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A literatura não uma cor determinante de sua estética ou ideologia, mas é a expressão de um
lugar social instituído no e pelo discurso. Assim se constitui a literatura afro-brasileira como
tecida pela visão identificada na trajetória de vida dos africanos escravizados e deportados
para o Brasil, e não podendo separar a literatura dessa experiência da escravidão e do tráfico
negreiro, a escritora Conceição Evaristo denomina escrevicência a atitude literária de colocar
esse contexto como motor da literatura. A escritora citada integra a geração da segunda
metade do século XX que apresenta o negro como sujeito de sua enunciação, do seu discurso,
não pelo fato dos escritores serem negro, mas principalmente por reposicionar o negro na
história e na literatura, pois embora o Modernismo tenha buscado um espírito da brasilidade,
anda assim colocou o negro no lugar construído por uma visão exótica e folclorista, desde a
linguagem e o vocabulário elaborados até a forma como o negro se inscreve na temática. O
legado modernista trabalhou outra perspecitva da literatura negra, não se pode comparar com
a literatura surgida a partir da década de 1970. O próprio poema de Manuel Bandeira “Irene
no céu” denota de forma subjacente São Pedro como um senhor branco que apresenta por
Irene um carinho pelo negro que lhe serve bem , mas o negro submisso como sempre pedindo
licença ao branco.
Assim o início do século XXI permitiu um olhar sobre a literatura afro-brasileira e a ampliação
das pesquisas na constituição de uma nova vertente literária com identidade que reúne desde
a produção dos grandes centros até a localidades mais distantes, como as comunidades
quilombolas. Antes o interesse pela condição dos negros era quase somente de estudiosos
estrangeiros, como Roger Bastide. Simbolicamente, da mesma forma que os quilombolas
lutam pela demarcação de suas terras, herdadas de seus ancestrais, organizações como o
Quilombhoje lutam pela demarcação do seu espaço no campo das produções literárias afro-
brasileiras, daí a escola do nome bem empregada enquanto representativa dessa escola de
pensamento. Também a série Cadernos Negros é representativa da busca desse espaço e
divulgação da produção afro-brasileira.
Dessa forma, o pensamento do autor Eduardo de Assis Duarte ao discutir a literatura inscrita
na categoria afro-brasileira, de forma dialógica, não fechada envolve uma interação entre
autoria, temática, ponto de vista em identidade com a afrodescendência e a visão do negro de
forma que o posicione como sujeito de sua enunciação ou como objeto numa visão dialógica
que permita a sua voz, mesmo que oportunizada pela autoria branca, sem estigmas socais nem
estereótipos, contribuindo também para a formação de um público receptor e leitor
afrodescendente. Será assim uma literatura afro-brasileira a partir desses pontos a produção
inscrita historicamente, seja da atualidade ou dos períodos literários anteriores, a escritura
que não elimine simbolicamente o negro de sua história e cultura e que ilumine a trajetória de
vida dos grupos negros, colaborando no processo de reconhecimento de suas identidades
pelos próprios afrodescendentes e pelos outros grupos.
Ciro Leandro