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Estão sendo oferecidas 10 (dez) vagas, cuja distribuição se dará entre as três linhas de

pesquisa do Mestrado em Letras e Artes, a saber:


linha 1 - Arquivo, memória e interpretação; linha 2 - Linguagem, discurso e práticas
sociais; linha 3 - Teoria, crítica e processos de criação.
Anteprojeto de Pesquisa, que deverá conter exclusivamente os seguintes itens: (1)
Título; (2) Objetivos; (3) Justificativa; (4) Fundamentação Teórica (5) Metodologia; (6)
Referências. O Anteprojeto deverá ter no máximo 10 (dez) páginas, sem contar folha de
rosto, e atender a seguinte formatação: Fonte em Times New Roman; Tamanho 12;
Espaço entrelinhas 1,5; Papel de tamanho A4.

Título: A luta das mulheres ameríndias: um estudo comparado nas obras de Márcia
Kambeba e Eliane Potiguara

Objetivos:
Geral:
Mostrar a importância da literatura produzida por mulheres indígenas no Brasil, nos
exemplos da obra de Eliane Potiguara e Márcia Wayna Kambeba.
Específico:
Compreender a mulher indígena brasileira se apropriando da literatura para apresentar
seu modo de ver, estar, sentir e pensar o mundo.
Justificar a importância da literatura de autoria de mulheres indígenas, através de textos
de Eliane Potiguara e de Márcia Wayna Kambeba.
Abordar a representatividade indígena na literatura brasileira.
Perceber a literatura indígena como uma ferramenta que os auxilia em atos de
resistência contra atos de violência cultural e de gênero.
Justificativa
Os estudos acerca da Literatura Comparada mostram que esse é um campo de
investigação bastante denso e amplo, que realiza investigações variadas, utilizando
diferentes metodologias e possuindo objetos de estudo bastante diversificados. Entre as
funções da Literatura Comparada, está a comparação de obras de autores distintos que
abordam uma mesma temática, mas que apresentam diferentes características e pontos
de vistas de acordo com os seus objetivos. Essa dimensão interdisciplinar da Literatura
Comparada possibilita estabelecer vínculos muito próximos com os propósitos expostos
dos Estudos Culturais. Desse modo, podemos relacionar:
Duas ou mais literaturas, dois ou mais fenômenos culturais; ou,
restritamente, dois autores, dois textos, duas culturas de que dependem
esses escritores e esses textos. E trata-se também, obviamente, de
justificar de maneira sistemática essa relação estabelecida. […] a
Literatura Comparada proporciona o diálogo não só entre as literaturas
e as culturas, mas também entre os métodos de abordagens do fato e
do texto literários (MACHADO; PAGEAUX, 1988, p. 17).

Segundo Ana Pizarro, a Amazônia é uma região cujo traço mais geral é o de ter
sido construída por um pensamento externo a ela. Ela tem sido pensada, em nível
internacional, através de imagens transmitidas pela opinião dos europeus, sobre o que
eles entendem ser sua natureza, ou, em outras palavras, sobre o lugar que a Amazônia
ocupou na sua experiência (PIZARRO, 2012, p. 31). Pouco se conhece dos povos
originários deste lugar sobre o olhar do próprio nativo, deixando um grande vazio na
história do país. Inclusive a própria nomenclatura dada aos nativos é motivo de ampla
discussão entre os estudiosos dos povos originários, importante mencionar o
posicionamento da autora Eliane Potiguara sobre o assunto:

Índio não existe, isso é um nome que o português utilizou para


nos chamar e até hoje as pessoas nos chamam de índio. Mas nós
somos nações. O Brasil não poderia ser uma nação pluriétnica?
Nós somos pluriétnicos, porque nós temos várias nações
indígenas, várias línguas indígenas, nós somos povos indígenas.
Mas essa ideia sempre foi vista como um absurdo para o
governo brasileiro (POTIGUARA, 2019, p. 137).

Os textos escritos por autores indígenas podem dar a oportunidade de se contar


sobre as tradições que foram alteradas por estranhos e as transformaram em folclorismo
ou modismo literário que em muito prejudicaram e distorceram a história real. Um
exemplo do olhar europeu sobre o povo que já morava nestas terras, sobretudo sobre as
mulheres nativas, se dá nos primeiros escritos feitos por eles. Em sua famosa carta, Pero
Vaz de Caminha descreve a genitália feminina indígena dizendo que: “sua vergonha (é)
tão graciosa, que a muitas mulheres de nossa terra, vendo-lhe tais feições, fizera
vergonha, por não terem a sua como ela”, como nos diz Manuela Carneiro da Cunha
(CUNHA, 1993, p. 155), deixando claro que a objetificação do corpo foi uma das
primeiras violências contra a mulher que nestas terras já moravam e que durante as
centenas de anos que se passaram desde a chegada dos europeus, estas mulheres
continuaram sendo silenciadas pela sociedade.
Outros exemplos de narrativas literárias descritas pelos não índios, se deu com
Basílio da Gama, que via o índio como “homem natural” e Santa Rita Durão, que os via
como “os comedores de carne humana” que “só o cristianismo salvaria”, visão limitada
de primitivos e selvagens. Durante a escola literária denominada Romantismo, que teve
como principais autores José de Alencar e Gonçalves Dias, o índio era o tema central e
caracterizado de modo idealizado, quase uma caricatura (SEIXAS, Tiago. 2006).
Posteriormente, na escola Modernista busca-se uma identidade nacional mais próxima
da realidade e com poucas influências do colonizador, e com a obra Macunaíma- uma
rapsódia, ou seja, obra composta da soma de temas tirados de vários povos, dentre os
quais o povo Macuxi- faz cópia de vários outros livros, misturando crenças populares
com costumes dos povos indígenas, pensamentos filosóficos e realidades capitalistas.
Desta forma, enraizada nas origens, a literatura indígena contemporânea vem se
preservando na auto-história de seus autores e autoras e na recepção de um público-
leitor diferenciado, isto é, uma minoria que semeia outras leituras possíveis no universo
de poemas e prosas autóctones (GRAUNA, 2013. p.15). Eliane Potiguara refere-se à
“Literatura Indígena” como aquelas produções que são escritas por autores indígenas,
diferenciando-as dos autores não indígenas que escrevem sobre a cultura indígena.
Por se tratar de uma literatura que narra as histórias da luta dos povos indígenas
para manter sua cultura subjugada pelos europeus sob a perspectiva feminina, o objeto
de estudo desta pesquisa abre caminho para lidar com os reflexos negativos da
colonização e justifica-se pela necessidade de destacar a forma como as mulheres
indígenas são representadas em diferentes discursos narrativos, além de contribuir para
possibilidades ao acesso a outros olhares distintos do olhar colonizador e novas
discussões em relação às hierarquias de gênero, raça e classe. Este tema precisa receber
maior atenção pois na Literatura Indígena são os indígenas que tomam o centro das suas
narrativas, histórias, memórias e culturas, por isso este se faz tão importante nas
pesquisas literárias, sociais e antropológicas (ALMEIDA, 2004)
Portanto, a escolha pelo tema de um estudo comparado em narrativas de
mulheres indígenas se deve por apresentar inúmeras questões referentes às mulheres e
aos povos indígenas, como também às características da escrita literária da mulher
indígena. Nesse sentido, escritoras indígenas como Eliane Potiguara e Márcia Wayna
Kambeba são mulheres que se colocam como agentes de mudança de um fazer literário,
no qual deixam de ser apenas elementos e passam a ser agentes na produção de uma
literatura onde a voz dos povos originários conte suas próprias histórias e denunciem
seus silenciamentos (GRAÚNA, 2013). Como diz Eliane Potiguara:

Bonito é florir no meio dos ensinamentos impostos pelo poder. Bonito


é florir no meio do ódio, da inveja, da mentira ou do lixo da
sociedade. Bonito é sorrir ou amar quando uma cachoeira de lágrimas
nos cobre a alma! Bonito é poder dizer sim e avançar. Bonito é
construir e abrir portas a partir do nada. Bonito é renascer todos os
dias. Um futuro digno espera os povos indígenas de todo o mundo
(POTIGUARA, 2004, p. 79).

Enfim, as letras possibilitaram às mulheres indígenas um caminho para sair do


anonimato, retirar a cortina que as cobria e passar a serem enxergadas pela sociedade
não indígena. Seus textos, poesias, romances; enfim, tudo o que escrevem são
verdadeiras heranças do universo feminino indígena a seus povos, são bandeiras de luta
que essas mulheres continuam levantando, carregando e fincando nessa sociedade que
as discrimina duplamente: como mulheres e como indígenas (GRAÚNA, 2013). Elas
desejam mostrar o sofrimento da violência e da marginalização a que foram submetidas
desde a construção dessa sociedade não indígena que começou com a colonização e que
continua até nossos dias. A literatura, para essas mulheres, também é mais um
instrumento de luta pelo lugar a que têm direito numa sociedade que as marginalizou
desde sua formação. E é um pouco desse grito de revolta e de dor que se deseja
pesquisar em seus poemas ou textos narrativos.

(FALAR DAS AUTORAS) Potiguara não aceita a morte da identidade indígena


e permanecerá lutando pelo seu povo enquanto tiver vida. Do âmago da mulher
indígena, por causa do desrespeito aos povos nativos, surge uma fera selvática – sua
verdadeira identidade - empossada de coragem para defender e erguer-se em defesa de
seu povo diminuído, que está num “novo mundo” convivendo com doenças,
desamparos, estereótipos e explorações das mais deploráveis, como o alcoolismo...
No Brasil, temos, entre outras, duas figuras femininas que se destacam na
literatura por divulgar as condições de vida das mulheres indígenas: Graça Graúna e
Eliane Potiguara. Eliane é conhecida nacional e internacionalmente com seu trabalho de
defesa dos povos indígenas. Foi a primeira escritora nativa que conseguiu, com seu
poema “Identidade Indígena”, na década de 70, ganhar publicação de abrangência
nacional e “driblar a censura e o regime militar” (POTIGUARA, 2004, p. 18). Vejamos
um fragmento do poema:

Nosso ancestral dizia: temos vida longa


Mas caio da vida e da morte
E range o armamento contra nós
Mas enquanto eu tiver o coração aceso
Não morre a indígena em mim
E nem tampouco os compromissos que assumi
Perante os mortos
De caminhar com minha gente passo a passo
E firme em direção ao sol [...]
(POTIGUARA, 2004, p. 102).

A autora do poema retrata o poder e a força dos não indígenas, que, se utilizando
de armamentos, poder político, econômico e força bruta contra os povos indígenas,
tiraram-lhes a garantia de viver suas próprias histórias, impondo novos costumes e
crenças

Fundamentação Teórica
A Literatura Comparada, com seus atuais propósitos, inter-relaciona-se com os
Estudos Culturais com intuito de buscar na literatura nacional as fontes, influências e
filiações da literatura com outras áreas e artes, dessa forma se acende um intenso
diálogo entre ela e os Estudos Culturais que passaram a apresentar uma estreita relação.
Henry Remak, define a Literatura Comparada como sendo:

[...] o estudo da literatura além das fronteiras de um país específico e o


estudo das relações entre, por um lado, a literatura, e, por outro,
diferentes áreas do conhecimento e da crença, tais como as artes (por
exemplo, a pintura, a escultura, a arquitetura, a música), a filosofia, a
história, as ciências sociais (por exemplo, a política, a economia, a
sociologia), as ciências, a religião, em suma, é a comparação de uma
literatura com outra ou outras e a comparação da literatura com outras
esferas da expressão humana (REMAK apud COUTINHO;
CARVALHAL, 1994, p.175).

Devido ao seu caráter interdisciplinar, os Estudos Culturais possibilitam a


inclusão de novos objetos que proliferam o cruzamento entre literatura e outros sistemas
semiológicos. Neste processo intercambiante, os estudos literários também podem
ganhar bastante, pois passa-se a conceber uma literatura avaliada como uma prática
cultural que não desconhece seus múltiplos diálogos perante outras áreas de
conhecimento. Nesse sentido, (ESCOSTEGUY, Ana Carolina., 2001) define os estudos
culturais como um discurso crítico que busca analisar as diversas formas de produção
em relação às práticas sociais e estruturas históricas no tocante ao funcionamento da
cultura na cena contemporânea.
A literatura indígena brasileira desenvolvida a partir da década de 1990 é um dos
fenômenos político-culturais mais importantes de nossa esfera pública e se insere nessa
dinâmica ampla de ativismo, militância e engajamento de minorias historicamente
marginalizadas e invisibilizadas de nossa sociedade, que assumem o protagonismo
público, político e cultural enquanto núcleo de sua reafirmação como grupo-
comunidade e, em consequência, de enfrentamento dessa situação de exclusão e
violência vividas e sofridas. (Julie Dorrico; Leno Francisco Danner; Heloisa Helena
Siqueira Correia; Fernando Danner (Orgs.) verificar citação
Na sociedade hodierna, são as próprias mulheres indígenas que tomam a
literatura em sua defesa, registram pelas palavras o que antes ficava somente na
oralidade e, dessa forma, estão tornando-se visíveis para a sociedade. Os desafios
enfrentados pelas mulheres indígenas na sociedade são diversos e não estão atrelados
apenas às questões de gênero, mas são atravessados por problemáticas com dimensões
mais amplas, como se percebe pelas pautas de reivindicações construídas nos
movimentos de abrangência nacional: a discriminação racial, a luta pela retomada dos
territórios, o preconceito social e também o epistemicídio que Souza Santos define da
seguinte forma: “a destruição de algumas formas de saber locais, à inferiorização de
outros, desperdiçando-se, em nome dos desígnios do colonialismo, a riqueza de
perspectivas presente na diversidade cultural e nas multifacetadas visões do mundo por
elas protagonizadas” (2009, p. 183).
Apesar de inúmeros avanços tecnológicos e de invenções importantes
contribuindo para uma grande evolução no campo do saber, nada foi feito para retirar a
invisibilidade atribuída a vários indivíduos, entre eles às mulheres indígenas. A
Literatura Brasileira produzidas pelos autores não indígenas, apresenta pouca
visibilidade para mulheres nativas, as breves narrativas que são atribuídas a elas são
carregadas de sentidos pejorativos, como fez o escritor romântico José de Alencar
(2011) em Iracema, considerada uma das principais obras do Indianismo brasileiro.
Nesse romance, a representação é de “mulher e esposa ideal” que suporta “sem revolta o
desprezo do esposo” (CAVALCANTI, 2002, p. 19).
Como explica Carla Akotirene (2019), a interseccionalidade, ou seja, a interação
entre dois ou mais fatores sociais que definem uma pessoa, diminui uma compreensão
reducionista das políticas identitárias e revela que uma das formas para o enfrentamento
e fortalecimento das identidades se dá também pela escrita, como se pode observar na
literatura produzida pelas mulheres indígenas, principalmente quando apresentam em
sua escrita suas observações pelo viés de dois grupos subordinados: étnico (indígenas) e
mulheres (gênero). Nos tempos atuais, o suicídio, a submissão, o alcoolismo, a
desesperança, a fome tem sido sintomas da opressão colonizadora, decorrentes da
violência dos direitos humanos fundamentais dos povos indígenas e que afetam as
mulheres mais diretamente (POTIGUARA, 2004, p. 82).
Observa-se que, na era contemporânea, as mulheres indígenas assumem o papel
de líderes para defenderem e adquirirem direitos para seu povo. Lutam para que
políticas públicas sejam instituídas para que, através delas, possam reivindicar, por
exemplo, a demarcação das terras que, ancestralmente, pertencem a seus povos; leis que
as defendam da violência física, como os abusos sexuais; da exploração da mão de obra;
lutam para conseguir saúde e escolas para as crianças; enfim, que lhes sejam devolvidos
o respeito e a dignidade, além do lugar que lhes foi usurpado desde a colonização na
sociedade brasileira que ajudaram a construir. A geógrafa e escritora Márcia Kambeba
enfatiza o caráter movente dessa produção literária, que transfere para a escrita os
fundamentos coletivos:
Na literatura indígena, a escrita, assim como o canto, tem peso
ancestral. Diferencia-se de outras literaturas por carregar um povo,
história de vida, identidade, espiritualidade. Essa palavra está
impregnada de simbologias e referências coletadas durante anos de
convivência com os mais velhos, tidos como sábios e guardiões de
saberes e repassados aos seus pela oralidade. Não quero dizer aqui que
a prática da oralidade tenha se cristalizado no tempo. Essa prática
ainda é usada, pois é parte integrante da cultura em movimento. À
noite o indígena sonha com o que vai ser escrito ou com a música a
ser cantada com os guerreiros da aldeia. Acredita-se que quem escreve
recebe influências de espíritos ancestrais, dos encantados, por isso a
literatura dos povos da floresta é percebida com um valor material e
imaterial.

Contrariando as visões equivocadas sobre os povos indígenas, que os condenam


ao passado e à incapacidade de mudança, revela a sintonia com as tecnologias, bem
como a capacidade de diálogo desses novos agentes culturais e mediadores das suas
tradições:
Hoje, temos indígenas que se utilizam das redes sociais, blogs e
páginas de cunho literário que são visualizadas todos os dias. Nasce
outra ferramenta, se bem usada, de divulgação do pensamento
indígena. Aos poucos vai-se ganhando um público leitor nas redes
virtuais para uma literatura virtual, com o mesmo peso que a literatura
publicada em papel.
Por fim, Eliane Potiguara usa a potência simbólica e metafórica da narrativa para
ilustrar a necessidade de fortalecer entre os povos suas diferenças, mas também sua
capacidade de diálogo. Importa mencionar, que Eliane Potiguara é a pioneira da
Literatura Indígena Brasileira Contemporânea, tendo como público-alvo leitoras
indígenas e leitores indígenas e não indígenas.
Eliane Potiguara, mulher indígena em contexto urbano que tem contato com
povos indígenas ditos ‘desaldeados’, aldeados na floresta e aldeados nos centros
urbanos, menciono isso, porque para Eliane não há problemas com a ideia dos povos
indígenas serem também o ‘povo brasileiro’, essa concepção não é pensamento
hegemônico entre todos. Carece mais pesquisas para poder afirmar, mas a partir das
evidências que tenho contato, os povos e pessoas com mais contato com a sociedade
nacional ressignificam o conceito ‘brasileiro’ e de ‘Brasil’. Para os povos aldeados em
floresta que tem menos contato com a sociedade nacional, não há ressignificação,
porque eles são “Outros” e não pertencem a ideia de uma identidade de estado-nacional,
só estamos próximos por questões geográficas e imposição na nossa cultura sobre a
deles.

Metodologia
Segundo FACHIN (2001) o método comparativo “consiste em investigar coisas
ou fatos e explicá-los segundo suas semelhanças e suas diferenças. Permite a análise de
dados concretos e a dedução de divergências de elementos constantes, abstratos e gerais,
propiciando investigações de caráter indireto”. Sendo assim, este estudo será realizado
por uma abordagem comparatista, pelo viés dos estudos culturais onde apresenta
característica com compromisso cívico e político de estudar o mundo, de modo a poder
intervir nele com mais rigor e eficácia construindo um conhecimento com relevância
social (Pina, 2003)
Por seu turno, a abordagem textual apresenta diversos resultados de acordo com
os diferentes modos de tratar o texto: numa perspectiva semiótica, o texto é visto como
signo, procurando encontrar nele ideologias, mitos, numa perspectiva essencialmente
ligada à teoria narrativa os textos são vistos e compreendidos como histórias que
procuram explicar o mundo e fazendo-o de forma sistemática. (Neale, 1980. Todorov,
1977). Por fim, a abordagem desconstrucionista, na linha de Derrida quer nos campos
da literatura, quer no âmbito da teoria pós-colonial, surpreender os pares hierárquicos
clássicos da cultura ocidental (homem/mulher; preto/branco; realidade/aparência; etc.).
Quanto à periodização das literaturas indígenas, “Graúna” (2013) aponta que a
propriedade intelectual indígena contemporânea no Brasil começa no final do século
XX. Este trabalho se propõe a identificar a violência contra a mulher indígena na escrita
de Marcia Wayna Kambeba e Eliane Potiguara. Será realizada em um recorte que
considerará os seguintes elementos: violência mental, física e espiritual; questões
relacionadas ao racismo e às lutas de classes e a união das mulheres indígenas. Tendo
em vista a análise de expressões subjetivas, desenvolvidas com o intuito de expor certa
cosmovisão ou apenas de entreter determinado público. Em relação à literatura de
autoria indígena, essas textualidades são produzidas por eles mesmos, com suas
especificidades estéticas, multimodalidades e grafismos.

Referências
ESCOSTEGUY, Ana Carolina. Cartografia dos Estudos Culturais. Belo Horizonte: Autêntica, 2001,
p.46
Literatura indígena brasileira contemporânea: criação, crítica e recepção [recurso
eletrônico] / Julie Dorrico; Leno Francisco Danner; Heloisa Helena Siqueira
Correia; Fernando Danner (Orgs.) -- Porto Alegre, RS: Editora Fi, 2018.

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