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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

DLA099- TEORIA CRÍTICA DA LITERATURA


PROFESSOR ALEILTON FONSECA

IVY SANTANA DE CERQUEIRA

CONSIDERAÇÕES SOBRE O TEXTO A EMERGÊNCIA DA LITERATURA AMERÍNDIA

A autora apresenta o contexto histórico social de quem ela chama de


ameríndios- povos indígenas oriundos das Américas- a partir de materialidades de
produções intelectuais e artísticas e provoca inquietações que se debruçam no
letramento brasileiro e a urgência de romper com a representação imagética do que
é ser índio e inserir vozes que representam e sejam vozes de itinerância do que é
ser indigena, como também políticas afirmativas e seus desafios de efetividade.
Compreender que vivenciamos uma história de massacre por parte das
práticas coloniais e estórias de invasores heróis civilizatórios, definidas como
verdades nacionalistas nos currículos educacionais, provoca o distanciamento entre
a cultura da cidade e as comunidades indígenas, reforçando racismo e outras
estruturas de opressão. A história única, disseminada consciente e
inconscientemente, esconde memórias, ciências e produções de um pessoal que
luta para se ver, pertencer e representar gerações, segregando a interação entre os
ameríndios e não ameríndios, principalmente quando estamos pautando sobre
espaço e representatividade.
Embora a lei lei 11.645 de 2008, que torna obrigatório o ensino das culturas
ameríndia e afro-brasileira no sistema escolar brasileiro, garanta a inclusão de
material para a verdadeira história contada, ainda é distorcida, quando excluímos
das aulas de português, por exemplo, as contribuições das línguas indígenas no
português brasileiro, ou quando limitamos nossas leituras àquelas que se constroem
em cima do desinteresse.
Em dados do documento, os saberes orais passaram a ser transcritos em
português nos anos de 1990, uma estratégia de alcance de ideais, lutas, culturas
para a comunidade letrada, dando força aos discursos de quadros de militância
ameríndia. Surge então na Constituição Federal de 1988 a escola bilíngue
(português-língua nativa) e tempos depois a Escola Índigena, a fim de inserção no
ensino superior e interação cultural. Nessa questão a autora discorre sobre as
políticas de incentivo a produção didática de estórias/histórias ameríndias, como em
2002 e introduz a problemática de como a literatura ameríndia é recebida, lida e
procurada pela escola e sociedade.
Oriunda de tradição oral, a literatura tem sido avaliada como uma produção
do campo de contação de histórias, logo, disposto a um público mais jovem e sem
responsabilidade de reprodução sem criticidade na práxis desse material e dessas
vozes. O que torna produções de outros gêneros excluídas pelo dispositivo literário,
como o romance e a poesia, que dentro das suas formas rompe com o padrão e o
público que é destinado para as produções didáticas aproveitadas. Isso porque
esses gêneros revelam sobre a identidade híbrida - existem indígenas em todos os
espaços- a educação como forma de luta e as novas roupagens de escritos que não
se limitam ao cenário de guerra.
Para ilustrar a tese, a autora do documento traz uma apresentação da vida e
obra de artistas ameríndias, como a Eliane Potiguara, e seu livro “Metade cara,
metade máscara.”. Nascida em 1950, vinda de uma família matriarcal do Rio de
Janeiro, quadro político na militância indigena, Eliane Potiguar traz a escrita como
uma política da existência, a imagem da interação entre a mulher e a natureza como
princípio de mundo,contribui com a ideia de "habitabilidade” (ser sujeito em um paço
circunstante). A publicação do livro “Metade cara, metade máscara.” foi um marco
na literatura ameríndia em portugues, até então, no campo da “literatura marginal”,
com grande repercussão, é uma materialidade da luta da descolonização das letras
brasileiras, porém não há exemplares disponíveis com facilidade e nem previsão de
republicação pelas editoras, reforçando o silenciamento que a manutenção de
cânon literário hegemônico branco colonial ocorre.
Enquanto negarmos a enxergar e alertar que ainda estamos no processo de
apagamento das línguas nativas no processo de necropolítica e genocidio do povo
indigena, não haverá políticas afirmativas de acesso ao ensino superior e acesso
itinerante de suas literaturas, o boicote dos saberes e de seus escritos continuaram
acontecendo com naturalidade aos nossos olhos, assim como as tentativas mais
próximas de um marco temporal em suas terras.

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