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UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

SANEAMENTO BÁSICO - II

SISTEMAS DE COLETA, AFASTAMENTO E


TRATAMENTO DE ESGOTOS SANITÁRIOS

Professor Doutor José Carlos Simões Florençano

Professora Mestre Vanessa Villalta Lima Roman

MATERIAL DIDÁTICO ▲ 2017


UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ ▲ Prof. Dr. José Carlos Simões Florençano -2-

PREFÁCIO

O presente trabalho é o resultado de diversas pesquisas e trabalhos técnico-científicos e


também, da experiência acumulada ao longo do exercício profissional, que numa linguagem acessível,
visa servir de orientação didática para o melhor acompanhamento e aproveitamento por parte dos
alunos deste curso, cujos programas se complementam com a bibliografia apresentada na página final.
Agradecemos todas as sugestões que vierem ser apresentadas e, também, ao Grande
Arquiteto do Universo pela oportunidade de realizar este trabalho, como uma modesta contribuição para
o desenvolvimento das condições do saneamento básico e, por consequência, da saúde e da qualidade
de vida da população.

Os Autores *

Julho/2008 – (1ª ed.)

Fevereiro/2010 – (2ª ed.)

Fevereiro/2014 – (3ª ed.)

Fevereiro/2017 – (3ª ed. Revisada)

___________________________________________________________________________________
* JOSÉ CARLOS SIMÕES FLORENÇANO. Engenheiro Civil, Especialista em Engenharia Sanitária e em Saúde Pública, Mestre
e Doutor em Ciências Ambientais e Engenheiro da Vigilância Sanitária da Secretaria de Estado da Saúde - Reg. Taubaté, SP.

* VANESSA VILLALTA LIMA ROMAN. Engenheira Ambiental e Sanitarista, Especialista em Engenharia de Segurança do
Trabalho e Mestre em Saneamento Civil e Ambiental.
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CAPÍTULO 1

O ESGOTAMENTO SANITÁRIO

1.1 HISTÓRICO

Desde os tempos remotos, quando os homens começaram a se assentar em cidades, a


coleta de águas residuárias, passou a se constituir em uma preocupação da civilização.
No ano de 3750 a.C. em Nipur (Índia) e na Babilônia já se construíam galerias de esgotos.
Também existem registros de que, em 3100 a.C., eram utilizadas manilhas de cerâmicas para essa
mesma finalidade (Azevedo Netto, 1984). Na Roma antiga, eram executadas ligações das casas até os
canais, também chamados de “cloacas” (Metcalf e Eddy, 1977). Durante a Idade Média, porém, um
aparente marasmo no avanço de obras e ações voltadas ao saneamento, acrescido do
desconhecimento da microbiologia, culminaram em grandes epidemias ocorridas em alguns países da
Europa durante os séculos XIV e XIX, conforme destaques da Tabela 1.

Tabela 1 – Principais epidemias ocorridas na Europa durante os séculos XIV e XIX


___________________________________________________________________________________
PERÍODO LOCAL OCORRÊNCIAS
___________________________________________________________________________________
1345 / 1349 Toda a Europa Pandemia de Peste Bubônica, com 43 milhões de vítimas fatais.
1826 Toda a Europa Pandemia de Cólera.
1834 Inglaterra Epidemia de Cólera, com 50 mil vítimas fatais.
1848 Inglaterra Epidemia de Cólera, com 25 mil vítimas fatais.
___________________________________________________________________________________
Fonte: Metcalf e Eddy (1977)

Não por acaso, a Inglaterra foi o primeiro País a iniciar pesquisas (1822) e adotar medidas
corretivas na área do saneamento. Outros seguiram o exemplo inglês, passando a coletar, afastar e
tratar os esgotos sanitários, como por exemplo, na América do Norte: Memphis, Tennesse em 1847 e
Lawrence, Massachusetts em 1887 (Metcalf e Eddy, 1997). Sucederam-se, no período de 1914 a 1927,
outros países europeus como o Canadá, Rússia e Japão. Na América do Sul, os serviços de esgotos
foram iniciados, com destacado pioneirismo, em Montevidéu (1854) e no Rio de Janeiro (1857).
Conforme Azevedo Netto, 1973 e Botafogo, 1984, a primeira rede de esgotos da cidade de São
Paulo (projetada por engenheiros ingleses) foi construída no ano de 1876, sendo que a primeira
Estação de Tratamento de Esgotos dos paulistanos - ETE Ipiranga – só veio a ser inaugurada em 1938.
Posteriormente, vieram ser concluídas a ETE Leopoldina (1959), ETE Pinheiros (1972), ETE Suzano
(1981), ETE Barueri (1988), ETE ABC (1998), ETE São Miguel (1998), ETE Parque Novo Mundo
(1998), dentre outras.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD, realizadas nos anos de 2000 e 2008,
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas – IBGE, demonstram pouco avanço neste setor, pois
os municípios brasileiros que contavam com rede geral de esgotos, passaram de 52,2% em 2000, para
apenas 55,2% em 2008. Quanto ao tratamento dos esgotos, a situação é mais agravante, pois as
pesquisas registraram que, no ano de 2000, apenas 20,2% dos municípios possuíam estes serviços,
enquanto que, em 2008, o tratamento de esgotos estendeu-se timidamente para 28,5% das
municipalidades brasileiras.
A Taxa de Mortalidade Infantil caiu de 29,7‰ em 2000 para 15,6‰ em 2010. As regiões
Nordeste e Norte apresentaram taxas superiores à nacional (18,5‰ e 18,1‰, respectivamente),
enquanto o Sul (12,6‰), Sudeste (13,1‰) e Centro-Oeste (14,2‰) ficaram abaixo. Este indicador
fornece a frequência de óbitos menores de um ano para cada 1.000 nascidos vivos (IDS/IBGE, 2012).
As existências de rede coletora e de tratamento de esgotos, além de se constituírem em
serviços básicos, são de fundamental importância em termos de qualidade de vida, pois a ausência dos
mesmos acarreta a poluição e a contaminação dos recursos hídricos, além de favorecer a emissão de
gases de efeito estufa, especialmente de metano, trazendo prejuízos à saúde coletiva da população.
A leitura desses números somada ao atual quadro da saúde pública brasileira, que demonstra o
“retorno” de diversas doenças endêmicas, algumas tidas até como já erradicadas, nos indica a absoluta
necessidade de que muitas obras de saneamento básico devam ser urgentemente executadas em toda
a extensão territorial deste País.
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1.2 DEFINIÇÕES

1.2.1 Tipos de esgotos


A palavra esgoto tem sido utilizada para definir os despejos provenientes das diversas
modalidades do uso e da origem das águas, tais como:
o doméstico;
o de utilidades públicas;
o comercial;
o industrial;
as águas de chuva, e
as águas de infiltração (subsolo).

Alguns autores têm empregado o termo “Águas Residuárias“, que significa wastewater, em
substituição ao termo “esgoto”. Usualmente são classificados em dois grupos principais: Esgotos
Domésticos e os Esgotos Industriais.

a) Esgotos industriais
Os esgotos industriais, extremamente diversos, adquirem as características próprias em função
do processo industrial empregado. Assim, cada indústria deverá ser considerada isoladamente para fins
de se determinar o tipo do tratamento de seus efluentes.
Determinados fatores devem ser considerados no tratamento biológico dos efluentes
industriais: a biodegradabilidade e condições de tratabilidade, a concentração de matéria orgânica, a
disponibilidade de nutrientes (equilíbrio entre C, N, P) e a sua toxicidade.

b) Esgotos domésticos
Os esgotos domésticos são resultantes do uso da água para a higiene e necessidades
fisiológicas humanas. Provêm principalmente de residências, edifícios comerciais ou outras edificações
que contenham instalações de banheiros, lavanderias, cozinhas ou qualquer dispositivo de utilização da
água para fins domésticos. Compõem-se essencialmente da água de banho, urina, fezes, papel, restos
de comida, sabão, detergentes, águas de lavagem.
O termo "esgoto sanitário", também, tem sido comumente empregado para definir os esgotos
domésticos quando estão incluídas pequenas quantidades de águas de infiltração dos lençóis
subterrâneos, as quais não são admitidas intencionalmente.

1.2.2 Sistemas de esgotamento


Em 1778, Joseph Bramah havia patenteado o vaso sanitário com descarga de água, que
através da sua rápida popularização, agravou as precárias condições sanitárias, então, enfrentadas
pela população de Londres, a qual não possuía estrutura para fazer escoar as fezes acumuladas nas
fossas e tanques espalhados pela cidade.
No ano de 1847, com a situação mais agravada e não havendo outro meio mais prático para
dispor as águas imundas, os ingleses adotaram o transporte daquelas águas em canalizações para
realizar a coleta e o afastamento dos despejos. Criou-se, assim, o sistema de esgotamento com
transporte hídrico.
Com esse sistema a água passou a ter uma dualidade de usos: água limpa para o cosumo e a
água suja (servida) utilizada para realizar o afastamento dos excrementos.

Figura 1 – Esquema de um sistema convencional urbano


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a) Sistema Unitário ou Combinado (tout à l’égout)


Sem muitas opções para dispor os crescentes volumes de excretas humanos, a Europa
autorizou, no início do século XIX, o lançamento de efluentes domésticos nas galerias de águas pluviais
existentes criando, deste modo, o “sistema unitário” de esgotamento, o qual prevalece até os dias
atuais em Paris, com escoamento conjunto e simultâneo em uma mesma canalização.
As principais características deste sistema são:
dimensões maiores dos coletores;
maior volume de obras;
maiores investimentos e custos iniciais elevados;
oneração para as Estações Elevatórias e de Tratamento Esgotos;
problemas de deposição de sólidos nas tubulações, durante os períodos de estiagem;
desvantagens para países tropicais ou em desenvolvimento: chuvas mais intensas, ruas
não pavimentadas, poucas receitas financeiras.

b) Sistema Separador Absoluto


Em 1879, o Engenheiro George Waring Júnior projetou para a cidade americana de Memphis,
um sistema em que os efluentes domésticos eram coletados e transportados num sistema
absolutamente separado daquele destinado às águas pluviais, o qual veio a ser denominado de
“sistema separador absoluto”.
Este sistema, adotado no Brasil a partir do ano de 1912, possui as seguintes características:
vazões e diâmetros de tubulações bem menores (menor custo);
pode-se fazer implantação por partes: Ex. rede de maior importância;
melhores condições de operação das Estações Elevatórias e de Tratamento Esgotos;
as águas pluviais podem ser lançadas diretamente (sem tratamento) nos corpos
receptores, em pontos múltiplos e mais próximos;
nem todas as ruas de uma cidade necessitam de galerias de águas pluviais, podendo o
projeto ser conjugado com o escoamento superficial, dependendo da topografia local;
desvantagem: ligações clandestinas (esgotos nas galerias de águas pluviais e vice-versa)

c) Sistema Misto ou Separador Parcial


Neste sistema, podem ser lançadas conjuntamente nos coletores de esgotos sanitários, apenas
uma “parcela” das águas de chuva, aquelas oriundas dos telhados, pátios internos e sacadas das
edificações. As águas pluviais provenientes de ruas, avenidas, praças e pátios externos, devem ser
coletadas e transportadas de forma “separada” através de outra canalização específica.
Os EUA e a Holanda não executam mais Redes Mistas devido aos elevados custos de
investimento e de operação superiores àqueles do Sistema Separador Absoluto.
Suas principais características são:
os coletores e os investimentos são menores que o sistema unitário;
mesmo assim, oneram e dificultam a operação das Estações Elevatórias e de Tratamento
Esgotos, nos períodos de chuvas.
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CAPÍTULO 2

SISTEMA DE COLETA, AFASTAMENTO E TRATAMENTO DE ESGOTOS


SANITÁRIOS

O sistema convencional de coleta, afastamento e tratamento de esgotos sanitários, é


composto, conforme descrição e ilustração seguintes:

Figura 2 – Sistema convencional de coleta, afastamento e tratamento de esgotos sanitários


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2.1 PARTES CONSTITUINTES DO SISTEMA DE COLETA, AFASTAMENTO E TRATAMENTO DE


ESGOTOS SANITÁRIOS

a) Rede Coletora
É o conjunto constituído por ligações prediais, coletores de esgotos e seus órgãos acessórios,
destinadas a receber e a conduzir os esgotos. Os coletores podem ser:

Coletores Secundários: possuem menores diâmetros que recebem as contribuições das


edificações e transportando-as para os coletores troncos.
Coletores Troncos: ou Principais, possuindo diâmetros maiores, recebem os efluentes dos
coletores secundários, conduzindo-os para os interceptores.

b) Interceptor
Desenvolve-se ao longo dos fundos do vale, margeando os cursos d’água ou canais. É a
canalização que recebe a contribuição de coletores tronco e de alguns emissários. Não recebe ligações
prediais diretas. Ele evita a descarga direta dos efluentes, protegendo o corpo receptor, conduzindo-os
a uma estação elevatória ou a um emissário.

c) Emissário
Canalização destinada a conduzir os efluentes do final da rede coletora até a estação de
tratamento, ou desta até ao local de lançamento. Os emissários recebem esgotos exclusivamente na
extremidade de montante, não recebendo contribuições ao longo de seu percurso.

d) Estação Elevatória (EE)


É toda instalação constituída e equipada de forma a poder transportar (quando necessário) o
esgoto de uma cota mais baixa para outra mais alta, acompanhando aproximadamente as variações
das vazões afluentes.

e) Estação de Tratamento de Esgoto (ETE)


Conjunto de unidades destinadas à remoção de sólidos grosseiros, matéria orgânica (em
suspensão ou em solução) e outros poluentes, à níveis suficientes para posterior lançamento em
cursos d’água, lagos ou oceanos.

f) Sifão Invertido (SI)


Canalização rebaixada funcionando sob pressão e destinada à travessia de canais, ferrovias,
rodovias, etc.

g) Corpo de Água Receptor


Após o tratamento e a desinfecção, os esgotos são lançados em um corpo de água ou,
eventualmente aplicados no solo.

2.2 ÓRGÃOS ACESSÓRIOS DA REDE COLETORA


Visam evitar ou minimizar os entupimentos na rede. Suas distâncias consecutivas devem estar
limitadas ao alcance dos equipamentos de desobstrução, porém nunca superiores a 100 metros.

a) Poço de Visita (PV)


Dispositivo utilizado em canalizações enterradas para permitir o acesso de pessoas e
equipamentos de manutenção. Devem ser projetados em todos os pontos singulares da rede: início dos
coletores, mudanças de direção, de declividade, de diâmetro, de material, na reunião de coletores e nos
degraus dos tubos de queda.
Não devem ser substituídos, nos seguintes casos: na reunião de mais de dois trechos do coletor;
quando existir tubo de queda; nas extremidades dos sifões invertidos e de outros tipos de passagens
forçadas e quando a profundidade for maior que três metros.
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L AJE SUPE RIOR PL ANTA

POÇ O DE VISIT A - CO RT E A-A

A
FUNDO DO POÇ O DE VISITA - PLANTA

Figura 3 - Detalhes do projeto de um poço de Visita (PV)

Figura 4 – Execução de um Poço de Visita (PV)

Ele pode ser executado de alvenaria de tijolo, anéis de concreto ou de plástico, nos seguintes
formatos:

Figura 5 – Tipos de Poços de Visitas (PVs)


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b) Terminal de Limpeza (TL)


Tubo que permite a introdução de equipamento de limpeza e por ser mais barato, pode substituir
o poço de visitas (PV) no início dos coletores e nos casos em que houver mudanças de direção, de
declividade, de diâmetro, de material.

Figura 6 – Detalhe de um Terminal de Limpeza (TL)

c) Tubo de Inspeção e Limpeza (TIL)


Dispositivo não visitável que permite inspeção e introdução de equipamentos d e limpeza.
Pode ser utilizado em substituição do PV nas seguintes situações:
na reunião de até dois trechos ao coletor (três entradas e uma saída);
nos degraus de até 50 cm de altura;
a jusante de algumas ligações prediais que possam causar entupimentos.

Figura 7 – Detalhe de um Terminal de Inspeção e Limpeza (TIL)


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d) Caixa de Passagem (CP)


Constitui-se em uma câmara, sem acesso, que pode substituir o PV nas mudanças de direção,
declividade, diâmetro e de material.

e) Tubo de queda
Deve ser previsto quando o coletor afluente apresentar degrau com altura maior ou igual a 50
cm. (ver Figura 3).

2.3 LICENCIAMENTO AMBIENTAL

A Resolução CONAMA nº 001/1986 considera como impacto ambiental, qualquer alteração das
propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria
ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente afetam:
a saúde, a segurança e o bem estar da população;
as atividades sociais e econômicas;
a biota;
as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;
a qualidade dos recursos ambientais.

O artigo 2º desta Resolução dispõe que, depende da elaboração de EIA (Estudo de Impacto
Ambiental) e o respectivo RIMA (Relatório de Impacto ao Meio Ambiente) submetidos ao órgão estadual
competente, o licenciamento de diversas atividades modificadoras do meio ambiente, entre as quais se
incluem “troncos coletores e emissários de esgotos sanitários” e, ainda, “obras de saneamento”.

Em 2006, o CONAMA expediu a Resolução nº 377/2006 dispondo sobre os critérios para o


licenciamento ambiental simplificado de sistemas de esgotamento sanitários de pequeno e médio porte,
desde que, não estejam situados em áreas ambientalmente sensíveis.

Para, tanto a Resolução considera:


“.....I - unidades de transporte de esgoto de pequeno porte: interceptores, emissários e respectivas
estações elevatórias de esgoto com vazão nominal de projeto menor ou igual a 200 L/s;

II - unidades de tratamento de esgoto de pequeno porte: estação de tratamento de esgoto com


vazão nominal de projeto menor ou igual a 50 L/s ou com capacidade para atendimento até 30.000
habitantes, a critério do órgão ambiental competente;

III - unidades de transporte de esgoto de médio porte: interceptores, emissários e estações


elevatórias de esgoto com vazão nominal de projeto maior do que 200 L/s e menor ou igual a 1.000 L/s;

IV - unidades de tratamento de esgoto de médio porte: estação de tratamento de esgoto com vazão
nominal de projeto maior que 50 L/s e menor ou igual a 400 L/s ou com capacidade para atendimento
superior a 30.000 e inferior a 250.000 habitantes, a critério do órgão ambiental competente.”

Conforme a classificação acima, a Resolução nº 377/2006 estabelece que no Licenciamento


Ambiental Simplificado das unidades de transporte e de tratamento de esgoto sanitário, de médio porte,
será apresentado menos documentos e, ainda, com a possibilidade da expedição concomitante da
Licença Prévia (LP) e da Licença de Instalação (LI).

E para as unidades de transporte e de tratamento de esgoto de pequeno porte, além da redução


dos documentos a serem apresentados, é prevista a expedição somente da Licença Ambiental Única
de Instalação e Operação (LIO).
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CAPÍTULO 3

REDES COLETORAS DE ESGOTOS SANITÁRIOS

3.1 REGIME HIDRÁULICO DE ESCOAMENTO DAS REDES COLETORAS DE ESGOTOS


SANITÁRIOS

Diferentemente das redes de água potável, que se processa em Condutos Forçados, a secções
plenas (cheias) fechadas e sob pressão geralmente maior que a atmosférica, os coletores e
interceptores de esgotos, operam em Condutos Livres, a secções parciais, fechadas e sob pressão
atmosférica, apresentando uma superfície livre do contato com as paredes da canalização.
Os sifões e linhas de recalque das Estações Elevatórias funcionam como Condutos Forçados
e os emissários podem operar tanto como Condutos Livres ou Forçados.
A área molhada (Am) refere-se à seção útil de escoamento, ou seja, a área que corresponde à
lâmina líquida (Y) na seção transversal do conduto. O perímetro molhado (Pm) é a parte do perímetro
total do conduto em contato com a lâmina líquida. Por definição, a relação Am / Pm é chamada de raio
hidráulico (RH). Também por definição, o diâmetro hidráulico é quatro vezes o valor do raio hidráulico,
ou seja: DH = 4 . RH.

Figura 8 - Elementos geométricos dos condutos de secção circular

Quando o escoamento se processa a seção plena (Conduto Forçado), eles correspondem:


Am = π . D² e Pm = π . D Sendo: RH = Am → RH = D Como: DH = 4 RH → DH = D
4 Pm 4

Outros parâmetros que intervêm no dimensionamento dos condutos são a vazão (Q) e a
velocidade (v) que, conforme a “equação da continuidade”, mantém entre si a relação: Q = Am . v

Devido operar através da pressão atmosférica (escoamento livre), as redes coletoras e os


interceptores de esgotos sempre devem ser projetados e executados observando uma declividade
mínima.

Assim, quanto mais extensa for a rede coletora, ou o interceptor de esgotos, maior deverá ser a
sua profundidade, implicando na maior dificuldade e riscos decorrentes da escavação do solo.

Figura 9 – Perfil longitudinal de uma rede coletora de esgotos


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3.2 ASPECTOS CONSTRUTIVOS DAS REDES COLETORAS DE ESGOTOS SANITÁRIOS

A execução de redes coletoras de esgotos merece ser precedida de estudos, projetos


complementares e detalhamentos construtivos, a fim de garantir a segurança e evitar acidentes.

3.2.1 Principais características de alguns tipos de solo


É importante e necessário conhecer bem o tipo de solo a ser trabalhado para que sejam
adotadas as adequadas técnicas construtivas e de segurança dos operários envolvidos nas obras de
escavações e assentamento de tubulações de rede coletoras de esgotos. Com o objetivo de facilitar
uma identificação expedita, são apresentadas as principais características de alguns tipos de solo:

a) Argilas
Apresentam partículas com dimensões inferiores a 0,005 mm. Quando suficientemente úmidas,
moldam-se facilmente em diferentes formas e quando secas apresentam coesão suficiente para
constituir torrões dificilmente desagregáveis pela pressão dos dedos. Quanto à consistência, podem ser
muito moles, moles, médias, rijas e duras;

b) Siltes
Com partículas com dimensões entre 0,005 e 0,05 mm, possuem coesão necessária para
formar, quando seco, torrões facilmente desagregáveis pela pressão dos dedos;

c) Solos arenosos
Possuem partículas componentes com dimensões entre 0,05 e 4,8 mm.

d) Pedregulhos
Apresentam partículas componentes com dimensões entre 4,8 mm e 76 mm.

e) Solos compostos
Encontrados na natureza, misturados em proporções variáveis, sendo designados pelo nome
do solo mais predominante, seguindo-se do(s) nome(s) do(s) outro(s) tipo(s) de solos. Ex: argila silto-
arenosa, areia grossa argilosa compacta, etc.

f) Turfas
Possuem grandes percentagens de partículas fibrosas constituídas de material carbonoso
juntamente com matéria orgânica finamente dividida. Podem ser identificadas por serem fofas, não
plásticas e muito moles quando úmidas;

g) Alterações de rochas
São provenientes da desintegração das rochas “in sita”;

h) Solos superficiais
São encontrados abaixo da superfície do solo, constituindo-se geralmente de misturas de
areias, argilas e matéria orgânica expostas à ação das intempéries e de agentes de origem vegetal e
animal. Ex: raízes, restos de peixes, etc.

Figura 10 - Ilustrações de alguns tipos de solo


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3.2.2 Métodos Não Destrutivos (MND) para a execução de redes coletoras de esgotos sanitários
O fenômeno da conurbação urbana das cidades ocorreu de forma desordenada, principalmente
na segunda metade do século XX, devido ao crescimento dos centros urbanos sem a preocupação com
o planejamento e a infraestrutura básica. Aliados a estes fatores, os dispendiosos gastos na área da
saúde pública que os órgãos governamentais vinham se deparando, impuseram uma maior e imediata
competitividade a todo o setor de saneamento, com o surgimento de novos materiais e tecnologias no
mercado brasileiro.
Uma grande evolução pôde ser observada no segmento de obras lineares de grandes
interceptores, com o uso de tecnologias que possibilitam a instalação de tubulações em áreas urbanas
já densamente habitadas. Isto pôde ser constatado no Projeto de Despoluição do Rio Tietê, em São
Paulo, com a adoção de Métodos Construtivos Não Destrutivos, o que possibilitou evitar maiores
transtornos dos que eventualmente seriam causados pelos métodos tradicionais de escavação a “Céu
Aberto”.
Um dos principais e mais utilizados, é o de Tubos Cravados. Também existem os
denominados New Austrian Tunnelling Method - NATM e o Tunnel Liner, porém ambos os métodos
são baseados nas técnicas de construção de grandes túneis que servem de passagem e
caminhamento para as grandes tubulações.

Figura 11 - Escavação pelo método NATM Figura 12– Método Tunnel Liner em execução

O Quadro a seguir, apresenta uma simulação comparativa entre esses principais métodos, para
a execução de uma rede de esgoto de 150,00 metros de comprimento, diâmetro de 1200 mm, na
profundidade de 4,00 metros e com dois poços de visitas.

Quadro 1 – Simulação dos métodos construtivos para conduto de esgotos

O Método dos Tubos Cravados (ou pipe jacking) consiste na escavação mecânica
executada através de um disco rotativo, acionado por motores elétricos. Na parte posterior da máquina
(shield), são colocados os tubos que serão cravados sucessivamente no solo com a ajuda dos
macacos hidráulicos. O avanço do túnel é dependente da linha de tubos consecutivos ao shield, pois a
cravação sequencial de tubos é realizada a partir do poço de serviço.
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Figura 13 – Disco rotativo para escavação do solo Figura 14 – Shield acoplado ao macaco hidráulico

Ao longo da rede são construídos poços de visitas, com dimensões internas mínimas
necessárias para a instalação dos equipamentos de cravação. Na parede do poço, oposta à direção de
avanço do túnel, é executado um quadro rígido para a reação do macaco hidráulico (parede de reação).
As máquinas de escavação podem ser tripuladas ou não tripuladas, dependendo do diâmetro
da tubulação a ser assentada. Quando não tripuladas, o comando e o controle do direcionamento são
feito externamente através de um emissor de raio laser, situado no poço de serviço, atuando sobre um
alvo instalado no shield.
Os tubos utilizados neste método devem resistir aos esforços horizontais causados pelas
cargas dos macacos hidráulicos, bem como serem cravados de forma bem justa no solo, evitando
folgas externas que possam vir a causar recalque no terreno.
O funcionamento do equipamento consiste na perfuração do terreno por ferramentas de corte
instaladas no disco rotativo na parte frontal do shield e, com a cravação simultânea dos tubos em
conjunto com o avanço da escavação. O movimento é realizado a partir do empuxo, aplicado por
potentes pistões hidráulicos, instalados no poço de serviço, que empurram todo o conjunto cravando os
tubos no solo.

Figura 15 – Esquema de funcionamento do Método dos Tubos Cravados

Em situações onde o solo apresenta rigidez e coesão elevadas (solos terciários silto- arenosos
ou silto argilosos) pode-se utilizar água bombeada com alta pressão. Todo o material escavado é
transferido, através de uma esteira, para caçambas que realizam o descarte do material.
Após o término da cravação dos tubos, os poços de serviços devem ser transformados em
poços de visitas das redes, destinados a facilitar os trabalhos de manutenção e limpeza.
Este método permite que os trabalhos sejam efetuados abaixo do nível do lençol freático ou em
terrenos colapsíveis, sem causar inconvenientes como recalques e trincas em edificações
circunvizinhas, transtornos ao trânsito e a população em geral.
No entanto, cabe lembrar que esta tecnologia deve ser precedida de sondagens de
reconhecimento do subsolo, para evitar o encontro com rochas e matacões.
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3.2.3 Método Destrutivo (a céu aberto) para a execução de redes coletoras de esgotos sanitários
Na execução de redes de esgotos, através deste método, há necessidade de se realizar
previamente a escavação da vala, desde a superfície do terreno, até a profundidade onde será
assentada a tubulação. É a forma mais utilizada, apesar dos transtornos que proporcionam para o
trânsito de veículos e de pedestres. Este método é composto das seguintes etapas:

a) Locação da vala
Deve observar a seguintes procedimentos:
Montagem da sinalização de segurança, com a colocação de cavalete de trânsito
(trânsito impedido, obras etc.);
Marcação do eixo da vala, em função da posição de rede, no eixo ou no terço da
rua (a cada 20,00 metros ou de PV a PV). Geralmente é utilizada a caiação para a
delimitação da vala no solo;
Montagem das réguas ou visores sobre os piquetes dos Poços de Visitas (PVs),
fixando-os nos suportes em nível e em altura concorde com a cruzeta.

Figura 16 – Montagem da régua e marcação do eixo da vala


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b) Abertura da vala
Deve observar a seguintes procedimentos:
Remoção de pavimentação e/ou entulho da mesma;
Escavação manual ou mecânica da vala, cujas paredes podem ser verticais,
inclinadas ou mistas, dependendo do tipo do subsolo local;

Figura 17 – Posições das paredes da vala

Figura 18 – Abertura mecânica de uma vala

c) Escoramento das paredes laterais da vala


Em função do tipo de subsolo, da profundidade da vala, da presença de água e da natureza e
do vulto da obra, existe um tipo de escoramento mais recomendado para a utilização durante a
escavação de valas.
Face à importância do tema, que está diretamente relacionado com a segurança e a vida dos
funcionários que trabalham na obra, o “Escoramento das paredes laterais da vala” será tratado em um
item próprio.

d) Preparo do fundo da vala


Deve observar a seguintes procedimentos:
Acerto da profundidade da vala;
Regularização do fundo da vala: terra apiloada, berço de pedra britada, berço de
areia e berço de concreto.

e) Assentamento da Tubulação
Deve observar a seguintes procedimentos:
Assentamento do tubo-guia com a cruzeta, e marcação do alinhamento dos
demais;

Figura 19 – Verificação do alinhamento e profundidade da tubulação


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Assentamento dos demais tubos, realização das juntas e verificação da existência


de possíveis de falhas nas vedações (teste de fumaça).

Figura 20– Assentamento de tubos de concreto

f) Fechamento da vala
Deve ser realizado, manual ou mecanicamente, compactando-se a terra em camadas de 10
cm, até 15 cm acima da tubulação. Desta altura até a superfície compacta-se em camadas de 20 cm.

Figura 21 – Compactação por camadas da vala

3.2.4 Escoramento das paredes laterais da vala


O escoramento de valas tem por objetivo garantir a segurança dos trabalhadores, evitando-se
desabamentos das paredes laterais da vala. Normas do Ministério do Trabalho estabelecem, que as
valas com profundidades superiores a 1,25 m devem ser escoradas, além da obrigatoriedade do uso de
Equipamentos de Proteção Coletiva – EPC (escoramento, cavaletes, cones e placas de sinalização,
etc.) e, também, de Equipamentos de Proteção Individuais - EPI (capacete, botas, etc.) a fim de
diminuir o risco de acidentes. Os tipos mais utilizados de escoramento são:

a) Pontaleteamento
Pela facilidade de execução, este é o escoramento mais utilizado em obras pequenas. È
composto de tábuas (2,5 cm x 20 cm ou 30 cm) dispostas verticalmente, espaçadas de 1,35 m e
travadas horizontalmente por estroncas hidráulicas ou de eucalipto (diâmetro ≈ 20 cm), distanciadas
verticalmente de 1,00 m. Para evitar possível deslocamento das estroncas, podem-se usar os
chapuzes.
Este tipo de escoramento oferece boa segurança, dependendo do tipo de solo, porém não é
indicado quando da presença de água no subsolo.

Figura 22 – Corte longitudinal de uma vala com escoramento do tipo pontaleteamento


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Figura 23 – Vala com escoramento do tipo pontaleteamento e estroncas hidráulicas

b) Descontínuo
Constitui-se de tábuas (2,5 cm x 20 cm ou 30 cm) espaçadas igualmente e na vertical, fixadas
pelas longarinas (6 cm x 16 cm), travadas por estroncas hidráulicas ou de eucalipto (diâmetro 20 cm)
distanciadas horizontalmente de 1,35 m e verticalmente de 1,00 m e, ainda, de chapuzes.
Este tipo de escoramento poderá ser utilizado quando o solo apresentar razoável firmeza e
pouca presença de água.

PERSPECTIVA

Figura 24 - Ilustrações de escoramento do tipo descontínuo

c) Contínuo
Escoramento idêntico ao Descontínuo no que se refere aos elementos construtivos, diferindo
apenas na colocação das tábuas, que neste caso devem ser colocadas uma ao lado da outra, formando
uma “continuidade” no escoramento das paredes laterais da vala.
Por ser mais resistente, pode ser utilizado em qualquer tipo de subsolo, com exceção dos
arenosos com a presença de água.
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PERSPECTIVA

Figura 25 - Ilustrações do escoramento tipo contínuo

d) Especial
Constituí-se de pranchas de madeira (6 x 16 cm) com encaixes tipo macho e fêmea, colocadas
verticalmente de modo a abranger toda a parede da vala, contidas por longarinas (6 x 16 cm) dispostas
horizontalmente e travadas por estroncas hidráulicas ou de eucalipto (diâmetro 20 cm) espaçadas de
1,35 m, menos as das extremidades, onde devem ficar a 40 cm. As longarinas devem ser distanciadas
verticalmente de 1,00 m, devendo a mais profunda situar-se a 50 cm do fundo da vala.
É utilizado quando se tem subsolos arenosos com a presença de água e que necessita de
estanqueidade no escoramento.

Figura 26 – Escoramento do tipo especial

e) Misto (metálico e madeira)


A contenção do solo lateral na cava é feita através de pranchões de madeira (6 x 16 cm)
encaixadas em perfis metálicos “duplo T” com dimensões variando de 25 a 30 cm, cravados no terreno
e espaçados 2,00 m um do outro. O travamento é realizado com longarinas e estroncas metálicas de
perfil “duplo T” de 30 cm.
Para valas com profundidades até 6,00 m, basta um quadro de estroncas – longarinas. E para
valas com profundidades entre 6,00 m a 7,00 m têm necessidade de outro quadro adicional.

Figura 27 – Escoramento do tipo especial


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Assim, os escoramentos são determinados em função do tipo do subsolo local, da profundidade


da vala, da presença de água e da natureza e do vulto da obra.

Para valas com até 2,50 m de profundidade, os escoramentos recomendáveis para os


principais tipos de subsolo, estão indicados na tabela a seguir:

Tabela 2 - Escoramentos recomendáveis X Tipos de subsolo (para valas até 2,50 m profundidade)
________________________________________________________________________________
TIPOS DE SUBSOLO ESCORAMENTOS RECOMENDÁVEIS
________________________________________________________________________________

* Terra compacta ou argila consistente (compacta) Escoramento Descontínuo ou Pontaleteamento

*Silte ou Taguá Seco ou Taguá Úmido:


Terra com listras de cor rosada, branca e marrom Escoramento Descontínuo ou Contínuo

*Barro Grudado
Mistura de areia e argila Escoramento Descontínuo ou Contínuo

*Turfa ou Solo Orgânico


Terra escura com camadas de areia ou terra cinza Escoramento Contínuo, Especial ou Misto

*Areia Fina ou Grossa (seca)


Terra branca ou pedrinhas grossas Escoramento Contínuo

*Areia Fina ou Grossa (saturada)


Terra branca ou pedrinhas grossas com mina Especial ou Misto
d’água

* Pedregulho (seco)
Pedras pequenas e soltas Escoramento Contínuo
______________________________________________________________________________

Para valas com profundidades superiores a 2,50 m e até 4,00 m, é recomendado o


Escoramento Contínuo, Especial ou Misto, dependendo do tipo do subsolo local e da
presença da água.

Para valas com profundidades superiores a 4,00 m, recomenda-se o escoramento


Especial ou Misto, dependendo do tipo do subsolo local e da presença da água.

Porém, a relação “Escoramentos Recomendáveis X Tipos de Subsolo” pode ser alterada por
alguns fatores externos, tais como: a presença de água, de formigueiro, de vibrações externas, de
cargas verticais etc.
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E a largura da vala é determinada em função do diâmetro da rede e do tipo de escoramento


escolhido, conforme demonstrado no quadro abaixo.

Quadro 2 – Larguras de valas recomendadas

(*).......O escoramento do tipo pontaleteamento, somente é recomendável para valas com até 2,00 m de
profundidade e, ainda, sempre que as condições do terreno forem favoráveis.
NR......Não recomendável.
Fonte: NUVOLARI, A. (2011).

Exercício 3.1
Quantificar os materiais a serem utilizados no escoramento mais recomendado (técnica e
economicamente), para a execução de uma vala com 43,20 m de extensão e 2,00 m de profundidade,
onde deverá ser assentada uma rede de esgoto com diâmetro de 300 mm. Considerar:
* Dois níveis de estroncas, com espaçamentos horizontais de 1,35 m e verticais de 1,00 m.
* Profundidade do Lençol Freático = - 4,50 m.
* Tipo do Subsolo = Areia Fina (seca), composta de terra branca.
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Solução
Da Tabela 2, temos que o tipo de escoramento mais indicado é o “Contínuo”.
Do Quadro 2 ,sabe-se que a largura recomendada para a vala, é de L =1,00 m.

Relação de materiais:

Tábuas (2,5 X 30 cm) = 43,20 m ÷ 0,30 m x 2 lados = 288 (de 2,00 m de comprimento cada) = 576,00 m

Vigas/Longarinas (6 x 16 cm) = 43,20 m x 2 níveis de estroncas x 2 lados = 172,80 m

Estroncas (Ø=20 cm) = (43,20 m ÷ 1,35 m + 1) x 2 níveis = 66 (1,00 m de comprimento cada) = 66,00 m

______________________________________________________________________________________
Tipo de Escoramento Largura Tábuas Vigas/Long. Estroncas de Madeira
da Vala (2,5 x 30 cm) (6 x 16 cm) (Ø=20 cm)
______________________________________________________________________________________
Contínuo 1,00 m 576,00 m 172,80 m 66,00 m
______________________________________________________________________________________

Exercício 3.2
Desenvolver o cálculo comparativo dos materiais necessários para a execução dos tipos de
escoramentos recomendáveis para a escavação de uma vala com 81,00 m de extensão e 2,50 m de
profundidade, na qual deverá ser assentada uma rede de esgoto de diâmetro de 500 mm. Considerar:
* Três níveis de estroncas, com espaçamentos horizontais de 1,35 m.
* Profundidade do Lençol Freático = - 4,00 m.
* Tipo do Subsolo = Argila Consistente (compacta).
* Indicar os resultados em metros.

Solução

____________________________________________________________________________________
Tipo de Escoramento Largura Tábuas Vigas /Long Estroncas de Madeira
da Vala (2,5 x 30 cm) (6 x 16 cm) (Ø=20 cm)
____________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________
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3.2.5 Drenagem e rebaixamento do lençol freático


Quando se encontra água no subsolo ou mesmo por ocasião das chuvas, há necessidade de
utilização de técnicas específicas para poder assentar a rede coletora de esgotos.

a) Drenagem
Para a drenagem das valas deve-se instalar bombas (geralmente do tipo submersíveis) para o
esgotamento da águas decorrentes de enchentes, ou mesmo da infiltração do lençol freático do
subsolo. Nestes casos, devem-se encaminhar as águas para os pontos baixos da vala que, com a
execução de pequenos poços provisórios, permitirão o bombeamento das águas subterrâneas para fora
das valas.
Para evitar que as águas de bacias de contribuições vizinhas venham adentrá-la, aumentando o
volume a ser bombeado, pode-se realizar valas de desvio (provisória) com a própria terra da
escavação.

Figura 28 – Rede com esgotamento de bomba Figura 29 – PV com esgotamento com bomba

b) Rebaixamento do lençol freático


O rebaixamento do lençol freático deve ser previsto sempre que o solo for arenoso e a
profundidade da vala ultrapassar o nível do lençol freático.
Um dos sistemas mais utilizados é o de Ponteiras Filtrantes com uma ou duas linhas em
paralelo à vala a ser esgotada.

Figura 30 – Ponteiras filtrantes com uma linha Figura 31 – Bomba de esgotamento do sistema
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3.3 MATERIAIS EMPREGADOS NAS REDES COLETORAS DE ESGOTOS SANITÁRIOS

A escolha do material a empregar (tipo de tubulação) nas redes coletoras de esgotos sanitários
é função das características dos efluentes, das condições locais e dos métodos construtivos, mas os
seguintes aspectos normalmente devem ser considerados:

Condições de escoamento;
Resistências à: cargas internas e externas: abrasão; ação de substâncias agressivas;
Condições de impermeabilidade e juntas adequadas;
Disponibilidade no mercado, dos diâmetros necessários;
Facilidade de transporte, assentamento e instalação de equipamentos e acessórios;
Custos (material transporte e assentamento).
. As tubulações mais utilizadas para as redes coletoras de esgotos sanitários são: tubos cerâmicos,
tubos de concreto, tubos plásticos, tubos de ferro fundido e tubos de aço.

3.3.1 Tubos cerâmicos (manilhas de barro)

Figura 32 – Tubos cerâmicos


Os tubos cerâmicos, ainda hoje, apresentam grande aceitação para a construção de redes
coletoras de esgotos. São fabricados com argila cozida às elevadas temperaturas e vidrados
internamente e/ou externamente. São produzidos com diâmetro nominal (DN) variando de 75 mm a 600
mm e comprimento nominal de 0,60 m; 0,80 m; 1,00 m; 1,25 m; 1,50 m e 2,00 m.
Apresentam as seguintes características:
Baixa rugosidade;
Resistência a cargas provocadas por aterros comuns;
Resistência a ácidos e outras substâncias químicas (não atacado por ácido sulfúrico);
Boa impermeabilidade;
Baixo custo;
Facilidade de quebra.
Os tubos cerâmicos são fabricados com juntas do tipo “ponta e bolsa” e as especificações e
métodos relativos aos ensaios são fixados por normas técnicas da ABNT.
Existem três tipos de juntas disponíveis no mercado:
• Junta de argamassa de cimento e areia (1:3): é uma junta rígida que, por apresentar alguns
inconvenientes, não é muito utilizada (cuidados especiais durante a execução, possibilidade de
agressão pelo esgoto, possibilita a penetração de raízes para o interior da canalização);
• Junta com betume: é uma junta semi-rígida, com betume quente após o estopeamento (cordão
de estopa entre a ponta e a bolsa). È um tipo de junta muito utilizada em tubos cerâmicos.
• Junta elástica: utiliza um anel de borracha entre a ponta e a bolsa de um tubo ou conexão
cerâmica.
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3.3.2 Tubos de concreto (de alta resistência)

Figura 33 – Tubos de concreto


Estas tubulações podem ser de concreto simples (ponta e bolsa) ou de concreto armado
(moldados no local ou pré-moldados). Os tubos de concreto simples apresentam o diâmetro nominal
variando de 200 mm a 1000 mm e os tubos de concreto armado possuem o diâmetro nominal variando
de 400 mm a 2000 mm.
Estes tubos apresentam baixa rugosidade e são mais utilizados nas seguintes situações:
Em canalizações a partir de 400 mm, para as quais não são normalmente oferecidos tubos
cerâmicos (coletores tronco, interceptores e emissários);
Em canalizações que exigem resistência acima da oferecida por outros tipos de tubos, devido à
resistência da tubulação variar de acordo com a espessura e com a armadura utilizada;
Quando a fabricação no local da utilização se torna mais conveniente (transporte).

Os tubos de concreto estão sujeitos a ataques químicos (corrosão por ácido sulfúrico
proveniente de compostos originados da decomposição anaeróbica do esgoto), que atingem o cimento
diminuindo a resistência da tubulação e proporcionando o seu rompimento. Para as canalizações de
esgotos sanitários, normalmente se empregam tubos de “ponta e bolsa” com anel de borracha
(concreto simples e concreto armado), mas as tubulações podem ser também de “pontas lisas” para
luvas ou de encaixe a meia espessura. Estes tubos, bem como os anéis de borracha para a junta
elástica, devem ser submetidos a ensaios normalizados pela ABNT (resistência à compressão
diametral, verificação da permeabilidade, estanqueidade e índice de absorção de água/dureza, tração,
deformação, envelhecimento e determinação da absorção de água).

3.3.3 Tubos plásticos


Os principais tipos de plásticos utilizados em sistema de coleta e transporte de esgotos, são:
a) Tubos de PVC

Figura 34 – Tubos de PVC rígido com junta elástica

Os tubos de Poli Cloreto de Vinila - PVC rígidos com juntas elásticas, são destinados à rede
coletora e ramais prediais enterrados para a condução de esgoto sanitário e despejos industriais, cuja
o
temperatura não exceda a 40 C sendo, também, normatizados pela ABNT.
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O PVC rígido, devido as suas propriedades físicas e químicas, confere à tubulação excelentes
características, entre as quais podemos citar:
Leveza;

Estanqueidade;

Comprimento grande;

Flexibilidade;

Resistência química e resistência à abrasão;

Baixa rugosidade;

Ligações simples;
Facilidade e rapidez no transporte e assentamento.
Os tubos de PVC rígido para coletores de esgoto, também normatizados pela ABNT, são
fornecidos nos diâmetros de 100 mm, 150 mm, 200 mm, 250 mm, 300 mm, 350 mm a 400 mm, com
ponta e bolsa e 6,00 m de comprimento.

b) Tubos de polietileno de alta densidade (PEAD)


O PEAD está sendo mais utilizado para interceptores e em emissários submarinos de esgotos.

Figura 35 – Tubo de Polietileno de Alta Densidade (PEAD)

c) Tubos de poliéster armado com fios de vidro

Figura 36 – Tubos de poliéster armado com fios de vidro

Apresentam basicamente as mesmas características do PVC. Os utilizados em esgotos


sanitários são do tipo “ponta e bolsa”, com junta elástica. A Norma prevê diâmetros nominais de 200 a
1200 mm, com variação de 50 em 50 mm até DN= 600 e de 100 em 100 mm a partir de DN=600 mm.
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3.3.4 Tubos de ferro fundido

Figura 37 – Tubos e conexões de ferro fundido Figura 38 – Tubo de FºFº revestido internamente

Os tubos de ferro fundido (FºFº) são fabricados com ponta e bolsa (junta de chumbo ou junta
elástica) em diâmetros de 100 mm a 1200 mm (variação de 50 em 50 mm até DN= 400 mm e variação
de 100 em 100 mm a partir de DN= 400 mm) e com comprimento de 6,00 m.
Apresentam alta resistência a cargas externas, porém são sensíveis à corrosão pelos esgotos
ácidos e por solos ácidos. Nestes casos, devem ser revestidos interna e/ou externamente. São
utilizados principalmente nas seguintes situações:
Em locais de transito pesado e pouco recobrimento do piso;

Em casos de a tubulação ser assentada a grande profundidade, acima dos limites de carga dos
outros materiais;

Em casos de tubulação aparente;

Em casos de travessias de obstáculos, vãos de pontes, rios e estruturas sujeitas a trepidação;

Em linhas de recalque e, também, em elevatórias.

3.3.5 Tubos de aço

Figura 39 – Tubos de aço

Os tubos de aço são utilizados quando se deseja tubulação com pequeno peso, com absoluta
estanqueidade, com flexibilidade e com grande resistência a pressão de ruptura. No mercado, estão
disponíveis tubos de aço com ponta e bolsa e junta elástica com diâmetros nominais de 150 a 1200mm
(variação de 50 em 50 mm até DN= 500 mm e variação de 100 em 100 mm a partir de 600 mm).
Podem também ser fabricados no próprio local (tubo de aço soldado e rebitado).
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3.4 LIGAÇÕES PREDIAIS DE ESGOTOS SANITÁRIOS

A ligação predial, também chamada de ramal predial, é o trecho do coletor predial


compreendido entre a rede coletora de esgotos até o alinhamento público.
Geralmente, utiliza-se um único ramal predial que é encaminhado à rede coletora, de tal forma
que fique perpendicular (ortogonal) ao alinhamento do imóvel.
REDE COLETORA DE
ESGOTOS

RAMAL INTERNO
RAMAL
PREDIAL

ALINHAMENTO

PASSEIO

Figura 40 – Ramal predial ortogonal ao alinhamento do imóvel

O ramal predial deve ter diâmetro mínimo de 100 mm (100 DN) e o seu dimensionamento pode
ser feito considerando o número máximo de unidades Hunter de Contribuição (UHC), assentado de
acordo com as declividades mínimas indicadas no quadro abaixo:

Quadro 3 – Diâmetros e declividades do ramal predial

DIÂMETRO NOMINAL – DN DECLIVIDADE MÍNIMA


(mm) (%)
100 2,0
150 0,7
200 0,5

O sistema de ligação do ramal predial à rede coletora de esgotos depende principalmente dos
seguintes fatores:
Profundidade e posição da rede coletora na via pública;

Tipo do terreno e da pavimentação;

Época de execução da rede coletora em relação ao pedido de ligação do coletor predial;

Do conhecimento correto das testadas dos lotes;

Razões de ordem econômica.

Os tipos de ligações prediais de esgotos são determinados em função da posição da rede


coletora na via pública, as quais podem estar situadas no passeio adjacente, no terço adjacente ao
passeio ou, ainda, no eixo do passeio.
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ALINHAMENTO

PASSEIO

RAMAL PREDIAL

CURVA DE 90º
RALMAL
INTERNO
COLUNA

REDE COLETORA

Figura 41 - Ligação de esgotos com a rede situada no passeio adjacente

LEITO CARROÇAVEL

TERÇ EIXO TERÇO PONTO DE


OO PASSEIO CONEXÃO

COLUNA CURVA DE 45º

CURVA DE 45º

Figura 42 - Ligação de esgotos com a rede situada no terço adjacente ao passeio

LEITO CARROÇAVEL

PASSEIO

PROFUNDIDADE MÍNIMA
NA SOLEIRA: 0,50 m

RAMAL INTERNO
COLUNA CURVA DE 45º

CURVA DE 45º RAMAL


PREDIAL

Figura 43 - Ligação de esgotos com a rede situada no eixo do passeio


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3.5 PROJETO DO SISTEMA DE COLETA E AFASTAMENTO DE ESGOTOS SANITÁRIOS

As tubulações dos coletores e interceptores devem ser projetadas e calculadas através do


regime hidráulico denominado “condutos livres”, enquanto os sifões invertidos e as linhas de recalque
das estações elevatórias devem se submeter ao regime de “condutos forçados”. Os emissários podem
ser projetados para funcionar tanto por um ou outro regime, dependendo da sua concepção.

Estes tipos de projetos estão normatizados pela Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT), através da NBR 9648/1986 (Estudo e Concepção de Sistemas de Esgotos Sanitários) e da
NBR 9649/1986 (Projeto de Redes de Esgotos).

As principais atividades desenvolvidas durante a concepção do projeto de redes coletoras de es-


gotos são:

Estudo da população da cidade e sua distribuição territorial, delimitando, em planta, os se-


tores, conforme suas densidades demográficas;

Estabelecimento dos critérios para a previsão das vazões: cota de consumo diário de água
per capita; coeficiente de retorno (relação esgoto/água); coeficientes de variação de vazão;
taxa de infiltração;

Estimativas das vazões dos grandes contribuintes: indústrias, grandes edifícios, hospitais,
shopping centers etc;

Determinação, para cada setor de densidade demográfica, da vazão de esgotos específica


(L/s.ha, L/s.m);

Divisão da cidade em bacias e sub-bacias de contribuição;

Traçado e pré-dimensionamento dos coletores-troncos;

Traçado e pré-dimensionamento dos coletores secundários, com as localizações dos


órgãos acessórios;

Quantificação preliminar dos materiais, equipamentos e serviços a serem executados.

E a apresentação destes trabalhos deverá contemplar:

Memorial descritivo e justificativo contendo: evolução da população, descrição do sistema,


critérios e parâmetros de cálculo, cálculos hidráulicos, materiais a serem empregados, as
pectos construtivos, medidas de segurança e outros que se fizerem necessários;

Planta planialtimértrica da cidade, em escala 1:5000 ou 1:10000 com curvas de nível de


5 em 5 metros, contendo a localização do empreendimento e seus limites, a setorização
das densidades demográficas, a divisão em bacias e sub-bacias de contribuição, o traçado
dos coletores-troncos com seus diâmetros, declividades e extensões;

Planta planialtimértrica da área, em escala 1:2000 ou 1:1000 com as curvas de nível de


metro em metro, com as cotas de cruzamentos e com os pontos singulares, contendo,
ainda, a delimitação das bacias e sub-bacias de contribuição, a localização e identificação
dos órgãos acessórios devidamente unidos pelas tubulações com a identificação dos
seus diâmetros, declividades e extensões. Também deverá ser desenhado o corte
longitudinal com os perfis das ruas e das redes;

Estimativa das quantidades e dos custos dos materiais, equipamentos e serviços a


serem executados;

Cronograma de obras e serviços.


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3.5.1 Localização da rede coletora na via pública


A rede coletora de esgotos sanitários deve ser assentada em uma das posições abaixo
indicadas, sendo que a numeração dos prédios da rua, é que determina a denominação do lado “par ou
ímpar”.

Figura 44 - Posições de assentamento da rede coletora na via pública

As Redes Simples são assim denominadas quando existir apenas a tubulação de esgoto
sanitário na rua, devendo estar localizada no eixo da rua. Se existir também a galeria de águas pluviais,
loca-se a rede de esgoto a 1/3 da largura entre o meio fio (do lado par ou ímpar) e o eixo da rua a ser
ocupada pela galeria pluvial.
No caso de existir, em um dos lados da rua, soleiras negativas, o coletor deverá ser
obrigatoriamente colocado no terço correspondente.

Figura 45 - Rede simples de esgoto no terço da rua Figura 46 - Rede simples de esgoto no eixo da rua

Em algumas situações torna-se vantajosa a colocação de duas tubulações coletoras de esgoto


sanitário na via pública, passando sob cada passeio. São as denominadas Redes Duplas, que devem
ser utilizadas sempre que as ruas possuírem:

Largura superior a 15,00 m;


Largura superior a 10,00 m e bem pavimentadas;
Tráfego intenso;
Galerias pluviais, coletores- tronco ou outras tubulações que impeçam as ligações prediais;
Com coletores muito grandes (∅ ≥ 400 mm) que não recebem ligações prediais diretas ou,
ainda, quando os coletores são colocados em grandes profundidades (p ≥ 4,00 m).
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Figura 47 – Rede Dupla de esgoto sob os passeios (Rua B)

Figura 48 – Rede Dupla em paralelo ou com coletor profundo (Rua A)

Caso haja interferências nos passeios que dificultem a obra, pode-se lançar no leito carroçável,
próximo à sarjeta. Portanto, a rede dupla pode estar situada no passeio, no terço ou uma rede no
passeio e outra no terço da rua.

3.5.2 Concepção do traçado da rede de esgoto sanitário


O traçado da rede de esgoto tem relação com a topografia da cidade, uma vez que o
escoamento dos esgotos se dá por gravidade (caimento do terreno). Desta maneira tem-se, ou melhor,
podem-se ter os seguintes tipos de rede:

a) Rede perpendicular
Aparece em cidades atravessadas ou circundadas por cursos de água. Coletores - troncos e
independentes compõe a rede de esgoto, sendo o seu traçado o mais perpendicular possível ao curso
d’água. Para se levar os efluentes ao destino final devem-se construir um interceptor margeando o
curso d’água conforme a figura a seguir:

Figura 49 - Rede perpendicular


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b) Rede em leque
Utilizada em terrenos acidentados. O coletor-tronco corre pelo fundo dos vales ou pela parte
baixa das bacias e nele incidem os coletores secundários, O seu traçado lembra a forma de um leque
ou uma espinha de peixe.

Figura 50 - Rede em leque

c) Rede radial ou distrital


É utilizada em cidades planas. Divide-se em setores ou distritos independentes criando-se
pontos baixos, para onde são encaminhados os esgotos. Destes pontos baixos recalcam-se os esgotos
para o destino final.

Figura 51 - Rede radial ou distrital


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3.5.3 Fatores que influenciam no traçado da rede de esgotos sanitários


São diversos os fatores que podem influenciar no traçado de uma rede de esgoto sanitário:
a) Órgãos acessórios
O esgoto coletado por tubulações é lançado em poços de visita (PVs). A orientação do fluxo
desse esgoto é feita por canaletas situadas no fundo dos poços de visitas, possibilitando ao
projetista concentrar a vazão em determinados coletores.

Ponto A: Características de local alto (ponto seco)


Ponto B: Características de local baixo (recebem esgoto)

Figura 52 – Orientações dos fluxos do esgoto

De acordo com os fluxos indicados nas canaletas localizadas nos fundos dos poços de visitas,
pode-se obter diferentes tipos de traçados para uma mesma área. Novamente verifica-se a importância
da topografia na solução dos diferentes traçados de uma tubulação.

Deve ser evitada Melhor que a anterior

Melhor traçado
Figura 53 - Possibilidades de traçados de uma rede em função das orientações dos fluxos
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b) Profundidade
Em função da maior ou menor dificuldade de escavação do solo, serão adotadas as
profundidades máximas e mínimas dos coletores. Portanto, o conhecimento do subsolo é indispensável
para prever a presença de rochas, solos de baixa resistência, lençol freático e outros problemas. O
ideal seria o reconhecimento completo do subsolo por meio de sondagens.
Todavia, se recomenda trabalhar com profundidades máximas de 3,00 a 4,00 m quando
locadas nas ruas e de 2,00 a 2,50 m quando situadas sob os passeios.
Quanto às profundidades mínimas, é recomendável que o menor recobrimento para
tubulações assentadas no leito carroçável seja de 1,00 m, acrescido do diâmetro da tubulação. Para
redes assentadas nos passeios e/ou vielas, admite-se profundidades não inferiores a 0,65 m.

c) Interferências
Dentre as principais interferências que devem ser consideradas estão as canalizações de
drenagem urbana, os cursos de água que atravessam a área urbana e as grandes tubulações de água
potável. Também o trânsito que pode ser considerado como interferência importante, devendo a
concepção da rede ser feita de maneira a causar o mínimo impacto possível nesse aspecto.

d) Aproveitamento de canalizações existentes (quando for o caso)


A concepção do traçado da rede deverá considerar o possível aproveitamento do sistema de
coletores existentes. Para isso, deve-se dispor de um cadastro do sistema com as seguintes
informações: localização da tabulação e dos poços de visitas em planta, sentido de escoamento;
diâmetro de cada trecho e as profundidades a montante e a jusante dos trechos e do poço de visitas.

e) Planos diretores de municipais


Será importante que a concepção da rede leve em consideração os planos diretores de
urbanização do município. Normalmente, esses planos estabelecem a setorização de densidades
demográficas, áreas industriais, sistema viário principal e as zonas de expansão urbana.

3.6 VAZÕES DE ESGOTOS SANITÁRIOS

Os sistemas de esgotos projetados no Brasil, desde o ano 1912, devem adotar os critérios e
características do denominado “Sistema Separador Absoluto”, cuja rede coletora recebe contribuições
apenas do Esgoto Sanitário, que é composto de Esgoto Doméstico, de Águas de Infiltração do subsolo
(as quais não são admitidas intencionalmente) e, também, de Efluentes de alguns tipos de indústria.

Q = Qd + Qinf + Qc onde: Q..........vazão de esgoto sanitário (L/s);


Qd........vazão doméstica (L/s);
Qinf......vazão das águas de infiltração (L/s);
Qc........vazão concentrada ou singular (L/s).

A vazão concentrada ou singular refere-se àquela contribuição “pontual” de esgotos e, ainda,


bem superior às demais lançadas na rede coletora, acarretando alterações nas vazões a jusante.
Podem ser assim consideradas, as contribuições provenientes de clubes, hospitais, quartéis, escolas,
estações terminais de transportes, grandes edifícios, comerciais e/ou residenciais, alguns tipos de
indústria etc.

3.6.1 Vazão de esgoto doméstico


A vazão de esgoto doméstico (decorrente da água de banho, urina, fezes, papel, restos de
comida, sabão, detergentes e águas de lavagem) depende diretamente dos seguintes parâmetros:

a) População a ser atendida


O sistema de coleta e afastamento de esgoto deve ser projetado levando-se em consideração
a demanda que se verificará numa determinada época em razão de sua população futura. Admitindo
ser esta variável crescente, é fundamental fixar a época até a qual o sistema poderá funcionar
satisfatoriamente, sem sobrecarga nas instalações ou deficiências no seu funcionamento.
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O tempo estabelecido para projeto desses sistemas está diretamente relacionado a:


Durabilidade ou vida útil das obras e equipamentos;
Amortização do capital investido;
Crescimento da população.

Para pequenas e médias instalações, costuma ser adotado o período mínimo de 20 a anos.

Assim, devem ser levantados todos os elementos históricos da evolução da população no


município e na área do projeto. A população flutuante que ocorre em determinados períodos do ano,
nas localidades turísticas, pode ser estimada através de registros do consumo de água, de energia
elétrica, da ocupação dos leitos em hotéis etc. A população fixa (residente no local), além da
contagem direta, pode ser projetada com base nos censos demográficos, plano diretor, além dos
Métodos Gráficos e Matemáticos (Aritmético, Geométrico, Curva Logística e Mínimos Quadrados /
Ajustagem da Curva), conforme já visto em SISTEMAS DE TRATAMENTO E DISTRIBUIÇÃO DE
ÁGUA, capítulo Métodos de Previsão da População (FLORENÇANO, J.C.S., 2012).
No Estado de São Paulo, a SABESP recomenda, ainda, a adoção de um Plano de Ocupação
Inicial de 35% dos lotes e um crescimento geométrico da população em 3,5% ao ano.

b) Coeficiente de retorno: relação esgoto / água (C)


É a relação média entre as contribuições do esgoto doméstico e o consumo efetivo de água
da população. Da água consumida, somente uma parcela “retorna” ao esgoto, e a outra restante é
utilizada para lavagem de calçadas, rega de jardins etc, não retornando para a rede de esgoto. Alguns
pesquisadores e chegaram aos seguintes valores para esse coeficiente:

*Martins...C = 0,7 a 0,9; *Azevedo Netto...C = 0,7 a 0,8; *Metcalfy – Eddy... C = 0,7

Em áreas com muitos jardins os valores são menores, enquanto que em regiões mais
centrais e pavimentadas estes valores tendem a ser mais altos. A norma brasileira NBR 9649 (ABNT,
1986) recomenda o valor médio de “C = 0,8” na falta de dados oriundos de pesquisas in loco.

c) Contribuição per capta de esgoto


A quantidade de esgoto doméstico coletada depende intimamente da quantidade da água de
abastecimento distribuída à população. Em projetos de sistemas de abastecimento de água é utilizado
o conceito do “Consumo de Água Per Capita” para atender o consumo doméstico, comercial, público,
industrial e, ainda, às perdas que têm correspondido a cerca de 20 a 30% do consumo total. Porém,
como tais “perdas de água”, normalmente não são coletadas (não retornam) pelas redes de esgotos,
tem se empregado o conceito do “Coeficiente de Retorno” e do “Consumo Efetivo de Água Per Capita”,
o qual exclui o valor referente às perdas, para os projetos de sistemas de esgoto. A SABESP mediu os
“Consumos Efetivos de Água Per Capita” em algumas cidades do Estado de São Paulo:

Quadro 4 - Consumos efetivos de água per capita, em algumas cidades do Estado de São Paulo
População urbana estimada para Consumo efetivo de água
Cidade
1986 (habitantes) per capita
Cardoso 8044 124
Fernandópolis 49208 165
São José dos Campos 392968 170
Taubaté 215513 184
Tremembé 21271 135
Fonte: Tsutiya, M. T. e Além Sobrinho, P. A. (2000)

Assim, a Contribuição Per Capta de Esgoto Doméstico pode ser obtida através da
multiplicação do “Consumo Efetivo de Água Per Capta” pelo Coeficiente de Retorno (da água servida
que “retorna” para a rede de esgoto).

Contribuição per capta de esgoto doméstico = Consumo efetivo de água per capta x Coef. de retorno
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d) Coeficientes de variação de vazão


O escoamento do esgoto doméstico na rede, não se comporta de maneira uniforme, pois é
função do consumo da água pela população, o qual varia conforme as demandas sazonais, mensais,
diárias e horárias, todas influenciadas por fatores como clima, hábitos de higiene da população etc. As
variações mais significativas são as mesmas utilizadas em projetos de abastecimento de água:
K1.........Coeficiente da máxima vazão diária: é a relação entre a maior vazão
diária verificada no ano e a vazão média diária anual;

K2.........Coeficiente da máxima vazão horária: é a relação entre a maior vazão


observada num dia e a vazão média horária do mesmo dia;

K3.........Coeficiente da mínima vazão horária: é a relação entre a vazão mínima e a


vazão média anual.

Na impossibilidade de se obter valores oriundos de medições locais, a NBR 9649 da ABNT


recomenda a adoção dos mesmos valores utilizados em projetos de sistemas de abastecimento de
água, ou seja: K1 = 1,2; K2 = 1,5 e K3 = 0,5.

3.6.2 Vazão das águas de Infiltração


A vazão decorrente das águas de infiltração corresponde às águas subterrâneas que,
indevidamente, penetram nas canalizações de esgotos através das juntas, paredes dos condutos,
poços de visitas, tubo de inspeção e limpeza, caixa de passagem, estação elevatória, dentre outros.
As águas pluviais provenientes de ligações clandestinas não devem ser consideradas. Para
que tal não ocorra deve-se realizar uma efetiva fiscalização e constante vigilância da rede coletora de
esgotos seus acessórios.
A Taxa Contribuição de Infiltração (TI) no sistema de coleta, afastamento e tratamento de
esgoto depende das condições locais, principalmente quanto:
os materiais empregados;
o tipo de junta;
o assentamento das tubulações;
as natureza do solo;
o nível do lençol freático;
a permeabilidade do solo;
a extensão e condições do coletor predial.

A NBR 9649 da ABNT estabelece que a TI adotada entre os valores 0,05 a 1,00 L/s. km deve
ser justificado.
Tsutiya e Bruno realizaram ampla pesquisa nas redes de esgotos operadas pela SABESP, no
Estado de São Paulo, e apresentaram os seguintes resultados:
coletores posicionados acima do lençol freático......T I = 0,02 L/s.km
coletores posicionados abaixo do lençol freático.....T I = 0,10 L/s.km

Tais resultados derivam, certamente, da melhoria da qualidade dos materiais, bem como do
melhor controle na execução de obras.

3.6.3 Vazão de efluentes industriais


Quando se projeta um sistema de esgotos sanitários para receber, também, os efluentes de
alguns tipos de indústrias é preciso conhecer, previamente, todas as indústrias contribuintes, seus
tamanhos e a características dos seus processos.
Atualmente, excetuando-se indústrias com material perigoso, o efluente, deve ser lançado
através da rede pública. Obviamente o recebimento destes despejos tem que ser precedido de certos
cuidados, principalmente, no que se refere à qualidade e quantidade dos efluentes.
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Cada indústria possui um processo produtivo específico em função das matérias primas
utilizadas. Portanto, deve ser criteriosamente estudada a possibilidade de lançar o esgoto industrial in
natura no coletor público, ou se necessitará de um tratamento (pré, primário, secundário, terciário). Em
hipótese nenhuma se deve permitir o lançamento in natura no coletor público destes despejos que:
sejam nocivos à saúde ou prejudiciais à segurança dos operários que trabalham na rede;
interfiram em qualquer sistema de tratamento;
obstruam tubulações e equipamentos;
ataquem às tubulações, afetando a resistência ou durabilidade de suas estruturas;
apresentem temperaturas elevadas (>45°C).

Com relação à quantidade de despejos, consideram-se as indústrias que:


lançam pequena quantidade de efluentes na rede pública, não acarretando problemas ao
funcionamento desta (não se considera vazão concentrada);
lançam quantidade considerável de efluentes na rede pública, necessitando desta maneira, um
estudo especial por parte dos órgãos públicos.

Neste último caso os órgãos públicos geralmente limitam o valor da vazão máxima de
lançamento do efluente na rede a 1,5 vezes a vazão média diária. Em muitas ocasiões, para atender a
essa exigência, é necessário a construção de um tanque de regularização da vazão, antes do
lançamento na rede. No caso da indústria já estar instalada, deve-se realizar uma pesquisa junto à
mesma, inclusive prevendo as vazões futuras. Na falta de dados e no caso em que há necessidade de
estimar vazões de áreas, ainda, não ocupadas, mas destinadas à instalação de indústrias futuras,
pode-se admitir valores compreendidos entre 1,15 L/s.ha até 2,30 L/s.ha para aquelas indústrias que
utilizem água em seus processos produtivos. No caso de indústrias que não utilizem água em seus
processos produtivos, estima-se a contribuição de esgotos em 0,35 L/s.ha.

3.7 CÁLCULO DAS VAZÕES, CONTRIBUIÇÕES, TAXAS E COEFICIENTES

Para o dimensionamento de redes coletoras de esgotos, é necessária, além da Vazão Máxima


de final de plano (quando todos os lotes estiverem habitados e atendidos), também a Vazão Máxima
Horária de um dia qualquer do início do plano (quando apenas alguns lotes estiverem habitados e
atendidos), que é utilizada para a verificação das condições de autolimpeza da rede.
Devido à deficiência na obtenção de dados locais, como hidrogramas próprios ou as áreas
edificadas, o critério mais utilizado para se determinar as vazões nas redes, tem sido o que considera a
“inexistência de dados para a determinação das vazões locais para serem utilizadas no projeto”.
As Vazões de Esgotos Domésticos, inicial e final (Qdi ; Qdf), são aquelas parcelas
derivadas da população atendida pela rede, cujas vazões médias são expressas pelas equações:
Início de Plano:
k 2 .C. Pi . qi k 2 .C. q i . d i . a i
Qdi = (L/s) ou Qdi = (L/s)
86.400 86.400

Final de Plano (L/s):


k1 .k 2 .C. P f . q f k1 .k 2 .C. q f d f . a f
Qdf = (L/s) ou Qdf = (L/s)
86.400 86.400
sendo:
k1 ; k2 = coeficiente de máxima vazão diária e horária, respectivamente;
Qdi ;Qdf = vazão doméstica média inicial e final (L/s);
C = coeficiente de retorno;
Pi ; Pf = população inicial e final (habitantes);
qi ; qf = consumo de água efetivo per capita inicial e final (L/habitante.dia);
di ; df = densidade populacional inicial e final (habitantes/ha);
ai ; af = área esgotada inicial e final da bacia ou sub-bacia (hectare).
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Com as vazões domésticas, inicial e final, podem-se determinar os Coeficientes de


Contribuição, inicial e final ( T xi ; T xf ) os quais visam facilitar o cálculo da vazão “por trecho”, que pode
ser por unidade de comprimento dos coletores (metro ou quilômetro linear) ou pela área esgotada
(hectare). Desta maneira para cada área, bacia ou sub-bacia homogênea dever ser definido os
respectivos coeficientes de contribuição.
Nestes coeficientes só são necessários considerar as contribuições à rede, provenientes do
esgoto doméstico (Qd) e das águas de infiltração (T I). Desta maneira os Coeficientes de Contribuição
podem ser calculados pelas seguintes expressões:
Início de Plano:
Qdi Qdi
T xi = + T I i (L/s.m) ou T xi = + T I i ( L/s.ha)
Li ai
Final de Plano:
Qdf Qdf
T xf = + T I f (L/s.m) ou T xf = + T I f (L/s.ha)
Lf af
sendo:
Txi ;Txf = coeficiente de contribuição linear (L/s.m) ou por unidade de área (L/s.ha) inicial e final;

Qdi ; Qdf = vazão doméstica média inicial e final (L/s);

Li ; Lf = comprimento da rede de esgoto inicial e final (metros);

T I i ; T I f = taxa de contribuição de infiltração por metro de coletor (L/s.m);

ai ; af = área esgotada inicial e final da bacia ou sub-bacia (hectare).

Para se calcular as Vazões a Jusante (totais) em cada trecho, inicial e final (Qi; Qf ), devido
ao esgoto doméstico e às águas de infiltração basta multiplicar os respectivos coeficientes de
contribuição (linear = L/s.m ou por unidade de área = L/s.ha), pelo comprimento de canalização ou pela
área da bacia ou sub-bacia, cujos efluentes são coletados pelo trecho, acrescido da eventual vazão
concentrada e da vazão de montante do trecho correspondente.
Todos estes cálculos devem ser realizados trecho a trecho e, ainda, sempre para as
condições de Início de Plano (quando apenas parte dos lotes estiverem habitados) e para o Final de
Plano (quando todos os lotes estiverem habitados). Assim, usam-se as seguintes expressões:

Início de Plano:
Qjus.i = (Txi ). Ltrecho + Qc ,i + Q mont ,i

Final de Plano:
Qjus. f = (Txf ). Ltrecho + Qc , f + Q mont , f
sendo:
Q jus.i , Q jus.f = vazão a jusante (inicial e final) no trecho (L/s);

Txi , Txf = coeficiente de contribuição linear (inicial e final) no trecho (L/s.m);


Qci , Qcf = vazão concentrada (inicial e final) no trecho. Quando existir (L/s) ;
Q mont.i. , Q mont.f = vazão de montante (inicial e final) no trecho, (L/s);
Ltrecho = comprimento do trecho (metros).
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Exercício 3.3
No projeto de uma rede coletora de esgoto sanitário, a ser implantada sob os eixos centrais das
vias públicas de um loteamento no Município de Taubaté/SP, consideram-se os seguintes parâmetros:

- População inicial Pi = 1000 habitantes e População final Pf = 3000 habitantes;


- Consumo efetivo de água (inicial e final) qi = qf = 184,00 L/habitante.dia (Quadro 4);
- Coeficiente de retorno C = 0,80;
- Coeficientes de variação de vazões K1 = 1,2 e K2 = 1,5;
- Taxa de contribuição de infiltração (inicial e final) T I i = T I f = 0,0005 L/s . m;
- Comprimento total da rede coletora Li = Lf = 1500,00 m;
- Comprimento do trecho “n” da rede coletora L trecho = 100,00 m;
- Vazão a montante no trecho “n” da rede coletora Qi = 1,40 L/s e Qf = 2,00 L/s.

Pede-se calcular:
a) Os coeficientes de contribuição linear (inicial e final);
b) As vazões a jusante (totais) no trecho “n” (inicial e final).

Solução
a) Cálculo dos coeficientes de contribuição linear

a1) Coeficiente de contribuição linear inicial

- Vazão doméstica inicial

Qdi = C . K2 . Pi . qi = 0,8 x 1,5 x 1000 x 184,00 ⇒ Qdi = 2,56 L/s


86400 86400

- Coeficiente de contribuição linear inicial

TXi = Qdi + T I i = 2,56 + 0,0005 ⇒ TXi = 0,0022 L/s.m


Li 1500,00

a2) Coeficiente de contribuição linear final

- Vazão doméstica final

Qdf = C . K1 . K2 . Pf . qf = 0,8 x 1,2 x 1,5 x 3000 x 184,00 ⇒ Qdf = 9,20 L/s


86400 86400

- Coeficiente de contribuição linear final

TXf = Qdf + T I f = 9,20 + 0,0005 ⇒ TXf = 0,0066 L/s.m


Lf 1500,00
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b) Cálculo das vazões a jusante (totais) no trecho “n” (inicial e final)

- Vazão a montante:

Do exercício, temos as vazões já existentes ⇒ Qi = 1,40 L/s e Qf = 2,00 L/s

- Vazão no trecho “n”: (contribuições locais):

Qi = TXi . L trecho = 0,0022 x 100,00 ⇒ Qi = 0,22 L/s

Qf = TXf . L trecho = 0,0066 x 100,00 ⇒ Qf = 0,66 L/s

- Vazão a jusante (total): é a soma da vazão a montante com a vazão no trecho (≥ 1,50 L/s).

Qi = 1,40 + 0,22 ⇒ Qi = 1,62 L/s = 0,00162 m³/s

Qf = 2,00 + 0,66 ⇒ Qf = 2,66 L/s = 0,00266 m³/s

3.8 CRITÉRIOS PARA O DIMENSIONAMENTO DAS TUBULAÇÕES DE ESGOTOS SANITÁRIOS

O projeto hidrossanitário de esgotos envolve alguns aspectos sobre o que ocorre


simultaneamente no interior das tubulações:
a) Hidráulico
As tubulações devem ser projetadas para transportar as vazões máximas (Qf ) e mínimas
(Qi) estabelecidas em projeto. Os coletores e interceptores esgotos devem operar como condutos
livres, enquanto que sifões e linhas de recalque das Estações Elevatórias funcionam como Condutos
Forçados. Os emissários podem operar tanto como Condutos Livres ou Forçados.

b ) Reações bioquímicas (controle de sulfeto de hidrogênio - H2S)


Em tubulações curtas e com esgoto fresco encontramos bastante oxigênio dissolvido, desta
forma os problemas relativos a sulfetos de hidrogênio são bastante reduzidos. No entanto, quando as
redes são extensas e as velocidades são baixas, o oxigênio dissolvido diminui, prevalecendo condições
anaeróbias no esgoto, o que propicia principalmente nos coletores-tronco, interceptores e emissários o
aparecimento de sulfetos e o desprendimento de sulfetos de hidrogênio.
A geração de sulfeto nos esgotos devido a bactérias Desulfovibrio Desulfuricans, na presença
de matéria orgânica e ausência de oxigênio, pode ser representada pela equação abaixo:

bactérias
-- -
S04 + 2C + 2H20 −−−−−−→ 2HCO3 + H2S

Dentre os fatores mais importantes que propiciam a geração de sulfatos nos esgotos
domésticos e industriais, estão:
o teor de enxofre existente nos compostos orgânicos e sulfatos usualmente
encontrados nos esgotos;
a temperatura do esgoto: < 15°C inexistente H2S e 38°C é o pico de formação;
pH do esgoto: ocorre rapidamente dentro de faixa de pH entre 5,5 - 8,5 (valores
comumentes encontrados em esgotos domésticos);
ausência de oxigênio livre no esgoto.
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A formação de sulfeto de hidrogênio pode ocasionar vários problemas, tais como:


odor: incômodo aos operadores e vizinhanças;
toxidez: perigo de vida aos operadores, am altas concentrações;
corrosão: coletores e componentes do sistema de esgoto são atacados, devido à
formação do ácido sulfúrico, quando estes não são imunes (tubulação de concreto, aço)

Figura 54 - Condições do esgoto no interior da tubulação

A película de limo formada junto às paredes submersas da tubulação de esgoto é a principal


fonte de geração de sulfeto. Desta maneira, altas velocidades não propiciam o aparecimento de
películas com espessura muito grande, dificultando a produção de H2S.

c) Ação de autolimpeza
Promove o arraste de materiais sólidos dos esgotos que se depositam de no fundo das
tubulações, garantindo o processo de autolimpeza. O dimensionamento consiste em determinar os
diâmetros e as declividades longitudinais das tubulações, para que estas condições sejam atendidas.
Para equacionar os aspectos da deposição de materiais sólidos presentes nos esgotos e que
se depositam no fundo das tubulações, o Brasil adotava o “Critério da Velocidade de Autolimpeza” para
o dimensionamento das redes coletoras de esgotos, o qual considerava a manutenção de uma
velocidade mínima, independentemente do diâmetro da tubulação, para que ocorresse a ação de
autolimpeza.
Com a promulgação da NBR 9649, da ABNT, em 1986, passou-se a adotar o Critério da
Tensão Trativa para o dimensionamento de redes de esgotos.

3.8.1 O critério da Tensão Trativa (σ )


A Tensão Trativa ou Tensão de Arraste é definida como a força tangencial unitária aplicada às
paredes do conduto pelo líquido em escoamento. Sua equação pode ser deduzida de forma análoga à
pressão de um sólido que desliza sobre um plano inclinado.
θ
θ

Figura 55 – Esquema da tensão trativa dentro de um conduto de esgoto


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Sabemos que a componente tangencial (Pt) do peso do volume do líquido é: Pt = P. sen ϴ.


O peso (P) do volume do líquido contido num trecho de comprimento “L”, é: P = ℘.Am.L
onde peso específico do esgoto a 20 °C é cerca de ℘ = 1000,00 kgf/m³.
E o Raio Hidráulico, é: RH = Am ÷ Pm
Como Tensão é uma relação de Força ÷ Área, a Tensão Trativa “σ” em um trecho de
comprimento “L” e perímetro molhado “Pm” é definida por:

Força Pt P.senθ ℘. Am..L.senθ


Tensão(σ ) = = = = = ℘RH .sen.θ
Área Pm.L Pm.L Pm.L

como θ é um ângulo sempre muito pequeno ⇒ senθ ≈ tgθ = I (declividade do conduto)

Portanto, a Tensão Trativa pode ser expressa por : σ = ℘× RH × I

sendo:
σ = tensão trativa média (Pa ou Kgf/m²);
P = peso do volume do líquido contido num trecho de comprimento “L” (N ou Kgf/m²);
Pt = componente tangencial de P (N ou Kgf/m²);
θ = ângulo de inclinação do conduto (grau);
℘ = 4 3
peso específico do líquido (esgoto a 20 °C ⇒ 10 N/m = 1000,00 Kgf/m³);
RH = raio hidráulico (m);
I = declividade do conduto (m/m);
L = trecho de comprimento (m);
Am = área molhada da secção transversal (m²);
Pm = perímetro molhado (m).

A Tensão Trativa assim calculada representa um valor médio da tensão ao longo do perímetro
molhado do conduto. Devido ao efeito da gravidade, qualquer partícula de material sólido com
densidade maior que a da água tenderá a depositar-se no fundo das tubulações de esgoto,
principalmente nas horas de menor contribuição. Desta maneira, define-se a Tensão Trativa Crítica
como sendo a tensão mínima necessária ao início do movimento das partículas depositadas nas
tubulações de esgoto. O valor da Tensão Trativa depende:
do peso específico da partícula e do líquido;
das dimensões da partícula;
da viscosidade do líquido.

A norma brasileira NBR 9649/1986, da ABNT recomenda que, para as redes coletoras de
esgotos sanitários, a Tensão Trativa Crítica atenda as condições de declividade, proporcionando o valor
mínimo de 1,00 Pa, pelo menos uma vez ao dia.

σ = 1000 . RH . I ≥ 0,10 Kgf/m² (= 1,00 Pa) sendo:


2 2
1 Kgf/m = 10 N/m = 10 Pa

Em todos os casos, os valores da Tensão Trativa e da Declividade Mínima, correspondem a


“n” do Coeficiente de Manning igual a 0,013, independentemente do material das tubulações, em r
azão das várias singularidades que ocorrem na rede coletora de esgotos sanitários.
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Exercício 3.4
Em continuação ao exercício anterior, que trata do projeto de uma rede coletora de esgoto
sanitário, a ser implantada sob os eixos centrais das vias públicas de um loteamento no Município de
Taubaté/SP, solicita-se calcular a Tensão Trativa (de arraste) que o efluente causará na parede interna
da tubulação do mesmo trecho “n” da rede coletora, cujo diâmetro será de 150 mm. Sabe-se que:
- A declividade do trecho “n” da rede coletora será I = 0,0044 m/m;
- O raio hidráulico do trecho “n” da rede coletora pode ser obtido pela fórmula:
RH = β . D onde RH = raio hidráulico (metros);
D = diâmetro da tubulação (metros);
β = 0,159

Solução
- Cálculo da tensão trativa (σ ) – em função das condições iniciais (mínimas)
Sendo RH = β . D = 0,159 x 0,150 ⇒ RH = 0,02385 m

σ = 1000,00 . RH . I = 1000,00 x 0,02385 x 0,0044 ⇒ σ = 0,105 kgf/m² = 1,05 Pa ( ≥ 1,00 Pa OK )

3.8.2 Os procedimentos para o dimensionamento dos condutos


O dimensionamento hidráulico apresentado a seguir, é baseado na norma NBR 9649/1986,
da ABNT, e consiste em se determinar, para os trechos do coletor, os valores dos diâmetros e das
declividades a partir das vazões Qi e Qf.
a) Vazão mínima
Quando não existirem valores pesquisados para o projeto e, sempre que a vazão a jusante do
trecho do coletor for inferior a 1,50 L/s, para os cálculos hidráulicos deve-se utilizar o valor de 1,50 L/s.

b) Diâmetro mínimo
Segundo a norma brasileira o diâmetro mínimo é de 100 mm. No entanto deve-se sempre
empregar outros diâmetros, dependendo dos materiais. No Estado de São Paulo, a SABESP adota o
diâmetro mínimo de 150mm. O diâmetro (D) que atende a condição da lâmina líquida (Y/D) ser menor
ou igual 75%, pode ser obtido pela equação abaixo, para n = 0,013.

D = (0,0463 × Q f ÷ I ) ( 0,375) onde: Qf = vazão de final de plano (m³/s);


I = declividade do conduto (m/m).

c) Declividade mínima
Como já mencionado, a declividade a ser adotada deverá proporcionar uma tensão trativa
2
média não inferior a 0,10 Kgf/m (1,00 Pa), calculada utilizando a vazão inicial na extremidade à jusante
do trecho. Para redes coletoras, tal declividade é determinada pela expressão abaixo, para o
Coeficiente de Manning n = 0,013.

−0 , 47
I min = 0,0055 × Qi onde: Qi =vazão jusante para dimensionamento de início de plano (L/s);
I min = declividade mínima do conduto (m/m).
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d) Declividade máxima
A declividade máxima admitida pela norma é aquela que, para a vazão de final de plano, faz
com que a máxima velocidade na tubulação seja inferior a 5,00 m/s e pode ser obtida pela expressão
abaixo, para Coeficiente de Manning n = 0,013.

− ( 2 / 3)
I máx = 4,65 × Q f onde: Qf = vazão para dimensionamento de final de plano (L/s);
I max = declividade máxima do conduto (m/m).

e) Velocidade crítica
No caso da velocidade final (Vf) ser superior à velocidade crítica (Vc), a maior lâmina admitida
deverá ser de 50% do diâmetro do coletor, para uma boa ventilação no trecho.
A máxima velocidade recomendada pela norma brasileira é de Vf = 5,00 m/s.
A Velocidade crítica (Vc) é dada através da expressão:

Vc = 6 g.RH onde: Vc = velocidade crítica (m/s);


RH = raio hidráulico para a vazão final (m);
g = aceleração da gravidade (9,80 m/s²).

f) Lâmina mínima
A norma brasileira não faz menção à lâmina mínima, no entanto a experiência recomenda que
a lâmina mínima seja 20% do diâmetro da tubulação. Pelo critério da Tensão Trativa haverá a
autolimpeza, desde que se garanta que se pelo menos uma vez por dia seja atingida a tensão
adequada, independente da altura da lâmina de esgoto.

g) Lâmina máxima
Para garantir a oxigenação, além de se calcular as lâminas, admitindo-se o escoamento em
regime permanente e uniforme, a lâmina recomendada pela experiência é que seu valor máximo, para
a vazão final (Qf), nunca seja superior a 75% do diâmetro do conduto.

3.8.3 Os procedimentos para a verificação final do dimensionamento dos condutos


A verificação final do dimensionamento hidráulico, também está baseada na norma NBR
9649/1986, da ABNT, e consiste em, conhecidas as vazões (Qi e Qf), diâmetros (D), e declividades (I)
determinar as lâminas líquidas (Y/D) inicial e final, as velocidades (Vi e Vf ), a tensão trativa (σ ) para
as condições iniciais, o raio hidráulico (RH ) e a velocidade crítica (Vci e Vcf ).
Apesar de existirem várias fórmulas para os cálculos de “condutos livres”, a mais utilizada, além
da Equação da Continuidade, tem sido a Equação de Manning, pela sua simplicidade e comprovação
experimental. O Coeficiente de Manning pode ser igual a n = 0,013, mesmo que o material da tubulação
seja mais ou menos rugoso, pois com a formação da película de limo, as superfícies das paredes
internas das tubulações tornam-se uniforme, independentemente do material da tubulação.

3
1 Q = vazão (m /s);
Q = R 2H/ 3 A. I 1 / 2 V = velocidade média (m/s);
n
Manning 2
1 A = área molhada (m );
V = R 2H/ 3 A. I 1 / 2 N = coeficiente de rugosidade de Manning (n = 0,013);
n
RH = raio hidráulica (m);
Continuidade Q = V .A I = declividade da tubulação (m/m)
OBS: Também, podem ser utilizados os Quadros abaixos, derivados das equações citadas, já ajustados para n = 0,013
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Quadro 5 – Para dimensionamento e verificação das tubulações de esgotos ⇒ n = 0,013


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Quadro 5 - Para dimensionamento e verificação das tubulações de esgotos ⇒ n = 0,013 (continuação)


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Quadro 6 - Auxiliar na determinação do raio hidráulico em função de Y/D

3.8.4 Projetos executivos de redes de esgotos sanitários


Concluída a fase do Projeto Básico (hidráulico), pode-se iniciar o denominado Projeto
Executivo, que é aquele que irá melhor detalhar todas as etapas e as técnicas construtivas das obras e,
em geral, envolve as seguintes fases: atualização do cadastro dos sistemas de abastecimento de água
e, também, dos esgotos sanitários e/ou industriais; consulta aos órgãos públicos (Prefeitura Municipal,
Agências de Transportes Rodoviários e Ferroviários etc) e a elaboração das peças gráficas e dos
respectivos memoriais.
As peças gráficas que compõem o Projeto Executivo são:
cadastro das estruturas visíveis e dos furos das sondagens;
detalhes construtivos dos órgãos acessórios;
plantas do traçado (caminhamento) da rede, em escala 1:2000 com indicação de todos
os órgãos acessórios numerados, soleiras negativas, faixas de desapropriações
(quando for o caso);
projeto geométrico, em planta e perfil das redes, nas escalas Horizontal = 1:1000 e
Vertical = 1:100 com as seguintes indicações: todas as interferências; pontos de
inflexão do terreno; estaqueamento do terreno; órgãos acessórios; extensão,
profundidade, declividade e materiais dos coletores; estruturas de assentamento e de
escoramento.

Além das peças gráficas, devem acompanhar o Projeto Executivo o:


memorial descritivo e justificativo, onde são reunidos todos os critérios de cálculo,
descrição do sistema, cálculos hidráulicos etc;
levantamento dos quantitativos de serviços e dos materiais.
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Figura 56 – Modelo de representação das ruas e das redes em projetos executivos de


redes de esgotos (planta e perfis longitudinais da rua e da rede).
Fonte: TSUTIYA, M. T e ALÉM SOBRINHO, P. (2000)
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3.8.5 Preenchimento da planilha de cálculo

Coluna 1 - listar os números dos coletores por bacia;


Coluna 2 - anotar o comprimento de cada trecho do respectivo coletor;
Coluna 3 - calcular e anotar os Coeficientes de Contribuição Linear (vazão por metro de rede),
para cada bacia, para as populações inicial e final:
Qdi
Inicial: T xi = +T Ii
Li

Qdf
Final: T xf = +T I f
Lf
Coluna 4 - calcular as vazões inicial e final de cada trecho (contribuição do trecho):
vazão inicial Qi = Txi x comprimento do trecho (Li)
vazão final Q f = Txf x comprimento do trecho (Lf)
Coluna 5 - anotar as vazões de montante inicial e final;
Coluna 6 - anotar as vazões de jusante, que correspondem à soma das vazões de contribuição
do trecho, de montante e localizada (quando for o caso). OBS: Para qualquer trecho de coletor,
a vazão mínima de cálculo será sempre é de 1,50 l/s;
Colunas 7 e 8 - os cálculos do diâmetro e da declividade do condutor, são feitos de modo a
atender aos critérios relativos à tensão trativa , lâmina líquida e velocidade crítica. A declividade
a ser adotada deverá ser aquela que implique na menor escavação possível e o diâmetro
escolhido deverá transportar as vazões Qi e Q f , de modo que a tensão trativa não seja inferior
lâmina líquida dentro da tubulação não seja superior a 75% do diâmetro. E a declividade
mínima, que satisfaça a condição de tensão trativa de 1,00 Pa, pode ser obtida pela aplicação
da fórmula aproximada:
−0 , 47
I min = 0,0055Qi sendo: I min em m/m e Qi em L/s.
A máxima declividade admissível I max será aquela para Vf = 5,00 m/s.

O cálculo da declividade do terreno It é feito através de:

It = cota do coletor a montante – cota do coletor a jusante (m/m)


extensão do trecho da rede

E o diâmetro D (em metros) que atende a condição Y/D ≤ 0,75 também pode ser obtido pela
Qf
equação: D = [0, 0463 ]0,375 obtida a partir da fórmula de Manning para n = 0,013,
Io
Y/D ≤ 0,75, sendo: Q f em m³/s e It = I que é a declividade do coleto,r em m/m;
Coluna 9 - ler a cota do terreno na planta e anotar na planilha;
Coluna 10 - anotar a cota do coletor em função da profundidade inicial ou da declividade;
Coluna 11 - anotar a profundidade do coletor (cota do terreno - cota da geratriz inferior interna
do coletor); observar que o recobrimento mínimo é de 1,00 m, para coletor assentado no leito
da rua, e de 0,65 m para coletor assentado sob o passeio. O recobrimento é dado pela
diferença de nível entre a superfície do terreno e a geratriz superior externa do coletor;
Coluna 12 - A lâmina líquida, na forma adimensional Y/D, pode ser obtida com o auxilio do
"Quadro 5";
Coluna 13 - A profundidade da singularidade de jusante (PV) é definida pela profundidade
do coletor de jusante, conforme coluna 11;
Coluna 14 - As velocidades Vi e Vf são obtidas com o auxilio do "Quadro 5", que fornece
V÷ I ;
Colunas 15 e 16 - cálculo da tensão trativa, σ e Vc, com auxilio do “Quadro 5” e “Quadro 6”
que fornece o raio hidráulico em função de Y/D .
Tensão Trativa ⇒ σ = ℘× RH × I sendo: σ em Pa, RH em metros, e℘ = 1000,00 Kgf/m³
Velocidade Crítica ⇒ Vc = 6 g.RH sendo: Vc em m/s, RH em metros, e g = 9,80 m/s²
OBS: Vc ≥ Vf
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Exercício 3.5
Projetar a rede coletora de esgoto, calculando as vazões iniciais e finais (Qi e Qf), os diâmetros
(D) e as declividades (I) para uma rua com 180,00 m de comprimento (L), decorrente do
desmembramento de uma gleba (10.260,00 m²) em 36 lotes de 237,70 m² cada. (vide planta pag. 56).

Parâmetros utilizados no projeto:


- População inicial Pi = 162 habitantes e População final Pf =180 habitantes (5 hab. por lote = 20 anos)
- Consumo efetivo de água (inicial e final) qi = qf = 200,00 L/habitante.dia;
- Coeficiente de retorno C = 0,80;
- Coeficientes de variação de vazões K1 = 1,2 e K2 = 1,5;
- Taxa de contribuição de infiltração (inicial e final) T I i = T I f = 0,0005 L/s.m (em função do subsolo);
- Vazão a montante no trecho (existente) Qi = 1,27 L/s e Qf = 1,97 L/s;
- Profundidade mínima da rede (existente) p min = 1,20 m.

Solução
a)Traçado do coletor
Na planta anexa, é demonstrada a rede coletora de esgoto projetada com dois trechos, no eixo da
rua, com três PVs (um existente) e, ainda, a indicação do sentido de escoamento dos esgotos, em
função das cotas do terreno.

b)Distância entre singularidades


Como a rede possui o comprimento (L) de 180,00 m, foi necessária a previsão de um PV
intermediário (PV2), distando 90,00 m dos PVs localizados nas extremidades (PV1 e PV3).

c) Numeração dos trechos


O presente projeto terá apenas um coletor com dois trechos (1-1) e (1-2).

d) Cálculo do coeficiente de contribuição linear

d1) Coeficiente de contribuição linear inicial

- Vazão doméstica inicial

Qdi = C . K2 . Pi . qi = 0,80 x 1,5 x 162 x 200,00 ⇒ Qdi = 0,450 L/s


86400 86400

- Coeficiente de contribuição linear inicial

TXi = Qdi + T I i = 0,450 + 0,0005 ⇒ TXi = 0,0030 L/s.m


Li 180,00

d2) Coeficiente de contribuição linear final

- Vazão doméstica final

Qdf = C . K1 . K2 . Pf . qf = 0,80 x 1,2 x 1,5 x 180 x 200,00 ⇒ Qdf = 0,600 L/s


86400 86400

- Coeficiente de contribuição linear final

TXf = Qdf + T I f = 0,600 + 0,0005 ⇒ TXf = 0,0038 L/s.m


Lf 180,00
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e) Cálculo das vazões no trecho do coletor


- Vazão à montante: é a soma das contribuições provenientes dos trechos anteriores, inclusive as
vazões localizadas (concentradas);
- Vazão de contribuição no trecho: é obtida através da multiplicação do Coeficiente de
contribuição linear (TX) pelo comprimento do trecho (L);
- Vazão à jusante: corresponde à soma da Vazão à montante (Q mon) com a Vazão de
contribuição no trecho (Q trecho).

f) Profundidade mínima do coletor


Neste projeto, não existindo soleiras negativas, foi admitida a profundidade mínima de p = 1,20 m.

g) Diâmetro mínimo do coletor


Embora a norma brasileira estabeleça que o diâmetro mínimo seja de 100 mm, neste projeto foi
adotado o diâmetro mínimo de 150 mm.

h) Vazão mínima de dimensionamento


No presente projeto e seus cálculos, não foi preciso utilizar a vazão mínima de 1,50 L/s, conforme
estabelecido na NBR. 9649/86, pois todas as vazões calculadas estão superiores à mínima.

i) Determinação do diâmetro e declividade do trecho de coletor e verificação da lâmina


líquida, tensão trativa e velocidade crítica
Os cálculos do diâmetro e da declividade do condutor de modo a atender as recomendações da
NBR. 9649/86 relativamente à tensão trativa (σ ), lâmina líquida (Y/D) e a velocidade crítica (Vc ), são
realizadas através das fórmulas já apresentadas ou, também, por meio dos Quadros 5 e 6.
A declividade (I) a ser adotada deverá ser aquela que implique na menor escavação e o diâmetro
(D) escolhido deverá conduzir as vazões (Qi e Qf) de modo que a tensão trativa (σ ) não seja inferior a
1,00 Pa e a altura da lâmina líquida (Y/D) na tubulação não seja superior a 75% do seu diâmetro.
Quando a velocidade final (Vf) for superior à velocidade crítica (Vc), a maior lâmina admissível deve
ser 50% do diâmetro do coletor. A velocidade máxima fixada pela NBR. 9649/86 é de Vf = 5,00 m/s.

j) Preenchimento da planilha de cálculo da rede de esgotos


Com os resultados já obtidos, procede-se a verificação final, calculando a lâmina líquida (Y/D)
inicial e final, a velocidade (V) inicial e final, a tensão trativa (σ ) para as condições de início de plano, e
a velocidade crítica (Vc) para as condições de final de plano.
Trecho 1-1

- Vazão a montante (vem da rua existente)


Do exercício, temos as vazões da rede (rua) existente: Qi = 1,27 L/s e Qf = 1,97 L/s

- Vazão no trecho (contribuições locais, dos imóveis localizados neste trecho)


Qi = TXi . L = 0,0030 x 90,00 ⇒ Qi = 0,270 L/s

Qf = TXf . L = 0,0038 x 90,00 ⇒ Qf = 0,342 L/s

- Vazão a jusante: é a soma da vazão a montante com a vazão no trecho (Qmin ≥ 1,50 L/s).
Qi = 1,27 + 0,270 ⇒ Qi = 1,540 L/s = 0,001540 m³/s

Qf = 1,97 + 0,342 ⇒ Qf = 2,312 L/s = 0,002312 m³/s


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- Declividade do terreno (It)

It = cota maior – cota menor = 152,60 – 152,00 ⇒ It = 0,0067 m/m


L trecho 90,00

- Declividade mínima do coletor (I min), em função da vazão a jusante inicial, em L/s (para n = 0,013)

I min = 0,0055 × Qi −0, 47 = 0,0055 × (1,54) −0, 47 ⇒ I min = 0,0045 m/m

- Declividade adotada para o coletor (I )


Como It ≥ I min ⇒ Adotar a declividade do terreno (mais econômica) ⇒ I = 0,0067 m/m

- Cálculo das lâmimas e velocidades (Y/D) e (V)


* Vazão inicial: em função da vazão a jusante inicial (em m³/s)

Qi = 0,001540 = 0,0188 ⇒ Quadro 5 (para D = 150 mm) ⇒ Yi ≈ 0,237 ( ≥ 20% OK )


I 0 , 0067 D

Vi ≈ 5,85 ⇒ Vi = 5,85 I = 5,85 0 , 0067 ⇒ Vi = 0,48 m/s

* Vazão final: em função da vazão a jusante final (em m³/s)

Qf = 0,002312 = 0,0282 ⇒ Quadro 5 (para D = 150 mm) ⇒ Yf ≈ 0,291 ( ≤ 75% OK )


I 0 , 0067 D

Vf ≈ 6,57 ⇒ Vf = 6,57 I = 6,57 0 , 0067 ⇒ Vf = 0,54 m/s

- Cálculo da tensão trativa (σ ), em função das condições iniciais (mínimas)

Para Yi = 0,237 ⇒ Quadro 6 ⇒ β = 0,140 Sendo RH = β . D = 0,140 x 0,150 ⇒ RH = 0,021 m


D
σ = 1000,00 . RH . I = 1000,00 x 0,021 x 0,0067 ⇒ σ = 0,141 kgf/m² = 1,41 Pa ( ≥ 1,00 Pa )

- Cálculo da velocidade crítica (Vc), em função das condições finais (máximas)

Para Yf = 0,291 ⇒ Quadro 6 ⇒ β = 0,168 Sendo RH = β . D = 0,168 x 0,150 ⇒ RH = 0,025 m


D
Vc = 6 g.RH = 6 9 , 80 x 0 , 025 ⇒ Vc = 2,97 m/s ( ≥ Vf = 0,54 m/s )
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Trecho 1-2

- Vazão a montante (iguais às vazões a jusante, que vêm do Trecho 1-1)


Qi = 1,540 L/s e Qf = 2,312 L/s

- Vazão no trecho (contribuições locais, dos imóveis localizados neste trecho)


Qi = TXi . L = 0,0030 x 90,00 ⇒ Qi = 0,270 L/s

Qf = TXf . L = 0,0038 x 90,00 ⇒ Qf = 0,342 L/s

- Vazão a jusante: é a soma da vazão a montante com a vazão no trecho (≥ 1,50 L/s).
Qi = 1,540 + 0,270 ⇒ Qi = 1,810 L/s = 0,001810 m³/s

Qf = 2,312 + 0,342 ⇒ Qf = 2,654 L/s = 0,002654 m³/s

- Declividade do terreno (It)

It = cota maior – cota menor = 152,00 – 151,35 ⇒ It = 0,0072 m/m


L trecho 90,00

- Declividade mínima do coletor (I min) em função da vazão a jusante inicial, m L/s (para n = 0,013)

I min = 0,0055 × Qi −0, 47 = 0,0055 × (1,81) −0, 47 ⇒ I min = 0,0042 m/m

- Declividade adotada para o coletor (I )


Como It ≥ I min ⇒ Adotar a declividade do terreno (mais econômica) ⇒ I = 0,0072 m/m

- Cálculo das lâmimas e velocidades (Y/D) e (V)


* Vazão inicial: em função da vazão a jusante inicial (em m³/s)

Qi = 0,001810 = 0,0213 ⇒ Quadro 5 (para D = 150 mm) ⇒ Yi ≈ 0,252 ( ≥ 20% OK )


I 0 , 0072 D

Vi ≈ 6,07 ⇒ Vi = 6,07 I = 6,07 0 , 0072 ⇒ Vi = 0,51 m/s

* Vazão final: em função da vazão a jusante final (em m³/s)

Qf = 0,002654 = 0,0313 ⇒ Quadro 5 (para D = 150 mm) ⇒ Yf ≈ 0,308 ( ≤ 75% OK )


I 0 , 0072 D
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Vf ≈ 6,78 ⇒ Vf = 6,78 I = 6,78 0 , 0072 ⇒ Vf = 0,57 m/s

- Cálculo da tensão trativa (σ ), em função das condições iniciais (mínimas)

Para Yi = 0,252 ⇒ Quadro 6 ⇒ β = 0,148 Sendo RH = β . D = 0,148 x 0,150 ⇒ RH = 0,0222 m


D
σ = 1000,00 . RH . I = 1000,00 x 0,0222 x 0,0072 ⇒ σ = 0,160 kgf/m² = 1,60 Pa ( ≥ 1,00 Pa )

- Cálculo da velocidade crítica (Vc), em função das condições finais (máximas)

Para Yf = 0,308 ⇒ Quadro 6 ⇒ β = 0,175 Sendo RH = β . D = 0,175 x 0,150 ⇒ RH = 0,0263 m


D
Vc = 6 g.RH = 6 9 , 80 x 0 , 0263 ⇒ Vc = 3,05 m/s ( ≥ Vf = 0,57 m/s)

- Planilha de cálculo da rede de esgoto

Quadro 7 – Planilha de cálculo da rede de esgoto do Exercício 3.5

OBS: Ver item 3.8.5 - Orientações para o preenchimento da Planilha de Cálculo.


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Figura 57 – Planta e corte longitudinal (perfil) da rede de esgoto do Exercício 3.5


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Exercício 3.6
Fonte: TSUTIYA, M. T. e ALÉM SOBRINHO, P. (2000)
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- Planilhas de cálculo da rede de esgoto

Quadro 8 – Planilha de cálculo da rede de esgoto do Exercício 3.6


Fonte: TSUTIYA, M. T. e ALÉM SOBRINHO, P. (2000)
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Quadro 8 – Planilha de cálculo da rede de esgoto do Exercício 3.6 (continuação)


Fonte: TSUTIYA, M. T. e ALÉM SOBRINHO, P. (2000)
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Figura 58 - Planta da rede de esgoto do Exercício 3.6


Fonte: TSUTIYA, M.T. e ALÉM SOBRINHO, P. (2000)
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CAPÍTULO 4

COMPOSIÇÃO E CARACTERÍSTICAS DOS ESGOTOS SANITÁRIOS

O esgoto sanitário é constituído de 99,9% de água e a parcela restante (0,1%) inclui sólidos
orgânicos e inorgânicos, suspensos e dissolvidos e, ainda, microrganismos, todos adquiridos na origem
ou decorrentes de alterações ao longo do tempo (decomposição). Embora menor, é justamente a
parcela que causa a poluição e, portanto, determina a necessidade do tratamento de todo o efluente.

Portanto, as características dos esgotos variam qualitativa e quantitativamente, de acordo com


a sua utilização. Tomando-se como exemplo uma comunidade provida de costumes “normais”,
podemos considerar como características do seu esgoto, as seguintes:

4.1 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS

As principais características físicas dos esgotos, em geral, podem ser interpretadas através
das seguintes determinações: teor de matéria sólida, temperatura odor e cor e, ainda, a turbidez.

4.1.1 Teor de Matéria Sólida


O teor de matéria sólida é de suma importância, para o dimensionamento e controle de
operações das unidades de tratamento. A matéria sólida presente nos esgotos se classificada em:

a) Sólidos totais
Matéria que permanece como resíduo após a evaporação (103°C) dos esgotos.

b) Sólidos voláteis
Submetendo os sólidos a uma temperatura de 600°C, a fração de substâncias orgânicas é
oxidada (volatiliza). Logo, representam uma estimativa da presença da matéria orgânica nos sólidos.

c) Sólidos fixos
É a fração não oxidada (inerte) que permaneceu em forma de cinza, após a combustão acima
descrita. Representam a matéria inorgânica ou mineral presente nos sólidos.

d) Sólidos em suspensão
É a parcela que fica retida ao se fazer passar uma amostra dos esgotos por um papel de filtro
com porosidade de tamanho padronizado.

e) Sólidos dissolvidos
Compreende a parcela que atravessa o filtro acima citado.

f) Sólidos sedimentáveis
É a fração capaz de sedimentar no período de uma hora, num cone de sedimentação com o
volume de 1 litro (Cone Imhoff).

Figura 59 – Composição dos sólidos no esgoto bruto


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Quadro 9 - Classificação das concentrações de sólidos em esgotos brutos


Característica Forte Médio Fraco
Sólidos Totais (mg/L) 1200 720 350
Sólidos Dissolvidos (mg/L) 850 500 250
Sólidos Dissolvidos Fixos (mg/L) 850 500 250
Sólidos Dissolvidos Voláteis (mg/L) 525 300 145
Sólidos em Suspensão (mg/L) 350 220 100
Sólidos em Suspensão Fixos (mg/L) 75 55 20
Sólidos em Suspensão Voláteis (mg/L) 275 165 80
Sólidos Sedimentáveis (mg/L) 20 10 05
Fonte: Metcalf & Eddy (1991)

4.1.2 Temperatura
A temperatura dos esgotos, em geral, é pouco superior à das águas de abastecimento (20 a
30°C). Águas usadas para resfriamento em usinas termoelétricas bem como alguns efluentes
industriais, podem transferir calor para as águas dos corpos receptores. Em relação ao tratamento, a
influência da temperatura ocorre durante as operações de natureza biológica quando a velocidade de
decomposição do esgoto é proporcional ao aumento da temperatura. Nas operações que envolvem a
sedimentação, o aumento da temperatura faz diminuir a viscosidade melhorando as condições de
sedimentação, e nos processos de transferência de oxigênio, a solubilidade do 02 é maior nas
temperaturas menores.

4.1.3 Odor
Os odores característicos dos esgotos são geralmente causados pelos gases formados
durante o processo de decomposição. Embora vários tipos de odores possam ser verificados, existem
dois tipos principais, e mais característicos: Odor de Mofo, razoavelmente suportável, típico de esgoto
fresco; e o Odor de Ovo Podre, insuportável, típico de esgoto velho ou séptico e que ocorre devido à
formação do gás sulfídrico, proveniente da decomposição do lodo contido nos despejos.

4.1.4 Cor e turbidez


A cor e a turbidez indicam, de imediato, o estado aproximado de decomposição do esgoto,
bem como a sua "condição". A tonalidade cinza, acompanhada de alguma turbidez, é típica de esgoto
fresco, e a cor preta é típica do esgoto velho, e de uma decomposição parcial.

4.2 CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS

A origem dos esgotos permite classificar as suas características químicas em dois grandes
grupos: matéria orgânica e matéria inorgânica.

4.2.1 Matéria inorgânica


A matéria inorgânica, contida nos esgotos, é formada pela presença de substâncias minerais
dissolvidas e de areia proveniente de águas de lavagem das vias públicas e de águas do subsolo que,
de modo indevido, se infiltram pelas juntas das canalizações e/ou das singularidades.

4.2.2 Matéria orgânica


Cerca de 70 % dos sólidos existentes no esgoto são de origem orgânica. Geralmente este
composto orgânico provém da combinação do carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio e os metais
ligados a estes.
Os grupos de substâncias orgânicas nos esgotos são constituídos principalmente por:
compostos de proteínas (40 a 60%);
carboidratos (25 a 50%);
gordura e óleos (10%); e
uréia, surfactantes, fenóis, pesticidas e papéis (2 a 5%).

As formas mais utilizadas para se medir a quantidade de matéria orgânica presente em um


efluente tem sido através da determinação da Demanda Bioquímica de Oxigênio – DBO e da Demanda
Química de Oxigênio – DQO:
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a) Demanda Química de Oxigênio - DQO


O teste da DQO mede o consumo de oxigênio para oxidar compostos orgânicos, bio e não
biodegradáveis, com oxidação exclusivamente química, ou seja, sem o auxílio de microrganismos.
Valores elevados representam a redução no teor de oxigênio e, logo, danos à flora e fauna aquáticas.
O valor da DQO é sempre maior que o da DBO e o tempo de sua determinação em
laboratório, é de apenas 3 horas, enquanto que o teste da DBO demora 5 dias. Nos esgotos
domésticos, a relação DQO/DBO varia de 1,7 a 2,4 e para efluentes de tratamentos biológicos a relação
chega a 3 ou mais, no caso de efluentes de tratamentos biológicos por aeração prolongada.

b) Demanda Bioquímica de Oxigênio - DBO


As águas residuárias contendo matéria orgânica (instável e putrescível) e bactérias do tipo
aeróbias, proporcionam as mesmas condições favoráveis a sua multiplicação, que necessitam de
oxigênio para o seu metabolismo, isto é, transformação da matéria orgânica em matéria celular. A
quantidade de oxigênio necessária para as bactérias oxidarem a matéria orgânica constituem a DBO.
Como, quanto maior a concentração de matéria orgânica em um efluente, maior será a
atividade bacteriana e, por conseguinte, a “avidez” pelo oxigênio. Logo, a DBO é uma medida do teor de
matéria orgânica em um efluente.
No teste para a sua determinação, mede-se a quantidade de oxigênio necessária para oxidar
compostos biodegradáveis (exclusivamente por microrganismos) presentes numa amostra, após um
dado tempo (normalmente 5 dias), a uma determinada temperatura (normalmente 20°C). Geralmente a
DBO5,20 dos esgotos domésticos, varia entre 110 a 400 mg/L, sendo que nos tratamentos completos
busca-se reduzi-la à faixa de 20 a 30 mg/L.
Quando não se dispõe de informações detalhadas sobre as características dos esgotos a ser
trabalhado, a NBR. 122.09/92, da ABNT, recomenda a utilização do valor médio de 54 g DBO/hab.dia
para a DBO per capta, o que possibilita determinar a carga total de DBO produzida pela população de
uma cidade. O valor da DBO per capta também é utilizada para a estimativa da “População
Equivalente”, nos casos de alguns tipos de efluentes industriais.

Além das determinações da DQO, DBO e das formas do Nitrogênio, existem outras que
caracterizam a presença da matéria orgânica: Oxigênio Consumido - OC, o Carbono Orgânico Total –
COT, Fósforo (responsável pela eutrofização em represas), Cloreto, Sulfatos, etc.

Quadro 10 - Classificação das características físico-químicas dos esgotos


Característica Forte Médio Fraco
DBO5,20 (mg/L) 400 220 110
DQO (mg/L) 1000 500 250
Carbono Org. Total (mg/L) 290 160 80
Nitrogênio total – NTK (mg/L) 85 40 20
Nitrogênio Orgânico (mg/L) 35 15 08
Nitrogênio Amoniacal (mg/L) 50 25 12
Fósforo Total (mg/L) 15 08 04
Fósforo Orgânico (mg/L) 05 03 01
Fósforo Inorgânico (mg/L) 10 05 03
Cloreto (mg/L) 100 50 30
Sulfato (mg/L) 50 30 20

Óleos e Graxas (mg/L) 150 100 50


Fonte: Metcalf & Eddy (1991)

Para a avaliação do impacto da poluição e da eficiência das medidas de controle, torna-se


necessário quantificar as “Cargas Poluidoras” dos efluentes. Nos casos dos esgotos domésticos ela
pode ser obtida através das seguintes relações:

carga poluidora = carga per capta x população contribuinte


ou
carga poluidora = concentração x vazão

Exercício 4.7
A população urbana do Município de Taubaté-SP, que não dispunha de Tratamento de
Esgotos em 2008, era estimada em 256757 habitantes (SEADE). Pede-se calcular a correspondente
carga de DBO lançada, naquele ano, no Rio Paraíba do Sul através dos afluentes que cruzam a cidade.
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Solução
Carga diária de DBO = 0,054 kg/hab . 256757 hab = 13864,88 Kg DBO
Carga anual de DBO = 13864,88 Kg DBO/dia . 365 dias ≈ 5060681 Kg DBO

Portanto, no ano de 2008, foram lançadas 5060,68 Toneladas de DBO no Rio Paraíba do Sul

No caso da avaliação do impacto da poluição causada por indústrias que geram efluentes com
características semelhantes ao esgoto doméstico, bem como na determinação da eficiência necessária
do correspondente processo de tratamento, costuma-se utilizar o conceito de “População Equivalente”:

população equivalente = carga poluidora ÷ carga per capta

Exercício 4.8
Calcular a carga de DBO e a População Equivalente para uma Indústria, cujo efluente
proveniente do seu processo operacional, apresenta a DBO de 944,00 mg/L e a vazão de 170,00 L/s.

Solução
Carga diária de DBO = 0,944 g/L . 170,00 L/s . 86400 s/dia = 13865472,00 g
População equivalente = 13865472,00 g/dia ÷ 54,00 g/hab.dia ≈ 256768 habitantes

Portanto, a poluição orgânica (DBO) causada por esta Indústria, equivaleria praticamente à da
população do Município de Taubaté, no ano de 2008.

Exercício 4.9
O matadouro “São Luiz” abate 30 cabeças de gado e 60 porcos diariamente. Sabendo-se que
o abate de um boi gera, em média, 350,00 L de efluentes e 7,00 kg de DBO, enquanto que o abate de
um porco produz 140,00 L de efluentes e 2,80 Kg de DBO, pede-se calcular a:
a) Carga total de DBO produzida pelos abates;
b) População equivalente da descarga industrial;
c) Vazão total dos efluentes gerados pelos abates de todos os animais;
d) Concentração (C) de DBO nos efluentes (brutos) gerados pelos abates dos animais;
e) Redução (%) da Concentração (C) de DBO nos efluentes, para o máximo 60,00 mg/L.

Solução
a) Carga total de DBO produzida pelos abates
• Bois = 7,00 kg DBO . 30 bois/dia = 210,00 kg/dia
• Porcos = 2,80 kg DBO . 60 porcos/dia = 168,00 kg/dia
• Carga total produzida = 378,00 kg DBO/dia

b) População equivalente da descarga industrial


• Pop. Eq.= 378,00 kg DBO/dia ≈ 7000 habitantes
0,054 kg DBO/hab.dia

Portanto, a poluição orgânica (DBO) causada pelo Matadouro “São Luiz”, equivaleria praticamente à da
população do Município de Natividade da Serra (Censo Demográfico 2010/IBGE).
.
c) Vazão total dos efluentes gerados pelos abates
• Bois = 0,35 m³ . 30 bois/dia = 10,50 m³/dia
• Porcos = 0,14 m³ . 60 porcos/dia = 8,40 m³/dia
• Vazão total produzida = 18,90 m³/dia

Concentração (C) de DBO nos efluentes (brutos) gerados pelos abates


• C = Carga total DBO . 1000 = 378,00 kg DBO/dia . 1000 = 20000,00 g/m³
Vazão total 18,90 m³

• C = 20000,00 mg/L ⇒ De acordo com o Quadro 1, este efluente pode ser


classificado como de Concentração “Fortíssima”, em termos de matéria orgânica.

e) Redução (%) da Concentração (C) da DBO nesses efluentes, para o limite max 60 mg/L
• R = 20000,00 – 60,00 . 100 = 99,70%
20.000,00
O processo de tratamento deverá possuir Eficiência de 99,70% (mínima) na redução da DBO.
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Exercício 4.10
A indústria de laticínios “Leite Bom”, processando uma média de 118,00 toneladas de leite por
dia, produz, em média, 255,00 m³ de efluentes diariamente, os quais possuem uma concentração de
1400,00 mg DBO/L (muito forte). Pede-se calcular a:
a) Vazão (Q) de efluentes gerados por 1000,00 kg de leite processado;
b) Carga total de DBO gerada diariamente para o processamento de todo o leite;
c) Carga de DBO gerada por 1000,00 kg de leite processado;
d) População equivalente da descarga industrial.

Solução
a) Vazão (Q) de efluentes gerados por 1000,00 kg de leite processado
Se para processar 118,00 toneladas de leite produz-se diariamente 255,00 m³ de
efluentes, para processar 1000,00 kg de leite se produzirá o seguinte volume de efluentes:

Q = 1000,00 kg . 255,00 m³/dia = 2,16 m³/1000,00 kg de leite


118000,00 kg/dia

b) Carga total de DBO gerada diariamente para o processamento de todo o leite


Se a concentração de DBO é 1400,00 mg por cada litro de efluente, a carga total
de DBO presente no volume total de despejos diariamente (255000,00 L), será:

Carga diária de DBO = Concentração de DBO x Vazão efluentes


Carga diária de DBO = 1400,00 mg/L . 255000,00 L = 357000000,00 mg=357,00 kg

c) Carga de DBO gerada por 1000,00 kg de leite processado


Se a carga total de DBO gerada diariamente, para o processamento de todo o leite
(118000,00 kg) é de 357,00 kg, a carga de DBO presente no processamento de apenas
1000,00 kg de leite, será:

Carga de DBO = 1000,00 kg . 357,00 kg/dia = 3,03 kg/1000,00 kg de leite


118000,00 kg/dia

d) População Equivalente da descarga industrial


Pop. Eq. = Carga total de DBO ÷ Carga per capta

Pop. Eq. = 357,00 kg DBO/dia ≈ 6612 habitantes


0,054 kg DBO/hab.dia

Portanto, a poluição orgânica (DBO) causada por esta Indústria, equivaleria praticamente à da
população do Município de Lavrinhas (Censo 2010/IBGE).

4.3 CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS

As características biológicas são avaliadas em exames laboratoriais, onde se pesquisa a


presença de diversos microrganismos patogênicos que podem ser encontrados nos rios e nos esgotos,
tais como as bactérias, vírus, protozoários, vírus, vermes e os grupos de plantas e dos animais.
As bactérias constituem o elemento mais importante destes organismos, responsáveis que
são pela decomposição e estabilização da matéria orgânica, tanto na natureza como nas unidades de
tratamento biológico. Como todo ser vivo, as bactérias necessitam de uma fonte de energia. Assim,
elas podem ser aeróbias, anaeróbias e facultativas:

Bactérias aeróbias: são as que retiram o oxigênio contido no ar, diretamente da


atmosfera ou do ar dissolvido na água para seu metabolismo. Essa ação bacteriana é denominada de
oxidação ou decomposição aeróbia.

Bactérias anaeróbias: retiram o oxigênio através de ações sobre os compostos


orgânicos ou inorgânicos que contenham oxigênio para seu metabolismo, ao invés de retirá-lo do ar.
Este processo bacteriano é denominado de putrefação ou decomposição anaeróbia. Assim são
desenvolvidos os coliformes termotolerantes.

Bactérias facultativas: possuem a capacidade de ora retirar o oxigênio contido no ar


e, ora retirar o oxigênio através de ações sobre outros compostos.

No quadro a seguir são apresentados alguns organismos biológicos presentes nos esgotos,
os quais demonstram a necessidades da desinfecção.
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Quadro 11 - Alguns organismos patogênicos encontrados nos esgotos domésticos


Nome do organismo Tipo Doença causada
Vírus da hepatite Vírus Hepatite
Vírus da poliomielite Vírus Poliomielite
Salmonella typhi Bactéria Febre tifoide
Vibrio cholerae Bactéria Cólera
Salmonella spp Bactéria Intoxicação alimentar
Entamoeba histolytica Protozoário Disenteria amebiana
Ascaris lumbricoides Verme Ascaridíase (lombriga)
Schistosoma mansoni Verme Esquistossomose
Leptospira iceterohaemorrhagiae Bactéria Leptospirose
Shigella spp Bactéria Disenteria bacilar
Fonte: Adaptado de CETESB (1988)

A identificação direta dos vários tipos destes microrganismos patogênicos é, normalmente,


morosa e onerosa. Por essa razão, os laboratórios recorrem à identificação dos “organismos
indicadores” de contaminação, que indicaria a introdução de matéria de origem fecal, portanto, com
risco potencial da presença de organismos patogênicos.

Os primeiros organismos utilizados como “indicadores” de contaminação por fezes de animais


homeotermos foram as bactérias do grupo coliforme, expressos em Número Mais Provável (NMP) de
coliformes por 100 mL de amostra de água. Mais tarde, porém, veio-se constatar que a sua presença
não representa que a contaminação fosse necessariamente de origem fecal, pois havia sido verificado
que, entre os seus vários gêneros, também inclui algumas bactérias de origem não fecal (Serratia,
Aeromonas, Erwenia etc).

Com o objetivo inicial de selecionar apenas os coliformes originários do trato intestinal, o Grupo
Coliforme foi dividido em subgrupos – Coliformes Fecais e Coliformes Totais (SÃO PAULO – ESTADO.
SECRETARIA DA SAÚDE/CVS, 1998b). A seguir, são apresentadas algumas definições:

a) Coliformes Totais
São bactérias na forma de bastonetes Gram-negativos, não esporogênicos, aeróbios ou
anaeróbios facultativos, capazes de fermentar a lactose com produção de gás, em 24 a 48 horas a
35°C ± 0,5 ºC. Atualmente, a sua presença é considerada um “indicador” de possível contaminação.

b) Coliformes Fecais
Originalmente, assim denominado por acreditar-se, até então, que contemplava apenas as
bactérias de origem exclusivamente fecal, passando inclusive a ser utilizado como novo “indicador” de
contaminação por fezes. Possuem a mesma definição de Coliformes Totais, porém, restrita aos
membros capazes de fermentar a lactose com produção de gás, em 24h a 44,5 ºC ± 0,2 ºC. Suas
principais representantes são as dos gêneros Escherichia, Enterobacter, Citrobacter e Klebsiella.

Porém, mais recentemente, observou-se que, apenas as bactérias do gênero Escherichia


(Escherichia Coli) eram de origem exclusivamente fecal, pois as dos gêneros Enterobacter, Citrobacter
e Klebsiella, também, foram observadas em alguns tipos de vegetações e solos. Assim, esse subgrupo
veio a ser renomeado para “Coliformes Termotolerantes", já que não era mais possível afirmar que
uma amostra de líquido com resultado positivo para Coliformes Termotolerantes, tenha entrado em
contato com fezes de animais de sangue quente.

c) Escherichia coli (E. coli)


São bactérias do Grupo Coliforme que fermenta a lactose e manitol, com produção de ácido
e gás, em 24 horas a 44,5 ºC ± 0,2 ºC. É o único coliforme que se desenvolve apenas e exclusivamente
na flora intestinal dos animais de sangue quente (incluindo o homem), sendo considerado, atualmente,
como “o mais específico indicador” de contaminação fecal recente e da eventual presença de uma
variedade de organismos patogênicos que apresentam grande risco à saúde.

Figura 60 - Escherichia coli (Fonte: http:/www.nand.org/html/reh.htm)


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CAPÍTULO 5

NATUREZA E CLASSIFICAÇÃO DOS PROCESSOS DE TRATAMENTO DOS


ESGOTOS SANITÁRIOS
O tratamento dos esgotos tem como objetivos:
prevenir e reduzir a disseminação de doenças transmissíveis causadas por patógenos;
conservar as fontes de abastecimento de água para uso doméstico, industrial e agrícola
manter as características da água necessária à piscicultura;
fazer a manutenção das águas para banho e outros propósitos recreativos; e
preservar a fauna e flora aquáticas.

Os processos de tratamento dos esgotos são formados por uma série de operações unitárias,
que são empregadas para a remoção de substâncias indesejáveis, ou para a transformação destas
substâncias em outras de forma aceitável. As mais empregadas nas respectivas fases, tem sido:

a) Operações unitárias da fase líquida


Troca de gás: ex. adição de oxigênio, ou ar; adição de cloro;
Gradeamento: ex. remoção de sólidos grosseiros através de grades, peneiras etc;
Sedimentação: ex. remoção de areia em “caixas de areia”; remoção de sólidos
sedimentáveis através de decantadores;
Coagulação química: ex. adição de cloreto férrico para a floculação;
Flotação: ex. remoção simples de gordura e óleo do esgoto; remoção de partículas em
suspensão em tanques de flotação com o uso de aeração;
Precipitação química: ex. adição de cal ao esgoto rico em ferro, produzindo flocos para
sedimentação;
Decanto Digestão: ex. tanques Imhoff; fossas sépticas;
Filtração: ex. filtração lenta ou rápida em leitos de areia;
Oxidação biológica: ex. aeração, filtração biológica, lagoas de estabilização;
Desinfecção: ex. cloro, ozônio, raio ultravioleta etc.

b) Operações unitárias da fase sólida (lodo)


Adensamento: ex. adensador por gravidade ou por flotação;
Estabilização: ex. digestão anaeróbia ou aeróbia;
Condicionamento: ex. condicionamento térmico ou químico;
Remoção da umidade: ex. secagem natural ou mecanizada;
Disposição final: ex. aterros sanitários; emissários submarinos; utilização agrícola; reuso.

5.1 NATUREZA E CLASSIFICAÇÃO DOS PROCESSOS DE TRATAMENTO DOS ESGOTOS


SANITÁRIOS

Como os poluentes contidos nos esgotos sanitários são de natureza física, química e
biológica, assim, também, são os processos de tratamento, os quais são sempre definidos em função
do fenômeno predominante.

a) Processos físicos
São aqueles em que há predominância dos fenômenos físicos no sistema ou dispositivo de
tratamento. Basicamente têm a finalidade de separar as substâncias em suspensão presentes no
esgoto. Ex: remoção de sólidos (peneiramento, sedimentação, filtração), remoção da umidade do lodo.

b) Processos químicos
São os que utilizam produtos químicos e geralmente são empregados quando os processos
físicos e biológicos não atuam eficientemente nas características a serem removidas. Os processos
químicos Ex: floculação, precipitação química, oxidação química, cloração e correção do pH.

c) Processos biológicos
São os que dependem da ação dos próprios microrganismos presentes nos esgotos. Estes
processos de tratamento procuram reproduzir os fenômenos biológicos observados na natureza,
adequando-os em áreas e tempos economicamente viáveis. Os principais processos biológicos são:
Oxidação Biológica: Aeróbia = lodos ativados, filtros biológicos, valos de oxidação e
lagoas de estabilização; Anaeróbia = reatores anaeróbios de fluxo ascendente (RAFA);
Digestão do Lodo: Aeróbia e Anaeróbia (tanques sépticos).

Observou-se uma tendência histórica em se comparar o processo aeróbio com o anaeróbio,


porém, hoje é consenso o interesse em associá-los, obtendo-se as vantagens de cada processo.
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5.2 CLASSIFICAÇÃO DOS PROCESSOS DE TRATAMENTO DOS ESGOTOS SANITÁRIOS

A classificação, usualmente, se dá em função da redução, tanto dos sólidos em suspensão,


como da demanda bioquímica de oxigênio, obtida em uma ou mais unidades do tratamento.

a) Tratamento preliminar
O tratamento preliminar de esgotos visa, basicamente, a remoção de sólidos mais grosseiros
(trapos, tocos de cigarro, excretas etc.) e os sólidos decantáveis (areia etc.). Não há remoção de DBO.
Evita-se obstruções e danificações em equipamentos eletros-mecânico, como grades e desarenadores.

b) Tratamento primário
Visa remover o material em suspensão não grosseiro, que flutue ou decante, com o emprego
de equipamentos e com tempo de retenção maior que no tratamento preliminar. Compreendem os
tanques sépticos, sedimentação (natural e química), flotação (simples e por ar dissolvido), precipitação
química, lagoa anaeróbia, reator de fluxo ascendente, digestão e secagem do lodo.

c) Tratamento secundário
O esgoto contém sólidos dissolvidos e finos sólidos em suspensão que não decantam e não
podem ser removidos apenas pela ação da gravidade. Nestes casos podem-se utilizar microrganismos
que se alimentam dessa matéria orgânica suspensa ou solúvel, transformando-a em sais minerais e em
novos microrganismos, que podem ser separados do líquido, formando um lodo denominado de
secundário. Assim, com este tratamento obtém-se a transformação da matéria orgânica solúvel do
esgoto em matéria orgânica insolúvel (microrganismos). E os microrganismos mais importantes para o
tratamento dos esgotos são as bactérias, que se reproduzem com grandes velocidades. O ponto
fundamental do tratamento biológico é fornecer condições para que essas bactérias (aeróbias,
anaeróbias e facultativas) sobrevivam e utilizem os esgotos de maneira mais eficiente.

Assim como as bactérias, o tratamento biológico dos esgotos pode-se classificar em:
Aeróbio: se for fornecido oxigênio ao sistema. Em condições naturais, a decomposição
aeróbia efetiva-se num período de tempo três vezes menor que a anaeróbia e dela
resultam gás carbônico, água, nitratos e sulfatos, todos inofensivos e úteis à vida vegetal.
Anaeróbio: se o oxigênio estiver ausente. Da decomposição anaeróbia, resultam produtos
como o gás sulfídrico, metano, nitrogênio, amoníaco e outros malcheirosos.
Facultativo: se existirem regiões aeróbias e anaeróbias. Estas bactérias, por viverem na
presença ou ausência do oxigênio livre, podem participar destes três tipos de tratamento.

Os principais processos do tratamento secundário de esgotos compreendem: filtração


biológica, lodos ativados, sedimentação intermediária (lodo flocoso) ou final (biomassa) e lagoas de
estabilização (facultativa, aerada), valos de oxidação, disposição no solo etc. Esses tratamentos
costumam gerar lodos que precisam ser convenientemente dispostos, pois, muitas vezes, essas
operações podem tornar-se mais onerosas do que o próprio tratamento dos esgotos.

d) Tratamento terciário (ou avançado)


É utilizado quando se deseja obter um esgoto tratado de qualidade superior, pois além de
retirar a matéria orgânica, sólidos suspensos e patogênicos em grau, ainda, maior que no tratamento
secundário, pode remover também determinados nutrientes, como o nitrogênio e o fósforo, que
poderiam potencializar isolada e/ou conjuntamente, a eutrofização das águas. Os principais processos
para a Remoção do Nitrogênio (desnitrificação) compreendem os filtros rápidos (de areia) e a lagoa de
maturação (polimento). Na Remoção do Fósforo, utilizam-se a precipitação química, geralmente com
sais de ferro (cloreto férrico) ou alumínio (sulfato de alumínio). A remoção química do fósforo requer
equipamentos menores que os usados por remoção biológica.
O tratamento terciário é completado com a Desinfecção Final (cloração, ozonização, raios UV
etc.). Este tratamento é usual em nações desenvolvidas e com escassos recursos hídricos, nas quais a
adoção de sofisticadas estações de tratamento de esgotos torna-se economicamente viável, incluindo
inclusive outras unidades de tratamento, como Osmose Reversa, Troca Iônica e Eletrodiálise.

Quadro 12 - Eficiência de remoção de poluentes por tipo de tratamento


Tipo de Matéria Orgânica Sólidos Sedimentáveis Nutrientes Bactérias
Tratamento (% remoção DBO) (% remoção SS) (%rem. Nutrientes) (% rem. Bac)
Preliminar 5 – 10 5 – 20 não remove 10 – 20
Primário 25 – 50 40 – 70 não remove 25 – 75
Secundário 80 – 95 65 – 95 Pode remover 70 – 99
Terciário 40 – 99 80 – 99 até 99 até 99,999
Fonte: Jordão, E.P. e Pessoa, C. A. (1994).
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CAPÍTULO 6

CARACTERÍSTICAS DO CORPO RECEPTOR DE EFLUENTES

As eficiências dos tratamentos necessários ao esgoto serão sempre determinadas em função


das características das águas do corpo receptor, tais como o seu uso preponderante, a sua capacidade
de autodepuração e das exigências para o seu enquadramento na legislação ambiental vigente.

6.1 POLUIÇÃO DOS RIOS

O fenômeno da poluição dos rios ocorre quando lançamos neles uma quantidade de matéria
orgânica que ao ser digerida pelas bactérias, ocasiona uma depressão do conteúdo de oxigênio do
meio aquático. Os esgotos domésticos são constituídos, preponderantemente, de matérias orgânicas
que servem de alimentos a animais, fungos e bactérias. Sua introdução em um meio aquático fará com
que as espécies passem a "alimentarem-se" dele e se multiplicando, consumam cada vez mais o
oxigênio disponível. A poluição se instala quando o consumo de oxigênio passa a ser maior que o
fornecimento, seja pelo ar atmosférico, seja por atividade fotossintética de vegetais, como as algas.

6.2 AUTODEPURAÇÃO DOS RIOS

Os rios são de natureza essencialmente dinâmica, quer nos aspectos físicos de movimentação
de suas águas (turbulência), quer nos aspectos químicos e biológicos. Eles sofrem contínuas
modificações naturais, além das transformações que lhe são impostas pelo homem. Quanto a estas
últimas, os rios procuram, dinamicamente, eliminá-las, numa tentativa permanente de readquirirem
suas características anteriores. Esta luta pela reabilitação costuma-se chamar de autodepuração.

A preservação de um rio pode ser realizada de duas maneiras fundamentais: através da


eliminação dos fatores que determinaram a deterioração de suas águas ou através da intensificação da
sua capacidade natural de autodepuração, isto é, de resistência à poluição. A eliminação dos fatores
que causam a sua deterioração é realizada principalmente através do tratamento dos esgotos
domiciliares e industriais. Uma forma de auxiliar o processo de autodepuração é regularizar a vazão do
rio, em casos especiais elevando-lhe a turbulência.

A autodepuração ocorre ao longo de um trecho do curso d’água, o qual é dividido em zona de


degradação (ponto onde é feito o lançamento dos esgotos); zona de decomposição ativa (áreas com
grandes depósitos ou bancos de lodo no fundo, em ativa decomposição anaeróbia, desprendendo
grandes quantidades de gases malcheirosos); zona de recuperação (o teor de matéria orgânica
decresce, rapidamente, assim como a concentração de bactérias); zona de águas limpas (nesta fase,
o rio recuperou-se, mas não é o mesmo rio). A população de seres vivos que nele se apresenta é muito
maior que a existente antes, criando problemas estéticos, contribuindo para o assoreamento das
margens e para a invasão de plantas aquáticas indesejáveis.

6.3 ASPECTOS LEGAIS SOBRE O LANÇAMENTO DE EFLUENTES EM CORPOS RECEPTORES

A legislação Federal e a do Estado de São Paulo citam dois padrões que devem ser atendidos
concomitantemente: o de “emissão” que se refere ao efluente a ser lançado e o de “qualidade” que diz
respeito ao corpo receptor (vide Anexo “B”).

a) Padrões de emissão
Indicam as características que os despejos devem atender, para que possam ser lançados em
corpos d’água (independentemente das condições do corpo receptor) ou em redes públicas que
possuam sistemas de tratamento. Entretanto, para o lançamento de despejos não domésticos em redes
públicas não dotadas de sistemas de tratamento de esgotos, deverá ser observada a legislação
específica.
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São apresentados, a seguir, alguns dos principais padrões de emissão de esgotos em águas
naturais superficiais, estabelecidos na legislação do Estado de São Paulo (Decreto nº. 8468 de
08.09.1976), bem como pelas legislações Federais (Resoluções do Conselho Nacional de Meio
Ambiente nº. 357 de 17.03.2005, e nº. 430 de 13.05.2011).

Principais Padrões de Emissão de efluentes (Decreto Estadual nº. 8468/76)


* pH: entre 5 e 9;
* Temperatura: inferior a 40˚C;
* Materiais sedimentáveis: até 1 mg/L;
* DBO 5,20: no máximo 60 mg/L ou no mínimo 80% de redução;
....................................................................................

Principais Padrões de Emissão de efluentes (Resoluções CONAMA nºs. 357/05 e 430/11)


* pH: entre 5 e 9;
* Temperatura: inferior a 40˚C;
* Materiais sedimentáveis: inferior a 1 mg/L;
* Óleos minerais:inferior a 20 mg/L;
* Óleos vegetais e gorduras animais: inferior a 50 mg/L;
....................................................................................

b) Padrões de qualidade
Procuram compatibilizar os despejos tratados a serem lançados, com as características
básicas do corpo de água receptor, sua vazão e o enquadramento em função dos seus usos
preponderantes.
São apresentados, a seguir, alguns dos padrões de qualidade estabelecidos na legislação do
Estado de São Paulo (Decreto nº. 8468 de 08.09.1976), bem como pelas legislações Federais
(Resoluções do Conselho Nacional de Meio Ambiente nº. 357 de 17.03.2005 e nº. 357 de 17.03.2005)
para um corpo receptor enquadrado na Classe 3, cujas águas podem ser utilizadas para abastecimento
público, após tratamento:

Principais Padrões de Qualidade para Águas Doces Classe 3 (Decreto Estadual nº. 8468/76)
* Oxigênio dissolvido: não inferior a 4 mg/L;
* DBO 5,20: até 10 mg/L;
* Coliformes totais: NMP = não superior a 20000/100 mL;
* Coliformes fecais: NMP = não superior a 4000/100 mL.

Principais Padrões de Qualidade para Águas Doces Classe 3 (Res. CONAMA nºs. 357/05 e 430/11)
* pH: entre 6 e 9;
* Oxigênio dissolvido: superior a 4 mg/L;
* DBO 5,20: inferior a 10 mg/L;
* Coliformes fecais: NMP = não superior a 2500/100 mL.

OBS: Raramente se tem obtido uma boa condição de diluição dos esgotos tratados no corpo receptor,
quando não se procede a desinfecção final dos esgotos antes do lançamento.

Exercício 6.11
A Indústria “Da Vez” deverá construir uma Estação de Tratamento para seus Efluentes (ETE),
antes de lançá-los no Rio da Paz (Classe 3) localizado em suas proximidades. Sabendo-se que o
efluente bruto (sem tratamento) possui as características abaixo indicadas, pede-se determinar as
eficiências necessárias dos respectivos processos a serem adotados no tratamento, para atender aos
Padrões de Emissão e aos Padrões de Qualidade, estabelecidos no Decreto Estadual (SP) nº. 8468/76
e nas Resoluções CONAMA nºs. 357/05 e 430/11.

Principais características do efluente bruto da indústria (sem tratamento):

*Concentração de Materiais Sedimentáveis (SS) = 10 mg/L;


*Concentração de DBO 5,20 = 100 mg/L;
*pH = 8;
*Temperatura ≈ 28 °C;
*Óleos minerais = ausentes;
*Óleos vegetais e gorduras animais = 30 mg/L;
*Coliformes fecais (termotolerantes): NMP = 16500/100 mL.
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Solução
Das legislações (Decreto Estadual nº. 8468/76 e Resoluções CONAMA nºs. 357/05 e 430/11),
temos os seguintes Padrões de Emissão que devem ser atendidos:

*Concentração de Materiais Sedimentáveis (SS): até 1 mg/L;


*Concentração de DBO 5,20: no máximo 60 mg/L ou 80% de redução;
*pH: entre 5 e 9;
*Temperatura: inferior a 40 °C;
*Óleos minerais: inferior a 20 mg/L;
*Óleos vegetais e gorduras animais: inferior a 50 mg/ L.
........................................................................................
........................................................................................

Comparando-se as características do efluente industrial bruto (sem tratamento) com os


Padrões de Emissão, observa-se que somente os valores referentes à Concentração de Materiais
Sedimentáveis (SS) e a Concentração de DBO 5,20 necessitarão de correções através de tratamento. E
as reduções necessárias nas concentrações das respectivas características do efluente bruto podem
ser obtidas pelas fórmulas:

R SS = 10 – 1 x 100 = 90% e R DBO 5,20 = 100 – 60 x 100 = 40%


10 100

Das legislações (Dec. Estadual nº. 8468/76 e Res. CONAMA nºs. 357/05 e 430/11), temos os
seguintes Padrões de Qualidade do corpo receptor (Classe 3) que devem ser atendidos de forma
concomitante:

*Oxigênio dissolvido: não inferior a 4 mg/L;


*Concentração de DBO 5,20: até 10 mg/L;
*pH: entre 6 e 9;
*Coliformes fecais (termotolerantes): NMP = até 2500/100 mL.
...........................................................................................
...........................................................................................

Comparando-se, também, as características do efluente industrial bruto (sem tratamento) com


os Padrões de Qualidade, observa-se que o valor da Concentração de DBO 5,20 (60 mg/L = 40%)
precisará ser ainda mais reduzido (10 mg/L), e o valor de Coliformes fecais (termotolerantes), também,
necessitará de correções, todos através de tratamento. E as reduções necessárias nas concentrações
destas respectivas características do efluente bruto podem ser obtidas pelas fórmulas:

R DBO 5,20 = 100 – 10 x 100 = 90% e R Coli Term. = 16500 – 2500 x 100 = 85%
100 16500

Portanto, os processos de tratamento a serem adotados nesse projeto deverão garantir, no


mínimo, a Eficiência de 90% na Redução dos Materiais Sedimentáveis, a Eficiência de 90% na
Redução da DBO 5,20 e a Eficiência de 85% na Redução das Bactérias (Coliformes termotolerantes)
que, de acordo com o Quadro 12, nos conduz a optar pelos “Tratamentos dos Tipos Secundários ou
Terciários”.
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CAPÍTULO 7

TRATAMENTO LOCAL DE ESGOTOS SANITÁRIOS

Sistema local de tratamento de esgotos é o sistema de saneamento onde as distâncias entre


as fontes geradoras de esgotos, seu tratamento e disposição final estão próximos entre si, não
necessitando de redes extensas, coletores-tronco, poços de visita, elevatórias etc.

7.1 TANQUES SÉPTICOS

O sistema de Tanques Sépticos, também conhecidos como Fossas Sépticas ou Decanto-


Digestores, cujos projetos, construção e operação são normatizados pela NBR. 7229 de setembro de
1993, da ABNT, é indicado somente para:

área desprovida de rede pública coletora de esgoto;


alternativa de tratamento de esgoto em áreas providas de rede coletora local;
retenção prévia dos sólidos sedimentáveis quando da utilização de rede com
diâmetro e/ou declividade reduzidos para efluente livre de sólidos sedimentáveis.

7.1.1 Definição, aplicação e princípio de funcionamento


Os tanques sépticos, ou fossa séptica, são aplicados, primordialmente, ao tratamento de
esgoto sanitário (residências ou pequenos condomínios isolados) e, em casos plenamente justificados,
também ao esgoto industrial. O emprego deste sistema para o tratamento de despejos de hospitais,
clínicas, laboratórios clínicos, postos de saúde e demais estabelecimentos prestadores de serviços de
saúde deve ser previamente submetido à apreciação das autoridades sanitárias e ambientais
competentes, para a fixação de eventuais exigências específicas relativas ao pré e pós-tratamento.

Uma fossa séptica consiste em um tanque enterrado, estanque, projetado para receber os
esgotos, separar os sólidos dos líquidos, digerir parcialmente a matéria orgânica, armazenar sólidos e
descarregar o efluente líquido para o tratamento complementar ou à destinação final. Podem-se obter
reduções de Sólidos em Suspensão (+ - 60%), e de DBO (+ - 30 a 50%).

No interior de um tanque séptico, ocorrem os seguintes processos:


separação dos sólidos em suspensão, por flotação, sedimentação e decantação;
digestão do lodo e da escuma pelas bactérias anaeróbias;
estabilização do líquido; e
crescimento de microrganismos.

Figura 61 - Funcionamento geral de um tanque séptico


Fonte: NBR 7229/93
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Como os sistemas de tratamento com tanque séptico devem ser projetados de forma
completa, ou seja, incluindo a disposição final para o efluente e para o lodo, o tratamento complementar
destes deve ser projetado segundo a NBR. 13969, de setembro de 1997, da ABNT, a qual oferece as
seguintes alternativas:

Figura 62 - Sistemas de tratamento de esgotos sanitários com tanque séptico - Esquema geral
Fonte: NBR 7229/93

7.1.2 Geometria e dimensões internas mínimas dos tanques


Os tanques sépticos podem ser cilíndricos ou prismáticos retangulares. Os cilíndricos são
empregados em situações onde se pretende minimizar a área útil em favor da profundidade; os
prismáticos retangulares, quando se seja maior área horizontal e menor profundidade. As medidas
internas deverão atender as indicadas nas figuras 63 e 64.

Figura 63 – Detalhes e dimensões de um tanque séptico de câmara única


Fonte: NBR 7229/93
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Figura 64 - Dimensões do tanque séptico


Fonte: NBR 7229/93

7.1.3 Dimensionamento do tanque séptico


O volume útil do tanque séptico deve ser calculado pela fórmula:

V = 1000 + N (CT + K Lf) onde:

V = volume útil (L);


N = número de pessoas ou unidades de contribuição;
C = contribuição de despejosL/pessoa x dia, ou em L/unidade . dia) - tabela 1;
T = período de detenção (dias) - (tabela 2;
K = tx. de acumulação de lodo digerido (em dias, equivalente ao tempo de acumulação de Lf) - tab 3;
Lf = contribuição de lodo fresco L/pessoa x dia ou em L/unidade.dia) - tabela 1.

Tabela 3 - Contribuição diária de esgoto (C) e de lodo fresco (Lf) por tipo de prédio e de ocupante
______________________________________________________________________________
Prédio Unidade Contribuição de esgotos (C) e Lodo fresco (Lf)
______________________________________________________________________________
Ocupantes permanentes
Residência alto padrão pessoa 160 L 1L
Residência médio padrão pessoa 130 L 1L
Residência baixo padrão pessoa 100 L 1L
Hotel (exceto lavanderia e cozinha) pessoa 100 L 1L
Alojamento provisório pessoa 80 L 1L
Ocupantes temporários
Fábrica em geral pessoa 70 L 0,30 L
Escritório pessoa 50 L 0,20 L
Edifícios públicos ou comerciais pessoa 50 L 0,20 L
Escolas e locais de longa perman. pessoa 50 L 0,20 L
Bares pessoa 6L 0,10 L
Restaurantes e similares refeição 25 L 0,10 L
Teatros, cin. e locais de curta perm. lugar 2L 0,02 L
Sanitários públicos* bacia sanitária 480 L 4,00 L
______________________________________________________________________________
* Apenas de acesso aberto ao público (estação rodoviária, ferroviária, logradouro público, estádio esportivo etc)
Fonte: NBR. 7229/93
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Tabela 4 - Período de detenção dos despejos, por faixa de contribuição diária


_________________________________________________________________
Contribuição Diária Tempo de detenção
(L) (Dias) (Horas)
_________________________________________________________________
Até 1500 1,00 24
De 1501 a 3000 0,92 22
De 3001 a 4500 0,83 20
De 4501 a 6000 0,75 18
De 6001 a 7500 0,67 16
De 7501 a 9000 0,58 14
Mais que 9000 0,50 12
_________________________________________________________________
Fonte: NBR. 7229/93

Tabela 5 – Taxa de acumulação do lodo (K) em dias, por intervalo de limpeza e temperatura
do mês mais frio
_____________________________________________________________________________
Intervalo entre limpezas Valores de K por faixa de temperatura ambiente (t), em °C
(anos) t ≤ 10 10 ≤ t ≤ 20 t > 20
_____________________________________________________________________________
1 94 65 57
2 134 105 97
3 174 145 137
4 214 185 177
5 254 225 217
_____________________________________________________________________________
Fonte: NBR. 7229/93

7.1.4 Materiais e distâncias mínimas


Os materiais empregados na execução dos tanques sépticos, tampões de fechamento e
dispositivos internos devem atender às exigências quanto à resistência dos esforços mecânicos, à
resistência ao ataque químico de substâncias contidas no esgoto e também quanto à estanqueidade.

Os tanques sépticos devem observar as seguintes distâncias horizontais mínimas:


1,50 m: de construções, limites de terreno, sumidouros, valas de infiltração e ramais de
água;
5,00 m: de poços freáticos e de corpos de água de qualquer natureza;
3,00 m: de árvores e de qualquer ponto de rede pública de abastecimento de água.

Figura 65 – Tubulação de esgoto entupida com raízes

Tabela 6 - Profundidade útil mínima e máxima, por faixa de volume útil


_____________________________________________________________
Volume útil Profundidade Profundidade
(m3) útil min. (m) útil max. (m)
_____________________________________________________________
Até 6,0 1,20 2,20
De 6,0 a 10,0 1,50 2,50
Mais que 10,0 1,80 2,80
_____________________________________________________________
Fonte: NBR. 7229/93
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7.1.5 Número de câmaras


O emprego de câmaras múltiplas em série é recomendado especialmente para os tanques de
volumes pequenos a médios, servindo até 30 pessoas. Para a observância de melhor desempenho
quanto à qualidade dos efluentes, recomendam-se os seguintes números de câmaras:

tanques cilíndricos: até três câmaras em série;


tanques prismáticos retangulares: até duas câmaras em série.

7.1.6 Aberturas de inspeção


Devem ser previstas aberturas, em números e disposição tais que permitam a remoção do
lodo e da escuma acumulados, assim como a desobstrução dos dispositivos internos, conforme
detalhes a seguir indicados:

Figura 66 - Tanques sépticos com única abertura


Fonte: NBR 7229/93

Figura 67 - Tanques sépticos com múltiplas aberturas


Fonte: NBR 7229/93
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7.1.7 Procedimentos e identificações construtivas


Para tanques sépticos de uso doméstico, individuais e coletivos, na faixa de até,
aproximadamente, 6,00 m³, os requisitos de estabilidade são, em geral, atendidos por construções em
alvenaria de tijolo inteiro, devidamente impermeabilizada, ou por concreto armado, moldado no local,
com espessura de 8 cm a 10 cm. É admissível também o uso de outros materiais e componentes pré-
fabricados, como anéis de concreto armado, componentes de poliéster armado com fibra de vidro e
chapas metálicas revestidas. A laje de fundo deve ser executada, preferencialmente, antes da
construção das paredes.

Devem, ainda, conter placa de identificação gravada em lugar visível, com informações sobre
o nome do fabricante, critério de dimensionamento, faixa de temperatura ambiente, número de usuários
e intervalos de limpeza. Antes de entrar em funcionamento, o tanque séptico deve ser submetido ao
ensaio de estanqueidade, realizado após ele ter sido saturado por no mínimo 24 horas.

Figura 68 - Tanque séptico de forma prismática retangular, em construção

7.1.8 Procedimento de limpeza dos tanques


O lodo e a escuma acumulados nos tanques devem ser removidos a intervalos equivalentes
ao período de limpeza do projeto, conforme a Tabela 3. O intervalo pode ser encurtado ou alongado
quanto aos parâmetros de projeto, sempre que se verificarem alterações nas vazões efetivas de
trabalho com relação às estimadas.

Quando da remoção do lodo digerido, cerca de 10% de seu volume devem ser deixados no
interior do tanque. A remoção periódica de lodo e escuma deve ser feita por profissionais que
disponham de equipamentos adequados, para garantir o não contato direto entre pessoas e lodo.

Anteriormente a qualquer operação que venha a ser realizada no interior dos tanques, as
tampas devem ser mantidas abertas por tempo suficiente à remoção de gases tóxicos ou explosivos
(mínimo: 5 minutos).

7.1.9 Disposição do lodo e escuma


O lodo e a escuma removidos dos tanques sépticos, em nenhuma hipótese podem ser
lançados em corpos de água ou galerias de águas pluviais. O lançamento do lodo digerido, em
estações de tratamento de esgotos ou em pontos determinados da rede coletora de esgotos, é sujeito à
aprovação e regulamentação por parte do órgão responsável pelo esgotamento sanitário local.

No caso de tanques sépticos para atendimento a comunidades isoladas, deve ser prevista a
implantação de leitos de secagem, localizados em cota adequada à disposição final ou ao retorno dos
efluentes líquidos para os tanques. O lodo seco pode ser disposto em aterro sanitário, usina de
compostagem ou campo agrícola, neste caso, só quando não voltado ao cultivo de hortaliças, frutas
rasteiras e legumes consumidos crus.
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Exercício 7.12

Projetar um sistema de Tanque Séptico para o tratamento do efluente líquido do edifício


“Residencial Marina” (padrão médio) de 3 pavimentos, com 2 apartamentos (de 2 dormitórios) em cada
pavimento, localizado no Município de Taubaté/SP. Prever o intervalo anual para limpeza do tanque
séptico, o qual deverá ser de câmara única e forma prismática.

Solução
Dimensionamento:

Fórmula (NBR 7229/93): Vu = 1000 + N (C T + k . Lf) onde:

Vu = volume útil do tanque séptico (L);


N = número de pessoas ou unidades de contribuição;
C .= contribuição de despejos (L/pessoa.dia ou L/unidade.dia) – tabela 3;
T .= período de detenção hidráulica (dias) – tabela 4;
K .= taxa de acumulação de lodo digerido ou tempo de acumulação do lodo fresco (dias) – tabela 5;
temperatura média anual em Taubaté (fig. D5 da NBR 13969/97) = 20 °C;
Lf.= contribuição do lodo fresco (L/pessoa.dia) – tabela 3.

O número de pessoas (habitantes) será:


N = 2 habitantes/dorm. x 2 dorm./apto. x 2 apto./pavto. x 3 pavtos. ⇒ N = 24 habitantes

Substituindo os valores, na fórmula, tem-se:


Vu = 1000 + 24 (130 x 0,83 + 65 x 1,00) .´. Vu = 5149,60 L = 5,14960 m³

3
A tabela 6 recomenda que, para Vútil até 6,00 m , a profundidade (h) deverá ser de 1,20 m a 2,20 m.
Adotando a profundidade h = 1,50 m e a largura w = 1,20 m teremos seguinte volume útil:

Vu = L x w x h .’. 5,14960 = L x 1,20 x 1,50 ⇒ L ≅ 2,86 m ⇒ adotou-se L = 2,90 m

Portanto, as dimensões úteis do Tanque Séptico, serão:


3
L = 2,90 m ; w = 1,20 m ; h = 1,50 m e o Vcorrigido = 5,22 m

Verificações:

• Relação L / W = 2,90 / 1,20 ≅ 2,42 (mínimo 2:1 e máximo 4:1);

• Distâncias mínimas:
* 1,50 m: das divisas, de sumidouros e de valas;
* 3,00 m: de árvores e de redes de água;
* 15,00 m: de poços de abastecimento e de corpos d’água.
• Estanqueidade;
• Quando da remoção do lodo deverá ser deixado 10% volume (manual ou pelo tubo sucção);
• Antes da realização de manutenções, a tampa deverá ficar aberta por mais de 5 minutos.
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Projeto:

Figura 69 – Planta do tanque séptico

Figura 70 - Corte Longitudinal do tanque séptico

Exercício 7.13

Projetar um sistema de Tanque Séptico para o tratamento do efluente líquido da Cantina Di


Fiori (sem lavanderia), localizada no Município de Taubaté/SP, que possuirá 7 funcionários e deverá
servir 150 refeições diárias. Prever o intervalo anual para limpeza do tanque séptico, o qual deverá ser
de câmara única e forma prismática.

Solução
Dimensionamento:

Fórmula (NBR 7229/93): Vu = 1000 + N (C T + k . Lf) onde:

Vu = volume útil do tanque séptico (L)


N = número de pessoas ou unidades de contribuição
C = contribuição de despejos (L/pessoa.dia ou L/unidade.dia) – tabela 3
T = período de detenção hidráulica (dias) – tabela 4
K = tx. de acumulação de lodo digerido ou tempo de acumulação do lodo fresco (dias) – tabela 5
temperatura média anual em Taubaté (fig. D5 da NBR 13969/97) = 20 °C
Lf = contribuição do lodo fresco (L/pessoa.dia) – tabela 3

Substituindo na fórmula, os valores referentes às refeições e aos funcionários, tem-se:

Vu = 1000 + { }{
150 (25 x 0,83 + 65 x 0,10) + 7 (70 x 1 + 65 x 0,30) } .´. Vu = 5714,00 L = 5,714 m³
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3
A tabela 6 recomenda que, para Vútil até 6,00 m , a profundidade deverá ser de 1,20 m a 2,20 m

Adotando a profundidade h = 1,50 m e a largura w = 1,20 m teremos seguinte volume útil:

Vu = L x w x h .´. 5,714 = L x 1,20 x 1,50 ⇒ L ≅ 3,17 m ⇒ adotou-se L = 3,20 m

Portanto, as dimensões úteis do Tanque Séptico, serão:


3
L = 3,20 m ; w = 1,20 m ; h = 1,50 m e o Vcorrigido = 5,76 m

E a altura total será: H = h + 0,05 + Φ + 0,05 + 0,05 = 1,50 + 0,05 + 0,10 + 0,05 + 0,05 ⇒ H = 1,75 m

Verificações: Vide os itens já relacionados no exercício anterior.

Projeto: Vide as figuras (planta e corte) já detalhadas no exercício anterior.

7.2 TRATAMENTO COMPLEMENTAR DOS EFLUENTES LÍQUIDOS DO TANQUE SÉPTICO

A NBR. 13969, de setembro de 1997, da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT


oferece alternativas de procedimentos técnicos para o projeto, construção e operação de unidades de
tratamento complementar e disposição final dos efluentes líquidos de tanque séptico, para o tratamento
local de esgotos. Tais alternativas devem ser selecionadas de acordo com as necessidades e
condições locais onde é implantado o sistema de tratamento.

Conforme as necessidades locais, as alternativas podem ser utilizadas complementarmente


entre si, para atender ao maior rigor legal ou para efetiva proteção do manancial hídrico, a critério do
órgão fiscalizador.

É importante que sejam avaliados padrões de emissão estabelecidos nas leis, necessidade de
proteção do manancial hídrico da área circunvizinha, disponibilidade da água etc., para seleção das
alternativas que compõem o sistema local de tratamento de esgotos.

A seguir, estão detalhadas algumas alternativas técnicas mais usuais para o tratamento
complementar do efluente oriundo do tanque séptico, antes de ser lançado em algum corpo receptor.

7.2.1 Filtro anaeróbio (de leito fixo com fluxo ascendente)


O filtro anaeróbio consiste em um reator biológico onde o esgoto é depurado por meio de
microrganismos anaeróbios, dispersos tanto no espaço vazio do reator quanto nas superfícies do meio
filtrante que são utilizados para a retenção dos sólidos.

Todo processo anaeróbio, é bastante afetado pela variação de temperatura do esgoto, portanto,
a sua aplicação deve ser feita de modo criterioso. O processo é eficiente na redução de cargas
orgânicas elevadas (70 a 90% DBO), desde que as outras condições sejam satisfatórias. Os efluentes
do filtro anaeróbio podem exalar odores e ter cor escura.

O material filtrante utilizado deve ser brita, peças de plástico (em anéis ou estruturados) ou
outros materiais resistentes ao meio agressivo.

O filtro anaeróbio deve possuir uma cobertura em laje de concreto, com a tampa de inspeção
localizada em cima do tubo-guia para drenagem. Esta pode ser substituída pela camada de brita, nos
casos de se ter tubos perfurados para coleta de efluentes e onde não houver acesso de pessoas,
animais, carros ou problemas com odor, com a parede sobressalente acima do solo, de modo a impedir
o ingresso de águas superficiais.
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Figura 71 - Filtro anaeróbio tipo circular com entrada única


Fonte: NBR. 13969/97

O dimensionamento do filtro anaeróbio é obtido pela equação:

Vu = 1,6 N . C . T onde:

Vu = volume útil do leito filtrante (L). Obs: mínimo 1000 L;


N = número de contribuintes;
C = contribuição de despejos (L / habitantes.dia) - tabela 7;
T = tempo de detenção hidráulica (dias) - tabela 8.

Obs: Deve ser prevista uma perda hidráulica (desnível) de 0,10 m entre o nível mínimo do tanque
séptico e o nível máximo do filtro anaeróbio.
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Tabela 7 - Contribuição diária de despejos e de carga orgânica por tipo de prédio e de ocupantes
_________________________________________________________________________________
Prédio Unidade Contribuição de esgoto Contribuição de carga org.
(L/dia) (g DBO5,20 / dia)
_________________________________________________________________________________
Ocupantes Permanentes
Residência alto padrão pessoa 160 50
Residência médio padrão pessoa 130 45
Residência baixo padrão pessoa 100 40
Hotel (menos lavanderia e coz) pessoa 100 30
Alojamento provisório pessoa 80 30
Ocupantes Temporários
Fábrica em geral pessoa 70 25
Escritório pessoa 50 25
Edifício público/comercial pessoa 50 25
Escolas (ext)/locais longa perm. pessoa 50 20
Bares pessoa 6 6
Restaurantes e similares pessoa 25 25
Teatros, cin., locais curta perm. lugar 2 1
Sanitários Públicos* bacia sanit. 480 120
_________________________________________________________________________________
* Apenas de acesso aberto ao público (estação rodoviária, ferroviária, logradouro público, estádio
esportivo etc.)
Fonte: NBR. 13969/97

Tabela 8 - Tempo de detenção hidráulica (T), por faixa de vazão e temperatura do esgoto (em dias)
_________________________________________________________________________________
Vazão Temperatura média do mês mais frio
(L/dia) Abaixo 15º C Entre 15º C e 25º C Maior 25º C
_________________________________________________________________________________
Até 1500 1,17 1,00 0,92
De 1501 a 3000 1,08 0,92 0,83
De 3001 a 4500 1,00 0,83 0,75
De 4501 a 6000 0,92 0,75 0,67
De 6001 a 7500 0,83 0,67 0,58
De 7501 a 9000 0,75 0,58 0,50
Acima 9000 0,75 0,50 0,50
_________________________________________________________________________________
Fonte: NBR 13969/97

Exercício 7.14

Para o efluente líquido proveniente do mesmo Tanque Séptico já projetado para o edifício
“Residencial Marina”, localizado no Município de Taubaté/SP (exercício 7.12), solicita-se:

a) Prever o Tratamento Complementar, através de Filtro Anaeróbio (de Leito Fixo com Fluxo
Ascendente), para posterior lançamento do efluente final, no Ribeirão Verde localizado junto a uma
das divisas do imóvel;
b) Considerando a contribuição unitária de 45 g DBO/pessoa . dia, calcular a carga total de DBO
gerada diariamente pelos habitantes do edifício;
c) Determinar a Concentração (C) de DBO no efluente bruto (sem tratamento) gerado pelos habitantes
do edifício;
d) Estimar a Concentração (C final) de DBO no efluente final (proveniente do conjunto Tanque Séptico +
Filtro Anaeróbio), considerando os valores do Quadro 13;
e) Determinar a Concentração (CC) de Cloro, que deverá ser aplicado no Tanque de Contato, para que
o efluente final atenda ao Padrão de Emissão de DBO estabelecido pelo Decreto Estadual nº.
8468/76.
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Solução
a) Filtro Anaeróbio de forma circular, com entrada única de esgoto

Dimensionamento:

Fórmula (NBR 13969/97): Vu = 1,6 N . C . T onde:

Vu = volume útil do leito filtrante (L);


N = número de pessoas ou unidades de contribuição;
C = contribuição de despejos (L/pessoa.dia ou L/pessoa.un.) – tabela 7;
T = período de detenção hidráulica (dias) – tabela 8.

Substituindo os valores, na fórmula, tem-se:

Vu = 1,6 x 24 x 130 x 0,83 .´. Vu = 4143,36 L

A NBR 13969/97 recomenda que:

• O volume útil mínimo do leito filtrante, deve ser de 1000,00 L;

• A altura do leito filtrante, já incluindo o fundo falso, deve ser limitada a 1,20 m.
Adotando a altura do leito filtrante (h) como 1,20 m, tem-se:

Φint ≅ 2,10 m
2 2
Vu = π . Φint . h .’. Φint = 4 . Vu = 4 x 4,14336 ⇒
4 π.h 1,20 . π

E a altura total do filtro anaeróbio será: H = h + h1 + h2 onde:

H = altura total do filtro anaeróbio, (m)

H = altura do leito, já incluindo a altura do fundo falso, limitada a 1,20 m pela NBR 13969/97, (m)

h1 = altura da calha coletora, (m)

h2 = altura sobressalente – variável, (m)

Substituindo os valores, tem-se: H = 1,20 + 0,10 + 0,20 = 1,50 m

Portanto, as dimensões úteis do Filtro Anaeróbio, serão:

Φint = 2,10 m e as Alturas: h = 1,20 m ; h1 = 0,10 m ; h2 = 0,20 m e H = 1,50 m

Observações:

• A altura do fundo falso deve ser limitada a 0,60 m, já incluindo a espessura da laje;
• A perda de carga hidráulica (desnível) prevista entre o nível mínimo no tanque séptico e o nível
máximo no filtro anaeróbio deve ser de 0,10 m;
• O material do leito filtrante deve ser: brita (nº 3 e 4), peças de plásticos ou outros materiais
resistentes ao meio agressivo;
• Material de construção: concreto armado, plástico ou fibra de vidro de altas resistências;
• O filtro anaeróbio deve ser limpo sempre que se observar a obstrução do leito filtrante, sendo
os despejos encaminhados a uma ETE;
• Deverá constar no filtro anaeróbio, uma placa de identificação contendo os seguintes dados
construtivos: nome, data, NBR, Volume útil e número de contribuintes.
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Projeto:

Figura 72 – Plantas e corte do filtro anaeróbio tipo circular com entrada única

b) Carga total de DBO gerada diariamente pelos habitantes do edifício

Carga de DBO = 45 g/habitante . dia x 24 habitantes = 1080,00 g/dia

c) Concentração (C) de DBO no efluente gerado pelos habitantes do edifício

C = Carga total de DBO . 1000 = 1080,00 g/dia x 1000 ≅ 346,15 mg/L


Vazão total 24 hab x 130 L/hab x dia

d) Concentração (C final) de DBO no efluente final (após Tanque Séptico + Filtro


Anaeróbio)

Quadro 13 - Faixas de remoção dos poluentes para o conjunto “tanque séptico + filtro anaeróbio” (%)
Sólidos Não Sólidos Nitrogênio
DBO5,20 DQO Fosfato
Filtráveis Sedimentáveis Amoniacal
40 a 75 40 a 70 60 a 90 > 70 - 20 a 50
Fonte: NBR. 13969/97

Estimando a remoção de 75% da DBO5,20 no efluente final (após Tanque Séptico + Filtro Anaeróbio), a
concentração final será de:
C final = 346,15 x (100% - 75%) ≅ 86,54 mg/L

e) Concentração (CC) de Cloro a ser aplicado no Tanque de Contato

Sabendo-se que, para remover 1,00 mg/L de DBO, é necessário 0,50 mg/L de Cloro e que o
padrão (máximo) de emissão de DBO, estabelecido pelo Decreto Estadual nº. 8468/76 é de 60,00 mg/L,
a Concentração de Cloro a ser aplicada no Tanque de Contato deverá ser:

CC = (86,54 – 60,00) x 0,50 = 13,27 mg/L


Observação:
Ver detalhes do Tanque de Contato e do processo de desinfecção adotado (pastilhas), em 7.2.4.
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7.2.2 Filtro aeróbio submerso


É o processo de tratamento de esgoto que utiliza um meio de fixação dos microrganismos,
imerso no reator, sendo o oxigênio necessário fornecido através de ar introduzido por meio de
equipamento. Sua característica é a capacidade de fixar grandes quantidades de microrganismos nas
superfícies do meio, reduzindo o volume do reator biológico, permitindo depuração em nível avançado
de esgoto, sem necessidade de recirculação de lodo, como acontece com o lodo ativado.

Este filtro é composto de duas câmaras, sendo uma de reação e outra de sedimentação. A
câmara de reação pode ser subdividida em outras menores, para a remoção eficiente de poluentes tais
como nitrogênio e fósforo. A câmara de sedimentação deve ser separada da câmara de reação através
de uma parede com abertura na sua parte inferior para permitir o estorno dos sólidos por gravidade. O
esgoto efluente da câmara de reação deve ser introduzido na câmara de sedimentação por meio de
uma passagem com largura mínima de 0,05 m.

Figura 73 - Filtro aeróbio submerso “tipo retangular” (Ex. para cinco pessoas)
Fonte: NBR. 13969/97

O dimensionamento de cada câmara é calculado como segue:

Câmara de reação: Vur = 400 + 0,25 N . C

Câmara de sedimentação: Vus = 150 + 0,20 N . C onde:

V = Volume útil das câmaras [reação/sedimentação] (L);


N = Número de contribuintes;
C = Volume de esgoto (L / pessoa.dia) - tabela 7.
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A área superficial da câm. de sedimentação deve ser calculada pela fórmula: As = 0,07 + N . C onde:
15
As = Área superficial (m²);
N = Número de Contribuintes;
C = Volume de esgoto (L / pessoa.dia) - tabela 7;

Para o cálculo da vazão de ar a ser utilizada câmara de reação, deve ser observada a fórmula:

Qar = 30 N . C onde:
1440

N = Número de contribuintes ao filtro aeróbio submerso;


C = Contribuição de esgoto (L / pessoa.dia) - tabela 7.

Com a vazão de ar, pode-se calcular a potência necessária do soprador e difusores de ar.

7.2.3 Filtros de areia e valas de filtração


São processos de tratamento clássicos, consistindo na filtração do esgoto através da camada
de areia, onde se processa a depuração por meio tanto físico (retenção), quanto bioquímico (oxidação),
devido aos microrganismos fixos nas superfícies dos grãos de areia, sem necessidade de operação e
manutenção complexas.

Este sistema de Filtro de Areia se caracteriza por permitir nível elevado de remoção de
poluentes, podendo ser utilizado nos seguintes casos:

quando o solo ou as condições climáticas do local não recomendam o emprego de vala


de infiltração ou canteiro de infiltração/evapotranspiração ou a sua instalação exige
uma extensa área não disponível;
a legislação sobre as águas dos corpos receptores exige alta remoção dos poluentes
dos efluentes do tanque séptico;
se por diversos motivos, for considerado vantajoso o aproveitamento do efluente
tratado, sendo adotado como unidade de “polimento” dos efluentes dos processos
anteriores.

Os materiais que podem ser utilizados como meio filtrante, conjuntamente ou isoladamente,
são a areia (diâmetro efetivo na faixa de 0,25 mm a 1,2 mm), o pedregulho ou pedra britada;

O filtro de areia deve ser operado de modo a manter condição aeróbia no seu interior. Assim, a
aplicação do efluente deve ser feita de modo intermitente, com o uso de uma pequena bomba ou
dispositivo dosador, permitindo o ingresso de ar através do tubo de coleta durante o período de
repouso. Além da intermitência do fluxo de efluente, deve ser prevista alternância de uso do filtro de
areia para permitir a digestão do material retido no meio filtrante e remoção dos sólidos do filtro de
areia. Logo, devem ser previstas duas unidades, cada uma com capacidade plena de filtração.

A taxa de aplicação para cálculo da área superficial do filtro de areia deve ser limitada a 100 L /
m2 . dia, quando da aplicação direta dos efluentes do tanque séptico; 200 L /m2 . dia para efluente do
processo aeróbio de tratamento. Para locais cuja temperatura média mensal de esgoto é inferior a
10°C, aquela taxas devem ser limitadas, respectivamente, a 50 L / m2 . dia e 100 L / m2 . dia.

Figura 74 - Filtro de areia “tipo circular”


Fonte: NBR. 13969/97
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O sistema de Vala de Filtração se diferencia do filtro de areia por não possuir área superficial
exposta ao tempo, sendo construído no próprio solo, podendo ter suas paredes impermeáveis. Os
materiais que podem ser utilizados como meio filtrante, conjuntamente ou isoladamente, são:

areia, com diâmetro efetivo de 0,25 mm a 1,2 mm, com índice de uniformidade inferior a 4;
pedregulho ou pedra britada.

A taxa de aplicação do efluente não deve ser superior a 100 L / m2 . dia, para efluente do
tanque séptico, área relativa à superfície horizontal de apoio das tubulações. Os intervalos de aplicação
de efluente do tanque séptico em vala de filtração não devem ser inferiores a 6 horas. A vala de
filtração deve ser operada, de forma intermitente, em condições aeróbias, através tubos de ventilação
protegidos contra o ingresso de insetos.

Figura 75 - Detalhes de uma vala de filtração típica


Fonte: NBR. 13969/97

7.2.4 Desinfecção
Todos os efluentes que tenham como destino final os corpos superficiais devem sofrer
desinfecção conforme a qualidade do corpo receptor e as diretrizes do órgão ambiental. Dentre as
alternativas mais simples e que necessitam de menor nível operacional para a desinfecção de efluentes
de Tratamentos Locais de Esgotos, está a cloração realizada por gotejamento (hipoclorito de sódio) ou
por pastilha (hipoclorito de cálcio).
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A quantidade necessária de Cloro é de 0,50 mg/L para remover 1,00 mg/L de DBO presentes
nos esgotos domésticos para um tempo de contato (detenção hidráulica) de 15 a 30 minutos.

A garantia de que o tempo de contato será atendido, é dado pela passagem do efluente a ser
clorado num Tanque de Contato (Tanque de Desinfecção), o qual deve ser dimensionado, de forma a
reter o líquido no tempo especificado, através da fórmula: Vu = N . C ÷ n onde:

Vu = volume útil do tanque (L);


N = número de pessoas ou unidades de contribuição;
C = contribuição de despejos (L/pessoa.dia ou L/pessoa.un.) – tabela 7.
n = número de ciclos (diários) de contato.

Os Tanques de Contato com chicanas evitam curtos-circuitos entre os fluxos e, asseguram a


permanência pelo tempo desejado. Deve ser mantida uma velocidade horizontal mínima entre 2,50 a
7,50 cm/s, a fim de evitar a sedimentação de sólidos, devendo, também, ser previstas descargas de
fundo e limpeza periódica dos tanques.

Figura 76 - Clorador de pastilha e tanque de contato


Fonte: NBR.13969/97

Exercício 7.15

Dimensionar um Tanque de Contato (forma cilíndrica) para um clorador de pastilhas, que deve
ser instalado antes do efluente final (proveniente do conjunto Tanque Séptico + Filtro Anaeróbio -
exercício 7.14 - Residencial Marina) ser lançado no Ribeirão Verde.

Solução
Dimensionamento:

Fórmula (NBR 7229/93): Vu = N . C ÷ n onde:

Vu = volume útil do tanque de contato (L)


N .= número de pessoas ou unidades de contribuição
C = contribuição de despejos (L/pessoa.dia ou L/unidade.dia) – tabela 7
n = número de ciclos (diários) de contato
Adotando o tempo de contato de 30 minutos (o que promove o total de 48 ciclos em 24 horas) e
substituindo os valores, na fórmula, tem-se:

Vu = 24 x 130 ÷ 48 ⇒ Vu = 65,00 L

Fixando o diâmetro interno (Φint) em 0,50 m, teremos a seguinte altura útil (hu):

hu = Vu ÷ Área int = [65,00 ÷ 1000] ÷ [π x (0,50)² ÷ 4] ≈ 0,33 m ⇒ hu = 0,35 m

Portanto, as dimensões úteis do Tanque de Contato para um clorador de pastilhas a ser instalado
no sistema de tratamento de esgoto do “Residencial Marina”, serão: Φint = 0,50 m e hu = 0,35 m
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7.3 DISPOSIÇÃO FINAL DOS EFLUENTES LÍQUIDOS DO TANQUE SÉPTICO, NO


SUBSOLO
A disposição de esgotos domésticos no subsolo constitui-se em prática natural, pois pesquisas
arqueológicas registraram que, há cerca de 6000 anos, os habitantes de Suméria (considerada a
civilização mais antiga da humanidade, localizava-se na parte sul da Mesopotâmia) descarregavam
seus esgotos em covas com profundidades de 12 a 15 metros. Com o tempo essa técnica
desenvolveu-se sendo, nos dias de hoje, praticada através do:

7.3.1 Sumidouro (Poço absorvente)


O sumidouro é a unidade de depuração e de disposição final do efluente de tanque séptico
verticalizado em relação à vala de infiltração, que é horizontalizada. Devido a esta característica, seu
uso é favorável somente nas áreas onde o aqüífero é profundo, onde possa garantir a distância mínima
de 1,50 m (exceto areia) entre o seu fundo e o nível máximo do aqüífero.

É o tratamento/disposição final do esgoto que consiste na percolação do mesmo no solo, onde


ocorre a depuração devido aos processos físicos (retenção de sólidos) e bioquímicos (oxidação). Como
utiliza o solo como meio filtrante, seu desempenho depende grandemente das características do solo, e
do grau de saturação por água. A capacidade de percolação (K) e a taxa de aplicação (infiltração) do
solo devem ser determinadas através do teste descrito no Anexo “A”, da NBR. 13969/97, o qual se
encontra no final do presente trabalho.

Por tornar-se difícil manter condições aeróbias no interior do poço, a obstrução das superfícies
internas do sumidouro é mais precoce. No entanto, sendo o sumidouro uma unidade geralmente
verticalizada, é freqüente à ocorrência de diversas camadas com características distintas,
necessitando, normalmente, de se proceder a apuração da capacidade de infiltração para cada
camada, para depois obter a capacidade média de percolação (K médio).

Figura 77 - Sumidouro cilíndrico sem / com enchimento e Cx. de distribuição - plantas e cortes
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Em região arenosa, com baixo valor de K (menor que 500 min/m), para garantir a proteção do
aqüífero no solo, deve ser prevista uma camada filtrante envolvendo o sumidouro com solo, de modo a
ter um K > 500 min/m, conforme representado na figura a seguir.

Figura 78 - Sumidouro cilíndrico com proteção - Planta e corte

Para o cálculo da área de infiltração (Ai) deve ser considerada a área vertical interna abaixo da
geratriz inferior da tubulação de lançamento do afluente no sumidouro (Av), acrescida da superfície do
fundo (Af), onde: Ai = Av + Af = Vazão diária esgoto ÷ Taxa de aplicação do solo.

Figura 79 - Exemplos de instalação de sumidouros, conforme o nível do aqüífero


Fonte: NBR. 13969/97
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Exercício 7.16

Caso não existisse o Ribeirão Verde junto à divisa do “Residencial Marina”, localizado no
Município de Taubaté/SP (exercício 7.14), uma das soluções seria projetar um sistema de Sumidouros
(Poços Absorventes) para a disposição final do efluente do mesmo Tanque Séptico. Sabe-se que o
subsolo do local é constituído de “Silte Argiloso Amarelo”, com a taxa máxima de aplicação de 49,52
2
L/m .dia (Anexo A) e que o nível máximo do Lençol Freático está a 5,00 m de profundidade da
superfície.

Solução
Dimensionamento:

Área Total (necessária para infiltração): AT = Volume do efluente


Taxa max. aplicação do solo

2
AT = N.C = 24 x 130 ⇒ AT = 63,00 m
Taxa max. aplicação do solo 49,52

Projetando 2 Sumidouros de formas cilíndricas, com profundidade útil (hu) de 3,00 m (com o fundo
(2,00 m acima do Lençol Freático), teremos a seguinte Área Total de infiltração (AT) de cada
Sumidouro:

2
AT = A fundo + A lateral = π . R + 2,00 . π . R . hu

Substituindo os valores, na fórmula, tem-se:


2
63,00 = π . R + 2,00 . π . R . 3,00 (÷ π)
2,00
2
63,00 = R + 2,00 . R . 3,00
2,00 . π
1/2

2
R + 6,00 R – 10,03 = 0 .’. R = - 6,00 +- { 2
(6,00) - 4 x (- 10,03) }≅ 1,36 m ⇒ adotou-se R = 1,40 m
2,00

Portanto, as dimensões úteis de cada um dos 2 Sumidouros, serão:

Φint = 2,80 m e hútil = 3,00 m

B.8.c. - Caixa de Distribuição.

Observações: Ver figuras da NBR 13969/97

B. 22.a. - Sistema Tq. Séptico + Sumidouro.


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Projeto:

Figura 80 – Localização e planta dos sumidouros e da caixa de distribuição

Figura 81 - Corte longitudinal do sumidouro e da caixa de distribuição

7.3.2 Vala de infiltração


A vala de infiltração pode ser utilizada para disposição final do efluente líquido do tanque
séptico doméstico em locais com boa disponibilidade de área para sua instalação e com remota
possibilidade, presente ou futura, de contaminação do aqüífero, os quais deverão estar distanciados, no
mínimo, a 1,50m do fundo das valas. Para preservar, ainda mais, os aqüíferos, o número máximo
instalável deste sistema é limitado a 10 unidades por hectare.

Os critérios e as considerações principais seguem, também, aquelas relativas ao do poço


absorvente, exceto no que tange ao processo anaeróbio, uma vez que o processo no interior das valas
é aeróbio.

O sistema de vala de infiltração deve ser construído e operado de modo a manter a condição
aeróbia no seu interior, devendo ser previstos tubos de exaustão e o uso alternado das valas, cada uma
com 100% da capacidade total necessária. Na medida do possível, deve ser adotado o sistema de
aplicação intermitente (6 horas), para melhorar a eficiência do tratamento e durabilidade do sistema de
infiltração.
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Figura 82 – Detalhes de uma vala de infiltração


Fonte: NBR. 13969/97

A vala de infiltração deve ser dimensionada considerando:

a mesma vazão diária adotada para o cálculo do tanque séptico;

a área de infiltração (Ai) corresponde à soma das áreas das superfícies laterais (Al) e
de fundo (Af) situadas no nível inferior ao tubo de distribuição do esgoto, onde:

Ai = Al + Af = Vazão diária esg. ÷ Taxa de aplicação do solo

Observaçoes:

os tubos de distribuição devem ter diâmetro de 100 mm, com cavas laterais de diâmetro de
0,01 m;

a declividade do tubo de distribuição deve ser de 0,003 m/m para aplicação por gravidade
contínua;

sempre que possível, deve-se optar por conduto forçado, com distribuição intermitente do
esgoto, ao invés de distribuição contínua por gravidade. Nesse caso, a inclinação pode ser
zero;

os materiais de enchimento da vala de infiltração podem ser britas até o número 4;

à distância, em planta, dos eixos centrais das valas em paralelo, não deve ser inferior a 2,00 m.
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Exercício 7.17

Caso não existisse o Ribeirão Verde junto à divisa do “Residencial Marina” localizado no
Município de Taubaté/SP (exercício 7.14) e, ainda, se o nível máximo do Lençol Freático estivesse a
3,30 m de profundidade da superfície, a solução seria projetar um sistema de Vala de Infiltração para o
efluente do mesmo Tanque Séptico, já se conhecendo que o subsolo do local é constituído de “Silte
2
Argiloso Amarelo”, com a taxa máxima de aplicação de 49,52 L/m . dia (Anexo A).

Solução
Dimensionamento:

Área Total (necessária para infiltração): AT = Volume do efluente


Taxa max. aplicação do solo
2
AT = N.C = 24 x 130 ⇒ AT = 63,00 m
Taxa max. aplicação do solo 49,52

Considerando como área de infiltração da vala, a superfície do fundo e as suas duas superfícies

laterais situadas abaixo do nível inferior do tubo de distribuição, teremos:

AT = A fundo + A laterais = L . W + 2 (L . hu) onde:


2
AT...área total de infiltração (m );
L ... comprimento da vala (m);
hu......altura útil da vala (m);
w.....largura da vala (m);

Adotando a altura útil da vala (hu) como 1,20 m (mais de 1,50 m acima do Lençol Freático), e a

Largura (w) como 0,60 m (NBR 13969/97 ⇒ W ≥ 0,30 m), tem-se:

63,00 = L . 0,60 + 2,00 (L . 1,20)

63,00 = 0,60 L + 2,40 L + = 3,00 L

L = 63,00 ⇒ L = 21,00 m (NBR 13969/97 ⇒ L < 30,00 m) OK


3,00

Portanto, deve-se implantar 2 valas de infiltração (mínimo estabelecido pela NBR 13969/97),
ambas com altura útil (hu) de 1,20 m, largura (w) de 0,60 m e comprimento (L) de 21,00 m.

Não permitir o plantio de árvores próximas às Valas de Infiltração.


Observações:

Ver figuras B.19 e B.20 da NBR 13969/97.


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Projeto:

Figura 83 - Desenho em planta do tanque séptico e vala de infiltração

Figura 84 - Corte longitudinal da vala de infiltração

Figura 85 - Corte transversal da vala de infiltração


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7.3.3 Canteiro de infiltração e de evapotranspiração


Consiste na disposição final do esgoto, tanto pelo processo de evapotranspiração através das
folhas de vegetação quanto pelo processo infiltrativo no solo. É empregado em locais abertos e com
boa ventilação e iluminação, e em terrenos não propícios à simples infiltração, deve-se substituir o solo
e/ou condições desfavoráveis por solos de melhores características. O canteiro permite também a
evapotranspiração do líquido, reduzindo o volume final do esgoto. O canteiro deve ser coberto de
vegetação com raízes pouco profundas para a proteção do canteiro e para acelerar a
evapotranspiração do líquido. No dimensionamento da área do canteiro deve levar em conta o índice
pluviométrico e a taxa de evapotranspiração disponíveis da região e, ainda, que o esgoto deve ser
aplicado no canteiro de forma intermitente, de modo a permitir até quatro aplicações por dia. .

Figura 86 - Canteiro de infiltração e de evapotranspiração


Fonte: NBR. 13969/97

A vala do canteiro deve ser dimensionada de forma semelhante à vala de infiltração,


enquanto que a altura total do canteiro deve ser definida como segue:
aqüífero raso = o fundo da vala deve estar mais de 1,50 m acima do nível máximo deste;
subsolo com rocha fraturada = o fundo da vala deve estar no mínimo 1,50 m acima da rocha;
solo com alta tx. de percolação = o fundo deve estar no mínimo a 1,50 m acima da superfície;
solo com baixa taxa de percolação = o fundo deve estar no mínimo a 1,50 m da superfície;
a inclinação do talude deve ser de um (vertical) para dois (horizontal), no mínimo.

Para mais detalhes e informações complementares sobre estas e demais unidades de


tratamento complementar e disposição final dos efluentes líquidos de tanques sépticos, deverá ser
consultada a norma NBR. 13969/97, da ABNT, a qual é auto-explicativa e oferece fácil entendimento.
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CAPÍTULO 8

TRATAMENTO COLETIVO DE ESGOTOS SANITÁRIOS

É o sistema onde as distâncias entre as fontes geradoras de esgotos, seu tratamento e


disposição final estão distantes entre si, necessitando de extensas redes, coletores-tronco, poços de
visita, interceptores, estações elevatórias etc. Neste caso, o tratamento é realizado por meio da
denominada ESTAÇÂO DE TRATAMENTO DE ESGOTO – ETE. O Anexo “C” demonstra os tipos de
ETEs existentes em algumas cidades da região paulista do Vale do Paraíba.

Figura 87 - Vista geral da ETE Lavapés, no Município de São José dos Campos / SP

A NBR. 12209, de abril de 1992, da ABNT, define a Estação de Tratamento de Esgoto – ETE,
como o conjunto de unidades de tratamento, equipamentos, órgãos auxiliares acessórios e sistemas de
utilidade cuja finalidade é a redução das cargas poluidoras do esgoto sanitário e o condicionamento da
matéria residual resultante do tratamento.

8.1 OPERAÇÕES UNITÁRIAS UTILIZADAS NO TRATAMENTO DA FASE LÍQUIDA DO ESGOTO

A seguir estão apresentadas, de forma sucinta, as principais características das unidades de


tratamento mais utilizadas na parte líquida dos esgotos sanitários.

8.1.1 Unidade de gradeamento


As grades têm como objetivo a remoção dos sólidos grosseiros (Φ≥ 5 cm), como os materiais
plásticos e papelões constituintes de embalagens. Elas são constituídas de barras de ferro ou aço
paralelas, posicionadas transversalmente no canal de chegada dos esgotos na estação de tratamento,
perpendiculares ou inclinadas, dependendo do dispositivo de remoção do material retido, que pode ser
manual ou mecanizado. As grades devem permitir o escoamento dos esgotos sem produzir grandes
perdas de carga. Elas podem ser classificadas em:

Grades grosseiras: espaçamentos entre barras paralelas de 4 a 10 cm;


Grades médias: espaçamentos entre barras paralelas de 2 a 4 cm;
Grades finas: espaçamentos entre barras paralelas de 1 a 2 cm.
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Figura 88 - Grade estática, de limpeza manual, e dois desarenadores com velocidade controlada
por Calha Parshall

Figura 89 - Grade estática, de limpeza mecanizada


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8.1.2 Unidade de peneiramento


Além das grades descritas, existem também as grades de barras curvas, as peneiras
estáticas e as peneiras rotativas que podem também ser usadas para a remoção de sólidos grosseiros
dos esgotos sanitários.

As peneiras estáticas são bastante utilizadas no pré-condicionamento de esgotos antes do


lançamento em emissários submarinos e também no tratamento de efluentes de matadouros e
frigoríficos, dentre outras aplicações.

As peneiras rotativas também são bastante


utilizadas no tratamento de efluentes líquidos
industriais.

Podem, ainda, ser empregados os trituradores


para reduzir as dimensões dos sólidos
grosseiros a fim de facilitar as operações
subseqüentes do tratamento.

Figura 90 - Peneiras rotativas

8.1.3 Unidade de desarenação (caixa de retenção de areia)


As caixas de areia servem para remover os sólidos com características de sedimentação
semelhantes à da areia, que se introduz nos esgotos principalmente devido à infiltração de água
subterrânea na rede coletora de esgotos.

A "areia" que infiltra no sistema de esgotos sanitários e que danifica equipamentos


eletromecânicos é constituída de partículas com diâmetro de 0,2 a 0,4 mm e massa específica ρ = 2,54
3
ton./m , as quais se sedimentam individualmente nas caixas com velocidade média de 2 cm/s.

A remoção da areia pode ser realizada por meio de sistema Manual, quando se devem ser
projetados dois canais desarenadores paralelos, utilizando-se um deles enquanto que o outro sofre
remoção de areia. Na remoção Mecanizada utilizam-se bandejas de aço removidas por talha e
carretilha, raspadores, sistemas de air lift, parafusos sem fim, bombas, etc. A "areia" retida deve ser
encaminhada para aterro ou ser lavada para outras finalidades.

As caixas de areia são projetadas para uma velocidade média dos esgotos de 0,30 m/s a qual
é mantida aproximadamente constante, apesar das variações de vazão, através da instalação de uma
calha Parshall a jusante. Velocidades baixas, notadamente as inferiores a 0,15 m/s provocam depósito
de matéria orgânica na caixa o que provoca exalação de maus odores devido à decomposição.
Velocidades superiores a 0,40 m/s provocam arraste de areia e redução da quantidade retida.
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Figura 91 - Dois canais desarenadores operados pela manobra de comportas

A figura a seguir, mostra uma situação típica de implantação do tratamento preliminar elevado,
permitindo o caminhamento do esgoto por gravidade para a continuidade do tratamento e facilitando a
remoção da areia retida na caixa.

Figura 92 – Caixa de areia com fundo tronco-piramidal


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Nas ETEs de maior porte, notadamente acima de 250 L/s, é recomendável o uso de caixas de
areia de seção quadrada, em planta, com removedor mecanizado da areia retida, transportador e
lavador. Também neste caso, a taxa de escoamento superficial deverá ser mantida na faixa entre 600 e
3 2
1.300 m /m .dia, com base na vazão máxima horária de esgoto.

Figura 93 - Caixa de areia (vazia) de seção quadrada e remoção mecanizada rotativa

Figura 94 - Caixa de areia, de remoção mecanizada, em operação


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8.1.4 Unidades decantadoras de esgotos


Quando não são usados decantadores formais de concreto armado, são utilizadas lagoas de
decantação ou a sedimentação ocorre no próprio reator biológico. Mais recentemente tem-se estudado
o emprego da flotação com ar dissolvido em algumas aplicações, especialmente associado ao
tratamento físico-químico.

Existem, basicamente, duas formas de decantadores de esgotos: os de secção retangular


(em planta) e escoamento longitudinal, e os de secção circular (em planta), que mais comumente são
alimentados pelo centro e a coleta do esgoto decantado é feita nas bordas dos decantadores, ao longo
da linha da circunferência. Existem também os decantadores circulares de alimentação periférica.

Alguns autores preconizam que para os decantadores primários devem ser utilizados
preferivelmente os de secção retangular, melhores para a assimilação das variações de vazão de
esgotos e, para os decantadores secundários podem ser utilizados os de secção circular, pois nesta
situação a variação de vazão de alimentação é menor e os decantadores circulares são de implantação
mais barata.

Contudo, pode-se também empregar decantadores circulares como primários, atribuindo-lhe


menor eficiência na remoção de DBO.

A remoção do lodo decantado pode ser realizada por equipamentos mecanizados com
estrutura de concreto armado. Os raspadores mecanizados são equipamentos de custo elevado, tanto
os rotativos dos decantadores circulares como especialmente os que são movidos por pontes rolantes
que transladam ao longo do comprimento do decantador retangular.

Os decantadores de forma retangular (em planta) possuem o fundo ligeiramente inclinado


para que o lodo raspado seja direcionado ao poço de lodo, posicionado no início do decantador, de
onde é removido através de bombeamento ou pressão hidrostática. No trecho final do decantador estão
posicionadas, à superfície, as canaletas de coleta do esgoto decantado cujas funções são as de reduzir
a velocidade dos esgotos na região de saída evitando-se a re-suspensão de lodo.

Nestes decantadores pode ser observada também uma tubulação transversal de coleta da
escuma superficial, identificada por Skimmer. As comportas de distribuição dos esgotos no canal de
entrada do decantador têm a função de evitar escoamentos preferenciais.

Nas ETEs de pequeno porte pode-se optar pelo emprego de decantadores sem raspador
mecânico de lodo, derivados dos chamados decantadores Dortmund que são de secção circular (em
planta), mas com o fundo em tronco de cone invertido com paredes bem inclinadas, permitindo que
todo o lodo convirja para um único "poço" de onde o lodo sedimentado pode ser removido por pressão
hidrostática.

Podem também ser utilizados os decantadores desprovidos de remoção mecanizada de lodo,


de secção quadrada (em planta), de fundo com o formato de tronco de pirâmide invertida. Destes,
derivaram os de seção retangular (em planta) com fundos múltiplos tronco-piramidais, conforme visto
na Figura 92.

a) Decantadores primários de esgoto


Nos decantadores primários, sob as condições de escoamento normalmente adotadas em
seus projetos, ocorre a remoção de 40 a 60% de sólidos em suspensão dos esgotos sanitários,
correspondendo a cerca de 30 a 40% da DBO. Até mesmo no tratamento biológico onde se conta com
a mineralização dos compostos orgânicos, o efeito preponderante é a floculação da matéria em estado
coloidal tornando possível sua remoção por sedimentação nos decantadores secundários.
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A figura seguinte mostra um decantador primário de seção retangular, podendo ser


observado o dispositivo de remoção e o poço de lodo.

Figura 95 - Decantador primário, de seção retangular, com o poço e o removedor de lodo


.

A seguir, mostra-se um decantador primário em operação.

Figura 96 - Decantador primário em operação

De acordo com a NBR. 12209/90, os decantadores primários devem ser dimensionados com
base na vazão máxima horária de esgotos sanitários e para vazões de dimensionamento superiores a
250 L/s deve-se empregar mais de um decantador.
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Para a determinação da área de decantação deve-se utilizar como parâmetro a taxa de


escoamento superficial que, na literatura internacional são recomendadas taxas na faixa de 30 a 60
3 2
m /m .dia. A NB. 570 impõe três condições para a adoção da taxa de escoamento superficial para
decantadores primários de esgotos:
3 2
até 60 m /m .dia, só tratamento primário;
3 2
até 80 m /m .dia, seguido de filtros biológicos; e
3 2
até 120 m /m .dia, seguido de lodos ativados
3 2
Costuma-se adotar taxa da ordem de 60 m /m .dia para decantadores primários de sistemas
3 2
de filtros biológicos e de até 90 m /m .dia em sistemas de lodos ativados.

O tempo de detenção hidráulico situa-se entre 1,50 e 3,00 horas, de acordo com a literatura
internacional sobre decantadores primários. E a NB. 570 recomenda tempo de detenção superior à 1,0
hora, com base na vazão máxima de esgotos e inferior a 6,00 horas, com base na vazão média.

Determina-se a área de decantação através da taxa de escoamento superficial e o volume do


decantador através do tempo de detenção. Para decantadores retangulares a relação comprimento
largura deve ser superior a 2:1, sendo típicos valores na faixa de 3:1 a 4:1, ou mais. Obtendo-se área e
volume, pode-se obter a profundidade útil dos decantadores.

As profundidades dos decantadores variam de 2,00 a 4,50 m, sendo mais comuns de 3,00 a
4,00 m. A NB. 12.209/90 impõe que os decantadores devem possuir profundidade superior a 2,00 m.

Um parâmetro importante a ser observado no dimensionamento de decantadores é a taxa de


3 2
escoamento nos vertedores de saída. Recomendam-se valores inferiores a 720 m /m .dia, embora na
prática sejam usados bem valores inferiores.

b) Decantadores secundários de esgotos


A seguir, são mostradas algumas imagens de decantadores secundário:

Figura 96 -implantação de decantador secundário de seção circular, com raspadores rotativos

Figura 97 - Implantação de um decantador secundário de seção circular, com raspadores rotativos


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Figura 98 - Decantador secundário em operação, em um sistema de lodo ativado

Os decantadores secundários (principalmente em sistemas de lodos ativados) têm a função


de separar o lodo do efluente, da forma mais adensada quanto possível. Para isso, além de obedecer
ao limite imposto para a taxa de escoamento superficial, há que respeitar também aos limites para a
taxa de aplicação de sólidos.

Os limites impostos pela NBR. 12209/90 são definidos em função da concentração de sólidos
em suspensão (XT) estabelecida para o tanque de aeração:

* Taxa de escoamento superficial (qA):


3 2 3
qA < 36 m /m .dia ⇒ se XT < 3,00 kg SS/m
3 2 3 3
qA < 24 m /m .dia ⇒ se 3,00 Kg SS/m < XT < 4,50 kg SS/m
3 2 3
qA < 16 m /m .dia ⇒ se XT > 4,50 kg SS/m

qA = Q / AS onde:

Q = Vazão média de esgoto, sem incluir a vazão de retorno de lodo;


AS = Área superficial do decantador secundário.

* Taxa de aplicação de sólidos (GA):

GA = [(Q + Qr) . X ] /AS onde:

Q = Vazão média de esgoto;


Qr = Vazão de retorno de lodo;
AS = Área superficial do decantador secundário.

De acordo com a NBR. 12.209/90, a taxa de aplicação de sólidos no decantador secundário


2 2
de processo de lodo ativado não deverá exceder a 144 kg SS/m .dia (6,00 kg SS/m .hora). É usual o
2
emprego de valores na faixa de 4,00 a 5,00 Kg SS/m .hora.
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8.2 PROCESSOS E SISTEMAS DE TRATAMENTO UTILIZADOS NA FASE LÍQUIDA DO ESGOTO

A seguir estão apresentadas, de forma sucinta, as principais características dos processos e


sistemas de tratamento mais utilizados durante a parte líquida dos esgotos sanitários.

8.2.1 Sistemas de lagoas de estabilização


As denominadas lagoas de estabilização constituem-se tanques construídos diretamente na
terra, os quais recebem os esgotos continuamente, garantindo elevados tempos de detenção (retenção)
e propiciando que mecanismos naturais (auto-depuração ou estabilização natural) degradem a matéria
orgânica e reduzam a concentração de microrganismos. Nesse sistema, não existe a introdução
artificial de oxigênio nem aeração mecânica.

As Lagoas de Estabilização podem ser classificadas em: anaeróbias, facultativas e de


maturação.

a) Lagoas anaeróbias
Podem ser consideradas tratamento primário ou secundário, pois removem a matéria orgânica
e os patogênicos presentes nos esgotos, que recebem continuamente, de modo a manter as condições
anaeróbias do sistema.

A matéria orgânica é convertida, primeiramente por bactérias facultativas, a ácidos voláteis


(ácido acético) e posteriormente, por meio de bactérias estritamente anaeróbias, é definitivamente
oxidada a metano e gás carbônico. Não possuindo oxigênio dissolvido, resulta em um efluente escuro.
Normalmente requerem tratamento complementar.

LAGOAS ANAERÓBIAS
Ausência
H2S de O2

Esgoto
CHONPS Ácidos voláteis CH4 + CO2 + H2O

N Orgânico N Amoniacal Zona


anaeróbia
NO −

3
NO 2

N 2
Sólidos
sedimentáveis SO −2
S (H S )
−2

4 2

Lodo Ácidos orgânicos CO2, NH3, H2S, CH4

Figura 99 - Transformações bioquímicas em lagoas anaeróbias

O nitrogênio orgânico é oxidado a nitrogênio amoniacal e o nitrato pode ser reduzido a


nitrogênio molecular, N2 gasoso. Os fosfatos orgânicos são oxidados a ortofosfatos. A geração de maus
odores ocorre com a redução de sulfato a sulfeto, promovendo a liberação do gás sulfídrico, H2S.

Em projetos, deve-se garantir a distribuição das entradas e das saídas dos esgotos nas lagoas,
dificultando-se a ocorrência de caminhos preferenciais. O rebaixo adicional do fundo da lagoa deve ser
de até ¼ do seu comprimento, para resultar em um ganho de volume para o acúmulo do lodo. E a
inclinação dos taludes é estabelecida em função de estudos geotécnicos.
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b) Lagoas facultativas (fotossintéticas)


As lagoas facultativas são consideradas tratamento secundário, pois removem matéria
orgânica e patogênicos. Constituem-se de escavações com profundidades que permitem a penetração
de luz e a produção de oxigênio, via fotossíntese, em quase toda sua extensão, utilizado pelos
microrganismos heterotróficos na decomposição de matéria orgânica.

Figura 100 - Ilustração do processo de produção do Oxigênio e decomposição da matéria orgânica

Parte dos sólidos dos esgotos se sedimenta e entra em decomposição anaeróbia no fundo da
lagoa, o que a torna facultativa. A ação de ventos sobre a superfície das lagoas também é importante
para a oxigenação, o que torna desejável a manutenção de uma área livre em torno das lagoas.

Os efluentes das lagoas facultativas são mais clarificados e, assim, ocorre boa penetração de
luz. Ela promove boa nitrificação dos esgotos e pequeno aumento na remoção de DBO5.

LAGOAS FACULTATIVAS
Produção
durante o
Vento dia
O2 CO2
O2
Mistura e reaeração

Novas células Algas NH3, PO4, etc


Esgoto Zona
aeróbia
O2 CO2 H2S + 2O2 → H2SO4

Bactérias Novas células


Sólidos NH3, PO4, etc Zona
facultativa
sedimentáveis
Células mortas
Zona
Lodo Ácidos orgânicos CO2, NH3, H2S, CH4 anaeróbia

Figura 101 - Transformações bioquímicas em lagoas facultativas


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Figura 102 - Sistema (três módulos em paralelo) de lagoas anaeróbias seguidas de lagoas facultativas

Na figura seguinte, é demonstrado um sistema com o tratamento preliminar em primeiro plano,


a lagoa anaeróbia em segundo plano e a lagoa facultativa ao fundo.

Figura 103 - Sistema com tratamento preliminar e lagoa anaeróbia seguida de lagoa facultativa
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c) Lagoas de maturação
Consideradas como tratamento terciário, pois removem patogênicos e nutrientes, são
projetadas após os sistemas secundários, com o objetivo de melhorar as condições do efluente final.
São escavações com profundidades que permitem elevados tempos de detenção dos esgotos
e, ainda, a redução dos coliformes devido à incidência da radiação ultravioleta da luz solar.

SISTEMAS DE LAGOAS
DE ESTABILIZAÇÃO
Desinf.
•Sistema australiano
Lagoa Lagoa de
Grade Caixa de areia Lagoa anaeróbia facultativa maturação

Lodo Lodo Rio

•Lagoa facultativa primária Desinf.

Lagoa de
Grade Caixa de areia Lagoa facultativa maturação

Lodo Lodo Rio

Figura 104 - Sistemas de lagoas de estabilização (australiano e lagoa facultativa primária)

Dois principais arranjos podem ser utilizados no Sistema de Lagoas de Estabilização. O


denominado Sistema Australiano que é constituído do tratamento preliminar (grades e
desarenadores), seguido de lagoas anaeróbias, lagoas facultativas secundárias (fotossintéticas) e
de lagoas de maturação. E o Sistema com Lagoa Facultativa Primária é composto de tratamento
preliminar (grades e desarenadores), lagoa facultativa e lagoa de maturação. Neste caso, não inclui
as lagoas anaeróbias e, com isso o sistema ocupa maior área, mas evitam-se as possibilidades de
exalação de maus odores característicos.

Em ambos os sistemas, as unidades centrais são as lagoas facultativas, desprovidas de


aeradores mecânicos, sendo a aeração obtida unicamente através da ventilação superficial e da
fotossíntese das algas.

São chamadas de facultativas devido à sedimentação de partículas no fundo que entram em


decomposição anaeróbia.

As lagoas facultativas podem ou não serem precedidas de lagoas anaeróbias, que provocam
um alívio de carga, e sucedidas de lagoas de maturação, cujo principal objetivo é aumentar o grau de
desinfecção dos esgotos.
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PRINCIPAIS CARCTERÍSTICAS DOS SISTEMAS DE LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO

Apresenta-se, a seguir, uma síntese dos principais parâmetros utilizados para projetos de
sistemas de lagoas de estabilização, válidos para as condições climáticas brasileiras.

Quadro 14 - Principais parâmetros de projeto de lagoas de estabilização


Tipos de Lagoas
Parâmetros de Projeto

Anaeróbias Facultativas Facultativas


Primárias Secundárias
(S. Australiano)
Tempo de detenção (dias) 3–6 15 – 45 10 – 30
Taxa de aplicação superficial
(kg DBO5/ha.d) -- 100 – 350 100 – 350
Taxa de aplicação volumétrica
3
(kg DBO/m .d) 0,10 – 0,35 -- --
Profundidade (m) 3,0 – 5,0 1,5 – 2,0 1,5 – 2,0
Área per capita requerida
2
(m /hab) 0,1 – 0,2 2,0 – 4,0 1,5 – 3,0
Fonte: Von Sperling (2003)

Com relação aos constituintes físico-químicos dos esgotos, o quadro abaixo sintetiza as faixas
de eficiências de remoção para as condições climáticas brasileiras.

Quadro 15 - Faixas de remoção de constituintes físico-químicos em Lagoas de estabilização


Eficiências Típicas de Remoção (%)
Lagoa Lagoa Lagoa Lagoa
Parâmetros Facultativa Anaeróbia + Facultativa + Anaerobia +
Facultativa Maturação Facultativa +
Maturação
DBO 75 – 85 75 – 85 80 – 85 80 – 85
DQO 65 – 80 65 – 80 70 – 83 70 – 83
SST 70 – 80 70 – 80 70 -80 70 -80
Amônia < 50 < 50 40 – 80 40 – 80
Nitrogênio < 60 < 60 40 – 65 40 – 70
Fósforo < 35 < 35 > 40 > 40
Fonte: Von Sperling (2003)

Destaca-se a baixa eficiência, dos sistemas de lagoas de estabilização, na remoção de


nutrientes, nitrogênio e fósforo, o que é interessante sob o ponto de vista agronômico, mas que resulta
na necessidade de tratamento complementar para lançamento em águas naturais.

Com relação aos constituintes biológicos dos esgotos, são apresentadas a seguir, as faixas
esperadas de eficiências de remoção para os respectivos sistemas.
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Quadro 16 - Faixas de eficiências de remoção de organismos patogênicos e de indicadores em


lagoas de estabilização

Eficiências Típicas de Remoção (% ou unidades log removidas)*


Lagoa Lagoa Lagoa Lagoa
Parâmetros Facultativa Anaeróbia + Facultativa + Anaerobia +
Facultativa Maturação Facultativa +
Maturação
Coliformes 90 – 99 90 – 99 99,9 – 99,9 – 99,9999
99,9999
Bactérias 90 – 99 90 – 99 99,9 – 99,9999 99,9 – 99,9999
Patogênicas
Vírus ≤ 90 90 99 – 99,99 99 – 99,99
Cistos de 100 100 100 100
Protozoários
Ovos de 100 100 100 100
Helmintos
Fonte: Von Sperling, 2003 (adaptado)

Destaca-se a singular capacidade dos sistemas de lagoas de estabilização na remoção de


contaminantes como os cistos de protozoários e ovos de helmintos, que normalmente se apresentam
na forma de partículas que atingem a faixa coloidal. O mecanismo de remoção predominante é a
sedimentação.

Se, por um lado, os sistemas de lagoas de estabilização são eficientes na remoção de sólidos
em suspensão dos esgotos e operacionalmente simples, tendo em vista que o lodo formado se
acumula e digere no fundo das lagoas, prescindindo da atividade cotidiana de tratamento de lodo, por
outro lado, quando ocorrem as necessidades periódicas de remoção de lodo, tem-se um problema de
grande porte.

Esta atividade deverá ser adequadamente gerenciada, para que não seja admitido o acúmulo
excessivo de lodo e a conseqüente queda na eficiência do processo de tratamento, e para que as
alternativas de disposição final sejam convenientemente planejadas.

Com o objetivo de subsidiar esta ação, no quadro seguinte, são apresentadas as


características quantitativas e qualitativas dos lodos acumulados nos diversos tipos de lagoas de
estabilização.

Quadro 17 - Taxas de acúmulo e características dos lodos de lagoas de estabilização

Tipos de Lagoas
Parâmetros de Projeto

Anaeróbias Facultativas Facultativas Maturação


Primárias Secundárias

Taxa de acúmulo de lodo 0,02 – 0,10 0,03 – 0,09 0,03 – 0,05 -


(m3/hab.ano)
Intervalo de remoção (anos) <7 > 15 > 20 > 20
Concentração de sólidos
totais no lodo (% ST)* > 10% > 10% > 10% > 10%
Relação SV / ST < 50% < 50% < 50% < 50%
Concentração de coliformes
2 4 2 4 2 4 2 4
no lodo (CF/gST) 10 - 10 10 - 10 10 - 10 10 - 10
Concentração de ovos de
1 3 1 3 1 3 1 3
helmintos no lodo 10 - 10 10 - 10 10 - 10 10 - 10
(ovos/gST)
Fonte: Von Sperling (2003)
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A presença de algas no efluente final é indesejável por fatores estéticos e por razões de saúde,
pois algumas algas apresentam toxicidade em determinadas circunstâncias. Além disso, concorre para
a elevação substancial da concentração de sólidos em suspensão, promovendo estrutura para a
formação de agregados contendo microrganismos e constituindo barreira contra processos de
desinfecção. Sendo assim, para melhorar a qualidade do efluente, é necessária uma etapa adicional de
tratamento, visando à remoção de algas, antes da descarga ou utilização agrícola.

As algas presentes nos sistemas de lagoas de estabilização têm como função a remoção de
nutrientes, sendo o nitrogênio amoniacal o principal deles por ser empregado na síntese celular. O
número de gêneros de algas das lagoas de estabilização é limitado. No geral, pertencem aos gêneros
Phyla Cyanobacteria (algas verde azuladas, atualmente consideradas como bactérias: cianobactérias),
Chlorophyta (algas verdes), Euglenophyta (os flagelados pigmentados) e Bacillariophyta (diatomáceas)

Alguns tipos de tratamento como: filtros de pedra, filtros intermitentes de areia, lagoas com
macrófitas flutuantes, processos físico-químicos à base de coagulação-floculação química com
separação de sólidos por sedimentação ou flotação, entre outros encontrados na literatura, são os mais
recomendados para a remoção das algas em efluentes de lagoas de estabilização.

8.2.2 Sistemas de lagoas aeradas mecanicamente seguidas de lagoas de decantação

Desinf.

Lagoas de
Grade Caixa de areia Lagoas aeradas decantação

Rio
Figura 105 – Fluxograma do sistema de lagoas aeradas mecanicamente seguidas de
lagoas de decantação

Este sistema pode ser entendido como um processo de lodos ativados sem recirculação de
lodo e foi concebido para resolver problemas de sobrecargas em sistemas de lagoas de estabilização.

Não foram incluídas no esquema, acima, as necessidades de remoção e tratamento do lodo,


porém é necessária a previsão de dispositivos de remoção e secagem do lodo acumulado nas lagoas
de decantação.

Na lagoa aerada mecanicamente ocorre a floculação biológica como resultado da interação


entre microrganismos e matéria orgânica, sendo os flocos mantidos em suspensão pela aeração
mecânica, que tem por objetivo principal o suprimento de oxigênio para as reações bioquímicas de
decomposição de matéria orgânica. Porém, não há recirculação de biomassa e, desta forma, não há
necessidade de decantadores de concreto armado com removedores mecânicos de lodo.

Empregam-se como unidades separadoras de sólidos as lagoas de decantação, as quais são


meras escavações taludadas, com profundidade de 3,00 a 4,00 m, que adotam o tempo de detenção
hidráulico mínimo de 1 a 2 dias.

As próprias lagoas aeradas aeróbias são também escavações taludadas, com inclinação
obedecendo a relação 1 : 1,5 a 2 (vertical : horizontal), que podem ser revestidas com concreto magro
para impedir processos erosivos dos taludes e do solo sob os aeradores. Possuem forma quadrada ou
retangular com relação (comprimento : largura) de 2 a 3 : 1.
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O sistema de aeração deve atender uma necessidade mínima de Oxigênio/DBO, podendo ser
constituído de aeradores “superficiais de alta rotação flutuantes” ou de “ar soprado e difuso” distribuído
ao longo do fundo das unidades, de modo a garantir a mistura completa, caracterizando o reator
biológico. Estes aeradores devem girar em sentidos opostos com a finalidade de se obter concordância
de giração dos volumes aerados. Na literatura são descritas duas modalidades de lagoas aeradas
mecanicamente:

aeradas aeróbias (mistura completa);


as facultativas.

Figura 106 - Vista de uma lagoa aerada mecanicamente, com aeradores superficiais de alta rotação
flutuantes

Para a ocorrência de mistura completa do conteúdo da lagoa aerada aeróbia, é necessária a


3
disponibilização de uma densidade de potência de pelo menos 4 w/m . Empregando-se densidades
menores parte do lodo se sedimenta na própria lagoa aerada, entrando em decomposição anaeróbia e
tornando-a facultativa.

Os sistemas de lagoas aeradas mecanicamente seguidas de lagoas de decantação


demonstram-se viáveis para a aplicação em uma faixa ampla de tamanho de municípios, de pequeno a
médios portes e indústrias de papel, de processamento de alimentos, petroquímicas e outras com
despejos de origem orgânica. Seus custos de implantação são mais baixos e a operação é mais
simples que a dos sistemas de lodos ativados.

Remove eficientemente a DBO carbonácea, podendo-se obter 90% após a separação de


sólidos nas lagoas de decantação. A nitrificação dos esgotos não ocorre, bem como a eficiência na
remoção de coliformes fecais dos esgotos é baixa.Os custos do tratamento podem ser reduzidos pela
introdução de reator anaeróbio antes da lagoa aerada. Após se exaurir as possibilidades do uso de
lagoas de estabilização, as lagoas aeradas mecanicamente se constituem em uma opção bastante
viável a ser estudada.

Quadro 18 - Principais características e parâmetros das duas modalidades de Lagoas Aeradas


Características Lagoa Aerada Aeróbia Lagoa Aerada Facultativa
e Parâmetros (Mistura Completa)
Controle de sólidos Todos os sólidos saem junto Não há controle
com o efluente
Concentração de SST na lagoa 100 mg/L a 360 mg/L 50 mg/L a 150 mg/L
SSV / SST 0,70 a 0,80 0,60 a 0,80
Tempo de detenção hidráulica 2,5 a 4 dias (função da 5 a 12 dias
temperatura)
Idade do lodo < 5 dias Alta (devido à sedimentação)
Eficiência na remoção de DBO 90 % 70 % a 80 %
Nitrificação Praticamente nula Pobre
Remoção de Coliformes Muito pobre Esquistossomose
Profundidade da lagoa 2,50 m a 5,00 m 2,50 m a 5,00 m
Necessidade de oxigênio 1,10 a 1,40 kg O2 / kg DBO ----------
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Exercício 8.18

Projetar um Sistema de Lagoa Aerada Aeróbia seguida de Lagoa de Decantação, destinado a


receber os esgotos sanitários de uma cidade com as seguintes características:

* População atendida (final de plano) Pf =59000 habitantes;


* Consumo per capta efetivo de água q = 200,00 L/habitante . dia;
* Coeficiente de retorno C = 0,80;
* Coeficientes de variação de vazões K1 = 1,2 e K2 = 1,5;
* Vazão decorrente de infiltração na rede Qinf = 5,74 L/s;
* Contribuição per capta de DBO c = 0,0054 kg/habitante . dia.

Solução
Para o dimensionamento de “Sistema de Lagoa Aerada Aeróbia seguida de Lagoa de Decantação”
utiliza-se a vazão media total de esgotos, desprezadas as variações de fluxos (k1 e k2), incluindo-se a
vazão decorrente das infiltrações (Qinf ) do subsolo, na rede de esgotos e seus órgãos acessórios.

Qmed = C . Pf . q + Qinf = 0,80 x 59000 x 200,00 + 5,74 ⇒ Qmed = 115,00 L/s = 9936,00 m³/dia
86400 86400

E a carga orgânica de DBO gerada diariamente, corresponde a:

Carga de DBO = carga per capta de DBO x população contribuinte = 0,0054 x 59000
Carga de DBO = 3186,00 kg/dia

a)Lagoas Aeradas Aeróbias


Adotando o tempo de detenção hidráulica em 3 dias (Quadro 18), o volume útil total
necessário para as lagoas aeradas aeróbias (VT laa ), será:

VT laa = Tempo de detenção x Qmed = 3,00 x 9936,00 ⇒ VT laa = 29808,00 m³


Projetando dois módulos em paralelo (mínimo) de Lagoas Aeradas Aeróbias seguidas de
Lagoas de Decantação, pode-se obter o volume útil de cada módulo desta lagoa:

V laa = VT laa ÷ 2 lagoas = 29808,00 ÷ 200 ⇒ V laa = 14904,00 m³


Para o sistema de aeração, a necessidade de oxigênio é estimada em 1,3 kg O2 / kg DBO
(Quadro 18) e, ainda, considerado o funcionamento dos aeradores durante todo o dia (24 horas),
obtém-se a necessidade total de oxigênio para cada Lagoa Aerada Aeróbia:

Nec. O2 = 1,3 x Carga de DBO = 1,3 x 3186,00 ⇒ Nec. O2 = 172,58 kg O2 / h


24 horas 24

Deverão ser instalados Aeradores Flutuantes (superficiais) de alta rotação com capacidade de
transferência, nas condições de campo, de 0,72 kg O2 / CV . hora (especificação do fabricante).

Logo, a Potência (P) necessária para os aeradores de cada Lagoa Aerada Aeróbia, será:

P = __ Nec. O2_____ ÷ 2 lagoas = 172,58_ ⇒ P ≈ 120,00 CV por lagoa


0,72 kg O2 / CV . hora 0,72 x 2

Portanto, em cada lagoa aerada aeróbia deverão ser instalados 6 aeradores de 20 CV (cada),
perfazendo a Potência Instalada de 120 CV por lagoa e a potência total de 240 CV (duas lagoas).
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Adotando-se a profundidade útil p = 4,00 m, a área útil à “meia profundidade” de cada lagoa
aerada aeróbia, será:

A 1/2p = V laa ÷ p = 14904,00 ÷ 4,00 ⇒ A 1/2p = 3726,00 m²


Os diques se constituirão de taludes inclinados, na relação 1:2 (vertical : horizontal), revestidos
com placas de concreto e borda livre de 0,60 m.

A forma destas lagoas será retangular, com a relação comprimento : largura de 2:1. Assim, as
dimensões à “meia profundidade” de cada lagoa aerada aeróbia, serão:

comprimento = 2_ .´. comprimento = 2 . largura (1)


largura 1

comprimento . largura = A 1/2p (2)

Substituindo (1) em (2), tem-se:

2,00 . largura . largura = 3726,00 m²

Largura = 3726 , 00 / 2 , 00 ⇒ largura ≈ 43,20 m

Sendo: comprimento = 2 . largura = 2 . 43,20 ⇒ comprimento ≈ 86,40 m


E a área útil (corrigida) à meia profundidade de cada lagoa aerada aeróbia, será

A 1/2p = 43,20 x 86,40 ⇒ Ac 1/2p = 3732,48 m²

43,20 m

86,40 m Lagoa de
Efluente
decantação

6 aeradores 20 cv

2,50 m 2,50 m

43,20 m
0,60 m

4,00m 1

Figura 107 - Planta e corte transversal da lagoa aerada aeróbia


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b)Lagoas de decantação
Adotando o tempo de detenção hidráulica em 2 dias (1 a 2 dias), o volume útil total necessário
para as lagoas de decantação (VT ld), será:

VT ld = Tempo de detenção x Qmed = 2,00 x 9936,00 ⇒ VT ld = 19872,00 m³


Projetando, também, dois módulos em paralelo de Lagoas de Decantação, pode-se obter o
volume útil de cada módulo desta lagoa:

V ld = VT ld ÷ 2 lagoas = 19872,00 ÷ 200 ⇒ V ld = 9936,00 m³

Adotando-se a profundidade útil p = 3,50 m (3 a 4 m), a área útil à “meia profundidade” de


cada lagoa de decantação, será:

A 1/2p = V laa ÷ p = 9936,00 ÷ 3,50 ⇒ A 1/2p = 2838,86 m²


Os diques se constituirão de taludes inclinados, também, na relação 1:2 (vertical : horizontal)
revestidos com placas de concreto até 0,50 m abaixo da lâmina líquida e, ainda, borda livre de 0,60 m.

A forma destas lagoas será, também, retangular, com a relação comprimento: largura de 2:1.
Assim, as dimensões à “meia profundidade” de cada lagoa de decantação, serão:

comprimento = 2_ .´. comprimento = 2 . largura (1)


largura 1

comprimento . largura = A 1/2p (2)

Substituindo (1) em (2), tem-se:

2,00 . largura . largura = 2838,86 m²

Largura = 2838 , 86 / 2 , 00 ⇒ largura ≈ 37,70 m

Sendo: comprimento = 2 . largura = 2 x 37,70 ⇒ comprimento ≈ 75,40 m


E a área útil (corrigida) à “meia profundidade” de cada lagoa de decantação, será

A 1/2p = 37,70 x 75,40 ⇒ Ac 1/2p = 2842,58 m²


Desinf.

37,70 m
Lagoa 75,40 m
aerada Corpo d’agua
aeróbia

2,50 m 2,50 m

37,70 m
0,60 m

3,50m 1

Figura 108 - Planta e corte transversal da lagoa de decantação


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Com o objetivo de facilitar a escolha da melhor alternativa para as características de cada


projeto, é apresentado a seguir, o resumo das principais vantagens e desvantagens de cada sistema de
lagoas.

Tabela 9 - Principais vantagens e desvantagens de cada sistema de lagoas de estabilização

Fonte: Von Sperling (1995)


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8.2.3 Sistema de valos de oxidação

Retorno (parcial) do lodo

Desinf.
Caixa
de
Grade areia Aerador Decantador
Secundário

Excesso
Valo de lodo

Rio
Secagem

Água retirada do lodo

Lodo “seco”

Figura 109 - Sistema de valos de oxidação

Os valos de oxidação foram desenvolvidos na Holanda e se prestam, normalmente, para


tratamento de esgotos de localidades de pequenos e médios portes e que não disponham de grandes
áreas para a instalação de sistemas de tratamento.

O esgoto bruto, após passar por gradeamento e desarenação, entra em um canal (valo) de
pouca profundidade (1,00 a 1,50 m), onde um sistema de aeradores mecânicos “aera” o líquido e o
mantém em circulação contínua.

Trata-se de um sistema de tratamento biológico e de aeração extremamente simples, a qual é


realizada geralmente através de um aerador de eixo horizontal.

O efluente final apresenta alta eficiência na remoção da matéria orgânica (cerca de 90%) com
tempos de detenção hidráulica da ordem de um dia.

Uma das vantagens de sua utilização se dá pelo fato desse sistema não possuir decantador
primário. Após o valo de oxidação pode haver um decantador secundário, do qual parte do seu lodo
decantado retorna ao valo e a outra parte (excesso) deve ser encaminhada para o tratamento (fase
sólida) e disposição final.

Eventualmente, o próprio valo pode ser utilizado como decantador, interrompendo-se


periodicamente a aeração. Neste caso, o lodo é produzido em pequenas quantidades e já estabilizado,
não necessitando de posterior digestão.

Dependendo da disponibilidade de áreas pode-se, também, utilizar uma lagoa de polimento


após o valo de oxidação, a fim de assegurar um efluente final com melhores características.
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8.2.4 Processo de lodo ativado convencional (fluxo contínuo)


Lodo ativado é o floco produzido num esgoto bruto, ou decantado, pelo crescimento de
bactérias zoogleias (bactérias aglutinadas entre si que produzem massa viscosa) ou outros organismos,
na presença de oxigênio dissolvido, e acumulado em concentração suficiente graças ao retorno de
outros flocos previamente formados.

CONVENCIONAL
Figura 110 - Aspecto do lodo ativado Desinf.

Decantador Tanque de Decantador


Grade Caixa de areia Secundário
Primário Aeração

Rio
Água
retirada Adensamento
do
lodo
Digestão

Secagem Lodo “Seco”

Figura 111 - Processo de lodo ativado convencional

Trata-se de um processo é biológico, de fluxo contínuo, em que o esgoto afluente e o lodo


ativado são intimamente misturados, agitados e aerados em unidades denominadas de Tanques de
Aeração, os quais devem ser projetados para que ocorra a floculação biológica sob o maior fator de
carga e a menor idade do lodo. Logo após, os lodos ativados são separados nos decantadores
secundários e retornam para o processo ou são retirados para tratamento específico (Ex:
adensamento, digestão e secagem), enquanto a parte líquida do esgoto, já tratado, passa para o
vertedor do decantador no qual ocorreu a separação.

Os decantadores primários providenciam uma redução da carga orgânica afluente ao


tratamento biológico. Ambos os lodos (primários e secundários) podem ser encaminhados para uma
digestão biológica conjunta. A tabela abaixo demonstra as eficiências típicas nas remoções de DBO e
de SS desse processo.
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Tabela 10 - Eficiências na remoção de DBO e SS


___________________________________________________________________________________
Característica DBO SS
_________________________________________________________________________________
Efluente típico (mg/L) 20 – 40 20 – 30
Remoção típica (%) 75 – 95 85 – 95

Fonte: CETESB (1988)

As principais vantagens desse sistema são:


maior eficiência de tratamento;
menor área ocupada, em relação ao filtro biológico; e
maior flexibilidade de operação.

E dentre as desvantagens, podemos destacar:


necessidade de controle laboratorial;
mão de obra especializada para sua operação; e
maior custo de operação, em relação à filtração biológica.

O sistema de lodo ativado originou-se na Inglaterra em 1913. Por cerca de 30 anos


permaneceu inalterado, só surgindo modificações com o avanço tecnológico e pesquisas de laboratório,
o que levou ao desenvolvimento de diversas variantes do processo original.

8.2.5 Processo de lodo ativado com aeração prolongada


Desinf.

Tanque de Decantador
Grade Caixa de areia Secundário
Aeração

Rio
Água
Adensamento
retirada
do
lodo

Secagem Lodo “Seco”

Figura 112 - Processo de lodo ativado com aeração prolongada

Na variante do sistema de lodo ativado, conhecida por aeração prolongada com oxigênio puro,
não se empregam decantadores primários e o tratamento biológico é dimensionado de forma a produzir
um excesso de lodo mais mineralizado, a fim se dispensar a necessidade de qualquer tipo de digestão
complementar de lodo. Portanto é dispensando os decantadores primários e digestores de lodo.
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EM BATELADA
8.2.6 Processo de lodo ativado, com aeração prolongada, em batelada (fluxo intermitente)
Desinf.

Tanque deAeração
Grade Caixa de areia Decantador Secundário

Água
Adensamento Rio
retirada
do
lodo

Secagem Lodo “Seco”

Figura 113 - Processo de lodo ativado com aeração prolongada em bateladas

São indicados em situações onde ocorrem grandes flutuações de população e,


consequentemente, de carga orgânica. Normalmente se utiliza mais de um tanque de aeração que são
alimentados sob o regime de bateladas sequenciais, isto é, enquanto os esgotos são despejados em
um dos tanques de aeração, nos outros ocorrem, de forma sincronizada, outras operações necessárias
como aeração, decantação e descarga do lodo tratado.

Nesse processo, não se empregam os decantadores secundários e o sistema de retorno do


lodo, sendo a função de separar o lodo do efluente final, também atribuída aos tanques de aeração. É
necessário um grau elevado de automação do sistema para o controle de todas as operações.

Geralmente, tem-se utilizado aeradores superficiais ou ar difuso e o resultado final do


tratamento tem sido um efluente bastante clarificado, apto a receber a desinfecção final.

Figura 114 - Aerador superficial


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Figura 115 - Tanque de aeração superficial em um sistema de lodo ativado em bateladas


.

8.2.7 Sistemas de filtros biológicos aeróbios Desinf.

Decantador Filtros Decantador


Grade Caixa de areia Biológicos Secundário
Primário

Água Rio
retirada
Adensamento
do
lodo

Digestão

Secagem Lodo “Seco”

Figura 116 - Sistemas de filtros biológicos aeróbios

Inicialmente, os Filtros Biológicos (conhecidos como Fossas-Filtros) eram construídos de


tanques cheios de pedregulhos, onde os esgotos eram despejados e retidos por algum tempo,
estabelecendo um ciclo operacional de enchimento e esvaziamento. A operação descontínua, a rápida
colmatação dos espaços vazios e a necessidade de ciclos operacionais, limitaram por muito tempo a
capacidade de tratamento e o uso desse sistema. A sua aplicabilidade só veio aumentar com a
evolução dos modelos de fluxo contínuo, através de dispositivos de distribuição dos esgotos sob o meio
de suporte.

Podemos entender um sistema de tratamento por filtros biológicos aeróbios, simplesmente


substituindo-se as unidades principais do sistema de lodo ativado - os tanques de aeração - pelos filtros
biológicos. Porém, neste caso, normalmente não há necessidade de retorno de lodo.
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Na verdade, a denominação Filtro Biológico, não retrata o processo empregado nesse


sistema, pois o mesmo não realiza qualquer operação de peneiramento ou mesmo de filtração.
Consiste de um leito de percolação feito de material altamente permeável (brita nº. 4 ou material
plástico), por onde o esgoto a ser tratado percola verticalmente, de cima para baixo.

No material de enchimento do leito, forma-se uma película gelatinosa (massa biológica -


também chamada de biofilme) composta por microrganismos que, com a passagem dos esgotos com o
ar, ocorre a sua remoção. E, ainda, com a morte dos organismos mais velhos e o ataque dos
protozoários, larvas e insetos, a essa película, gera uma produção de material floculante, necessitando-
se para tanto de um decantador (secundário) após o filtro.

Figura 117 - Corte esquemático de um filtro biológico. (Fonte: Alem Sobrinho, 2003)

Figura 118 - Filtro biológico percolador com leito de brita


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Recentemente foram desenvolvidas novas modalidades de filtros, os chamados Biofiltros


Aerados de Leito Submerso. Estes filtros diferem dos tradicionais principalmente pela manutenção do
leito afogado e pela inclusão de sistema de aeração por meio de soprador e difusores de bolha grossa
ou tubos perfurados. Além de eficiência elevada na remoção da matéria orgânica carbonácea, as
unidades podem ser dimensionadas de forma a garantir bons níveis de nitrificação dos esgotos.

Figura 119 - Sistema de aeração por de ar difuso (vazio)

Figura 120 - Sistema de aeração por ar difuso (em operação)


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8.2.8 Sistemas com a utilização de reatores anaeróbios


Uma das principais tendências atuais do tratamento de esgotos sanitários reside na inclusão
de uma etapa inicial de tratamento anaeróbio, e o reator anaeróbio que mais se tem utilizado é o UASB
(Upflow Anaerobic Sludge Slanket), que em português é conhecido como RAFA (Reator Anaeróbio de
Fluxo Ascendente) ou DAFA (Digestor Anaeróbio de Fluxo Ascendente).

Figura 121 – Desenho esquemático de um reator UASB

Este sistema possui as mesmas limitações inerentes aos processos anaeróbios (baixa
eficiência e controle operacional especializado), porém ocupa áreas reduzidas, sendo indicado para
efluentes com elevada carga orgânica. Os custos de implantação dos reatores anaeróbios podem ser
considerados baixos, mas a principal vantagem deve-se a não necessidade de aeração.

Esta tecnologia tem como um dos grandes atrativos a menor produção de lodo e o menor
gasto de energia, do que as que decorrem de processos aeróbios como lodos ativados ou filtros
biológicos.

A produção de gás pode ser considerada um benefício, pela possibilidade de purificação e


emprego do metano como fonte de energia, mas isto não se viabiliza facilmente. Ao contrário, o gás
resultante do processo anaeróbio constitui uma das principais limitações operacionais, devido à
produção de pequenas quantidades de siloxanos e gás sulfídrico (H2S), suficientes para produzir
grandes incômodos às populações circunvizinhas pela proliferação de mau odor. Além disso, o gás
sulfídrico provoca corrosão e consequentes prejuízos à conservação das instalações.

A eficiência na remoção da DBO é mais baixa do que a dos processos aeróbios,


demandando tratamento complementar, e a nitrificação é nula. As associações com processos aeróbios
de polimento são recomendáveis, podendo-se empregar lodo ativado, filtros biológicos aeróbios, lagoas
fotossintéticas, lagoas aeradas mecanicamente, ou processos físico-químicos como os à base de
coagulação e floculação com separação posterior de sólidos por sedimentação ou flotação.

Essas associações são vantajosas tanto técnica como economicamente, ganhando-se na


produção de lodo e na eficiência de remoção de nitrogênio e fósforo, principalmente.
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a) Sistema UASB + lodos ativados


Rio
Desinf.

Tratamento Reator Tanque de Decantador


Preliminar UASB Aeração Secundário

Retorno de Lodo
Excesso de Lodos Ativados
Filtrado

Desidrata
ção final
Lodo
“Seco”
Figura 122 - Sistema com reator UASB seguido de lodos ativados

Dentre as vantagens dessa associação podem ser destacados: o reator UASB promove uma
redução de carga de DBO bem superior à do decantador primário (65% contra 30%); o lodo ativado
pode trabalhar na faixa convencional com digestão complementar do excesso no próprio reator UASB,
eliminando-se a necessidade de um digestor específico de lodo; o UASB promove o adensamento do
lodo, eliminando também a necessidade desta etapa.

Como desvantagens, podem ser relacionadas: necessidade de controle de odores ofensivos


emanados do processo anaeróbio e falta de carbono orgânico para a desnitrificação do esgoto, quando
esta é necessária e posicionada (câmaras anóxicas de pré-desnitrificação) entre o reator UASB e o
processo de lodo ativado, recebendo o lodo nitrificado retornado deste último.

b) Sistema UASB + Sistemas de filtros biológicos aeróbios Desinf.

Reator Filtros Decantador


Grade Caixa de areia Biológicos Secundário
UASB

Retorno de Lodo
Rio
Lodo

Secagem

Lodo “Seco”
PHD-2411 Saneamento I 18
Figura 123 - Sistema com reator UASB e filtro biológico aeróbio

A avaliação das vantagens e desvantagens desta concepção é bem parecida com a


anteriormente feita para o arranjo com reator UASB seguido de lodo ativado.

Os filtros biológicos aeróbios podem operar como leitos percoladores, sem afogamento com
os esgotos e sob ventilação natural, ou como aerados de leitos submersos, afogados e com aeração
forçada.
Neste último caso, pode-se proceder ao retorno de lodo do decantador para o tanque de
aeração e obter-se a nitrificação do esgoto.
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8.2.9 Sistema com disposição oceânica


Também, tem se constituído em uma eficiente alternativa para as cidades litorâneas, o
sistema com disposição em alto mar.

Figura 124 – Esquema de um sistema de disposição oceânica de esgotos sanitários

Esse sistema, após um pré-tratamento (em terra) a fim de adequar os efluentes a serem
lançados à capacidade de autodepuração do oceano, consiste em utilizar o potencial existente na
natureza, através das massas d’água oceânicas que apresentam enorme quantidade de energia devido
à sua intensa movimentação, das correntes marinhas derivadas das diferenças de densidade de suas
águas, dos ventos e, também, da maré.

Os oceanos possuem uma enorme disponibilidade de oxigênio que aliados à capacidade de


autodepuração e difusão turbulenta apresentam-se como elemento hostil – os principais são os raios
ultravioletas e os predadores – à sobrevivência de bactérias e vírus mais comumente encontrados nos
esgotos sanitários. Devido ao movimento das águas e a existência de bactérias marinhas, a flora e a
fauna bentônicas não sofrem grandes influencias e nem se modificam com a presença dos campos dos
lodos dos esgotos. Quanto à presença de sólidos, óleos e graxas, estes devem ser retidos durante a
fase do pré-tratamento (Estação de Pré-Condicionamento), antes de lançá-los ao mar.

Ao estudar a dispersão desses efluentes em ambientes marinhos, o conhecimento da


hidrodinâmica costeira se faz necessário e os trabalhos de coletas de dados e informações são de
custos elevados, justificando então a aplicação da modelação matemática da circulação de corrente, de
maré induzidas pelo vento. Eventualmente, em lançamentos de efluentes industriais, com grandes
vazões, como o de uma usina nuclear, também são utilizados os modelos físicos.

O primeiro sistema de disposição oceânica de esgotos sanitários foi implantado em 1911, no


Canadá, para atender a uma vazão de 2,60 m³/s, 1760 metros de extensão, com material em concreto
armado e trecho em aço revestido por concreto, cujo diâmetro interno era de 1,50 m e dotado de 120
difusores com 0,10 m de diâmetro.

No Brasil, em 1914, com a inauguração da Ponte Pênsil, projetada pelo Eng° Francisco
Saturnino Rodrigues de Brito – Patrono da Engenharia Sanitária – teve início o sistema de emissário
que transportaria os esgotos dos municípios de Santos e São Vicente (SP) e os lançaria ao mar.

Muito embora o litoral brasileiro estenda-se por cerca de oito mil quilômetros, em nosso país
existem atualmente algumas dezenas de emissários submarinos e sub-fluviais, dentre os quais os que
relacionados na tabela abaixo.
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Tabela 11 – Características de alguns dos principais sistemas de disposições


oceânicas no Brasil

Extensão Profundi- Vazão


Diâmetro
do dade de de
LOCAL interno Material
emissário descarga Projeto
(m)
(m) (m) (m³/s)

Belém / PA 0,80 320 05 0,60 Conc.

Fortaleza / CE 1,50 3.372 15 2,80 Aço

Salvador / BA 1,75 2.420 27 5,20 Conc.

Vitória / ES 1,50 4.035 29 2,10 Conc.

Niterói / RJ 1,40 3.505 20 2,20 Conc.

Ipanema / RJ 2,40 4.325 26 12,00 Conc.

B. da Tijuca / RJ 1,50 4.000 36 3,50 Aço

Boa Vista / RR 0,35 1.250 - - PAD

Poá / RS 1,26 733 12 2,70 Aço

Manaus / AM 1,00 3.600 - 2,20 PAD

Ara / ES 1,00 1.100 - 2,00 PPL

Santos / SP 1,75 4.000 10 7,00 Aço


Fonte: Botafogo, 2005
LEGENDA: CONC = Concreto; AÇO = Aço revestido em concreto;
PAD = Polietileno de alta densidade;
PPL = Polipropileno.

Figura 125 – Obras do prolongamento do emissário submarino em Santos / SP


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Figura 126 – Obras do emissário submarino da Barra da Tijuca / RJ

Figura 127 - Processo de execução do emissário submarino em Salvador / BA

Figura 128 - Processo de imersão do emissário submarino em Ilha Bela / SP


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8.2.10 Desinfecção final dos efluentes


A desinfecção dos efluentes de uma Estação de Tratamento de Esgotos é necessária quando
o corpo d’água receptor deve ser protegido por servir para usos públicos, tais como recreação em
lagos, rios e praias litorâneas ou quando são utilizados para irrigação agrícola, resfriamento em
processos industriais etc. Além da inativação dos microrganismos patogênicos, a desinfecção também
visa: controlar odores, reduzir a carga orgânica do efluente, auxiliar nos processos de filtração biológica
e de lodos ativados, auxiliar no controle do tratamento e disposição final do lodo etc.

Os compostos de cloro (gasoso, hipoclorito de cálcio, e hipoclorito de sódio) vinham sendo os


preferidos na desinfecção, não só para as águas de abastecimento, mas, também, para as águas
residuárias, até que na década de 70 descobriu-se que algumas substâncias orgânicas, como fenóis,
ácidos húmicos e fúlvicos, podem atuar como precursores na formação de Trihalometanos (THMs) e
outros subprodutos tóxicos. Como resultado, as práticas de desinfecção à base de cloro foram
colocadas sob discussão e outros métodos baseados em diferentes substâncias químicas têm sido
mais pesquisados e gradualmente empregados, tais como: ozônio, permanganato de potássio,
radiação ultravioleta, compostos de bromo etc.

8.3 SISTEMAS E OPERAÇÕES UNITÁRIAS UTILIZADAS NA FASE SÓLIDA (LODO) DO ESGOTO

O tratamento de esgotos, em última instância, culmina com a concentração da fase sólida,


denominada “lodo” que, no caso dos esgotos sanitários, apresenta-se como um líquido com baixa
concentração de sólidos (1 a 5% em peso) e densidade próxima a 1. Este lodo é separado
principalmente em decantadores primários ou secundários. Até mesmo no tratamento biológico, onde
efetivamente ocorre degradação biológica de matéria orgânica, conta-se com a separação do excesso
do lodo concentrado no fundo dos decantadores secundários de sistemas de lodos ativados ou filtros
biológicos. Aliás, a produção de lodo constitui importante diferencial na escolha do sistema de
tratamento.

Enquanto que sistemas exclusivamente aeróbios, como lodos ativados ou filtros biológicos de
alta taxa, podem produzir de 0,6 a 0,8 kg SS / kg DBO aplicada, a produção de lodo em sistemas
anaeróbios, como um reator UASB, é de apenas cerca de 0,2 kg SS/ kg DQO aplicada. Mesmo um
sistema misto anaeróbio/aeróbio leva a uma menor produção de lodo que um sistema exclusivamente
aeróbio. Essa vantagem é muito importante nos dias de hoje, uma vez que além de reduzir as
necessidades de tratamento, as dificuldades com a disposição final do lodo costumam ser muito
grandes.

Os sistemas de tratamento de lodo podem ser subdividos em quatro etapas principais


(Adensamento, Estabilização, Condicionamento e Remoção da Umidade), embora dependendo do
sistema de tratamento de esgotos adotado, algumas delas podem ser suprimidas. É o caso, por
exemplo, do sistema de lodos ativados com aeração prolongada, onde o processo opera em uma faixa
que a digestão do excesso de lodo pode ser dispensada. Os lodos descartados de reatores UASB
também dispensam adensamento e digestão complementar. O adensamento de lodo pode não ser
obrigatório em sistemas de lodos ativados ou filtros biológicos aeróbios mas, exceto em sistemas de
pequeno porte, sua inclusão se viabiliza pelos benefícios trazidos às unidades posteriores do
tratamento de lodo. Quando o tratamento de esgotos é feito por sistemas de lagoas, o processo opera
de forma que os lodos adensam e digerem nos próprios fundos das lagoas de estabilização ou de
decantação, no caso dos sistemas de lagoas aeradas mecanicamente. O problema passa a ser como
produzir mecanismos de remoção de lodo e para a desidratação final antes de ser enviado para
disposição.

A seguir, estão apresentadas, de forma sucinta, as principais unidades, atualmente


empregadas, no tratamento da fase sólida (lodo) dos esgotos.
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8.3.1 ADENSAMENTO
A finalidade principal do adensamento (também chamado de espessamento) é a redução do
volume a ser processado e consequentemente dos custos de implantação e operação das unidades
subsequentes de digestão e secagem do lodo. Geralmente são utilizados para a concentração de
sólidos provenientes dos decantadores primário, secundário e dos digestores.

As unidades de adensamento sem o auxílio direto de equipamentos mecânicos (como


centrífugas e prensas) podem ser dos tipos:

a) Adensadores por gravidade


Tem sido prática comum a operação de pré-adensamento diretamente nos decantadores
primário com poços de acumulação do lodo, com concentração de sólidos de 5 a 6%. Todavia, tal
procedimento não tem alcançado resultados muito satisfatórios, devido à dificuldade do adensamento,
por gravidade, do lodo biológico, que exige profundidades entre 3,00 a 6,00 metros. Assim, a unidade
de adensamento deve compor a fase sólida do tratamento, a qual deve ser completada com as demais
unidades de digestão secundária, centrifuga e prensa.

Figura 129 - Adensador por gravidade (vazio)

O principal fator de dimensionamento dos adensadores por gravidade é a taxa de aplicação de


sólidos, que é o fluxo de massa de sólidos aplicados por unidade de área superficial dos adensadores.
Depende do tipo de lodo a ser adensado, sendo propostas as seguintes faixas de valores:

Quadro 19 - Taxa de aplicação de sólidos em função do tipo de lodo


Tipo de Lodo Taxa de Aplicação de Sólidos Teor de Sólidos no Lodo
2
(kgSS/m .dia) Adensado
(%)
Primário 100 – 150 6 – 12
Filtro Biológico 40 – 50 4 – 10
Lodos Ativados 20 – 40 1,5 – 4,0
Primário + Filtro Biológico 60 – 100 4 – 10
Primário + Lodos Ativados 40 – 80 3 – 10
Fonte: Hespanhol (1986)
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b) Adensadores por flotação


O adensamento por flotação com ar dissolvido pode ser uma alternativa interessante para o
adensamento do excesso de lodos biológicos, pois resultam em teores de sólidos superiores aos dos
lodos adensados por gravidade e podem ser aplicadas maiores cargas de lodo por área superficial de
adensadores, resultando na necessidade de menores áreas de adensadores. Esse processo é regido
pelos mesmos critérios da sedimentação de sólidos, porém é processada no sentido inverso, para
remoção de gorduras, óleos, materiais graxos e sólidos em suspensão.

O adensamento mais utilizado é o que processa a separação líquido-sólido através de ar


difuso promovido pela injeção de bolhas de gás (usualmente ar) na massa líquida. Nesse processo,
parte do efluente final, isto é, do esgoto tratado, alimenta o tanque de pressurização onde o ar é
2
injetado (pressão de cerca de 4,0 kgf/cm ) e dissolve-se no líquido na forma de micro-bolhas. Em
seguida, é misturado com o lodo à entrada (pelo fundo) da câmara de flotação, sendo a remoção
realizada por raspagem do lodo adensado na parte superior do líquido, para retornar à entrada da ETE.

Figura 130 - Esquema de um adensador por flotação com ar difuso

8.3.2 ESTABILIZAÇÃO
A estabilização (redução do volume) do lodo do esgoto é processada através do fenômeno
natural de mineralização da matéria orgânica, convertendo parte do material putrescível em líquidos,
sólidos dissolvidos e subprodutos gasosos, destruindo alguns microrganismos patogênicos e reduzindo,
também, o volume de sólido seco do esgoto.

Em função da presença de oxigênio livre, esse processo de tratamento biológico do lodo, pode
ser realizado por meio das seguintes modalidades:

a) Digestão anaeróbia
Constitui-se em um processo bioquímico (fermentação natural), onde diversos grupos de
organismos anaeróbios e facultativos assimilam e destroem a matéria orgânica. Normalmente os
sólidos em suspensão, fixos e voláteis, são removidos dos esgotos e processados em unidades
denominadas de digestores, reatores biológicos ou biodigestores, os quais permitem o aproveitamento
do gás gerado na digestão.
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Figura 131 - Tipos de digestores anaeróbios


Fonte: Nuvolari (2003)

Figura 132 - Vista geral de digestores anaeróbios

b) Digestão aeróbia
Trata-se de um processo de oxidação bioquímica dos sólidos biodegradáveis contidos nos
esgotos, com abundância de oxigênio dissolvido na massa líquida, favorecendo a atividade de bactérias
aeróbias à formação de matéria orgânica estabilizada (lodo digerido), gás carbônico e água. Não produz
odores e possui alta eficiência na remoção de organismos patogênicos, além de reduzir o material
graxo. A digestão aeróbia, normalmente, restringe-se às Estações de Tratamento de Esgoto de
pequeno porte.
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8.3.3 CONDICIONAMENTO
O condicionamento do lodo pode ser:

a) Térmico
Consiste em aquecer o lodo sob uma temperatura que varia de 140 a 205˚C, durante curtos
períodos de tempos (30minutos), sob pressões de 1 a 2 MPa. Como resultado obtém-se a coagulação
dos sólidos, a esterilização e a desodorização do lodo.

b) Químico
Quando se emprega equipamentos mecânicos (filtros-prensa ou centrífugas) é necessário o
condicionamento químico do lodo, utilizando-se polímeros, cal ou cloreto férrico, com a finalidade de
melhorar a separação sólido-líquido. Após essa operação, este material é chamado de “torta”.

8.3.4 REMOÇÃO DA UMIDADE


O tratamento da fase líquida e os processos de estabilização do lodo geram um material de
alto teor de umidade, tornando necessária a sua desidratação através de um dos seguintes processos:

a) Secagem natural

a1) Leitos de secagem


São tanques, geralmente retangulares, compostos de camadas drenantes (suporte, meio
filtrante e sistema de drenagem) e cobertura (opcional) que recebem o lodo dos digestores (aeróbio ou
anaeróbio), processando a redução da umidade por meio da drenagem, e a evaporação da água é
liberada durante o período de secagem. Para a determinação da área necessária de leitos de secagem,
a NBR. 12209/90 preconiza uma taxa de aplicação de sólidos que não poderá ultrapassar a 15 kg SS /
2 2
m x ciclo. Em nossa região são utilizadas taxas de 10 a 12 kg SS / m x ciclo. Determinada a área total
de leitos, a mesma é subdivida em certo número de leitos que não deverão ser muito grandes.

Figura 133 - Corte esquemático de um leito de secagem

Figura 134 - Leitos de secagem de lodo


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b) Secagem mecanizada
Empregada quando a secagem natural não pode ser praticada por insuficiência de área ou
devido às condições meteorológicas. Podem ser:

b1) Filtro a vácuo


Tem tido pouca aplicabilidade devido à baixa eficiência de remoção da umidade, da
necessidade de uso de floculadores e das dificuldades operacionais.

b2) Filtro prensa


É muito eficiente na desidratação do lodo (alta redução da umidade), gerando “tortas” com
35% de sólidos. Sua desvantagem é ter de operar em batelada, obrigando a presença de operador.

Entrada do lodo do
tanque adensador

Saídas
laterais s de
líquido Formação da
Torta

Figura 135 - Esquema do funcionamento do filtro-prensa de placas

Figura 136 - Filtro-prensa de placas


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b3) Filtro esteira


Opera com menor eficiência na remoção da umidade, permitindo obter “tortas” com cerca de
20% de sólidos. Possui como vantagem, a operação contínua e o uso de polieletrólitos (fácil manuseio
e aplicação), ao invés de cal e floculantes como nos filtros prensa.

Figura 137 - Filtro-esteira

b4) Centrífugas
Permitem a obtenção de “tortas” com cerca de 30% de sólidos. Existem dois tipos de
centrífugas usadas na desidratação do lodo:

* as de fluxo de contra corrente, em que a fase líquida e a fase sólida escoam em sentidos contrários
carreando os sólidos mais pesados às paredes internas do tambor, enquanto a fase líquida escoa para
ser retirada pela extremidade externa. Os sólidos separados são, então, separados pela ação de um
parafuso sem fim e retirados como “tortas”.

* as de fluxo em co-corrente, em que as fases líquidas e sólidas escoam no mesmo sentido. Os


sólidos após atravessarem toda a extensão da centrífuga, são retirados.

Figura 138 - Decanter centrífugo

b5) Redução Térmica


Os processos mais comuns são: Incineração, que é a combustão completa do lodo
desidratado, em fornos e incineradores específicos; co-incineração, quando a combustão é realizada
juntamente com os resíduos sólidos urbanos ou provenientes dos serviços de saúde. Em ambos os
casos, são geradas cinzas com umidade de cerca de 4%, as quais devem ter uma disposição final
adequada.
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8.3.5 DISPOSIÇÃO FINAL DO LODO


Dentre as soluções possíveis para a disposição final do lodo digerido, pode-se destacar: os

aterros sanitários, juntamente com os resíduos sólidos urbanos;

reutilização agrícola com a aplicação em áreas de reflorestamento e restauração de


vegetações;

reuso industrial na produção de agregados leves para a construção civil, na produção


de cerâmicas etc.

Contudo, deve-se observar que o lodo cru, não digerido, nunca deve ser usado para fins
agrícolas, e o lodo em qualquer estágio não deve ser utilizado em hortas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALEM SOBRINHO, P. Lagoas aeradas – Aspectos Teóricos, Resultados Experimentais, Considerações Sobre Projeto. IV
Curso internacional sobre controle da poluição das águas. Japan International Cooperation Agency - CETESB/São Paulo, 1998.

BOTAFOGO, F. Disposição oceânica de esgotos sanitários; História, teoria e prática. Rio de Janeiro: ABES, 2005.

CHERNICHARO, C.A. Pós-Tratamento de Efluentes de Reatores Anaeróbios. Programa de Pesquisa em Saneamento


Básico – PROSAB. FINEP/CNPq/Caixa Econômica Federal. Rio de Janeiro, 2.000.

COSSÍO, F.Y. Lagunas de Estabilización – Teoría, Diseño, Evaluación y Mantenimiento. Empresa Pública de Teléfonos,
Agua Potable y Alcantarillado – ETAPA/Ecuador, 1993.

GASI, T.M.T. (Coord.). Opções para Tratamento de Esgotos de Pequenas Comunidades. São Paulo: CETESB, 1988.

HESPANHOL, I. Aulas da disciplina Tratamento de Águas Residuárias. Escola Politécnica da USP, 1986.

JORDÃO, E.P. e PESSOA, C.A. Tratamento de Esgotos Domésticos. Rio de Janeiro: ABES. 4a ed. 2005. 932 p.
Manual de Saneamento. 3 ed. rev. Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 2006. 408p.

METCALF & EDDY, Inc. Wastewater Engineering: Treatment, Disposal, Reuse. McGraw-Hill International. 3rd ed., New York,
19.

NUVOLARI, A. (coord.). Esgoto Sanitário: Coleta, Tratamento, Transporte e Reuso Agrícola. SP. Edgard Blucher, 2ª ed. rev.
2011. 562 p.

PIVELI, R. P. Tratamento de Esgotos Sanitários. São Paulo: USP, 2007.

TSUTIYA, M. T. ALÉM SOBRINHO, P. Coleta e transporte de esgoto sanitário. Dep. Eng. Hidráulica e Sanitária da Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo, 2ª ed. 2000. 547 p.

VON SPERLING, M. Critérios e Dados para uma Seleção Preliminar de Sistemas de Tratamento de Esgotos. Revista Bio.
ABES. Jan./Fev.1994.

VON SPERLING, M. Princípios do tratamento biológico de águas residuárias. V2: Princípios básicos do tratamento de esgotos.
Belo Horizonte: DESA - UFMG. 1996. 7ª reimp. 2009. 211 p.

VON SPERLING, M. Princípios do tratamento biológico de águas residuárias. V1: Introdução à qualidade das águas e ao
tratamento de esgotos. Belo Horizonte: DESA - UFMG. 1996. 3 ed. 4ª reimp. 2009. 452 p.

NORMAS BRASILEIRAS:

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7229: Projeto, construção e operação de sistemas de tanques
sépticos. Rio de Janeiro: ABNT, 1993.

_______. NBR 9648: Estudo e concepção de sistemas de esgotos sanitários. Rio de Janeiro: ABNT, 1986.

_______. NBR 9649: Projeto de redes de esgotos. Rio de Janeiro: ABNT, 1986.

_______. NBR 12207: Projeto de interceptores de esgoto sanitário. Rio de Janeiro: ABNT, 1992.

______. NBR 12208: Projeto de estações elevatórias de esgoto sanitário. Rio de Janeiro: ABNT, 1992.

______. NBR 12209: Projeto de estações de tratamento de esgoto sanitário. Rio de Janeiro: ABNT, 1992.

______. NBR 13969: Tanques sépticos – Unidades de tratamento complementar e disposição final dos efluentes líquidos -
Projeto, construção e operação. Rio de Janeiro: ABNT, 1997.
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ANEXO “A” - Procedimento para estimar a capacidade de percolação do solo (K)
Este ensaio deve ser muito bem realizado, pois qualquer desleixo pode resultar em valores distintos para um mesmo tipo de
solo.
O ensaio deve ser precedido de uma simulação da condição de solo saturado (situação crítica no sistema de absorção).
Embora simples, desde que utilizado em conjunto com os ensaios de tato e visual do solo, este ensaio pode ser útil para
avaliação da infiltração do solo. O nível máximo do aquífero na área deve ser conhecido antecipadamente.

1. Instrumentos necessários: relógio/cronômetro; trado d=150 mm; régua para medição do nível d’água e água em
abundância.

2. Procedimentos a serem seguidos são os seguintes:

a) o número de locais de ensaio deve ser no mínimo 3 pontos, distribuídos aproximadamente de modo a cobrir áreas iguais no
local indicado para campo de infiltração (no caso de vala de infiltração);

b) com o trado de diâmetro de 150 mm, escavar uma cava vertical, de modo que o fundo da cava esteja aproximadamente
no mesmo nível previsto para fundos das valas; NOTA - Este nível deve ser determinado, levando em conta a distância
mínima do fundo da vala em relação ao nível máximo do aquífero local (cerca de 1,50m) e cota de saída do efluente de tanque
séptico.

c) retirar os materiais soltos no fundo da cava e cobrir o fundo com cerca de 0,05 m de brita;

d) encher a cava com água até a profundidade de 0,30 m do fundo e manter esta altura durante pelo menos 4 h, completando
com água na medida em que desce o nível. Prolongar para 12 h ou mais se o solo for argiloso;

e) se toda a água inicialmente colocada infiltrar no solo dentro de 10 min., pode-se começar o ensaio imediatamente;

f) exceto para solo arenoso, o ensaio de percolação não deve ser feito 30 h após o início da etapa de saturação do solo;

g) determinar a taxa de percolação como a seguir:


- colocar 0,15 m de água na cava acima da brita. Durante todo o ensaio, não é permitido que o nível da água supere 0,15 m;
- imediatamente após o enchimento, determinar o abaixamento do nível d’água na cava a cada 30 min. (queda do nível) e,
após cada determinação, colocar mais água para retornar ao nível de 0,15 m;
- o ensaio deve prosseguir até que se obtenha diferença de rebaixamento dos níveis entre as duas determinações sucessivas
inferior a 0,015 m, em pelo menos três medições necessariamente;
- no solo arenoso, quando a água colocada se infiltra no período inferior a 30 min., o intervalo entre as leituras deve ser
reduzido para 10 min., durante 1 h; assim sendo, nesse caso, o valor da queda a ser utilizado é aquele da última leitura;

h) calcular a taxa de percolação para cada cava escavada, a partir dos valores apurados, dividindo-se o intervalo de tempo
entre determinações pelo rebaixamento lido na última determinação. Ex - se o intervalo utilizado é de 30 min. e o desnível
apurado é de 0,03m, tem-se a taxa de percolação de 30 / 0,03 = 1000 min/m;

i) o valor médio da taxa de percolação da área é obtido calculando-se a média aritmética dos valores das cavas;

j) o valor real a ser utilizado no cálculo da área necessária da vala de infiltração deve ser o especificado na tabela A.1;

k) A área total para infiltração, corresponde à divisão do volume total diário de esgoto pela tx. máxima de aplicação diária.

Tabela A 1. Conversão de valores de taxa de percolação em taxa de aplicação superficial (coeficiente de infiltração).
______________________________________________________________________________________________________
Taxa de percolação Taxa máxima de Taxa de percolação Taxa máxima de
(K) aplicação diária (k) aplicação diária
min / m m3 / m2 . d min / m m3 / m2 . d
______________________________________________________________________________________________________
40 ou menos 0,20 400 0,065
80 0,14 600 0,053
120 0,12 1200 0,037
160 0,10 1400 0 032
200 0,09 2400 0,024
_________________________________________________________________________________________________

Tabela A 2. Possíveis faixas de variação do coeficiente de infiltração (taxa máxima de aplicação diária) do solo.
______________________________________________________________________________________________________
Coeficiente de infiltração ou Absorção
Tipo de solo Tx. max aplicação diária relativa
( L/ m2 . dia )
______________________________________________________________________________________________________
Areia bem selecionada e limpa, variando a areia grossa c/ cascalho. maior que 90 Rápida

Areia fina ou silte argiloso ou solo arenoso com humos e turfas


variando a solos constituídos predominantemente de areia e silte. 60 a 90 Média

Argila arenosa e/ou siltosa, variando a areia argilosa ou silte


argiloso de cor amarela, vermelha ou marrom. 40 a 60 Vagarosa

Argila de cor amarela, vermelha ou marrom medianamente


compacta, variando a argila pouco siltosa e/ou arenosa. 20 a 40 Semi-impermeável

Rocha, argila compacta de cor branca, cinza ou preta, variando a


rocha alterada e argila medianamente compacta de cor avermelhada. menor que 20 Impermeável
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ANEXO “B” - Resumo dos padrões fixados nas Resoluções CONAMA nºs 357/2005 e 430/2011
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ANEXO “C” - ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ESGOSTO (ETEs) EM CIDADES DO VALE DO PARAÍBA, EM 2014

TIPO DE DESCRIÇÃO BÁSICA DO EQUIPAMENTOS CORPO


NOME DA ETE CIDADE VISÃO GERAL
TRATAMENTO TRATAMENTO BÁSICOS RECEPTOR

CÓRREGO
ETE ESTORIL TAUBATÉ
PIRACANGAGUÁ

ETE MARLENE CÓRREGO DO


TAUBATÉ
MIRANDA ITAIM
A operação é intermitente, no
mesmo tanque, em fases diferentes,
a etapa de reação (aeradores
Aeradores; removedores
ligados - dispensa EE de
LODO ATIVADO - de lodo nos
recirculação) e sedimentação
POR BATELADA adensadores; elevatória ETE
(aeradores desligados - sólidos RIO UNA PINDAMONHANGABA
(fluxo para retorno de ARARETAMA
sedimentam e retira o efluente
intermitente) sobrenadantes e
sobrenadante). Inexiste
drenados.
decantadores secundários.
Desinfecção no efluente final.

ETE RIO PARAÍBA DO


GUARAREMA
GUARAREMA SUL

ETE VISTA
RIO ALAMBARI S.J.CAMPOS
VERDE
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ANEXO “C” - ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ESGOSTO (ETEs) EM CIDADES DO VALE DO PARAÍBA, EM 2014 (CONTINUAÇÃO)

EQUIPAMENTOS NOME DA CORPO


TIPO DE TRATAMENTO DESCRIÇÃO BÁSICA DO TRATAMENTO CIDADE VISÃO GERAL
BÁSICOS ETE RECEPTOR

CACHOEIRA
PAULISTA
CÓRREGO
ETE Embaú
RIO BRANCO

RIO
ETE ARAPEÍ
BARREIRO DE ARAPEÍ
SEDE
BAIXO

O RAFA - Reator Anaeróbio de Fluxo


Aeradores; elevatória
PROCESSO ANAERÓBIO / Ascendente + Filtro Anaeróbio de Fluxo ETE SÃO RIO SAPUCAÍ SÃO BENTO
de recirculação.
PROCESSO AERÓBIO Ascendente + Filtro Biológico Aeróbio BENTO SEDE MIRIM DO SAPUCAÍ
Submerso. Desinfecção no efluente final.

ETE CAPELA
RIO JACU LAVRINHAS
DO JACU

ETE
RIO PIRAÍ JAMBEIRO
JAMBEIRO
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ANEXO “C” - ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ESGOSTO (ETEs) EM CIDADES DO VALE DO PARAÍBA, EM 2014 (CONTINUAÇÃO)

TIPO DE NOME DA CORPO


DESCRIÇÃO BÁSICA DO TRATAMENTO EQUIPAMENTOS BÁSICOS CIDADE VISÃO GERAL
TRATAMENTO ETE RECEPTOR

ETE SÃO
RIO DO
FRANCISCO S.J.CAMPOS
PEIXE
XAVIER

A concentração de biomassa no reator é


bastante elevada, devido à recirculação dos
ETE RIBEIRÃO SÃO BENTO
sólidos (bactérias) sedimentadas no fundo do Aeradores; elevatória de
QUILOMBO QUILOMBO DO SAPUCAÍ
decantador secundário. A biomassa recirculação; removedores de
permanece mais tempo no sistema do que o lodo nos decantadores;
LODO ATIVADO -
líquido, o que garante elevada eficiência na removedores de lodo nos
CONVENCIONAL
remoção da DBO. Há a remoção de lodo na adensadores; equipamento
(fluxo contínuo)
mesma quantidade da produzida, para gás; elevatória para
necessitando ser estabilizado em seu retorno de sobrenadantes e
ETE RIO DO S. LUIZ DO
tratamento. O oxigênio é fornecido por drenados.
CATUÇABA CHAPÉU PARAITINGA
aeradores mecânicos ou por ar difuso.
Desinfecção no efluente final

ETE RIO
LAGOINHA
LAGOINHA BOTUCATU
UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ ▲ Prof. Dr. José Carlos Simões Florençano - 145 -
ANEXO “C” - ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ESGOSTO (ETEs) EM CIDADES DO VALE DO PARAÍBA, EM 2014 (CONTINUAÇÃO)

TIPO DE DESCRIÇÃO BÁSICA DO NOME DA CORPO


EQUIPAMENTOS BÁSICOS CIDADE VISÃO GERAL
TRATAMENTO TRATAMENTO ETE RECEPTOR

CÓRREGO
ETE LAVAPÉS S.J.CAMPOS
CAMBUÍ
Aeradores; elevatória de recirculação;
LODO ATIVADO Idem "Lodo ativado convencional". O removedores de lodo nos
COM OXIGÊNIO oxigênio puro é fornecido através de decantadores; removedores de lodo
PURO (Aeração fábrica de produção in loco ou nos adensadores; equipamento para
prolongada) fornecida em cilindros à estação. gás; elevatória para retorno de
sobrenadantes e drenados.
ETE TAUBATE RIO PARAÍBA
TAUBATE
/ TREMEMBÉ DO SUL

ETE EUGÊNIO RIO


S.J.CAMPOS
DE MELO PARARANGABA
Os mecanismos de remoção de DBO
são similares aos de uma lagoa
facultativa. No entanto, o oxigênio é
LAGOA AERADA Aeradores
fornecido por aeradores mecânicos,
ao invés da fotossíntese. Desinfecção
no efluente final.
ETE LAGOA RIO PARAÍBA
CAÇAPAVA
LESTE DO SUL
UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ ▲ Prof. Dr. José Carlos Simões Florençano - 146 -
ANEXO “C” - ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ESGOSTO (ETEs) EM CIDADES DO VALE DO PARAÍBA, EM 2014 (CONTINUAÇÃO)

EQUIPAMENTOS NOME DA CORPO


TIPO DE TRATAMENTO DESCRIÇÃO BÁSICA DO TRATAMENTO CIDADE VISÃO GERAL
BÁSICOS ETE RECEPTOR

LAGOA RIO PARAÍBA


CAÇAPAVA
OESTE DO SUL

Idem a "Lagoa Aerada". O tanque de


LAGOA AERADA SEGUIDA
sedimentação a jusante permite condições
POR LAGOA DE Aeradores
para a remoção dos sólidos dispersos no meio
SEDIMENTAÇÃO
líquido. Desinfecção do efluente final.

ETE SÃO LUIS RIO SÃO LUIS DO


SEDE PARAITINGA PARAITINGA

Idem a "Lagoa Aerada". A lagoa de


LAGOA AERADA, EM
decantação a jusante permite condições para ETE RIO PARAÍBA
PARALELO, COM 2 Aeradores S.J.CAMPOS
a remoção dos sólidos dispersos no meio URBANOVA DO SUL
LAGOAS DE DECANTAÇÃO
líquido.
UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ ▲ Prof. Dr. José Carlos Simões Florençano - 147 -
ANEXO “C” - ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ESGOSTO (ETEs) EM CIDADES DO VALE DO PARAÍBA, EM 2014 (CONTINUAÇÃO)

TIPO DE EQUIPAMENTOS NOME DA CORPO


DESCRIÇÃO BÁSICA DO TRATAMENTO CIDADE VISÃO GERAL
TRATAMENTO BÁSICOS ETE RECEPTOR

CACHOEIRA
RIO PARAÍBA CACHOEIRA
PAULISTA
DO SUL PAULISTA
SEDE

LAGOA RIO PARAÍBA


CAÇAPAVA
CENTRAL DO SUL

RIBEIRÃO
A DBO solúvel e finamente particulada é estabilizada ETE IGARATÁ DAS IGARATÁ
aerobicamente por bactérias dispersas no meio PALMEIRAS
Somente tratamento
LAGOA DE líquido, ao passo que a DBO suspensa tende a
preliminar (grade;
ESTABILIZAÇÃO sedimentar, sendo estabilizada anaerobicamente por
caixa de areia;
FACULTATIVA bactérias no fundo da lagoa. O oxigênio requerido
medidor de vazão). ETE SANTO
pelas bactérias aeróbias é fornecido pelas algas, por RIBEIRÃO DA ST. ANTÔNIO
fotossíntese. Desinfecção do efluente final. ANTÔNIO DO
PRATA DO PINHAL
PINHAL

RIO
ETE BANANAL BANANAL
BANANAL

RIBEIRÃO
ETE CANAS CANAS
CANAS
UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ ▲ Prof. Dr. José Carlos Simões Florençano - 148 -
ANEXO “C” - ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ESGOSTO (ETEs) EM CIDADES DO VALE DO PARAÍBA, EM 2014 (CONTINUAÇÃO)

TIPO DE EQUIPAMENTOS NOME DA CORPO


DESCRIÇÃO BÁSICA DO TRATAMENTO CIDADE VISÃO GERAL
TRATAMENTO BÁSICOS ETE RECEPTOR

RIO PARAÍBA
ETE (NOVA) PINDAMONHANGABA
DO SUL

ETE RIO PARAÍBA


PINDAMONHANGABA
(ANTIGA) DO SUL

ETE
RIO PARAÍBA
MOREIRA PINDAMONHANGABA
DO SUL
CÉSAR
A DBO é em torno de 50% estabilizada na
lagoa anaeróbia (mais profunda e com
LAGOA ANAERÓBIA Somente tratamento
menor volume), enquanto a DBO ETE
SEGUIDA POR preliminar (grade; caixa CÓRREGO DA
remanescente é removida na lagoa CAÇAPAVA CAÇAPAVA
LAGOA de areia; medidor de BOÇOROCA
facultativa. O sistema ocupa uma área VELHA
FACULTATIVA vazão).
inferior ao de uma lagoa facultativa
única.

ETE RIBEIRÃO
ROSEIRA
ROSEIRA PIRAPITINGÜI

RIO PARAÍBA
ETE LORENA LORENA
DO SUL

ETE RIBEIRÃO
SILVEIRAS
SILVEIRAS SILVEIRAS
UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ ▲ Prof. Dr. José Carlos Simões Florençano - 149 -

ANEXO “C” - ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ESGOSTO (ETEs) EM CIDADES DO VALE DO PARAÍBA, EM 2014 (CONTINUAÇÃO)

TIPO DE EQUIPAMENTOS NOME DA CORPO


DESCRIÇÃO BÁSICA DO TRATAMENTO CIDADE VISÃO GERAL
TRATAMENTO BÁSICOS ETE RECEPTOR

O filtro biológico é um tanque recheado com brita ou


FILTRO Somente tratamento
outro material sólido. Nesses elementos sólidos, em ETE
BIOLÓGICO preliminar (grade; caixa MONTEIRO
suas superfícies, haverá a formação de colônias de MONTEIRO RIO BUQUIRA
AERÓBIO de areia; medidor de LOBATO
bactérias que irão se alimentar de matéria orgânica, LOBATO
(Fossa Filtro) vazão).
mineralizando-a. Desinfecção do efluente final.

O valo de oxidação é um canal de alvenaria ou


concreto, de fundo plano, na forma de um circulo
achatado, onde o esgoto bruto circula durante algumas Aeradores. Elevatória ETE
VALO DE REPRESA REDENÇÃO
horas, impulsionado por aeradores inclinados. Sua para recirculação de REDENÇÃO
OXIDAÇÃO PARAITINGA DA SERRA
eficiência é compatível com as ETEs convencionais, lodo. DA SERRA
podendo chegar a mais de 95%. Desinfecção do
efluente final.

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