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Ensaios Navegações

v. 6, n. 2, p. 146-153, jul./dez. 2013

O negro na literatura brasileira


The black in Brazilian literature

Eduardo de Assis Duarte


Universidade Federal de Minas Gerais/CNPq – Minas Gerais – Belo Horizonte – Brasil

Resumo: O negro e sua negrura/negrícia, tal como inscritos em nossa literatura. De objeto
a sujeito, o negro de papel e tinta, ora pelo olhar do branco, ora construído por suas próprias
mãos. O trabalho realiza um percurso crítico pelos momentos principais de presença do negro
na literatura feita no Brasil, com ênfase em duas vertentes – a canônica e a afrodescendente –,
com vistas a cotejar as imagens e retratos que delas emergem.
Palavras-chave: Literatura; Negro como personagem; Negro como autor

Summary: The black and his blackness as entered in our literature. From object to subject, the
black paper and ink, sometimes by the look of the white, well built with their own hands. The
work performs a critical path for key moments of the black presence in the literature made in
Brazil, with emphasis on two aspects – the canonical and the african descent – with a view to
collating the images and portraits that emerge from them.
Keywords: Literature; Black people as a character; Black people as author

Percorrendo o cânone manteve boa parte dos remanescentes do regime servil


num estágio de dependência que, durante décadas,
No arquivo da literatura brasileira construído pelos redundou em efetivo sequestro de sua cidadania.
manuais canônicos, a presença do negro mostra-se Examinados os manuais – componente significativo
rarefeita e opaca, com poucos personagens, versos, cenas dos mecanismos estabelecidos de canonização literária –,
ou histórias fixadas no repertório literário nacional e verifica-se a quase completa ausência de autores negros,
presentes na memória dos leitores. Sendo o Brasil uma fato que não apenas configura nossa literatura como
nação multiétnica de maioria afrodescendente, tal fato branca, mas aponta igualmente para critérios críticos
não deixa de intrigar e suscitar hipóteses em busca de pautados por um formalismo de base eurocêntrica que
seus contornos e motivações. E já de início se configura deixa de fora experiências e vozes dissonantes, sob
de modo inequívoco um dado fundamental para esta o argumento de não se enquadrarem em determinados
reflexão: o fato de o negro estar presente muito mais padrões de qualidade ou estilos de época. Assim,
como tema do que como voz autoral. Uma evidência prevalece em nossa história literária o vai e vem pendular,
desta magnitude demanda que se investiguem suas causas que ora opõe romantismo a realismo, ora contrasta o
e implicações. De imediato, vislumbra-se no passado texto modernista ao parnasiano, deixando de observar,
histórico de escravização e preconceito motivos para esta por exemplo, a diferença construída por um poeta nada
redução a objeto da escrita alheia. Por mais que se recuse romântico como Luiz Gama, a publicar suas sátiras às
o mecanicismo sociológico que encara a arte como reflexo elites brancas em 1859, no auge do romantismo entre
da realidade histórica e social, não pode o crítico fechar nós. Ou, ainda, provocando a redução de Cruz e Souza a
os olhos ao processo de redução do escravizado a mera mero reprodutor do simbolismo fin de siècle, quando sua
força de trabalho braçal, pela via de seu embrutecimento escrita, inclusive em prosa, ultrapassa o projeto literário
enquanto ser humano. Por outro lado, não se pode também dos simbolistas. Ainda assim, é Cruz e Souza lembrado
ignorar a situação adversa existente a partir do treze de como “negro de alma branca”, o que implica não abordar
maio, marcada pela ausência de direitos mínimos como nada além de seus escritos de juventude, muito menos
escolarização e saúde, e pelo tratamento excludente que textos políticos como “Emparedado” e outros. Logo, uma
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série de omissões críticas se junta a fatores histórico- Avançando na cronologia, vê-se a parelha coadju-
culturais de modo a confinar o ensino da literatura aos vante/vilão se repetir no romance naturalista de Aluísio
nomes consagrados, deixando de fora importantes Azevedo. Em O cortiço (1890), Bertoleza – suicida e duas
escritores negros. Acrescente-se a isto a postura elitista vezes escravizada – e Firmo – capoeira assassinado pelo
que desqualifica gêneros literários tidos como “menores”, português –, percorrem o roteiro ditado pelo estereótipo
a exemplo da crônica e do memorialismo, bem como os e terminam desaparecendo na trama para que o discurso
textos marcados por posicionamentos mais incisivos naturalista/cientificista represente a vitória do mais forte.
quanto a desigualdades sociais, em especial no tocante às Em seguida, chega-se ao século XX, e, finalmente, ao
questões de raça e etnicidade. protagonismo afrodescendente no romance brasileiro:
Enquanto personagem, o negro ocupa um lugar Rei negro (1914), de Coelho Neto, “entroniza” em plena
menor na literatura brasileira.1 Na prosa, é um lugar escravidão Macambira, um “escravo de sangue azul”,
muitas vezes inexpressivo, quase sempre de coadjuvante que atua como feitor moralista cooptado pelo senhor; já
ou, mais acentuadamente no caso dos homens, de vilão. o protagonista de O feiticeiro (1922), do baiano Xavier
E isto desde os começos da produção letrada no país. Marques, como o próprio título anuncia, encena a
Entre coadjuvante e vilão se situam dois tipos românticos representação do culto aos orixás como feitiçaria, numa
produzidos pelo patriarca José de Alencar: a mãe, da operação redutora típica da lógica do estereótipo.
peça de mesmo nome, e o anti-herói de outra peça, à qual Nesta linha, vemos o Macunaíma, de Mário de
batizou com o título nada sutil de O demônio familiar. Andrade. Anti-herói por excelência, nasce índio/negro e
Entre a mãe vítima da escravidão e o moleque enredeiro se torna branco no deslocamento da selva para São Paulo.
e algoz do bom humor de seus senhores, está o negro O texto deixa à mostra seus fundamentos racistas, como
sob o jugo estreito do estereótipo: virtude vitimizada de na cena do embranquecimento do personagem, em que
um lado, falsidade e vilania, de outro. Em que medida a cor escura é não só “lavada”, como surge vinculada à
um escritor como Alencar repercute os valores de seu semântica do defeito físico. Ouçamos o “herói sem nenhum
público ou incute sua própria visão de mundo no leitor caráter”, já branquinho, depois de mergulhar no poço
e/ou espectador de seus escritos é preocupação que não mágico. Macunaíma vê o irmão repetir inutilmente o seu
deve faltar a uma crítica empenhada em compreender as gesto, pois a água estava “muito suja da negrura do herói”
relações da literatura com o contexto de sua produção. após o banho, e afirma: “– olhe mano Jiguê, branco você
Ainda quanto às figurações do feminino, nas ficou não, porém pretume foi-se e antes fanhoso que sem
mulheres o protagonismo ocorre com mais frequência, nariz.” (ANDRADE, 1978, p. 34). Já na cena da macumba
desde o romantismo, bastando lembrar Vítimas- de Tia Ciata, novamente predomina a estereotipia da
algozes, de Joaquim Manuel de Macedo, entre outros. feiticeira voltada para o mal, aliada ao exagero satírico
É, entretanto, um protagonismo marcado, em muitos com que Mário trata a cerimônia. Assim, o primeiro
casos, pela permanência, na ante cena textual, do mesmo grande romance modernista inaugura o que se pode
projeto de desumanização que subjaz à estereotipia. caracterizar como negrismo – apropriação eurocêntrica
Ele se manifesta em construções que ressaltam, por do tema do negro, folclórica e descompromissada, a
exemplo, a sensualidade e a disponibilidade para o ponto de nela caber o veredito debochado de Oswald de
sexo sem compromissos ou consequências, novamente Andrade: “macumba para turistas”.
de acordo com imagens sociais determinadas a priori, Na década seguinte, o negrismo prospera e dá
como a da “mulata assanhada” entre outras. Enquanto margem ao surgimento de protagonistas afro-brasileiros:
forma de aprisionamento social e cultural, o estereótipo Antônio Balduíno, figura central de Jubiabá (1935), de
petrifica as identidades em figurações de face única, ralas Jorge Amado, e o moleque Ricardo, do livro homônimo
e carregadas de univocidade. Com isto, estabelece uma de José Lins do Rêgo, também publicado em 1935, são
linha de continuidade entre construções propriamente os mais conhecidos. Balduíno cumpre uma trajetória
literárias e um imaginário social eivado de preconceitos.2 ascendente – de menino de rua a líder grevista – de acordo
1
com o sentido épico subjacente ao modelo do “herói
Muito já se escreveu sobre a presença do negro na literatura brasileira.
Tornaram-se clássicos os estudos de brasilianistas como Roger Bastide, positivo” da literatura socialista da época. E sua trajetória
Raymond Sayers, Gregory Rabassa, David Brookshaw, Steven White, demonstra vivamente a apropriação marxista da cultura
dentre outros. Assim como dos brasileiros Domício Proença Filho, Zilá
Bernd, Heloisa Toller Gomes, Benedita Damasceno, Moema Augel, Luiza afro-brasileira. Jorge Amado vê no capitalismo uma forma
Lobo, Nazareth Fonseca, Edimilson Pereira, Florentina Sousa, Leda de escravidão e constrói seu personagem “evoluindo” do
Martins, Oswaldo de Camargo, Jônatas Conceição, Cuti e Nei Lopes,
estes últimos dedicados tanto à crítica quanto à criação poética e ficcional.
antagonismo étnico e racial para a luta de classes. Assim,
2 Ver a propósito DUARTE, E.A. Mulheres marcadas: literatura, gênero, Balduíno inicia o livro derrotando no ringue o lutador
etnicidade. In: DUARTE, C.L.; DUARTE, E.A.; ALEXANDRE, M.A. alemão, mas termina num aceno camarada ao marinheiro
(Orgs.) Falas do Outro: literatura, gênero, etnicidade. Belo Horizonte:
Nandyala, 2010. branco. E, ao estranhar que o pai de santo, “que sabia

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tudo”, não tivesse lhe ensinado a greve, invade o culto romances brasileiros publicados pelas editoras de maior
para afirmar: “que adianta negro rezar, negro vir cantar prestígio no país em dois períodos – de 1965 a 1979,
para Oxóssi?” (AMADO, 1984, p. 299). abrangendo 80 escritores e 130 narrativas; e de 1990 a
Outros exemplos podem ser lembrados, da Xica 2004, com 165 escritores e 258 romances – revela dados
da Silva de Felício dos Santos ao Anjo negro, de de impacto. No campo da autoria, dentre os 245 nomes,
Nelson Rodrigues; e dos tantos pretos, mulatos (mas, maioria homens, nada menos que 93% são brancos, o que
sobretudo, mulatas) de Jorge Amado aos seres de papel leva a pesquisadora a afirmar que “embora o romance
que dão vida à ficção de João Ubaldo Ribeiro, Adonias contemporâneo venha perseguindo reiteradamente,
Filho ou Antônio Olinto. Destaque-se ainda Damião, o em seu interior, a multiplicidade de pontos de vista, do
protagonista de Josué Montello em Os tambores de São lado de fora da obra não há o contraponto; quer dizer,
Luís (1975). Escravo torturado no tronco e salvo por um não há, no campo literário brasileiro, uma pluralidade de
triz da castração, o personagem, anos depois, se rejubila perspectivas sociais.” (DALCASTAGNÈ: 2011, p. 312).
com a mestiçagem praticada por seus descendentes, a No campo da representação, o fenômeno se repete.
ponto do romancista encerrar o livro com o velho Damião No período 1990/2004, detectou-se um percentual de
se emocionando diante da morenice embranquecida do apenas 7,9% de personagens negros, frente a 79,8%
trineto que acabara de nascer. A cena deixa visível a de brancos (ibidem, p. 313), ou seja, dez vezes mais.
perspectiva que fundamenta o romance, pela qual “só na Analisando a posição de cada um nos enredos, os
cama” e “com o rolar do tempo” necessário ao amálgama números são mais estarrecedores ainda: do total, apenas
inter-racial “se resolveria o conflito de brancos e negros 5,8% são protagonistas e somente 2,7%, ou seja, quatro
no Brasil.” Conclui o narrador: personagens num universo de cento e sete, são narradores
e têm o poder de conduzir o texto. Além disso, mais da
Sua neta mais velha casara com um mulato; sua bisneta metade dos negros presentes nestas histórias cumprem
com um branco, e ali estava seu trineto, moreninho papeis de bandidos ou contraventores, empregados
claro, bem brasileiro. Apagara-se nele, é certo, a cor domésticos, escravos, profissionais do sexo ou mendigos.
negra, de que ele, seu trisavô, tanto se orgulhara. Mas
Já no período 1965/1979, há apenas 4,7% de personagens
também viera se diluindo, de uma geração para outra,
o ressentimento do cativeiro. Daí a mais algum tempo, negros, sendo que nenhum dos cento e trinta romances
ninguém lembraria, com um travo de rancor, que, tem um negro como narrador (ibidem, p. 314).
em sua pátria, durante três séculos, tinham existido Como se vê, o texto contemporâneo reproduz, em
senhores e escravos, brancos e pretos. (MONTELLO: grande medida, a atitude predominante no romance
1976, p. 479). brasileiro de todos os tempos: o sequestro do negro
enquanto individualidade pensante, guardiã de uma
O texto fala por si. Como tantos intelectuais formados memória tanto individual quanto familiar ou comunitária;
sob a égide do mito da democracia racial, Montello coloca o sequestro do negro enquanto voz narrativa, expressa
seus escritos a serviço da crença na mestiçagem como na primeira pessoa do singular, com as prerrogativas
resolução de conflitos e apagamento das diferenças, que se inerentes ao desnudamento da subjetividade em todos
diluiriam no cadinho da “meta-raça” brasileira defendida os seus aspectos; e o sequestro, por fim, da própria
por Gilberto Freyre. Reforça, pois, a perspectiva externa humanidade inerente à maioria dos brasileiros ao
e descompromissada que marca a representação do retratá-los sob a moldura estreita ditada pelo estereó-
negro no romance modernista, em muitos deles uma tipo e pelos metarrelatos da cordialidade e da democracia
representação empenhada em promover o esquecimento racial.
do passado escravocrata, como se pode ler na profissão de
fé presente no final de Os tambores de São Luís. O negro na literatura afro-brasileira
No entanto, o “rolar do tempo” não tem sido suficiente
para a superação da desigualdade e dos antagonismos É outro o lugar do negro na literatura de autoria negra.
calcados em mais de trezentos anos de regime servil. O E aqui, toma-se como premissa o reconhecimento da
preconceito e o racismo persistem como resíduos nefastos existência de um segmento específico – afro-identificado
de uma estrutura social que, ultrapassada pelo processo – presente em nossa produção literária. Esta vertente
histórico, busca sobrevivência na rede discursiva que negra ou afro-brasileira se constitui aos poucos, como
fornece sustentação ideológica ao comportamento discri- processo e devir, tendo como marco inicial o trabalho
minatório. Chega-se ao final do século XX e o que se tem dos precursores Domingos Caldas Barbosa e sua Viola
é o crescente embranquecimento da literatura brasileira de Lereno, ainda no século XVIII; Luiz Gama, com suas
canônica, tanto na representação quanto autoria. Pesquisa Trovas Burlescas de Getulino (1859); e Maria Firmina
realizada por Regina Dalcastagnè (2005, p. 13-71) em dos Reis, cujo romance Úrsula (também de 1859) traz

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pela primeira vez às nossas letras a África e o porão do Preta Suzana sobre a própria captura e a viagem no navio
navio negreiro. negreiro. E, nesse momento, a ficção ganha contornos
Em rápidas considerações, pode-se afirmar que fortemente realistas devido à semelhança com relatos
tal produção encontra sua especificidade na conjunção memorialísticos de ex-escravos, só posteriormente
de alguns elementos que lhe são próprios. Quando disponibilizados ao leitor brasileiro.
acrescentado ao texto do escritor negro brasileiro, o Já em Machado de Assis, o que se nota é o texto voltado
suplemento “afro” ganha densidade crítica a partir da para a crítica ao mundo dos brancos, marcada pela ironia
existência de um ponto de vista específico a conduzir a e por um conjunto de procedimentos dissimuladores. O
abordagem do sujeito negro, seja na poesia ou na ficção. ponto de vista afroidentificado nem sempre se explicita
Tal perspectiva permite elaborar o tema de modo distinto como em muitos autores contemporâneos. E isto também
daquele predominante na literatura brasileira canônica. tem a ver com público leitor de outras épocas, sobretudo
Muitos consideram que esta identificação entre sujeito e do século XIX e de pelo menos metade do século XX.
objeto nasce do existir que leva ao ser negro. Os traços O próprio Machado se considerava um “caramujo” a
de negrícia ou negrura do texto seriam oriundos do que a dissimular sua negrícia perante o leitor branco de seu
escritora Conceição Evaristo chama de “escrevivência”, tempo. É um capoeirista da linguagem, como já afirmou
ou seja, a experiência como mote e motor da produção Luiz Costa Lima. Por trás da aparente superficialidade de
literária. Daí o projeto de trabalhar por uma linguagem que muitos de seus contos e romances, como Helena, está a
subverta imagens e sentidos cristalizados pelo imaginário crítica ao discurso senhorial e à branquitude que busca
social oriundo dos valores brancos dominantes. É uma naturalizar esse discurso como verdadeiro. Machado
escrita que, de formas distintas, busca se dizer negra, até é precursor da literatura afro-brasileira por diversas
para afirmar o antes negado. E que, também neste aspecto, razões. Ressalte-se apenas duas, a segunda decorrente da
revela a utopia de formar um público leitor negro. A primeira: o ponto de vista afro-identificado, não branco
articulação desses cinco elementos – autoria, temática, e não racista, apesar de toda a discrição e compostura
ponto de vista, linguagem e público – configura, a nosso do “caramujo”; e o fato de matar o senhor de escravos
ver, a existência do texto afro-brasileiro. em seus romances, criando um universo ficcional que é
Esta é uma questão que se coloca aos pesquisadores alegoria do fim da escravidão e da decadência da classe
voltados para os estudos literários contemporâneos. que dela se beneficiou, ao longo de mais de 300 anos de
No meio acadêmico, literatura afro-brasileira é ainda nossa história.3
um conceito em construção, objeto de discussões e O negro surge marcado pela perspectiva interna na
controvérsias. Na prática, verificando-se o volume ficção de Lima Barreto, que faz dele um ser humano livre
de textos acumulados todo este tempo, não há como de estereótipos, como em Recordações de Isaías Caminha
duvidar da existência desta vertente de nossas letras, (1909) ou em Clara dos Anjos (1948). Ambos vítimas
ao mesmo tempo dentro e fora da literatura brasileira, de preconceito, Isaías e Clara são jovens que sentem na
como já defendia Octávio Ianni em seu antológico ensaio prática o peso social do estigma representado por sua
“Literatura e consciência”, de 1988. O veio afro que se faz condição étnica. E, pela via do drama que protagonizam,
perceber pela articulação dos cinco pontos de convergência transmitem aos leitores um forte painel das desigualdades
apontados, constitui uma vertente da literatura brasileira, raciais presentes na principal cidade do país nas décadas
mas, ao mesmo tempo, um suplemento – algo a mais que seguintes à abolição.
chega para abalar a inteireza do todo, da unicidade antes Ainda quanto ao início do século XX, é preciso
existente, sendo ainda uma articulação que parte de uma deter um pouco na obra de outro maranhense, igualmente
visada contemporânea e pós-nacional. relegado pela historiografia literária: José do Nascimento
Neste contexto, a representação do negro ganha Moraes. Em 1915, ele publica Vencidos e degenerados,
outros contornos. Na poesia, Luiz Gama refuta a herança que se inicia às 8 da manhã do dia 13 de maio de 1888,
europeia e se proclama “Orfeu de Carapinha”, a clamar algo raro, para não dizer inédito, no romance brasileiro.
pela “Musa da Guiné” ou “de azeviche”. Parte em seguida Além de toda a agitação ali ocorrida, traz, quase como
para a desconstrução da pretensa superioridade branca, em crônica histórica, as reações provocadas pela nova
poemas famosos como “A bodarrada” e outros. No mesmo situação na subjetividade e no comportamento de antigos
momento em que o poeta lançava suas impertinentes senhores e dos novos homens e mulheres livres. Há
Trovas burlescas, Maria Firmina dos Reis publicava em cenas de crueldade e violência que nada ficam a dever
São Luís do Maranhão o romance Úrsula, em que coloca a narrativas contemporâneas: ex-escravos que devolvem
o negro como referência moral da narrativa. O texto de
3 Para detalhamento da questão, ver DUARTE, E.A. (Org.) Machado de
Úrsula se apropria do discurso judaico-cristão a fim de Assis afrodescendente. 2. ed. rev. ampl. Rio de Janeiro: Pallas; Belo
condenar o escravismo e trazer o comovente relato da Horizonte: Crisálida, 2007.

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no rosto dos antigos senhores as bofetadas que sofriam E o personagem Emmanuel, distinto de seu grupo pela
diariamente; outros que apedrejam as mansões; outros formação universitária, ao final adquire a consciência e
que deixam o jantar queimando no fogão... E há brancos se despe das máscaras brancas a ele impingidas e indaga:
revoltados que se articulam para dar o troco, ou que, em “como poderia eu tornar o homem estranho à sua pele?
desespero, investem contra os próprios filhos. Nascimento Inimigo do espírito que sustenta seu próprio corpo?”
Moraes traça um panorama realista do regime servil e (1979, p. 133).
de sua continuidade sob novas formas de exploração, Nesta linha, seguem os personagens de Oswaldo de
respaldadas pelo racismo, tal como previsto por Machado Camargo, seja dos contos reunidos em O carro do êxito
de Assis. E, muito antes de Gilberto Freyre, desconstrói (1972), seja na novela A descoberta do frio (1979). Nesta,
o mito da democracia racial e a entronização do treze de negros de carne e osso convivem com outro personagem
maio como happy end apaziguador e consagrador da ideia no mínimo instigante, o frio:
de escravidão benigna. Hoje, escritores como Oswaldo
de Camargo, Cuti, Miriam Alves, Conceição Evaristo e Por isso, quando Zé Antunes apareceu na cidade,
vários outros têm na denúncia do preconceito um dos afirmando que no País soprava um frio que só os
negros sentiam e, que tinha certeza, tal frialdade,
pontos centrais de seu projeto literário.
com seu gélido sopro, já fizera desaparecer um
Nos anos 1930 e seguintes, três poetas negros incalculável número deles, quase todos que souberam
– Solano Trindade, Lino Guedes, e Aloisio Resende – de tal descoberta riram muito com a notícia e do seu
prosseguem, em pleno apogeu do modernismo, com divulgador.
a representação diferenciada da figura do negro, tanto Zé Antunes, porém, não recuou, mas respondeu, num
homem como mulher. E, então, pode-se perceber a herança desafio:
de Luiz Gama e Cruz e Souza frutificar no tratamento – Provo a quem quiser a existência do frio.
marcado pela superação dos estereótipos racistas, fruto (CAMARGO, 2011, p. 23)
do ponto de vista interno ao negro e à sua cultura. Esta
negrícia ou negrura se manifesta tanto no enfoque do E, mais uma vez, a força do ponto de vista interno
mundo do trabalho e das relações socioeconômicas desvenda a humanidade pujante de seres de ficção
– a exemplo do conhecido “Tem gente com fome”, de vislumbrados de dentro, a partir de um eu que luta contra
Solano Trindade, quanto em versos em que a política a escravidão espiritual manifesta no preconceito.
identitária se faz presente: “Eu sou o poeta negro / De Já Joel Rufino dos Santos, aplaudido por seu
muitas lutas / As minhas batalhas / Têm a duração de trabalho de historiador, investe fortemente na literatura
séculos.” (TRINDADE: 1999, p. 52). Já Lino Guedes, de ficção, tanto para adultos quanto para crianças, o que
ignorado pelas histórias da literatura brasileira apesar dos só faz ampliar seus méritos de criador. Sua biografia
treze livros publicados, alerta seus leitores no momento romanceada de Zumbi dos Palmares, já com dezenas
em que muitos afro-brasileiros vinham sendo cooptados de edições, traz para o jovem leitor toda a força do
pelo integralismo fascista de Plínio Salgado: “negro preto empreendimento quilombola, bem como a dimensão
cor da noite / nunca te esqueças do açoite / que cruciou histórica da república negra existente por quase um século
tua raça.” (1936, p. 34). Essa presença do passado irá na Serra da Barriga. E Zumbi é retratado como “preto
se constituir num dos eixos centrais da literatura negra pequeno e magro que venceu mais batalhas do que todos
ou afro-brasileira. A memória não apenas das lutas, os generais juntos da História brasileira.” (1985, p. 27).
mas também das práticas religiosas e outras formas Por sua vez, em Crônica de indomáveis delírios (1991),
de resistência cultural dá o tom da poesia de Aloisio o autor rasura com requintes surrealistas o discurso
Resende, em que os rituais dos terreiros ganham feição do romance histórico ao fazer ninguém menos do que
poética e isto num tempo fortemente marcado pelos ideais Napoleão Bonaparte desembarcar em Recife durante a
eugenistas difundidos pelo nazismo. Revolução de 1817 e defender o fim imediato do trabalho
Assim, o resgate de uma memória de lutas e de escravo. Já em Bichos da terra tão pequenos (2010),
práticas ancestrais ganha registro impresso nas páginas põe em cena o negro Vinquinho – apelido repetido pela
dos autores afrodescendentes. Na década de 1940, é a irmã e oriundo de uma marca que o personagem traz na
vez do Teatro Experimental do Negro – TEN, dirigido por testa. Transformado em traço identitário, o vinco ganha
Abdias Nascimento, iniciar experiência exitosa tanto no foros de metáfora traumática e remete a outras cicatrizes
campo artístico quanto no social, ao levar arte e educação guardadas no corpo e na subjetividade não só deste, como
a segmentos negros excluídos da leitura e da cidadania. de outros negros que circulam nos morros cariocas por
Além de formar atrizes como Ruth de Souza e Lea Garcia, onde se desenrola a trama. Mais do que isto, remete às
o TEN ousa ao montar um terreiro como cenário da peça feridas abertas que movem o enredo, pois Vinquinho não
Sortilégio, em pleno Teatro Municipal do Rio de Janeiro. sabe quem é seu pai.

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Nesta linha, surge Beiçola, personagem de “Até a sujeito: ora forte, ora frágil, às vezes vitorioso, outras
água do rio”, narrativa que abre o volume Vinte contos e tantas, derrotado. Mas é quase sempre alguém que não
uns trocados (2006), de Nei Lopes. Nele, a marca étnica, se entrega.
além de remeter implicitamente à condição social, é como Nesta linha, surgem obras-primas como “Conluio
que esfregada em seus ouvidos a todo instante pela força de perdas”, presente na coletânea Contos crespos (2008).
do apelido repetido dentro e fora de casa, como num No texto, o relato em primeira pessoa do homem que,
eterno bulliyng. E o talento do ficcionista se manifesta na já viúvo, assiste o filho ir ao banco para atividades de
forma como o trauma orienta a trajetória da criança, logo rotina, sofrer um assalto com tiroteio e morte, ser preso
transformada em bandido frio e violento, sobretudo com por engano e, deprimido, sair de casa, ganha contornos
seus vizinhos de morro. Beiçola remete ao Prudêncio, de de tocante perplexidade. Ao contrário do “brutalismo”
Memórias póstumas de Brás Cubas e, de vítima, passa com que Alfredo Bosi caracteriza o tema da violência no
a carrasco de seus semelhantes. Mas, diferentemente do conto brasileiro contemporâneo, o que se tem aqui não é
personagem de Machado, tem nas mãos o fuzil em lugar a violência como simples objeto da ficção. Em “Conluio
do chicote. de perdas”, o texto encena os efeitos dessa brutalidade e
Autor prolífico e incansável, Nei Lopes trouxe envolve o leitor na reflexão sobre o fenômeno.
a público nos últimos anos nada menos do que quatro Mais: quem conduz todo o processo é o narrador
romances. Em Mandingas da mulata velha na cidade negro em primeira pessoa, o que desvela e aproxima a
nova (2009), percorre o universo da “Pequena África” subjetividade da personagem com a do leitor. Além disso,
carioca para encenar os primeiros passos dos ranchos, em dois momentos, a fala do pai dá lugar à fala do filho,
do samba e dos cultos afro-brasileiros. Sua protagonista oprimido pela ausência da mãe e por uma sociedade cuja
alude diretamente à célebre Tia Ciata e recebe no livro polícia nada tem de cordial em se tratando de racismo.
tratamento edificante, oposto, aliás, ao conferido por Outro aspecto a ser destacado situa-se na linguagem. O
Mário de Andrade em Macunaíma. Já em Oiobomé (2010), ponto de vista interno à vítima se manifesta pela fala de
cognominado “rapsódia” pelo autor, o tom de diálogo um eu que toma a palavra não para subir no púlpito ou
com o poeta modernista persiste. O romance percorre vociferar panfletos, mas para que o leitor ouça a tocante
o passado histórico brasileiro e faz seu personagem – confissão de suas perdas. Descarta-se o maniqueísmo
um contemporâneo de Tiradentes – fugir para a ilha de e vê-se que até as perdas podem trazer ganhos, numa
Marajó para lá fundar a república negra de Oiobomé. linguagem que mescla com habilidade o poético em meio
Predomina o tom de paródia, em que o autor mistura às cenas mais duras.
figuras históricas com seres de ficção. Lugar utópico, um De Cuti chega-se a Conceição Evaristo e à expressão
Estado perfeito, formado por quilombolas e indígenas do “brutalismo poético”, termo com que tentei, anos
revoltados com a dominação portuguesa, em Oiobomé atrás, caracterizar a fusão de realismo cru e ternura que
não há analfabetismo nem criminalidade. E a ideia de uma marca as narrativas da autora. Desde contos como “Di
nova cultura no exercício do poder se materializa com a Lixão”, “Maria”, “Ana Davenga”, “Olhos d’água” ou os
morte do herói fundador no meio da trama. Desaparece o romances Ponciá Vicêncio (2003) e Becos da memória
“Pai” do país, para que este possa renovar periodicamente (2006), até as narrativas presentes em Insubmissas
seus governantes até escolher, no final do romance, uma lágrimas de mulheres (2011), a autora vem firmando um
mulher como principal mandatária. estilo em que se nota a mão da poetisa a trançar linhas e
Outro nome a ser lembrado é Cuti, pseudônimo contornos dos enredos. Em sua ficção, momentos da mais
de Luís Silva, um dos fundadores do Quilombhoje, intensa candura são quebrados pela irrupção repentina da
seguramente o mais longevo e produtivo coletivo de violência, tanto física quanto simbólica. E, ao contrário
escritores brasileiros, cujo principal feito – a série do que se vê em muitos autores, não busca Evaristo
Cadernos Negros – tem seu início em 1978, com volumes amenizar ou adocicar a dureza de um cotidiano marcado
anuais alternados de poemas e contos, perfazendo até pelo tratamento o mais das vezes desumano de que são
o momento 35 edições. Além de dramaturgo e poeta vítimas seus personagens. Do contraste ao sobressalto, as
inventivo e atento à herança dos precursores, Cuti foi cenas ganham intensidade e chocam mais por seus efeitos
construindo, desde o lançamento de Quizila em 1987, do que pela exposição da violência em si. Tem-se, deste
uma sólida trajetória de ficcionista, com habilidade para modo, o descarte tanto da brutalidade como espetáculo,
elaborar desde histórias repletas de sarcasmo e ironia quanto de sua naturalização como inerente ao processo
até narrativas em que o poético desabrocha de forma a histórico, ambas atitudes comuns nas representações
surpreender o leitor. Artista empenhado num projeto em midiáticas do negro.
que a literatura não se afasta da política identitária, em Outro ponto a destacar é a revisitação do passado,
seus contos e poemas o negro surge em sua inteireza de seja para narrá-lo a partir de uma visada interna à

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subcidadania a que ficaram relegados os remanescentes da do humor, a exemplo Mulher mat(r)iz, de Miriam Alves
escravização, seja para ressaltar os efeitos deste processo ou Só as mulheres sangram, de Lia Vieira. São obras
na contemporaneidade. É então o momento em que suas que circulam majoritariamente em circuitos alternativos,
tramas penetram nas vielas e territórios da exclusão social infelizmente. Resta torcer para que consigam atingir
para trazer à cena o protagonismo negro. maior visibilidade e, quem sabe, cumprir a utopia que
Este se destaca também em Cidade de Deus, de os move: formar um público leitor afrodescendente que
Paulo Lins (1997), sucesso de público no Brasil e no com eles se identifique. Pois é outro o negro que ali se
exterior, além de concorrer ao Oscar na versão filmada apresenta.
por Fernando Meirelles. A narrativa adota também a
linguagem crua no modo de exposição da violência Referências
urbana, ainda remanescente da estética do choque
herdada dos naturalistas, mas vai aos poucos mesclando ALVES, Miriam. Mulher mat(r)iz. Belo Horizonte: Nandyala,
esta crueza com instantes de humor ou com a poesia que 2011.
marca os devaneios e recordações dos jovens marginais. AMADO, Jorge. Jubiabá. 46. ed. São Paulo: Record, 1984.
Já em Desde que o samba é samba (2012), Paulo Lins, AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. Rio de Janeiro: Editora
volta ao passado para narrar a vida boêmia do Rio de Americana, 1973.
Janeiro da década de 1920, trazendo como protagonistas ANDRADE, Mário de. Macunaíma, o herói sem nenhum
os artistas responsáveis pela invenção do samba de rua e caráter. Ed. crítica de Telê Porto Ancona Lopez. São Paulo:
pela primeira escola de samba. Rio de Janeiro: LTC; São Paulo: SCCT, 1978.
Para finalizar este rápido panorama, impossível não BARRETO, Afonso Henriques de Lima. Recordações do
se referir a Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves, escrivão Isaías Caminha. São Paulo: Ática, 1984.
vencedor do Prêmio Casa de las Américas de 2007. O BARRETO, Afonso Henriques de Lima. Clara dos anjos. 4. ed.
romance se apropria da biografia de Luiz Gama, mais Pref. de Sérgio Buarque de Holanda. São Paulo: Brasiliense,
especificamente, da atribulada história de sua mãe, Luiza 1974.
Mahin, logo transformada em Kehinde – protagonista de BOSI, Alfredo. Introdução. In: O conto brasileiro contem-
uma saga de quase mil páginas, que se inicia na África porâneo. São Paulo: Cultrix, 1976.
e termina em pleno oceano Atlântico. A escritora adota CAMARGO, Oswaldo. O carro do êxito. São Paulo: Martins,
o modelo da metaficção historiográfica para trazer não 1972.
a heroína idealizada pelo Movimento Negro, mas um CAMARGO, Oswaldo. A descoberta do frio. 2. ed. São Paulo:
ser forte o suficiente para resistir e, mais tarde, superar Ateliê Editorial, 2011.
o processo de escravização; e, ao mesmo tempo, humano CUTI. Contos crespos. Belo Horizonte: Mazza, 2008.
o suficiente para se deixar levar por atitudes incorretas. DALCASTAGNÈ, Regina. A personagem do romance brasileiro
Escapa deste modo tanto à estereotipia do negro como contemporâneo: 1990-2004. Estudos de literatura brasileira
agente do mal, quanto do modelo do negro-vítima. Em contemporânea. Brasília, n. 26, p. 13-71, jul./dez. 2005.
sua busca interminável por encontrar o filho vendido DALCASTAGNÈ, Regina. A personagem negra na literatura
como escravo, Kehinde se distancia destes extremos para brasileira contemporânea. In: DUARTE, Eduardo de Assis;
afirmar sua humanidade e determinação. FONSECA, Maria Nazareth Soares (Orgs.). Literatura e
afrodescendência no Brasil: antologia crítica. Belo Hori-
Por este painel sucinto, pode-se aquilatar o peso zonte: Editora UFMG, 2011. Vol. 4: História, teoria, polêmica,
da diferença produzida pela literatura de autoria p. 309-337.
afrodescendente, que hoje se afirma cada vez mais. Na DUARTE, Eduardo de Assis (Org.). Machado de Assis
poesia de Oswaldo de Camargo, Éle Semog, Oliveira afrodescendente. 2. ed. rev. ampl. Rio de Janeiro: Pallas; Belo
Silveira, Cuti, Miriam Alves, Edimilson de Almeida Horizonte: Crisálida, 2007.
Pereira, Conceição Evaristo, Esmeralda Ribeiro, Salgado DUARTE, Eduardo de Assis. O Bildungsroman afro-brasileiro
Maranhão e Cristiane Sobral, entre outros, expressa de de Conceição Evaristo. In: Revista estudos feministas, v. 14,
diversas formas a positividade do ser negro, mulher ou n. 1, 2006.
homem; revisita a história, celebra os ancestrais e as EVARISTO, Conceição. Ponciá Vicêncio. Belo Horizonte:
divindades do culto afro; e denuncia, às vezes de forma Mazza, 2003.
explicitamente militante, a discriminação contemporânea. EVARISTO, Conceição. Becos da memória. Belo Horizonte:
Mas trata também de tópicos universais, a exemplo do Mazza, 2006.
amor e do erotismo, situando-os em nova perspectiva. EVARISTO, Conceição. Poemas de recordação e outros
Na ficção, reproduz estas linhas de força, em especial movimentos. 2. ed. Belo Horizonte: Nandyala, 2011.
a recuperação crítica do passado; persiste ainda uma EVARISTO, Conceição. Insubmissas lágrimas de mulheres.
linhagem contundente sem se descuidar da leveza vinda Belo Horizonte: Nandyala, 2011.

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O negro na literatura brasileira 153

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