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O que foi o Cangaço?

O cangaço foi uma forma de banditismo social ocorrida no Nordeste do Brasil entre os anos
de 1830 e 1940. O termo “cangaço” provém de uma peça de madeira utilizada na cabeça do
gado para fins de transporte, visto que os cangaceiros eram seminômades carregando
muitos pertences.

Os cangaceiros viviam em bando com roupas de couro, rifles e facas peixeiras saqueando
fazendas, sequestrando e matando fazendeiros, e impondo respeito por onde passavam.
Eles viveram em um contexto em que a população passava por grandes necessidades
devido à seca na região e a fome que assolava, enquanto os coronéis — grandes
proprietários de terras, fazendeiros — dominavam ditatorialmente.

"Origem e história do cangaço

Historiadores e especialistas apontam as origens do cangaço ao período final do Segundo


Reinado, aproximadamente nas décadas de 1860 a 1890.

Nessa época, a região semiárida do Nordeste brasileiro era governada pelos coronéis,
políticos da região que também eram grandes e ricos fazendeiros. Em paralelo, as
condições naturais de seca e falta de alimentos levavam uma grande parte da população à
fome e miséria. Dentro desse cenário, surgem os grupos cangaceiros, que através de atos
de crime e violência ganhavam a vida.

Durante o final da Primeira República, diversos governos combateram a ação dos


cangaceiros no Nordeste. Apesar disso, os mais importantes grupos foram capturados e
mortos apenas no Estado Novo (1937-1945) de Getúlio Vargas.

Maneiras de ver o cangaço:

"É importante destacar que existem diferentes visões sobre o cangaço na historiografia
brasileira:

Alguns trabalhos, como o da historiadora Maria Christina Russi da Matta Machado e do


geógrafo Wilson Alvares dos Santos, apresentam o cangaço como um movimento social
causado pela seca, pela opressão da população pobre camponesa nordestina e pelo
contexto político e econômico da região. Essa compreensão caracteriza a corrente que,
fruto da historiografia da década de 1960, apresenta o cangaço como um fenômeno social,
formado por bandoleiros que faziam parte da população pobre e a defendiam da opressão
dos coronéis.

Outros trabalhos, como a do historiador Luiz Bernardo Pericás, apresenta o movimento


como um fenômeno de crime organizado, responsável por roubos, assassinatos, estupros,
sequestros e extorsões, sem qualquer finalidade política ou contestatória. Essa
compreensão caracteriza a corrente que, fruto da historiografia dos anos 2000, apresenta
os cangaceiros como criminosos que não lutavam para a manutenção ou mudança de
nenhuma ordem política, interessados apenas no cometimento de crimes em seus próprios
interesses."
"Atuação dos cangaceiros no sertão

O primeiro grupo cangaceiro se organizou por volta de 1828, liderado por Lucas
Evangelista, que agiu na região de Feira de Santana (Bahia) até ser capturado e morto em
1848.

Outro dos primeiros grupos foi o liderado por Jesuíno Brilhante, que a partir de 1870
praticou diversos crimes na região da cidade de Patu, entre os estados de Rio Grande do
Norte e Paraíba.

O mais famoso desses grupos foi o liderado por Virgulino Ferreira, conhecido como
Lampião, considerado o “rei do cangaço”, atuante entre as décadas de 1920 e 1930 em
todos os estados do Nordeste.

O último dos grupos cangaceiros foi o liderado por Corisco, também conhecido como “Diabo
Louro”, ex-membro do grupo de Lampião, morto em 1940. O último membro do grupo de
Lampião, no entanto, morreu com 97 anos de idade em 2014, seu nome era José Alves de
Matos."

"Lampião e Maria Bonita"

"Lampião era o nome de cangaceiro de Virgulino Ferreira da Silva, nascido em Serra


Talhada, Pernambuco. Há controvérsias quanto a sua data de seu nascimento: sua certidão
de batismo aponta 4 de junho de 1898, mas o próprio Lampião informou a um entrevistador
cearense chamado Leonardo Mota que nascera em 12 de fevereiro de 1900. O nome deriva
da habilidade de Lampião em atirar, pois o cangaceiro era tão hábil com um rifle que ao
atirar repetidamente o cano da arma aquecia, adquirindo uma coloração parecida com a de
um lampião aceso.

Maria Gomes de Oliveira, conhecida como Maria Bonita, era uma mulher casada quando
conheceu Lampião. Em 1929, Maria Bonita se tornou amante de Lampião e fugiu com o
cangaceiro, ingressando no seu bando. Apesar da estrutura machista do movimento e da
sociedade da época, Maria Bonita era respeitada dentro do bando. Juntos, tiveram uma
filha, chamada Expedita Gomes de Oliveira Ferreira, que supostamente foi separada dois
pais devido às regras do bando e criada por um casal amigo."

"Morte de Lampião

Em uma fazenda chamada Angicos, na cidade de Poço Redondo, Sergipe, o grupo


cangaceiro de Lampião foi cercado por tropas do governo em 1938, que portavam armas de
maior tecnologia, como metralhadoras portáteis. Diante da infiltração silenciosa dos policiais
e da superioridade das armas, o bando foi morto em cerca de 20 minutos.

Na época, o grupo contava com cerca de 34 membros, dos quais 11 morreram nos
primeiros minutos, inclusive Lampião. Poucos membros do grupo conseguiram escapar e
sobreviveram, enquanto o restante foi decapitado e teve seus bens apreendidos pelos
policiais. As cabeças dos cangaceiros mortos foram expostas em praça pública, na cidade
de Piranhas, Alagoas."
Legado Cultural

Do ponto de vista cultural, se tornou um grande tema no imaginário nordestino e brasileiro,


a herança do cangaço para a construção cultural e imagem do Nordeste é inquestionável.
As músicas e vestimentas que Luiz Gonzaga popularizou em todo o país, as canções de Zé
Ramalho. O cangaço teve diversas consequências. Do ponto de vista cultural, se tornou um
grande tema no imaginário nordestino e brasileiro, assunto da literatura de cordel, de peças
teatrais, filmes, músicas e vestimentas de Luiz Gonzaga que se popularizou em todo o país.
Do ponto de vista político, representou a falta de controle institucional dos governos
nordestinos para com sua própria população, por isso o movimento foi combatido tão
violentamente pelo governo. Diversas cidades, como Mossoró (no Rio Grande do Norte),
possuem memoriais da resistência, museus que retratam as histórias de resistência das
populações às invasões de diversos grupos cangaceiros.

Quanto às polêmicas acerca da violência praticada pelos bandos de cangaceiros, Robério


complementa que a história é muito menos romântica do que imaginamos, mas
concordando ou não, não se pode ignorar a importância cultural do fenômeno. “Negar a
importância cultural do fenômeno Cangaço seria como negar a existência de toda nossa
história. Os acontecimentos estão aí para serem contados, vamos continuar fazendo isso
em nossos livros, vídeos e bate papo diário.”, afirma o escritor.

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