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Anais - 5o Simpósio de Tecnologia em Meio Ambiente e Recursos Hídricos – FATEC - Jahu

Técnicas Compensatórias em
Drenagem Urbana Aplicadas no
Campus da UFScar
Natália TECEDOR,1 Luana Fernanda da Silva BAPTISTA,2
Mayara Caroline FELIPE,3 Ademir Paceli BARBASSA4

Resumo
O excesso de impermeabilização do solo, originados pela ocupação urbana
desregulada, trouxe impactos consideráveis ao território. Sendo assim, o traçado
urbano se mostra fundamental na ordenação do espaço como forma de estimular o
escoamento adequado das águas pluviais urbanas, principalmente com o uso das
técnicas compensatórias. Sua aplicação estimula o desenvolvimento sustentável, pois
além de possibilitar novos conceitos de planejamento urbano, integra as questões
ambientes ao espaço urbano a partir da melhoria da qualidade das águas da chuva.
Para uma melhor compreensão da questão, parte-se da análise de aplicação das
estruturas de drenagem alternativa construídas no campus da UFSCar em uma
microbacia experimental, com o intuito de se verificar sua funcionalidade e
aplicabilidade.
Palavras-chave: Drenagem Urbana. Escoamento superficial. Técnicas compensatórias.
Poluentes.

1. Introdução
As relações humanas e os conflitos físicos encontrados no espaço urbano
são reproduzidos diretamente na nossa sociedade e em suas interações sociais.
Quando reconhecemos os processos históricos e físicos pelas quais ela se
constrói, observamos que as necessidades humanas caminham em paralelo com
as transformações físico-espaciais identificadas ao longo do tempo. Dentro deste
contexto, o Brasil se caracteriza por passar por um processo de desenvolvimento
urbano há aproximadamente 60 anos. Se em 1960 cerca de 70% da população
vivia no meio rural, em 2010 este cenário se inverteu, com 84,4% da população
morando em áreas urbanas (Censo 2010, IBGE). Ou seja, novas perspectivas de

1. Universidade Federal de São Carlos – natytecedor@hotmail.com.


2. Universidade Federal de São Carlos – baptista.luana@yahoo.com.br.
3. Universidade Federal de São Carlos – mayara_felipe@hotmail.com.
4. Universidade Federal de São Carlos – barbassa@ufscar.br.

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vida fizeram com que a população migrasse para as cidades, visando à


possibilidade de maiores oportunidades e qualidade de vida.
A migração, difundida pelo acesso a melhores condições de vida em
áreas de concentração tecnológica (Agra et al., 2001), trouxe para o país
consequências estruturais, sociais e ambientais. A necessidade de grandes
deslocamentos facilitou a implantação de grandes estruturas viárias, alterando
a formação do sítio natural e provocando uma mudança no perfil das bacias
hidrográficas. A impermeabilização de extensos trechos permitiu a alteração
dos cursos d´água e fenômenos naturais do ciclo hidrológico se tornaram um
problema urbano. Áreas passíveis de inundações foram ocupadas, carreando
em novos pontos de alagamento e alterando de forma severa o comportamento
original das águas e da paisagem natural.
A ausência de planejamento permite uma urbanização desordenada nas
áreas de bacias e de pontos de várzea, possibilitando o aumento do volume
das vazões; a velocidade de escoamento superficial; e o aumento do tempo
de concentração, impactos estes que também ocorrem em decorrência do
desmatamento e da erosão do solo.
O estudo do escoamento das águas pluviais visa reduzir os impactos do
sistema de drenagem provenientes da malha urbana. Por ser diretamente
influenciado pelo excesso de impermeabilização do solo e pelo o acúmulo de
resíduos sólidos, o aumento de velocidade de escoamento cria novos pontos
de alagamento e facilita a sua ocorrência. Por isso, o planejamento adequado,
aliado ao estimulo ao uso e aplicação de técnicas compensatórias de manejo
das águas pluviais devem promover a diminuição dos impactos gerados e o
estímulo à permanência de áreas com cobertura vegetal, possibilitando um
escoamento natural, uma proteção ao solo e a remoção de poluentes.
Portanto, este objeto se propõe verificar a funcionalidade e aplicabilidade
de estruturas compensatórias construídas em escala real no campus da
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), localizada na cidade de São
Carlos – SP. Partindo de uma microbacia experimental será compreendido
como estas estruturas funcionam e quais as suas influências, positivas e
negativas, influenciam na elaboração das paisagens urbanas. Por outro lado,
ter-se-á como foco os aspectos qualitativos e quantitativos das águas pluviais,
abrangendo assim sua importância para o estímulo a um desenvolvimento
sustentável.

2. Metodologia
O artigo baseia-se na análise de revisões bibliográficas de artigos
científicos, livros e manuais de técnicas compensatórias. Tais referências
incidirão sobre a relação entre desenvolvimento sustentável e o escoamento

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das águas pluviais, tornando possível identificar os parâmetros que


influenciam na aplicação de estruturas compensatórias e nos posteriores
resultados de sua implantação. Para isso, este artigo se baseia nos projetos
realizados por Gutierrez (2011) e Lucas (2011) em uma trincheira de infiltração,
por Angelini Sobrinha (2012) em um poço de infiltração e em um plano de
infiltração/detenção em fase de aplicação pelos presentes autores. Essas
estruturas foram projetadas e construídas em escala real, em uma microbacia
experimental, no campus da UFSCar em São Carlos – SP (Figura 1).

Figura 1 Campus da UFSCar e localização da microbacia piloto. Fonte: G-Hidro, 2012.

3. Discussão
3.1 Aspectos gerais
Uma das consequências da Revolução Industrial foi o estímulo à
concentração da população mundial em áreas urbanas. Neste contexto, o Brasil
se caracteriza por uma intensa urbanização iniciada na segunda metade do
século XX, quando cerca de 30% da população viviam nas cidades
(MARICATO, 1997). Segundo o IBGE (2010), 84% da população brasileira
vive em áreas urbanas. Ou seja, houve uma abrupta inversão num período
inferior a cinquenta anos. Dessa forma, Baptista et al. (2011) destacam alguns
impactos causados por esse crescente aumento populacional urbano ao longo
das décadas, como a alteração do ciclo hidrológico e do meio ambiente; a
redução da interceptação; o armazenamento superficial; a infiltração; e um
aumento dos volumes de escoamento superficial, visto que há um acréscimo
de áreas impermeabilizadas e a água que antes infiltraria agora acaba
escoando.

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Para exemplificar de forma sucinta estes impactos, a Figura 2 faz uma


contraposição entre uma área pré-urbanizada, onde de 100% da água que
precipita, cerca de 40% evaporam, 10% escoam superficialmente e 50%
infiltram, se transformando em água subterrânea. Entretanto, em uma área
urbanizada, a porcentagem de água precipitada que infiltra e se transforma
em água subterrânea cai para 32%, a que evapora 25% e a que vai escoar
superficialmente chega a 13%, além de um diferencial de 30% que tem como
destino o esgoto pluvial.

Figura 2 Características do balanço hídrico numa bacia urbana. Fonte: Tucci e Mendes
(2006).

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Tucci (1995) explica que o desenvolvimento urbano ocasiona uma


impermeabilização do solo através de telhados, ruas, calçadas e pátios. Sendo
assim, a parcela da água que antes se infiltrava diretamente, passa a escoar
pelos condutos, aumentando o escoamento superficial. Da mesma forma, o
volume que antes escoava lentamente pela superfície do solo e ficava retido
nas plantas, com a urbanização, passou a escoar no canal, ordenando uma
maior capacidade de escoamento das seções das tubulações. Para elucidar
esse contraste, a Figura 3 demonstra as diferenças entre os hidrogramas de
uma bacia natural e do período referente à posterior urbanização.

Hidrograma da área urbanizada

Hidrograma da área não urbanizada


Vazão

Tempo

Figura 3 Hidrograma de uma área urbanizada e não urbanizada. Fonte: Tucci (1995).

Portanto, fica evidente que a interferência humana no meio ambiente se


caracteriza por ser um processo que atravessa diversas temáticas, reafirmando
a multidisciplinaridade das quais os cenários urbanos são construídos.
3.2 Aspectos qualitativos das águas pluviais
As alterações do equilíbrio do microambiente estão diretamente
relacionadas com as modificações que ocorrem na cobertura vegetal através
de construções e ruas pavimentadas. Consequentemente, há uma interferência
no processo de infiltração da água pluvial no solo, bem como no sistema de
drenagem urbana e no aumento da emissão de radiação nas superfícies através
do ciclo térmico (GUTIERREZ, 2011).
A interferência neste processo permite identificar as características físicas,
químicas e biológicas que irão retratar o grau de pureza da água e indicar a
origem das suas impurezas (GUTIERREZ, 2011). Dessa forma, a Tabela 1
apresenta as impurezas encontradas nas águas e sua origem.
Do ponto de vista da qualidade das águas pluviais, os impactos gerados
pela urbanização são também significativos, já que a carga de poluição que
essas águas carregam nos primeiros instantes da chuvas são relevantes. Até
recentemente, as águas pluviais eram consideradas relativamente limpas.

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Entretanto, mostram-se, na realidade, superiores as cargas poluentes dos


efluentes sanitários (BAPTISTA et al., 2011).
A Tabela 2 apresenta a comparação de cargas de poluentes de efluentes
sanitários e de águas pluviais, observando-se que há parâmetros mais elevados
nas águas pluviais do que o esgoto sanitário.
Os poluentes que ocorrem na área urbana variam muito, desde compostos
orgânicos até metais altamente tóxicos. Alguns poluentes têm origem em
diferentes funções no ambiente urbano, tais como: fertilizantes e inseticidas;
chumbo proveniente das emissões dos automóveis; e os óleos de vazamento
de caminhões, ônibus e automóveis. A fuligem resultante das emissões de
gases dos veículos, das indústrias e da queima de resíduos se deposita na
superfície e são lavados pela chuva. A água, resultante desta lavagem, já chega
aos rios contaminada. Assim, os principais poluentes encontrados no
escoamento superficial urbano são os sedimentos, as bactérias, os vírus
patogênicos, os nutrientes, os metais pesados, os hidrocarbonetos de petróleo
e as substâncias que consomem oxigênio (TUCCI, 2005).
Tabela 1 Associação das impurezas encontradas nas águas e sua origem.

Origem Impurezas

Cálcio Bicarbonatos
Ferro Carbonatos
Contato da água com os Fosfatos Nitratos
minerais do solo e rochas Sódio Silicatos
Zinco Sulfatos
Manganês Magnésio

Hidrogênio livre (H+)


Bicarbonatos
Atmosfera
Sulfatos
Cloretos

Amônia Hidrogênio
Decomposição de matéria Cloretos Nitritos
orgânica Nitratos Radicais
Sulfitos Orgânicos
Bactérias
Organismos vivos Vírus
Algas

Íons inorgânicos
Fontes antropogênicas Metais pesados
Moléculas orgânicas

Fonte: FCTH (2002).

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Tabela 2 Comparação das cargas poluentes das águas pluviais e servidas.

Relação da carga poluente das águas


Intervalo de pluviais e de esgotamento sanitário
tempo
Ano Dia Hora
SST 1/2 ½ 50
DBO5 1/27 1/6 4
DQO 1/9 ½ 12
TKN 1/27 1/7 3,5

Pb 27 80 2000
Zn 1/1 4 100
Hg 1/1 7 –
Cd 1/1 5 –
SST- Sólidos Suspensos Totais; DBO- Demanda Bioquímica de Oxigênio;
DQO- Demanda Química de Oxigênio; TKN- Nitrogênio Total Kjeldahl;
Pb- Chumbo; Zn- Zinco; Hg- Mercúrio; Cd- Cádmo. Fonte: BAPTISTA et
al., 2000 citado por BAPTISTA et al., 2011.

Além da contaminação decorrente do escoamento superficial, a


composição química da água da chuva é uma combinação das gotículas que
compõem as nuvens e das substâncias que se agregam às gotas de chuva no
decorrer da precipitação. Portanto, a água da chuva retrata as características
da massa de ar, no que diz respeito ao conteúdo de partículas e gases solúveis
em água que atravessam as gotas de chuva durante a precipitação. Nota-se a
evidência desse fato na variação da composição química da água pluvial em
relação ao tempo, e que pode ser observado no decorrer de um evento de
precipitação. Outra evidência é a relação inversa que há entre o total de íons
dissolvidos e a quantidade de chuva precipitada, indicando que a maior parte
dos íons presentes na água da chuva se incorpora a ela durante a precipitação
(DE MELLO, et.al.,2006).
O transporte atmosférico dos poluentes pode ser arrastado até centenas
ou milhares de quilômetros a partir do local de origem. A carga de
contaminantes atmosféricos em países altamente industrializados como,
Alemanha, França e Inglaterra é disseminada para outras regiões através dos
ventos (SÁ, 2005). Por isso, as medidas tomadas para controle da poluição
atmosférica são extremamente importantes para mitigar o problema. No

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entanto, alguns pesquisadores alertam para o fato de que o controle tecnológico


para reduzir a poluição atmosférica nas vizinhanças das fontes poluidoras
tem gerado outras consequências. Os poluentes, quando lançados por altas
chaminés, ocupam uma faixa entre 150 e 600 metros do solo, sendo assim
mais facilmente transportados pelos ventos e atingindo maiores distâncias
(STERN et al., 1984; SILVA FILHO et al., 1993 apud SÁ, 2005).
As deposições atmosféricas compõem um dos importantes mecanismos
da redistribuição e ciclagem dos inúmeros elementos químicos sobre a
superfície do planeta, exercendo, assim, um papel importante nos processos
biogeoquímicos costeiros e continentais. O conhecimento qualitativo e
quantitativo das deposições atmosféricas é relevante para o entendimento
dos ciclos biogeoquímicos de elementos e da influência das atividades dos
seres humanos nestes processos (DE MELLO, et.al.,2006). Entretanto, também
é importante salientar que a água de chuva contém impurezas mesmo na
ausência da influência humana, sendo que o equilíbrio com o CO2 (330 mg/
L) atmosférico causa uma fraca acidez (pH= 5,7), que é considerado uma
“fronteira natural” na sua caracterização (FORNARO, 2006).
Por isso, como forma de atenuar todos os problemas relacionados à
qualidade das águas pluviais e aos impactos causados no sistema hidrológico,
através da impermeabilização do solo, do aumento do escoamento superficial
e do aumento das vazões de pico, hoje são utilizadas (e estimuladas a serem
implantadas) medidas compensatórias e de controle em drenagem urbana
em diversas localidades, principalmente nos países desenvolvidos.
3.3 Técnicas compensatórias
A necessidade de novas formas de gestão das águas pluviais se deu a
partir da análise de que as técnicas utilizadas visavam apenas situações de
cheias e grandes tempestades. Por isso, durante a década de 70, surgiram às
chamadas técnicas compensatórias, cujo objetivo é buscar minimizar os efeitos
da urbanização sobre os processos hidrológicos, beneficiando tanto a
qualidade de vida quanto a preservação ambiental (BAPTISTA et al., 2011).
Tais técnicas são estruturas que visam à retenção e infiltração de águas
precipitadas, fazendo com que as vazões sejam rearranjadas temporalmente
e que haja uma diminuição do volume escoado, visando à redução das
inundações e obtendo ganhos na qualidade das águas pluviais. Essas
estruturas podem assumir diferentes formas, podendo ser incorporadas ao
meio ambiente e as áreas urbanas, através de espaços para estacionamento,
áreas de lazer, parques e quadras esportivas.
Para Baptista et al. (2011), as técnicas compensatórias podem ser
classificadas em três metodologias:

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t Técnicas para controle na fonte: inseridas em pequenos conjuntos e


associadas a pequenas superfícies de drenagem, sendo elas: poços
de infiltração, valas e valetas, micro-reservatórios domiciliares e
telhados armazenadores.
t Técnicas lineares: inseridas junto com os sistemas viários, pátios,
estacionamentos e arruamentos com grandes áreas de drenagem
associadas, através de pavimentos porosos, valas de detenção,
trincheiras de infiltração e planos de infiltração e detenção.
t Técnicas para controle centralizado, que são bacias de detenção e retenção
associadas às áreas de drenagem de maior porte.
Portanto, no campus da UFSCar foram adotadas três diferentes tipos de
técnicas compensatórias, escolhidas conforme alguns aspectos:
t Aspectos físicos: a topografia local apresenta uma declividade
satisfatória; por não pretender deixar um aporte permanente de
água; por não optar pela existência de um exutório permanente e
pelo nível do lençol freático ser profundo.
t Aspectos urbanísticos e de infraestrutura: pela disponibilidade
de espaço e por não haver interferência direta das redes existentes
no local.
t Aspectos sanitários e ambientais: pela filtração da água no solo,
limpando os contaminantes e não ter risco sanitário pela água não
ficar estagnada no local.

A primeira técnica construída no campus é denominada filtro-vala-


trincheira de infiltração (FVT), e foi implantada por Lucas (2011). Segundo
Baptista et al. (2011) as trincheiras são técnicas compensatórias lineares
implementadas junto à superfície com pequena largura e profundidade, porém
com dimensões longitudinais mais significativas. Podem ser usadas em
canteiros centrais e passeios, ao longo do sistema viário, em jardins, áreas
verdes ou terrenos esportivos. Lucas (2011) define trincheiras como estruturas
de infiltração que tem como finalidade receber a água de escoamento
superficial e armazená-la provisoriamente, facilitando a infiltração desta no
solo, fazendo com que diminua as vazões e os volumes de escoamento para a
drenagem convencional e contribuindo também para a melhoria da qualidade
da água pluvial (Figura 4).
Mostram-se na Tabela 3 as dimensões do sistema construído por Lucas
(2011).

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Tabela 3 Dimensões do sistema FVT.

Filtro Trincheira Vala

Comprimento (m) 43,50 40,00 43,50


Largura (m) 4,30 0,80 8,00
Profundidade (m) 0,00 1,30 0,45

Volume (m³) 0,00 19,55 90,18


Fonte: Lucas (2011).

O funcionamento do sistema FVT ocorre seguindo as seguintes etapas:


1ª Etapa – a água precipitada nas áreas de captação é dirigida pela rede de
drenagem predial até uma canaleta; 2ª Etapa – na canaleta é realizada a
medição da vazão resultante do escoamento superficial; 3ª Etapa – o
escoamento é distribuído para o filtro gramado; 4ª Etapa – o filtro gramado
contribui com perdas com infiltração e armazenamento em depressões e na
remoção de poluentes; 5ª Etapa – as águas são conduzidas para a vala de
infiltração onde também ocorrem perdas por armazenamento; 6ª Etapa – após
o escoamento pela vala as águas ficam retidas na trincheira de infiltração; 7ª
Etapa – em caso de extravasamento as águas são encaminhadas para a rede
convencional existente (LUCAS, 2011)(Figura 4).

Figura 4 Visualização esquemática da trincheira. Fonte: G-Hidro, 2012.

Outra técnica construída no campus, um poço de infiltração, se destina


ao controle centralizado, e foi abordado por Angelini Sobrinha (2012).
Poços de infiltração são estruturas pontuais de controle na fonte e
caracterizam-se por necessitar de pequenas áreas para sua implantação. Tem
função de minimizar as vazões de pico e aumentar a quantidade de água que
infiltra no solo, contribuindo para a diminuição do volume do escoamento
superficial (ANGELINI SOBRINHA, 2012). Já o esvaziamento da água neste

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dispositivo pode ser por infiltração no solo ou pelo lençol freático. Em locais
onde a camada superficial é pouco permeável e as camadas mais profundas
permeáveis, este dispositivo se mostra como uma solução bastante adequada
(BAPTISTA et al., 2011).
O poço de infiltração se localiza no prédio destinado ao Núcleo de
Formação dos Professores, e recebe as águas provenientes de parte do telhado.
O poço foi construído com anéis de concreto perfurado e revestido com manta
geotêxtil. Suas laterais internas e externas foram revestidas com tijolos furados
e manta geotêxtil e sua base foi assegurada com bloco de concreto, sendo que
no fundo foi colocado uma camada de brita nº 3. O tubo de PVC perfurado
serve tanto de suporte a instalação do medidor de nível que foi colocado no
interior da estrutura quanto para coletar amostras de água. O dispositivo de
entrada do poço contém: uma tampa de metal, manta geotêxtil, uma camada
de areia grossa e uma camada superficial de brita nº 3 (ANGELINI
SOBRINHA, 2012). O poço apresenta 1,10 m de diâmetro interno; 1,30 m de
profundidade e um volume de 1 m³.
O funcionamento do poço segue as seguintes etapas: coleta do
escoamento pluvial do telhado do prédio até as canaletas gramadas; condução
das águas precipitadas pelas canaletas gramadas até o vertedor triangular;
medição das vazões de entrada; passagem pelos filtros de areia e geotêxtil;
passagem pelo geotêxtil interno ao poço em toda a área das paredes e pelo
fundo; passagem pelos furos dos anéis de concreto e distribuição pelas
camadas de tijolos internos e externos; passagem pelo geotêxtil externo e
infiltração nas paredes e no fundo do poço (Figura 5).

Figura 5 Esquema do transporte das águas pluviais para o poço de infiltração. Fonte: G-
Hidro, 2012.

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Uma última técnica implantada no campus da UFSCar foi um plano de


infiltração. Esta, porém ainda está em fase de estudo pelo grupo. O plano de
infiltração pode ser definido como uma área rebaixada coberta com gramado
nas laterais, e que recebem água pluvial vindas de superfícies impermeáveis.
(MOURA, 2005). Baptista et al. (2011) definem planos quando suas dimensões
longitudinais não são muito maiores que as transversais e sua profundidade
é reduzida. Esse tipo de estrutura deve ser utilizado em terrenos com baixa
declividade, visto que em terrenos acidentados a água ganha velocidade e
permanece pouco tempo em contato com o solo não permitindo sua adequada
infiltração, principal característica deste dispositivo (HOLZ e TASSI, 2007).
O funcionamento do Plano de Infiltração ocorre seguindo as seguintes
etapas: 1ª Etapa – a água precipitada no telhado é dirigida pela instalação
predial pluvial até uma canaleta; 2ª Etapa – na canaleta é realizada a medição
da vazão resultante do escoamento superficial; 3ª Etapa – a água então é
direcionada para uma canaleta preenchida com brita com a função de distribuí-
la e evitar erosão; 4ª Etapa – após a brita, a água chega ao plano de infiltração
onde ficará armazenada temporariamente até sua infiltração no solo ou sua
saída por um dispositivo instalado no final da estrutura.
O plano de infiltração foi projetado com uma forma de arco de elipse,
sendo a dimensão do semieixo maior de 25,85 metros e do semieixo menor de
19,90 metros. O volume total da estrutura é de 111,34 m³. Mostra-se na Figura
6 o plano de infiltração em estudo.

Figura 6 Plano de infiltração em estudo. Fonte: G-Hidro, 2013.

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4. Conclusões
O acréscimo do volume escoado tem afetado tanto a população, com o
número cada vez maior e mais frequente de inundações e pontos de
alagamento, quanto também à qualidade das águas pluviais, que cada vez
mais apresentam poluentes.
Com o surgimento das técnicas compensatórias, uma possível solução
para estes problemas foi desenvolvida. Visando diminuir o volume e a
velocidade do escoamento superficial, elas permitem proporcionar um
rearranjo das vazões, diminuindo o número de inundações e gerando também
um ganho com relação à qualidade das águas pluviais. No entanto, no Brasil,
a rede de drenagem urbana ainda faz uso total da rede convencional, ou seja,
a tubular. Além disso, por ser ausente em determinadas localidades, a
implantação e a análise de um manejo das águas pluviais de forma sustentável
fica prejudicado. Entretanto, considerando os exemplos internacionais,
verifica-se, num primeiro momento, que estas estruturas tem-se apresentado
como elementos satisfatórios no combate a inundações, pois mitiga os
impactos no sistema; favorece a melhoria da qualidade da água pluvial, já
que permite menos gastos com tratamento das águas; estimula a prevenção
da poluição do solo e das águas; e fomenta a construção de uma paisagem
urbana mais natural e agradável, gerando uma melhor qualidade de vida.
Portanto, as estruturas estudadas e implementadas no campus da UFSCar
poderão servir como exemplo e modelo de possíveis técnicas a serem
implantadas no controle da velocidade e quantidade do escoamento
superficial, bem como na qualidade das águas pluviais.

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