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HISTÓRIA DE MATO GROSSO

IMPÉRIO

ANTUTÉRPIO DIAS PEREIRA


VILA BELA OU CUIABÁ?
Em 1821, houve uma disputa entre as cidades de
Cuiabá e Vila Bela para ver qual delas seria a capital
da nova Província.
Vila Bela era a capital de direito e Cuiabá a de
fato, pois o penúltimo capitão-general, João Carlos
Oeynhausem de Gravemburgo, fixou residência em
Cuiabá, ocasião em que ofereceu grandes festividades,
acompanhadas de apresentação de peças teatrais e
muita música.
Em seu governo foram fundados o Hospital dos
Lázaros, a Santa Casa de Misericórdia e o Hospital
Militar, e ainda franqueada a navegação pelos rios
Arinos e Tapajós.
Quando o seu sucessor Francisco de Paula Magessi
tomou posse, constatou a precária situação financeira
da Capitania, frente ao que resolveu adotar medidas
drásticas para conter os gastos públicos.
Após 18 meses governado de Cuiabá, Francisco de
Paula Magessi transferiu sua residência para Vila Bela.

Aproveitando-se da ausência do capitão-general, um


grupo político decretou deposto o governador, tendo
sido, nessa ocasião, eleita para governar a Capitania
uma Junta Governativa.
Ao tomar conhecimento da deposição de Paula
Magessi, a população de Vila Bela, que abrigava o
governante deposto, igualmente, organizou outra
junta Governativa, que para conseguir adeptos à sua
causa prometeram algumas mudanças:
 a abolição da escravatura;

A Lei Nova (o amor livre seria declarado lícito);


Essas promessas “modernas”, fizeram com que as
outras vilas não merecesse o apoio das vilas mais
próximas, como foi o caso de Vila Maria (Cáceres),
que apoiou a junta cuiabana.

Após a independência , o Imperador nomeou um


Governo composto por elementos de ambas as
juntas, até que o mesmo decidisse quem ocuparia o
cargo de Presidente da Província.
Em 1824, é nomeado José Saturnino da Costa
Pereira, como Primeiro Presidente da Província
no Império. Consolidando a vitória de Cuiabá
sobre Vila Bela.

Essa disputa pelo poder político teve como


protagonistas apenas as elites.
A SOCIEDADE CUIABANA
A sociedade estava dividida em:

topo da escala social: as elites dirigentes,

No centro, uma rala camada média;


Na base, uma massa populacional que sequer era
alfabetizada, que vivia num universo cultural
diferenciado, onde a oralidade era a forma de
transmissão, às gerações mais novas, dos valores
culturais e religiosos.
A RUSGA
Em Mato Grosso havia na época da Regência dois
partidos políticos: os conservadores (Caramurus) e os
liberais que ambicionavam a tomada do poder
provincial.
Os liberais, articulados junto a Sociedade dos
Zelosos da Independência. Os Caramurus,
organizados junto à Sociedade Filantrópica.
Ambas composta pela elite mato-grossense.
A facção dos Liberais Moderados desejava
somente assumir a administração do
Governo de Mato Grosso, o que lhes
possibilitava colocar em prática os ideais
liberais(chegar ao poder).
Em Mato Grosso o Presidente era Antônio
Correa da Costa (partido Caramuru).
Os motivos da revolta
A Sociedade dos Zelosos da Independência
traçara um plano para desestabilizar o poderio da
elite proprietária de terras e comercial que sempre
ocupava os melhores cargos públicos.
Proclamaram um movimento armado para tomar
o Quartel das Guardas Municipais e derrubar o
Governo de Antônio Correa da Costa.
Os mais exaltados queriam também expulsar da
Província todos os elementos que dominassem o
grande comércio.

Ao descobrir o plano o Presidente da província,


afastou-se do governo ficando o mesmo nas mãos de
um Conselho de Governo composto por elementos
retirados da elite cuiabana. Dentre eles estava João
Poupino Caldas (da sociedade dos Zelosos, porém
moderado).
Poucos dias antes de eclodir a Rusga, João Poupino
Caldas, foi nomeado, dentre os Conselheiros do
Governo, Presidente da Província. Numa tentativa
desesperada de impedir o movimento armado.
Esse fato satisfez a ala dos Liberais Moderados;
entretanto a facção dos Radicais desejava ir além:
Expulsar da Província os portugueses e
estrangeiros que já haviam sido beneficiados
durante o longo período Colonial e lutar pela
alteração do sistema político do Brasil, de
Império para República.
Surpreso com a violência da movimentação
Poupino saiu às ruas acompanhado do bispo D. José
Antônio dos Reis, solicitando aos revoltosos que
parassem o movimento.
 Indignados com a atitude do governante, os
revoltosos prosseguiram com as perseguições,
mantendo, paralelamente ao governo oficial, outro,
montado no Quartel, de onde eram emanadas as
ordens.
Poupino solicitou à Regência que enviasse, com
urgência, um sucessor. Este ao assumir o governo,
tratou de desencadear o processo repressivo contra os
revoltosos.

João Poupino Caldas ficou ao lado do novo


Presidente, dando-lhe apoio político.
João Poupino Caldas, quando se despedia dos
amigos e parentes, foi covardemente
assassinado. Esse assassinato revela a força política
do grupo Liberal e a divisão existente no seio dele:
Moderados e Exaltados.
CARACTERÍSTICAS DO MOVIMENTO
Quanto à escravidão:
Nenhum dos grupos envolvidos não planejavam
acabar com a escravidão negra ou indígena;

A questão racial:
A rusga também foi impulsionada pela questão de
cor, visto que os revoltosos eram na sua maioria
mulatos ou crioulos, e inferiorizados pelos brancos, a
quem chamavam de caiados.
O alibi dos revoltosos:
Para praticar todos os saques, assassinatos e roubos,
os revoltosos diziam a população inquieta, que a
Regência havia decretado uma anistia, segundo a qual
era permitido, pelo tempo dois meses, matar e roubar
os adotivos(estrangeiros ricos e seus amigos)

A rusga foi um dos mais precoces movimentos


regenciais, visto que foi deflagrado em 1834.
OS QUILOMBOS EM MATO GROSSO
Os escravos eram as “mãos e pés dos senhores de

engenho”, em Mato Grosso, os negros trabalhavam :


Nos engenhos de açúcar;

Nas fazendas de lavouras;

E sobretudo, junto aos trabalhos de mineração.


Ligados diretamente ao sistema produtivo, eles eram
chamados “escravos do eito”, morando nas fazendas e
residindo nas senzalas.

O tratamento dado ao escravo - considerado uma


mercadoria – era revestido de extrema violência.

As fugas eram constantes para locais distantes


(quilombos), a esses fugitivos dava-se o nome de
quilombola.
O mais famoso quilombo foi o do Piolho ou
Quariterê, situado na região do rio Guaporé, próximo
ao rio Piolho, erguido entre os anos de 1770/1771. Era
constituído por negros, índios, crioulos e caburés.
 Formou-se uma bandeira para recapturar os
quilombolas que cercou o quilombo de madrugada , o
que facilitou a sua destruição.
Era governado por uma rainha, Tereza de
Benguela, viúva de José Piolho, antigo rei falecido
antes da sua destruição.

Reunidos em praça pública os negros capturados


foram expostos em praça pública.
O QUILOMBO DA CARLOTA
Preocupado com a formação de novos quilombos no
rio Piolho, o capião-general de Mato Grosso , João de
Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres, resolver criar
uma aldeia no exato lugar onde, antes, erguera o
Quilombo do Piolho.
Para isso, libertou vários casais de velho escravos e os
enviou para residir ali. Este local recebeu o nome de
Aldeia Carlota, em homenagem à rainha de Portugal.
O QUILOMBO DO CANSANÇÃO
Estava localizado à margem direita do rio Manso do
Sul, ao pé da Serra Azul, na estrada de Paranatinga.
Este local era elevado representava uma importante
fator de defesa e salvaguarda dos quilombolas.

Os quilombos eram constituídos de escravos


africanos, índios, homens livres pobres, desertores
das forças armadas e criminosos.
O EXTRATIVISMO EM MATO
GROSSO
MATO GROSSO SE LIGA AO MUNDO
PELO RIO PARAGUAI
 Em Mato Grosso, o porto fluvial de maior porte
era o de Corumbá, para onde aportavam navios
de grande calado, sendo que para os de Cuiabá e
Cáceres somente chegavam as chatas e vapores.

 Assim foi criada em Corumbá, uma alfândega,


por onde se recolhiam os impostos relativos às
operações de importação e exportação de
mercadorias.
 Decorrentes deste intenso comércio,
surgiram as Casas Comerciais,
responsáveis pelos negócios cambiais e de
exportação e importação de mercadorias.
 A abertura da navegação pelo rio Paraguai favoreceu o
nascimento das primeiras indústrias em Mato Grosso:
 usinas de açúcar e do charque, através dos saladeiros,
que eram indústrias responsáveis pela produção de
carne-seca, caldos de carne, curtição do couro, etc. um
dos mais famosos saladeiros foi do de Descalvados,
localizado na região de Cáceres e que foi montado com
capital estrangeiro (Belga).
A ERVA-MATE

 A erva-mate é uma planta nativa das Américas e do


Brasil e, conseqüentemente, familiar aos índios, que a
denominavam “caa”. Ao ser analisada na Europa,
ficaram comprovadas as seguintes propriedades:
 descansava os músculos;

 atenuava a fome;

 possuía função diurética;

 era rica em alcalóide( ação anestésica, analgésica, psico-


estimulantes, neuro-depressores)
 afrodisíaca.
 Quando terminou a Guerra do Paraguai, foi
montada uma Comissão demarcadora dos limites
geográficos entre os países beligerantes.
 Tomás Laranjeiras era um comerciante que fazia
o papel de abastecedor de gêneros dessa
Comissão.
 Em suas andanças pela fronteira sudoeste,
verificou ele a existência de grande quantidade
de erva-mate, em terras do sul de Mato Grosso,
nativa da região.
 Pouco tempo depois dessa constatação, solicitou
ele do Governo de Mato Grosso autorização para
explorá-la, sob a forma de arrendamento.
O governo mato-grossense assinando com
ele vários contratos de arrendamento.
Laranjeira contratou mão-de-obra
paraguaia para a extração da erva,
trabalhadores conhecidos como
“mineiros”.
 Como as terras da região sul de Mato Grosso eram
aquelas onde a erva-mate proliferava abundantemente, a
Companhia resolveu criar uma cidade, sede das
atividades comerciais e gerenciais:
 nascia Porto Murtinho que passou a interligar-se a
várias outras cidades, através de estradas de ferro e de
rodagem, sendo que Campanário nasceu da expansão
exportadora da produção, via Paraná.

O SISTEMA DE TRABALHO
O sistema de trabalho era assalariado por
tarefa, ou seja, o empregado que saía de
manhã cedo pra o trabalho, ao regressar à
sede da Companhia, tinha pesada e
anotada, pelo capataz, sua produção diária.
 Ao final do mês, seu salário deveria ser correspondente
ao volume de sua produção. No entanto, a maior parte
desses trabalhadores, estava em débito com a
Companhia, isso porque, para se alimentar, vestir e
cuidar de sua saúde e de sua família, eram obrigados a
comprar nos armazéns da empresa.

 Ao final do mês, as despesas do trabalhador, eram


descontadas de sua já reduzida folha de pagamento.
A Companhia Mate Laranjeira, tornou-se muito
poderosa, pois possuía autonomia para gerenciar
seus negócios, mantinha uma força policial
própria, um capital extenso e, principalmente,
subsidiava e emprestava verba para o Governo
de Mato Grosso.
 Essa Companhia passou a ser um Estado dentro
de outro Estado, tal o seu prestígio e poder.
 Após a implantação do Estado Novo (1937/45),
o cenário regional vai sofrer uma forte alteração,
momento em que, após a derrocada do poder dos
“Coronéis” do Norte do Estado, foi atacado o
poder dos coronéis sulistas; o maior deles estava
representado pela Laranjeira, Mendes &
Companhia.
A POAIA, IPECA OU IPECACUANHA

 A poaia, ipeca ou ipecacuanha é raiz de um arbusto


pequeno, de folhas esverdeadas, que possui propriedades
medicinais, devido ao alto teor de alcalóides,
especialmente a emetina, substância utilizada no
tratamento de disenterias, problemas estomacais,
bronquites, coqueluches e tosses.

 Tal como a erva-mate, a poaia á era conhecida dos índios


brasileiros e utilizada por eles na cura de muitas doenças.
 Nativa das terras tropicais, a poaia tem sua
produção aumentada graças a um trabalho
harmônico e espontâneo da natureza:os pássaros
ingerem-nas e depois defecam suas sementes,
replantando-a naturalmente.
 As matas de poaias se localizam, em Mato
Grosso, entre a região de Cáceres e a Chapada
dos Parecis.
 Um grande número de trabalhadores era
contratado, pelas empresas, para extraírem
a raiz. O contrato era feito à base de
salário, correspondente à quantidade de
poaia extraída, portanto os trabalhadores
recebiam por produção , de forma que o
salário era sempre proporcional à
quantidade de sacas de poaia.
Uma vez contratado para trabalhar nas matas de poaia, o
trabalhador tornava-se, totalmente dependente da
empresa que o empregara.
 Isso porque desde o momento em que o poaieiro
chegava à mata, munido dos instrumentos de trabalho e
com determinada porção de alimentos, já estava
devendo à empresa, pois isto era-lhe dado, como
adiantamento de pagamento.
 Caso ele necessitasse de mais alimentos roupas, ou
remédios, deveria suprir essa falta, adquirindo estas
mercadorias junto ao armazém da empresa.

 A maioria dos poaieiros, ao final de 6 meses de trabalho,


embrenhados na mata e sem ver a luz do sol, convivendo
com uma umidade intensa, geralmente estava doente,
enfraquecida.
 Grande parte deles ia trabalhar, nesse intervalo, na
extração do látex.
A BORRACHA
 Dentre as atividades extrativistas de Mato Grosso,
destaca-se o látex, liquido retirado das mangabeiras e
seringueiras nativas na região norte de Mato Grosso, e
em toda extensão amazônica.
 Quando Charles Goodyear descobriu o processo de
vulcanização da borracha e que Hancock tornou-a mais
elástica e resistente, essas plantações nativas de Mato
Grosso e da Amazônia foram valorizadas e exploradas
comercialmente.
 Como não havia plantações de mangabeiras e de
seringueira no Velho Mundo, a mataria-prima utilizada
na fabricação de pneus e outros objetos tinha no Brasil o
grande celeiro que abasteceria os mercados europeus.

 Se imaginava enriquecer rapidamente com a


comercialização do látex, pois o mercado brasileiro
abastecia fartamente de borracha as industrias européias.
 No entanto, após 1913, a borracha brasileira entrou em
decadência, devido a concorrência da similar plantada e
comercializada na Ásia.
 Ao contrário da extração da poaia, a do látex deveria
ser efetuada somente no período da seca (maio a
novembro), pois as chuvas o danificavam, tornando-o
impróprio para utilização industrial.
 Como o proprietário do capital, o seringalista impunha
um sistema de leis e códigos de conduta por ele
estabelecidos.
 Sua vontade era a lei. Endividados, mesmo antes de
iniciarem os trabalhos, os seringueiros tornavam-se
totalmente dependentes das leis impostas ao seringal.
 Os seringueiros estavam de tal maneira presos
ao sistema, que sequer poderiam ter liberdade de
comprar fora dos armazéns da empresa.

 Caso isso acontecesse e fosse descoberto, o


seringueiro era obrigado a pagar 50% do valor
da compra ao seringalista.
 Essas atividades produtivas estimularam o comércio
local, especialmente após a abertura da navegação pelo
rio Paraguai, quando as Casas Comerciais mato-
grossenses se incumbiram do comércio de exportação e
importação de mercadorias, atividade da qual
acumularam grandes somas de dinheiro.
 Mais tarde, no final do século passado, estas Casas
Comerciais passaram a aplicar o capital acumulado no
comércio, em atividades produtivas, como: adquiriram
grandes extensões de terras (latifúndio) de onde
extraíram o látex (borracha bruta), criavam gado,
dedicando-se também a oferecer navios próprios das
empresas para conduzir mercadorias e passageiros.
 Além dessas atividades, os donos das
Casas Comerciais passaram a emprestar
dinheiro aos produtores locais, fazendo-se
às vezes de banqueiros.
AS USINAS DE AÇÚCAR
O pioneiro em transformar o Engenho
em Usinas, devido a facilidade de
importação e exportação pelo rio
Paraguai no pós-guerra do Paraguai
foi Totó Paes, dono da USINA
ITAICI, situada rio Cuiabá
Abaixo(Santo Antonio do Leverger).
 A Usina primava pela auto-suficiência. Os empregrados
não precisavam sair dela para adquirir os produtos.
 Totó mandou cunhar moedas próprias para circularem
somente no interior da Usina. Essa moeda recebeu o
nome de TAREFA.
O SISTEMA DE TRABALHO
 A vida dos trabalhadores era muito sacrificada, visto que
trabalhavam, por ocasião da colheita, até 15 horas,
iniciando a jornada às 04 horas da manhã.
 Quando iam receber os salários, eram lhes descontadas
as suas despesas e as de sua família, feitas no armazém.
Nas usinas eram produzidos
açúcar, rapadura, álcool e
aguardente.
Durante o final do século XIX até
os anos de 1930, muitas usinas
floresceram ao longo dos rios
Cuiabá e Paraguai.

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