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Resumo
O artigo apresentou experiências de revitalização de corpos de água no Brasil
por meio de pesquisa bibliográfica em artigos científicos e publicações
acadêmicas. Foram elencados e categorizados os diversos objetivos que
costumam motivar projetos de revitalização de corpos de água. Assim como,
foram descritas as ações estruturantes e estruturais que constituem esses
projetos e os principais desafios identificados nas mais diversas experiências
estudadas. A literatura consultada apresentou práticas de revitalização nas
regiões nordeste, sudeste e sul do Brasil. Não foram identificados projetos
dessa magnitude nas regiões norte e centro-oeste. O estudo indica a
necessidade de maior investimento em projetos de manejo de corpos de água
no Brasil visando à sustentabilidade ambiental, com envolvimento
multidisciplinar, com participação social, com tecnologias adequadas e com
processo continuado.
Introdução
Os rios, mananciais superficiais, são fontes de um dos recursos naturais
mais importantes para os seres vivos. Apesar da importância social, ambiental,
cultural, econômica e histórica dos corpos d’água superficiais, a população não
os tem preservado nem convivido de modo salutar com eles. Grande parte dos
rios urbanos brasileiros está poluída pelo esgotamento sanitário doméstico e
industrial, por efluentes do sistema de drenagem e por resíduos sólidos. E
parte significativa dos rios rurais tem sofrido com o assoreamento e redução de
vazão, além de diversos outros impactos acarretados aos cursos d’água
(ALENCAR, 2017).
Diante da situação relatada anteriormente, o estudo e a implantação de
ações de revitalização dos rios têm sido cada vez mais frequentes no mundo.
Essa atenção especial com os corpos d’água pode ser motivada por diversas
situações como, melhorar a sua função de manancial de abastecimento,
* Mestrado em meio ambiente águas e saneamento pela Universidade Federal da Bahia (Ufba).
Pós-graduação em engenharia ambiental e saneamento básico pela Universidade Estácio de
Sá. Graduação em engenharia sanitária e ambiental pela Ufba. Analista técnica do Ministério
Público do Estado da Bahia. E-mail vickybritto@gmail.com.
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viabilizar a sua importância ecossistêmica, recuperar o seu valor paisagístico e
de recreação, resgatar possíveis fontes de renda e até mesmo a sensação de
pertencimento da população do seu entorno. O êxito de um programa de
revitalização de rios requer a instituição de políticas públicas, vontade política,
recursos financeiro e humano especializado, tecnologias apropriadas, envolvimento
e engajamento da população (BATISTA E CARDOSO, 2013).
Este artigo objetiva realizar uma abordagem conceitual sobre o tema
revitalização de rios e analisar as experiências de revitalização de rios no Brasil.
Esse tema justifica-se pela fundamental importância dos recursos hídricos
para os seres vivos e para o meio ambiente, assim como pelo cenário de poluição
dos rios no século XXI, pelo elevado custo de tratamento da água para
abastecimento humano em mananciais poluídos e pela contemporaneidade e
necessidade das ações de revitalização dos cursos d’água.
Esse trabalho de conclusão de curso foi elaborado com base em pesquisa
investigativa em livros, em artigos científicos, em teses, em dissertações e em sites
para obtenção de dados secundários quali-quantitativos. Foi realizada revisão de
literatura e análise documental para a apresentação das experiências de
revitalização de rios no Brasil.
* Mestrado em meio ambiente águas e saneamento pela Universidade Federal da Bahia (Ufba).
Pós-graduação em engenharia ambiental e saneamento básico pela Universidade Estácio de
Sá. Graduação em engenharia sanitária e ambiental pela Ufba. Analista técnica do Ministério
Público do Estado da Bahia. E-mail vickybritto@gmail.com.
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A qualidade dos corpos de água no Brasil é orientada pela Resolução
Conama n. 357/2005 que estabelece classes para o enquadramento dos rios
conforme a sua característica doce, salobra e salina, sub-classificando-as em
especial, 1, 2, 3 ou 4 a depender dos resultados de parâmetros específicos. Esta
resolução também orienta sobre as possibilidades de uso de cada classe e
estabelece a exigência do tipo de tratamento (BRASIL, 2005).
As principais ações de degradação dos rios estão relacionadas à ocupação
das áreas de várzeas, ao lançamento de cargas poluidoras e à canalização de suas
margens (ALENCAR, 2017).
A canalização de rios constituía-se em uma prática hidráulica frequente contra
inundações. Mas, ao longo dos anos, foi identificado que ela não resolve de forma
integral as inundações e não minimiza os efeitos de contaminação. A canalização
tem sido cada vez mais associada à perda do elemento paisagístico, assim como à
degradação das funções ecossistêmicas do corpo de água, tendendo ao desuso
(BATISTA E CARDOSO, 2013).
A Figura 1 apresenta a evolução do papel da água nas cidades, considerando
os seus usos múltiplos e integrados, e aprofundando a abordagem do manejo dos
corpos de água.
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Revitalização de Rios
O manejo de corpos de água pode ser dividido em três abordagens:
reabilitação ou recuperação, revitalização, e restauração ou naturalização a
depender do objetivo e profundidade das ações, conforme Quadro 1.
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Objetivos sociais e tecnológicos:
• Proteção contra inundações;
• aumento do valor paisagístico;
• fomento a recreação e ao esporte;
• fomento a educação ambiental;
• controle de processos de erosão e de movimentação de sedimentos;
• fornecimento de água potável, e
• destinação adequada dos esgotos, prevenindo doenças e promovendo a
saúde.
Objetivos econômicos:
• Redução de danos de inundações;
• geração de emprego e renda;
• valorização fundiária, e
• redução de custos com tratamento de água potável.
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• disponibilidade de materiais;
• cultura e anseios da população
• mão de obra e equipamentos;
• custos associados, e
• condições de manutenção.
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Priorizar projeto que viabilize um curso d’água mais independente e resiliente
ao longo do tempo.
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Quadro 4: Desafios para a revitalização de corpos de água.
DESAFIOS PARA A REVITALIZAÇÃO DE CORPOS DE ÁGUA
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A percepção e prática tradicional brasileira ainda tem sido canalizar os rios ou
até mesmo tamponá-los para o transporte de efluentes e para a ampliação do
sistema viário. Entretanto, já é perceptível a reação de alguns grupos ambientalistas,
universidades e especialistas para a mudança deste paradigma. A seguir são
apresentadas experiências brasileiras com projetos de revitalização de corpos de
água.
No Estado de São Paulo, em 1991, uma manifestação popular de uma
Organização Não Governamental (ONG) estimulou a implantação do Projeto Tietê
na cidade de São Paulo, focado em ações e em obras de saneamento (SABESP,
2009). Esse projeto foi dividido em quatro etapas por meio de uma parceria entre a
Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e o Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID), e a última etapa ainda está em execução.
O rio Tietê possui extensão de 1.100 km, perpassa diversos municípios e segundo
Martinez, Romano e Duarte (2014), não foram identificadas ações relacionadas à
recuperação de vegetação, nem de cunho social.
O município de São Paulo elaborou em 2002 um Plano Diretor Estratégico
com a instituição do Programa de Recuperação Ambiental de Cursos d’Água e
Fundos de Vale do Município. O Programa focou na implantação de parques
lineares às margens de rios e uma das principais dificuldades foi a situação
habitacional irregular sobre áreas de preservação permanente. Também foi
implantado em 2007 o Programa Córrego Limpo em parceria com a Sabesp com
meta de alcançar a Classe 3 da Resolução Conama 357/2005 em 300 córregos. E
em 2008 foi criado o Programa 100 Parques para construção de parques lineares às
margens de rios (TRAVASSOS e SCHULT, 2013).
Posteriormente, o Parque Várzeas do Tietê foi implantado, em 2011, com o
intuito de preservar 75 km de extensão ao longo do rio Tietê na região metropolitana
de São Paulo (BATISTA e CARDOSO, 2013).
Em Recife, foi criado o projeto de revitalização do rio Capibaribe pela
Universidade Federal de Pernambuco com diversas ações integradas e implantadas
com expressivo envolvimento da comunidade (Figura 2) (PARQUE CAPIBARIBE,
2018).
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Fonte: Parque Capibaribe (2018).
Figura 3: Envolvimento da comunidade para revitalização de rio.
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Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Mosquito. Foram implantadas ações de
saneamento com a sensibilização da população (GARCIAS e AFONSO, 2013).
Na cidade do Rio de Janeiro, foi implantado um projeto na comunidade Sertão do
Rio das Pedras, baseado no tratamento local de esgotos e no controle de
sedimentos com o envolvimento da população e de pesquisadores (NETTO, et al.
2015). Entretanto, não foram encontrados resultados sobre a aplicação prática deste
estudo.
No Estado do Paraná, foi instituído o Programa Cultivando Água Boa,
desenvolvido pela Hidrelétrica Binacional de Itaipu, com o objetivo de implantar boas
práticas de convivência e cuidados com os recursos hídricos. Este Programa
envolve mais de 20 outros programas, 65 ações e 2.000 parceiros com foco na
sustentabilidade e educação ambiental. Até 2014, 135 microbacias foram
recuperadas e 195 estavam em recuperação (LARA, 2014).
Segundo Lara (2014), também foram criados o Programa de Despoluição
Ambiental (em 1991) e o Programa de Revitalização de Rios Urbanos (em 2010)
pela Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) no estado do Paraná. O
primeiro, mais focado em ações operacionais de saneamento e o segundo programa
mais direcionado às condições de qualidade da água dos rios e ao maior
envolvimento da população. Ambos os programas têm sido importantes, mas ainda
não foram suficientes para alcançar a revitalização dos rios.
Segundo COAN et al. (2012), no município de Erechim, estado do Rio Grande
do Sul, foram realizadas ações de revitalização nos rios Tigre, Suzana e Dourado
motivadas pela Vara das Execuções Criminais e pelo Ministério Público Estadual por
meio do Instituto Sócio Ambiental Vida Verde (Eloverde). Foram associadas ações
de mapeamento de cenários, educação ambiental e intervenções físicas de remoção
de toneladas de resíduos nos três rios entre 2010 e 2011(Figura 3).
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Fonte: Coan et al. (2012).
Figura 3: Exemplo de resíduos acumulados em rio no município de Erechim.
Segundo Coan et al. (2012), o projeto envolveu uma rede integrada entre o
instituto, o comitê de bacia, a universidade estadual, o corpo de bombeiros, a
prefeitura municipal, a câmara de vereadores e outros, incluindo trabalhadores
voluntários. Foi identificada a necessidade de ações continuadas incluindo também
soluções de esgotamento sanitário para a efetiva viabilidade da revitalização dos
rios.
Em nível federal, no ano de 2001, foi criado o programa de revitalização do rio
São Francisco por meio de decreto federal, por ser um rio que perpassa sete
estados. Este programa foi inspirado em cerca de 300 propostas, considerou a
premissa de participação da sociedade na gestão e nas tomadas de decisão e teve
como objetivos: a recomposição das funções ambientais dos ecossistemas, a
ampliação do esgotamento sanitário adequado, o controle de processos erosivos e a
gestão de resíduos sólidos (GARCIAS e AFONSO, 2013).
A literatura consultada apresentou práticas de revitalização nas regiões
nordeste, sudeste e sul do Brasil. Não foram identificados projetos dessa magnitude
nas regiões norte e centro-oeste. O estudo indica a necessidade de maior
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investimento em projetos de manejo de corpos de água no Brasil visando à
sustentabilidade ambiental, com envolvimento multidisciplinar, com participação
social, com tecnologias adequadas e com processo continuado.
Conclusões
A revitalização de rios constitui-se no reestabelecimento das funções
ecológicas do corpo de água, caracterizando-se como ação intermediária entre a
recuperação e restauração, conforme marco conceitual adotado neste artigo.
As ações de revitalização de rios podem ser classificadas como ações
estruturantes e ações estruturais e ambas são importantes para o processo. A
definição dessas ações depende dos objetivos a serem alcançados e de uma
diversidade de outros.
A percepção e prática tradicional brasileira ainda tem sido canalizar os rios ou
até mesmo tamponá-los para o transporte de efluentes e para a ampliação do
sistema viário. Entretanto, já é perceptível a reação de alguns grupos ambientalistas,
universidades e especialistas para a mudança deste paradigma.
A literatura consultada apresentou práticas de revitalização nas regiões
nordeste, sudeste e sul do Brasil. Não foram identificados projetos dessa magnitude
nas regiões norte e centro-oeste.
O estudo indica a necessidade de maior investimento em projetos de manejo
de corpos de água no Brasil visando à sustentabilidade ambiental, com envolvimento
multidisciplinar, com participação social, com tecnologias adequadas e com
processo continuado.
Referências
ALENCAR, J C. Potencial de corpos d’água em bacias hidrográficas
urbanizadas para renaturalização, revitalização e recuperação. Um estudo da
bacia do Jaguaré. 2017. 310. Tese (Doutorado em engenharia civil) - Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017.
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BRASIL. MINISTÉRIO DAS CIDADES. Secretaria Nacional de Saneamento
Ambiental. Plano Nacional de Saneamento Básico - PLANSAB. Dezembro de
2013.
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NETTO, Ana. L. C.; SCHLEE, Mônica B.; JARA, Sônia, D. M.; MARTINEZ, Maria I.;
JÚNIOR, Osmar P. da S. Gestão Ambiental e Regeneração de Rios Urbanos,
Estudo de Caso Sertão do Rio das Pedras, no Rio De Janeiro. I Simpósio de
Revitalização de Rios Urbanos. São Paulo. 2015.
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