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CONSIDERAÇÕES SOBRE O SISTEMA BIM E SEU USO COMO

FERRAMENTA DE AUXÍLIO AO PROJETO ARQUITETÔNICO.

Nathalie Guerra Castro Albuquerque*


Docente no curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Fortaleza
Mestranda em Psicologia, Universidade de Fortaleza
nathalieguerra@unifor.br
Marília Diógenes Oliveira
Mestranda em Psicologia, Universidade de Fortaleza
mariliadiogenes@gmail.com

RESUMO
Na última década, o CAD começou a perder espaço no Brasil, para programas com base no
sistema BIM. Para suprir a necessidade atual dos processos que envolvem a produção, o
compartilhamento de dados e informações da indústria da arquitetura e afins, o BIM se apresenta.
O objetivo desse artigo é articular sobre aonde queremos chegar com o uso do sistema BIM e
que processos precisam ser alterados na forma de projetar vigente. A prática integrada de
projetar aparece como ideal a ser perseguido. A metodologia utilizada foi o referencial teórico
sobre o uso do sistema BIM na atuação profissional da arquitetura e engenharia. Somam-se as
observações da prática docente para alunos da graduação em arquitetura e urbanismo, além das
considerações obtidas com a experiência profissional de arquiteta que atua no ramo da
construção civil. Os resultados revelam que é possível utilizar o sistema BIM em prol da prática
integrada devido ao compartilhamento das propostas dos projetistas envolvidos ser realizado
entre programas interoperáveis, possibilitando comunicação instantaneamente. Concluiu-se que a
utilização do BIM pode possibilitar que sejam desenvolvidas as melhores soluções integradas dos
diversos aspectos de um projeto arquitetônico, e que sua utilização traz uma mudança no grau de
responsabilidade do projetista.

Palavras-chave: BIM. Prática integrada. Projeto.

INTRODUÇÃO

Muito além do lápis e do papel estão as ferramentas que, hoje, um


arquiteto tem ao seu dispor quando na elaboração de projetos. Comumente,
para aqueles que estão familiarizados com as plataformas digitais que auxiliam
o desenvolvimento de desenhos técnicos, faz-se familiar - ou até mesmo
essencial - o uso do sistema CAD.
Porém, na última década, o CAD começou a, gradativamente, perder
espaço no Brasil, para programas com base no sistema BIM. Sejam nas

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conversas entre colegas profissionais, ou na demanda por projetos realizados
com base nesse sistema, o BIM encontra-se, atualmente, em uma posição de
destaque como ferramenta digital de auxílio ao projeto arquitetônico. Mas,
enfim, o que é o BIM?
Fazer uma comparação entre o sistema CAD e o sistema BIM não seria
adequado, pois os objetivos e as funcionalidades de um não se aproximam do
outro em quase nada. Para compreensão de suas diferenças cabe aqui um
paralelo das finalidades de cada sistema.
O sistema CAD - Computer Aided Design -, ou Desenho Auxiliado por
Computador, consiste em reproduzir desenhos formados por associações de
vetores. Para o usuário do programa, esses vetores são visualizados como
linhas que podem ser organizadas em camadas – as layers. O objetivo
principal do CAD consiste no desenvolvimento de representações gráficas
visuais em planos bidimensionais (2D) ou tridimensionais (3D). (ORCIUOLI,
2010)
Os sistemas CAD passaram por fases de evolução, com funções cada
vez mais inteligentes. Com o progresso da tecnologia dos softwares dessa
plataforma, cresceu a quantidade de usuários que desejavam compartilhar
dados arquitetônicos e construtivos associados ao projeto. Passou-se, então, a
trabalhar em modelos tridimensionais, na geração de edificações virtuais cuja
composição carrega informações que vão além da representação gráfica.
Modelagens virtuais com informações de construção. Tipo de material,
espessura, método de quantificação, fase de construção, localização
geográfica, são exemplos de variáveis de informações que podem ser
adicionadas aos componentes virtuais.
Para suprir a necessidade atual dos processos que envolvem a
produção, o compartilhamento de dados e informações da indústria da
arquitetura, engenharia, construção e operação das edificações
(KOWALTOVSKI et al., 2006), o BIM - Building Information Modeling - se
apresenta.
O sistema BIM revela-se como uma simulação inteligente da arquitetura
(EASTMAN et al., 2014). Uma ferramenta digital que reúne um conjunto de
processos para produzir, comunicar e analisar modelos de construção. Oferece
uma proposta de utilização dos programas e suas ferramentas desde as fases

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conceituais do projeto, avançando pelas fases de desenvolvimento e
documentação - produção de desenhos técnicos e impressões.
Para além dos projetos multidisciplinares que envolvem a previsão de
uma edificação, os softwares da plataforma BIM auxiliam também a fase de
construção da edificação proposta, através da possibilidade de geração de
planilhas orçamentárias e cronogramas de obra, por exemplo. Ainda, o modelo
tridimensional de base BIM funciona como ferramenta de manutenção e
gestão do edifício construído, auxiliando na tomada de decisões de operação,
reforma e até mesmo de demolição da edificação, após o seu desuso.
(EASTMAN et al., 2014)
No contexto internacional, podemos citar a Ópera House de Sydney
como um projeto emblemático da utilização do BIM. De autoria do arquiteto
John Utzon, à época de sua concepção - fim da década de 1950 - foi taxado
de inexequível. O projeto ficou parado por muitos anos e, apenas na década
de 1970, quando o escritório inglês ARUP retomou o projeto, e simulou sua
modelagem em um programa de computador, ele se tornou viável. Hoje, é
ícone arquitetônico e símbolo nacional da Austrália. (SANTOS, 2014)
Àquele tempo, o BIM não se apresentava com as ferramentas
computacionais de hoje, mas a modelagem virtual da construção já se
encontrava em processo evolutivo. Esse exemplo ressalta a importância do
uso de ferramentas computacionais na verificação da viabilidade construtiva,
principalmente de projetos cuja forma física conceitual se apresenta
desafiadora.
O uso do BIM é bastante avançado ao redor do mundo, porém, no Brasil
estamos em fase de introdução dessa nova tecnologia. Nesse aspecto, é
importante compreendermos esse estágio inicial, nos valendo da experiência
dos países pioneiros e identificando as tendências e as melhores formas de
utilização desse sistema.
É importante sabermos aonde queremos chegar com o uso do sistema
BIM e que processos ou métodos precisam ser alterados na forma de projetar
vigente. O fato é que, com o CAD estamos trabalhando com um sistema que
já, comprovadamente, não supre as necessidades dos projetos complexos e
ricos de informações da atualidade.
A prática integrada de elaboração de projetos deveria ser intrínseca à
construção civil. O que se observa, porém, é um cenário de fragmentação de

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setores nas fases de planejamento, projeto, construção e gestão do edifício.
Geralmente, essas etapas são pouco articuladas, e mesmo na fase de projeto
é comum a falta de integração entre as várias disciplinas envolvidas, dentre
elas a arquitetura, instalações, estruturas etc. (ANDRADE; RUSCHEL, 2009).
É necessário que os projetistas trabalhem o projeto de forma integrada a
partir das etapas iniciais de concepção. A realização de um projeto integrado
pressupõe um processo inteiramente multidisciplinar, em que desde o início, as
equipes de projetistas persigam continuamente uma série de metas que são
comuns a todos e que são otimizadas ao longo de todo o processo. A nova
linguagem computacional de produção de projetos pode ser benéfica
principalmente quando adotada por todos os profissionais envolvidos na
indústria da arquitetura, engenharia, construção e operação dos edifícios.

METODOLOGIA

Esse artigo foi realizado com base no referencial teórico sobre o uso do
sistema BIM na atuação profissional da arquitetura e engenharia. Somam-se a
observações da pratica docente do sistema BIM para alunos da graduação em
arquitetura e urbanismo, além das considerações obtidas com a prática e
experiência profissional de arquiteta que atual no ramo da construção civil.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No processo tradicional de construção de um edifício, a integração e a


compatibilização dos inúmeros projetos envolvidos ocorre após a etapa de
concepção do projeto arquitetônico. Questões relacionadas à engenharia
estrutural, instalações hidrossanitárias, instalações elétricas, custos, dentre
outras, são discutidas nas fases posteriores do processo de criação da forma
física, quando várias decisões já foram estabelecidas. As funções dos outros
projetistas ficam, então, limitadas a apenas sugerir melhorias de desempenho
dentro das restrições impostas pelo projeto de arquitetura já concebido.
Além disso, num contexto de utilização da plataforma CAD, as
limitações do sistema provocam dificuldades de integração das várias
disciplinas envolvidas no projeto, acarretando em constantes redesenhos e
perdas de informações.
Contier (2014) aponta esse fato em seus estudos e expõe que 45% do
total de plantas de um empreendimento sofrem revisões após emissão do

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executivo; 23% dos projetos de instalações sofrem revisões por falta de
compatibilização; 88% das plantas sofre algum tipo de adequação das
instalações por falta de compatibilização; 26% dessas necessitam de as-built
(plantas técnicas de representação da edificação conforme construída); 9% de
todos os projetos e 26% das instalações geram retrabalho devido à falta de
compatibilização de projetos; e 6% do total da obra são desperdícios
estimados por projetos não compatibilizados. Isso gera uma perda de 3,5% na
produtividade e 5% de reparos em obras já entregues.
O ideal da prática integrada pode ser apoiado no uso das ferramentas
computacionais da plataforma BIM como instrumento de suporte às tomadas
de decisões, além de um facilitador na comunicação das informações.
O primeiro passo para a prática integrada é determinar o objetivo
norteador do projeto. Objetivo este que deve ir além da especificidade e
tipologia projetual. Deve estar diretamente relacionado aos processos
construtivos, tempo de construção e partido arquitetônico. Essa condição irá
nortear todas as tomadas de decisões ao longo do processo e refletir no uso e
operação da edificação.
É possível usar as ferramentas da plataforma BIM em prol da prática
integrada ao envolver os diversos auxílios de modelagem paramétrica, de
forma que o compartilhamento das propostas dos projetistas é realizado entre
os programas computacionais interoperáveis, e as tomadas de decisões, assim
como as compatibilizações, são comunicadas instantaneamente para toda a
equipe de profissionais.
Com essas ferramentas, a percepção das incoerências e falhas é
ampliada. Devemos considerar que as diversas análises e simulações podem
ocorrer de forma conjunta através de um modelo virtual compartilhado com
todos os colaboradores. Aspectos como estática, desempenho, custos, tempo,
construtibilidade, dentre outros, poderão ser discutidos já nas fases iniciais e
ao longo de todo o processo, refletindo em soluções projetuais mais eficazes.
Nesse sentido, o BIM deve ser percebido para além de uma ferramenta
de reprodução de informação, mas também um instrumento de apoio ao
processo de produção e análise do projeto.

CONCLUSÃO

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A utilização do BIM desde as fases iniciais de projeto pode possibilitar
que sejam desenvolvidas as melhores soluções integradas dos diversos
aspectos que um projeto arquitetônico possui. A ferramenta apresenta-se
como um auxílio eficaz nas tomadas de decisões e no controle das
informações geradas pelos diversos profissionais envolvidos.
Ressalta-se que o BIM não faz nada sozinho. Toda e qualquer
informação gráfica e de documentação de projeto desenvolvido nesta
plataforma é reflexo direto das técnicas construtivas consideradas na
modelagem virtual. Portanto, a não conformidade desses aspectos poderão
produzir projetos cujas informações visuais e representativas são falhas e não
correspondem a uma realidade exequível.
Pesa-se então a importância emergencial dos arquitetos experienciarem
a obra, não se limitando ao projeto elaborado no escritório. Um projeto
desenvolvido que não considere aspectos construtivos em sua essência tem
grandes chances de gerar desperdícios por erros e incompatibilidades, além da
possibilidade de se tornar inviável. Compreender os processos construtivos e o
comportamento dos materiais passa a ser condição sine qua non para que o
Building Information Modeling (modelagem da informação da construção) gere
resultados confiáveis.
A implantação do BIM também traz uma mudança clara no grau de
responsabilidade do projetista. Ao papel do arquiteto são associadas
responsabilidades que incluem a função de concepção de projeto, gerente de
equipes de projeto, e gerente de informações construtivas.
Não é novidade que o profissional arquiteto apresente tais
competências, mas o uso da ferramenta BIM de forma integrada faz dessas
três funções profissionais condição necessária para o cumprimento da sua
finalidade.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, M. L.; RUSCHEL, R. C. BIM: Conceitos, Cenário das Pesquisas


Publicadas no Brasil e Tendências. Anais do Simpósio Brasileiro de
Qualidade do Projeto no Ambiente Construído, v. IX Worksho, n. 18 a 20 de
Novembro de 2009, p. 602–613, 2009.

EASTMAN, C. et al. Manual do BIM: um guia de modelagem da informação


da construção para arquitetos, engenheiros, gerentes, construtores e
incorporadores.Porto AlegreBookman, , 2014.

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KOWALTOVSKI, D. et al. Reflexão Sobre Metodologias De Projeto
Arquitetônico. Ambiente Construído, v. 6, n. 11, p. 7–19, 2006.

ORCIUOLI, A. Projeto assistido por computador : ontem , hoje e amanhã.


Interseção aU, p. 108–111, 2010.

SANTOS, E. T. Panorama de uso de BIM no Brasil: cenário de mercado,


esforços de governo e normas. 1o Seminário Regional Construindo, 2014.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao curso de arquitetura e urbanismo da Universidade de


Fortaleza (Unifor), ao Laboratório de Estudo das Relações Humano Ambientais
(LERHA - Unifor), e à Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (FUNCAP).

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