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Impacts of urbanization and climate change in the drainage system of Recife-


PE

Article in Revista Brasileira de Geografia Física · November 2016


DOI: 10.5935/1984-2295.20160143

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Marcos Antonio Barbosa da Silva Junior Simone Rosa da Silva


Federal University of Pernambuco Universidade de Pernambuco
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Revista Brasileira de Geografia Física v.09, n.06 (2016) 2034-2053.

Revista Brasileira de
Geografia Física
ISSN:1984-2295
Homepage: www.ufpe.br/rbgfe

Impactos da urbanização e das alterações climáticas no sistema de drenagem do Recife/PE

Marcos Antonio Barbosa da Silva Junior¹; Simone Rosa da Silva²

¹Engenheiro Civil, Mestre em Engenharia Civil pela UPE. Autor correspondente. E-mail:
marcos15barbosa@hotmail.com.
²Engenheira Civil, Doutora em Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos pela UFPE, Professora Adjunto da UPE. E-
mail: simonerosa@poli.br.

Artigo submetido em 27/06/2016 e aceite em 03/12/2016

RESUMO
Este trabalho discute a vulnerabilidade do sistema de drenagem urbana da cidade do Recife sob o aspecto urbanístico e
climático (precipitações intensas e oscilações de maré). Realizou-se uma pesquisa bibliográfica, apresentando um
diagnóstico expedito sobre as peculiaridades da drenagem urbana da cidade, discutindo as intervenções estruturais
realizadas no sistema e as medidas implementadas para enfrentamento das mudanças climáticas, sob o aspecto da
drenagem urbana. Verificou-se que as ações e medidas que propiciem uma melhor adaptação para a adequação do
sistema de drenagem na região, diante da influência das alterações climáticas, ainda são muito tímidas. De uma maneira
geral, conclui-se pela necessária gestão integrada do saneamento, a efetiva aplicação das medidas não estruturais, e a
utilização combinada de técnicas compensatórias e estruturais que vise à sustentabilidade do sistema, considerando
também, os efeitos das alterações climáticas.
Palavras-chave: Planejamento urbano; mudança climática; drenagem urbana.

Impacts of urbanization and climate change in the drainage system of Recife-PE

ABSTRACT
This paper discusses the vulnerability of urban drainage system of the city of Recife considering the urban and climate
aspect (intense rainfall and tide oscillations). It presents an expeditious diagnosis on the urban drainage peculiarities of
the city, discussing the structural interventions carried out in the system and the measures implemented for coping with
climate change, considering the aspect of the urban drainage. It was verified that the actions and measures that allow a
better adaptation to the adequacy of the drainage system in the region, given the influence of climate change, are still
very timid. It is concluded, in general, in favor of the necessary integrated management of sanitation, the effective
implementation of non-structural measures, and the combined use of compensatory and structural techniques aiming at
the sustainability of the system, considering the effects of climate change as well.
Keywords: Urban planning; climate change; urban drainage.

Introdução cheias naturais. Assim, os impactos,


Nas últimas décadas, os municípios especialmente as inundações e a contaminação
brasileiros apresentaram um processo acelerado e dos mananciais superficiais e subterrâneos com os
não planejado de urbanização. O desenvolvimento efluentes urbanos, promovem a queda da
deste processo produziu grandes alterações no qualidade de vida da população.
ambiente urbano, que acarretaram em impactos Segundo Roesner et al. (2001) as vazões
significativos sobre a água. de pico, após o processo de ocupação, aumentam
A urbanização das cidades brasileiras tem de duas a mais de dez vezes com relação à vazão
se caracterizado pela remoção da cobertura em uma situação não urbanizada. Com isso, a
vegetal original, o aumento da impermeabilização, frequência na ocorrência de grandes vazões passa
a canalização e a ocupação das planícies a ser maior após a urbanização, podendo
ribeirinhas, que, de forma geral, tende a agravar as
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apresentar impactos significativos em períodos de Os dados secundários foram coletados,


chuva intensa com recorrências menores. prioritariamente, dos estudos de casos publicados
Associado ao processo de urbanização não em teses, dissertações e artigos científicos;
planejado, observado nas grandes metrópoles legislações e planos diretores; e relatórios das
brasileiras, outro fator relevante e de grande agências institucionalizadas para estudos de
preocupação são os efeitos provocados pelas mudanças climáticas e de drenagem urbana, de
alterações climáticas globais. forma a compreender os impactos provocados na
De acordo com o relatório Climate infraestrutura de drenagem do município, diante
Change 2007, do Intergovernmental Panel on do atual cenário urbanístico e climático.
Climate Change (IPCC, 2007a), a temperatura
mundial deve subir entre 1,1º C e 6,4º C durante o
século 21, o que resultará numa elevação no nível Caracterização física do município
do mar entre 18 e 59 cm, e uma maior frequência O Recife é uma cidade litorânea,
dos eventos climáticos extremos. Esses eventos, fortemente urbanizada, e que é constantemente
que já se mostraram trágicos e desastrosos nas acometida por alagamentos provocados pelas
grandes capitais devido ao uso inadequado do solo águas pluviais. O município possui uma área de
e de técnicas pouco eficientes de drenagem, 218,50 km2, com 1.537.704 habitantes e
podem ser agravados em um cenário de ciclos densidade demográfica de 7.037,61 hab/km²
hidrológicos alterados. (IBGE, 2010). Compõe juntamente com outros 13
Essa situação piora, principalmente nas municípios, a Região Metropolitana do Recife
planícies costeiras, como é o caso da cidade do (RMR), com população equivalente a 3.570.856
Recife, que teve seu processo de ocupação urbana habitantes, vivendo em uma área de 2.766,9 km²,
de forma desordenada, e possui um sistema de com 94% da população residente em áreas
drenagem altamente vulnerável às oscilações de urbanas (Preuss et al. 2011), Figura 1. A RMR
maré, podendo provocar sérios problemas de constitui a maior aglomeração urbana do Nordeste
alagamentos em períodos de chuvas intensas brasileiro e quinta maior do país, sendo
combinados com eventos de sizígia. classificada como uma metrópole nacional (IBGE,
Diante do exposto, este estudo tem por 2010).
objetivo, através de uma pesquisa bibliográfica Conforme preconizado no Plano Diretor
(revisão de literatura), discutir a vulnerabilidade de Desenvolvimento da Cidade do Recife
do sistema de drenagem urbana da cidade do (PDCR), o espaço urbano do Recife é constituído
Recife sob o aspecto urbanístico e climático por seis Regiões Político-Administrativas (RPA):
(precipitações intensas e oscilações de maré). RPA 1 – Centro, 2 – Norte, 3 – Noroeste, 4 –
Oeste, 5 - Sudoeste e 6 – Sul. As RPA’s foram
definidas para formulação, execução e avaliação
Sob o ponto de vista metodológico permanente das políticas e dos planejamentos
Realizou-se uma pesquisa bibliográfica, governamentais (Figura1).
sobre mudanças climáticas, mitigações e a A Figura 2, baseada nos dados do Instituto
legislação vigente, relacionadas à vulnerabilidade Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE,
do sistema de drenagem urbana da cidade do mostra a evolução populacional urbana do Recife
Recife. e RMR nas últimas décadas.

Figura 1. Localização da RMR, Recife e RPA’s. Fonte: La historia con mapas.


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População Urbana do Recife e RMR 4,000,000


3,500,000

População (hab.)
3,000,000
2,500,000
2,000,000
1,500,000
1,000,000
500,000
0
1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010
Ano
População Urbana da RMR Recife

Figura 2. População urbana em Recife e RMR. Fonte: Baseado nos dados do IBGE.

O relevo é formado por dois grupos equivalente a 24°C, e o período de estiagem


topográficos: as planícies localizadas na porção compreendendo os meses de setembro a fevereiro,
Centro-Leste (com cotas que variam de 0 a 5 m, com pluviosidade mínima em novembro (32,8
podendo atingir valores um pouco superiores e até mm) e temperatura média de 26°C, Cabral et al.
negativos) e os morros adjacentes nas porções (2001).
Norte, Oeste e Sul (com cotas que variam entre 30 As médias mensais de precipitação no
m e 100 m), de acordo com Cabral et al. (2001). período 1969 a 2015, na estação Recife-Várzea,
O sítio geológico sobre o qual Recife foi são apresentadas na Figura 3, a partir de dados
concebido é formado por uma planície de origem divulgados pela Agência Pernambucana de Águas
fluviomarinha, resultado de milhões de anos de e Climas (APAC). Na mesma figura, também são
trabalho de acumulação sedimentar. apresentados os dados médios mensais de
A média anual de precipitação é de 2.303 temperatura e evaporação do posto Recife-Curado
mm e evaporação de 1.099 mm. Segundo a da normal climatológica no período 1961 a 1990,
classificação de Köppen o Clima é Asi - Tropical a partir de dados divulgados pelo Instituto
chuvoso verão seco, com temperatura média anual Nacional de Meteorologia (INMET).
de 25,3°C e umidade do ar de 67% a 79%. No A Figura 4 mostra a variação da
município existem apenas dois períodos precipitação total anual para o sobredito posto
climáticos no ano, o período chuvoso, nos meses Recife-Várzea, considerando o mesmo período da
de março a agosto, com pluviosidade máxima no série histórica de dados (1969-2015).
mês de junho (389,6 mm) e temperatura média

Parâmetros Climatológicos do Recife


500 27.0

400 26.0

300 25.0
mm

°C

200 24.0

100 23.0

0 22.0
Jan

Fev

Set
Mai

Dez
Mar

Jun

Jul

Nov
Abr

Ago

Out

Meses
Precipitação Mensal Média - mm (1969-2015)
Evaporação Mensal Média - mm (1961-1990)

Figura 3. Médias mensais de precipitação, evaporação e temperatura no Recife. Fonte: Baseado nos dados da
APAC e INMET.
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Totais Anuais Precipitados


4000

3500

3000

2500
mm

2000

1500

1000

500

0
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1980
1981
1982
1983
1985
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
Anos
Precipitação Total Linear Média

Figura 4. Variação pluviométrica dos totais anuais precipitados registrados no posto Recife-Várzea. Fonte:
Baseado nos dados da APAC.

O Recife e a problemática da drenagem urbana As baixas cotas de seu território em


Com seu processo de ocupação urbana de relação ao nível do mar, áreas planas, lençol
forma desordenada, a cidade conta com um freático próximo a superfície e aflorante na
sistema de drenagem natural que envolve um estação chuvosa, influência dos níveis das marés,
conjunto de bacias hidrográficas do chamado são características naturais que dificultam a
“Estuário Comum do Recife”, constituído pelas drenagem das águas pluviais na cidade. O sistema
desembocaduras dos rios Capibaribe, Beberibe e de drenagem do Recife também é prejudicado
Tejipió, completado por partes das bacias devido à canalização dos riachos urbanos e às
hidrográficas dos rios Paratibe e Jaboatão (Figura ocupações irregulares de suas margens, alta taxa
5). Estas áreas são zonas de planície costeira com de impermeabilização do solo, destino inadequado
alta probabilidade de sofrer inundações com a dos resíduos sólidos e falta de saneamento.
elevação do nível do mar.

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Figura 5. Estuário comum do Recife. Fonte: Google Earth.

Além das linhas de drenagem natural, a bairros de Santo Amaro e São José, totalizando 10
macrodrenagem geral da cidade é constituída por ruas em cada bairro;
uma rede com mais de 90 canais, totalizando  RPA 2 e 3 - O bairro do Arruda, com 7 pontos
cerca de 110 km de extensão, o que significa uma de alagamento, se destaca entre os bairros com
média de 0,50 km de canal por km2. A maior número de problemas de drenagem das
microdrenagem da cidade, composta em sua RPA’s 2 e 3, que apresenta um total de 42 ruas
maioria por galerias e canaletas, possui uma com ocorrência de alagamentos;
extensão de aproximadamente 1.000 km (Emlurb,  RPA 4 - Apresentando um total de 18 ruas
2013). com problemas de alagamentos, o bairro da
Atualmente, o município do Recife Cidade Universitária se destaca com 6 vias;
apresenta 159 pontos de alagamentos, catalogados  RPA 5 - Os bairros Jardim São Paulo (11 ruas)
pela Emlurb, como os mais críticos. Segundo a e Estância (10 ruas) são os bairros mais afetados
Emlurb (2013), 29 vias têm problemas de do total de 37 ruas com problemas de drenagem
alagamento em toda sua extensão, principalmente da RPA em questão;
nos bairros de Jardim São Paulo e Arruda onde  RPA 6 - O bairro de Boa Viagem se destaca,
está a maior quantidade de ruas integralmente na RPA considerada, com 17 ruas apresentando
alagadas. problemas de drenagem, seguido pelo Ibura (6
Em termos de regionalização (RPA), ruas) e Imbiribeira (5 ruas), de um total de 35 ruas
temos a seguinte disposição dos pontos de com ocorrência de alagamento.
alagamento na cidade (Emlurb, 2013): Para melhor espacializar os pontos
 RPA 1 - Com um total de 32 ruas com registro críticos de alagamento da cidade do Recife, por
de alagamentos, o maior número de ruas com RPA, foi desenvolvida a Figura 6 a partir dos
problemas de alagamentos encontram-se nos dados cedidos pela Emlurb.

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Figura 6. Localização dos pontos críticos de alagamentos da cidade do Recife. Fonte: Silva Junior (2015).

Os efeitos do processo de urbanização da cidade processo de urbanização data do século XVI,


“A cidade do Recife nasceu e cresceu em quando sua atual área ainda pertencia à Vila de
sucessivas levas de avanço de terras, inicialmente Olinda. Diversos engenhos foram instalados na
sobre o mar, depois sobre os rios, canais, lagoas e planície estuarina do rio Capibaribe, dando início
alagados. Tão ampla foi essa intervenção no seu aos centros de povoações. Os primeiros núcleos
meio físico, que a cidade tem hoje a sua drenagem urbanos surgiram nos pontos extremos do porto e
sufocada e em muitos pontos afunda sob o peso seu processo de urbanização intensificou-se no
dos aterros” (Gusmão, 1988 apud Alcoforado, século XX, com a modificação do espaço
2006). horizontal e vertical, acarretando transformações
O processo de ocupação urbana da cidade nos ecossistemas naturais.
ocorreu de forma desordenada. O início desse
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Silva Junior, M. A. B., Silva, S. R.
Revista Brasileira de Geografia Física v.09, n.06 (2016) 2034-2053.

A partir da década de 1970, acelerou no vertical, principalmente nas áreas próximas ao


Recife o processo de adensamento construtivo e mar. Em 1996, as unidades habitacionais em
populacional na faixa diretamente litorânea, imóveis com mais de 10 pavimentos representava
estendendo tal condição de crescimento para os um percentual de 43% no bairro de Boa Viagem.,
municípios vizinhos também litorâneos – Jaboatão passando em 2003, para 57%. Desse total, 4,19%
dos Guararapes, Olinda e Paulista, provocando são edificações com mais de 20 pavimentos
transformações na distribuição da população (Recife, 2004).
dentro dos territórios municipais (Preuss et al. A Figura 7 mostra como ocorreu o
2011). processo de verticalização no bairro de Boa
Assim, o pequeno espaço territorial do Viagem na cidade do Recife, através de uma
Recife, diante desse processo desordenado de projeção histórica datada desde os anos 50 até os
ocupação, impôs cada vez mais um crescimento anos 2000.

ANOS 50 ANOS 70 ANOS 2000

Figura 7. Evolução do processo de urbanização no bairro de Boa Viagem. Fonte: Silva Junior (2015).

Com o aumento das áreas escoa superficialmente). Esse aumento provoca o


impermeabilizadas em decorrência do processo de sobrecarregamento da infraestrutura existente,
urbanização, há uma diminuição do escoamento principalmente nos pontos mais frágeis do
subterrâneo e um consequente aumento do sistema, resultando em pontos críticos de
escoamento superficial. alagamento na cidade durante os períodos
Tucci (2009) afirma que o processo chuvosos.
desordenado da ocupação urbana provoca o Para exemplificar melhor o aumento do
aumento da velocidade de escoamento das águas coeficiente run off na cidade do Recife, a Figura
pluviais, redução do tempo de concentração na 8 mostra o comparativo entre uma foto antiga do
bacia, aumento e antecipação na vazão de pico. Recife, no bairro do Pina (1940) e uma imagem de
Segundo a Emlurb (2013), no início da satélite do Google Earth datada de 2013. Na
formação do Recife, o coeficiente de escoamento referida figura é possível observar a igreja do Pina
superficial - C (run off) era da ordem de 0,15, ou em destaque. Do lado esquerdo, um alagado que
seja, 15% da água precipitada escoava foi totalmente enterrado, dando lugar à Av.
superficialmente. Atualmente, com a cidade Domingos Ferreira, principal via de acesso ao
fortemente urbanizada, o run off pode superar bairro de Boa Viagem, que pode ser visto ao
0,80 em algumas localidades (80% do que chove fundo, e no detalhe da imagem de satélite.

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1940

2013

Figura 8. Adensamento urbano no bairro do Pina. Fonte: Google Earth, Plubambo.

Moura e Silva (2015), no estudo do grau intensa, desenvolvida no âmbito do referido plano,
de impermeabilização em uma área urbana da tem a seguinte expressão básica:
zona sul do Recife (o bairro de Boa Viagem),
mostraram um aumento significativo das áreas de 335 xT 0, 218
solo impermeável entre os anos de 1975 e 2007 i (1)
(37,17% para 73,13%). Em termos de coeficiente (5  t ) 0,539
de escoamento superficial – C (run off), foram
encontrados como resultados, para o ano de 1975, Onde:
C igual a 0,37, e para o ano de 2007, C igual a i – Intensidade máxima de chuva (mm/h)
0,73. Esses valores demonstram um aumento de T – Período de retorno (ano)
quase 100% no escoamento superficial para uma t – Duração da chuva (minutos)
área sinalizada como ponto crítico de alagamento As equações estabelecidas pela Fidem,
pela Emlurb. para o cálculo das intensidades de precipitação na
RMR, tomou por base os dados do Instituto
Nacional de Meteorologia (INMET), a partir dos
Chuvas intensas e a sobrecarga do sistema de pluviogramas de 15 anos do posto de Olinda
drenagem da cidade (1926-1933, 1936, 1937, 1939, 1941-1943, 1954)
No dimensionamento de um sistema de e de 10 anos do posto do Curado (1960, 1961,
drenagem urbana, um dos fatores mais 1963, 1970, 1970-1976). O ajuste aos dados
importantes é a chuva de projeto. Geralmente, ela pluviográficos foi feito por meio de duas
é obtida através da equação IDF - intensidade, equações, que são utilizadas simultaneamente e
duração e frequência - da região (Souza e das quais se adota o maior valor. São elas:
Azevedo, 2015).
Até o início da década de 90, os estudos 456,768x(T  1,5) 0,117 x(1  4.54 x10 21 xt 8 )
i1  (2)
hidrológicos mais relevantes elaborados para (t  6) 0,58111
RMR foram: o plano diretor executivo de águas
pluviais do Recife, elaborado pela ENCIBRA S.A 72,153 x T  1,75 
0,173

em 1978 para a Prefeitura da Cidade do Recife i2  (3)


(t / 60  1)0,74826
(PCR); e o plano diretor de macrodrenagem da
RMR, elaborado em 1985 pela ACQUA-PLAN
Onde:
para a Fundação de Desenvolvimento da Região
i1 e i2 – Intensidades máximas de chuva (mm/h)
Metropolitana do Recife (Fidem).
T – Período de retorno (ano)
O plano diretor executivo de águas
t – Duração da chuva (minutos)
pluviais do Recife é muito antigo e, atualmente,
As equações mais recentes foram
encontra-se ultrapassado, pois foi fundamentado
estabelecidas por Ramos e Azevedo (2010), Silva
no paradigma higienista baseado na transferência
e Araújo (2013) e pela Emlurb, no âmbito do
rápida das águas de chuva para um ponto a jusante
plano diretor de drenagem urbana do Recife,
através de canalizações. A equação de chuva
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atualmente em elaboração. As primeiras equações cidade (Equação 6), a partir das precipitações
citadas foram desenvolvidas por duas das máximas anuais obtidas em três postos
principais universidades do estado, no âmbito de pluviométricos – Recife/Caxangá, Recife/Curado
projetos acadêmicos. e Recife/Várzea, abrangendo uma série histórica
A equação 4, desenvolvida por Ramos e de 85 anos (1927-2011).
Azevedo (2010), foi elaborada com base na série
de 40 anos de dados pluviográficos da estação do 611,3425  Tr 0,1671
i (6)
aeroporto da cidade (1968-2007). ( t  7,3069 )0,6348

1423 ,97 xT 0,1124


i (4) Onde:
(t  21) 0,7721
i – Intensidade máxima de chuva (mm/h)
T – Período de retorno (ano)
Onde: t – Duração da chuva (minutos)
i – Intensidade máxima de chuva (mm/h) Com base nas equações apresentadas,
T – Período de retorno (ano) foram representadas, na Figura 9, as curvas de
t – Duração da chuva (minutos) intensidade e duração para os períodos de retorno
A equação 5, desenvolvida por Silva e de 2, 5, 10 e 25 anos.
Araújo (2013), foi elaborada com base na série de A Figura 10 mostra as curvas de
09 anos de dados (2003-2011) da Plataforma de precipitação e duração para as mesmas
Coleta de Dados (PCD) que integra o Instituto de recorrências anteriormente citadas.
Tecnologia de Pernambuco (ITEP). Ainda com base nas sobreditas equações
de chuva, apresentam-se na Tabela 1, os
1380,2176 xT 0,19369 resultados de intensidade de chuva e os
i (5)
(t  22)0,78201 incrementos percentuais entre a diferença das
intensidades calculadas pela equação da Fidem e
Onde: as demais equações mais recentes (Ramos e
i – Intensidade máxima de chuva (mm/h) Azevedo - 2010, Silva e Araújo - 2013 e Emlurb),
T – Período de retorno (ano) considerando também, as recorrências de 2, 5, 10
t – Duração da chuva (minutos) e 25 anos.
No plano diretor de drenagem urbana do
Recife foi definida uma equação de chuvas para a

160.00 160.00
TR = 2 anos 180.00 180.00 TR = 5 anos
160.00
140.00 160.00
140.00
140.00
120.00
140.00
120.00 120.00
100.00
Intensidade (mm/h)

100.00
Intensidade (mm/h)

120.00
100.00 80.00
80.00
100.00
60.00
80.00 60.00

40.00 80.00
40.00
60.00
20.00 60.00 20.00

40.00 FIDEM 0.00 FIDEM


0.00
PCR 40.00 0 30 60 PCR
0 30 60
RAMOS e AZEVEDO RAMOS e AZEVEDO
SILVA e ARAÚJO SILVA e ARAÚJO
20.00 EMLURB 20.00 EMLURB

0.00 0.00
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 2200 2400 2600 2800 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 2200 2400 2600 2800

Duração (min) Duração (min)

Figura 9. Curvas de intensidade e duração das equações de chuva do Recife. Nota: Gráficos elaborados a
partir das equações de chuva do Recife.

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Silva Junior, M. A. B., Silva, S. R.
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200.00 200.00 TR = 10 anos 250.00 250.00 TR = 25 anos


180.00
180.00
160.00 200.00
160.00 200.00
140.00

140.00 120.00 150.00

Intensidade (mm/h)
Intensidade (mm/h)

100.00
120.00 150.00
80.00 100.00
100.00
60.00

80.00 40.00 100.00 50.00

20.00
60.00 FIDEM
FIDEM
0.00 PCR 0.00 PCR
40.00 0 30 60 RAMOS e AZEVEDO 50.00 0 30 60 RAMOS e AZEVEDO
SILVA e ARAÚJO SILVA e ARAÚJO
EMLURB EMLURB
20.00

0.00 0.00
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 2200 2400 2600 2800 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 2200 2400 2600 2800

Duração (min) Duração (min)

Figura 9 (continuidade). Curvas de intensidade e duração das equações de chuva do Recife. Nota: Gráficos
elaborados a partir das equações de chuva do Recife.

300.00 TR = 2 anos 350.00 TR = 5 anos

300.00
250.00

250.00
Precipitação (mm)
Precipitação (mm)

200.00

200.00

150.00

150.00

100.00
100.00
FIDEM FIDEM
PCR PCR
50.00 RAMOS e AZEVEDO 50.00 RAMOS e AZEVEDO
SILVA e ARAÚJO SILVA e ARAÚJO
EMLURB EMLURB
0.00 0.00
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 2200 2400 2600 2800 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 2200 2400 2600 2800

Duração (min) Duração (min)

400.00 TR = 10 anos 500.00 TR = 25 anos

450.00
350.00

400.00
300.00
350.00
Precipitação (mm)
Precipitação (mm)

250.00
300.00

200.00 250.00

200.00
150.00

150.00
100.00 FIDEM FIDEM
PCR 100.00 PCR
RAMOS e AZEVEDO RAMOS e AZEVEDO
50.00 SILVA e ARAÚJO SILVA e ARAÚJO
50.00
EMLURB EMLURB

0.00 0.00
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 2200 2400 2600 2800 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 2200 2400 2600 2800

Duração (min) Duração (min)

Figura 10. Curvas de precipitação e duração das equações de chuva do Recife. Nota: Gráficos elaborados a
partir das equações de chuva do Recife.

Uma comparação realizada entre as minutos) que apresentam as maiores intensidades


equações comumente utilizadas nos projetos de e que podem dar origem a problemas de
drenagem na cidade do Recife (Fidem) e as alagamentos na cidade, chegam a ser 41% maiores
equações mais atuais (Ramos e Azevedo – 2010; do que as obtidas com as equações do plano
Silva e Araújo – 2013 e Emlurb), verifica-se que diretor de macrodrenagem da RMR.
as intensidades de chuva com duração de até 30 Analisando as mesmas condições para a
minutos são subestimadas, considerando as equação definida por Silva e Araújo (2013),
recorrências de 2, 5, 10 e 25 anos (Figura 9). verificou-se que a intensidade de chuva passa a
As intensidades de precipitação obtidas ser 38% maior do que a obtida com as equações
com a equação definida por Ramos e Azevedo da Fidem (Tabela 1).
(2010), para as menores durações (5, 10, 15 e 30
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Silva Junior, M. A. B., Silva, S. R.
Revista Brasileira de Geografia Física v.09, n.06 (2016) 2034-2053.

Quando a comparação passa a ser feita redes de drenagem, realizou-se uma comparação
com a equação definida pela Emlurb, e entre as vazões calculadas com as equações da
considerando durações de chuva de até 30 Fidem e da Emlurb, verificando a sua influência
minutos, os valores de intensidade de precipitação na sobrecarga de um sistema de drenagem
chegam a ser 34% superiores (Tabela 1). existente.
Enquanto que para durações menores as Para isso, utilizou-se a rede de drenagem
chuvas são subestimadas, quando utilizada a de uma área fortemente urbanizada, situada numa
equação da Fidem para durações maiores, as área central do Recife, que compôs o estudo de
chuvas ficam superestimadas em relação às alternativas compensatórias para controle de
equações mais atuais (Figura 10). Este fato fica alagamentos, realizado por Silva Junior (2015).
mais evidente para a equação da PCR, que A Figura 11 mostra a rede de galerias de
apresenta precipitações bem superiores às demais drenagem da Avenida João de Barros, Rua do
equações, quando as durações de chuva são Príncipe, Rua Bispo Cardoso Ayres e Rua do
maiores que 10 horas. Riachuelo.
O aumento das intensidades das chuvas A Tabela 2 mostra as vazões afluentes ao sistema
gera um incremento no escoamento superficial, de drenagem, considerando as equações da Fidem
que aliado ao acelerado processo urbanístico, e Emlurb; os incrementos percentuais de vazões
compromete significativamente a eficiência dos máximas afluentes para as recorrências de 2, 5, 10
sistemas de drenagem. e 25 anos; e a capacidade hidráulica dos condutos
Visando uma análise expedita da que compõe o sistema.
influência das chuvas de projeto na concepção das

Tabela 1. Resultado das intensidades de precipitação a partir das equações de chuva do Recife.
Durações (min.) Incremento (%)
TR Equações Máx. Mín.
5 10 15 20 30 60 5 10 15 20 30 60
FIDEM 104,55 84,09 71,80 63,42 52,49 36,91 - - - - - - - -
RAMOS e AZEVEDO 124,40 108,61 96,76 87,52 73,95 51,74 19% 29% 35% 38% 41% 40% 41% 19%
2
SILVA e ARAÚJO 119,93 105,01 93,74 84,89 71,83 50,31 15% 25% 31% 34% 37% 36% 37% 15%
EMLURB 139,50 112,35 95,63 84,11 68,99 47,44 33% 34% 33% 33% 31% 29% 34% 29%
FIDEM 131,28 105,59 90,16 79,63 65,91 52,67 - - - - - - - -
RAMOS e AZEVEDO 137,90 120,39 107,26 97,01 81,97 57,35 5% 14% 19% 22% 24% 9% 24% 5%
5
SILVA e ARAÚJO 143,22 125,40 111,94 101,38 85,78 60,08 9% 19% 24% 27% 30% 14% 30% 9%
EMLURB 162,58 130,94 111,45 98,02 80,41 55,29 24% 24% 24% 23% 22% 5% 24% 5%
FIDEM 145,64 117,14 100,02 88,35 76,74 61,88 - - - - - - - -
RAMOS e AZEVEDO 149,07 130,14 115,95 104,87 88,61 62,00 2% 11% 16% 19% 15% 0% 19% 0%
10
SILVA e ARAÚJO 163,79 143,42 128,02 115,94 98,11 68,71 12% 22% 28% 31% 28% 11% 31% 11%
EMLURB 182,54 147,02 125,14 110,06 90,28 62,08 25% 26% 25% 25% 18% 0% 26% 0%
FIDEM 164,04 131,94 112,66 100,27 91,81 74,03 - - - - - - - -
RAMOS e AZEVEDO 165,25 144,26 128,53 116,25 98,22 68,72 1% 9% 14% 16% 7% -7% 16% -7%
25
SILVA e ARAÚJO 195,60 171,27 152,89 138,46 117,16 82,05 19% 30% 36% 38% 28% 11% 38% 11%
EMLURB 212,74 171,34 145,84 128,27 105,22 72,35 30% 30% 29% 28% 15% -2% 30% -2%

Nota: Tabela elaborada a partir das equações de chuva do Recife.

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Silva Junior, M. A. B., Silva, S. R.
Revista Brasileira de Geografia Física v.09, n.06 (2016) 2034-2053.

Figura 11. Rede de drenagem da Avenida João de Barros, Rua do Príncipe, Rua Bispo Cardoso Ayres e Rua
do Riachuelo. Fonte: Silva Junior (2015).

Tabela 2. Comparação entre as vazões geradas pela equação de chuva da Fidem e da Emlurb.
POÇOS DE VISITA /

CARACTERÍSTICA
CONDUTO / REDE

VAZÃO MÁXIMA
VAZÃO MÁXIMA AFLUENTE À REDE DE
ADMISSIVEL NO
CONDUTO (m³/s)

CONDUTO (m/s)
DE DRENAGEM

DO CONDUTO

VELOCIDADE
INCREMENTO

MÁXIMA NO
DRENAGEM CORRESPONDENTE - m³/s
EXUTÓRIO

ÁREA DE PERCENTUAL DE
CONTRIBUIÇÃO VAZÃO AFLUENTE
(AC) (FIDEM X EMLURB) %
FIDEM EMLURB

2 5 10 25 2 5 10 25 2 5 10 25
AC-01 0,07 0,09 0,10 0,11 0,10 0,11 0,12 0,15 34 24 25 30 NÓ-1 GAL 1 CC ( = 0,4 m) 0,13 1,05
AC-02/AC-03/AC-04 1,02 1,28 1,41 1,59 1,36 1,58 1,78 2,07 34 24 26 30 NÓ-2 GAL 2 CC ( = 0,4 m) 0,15 1,23
AC-05 0,24 0,30 0,33 0,37 0,31 0,37 0,41 0,48 33 24 25 29 NÓ-5 GAL 3 CC ( = 0,4 m) 0,08 0,67
AC-06 0,42 0,53 0,58 0,66 0,56 0,65 0,73 0,85 33 23 25 29 NÓ-17 GAL 4 CC ( = 0,6 m) 0,42 1,49
AC-07/AC-08 0,23 0,29 0,32 0,36 0,31 0,36 0,40 0,47 33 24 25 29 NÓ-23 GAL 5 CC ( = 0,6 m) 0,20 0,70
AC-09 0,06 0,08 0,09 0,10 0,08 0,10 0,11 0,13 34 24 25 30 NÓ-28 GAL 6 CC ( = 0,4 m) 0,08 0,65
AC-10/AC-11 0,17 0,21 0,23 0,26 0,22 0,26 0,29 0,34 33 24 25 30 NÓ-27 GAL 7 CC ( = 0,6 m) 0,26 0,93
AC-12/AC-13 0,63 0,79 0,87 1,04 0,83 0,97 1,09 1,27 32 23 24 22 NÓ-39 GAL 8 CR (b: 0,95 m; h: 0,55 m) 0,26 0,50
AC-14/AC-15 0,21 0,26 0,29 0,33 0,28 0,33 0,37 0,43 34 24 26 30 NÓ-40 GAL 9 CR (b: 1,00 m; h: 0,60 m) 2,20 3,67
AC-16 0,06 0,08 0,09 0,10 0,08 0,10 0,11 0,13 34 24 26 30 NÓ-42 GAL 10 CC ( = 0,3 m) 0,07 1,04
AC-17/AC-18 0,23 0,28 0,31 0,35 0,30 0,35 0,40 0,46 34 24 25 30 NÓ-44 GAL 11 CC ( = 0,6 m) 0,48 1,71
AC-19/AC-20 0,44 0,55 0,61 0,69 0,58 0,68 0,76 0,89 33 23 25 29 NÓ-41 GAL 12 CR (b: 1,35 m; h: 0,60 m) 3,54 4,37
AC-21/AC-22/AC-23 0,69 0,87 1,01 1,21 0,91 1,06 1,19 1,39 32 22 18 15 NÓ-45 GAL 13 CR (b: 1,60 m; h: 0,70 m) 1,08 0,96
AC-24/AC-25/AC-26 0,49 0,61 0,68 0,76 0,65 0,76 0,85 0,99 33 24 25 30 NÓ-46 GAL 14 CR (b: 1,60 m; h: 0,70 m) 2,82 2,52
AC-27/AC-28/AC-29 0,48 0,60 0,67 0,75 0,64 0,75 0,84 0,98 34 24 25 30 NÓ-47 GAL 15 CR (b: 1,60 m; h: 0,70 m) 4,52 4,03
AC-30/AC-31/AC-32 0,42 0,53 0,59 0,66 0,56 0,66 0,74 0,86 33 24 25 30 NÓ-48 GAL 16 CR (b: 1,60 m; h: 0,70 m) 2,35 2,10
AC-33/AC-34 0,23 0,28 0,32 0,36 0,30 0,35 0,40 0,46 34 24 26 30 NÓ-49 GAL 17 CR (b: 1,60 m; h: 0,70 m) 2,17 1,94
MÉDIA (%) 33 24 25 28 Legenda: CC – Conduto Circular
AUMENTO DE TUBULAÇÕES COM SOBRECARGA (%) 18 6 12 12 CR – Conduto Retangular

Fonte: Adaptado de Silva Junior (2014).


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Silva Junior, M. A. B., Silva, S. R.
Revista Brasileira de Geografia Física v.09, n.06 (2016) 2034-2053.

Na tabela anterior, os valores em com as ocorrências de sizígias. Pernambuco é um


vermelho são as vazões afluentes que excedem a dos estados mais vulneráveis do Brasil a estes
capacidade hidráulica da galeria correspondente. efeitos.
Em alguns casos, observa-se que mesmo com a O centro metropolitano do Recife destaca-
utilização da equação defasada da Fidem, o se como uma das cidades litorâneas brasileiras
sistema de drenagem já se encontra mais vulneráveis ao aumento do nível do mar.
sobrecarregado. É importante ressaltar que, os Cerca de 81,8% das construções urbanas do
cálculos de vazão afluente tomaram como grande Recife está a menos de 30 m da linha de
premissa o padrão urbanístico atual, considerando costa (Rosman et al. 2009).
no método racional, um coeficiente de Na Região Metropolitana do Recife, estes
escoamento superficial equivalente a 0,80. Como efeitos podem ser agravados tendo em vista a alta
o sistema de drenagem do Recife é bastante densidade populacional do litoral (882 hab/km2), o
antigo, certamente na sua concepção e projeto, percentual elevado de impermeabilização do solo
foram considerados um coeficiente de escoamento e as baixas altitudes da área costeira, entre 2 e 4 m
superficial que representasse o padrão urbanístico (Pernambuco, 2011).
daquela época, justificando assim, a existência de A Figura 12 mostra a elevação do nível do
galerias com diâmetros de 30 cm em algumas ruas mar representada na praia de Boa Viagem, no
da cidade. Recife. Alcoforado (2006) destacou em amarelo, a
Uma vez que o objetivo da análise foi de média das marés há cinquenta anos e, em
verificar a influência da chuva de projeto, obtida vermelho, a previsão até onde a maré pode chegar
através das duas equações consideradas (Fidem e em 100 anos. As causas que dão origem a essas
Emlurb), observou-se um aumento de condutos mudanças, podem acontecer tanto por efeitos
com problemas de sobrecarga. O maior globais como por ações localizadas, como obras e
incremento de vazão afluente, definido pela ações impactantes sobre os recursos hídricos.
relação entre as equações da Fidem e da Emlurb,
foi de 33%, quando considerada uma chuva de 2
anos de recorrência. Este mesmo período de
retorno, foi responsável por um aumento de 18%
nas tubulações com problema de sobrecarga
(Tabela 2).
Estes resultados demonstram que, a
utilização das equações da Fidem, comumente
utilizadas em projetos de drenagem na cidade e
RMR, devem ser evitadas, pois se os valores
resultantes são menores, a adoção destes valores
para a determinação de vazões de projetos
implicaria no subdimensionamento das obras
hidráulicas.
Segundo Ramos (2010), as diferenças nas
intensidades de chuva se devem, provavelmente,
ao período das séries de dados considerados, para
a elaboração das equações IDF, e à possíveis
mudanças na precipitação já ocorridas devido ao
efeito das alterações climáticas. Por isso a
necessidade de revisões periódicas e atualizações
de equações de chuvas, a fim de evitar os
subdimensionamentos de obras hidráulicas.

Os efeitos da alteração do nível do mar


No Brasil, de acordo com Marengo et al. Figura 12. Alteração do nível do mar. Fonte:
(2007), a perspectiva da elevação do nível das Alcoforado (2006).
marés afetaria 25% da população brasileira, cerca
de 42 milhões de pessoas, que vivem nas cidades
litorâneas, onde a urbanização se expandiu para Além disso, o comportamento do nível do
áreas baixas e os alagamentos já ocorrem, mar (sobrelevação do NMM – Nível Médio do
especialmente quando as chuvas fortes coincidem Mar) em relação aos sistemas de drenagem é fator
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Silva Junior, M. A. B., Silva, S. R.
Revista Brasileira de Geografia Física v.09, n.06 (2016) 2034-2053.

determinante para o eficiente desempenho durante comprometendo seriamente o sistema de


os eventos extremos de precipitação. Nesses drenagem.
locais, durante as preamares, haverá uma O estudo realizado pela Secretaria de
diminuição na diferença de altitude entre a área a Planejamento e Gestão (Seplag), em parceria com
ser drenada e o local para onde a água irá fluir, a Sociedade Nordestina de Ecologia (SNE),
deixando o sistema mais lento, sobretudo, nos mostrou que bairros como Boa Viagem, Pina,
locais onde a drenagem for feita por gravidade Imbiribeira, Boa Vista e Santo Amaro, situados no
(Silva Júnior e Silva, 2014). município de Recife, apresentarão mais áreas
Os efeitos desta sobrelevação também susceptíveis a alagamentos, diante da elevação do
deixarão o sistema mais vulnerável à ocorrência nível do mar. O levantamento foi elaborado a
de falhas estruturais, hidráulicas e ambientais, partir de um modelo digital que reproduzia
comprometendo a vida útil das estruturas informações geológicas da cidade, como
hidráulicas, estipulada em projeto. topografia, hidrologia, situações do solo e do uso
Outro problema que seria agravado com o da terra. A partir do processamento desses dados,
aumento do NMM está relacionado à presença de foi possível identificar o nível mais alto que a
lençol freático aflorante. Nas regiões litorâneas, maré atinge na cidade, independente da ocorrência
como é o caso de Recife, os lençóis freáticos estão de chuvas, e os impactos que a elevação do nível
bem próximos à superfície do terreno, e com a do mar poderia causar em termos de alagamento.
sobrelevação do NMM poderia saturar Na Figura 13, é possível observar a
rapidamente o solo e fazer com que o lençol incursão da maré nos principais rios e canais que
aflorasse na superfície, provocando o surgimento cortam o Recife. Essa representação, elaborada
de grandes áreas cobertas com água (áreas por Alcoforado (2006), considerou a maior maré
alagadas) ou com água a poucos centímetros de do mês de agosto de 2005 (2,50 m, registrado no
profundidade, o que dificultaria ainda mais a porto do Recife).
drenagem desses locais. O solo saturado, por sua Já a Figura 14, mostra uma sequência de
vez, diminui a capacidade de infiltração da água, registros dos alagamentos em áreas vulneráveis ao
fato que prejudicaria a drenagem natural, além de aumento da maré sem a ocorrência de chuvas, na
aumentar e acelerar o escoamento superficial, cidade do Recife.

Figura 13. Incursão da maré na rede de macrodrenagem do Recife. Fonte: Alcoforado (2006).

2047
Silva Junior, M. A. B., Silva, S. R.
Revista Brasileira de Geografia Física v.09, n.06 (2016) 2034-2053.

Maré: 2,70 m Maré: 2,70 m


Dia: 10/03/16 Dia: 07/04/16
Hora: 17:06 h Hora: 16:02 h

Figura 14. Alagamentos provocados pelo aumento da maré no bairro do Recife. Fonte: CN - Cabo
Notícias, G1.

De acordo com a Tábua de Marés, as só pelo processo desordenado de urbanização pela


marés de sizígia no Porto do Recife podem qual foi concebida, mais também por apresentar
alcançar na preamar 2,70 m e na baixa-mar -0,20 peculiaridades geográficas de uma cidade
m, resultando em uma amplitude máxima da litorânea, que dificulta ainda mais a eficiência do
ordem de 2,90 m (DHN-MB, 1995, 2007). sistema de drenagem da cidade (precipitações
Diante do exposto, é imprescindível que intensas e oscilações de maré).
os responsáveis pela construção e manutenção dos No evento chuvoso ocorrido em 17 de
sistemas de drenagem, em áreas costeiras, tenham maio de 2013, a cidade entrou em estado de alerta.
pleno conhecimento das características únicas das Segundo Silva Junior (2015), a precipitação deste
inundações e/ou alagamentos que ocorrem nessas dia foi de 150,80 mm concentrada em 13 horas e
regiões, provocados, particularmente, pelos registrada na estação automática Recife-303A,
efeitos das marés, das baixas elevações operada pelo INMET. A maior parte do total
topográficas e dos lençóis freáticos elevados. precipitado, cerca de 100 mm, ocorreu entre 7h e
9h, com a maré de 1,8 m às 8h57 (Figura 15).
Últimos eventos relevantes de precipitação Estes dois fatos concomitantes acarretaram em
intensa no Recife sérios problemas para a cidade, como foi
Diante deste cenário, a cidade do Recife é amplamente divulgado pela mídia.
bastante prejudicada nos períodos de chuva, não

Maré x Precipitação (17/05/2013)


60 2.40

50 2.00
Altura de Precipitação (mm)

Amplitude de Maré (m)

40 1.60

30 1.20 Chuva
(mm)
20 0.80 Maré (m)

10 0.40

0 0.00
17/05/13 - 13:00 H
17/05/13 - 03:00 H

17/05/13 - 04:00 H

17/05/13 - 05:00 H

17/05/13 - 06:00 H

17/05/13 - 07:00 H

17/05/13 - 08:00 H

17/05/13 - 09:00 H

17/05/13 - 10:00 H

17/05/13 - 11:00 H

17/05/13 - 12:00 H

17/05/13 - 14:00 H

17/05/13 - 15:00 H

17/05/13 - 16:00 H

Data/Hora

Figura 15. Gráfico com a relação precipitação x maré no dia 17 de maio de 2013.

2048
Silva Junior, M. A. B., Silva, S. R.
Revista Brasileira de Geografia Física v.09, n.06 (2016) 2034-2053.

Ainda de acordo com o autor, o tempo de cidade, incluindo as principais vias de acesso da
retorno da precipitação foi calculado em 5 anos, zona sul aos demais bairros do Recife. A Figura
não representando um evento raro. Os impactos 16 mostra uma sequência de imagens dos
decorrentes desse evento se refletiram alagamentos ocorridos na cidade durante o citado
principalmente na mobilidade urbana, com evento.
alagamentos em vários pontos estratégicos da

Figura 16. Alagamentos no Recife em 17/05/2013. Fonte: JC online.

Entre os dias 25 e 26 de junho de 2014, o do total precipitado no mês de junho. A maior


Recife vivenciou mais um caos provocado pela parte do total precipitado neste dia, concentrou-se
ineficiência do seu sistema de drenagem. Segundo num curto período, tendo precipitado 66,80 mm
dados do Instituto Nacional de Meteorologia entre 6h e 10h do dia 26. Na oportunidade a maré
(INMET), o total precipitado na estação estava baixa, atingindo a baixa-mar de 0,30 m às
automática Recife-303A entre 22h do dia 25 e 18h 9h45 (Figura 17).
do dia 26 foi de 107,6 mm, correspondente a 35%

Maré x Precipitação (25-26/06/2014)


25 2.50
Altura de Precipitação (mm)

Amplitude de Maré (m)

20 2.00

15 1.50
Chuva
10 1.00 (mm)
Maré
(mm)
(m)
5 0.50

0 0.00
25/06/14 - 22:00 H

26/06/14 - 11:00 H
25/06/14 - 23:00 H
26/06/14 - 00:00 H
26/06/14 - 01:00 H
26/06/14 - 02:00 H
26/06/14 - 03:00 H
26/06/14 - 04:00 H
26/06/14 - 05:00 H
26/06/14 - 06:00 H
26/06/14 - 07:00 H
26/06/14 - 08:00 H
26/06/14 - 09:00 H
26/06/14 - 10:00 H

26/06/14 - 12:00 H
26/06/14 - 13:00 H
26/06/14 - 14:00 H
26/06/14 - 15:00 H
26/06/14 - 16:00 H
26/06/14 - 17:00 H
26/06/14 - 18:00 H

Data/Hora

Figura 17. Gráfico com a relação precipitação x maré entre os dias 25 e 26 de junho de 2014. Fonte: Silva
Junior (2015).

A recorrência calculada para este evento diretor de drenagem urbana do Recife, em


foi de 2 anos, com base na nova equação IDF do elaboração.
Recife (Eq. 6), desenvolvida no âmbito do plano
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Revista Brasileira de Geografia Física v.09, n.06 (2016) 2034-2053.

Apesar do período mais intenso de ser construído na cidade do Recife, que seja
precipitação ter ocorrido no intervalo em que a enquadrado no Plano Diretor de Desenvolvimento
maré estava baixa, os reflexos deste evento se Urbano como gerador de impacto, é submetido à
concentraram, principalmente, nos alagamentos análise da CTTU (Companhia de Trânsito e
das principais vias da cidade, que na oportunidade Transportes), Secretaria de Meio Ambiente,
sediava uma das partidas de futebol da Copa do Secretaria de Cultura e Emlurb.
Mundo. Para análise da drenagem, a Emlurb exige
o controle das águas pluviais geradas no
respectivo lote, devendo o empreendedor
Intervenções mais relevantes na drenagem urbana apresentar o projeto de drenagem que atenda a
da cidade esse requisito. O critério que se utiliza é a
- Medidas estruturais: Algumas exigência do projeto de contenção na fonte para
intervenções na macrodrenagem visando à empreendimentos em lote com área superior a
eficiência da drenagem foram realizadas pela 500m2 e área de impermeabilização superior a
Prefeitura do Recife, através da Empresa de 25% da área do lote (Alencar, 2013).
Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb): o Para reforçar a necessidade de
alargamento da calha fluvial na planície do implementação desta prerrogativa, recentemente
Recife; a retirada de algumas pontes e construção entrou em vigência a Lei Nº 18.112/2015, que
de outras, no mesmo local, com extensão e altura dispõe sobre a obrigatoriedade de instalação do
maiores para que as vigas da ponte não causassem "telhado verde", e construção de reservatórios de
represamento; e retificação do curso do rio acúmulo ou de retardo do escoamento das águas
Capibaribe no Bairro de Apipucos, onde um pluviais para os novos projetos de edificações
meandro de grande sinuosidade apresentava habitacionais multifamiliares, com áreas
baixas velocidades e causava um efeito de superiores a 500 m².
remanso, Cabral e Alencar (2005). Atualmente, encontra-se em elaboração o
Conforme Alencar (2011) apud Preuss et plano diretor de drenagem urbana do Recife, que
al. (2011), quanto às obras de controle da apontará soluções integradas para a cidade. Este
drenagem, realizadas pela Prefeitura do Recife, plano foi selecionado como uma das ações a
ressalta-se: serem financiadas pelo Ministério das Cidades /
 O sistema de comportas implantado nas duas Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental, no
extremidades do canal Derby-Tacaruna, visando âmbito do PAC 2 (OGU – Orçamento Geral da
proteger a Avenida Agamenon Magalhães dos União).
fenômenos de alagamento que ocorriam em - Adaptações para o enfrentamento às
condições de alta maré; mudanças climáticas: As ações e medidas que
 O sistema de barragens móveis que consiste na propiciem uma melhor adaptação para a
remoção de partículas sólidas sedimentadas adequação do sistema de drenagem na região,
utilizando as ondas de translação produzidas pelo diante da influência das alterações climáticas,
movimento das lonas dessas barragens, efetivando ainda são muito tímidas.
a limpeza do canal; Basicamente, os estudos e legislações até
 A drenagem forçada, na Avenida Recife, onde então existentes, discutem a questão das
são utilizadas três bombas com capacidade total mudanças climáticas sob a esfera estadual,
de vazão de 3 m3/s, as quais efetuam o recalque norteados por três temáticas consideradas mais
das águas pluviais; urgentes: desertificação, gestão costeira e
 O microreservatório de retenção subterrâneo, urbanismo.
localizado em áreas planas, com cota baixa e Em 2010, foi sancionada a Lei Estadual
pequeno gradiente hidráulico, entre a Rua Santo Nº 14.090 que “Institui a Política Estadual de
Elias e a Rua Conselheiro Portela. Este Enfrentamento às Mudanças Climáticas de
reservatório possibilita o acúmulo das águas Pernambuco, e dá outras providências”.
pluviais para posterior escoamento direcionado ao No que cerne a questão das águas urbanas,
canal Derby/Tacaruna. a sobredita lei define no capítulo III (estratégias
Recentemente, foi implantado um sistema de mitigação e adaptação), seção VII (recursos
de drenagem forçada no canal Derby-Tacaruna, hídricos), art. 12° que deve-se considerar na
composto por seis bombas próximo às comportas Política Estadual de Recursos Hídricos, a questão
localizadas na altura do Shopping Tacaruna e do das mudanças climáticas, definindo áreas de
Hospital Português. maior vulnerabilidade e as respectivas ações de
- Medidas não-estruturais: No âmbito das prevenção, mitigação e adaptação.
medidas não estruturais, todo empreendimento a
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Silva Junior, M. A. B., Silva, S. R.
Revista Brasileira de Geografia Física v.09, n.06 (2016) 2034-2053.

No item III do mesmo artigo 12, a lei desenvolvimento do setor. Neste aspecto, a Lei
indica que devem ser implantadas ações de Municipal Nº 18.112/2015 e o plano diretor de
desassoreamento de calhas dos rios e controle das drenagem urbana do Recife, em elaboração, são
construções em suas margens, como forma de ações recentes na cidade, cuja finalidade é
minimizar os problemas decorrentes do aumento estabelecer medidas que apontem soluções
do nível do mar. integradas para o manejo das águas urbanas.
Ainda no capítulo III da citada Lei Quanto à influência das alterações
estadual, na seção XI (Oceano e Gestão Costeira), climáticas no sistema de drenagem urbana da
art. 17° e item XVI, recomenda-se que sejam região, ações e medidas que propiciem uma
realizadas ações periódicas de desassoreamento melhor adaptação às mudanças do clima poderão
e/ou alargamento das calhas dos rios costeiros, compor uma estratégia ou um plano de ação para
onde se fizer necessário. No item seguinte, o eventos extremos, nos níveis estadual e municipal,
XVII, discute-se a necessidade de planejar ações tais como (ANA, 2010):
emergenciais, como a construção de bacias de  A regulamentação e a fiscalização do uso do
estocagem em áreas de baixa altimetria, que visem solo urbano;
minimizar os problemas de drenagem nas regiões  O uso, em larga escala, de técnicas
litorâneas. compensatórias para controle da drenagem urbana
Em 2011 foi apresentado o Plano Estadual e inclusão dessas nas regulações municipais;
de Mudanças Climáticas, fundamentado por ações  O zoneamento e a regulamentação do uso da
a serem desenvolvidas em Pernambuco, com a planície de inundação, em áreas vulneráveis;
missão de construir a Política Estadual de  Sistemas de alerta para eventos
Mudanças Climáticas no estado. hidrometeorológicos críticos; e
 A ampliação e a melhoria do monitoramento
das variáveis hidrometeorológicas e a atualização
Conclusões das curvas IDF (intensidade, duração e
A solução eficiente para a drenagem frequência), utilizadas para o dimensionamento da
urbana passa por um conjunto de fatores, que infraestrutura relacionada à drenagem urbana.
incluem não só intervenções clássicas na área de Assim, a adoção de medidas que
contribuição ao ponto de alagamento, como contribuam para a adaptação do sistema de
também medidas que integrem a drenagem com o drenagem às mudanças climáticas é necessária e
planejamento urbano, e medidas não estruturais, urgente. É importante ressaltar que, na área de
que incluem a educação ambiental da população e recursos hídricos a qual esta inserida a temática de
normas para que cada usuário não amplie a sua drenagem urbana, a análise do risco climático
contribuição para a rede de drenagem. deve ser considerado como um instrumento de
É importante salientar a existência de gestão, de forma a reduzir a vulnerabilidade às
possíveis inundações que são de difícil controle, alterações climáticas e aumentar a capacidade de
quando falamos num sítio como o da cidade do mitigação dos impactos provocados pelo efeito
Recife que possui pouca declividade e é bastante destas no sistema de drenagem, resultando em
vulnerável à coincidência entre os picos de grandes benefícios a médio e longo prazo.
precipitação e de maré.
De uma maneira geral, sob o âmbito das
intervenções estruturais, faz-se necessário que os Agradecimentos
sistemas de drenagem de Recife e de sua região A Empresa de Manutenção e Limpeza
metropolitana sejam revistos, diante da sobrecarga Urbana (Emlurb), da Secretaria de Infraestrutura e
das tubulações existentes provocado pelo aumento Serviços Urbanos da Prefeitura do Recife, pela
da urbanização. Além disso, devem ser avaliadas disponibilização dos relatórios de andamento do
medidas mitigatórias necessárias, na tentativa de plano diretor de drenagem urbana do Recife, que
reparar a defasagem já existente e reduzir as se encontra, atualmente, em elaboração.
consequências dos efeitos que as mudanças
climáticas poderão ter sobre as bacias urbanas da
região. Referências
Para as intervenções não-estruturais, os Alcoforado, R. M. G., 2006. Simulação
planos, estudos e legislações existentes são muito hidráulico-hidrológica do escoamento em redes
importantes, pois definem diretrizes para uma complexas de rios urbanos: suporte de
gestão eficiente da drenagem urbana municipal. informações espaciais de alta resolução. Tese
Contudo, é indispensável implementá-los, o que (Doutorado). Centro de Tecnologia e
necessita de vontade política para o desentrave no
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Silva Junior, M. A. B., Silva, S. R.
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