23. Os decantadores pode ser divididos no Brasil em clássicos (baixa taxa de escoamento
superficial) e tubulares (alta taxa de escoamento superficial). ( )
24. O principal parâmetro para o adequado desempenho dos decantadores clássicos é a taxa
de escoamento superficial. ( )
25. Projetos adequados podem, muitas vezes, aumentar e até mesmo dobrar a vazão tratada
por decantadores clássicos, através de sua conversão para decantadores tubulares. ( )
26. Quando os filtros recebem água coagulada ou floculada, sem passar, por decantação,
diz-se que a estação de tratamento é do tipo filtração direta. ( )
27. Os filtros lentos pela baixa taxa de filtração necessitam de menores áreas para
tratamento de grandes vazões do que os filtros rápidos. ( )
28. De acordo com a NB-592, quando não puderem proceder a experiências piloto a taxa
máxima de filtração recomendadas para os filtros lentos é de 16 m3/m2.dia. ( )
29. De acordo com a NB-592, quando não puderem proceder a experiências piloto as taxas
máximas de filtração recomendadas para os filtros rápidos serão as seguintes: filtros
com camada simples - 180 m3/m2.dia e filtros com camada dupla - 360 m3/m2.dia. ( )
30. Normalmente nas ETAs brasileiras, a lavagem dos filtros é efetuada introduzindo água
tratada em contra-corrente no filtro a ser lavado, com velocidade suficiente para
expandir o leito filtrante. Algumas vezes efetua-se também a lavagem auxiliar, com
água ou ar. ( )
31. Basicamente, os materiais utilizados nos filtros das estações de tratamento de água são
materiais granulares, especificados adequadamente, sendo normalmente utilizados,
com essa finalidade, o antracito e a areia. ( )

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Unidade Didática III – Tratamento de Águas para Abastecimento
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32. Os filtros rápidos são mais eficientes do ponto de vista de remoção de


microorganismos patogênicos do que os filtros lentos. ( )
33. Filtros russos e clarificadores de contato são denominações também utilizadas para
designar os filtros ascendentes, em cujo interior no meio granular, ocorrem
simultaneamente, a floculação, a decantação e a filtração. ( )
34. O cloro é quase sempre o desinfetante utilizado no Brasil, embora outros métodos
podem ser utilizados para a desinfecção, tais como : ozonização, raios ultra-violeta e
compostos alternativos de cloro. ( )
35. Quanto mais baixo o pH, maior a concentração de ácido hipocloroso, que desinfeta
melhor que o íon hipoclorito. ( )
36. A correção do pH permite eliminar características corrosivas ou incrustativas da água
tratada. ( )
37. A correção do pH é efetuada antes da entrada da água no tanque de contato, ou seja,
antes da cloração e da fluoretação. ( )
38. O cloro residual pode estar presente sob duas formas : livre e combinado. O cloro
residual combinado, em que o cloro está presente combinado com a amônia ou outros
compostos de nitrogênio apresenta maior eficiência para destruir os microorganismos
patogênicos do que o cloro residual livre. ( )
39. O preparo da solução de sulfato de alumínio é realizado no interior de tanques
apropriados, usualmente em concentrações variando entre 2 e 10 %.
40. A introdução de oxigênio na água (aeração) permite a oxidação de compostos ferrosos
e manganosos e a sua conseqüentente redução e eliminação por precipitação de tais
metais.
41. Certos produtos orgânicos denominados polieletrólitos podem ser utilizados como
auxiliares da desinfecção da água. ( )
42. O carvão ativado pode ser utilizado para remoção de odor e sabor. ( )
43. Os padrões de potabilidade são fixados, em geral, por decretos, regulamentos ou
especificações. São definidos no Brasil pelo Ministério da Saúde, através da recente
Portaria 1469 de 29 de Dezembro de 2000. Essa portaria estabelece os procedimentos e
responsabilidades relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano
e seu padrão de potabilidade, substituindo a antiga portaria 36/90. ( )
44. O tempo de contato não influencia na eficiência da desinfecção. ( )

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Respostas :
1. F 11. V 21. V 31. V 41. F
2. V 12. V 22. F 32. F 42. V
3. V 13. F 23. V 33. V 43. V
4. F 14. V 24. V 34. V 44. F
5. V 15. V 25. V 35. V
6. F 16. V 26. V 36. V
7. V 17. V 27. F 37. F
8. V 18. F 28. F 38. F
9. V 19. F 29. V 39. V
10. F 20. V 30. V 40. V

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