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TURMA REGULAR
CONHECIMENTOS GERAIS
MÓDULO – I I
JANEIRO - FEVEREIRO
2022
PORTUGUÊS E REDAÇÃO Prof. Rafael Dias
MATEMÁTICA Prof. César Loyola
GEOGRAFIA ECÔNOMICA Prof. Odilon Lugão
HISTÓRIA MILITAR NAVAL Prof. Vagner Souza
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CURSO www.cursoadsumus.com.br – adsumus@cursoadsumus.com.br - ESTUDE COM QUEM APROVA!
Sumário
PORTUGUÊS ............................................................................................................................. 5
Tipos de argumentos / parágrafos ........................................................................................................................................ 7
RECONHECIMENTO DA IDEIA PRINCIPAL E DO ARGUMENTO DE APOIO DE UMA DISSERTAÇÃO ....................... 8
PLANEJAMENTO - Exemplo de roteiro de planejamento .................................................................................... 16
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................................................... 18
ADJETIVO.............................................................................................................................................................................. 24
ADVÉRBIO ............................................................................................................................................................................ 29
PREPOSIÇÃO ........................................................................................................................................................................ 32
NUMERAL ............................................................................................................................................................................. 38
MATEMÁTICA ........................................................................................................................ 41
POTENCIAÇÃO E RADICIAÇÃO .................................................................................................................................................. 43
TEORIA DOS CONJUNTOS ....................................................................................................................................................... 50
FUNÇÕES .............................................................................................................................................................................. 63
FUNÇÃO AFIM (POLINOMIAL DO 1º GRAU) ............................................................................................................................... 66
FUNÇÃO QUADRÁTICA (POLINOMIAL DO 2º GRAU) .................................................................................................................. 68
FUNÇÕES EXPONENCIAIS ........................................................................................................................................................ 71
FUNÇÕES LOGARÍTMICAS ....................................................................................................................................................... 73
GEOGRAFIA............................................................................................................................ 87
5. A LÓGICA DOS ESPAÇOS INDUSTRIAIS (continuação) .............................................................................................................. 89
5.3 - Ciclos tecnológicos da Revolução Industrial (continuação) ................................................................................................. 89
5.4 - Desemprego ................................................................................................................................................................... 89
5.5 - Países pioneiros no processo de industrialização - Cenários Regionais ................................................................................ 90
5.6 - Países de industrialização planificada ............................................................................................................................ 104
5.7 - Países recentemente industrializados ............................................................................................................................. 115
6. - BRASIL: modelo econômico, dinâmicas territoriais e o espaço industrial ............................................................................. 122
6.1 - Origens da industrialização brasileira ............................................................................................................................. 122
6.2 - A economia brasileira a partir de 1985 ........................................................................................................................... 128
6.3 - Estrutura e distribuição da indústria brasileira ................................................................................................................ 133
7. O Meio Técnico - Economia e Tecnologia: Geografia e Política da Energia .............................................................................. 135
7.1 - Introdução - O Pano de fundo global .............................................................................................................................. 135
7.2 - A matriz energética mundial ........................................................................................................................................... 138
AS NAÇÕES
(Continuação)
5) Grã-Bretanha ................................................................................................................................ 003
6) Alemanha ...................................................................................................................................... 024
7) Japão ............................................................................................................................................. 032
8) Estados Unidos ............................................................................................................................. 039
Artigo: Evolução Tecnológica no Setor Naval na Segunda Metade do Século XIX e as Consequências Anx
para a Marinha do Brasil.
BRASIL
Capítulo I – A Descoberta do Brasil ............................................................................................. 061
1) As Razões da Expansão Marítima ................................................................................................ 061
2) Os Portugueses se Espalham pelo Mundo .................................................................................... 063
3) A América Descoberta .................................................................................................................. 064
4) O Acordo de Tordesilhas .............................................................................................................. 066
5) O Caminho das Índias Decifrado .................................................................................................. 067
6) A Viagem de Cabral ..................................................................................................................... 067
4
P
O
R
T
U
G
U
Ê
S
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6
REDAÇÃO
Tipos de argumentos / parágrafos
1. Argumento de autoridade: ajuda a sustentar o ponto de vista, pois lança mão da voz de um especialista, uma
pessoa respeitável (líder, artista, político) ou uma instituição de pesquisa considerada autoridade no assunto em debate.
Ex: O cinema nacional conquistou, nos últimos anos, qualidade e faturamento nunca vistos antes. “Uma câmera na mão e
uma ideia na cabeça” - a famosa frase-conceito do diretor Gláuber Rocha virou uma fórmula eficiente para explicar os R$
130 milhões que o cinema brasileiro faturou no ano passado. (Adaptado de Época, 14/04/2004).
2. Argumento por exemplificação: pretende-se levar o leitor a admitir a tese ou a conclusão justificando-a por meio
de exemplos de um fato ocorrido, mostrando que aquilo que se defende é válido.
Ex: Vejam os exemplos de muitas experiências positivas — Jundiaí (SP), Campinas (SP), São Caetano do Sul (SP), Campina
Grande (PB) — sistematicamente ignoradas pela grande imprensa. Tantos exemplos levam a acreditar que existe uma
tendência predominante na grande imprensa do Brasil de só noticiar fatos negativos.
3. Argumento por comparação: O argumentador pretende levar o leitor a aderir a sua tese de modo a mostrar
diferenças e semelhanças entre dois ou mais lados.
Ex: A quebra de sigilo nas provas do Enem 2009, denunciada pela imprensa, faz todos indagarem quem seriam os
responsáveis. O sigilo de uma prova de concurso deve pertencer ao âmbito das autoridades educacionais e não da mídia.
Assim como a imprensa é responsável por seus próprios sigilos, as autoridades educacionais devem ser responsáveis pelo
sigilo do Enem.
4.Argumento de provas concretas ou de princípio: comprova seus argumentos com informações incontestáveis:
dados estatísticos, fatos históricos, acontecimentos notórios.
Ex: De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio (PNAD) de 2008, o telefone, a televisão e o computador
estão entre os bens de consumo mais adquiridos pelas famílias brasileiras. Esses dados mostram que boa parte desses
bens de consumo é ligada ao desejo de se comunicar. A presença desses três meios de comunicação entre os bens mais
adquiridos pelos brasileiros é uma evidência desse desejo.
5.Argumentação por causa e consequência: a tese ou a conclusão é aceita justamente por ser uma causa ou uma
consequência dos fatos apresentados, ou seja, um fato ocorre em decorrência de outro.
Ex: Ao se desesperar num congestionamento em São Paulo, daqueles em que o automóvel não se move nem quando o
sinal está verde, o indivíduo deve saber que, por trás de sua irritação crônica e cotidiana, está uma monumental ignorância
histórica. São Paulo só chegou a esse caos porque um seleto grupo de dirigentes decidiu, no início do século, que não
deveríamos ter metrô. Como cresce dia a dia o número de veículos, a tendência é piorar ainda mais o trânsito.
2. Argumentação histórica
Quem assiste à televisão hoje talvez nem imagine que seu compromisso inicial, quando chegou ao país, há pouco
mais de meio século, fosse com educação, informação e entretenimento. Não se pode negar que ela evoluiu – transformou-
se na maior representante da mídia, mas, em contrapartida, esqueceu-se de educar –, informa relativamente e entretém de
maneira discutível.
Quando opinamos a respeito de alguma coisa, temos o objetivo de convencer nosso interlocutor ou leitor de que estamos
corretos. Para atingir esse objetivo não basta emitir a opinião, é preciso argumentar, ou seja, desenvolver raciocínios,
apresentar provas, exemplificar de forma a sustentar nosso ponto de vista.
IDEIA PRINCIPAL =
______________________________________________________________________________________________
ARGUMENTO DE APOIO =
______________________________________________________________________________________________
A) “Os seres humanos não vivem juntos, não vivem em sociedade, apenas porque escolhem esse modo de vida, mas porque
a vida em sociedade é uma necessidade da natureza’’.
B) “A televisão é prejudicial, pois torna os modos de pensar dos espectadores muito parecidos, uniformiza-os’’.
C) “A violência mostrada na televisão não tem o mesmo efeito em todos os países; por exemplo, a televisão japonesa é de
uma violência terrível e os índices de criminalidade são baixíssimos no Japão’’.
a) As leis já existentes que limitam o direito de porte de arma e punem sua posse ilegal são os instrumentos que
efetivamente concorrem para o desarmamento, e foram as responsáveis pelo grande número de armas devolvidas por
todos os cidadãos responsáveis e cumpridores da lei, independentemente de sua opinião a favor ou contra o ambíguo e
obscuro movimento denominado desarmamento. Os cidadãos de bem obedecem às leis independentemente de resultados
de plebiscito, enquanto os desonestos e irresponsáveis só agem de acordo com seus interesses desobedecendo a todos
os princípios legais e sociais, e somente podem ser contidos através da repressão. (Opinião, site o Globo. In:
http://oglobo.globo.com/opiniao/mat/2011/04/12/a-quem-interessa-um-plebiscito-sobre-desarmamento-924221689.asp)
8
b) As ditaduras militares foram uma infeliz realidade na América do Sul dos anos 1960 e 1970. Em todas elas houve drástica
repressão às oposições e dissidências, com a adoção da tortura e da perseguição como política de governo. Ao fim desses
regimes autoritários adotaram-se formas semelhantes de transição com a aprovação das chamadas leis de impunidade, as
quais incluem as anistias a agentes públicos. (Eugênia Augusta Gonzaga e Marlon Alberto Weichert, Carta capital. In:
http://www.cartacapital.com.br/sociedade/o-brasil-promovera-justica)
c) Todos os palestrantes concordaram que a participação da sociedade civil é fundamental para que qualquer debate sobre
a comunicação avance no Congresso. “Se dependermos apenas do conservadorismo da Câmara e do Senado, será muito
difícil avançar”, discursou o deputado Ivan Valente. Ele destacou o fato de que existem parlamentares no Congresso que
tem fortes vínculos ou até mesmo são proprietários de meios de comunicação. “Até os Estados Unidos, o país mais liberal
do mundo, estabelece limites para evitar monopólios e define que quem tem rádio não pode ter televisão, e vice-versa.
Precisamos pautar-nos em propostas como essas”. (Ricardo Carvalho. Regulação da mídia é pela liberdade de expressão.
Carta capital. In: http://www.cartacapital.com.br/politica/regulacao-da-midia-e-pela-liberdade-de-expressao)
d) Para a presidente do Conselho Federal de Nutricionistas, Rosane Nascimento, não é necessário que o Brasil lance mão
de práticas baseadas no uso de agrotóxicos e mudanças genéticas para alimentar a população. "Estamos cansados de
saber que o Brasil produz alimento mais do que suficiente para alimentar a sua população e este tipo de artifício não é
necessário. A lógica dessa utilização é a do capital em detrimento do respeito ao cidadão e do direito que ele tem de se
alimentar com qualidade", protesta. (Raquel Júnia. Agronegócio não garante segurança alimentar. Caros Amigos. In:
http://carosamigos.terra.com.br/)
e) A leitura de jornais e revistas facilita a atualização sobre a dinâmica dos acontecimentos e promove o enriquecimento do
debate sobre temas atuais. A rapidez com que a notícia é veiculada por esses meios é clara, garantindo a
complementaridade da construção do conhecimento promovida pelas aulas e pelos livros didáticos. O apoio didático
representado pelo uso de jornais e revistas aproxima os alunos do mundo que os cerca. (Ana Regina Bastos - Revista
Eletrônica UERG. Mundo vestibular. In: http://www.mundovestibular.com.br/articles/4879/1/Como-se-preparar-para-o-
vestibular-utilizando-jornais-e-revistas/Paacutegina1.html)
1ª IDEIA (TESE) = A TELEVISÃO INFLUENCIA DE FORMA NEGATIVA A FORMAÇÃO DAS CRIANÇAS, POIS OS
CONTEÚDOS DE SEUS PROGRAMAS SÃO ABUSIVOS.
2ª IDEIA (TESE) = A TELEVISÃO NÃO INFLUENCIA DE FORMA NEGATIVA A FORMAÇÃO DAS CRIANÇAS, EMBORA
ALGUNS PROGRAMAS DEVAM SER COMBATIDOS.
ARGUMENTOS
01.ACUSAR A TELEVISÃO DE SER PERNICIOSA É UMA ATITUDE SEMELHANTE AO QUE SE FAZIA NO PASSADO
EM RELAÇÃO A ALGUMAS PUBLICAÇÕES POLÊMICAS (DANDO A ENTENDER QUE ESSA ATITUDE É NATURAL E
PASSAGEIRA).
02.AS CRIANÇAS TÊM IMITADO, NA VIDA REAL, OS ROTEIROS PRODUZIDOS PARA SEUS ÍDOLOS TELEVISIVOS.
03.OS PERSONAGENS QUE PRATICAM CRIMES TÊM ESTIMULADO A VIOLÊNCIA ENTRE AS CRIANÇAS E OS
JOVENS.
04.MOSTRAR NA TELEVISÃO UM MUNDO TOTALMENTE HARMÔNICO SERIA TÃO ERRÔNEO QUANTO O QUE SE
TEM MOSTRADO DE FATO.
05.A TELEVISÃO NÃO PODE ABRIR MENTES OU FECHÁ-LAS PARA INCUTIR NAS CRIANÇAS VALORES
HORRENDOS.
06.AS CENAS DE SEXO, SEM ORIENTAÇÃO, FAZEM COM QUE OS JOVENS BUSQUEM O PRAZER DE FORMA
EQUIVOCADA.
9
TAREFA: SEPARE OS ARGUMENTOS QUE CONCORDAM E DISCORDAM DAS IDEIAS APRESENTADAS SOBRE O
TEMA PROPOSTO.
Objetivos: Desenvolver a habilidade de redação de parágrafos dissertativos com o emprego dos elementos de coesão ou
articuladores textuais próprios para a expressão de determinadas ideias.
Proposta: Faça 2 parágrafos Obs.: Cada parágrafo pode conter, no mínimo, 3 períodos.
Proposta estrutural:
1º parágrafo: Desenvolvimento
2º parágrafo: Conclusão (Portanto, logo, por isso)
tema: Constatamos que, no Brasil, existe um grande número de correntes migratórias que se deslocam do campo para
as pequenas ou grandes cidades.
causa ( POR QUÊ?) : A zona rural apresenta inúmeros problemas que dificultam a permanência do homem no
campo.
consequência (O QUE ACONTECE EM RAZÃO DISSO?): As cidades encontram-se despreparadas para absorver
esses migrantes e oferecer-lhes condições de subsistência e de trabalho.
Alguns exemplos:
1. Tema: Muitas pessoas mais velhas são analfabetas eletrônicas, pois não conseguem operar nem mesmo um
computador.
Causa: As pessoas mais velhas têm medo do novo, elas são mais conservadoras, até em assuntos mais prosaicos.
Consequência: Elas se tornam desajustadas, pois dependem dos mais jovens até para ligar um forno micro-ondas.
2.Tema: É de fundamental importância a preservação das construções que se constituem em patrimônios históricos.
Causa: A nação que deixa depredar as construções consideradas como patrimônios históricos destrói parte da história de
seu país.
Consequência: Essa situação demonstra claramente o subdesenvolvimento de uma nação, pois, quando não se conhece
o passado de um povo e não se valorizam suas tradições, despreza-se a herança cultural deixada pelos antepassados.
3.Tema: A maior parte da classe política não goza de muito prestígio e confiabilidade por parte da população.
Causa: A maioria dos parlamentares preocupa-se muito mais com a discussão dos mecanismos que os fazem chegar ao
poder do que com os problemas reais da população.
Consequência: Caos na saúde e na educação.
4.Tema: Muitos jovens deixam-se dominar pelo vício em diversos tipos de entorpecentes, mal que se alastra cada vez mais
em nossa sociedade.
Causa: Algumas pessoas refugiam-se nas drogas na tentativa de esquecer seus problemas.
Consequência: Formam-se dependentes dos psicóticos dos quais se utilizam e, na maioria das vezes, transformam-se em
pessoas inúteis para si mesmas e para a comunidade.
Exercícios: Apresentaremos alguns temas e você se incumbirá de encontrar uma causa e uma consequência para cada
um deles. Escreva-as, seguindo o modelo apresentado acima:
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1. Tema: As linhas de ônibus que percorrem os bairros das grandes metrópoles não têm demonstrado muita eficiência no
atendimento a seus usuários.
Causa:___________________________________________________________________________________________
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Consequência: ____________________________________________________________________________________
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Causa:___________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________________
Consequência:_____________________________________________________________________________________
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3 Tema: As novelas de televisão passaram a exercer uma profunda influência nos hábitos e na maneira de pensar da
maioria dos telespectadores.
Causa:___________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________________
Consequência:_____________________________________________________________________________________
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Causa:___________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________
Consequência:_____________________________________________________________________________________
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5 Tema: Apesar de alertados por ecologistas, os lavradores continuam a utilizar produtos agrotóxicos indiscriminadamente.
Causa:___________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________
Consequência:_____________________________________________________________________________________
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Elementos de coesão: Algumas palavras e expressões facilitam a ligação entre as ideias, estejam elas num mesmo
parágrafo ou não. Não é obrigatório, entretanto, o emprego destas expressões para que um texto tenha qualidade. Seguem
algumas sugestões e suas respectivas relações:
assim, desse modo - têm valor conclusivo, exemplificativo e complementar. A sequência introduzida por eles serve
normalmente para explicitar, confirmar e complementar o que se disse anteriormente.
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ainda - serve, entre outras coisas, para introduzir mais um argumento a favor de determinada conclusão; ou para incluir
um elemento a mais dentro de um conjunto de ideias qualquer.
ademais, além do mais, além de tudo, além disso - introduzem um argumento decisivo, apresentado como acréscimo.
mas, porém, todavia, contudo, entretanto... (conj. adversativas) - marcam oposição entre dois enunciados.
embora, ainda que, mesmo que - servem para admitir um dado contrário para depois negar seu valor de argumento,
diminuir sua importância. Trata-se de um recurso dissertativo muito bom, pois sem negar as possíveis objeções, afirma-se
um ponto de vista contrário.
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04. Segundo os argumentos apresentados pela autora no 1º parágrafo, ela aprova ou critica a gravidez na adolescência?
Identifique os argumentos da autora, justificando a sua resposta.
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05. A autora não cita exemplos, isso interfere na compreensão do leitor? Justifique sua resposta.
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06. Qual é a sua posição sobre o assunto do texto? Concorda com a autora? Por quê? Escreva um parágrafo de 5 a 7
linhas, com 3 frases, no mínimo, na folha separada de redação do curso.
07. Marque, no texto, os elementos (conectivos) que servem de ligação entre os argumentos apresentados no texto.
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08. Observe que o texto foi escrito em quatro parágrafos e, em cada um deles foi apresentada uma ideia nova. Reescreva.
com suas palavras, a ideia apresentada em cada parágrafo.
1º parágrafo: ______________________________________________________________________________________
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2º parágrafo: ______________________________________________________________________________________
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3º parágrafo:______________________________________________________________________________________
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4º parágrafo:______________________________________________________________________________________
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04. Identifique os argumentos apresentados sobre o tema proposto da dissertação.
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05. Marque, no texto, os elementos ( conectivos ) que servem de ligação entre os argumentos apresentados no texto.
06. Observe que o texto foi escrito em cinco parágrafos e, em cada um deles foi apresentada uma ideia nova. Reescreva
com suas palavras a ideia apresentada em cada parágrafo.
1º parágrafo:
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2º parágrafo:
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3º parágrafo:
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4º parágrafo:
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5º parágrafo:
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05. Marque, no texto, os elementos ( conectivos ) que servem de ligação entre os argumentos apresentados no texto.
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06. Observe que o texto foi escrito em cinco parágrafos e , em cada um deles foi apresentada uma ideia nova. Reescreva
com suas palavras a ideia apresentada em cada parágrafo.
1º parágrafo :
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2º parágrafo :
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3º parágrafo :
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4º parágrafo :
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Introdução
Técnica de introdução:
Tese: Nesse contexto, cabe ressaltar estes problemas: aquecimento global, queimadas e desmatamento e a falta
de políticas públicas.
Desenvolvimento
Parágrafo 1 = ideia 1
Recentemente, cientistas descobriram que o aquecimento global é causado pela enorme destruição do meio
ambiente.
Parágrafo 2 = ideia 2
Parágrafo 3 = ideia 3
Retomada da tese: O ser humano é, portanto, responsável pela destruição gradativa do meio ambiente.
Técnicas de conclusão:
Título
Planejamento Textual
Tema
Ideia 1:
Ideia 2:
Ideia 3 (opcional):
Introdução
Técnica de introdução:
Tese:
Desenvolvimento
Parágrafo 1 = ideia 1 = tópico frasal 1
Conclusão
Retomada da tese:
Técnicas de conclusão:
Título
17
INTRODUÇÃO
1) Funções:
* Contextualizar: de onde o tema surgiu? Qual a relevância da questão proposta? Qual é a melhor estratégia para começar
a falar desse tema? Essa estratégia “fere” a essência da introdução ou, ao contrário, consegue enriquecê-la?
* Direcionar a abordagem: como o tema será tratado? Que ponto de vista será defendido?
2) Estrutura:
* 1º parágrafo do texto → cerca de cinco ou seis linhas
* Contextualização + Tese
2.1) Tese
* Conceito: eixo central / linha de raciocínio / Expressão do ponto de vista.
Exemplo 1:
Tema: Consumismo
Tese: Embora necessário, o consumismo constitui uma violência simbólica, que pode levar, também, à criminalidade.
Exemplo 2:
Arg1:
Arg2:
Arg3:
18
Exemplo 3:
Tema: a identidade da música brasileira
Quem vai à História descobre logo que o samba não seria o mesmo sem os ritmos africanos e as danças latinas,
o mesmo vale para outros estilos tipicamente brasileiros. Nesse contexto, vê-se com histeria o alarme diante da música
americana nas rádios e lojas de CD. Entretanto a velocidade das influências, hoje, é realmente motivo de preocupação.
Afinal, embora as trocas estejam na base de qualquer cultura, os excessos da globalização econômica precisam ser
filtrados, a fim de que a música brasileira mantenha o mosaico que sustenta sua identidade.
Arg1:
Arg2:
Arg3:
b) Tese implícita por ideia geral ou palavra-chave: sugestão sutil de ponto de vista
* Tese implícita por ideia geral ou palavra-chave: trata-se da sugestão genérica e/ou sutil da opinião que será defendida
na argumentação.
Exemplo 1:
Tema: Efeitos negativos da tecnologia:
Tese: Existe um paradoxo tecnológico: quanto maior o progresso, maior a desumanização.
Exemplo 2:
Tema: Representações sociais da mulher no Brasil hoje
O discurso politicamente correto parece ocupar todos os espaços sociais disponíveis. Não seria diferente no que
diz respeito à mulher. Reconhecimento por parte de autoridades, mudanças na legislação eleitoral, teses e mais teses
acadêmicas. Na hora do comercial, porém, lá está a mesma mulher-objeto de sempre, corpo escultural, boca calada. No
Brasil, sem dúvida, vive-se uma espécie de contradição, pois a imagem feminina oficial nunca coincide com a real.
Exemplo 3:
Tema: Democracia e desigualdade social no Brasil.
Sabe-se que o Brasil é, historicamente, marcado por absurdas desigualdades sociais e por nenhuma medida
política eficaz para, pelo menos, amenizá-las. Nesse contexto de displicência governamental, o abismo entre as classes
apenas aumentou e chegou, nos dias atuais, a uma assustadora realidade de divisão e segregação. O paradoxal, no
entanto, é que, mesmo em um país de muitas diferenças, há quem acredite viver em uma plena democracia.
Exemplo 1:
Tema: Os avanços da consciência ecológica no mundo.
Rio 92, Rio+10, Rio+20. Não há, na história, registro de tantas reuniões e congressos para discutir os problemas
ambientais que desafiam a todos. Tema obrigatório em sala de aula e em páginas de jornal, a ecologia entrou e ficou em
pauta. O que era pura ciência alcança o cidadão comum, que, nos atos mais simples, aos poucos muda sua postura.
Mantêm-se, no entanto, os problemas mais graves, causados pelas grandes empresas de sempre. Nesse contexto, cabe
indagar: de que adianta a pura consciência individual se o sistema não vê obstáculos para sua expansão destruidora?
Exemplo 2:
Tema: Redução da maioridade penal
Com o aumento da quantidade e da gravidade dos casos de delinquência juvenil, vem à tona o debate em torno de suas
possíveis soluções. Dentre as propostas, destaca-se a redução da maioridade penal no Brasil. Uma análise menos emocionada da
situação, no entanto, revela governos incapazes de oferecer educação de base; prisões lotadas, que não reintegram indivíduos à
sociedade e bandidos dispostos a aliciar pessoas cada vez mais jovens para o tráfico. Nesse contexto, será mesmo que prender jovens
de dezesseis e dezessete anos será benéfico para o país?
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Exemplo 3:
Tema: Identidade da música brasileira
Samba misturado à batida “Funk”. Música eletrônica com pitadas de “Rock”. Jazz com apelo Brega. Se a essência
da música contemporânea é a mistura, o Brasil desempenha muito bem sua função. No país da miscigenação étnica, a
produção musical herda a qualidade da reciclagem criativa, responsável pela diversidade cultural da nação. Convém
indagar: mosaico ou colcha de retalhos?
* Evitar os lugares-comuns
- “Atualmente” (impreciso)
- “Desde os primórdios da humanidade” (não faz sentido)
- “A cada dia que passa”
Exemplos:
Tema: Descrença na política no mundo contemporâneo
Muito se tem discutido acerca da desvalorização da política no mundo atual. De fato, o descaso com o voto parece
constituir forte sintoma desse panorama. Para compreender tal fenômeno, cabe analisar a influência dos políticos, da
sociedade e do próprio sistema. Só assim será possível perceber a complexidade da situação.
Tema: Preservação ambiental
Não são poucos os fatores envolvidos na discussão acerca de preservação ambiental hoje. Basta ler com atenção os jornais ou
observar a força dos Partidos Verdes em boa parte do mundo. Em meio a esse grande debate, ganha espaço a valorização da água, por
razões científicas, econômicas e humanitárias. Compreender tais fatores é o primeiro passo para afastar uma ameaça grave ao próprio
ser humano.
Tema: Aquecimento global
É cada vez mais frequente a discussão sobre o aquecimento global. Realmente, os cientistas alertam para os perigos
da emissão de gases poluentes, os quais afetam a temperatura da Terra. Diante disso, o homem começa a se preocupar
um pouco mais com suas atitudes, enquanto governos preparam leis e acordos. Resta saber se ainda há tempo para mudar.
b) Histórica
* Citação de época passada ou episódio histórico
* Objetivo: comparação com o presente
→ semelhança
→ diferença
* Necessidade de exatidão, sem detalhismo
* Interdisciplinaridade
Exemplos:
Tema: O fim das utopias
Em 1917, uma revolução começou a concretizar uma das maiores utopias do ser humano – a criação de uma
sociedade igualitária. Menos de um século depois, em 1989, esse ideal acabou com a destruição de um muro que, de certa
forma, o simbolizava. A sociedade mundial chegou ao século XXI descrente e cínica e apostou tudo em uma única e triste
certeza: o indivíduo. O problema – ou solução, nesse caso, – é que o homem nunca deixou de sonhar.
Tema: Trote nas universidades
Na Idade Média, quando surgiu, o trote constituía um ritual de passagem cuja violência apresentava significados
filosóficos: os traumas físicos e psíquicos ajudavam os calouros a entender seu novo lugar. Hoje, porém, essa prática
tornou-se vazia e se limita à expressão de uma violência cada vez mais banalizada.
Tema: Problemas na política brasileira
Quando o governo militar se aproveitou da vitória brasileira na Copa de 70 para fazer propaganda política, muitos
denunciaram uma postura populista. Hoje, apesar da liberdade de imprensa, não são poucos os políticos que agem apenas
pela simpatia do público e fogem de medidas impopulares. Das cotas nas universidades ao Bolsa Escola, passando pelos
restaurantes populares, muito pouco é feito para mudar, de fato, as estruturas sociais do País.
c) Conceitual
* Definição da palavra-chave
* Útil em temas reflexivos abstratos
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Exemplos:
Tema: Educação brasileira hoje
Em sua etimologia, educar significa elevar, conduzir a um patamar superior. Infelizmente, nem sempre a teoria se
aproxima da prática. O sistema educacional brasileiro é um bom exemplo desse distanciamento. Infraestrutura decadente,
baixa remuneração de profissionais e currículos antiquados não combinam com o discurso do Ministério da Educação, pois
o tornam etéreo.
d) Fotográfica
* Citação de três imagens sucessivas que apresentem o tema
* Vantagem: dinamismo
* Depois é preciso fazer uma frase para explicar os flashes.
Exemplos:
Tema: Relações amorosas na atualidade
Adolescentes “ficando”. Namoros via internet. Aumento do número de divórcios. Tais são alguns dos indícios de
que as relações amorosas têm passado por transformações profundas. Sem dúvida, a economia, a tecnologia e a
aceleração dos processos têm sido decisivas na caracterização do amor contemporâneo. Cabe compreender esse processo
para julgá-lo, se for o caso.
Tema: O brasileiro diante do medo da violência
Olhos inquietos, bolsa levada à frente do corpo, andar apressado. Esses exemplos não tratam de um cidadão
neurótico, mas de um típico brasileiro morador das grandes cidades. Seja nas estatísticas, seja nas ruas, a violência aparece
em todas as suas dimensões e, dessa forma, altera o cotidiano das pessoas. Nessa realidade, todos garantem sua
segurança como podem: uns compram armas, outros planejam roteiros, outros ainda evitam sair de casa. Afinal, ninguém
quer ser vítima da violência.
Tema: Identidade da música brasileira
Samba misturado à batida “Funk”. Música eletrônica com pitadas de “Rock”. “Jazz” com apelo Brega. Se a essência
da música contemporânea é a mistura, o Brasil desempenha muito bem sua função. No país da miscigenação étnica, a
produção musical herda a qualidade da reciclagem criativa, responsável pela diversidade cultural da nação. Convém
indagar: mosaico ou colcha de retalhos?
e) Jornalística
* Micronarrativa que ilustre o tema
* Uma espécie de narrativa
Exemplos:
Tema: Violência gratuita
Em junho de 2011, cinco adolescentes de classe média espancaram uma empregada doméstica na Barra da Tijuca.
De modo semelhante ao que ocorrera com o índio Galdino, incendiado em Brasília há dez anos, a vítima ainda não entendeu
por que sofreu a agressão. Às gargalhadas, o grupo repetia um fenômeno que não é novo e só piora a cada ano: a violência
gratuita praticada por jovens abastados. Embora injustificável, essa prática precisa ser compreendida para ser controlada.
Eis o desafio.
Tema: Trote nas universidades
Há cerca de cinco anos, a USP foi palco de uma tragédia: a morte de um calouro de medicina durante o trote. Esse
episódio trouxe à tona uma discussão que ficara escondida por muito tempo. Trata-se do debate em torno dos trotes
universitários e sua violência descontrolada. Embora represente um sadismo compreensível, essa prática vai de encontro
ao espírito universitário e pode ser substituída por atividades mais inteligentes.
f) Cultural
*Interdisciplinaridade com a cultura: música, artes, literatura, etc.
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Exemplos:
Tema: O sentido do tempo para o homem contemporâneo
Entre os poderes da Arte, encontra-se a capacidade de traduzir certas percepções em palavras ou imagens
especiais. Na música, por exemplo, canções como a “Oração ao Tempo”, de Caetano Veloso, e “Tempo Rei”, de Gilberto
Gil, falam de um mesmo assunto e o fazem da mesma maneira: personificam o tempo com letras maiúsculas. Essa opção
faz sentido, sobretudo, quando se reflete acerca da importância dada ao tempo pelo homem contemporâneo, que o trata
como uma espécie de religiosidade vazia.
g) Divisão
Tema: Exclusão Social
Predominam ainda no Brasil duas convicções errôneas sobre o problema da exclusão social: a de que ela deve
ser enfrentada apenas pelo poder público e a de que sua superação envolve muitos recursos e esforços extraordinários.
Experiências relatadas mostram que o combate à marginalidade social em Nova Iorque tem contado com intensivos
esforços do poder público e ampla participação da iniciativa privada.
a) Oposição
Tema: Educação no Brasil
De um lado, professores mal pagos, desestimulados, esquecidos pelo governo. De outro, gastos excessivos com
computadores, antenas Wi-Fi, aparelhos de DVD. Esse é o paradoxo que vive hoje a educação no Brasil.
i) Citação
Tema: política demográfica
"As pessoas chegam ao ponto de uma criança morrer e os pais não chorarem mais". O comentário do fotógrafo
Sebastião Salgado sobre o que viu em Ruanda é um estímulo no estado de letargia ética que domina algumas nações do
Mundo Desenvolvido. Será que a humanidade está deixando de ser humana?
k) Comparação
Tema: Reforma agrária
O tema da reforma agrária está presente há bastante tempo nas discussões sobre os problemas mais graves que
afetam o Brasil. Numa comparação entre o movimento pela abolição da escravidão no Brasil, no final do século passado, e
o movimento atual pela reforma agrária, podem-se perceber algumas semelhanças. Como na época do Império existiam
elementos favoráveis e contrários a acabar com aquele mal, também hoje há os que são a favor e os que são contra a
implantação de uma reestruturação no campo.
22
EXERCÍCIO DE INTRODUÇÃO
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Uma breve observação do mapa acima permite esclarecer a importância da Amazônia Azul para o Brasil: com a
ampliação da nossa Plataforma Continental e mais as áreas marítimas dos Arquipélagos de Fernando de Noronha e São
Pedro e São Paulo, somadas à área marítima das ilhas Oceânicas de Trindade e Martim Vaz, a área disponível para a
exploração de riquezas e exploração científica (fundamental para o futuro da humanidade) se assemelha à atual superfície
amazônica. Não são necessárias maiores explicações para justificar as razões da necessidade de protegê-la.
Dia da Amazônia Azul
O “Dia Nacional da Amazônia Azul” é celebrado no dia 16 de novembro. Sancionada pela Lei n° 13.187, de 11 de
novembro de 2015, a data foi escolhida em homenagem à entrada em vigor da Convenção das Nações Unidas sobre Direito
do Mar, em 16 de novembro de 1994.
Com base nas ideias presentes nos textos acima, redija 4 parágrafos diferentes de introdução sobre o tema:
OBS.:
- Utilize as várias técnicas de contextualização e de tese;
- Não se esqueça de escrever a técnica DE CONTEXTUALIZAÇÃO E DE TESE por você escolhida antes de cada parágrafo.
- Faça 2, 3 ou 4 frases em cada parágrafo;
- Faça parágrafos de 4 a 7 linhas;
Redações Exemplares
As novas tecnologias na Marinha do Brasil (Renato Duque)
As novas tecnologias são exaltadas pela Marinha do Brasil (MB) em seus planejamentos. Nesse contexto,
para entender tal fato, cabe considerar aspectos como a importância do reaparelhamento da economia e da segurança.
Sabe-se, primeiramente, que a aquisição de novos meios é essencial para a modernização da Esquadra
brasileira. A Estratégia Nacional de Defesa disponibilizou recursos para serem empregados na compra de novos
equipamentos para as Forças Armadas. Observa-se, nessa perspectiva, a preocupação do Governo Federal em equiparar
a Força Naval brasileira à dos países centrais, uma vez que a ONU exige um requisito tecnológico mínimo para atuar sob
a sua égide.
Compreende-se, também, que a MB é uma irrigadora de recursos econômicos no País. O transporte
marítimo é responsável por mais de 90% das transações comerciais do Brasil com o mundo, em virtude de ser a forma
mais barata de descolar mercadorias. Nessa direção, uma proteção eficiente das águas jurisdicionais colaborará para uma
estabilidade, necessária, a fim de captar investidores no cenário internacional.
Constata-se, além disso, que a segurança aquática é primordial para a nação. A proteção da enorme massa
líquida brasileira exige equipamentos atualizados para inibir qualquer ameaça inimiga de origem oceânica. Nesse contexto,
a construção de submarinos – convencionais e nucleares –, no Estado, proporcionará um grande avanço militar e
tecnológico para a Esquadra brasileira.
As modernas tecnologias são, portanto, muito importantes para a MB se manter forte perante as grandes
potências mundiais. A atualização da Esquadra nacional é, nesse sentido, influente para o País continuar a apoiar a ONU
nas missões de paz.
GRAMÁTICA
ADJETIVO
Adjetivo é a palavra que expressa qualidade, característica ou estado dos seres em geral. É variável em gênero, número e
grau. Pode ser classificado de quatro formas.
Primitivo (não são formados por derivação de nenhuma outra palavra) – Ex.: azul, curto, feliz.
Derivado (formado por derivação) – Ex.: azulado, infeliz, desconfortável.
Obs.: A locução adjetiva é uma expressão geralmente formada de preposição + substantivo, com valor de adjetivo. Ex.: A
água da chuva destruiu a lavoura de café. Ele apresentou uma atitude sem qualquer cabimento.
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Emprego dos adjetivos e locuções adjetivas
1. Qualificação: livro interessante, restaurante modesto.
2. Caracterização: livro verde, livro grosso, livro de cima.
3. Informação: livro de meu pai, roupa importada da Alemanha.
4. Restrição: Secretaria de Educação, porta da sala,
5. Frequentemente, usa-se o adjetivo depois do substantivo. Ex.: Os assuntos ecológicos ganharam destaque.
6. Seu emprego antes do substantivo, em determinados contextos, confere-lhe destaque. Ex.: Suas belas músicas me
encantam.
7. Sua posição, em alguns casos, pode alterar-lhe o sentido. Ex.: A personagem central era uma pobre mulher. A
personagem central era uma mulher pobre.
INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
1. FLEXÃO DE NÚMERO
1.1. Plural dos adjetivos simples: seguem as mesmas regras dos substantivos.
1.2. Plural dos adjetivos compostos
OBS.: Nos substantivos compostos que designam cores, ambos os elementos vão para o plural: os verdes-claros, os
amarelos-esverdeados, os azuis-escuros.
Obs.: os adjetivos hindu, sensabor, cortês, incolor, multicor, bicolor, tricolor, maior, melhor, menor, pior, superior, anterior,
posterior são usados dessa forma também para o feminino. Ex.: roupa hindu, atitude superior.
2.3. Os terminados em –ão trocam essa terminação por –ã, -ona e, mais raramente, por –oa.
Ex.: alemão / alemã, cristão / cristã, chorão / chorona, comilão / comilona, beirão / beiroa.
2.4. Os terminados em –eu (com som fechado) trocam essa terminação por -eia/ os terminados em –eu (som aberto) trocam
por –oa.
Ex.: ateu / ateia, europeu / europeia, ilhéu / ilhoa, tabaréu / tabaroa.
Exceções: judeu / judia, sandeu / sandia, réu/ré
2.5. Feminino dos compostos: apenas o segundo elemento varia. Ex.: literatura hispano-americana
Observação importante: Os adjetivos compostos cujo segundo elemento é um substantivo são invariáveis. Ex.: amarelo-
ouro, verde-mar.
2.6. Há muitos adjetivos uniformes (servem para masculino e feminino): agrícola, audaz, exemplar, frágil, ruim.
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3. GRAUS DO ADJETIVO
COMPARATIVO (Indica uma relação de 1 ser para 2 adjetivos ou de 2 seres para 1 adjetivo.)
3.1. Grau comparativo de igualdade: Pedro é tão forte quanto eu./ Pedro é tão forte quanto inteligente.
3.2. Grau comparativo de superioridade: Pedro é mais forte (do) que eu./ Pedro é mais forte (do) que inteligente.
3.3. Grau comparativo de inferioridade: Pedro é menos forte (do) que eu. / Pedro é menos forte (do) que inteligente.
OBS.: Ao se comparar 2 qualidades ou ações de sum ser, empregam-se “mais bom”, “mais mau”, “mais grande”, “mais
pequeno” e, vez de melhor, pior, maior, menor:
Ele é mais bom do que mau. A escola é mais grande do que pequena. Ele é mais mau do que simpático. Ele é mais
pequeno do que grande.
Obs.: na linguagem coloquial, pode-se empregar a repetição do mesmo adjetivo, sem pausa e sem vírgula.
O dia está belo belo. Ela era linda linda.
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
1. “Talvez seja bom que o proprietário do imóvel possa desconfiar de que ele não é tão imóvel assim.” As palavras
destacadas assumem, respectivamente, valor de
a) substantivo e substantivo.
b) substantivo e adjetivo.
c) adjetivo e verbo.
d) advérbio e adjetivo.
e) adjetivo e advérbio.
2. Assinale o período em que ocorre a mesma relação significativa indicada pelos termos destacados em "A atividade
científica é tão natural quanto qualquer outra atividade econômica":
3. “Os homens são os melhores fregueses do bairro" ... Os melhores encontra-se no grau:
a) comparativos de superioridade.
b) superlativo comparativo de superioridade.
c) superlativo absoluto sintético.
d) superlativo relativo sintético de superioridade.
4. Assinale a alternativa em que o adjetivo está flexionado no grau superlativo absoluto sintético:
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5. O desagradável da questão era vê-lo de mau humor depois da troca de turno.
Na frase acima, as palavras em destaque comportam-se, respectivamente, como:
8. Se preenchermos os espaços com a expressão colocada entre parênteses, ficará gramaticalmente correta somente a
frase da alternativa:
a) o moral abalado- o – do
b) a moral abalada- o – da
c) o moral abalado –o- da
d) a moral abalado – a – do
e) a moral abalada – a – da
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11. Classifique o grau dos adjetivos nas frases abaixo.
ADVÉRBIO
Advérbio é palavra invariável que caracteriza o processo verbal, exprimindo circunstâncias em que esse processo se
desenvolve. Ex.: “Hoje não ouço as vozes daquele tempo.” (circunstâncias de tempo e negação).
Obs. 1: Em alguns casos, os advérbios podem se referir a uma oração inteira; nessa situação, normalmente transmitem a
avaliação de quem fala ou escreve sobre o conteúdo da oração. Ex.: Infelizmente, os deputados não aprovarão as emendas.
Possivelmente não haverá como avisá-los.
Obs. 2: As locuções adverbiais são conjuntos de duas ou mais palavras que funcionam como um advérbio. São geralmente
formadas por preposição + substantivo ou por preposição + advérbio. Ex.: “Estavam todos lá”. (advérbio). Estavam todos à
frente (locução adverbial) do rei. Já andei aqui. (advérbio). Comecei por aqui. (locução adverbial).
2. Advérbios interrogativos são advérbios empregados em interrogativas diretas e indiretas. São eles:
a) de causa: por que (Por que não trouxeste o livro? Quero saber por que não trouxeste o livro.)
b) de lugar: onde (Onde está o livro?)
c) de modo: como (Como está o rapaz ferido ontem?)
d) de tempo: quando (Quando ele foi ferido? Precisamos saber quando ele foi ferido.)
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3. Gradação dos advérbios
Os advérbios de modo podem ser empregados com diferentes gradações. Podem apresentar grau comparativo
(Caminhava mais depressa que eu.) ou superlativo (Estranhou muitíssimo a forma de agir do pai.). As palavras melhor e
pior podem tanto ser empregadas como adjetivos ou advérbios. Ex.: Ele se sentia melhor/ pior naquele dia. (=mais
“bem”=advérbio). Ele era melhor do que o irmão. (=mais “bom”=adjetivo).
Advérbios são, tradicionalmente, classificados como palavras invariáveis, mas é comum, principalmente na
linguagem coloquial, o advérbio assumir uma forma diminutiva, com intenção de valorizar, ou seja, com valor superlativo.
Ex: Chegou cedinho ao trabalho. Ele vive falando baixinho. Outra forma de ênfase ao que está sendo dito é repetir o
advérbio. Ex.: Estava quase quase a descobrir a verdade. Descobrirá logo logo que ela o trai.
4. Palavras denotativas
São palavras classificadas à parte em função do sentido que adquirem no contexto em que se encontram. Não
devem ser incluídas entre os advérbios, pois não modificam o verbo, nem o adjetivo, nem outro advérbio.
a) de inclusão: até, inclusive, mesmo, também Ex.: Até o presidente do clube sorriu.
b) exclusão: apenas, salvo, só, somente, senão Ex.: Só o presidente do clube sorriu.
c) designação: eis Ex.: Eis o nosso candidato.
d) realce: cá, lá, é que, só Ex.: Sei lá, não sei de nada. Eu cá é que sei?
e) retificação: aliás, ou antes, isto é, ou melhor Ex.: Ressurgi, isto é, recuperei-me da cirurgia.
f) situação: afinal, agora, então Ex.: Afinal, ele virá ou não para a reunião?
OBSERVAÇÃO IMPORTANTE
Há palavras que assumem diferentes valores semânticos, morfológicos e sintáticos, que dependem do contexto.
Exercícios
d) Fale baixo!
É um homem baixo.
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2. Aponte a alternativa correta para a complementação da frase dada a seguir, com relação à concordância nominal:
Ela parecia ....... irritada e, à ...... voz, porém com .............. razões, dizia ........... desaforos.
a) meio – meia – bastantes – bastantes.
b) meio – meia – bastante – bastantes.
c) meia – meia – bastante – bastante.
d) meio – meia – bastante – bastante.
e) meia – meia - bastante - bastantes
3. Classifique a palavra assinalada usando:
(A) para advérbio;
(B) para pronome indefinido;
(C) para numeral;
(D) para substantivo;
(E) para adjetivo.
1. Maria tomou a meia da mão da irmã. ( ) 8. Carlos deseja bastante este cargo. ( )
2. Maria tomou meia xícara de café. ( ) 9. Ana adquiriu mais livros. ( )
3. Pedro anda meio ( ) triste; precisa achar meio ( ) de reagir. ( ) 10. Ana está mais aborrecida ainda. ( )
4. Pedro derramou meio bule. ( ) 11. Rodrigo é um menino alto. ( )
5. João comprou muito doce. ( ) 12. Rodrigo costuma resmungar alto. ( )
6. João está muito gordo. ( ) 13. Lutou tanto e hoje tem salário baixo. ( )
14. Comprou alto-falantes novos para o carro. ( )
7. Carlos deseja ter bastante amigo lá. ( )
PREPOSIÇÃO
A preposição estabelece um elo de subordinação entre dois elementos oracionais (duas palavras), no entanto pode
aparecer como conectivo oracional (entre orações): Apesar de não ser bonita, Ana é agradável.
Locução prepositiva
a) advérbio + preposição: O garoto escondeu-se atrás do móvel.
b) preposição + substantivo + preposição: Não saímos por causa da chuva.
Essenciais - só aparecem como preposição: a, ante, até, após, com, contra, de, desde, em, entre, para, por, perante, sem,
sob, sobre, trás.
Acidentais - as que passaram a serem usadas como preposição: durante, conforme, visto, segundo, mediante, como (=
na qualidade de), consoante.
Preposição “A”
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1. Numere as frases de acordo com o valor semântico da preposição “a”:
1 Causa
2 Direção
3 Fim
4 Meio
5 Lugar
6 Conformidade
7 Preço
8 Concessão
9 Posse
10 Instrumento
11 Modo
12 Semelhança
13 Proporção , Gradação
14 Condição
Preposição “ATÉ”
Limite de lugar Segui você até o final da rua.
Limite de tempo Esperei até ontem.
Limite numérico O produto custará até três vezes mais.
1. Numere as frases de acordo com o valor semântico da preposição “até”:
1 Limite de lugar
2 Limite de tempo
3 Limite numérico
a. ( ) Capacidade até 10 quilos de roupa.
b. ( ) As longas e cansativas caminhadas até o cemitério eram desesperadoras.
c. ( ) Tenho até hoje para enviar os documentos.
d. ( ) Apostarei até R$100,00 no jogo de hoje.
e. ( ) Debruçada até quase os meus joelhos, ela gritou.
f. ( ) Amar-te-ei até o último dia de nossas vidas.
Preposição “COM”
Companhia Gostaria de sair mais vezes com você.
Soma Uniremos as tuas com as nossas palavras.
Modo Ele gritou com força.
Instrumento Lavei a roupa com sabão de coco.
Condição Com sorte, atingiremos nossos objetivos.
Causa Os japoneses ficaram aflitos com o Tsunami.
Tempo Com seis meses de uso, as peças começam a ficar ruins.
Conformidade Reconhecemos, com o ilustre professor, que a questão deveria ser anulada.
Lugar Talvez encontremos, com o fim da estrada, água.
Concessão Com vinte anos de carreira, seu patrimônio se resume a dois carros modestos.
Meio Fui com minha moto para os lugares mais remotos do Brasil.
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1 . Numere as frases de acordo com o valor semântico da preposição “com”:
1 Companhia
2 Soma
3 Modo
4 Instrumento
5 Condição
6 Causa
7 Tempo
8 Meio
9 Conformidade
10 Lugar
11 Concessão
Preposição “CONTRA”
Lugar Ele pressionou a mão contra o peito.
Adversidade Tudo isso é contra meus princípios.
Comparação No ano passado, o curso teve duzentas aprovações, contra trezentas e cinquenta que obtivemos este ano.
1 Lugar
2 Adversidade
3 Comparação
BIZU
A PREPOSIÇÃO CONTRA ENTRA EM EXPRESSÕES FIXAS
Ser contra / ficar contra / ir contra → opor-se a
Sou contra os charlatões. / Ninguém pode ir contra a vontade de Deus.
Preposição “DE”
Modo Os espertos vão saindo de fininho.
Lugar De longe nada se via.
Tempo A reunião acontece de manhã.
Instrumento Devia ter feito a barba de gilete.
Causa As frutas caíram do pé de podre.
Matéria A casa foi feita de madeira.
Intensidade Ele estudou de não aguentar mais o ritmo.
Negação Não quisera regressar de jeito algum.
Posse Ela bebeu com o dinheiro de Maria.
Finalidade “E o coração… é instrumento de sopro ou de percussão?”
Assunto Falava de política.
Origem “Afirmava-se que o fogo começara de uma sala” (Raul Pompéia).
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1. Numere as frases de acordo com o valor semântico da preposição “de”:
1 Modo
2 Lugar
3 Tempo
4 Instrumento
5 Causa
6 Matéria
7 Intensidade
8 Negação
9 Posse
10 Finalidade
11 Assunto
12 Origem
a. ( ) Ele vive de pequenos furtos.
b. ( ) Roubaram a bolsa de uma aluna da turma.
c. ( ) Cheguei de imediato.
d. ( ) Comprei uma casa de campo.
e. ( ) Meu coração pulou de saudades.
f. ( ) O fio foi feito de cobre.
g. ( ) Ele riu de todos estarem com sono.
h. ( ) A aluna falou de música com o professor.
i. ( ) Vamos capinar de enxada.
j. ( ) Sentou-se de frente para você.
k. ( ) Ela não acreditava de maneira alguma em alienígenas.
l. ( ) A manifestação começou de todos os escritório e foi até a praça.
m. ( ) Ele chegou de Paris agora
Preposição “EM”
Lugar Ele estava em São Paulo.
Modo Em lágrimas, confessou o crime.
Tempo A reunião acontecerá em trinta minutos.
Causa Ela estava triste em não poder ajudar a pobre moça.
Finalidade João acariciou em despedida a face de seu pai.
Matéria O talher é feito em cobre.
Instrumento Desenharam na máquina os projetos futuros.
Meio O professor, em explicações exatas, conseguiu o gabarito.
Preço Eu estimei em vinte milhões o terreno.
1. Numere as frases de acordo com o valor semântico da preposição “em”:
1 Lugar
2 Modo
3 Tempo
4 Causa
5 Finalidade
6 Matéria
7 Instrumento
8 Meio
9 preço
a. ( ) O rapaz estava contente em conseguir estudar oito horas por dia.
b. ( ) O casaco foi feito em lã.
c. ( ) Na rua do mercado, eu a vi.
d. ( ) O corte foi feito na tesoura.
e. ( ) Em março, fui nomeado.
f. ( ) Vai taxar em 10% todos os saques bancários.
g. ( ) Em desespero, corri atrás do ônibus.
h. ( ) Machado de Assis, em frases curtas, demonstrava sua depressão.
i. ( ) Deixou em herança todos os bens.
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Preposição “ENTRE”
Lugar A moto estava entre os dois carros no trânsito.
Tempo Entre 1979 e 1985, foram vendidas três mil peças.
Quantidade O preço vai girar entre oito e dez dólares.
Companhia Vivia entre os mais pobres.
Preposição “PARA”
Direção Eu caminhei para a rua animada.
Tempo Marcamos o encontro para amanhã.
Conformidade Para mim, isso não é doença.
Finalidade O aluno estuda para passar.
Condição Para desejar cantar comigo, terá de tratar da voz.
Lugar Havia um pouco de comida mais para o canto da sala.
Restrição Proibido para menores.
Preposição “POR”
Meio As casas são ligadas por uma escada.
Causa Aparentava mais idade por seus cabelos brancos.
Modo Resolveremos as questões por partes.
Lugar Ele passou por baixo da ponte.
Agente Ele foi baleado por uma criança.
Tempo Na piscina, por muitas horas, tomou muito sol.
1 Meio
2 Causa
3 Modo
4 Lugar
5 Agente
6 Tempo
36
a. ( ) O meu amor deixou de comer por mim.
b. ( ) Eles se comunicavam por cartas.
c. ( ) O resultado foi dado por todos da banca.
d. ( ) Pela manhã, você surgiu radiante.
e. ( ) Por onde anda, meu filho?
f. ( ) Ele estudou a matéria por assunto.
Preposição “SOB”
Lugar (posição inferior) Namoramos sob aquelas pedras.
Causa Não se deve ficar aqui, sob o risco de ser assaltado.
Proteção A criança estava sob minha custódia.
Sujeição Bentinho foi exilado sob a regência severa da ditadura.
1 Lugar
2 Causa
3 Proteção
4 Sujeição
Preposição “SOBRE”
Lugar (posição superior) O livro estava sobre a mesa.
Assunto Falávamos sobre o tango brasileiro.
Especificação Houve um acréscimo de 33% sobre os dados do governo anterior.
Preferência (acima de) Amar a Deus sobre todas as coisas.
1 Lugar
2 Assunto
3 Especificação
4 Preferência
Preposição “ANTE”
Lugar João encontrou o livro ante o único lugar vago.
Causa ante a belíssima atuação dos flamenguistas.
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
1 Lugar
2 Causa
Preposição “APÓS”
Lugar posterior Após o canteiro da obra, você encontrará um buraco.
Tempo posterior Após a apresentação, fomos ao restaurante.
1 Lugar
2 Tempo
Preposição “DESDE”
Afastamento de um lugar Ele caminhou desde o Leblon.
Início de um tempo Desde seu nascimento, era esperto.
Condição Desde que estudes, passarás.
Causa Desde que tenho muito trabalho, não fui à festa alguma.
1 Lugar
2 Tempo
3 Condição
4 Causa
a. ( ) Desde que nos preocupamos com a educação, trabalhamos com zelo e atenção.
b. ( ) Desde cedo, papai me ensinava a tocar violão.
c.( ) Acho que todo aluno deve estudar muito, desde que não atrapalhe o cuidado com a saúde.
d. ( ) Ele já acenava desde a escada rolante.
Preposição “PERANTE”
Diante de / Na frente de / Ante O professor, perante dois mil alunos, explicou.
Preposição “SEM”
Modo Ele fez os exercícios sem pensar.
Condição Sem sorte, nem podemos sair de casa.
Ausência (falta) “Sem ela o que é a vida?” (Castro Alves).
1 Modo
2 Condição
3 Ausência (falta)
BIZU
A PREPOSIÇÃO SEM ENTRA EM EXPRESSÕES FIXAS:
Exemplo: Saía gritando pelas ruas da cidade, sem quê nem para quê.
Exemplo: Sem mais, para hoje, envio-lhe saudações.
Exemplo: Sem essa, meu amor, só tenho olhos para você.
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5.2. VALORES SEMÂNTICOS DAS PREPOSIÇÕES ACIDENTAIS
PREPOSIÇÕES FORMAÇÃO
Durante, mediante, consoante, não obstante, tirante. São formados de verbos em particípio presente (-nte).
Visto, salvo, exceto, feito São formados de verbos em particípio passado.
Inclusive, exclusive, fora, afora, menos. São formas de advérbios.
Incluso, excluso São formas de adjetivos (ligadas a particípios passados).
Conforme É forma de adjetivo.
Como É forma de conjunção.
Senão É conjunção condicional SE com o advérbio de negação NÃO.
Segundo É forma de numeral ordinal.
BIZU
CONFORME / SEGUNDO / CONSOANTE
Os elementos acima podem ser conjunções confirmativas, construindo-se, então, com forma verbal no indicativo ou no
subjuntivo.
Exemplo: Conforme estudava, as informações chegavam.
NUMERAL
Numeral é a palavra que indica número ou ordem numa determinada série.
Os numerais classificam-se em cardinais, ordinais, fracionários ou multiplicativos.
a) Anteposto ao substantivo, o número romano deve ser lido como ordinal; posposto ao substantivo, deve ser lido como
cardinal, concordando com a palavra número subentendida. Ex.: Reprisaram a VII Copa do Mundo. (sétima). Interrompi
a leitura na página XXII. (vinte e dois).
b) A leitura de leis, decretos e portarias deve ser feita com ordinais até nono; depois deve ser feita com cardinais.
Ex.: Decreto VII (sétimo), Portaria X (dez)
c) Nomes de papas, soberanos, séculos e partes de obra devem ser lidos com ordinais até décimo; depois deve ser feita
com cardinais. Ex.: Henrique V (quinto), século XI (onze)
d) AMBOS pode ser classificado, segundo BECHARA, como numeral ou como pronome. Ex.: Ambas as filhas ou As filhas
ambas. Ambos os livros ou Os livros ambos.
e) Pode ser substituído por “um e outro”. Ex.: Ambas (as) razões ou Uma e outra razão. “Ambos” não pode ser usado
numa situação que indique contrariedade. Ex.: As suas partes chegaram a um entendimento no processo. (E não
Ambas as partes.)
f) Podem ser grafados com lh ou li: bilhão/bilião, trilhão/trilião, quatrilião, quintilião, sextilião, setilião, octilião. As formas
com lh são mais usuais no Brasil.
g) Os adjuntos de milhar e milhões devem ficar no masculino. Ex.: Alguns milhares de pessoas se expõem. Os milhares
de pessoas estudam línguas estrangeiras.
h) O numeral cardinal pode, às vezes, ser empregado para indicar número indeterminado.
Ex.: Peço-lhe um minuto de sua atenção. (por alguns poucos minutos)
Contou-lhe o fato em duas palavras. (por poucas palavras)
Ele tem mil e um defeitos. (por muitos defeitos)
i) Último, penúltimo, antepenúltimo, anterior, posterior, derradeiro, anteroposterior e outros tais, ainda que exprimam
posição do ser, não têm correspondência entre os numerais e devem ser considerados adjetivos.
j) Têm emprego como substantivos e guardam analogia com os coletivos: dezena, década, dúzia, centena, lustro,
sesquicentenário, grosa etc.
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
39
2. Assinale o caso em que não haja expressão numérica de sentido indefinido:
a) Ele é o duodécimo colocado.
b) Quer que veja este filme pela milésima vez?
c) "Na guerra os meus dedos dispararam mil mortes."
d) "A vida tem uma só entrada; a saída é por cem portas."
3. Analise as duas orações que seguem e atenda ao propósito de responder ao seguinte questionamento:
4. Assinale o item em que não é correto ler o numeral como vem indicado entre parênteses:
a – Pode-se dizer que no século IX (nono) o português já existia como língua falada. ( )
b – Pigmalião reside na casa 22 (vinte e duas) do antigo Beco do Saco do Alferes em Aparecida. ( )
c - Abram o livro, por favor, na página 201 (duzentos e um). ( )
d – O que procuras está no art. 10 (dez) do código que tens aí à mão.( )
e – O Papa Pio X (décimo), cuja morte teria sido apressada com o advento da Primeira Guerra Mundial, foi canonizado em 1954.( )
5. Nas frases abaixo, coloque dentro dos parênteses, a letra que indica a classificação das palavras em negrito.
1 – Numeral cardinal.
2 – Numeral ordinal.
3 – Numeral multiplicativo.
4 – Numeral fracionário.
5 – Numeral coletivo.
40
M
A
T
E
M
Á
T
I
C
A
41
42
Assunto: Matemática Módulo II – QOAM
1) POTENCIAÇÃO E RADICIAÇÃO
Regras:
Definições e Demonstrações:
Raiz de 1 quociente e quociente de 2 raízes: o quociente de 2
radicais do mesmo índice, é o radical do mesmo índice cujo o
radicando é quociente dos radicandos do divisor e do dividendo.
43
Introdução ao radical: Qualquer coeficiente ou fator de um radical
pode passar para fator do seu radicando desde que se multiplique
o seu expoente pelo índice do radical.
Exercícios:
Vamos resolver alguns exercícios simples da utilização de potência
e radicais, saliento, a simplicidade destes exercícios farão com que
domine muito bem esse tipo de operações podendo posteriormente
tentar resolver exercícios maiores e mais complexos.
44
Resolucão 2.2
3. Calcule utilizando as operações de potências:
1. O exercício 2., propõe que se eleve ao quadro, assim
colocamos tudo entre parênteses indicando que se vai
englobar todo o calculo no quadrado:
QUESTÕES DE CONCURSOS
a) – 10/9
b) -3/5
c) 2
d) 3
e) 1/5
5. Continuando, aplica-se a regra Raiz de uma raiz onde
têm-se 2 raízes com o mesmo índice ou expoente, 2,
multiplicam-se então os seus expoentes e como seu produto
resulta numa só raiz:
2) Qual o valor da expressão é:
a) 3/5
b) 2/3
c) 2
d) 23/7
e) 32/9
7) Efetue :
a) 2/3
b) 5/9 12) Calcule :
c) 1/3 a) 2
d) 2 b) 3
e) 3 c) 4
d) 5
e) 6
46
19) Desenvolva :
14) Calcule :
a) 15 a) 10
b) 21
c) 27 b) 3 10
d) 30
e) 32 c) 5 10
d) 7 10
e) 10 10
17) Efetue : 28
a)
a) 2 5
b) 3
3 2 29
c) b)
5
d) 2 2
c) 28
e) 2
d) 29
1
258 3
e)
10
2n 3.2 2n 1.7
28) (F.C. Chagas) A expressão é igual a:
a 5.2n 4
1 2 a) 40
24) (U.E. Londrina) Calculando-se onde a , b) 30
243 5 c) 5/8
obtém-se:
a) - 81 d) 22
b) - 9 e) 2 6
c) 9
d) 81
e) um número não real
1 22 n 22 n 2
1 4
6 1 2 valor da expressão
5
é:
25) Calcule 8 2 16 4 27 3 é igual: a) 1/5
b) 2n
a) - 5 3
b) - 3
c) - 1 c) 24
d) 0 n
e) 2 d)
2
n
e)
5
48
QUESTÕES DO CONCURSO QOAM 5) (QOAM – 2013) Qual é o valor numérico da expressão
a2 1 a2 1 a 2 1 a 2 1 quando a 25 ?
1) (QOAM) Entre 5 e 5.000, tem-se k números da forma 2 n , onde E
n é um número natural. Qual é o valor de k? a2 1 a2 1 a2 1 a2 1
a) 8
b) 9 a) 1
c) 10 b) 2
d) 11 c) 210
e) 12
d) 211
e) 213
8
4
3
2) (QOAM) é igual a:
a) 1/16
b) 1/8
c) 1/6
A8 A8 A8 A8
d) 6 6) (QOAM – 2014) Sabendo-se que k e
e) 16 B 3 .B 5 .B 4 .B 7 .B 1
4
B
2
4
o valor de k é:
A
0,25
3) (QOAM - 2011) Sabendo que k 2 9
, qual o valor de a) 1
b) 2
2 n 1
k .k 3 n c) 3
? d) 4
k 7 : k n e) 5
3
a)
2
3
b)
4 7) (QOAM – 2017) Ao simplificar a expressão
2
c)
2 , encontra-se:
2
d) a)
4
b)
2
e) c)
3
k d)
4) (QOAM – 2012) Determine o valor de , sabendo que
10 e)
k 28 2 3 3 2 :
5
a)
4 8) (QOAM – 2017) Assinale a opção que apresenta o valor
simplificado da expressão
8
b)
3
13 .
c) a) 1
7 b) 3/2
7 c) 2
d) d) 4/3
5 e) 6/5
11
e)
6
49
9) (QOAM – 2018) Consideradas satisfeitas as condições de 2) TEORIA DOS CONJUNTOS
existência das frações e simplificando as expressões
Símbolos
: pertence : existe
e
: A união B
A - B: diferença de A com B
: a menor ou igual a b
: a maior ou igual a b
:aeb
: a ou b
GABARITO – QUESTÕES DO CONCURSO QOAM Por exemplo: em um problema envolvendo conjuntos de números
inteiros, o conjunto dos números inteiros Z é o conjunto universo;
1–c 2–a 3–d 4–d 5–d 6–b 7–e 8–b 9 em um problema envolvendo palavras (consideradas como
–a 10 – d. conjuntos de letras), o universo é o alfabeto.
50
Relações entre conjuntos representado por , formado por todos os
elementos pertencentes a A ou B, ou seja:
Relação de Inclusão: Para relacionar um conjunto com outro
conjunto (ou subconjunto) utilizamos a relação de inclusão.
seja:
B, ou seja
, como o conjunto que contém todos os subconjuntos de A Conjunto dos números racionais (Q)
(incluindo o conjunto vazio e o próprio conjunto A).
Exemplo:
5 3 3
Então : -2, , 1, , 1, , por exemplo, são números racionais.
Se A = { 1, 2, 3 }, então = { ∅, {1}, {2}, {3}, {1, 2}, 4 5 2
{1, 3}, {2, 3}, {1, 2, 3} }.
Exemplos:
Número de subconjuntos de um conjunto: se um conjunto A possuir
n elementos, então existirão 2n subconjuntos de A. 3 6 9
a) 3
1 2 3
Quantidade de subconjuntos não vazios: 2n - 1 1 2 3
b) 1
1 2 3
Relação Quantitativa com 2 conjuntos:
n A B n A n B n A B Assim, podemos escrever:
a
Q {x | x , com a Z , b Z e b 0}
CONJUNTOS NUMÉRICOS b
Conjunto dos números naturais (IN)
É interessante considerar a representação decimal de
um número racional, que se obtém dividindo a por b.
IN={0, 1, 2, 3, 4, 5,...}
Exemplos referentes aos decimais exatos ou finitos:
1 6 7
Um subconjunto importante de IN é o conjunto IN*: 0,333 ... 0,8571428571 42... 1,1666 ...
3 7 6
IN*={1, 2, 3, 4, 5,...} o zero foi excluído do conjunto IN.
Podemos considerar o conjunto dos números
naturais ordenados sobre uma reta, como mostra o
1 6 7
gráfico abaixo: 0,333 ... 0,8571428571 42... 1,1666 ...
3 7 6
Exemplos referentes aos decimais periódicos ou
infinitos:
Conjunto dos números inteiros (Z)
3 1,7320508 ...
53
6) A e B são conjuntos disjuntos e subconjuntos do conjunto 11) Em uma divisão do CPA são praticados dois esportes, vôlei e
universo (U). Se A’ e B’ são conjuntos complementares em U natação. Exatamente 75% dos militares praticam vôlei e 70%
(conjuntos universo) então (B’ – A) (A B) é: natação. Sabendo que todo militar é praticante de pelo menos um
a) Conjunto vazio dos esportes, determine o percentual de militares que praticam
b) Conjunto Universo somente um dos esportes.
c) A união B’ a) 40%
d) (A – B)’ b) 45%
e) A’ – B c) 50%
d) 55%
e) 60%
54
16) Numa turma de 35 alunos, 27 gostam de futebol, 16 de basquete 21) Sabe-se que o sangue das pessoas pode ser classificado em
e 13 gostam dos dois. Quantos não gostam nem de futebol e nem quatro tipos quanto a antígenos. Em uma pesquisa efetuada num
de basquete? grupo de 120 pacientes de um hospital, constatou-se que 40 deles
a) 5 têm o antígeno A, 35 têm o antígeno B e 14 têm o antígeno AB.
b) 6 Nestas condições, pede-se o número de pacientes cujo sangue tem
c) 7 o antígeno O.
d) 8 a) 57
e) 9 b) 59
c) 60
d) 63
e) 70
55
26) Temos 400 militares numa corporação da Marinha, constatou- 32) Sendo A e B dois conjuntos quaisquer, determine x para que
se que: 160 deles são oficiais, 130 são homens e 50 são homens n(A) = x + 1, n(B) = 3 – x e n(A x B) = 3.
oficiais. O número de militares praças mulheres é: a) 0 ou 2
a) 150 b) 1 ou 3
b) 155 c) 2 ou 4
c) 160 d) 1 ou 4
d) 168 e) 2 ou 5
e) 170
29) Numa O.M., 58% dos militares são do sexo masculino. Entre os
homens, 22% estão na O.M. há mais de cinco anos; entre as
mulheres, este percentual é de 27%. A porcentagem total de
militares da O.M. que lá servem há mais de cinco anos é de:
a) 21,8%
b) 22,6%
c) 23,7% a) 109
d) 24,1% b) 198
e) 25,4% c) 216
d) 262
e) 290
a) 1,3,5,8
31) A e B são conjuntos disjuntos. Se A’ e B’ são conjuntos
complementares em U (conjunto universo), então o complementar b) 2,3, 4, 6,8
de (B – A) (A – A’) em U é:
a) A’ c) 3
b) B’
d) 3,8
c) (A B)’
d) (A B)’ e)
e) A B
56
36) Dado o conjunto A 1, , 1, 2 ,3, 3,1 podemos
40) O diagrama representa o conjunto
afirmar:
a) A
b) 1, 2 3,1 A
c) 1, 2 A
d) A
e) 1, 2 3,1 A
c) 3
d) 2, 4, 6
e)
57
42) Numa turma de 35 alunos, 27 gostam de futebol, 16 de basquete 47) Num avião temos brasileiros, estrangeiros, fumantes e não
e 13 gostam dos dois. Quantos não gostam nem de futebol e nem fumantes. O total de passageiros é 50. 32 são brasileiros, 8 homens
de basquete? estrangeiros não fumantes, 25 fumantes, 10 mulheres brasileiras
a) 5 não fumantes, 2 homens estrangeiros fumantes, 12 mulheres
b) 6 brasileiras fumantes, 16 brasileiros fumantes. Determine quantos
c) 7 passageiros não fumantes tem no avião?
d) 8 a) 20
e) 9 b) 22
c) 25
d) 28
e) 30
a) 74; 12; 18
b) 100; 4; 74
45) Consultados 500 militares sobre as manobras e guerra a que c) 74; 4; 54
habitualmente participam obteve-se o seguinte resultado: 280 d) 80; 54; 6
militares participam da manobra A, 250 participam da manobra B e e) 100; 2; 30
70 participam de outras manobras distintas de A e B. O número de
militares que participam da manobra A e não participam da manobra
B é:
a) 100
b) 150
c) 180
d) 200 50) Em uma pesquisa de mercado, foram entrevistadas várias
e) 210 pessoas acerca de suas preferências em relação a três produtos: A,
B e C. Os resultados da pesquisa indicaram que:
- 210 pessoas compram o produto A
- 210 pessoas compram o produto B
- 250 pessoas compram o produto C
- 100 pessoas não compram nenhum dos três produtos
- 60 pessoas compram os produtos A e B
46) Num seminário sobre as doenças relacionadas ao fumo - 70 pessoas compram os produtos A e C
reuniram-se 50 pessoas, 32 são fumantes, 10 são homens não - 50 pessoas compram os produtos B e C
fumantes e 20 são mulheres fumantes. Quantas mulheres não - 20 pessoas compram os três produtos
fumantes foram ao seminário. Quantas pessoas foram entrevistadas?
a) 6 a) 670
b) 8 b) 970
c) 9 c) 870
d) 10 d) 610
e) 12 e) 510
58
51) Em uma pequena cidade, todos os 200 habitantes masculinos 55) (ESAL) Foi consultado um certo número de pessoas sobre as
gostam de praticar pelo menos um dos três esportes: xadrez, futebol emissoras de TV que habitualmente assistem. Obteve-se o
e voleibol. Sabe-se que do total: resultado seguinte: 300 pessoas assistem ao canal A, 270 pessoas
- 100 gostam de xadrez assistem o canal B, das quais 150 assistem ambos os canais A e B
- 100 gostam de futebol e 80 assistem outros canais distintos de A e B. O número de
- 100 gostam de voleibol pessoas consultadas foi:
- 50 gostam de xadrez e futebol a) 800
- 50 gostam de futebol e voleibol b) 720
- 20 gostam de xadrez e voleibol c) 570
Quantos habitantes masculinos gostam de praticar futebol e voleibol d) 500
e não gostam de praticar xadrez? e) 600
a) 22
b) 24
c) 26
d) 28
e) 30
c) C
d) C
e) C D
59
59) (AFA) Entrevistando 100 oficiais da AFA, descobriu-se que 20 64) (AFA) Em um grupo de n cadetes da Aeronáutica, 17 nadam, 19
deles pilotam a aeronave TUCANO, 40 pilotam o helicóptero jogam basquetebol, 21 jogam voleibol, 5 nadam e jogam
ESQUILO e 50 não são pilotos. Dos oficiais entrevistados, quantos basquetebol, 2 nadam e jogam voleibol, 5 jogam basquetebol e
pilotam o TUCANO e o ESQUILO? voleibol e 2 fazem os três esportes. Qual o valor de n, sabendo-se
a) 5 que todos os cadetes desse grupo praticam pelo menos um desses
b) 10 esportes?
c) 15 a) 31
d) 20 b) 37
e) 25 c) 47
d) 51
e) 60
67) (U.F. Ouro Preto) Numa sala de aula com 60 alunos, 11 jogam
xadrez, 31 são homens ou jogam xadrez e 3 mulheres jogam
63) Numa escola há n alunos. Sabe-se que 56 lêem o jornal A, 21 xadrez. Conclui-se portanto, que:
lêem os jornais A e B, 106 lêem apenas um dos dois jornais e 66 a) 31 são mulheres
não leem o jornal B. O valor de n é: b) 29 são homens
a) 127 c) 29 mulheres não jogam xadrez
b) 137 d) 23 homens não jogam xadrez
c) 158 e) 9 homens jogam xadrez
d) 183
e) 249
60
68) Feito exame de sangue em um grupo de 200 pessoas, 4) (QOAM - 2008) A e B são subconjuntos de U. Se A’ e B’ são os
constatou-se que: 80 delas tem sangue com fator Rh negativo, 65 seus respectivos complementares em U, então
tem sangue tipo O e 25 tem sangue tipo O com fator Rh negativo.
O número de pessoas, com sangue de tipo diferente de O e com A B A B ' é igual a:
fator Rh positivo é: a) A’
a) 40 b) B’
b) 65 c) A
c) 80 d) B
d) 120 e) A’ – B’
e) 135
7,9,10
missão A e 55% desses voluntários querem cumprir a missão B,
qual é o percentual das praças da referida Base Naval que são a)
b) 7,8,10
voluntários para ambas as missões A e B? a) 15%
b) 12%
c) 5, 7,8
c) 10%
d) 8%
e) 6%
d) 5, 7,9
e) 8,9,10
2) (QOAM - 2006) De um certo grupo de 180 Oficiais da Marinha do 6) (QOAM - 2010) Um banco promoveu uma seleção de pessoal
Brasil, 122 pertencem ao conjunto T dos Tenentes, 108 pertencem para o quadro de estagiários. Exigia-se que os candidatos fossem
ao conjunto A de Oficiais da Armada e 75 pertencem aos dois estudantes universitários. Concluída a seleção, foi feito um
conjuntos. Quantos são os Oficiais desse grupo que não pertencem levantamento sobre as carreiras que os estagiários selecionados
ao conjunto T nem ao conjunto A? estavam cursando. O levantamento apontou que:
a) 155
b) 100 I. 60% dos selecionados cursavam Economia ou Administração de
c) 75 Empresas;
d) 55 II. 30% dos selecionados cursavam Administração de Empresas;
e) 25 III. 25% dos selecionados que cursavam Economia também
cursavam Administração de Empresas.
61
7) (QOAM – 2011) No intuito de conhecer suas preferências 11) (QOAM – 2016) Dados os conjuntos
alimentares, uma pesquisa foi feita junto à guarnição de um navio e ,
que estava prestes a iniciar viagem. A pesquisa apontou que os determine a soma de todos os inteiros pertencentes ao conjunto A
marinheiros que consomem carne de frango não consomem peixe. – B.
Apontou ainda que 40% consomem carne de frango, 30% a) 3
consomem peixe, 15% consomem carne de frango e carne bovina, b) 5
20% consomem carne bovina e peixe e 60% consomem carne c) 6
bovina. É correto concluir que a porcentagem de marinheiros que d) 8
não consome nenhum dos três alimentos é igual a: e) 9
a) 18%
b) 15%
c) 10%
d) 8%
e) 5%
9) (QOAM – 2014) Sejam A e B conjuntos não vazios tais que n(A GABARITO – QUESTÕES DE CONCURSOS
– B) = 3 e n(A) = k, logo o total de subconjuntos não vazios de
A B é igual a:
a) 2 k 3 1 – e; 2 – d; 3 – e 4 – b 5 – d 6 – b 7 – e 8 – a 9
– e 10 – a 11 – d 12 – a 13 – a 14 – b 15 – e 16 –
b) 2 k 3 1 a 17 – b 18 – c 19 – b 20 – c 21 – b 22 – e 23 – a
24 – e 25 – b 26 – c 27 – b 28 – a 29 – d 30 – e 31
c) 2 k 1 – c 32 – a 33 – d 34 – d 35 – d 36 – d 37 – d 38 –
d) 2k 1 1 d 39 – a 40 – c 41 – a 42 – a 43 – a 44 – b 45 – c
46 – b 47 – c 48 – a 49 – c 50 – d 51 – e 52 – e 53
e) 2k 1 – a 54 – b 55 – d 56 – e 57 – d 58 – d 59 – b 60 –
d 61 – a 62 – c 63 – c 64 – c 65 – c 66 – b 67 – c
68 – c.
62
3) FUNÇÕES DOMÍNIO E IMAGEM DE UMA FUNÇÃO:
O domínio de uma função é sempre o próprio conjunto de partida,
O conceito de função é um dos mais importantes em toda a ou seja, D=A. Se um elemento x A estiver associado a um
matemática. O conceito básico de função é o seguinte: toda vez que elemento y B, dizemos que y é a imagem de x (indica-se y=f(x)
temos dois conjuntos e algum tipo de associação entre eles, que e lê-se “y é igual a f de x”).
faça corresponder a todo elemento do primeiro conjunto um único
elemento do segundo, ocorre uma função. Exemplo: se f é uma função de IN em IN (isto significa que o domínio
O uso de funções pode ser encontrado em diversos assuntos. Por e o contradomínio são os números naturais) definida por y=x+2.
exemplo, na tabela de preços de uma loja, a cada produto Então temos que:
corresponde um determinado preço. Outro exemplo seria o preço a A imagem de 1 através de f é 3, ou seja, f(1)=1+2=3;
ser pago numa conta de luz, que depende da quantidade de energia A imagem de 2 através de f é 4, ou seja, f(2)=2+2=4;
consumida.
Observe, por exemplo, o diagrama das relações abaixo: De modo geral, a imagem de x através de f é x+2, ou seja: f(x)=x+2.
Numa função f de A em B, os elementos de B que são imagens dos
elementos de A através da aplicação de f formam o conjunto
imagem de f.
A relação acima também não é uma função, pois existe o elemento O domínio é o subconjunto de IR no qual todas as operações
4 no conjunto A, que está associado a mais de um elemento do indicadas em y=f(x) são possíveis.
conjunto B. Vamos ver alguns exemplos:
63
Resolvendo o sistema formado pelas condições 1 e 2 temos:
O gráfico da função será uma reta que passará pelos quatro pontos FUNÇÃO COMPOSTA
encontrados. Basta traçar a reta, e o gráfico estará construído.
Obs: para desenhar o gráfico de uma reta são necessários apenas
dois pontos. No exemplo acima escolhemos 4 pontos, mas bastaria
escolher dois elementos do domínio, encontrar suas imagens, e
logo após traçar a reta que passa por esses 2 pontos.
64
Função bijetora: uma função é bijetora se ela é injetora e
sobrejetora. Por exemplo, a função f : A→B, tal que f(x) = 5x + 4.
CLASSIFICAÇÃO DE FUNÇÕES
Função sobrejetora
Função injetora
Função bijetora
Função inversa
65
Definição
DETALHES PARA OBTER A FUNÇÃO INVERSA
f(x) = 5x - 3, onde a = 5 e b = - 3
f(x) = -2x - 7, onde a = -2 e b = - 7
f(x) = 11x, onde a = 11 e b = 0
Gráfico
Exemplo:
ponto é .
x y
0 -1
66
Zero e Equação do 1º Grau Regra geral:
para a > 0: se x1 < x2, então ax1 < ax2. Daí, ax1 + b < ax2 +
f(x) = 0 ax + b = 0 b, de onde vem f(x1) < f(x2).
para a < 0: se x1 < x2, então ax1 > ax2. Daí, ax1 + b > ax2 +
Vejamos alguns exemplos: b, de onde vem f(x1) > f(x2).
Crescimento e decrescimento
y>0 ax + b > 0 x>
Consideremos a função do 1º grau y = 3x - 1. Vamos atribuir
valores cada vez maiores a x e observar o que ocorre com y:
x -3 -2 -1 0 1 2 3
y -10 -7 -4 -1 2 5 8 Conclusão: y é positivo para valores de x maiores que a raiz; y é
negativo para valores de x menores que a raiz
67
2º) a < 0 (a função é decrescente) Gráfico
Exemplo:
0 0
1 2
2 6
Observação:
68
Observação Imagem
A quantidade de raízes reais de uma função quadrática depende
O conjunto-imagem Im da função y = ax2 + bx + c, a 0, é o
do valor obtido para o radicando , chamado conjunto dos valores que y pode assumir. Há duas possibilidades:
discriminante, a saber:
1ª - quando a > 0,
quando é positivo, há duas raízes reais e distintas;
quando é zero, há só uma raiz real (para ser mais
preciso, há duas raízes iguais);
quando é negativo, não há raiz real.
2ª quando a < 0,
a<0
69
Construção da Parábola
quando a > 0
É possível construir o gráfico de uma função do 2º grau sem
montar a tabela de pares (x, y), mas seguindo apenas o roteiro de
observação seguinte: y>0 (x < x1 ou x > x2)
y<0 x1 < x < x2
1. O valor do coeficiente a define a concavidade da parábola;
2. Os zeros definem os pontos em que a parábola intercepta
o eixo dos x;
Sinal
1º - >0
Nesse caso a função quadrática admite dois zeros reais distintos
(x1 x2). a parábola intercepta o eixo Ox em dois pontos e o sinal
da função é o indicado nos gráficos abaixo:
quando a < 0
2º - =0
70
quando a > 0 quando a > 0
quando a < 0
quando a < 0
6) FUNÇÕES EXPONENCIAIS
Chamamos de equações exponenciais toda equação
na qual a incógnita aparece em expoente.
3º - <0
Exemplos de equações exponenciais:
1) 3x =81 (a solução é x=4)
2) 2x-5=16 (a solução é x=9)
3) 16x-42x-1-10=22x-1 (a solução é x=1)
4) 32x-1-3x-3x-1+1=0 (as soluções são x’=0 e x’’=1)
a a m n (a 1 e a 0)
m n
EXERCÍCIOS RESOLVIDOS:
1) 3x=81
Resolução: Como 81=34, podemos escrever 3x = 34
E daí, x=4.
2) 9x = 1
Resolução: 9x = 1 9x = 90 ; logo x=0.
71
2) y=(1/2)x (nesse caso, a=1/2, logo 0<a<1)
3) 23x-1 = 322x Atribuindo alguns valores a x e calculando os
Resolução: 23x-1 = 322x 23x-1 = (25)2x 23x-1 = 210x ; correspondentes valores de y, obtemos a tabela e o gráfico
daí 3x-1=10, abaixo:
de onde x=-1/7.
x -2 -1 0 1 2
4) Resolva a equação 32x–6.3x–27=0. y 4 2 1 1/2 1/4
Resolução: vamos resolver esta equação através de
uma transformação:
32x–6.3x–27=0 (3x)2-6.3x–27=0
Fazendo 3x=y, obtemos:
y2-6y–27=0 ; aplicando Bhaskara encontramos y’=-3
e y’’=9
Para achar o x, devemos voltar os valores para a
equação auxiliar 3x=y:
y’=-3 3x’ = -3 não existe x’, pois potência de
base positiva é positiva
y’’=9 3x’’ = 9 3x’’ = 32 x’’=2
72
7) FUNÇÕES LOGARÍTMICAS Nos dois exemplos, podemos observar que
d) o gráfico nunca intercepta o eixo vertical;
e) o gráfico corta o eixo horizontal no ponto (1,0). A raiz da
A função f:IR+IR definida por f(x)=logax, com a1 e a>0, função é x=1;
é chamada função logarítmica de base a. O domínio f) y assume todos os valores reais, portanto o conjunto
dessa função é o conjunto IR+ (reais positivos, maiores imagem é Im=IR.
que zero) e o contradomínio é IR (reais).
x 1/4 1/2 1 2 4
y -2 -1 0 1 2
f(x) é crescente e Im=IR
Para quaisquer x1 e x2 do domínio:
x2>x1 y2>y1 (as desigualdades têm mesmo sentido)
2) 0<a<1
73
Alguns exemplos resolvidos:
3) (INFO) A função f é tal que f(2x + 3) = 3x + 2. Nestas condições,
1) log3(x+5) = 2 f(3x + 2) é igual a:
a) 2x + 3
Resolução: condição de existência: x+5>0 => x>-5 b) 3x + 2
log3(x+5) = 2 => x+5 = 32 => x=9-5 => x=4 c) (2x + 3) / 2
d) (9x + 1) /2
Como x=4 satisfaz a condição de existência, então e) (9x - 1) / 3
o conjunto solução é S={4}.
2) log2(log4 x) = 1
log x log y 7
3. log x 2. log y 1
5) (INFO) O conjunto imagem da função y = 1 / (x - 1) é o conjunto:
Resolução: condições de existência: x>0 e y>0
a) R - { 1 }
Da primeira equação temos:
b) [0,2]
log x+log y=7 => log y = 7-log x c) R - {0}
Substituindo log y na segunda equação temos: d) [0,2)
e) (-1 ,2]
3.log x – 2.(7-log x)=1 => 3.log x-14+2.log x = 1 =>
5.log x = 15 =>
=> log x =3 => x=103
Substituindo x= 103 em log y = 7-log x temos: 6) (INFO) Dadas as proposições:
log y = 7- log 103 => log y = 7-3 => log y =4 => y=104. p: Existem funções que não são pares nem ímpares.
Como essas raízes satisfazem as condições de q: O gráfico de uma função par é uma curva simétrica em relação
existência, então o conjunto solução é S={(103;104)}. ao eixo dos y.
r: Toda função de A em B é uma relação de A em B.
s: A composição de funções é uma operação comutativa.
QUESTÕES DE CONCURSOS t: O gráfico cartesiano da função y = x / x é uma reta.
a) -1/3
b) 1/3
c) 0
d) 1
2) (UFBA) Se f (g (x) ) = 5x - 2 e f (x) = 5x + 4 , então g(x) é igual a: e) -1
a) x - 2
8) Sendo f e g duas funções tais que fog(x) = 2x + 1 e g(x) = 2 - x
b) x - 6
c) x - 6/5 então f(x) é:
d) 5x - 2
e) 5x + 2 a) 2 - 2x
b) 3 - 3x
c) 2x - 5
d) 5 - 2x
e) uma função par.
74
9) (PUC-RS) Seja a função definida por f(x) = (2x - 3) / 5x. O
elemento do domínio de f que tem -2/5 como imagem é: 14) Se , então vale:
a) 0 a) 5/4
b) 3/2
b) 2/5
c) -3 c) 1/2
d) 3/4 d) 3/4
e) 4/3 e) 5/2
a) 15n + 1
b) 14n – 1
c) 3n – 2
d) 15n – 15
e) 14n – 2
f (2) f (1)
Então o valor de é:
f (0) 17) Os valores de k de modo que o valor mínimo da função f(x) = x²
a) - 1 + (2k – 1)x + 1 seja – 3 são:
b) 0
c) 1 a) 5/2 e – 3/2
d) 7/5 b) 2/3 e 1/2
e) - 5/7 c) 3/2 e – 2
d) 1/3 e 3
e) 2/3 e 4
12) Seja a função
f (1) a) – 1
O valor da razão é: b) 0
f (3) c) 1
a) – 3/2 d) f(a)
b) – 1/2 e) f(a + 1)
c) 1/2
d) 3/2
e) 5
19) Se, para quaisquer valores de um conjunto S (contido no
13) Seja uma função f do 1º Grau. Se f(-1) = 3 e f(1) = 1, então o domínio D), com temos , então podemos afirmar
valor de f(3) é: que a função f é:
a) - 1 a) decrescente
b) - 3 b) crescente
c) 0 c) nula
d) 2 d) constante
e) 3 e) não é função
75
20) Dada a função definida por com 25) (Mackenzie – SP) As funções f(x) = 3–4x e g(x) = 3x+m são tais
que f(g(x)) = g(f(x)), qualquer que seja x real. O valor de m é:
determine os valores de a e b, sabendo-se que
e a) 9/4
b) 5/4
a) a = 2 e b = 1 c) – 6/5
b) a = 3 e b = 2 d) 9/5
c) a = 3 e b = 1 e) – 2/3
d) a = 1 e b = 2
e) a = - 2 e b = 3
a) √x² + 1
b) x+1
22) O lucro de uma empresa é dado por uma lei c) √x² + 1
d) √x²
em que x é a quantidade vendida (em
e) x² + 1
milhares de unidades) e L é o lucro (em Reais). Qual o valor do lucro
máximo, em reais?
a) 7200
28) (UNICAMP 2016) Considere o gráfico da função y = f (x)
b) 7600
exibido na figura a seguir.
c) 8000
d) 8400
e) 9000
a) 7/2
b) 5/4
c) 3/2
d) 1
e) 2
76
a)
d)
b)
e) N.R.A
c)
77
30) (Unirio) 34) Uma estudante oferece serviços de tradução de textos em
língua inglesa. O preço a ser pago pela tradução inclui uma parcela
fixa de R$ 20,00 mais R$ 3,00 por pagina traduzida. Em
determinado dia, ela traduziu um texto e recebeu R$ 80,00 pelo
serviço. Calcule a quantidade de páginas que foi traduzida.
a) 18
b) 20
c) 22
d) 25
e) 30
35) O prefeito de uma cidade deseja construir uma rodovia para dar
acesso a outro município. Para isso, foi aberta uma licitação na qual
concorreram duas empresas. A primeira cobrou R$ 100.000,00 por
km construído (n), acrescidos de um valor fixo de R$ 350.000,00,
enquanto a segunda cobrou R$ 120.000,00 por km (n), acrescidos
Consideremos a função inversível f cujo o gráfico é visto acima. de um valor fixo de R$ 150.000,00. As duas empresas
apresentaram o mesmo padrão de quantidade de serviços
prestados, mas apenas uma delas poderá ser contratada.Do ponto
de vista econômico, qual equação possibilitará encontrar a extensão
da rodovia que tornaria indiferente para a prefeitura escolher
qualquer uma das propostas apresentadas?
36) (UFSM –2005) Sabe-se que o preço a ser pago por uma corrida
31) (UEL) Sendo a função definida por , de taxi inclui uma parcela fixa, que é denominada bandeirada, e uma
então a expressão que define a função inversa de f é: parcela variável, que é função da distância percorrida. Se o preço
da bandeirada é de R$ 4,60 e o quilômetro rodado é R$ 0,96, a
distância percorrida pelo passageiro que pagou R$ 19,00 para ir de
sua casa ao shopping, é de:
a) 5 km
b) 10 km
c) 15 km
d) 20 km
e) 25 km
78
39) (UFPI) A função real de variável real, definida por f (x) = (3 – Qual a medida da altura H, em metro, indicada na Figura 2?
2a).x + 2, é crescente quando:
a) 16/3
a) a > 0 b) 31/5
b) a < 3/2 c) 25/4
c) a = 3/2 d) 25/3
d) a > 3/2 e) 75/2
e) a < 3
40) (FGV) O gráfico da função f (x) = mx + n passa pelos pontos (– 44) (UNESP – 2017) Uma função quadrática f é dada por f(x) = x2 +
bx + c, com b e c reais. Se f(1) = –1 e f(2) – f(3) = 1, o menor valor
1, 3) e (2, 7). O valor de m é:
que f(x) pode assumir, quando x varia no conjunto dos números
reais, é igual a
a) 5/3
b) 4/3 a) –12.
c) 1 b) –6.
d) 3/4 c) –10.
e) 3/5 d) –5.
e) –9.
41) (UNIFOR) – A função f, do 1° grau, é definida por f(x) = 3x + k. 45) (UERJ – 2016) Observe a função f, definida por:
O valor de k para que o gráfico de f corte o eixo das ordenadas no
ponto de ordenada 5 é:
a) 2
Se f(x) ≥ 4, para todo número real x, o valor mínimo da função f é
b) 1
4.
c) 3
d) 4
Assim, o valor positivo do parâmetro k é:
e) 5
a) 5
b) 6
c) 10
d) 15
e) 20
42) Um táxi começa uma corrida com o taxímetro marcando R$
4,00. Cada quilômetro rodado custa R$1,50. Se ao final de uma
corrida, o passageiro pagou R$ 37,00, a quantidade de quilômetros
percorridos foi:
46) (UFSM – 2015) A água é essencial para a vida e está presente
a) 26
na constituição de todos os alimentos. Em regiões com escassez de
b) 11
c) 33
água, é comum a utilização de cisternas para a captação e
d) 22
e) 32
armazenamento da água da chuva. Ao esvaziar um tanque
esvaziado?
a) 360.
b) 180.
c) 120.
d) 6.
e) 3.
79
47) (Enem – 2013) A parte interior de uma taça foi gerada pela 50) O esboço do gráfico quadrática y = 2x² - 8x + 6 é:
rotação de uma parábola em torno de um eixo z, conforme mostra
a figura. a)
b)
c)
A função real que expressa a parábola, no plano cartesiano da
figura, é dada pela lei f(x) = 3/2 x2 – 6x + C, onde C é a medida da
altura do líquido contido na taça, em centímetros. Sabe-se que o
ponto V, na figura, representa o vértice da parábola, localizado
sobre o eixo x. Nessas condições, a altura do líquido contido na
taça, em centímetros, é
a) 1.
b) 2. d)
c) 4.
d) 5.
e) 6.
5. e) N.R.A
a) 2 e 3
b) 0 e 2
c) – 1 e 5
d) – 2 e 6
e) – 2 e 7 51) Qual a parábola abaixo que poderia representar uma função
quadrática com um .
49) (UfSCar–SP) Uma bola, ao ser chutada num tiro de meta por a)
um goleiro, numa partida de futebol, teve sua trajetória descrita pela
equação h(t) = – 2t² + 8t (t ≥ 0) , onde t é o tempo medido em
segundo e h(t) é a altura em metros da bola no instante t. Determine,
após o chute:
a) o instante em que a bola retornará ao solo.
b) a altura atingida pela bola.
a) 5 s e 7 m
b)
b) 4 s e 8 m
c) 6 s e 6 m
d) 4 s e 7 m
e) 5 s e 8 m
80
c) 53) Chutando-se uma bola para cima, notou-se que ela descrevia a
a) 68 m
d) b) 72 m
c) 76 m
d) 78 m
e) 80 m
54) Um garoto ao lançar uma pedra para cima, observou que sua
52) O esboço do gráfico da função y = - x² + 1 é: altura em metros e x o tempo em segundos. Qual será altura
a) 16 m
b) 18 m
c) 20 m
d) 22 m
e) 24 m
b)
b) 18 m
c) 20 m
d) 22 m
e) 24 m
d)
56) Sabendo que 3x 32 x 8 , calcule o valor de 15 x 2
a) 9
b) 10
c) 11
d) 12
e) 15
e) N.R.A
81
x2
1
x
62) Determine o valor de a, tal que a ∈ R, de forma que a função
57) A solução da equação 27 pertence ao
81 exponencial seja decrescente.
intervalo:
a) 0,1 a) 1 < a < 3
b) 2 < a < 5
b) 1, 2
c) 4 < a < 6
d) 6 < a < 8
c) 2,3
e) 9 < a < 10
d) 3, 4
61) (UEMA) Seja f(x) = 3x-4 + 3x-3 + 3x-2 + 3x-1. O valor de x para que
se tenha f(x) = 40 é: 66) (U. E. FEIRA DE SANTANA - BA) O produto das soluções da
equação (43 - x)2 - x = 1 é:
a) 0 a) 0
b) -2 b) 1
c) 1 c) 4
d) 4 d) 5
e) 3 e) 6
82
67) (FIC / FACEM) A produção de uma indústria vem diminuindo 73) (EsSA – 2012) Se , com x real e maior que
ano a ano. Num certo ano, ela produziu mil unidades de seu
principal produto. A partir daí, a produção anual passou a seguir a zero, então o valor de é:
lei y = 1000. (0,9)x. O número de unidades produzidas no segundo
ano desse período recessivo foi de:
a)
a) 900
b) 1000 b)
c) 180
d) 810
e) 90 c)
d)
68) Um biólogo está estudando uma cultura de bactérias que se
reproduzem de formal exponencial. A lei de formação que descreve
a reprodução dessas bactérias é f(t) = Qi · 3t , em que Qi é a e)
quantidade inicial de bactérias e t é o tempo dado horas. Sabendo
que havia 200 bactérias em uma amostra, qual será a quantidade
de tempo necessária para que essa cultura tenha o total de 16.200
bactérias?
a) 2 horas
b) 3 horas
c) 4 horas
d) 5 horas 74) (EsSA – 2013) Os gráficos das funções reais e
e) 6 horas
possuem um único ponto em comum. O valor de c
é:
69) O valor de log 1 32 log10 10 é:
a) – 1/5
4 b) 0
a) – 3/2 c) 1/5
b) – 1 d) 1/15
c) 0 e) 1
d) 2
e) 13/2
a) 0
71) O valor da expressão
b) 1
log0,04 125 log8 32 log1000 0,01 é: c) 2
d) 3
e) 4
a) – 3/10
b) – 3
c) 20/6
d) – 10/2
e) – 9/8
log3 x 4
72) Na equação y2 , y será igual a 8 quando x for 76) Seja uma função f:*+ R → R, definida por
igual a: , calcule f(2) e f(6).
a) 13 a) – 2 e 1
b) – 3 b) 0 e 2
c) – 1 c) 2 e 3
d) 5 d) 3 e 4
e) 23 e) 4 e 6
83
80) (UFF) A figura representa o gráfico da função f definida por
77) Seja f(x) = log2x, o valor do produto f(9) · f(8) · f(7) · … · f(3) ·
f(2) · f(1) é igual a:
a) 0
b) 9
c) 32
d) 64
e) 1024
a) x > -1. 81) (UFRRJ) O gráfico que melhor representa a função mostrada na
b) x = 5.
c) x < -1.
d) x = -5.
figura adiante, é:
e) x > 5.
a)
79) A representação
b)
c)
e)
84
82) (UFSM) O gráfico mostra o comportamento da função 86) (U. E. FEIRA DE SANTANA – BA) O gráfico da função real f(x)
logarítmica na base a. Então o valor de a é: = x2 – 2:
a) n < - 1
b) n > 3 88) O altímetro é o instrumento usado para medir alturas ou
c) – 1 < n < 0 altitudes. Trata-se de um instrumento básico exigido para todas as
d) 0 < n < 1 aeronaves a receber certificado. Ele mede a pressão atmosférica e
e) n > 2 apresenta-a como altitude.
Suponha que a altitude h acima do nível do mar, em quilômetros,
detectada pelo altímetro de um avião seja dada em função da
pressão atmosférica p , em atm, por A(p) 20 logp .
-1
84) (PucRS) Um aluno do Ensino Médio deve resolver a equação Num determinado instante, a pressão atmosférica medida pelo
com o uso da calculadora. Para que seu resultado seja altímetro era 0,8 atm. Considerando a aproximação log2 0,3 ,
obtido em um único passo, e aproxime-se o mais possível do valor qual a altitude h do avião nesse instante, em quilômetros?
procurado, sua calculadora deverá possuir a tecla que indique a
aplicação da função f definida por: a) 1 km
b) 2 km
c) 3km
d) 4 km
e) 5 km
a) 3
b) 4
c) 300
d) 400
e) 500
85
Pode-se afirmar que a lei de formação da função representada no
gráfico é:
93) (QOAM – 2021) Sabendo que log12 27 a , calcule
b) f ( x ) log 2 x
3 a
c) f ( x ) log 4 x a)
6a
d) f ( x ) log 1 x 8 4a
5 b)
3 a
e) f ( x ) log 1 x
2
8a
c)
6a
12 4a
d)
90) O altímetro dos aviões é um instrumento que mede a pressão 3 a
atmosférica e transforma esse resultado em altitude. Suponha que
a altitude h acima do nível do mar, em quilômetros, detectada pelo 3 a
e)
altímetro de um avião seja dada, em função da pressão 6a
atmosférica p, em atm, por
1
h( p ) 20 log 10
p GABARITO – QUESTÕES DE CONCURSOS
Num determinado instante, a pressão atmosférica medida pelo
altímetro era 0,4 atm. Considerando a
1–d 2–c 3–d 4–a 5–a 6–d 7–a 8–d 9–d
aproximação log 10 2 0,3 , a altitude do avião nesse instante, 10 – a 11 – c 12 – d 13 – a 14 – a 15 – a 16 – a 17 – a
em quilômetros, era de: 18 – d 19 – b 20 – c 21 – d 22 – e 23 – a 24 – c 25 – c
26 – b 27 – b 28 – c 29 – d 30 – c 31 – c 32 – a 33 – e
a) 5 34 – b 35 – a 36 – c 37 – e 38 – e 39 – b 40 – b 41 – e
b) 8 42 – d 43 – d 44 – d 45 – a 46 – d 47 – e 48 – c 49 – b
50 – a 51 – d 52 – c 53 – b 54 – e 55 – b 56 – c 57 – b
c) 9
58 – d 59 – a 60 – c 61 – d 62 – e 63 – e 64 – a 65 – d
d) 11
66 – e 67 – d 68 – c 69 – b 70 – a 71 – b 72 – e 73 – d
e) 12 74 – d 75 – a 76 – c 77 – a 78 – b 79 – b 80 – b 81 – b
82 – d 83 – d 84 – e 85 – c 86 – a 87 – d 88 – b 89 – a
90 – b 91 – b 92 – c 93 – d.
a) 1 ano e 3 meses.
b) 1 ano e 1 mês.
c) 1 mês.
d) 8 meses.
e) 9 meses.
a) 4
b) 3
c) 2
d) 1
e) 0
86
G
E
O
G
R
A
F
I
A
87
88
5. A LÓGICA DOS ESPAÇOS INDUSTRIAIS (continuação)
5.3 - Ciclos tecnológicos da Revolução Industrial (continuação)
5.3.8 - A indústria na era da globalização
No pós-guerra, os diversos avanços tecnológicos e a internacionalização da economia iniciaram a fase da Terceira
Revolução Industrial, Tecnológica ou Informacional.
Nas últimas décadas do século XX ocorreram também modificações na forma de produzir. O modelo fordista/taylorista
foi substituído pelo modelo toyotista. A capacidade de adaptação ou de flexibilização na produção (modelo toyotista) passou
a ser mais valorizada do que as divisões rígidas na produção (fordismo/taylorismo). A produção e os produtos fabricados
tornaram-se cada vez mais complexos, impondo a necessidade de integrar indústrias e laboratórios de pesquisa, o que levou
a tecnologia a ocupar um lugar cada vez mais importante na produção industrial.
Outra transformação significativa foi a criação e a ampliação da indústria de ponta, com a utilização de máquinas de
ajuste flexível, que permitem modificações rápidas no processo produtivo. Essas indústrias dependem de inovações
constantes e, portanto, de investimentos em pesquisas científicas e tecnológicas.
Beneficiando-se do progresso
nos transportes e nas comunicações,
a produção industrial espalhou-se por
vários continentes, permitindo separar
a concepção e a execução do
produto.
Com a globalização, a indústria
deixou de ter o espaço local e regional
como base, ultrapassando as
fronteiras nacionais. Componentes de
um produto podem ter origem em
países diferentes, pois as
corporações aproveitam as vantagens
comparativas das economias
nacionais. Qualquer desvantagem
pode acarretar a troca do fornecedor
ou mesmo a transferência de
unidades produtoras inteiras.
Estabeleceu-se uma nova
divisão de trabalho, a partir de uma
divisão territorial de indústrias. As
indústrias de ponta concentram-se
nos países centrais ou desenvolvidos.
As economias de maior avanço
tecnológico criam novos produtos e
investem na comercialização mundial
por meio de estratégias de marketing
(estudo dos mercados). Atuam no
cotidiano das pessoas, articulando
continentes inteiros com os mesmos
produtos e as mesmas imagens.
Atualmente, esse tipo de indústria é
em parte responsável pela
preponderância de um país sobre
outro.
5.4 - Desemprego
Se, por um lado, as inovações tecnológicas introduzidas nas indústrias aumentaram a produtividade, por outro lado,
reduziram os empregos, o que implica sérias questões sociais.
Enquanto os empregos, juntamente com as fábricas, foram transferidos para os países subdesenvolvidos, nos países
centrais parte da mão-de-obra passou a ser ocupada pelo setor terciário.
Lembre-se que as atividades econômicas geralmente são classificadas em três setores:
• setor primário – compreende a agricultura, a pecuária, a caça e o extrativismo;
• setor secundário – é composto pelas atividades industriais, em qualquer nível tecnológico;
• setor terciário ou de prestação de serviços – abrange o comércio, setor financeiro, setor público, educação, transportes,
em suma todas as atividades que normalmente ocorrem em áreas urbanas, com exceção das indústrias. Esse setor
complementa os dois primeiros, pois permite ou induz ao consumo de produtos e exerce papel fundamental na produtividade.
89
Atualmente, com o atual estágio tecnocientífico, tende-se a redividir os setores de atividade econômica em quatro,
incluindo o setor quaternário, que abrange a pesquisa de alto nível (biotecnologica, robótica, aeroespacial, etc).
Assim, as inovações tecnológicas do passado acabaram com alguns postos de trabalho, mas deram origem a outros,
em novos setores da economia.
Atualmente, as inovações tecnológicas têm provocado não só aumento de produtividade, mas também desemprego
em todos os grupos de países. Isso ocorre até mesmo no setor terciário, uma vez que a tecnologia da informação invade o
setor de serviços, automatizando bancos, telecomunicações, escritórios, comércio etc. Os computadores, além de diminuir
a participação humana, permitem produção programada e variada; a robotização reduz os custos na produção e permite
realizar atividades que envolvem riscos de segurança ou ocorrem em lugares de difícil acesso ao ser humano, como dutos
ou o fundo do mar (instalação de equipamentos).
Esse processo provoca o desemprego estrutural, que afasta do mercado de trabalho grande massa de população
durante períodos mais ou menos prolongados, atingindo principalmente jovens (dificuldade de acesso ao primeiro emprego)
e trabalhadores de pouca qualificação técnica.
Os fatores da industrialização
Quando o território do que viria a ser os Estados Unidos ainda pertencia ao Reino Unido, recebeu um grande fluxo de
imigrantes britânicos, principalmente nas colônias do Norte. Esses imigrantes, fugindo de perseguições políticas e religiosas
ou em busca de melhores condições de vida do que as da Europa, foram se fixando na faixa litorânea, num trecho conhecido
como Nova Inglaterra. Aí desenvolviam uma agricultura diversificada (policultura) em pequenas propriedades, nas quais
predominava o trabalho familiar.
Cidades como Nova York, Boston e Filadélfia começavam a surgir e crescer em ritmo acelerado, e teve início uma
atividade manufatureira, pois vários imigrantes que eram artesãos na Inglaterra, Escócia e Irlanda trouxeram consigo suas
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habilidades e ferramentas. Gradativamente, foi se estruturando um mercado interno, com o predomínio do trabalho familiar
no campo e do trabalho assalariado nas cidades. Isso criou condições para a crescente expansão das manufaturas, das
casas de comércio e dos bancos.
Assim, nas colônias do Norte, organizou-se uma colonização de povoamento, enquanto nas do Sul imperava a
colonização de exploração, estruturada sobre uma sociedade rigidamente estratificada e na exploração do trabalho escravo.
A economia sulista era baseada em plantations: grandes propriedades monocultoras nas quais se cultivava principalmente
o algodão e se utilizava trabalho escravo de povos negros trazidos à força da África central. Praticamente toda a produção
era exportada para o Reino Unido. A riqueza estava fortemente concentrada nas mãos dos fazendeiros escravagistas (a que
permanecia no país) e dos comerciantes britânicos, de forma que o mercado interno prosperava muito lentamente.
Já nas colônias do Norte os negócios se expandiam com rapidez e os capitais se concentravam nas mãos da burguesia
nascente. Com o tempo, os capitalistas e outros setores da sociedade nortista desenvolveram interesses próprios que
passaram a se chocar com os dos britânicos. O resultado desse conflito de interesses, como vimos, levou a uma guerra
entre a colônia e a metrópole e à independência política, que fez dos Estados Unidos o primeiro país livre da América.
Com isso surge uma dúvida: por que o Reino Unido não manteve um controle mais rígido sobre as treze colônias, já
que foi justamente nessa região que nasceram o separatismo e a industrialização? Esses fatos contrariavam os interesses
britânicos: o separatismo significava a perda de colônias, além de criar um perigoso precedente, e a industrialização, uma
incômoda concorrência. O jornalista uruguaio Eduardo Galeano deu uma boa resposta a essa questão:
A maioria dos primeiros imigrantes era britânica, seguidores de religiões cristãs protestantes, principalmente puritanos
(como eram chamados os calvinistas, os seguidores de João Calvino, na Grã-Bretanha), que haviam rompido com a Igreja
católica a partir da Reforma Protestante empreendida por Calvino e outros teólogos no século XVI. As religiões protestantes
favoreciam o desenvolvimento capitalista, uma vez que não condenavam moralmente a riqueza. Ao contrário, pregavam que
a riqueza era bem-vinda porque era fruto do trabalho, de uma vida austera, que afastava o fiel do pecado e o aproximava da
salvação divina.
Embora o aspecto cultural não seja determinante, pois na Itália católica e no Japão xintoísta/budista o capitalismo
também floresceu, é indiscutível que o protestantismo criou condições culturais extremamente favoráveis ao
desenvolvimento de um espírito empreendedor e de uma ética do trabalho, importantíssimas para a acumulação de capitais.
Fatores de ordem natural também foram fundamentais no processo de industrialização dos Estados Unidos. O
nordeste do território, além de estar próximo do oceano – o que há muito vem facilitando os transportes marítimos e o
intercâmbio comercial –, possui grandes reservas de carvão nas bacias sedimentares próximas aos Apalaches, nos estados
da Pensilvânia e de Ohio, e importantes jazidas de minério de ferro nos escudos próximos ao lago Superior, nos estados de
Minnesota e de Wisconsin. Além disso, o país dispõe de grandes e diversificadas reservas minerais e energéticas. Veja no
mapa a seguir a distribuição das principais ocorrências minerais e a localização das principais refinarias de petróleo e usinas
geradoras de energia nos Estados Unidos.
A farta e bem distribuída rede hidrográfica foi outro fator natural que favoreceu o desenvolvimento dos Estados Unidos.
A existência, no nordeste do país, de extensos lagos com desníveis consideráveis possibilitou a construção de grandes
barragens e usinas hidrelétricas para geração de energia. Ao lado das turbinas hidráulicas foram edificadas eclusas, que
permitiram às embarcações transpor os desníveis e ampliar significativamente a rede de hidrovias, garantindo a
disponibilidade de infraestrutura de energia elétrica e de transportes para o desenvolvimento industrial. Os Grandes Lagos
(como são chamados) favoreceram imensamente os transportes: pouco a pouco, foram interligados por canais artificiais e
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eclusas que possibilitaram a ligação do interior do continente com o oceano Atlântico pelo rio São Lourenço, no Canadá, e
pelo Hudson, nos Estados Unidos. Esse rio alcança o lago Erie, por meio de um canal artificial, e desemboca no Atlântico,
onde fica o porto de Nova York.
A arrancada industrial
Após a independência, as diferenças econômicas, sociais e culturais entre a sociedade nortista, das colônias de
povoamento, e a sociedade sulista, das colônias de exploração, afloraram nitidamente e acabaram desencadeando um
conflito armado, na segunda metade do século XIX. As elites aristocráticas que comandavam os estados escravagistas do
Sul, em franca decadência política e econômica, na tentativa de manter o poder e a escravidão criaram os Estados
Confederados da América.
Com isso, esses estados declararam sua separação (secessão) da federação americana, dominada pelos capitalistas
industriais e financeiros do Norte. Essa atitude provocou a Guerra de Secessão, ou Guerra Civil Americana.
A vitória da burguesia nortista teve como resultado geopolítico mais importante a manutenção da unidade territorial do
país, que já se estendia do Atlântico ao Pacífico. Interessada em garantir a ocupação dos territórios tomados dos povos
nativos (à custa de um grande genocídio) e aumentar o mercado consumidor para os bens produzidos por suas indústrias,
a elite do Norte passou a estimular a imigração. Em 1862 foi elaborada a Lei Lincoln (Homestead Act), segundo a qual as
famílias que migrassem para o oeste do país receberiam 65 hectares de terra para se fixar e, caso permanecessem
cultivando-os por pelo menos cinco anos, ganhariam sua posse definitiva. Porém, embora essa lei tenha garantido a
ocupação das terras do oeste, principalmente os férteis solos das planícies centrais, o que mais contribuiu para atrair
imigrantes e ampliar o mercado interno do país foi a aceleração de seu processo de industrialização, sobretudo no final do
século XIX e início do XX: entre 1890 e 1929, mais de 22 milhões de imigrantes, especialmente europeus, se fixaram no país.
A crise de 1929, a depressão dos anos 1930 decorrente dela e a Segunda Guerra Mundial reduziram drasticamente a
entrada de pessoas no país nos anos 1930-1940, porém, o fluxo imigratório voltou a aumentar após a guerra e atingiu seu pico nos
anos 1990, década em que entrou no país quase o mesmo número de imigrantes que nos vinte anos anteriores. Entre 1850 e 2010
os Estados Unidos foram o país que mais recebeu imigrantes no mundo, com a fixação de mais de 74 milhões de pessoas em seu
território.
Outra medida que ampliou o mercado consumidor interno foi a decretação, em 1863, do fim da escravidão nos Estados
Unidos. A partir de então, foi-se disseminando o trabalho assalariado e, pouco a pouco, foi-se estruturando, pela primeira vez na
História, uma ampla sociedade de consumo, que se consolidou após a Primeira Guerra Mundial.
A desconcentração industrial
Está ocorrendo nos Estados Unidos, já há algumas décadas, um processo de desconcentração industrial. O cinturão
industrial (manufacturing belt) do Nordeste já chegou a concentrar, no início do século XX, mais de 75% da produção industrial dos
Estados Unidos. De lá para cá sua participação vem se reduzindo, e hoje ela é inferior a 50%. Como consequência do grande
crescimento de cidades do Nordeste, que se agruparam em gigantescas megalópoles como a que se estende de Boston a
Washington (conhecida como Boswash), passando por Nova York, tem havido uma tendência de elevação dos custos de produção
na região. Novos centros industriais surgiram no sul e no oeste do país, e centros mais antigos nessas mesmas regiões se
expandiram, acarretando uma dispersão industrial. Algumas das cidades norte-americanas que mais têm crescido estão nessas
regiões novas, como Atlanta, Dallas, Houston, Seattle, São Francisco, etc.
Sul
As primeiras fábricas do Sul dos Estados Unidos datam de 1880: produziam fios e tecidos e foram instaladas por
industriais da Nova Inglaterra, atraídos pela disponibilidade de matéria-prima, o algodão cultivado na região. Contudo, a
industrialização efetiva do Sul ganhou grande impulso mesmo no início do século XX, após a descoberta de enormes lençóis
petrolíferos na região, principalmente no Texas. Após a Segunda Guerra o processo se intensificou, pois as necessidades
de defesa e de desenvolvimento do programa espacial estimularam a expansão industrial no Sul. Foi construída uma fábrica
de aviões em Marietta (Geórgia), onde hoje se encontra uma das maiores unidades da Lockheed Martin, empresa do setor
aeroespacial. Em Huntsville (Alabama), foi construído um dos centros da Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos, e
uma fábrica de aviões militares e mísseis da Boeing, a maior indústria aeronáutica do mundo.
No Texas, localiza-se o importante Centro Espacial de Houston, sede da Nasa. Na Flórida, em Cabo Canaveral,
encontra-se o Centro Espacial John F. Kennedy, base de lançamento de foguetes. No Texas há também importantes
indústrias aeronáuticas, em Fort Worth e San Antonio, e grandes indústrias petrolíferas em Houston, onde se destaca a
Exxon Mobil. Em 2012 essa empresa era a maior dos Estados Unidos e a segunda do mundo na lista das quinhentas maiores
da revista Fortune, com um faturamento de 453 bilhões de dólares, valor equivalente ao PIB da Argentina (a maior do mundo
era a holandesa Royal Dutch Shell, cujo faturamento era de 484 bilhões de dólares).
Oeste
A última região dos Estados Unidos a se industrializar foi o Oeste. Entre os fatores que contribuíram para a instalação
de indústrias nessa região, destacam-se:
• disponibilidade de mão de obra, que foi se estabelecendo desde a época da Corrida do Ouro, em meados do século
XIX, quando a exploração desse metal na Serra Nevada (Califórnia) atraiu muita gente;
• existência de outros minérios, como ferro e cobre, nas Montanhas Rochosas e na Serra Nevada, e de petróleo e gás
natural na Bacia da Califórnia;
• disponibilidade de elevado potencial hidrelétrico, principalmente nos rios Columbia e Colorado.
Em Seattle (estado de Washington) há uma importante concentração da indústria aeronáutica (divisão de aviões
comerciais da Boeing), e em Portland (Oregon) de indústrias siderúrgicas e metalúrgicas (alumínio), entre outras. Mas o
estado mais importante do Oeste é a Califórnia, com um parque industrial bastante diversificado, localizado principalmente
no eixo São Francisco-Los Angeles-San Diego, a segunda megalópole do país (conhecida como San-San), com indústrias
petroquímicas, automobilísticas, aeronáuticas, navais, alimentícias e outras.
Há, assim, muitos setores tradicionais. No entanto, pelo fato de ser uma industrialização relativamente recente,
bastante vinculada à indústria bélica (tendo recebido por isso fortes incentivos governamentais) e ligada a importantes
universidades e centros de pesquisas, no Oeste se encontram as mais importantes concentrações de indústrias de alta
tecnologia dos Estados Unidos, principalmente no tecnopolo do Vale do Silício.
Boston
No leste do país destaca-se outro importante tecnopolo, localizado na região metropolitana de Boston (Massachusetts)
e que se desenvolveu a partir dos anos 1960 ao longo da Rota 128, uma autoestrada que contorna as cidades da metrópole.
Esse tecnopolo também está vinculado à indústria bélica e ao setor de informática e abriga empresas como a Raytheon
(material bélico) e a Lionbridge Tecnologies (TI), entre outras. Mais recentemente têm se desenvolvido novos setores de alta
tecnologia na região, especialmente em Cambridge e arredores, sobressaindo-se as de biotecnologia (novos remédios e
terapias) e de equipamentos médicos, com destaque para empresas como a Biogen Idec e a Genzyme.
A região de Boston passou por um processo de reconversão industrial. Em torno dessa cidade surgiram os prédios
inteligentes dos setores ligados à nova economia informacional, muitas vezes no lugar de antigas fábricas, como as têxteis
ou navais, típicas da Primeira Revolução Industrial. Diferentemente de outras cidades do Nordeste que passaram a fazer
parte do Rust Belt, a região de Boston transformou-se num tecnopolo porque dispõe do ativo mais importante da Revolução
Técnico-Científica ou Informacional: conhecimento científico-tecnológico avançado. Isso ocorre graças aos professores e
pesquisadores da Universidade de Harvard e do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT), duas das instituições de
ensino e pesquisa mais conceituadas do mundo, além da Universidade de Boston e de cerca de cinquenta outras menos
conhecidas.
Além do Vale do Silício e da Rota 128, há diversos outros tecnopolos no território dos Estados Unidos, entre os quais
se destaca, logo abaixo dos dois mais importantes, o Research Triangle Park, na Carolina do Norte. Esse parque de
pesquisas recebe esse nome porque congrega empresas de alta tecnologia numa região formada por um triângulo em cujos
vértices estão três das mais importantes instituições de ensino e pesquisa do país: Duke University, North Carolina State
University e University of North Carolina at Chapel Hill.
Para finalizar, vale destacar que, como vimos anteriormente, em 2012 os Estados Unidos tinham corporações na lista
da revista Fortune, o que correspondia a 26,4% das quinhentas maiores do mundo. Entretanto, em 2001 chegou a ter 197
empresas na lista, 39,4% do total, um recorde. De lá para cá, empresas
de países emergentes, especialmente da China, têm ocupado esse espaço. Isso é mais uma evidência do
enfraquecimento relativo dos Estados Unidos e, paralelamente, do crescente fortalecimento das economias emergentes no
mundo atual.
A Alemanha e o Japão, assim como a Itália e o Canadá, industrializaram-se na segunda metade do século XIX.
São considerados países de industrialização tardia em comparação com os pioneiros que estudamos no capítulo
anterior. Neste, vamos analisar os dois primeiros, os mais importantes deste grupo.
Por que a Alemanha se industrializou tardiamente em relação aos países pioneiros?
Sua história é marcada pelo envolvimento em guerras, por destruições e reconstruções. Derrotada na Primeira
e na Segunda Guerra, foi arrasada e dividida, mas nas últimas décadas recuperou-se e em pouco tempo emergiu
novamente como potência econômica, com uma indústria moderna e competitiva. O que explica essa rápida
recuperação econômica? Que fatores mais contribuíram para isso?
O Japão foi a primeira potência industrial a se desenvolver na Ásia. A industrialização tardia o levou, como a
Alemanha, à expansão imperialista retardatária e a enfrentamentos com as potências já consolidadas. Durante a
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Segunda Guerra, o país foi arrasado do mesmo modo que a Alemanha, com quem se aliou. Em menos de três
décadas emergiu dos destroços da guerra para o segundo posto na economia mundial. Entretanto, desde os anos
1990 reduziu drasticamente seu ritmo de crescimento econômico e acabou superado recentemente pela China. O
que mudou para interromper o ciclo de crescimento anterior? Para entender seu vertiginoso avanço econômico, e
depois a crise pela qual o país passou, é fundamental estudar seu processo de industrialização.
5.5.3 - ALEMANHA
Unificação territorial e industrialização
De 1815 a 1871 a Alemanha foi uma confederação composta de 39 unidades políticas independentes (Estados, reinos,
ducados, principados e cidades-Estado). Em 1861, sob o comando de Otto von Bismarck, chanceler da Prússia, o Estado
mais poderoso da confederação germânica, iniciou-se o processo de unificação político-territorial marcado por diversas
guerras contra seus vizinhos. A Alemanha entrou em guerra contra a Dinamarca, a Áustria e a França. Venceu todas,
inclusive a que travou contra seu vizinho mais poderoso (a França), de quem tomou os territórios da Alsácia e Lorena ao
final da Guerra Franco-Prussiana (1870-1871)
Após esse período de guerras, o país completou sua unificação político-territorial. A partir daí houve uma aceleração
do processo de industrialização e, em fins do século XIX, a Alemanha já tinha uma economia mais forte que a do Reino
Unido e a da França e liderava, com os Estados Unidos, os avanços tecnológicos da Segunda Revolução Industrial.
A unificação política de 1871 tornou a Alemanha não só um único Estado, mas também um único mercado. Entretanto, o
processo de unificação econômica já havia começado com a criação do Zollverein (união aduaneira estabelecida em 1834 entre
os Estados alemães), o que estimulou desde aquela época o comércio e, portanto, o desenvolvimento industrial. Com a unificação
política, consolidou-se a integração econômica: instituição de uma moeda única, padronização das leis e constituição de um amplo
mercado interno, que ampliou as possibilidades de acumulação de capitais. Em consequência disso, a Alemanha tornou-se uma
potência econômica e militar, mas, como não tinha colônias, envolveu-se em outras guerras com o objetivo de conquistar novos
territórios.
Ao longo dos séculos XIX e XX, graças à disponibilidade de grandes jazidas de carvão mineral (a hulha da bacia do
Ruhr) e à facilidade de transporte hidroviário (observe a foto da página seguinte), muitas indústrias se concentraram na
confluência dos rios Ruhr e Reno, quase na fronteira com os Países Baixos. Desde o final da Idade Média, o vale do Reno,
que liga o norte da Itália aos Países Baixos, já era uma das principais rotas do comércio, o que explica a significativa
concentração de capitais na região e os investimentos cada vez maiores, por parte de grandes proprietários de terras e
banqueiros, na indústria que ali se instalava.
Gradativamente, a população que vivia no campo migrou para as cidades, empregou-se como mão de obra
assalariada e contribuiu para a ampliação do mercado consumidor. Além desses fatores, a França, derrotada na Guerra
Franco-Prussiana, terminada em 1871, foi obrigada a ceder à Alemanha as províncias da Alsácia e Lorena (localize-as no
mapa acima), ricas em carvão e minério de ferro, e a pagar pesada indenização aos alemães. Isso significou mais recursos
e acesso a novas fontes de energia e de matérias-primas. A soma desses fatores explica a intensa industrialização da
Alemanha a partir de então, mas o país enfrentou problemas para sustentar seu crescimento econômico.
5.5.4 - JAPÃO
O primeiro contato dos japoneses com os europeus se deu no início do século XVI, com a chegada dos comerciantes
e evangelizadores portugueses, que lá permaneceram por cerca de cem anos. Entretanto, com a ascensão do xogunato
Tokugawa, em 1603, os estrangeiros foram proibidos de entrar no país (inclusive os portugueses), e os japoneses, de sair.
Com isso o Japão permaneceu bastante isolado do mundo exterior no período em que foi governado pelo clã Tokugawa.
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Havia apenas uma exceção: as trocas comerciais feitas com os holandeses, que mantinham um entreposto comercial em
Nagasaqui. Por isso, quando uma esquadra da marinha norte-americana aportou no Japão em 1853, fato que marcou o fim
desse período de isolamento, encontrou um país ainda feudal e defasado economicamente em relação ao mundo ocidental.
Tentando realizar seu projeto geopolítico de controle dos oceanos, os norte-americanos forçaram a abertura do Japão
por meio do Tratado de Kanagawa, assinado em 1854. Essa abertura acelerou a desintegração do sistema feudal japonês
e, em 1868, encerrou-se o domínio do clã Tokugawa e do próprio regime do xogunato. Por que o Japão permaneceu isolado
durante tanto tempo? Por que os europeus e, particularmente, os britânicos, que estenderam seu império à Índia e à China,
não forçaram a entrada no país do Sol Nascente?
O Japão é um país insular muito pequeno (sua área, de 377 mil quilômetros quadrados, corresponde aos estados do
Rio Grande do Sul e de Santa Catarina), formado por montanhas e estreitas planícies, portanto, com pouquíssimas terras
agricultáveis, a maioria na zona temperada do planeta, a qual não oferecia condições para o cultivo dos cobiçados produtos
tropicais, como a cana e o algodão, entre outros. Geologicamente, o Japão é formado por uma combinação de dobramentos
e vulcanismo. Localiza-se numa zona de contato de três placas tectônicas, no Círculo de Fogo do Pacífico, o que explica
sua grande instabilidade geológica, além de um subsolo extremamente pobre em minérios e combustíveis fósseis.
Assim, o que o Japão poderia oferecer às potências colonialistas, tanto na fase do mercantilismo, como, mais tarde,
na etapa do imperialismo? Como se percebe, muito pouco, por isso o país não despertou tanto interesse nos comerciantes
e industriais europeus.
Entretanto, no final do século XIX, quando os Estados Unidos emergiram como potência e se lançaram em busca de
pontos estratégicos nos oceanos Pacífico e Atlântico, o Japão se tornou um país interessante para os norte-americanos,
porque está numa posição estratégica no Pacífico, próximo à costa do leste da Ásia. A partir de então, para não ficarem
dependentes dos Estados Unidos, os japoneses empenharam-se de modo enérgico em viabilizar seu processo de
industrialização, por meio da intervenção do Estado na economia e do militarismo. Assim como a Alemanha e a Itália, o
Japão é um país de capitalismo tardio, de imperialismo tardio, e uma aliança entre esses três países foi apenas uma questão
de tempo. Isso aconteceu no contexto da Segunda Guerra, quando formaram o eixo Berlim-Roma-Tóquio numa tentativa de
dominar o mundo. Aos japoneses era muito interessante o domínio de territórios na Ásia que pudessem viabilizar sua
expansão econômica. Eles também buscavam seu “espaço vital”.
Industrialização e imperialismo
O processo de industrialização e de modernização do Japão começou a partir de 1868, ano que marcou o fim do
xogunato Tokugawa e a restauração do império (os japoneses acreditam que seu primeiro imperador foi entronado no século
VII a.C.), com a ascensão do imperador Mitsuhito. Esse novo reinado, conhecido como Era Meiji (‘governo ilustrado’, em
japonês), estendeu-se até 1912 e foi marcado por políticas modernizantes: investimentos para a criação de infraestrutura
(ferrovias, portos, minas, etc.); maciços investimentos em educação, que foi universalizada e voltada à qualificação de mão
de obra; abertura à tecnologia e aos produtos estrangeiros. A Constituição de 1889 estabeleceu o imperador como chefe
“sagrado e inviolável” do Estado e também a Dieta Nacional do Japão (Parlamento). O governo também estimulou o
desenvolvimento de grandes conglomerados, que no Japão ficaram conhecidos como zaibatsus (em japonês: zai, ‘riqueza’;
batsu, ‘grupo’). Esses grupos econômicos surgiram de tradicionais e poderosos clãs de comerciantes e proprietários de
terras, como Mitsubishi, Mitsui, Sumitomo e Yasuda, entre outros menores. Com o tempo, esses grupos passaram a atuar
em praticamente todos os ramos industriais, além do comércio e das finanças. Foram incorporando empresas menores e
dominando cada vez mais a economia do país (os “quatro grandes” zaibatsus chegaram a controlar até metade de alguns
setores industriais).
Como consequência dessa política modernizante, o Japão viveu um acelerado processo de industrialização. No
entanto, o país enfrentava problemas estruturais graves: escassez crônica de matérias-primas e de energia e limitação do
mercado interno, o que levou o império japonês a se aventurar em busca de territórios na Ásia e no Pacífico. Para atingir tal
objetivo, investiu pesado em seu fortalecimento militar, o que foi facilitado pela rígida disciplina xintoísta (aspecto cultural),
aliada à capacidade industrial (aspecto econômico).
A expansão territorial iniciou-se com a vitória na Guerra Sino-Japonesa (1894-1895), que garantiu a ocupação de
Taiwan, e em 1910 o Japão anexou a Coreia. Posteriormente, com a vitória na guerra contra a Rússia (1904-1905), os
japoneses tomaram as ilhas Sacalinas ao norte e, em 1931, ocuparam a Manchúria, parte do território chinês, onde
implantaram Manchukuo, um Estado fantoche sob o governo do último imperador chinês, Pu Yi.
Com o objetivo de conquistar novos territórios, em 1937 o Japão iniciou uma confrontação total com a China, que se
estendeu até a Segunda Guerra. Como mostra o mapa, essa conflagração mundial marcou a fase de maior expansão
territorial nipônica, quando o país ocupou parte do Sudeste Asiático e diversas ilhas do Pacífico. Tal política expansionista,
porém, levou o país a ser derrotado na guerra e à sua quase total destruição.
Em 1941 os japoneses realizaram um ataque-surpresa à base naval de Pearl Harbor, Havaí (Estados Unidos), numa
evidência de que superestimaram seu poderio militar. Esse ato precipitou a entrada dos norte-americanos na guerra, o que
acabou levando os japoneses à derrota. Após os Estados Unidos lançarem bombas atômicas sobre Hiroxima e Nagasaki,
em 6 e 9 de agosto de 1945, respectivamente, o Japão não teve alternativa a não ser se render. A rendição – assinada em
setembro de 1945 no porta-aviões Missouri, atracado na baía de Tóquio – foi o principal símbolo da superioridade tecnológica
e militar norte-americana e, ao mesmo tempo, o prenúncio do papel reservado ao Japão durante a Guerra Fria: fiel aliado
político e aguerrido adversário econômico dos Estados Unidos.
100
Reconstrução após a segunda guerra
Durante a ocupação, que se estendeu até 1952, quando entrou em vigor um acordo de paz assinado um ano antes
(Tratado de São Francisco), o Japão foi governado pelo Conselho Supremo das Potências Aliadas, presidido pelo general
norte-americano Douglas MacArthur. Nesse período, profundas reformas foram impostas ao país com o objetivo de
modernizá-lo do ponto de vista político e econômico. Em 1947 foi aprovada uma lei antitruste – a Lei de Proibição dos
Monopólios –, o que levou os zaibatsus à dissolução. Com isso, os norte-americanos pretendiam enfraquecer o poder dos
grandes grupos e estimular a concorrência na economia japonesa. No entanto, com o tempo os zaibatsus se rearticularam
e se organizaram como keiretsus.
A Constituição, redigida e imposta pelos ocupantes em 1947, encerrou sua fase militarista ao proibir a intervenção
externa do exército japonês, que foi transformado em força de autodefesa. Na realidade, a proteção do território nipônico,
até mesmo de ataques nucleares, ficou a cargo dos Estados Unidos, com quem o Japão assinou um tratado de defesa mútua
em 1954. A Constituição também garantiu a liberdade de culto e estabeleceu a separação entre Estado e religião: o xintoísmo
deixou de ser a religião oficial e o ensino público passou a ser laico. A independência política e a soberania foram
restabelecidas em 1952, mas o imperador deixou de ser considerado uma divindade e passou a colaborar ativamente com
as reformas. O imperador Hiroito permaneceu no poder de 1926 até sua morte, em 1989 – período denominado Era Showa
(‘paz brilhante’, em japonês) –, quando foi substituído por seu filho Akihito, atual imperador do Japão (em 2012).
A recuperação econômica japonesa após a Segunda Guerra foi avassaladora. Na década de 1960, o país já tinha
conquistado o terceiro lugar na economia mundial e atingiu o segundo na década de 1980 (posição que só perdeu para a
China em 2010). Até o final dos anos 1980 o Japão foi uma das economias que mais cresceu no mundo; entretanto, desde
a década de 1990 vem apresentando um crescimento muito baixo. Que fatores explicam primeiro as altas taxas de
crescimento e, depois, as baixas?
Além das intervenções modernizadoras, os Estados Unidos elegeram o Japão como o principal ponto de apoio asiático
na luta contra o comunismo sino-soviético, estratégia que se fortaleceu, sobretudo, após a Revolução Chinesa de 1949.
Assim, o Japão passou a se beneficiar da ajuda financeira do Tesouro dos Estados Unidos, fundamental para a recuperação
de sua economia. Ainda dentro da lógica da Guerra Fria, os industriais japoneses tiveram altos lucros fornecendo
suprimentos às guerras da Coreia (1950-1953) e do Vietnã (1955-1975), que foram tentativas norte-americanas de conter a
expansão comunista na Ásia.
Diversos outros fatores foram importantes para a rápida recuperação econômica do país, conhecida como “milagre
japonês”, e os crescentes ganhos de produtividade:
• a grande disponibilidade de mão de obra relativamente barata, disciplinada e qualificada (assim como a Alemanha, o Japão
já possuía trabalhadores qualificados antes da Segunda Guerra);
• os maciços investimentos estatais em educação, que melhoraram ainda mais a qualificação da mão de obra e, junto à
iniciativa privada, em pesquisa e desenvolvimento tecnológico;
• a reconstrução da infraestrutura e dos conglomerados (os antigos zaibatsus) em bases mais modernas e a gradativa
introdução de novos métodos organizacionais, como o toyotismo (orientado pelo lema kaizen), aumentando a
competitividade das empresas;
• a desmilitarização do país e de seu parque industrial, que permitiu investimentos maiores nas indústrias civis de bens
intermediários e de capital, o que deu sustentação ao desenvolvimento de uma poderosa e competitiva indústria de bens
de consumo.
Após a Segunda Guerra, em substituição aos zaibatsus, que tinham uma holding que controlava todas as empresas
do grupo (ou seja, possuíam uma “cabeça”), as companhias japonesas reorganizaram-se formando os keiretsus (‘união sem
cabeça’, em japonês). Essa palavra é perfeita para definir as redes de empresas integradas que dominam a economia
japonesa atual. As empresas que as formam são independentes, embora muitas vezes uma possua parte minoritária das
ações da outra e vice-versa. Um keiretsu geralmente se articula em torno de algum grande banco que dá suporte financeiro
às empresas da rede, as quais atuam de forma integrada para atingir seus objetivos. Atualmente os grandes grupos
japoneses – muitos deles antigos zaibatsus, como Mitsubishi, Mitsui, Sumitomo – se organizam como keiretsu.
É importante destacar que até os anos 1970 a principal vantagem apresentada pelo Japão sobre os concorrentes da
Europa ocidental e da América do Norte foi a mão de obra barata. Essa foi a outra face do “milagre”, ou seja, a competitividade
até então esteve assentada em grande medida na superexploração da força de trabalho. Porém, com o passar do tempo, os
salários foram aumentando como decorrência da elevação da produtividade resultante dos avanços tecnológicos (como a
robotização) e organizacionais (como o toyotismo) incorporados ao processo de produção.
Na primeira metade da década de 1990 os trabalhadores japoneses alcançaram salários bastante elevados, entre os
mais altos do mundo, o que sustentou um gigantesco mercado interno e lhes assegurou um dos mais altos padrões de vida
do mundo. Entretanto, a persistência da estagnação econômica provocou o aumento do desemprego e, consequentemente,
a estagnação do valor dos salários. Somente a partir de 2005 houve uma recuperação salarial.
102
Principais parques tecnológicos
O Japão, ao lado dos Estados Unidos e da União Europeia, é o líder em novas tecnologias na atual Revolução
Informacional. O país abriga diversos centros de pesquisa e inúmeras indústrias de alta tecnologia, concentrados
principalmente em seus dois mais importantes tecnopolos, ou cidades da ciência, como os japoneses denominam seus
parques tecnológicos: Tsukuba e Kansai.
A Cidade da Ciência de Tsukuba, no município de Ibaraki, a 60 quilômetros a nordeste de Tóquio, é o principal
tecnopolo do país e um dos mais importantes do mundo (localize-a no mapa da página 191). Sua implantação começou na
década de 1960, com investimentos estatais, e, ao longo dos anos 1970 e 1980, recebeu diversos centros de pesquisas
governamentais. Em 2010 existiam 55 institutos públicos e privados de educação e pesquisa em funcionamento, entre eles
a Universidade de Tsukuba, a Agência de Exploração Aeroespacial do Japão, o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia
Industrial Avançada, o Instituto Nacional de Estudos Ambientais. Desde meados dos anos 1980, com a consolidação desse
parque tecnológico, ocorreu a instalação de muitas empresas privadas em seu interior.
A Cidade da Ciência de Kansai abrange os municípios de Kyoto, Osaka e Nara; por isso esse tecnopolo também é
conhecido pelo acrônimo Keihanna (Kei = Kyoto, Han = Osaka, Na = Nara). Trata-se da segunda região mais industrializada
do Japão, e sua implantação começou em meados dos anos 1980. Porém, diferentemente deTsukuba, que é um
empreendimento predominantemente estatal, em Kansai há uma forte presença de laboratórios de empresas privadas, como
a Panasonic e a Canon. Lá também há importantes universidades e centros de pesquisa públicos e privados geradores de
tecnologias inovadoras: Universidade de Osaka, Instituto de Ciência e Tecnologia de Nara, Instituto Internacional de
Pesquisas Avançadas em Telecomunicações em Kyoto, entre outros. Um dos mais importantes setores de alta tecnologia
em que o Japão é líder mundial, e que pressupõe o domínio da microeletrônica e da mecânica, é a robótica. O país domina
o desenvolvimento e a aplicação da robótica ao processo produtivo. A utilização de robôs, sobretudo na indústria
automobilística, que é o setor mais automatizado da economia nipônica, foi um dos principais fatores que colaboraram para
o grande aumento da produtividade e da competitividade de seu parque industrial. Em 2012, havia no Japão dezenas de
empresas produzindo robôs industriais, tanto para o mercado interno como para exportação. A Fanuc, a maior delas, tem
sede em Yamanashi e filiais em outras cidades do Japão e em outros países, como Estados Unidos, Alemanha, China,
Coreia do Sul e Brasil.
Apesar de o Japão manter a liderança da produção e utilização de robôs industriais, a crise de 2008/2009 atingiu
fortemente sua economia e levou a uma diminuição dos estoques em operação. Em 2008, 34% dos robôs industriais em
funcionamento no mundo operavam em fábricas japonesas, mas em 2009 esse percentual se reduziu para 33% e havia
previsão de redução para 24% em 2012.
Crises econômicas
O grande sucesso econômico do Japão resultou de uma eficiente combinação de livre mercado com planejamento
estatal. O influente Ministério da Indústria e do Comércio Internacional, criado em 1951, teve papel importante na elaboração
de diretrizes macroeconômicas de longo prazo. Em 2001, após passar por um processo de reorganização, teve seu nome
mudado para Ministério da Economia, Comércio e Indústria. Funcionando em sintonia com os grandes grupos econômicos,
após a Segunda Guerra o Estado japonês deu sustentação e apoio à competição para a conquista de mercados no exterior.
Entretanto, no início dos anos 1990 a economia japonesa perdeu fôlego e entrou em um período de estagnação que
de certa forma foi consequência do sucesso dos anos anteriores. O grande acúmulo de riquezas no país levou os agentes
econômicos a uma crescente especulação com ações, o que provocou uma enorme alta na Bolsa de Valores de Tóquio e
também dos imóveis, que atingiram valores estratosféricos. Os bancos japoneses, que na época chegaram a ocupar oito
das dez primeiras posições entre os maiores grupos financeiros do mundo, segundo o relatório World Investiment Report
2012, da Unctad, emplacaram apenas dois entre os dez maiores, considerando o patrimônio: o Mitsubishi UFJ Financial
Group e o Mizuho Financial Group. A concessão de grandes empréstimos sem critério, principalmente para o mercado
imobiliário, gerou grande especulação nesse setor. Essa bolha especulativa – financeira e imobiliária – estourou no início
dos anos 1990. Os valores das ações e dos imóveis despencaram, fazendo a crise se propagar pela economia real e provocar
o fechamento de empresas e o aumento do desemprego. Os bancos, não tendo como receber dos devedores, deixaram de
fazer novos empréstimos. Muitas empresas (industriais e comerciais) e instituições financeiras (bancos, seguradoras,
corretoras de valores, etc.) foram à falência, levando o país à estagnação econômica.
Agravando esse quadro, a população, receosa com a crise, passou a poupar mais, o que reduziu ainda mais os níveis
de consumo. Esse fato, além de aumentar a historicamente alta taxa de poupança interna, dificultou a retomada do
crescimento econômico. Com isso, a economia japonesa cresceu nos anos 1990 apenas 1% na média anual, e nos anos
2000 foi ainda pior: 0,9% (recordando: na década de 1980 o crescimento médio anual havia sido de 4,1%).
Como mostram os dados do gráfico abaixo, a economia japonesa estava esboçando uma reação em meados dos
anos 2000, mas com a crise mundial de 2008/2009 o país entrou novamente em recessão.
Apesar da estagnação que viveu nos anos 1990 e 2000 e de ter sido um dos países mais atingidos pela crise de
2008/2009, o Japão permanece como terceiro PIB do mundo (foi superado pela China em 2010) e é uma potência industrial
de primeira linha: moderna e competitiva. O país sedia algumas das maiores corporações transnacionais do planeta, com
destaque para Toyota, Nissan e Honda (automóveis); Hitachi, Panasonic e Sony (eletrônicos em geral); Mitsubishi, Mitsui e
Sumitomo (navios, automóveis, bancos, etc.); Fujitsu e NEC (computadores e softwares); Canon e Fujifilm (equipamentos
fotográficos); Nippon Steel (aço), todas na lista das 500 maiores da revista Fortune.
103
5.5.5 - UNIÃO EUROPEIA: rumo à integração industrial?
A Europa foi o berço das primeiras grandes aglomerações industriais do planeta, na maioria polarizadas pela presença
de complexos siderúrgicos. Na pioneira Grã-Bretanha, a siderurgia assentou-se sobre as reservas de hulha do Black Country
(Birmingham), do País de Gales e do sul da Escócia.
Na Alemanha, o Vale do Rio Ruhr tornou-se a maior região siderúrgica da Europa. A hulha do Ruhr e das reservas
menores na Bélgica abastecia também as indústrias francesas, através do sistema fluvial do Rio Reno e de seus afluentes.
Essa integração industrial franco-alemã transformou as ricas regiões da fronteira em foco de disputas geopolíticas e militares,
que se estenderam do século XIX à Segunda Guerra Mundial. No pós-guerra, o tratado da Comunidade Européia do Carvão
e do Aço (Ceca) transformou a disputa em colaboração ativa, unificando fretes e tarifas em toda a bacia do Rio Reno.
Entretanto, apesar da integração precoce de parte da siderurgia, a lógica das economias nacionais é que presidiu a
implantação da atividade industrial no continente.
Cada país tinha seu mercado, delimitado e regulado por uma moeda nacional, no interior do qual as empresas
traçavam suas estratégias de localização.
Assim, diversos setores industriais europeus desenvolveram estruturas paralelas. Não existe, por exemplo, uma
indústria automobilística europeia, mas sim indústrias automobilísticas francesas, alemãs e italianas. A localização das sedes
e das unidades produtivas dessas empresas foi escolhida em função de fatores internos a cada um desses países. É por
isso que é muito difícil comparar o espaço industrial da União Européia com o dos Estados Unidos, apesar de se tratar de
economias de dimensões similares. A produção do espaço industrial estadunidense se deu no interior de um único mercado
nacional, regulado por uma única moeda - o dólar.
Na Alemanha, principal potência econômica da União Européia, o complexo industrial do Reno-Ruhr continua a ocupar
lugar de destaque, mas existem muitos outros polos industriais importantes, comandados principalmente pelas indústrias
mecânicas, químicas e eletrônicas.
Na França, os principais centros industriais desses mesmos setores espalham-se no centro-norte do país, destacando-se a
região parisiense, a Alsácia-Lorena e a região da cidade de Lion.
Na Grã-Bretanha, grande parte dos novos investimentos se direciona para a região de Londres, que concentra indústrias
químicas e mecânicas. As velhas regiões industriais carboníferas, por sua vez, há décadas enfrentam um quadro de crise
econômica e social generalizada. Na Itália, os centros industriais mais importantes, ligados principalmente à siderurgia e às
indústrias mecânicas, situam-se em Turim, Milão e Gênova, no norte do país.
O aprofundamento da integração econômica entre os países da União Européia, coroado em janeiro de 1999 com a adoção
de uma moeda única - o euro -, abriu o caminho para uma profunda reorganização espacial da indústria européia. Contando com
um espaço monetário unificado, as empresas e os setores industriais tendem a traçar suas estratégias locacionais visando o
conjunto do mercado europeu. Os processos de fusão entre empresas, de eliminação de unidades produtivas redundantes e de
mudança de localização de fábricas refletem as necessidades geradas pela concorrência em escala européia.
A integração também parece ser o caminho da indústria de alta tecnologia. Com a criação de grandes consórcios de
pesquisa e desenvolvimento, as empresas européias buscam enfrentar a concorrência com o Japão e os Estados Unidos.
A indústria aeronáutica ilustra esse fenômeno, tal como mostra o caso da Airbus.
104
estatizados, ou seja, foram confiscados pelo Estado e passaram a ser controlados pelo governo;
• as metas de produção industrial, mineral e agrícola do país passaram a ser definidas por planos quinquenais, elaborados
pelo Comitê Estatal de Planejamento, mais conhecido por Gosplan (o acrônimo vem do russo Gosudarstvennyi planovyi
komitet).
O primeiro plano quinquenal,
implementado de 1928 a 1932, tinha como
principal objetivo construir as bases da economia
socialista, por isso priorizou a implantação da
indústria pesada, a expansão da infraestrutura
básica e a criação de fazendas coletivas,
forçando os agricultores a aderir ao novo modelo
de produção. Com isso a economia cresceu
significativamente e a produção industrial teve
grande avanço, como mostra a tabela a seguir.
No entanto, as metas de produtividade
estabelecidas pelos planos quinquenais eram
quantitativas e quase não levavam em conta a
qualidade dos produtos.
Sob a economia planificada, a União
Soviética saltou de uma posição periférica, no
início do século XX, ao posto de segunda
economia do planeta, na época da Segunda
Guerra Mundial, posição que ainda manteve por
alguns anos. Principalmente na década de 1930,
enquanto as potências ocidentais sofriam o
impacto da crise de 1929, o crescimento industrial soviético foi muito rápido. Observe na tabela que, devido ao colapso
econômico provocado pela Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e pela Revolução de 1917, o país socialista partiu de um
patamar muito baixo em 1920.
A economia planificada foi bem-sucedida no período em que o mundo se organizou segundo os padrões tecnológicos
da Segunda Revolução Industrial. Enquanto a produção e, portanto, a tecnologia e os índices de produtividade tiveram como
referência aqueles padrões, a União Soviética esteve em pé de igualdade com os Estados Unidos e outros países capitalistas
desenvolvidos. Como vimos, desde o primeiro plano quinquenal os planejadores soviéticos priorizaram as indústrias
intermediárias e de bens de capital, com o objetivo de garantir autonomia ao país, além de investir na infraestrutura
necessária para sustentar o processo de industrialização. Indústrias como a siderúrgica, a petrolífera, a bélica e a de
máquinas e equipamentos tiveram enorme crescimento: por exemplo, do início do primeiro plano quinquenal até o fi nal do
segundo, a produção de aço saltou de 4 para 18 milhões de toneladas. Foram construídas barragens e hidrelétricas,
ferrovias, redes de transmissão de energia, portos, aeroportos, etc.
O segundo plano quinquenal (1933-1937) continuou a priorizar a indústria pesada, e o terceiro (1938-1942) foi
interrompido pela eclosão da Segunda Guerra. O quarto plano quinquenal (1946-1950) foi direcionado à recuperação da
economia e à reconstrução das fábricas e das obras de infraestrutura destruídas pelo conflito bélico. Os planos seguintes
continuaram enfatizando o setor industrial de base e o bélico, já no contexto da Guerra Fria e da corrida armamentista. Tudo
isso possibilitou um elevado crescimento econômico.
Nos primórdios da Terceira Revolução Industrial, a União Soviética chegou a liderar alguns setores: por exemplo, ao
lançar ao espaço, em 1957, o primeiro satélite artificial (Sputnik), ou quando colocou o primeiro astronauta (Yuri Gagarin)
em órbita ao redor da Terra, em 1961. No entanto, a partir da década de 1970, quando a Revolução Técnico-Científica
começou a se acelerar nos países capitalistas desenvolvidos, sobretudo nos Estados Unidos, a União Soviética não
conseguia acompanhá-los e começou a sofrer defasagem econômica e tecnológica. Uma fatia crescente do orçamento era
comprometida com a indústria bélica e aeroespacial, setores em que o país se mantinha competitivo por conta da corrida
armamentista com os Estados Unidos. Entretanto, ao contrário do que acontecia nos Estados Unidos e na Europa ocidental,
na União Soviética as inovações tecnológicas desenvolvidas nesses setores não migravam para as indústrias civis,
dinamizando a economia e gerando novos produtos. Como a produtividade da indústria em geral e do setor de bens de
consumo em particular era baixa e não acompanhava os avanços tecnológicos dos países capitalistas desenvolvidos, seu
parque industrial mostrou-se incapaz de produzir bens em quantidade e qualidade suficientes para abastecer a população,
gerando filas e aborrecimentos.
No início da década de 1980, os Estados Unidos deram o golpe de misericórdia na enfraquecida economia soviética.
Em 1981, Ronald Reagan, do Partido Republicano, foi eleito presidente em substituição a Jimmy Carter, do Partido
Democrata, tido por muitos como um governo fraco em política externa. Logo depois de assumir o cargo, Reagan triplicou o
orçamento para a defesa. Com isso a União Soviética não teve mais como continuar a corrida armamentista e os acordos
de paz tornaram-se necessários e urgentes.
Em 1985, Mikhail Gorbatchev ascendeu ao cargo de secretário-geral do PCUS. Além de negociar acordos de redução
de armas, seu desafio era recolocar o país no mesmo patamar tecnológico do mundo ocidental e aumentar a produtividade
105
da economia, assim como a oferta e a qualidade de bens de consumo para a população.
O próprio Gorbatchev fez uma análise bastante realista dessa situação em um livro lançado logo depois de chegar ao
poder, um best-seller mundial na época. Leia o trecho a seguir - “Estava-se desenvolvendo uma situação absurda: a URSS,
o maior produtor mundial de aço, matérias-primas, combustíveis e energia, apresentava escassez de tais recursos devido
ao uso ineficiente ou ao desperdício. Apesar de ser um dos maiores produtores de grãos para alimentação, tinha de comprar
milhões de toneladas por ano para forragem. Possuímos o maior número de médicos e leitos hospitalares para cada mil
habitantes, e, ao mesmo tempo, existem claras deficiências em nossos serviços de saúde. Nossos foguetes conseguem
encontrar o cometa de Halley e atingir Vênus com uma precisão surpreendente, mas ao lado desses triunfos científicos e
tecnológicos existe uma ineficiência óbvia para aplicar nossas conquistas científicas às necessidades econômicas, e muitos
dos eletrodomésticos na URSS apresentam uma qualidade sofrível.
Infelizmente, isso não é tudo. Iniciou-se uma gradual erosão de valores ideológicos e morais de nosso povo.
Ficou claro que a taxa de crescimento caía rapidamente e que todo o mecanismo de controle de qualidade não estava
funcionando de forma adequada. Havia falta de receptividade com relação aos avanços científicos e tecnológicos, a melhoria
do padrão de vida estava diminuindo e havia dificuldade no fornecimento de alimentos, habitação, bens de consumo e
serviços. (...)”
GORBATCHEV, Mikhail. Perestroika: novas ideias para o meu país e o mundo. São Paulo: Best Seller, 1987. p. 20.
Gorbatchev, rompendo com o imobilismo da era Brejnev, logo que assumiu o poder propôs um conjunto de reformas
voltadas para a modernização da economia soviética, chamado perestroika (‘reestruturação’, em russo), visando à superação
de suas profundas contradições. Planejava criar condições para atrair investimentos estrangeiros: facilitar a formação de
empresas mistas (joint ventures), assegurando o acesso a novas tecnologias da Terceira Revolução Industrial; introduzir
processos produtivos e métodos de controle de qualidade inovadores, a fim de modernizar as empresas estatais; entre outras
medidas, que visavam ao aumento da produtividade. Para ele, outra necessidade urgente era frear a corrida armamentista.
Esperava com isso diminuir os gastos militares e obter os recursos necessários a essas mudanças. Desde que chegou ao
poder, Gorbatchev sempre tomou a iniciativa para a assinatura de acordos de paz com os Estados Unidos, o que lhe valeu
o prêmio Nobel da Paz em 1990.
A implantação dessas mudanças econômicas também envolveu reformas no sistema político-administrativo. Era preciso pôr
fim à ditadura desmontando o aparelho repressor herdado da era Stálin e assegurando liberdade de imprensa e direitos
democráticos mínimos. Com a implantação da glasnost (‘transparência política’, em russo), teve início a abertura política na União
Soviética. Entretanto, a incipiente desmontagem do aparelho repressor liberou forças contidas havia muito tempo. Nacionalistas de
várias repúblicas da União começaram a reivindicar autonomia em relação a Moscou. Durante a existência da União Soviética,
muitas minorias étnicas foram oprimidas pelos russos, a etnia majoritária e que de fato detinha o poder no país. As repúblicas
bálticas (Estônia, Letônia e Lituânia), anexadas à União Soviética após a Segunda Guerra, foram pioneiras, declarando sua
independência. Em seguida, o separatismo ganhou força nas demais regiões do país, levando à completa fragmentação política
da antiga superpotência.
106
Cazaquistão tem importante produção de petróleo e carvão, mas como possui extensas áreas de desertos, depende da
importação de alimentos das outras repúblicas. Praticamente todas as ex-repúblicas soviéticas dependiam, e em grande
medida ainda dependem, da importação de produtos da indústria russa. Embora os países almejem diversificar seu comércio,
o peso da história comum e da proximidade geográfica faz com que ainda haja considerável dependência em relação à
Rússia, o país mais industrializado e a maior economia da região.
A Rússia ocupou o espaço da antiga União Soviética no cenário internacional como o assento de membro permanente
do Conselho de Segurança da ONU. No entanto, perdeu poder no mundo, mesmo na região em que influenciava diretamente,
o Leste Europeu, onde viu vários de seus antigos satélites ingressarem na Otan e na União Europeia. O fracasso da
perestroika e a conturbada transição para a economia de mercado lançaram o país em profunda recessão. Segundo o Banco
Mundial e o FMI, no período 1990-2000, o PIB russo encolheu 4,7% na média anual (o recorde foi em 1994, quando caiu
12,7%). A economia do país encolheu constantemente até 1996; em 1997 esboçou uma reação, mas veio a crise russa de
1998 e o PIB encolheu novamente. A partir de 1999, a economia da Rússia entrou num período de crescimento elevado
(entre 2000 e 2010 cresceu em média 5,4% ao ano), só interrompido pela crise financeira de 2008/2009.
O resultado da recessão dos anos 1990 e da crise de 1998 foi a elevação do desemprego, que atingiu 11,4% da
população ativa em 1998; com isso, houve aumento da pobreza e piora dos indicadores de distribuição de renda. No entanto,
a partir de 1999 o PIB da Rússia passou a crescer com taxas anuais elevadas, impulsionado pela desvalorização de sua
moeda, que estimulou suas vendas ao exterior, e pela elevação do preço do petróleo, seu principal produto de exportação.
Isso contribuiu para uma melhora nos indicadores de distribuição de renda.
A indústria russa
Os imensos recursos naturais
A Rússia, em razão de sua enorme extensão territorial e da diversidade de sua estrutura geológica, é um dos países
mais ricos do mundo em recursos minerais. Há em seu território extensas áreas de bacias sedimentares, ricas em
combustíveis fósseis, e de escudos cristalinos, ricos em minerais metálicos, além do enorme potencial hidráulico de seus
extensos rios, que possibilitou a construção de grandes usinas hidrelétricas nos trechos planálticos.
A Rússia dispõe de importantes reservas de fontes de energia, com destaque para o petróleo e o gás natural.
Segundo a publicação The World Factbook, o país é o segundo produtor e exportador mundial de petróleo do mundo
(o primeiro é a Arábia Saudita). Em 2011 extraiu 10,2 milhões de barris de petróleo por dia (em média) e exportou 54% desse
total diariamente. A maior produção se encontra na bacia do Volga-Ural e na Sibéria ocidental e oriental. Possui as maiores
reservas e é o maior produtor e exportador de gás natural do planeta. Em 2011 extraiu 670 bilhões de metros cúbicos e
exportou 30% desse total, sendo o principal fornecedor de vários países da Europa ocidental. As principais regiões
produtoras são Pechora (extremo norte da Rússia europeia) e Sibéria ocidental, mas há importantes reservas também na
Sibéria oriental.
A Rússia é também um importante produtor de carvão mineral: em 2011 extraiu 334 milhões de toneladas (sexto
produtor mundial). A extração se concentra nas bacias de Pechora e Donets (fronteira com a Ucrânia), na porção europeia,
e nas bacias da Sibéria ocidental (principalmente na região do Kuzbass). Na parte asiática estão mais de 80% das reservas
e, portanto, as maiores possibilidades de ampliação da produção. O país é um grande produtor de eletricidade (quarto do
mundo). Em 2010, gerou 983 bilhões de kW/h, sobretudo em termelétricas movidas a petróleo, gás e carvão e em grandes
usinas hidrelétricas. As principais se encontram nos rios da bacia do Volga (porção europeia de seu território) e nos rios que
cortam os planaltos do sul da Sibéria ocidental, principalmente no Ienissei e no Angara.
A Rússia dispõe de grandes reservas de minérios metálicos e não metálicos extraídos nos escudos cristalinos dos Montes
Urais, onde se encontram as principais províncias minerais do país e outras no planalto central siberiano. Destaca-se como grande
produtor de diamante industrial, níquel, platina, entre outros, como mostra a tabela. Também é importante produtor de urânio,
extraído de jazidas da Sibéria ocidental. Esse minério radiativo é enriquecido tanto para fins pacíficos quanto bélicos: é usado na
movimentação de reatores de usinas termonucleares que produzem energia elétrica, mas também nas ogivas que armam os
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mísseis balísticos do arsenal nuclear russo.
A riqueza do subsolo russo, especialmente o petróleo e o gás natural, tem sido fator fundamental para a recuperação da
produção industrial, mas seu grande mercado interno de consumo também é muito importante. Com a recuperação econômica,
após anos de recessão, surgiu uma significativa classe média ávida por novos produtos, provocando o crescimento das indústrias
de bens de consumo: automóveis, eletroeletrônicos, vestuário, etc., setores que não eram priorizados durante a vigência do controle
estatal da economia.
O parque industrial
As duas principais concentrações industriais na Rússia são a região dos Montes Urais e a de Moscou, mas há concentrações
menores na Sibéria ocidental (observe o mapa da página seguinte). Nas proximidades dos Urais há predominância de indústrias
de bens intermediários, como as siderúrgicas, devido à disponibilidade do minério de ferro e de carvão mineral. As duas maiores
empresas mineradoras e siderúrgicas do país – Severstal e a Evraz Group – possuem minas de ferro e carvão e usinas siderúrgicas
em diversos lugares do país e do exterior. Há também indústrias de bens de capital, como a de máquinas e equipamentos. As
principais refinarias e petroquímicas do país estão próximas aos grandes lençóis petrolíferos, principalmente na bacia do Volga-
Ural, que fica entre Moscou e os Urais.
Em torno da capital predominam indústrias de bens de consumo e de bens de capital por causa da existência de um amplo
mercado consumidor e da boa infraestrutura de transportes e telecomunicações. Na Sibéria ocidental, em razão da grande
disponibilidade de recursos minerais, há importante concentração de indústrias pesadas, como siderúrgicas e metalúrgicas,
principalmente na região do Kuzbass.
Com o fim do socialismo, iniciou-se um processo de privatização e de adoção de mecanismos da economia de mercado nas
ex-repúblicas soviéticas, além da instauração de um processo de modernização da economia.
Na Rússia, durante o governo de Boris Yeltsin (1991-1999), uma parte das antigas empresas estatais foi privatizada. Dessas,
algumas foram compradas por corporações estrangeiras ou por fundos de investimento, outras tiveram suas ações distribuídas
entre os empregados, mas muitas delas acabaram caindo nas mãos de políticos influentes ou mesmo de grupos criminosos que
corromperam agentes do Estado para conseguir o controle de antigas estatais pagando valores muito baixos. Esses grupos foram
um dos setores da sociedade russa que mais enriqueceu. Desde a época da União Soviética controlavam uma economia paralela
que floresceu nos interstícios da economia planificada em decorrência da escassez dos mais variados produtos. Entretanto, como
veremos, ainda há muitas empresas sob o controle total ou parcial do Estado russo.
Depois de um período de profunda crise, com a retomada do crescimento econômico surgiram grandes corporações russas
de capital aberto, isto é, com ações cotadas na Bolsa de Valores de Moscou. É o caso da Gazprom (principal produtora de gás
natural do planeta, maior empresa russa e 15a na lista da Fortune Global 500 2012), da Lukoil e da Rosneft Oil, ambas também
listadas naquela pesquisa. Essas três empresas são responsáveis por extrair petróleo e gás natural em diversos pontos do território
russo e também no exterior. Não é por acaso que as maiores corporações russas sejam do setor energético: como vimos, o petróleo
e o gás são duas das maiores riquezas naturais do país.
Apesar do avanço do processo de privatização, diversas empresas, principalmente desses setores estratégicos, continuam
pertencendo, em parte, ao Estado. Em 2012, a Gazprom ainda tinha 50% de suas ações nas mãos do governo russo, seu maior
acionista. Do capital da Rosneft Oil, 75% das ações pertenciam ao Estado russo. A Lukoil começou a ser privatizada em 1993: o
governo foi se desfazendo de suas ações e em 2004 vendeu o restante que possuía do capital da empresa.
O presidente Vladimir Putin, em seu primeiro mandato (2000-2004), planejava vender as empresas estatais que restaram, e
que não fossem competitivas ou estratégicas, para sanear as contas públicas e garantir um crescimento de 7% ao ano em seu
segundo mandato (2004-2008). Com isso o governo russo projetava dobrar o PIB do país até o final daquela década. A economia
russa vinha crescendo a taxas elevadas, até que a crise financeira a atingiu em cheio, provocando profunda recessão em 2009.
Em 2010, porém, o crescimento foi retomado e, apesar desse percalço, o valor do PIB do país duplicou desde 2004 e mais que
quadruplicou ao longo daquela década. Ou seja, Putin atingiu seu objetivo e acabou sendo reeleito. Em 2008, não pôde se
candidatar a um terceiro mandato consecutivo e foi substituído por Dmitri Medvedev (ex-membro do Conselho de Administração
da Gazprom), presidente eleito com seu apoio (em retribuição foi por ele indicado ao cargo de primeiro-ministro). Em 2012, Putin
foi eleito presidente para um novo mandato de quatro
anos e, mantendo o rodízio de poder com Medvedev,
indicou-o ao cargo de primeiro-ministro.Com o rápido
crescimento econômico nos anos 2000, ao mesmo
tempo que as empresas russas têm ganhado
importância no mundo, vem crescendo o fluxo de
investimentos estrangeiros no país, que atingiu 75
bilhões de dólares em 2008 e depois caiu um pouco por
causa da crise. De acordo com a Unctad, os capitais
estrangeiros têm sido atraídos pelo crescimento do
mercado interno e pela possibilidade de exploração dos
recursos naturais, especialmente no setor energético.
Por exemplo, a petrolífera Yukos, que chegou a ser a
maior empresa privada russa, faliu em 2006 e foi
comprada pela italiana ENI em associação com a
compatriota Enel. Outro exemplo: naquele mesmo ano
a petrolífera francesa Total e a norueguesa Statoil
108
Hydro firmaram parceria com a Gazprom para a exploração de gás natural no gigantesco campo de Shtokman, no mar
de Barents. Compare os dados da Rússia com os números dos Estados Unidos, o maior receptor de investimentos do
mundo, e de outros países do Brics.
5.6.2 - China
A China foi a economia que mais cresceu no mundo ao longo dos anos 1980 e 1990, e nos anos 2000 continuou
crescendo a taxas médias de 10% ao ano, quando alcançou a segunda posição entre os maiores PIBs do planeta. Como
explicar as aceleradas transformações pelas quais a China vem passando? Como compreender seu rápido salto à condição
de potência mundial?
Relação China-Taiwan
A história de Taiwan, por conta da Guerra Fria, é marcada pelo conflito com Pequim e pela duplicidade da política
norte-americana em relação aos dois países. Após a Revolução Comunista, a cadeira reservada à China na ONU foi
oferecida a Taiwan, que a ocupou até o início da década de 1970. A República Popular da China, com cerca de 1 bilhão de
habitantes, simplesmente não era reconhecida. Com o rompimento sino-soviético, em 1965, os Estados Unidos passaram a
ter grandes interesses na aproximação com a China comunista. Em 1972, o então presidente norte-americano, Richard
Nixon, fez uma viagem ao país, dando início ao reconhecimento do governo de Pequim. No ano anterior, o país havia sido
reconhecido pela ONU e admitido como membro permanente do Conselho de Segurança, ao mesmo tempo que Taiwan foi
expulsa da organização por exigência chinesa. Em 1979, os Estados Unidos romperam relações com Taiwan e
reconheceram oficialmente a China. Há setores da sociedade de Taiwan que defendem sua readmissão na ONU e o
restabelecimento de relações diplomáticas com os Estados Unidos, que, apesar de não reconhecerem o país oficialmente,
vendem armas a ele, criando atritos com Pequim. A concretização dessas metas é difícil, pois contraria os interesses
chineses. A China sempre deixou claro que é contrária à independência da ilha e ameaça invadi-la caso isso venha a
acontecer. Os governos dos dois países vêm adotando uma posição moderada em relação a essa questão e firmando
acordos que visam a uma aproximação na área econômica, que pode levar no futuro a uma “reunificação pacífica”, garantindo
certa autonomia a Taiwan, como aconteceu com a reincorporação de Hong Kong, em 1997 (esse território, hoje uma Região
Administrativa Especial da China, era administrado pela Grã-Bretanha desde 1842).
A Revolução Chinesa de 1949 foi um importante divisor de águas na história do país, e isso já ficara evidente quando
Mao Tsé-tung, em discurso feito durante a fundação da República Popular da China, afirmou para uma multidão em Pequim:
“O povo chinês se levantou [...]; ninguém nos insultará novamente”.
No início do período revolucionário, a China seguiu o modelo político-econômico vigente na antiga União Soviética,
país que inclusive enviou muitos técnicos e assessores para ajudar no desenvolvimento da economia chinesa. Com base na
ideologia marxista-leninista, implantou-se um regime político centralizado sob o controle do Partido Comunista Chinês, cujo
líder máximo era o secretário-geral (cargo ocupado por Mao Tsé-tung até 1976). Economicamente, com a coletivização das
terras, foram implantadas de modo gradativo as comunas populares, que seguiam, de modo geral, o modelo das fazendas
coletivas da União Soviética. O Estado passou a controlar também todas as fábricas e a exploração dos recursos naturais;
seu processo de industrialização só deslanchou mesmo após 1949. Vale lembrar que a Revolução Chinesa foi
essencialmente camponesa. Para ter uma ideia, nessa época havia no país em torno de 3,2 milhões de operários, o que
equivalia a apenas 0,6% da população de cerca de 540 milhões de habitantes.
O processo de industrialização
Em 1957, Mao Tsé-tung lançou um ambicioso plano econômico, conhecido como o Grande Salto à Frente, que se
estendeu até 1961. Esse plano pretendia acelerar a consolidação do socialismo por meio da implantação de um parque
industrial amplo e diversificado. Para tanto, a China passou a priorizar investimentos na indústria de base, na bélica e em
obras de infraestrutura que sustentassem o processo de industrialização. Apesar de dispor de numerosa mão de obra e de
abundantes recursos naturais, a industrialização chinesa teve idas e vindas. Devido à burocracia e à má gestão, o Grande
Salto à Frente desarticulou completamente a incipiente economia industrial do país. Além disso, a industrialização chinesa
inicialmente padeceu dos mesmos males do modelo em que se inspirou: baixa produtividade, produção insuficiente, má
qualidade dos produtos, concentração de capitais no setor armamentista e burocratização.
As divergências e as desconfianças entre os líderes dos dois principais países socialistas aumentavam cada vez mais.
Em 1964, a China fez seu primeiro teste subterrâneo com uma bomba atômica e, três anos depois, com a de hidrogênio. A
União Soviética, por sua vez, não admitia perder a hegemonia nuclear no bloco socialista. Esse fato decisivo, somado às
divergências quanto ao modelo de socialismo, acabou provocando, em 1965, o rompimento entre a União Soviética e a
China. Como consequência, Moscou retirou os assessores e os técnicos que mantinha em território chinês, agravando ainda
mais seus problemas econômicos. O rompimento sino-soviético abriu caminho para a aproximação sino-americana. Foi
nessa época que, como vimos, a República Popular da China recebeu a visita do presidente dos Estados Unidos e foi
admitida na ONU, tornando-se membro permanente do Conselho de Segurança. Com a morte de Mao Tsé-tung (1976), após
um curto período de disputa interna pelo poder, Deng Xiaoping foi indicado ao cargo de secretário-geral do PCCh (dois anos
depois), posição em que permaneceu por 14 anos. Nesse período implantou diversas medidas que caracterizam a reforma
econômica, a “segunda revolução da China”, como ele diz na epígrafe, responsável pela completa transformação do país.
Mao foi responsável pela primeira revolução chinesa, a socialista, Deng, pela segunda, a “socialista de mercado”.
110
A “economia socialista de mercado”
O gigante chinês, depois de viver décadas em estado de letargia, à margem do explosivo crescimento econômico de
seus vizinhos – o Japão e os Tigres Asiáticos –, resolveu finalmente se modernizar. Sob o comando de Deng Xiaoping,
iniciou-se, a partir de 1978, um processo de reforma econômica no campo e na cidade, paralelamente à abertura da
economia chinesa ao exterior. Jiang Zemin (sucessor de Deng, foi secretário-geral do PCCh de 1992 a 2002), num balanço
apresentado no 14º Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês (1992), assim avaliou esse processo: [...] A III Sessão
Plenária do XI Comitê Central, realizada em 1978, e a direção coletiva central que nela se formou, nucleada em torno do
camarada Deng Xiaoping, assumiram a árdua missão de realizar uma grande virada histórica e iniciar um novo período de
desenvolvimento da causa do socialismo em nosso país. [...]
Na III Sessão Plenária do XI Comitê Central, nosso partido repudiou de maneira categórica a política errônea de “tomar
a luta de classe como elo central”, política “esquerdista” inaplicável à sociedade socialista, e deslocou o centro do trabalho
do Partido e do Estado para a construção econômica. Retificou-se, desse modo, o desvio da linha política. Ao mesmo tempo
que deslocava o centro de seu trabalho, nosso Partido adotou a grande decisão de levar a cabo a reforma e a abertura e,
diante da tendência errônea surgida no processo de retificação do desvio, destacou a necessidade de persistir no caminho
socialista, na ditadura democrática popular, na direção do Partido Comunista da China e no marxismo-leninismo e no
pensamento de Mao Tsé-tung, mantendo assim uma bandeira bem definida. [...]
Com base no cumprimento fundamental da tarefa de retificar o desvio, realizou-se, em 1982, o XII Congresso Nacional
do Partido. Ali, propôs-se a ideia de “integrar a verdade universal do marxismo com a realidade concreta de nosso país,
seguir nosso próprio caminho e construir um socialismo com peculiaridades chinesas”, e estabeleceu-se a meta de
quadruplicar, em duas etapas, o Produto Nacional Bruto até o final deste século. Mais tarde, traçou-se a estratégia da terceira
etapa, que consiste em materializar, fundamentalmente, a modernização socialista do país em meados do próximo século.
Assim, nosso Partido ergueu a grande bandeira do progresso para o século XXI à frente dos povos de todas as
nacionalidades do país.
ZEMIN, Jiang. Balanço das reformas. Revista de política externa. São Paulo: Paz e Terra/Nupri-USP. v. 1, n. 4,
mar./maio 1993. p. 148-150.
O que significa “integrar a verdade universal do marxismo com a realidade concreta de nosso país [...] e construir um
socialismo com peculiaridades chinesas”? Trata-se, na prática, de conciliar o processo de abertura econômica e a adoção
de mecanismos característicos da economia de mercado (aceitação da propriedade privada e do trabalho assalariado,
estímulo à iniciativa privada e ao capital estrangeiro) com a manutenção, no plano político, de uma ditadura de partido único,
que o regime, numa contradição, chama de “ditadura democrática popular”. Tal discurso mostra com clareza a importância
das reformas econômicas para o regime chinês e também a busca por justificar ideologicamente a simbiose da economia de
mercado com o planejamento estatal centralizado. É uma tentativa de perpetuar a hegemonia do PCCh, apoiando-se, porém,
numa economia em crescimento e em moldes capitalistas, que seriam impensáveis na China de algumas décadas atrás. A
evidência mais forte de que os dirigentes chineses não estavam (e até hoje não estão) planejando uma abertura também no
plano político foi a dura repressão aos manifestantes na praça da Paz Celestial. Ocorrido em 1989, o movimento, liderado
pelos estudantes, reivindicava a abertura política, além da econômica, que já estava em curso.
Até hoje não há eleições diretas na China. Em 2012, Xi Jinping foi indicado pelo Comitê Central do PCCh, eleito
durante seu 18º Congresso Nacional, para o cargo de secretário-geral (sucedeu a Hu Jintao, que ficara no poder de 2002 a
2012) e em 2013 assumiu o cargo de presidente da República (também em substituição a Hu). Xi demonstrou intenção de
continuar com a reforma/abertura na economia e, embora tenha criticado a corrupção reinante no partido e seu divórcio do
povo, a reforma/abertura política ainda é um tabu.
No final dos anos 1970, num país de quase 1 bilhão de habitantes, dos quais 75% camponeses, era compreensível que a
reforma fosse iniciada pela agricultura. Foram extintas as comunas populares e, embora a terra continuasse pertencendo ao
Estado, cada família poderia cultivá-la como desejasse e comercializar livremente uma parte de sua produção. A reforma na
agricultura provocou a disseminação da iniciativa privada e do trabalho assalariado no campo, levando a um aumento da
produtividade e da renda dos agricultores. Houve também uma expansão do mercado interno, com o consequente estímulo à
economia como um todo. Mas a grande transformação ainda estaria por acontecer, ao atingir a indústria.
A partir de 1982, após o 12º Congresso Nacional do PCCh, iniciou-se o processo de abertura no setor industrial. Empresas
estatais tiveram de se enquadrar à realidade e foram incentivadas a se adequar aos novos tempos, melhorando a qualidade de
seus produtos, baixando seus preços e ficando atentas às demandas do mercado. Além disso, o governo permitiu o surgimento de
pequenas empresas e autorizou a constituição de empresas mistas (joint ventures), visando atrair o capital estrangeiro.
A grande virada, porém, veio com a abertura das chamadas zonas econômicas especiais, já no início dos anos 1980 – as primeiras
foram as de Zhuhai, Shenzhen, Shantou, Xiamen e Hainan. Com o tempo foram implantadas cidades abertas, portos abertos, entre outras
modalidades de abertura ao exterior. O objetivo fundamental dessas diversas áreas abertas, espécies de enclaves capitalistas dentro do
território chinês, era atrair empresas estrangeiras, as quais levaram, além de capitais, tecnologia e experiência de gestão empresarial, que
faltavam aos chineses. Num esforço para ampliar as exportações, a China concedeu aos capitais estrangeiros ampla liberdade de atuação
nessas novas regiões industriais, especialmente nas zonas econômicas especiais (a maioria se concentra na província de Guangdong).
Consequentemente, desde os anos 1990 o país tem ocupado quase sempre a posição de segundo maior receptor de investimentos
produtivos do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Quase todas as transnacionais com atuação global têm filiais na China, mas para
se instalar em seu território precisam criar joint ventures com empresas nacionais, o que implica transferência tecnológica.
É importante destacar que as empresas estrangeiras são atraídas por um conjunto de fatores que tornam o território
chinês altamente favorável a uma produção voltada ao mercado externo e ao abastecimento do crescente mercado interno:
111
• Baixos salários e mão de obra razoavelmente qualificada: a população é numerosa e os sindicatos são proibidos;
• Política tributária que favorece as exportações: redução ou isenção de impostos sobre produtos industrializados;
• Controle da taxa de câmbio: a cotação do yuan é mantida artificialmente baixa pelo governo, o que torna os produtos
exportados baratos no mercado internacional;
• Disponibilidade de moderna Infraestrutura nas zonas econômicas especiais: o governo tem investido maciçamente em
portos, ferrovias, rodovias, telecomunicações, etc.;
• Disponibilidade de recursos naturais usados como matéria-prima e fontes de energia, mas apesar de seus imensos recursos
naturais a China é grande importador;
• Permivissidade com relação à poluição e à degradação ambiental: essa política está mudando;
• Nos últimos anos, grande crescimento e fortalecimento do mercado interno: está havendo uma elevação da renda da
população.
113
O parque industrial
A China dispõe atualmente de um parque fabril muito diversificado, e grandes corporações estão se constituindo no
país. Em 2012, havia 73 empresas chinesas, a maioria delas estatal, na lista das quinhentas maiores do mundo. Entre elas
estão: Sinopec Group (setor petrolífero e petroquímico; em 2012 era a maior empresa do país e a quinta na lista da revista
Fortune), China Nacional Petroleum (setor petrolífero), State Grid (energia elétrica), Baosteel (setor siderúrgico), China
Railway Group (setor ferroviário), Dongfeng Motor e China FAW Group (setor automobilístico) e Aviation Industry Corporation
of China (setor aeronáutico).
Vinte anos antes não havia nenhuma empresa chinesa nessa lista. Essa mudança reflete o explosivo crescimento
econômico do país e evidencia a crescente importância de suas empresas no mundo. Acompanhe, na tabela, a evolução do
número de empresas chinesas entre as maiores do mundo em comparação com outros países. Porém, nem só de grandes
empresas vive a economia chinesa. A maioria dos empregados e grande parte da produção para a exportação,
principalmente das mercadorias de baixo valor agregado, concentram-se em milhões de pequenas empresas espalhadas
pelo país, incluindo a zona rural.
Em muitos setores industriais, principalmente nos estratégicos, as empresas chinesas são controladas
predominantemente pelo Estado. Entretanto, o setor privado está em crescimento constante e, se considerarmos a economia
como um todo, em número de empresas, em empregos oferecidos e em patrimônio, já superou o setor estatal, como mostram
os gráficos. Entretanto, em termos de patrimônio, o Estado ainda tem uma participação importante, indicando que continua
dono das maiores empresas do país. No setor privado predominam empresas nacionais pequenas e médias, que são
também as que mais empregam.
A maioria das grandes empresas transnacionais do mundo e mesmo algumas de menor porte têm instalado filiais na
China para aproveitar o gigantesco mercado interno, que não para de crescer, e as vantagens competitivas que o país
oferece para exportação (quase todas as quinhentas da lista da revista Fortune possuem filiais lá). Há inclusive algumas
multinacionais brasileiras instaladas no país: WEG (motores elétricos), Embraco (compressores), entre outras.
O acelerado crescimento econômico da China e sua transformação em “fábrica do mundo” modificou radicalmente as
paisagens do país, especialmente as urbanas. As cidades cresceram exponencialmente, fábricas foram erguidas por todos
os lados e a poluição cresceu na mesma proporção, mas ao mesmo tempo esse processo tirou milhões de pessoas da
pobreza e constituiu uma classe média numerosa. Em 1981, segundo o Banco Mundial, 97,8% da população chinesa vivia
na pobreza (com menos de 2 dólares/dia); em 2008, a população que estava na penúria caiu para 29,8%. A expansão da
classe média, com crescente poder de compra, ampliou significativamente o mercado consumidor interno, como se pode
constatar pelos dados da tabela.
Entretanto, ao mesmo tempo, esse crescimento acelerado vem concentrando renda nos estratos mais ricos da
sociedade e contribuindo para ampliar as desigualdades sociais, como mostra a tabela ao lado.
De acordo com o Hurun Report, em 2010 havia na China 189 pessoas com uma fortuna superior a US$1 bilhão (só
perdia para os Estados Unidos, com quatrocentos bilionários). O vínculo com o Partido Comunista ajuda a fazer negócios e
a enriquecer: segundo o mesmo relatório, um terço das mil pessoas mais ricas da China pertence ao PCCh.
Essas são algumas das contradições da “economia socialista de mercado”.
114
empresas instaladas em ZEEs beneficiam-se de legislação especial. A maioria desses enclaves situa-se em cidades do litoral
sudeste ou em polos urbanos dos vales dos rios Yang-Tsé e Huang-Ho.
O litoral, onde se concentram as principais cidades, configura-se como espaço econômico internacionalizado. O dinamismo
econômico dessa faixa, onde a renda per capita é mais elevada, difunde-se aos poucos e através dos vales fluviais para o cinturão
agrícola interior. Nessas províncias essencialmente rurais, a agricultura percorre uma trajetória desigual de modernização e libera
numeroso contingente de trabalhadores para o litoral industrializado. As estimativas indicam que mais de 100 milhões de pessoas
estão em permanente migração na China, constituindo força de trabalho temporária nos polos urbanos e industriais.
A indústria pesada, por sua vez, concentra-se na Manchúria, que dispõe de vastas reservas de carvão mineral e importantes
jazidas de ferro. O complexo estatal de indústrias de base instalado nessa região garante ao país o primeiro lugar na produção
mundial de aço. Contudo, essa área sofre de problemas estruturais de defasagem tecnológica.
117
5.7.2 - Tigres asiáticos: plataforma de exportações
A origem dos Tigres
Coreia do Sul, Taiwan e Cingapura não eram muito diferentes da maioria de seus vizinhos asiáticos até a Segunda
Guerra Mundial. Os dois primeiros, de maior extensão territorial, eram países agrícolas, cuja população, em sua maioria,
vivia no campo e desenvolvia uma agricultura arcaica, com predomínio do cultivo de arroz. Todos tinham população pouco
numerosa, em sua maioria analfabeta, território reduzido, sem nenhuma reserva importante de recursos minerais ou
combustíveis fósseis, portanto, um futuro econômico que não lhes parecia muito promissor. No entanto, atualmente possuem
algumas das economias mais dinâmicas e modernas do mundo. Como isso aconteceu?
A península da Coreia, como a ilha de Taiwan, foi ocupada pelo Japão desde o fim da Guerra Sino-Japonesa (1894-
1895) até o fim da Segunda Guerra Mundial.
A península da Coreia foi dividida após a Segunda Guerra, dando origem a dois países: a Coreia do Norte, socialista,
e a Coreia do Sul, capitalista. Ao fim da guerra travada entre elas, de 1950 a 1953, a península continuou dividida. Enquanto
a Coreia do Norte tornou-se um dos países mais isolados e atrasados do mundo, a Coreia do Sul se transformou na maior
economia dos quatro Tigres e quarta da Ásia.
Taiwan (ou República da China), com capital em Taipé, constituiu-se como Estado a partir da fuga dos membros do
Partido Nacionalista (Kuomintang), após a Revolução de 1949, como vimos no capítulo anterior.
Cingapura era um entreposto comercial da Companhia Britânica das Índias Ocidentais desde 1824. Essa pequena
ilha, depois de pertencer ao Império Britânico, integrou a Federação da Malásia, mas sua independência definitiva ocorreu
apenas em 1965, quando foi constituída a República de Cingapura.
Durante a Segunda Guerra, todos esses territórios estiveram sob ocupação japonesa. Após a guerra, sobretudo a
partir dos anos 1970, eles passaram por um acelerado processo de industrialização, favorecido pela lógica da Guerra Fria:
fizeram parte de um arco de alianças liderado pelos Estados Unidos para fazer frente ao avanço sino-soviético e receberam
apoio financeiro desse país. Nas décadas de 1980 e 1990, apresentaram alguns dos maiores índices de crescimento
econômico do mundo e, desde essa época, suas economias estão entre as que mais têm incorporado novas tecnologias ao
processo produtivo. Além disso, vêm diminuindo as desigualdades sociais e melhorando seus indicadores socioeconômicos.
Desde os anos 1980, ficaram conhecidos como Tigres Asiáticos (junto de Hong Kong), porque o forte empenho na busca de
novos mercados no exterior levou suas economias a crescer, em média, 7,4% ao ano. Resultado do modelo de plataforma
de exportações, cujas características veremos em seguida: em 1965, nos primórdios do processo de industrialização de
cada um desses três territórios, eles detinham uma participação de cerca de 1% do comércio mundial; em 2010, segundo a
OMC, essa participação atingiu 7%.
118
O alto nível de poupança interna desses
países, aliado à ajuda financeira recebida do Tesouro
dos Estados Unidos no contexto da Guerra Fria, mais
empréstimos contraídos em bancos no exterior (a
taxas de juros fixas) possibilitaram a arrancada da
industrialização.
No início da industrialização, a mão de obra
nesses países asiáticos era muito barata e
relativamente qualificada e produtiva, por causa do
bom nível educacional. Esse baixo custo, associado
às medidas governamentais, como os subsídios às
exportações e o controle da política cambial, tornava
os produtos dos Tigres muito baratos. Isso lhes
garantiu alta competitividade no mercado mundial e,
portanto, elevados saldos comerciais, os quais eram
reinvestidos a fim de alcançar maior capacitação
tecnológica.
Vale destacar que, desde os primórdios de seu processo de industrialização, as sociedades dos Tigres Asiáticos perceberam
a importância de investir em educação, principalmente no nível básico, como condição fundamental para a formação de
trabalhadores e pesquisadores qualificados, a geração de novas tecnologias e o aumento da produtividade. Principalmente a Coreia
do Sul, a maior e mais moderna economia entre os Tigres, desde o início deu muito valor à educação básica e a tomou como
suporte para seu desenvolvimento socioeconômico. O país sempre vem aparecendo nas primeiras posições no Programa
Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa). Esse exame é realizado desde 2000 pela Organização de Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE) para avaliar conhecimentos e habilidades essenciais dos alunos de 15 anos (em tese,
concluintes do Ensino Fundamental). Dele participam os membros da OCDE e alguns países convidados, como o Brasil, que
sempre tem ocupado as últimas posições.
Ao contrário dos países latino-americanos e africanos, os Tigres Asiáticos tinham um vizinho com um modelo bem-sucedido
em que se espelhar: seguiram de maneira quase integral os passos do Japão. Além disso, se beneficiaram de uma conjuntura
mundial liberal, principalmente nos Estados Unidos, dispondo, assim, de amplos mercados para colocar seus produtos, o que os
ajudou a se converterem em plataformas de exportação. Durante muito tempo esses países foram conhecidos como exportadores
de produtos de baixa qualidade e de tecnologia banal, mas hoje estão vendendo produtos sofisticados de alto valor agregado,
como navios, automóveis, semicondutores, computadores, tablets, smartphones, etc. Mais recentemente, o aumento da renda per
capita, e a elevação salarial, resultante do crescimento da produtividade da economia, ocasionaram uma expansão quantitativa e
qualitativa dos mercados internos, sobretudo na Coreia do Sul. Esse país, além de ser o mais populoso dos quatro, é também
aquele no qual os trabalhadores recebem os salários mais elevados (embora ainda seja metade do que ganham norte-americanos
e japoneses).
Deve-se salientar que a elevação dos custos da mão de obra e a valorização de suas moedas têm levado esses países,
novamente seguindo os passos do Japão, a aprimorar suas indústrias. Os Tigres têm investido em novos setores industriais, mais
avançados tecnologicamente, transferindo indústrias tradicionais e intensivas em mão de obra para outros países da região, onde
o custo da força de trabalho é menor. Assim como investidores japoneses, norte-americanos e europeus, os empresários dos
Tigres também têm construído filiais na Tailândia, na Malásia e na Indonésia, que, como os primeiros Tigres, também cresceram
aceleradamente, de 1980 a 2010, conforme se pode constatar pelos dados da tabela a seguir. Por isso esses três países são
conhecidos como os Novos Tigres. Há ainda muitos investimentos sendo feitos na China, sobretudo por empresários de origem
chinesa com empresas sediadas em Taiwan e Cingapura.
Apesar de muitos pontos em comum, principalmente quanto ao processo de industrialização, há grandes diferenças entre
esses países, em particular quanto à estrutura industrial.
A Coreia do Sul é o país mais industrializado dos Tigres Asiáticos, e sua economia é controlada por redes de grandes
empresas, denominadas chaebols, a exemplo dos keiretsus japoneses. Fabricam uma enorme diversidade de produtos, desde
aço e navios até artigos eletrônicos e automóveis, além de também atuarem no setor financeiro e no comércio. Os chaebols sul-
coreanos cada vez mais colocam seus produtos mundo afora, figuram na lista das maiores empresas do mundo e já são
responsáveis por algumas inovações tecnológicas. Entre eles se destacam: a Samsung Electronics (a maior empresa do país e
20ª do mundo, de acordo com a The Global 500, 2012), a SK Holdings, a Hyundai Motor, a LG Electronics e a Hyundai Heavy
Industries (todas na lista da revista Fortune).
As maiores concentrações industriais na Coréia do Sul estão no litoral, nas proximidades de portos, como Busan, o maior
do país e um dos maiores do mundo. Essa localização favorece a chegada de matérias-primas agrícolas, minerais e fósseis, com
forte presença na pauta de importações (segundo o Banco Mundial, 44% em 2010), e a saída de produtos industrializados,
majoritários na pauta de exportações (89% em 2010).
Taiwan tem seis empresas na lista da Fortune Global 500 2012; a maior delas é a Hon Hai Precision Industry (a 43ª do
mundo). Essa empresa é detentora da marca Foxconn, que produz motherboards (placas-mãe), notebooks, tablets e smartphones
para diversas marcas ocidentais, entre as quais a norte-americana Apple. Estão sediadas no país mais duas empresas do setor
microeletrônico que estão entre as quinhentas maiores: Quanta Computer e Compal Electronics. A especialização das empresas
taiwanesas lhes permite agilidade e flexibilidade para se adaptarem às inovações tecnológicas, assegurando-lhes maior
competitividade. Cingapura transformou-se num dos maiores entrepostos comerciais do mundo e importante centro financeiro
asiático. Em 2012, o país apresentava o melhor índice de desempenho em logística do mundo, como vimos no capítulo 6, e em
119
2010 possuía o segundo porto mais movimentado do planeta. Além disso, tem procurado investir em indústrias de alto valor
agregado, como a naval e a eletrônica. Está sediada no país a Flextronics International, segunda fabricante mundial de
componentes eletrônicos, atrás apenas da Foxconn.
ÍNDIA
A Índia, um dos mais importantes países emergentes, possui uma das economias que mais cresce no mundo,
ancorada em seu gigantesco mercado consumidor: é a 2ª população do planeta (superada apenas pela chinesa; veja a
tabela acima). Segundo o Banco Mundial, o país cresceu em média 8% ao ano no período 2000-2010 (só ficou atrás da
China). Entretanto, iniciou seu processo de industrialização muito tarde, somente após a Segunda Guerra, quando se libertou
do domínio do Reino Unido.
Em 1947, depois de longa campanha sob a liderança de Mohandas Gandhi (1869-1948), mais conhecido como
Mahatma (‘grande alma’, em sânscrito), o país obteve sua independência política. O partido Congresso Nacional Indiano
(Indian National Congress, INC), de maioria hindu, assumiu o poder, tendo como primeiro-ministro outro importante líder do
movimento de independência, Jawarhalal Nehru (1889-1964), que governou até sua morte. Seu partido, porém, permaneceu
no poder até 1996, quando o Partido do Povo Indiano (Bharatiya Janata Party, BJP) venceu as eleições. O país é uma
república parlamentarista, e os indianos gabam-se de ser a maior democracia do mundo, como aparece no próprio slogan
do INC: “O maior partido democrático do mundo”.
Sob o governo de Nehru, a Índia teve uma forte participação do Estado no início de seu processo de industrialização,
embora houvesse também capitais britânicos e norte-americanos. Como se tratava de um governo do grupo dos países não
alinhados, contou também com a assistência técnica soviética em diversos setores, como o petroquímico e o bélico. O Estado
investiu principalmente na indústria de bens intermediários, na indústria bélica e em obras de infraestrutura. Contribuíram
ainda para o processo de industrialização as grandes reservas de minérios, como cromo (2º produtor mundial), ferro (4º) e
manganês (5º), e de combustíveis fósseis, principalmente o carvão mineral, sua principal fonte de energia. Em 2011, o país
extraiu de suas minas 586 milhões de toneladas de carvão mineral (7,5% de toda a produção do planeta), sendo o terceiro
120
produtor mundial. Em 2011, as reservas de petróleo eram de cerca de 9 bilhões de barris (19ª do planeta), e sua produção
era de 897 mil barris diários (23º produtor mundial). A produção interna equivalia a apenas 27% do consumo/dia, tornando
o país um grande importador desse combustível fóssil.
As maiores concentrações industriais do país estão no nordeste do território indiano, em torno de cidades como
Janshedpur e Kolkata (Calcutá), com destaque para indústrias pesadas, como siderúrgicas, mecânicas, carbo e
petroquímicas, em razão das reservas de carvão, petróleo e minérios. Mas há concentrações industriais em outras regiões,
inclusive de alta tecnologia, como em Bangalore, no sul do país.
A Índia dispõe de um parque fabril diversificado, com praticamente todos os setores industriais, e, também, já possui
algumas empresas entre as maiores do mundo, com destaque para a Indian Oil (maior do país e 83ª do mundo na lista da
Fortune Global 500 2012). A empresa atua em extração, transporte e refino de petróleo e também no setor petroquímico. Foi
criada em 1959, no governo de Nehru, com o objetivo estratégico de sustentar o desenvolvimento industrial do país e garantir
o abastecimento de petróleo e derivados. A Indian Oil é o símbolo maior da intervenção estatal no processo de
industrialização da Índia (como é a Petrobras, no Brasil) e até hoje é controlada pelo governo central, que em 2012 detinha
78,9% das ações da companhia.
Outras duas grandes empresas indianas são a Tata Motors e a Tata Steel (314ª e 401ª na lista das 500 maiores em
2012); ambas pertencem ao Grupo Tata, cujo controle está nas mãos do bilionário Ratan N. Tata. Esse gigantesco
conglomerado é composto de 94 empresas que atuam em mais de oitenta países nos mais diversos setores industriais:
siderúrgico, químico, automobilístico, aeroespacial, informática, entre outros; assim como também nos serviços e nas
finanças.
ÁFRICA DO SUL
O processo de industrialização da África do Sul se intensificou a partir da independência política, em 1961 (como a
Índia, também foi colônia do Reino Unido), e contou com uma forte participação de capitais estrangeiros, predominantemente
norte-americanos e britânicos. Os investimentos externos distribuíram-se por vários setores, com destaque para a indústria
extrativa, enquanto os estatais concentraram-se na indústria de bens intermediários e em obras de infraestrutura. Hoje o
parque industrial sul-africano é diversificado, como mostra o mapa da página seguinte.
Embora a África do Sul seja a maior economia do continente africano e possua importantes empresas nacionais
(estatais e privadas), nenhuma delas consta na lista das 500 maiores do mundo. Também não há nenhuma empresa da
África na lista da revista Fortune. Isso é um dos indicadores da baixa concentração de capitais em suas empresas e da
limitação do mercado interno dos países africanos. Em 2011, o PIB da África do Sul, apesar de corresponder a 33% do
produto bruto de toda a África subsaariana (nessa região há 47 países), equivalia a 91% do PIB argentino ou a 16% do
brasileiro.
Os fatores que mais contribuíram para a industrialização da África do Sul foram a disponibilidade de mão de obra
barata – os trabalhadores negros eram super explorados – e as enormes reservas minerais e energéticas. No início do
processo eles serviram para atrair investimentos estrangeiros, mas com o aumento da pressão internacional contra o
apartheid, principalmente a partir dos anos 1980, muitas empresas transnacionais deixaram de investir no país.
Além das pressões externas, muitos líderes sul-africanos lutaram contra o regime segregacionista, entre os quais o
mais conhecido é Nelson Mandela. Ele foi o maior líder do Congresso Nacional Africano, o mais antigo grupo antiapartheid
(fundado em 1912) e o partido político atualmente no poder (2012). Com a introdução do voto secreto e universal em 1994,
Mandela, recém-saído da prisão, foi eleito o primeiro presidente negro do país.
Apesar da extinção do regime do apartheid, a desigualdade socioeconômica permanece. A África do Sul é um dos
países com pior distribuição de renda no mundo: segundo o relatório 2012 do Banco Mundial, os 10% mais ricos se apropriam
de 51,7% da renda nacional, e os 10% mais pobres, de 1,2%. Segundo o mesmo relatório, 31,3% da população vivem na
pobreza (com menos de 2 dólares/dia) e 13,8%, na extrema pobreza (com menos de 1,25 dólar/dia). A maioria da população
pobre é composta de negros, por isso, políticas de ação afirmativa têm sido postas em prática por sucessivos governos
desde Mandela para compensar essa desigualdade.
A concentração da renda nacional e a população relativamente pequena (quatro vezes menor que a brasileira e 24
vezes menor que a indiana) restringem o mercado interno e inibem uma expansão mais acelerada do PIB sul-africano.
Embora nos anos 2000 tenha aumentado a taxa de crescimento econômico em relação à década anterior, na qual o país
estava saindo do apartheid, não chegou a apresentar um desempenho tão elevado como o da Índia, embora tenha superado
o do Brasil. Segundo o Banco Mundial, na década de 1990, o PIB da África do Sul cresceu em média 2,1% ao ano, e, no
período 2000-2010, quase dobrou, foi para 3,9%.
122
Apesar de ter passado por importantes períodos de crescimento como o da Primeira Guerra, a industrialização
brasileira sofreu seu maior impulso a partir de 1929, com a crise econômica mundial decorrente da quebra da Bolsa de
Valores de Nova York. Principalmente na região Sudeste do Brasil, essa crise se refletiu na redução do volume de
exportações de café e na perda da importância dessa atividade no cenário econômico, o que contribuiu para a diversificação
da produção agrícola brasileira.
Outro acontecimento que contribuiu para o desenvolvimento industrial foi a Revolução de 1930, que desalojou a oligarquia
agroexportadora paulista do poder e abriu novas possibilidades político-administrativas em favor da industrialização, uma vez que
o grupo que tomou o poder com Getúlio Vargas era nacionalista e favorável a tornar o Brasil um país industrial. Apesar disso, a
agricultura continuou responsável pela maior parte das exportações brasileiras até a década de 1970.
A partir da crise de 1929, as atividades industriais passaram a apresentar índices de crescimento superiores aos das
atividades agrícolas. O colapso econômico mundial diminuiu a entrada de mercadorias estrangeiras que poderiam competir com
as nacionais, incentivando o desenvolvimento industrial.
É importante destacar que o café permitiu a acumulação de capitais que serviram para implantar toda a infraestrutura
necessária ao impulso da atividade industrial. Os barões do café, que residiam nos centros urbanos, sobretudo na cidade de
São Paulo, para cuidar da comercialização da produção nos bancos e investir na Bolsa de Valores, aplicavam enorme
quantidade de capital no sistema financeiro, capital esse que ficou em parte disponível para a implantação de indústrias e
infraestrutura. Todas as ferrovias, construídas com a finalidade principal de escoar a produção cafeeira para o porto de
Santos, interligavam-se na capital paulista e constituíam um eficiente sistema de transporte. Havia também grande
disponibilidade de mão de obra imigrante que foi liberada dos cafezais pela crise ou que já residia nas cidades, além de
significativa produção de energia elétrica. Além desses fatores, o colapso econômico mundial causou a diminuição da
entrada de mercadorias estrangeiras, que poderiam competir com as nacionais.
A associação desses fatores constituiu a semente do processo de industrialização, que passou a germinar
notadamente na cidade de São Paulo, onde havia maior disponibilidade de capitais, trabalhadores qualificados e a
infraestrutura básica a que nos referimos. Regiões dos estados do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais também
intensificaram seus processos de industrialização.
Na instalação de novas indústrias predominava, com raras exceções, o capital de origem nacional, acumulado nas
atividades agroexportadoras. A política industrial comandada pelo governo federal era a de substituir as importações, visando
à obtenção de um superavit cada vez maior na balança comercial e no balanço de pagamentos, para permitir um aumento
nos investimentos nos setores de energia e transportes.
O período militar
Em 1º de abril de 1964, após um golpe de Estado que tirou João Goulart do poder, teve início no país o regime militar,
com uma estrutura de governo ditatorial. O Brasil possuía o 43º PIB do mundo capitalista e uma dívida externa de 3,7 bilhões
de dólares. Em 1985, ao término do regime, o Brasil apresentava o 9º PIB do mundo capitalista e sua dívida externa era de
aproximadamente 95 bilhões de dólares, ou seja, crescemos muito, mas à custa de um pesado endividamento. O parque
industrial cresceu de forma bastante significativa e a infraestrutura nos setores de energia, transportes e telecomunicações
se modernizou. No entanto, embora os indicadores econômicos tenham evoluído positivamente, a desigualdade social
aprofundou-se muito nesse período, concentrando a renda nos estratos mais ricos da sociedade. Segundo o IBGE e o Banco
Mundial, em 1960, os 20% mais ricos da sociedade brasileira dispunham de 54% da renda nacional, em 1970 passaram a
contar com 62%, e em 1989, com 67,5% . O trecho a seguir nos mostra uma consequência imediata do modelo econômico
adotado pelos governos militares, que foi agravado pelo êxodo rural iniciado na década de 1950.
Entre 1968 e 1973, período conhecido como “milagre econômico”, a economia brasileira desenvolveu-se em ritmo
acelerado.
Esse ritmo de crescimento foi sustentado por investimentos governamentais que promoveram grande expansão na
oferta de alguns serviços prestados por empresas estatais, como energia, transporte e telecomunicações. No entanto, várias
obras tinham necessidade, rentabilidade ou
eficiência questionáveis, como as rodovias
Transamazônica e Perimetral Norte e o acordo
nuclear entre Brasil e Alemanha. O setor de
telecomunicações também foi beneficiado
nesse período. Os investimentos nesse setor
foram feitos graças à grande captação de
recursos no exterior, o que elevou a dívida
externa, pois boa parte desse capital foi
investido em setores pouco rentáveis da
economia. Como pagar a parcela da dívida
contraída com a construção de rodovias na
Amazônia?Outro aspecto importante na
questão do crescimento econômico no período
126
militar foi o dos investimentos externos. O capital estrangeiro penetrou em vários setores da economia, principalmente na
extração de minerais metálicos (projetos Carajás, Trombetas e Jari), na expansão das áreas agrícolas (monoculturas de
exportação), nas indústrias química e farmacêutica, e na fabricação de bens de capital (máquinas e equipamentos) utilizados
pelas indústrias de bens de consumo.
Como o aumento dos preços dos produtos (inflação) não era integralmente repassado aos salários, a taxa de lucro
dos empresários foi ampliada com a diminuição do poder aquisitivo dos trabalhadores. Aumentava-se, assim, a taxa de
reinvestimento dos lucros em setores que gerariam empregos principalmente para os trabalhadores qualificados e exclui os
pobres, o que deu continuidade ao processo histórico de concentração da renda nacional.
Ficou famosa a frase do então ministro da Fazenda Delfim Netto, em resposta à inquietação dos trabalhadores ao ver seus
salários arrochados: “É necessário fazer o bolo crescer para depois reparti-lo”. O bolo (a economia) cresceu – o Brasil chegou
a ser a 9a maior economia do mundo capitalista no início da década de 1980 (em 2012, segundo o Fundo Monetário
Internacional, o Brasil era a 6a economia do mundo) – e, até hoje, a renda permanece concentrada (em 2009, segundo o
Banco Mundial, os 10% mais ricos se apropriavam de 42,9% da renda nacional).
Nesse contexto, as pessoas da classe média que tinham qualificação profissional viram seu poder de compra
ampliado, quer pela elevação dos salários em cargos que exigiam formação técnica e superior, quer pela ampliação do
sistema de crédito bancário, permitindo maior financiamento do consumo. Enquanto isso, os trabalhadores sem qualificação
tiveram seu poder de compra diminuído e ainda foram prejudicados com a degradação dos serviços públicos, sobretudo os
de educação e saúde.
No final da década de 1970, os Estados Unidos promoveram a elevação das taxas de juros no mercado internacional,
reduzindo os investimentos destinados aos países em desenvolvimento. Além de sentir essa redução, a economia brasileira
teve de arcar com o pagamento crescente dos juros da dívida externa, contraída com taxas flutuantes.
Diante dessa nova realidade, a saída imposta pelo governo para obter recursos que permitissem honrar os
compromissos da dívida pode ser sintetizada na frase: “Exportar é o que importa”. Porém, como tornar os produtos brasileiros
internacionalmente competitivos? Tanto em qualidade como em preço, as mercadorias produzidas na época em um país
em desenvolvimento como o Brasil, que quase não investia em tecnologia, enfrentavam grandes obstáculos.
As soluções encontradas foram desastrosas para o mercado interno de consumo:
• redução do poder de compra dos assalariados, conhecido como arrocho salarial;
• subsídios fiscais para exportação (cobrava-se menos imposto por um produto exportado que por um similar vendido no
mercado interno);
• negligência com o meio ambiente, levando ao aumento de diversas formas de poluição, erosão e de outras agressões ao
meio natural;
• desvalorização cambial: a valorização do dólar em relação ao cruzeiro (moeda da época) facilitava as exportações e
dificultava as importações;
• diminuição do poder aquisitivo das famílias para combater o aumento dos preços.
Essas medidas, adotadas em conjunto, favoreceram a venda de produtos no mercado externo, mas prejudicaram o
mercado interno, reduzindo o poder de compra do brasileiro. Assim se explica o aparente paradoxo: a economia cresce, mas
o povo empobrece.
Na busca de um maior superavit na balança comercial, o governo aumentou os impostos de importação não apenas
para bens de consumo, como também para os bens de capital e bens intermediários. A consequência dessa medida foi a
redução da competitividade do parque industrial brasileiro frente ao exterior ao longo dos anos 1980. Os industriais não
tinham capacidade financeira para importar novas máquinas e, por causa da falta de competição com produtos importados,
não havia incentivos à busca de maior produtividade e qualidade dos produtos. Com isso, as indústrias, com raras exceções,
foram perdendo competitividade no mercado internacional e as mercadorias comercializadas internamente tornaram-se
caras e tecnologicamente defasadas em relação às estrangeiras.
Os efeitos sociais dessa política econômica se agravaram com a crise mundial, que se iniciou em 1979. As taxas de
juros da dívida externa atingiram, em 1982, o recorde histórico de 14% ao ano. A partir de então, a economia brasileira
passou por um período em que se alternavam anos de recessão e outros de baixo crescimento. Isso se arrastou por toda a
década de 1980 e início da de 1990, período que se caracterizou pela chamada ciranda financeira: o governo emitia títulos
públicos para captar o dinheiro depositado pela população nos bancos. Como as taxas de juros oferecidas internamente
eram muito altas, muitos empresários deixavam de investir no setor produtivo – o que geraria empregos e estimularia a
economia aumentando o PIB – para investir no mercado financeiro. Na época, essa “ciranda” criava a necessidade de
emissão de moeda em excesso, o que elevou os índices de inflação.
Outro aspecto negativo da política econômica do período militar merece destaque: se as medidas adotadas tinham
como objetivo o crescimento do PIB a qualquer custo, o que fazer com as empresas ineficientes, à beira da falência? A
solução encontrada para esse problema foi a estatização. O Estado brasileiro adquiriu empresas em quase todos os setores
da economia utilizando recursos públicos, em parte acumulados com o pagamento de impostos por toda a população. O
crescimento da participação do Estado na economia, de 1964 a 1985, foi muito grande. Em 1985, cerca de 20% do PIB era
produzido em empresas estatais, enquanto os serviços tradicionalmente públicos, como saúde e educação, estavam se
deteriorando por causa da falta de recursos, que eram redirecionados dos setores sociais para os produtivos.
O período dos governos militares no Brasil caracterizou-se pela apropriação do poder público por agentes que
desviaram os interesses do Estado para as necessidades empresariais. As carências da população ficaram em segundo
127
plano; as prioridades foram o crescimento do PIB e o aumento do superavit na balança comercial. O objetivo de qualquer
governo é o de aumentar a produção econômica. O problema é saber como atingi-lo sem comprometer os investimentos em
serviços públicos, que possibilitam a melhoria da qualidade de vida das pessoas.
Apesar do exposto, durante o período do regime militar, o processo de industrialização e de urbanização continuou
avançando, resultando em significativa melhora nos índices de natalidade e mortalidade, que registraram queda, além do
aumento da expectativa de vida. A interpretação desse fato deve levar em conta o intenso êxodo rural, já que nas cidades
aumentou o acesso a saneamento básico e atendimento médico-hospitalar, bem como a remédios e programas de vacinação
em postos de saúde, e o fato de que muitos migrantes conseguiram melhorar a qualidade de vida nos centros urbanos.
O fim do período militar ocorreu em 1985, depois de várias manifestações populares a favor das eleições diretas para
presidente da República. Os problemas econômicos herdados do regime militar foram agravados no governo que se seguiu,
o de José Sarney, e só foram enfrentados efetivamente nos anos 1990.
Como síntese do processo de industrialização na época do regime militar, leia o texto a seguir, no qual a autora
caracteriza as diferentes fases desse processo.
128
• manutenção do déficit público, que alimentava novamente a ciranda financeira.
Logo após as eleições de outubro de 1986 (para a escolha de novos governadores, senadores, deputados federais e
estaduais), foi lançado o Plano Cruzado II, com grandes reajustes nas tarifas públicas e forte aumento nos impostos indiretos,
reduzindo o poder de compra da população. Em fevereiro de 1987 foi abolido o controle oficial de preços e a correção
monetária voltou a ser mensal, para acompanhar o descontrole inflacionário, cuja consequência é a diminuição dos salários
reais. Também foi decretada a moratória do pagamento da dívida externa, o que bloqueou imediatamente o ingresso de
capital estrangeiro no país e criou grandes dificuldades de negociação no mercado internacional.
Nos anos seguintes, o governo José Sarney se caracterizou por perda de popularidade e pelo lançamento de outros
dois planos econômicos (Plano Bresser e Plano Verão), todos com sérios problemas para ser postos em prática. Apesar das
sucessivas tentativas de controle, uma das principais heranças do governo Sarney foi uma altíssima inflação: 53% em
dezembro de 1989, atingindo 85% em março de 1990, quando o mandato se encerrou.
Ao longo da década de 1980, a ciranda financeira e as altas taxas de inflação, com a consequente perda do poder de
compra dos salários, foram responsáveis por um período de estagnação na produção industrial e de baixo crescimento
econômico (segundo o Banco Mundial, o PIB brasileiro cresceu em média 2,7% nos anos 1980). A necessidade de controlar
a inflação e ajustar as contas externas – fortemente comprometidas com o aumento do preço do petróleo e das taxas de
juros no mercado internacional – havia levado o governo do general João Baptista Figueiredo (1979-1985), o último do
regime militar, a se preocupar com ajustes de curto prazo na política econômica. O mesmo ocorreu na gestão de Sarney.
Essa prioridade significou uma década inteira sem planejamento econômico de longo prazo, com exceção de alguns setores
(política de reserva de mercado para informática e incentivo à exportação de celulose, por exemplo). Houve, nesse período,
uma queda de 5% na participação da produção industrial no PIB brasileiro.
No campo da política econômica e do papel do Estado, o governo Sarney foi responsável por um incipiente processo
de privatização de empresas estatais, começando a retirar o Estado do setor produtivo para concentrar sua ação na
fiscalização e na regulamentação. Foram vendidas dezessete empresas estatais, das quais as mais importantes foram a
Aracruz Celulose, a Caraíba Metais e a Eletrossiderurgia Brasileira (Sibra).
O plano Collor
Fernando Collor, eleito em 1990 para suceder a Sarney, foi o primeiro presidente a chegar ao poder via voto popular
após o fim do regime militar. Um dia depois da posse, o novo governo lançou um plano de estabilização econômica, que
ficou conhecido como Plano Collor, baseado no confisco generalizado por dezoito meses dos depósitos bancários em
dinheiro superiores a 50 mil cruzeiros (cerca de R$ 6 800,00, em valores de dezembro de 2012 usando o IPCA como
indexador, ou R$ 3 200,00, caso se utilize o dólar como referência). Com isso, a equipe econômica esperava reduzir o
consumo e, consequentemente, frear a inflação. A falta de dinheiro em circulação reduziu a inflação, de 85% ao mês em
março, para 14% em abril de 1990.
A liberação antecipada dos recursos retidos poderia ser feita pelo Ministério da Fazenda, que estudava os pedidos
caso a caso. Podiam ser liberados depósitos de empresas para pagamento de salários e dinheiro de pessoas doentes que
necessitavam de tratamento médico, entre outros casos. Como havia exceções que permitiam a liberação dos recursos
bloqueados, aumentavam as pressões exercidas por políticos e lobistas para obtê-las, o que se tornou grande fonte de
corrupção. As práticas de corrupção, comandadas pelo tesoureiro da campanha eleitoral de Collor, foram amplamente
divulgadas pela imprensa. As demais empresas e trabalhadores receberam seu dinheiro de volta em dezoito parcelas, que
começaram a ser pagas após dezoito meses de confisco. Segundo cálculos divulgados na época, o poder de compra do
dinheiro devolvido havia se reduzido em aproximadamente 40%, uma vez que os índices de reajuste utilizados foram
menores que os da inflação.
A permissão para a elevação dos preços de alguns serviços privados e tarifas públicas levou ao retorno da espiral
inflacionária já no início de 1991, antes que o plano completasse seu primeiro ano. Os índices da inflação ocorrida após o
Plano Collor foram menores que os índices anteriores a esse plano porque havia falta de dinheiro em circulação no mercado.
A consequente recessão (em 1992 houve uma queda de 0,5% no PIB) levou a um grande aumento do desemprego e
da economia informal, uma vez que o plano não promoveu crescimento econômico, distribuição de renda, nem combate ao
déficit público.
Além do confisco monetário, o Plano Collor apoiava-se em outros três pontos:
• diminuição da participação do Estado no setor produtivo por meio da privatização de empresas estatais (dezoito empresas,
com destaque para Usiminas e Embraer) e da concessão à iniciativa privada da exploração de rodovias, portos, ferrovias
e hidrelétricas, entre outros;
• eliminação dos monopólios do Estado em telecomunicações e petróleo, e fim da discriminação ao capital estrangeiro, que,
entre outros investimentos, poderia participar dos leilões de privatização;
• abertura da economia ao ingresso de produtos e serviços importados por meio da redução e/ou eliminação dos impostos
de importação, reservas de mercado e cotas de importação.
Essas medidas tiveram continuidade durante os governos de Itamar Franco (sucedeu a Fernando Collor) e Fernando
Henrique Cardoso.
O Plano Real
Com a renúncia de Collor, seu vice-presidente, Itamar Franco, assumiu o comando do governo brasileiro por pouco mais de
dois anos – de outubro de 1992 até o final de 1994. Nos primeiros sete meses de seu mandato, três ministros passaram pela pasta
da Fazenda, as taxas de inflação se mantiveram muito altas (observe o gráfico da página seguinte) e o crescimento econômico
muito baixo (segundo o Banco Mundial, entre 1990 e 1994, o PIB brasileiro cresceu apenas 2,2% em média).
Em maio de 1993, o presidente transferiu seu ministro das Relações Exteriores, Fernando Henrique Cardoso, para o
Ministério da Fazenda. A intenção era a de colocar no cargo um político com livre trânsito entre os vários partidos políticos
com representação no Congresso Nacional na época.
O governo tentaria iniciar o processo de estabilização econômica por intermédio de uma negociação política,
conduzida diretamente pelo ministro da Fazenda. A primeira medida adotada foi a de cortar três zeros da moeda corrente e
passar a chamá-la de cruzeiro real – ato ineficiente e de fundo meramente psicológico, que não reduziu a inflação.
O Plano Real, que permitiu controlar a inflação depois de sete pacotes malsucedidos, foi lançado em março de 1994
e se baseava na paridade entre a nova moeda, o real, e o dólar, com cotação de R$ 1,00 = US$ 1,00.
Para controlar o câmbio, o governo elevou as taxas de juros, com a intenção de atrair capitais especulativos do exterior
e aumentar as reservas de dólares do Banco Central. Na lógica desse plano, à medida que a estabilização da moeda se
consolidasse e o Congresso Nacional aprovasse as reformas estruturais necessárias ao controle do déficit público
(principalmente a reforma da previdência, a tributária e a trabalhista), haveria maior ingresso de capitais produtivos e o Banco
Central poderia reduzir as taxas de juros sem comprometer o desenvolvimento econômico.
Antes da substituição do cruzeiro real pelo real, foi criada a Unidade Real de Valor (URV), cuja cotação diária
acompanharia a cotação da moeda norte-americana. A partir de 1º de março de 1994, a URV passou a valer um dólar e a
população deveria acompanhar a variação de preços na cotação das duas moedas: o cruzeiro real, que perdia valor
diariamente, e a URV, cujo valor deveria variar pouco. Na prática, a inflação em cruzeiro real era a inflação brasileira, mas a
população não deveria aceitar aumentos de preços em URVs, porque isso significaria inflação em dólar, que nos Estados
Unidos era inferior a 5% ao ano. Depois de três meses, quando considerou aceitáveis os índices de inflação em URV, o
governo substituiu o cruzeiro real pelo real e garantiu a conversão inicial da nova moeda pela cotação R$ 1,00 = US$ 1,00.
Nos três primeiros anos de sua vigência, o Plano Real proporcionou grandes avanços ao país, o que garantiu a vitória
de Fernando Henrique Cardoso nas eleições presidenciais de 1994 e de 1998. De imediato, houve aumento de 28% no
poder aquisitivo da população de baixa renda, como resultado do controle da inflação, que antes nunca era repassada
integralmente aos salários nas épocas de reajuste. Esse aumento no poder de compra incluiu no mercado de consumo
muitas famílias que estavam abaixo da linha de pobreza, estimulando o aumento da produção industrial. Com o lançamento
do Plano Real, o rendimento médio dos trabalhadores subiu de 742 para 983 reais. Isso significou um aumento de 28% no
poder aquisitivo, índice equivalente ao da taxa mensal de inflação no mês de lançamento da URV. Entretanto, o Banco
Central foi forçado a manter os juros elevados devido:
• à falta de empenho do governo e à conduta da oposição, contrária aos projetos de reforma enviados ao Congresso;
• ao déficit comercial resultante da manutenção de uma taxa de câmbio irreal;
• à ocorrência de crises externas que reduziram a entrada de dólares na economia brasileira.
Como vimos, a manutenção de juros altos inibe o desenvolvimento das atividades produtivas, limitando o crescimento
do PIB. Nesse contexto, a partir de 1997, os ganhos de renda da população de menor poder aquisitivo foram praticamente
anulados pelo aumento dos índices de desemprego e de inflação não repassada aos salários. Apesar de mantida em índices
considerados aceitáveis, a inflação acumulada ano a ano reduziu o poder aquisitivo dos assalariados, concentrando ainda
mais a renda. Leia o texto a seguir, que explica como a inflação reduz o poder aquisitivo da população de baixa renda.
Supõe-se que a concentração crescente de gases de efeito estufa em todos os três cenários terá um impacto crescente
no crescimento e no potencial produtivo da economia global.
O aumento das temperaturas, combinado com padrões climáticos mais extremos e o aumento do nível do mar, pode
desencadear uma série de impactos que reduzem o crescimento econômico. Os esforços para reduzir ou mitigar as emissões
de carbono também podem desviar o investimento de outras fontes de crescimento.
Estimar o tamanho potencial desses impactos é altamente incerto, com a maioria dos modelos e estudos ambientais
e econômicos existentes capturando apenas um subconjunto desses efeitos, muitas vezes de forma muito imperfeita. Por
exemplo, a literatura econômica na qual nosso impacto ilustrativo sobre o PIB se baseia considera apenas o aumento das
temperaturas.
Para fins ilustrativos, o nível do PIB em 2050 em todos os três cenários é projetado para ser cerca de 5% menor em
relação a um mundo hipotético no qual a concentração de gases de efeito estufa foi congelada nos níveis atuais. Presume-
se que esses efeitos sejam maiores nas regiões que têm as temperaturas médias mais altas atualmente (consulte Estimativas
de mudanças climáticas no crescimento do PIB para mais detalhes).
O impacto negativo do aumento dos níveis de temperatura é maior no BAU, onde pouco progresso é feito na redução
das emissões de carbono. Mas os custos iniciais das ações políticas tomadas para reduzir as emissões são maiores em
Rápido e Net Zero, de forma que o impacto geral no PIB nos próximos 30 anos é projetado para ser amplamente semelhante
em todos os três cenários.
136
É importante ressaltar que se os cenários fossem extrapolados para além de 2050, a erosão da riqueza e da
prosperidade no BAU ficaria progressivamente pior, levando a níveis significativamente mais baixos de atividade e bem-estar
do que no Rápido ou Net Zero.
Os modelos e estudos ambientais e econômicos que sustentam essas estimativas ilustrativas do impacto do
aquecimento global sobre a atividade econômica são altamente incertos e quase certamente incompletos - por exemplo, eles
não captam muitos dos custos humanos potenciais. Edições futuras do Energy Outlook atualizarão essas estimativas à
medida que o entendimento científico e econômico desses efeitos melhorar.
A demanda de energia cresce liderada pelo aumento da prosperidade, parcialmente compensada por ganhos de
eficiência
O crescimento da demanda global
de energia é sustentado por níveis
crescentes de prosperidade nas
economias emergentes. A energia
primária aumenta cerca de 10% no Rapid
and Net Zero e cerca de 25% no BAU.
Muito desse aumento no consumo
de energia - todo o crescimento no Rapid
and Net Zero e mais da metade no BAU -
deriva de economias que estão se
urbanizando rapidamente.
As taxas médias de crescimento da
energia primária em Rapid (0,3% aa) e
Net Zero (0,3% aa) são significativamente
mais lentas do que nos últimos 20 anos
(2,0% aa), refletindo uma combinação de
crescimento econômico mais fraco e
melhorias mais rápidas em intensidade
energética (energia utilizada por unidade do PIB). A energia primária em ambos os cenários atinge amplamente os platôs na
segunda metade do Outlook.
A eficiência energética medida em termos de consumo final de energia melhora em mais em Zero Líquido do que em
Rápido, mas esses ganhos são compensados em termos de energia primária pelo maior uso de eletricidade e hidrogênio,
que requerem quantidades consideráveis de energia primária para produzir.
O crescimento da energia primária em BAU (0,7% a.a.) é mais rápido e sustentado do que nos outros dois cenários,
refletindo ganhos mais lentos em eficiência energética.
Os declínios mais rápidos na intensidade de energia em relação à história em Rápido e Net Zero são um fator crítico
na mitigação do crescimento das emissões de carbono. Mantendo as outras coisas iguais, se a intensidade energética em
relação ao Outlook melhorasse na mesma taxa dos últimos 20 anos, as emissões de carbono em 2050 seriam mais de um
quarto mais altas no Rápido e Net Zero.
Políticas e ações para promover melhorias na eficiência energética são fundamentais para alcançar uma transição de
baixo carbono.
Presume-se que a Covid-19 tenha um impacto persistente na atividade econômica e na demanda de energia
O desenvolvimento econômico depende tanto do acesso à energia quanto da qualidade desse acesso
Existe uma forte ligação entre o acesso à energia e o bem-estar e prosperidade econômicos. A importância do acesso
à energia está consubstanciada no
Objetivo de Desenvolvimento
Sustentável (ODS) 7 da ONU, que visa
“garantir o acesso a energia acessível,
confiável, sustentável e moderna para
todos”.
Uma medida monitorada pelo
ODS 7 é o acesso global à eletricidade,
onde o número de pessoas sem acesso
é estimado ter diminuído de 1,2 bilhão
em 2010 para 790 milhões em 2018 *.
A prosperidade e o
desenvolvimento econômico dependem
não apenas da capacidade de acesso à
eletricidade, mas também da
quantidade e qualidade do
fornecimento de eletricidade.
A estrutura de vários níveis do
Banco Mundial fornece uma medida de
qualidade de acesso, em que o acesso
de Nível 1 equivale a níveis muito
básicos de fornecimento (iluminação
com disponibilidade limitada), embora para Nível 5, que denota acesso a suprimentos abundantes e confiáveis.
Há uma forte ligação entre o desenvolvimento econômico e a qualidade do acesso à eletricidade: cerca de três quartos
dos países de renda baixa e média-baixa em 2018 tinham acesso relativamente limitado à eletricidade (Nível 3 ou inferior);
enquanto mais de 90% dos países de alta renda tinham acesso ao Nível 5.
Embora se estima que a parcela da população mundial sem qualquer acesso à eletricidade tenha diminuído para 10%
em 2018, cerca de 45% da população mundial vivia em países com acesso Tier 3 ou inferior. Em todos os três cenários,
cerca de um quarto da população mundial em 2050 vive em países ou regiões em que os níveis médios de consumo de
eletricidade ainda são equivalentes ao acesso Tier 3 ou inferior.
Melhorar a qualidade do acesso à eletricidade - e o acesso à energia de forma mais geral - em todo o mundo
provavelmente exigirá uma série de diferentes abordagens de políticas e tecnologias, incluindo o desenvolvimento de
geração de energia descentralizada e fora da rede.
138
O predomínio do petróleo consolidou-se ao longo das últimas quatro décadas. Nesse período, o consumo de gás natural
multiplicou-se por quatro, aproximando-se do consumo de carvão. A tríade dos combustíveis fósseis é responsável por 90% da
energia comercial consumida no mundo. O restante divide-se quase totalmente entre as fontes hídrica e nuclear.
Com a alta do preço do barril de petróleo entre 1980 e 1985, consequência da situação política do Irã, principal produtor, o
consumo desse recurso experimentou retrocesso, mas depois voltou a crescer. O ritmo dessa expansão deve se reduzir, em virtude
do encarecimento do produto, que reflete uma forte redução na descoberta de novas reservas em condições de extração comercial.
O consumo de carvão mineral apresenta uma dinâmica inversa à do petróleo. Quando os preços do segundo sobem,
aumenta a produção de carvão, com a intensificação da exploração de minas antigas e a abertura de minas novas. Esse é o motivo
da expansão de consumo de carvão no início do século XXI, que foi impulsionado pelo forte crescimento econômico da China.
O consumo de gás natural segue outra lógica.
A sua expansão persistente decorre das qualidades
ambientais do recurso, que gera emissões menores de gases
de estufa. Alguns analistas narram a história dos combustíveis
na era industrial como uma sequência que se inicia num “ciclo
dos sólidos” (carvão e madeira), continua num "ciclo do líquido"
(petróleo) e chega ao "ciclo do gás" (gás natural).
A produção de energia em usinas nucleares decolou na
década de 1970, mas enfrentou forte oposição dos movimentos
ambientalistas. Em consequência, inúmeros projetos foram
abandonados, principalmente na Europa, e o crescimento da
produção perdeu velocidade desde 1990. Atualmente,
governos e lideranças ambientalistas descobrem as virtudes da
fonte nuclear, que não gera emissões de gases de estufa, o
que parece indicar um novo ciclo de construção de usinas.
A produção hidrelétrica cresce lentamente, em
virtude das limitações naturais do potencial dos rios. Nas
antigas potências industriais, o aproveitamento hidrelétrico atingiu há décadas um ponto próximo do máximo. A expansão
da produção ocorre, atualmente, em países em desenvolvimento que possuem significativo potencial explorável. O Brasil
destaca-se no panorama mundial por sua elevada produção hidrelétrica.
O balanço energético global não se circunscreve às fontes comercializadas no mercado internacional. Além delas, são
utilizados combustíveis renováveis, um item que abrange os biocombustíveis e combustíveis tradicionais. Os
biocombustíveis apresentam amplas perspectivas de crescimento, mas ainda não são comercializados internacionalmente
em larga escala. Combustíveis tradicionais, como a lenha e excrementos de animais, têm baixa eficiência energética, mas
são bastante utilizados para o aquecimento doméstico e para o preparo de alimentos em regiões rurais pobres.
Finalmente, há fontes alternativas, como a eólica, a solar e a geotérmica, que prosperam apenas em algumas áreas
do mundo, sob o impulso de condições naturais particularmente favoráveis ou de subsídios governamentais. Em conjunto,
elas respondem por uma fração quase insignificante do consumo mundial.
Estratégias energéticas
A transição da economia pré-industrial para a economia industrial representou um salto vertiginoso no consumo de
energia mundial. Mas o salto inicial representou apenas o primeiro de uma série de saltos que acompanharam o
desenvolvimento tecnológico das sociedades, a urbanização da população e a difusão da indústria e dos transportes
modernos pelo mundo.
139
Do ponto de vista econômico e social, energia e desenvolvimento estão estreitamente ligados. Em 2004, nos Estados
Unidos, o consumo anual de energia era de 7,9 toe (abreviatura, em inglês, de ton of oil equivalent, ou seja, toneladas
equivalentes de petróleo - tep) per capita e, na França, situava-se em torno de 4,4 toe per capita. Existem diferenças
importantes nos padrões de consumo energético entre os dois países, mas em ambos o consumo médio é bastante elevado.
Os contrastes entre os países desenvolvidos e os demais são
marcantes: no México, o consumo anual per capita de energia era
de 1,6 toe; na China, de 1,2 toe; no Brasil, de 1,1 toe; na Bolívia, de
0,6 toe.
Os níveis de desenvolvimento econômico e os contingentes
demográficos explicam a distribuição do consumo de energia
comercial pelas grandes regiões e países. Os Estados Unidos
figuram, isoladamente, como o maior consumidor de energia do
mundo. A União Europeia e a China ocupam as posições seguintes.
Juntos, eles respondem por metade do consumo energético global.
A Ásia/Pacífico consome um terço da energia comercial do
mundo. Na região, além da China, Japão e Índia figuram como
grandes consumidores. Não há relação direta entre o tamanho do
PIB e o consumo energético: a Rússia é o terceiro maior consumidor
mundial de energia, à frente do Japão, que possui PIB maior.
O consumo energético baseia-se, em quase todos os lugares,
principalmente, na queima de combustíveis fósseis. Isso significa
que os níveis de consumo se associam aos níveis de emissões de
gases de estufa decorrentes do uso de petróleo, carvão mineral e
gás natural. Contudo, a relação não é direta, pois depende da
composição das matrizes energéticas nacionais.
Os Estados Unidos figuraram, até 2005, como o maior emissor
de gases de estufa, devido ao seu elevado consumo energético.
Mas, em 2006, a China assumiu a dianteira e lançou na atmosfera
cerca de 6,2 bilhões de toneladas de CO2, contra os 5,8 bilhões dos
Estados Unidos. O consumo de energia chinês ainda é menor que o
norte-americano, mas a sua matriz assenta-se fortemente sobre o
carvão mineral, que gera emissões de CO2 ainda maiores que as do
petróleo.
As matrizes nacionais refletem as estratégias energéticas de
cada país, ou seja, as decisões políticas sobre produção, consumo
e importação de energia. Essas decisões, por sua vez, são
influenciadas pelas características do meio natural e pelas
disponibilidades de recursos no território nacional. Uma comparação
entre as matrizes energéticas de quatro países esclarece os fatores
que orientam as decisões estratégicas.
Os Estados Unidos destacavam-se como o maior produtor mundial de petróleo até a década de 1970 e organizaram
sua matriz em torno desse combustível, o que hoje provoca dependência em relação aos fornecedores externos. O país
dispõe também das maiores reservas comprovadas de carvão mineral. Os combustíveis fósseis dominam a matriz norte-
americana, embora a energia nuclear desempenhe papel de destaque.
A China apresenta matriz assentada sobre o carvão. Ela dispõe de amplas reservas carboníferas, que abastecem
quase todas as suas usinas termelétricas. O país, que exportava petróleo, tornou-se na década de 1990 o terceiro maior
importador mundial do produto, atrás dos Estados Unidos e do Japão. Atualmente já supera os EUA como importador. A
importância da biomassa no seu consumo energético deriva do uso intenso de lenha e excrementos animais no meio rural.
A França baseia a sua matriz nas usinas nucleares, em virtude de depender de petróleo importado e da decisão de
dominar a tecnologia nuclear para finalidades militares. Os investimentos na geração elétrica convencional concentram-se
em modernas usinas a gás natural. A sua matriz energética é uma das mais limpas do mundo, o que se reflete em baixas
emissões per capita de gases de estufa.
O Brasil, por motivos diferentes, também apresenta uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo. Apesar do
elevado consumo de petróleo, o país desenvolveu estratégias baseadas na exploração intensa de seus vastos recursos
hídricos para a geração de eletricidade. Além disso, desde a década de 1970, voltou esforços para a produção comercial de
biocombustíveis, que é favorecida pela amplitude da área agrícola e pelas condições climáticas adequadas ao cultivo de
cana-de-açúcar.
Nas últimas décadas, houve grande desenvolvimento tecnológico e aumento nos investimentos em prospecção de
petróleo que resultaram, entre outras, na descoberta de grandes reservas na camada pré-sal, uma formação geológica da
140
plataforma continental brasileira de aproximadamente 150 milhões de anos que se formou com o afastamento dos
continentes, em profundidades superiores a 5 mil metros.
O petróleo continua a ser a principal fonte de energia do planeta, seguido pelo carvão mineral e pelo gás natural. Essa
situação é preocupante, já que aproximadamente 80% da energia consumida mundialmente provém dessas três fontes não
renováveis, que um dia se esgotarão. Será necessário um período de transição para nos adaptarmos à utilização de novos
tipos de energia. Essa transição envolverá reformas e reestruturações, principalmente no sistema de transportes (seja ele
rodoviário, ferroviário, hidroviário ou aéreo) e na produção industrial, por meio da adaptação de máquinas e motores a outro
tipo de energia; assim como a readequação das usinas termelétricas (hoje acionadas predominantemente pela combustão
de petróleo, gás ou carvão) a uma nova fonte de energia primária. Isso já vem ocorrendo em vários países para diminuir a
dependência externa e evitar os impactos ambientais decorrentes.
Em qualquer país, a estrutura energética é um dos elementos mais decisivos da economia e da geopolítica, por isso
esse setor é considerado estratégico. A produção industrial, os sistemas de transportes e de telecomunicações, a saúde, a
educação, o comércio, a agricultura, todas as atividades, enfim, dependem de energia. Qualquer sobressalto no setor
energético interfere na posição do país no comércio mundial, já que, na composição dos custos de produção, a energia é
um fator que pode tornar a mercadoria mais ou menos competitiva no comércio internacional. Por isso o setor energético
geralmente é controlado pelo Estado, que atua diretamente na produção de energia, por meio de empresas estatais ou pela
concessão dessa produção a empresas privadas.
Todos os países almejam a autossuficiência energética e baixos custos na produção de energia para que as atividades
econômicas não fiquem sujeitas às oscilações de preço das fontes importadas. A busca por uma matriz energética
diversificada constitui estratégia de planejamento adotada por várias nações para evitar desabastecimento ou enfrentar
crises econômicas, como aconteceu com os aumentos do preço do petróleo em 1973, 1980, 1990 e 2007. Até recentemente,
a grande preocupação ao optar por determinada fonte de energia se restringia ao preço, mas, atualmente, em muitos países,
essa opção também está voltada à busca de fontes que sejam renováveis e limpas.
Para atingir esses objetivos há a necessidade de racionalizar o uso de energia observando as estratégias que causam
menos impactos econômicos, sociais e ambientais. Deve-se combater o desperdício de energia, aumentar a eficiência dos
equipamentos (residenciais, industriais, de serviços, etc.), promover a reciclagem de materiais, valorizar produtos e serviços
que consumam menos energia para ser disponibilizados, reorganizar a localização e o transporte de mercadorias e de
pessoas, e controlar as emissões de poluentes.
Além da busca pela maior eficiência energética, a intensificação do aquecimento global provocado pelo efeito estufa tem
levado os países a buscar fontes de energia menos poluentes, como a hidreletricidade, a nuclear, a eólica, a solar, a geotérmica e
a biomassa, entre outras. Nesse contexto, a utilização crescente de fontes renováveis de energia é a melhor alternativa na busca
da sustentabilidade ambiental, econômica e social.
7.3 - Petróleo
O petróleo é um hidrocarboneto fóssil de origem orgânica encontrado em bacias sedimentares resultantes do soterramento
de antigos ambientes aquáticos. Seus diversos subprodutos se apresentam em todos os estados de agregação: sólido (asfalto e
plásticos, entre outros), líquido (óleos lubrificantes, gasolina e outros combustíveis) e gasoso (gás combustível). Em suas formas
de ocorrência natural, é utilizado há muito tempo: na vedação dos reservatórios de água construídos pelos incas; na pavimentação,
em conjunto com pedras, das estradas romanas e na vedação de antigas embarcações.
Desde a década de 1930, com a construção das primeiras indústrias petroquímicas, o petróleo é uma matéria-prima
importantíssima, presente de forma constante em nosso cotidiano nas mais diversas formas: materiais de construção e de
embalagem, ingredientes de tintas, de fertilizantes e de produtos farmacêuticos, além de inúmeros tipos de plásticos.
Sua utilização como fonte de energia iniciou-se em 1859, na Pensilvânia, Estados Unidos, quando Edwin Drake, um
perfurador de poços, encontrou petróleo a apenas 21 metros de profundidade e passou a comercializá-lo com as cidades – para
ser utilizado na iluminação pública –, com as indústrias e com as companhias de trem – em substituição ao carvão mineral usado
nas máquinas a vapor.
O petróleo, por ser líquido e apresentar maior facilidade de transporte que o carvão mineral, passou a ser consumido
em quantidades crescentes a cada ano. O carvão foi a fonte de energia que impulsionou o crescimento industrial e econômico
de diversos países desde o final do século XVIII, na Primeira Revolução Industrial. No entanto, no século XIX, com a Segunda
Revolução Industrial, esse papel foi assumido pelo petróleo. O incremento do consumo foi acompanhado pelo surgimento
de centenas de companhias petrolíferas atuando em todas as quatro fases econômicas de sua exploração: extração,
transporte, refino e distribuição.
Com a invenção do motor a explosão interna e seu uso em veículos, o consumo mundial de petróleo disparou. As
empresas do setor petrolífero cresceram no mesmo ritmo do consumo, principalmente nos Estados Unidos e na Europa.
Algumas dessas empresas tornaram-se transnacionais e deram oportunidade para a formação do cartel e do oligopólio no
setor petrolífero em escala mundial. Em 1928, as sete maiores empresas do setor formaram um cartel, conhecido como “sete
irmãs”, que dividiu o planeta em áreas de influência, controlando a extração, o transporte, o refino e a distribuição da principal
fonte de energia dos sistemas de transportes e da produção industrial do globo. Esse fato causou forte reação em diversos
países, principalmente nos que dependiam da importação do produto.
Na tentativa de controlar tanto o comércio como as demais atividades petrolíferas, começaram a se desenvolver,
principalmente a partir da década de 1930, diversas empresas estatais, que passaram a atuar diretamente nas quatro fases
141
econômicas de exploração do petróleo, ou pelo menos em uma delas, segundo as prioridades estabelecidas internamente.
Entre os exemplos mais significativos estão a Pemex (México), a PDVSA (Venezuela), a Indian Oil (Índia) e a ENI (Itália).
No Brasil, com a criação da Petrobras em 1953, a extração, o transporte e o refino foram estatizados. Em 1995, foi extinto o
monopólio da Petrobras, uma empresa de capital aberto que tem o governo federal como sócio majoritário (28,5% das ações,
em 2012) e com o controle de sua estrutura administrativa; toda a regulamentação do setor petrolífero no Brasil continua sob
a responsabilidade do Estado.
A segunda ação na tentativa de desmobilização do poder das “sete irmãs” concretizou-se em 1960, com a criação da
Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), fundada por Irã, Iraque, Kuwait, Arábia Saudita e Venezuela.
Em 1973, os países da Opep promoveram um drástico aumento no preço do barril (159 litros) – de 2,70 para 11,20
dólares –, aproveitando-se de uma situação política criada pela guerra do Yom Kippur (quando Egito, Síria e outros países
atacaram Israel, dando início ao quarto conflito armado entre árabes e israelenses). Esse foi o chamado “primeiro choque
do petróleo”, que provocou crise econômica em muitos países. Boa parte dos dólares que movimentavam o comércio
internacional foi para o Oriente Médio, onde se localizam as maiores reservas e os maiores exportadores mundiais do
produto.
Nos anos de 1979 e 1980, com a ocorrência da revolução islâmica no Irã e a eclosão da guerra com o Iraque, os
países importadores ficaram preocupados com a possibilidade de ingresso de outras nações árabes no conflito. Se isso
acontecesse, a oferta mundial de petróleo estaria comprometida, o que levou muitos países a comprar o produto para
aumentar seus estoques estratégicos. Com esse brusco aumento da procura, a Opep elevou o preço do barril a 34 dólares
(como vimos, em 1973, o preço era de apenas 2,70 dólares).
Essas bruscas elevações do preço do petróleo agravaram a crise econômica do mundo desenvolvido, que já se
arrastava desde o final da década de 1960. Essa crise, porém, atingiu de forma mais severa os países importadores de
petróleo, notadamente os mais pobres, que tiveram sua balança comercial seriamente comprometida. Para enfrentar esse
problema e diminuir a dependência energética, muitos países importadores estabeleceram duas estratégias
complementares: aumentar a produção interna e substituir o petróleo por outras fontes de energia.
No mesmo período, vários países
produtores de petróleo que não integravam a
Opep – principalmente a antiga União Soviética
(com destaque para a Federação Russa), o
México e a Noruega – incrementaram sua
produção e tornaram-se grandes exportadores.
Com o petróleo custando 34 dólares o barril,
justificavam-se os investimentos em prospecção e
os custos de extração em qualquer local do
planeta. A então União Soviética foi extraí-lo na
Sibéria; os Estados Unidos, no Alasca; e o México,
o Brasil e os países do mar do Norte, em suas
plataformas continentais.
Com o aumento da produção mundial e a
substituição do petróleo por outras fontes, a lei da
oferta e da procura entrou em ação e, em 1986, a
cotação do barril caiu para 12 dólares. Essa queda
nos preços pôs em dúvida a viabilidade
econômica de muitas fontes alternativas, já que a
criação de novos modelos energéticos previa
constantes elevações no preço do petróleo. Além
disso, tornou pouco competitiva, e às vezes até ineficiente, a extração em águas profundas. Com a queda vertiginosa do
preço do barril de petróleo, algumas fontes alternativas – como o etanol, no caso brasileiro – tornaram-se inviáveis
economicamente no contexto daquela época, quando ainda não havia preocupação em diversificar a matriz energética e
combater o aquecimento global.
A partir de 1986, disputas internas na Opep tornaram cada vez mais difícil estabelecer um acordo de preços e cotas
de produção entre os países-membros. Os Estados Unidos conseguiram aprofundar a fragilização da organização por meio
de favorecimentos comerciais à Arábia Saudita e ao Kuwait, que passaram a aumentar suas produções, causando sérios
problemas internos à Opep.
Em dezembro de 1990, o Iraque, economicamente abalado com os gastos de oito anos de guerra com o Irã, invadiu
o Kuwait e ameaçou invadir a Arábia Saudita, sob o pretexto de disputa territorial, mas a verdade é que esses países estavam
extrapolando as cotas de produção de petróleo estabelecidas pela Opep e forçando uma queda no preço do barril no mercado
mundial. A fim de defender seus interesses comerciais, os Estados Unidos, liderando uma coalizão de vários países e com
o apoio da ONU e de várias nações árabes, intervieram imediatamente no conflito enviando tropas ao Oriente Médio. Isso
obrigou o Iraque a se retirar do território do Kuwait em janeiro de 1991. Durante o conflito, conhecido como Guerra do Golfo,
o barril de petróleo chegou a custar quase 40 dólares; com o fim do conflito, o preço voltou a cair e chegou a 20 dólares.
142
Em 2003, contrariando resolução da ONU, os Estados Unidos invadiram militarmente o Iraque, derrubaram o regime
de Saddam Hussein (1937-2006) e passaram a controlar as reservas petrolíferas desse país, que estão entre as maiores do
mundo. No início de 2004, o preço do barril estava em torno de 30 dólares, mas com os problemas enfrentados pelas forças
de ocupação, sobretudo como resultado da resistência armada iraquiana e o impulso no consumo causado pelo crescimento
econômico mundial, chegou a 93 dólares no início de 2008. Em janeiro de 2012, seguindo uma tendência de alta no preço
internacional das matérias-primas, estava cotado em 109 dólares o barril.
Podemos dividir os maiores produtores de petróleo em dois subgrupos: exportadores e importadores. No primeiro
estão os detentores de grandes reservas – portanto, de excedentes exportáveis. Os maiores representantes desse grupo
são a Arábia Saudita e a Rússia. No segundo estão países como os Estados Unidos e a China, que, apesar de grandes
produtores, são também grandes consumidores e dependem de importações para o abastecimento de seu mercado interno.
Embora os Estados Unidos sejam o terceiro produtor mundial de petróleo, ocupam a primeira posição entre os importadores;
a China é o quarto maior produtor, mas é o segundo maior importador. O Japão, terceiro maior importador, não é produtor
de petróleo, importa praticamente 100% de seu consumo.
143
Hidreletricidade
Os rios que apresentam desnível acentuado em seu percurso tendem a apresentar potencial hidrelétrico aproveitável,
principalmente se seu suprimento de água for garantido por clima ou hidrografia favoráveis. Não é necessária a ocorrência
de quedas-d’água, mas de desníveis que possibilitem a construção de uma barragem que forme uma represa e crie uma
queda artificial. Trata-se de uma forma não poluente, barata e renovável de obtenção de energia, embora o alagamento de
grandes áreas por causa da construção das barragens e do represamento da água cause impacto ambiental. Em terrenos
mais planos, ocorre inundação de enormes áreas, enquanto em terrenos que possuem desnível acentuado, a superfície
inundada é menor. A energia tende a ser produzida com maior eficiência quanto maior for o desnível obtido entre o nível de
água e a turbina. Em terrenos com maior declividade é possível obter maiores desníveis com menor superfície de água
represada.
Dessa forma, a construção de uma barragem deve ser precedida de minucioso estudo do impacto ambiental e
arqueológico, para que se avalie a viabilidade técnica, social, ambiental e econômica do represamento.
Na prática, a produção de energia hidrelétrica depende da energia solar, pois a água, em seu ciclo, é transportada
para compartimentos mais elevados do relevo pela evaporação e posterior precipitação. Por isso, os países de relevo
acidentado, grande extensão territorial (portanto, maior área de insolação) e muitos rios contam com grande potencial
hidráulico. É o caso do Brasil, do Canadá, dos Estados Unidos, da China, da Rússia e da Índia.
Observe, na tabela abaixo, que o Brasil
ocupa posição importante na produção total
de energia elétrica e percentual da
hidreletricidade na geração total de energia
elétrica.
Grandes represas - a formação de grandes
represas apresenta aspectos positivos e
negativos:
Aspectos positivos
• Geração de energia elétrica mais limpa e
barata que a obtida por outras fontes.
• Possibilidade de controle de enchentes a
jusante.
• Melhora das condições de abastecimento de
água para a população.
• Maiores possibilidades de instalação de
projetos de agricultura irrigada.
• Incremento da utilização do transporte
fluvial.
• Estímulo à piscicultura.
• Incentivo à instalação de equipamentos de esporte, turismo e lazer.
Aspectos negativos
• Possível necessidade de desmatamento prévio da área a ser inundada e/ou de resgate de animais ilhados durante o
preenchimento da represa.
• Possível necessidade de deslocamento de cidades, povoados ou comunidades indígenas.
• Salinização da água dos reservatórios em regiões de evaporação intensa.
• Mudança no fluxo dos sedimentos e no volume de água do rio.
• Assoreamento da represa e consequente comprometimento de sua capacidade geradora.
• Inundação de sítios arqueológicos.
• Perda de solo agricultável.
• Redução da vegetação nativa e da biodiversidade.
Termeletricidade
A obtenção de energia elétrica pela termeletricidade é feita com maiores custos e com maior impacto ambiental, mas
a construção de uma usina desse tipo requer investimentos menores que a de uma hidrelétrica. O que faz a turbina de uma
usina termelétrica girar é a pressão do vapor de água obtido pela queima de carvão mineral, gás ou petróleo (entre vários
outros combustíveis possíveis, como o bagaço de cana-de-açúcar, muito utilizado no Brasil), que aquece uma caldeira
contendo água. Enquanto a fonte primária de energia das usinas hidrelétricas é a água, disponível no local onde é instalada,
a das termelétricas tem de ser extraída e transportada (e por vezes importada), o que encarece o produto final: a energia
elétrica. Sua vantagem em relação à hidreletricidade é que a localização da usina é determinada pelo mercado consumidor,
e não pelo relevo e hidrografia, o que possibilita sua instalação nas proximidades da área onde há demanda, acarretando
gastos menores na transmissão da energia elétrica obtida.
144
Energia atômica
Desde o início deste século, em razão do agravamento do aquecimento global, a utilização da energia nuclear para
obtenção de energia elétrica voltou à agenda internacional como importante alternativa à queima de combustíveis fósseis.
Em 2010, as usinas nucleares foram responsáveis por cerca de 10,3% de toda a energia elétrica produzida no mundo.
Assim como nas termelétricas, o que movimenta a turbina de uma usina nuclear é o vapor de água, só que neste caso
o aquecimento da água para produzir o vapor é feito a partir da fissão nuclear, realizada a partir da quebra de átomos de
urânio.
Em vários países é grande a produção de energia elétrica em usinas nucleares, apesar do alto custo de instalação,
funcionamento e conservação. Em muitos deles houve o esgotamento das possibilidades de produção hidrelétrica e há
carência de combustíveis fósseis para a produção de energia em centrais termelétricas.
Apesar de apresentarem algumas vantagens em relação aos outros tipos de usinas, como, por exemplo, o custo do
quilowatt-hora produzido, que é menor que o obtido em usinas termelétricas que utilizam carvão como fonte primária, a
opinião pública mundial tem exercido forte pressão contrária à instalação de novas centrais. As usinas nucleares são
potencialmente muito mais perigosas por utilizarem fontes primárias radiativas, e demandam um alto custo para a destinação
final dos seus rejeitos – o lixo atômico. Em caso de acidentes (como o de Tree Mile Island, nos Estados Unidos, em 1979; o
de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986; e o de Fukushima, no Japão, em 2011, causado por terremoto seguido de tsunami), a
radiatividade leva anos ou mesmo décadas para se dissipar. Nos Estados Unidos, por exemplo – país responsável por quase
30% da geração mundial de energia elétrica em centrais nucleares –, não se constroem novas usinas desde o acidente de
1979. Diversas outras formas de obtenção de energia elétrica vêm sendo pesquisadas por vários países, como a energia
solar, a geotérmica, a eólica, a variação das marés, a fusão nuclear (de átomos de hidrogênio), etc., mas a instalação dessas
usinas e a produção em larga escala ainda dependem da redução dos custos.
Energia solar
A energia solar é utilizada na geração de eletricidade e no aquecimento da água, ou seja, basicamente como fonte de
luz e de calor, sendo uma boa opção para atender a população que mora em localidades rurais sem acesso à rede de energia
elétrica. Nas cidades, seu uso vem se intensificando em residências, hotéis, hospitais, clubes e outros, que buscam redução
dos custos da eletricidade. Sua captação é realizada por coletores para o aquecimento e por células fotovoltaicas para
converter a energia solar em eletricidade.
Energia eólica
A energia eólica é obtida do movimento dos ventos e das massas de ar, que por sua vez resultam das diferenças de
temperatura existentes na superfície do planeta. É uma forma limpa e renovável de obtenção de energia que está disponível
em muitos lugares do planeta.
Biomassa
Biomassa é qualquer tipo de matéria orgânica não fóssil, vegetal ou animal, que possibilite obtenção de energia. Entre
os produtos mais utilizados destacam-se o etanol obtido da cana-de-açúcar, da beterraba, do milho e da madeira; o lixo
orgânico (cuja decomposição nos aterros produz biogás); a lenha; o carvão vegetal; e os diversos tipos de óleos vegetais
que podem ser transformados em biodiesel (soja, dendê, mamona, algodão e trigo, entre outros). A utilização de biomassa
como fonte de energia é muito antiga, remonta ao tempo em que o ser humano controlou o fogo e começou a queimar lenha
para se aquecer e cozinhar os alimentos. Atualmente, vem aumentando bastante seu consumo por causa da instabilidade
do preço do petróleo e, em geral, por sua queima produzir menos poluentes do que a dos combustíveis fósseis.
Hoje em dia ela é considerada uma das principais alternativas na busca por maior diversificação na matriz energética,
visando reduzir a dependência dos combustíveis fósseis, porque possibilita a obtenção de energia elétrica e de
biocombustíveis. O etanol e o biodiesel são combustíveis não tóxicos e biodegradáveis, cuja queima em substituição aos
derivados de petróleo reduz de 40% a 60% a emissão de gases que provocam o efeito estufa. Além disso, por serem isentos
de enxofre em sua composição, não causam chuva ácida.
Desde 2005, quando entrou em vigor o Protocolo de Kyoto, muitos países aceleraram a busca por fontes de energias
renováveis e menos poluentes, cujo consumo está em expansão em escala mundial. A produção de biocombustíveis vem
apresentando grande possibilidade de crescimento econômico e geração de empregos na agricultura e nas usinas, com
efeito multiplicador nos demais setores que integram sua cadeia produtiva (máquinas, equipamentos, fertilizantes, setores
de serviços, comércio e transporte).
A expansão da produção e do consumo dos biocombustíveis depende muito do preço do barril de petróleo, que, como
vimos, sofre grandes oscilações em função da ocorrência de guerras e crises econômicas. Quando aumenta o preço do
145
barril de petróleo, há tendência de busca de fontes mais baratas e os biocombustíveis ganham competitividade; ao contrário,
nas épocas em que cai o preço do barril de petróleo, os biocombustíveis perdem mercado.
Porém, independentemente das oscilações no preço do petróleo, o setor de biocombustíveis e toda sua cadeia
produtiva têm recebido incentivo governamental em alguns países, como Estados Unidos, Brasil, Alemanha e França,
embora sua produção e consumo sejam mais caros que a utilização de óleo diesel e gasolina. Isso ocorre graças às
vantagens que ele oferece em termos sociais, estratégicos e ambientais, como a geração de empregos, a segurança
energética, a redução na emissão de poluentes e o declínio no volume das importações, o que melhora o resultado da
balança comercial.
Muitos países possuem legislação que obriga a mistura de álcool e biodiesel na gasolina e no óleo diesel (derivados
de petróleo). Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma, Unep Yearbook 2008), na Europa,
até 2020, 10% dos combustíveis usados no setor de transportes deverão ter origem agrícola, percentual que já é adotado
na Colômbia, Venezuela e Tailândia. Na China, é obrigatória a mistura de 10% nas cinco províncias com maior volume de
transporte de carga e pessoas. O Brasil, em 2012, misturava 20% de álcool à gasolina, 5% de biodiesel ao diesel de petróleo,
e era o único país do mundo com carros flex, movidos a etanol ou gasolina, ou com a mistura dos dois combustíveis em
qualquer proporção.
Essas exigências provocaram redução nos índices de poluição atmosférica, sobretudo nos centros urbanos,
entretanto, geraram uma grande demanda por matéria-prima agrícola. O aumento no consumo de óleo de palma no Sudeste
Asiático, por exemplo, provocou desmatamento na região, e a alta no preço de alguns cereais – principalmente o milho – é
atribuída ao aumento de sua utilização para produzir etanol.
Como o milho é utilizado como ração na criação de gado e aves e constitui matéria-prima para produção de vários
tipos de alimentos industrializados, há grande receio de aumento de preços nos alimentos, principalmente carne bovina,
suína e de aves, leite e seus derivados, ovos, farinha - matéria-prima de pão, macarrão, bolachas etc. - e outros.
Em 2007, um consórcio de vinte agências da Organização das Nações Unidas (UN – Energy) divulgou um relatório
apontando algumas preocupações sobre o aumento no consumo de biocombustíveis em escala mundial: sua produção
poderá comprometer a disponibilidade e elevar os preços de alimentos e, consequentemente, agravar a subnutrição e a
fome pelo mundo? Haverá maior degradação dos biomas em consequência da expansão da área cultivada? O que
acontecerá com os pequenos produtores agrícolas?
Caso a produção de biocombustíveis seja planejada para contemplar o desenvolvimento sustentável, poderá ser algo
muito positivo. Para isso, deve-se pensar nos benefícios que resultam da redução na emissão de gás carbônico, mas,
também, na preservação dos biomas e na geração de empregos e renda, enfim, na sua sustentabilidade ambiental e
socioeconômica.
01. Um dos maiores problemas da atualidade é o aumento desenfreado do desemprego. O texto abaixo destaca esta situação.
O desemprego é hoje um fenômeno que atinge e preocupa o mundo todo. [...] A onda de desemprego recente não é
conjuntural, ou seja, provocada por crises localizadas e temporárias. Está associada a mudanças estruturais na economia,
daí o nome de desemprego estrutural. O desemprego manifesta-se hoje na maioria das economias, incluindo a dos países
ricos. A OIT estimava em 1 bilhão – um terço da força de trabalho mundial – o número de desempregados em todo o mundo
em 1998. Desse total, 150 milhões encontram-se abertamente desempregados e entre 750 e 900 milhões estão
subempregados.
Almanaque Abril 1999 [cd-rom]. São Paulo: abril.
(A) a uma economia desaquecida que provoca ondas gigantescas de desemprego, gerando revoltas e crises institucionais.
(B) ao setor de serviços que se expande provocando ondas de desemprego no setor industrial, atraindo essa mão de obra
para este novo setor.
(C) ao setor industrial que passa a produzir menos, buscando enxugar custos, provocando, com isso, demissões em larga
escala.
(D) às novas formas de gerenciamento de produção e novas tecnologias que são inseridas no processo produtivo, eliminando
empregos que não voltam.
(E) ao emprego informal que cresce, já que uma parcela da população não tem condições de regularizar o seu comércio.
Um considerável número de mercadorias passou a ser produzido no Brasil, substituindo o que não era possível ou era muito caro
importar. Foi assim que a crise econômica mundial e o encarecimento das importações levaram o governo Vargas a criar as bases
para o crescimento industrial brasileiro.
Pomar, W. Era Vargas – a modernização conservadora.
(A) opostas, pois, no primeiro texto, o centro das preocupações são as exportações e, no segundo, as importações.
(B) semelhantes, uma vez que ambos demonstram uma tendência protecionista.
(C) diferentes, porque, para o primeiro texto, a questão central é a integração regional e, para o segundo, a política de substituição
de importações.
(D) semelhantes, porque consideram a integração regional necessária ao desenvolvimento econômico.
(E) opostas, pois, para o primeiro texto, a globalização impede o aprofundamento democrático e, para o segundo, a globalização
é geradora da crise econômica.
03. A atividade industrial e a industrialização brasileira estão desigualmente distribuídas pelas regiões do país. Construídas
predominantemente no século XX, elas são componentes da modernização urbana que reinventa nossa sociedade e dinâmica
espacial.
Sobre a indústria e industrialização brasileira, é correto afirmar:
(A) a industrialização tem suas raízes fincadas na economia da cana-de-açúcar e do café, que possibilitou a acumulação de capital
necessária para a diversificação em investimentos no setor industrial, e esse fato permitiu a produção de bens de consumo
duráveis, sobretudo automóveis e eletrodomésticos.
(B) a indústria nasce dos capitais restantes do declínio da economia da cana-de-açúcar e do café. Esses capitais impulsionaram
uma diversidade de pequenas indústrias de produção de bens de consumo não duráveis, tais como perfumaria, cosméticos,
bebidas, cigarros, que apoiadas pelo estado se difundiram pelo país.
(C) a ação do estado foi fundamental para desencadear o processo de industrialização brasileira, por exemplo, criando empresas
estatais, como a antiga companhia Vale do rio doce e a companhia siderúrgica nacional, para investir na indústria de base.
Sem elas não seria possível a implantação de indústria de bens de consumo duráveis.
(D) a industrialização brasileira é fruto da capacidade inovadora do estado e do empresariado nacional. Este último não mediu
esforços para construir em todo o território nacional sistemas de transporte, comunicação, energia e portos, necessários à
circulação de bens, serviços e pessoas por todas as regiões.
(E) a industrialização brasileira se tornou possível a partir de investimentos do capital internacional, que não mediu esforços para
construir em todo o território nacional sistemas de transporte, comunicação, energia e portos, necessários à circulação de
bens, serviços e pessoas por todas as regiões.
147
04. Leia os trechos da letra da canção a seguir:
Três apitos
Quando o apito da fábrica de tecidos
Vem ferir os meus ouvidos
Eu me lembro de você.
[…]
Você que atende ao apito
De uma chaminé de barro,
Por que não atende ao grito tão aflito
Da buzina do meu carro?
[…]
Mas você não sabe
Que enquanto você faz pano
Faço junto do piano
Estes versos pra você.
Nos meus olhos você vê
Que eu sofro cruelmente,
Com ciúmes do gerente impertinente
Que dá ordens a você.
(Noel Rosa)
Disponível em: <http://tresapitos.noelrosa.letrasdemusicas.com.br>. Acesso em: 2 abr. 2010.
Cm base na letra da canção e nos conhecimentos sobre industrialização brasileira, é correto afirmar:
(A) trata-se de um processo destituído de relevância social, porque passou despercebido pela população das metrópoles,
cujo cotidiano manteve-se inalterado.
(B) alterou as relações campo-cidade, as paisagens urbanas, os hábitos de consumo das pessoas, as relações sociais e
criou novas profissões e postos de trabalho.
(C) a indústria têxtil prejudicou o desenvolvimento do setor automobilístico, porque em ambos havia grande necessidade de
mão de obra especializada.
(D) os apitos das fábricas foram proibidos nas grandes metrópoles industrializadas, porque provocavam poluição sonora que
era potencializada pelas buzinas dos carros.
(E) manteve inalterado o equilíbrio populacional entre campo e cidade, porque as indústrias têxteis demandavam pouca mão
de obra, dado o seu alto grau de mecanização.
05. Após a 2ª GM, a maioria dos países latino-americanos implementou políticas de industrialização por substituição de importações que
tiveram resultados diversos. Considere as seguintes afirmações sobre os efeitos que a implementação dessas políticas teve no Brasil.
I. ela acelerou a migração campo-cidade.
II. ela favoreceu a industrialização nas regiões sudeste e sul.
III. ela reforçou o papel do estado brasileiro nas políticas territoriais.
(A) apenas I.
(B) apenas II.
(C) apenas III.
(D) apenas II E III.
(E) I, II e III.
06. [...] Liberalismo, o Neo, bateu à porta da quitinete onde morava o Estado Mínimo e sua numerosa família. O Estado Mínimo – diga-se
de passagem – já fora o máximo no passado, requisitado por todos, vivia confortavelmente em uma cobertura duplex no edifício Keynes.
A partir dos anos 1980, seu prestígio começou a declinar diante da campanha orquestrada pelo Liberalismo que avançou no seu patrimônio
e privatizou suas empresas sob o pretexto de que ele, Estado, não entendia nada de economia, cobrava altos impostos e impedia a
maximização dos seus lucros. Empobrecendo, o Estado teve que se mudar para um apartamento menor e depois para outro menor ainda
e hoje vive em uma modesta unidade no conjunto habitacional Milton Friedmam. [...]
Novaes, Carlos Eduardo. Liberalismo e estado mínimo. Jornal do Brasil, rio de Janeiro, 1º mar. 2009.
A opção que apresenta exemplos, no Brasil, que confirmam a explicação contida no trecho da crônica é:
(A) privatização de bancos, aumento das barreiras alfandegárias, aplicação dos planos Quinquenais.
(B) desestatização de empresas, desregulamentação da economia, criação de agências reguladoras.
(C) redução da concentração do poder administrativo federal, redução das taxas de juros, criação dos Órgãos de planejamento regional.
(D) ampliação da esfera de atuação das secretarias de governo, reforma fiscal, implementação de programas de desenvolvimento nacional.
(E) nacionalização de empresas, redução das tarifas alfandegárias, implementação dos programas nacionais de desenvolvimento.
148
07. É possível afirmar através de uma visão de síntese do processo histórico da industrialização no Brasil entre 1880 a 1980,
que esta foi retardatária cerca de 100 anos em relação aos centros mundiais do capitalismo. Podemos identificar cinco fases
que definem o panorama brasileiro de seu desenvolvimento industrial: 1880 a 1930, 1930 a 1955, 1956 a 1961, 1962 a 1964
e 1964 a 1980.
Leia com atenção as afirmações a seguir, identificando-as com a sua fase de desenvolvimento industrial.
I. Modelo de desenvolvimento associado ao capital estrangeiro, sem descentralizar a indústria do Sudeste de forma
significativa em direção a outras regiões brasileiras; corresponde ao período de Juscelino Kubitschek, com incremento
da indústria de bens de consumo duráveis e de setores básicos.
II. Modelo de política nacionalista da Era Vargas, com o desenvolvimento autônomo da base industrial demonstrado através
da construção da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Ressalta-se que, neste período, a Segunda Guerra Mundial
impulsionou a industrialização. III. Período de desaceleração da economia e do processo industrial motivados pela
instabilidade e tensão política no Brasil.
IV. Implantação dos principais setores da indústria de bens de consumo não duráveis ou indústria leve, mantendo-se a
dependência brasileira em relação aos países mais industrializados. O Brasil não possuía indústrias de bens de capital
ou de produção.
V. Período em que o Brasil esteve submetido a constrangimentos econômicos, financeiros e sociais devido a seu
endividamento no exterior com o objetivo de atingir o crescimento econômico de 10% ao ano. Mesmo assim, não houve
muitos avanços na área social. Modernização conservadora com o governo militar.
Adaptado de: São Paulo (estado). Secretaria da Educação. Geografia, Ensino Médio. São Paulo, 2008.
(A) elas sempre existiram na nossa história, com o Nordeste sendo a região mais carente desde os primórdios da
colonização.
(B) elas se tornaram mais graves com a globalização, que ocasionou uma acelerada industrialização do Sudeste e um
retrocesso no Nordeste.
(C) elas foram adquirindo as suas características atuais com a industrialização do país e tornaram-se assunto da política
nacional a partir dos anos 1950.
(D) elas decorrem fundamentalmente das diversidades naturais do nosso território e da distribuição espacial das riquezas
minerais.
(E) elas são um problema nacional desde a colonização, devido às secas do Nordeste, que sempre exigiram políticas
voltadas para o desenvolvimento dessa região.
09. Os chineses não atrelam nenhuma condição para efetuar investimentos nos países africanos. Outro ponto interessante
é a venda e compra de grandes somas de áreas, posteriormente cercadas. Por se tratar de países instáveis e com governos
ainda não consolidados, teme-se que algumas nações da África tornem-se literalmente protetorados.
Brancolli, F. China e os novos investimentos na África: neocolonialismo ou mudanças na arquitetura global?
Disponível em: <http://opiniaoenoticia.com.br>. Acesso em: 29 abr. 2010. (adaptado).
A presença econômica da China em vastas áreas do globo é uma realidade do século XXI. A partir do texto, como é possível
caracterizar a relação econômica da China com o continente africano?
(A) Pela presença de órgãos econômicos internacionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial,
que restringem os investimentos chineses, uma vez que estes não se preocupam com a preservação do meio ambiente.
(B) Pela ação de ONGs (Organizações Não Governamentais) que limitam os investimentos estatais chineses, uma vez que
estes se mostram desinteressados em relação aos problemas sociais africanos.
(C) Pela aliança com os capitais e investimentos diretos realizados pelos países ocidentais, promovendo o crescimento
econômico de algumas regiões desse continente.
(D) Pela presença cada vez maior de investimentos diretos, o que pode representar uma ameaça à soberania dos países
africanos ou manipulação das ações destes governos em favor dos grandes projetos.
(E) Pela presença de um número cada vez maior de diplomatas, o que pode levar à formação de um mercado comum sino-
africano, ameaçando os interesses ocidentais.
149
10. Em meados de 1980, as estratégias político-econômicas conduzidas pelo novo secretário-geral do Partido comunista,
Mikhail Gorbachev, acabaram contribuindo para o colapso da URSS e de seu regime socialista. Sobre essas estratégias,
considere as seguintes afirmações.
I. A “Glasnost” tinha por finalidade revitalizar o socialismo através, entre outras reformas, de uma relativa democratização
do sistema.
II. A não concessão de maior independência política aos estados-membros da URSS rendeu a Gorbachev o apoio da ala
conservadora do partido.
III. A “Perestroika” buscou reestruturar a economia estatal planificada, com o objetivo de impedir a crescente privatização
dos meios de produção e a concentração fundiária.
(A) apenas I.
(B) apenas II.
(C) apenas I e II.
(D) apenas II e III.
(E) I, II e III.
11. A China é o país mais populoso do planeta e uma potência militar que tem conseguido atrair investimentos estrangeiros
em grande proporção, sustentando um crescimento econômico que lhe confere um papel estratégico e de crescente projeção
no cenário mundial. Sobre a China, assinale a alternativa INCORRETA.
(A) em 1949 foi proclamada a república Popular da China, sob liderança de Mao Tsé-Tung. O socialismo implantado rompeu
a dominação colonial e imperialista que havia explorado a China por quase cinco séculos.
(B) a partir do final da década de 1970 o governo toma uma série de medidas econômicas liberalizantes que propiciaram a
abertura e a modernização da economia por meio de uma política estatal elaborada e controlada firmemente pelos
líderes do Partido comunista.
(C) em busca de prover a demanda de energia no mesmo ritmo do crescimento econômico do país foi construída, no rio
Yangtzé, a usina hidrelétrica de Três Gargantas, que se encontra entre as maiores centrais hidrelétricas do mundo.
(D) a China caracteriza-se pela maior concentração populacional na sua extensa faixa litorânea, local de maior dinamismo
econômico no país e onde foram criadas as zonas econômicas especiais (ZEEs), áreas específicas para a entrada de
capital internacional que, por intermédio de joint ventures – associação entre empresas estrangeiras e locais – produzem
para a exportação.
(E) no contexto da nova Divisão Internacional do trabalho, a China destaca-se por contar com uma mão de obra abundante,
altamente qualificada e bem remunerada o que favorece seu comércio interno.
12. A partir da década de 1950, verificou-se uma intensificação no processo de industrialização em diversas regiões do
planeta. No caso de países latino-americanos, como, por exemplo, o Brasil, a Argentina e o México, em que se baseou,
fundamentalmente, a industrialização?
13. A industrialização do sudeste asiático ocorreu em duas etapas. Na primeira, surgiram os chamados Tigres de primeira
geração, que receberam capital do Japão. Na segunda, eles investiram nos Tigres da segunda geração. Assinale a
alternativa que lista corretamente os tigres asiáticos de primeira e de segunda geração.
(A) Primeira geração: Coreia do Sul, Taiwan e Cingapura - segunda geração: Indonésia, Malaísia e Tailândia.
(B) Primeira geração: Coreia do Sul, Malaísia e Taiwan - segunda geração: Cingapura, Indonésia e Tailândia.
(C) Primeira geração: Taiwan, Tailândia e Malaísia - segunda geração: Coreia do Sul, Cingapura e Indonésia.
(D) Primeira geração: Coreia do sul, Cingapura e Indonésia - segunda geração: Malaísia, Tailândia e Taiwan.
(E) Primeira geração: Cingapura, Indonésia e Tailândia - segunda geração: Coreia do Sul, Malaísia e Taiwan.
150
14. Bangalore, na Índia, Campinas, no Brasil e San Francisco, nos estados unidos, têm em comum:
15. O peso econômico dos Brics é certamente considerável. Entre 2003 e 2007, o crescimento dos quatro países representou
65% da expansão do PIB mundial. Em paridade de poder de compra, o PIB dos Brics já supera hoje o dos EUA ou o da
União Europeia. Para dar uma ideia do ritmo de crescimento desses países, em 2003, os Brics respondiam por 9% do PIB
mundial e, em 2009, esse valor aumentou para 14%. Em 2010, o PIB conjunto dos cinco países (incluindo a África do Sul)
totalizou US$11 trilhões ou 18% da economia mundial. Considerando o PIB pela paridade de poder de compra, esse índice
é ainda maior: US$19 trilhões ou 25%.
Disponível em: <www.itamaraty.gov.br/temas/mecanismosinter-regionais/agrupamentobrics>. acesso em: jun. 2012. (Fragmento).
Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul são os países de “economia emergente” que formam o grupo Brics. Este
agrupamento de países representa um bloco político-econômico:
(A) formal, constituído por países com interesses e papéis semelhantes na Organização Mundial do Comércio, integrantes
de uma contemporânea regionalização globalizada.
(B) informal, composto por países com interesses e papéis semelhantes na nova ordem mundial, integrantes de uma
contemporânea regionalização globalizada.
(C) informal, constituído por países do G-8 e com interesses e papéis conflitantes na nova ordem mundial, integrantes de
uma contemporânea regionalização globalizada.
(D) formal, composto por países com interesses e papéis semelhantes no conselho de segurança da ONU, integrantes de
uma contemporânea regionalização globalizada.
(E) informal, originalmente, e formal, posteriormente, composto por países com interesses semelhantes a maior atuação no
cenário global, como alternativa a liderança norte-americana e o G-7.
16. Uma mesma empresa pode ter sua sede administrativa onde os impostos são menores, as unidades de produção onde
os salários são os mais baixos, os capitais onde os juros são os mais altos e seus executivos vivendo onde a qualidade de
vida é mais elevada.
SEVCENKO, N. A corrida para o século XXI: no loop da montanha russa. São Paulo: Companhia das Letras, 2001 (adaptado).
No texto estão apresentadas estratégias empresariais no contexto da globalização. Uma consequência social derivada
dessas estratégias tem sido:
17. A evolução do processo de transformação de matérias-primas em produtos acabados ocorreu em três estágios:
artesanato, manufatura e maquinofatura. Um desses estágios foi o artesanato, em que se:
151
18. Considere o papel da técnica no desenvolvimento da constituição de sociedades e três invenções tecnológicas que
marcaram esse processo: invenção do arco e flecha nas civilizações primitivas, locomotiva nas civilizações do século XIX e
televisão nas civilizações modernas.
A respeito dessas invenções são feitas as seguintes afirmações:
I. A primeira ampliou a capacidade de ação dos braços, provocando mudanças na forma de organização social e na
utilização de fontes de alimentação.
II. A segunda tornou mais eficiente o sistema de transporte, ampliando possibilidades de locomoção e provocando mudanças
na visão de espaço e de tempo.
III. A terceira possibilitou um novo tipo de lazer que, envolvendo apenas participação passiva do ser humano, não provocou
mudanças na sua forma de conceber o mundo.
Está correto o que se afirma em:
(A) I, apenas.
(B) I e II, apenas.
(C) I e III, apenas.
(D) II e III, apenas.
(E) I, II e III.
19. Sobre os diferentes tipos de indústrias e a sua dinâmica espacial, assinale o que for correto.
(A) as indústrias de bens de produção ou de base produzem bens para outras indústrias, gastam muita energia e transformam
grandes quantidades de matérias-primas. São exemplos desse tipo de indústrias: petroquímicas, metalúrgicas, siderúrgicas,
entre outras.
(B) as indústrias de bens de capital ou intermediárias produzem máquinas, equipamentos, ferramentas ou autopeças para outras
indústrias, como, por exemplo, as indústrias dos componentes eletrônicos e a de motores para carros ou aviões.
(C) as indústrias de ponta estão ligadas ao emprego de alta tecnologia, elevado capital e de número grande de trabalhadores
qualificados. Elas dependem de inovações constantes para que sejam possíveis modificações rápidas no processo de produção.
(D) a partir de 1990, intensificou-se no Brasil o processo de desconcentração industrial, ou seja, muitas indústrias deixaram áreas
tradicionais e instalaram unidades fabris em novos espaços na busca de vantagens econômicas, como incentivos fiscais,
menores custos de produção, mão de obra mais barata, mercado consumidor significativo e atuação sindical fraca.
(E) as indústrias de bens de consumo estão divididas em duráveis e não duráveis. A primeira se refere à indústria de automóveis,
eletrodomésticos e móveis. Já as não duráveis estão ligadas ao setor de vestuário, alimentos, remédios e calçados.
152
21. A organização do espaço geográfico através de redes de comunicação eliminou a necessidade de fixar as atividades
econômicas num determinado lugar. Isso vale para um grande número de serviços, que podem ser prestados a partir de
qualquer lugar do mundo para qualquer outro, bastando que estes locais estejam conectados.
(A) eliminaram as restrições produtivas dos diferentes espaços geográficos, criando condições de trabalho igualitárias em
todos os países do mundo.
(B) contribuíram, pela velocidade da informação e diversidade de serviços, para a dispersão geográfica dos processos
produtivos industriais, cujas etapas estão localizadas em diferentes países.
(C) possibilitaram a disseminação dos lucros das empresas multinacionais, pela interligação de sistemas industriais de
produção.
(D) ampliaram as trocas no comércio internacional, mas não possibilitaram grandes transformações na organização do
espaço geográfico mundial.
(E) diminuíram, por sua ampliação, as desigualdades sociais entre os países, tendência mundial da atualidade.
(A) atualmente, grande parte das empresas multinacionais é originária dos países subdesenvolvidos e aí estão instaladas.
(B) embora seja objeto de investimentos capitalistas, o sistema socialista chinês ainda afugenta as empresas multinacionais.
(C) a globalização facilitou a mobilidade de capitais e empresas, aumentando a competição entre países.
(D) nos países asiáticos, o alto custo da mão de obra é compensado pela abundância de matérias-primas minerais baratas.
(E) a abertura comercial propiciada pela globalização permitiu às empresas brasileiras concorrerem com as dos países
europeus.
23. Por referência a dinâmica e o desenvolvimento do modo de produção capitalista em relação à organização do espaço
geográfico e aos problemas ambientais, analise:
I. A internacionalização dos problemas ambientais durante a 2ª Revolução Industrial foi uma consequência das disputas
interimperialistas ocorridas a partir da unificação alemã e italiana, que se constituíram como novos países capitalistas.
II. O espaço geográfico mundial, após a crise de 1929, teve uma intensa reorganização produtiva, considerando a aplicação
da política de bem-estar social, o taylorismo/fordismo e o just in time, estruturas administrativas que possibilitam a
produção/reprodução ampliada do capital.
III. Os problemas da organização do espaço geográfico têm relação direta com as categorias de análise central da geografia,
como paisagem, região, espaço, território e lugar, sendo estes, em muitos momentos, adjetivados como meio ambiente.
IV. A produção em série e o consumo de massa, implantados com o New Deal, estão na base da crise pela qual passa a
economia americana nos dias atuais.
São corretas:
153
24. São as principais características do Vale do Silício, nos Estados Unidos:
(A) localizado no oeste dos Estados Unidos, próximo a importantes centros de pesquisa, forma um complexo industrial com
destaque para os ramos típicos da Terceira Revolução Industrial.
(B) também conhecido por cinturão (belt), constitui-se na principal área produtora de cereais dos Estados Unidos, sobretudo
de milho e trigo, além de pecuária intensiva.
(C) formado por erosão glacial, constitui-se numa área de preservação permanente, onde se destacam as faias, as sequoias
e as bétulas, espécies típicas da floresta boreal.
(D) localizado no nordeste dos EUA, constitui-se numa área de antiga concentração industrial, destacando-se as indústrias
de bens de produção pela abundância de matérias-primas, energia e mão de obra e pela facilidade de transporte.
(E) é uma das principais áreas de extração mineral, sobretudo de silício, cobre e ferro, altamente prejudicada pela
degradação do meio ambiente.
GABARITO
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
D C C B E B A A D A E E A A E B B E D D B C D A
154
H
I
S
T
Ó
R
I
A
155
156
HISTÓRIA MILITAR NAVAL Prof. VAGNER SOUZA
ÍNDICE
Índice ................................................................................................................................................. 01
AS NAÇÕES
(Continuação)
5) Grã-Bretanha ................................................................................................................................ 003
6) Alemanha ...................................................................................................................................... 024
7) Japão ............................................................................................................................................. 032
8) Estados Unidos ............................................................................................................................. 039
Artigo: Evolução Tecnológica no Setor Naval na Segunda Metade do Século XIX e as Anx
Consequências para a Marinha do Brasil.
BRASIL
Capítulo I – A Descoberta do Brasil ............................................................................................. 061
1) As Razões da Expansão Marítima ................................................................................................ 061
2) Os Portugueses se Espalham pelo Mundo .................................................................................... 063
3) A América Descoberta .................................................................................................................. 064
4) O Acordo de Tordesilhas .............................................................................................................. 066
5) O Caminho das Índias Decifrado .................................................................................................. 067
6) A Viagem de Cabral ..................................................................................................................... 067
CAPÍTULO IV
AS NAÇÕES
5) Grã-Bretanha:
A Grã-Bretanha teve sempre seu destino ligado ao mar e aos portos e rios
que desde os tempos primitivos abriram suas regiões interiores ao oceano.
Assim, muito antes que aspirasse dominar os mares, a eles esteve sujeita. Dos
povoadores iberos e celtas aos saxões e dinamarqueses, dos comerciantes pré-
históricos e fenícios aos senhores romanos e normandos, sucessivas vagas de
colonos guerreiros, os mais enérgicos homens do mar, agricultores e traficantes
da Europa vieram pelas águas para habitar a Ilha ou para insinuar os seus
conhecimentos e espírito aos antigos habitantes. Entretanto, os primeiros povos
que habitaram a Grã-Bretanha não se notabilizaram no mar. A Inglaterra vivia
então da agricultura e do pastoreio. Seus homens eram pastores e fazendeiros
antes que mercadores ou marinheiros, e antes da conquista normanda, por longo
tempo, nem o Estado nem a Marinha insular estiveram habilitados a defender a
Ilha. Exceto quando protegida pelas galés e legiões romanas, a antiga Grã-
Bretanha esteve, portanto, particularmente exposta à invasão.
Mas se invadir a Grã-Bretanha era extraordinariamente fácil antes da conquista normanda, tornou-se
extraordinariamente difícil depois. A razão é clara. Um Estado bem organizado, com um povo unido em
terra e uma força naval no mar, podia defender-se por detrás do canal contra qualquer superioridade militar.
Assim, nos tempos antigos, a relação da Inglaterra com o mar foi passiva e receptiva e nos tempos
modernos, ativa e adquiridora. Num e noutro caso é a chave de sua evolução.
Nos séculos seguintes à conquista normanda, embora permanecesse a Inglaterra um país sobretudo
agrícola, o adensamento progressivo de uma população de pescadores, marinheiros e mercadores nos
magníficos e inúmeros portos marítimos e fluviais começou a revelar a futura tendência do povo da Ilha.
Essa classe aumentou em prestígio e em riqueza, primeiro em consequência das Cruzadas e depois em
virtude da Guerra dos Cem Anos.
No decurso da longa série de conflitos com a França nos séculos XIV e XV, é curioso observar, tão
cedo na história, que os principais traços da política inglesa já aparecem impostos pela situação do país. A
Inglaterra tinha necessidade da supremacia no mar, na falta da qual não podia continuar o comércio, nem
enviar tropas ao continente, nem se manter em ligação com as tropas já enviadas. Enquanto a superioridade
naval foi mantida, a Inglaterra manteve-se em solo francês, graças à ligação constante com seus exércitos
desembarcados no continente. Todavia, as comunicações foram perturbadas várias vezes pela investida de
marinheiros gauleses e a reação de um país populoso como a França obrigou, no fim da longa luta, os
ingleses a se retirarem. De qualquer forma, o solo britânico se viu a salvo dos ataques inimigos, a não ser
das suas rápidas e pequenas investidas. A verdadeira expansão marítima inglesa começou, porém, mais
tarde e pode ser datada da criação da Marinha Real.
Na realidade, a Inglaterra, em 1485, era ainda um país pastoril. A fonte principal de riquezas
derivava não da construção naval ou da manufatura de têxteis, mas de fazendas de ovelhas, do crescimento
da lã. Os principais mercados para esses produtos eram as ricas cidades dos Países Baixos no estuário do
Reno. Durante a Guerra dos Cem Anos, o canal da Mancha fora defendido, na medida do possível, pelos
combativos marinheiros da frota mercante, lutando, por vezes, separadamente como piratas, por vezes como
em Sluys, sob comando nomeado pelo rei. Henrique V começara a construir uma esquadra real, mas a sua
obra não passara dos primórdios e foi posteriormente descontinuada.
Henrique VII encorajara a Marinha Mercante; no entanto, não armou uma frota exclusivamente para
fins de guerra. Coube a Henrique VIII criar uma armada efetiva de navios reais de combate, com estaleiros
reais em Woolwich e Deptford; fundou também a corporação da Casa da Trindade. A política marítima de
Henrique VIII teve importância dupla. Não só criou navios especialmente tripulados e apetrechados para o
combate em serviço nacional, como também os seus arquitetos navais planejaram muitos desses navios
segundo um modelo aperfeiçoado. Eram veleiros melhor adaptados ao oceano do que as galés a remos das
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potências mediterrâneas, e mais bem adaptadas à manobra em batalha do que os navios redondos do tipo
medieval, a bordo dos quais navegavam os mercadores ingleses, e os espanhóis atravessavam o Atlântico.
Ao mesmo tempo, o descobrimento da América veio incentivar a atividade comercial da Inglaterra.
As Ilhas Britânicas tinham sido, durante a Idade Média, um setor marginal relativamente pouco
importante do mundo civilizado; um país conhecido, no máximo, como fornecedor de lã ou de estanho. É
verdade que já se achavam nas Ilhas as premissas geográficas de seu poderio ulterior; os magníficos portos
marítimos e abundantes portos fluviais, aos quais, durante a maré alta, podiam chegar as embarcações de
maior calado; a técnica perfeita, a experiência naval que os habitantes da costa tinham adquirido em sua
luta contra os elementos e, sobretudo, a esplêndida posição marítima, a coberto dos ataques do continente
e a posição mercantil posteriormente tão elogiada entre os Estados mais progressivos da Europa e as terras
virgens das colônias americanas.
Gradualmente, durante os reinados Tudors, os ingleses perceberam que a sua remota posição insular
se modificara e passara a ponto central, dominando com vantagem as modernas rotas de comércio e de
colonização. O poder, a riqueza e a aventura os esperavam no longínquo termo de viagens oceânicas
fabulosamente longas. A luta pela supremacia comercial e naval sob as novas condições se travaria
claramente entre a Espanha, a França e a Inglaterra; todos esses países estão voltados para o oceano
Atlântico, que subitamente se tornara o principal centro de comunicações do mundo, e cada um deles
encontrava-se em processo de unificação sob um Estado moderno, com consciência étnica agressiva e sob
uma monarquia poderosa. Dessa forma, dos tempos Tudors em diante, a Inglaterra tratou a política europeia
simplesmente como um meio de firmar a sua própria segurança face à invasão e de levar avante os seus
planos ultramarinos. A sua insularidade, convenientemente aproveitada, deu-lhe imensa vantagem sobre a
Espanha e a França na concorrência marítima e colonial.
Com a sua configuração estreita e irregular, com uma linha de costa grandemente recortada, por fim
em paz com seu único vizinho terrestre, a Escócia, bem fornecida de portos, grandes e pequenos, apinhados
de marinheiros e pescadores, o Estado encontrava-se sujeito à influência e às ideias dos homens de comércio
e da armação naval, que formavam uma única classe com as melhores famílias provinciais nos condados
marítimos. Dado que nenhum ponto na Inglaterra se situa a mais de setenta milhas da costa, uma elevada
proporção dos seus habitantes tinha algum contato com o mar, ou pelo menos com as populações marítimas.
Acima de tudo, Londres está sobre o mar, ao passo que Paris está no interior e Madri fica o mais distante
possível da costa. Por conseguinte, na Inglaterra, embora a população total fosse pequena em comparação
com a francesa ou a espanhola, havia uma grande comunidade marítima acostumada há séculos a sulcar as
tempestuosas vagas do mar no Norte. Em breve, os representantes da comunidade marítima inglesa
começaram a estender o raio de ação de suas atividades, já agora contando com a proteção da Marinha de
Guerra Real, construída e armada segundo princípios modernos, e que dava apoio profissional aos esforços
guerreiros de mercadores e piratas particulares.
A fim de encontrar saída para a nova manufatura têxtil, os mercadores aventureiros da Inglaterra,
desde o princípio do século XV, procuraram vigorosamente novos mercados na Europa, não sem o
constante derramar de sangue, por mar e por terra, numa época em que a pirataria era tão geral que
dificilmente podia ser considerada desonrosa e em que os privilégios comerciais eram frequentemente
recusados e conquistados ao gume de espada. Com o fito de aproveitar uma situação vantajosa, foram
fundadas, com o apoio da Coroa, várias companhias de comércio, e, naturalmente, a Marinha Mercante
inglesa teve forte impulso. Assim, de 76 navios com mais de cem toneladas, que a Grã-Bretanha dispunha
em 1560, o número subiu a 177 em 1582, quase todos pertencentes às quatro principais companhias: a das
Índias, a do Levante, a de Moscou e a da Guiné.
Lado a lado com as mais guerreiras empresas de Drake, roubando aos espanhóis e abrindo o
comércio com as colônias pela força dos canhões, também houve muito tráfego de caráter mais pacífico na
Moscóvia, na África e no Levante (mar Negro). No entanto, era impossível traçar uma clara linha divisória
entre os comerciantes pacíficos e os guerreiros, porque, por seu lado, os portugueses atacavam todos os que
se aproximavam das costas africanas ou indianas. Não raras vezes, na costa africana, repercutiu o estrépito
da batalha entre os contrabandistas ingleses e os monopolizadores portugueses, e, para o fim do reinado de
Isabel I (Elizabeth I – A Rainha Virgem), os mesmos ruídos começaram a quebrar o silêncio dos mares
1
A diferença entre o pirata e o corsário era apenas que o segundo tinha autorização de um Estado para suas ações, tendo
obrigações com este Estado de partilha dos bens pilhados ou no cumprimento de uma missão em nome do rei.
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Quando na época Stuart, a riqueza acumulada e a população supérflua da Inglaterra lhe permitiram
retomar a obra colonizadora, dessa vez em paz com a Espanha, o rumo dos puritanos e outros imigrantes
levou-os necessariamente às paragens setentrionais da América onde não se encontravam espanhóis.
Enquanto a Marinha espanhola exerceu o exclusivo domínio do Mar das Caraíbas, do oeste do
Atlântico e do leste do oceano Pacífico, nenhuma ocupação britânica foi possível, quer nas Índias
Ocidentais, quer no litoral da América do Norte. Enquanto a Marinha portuguesa dominou o Atlântico Sul
e o oceano índico, o comércio com o Oriente pela rota do Cabo esteve fora de questão. Ao ser destroçado
em conjunto o poderio naval peninsular na guerra que depois da derrota da Armada continuou até 1604,
ficaram abertas ambas, a leste e a oeste, ao comércio inglês e à colonização. Entretanto, por falta de apoio
do Estado, a expansão marítima comercial da Grã-Bretanha não atingiu, nos primeiros anos do século XVII,
toda a pujança de que já era capaz; houve mesmo um período de retrocesso durante o reinado de Jaime I, o
único rei Stuart que desprezou totalmente a Marinha.
Os conflitos entre a Inglaterra e a Espanha diminuíram em 1603, com a morte da rainha Isabel e a
ascensão ao trono de Jaime I, também rei da Escócia e filho de Maria Stuart (que havia sido assassinada
pela prima, a rainha Isabel). Hipnotizado pelo mito espanhol, mais do que Isabel, Jaime logo selou aliança
com o inimigo da véspera. Fazendo isso, abandonou a luta pela independência dos holandeses e lançou
as sementes para futuras hostilidades entre a Inglaterra e a Holanda.
A Inglaterra continuava a ser uma comunidade marítima, mas durante trinta anos deixou de ser uma
potência naval. A incúria com a Marinha anulou alguns dos efeitos benéficos da paz com a Espanha. Os
termos do tratado que encerrou a guerra isabelina davam aos mercadores ingleses liberdade de comércio
com a Espanha e com as suas possessões na Europa, mas não mencionavam as pretensões dos marítimos
isabelinos no tráfego com a América Espanhola e com as regiões monopolizadas por Portugal na África e
na Ásia. O governo inglês não continuou a apoiar tais pretensões e deixou decair a Marinha Real, ao passo
que procurava com toda a sua força não consentir na pirataria. Nestas circunstâncias, prosseguiu a guerra
privada com os espanhóis e portugueses, sem o auxílio do Estado.
Durante o próprio reinado de Jaime I, a Companhia Inglesa das Índias Orientais fundou uma frutuosa
feitoria em Surate e no reinado de Carlos I edificou a fortaleza de São Jorge, em Madrasta, e ergueu outras
feitorias em Bengala. Tais foram as humildes origens comerciais do domínio britânico na Índia. Mas de
início esses comerciantes das Índias Orientais não eram apenas feitores: destruíam o monopólio português
pela ação diplomática nas cortes dos potentados gentios ou pela metralha dos navios no mar.
Mas o desfecho da luta contra a supremacia marítima da Holanda não foi decidido antes dos
primórdios do século XVIII. Já há muito, no reinado de Ricardo II, os Parlamentos tinham promulgado Leis
de Navegação, a fim de limitarem a entrada de navios estrangeiros nos portos ingleses, mas devido à
escassez da Marinha inglesa, não foi possível fazê-las cumprir. A situação mudou durante a ditadura de
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Cromwell. O “Ato de Navegação” votado em 1651 pelo Longo Parlamento, por proposição de Cromwell,
e que foi designado pelo nome de Magna Carta da Marinha Inglesa tinha um duplo fim: arruinar o poderio
comercial holandês e por conseguinte desenvolver a Marinha inglesa.
Pelo Ato de Navegação, as mercadorias procedentes dos países extra
europeus e desembarcadas na costa inglesa deveriam ser importadas em
navios de construção e de proprietário inglês ou comandado por comandante
inglês. Pelo menos três quartos das tripulações deveriam ser formados de
marinheiros ingleses. Além do mais, reservavam-se exclusivamente aos
navios ingleses as cabotagens, a relação entre as colônias e as comunicações
entre a Inglaterra e suas colônias. O comércio de importação das mercadorias
europeias não foi permitido senão aos ingleses e aos navios dos países de
origem, isto para evitar os intermediários holandeses. Essas medidas tiveram
por efeito imediato um aumento da navegação britânica e por conseguinte
estimularam a fabricação dos navios. O próprio Estado contribuiu largamente,
encorajado pelos preços dos grandes armadores e dos importadores de trigo,
o que permitiu aos primeiros desenvolver uma grande atividade. Para que os
armadores pudessem facilmente recrutar as tripulações necessárias aos seus
navios, os órfãos foram obrigados a se tornarem marinheiros, facilitou-se a
Carlos I
naturalização de marinheiros estrangeiros, prometeram-se auxílios aos
marinheiros velhos ou doentes, às viúvas e aos órfãos dos desaparecidos no
mar.
Para dar confiança ao público e levar os armadores a aumentarem as frotas mercantes, esquadras
poderosas faziam a política dos mares, e mediante um pagamento módico, um engenhoso sistema de seguro
protegia os negociantes contra todo acidente. Bem cedo os estaleiros nacionais eram impotentes para
atender ao ritmo sempre crescente do tráfego marítimo.
O “Ato de Navegação" foi dessa forma um repto a todas as navegações marítimas e em especial uma
declaração de guerra lançada aos holandeses. O conflito declarado entre as duas potências marítimas
começou em 1653, e, apesar do valor de seus marinheiros, a Holanda foi vencida depois de quase dois anos
de guerra. A Holanda sofreu mais do que a Inglaterra, porque possuía menos recursos em terra e porque,
pela primeira vez, desde que constituía uma nação, defrontava uma potência hostil que bloqueava o canal
da Mancha às frotas mercantes que lhe traziam de longe a vida e a riqueza.
As alterações profundas surgidas na política interna da Grã-Bretanha após a morte de Cromwell já
não mais afetaram o desenvolvimento marítimo do país. A corte e o Parlamento da Restauração aceitaram
as tradições de esquadra de guerra da República. Carlos II e seu irmão Jaime mostraram interesse pessoal
pelas questões navais e o Almirantado continuou a ser bem servido. O Parlamento Cavalheiro e o Partido
Tory consideravam a Marinha com especial favor.
Em breve eclodiu outra guerra marítima com a Holanda, o reacender da luta entre as duas
comunidades mercantes, iniciada durante a República. Por ambos os contendores ela foi conduzida com as
mesmas esplêndidas qualidades de perícia naval combativa e na mesma escala colossal da primeira vez. De
novo a nação maior levou a melhor na guerra, e, pelo Tratado de Breda, a Holanda cedeu Nova Amsterdã
à Inglaterra que passou a chamar a cidade de Nova York.
Ainda mais uma vez, em 1672, a Inglaterra, aliando-se à França, entrou em luta contra a Holanda,
mas dela se retirou um ano e meio após. O Parlamento Cavalheiro acabara por compreender que essa guerra,
bem analisada, não era a continuação da antiga luta entre a Inglaterra e a Holanda pela supremacia naval.
O desaparecimento da Holanda como potência independente encerraria em si a ameaça à segurança
marítima inglesa, porque o delta do Reno cairia nas mãos da França. A França também era um concorrente
marítimo, potencialmente até mais formidável do que a Holanda, e caso se estabelecesse em Amsterdã,
rapidamente poria fim à supremacia naval inglesa.
A partir das guerras anglo-holandesas, a política externa da Inglaterra caiu cada vez mais sob a
influência de considerações mercantis. No fim do período Stuart, a Inglaterra era a maior nação
manufatureira e comercial do mundo. Londres ultrapassara Amsterdã como o maior empório mundial.
Havia um comércio próspero com o Oriente, o Mediterrâneo e as colônias americanas, baseado na venda
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de artigos têxteis ingleses, cujo transporte até o outro lado do globo se efetuava nos grandes navios de
navegação oceânica dessa nova era. Já então as classes governantes estavam resolvidas a gastar o que fosse
necessário na Marinha e o mínimo no Exército.
Ao período da guerra mercantil anglo-holandesa sucedeu o da luta sustentada entre a Inglaterra e a
França pela hegemonia do mar, bem como para manter o equilíbrio europeu. Essa série de guerras,
conhecidas como a segunda guerra dos cem anos perdurou, nos mares, até a batalha de Trafalgar, em 1805,
e, em terra, até Waterloo dez anos depois. Na realidade, o conflito consistiu de sete guerras, separadas umas
das outras por pequenos intervalos de paz indecisa. Cada vez mais se começaram a perceber, especialmente
depois que o gênio iluminado de Pítt tornou claro o fato, que o objetivo supremo era o senhorio dos mares
e a manutenção do império nele baseada.
Desde a guerra dos Trinta Anos o Estado francês, sob a enérgica direção de Richelieu, havia
robustecido seu poder em tais condições, que já podia intervir com probabilidade de êxito nos mares. Tinha-
se apropriado de ricas possessões coloniais, e uma poderosa frota estava disposta a defender o comércio
ultramarino. O conflito entre as duas grandes potências europeias em ascensão tornou-se inevitável. A
primeira guerra da longa série foi a chamada da Liga de Augsburgo, que durou de 1689 a 1697. Graças à
eficiente Marinha criada por Colbert, no início a vitória sorriu às armas francesas. Em 1690, a Esquadra
francesa, sob o comando de Tourville, derrotou a frota aliada anglo-holandesa na batalha de Beachy Head,
mas a vitória não foi devidamente aproveitada. Os cortesãos da terrestre Versailles não tinham o sentido da
oportunidade naval que raras vezes faltou aos estadistas que atentavam ao fluxo e refluxo do mundo através
das marés que batem o Tâmisa.
Dois anos depois, os aliados triunfaram sobre Tourville na batalha naval de La Hougue. La Hougue
mostrou-se tão decisivo quanto Trafalgar, porque Luiz XIV, tendo desafiado com sua política grosseira e
arrogante toda a Europa para uma guerra terrestre, não conseguiu manter a Marinha francesa à altura de
suas necessidades, devido ao esforço despendido com os exércitos e fortalezas necessários à defesa
simultânea de todas as suas fronteiras terrestres. A superioridade temporária da Marinha de Guerra francesa,
em 1690, resultara da política bélica da corte e não se fundara no mesmo grau que as marinhas da Inglaterra
e da Holanda em recursos proporcionalmente elevados de navegação mercantil e riqueza comercial.
Quando, portanto, a política guerreira de Luiz XIV o induziu a descuidar-se da Marinha, a favor das forças
terrestres, o declínio naval francês precipitou-se e tornou-se permanente, com o que sofreram o comércio e
as colônias francesas.
Os marinheiros da França, quando a sua grande esquadra deixou de ter missão a cumprir, voltaram
as suas energias para a pirataria. O Almirante Tourville foi eclipsado por Jean Bart. O comércio inglês
sofreu com a sua ação e a dos outros corsários, mas prosseguiu a despeito desses entraves, ao passo que o
comércio francês desapareceu dos mares. Ao se fecharem as fronteiras da França, devido à posição de
exércitos hostis, essa nação teve de passar a sustentar-se dos seus próprios recursos decrescentes, enquanto
a Inglaterra se abastecia em todo o mundo, desde a China a Massachusetts. Assim, em paralelo com o
desenvolvimento da Inglaterra deu-se a decadência marítima e financeira da França.
A Guerra da Liga de Augsburgo terminou pelo indeciso
Tratado de Ryswick. Após um intervalo difícil de quatro anos,
estalou de novo em escala ainda mais ampla a Guerra de
Sucessão da Espanha, que terminou com o Tratado de Utrecht
em 1713. Esse tratado, que abre o período estável e
característico da civilização do século XVIII, assinala o advento
da supremacia marítima, comercial e financeira da Grã-
Bretanha.
A primeira condição de guerra vitoriosa contra Luiz
XIV, quer no mar, quer em terra, era a aliança da Inglaterra e da
Holanda. A colaboração apresentava-se menos difícil porque a
inveja comercial da Inglaterra pela Holanda diminuía à medida
que os navios holandeses baixavam ante os recursos pela
primeira vez mobilizados de seu aliado.
Ao recomeçar a guerra em 1803, depois da pequena trégua resultante do Tratado de Amiens, a França
procurou não disputar a hegemonia naval, mas obter uma superioridade momentânea no canal da Mancha,
que permitisse a transposição do exército de 150 mil homens reunidos em torno de Boulogne. Napoleão
engendrou vários planos visando reunir diversas esquadras francesas e espanholas bloqueadas em Brest,
Rochefort, Cádiz, La Coruña e Toulon, mas tudo desabou com a esmagadora derrota de Trafalgar.
Após 1870, tanto a Alemanha como a Itália começaram a construção de navios, embora as respectivas
atividades não causassem alarma até próximo ao fim do século. As crescentes marinhas dos Estados Unidos
e do Japão, também, a princípio, não causaram inquietação.
A partir de 1897, von Tirpitz, apoiado pelo Kaiser, deu início ao grandioso programa naval alemão.
O alto nível alcançado pela indústria germânica bem cedo fez ver que uma nova potência ia surgir nos
mares. A Inglaterra se alarmou ante essa possibilidade e começou a grande corrida armamentista naval
entre as duas nações. Ao deflagrar a Primeira Guerra Mundial, a Alemanha dispunha da segunda Marinha
de Guerra do mundo, e sua frota de comércio crescia cada ano mais, levando os produtos germânicos a
todos os cantos da Terra. A Alemanha manteve-se, contudo, na defensiva nos mares ante a superioridade
da Marinha Real aliada às Marinhas francesa, russa e italiana. A supremacia na superfície dos mares pela
Grã-Bretanha e seus aliados se deu realmente desde o princípio mais absoluto do que fora em qualquer
guerra precedente. Ao romperem as hostilidades, a Alemanha tinha para mais de dois mil navios a vapor e
cerca de três mil navios à vela empregados no comércio. Em poucas semanas, cada um deles fora capturado
ou internado, e durante o decorrer dos quatro anos de guerra nenhum voltou a navegar como navio mercante.
O imenso e lucrativo comércio exterior da Alemanha foi inteiramente eliminado. A Alemanha teve, é
verdade, um novo e poderoso poder no submarino. O submarino era, e ainda é, um mero instrumento de
destruição. Ele foi completamente incapaz de fazer qualquer coisa para reviver o extinto tráfego da
Alemanha.
Comparadas ao bloqueio inglês dos Impérios Centrais e à campanha submarina alemã, as outras
operações navais de guerra foram relativamente insignificantes, pouco ou nada contribuindo para o
desenrolar do conflito. A Frota Alemã de Alto Mar nunca se atreveu a um teste decisivo e perdeu
oportunidade após oportunidade para influir decisivamente nos acontecimentos. A fuga do Goeben e do
Breslau no Mediterrâneo, a escaramuça ao largo de Heligoland (agosto de 1914), a batalha de Coronel
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(novembro de 1914) com a sua sequência ao largo das Ilhas Falklands (dezembro de 1914), a caça ao largo
de Dogger Bank (janeiro de 1915), a longa e penosa aventura dos Dardanellos (abril de 1915-janeiro de
1916), todos foram meros episódios dramáticos e espetaculares, custosos mas indecisos.
Depois de a Grã-Bretanha, a França, a Alemanha, a Rússia e a Áustria-Hungria estarem engajadas, a
Turquia entrou na guerra, em outubro de 1914, ao lado dos impérios centrais (Alemanha e Áustria-
Hungria). As frentes estavam paralisadas, tanto a ocidental quanto a oriental. Foi nessa oportunidade que a
Rússia pediu socorro a seus aliados ocidentais, França e Grã-Bretanha. A pressão austro-alemã na frente
oriental era grande. Além disso, os turcos invadiram o Cáucaso, obrigando a Rússia a mais um esforço
defensivo naquela área. Assim, pressionados, os russos necessitavam de apoio logístico, especialmente
munições e precisavam também escoar sua produção de cereais, que tinham em excesso desde que os turcos
lhes fecharam o estreito de Dardanelos para exportações.
Decidiu-se apoiar à Rússia pelos Dardanelos, afastando-se todas as demais hipóteses de alcançá-la
pelo mar. A tarefa de coube, porém, exclusivamente à marinha. Winston Churchill, então primeiro lorde do
Almirantado, entusiasmara-se com a ideia de chegar à Rússia pelo estreito de Dardanelos. Os Aliados
fizeram inúmeras tentativas. Os turcos haviam minado o estreito e fortificado suas margens sob a orientação
de um general alemão, Von Saunders.
Os aliados perderam ali alguns navios, até que
perceberam que não podiam tomar os Dardanelos
apenas com navios, porque navios nunca tomaram
posição alguma de terra. Quando, depois de
empregarem até navios novos – como foi o caso dos
super-dreadnoughts classe Queen Elizabeth – o que
resultou no pedido de demissão de lorde Fisher, os
aliados decidiram usar tropas de terra, já sendo tarde
demais. Uma das margens do estreito de Dardanelos
era na península de Galípoli, onde o desastre foi
completo. Tudo aconteceu ao contrário do que se
pretendia. A Turquia (Império Otomano) fortaleceu-se
e a Bulgária entrou na guerra a favor das potências
centrais. Tudo porque se empregou erradamente
o poder naval. Tudo porque os partidários de uma
rígida estratégia terrestre não quiseram renunciar a suas Super-Dreadnought “Queen Elizabeth”
convicções. O mau emprego dos navios resultou numa
custosa lição.
O grande revés experimentado pelos Aliados com a campanha de Constantinopla, como também
ficou conhecida a Campanha dos Dardanelos, foi seguida de uma gigantesca batalha naval, a maior do
mundo até então, a Batalha da Jutlândia (também chamada de Skagerrak pelos alemães). A batalha da
Jutlândia (31/05/1916), de longe a mais considerável ação naval da guerra, poderia bem ter sido decisiva,
mas não o foi. Na verdade, Jutlândia foi seguida por dois anos e meio de agonia desnecessária. No fim,
porém, o poderio naval teve sua parte decisiva, derrotando a campanha submarina, assegurando o trânsito
seguro das forças inglesas e americanas, conservando abertas todas as comunicações aliadas.
A estratégia marítima britânica envolvia uma atividade principal: o bloqueio do inimigo. Esse
bloqueio, muitas vezes furado, não conseguiu impedir que um perigosíssimo elemento aparecesse no
cenário da guerra naval: o submarino.
O submarino era uma arma obscura. Ninguém conhecia exatamente seu valor. Nunca havia sido
experimentado em larga escala. Era conhecido apenas como um navio adequado para a defesa dos portos.
O submarino era, exclusivamente, um navio de emprego defensivo. Sem condições de alcançar cedo uma
vitória que pretendiam obter sobre a França com seis semanas de guerra, os alemães voltaram-se tenazmente
contra os Aliados no mar, especialmente contra a Grã-Bretanha, lançando as campanhas submarinas.
Ao começar a guerra, os ingleses tinham 64 submarinos, os franceses, 73, e os alemães, 23. Quando
a guerra terminou, os alemães haviam construído mais de 800 submarinos, o que mostra a importância que
deram a este tipo de navio. A primeira campanha submarina foi em 1915; a segunda, em
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1916. Ambas, porém, foram restritas, isto é, tinham como objetivo os navios mercantes inimigos,
preferencialmente aos de guerra, quando em águas declaradas como zona de guerra. Dentre os navios
afundados, no entanto, contavam-se frequentemente navios neutros, o que gerava protestos diplomáticos.
A guerra restrita dava poucos resultados, considerando-se, sobretudo, o abuso de bandeiras neutras por
parte dos ingleses.
Por fim, em 1917, o Imperador da Alemanha, Guilherme II, proclamou a campanha submarina
irrestrita. Os alemães afundariam os navios mercantes de qualquer nacionalidade que navegassem na zona
de guerra em torno das ilhas britânicas. Os alemães pretendiam liquidar com a economia inglesa e fazer o
povo inglês padecer de fome, já que a Grã-Bretanha importava alimentos em grande quantidade. Os alemães
calculavam que, em 1917, a comida era transportada para a Grã-Bretanha por 10.750.000 toneladas de
navios mercantes, dos quais dois terços era ingleses. Os alemães pretendiam afundar uma média de 600.000
t de navios mercantes por mês, fazendo com que em pouco tempo a Grã-Bretanha passasse fome. Tudo
teria dado excelente resultado para os alemães, não fossem estudos novos que se fizeram sobre o tráfego
marítimo.
Verificou-se o seguinte: o tráfego no canal da Mancha, realizado em comboio, trazia o índice de
apenas cinco afundamentos em 2.600 viagens, o que significa apenas 0,19% de perdas; nas viagens para a
Noruega, com o uso de comboio, as perdas eram da ordem de 0,24%, enquanto sem comboio elevavam-se
a 25%. Tais resultados induziam ao uso do comboio como medida geral a ser adotada para o
tráfego marítimo durante a guerra.
O Almirantado britânico, contudo, reagia à ideia, fundamentando-se em argumentos aparentemente
razoáveis como:
a) a velocidade do comboio teria que ser reduzida em função do navio mais lento, o que aumentaria
demasiadamente a demora nas travessias;
b) os portos ficariam congestionados em face da chegada simultânea de um número grande de navios
para as operações de carga e descarga;
c) a viagem em grupo aumentava os riscos de colisão e de consequente perda de navios;
d) o emprego de navios de guerra para a cobertura dos comboios retirá-los-ia de missões ofensivas,
com prejuízo para o desenvolvimento das operações navais.
Os oficiais partidários do comboio contra-argumentaram e por fim viu-se que tinham razão, pois:
a) os comboios poderiam ser agrupados de modo a se comporem de navios com velocidade
aproximadamente igual; os muito lentos viajariam escoteiros (isolados); assim, não haveria substancial
prejuízo na rapidez das viagens;
b) a chegada programada, em certa data, de um comboio de navios, permitiu melhor planejamento e
execução das operações de carga e descarga do que a vinda aleatória de navios escoteiros, impossibilitados
de prevenir sua chegada ao porto, por terem que manter silêncio-rádio;
c) os comandantes de navios mercantes mostraram-se hábeis em manter a posição de seus navios em
formatura;
d) a missão de comboio requisitou poucos navios para escolta, muito menos do que se imaginava,
geralmente 5% dos navios engajados em missões operativas, nunca ultrapassando a porcentagem de 15%
destes.
A vitória do emprego do comboio deveu-se, sobretudo, ao Almirante Sims, da US Navy, que tratava,
em Londres, do apoio dos Estados Unidos à Grã-Bretanha. Sims exigiu do Almirantado britânico
a adoção do comboio, pressionando-o a aceitar tal solução, pela qual se entusiasmara ao tomar
conhecimento dos estudos realizados, em função da substancial ajuda que os americanos começavam a
prestar com sua entrada na guerra.
O comboio foi a salvação do tráfego marítimo inglês. Todas as outras contramedidas mostraram-se
fracas em comparação a esta. Depois de usarem minas, redes, hidrofone, mercantes armados, navios-
armadilha (Q-ships), carga de profundidade e comboio, tudo contra os submarinos, apareceu a grande
novidade da época, o avião, também usado em larga escala na proteção à navegação mercante. No final da
guerra, 565 aviões, hidraviões e zepelins apoiaram comboios (últimos seis meses do conflito). Voaram uma
média de 14 mil horas por mês, marca somente ultrapassada em meados de 1943, na Segunda Guerra
Mundial. Tais equipamentos aéreos avistaram 28 submarinos inimigos e atacaram 19. Embora não tenham
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alcançado nenhum afundamento, seu caráter pioneiro foi brilhante, marcando o início de uma tática
antissubmarina que se desenvolveria mais tarde no segundo grande conflito do século. Dentre as centenas
de comboios com proteção aérea e de superfície, apenas seis foram atacados, com cinco afundamentos.
Em 11 de novembro de 1918, a Grande Guerra acabou, e, pouco depois, toda a frota alemã se rendeu;
dezenove encouraçados, cinco cruzadores de batalha, dezesseis cruzadores ligeiros, noventa e dois
contratorpedeiros, cinquenta torpedeiros e cento e cinquenta e oito submarinos. Nessa mesma época, a Grã-
Bretanha dispunha de quarenta e nove navios de linha, oitenta e oito cruzadores de vários tipos e para mais
de trezentos contratorpedeiros. Nunca antes fora tão esmagador o domínio dos mares pela Inglaterra, como
em fins de 1918.
Rapidamente, após a guerra, a Grã-Bretanha recuperou a primazia da Marinha Mercante que
perdera, por efeito da campanha submarina, para a crescente frota de comércio dos Estados Unidos. Em
1925, a Grã-Bretanha já estava com sua frota mercante inteiramente restaurada e voltou a participar do
tráfego mundial mais ou menos na mesma proporção de antes da guerra. Além de atender às permutas do
vasto Império, a Marinha de comércio inglesa cobria deficiências de transporte em regiões afastadas de
todo o mundo. Nos portos brasileiros, argentinos, chilenos, chineses e etc, era a bandeira do Reino Unido
a mais vista; 35% das exportações americanas eram feitas em porões ingleses. Já não era, entretanto, a Grã-
Bretanha a única potência marítima, nem permitiam mais seus recursos financeiros manter a supremacia
absoluta, conservada por cerca de duzentos anos. Entre as duas guerras, ela procurou nas conferências de
desarmamento salvaguardar sua posição, mas foi obrigada a aceitar a paridade naval com os Estados
Unidos.
A par disso, outras potências navais surgiram ameaçadoras: a Itália, no Mediterrâneo, e o Japão, no
extremo Oriente, se bem que contrabalançados pelas Marinhas francesa e americana, respectivamente.
O governo inglês, preocupado com um possível desenvolvimento da marinha de guerra germânica,
iniciou negociações secretas com os alemães, sem qualquer consulta à França. Em 18/06/1935, a Europa
soube, estarrecida, que Londres permitia aos nazistas a construção de uma frota de alto-mar equivalente a
1/3 da marinha britânica, com uma proporção ainda maior de submarinos. Tal acordo equiparava a força
naval alemã à francesa. A notícia provocou em Paris uma profunda irritação contra os ingleses, que haviam
agido em função de seus interesses exclusivos e abandonado a França, diante de uma Alemanha cada vez
mais poderosa. Ressentidos com os britânicos, os franceses procuraram então se aproximar da Itália, como
um meio de barrar o caminho à Alemanha.
Mussolini aceitou com entusiasmo a mão que a França lhe estendia, o que vinha servir seus planos
imperialistas. O Fascismo consolidara-se internamente, e a população italiana atingira um nível de
prosperidade material até então jamais alcançado.
Entretanto, a própria psicologia do fascismo obrigava os dirigentes a estimularem constantemente o
povo, conservando-o sempre excitado, a fim de manter o prestígio de Mussolini. O Duce queria evitar que
a população italiana se habituasse à rotina, diminuindo o apoio ruidoso que lhe prestava e que afagava sua
volúpia de poder. Devido a seu temperamento, era um líder que precisava de grandes gestos e de atos
igualmente grandiosos, para alimentar sua enorme vaidade. Embora houvesse feito uma administração de
incontestável valor na Itália, isso não lhe bastava. Sua concepção histórica impelia-o a imitar Júlio Cesar,
fazendo-o entrar, também, para a galeria dos grandes homens, sob o tríplice rótulo de administrador,
estadista e conquistador.
Desde que começou a Segunda Guerra Mundial, o principal esforço da Alemanha no mar foi
orientado no sentido de cortar as ligações oceânicas do Império Britânico, recorrendo principalmente à
arma submarina e à aviação. A Batalha do Atlântico, que começou no primeiro dia da guerra, foi assim a
campanha naval chave de todo o conflito. Seu desenrolar não pôde ser determinado pelos resultados de um
encontro decisivo, mas pelas listas anotadas numa folha onde figuravam navios perdidos em face de navios
construídos, navios afundados em face de submarinos alemães destruídos. Referindo-se à Batalha do
Atlântico, assim se expressou Winston Churchill: "A única coisa que sempre me atemorizou realmente
durante a guerra foi o perigo dos submarinos. A nossa linha vital mesmo através dos amplos oceanos e
particularmente nas entradas para a Ilha estava em perigo. Sentia-me ainda mais ansioso a respeito dessa
batalha do que me sentira a respeito da gloriosa luta aérea chamada Batalha da Grã-Bretanha”.
Em fins de maio de 1939, era assinado o "Pacto de Aço" entre a Itália e a Alemanha. Seu primeiro
artigo especificava que as duas potências se manteriam em contato permanente e concordariam em todos
os assuntos de interesse comum; o artigo terceiro estipulava que, se uma das partes contratantes se envol-
vesse em uma ação militar, a outra devia auxiliá-la com todas as suas forças. Em 11 de agosto, Ribbentrop
anunciava ao Conde Ciano que a Alemanha atacaria a Polônia e lhe solicitava a aplicação do pacto. Os
italianos, não tendo sido consultados previamente, poderiam prevalecer-se do artigo primeiro do pacto para
sofismarem sobre o terceiro. Preferiram, entretanto, agir dentro do espírito do "Memorando Cavallero": a
entrada em guerra três anos antes do que haviam previsto pegava-os desprevenidos.
Em 25 de agosto, Mussolini telegrafava a Hitler dizendo-lhe que a Itália não podia entrar em
campanha, a menos que recebesse uma ajuda substancial em dinheiro e materiais, inclusive combustíveis.
Attolico, embaixador italiano em Berlim, fez ver que a liberação de tais matérias, devia ser imediata, prece-
dendo mesmo a entrada em guerra. No mesmo dia, Hitler respondia que não tinha condições de atender
imediatamente tais exigências. Dizia também que compreendia a situação da Itália e lhe pedia simplesmente
que operasse deslocamentos de tropas com o fim de reter junto a suas fronteiras forças franco-britânicas.
Uma nova troca de mensagens confirmou a neutralidade italiana com a aquiescência de Hitler. A
manobra da Itália poderá ser taxada de oportunista, mas na verdade, como hoje se sabe, era bastante grave
o despreparo de seu Exército, o que justificava sua atitude. A Itália proclamou, então, sua não beligerância,
termo que, para Mussolini, significava neutralidade, favorável à Alemanha. Durante a guerra, os italianos
passariam da não beligerância à guerra contra os Aliados, depois à co-beligerância, ou guerra ao lado destes.
Apesar do termo inquietante de não beligerância, a posição tomada pela Itália em setembro de 1939
nos foi extremamente favorável.
A Espanha, extenuada pela guerra civil e inquieta com o pacto de não agressão germano-russo,
encontrava na decisão da Itália uma razão suplementar para não entrar na luta e proclamou sua neutralidade.
No Mediterrâneo Oriental a situação era ainda melhor. A Turquia, ao contrário do que acontecera em 1914,
era francamente favorável aos Aliados e, em 19 de outubro, foi assinado um tratado entre a Turquia, a
França e a Grã-Bretanha, dando garantias à Grécia e à Romênia, o que foi seguido por contatos entre os
estados-maiores. Assim, todas as costas do Mediterrâneo estavam neutras ou se encontravam sob o domínio
da França ou da Grã-Bretanha. A guerra começava nesse teatro nas condições mais favoráveis, apesar da
necessidade de que tinham as duas potências de manter aí forças de segurança.
Durante muitos anos os estados-maiores franceses haviam tido no primeiro plano de suas
preocupações o transporte rápido de tropas da África do Norte para a metrópole. A Marinha, a quem cabia
grande responsabilidade, havia estudado a questão em todas as suas formas e previsto todas as
eventualidades. As turmas da Escola de Guerra Naval estavam todas dedicadas a este problema e uma
grande parte dos exercícios da Esquadra tinha como motivo o tema da passagem. Tudo se tornou fácil pela
neutralidade da Itália e a impotência das forças navais alemãs.
No começo da guerra, a Alemanha dispunha essencialmente de dois encouraçados - Scharnhost e
Gneisenau; três encouraçados de bolso; três cruzadores pesados; cinco cruzadores ligeiros; uns cinquenta
contratorpedeiros e cinquenta e sete submarinos, dos quais somente vinte e seis eram capazes de agir fora
do Mar do Norte. As forças de superfície alemãs não podiam penetrar no Mediterrâneo devido a sua inferio-
ridade e os submarinos tinham muito que fazer no Atlântico.
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Além do mais, em 7 de setembro, Hitler ordenava aos submarinos alemães que não empreendessem
nenhuma ação ofensiva contra os navios franceses. Ele esperava, então, que a França, após a derrota da
Polônia, aceitasse uma paz de compromisso. Tal ordem foi revogada em 23 de setembro, mas a Marinha
alemã não enviou submarinos ao Mediterrâneo. Somente no verão de 1941 os primeiros U-Boot transporão
Gibraltar.
Assim, a situação do Mediterrâneo em 1939 se apresentava o mais favoravelmente possível. A França
e a Grã-Bretanha puderam destacar para o Atlântico uma grande parte das forças reservadas para combater
a Itália. Somente alguns navios leves, participando do bloqueio, asseguravam a proteção ao tráfego
marítimo no Mediterrâneo contra eventuais corsários inimigos.
Por outro lado, a estratégia aliada pretendia, em longo prazo, realizar uma intervenção nos Bálcãs,
onde a diplomacia preparava o terreno. Ao mesmo tempo, uma divisão argelina foi enviada à Síria. A
manobra de alas, bastante empregada pelos chefes franceses, baseava-se na certeza da cristalização da frente
nordeste, o que infelizmente estava errado. A neutralidade da Itália, que deixava aos Aliados o domínio
inconteste do Mediterrâneo, permitia conceber grandes planos para o futuro, esperando-se conservar as
margens desse mar.
A conservação da supremacia do Atlântico pelos britânicos, a
despeito das forças aéreas e marítimas do Eixo, durante os dois
terríveis primeiros anos de guerra, conta-se entre os feitos mais
extraordinários da História. O principal problema naval das nações
unidas na Segunda Guerra Mundial foi, até pelo menos o meio do
ano de 1943, o de achar um número de navios de guerra para
assegurar a proteção conveniente da navegação comercial.
Ante a destruição gigantesca sofrida pelas marinhas de
comércio aliadas, as disponibilidades de navios de transporte
tornaram-se o fundamento da estratégia de guerra aliada. Os aliados Navio mercante torpedeado
perderam quatro milhões de toneladas de barcos mercantes em 1940
e mais de quatro milhões em 1941.
Em 1942, foram postos a pique quase 8 milhões de toneladas
da navegação aliada, então já aumentada depois que os Estados
Unidos se tinham tornado aliados. Submarino Alemão (U-Boat)
Até fins de 1942, os submarinos afundaram navios mais depressa do que os aliados podiam construí-
los. Em começos de 1943, o nível das novas tonelagens foi subindo nitidamente, e as perdas diminuíram.
Antes do fim daquele ano, a nova tonelagem havia finalmente ultrapassado as perdas marítimas oriundas
de causas diversas.
O segundo semestre presenciou, pela primeira vez, as perdas de submarinos excederem a sua
capacidade de poderem ser substituídos. Logo viria o tempo em que seriam afundados no Atlântico mais
submarinos do que navios mercantes. “A Batalha do Atlântico", afirmou ainda Winston Churchill, foi o
fator dominante durante toda a guerra. Jamais podíamos esquecer que tudo que acontecesse algures, em
terra, no mar ou no ar, dependia em última instância do resultado daquela batalha, e, em meio a todas as
outras preocupações, considerávamos os seus altos e baixos, dia a dia presos de esperança ou apreensão.
No Mediterrâneo, área de grande importância estratégica e econômica devido ao canal de Suez, a
Inglaterra teve brilhante e importante atuação durante a Segunda Grande Guerra. Contra a relativamente
poderosa esquadra italiana, os ingleses colocaram no Mediterrâneo forças consideráveis organizadas
inicialmente em duas esquadras, a do Oriente sob o comando do almirante Cunningham, com base em
Alexandria, e a Força H, com base em Gibraltar, destinada a atuar no Atlântico ou no Mediterrâneo, com a
dupla missão de participar da proteção das rotas oceânicas e de assegurar, dentro do Mediterrâneo
Ocidental, escolta para os comboios com destino a Malta, onde mais tarde foi montada a força K, e a
Alexandria. Seu comandante era o Almirante Somerville, que estava diretamente subordinado ao
Almirantado. Ao todo, os britânicos contavam com seis couraçados, dois porta-aviões e um número
apreciável de cruzadores, 33 contratorpedeiros e alguns submarinos. Graças à arma aérea embarcada
estavam numa posição de equilíbrio ou até de superioridade.
6) Alemanha:
A partir do século XVIII, a Prússia começou a emergir como o mais poderoso dos Estados
germânicos, mas, cercada por nações rivais, também ela não pôde cogitar do desenvolvimento marítimo,
nem sequer empreender a construção de uma esquadra que protegesse o litoral do Báltico contra os ataques
inimigos. Assim, durante todo o século XVIII, não se encontra nenhum traço da Marinha de Guerra da
Prússia. A necessidade de haver uma se fizera sentir no país por várias vezes durante esse período
perturbado, mas o estado precário das finanças do reino fez sempre adiar a realização dessa empresa. Suecos
e dinamarqueses disso se aproveitaram para levar a bom termo várias campanhas em solo da Alemanha, no
decorrer dos séculos XVII e XVIII.
Em meados do século XIX, a Prússia criou uma pequena Marinha de Guerra. Ela surgiu por força
da guerra contra a Dinamarca e foi planejada levando em conta as peculiaridades da campanha contra aquele
país nórdico. Terminada a guerra, seguiu-se novamente um período de esquecimento para a nascente
Marinha prussiana. Os recursos militares que se davam aos navios alemães em serviço eram fracos. Era o
resultado pouco brilhante de uma política naval sempre entravada e sacrificada. Por conseguinte, antes de
1870 a esquadra alemã aumentou apenas por golpes. Como a Marinha Mercante era pouco desenvolvida
para poder incrementar a construção naval, acompanhando os novos processos, a Marinha de Guerra era
obrigada a recorrer quase sempre ao estrangeiro.
Decorreram assim longos anos antes que a Alemanha se convertesse em potência naval. Somente
quando várias circunstâncias favoráveis coexistiram surgiu a Marinha que iria disputar à Grã-Bretanha a
supremacia dos mares. A razão principal desse retardamento pode ser atribuída à posição geográfica do
país. Com efeito, o território alemão é quase todo fechado por terra e onde ele toca o mar este é dominado
por potências situadas mais favoravelmente. Em terra, a Alemanha dispunha sobre os seus vizinhos das
facilidades de milhares de comunicações interiores. No mar, os territórios das potências inimigas,
ocupavam posições estratégicas mais favoráveis, permitindo o controle dos acessos oceânicos aos portos
germânicos.
Dentro de uma estratégia nitidamente continental, a Prússia iniciou em meados do século XIX uma
série de guerras expansionistas, visando firmar-se como grande potência europeia. Nas guerras de 1864
(contra a Dinamarca) e 1866 (contra a Áustria), não houve encontro naval de qualquer espécie, e na guerra
franco-prussiana de 1870-71 houve apenas um combate no mar, entre dois pequenos navios.
Depois, porém, que a Alemanha constituiu um Império, em 1871, pela união dos vários Estados
germânicos, a necessidade de um poder naval capaz de defender os interesses alemães no ultramar tornou-
se patente.
O rápido desenvolvimento do comércio alemão sob o estímulo das indenizações francesas e tarifas
protetoras exigia novas fontes de matéria-prima e novos mercados. O maior incremento da população, por
outro lado, indicava a necessidade de lugar para a expansão germânica no ultramar. Por muitos anos a
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emigração de alemães da terra-pátria, em média cerca de dois mil por dia, dirigira-se em grande fluxo para
os Estados Unidos, para o Brasil, para a Argentina e outras regiões onde o Governo Imperial não tinha
controle. Parecia claro que colônias eram desejadas e mesmo necessárias. Em 1884, a Alemanha, sem
mover um navio ou disparar um canhão, achou-se possuidora de território na África, cuja área combinada
excedia a mais de quatro vezes a área do Império Germânico na Europa. Depois da Inglaterra, da França e
dos Estados Unidos, a Alemanha ocupava, enfim, posto eminente no comércio internacional, posição essa
que se consolidou com o passar dos anos.
Entre todas as potências mercantis foi a Alemanha a que relativamente acusou o mais grandioso
desenvolvimento até a Primeira Guerra Mundial.
A indústria metalúrgica, que já na primeira metade do século avançava com sucesso, no fim dos
oitocentos e no primeiro decênio do século XX, prosperou a passos gigantescos, graças à descoberta de
jazidas de minério de ferro no subsolo da Alemanha. Em 1871, a produção de ferro alemã não superava
1.563.000 toneladas e mantinha 23 mil operários, e em 1904, a produção passava a 10 milhões de toneladas
e ocupava 35 mil pessoas. A produção de aço aumentou da mesma maneira. Em 1912, ela era avaliada em
17 milhões de toneladas contra 1.100 mil em 1887.
Desse modo, se antes de 1880 a Alemanha ocupava o quarto lugar no comércio mundial, em 1914
ocupava o segundo. De 1898 a 1914 o comércio externo da Alemanha aumentou em 100%, dos quais três
quartos eram de comércio marítimo cuja escala era em Roterdã (Alemanha) e Antuérpia (Bélgica).
As cidades costeiras do mar do Norte e do Báltico beneficiaram-se amplamente do cuidado
incessante dado à Marinha e da expansão comercial alemã no ultramar. Hamburgo, na embocadura do Elba,
agigantou-se. Porto franco desde 1881, possuía em 1914, 1.087 navios que deslocavam 1.362.000
toneladas. Todo ano entravam e frequentavam seu porto mais de 30 mil navios. A importação subia a 12
milhões de toneladas, e a exportação a nove. Naturalmente as companhias marítimas de Hamburgo
cresceram em número e como entidade, de modo extraordinário. A partir de 1885, Bismarck começou a
autorizar fortes subvenções do Governo Imperial à Marinha Mercante germânica.
Em 1870, uma só companhia existia, a Hamburg Amerika Line; em 1914, depois de quarenta anos,
portanto, havia não menos de quarenta companhias orgulhosas. Só a Hamburg dispunha de um capital não
inferior a 125 milhões de marcos, sendo proprietária de 388 navios com uma tonelagem que, em 1910,
subia a 1.021.963 toneladas.
Nas vésperas da Primeira Guerra Mundial, a frota mercante alemã era a segunda do mundo. Ela
compreendia mais de quatro mil navios com mais de cinco milhões de toneladas. Oitenta mil marinheiros
guarneciam esta frota. A percentagem da Alemanha na frota mercante mundial, que era, em 1874-75,
somente 5,2%, elevou-se até o começo da guerra a 10,8%.
Estimulados pelo desenvolvimento da Marinha Mercante e
amparados por uma sólida indústria siderúrgica, os estaleiros alemães
proliferaram. Em 1870, havia no país apenas sete estaleiros. Esse
número elevou-se a 107 em 1912. Enquanto até o nono decênio do
século XIX os grandes navios transatlânticos só procediam da
Inglaterra, as conhecidas firmas de armadores de Hamburgo e Bremen
fizeram daí por diante suas encomendas aos estaleiros alemães,
estimulando-os com isso a desenvolverem uma capacidade de produção
cada vez mais elevada. Em poucos anos, converteram-se esses
estaleiros em empresas construtoras de primeira categoria, e a contínua
ampliação de suas explorações demonstrou o desenvolvimento
crescente dessa indústria.
Kaiser Guilherme II
7) Japão:
Até a restauração Meiji (1868), o Japão era quase unicamente
um país agrícola. A terra japonesa é, entretanto, muito estéril, havendo
pouco espaço para o desenvolvimento progressivo das lavouras, pois a
natureza montanhosa das ilhas e as rígidas temperaturas na grande ilha
nórdica de Yeso impedem a expansão agrícola. Assim sendo, as terras
disponíveis no Japão nas quais se pode colher com aproveitamento
oscilam apenas entre 15 a 20%. Em grande parte, as terras aproveitáveis
destinam-se às culturas do arroz e da cevada que, com a pesca
abundante nos mares circunvizinhos, constituem a base da alimentação
japonesa.
A restauração Meiji marcou uma mudança de época, transformando completamente o Japão numa
moderna nação industrial. A restauração teve lugar cerca de um século após a revolução industrial inglesa.
A visita dos navios negros conduzidos pelo Comodoro Perry à Uraga levantou a nação japonesa do estado
sonolento que havia durado mais de dois séculos devido à reclusão do mundo exterior. A abolição dos clãs
governamentais e a completa mudança de todas as instituições políticas, sociais e econômicas introduziram
o Japão no período de industrialização capitalista. Durante dez anos, porém, a agitação interna provocada
pelo novo estado de coisas impediu o progresso do país.
Com o término da Rebelião Saigo em 1877, várias indústrias surgiram em rápida sucessão, e pouco
a pouco o comércio exterior se desenvolveu.
A navegação japonesa era então quase inteiramente costeira, e o comércio exterior era feito em
porões estrangeiros. Entretanto, com o correr dos anos, o desenvolvimento do intercâmbio comercial com
as outras nações conduziram à fundação de várias companhias de navegação, todas elas amparadas pelo
Governo.
Querendo ampliar cada vez mais o campo das
atividades nacionais, o Japão adotou uma política de
linhas imperialistas, cuja finalidade principal era a
conquista de novos mercados consumidores e fontes
de matérias-primas. Em consequência, o Governo
japonês procurou desde cedo criar uma Marinha de
Guerra capaz de atender à sua política exterior.
A primeira manifestação concreta do
imperialismo japonês foi a inesperada agressão à
China em 1894 (Primeira Guerra Sino-Japonesa,
1894-95). A recém-criada Marinha logo alcançou o
domínio absoluto do mar Amarelo, com a vitória de
Yalu, abrindo caminho às forças terrestres que não
tiveram grande dificuldade em derrotar o Exército
chinês. O efeito dessa guerra vitoriosa nos negócios
foi extraordinário. A guerra não só chamou a atenção
do mundo para o Japão, como estimulou seu
comércio exterior. Além do mais, o Japão recebeu
uma indenização da China de 400 milhões de taels
para não mencionar a aquisição de Formosa e a
hegemonia na Coréia. Acima de tudo, a guerra deu
confiança ao país na própria força e capacidade. O encouraçado Matsushima, construído pela
França e montado no Japão, carro-chefe da
Marinha Imperial Japonesa durante o conflito sino-
japonês.
8) Estados Unidos:
Concluída a aliança com a França, a poderosa frota desse país foi empregada no serviço da causa
patriota. Juntou-se a ela, posteriormente, a Frota espanhola com a declaração de guerra da Espanha à
Inglaterra em 1779. A Inglaterra iria contar, ainda, com um outro inimigo. Pelo fim de 1780, arrebentou a
guerra com a Holanda, e, desde então, foi necessário à Grã-Bretanha lutar contra três grandes potências
europeias além da América.
Nos mares, coube à Marinha francesa o papel preponderante. Com a Royal Navy dispersa por todo
o mundo, lutando contra três grandes potências navais, a Inglaterra perdeu para a França o controle dos
mares junto às colônias revoltadas, e suas forças de terra, desamparadas da metrópole, foram obrigadas à
rendição, face ao Exército franco-americano.
A Grã-Bretanha vencida assinou a paz em 1783. Também nesse Tratado percebe-se a importância
que os dirigentes britânicos sempre deram aos assuntos marítimos. O Mississipi ficava aberto aos navios
americanos e ingleses. Os americanos continuavam com direitos de pesca nas costas da Terra Nova e do
golfo de São Lourenço.
Foi assim que no decorrer da Guerra da Independência surgiu a Marinha americana, mas a massa
heterogênea que a constituía (corsários particulares, navios pertencentes às colônias e navios armados pelo
Congresso) dissolveu-se no caos que se seguiu à guerra. Em 1785, ano da venda do último navio, os Estados
Unidos não possuíam um só navio de guerra. Entretanto, muito pouco tempo depois do fim da Guerra da
Independência, a necessidade de uma marinha fez-se sentir em virtude da captura de navios mercantes
americanos pelos corsários do Bei de Alger. Em 1793, os corsários argelinos espalhavam-se no Atlântico e
em um mês capturaram onze navios americanos. Essa situação vergonhosa levou enfim o Congresso a
tomar medidas, e no ano seguinte foi iniciada a construção de várias fragatas.
Os navios recém-construídos não tiveram, porém, o batismo de fogo em luta contra os piratas do
Norte da África e sim na guerra contra os corsários franceses das Antilhas. As operações navais contra a
França duraram ao todo cerca de dois anos e meio. A guerra nunca foi formalmente declarada,
desenrolando-se apenas nas Antilhas e foi muito proveitosa à jovem Marinha americana. O grande
acréscimo das exportações, devido à proteção dada pelos cruzeiros de navios americanos e os brilhantes
sucessos obtidos nos combates navais deram à Marinha uma popularidade necessária naqueles dias em que
a manutenção de um navio de guerra parecia a muitos ameaça de monarquismo.
Mal terminadas as lutas contra os corsários franceses, a Marinha americana levou a cabo uma série
de operações navais no Mediterrâneo contra o Bei de Trípoli. A guerra contra os norte africanos serviu para
proporcionar certa expansão à Marinha. A duração relativamente longa da luta (1801-05) nesse teatro
afastado de operações, aprimorou o valor combativo das guarnições. Estas vantagens seriam apreciadas
devidamente cerca de dez anos depois na guerra contra a Inglaterra.
Apesar do contratempo representado pelas operações nas Antilhas e no Mediterrâneo, o comércio
marítimo americano expandia-se rapidamente. As guerras napoleônicas absorveram de tal forma as
populações da Europa que uma parte sempre crescente do comércio marítimo coube à América. Durante
vinte anos os lucros desse comércio foram enormes, e a navegação mercante progrediu a passos de gigante.
Em 1790 o valor total das exportações dos Estados Unidos elevara-se a 19 milhões de dólares; cinco anos
mais tarde, 26 milhões de dólares de mercadorias procedentes somente das possessões francesas,
holandesas e espanholas foram importadas para serem em seguida reexportadas. Em 1806, o valor das
reexportações elevou-se a 60 milhões de dólares. Não é de estranhar que a Inglaterra se tenha sentido
alarmada quanto ao futuro de sua supremacia marítima e, dedicando-se ainda à fase econômica de sua luta
contra Napoleão, ela pôs em vigor medidas restritivas.
A Inglaterra declarou então bloqueio geral da França, desde o Elba até Brest, com um bloqueio
cerrado do Sena e Ostende (ato do Conselho de 16 de maio de 1806). Napoleão respondeu com o famoso
decreto de Berlim (21 de novembro de 1806), o qual declarou as Ilhas Britânicas, dali por diante, em estado
de bloqueio.
O comércio americano encontrava-se assim entre as duas pedras de mó. O remédio previsto pelo
Presidente Jefferson para todos esses problemas foi a coerção pacífica. Em 1807, ele decretou para todos
os navios empregados no comércio exterior um embargo que durou quinze meses e que custou oito milhões
de dólares só aos comerciantes da Nova Inglaterra. O embargo foi extremamente impopular nos Estados
MÓDULO 2 REGULAR - 41 - QOA-AA/AFN 2022
HISTÓRIA MILITAR NAVAL Prof. VAGNER SOUZA
Unidos que sofreram bem mais que a Europa. O espetáculo oferecido pelo país era o mais desolador. Os
navios ficavam a apodrecer nos portos. Cereais, algodão, fumo e outros produtos acumulavam-se nos
celeiros dos fazendeiros do Norte, dos plantadores do Sul e ao longo do cais nos portos de mar. A maior
parte dos historiadores vê no voto e na aplicação do embargo um grande erro de Jefferson. As consequências
do embargo para a França foram mínimas. Napoleão lançou o decreto de Bayonne que determinou a captura
de todos os navios americanos encontrados nas águas francesas, espanholas e italianas. Ele confiscou assim
mais de duzentos navios americanos. O embargo afetou mais a Inglaterra, mas mesmo lá os efeitos foram
inferiores aos esperados. A guerra contra a Inglaterra foi, contudo, adiada para o período presidencial
seguinte.
Durante a presidência de Madison, no quatriênio que se seguiu, ante a inquietante situação
internacional, foi proposta no Congresso a construção de uma esquadra relativamente poderosa de 10 navios
de linha e 20 fragatas, porém o Congresso, dominado pela oposição Jeffersoniana contrária à política
armamentista naval, julgou a proposta custosa e perigosa para a liberdade pública. Em consequência, ao ser
iniciada a guerra contra a Inglaterra em 1812, a Marinha americana compunha-se de apenas dezesseis
navios em estado de servir. Além disso, havia 257 chalupas canhoneiras construídas nos anos precedentes,
pois Jefferson, que se opunha tão violentamente à Marinha, tinha grande confiança nesse tipo de
embarcação, destinada à defesa das costas. Tais embarcações, entretanto, se mostrariam sem valor.
Durante esse conflito, também chamado de Segunda Guerra de Independência dos EUA, as fragatas
americanas, mais bem construídas, venceram uma série de combates singulares contra congêneres ingleses.
Esses êxitos parciais, todavia, não puderam evitar o absoluto controle dos mares pela esmagadora
superioridade naval dos britânicos. O comércio americano foi banido dos oceanos, e os ingleses
desembarcaram tropas a seu bel prazer no litoral dos Estados Unidos, chegando mesmo a incendiar
Washington. O que restava da pequena Marinha americana ficou bloqueado nos portos. A retaliação
americana foi a guerra de corso.
A perda que sofreu o comércio marítimo inglês durante os dois anos e meio de guerra foi
incalculável. O Congresso autorizou cerca de duzentos e cinquenta corsários que varreram os oceanos à
cata dos infelizes navios mercantes, capturando centenas deles. Estima-se em 600 o número de navios
mercantes ingleses vítimas dos corsários e dos navios de guerra americanos. Um grande número deles,
porém, foi retomado pelos ingleses, antes de atingir portos americanos.
Com o fim da guerra em 1815, a Marinha Mercante
americana voltou à senda do progresso. Na Nova Inglaterra, a
construção naval atingiu elevados índices de perfeição, e de suas
carreiras saíram os famosos Clippers, os navios mais velozes da
Marinha a vela, os quais chegavam a navegar mais de 420 milhas
em 24 horas.
A partir de meados do século, a Marinha de Comércio
americana entrou em decadência. Vários fatores concorreram para
esse fim, mas o principal foi o fracasso da construção naval do país
em acompanhar a evolução da vela para o vapor e da madeira para
o ferro. Outra razão foi a marcha para o Oeste que então se
processava, absorvendo todas as atenções e todos os interesses,
com o correspondente crescimento das estradas de ferro.
O deflagrar da Guerra Civil foi o sopro que acabou com a
fase áurea da Marinha Mercante dos Estados Unidos.
Paralelamente, a Marinha de Guerra dos Estados Unidos não fez
grandes progressos após a paz de 1815. Ela foi empregada numa
série de operações secundárias, tais como na guerra contra o Bei de
Alger e nas operações que suprimiram a pirataria nas Antilhas. Sua
ação contra o México foi muito restrita em face da não existência
de oposição nos mares. Digna de nota foi a ação do Comodoro
Perry no Japão em 1854, abrindo aquele país ao comércio mundial.
Durante a guerra, as duas grandes tarefas da Marinha dos estados do Norte (federados) foram o
bloqueio das costas confederadas (do Sul) e a separação em duas porções da confederação pelo domínio do
rio Mississipi. Essas duas operações eram essenciais para impedir a chegada de munições e
aprovisionamento aos exércitos confederados, batendo-se no Leste. A captura de Port Royal, o bizarro
combate de Hampton Road, as operações no baixo Mississipi, a batalha da baía de Mobile, os encontros da
baía de Albermale marcaram o desenrolar das duas ações fundamentais.
A rigor, o bloqueio e a ocupação dos portos confederados puseram fim ao comércio do Sul. Durante a
guerra, a esquadra bloqueadora capturou ou destruiu 1.150 navios com as respectivas cargas,
representando um valor total de 30 milhões de dólares. Por outro lado, a Marinha Mercante americana
sofreu forte redução no decorrer da guerra. De 2.500.000 toneladas em 1861, ela caiu para 1.500.000 em
1865, ao acabar o conflito, concorrendo para o declínio não só a destruição oriunda das operações bélicas,
mas também a perda do mercado de transporte para a Marinha inglesa.
Em condições normais, a navegação comercial americana poderia renascer após a Guerra de
Secessão como se restabelecera depois da guerra de 1812. A razão pela qual ela não retomou vida, residiu
na mudança das circunstâncias econômicas acarretadas, ao menos, em parte, pelo aumento dos impostos
que tornaram impossível construir e armar navios de forma barata, como faziam os rivais estrangeiros.
Também foram nocivas certas leis de navegação que interditavam a compra de navios estrangeiros para
navegar sob pavilhão americano. Essas medidas tiveram efeito penoso sobre a Marinha Mercante e levaram
o capital americano a não mais ser empregado em navios, mas de preferência nas empresas ferroviárias,
usinas e minas. Em consequência, rapidamente a percentagem do tráfego marítimo efetuado em porões de
navios americanos decaiu. Ela era de 66,5% ainda em 1860. Em 1865 caíra a 27,7% e cerca de 1901 baixara
a 8,2%.
O desenvolvimento da ciência da Guerra Naval que tinha sido tão rápida nos Estados Unidos durante
a guerra de Secessão, parou bruscamente com ela. Durante vinte anos os Estados Unidos não tiveram um
só navio encouraçado. No decorrer do período do Presidente Hayes, a Marinha americana era inferior à de
A Segunda Guerra Mundial elevou os Estados Unidos à primazia incontestável nos mares. O perigo
crescente de um conflito na Europa levou o governo de Roosevelt a pôr em execução um gigantesco
programa naval que já ia bem adiantado quando do ataque a Pearl Harbour. Empregando-se a fundo em
dois oceanos, a Marinha dos Estados Unidos rapidamente se recuperou dos golpes iniciais e empreendeu
ação decisiva tanto na batalha do Atlântico como contra o Japão. No Atlântico, a quantidade fabulosa de
navios de escolta e aeronaves que a América colocou na luta antissubmarina teve efeitos decisivos. No
Pacífico, a esmagadora superioridade americana bem cedo varreu os nipônicos das principais áreas por eles
conquistadas na arrancada inicial da guerra e por fim atingiu o próprio território metropolitano japonês.
Leitura Complementar
A HISTÓRIA DA NAVEGAÇÃO
Os rios, lagos, mares e oceanos eram obstáculos que os seres humanos do passado muitas vezes
precisavam ultrapassar. Primeiro, eles se agarravam a qualquer coisa que flutuasse. Depois, sentiram a
necessidade de descobrir como transformar materiais, para que estes, flutuando, pudessem se sustentar
melhor sobre a água. Assim, ao longo do tempo, em cada lugar surgiu uma solução, que dependeu do
material disponível: a canoa feita de um só tronco cavado; a canoa feita da casca de uma única árvore; a
jangada de vários troncos amarrados; o bote de feixes de juncos ou de papiro; o bote de couro de animais
e outros.
Durante o século XV, os portugueses decidiram que deveriam prosperar negociando diretamente
com o Oriente, por meio do mar. Para alcançar bom êxito nesse ambicioso projeto de interesse nacional,
foi necessário: explorar a costa da África no Oceano Atlântico e encontrar a passagem, ao sul do continente
africano, para o Oceano Índico; chegar às Índias e lá negociar diretamente as mercadorias; trazê-las para
Portugal em navios capazes de transportar quantidades relativamente grandes de carga e defender esse
comércio. Isso exigiu desenvolvimentos científicos e tecnológicos para os navios e para a navegação.
Todas essas soluções simples, no entanto, não transportavam muita coisa, ou eram difíceis de
manejar, ou mesmo perigosas em águas agitadas. Era necessário desenvolver embarcações construídas a
partir da junção de diversas partes, para que fossem maiores e melhores.
Os portugueses desenvolveram e utilizaram: caravelas2 para explorações; naus3 como navios
mercantes para o comércio e galeões4 como navios de guerra. Mas isso só não bastava para chegar com
sucesso ao porto de destino.
A navegação, quando se mantém terra à vista, é feita pela observação de pontos geográficos de terra
determinando a posição do navio em relação à costa. Quando não se avista mais a terra e quando o mar e o
céu se encontram no horizonte a toda volta, é necessário saber em que direção o navio segue e a posição
em que se está em relação à superfície do globo terrestre.
Foi necessário, portanto, desenvolver instrumentos capazes de indicar a direção do navio (bússola),
a latitude (astrolábio) e a longitude (cronômetro).
OS NAVIOS DE MADEIRA:
CONSTRUINDO EMBARCAÇÕES E NAVIOS
As caravelas provavelmente tiveram sua origem em embarcações de pesca, que já existiam na
Península Ibérica3 desde o século XIII. Tinham, em geral, velas latinas4. Essas velas são muito boas para
navegar quase contra o vento, contribuindo para que as caravelas fossem muito úteis na costa da África.
Foi principalmente com elas que os portugueses exploraram o litoral africano durante o século XV. As
caravelas foram os navios mais importantes para Portugal até a descoberta do Cabo da Boa Esperança, que
permitiu contornar a África, passando do Oceano Atlântico para o Oceano Índico. A partir de então, o
transporte de mercadorias por naus passou a ser o mais importante.
2
CARAVELA – de caravo, do inglês caravel, do francês caravelle, navio de casco alto na popa e baixo na proa, de proa aberta
ou coberta, arvorando de um a quatro mastros de velas bastardas (latinas e triangulares) e armado com até dez peças de artilharia.
Sua tonelagem variava de 60 a 160t. Algumas caravelas tinham velas redondas no mastro do traquete; foram os navios mais
utilizados pelos portugueses nos descobrimentos marítimos dos séculos XV e XVI.
3
NAU – Até fins do século XV, navio de porte relativamente grande, com acastelamentos à proa e à popa, arvorando geralmente
um só mastro com vela redonda (ou “pano”). Daí até fins do século XVI, princípios do XVII, as naus foram aumentando de
tamanho, tornaram-se muito bojudas (boca com cerca de 1/3 do comprimento da quilha), passaram a arvorar até três mastros
(traquete, grande e mezena) envergando pano redondo e uma vela latina quadrangular à popa, além de gurupés, e tinham até três
ou quatro cobertas com duas a três baterias de canhões. Com o passar dos anos, foi-se modificando o seu velame. Eram
embarcações imponentes, em geral ricamente ornamentadas, mas de difícil manejo
4
GALEÃO – do inglês galeno, do francês galion – embarcação de alto-bordo, dois ou três mastros envergando velas redondas
e gurupés com velas de proa, empregada no transporte de ouro e prata da América para Espanha e Portugal, nos séculos XVI,
XVII e XVIII. Era armado com numerosos canhões.
BRASIL
CAPÍTULO I
A “DESCOBERTA” DO BRASIL
3) A América Descoberta:
O reino português transformou-se num centro de aventureiros, sábios e navegantes de várias
nacionalidades que se empenhavam na tarefa da descoberta do caminho para as Índias. Entre eles, destacou-
se Cristóvão Colombo, uma das figuras mais discutidas da História.
Genovês de origem, talvez nascido em 1451, pouco sabemos de seus primeiros anos de vida. Não
parece ter feito grandes estudos (Eu, que não sou um sábio... escreveu), mas, com certeza, impressionou-se
pelo movimento das descobertas, nas quais vários compatriotas seus participavam. Lançarote, Usodimare,
os irmãos Vivaldi, Antonio da Noli, eram todos genoveses a serviço do Infante. O livro de Marco Polo
devia ser sua leitura preferida, especialmente este trecho o impressionava: "Cipango (Japão) é uma ilha do
Oriente que está no mar alto, longe da terra firme 1.005 milhas... chamam a este mar o de Cin, mas ele é o
grande mar do Ocidente".
É possível que Colombo tenha navegado à Islândia, onde entrou em contato com as notícias que os
descendentes dos vikings guardavam de Vinland, a futura América, reunidas na Erik Saga Rhauda (seus
drakkars já foram encontrados nas costas americanas). Depois dessa viagem, estabeleceu-se em Portugal.
Mas, os conhecimentos ou ignorâncias deste genovês ainda constituem um enigma para os
estudiosos de sua vida. Para sobreviver, realizou algumas viagens comerciais por conta de firmas
genovesas. Nessa oportunidade, 1481, casou-se com Filipa Moniz, herdeira do rico comerciante
Bartolomeu Perestrelo. Esse casamento lhe permitiu refletir sobre seu grande projeto; Colombo passa a
viver na ilha de Porto Santo, próxima da Madeira, onde nasceu seu filho Diego. É possível, também, que
tenha efetuado algumas viagens em caravelas portuguesas pelo litoral africano. Aos poucos, foi
amadurecendo a ideia de chegar às Índias pelo caminho do Ocidente, ao mesmo tempo em que muito
aprendia com os portugueses.
Incentivado pelo conteúdo da carta do sábio florentino Paolo Toscanelli (por alguns tidos como
apócrifa), que acreditava na esfericidade da Terra, enviada ao cônego Fernão Martins, em Lisboa, da qual
deve ter tomado conhecimento, Colombo instalou-se em Lisboa onde já vivia seu irmão Bartolomeu e,
certamente em 1484, conseguiu que o Rei D. João II examinasse o seu projeto para chegar às Índias por
meio mais rápido: atravessaria o mar Tenebroso. Para melhor convencer o soberano, argumentou com a
redondeza da Terra e determinou que cada grau tivesse 56,5km (o certo é 111km), tornando pequena a
distância entre Lisboa e a costa da Índia. Ouvido por um conselho de homens de saber foram seus planos
desaprovados e recusados em seguida pelo rei, não propriamente porque os portugueses não aceitassem as
suas ideias, nessa fase das navegações bem válidas, mas porque Colombo exigia demais, podendo muitos
portugueses fazer o mesmo pelo amor à Pátria.
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Colombo não queria tentar a sua aventura sem o respaldo de um soberano. Em 1485, dirigiu-se para
Castela. Passou um tempo no convento franciscano de La Rabida, causando forte impressão a Frei Antonio
de Marchena, que o encorajou. Dirigiu-se a Sevilha, ligando-se ao banqueiro florentino Berardi. Este o
apresentou ao Duque de Medinaceli, que se propôs financiar o projeto. Mas Colombo desejava o apoio real.
Fernando e Isabel, reis de Aragão e Castela, empenhavam-se em vencer o último reduto mouro: o reino de
Granada. Auxiliado, também, pelo Duque de Medinasidonia. Colombo conseguiu uma entrevista com a
rainha em Córdoba e uma promessa para o futuro.
Colombo instalou-se junto à Corte, que se fixara em Córdoba, e aguardou até que se se transferiu
com a Corte para Salamanca no final do ano de 1486. Nesta cidade, os reis católicos fizeram reunir uma
comissão de sábios visando a apreciar o projeto de Colombo. Esta comissão conclui ser o mesmo inviável.
Desanimado, Colombo retornou a Lisboa e tentou retomar as conversações com o Rei D. João II, sem
qualquer êxito. No final do ano de 1489, encontrava-se em terras espanholas, no acampamento real diante
de Baza.
O tempo passou; suas esperanças iniciais diminuíram. O prior do convento, Padre Luan Pérez,
convenceu-o a ter paciência, ao mesmo tempo em que enviava uma carta à rainha, que convocou Colombo
à sua presença. Novamente expôs seus planos. Meses depois, em 2 de janeiro de 1492, Granada rendeu-se:
estava aberto o caminho para Colombo.
Os reis católicos aceitaram as suas imposições nas Capitulações de Santa Fé (17 de abril). Com
dinheiro adiantado à Coroa pelos banqueiros Luis Santángel e Francisco Pinelo e alguma ajuda dos
armadores de Palos, Martim e Vicente Pinzón, totalizando 1.170.000 maravedis (pequena moeda de cobre
em uso), Colombo reuniu duas caravelas, a Pinta (140t) e a Nina (100t) e a nau Santa Maria (250t),
guarnecidas com 110 homens.
Partiu de Palos a 3 de agosto. A 8 de setembro, suspendeu das Canárias e entrou no desconhecido.
Descobrindo no percurso o fenômeno da declinação magnética, Colombo chegava, a 12 de outubro, na ilha
de Guanaany, por ele chamada San Salvador (hoje Watling Island, uma das Bahamas).
Como não se acharam sinais de civilização, a viagem prosseguiu; Colombo encontrou Cuba
(chamada de Joana) e Haiti (batizada de Espanhola); nesta ilha, construiu um forte com os restos da Santa
Maria, chamado Navidad, deixando uma guarnição sob o comando de Diego Arana. Ao regressar, Colombo
aportou primeiro em Lisboa, comunicando ao Rei D. João II que descobrira o caminho para as Índias.
4) O Acordo de Tordesilhas:
A existência de diversas bulas papais assegurando aos
portugueses terras não descobertas, fez com que os reis da
Espanha logo recorressem ao Papa Alexandre VI, pertencente à
família aragonesa dos Bórgias (portanto parente dos reis), para que
lhes confirmasse a posse das terras encontradas por Colombo.
Através das bulas Eximin e Devotionis (de 03/05/1493) e das duas
Inter Coetera (de 04/05/1493), o papa estabeleceu uma
demarcação para a soberania de Castela, imaginando um
meridiano que, distante 100 léguas das ilhas de Açores e Cabo
Verde, daria início às posses castelhanas.
D. João II não se conformou e disse: “ficou mui confuso e
creo verdadeiramente que esta terra descoberta lhe pertencia”.
Tentou, diplomaticamente, a anulação das Bulas, sem resultado.
Mandou que Ruy de Sande propusesse um paralelo, o das
Canárias, para servir de divisão entre as posses de Castela e
Portugal, que guardaria o domínio meridional. Recusada essa
proposta, enviou a Castela Rui de Pina e Pero Dias, os quais não
obtiveram resultados satisfatórios. Apelou, então, para a ameaça,
aparelhando forte esquadra que disputaria, pelas armas, as terras
descobertas.
Os reis católicos espanhóis não se interessaram, porém, em
medir forças com Portugal; a fatigante luta contra os mouros e os
negócios da Itália aconselhavam uma política pacífica. Assim,
Castela procurou negociações diretas. Na pequena cidade
castelhana de Tordesilhas, reuniram-se os negociadores (D.
Gutierrez de Cárdenas, D. Enrique Enriquez e o Dr. Rodrigo Maldonado, por parte de Castela, e Rui de
Sousa, seu filho João de Sousa, Ayres de Almada e Duarte Pacheco Pereira, representando Portugal), que
assinaram, a 7 de junho de 1494, a Capítulacíon de La
Partícion del Mar Oceano, por meio da qual ficavam fixadas
as áreas de influência dos dois países, através de um meridiano
(em toda a extensão da Terra) que passasse a oeste de 370
léguas do arquipélago de Cabo Verde: as terras não europeias
a leste seriam de Portugal e as situadas a oeste ficavam
espanholas.
Esse tratado representou uma grande vitória da
diplomacia lusa, pois defendia a rota africana que os nautas
portugueses há tantos anos perseguiam. Por outro lado, sem
esclarecer de qual ilha partiria a contagem e nem qual o tipo
de légua a ser usado, o tratado nunca pôde ser realmente
demarcado, nem respeitado por ambos os países, que se
interessavam na persistência da dúvida.
A Capitulação de Saragoza (22/04/1529),
consequência da descoberta das Molucas por Fernão de
Magalhães, procurou solucionar esse problema. Reconheceu
Portugal, governado por D. João III, serem as Molucas
pertencentes à Espanha, adquirindo-as por 350 mil ducados.
Com isso, firmava-se o meridiano de Tordesilhas, na América,
entrando na posse portuguesa a Banda Oriental do Uruguai, as
terras do Chaco Paraguaio e grande parte da região amazônica.
6) A Viagem de Cabral:
As riquezas que as Índias ofereciam afiguravam-se imensas. Era necessário, porém, que os
portugueses se impusessem aos habitantes e aos monopolizadores do comércio das especiarias. Resolveu,
então, D. Manuel reunir uma tripulação escolhida em uma forte esquadra, entregando o seu comando, com
o título de capitão-mor, a Pedro Álvares Cabral, que, além de pequenos conhecimentos náuticos, possuía
provada capacidade de administração. Secundava-lhe no comando Sancho de Tovar. Serviam-lhe de
orientação instruções escritas sob a inspiração de Vasco da Gama (o original, incompleto, acha-se no
Arquivo Nacional da Torre do Tombo em Lisboa).
A expedição partiu de Lisboa a 9 de março de 1500. Nela embarcaram hábeis pilotos, como
Bartolomeu Dias e seu irmão Diogo, Gaspar de Lemos, Nicolau Coelho, Simão de Miranda, Duarte Pacheco
Pereira; destacava-se, ainda, o mestre João, físico de bordo, Pero Vaz de Caminha, escrivão da feitoria a
ser fundada, frei Henrique Soares, que arcava junto com poucos religiosos com a tarefa de evangelização
dos infiéis, e Aires Correia, que ia ser o feitor. Somavam 1500 homens em 10 naus e três navios menores.
Dificuldades entravaram a viagem. Perto de Cabo Verde, desapareceu a nau comandada por Vasco
de Ataíde, "comida pelo mar” como se dizia. Afastando-se da costa da África, os portugueses tomaram a
direção sul-sudoeste, com a intenção de achar terras. A 21 de abril, pressentiram sinais de terra; no dia
seguinte, viram pequena elevação, que recebeu o nome de Monte Pascoal. A 23, chegaram junto à praia, na
foz do Rio Caí, onde foram travados os primeiros contatos com os indígenas. Procuraram um ancoradouro
mais ao norte, fundeando numa enseada, por eles batizada de Porto Seguro (hoje Baía Cabrália, no litoral
do Estado da Bahia). Verificaram-se novos contatos amigáveis com os naturais; rezaram-se duas missas,
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uma no ilhéu da Coroa Vermelha e outra em terra firme, e tomou-se posse da terra levantando-se uma
grande cruz de madeira. Batizou-se a terra, que se supunha ser uma ilha, com o nome de Vera Cruz. Pedro
Álvares resolveu notificar ao rei o acontecido. Extensa carta foi escrita por Pero Vaz de Caminha, levada
por Gaspar de Lemos, que, a 2 de maio, retornava a Portugal. No mesmo dia, Cabral partia para as Índias,
onde cumpriu a sua missão.
Sobre o “achamento” do Brasil existem três documentos importantes: a carta de Caminha
(encontrada no Arquivo da Torre do Tombo por José de Seabra da Silva e publicada em 1817 por Aires do
Casal), a carta do mestre João ao Rei D. Manuel I e a carta deste aos reis católicos, verdadeira comunicação
oficial. Ainda podemos citar a Relação do Piloto Anônimo (publicada no livro Paesi Nuovamente Ritrovatí,
de Montalbocido) e o manuscrito Valentím Fernandês, publicado em 1940, pela Academia Portuguesa da
História.
Não há hoje dúvida de que a expedição, de quatro caravelas, comandada por Vicente Yanez Pinzón
atingiu, em janeiro de 1500, o litoral do atual Estado do Ceará (ponta de Mucuripe), dando, assim, a
prioridade do descobrimento aos espanhóis. Pinzón prosseguiu a sua viagem para o Rio Oiapoque. Na sua
esteira navegou outro espanhol, Diego de Lepe, com dois navios, tendo reconhecido as regiões do atual
Amapá, após haver alcançado Pinzón na foz do Rio Amazonas.
CAPÍTULO II
A COLONIZAÇÃO DO BRASIL
Em 1511, situa-se a viagem da nau Bretoa (cujo nome provém de sua construção em algum estaleiro
da Bretanha), comandada por Cristóvão Pires e tendo por piloto João Lopes de Carvalho, provavelmente
ainda pertencente ao Trato. Do Brasil arrecadou 5.008 toros de pau-de-tinta, 35 indígenas e 70 animais. A
expedição de Estevão Fróis, que navegou no litoral norte em 1513, acabou por ser apreendida pelas
autoridades espanholas nas Antilhas. Em 1514, esteve em nossas costas a expedição armada por D. Nuno
Manoel (pilotava um dos dois navios João de Lisboa), conhecida pela Nova Gazeta da Terra do Brasil
(publicada na Alemanha e sem data sob o título original Newveil Zeytungauss Pressillglandt) e que, talvez,
tenha percorrido o rio da Prata antes dos espanhóis.
Acredita-se que, por essa ocasião, terminou o Trato com Fernão de Loronha ou que o mesmo
possuísse novo arrematante, o armador Jorge Lopes Bixorda.
Diversos navios ou armadas aportavam nas costas brasílicas em demanda das Índias ou delas, de
retorno, paravam para se abastecerem de água e alimentos.
Foram essas expedições que, por vezes, largaram degredados ou que, sofrendo naufrágios,
proporcionaram o aparecimento, em diversos pontos da costa, de portugueses que representaram o traço de
união entre os indígenas e a futura colonização. Destacaram-se Diogo Álvares Correia, apelidado
Caramuru, João Ramalho, Cosme Fernandes, conhecido como o Bacharel de Cananéia, Antônio Rodrigues,
Francisco de Chaves e Aleixo Garcia, que chegou a terras hoje pertencentes ao Paraguai e Bolívia
precedendo, nessas regiões, os espanhóis, encontrando a morte nas mãos dos índios guaranis.
Por essa época, a terra descoberta começou a ser chamada de Brasil. A origem desse nome pode se
prender à cor de brasa da madeira (vermelha) que existia em abundância no litoral, pode ser uma corruptela
do italiano versino ou versil, nome de madeira de tinta proveniente do Oriente ou da geografia medieval
que havia inventado uma ilha no mar Tenebroso (oceano Atlântico) chamada Barzil ou Bersil, onde
existiam muitas riquezas, inclusive e sobretudo o versil. Ora, fácil foram os navegantes identificarem a terra
encontrada com a lendária ilha. Lá, em 1503, Giovani da Empoli dizia: "... la terra della Vera Croce ouer
del Bresil cosi nominata" (in Viaggio Fatto nell’India, Venetia, 1554). Denominavam-se brasileiros todos
aqueles que comerciavam com o pau-de-tinta.
Durante esse período, andou velejando em nosso litoral o português João Dias de Solís (1515 a
1516) a serviço de Castela, na tentativa de encontrar uma passagem para as Índias. O mesmo fez outro
português (igualmente a serviço de Castela), Fernão de Magalhães (1519), o qual, tendo permanecido 13
dias na Baía de Guanabara, nos últimos dias de dezembro, batizou involuntariamente a região com o nome
de Rio de Janeiro, e, mais feliz que seus antecessores, descobria a tão cobiçada passagem no extremo sul
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da América. Mais tarde, 1526, o veneziano Sebastião Caboto percorreu a costa brasileira (suas viagens de
ponto a ponto da costa deu origem ao estilo de navegação que foi batizado mais tarde de cabotagem).
O pau-de-tinta atraiu também os franceses, corsários a mando do Rei Francisco I (este monarca
desconhecia o "Testamento de Adão” que havia dividido o mundo em duas partes entre os reis de Portugal
e Espanha, seus primos). Ele enviou corsários (entrelopos) com o objetivo de apanhar a madeira.
Conhecemos bem a expedição do navio Espoir, comandado por Binot Paulmier de Gonneville, que
percorreu a Baía de Todos os Santos, em 1504. Jean Parmentier, francês de Dieppe, velejou do Amazonas
ao Prata, por volta de 1525 (citado em Ramúsio: Delle Navigationi ed viaggi, III); mas muitos outros navios
dos estaleiros de Jean Ango certamente aqui estiveram. Hábeis no trato com os indígenas, esses mairs (como
eram chamados os franceses pelos indígenas) gozavam de maior simpatia. Por isso, D. Manuel I determinou
que Cristóvão Jaques, descendente de ilustre família aragonesa e fidalgo da Casa Real, e os dois navios a
seu comando policiassem o litoral, o que pouco adiantou. Essa viagem durou de 21 de junho de 1516 a 9
de maio de 1519; Jaques fundou uma feitoria na Ilha de Itamaracá (em Pernambuco).
De novo, o rei enviou Cristóvão Jaques ao Brasil, com dois navios, em 1521, em uma viagem de
reconhecimento pela costa meridional: a crítica história moderna, baseada em documentação irrefutável
(carta de Juan de Zúniga ao Imperador Carlos V, existente no Arquivo Geral de Simancas), conclui que
Jaques penetrou no rio da Prata e explorou o rio Paraná.
Morrendo D. Manuel I em 1521, subiu ao trono D. João III; as notícias que chegavam à Corte de
Lisboa de que navios franceses estavam sendo armados para efetuarem o corso nas terras brasileiras levaram
o monarca a incumbir o mesmo Cristóvão Jaques, em 1527, de idênticas funções policiadoras, com uma
nau e cinco caravelas, mas Jaques procurou desincumbir-se da missão. Sabemos ter havido cruento combate
na baía de Todos os Santos. É possível que tenham ocorrido outros encontros com corsários, mas, sozinho,
pouco podia fazer. Em 1528, Jaques regressou a Portugal, Substituiu-o Antônio Ribeiro, sobre o qual nada
sabemos. E, finalmente, exerceu esta atividade Duarte Coelho, entre 1530 e 1531, tendo combatido os
índios caetés que favoreciam os franceses.
Durante esses trinta anos, os portugueses (pêros para os indígenas) mantiveram contatos amistosos
com os naturais, os quais se prestaram bem na exploração da madeira. O homem de pele branca despertava
curiosidade e um irresistível atrativo para a mulher indígena. Ele significava superioridade.
Algumas feitorias, escassamente habitadas, começaram a povoar a costa: havia a de Cabo Frio, uma
na Baía de Todos os Santos, cujo feitor chamava-se João de Braga, e outra no litoral de Pernambuco.
Cada donatário recebia uma Carta de Doação, documento pelo qual se efetivava a doação do uso,
com a descrição da terra e a outorga da governança da mesma, com o título de capitão-mor, explicitando
seus direitos e deveres; e um Foral, que fixava os direitos, deveres, foros, tributos e coisas que os futuros
colonos deviam ao rei ou ao capitão-donatário.
O capitão-donatário não se tornava proprietário da capitania: ficava na sua posse, que era transmitida
hereditariamente em linha masculina, preferentemente, sem ser objeto de negociações ou partilha. Exercia
a justiça, podendo até condenar à morte, nomeava funcionários, doava terras para cultivo (sesmarias),
mantinha propriedade plena em determinada área escolhida, cobrava impostos à população (5% do pau-
brasil e do pescado, 1% dos impostos pagos à Coroa, postagens e 500 reis anuais dos tabeliães). Podia
acoitar e homiziar réus julgados e condenados no reino e em outras capitanias, com a finalidade de facilitar
o povoamento. Tinha o direito de fundar vilas, o que, em Portugal, era atribuição exclusiva do rei. Era-lhe
permitido reduzir os naturais ao cativeiro e vendê-los em Portugal até o máximo de 39 por ano. A Coroa
reservava-se o direito de cunhar moedas e estipulava como rendas o quinto (20%) dos metais e pedras raras,
a dizima das colheitas (10%), a vintena do pescado (5%) e o monopólio do pau-brasil (estanco).
Aos donatários cabia ocuparem as suas terras e iniciarem o povoamento e a obtenção de lucros. Os
que se aventuraram em plagas americanas tiveram de enfrentar dificuldades enormes com os índios, que
não compreenderam, com o ambiente geográfico hostil e com a falta de recursos. Por isso, formou-se a
opinião que o sistema resultou em um fracasso, que é um erro. Foram as capitanias que iniciaram a ocupação
efetiva do litoral e mantiveram um estado de alerta, impedindo a conquista estrangeira, ao mesmo tempo
em que o português impunha a sua cultura ao gentio.
Vejamos como os donatários se houveram com suas capitanias. Antônio Cardoso de Barros não se
preocupou com sua terra. João de Barros, Fernão Álvares de Andrade e Aires da Cunha associaram-se e
enviaram uma expedição que alcançou poucos resultados, perdendo a vida este último no naufrágio da
capitânia. A vila de Nazaré desapareceu em três anos. A tentativa de Luis de Melo em 1554 acabou
fracassando, motivo pelo qual as capitanias ao norte da de Itamaracá ficaram sem colonização.
A) Tomé de Sousa:
O primeiro governador tinha de reunir boas qualidades de administração e comando. A Carta Régia
de 7 de janeiro de 1549 nomeava Tomé de Sousa (primo de Martim Afonso e do Conde da Castanheira)
para exercer o difícil encargo; fidalgo austero, adquirira fama nas guerras da África como militar de valor.
A 29 de março, aportava na vila do Pereira trazendo Pero Góis da Silveira como Capitão-mor da Costa,
Antônio Cardoso de Barros, como Provedor-mor da Fazenda, Pero Borges, Ouvidor-geral, e o Padre
Manoel da Nóbrega, chefiando seis jesuítas, além de colonos, seiscentos soldados, quatrocentos degredados
e operários sob as ordens do mestre Luis Dias.
Escolheu um sítio elevado, em frente à vila do Pereira, e nele ergueu Salvador, que permaneceu a
capital da Colônia por dois séculos. Dedicou os primeiros momentos da sua administração a essa tarefa,
recebendo ajuda de Caramuru, de um castelhano chamado Filipe Guilhem e dos índios tupinambás, aos
quais apavorou com os canhões que trouxera.
Desenvolveu a cultura da cana-de-açúcar, introduziu o gado vindo de Cabo Verde, doou sesmarias,
tendo-se tornado famosa a Casa da Torre de Garcia d'Ávila, que se dedicou à criação extensiva de bovinos.
Organizou uma entrada em busca de metais preciosos, comandada pelo castelhano Francisco Brueza de
Espiãosa, que nada encontrou.
B) Duarte da Costa:
Para substituir Tomé de Sousa, o rei escolheu Duarte da Costa, Armeiro-mor do reino, nomeado a
1º de março, mas só a 13 de julho de 1553 chegava a Salvador, trazendo 260 pessoas, entre as quais estava
um filho seu, Álvaro, herói das lutas nas Índias, e o jesuíta Luis da Grã, com alguns padres e o irmão José
de Anchieta.
Talvez animado de bons desejos, Duarte da Costa não pôde demonstrá-los. Faltava-lhe a prática do
mando e a experiência da guerra. O seu governo foi logo agitado pelo desentendimento entre seu filho, mais
liberal, e o bispo, intransigente. A população dividiu-se, prejudicando a administração, diminuindo a
autoridade do governador. O rei chamou o bispo a Lisboa, a fim de pessoalmente lhe relatar os
acontecimentos. Embarcou no navio N. S da Ajuda, e, quando este passou nos Baixios de D. Rodrigo,
naufragou; apanhado pelos caetés (onde hoje é a praia do Francês, Maceió, Alagoas), junto com os 95 que
se salvaram, sofreu suplício, a 15 de junho de 1556, em ritual mágico-religioso (escaparam um português,
"língua", e dois escravos índios, portadores das notícias). A atitude dos caetés valeu-lhes represália
implacável e uma mudança política em face das populações indígenas.
Difícil, hoje, concluir quem estava com a razão; contudo, sem o concurso de D. Álvaro, os indígenas
não seriam expulsos do Recôncavo (1555).
A 25 de janeiro de 1554, os jesuítas, tendo à frente Nóbrega, Provincial da Companhia, fundavam
o Colégio dos Meninos de São Paulo, em Piratininga, origem da cidade de São Paulo.
Sem que Duarte da Costa pudesse impedir, os franceses, comandados por Nicolau Durand de
Villegagnon, instalavam-se, em 1555, na Baía de Guanabara. Amargurou-o a impossibilidade de reagir,
bem como a morte do rei D. João III, seu protetor (11/06/1557); na vila do Pereira, morria Diogo Álvares,
o Caramuru. Duarte da Costa terminou o seu governo (1558) enfrentando revoltas indígenas em
Pernambuco, no Espírito Santo, em Porto Seguro, bem como, no sul, os tamoios, liderados pelo feroz
Cunhambeba, ameaçaram os colonos.
C) Men de Sá:
Para substituir Duarte da Costa, o Rei D. João III escolheu um homem (Carta régia de 23/07/1556)
considerado virtuoso e de grande cultura jurídica (era desembargador da Casa de Suplicação e irmão do
poeta Francisco Sá de Miranda). Men de Sá aportou em Salvador a 28 de dezembro de 1557 (mas só
assumiu o cargo a 3 de janeiro), sabendo que teria dois problemas graves a enfrentar: pacificar a população
da capital, agitada com os eventos do governo anterior, e expulsar os franceses da Guanabara.
Começou por adotar diversas medidas repressivas contra os abusos do povo, especialmente o jogo.
Desenvolveu a agricultura da cana-de-açúcar, em parte negligenciada. Construiu um engenho real, a fim de
atender aos lavradores mais modestos. Incentivou a formação de aldeamentos indígenas, proibindo que se
dessem aguardente e armas aos índios. Combateu os goitacás (do Espírito Santo), que se submeteram após
vários combates (sendo mais importante a batalha dos Nadadores), num dos quais faleceu seu filho Fernão.
MÓDULO 2 REGULAR - 77 - QOA-AA/AFN 2022
HISTÓRIA MILITAR NAVAL Prof. VAGNER SOUZA
Ao mesmo tempo, Vasco Rodrigues Caldas reduziu à obediência as tribos do Rio Paraguaçu, e Braz Fragoso
amansou os aimorés. Organizou duas entradas, confiando uma à direção de Vasco Rodrigues Caldas (1561)
e outra a Martim Carvalho (1568).
Os caetés, declarados "fora da lei", acabaram desaparecendo, vítimas da “Guerra Justa”. E muitos
outros índios também sucumbiram em decorrência da epidemia de varíola, que, trazida por embarcadiços
portugueses, alastrou-se entre as povoações do litoral e interior próximo.
Men de Sá chefiou uma expedição contra os franceses alojados na Baía de Guanabara; em virtude
de persistirem esses estrangeiros na mesma região, a metrópole enviou reforços, sob o comando de Estácio
de Sá, que trazia instruções para fundar um núcleo português, a cidade de São Sebastião, na área cobiçada
pelos franceses, o que foi executado em 1º de março de 1565. Permaneceram em lutas intermitentes cerca
de dois anos. Men de Sá resolveu, então, retornar à Guanabara, em 1567, participando da expulsão dos
franceses e transferindo a cidade para local mais adequado, visando ao seu desenvolvimento.
A) Os Franceses:
Durante o século XVI, os corsários franceses frequentavam o litoral brasileiro, retirando o
ibirapitanga nativo (pau-brasil), atividade que se mostrava cada vez mais arriscada, tendo em vista o
progresso da colonização portuguesa. Melhor seria empenharem-se na fundação de um núcleo permanente.
A França vivia dias agitados; católicos e calvinistas (huguenotes) não se entendiam, e a intolerância desses
grupos antagônicos provocava distúrbios políticos. Uma colônia na América serviria de refúgio a todos que
desejassem viver e prosperar em paz. Constituíram, estas, as razões que nortearam a criação da França
Antártica.
5
O primeiro fato histórico significativo e pitoresco do Brasil se deu por ocasião da proclamação do paulistano Amador
Bueno de Ribeira como rei de São Paulo. Após a separação das coroas lusa e espanhola, e iniciada a restauração
do Reino de Portugal, em 1640, parte da população da cidade, em geral de origem espanhola, decide proclamar rei
um de seus filhos mais ilustres. Alguns desejavam continuar fiéis ao reino de Castela, pois acreditavam que em
breve estariam de novo sob sua autoridade. Mas, para não dar mostras de seu intento, esse grupo dizia apenas
proclamar um filho de São Paulo como seu rei. Amador Bueno, entretanto, consciencioso e percebendo a artimanha
das famílias espanholas, declinou o convite. Porém, chegaram a jurá-lo de morte, caso ele não aceitasse a coroa
paulistana. Ele, então, já seguido pelos gritos de muitos, refugia-se no Mosteiro de São Bento. O Abade e a
comunidade monástica saíram para deter a multidão, que logo se conteve em respeito aos religiosos. Bastava gritar
ao lado de fora do mosteiro sua aclamação. Aos poucos, os religiosos foram convencendo a população da falacidade
o intento, até acalmarem-se e desistirem de vez do que planejavam fazer.
Desiludido, Villegagnon retornou à Europa (em 1559), prometendo voltar, o que nunca cumpriu,
ganhando, assim, dos calvinistas, o apelido de “Caim da América”. Conseguiu, no entanto, uma indenização
por parte do governo português e, do governo francês, uma carta de corso contra os portugueses; mas não
a usou, preferindo negociá-la com Portugal, recebendo a soma de trinta mil ducados.
O Governador Men de Sá encontrava-se em Ilhéus quando recebeu notícias dos franceses por um
que desertara: Jean de Coynta, senhor de Bouléz, que, em troca da liberdade, lhe forneceu as informações
que precisava sobre a posição militar de seus patrícios e do Forte de Coligny.
A situação não permitia delongas; os jesuítas aconselhavam a fundação de um núcleo na Guanabara:
Nóbrega, em carta de 2 de setembro de 1557 ao padre Miguel de Torres, em São Vicente, afirmava esse
ponto de vista, "como sempre se desejou".
Chegados, enfim, os reforços tão insistentemente pedidos, a 30 de novembro de 1559, chefiados por
Bartolomeu de Vasconcelos da Cunha, Men de Sá reuniu mais homens, em duas naus e três navios menores,
e dirigiu-se para a Guanabara. O ataque ao Forte de Coligny verificou-se a 15 de março de 1560; resistiram
os intrusos por dois dias. Orientados por Bouléz, dois portugueses (Manoel Coutinho e Afonso Martins
Diabo) conseguiram entrar no forte e explodir seu paiol de pólvora, causando grande confusão. Os franceses
se retiraram escondendo-se nos matos próximos, com a ajuda dos tamoios; 74 renderam-se, Esse combate
é historiado em carta do padre Nóbrega, que o assistiu, datada de 01/06/1560, ao Cardeal D. Henrique.
Men de Sá limitou-se a arrasar o forte. Não dispunha de gente nem meios para criar um núcleo de
povoamento permanente, o que seria aconselhável. Da Guanabara, dirigiu-se a São Vicente e, depois, para
Salvador. No Espírito Santo, aceitou a renúncia do donatário Vasco Fernandes, nomeando Belchior de
Azevedo para administrar a região. Bouléz ficou em São Vicente, mas, hostilizado pelos habitantes, foi
remetido para Salvador onde enfrentou processo como herege e mandado, em seguida, preso para a
Inquisição de Lisboa onde foi desterrado para a Índia.
Os franceses, orientados pelos tamoios, tomaram novas posições na Ilha de Paranapuan (hoje
Governador). Insuflando os indígenas, conseguiram que o chefe Cunhambeba os reunisse para o ataque a
São Vicente e ao Colégio dos Meninos de São Paulo. Compreendendo o perigo que se avizinhava das
povoações portuguesas, o padre Manoel da Nóbrega e o irmão José de Anchieta entrevistaram-se com os
chefes indígenas. Duraram cinco meses as negociações, três dos quais Anchieta ficou como refém (quando
então compôs o poema à Virgem), terminando com o armistício de Iperoig (próximo de Ubatuba): os
portugueses não mais seriam atacados (14/09/1563).
Da terra do Brasil não cessavam de chegar a Lisboa pedidos no sentido de se fundar uma povoação
no Rio de Janeiro. Constitui documento valioso a carta de Brás Cubas a D. Sebastião de 25 de abril de 1562.
Prevenido pela metrópole, o Governador Castro Moraes organizou a defesa, concitando o General-
de-Batalha-do-Mar Gaspar da Costa Ataíde, apelidado "o Maquines", a que colaborasse, utilizando os
homens e os recursos de seus quatro navios, que estavam casualmente no porto do Rio. O efetivo total da
cidade atingia 3.270 homens, muitos dos quais índios, ou populares, pouco afeitos à profissão das armas.
A 12 de setembro de 1711, despontaram os franceses na entrada da barra, forçando-a, graças a um
pequeno nevoeiro. Os tiros dos fortes litorâneos não impediram a entrada dos franceses, apesar de terem
provocado trezentas baixas. Navegaram, lentamente, em direção da ilha de Villegagnon, sem serem
molestados, pois a fortificação nela instalada encontrava-se inoperante por causa da explosão do paiol de
pólvora. Bombardearam a cidade, ao mesmo tempo em que procuraram tomar as naus do Maquines,
conseguindo apenas uma, pois as outras foram inutilizadas por ordem de seu comandante.
Solicitou, o governador, que o Maquines garantisse, com seus homens, a ilha das Cobras, ponto
vulnerável. Mas não sabemos até hoje porque esse militar, tão famoso em guerras passadas, negligenciou
a sua parte, permitindo que os franceses tomassem a ilha nessa mesma noite. Tiros foram trocados com
peças assestadas no Mosteiro de S. Bento, mas sem proveito algum. Na manhã de 14, Duguay-Trouin
desembarcou seus homens na praia de S. Diogo, perto da Bica dos Marinheiros, e ocupou os morros de S.
Diogo, Livramento e Conceição, instalando, neste último, na casa do bispo, o seu quartel general. Do dia
15 ao 18, os invasores fustigaram a cidade com seus canhões. Castro Moraes procurou resistir, ao mesmo
tempo em que pedia ajuda às capitanias vizinhas. Apenas de Parati chegavam 580 homens, sob o comando
de Francisco do Amaral Gurgel.
No dia 19, um emissário francês exigia a rendição. Castro Moraes respondeu: "... Enquanto a
entregar-vos a cidade pelas ameaças que me fazeis, havendo-me ela sido confiada por El-Rei, meu Senhor,
não tenho outra resposta a dar-vos senão que a hei de defender até a última gota de meu sangue". Mas na
tarde do dia seguinte, os militares e notáveis da cidade, reunidos em conselho pelo governador, votaram
unanimemente pelo abandono da praça e a concentração em outra posição, com o auxílio de reforços, para
se proceder a um contra-ataque. Ordenada a retirada, esta se verificou no correr da noite, transformando-se
numa fuga desordenada e vergonhosa, em meio a um temporal fantástico, onde não foram poucos os saques
às propriedades da área rural. Concentraram-se todos em Moxambomba (hoje Nova Iguaçu).
Os próprios prisioneiros da expedição anterior, logrando evadirem-se, avisaram na manhã de 21 ao
comandante francês que a cidade se encontrava em suas mãos. Os fortes se renderam.
Donos da cidade, os franceses procederam a uma completa pilhagem, enquanto se calavam as
últimas resistências esparsas, momento em que morreu Bento do Amaral Coutinho. Duguay-Trouin não
ficou satisfeito com o saque: exigiu do governador um resgate, para não terminar de destruir a cidade.
MÓDULO 2 REGULAR - 87 - QOA-AA/AFN 2022
HISTÓRIA MILITAR NAVAL Prof. VAGNER SOUZA
Tentou ganhar tempo Castro Moraes, mas, pressionado pelos principais, que temiam perda de suas
propriedades, acabou cedendo em pagar a soma de 610.000 cruzados, além de cem caixas de açúcar e
duzentos bois. Como se imaginava, chegaram os reforços do planalto, comandados por Antônio de
Albuquerque Coelho de Carvalho, que, inexplicavelmente, não se empenhou em nenhuma ação militar com
os seus seis mil companheiros.
A 13 de novembro, partia Duguay-Trouin com uma expressiva presa, cujos lucros foram fixados
em 95%. Pensou atacar Salvador a pretexto de livrar os oficiais de Duclerc ainda presos. Ventos difíceis o
impediram, perdendo, mesmo, dois navios. Do rei francês, recebeu a promoção a Chefe-de-Esquadra e a
comenda de S. Luis e, da História, a fama de marujo audaz. Escreveu depois um livro de memórias.
O povo do Rio de Janeiro atribuiu a Castro Moraes a sua desventura. Alcunhou-o de grosseiro nome
e instou para que Albuquerque assumisse. Realmente, o governador não estava à altura de exercer um
comando militar; tivera êxito em 1710, como consequência do malogro do adversário, não por sua tática
militar. A sua incapacidade se demonstrava diante de um chefe como Duguay-Trouin. Castro Moraes foi
preso, bem como outros oficiais, abrindo-se logo uma devassa, com ouvidores da Bahia, que concluíram
pela culpabilidade de todos, remetidos, em seguida, para o Reino. O governador perdeu seus bens e partiu,
deportado, para o Indução, somente reabilitado em 1730; os militares receberam castigos severos e destinos
semelhantes. Menos o Maquines, contra quem nada se imputou. Uma segunda devassa aberta em Lisboa e
terminada em 1716 concluiu pela culpabilidade de Gaspar da Costa, condenado à prisão, pena que não se
aplicou por falecimento do réu. Antônio de Albuquerque foi, também, censurado pela sua atitude, perdendo
a governança.
B) Os Ingleses:
Os ingleses interessaram-se pelas riquezas nativas do Brasil ainda no século XVI. William Atkins,
em comando do navio Paul of Plymouth, realizou três viagens proveitosas à costa brasileira em 1530, 1536
e 1540. Mas, as correrias de flibusteiros ingleses nos mares brasileiros ocorreram quando o Brasil, seguindo
o destino de Portugal, passou a ser administrado pela Espanha. A rivalidade existente entre esta potência e
o reino de Elizabeth I, que projetava a Inglaterra nos mares, explica as incursões inglesas nos lados
meridionais do Oceano Atlântico. Devemos, também, assinalar a existência das cartas de John Whithali,
inglês radicado em Santos, enviadas a parentes, narrando a presença de pepitas de ouro; elas aguçaram os
corsários, contribuindo, assim, para as viagens de alguns deles.
Em 1583, Edward Fenton, com dois navios, investiu sobre a vila de São Vicente, travando combate
com três galeões espanhóis, comando de André de Equino, que se encontravam no local. Depois de cinco
dias, Fenton desistiu da empresa, apesar de ter afundado um dos galeões. Um dos navios ingleses,
capitaneado por Luke Ward, rumou imediato para a Inglaterra; Fenton ainda fez aguada no Espírito Santo
e tentou comerciar com o donatário Vasco Fernandes Coutinho.
Em 21 de abril de 1587, Robert Withringhton e Christopher Lister, cada um comandando uma nau
de guerra e contando com mais duas embarcações, entraram na Baía de Todos os Santos, apresando
pequenos navios mercantes. A cidade de Salvador resistiu, mas os dois corsários saquearam as fazendas do
recôncavo até junho. Durante esse período, houve diversos pequenos combates com perdas de ambos os
lados.
Quando Thomas Cavendish (o corsário elegante) resolveu excursionar no Brasil, já havia realizado
a famosa viagem de circunavegação do globo, a terceira que se tinha notícia. Sua esquadra era composta
de um galeão, duas naus e dois navios menores, com quatrocentos homens de guarnição. Em Cabo Frio,
apresou um navio português; desembarcou na ilha Grande, onde fez aguada e provocou desordens. Em
seguida, atacou a Vila de Santos (15/12/1591) e dela se apoderou, saqueando-a. O mesmo destino encontrou
a Vila de São Vicente. Cavendish as deixou parcialmente destruídas e incendiadas. Satisfeito, levantou
ferros em 03/02/1592, velejando litoral sul. Atingiu o Estreito de Magalhães. Dificuldades várias o
pressionaram a regressar pelo Oceano Atlântico. Perto de Santos obteve alguns víveres. Resolveu atacar,
de novo, a vila, mas os habitantes repeliram os intrusos. Cavendish rumou para o norte, atingiu Vitória e
desembarcou uma força de ocupação. Em renhido combate, os habitantes e mais índios guerreiros
destroçaram o contingente inglês. Na ilha de São Sebastião abandonou 20 feridos, dos quais apenas dois
C) Os Holandeses:
A inabilidade com que o Rei Filipe II tratou o problema religioso nos Países Baixos e debilidade da
coroa espanhola após a derrota da Invencível Armada para a Inglaterra, originaram uma guerra de libertação
que acabou sendo vitoriosa para os holandeses. Nascia um novo país, a República das Províncias Unidas
dos Países Baixos, a futura Holanda, e em franca rivalidade com a Espanha. Esta fechou seus portos aos
navios batavos, cônscia do poderio marítimo que desfrutava. Para a Holanda que surgia afigurava-se
indispensável à libertação dos mares, mas só a iria obter através de lutas. Desenvolvendo-se rapidamente,
graças aos capitais judeus provenientes da Península ibérica, a Holanda organizou empresas mercantis que
deram origem ao seu império. A primeira foi a Companhia das Índias Orientais (1602), seguindo-se a das
Índias Ocidentais, criada por Willen Usselinx. A sua administração compunha-se de 19 diretores, o
chamado Conselho dos Dezenove, que funcionava em Amsterdã e Midelburg. Essas duas companhias
constituíam empresas mercantis paraestatais, de amplos poderes, pouco influindo nelas os “stathouders”
(governantes) dessa República das Províncias Unidas dos Países Baixos durante esse período que interessa
ao Brasil (Moritz, de 1584 a 1625, Frederich-Henrich, de 1625 a 1647, Willen II, de 1647 a 1650, e Johan
van Witt, de 1650 a 1672). Para justificar a expansão marítima de sua pátria, Hugo von Groot escreveu
Maré liberum, em 1609, tendo provocado uma grande polêmica na Europa.
Deduz-se, portanto, que o procedimento de Filipe II atiçou os holandeses a procurarem nas próprias
fontes os produtos que distribuíam na Europa; a paralisação do mecanismo de revenda dos mesmos
representaria a morte da nação, que fundamentava a sua economia no comércio. O desejo de dominar as
terras produtoras de açúcar não consistiu a única razão das invasões holandesas em terras do Brasil;
desestabilizar o império espanhol (e português) no Atlântico consistia o objetivo primordial.
Por isso, alguns holandeses andaram investigando o nosso litoral. Os quert, comandando uma urca
holandesa, participou do assalto à Bahia impetrado pelos corsários ingleses Withringhton e Lister. Em 9 de
fevereiro de 1599, Olivier van Noortt, utilizando as boas qualidades do seu navio Eendracht, tentou
desembarcar no Rio de Janeiro, mas foi repelido. No mesmo ano, Hartman e Broer, com sete embarcações,
assolaram o recôncavo baiano conseguindo alguma presa. Em 1604, Paulus van Carden, com sete navios,
aventurou-se na Bahia, apoderando-se de muito açúcar. Dez anos depois, Joris van Spilberg, com seis
navios, ocupou a ilha Grande, efetuando depredações em São Vicente e em Santos. Pouco depois, em 1615,
o Governador do Rio de Janeiro, Constantino Menelau, afugentou holandeses que se encontravam em Cabo
Frio, logrando fazer alguns prisioneiros, enviados para o governador geral.
Os holandeses interessaram-se, também, pela Amazônia; sabe-se que Pieter Adriaansz fundou, em
1616, uma colônia na margem do Rio Paru. Um comércio intenso e regular se estabeleceu. Os portugueses
reagiram enviando uma expedição sob o comando de Luís Aranha de Vasconcelos, que destruiu redutos
holandeses e apresou uma nau capitaneada por Adriaansz. Outro holandês, Nikolaas Ouclaen, associou-se
ao irlandês Purcell e fundou um núcleo na foz do Rio Xingu (Mandiutuba) arrasado por Pedro Teixeira,
Jerônimo de Albuquerque e Pedro da Costa Favela. Ouclaen escapou levando muitos em sua companhia.
Teixeira e seus companheiros perseguiu-os atingindo os fortes da ilha dos Tucujus, que combateram e
tomaram no dia seguinte, regressando a Belém com prisioneiros. Ouclaen morreu no campo de batalha.
Afigurava-se melhor, concluíram, ocupar a Zuickerlând, isto é, a terra do açúcar. Foi o que
aconselhou à Companhia, em 1624, Jan Andries Moerbeeck no escrito que intitulou “Motivos porque a
Companhia das Índias Ocidentais deve tirar ao rei da Espanha a terra do Brasil”.
Percebendo que a permanência em Recife se mostrava arriscada, destruiu os armazéns, navios com
preciosas cargas e se retirou para as margens do Rio Capiberibe, a igual distância entre os dois núcleos,
fundando o Arraial do Bom Jesus (04/03/1630), formado com todos aqueles que fugiam dos holandeses.
Com a capitulação do Forte de São Jorge, comandado por Antônio Lima, os holandeses ocuparam Recife
(03/03/1630).
Enquanto o arraial se tornava uma fortificação capaz de resistir aos inimigos, os nossos
organizaram-se no sistema de guerrilhas que bons resultados dera na primeira invasão. Os mais diversos
elementos se confraternizaram para combater os intrusos, destacando-se os índios do bravo Poti (depois
batizado de Antônio Filipe Camarão) e diversos negros sob o comando de Henrique Dias.
As guerrilhas predispunham os invasores a um permanente estado de sobreaviso, causando, assim,
intenso nervosismo nos holandeses, que se viram em situação constrangedora. Por isso, construíram as
fortificações do Brum, de Cinco Pontas e Três Pontas.
Logo receberam reforços: 16 navios e cerca de mil homens sob o comando de Adriaen Iansen Pater.
Por isso, animaram-se a ocupar a ilha de Itamaracá, onde ergueram o Forte Orange. Entretanto, o governo
espanhol aprestou uma esquadra que visava a compelir os invasores a uma capitulação. Comandava-a D.
Antonio de Oquendo. Este atingiu Salvador em 13 de junho (1631); em setembro, fez-se ao mar para
conduzir reforços para Matias de Albuquerque. Os holandeses estavam, porém, vigilantes; Oquendo tentou
safar-se se dirigindo para o sul; Pater seguiu-o.
Encontraram-se as duas esquadras em setembro de 1631, em Abrolhos, travando o primeiro combate
naval de larga envergadura da história brasileira (Combate Naval de Abrolhos) e de toda a América até
aquele momento. Outra grande batalha só terá lugar em 1640. Oquendo dispunha de vinte navios de guerra,
com 439 peças, comboiando navios que transportavam açúcar e 12 caravelas com tropas de apoio, sob o
comando do Conde de Bagnoli. Pater tinha 16 navios com 472 peças. Às nove horas de manhã, começou a
batalha que durou até o anoitecer. Oquendo repeliu o ataque adversário provocando a sua fuga, tendo sido,
portanto, o vencedor, apesar de ter tido tantas perdas quanto Pater, que morreu nesse dia, afundando com
sua capitânia Prinz Wíllen. Complementando a sua missão, Oquendo conseguiu desembarcar o
destacamento militar comandado pelo Conde de Bagnoli; pouco depois, esta força juntou-se aos que
seguiam Albuquerque.
A posição dos holandeses estabilizara-se. Dispunham, nesse momento, de sete mil homens. Seu
comandante, Coronel Waerdenburch, firmou-se na Ilha de Itamaracá; a direção do Forte Orange foi
entregue ao Coronel Crestofle d'Artischau Arciszewsky, mercenário polonês.
Por ordem de Albuquerque, Bagnoli e trezentos napolitanos dirigiram-se para o Cabo de Santo
Agostinho, onde erigiram o Forte de Nazaré.
Em 25 de novembro, Waerdenburch incendiou Olinda e se concentrou no Recife. Tentou conquistar
o Forte Cabedelo, na foz do Rio Paraíba, sem sucesso; a pequena expedição do Capitão Smient atingiu o
Forte Ceará e não foi mais feliz; e a investida sobre o Forte dos Reis Magos redundou em fracasso.
MÓDULO 2 REGULAR - 92 - QOA-AA/AFN 2022
HISTÓRIA MILITAR NAVAL Prof. VAGNER SOUZA
Mas, a traição de Calabar (20 de abril de 1632) mudou a sorte dos acontecimentos. Domingos
Fernandes Calabar era um natural da terra, nascido em Porto Calvo; seu interesse residia na ambição de
enriquecer. Desentendendo-se com Albuquerque, talvez por causa do contrabando de alimentos, foi expulso
do arraial. Os holandeses, agora dirigidos por um homem de valor, o General Sigmund von Schkoop, e
tendo o apoio de um conhecedor da terra, conseguiram desarticular as guerrilhas e alcançar inúmeras
vitórias: partindo do Forte de Orange, na Ilha de Itamaracá, dominaram toda a ilha, expulsando o Capitão
Salvador Pinheiro e sua gente; assaltaram Igaraçu; cercaram o forte do Rio Formoso, onde o Capitão Pedro
de Albuquerque e vinte homens resistiram a quatro ataques mas morreram 19; o capitão, ferido, foi
conduzido ao Recife e se restabeleceu, seguindo para as Antilhas e daí para a Europa. Waerdenburch
retirou-se para a Europa, sendo substituído (24/03/1633) pelo Major Rembach. Ainda com a participação
de Calabar, uma expedição, sob o comando de Lichtardt, ocupou Natal e cercou o Forte dos Reis Magos,
no Rio Grande do Norte, capitulando a sua guarnição (12/12/1633). Em 16 de dezembro (1634), os
holandeses conquistaram o Forte de Cabedelo na Paraíba; em seguida, assaltaram o Forte de Santo Antônio,
situado na margem esquerda do Rio Paraíba, e investiram sobre Filipéia, que passou a se chamar Frederícia.
Continuando sob a orientação de Calabar, os holandeses ocuparam Porto Calvo e obtiveram a rendição do
Forte de Nazaré (02/07/1635). Em seguida, cercaram o Arraial do Bom Jesus, que se rendeu em 8 de julho,
apesar dos esforços de seu comandante, Coronel André Marin.
Cerca de sete mil pessoas encetaram penosa marcha para o sul, em direção a Alagoas. Reagiu
Sebastião do Souto cercando Porto Calvo e obrigando a render-se o Major Picard, com seus 402 homens,
entre os quais se encontrava Calabar. Albuquerque, sabedor deste episódio vitorioso, acorreu em Porto
Calvo e ordenou o enforcamento de Calabar, que, assim, ocorria, por ironia da História, na terra que nascera
(22 de julho de 1635).
Esses fatos sacudiram a Corte do rei espanhol que mandou um reforço de 1.700 soldados, sob o
comando do General D. Luis de Roias y Boria, Duque de Gandía, substituto de Albuquerque, recolhido
preso ao Reino. Resolveu o afoito duque oferecer combate aberto. Em Mata Redonda, próximo a Porto
Calvo, alinhou seus combatentes, 1.100, contra 1.300 do Coronel Arciszewsky, perdendo espetacularmente,
sendo morto logo aos primeiros tiros (18/01/1636). Seu exército contou duzentas baixas e recuou para Porto
Calvo; os holandeses tiveram quarenta mortos e 85 feridos, mas não souberam aproveitar a vitória. O duque
foi substituído por Bagnoli, que prudentemente volveu ao sistema de guerrilhas.
Vários holandeses compreenderam que a luta estava próxima do fim e, amotinados, buscaram
refúgio nas Antilhas. E as guerras navais que se abriram entre a Holanda e a Inglaterra, em decorrência do
Ato de Navegação, de Cromwell, concorreram para apressar o desfecho. Os Atos de Navegação, decretados
pelo governo inglês de Oliver Cromwell a partir de 1650, protegiam os mercadores ingleses e suprimiam a
forte participação holandesa no comércio inglês. As tensões crescentes deram início à guerra entre Países
Baixos e Inglaterra (1652-1654), o que favoreceu a maior aproximação entre ingleses e portugueses. Diante
da derrota militar para os britânicos, os holandeses, enfraquecidos e desgastados, também perderam para
as forças luso-pernambucanas, que, em 1654, puseram fim à sua dominação sobre o Brasil.
Schkoop e seus homens se viram reduzidos ao Recife, perdendo as suas praças fortes, cercados por
mar pelos 64 navios mercantes e 13 de guerra, comando do Almirante Francisco de Brito Freire, armados
pela Companhia Geral de Comércio do Brasil. Assim, capitulou o Forte do Rego (14/01/1654). Na margem
esquerda do rio Capibaribe, rendeu-se o reduto Altenar (Major Berghen e 180 homens); no dia 23, pediu
armistício o Forte Cinco Pontas, comandado por Waulter van Loo. Três dias depois, Cilbert de With e
Huybrecht Brest assinaram com Francisco Álvares Moreira, o Capitão Manoel Gonçalves Correa e o
Capitão Afonso de Albuquerque uma capitulação, com 27 artigos, no local chamado Campina do Taborda
A) A Descoberta do Ouro:
A pobreza da inicialmente próspera capitania de São Vicente, frente ao sucesso do empreendimento
açucareiro no Nordeste, levou à organização de bandeiras, expedições cujo objetivo era procurar riquezas
no interior da colônia e apresamento de nativos, além de ataques contratados a quilombos, como ocorreram
posteriormente.
Diante da ocupação de Pernambuco e da região africana de Angola pelos holandeses, as demais
capitanias não tinham acesso a carregamentos de escravos. Assim, embora as primeiras bandeiras de
apresamento de índios visassem obter mão-de-obra para a pequena lavoura paulista ou a venda para regiões
próximas, progressivamente passaram também a sanar as dificuldades dos senhores de engenho do
Nordeste, onde se localizava a maior produção agrícola baseada em mão-de-obra escrava.
Muitas bandeiras atacaram as missões jesuíticas do Oeste e Sul da colônia, capturando milhares de
nativos e cobrando um valor mais alto pelos aculturados por estarem adaptados ao trabalho agrícola.
A atividade apresadora de índios entrou em decadência, com o fim do domínio espanhol e a
retomada do comércio de africanos pelos portugueses, normalizando o abastecimento de escravos para a
colônia. Os paulistas organizados em bandeiras dedicaram-se, então, a atacar aldeamentos de nativos
insubmissos e de negros fugidos que viviam em quilombos. Essas expedições, a serviço dos fazendeiros ou
da administração colonial, eram chamadas de bandeiras de contrato, destacando-se a de Domingos Jorge
Velho, que venceu a resistência dos cariris e janduís e destruiu o quilombo de Palmares, em fins do século
XVII.
As mais importantes bandeiras foram, contudo, as destinadas à procura de metais preciosos,
incentivadas pela metrópole devido ao declínio da economia açucareira nordestina na segunda metade do
século XVII devido ao sucesso do empreendimento exercido pelos holandeses nas Antilhas após a expulsão
do Brasil. O financiamento das expedições paulistas trouxe a descoberta de ouro na região de Minas Gerais
– como em Vila Rica, atual Ouro Preto, e Sabará –, depois Mato Grosso e Goiás, dando início à atividade
econômica mineradora na colônia.
Portugueses, estrangeiros e colonos de
outras áreas, apelidados pelos paulistas de
emboabas (forasteiros), foram atraídos para a
região das minas, entrando em conflito
armado com os descobridores das jazidas e
terminando por expulsá-los da região. Os
bandeirantes paulistas dirigiram-se, então,
para a região central da colônia; em 1719,
Pascoal Moreira Cabral descobriu ouro em
Cuiabá e, em 1722, Bartolomeu Bueno Filho
achou riquezas em Goiás.
B) Os Vice-Reis na Bahia:
A descoberta do ouro e dos diamantes e o consequente progresso da Colônia despertaram a
administração portuguesa, que passou a olhar com maior interesse para o Brasil, Coincidiu com o
desabrochar do iluminismo cartesiano entre os pensadores europeus, que influenciaram os governantes a
assumir atitudes mais justas para com os povos. Reinou D. João V de 1706 a 1750.
A partir de 1714 os governadores gerais, que tinham por capital Salvador, ostentam o título de vice-
rei, sem, contudo, existir qualquer ato de elevação do Brasil a vice-reino; foram enviados ilustres homens
e administradores capazes, que empreenderam obras de vulto.
O Marquês de Angeja (D. Pedro Antônio de Noronha) realizou ótimo governo (1714 a 1718); serviu-
se do Brigadeiro Jean Massé, calvinista francês, que ergueu fortificações no estilo Vauban e reformou e
ampliou os fortes de S. Marcelo e do Barbalho, ambos em Salvador. Reabriu a Casa da Moeda, aumentou
a Sé, enquanto a população ia construindo suas casas sem regularidade alguma. La Barbinnais, francês,
visitou Salvador nessa época deixando interessante descrição da cidade e de seu povo devoto e indolente.
O Conde de Vimieiro (D. Sancho de Faro) sucedeu-lhe (1718) e, já doente, morreu a 13 de outubro
de 1719, ficando uma Junta a exercer a administração. Conseguiu celebridade em razão do castigo aplicado
aos piratas ingleses, cujo navio encalhara na costa fluminense, em Macaé, enforcando 27.
Trazia a experiência, por ter sido vice-rei da Índia, o Conde de Sabugosa (Vasco Fernandes Cesar
de Menezes), que assumiu em 1720, estendendo, por 15 anos, o seu governo. Completou as obras de
fortificações e visitou diversas capitanias; severo e disciplinador, condenou sete soldados à morte,
consequência de um motim em Salvador (10/05/1728); esclarecido, criou a Academia Brasílica dos
Esquecidos, a 7 de março de 1724, em dependências de seu palácio, tendo se reunido 18 vezes. Iniciou a
cobrança do donativo para perfazer o dote da Infanta D. Maria Bárbara (1727), num total de sete milhões
de cruzados (a serem pagos em 25 anos).
Substituiu-o Conde das Galveias (André de Meio e Castro), assumindo a 11 de maio de 1735;
favoreceu a capital, concorrendo para a construção de três conventos de freiras: Lapa, Mercês e Soledade,
este, iniciativa do jesuíta Gabriel Malagrida.
Sucedeu-lhe o Conde de Antouguia (D. Luis Pedro Peregrino de Carvalho de Menezes e Ataíde) em
1749, permanecendo como vice-rei até 1755.
Governou, em seguida (primeira intervenção do Marquês de Pombal), o 6º Conde dos Arcos (D.
Marcos de Noronha), de 1755 a 1760. O conde reedificou o fortim do Rio Vermelho, bem como cobrou
impostos que facilitaram Pombal na reconstrução de Lisboa, vitimada pelo terremoto de 1755. O 1º
Marquês do Lavradio (D. Antônio de Almeida Soares e Portugal), último dos vice-reis que teve Salvador
como capital, exerceu sua atividade por apenas seis meses, porque logo faleceu, ficando uma junta em seu
lugar até 1763, quando houve a transferência da capital para o Rio de Janeiro.
F) Progresso Econômico:
O século XVIII corresponde ao ciclo do ouro, consequência lógica do encontro das minas e veios
auríferos pelos bandeirantes e desbravadores. Os mineradores e tropeiros vão lentamente sedimentando a
conquista obtida, também, graças ao aventureiro ávido de riquezas, que termina por se fixar no interior após
a dissolução de seus sonhos de grandeza.
Em 1702, 19 de abril, a metrópole organizou o Regimento dos Superintendentes, Guardas-Mores e
Oficiais-Deputados para as Minas de Ouro e, para cumpri-lo, instituiu a Intendência das Minas.
Qualquer descoberta devia ser comunicada à intendência; os guardas-mores demarcavam o local e
distribuíam as "datas" (porções de terra), exclusão de uma, do descobridor, e de outra, da Coroa. As demais
entravam em sorteio para os candidatos possuidores de, no mínimo, 12 escravos.
A princípio, os mineradores apenas afastavam o cascalho da margem dos ribeirões com toscos
instrumentos; passo importante representou a adoção da bateia, de origem africana. A presença da água
consistia em necessidade elementar: apanhava-se ouro nos córregos (ouro da água), nas margens dos rios
(ouro de tabuleiro) e nas encostas secas (ouro de grupiara), utilizando-se a água para o desmonte do
cascalho. A "cata" do ouro era simples nos dois primeiros casos, mas complicava-se no terceiro, devendo-
se levar a água, por força humana ou animal, a regos de madeira, provocando, pela atuação da gravidade, a
lavagem das faldas dos montes e a formação de uma "cata" artificial. Daí a importância das águas ser origem
de muitas desavenças. Obtinha-se o ouro de veio talhando a rocha e triturando os pedaços em pilões.
Ao rei cabia 20% do ouro encontrado: consistia no "quinto", imposto que aparece nas Ordenações
e Regimentos mineiros, desde os primeiros tempos coloniais. Em virtude das dificuldades de arrecadação
e de fiscalização, a Intendência estipulou, em 1713, por proposta dos mineradores, a finta, anuidade fixa
cobrada ao distrito mineiro, montante em trinta arrobas de ouro; em 1718, reduziu-se para 25. Esta fórmula
não suprimia a sonegação; por isso, a metrópole criou as Casas de Fundição em 1720, mas com atuação
efetiva a partir de 1725, destinadas a converter o ouro minerado em barras seladas, proibindo-se,
igualmente, a circulação do ouro não quintado, A produção diminuiu tanto que a Intendência das Minas
aplicou a capitação, a partir de 1º de julho de 1735, sem eliminar a arrecadação dos quintos. A capitação
consistia numa taxa fixa (quatro oitavas e 3/4) que o minerador pagava por cada escravo de mais de 14 anos
empregado na sua lavra; as lojas, vendas e boticas da região mineira contribuíam com uma capitação que
variava entre oito e 24 oitavas (cada oitava equivalia a 3,586 gramas). Avolumaram-se os protestos contra
esse sistema, injusto, pois devia ser pago mesmo nas fases de pesquisa ou ainda que nenhum resultado se
chegasse, Assim, a Coroa retomou ao quinto, depois de 3 de dezembro de 1750, exigido sob a forma de
finta, equivalente a cem arrobas. Somaram-se os déficits por causa da exaustão dos veios auríferos,
arrecadados compulsoriamente sob a forma de derrama, a qual não consistia em novo imposto.
Mas o contrabando do ouro ou o "descaminho", bem como a falsificação dos selos reais para a
fabricação de barras sem a retirada do imposto, floresceu em todo o século XVIII, apesar das medidas
repressivas e da vigilância dos registros, postos de fiscalização nos caminhos das Minas. Através de trilhas
pouco frequentadas, o ouro era levado a Salvador ou ao Rio de Janeiro e, desses portos, para outros lugares,
como Açores, Buenos Aires, Antilhas, de onde se transportava para a Europa. Contribuía a venalidade de
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muitos funcionários públicos, mesquinhamente pagos. Utilizava-se qualquer fardo para esconder o ouro,
tendo ficado famosos os “santos-de-pau-oco”. O governador do Rio, Luis Vahia Monteiro, sobre tudo isso
preveniu a Coroa, não tendo desta recebido apoio devido. Célebre ficou a quadrilha de Inácio de Souza
Ferreira que tinha uma fundição clandestina na serra de Paraopeba e agentes espalhados nas principais
cidades.
Calcula-se a produção aurífera em 982t, o que representa boa parte do ouro circulante no mundo.
Entretanto, a condição política do Brasil não lhe permitiu aproveitar-se dessa riqueza para próprio
desenvolvimento. Serviu para Portugal levar uma vida luxuosa e de ócio, adquirindo produtos
manufaturados ingleses e entregando à Inglaterra, aos poucos, o ouro brasileiro. Mas o sonho das minas
não durou muito: antes de terminar o século XVIII, o ouro já estava esgotado. Deficiências técnicas e
ignorância dos mineradores aliaram-se para impedir a extração de depósitos profundos.
As primeiras notícias de diamantes datam de 1714, Pouco depois, em 1727, Bernardo da Fonseca
Lobo achou as primeiras pedras no sítio de Morrinhos, em Cerro Frio. Vários mineradores acorreram à
região. Em 1734, Portugal criou a Intendência dos Diamantes, submetida a uma legislação especial, o
Regimento das Terras Diamantinas (conhecido como Livro da Capa Verde), datado de 1771. Até 1740,
permitiu-se a livre exploração; depois, contratou-se com particulares a obtenção dos diamantes,
delimitando-se o Distrito Diamantífero, cujo centro localizava-se no Arraial do Tijuco (hoje Diamantina).
O contratador devia pagar, aproximadamente, £40.000 anuais. Famosos ficaram Felisberto Caldeira Brant,
que encontrou falência depois de vários infortúnios, e João Fernandes Oliveira, que não mediu dinheiro
para contentar Xica da Silva. Calcula-se em três milhões de quilates o fornecimento durante a época
colonial, provocando uma baixa de 75%, por quilate, na venda de diamantes em mercados da Europa.
A exploração das minas acarretou um rápido povoamento do interior. Sendo o ouro a preocupação
maior, ninguém pensou em plantar e criar, o que gerou uma grande dificuldade de vida, pela deficiência
dos meios de subsistência. A comida vinha de muito longe e chegava às Minas por preços absurdos. Assim,
surgiram as fortunas alicerçadas no comércio e na criação de gado. O ouro mudou o posicionamento social:
nos séculos anteriores importavam as grandes sesmarias agora, a situação social fundamentava-se nas
riquezas móveis. Com o tempo, dispersam-se os mineradores, arraiais, povoados e vilas se formavam, se
desenvolveu o comércio com o litoral, ao mesmo tempo em que são abertos caminhos percorridos pelos
tropeiros. A parte Sul, com o Rio de Janeiro à frente, progrediu muito, enquanto o Nordeste entrou
lentamente em decadência.
Corria o dinheiro português quer cunhado no Reino, quer produzido nas casas de moeda em Minas.
De ouro existiam: a dobra de oito escudos e valor de 12,800 réis, a dobra de quatro escudos, com valor de
6.400 réis, a meia-dobra, de 3.200, o escudo, de 1.600 réis, o meio-escudo e o quarto de escudo, chamado
cruzado. De 1724 a 1727, existiram os cruzados-novos, com valor de 480 réis. A unidade da moeda de prata
chamava-se tostão, com valor de 100 réis. Havia moedas de cobre de 40 e 20 réis, A diversidade de moedas
e a variedade de cunhagens produziram um sistema monetário verdadeiramente anárquico, isso sem contar
com a presença de moedas falsificadas pelas próprias casas de moedas ou por particulares.
O açúcar, grande riqueza do século XVII, ocupou, no século XVIII, lugar secundário. Fazendas se
despovoaram por causa das minas, coincidindo com a baixa do preço do produto que já começava a
enfrentar a concorrência do produzido nas Antilhas. Contudo, a Bahia exportava, em 1798, de 14 a 18 mil
caixas de açúcar, e Pernambuco, de 12 a 13 mil.
O cultivo do tabaco intensificou-se pelo desenvolvimento do vício de fumar. Antonil dedicou 12
capítulos de seu livro ao tabaco. Havia, em Lisboa, uma Alfândega do Tabaco, reorganizada por Pombal
em 1751. Em certos anos, o lucro com o tabaco subia ao dobro do que se obtinha com o ouro. Provavelmente
em 1757, Pombal enviou à Vila de Cachoeira, na Bahia, André Moreno com a incumbência de preparar o
tabaco em folhas para a fabricação de charutos. O cacau conseguiu um lugar de destaque, existindo
plantações em Ilhéus, sul da Bahia.
Somente no final do século, renasceu a economia agrícola vinculada ao algodão, vegetal têxtil nativo
da América. O nascimento de indústrias fabris mecanizadas, resultado da descoberta da máquina a vapor
(James Watt em 1769), ofereceu ao Brasil a oportunidade de produzir algodão e vendê-lo à Inglaterra, que
começou a encontrar dificuldades de extrair de suas próprias colônias americanas. Em 1775, a produção
atingia cinco milhões de libras (peso), aumentando, em 1791 para 26 milhões. O cultivo do algodão
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concentrou-se no Maranhão, espalhando-se, depois, em outros pontos do litoral. As atividades ficaram
vinculadas ao escravo, usando-se o descaroçamento manual; a máquina inventada por Eli Whitney, em
1793, não chegou a ser conhecida no Brasil.
Os colonizadores se aproveitaram de muitas espécies vegetais indígenas, neste século XVIII, já
participando da alimentação dos habitantes, como procuraram plantar os vegetais que normalmente
integravam a sua dieta europeia; o trigo e a uva não chegaram a se desenvolver, apesar dos esforços
despendidos; diversas árvores frutíferas se deram bem e passaram a ser cultivadas, Merece citação especial
o coqueiro, proveniente da Ásia e da Oceania. O vice-rei, 2º Marquês do Lavradio, iniciou o cultivo do
arroz e do chá, este plantado com sucesso nos arredores do Rio de Janeiro. Não sendo alimentícias, mas de
alto interesse, lembremos o cultivo da amoreira, da anileira e do cânhamo. Utilizou-se, também, o mate,
proveniente das missões guaraníticas.
O café, introduzido no Pará, em 1727, pelo ajudante Francisco Xavier Palheta, que transportou a
planta da Guiana Francesa, cumprindo ordem do governador do Estado do Maranhão, João Maia da Gama,
ainda estava em fase de aclimatação.
Percorrendo a costa norte do Brasil lentamente e sem muito sucesso, o café chegou ao Rio de
Janeiro, trazido pelo desembargador do Maranhão João Alberto Castelo Branco, ocasião em que governava
a Repartição do Sul Gomes Freire de Andrade (1760). Apenas duas mudas foram plantadas em chãos do
Convento dos Barbonos, na rua do mesmo nome (hoje Evaristo da Veiga). Apesar dos desvelos dos padres,
uma delas morreu, mas a outra se desenvolveu dando frutos que, apanhados pelo holandês J. Hoppman,
este os plantou em suas terras de Mata Porcos (hoje Estácio), formando extenso cafezal, protegido pelo
vice-rei Marquês do Lavradio. Rapidamente, os pés de café se espalharam na terra carioca, principalmente
na fazenda do Mendanha (Campo Grande – RJ), de propriedade do Padre Antônio Couto da Fonseca, que
os plantou na vila de Resende, fundada pelo vice-rei Conde de Resende. Ao final do século, podiam ser
vistas plantações de café em São Paulo e Minas Gerais.
Durante o século XVII, o gado bovino subiu morosamente pelas duas margens do Rio São Francisco
até as suas nascentes. Criado extensivamente, ele se multiplicou em terras mineiras, atingindo, neste século
XVIII, o planalto goiano e mato-grossense. De São Vicente, foi o gado levado para Paranaguá, e de tal
maneira ele se desenvolveu, que os criadores procuraram os "campos de cima", fundando Curitiba. De
Curitiba, o gado caminhou para o sul, encontrando bons pastos nos pampas sulinos. Nessa região, o gado
cavalar começou a ser criado com bastante proveito, barateando o preço da montaria até então acessível a
poucos, No fim do século, a área sulina produzia excelente charque, distribuído para todo o Brasil,
ocasionando a decadência parcial do gado nordestino.
A circulação de riquezas, resultado da descoberta das minas, provocou o nascimento de pequenas
manufaturas: cerâmica, metalurgia, ourivesaria, tecelagem e outras menores, o que não foi bem-visto pela
metrópole. Em 1766, ficava proibida a profissão de ourives. O alvará de 5 de janeiro de 1785 proibiu a
instalação de estabelecimentos fabris. Em consequência, as tecelagens paralisaram-se, com exclusão
daquelas destinadas ao fabrico de tecidos para os escravos e sacaria. Bastante desenvolvida mostrou-se a
pesca da baleia, cetáceo abundante no litoral sul, em especial na Baía de Guanabara. No Rio de Janeiro
funcionaram armações que industrializavam a carne, o azeite, as barbatanas e o espermacete (cera branca
existente na cabeça de baleias e cachalotes empregada na fabricação de cosméticos). Os curtumes
necessários a obtenção de couro, utilizável para a exportação, existiram em vários centros urbanos. E as
fábricas de anil, no Rio e no Pará, chegaram a exportar para a metrópole até quinhentas arrobas anuais.
Continuamos, neste século XVIII, a enviar para a metrópole os produtos nativos brasileiros,
recebendo, em troca, os manufaturados de origem portuguesa ou estrangeira, através de comerciantes
portugueses. Chamava-se, esse intercâmbio, de Pacto Colonial, estando vedado a qualquer nação fazer o
comércio direto em portos brasileiros. Mas, em algumas vezes, navios ingleses burlavam esse acordo e,
alegando arribada forçada, efetuavam trocas comerciais diretas, com alguns subornos às autoridades locais.
O comércio interno, por via terrestre com as terras espanholas, tornou-se muito importante e até hoje pouco
conhecido, dado o seu caráter de contrabando. Muitos “peruleiros” embrenhavam-se pelas regiões
desconhecidas, visando lucros com as populações andinas, brancas ou nativas.
Apesar de a Companhia Geral de Comércio do Brasil ter sido extinta em 1720, a ideia renasceu
durante a época de Pombal, que criou, em 1755, a Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão
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e, em 1759, a Companhia de Pernambuco e Paraíba. Ambas conseguiram altos lucros praticando abusos
na venda de produtos que monopolizavam. Foram extintas por D. Maria I em 1778 e 1779, respectivamente.
O comércio negreiro mostrou-se ativo e compensador durante este século XVIII, graças às
necessidades das minas, onde o africano não vivia muito tempo. Havia um trânsito permanente de tumbeiros
para os mercados brasileiros, enriquecendo a quantos a esse negócio se dedicavam.
Relativamente ao comércio interno, não possuímos dados suficientes. Tratava-se de mercadorias
destinadas à exportação e que eram transportadas aos portos de embarque; e os produtos estrangeiros que,
a partir desses mesmos portos, se distribuíam no resto do país. Tropas de muares percorriam os caminhos
conhecidos solidificando a conquista que os bandeirantes haviam iniciado.
H) As Questões de Fronteiras:
A fronteira do Sul do Brasil demorou a ser definida devido à ferrenha disputa travada entre Portugal e
Espanha que tinham interesse em dominar a estratégica região platina. Para consolidar o domínio da região, os
A família real portuguesa embarca para o Brasil no cais de Belém (Portugal) em 29/11/1807.
Esta apostila de História do Brasil, com enfoque em História Marítima (Civil e Militar) Brasileira, foi
desenvolvida com dados dos seguintes meios:
Fontes Impressas:
ALENCAR, Carlos Ramos de, Alexandrino, O Grande Marinheiro. Serviço de Documentação da Marinha,
Rio de Janeiro, 1989.
BELOT, R. de, A Guerra Aeronaval no Mediterrâneo. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Record, 1939-1945.
CAMINHA, Vice-Almirante João Carlos. História Marítima. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército
(BibliEx), Coleção General Benício, 1976.
FROTA, Guilherme de Andrea, Quinhentos Anos de História do Brasil. Rio de Janeiro: Biblioteca do
Exército (BibliEx), Coleção General Benício, 2000.
GOMES, Laurentino, 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta
enganaram Napoleão e mudaram a história de Portuga e do Brasil. São Paulo: Ed. Planeta, 2007.
HART, B. H. Liddell, As Grande Guerras da História. 3º Ed. São Paulo: IBRASA, Instituição Brasileira
de Difusão Cultural S. A.
_____ Introdução à História Marítima Brasileira. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação da Marinha,
2006
LIMA, Roberto Luiz Fontenelle. Guerra e Desarmamento: Duque de Caxias: Imprensa Naval.
SCHWARTZ, Stuart B., Segredos Internos: engenhos e escravos na sociedade colonial, 1550 - 1835. 1ª
reimpressão. São Paulo: Companhia das Letras, 1995
VIANA FILHO, Vice-Almirante Arlindo, Estratégia Naval Brasileira. Abordagem à História da Evolução
dos Conceitos Estratégicos Navais Brasileiros. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército (BibliEx),
Coleção General Benício, 1995.
VICENTINO, Cláudio e DORIGO, Gianpaolo. História para o Ensino Médio – História Geral e do Brasil.
São Paulo: Scipione, 2000, vol. único.
Fontes Eletrônicas: