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RESUMO
Percebida por muitos pesquisadores como um evento de impacto regional, por ter ocorrido em
terras do Estado de Santa Catarina, no sul do Brasil, poucos observadores reconheceram que a
Guerra do Contestado (1912-1916) promoveu desdobramentos de repercussões mais amplas.
Dos esforços para a modernização do Exército brasileiro às políticas no campo militar, muitos
foram os assuntos onde a campanha do Contestado foi lembrada para a tomada de decisões. O
objetivo deste trabalho é discutir o papel da Guerra do Contestado na reorganização e
modernização do Exército no séc. XX e seus possíveis desdobramentos no campo das
relações internacionais relativas à área militar.
1 Introdução
*
Doutor em História Social pela Universidade de Brasília (UnB). É membro do Corpo Permanente da Escola
Superior de Guerra (ESG). Contato: salomao.edu@gmail.com
conteúdo idealista e religioso. Para os rebeldes, a luta contra os desmandos dos coronéis-
fazendeiros e das autoridades respondia não somente ao sentimento de indignação diante das
injustiças sofridas, mas atendia ao chamado de profecias que anunciavam uma guerra cujo
resultado inauguraria um novo tempo, onde a justiça divina promoveria felicidade e paz.
Pensando o tema com enfoque pertinente à defesa, no sentido atual do termo, é
necessário reconhecer que, em termos estritamente militares, o Contestado não é facilmente
reconhecido como uma guerra. Sob o ponto de vista da sociologia histórica, tomando por
referência o estudo de Charles Tilly a respeito da origem e da ocorrência das guerras (TILLY,
1996, p. 127 e ss.), no Contestado não se observou um embate entre forças antagônicas
equivalentes tendo por propósito alcançar um determinado objetivo estratégico.
Pela sua natureza e manifestações, o Contestado pode ser mais bem compreendido
como um movimento sociorreligioso (SALOMÃO, 2012). O que, deve-se alertar, não exclui
reconhecer a ocorrência de manifestações políticas e sociais diversas, mas atribuir um caráter
ou expressão predominante ao movimento. Para os propósitos deste trabalho, será observado
que para os militares o ocorrido envolvia sufocar um movimento rebelde, ou seja, uma
insurreição. A campanha militar, dada as suas dimensões, ficou conhecida como “pequena
guerra” e como tal foi tratada pelo Exército (CARVALHO, 1915).
Este trabalho pretende discutir em que medida a guerra no Contestado repercutiu na
promoção da reforma e modernização do Exército brasileiro com reflexos para a condução
das políticas hoje nomeadas de defesa, abrangendo aspectos pertinentes as relações
internacionais na área militar.
A pesquisa em curso foi pautada pelo exame qualitativo das obras sobre o assunto,
baseando-se em revisão bibliográfica e levantamento de fontes documentais a cerca do
problema em estudo. No tocante ao estado da arte referente ao escopo deste artigo, dois
autores se destacam. A tese do historiador Rogério Rodrigues (2008) é um dos estudos mais
significativos a respeito da relação entre a Guerra do Contestado e a modernização do
Exército brasileiro. No que toca a história política da instituição militar, a referência é a obra
de Frank D. McCann Soldados da Pátria (2009). Também foram relevantes, no que se refere
ao pensamento e ação dos militares, as reflexões de José Murilo de Carvalho (2005). Para a
compreensão da evolução da instrução e educação militar, foi fundamental o livro Os
indesejáveis, de Fernando Silva Rodrigues (2010).
Com relação às fontes sobre a campanha militar, destacam-se as publicações de
Demerval Peixoto (1916), de Herculano T. de Assunção (1917), o relatório ao Ministério da
Guerra do general Setembrino de Carvalho (1915). Com o propósito de confrontar as
informações presentes nas obras dos autores supracitados, bem como subsidiar a discussão
proposta, foram de grande relevância a consulta a documentos do Congresso Nacional
brasileiro, do Ministério da Guerra, do Estado-Maior do Exército, jornais, revistas, obras e
documentos de época.
6 Considerações finais