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MOVIMENTOS SOCIAIS

DA REPÚBLICA VELHA:
CONFLITOS RURAIS
O CANGAÇO
• O termo cangaço vem de
canga (peso), devido ao
peso da arma e
equipamentos que os
cangaceiros carregavam.
Eles levavam esse peso
como os bois carregavam
a sua canga, um pedaço
de madeira colocado no
pescoço e que prendia os
bois ao carro ou arado.
• Na imagem:Virgolino
Ferreira da Silva,o
Lampião (1900-1938).
-O movimento conhecido como Cangaço teve início no final do
século XIX, estendendo-se até meados da década de
1940.
-O cangaço tem suas origens em questões sociais e
fundiárias do Nordeste brasileiro, caracterizando-se por
ações violentas de grupos ou indivíduos isolados:
assaltavam fazendas, seqüestravam coronéis (grandes
fazendeiros) e saqueavam comboios e armazéns. Não
tinham moradia fixa: viviam perambulando pelo sertão,
praticando tais crimes, fugindo e se escondendo.
. -O Cangaço pode ser dividido em três subgrupos : os que
prestavam serviços esporádicos para os latifundiários; os
chamados políticos, expressão do poder dos grandes
fazendeiros; e os cangaceiros independentes, com
características de banditismo.
• Os cangaceiros conheciam a caatinga e o território
nordestino muito bem, e por isso, era tão difícil serem
capturados pelas autoridades. Estavam sempre preparados
para enfrentar todo o tipo de situação. Conheciam as
plantas medicinais, as fontes de água, locais com
alimento, rotas de fuga e lugares de difícil acesso.
• O cangaceiro mais famoso foi Virgulino Ferreira da Silva,
o "Lampião", denominado o "Senhor do Sertão" e também
"O Rei do Cangaço". Atuou durante as décadas de 20 e
30 em praticamente todos os estados do Nordeste
brasileiro.
• Por parte das autoridades Lampião simbolizava a
brutalidade, o mal, uma doença que precisava ser
cortada. Para uma parte da população do sertão ele
encarnou valores como a bravura, o heroísmo e o senso da
honra.
- Em meados da década de 1930, os grupos de cangaceiros
foram se diluindo. O presidente Getúlio Vargas,durante o
Estado Novo, decidiu acabar com todos e qualquer foco de
desordem sobre o território nacional.Incluiu Lampião e seus
cangaceiros na categoria de extremistas.

- No dia 28 de julho de 1938 na localidade de Angicos, no


estado de Sergipe, Lampião foi vítima de uma emboscada
onde foi morto junto com sua mulher, Maria Bonita e mais
nove cangaceiros.

- Esta data veio a marcar o final do cangaço pois a partir da


repercussão da morte de Lampião os chefes dos outros
bandos existentes no nordeste brasileiro vieram a se
entregar às autoridades policiais para não serem mortos.

-
- Novas perspectivas de sobrevivência e trabalho apontavam
para melhores condições de vida do nordestino.
- A redução da imigração estrangeira e o desenvolvimento
industrial tornaram mais intensa a demanda de braços no
Sudeste, trazendo, como conseqüência, uma intensa
migração para o Rio de Janeiro e São Paulo.
CONTESTADO
-O “monge” João Maria,
cujo nome era Atanás
Mercaf, desprezava as
coisas materiais, criticava
o regime republicano e
fazia terríveis profecias:
“Jesus disse a São Pedro
que o mundo havia de
existir mil anos, mas não
outros mil”.

“ A Monarquia era a ‘lei de


Deus’ e a República era a
‘lei do Diabo’.”.
- Tempo : 1912 - 1916
- Local : área situada entre Paraná e Santa Catarina e
reclamada – ou “contestada” – pelos dois estados.
- Líder : Monge José Maria
- O evento é entendido como a insurreição do sertanejo
catarinense, provocada pelo avanço do capitalismo na região,
influenciada pela construção da ferrovia, pela ação danosa
da madeireira Lumber Company e pela questão de limites
entre Paraná e Santa Catarina.
- O processo foi condicionado pelo jogo de interesses entre
fazendeiros e políticos,bem como pelo misticismo dos
caboclos,ampliado por questões relativas à posse da terra.
- A situação agravou-se quando a Brazil Railway Company foi
contratada pelo governo para construir um trecho da
estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande do Sul .Esta
empresa criou , em 1911, uma subsidiária _ a Lumber .
- Com seu corpo de segurança, formado apenas por
imigrantes, a partir de 1912 a Lumber começou a investir
contra a população sertaneja do interior das matas,
expulsando-a e, com isso, atraindo a ira cabocla, também
revoltada pelo abate indiscriminado dos pinheiros.
-A maior parte da região do Contestado era habitada por
uma população cabocla, pobre e inculta, de índios, negros
e luso-brasileiros que, ao longo dos anos, havia se
internado nos sertões e nos campos. Vivia do cultivo de
roças, criação de porcos selvagens, extração da erva-
mate, tropeirismo de carga, e trabalhava nas fazendas
de criação de gado como peões ou agregados.
- A origem portuguesa dos caboclos abrigava a crença do
sebastianismo lusitano.
- Diante da ausência praticamente total da igreja Católica,
os sertanejos buscaram conforto espiritual nos monges,
profetas, curandeiros, pregadores e eremitas que
peregrinavam pela região, destacando-se João Maria de
Agostinho e João Maria de Jesus.Quando esses monges
desapareceram, confundidos como um só na figura de São
João Maria, surgiu Miguel Lucena de Boaventura, que
adotou o nome de José Maria.
- O monge José Maria pregava o advento de uma sociedade
igualitária e propunha a organização de um arraial na
região de Taquaruçu, na parte pertencente ao estado de
Santa Catarina. Foi onde organizou a comunidade Quadro
Santo, mais tarde criou a Monarquia Celeste.
- A reação das autoridades e dos fazendeiros do Paraná foi
imediata. A guerra do Contestado inicia-se neste ponto:
em defesa das terras paranaenses, várias tropas do
Regimento de Segurança do Paraná são enviadas para o
local, a fim de obrigar os invasores a voltar para Santa
Catarina. Estamos em outubro de 1912.
- Ao término da luta, estão sem vida dezenas de pessoas,
de ambos os lados. Morreram no confronto o capitão João
Gualberto, que comandava as tropas, e também o monge
José Maria, mas os partidários do contestado tinham
conseguido a sua primeira vitória.
• José Maria é enterrado com tábuas pelos seus fiéis, a
fim de facilitar a sua ressurreição, já que os caboclos
acreditavam que este ressuscitaria acompanhado de um
Exército Encantado, vulgarmente chamado de Exército de
São Sebastião, que os ajudaria a fortalecer a Monarquia
Celeste e a derrubar a República, que cada vez mais
acreditava-se ser um instrumento do diabo, dominado
pelas figuras dos coronéis.
• Os fiéis mudaram para Caraguatá chefiadas por Maria
Rosa, uma jovem com 15 anos de idade, considerada pelos
historiadores como uma Joana D'Arc do sertão, já que
"combatia montada em um cavalo branco com arreios
forrados de veludo, vestida de branco, com flores nos
cabelos e no fuzil". Após a morte de José Maria, Maria
Rosa afirmava receber, espiritualmente, ordens do
mesmo, o que a fez assumir a liderança espiritual e
militar de todos os revoltosos, então cerca de 6000
homens
- Com esperança sobrenatural em um reino de paz, justiça
e prosperidade, os pelados (como eram conhecidos os
revoltosos por rasparem a cabeça) sonhavam com seu
próprio regime, em uma concepção mais mística do que
política.
- No início de 1915, o general Setembrino de Carvalho, à
frente de 7.000 homens apoiados pela artilharia e pela
aviação,venceu o grupo de rebeldes.
- O Exército só começou a ter êxito nas operações após a
contratação de centenas de civis – chamados de
“peludos”- para guiar e orientar os soldados.
- Dissolvida a expedição do general Setembrino, o Exército
e a polícia de Santa Catarina realizaram uma “Operação
Varredura” , destinada a caçar e eliminar todos os
sobreviventes caboclos que haviam liderado piquetes ou se
destacado nos combates.
- Ao final do conflito, calcularam-se as baixas nos efetivos
legalistas, militares e civis: de 800 a mil mortos, feridos
e desertores. Por outro lado, estimaram-se as baixas na
população civil revoltada : de 5 mil a 8 mil, entre mortos,
feridos e desaparecidos.
- Com a vitória, o Exército brasileiro, que vinha de
desgastes anteriores –como a Campanha de Canudos - ,
passou a se apresentar como uma organização nacionalista
e sólida.
- Depois da “limpeza étnica” com o massacre dos caboclos,
após tomar posse das terras no Acordo de Limites com o
Paraná e encerrada a Primeira Guerra Mundial, Santa
Catarina iniciou o processo de colonização do Contestado,
oferecendo milhões de hectares a família de imigrantes
europeus e a egressos de colônias mais antigas, na
maioria alemães e italianos.
GUERRA DE CANUDOS
TEMPO: 1893-1897
LOCAL: Arraial Belo
Monte, cidade
próxima do Rio
Vaza-Barris no
Estado da Bahia.
LÍDER: Antônio
Mendes Maciel
(Antônio
Conselheiro)
CARACTERÍSTICAS
- Movimento de protesto
social dos pobres, que
assume uma linguagem
e uma visão religiosa,
chamada messiânica.
- O movimento foi anti-
republicano, mas não
era monarquista. No
entanto foi taxado de
monarquista pelo
governo.
- Conselheiro
aconselhava as pessoas
a não pagarem
impostos e isso
originou problemas com
o governo da Bahia.
- Conselheiro pregava a
religião católica, mas
não podia fazê-lo
legalmente pois não
era parte do clero,
atrita-se também com
a Igreja.
- Canudos transformou-se em uma
comunidade onde a terra, os
rebanhos e o produto do trabalho
coletivo eram propriedade
comum;apenas os bens móveis e as
residências constituíam
propriedade pessoal .
- Além da produção agrícola, a
população do arraial produzia
artesanato e criava animais, que
complementavam a alimentação e
forneciam couro. O excedente da
produção era vendido nos
municípios vizinhos.
- No arraial havia duas escolas,
lojas comerciais, oficinas e
diversas casas residenciais.
- A administração era de
competência do
Conselheiro e de doze
chefes, que cuidavam
das finanças,
construções, registros
de nascimento, entre
outras atividades.
- Não havia polícia nem
impostos. Oitocentos
indivíduos formavam a
Santa Companhia,
responsável pela guarda
pessoal do líder
- Aos olhos dos fazendeiros,
do governo e do clero,
tudo isso fazia da vila um
péssimo exemplo – e
Canudos teve a mesma
sorte dos focos de heresia
esmagados na Europa – na
Idade Média e no início da
Era Moderna- pelas tropas
a serviço da nobreza
latifundiária, com as
bênçãos da hierarquia
católica ou protestante.
RESULTADOS
-O governo promoveu
expedições militares contra
Canudos.
-A 1ª expedição foi
composta de 300 homens,
promovida pelo governo da
Bahia, foi derrotada por
Canudos.
- A 2ª expedição foi de 700
homens, promovida pelo
governo da Bahia, foi
também derrotada por
Canudos.
- O Governo Federal resolve
intervir .Moreira César,um herói
do exército brasileiro da revolta
da armada e da Revolta
federalista, no governo de
Floriano, promoveu a 3ª
expedição com 1000 homens do
exército e foi derrotado e ele
morto.

- A 4ª expedição reuniu soldados


de todo o Brasil, foram 8000
homens e então, massacraram
Canudos.Os poucos sobreviventes
foram feitos prisioneiros.
- Em 22 de setembro morreu, de doença, Antônio Conselheiro;
em 1º de outubro, travou-se a batalha decisiva que deu
vitória ao governo republicano. Conselheiro, mesmo depois de
morto, foi desrespeitado.Desenterraram seu corpo, cortaram
sua cabeça, levada depois a Salvador, onde o médico Nina
Rodrigues a examinou.Este divulgou o laudo com a informação
de que Conselheiro era mestiço e, por isso, talvez pudesse ser
degenerado, ainda que seu crânio não apresentasse nenhuma
anomalia.Nesse caso, a ciência foi utilizada para justificar a
supremacia de uma organização política e social sobre outra
ao classificar as etnias em uma escala hierárquica.
- A saga de Canudos foi
narrada por Euclides da
Cunha no livro Os Sertões .
- Euclides da Cunha, apesar de
ter visto Canudos como
movimento sebastianista
(crença no retorno do rei
português D. Sebastião, que
morreu lutando contra os
mouros) e de ter passado uma
imagem negativa do
Conselheiro, Euclides exaltou
o heroísmo dos sertanejos e
condenou a guerra de
extermínio desfechada contra
os conselheiristas.”Canudos
não se rendeu. Exemplo único
em toda a História, resistiu
até o esgotamento
completo. . . ”
- “. . . Antônio foi abandonado pela mulher, que
fugiu com um amante. Remete a essa fase de
sua vida a lenda, infundada, de que Antônio
teria acidentalmente matado a própria mãe.
Segundo a crença popular, a mãe de Antônio o
teria advertido de que, todos os dias, após ele
sair de casa, um homem vestido de preto era
visto entrando pela janela do quarto de sua
esposa. Antônio teria ficado de tocaia,
observando e, ao enxergar o vulto negro que
saía de dentro de seu quarto, o teria alvejado
mortalmente a tiros de espingarda. Em seguida,
tirando- lhe o disfarce, teria descoberto o
cadáver da mãe. ”

(LACERDA, Rodrigo. Canudos: palavra de Deus, sonho da


terra. )
-” O homem era alto e tão magro
que parecia sempre de perfil. Sua
pele era escura, seus ossos
proeminentes e seus olhos com
fogo perpétuo. Calçava sandálias
de pastor e a túnica de azulão
que lhe caía sobre o corpo
lembrava o hábito desses
missionários que, de quando em
quando, visitavam os povoados do
sertão batizando multidões de
crianças e casando os
amancebados. Era impossível
saber sua idade, sua procedência,
sua história, mas algo havia em
seu aspecto tranqüilo, em seus
costumes frugais, em sua
imperturbável seriedade
que,mesmo antes de dar
conselhos, atraía as pessoas.”
TROVAS POPULARES

“Antônio Conselheiro
Por ser conselheirista
Briga com o governo
Não tem medo da poliça.”

“Capitão Moreira César


Chamava-se ‘corta pescoço’
Veio agora nesta guerra
deixar no sertão o osso.”
“ Canudos revive na miséria rural absoluta dos
Sem-Terra, mas revive também, sobretudo, na
miséria urbana, suburbana e metropolitana das
imensas cidades que concentram mais de 70% da
população total do país. Nada mais
emblemático, a esse propósito, do que a incrível
migração do termo ‘favela’ , inicialmente um
topônimo que designava o Morro da Favela em
canudos, onde se amontoavam labirinticamente
as habitações precaríssimas dos sertanejos, e,
hoje, convertido num vocábulo de significado
genérico para as moradias miseráveis nos
maiores aglomerados urbanos.”
(HARDMAN, Francisco Foot. Canudos: palavra de
Deus, sonho da terra. )

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