Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
2
FUNDAMENTOS DE
GEOMÁTICA
Os autores
ii
ÍNDICE
APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................... I
ÍNDICE ..................................................................................................................................................III
1. CONCEITOS GERAIS DE GEOMÁTICA ........................................................................ 1
1.1 Introdução ........................................................................................................................ 1
1.2 A Geodésia....................................................................................................................... 4
1.2.1 A Geodésia Geométrica.......................................................................................... 5
1.2.2 A Geodésia Espacial............................................................................................... 8
1.2.3 A Geodésia Física................................................................................................. 10
1.2.4 As Altitudes.......................................................................................................... 14
1.2.5 Formas e dimensões da Terra............................................................................... 17
1.2.6 O Sistema Geodésico Brasileiro - SGB................................................................ 21
1.3 A Topografia.................................................................................................................. 27
1.4 A Cartografia ................................................................................................................. 28
1.5 A Hidrografia................................................................................................................. 29
1.6 A Fotogrametria............................................................................................................. 30
1.7 O Sensoriamento Remoto .............................................................................................. 32
1.8 O Desenho Assistido por Computador - CAD............................................................... 41
1.9 O Gerenciamento de Bancos de Dados.......................................................................... 42
1.10 O Gerenciamento Cadastral ........................................................................................... 42
1.11 O Sistema de Informação Geográfica (SIG) .................................................................. 44
1.12 O Sistema de Posicionamento Global por Satélites - GNSS.......................................... 46
1.13 Principais Aplicações da Geomática.............................................................................. 49
1.13.1 Determinação de coordenadas planimétricas de pontos ....................................... 49
1.13.2 Determinação de diferenças de nível.................................................................... 50
1.13.3 Levantamento de detalhes .................................................................................... 51
1.13.4 Levantamento de perfis ........................................................................................ 52
1.13.5 Locação de obras.................................................................................................. 53
1.13.6 Auscultação de obras de engenharia..................................................................... 54
1.13.7 Levantamento subterrâneo ................................................................................... 55
1.13.8 Levantamento hidrográfico .................................................................................. 56
1.13.9 Levantamento cadastral........................................................................................ 56
1.13.10 Levantamento “as built”....................................................................................... 58
1.13.11 Metrologia industrial ............................................................................................ 59
2. CONCEITOS BÁSICOS............................................................................................................... 63
2.1 Unidades de medidas............................................................................................................ 63
2.1.1 Medição de natureza linear (comprimento)................................................................ 64
2.1.2 Medição de natureza angular...................................................................................... 64
2.1.2.1 A conversão de ângulos .......................................................................................... 67
2.1.3 Medida de natureza de superfície............................................................................... 69
2.2 algarismos significativos ...................................................................................................... 70
2.3 Escalas.................................................................................................................................. 78
2.4 Resolução Gráfica ................................................................................................................ 82
2.5 Notações e símbolos para as grandezas mais utilizadas na Geomática ................................ 83
2.5.1 Notações para pontos ................................................................................................. 84
2.5.2 Notações para coordenadas ........................................................................................ 84
2.5.3 Notações para comprimentos e distâncias.................................................................. 85
2.5.4 Notações para altimetria e nivelamento ..................................................................... 85
2.5.5 Notações para ângulos e direções............................................................................... 86
3. SISTEMAS DE COORDENADAS............................................................................................... 87
3.1 Sistemas de coordenadas...................................................................................................... 87
3.1.1 O Sistema de Coordenadas Plano-retangular ............................................................. 87
3.1.2 O Sistema de Coordenadas Polares Plano.................................................................. 93
3.1.3 O Sistema de Coordenadas Cartesiano Espacial ........................................................ 94
3.1.4 O Sistema de Coordenadas Geodésicas...................................................................... 96
3.2 Transformação de coordenadas .......................................................................................... 101
3.2.1 Transformação de coordenadas polares em coordenadas plano-retangulares e vice
versa. ................................................................................................................................... 102
3.2.2 Transformação de coordenadas entre sistemas de coordenadas plano-retangulares. 102
3.2.2.1 Fator de escala...................................................................................................... 102
3.2.2.2 Rotação ................................................................................................................. 103
3.2.2.3 Translação ............................................................................................................ 104
3.2.3 Transformação de Coordenadas Geográficas Geodésicas em Coordenadas
Cartesianas Espaciais e vice-versa ...................................................................................... 104
iv
Conceitos gerais de Geomática
1. CONCEITOS GERAIS DE
GEOMÁTICA
1.1 INTRODUÇÃO
Como parte de suas atribuições, o engenheiro depara-se, em muitos casos, com situações nas
quais ele necessita determinar as posições relativas de pontos sobre a superfície terrestre ou
próximo dela e representá-los através de plantas, cartas, mapas, Modelos Digitais de Terrenos
(MDT)1, perfis e outros meios de representação que tornem essa determinação geometricamente
coerente para o uso em projetos de engenharia. Diz-se, nesses casos, que ele depara-se com um
problema de Mensuração.
Etimologicamente, a palavra Mensuração é de origem latina e advém da palavra mensuratione,
que significa o ato de medir ou de mensurar. Neste texto, ela terá, entretanto, um significado
mais amplo e constituir-se-á no termo que denominará a área de conhecimento humano que
agrupa as ciências e as técnicas de medições de elementos geométricos espaciais
(georreferenciados2 ou não), do tratamento matemático destas medições e da representação
gráfica na forma vetorial ou raster3 dos elementos medidos.
O uso do termo Mensuração, tal como apresentado acima, não é corrente entre os profissionais
que atuam nessa área, em nosso país. Empregam-se muitas vezes os termos Agrimensura,
Topografia ou até mesmo Geodésia4 para generalizações que vão além do que o termo permite.
Além disso, devido aos avanços científicos das últimas décadas, houve modificações
importantes nas ciências e nas técnicas de medições que acabaram por exigir o uso de um novo
termo. Para os propósitos deste texto, o termo Mensuração nos parece ser o mais adequado.
Neste contexto, a Mensuração é sem dúvida uma área do conhecimento humano com recursos
indispensáveis para os profissionais de áreas tão diversas como a Cartografia e a Engenharia
Civil, com algumas incursões na Arquitetura, na Engenharia Mecânica, na Engenharia Naval e
até mesmo na Medicina, para destacar apenas algumas. Ela é fundamental para a Cartografia e
para o levantamento de dados da infra-estrutura básica para o planejamento e o estabelecimento
1
É também de uso corrente a sigla DTM, que advém do termo inglês “Digital Terrain Modelling”. Mais
recentemente tem-se usado também, no meio técnico-científico, o termo Modelo Numérico de Terreno –
MNT.
2
Georreferenciamento é um termo incorporado recentemente aos textos da área de Geomática. Ele deriva-
se do termo inglês “Georeferencing” e significa a operação a partir da qual pontos, objetos ou fatos são
associados a um lugar geográfico a partir de suas coordenadas.
3
Encontra-se também no meio acadêmico brasileiro o uso da palavra matricial em substituição a palavra
inglesa raster. A palavra raster, entretanto, é a palavra mais empregada.
4
Existe também a palavra Geodesia.
1
Fundamentos de Geomática
5
GNSS advém do termo inglês Global Navigation Satellite System.
6
Enfatizamos o plural “formas da Terra” considerando que, para os objetivos da Geomática, a Terra
possui mais de uma forma. Consultar sessão 1.2.5 deste texto.
2
Conceitos gerais de Geomática
Para alcançar os objetivos acima, o profissional da área de Geomática deve ter formação em
áreas tão diversas como:
ª A Geodésia
ª A Topografia
ª A Cartografia
ª A Hidrografia
ª A Fotogrametria
ª O Sensoriamento Remoto
ª O Desenho Assistido por Computador (CAD)
ª O Gerenciamento de Bancos de Dados
ª O Gerenciamento Cadastral
ª Os Sistemas de Informações Geográficas (SIG)
ª Os Sistemas de Posicionamento Global (GNSS)
O assunto é sem dúvida vasto. Neste texto, porém, nos restringiremos aos tópicos primordiais e
indispensáveis as aplicações de rotina da Geomática. Alguns tópicos serão tratados com maior
rigor e profundidade e outros apenas como informação. Com o objetivo de introduzir o assunto
aos usuários interessados, apresentamos a seguir as informações mais relevantes de cada uma
das ciências e das técnicas citadas acima.
3
Fundamentos de Geomática
1.2 A GEODÉSIA
A Geodésia (do grego geo = terra, daiein = dividir) é uma ciência que tem por finalidade a
determinação das formas, das dimensões e do campo gravitacional da Terra7. Ela compreende
o estudo das operações ou medições, levantamentos geodésicos8, assim como os métodos de
cálculos aplicados para estas determinações. Em termos gerais, podemos dizer que a Geodésia,
além da determinação das formas da Terra, se preocupa também com a determinação e
manutenção do Datum Geodésico de um país ou uma região. Dessa forma, antes de mais nada,
vale a pena ressaltar aqui o significado da palavra datum, pois, como veremos nos próximos
capítulos, ela é relevante para uma série de definições empregadas na Engenharia e na
Mensuração.
A palavra Datum (plural Data) é uma palavra latina cujo significado pode ser entendido como
algo do tipo “alguma coisa dada”. Neste contexto ela tem sido usada na Engenharia para definir
um elemento geométrico de referência (um ponto, uma linha ou uma superfície de referência), a
partir do qual são determinadas as posições de outros elementos geométricos relacionados. Na
Mensuração ela tem sido usada como o termo que designa uma referência geodésica a partir da
qual são feitas as medições na superfície da Terra. Como referência geodésica deve-se entender
o modelo da forma da Terra, o qual define o tamanho e a forma a Terra (superfície de
referência), a origem e a orientação do sistema de coordenadas usado para a determinação da
posição de pontos na superfície terrestre. A esse modelo dá-se o nome de Datum Geodésico.
Após a determinação e implantação do Datum Geodésico procede-se à implantação de uma rede
de pontos com coordenadas referenciadas ao datum estabelecido. A essa rede de pontos de
referência dá-se o nome de Sistema de Referência Geodésico. Ao Datum Geodésico
estabelecido e com uma rede de pontos de referência implantada dá-se o nome de Sistema
Geodésico. Um Datum Geodésico é dividido em Datum Horizontal e Datum Vertical. Um
datum horizontal é a referência usada para determinar posições planimétricas na superfície
terrestre. Ele é definido por um par de coordenadas geodésicas (latitude e longitude), por uma
direção e por parâmetros definidores de um elipsóide de referência. Um datum vertical é a
referência usada para determinar a elevação de pontos na superfície terrestre, ou seja, as
altitudes dos pontos. Ele é definido a partir de medições maregráficas9.O leitor menos
habituado com os termos acima poderá consultar as seções 1.2.4 e 1.2.5 deste texto para maiores
detalhes sobre o assunto.
Fundamentalmente, quando se fala em formas da Terra, distinguimos os seguintes conceitos:
1. A forma geométrica, que é assimilada simplificadamente a uma esfera ligeiramente
achatada nos pólos, também designada de elipsóide de revolução;
7
A Terra, assim como todos os corpos celestes, exerce uma força de atração gravitacional sobre os corpos
localizados em sua proximidade. Esse campo de forças gerado ao seu redor é denominado Campo
Gravitacional Terrestre.
8
Considerando a PR Nº 22/83 do IBGE, podemos definir levantamentos geodésicos como sendo o
conjunto de atividades voltadas para as medições e observações de grandezas físicas e geométricas com
a finalidade de determinar as coordenadas de pontos para fins geodésicos.
9
Mais recentemente tem-se utilizado também técnicas de medições gravimétricas e GNSS para a
determinação do datum vertical.
4
Conceitos gerais de Geomática
Apesar da superfície terrestre ser bastante irregular, devido a presença de grandes elevações e
depressões, em muitos casos, para simplicidade e facilidade de cálculo, ela é considerada como
tendo uma forma regular. A justificativa para isso advém do fato de que as irregularidades da
superfície física (topográfica) são muito pequenas quando comparadas com o seu raio médio.
Nesse sentido, o estudo das formas da Terra como um todo é o objeto de estudo da Geodésia,
enquanto que as irregularidades da superfície são objetos de estudo da Topografia e da
Hidrografia.
A Geodésia baseia-se nas medições angulares e lineares, astronômicas, gravimétricas e nas
medições a partir de informações emitidas por satélites artificiais. Em função do tipo de
medição e da aplicação, ela pode ser classificada em três áreas de estudo:
9 Geodésia Geométrica;
9 Geodésia Espacial10;
9 Geodésia Física
10
A Geodésia Espacial também é designada por vários autores como sendo Geodésia Celeste ou Geodésia
por Satélites ou Geodésia Satelital.
5
Fundamentos de Geomática
d’água. Ele mediu então, nesse dia, ao meio-dia, o comprimento da sombra de um obelisco em
Alexandria e calculou o ângulo entre a direção dos raios solares e o obelisco, obtendo um valor
igual a 7°12’. Como ele sabia que a distância entre Alexandria e Siena era cerca de 5.000
estádios egípcios11, ele estimou a circunferência da Terra como sendo igual a 250.000 estádios.
Veja a Figura 1.1.
Embora Alexandria e Siena não estejam sobre o
mesmo meridiano, os eruditos estimam que
houve erro inferior a 2% no resultado obtido por
Eratóstenes. De toda forma o método estava
estabelecido e foi aperfeiçoado e usado muitas
vezes ao longo dos séculos.
Mesmo tendo sido comprovado por Eratóstenes, parece que a idéia de uma Terra esférica
acabou sendo esquecida ao longo dos anos e somente com a viagem de Fernão de Magalhães
(1480-1521), no Século XVI, é que ela foi comprovada e aceita definitivamente. A idéia da
Terra esférica durou até fins do Século XVII, quando Christian Huygens (1629-1695) e depois
Isaac Newton (1642-1727) afirmaram que a Terra possuía a forma de um elipsóide de revolução
achatado nos pólos.
A hipótese de Newton não correspondia às medições realizadas pelos geodesistas franceses, os
quais afirmavam o contrário de Newton, ou seja, que a Terra era um elipsóide de revolução
alongado na direção dos pólos. Para dirimir estas dúvidas, a Academia de Ciências de Paris
decidiu, em 1735, enviar duas expedições independentes, uma à Lapônia, na região norte da
Escandinávia (1736-1737), o mais próximo possível de um pólo e outra ao Vice-Reinado do
Peru (1735-1744), o mais próximo possível da linha equatorial, para medirem simultaneamente
dois arcos de meridiano. Após vários anos de trabalho e muitas peripécias dos membros das
expedições, os resultados comprovaram que a teoria de Newton estava correta. Estas medições
de comprimento de arco de meridiano foram utilizadas para o cálculo do primeiro elipsóide de
referência12 e foram publicadas em 1799. A partir daí, vários outros arcos de meridiano foram
medidos, em várias regiões, dando origem a diferentes elipsóides de referência, os quais foram
adotados por diferentes países.
O método utilizado até então para a medição do arco de meridiano era o Método dos Arcos, que
consiste basicamente em se medir o comprimento de um arco de um meridiano ou de um
11
A palavra Estádio advêm do grego stadium. No Egito ela era uma unidade de medida linear equivalente
a 157,5 metros e na Grécia esta mesma unidade equivalia a 185,25 metros.
12
Consultar seção 1.2.5.
6
Conceitos gerais de Geomática
R
Bergues . Espalion
L o l
Ballezeele W ornthoudt B illorgues
Clairvaux
W atten M oulin des Chats
C assel M t.Kemmeel
St.Omer
.
s
R Riopeyroux Rudez Severac
y
Helfaut Aire L
Fléchin Lille la Trem ouille
Burbure
Béthune C arvin la Casta St Jean le froid
Fiefs
Fãnjeaux
C oivrel A larie
d e
Au
(a) (b)
7
Fundamentos de Geomática
No início do Século XX, o engenheiro civil e geodesista americano John Fillmore Hayford
(1828-1925) preconizou o uso do Método das Áreas para a estimativa do arco de meridiano.
Segundo ele, ao invés de se medir o comprimento de arcos e as suas amplitudes, é preferível
comparar diretamente as coordenadas geográficas astronômicas, com as coordenadas dos
mesmos pontos, calculados a partir de medições terrestres sobre uma superfície de referência
previamente escolhida. Os parâmetros da superfície de referência são então modificados até que
as diferenças entre as coordenadas geográficas astronômicas e as coordenadas geográficas
geodésicas13 tornem-se mínimas. Ele aplicou este método sobre 270 pontos de triangulação
distribuídos sobre o Continente Americano e criou assim o Elipsóide de Hayford, o qual foi
referendado pelo Congresso da Associação Internacional de Geodésia de 1924 como sendo o
primeiro Elipsóide Internacional14. Ele é encontrado em algumas cartas de regiões do Brasil,
conhecidas como “cartas referenciadas ao Córrego Alegre”.
Com o lançamento dos primeiros satélites artificiais a partir de 1957, a Geodésia passou a ter
um outro aliado para a determinação de posições sobre a superfície terrestre e criou-se então a
Geodésia Espacial.
Se a Terra fosse uma esfera perfeita e com uma densidade uniforme, a órbita dos satélites
artificiais seguiria exatamente as prescrições das Leis de Kepler15. Isso, entretanto não ocorre e
os satélites possuem uma órbita completamente perturbada por diversos fatores que
compreendem desde as anomalias devido ao campo gravitacional terrestre até a pressão da
radiação solar. Devido a isso, a órbita dos satélites não é fixa e exige a aplicação de modelos
matemáticos sofisticados para explicá-la, entre os quais vale a pena citar o Princípio da
Trilateração Espacial. Este método consiste em medir a distância entre uma base terrestre e o
satélite, a partir do uso de um canhão a laser, que envia um raio até o satélite. O raio é refletido
por prismas (situados no satélite) e a partir da contagem do tempo de ida e volta de uma onda
eletromagnética, mede-se a distância entre a base terrestre e o satélite. As distâncias medidas
permitem estabelecer uma trilateração espacial a partir de pontos conhecidos sobre a superfície
terrestre. Atualmente é possível medir essa distância com uma precisão de alguns centímetros.
Conhecendo-se a posição dos satélites é possível determinar a posição de qualquer ponto sobre a
superfície terrestre. Basta, neste caso, realizar também uma trilateração espacial, porém, agora
medindo-se as distâncias a partir dos satélites. A primeira técnica para o posicionamento de
13
Consultar Capítulo 3.
14
O Elipsóide Internacional é também conhecido como sendo o Elipsóide de Hayford, Elipsóide
Internacional de Hayford, Elipsóide IAG-1924.
15
Johannes Kepler (1571-1630). Formulou as três leis fundamentais da mecânica celeste, conhecidas
como Leis de Kepler. Usando dados coletados por Tycho Brahe, mostrou que os planetas não se
moviam em órbitas circulares, mas sim elípticas. Esse pequeno detalhe serviu de base para Newton
formular, 50 anos mais tarde, a teoria da gravitação universal.
8
Conceitos gerais de Geomática
pontos sobre a superfície terrestre foi baseada no efeito Doppler16. Neste caso, um satélite com
posição conhecida emite, a cada instante, uma onda eletromagnética de freqüência constante.
Essa freqüência, captada por uma estação terrestre sofre alterações devido ao movimento do
satélite ao longo de sua órbita. As alterações aumentam na medida em que o satélite se
aproxima da antena receptora e diminui à medida que ele se afasta. A essa variação dá-se o
nome de efeito Doppler. Medindo-se esse efeito, em vários instantes, é possível calcular a
posição da antena receptora referenciada a um sistema de coordenadas geocêntricas17. Esse
método foi posto em prática, pela primeira vez, em 1964 através da criação do Sistema Transit
de posicionamento por satélites, o qual foi disponibilizado para o usuário civil a partir de 1967.
O segundo sistema de posicionamento por satélite foi disponibilizado aos usuários em meados
dos anos 80 e substituiu o sistema Transit com sucesso. Trata-se do Sistema de
Posicionamento Global NAVSTAR (NAVigation System Using Time And Ranging Global
Positioning System), também conhecido por Sistema GPS ou simplesmente GPS. Ele permite
obter precisões melhores do que o sistema Transit e foi projetado, desenvolvido e é mantido
pelo Departamento de Defesa Americano para aplicações na navegação com propósitos
militares. Somente com a descoberta da grande precisão do sistema e com o aumento da
eficiência dos receptores é que ele passou a ser também utilizado pela comunidade civil.
O Sistema GPS consiste no mínimo de 24 satélites ativos, os quais estão distribuídos em 6
planos orbitais. Cada plano possui uma inclinação de 55° em relação ao plano do Equador.
Todos os satélites estão a cerca de 20.200 km acima da superfície terrestre e completam uma
revolução inteira, em torno da Terra, a cada 11h 57′ 58,3′′ (tempo sideral). Vide Figura 1.3.
A precisão absoluta do Sistema GPS, logicamente, não serve aos propósitos da Geodésia. Ela
exige precisões maiores que a oferecida pela posição de navegação. Para alcançar o nível de
precisão exigido pela Geodésia, utiliza-se o método de posicionamento relativo ou diferencial, a
16 É uma característica observada nas ondas quando emitidas ou refletidas por um objeto que está em
movimento em relação ao observador. O comprimento de onda observado é maior ou menor conforme
sua fonte se afaste ou se aproxime do observador.
17
Vide Capítulo 3.
9
Fundamentos de Geomática
partir do qual se obtêm precisões da ordem de alguns milímetros por quilômetro. Utilizando-se
dois receptores simultaneamente e observando-se as diferenças entre os sinais recebidos de um
mesmo satélite é possível calcular a posição relativa de duas antenas receptoras com a precisão
indicada.
Além do sistema GPS, desenvolvido pelos americanos, existe um sistema similar desenvolvido
pelos russos e denominado Sistema GLONASS. Este sistema tem características semelhantes
ao sistema americano. Nos últimos anos ele sofreu alguns problemas devido a crise econômica
que atingiu aquele país, porém, atualmente ele foi revigorado e está disponível para a
comunidade civil internacional. A Agência Espacial russa tem um cronograma de lançamento
onde até o final desta década a constelação de satélites estará novamente completa.
Devido ao sucesso desses sistemas e para diminuir a dependência em relação ao sistema
americano e ao russo, a Comunidade Européia mostrou-se também interessada em desenvolver
um sistema de posicionamento global para os países integrantes da comunidade, denominado
GALILEO. A China anunciou recentemente que tem planos para construir seu próprio sistema
de navegação por satélites. O sistema será composto por 35 satélites sendo 5 geoestacionários e
o restante estará em órbita de média altitude e o seu funcionamento está programado para o ano
de 2008. Este sistema chinês receberá o nome de BEIDU (em chinês) e COMPASS (em
inglês). Outros países asiáticos também têm demonstrado interesse em desenvolver um sistema
para atender aquela região. Com o advento de outros sistemas de posicionamentos globais
passou-se a utilizar o termo Sistema de Navegação Global por Satélites - GNSS, para
designar todos os sistemas existentes e aqueles que por ventura venham a entrar em operação no
futuro. Mas por força de hábito têm-se utilizado ainda, no meio profissional, o termo Sistema
GPS ou simplesmente GPS quando se refere ao sistema de posicionamento global. A tendência,
entretanto é usar o termo GNSS.
Os métodos geodésicos descritos até aqui são puramente geométricos. Porém, se os satélites
forem considerados não apenas como pontos geométricos auxiliares, mas sim como uma massa
em movimento sobre o campo de atração gravitacional terrestre, a análise das perturbações de
suas trajetórias e o tratamento das medições permitem obter, não apenas as coordenadas das
estações, mas também o seu campo gravitacional, ou seja, a forma geométrica da superfície de
nível desse campo e, portanto, a forma real da Terra.
Em 1743 o matemático Francês Clairaut (1713-1765) publicou a Teoria da Figura da Terra, a
partir da qual ele estabeleceu as relações entre os eixos de um elipsóide, a latitude do lugar e a
intensidade da gravidade nesse lugar. Essa teoria tornou-se a base da Geodésia Dinâmica.
No Século XIX deu-se início às medições gravimétricas18 e até meados do Século XX a
concordância entre os valores dos parâmetros terrestres obtidos por cálculos geométricos e
aqueles obtidos por medições gravimétricas mostravam-se confiáveis. Porém, restavam ainda
algumas divergências difíceis de serem explicadas apenas pelas imprecisões das medições.
18
Medições da aceleração local da gravidade feitas a partir de um instrumento denominado gravímetro.
10
Conceitos gerais de Geomática
11
Fundamentos de Geomática
A Figura 1.5 mostra o mapa geoidal para a América do Sul, incluindo o Brasil, realizado pelo
Instituto Astronômico e Geofísico da USP – IAG/USP.
12
Conceitos gerais de Geomática
Figura 1.5: Representação das curvas de isovalores de alturas geoidais para o Brasil e parte da
América do Sul. As curvas apresentam semelhanças de representação com as curvas de nível. Fonte:
IAG/USP.
Atualmente, um novo passo está para ser alcançado, a partir de estudos no sentido de descrever
a geometria da Terra, considerando-a como um corpo deformável. Através de modelos
dinâmicos que consideram a variável tempo e vários outros fenômenos naturais, tais como a
oscilação do eixo dos pólos, as marés terrestres e a irregularidade da rotação do planeta, será
possível determinar, com precisão, a forma da Terra. Esses modelos, quando definidos, serão de
grande auxílio para a Geodésia Espacial.
13
Fundamentos de Geomática
Como já foi dito no início deste capítulo, a Geodésia, além de ter como objetivo a determinação
das formas da Terra e de seu campo gravitacional, tem também um outro objetivo que é a
determinação de pontos de coordenadas conhecidas, sobre a superfície terrestre. No passado
esses pontos eram dispostos em distâncias de 30 a 50 km entre eles. Eles eram normalmente
implantados em pontos elevados do terreno com uma precisão da ordem de alguns centímetros e
formavam os vértices da rede de triângulos fundamentais de um país ou região, denominada
Rede de Triangulação Geodésica ou ainda Rede de Triangulação de Primeira Ordem. Esses
pontos fundamentais sempre foram determinados a partir da combinação de visadas
astronômicas e pelo estabelecimento de uma rede de triangulação terrestre. Mais recentemente,
entretanto, vários países já estão determinando esses pontos a partir de medições com o sistema
GNSS. Nestes casos, são ocupados pontos já existentes ou são implantados novos pontos, que
agora já não precisam estar localizados em locais elevados do terreno, não precisam ser
intervisíveis e nem precisam respeitar espaçamentos predeterminados. A localização e o
espaçamento são funções das restrições do uso do sistema GNSS.
Devido ao uso dessa nova tecnologia, a rede fundamental, que até então era adensada em
malhas mais finas denominadas Triangulação de Segunda Ordem, Triangulação de Terceira
Ordem e Triangulação de Quarta Ordem, já não precisa ser adensada dessa maneira devido as
facilidades do uso do GNSS. Espaçamentos da ordem de 50 km são inclusive suficientes para
medições centimétricas em Tempo Real com esse sistema.
A PR Nº 22/83 do IBGE mantém, em parte, esta terminologia clássica, porém, apresenta uma
nomenclatura mais adequada ao uso das novas tecnologias. Nestes termos, ao invés de
classificar os pontos geodésicos de acordo com o adensamento da rede geodésica, ele propõe a
seguinte classificação:
1.2.4 As Altitudes
Quanto à altitude, é importante salientar que existem vários conceitos diferentes. Para os
propósitos deste texto, apresentamos apenas os dois conceitos mais importantes.
14
Conceitos gerais de Geomática
19
Linha Normal ou Normal do Lugar é definida como sendo a reta que intercepta a superfície topográfica,
perpendicularmente a superfície elipsoidal.
20
A vertical do lugar é definida pela reta tangente à linha de força gravitacional que intercepta a
superfície topográfica perpendicularmente à superfície geoidal. Ela pode ser materializada, por
exemplo, por uma linha de prumo.
15
Fundamentos de Geomática
Um ponto geodésico não é caracterizado apenas pelas suas coordenadas geodésicas – latitude e
longitude, mas também pela altitude ortométrica. Para tanto, é necessário definir antes o geóide
no local. Para essa definição pode ser utilizado um aparelho denominado Mareógrafo, a partir
do qual se determina a altitude zero da referência de nível a ser utilizada. A partir desse ponto
de altitude zero procede-se a determinação das altitudes dos demais pontos a partir de um
nivelamento geométrico, estabelecendo-se assim uma rede altimétrica, formada por linhas de
nivelamento. Vide Figura 1.7
16
Conceitos gerais de Geomática
Após sucessivos ajustamentos manuais das observações de nivelamento (1948, 1952, 1959,
1962, 1963, 1966, 1970 e 1975), o IBGE deu início, nos primeiros anos da década de 80, a
informatização dos cálculos altimétricos. Tal processo possibilitou a implantação, em 1988, do
Projeto Ajustamento da Rede Altimétrica (PARA), com o objetivo de homogeneizar as altitudes
da Rede Altimétrica de Alta Precisão (RAAP) do Sistema Geodésico Brasileiro. Em 1993 foi
concluído o Ajustamento Altimétrico Global Preliminar (AAGP), que corrigiu alguns
problemas de ajustamentos anteriores. Os trabalhos de ajustamento, porém, não se encontram
totalmente finalizado. A previsão de conclusão é para o ano 2007. A partir desse ajustamento
pretende-se fornecer novas altitudes e seus respectivos desvios-padrão para todas as referências
de nível da Rede. Outras atividades futuras também estão planejadas, sendo elas:
9 A introdução da informação gravimétrica nas estações, o que possibilitaria a
obtenção de altitudes científicas através do cálculo dos números geopotenciais;
9 A ligação da RAAP com as Redes Altimétricas dos países vizinhos ao Brasil;
9 O tratamento das informações das estações maregráficas e a utilização destes
resultados como injunções no ajuste da Rede.
Vale a pena salientar que o IBGE com o intuito de aprimorar a RAAP, criou o projeto Rede
Maregráfica Permanente para Geodésia (RMPG), que consiste, até o momento, de 4 estações em
operação ao longo do litoral brasileiro.
A forma real da Terra, como já dissemos, ainda não possui uma definição matemática rigorosa,
mesmo porque ela varia com a época das chuvas e das secas e sofre constantes modificações
devido a ação de agentes químicos e mecânicos e devido a ação de agentes internos e externos.
A sua superfície física é irregular e constituída por elevações e depressões relativamente
pequenas, quando comparadas às dimensões do planeta (R ≅ 6.378.137 m ) , as quais alcançam
cerca de 1/100.000 do raio da esfera terrestre.
17
Fundamentos de Geomática
a −b
f = (1.1)
a
O primeiro elipsóide terrestre considerado preciso foi determinado pelo astrônomo alemão
Friedrich Wilhelm Bessel (1784-1846), em 1841. A partir daí vários outros pesquisadores se
ocuparam do problema e foram determinados vários outros elipsóides que podem ser
encontrados na literatura. Dentre as várias determinações de elipsóides, destaca-se a campanha
realizada na década de 60, na América do Sul, para a determinação do datum horizontal e
conseqüentemente a definição de um Sistema Geodésico para esta região. Mais recentemente,
com o advento da tecnologia GPS, o elipsóide WGS84 passou a ter uma posição de destaque.
Ele é o elipsóide adotado como referência para o sistema GPS. As Tabelas 1.1 e 1.2 apresentam
uma lista de elipsóides de referência de grande importância para a Geomática.
18
Conceitos gerais de Geomática
21
Notar a não conformidade na quantidade de casas decimais indicadas para os elementos geométricos
dos elipsóides. Os valores indicados estão em conformidade com os indicados nos textos oficiais que
definem os elementos geométricos de cada elipsóide.
22
A constante gravitacional é uma constante física fundamental que aparece na Lei de Gravitação
Universal de Newton e na teoria da Relatividade geral de Einstein. Ela expressa a atração gravitacional
que se produz entre dois corpos separados por uma distância.
19
Fundamentos de Geomática
23
Notar a não conformidade na quantidade de casas decimais indicadas para os elementos geométricos
dos elipsóides. Os valores indicados estão em conformidade com os indicados nos textos oficiais que
definem os elementos geométricos de cada elipsóide.
24
O Elipsóide de Hayford, determinado entre os anos de 1909 a 1910, foi declarado pela IAG como o
Elipsóide Internacional a partir de 1924.
25
Krassowski foi o último pesquisador a determinar os parâmetros de um elipsóide.
20
Conceitos gerais de Geomática
26
A NBR 14 166/1998 define: conjunto de cartas e plantas integrantes do Sistema Cartográfico Municipal
que, apoiadas na rede de referência cadastral, apresentam no seu conteúdo básico as informações
territoriais necessárias ao desenvolvimento de planos, de anteprojetos, de projetos, de cadastro técnico e
imobiliário fiscal, de acompanhamento de obras e de outras atividades de projeto que devam ter o
terreno como referência.
21
Fundamentos de Geomática
com o emprego das coordenadas UTM, por serem planas, enquanto aquelas
arcos de meridianos e paralelos.”
Os leitores ainda não familiarizados com a sigla UTM devem consultar o capítulo X deste texto.
O IBGE (órgão nacional responsável pela Rede Geodésica de Apoio Fundamental no Brasil)
estabeleceu que, a partir de 1977, o Sistema Geodésico Brasileiro – SGB, seria adotado tendo
como o datum horizontal um ponto relativo ao elipsóide SAD69 (vide Tabela 1.2) e tendo como
origem o vértice de Triangulação CHUÁ (VT-CHUÁ), próximo da cidade de Uberaba (MG).
Da mesma forma, o SGB definiu como datum vertical o ponto de Imbituba, localizado na cidade
de mesmo nome no litoral do Estado de Santa Catarina. Aos interessados em maiores detalhes
sobre o SGB, recomendamos consultar o Boletim das Especificações e Normas Gerais para
Levantamento Geodésicos do IBGE.
Segundo a Resolução PR Nº 22 de 21/07/83, as coordenadas geográficas geodésicas, azimute, e
a altura geoidal, do vértice VT-CHUÁ são os seguintes:
◊ Latitude geodésica φ = 190 45′ 41,6527′′ S
◊ Longitude geodésica λ = 480 06′ 04,0639′′ W
◊ Azimute geodésico Ag = 2710 30′ 04,05′′ SWNE
◊ Altura geoidal N = 0,0 m
◊ Componente meridiana do desvio da vertical ξ = −0,31′′
◊ Componente 1ª vertical do desvio da vertical η = 3,59′′
22
Conceitos gerais de Geomática
A partir de outubro de 2000, o Brasil iniciou um projeto para estudar a adoção do Sistema de
Referência Geocêntrico para as Américas (SIRGAS) como sistema de referência geodésica. Ao
mesmo tempo a 7ª Conferência Cartográfica Regional das Nações Unidas para as Américas,
realizada em Nova Iorque em 2001, recomendou a adoção desse sistema para os países do
continente americano. Como resultado, em 2005, o IBGE regulamentou através da Resolução
do Presidente (R.PR) do IBGE Nº. 1/2005, que o SIRGAS, em sua realização do ano de 2000
(SIRGAS2000), será o novo sistema de referência geodésico para o Sistema Geodésico
Brasileiro (SGB) e para o Sistema Cartográfico Nacional (SCN). A mesma resolução
estabeleceu um período de transição, não superior a 10 anos, onde o SIRGAS2000 poderá ser
utilizado para o SGB em concomitância com o sistema SAD69 e para o SCN com os sistemas
SAD69 e o CÓRREGO ALEGRE, conforme os parâmetros definidos nessa resolução. Durante
este período de transição, os usuários deverão adequar e ajustar suas bases de dados, métodos e
procedimentos ao novo sistema. O IBGE espera que com o tempo os usuários deixem de utilizar
os sistemas anteriores e passem a utilizar exclusivamente o SIRGAS2000. Os usuários que não
adotarem esse sistema de referência poderão no futuro estarem impedidos, por exemplo, de
requisitar uma revisão de limites de uma propriedade, fazer qualquer tipo de questionamento
legal utilizando o sistema antigo e fornecer/receber dados às/das concessionárias de serviços
públicos para o recebimento ou prestação de serviços.
Na Resolução do Presidente N 1/2005 está estabelecido, para ao Brasil, a caracterização do
SIRGAS2000, descrita a seguir:
É importante salientar que a implantação do SIRGAS foi feita utilizando técnicas modernas de
posicionamento por satélites artificiais, o que lhe confere precisão compatível com as técnicas
de medições atuais. Além disso, ele está referenciado ao ITRS, que é um sistema de referência
internacional materializado a partir de um conjunto de estações com coordenadas e velocidades
radiais de deslocamentos temporais conhecidas.27
27
O conceito atual de definição de um ponto geodésico exige que o mesmo seja identificado por suas
coordenadas geodésicas, suas velocidades radiais de deslocamento e pela época da medição.
23
Fundamentos de Geomática
24
Conceitos gerais de Geomática
A Tabela 1.3 apresenta os resultados finais para as estações brasileiras que fizeram parte da
campanha SIRGAS2000.
25
Fundamentos de Geomática
Tabela 1.3: Coordenadas finais SIRGAS2000 (ITRF200028, época de referência 2000,4), relativas ao
GRS80. FONTE: www.ibge.gov.br
Estação Latitude [° ' "] sigma ["] Longitude [° ' "] sigma ["] Altitude [m] sigma [m]
28
Vide Capítulo 3.
26
Conceitos gerais de Geomática
Aqui vale a pena comentar que embora o SIRGAS2000 adote como figura geométrica da Terra
o elipsóide GRS80, o IBGE considera que existe uma compatibilidade entre o sistema WGS84 e
o SIRGAS2000 ao nível do centímetro, isto é, a diferença entre usar uma coordenada WGS84 e
o SIRGAS2000 é inferior a 1 centímetro. Desta forma, para fins práticos onde não se exija
qualidade superior ao centímetro é totalmente indiferente usar quaisquer dos dois sistemas, não
sendo, portanto, necessário a realização de transformação de coordenadas entre eles.
Os parâmetros de transformação oficiais entre os sistemas SAD69 e SIRGAS2000 foram
estimados através de 63 estações GPS que possuem coordenadas SAD69 oriundas do
ajustamento de 1996 e as coordenadas ajustadas relativas ao SIRGAS2000. Os valores dos
parâmetros, bem como o modelo matemático indicado para a transformação, podem ser
encontrados nos documentos do IBGE n° 1/2005 e n° 23/1989, respectivamente,
disponibilizados em seu site. O IBGE informa que devido à pequena diferença entre os sistemas
WGS84 e SIRGAS2000 os mesmos parâmetros também podem ser utilizados nas
transformações de coordenadas entre os sistemas SAD69 e WGS84. Essa afirmação, entretanto,
deve ser vista com certo resguardo quando se tratar de redes geodésicas extensas.
O sistema de referência mais utilizado no Brasil, ao qual a maioria dos mapas está referenciado,
ainda é o SAD69. Os parâmetros de transformação entre o SAD69 e o SIRGAS2000 são:
⎡X ⎤ ⎡X ⎤ ⎡ 67,35 ⎤
⎢Y ⎥ ⎢
= ⎢Y ⎥ ⎥ + ⎢⎢− 3,88⎥⎥ m
⎢ ⎥
⎢⎣ Z ⎥⎦ SAD 69 ⎢⎣ Z ⎥⎦ SIRGAS 2000 ⎢⎣ 38,22 ⎥⎦
1.3 A Topografia
Etimologicamente, a palavra topografia é de origem grega. Ela advém do grego topos, que
significa lugar e graphein, que significa descrever. E assim, como o próprio nome indica,
topografia significa a descrição de um lugar ou mais genericamente a descrição dos elementos
que o compõe. Advém daí então o nome Topografia para a ciência que estuda a representação e
a descrição das irregularidades da superfície terrestre a partir de processos e métodos
topográficos utilizando-se instrumentos e equipamentos topográficos. A partir dos processos
topográficos são gerados desenhos representativos da superfície do terreno aos quais dá-se o
nome de plantas topográficas.
Quando comparado a Geodésia a Topografia tem como característica principal o fato de
preocupar-se com os detalhes enquanto a Geodésia preocupa-se com o geral. Por essa razão, até
27
Fundamentos de Geomática
1.4 A CARTOGRAFIA
Segundo a definição estabelecida em 1966 pela Associação Cartográfica Internacional, a
Cartografia é o conjunto de estudos e de observações científicas, artísticas e técnicas que, a
partir de resultados de observações diretas ou da exploração de documentos, elabora cartas,
planos e outros modos de expressão, assim como a sua utilização. A carta, vista como um meio
de transcrição gráfica dos fenômenos geográficos constitui o objeto principal da Cartografia. O
objetivo primordial é, portanto, a pesquisa de métodos, processos de elaboração e utilização de
cartas e mapas, além do estudo exaustivo de seu conteúdo.
28
Conceitos gerais de Geomática
1.5 A HIDROGRAFIA
A Hidrografia é a ciência que tem por objetivo o estabelecimento de planos e de plantas e cartas
representativas da superfície terrestre submersa. Em vários aspectos ela é similar à Topografia,
pois ambas utilizam técnicas de medições em comum. Alguns fatores, entretanto, as
diferenciam, o que torna a Hidrografia uma ciência à parte. A natureza do meio ambiente
marítimo ou mesmo fluvial é o principal fator que as diferenciam. A rugosidade do fundo de um
oceano é muito mais difícil de ser medida que a rugosidade da superfície terrestre. O movimento
dos oceanos ou das correntezas fluviais exige técnicas especiais para a locação de pontos. O
sistema estático da Topografia deve ser substituído por um sistema dinâmico. Existe, por isso,
uma série de técnicas e instrumentos especiais - instrumentos hidrográficos - que substituem as
técnicas e os instrumentos topográficos.
As principais técnicas de medição aplicadas à Hidrografia são a Telemetria29 e a Batimetria30.
A Telemetria é aplicada para a localização de pontos, enquanto que a Batimetria é usada para a
representação da profundidade dos oceanos, lagos e rios.
Existe a profissão de Engenheiro Hidrográfico. A formação, no Brasil, é feita apenas por escolas
militares ligadas a Marinha.
29
Técnica utilizada na localização, monitoramento e processamento através da emissão e recepção de
dados a longa distância.
30
Técnica utilizada para o mapeamento altimétrico da profundidade de lagos, rios e oceanos. A exemplo
dos levantamentos topográficos altimétricos, a profundidade neste caso é representada a partir de
pontos cotados e isolinhas representativas das diferenças de profundidade.
29
Fundamentos de Geomática
1.6 A FOTOGRAMETRIA
A Fotogrametria é a técnica que permite o estudo e a definição das formas, das dimensões e da
posição de objetos no espaço, utilizando-se de medições obtidas a partir de fotografias ou
imagens raster31.
A característica principal desta técnica é que ela permite o registro, quase instantâneo, do estado
de um objeto possibilitando uma posterior exploração das medições em condições geralmente
mais favoráveis do que àquelas permitidas “in situ”. Além disso, a imagem digital é um
documento de arquivo facilmente manipulável, de conservação quase ilimitada e de fácil
restituição. Adiciona-se a isso a amplitude espectral que possibilita análises de fenômenos não
detectados pela vista humana (infravermelho, por exemplo). Vide Figura 1.12.
A Fotogrametria é uma técnica indispensável para muitos trabalhos da Geomática. Para as áreas
técnicas, em especial para a Engenharia Civil, ela oferece um suporte inestimável, reduzindo
custos e tempo de trabalho. O principal obstáculo ao seu uso extensivo ocorre devido ao alto
31
Dá-se o nome de imagem raster a imagem em forma de pixel, armazenada em algum tipo de meio
digital. O mesmo que imagem digital.
30
Conceitos gerais de Geomática
custo dos equipamentos e a necessidade da presença de técnicos bem treinados para operar os
equipamentos e os programas aplicativos desse setor.
A partir de 1990 a Fotogrametria passou a utilizar imagens digitais ao invés de fotografias em
papel. A essa nova Fotogrametria deu-se o nome de Fotogrametria Digital. Assim, A
Fotogrametria Digital é a parte da Fotogrametria que trata dos aspectos geométricos do uso de
fotografias, com a finalidade de obter valores consistentes de comprimentos, alturas e formas,
baseando-se no uso de imagens digitais, armazenadas em meio magnético, na forma de pixel32.
Ela é totalmente baseada no princípio da estereoscopia e na orientação analítico-digital das
fotos. As imagens aéreas são tomadas através de sensores digitais aerotransportados colocados
adequadamente no interior de um avião. Vide Figura 1.13.
.
Figura 1.13: Sensor aéreo digital ADS40 montado em um avião.
FONTE: Leica Geosystem.
32
Pixel vem do Inglês e significa elemento de figura. Deve ser entendido como o elemento matricial que
forma uma imagem digital. Nas imagens digitais preto e branco o valor de um pixel pode variar entre 0
a 255.
31
Fundamentos de Geomática
33
É a energia transportada por um campo eletromagnético. Os campos elétrico e magnético ao se
propagarem no espaço transportam energia sob a forma de radiação eletromagnética.
32
Conceitos gerais de Geomática
Existem para isso vários tipos de satélites com diferentes tipos de sensores34, entre os quais vale
a pena citar os satélites: LANDSAT, SPOT, IKONOS, QUICKBIRD e CBERS.
Apresentamos a seguir alguns detalhes destes sensores. Recomendamos ao leitor consultar a
bibliografia indicada para obter maiores informações a respeito deste assunto.
A família de satélites LANDSAT teve seu início desde a década de 60 e durante todo o período
de operação sofreu várias alterações tecnológicas tendo como conseqüência uma melhoria na
resolução espacial das imagens. Os sensores dos satélites LANDSAT 5 e 7 possuem sete
bandas, com numeração de 1 a 7, sendo que cada banda representa uma faixa do espectro
eletromagnético captada pelo sensor. Estes sensores apresentam a característica de
repetitividade, isto é, observam a mesma área a cada 16 dias. Uma imagem inteira do sensor,
também chamada de “cena” no jargão do Sensoriamento Remoto representa, no solo, uma área
de abrangência de 185 X 185 km. A resolução geométrica das imagens nas bandas 1, 2, 3, 4, 5 e
7 é de 30 metros (ou seja, cada "pixel" da imagem representa uma área no terreno de 900 m2).
Para a banda 6, a resolução é de 120 metros (cada "pixel" representa 1,4 ha). As imagens
fornecidas por este sensor podem ser em níveis de cinza (formato digital) ou tons de cinza
(formato analógico) ou composições coloridas. A Figura 1.15 apresenta parte de uma imagem
da banda 3 (referente à região do vermelho no espectro eletromagnético de energia) do sensor
TM do LANDSAT 5 da cidade de São Carlos (SP).
34
Dispositivo que capta e registra a energia refletida ou emitida pela superfície do terreno, objetos e
ocorrências físicas, incluindo os acidentes artificiais, os fenômenos físicos e as atividades do homem.
33
Fundamentos de Geomática
As evoluções tecnológicas nos sensores da série LANDSAT propiciaram o seu uso em áreas de
engenharia que até então não se beneficiavam dos recursos desse sistema. A Figura 1.16
apresenta um exemplo deste novo tipo de imagem.
34
Conceitos gerais de Geomática
Figura 1.16: Extrato da imagem monocromática do LANDSAT 7 da área central de Brasília (DF).
Fonte: http://www.engesat.com.br
35
Fundamentos de Geomática
Figura 1.17: Extrato imagem SPOT 4 mod PAN, 10 metros de resolução, tomada em 03/04/97, sobre a
cidade de Gurarulhos, SP. Fonte: www.intersat.com.br.
36
Conceitos gerais de Geomática
37
Fundamentos de Geomática
O QUICKBIRD é outro sistema orbital de alta resolução. Ele foi lançado em outubro de 2001
pelos EUA. As imagens pancromáticas e multiespectrais são planejadas para dar suporte nas
aplicações em gerenciamento de avaliação de riscos e publicações de mapas com ênfase nas
áreas urbanas. O sistema coleta dados com 61 centímetros de resolução espacial no
pancromático e 2,5 metros no multiespectral em um vasto campo de observação, apresenta
rápida seleção de alvo e permite a geração de pares estereoscópicos. A freqüência média de
visita é de 1 a 3,5 dias. A Figura 1.20 apresenta um exemplo de imagem desse sistema.
38
Conceitos gerais de Geomática
No Brasil, o avanço nos diversos programas de satélites da Missão Espacial Completa Brasileira
(MECB) incentivou pesquisas na área da engenharia espacial. Em conjunto com a China o
Brasil criou o Programa CBERS (China-Brazil Earth Resources Satellite ou Satélite Sino-
Brasileiro de Recursos Terrestres) visando a construção de uma família de satélites de
Sensoriamento Remoto. Com isto, o Brasil ingressou no seleto grupo de países detentores da
tecnologia de sensoriamento remoto. Estes satélites se destinam a monitorar o desmatamento na
Amazônia, os recursos hídricos, áreas agrícolas, crescimento urbano, ocupação do solo e o
clima do Brasil.
O CBERS-1 foi o primeiro satélite da série e foi lançado em 1999. Em outubro de 2003 foi
lançado o CBERS-2. Ver Figura 1.21. Uma característica exclusiva dos satélites CBERS são as
diversidades de câmeras com diferentes resoluções espaciais e freqüências de coleta de dados.
As câmeras WFI (Wide Field Imager – Imageador de Amplo Campo de visada) produz imagens
de uma faixa de 890 km de largura, permitindo a obtenção de cartas-imagem com resolução
espacial de 260 metros. As câmeras CCD f(High Resolution CCD Câmera – Câmera
Imageadora de Alta Resolução) fornece imagens de uma faixa de 113 km de largura, com uma
resolução de 20 metros. As câmeras de varredura IRMSS produzem imagens de uma faixa de
120 km de largura com uma resolução de 80 metros no infravermelho médio e de 160 metros
para o infravermelho termal.
39
Fundamentos de Geomática
Estão previstos ainda os lançamentos do CBERS-2B para 2006, do CBERS-3 para 2008 e o
CBERS-4 em 2010.
As imagens CBERS podem ser utilizadas por empresas privadas e instituições governamentais.
A aquisição de imagens pode ser feita basicamente de dois modos: pela Internet
(http://www.dgi.inpe.br), onde o usuário faz o “download” gratuito das imagens a partir do
endereço do próprio catálogo; e por correio, em que o usuário recebe os dados gravados em
CDROM.
Embora o Sensoriamento Remoto possa ser usado para se obter informações geométricas de
objetos na terra, ele tem sido usado, primordialmente, na geração de mapas temáticos. Esse tipo
de informação pode ser utilizado com grandes vantagens na fase de anteprojeto de obras de
engenharia civil, como por exemplo, projetos de drenagem e de rodovias ou então no
planejamento do uso do solo ou qualquer outro tipo de estudo que necessite de mapas com a
representação de áreas extensas. Além disso, o Sensoriamento Remoto permite também o estudo
espectral das imagens para análises da matéria, como por exemplo, as energias caloríficas ou
químicas, que permitem a identificação de objetos no solo, o reconhecimento das variedades da
cobertura vegetal e outras características de fenômenos inerentes a superfície terrestre.
O uso do Sensoriamento Remoto vem crescendo a cada dia em nosso país. Existem vários
cursos que formam profissionais para trabalharem nessa área. Não existe, contudo, nenhum
40
Conceitos gerais de Geomática
O Desenho Assistido por Computador - CAD é uma técnica relativamente nova. Ela teve início
na década de 80, com o aparecimento e o maior acesso ao computador pessoal, e rapidamente
foi incorporada pelos engenheiros, arquitetos, agrimensores e outros profissionais que utilizam o
desenho como base de seus projetos. Ela substituiu completamente as técnicas antigas de
desenho, que utilizavam papel, canetas a nanquim, normógrafos, réguas e escalas. O sistema
CAD consiste basicamente de um computador, um programa CAD, um monitor gráfico, um
“mouse” e um plotter. Através de um cursor comandado pelo mouse e que aparece no monitor
gráfico, é possível realizar todas as tarefas de um desenho como a criação de pontos, linhas,
curvas, círculos, polígonos, textos, figuras complexas, linhas ajustadas a pontos e,
principalmente, funções COGO (Geometria de Coordenadas), para a edição planimétrica do
desenho.
A terceira dimensão é estabelecida através do uso de um Modelo Digital de Terreno – MDT,
que descreve o terreno através de funções de interpolações matemáticas e usa as funções de
CAD para a representação gráfica do relevo. Vide Figura 1.22. Atualmente pode-se afirmar sem
cometer equívocos que pratica-mente todos os projetos, plantas, cartas, mapas e desenhos
técnicos são feitos através do uso de um programa CAD.
41
Fundamentos de Geomática
Uma série de programas aplicativos foi desenvolvida e estão disponíveis no mercado. Eles
associam as ferramentas CAD com as rotinas de cálculo do aplicativo em uso e permitem assim
que todo o trabalho de cálculo, desenho e edição final do projeto seja feitos através do
computador – são popularmente designados como Programas de Topografia. Para a Geomática,
em particular, existem inúmeros aplicativos que permitem automatizar desde a coleta de dados
até a edição final da planta, carta ou mapa. Eles variam desde rotinas simples de exportação para
um programa CAD até programas aplicativos elaborados para projetos de engenharia civil,
como por exemplo, um projeto geométrico de uma via.
Os equipamentos topográficos de coleta de dados permitem a transferência dos dados coletados
para os programas aplicativos de maneira que, dependendo da agilidade do operador no campo,
resta muito pouca edição gráfica a ser feita.
42
Conceitos gerais de Geomática
especialmente para servir de base para o cálculo dos impostos que devem incidir sobre esses
bens ou rendas.
O primeiro cadastro consistente e preciso foi estabelecido em Milão, no século XVII, e serviu
como modelo para toda a Europa. Em 1807, Napoleão I (1769-1821) ordenou que fosse feito
um levantamento topográfico geral da França para servir como base cadastral e para a coleta de
impostos. A partir do século XVIII, com o desenvolvimento do mercado imobiliário, o cadastro
passou a ter cada vez mais importância no gerenciamento do território. Do instrumento fiscal
que consistia o cadastro das parcelas, ele transformou-se em um cadastro jurídico, que fixava os
direitos das parcelas. As plantas passaram então a ser parte integrante do registro de imóveis e a
ter o status de título público, em alguns países.
O desenvolvimento social e econômico de um país depende da existência de um sistema
cadastral eficiente que permita aos planejadores o conhecimento e o gerenciamento do território.
Um sistema de cadastro deve ser constituído das seguintes informações básicas do imóvel:
Os dois primeiros itens são próprios do cadastro e os dois últimos são relativos ao registro
imobiliário. Um cadastro está normalmente baseado em lotes ou parcelas e corresponde a um
sistema informativo dos terrenos, com dados de interesse sobre eles (direitos, restrições e
responsabilidades). Em geral, inclui uma descrição geométrica do terreno associada com outras
informações que descrevem a propriedade, a natureza dos interesses, o valor do terreno e seus
melhoramentos. Pode ser estabelecido com propósitos fiscais, tais como impostos e avaliações,
com propósitos legais, tais como transferências, ou para auxiliar no direcionamento e uso do
terreno, em casos de planejamento e outros fins administrativos.
Um cadastro bem elaborado permite um desenvolvimento prolongado e a proteção do meio
ambiente. Eles são normalmente administrados por um ou mais setores governamentais. Além
do auxílio na avaliação de impostos, de bens de consumo e na distribuição de terrenos, eles
ajudam a melhorar a eficiência das transações, com informações relevantes e seguras a respeito
dos terrenos em geral. Também podem dar, a cada nível de governo, um inventário completo
das propriedades, para a implementação de impostos e para o desenvolvimento, administração
dos terrenos e planejamento rural e urbano.
Em geral, as informações de interesse contidas em um cadastro incluem a posição geográfica,
limites e coordenadas das parcelas, possessão (direitos de propriedade e aluguéis) e valores dos
terrenos. Outros tipos de informações, com importância para grupos distintos de usuários,
também podem ser encontradas e usualmente incluem:
♦ Dados referentes às edificações e imobiliários;
♦ Informações relacionadas à agricultura (classificação da capacidade dos terrenos e
uso dos terrenos);
43
Fundamentos de Geomática
♦ Informações florestais;
♦ Utilidades (atendimento quanto à água potável, esgoto, eletricidade e telefonia);
♦ Dados referentes à qualidade do meio ambiente;
♦ Dados demográficos (estatísticas da população).
35
Sistema de Informações Geográficas advém do termo inglês Geographic Information System (GIS).
44
Conceitos gerais de Geomática
Em suma, um SIG pode ser interpretado como uma planta inteligente. Ele pode ser entendido
como um avanço dos sistemas CAD. Num sistema CAD, como as relações entre as entidades
gráficas das plantas se dão apenas através de “layers”36 e de um referenciamento a um sistema
de coordenadas, ele não é adequado para análises. Por exemplo, através dos dados contidos em
um sistema CAD, pode-se descrever a geometria de duas rodovias que se interceptam. No
entanto, o fato das rodovias se interceptarem não é necessariamente identificado pelo sistema, já
que este não é um dado importante para a produção de plantas plotadas. Da mesma forma, um
grupo de linhas dentro de um sistema CAD pode compor o perímetro de um polígono. No
entanto, a relação entre as linhas irá se limitar apenas ao fato de elas pertencerem a um mesmo
“layer” e estarem referenciadas a um mesmo sistema de coordenadas. O fato das linhas
definirem uma área fechada, não pode ser determinado pelo sistema, a não ser visualmente pelo
usuário através da plotagem dos dados gráficos.
Além dos dados geométricos e espaciais, um SIG possui atributos alfanuméricos. Os atributos
alfanuméricos são associados com os elementos gráficos, fornecendo informações descritivas
sobre eles. Os programas para Sistemas de Informações Geográficas são projetados de modo a
permitirem exames de rotina em ambas as bases gráficas e alfanuméricas, simultaneamente. O
usuário é capaz de procurar informações e associá-las as entidades gráficas e vice-versa.
Perguntas do tipo “Quais lotes da parte leste da cidade são maiores que um hectare e destinados
ao uso industrial?” Podem ser solucionadas pelo sistema. A resposta pode ser dada através da
listagem dos números dos lotes ou da identificação dos lotes na planta da cidade, por exemplo.
Por ser um sistema de aplicações tão amplas, os Sistemas de Informações Geográficas acabam
sendo multidisciplinares. Dependendo da aplicação, pode variar o tipo de profissional engajado.
O profissional da área de Geomática, entretanto, é sempre necessário. Qualquer que seja a
aplicação projetada para o sistema, ele necessitará sempre da coleta e da manipulação espacial
primária dos dados para adequá-los à base de dados a ser estabelecida.
36
Layer, do Inglês. Palavra usada no meio técnico e científico em substituição ao termo camadas de
informações ou níveis de informações.
45
Fundamentos de Geomática
Os SIGs têm sido usados pelos mais diferentes tipos de usuários, destacando-se as empresas
públicas, as empresas privadas e os centros educacionais. Os dados alimentadores destes
sistemas podem advir de levantamentos topográficos e geodésicos, plantas, cartas e mapas
existentes, imagens aéreas, imagens de satélites, dados estatísticos e tabulares e outros. As
informações podem ser classificadas de acordo com o interesse de análise e distribuídas em
“layers” ou camadas de informações. É importante citar que os dados apresentados num SIG
devem ser georreferenciados a um sistema único de coordenadas. Os usuários devem estar
atentos à base cartográfica dos dados de forma que seja compatível com o SIG utilizado.
A finalidade de um SIG é permitir o gerenciamento de informações temáticas e
georreferenciadas de uma determinada zona e ser capaz de oferecer, ao usuário, a capacidade de
manipular os dados referentes a essa zona. Ele permite que o usuário tenha:
Ö Disponibilidade constante de informações variadas, passíveis de serem atualizadas
periodicamente;
Ö Melhoria substancial das possibilidades de planificação devido à integração de uma
multiplicidade de dados;
Ö Concepção assistida por computador;
Ö Facilidade para a aplicação em modelos complexos e análises de variantes;
Ö Subsídios para as tomadas de decisões, baseadas sobre uma descrição completa do
território;
Ö Elaboração simplificada de representações cartográficas e relatórios dos resultados
dos trabalhos.
46
Conceitos gerais de Geomática
desempenho de cada sistema. O uso do sistema GLONASS foi, inicialmente, restrito à Rússia e
seus aliados, para fins militares e estratégicos. Devido as constantes crises econômicas naquele
país, o sistema chegou próximo de seu fim e somente voltou a repor a constelação em 2005.
Prevê-se que a constelação de satélites estará completa até o ano de 2015.
Apesar das limitações, a facilidade de operação e a precisão proporcionada pelos sistemas
fizeram crescer o número de usuários civis em áreas como navegação, monitoramento de obras
e meio ambiente, agricultura de precisão, controle de frotas, meteorologia, Sistemas de
Informação Geográfica, posicionamentos topográficos e geodésicos de precisão e vários outros.
Para usar o sistema GNSS o usuário precisa de um equipamento capaz de receber e decodificar
o sinal emitido pela constelação de satélites. Esses equipamentos são conhecidos como
receptores e variam em características, capacidades e principalmente em custo, dependendo do
fabricante e das finalidades de aplicação. As modificações freqüentes tanto em função dos
avanços tecnológicos (acrescentados na modernização dos sistemas) como também da inclusão
de aplicativos opcionais (oferecidos pelas empresas fabricantes), tornam difícil classificá-los
adequadamente. De um modo genérico podemos considerar um equipamento GNSS composto
por um receptor, uma antena, um terminal de interface com o usuário e acessórios diversos para
o uso do equipamento no campo. A Figura 1.25 mostra um exemplo de um receptor GNSS com
os seus componentes instalados sobre um tripé
Figura 1.25: Componentes de um equipamento GNSS (Base) com opção de Tempo-real. Fonte:
Adaptado a partir de Leica Geosystems (2007).
47
Fundamentos de Geomática
No posicionamento relativo, a
antena de um receptor,
denominada base, é colocada
sobre um ponto de coordenada
conhecida e a outra antena,
denominada de remoto, é
colocada sobre o ponto onde se
deseja determinar as
coordenadas. Vide Figura 1.27.
37
“Falsas distâncias” ou “distâncias aproximadas” entre as antenas dos satélites e do receptor. Maiores
detalhes consultar SEGANTINE (2005).
48
Conceitos gerais de Geomática
49
Fundamentos de Geomática
A tecnologia GNSS também pode ser usada para a determinação de diferenças de níveis. É
preciso, porém, tomar alguns cuidados especiais inerentes ao método para não incorrer em erros
sistemáticos. As diferenças de nível medidas pelo sistema GNSS tomam como referência de
nível a superfície elipsoidal, enquanto as diferenças de nível medidas a partir de um
nivelamento tomam como referência de nível a superfície geoidal. Vide Figura 1.29. Para haver
compatibilidade entre os métodos de medição é necessário, portanto, conhecer a altura geoidal
nesses pontos.
50
Conceitos gerais de Geomática
38
Consultar seção 1.2.4.
39
Adota-se o nome gráfico em analogia ao tipo de levantamento antigo que utilizava uma prancheta de
campo, através do qual o levantamento era totalmente gráfico.
51
Fundamentos de Geomática
◊ Perfil longitudinal que segue uma linha particular, normalmente longa (eixos de
estradas rodoviárias ou ferroviárias, linha de transmissão, canalizações etc.). Vide
Figura 1.30;
52
Conceitos gerais de Geomática
53
Fundamentos de Geomática
40
Auscultar uma obra de engenharia consiste em realizar medições de controle, com o intuito
de conhecer o comportamento estrutural ao longo do tempo. Através de medições topográficas é
perfeitamente possível a determinação periódica da posição (coordenadas planas e altimétricas)
de pontos de controle alocados em locais estratégicos da obra, a partir dos quais podemos
deduzir a existência de variações espaciais das mesmas. Desta forma, podemos controlar
construções arrojadas, obras de arte de engenharia, barragens, diques, taludes etc. Vide Figura
1.33.
Como exemplo de trabalhos desse tipo realizados no Brasil, pode-se citar os trabalhos de
auscultação feitos nas grandes barragens brasileiras, como Itaipú e outras e a medição do teste
de carga realizado na Ponte Rodo-Ferroviária do Rio Paraná, entre os estados de São Paulo e
Mato Grosso do Sul, feita em 1998. Vide Figura 1.34.
40
Auscultar do latim auscultare significa procurar conhecer, inquirir, sondar.
54
Conceitos gerais de Geomática
(b) Visada com estação total a um ponto de (c) Ponto de controle de deslocamento vertical.
controle de deslocamento vertical.
Figura 1.34: Auscultação da Ponte Rodo-ferroviária do Rio Paraná.
55
Fundamentos de Geomática
56
Conceitos gerais de Geomática
estabelecem os impostos territoriais e que se planeja a ocupação e o uso do solo de uma cidade
ou de uma região. O levantamento cadastral é possivelmente o levantamento topográfico mais
antigo realizado pelo homem. Desde os seus primórdios ele se caracterizou pelo levantamento
planimétrico para a localização das linhas de divisas de propriedades, para a subdivisão de
propriedades, para a determinação de áreas e outros tipos de informações que envolvam
transferências de propriedades. A figura 1.36 mostra um exemplo de operação de campo para
um levantamento cadastral urbano.
No Brasil ainda não existe uma norma técnica específica para o cadastro urbano. Para o cadastro
rural, entretanto, foi promulgada a Lei 10.267/01, que instituiu o Cadastro Nacional de Imóveis
Rurais (CNIR). A partir dela foi regulamentada pelo INCRA a Norma Técnica para
Georreferenciamento de Imóveis Rurais, cujo propósito é orientar os profissionais que atuam na
área de demarcação, medição e georreferenciamento de imóveis rurais visando o atendimento da
lei.
A Lei 10.267/01, em seu Artigo 225 § 3º, exige que nos autos judiciais que versem sobre
imóveis rurais, a localização, os limites e as confrontações sejam obtidos a partir de memorial
descritivo assinado por profissional habilitado e com a devida Anotação de Responsabilidade
Técnica – ART, contendo as coordenadas dos vértices definidores dos limites dos imóveis
rurais, georreferenciadas ao Sistema Geodésico Brasileiro e com a precisão posicional a ser
fixada pelo INCRA, garantida a isenção de custos financeiros aos proprietários de imóveis
rurais cuja somatória de área não exceda a quatro módulos fiscais. De acordo com a Norma
Técnica para Georreferenciamento de Imóveis Rurais O INCRA estabeleceu que a precisão
posicional, relativas a cada vértice definidor do limite do imóvel, não deverá ultrapassar o valor
de 50 cm.
57
Fundamentos de Geomática
41
1.13.10 Levantamento “as built”
41
Termo em Inglês, cujo significado em Português refere-se ao levantamento cadastral de obras recém
construídas para o cadastro do estado em que se encontra a obra, ou seja, levantamento de “como foi
construída”.
58
Conceitos gerais de Geomática
59
Fundamentos de Geomática
Estação Total Industrial (cortesia Leica Geosystems) Câmaras Digitais (cortesia V-Stars)
Para o uso dos instrumentos indicados acima existem vários programas aplicativos. Estes
programas são usados para a administração da base de dados dos pontos medidos e para a
análise geométrica desses dados. De maneira geral eles são:
a) Baseados em triangulações espaciais (através de Teodolitos);
b) Baseados em localização polar (através de Estações Totais);
c) Baseados em localização polar por Laser Tracker.
d) Baseados em localização através de técnicas fotogramétricas.
60
Conceitos gerais de Geomática
A Topografia Industrial tomou impulso nos últimos anos e o seu crescimento tem sido
gigantesco. Depois da tecnologia GNSS é a área da Mensuração que mais evoluiu. Isso se deve,
em parte, ao aparecimento de equipamentos de alto desempenho e, principalmente, devido a
necessidade de aumentar a eficiência na produção industrial em geral. Trata-se, evidentemente,
de uma área bastante restrita, que exige equipamentos caros e técnicos especializados. A Figura
1.38 exibe uma série de imagens de aplicações da Metrologia Industrial em vários ramos da
construção mecânica.
61
Fundamentos de Geomática
62
Conceitos Básicos
2. CONCEITOS BÁSICOS
63
Fundamentos de Geomática
A unidade metro, originalmente, foi definida como sendo igual ao comprimento da décima
milionésima parte de um quarto de meridiano terrestre. A Resolução 6 da 11ª da Conferência
Geral dos Pesos e das Medidas (CGPM), de 1960, adotou a seguinte definição para a unidade
metro:
A Goniologia é definida com sendo a parte da matemática que estuda os ângulos. Ela divide-se
em Goniometria e Goniografia. A Goniometria se preocupa com o estudo dos métodos,
aparelhos e instrumentos utilizados na medição dos ângulos, enquanto que a Goniografia se
preocupa com o estudo da descrição dos métodos.
Para o caso de medições angulares planas, existem três unidades de medidas definidas pelo
Sistema Internacional de Unidades - SI: o Radiano, o Grau e o Grado.
A unidade angular oficial do Sistema Internacional de Unidades – SI é o Radiano. Aceita-se,
contudo, o uso das unidades suplementares grau e grado. No Brasil, a unidade adotada é o grau
sexagesimal, na qual a circunferência é dividida em 360 partes iguais, sendo cada parte
equivalente a 1º (um grau). Cada grau é dividido em 60 partes iguais, onde cada parte
64
Conceitos Básicos
corresponde a um ângulo de l' (um minuto). Cada minuto é dividido em 60 partes iguais, sendo
que cada parte corresponde a um ângulo de 1" (um segundo). Assim, por definição:
A unidade grau sexagesimal embora não seja uma unidade derivada oficial do sistema SI, é a
unidade mais usada mundialmente. Esse uso extensivo deve-se certamente a antiguidade dessa
unidade. Ela já era conhecida por muitos povos da antiguidade, entre os quais podemos citar os
caldeus, os egípcios, os persas e os chineses, entre outros.
Na unidade grau sexagesimal, indica-se os graus,
minutos e segundos, respectivamente, com um
zero superescrito para os graus, um acento agudo
para os minutos e aspas para os segundos,
colocados na parte superior direita do número
correspondente. Assim: 1350 26′ 42′′ , lê-se: 135
graus, 26 minutos e 42 segundos.
42
Notar o sentido de contagem dos ângulos. Na Mensuração, ele é contado no sentido horário. Contrário ao círculo
trigonométrico matemático.
65
Fundamentos de Geomática
Como a ângulo plano exprime a relação entre dois comprimentos, a unidade radiano é uma
unidade sem dimensão. Embora ela seja uma unidade importante para a engenharia, ela é pouco
usada para representar valores angulares. O seu uso restringe-se aos cálculos matemáticos.
Podemos indicar os grados de duas maneiras: a primeira com a letra minúscula g após a parte
inteira procedida das casas decimais. Assim: 135g3542 corresponde a 135 grados, 35
centígrados e 42 miligrados, ou em analogia com a unidade grau sexagesimal, pode-se ler: 135
grados, 35 minutos centesimais e 42 segundos centesimais. Uma segunda maneira de indicação
dos grados é escrever a parte inteira seguida de vírgula e procedida da parte decimal, ou seja:
135,3542g que corresponde a mesma forma da leitura do modo anterior. Por definição.
66
Conceitos Básicos
Em muitos casos é necessário converter os valores angulares de uma unidade para outra, como
por exemplo,
Graus ⇒ Grados
Radianos ⇒ Grau
Radianos ⇒ Grado
Graus ⇒ Graus Decimais
Esse tipo de conversão é uma operação muito simples, principalmente a conversão de graus
para grados e vice-versa. Para as conversões desse tipo pode-se aplicar as seguintes regras:
α ( g ) = α 0,9
0
α 0 = 0,9 * α ( g )
180 0 200 g
1 rad = = 57 0 17′ 44,8′′ 1rad = = 63,661977 g
π π
67
Fundamentos de Geomática
Usualmente o ângulo 1rad, quando expresso em uma outra unidade angular, é designado pela
letra grega ρ . Assim,
=ρ
g
57,295780o = ρo 63,661977 g
=ρ
c
1 rad = 3537,7468′ = ρ′ 1 rad = 6366,1977c
=ρ
cc
206264,81′′ = ρ ′′ 636619,77 cc
=ρ
g c cc
57o 17′ 44,81′′ = ρo ' " 63 g 66c 20cc
Dessa forma, para converter um ângulo dado em radianos, basta multiplicar o seu valor pelo
valor correspondente de ρ na unidade de conversão e para converter um ângulo para a unidade
radiano, basta dividi-lo pelo valor de ρ correspondente na unidade de conversão.
A conversão de graus sexagesimais em graus decimais e vice-versa é dada por:
α g = 0,9 * 32,37916667 0
α g = 29 g 14125
68
Conceitos Básicos
103g 6397
α0 =
0,9
α 0 = 115,15522220
α 0 = 1150 09′ 18,799′′
127,315
rad = *π
180
rad = 0,707305555π
0,8763 * 180
α0 =
π
α 0 = 50,208291590
α 0 = 500 12′ 13′′
2
1 centiare (ca) 1 m (quadrado de 1 X 1 m)
2
1 are (a) 100 m (quadrado de 10 X 10 m)
2
1 hectare (ha) 10 000 m (quadrado de 100 X 100 m
As unidades are e hectare não são unidades do Sistema Internacional. O sistema, porém,
autoriza a sua utilização como unidades especiais. No Brasil utiliza-se também a unidade de
superfície denominada alqueire (1 alqueire paulista equivale a 24 200m2)43, que embora não
seja oficial é aceita oficiosamente pelos órgãos governamentais brasileiros. Ela varia inclusive
de um Estado a outro do Brasil. Além do alqueire e das unidades indicadas acima, algumas
regiões de nosso país ainda utilizam algumas unidades de superfície antigas. Estas unidades,
43
No Brasil utiliza-se também o alqueire mineiro (equivalente a 48 400 m2) e o alqueire baiano (equivalente a
96 800 m2).
69
Fundamentos de Geomática
embora haja muito tempo em desuso, ainda podem ser encontradas em documentos de escrituras
de sítios e fazendas.
Em nossas tarefas diárias executamos os mais diversos tipos de medições. A questão a ser
resolvida após as medições é o formato do registro dos dados, ou seja, quantos algarismos
iremos utilizar para representar a grandeza medida, por exemplo, vide a Figura 2.4.
71
Fundamentos de Geomática
Para ilustrar a observação acima, deve-se atentar ao fato de que ao se realizar uma medição o
operador deve tomar o devido cuidado no registro do valor da medida. Seja o caso em que foi
medida a massa de um saco de areia e foi registrado o valor de 25450 gramas. Observa-se que
esta informação foi registrada considerando 5 algarismos significativos. O operador deve
atentar-se que uma simples mudança de unidade desta medida não pode alterar o número de
algarismos significativos. Para tanto, deve-se lançar mão das potências de base dez. Para o caso
em questão, o operador poderia anotar o valor da medida como sendo igual a 25,45 * 10 3
gramas ou 25,450 kg, mantendo-se desta forma o mesmo número de algarismos significativos.
Ainda ilustrando o caso anterior, considere que foi tomada a medida de uma mesa como sendo
igual a 1,8 metros, medida esta que possui dois algarismos significativos; o operador deverá ter
muito cuidado em transferir esta informação, uma vez que ele não poderá informar a outros o
comprimento desta mesa como sendo igual a 180 cm ou 1800 mm, pois estaria desta forma
alterando o número de algarismos significativos da medida para três e quatro, respectivamente.
Uma questão de grande importância neste ponto é quanto arredondamento dos números quando
da realização de operações com algarismos significativos. A operação correta com algarismos
significativos exige o conhecimento da Teoria dos Erros. No entanto, algumas regras bem
simples podem auxiliar aos operadores de modo a evitar o exagero no uso de casas decimais que
muitas vezes representam uma precisão que não corresponde com a realidade. Vejamos alguns
casos que podem auxiliar na busca de um resultado que melhor represente o valor da medida
desejada.
Adição e Subtração
Uma regra prática para as operações de adição e subtração é executá-la considerando apenas o
menor número de casas decimais presente dentre os números da operação, ignorando assim, as
casas decimais superiores. Vejamos o seguinte exemplo:
Percebe-se no exemplo que existe uma diferença de resultados quanto ao número de algarismos
significativos e consequentemente na precisão do resultado. Quando se realiza este tipo de
cálculo numa calculadora, esta “desconhece” a precisão das medidas informadas e o resultado é
função dos números de casas decimais definidas pelo operador. Durante a operação, a
calculadora preencherá com “zeros” onde faltarem algarismos e fará arredondamentos onde for
72
Conceitos Básicos
necessário. Isto resulta em pequenas diferenças em relação às operações realizadas “a mão” com
o emprego da regra prática.
No caso do exemplo anterior, o número de casas decimais foi considerado como sendo aquele
dado pela capacidade da calculadora e o resultado obtido foi 37,6943 unidades de medida. Caso
o operador venha a fixar o número de casas decimais igual a 2, o resultado oferecido pela
calculadora seria 37,70 e se fosse igual a 3 o resultado seria 37,694 unidades de medida.
Portanto, é de grande importância que o operador esteja sempre atento quanto ao número de
algarismos significativos das medidas envolvidas para que se obtenha um resultado que
expresse a melhor precisão das medidas.
Na subtração, considere o seguinte exemplo:
De modo a evitar grandes conflitos de resultados, sugerimos aos usuários que realizem todas as
operações matemáticas considerando todas as casas decimais das medidas envolvidas e
executem os devidos arredondamentos somente na apresentação do resultado final (tomando em
conta o menor número de casas decimais). Para isso, os usuários muitas vezes terão a
necessidade de abandonarem algarismos significativos da medida final no arredondamento.
Nestes casos, indicamos que os usuários sigam as seguintes recomendações:
73
Fundamentos de Geomática
V = 24,68 m3
Multiplicação e Divisão
Seja o caso onde se deseja executar a seguinte operação de multiplicação: 5,284 * 2,9 = ?
75
Fundamentos de Geomática
Perguntamos: qual o resultado final da soma? Qual a sua forma de representação final?
Ao utilizarmos uma calculadora, temos como resultado 4457,8431. Porém, ao
observarmos as casas decimais dos números envolvidos, notamos que existe uma
medição inteira, ou seja, a medição 1403 não apresenta casas decimais e esta notação
deve ser preservada para a apresentação final do resultado. Neste caso, temos que
realizar os arredondamentos necessários, segundo as regras apresentadas, e obtemos
como resultado final para apresentação do somatório o valor 4458.
Neste exemplo, o usuário deveria estar atento na anotação das medições, de forma que
as mesmas tivessem o mesmo número de casas decimais para designar a mesma
precisão. Como dissemos anteriormente, as calculadoras desconhecem a precisão das
medidas e completam com zeros os algarismos faltosos. Tomando o exemplo anterior
teríamos:
2742 ,844
13,800
298,198
1403,000
76
Conceitos Básicos
Potência
n − 1 algarismos significativos se p ≤ k
senão
n − 2 algarismos significativos se p ≤ 10k
Seja o seguinte exemplo: qual o resultado da seguinte potência 0,3862 4 ?. Neste caso,
k = 3 , n = 4 e p = 4 . Observando os critérios apresentados acima, vemos que devemos
seguir o segundo critério e o resultado final será dado com dois algarismos
significativos, pois p ≤ 30 .
Raízes
Seja “r” o índice de uma raiz de um número que tenha “n” algarismos significativos e
“k” o primeiro algarismo significativo deste número, então:
n algarismos significativos se rk ≥ 10
senão
77
Fundamentos de Geomática
2.3 ESCALAS
Após a execução das medições no terreno e as conseqüentes reduções das medidas ao plano
horizontal, o objetivo do trabalho topográfico é transferir todas as informações coletadas para
forma gráfica. É intuitivo afirmar que não se pode transferir diretamente para uma planta todos
os valores de medidas obtidas no campo. Para tanto, torna-se necessário lançar mão do conceito
de escala.
Uma escala é definida como sendo a relação constante entre o tamanho de uma imagem (i) e o
tamanho real do objeto que está sendo representado (o). Ou seja,
i
E= (2.1)
o
Diz-se assim que a escala é, por exemplo, igual a 1:1 000 ou 1/1 000. Ela é representada por
uma fração do tipo 1/M, onde M é denominado módulo da escala e é, normalmente, um
múltiplo de 10. O módulo da escala pode variar entre 10 e 10 000 000, podendo atingir valores
maiores, de acordo com a natureza e finalidade do desenho.
Diz-se que uma escala é pequena quando o valor de M é grande e vice-versa. Assim, a escala
igual a 1:50 000 é uma escala pequena e a escala igual a 1:1 000 é uma escala grande. Da
relação acima, podemos fazer a seguinte operação:
1 i
E= = (2.2)
M o
de onde,
o = i*M (2.3)
E = 1 100 000
i = 3 cm
i 1
E= ⇒ o = i*
o E
o = 3 000 m
Seja uma distância medida no terreno igual a 453,279 metros. Considere que se deseja desenhar
este alinhamento na escala 1/2 000. Pergunta-se: qual é o comprimento, no desenho, que
representa a distância medida?
E = 1 2 000
o = 453,279m
i
E= ⇒ i = E *o
o
1
i= * 453,279
2 000
i = 0,227 m ⇒ i = 22,7 cm
O conceito de escala pode ser aplicado nas medições de áreas e volumes. O usuário deve prestar
muita atenção que estas grandezas são, respectivamente, funções quadráticas e cúbicas. Então,
pode-se estabelecer as seguintes relações:
79
Fundamentos de Geomática
2
A ⎛ 1 ⎞
E = i =⎜ ⎟ Áreas
Ao ⎝ M ⎠
(2.4)
3
Vi ⎛ 1 ⎞
E= =⎜ ⎟ Volumes
Vo ⎝ M ⎠
E = 1 500
Ai = 0,0275 m
Ai 1
E= ⇒ Ao = * Ai ⇒ Ao = M 2 * Ai
Ao E
Ao = 5002 * (0,0275)
Ao = 6875 m 2 ⇒ Ao = 0,675 ha
Aqui cabe salientar os diferentes termos usados na Geomática para indicar uma representação
gráfica. Existem três termos usados comumente, os quais descrevemos a seguir:
Mapa Nome dado à representação gráfica de uma superfície que compreende uma
região geográfica político-administrativa bem definida tal como, um país, um
estado ou um município. Diz-se ainda um Mapa Mundi;
Carta Nome dado à representação gráfica parcelada de um mapa, como por
exemplo, as cartas do IBGE que estão na escala 1:50 000;
Planta Nome dado à representação gráfica de áreas parceladas de uma carta tais
como, chácaras, sítios, fazendas, jazidas minerais, obras civis (estradas,
edifícios, barragens, túneis) e outros.
É importante salientar que não existem normas rígidas para a escolha da escala a ser adotada
para uma determinada representação gráfica. Ao engenheiro compete a sua determinação de
acordo com a natureza do seu trabalho. Existem, contudo, alguns parâmetros que devem ser
considerados antes de se estabelecer a escala a ser utilizada. São eles:
80
Conceitos Básicos
Para a elaboração de uma representação gráfica existem algumas normas técnicas elaboradas
pela ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas, que devem ser consideradas pelo
usuário. Entre elas cita-se: a NB-8/1969, a NBR 819644, a NBR 840245, a NBR 840346, a NBR
1006847, a NBR 1012648, a NBR 1058249 e a NBR 1064750. A Tabela 2.2 apresenta um resumo
das recomendações da norma NBR 10068:
Tabela 2.2: Dimensões do papel para uma representação gráfica.
Formato do Linha de corte Margem
papel Y [m] X [mm] [mm]
A0 841 X 1189 10
A1 594 X 841 10
A2 420 X 594 10
A3 297 X 420 10
A4 210 X 297 5
FONTE: NBR 10068
44
NBR 8196: “Emprega de escalas em desenho técnico – procedimento.”
45
NBR 8402: “Execução de caracteres para escrita em desenho técnico – procedimento.”
46
NBR 8403: “Aplicação de linhas em desenhos – tipos de linhas – larguras das linhas – procedimento.”
47
NBR 10068: “Folha de desenho, layout e dimensões.”
48
NBR 10126: “Cotagem em desenho técnico – procedimento.”
49
NBR 10582: “Apresentação da folha para desenho técnico - procedimento.”
50
NBR 10647: “Desenho técnico – norma geral – terminologia.”
81
Fundamentos de Geomática
Denomina-se resolução gráfica de uma escala a menor grandeza susceptível de ser representada
num desenho, através desta escala. No passado podiam-se tecer vários comentários sobre esse
assunto. Atualmente, entretanto, com o advento e o uso extensivo dos sistemas CAD, ele já não
possui a mesma importância do passado. Os sistemas CAD, em geral, operam sem a
necessidade da indicação de nenhuma escala. Através do uso das funções de Zoom, o usuário
pode variar a escala do desenho na tela do computador e representar graficamente qualquer
detalhe que deseje. A resolução gráfica passa então a ter apenas uma importância relativa para
os casos em que o usuário necessita plotar51 o seu desenho. Mesmo assim, uma plotagem,
atualmente, tem apenas a função de criar um documento para discussões técnicas. Todos os
projetos são realizados tomando por base a representação gráfica, no sistema CAD. Mesmo
assim, como orientação técnica, apresentamos a seguir alguns comentários sobre a resolução
gráfica na plotagem de um desenho.
As normas de desenho aceitam como sendo 1/5 de milímetros (0,0002 m) a menor grandeza
gráfica possível de ser apreciada a olho nu, denominada de erro de graficismo52. Deste modo,
conhecendo a escala do desenho, pode-se calcular a menor dimensão possível de ser
representada.
d = 0,0002 * M (2.4)
Como exemplo, nas escalas 1:100, 1:2 000 e 1:5 000, as menores dimensões possíveis de serem
representadas são as seguintes:
Assim, em princípio, nenhum elemento gráfico com dimensão menor do que os valores
indicados acima poderão ser representados nas respectivas escalas. É claro que esses valores são
apenas ilustrativos. Para estabelecer com maior precisão o que pode ou não pode ser
51
A palavra plotar advém da palavra inglesa “plot” e significa posicionar. Mais recentemente, porém, ela passou a ter
um significado mais amplo, no meio técnico, e pode também significar imprimir um desenho a partir de um
equipamento denominado plotter.
52
NBR 13 133/1994: “erro máximo na elaboração de desenho topográfico para lançamento de pontos e traçados de
linhas, com o valor de 0,2 mm, que equivale a duas vezes a acuidade visual.”
82
Conceitos Básicos
representado seria necessário considerar também a espessura do traço com a qual se vai plotar
cada elemento gráfico e o tipo de elemento.
Para garantir clareza e sistematização nos trabalhos de Geomática é útil definir certas regras e
símbolos para a notação53 dos elementos e das grandezas freqüentemente utilizadas na
Geomática. Infelizmente, não existe uma regra universal para este assunto e por isso as notações
e os símbolos variam bastante entre diferentes escolas. O usuário deve, entretanto, manter
sempre uma coerência nas suas notações e não repetir o mesmo símbolo para grandezas
diferentes. Nunca usar uma notação sem defini-la adequadamente. Para auxiliar na escolha das
notações e dos símbolos, propomos a utilização das regras apresentadas a seguir.
Ö Os pontos devem ser designados por letras maiúsculas;
Ö Os comprimentos e as distâncias devem ser designados por letras minúsculas ou
maiúsculas;
Ö Os ângulos devem ser designados por letras gregas.
53
De acordo com o dicionário Aurélio – Notação é o mesmo que sistema de representação ou designação
convencional.
83
Fundamentos de Geomática
Notação Índice
Latitude Φ Φi
Coordenadas Astronômica
Longitude Λ Λi
Latitude ϕ ϕi
Coordenadas Geodésicas
Longitude λ λi
Coordenadas Plano-retangulares
Coordenadas oficiais - UTM E, N Ei , N i
Coordenadas locais X,Y X i , Yi
84
Conceitos Básicos
Excentricidade e ePQ
Raio da Terra R --
Nivelamento geométrico
Leitura ré Lr Lri
Leitura vante Lv Lvi
Nivelamento trigonométrico
Altura do instrumento i iP
Altura do prisma no ponto visado z z PQ
Coeficiente de refração k
-
85
Fundamentos de Geomática
86
Sistemas de coordenadas
3. SISTEMAS DE COORDENADAS
54
O conceito de uma posição atemporal dever ser visto com resguardo. O movimento da crosta terrestre tem se
mostrado grande o suficiente para que, em breve, as coordenadas dos pontos sobre a superfície terrestre passem a
ser determinados com uma quarta grandeza, o tempo.
87
Fundamentos de Geomática
acordo com a escala definida para o sistema. O eixo Y é positivo da origem “para cima” e o eixo
X é positivo da origem “para a direita”. As coordenadas retangulares de um ponto são dadas por
dois números que correspondem as projeções geométricas deste ponto sobre o eixo das
abscissas e sobre o eixo das ordenadas. Ao par de coordenadas ( X , Y ) dá-se o nome de
coordenadas retangulares planas.
Este sistema de coordenadas, tal como ele
é usado na matemática, possui o sentido
positivo dos ângulos como sendo o
sentido anti-horário e tem como origem o
eixo positivo das abscissas. Vide Figura
3.1.
Uma modificação básica foi feita nesse sistema para o seu uso na Geomática. Trata-se da
inversão do sentido da leitura angular. Para a Geomática os ângulos são medidos no sentido
horário, em conformidade com o sentido da graduação do limbo na maioria dos instrumentos
topográficos mecânicos. No Brasil mantém-se a direção das ordenadas e das abscissas.
88
Sistemas de coordenadas
X Q = X P + d PQ senφPQ
(3.1)
YQ = YP + d PQ cos φPQ
89
Fundamentos de Geomática
Figura 3.4: Elementos do sistema topográfico local. FONTE: NBR 14 166, Figura 2, página 6.
90
Sistemas de coordenadas
91
Fundamentos de Geomática
c=
(Rm + H t ) (3.2)
Rm
Onde:
c = É o fator de elevação, adimensional;
H t = É a altitude média do terreno, em [m] ;
Rm = É o raio médio terrestre local, adotado como raio da esfera de adaptação de
Gauss, em [m] ;
Rm = M * N (3.3)
(
c = 1 + 1,57 * 10 −7 * H t ) (3.4)
92
Sistemas de coordenadas
X P = 150 000 + xP
(3.5)
YP = 250 000 + yP
yP =
1
B
[ ( ) ( ) ( ) (
* ∆ϕ1 + C * xP2 + D * ∆ϕ12 + E * ∆ϕ1 * xP2 + E * C * xP4 * c )] (3.6)
O Sistema de Coordenadas Polares Plano é determinado por um ponto fixo “O”, denominado
origem ou pólo, e por uma direção ou eixo passando por esse pólo. A posição de um ponto é
então definida a partir da indicação de um ângulo β , medido a partir de um eixo de referência,
e de uma distância d, tomados a partir da origem (pólo).
A par de valores (β , d ) , dá-se o nome de
coordenadas polares planas. Da mesma
forma que o Sistema de Coordenadas
Cartesiano Plano, o Sistema de
Coordenadas Polares Plano, tal como ele é
usado na matemática, possui o sentido
anti-horário como sentido positivo e
utiliza o eixo horizontal como eixo de
referência angular. Vide Figura 3.6.
55
NBR 14 166: “Devem estar localizados em locais estáveis que facilitem a sua ocupação, a sua identificação, sua
utilização e que garantam a estabilidade e a perenidade de sua materialização. A materialização pode ser através
de marcos e/ou pinos metálicos, nas áreas urbanas, e por marcos, nas áreas rurais, quando não forem
encontradas obras de arte (ponte, viadutos, pontilhões, etc.) estáveis, onde possam ser cravados pinos metálicos.
Estes marcos são determinados a partir de marcos geodésicos de precisão, por intermédio de poligonal de classe I
P (NBR 13 133), ou por rastreamento de satélites do sistema NAVSTAR/GPS, no método diferencial; triangulação
ou trilateração ou por outro método, desde que em termos de exatidão, seja igual, ou melhor, que a obtida por
essa classe de poligonal”.
93
Fundamentos de Geomática
O Sistema de Coordenadas Polares Plano na Geomática sofreu também uma inversão no sentido
positivo do ângulo. O sentido positivo, neste caso, é o sentido horário e, da mesma forma que o
Sistema de Coordenadas Cartesiano Plano Topográfico, a origem do ângulo é o eixo vertical.
A este sistema de coordenadas dá-se o
nome de Sistema de Coordenadas Polares
Plano Topográfico.
94
Sistemas de coordenadas
Como exemplos, apresentam-se na Tabela 3.2 as coordenadas cartesianas espaciais dos pontos
STTU, STT-1 e M-02.
95
Fundamentos de Geomática
56
Para maiores informações, referir-se à sessão XXX.
96
Sistemas de coordenadas
Desta forma:
97
Fundamentos de Geomática
respectivamente. É importante citar que os pontos apresentados na Tabela 3.3 estão conectados
a rede geodésica GPS do Estado de São Paulo.
Tabela 3.3: Exemplos de Coordenadas Geodésicas de três pontos no
Campus da USP em São Carlos (SP), referentes ao elipsóide WGS84.
Nome do ponto Latitude Longitude Altura elipsoidal
STTU57 -22º 00’ 17,80064” -47º 53’ 56,99577” 824,577m
STT-158 -22º 00’ 17,13990” -47º 53’ 56,30133” 812,273m
M-0259 -21º 59’ 48,26444” -47º 55’ 43,31400” 838,170m
Analisando a Figura 3.12 deve-se notar que a latitude e a longitude geodésicas do ponto P são
determinadas a partir da linha normal ao elipsóide de referência, a qual, devido a forma
achatada do elipsóide, não passa pelo centro do mesmo. Por essa razão, definem-se também os
termos latitude e longitude geocêntricas como sendo a latitude e a longitude determinadas a
partir de um alinhamento partindo de um ponto na superfície do elipsóide e passando pelo
centro do mesmo. Por outro lado, quando a latitude e a longitude são determinadas a partir de
um instrumento tipográfico nivelado sobre um ponto na superfície terrestre, tem-se um outro par
de coordenadas, que determinadas a partir da linha de prumo do instrumento, ou seja, a partir da
vertical do lugar, que não é geocêntrica e nem normal ao elipsóide60. As coordenadas assim
definidas são conhecidas como latitude e longitude astronômicas. A latitude astronômica é
representada pela letra grega Φ (fi maiúsculo) e a longitude astronômica é representada pela
legra grega Λ (lambida maiúsculo). As coordenadas geodésicas definem cada ponto de maneira
unívoca, ou seja, não existem dois pontos com as mesmas coordenadas geodésicas. Já as
astronômicas não definem um ponto de maneira unívoca.
57
Este ponto encontra-se instalado numa torre metálica sobre a laje de cobertura da caixa d’água do prédio do
Laboratório de Estradas do Departamento de Transportes da EESC/USP.
58
Este ponto encontra-se situado na esquina do prédio do Departamento de Transportes da EESC/USP com a via de
acesso à Portaria Norte do Campus de São Carlos.
59
Este ponto é o centro do plano topográfico utilizado na implantação do Campus II da USP em São Carlos.
60
Em algumas situações especiais pode ocorrer que a vertical do lugar seja geocêntrica ou coincidente com a normal.
98
Sistemas de coordenadas
É importante notar que a latitude e a longitude geodésicas não podem ser determinadas a partir
de um instrumento topográfico nivelado sobre um ponto da superfície terrestre. Isso ocorre pelo
fato do instrumento estar nivelado segundo a vertical do lugar enquanto que a latitude e a
longitude geodésicas são calculadas tomando-se como referência um modelo de Terra que é o
elipsóide de revolução. Existe, portanto, como já vimos uma pequena diferença angular entre as
duas retas perpendiculares as duas superfícies de referência – geóide e elipsóide. A esta
diferença angular dá-se o nome de desvio da vertical61, o que é designado pela letra grega θ
(teta).
O desvio da vertical θ logicamente possui uma direção qualquer em relação aos pontos
cardeais geográficos. Para facilitar o seu cálculo ele é dividido em duas componentes (ξ , η ) ,
segundo as direções NS e EW. A primeira componente é chamada de componente meridiana e a
segunda é chamada de componente da primeira vertical.
A componente meridiana é designada pela
letra grega ξ (qsi) e é positiva quando situar-
se ao Norte da normal ao elipsóide. A
componente da primeira vertical é designada
pela letra grega η (eta) e é positiva quando
situar-se a este da normal ao elipsóide. Vide
Figura 3.14.
ξ = Φ −ϕ (3.7)
Da mesma forma, a componente da primeira vertical η pode ser estimada a partir da seguinte
expressão matemática:
η = (Λ − λ ) * cos ϕ (3.8)
Ou
η = ( Aza − Az ) * cotanϕ (3.9)
61
Também definido como deflexão astro-geodésica.
99
Fundamentos de Geomática
Onde:
Φ = Latitude astronômica do ponto;
Λ = Longitude astronômica do ponto;
ϕ = Latitude geodésica do ponto;
λ = Longitude geodésica do ponto;
Aza = Azimute astronômico do ponto;
Az = Azimute geodésico do ponto.
A expressão (3.10) é conhecida como a Equação reduzida de Laplace. Através desta equação é
possível transformar um azimute astronômico em geodésico, e vice-versa.
O desvio da vertical pode ser estimado a partir da seguinte expressão matemática:
θ 2 = ξ 2 +η2 (3.9)
Ou,
⎛η ⎞
θ = arctan⎜⎜ ⎟⎟ (3.10)
⎝ξ ⎠
O desvio da vertical nunca passa de alguns segundos de arco e, em geral, gira em torno de 5′′ ,
podendo alcançar excepcionalmente 30′′ e chegando alcançar, raramente a 60′′ . Como podemos
perceber os valores das componentes meridiana e primeira vertical são muito pequenos, assim
como as diferenças entre as coordenadas geodésicas e astronômicas.
100
Sistemas de coordenadas
azimutes devido ao desvio da vertical, por Laplace, apresentou uma redução desta diferença
para um valor médio de 15,1′′ .
101
Fundamentos de Geomática
d PQ = (X Q ) (
− X P + YQ − YP
2
)
2
(3.5)
XQ − X P
tan (β ) =
YQ − YP
Em alguns casos pode ocorrer que a escala dos dois sistemas de coordenadas retangulares não
sejam iguais. Nesses casos basta calcular o fator de escala existente entre os dois sistemas e
aplicá-lo convenientemente. O fator de escala pode ser calculado a partir do uso das
coordenadas de dois pontos de controle em ambos os sistemas de coordenadas. Assim, se os
pontos P e Q possuírem, por exemplo, as coordenadas XP,YP e XQ,YQ no primeiro sistema de
coordenadas e X’P,Y’P e X’Q,Y’Q no segundo, o fator de escala será igual a
102
Sistemas de coordenadas
s=
(X '
Q − X 'P ) + (Y '
2
Q −Y ' P )
2
(X ) + (Y )
(3.6)
− XP − YP
2 2
Q Q
3.2.2.2 Rotação
Considere a Figura 3.9. Nessa figura, o sistema XY, depois de multiplicado pelo fator de escala
“s”, foi rotacionado por um ângulo θ , para coincidir com o sistema de coordenadas X’Y’.
Nessas condições, as coordenadas de
qualquer ponto no sistema XY serão
transformadas para as coordenadas no
sistema X’Y’ aplicando-se as equações
indicadas abaixo.
Matricialmente têm-se
⎡ X ' p ⎤ ⎡cos θ − senθ ⎤ ⎡ X p ⎤
⎢ Y' ⎥ = ⎢ *⎢ ⎥
cos θ ⎥⎦ ⎣ Y p ⎦
(3.8)
⎣ p ⎦ ⎣ senθ
X = R −1 * X ' (3.9)
103
Fundamentos de Geomática
3.2.2.3 Translação
Após aplicar o fator de escala e a rotação, pode ser necessário ainda aplicar uma translação para
se obter as coordenadas finais no novo sistema. Considerando ainda a Figura 3.7, considere que
foram aplicadas as translações Tξ e Tη , em relação a origem do sistema de coordenadas X’Y’,
para se obter as coordenadas no novo sistema ξ η . Nestas condições, as coordenadas de
qualquer ponto no sistema E ′N ′ serão transformadas para as coordenadas no sistema ξ η
aplicando-se as seguintes equações:
ξ p = X 'p + Tξ
(3.10)
η p = Yp' + Tη
⎡ξ p ⎤ ⎡cos θ − senθ ⎤
ξ =⎢ ⎥ R=⎢
⎣η p ⎦ ⎣ senθ cos θ ⎥⎦
⎡ X 'p ⎤ ⎡Tξ ⎤
X '= ⎢ ⎥ T =⎢ ⎥
⎣Y 'p ⎦ ⎣Tη ⎦
104
Sistemas de coordenadas
X = (N + h )cos ϕ * cos λ
[ ( ) ]
Z = N 1 − e 2 + h * senϕ
tan ϕ =
(
Z + e′ 2 bsen 3φ ) (3.14)
p − e 2 a cos 2 φ
⎛ X 2 +Y 2 ⎞
h=⎜ ⎟− N (3.15)
⎜ cos ϕ ⎟
⎝ ⎠
105
Fundamentos de Geomática
a2 − b2
e2 = (3.16)
a2
a 2 − b2
e′2 = (3.17)
b2
p = X 2 +Y2 (3.18)
Za
tan φ = (3.19)
pb
tan φ
senφ = (3.20)
1 + tan φ
1
cos φ = (3.21)
1 + tan 2 φ
a
N= (3.22)
(1 − e sen ϕ )
2 2
1
2
Onde,
a = semi-eixo maior do elipsóide de referência;
b = semi-eixo menor do elipsóide de referência;
h = altura geométrica ou elipsoidal
N = raio de curvatura da seção primeira vertical
e2 = primeira excentricidade
ϕ = latitude geodésica do ponto considerado
λ = longitude geodésica do ponto considerado
106
ANEXO “G”
107