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A capilaridade do BIM nas universidades


Willian Camilo de Souza – willian.souza2@outlook.com
Master BIM – Ferramentas e Processos
Instituto de Pós-Graduação - IPOG
Tubarão/SC - 08 de março de 2023

Resumo
O presente tem como objetivo, aferir o nível de maturidade dos conhecimentos dos
professores dos cursos de engenharia e arquitetura sobre o Building Information
Modelling por meio de um formulário de questões relacionadas a seu cotidiano na
faculdade e no meio profissional. De posse dos resultados do formulário é possível
afirmar que há um claro defasamento entre as expectativas do mercado e o que é
gerado de conhecimento em universidade em relação a geração de projetos com a
metodologia BIM. Afere-se com base em conhecimentos de mercado vários fatores
que influenciam essa diferença e são apresentadas possíveis soluções.

Palavras-chave: Building Information Modelling. Projeto. Universidade

1. Introdução
Há diversos elementos que compõem um profissional de engenharia. Sua vivência
em obra, experiências diversas do seu ramo principal, a hereditariedade da sua
profissão e, principalmente, sua formação. A universidade tem suma importância na
formação de profissionais, independente do seu ramo. Portanto é necessário que o
corpo docente esteja atualizado às mudanças do mercado, o que é novo, o que é o
futuro e o que já faz parte do passado.
O BIM (Building Information Modelling), apesar de parecer novo para a maioria dos
estudantes que saem da graduação, é a realidade do mercado e a base para uma
engenharia de melhor qualidade, mais eficiente e sustentável.
O planejamento de uma obra é essencial para que ela cumpra seu papel. Temos
hoje, uma série de disciplinas interdependentes no processo construtivo. Arquitetura,
estrutura, rede hidrossanitária, rede elétrica, rede lógica, prevenção e combate a
incêndio e pânico, entre outras disciplinas, precisam estar em sintonia e primar pela
economia de recursos atendendo o resultado final do projeto. Além disso, deve-se
evitar ao máximo o desperdício, seja ele de materiais ou de tempo. Tudo isso em
busca de uma construção civil amiga do meio ambiente.
Se em tempos remotos construíamos sem o auxílio de plantas baixas, cortes e
fachadas, hoje podemos construir digitalmente e prever diversas situações anos à
frente do início de fato da construção. É necessário que os cursos de graduação
acompanhem este movimento no intuito de formar profissionais que possam prever
também as diversas interferências possíveis de suas disciplinas, sejam estas
interferências pontuais da disciplina trabalhada, ou no escopo geral da edificação.
Ademais, o BIM vai além da perspectiva física da construção, com essa “nova”
forma de projetar, é possível ter uma análise energética da edificação antes da
arquitetura estar formada, pode-se também estimar com precisão o quanto custa a
edificação e o seu custo benefício. Ainda mais específico é possível saber como o
canteiro de obras será montado em todas as fases da construção, saber também o
tempo que cada fase vai levar e quais movimentos devem ser feitos a fim de a
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transição entre fases ser a mais orgânica possível.


Esse artigo tem por objetivo principal estudar qual o nível de conhecimento dos
professores de cursos de graduação de engenharia e arquitetura sobre o BIM. Tanto
de modo quantitativo, quanto de modo qualitativo. Se na alternativa de terem
conhecimento sobre a metodologia, qual a profundidade dos seus conhecimentos.
Uma das primeiras menções a um sistema integrado de projeto se dá em 1974,
quando Charles Eastman publica seu artigo “Um esboço do Sistema de Descrição
de Edifícios” (An Outline of the Building Description System). Neste artigo, Charles
detalha as imperfeições do modelo 2D e propõe que seu sistema Building
Description System (BDS) resolveria essas imperfeições, também é mostrado um
esboço de como o computador que operasse o BDS funcionaria.

Figura 1 Hardware para o BDS


Fonte: Charles Eastman

Além de definições de hardware, ainda no artigo é possível encontrar esboços de


como o software se estruturaria em termos de programação e linguagem,
apresentando parâmetros como: Corpo, face, vértice e aresta. Charles, em 1974
apresentaria uma organização da informação da edificação com base no que era
possível na época.
No começo da década de 80 Jonatham Ingram lançaria o RUCAPS, um software de
desenho próximo ao que é usado hoje para desenhos bidimensionais. E,
posteriormente, em 1986 apresentaria o Sonata.
Sonata é o precursor dos softwares de modelagem BIM, quando lançado poderia ser
usado apenas em estações de trabalho enquanto os softwares de desenho 2D da
época poderiam ser usados em computadores pessoais. Entretanto, para a época, o
Sonata estaria a frente do seu tempo. Segundo Gábor Bojár, fundador do ArchiCAD,
o Sonata estaria mais avançado que seu próprio software, em suas palavras:
“ultrapassava já a definição madura de BIM que seria especificada em meia década
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a frente de seu lançamento”.


Posteriormente os criadores do Sonata desenvolveriam o software Reflex em
substituição ao Sonata, devido a problemas corporativos. O código fonte desse
software seria usado no futuro para criação do Revit.
O primeiro software de projeto de edificações com linguagem integrada que
funcionaria em um computador pessoal foi o ArchiCAD, onde nele era possível criar
desenhos de CAD em 2D e 3D.

Figura 2 Interface do ArchiCAD no Apple Macintosh


Fonte: Scan2CAD

O termo Building Information Modelling só seria cunhado desta forma em 1992 por
G. A. van Nederveen e F. P. Tolman.
Além dos projetos arquitetônicos, o BIM evoluiu também a maneiro como
enxergamos os projetos ditos como complementares. Após a perda de diversas
valiosas vidas, entendeu-se que a estrutura da edificação importa tanto quanto a sua
aparência onde criou-se normas de estruturas e de combate a incêndio. Ao longo
que o homem começa a passar mais tempo na sua residência que as gerações
passadas, questões como conforto térmico e acústico também passaram a ser vistas
com mais atenção. Mas não somente segurança e conforto importam se tratando de
edificações, a eficiência da edificação deve ser a máxima possível, utilizar o mínimo
de materiais para construir com o máximo de opções de uso, utilizar a menor
quantidade de energia possível e proporcionar que o usuário não se preocupe com
custo energético ao fazer ações do dia-a-dia. Por último, não menos importante,
economizar o máximo de água possível e reaproveitar o que a edificação coleta de
recursos hídricos.
O BIM vai além proporciona ao projetista capacitado, a análise máxima da
edificação, desde a sua eficiência física, até sua eficiência financeira. Não somente
isso, é possível ao cliente a visualização de toda a sua edificação nos mínimos
detalhes, educando o cliente em relação a importância dos diversos projetos
compreendidos na edificação.
Apesar de haver um movimento recente maior para adequação a metodologia BIM,
o Brasil começa sua relação com o BIM em 2002, onde alguns escritórios já
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começam a migrar para essa metodologia tendo em vista o amplo benefício gerado
por esta. Seus resultados influenciam a Diretoria de Obras do Exército a
implementar o BIM em 2006. Essa crescente implementação, visto que é benéfica a
todas as partes envolvidas na construção civil, resulta na movimentação de agências
e associações para criar bibliotecas e normas para a padronização do processo de
modelagem dos projetos de engenharia, são exemplos a ABDI que cria a biblioteca
BIM: Minha Casa Minha Vida em 2010 e a ABNT que em 2011 cria a NBR 15965,
que dá as diretrizes para o uso do BIM em todo o ciclo da construção.

Figura 3 Pesquisa do Termo BIM


Fonte: Google Inc.
Conforme dados do Google, o momento de lançamento da NBR 15965 marca o
ápice do interesse das pessoas sobre o BIM no Brasil
Após essa data, os projetos públicos tais como aeroportos e agências bancárias já
têm o BIM como pré-requisito para a sua execução. Após 2015, órgãos como a
CBIC e o FDE implementam também o BIM, servindo como exemplo a ser seguido
por todo país. Em 2018, o Estado do Rio de Janeiro, por meio do Decreto nº 46.471
institui a Estratégia Estadual de Disseminação do BIM.
Nesse mesmo ano, seminários, encontros e criação de câmaras focadas no BIM,
culminam no Decreto nº 9.377 que institui a Estratégia Nacional de Disseminação
BIM. A intitulada “Estratégia BIM BR” tem como principais objetivos: difundir a
metodologia e seus benefícios, coordenar a estruturação do setor público para a
adoção do BIM, estimular a capacitação e implementação do BIM no setor privado,
entre outros objetivos específicos. Mais importante, a estratégia BIM-BR impõe que
compras por meio de licitação tenham BIM como pré-requisito, estimulando os
estados e municípios a se adequarem ao BIM.
Outros decretos foram criados para reforçar a mudança, sendo um dos mais
importantes o Decreto nº 10.306 que estabelece a utilização do BIM para alguns
setores a partir de 2021, obrigando tais setores a estarem atualizados com essa
metodologia.
Portanto, o Brasil faz um movimento em direção a total a adoção do BIM, tanto no
meio público quanto no privado. Poucas são as resistências para a sua adoção, em
escritórios de pequeno porte o maior impedimento é o financeiro, visto que as
ferramentas de modelagem requerem computadores mais poderosos. Outras
resistências como processos já estabelecidos no formato CAD podem ser
determinantes para a não implementação do BIM, mas estes são facilmente
contornados visto que os benefícios ultrapassam os prejuízos da implementação.
No Brasil, a legislação ainda não prevê o BIM como uma obrigatoriedade para os
cursos de engenharia, portanto, não é incentivado as instituições de ensino que o
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mesmo seja aplicado em sala de aula. A resolução CNE/CES 2, de 24 de abril de


2019 que institui diretrizes curriculares nacionais dos cursos de graduação em
engenharia prevê em seu Art. 3º, item II, que o profissional deve estar apto a utilizar
novas tecnologias, entretanto, não há uma definição clara ou incentivo para as
universidades aplicarem essas novas tecnologias, não há também uma definição de
quais tecnologias seriam essas. No mesmo artigo há a indicação da
multidisciplinaridade dos projetos, entretanto, não há na lei a ideia de
interoperabilidade. Logo, não há obrigação para as universidades de usarem
ferramentas de ensino que comuniquem entre si, essas ferramentas não chegarão
ao aluno na ponta.

2. Desenvolvimento
Para aferir o conhecimento dos docentes dos cursos de engenharia sobre BIM,
foi desenvolvido um formulário com questões pertinentes ao assunto e questões que
modelam o perfil da amostra. Sendo a última, útil para análises cruzadas.
O intuito das questões realizadas é analisar qual a profundidade do conhecimento
sobre BIM dos professores dos cursos de engenharia, desta forma, analisando
também como isso resulta para os alunos em termos de conhecimento.
São as perguntas feitas aos docentes: universidade em que leciona,
modalidade de graduação (público ou privado), ano de graduação, formação,
disciplinas que leciona, trabalho fora da universidade, ramo de atividade, experiência
em licitações, experiência com compatibilizações, uso de ferramentas de realidade
virtual, ferramentas que utiliza.
Nessa série de perguntas, procura-se caracterizar o docente e suas
experiências. Na próxima leva de perguntas, procura-se saber o quanto o mesmo
sabe sobre Building Information Modelling. São as perguntas:
Você sabe o que é BIM?
Qual destes conceitos melhor descreve BIM? (múltipla escolha)
Você sabe o que é um CDE?
Qual destes conceitos melhor descreve um CDE? (múltipla escolha)
Quantas dimensões o BIM compreende? (múltipla escolha)

2.1 Formulário

O formulário proposto pode ser dividido em três partes distintas. Na primeira parte
do formulário temos a caracterização dos profissionais bem como sua identificação,
onde trabalham, que ano obtiveram sua graduação e se estudaram em instituição
pública ou privada. Posteriormente, é questionado as disciplinas que lecionam e sua
área de atuação. Essa etapa é importante, pois, com base nas suas respostas
podemos cruzar as informações com os softwares que usam, podendo definir se a
metodologia que trabalham é BIM ou não. Na segunda etapa também é perguntado
se trabalham com compatibilização e licitações. Na primeira questão, podemos ter
uma base de como os profissionais se aproximam de serviços onde o BIM é um
facilitador, na segunda questão podemos saber como os profissionais trabalham em
áreas onde o BIM será realidade em breve. A terceira parte do formulário visa
caracterizar como o profissional trabalha e quais ferramentas usa bem como seus
conhecimentos sobre BIM. Com base nas ferramentas que trabalham podemos
aferir se há interoperabilidade BIM entre eles e, também, caracterizar como os
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profissionais trabalham, se há mais recursos de CAD no seu fluxo, ou se esse fluxo


pode ser mais trabalhado, entre outras formas de analisar esses dados.
Entramos na parte do Desenvolvimento do trabalho. Vou aproveitar para detalhar o
formato geral do seu Artigo.

2.2 Amostra

O formulário foi enviado às coordenações de diversas instituições de ensinos que


atuam no sul do país, onde diversos professores de graduação, seja na modalidade
EAD ou presencial, devem responder as questões caracterizantes e de
conhecimento aprofundado. A quantidade de respostas para o formulário é de
essencial importância estatística para o estudo, para obter resultados mais
confiáveis. Compõe-se na amostra engenheiros civis, eletricistas, engenheiros de
pesca, arquitetos, entre outras atribuições que compõe o corpo docente.

2.3 Resultados do Formulário Descritivo

Na questão de modalidade de graduação obteve-se o seguinte resultado: 75% dos


docentes formaram-se em universidade privada e 25% em universidade pública.

Gráfico 1 Modalidade de Graduação


Fonte: Autor

A amostra terminou a sua graduação no intervalo de 1992 até 2019, entretanto a


maioria da amostra tem sua formação finalizada entre 2007 e 2012.
A amostra compõe-se majoritariamente de engenheiros(as) civis e arquitetos(as).
Todos os representantes da amostra lecionam mais de uma disciplina que se
distinguem em sua totalidade, tendo como vínculo apenas a característica de serem
disciplinas de projetos complementares.
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Gráfico 2 Disciplinas lecionadas pelos docentes


Fonte: Autor.

100% da amostra trabalha também fora da universidade, desenvolvendo disciplinas


variadas, com poucas exceções trabalhando em nicho específico.
58% da amostra já trabalhou com compatibilizações.
83% da amostra já trabalhou em licitações.
83% da amostra nunca utilizou ferramentas de realidade virtual.
67% da amostra trabalha com ferramentas de CAD (2D) e 33% trabalha com
ferramentas BIM para projetos arquitetônicos.
A maioria da amostra trabalha com ferramentas que permitem a exportação de
modelo BIM para projetos complementares.
Com base nessas informações iniciais podemos aferir:

Gráfico 3 Ferramentas de Arquitetura


Fonte: Autor
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Gráfico 4 Ferramentas de Projeto


Fonte: Autor

Metade da amostra utiliza-se de ferramentas BIM para arquitetura e pouco mais que
isso para complementares. Entretanto, é possível aferir com base nas respostas
individuais que não há interação natural entre os projetos, visto que parte da
amostra utiliza BIM para arquitetura e CAD para complementares e vice-versa. Há
também casos onde utiliza-se CAD e BIM para projetos arquitetônicos ou
complementares, logo, não há na amostra nenhum exemplo de profissional que
tenha abandonado ferramentas de CAD para seus projetos. Isso pode ser explicado
por duas razões, poucas são as ferramentas completas e intuitivas no mercado, é
possível que o profissional utilize a modelagem em BIM por ser mais facilitada e a
documentação seja feita em CAD onde há muita resistência em mudança.
Outro dado interessante da pesquisa é: apenas 63% dos participantes que
trabalham ou trabalharam com licitação, trabalham com BIM enquanto 100% dos
que não trabalham com licitação trabalham apenas com CAD.
A maioria da amostra não utiliza ferramentas de realidade virtual, isso se deve ao
fato de que poucas pessoas da amostra realmente utilizam BIM para arquitetura e
outras só utilizam ferramentas de CAD que são pobres ou pouco intuitivas na
interoperabilidade entre softwares de realidade virtual.
No ramo de compatibilizações, a maior parte da amostra que trabalha com
compatibilizações trabalha com BIM, onde é possível deduzir que são usadas
ferramentas de clash-detection dos softwares de dimensionamento de projetos
complementares.
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Gráfico 5 Áreas de atuação


Fonte: Autor

2.4 Respostas do formulário sobre BIM

Foram obtidos os seguintes resultados quando a amostra foi perguntada sobre BIM:

100% da amostra afirmou saber o que é BIM;


Apenas 75% da amostra conseguiu definir com êxito o que é BIM;

Figura 4 - Questão sobre BIM


Fonte: Autor

58% afirmou não saber o que é um CDE;


83% afirmou não saber ou não acertou o que é um CDE;

Figura 5 - Questão sobre CDE


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Fonte: Autor

Apenas 33% da amostra soube dizer quantas dimensões o BIM compreende;


Apenas um elemento da amostra soube definir o que é BIM, CDE e quantas
dimensões o BIM compreende.

Figura 6 - Questão sobre dimensões do BIM


Fonte: Autor

3 Resultados e discussão

De modo a aferir o nível de conhecimento de professores de universidade sobre o


que é novo em projetos de engenharia, podemos afirmar com base nas respostas
que o BIM é um tema que a maioria dos profissionais já ouviu falar, entretanto o
conhecimento sobre o assunto é vago e precisa ser melhorado.
Quando falamos de BIM, como profissionais de projeto, é necessário saber que BIM
é mais do que modelar desenhos técnicos tridimensionais. Isso não acontece na
amostra, as ferramentas utilizadas para o trabalho fora da faculdade inferem que as
ferramentas BIM são utilizadas apenas para o desenho simples, sem interesse em
um projeto compatibilizado e rico em informações. Isso pode ser explicado pelo fato
de que as ferramentas BIM proporcionam interfaces e comandos mais intuitivos que
o CAD. Entretanto, o verdadeiro potencial não é explorado.
Apenas metade da amostra trabalha com BIM em disciplinas complementares e
projetos arquitetônicos, entretanto a maioria da amostra já trabalhou ou trabalha com
licitações. Os profissionais que buscam continuar nesse meio vão precisar atualizar
seus conhecimentos sobre BIM visto que o mesmo será obrigatório em licitações e
atualmente já é preferência.
Podemos, por analogia, definir que a mudança do CAD para o BIM é similar a
mudança do papel para o CAD. Hoje, poucos profissionais aproveitam 100% dos
benefícios de ferramentas de CAD como plugins, templates, blocos de desenhos
prontos e os que o aproveitam próximo da sua totalidade ainda estarão defasados
em relação a quem trabalha com o mínimo de uso de BIM.
Do ponto de vista organizacional apenas uma pequena parte da amostra soube
realmente responder o que é um CDE (Common Data Environment ou Ambiente
Comum de Dados). Isso mostra que arquivos de projetos ainda são arquivados em
pastas e subpastas comuns dos sistemas operacionais ou nuvem. O uso de BIM
pressupõe que as informações do modelo possam ser acessadas sem a
necessidade do software que originou o modelo e, portanto, conhecer o conceito de
CDEs e utilizá-los é de grande importância, tanto na verificação de
incompatibilidades de modelos como na geração de modelos federados das
edificações.
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Figura 7 Modelo BIM em Ambiente Comum de Dados


Fonte: Autor

A interação de cliente e projeto também é compromissada nesse aspecto, se antes


podíamos apenas apresentar fachadas e plantas feitas a mão ao cliente, com o CAD
e o advento da tecnologia de modelagem foi possível mostrar também a edificação
em um modelo tridimensional, com um pouco mais de esforço e uso de motores
gráficos de jogos e cinema foi possível evoluir a experiência ao tour virtual da
edificação, sendo possível caminhar por dentro e ter uma noção melhor do que é
desenhado. Entretanto, na última década, houve uma inundação no mercado de
óculos de realidade virtual e muito se evoluiu na modelagem tridimensional e efeitos
visuais. Essas tecnologias formaram uma simbiose e hoje a realidade virtual é quase
regra em grandes projetos de arquitetura. Na amostra, poucos docentes tiveram
contato com ferramentas de realidade virtual, mesmo que em sua maioria eles
trabalhem com projetos arquitetônicos.
Com o BIM é possível a interação direta entre ferramentas, sendo possível criar com
relativa facilidade experiências imersivas ao cliente. Além disso, em obra a realidade
virtual e aumentada diminui o número de erros. O modelo virtual e a obra física
podem ocupar o mesmo espaço e o engenheiro responsável pela construção pode
conferir elementos de construção em tempo real, não sendo mais necessário abrir
pranchas enormes na obra.
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Figura 8 Realidade Aumentada em Obras


Fonte: Revista Grandes Construções

Todas essas facilidades apontadas são naturais aos modelos BIM mais simples,
visto que todos por obrigação legal exportam arquivos interoperáveis. Já para
profissionais que ainda utilizam CAD, essas interações são próximas de impossíveis.
Em se tratando de dimensões da obra, de acordo com a amostra, pouco se projeta
visando o ciclo completo da obra. Há ferramentas facilitadoras de planejamento de
obra e pessoal em ambientes CAD. Entretanto há um salto colossal do que o BIM
permite neste aspecto. São as dimensões do BIM:

Figura 9 Dimensões do BIM


Fonte: Orçafascio
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Podemos afirmar que o CAD atende apenas o primeiro passo com perfeição, a
representação esquemática da edificação e ideia geral. Quando vamos fazer um
estudo de viabilidade com o auxílio de um modelo de massa, precisamos de uma
ferramenta de CAD que seja tridimensional, mas esta não pode ser chamada de
modelo BIM, visto que produzirão apenas modelos genéricos e sem informação
reutilizável a outros projetos. Nas dimensões seguintes serão necessárias
informações externas ao modelo CAD e estas serão inseridas de maneira manual.
Com um modelo BIM, todas essas etapas são integradas, no modelo de massa já é
possível ter noções visuais de análise energética que influenciaram em disciplinas
complementares. Ademais, é possível ter padrões de modelos já desenvolvidos
conectados a banco de dados do projetista, tendo as informações como custo,
tempo de construção e desempenho energético já nos modelos mais simplificados.
Essas informações serão úteis desde casas populares até edificações de alto
padrão.
Apenas 33% da amostra conseguiu definir as 7 dimensões de BIM, entretanto
nenhum destes docentes utiliza ferramentas que proporcionem que as 7 dimensões
sejam atendidas e apenas uma parte pequena da amostra trabalha com etapas de
planejamento como orçamentação. Desta que trabalha com orçamentação as
ferramentas de trabalho não são integradas ao modelo BIM.
O intuito dessa pesquisa com docentes, procura explicar qual o nível de
conhecimento dos que ensinam e, portanto, deduzir qual o nível de conhecimento
que os alunos de graduação têm ao sair da universidade. O BIM e ferramentas
integradas de projeto não apenas são tendências de mercado, são obrigações legais
e mais que isso garantem que cada vez mais precisemos de menos recursos para
obter edificações sustentáveis, diminuindo o custo de obra e o desperdício,
proporcionando que a construção civil seja amiga ao meio ambiente.
Com base nas respostas obtidas pelo formulário somado ao fato que o BIM não tem
disciplina específica obrigatória, podemos afirmar que o conhecimento nas
universidades não corresponde a demanda do mercado ou das instituições. Se por
um lado, cada vez mais as instituições governamentais exigem que suas licitações
sejam BIM. Por outro nem os professores podem definir com assertividade o que é
BIM. Portanto, podemos afirmar que esse conhecimento não estará enraizado no
profissional. Apenas profissionais que se dedicarão a projeto integralmente saberão
o que é BIM e os que apenas executam ainda estarão alienados a variadas formas
em que o projeto chegará as suas mãos.
Outro fator a se apontar é que na amostra estudada, o profissional e docente que
mais tem conhecimento sobre BIM é do meio privado e se formou em instituição
privada. Isso nos mostra que mesmo no ensino público, que é o mais disputado, o
BIM ainda é um boato ou detalhe que passa despercebido.

4. Conclusão

De posse das informações obtidas sobre o conhecimento de BIM nas universidades,


podemos evidenciar claramente que há uma defasagem estrutural nos cursos de
engenharia, tanto em disciplinas de execução quanto disciplinas de projeto. Em
termos de lei, o Brasil não é o país mais atrasado quando tratamos de BIM em
órgãos públicos, entretanto o ensino não acompanha o que o mercado exige. Ainda
há em muitos cursos de engenharia e arquitetura disciplinas que exigem o uso de
ferramentas de desenho técnico como esquadros, transferidores, lapiseiras de
diâmetros diversos, entre outros. Enquanto no mercado, exige-se que todo o
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processo de construção esteja integrado. Os produtos dessas graduações também


serão defasados, serão profissionais que obrigatoriamente precisaram de cursos e
especializações em BIM para ter uma noção de como trabalhar em licitações futuras
ou para o trabalho em outros países.
Além disso, as edificações ainda estarão fadadas a serem ineficientes em
sustentabilidade, visto que o processo que as geram ainda é arcaico. Há a
necessidade que universidades públicas e privadas implementem o BIM em todas as
suas disciplinas e também a criação de disciplinas específicas.
Na outra ponta, é necessário que os órgãos públicos estejam preparados para essa
integração também com profissionais que tenham domínio da tecnologia e
ferramentas que os proporcionem ler os projetos além do PDF. Apenas dessa forma
estaremos caminhando para um ambiente que visa a sustentabilidade.
Entre as maiores dificuldades de implementação de BIM também se encontra o valor
dos softwares e computadores que os suportem, estando estes dois ligados
diretamente a produtividade e qualidade do produto acabado.
A solução proposta ao problema é extensa e requer atenção ao longo prazo, visto
que procura-se formar tanto docentes como engenheiros que dominem o tema. O
BIM é uma metodologia que proporciona não apenas facilidades no desenvolvimento
de trabalhos, bem como uma edificação e um mercado mais competitivo e eficiente,
não obstante, ele influencia diretamente no canteiro de obras, proporcionando que a
ideia do projetista se mantenha inalterável.
Destarte, o primeiro passo é disseminar o conhecimento sobre o BIM para cursos de
engenharia em andamento, com palestras, simpósios e apresentações que abordem
o tema. Ainda, os docentes dos cursos também necessitam dessa mesma solução a
fim de responder questionamentos dos alunos sobre o tema, em todas as disciplinas
do curso. Também é necessário que o BIM seja obrigatório em universidades
públicas e privadas, para garantir que no mercado de trabalho ele não seja mais
novidade.
Fomentar o mercado nesse sentido também é importante, representantes do
pagador de impostos devem primar pela desoneração da venda e produção de
softwares de engenharia, com diversas opções de software, o custo dos mesmos
naturalmente será diminuído, sendo assim mais fácil a obtenção dos mesmos.
Programas de incentivo do uso de BIM também serão bem-vindos, garantindo que
empresas que primem por uma engenharia mais eficiente sejam recompensadas.
Por último e não menos importante, é necessário que o consumidor final, o cliente,
prime por profissionais que estejam de acordo com a atualidade do mercado, não se
orientando pelo valor final dos projetos

5. Referências Bibliográficas

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Acesso em: 08 mar. 2023.


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