CONSIDERAÇÕES SOBRE O TEXTO A EMERGÊNCIA DA LITERATURA AMERÍNDIA
A autora apresenta o contexto histórico social de quem ela chama de
ameríndios- povos indígenas oriundos das Américas- a partir de materialidades de produções intelectuais e artísticas e provoca inquietações que se debruçam no letramento brasileiro e a urgência de romper com a representação imagética do que é ser índio e inserir vozes que representam e sejam vozes de itinerância do que é ser indigena, como também políticas afirmativas e seus desafios de efetividade. Compreender que vivenciamos uma história de massacre por parte das práticas coloniais e estórias de invasores heróis civilizatórios, definidas como verdades nacionalistas nos currículos educacionais, provoca o distanciamento entre a cultura da cidade e as comunidades indígenas, reforçando racismo e outras estruturas de opressão. A história única, disseminada consciente e inconscientemente, esconde memórias, ciências e produções de um pessoal que luta para se ver, pertencer e representar gerações, segregando a interação entre os ameríndios e não ameríndios, principalmente quando estamos pautando sobre espaço e representatividade. Embora a lei lei 11.645 de 2008, que torna obrigatório o ensino das culturas ameríndia e afro-brasileira no sistema escolar brasileiro, garanta a inclusão de material para a verdadeira história contada, ainda é distorcida, quando excluímos das aulas de português, por exemplo, as contribuições das línguas indígenas no português brasileiro, ou quando limitamos nossas leituras àquelas que se constroem em cima do desinteresse. Em dados do documento, os saberes orais passaram a ser transcritos em português nos anos de 1990, uma estratégia de alcance de ideais, lutas, culturas para a comunidade letrada, dando força aos discursos de quadros de militância ameríndia. Surge então na Constituição Federal de 1988 a escola bilíngue (português-língua nativa) e tempos depois a Escola Índigena, a fim de inserção no ensino superior e interação cultural. Nessa questão a autora discorre sobre as políticas de incentivo a produção didática de estórias/histórias ameríndias, como em 2002 e introduz a problemática de como a literatura ameríndia é recebida, lida e procurada pela escola e sociedade. Oriunda de tradição oral, a literatura tem sido avaliada como uma produção do campo de contação de histórias, logo, disposto a um público mais jovem e sem responsabilidade de reprodução sem criticidade na práxis desse material e dessas vozes. O que torna produções de outros gêneros excluídas pelo dispositivo literário, como o romance e a poesia, que dentro das suas formas rompe com o padrão e o público que é destinado para as produções didáticas aproveitadas. Isso porque esses gêneros revelam sobre a identidade híbrida - existem indígenas em todos os espaços- a educação como forma de luta e as novas roupagens de escritos que não se limitam ao cenário de guerra. Para ilustrar a tese, a autora do documento traz uma apresentação da vida e obra de artistas ameríndias, como a Eliane Potiguara, e seu livro “Metade cara, metade máscara.”. Nascida em 1950, vinda de uma família matriarcal do Rio de Janeiro, quadro político na militância indigena, Eliane Potiguar traz a escrita como uma política da existência, a imagem da interação entre a mulher e a natureza como princípio de mundo,contribui com a ideia de "habitabilidade” (ser sujeito em um paço circunstante). A publicação do livro “Metade cara, metade máscara.” foi um marco na literatura ameríndia em portugues, até então, no campo da “literatura marginal”, com grande repercussão, é uma materialidade da luta da descolonização das letras brasileiras, porém não há exemplares disponíveis com facilidade e nem previsão de republicação pelas editoras, reforçando o silenciamento que a manutenção de cânon literário hegemônico branco colonial ocorre. Enquanto negarmos a enxergar e alertar que ainda estamos no processo de apagamento das línguas nativas no processo de necropolítica e genocidio do povo indigena, não haverá políticas afirmativas de acesso ao ensino superior e acesso itinerante de suas literaturas, o boicote dos saberes e de seus escritos continuaram acontecendo com naturalidade aos nossos olhos, assim como as tentativas mais próximas de um marco temporal em suas terras.