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As principais causas da Guerra do Contestado e suas consequências

Acadêmicos:

André Leão de Souza

Débora Eulália Tanquella Gomes

João Pedro Lima

Juliano Diniz de Quadros

Luiza da Silva de Oliveira

Tutor Externo: Ricardo Figueiró Cruz


RESUMO

Este estudo tem como objetivo apresentar uma análise sobre os principais motivos da Guerra do
Contestado e suas consequências. A guerra do contestado foi um conflito da população sertaneja
contra as autoridades municipais e estaduais de Santa Catarina e Paraná. Aconteceu entre 1912 e 1914.
Foi considerada uma guerra entre pobres e ricos. Esse conflito teve origens complexas e envolveu uma
série de fatores sociais, econômicos, políticos e culturais. Dentre os principais motivos estão a
concentração fundiária e o impacto da construção da estrada de ferro São Paulo – Rio Grande. A
construção dessa ferrovia implicou grande deslocamento da população sertaneja, caboclos e pequenos
agricultores de um território que era terra pública, mas que foi apropriado pela Companhia Ferroviária.
A exploração de madeira na área envolvida, desencadeou conflitos, pois muitos camponeses tiveram
suas terras usurpadas, levando ao surgimento de movimentos de resistência. A partir das informações
obtidas por meio de pesquisa, foi realizada uma reflexão sobre os motivos da guerra e as dificuldades
da época. Com base nestas reflexões, podemos afirmar ter sido um momento emblemático da
constituição do capitalismo no Brasil, de um lado os coronéis e oficiais do governo impondo
violentamente a construção da ferrovia para dar suporte ao crescimento do país, de outro, os sertanejos
que eram desapropriados das terras que utilizavam para sua sobrevivência.

Palavras-chave: Guerra do contestado, Sertanejos, Estado Republicano, Ferrovia.

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho traz as principais causas da Guerra do Contestado e suas


consequências. Está dividido em: Resumo, introdução, fundamentação teórica, metodologia,
resultados, discussão e conclusão. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica e
pesquisa na internet. Em nosso estudo, apresentamos alguns motivos que na época levaram o
povo a se revoltar contra o governo e assim iniciar a Guerra do Contestado. Apresentamos a
dificuldade enfrentada pelos sertanejos e caboclos que viviam do cultivo nas terras envolvidas
no conflito.
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O que levou a acontecer a Guerra do contestado e o que esse conflito causou ontem e
hoje? Desenvolvemos com essa pergunta, uma pesquisa sobre o que era vivenciado na
primeira década do século XX, nos estados de Santa Catarina e Paraná. Analisando os fatos
acerca da construção da estrada de ferro e a maneira como foi imposta, expondo os maus
tratos envolvendo os oficiais do governo para com o povo que morava próximo as terras
desapropriadas.
A guerra do Contestado é ainda hoje um conflito pouco trabalhado no imaginário
brasileiro. Entre 1912 e 1914, em meio as matas de Araucária que permeiam os estados de
Santa Catarina e Paraná desenvolveu-se esse conflito armado que se estima que tenha custado
cerca de vinte mil vidas. Todos os historiadores parecem concordar que as causas do conflito
são diversas e complexas, mas concordam também que um dos pivôs centrais, foi a questão da
disputa agrária entre o governo, latifundiários e posseiros sertanejos.
Outro ponto que chama atenção é o caráter religioso, até messiânico, que alude o
conflito; lideranças religiosas emergiram e espalharam mensagens de resistência muito
semelhantes ao Guerra de Canudos. A construção de uma ferrovia na região catalisou as
tensões locais já citadas e aumentou as tensões ao acrescentar na região milhares de
trabalhadores acompanhados de suas famílias e militares, aumentando da exploração do local.
Com esse panorama formado, buscamos esclarecer as causas do conflito e quais as suas
consequências, não só na época como ainda hoje.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Como problema norteador de pesquisa, questionamos: Quais as principais causas da


guerra do Contestado e suas consequências? Conduzindo a investigação para uma análise
abrangente das origens e seções desse conflito histórico, investigando as suas consequências a
curto e longo prazo.
Seguindo a tendência nacional da época em construir ferrovias, foi iniciada a
construção da ferrovia que ligava São Paulo ao Rio Grande do Sul. Esta ferrovia passaria
pelos estados de Santa Catariana e Paraná. Milhares de pessoas se deslocaram para a região,
no intuito de trabalharem na construção da ferrovia. A região era contestada pelos dois
estados, por isso o nome da guerra, pois era rica em erva-mate e madeira.
No início do século XX, principalmente por causa do aumento do preço da erva-
mate, a região de Curitibanos e Canoinhas viveu um expressivo aumento populacional e os
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caboclos-posseiros desta região passaram a conviver com a ameaça da perda de sua


autonomia (MACHADO, 2004, p.99). Essa região era composta de uma faixa de terras com
aproximadamente trinta quilômetros de largura e que atravessava os dois estados, essa área foi
desapropriada para a construção da Estrada de Ferro, com isso ocorreu a expulsão dos
posseiros da região e a falência de vários pequenos fazendeiros que viviam da extração da
madeira. Logo após a inauguração, os trabalhadores ficaram desempregados, provocando uma
crise social.
Ainda em 1908 o industrial americano Percival Farquhar, proprietário da Holding
Brazil Railway Company, comprou o controle da EFSPRG, a companhia que então
administrava a construção da estrada. Percival visava lucrar com a enorme quantidade de
madeira extraída das antigas e abundantes florestas de Araucária que predominavam na
região. Após isso, recebeu por parte do Governo Federal a concessão das referidas áreas
territoriais, dando início a Southern Brazil Lumber & Colonization Company, conhecida
simplesmente como Lumber.Em paralelo a isso, logo após a Proclamação da República,
ocorreu a separação entre Estado e Igreja, afastando o governo da Igreja Católica. Contudo, a
religiosidade era uma marca forte na população do interior do Brasil. A região do Contestado
se tornou um terreno fértil para o surgimento de movimentos messiânicos, liderados por
líderes carismáticos como o Monge José Maria do Santo Agostinho. Esses líderes prometiam
aos seguidores a redenção Espiritual, a luta contra a opressão e promessas de uma vida
melhor, sem os sofrimentos causados pela pobreza. O messianismo religioso desempenhava
um papel central na mobilização das massas. Os sertanejos acreditavam nesse discurso e
aderiam ao modo de vida proposto por esses líderes, sendo capazes de se armar para defender
as comunidades onde habitavam.
Segundo MACHADO, (2004, p.153):
O desafio permanente que se coloca é o de como pensar as práticas de religiosidade
enquanto constitutivas dos modos de vida dos caboclos e como dimensão
fundamental da cultura. As práticas nos desafiam a pensar nas concepções de um
mundo que são referências para a leitura do próprio mundo que, na cultura cabocla,
passa pela mediação da religiosidade.

O governo brasileiro viu os movimentos do Contestado como uma ameaça à ordem


pública e à propriedade privada. A análise de Auras (2001, p. 169) salienta que o governo
brasileiro entendeu os movimentos do Contestado como uma ameaça à ordem pública e à
propriedade privada. O conflito armado na região foi visto como uma resposta do poder
republicano à resistência dos sertanejos contra o avanço das relações capitalistas,
transformando uma questão social em um caso policial.
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Figura 1- Mapa da Guerra do Contestado.

FONTE: Senado Federal.


Segundo Machado, professor da UFSC, “Desde meados do século XIX este território
era trilhado por determinados indivíduos que foram denominados como “monges” e
“profetas” pela população sertaneja. O mais famoso deles foi o monge João Maria, um
religioso leigo, que sinalizava determinadas fontes de águas, que logo passaram a ser
denominadas pela população como “águas santas” ou “águas do monge”. O culto a João
Maria passou a fazer parte do cotidiano de diferentes camadas da população planaltina, o que
implicava em seguir determinados padrões de comportamento, atitudes de defesa das fontes
de águas, restrições às queimadas e noções anticapitalistas próprias de um catolicismo
popular”.
O Estado então respondeu com repressão, enviando forças armadas e polícia para a
região, o que resultou em confrontos sangrentos. Com o envio de tropas do governo, o líder
messiânico e seus seguidores se mudaram para Irani, que, na época, pertencia à Palmas e
estava próximo à fronteira entre Paraná e Santa Catarina. Como as terras da fronteira estadual
eram alvo de disputas, José Maria fez a sua ocupação. A polícia paranaense foi enviada para
dispersar os invasores. Com o agravamento da situação, o governo federal, com os dois
estados, enviou tropas com muitas armas para derrotarem os inimigos, porém não obtiveram
êxito. O primeiro confronto resultou na morte de onze sertanejos, entre eles o Monge José
Maria, causando a dispersão do grupo sertanejo. Porém a mensagem messiânica de José Maria
ainda ecoava e em 1913 os sertanejos voltaram a reunir-se e continuar a luta.
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A guerra teve episódios de extrema violência, incluindo confrontos armados, cercos e


massacres, como o Massacre de Santa Maria, que resultou na morte de centenas de pessoas.
De acordo com CARVALHO (2002, p.158), “A experiência histórica destes posseiros ao
longo do século XIX e o conjunto de valores construídos a partir desta experiência fazia-os
perceber uma injustiça material e moral cometida por pessoas poderosas.” Depois de
inúmeros confrontos com mortes e violência, matando milhares sertanejos de forma violenta
as tropas federais conseguiram derrotar os seguidores de José Maria do Santo Agostinho com
uso de armamentos pesados e aviões de artilharia.
A Guerra do Contestado deixou um legado de morte, destruição e sofrimento para a
população da região. Além disso, a repressão do estado enfraqueceu ainda mais a situação dos
camponeses, contribuindo para a concentração de terras e perpetuando a desigualdade social.
A principal consequência foi a assinatura de um acordo entre paranaenses e catarinenses,
resolvendo as questões de fronteira que, há anos, estendiam-se pela Justiça. Nas terras
contestadas, surgiram cidades como Mafra, Chapecó e Porto União.

3. METODOLOGIA

Para trabalhar o tema da Guerra do Contestado e suas causas e consequências o grupo


utilizou como fonte para suas pesquisas materiais de livros, sites, mapas e artigos que
tratavam da disputa. Durante reuniões online entre os integrantes de diversas localidades do
país, comparamos os dados obtidos na análise das fontes disponíveis. O material abundante e
de fácil acesso permitiu comparar datas, locais e nomenclaturas. Assim podemos então
elaborar de forma linear uma narrativa consistente e confiável dos fatos ocorridos durante o
conflito.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Por intermédio de nossa pesquisa, sintetizamos de forma concisa, porém coerente, um


breve resumo elucidativo dos acontecimentos, visando clarificar e proporcionar discernimento
acerca das causas e consequências do conflito, que mesmo possuindo grande repercussão no
meio acadêmico, ainda carece de visibilidade no repertório histórico brasileiro.
Ao debruçarmo-nos sobre as dimensões da Guerra, sejam elas o número de mortos, o
choque de ideias e classes ou até mesmo a imensidão da área em disputa e o teatro de
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operações, fica evidente que o que muitos consideram uma epopeia no Sul do país ainda
ocupa pouco espaço no cânone nacional.

5. CONCLUSÃO
Numa visão mais global, é importante compreender a Guerra do Contestado sob a ótica
dos eventos históricos que marcaram o Brasil e o mundo nas primeiras décadas do século XX.
A Primeira Guerra Mundial, que iniciou em 1914, acendeu um estopim no cenário
internacional, gerando mudanças geopolíticas e econômicas significativas. No Brasil, a
Proclamação da República em 1889 trouxe uma série de mudanças estruturais de caráter
social, evidenciando desigualdades e tensionando as relações entre as classes mais e menos
favorecidas da sociedade.
Durante a elaboração da pesquisa, o que se destacou foi a assimetria entre a proporção
do conflito, a força das ideias divulgadas e sua representatividade na historiografia nacional.
O simbolismo assumido durante a revolta também demonstra o tamanho do impacto da
chegada do Capitalismo em uma região rural praticamente isolada. O imenso número de
baixas e a amplitude do território envolvido também mereceram destaque. Nesse enredo, a
região do Contestado tornou-se um palco de resistência às forças do progresso e do
capitalismo, representadas pela expansão das ferrovias e pela crescente demanda por recursos
naturais, como a erva-mate. A reação dos caboclos e posseiros, embora localizada
geograficamente, refletia um fenômeno mais amplo de enfrentamento às mudanças impostas
pela modernização em diversas partes do Brasil. Além disso, a década de 1920 testemunhou a
emergência de movimentos sociais e a busca por novas formas de representação política. O
tenso cenário mundial, caracterizado por pós-guerra e mudanças ideológicas, refletiu nas
batalhas e resistências dos sertanejos do Contestado, que desafiaram não apenas as forças
governamentais, mas também os modelos socioeconômicos da época.
Dessa forma, ao analisarmos a Guerra do Contestado, somos conduzidos a nos
incluirmos nesses eventos históricos mais amplos, entendendo não apenas como um conflito
regional, mas como parte de um cenário complexo de mudanças e desafios que atravessaram
as primeiras décadas do século XX. A complexidade dessas causas e o impacto que ainda hoje
é percebido, inclusive no imaginário popular da região demonstram que a Guerra do
Contestado, embora quase desconhecida em outras regiões do país se faz presente na região,
indicando que há muito material disponível para futuras pesquisas do tema em diferentes
abordagens, como a tradição de José Maria, que não se restringiu ao período da guerra e
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mesmo após a sua morte seus ideais ainda são relevantes. Prova disso é que mesmo após a
guerra e a “pacificação” sertanejos levaram sua luta em Mafra no ano 1921, Concórdia
em1922, Soledade em 1935 e Timbó Grande em 1942. Ainda hoje entre as comunidades
caboclas e quilombolas fala-se no conhecimento popular pregado pelo Monge e suas noções
anticapitalistas e de proteção ecológica.

REFERÊNCIAS

AURAS, Marli. Poder Oligárquico Catarinense: da guerra dos fanáticos à opção pelos
pequenos. Tese (Doutorado em Educação) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
1991.

CARVALHO, José Murilo de. "Forças Armadas na Primeira República: O poder


desestabilizador". In: FAUSTO, Boris (org.). História Geral da Civilização Brasileira. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 1997. Tomo III, volume 2.

MACHADO, Paulo Pinheiro. Lideranças do Contestado: a formação das chefias caboclas


(1912-1916). Campinas: Editora da Unicamp, 2004.

MACHADO, Paulo Pinheiro. Um estudo sobre as origens sociais e a formação política das
lideranças sertanejas do Contestado, 1912-1916. Campinas, SP: Unicamp, Tese de
Doutorado em História, 2001.

ELLIOT, Elisabeth. "Igreja Medieval: O que é, características e mais". Stoodi Ensino e


Treinamento a Distância S.A., São Paulo, v.10, n.28, set. 2020. Disponível em:
https://www.stoodi.com.br/blog/historia/igreja-medieval. Acesso em: 27 de novembro de
2022.

Senado Notícias. Há 100 anos, o fim da sangrenta Guerra do Contestado. Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2016/07/01/ha-100-anos-o-fim-da-sangrenta-
guerra-do-contestado. Acesso em: 23 de julho de 2023.

Quer Republicar e Essa. A aventura cabocla do Contestado: o conflito e seu desfecho.


Disponível em: http://querepublicaeessa.an.gov.br/temas/97-tema-contestado.html. Acesso
em: 12 de agosto de 2023.

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