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Literatura de minorias étnicas e sexuais

➡️ “A problemática da literatura de autoria de minorias Étnicas e sexuais confunde-se com a


problemática político-social desses grupos” (p.350). Autores negros, índios e homossexuais
ainda são excluídos do cânone literário ou aparecem timidamente por representarem o outro, o
diferente, o desconhecido ou uma reação contra o sistema dominante .

➡️ A própria representação desses grupos, como personagens, carrega uma superficialidade:


há uma folclorização, estereótipos, deixando de lado a voz, as demandas e as culturas deles...
Ou eram mitificados ou silenciados, de forma que se tornaram “dependentes da cultura branca”
[ou heterosexual] (p. 339), sem voz ou espaço de legitimação adequados.

➡️ Exemplo: Literatura homoafetiva: aparece como resistência ao sistema vigente ou, no


contemporâneo, como “uma identidade homossexual positiva”

LITERATURA INDÍGENA

➡️ O fato de se considerar a “Carta do Descobrimento” e outros relatos de viagem e informação


como textos fundadores da Literatura no Brasil, revela uma perspectiva eurocêntrica e
grafocêntrica (centrada na escrita) que exclui toda uma produção artística e cultura oral dos
povos indígenas. Risério a chama de Poemúsica.

➡️ Esse movimento foi possível também devido aos objetivos dos colonizadores e
catequizadores jesuítas: eles não aprendiam língua e cultura silvícola para partilhar delas e
construir conhecimentos mútuos, mas como um gancho ou veículo para que pudessem
transmitir os valores cristãos e europeus. Assim, os indígenas não eram vistos como um
“emissores de mensagens” (p.338), com um código que ser partilhado, mas como meros
receptores!

↪️ Representações do indígena na Literatura Brasileira

* “Caramuru” (Santa Rita Durão): o índio aparece como menor, frágil e derrotado, o destaque é
dado ao colonizador português , Diogo Álvares.

* Século XX: A CF/1988 reconhece a existência de línguas indígenas, tal movimento, embora
tardio, possibilitou a solidificação de escolas bilíngues indígenas, nas quais é possível repassar e
manter vivas tradições culturais dos povos, bem como resgatar sua produção literária, por meio
do registro escrito de narrativas orais, por parte de antropólogos e outros pesquisadores,
divididos em três grupos: antropólogos, os professores bilíngues indígenas e os escritores
indígenas que “migraram para os centros urbanos nacionais, e conviveram com a cultura
dominante, escrevendo de e para a cultura dominante não-indígena, bem como para seu próprio
povo” (Souza apud Santos, Willevick, p. 340).

A escrita das narrativas orais, a organização de antologias com a História e produções artísticas
das tribos faz com que as diversidades culturais não se percam no esquecimento, há a
CONSTRUÇÃO DE MEMÓRIAS; assim, a Literatura indígena pode ser conhecida por mais
pessoas! A escrita cristaliza os relatos e cria registros históricos (p. 341).

Observação: não se deve naturalizar ou homogeneizar essas narrativas, pois cada povo tem suas
especificidades.

Deve-se tentar manter, na transcrição, o máximo da performidade oral. A autoria também é


uma questão, já que os contadores das histórias se vêem como transmissores, não autores!
• A Academia ainda vê o grupo como marginal, produtores de textos de qualidade inferior.

LITERATURA AFRO-BRASILEIRA

1. Raça: Classificação baseada em atributos biológicos, fenotípicos. Por eliminar a complexidade


histórica, cultural e social dos indivíduos, ao longo do tempo, se revelou um conceito limitado,
que dá margem a preconceitos e segregações, a exemplo do Apartheid e do nazi-fascismo.

2. Etnia: grupo culturalmente homogêneo. Indivíduos de raças diferentes se aproximam por


semelhanças históricas, culturais, defesas comuns, língua, religião e conhecimentos.

➡️ Há divergências quanto à qual nomenclatura usar:

A. Literatura Negra: mais abrangente em relação a diversos grupos de escritores de vários


países, lembra um território simbólico comum.

B. Literatura Afro-Brasileira: pela especificidade da palavra, parece fazer referência, apenas, ao


resgate de uma ancestralidade africana..

↪️ Tentativas de conceituação – feita por critérios:

1. Étnicos: ligações por traços culturais homogêneos, ligação da obra com a origem do autor! No
Brasil é difícil devido ao nosso multiculturalismo.

2. Temáticos: presença de temas que envolvam cultura afro-brasileira. É abrangente, mas tem
um problema: há textos escritos sobre negros que apresentam a história, os problemas, mas não
se propõem a fazer reflexões sobre concepções já enraízadas.

3. Transgressores: textos construídos como forma de reivindicação e resistência, questionam o


cânone, a ideia de que a Literatura seria uma instituição “branca”, e as nomenclaturas; querem
encontrar sua própria voz dentro da Literatura. Nomenclatura mais adequada!

Projeto romântico de nacionalidade literária: apaga o negro como parte da origem e da


diversidade brasileiras, considera só o índio e o branco, por ele não ser originário do país;
devido aos partidários do sistema escravocrata temerem uma ameaça a este, por causa de temas
que poderiam gerar rebeliões. Além disso, temia-se a “contaminação”: pelo tema escolhido,
deixar-se margem para indagação de qual a relação/ linhagem do escritor com a negritude
(medo de discriminação).

↪️ O negro aparecerá na Literatura em meados do século XIX (1850- 1888), ainda na condição
de marginalizado. Alguns escritores negros não abordam a negritude em seus textos por receio
de discriminação e fechamento de portas as suas produções!

↪️ SÉCULO XX: Mitos da democracia racial (“Casa Grande e Senzala”:

A. a miscigenação correria pela fusão entre, brancos, mestiços e negros (apagava os conflitos
existentes, muitas vezes essa fusão era fruto de violências);

B. Lado “bom” da escravidão: senhores severos, mas paternais, escravizados amigos e leais!
Apaga as discussões sobre a truculência e desigualdade social provocadas pelo sistema
escravocrata.

↪️Escritoras negras: duplamente marginalizadas (pelo gênero e pela cor). Muitas vezes, quando
publicadas, o eram por meio de editoras alternativas ou associações literárias.
Estas nasceram nos anos 1960 do século XX e tinham como objetivo discutir o “ser negro”, no
que tange a afirmação da voz, do sujeito negro, sua identidade, independente da branca,
formas de opressão social, de transgressão a elas, disseminação de elementos e obras da
cultura negra e escritores negros.

Além disso, há um movimento de resgate de sua História e raízes, de uma cosmogonia (as
origens, para desfazer o estereótipo branco que colocava o povo negro como “sem origem);
ressignificação de símbolos e cores apresentadas pelo branco como pejorativas (Senzala
dor/força; cor preta, medo, escuro, feiúra/ força, cor da brasa; cor vermelha sangue/ cor de
Iansã, deusa dos ventos e tempestades, símbolo de poder). Exemplo: “Quilombohoje” (1978),
faz “militância ativa da palavra” (p.345).

↪️ “Luanda Beira África” (1977): Romance de Adonias Filho.

↪️ Primeira parte do século XX: já surgia uma imprensa voltada à questão do negro no Brasil
(bem como teatros, peças etc.). Fases:

1. “ 1915-1923: apesar de iniciar as discussões sobre problemas do ponto de vista


racial, foi um Período de integração do negro à sociedade branca através de uma
tentativa de cópia dos Valores culturais (Jornal Menelik);
2. 1924-1937: período de fortes reivindicações, porém interrompido por Getúlio Vargas em
1937.(Clarim da Alvorada e A voz da Raça);
3. 1945-1963: período de rearticulação da imprensa com um foco maior na luta de
classes (Mundo Novo e Novo Horizonte) ( FERRARA apud Wielevick, 2009, p. 345).

LITERATURA HOMOERÓTICA

A homotextualidade está em processo de afirmação perante as instituições que validam o


literário, já avança (lembremos de “Me chame pelo seu nome” e da obra de Caio Fernando
Abreu), mas ainda é bastante marginalizada.

Como o universo homoerótico aparece problematizado em temas, comportamentos e


personagens?

➡️ A normalização da heterosexualidade, como algo majoritário e natural, bem como conceitos


pejorativos de “homossexualismo” (século XIX) e “invertidos sexuais” (medicina do século XVIII),
geram preconceito social, marginalização de indivíduos, associação destes com pecado,
anomalia e perversão, e dificuldade de legítimação da identidade homossexual e da Literatura
homoerótica.

➡️ Aproxima-se dos estudos Queer.

➡️ Trabalho pioneiro “Devassos no paraíso”, organizado por Silvério Trevisan (2000): história da
homossexualidade no Brasil, desde a colônia até o fim do milênio.

*James Green (1999): “Além do carnaval: o homossexualismo no Brasil do século XX” .

↪️ “O bom Crioulo” (1895) , de Adolfo Caminha inaugura a literatura homoerótica no Brasil:


fortes tons naturalistas, expõe francamente a relação entre Amaro e Aleixo, traz temas como
busca de liberdade e representação em espaços conflitantes, ora livres, ora opressores.
↪️ “O Ateneu” (1888)0, de Raul Pompéia”: no romance há sugestão da divisão de grupos, fortes
e fracos (relações de poder); crítica ao internato como instituição hipócrita que é moralista, mas
esconde permissividade.

↪️ Século XX (Modernismo): o homoerótico é representado nas figuras do culpado (repressão


religiosa ) e do solteirão (solidão do marginalizado). Exs: Crônica da Casa Assassinada (1959), de
Lúcio Cardoso e “Os Solteirões” (1975), de Gasparino Damata. Este publica a coletânea de
assuntos gays “Histórias do amor maldito” (1967).

↪️ Há a “poesia obscena de Glauco Mattoso. Em ‘Memória de um Puteiro’ (1981), na qual há


um forte fascínio pela impureza” (p. 349).

➡️ PÓS-MODERNIDADE:

“Quando essas forças utópicas e rebeldes dos anos 1960 e 1970 começam a perder sua energia,
começa a surgir com o Pós-modernismo uma literatura que transita entre a melancolia e a
alegria, a Deriva sexual e o temor à AIDS, solidão, ternura e busca de novos tipos de relações.
Nos anos 1980 e 1990 o que define a literatura gay, enquanto gênero literário específico, não
é simplesmente revelar o Cotidiano sexual dos “diferentes”, “perversos” e “invertidos”. Trata-
se sobretudo de transformar em Matéria de arte e reflexão a experiência muito
contemporânea do que vulgarmente se chama “sair do Armário”, um atitude pessoal séria,
não folclórica, exercício de cidadania” (p. 350). Três dimensões:

1. Sentimental: tom intimista, relações amorosas, solidão, afeto, volta à infância, memórias,
como acerto de contas com a família e a moral vigente. Conto “Pequeno monstro”, no livro “Os
dragões não conhecem o paraíso” (1988), de Caio Fernando Abreu.

2. Erótico-pornográfica: obsessão sexual, ambiente noturno e ruas como espaço para busca de
relações, de amor, afeto e carinho. Poema “Noturno”, de Ítalo Marconi.

3. Escrita da AIDS: a vida e preparação para a morte de um soropositivo. “O tema da Aids


perpassa as obras completas de Herbert Daniel e Caio Fernando Abreu, assim como o romance
“Uma história de Família” (1992), de Silviano Santiago e “Ovelhas Negras” (1982) , de Caio
Fernando Abreu.

Noturno - Ítalo Marconi

Colhi esse rapaz do oco da noite

Entre uma esquina e antigas angústias.

O vento levava copos vazios

E voltava nas asas de velhos jornais.

Era mais um bote da cobra grande,

Lição de séculos aprendida nas ruas.

Nós dois e a rua. Nós dois, oco da noite.

Poeira. Os carros retardatários...

Ninguém nos vê – cor dos prédios apagados.


Entramos no hotel os dedos ligados.

O homem maduro e o rapaz das ruas.

O nome e o inominável unidos

Escada estreita acima.

Ainda belisquei o camareiro antes de fechar a porta. Flor

Do oco, broto

Espesso, lisura sem pêlos,

Urgência de futuro

Nesta última hora.

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