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Resumo
O presente tem como objetivo, aferir o nível de maturidade dos conhecimentos dos
professores dos cursos de engenharia e arquitetura sobre o Building Information
Modelling por meio de um formulário de questões relacionadas a seu cotidiano na
faculdade e no meio profissional. De posse dos resultados do formulário é possível
afirmar que há um claro defasamento entre as expectativas do mercado e o que é
gerado de conhecimento em universidade em relação a geração de projetos com a
metodologia BIM. Afere-se com base em conhecimentos de mercado vários fatores
que influenciam essa diferença e são apresentadas possíveis soluções.
1. Introdução
Há diversos elementos que compõem um profissional de engenharia. Sua vivência
em obra, experiências diversas do seu ramo principal, a hereditariedade da sua
profissão e, principalmente, sua formação. A universidade tem suma importância na
formação de profissionais, independente do seu ramo. Portanto é necessário que o
corpo docente esteja atualizado às mudanças do mercado, o que é novo, o que é o
futuro e o que já faz parte do passado.
O BIM (Building Information Modelling), apesar de parecer novo para a maioria dos
estudantes que saem da graduação, é a realidade do mercado e a base para uma
engenharia de melhor qualidade, mais eficiente e sustentável.
O planejamento de uma obra é essencial para que ela cumpra seu papel. Temos
hoje, uma série de disciplinas interdependentes no processo construtivo. Arquitetura,
estrutura, rede hidrossanitária, rede elétrica, rede lógica, prevenção e combate a
incêndio e pânico, entre outras disciplinas, precisam estar em sintonia e primar pela
economia de recursos atendendo o resultado final do projeto. Além disso, deve-se
evitar ao máximo o desperdício, seja ele de materiais ou de tempo. Tudo isso em
busca de uma construção civil amiga do meio ambiente.
Se em tempos remotos construíamos sem o auxílio de plantas baixas, cortes e
fachadas, hoje podemos construir digitalmente e prever diversas situações anos à
frente do início de fato da construção. É necessário que os cursos de graduação
acompanhem este movimento no intuito de formar profissionais que possam prever
também as diversas interferências possíveis de suas disciplinas, sejam estas
interferências pontuais da disciplina trabalhada, ou no escopo geral da edificação.
Ademais, o BIM vai além da perspectiva física da construção, com essa “nova”
forma de projetar, é possível ter uma análise energética da edificação antes da
arquitetura estar formada, pode-se também estimar com precisão o quanto custa a
edificação e o seu custo benefício. Ainda mais específico é possível saber como o
canteiro de obras será montado em todas as fases da construção, saber também o
tempo que cada fase vai levar e quais movimentos devem ser feitos a fim de a
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O termo Building Information Modelling só seria cunhado desta forma em 1992 por
G. A. van Nederveen e F. P. Tolman.
Além dos projetos arquitetônicos, o BIM evoluiu também a maneiro como
enxergamos os projetos ditos como complementares. Após a perda de diversas
valiosas vidas, entendeu-se que a estrutura da edificação importa tanto quanto a sua
aparência onde criou-se normas de estruturas e de combate a incêndio. Ao longo
que o homem começa a passar mais tempo na sua residência que as gerações
passadas, questões como conforto térmico e acústico também passaram a ser vistas
com mais atenção. Mas não somente segurança e conforto importam se tratando de
edificações, a eficiência da edificação deve ser a máxima possível, utilizar o mínimo
de materiais para construir com o máximo de opções de uso, utilizar a menor
quantidade de energia possível e proporcionar que o usuário não se preocupe com
custo energético ao fazer ações do dia-a-dia. Por último, não menos importante,
economizar o máximo de água possível e reaproveitar o que a edificação coleta de
recursos hídricos.
O BIM vai além proporciona ao projetista capacitado, a análise máxima da
edificação, desde a sua eficiência física, até sua eficiência financeira. Não somente
isso, é possível ao cliente a visualização de toda a sua edificação nos mínimos
detalhes, educando o cliente em relação a importância dos diversos projetos
compreendidos na edificação.
Apesar de haver um movimento recente maior para adequação a metodologia BIM,
o Brasil começa sua relação com o BIM em 2002, onde alguns escritórios já
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começam a migrar para essa metodologia tendo em vista o amplo benefício gerado
por esta. Seus resultados influenciam a Diretoria de Obras do Exército a
implementar o BIM em 2006. Essa crescente implementação, visto que é benéfica a
todas as partes envolvidas na construção civil, resulta na movimentação de agências
e associações para criar bibliotecas e normas para a padronização do processo de
modelagem dos projetos de engenharia, são exemplos a ABDI que cria a biblioteca
BIM: Minha Casa Minha Vida em 2010 e a ABNT que em 2011 cria a NBR 15965,
que dá as diretrizes para o uso do BIM em todo o ciclo da construção.
2. Desenvolvimento
Para aferir o conhecimento dos docentes dos cursos de engenharia sobre BIM,
foi desenvolvido um formulário com questões pertinentes ao assunto e questões que
modelam o perfil da amostra. Sendo a última, útil para análises cruzadas.
O intuito das questões realizadas é analisar qual a profundidade do conhecimento
sobre BIM dos professores dos cursos de engenharia, desta forma, analisando
também como isso resulta para os alunos em termos de conhecimento.
São as perguntas feitas aos docentes: universidade em que leciona,
modalidade de graduação (público ou privado), ano de graduação, formação,
disciplinas que leciona, trabalho fora da universidade, ramo de atividade, experiência
em licitações, experiência com compatibilizações, uso de ferramentas de realidade
virtual, ferramentas que utiliza.
Nessa série de perguntas, procura-se caracterizar o docente e suas
experiências. Na próxima leva de perguntas, procura-se saber o quanto o mesmo
sabe sobre Building Information Modelling. São as perguntas:
Você sabe o que é BIM?
Qual destes conceitos melhor descreve BIM? (múltipla escolha)
Você sabe o que é um CDE?
Qual destes conceitos melhor descreve um CDE? (múltipla escolha)
Quantas dimensões o BIM compreende? (múltipla escolha)
2.1 Formulário
O formulário proposto pode ser dividido em três partes distintas. Na primeira parte
do formulário temos a caracterização dos profissionais bem como sua identificação,
onde trabalham, que ano obtiveram sua graduação e se estudaram em instituição
pública ou privada. Posteriormente, é questionado as disciplinas que lecionam e sua
área de atuação. Essa etapa é importante, pois, com base nas suas respostas
podemos cruzar as informações com os softwares que usam, podendo definir se a
metodologia que trabalham é BIM ou não. Na segunda etapa também é perguntado
se trabalham com compatibilização e licitações. Na primeira questão, podemos ter
uma base de como os profissionais se aproximam de serviços onde o BIM é um
facilitador, na segunda questão podemos saber como os profissionais trabalham em
áreas onde o BIM será realidade em breve. A terceira parte do formulário visa
caracterizar como o profissional trabalha e quais ferramentas usa bem como seus
conhecimentos sobre BIM. Com base nas ferramentas que trabalham podemos
aferir se há interoperabilidade BIM entre eles e, também, caracterizar como os
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2.2 Amostra
Metade da amostra utiliza-se de ferramentas BIM para arquitetura e pouco mais que
isso para complementares. Entretanto, é possível aferir com base nas respostas
individuais que não há interação natural entre os projetos, visto que parte da
amostra utiliza BIM para arquitetura e CAD para complementares e vice-versa. Há
também casos onde utiliza-se CAD e BIM para projetos arquitetônicos ou
complementares, logo, não há na amostra nenhum exemplo de profissional que
tenha abandonado ferramentas de CAD para seus projetos. Isso pode ser explicado
por duas razões, poucas são as ferramentas completas e intuitivas no mercado, é
possível que o profissional utilize a modelagem em BIM por ser mais facilitada e a
documentação seja feita em CAD onde há muita resistência em mudança.
Outro dado interessante da pesquisa é: apenas 63% dos participantes que
trabalham ou trabalharam com licitação, trabalham com BIM enquanto 100% dos
que não trabalham com licitação trabalham apenas com CAD.
A maioria da amostra não utiliza ferramentas de realidade virtual, isso se deve ao
fato de que poucas pessoas da amostra realmente utilizam BIM para arquitetura e
outras só utilizam ferramentas de CAD que são pobres ou pouco intuitivas na
interoperabilidade entre softwares de realidade virtual.
No ramo de compatibilizações, a maior parte da amostra que trabalha com
compatibilizações trabalha com BIM, onde é possível deduzir que são usadas
ferramentas de clash-detection dos softwares de dimensionamento de projetos
complementares.
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Foram obtidos os seguintes resultados quando a amostra foi perguntada sobre BIM:
Fonte: Autor
3 Resultados e discussão
Todas essas facilidades apontadas são naturais aos modelos BIM mais simples,
visto que todos por obrigação legal exportam arquivos interoperáveis. Já para
profissionais que ainda utilizam CAD, essas interações são próximas de impossíveis.
Em se tratando de dimensões da obra, de acordo com a amostra, pouco se projeta
visando o ciclo completo da obra. Há ferramentas facilitadoras de planejamento de
obra e pessoal em ambientes CAD. Entretanto há um salto colossal do que o BIM
permite neste aspecto. São as dimensões do BIM:
Podemos afirmar que o CAD atende apenas o primeiro passo com perfeição, a
representação esquemática da edificação e ideia geral. Quando vamos fazer um
estudo de viabilidade com o auxílio de um modelo de massa, precisamos de uma
ferramenta de CAD que seja tridimensional, mas esta não pode ser chamada de
modelo BIM, visto que produzirão apenas modelos genéricos e sem informação
reutilizável a outros projetos. Nas dimensões seguintes serão necessárias
informações externas ao modelo CAD e estas serão inseridas de maneira manual.
Com um modelo BIM, todas essas etapas são integradas, no modelo de massa já é
possível ter noções visuais de análise energética que influenciaram em disciplinas
complementares. Ademais, é possível ter padrões de modelos já desenvolvidos
conectados a banco de dados do projetista, tendo as informações como custo,
tempo de construção e desempenho energético já nos modelos mais simplificados.
Essas informações serão úteis desde casas populares até edificações de alto
padrão.
Apenas 33% da amostra conseguiu definir as 7 dimensões de BIM, entretanto
nenhum destes docentes utiliza ferramentas que proporcionem que as 7 dimensões
sejam atendidas e apenas uma parte pequena da amostra trabalha com etapas de
planejamento como orçamentação. Desta que trabalha com orçamentação as
ferramentas de trabalho não são integradas ao modelo BIM.
O intuito dessa pesquisa com docentes, procura explicar qual o nível de
conhecimento dos que ensinam e, portanto, deduzir qual o nível de conhecimento
que os alunos de graduação têm ao sair da universidade. O BIM e ferramentas
integradas de projeto não apenas são tendências de mercado, são obrigações legais
e mais que isso garantem que cada vez mais precisemos de menos recursos para
obter edificações sustentáveis, diminuindo o custo de obra e o desperdício,
proporcionando que a construção civil seja amiga ao meio ambiente.
Com base nas respostas obtidas pelo formulário somado ao fato que o BIM não tem
disciplina específica obrigatória, podemos afirmar que o conhecimento nas
universidades não corresponde a demanda do mercado ou das instituições. Se por
um lado, cada vez mais as instituições governamentais exigem que suas licitações
sejam BIM. Por outro nem os professores podem definir com assertividade o que é
BIM. Portanto, podemos afirmar que esse conhecimento não estará enraizado no
profissional. Apenas profissionais que se dedicarão a projeto integralmente saberão
o que é BIM e os que apenas executam ainda estarão alienados a variadas formas
em que o projeto chegará as suas mãos.
Outro fator a se apontar é que na amostra estudada, o profissional e docente que
mais tem conhecimento sobre BIM é do meio privado e se formou em instituição
privada. Isso nos mostra que mesmo no ensino público, que é o mais disputado, o
BIM ainda é um boato ou detalhe que passa despercebido.
4. Conclusão
5. Referências Bibliográficas