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Maragogi é um município alagoano situado no litoral norte faz divisa com o estado de
Pernambuco. A cidade tem uma história datada ainda antes do ano 1000, “tendo como registro
na sua cultura primeira a dos antigos habitantes os povos tupis, tapuias, caetés” (SILVA. A.
2021). Mais adiante no século XVI com a chegada dos exploradores europeus a formação
histórica da região tem a cultura artesanal no trabalho agrícola canavieiro e a religiosa
introduzida com a construção da igreja de São Bento. O território o qual pertence Maragogi
marcou a História do Brasil com a resistência dos moradores na desarticulação da tentativa
holandesa de invasão ao estado de Alagoas e renovada a Guerra dos Cabanos 1832-1840 que
contou com a colaboração fundamental de povos indígenas.
Na atualidade, as praias e os passeios às piscinas naturais, chamadas de galês são os
principais atrativos locais, o que atraiu também redes hoteleiras com famosos resorts.
Considerado como o Caribe brasileiro por causa das belezas naturais comparadas com as da
América Central, o município é um dos mais requisitados destino turístico do Brasil. Os
serviços ligados ao turismo são à base da economia do município.
A renda familiar dos moradores das comunidades maragogienses, até os anos 80 do
século XX foi sustentada por costumes tradicionais (aquicultura, agricultura e pesca).
O estudo justifica-se por promover a memória histórica cultural da região, e através
desta promoção aponta para valorização da produção artesanal fincada na memória da história
cultural do povo maragogiense.
As possibilidades que o turismo oferece para o artesanato, e uma questão a impactar
na qualidade de vida, sustentabilidade e da integração social da população é a produção de
souvenires, as lembrancinhas vendidas para turistas. Tendo em vista uma produção cultural
rica e dinâmica como a da região: se levar em conta os festejos ligados à agricultura,
aquicultura e religiosidade que tecem o modo de vida das pessoas.
A História de Alagoas é um marco na História do Brasil, especialmente no tocante da
participação indígena, entretanto nas escolas em Maragogi, mesmo com a Lei nº 11.645, que
instituiu a obrigatoriedade do ensino de história e culturas indígenas na educação básica. O
que é ensinado é o básico da cultura indígena brasileira como se esta fosse uniforme.
Reforço aqui à questão do ensino sobre a cultura local, uma vez que retrato a cidade de
Maragogi, e esta tem uma população jovem que é à força de trabalho do município. E ainda
sendo que o foco da minha pesquisa é o trabalho com o artesanato. Artesanato tradicional, o
qual com conhecimento através do ensino da história local pode ser melhor compreendido.
Novamente cito aqui uma observação que tenho feito ao longo da minha pesquisa: a
história contata nas escolas e que reverbera aos quatro cantos é marcado pelo olhar, pela
ilustração e pela fala racista, preconceituosa e pejorativa no que se refere aos grupos culturais.
Ação que suplantam tais culturas e que moldaram e ofuscaram a visibilidade da historia
alagoana.
Sobre a escrita pejorativa, Dirceu Lindoso assinala que “que a função desses primeiros
historiadores de nossa província foi a de elaboração de uma ideologia estamental”.
(LINDOSO, p. 89, 2015), porém pela observação feita anteriormente pode-se avaliar que
alguns historiadores do presente ainda elaboram seus trabalhos naquelas mesmas convicções,
levando em conta que a representação dos Cabanos no monumento, foi produzida
recentemente retrataria um fato histórico.
O Brasil é considerado um país miscigenado por ter uma formação cultural múltipla.
Uma questão importante de se ressaltar é a fala e escrita do termo “miscigenação” e “Nação
mestiça”. Para o negro, Kembele Munanga assevera que o termo teria sido incutido no
imaginário brasileiro de forma mais ideológica do que biológica segundo Munanga (1997).
Ainda para o autor é o mito da democracia racial que matem o racismo consciente ou
inconsciente marcando a educação. Munanga 2008 salienta que isto vai implicar na “(...)
destruição da identidade racial e étnica dos grupos dominados, ou seja, o etnocídio” (idem,
p.190).
A mesma relação de mestiçassem dos chamados morenos ou mulatos também estaria
para caboclo segundo Almeida (2008, p. 122). O autor pontua que o indígena “passe a ter sua
própria existência negada porque agora já era miscigenado”. Luís Savio de Almeida reforça
dizendo que “os índios iam sumindo, também, pela miscigenação. Chegar-se-ia ao ponto de
argumentar: o tipo estava desaparecendo (Idem p.9, 1995). Os termos ligados à miscigenação
e mestiçagem teriam a ver com a “politica de assimilação, que consistia na destruição das
tradições culturais através da europeização, com o objetivo de formar um povo que melhor
colaborasse com os interesses dos colonizadores, (...)”. (FREIRE, p.23,2020).
Trazendo o entendimento de Dirceu Lindoso é possível entender um pouco mais as
marcas de violência e luta historicamente construída e perdida por estes povos. Lindoso
assevera que “A sociedade alagoana se revela estruturada em práticas econômicas que lhe
marcara uma fisionomia específica” (LINDOSO p. 35-36, 2015).
Dirceu Lindoso (2008) coloca luz nas contribuições culturais de costumes e tradição
local comungada por negros, indígenas e europeus. O autor traz ainda uma reflexão sobre o
processo histórico do estado de Alagoas em que se discute a conjuntura estrutural do estado
que transformou o vilão em herói e vice versa Com o desaparecimento do indígena e sua
cultura, o que foi posto através da mistura com o branco, parece ter sido muito bem elaborado
pelos donos do poder, para estes a mistura garantiria ao indígena a dignidade e o afastaria de
serem totalmente selvagens, bárbaros, bestiais entre outros termos pejorativos.
Muito do que se sabe sobre a relação indígena com os colonizadores, vem de uma
escrita e de uma fala histórica infamante que colocara as etnias suplantadas como as negras e
as indígenas como povos violentos, e para estes últimos ainda segundo Silva. A, (p.53, 2016)
pesa a heresia por causa da antropofagia contra a Igreja Católica.
Os índios Kariri-xocó, no município de Porto Real do Colégio, por exemplo, tem uma
produção artesanal (FIGURA 4) que tem valor de obras de arte. Em entrevista para a Agência
1
Não utilizo a palavra “evoluíram” quando retrato as culturas, pois acredito que utilização
configura na determinação de culturas menor ou maior.
Alagoas, (2019) os indígenas relatam que homens e mulheres deixam as comunidades para
vender a produção cultural em outras cidades e estados para manter as famílias com o
dinheiro arrecadado. Os grupos participam de workshop em galerias e shoppings da capital. O
mesmo acontece com os grupos da etnia Xucurus Cariris, do município de Palmeira dos
Índios que tem exposto constantemente os trabalhos artesanais (Figura 5) em shoppings em
Maceió.
Até o momento não foi possível reunir material para confirmar a participação de povos
Wassu-Cocal na formação do município de Maragogi no passado e qualquer ligação com a
atualidade. E não foram encontrados utensílios artesanais confeccionados por eles para trazer
para esta apresentação. Muita dificuldade foi encontrada para checar os registros de artefatos
indígenas produzidos na região norte alagoana do passado ou da atualidade.
Acredito que uma pesquisa determinada por um tempo específico para finalização,
seja um empecilho para a busca deste registro. A pesquisa vai continuar, pois o
reconhecimento da produção artesanal indígena passa a fazer parte do pré-projeto de
doutorado no qual pretendo abordar o artesanato em busca da integração social da região
norte alagoana especialmente em Maragogi.
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