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Resumo
O crescimento exponencial da indústria e densificação dos centros urbanos têm transformado cada vez mais
os cenários ambientais, reduzindo áreas naturais em busca de espaços para expansão. Com o cenário natural
cada vez mais escasso e devastado, a interrupção do ciclo hidrológico natural dos efluentes pluviais passou
a afetar de forma negativa os grandes centros urbanos, que por sua vez, demonstram-se mais
sobrecarregados e possuem infraestrutura insuficiente para atendimento da demanda populacional. Perante
estas circunstâncias, a utilização de estruturas que possuam maior correlação entre correspondências
técnicas e ambientais apresentam-se eficazes como medidas que possam auxiliar no manejo dos efluentes,
como alternativas de amenização ou otimização do escoamento superficial recorrente das precipitações
pluviométricas. Caracterizado pelos grandes percentuais de infiltração, os pavimentos e superfícies
permeáveis emolduram-se como alternativas eficazes e de baixo custo, cuja implantação não requer grandes
intervenções. Devido as propriedades hidrológicas e índices físicos apresentados em suas camadas, os
pavimentos permeáveis permitem que o ciclo hidrológico natural seja restaurado em grande parte, pois sua
característica permeável possibilita que grande volume do efluente precipitado seja absorvido, percole entre
as camadas de constituição do pavimento e infiltre no terreno natural, fazendo com que o volume de água
escoado superficialmente e destinado aos corpos coletores das redes de drenagem pública seja menor.
Baseado em definições previstas em normas, instruções técnicas, análises empíricas e comparativos de
resultados finais de estudos de caso, analisa-se o emprego dos pavimentos permeáveis, considerando os
tipos mais usuais de revestimento, como solo compactado, grama, concreto permeável e bloquetes
intertravados, estendendo-se as análises frente aos diálogos interdisciplinares, como padrões estéticos,
sustentáveis, físicos, mecânicos, recorrentes dos estudos das características deste tipo de pavimento.
Palavras-chave: pavimentação, drenagem, escoamento superficial, sustentabilidade.
Abstract
The Industry exponential growth and Urban Centers densification have increasingly transformed
environmental scenarios, reducing natural areas in search of space to expansion. With the scarce and
devastating natural scenario, the interruption of natural hydrologic cycle negatively affect the large urban
centers, which in turn has shown more overloaded and have an insufficient infrastructure to supply
populational demand. Under those circumstances, the use of structures that have more correlation between
technical and environmental correspondences are feasible as measures that can help the management of
effluents, as possibilities to mitigate and optimize the runoff surface of the rainfall. Being characterized by
the high percentual of infiltration, the permeable pavements and surfaces frame themselves as effective and
low-cost alternative, whose implementation does not require greater interventions. Due to the hydrological
properties and physical indices presented in their layers, permeable pavements allow natural hydrological
cycle to be largely restored, as its permeable characteristic allow a large volume of the precipitated effluent
to be absorbed, percolate between the layers constituting the pavement and infiltrate the natural ground,
reducing volume of the runoff surface, destined to the public drainage networks. Based on standards
definitions, technical reports and instructions, empirical and comparative analysis of the final results about
case studies, the use of permeable pavement has been analyzed, taking into consideration different and most
useful types of finished floor, as compacted soil, grass, permeable concrete, interlocking floor, extending
the analysis to the interdisciplinary dialogues, which concerns aesthetic, sustainable, physical, mechanical
patterns, outcome from studies of that kind of pavement and its characteristics.
Keywords: pavement, drainage, runoff surface, sustainability.
INTRODUÇÃO
Os processos de expansões científicas e tecnológicas possibilitam cada dia mais a
metamorfose dos padrões culturais, morais, ideológicos, dogmáticos, sazonais entre
outros conjuntos de ideais da sociedade, sobretudo são processo de expansões que
demandam espaços físicos. Deste modo, os crescentes processos de globalização
influenciam diretamente no aumento dos índices de urbanização dos centros
(GROSTEIN, 2001), (PENA, 2020).
As cidades atuais estão adquirindo cada vez mais o processo de expansão vertical,
visto que os processos de urbanização ascenderam de maneira acelerada e descontrolada
nos últimos anos. Segundo índices estatísticos, no ano de 2010 a taxa de urbanização dos
centros correspondia a 85% (IBGE, 2010) e segundo o estudo feito para Assentamentos
Humanos, este valor aumentaria para 90% neste ano de 2020 (ONU, 2012).
A busca pela expansão resultou na significativa redução de áreas verdes, áreas
permeáveis e vida selvagem que anteriormente habitavam os ecossistemas naturais.
Segundo Mascaró e Mascaró (2009), quanto maior a expansão urbana maiores serão as
intervenções, necessidades com infraestrutura e aumento da densificação da área urbana,
extinguindo os espaços naturais e potencializando a impermeabilização solo, o que influi
diretamente nas probabilidades de ocorrência de enchentes e alagamentos nos grades
centros (VAZ, 2019).
Avaliando as variáveis naturais e meteorológicas para ocorrência destes incidentes,
podemos considerar que os processos expansivos para a indústria aduzem malefícios que
impactam diretamente no ambiente, como poluição da atmosfera com gases e partículas
suspensas, impactos em áreas e meios naturais como desmatamento, contaminação de
corpos hídricos, desencadeando uma série de problemas relativos a fauna e flora,
depreciando cada vez mais o planeta (ANTONI; FOFONKA, 2018), (MÖLLER, 2009),
(LEAL, 2008).
Estas ações estão interligadas e influem diretamente no aquecimento Global.
Segundo estudos realizados pela Agência Espacial Americana, NASA e da
Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), no ano de 2019 a terra teve
um aumento de temperatura de 0,86°C, tornando-se a década mais quente registrada na
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Pavimentos Permeáveis
Definições e Conceitos
Segundo os termos e definições regulamentadas pela Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT), na Norma Brasileira (NBR) 16.416 – Pavimentos
Permeáveis de Concreto – Requisitos e Procedimentos, é definido que áreas
permeáveis são superfícies que permitem a rápida percolação de água e contribuem
para a diminuição do escoamento superficial (ABNT, 2015).
Definem-se pavimentos como estruturas construídas após a terraplenagem e
destinadas a resistir e distribuir os esforços verticais provenientes da circulação de
pedestres e automotores, melhorar as condições de tráfego e resistir a esforços
horizontais, tornando a superfície mais durável. Os pavimentos permeáveis são uma
categoria de pavimento que, além de englobarem as características e solicitações aos
esforços mecânicos, possuem estrutura que possibilita percolação e infiltração do
efluente lançado na superfície no solo natural, devido aos vazios intercomunicáveis
existentes em sua constituição, resultando em maior absorção de água nas áreas
pavimentadas, sem causar danos à sua estrutura (ABNT, 2015).
A constituição do perfil de pavimentação permeável é feita de modo a utilizar
em sua composição materiais que possibilitem características como percolação e
infiltração de efluentes nas camadas naturais de solo, resgatando parte das condições
iniciais do Ciclo Hidrológico, onde o efluente pluvial, quando precipitado, tinha
grande parte infiltrada diretamente no solo enquanto escoava pelas mais diversas
superfícies (SCHOLZ, 2007), (H. ZHU, 2018).
Perfil do Pavimento
Para constituição do pavimento são envolvidas uma série de camadas, cada uma
com função, materiais e características distintas. As camadas aplicadas para formação
da pavimentação até sua superfície, se demonstradas através da seção transversal,
constituem o perfil do pavimento (DNIT, 2006).
Tomando as definições de pavimento permeáveis e analisando a composição do
perfil de pavimento, é possível afirmar que todas as camadas constituintes possuem
tais características de percolação de água, assim como vazios em sua constituição,
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Camadas de Constituição
A composição das camadas dos Pavimentos Permeáveis, assim como dos
outros tipos de pavimentos possuem características específicas, conforme
determinado no Manual de Pavimentação do Departamento Nacional de
Infraestrutura e Transporte (DNIT, 2006). O perfil típico dos Pavimentos Drenantes
(VAZ, 2019), (SCHOLZ, 2007), (CIRIA, 2015), (TIEPO; ROCHA; et al; 2014), pode
ser constituído basicamente por:
Revestimento Permeável: camada final do pavimento, em cuja
superfície são aplicados os esforços mecânicos, exposição às ações das intempéries
e aos mais diversos tipos de solicitações / utilização, atendendo simultaneamente as
características mecânicas e drenantes necessárias. Segundo a NBR 16.416 (ABNT,
2015) apresentam coeficiente de permeabilidade maiores do que 10 -3 m/s. Os tipos
mais usuais e comuns são:
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Infiltração
Segundo as definições previstas na NBR 16.416 (ABNT, 2015) e no The SUDs
Manual (Manual dos Sistemas Urbanos de Drenagem Sustentável) (CIRIA, 2015), o
pavimento permeável pode ser dimensionado e projetado de modo a possuir três
categorias de infiltração do efluente no solo, sendo esta concepção diretamente
atrelada as características geológicas do solo da área em estudo.
A Figura 2 ilustra a filosofia de constituição dos sistemas de infiltração,
podendo estes serem caracterizados e descritos como:
- Infiltração total (Figura 2 - modelo A): permite a passagem direta do efluente
precipitado ou lançado pelas camadas de constituição do perfil do pavimento e
destina o mesmo a infiltração total em solo natural, sem que haja dispositivos
hidráulicos instalados de forma pontual a auxiliar no manejo do efluente;
- Infiltração Parcial (Figura 2 - modelo B): Permite a passagem direta do
efluente pelas camadas superficiais do perfil do pavimento e utiliza drenos para
canalizar e direcionar o efluente que fica retido nas camadas de base e sub -base do
pavimento. Estes drenos são interligados a uma linha de coleta principal, portanto um
percentual é destinado a infiltração e o volume restante é removido pela linha de
drenagem construída;
- Sem Infiltração (Figura 2 - modelo C): Apesar da classificação nos levar a
pensar que este tipo de pavimentação não permite infiltração ou permeabilidade,
neste caso, o efluente precipitado é infiltrado no pavimento projetado e removida
através de tubulações e drenos, pois a camada do subleito do pavimento é estanque e
não possibilita percolação do efluente no solo natural.
Figura 5 - Resultado da Simulação das Chuvas nas Superfícies Permeáveis – Fonte: (ARAÚJO,
1999).
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Dimensionamento Hidráulico
O dimensionamento Hidráulico do Pavimento está diretamente relacionado a
camada de Base que constitui o pavimento, visto que, conforme supracitado nas
definições, esta assume características de um reservatório temporário para o efluent e
precipitado e infiltrado nas camadas do pavimento (VAZ, 2019).
Um dos fatores que influenciam diretamente para o dimensionamento
hidráulico do pavimento é o coeficiente de permeabilidade do Solo. Este índice avalia
a capacidade de absorção do solo natural, conforme exemplifica e demonstrado no
Anexo A da NBR 16.416 (ABNT, 2015) e também determina a velocidade de
infiltração do efluente, em metros por segundo (m/s) no solo em análise
(MARCHIONI; SILVA, 2013).
O Dimensionamento hidráulico pode ser determinado conforme os parâmetros
apresentados no Anexo B da NBR 16.416 (ABNT, 2015), porém existem outros
métodos usuais que compõem a literatura de dimensionamento de SUDS, como por
exemplo (VAZ, 2019):
- Método da Curva Envelope;
- Método de Hammes;
- Método do TDEC;
- Métodos Computacionais.
(𝐾 ∗ 𝑇𝑟)𝑎
ℑ= (1)
(𝑡 + 𝑏)𝑐
em que:
Im = Intensidade máxima de precipitação, em mm h-1;
Tr = tempo de retorno em anos;
t = duração da precipitação em minutos;
K, a, b, c, d = parâmetros ajustados com base nos dados pluviométricos da localidade.
𝑐 × ℑ(𝑚𝑚⁄ℎ) × 𝐴(𝑚2 )
𝑄(𝑙 ⁄𝑠) = (2)
3600
em que:
Q = vazão máxima em litros por segundo (l/s);
c = coeficiente de escoamento superficial ou run-off;
Im = Intensidade máxima de precipitação, em mm/h;
A = área de contribuição em m².
Conclusão
Baseado em estudos de casos avaliados, recorrência a pesquisas bibliográficas,
literaturas técnicas e análises empíricas supracitadas, constata-se a eficácia do
emprego de pavimentos permeáveis como alternativa para redução do escoamento
superficial e manejo de efluentes pluviais.
Concatenando conhecimentos que envolvem diversas áreas da engenharia, os
pavimentos permeáveis demonstram, além de soluções eficazes nos quesitos de
funcionalidade frente às solicitações mecânicas quanto hidrológicas, baixos custos
de implantação e manutenção.
Apresentando-se como uma técnica compensatória e auxiliar para conter os
efeitos do urbanismo, prevendo uma solução simplificada e eficaz para redução das
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áreas estanques nos grandes centros, aduzindo melhorias que afetam diretamente o
meio ambiente, os pavimentos permeáveis apresentam-se grandes aliados aos
sistemas de drenagens urbanos, como alternativas para redução dos volumes
precipitados lançados nos corpos coletores das redes públicas, engajando maior
controle sobre o escoamento superficial.
Frente às muitas possibilidades de continuidade de estudos e pesquisas, o
armazenamento e reutilização dos volumes de efluentes captados na bacia hidrológica
dos pavimentos permeáveis apontam boas perspectivas relativas ao reaproveitamento
e reutilização destas águas para diversas funcionalidades, permitindo adesão de
estudos relativos à qualidade deste efluente captado e previamente filtrado.
REFERÊNCIAS
Tucci, C. E. M. Gestão das inundações urbanas. Porto Alegre, RS: ABRH, 2005.
Vaz, Igor Catão Martins. Estudo da Utilização de Pavimentos Drenantes com fins de
Captação de Água Pluvial para Economia de Água Potável em Universidades
Públicas. Universidade Federal de Santa Catarina – Centro Tecnológico – Florianópolis,
2019. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/202844, Acesso em
28 de março de 2020.
Williams, J, M, et al., Residents’ perceptions of sustainable drainage systems as
highly functional blue green infrastructure. Landscape and Urban Planning 190
(2019), https://doi.org/10.1016/j.landurbplan.2019.103610.
Yamana, D. N.; Medeiros, J.; Lopes, E. I.; Campos, P. E. F. Calçadas drenantes:
intervenções físicas com desenvolvimento social. Gestão e Tecnologia de Projetos, São
Carlos, v.14, n.1, p.9-24, set.2019. http://dx.doi.org/10.11606/gtp.v14i1.147900.