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ANÁLISE DA QUALIDADE DA ÁGUA DE QUATRO FONTES NATURAIS DO

VALE DO TAQUARI/RS

Odimar Lorini da Costa1, Danielle Christine Oliveira Kionka1, Daiâni Cristina Cardoso Faleiro1,
Marciano Ricardo Koch1, Estevão Schwambach1, Idelmar Bertuzzi1, André Luiz Seibert1,
Eduardo Miranda Ethur2, Eniz Conceição Oliveira2

Resumo: Um dos maiores problemas enfrentados pela população é a contaminação do lençol freático. A ocupação e uso do
solo pela sociedade alteram sensivelmente os processos biológicos, físicos e químicos dos sistemas naturais. Neste trabalho
foram realizadas análises de água de fontes naturais situadas nas áreas urbanas dos municípios de Estrela e Cruzeiro do
Sul, a fim de caracterizar a sua potabilidade quanto aos parâmetros estabelecidos na legislação ambiental vigente. As
fontes foram divididas em: fonte 1, fonte 2, fonte 3 e fonte c, as quais passaram pelos seguintes testes físico-químicos: pH,
condutividade, sólidos suspensos, Turbidez, oxigênio dissolvido, carbono orgânico, carbono total, carbono inorgânico,
nitrogênio, dureza média e temperatura. Todas as fontes ficaram com os parâmetros dentro dos padrões mínimos de
qualidade para consumo humano estabelecidos pelo CONAMA.
Palavras-chave: Água. Avaliação físico-química. Legislação ambiental.

1 INTRODUÇÃO
Os problemas causados pela crescente contaminação ambiental vêm despertando o interesse
de pesquisadores, das autoridades preocupadas com os recursos naturais e vinculadas à fiscalização
ambiental, e da população em geral, uma vez que seus efeitos estão cada vez mais presentes no
cotidiano (FONSECA et al., 2006). A água, elemento essencial à vida, pode trazer riscos à saúde em
face de sua má qualidade, servindo de veículo para vários agentes biológicos, físicos e químicos
(BARCELLOS et al., 2006). Ainda mais quando o ponto de interesse diz respeito à água para
consumo humano, que pode ser obtida nas mais diferentes fontes (SILVA; ARAÚJO, 2003).
A qualidade da água é frequentemente determinada por meio da medição de alguns
parâmetros biológicos (análises bacteriológicas - coliformes totais e fecais) e físico-químicos da
água, tais como: oxigênio dissolvido (OD), demanda bioquímica de oxigênio (DBO), pH, avaliação
da presença de poluentes ou por meio do aumento da concentração de nutrientes como o fósforo e o
nitrogênio, no caso da poluição orgânica (SILVEIRA, 2004). Em geral, as avaliações da qualidade da
água por meio dos parâmetros físico-químicos e bacteriológicos atendem ao uso para agricultura,
consumo doméstico e industrial, mas não atendem às dimensões estéticas de lazer ou ecológicas
(BAPTISTA et al., 2000).
Segundo Carvalho, Schlittler e Tornisielo (2000), o desenvolvimento não sustentável e/
ou aumento desordenado das cidades, da agricultura e da pecuária tem como principal efeito a
diminuição da vegetação nativa. Dessa forma, o desmatamento a primeira consequência prejudicial

1 Discente do Programa de Pós-Graduação, Mestrado em Ambiente e Desenvolvimento, Univates.

2 Docente Programa de Pós-Graduação, Mestrado em Ambiente e Desenvolvimento, Univates.

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ao ambiente e à qualidade da água de fontes naturais, ou seja, poderá alterar de maneira significativa
a qualidade da água que é consumida pela população de uma determinada cidade ou localidade.
O consumo de água contaminada por agentes biológicos ou físico-químicos tem levado a
diversos problemas de saúde. Algumas epidemias de doenças gastrointestinais, por exemplo,
têm como fonte de infecção a água contaminada (SILVA; ARAÚJO, 2003). A garantia do consumo
humano de água potável, livre de microorganismos patogênicos, de substâncias e elementos
químicos prejudiciais à saúde, constitui-se em ação eficaz de prevenção das doenças causadas pela
água (SILVA; ARAÚJO, 2003).
O objetivo deste estudo foi avaliar a qualidade físico-química da água de quatro fontes
naturais localizadas nos municípios de Estrela e Cruzeiro do Sul no Rio Grande do Sul. Efetuando-
se a comparação com os parâmetros determinados pela Resolução CONAMA n° 357 de 17 de março
de 2005, que dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu
enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá
outras providências.

2 MATERIAIS E MÉTODOS
Os municípios de Estrela e Cruzeiro do Sul estão inseridos no Vale do Taquari (FIGURA
1), na bacia hidrográfica do rio Taquari-Antas, apresentando características fisionômicas muito
particulares, onde, parte dela está localizada na encosta inferior do Planalto Meridional e outra nos
Campos de Cima da Serra (ECKHARDT et al., 2007).

Figura 1 - Situação e localização dos municípios de Cruzeiro do Sul e Estrela (amarelo) no Vale do Taquari.
Fonte: Corede Vale do Taquari, 2008.

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Quatro fontes foram relacionadas e tiveram amostras de águas coletadas. Três no município
de Estrela (fontes um, dois e três) e uma no município de Cruzeiro do Sul (fonte C), todas localizadas
na área urbana dos municípios. A fonte de número um (FIGURA 2), era uma antiga vertente, a qual
foi canalizada para a construção de uma residência, porém, apesar de canalizada, mantém-se como
vertente natural. As amostras de água das fontes de número dois (FIGURA 3), e três (FIGURA 4),
foram coletadas em lotes urbanos que se encontravam desocupados.
A fonte C (FIGURA 5) está localizada no centro da cidade de Cruzeiro do Sul, em uma
propriedade particular. Conforme informações dos moradores, as paredes de alvenaria foram
erguidas na década de 1970, pois o terreno próximo à nascente vivia encharcado, resolveu-se então
captar a água, que nos dias atuais é utilizada para lavar automóveis, calçadas e molhar plantas. A
água é tão abundante que, o cano preto, visto em segundo plano, ininterruptamente banha o gramado
da propriedade e, somente em épocas de muita escassez de chuva, a fonte cessa o abastecimento,
não permanecendo assim por mais de 24 horas.

Figura 2 - Registro fotográfico da fonte 1. Canalizada próximo a residência.

Figura 3 - Registro fotográfico da fonte 2. Nascente próxima ao centro da cidade.

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Figura 4 - Registro fotográfico da fonte 3. Nascente em um bairro residencial em Estrela.

Figura 5 - Registro fotográfico da fonte 3. Nascente em um bairro residencial em Estrela.

Para as coletas de água foram utilizados frascos de 1.000 mL, sendo coletados 750 mL por
amostra, tanto para os frascos com ácido sulfúrico, reagente químico utilizado como preservante,
como para as amostras sem preservante seguindo as metodologias oficiais. Frascos plásticos
reutilizáveis e limpos foram devidamente identificados e utilizados para a coleta. Foi efetuada a
medição da temperatura da água direto na fonte, com termômetro de coluna de mercúrio.
A água foi coletada a cerca de 80 centímetros de profundidade na fonte C, a essa mesma
profundidade mediu-se a temperatura da água da fonte.
As medidas físico-químicas foram realizadas utilizando aparelhagem particular para
cada parâmetro: o pH foi medido com phmetro digital Digimed DM-20, a condutividade com o

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condutivimetro OKTON CON5 Acron Series, a análise de oxigênio dissolvido com oxímetro digital,
a turbidez com turbidímetro Digimed. As medidas de dureza total e sólidos totais nas amostras de
águas foram realizadas utilizando os métodos proposto pelas normas americanas (ALPHA, 1998). Já
o carbono inorgânico, carbono orgânico, carbono total e nitrogênio, foram medidos com a utilização
do equipamento TO-VCPH, marca Shimadzu.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados da metodologia aplicada, para a determinação dos parâmetros físico-químicos
descritos, são apresentados na Tabela 1 e na Figura 6. Onde SS representa os sólidos suspensos,
T a temperatura, CON a condutividade, OD o oxigênio dissolvido, CO o carbono orgânico, CT o
carbono total, CI o carbono inorgânico; N o nitrogênio e DM a dureza média.
Tabela 1 - Resultado das análises efetuadas com as amostras das obtidas nas quatro fontes.

OD DM
T CON Turbidez CO CT CI N
Amostras pH SS (mg/ (mg
(°C) (µ/cm) (UT) (mg/L) (mg/L) (mg/L) (mg/L)
LO2) CaCO3/L)
1 25,0 7,59 511,90 0,10 0,02 7,70 3,51 23,11 19,60 7,66 110,73
2 23,0 7,85 395,50 3,74 107,00 7,10 71,65 92,84 21,19 11,42 130,19
3 24,0 7,93 151,12 0,96 424,00 7,10 23,37 42,33 15,96 1,37 89,06
C 23,0 6,91 257,60 0,06 4,67 6,40 7,61 37,26 29,65 1,49 128,28

Utilizando-se a Portaria nº 518/2004 do Ministério da Saúde, que estabelece os procedimentos


e responsabilidades relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e
seu padrão de potabilidade, e dá outras providências, pode-se inferir que os parâmetros analisados
possuem características conforme descrito a seguir.
O termo pH representa a concentração de íons hidrogênio em uma solução. A Portaria nº
518/2004 do Ministério da Saúde recomenda que o pH aceitável da água esteja na faixa de 6,0 a 9,5,
portanto o pH de todas as fontes analisadas está em conformidade com a legislação.
A turbidez da água é um parâmetro influenciado pela presença de materiais sólidos em
suspensão, que reduzem a sua transparência. Essa transparência pode ser alterada pela presença
de algas, plâncton, matéria orgânica e muitas outras substâncias como o zinco, ferro, manganês e
areia, resultantes do processo natural de erosão ou de despejos domésticos e industriais. No caso
das amostras, apenas dois valores de turbidez estão dentro do nível aceito pela portaria, o da fonte
de número um e C, os outros superam em muito o limite aceitável de 5,0 UT.
A dureza é calculada como sendo a soma das concentrações de íons cálcio e magnésio na
água, expressos como carbonato de cálcio. Neste parâmetro fica definido, para as amostras coletadas,
que a fonte numero três possui o menor índice de dureza de todas, possuindo média de 89,06 mg
CaCO3/L e a fonte de número dois o índice mais elevado com 130,19 mg CaCO3/L, entretanto, este
parâmetro está dentro do limite aceitável pela Portaria nº518/2004 do Ministério da Saúde, que
estabelece o valor máximo de 500 mg CaCO3/L para o consumo humano.
A classificação das fontes de água analisadas, utilizando-se os parâmetros físico-
químicos avaliados com a legislação ambiental vigente (Portaria CONAMA n° 357/2005), para o
enquadramento resultou:
Fonte 1 - OD não é inferior a 6, turbidez inferior a 40, pH entre 6 e 9, Classe 1.
Fonte 2 - OD superior a 2, pH entre 6 e 9, - Classe 4, pois a turbidez é mais de 100.

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Fonte 3 - OD superior a 2, pH entre 6 e 9, - Classe 4, pois a turbidez é mais de 100.


Fonte C - OD não é inferior a 6, turbidez inferior a 40, pH entre 6 e 9, Classe 1.
A turbidez é um parâmetro que interfere muito na qualidade da água e apesar de
aparentemente os dados apontarem para uma qualidade parecida em todas as amostras, pode-se
concluir que a forma de coleta das amostras pode interferir no resultado final, comprometendo a
classificação das águas perante a legislação ambiental vigente.

Onde:T a temperatura, CON a condutividade, OD o oxigênio dissolvido, CO o carbono orgânico, CT o carbono total, CI o carbono
inorgânico; N o nitrogênio e DM a dureza média.

Figura 6 - Resultado gráfico das análises efetuadas.

4 CONCLUSÃO
Por meio das análises realizadas, verificou-se que os parâmetros físicos químicos das fontes
estavam de acordo com legislação vigente para padrões de potabilidade. Pode-se constatar que
todas as fontes estavam com pH, SS, OD e DM dentro dos padrões mínimos de qualidade para
consumo humano estabelecidos pela resolução CONAMA nº 357 de 17 de março de 2005. Já no
parâmetro turbidez, somente as fontes 1 e C estavam dentro dos padrões adequados. Em relação à
medição de matéria orgânica foi possível constatar que as fontes 1 e C possuíam uma concentração
muito menor de CO em relação às fontes 3 e 4.
De acordo com a Portaria CONAMA n° 257/2995 as fontes 1 e C são classificadas como
Classe 1, o que indica que podem ser usadas para consumo humano após serem submetidas
a tratamento simplicado. As fontes 3 e 4 são classificadas como Classe 4, podendo ser utilizadas
apenas para navegação e para harmonia paisagística. Cabe ressaltar que não foram realizados testes
de toxicidade, que são determinantes para definição de potabilidade das águas provenientes das
fontes estudadas.

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REFERÊNCIAS

ALPHA. Standard methods for the examination of water and wastewater. 25. ed American Publish Health
Association, 1998.

BAPTISTA, D. F. et al. Perspectivas do uso do biomonitoramento para avaliação da saúde ambiental de


ecossistemas aquáticos. In: WORKSHOP “ÁGUA, MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS”, 2000, Rio
de Janeiro. Rio de Janeiro: UNIRIO, 2000.

BARCELLOS, C. M. et al. Avaliação da qualidade da água e percepção higiênico-sanitária na área rural de


Lavras, Minas Gerais, Brasil, 1999-2000. Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro, v. 22, n. 9, p. 1967-1978,
2006.

BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução CONAMA nº 357, de 17 de março de 2005. Diário
Oficial da União, Brasília, 17 de março de 2005.

CARVALHO, A. R., SCHLITTLER, F. H. M., TORNISIELO, V. L. Relações da atividade agropecuária com


parâmetros físicos químicos da água. Química Nova. São Paulo, v. 23, n. 5, p. 618-622, 2000.

COREDE Vale do Taquari. 2008. Disponível em: <http://mapas.fee.tche.br/municipios-do-conselho-


regional-de-desenvolvimento-corede-vale-do-taquari-2008.html>. Acessado em: set. 2011.

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sensoriamento remoto e técnicas do geoprocessamento. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE SENSORIAMENTO
REMOTO, 13. Anais... Florianópolis, 2007.

FONSECA, J. C. L. et al. Avaliação da confiabilidade analítica das determinações de carbono orgânico total
(COT). Eclética Química. São Paulo, v. 31, n. 3, p. 47-52, 2006.

SILVEIRA, M. P. Aplicação do biomonitoramento para avaliação da qualidade da água em rios.


Jaguariúna: Embrapa Meio Ambiente, 2004. (Embrapa Meio Ambiente. Documentos, 36). Dispinível em:
<http://www.cnpma.embrapa.br/download/documentos_36.pdf>. Acesso em: 20 nov. 2011.

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