Você está na página 1de 8

COMPARAÇÃO DE PROPOSTAS DE TRATAMENTO DO ESGOTO PARA A

CIDADE DE SÃO JOÃO DO SÓTER, MARANHÃO

Mariana Silva Guimarães(1)


Graduada em Engenharia Civil - UniFacema.
Danilo Prado Pires(2)
Graduado em Engenharia Civil – UFPI; Especialização em Engenharia em Saneamento Básico e Ambiental –
INBEC; Mestrado em Engenharia Civil em Saneamento e Ambiente – UNICAMP.
Cláudio Vidrih Ferreira(3)
Graduado em Física – Unesp; Graduado em Engenharia Civil – Unesp; Mestrado em Engenharia Civil em
Geotecnia – USP; Doutorado em Engenharia Civil em Geotecnia – USP; Coordenador e Professor do Curso de
Engenharia Civil – UniFacema.

Endereço(1): Rua Aarão Réis, 1036-1136 - Centro - Caxias - Maranhão - CEP: 65604-010 - Brasil - Tel: +55
(99) 98446-4404 - e-mail: guimaraes03ms@gmail.com

RESUMO
O Saneamento Básico é constituído por serviços de suma importância para a sociedade, uma vez que a oferta
adequada de tais serviços reflete de forma significativa na saúde e na economia, garantindo a qualidade de vida
da população. A cidade São João do Sóter (Maranhão), como muitas outras cidades, enfrenta a realidade de
não possuir acesso aos serviços de saneamento básico, principalmente no que diz respeito ao tratamento de
esgoto. A mesma não apresenta nenhum tipo de rede coletora e tratamento dos efluentes produzidos,
ressaltando que muitos domicílios ainda adotam formas rústicas de tratamento, causando danos ambientais e à
saúde da população. Em vista disso, no presente trabalho foi realizada uma análise comparativa entre dois
sistemas de tratamento de esgoto doméstico, sendo estes, o reator UASB (Upflow Anairobic Sludge Blanket) e
sistema de lagoas de estabilização, propondo-se a alternativa que melhor atendeu às condições da área de
estudo. De acordo com a análise feita, o reator UASB foi considerado um sistema de tratamento mais vantajoso
para o local de estudo, no que se refere aos aspectos de demanda de área, tempo de detenção hidráulica,
eficiência de remoção de DBO, além da vantagem de produção de biogás.

PALAVRAS-CHAVE: Tratamento de Esgoto, Lagoas de estabilização, Reator UASB.

INTRODUÇÃO
O cenário sanitário do Brasil, no que tange a geração de efluentes residuários, apresenta apenas 46,0% do
esgoto tratado. Cabe ressaltar, que o contingente da população urbana atendida é de 103,5 milhões de
habitantes, revelando que, aproximadamente, metade da população brasileira não tem acesso ao serviço de
esgotamento sanitário (BRASIL, 2019).

Em relação aos serviços de atendimento de água e esgotamento sanitário, para Ferreira e Garcia (2017), o
Brasil apresenta um sistema de distribuição de água considerado abrangente, enquanto que a coleta de esgoto é
um serviço deficiente em todas as etapas de um sistema de esgotamento sanitário.

O sistema de esgotos sanitários é formado por um conjunto de obras e instalações relacionados a coleta,
transporte e afastamento, tratamento, e disposição final das águas residuárias, possibilitando que os dejetos
humanos não entre em contato com a população, evitando os vetores de doenças (RIBEIRO et al.,2010).
Diante da ocorrência de episódios relacionados a doenças devido à falta de tal serviço, além da contaminação
dos corpos hídricos, nota-se que a importância da implantação de sistemas de tratamento de esgoto por meio de
ETE (Estação de Tratamento de Esgoto) torna-se cada vez mais evidente.

A cidade São João do Sóter, localizada no estado do Maranhão, faz parte dessa realidade, possuindo um
sistema de saneamento básico em condições precárias, onde é adotado o tratamento individual para os
efluentes. Em vista disso, os rejeitos domésticos produzidos, são destinados às fossas sépticas. Muitos
domicílios ainda adotam formas rústicas de tratamento, conhecidas como fossa negra, ocasionando a

1
AESABESP - Associação dos Engenheiros da Sabesp
contaminação e degradação dos lençóis freáticos, que recebe tal carga de poluentes, além de possibilitar o
contágio da população, devido o contato direto com esgoto.

Mediante a relevância do tratamento do esgoto e o seu impacto direto na vida dos indivíduos, o presente
trabalho foi realizado com o intuito de dimensionar e analisar dois métodos de tratamento de esgoto doméstico,
de forma a propor o sistema que melhor atenda às condições da área de estudo. Optou-se por duas soluções de
tratamento, tidas como mais indicadas: reator UASB e sistemas de lagoas de estabilização. Como a cidade não
possui nenhum rio para posterior lançamento dos efluentes tratados, adotou-se como alternativa para
destinação final, o sistema de disposição no solo através do escoamento superficial.

Em razão disso, o estudo contribuiu para a revisão da problemática do esgotamento sanitário, permitindo que o
município vislumbre medidas mitigadoras para sanar esse deficit, beneficiando a população com a redução dos
níveis de poluição.

OBJETIVOS
Este trabalho teve como objetivo dimensionar uma Estação de Tratamento de Esgoto com o uso do reator
UASB seguido de escoamento superficial para a cidade de São João do Sóter - MA, com o intuito de trazer
melhorias às condições de saneamento básico da cidade e à qualidade de vida da população.

METODOLOGIA UTILIZADA
São João do Sóter é uma cidade do estado do Maranhão, limitando-se ao Norte, Sul e Leste com o município
de Caxias; ao Oeste com o município de Governador Eugênio Barros. Segundo dados do IBGE, a cidade
possui uma área de aproximadamente 1438,1 km² e uma população estimada de 18.345 pessoas, no ano de
2017. A Figura 1 mostra a localização do município de São João do Sóter, e sua delimitação em vermelho.

Figura 1: Localização do Município de São João do Sóter


Fonte: IBGE (2018)

No que se refere aos serviços de coleta e tratamento de esgoto, ainda não existe uma rede de coleta, assim,
grande parte do esgoto doméstico é lançado a céu aberto, escoando diretamente para os córregos da cidade. O
tratamento se concentra basicamente no âmbito individual, com a utilização de fossas e sumidouros. Vale
ressaltar ainda, que muitos domicílios adotam formas rústicas de tratamento, conhecidas como fossa negra, que
não possui revestimento, o que permite o contato direto entre o esgoto e o solo, ocasionando sua
contaminação, além da degradação dos lençóis freáticos existentes, que recebe tal carga de poluentes.

O presente trabalho objetivou dimensionar e analisar dois métodos de tratamento de esgoto doméstico de forma
a propor o sistema que mais se adequesse às condições da área de estudo. Desta forma optou-se por duas
soluções de tratamento, tidas como mais indicadas: reator UASB e sistemas de lagoas de estabilização. Para o
pré-dimensionamento dos sistemas de tratamento foram utilizados como base, a bibliografia de Chernicharo
(2001), para o reator UASB e de Von Sperling (2014) para o sistema de lagoas de estabilização, tendo também

2
AESABESP - Associação dos Engenheiros da Sabesp
o embasamento de normas, sendo elas a Norma Técnica Sabesp, NTS 230 (2009), que rege preceitos para
projetos de lagoas de estabilização e a NBR 12.209 (2011), que trata das condições para elaboração de projetos
para estações de tratamento de esgoto. Além das bibliografias, utilizou-se uma planilha de cálculo desenvolvida
por Pires (2016).

Como a cidade não possui nenhum rio para posterior lançamento dos efluentes tratados, adotou-se o sistema de
disposição no solo, através do escoamento superficial, como alternativa para destinação final dos efluentes.
Antes de partir para o dimensionamento dos sistemas de tratamento proposto, foi calculada primeiramente, a
vazão doméstica de esgoto, produzida por uma população projetada para o ano de 2026, através da projeção
geométrica. Além da vazão de esgoto, calculou-se a carga orgânica, bem como o gradeamento, caixa de areia e
medidor de vazão, que compõem o nível preliminar do tratamento, presentes em ambos os sistemas.

Após o pré-dimensionamento realizou-se uma análise comparativa dos dois sistemas de tratamento,
contemplando critérios relevantes que auxiliaram na escolha da melhor alternativa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Segundo o último censo realizado pelo IBGE, a cidade de São João do Sóter possuía uma população de 17.238
habitantes no ano de 2010, e em 2018 esse número subiu para 18.438 habitantes. Com a obtenção de tais
valores, pode-se estimar a população para o ano de 2026, através do método de Progressão Geométrica,
desenvolvida por Von Sperling (2014), no qual o crescimento populacional será obtido a partir das populações
dadas em cada instante no intervalo de tempo dado em anos.

Através desta progressão geométrica, foi dimensionada uma Estação de Tratamento de Esgoto para uma
população futura estimada em 19.722 habitantes.

A determinação das vazões de projeto, que são elas: vazão média, vazão máxima e vazão mínima, constituem-
se no primeiro passo para o dimensionamento. Baseado nos dados coletados e na realização dos cálculos, foi
possível determinar o valor de cada vazão. Todos os dados obtidos estão retratados na Tabela1.

Tabela 1: Produção diária de lodo


TIPO DE
QUANTIDADE
VAZÃO
Vazão Média 0,025 m³/s
Vazão Máxima 0,045 m³/s
Vazão Mínima 0,012 m³/s

A carga orgânica em DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio), está relacionada a oxidação da matéria
orgânica através de microrganismos (VON SPERLING, 2014). Com base no Atlas esgotos: Despoluição de
bacias hidrográficas, desenvolvido pela ANA - Agência Nacional de Águas (2001), pôde-se obter através de
seu relatório a carga total de DBO do município de Caxias, no ano de 2013.

Na falta de dados referentes ao município de São João do Sóter, nesse estudo foi utilizado a mesma carga
orgânica, tendo em vista que ambos municípios apresentam características semelhantes. Dessa forma, o valor
para a carga orgânica adotada foi de 391,4 kgDBO/d.

A carga orgânica em DQO (Demanda Química de Oxigênio), refere-se a uma oxidação química da matéria
orgânica, através de oxidantes como o dicromato de potássio ou permanganato, em meio ácido (VON
SPERLING, 2014). O seu valor corresponde ao dobro da carga orgânica em DBO, tendo isso em vista, através
dos cálculos se obtive o resultado de 782,8 kgDQO/d.

O tratamento preliminar está presente nos dois sistemas de tratamento propostos no presente trabalho, de forma
que o seu dimensionamento será usado em ambos. Com base nos cálculos realizados, fora possível determinar
os valores dos componentes que compõe o sistema de tratamento preliminar, tais como: Gradeamento, Caixa
de areia e Calha Parshall. A Tabela 2, apresenta os valores do dimensionamento de cada componente.

3
AESABESP - Associação dos Engenheiros da Sabesp
Tabela 2: Dimensionamento do tratamento preliminar
DISPOSITIVO DE
DIMENSÕES
TRATAMENTO
Grade Grossa 0,25 m x 0,50 m x 0,25 m
Grade Fina 0,25 m x 0,50 m x 0,25 m
Caixa de areia 1,00 m x 3,00 m x 0,50 m
Calha Parshall 3”

Neste tópico, foi efetuado uma análise comparativa entre os dois sistemas propostos para o tratamento do
esgoto doméstico da cidade de São João do Sóter. Aludida análise é voltada às características típicas de ambos
sistemas, no que se refere à volume e área; tempo de detenção hidráulica (TDH); aspectos de eficiência,
produção de biogás e tempo de detenção celular.

O volume e a área são considerados dois parâmetros significativos no dimensionamento tanto do reator como
de lagoas. Segundo recomendações constantes na NBR 12.209 (2011), a determinação do volume do reator
está diretamente relacionada com o tempo de detenção hidráulica.

Em relação ao sistema combinado de lagoa anaeróbia - lagoa facultativa, segundo o dimensionamento realizado
por Von Sperling (1995), o volume da lagoa anaeróbia é calculado a partir da divisão entre a carga efluente de
DBO e a carga volumétrica. Para a lagoa facultativa, o volume é obtido através do produto entre a área total da
lagoa por sua profundidade.

De acordo com a NTS 230 (2009), a profundidade da lagoa, pode variar entre 1,5 e 2 m, de forma que foi
preferível a adoção do valor de 1,5 m, para fim de dimensionamento. A Tabela 3, apresenta a comparação entre
o volume de efluente que cada sistema de tratamento é capaz de conter.

Tabela 3: Análise do volume


SISTEMA VOLUME
Reator UASB 6.249,96 m³
Lagoa Anaeróbia -
37.750 m³
Lagoa Facultativa

Diante dos dados mostrados na tabela, pode-se observar que o reator UASB, consegue abranger uma maior
quantidade de volume de efluente, quando comparado ao sistema de lagoas. Valendo ressaltar que o volume do
reator foi dividido para quatro módulos, a fim de otimizar a sua operação, com cada um comportando um
volume de 1.562,49 m³. A NBR 12.209 (2011) estipula um valor em torno de 4 m a 6 m para a altura do reator,
sendo escolhido para o dimensionamento o valor de 4 m. Para o sistema combinado de lagoas, foi proposto
sistema configurado com quatro lagoas, sendo duas anaeróbias e duas facultativas.

Com os valores definidos do volume e altura de cada reator, foi possível calcular o valor da área, que é definida
através da divisão do volume de cada reator, por suas respectivas alturas. Quanto ao sistema lagoa anaeróbia
combinado com a lagoa facultativa, a sua área de projeto é determinada pela razão entre o volume e a
profundidade de cada lagoa. Para a lagoa facultativa, como citado anteriormente, foi adotado uma profundidade
de 1,5 m, já a lagoa anaeróbia, onde conforme a NTS 230 (2009), pode ter uma profundidade compreendida
ente 4 a 6 m, adotando para o dimensionamento o valor de 6 m. A Tabela 4, apresenta o resultado do
dimensionamento da área de cada sistema de tratamento, juntamente com sua seção transversal.

Tabela 4: Análise do dimensionamento da área


SISTEMA SEÇÃO TRANSVERSAL ÁREA
Reator UASB 25 m x 16 m 1.600 m²
Lagoa Anaeróbia - Lagoa Anaeróbia 17 m x 35 m x 6 m
29.380 m²
Lagoa Facultativa Lagoa Facultativa 50 m x 135 m x 1,5 m

4
AESABESP - Associação dos Engenheiros da Sabesp
De acordo com os valores acima, pode-se observar que o reator UASB, com a configuração de 4 módulos,
possui um baixo requisitos de área, se comparado ao sistema de lagoas, composta por duas lagoas anaeróbias
seguida por duas lagoas facultativas, totalizando uma grande demanda por área de implantação. Von Sperling
(2014), afirma que a lagoa facultativa por si só, já demanda uma grande área, dado isso, opta-se pelo sistema
combinado que resulte na redução, porém, mesmo com a diminuição, a exigência de área para a construção da
lagoa é maior.

Um fator determinante para o dimensionamento volumétrico, tanto do reator como da lagoa anaeróbia, é o
tempo de detenção hidráulica (TDH). O mesmo foi adotado de acordo com a temperatura média do mês mais
frio do ano, como preconiza a NBR 12.209 (2011), NTS 230 (2009) e Chernicharo (2001). Quanto a
determinação do TDH referente a lagoa facultativa, a mesma é feita através da relação entre o volume da lagoa
e sua vazão.

Na cidade de São João do Sóter, a temperatura anual mais fria é de 26,1 °C, com isso, pode-se determinar o
tempo que o efluente ficará mantido no reator e na lagoa anaeróbia, tomando como base os preceitos
encontrados nas normas supracitadas. Além disso, com o volume e vazão devidamente dimensionados, é
possível calcular o tempo de detenção para a lagoa facultativa que também faz parte do sistema proposto. A
Tabela 5, sintetiza os valores correspondente ao TDH de cada sistema de tratamento.

Tabela 5: Análise do Tempo de Detenção Hidráulica (TDH)


SISTEMA TEMPO
Reator UASB 6 horas
Lagoa Anaeróbia -
17 dias
Lagoa Facultativa

Diante dos dados explanados, pode-se observar que o tempo de retenção do efluente no reator, para que ocorra
as reações biológicas necessárias ao seu tratamento, é bem menor, se comparado ao sistema combinado de
lagoa anaeróbia e lagoa facultativa. De acordo com Von Sperling (2014), a elevada retenção de sólidos no
reator, faz com que o TDH possa ser reduzido a horas, enquanto que o da lagoa levam dias.

A Eficiência de remoção é definida em função do tempo de detenção hidráulica. Após ser estimado
anteriormente o TDH de 6 h, pode-se obter a estimativa de remoção de DBO para o reator UASB. Já no que
tange ao sistema combinado lagoa anaeróbia – lagoa facultativa, a sua eficiência de remoção está diretamente
ligada a concentração de DBO afluente, onde segundo Von Sperling (2014), foi adotado um valor de
350 mg/L.

A Tabela 6 apresenta as eficiências típicas na remoção de DBO dos sistemas de tratamento abordados,
juntamente com os valores calculados. Ao analisar os dados obtidos, observa-se que o reator UASB apresenta
uma maior eficiência, com valor aproximado do valor máximo estipulado. Já o sistema combinado de lagoas
anaeróbia com lagoa facultativa apresenta eficiência de remoção muito baixa, se comparado ao reator, além do
valor estar bem longe do máximo estabelecido.

Mesmo com a eficiência máxima maior que a do reator, o sistema de lagoas, não conseguiu atingir uma
eficiência dimensionada superior.

Tabela 6: Eficiência na remoção de DBO das alternativas de tratamento analisadas


EFICIÊNCIA DE REMOÇÃO
SISTEMA DE DBO (% )
MÁXIMA CALCULADA
Reator UASB 70 63,98
Lagoa Anaeróbia -
85 54,92
Lagoa Facultativa

5
AESABESP - Associação dos Engenheiros da Sabesp
Na Tabela 7, são demonstrados os valores referentes aos volumes anuais de lodo líquido a serem tratados, de
acordo com a produção em cada uma das alternativas de tratamento.

Tabela 7: Volume lodo produzido anualmente


TOTAL DE LODO
SISTEMA
PRODUZIDO
Reator UASB 1189 m³/ano
Lagoa Anaeróbia -
788 m³/ano
Lagoa Facultativa

Analisando os dados da Tabela 7 verifica-se que o sistema de tratamento com reator UASB apresenta uma
maior produção de lodo ao ano, considerando a população projetada, porém, o lodo gerado já sai do reator
estabilizado, além de possuir um sistema de retirada de lodo mais prático e mais simples que as lagoas. Em
contrapartida, o sistema combinado por lagoa anaeróbia seguido de lagoa facultativa, produz lodo em menor
quantidade, ressaltando que o maior acúmulo de lodo se dá na lagoa anaeróbia, pelo fato de receber esgoto
bruto, havendo a necessidade de remoção no intervalo de anos, afirma Von Sperling (2014).
O biogás é obtido através de processos de fermentação da matéria orgânica, no qual as bactérias anaeróbias
degradam os compostos orgânicos presentes nos efluentes, o mesmo é composto por metano (CH 4), dióxido de
carbono (CO2), dentre outros (PRADO & CAMPOS, 2008).

Por meio da sua energia térmica, o biogás pode ser usado como combustível individual ou complementando
outro combustível, em secadores, aquecedores, motores para a geração de energia elétrica e mecânica, fogões,
geladeiras, e em outros processos (CHERNICHARO, 2001; METCALF & EDDY, 2003). Nos reatores UASB,
o tratamento do efluentes se dá através de processo anaeróbio, resultando na formação de gases como metano e
gás carbônico, que é coletado pelo separador trifásico, sendo destinado a queima purificação e utilização (VON
SPERLING, 2014).

Foi possível estimar a produção total de biogás no sistema com reator UASB, no qual depende da produção
teórica de metano, onde através de uma relação desenvolvida por Chernicharo (2001), podemos obter uma
produção teórica de aproximadamente 316,57 m³/d.

Depois de se obter a produção de metano, pode-se estimar o valor da produção total de biogás. Para
Chernicharo (2001), o valor da estimativa de biogás produzido varia entre 70 a 80% no tratamento de esgoto.
Dessa forma, o valor de biogás descoberto para um aproveitamento de 75% foi de 422,09 m³/d.

A NTS 230 (2009) afirma que a lagoa anaeróbia, por si só, pode ser constituída como um reator, desde que sua
área superficial seja diminuída, aumentando sua profundidade, e sendo coberta por um domo flutuante,
tornando-a assim, um sistema fechado, viabilizando a produção e coleta de gases. No entanto, o tratamento
proposto trata-se de um sistema combinado entre lagoa anaeróbia e lagoa facultativa, de modo que não ocorre
a produção de biogás, por se tratar de um sistema aberto.

Após a determinação do sistema de tratamento mais adequado, segue-se para a disposição final do efluente.
Como a cidade não possui rio para onde destinar, optou-se pelo sistema de escoamento superficial.

No escoamento superficial os efluentes são dispostos em terrenos com superfície planas, porém com um
pequeno declive que permita o seu escoamento da parte mais elevada para a mais baixa, utilizando-se da
gravidade para o auxílio no transporte. A inclinação do solo deve variar entre 2% a 8%, havendo também o
cultivo de vegetação no solo, pois estas aumentam a absorção de nutrientes do solo e a perda de água por
transpiração (CHERNICHARO, 2001; VON SPERLING, 2014). A Figura 2 representa um esquema de uma
rampa de escoamento superficial no solo.

6
AESABESP - Associação dos Engenheiros da Sabesp
Figura 2: Esquema de uma rampa de escoamento superficial
Fonte: Tonetti et al. (2009)

CONCLUSÕES
O presente trabalho tinha por objetivo propor a concepção de um sistema de esgotamento sanitário para a
cidade de São João do Sóter, em vista da demanda por saneamento no local. Para isso, o trabalho desenvolveu-
se através de alguns estudos e análises chegando a uma concepção final.
De acordo com estudo das duas alternativas de tratamento de esgoto para a cidade, o reator UASB foi
considerado um sistema de tratamento mais vantajoso para o local de estudo, no que se refere aos aspectos de
demanda de área, tempo de detenção hidráulica, eficiência de remoção de DBO, além da vantagem de produção
de biogás, que como já discutido anteriormente, traz benefícios por se tratar de uma alternativa de combustível.

Ao considerar os fatores de eficiência e área de implantação na escolha do sistema de tratamento, o reator


consegue promover uma eficiência de remoção de aproximadamente 64 %, em contrapartida, o sistema
combinado de lagoa anaeróbia seguido por lagoa facultativa, apresenta uma eficiência de remoção de apenas
55%, aproximadamente. Quanto a demanda de área, o reator UASB, composto por 4 módulos, precisa de uma
área de 1600 m², enquanto que o sistema de lagoas requer uma área de 7680 m². Visto que a cidade não dispõe
de grande extensão territorial, o sistema de tratamento com reator, possui a vantagem de requerer menor área.

Diante disso, foi atingido os objetivos propostos, de forma que esta concepção trará melhorias às condições de
saneamento da cidade, valendo ressaltar que apesar de se tratar de uma alternativa que, segundo os critérios
utilizados, se apresentou como a mais propícia, não se descarta a possibilidade de haver outras concepções para
o local de estudo, levando em conta outros critérios para a tomada de decisão.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS - ANA. Resolução nº 06, de 20 de março de 2001: institui o
Programa Nacional de Despoluição de Bacias Hidrográficas.
2. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR 12.209: Projeto de Estações de
Tratamento de Esgoto Sanitário. Rio de Janeiro, 2011.
3. BRASIL. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental – SNSA. Sistema
Nacional de Informações sobre Saneamento: Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos – 2017. Brasília:
SNSA/MCIDADES, 226 p.: il. 2019.
4. CHERNICHARO, C. A. L. de (Coord.). Pós-tratamento de efluentes de reatores anaeróbios. Belo
Horizonte: FINEP, 2001.
5. FERREIRA, M. P.; GARCIA, M S D. Saneamento básico: meio ambiente e dignidade humana. Dignidade
Re-Vista, v.2, n.3, p.12, 2017.
6. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estimativas populacionais para os municípios
brasileiros. Disponível em: <
https://ww2.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/estimativa2014/default.shtm>. Acesso em 2 abr. 2019.

7
AESABESP - Associação dos Engenheiros da Sabesp
7. METCALF, L.; EDDY, H. P. Wastewater engineering: treatament, disposal and reuse. Nova York:
MacGraw-Hill, 2003.
8. NORMA TÉCNICA SABESP - NTS 230: Projetos de lagoas de estabilização e seu tratamento
complementar para esgoto sanitário. São Paulo, 2009.
9. PIRES, D. P. Estudo de viabilidade para melhorias na Estação de Tratamento de Esgoto - ETE leste da
cidade de Teresina. 2016. Monografia (Pós-Graduação em Engenharia em Saneamento Básico e
Ambiental) – Universidade da Cidade de São Paulo. Teresina.
10. PRADO, M. A. C.; CAMPOS, C. M. M. Produção de biogás no tratamento dos efluentes líquidos do
processamento de coffea arabica l. em reator anaeróbico UASB para o potencial aproveitamento na
secagem do café. Ciênc. agrotec. Lavras, v. 32, n. 3, maio/jun. 2008.
11. RIBEIRO, J. W.; ROOKE. J.M.S. SANEAMENTO BÁSICO E SUA RELAÇÃO COM O MEIO
AMBIENTE E A SAÚDE PÚBLICA – UFJF. 2010. Trabalho de conclusão de curso – Instituto de
Ciências Exatas, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2010.
12. TONETTI, A. L., et al. Tratamento de esgoto de pequenas comunidades pelo método de escoamento
superficial no solo. Teoria e prática na Engenharia Civil. Rio Grande, n. 13, p. 69-79, mai. 2009.
13. VON SPERLING, M. Lagoas de estabilização (Princípios do Tratamento Biológico de Águas
Residuárias). 2. ed. Belo Horizonte: Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental; UFMG, 196 p.
1995.
14. VON SPERLING, M. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos (Princípios do
Tratamento Biológico de Águas Residuárias). 4. ed. Belo Horizonte: Departamento de Engenharia
Sanitária e Ambiental; UFMG, 470 p., 2014

8
AESABESP - Associação dos Engenheiros da Sabesp

Você também pode gostar