Você está na página 1de 16

APLICAÇÃO DO MODELO MATEMÁTICO DE QUALIDADE DA ÁGUA

QUAL2E PARA O ESTUDO DO COMPORTAMENTO DOS NUTRIENTES


NITROGÊNIO E FÓSFORO NO RIO MONJOLINHO, SÃO CARLOS - SP.
Gabriela Rahal de Rezende1

RESUMO Os modelos de qualidade da água são uma importante ferramenta para o manejo das
Bacias Hidrográficas, por conseguirem integrar uma série de informações ambientais, possibilitando
assim uma visão dinâmica dos processos naturais. Com a modelagem matemática é possível ainda
realizar simulações de cenários futuros, que podem colaborar com o processo de tomada de decisão.
O programa QUAL-2E, na sua interface QUAL-2R, é uma destas valiosas ferramentas,
possibilitando a simulação de curso d’ água unidirecional, bem misturado e de fluxo constante. O
presente trabalho propõe avaliar a aplicação do modelo QUAL-2E para simulações das
concentrações de nitrogênio e fósforo no rio Monjolinho, São Carlos (SP).
Foi realizada a calibração do modelo e determinados os coeficientes de autodepuração para os
parâmetros: nitrogênio amoniacal, nitrato, nitrito e fosfato. Posteriormente o modelo foi validado
apresentando resultados satisfatórios em relação aos dados coletados no campo. Em seguida,
propôs-se a simulação da qualidade da água do rio Monjolinho após a implementação da estação
de tratamento esgoto de São Carlos. Os resultados demonstraram que o rio poderá sofrer alterações
em sua qualidade, mesmo que os efluentes da estação estejam dentro dos padrões de emissão
estabelecidos pelo CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente), dadas as particularidades
do Monjolinho.

ABSTRACT The water quality models are an important tool to manage the hydrographic bays,
because they can integrate a serie of environmental information, making possible a dinamic vision
of natural processes. With the mathematic modelation, it is also possible to process future scenario
simulations, in wich decisions may be based on.
The QUAL-2E software, in its QUAL-2R interface, is one of these valuable tools, enabling the
simulation of unidirectional, well mixed and constant fluxed water course. This work proposes to
valuate the application of QUAL-2E model on nitrogen and phosphorus mensuration on
Monjolinho river, São Carlos (SP).
The calibration of the model was made and the depuration of water coefficients were set to this
parameters: amoniacal nitrogen, nitrate, nitrite and phosphate. After this stage, the QUAL-2E
model was validated by presenting planned results. Later, the quality of the Monjolinho river water
after the implementation of the sewage treatment plant was simulated. The results demonstrated
that the river may suffer changes in it’s quality, even if the plant effluents stay within the emission
patterns stablished by CONAMA (The National Counsel for the Environment), regarding the
Monjolinho river's features.

Palavras-chave: Modelação matemática, QUAL2E, gestão de recursos hídricos

1)Graduada em engenharia ambiental, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo - EESC-USP, gabrielarahal@gmail.com

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 1


1 - INTRODUÇÃO

A gestão dos recursos hídricos é complexa, já que o controle da qualidade da água está
associado a uma visão holística, no nível de toda bacia hidrográfica, e não apenas pelo agente
alterador (Von Sperling, 2005), sendo necessária a utilização de ferramentas tecnológicas e
instrumentos políticos para antever os potenciais impactos e solucionar problemas causados
pelos conflitos do uso da água.
Os modelos matemáticos de qualidade da água são técnicas que possibilitam simular
condições reais, dentro de uma faixa de incertezas, permitindo a apresentação de propostas e
alternativas para gerenciamento dos recursos naturais (Tucci, 1998). Apesar das muitas
limitações e incertezas que rondam os modelos matemáticos, muitos pesquisadores os têm
utilizado na modelagem de sistemas ambientais, uma vez que os diversos ciclos (principalmente
de nutrientes) que ocorrem na natureza apresentam alta complexidade, o que torna praticamente
impossível, para o ser humano, unir e entender uma série de informações e dados desconexos,
sem a ajuda de programas computacionais.

2 - OBJETIVO

Este trabalho teve como objetivo pesquisar e avaliar a qualidade da água do rio
Monjolinho, localizado no município de São Carlos, no Estado de São Paulo, usando o modelo
matemático de qualidade da água QUAL-2E, através do estudo das interações do nitrogênio em
suas diversas formas amoniacal, nitrito, nitrato e da concentração de fósforo.
Além desse objetivo geral, teve-se como meta, também, a calibração e a validação do
modelo QUAL-2E, por meio de consulta a informações existentes e coletas de campo na sub-
bacia em questão.
Este projeto visou também realizar a simulação de condições futuras do rio Monjolinho,
para demonstrar a aplicação dos modelos matemáticos de qualidade da água no gerenciamento
dos recursos hídricos.

3 – ANÁLISE BIBLIOGRÁFICA

3.1 - Aspectos qualitativos da água

O conceito de qualidade vai além de caracterizar a água simplesmente pela sua fórmula

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 2


H2O. Isso porque a água incorpora a si diversas impurezas, devido às suas propriedades de
solvente e à sua capacidade de transportar partículas, as quais definem a qualidade da água.
A qualidade da água é função das características geológicas e geomorfológicas, da
cobertura vegetal, e principalmente, do uso e ocupação do solo da bacia hidrográfica. Esse
último tema é muito importante por retratar as pressões e impactos das atividades humanas sobre
o recurso natural.
A relação do homem com os recursos hídricos foi se perdendo ao longo da historia e hoje
dificilmente o rio é visto como parte integrante de um ciclo renovável essencial à vida humana,
sendo considerado majoritariamente como um corpo receptor de dejetos ou ainda objeto de
infraestrutura, na agricultura e geração de energia.
A interferência antrópica nos recursos hídricos pode ocorrer tanto de forma pontual, com a
geração e despejo de efluentes domésticos e industriais nos corpos d'água, quanto de forma
dispersa, como na aplicação de defensivos agrícolas e fertilizantes no solo, poluição industrial,
chuva ácida, entre outras.
É difícil estabelecer, na prática, uma análise sistemática de todos os poluentes que possam
estar presentes nos mananciais superficiais. Dessa maneira os órgãos ambientais pré-definiram
alguns indicadores físicos, químicos e biológicos que, analisados em conjunto, possibilitam
verificar os níveis de poluição de um determinado manancial. Segundo Von Sperling (2005), os
principais padrões de qualidade da água são:
• Padrão de potabilidade: Portaria 518 (2004), do Ministério da Saúde;
• Padrão de corpos d’água: Resolução CONAMA 20 (1986), do Ministério do Meio
Ambiente e eventuais legislações estaduais;
• Padrão de lançamento: Resolução CONAMA 20 (1986), do Ministério do Meio
Ambiente e eventuais legislações estaduais.
Os parâmetros de qualidade da água são de fundamental importância para a modelação
matemática de um corpo d’água, já que eles serão os dados utilizados na calibração e na
validação do modelo. Podemos citar os seguintes parâmetros como sendo fundamentais para os
estudos de qualidade da água: potencial hidrogeniônico, temperatura d’água, sólidos totais e
dissolvidos, demanda bioquímica de oxigênio, organismos patogênicos, nitrogênio orgânico,
nitrogênio amoniacal, nitrito, nitrato, fósforo orgânico, fósforo inorgânico, metais pesados.

3.1.1 - Autodepuração do rio.

O ecossistema de um corpo d’água antes do lançamento de despejos encontra-se usualmente

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 3


em estado de equilíbrio. Após a entrada de fonte de poluição, o equilíbrio entre as comunidades é
afetado, resultando numa desorganização inicial, seguida por uma tendência posterior à
reorganização.
Segundo Von Sperling (2005), a autodepuração de um rio pode ser entendida como um
processo de sucessão ecológica, pois há uma seqüência de substituições de uma comunidade por
outra, até que se estabeleça uma comunidade estável e em equilíbrio com as condições do meio.
O processo de autodepuração varia ao longo do tempo e, como o curso d’água é um
ambiente lótico1, há uma variação ao longo deste, sendo assim cada trecho do rio se encontrará
associado a um dos estágios da sucessão ecológica.

3.2 - Desenvolvimento de um Modelo Matemático de Qualidade da Água.

Segundo Loucks (1981), para o desenvolvimento matemático de qualidade da água faz-se


necessário percorrer diversas etapas até que este possa ser utilizado como uma ferramenta efetiva
no gerenciamento dos recursos hídricos.
A primeira fase, Fase de Calibração, baseia-se no conjunto de informações de entradas e
saídas observadas no curso de água pois a partir disto, serão determinados os coeficientes, como
o de desoxigenação e aeração. Esta fase se faz necessária para melhor representação da situação
real. (Loucks, 1981)
A calibração pode ser considerada como um procedimento primordial para a utilização de
um modelo matemático. Esse processo possibilita ao usuário determinar os coeficientes das
equações matemáticas utilizadas na modelação dos processos físicos, químicos e biológicos que
ocorrem no curso d’ água, a fim de se obter uma simulação com precisão satisfatória das
características reais do rio. (Oppa, 2007)
Na segunda fase, todo o equacionamento do modelo é testado, verificando-se a
consistência entre as equações matemáticas utilizadas e a dinâmica real dos mecanismos.
(Loucks, 1981)
Na última etapa, Fase de Simulação, o modelo de qualidade da água deverá estar apto a
reproduzir casos diferentes envolvendo condições adversas. (Loucks, 1981)
Após estas etapas, o modelo desenvolvido deverá ser capaz de proporcionar uma melhor
gestão dos recursos hídricos de uma bacia já que este estará adaptado para as necessidades do
usuário.

1
Segundo Tucci (1998), sistemas lóticos são aqueles que desconsideram as variações verticais e transversais da
velocidade de escoamento.

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 4


3.3 - Modelo QUAL- 2E

Em 1985, a Southeast Michigan Council of Governments (SEMCOG) lançou o QUAL2E,


um modelo versátil para qualidade de águas correntes que permite a simulação de até quinze
parâmetros, são eles: demanda bioquímica de oxigênio (demanda carbonácea), oxigênio
dissolvido, demanda bentônica de oxigênio, clorofila, nitrogênio (amônia, nitrito e nitrato),
fósforo, coliformes, material radioativo, minerais conservativos, temperatura. (Palmieri, 2004)
O primeiro passo para a utilização do modelo é fazer a representação esquemática, que
divide o rio em trechos com características hidráulicas constantes. Cada trecho é então
subdividido em elementos computacionais (ECs) de mesmos comprimentos. Esses elementos
computacionais estão ligados uns aos outros considerando os mecanismos de transporte e
dispersão. (Brown et al. (1987) apud Palmieri (2004))
A equação básica do modelo é a de transporte de massa unidimensional, levando em conta
os efeitos de advecção e dispersão. Cada componente de qualidade da água é integrada no espaço
e no tempo.
Quanto às características hidráulicas, o balanço hídrico pode ser representado pela soma
dos fluxos de entrada e retirada do respectivo elemento, sendo o componente temporal
considerado nulo, devido ao fato de que o QUAL2E opera em regime estacionário. (Palmieri,
2004)
Já em relação ao oxigênio dissolvido o QUAL2E considera como fonte de produção: a
reaeração atmosférica, fotossíntese das algas e o oxigênio contido no fluxo de entrada. Já as
fontes de remoção são: oxidação de matéria orgânica carbonácea e nitrogenada, demanda
sedimentar de oxigênio e a respiração de algas. (Fischer (1995) apud Palmieri, (2004)).
O modelo QUAL2E apresenta certas limitações dimensionais referentes ao número de
trechos (máximo quinze) e elementos computacionais (máximo quinhentos). Outra limitação do
QUAL2E é que este apenas simula condições onde o fluxo e as descargas de efluentes na bacia
são constantes. Apesar destes problemas o modelo é amplamente utilizado em todo o mundo,
havendo diversos exemplos de aplicação no Brasil. (Palmieri, (2004) e Rondon Lima (2001))

3.4 - Usos Múltiplos

Até a década de 50, de acordo com a menor demanda pelos recursos hídricos, os conflitos
pelo o uso da água não eram muito evidenciados, e pouco se discutia sobre o assunto. Hoje a
situação é diferente, com o aumento populacional e industrial sendo que, em alguns países, a
oferta de água se encontra menor que a demanda.

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 5


Em uma análise geral sobre esse problema o Plano Nacional de Saneamento constata que
grande parte do comprometimento da qualidade da água para abastecimento público é decorrente
do lançamento de efluentes, sobretudo domésticos, ficando evidente a demanda por integrar a
gestão dos recursos hídricos ao planejamento.
Com a finalidade de evitar possíveis conflitos e de proporcionar um gerenciamento mais
democrático das águas do Brasil, a Lei 9.433/1997 - Política Nacional de Recursos Hídricos,
estabeleceu que a gestão d’água deve proporcionar o seu uso múltiplo. Entende-se por uso
múltiplo o ato de conciliar as diversas atividades humanas relacionadas aos recursos hídricos, de
tal forma que as mesmas possam coexistir de maneira harmônica e principalmente, sem que o
meio ambiente venha a ser prejudicado em detrimento de outros usos.
Porém, o compartilhamento dos recursos hídricos por diversos usuários e setores da
sociedade civil exige o estabelecimento de complexas regras operacionais. As decisões devem
ser tomadas em conjunto pelo governo e pela sociedade, uma vez que onde há interesses
distintos não é simples a mediação de possíveis conflitos.
O país encontra-se na fase inicial de implementação do processo dos usos múltiplos, uma
vez que a legislação na área é recente, mas alguns avanços podem ser notados como a criação, no
Estado de São Paulo, de 22 Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos – UGRHIs e os
respectivos comitês de bacia hidrográfica.

4 – DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

O rio Monjolinho integrado à Bacia Hidrográfica do rio Jacaré-Guaçu, um dos principais


afluentes do rio Tietê, tem um área de drenagem de 274 Km2 e se encontra quase totalmente em
São Carlos (SP). Município este que tem a economia fundamentada em atividades industriais e
agropecuárias.
Segundo Sé (1992) a demanda por água para as atividades urbanas passou por grandes
transformações após a década de 50 e 60. Com o desenvolvimento industrial e a urbanização, a
demanda pela água, tanto quantitativa como qualitativamente, aumentou, diversificando-se os
usos e abrindo a necessidade de captação em outras bacias hidrográficas para atender a cidade de
São Carlos.
Pode-se observar na Figura 1 que o desenvolvimento urbano da cidade se fez dentro dos
limites geográficos da bacia hidrográfica.

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 6


Figura 1 - Bacia hidrográfica do rio Monjolinho
Na área urbanizada o rio Monjolinho recebe grandes contribuições de águas residuárias,
incluindo o esgoto sanitário da cidade de São Carlos e efluentes industriais (curtumes, papel,
tinta, matadouros, alimentos entre outros). Estes chegam ao corpo d’ água através do lançamento
em seus afluentes que são: o Tijuco Preto, o córrego do Gregório e o Santa Maria Madalena.
(Barreto, 1999)

5 – MATERIAIS E MÉTODOS

5.1 - Calibração do Modelo QUAL-2R

Foi utilizada a interface do modelo QUAL-2E, QUAL 2R, que se mostrou mais simples e
compatível com os sistemas operacionais utilizados.
A fase de calibração consistiu em adaptar o modelo QUAL 2R às condições específicas do
rio Monjolinho. Foram realizados testes com o intuito de escolher os valores de coeficientes
matemáticos que trouxessem um resultado mais próximo com a realidade.

5.2 - Validação do modelo QUAL-2E

A validação é considerada um processo extremamente importante, pois comprova que os


modelos são capazes de reproduzir através de expressões matemáticas os processos físicos,
químicos e biológicos que ocorrem no interior de uma bacia hidrográfica.
Para a realização da calibração do modelo QUAL-2E, foi feita uma coleta de dados no dia
08 de julho de 2008 no rio Monjolinho. Com isso, a veracidade das informações geradas pelo
modelo foi testada através da comparação entre os dados coletados e os obtidos pela modelação.

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 7


6 – RESULTADOS E DISCUSSÃO

6.1 – Calibração

Para a simulação da qualidade da água foram utilizados os 44 km de extensão do rio


Monjolinho, ou seja, da nascente até sua foz no rio Jacaré-Guaçu. O sistema fluvial foi dividido
em seis trechos, de acordo com os limites do modelo e considerando as características
hidrológicas do corpo d’água estudado. Cada um dos 44 elementos computacionais tem
comprimento de 1 km.
Os dados climatológicos e geográficos utilizados no modelo foram escolhidos com base
nas indicações na tese de Barreto (1999) e nas experiências obtidas por Rodrigues (2005).
Foi utilizado para a calibração do modelo, o valor de 60 (sessenta) para a constante de
dispersão longitudinal, que é o valor recomendado como padrão pelo manual do QUAL-2E.
O valor adotado do coeficiente de rugosidade de Manning foi igual a 0,035 e constante em
todos os trechos do sistema fluvial simulado, pois este valor é o mais utilizado para cursos
d’água rasos e com remanso, que é o caso do rio Monjolinho. Esta consideração foi baseada em
Mccutcheon (1989) apud Lima (1999).
Os demais coeficientes hidráulicos requeridos pelo modelo foram obtidos através de
outros trabalhos, como Barretto (1999) que aferiu dados de velocidade, vazão e geometria do
canal do rio Monjolinho em pontos iguais ao utilizado neste trabalho.
A condição inicial de cada trecho está na tabela a seguir. Esses dados foram utilizados
como base para as simulações de autodepuração do corpo d'água e para comparação com os
dados gerados pelo modelo na calibração.
Tabela 1 - Valores dos parâmetros iniciais de cada trecho, dados obtidos em Barreto (2005).
Trecho Tempera- N- N- Nitrito Nitrato P-Orgânico P-Dissolvido
tura Orgânico Amoniacal (mg/L) (mg/L) (mg/L) (mg/L)
(C°) (mg/L) (mg/L)
1 20 2,32 0,86 0,015 1,16 0,083 0,03
2 22 7,30 1,76 0,012 1,00 0,188 0,10
3 23 6,40 2,48 0,045 1,71 0,448 0,12
4 24 11,20 1,95 0,055 1,63 0,409 0,11
5 25 10,90 4,30 0,035 1,70 1,450 0,77
6 24 8,80 3,20 0,050 1,30 1,000 0,16

Os coeficientes para a calibração do nitrogênio e do fósforo foram determinados utilizando


como base uma faixa de valores fornecida por Fagundes (2006). Dentro desta faixa, realizaram-se

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 8


três simulações sendo que em cada uma delas foram determinados valores de coeficiente diferentes,
com o objetivo de escolher quais destas faixas de valores geravam situações mais próximas dos
dados coletados. Os resultados obtidos podem ser analisados nos gráficos seguintes que apresentam
os dados observados na campanha de Barreto (2005) e a simulação realizada pelo modelo QUAL2E
para os parâmetros escolhidos com três diferentes faixas de valores de coeficiente.

Figura 2 - Calibração do modelo QUAL-2E - comportamento da concentração de nitrogênio


amoniacal no rio Monjolinho.

Figura 3 - Calibração do modelo QUAL-2E - comportamento da concentração de nitrato no


rio Monjolinho.

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 9


Figura 4 - Calibração do modelo QUAL-2E - comportamento da concentração de nitrito no
rio Monjolinho.

Figura 5 - Calibração do modelo QUAL-2E - comportamento da concentração de fosfato total


no rio Monjolinho.
Pode-se observar que para a calibração do nitrogênio amoniacal e nitrato, as simulações 1 e
3 se aproximam do padrão apresentado pelos valores observados (figura 2 e 3).No entanto, na
simulação de nitrito, a única simulação que se mostra aproximada é a 1 (figura 4), provavelmente
pelo valor do coeficiente de hidrólise do N-orgânico.
Para a simulação do fosfato total pode-se analisar que não ocorreram grandes alterações no
padrão das diferentes simulações (figura 5), sendo assim adotaram-se os valores dos coeficientes
obtidos na simulação 1 para realizar a validação do modelo, já que essa simulação apresentou os
valores mais próximos do observado tanto para a calibração do nitrogênio quanto do fósforo.
A calibração foi o processo mais complexo do estudo por abranger a manipulação de um
grande número de dados e pela dificuldade em se encontrar os valores dos coeficientes na
bibliografia. Pode-se considerar também que ocorreram alterações no curso d’água no intervalo de
tempo entre este estudo e os da bibliografia. Esses fatores podem ter gerado algumas diferenças
entre os valores observados e os simulados. Apesar disso considera-se que a calibração cumpriu
seu objetivo em adaptar o modelo ao rio Monjolinho.

6.2 - Validação do modelo QUAL-2E

O processo de validação é realizado nos modelos matemáticos de qualidade da água para


comprovar se os coeficientes adotados na etapa anterior apresentam uma precisão satisfatória.
Para a validação do modelo QUAL-2E para a bacia hidrográfica do rio Monjolinho foram
utilizados os dados qualitativos e quantitativos coletados na campanha a campo de 08 de julho de
2008, realizada especificamente para este trabalho. Na tabela 11, encontram-se os valores de
nitrogênio amoniacal, nitrito, nitrato e fósforo total observado nesta campanha.

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 10


Tabela 2 - Parâmetros analisados na coleta dia 08/07/08 no rio Monjolinho
Trechos Quilometragem a Amônia Nitrito Nitrato Fosfato
partir da nascente (mg/L) (mg/L) (mg/L) (mg/L)
1 1 0,11 0,0029 0,9255 0,0327
2 5 0,05 0,0019 0,4272 0,0222
3 13 0,26 0,0150 0,4433 0,0633
4 16 0,24 0,0579 1,1425 0,1468
5 25 10,00 0,0079 0,1600 1,4496
6 44 5,00 0,0367 0,2600 0,5084

Durante a simulação do modelo Qual2E foram considerados dois pontos de lançamento


pontual, que correspondem ao córrego do Tijuco Preto e ao córrego do Gregório, no inicio dos
trechos 3 e 4 respectivamente. Os valores de nitrogênio e fósforo desses corpos d’água constam
na tabela a seguir.
Tabela 3 - Parâmetros analisados na coleta do dia 08/07/08 nos afluentes do Monjolinho
Pontos de coleta Amônia (mg/L) Nitrito (mg/L) Nitrato (mg/L) Fosfato (mg/L)
Córrego Tijuco Preto 0,17 0,0974 5,1932 0,0898
Córrego Gregório 0,35 0,0967 0,9668 0,1580

Os coeficientes hidráulicos, cinéticos e os dados climatológicos foram os mesmos


utilizados na calibração - Simulação 1.
A Figura a seguir mostra o perfil da simulação da concentração de fosfato total fornecidas
pelo modelo QUAL2E e os valores da coleta do dia 8 de julho de 2008, afim de comparação.

Figura 6 - Validação - perfil simulado pelo modelo Qual2E da concentração de nitrogênio


fosfato total no rio Monjolinho e os dados observados na campanha.

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 11


As concentrações de fosfato têm um crescimento exponencial após o início do trecho 3
(três) onde o Monjolinho começa a receber vários afluentes. Esse parâmetro ultrapassa o limite
da resolução CONAMA 357 de 2005, que estabelece o limite de 0,1mg/L de fósforo para
ambientes lóticos.
Esta figura e as outras relacionadas à validação dos parâmetros do nitrogênio mostraram
que o modelo QUAL-2R se ajustou com uma precisão satisfatória em relação aos dados
amostrais coletados no rio Monjolinho. Apesar de que no gráfico apresentado existe um pico que
extrapola o perfil. Isso se deve possivelmente a cargas pontuais recentes que não foram
identificadas na calibração do modelo, principalmente devido à descarga pontual de esgoto
sanitário que ocorre após o trecho 5, no rio Monjolinho.

6.3 - Simulação da implantação da ETE – São Carlos

Em 2005, o governo municipal de São Carlos, na figura do Serviço Autônomo de Água e


Esgoto (SAAE), juntamente com o Comitê de Bacia do rio Jacaré Guaçu e com os órgãos
responsáveis pelo gerenciamento dos recursos hídricos no âmbito federal e estadual deram início
às obras da construção da estação de tratamento de esgoto Monjolinho, ETE-Monjolinho.
Desta forma, utilizou-se o modelo QUAL-2E calibrado e validado para realizar um
prognóstico das condições do rio Monjolinho após a implementação da Estação de Tratamento
de Esgoto do Monjolinho, quanto à concentração de nitrogênio no sistema fluvial.
Com esse intuito, admitiu-se que o lançamento do efluente no corpo d’água seria de acordo
com os padrões da Resolução CONAMA nº357 de 2005, que estabelece o limite de emissão de
20mg/L para nitrogênio amoniacal.
A vazão de lançamento foi considerada igual a 0,6 m3s-1. Este valor está disponível no
website do empreendedor, o Serviço Autônomo de Água Esgoto de São Carlos (SAAE,
www.saaesaocarlos.com.br).
As figuras a seguir mostram as concentrações de nitrogênio amoniacal, nitrito e nitrato ao
longo do rio, simuladas pelo modelo QUAL-2E considerando a implantação da ETE e também o
perfil do rio simulado para o dia 08 de Julho de 2008 sem a ETE.

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 12


Figura 7 - Simulação – concentração de nitrogênio amoniacal após a implantação da ETE,
o perfil 1 sem a implantação e o limite da resolução CONAMA 357 de 2005.

Figura 8 - Simulação – concentração de nitrito após a implantação da ETE e o perfil 1 sem


a implantação.

Figura 9 - Simulação – concentração de nitrato após a implantação da ETE e o perfil 1 sem


a implantação.
Pelas figuras 7, 8 e 9 observa-se que o rio Monjolinho sentirá a influência da ETE de São
Carlos quanto à concentração de nitrogênio. Nota-se que a concentração de nitrogênio amoniacal
extrapola os limites da resolução CONAMA 357 que limita a concentração desse parâmetro de 3,7
em rios classe 1 e 2. O nitrato e nitrito não ultrapassam o limite da resolução apesar de terem suas

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 13


concentrações elevadas devido ao lançamento da ETE. O limite do nitrato é de 10mg/L e do Nitrito
é 1mg/L.
Observa-se também, quanto aos processos de conversão da amônia, que enquanto a
concentração de nitrogênio amoniacal decresce a partir do ponto de lançamento, a concentração
de nitrato e nitrito tende a aumentar, já que o N-Amoniacal é levado a Nitrito pelo processo de
nitrificação e posteriormente o Nitrito é oxidado a Nitrato, pelo processo de nitratação.
Nota-se também uma estabilidade na concentração de nitrogênio amoniacal próximo ao
limite da resolução CONAMA e a concentração de nitrito em 0,45mg/L. Já a concentração de
nitrato não se estabiliza dentro do perfil, o que mostra que o processo de nitratação ainda está
ocorrendo após o fim do trecho estudado.

7 - CONCLUSÃO

Ao utilizar modelos matemáticos para estudos sobre qualidade da água, deve-se dar imensa
importância para a fase de calibração do modelo, pois este vai ser o momento determinante para
o sucesso ou não das simulações. Deve-se levar em consideração a complexidade existente em se
trabalhar com variáveis e coeficientes que muitas vezes são estimados, sendo que estes têm que
se adequar à realidade de cada estudo específico.
Ao se trabalhar com qualidade da água deve-se considerar que os corpos d’água estão
inseridos em sistemas complexos maiores, como as cidades e as bacias hidrográficas. Esses
sistemas sofrem alterações ao longo do tempo por meio de processos antrópicos, como a
urbanização, a ocupação do campo por atividades agropecuárias, entre outros. Todo esse
contexto influencia diretamente na dinâmica dos corpos d’água e, portanto deve ser estudado
juntamente com os parâmetros de qualidade da água.
Com as simulações feitas pode-se constatar que o nitrogênio e o fósforo são bons
parâmetros indicadores do nível de poluição do corpo d’água, pois foram capazes de identificar
cargas pontuais irregulares no perfil do rio e o seu estágio de poluição.
Constatou-se que o rio Monjolinho apesar de ter sofrido uma pequena melhora em sua
qualidade, comparando os valores obtidos por Barreto (1999) com a campanha realizada nesse
trabalho, ainda sofre sérios problemas de poluição, devido principalmente a descargas difusas e
lançamentos de esgoto irregulares, que são conseqüências do forte processo de urbanização da
Bacia Hidrográfica, sendo o pior trecho o que se inicia a montante da confluência do Tijuco
preto, seguindo adiante com o Gregório até a montante da usina hidrelétrica.

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 14


As simulações feitas considerando a implantação da ETE de São Carlos, apesar de não
trazerem dados reais da característica do efluente a ser lançado, pode ser analisada como um
alerta para a concentração de nitrogênio no efluente, pois os estudos mostraram que mesmo
dentro dos padrões estabelecidos pelo CONAMA sobre emissão de efluentes (devido às
particularidades do rio), o limite de nitrogênio amoniacal pode ser ultrapassado, quando somado
às cargas já existentes.
Vale ainda ressaltar a importância de estudos que levem em consideração as concentrações
de nutrientes nos corpos d’água concomitantemente com os parâmetros relacionados à
concentração de matéria orgânica, já que os rios são sistemas complexos onde as variáveis estão
relacionadas.
Por fim, considera-se o modelo QUAL2E uma ferramenta útil na simulação de qualidade
da água, sendo esse um mecanismo que ao ser aplicado levando em conta as particularidades de
cada sistema, se mostra muito útil para o entendimento dos processos bioquímicos de conversão
do nitrogênio e fósforo, podendo ser decisivo para tomadas de decisão de uma bacia
hidrográfica, por apresentar os perfis do rio considerando diferentes possibilidades de descargas
e lançamento de efluentes.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que colaboraram direta ou indiretamente para a realização deste trabalho,
a minha orientadora Silvia Cláudia Povinelli pela dedicação e paciência, ao colega Eduardo
Penteado que trabalhou comigo desde o início. Aos técnicos do laboratório de Hidráulica e
Saneamento que auxiliaram nas análises da saída a campo.
Ao apoio financeiro da Fundação de Incremento da Pesquisa e Aperfeiçoamento Industrial.
Aos meus pais e familiares pelo apoio incondicional.

BIBLIOGRAFIA

BARRETTO, A. DOS S. (1999). Estudo da distribuição de metais em ambiente lótico, com


ênfase na assimilação pelas comunidades biológicas e na sua quantificação no sedimento e água.
EESC/USP - São Carlos-SP.
BRASIL (1986). Resolução CONAMA n.º 20, de 18 de junho de 1986. Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, Brasília-DF.

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 15


BRASIL (2005). Resolução CONAMA n.º 357, DE 17 de março de 2005. Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, Brasília-DF
CETESB (2006). Relatório de Qualidade das Águas Interiores do Estado de São Paulo:
relatório anual - 2005. São Paulo-SP.
FAGUNDES, Vinicius B. (2006). Uso do Modelo QUAL2E no estudo da qualidade da água
e capacidade de autodepuração do Rio Araguari-AP. Goiânia-GO.
FISCHER, E.G. (1995) Determinação do grau de contaminação do Ribeirão Feijão através
de levantamento de dados e modelo matemático de qualidade da água. EESC/USP - São Carlos,
São Paulo-SP.
JAMES, A. (1978). Mathematical Models in Water Pollution Control. Wiley, Nova Iorque-
EUA.
LIMA, E.B.N.R. (2001). Modelagem Integrada para Gestão da Qualidade da Água na
Bacia do Rio Cuiabá. COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro-RJ.
LOUCKS, D. (1981) Serie in water resources and Enironmental Engineering, McGraw Hill,
Nova Iorque-EUA.
OPPA, L. F. (2007). Utilização de modelo matemático de qualidade da água para análise de
alternativas de enquadramento do rio Vacacaí Mirim. UFSM, Santa Maria-RS.
PALMIERI, V. (2004) Calibração do modelo QUAL2E para o rio Corumbatí (SP). PUC -
Rio de Janeiro-RJ.
RODRIGUES, R. B. (2005) Sistema de suporte a decisão proposta para a gestão quali-
quantitativados processos de outorga e cobrança pelo uso da água. USP, São Paulo-SP.
SÉ, J.A.S. (1992). O Rio do Monjolinho e sua bacia hidrográfica como integradores de
sistemas ecológico. EESC/USP – São Carlos-SP.
SPERLING, M. V. (2005) Introdução a qualidade das águas e ao tratamento de esgotos.
UFMG, Belo Horizonte-MG.
TUCCI, C.E.M. (1998) Modelos hidrológicos. UFRGS, Porto Alegre-RS.
SAAE (2008) - Serviço Autônomo de Água e Esgoto de São Carlos: Disponível em
http://www.saaesaocarlos.com.br Acesso em 20 de julho de 2008.

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 16

Você também pode gostar