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Aspectos jurídicos da adoção da Estratégia Nacional de Disseminação do “Building

Information Modelling”. Análise do Decreto nº 10.306/2020 à luz da Lei nº 14.133/2021


(nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos).

Marcus Vinicius Fernandes Ramos*

1. Considerações Iniciais. 2. A Evolução da Implantação


do BIM no Brasil. 3. O Decreto nº 10.306/2020 e a
implantação da Estratégia BIM BR. 4. A implantação da
Estratégia BIM BR na Lei nº 14.133/2021. 5. Dos
desafios a serem enfrentados pela Administração
Pública Federal. 6. Da experiência internacional relativa
à implantação do BIM no Setor Público. 7. Das soluções
inicialmente vislumbradas para cada fase da Estratégia
BIM BR. 8. Considerações Finais.

1. Considerações Iniciais

Tem sido observado, ao longo dos últimos anos, que a implantação do Building
Information Modelling (BIM), ou “Modelagem da Informação da Construção”,
inicialmente adotada na esfera dos contratos privados, vem ganhando importância para a
realização de projetos, obras e serviços de engenharia, contratadas pelos setores públicos
de diversos países, mercê das vantagens relacionadas a economia, a qualidade e ao tempo
a ela atrelados, com a redução de retrabalhos e de aditivos contratuais.

Alguns exemplos da crescente importância da utilização do BIM em obras e serviços


de engenharia contratados pela esfera governamental podem ser visualizados no quadro
abaixo, extraído de artigo elaborado por SANTANA (2020):

País Ano1
EUA 2006
Finlândia
Noruega 2007
Dinamarca
Chile
2011
Holanda
Reino Unido 2012
França 2017

1
Obrigatoriedade de adoção do BIM, para a realização de obras e serviços na esfera Pública.

* Advogado especialista nas áreas do Direito Administrativo e Empresarial. Professor de Direito


Administrativo. Membro do Instituto Brasileiro de Advocacia Pública, do Instituto dos Auditores
Internos do Brasil, da Associação Brasileira de Geração Distribuída e da Dispute Resolution
Board Foundation. Palestrante das áreas de Licitações e Acordos Administrativos.
Releva mencionar, entretanto, que a maior parte das publicações acadêmicas
produzidas acerca da implantação do BIM, está voltada para os aspectos de engenharia e
da tecnologia da informação indispensáveis à sua aplicação prática, pelos diversos
agentes envolvidos: projetistas, construtores, consultores, profissionais de tecnologia da
informação, dentre outros.

Ocorre que a experiência obtida junto aos países em que o BIM se encontra em fase
mais adiantada de implantação indica que: a celeridade proporcionada pelo modelo, a
crescente troca de informações e a progressiva criação de um ambiente de colaboração
entre os diversos atores envolvidos no empreendimento, acaba por gerar reflexos na forma
de relacionamento entre a Administração Pública Contratante e o Administrado
Contratado (pessoa física ou jurídica).

Nesse sentido, foi elaborado o presente artigo que busca avaliar essa tendência
colaborativa vivenciada nos países supracitados, à luz dos modelos contratuais adotados
pela Administração Pública Federal Brasileira, notadamente na recente Lei de Licitações
e Contratos Administrativos, e apresentar algumas soluções inicialmente vislumbradas de
modo a contribuir para que a Estratégia BIM BR citada no Decreto nº 10.306/2020, venha
a ser implementada de modo a explorar toda a potencialidade e benefícios trazidos por
essa modelagem.

2. A Evolução da implantação do BIM no Brasil

Segundo ABAURRE (2014), os movimentos no sentido da implantação da modelagem


BIM no Brasil, no setor da construção civil, tiveram início em 2007, com a realização de
cursos e eventos. Dentre os eventos relevantes por ela mencionados, destaca-se o “V
Encontro de Tecnologia de Informação e Comunicação na Construção” (TIC), realizado
em 2011, o qual versou sobre o tema "BIM - MODELANDO A CONSTRUÇÃO DO
FUTURO".

Não obstante, segundo MOHR (2020), a partir de 2009, o então Ministério do


Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), instituiu uma Comissão de
Estudo Especial de Modelagem de Informação da Construção, ABNT/CEE-134, com o
objetivo de criar normas técnicas sobre BIM, a qual culminou, em um primeiro momento,
na criação da norma ABNT NBR ISO 12006-20102 e, em 2011, na publicação da primeira
norma técnica Brasileira sobre BIM, a ABNT NBR 15965 – Modelagem de Informação
da Construção (BIM), a qual passou por diversas atualizações, sendo a última delas em
2015 (ABNT: 2017).

Também merecem registro o fato de em 2015 terem sido publicados: o artigo intitulado
“Potencial uso do BIM na fiscalização de obras públicas” (MIRANDA:2015), na Revista
do Tribunal de Contas da União – TCU e, ainda, o "Caderno de Apresentação de Projetos
em BIM", do Governo do Estado de Santa Catarina, este último, contendo “os
procedimentos para desenvolvimento de projetos com BIM” a serem utilizados, como
anexo, “em editais para contratação de projetos desenvolvidos por meio dessa
tecnologia.” (SEPLAN-SC:2015).

Retornando ao âmbito Federal, em 5 de junho de 2017 foi publicado Decreto s/nº,


instituindo o “Comitê Estratégico de Implementação do Building Information
Modelling” (CE-BIM), de caráter temporário e com a finalidade de propor, no âmbito do
Governo Federal, a Estratégia Nacional de Disseminação do BIM.

Concluídos os trabalhos do CE-BIM, foi expedido o Decreto nº 9.377/2018 instituindo


a Estratégia Nacional de disseminação do BIM, o qual foi revogado pelo Decreto nº
9.983/2019 que, apesar de versar sobre a mesma matéria, abordou de forma mais
detalhada3, o “Comitê Gestor da Estratégia do Building Information Modelling” (CE-
BIM).

Posteriormente, foi expedido o Decreto nº 10.306/2020, que estabelece a utilização do


BIM na execução direta ou indireta de obras e serviços de engenharia realizada pelos
órgãos e entidades da Administração Pública Federal, no âmbito da Estratégia Nacional
de Disseminação, denominada “Estratégia BIM BR”.

2
Construção de edificação - Organização de informação da construção Parte 2: Estrutura para classificação
de informação
3
Cabe registrar que a instituição do CE-BIM, também havia sido contemplada, de forma suscinta, no
Decreto nº 9.377/2018.
Encerrando este breve histórico, temos a Lei nº 14.133, de 1º de abril de 2021 – “Lei
de Licitações e Contratos Administrativos”, a qual, em apertada síntese, destina-se a:

a) substituir as Leis nº 8.666/19934, nº 10.520/20025 e a Lei nº 12.462/20116 (esta


última, no tocante ao Regime Diferenciado de Contratações – RDC), as quais
serão revogadas em conformidade com os prazos previstos no art. 193 da nova
Lei de Licitações e Contratos Administrativos7;

b) acrescentar um Capítulo II-B ao Decreto-Lei nº 2.828/1940 (Código Penal),


denominado “DOS CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS”, cabendo
destacar que tais disposições serão igualmente aplicadas às contratações
regidas pela Lei nº 13.303/2016 (Lei das Estatais)8;

c) promover alteração na Lei nº 13.105/2015 (Código de Processo Civil),


mediante a inclusão do inciso IV no art. 1.048, que trata da prioridade da
tramitação de procedimentos judiciais;

d) prever, no parágrafo único do seu art. 181, a adoção preferencial de consórcios


públicos, para a situação nele contemplada;9

4
Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da
Administração Pública e dá outras providências.
5
Institui, no âmbito da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, nos termos do art. 37, inciso XXI,
da Constituição Federal, modalidade de licitação denominada pregão, para aquisição de bens e serviços
comuns, e dá outras providências.
6
Institui o Regime Diferenciado de Contratações Públicas – RDC e altera diversas outras leis...
7
É importante mencionar o entendimento contido nos itens 10 e 11 das Conclusões do Parecer nº
00002/2021/CNMLC/CGU/AGU, expedido, em 08/06/2021, pela Câmara Nacional de Modelos de
Licitações e Contratos Administrativos (CNMLC) da Consultoria Geral da União: "[...] 10. Nos dois anos
a que se refere o art. 191, o gestor poderá eleger se em determinada contratação se valerá dos comandos da
Lei nº 8.666/93, da Lei n.º 10.520/2002 e dos artigos 1º a 47-A da Lei n.º 12.462/2011, inclusive
subsidiariamente, ou se adotará a Lei n.º 14.133/2021, inclusive subsidiariamente, nos termos do art. 189;
11. Em qualquer caso, é vedada a combinação entre a Lei nº 14.133/21 e as Leis 8.666/93, 10.520/2002 e
os arts. 1º a 47-A da Lei nº 12.462/2011, conforme parte final do art. 191; [...]" (grifo nosso)
8
Vide a parte final do §1º do art. 1º da Lei nº 14.133/2021.
9
Art. 181. Os entes federativos instituirão centrais de compras, com o objetivo de realizar compras em
grande escala, para atender a diversos órgãos e entidades sob sua competência e atingir as finalidades desta
Lei. Parágrafo único. No caso dos Municípios com até 10.000 (dez mil) habitantes, serão preferencialmente
constituídos consórcios públicos para a realização das atividades previstas no caput deste artigo, nos termos
da Lei nº 11.107, de 6 de abril de 2005.
e) promover alterações nos incisos I e II da Lei nº 8.987/1995 e no caput do art.
10 da Lei nº 9.074/1995 (as quais, versam sobre a temática das Concessões e
Permissões de Serviços Públicos); e

f) dispor sobre a sua aplicação, de forma subsidiária, nas leis citadas na alínea e)
acima.

Importante destacar que a nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos, também


contempla a utilização do BIM (art. 19, §3º), cabendo registrar, que o presente artigo
ficará adstrito à análise da implantação do BIM no âmbito da Administração Púbica
Federal, a partir do Decreto nº 10.306/2020.

3. O Decreto nº 10.306/2020 e a implantação da Estratégia BIM BR

Inicialmente, cabe observar que o art. 1º do Decreto supracitado, prevê, de forma


expressa, à sua adoção pelos órgãos e entidades da Administração Pública Federal, sem
apresentar qualquer tipo de distinção ou exceção:

Art. 1º Este Decreto estabelece a utilização do Building


Information Modelling – BIM ou Modelagem da Informação da
Construção na execução direta ou indireta de obras e serviços de
engenharia, realizada pelos órgãos e pelas entidades da
administração pública federal, no âmbito da Estratégia Nacional
de Disseminação do Building Information Modelling –
Estratégia BIM BR, instituída pelo Decreto nº 9.983, de 22 de
agosto de 2019.
(grifo nosso)

O segundo ponto a ser abordado consiste no fato de que, tanto a definição do BIM
quando da expressão “Modelo BIM”, que lhe é complementar, encontram-se descritas
nos incisos II e V do seu art. 3º:

Art. 3º Para fins do disposto neste Decreto, consideram-se:


[...]
II - Building Information Modelling – BIM ou Modelagem da
Informação da Construção - conjunto de tecnologias e processos
integrados que permite a criação, a utilização e a atualização de
modelos digitais de uma construção, de modo colaborativo, que
sirva a todos os participantes do empreendimento, em qualquer
etapa do ciclo de vida da construção;
[...]
V - modelo BIM - base de dados fundamentada em objetos
virtuais, que contém informações codificadas e incorpora seus
relacionamentos, o que possibilita diversas visualizações,
organizações e cálculos que integram informações gráficas e não
gráficas;
(grifo nosso)

Em que pese o fato deste artigo estar voltado para os aspectos jurídicos, a transcrição
das definições acima (bem como de trechos de outras áreas a serem igualmente
colacionados no presente trabalho), se faz necessária para demonstrar a complexidade
tecnológica, o caráter de inovação e a multidisciplinariedade do tema abordado.

Prosseguindo a análise, cabe destacar que o art. 4º do Decreto nº 10.306/2020 prevê


que a implementação do BIM ocorrerá “de forma gradual”, sendo dividida em 3 (três)
Fases, descritas, respectivamente, nos incisos I, II e III do mesmo artigo, as quais podem
ser assim sintetizadas:

Fase /Período Objetivo Abrangência


a) a elaboração dos modelos de arquitetura e dos
modelos de engenharia referentes às disciplinas de:
1. estruturas;
2. instalações hidráulicas;
3. instalações de aquecimento, ventilação e ar-
condicionado; e
1ª Fase
4. instalações elétricas;
01/01/2021 Desenvolvimento de projetos
b) a detecção de interferências físicas e funcionais
a de arquitetura e engenharia,
entre as diversas disciplinas e a revisão dos modelos
31/12/2023
de arquitetura e engenharia, de modo a compatibilizá-
los entre si;
c) a extração de quantitativos; e
d) a geração de documentação gráfica, extraída dos
modelos citados na alínea a) acima;

a) os usos previstos na primeira fase;


b) a orçamentação, o planejamento e o controle da
2ª Fase Execução direta ou indireta execução de obras; e
01/01/2024 de projetos de arquitetura e c) a atualização do modelo e de suas informações
a engenharia e na gestão de como construído (as built), para obras cujos projetos
31/12/2027 obras de arquitetura e engenharia tenham sido realizados ou
executados com aplicação do BIM;

a) os usos previstos na primeira e na segunda fase; e


b) o gerenciamento e a manutenção do
3ª Fase desenvolvimento de projetos
empreendimento após a sua construção, cujos projetos
01/01/2028 de arquitetura e engenharia e
de arquitetura e engenharia e cujas obras tenham sido
em diante na gestão de obras
desenvolvidos ou executados com aplicação do BIM.

Cabe ressaltar que nas 3 Fases apresentadas no quadro acima, as atividades contidas
na coluna “Objetivo” estão relacionadas a construções novas, reformas, ampliações ou
reabilitações, quando consideradas, no art. 10 do referido Decreto como:
a) de “grande relevância” para a disseminação do BIM, nas Fases 1 e 2; e

b) de “grande e média relevância”, na Fase 3.

Registre-se, ainda, que de acordo com citado o art. 10, os órgãos e entidades
responsáveis pela implantação da disseminação das Fases supracitadas estão
expressamente mencionados nos incisos I e II do art. 2º do mesmo Decreto, quais sejam:

a) o Ministério da Defesa (MD), por meio das atividades executadas nos imóveis
jurisdicionados à Marinha do Brasil (MB), ao Exército Brasileiro (EB) e à Força
Aérea Brasileira (FAB); e

b) o Ministério da Infraestrutura (MINFRA), por meio das atividades coordenadas e


executadas pela Secretaria Nacional de Aviação Civil (SAC), para investimentos
em aeroportos regionais, e pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de
Transportes (DNIT), para reforço e reabilitação estrutural de obras de arte especiais.

3.1.1. Da regulamentação do Decreto no âmbito do MD

No âmbito do MD, a definição dos empreendimentos, programas e iniciativas


de média e grande relevância para a disseminação do BIM foi estabelecida pela Portaria
Normativa nº 56/GM-MD, de 06 de julho de 202010, com vigência na data de sua
publicação.11

De acordo com a citada Portaria Normativa, a implantação do BIM no âmbito


do MD, será realizada de forma gradual, ficando a cargo de cada Força Armada o
estabelecimento do seu próprio cronograma de implementação, respeitados as fases e os
prazos definidos no art. 4º do Decreto nº 10.306/2020 (vide coluna “Fase /Período” do
quadro acima apresentado).

É prevista, ainda, a criação de um Grupo de Utilização BIM em cada


Comando de Força, cujo coordenador terá ligação técnica com o membro do MD, no
Comitê Gestor da Estratégia BIM BR (CG-BIM).

10
Define os empreendimentos, programas e as iniciativas de média e grande relevância para a disseminação
do Building Information Modelling - BIM, no âmbito do Ministério da Defesa
11
A portaria foi publicada no Diário Oficial da União em 15/07/2020, Edição 134, Seção 1, página 29.
A Portaria Normativa do MD também estabelece, em seu art. 2º, que as ações
de disseminação do BIM nela previstas “englobam as atividades executadas em imóveis
jurisdicionados ao Ministério da Defesa, à Marinha do Brasil, ao Exército Brasileiro e à
Força Aérea Brasileira", sendo as mesmas definidas no seu art. 3º.

Com efeito, uma análise das ações de disseminação da Estratégia BIM BR


definidas pelo MD, para cada uma das Forças Armadas, permite concluir que as ações
citadas na Portaria estão relacionadas a um rol de empreendimentos previstos, para cada
Comando de Força, nas alíneas contidas nos incisos I, II e III do seu art. 3º.

Nesse sentido, observa-se que:

a) as ações destinadas à MB apresentam-se mais flexíveis quando


comparadas às do EB, haja vista que a alínea c) do inciso I do art. 3º,
prevê a possibilidade de inclusão ou substituição dos empreendimentos
a serem realizados pela Força, “ao longo do processo gradual de
implementação do BIM, de acordo com os interesses da MB” (grifo
nosso);

b) a alínea c), do inciso II, que trata das ações definidas para o EB, somente
prevê a possibilidade de definição de outros projetos e obras que atendam
ao conceito de “média e grande relevância”, “após a consolidação de todo
o processo e desenvolvimento relacionado aos projetos mencionados nas
alíneas "a" e "b" na metodologia BIM” (grifo nosso); e

c) as ações definidas à FAB estão voltadas para as áreas de treinamento,


consolidação e validação do BIM Mandate da FAB, aquisição de
licenças de softwares e hardware BIM, modernização do Laboratório
BIM (LabBIM), da Divisão de Engenharia Civil-Aeronáutica do ITA,
contratação de consultoria on the job training, sendo a única obra citada
no inciso III, que trata das ações definidas para a FAB, a “construção da
Torre de Controle de Tráfego Aéreo de Bacacheri, em Curitiba, mediante
licitação a partir de um projeto desenvolvido integralmente em BIM, pelo
Núcleo BIM CISCEA, considerando as dimensões 3D, 4D e 5D.”,
estabelecida na alínea h) do inciso III 12.

Observa-se, ainda, que a implementação do BIM aparenta estar em fase mais


adiantada na FAB, percepção essa que é reforçada com a existência de trabalhos
acadêmicos em nível de graduação, conduzidos pelo Instituto de Tecnologia da
Aeronáutica (ITA), tais como os apresentados por CABRAL (2012), CARVALHO
(2018) e PELUSI (2018), bem como as menções efetuadas, no inciso III do art. 3º da
Portaria do MD à “validação do BIM Mandate da FAB” e à existência de um “Núcleo
BIM da Comissão de Implantação do Sistema de Controle do Espaço Aéreo (CISCEA)”,
do “Laboratório BIM (LabBIM)”e da “Divisão de Engenharia Civil-Aeronáutica do
ITA”, cuja modernização está entre as ações definidas para a FAB.

Os últimos dois aspectos relevantes referentes a Portaria Normativa nº


56/GM-MD/2020, estão relacionados aos recursos financeiros necessários à condução das
ações atribuídas a cada Força (os quais devem ser por elas obtidos) e à possibilidade de
os representantes do MD no CG-BIM BR poderem propor atos normativos para regular
as ações de interesse do referido Ministério.

3.1.2. Da regulamentação do Decreto no âmbito do MINFRA

No caso do MINFRA, as ações para a disseminação do BIM, foram


estabelecidas por meio da Instrução Normativa (IN) nº 1, de 11 de março de 202113, com
vigência a partir de 15 de março de 2021.14

Assim como a Portaria Normativa nº 56/GM-MD/2021, a IN nº 1/2021 do


MINFRA destacou que a implementação do BIM se dará de forma gradual, nas
intervenções classificadas como de média e grande relevância, em conformidade com o
art. 4º do Decreto nº 10.306/2020.

12
Ou seja, diferentemente do critério adotado pelo MD, que optou por elencar as obras a serem conduzidas
pelos Comandos de Força e, no caso específico da FAB, outras ações relacionadas a capacitação e ao
aprimoramento de ações e iniciativas que já vinham sendo por ela adotadas.
13
Define critérios para a classificação de empreendimentos em média e grande relevância para a
disseminação do Building Information Modelling - BIM, nos termos do Decreto nº 10.306, de 2 de abril
de 2020.
14
A vigência foi estabelecida de forma expressa no art. 3º da IN.
Entretanto, ao contrário da supracitada portaria do MD, a IN do MNFRA
previu, ainda, a adoção do BIM em uma ou diversas etapas relativas ao ciclo de vida da
construção, de acordo com o art. 5º do citado Decreto.15

Releva mencionar que no caso do MINFRA os critérios e ações a serem


desenvolvidas pela SAC e pelo DNIT16, são apresentados, respectivamente, nos anexos I
e II da IN nº 1/2021. A leitura dos referidos anexos permite concluir que, ao contrário da
Portaria Normativa do MD, a IN do MINFRA não fez menção expressa a qualquer obra
ou empreendimento específico, optando:

a) no caso da SAC por fixar parâmetros relacionados à percentuais de


ampliação e metragens relativas às áreas de pavimentação e
terraplanagem dos aeroportos regionais; e

b) quanto ao DNIT, relacionar as ações de implementação do BIM às


“intervenções de reforço e reabilitação estrutural de obras de arte
especiais”, segundo parâmetros de números de “tramos”17 e de “obras e
apoio” a ela aplicáveis, delegando ao DNIT o desenvolvimento e
aplicação da metodologia prevista no art. 2º do Anexo II.

Ainda quanto a IN nº 1/2021 do MINFRA, cabe registrar que o § 4º do seu


art. 2º, prevê a possibilidade de adoção das ações de implementação do BIM pelas demais
setoriais e entidades vinculadas ao referido Ministério, desde que, para tanto, a proposta
seja submetida ao Comitê BIM Infraestrutura, instituído pela Portaria nº 1.041, de 6 de
maio de 2020 (MINFRA:2020).

Retornando ao Decreto nº 10.306/2020, é importante ressaltar que, em que pese o


seu art. 2º vincule as ações de disseminação do BIM ao MD e ao MINFRA, os quais já
expediram documentos normativos nesse sentido, o parágrafo único do mesmo artigo
prevê, expressamente, a possibilidade da adoção de ações de implementação do BIM, por
outros órgãos ou entidades da Administração Pública Federal:

15
A Portaria Normativa nº 56/GM-MD/2021, não cita o art. 5º do Decreto nº 10.306/ 2020 ou menciona
em seu texto a expressão “ciclo de vida”, o que não significa dizer que ele não deverá ser observado, de
forma implícita pelos Comandos de Força.
16
Entidades citadas no inciso II do art. 2º do Decreto nº 10.306/2020.
17
Termo que, na área da engenharia, serve para identificar um "trecho que se encontra delimitado entre
dois apoios subsequentes" ou "a parte de uma estrada...". cf. dicionário online de português. Disponível em
< https://www.dicio.com.br/tramo/ > Acesso em 20 mai. 2021.
Art. 2º [...]
Parágrafo único. Os órgãos e as entidades da administração
pública federal não referidos no caput poderão adotar as ações
de implementação do BIM nos termos do disposto neste
Decreto, independentemente da finalidade do uso do BIM,
prevista ou não neste Decreto, em quaisquer das fases do art. 4º.
(grifo nosso)

4. A implantação da Estratégia BIM BR na Lei nº 14.133/2021

No tocante à Lei nº 14.133/2021, a implantação do BIM nas contratações relativas as


obras e serviços de engenharia está prevista no § 3º do seu art. 19:

Art. 19. Os órgãos da Administração com competências


regulamentares relativas às atividades de administração de
materiais, de obras e serviços e de licitações e contratos deverão:
[...]
§ 3º Nas licitações de obras e serviços de engenharia e
arquitetura, sempre que adequada ao objeto da licitação, será
preferencialmente adotada a Modelagem da Informação da
Construção (Building Information Modelling - BIM) ou
tecnologias e processos integrados similares ou mais avançados
que venham a substitui-la.
(grifo nosso)

Com efeito, uma leitura do dispositivo supratranscrito permite inferir que, muito
embora a nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos contemple a adoção do
BIM, o legislador não foi tão enfático como o Chefe do Poder Executivo Federal quando
da redação do Decreto nº 10.306/2020, o que pode ser explicado pelo fato de a nova Lei
não estar restrita à Administração Pública Federal (União), conforme demonstrado no
trecho do seu art. 1º abaixo colacionado:

Art. 1º Esta Lei estabelece normas gerais de licitação e


contratação para as Administrações Públicas diretas, autárquicas
e fundacionais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, e abrange:
I - os órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário da União, dos
Estados e do Distrito Federal e os órgãos do Poder Legislativo
dos Municípios, quando no desempenho de função
administrativa;
II - os fundos especiais e as demais entidades controladas direta
ou indiretamente pela Administração Pública.
[...]

Destarte, não é difícil vislumbrar que a expressão “sempre que adequada ao objeto
da licitação” e o vocábulo “preferencialmente”, contidos no §3º do art. 19, poderão vir a
ser considerados de forma diferenciada pelos órgãos e entidades das Administrações
Públicas submetidas à Lei nº 14.133/2021.

Mesmo porque, SMJ., os benefícios da a adoção do BIM (e, em alguns casos, a sua
própria existência) ainda não se encontram devidamente difundidos entre os demais
Poderes, Unidades da Federação e órgãos e entidades abrangidos pela nova Lei de
Licitações e Contratos Administrativos.

Não obstante, retornando a Administração Pública Federal (que é o foco do presente


trabalho), conforme demonstrado no item 3 acima, apesar de o art. 1º do Decreto nº
10.306/2020, determinar a utilização do BIM, de forma gradual, para toda a
Administração Pública Federal, segundo as Fases e Prazos estabelecidos no seu art. 4º, o
caput do art. 2º do mesmo decreto “vincula” as ações de disseminação da Estratégia BIM
BR ao MD e ao MINFRA, sendo oferecida aos demais órgãos e entidades, a
“possibilidade” de adoção do BIM, em quaisquer das Fases de implantação do citado
artigo.

Com isso, com exceção do MD e do MINFRA, a própria implantação do BIM nos


demais órgãos e entidades da Administração Pública Federal, quer com base na nova Lei
de Licitações e Contratos Administrativos, ou mesmo, na Lei nº 13.303/2016 (no caso
das empresas públicas e sociedades de economia mista), poderá não vir a ocorrer com a
mesma intensidade ou contemporaneidade.

Em outras palavras, no que se refere aos “demais órgãos e entidades” da


Administração Pública Federal, o peso a ser dado à expressão “sempre que adequada ao
objeto da licitação” e o vocábulo “preferencialmente”, ambos contidos no §3º do art. 19
da nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos, acabará sendo proporcional ao
conhecimento dos seus benefícios por parte do Administrador Público responsável por
determinar a sua realização.

Além disso, por se tratar de uma metodologia inovadora, um outro ponto a ser
considerado é o “apetite ao risco” do Administrador responsável pela realização de uma
licitação e contratação que tende a sair da sua “zona de conforto”, podendo ensejar
eventuais questionamentos por parte dos órgãos de controle, com relação aos
procedimentos adotados na sua implementação.

Quanto à existência de uma “tendência” do Administrador Público no sentido de


evitar a tomada de decisões em situações que fogem à sua “zona de conforto”, afirma
GUIMARÃES (2020):

O administrador público vem, aos poucos, desistindo de decidir.


Ele não quer mais correr riscos. Desde a edição da Constituição
de 88, que inspirou um modelo de controle fortemente inibidor
da liberdade e da autonomia do gestor público, assistimos a uma
crescente ampliação e sofisticação do controle sobre as suas
ações. Decidir sobre o dia a dia da Administração passou a atrair
riscos jurídicos de toda a ordem, que podem chegar ao ponto da
criminalização da conduta. Sob as garras de todo esse controle, o
administrador desistiu de decidir. Viu seus riscos ampliados e,
por um instinto de autoproteção, demarcou suas ações à sua
“zona de conforto”. Com isso, instalou-se o que se poderia
denominar de crise da ineficiência pelo controle: acuados, os
gestores não mais atuam apenas na busca da melhor solução ao
interesse administrativo, mas também para se proteger. Tomar
decisões heterodoxas ou praticar ações controvertidas nas
instâncias de controle é se expor a riscos indigestos. E é
compreensível a inibição do administrador frente a esse cenário
de ampliação dos riscos jurídicos sobre suas ações. Afinal, tomar
decisões sensíveis pode significar ao administrador o risco de ser
processado criminalmente. Como consequência inevitável da
retração do administrador instala-se a ineficiência administrativa,
com prejuízos evidentes ao funcionamento da atividade pública.
(grifo nosso)

Registre-se, por fim, que existem outros aspectos a serem considerados, os quais
estão relacionados ao próprio processo licitatório a ser conduzido pela Administração
para a contratação das obras e serviços a serem realizados com a adoção do BIM, os quais
estão previstos nos art. 11 (objetivos), art. 28 (modalidades de licitação), art. 33 (critérios
de julgamento), art. 46 (regimes de contratação) e art. 56 (modos de disputa), todos da
Lei nº 14.133/2021.

5. Dos desafios a serem superados pela Administração Pública Federal

A questão a ser enfrentada é que, independentemente dos aspectos e considerações


apresentados nos itens 3 e 4 acima, os contornos jurídico-culturais e o caráter de inovação
tecnológica implícitos na metodologia BIM, provavelmente constituirão desafios a serem
superados pela Administração Pública Federal, especialmente se a contratação dos
serviços e obras de engenharia, vier a ser conduzida e realizada com base em alguns dos
modelos de contratação tradicionalmente por ela adotados, desde a Lei 8.666/1993,
alguns deles incorporados na nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos.

De acordo com a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI:2017) 18:

[...] o processo de Projeto BIM é muito diferenciado do


tradicional e pode ser classificado como uma inovação
disruptiva. Ele altera o processo produtivo e também os produtos
em um determinado mercado, pois atende a necessidades
previamente não servidas pelas tecnologias anteriores. Assim
sendo, é da maior importância que as práticas usuais de
contratação devam ser adaptadas às características deste novo
processo e de seus novos produtos.
Sem que o contratante esteja comprometido com a necessária
mudança de cultura de projeto, a simples contratação de diversas
equipes profissionais habilitadas não significa processo BIM
efetivo.
Ao contrário, quando um contratante, seja ele do mercado
privado ou do setor público, insiste em manter práticas
tradicionais durante um processo desenvolvido em BIM (tais
como postergar a contratação de uma equipe de projetistas
completa, adiar definições de premissas de projeto ou exigir
produtos CAD), as consequências são retrabalho e perdas
significativas para todos os envolvidos, o que pode minimizar ou
mesmo neutralizar os benefícios da aplicação do BIM.
(grifo nosso)

5.1. Dos modelos de contratação usualmente adotados pela Administração


Pública Brasileira

O trecho acima transcrito quando lido em conjunto com a própria definição de


BIM citada no inciso II do art. 3º do Decreto nº 10.306/202019, nos leva a concluir que
alguns dos modelos de contratação anteriormente utilizados pela Lei nº 8.666/1993 e
incorporados à Lei nº 14.133/2021 acabarão tendo que ser aperfeiçoados ou, de alguma

18
Coletânea Guias BIM ABDI-MDIC. Brasília: ABDI, 2017. Vol. 4
19
“Art. 3º Para fins do disposto neste Decreto, consideram-se: [...] II - Building Information
Modelling - BIM ou Modelagem da Informação da Construção - conjunto de tecnologias e processos
integrados que permite a criação, a utilização e a atualização de modelos digitais de uma construção, de
modo colaborativo, que sirva a todos os participantes do empreendimento, em qualquer etapa do ciclo de
vida da construção”. (grifo nosso)
forma, complementados, a fim de que os benefícios do BIM possam vir a ser efetivamente
usufruídos pela Administração Pública Contratante.

A guisa de exemplo, temos o modelo Design-Bid-Build (DBB), também


conhecido como “modelo tradicional” ou “Projeto-Licitação-Contratação”, previsto no
art. 7º da Lei nº 8.666/199320, o qual é caracterizado pela separação entre as atividades de
projeto (Design), licitação (Bid) e execução (Build) e, notadamente nas fases de Projeto
(Básico e Executivo) e de Execução das obras e serviços de engenharia contratados, a
realização de cada etapa é obrigatoriamente precedida da conclusão e aprovação, pela
autoridade competente, dos trabalhos relativos às etapas anteriores (o que, em uma
primeira análise, parece lógico e, porque não dizer, até mesmo óbvio).

A Administração Contratante define o que deseja obter (ou seja, elabora os


Projetos Básico e Executivo) e, após a realização da licitação e da contratação, fiscaliza
a execução da obra e/ou serviço de engenharia contratados; enquanto isso, o Contratado,
vencedor do certame, executa o que foi projetado, mediante a fiscalização do seu
contratante e recebe a correspondente contraprestação pecuniária acordada, após o
cumprimento dos eventos estabelecidos no cronograma físico-financeiro do contrato.

Ocorre que, a lógica e a obviedade acima apresentadas nem sempre se fazem


presentes quando o DBB é colocado em prática.

Isso porque, muitas das vezes, o órgão ou entidade da Administração Pública


contratante não possui em seus quadros, profissionais habilitados21 e/ou em número
suficiente para a elaboração dos Projetos Básico e Executivo que servirão de fundamento
para a realização da licitação e posterior contratação.

E, como nesse modelo de contratação, a realização de cada etapa depende da


conclusão e a aprovação da anterior, o Administrador Público do órgão ou entidade

20
Lei nº 8.666/1993: “Art.7º As licitações para a execução de obras e para a prestação de serviços
obedecerão ao disposto neste artigo e, em particular, à seguinte sequência: I - projeto básico; II - projeto
executivo; III - execução das obras e serviços. §1ºA execução de cada etapa será obrigatoriamente precedida
da conclusão e aprovação, pela autoridade competente, dos trabalhos relativos às etapas anteriores, à
exceção do projeto executivo, o qual poderá ser desenvolvido concomitantemente com a execução das obras
e serviços, desde que também autorizado pela Administração. [...] (grifo nosso)”
21
Entende-se por habilitados os profissionais registrados no CREA capazes de emitir a Anotação de
Responsabilidade Técnica (ART), que “é o documento que define, para os efeitos legais, os responsáveis
técnicos pelo desenvolvimento de atividade técnica no âmbito das profissões abrangidas pelo Sistema
Confia/Crea”, nos termos da Lei nº 6.496/1977. Definição obtida no site do Conselho Federal de
Engenharia- CONFEA. Disponível em <https://www.confea.org.br/servicos-prestados/anotacao-de-
responsabilidade-tecnica-art >. Acesso em 22 mai. 2021.
contratante acaba tendo que optar por licitar o próprio Projeto Básico e, posteriormente,
o Executivo, para, só então, licitar a obra propriamente dita, o que demanda um tempo
maior para a realização da licitação e, por vezes, gera problemas durante a execução, em
virtude de divergências entre os dois Projetos, podendo implicar no aumento do prazo e
do custo do empreendimento (sem contar os aspectos relativos à apuração de
responsabilidades).

Importante registrar, que o modelo DBB, não se constitui em um modelo


colaborativo; o que existe, após a contratação, é o contato entre a fiscalização da
Administração Contratante e os prepostos ou a equipe técnica do Contratado, o qual
poderá vir a ser intensificado caso venham a ocorrer problemas durante a execução do
contrato.

Ocorre que, a adoção desse distanciamento inicial e interação parcial adotada no


modelo DBB, quando aplicada a contratos tecnológica e filosoficamente voltados para a
metodologia BIM, a qual é fundada em um modelo colaborativo, pode, a depender da
Fase de implantação da Estratégia BIM BR, prevista no Decreto nº 10.306/2020, vir a
reduzir ou, em alguns casos, impedir que a Administração Contratante venha a usufruir
dos benefícios advindos dessa nova tecnologia.

Uma alternativa prevista na Lei nº 8.666/1993 e também incorporada à Lei nº


14.133/2021, que, de certa forma, promove uma maior integração no empreendimento, é
o modelo Design and Build (DB), ou Projeto-Construção, no qual o cliente, no caso, a
Administração Contratante, admite uma associação entre o projetista e o construtor,
especialmente no tocante ao desenvolvimento do projeto executivo e a execução do
empreendimento. Tal possibilidade era prevista na parte final do §1º do art. 7º da Lei
8.666/1993 (vide Nota de Rodapé 20).

O DB e o Design-Build-Operate (DBO), ou Projeto-Construção-Operação, este


último utilizado “em concessões públicas de serviços, em que a própria detentora da
concessão projeta, constrói e opera as instalações, como no caso de usinas de energia.”
(ABDI:2017), em tese, propiciam maior integração entre os diversos atores privados
responsáveis pela realização do empreendimento (projetistas, construtores, consultores,
fornecedores, subcontratados etc.).

Outro modelo contratual alternativo ao DBB é o Construction Management at


Risk (CMAR) ou Gestão da Construção por Administração com Risco para a
Gerenciadora, o qual se caracteriza pela contratação de um gerente de construção no
início do processo, como um representante do cliente para gerenciar a produção do
empreendimento, sendo estabelecidos dois contratos: o primeiro com projetista e o
segundo com o gerente de construção, que também será o responsável pela sua execução
(ADBI:2017).

Todavia, sabe-se que, na prática, em que pese o fato de que, à exemplo do DBB,
nos modelos contratuais alternativos supracitados (o DB e o CMAR) o relacionamento
da Administração fique formalmente ancorado na Contratada, vencedora do certame
licitatório, as eventuais divergências entre os diversos atores privados envolvidos na
realização do empreendimento (aparentemente “invisíveis” à Administração
Contratante), não raro acabam por ensejar pleitos por parte da Contratada, no tocante ao
aumento de prazo ou do preço originalmente ofertado, em decorrência de necessidades
de “adequações no projeto executivo”, as quais, a seu turno, segundo a Contratada,
estariam, de alguma forma, relacionadas ao “Projeto Básico” elaborado pela
Administração (ou por ela contratado por licitação), ou a “pleitos de reequilíbrio”
referentes a compra de insumos etc.

Nesse sentido, é que, com o passar do tempo, os modelos DB e CMAR, passaram


a servir de base para os contratos de Engineering-Procurment-Construction (EPC), nos
quais as partes de Engenharia (Engineerig), compras (Procurment) e Construção
(Construction) do empreendimento, ficam sob a responsabilidade e riscos do Contratado,
cabendo citar, ainda, que este tipo de contrato admite algumas modalidades, sendo a
principal delas, o Turn Key (“Chaves na mão”) Lump Sum (com um preço pré-fixado),
além de a possibilidade de utilização da Work Breakdown Structure (WBS), conhecida
no Brasil como Estrutura Analítica de Projetos (EAP), a qual acaba por, na prática, dividir
os serviços em diversos EPCs, com entregáveis previamente definidos.

Segundo afirma FLEURY (2016), o EPC Turn Key Lump Sum, tem sido
utilizado em contratos de infraestrutura relacionados ao setor Elétrico, desde a década de
1980, com o a implantação da Usina de Angra I, inicialmente em virtude da própria
complexidade tecnológica envolvida e dos aspectos relacionados à segurança
proporcionada pelo tipo de contrato, cujas principais características foram acima
apresentadas, e, posteriormente, “no final da década de 1990 e início da década de 2000,
por ocasião da implantação do programa de privatização no Setor Elétrico”.
Cabe registrar, ainda, que ao longo do tempo, os modelos DB, CMAR e EPC,
acabaram por dar ensejo à criação dos regimes de contratação integrada e de contratação
semi-integrada, ambos incorporados ao Direito Administrativo Brasileiro, inicialmente,
por meio da Lei nº 12.462/2011 que instituiu o RDC, sendo, posteriormente, incluídos na
Lei nº 13.303/201622, conhecida como Lei das Estatais e, agora, foram incorporados à Lei
nº 14.133/2021.

Conforme veremos ao longo do presente artigo, a inclusão desses novos regimes


de contratação, por certo será importante para a implantação das Fases 2 e 3 da Estratégia
BIM BR.

6. Da experiência internacional relativa à implantação do BIM no Setor Público

Após discorrermos, de forma suscinta, sobre os diversos modelos de contratação que


têm sido utilizados pela Administração Pública Brasileira, é importante registrar que nos
Setores Públicos dos países em cujo BIM se encontra em fase adiantada de implantação,
o viés colaborativo e de integração que tende a ser progressivamente estabelecido entre
os diversos atores do empreendimento, acabou por ensejar, por parte dos referidos
governos, a adoção de medidas, a fim de que eles pudessem vir a usufruir de todos os
benefícios decorrentes da “inovação disruptiva” da modelagem BIM (ABDI:2017), sem
perder as prerrogativas de Administração Pública que lhes são inerentes.

Nesse sentido, a partir da experiência internacional, observa-se que o desafio acima


apresentado, qual seja: fazer com que a Administração deixe de ser, simplesmente, um
Contratante diferenciado23, passando a colaborar com o seu Contratado, em todas as fases
do ciclo de vida do empreendimento, sem perder as suas prerrogativas de Administração
Pública, tem sido equacionadas/solucionadas, a partir de duas correntes de entendimento
jurídico. São elas:

a) a corrente que defende a utilização do BIM com base em contratos que


progressivamente venham a migrar do usual modelo de contratação de natureza
“transacional” para um modelo de contratação de natureza “colaborativa”; e

22
Dispõe sobre o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia mista e de suas
subsidiárias, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
23
Haja vista que atuando em prol do interesse público, primário ou secundário a ser atendido por meio do
contrato de obra ou serviços de engenharia por ela firmado com o Contratado
b) a corrente que defende a criação de Protocolos BIM, a serem incorporados, como
anexos ou apêndices nos contratos de natureza transacional.

6.1. Da progressiva migração dos contratos de natureza transacional para


colaborativa

Inicialmente, para que se possa analisar a possibilidade de celebração de


contratos BIM com base nessa corrente, torna-se necessário conceituar o que venha a ser
os contratos de natureza “transacional”, para que, ao longo do desenvolvimento do tema,
cheguemos aos contratos de natureza “colaborativa”, por ela defendidos.

Consoante afirmam OLIVEIRA e GIACÁGLIA (2018):

“Os contratos transacionais são baseados na troca de bens e


serviços pela correspondente remuneração. O foco das cláusulas
está em descrever detalhadamente o serviço que será prestado,
como o projeto e a construção.” (tradução livre)

Ainda segundo os autores supracitados, uma das desvantagens dos contratos


transacionais, quando observados sob a ótica do BIM, “é que a informação detalhada
sobre o objeto obriga o desenvolvimento de grande parte do projeto antes da contratação
de todos os participantes, o que pode vir a dificultar a colaboração entre os agentes.”
(tradução livre).

Consoante a corrente jurídica ora analisada, o problema ou desafio a ser


enfrentado pela Administração Pública é que, a depender da Fase de implantação do
BIM, a filosofia de compartilhamento e de progressiva integração de informações,
desenhos projetos etc., bem como a agilidade, a quantidade, a forma e a transparência
com que os dados irão migrar para a plataforma, tenderão a promover o envolvimento da
Administração Contratante a tal ponto que a manutenção das etapas de aprovação
presentes nos contratos de natureza transacional, poderão vir a se constituir entraves ou
gargalos no desenvolvimento do empreendimento (obra ou serviço de engenharia).

Tal situação acabaria por promover a transição desses contratos, para os


contratos de natureza colaborativa ou relacional, cujo foco consiste na criação de um
ambiente de trabalho comum fundamentado na confiança e na colaboração entre
contratante e contratado ou, no caso, entre a Administração Pública contratante e seu
contratado.

Obviamente, tal migração traz a reboque uma série de medidas voltadas para o
compliance e integridade, com aprimoramentos na área de controle e transparência.

O cenário acima vislumbrado, no sentido da progressiva substituição dos


contratos de natureza transacional pelos de natureza colaborativa, compõe o modelo
conhecido como Integrated Project Delivery (IPD), o qual encontra-se descrito no
Integrated Project Delivery: A Guide, ou IPD Guide expedido pelo AIA24 (2017),
utilizado como referência, no meio acadêmico, sendo, inclusive, uma das fontes adotadas
pela ABDI (2017).

De acordo com a referida publicação, com o progressivo uso da tecnologia BIM


e da abordagem colaborativa, mais integrada, iterativa e virtual para o projeto, construção
e operação por ela propiciada, os contratos com base no modelo tradicional ou
transacional tendem a ser substituídos por contratos com o viés colaborativo ou
relacional.

Em linhas gerais, os principais participantes do projeto, passam a celebrar e a


executar um contrato multilateral, que, na publicação é denominado Multi-Party
Agrément (MPA), no qual são especificadas as suas respectivas funções, direitos,
obrigações e responsabilidades. Os MPAs acabam por criar um vínculo de organização
temporário, que em algumas vezes pode evoluir para aspectos societários formais, com
vistas à realização de um projeto específico.

Nesses contratos, as estruturas de compensação costumam ser abertas, de modo


a que os interesses e as contribuições de cada parte sejam igualmente transparentes e a
confiança acabe por assumir papel preponderante, haja vista que a remuneração está
vinculada ao sucesso geral do projeto e o sucesso individual depende das contribuições
de todos os membros da equipe.

Também de acordo com IPD Guide, em que pese a natureza personalizada dos
MPA, três formatos vêm ganhando destaque: as Single Purpose Entity (Sociedades de

24
The American Institute of Architects
Propósito Específico – SPE), as Project Alliances (Alianças de Projeto) e os Relational
Contracts (Contratos Relacionais).

Com efeito, a primeira delas, a SPE, não constitui novidade posto que já
integrada ao Direito Brasileiro, inicialmente no parágrafo único do art. 981 da Lei nº
10.406/2002 (Código Civil)25 e, posteriormente, no Direito Administrativo, com o
advento da Lei nº 11.079/200426. Trata-se de uma estrutura societária formal, constituída
para a realização de um propósito específico, que pode ser um projeto ou uma obra com
a adoção da modelagem BIM.

Contudo, verifica-se que, apesar de incorporada ao Direito Administrativo


Brasileiro, em uma primeira análise, a sua aplicabilidade, no caso da Lei nº 14.133/2021,
acaba ficando limitada às SPE que venham a participar do certame após estarem
devidamente constituídas.27

No que se refere aos Project Alliances e aos Relational Contracts, em que pese
o fato de serem utilizados em alguns países em que o BIM se encontra em fase adiantada
de implantação, tais formas de relacionamento contratual ainda não foram perfeitamente
assimiladas pelo Direito Administrativo Brasileiro e, possivelmente, a tentativa de sua
inclusão tenderá a sofrer uma resistência inicial por parte dos órgãos de controle e dos
administradores, haja vista a quebra de paradigmas por elas promovidas.

De fato, basta uma simples leitura das “Recomendações Básicas para a


Contratação e Fiscalização de Obras de Edificações Públicas”, expedidas pelo TCU
(2014), para demonstrar a tendência do citado órgão de controle no tocante à realização
da contratação com base em contratos de natureza transacional, notadamente, pelo
modelo DBB (projeto-licitação-contratação).

A dificuldade de inclusão dos contratos de natureza colaborativa ou relacional


na Administração Pública Brasileira decorre da substituição da clássica visão contratual,
há muito arraigada nos contratos administrativos, a qual está associada a existência de

25
Que ao revogar a 1ª parte do Código Comercial de 1850, adotou a “teoria da empresa” em substituição
da “teoria dos atos do comércio”.
26
Institui normas gerais para licitação e contratação de parceria público-privada no âmbito da administração
pública.
27
Ao contrário dos consórcios, cuja efetiva constituição é permitida ao licitante vencedor, antes da efetiva
contratação (art. 15, §3º da Lei nº 14.133/2021).
“objetivos contrapostos” entre contratante e contratado28, por uma postura de colaboração
onde a Administração também passa a ser parte integrante do projeto, atuando em sinergia
com a contratada.

Tal transição, por certo, exigirá uma série de estudos com vistas a elaboração de
salvaguardas à Administração Pública, com criação de controles específicos ou
aprimoramentos dos existentes a fim de garantir a transparência e a preservação do
interesse público.

Em linhas gerais, nas Project Alliances (Alianças de Projeto)29, as partes criam


uma estrutura de projeto em que o proprietário garante os custos diretos das partes não
proprietárias, mas o pagamento do lucro, despesas gerais e limites depende do resultado
por elas apresentadas. Segundo o IPD Guide, AIA (2017), as Project Alliances foram
desenvolvidas para apoiar a exploração de petróleo no Mar do Norte e têm sido
amplamente utilizadas na Austrália, no Reino Unido e estão começando a ser adotadas
nos Estados Unidos da América.

Os Relational Contracts (Contratos Relacionais), a seu turno, apesar de


guardarem certa semelhança com às Alianças de Projeto, apresentam algumas diferenças
no tocante a abordagem de compensação, no compartilhamento de riscos e na forma como
a tomada de decisão ocorre. As estruturas de compensação têm incentivos com base no
projeto, mas pode ou não haver qualquer responsabilidade coletiva por atrasos nele
ocorridos. Se erros forem cometidos, em que pese as partes possam concordar em limitar
sua responsabilidade mútua, é inserido um seguro convencional complementar. As
decisões são desenvolvidas com base na equipe, mas ao contrário das Project Alliances,
o proprietário geralmente retém os direitos da decisão final na ausência de consenso da
equipe (AIA:2017).

Não obstante, conforme NETO (2001), ao longo dos últimos anos, o Direito
Administrativo, cujas origens remontam à Revolução Francesa, vem passando por uma
série de mutações, no sentido de promover um “resgate histórico” às suas verdadeiras
origens, haja vista que, ao contrário do ocorrido com as outras duas “revoluções

28
Segundo essa linha de pensamento, a diferença entre os “contratos” e os “convênios” parte da premissa
de que, no primeiro, os objetivos entre as partes são contrapostos enquanto, no segundo, os objetivos são
coincidentes ou comuns.
29
Nesse sentido, FLEURY (2016), menciona o contrato de EPC Open Book, como instrumento que permite
a ampliação da sinergia entre as partes.
liberais”30, onde a participação popular se faz mais presente, quer pelo exercício do voto,
ou pelos meios de acesso à justiça, no caso da Administração Pública, o distanciamento
acabou sendo mantido, não mais na figura do Rei Absolutista, mas do Administrador
Público, que ao ser o intérprete do Interesse Público, acabou restringindo o status de
participação do Administrado, quando comparado ao do Eleitor e do Jurisdicionado.

Ainda segundo o mesmo autor, este resgate ou renovação está sendo orientado
por dois mega-princípios: o da eficiência e o da legitimidade, os quais, a seu turno,
desdobram-se em princípios políticos, técnicos e jurídicos. E, especificamente quanto aos
jurídicos, dois outros princípios passam a ter destaque: o da transparência e o da
consensualidade:

O Princípio da transparência é instrumental para a realização dos


princípios da participação e impessoalidade, na medida em que
permite a efetiva aplicação dos dois tipos de controles da
Administração Pública: estatais, efetuados por si própria e pelos
demais Poderes e sociais, pelos cidadãos e pelas entidades da
sociedade civil.
[...]
A preferência pela via da consensualidade se justifica, enfim,
amplamente, pelas seguintes razões: pelo potencial criativo e
cooperativo dos membros da constelação social (colaboração);
pelo potencial criativo e operativo dos próprios entes da
constelação estatal (cooperação); pela redução de custos para o
Estado e para a sociedade (economicidade); pela simplificação
da máquina gestora do Estado (agilidade); pela renovação das
modalidades de prestação de serviços a cargo do Estado
(modernização); pelo atendimento às demandas reprimidas após
o fracasso dos modelos do Estado do bem-estar social e socialista
(generalidade); e pela racionalização da atribuição de
competências ao Estado e consequente racionalização da
distribuição de competências entre entidades e órgãos do Estado
(subsidiariedade).
(grifo nosso)

30
As “três revoluções liberais”, citadas pelo autor são: a Inglesa que, “preocupada em limitar o poder
monárquico”, voltou-se para fortalecer a instituição do “Parlamento”, servindo de base para o atual “Poder
Legislativo”, a Americana, que “preocupada em consolidar a soberania política do novo Estado”, assentou
as bases do “Poder Judiciário” e a Francesa, que “preocupada em varrer o absolutismo das instituições,
assentou as bases da Administração Pública contemporânea”
Com efeito, no que se refere ao princípio da transparência, cabe ressaltar, que a
denominada “era da informação” já gerou iniciativas por parte da Administração Pública
Federal no sentido de oferecer aos Administrados instrumentos de controle social, tais
como o “Fala.BR – Plataforma Integrada de Ouvidoria e Acesso à Informação” e o “Portal
da Transparência”, ambos disponibilizados pela Controladoria Geral da União.

Ademais, o crescimento da participação popular por meio das mídias sociais,


tem proporcionado a criação de diversos sítios e aplicativos de controle social das
atividades dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, por parte de entidades
privadas, com ou sem fins lucrativos, o que, de certo modo, serve de incentivo para que
o Setor Público acelere o processo de transparência e participação social, quer por meio
dos canais supracitados ou pela criação de outras iniciativas (até mesmo como forma de
evitar a manipulação e/ou a divulgação de informações equivocadas e/ou distorcidas,
também denominadas fake news).

No que se refere à Lei de Licitações e Contratos Administrativos, destaca-se a


Criação do Portal Nacional de Contratações Públicas (PNCP), prevista no art. 174, que
contribuirá para a transparência e, por conseguinte, para o controle e a participação social,
cabendo registrar que a implantação do PNCP obedecerá às regras de transição contidas
no art. 175 e 176.

Destaque-se, ainda, que a Lei nº 14.133/2021, incorpora diversos avanços no que


se refere ao compliance, à integridade e ao controle, tais como a inclusão das “três linhas
de defesa” (art. 169), os critérios a serem adotados pelos órgãos de controle (art. 170) e a
definição de objetivos relativos à fiscalização dos contratos (art. 171, III), os quais,
juntamente com o PNCP, contribuirão para a consolidação do princípio jurídico da
transparência mencionado por NETO (2001).

Não obstante, no tocante ao princípio da consensualidade, as recentes posições


doutrinárias no que se refere ao reconhecimento do aspecto de colaboração nos contratos
administrativos, em parte já aplicadas às PPP31, permitem inferir uma futura possibilidade
da incorporação de contratos de natureza colaborativa ou relacional de forma mais ampla,
inicialmente, na Lei nº 13.303/2016, uma vez que, ao contrário do art. 89 da Lei nº

31
Parcerias Público-Privadas, previstas na Lei nº 11.079/2004.
14.133/2021, os contratos celebrados com base na Lei das Estatais são regidos pelos
preceitos do direito privado 32.

Em outras palavras, com os progressivos avanços no sentido do princípio da


consensualidade, a visão tradicional de “objetivos contrapostos entre o contratante e o
contratado” começa a ceder espaço à “colaboração”, mesmo em se tratando dos contratos
administrativos em geral, conforme admite MEDAUAR (1996), ao falar sobre os
convênios:

Quanto ao aspecto da “colaboração” como elemento típico do


convênio, deve-se lembrar que Laubadère (na clássica Traité
Théorique et Pratique des Contrats Administratifs, vol. I, 1956)
menciona como característica do contrato administrativo
justamente a colaboração: “o contrato administrativo aparece,
assim, como um sistema de colaboração entre a administração e
seu contratado.”
(grifo nosso)

No mesmo diapasão, ao tratarem da evolução dos contratos, afirmam WALD,


MORAES e WALD (2004):

3.45. Durante muito tempo, considerou-se que, na maioria dos


casos, o contrato compunha interesses divergentes, que neles
encontravam uma forma de solução, como acontece nos casos da
compra e venda, da locação, da empreitada, etc. Já os contratos
que constituem meras liberalidades são relativamente menos
importantes e só recentemente é que a doutrina foi admitindo a
importância crescente dos chamados contratos de colaboração,
que existem tanto no direito privado, quanto no direito público.
3.46. Nos últimos anos, deixou-se, no entanto, de conceber o
contrato como sendo geralmente decorrente ou representativo da
composição de interesses antagônicos, chegando os autores e a
própria jurisprudência a admitir, inicialmente nos contratos de
longo prazo, mas, em seguida, em vários outros, a existência de
uma affectio – a affectio contractus, [...]
3.47. [...] Já no início do século XX, alguns autores, como René
Demogue, referiam-se ao contrato como sendo “uma união de
interesses equilibrados, um instrumento de cooperação leal, uma
obra de confiança mútua”. Mais recentemente, outros autores
franceses desenvolveram a tese da equação contratual, inspirada
no direito administrativo, para vislumbrar, em todos os contratos,
a busca da realização de um ponto de equilíbrio necessário, ou
seja, um instrumento de colaboração, entre os contratantes, no
interesse de ambos e da própria sociedade.
(grifo nosso)

32
Nesse sentido, estabelece a Lei nº 13.303/2016: Art. 68. Os contratos de que trata esta Lei regulam-se
pelas suas cláusulas, pelo disposto nesta Lei e pelos preceitos de direito privado. (grifo nosso)
Em síntese, o progressivo avanço dos princípios jurídicos da transparência e da
consensualidade citados por NETO (2001), quando analisado à luz dos controles e
instrumentos de transparência, compliance e integridade já inseridos na Lei de Licitações
e Contratos Administrativos e, ainda, da evolução doutrinária no sentido do
reconhecimento do caráter de “colaboração” dos contratos administrativos, permitem
inferir que as Project Alliances e/ou os Relational Contracts citados no IPD Guide
(AIA:2017), poderão, em um futuro não muito distante, ser adotadas pela Administração
Pública Contratante, nos contratos BIM, com a esperada segurança jurídica e a
preservação do interesse público envolvido, o que, por certo contribuirá para que ela
venha a usufruir de todos os benefícios e potencialidades advindos da referida
modelagem.

6.2. Da criação e incorporação de Protocolos BIM, nos contratos celebrados pela


Administração

Essa corrente é defendida por UDON (2012), que ao analisar o tema considera
que as questões jurídicas relativas à colaboração do Contratante e o Contratado poderiam
vir a ser incorporadas a um “Protocolo BIM”, a ser elaborado com base nos modelos BIM
da National Building Specification (NBS)33, o qual seria anexado aos contratos de obras
e serviços de engenharia elaborados a partir dos formulários e padrões criados e
fornecidos pela JCT34:

O argumento alternativo propõe a incorporação de questões


jurídicas em um protocolo BIM que seria um conjunto de
instruções complementares ao contrato principal para torná-las
adequadas ao BIM. As alterações poderiam então ser
incorporadas aos diversos acordos utilizados para o projeto,
garantindo que haja um conjunto semelhante de direitos e
obrigações relacionados ao BIM que fluem através dos diferentes
contratos. Isso permite que as partes mantenham os contratos a

33
O National Building Specification (NBS) "é um sistema de especificação de construção baseado no
Reino Unido usado por arquitetos e outros profissionais da construção para descrever os materiais, padrões
e fabricação de um projeto de construção. [1] Foi lançado em 1973 e agora é usado por mais de 5000
escritórios." Disponível em < https://en.wikipedia.org/wiki/National_Building_Specification >. Acesso em
20 mai. 2021.
34
Formado em 1931, pelo Royal Institute of British Architects (RIBA) e constituído como sociedade
limitada a partir de 1998, o Joint Contracts Tribunal (JCT) é o responsável pela criação e o fornecimento
de modelos de contrato de obras e documentos decorrentes no Reino Unido, EUA e Canadá (JCT:2021)
que estão acostumadas ao adotar o BIM. Esta parece ser a melhor
abordagem, e tem amplo apoio (relatório de março de 2011, o
suplemento JCT para o Setor Público35 e os documentos de
protocolo BIM dos EUA).
(tradução livre)

De fato, ao compulsar o Public Sector Supplement (2011)36, observa-se que, ao


descrever o seu escopo, a publicação já contempla a sugestão de medidas a serem dotadas,
tanto pelos setores público e privado, no sentido de criar um protocolo de informações
BIM, para lidar com outros aspectos de relacionamento.

Especificamente no que se refere a menção do autor ao protocolo BIM dos EUA,


verifica-se, a partir de informações colhidas no site “BIM1”37, que este documento é por
eles considerado como um contrato legal suplementar padronizado, o qual foi
desenvolvido pelo United Kingdom’s (UK) Construction Industry Council, a fim de
possibilitar a produção de modelos de informação em etapas definidas de um projeto e
apoiar o trabalho colaborativo.

Releva mencionar, ainda, que UDON (2012), também admite a possibilidade de


utilização de Protocolos BIM, nos contratos criados a partir dos formulários e padrões da
New Engineering Contract (NEC)38, em especial, o NEC3 - Engineering and
Construction Contract.

Entretanto, apesar de entender que a adoção de um Protocolo BIM, seria a


melhor solução jurídica para a adaptação dos contratos de construção aos aspectos de
integração e colaboração advindos da nova metodologia e do caráter de inovação
tecnológica a ela atrelada, o citado autor chama a atenção para alguns pontos a serem
observados no tocante a implementação dos protocolos, em especial, a necessidade de se

35
Disponível em < http://corporate.jctltd.co.uk/wp-content/uploads/2016/03/JCT-Public-Sector-
Supplement-Dec20111.pdf >. Acesso em 27 mai. 2021.
36
Suplemento JCT para o Setor Público.
37
Disponível em < https://www.theb1m.com/video/bim-protocol-explained > Acesso em 22 mai. 2021
38
Utilizados do setor público na Estratégia de Construção do Governo do Reino Unido, bem como pelo
Conselho de Clientes de Construção, o Crown Commercial Service (agência governamental do Reino
Unido que fornece serviços comerciais ao setor público), o Conselho de Administração de Instalações do
Gabinete do Reino Unido, a Associação para Gerenciamento de Projetos e o Instituto Britânico de
Gerenciamento de Instalações (NEC: 2021)
disciplinar, no Contrato a ser celebrado, os critérios para o trato de eventuais divergências
entre as cláusulas contratuais e às do Protocolo BIM que constituirá um dos seus anexos.

Em que pese a pertinente observação do autor, acredita-se que por se tratar de


uma “inovação disruptiva” (ABDI:2017), a hipótese da eventual adoção de Protocolo
BIM pela Administração Pública Brasileira, quando avaliada a partir de alguns
instrumentos jurídicos disponibilizados na Lei nº 14.133/2021, pode vir a ser de grande
valia, assim como parte das sugestões contidas na corrente jurídica apresentada no item
6.2.1.

7. Das soluções inicialmente vislumbradas para cada fase da Estratégia BIM.

Após discorrer sobre a evolução da implantação do BIM no Brasil, analisar o Decreto


10.306/2020, observar as publicações, estudos e práticas adotadas nos países em que o
BIM se encontra em fase mais adiantada de implantação e os possíveis desafios a serem
enfrentados pela Administração Pública, passa-se a buscar, na Lei nº 14.133/2016, as
soluções inicialmente vislumbradas para a implementação das 3 Fases da Estratégia BIM
BR.

7.1.Da implementação da 1ª Fase da Estratégia BIM BR

Conforme já demonstrado na tabela contida no item 3 do presente artigo, a 1ª Fase


da divulgação da Estratégia BIM BR, iniciada em 01/01/2021, com término previsto para
31/12/2023, tem o seu foco voltado para “o desenvolvimento de projetos de arquitetura e
engenharia”.

Esta primeira fase possui, como objetivo explícito a ser alcançado, a elaboração
dos modelos de arquitetura referentes às disciplinas citadas nos itens 1 a 4 da alínea a) do
inciso I do art. 4º do Decreto nº 10.306/2020, não se tratando, portanto, de uma fase
destinada à execução e à gestão das obras propriamente ditas.

Com efeito, percebe-se que essa primeira Fase, focada na contratação de projetos
à luz da nova modelagem, também tem o objetivo implícito de preparar a Administração
Pública Federal e as pessoas físicas e jurídicas a serem contratadas, algumas delas já
utilizadoras do BIM, para juntos, promoverem o desenvolvimento da “Plataforma BIM
BR” (MDIC:2019), destinada a hospedar a “Biblioteca Nacional BIM” (BNBIM), “com
o objetivo de se tornar um repositório de bibliotecas virtuais BIM no Brasil.”

Considerando os aspectos acima, em uma primeira análise, não haveria óbices


para a contratação do Projeto de Arquitetura ou Engenharia, com base na modelagem
BIM, mediante a utilização de quaisquer dos regimes de empreitada previstos no art. 4639
da Lei nº 14.133/2021, ficando a escolha do regime condicionada ao número dos
desenhos, diagramas, visões e informações a serem solicitadas para a realização do objeto
a ser contratado.

No que se refere as modalidades de licitação, previstas no art. 2840 da Lei nº


14.133/2021, considerando que a Fase 1 da Estratégia BIM BR, está voltada para “o
desenvolvimento de projetos de arquitetura e engenharia”, em uma primeira análise, a
indicação da modalidade a ser utilizada recairia sobre a prevista no inciso II
(concorrência), podendo, ainda, à depender das características e grau de complexidade
exigidos para o projeto a ser contratado, serem indicadas as modalidades constantes dos
incisos III (concurso) ou V (diálogo competitivo), todas definidas nos incisos XXXVIII,
XXXIX e XLII do art. 6º da mesma Lei.

Art. 6º Para os fins desta Lei, consideram-se:


[...]
XXXVIII - concorrência: modalidade de licitação para
contratação de bens e serviços especiais e de obras e serviços
comuns e especiais de engenharia, cujo critério de julgamento
poderá ser:
a) menor preço;
b) melhor técnica ou conteúdo artístico;
c) técnica e preço;
d) maior retorno econômico;
e) maior desconto;
XXXIX - concurso: modalidade de licitação para escolha de
trabalho técnico, científico ou artístico, cujo critério de

39
Art. 46. Na execução indireta de obras e serviços de engenharia, são admitidos os seguintes regimes:
I - empreitada por preço unitário; II - empreitada por preço global; III - empreitada integral; IV - contratação
por tarefa; V - contratação integrada; VI - contratação semi-integrada; VII - fornecimento e prestação de
serviço associado.
40
Art. 28. São modalidades de licitação: I - pregão; II - concorrência; III - concurso; IV - leilão; V - diálogo
competitivo. §1º Além das modalidades referidas no caput deste artigo, a Administração pode servir-se dos
procedimentos auxiliares previstos no art. 78 desta Lei. §2º É vedada a criação de outras modalidades de
licitação ou, ainda, a combinação daquelas referidas no caput deste artigo.
julgamento será o de melhor técnica ou conteúdo artístico, e para
concessão de prêmio ou remuneração ao vencedor;
[...]
XLII - diálogo competitivo: modalidade de licitação para
contratação de obras, serviços e compras em que a Administração
Pública realiza diálogos com licitantes previamente selecionados
mediante critérios objetivos, com o intuito de desenvolver uma
ou mais alternativas capazes de atender às suas necessidades,
devendo os licitantes apresentar proposta final após o
encerramento dos diálogos;
(grifo nosso)

Afiguram-se inadequados, por conseguinte, os incisos I (pregão) e IV (leilão) do


art. 28, sendo o primeiro, em regra, inaplicável a obras e serviços de engenharia, por força
do parágrafo único do art. 29 da própria Lei nº 14.133/2021 e, o segundo, o Leilão,
destinado à alienação de bens imóveis ou de bens móveis inservíveis ou legalmente
apreendidos a quem oferecer o maior lance, o que não corresponde a hipótese analisada.

Ainda no que se refere ao Pregão, é importante registrar que a exceção à regra


prevista no parágrafo único do art. 29 supracitado, a qual admite a sua utilização na
hipótese contida na alínea a) inciso XXI do art. 6º da citada lei,41 afigura-se de difícil
aplicação no caso de contratações de projetos em BIM.

Mesmo porque, ainda que o projeto a ser contratado venha a utilizar “objetos
BIM”42 ou outros elementos porventura existentes na BNBIM, as probabilidades de que
ele venha a ser considerado objetivamente padronizável “em termos de desempenho e
qualidade, de manutenção, de adequação e de adaptação de bens móveis e imóveis, com

41
"Art. 6º Para os fins desta Lei, consideram-se:[...] XXI - serviço de engenharia: toda atividade ou conjunto
de atividades destinadas a obter determinada utilidade, intelectual ou material, de interesse para a
Administração e que, não enquadradas no conceito de obra a que se refere o inciso XII do caput deste artigo,
são estabelecidas, por força de lei, como privativas das profissões de arquiteto e engenheiro ou de técnicos
especializados, que compreendem: a) serviço comum de engenharia: todo serviço de engenharia que tem
por objeto ações, objetivamente padronizáveis em termos de desempenho e qualidade, de manutenção, de
adequação e de adaptação de bens móveis e imóveis, com preservação das características originais dos
bens;"
42
De acordo com a definição contida no inciso IX do art. 2º do Regulamento Técnico da BBIM um "Objeto
BIM" constitui a "combinação de diferentes conteúdos que somados permitem uma representação digital
de um produto da construção, um acessório ou uma parte desses, ou, ainda, de um resultado da construção
que contempla suas características geométricas e que pode conter dados sobre funcionalidade, para a
operação, para a manutenção e reuso ou demolição do produto que representa."
preservação das características originais dos bens” afiguram-se muito baixas43, podendo
gerar questionamentos futuros perante os órgãos de controle.

No que se refere aos critérios de julgamento (art. 33), em se tratando de um serviço


de engenharia a ser prestado com base em uma nova modelagem, afigura-se conveniente
a adoção daqueles que privilegiem a técnica e a qualidade do projeto a ser contratado,
haja vista que, além dos benefícios diretos a serem colhidos pelo órgão ou entidade
licitante, também contribuirão para o fortalecimento da BNBIM.

Registre-se, ainda, que além dos dispositivos da Lei nº 14.133/2021, as licitações


conduzidas pelos órgãos e entidades da Administração Pública Federal, também deverão
atender as “Regras gerais do instrumento convocatório e do contrato”, previstas nos
incisos I a III do art. 6º do Decreto nº 10.306/2020:

Art. 6º A obrigação de o contratado utilizar o BIM deverá


abranger, no mínimo:
I - os usos do BIM a que se refere o art. 4º, obedecidas as suas
fases de disseminação;
II - a disponibilização dos arquivos eletrônicos, que deverão
conter os modelos e os documentos técnicos que compõem o
projeto de arquitetura e engenharia, em formato aberto (não
proprietário) e em outro formato exigido pela contratante no
edital de licitação;
III - o atendimento das exigências do órgão ou da entidade
contratante em relação aos níveis de detalhamento e de
informação requeridos nos projetos de arquitetura e engenharia;
(grifo nosso)

Ocorre que uma análise dos incisos II e III do dispositivo do decreto


supratranscrito nos remete a três questões sensíveis, quais sejam:

a) a definição da expressão “em formato aberto (não proprietário)”, a qual está


relacionada às informações, templates, desenhos etc., oriundos de diversas fontes técnicas
e multidisciplinares a serem encaminhadas, harmonizadas e visualizadas, permitindo a
visão detalhada do “todo”, suas eventuais interferências, redundâncias ou problemas, a
fim de evitar retrabalhos e permitir a economia, a agilidade e a qualidade esperadas;

43
Quando muito, segundo CORREA (2019), haveria a possibilidade de formulação de “pacotes de
trabalho” para “obras repetitivas”, com o uso do BIM 4D, mediante a adoção da estratégia e do método
utilizados na elaboração da sua Dissertação sobre o tema.
b) a necessidade de definição, pela Administração contratante, do “outro formato”
a ser exigido no edital de licitação; e

c) a obrigatoriedade do atendimento dos “níveis de detalhamento e de


informação” requeridos pelo órgão ou entidade contratante.

Com efeito é fato que o modelo BIM pode ser trabalhado a partir de diversos
softwares, tais como o “Audodesk Revit BIM”, o “Archicad”, o “Autodesk 360 BIM” e
o “BIMobjetc”, dentre outros, para os quais a expressão “em formato aberto (não
proprietário)” pode vir a assumir diferentes formatos, em que pese, como será visto mais
adiante, a Administração Pública Federal tenha optado pelo formato “.IFC” (Industry
Foundation Classes), difundido a partir dos países escandinavos.

Não obstante, há que se ter o cuidado de que “o outro formato” a ser exigido pela
Administração Contratante esteja alinhado com os parâmetros, esquemas e formatos
técnicos preconizados para a elaboração dos modelos de arquitetura referentes às
disciplinas citadas nos itens 1 a 4 da alínea a) do inciso I do art. 4º do Decreto nº
10.306/2020.

Cabe destacar, por fim, que a expressão “níveis de detalhamento”, também está
relacionada a um conjunto de definições técnicas, como por exemplo, o “Nível de
Desenvolvimento (ND)”44, o qual pode variar de ND100 a ND500, bem como a inclusão,
do objeto BIM, “dentro de parâmetros de informação e ficha técnica do software nativo”.

Nesse sentido, reveste-se de especial importância, que os Editais de Licitação para


a contratação de projetos em BIM, estabeleçam a relação da expressão “formato aberto”
citado no inciso II aos formatos, esquemas e demais requisitos previstos no Regulamento
Técnico da Biblioteca Nacional BIM – BNBIM (2019), constante da Plataforma BIM BR,
prevista no inciso VII do art. 2º do Decreto nº 9.983/201945

Em outras palavras, a elaboração do Edital destinado a contratação de um Projeto


em BIM, com base nos regimes de empreitada previstos nos art. 46, além das disposições
contidas na Lei 14.133/2021 e das “Regras gerais do instrumento convocatório e do
contrato” previstas nos art. 6º a 9º do Decreto Nº 10.306/2020”, também deverá observar

44
Grau em que a geometria do elemento e as informações anexadas foram conceituadas, ou seja, grau de
confiança que os membros da equipe do projeto depositam na informação ao utilizar o modelo.
45
Dispõe sobre a Estratégia Nacional de Disseminação do Building Information Modelling e institui o
Comitê Gestor da Estratégia do Building Information Modelling
os elementos, de ordem técnica, previstos no Regulamento Técnico da Biblioteca
Nacional BIM – BNBIM (2019), sob pena de a futura contratação decorrente do certame
realizado não vir a corresponder às expectativas da Administração Contratante, quer no
tocante a entrega do objeto propriamente dito, quer, ainda, quanto ao atingimento do
propósito da própria Fase 1, a qual consiste no desenvolvimento dos modelos, a detecção
de interferências físicas e funcionais, a revisão dos modelos de arquitetura e engenharia,
de modo a compatibilizá-los entre si, a extração de quantitativos e a geração de
documentação gráfica, os quais serão fundamentais para a implementação das 2ª e 3ª
Fases da Estratégia BIM BR.

7.2.Da implementação das 2ª e 3ª Fases da Estratégia BIM BR

Superada a Fase 1, cujo término é previsto para 31/12/2023, caberá à


Administração Pública Federal Contratante que, em tese, já terá dominado as nuances
técnicas relacionadas aos modelos BIM, no tocante a parte dos projetos de arquitetura e
engenharia, realizar as contratações relativas as Fases 2 e 3 da Estratégia BIM BR.

Ocorre que o foco de implementação dessas novas fases, não se limita ao simples
desenvolvimento de projetos de arquitetura e engenharia, sendo acrescidas atividades de
execução direta ou indireta dos projetos desenvolvidos com a realização e a gestão das
obras e engenharia propriamente ditas.

Tal situação ampliará, exponencialmente, a quantidade de informações, desenhos,


templates e arquivos eletrônicos a serem disponibilizados pois envolverá aspectos
relacionados à execução e à gestão ao longo de todo o ciclo de vida do empreendimento,
o que acabará por gerar reflexos no relacionamento entre a Administração Contratante e
o Contratado.

Em outras palavras, em virtude de o “Poder-Dever” de Eficiência do


Administrador Público, que passará a lidar com essa nova gama de informações46, a
Administração Contratante acabará sendo forçada a, paulatinamente, vir a colaborar com
o Contratado, a fim de que ela possa efetivamente usufruir dos benefícios advindos do
aumento da qualidade e da redução do tempo e do custo do empreendimento.

46
As quais ele anteriormente não detinha nas modelagens de Projetos e Obras anteriores ao BIM.
Mesmo porque, a manutenção da simples atuação fiscalizadora-punitiva, inerente
aos contratos transacionais, ou mesmo, o seu recrudescimento, provavelmente, não se
mostrará o melhor caminho inicial a ser seguido, pois poderá vir a levar a longos litígios47,
com a possibilidade de paralização da obra e de todos os inconvenientes dela advindos.

Ademais, à guisa de argumentação, os próprios órgãos de controle poderão vir a


questionar a postura do Administrador no tocante a manutenção de um procedimento
“formalmente correto”, mas que resultou na paralização da obra e os prejuízos dela
decorrentes, quando poderia adotar soluções “colaborativo-consensuais” mais eficientes,
as quais permitiriam, não só, o aprimoramento do empreendimento como a sua conclusão
nos prazos e custos estimados.

Destarte, no que se refere à adoção do BIM nas suas 2ª e 3ª Fases, onde haverá
uma necessidade maior de interação de troca de informações, inobstante a possibilidade
de utilização dos regimes citados na 1ª Fase, vislumbra-se que a contratação acabará
recaindo sobre os regimes de contratação integrada, contratação semi-integrada ou sobre
o regime de fornecimento e prestação de serviço associado, previstos respectivamente,
nos incisos V a VII do art. 46 da Lei nº 14.133/2021.

Tal situação decorre da própria definição desses regimes, contida nos incisos
XXXII a XXXIV do art. 6º da referida Lei de Licitações e Contratos Administrativos:

Art. 6º Para os fins desta Lei, consideram-se:


[...]
XXXII - contratação integrada: regime de contratação de obras e
serviços de engenharia em que o contratado é responsável por
elaborar e desenvolver os projetos básico e executivo, executar
obras e serviços de engenharia, fornecer bens ou prestar serviços
especiais e realizar montagem, teste, pré-operação e as demais
operações necessárias e suficientes para a entrega final do objeto;
XXXIII - contratação semi-integrada: regime de contratação de
obras e serviços de engenharia em que o contratado é responsável
por elaborar e desenvolver o projeto executivo, executar obras e
serviços de engenharia, fornecer bens ou prestar serviços
especiais e realizar montagem, teste, pré-operação e as demais
operações necessárias e suficientes para a entrega final do objeto;
XXXIV - fornecimento e prestação de serviço associado: regime
de contratação em que, além do fornecimento do objeto, o
contratado responsabiliza-se por sua operação, manutenção ou
ambas, por tempo determinado;

47
Haja vista tratar-se de ações judiciais versando sobre contratos que envolvem metodologia e tecnologias
inovadoras, o que implica em perícias complexas etc.
Conforme acima demonstrado, a adoção desses regimes de contratação afigura-se
vantajosa haja vista que propicia uma maior integração entre os diversos atores privados
(projetistas, consultores, construtores etc.) que participarão do empreendimento, o que de
certa forma, tenderá a minimizar eventuais divergências entre eles, facilitando, ainda, a
migração dos dados, tanto os em “formato aberto” como os do “outro formato” a serem
exigidos no Edital de Licitação, que também indicará o software em que os dados, em
que ambos os formatos, serão migrados, integrados, trabalhados e visualizados pela
Administração Contratante e por toda a equipe multidisciplinar da Contratada,
responsável pela sua geração.

Ainda sobre os regimes de contratação supratranscritos, é importante observar o


disposto nos §§ 3º, 4º, 5º, 6º e 9º, todos do art. 46 da mesma Lei de Licitações e Contratos
Administrativos:

Art. 46. Na execução indireta de obras e serviços de engenharia,


são admitidos os seguintes regimes:
[...]
V - contratação integrada;
VI - contratação semi-integrada;
VII - fornecimento e prestação de serviço associado.
[...]
3º Na contratação integrada, após a elaboração do projeto básico
pelo contratado, o conjunto de desenhos, especificações,
memoriais e cronograma físico-financeiro deverá ser submetido
à aprovação da Administração, que avaliará sua adequação em
relação aos parâmetros definidos no edital e conformidade com
as normas técnicas, vedadas alterações que reduzam a qualidade
ou a vida útil do empreendimento e mantida a responsabilidade
integral do contratado pelos riscos associados ao projeto básico.
§ 4º Nos regimes de contratação integrada e semi-integrada, o
edital e o contrato, sempre que for o caso, deverão prever as
providências necessárias para a efetivação de desapropriação
autorizada pelo poder público, bem como:
I - o responsável por cada fase do procedimento expropriatório;
II - a responsabilidade pelo pagamento das indenizações devidas;
III - a estimativa do valor a ser pago a título de indenização pelos
bens expropriados, inclusive de custos correlatos;
IV - a distribuição objetiva de riscos entre as partes, incluído o
risco pela diferença entre o custo da desapropriação e a
estimativa de valor e pelos eventuais danos e prejuízos
ocasionados por atraso na disponibilização dos bens
expropriados;
V - em nome de quem deverá ser promovido o registro de imissão
provisória na posse e o registro de propriedade dos bens a serem
desapropriados.
§ 5º Na contratação semi-integrada, mediante prévia autorização
da Administração, o projeto básico poderá ser alterado, desde que
demonstrada a superioridade das inovações propostas pelo
contratado em termos de redução de custos, de aumento da
qualidade, de redução do prazo de execução ou de facilidade de
manutenção ou operação, assumindo o contratado a
responsabilidade integral pelos riscos associados à alteração do
projeto básico.
§ 6º A execução de cada etapa será obrigatoriamente precedida
da conclusão e da aprovação, pela autoridade competente, dos
trabalhos relativos às etapas anteriores.
[...]
§ 9º Os regimes de execução a que se referem os incisos II, III,
IV, V e VI do caput deste artigo serão licitados por preço global
e adotarão sistemática de medição e pagamento associada à
execução de etapas do cronograma físico-financeiro vinculadas
ao cumprimento de metas de resultado, vedada a adoção de
sistemática de remuneração orientada por preços unitários ou
referenciada pela execução de quantidades de itens unitários.
(grifo nosso)

O problema é que, muito embora a adoção dos referidos regimes venha a


concentrar, na pessoa do Contratado, a responsabilidade da interação das informações
constantes das visões dos atores privados do universo multidisciplinar do BIM, a ausência
de uma interação efetiva da Administração Contratante com o Contratado, desde o início
do empreendimento, poderá vir a burocratizar a solução de eventuais conflitos técnicos
que, seriam facilmente resolvidos, em tempo real, em um ambiente colaborativo.

Nesse sentido, considerando que os contratos relacionais ainda não estão


amplamente contemplados no Direito Administrativo Brasileiro, uma primeira solução
vislumbrada, consiste na utilização dos Protocolos BIM citados por UDON (2012),
procedimento que, de certa forma já tem sido adotado, pelo Estado de Santa Catarina com
a inclusão do “Caderno de Apresentação de Projetos em BIM”, como um dos anexos do
Edital de Licitação (SEPLAN-SC:2015), com a obtenção de resultados vantajosos para a
Administração, conforme matéria publicada pelo Conselho Regional de Engenharia e
Agronomia de Santa Catarina (CREA-SC:2020):

A metodologia BIM tornou possível a realização da Escola


Básica Municipal Tapera pela Prefeitura de Florianópolis. A
obra, com valor de 11 milhões de BRL, foi entregue com um ano
de antecedência em fevereiro de 2020, graças às inúmeras
vantagens proporcionadas pelo BIM.
A escolha de construir com o BIM foi devida principalmente ao
tamanho notável da Escola Tapera, com 5.400 m². Inicialmente,
previa-se um prazo de 24 meses para sua finalização, que foram
reduzidos pela metade graças à compatibilização de projetos
BIM.
Graças a softwares BIM, foi possível realizar um modelo virtual
da escola, possibilitando a visualização de todas as disciplinas
envolvidas no modelo (arquitetura, estrutural, instalações MEP).
Através do modelo digital da construção, foram detectadas e
corrigidas até 286 interferências estruturais desde a fase de
projeto.
(grifo nosso)

Não obstante, outra sugestão vislumbrada que poderá vir a contribuir para
aumentar a interação entre a Administração Contratante e o Contratado, dando maior
celeridade técnico-administrativa nas contratações relativas às Fases 2 e 3 da Estratégia
BIM BR, e propiciando um ambiente colaborativo, consiste na inclusão de cláusula de
Dispute Board Resolution (DBR) nos contratos administrativos, com a instituição de um
comitê de resolução de disputas composto por profissionais indicados pelas partes, a fim
de dirimir dúvidas e questões de ordem técnica, evitando ou minimizando, dessa forma o
envolvimento desnecessário dos escalões superiores das partes contratantes.

Nesse sentido, esclarecem RIBEIRO e ALMEIDA (2013):

No campo dos contratos complexos e de duração considerável,


torna-se bastante previsível que nem todo tipo de situação que
possa vir a ocorrer durante a vigência e a produção de seus efeitos
esteja prefixada no contrato. Às vezes e até mesmo de forma
natural, as partes não têm a confirmação de suas expectativas
iniciais, até mesmo por um erro de compreensão ou interpretativo
do contrato. Logo, nisto o DB pode exercer um papel essencial e
eficiente e que mais uma vez pode ser associado ao
comportamento de colaboração.

No mesmo diapasão, afirma FERRAZ (2019):

O alto grau de resolutividade dos problemas contratuais, o baixo


custo e a velocidade de resposta são pontos que militam em favor
dos Comitês de Resolução de Disputas. Segundo estatísticas
do Dispute Board Federation, de Genebra, estima-se que a
utilização do meio alternativo nos contratos de engenharia de
grande porte preveniu cerca de 97,8% das disputas em
arbitragens e Tribunais, com tempo médio de 90 dias para
resolução e custo de 2% do valor do projeto contra 8% a 10% das
disputas arbitrais e judiciais.

Releva mencionar que a possibilidade de criação de comitês de resolução de


disputas, está contemplada, juntamente com outros métodos alternativos de solução de
conflitos (conciliação, mediação e a arbitragem), no art. 151 da Lei nº 14.133/2021:

Art. 151. Nas contratações regidas por esta Lei, poderão ser
utilizados meios alternativos de prevenção e resolução de
controvérsias, notadamente a conciliação, a mediação, o comitê
de resolução de disputas e a arbitragem.
Parágrafo único. Será aplicado o disposto no caput deste artigo
às controvérsias relacionadas a direitos patrimoniais disponíveis,
como as questões relacionadas ao restabelecimento do equilíbrio
econômico-financeiro do contrato, ao inadimplemento de
obrigações contratuais por quaisquer das partes e ao cálculo de
indenizações.
(grifo nosso)

Com efeito, observa-se que o parágrafo único do art. 151, possibilita a aplicação
dos meios alternativos de prevenção e resolução de controvérsias na hipótese de direitos
patrimoniais disponíveis, apresentando um rol exemplificativo, fato esse que possibilita
a inclusão de questões relacionadas aos aspectos técnicos e de interação/colaboração
proporcionados pela metodologia BIM.

Ademais, é esperado que até o início da 2ª Fase da Estratégia BIM BR


(01/01/2024), o PNCP previsto no art. 174 da Lei já esteja operacional, ainda que de
forma parcial, bem como o aumento da participação/controle social, propiciem a
criação/aprimoramento de controles que permitam que as obras e serviços contratados
com o uso do método BIM, sejam realizadas em um formato de maior colaboração entre
as partes, com a esperada segurança jurídica e em perfeita aderência aos programas de
integridade aplicáveis às esferas Pública e Privada.

8. Considerações Finais

Conforme apontado nas considerações iniciais, o presente artigo teve por objetivo
abordar alguns aspectos jurídicos a serem considerados, pela Administração Pública
Federal, quando da efetiva implantação do BIM, para a execução direta ou indireta de
obras e serviços de engenharia, à luz da recente Lei de Licitações e Contratos
Administrativos, conforme determinação contida no Decreto nº 10.306/2020, como parte
da disseminação da “Estratégia BIM BR”.

Isto porque, em que pese os inegáveis benefícios trazidos pelo BIM em todos os países
em que essa metodologia está em adiantada fase de implantação no Setor Público, a
crescente integração e o caráter colaborativo entre os entes governamentais contratantes
e os seus respectivos contratados, quando observados, à luz da Lei nº 14.133/2021
poderão vir a constituir desafios a serem superados pela Administração.

Tais desafios, relacionados a modelos de contratação previstos nas Leis que vieram a
ser substituídas pela nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos, mas que foram
nela mantidos, poderão vir a dificultar a implantação das fases 2 e 3 da Estratégia BIM
BR, nas quais a integração e o caráter de colaboração entre a administração contratante e
o administrado contratado tenderá a ser mais acentuado.

Após apresentar um breve histórico e contextualização do BIM a partir de elementos


colhidos em artigos científicos das áreas jurídica, de engenharia, gerenciamento de
projetos etc., bem como de experiências obtidas nos Países em que o BIM se encontra em
fase adiantada de implantação, passou-se a analisar as possibilidades de sua
implementação, na Administração Pública Federal, à luz do Decreto nº 10.306/2020 e da
Lei nº 14.133/2021.

Na análise efetuada, observou-se que os maiores desafios a serem enfrentados na Fase


1 da implantação da Estratégia BIM BR estão relacionados ao conhecimento dos aspectos
técnicos da metodologia propriamente dita, os quais poderão ser solucionados a partir da
aplicação do Regulamento Técnico da Biblioteca Nacional BIM – BNBIM (2019),
constante da Plataforma BIM BR, que poderá servir de complemento para a elaboração
dos editais e contratos previstos na referida Lei de Licitações e Contratos Administrativos
e nas “Regras gerais do instrumento convocatório e do contrato”, previstas nos incisos I
a III do art. 6º do Decreto nº 10.306/2020.

Entretanto, no que se refere às Fases 2 e 3 da citada estratégia (a serem iniciadas,


respectivamente, em 2024 e 2029), tendo em vista a quantidade de informações,
desenhos, templates e arquivos eletrônicos a serem disponibilizados, bem como a
agilidade na sua tramitação, estima-se que os desafios sejam maiores.

Tal situação tende a implicar na progressiva alteração do relacionamento entre a


Administração Contratante e o Administrado Contratado, haja vista que mercê da
quantidade de informações recebidas, o Administrador Público, em virtude do seu poder-
dever de eficiência, acabará sendo levado a, paulatinamente, vir a ter que colaborar com
o Contratado, a fim de que ela possa usufruir dos benefícios advindos do aumento da
qualidade e da redução do tempo e do custo do empreendimento.

Nesse sentido, inicialmente, foram vislumbradas as sugestões iniciais contidas no item


7 as quais passam pela escolha do regime de contratação, criação de Protocolos BIM, e
inclusão de cláusulas de DBR, a serem observados nas 3 Fases da Estratégia BIM BR, as
quais poderão vir a contribuir para que os órgãos e entidades da Administração Federal
Contratante possa vir a vencer os desafios apresentados na incorporação dessa
metodologia e colher os bons resultados obtidos nos demais países em que se encontra
em fase mais adiantada de implementação.

Não obstante, tendo em vista os mecanismos de controle e integridade constantes da


nova Lei, vislumbra-se, ainda, a possibilidade de futura migração, no todo ou em parte,
de alguns dos contratos de natureza transacional nela contidos para contratos de natureza
relacional, quer por meio de construções doutrinárias ou entendimentos jurisprudenciais
advindos dos órgãos de controle, ou, ainda, por alterações na legislação.

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