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ARTIGO TÉCNICO

A DIMENSÃO DA QUALIDADE DE ÁGUA: AVALIAÇÃO DA


RELAÇÃO ENTRE INDICADORES SOCIAIS, DE DISPONIBILIDADE
HÍDRICA, DE SANEAMENTO E DE SAÚDE PÚBLICA

THE WATER QUALITY DIMENSION: AN EVALUATION OF THE RELATIONSHIP


BETWEEN SOCIAL, WATER AVAILABILITY, WATER SERVICES AND
PUBLIC HEALTH INDICATORS

PAULO AUGUSTO CUNHA LIBÂNIO


Especialista em Recursos Hídricos da Agência Nacional de Águas (ANA). Engenheiro Civil (UFMG, 1999). Mestre em
Engenharia Sanitária e Ambiental (UFMG, 2002). Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Saneamento,
Meio Ambiente e Recursos Hídricos (DESA/UFMG)

CARLOS AUGUSTO DE LEMOS CHERNICHARO


Professor Adjunto do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFMG. Engenheiro Civil e Sanitarista.
Doutor em Engenharia Ambiental pela Universidade de Newcastle upon Tyne – UK

NILO DE OLIVEIRA NASCIMENTO


Professor Adjunto do Departamento de Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos da Escola de Engenharia da UFMG.
Engenheiro Civil pela UFMG. Mestre em Hidrologia pela École Polytechnique Fédérale de Lausanne, Suiça.
Mestre e Doutor em Recursos Hídricos pela École Nationale des Ponts et Chaussées, França

Recebido: 21/10/04 Aceito: 28/06/05

RESUMO ABSTRACT
O processo de implementação do novo modelo brasileiro de The implementation of Brazil’s new national water resources
gestão de águas, instituído em âmbito nacional pela Lei 9.433/97, management system (Law 9.433/97) may be positively evaluated
somente poderá ser avaliado positivamente se resultar em avan- only if it promotes advances in water quality issues. Hence,
ços nas questões relativas à qualidade das águas naturais. Assim, environmental sectors and water services demands gain importance
ganham especial importância as demandas específicas dos setores and no longer can be neglected in water resources planning. This
ambiental e de saneamento, as quais não podem mais ser negli- paper was aimed at highlighting the importance of water quality
genciadas no planejamento do aproveitamento hídrico. O pre- in water resources management, as noted from the comparison of
sente trabalho buscou, a partir da comparação da relação de water availability, water services, social and public health indicators.
indicadores de disponibilidade hídrica e de saneamento com It was observed that living conditions is better described by water
indicadores sociais e de saúde, destacar a importância da dimen- supply and sanitation coverage than by water reserves measured
são da qualidade de água na gestão dos recursos hídricos. Cons- quantitatively.
tatou-se que a condição de vida das populações é melhor retrata-
da pela abrangência dos serviços de água e esgoto do que pela
reservas hídricas medidas em termos meramente quantitativos.

PALAVRAS-CHAVE: Recursos hídricos, qualidade de água, KEYWORDS: Water resources, water quality, water services, public
saneamento, saúde pública, indicadores. health, indicators.

INTRODUÇÃO estratégico do setor de hidroeletricidade tando seus investimentos de forma pon-


(Muñoz, 2000). tual e desarticulada.
A gestão de recursos hídricos no Bra- Nesse período, os setores usuários Esse quadro começou se alterar a par-
sil esteve por longo tempo reduzida à ava- de recursos hídricos mais dependentes da tir das reformas políticas transcorridas ao
liação quantitativa das reservas hídricas, qualidade de água, incluindo-se o setor longo do processo de redemocratização
especialmente para fins de produção de de saneamento, ficaram praticamente au- do país, as quais revigoraram a participa-
energia, resultado do modelo de gestão sentes do processo decisório sobre o apro- ção da sociedade civil organizada e cria-
centralizado então em vigor, basicamente veitamento hídrico no nível sistêmico das ram novos canais de comunicação
voltado às necessidades de planejamento bacias hidrográficas, realizando ou proje- institucional, estimulando novas formas

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de mobilização e de representação social. aquelas não atendidas por serviços de sa- METODOLOGIA
Especificamente para o setor hídrico, essas neamento.
transformações produziram importantes A relação de causalidade entre as Período de tempo de
efeitos, surgindo em alguns estados, expe- condições de saneamento e de meio am- referência dos estudos
riências de gestão de água inovadoras. biente e o quadro epidemiológico é reco- consultados
As leis estaduais de recursos hídricos nhecida pelos legisladores brasileiros que,
editadas a partir do início da década de por exemplo, na Lei 8.080/90 – que dis- Todos os dados secundários utiliza-
1990 e, posteriormente, a Política Nacio- põe sobre a prestação dos serviços de saú- dos no presente estudo referem-se ao ano
nal de Recursos Hídricos (PNRH), insti- de no País – citam tais condições como de 2000, período da última pesquisa
tuída pela Lei 9.433/97, ao incorpora- alguns dos fatores determinantes para a censitária do IBGE que aferiu a cobertu-
rem o princípio do aproveitamento múl- saúde pública (art. 3º). ra dos serviços de água e esgoto nas uni-
tiplo e integrado dos recursos hídricos, A Figura 1 ilustra a vasta interface dades da Federação. Tal cuidado foi ne-
afirmaram a opção brasileira por um mo- do conjunto “saneamento ambiental” e cessário haja vista o interesse do trabalho
delo de gestão de águas que contemplas- sua importante dimensão junto à gestão em avaliar as correlações entre os indica-
se simultaneamente aspectos quantitati- de recursos hídricos e à saúde pública. dores de saneamento com os demais, apro-
vos e qualitativos. O presente artigo objetiva demons- ximando-se a base de comparação.
Nessa nova perspectiva de gestão dos trar que a disponibilidade hídrica é con- Assim, ainda que tenham sido
recursos hídricos, ganham importância as dição importante mas não suficiente para divulgadas informações mais recentes so-
questões situadas na interface entre as áreas garantir o bem-estar social, o qual pode bre as demais variáveis contempladas no
de recursos hídricos e de saneamento ser melhor apreendido pelo alcance de estudo – por exemplo, o Índice de De-
ambiental. Entre essas questões, desta- serviços essenciais para a população, tais senvolvimento Humano (IDH) em 2002
cam-se algumas de caráter mais como os serviços de abastecimento de para os países pesquisados pelo Programa
abrangente, como as intervenções volta- água e de esgotamento sanitário. das Nações Unidas para o Desenvolvi-
das ao controle da poluição hídrica difusa Nesse sentido, considerando-se infor- mento (UNDP, 2004) – a análise das
– por exemplo, drenagem e disposição mações de estudos de âmbito nacional e mesmas deteve-se às informações do ano
de resíduos sólidos – e outras mais especí- internacional, investigou-se a hipótese de de 2000.
ficas, por sua estreita e direta relação com que, em muitas situações, os indicadores de
a saúde pública, caso dos serviços públi- saneamento – particularmente, nesse estu- Indicadores sociais: Índice
cos de abastecimento de água e de esgo- do, a abrangência dos serviços de água e de Desenvolvimento
tamento sanitário. esgoto – apresentam melhor correlação com Humano (IDH) e
A contaminação das águas naturais os indicadores que expressam as condições expectativa de vida
representa um dos principais riscos à saú- de vida das populações: indicadores de de-
de pública, sendo amplamente conheci- senvolvimento social – IDH e expectativa Atualmente é amplamente reco-
da a estreita relação entre a qualidade de de vida – e de saúde pública – índice de nhecido que a condição de vida das po-
água e inúmeras enfermidades que aco- mortalidade e morbidade por doenças pa- pulações não pode ser retratada exclusi-
metem as populações, especialmente rasitárias e infecciosas de veiculação hídrica. vamente pela dimensão econômica. Tal

Fonte: Libânio (2004).


Figura 1 - Interfaces do saneamento ambiental com a gestão de recursos hídricos e com a saúde pública

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A dimensão da qualidade da água: avaliação da relação entre indicadores

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constatação levou ao desenvolvimento no por testemunhas qualificadas nos termos dominantemente sexual. Dessa forma,
âmbito do Programa das Nações Unidas legais (Lei no 6.015/73, art. 78), bem foram selecionadas para consulta no ban-
para o Desenvolvimento (PNUD), no como outras informações pessoais (art. 81 co de dados do DATASUS apenas as se-
início da década de 1990, do Índice de da referida Lei). Essas informações vêm, guintes enfermidades ou grupos especí-
Desenvolvimento Humano (IDH). então, a constituir as estatísticas de mor- ficos de doenças: cólera, febres tifóide e
O IDH abrange três dimensões bá- talidade, essenciais para a elaboração e paratifóide, amebíase, diarréia e
sicas do desenvolvimento humano – análise de diversos indicadores de saúde, gastroenterite de origem infecciosa
longevidade, educação e renda – expres- subsidiando o desenvolvimento de estu- presumível, outras doenças infecciosas
sas por diferentes variáveis estatísticas: dos epidemiológicos. intestinais, leptospirose, restante de ou-
expectativa de vida ao nascer, alfabetiza- No Brasil, as estatísticas oficiais de tras doenças bacterianas, hepatites virais,
ção de adultos, matrículas combinadas mortalidade constituem uma ampla base esquistossomose, restante de doenças
nos três níveis de ensino, PIB per capita de dados: o Sistema de Informações so- transmitidas por protozoários, restante de
corrigido pela capacidade de compra da bre Mortalidade (SIM). Esse sistema é helmintíases, outras doenças infecciosas e
moeda. gerido pelo Departamento de Análise de parasitárias.
Na composição do IDH, as três di- Situação de Saúde (DASIS), da Secretaria
mensões têm igual peso e são descritas de Vigilância em Saúde (SVS/MS), em Indicadores de
por índices parciais que podem variar entre conjunto com as Secretarias Estaduais e saneamento básico:
0 e 1, sendo os valores mais próximos à Municipais de Saúde. Essas últimas são cobertura por serviços de
unidade indicativos de maior bem-estar responsáveis pela coleta das informações água e esgoto
social. Dessa forma, segundo classificação contidas nas declarações de óbitos dos
do PNUD, é possível verificar se o desen- cartórios e por repassá-las ao SIM. Os indicadores de saneamento bá-
volvimento humano em um país é baixo Outro indicador de saúde pública sico investigados no presente trabalho
(0 < IDH < 0,5), médio (0,5 < IDH < 0,8) investigado quanto à sua relação com as restringiram-se àqueles relativos ao aten-
ou alto (0,8 < IDH < 1,0). condições de saneamento básico foi dimento das populações por sistemas de
No presente trabalho, para a análise o índice de morbidade. A base de dados abastecimento de água e de esgotamento
comparativa do desenvolvimento huma- consultada, nesse caso, foi o Siste- sanitário.
no com outras variáveis, em nível global, ma de Informações Hospitalares do Na avaliação da situação em esca-
utilizaram-se os valores de IDH e de ex- SUS (SIH/SUS), desenvolvido pelo Mi- la mundial, utilizaram-se os dados di-
pectativa de vida ao nascer em 174 paí- nistério da Saúde, por meio de sua Secre- vulgados no Relatório Global Water
ses, referentes ao ano de 2000, disponí- taria de Assistência à Saúde, conjunta- Supply and Sanitation Assessment 2000
veis no Human Development Report mente com as Secretarias Estaduais e Mu- (WHO/UNICEF, 2000), produto de um
2002, publicado pelo Programa das Na- nicipais de Saúde em todo País. programa global de monitoramento do
ções Unidas para o Desenvolvimento Conforme determinação da Porta- setor de saneamento. A pesquisa abran-
(UNDP, 2002). ria MS no 1.832/94, desde 1996, as cau- geu países distribuídos em 6 grandes re-
Por sua vez, em avaliações semelhan- sas básicas de óbito são codificadas segun- giões do Planeta, sendo implementada
tes para os municípios e estados brasilei- do a 10a Revisão da Classificação Inter- pelas representações regionais da OMS e
ros, foram consultados os dados de IDH nacional de Doenças (CID-10) da Orga- UNICEF, instituições co-responsáveis
e de expectativa de vida ao nascer, cons- nização Mundial de Saúde. Semelhan- pelo programa, com apoio de agências
tantes no Atlas do Desenvolvimento Hu- temente, os dados de morbidade dispo- nacionais, por meio da aplicação de ques-
mano no Brasil 2000 (UNDP, IPEA e níveis no SIH/SUS, para os períodos de tionários e pesquisa em domicílios.
FJP, 2003) e na publicação Indicadores 1998 em diante, estão organizados con- Na estimativa dos índices de aten-
de Desenvolvimento Sustentável no Brasil forme disposto na Lista de Tabulação para dimento nos diversos países, foram con-
2002 (IBGE, 2002). Morbidade da CID-10. sideradas somente as técnicas de supri-
As estatísticas constantes na primei- Particularmente, nesse trabalho, in- mento de água e de esgotamento sanitá-
ra publicação correspondem aos dados teressaram os dados do ano 2000 rio definidas como “aprimoradas”, tais
dos censos de 1991 e 2000. No cálculo disponibilizados, via internet, pelo como fornecimento de água e coleta de
do IDH nos municípios (IDH-M), hou- DATASUS, relativos aos óbitos e às esgotos por rede geral.
ve necessidade de adaptações das estatís- internações por algumas doenças infecci- A situação brasileira, por sua vez, foi
ticas – por exemplo, substituição do PIB osas e parasitárias que podem ser associa- percebida quanto ao atendimento domi-
per capita pela renda familiar per capita das à poluição hídrica. As doenças infec- ciliar por rede de água e de esgoto, dados
média do município – bem como altera- ciosas e parasitárias constituem o Capítu- disponíveis no Censo demográfico 2000
ção dos valores-limite de cálculo dos ín- lo I da CID-10, no qual estão listadas (IBGE, 2000). Dessa forma, enquanto
dices parciais. inúmeras enfermidades relacionadas à as estatísticas por estado corresponderam
contaminação das águas por microrganis- aos valores percentuais de moradores em
Indicadores de saúde: mos patogênicos de origem humana domicílios particulares permanentes aten-
índice de mortalidade e (amebíase, cólera, diarréias e gastroen- didos por rede de água e esgoto em rela-
morbidade terites, entre outras). ção à população total, conforme apresen-
Todavia, o Capítulo I da CID-10 tado em Indicadores de Desenvolvimen-
A legislação brasileira determina que agrega também enfermidades cuja trans- to Sustentável no Brasil 2002 (IBGE,
todas as mortes devem ter registro (certi- missão ocorre por outros meios que não 2002), no nível municipal, inferiu-se o
dão de registro de óbito), com a definição dependem das condições sanitárias, por nível de cobertura dos serviços de água e
da causa mortis por atestado médico ou exemplo, as doenças de transmissão pre- esgoto pela razão entre os domicílios

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conectados às redes de abastecimento de tros de vazão em estações fluviométricas, equivalente a 5400km3/ano, incluindo-
água e de esgotamento sanitário e o nú- disponíveis no Sistema de Informações se o volume irrigado e naturalmente dis-
mero total domicílios particulares perma- Hidrológicas da ANA (Sistema HIDRO) ponível – não corresponderam às deman-
nentes. – e as respectivas populações aferidas no das para consumo doméstico de produ-
Não foram computados, assim, ou- Censo 2000 (IBGE, 2000). tos agrícolas, mas sim, ao suprimento de
tros tipos de abastecimento de água e de mercados externos. Segundo os mesmos
esgotamento sanitário investigados no RESULTADOS E autores, os produtos da pecuária e indus-
Censo demográfico 2000, tais como abas- DISCUSSÃO triais transacionados no comércio inter-
tecimento de água por poços e os siste- nacional corresponderam, no mesmo pe-
mas de fossa séptica, o que contribuiria A disponibilidade hídrica e ríodo, à transferência de volumes de água
para uma percepção mais favorável quan- os indicadores sociais virtual da ordem de 245 e 100km3/ano,
to ao quadro sanitário no País. A opção de respectivamente.
desconsiderá-los justifica-se pela limita- É conhecido o fato de que países Dessa forma, a simples razão re-
ção da referida pesquisa censitária em ave- com grande potencial hídrico, caso do curso/população não pode ser considerada
riguar a confiabilidade desses sistemas, Brasil que responde por cerca de 16% da o único fator limitante ou representativo
sendo amplamente conhecidos os proble- recarga hídrica anual sobre os continen- do desenvolvimento humano, devendo
mas quanto à contaminação das águas dos tes, não detêm, simplesmente por essa ser consideradas outras variáveis expli-
poços e à construção e manutenção das condição, maiores oportunidades para o cativas. O gráfico da Figura 2 apresenta a
fossas sépticas. desenvolvimento econômico e para a pros- baixa correlação entre o Índice de Desen-
Por outro lado, ignoraram-se defi- peridade social. volvimento Humano (IDH) e a reserva
ciências recorrentes dos serviços de abas- Algumas das grandes economias hídrica superficial per capita, medida em
tecimento por rede de água, tais como a mundiais, especialmente os países da termos da recarga hídrica anual, para di-
qualidade da água distribuída à popula- Europa e o Japão, usualmente apropri- versos países agrupados segundo classifi-
ção e a intermitência no seu fornecimen- am-se de um volume de recursos bem cação apresentada em Rebouças (2002).
to, informações não disponíveis no estu- superior a suas próprias dotações naturais No Brasil, a baixa correlação entre a
do consultado. Ademais, pela metodo- (Cairncross, 1993). No caso específico disponibilidade hídrica per capita e o de-
logia adotada na pesquisa censitária do dos recursos hídricos, o volume de pro- senvolvimento humano também fica pa-
IBGE, não é possível discriminar as liga- dutos comercializados em transações in- tente quando observadas a distribuição
ções indevidas na rede de drenagem plu- ternacionais, ou mesmo entre diferentes geográfica dessas variáveis no território
vial, declaradas como ligações à rede de regiões de um mesmo país, tem impor- nacional (Figura 3).
esgotamento sanitário. tantes implicações na avaliação das dis- Não há dúvidas de que a indisponi-
ponibilidades hídricas (Allan, 2003). bilidade de água em quantidade sufici-
Potencial e disponibilidade Isso porque para cada bem produ- ente para atendimento das demandas
hídrica zido, faz-se necessário dispor de um certo estabelecidas ou potenciais constitui-se
volume de água, seja para incorporá-lo ao em um fator crítico para o desenvolvi-
Os dados relativos à potencialidade próprio produto, seja para diluir os mento de algumas regiões do país – norte
hídrica, em escala global, constam do re- rejeitos da sua produção. Assim, a impor- de Minas Gerais e região Nordeste – nas
latório Review of World Water Resources by tação de mercadorias ou commodities com quais é possível notar alguma correlação
Country (FAO, 2003), produto do pro- elevada demanda hídrica específica aca- entre essas variáveis (Figura 3).
grama Aquastat, um sistema global de ba por contribuir, indubitavelmente, para Todavia, verifica-se também, nos
informações sobre recursos hídricos e agri- a redução do déficit hídrico nos países mapas apresentados na Figura 3, regiões
cultura que abrange 170 países e territó- importadores, uma vez que um volume com menor disponibilidade hídrica per
rios. Cabe ressaltar que o referido relató- de água equivalente deixa de ser suprido capita (< 10.000 m3/hab.ano) – noroes-
rio limitou-se à avaliação quantitativa das localmente e torna-se disponível para te do Paraná, e na maior parte dos estados
reservas renováveis de água doce, em ter- outras necessidades (Hoekstra, 2003). de São Paulo e Rio de Janeiro – mas com
mos das médias anuais de vazões em cur- Nesse sentido, a opção por impor- IDH mais elevado (IDH > 0,7); haven-
sos d’água e recarga de aqüíferos. tar determinados produtos ao invés de do outras com maior disponibilidade de
Na avaliação da disponibilidade produzi-los localmente não é somente água (> 100.000 m3/hab.ano) – estados
hídrica no território nacional, utilizou-se uma decisão de política econômica, con- do Acre e Amazonas – e menor IDH
as informações constantes da mesma base figurando-se também como uma alter- (IDH < 0,7).
de dados das regiões hidrográficas brasi- nativa para gestão de recursos hídricos Portanto, a disponibilidade hídrica
leiras, atualizada e organizada pela Agên- (Hoekstra, 2003). Allan (2003) advoga não deve ser a única variável explicativa
cia Nacional de Águas, que subsidiou a que, em algumas situações, a solução do do desenvolvimento regional no País. As
elaboração do Documento Base para Dis- déficit hídrico via comércio internacional reservas hídricas, se medidas exclusiva-
cussão do Plano Nacional de Recursos pode ser mais vantajosa e adequada que mente em termos quantitativos, não di-
Hídricos (ANA/SRH/MMA, 2002). Os as soluções de engenharia, usualmente zem muito quanto à disponibilidade, mas
valores de disponibilidade hídrica per adotadas. somente, quanto à potencialidade. O pri-
capita consultados na referida base de Hoekstra & Hung (2002) concluí- meiro conceito diferencia-se do último
dados, resultam da razão entre as vazões ram em seu relatório que, no período por ser sensível às pressões antrópicas so-
médias de longo período em cada unida- de 1995 a 1999, aproximadamente bre o sistema natural, as quais impõe a
de hidrográfica de referência – determi- 695km3/ano de água ou 13% da deman- consideração conjunta de requisitos de
nadas pelas séries hidrológicas dos regis- da hídrica anual global para agricultura – quantidade e de qualidade de água.

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A dimensão da qualidade da água: avaliação da relação entre indicadores

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Fontes: FAO (2003), UNDP (2002).
Figura 2 - Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em 165 países agrupados segundo classes de
disponibilidade hídrica. Valores médios, mínimos e máximos

Fontes: UNDP, IPEA e FJP (2000) e ANA, SRH e MMA (2002).

Figura 3 - Avaliação conjunta da disponibilidade hídrica per capita e do índice


de desenvolvimento humano no Brasil

Os serviços de A clara correlação entre o Índice de Outra análise dos mesmos dados, por
saneamento e os Desenvolvimento Humano (IDH) e a meio do mapeamento desses indicadores
indicadores sociais abran- gência dos serviços de saneamen- sociais e de saúde – IDH e expectativa de
to básico nesse conjunto de países pode vida – segundo as estatísticas sobre as con-
A existência ou não de ações de sa- ser explicada pelo fato de o cálculo desse dições de saneamento – atendimento por
neamento ambiental, exercidas em cará- índice levar em consideração, além de es- sistemas de abastecimento de água e es-
ter preventivo ou remediador, bem como tatísticas de renda e de educação da po- gotamento sanitário – também permite
a forma e adequação de sua prática à reali- pulação, a expectativa de vida ao nascer. constatar a relação saneamento-desenvol-
dade social e econômica, acabam por dizer Essa última é um importante indicador vimento humano (Figura 6).
muito mais a respeito do desenvolvimen- de saúde e retrata, em certo grau, as con-
to humano que a própria potencialidade dições de saneamento, conforme pode ser
do meio natural (Figura 4). verificado nos gráficos da Figura 5.

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Fontes: UNDP (2002) e WHO e UNICEF (2000).


Figura 4 - Índice de Desenvolvimento Humano em 127 países, agrupados segundo os níveis de
atendimento por sistemas de água e esgotos. Valores médios, mínimos e máximos

Fontes: UNDP (2002) e WHO e UNICEF (2000).

Figura 5 - Esperança de vida ao nascer em 127 países agrupados segundo os níveis de atendimento
por sistemas de água e esgotos. Valores médios, mínimos e máximos

Fontes: UNDP (2002) e WHO e UNICEF (2000).

Figura 6 - Avaliação da correlação entre estatísticas sobre as condições sociais e parâmetros


indicativos da situação de saneamento básico em 127 países

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A dimensão da qualidade da água: avaliação da relação entre indicadores

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Em sua grande maioria, os países que A análise conjunta de indicadores Os indicadores sociais e de saneamen-
apresentam IDH mais elevado (IDH > 0,7) sociais e de saneamento, no Brasil, inicial- to, se investigados nos municípios brasilei-
e maior longevidade (esperança de vida ao mente no nível dos estados, confirma a ros, também apontam no mesmo sentido,
nascer > 60 anos) situam-se no quadrante inter-relação entre os mesmos e as condi- reforçando a hipótese já defendida, qual
de maior cobertura dos serviços de sanea- ções sanitárias prevalecentes (Figura 7). seja: as ações de saneamento são necessárias
mento (cobertura de água > 60% e cober- Verifica-se que os estados com pio- para o estabelecimento de condições salu-
tura de esgoto > 50%). Por sua vez, os res indicadores sociais – menor esperança bres, que permitem o pleno desenvolvi-
pontos correspondentes aos países com de vida (60 a 65 anos) e IDH (< 0,6) mento humano (Figuras 8 a 10).
menor IDH (IDH < 0,7) e longevidade apresentam menores índices de cobertu-
(esperança de vida ao nascer < 60 anos) ra por rede de esgotamento sanitário Os serviços de
encontram-se mais dispersos no mapa, ocu- (< 50%) enquanto aqueles com melho- saneamento e os
pando em grande número os quadrantes res indicadores sociais – maior esperança indicadores de saúde
equivalentes a uma pior situação sanitária de vida (> 70 anos) e IDH (> 0,7) –
(cobertura de água < 60% e cobertura de apresentam maiores índices de cobertura por Diversos estudos indicam uma es-
esgoto < 50%). rede de abastecimento de água (> 60%). treita relação entre saneamento e saúde

Fontes: IBGE (2002) e UNDP, IPEA e FJP (2000).


Figura 7 - Avaliação da correlação entre estatísticas sobre as condições sociais e parâmetros indicativos
da situação de saneamento básico nos 26 Estados brasileiros e no Distrito Federal.

Fontes: UNDP, IPEA e FJP (2000) e IBGE (2000).


Figura 8 - Esperança de vida ao nascer nos municípios brasileiros, agrupados segundo os níveis de
atendimento à população por redes de água e esgoto. Valores médios, mínimos e máximos

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Fontes: UNDP, IPEA e FJP (2000) e IBGE (2000).


Figura 9 - Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) nos municípios brasileiros, agrupados segundo os
níveis de atendimento à população por redes de água e esgoto. Valores médios, mínimos e máximos

Fontes: UNDP, IPEA e FJP (2000) e IBGE (2000).

Figura 10 - Avaliação da correlação entre parâmetros indicativos da situação de saneamento básico e


o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) nos municípios brasileiros

pública. Heller (1997) fez uma vasta re- Interessante notar que os estados a distribuição demográfica e para o de-
visão da literatura então disponível, com piores indicadores de saúde – maior senvolvimento das sociedades – históri-
focando a relação entre saneamento e saú- taxa de mortalidade (> 0,07‰) e de cos, culturais, políticos, econômicos,
de, e concluiu que os estudos já realizados morbidade (> 6‰) – apresentam me- tecnológicos e outros – que independem
permitem atestar a melhoria dos indica- nores índices de cobertura por rede de do potencial hídrico.
dores de saúde pública em função de in- esgotamento sanitário (< 50%) mas não, Particularmente, nesse artigo, a aná-
tervenções em abastecimento de água e necessariamente, menores índices de co- lise conjunta das informações contidas nos
esgotamento sanitário. bertura por rede de água (< 60%). Por diferentes estudos consultados demons-
No Brasil, as péssimas condições sa- sua vez, os estados com os melhores indi- trou que o bem-estar das populações –
nitárias verificadas em muitas das bacias cadores de saúde – menores taxas de mor- apreendido pelos indicadores sociais e de
hidrográficas densamente e desordenada- talidade (< 0,04‰) e morbidade (< 3‰) saúde – nos diversos países e no território
mente ocupadas, resultam na degradação – situam-se entre aqueles que apresen- nacional é melhor retratado pela
generalizada dos elementos naturais e, tam os maiores índices de cobertura por abrangência dos serviços de água e de es-
obviamente, dos recursos hídricos. É rea- rede de abastecimento de água (>60%). gotamento sanitário, do que propriamen-
lidade comum o lançamento de esgotos A correlação entre os indicadores de te pelo potencial hídrico ou pela disponi-
sanitários não tratados, a disposição ina- saúde e a cobertura por serviços de água bilidade de água per capita.
dequada de resíduos sólidos nas media- e esgoto pode ser também facilmente Tal constatação evidencia a impor-
ções de cursos d’água ou em locais sem visualizada na avaliação do universo dos tância da discussão das interfaces da ges-
infra-estrutura adequada, loteamentos municípios brasileiros (Figura 12). tão de recursos hídricos com setores de-
clandestinos e outras. A Figura 11 registra pendentes de água de boa qualidade, em
a baixa cobertura dos serviços de esgota- CONCLUSÕES especial, com o setor de saneamento, sob
mento sanitário na grande maioria dos es- cuja responsabilidade encontram-se os
tados brasileiros e seus efeitos sobre os indi- Deve-se reconhecer que existem di- serviços de água e de esgotos indispensá-
cadores de saúde pública. versos outros fatores determinantes para veis à promoção da saúde pública.

Eng. sanit. ambient. 226 Vol.10 - Nº 3 - jul/set 2005, 219-228


A dimensão da qualidade da água: avaliação da relação entre indicadores

ARTIGO TÉCNICO
Fontes: IBGE (2002), SIM (2000) e SIH/SUS (2000).

Figura 11 - Avaliação da correlação entre os índices de mortalidade e morbidade por doenças


associadas à poluição hídrica e parâmetros indicativos da situação de saneamento básico
nos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal

Fontes: SIH/SUS (2000) e IBGE (2000).


Figura 12 - Avaliação da correlação entre indicadores de saneamento básico e os índices de morbidade por
doenças associadas à poluição hídrica, nos municípios brasileiros. Valores médios e amplitude interquartil

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ARTIGO TÉCNICO

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