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OPEN BIM: IFC ou não IFC?

Eis a
questão!
 Publicado em 26 de abril de 2017

O Instituto de Engenharia de São Paulo sediou no último dia 12 de abril, o evento Open
BIM: Sua importância para a Indústria da Construção,organizado por
importantes empresas do setor de AEC e de desenvolvimento de softwares de modelagem
BIM (site do evento).

Compartilho com vocês as minhas percepções sobre o que foi discutido. Um olhar de um
advogado sobre um tema tão importante para arquitetos, engenheiros, construtores e
empresários de tecnologia, mas igualmente relevante para o avanço das obras públicas
brasileiras e dos modelos de contratação em uso.

IFC ou não IFC? Eis a questão!

O formato IFC (Industry Foundation Class) foi proposto pela Building Smart para propiciar
interoperabilidade entre produtos de diferentes softwares BIM. Segundo ressaltou o
primeiro palestrante, o Engenheiro Wilton Catelani, o formato IFC, apesar de trazer
algumas perdas de fidelidade na modelagem de um objeto, é importante meio de integrar
projetos oriundos de diferentes plataformas, programas (softwares) e especialidades
(estrutural, arquitetônico, elétrico, etc.). Catelani usou uma analogia que se mostrou
amigável para os profissionais de diferentes áreas presentes ao evento. Comparou o IFC à
comunicação entre falantes de línguas maternas diferentes. Para ele, da mesma forma que
um chinês pode se comunicar com um espanhol, utilizando uma terceira língua dominada
por ambos (como o inglês), o uso do IFC possibilita a interoperabilidade de projetos
desenvolvidos em plataformas diferentes para um mesmo modelo. O chinês, provavelmente,
não se comunicará com a mesma fluência com o espanhol, do que se estivesse falando com
um compatriota, mas poderá garantir o seu jantar, se for o caso!

Os aspectos legais do Open BIM foram a temática do Advogado Paulo Brancher. Sua
experiência com as discussões acerca do direito e o avanço tecnológico ficou demonstrada
na sua facilidade em enfrentar o tema. O advogado relatou aos presentes sua experiência na
defesa de empresas em impugnações de editais de licitação de projetos em BIM que não
aceitaram formato IFC, mas apenas formato proprietário de determinado software. Para
ele, o momento é de estudo, pois a adoção da lógica da cooperação e interoperabilidade
é relativamente recente, demandando um novo entendimento, uma nova leitura dos
órgãos licitantes e de controle da Administração Pública. Destacou ainda, que muitas
vezes, o órgão público não planejou da melhor maneira a contratação em BIM, escolhendo
pelo formato proprietário e tendo que depois sustentar essa escolha diante de impugnações
para evitar sanções ao agente público.

Rafael Fernandes da Silva, engenheiro e servidor público do Estado de Santa Catarina,


nos brindou com a palestra Implantação do Open BIM no Governo de Santa
Catarina. O trabalho deste profissional o tornou referência BIM no país, principalmente no
uso desta metodologia de trabalho na Administração Pública Direta. Ele trouxe sua
experiência na condução da primeira licitação em BIM da administração direta no Brasil,
modelo que utilizou o formato IFC como padrão para recebimento dos projetos.
Demonstrou que o Laboratório BIM em Santa Catarina está evoluindo para o estudo do
planejamento das obras e como elaborar o termo de referência para projeto de arquitetura e
engenharia, seja ele recebido em BIM ou não. Falou também como está sendo o desafio de
licitar a execução de uma obra, partindo de um projeto BIM.

Falaram ainda os engenheiros brasileiros Paulo Sanchez, Marcelo Tâmega e Dorival


Bagio, bem como o arquiteto chileno Danny Lobos Calquin, relatando cases de
sucesso. Todos demonstraram como o uso do IFC é viável para a execução de grandes
empreendimentos (tão diversos entre si como plantas industriais, plataformas do metrô e
shopping center), inclusive propiciando ganhos com clientes localizados em diferentes
lugares do mundo.

Gostaria, ainda, de tecer comentários sobre a adoção do IFC em licitações de projetos BIM.
Primeiramente, importante reconhecer que a escolha do formato aberto já tem seu case de
sucesso na Administração Pública, que é justamente a experiência de Santa Catarina. O
edital para contratação do projeto do futuro Instituto de Cardiologia estadual, hospital da
rede pública de saúde, não só traz o IFC como formato em que o modelo será recebido,
como também incorpora a tecnologia na fase de habilitação técnica e pontuação da nota
técnica da empresa licitante. Pelas regras editalícias, a empresa deveria apresentar modelo
BIM, em IFC, para que este seja “checado” por software especializado em clash detection,
no caso o Solibri Model Checker. Sobre o assunto, recomendamos a leitura de
nosso artigo escrito com o Eng. Rafael Teixeira [p.67-68] e do próprio edital de licitação em
comento.

Sobre os órgãos que não aceitaram o formato IFC, mas apenas o proprietário em suas
licitações, vemos que ainda perdura uma leitura apressada do propósito do BIM. Os
benefícios das ferramentas BIM não se limitam à obtenção de um melhor projeto, mais bem
compatibilizado e entendível pelo contratante. Os ganhos se distribuem entre todo o ciclo de
vida da edificação! Mas para isso é preciso planejar. Se o propósito do órgão é apenas
receber projeto realizado com tecnologia de ponta, o formato proprietário pode ser
conveniente, apesar de violar o direito à livre concorrência, no nosso
entender. Todavia, se o dever de casa foi bem desempenhado, observando-se as etapas de
levantamento preliminares, estudo de viabilidade e programa de necessidades, a escolha
fatalmente será outra.

Usufruir do melhor que o BIM tem a oferecer demanda não só o correto


planejamento de uma obra, mas também o adequado planejamento global da
instituição que receberá a obra!

As etapas pré-projetuais podem ser otimizadas com o uso da tecnologia BIM. Para tanto,
vemos aqui em Santa Catarina, não se utiliza um único software do começo ao fim, mas
vários! Para se obter os melhores ganhos de todos qual o formato que deve ser utilizado?
Acertou quem disse IFC.

De mais a mais, pensando-se na utilização pós-obra do edifício ou do empreendimento, o


formato IFC também é o mais recomendado, por permitir a interoperabilidade de dados
entre softwares de gestão e manutenção de edifícios, bem como pelo uso destes dados pelas
ferramentas a ser utilizadas em eventual projeto de reforma ou demolição. Muitas dessas
ferramentas, diga-se, nem ainda foram criadas! Estamos pensando no futuro!

Nesse ponto podemos ver como foi árdua a tarefa do Dr. Brancher, na medida que, mais que
o Edital, o que poderia ser impugnado era o próprio planejamento do órgão.

Em suma, vamos garantir "nosso jantar" e permitir que nossos modelos BIM conversem
com diferentes plataformas, garantindo assim a concorrência entre desenvolvedores e
principalmente a cooperação entre diferentes plataformas, empresas e profissionais
envolvidas em um projeto!

Está aberta a discussão. Aceito de bom grado as contribuições para alguma incorreção
técnica cometida por minha parte. Estou aprendendo e conto com vocês!

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