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RESUMO
O processo histórico do Brasil é marcado por identidades subtraídas de grupos
étnico-raciais na formação dos territórios negros gaúchos, bem como, as trajetó-
rias e nomenclaturas e municípios brasileiros tem o apagamento de suas narra-
tivas negras, dos movimentos quilombolas e territorialidade étnica. A pesquisa
apresenta um panorama do território gaúcho com sua presença negra em lugares,
pontos turísticos e nas cidades, que por ora (des)conhecem todo o marco e capi-
tal simbólico do contexto local, regional e global. Primeiramente, o aporte teórico
metodológico é oriundo de pesquisas acadêmicas para o Doutorado em Educação,
Arte e História da Cultura, perpassando por uma narrativa familiar e na presença
étnico-racial oriunda das populações indígenas e negras. Para finalizar, estas são
pesquisas preliminares que desenvolver-se-ão em documentos históricos e carto-
rários sobre a territorialidade gaúcha e antagonizando com processos individuais
e coletivos.
Palavras-Chave: História (Brasil – Rio Grande do Sul). Territorialidade negra.
Identidade. Narrativas.
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Lilian Soares da Silva
ABSTRACT
The historical process of Brazil is marked by identities subtracted from ethnic-ra-
cial groups in the formation of black territories of Rio Grande do Sul, as well as, the
trajectories and nomenclatures and Brazilian municipalities have the erasure of
their black narratives, the quilombola movements and ethnic territoriality. The re-
search presents an overview of the gaucho territory with its black presence in plac-
es, sights, and cities, which for now (un)know all the landmark and symbolic capi-
tal of the local, regional, and global context. Firstly, the theoretical-methodological
contribution comes from academic research for the Doctorate in Education, Art,
and Cultural History, going through a family narrative and the ethno-racial pres-
ence coming from the indigenous and black populations. To conclude, these are
preliminary research that will develop in historical and notarial documents about
the gaucho territoriality and antagonizing with individual and collective process-
es.
Keywords: History (Brazil - Rio Grande do Sul). Black territoriality. Identity. Nar-
ratives.
RESUMEN
El proceso histórico de Brasil está marcado por las identidades sustraídas de los
grupos étnico-raciales en la formación de los territorios negros de Rio Grande do
Sul, así como, las trayectorias y nomenclaturas y los municipios brasileños tienen
el borrado de sus narrativas negras, los movimientos quilombolas y la territoria-
lidad étnica. La investigación presenta una visión general del territorio gaucho
con su presencia negra en lugares, monumentos y ciudades, que por ahora (des)
conocen todo el hito y el capital simbólico del contexto local, regional y global. En
primer lugar, el aporte teórico-metodológico proviene de la investigación acadé-
mica del Doctorado en Educación, Arte e Historia de la Cultura, pasando por una
narrativa familiar y la presencia étnico-racial proveniente de la población indígena
y negra. Para concluir, se trata de investigaciones preliminares que se desarrolla-
rán en documentos históricos y notariales sobre la territorialidad gauchesca y el
antagonismo con los procesos individuales y colectivos.
Palabras Clave: Historia (Brasil - Rio Grande do Sul). La territorialidad negra. La
identidad. Narraciones.
INTRODUÇÃO
A historiografia brasileira e o contexto social da população negra
são um tema recente e latente na sociedade contemporânea, no qual, os
territórios negros estão reivindicando, lutando e resistindo para sua histó-
ria, memória e narrativas contem sobre nós e de nós para as nossas crian-
ças, jovens e adultos. Por um lado, a historiografia por distintos olhares e
posições desde a vinda dos escravos há estudos e registros, mas o que não
há recente são estudos da inserção das Comunidades Quilombolas como
RIHGRGS, Porto Alegre, n. 161, p. 103-123, dezembro de 2021.
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Identidades subtraídas: grupos étnicos-raciais na
formação dos territórios negros gaúchos
nica. Outros referenciais poderiam ser incluídos, quando dos estudos sobre
o Darwinismo e a medição dos crânios da população negra para a compro-
vação cientifica de sua inferioridade, ou do tráfico forçado e o apagamento
das memorias com voltas aos pés do Baobá, ora pela queima dos documen-
tos históricos por Rui Barbosa, do pertencimento étnico racial de algumas
personalidades negra, que antes eram compreendidas como brancas, Lima
Barreto, Machado de Assis, Chiquinha Gonzaga e entre outras e outros que
lutaram, resistiram e propiciaram para que estivéssemos hoje aqui.
Sociedade essa que, ainda tem muitos aprendizados com as filoso-
fias africanas, indígenas e afrodiaspóricas, que nos ensinam sobre a cos-
mologia do mundo e da natureza, que por ora vivem e sobrevivem em uma
lógica ocidental, taxonômica e estereotipada.
Com relação a origem e pertencimento identitário:
ditado: “ninguém sabe, ninguém viu”. De manhã cedo, ele saiu de casa, já
anoitecia e ele não havia retornado, todos preocupados, minha mãe e meu
tio já estava a caminho do aeroporto de São Paulo, quando recebemos uma
ligação dizendo: - Ele chegou. Chegou e onde estava? e a resposta foi cate-
górica: -Não queria festa, então sai e fui para Canguçu.
Na época esse relato não foi relevante e ninguém o questionou, por
que havia retornado as suas origens? O que ele tinha feito durante todo o
dia? O que ele queria saber? Lembrar ou viver de seu passado? Passou, e
perdemos uma grande oportunidade de estórias e memórias conhecer de
sua, da nossa e da minha ancestralidade.
Já, ampliando-se para o território de Santa Catarina, também é
um reduto da cultura negra em sua singularidade com as Comunidades
Remanescentes de Quilombo retratadas no Boletim informativo “Territó-
rios Quilombolas: reconhecimento e titulação das terras” por intermédio
do Núcleo de Estudos sobre Identidade e Relações interétnicas (NUER) no
Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Fe-
deral de Santa Catarina. Apresentando que:
em Ohio, nos EUA, onde apresentou seu discurso mais conhecido denominado “E eu não sou
mulher?” Tal discurso, feito de improviso, foi registrado por Frances Gages, feminista e uma
das autoras do grande compêndio de materiais sobre a primeira onda feminista, denominado
The History of Woman Suffrage, porém, a primeira versão registrada foi feita por Marcus
Robinson, na edição de 21 de junho de 1851, no The Anti-Slavery Bugle. (RIBEIRO, 2019, p.15)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A produção acadêmica é constituída da territorialidade negra do sul
do Brasil, no qual, o lugar de fala como pesquisadora, professora da Educa-
ção Básica e Mestre em História da África, da Diáspora e dos Povos Indíge-
nas propiciaram como trabalho de campo na Comunidade Remanescente
de Quilombo na Bahia, ressignificar uma ancestralidade, as memórias e as
narrativas familiares, que antes não eram valorizadas. Isso porque, como
afirma minha mãe “antes não se perguntava”, logo, as histórias e as lem-
branças eram perdidas com o passar dos anos, com o distanciamento das
famílias e, principalmente pelos presentes deslocamentos nos territórios.
Territórios estes que, são marcantes na região sul, mas ainda desconhe-
cidos de grande parte da população. Em suma, cabe ressaltar que o traba-
lho é um panorama da territorialidade que ainda requer estudos, relatos
e narrativas para complementar e (re)construir os espaços, as terras e as
cidades gaúchas da perspectiva afrocentrada e a afroreferenciada em sua
multiplicidade de olhares. Olhares esses que, na pesquisa vertical com da-
dos mais robustos sobre a cultura gaúcha, a história da cidade de Pelotas,
o entrelaçamento com a história da comunidade negra e seu apagamento,
bem como os planos urbanos que negam e destituem de lugar marcos his-
tóricos dessa presença em imagens, a imagem em texto e antagonizando
com documentos.
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Identidades subtraídas: grupos étnicos-raciais na
formação dos territórios negros gaúchos
Recebido em 15/02/2021
Aprovado em 24/06/2021