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Resumo
A construção de uma barragem e a formação de reservatório sempre perturba as condições naturais de um
curso d’água. O reservatório se torna um meio natural de retenção de sedimento afluente devido à redução de
velocidade da corrente. Dessa forma, é possível afirmar que os reservatórios ficarão totalmente assoreados com
o tempo e esse processo pode influenciar na qualidade de água e no volume de reservação de água das
represas. O desassoreamento é um trabalho de extrema importância na recuperação de reservatórios de água
para os diversos fins. Entretanto, mesmo que temporário, perturba o ambiente e pode incrementar a
concentração de sedimentos em suspensão ou dissolvidos na água, sendo um processo de potencial poluição
aos recursos hídricos. Portanto, o objetivo neste projeto será avaliar o impacto temporário da operação de
desassoreamento da represa municipal de Fernandópolis/SP, sobre a qualidade da água do Córrego da Aldeia.
Para isso foram analisadas variáveis de qualidade de água a jusante e a montante da represa, em dois instantes
em relação à obra de desassoreamento: (1) antes e (2) durante. Com os dados coletados, foi realizada a
comparação entre as médias, por análise de variância seguida de teste de Scott-Knott ao nível de 5% de
significância estatística. Com os resultados observou-se que a obra impactou a qualidade hídrica na
concentração de NH4+, NH3-N e NH3, com incrementos médios variando de 19 a 24%.
Palavras-chave: Barragens; Paisagismo urbano; Recursos hídricos.
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Prof. Dr. Universidade Brasil, Campus Fernandópolis, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências
Ambientais, lsvanzela@yahoo.com.br1, clebermansano@yahoo.com.br5.
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Aluna do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências Ambientais, Universidade Brasil, Campus
Fernandópolis, elise_baroni@hotmail.com.
3,4
Alunas do Curso de graduação em Agronomia, Universidade Brasil, Campus Fernandópolis,
beatriz.palma2016@hotmail.com3, arimartinez.geromini@hotmail.com4.
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INTRODUÇÃO
O uso inadequado do solo provoca impactos negativos nos cursos d’água,
inclusive nos reservatórios denominados de represas. Isso ocorre devido aos sedimentos
transportados por erosão que terminam no leito dos cursos d’água e, por sua vez, são
transportados e retidos nas represas, onde a velocidade do escoamento é muito pequena
ou praticamente nula (CARVALHO, 2008). Este processo é denominado de assoreamento
e pode influenciar na qualidade de água e no volume de reservação de água das represas.
De acordo com Bruk (1985), a construção de uma barragem e a formação de
reservatório sempre perturba as condições naturais de um curso d’água. Em relação ao
aspecto sedimentológico, o reservatório se torna um meio natural de retenção de
sedimento afluente devido à redução de velocidade da corrente. Em suma, pode-se dizer
que os reservatórios serão assoreados com o tempo.
Há duas formas de se realizar o controle de sedimentos nos reservatórios: medidas
preventivas ou corretivas. As primeiras são mais eficientes e econômicas, enquanto as
medidas corretivas, como o desassoreamento, são utilizadas quando o volume de
acumulação já foi significativamente impactado. Os custos envolvidos para a recuperação,
nas medidas corretivas, se tornam insustentáveis (CARVALHO, 2000).
O desassoreamento de um reservatório de água, como uma represa, constitui no
processo de retirada do material sedimentado no leito e/ou das laterais, promovendo tanto
o aumento em profundidade como em área de espelho d’água. Este trabalho normalmente
é realizado com a combinação de dragas (para a sucção de sedimentos do leito e das
margens), escavadeiras (para o alargamento das laterais) e caminhões (para o transporte
de sedimentos aos bota-foras) (GIUDICE et al., 2018).
Da mesma forma que uma represa assoreada perde a sua função original, qualquer
que seja, o assoreamento trata-se de um processo natural de estabilização do ambiente
modificado. Portanto, um desassoreamento provocará novamente a perturbação do
ambiente, com movimentação de sedimentos e potenciais impactos sobre a qualidade de
água.
Esses impactos estão relacionados a origem dos sedimentos. Naturalmente, os
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sedimentos são partículas derivadas da fragmentação das rochas por processo físico ou
químico (CARVALHO, 1994), que podem ser transportados pelo vento, chuva ou
gravidade, atingindo cursos d’água e, posteriormente, transportados pela corrente ou
depositado no leito. Entretanto, também podem ter origem antrópica nos processos de
erosão dos solos agrícolas, que além do solo pode conter substâncias químicas originadas
de insumos agrícolas, ou das áreas urbanizadas, com carreamento de sedimentos presentes
em resíduos sólidos e líquidos (VON SPERLING, 2005; BRAGA; NUCCI, 2002).
Porém, principalmente os de origem antrópica, se constituem em fontes potenciais
de poluição aos cursos d’água, com impactos que podem culminar com a deterioração da
qualidade da água para diferentes usos e até a eutrofização (ARAÚJO et al., 2007). Dessa
forma se o desassoreamento, mesmo que temporário, perturba o ambiente e incrementa a
concentração de sedimentos em suspensão ou dissolvidos na água, sendo um processo de
potencial poluição aos recursos hídricos.
No município de Fernandópolis, Noroeste do Estado de São Paulo, existe uma
represa com finalidades paisagísticas e recreativas denominada de “Represa Beira Rio”,
que se encontra assoreada. O processo de assoreamento ocorreu principalmente em
função da evolução urbana em sua bacia de drenagem, o que resultou a uma redução de
48,3% em seu espelho d’água de 1979 a 2008 (VANZELA, 2012).
Por consequência das circunstâncias, a Prefeitura Municipal de Fernandópolis
iniciou em dezembro de 2020 a obra de desassoreamento de 4,26 ha de espelho d’água,
com previsão de término em julho de 2021.
Como trabalhos sobre o impacto ambiental de obras de desassoreamento são
escassos, o objetivo neste trabalho foi avaliar a influência do desassoreamento da
“Represa Beira Rio” sobre a qualidade de água do Córrego da Aldeia, Município de
Fernandópolis/SP, antes e durante a obra.
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METODOLOGIA
A “Represa Beira Rio” localiza-se no município de Fernandópolis entre as
latitudes 20°15’43,76” e 20°15’54,23” Sul e as longitudes 50°14’08,94” e 50°14’02,70”
Oeste, dentro dos limites da área urbana, no Córrego da Aldeia (Figura 1).
Figura 2: Localização dos pontos de amostragem a montante (e1, e2 e e3) e jusante (s).
Após a obtenção dos dados, a comparação entre as médias das amostras foi
realizada por análise de variância seguida de teste de Scott-Knott ao nível de 5% de
significância estatística.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Pela análise de variância (Tabela 3), observou-se que houve significância
estatística para as variáveis de temperatura da água, bactérias termotolerantes e coliformes
totais em função dos fatores épocas (E) e pontos (P) de amostragem e para interação entre
os fatores (ExP).
No desdobramento dos pontos dentro das épocas (Figura 3) verificou-se que, antes
do início do desassoreamento, o pH médio nos pontos E1 e S foram superiores aos pontos
E2 e E3. Após o início do desassoreamento, as médias nos pontos E3 e S foram superiores
aos dos pontos E1 e E2. Já a temperatura média da água aumentou em todos os pontos
após o início da obra.
tóxicos para a saúde humana, embora seja um indicativo de possível contaminação por
efluentes.
A concentração de oxigênio dissolvido na água está relacionada a fatores naturais,
como temperatura do ar, altitude e características do escoamento da água (EIGER, 2003;
GIRARDI et al., 2016), e antrópicas, tais como o lançamento de carga orgânica
(VANZELA; HERNANDEZ; FRANCO, 2009).
Assim, associando-se as temperaturas mais altas coincidentes com o alto potencial
de carreamento de carga orgânica pontual e difusa, é de se esperar concentrações mais
baixas e oxigênio dissolvido na água. Mesmo assim, as concentrações observadas foram
normais de acordo com a classificação do Córrego da Aldeia que é Classe 4 (CETESB,
2016), que deve ter no mínimo 2 mg L-1.
A concentração média de bactérias termotolerantes (E. coli) e coliformes totais,
em média, foi superior em todos os pontos após o início do desassoreamento na represa
(Figura 5).
CONCLUSÕES
Pelos resultados obtidos, conclui-se que a obra de desassoreamento na represa
“Beira Rio”, no município de Fernandópolis/SP, impactou as variáveis hídricas
qualitativas de amônio/amônia com incrementos variando de 19 a 24%, devido a
perturbação do sedimento de matéria orgânica decantado no leito do reservatório.
As demais variáveis hídricas foram influenciadas pelas diferenças climáticas entre
o período anterior e posterior ao início das obras de desassoreamento.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, G. H. S.; ALMEIDA, J. R.; GUERRA, A. J. T. Gestão ambiental de áreas
degradadas. 2.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007. 320p.
BRAGA, B; NUCCI, B. Introdução a engenharia ambiental. São Paulo: Prentice Hall, 2002.
305p.
BRUK, S. Methods of computing sedimentation in lakes and reservoirs. Paris: UNESCO, IHP
- II Project A.2.6.1., 1985. 224p.
GIRARDI, R.; PINHEIRO, A.; GARBOSSA, L. H. P.; TORRES, E. Water quality change of
rivers during rainy events in a watershed with different land uses in Southern Brazil. Brazilian
Journal of Water Resources, v. 21, n. 3, 2016, pp. 514-524.
OLIVEIRA, J. B.; CAMARGO, M. N.; ROSSI, M.; CALDERANO FILHO, B. Mapa pedológico
do Estado de São Paulo: legenda expandida. Campinas: Instituto Agronômico/ EMBRAPA
Solos, 1999. 64p.
SCOTT, A. J.; KNOTT, M. A. A cluster analysis method for grouping means in the analysis of
variance. Biometrics. Raleigh, v.30, n.3, p.507-512, 1974.