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ANÁLISE DA DEMANDA BIOQUÍMICA DE OXIGÊNIO NO RIO

PINHEIROS ENTRE 2009 E 2019 E ATENDIMENTO AOS PARÂMETROS


DE QUALIDADE ÁGUA DO PROJETO NOVO RIO PINHEIROS

Rafaela Rocha Furtado 1 ; Maria Cristina Santana Pereira 2; Mariella Midori Domingues Succi3&
José Rodolfo Scarati Martins 4

RESUMO – A qualidade da água dos corpos hídricos está intimamente associada às ações antrópicas,
especialmente em ambientes urbanos. A alteração acelerada do uso do solo combinada à falta de
infraestrutura para atender às novas demandas resultam na degradação dos corpos hídricos
decorrentes das elevadas cargas poluidoras neles despejadas. A partir dos resultados de análise da
qualidade da água do rio Pinheiros realizados pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo
(CETESB), o estudo analisa os resultados de DBO das amostras de água coletadas em 4 pontos no
rio Pinheiros, entre 2009 e 2019, e comparando-os com os objetivos definidos pelo Programa Novo
Rio Pinheiros. A análise evidenciou que a DBO é sensível às variações de vazões sazonais, e que as
diferenças de consumo de água pela população nas estações do ano e as variáveis climáticas resultam
em diferentes contribuições de cargas poluidoras. Por fim, evidenciou-se que as ações propostas pelo
Programa abordam apenas a poluição pontual, e assim a carga de origem difusa passa a ser
preponderante, o que revela a necessidade de se investir em pesquisas que buscam entender e reduzir
o impacto da poluição difusa em corpos hídricos.

ABSTRACT– The quality of water bodies is closely associated with anthropic actions, mainly in
urban areas. The rapid change in land use combined with the lack of infrastructure to address the new
demands cause the degradation of water bodies resulting from the high pollutant loads dumped.
Evaluate the results of the analysis of the water quality of the Pinheiros River carried out by the
Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB), the study evaluates the BOD results of
the water samples collected at 4 points in the Pinheiros River, between 2009 and 2019 and compared
them with the objectives defined by the project Programa Novo Rio Pinheiros. The analysis highlights
that BOD is sensitive to seasonal flow variations, and that differences in water consumption by the
population in the seasons and climatic variables result in different contributions of polluting loads.
Finally, it was evidenced that the actions proposed by the Program only address point pollution, and
thus a load of diffuse origin becomes preponderant, which reveals the need to invest in research that
seeks to understand and reduce the impact of diffuse pollution in water bodies.

1) Graduanda do Curso de Graduação em Engenharia Civil, Escola Politécnica da USP. Av. Prof. Almeida Prado, nº 83, Edif. Engenharia Civil,
Depto. de Engenharia Hidráulica e Ambiental, Cidade Universitária; CEP 05508-900, São Paulo – SP, Tel. 19 992 593 188, E-mail:
rafaela.furtado@usp.br.
2) Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil (PPGEC), Escola Politécnica da USP. Av. Prof. Almeida Prado, nº 83, Edif.
Engenharia Civil, Depto. de Engenharia Hidráulica e Ambiental, Cidade Universitária; CEP 05508-900, São Paulo – SP, Tel. 11 994 497 426, E-mail:
maripereira@usp.br.
3) Graduanda do Curso de Graduação em Engenharia Ambiental, Escola Politécnica da USP. Av. Prof. Almeida Prado, nº 83, Edif. Engenharia Civil,
Depto. de Engenharia Hidráulica e Ambiental, Cidade Universitária; CEP 05508-900, São Paulo – SP, Tel. 19 992 593 188, E-mail:
mariellasucci@usp.br.
4) Professor Associado no Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental, Escola Politécnica da USP. Av. Prof. Almeida Prado, nº 83, Edif.
Engenharia Civil, Depto. de Engenharia Hidráulica e Ambiental, Cidade Universitária; CEP 05508-900, São Paulo – SP, Tel. 11 3091 5581, E-mail:
scarati@usp.br

XIV Encontro Nacional de Águas Urbanas e IV Simpósio de Revitalização de Rios Urbanos 1


Palavras-Chave – Qualidade da água, poluição pontual, poluição difusa.

INTRODUÇÃO
O processo de urbanização provoca impactos nas dinâmicas ambientais, especialmente quanto
ao ciclo hidrológico; dentre as principais alterações, destacam-se o aumento dos escoamentos
superficiais decorrentes de chuvas, as mudanças quanto aos picos de cheias dos escoamentos, o
aumento da incidência de cheias, a contaminação e a redução de recarga de aquíferos e a deterioração
da qualidade das águas (Li e Jensen, 2018). Tais fatores estão relacionados às transformações do uso
do solo causadas pela expansão das cidades, que englobam o aumento da área impermeável, a
remoção da vegetação, a modificação da drenagem natural das águas e a geração de resíduos e de
poluentes associados às ações antrópicas (Goonetilleke et al., 2005).
Esses processos são acentuados quando a urbanização ocorre de forma acelerada, uma vez que
a infraestrutura necessária para atender às novas demandas não é implantada no mesmo ritmo. O
município de São Paulo passou de cerca de 2,1 milhões de habitantes em 1950 para 10,4 milhões em
2000 (PMSP, 2022), resultando em um crescimento desordenado da capital paulista. O déficit de
infraestrutura é facilmente identificado ao analisar o acesso a saneamento básico; segundo o Censo
de 2010, 8,11% dos domicílios do município de São Paulo não apresentavam ligação com a rede de
coleta de esgoto, o que representava mais de 290 mil domicílios.
Tendo isto em vista e, alinhado ao Plano Plurianual 2020-2023 do Estado de São Paulo - que
incorporou os 17 objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU, o
Governo do Estado de São Paulo desenvolveu o programa Novo Rio Pinheiros, descrito pelo relatório
de apresentação como “um grande programa de saneamento e de revitalização do Rio Pinheiros para
a vida das pessoas, o futuro do planeta e a prosperidade do nosso Estado” (GOVERNO DO ESTADO
DE SÃO PAULO, 2021). Dentre os principais desafios levantados pela proposta do programa, cita-
se a inclusão da população em condições mais vulneráveis aos serviços de saneamento na área que
integra a Bacia do Pinheiros; como principal medida apontada para abordar tal problema, cita-se o
Programa Se Liga na Rede, que promove a ligação de imóveis de famílias de baixa renda à rede de
esgoto local realizada pela Sabesp. Contudo, tal abordagem abrange apenas as chamadas fontes de
poluição pontuais, sem apontar meios de mitigar o impacto da poluição difusa que aporta ao rio e
impacta na qualidade.

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Poluição pontual e Poluição difusa
A poluição pontual é originada por fontes específicas e de fácil determinação, inclui as águas
residuárias resultantes de áreas urbanas e industriais e atingem os corpos hídricos de forma
espacialmente definida; em geral, apresentam certa continuidade de geração e descarte, não estando
associada a variáveis ambientais e meteorológicas. Para controle de tais fontes de poluição, que
incluem os esgotos domésticos, o principal método adotado é a coleta e o tratamento (Novotny, 1995).
Já a poluição difusa é marcada principalmente pela sua variabilidade temporal e espacial (Nogueira,
2020) e é resultante de extensas áreas de contribuição em que eventos meteorológicos são
responsáveis por carrear os poluentes para os corpos hídricos. Dessa maneira, considera-se que suas
fontes são difusas e, portanto, de difícil monitoramento. O controle de tal forma de poluição também
acontece de forma mais dispersa, focando nos usos da terra e nas práticas de manejo de águas pluviais
(Novotny, 1995).
Portanto, pode-se notar que a medida de controle de poluição através da ligação de imóveis à
rede de coleta e tratamento de esgoto, sugerida pelo Projeto, inclui apenas a poluição pontual,
desconsiderado o impacto e a importância crescente que a poluição difusa apresenta como
consequência da expansão da coleta e do tratamento do esgoto e dos usos do solo gradativamente
mais extensos e agressivos.
DBO (Demanda bioquímica de oxigênio)
Um dos parâmetros de análise que é amplamente utilizado para a avaliação da qualidade de
água de corpos hídricos, especialmente aqueles que recebem cargas de poluição oriundas de esgotos
sanitários, é a demanda bioquímica de oxigênio. Esta representa uma indicação da quantidade de
oxigênio necessária para a oxidação de determinada quantidade de matéria orgânica carbonácea; o
oxigênio é consumido por microorganismos durante os processos metabólicos que consomem a
matéria orgânica. Dessa maneira, é uma indicação indireta da quantidade de carbono orgânico
biodegradável presente na amostra analisada (Von Sperling, 2014).
Ainda pode ser relacionada a poluição difusa, pois estudos de estimativas de cargas difusas
indicam que 30% da carga poluidora lançada em rios urbanos é de origem difusa Novotny (2003);
Morihama et al. (2012). Com ações efetivas que reduzem o lançamento de cargas pontuais no rio
Pinheiros, pode-se presumir que as fontes difusas serão responsáveis pela maior contribuição de carga
poluidora (Martins, 2017). Em estudo desenvolvido na Bacia do rio Han, Coreia do Sul, Jang et al.
(2021) encontraram relação positiva entre a DBO e a taxa de escoamento superficial, definida como

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a proporção entre o escoamento superficial anual e a média anual de precipitação na bacia de interesse
(Jang et al, 2021). A utilização da DBO como parâmetro de análise se justifica, portanto, pela
diversidade de fontes da poluição difusa que, consequentemente, resulta em uma ampla relação de
poluentes associados; como principais, pode-se citar os sedimentos, a matéria orgânica – este,
indicado pela DBO - bactérias, metais e hidrocarbonetos (Prodanoff, 2005).
Este estudo busca avaliar o resultado de amostras de água coletadas no rio Pinheiros, São Paulo,
tendo como base a DBO apresentada entre 2009 e 2019. Tais dados serão comparados com os
objetivos estabelecidos pelo Programa Novo Rio Pinheiros (GOVERNO DO ESTADO DE SÃO
PAULO, 2021) para se avaliar a relevância do Projeto e dos parâmetros estabelecidos, bem como
para entender as possíveis variáveis que interferem nos resultados observados.
MATERIAIS E MÉTODOS
Caracterização da Bacia do Rio Pinheiros
O rio Pinheiros nasce na região da Serra do Mar e corre em direção ao interior do estado de São
Paulo. Dentro dos atuais limites da capital paulista, o rio apresentava um percurso repleto de
meandros, mas que passou por alterações com a construção da Usina Henry Borden e da Represa
Billings. Por fim, houve a retificação do rio entre as décadas de 1950 e 1960, motivada por
preocupações com doenças associadas às águas do rio, pela necessidade de geração de energia e pela
tentativa de incorporação do plano rodoviarista, forte em todo o país. Tal intervenção foi então
seguida pela construção das marginais (Pessoa, 2016). Nas décadas subsequentes, o rio passou a ser
marcado pela poluição proveniente de suas bacias de contribuição. Para este trabalho foram
selecionados os dados de quatro pontos de amostragem da CETESB. Os pontos são apresentados na
Figura 1 e estão inseridos na unidade de gerenciamento de recursos hídrico 06 (UGRHI 06) - Alto
Tietê. São eles: PINH04100: na Usina Elevatória de Pedreira, no centro do canal; PINH04250: na
Ponte do Socorro; PINH04500: Embaixo da Ponte Ari Torres (Av. Bandeirantes) e PINH04900:
Próximo à sua foz no rio Tietê, na Estrutura de Retiro. A Figura 1 apresenta a localização da bacia
hidrográfica do rio Pinheiros e os pontos de monitoramento da Cetesb.

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Figura 1 - Bacia do rio Pinheiros situada na Região Metropolitana de São Paulo. Fonte: PMSP (2022); CETESB
(2022).
Ainda nos limites do município de São Paulo, o rio Pinheiros tem como principais afluentes os
córregos Zavuvus, Água Espraiada, Sapateiro, Uberaba e Jaguaré e o rio Pirajuçara e Jaguaré.
A partir da década de 1990, a preocupação com a poluição do rio Pinheiros ganhou maior
ênfase, desencadeando o surgimento de organizações e de medidas para melhorar a qualidade de suas
águas. Dentre as intervenções implementadas para a melhoria da qualidade da água do rio, em 2019
deu-se início ao Projeto Novo Rio Pinheiros, encabeçado pelo Governo do Estado de São Paulo, cujo
principal objetivo anunciado é revitalizar o rio por meio de medidas voltadas principalmente ao
saneamento básico dentro da área de abrangência da bacia. O Programa teve como base o 6º Objetivo
de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da ONU - Água e Saneamento e busca mostrar os
impactos e as relações de suas proposições com os demais objetivos tratados pela organização.
Resultado Esperado do Projeto Novo Rio Pinheiros
Uma das frentes de ação do projeto envolve o Eixo Saneamento, que visa ampliar a coleta e o
transporte para tratamento de esgoto na bacia do rio Pinheiros. As ações incluem a construção de
redes coletoras e a interligação dos coletores tronco e interceptores das sub bacias aos interceptores
principais localizados nas margens do rio Pinheiros. Como ação complementar, foram previstas cinco
unidades de tratamento local, denominadas unidades de recuperação de qualidade (URQ) que,
atualmente, já há algumas instaladas próximos às áreas de ocupação informal e onde a implantação
de redes e esgoto ainda não chegam. O projeto prevê o tratamento de esgotos de uma população da
ordem de 1,6 milhões de pessoas5. Dentre as métricas estabelecidas, estipulou-se que a DBO na foz

5
https://novoriopinheiros.sp.gov.br/
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dos afluentes deve ser igual ou inferior a 30 mg/l de forma a garantir condição aeróbia ao rio
Pinheiros, ausência de odor e melhor aspecto da água. (GOVERNO DO ESTADO DE SÂO PAULO,
2022). O rio Pinheiros é enquadrado na classe 4 pelo Decreto nº 10.755/1977 (SÃO PAULO, 1977),
para essa classe a Resolução nº 357/2005 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA),
estabelece limites somente para o oxigênio Dissolvido (OD) e para o pH (BRASIL, 2005). A longo
prazo pensar em metas de redução a DBO deve ser uma ação contínua e dessa forma questões
relacionadas à toda a problemática da poluição difusa deve ser considerada.
Amostragens da CETESB
A CETESB, agência governamental responsável pela fiscalização e monitoramento de
atividades potencialmente poluidoras, do estado de São Paulo; dentre os controles realizados, é de
interesse o acompanhamento da qualidade das águas superficiais, realizado por meio das redes de
monitoramento dos corpos hídricos. O sistema Infoáguas, plataforma de acesso público, disponibiliza
informações de qualidade das águas brutas no Estado de São Paulo; é possível obter dados de diversos
pontos de amostragem segregados por parâmetros de análise e pela localização dos pontos de
interesse (CETESB, 2022).
Dados dos eventos
Em decorrência da disponibilidade de dados da CETESB para os pontos escolhidos, foi
considerado o período de 2009 a 2019, resultando em um total de 306 análises realizadas para os
quatro pontos entre 2009 e 2019. Os dados disponibilizados são acompanhados pela data e hora de
coleta, bem como pela caracterização sucinta do corpo hídrico em que foi coletado.
Dentre os 11 anos abordados, observa-se que, em sua grande maioria, as amostras de cada ponto
foram coletadas nos mesmos dias, com poucas alterações em relação a este padrão; ressalta-se: o
ponto PINH04250 apresentou uma amostra a mais em 2016 em relação aos demais; o ponto
PINH04500 apresentou uma amostra a menos em 2017; o ponto PINH04900 apresentou maior
número de amostras, sendo: em 2016 uma, 2017 duas, 2018 seis e 2019 uma a mais. Além disso,
cada ano apresentou aproximadamente o mesmo número de análises nos períodos úmido e seco.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Para a análise do comportamento da DBO no rio Pinheiros foram plotados gráficos das médias
das DBO para o ano hidrológico e também das médias discretizadas em período seco e período úmido.
Na Figura 2 são apresentadas as médias de todas as amostras analisadas no período de 2009 a
2019 – total de 306 amostras - que foi de 40,1 mg/L. Apesar de haver variações ao longo dos anos,

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não há indícios de melhoria da qualidade da água. Além disso, observa-se que o ponto PINH04900,
de localização mais a jusante dentre os quatro pontos, apresenta resultados mais altos para a variável
DBO enquanto o ponto PINH04100, ponto mais a montante, apresenta as menores concentrações,
com média de apenas 16,4 mg/L.

Figura 2 - Média anual de DBO entre 2009 e 2019. Fonte: CETESB (2022).
Comparando-se a Figura 3 e a Figura 4 é possível observar a diferença da qualidade das águas
do rio Pinheiros ao longo do ano. Enquanto no período com menor incidência de chuvas a média das
análises das amostras foi de 47,4 mg/L com valor máximo de 93,6 mg/L no ponto PINH04500 em
2017, o período úmido apresentou uma média de 32,5 mg/L com ponto máximo observado de 77,3
mg/L no ponto PINH04250 em 2011. A tendência observada na
Figura de o ponto PINH04900 apresentar maiores valores médios e o ponto PINH04100
apresentar médias inferiores se manteve nas análises realizada nas figuras3 e 4.

Figura 3 - Média anual de DBO no período seco entre 2009 e 2019. Fonte: CETESB (2022).

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Figura 4 - Média anual de DBO no período úmido entre 2009 e 2019. Fonte: CETESB (2022).
A análise dos dados de amostragem de água disponibilizados pela CETESB para os pontos
localizados ao longo do curso do rio Pinheiros mostrou que as médias anuais de DBO, em mg/L, entre
o período de 2009 e 2019 não apresentaram tendências consideráveis de queda. Considerando os
maiores valores observados no período seco, da ordem de 80 mg/L, para que a meta possa ser atingida
existe a necessidade redução média da carga que aporta ao rio superior a 60%.
Os resultados observados na Figura 3 e na Figura 4 também evidenciaram que a variável DBO,
que representa a matéria orgânica, é sensível às variações de vazões sazonais, apresentando valores
em média 45% superiores no período seco em comparação ao período úmido, para a série analisada.
O ponto PINH04900, o mais a jusante entre os quatro, de forma geral apresentou as médias de
DBO mais elevadas ao longo dos anos, enquanto o ponto PINH04100, mais a montante do rio,
apresentou as menores médias. Tal fato pode ser explicado pelo acúmulo dos poluentes oriundos dos
afluentes da bacia, que resulta em maiores concentrações à jusante do rio, sustentando a abordagem
de controle e de monitoramento dos afluentes do rio Pinheiros.
Na prática, o valor médio é pouco significativo e, para que a meta seja atendida em parte do
tempo, torna-se necessária a remoção de parcela muito superior. Considerando o total da população
a ser atendida, de 1,6 milhões e a geração média de 54 g/hab.dia de carga orgânica, o aporte total
médio diário pode ser estimado em 90 ton/dia. Admitindo-se vazão específica natural afluente ao
Pinheiros de 0,012 m3/s.km² (FCTH, 2019), correspondente à permanência de 95%, verifica-se que a
concentração de DBO pode atingir valores de até 204 mg/L. Esta estimativa é, por um lado,
conservadora, pois não considera as variações do consumo diário de água e a capacidade de

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autodepuração no trajeto desde o ponto de lançamento nos afluentes até a calha principal. Por outro
lado, também não foram considerados os lançamentos industriais, irregulares ou desconhecidos, que
podem aumentar o valor total.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando as vazões com permanência 95%, estima-se que a carga afluente pode levar a
valores de concentração bem acima do limite estabelecido pelo projeto, indicando que, além da
sazonalidade anual, as variações plurianuais devem ser consideradas na determinação das
intervenções a serem realizadas visando a melhoria da qualidade da água. Além da incerteza com
relação às vazões naturais afluentes destaca-se ainda como variáveis a serem consideradas a diferença
de consumo de água pela população e a considerável importância da poluição difusa do meio urbano
que, em decorrência da sua dependência em relação às variáveis climáticas, pode apresentar diferentes
contribuições entre os períodos seco e úmido.
Ressalta-se que as intervenções propostas pelo Projeto abordam especificamente a poluição
pontual, reduzindo a quantidade de despejo direto de esgoto de forma irregular e sem tratamento.
Com esta ação, a carga poluidora de origem difusa afluente ao Pinheiros passará a ser preponderante,
e capaz, durante os eventos chuvosos, de não atender ao limite estabelecido, o que levanta a
importância e a necessidade de se aprofundarem os estudos e as pesquisas visando o desenvolvimento
de técnicas e políticas para mitigação e controle da carga de origem difusa.

AGRADECIMENTOS - Os autores agradecem o suporte da CAPES Coordenação de


Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, a FCTH – Fundação Centro Tecnológico de
Hidráulica e a PRCEU - Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da USP.

REFERÊNCIAS
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