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Escola Comendador Bernardo Martins Catharino

Guerra do Contestado

Salvador,
Abril de 2022
Escola Comendador Bernardo Martins Catharino

Guerra do Contestado

Equipe: Ananda Vitória S. de Albuquerque, Bruna Mesquita Gonzaga, Gabriela


Cardoso Duarte, Jennifer Borges Sousa, Mariah Jorgina S. de Jesus e Yasmin da S.
Rodrigues

Salvador,
Abril de 2022
Sumário

Introdução ........................................................................................................pg. 04
Contexto Histórico ........................................................................................... pg. 05
Causas do Movimento ..................................................................................... pg. 07
Desenvolvimento do Movimento .................................................................... pg. 08
Desfecho .......................................................................................................... pg. 15
Referências ....................................................................................................... pg. 17
Introdução

No início do século XX, entre 1912 e 1916, na área então disputada pelos
estados do Paraná e Santa Catarina, denominada região do Contestado, uma
luta camponesa pela posse da terra levou às armas cerca de 20 mil pessoas,
gerando um dos maiores conflitos sociais da história do país. Os caboclos,
população que habitava a região se revoltou contra os governos estaduais, que
promoviam a concentração da terra em benefício dos grandes fazendeiros.
Também a revolta ocorreu contra o governo federal, que concedeu uma
extensa área de terra à empresa norte-americana – Brazil Railway company -
responsável pela construção do trecho da Estrada de Ferro São Paulo - Rio
Grande, que ligava o sul com o sudeste do Brasil. Para essa construção foram
contratados 8 mil homens que eram composto por ex revoltosos, ex escravos,
sertanejos e camponeses.

Antes da revolta começar de fato, já havia uma grande indignação dos povos
habitantes nas áreas presentes por conta da manifestação das empresas. Mas
a revolta só começou a tomar mais força quando surgiu um monge, curandeiro
e evangélico, João Maria que tinha um viés monárquico e se assemelhava com
Antônio Conselheiro por conta de sua ideologia. Quando o monge morreu,
surgiu outro chamado Miguel Lucena Boaventura que toma a frente da revolta
e posteriormente troca seu nome para José Maria, que cria organização
Quadros Santos com vários seguidores. O monge José Maria afirmava que o
fim do mundo estaria próximo e dizia aos seus seguidores que poderiam voltar
à vida se o seguissem. Após a morte do monge José Maria, dois de seus
seguidores tomaram a frente, sendo eles Maria da rosa, a virgem de 15 anos
que posteriormente ficaria conhecida como Joana D´Arc Do Sertão, e o menino
Deus Joaquim. Eles diziam receber mensagens divinas do Monge .
Contexto histórico

A construção da Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande foi um fenômeno de


ordem econômica e política que provocou profundas mudanças sociais na
região oeste catarinense e, principalmente, para a população cabocla. O
espaço era pouco povoado, se caracterizando, principalmente como um
instrumento de segurança nacional, visto que serviria para o imediato envio de
tropas militares caso se concretizasse a suposição sempre existente de uma
possível invasão argentina num território cujos limites nunca estiveram bem
definidos. A dúvida estava na área então compreendida entre os rios, Peperi-
Guaçu e Chapecó, que hoje compreende parte do território nordestino do
Paraná e Santa Catarina. Embora o acordo de Palmas, assinado em 1895
tivesse posto fim à questão, a desconfiança por parte das autoridades
brasileiras com um suposto descontentamento argentino persistia. A invasão,
porém, nunca ocorreu.

O acordo feito pelo governo brasileiro com a multinacional Brazil Railway


Company, deu autorização a construção da ferrovia em troca de terras numa
extensão de 15 quilômetros de cada lado da estrada. A empresa possuía
autorização para retirar e exportar a madeira, que era a principal riqueza da
região, e vender as terras a colonos imigrantes, interessados em povoar a
área.

Os cablocos expulsos das terras, além dos 8 mil trabalhadores que foram
dispensados da estrada de ferro no final da construção, passaram a viver em
acampamentos ou redutos, como eram chamados esses locais, e sob a
liderança de uma personalidade religiosa denominada de Monge, na época do
conflito – José Maria. Com o tempo, foram expulsos dos redutos pelos
coronéis, que em conluio com as forças econômicas e governamentais
apropriaram-se das terras.

Devemos entender que o governo era representado pelos coronéis, “chefe


municipal de prestigio e a ele cabia todo poder decisório ao nível do município:
econômico, político, judicial, policial. Sua origem vem do período Regencial,
quando grandes fazendeiros passaram a receber títulos de coronéis, e a ter
autorização do governo central para que possuíssem gente armada a seus
serviços, para garantir a manutenção da “ordem pública”. Defendiam um
pensamento extremamente conservador e reacionário.

Desta forma, o coronelismo exerceu influência decisiva na revolta da população


local. A ganância e o mandonismo do coronel não deixou outra alternativa para
o excluído caboclo, que não fosse o enfrentamento, deflagrando, assim, a luta
pela terra, denominada de Guerra do Contestado. “Compreende-se afinal
como, numa sociedade economicamente diferenciada e autocrática, que
postula e ao mesmo tempo nega ao homem pobre o reconhecimento de sua
condição humana, abrem-se veredas para o seu desvencilhamento e porque
este processo se radicaliza” (FRANCO, 1976, p.101).

Além da agressão que se dá com a retirada da terra e a consequente expulsão


do caboclo, à base de muita violência, evidencia-se também uma imposição de
valores alheios ao modo de vida do caboclo e que está de acordo com a lógica
do desenvolvimento capitalista. Sobretudo, “a transformação da terra em bem
de produção acarretou a institucionalização da propriedade privada, em
detrimento da simples ocupação ou posse” (AURAS, 1995, p. 43), como ocorria
desde há muito tempo e até a chegada da nova ordem capitalista. A lógica da
apropriação não só causa estranhamento, mas soa também como uma
agressão ao caboclo, que se revolta principalmente ao ver as terras que
habitava serem vendidas pelas companhias colonizadoras a colonos
imigrantes. O caboclo, além do fato de passar a ser tratado como intruso, é
estigmatizado pelo colonizador, e seus hábitos e tradições são desrespeitados.
Estes fatores, aliados a um movimento messiânico de crença na ressurreição e
na instauração de um reinado de paz, justiça e fraternidade, formaram os
principais ingredientes para a eclosão da Guerra do Contestado.

A inferioridade bélica frente a um exército poderoso, patrocinado, primeiro,


pelos governos do Paraná e Santa Catarina e, depois, pelo efetivo nacional,
levou os caboclos a recorrerem a forças sobrenaturais, encontrando amparo na
crença em figuras religiosas que há muito peregrinavam pela região. O
messianismo se instaura principalmente após a morte do monge José Maria no
combate do Irani, a primeira batalha do Contestado.

.Causas do Movimento

A principal causa da guerra do contestado foi a Disputa pelas terras próximas à


fronteira de Santa Catarina e Paraná, ricas em erva-mate entre os moradores
da área (contestado), o governo federal e as empresas da área. Tudo se deveu
ao fato da construção da estrada de ferro que ligaria São Paulo ao Rio Grande
do Sul ter deixado muitas pessoas em más condições de vida em detrimento
dos interesses dos coronéis e da empresa norte-americana Brazil Railway
Company. Com o objetivo de construir a estrada de ferro, a Brazil Railway
Company precisava de mão-de-obra, levando, assim, muitas pessoas para a
região.

Ao mesmo tempo, o governo cedeu uma grande extensão de terra, cerca de 15


mil metros, nos limites do Estado do Paraná e de Santa Catarina, mas
aproveitou o pretexto e desapropriou as terras dos camponeses porque
descobriu que poderia lucrar com a erva-mate, bem como com a madeira
existente na localidade.

Quando a linha férrea ficou pronta, a empresa não garantiu o regresso das
pessoas que tinham se deslocado para a região, permanecendo ali sem
qualquer apoio; acresce ainda o fato de os camponeses terem ficado
desempregados e sem as suas terras para trabalhar, situações que
provocaram o empobrecimento da população dessa região, já que a fonte de
vida dessas pessoas que eram a erva mate e a madeira já estavam sendo
exploradas, o que aumentou a insatisfação popular.

A insatisfação popular abriu espaço para que José Maria, pudesse atuar na


região, iniciaram um levante armado para contestar (por isso o nome da
guerra) a decisão tomada. José Maria se instalou na região do Contestado e se
tornou uma espécie de liderança religiosa. Ele afirmava que o mundo estava
próximo de seu fim, dava conselhos, atuava como curandeiro e prometia a
salvação das pessoas.
José Maria liderou a formação de uma comunidade, que começou a se
organizar. Essa comunidade contou com a adesão de muitos dos trabalhadores
prejudicados pela construção da ferrovia, e, além do elemento religioso, ela
também ficou marcada por sua organização militar e pela adesão aos ideais
monarquistas.
José Maria fazia profundas críticas à república, defendia o monarquismo e
chegou a escolher um imperador na comunidade que ele criou e ficou
conhecida como Quadro Santo (ficava em Taquaruçu, próximo de Curitibanos),
onde viviam da agricultura e do furto de gado. O crescimento da comunidade
sem o controle do Estado afligia o governo federal, que uma década antes
havia massacrado a comunidade de Canudos. Tropas federais foram enviadas
a Quadro Santo neste mesmo ano, o que levou a população a se refugiar na
cidade de Faxinal de Irani.

Desenvolvimento do movimento

No segundo semestre de 1912, José Maria foi convidado por alguns moradores
da região de Taquaruçu, em Curitibanos (SC), para participar da festa do
Senhor Bom Jesus, realizada por Praxedes em 1912 celebrada em 6 de
agosto. Findada a festa, o monge permaneceu na localidade.

Diante de sua permanência, o monge seguiu realizando suas práticas


costumeiras, inclusive, contando as histórias de Carlos Magno e os Dozes
Pares de França. Sua fama de curandeiro fez com que alguns dos participantes
da festa se mantivessem ao seu redor, bem como atraiu para Taquaruçu outros
indivíduos a sua procura.

Dessa maneira, entre a segunda quinzena de agosto e a primeira de setembro,


ocorreu um constante aumento de devotos de José Maria nesta região. No
temor de que o monge lhe fizesse oposição política, o superintendente,
Alburquerque, enviou correspondência ao presidente do estado – Vidal Ramos
– denunciando a aglomeração de pessoas reunidas em redor do monge. Em
suas palavras, ali se verificava um “ajuntamento de fanáticos” predispostos a
proclamar a monarquia no sul do Brasil. A solicitação de Albuquerque a Vidal
Ramos demonstrou como as relações sociais eram constituídas neste período
no planalto catarinense: Através do sistema de compadrio, no qual a “[...]
relação entre compadres e comadres implicava atitudes de auxílio, respeito e
uma espécie de extensão dos laços familiares” (MACHADO, 2004: 67).

Essa solicitação, também, nos mostrou o enfraquecimento dos laços de


compadrio local, ou seja, entre o coronel da região – Albuquerque - e alguns de
seus compadres - peões e agregados. Outro aspecto das relações sociais de
dominação que se apresentavam em declínio nesse momento é o coronelismo.

Apesar de infundada, a justificativa foi suficiente para que Vidal Ramos


organizasse uma pequena diligência policial com a ordem de dispersar o grupo.
Avisado a tempo do movimento da força catarinense, José Maria deslocou-se
com seus seguidores para Irani, pequena localidade pertencente a Palmas e
em litígio judicial entre Paraná e Santa Catarina.

A chegada do grupo a Irani, em outubro de 1912, foi vista pelos paranaenses


como uma tentativa de os vizinhos tomarem posse de um território contestado
judicialmente. Como resposta, o governador Carlos Cavalcanti de Albuquerque
enviou um destacamento do Regimento de Segurança do Paraná para expulsar
os supostos invasores.

As tropas do Regimento de Segurança chegaram em União da Vitória,


provavelmente, no dia 14 de outubro e, logo, no dia 15 de outubro seguiram em
direção ao território de Palmas (A REPÚBLICA, 15/10/1912). Enquanto as
tropas enviadas de Curitiba se dirigiam para Palmas, o coronel Domingos
Soares, líder político e superintendente do município, organizava uma milícia
para auxiliar as tropas estaduais; esta, era composta, neste momento, de
duzentos homens armados e prontos para defender a cidade dos “bandidos” (A
REPÚBLICA, 16/10/1912).

Depois de mais ou menos 4 dias de marcha, em 17 de outubro de 1912, João


Gualberto informou a seus superiores sua chegada na região de Palmas e que
na entrada dos Campos de Palmas estaria instalando seu acampamento. Os
telegramas publicados em A República informavam que a tropa seria dividida:
uma parte seria destinada à defesa da cidade de Palmas (PR) e Xanxerê (PR),
hoje pertencente a Santa Catarina, devido as solicitações recebidas pelo
Governador do Estado do Paraná; e a outra parcela das tropas seguiria sob o
comando de João Gualberto, em direção aos Campos do Irani onde o monge
se encontrava (A REPÚBLICA, 18/10/1912).

Na medida em que informava sobre a localização das tropas oficiais, A


República também comentava, um pouco, sobre a localização de José Maria.
Entretanto, as informações não se apresentavam de forma precisa. Eram,
geralmente, identificadas como “perto de” algum lugar, na direção de
determinada localidade

Comandadas por João Gualberto Gomes de Sá Filho, as tropas do


Regimento de Segurança do Paraná dirigiram-se ao município de Palmas e,
depois, para o Irani. Na madrugada do dia 22 de outubro de 1912, à frente de
64 homens, João Gualberto atacou
o reduto, onde havia pouco mais de 200 sertanejos.

O principal fato da batalha do Irani foi a morte do coronel João Gualberto, chefe
do regimento paranaense, e do monge José Maria, líder dos caboclos. No
primeiro caso, porque aguça as forças militares contra a população revoltosa.
No segundo, porque desperta nos caboclos uma força sobrenatural a partir da
crença de ressurreição do monge, elevado à condição de messias.

O messianismo presente no Contestado é facilmente explicável quando se leva


em consideração a situação dos excluídos. Sem condições militares, materiais
e culturais para vencer os inimigos, recorrem ao sobrenatural, ao poder de uma
força divina que no mínimo os colocasse em condições de igualdade numa
guerra que se configurava como inevitável. Como expressa Maria Isaura
Pereira de Queiroz (1969, p. 316)

É provável que este sentimento patriótico e a visão de que as tropas do


Regimento de Segurança estavam cumprindo o dever de toda a sociedade, de
combater o outro. Nesse sentido, defender a integridade do território
paranaense frente aos invasores catarinenses aliados de José Maria, talvez
fosse, assim como na ótica do jornal, os sentimentos das tropas comandadas
por Gualberto e por ele próprio, influenciando em suas decisões. Destaca-se
que a imprensa também se utiliza da omissão ou não menção de determinados
acontecimentos para favorecer e garantir os propósitos de seu discurso.
Portanto, determinados acontecimentos que precederam o confronto do Irani
só vieram à tona depois do combate, em 24 de outubro de 1912. Os enviados
do monge vinham com o intuito de conferenciar com o Coronel Soares, uma
vez que este “[...] normalmente mantinha um bom relacionamento com a
população” (MACHADO, 2004: 183.) do Irani.

João Julio Farrapo e João da Costa Varella, os emissários do monge,


solicitaram que a gente de José Maria não fosse atacada, pois suas atitudes
eram pacíficas. Só estavam no Estado do Paraná por terem sidos perseguidos
pela polícia de Santa Catarina e que, para lá, o monge voltaria para “[...] “tratar
dos seus direitos” [aspas do jornal], isto é, acionar por perdas e danos o
coronel Francisco Albuquerque, que o havia perseguido. (A REPÚBLICA,
24/10/1912). Ainda, declaram que “[...] no caso d’uma luta entre os Estados do
Paraná e S. Catharina, o Monge estaria ao lado dos paranaenses” (A
REPÚBLICA, 24/10/1912) e reiteraram que caso o pedido de não ser atacado
fosse recusado, José Maria teria homens para resistir ao ataque da força
pública.

Esse relato que foi transmitido pelo coronel Oliveiro Cortes, que acompanhou
esse encontro, só veio a público nas páginas d’A República em 24 de outubro,
dois dias após o combate do Irani. É preciso considerar, que no momento em
que estas informações foram divulgadas o combate já havia ocorrido. Desta
maneira, uma negociação de paz que trouxe consigo alguns tons de ameaça
podem ter servido para justificar as ações tomadas por Gualberto.

Outro relato, dessa vez publicado no O Dia, informava sobre a tentativa de


José Maria de evitar o confronto. Manoel Gomes Pereira, comerciante que teria
encontrado com as forças de Gualberto e presenciado o encontro com os
emissários de José Maria, conta que.

Na primeira metade de 1913, novos fiéis se reuniram em Taquaruçu na


expectativa do retorno do monge, que regressaria acompanhado do “Exército
Encantado de São Sebastião”. A liderança do grupo foi iniciada por uma
adolescente de 11 anos de idade chamada Teodora. Ela dizia conversar em
sonho com José Maria e receber deste a incumbência de orientar os fiéis para
a guerra santa. Nesse momento, o movimento começou a construir linguagem
própria e um programa com características messiânicas e milenares. Além
disso, passou a agregar pessoas com interesses e proveniências diversas:
opositores dos coronéis locais, desempregados da ferrovia que atravessava a
região, a Brazil Railway Company, ex-funcionários da madeireira e
colonizadora internacional Southern Brazil Lumber and Colonization Company,
fazendeiros interessados na questão de limites territoriais e aventureiros.
Somaram-se a esses os pobres e despossuídos de suas terras, vítimas das
atividades de grilagem expandidas na região com a chegada do capital
estrangeiro, representado pelas empresas citadas, todas ligadas ao grupo de
Percival Farquhar.

A partir de dezembro de 1913, o governo catarinense começou a montar


expedições militares para desmobilizar o movimento organizado na localidade
de Taquaruçu. Após algumas ações malogradas, em fevereiro de 1914 essa
comunidade foi destruída. Além dos guerreiros de São Sebastião, mulheres,
crianças e idosos foram mortos. O massacre figurou como questão
fundamental para fortalecer o movimento. A partir desse episódio, os fiéis
começaram a expandir suas ações. Novos pontos rebeldes se multiplicaram na
região, por meio da proliferação das chamadas cidades santas, ou redutos, na
linguagem militar: Caraguatá, Bom Sossego, Pedra Branca, Papudo, Aleixo,
São Pedro, Tavares e a famosa Santa Maria compunham um cenário complexo
de vilas espalhadas pelo planalto catarinense sob a inspiração de João Maria e
de São Sebastião. O raio de domínio dos sertanejos rebeldes chegou a atingir
28 mil quilômetros quadrados, e a maior das cidades – Santa Maria – teve uma
população estimada em 25 mil pessoas distribuídas em 5.500 casas, o que lhe
rendeu a comparação com Belo Monte em Canudos.

Em suas ações, os sertanejos do Contestado construíram pauta de


reivindicações elaboradas a cada nova ação de combate. Entre as exigências
constavam a deposição política de coronéis da região, a resolução do litígio de
limites territoriais favorável à Santa Catarina, o deslocamento da Southern
Brazil Lumber and Colonization Company, madeireira e colonizadora de terra
multinacional instalada na região, a punição dos crimes cometidos contra
mulheres e crianças mortas em ações militares, a distribuição e o
reconhecimento de título de propriedade de terras aos sertanejos e a
deposição do presidente da República, Hermes da Fonseca.

Estima-se que o movimento dominou uma área com aproximadamente 80 mil


pessoas. A expansão do movimento, bem como suas reivindicações,
preocupou não apenas os governantes dos estados do Paraná e de Santa
Catarina, como também a imprensa nacional da época e o presidente Hermes
da Fonseca. Periódicos da capital federal, como A Noite, Correio da Manhã,
Fon-Fon, Careta e O Malho foram alguns dos meios que noticiaram o conflito
do Contestado. Além disso, a importante revista militar A Defesa Nacional,
criada pelos chamados “jovens turcos” em outubro de 1913, cobriu ativamente
a atuação do Exército no Contestado.

Denunciou-se na imprensa o perigo de repetir-se no Sul do Brasil o ocorrido


em Canudos pouco mais de uma década antes. Os ataques tinham como mira
o governo federal liderado por Hermes da Fonseca, mas também as ações do
Exército na repressão ao conflito. Apontada como despreparada bélica e
ideologicamente, a corporação militar não gozava de grande prestígio social à
época. Desde a proclamação da República tentava-se implementar as reformas
que dariam novo ânimo às forças armadas e as equiparariam às suas
congêneres na América Latina. O projeto de modernização do Exército
contemplava a contratação de missão militar estrangeira – alemã ou francesa –
para treinar os oficiais brasileiros, a renovação dos equipamentos bélicos, tidos
como obsoletos, e a reforma e a expansão dos quartéis militares, entre outras
questões. O ponto máximo da reforma seria a aprovação da lei que acabaria
com o sistema de recrutamento militar voluntário por outro que fosse por
sorteio. A lei foi aprovada em 1908, mas, por falta de apoio político, só foi
colocada em prática em 1916.

Nesse contexto, a atuação do Exército na Guerra do Contestado reacendeu a


discussão da lei do sorteio ao colocar a doutrina militar na ordem do dia.
Contribuiu para tal audiência a atuação da Liga de Defesa Nacional, criada em
1914 com a intenção de despertar o sentimento patriótico na juventude
brasileira, tendo como referência o ingresso dessa parcela da sociedade nas
forças armadas, além da eclosão da Primeira Guerra Mundial no cenário
europeu.

Incapazes de solucionar o conflito e almejando benefícios políticos, em agosto


de 1914, os presidentes do Paraná, Carlos Cavalcanti de Albuquerque, e de
Santa Catarina, Vidal Ramos davam ao governo e ao Exército as armas
necessárias para planejar uma grande operação de guerra no Sul do Brasil.
Sob o comando do general Fernando Setembrino de Carvalho, a Campanha do
Contestado figurou como laboratório e vitrina para o projeto de modernização
do Exército brasileiro.

Ao deslocar-se para o Sul do Brasil, Setembrino de Carvalho mobilizou


aproximadamente seis mil soldados, contratou mais de dois mil civis –
denominados vaqueanos – para auxiliar o Exército, e desfalcou os cofres
públicos para promover na região grandes manobras militares, mobilizar
equipamentos importados e restaurar a imagem pública do Exército brasileiro,
imaginado pela população como espaço de banditismo, de práticas
homossexuais e de castigo corporal.

No campo de batalha, Setembrino de Carvalho soube manejar com destreza a


tecnologia fotográfica e usá-la em prol dos interesses militares: montou álbum
com mais de 80 fotos das ações do Exército no Contestado e as fez publicar
em sua maioria na prestigiada revista Fon-Fon. Com essa estratégia
desacreditava as informações publicadas nos jornais de oposição que
denunciavam massacres, estupros e despreparo dos soldados nas ações de
guerra. Nas imagens selecionadas, o Exército brasileiro era equiparado ao
alemão: equipamento de primeira linha, soldados uniformizados e
disciplinados. Em suma, um exército desejado, pronto para receber os jovens
brasileiros em suas fileiras e torná-los verdadeiros patriotas, tal como pregava
o poeta Olavo Bilac em sua peregrinação em nome da Liga de Defesa
Nacional.
Desfecho

Ao deixar a região em maio de 1915, o governo federal havia desmobilizado


totalmente o movimento do Contestado, prendido a maioria dos líderes,
garantido o status quo dos políticos locais, protegido os interesses da
madeireira e colonizadora multinacional e equipado belicamente os coronéis e
seus capangas. As últimas operações militares ficaram sob o comando do
capitão Vieira da Rosa, oficial catarinense e intelectual afamado no Instituto
Histórico e Geográfico de Santa Catarina. A maior parte do efetivo sob o
comando desse oficial era composta por vaqueanos, ou seja, antigos coronéis
e jagunços inimigos diretos dos sertanejos. Distante do olhar da imprensa, com
a retirada da força federal, as ações de violência na região foram intensificadas
de tal forma que um dos maiores pesquisadores do movimento – Maurício
Vinhas de Queiroz – denominou essa fase “açougue do Contestado”.

O ano de 1916 é registrado, oficialmente, como o fim do conflito social no Sul


do Brasil. Nesse ano ocorreu a prisão do último grande líder do movimento,
Adeodato Ramos – morto em 1923 após tentativa de fuga da cadeia – que era
um dos chefes do último reduto de rebeldes da revolta, e que depois de um
certo tempo foi considerado o próprio demônio.

“O demônio está encarcerado”, anunciou em agosto de 1916 o jornal O


Imparcial, de Canoinhas (SC), referindo-se à captura de Adeodato, que tinha
fama de assassino e era temido pelos próprios companheiros.
O repórter do jornal O Estado, de Florianópolis, porém, se surpreendeu ao
entrevistar Adeodato na prisão.
“Nós, que esperávamos ver o semblante perverso de um bandido, cujos traços
fisionômicos estivessem a denotar sua filiação entre os degenerados do crime,
vimos, pelo contrário, um mancebo em todo o vigor da juventude, de uma
compleição física admirável, esbelto, olhos de azeviche [pretos], dentes claros,
perfeitos e regulares, e ombros largos”, escreveu, destacando a postura
recatada do “célebre bandoleiro”.
O jornal O Dia, de Florianópolis, relatou que ele respondia aos policiais de
forma serena e “tinha o olhar suave”.
Adeodato era uma figura controvertida. “É evidente que ele cometeu muitas
atrocidades nos redutos, mas não era muito diferente de outros líderes
rebeldes”, escreveu o historiador Paulo Pinheiro Machado, ressaltando que
houve uma “demonização” do último líder rebelde, alimentada pelos próprios
sertanejos.
Conta-se que, no julgamento, após a ouvir a sentença de 30 anos de prisão, o
réu declamou no tribunal versos irônicos:
“Para tirar o mal do mundo / Tinha feito uma jura / Ajudei nosso governo / A
quem amo por ternura / Acabei com dez mil pobres / Que livrei da escravatura /
Liquidei todos os famintos / E os doentes sem mais cura / Quem é pobre neste
mundo / Só merece sepultura.”
Adeodato foi morto em 1923, numa suposta tentativa de fuga da prisão.
Ainda em 1916 foi assinado o tratado de limites territoriais entre Paraná e
Santa Catarina. Esse evento ocorreu no salão nobre do palácio presidencial no
Catete, no Rio de Janeiro, e foi aclamado pela imprensa como marco da
pacificação do conflito. Na ocasião da assinatura do acordo estiveram
presentes o então presidente da República, Venceslau Brás, o presidente do
Paraná, Afonso Alves de Camargo, e o de Santa Catarina, Felipe Schmidt,
além de outras autoridades civis e militares. Nesse mesmo ano ocorreu o
primeiro sorteio militar nas forças armadas brasileiras e foi publicado o primeiro
volume – de uma série de três – da história da Campanha do Contestado,
escrita por um oficial do Exército que participou da ação militar, Dermeval
Peixoto. O autor foi totalmente influenciado pela leitura do clássico Os sertões
de Euclides da Cunha. Na escrita de Peixoto, o Contestado ressurgiu das
cinzas de Canudos, com a diferença que nas ações militares desenvolvidas no
Sul do Brasil entre 1912-1916 o Exército Brasileiro renasceu forte e vigoroso.

A Guerra do Contestado durou quatro anos e deixou aproximadamente de 10 a


15 mil pessoas mortas, e 8 mil casas incendiadas, com a epidemia de tifo e a
grande força e crueldade das tropas de combate. E os revoltosos tiveram
sucesso em apenas dois anos de conflito, porque logo depois o exército
conseguiu sucessivas vitórias sobre eles durante esse 46 meses de guerra.
Apesar de sangrenta, essa revolta não teve uma grande visibilidade porque o
Estado nunca quis que pensassem que o a região Sul era caboclo, e sim um
estado com seguimento europeu.

Após a derrota, os sobreviventes do movimento fugiram pro local mais longe


possível, e apagaram a história do contestado, sempre negando fazer parte
daquilo por medo de serem encontradas e mortas como os outros .

Referências

YOUTUBE, BlumenauCesar, “A Guerra do Contestado-documentário de 1990”


acesso em 14 de abril de 2022 ás 14:45.

ANIMA, Historia, “Contestado Resumo Desenhado”, Acesso em

ESCOLA, Brasil, ”Guerra do Contestado causas, líder, conseqüências” acesso


em 14 de abril de 2022 ás 15:48.

PESQUISA, Sua, “Guerra do Contestado- Resumo, causas e conseqüências”

Acesso em 14 de abril de 2022 ás 16:10.

KIDS, Escola, “Guerra do Contestado: principais acontecimentos e fim” acesso


em 14 de abril de 2022 ás 16:22.

EDUCAÇÃO, UOL, “Conflito alcançou enormes proporções” acesso em 14 de


abril de 2022 ás 16:10.

NOTÍCIAS, Senado, “Há 100 anos, o fim da sangrenta Guerra do Contestado”


acesso em 14 de abril de 2022 ás 16:40.

YOUTUBE, LEITURA, de chave, “A Guerra do Contestado”.

BEDUKA, Redação, “Descubra o que foi a Guerra do Contestado” acesso em


23 de abril de 2022 ás 11:30.

Redação EDUCAÇÃO, UOL, “Guerra do Contestado e messianismo” acesso


em 16 de abril de 2022 às 10h12
UFSC, PERIODICOS, “Guerra do Contestado e a expansão da colonização”
acesso em 22 de abril de 2020 às 112h46

UFPI, REVISTA “Vozes da imprensa: A Batalha do Irani pelas páginas dos


jornais “O Dia” (SC) e “A República” (PR) no final de 1912. Acesso em 22 de
abril de 2022 às 19h21

DEVIANTE, “Lembrai-vos da guerra… Guerra do Contestado (1912-1916)”


acesso em 22 de abril de 2022 às 10h04

BRASIL, EDUCAMAIS, “Guerra do Contestado” acesso em 22 de abril de 2022


ás 10h48

UNOCHAPECO, BELL “Artigo 18 - Guerra do contestado.pmd” acesso em 17


de abril de 2022 ás 08h01

UOL, BRASILESCOLA “A Guerra do Contestado” acesso em 18 de abril de


2022 às 17h30

GAMES, GEEKIE “Guerra do Contestado - Resumo - causas, consequências”


acesso em 20 de abril de 2022 às 09h437

MATERIA, TODA “Guerra do contestado” acesso 21 de abril de 2022 às 16h20

FGV, CPDOC “Guerra do Contestado.pdf” acesso em 22 de abril de 2022 às


10h42

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