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HISTÓRIA DE

ALAGOAS -
SOCIEDADE
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HISTÓRIA DE ALAGOAS - SOCIEDADE


REVOLTA DE ESCRAVOS EM ALAGOAS (PERNAMBUCO)
As autoridades coloniais de Pernambuco identificaram que, na comarca das Alagoas, entre os
anos de 1814 e 1815, um conjunto de negros aquilombados e provenientes das revoltas escravas da
Bahia, tramaram uma “sublevação e sedição de negros” que objetivava invadir as terras dos brancos
no Natal de 1814, transferida para o ano seguinte, 1815. A repressão partiu de Recife e ganhou vulto
para exterminar o suposto quilombo onde germinavam “sementes de sedição”. Procedeu-se, em
1816, o desmonte do movimento, que resultou na prisão de 37 negros (com várias nações: ussá,
fulani, haussá e alguns “da Costa da Mina”) e um branco. Ao fim, o preto Joaquim, considerado o
mentor da sedição, foi executado e os outros condenados ao açoite e degredo.
Em 16 de setembro de 1817 a Comarca de Alagoas, que dependia administrativamente e
politicamente de Pernambuco, era declarada emancipada pelo rei de Portugal, Dom João VI. A
época era de movimentos revolucionários contra a coroa portuguesa por todo o Brasil. Segundo
alguns estudiosos, o desmembramento teria sido uma forma de punição da Coroa a Pernambuco
por causa da revolução que resultou na Insurreição Pernambucana, e um prêmio à Alagoas por não
ter aderido ao movimento republicano, em 1817.
“A história da emancipação política de Alagoas é sempre contada do ponto de vista dos historiadores pernam-
bucanos. Alagoas aparece sempre como um sujeito passivo, fruto de um heroísmo pernambucano, e como
um prêmio aos alagoanos por não ter aderido à revolução de 17, o que soa um tanto quanto traíra. Essa versão
desmerece a importância do território alagoano, do ponto de vista estratégico para a coroa portuguesa.”
Emerson Oliveira, professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).

REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA
A permanência da família real no Brasil, de interesse dos proprietários de escravos e de terras,
comerciantes e burocratas da região centro-sul, não satisfez aos habitantes das demais regiões do
país, fossem eles proprietários rurais, governadores ou funcionários. O primeiro grupo tinha cons-
ciência de que os favores e privilégios concedidos pelo monarca português eram os responsáveis
pelo seu enriquecimento; o segundo vivia, desde a instalação da Corte no Rio de Janeiro, uma
situação paradoxal: afastado do poder, tinha, ao mesmo tempo, o ônus de sustentá-lo.
Outro grupo extremamente descontente com a política de favorecimento de D. João era com-
posto pelos militares de origem brasileira. Para guarnecer as cidades e, também, ajudá-lo em suas
ações contra Caiena e a região do Prata, D. João trouxe tropas de Portugal e com elas organizou as
forças militares, reservando os melhores postos para a nobreza portuguesa. Com isso, o peso dos
impostos aumentou ainda mais, pois agora a Colônia tinha que manter as despesas da Corte e os
gastos das campanhas militares.
Como analisa a historiadora Maria Odila Silva Dias “a fim de custear as despesas de instalação
de obras públicas e do funcionalismo, aumentaram os impostos sobre a exportação do açúcar, tabaco
e couros, criando-se ainda uma série de outras tributações que afetavam diretamente as capitanias
do Norte, que a Corte não hesitava em sobrecarregar com a violência dos recrutamentos e com as
contribuições para cobrir as despesas da guerra no reino, na Guiana e no Prata. Para governadores
e funcionários das várias capitanias parecia a mesma coisa dirigirem-se para Lisboa ou para o Rio.”
Esse sentimento de insatisfação era particularmente forte na região nordestina, a mais antiga
área de colonização do Brasil, afetada pela crise da produção açucareira e algodoeira e pela seca de
1816. Assim, o desejo de independência definitiva de Portugal era profundo. Em Recife, capital da
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província de Pernambuco e um dos principais portos da região, o descontentamento era enorme.


O sentimento generalizado era de que os “portugueses da nova Lisboa” exploravam e oprimiam
os “patriotas pernambucanos”. Esses homens, descendentes da “nobreza da terra” do período
colonial, formada pela elite canavieira de Olinda, que tinha participado da Guerra dos Mascates,
consideravam justificado o crescente anti-lusitanismo na Província.
Francisco Muniz Tavares, uma destacada figura da sociedade pernambucana, assim se referia a
D. João: “(...) Porquanto, que culpa tiveram estes (habitantes de Pernambuco) de que o Príncipe de
Portugal sacudido de sua capital pelos ventos impetuosos de uma invasão inimiga, saindo faminto
de entre os seus lusitanos, viesse achar abrigo no franco e generoso continente do Brasil, e matar
a fome e a sede na altura de Pernambuco?”
As idéias liberais que entravam no Brasil junto com os viajantes estrangeiros e, também, por
meio de livros e de outras publicações que chegavam, incentivavam o sentimento de revolta entre
os pernambucanos. Também já haviam chegado, desde o fim do século XVIII, as sociedades secretas,
como as lojas maçônicas. Em Pernambuco existiam muitas delas, como Patriotismo, Restauração,
e Pernambuco do Oriente, que serviam como locais de discussão e difusão das “infames ideias
francesas.”
À medida que o calor das discussões e da revolta contra a opressão portuguesa aumentava,
crescia, também, o sentimento de patriotismo dos pernambucanos, ao ponto de passarem a usar
nas missas a aguardente no lugar do vinho e a hóstia feita de trigo, como forma de marcar sua
identidade. Pelas ruas de Recife se ouvia, aqui e ali, o seguinte verso:

“Quando a voz da pátria chama

tudo deve obedecer;

Por ela a morte é suave

Por ela cumpre morrer. “

Procurando apoio ao seu movimento, os líderes revolucionários contataram, sem sucesso, os


Estados Unidos, a Argentina e a Inglaterra. Junto a essa última tentaram obter, em vão, a adesão do
jornalista Hipólito José da Costa, lá radicado. Quando a notícia sobre a revolução chegou ao Rio de
Janeiro, D. João promoveu uma violenta repressão, buscando evitar, de qualquer modo, a ameaça à
união do Império. Os revoltosos entraram pelo sertão nordestino, mas, logo em seguida, as tropas
enviadas por D. João, acrescidas das forças organizadas pelos comerciantes portugueses e proprietá-
rios rurais, ocuparam Recife em maio de 1817. Os Governos da Bahia e do Ceará também reagiram
à revolução, prendendo os revoltosos que para lá se dirigiram, buscando adesão ao movimento.
A luta durou mais de dois meses, até as forças governistas conseguirem derrotar os revolto-
sos. A repressão foi extremamente violenta. Muitos dos líderes receberam a pena de morte, como
Domingos José Martins, José Luis de Mendonça, Domingos Teotônio Jorge e os padres Miguelinho
e Pedro de Sousa Tenório. Para o Governo português a punição deveria ser exemplar, para desesti-
mular movimentos similares. Depois de mortos, os réus tiveram suas mãos cortadas e as cabeças
decepadas. Os restos dos cadáveres foram arrastados por cavalos até o cemitério.
Em 1818, por ocasião da aclamação do rei D. João VI, foram ordenados o encerramento da
devassa, a suspensão de novas prisões e a libertação dos prisioneiros sem culpa formada. Conti-
nuaram, entretanto, presos na Bahia os implicados que já se encontravam sob processo, e assim
permaneceram até 1821, quando foram postos em liberdade. Entre eles estavam o ex-ouvidor de
Olinda, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva, os padres Frei Joaquim do Amor Divino
Rabelo o Frei Caneca e Francisco Muniz Tavares.
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O desmembramento do território alagoano da capitânia de Pernambuco aconteceu num período em que o


movimento contra a coroa Portuguesa se fortalecia em algumas regiões do país. Apesar de encontrar adeptos
em Alagoas, a insurreição contra a monarquia foi “abafada” na Comarca, o que levou historiadores, a exemplo de
Francisco Augusto Pereira da Costa, a defenderem a tese de que a emancipação foi concedida em recompensa
por Alagoas não ter aderido ao movimento republicano, mantendo-se fiel à Portugal.

REVOLTA DO QUEBRA-QUILO
Ficou conhecida pelo nome de Revolta do Quebra-Quilos o movimento popular iniciado na
Paraíba, a 31 de outubro de 1874, e que se opunha às mudanças introduzidas pelos novos padrões
de pesos e medidas do sistema internacional, recém introduzidas no Brasil. Praticamente sem uma
unidade e sem liderança, a revolta logo se alastrou por outras vilas e povoados da Paraíba, esten-
dendo-se a Pernambuco, Rio Grande do Norte e Alagoas.
A denominação de quebra-quilos teria surgido na cidade do Rio de Janeiro, quando elementos
populares invadiram casas comerciais que haviam começado a utilizar o novo sistema de pesos e
medidas, e aos gritos de “Quebra os quilos! Quebra os quilos”, depredavam tais estabelecimentos.
A expressão começou a ser utilizada indiscriminadamente para se referir a todos os participantes
dos movimentos de contestação ao governo com relação ao recrutamento militar, à cobrança de
impostos e à adoção do sistema métrico decimal.
No entendimento supersticioso da gente do nordeste rural, o metro e o peso, tornados válidos
por decreto imperial em 1872, consistiam em representações do demônio, e a tentativa de adotá-los
criou entre o povo a ideia de que estavam sendo enganados pelos comerciantes e poderosos. Os
revoltosos, sentindo-se ofendidos em seus sentimentos deixavam extravasar suas queixas e partiam
para os povoados e se apoderavam das “medidas”, quebrando-as e lançando-as no rio.
Tudo tem início, ao que se sabe, com o popular João Carga D’água, vendedor de rapadura, que
liderando um grupo, resolveu invadir a feira do povoado de Fagundes, próximo a Campina Grande, e
quebrar as medidas usadas pelos feirantes e fornecidas pelo governo. Assim, toma corpo a revolta,
com incidentes semelhantes se repetindo em várias áreas do nordeste. Eram escolhidos os dias de
feira para os ataques populares porque era nessa ocasião que as autoridades costumavam cobrar
os impostos municipais. Destacaram-se em meio aos revoltosos os nomes de João Vieira Manuel
de Barros Souza e Alexandre Viveiros.
Como resultado, o governo imperial enviou forças militares para conter os distúrbios. A repres-
são que se seguiu foi violenta, com prisões em massa. Somente em janeiro de 1875 as autoridades
provinciais conseguiram sufocar as manifestações populares nas quatro províncias nordestinas.
Uma das práticas repressivas comum empregada no castigo aos acusados de serem quebra-quilos
foi o chamado colete de couro, que consistia num pedaço de couro cru colocado sobre o tórax e
as costas do prisioneiro. Em seguida, esse couro era molhado e, ao secar, este comprimia o peito
violentamente, causando lesões cardíacas e tuberculose como sequelas.

CABANADA
A Cabanada foi um movimento ocorrido no Brasil durante o período imperial. Foi uma das mais
icônicas revoltas a ocorrerem no país. Caracterizou-se como um movimento que visava restaurar a
monarquia no Brasil, adquirindo com o tempo um viés de revolta popular e de luta antiescravagista.
Foi chefiado por Vicente Ferreira de Paula.
Em 1831, D. Pedro I abdica do trono do Brasil em favor do filho, D. Pedro II, para poder cuidar
com atenção do problema da restauração de poder de sua filha, Maria da Glória, herdeira e empos-
sada em Portugal, mas vítima de um golpe do irmão, que lhe usurpou o poder.
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Diante da impossibilidade de D. Pedro II assumir o poder devido à idade ainda tenra, a Cons-
tituição determinava que uma regência trina ocupasse o poder até que o novo imperador reunisse
as condições para exercer efetivamente o poder. Essa fragilidade política inflama algumas camadas
sociais, já descontentes com o governo imperial e as inquietações sociais aumentam de intensidade.
Uma revolta de proprietários de terras (Domingos Lourenço Torres Galindo e Manuel Afonso de
Melo) aumenta a instabilidade social e política. Esse grupo era vinculado à sociedade denominada
“Coluna do Trono do Altar” de Portugal e decidiu romper as alianças com os senhores de engenho,
tornando a revolta antiescravagista, o que prejudicava os interesses dos grandes proprietários de
terras. A revolta se desenvolveu entre o norte de Alagoas e sul de Pernambuco, em meados de
1832. Levantes ocorreram em Panelas de Miranda (PE) e na região da praia de Barra Grande (hoje
Maragogi - AL).
Os chamados cabanos eram formados, em sua maioria, índios, brancos e mestiços, além de
negros fugidos e sustentavam esse nome porque moravam em cabanas no meio do mato. Em 1834,
o falecimento de D. Pedro I desanima os revoltosos, que acabam cercados na mata por tropas inimi-
gas em número de 4000 homens, aproximadamente. Em 13 de maio de 1834 ocorre a chegada das
tropas que visavam abafar a revolta. Houve então a definição da manobra de sítio aos revoltosos
e a ordem de evacuação. No local permanecem apenas os fiéis à causa e os escravos a preferirem
a luta e a morte à escravidão.
Com a promessa do governo de anistia aos revoltosos que se entregassem, aumenta a deserção
e a força do movimento diminui paulatinamente até a rendição em 29 de maio de 1835. Vicente
de Paula foge e se envolve com a política e, mais tarde, em outra revolta, agora em Pernambuco, a
Revolução Praieira de 1849. Capturado em 1850, permanece preso até 1861. A Cabanada, portanto,
insere-se na história brasileira como mais uma página de revolta popular contra o governo, exemplo
da readequação social e política brasileira do período imperial e na luta contra a escravidão.

REVOLTA DOS LISOS


No final da Regência surgiram dois partidos: o Conservador e o Liberal. Os dois viveram em lutas
contínuas em todo o país. “O partido Conservador, a princípio, era chamado partido do regresso
e depois partido da ordem, na década de 1840 se tornou conhecido por saquarema, por conta do
nome do município fluminense onde ficava a fazenda de um dos seus principais líderes, Joaquim
José Rodrigues Torres, Visconde de Itaboraí. Os liberais ficaram conhecidos por luzias, porque em
1842, o Barão de Caxias, futuro Duque, conseguiu dominar a revolta dos liberais mineiros acontecida
na vila Santa Luzia do Rio das Velhas, na Província de Minas Gerais”.
O Presidente da Província de Alagoas, Bernardo de Souza Franco, chamou os partidários de
“cabeludos” e “pelados“, mas, os Conservadores acabaram ficando conhecidos como “Lisos“, em
Alagoas. Os partidos tinham ânsia de poder. Os comerciantes de Maceió, os funcionários públicos
e os portugueses, em geral, residentes na província, apoiavam os Lisos.
À frente do partido Liberal (Cabeludos), estavam Dr. João Lins Vieira Cansanção de Sinimbu, o
futuro Visconde, Joaquim Serapião de Carvalho, Inácio de Barros Vieira Cajueiro, Lourenço Cavalcanti
de Albuquerque Maranhão (depois Barão de Atalaia) e outros.
Duas famílias viviam em lutas constantes em busca do poder político: a de José Tavares Bastos
e a de João Lins Vieira Cansanção. Por causa do apoio desse último ao Dr. Agostinho da Silva Neves,
na mudança da capital de Alagoas para Maceió, Tavares Bastos e seus amigos políticos ficaram
detestando Sinimbu ainda mais. Comprovando a antipatia a Sinimbu, político tão conceituado, um
padre mandou que se tocasse sinal em todos os sinos da antiga capital, quando ele passou por lá
com destino a São Miguel dos Campos, sua terra natal.
Quando se deu a guerra dos Lisos com os Cabeludos, governava Alagoas, Dr. Bernardo de Souza
Franco, paraense, nomeado em 25 de maio de 1844, tendo entrado em exercício no dia primeiro
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de julho e governado até o dia 9 de dezembro do mesmo ano. A primeira luta se deu, na manhã do
dia 5 de outubro de 1844, em Maceió, tendo chegado em Bebedouro, na noite anterior, coluna de
Lisos chefiada por Salvador Pereira da Rosa, do Tenente-Coronel Barnabé, do Cônego Calheiros e do
Major Simplício. Os rebeldes tomaram conta da cidade e o Presidente da Província, Souza Franco,
refugiou-se no navio Caçador, ancorado no porto de Jaraguá.
As forças militares eram poucas para combater o inimigo, crescido por outro grupo coman-
dado pelo Tenente-Coronel José Vieira de Araújo Peixoto. Depois da vitória, os Lisos queriam: a
reintegração dos funcionários demitidos, e entre esses estava José Correia da Silva Titara, Inspetor
da Tesouraria, a garantia da eleição de Tavares Bastos e Francisco Joaquim de Barros Leite para
Deputados, a anistia geral para os rebeldes.
O Presidente da Província atendeu as solicitações e só pediu a deposição das armas. O Governo,
auxiliado pela tropa vinda do Recife, procurou dispersar os rebeldes. Mas, no dia 21 do mesmo
mês, atacaram novamente a capital. Dessa vez, à frente da coluna dos Lisos, a convite de alguns
políticos, estava o facínora Vicente de Paula, chefe da Cabanada.
O combate durou oito horas: das seis às quatorze horas. As tropas dos Cabeludos foram
reforçadas pelos soldados vindos de Pernambuco sob o comando de Tertuliano Castelo Branco e
da Guarda Nacional de São Miguel dos Campos dirigida pelo Capitão Manoel Agostinho. Os Lisos
foram dominados. Na luta, Tomáz Espíndola diz que, dos Lisos, morreram vinte homens, além de
vários feridos, e, dos Cabeludos, dez mortos e vinte quatro feridos. Houve, ainda, combates entre
Lisos e Cabeludos em Atalaia, Murici e Palmeira dos Índios. A esse temível bandido, Vicente de
Paula, os irmãos Morais se juntaram para vingar a morte do pai.

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