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FUNDAMENTOS DE GEOMÁTICA

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FUNDAMENTOS DE
GEOMÁTICA

Prof. Dr. Irineu da Silva


Prof. Dr. Paulo Cesar Lima Segantine
Escola de Engenharia de São Carlos – USP
4
APRESENTAÇÃO

Deve-se ter em mente que a ciência é um conhecimento objetivo das


coisas do mundo. Domina apenas o cotidiano e um pouco mais. A ciência
procura resolver problemas, mas a realidade, em sua vastidão, não é
simplesmente problema, é mais mistério. E mistérios não são resolvíveis,
são eles que nos resolvem, exigem nossa decisão e até nossa entrega
diante deles. Portanto, fazer ciência não é uma tarefa das mais fáceis e
exige muita dedicação e esforço por parte daqueles que queiram
caminhar pelos campos dos conhecimentos.
Temos plena consciência de que a elaboração e a publicação de um
material didático é sempre um trabalho árduo e demorado. Em muitos
casos, a demora da publicação ocorre pelo fato dos autores acreditarem
sempre que o material necessita de modificações e atualizações. Este é
um dos grandes embates a ser vencido por todos os autores: vencer o
sentimento de que a obra nunca está acabada.
Este livro expressa, em parte, a experiência adquirida ao longo dos
anos de dedicação ao ensino e à pesquisa na área de Mensuração e não
tem por meta esgotar todos os assuntos apresentados, uma vez que nos
últimos anos têm surgido novas tecnologias e métodos para execução dos
trabalhos de reconhecimento, levantamento e apresentação dos
resultados.

Os autores
ii
ÍNDICE

APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................... I
ÍNDICE ..................................................................................................................................................III
1. CONCEITOS GERAIS DE GEOMÁTICA ........................................................................ 1
1.1 Introdução ........................................................................................................................ 1
1.2 A Geodésia....................................................................................................................... 4
1.2.1 A Geodésia Geométrica.......................................................................................... 5
1.2.2 A Geodésia Espacial............................................................................................... 8
1.2.3 A Geodésia Física................................................................................................. 10
1.2.4 As Altitudes.......................................................................................................... 14
1.2.5 Formas e dimensões da Terra............................................................................... 17
1.2.6 O Sistema Geodésico Brasileiro - SGB................................................................ 21
1.3 A Topografia.................................................................................................................. 27
1.4 A Cartografia ................................................................................................................. 28
1.5 A Hidrografia................................................................................................................. 29
1.6 A Fotogrametria............................................................................................................. 30
1.7 O Sensoriamento Remoto .............................................................................................. 32
1.8 O Desenho Assistido por Computador - CAD............................................................... 41
1.9 O Gerenciamento de Bancos de Dados.......................................................................... 42
1.10 O Gerenciamento Cadastral ........................................................................................... 42
1.11 O Sistema de Informação Geográfica (SIG) .................................................................. 44
1.12 O Sistema de Posicionamento Global por Satélites - GNSS.......................................... 46
1.13 Principais Aplicações da Geomática.............................................................................. 49
1.13.1 Determinação de coordenadas planimétricas de pontos ....................................... 49
1.13.2 Determinação de diferenças de nível.................................................................... 50
1.13.3 Levantamento de detalhes .................................................................................... 51
1.13.4 Levantamento de perfis ........................................................................................ 52
1.13.5 Locação de obras.................................................................................................. 53
1.13.6 Auscultação de obras de engenharia..................................................................... 54
1.13.7 Levantamento subterrâneo ................................................................................... 55
1.13.8 Levantamento hidrográfico .................................................................................. 56
1.13.9 Levantamento cadastral........................................................................................ 56
1.13.10 Levantamento “as built”....................................................................................... 58
1.13.11 Metrologia industrial ............................................................................................ 59
2. CONCEITOS BÁSICOS............................................................................................................... 63
2.1 Unidades de medidas............................................................................................................ 63
2.1.1 Medição de natureza linear (comprimento)................................................................ 64
2.1.2 Medição de natureza angular...................................................................................... 64
2.1.2.1 A conversão de ângulos .......................................................................................... 67
2.1.3 Medida de natureza de superfície............................................................................... 69
2.2 algarismos significativos ...................................................................................................... 70
2.3 Escalas.................................................................................................................................. 78
2.4 Resolução Gráfica ................................................................................................................ 82
2.5 Notações e símbolos para as grandezas mais utilizadas na Geomática ................................ 83
2.5.1 Notações para pontos ................................................................................................. 84
2.5.2 Notações para coordenadas ........................................................................................ 84
2.5.3 Notações para comprimentos e distâncias.................................................................. 85
2.5.4 Notações para altimetria e nivelamento ..................................................................... 85
2.5.5 Notações para ângulos e direções............................................................................... 86
3. SISTEMAS DE COORDENADAS............................................................................................... 87
3.1 Sistemas de coordenadas...................................................................................................... 87
3.1.1 O Sistema de Coordenadas Plano-retangular ............................................................. 87
3.1.2 O Sistema de Coordenadas Polares Plano.................................................................. 93
3.1.3 O Sistema de Coordenadas Cartesiano Espacial ........................................................ 94
3.1.4 O Sistema de Coordenadas Geodésicas...................................................................... 96
3.2 Transformação de coordenadas .......................................................................................... 101
3.2.1 Transformação de coordenadas polares em coordenadas plano-retangulares e vice
versa. ................................................................................................................................... 102
3.2.2 Transformação de coordenadas entre sistemas de coordenadas plano-retangulares. 102
3.2.2.1 Fator de escala...................................................................................................... 102
3.2.2.2 Rotação ................................................................................................................. 103
3.2.2.3 Translação ............................................................................................................ 104
3.2.3 Transformação de Coordenadas Geográficas Geodésicas em Coordenadas
Cartesianas Espaciais e vice-versa ...................................................................................... 104

iv
Conceitos gerais de Geomática

1. CONCEITOS GERAIS DE
GEOMÁTICA

1.1 INTRODUÇÃO
Como parte de suas atribuições, o engenheiro depara-se, em muitos casos, com situações nas
quais ele necessita determinar as posições relativas de pontos sobre a superfície terrestre ou
próximo dela e representá-los através de plantas, cartas, mapas, Modelos Digitais de Terrenos
(MDT)1, perfis e outros meios de representação que tornem essa determinação geometricamente
coerente para o uso em projetos de engenharia. Diz-se, nesses casos, que ele depara-se com um
problema de Mensuração.
Etimologicamente, a palavra Mensuração é de origem latina e advém da palavra mensuratione,
que significa o ato de medir ou de mensurar. Neste texto, ela terá, entretanto, um significado
mais amplo e constituir-se-á no termo que denominará a área de conhecimento humano que
agrupa as ciências e as técnicas de medições de elementos geométricos espaciais
(georreferenciados2 ou não), do tratamento matemático destas medições e da representação
gráfica na forma vetorial ou raster3 dos elementos medidos.
O uso do termo Mensuração, tal como apresentado acima, não é corrente entre os profissionais
que atuam nessa área, em nosso país. Empregam-se muitas vezes os termos Agrimensura,
Topografia ou até mesmo Geodésia4 para generalizações que vão além do que o termo permite.
Além disso, devido aos avanços científicos das últimas décadas, houve modificações
importantes nas ciências e nas técnicas de medições que acabaram por exigir o uso de um novo
termo. Para os propósitos deste texto, o termo Mensuração nos parece ser o mais adequado.
Neste contexto, a Mensuração é sem dúvida uma área do conhecimento humano com recursos
indispensáveis para os profissionais de áreas tão diversas como a Cartografia e a Engenharia
Civil, com algumas incursões na Arquitetura, na Engenharia Mecânica, na Engenharia Naval e
até mesmo na Medicina, para destacar apenas algumas. Ela é fundamental para a Cartografia e
para o levantamento de dados da infra-estrutura básica para o planejamento e o estabelecimento

1
É também de uso corrente a sigla DTM, que advém do termo inglês “Digital Terrain Modelling”. Mais
recentemente tem-se usado também, no meio técnico-científico, o termo Modelo Numérico de Terreno –
MNT.
2
Georreferenciamento é um termo incorporado recentemente aos textos da área de Geomática. Ele deriva-
se do termo inglês “Georeferencing” e significa a operação a partir da qual pontos, objetos ou fatos são
associados a um lugar geográfico a partir de suas coordenadas.
3
Encontra-se também no meio acadêmico brasileiro o uso da palavra matricial em substituição a palavra
inglesa raster. A palavra raster, entretanto, é a palavra mais empregada.
4
Existe também a palavra Geodesia.

1
Fundamentos de Geomática

de construções civis em geral (rodovias, ferrovias, pontes, canais, barragens, drenagem,


adutoras, etc.) e de obras rurais (canais de irrigação, auxílio à agricultura de precisão, etc.), entre
outros.
A disponibilidade de novos equipamentos terrestres, aéreos e orbitais, tais como os receptores
de sinais de satélites artificiais, as Estações Totais e os equipamentos de varredura a laser
aerotransportados e terrestres, aliados às novas técnicas de medições, armazenamento, cálculos
e compilação de dados, tem contribuído, nas últimas décadas, para o aprimoramento das
técnicas de Mensuração. A Fotogrametria Digital, os Sistemas de Posicionamentos Globais
(GNSS)5 e os Sistemas de Informações Geográficas (SIG) são alguns exemplos típicos de
novas tecnologias que vêm contribuindo para uma nova mentalidade na aplicação da
Mensuração em todo o mundo.
Devido a esse desenvolvimento tecnológico, tem crescido, nos últimos anos, no meio
acadêmico, técnico e científico o uso de uma outra terminologia, ainda mais abrangente, que é o
termo Geomática. A grande contribuição da informática é inegável e tem sido fundamental para
a mudança do comportamento de todas as categorias profissionais, exigindo uma adaptação
daqueles que ainda não se integraram completamente à era da informatização. O uso de
computadores no processamento e ajustamento de dados de campo e o uso de programas
aplicativos passaram a ser uma exigência natural do desenvolvimento técnico e científico da
Mensuração. Neste sentido, para integrar a informática à Mensuração, criou-se o termo
Geomática. A partir daí, várias universidades da América do Norte, da Europa e do Brasil vem
se adequando a nova realidade e alterando os nomes dos cursos existentes ou propondo novos
Cursos de Engenharia Geomática, ou simplesmente Geomática, de modo a atender essa nova
realidade.
Geomática é uma palavra nova. Ela apareceu na década de 80, introduzida por algumas
universidades canadenses, com o intuito de definir uma nova tecnologia que ora aparecia e
englobava a Mensuração com a Informática. A palavra Geomática em si vem da fusão das
palavras francesas “Geomètre + Informatique”, que gerou “Geomatique” e se aportuguesou para
Geomática. Na língua portuguesa, portanto, a Geomática deve ser entendida como a área do
conhecimento humano que utiliza as várias ciências e técnicas da Mensuração para o
georreferenciamento de elementos geográficos, a sua composição em bancos de dados e o seu
gerenciamento para a utilização em processos de tomadas de decisões. Nestes termos,
entendemos que podem ser creditadas à Geomática as seguintes atribuições:
ª Determinar as formas da Terra6 e estabelecer todas as condições necessárias para
definir o tamanho, a posição, os contornos de qualquer parte da superfície terrestre e
o fornecimento de plantas, cartas, mapas, arquivos digitais e qualquer tipo de
representação gráfica das medições realizadas;
ª Posicionar objetos no espaço, sobre ou sob a superfície terrestre, considerando os
seus aspectos físicos e/ou estruturais;

5
GNSS advém do termo inglês Global Navigation Satellite System.
6
Enfatizamos o plural “formas da Terra” considerando que, para os objetivos da Geomática, a Terra
possui mais de uma forma. Consultar sessão 1.2.5 deste texto.

2
Conceitos gerais de Geomática

ª Determinar limites de áreas públicas e privadas, incluindo os limites nacionais e


internacionais e o registro dessas áreas nos órgãos competentes;
ª Planejar, estabelecer e administrar o espaço físico através dos Sistemas de
Informações Geográficas, coletar e armazenar dados, criar e gerenciar banco de
dados que alimentam estes sistemas, analisar e manipular os dados que geram as
plantas, cartas e mapas;
ª Auxiliar no planejamento do uso da terra, no desenvolvimento de projetos para o
remanejamento e georreferenciamento de propriedades rurais e urbanas incluindo a
determinação de valores (avaliações);
ª Sugerir o uso de recursos naturais e econômicos na recuperação e reestruturação do
meio ambiente;
ª Auxiliar no estudo do meio social e natural, medindo os recursos naturais marinhos,
fluviais e terrestres, e usar estas informações para fins de planejamento urbano,
rural e áreas regionais;
ª Desenvolver teorias, técnicas, equipamentos e aplicativos informatizados que
permitam o avanço da Geomática e/ou facilitem a sua aplicação.

Para alcançar os objetivos acima, o profissional da área de Geomática deve ter formação em
áreas tão diversas como:
ª A Geodésia
ª A Topografia
ª A Cartografia
ª A Hidrografia
ª A Fotogrametria
ª O Sensoriamento Remoto
ª O Desenho Assistido por Computador (CAD)
ª O Gerenciamento de Bancos de Dados
ª O Gerenciamento Cadastral
ª Os Sistemas de Informações Geográficas (SIG)
ª Os Sistemas de Posicionamento Global (GNSS)

O assunto é sem dúvida vasto. Neste texto, porém, nos restringiremos aos tópicos primordiais e
indispensáveis as aplicações de rotina da Geomática. Alguns tópicos serão tratados com maior
rigor e profundidade e outros apenas como informação. Com o objetivo de introduzir o assunto
aos usuários interessados, apresentamos a seguir as informações mais relevantes de cada uma
das ciências e das técnicas citadas acima.

3
Fundamentos de Geomática

1.2 A GEODÉSIA
A Geodésia (do grego geo = terra, daiein = dividir) é uma ciência que tem por finalidade a
determinação das formas, das dimensões e do campo gravitacional da Terra7. Ela compreende
o estudo das operações ou medições, levantamentos geodésicos8, assim como os métodos de
cálculos aplicados para estas determinações. Em termos gerais, podemos dizer que a Geodésia,
além da determinação das formas da Terra, se preocupa também com a determinação e
manutenção do Datum Geodésico de um país ou uma região. Dessa forma, antes de mais nada,
vale a pena ressaltar aqui o significado da palavra datum, pois, como veremos nos próximos
capítulos, ela é relevante para uma série de definições empregadas na Engenharia e na
Mensuração.
A palavra Datum (plural Data) é uma palavra latina cujo significado pode ser entendido como
algo do tipo “alguma coisa dada”. Neste contexto ela tem sido usada na Engenharia para definir
um elemento geométrico de referência (um ponto, uma linha ou uma superfície de referência), a
partir do qual são determinadas as posições de outros elementos geométricos relacionados. Na
Mensuração ela tem sido usada como o termo que designa uma referência geodésica a partir da
qual são feitas as medições na superfície da Terra. Como referência geodésica deve-se entender
o modelo da forma da Terra, o qual define o tamanho e a forma a Terra (superfície de
referência), a origem e a orientação do sistema de coordenadas usado para a determinação da
posição de pontos na superfície terrestre. A esse modelo dá-se o nome de Datum Geodésico.
Após a determinação e implantação do Datum Geodésico procede-se à implantação de uma rede
de pontos com coordenadas referenciadas ao datum estabelecido. A essa rede de pontos de
referência dá-se o nome de Sistema de Referência Geodésico. Ao Datum Geodésico
estabelecido e com uma rede de pontos de referência implantada dá-se o nome de Sistema
Geodésico. Um Datum Geodésico é dividido em Datum Horizontal e Datum Vertical. Um
datum horizontal é a referência usada para determinar posições planimétricas na superfície
terrestre. Ele é definido por um par de coordenadas geodésicas (latitude e longitude), por uma
direção e por parâmetros definidores de um elipsóide de referência. Um datum vertical é a
referência usada para determinar a elevação de pontos na superfície terrestre, ou seja, as
altitudes dos pontos. Ele é definido a partir de medições maregráficas9.O leitor menos
habituado com os termos acima poderá consultar as seções 1.2.4 e 1.2.5 deste texto para maiores
detalhes sobre o assunto.
Fundamentalmente, quando se fala em formas da Terra, distinguimos os seguintes conceitos:
1. A forma geométrica, que é assimilada simplificadamente a uma esfera ligeiramente
achatada nos pólos, também designada de elipsóide de revolução;

7
A Terra, assim como todos os corpos celestes, exerce uma força de atração gravitacional sobre os corpos
localizados em sua proximidade. Esse campo de forças gerado ao seu redor é denominado Campo
Gravitacional Terrestre.
8
Considerando a PR Nº 22/83 do IBGE, podemos definir levantamentos geodésicos como sendo o
conjunto de atividades voltadas para as medições e observações de grandezas físicas e geométricas com
a finalidade de determinar as coordenadas de pontos para fins geodésicos.
9
Mais recentemente tem-se utilizado também técnicas de medições gravimétricas e GNSS para a
determinação do datum vertical.

4
Conceitos gerais de Geomática

2. A forma geoidal, que é gerada pela superfície equipotencial do campo


gravitacional;
3. A forma física que compreende as irregularidades da superfície, formada pelas
cadeias de montanhas, vales, campos, fossas oceânicas, pântanos, etc.

Apesar da superfície terrestre ser bastante irregular, devido a presença de grandes elevações e
depressões, em muitos casos, para simplicidade e facilidade de cálculo, ela é considerada como
tendo uma forma regular. A justificativa para isso advém do fato de que as irregularidades da
superfície física (topográfica) são muito pequenas quando comparadas com o seu raio médio.
Nesse sentido, o estudo das formas da Terra como um todo é o objeto de estudo da Geodésia,
enquanto que as irregularidades da superfície são objetos de estudo da Topografia e da
Hidrografia.
A Geodésia baseia-se nas medições angulares e lineares, astronômicas, gravimétricas e nas
medições a partir de informações emitidas por satélites artificiais. Em função do tipo de
medição e da aplicação, ela pode ser classificada em três áreas de estudo:

9 Geodésia Geométrica;
9 Geodésia Espacial10;
9 Geodésia Física

Apresentamos, a seguir, uma breve descrição de cada uma dessas áreas.

1.2.1 A Geodésia Geométrica

A Geodésia Geométrica combina as observações em relação a objetos exteriores a Terra (as


estrelas, o Sol, a Lua e mais recentemente os satélites artificiais) com as medições de bases entre
pontos sobre a superfície terrestre e as utiliza para determinar as formas e as dimensões do
nosso planeta.
A preocupação com a forma da Terra não é recente. O homem sempre teve interesse em
conhecer, conquistar e desvendar mistérios da natureza. Documentos históricos comprovam que
os estudos para a determinação das formas e do tamanho da Terra advêm do período helênico
antigo. Dentre as várias determinações, a que realmente contribuiu para os estudos e que chegou
até os nossos dias foi a idéia de uma Terra esférica defendida por Pitágoras (∼580-500 a.C.) e
por Aristóteles (384-322 a.C.) e comprovada por Eratóstenes (276-195 a.C.).
Os textos antigos conservaram a lembrança da experiência de Eratóstenes, que por volta de 240
a.C. determinou o raio da Terra durante o Solstício de verão medindo a altura do Sol ao meio-
dia em duas cidades do Egito (Alexandria e Siena, atual Assuan). Eratóstenes sabia que no dia
do Solstício de verão, o Sol estava na vertical em Siena, pois ele refletia-se no fundo dos poços

10
A Geodésia Espacial também é designada por vários autores como sendo Geodésia Celeste ou Geodésia
por Satélites ou Geodésia Satelital.

5
Fundamentos de Geomática

d’água. Ele mediu então, nesse dia, ao meio-dia, o comprimento da sombra de um obelisco em
Alexandria e calculou o ângulo entre a direção dos raios solares e o obelisco, obtendo um valor
igual a 7°12’. Como ele sabia que a distância entre Alexandria e Siena era cerca de 5.000
estádios egípcios11, ele estimou a circunferência da Terra como sendo igual a 250.000 estádios.
Veja a Figura 1.1.
Embora Alexandria e Siena não estejam sobre o
mesmo meridiano, os eruditos estimam que
houve erro inferior a 2% no resultado obtido por
Eratóstenes. De toda forma o método estava
estabelecido e foi aperfeiçoado e usado muitas
vezes ao longo dos séculos.

Figura 1.1: Experiência de Eratóstenes para


determinação da dimensão da Terra.

Mesmo tendo sido comprovado por Eratóstenes, parece que a idéia de uma Terra esférica
acabou sendo esquecida ao longo dos anos e somente com a viagem de Fernão de Magalhães
(1480-1521), no Século XVI, é que ela foi comprovada e aceita definitivamente. A idéia da
Terra esférica durou até fins do Século XVII, quando Christian Huygens (1629-1695) e depois
Isaac Newton (1642-1727) afirmaram que a Terra possuía a forma de um elipsóide de revolução
achatado nos pólos.
A hipótese de Newton não correspondia às medições realizadas pelos geodesistas franceses, os
quais afirmavam o contrário de Newton, ou seja, que a Terra era um elipsóide de revolução
alongado na direção dos pólos. Para dirimir estas dúvidas, a Academia de Ciências de Paris
decidiu, em 1735, enviar duas expedições independentes, uma à Lapônia, na região norte da
Escandinávia (1736-1737), o mais próximo possível de um pólo e outra ao Vice-Reinado do
Peru (1735-1744), o mais próximo possível da linha equatorial, para medirem simultaneamente
dois arcos de meridiano. Após vários anos de trabalho e muitas peripécias dos membros das
expedições, os resultados comprovaram que a teoria de Newton estava correta. Estas medições
de comprimento de arco de meridiano foram utilizadas para o cálculo do primeiro elipsóide de
referência12 e foram publicadas em 1799. A partir daí, vários outros arcos de meridiano foram
medidos, em várias regiões, dando origem a diferentes elipsóides de referência, os quais foram
adotados por diferentes países.
O método utilizado até então para a medição do arco de meridiano era o Método dos Arcos, que
consiste basicamente em se medir o comprimento de um arco de um meridiano ou de um

11
A palavra Estádio advêm do grego stadium. No Egito ela era uma unidade de medida linear equivalente
a 157,5 metros e na Grécia esta mesma unidade equivalia a 185,25 metros.
12
Consultar seção 1.2.5.

6
Conceitos gerais de Geomática

paralelo sobre a superfície terrestre e de sua amplitude a partir de observações astronômicas.


Para tanto, é necessário estabelecer uma rede de triângulos justapostos, os quais definem o
comprimento de um arco a partir da medição de seus ângulos internos e da medição linear do
comprimento das bases de alguns triângulos. Vide Figura 1.2. Nesta figura, apresentamos parte
da triangulação realizada na França entre os anos de 1793 e 1798 para a determinação de um
arco de meridiano. A triangulação partiu de Dunkerque, passou por Amiens, Paris, Orléans,
Bourges, Rodez e finalizou numa base em Perpignan. A partir do comprimento do arco e da
amplitude do ângulo interno, determinaram-se os semi-eixos do elipsóide.

D unkerque Signal des Dunes Montsalvy


S t Pieere
51° Figeac
Hondschoote la Rogière
Gravilines

R
Bergues . Espalion
L o l
Ballezeele W ornthoudt B illorgues
Clairvaux
W atten M oulin des Chats
C assel M t.Kemmeel
St.Omer
.
s
R Riopeyroux Rudez Severac
y
Helfaut Aire L
Fléchin Lille la Trem ouille

Burbure
Béthune C arvin la Casta St Jean le froid
Fiefs

R ebreuve M esnil M ons-en-P. M ilhau


Brias Puy St Georges
Verdrel Bouvigny l' Hopital 44°
le Parcq Betasare
St Éloy S t Affrique
Albi
Mouche Carlus
Bonnieres A rras le Preux P uy de Com batjou
Saulty
Foncquevillers
C andas Montredo
Beauqueno
Mailly Bapaume M agrin M ontalet
Berneuil
Lealville Posiète Ag o
Bédarieux
V ignadourt N urlu u d
V illera Roage R Castres
Puy Laurens
Péronne S t Pons
Villem
Amiens B retonneux A rfons
Bayonvillers
Mèzéres Lihons St Felix Nore
Monevil
Arvillers Castelnaudary
Sourdon
M ontdidier Carcassonne
Quiry Boulogne
N arbonne
Noyers Attiches
R

Fãnjeaux
C oivrel A larie
d e
Au

Compiègne St. Pieere


43°
Clermant Janquières
R.
Thury H i se
Quillan Tauch
Mt Pagnotte
St Christophe Mt.d`Espira
Pic de Solces
Bugarach Tautavel
Senlis
S t Martin M t. Forceral Vernet
du terline Mareuil
Perpigan
D am martin
Écouan P rades Elne
49° Montgé
Meaux
Gonesée Mt.C anigou Céret C ollioure
MontA srin Col Migia Puy de
R osny Montjay Ft de Bellegande
PARIS Estella
Invande Salinas Puy C amellas
Belle Assise

(a) (b)

Figura 1.2: Determinação de um arco de meridiano na França entre 1793 a 1798.

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Fundamentos de Geomática

No início do Século XX, o engenheiro civil e geodesista americano John Fillmore Hayford
(1828-1925) preconizou o uso do Método das Áreas para a estimativa do arco de meridiano.
Segundo ele, ao invés de se medir o comprimento de arcos e as suas amplitudes, é preferível
comparar diretamente as coordenadas geográficas astronômicas, com as coordenadas dos
mesmos pontos, calculados a partir de medições terrestres sobre uma superfície de referência
previamente escolhida. Os parâmetros da superfície de referência são então modificados até que
as diferenças entre as coordenadas geográficas astronômicas e as coordenadas geográficas
geodésicas13 tornem-se mínimas. Ele aplicou este método sobre 270 pontos de triangulação
distribuídos sobre o Continente Americano e criou assim o Elipsóide de Hayford, o qual foi
referendado pelo Congresso da Associação Internacional de Geodésia de 1924 como sendo o
primeiro Elipsóide Internacional14. Ele é encontrado em algumas cartas de regiões do Brasil,
conhecidas como “cartas referenciadas ao Córrego Alegre”.

1.2.2 A Geodésia Espacial

Com o lançamento dos primeiros satélites artificiais a partir de 1957, a Geodésia passou a ter
um outro aliado para a determinação de posições sobre a superfície terrestre e criou-se então a
Geodésia Espacial.
Se a Terra fosse uma esfera perfeita e com uma densidade uniforme, a órbita dos satélites
artificiais seguiria exatamente as prescrições das Leis de Kepler15. Isso, entretanto não ocorre e
os satélites possuem uma órbita completamente perturbada por diversos fatores que
compreendem desde as anomalias devido ao campo gravitacional terrestre até a pressão da
radiação solar. Devido a isso, a órbita dos satélites não é fixa e exige a aplicação de modelos
matemáticos sofisticados para explicá-la, entre os quais vale a pena citar o Princípio da
Trilateração Espacial. Este método consiste em medir a distância entre uma base terrestre e o
satélite, a partir do uso de um canhão a laser, que envia um raio até o satélite. O raio é refletido
por prismas (situados no satélite) e a partir da contagem do tempo de ida e volta de uma onda
eletromagnética, mede-se a distância entre a base terrestre e o satélite. As distâncias medidas
permitem estabelecer uma trilateração espacial a partir de pontos conhecidos sobre a superfície
terrestre. Atualmente é possível medir essa distância com uma precisão de alguns centímetros.
Conhecendo-se a posição dos satélites é possível determinar a posição de qualquer ponto sobre a
superfície terrestre. Basta, neste caso, realizar também uma trilateração espacial, porém, agora
medindo-se as distâncias a partir dos satélites. A primeira técnica para o posicionamento de

13
Consultar Capítulo 3.
14
O Elipsóide Internacional é também conhecido como sendo o Elipsóide de Hayford, Elipsóide
Internacional de Hayford, Elipsóide IAG-1924.
15
Johannes Kepler (1571-1630). Formulou as três leis fundamentais da mecânica celeste, conhecidas
como Leis de Kepler. Usando dados coletados por Tycho Brahe, mostrou que os planetas não se
moviam em órbitas circulares, mas sim elípticas. Esse pequeno detalhe serviu de base para Newton
formular, 50 anos mais tarde, a teoria da gravitação universal.

8
Conceitos gerais de Geomática

pontos sobre a superfície terrestre foi baseada no efeito Doppler16. Neste caso, um satélite com
posição conhecida emite, a cada instante, uma onda eletromagnética de freqüência constante.
Essa freqüência, captada por uma estação terrestre sofre alterações devido ao movimento do
satélite ao longo de sua órbita. As alterações aumentam na medida em que o satélite se
aproxima da antena receptora e diminui à medida que ele se afasta. A essa variação dá-se o
nome de efeito Doppler. Medindo-se esse efeito, em vários instantes, é possível calcular a
posição da antena receptora referenciada a um sistema de coordenadas geocêntricas17. Esse
método foi posto em prática, pela primeira vez, em 1964 através da criação do Sistema Transit
de posicionamento por satélites, o qual foi disponibilizado para o usuário civil a partir de 1967.
O segundo sistema de posicionamento por satélite foi disponibilizado aos usuários em meados
dos anos 80 e substituiu o sistema Transit com sucesso. Trata-se do Sistema de
Posicionamento Global NAVSTAR (NAVigation System Using Time And Ranging Global
Positioning System), também conhecido por Sistema GPS ou simplesmente GPS. Ele permite
obter precisões melhores do que o sistema Transit e foi projetado, desenvolvido e é mantido
pelo Departamento de Defesa Americano para aplicações na navegação com propósitos
militares. Somente com a descoberta da grande precisão do sistema e com o aumento da
eficiência dos receptores é que ele passou a ser também utilizado pela comunidade civil.
O Sistema GPS consiste no mínimo de 24 satélites ativos, os quais estão distribuídos em 6
planos orbitais. Cada plano possui uma inclinação de 55° em relação ao plano do Equador.
Todos os satélites estão a cerca de 20.200 km acima da superfície terrestre e completam uma
revolução inteira, em torno da Terra, a cada 11h 57′ 58,3′′ (tempo sideral). Vide Figura 1.3.

A constelação atual de satélites GPS garante que, a


qualquer instante, se possam captar informações de
pelo menos 4 satélites, em qualquer lugar do globo
terrestre. Isso permite determinar a posição
geocêntrica de uma antena receptora com precisão
absoluta da ordem de 3 a 15 metros, dependendo do
tipo de informação do sistema liberada pelo
Departamento de Defesa Americano. Diz-se nesse
caso que se tem uma posição de navegação.

Figura 1.3: Constelação do sistema GPS.

A precisão absoluta do Sistema GPS, logicamente, não serve aos propósitos da Geodésia. Ela
exige precisões maiores que a oferecida pela posição de navegação. Para alcançar o nível de
precisão exigido pela Geodésia, utiliza-se o método de posicionamento relativo ou diferencial, a

16 É uma característica observada nas ondas quando emitidas ou refletidas por um objeto que está em
movimento em relação ao observador. O comprimento de onda observado é maior ou menor conforme
sua fonte se afaste ou se aproxime do observador.
17
Vide Capítulo 3.

9
Fundamentos de Geomática

partir do qual se obtêm precisões da ordem de alguns milímetros por quilômetro. Utilizando-se
dois receptores simultaneamente e observando-se as diferenças entre os sinais recebidos de um
mesmo satélite é possível calcular a posição relativa de duas antenas receptoras com a precisão
indicada.
Além do sistema GPS, desenvolvido pelos americanos, existe um sistema similar desenvolvido
pelos russos e denominado Sistema GLONASS. Este sistema tem características semelhantes
ao sistema americano. Nos últimos anos ele sofreu alguns problemas devido a crise econômica
que atingiu aquele país, porém, atualmente ele foi revigorado e está disponível para a
comunidade civil internacional. A Agência Espacial russa tem um cronograma de lançamento
onde até o final desta década a constelação de satélites estará novamente completa.
Devido ao sucesso desses sistemas e para diminuir a dependência em relação ao sistema
americano e ao russo, a Comunidade Européia mostrou-se também interessada em desenvolver
um sistema de posicionamento global para os países integrantes da comunidade, denominado
GALILEO. A China anunciou recentemente que tem planos para construir seu próprio sistema
de navegação por satélites. O sistema será composto por 35 satélites sendo 5 geoestacionários e
o restante estará em órbita de média altitude e o seu funcionamento está programado para o ano
de 2008. Este sistema chinês receberá o nome de BEIDU (em chinês) e COMPASS (em
inglês). Outros países asiáticos também têm demonstrado interesse em desenvolver um sistema
para atender aquela região. Com o advento de outros sistemas de posicionamentos globais
passou-se a utilizar o termo Sistema de Navegação Global por Satélites - GNSS, para
designar todos os sistemas existentes e aqueles que por ventura venham a entrar em operação no
futuro. Mas por força de hábito têm-se utilizado ainda, no meio profissional, o termo Sistema
GPS ou simplesmente GPS quando se refere ao sistema de posicionamento global. A tendência,
entretanto é usar o termo GNSS.

1.2.3 A Geodésia Física

Os métodos geodésicos descritos até aqui são puramente geométricos. Porém, se os satélites
forem considerados não apenas como pontos geométricos auxiliares, mas sim como uma massa
em movimento sobre o campo de atração gravitacional terrestre, a análise das perturbações de
suas trajetórias e o tratamento das medições permitem obter, não apenas as coordenadas das
estações, mas também o seu campo gravitacional, ou seja, a forma geométrica da superfície de
nível desse campo e, portanto, a forma real da Terra.
Em 1743 o matemático Francês Clairaut (1713-1765) publicou a Teoria da Figura da Terra, a
partir da qual ele estabeleceu as relações entre os eixos de um elipsóide, a latitude do lugar e a
intensidade da gravidade nesse lugar. Essa teoria tornou-se a base da Geodésia Dinâmica.
No Século XIX deu-se início às medições gravimétricas18 e até meados do Século XX a
concordância entre os valores dos parâmetros terrestres obtidos por cálculos geométricos e
aqueles obtidos por medições gravimétricas mostravam-se confiáveis. Porém, restavam ainda
algumas divergências difíceis de serem explicadas apenas pelas imprecisões das medições.

18
Medições da aceleração local da gravidade feitas a partir de um instrumento denominado gravímetro.

10
Conceitos gerais de Geomática

Descobriu-se então que as dispersões existentes eram devidas às anomalias da gravidade e


devidas ao desvio da vertical. Todas essas imperfeições provêm da repartição irregular das
massas e das suas densidades na crosta terrestre. Devido a isso, ficou latente a necessidade de se
criar um modelo mais elaborado para a forma da Terra, conforme já havia sido proposto por
Gauss (1777-1855) no século XIX. Johann Carl Friedrich Gauss foi o primeiro cientista a
rebater a idéia de um modelo de Terra regular (elipsóide de revolução), conforme era defendido
por Newton. Com base nos estudos de Newton, ele sustentou a idéia de um modelo de superfície
terrestre coincidente com o nível médio dos mares e interceptado a direção do vetor gravidade
em qualquer ponto dessa superfície. Na mesma época Friedrich Robert Helmert (1843-1917)
apoiou a idéia de Gauss e criou os fundamentos matemáticos e físicos das teorias modernas da
Geodésia. É dele a definição clássica: A Geodésia é a ciência da medição e representação da
superfície da terra. A partir das idéias de Gauss e Helmert, o alemão Johann Benedict Listing
(1808-1882) identificou esta superfície e deu o nome de geóide. Este novo termo designa
simplificadamente, a forma real da Terra, representada pela superfície média de nível dos mares,
em equilíbrio, e por seus prolongamentos estimados sob os continentes.
Fisicamente o geóide é a superfície de nível do campo gravitacional terrestre gerada pela
perpendicular à vertical em cada ponto da superfície terrestre na altitude média do nível dos
mares. Assim sendo, ele possui uma forma geométrica sem definição matemática rigorosa
devido a irregularidade da sua superfície. Esse é sem dúvida o grande paradoxo da Geodésia
atual. A determinação teórica do geóide é extremamente difícil, visto que ele é uma função das
ondulações geoidais acarretadas pela variação pontual da direção da vertical ao longo da
superfície terrestre. Por isso, com o conhecimento atual, ainda não é possível determinar
matematicamente essa superfície. Existem, entretanto, algumas aproximações baseadas em
métodos gravimétricos, aplicados em uma seqüência de pontos sobre o globo terrestre, que
permitem calcular um geóide aproximado, ao qual se dá o nome de Modelo Geoidal. Além dos
métodos gravimétricos tem-se também aplicado, ultimamente, a tecnologia GNSS para a
determinação aproximada do geóide. Esse método, além de mais rápido, tem proporcionado
resultados mais precisos que os obtidos anteriormente.
Para contornar o problema da indeterminação do geóide é que ainda se utiliza um elipsóide de
referência, de formulação matemática bem definida. Porém, como o geóide e o elipsóide poucas
vezes são coincidentes, acrescentou-se uma nova incógnita ao problema, que é a ondulação
geoidal (também chamada de altura geoidal), que representa a diferença de altura entre o geóide
e o elipsóide no ponto no qual se realiza a medição. Os estudos sobre a ondulação geoidal
tiveram início em 1930. Através de medições gravimétricas precisas sobre o continente e, em
seguida, sobre o mar bem como a unificação das redes geodésicas da Europa, Rússia e Estados
Unidos, possibilitaram a realização do primeiro Mapa Geoidal ou Carta Geoidal. Este tipo de
mapa possui isolinhas representando as diferenças de altitudes entre o Geóide e o Elipsóide de
Referência.

11
Fundamentos de Geomática

A Figura 1.4 mostra a figura do geóide determinado


pela NASA, com um exagero de 15000 vezes.

Figura 1.4: Representação do modelo geoidal mundial


proposto pela NASA.

A Figura 1.5 mostra o mapa geoidal para a América do Sul, incluindo o Brasil, realizado pelo
Instituto Astronômico e Geofísico da USP – IAG/USP.

12
Conceitos gerais de Geomática

Figura 1.5: Representação das curvas de isovalores de alturas geoidais para o Brasil e parte da
América do Sul. As curvas apresentam semelhanças de representação com as curvas de nível. Fonte:
IAG/USP.

Atualmente, um novo passo está para ser alcançado, a partir de estudos no sentido de descrever
a geometria da Terra, considerando-a como um corpo deformável. Através de modelos
dinâmicos que consideram a variável tempo e vários outros fenômenos naturais, tais como a
oscilação do eixo dos pólos, as marés terrestres e a irregularidade da rotação do planeta, será
possível determinar, com precisão, a forma da Terra. Esses modelos, quando definidos, serão de
grande auxílio para a Geodésia Espacial.

13
Fundamentos de Geomática

Como já foi dito no início deste capítulo, a Geodésia, além de ter como objetivo a determinação
das formas da Terra e de seu campo gravitacional, tem também um outro objetivo que é a
determinação de pontos de coordenadas conhecidas, sobre a superfície terrestre. No passado
esses pontos eram dispostos em distâncias de 30 a 50 km entre eles. Eles eram normalmente
implantados em pontos elevados do terreno com uma precisão da ordem de alguns centímetros e
formavam os vértices da rede de triângulos fundamentais de um país ou região, denominada
Rede de Triangulação Geodésica ou ainda Rede de Triangulação de Primeira Ordem. Esses
pontos fundamentais sempre foram determinados a partir da combinação de visadas
astronômicas e pelo estabelecimento de uma rede de triangulação terrestre. Mais recentemente,
entretanto, vários países já estão determinando esses pontos a partir de medições com o sistema
GNSS. Nestes casos, são ocupados pontos já existentes ou são implantados novos pontos, que
agora já não precisam estar localizados em locais elevados do terreno, não precisam ser
intervisíveis e nem precisam respeitar espaçamentos predeterminados. A localização e o
espaçamento são funções das restrições do uso do sistema GNSS.
Devido ao uso dessa nova tecnologia, a rede fundamental, que até então era adensada em
malhas mais finas denominadas Triangulação de Segunda Ordem, Triangulação de Terceira
Ordem e Triangulação de Quarta Ordem, já não precisa ser adensada dessa maneira devido as
facilidades do uso do GNSS. Espaçamentos da ordem de 50 km são inclusive suficientes para
medições centimétricas em Tempo Real com esse sistema.
A PR Nº 22/83 do IBGE mantém, em parte, esta terminologia clássica, porém, apresenta uma
nomenclatura mais adequada ao uso das novas tecnologias. Nestes termos, ao invés de
classificar os pontos geodésicos de acordo com o adensamento da rede geodésica, ele propõe a
seguinte classificação:

9 Levantamentos Geodésicos de alta precisão (de âmbito nacional): Subdividem-se


segundo os fins aos quais se destinam em: científico e fundamental. O primeiro
voltado ao atendimento de programas de pesquisas internacionais e o segundo ao
estabelecimento de pontos primários no suporte de trabalhos geodésicos de menor
precisão e às aplicações em cartografia.
9 Levantamentos Geodésicos de precisão (de âmbito regional): condicionam-se ao
grau de desenvolvimento sócio-econômico. Quanto mais valorizado o solo na
região, mais precisos deverão ser, e, em conseqüência, mais exatos o seu resultados.
9 Levantamentos Geodésicos para fins Topográficos (de características locais):
dirigem-se ao atendimento dos levantamentos no horizonte topográfico;
correspondem aos critérios em que a exatidão prevalece sobre implicações impostas
pela figura da Terra.

1.2.4 As Altitudes

Quanto à altitude, é importante salientar que existem vários conceitos diferentes. Para os
propósitos deste texto, apresentamos apenas os dois conceitos mais importantes.

14
Conceitos gerais de Geomática

O primeiro conceito de altitude importante é aquele que considera a superfície de referência de


nível como sendo a superfície gerada por um elipsóide de revolução. Este conceito é puramente
geométrico e não tem nenhum significado físico. Esta altitude é determinada pela distância,
sobre a linha normal19, entre um ponto P na superfície topográfica e a superfície elipsoidal.
Vide Figura 1.6. Esta distância é denominada de altura geométrica ou matemática ou elipsoidal.
Este conceito de altitude é utilizado, por exemplo, pelo sistema GNSS para complementar a
informação do terno geodésico da posição de um ponto.
O segundo conceito de altitude importante é aquele que considera como superfície de referência
de nível o nível médio dos mares, estabelecido num marco de caráter permanente, natural ou
artificial, denominado datum vertical. Ele é determinado a partir de medições da variação de
maré ao longo de um período. Este conceito de altitude apresenta significado físico, pois define
o potencial gravimétrico do ponto. Ela é determinada pela distância, sobre a linha vertical do
lugar20, entre um ponto P na superfície topográfica e a superfície geoidal. Esta distância é
denominada simplesmente de altitude ou de altitude ortométrica. Vide Figura 1.6.
No Brasil o primeiro datum vertical foi o de TORRES, na cidade de mesmo nome no estado do
Rio Grande do Sul. Esse datum foi adotado em 1948, em caráter provisório, pela antiga
Comissão da Carta Geral do Brasil para atender o cálculo da Cadeia de Triangulação de 1ª
ordem, iniciada também em 1945 ao longo do Meridiano de 49º, que iria fornecer as
coordenadas dos pontos de apoio básico necessários ao mapeamento da Zona Carbonífera de
Santa Catarina. Este datum foi definido levando em consideração apenas informações de
observações maregráficas realizadas entre os anos de 1919 e 1920.
A partir de 1949, o serviço geodésico internacional iniciou a implantação de uma rede de
estações maregráficas ao longo do litoral brasileiro. Além dessas estações, o IBGE utilizou
informações coletadas pela estação localizada na Baia de Imbituba, Santa Catarina e definiu
que, a partir de 1959, o Datum Vertical do Sistema Geodésico Brasileiro (SGB) passaria a ser o
Datum de IMBITUBA. Esta definição levou em conta a média dos níveis médios do mar anuais
entre 1949 e 1957.

19
Linha Normal ou Normal do Lugar é definida como sendo a reta que intercepta a superfície topográfica,
perpendicularmente a superfície elipsoidal.
20
A vertical do lugar é definida pela reta tangente à linha de força gravitacional que intercepta a
superfície topográfica perpendicularmente à superfície geoidal. Ela pode ser materializada, por
exemplo, por uma linha de prumo.

15
Fundamentos de Geomática

É importante salientar que, devido ao uso


crescente das geotecnologias, os
profissionais da área de Mensuração
devem ter um o perfeito entendimento dos
diferentes tipos de altitudes.

Figura 1.6: Representação gráfica dos tipos


de superfícies consideradas na Mensuração e
o desvio da vertical.

Um ponto geodésico não é caracterizado apenas pelas suas coordenadas geodésicas – latitude e
longitude, mas também pela altitude ortométrica. Para tanto, é necessário definir antes o geóide
no local. Para essa definição pode ser utilizado um aparelho denominado Mareógrafo, a partir
do qual se determina a altitude zero da referência de nível a ser utilizada. A partir desse ponto
de altitude zero procede-se a determinação das altitudes dos demais pontos a partir de um
nivelamento geométrico, estabelecendo-se assim uma rede altimétrica, formada por linhas de
nivelamento. Vide Figura 1.7

Figura 1.7: Rede altimétrica do Brasil.

16
Conceitos gerais de Geomática

Após sucessivos ajustamentos manuais das observações de nivelamento (1948, 1952, 1959,
1962, 1963, 1966, 1970 e 1975), o IBGE deu início, nos primeiros anos da década de 80, a
informatização dos cálculos altimétricos. Tal processo possibilitou a implantação, em 1988, do
Projeto Ajustamento da Rede Altimétrica (PARA), com o objetivo de homogeneizar as altitudes
da Rede Altimétrica de Alta Precisão (RAAP) do Sistema Geodésico Brasileiro. Em 1993 foi
concluído o Ajustamento Altimétrico Global Preliminar (AAGP), que corrigiu alguns
problemas de ajustamentos anteriores. Os trabalhos de ajustamento, porém, não se encontram
totalmente finalizado. A previsão de conclusão é para o ano 2007. A partir desse ajustamento
pretende-se fornecer novas altitudes e seus respectivos desvios-padrão para todas as referências
de nível da Rede. Outras atividades futuras também estão planejadas, sendo elas:
9 A introdução da informação gravimétrica nas estações, o que possibilitaria a
obtenção de altitudes científicas através do cálculo dos números geopotenciais;
9 A ligação da RAAP com as Redes Altimétricas dos países vizinhos ao Brasil;
9 O tratamento das informações das estações maregráficas e a utilização destes
resultados como injunções no ajuste da Rede.

Vale a pena salientar que o IBGE com o intuito de aprimorar a RAAP, criou o projeto Rede
Maregráfica Permanente para Geodésia (RMPG), que consiste, até o momento, de 4 estações em
operação ao longo do litoral brasileiro.

1.2.5 Formas e dimensões da Terra

A forma real da Terra, como já dissemos, ainda não possui uma definição matemática rigorosa,
mesmo porque ela varia com a época das chuvas e das secas e sofre constantes modificações
devido a ação de agentes químicos e mecânicos e devido a ação de agentes internos e externos.
A sua superfície física é irregular e constituída por elevações e depressões relativamente
pequenas, quando comparadas às dimensões do planeta (R ≅ 6.378.137 m ) , as quais alcançam
cerca de 1/100.000 do raio da esfera terrestre.

A maior elevação conhecida na Terra é no Everest, numa região


chamada de Glaisker, com aproximadamente 8.882 metros, e a maior
depressão oceânica conhecida é de 10.860 metros, próxima as Ilhas
Marianas no Oceano Pacífico.

Considerando essas dimensões, o relevo da Terra acaba sendo relativamente insignificante.


Embora existam as cadeias de montanhas, os vales profundos e as fossas oceânicas, o relevo
pode ser considerado como a rugosidade de uma casca de laranja. Assim, reduzindo o raio da
Terra a 6 cm (a dimensão de uma bela laranja), o relevo realmente não passaria de alguns poros
com o máximo de 0,1 mm e a diferença entre o diâmetro maior e o diâmetro menor seria apenas
de 0,4 mm.
Pode ser atribuída a Terra, quatro formas:

17
Fundamentos de Geomática

Ì Esférica: É a forma geométrica aproximada da superfície terrestre que substitui a


forma real por uma esfera. Esta é a aproximação mais simples, mas que ainda
permite alcançar bons resultados em muitas aplicações da engenharia e da
astronomia.
Ì Plana: É a forma geométrica simplificada da Terra, que a considera como um
plano. Este artifício restringe-se a aplicações específicas da Mensuração, como por
exemplo, a Metrologia Industrial.
Ì Elipsoidal: É a forma geométrica aproximada da Terra que substitui a forma real
por um elipsóide de revolução. Esta é a aproximação atualmente adotada na
Geodésia e sobre a qual está desenvolvida a maioria de suas teorias. O elipsóide é
gerado a partir da rotação de uma elipse em torno do eixo de rotação terrestre
(coincidente com a linha dos pólos). Essa forma geométrica é a que melhor se
adapta ao geóide.
Ì Geoidal: O geóide é um modelo físico da forma da Terra. É a superfície
equipotencial (superfície de potencial gravítico constante) e que, em média,
coincide com o valor médio do nível médio dos mares. A superfície geoidal é
irregular, porém mais suave que a superfície topográfica (física). É considerada
como a forma real da Terra.

Como já vimos, o elipsóide é um elemento importante no estudo da Mensuração. Ele é,


normalmente, definido pelo comprimento do semi-eixo maior (a) e do semi-eixo menor (b) de
uma elipse geratriz. No caso do elipsóide terrestre, a diferença entre estes dois semi-eixos é da
ordem de 25 km. Na Geodésia é usual definir o elipsóide de referência substituindo o semi-eixo
menor pelo achatamento (f), definido matematicamente por:

a −b
f = (1.1)
a

O primeiro elipsóide terrestre considerado preciso foi determinado pelo astrônomo alemão
Friedrich Wilhelm Bessel (1784-1846), em 1841. A partir daí vários outros pesquisadores se
ocuparam do problema e foram determinados vários outros elipsóides que podem ser
encontrados na literatura. Dentre as várias determinações de elipsóides, destaca-se a campanha
realizada na década de 60, na América do Sul, para a determinação do datum horizontal e
conseqüentemente a definição de um Sistema Geodésico para esta região. Mais recentemente,
com o advento da tecnologia GPS, o elipsóide WGS84 passou a ter uma posição de destaque.
Ele é o elipsóide adotado como referência para o sistema GPS. As Tabelas 1.1 e 1.2 apresentam
uma lista de elipsóides de referência de grande importância para a Geomática.

18
Conceitos gerais de Geomática

Tabela 1.1: Alguns elipsóides de referência de destaque na Geomática.


Nome do Datum / Instituição Valores dos elementos geométricos do Elipsóide de
responsável Referência21

MERCURY DATUM – 1960 a = 6.378.166m f = 1 / 298,3


Army Map Service - USA
MODIFIED MERCURY DATUM 68 a = 6.378.150m f = 1 / 298,3
Army Map Service - USA
STANDARD EARTH II a = 6.378.155m f = 1 / 298,257
Smithsonian Astrophysical 3 −2
GM = 398.601,3km s
Observatory - USA
NWL-9D a = 6.378.145m f = 1 / 298,25
Naval Weapon Laboratory _ USA
GM = 398.601km 3 s − 2
WORLD GEODETIC SYSTEM 1972 a = 6.378.135m f = 1 / 298,26
(WGS72)
GM = 398.600,5km 3 s − 2
Department of Defense - USA
GEODETIC REFERENCE SYSTEM a = 6.378.137m f = 1 / 298,25722101
1980 3 −2
GM = 398.600,5km s
(GRS80)
WORLD GEODETIC SYSTEM 1984 a = 6.378.137m f = 1 / 298,257223563
(WGS84)
GM = 398.600,5km 3 s − 2
Department of Defense USA
a = Semi-eixo maior da elipse
f = Achatamento da elipse
GM = Constante gravitacional terrestre22.

Na prática, a determinação de um elipsóide de referência insere-se no estabelecimento global de


um Datum Geodésico. Como já vimos no parágrafo 1.2, dá-se o nome de Datum Geodésico ao
grupo de parâmetros que definem os elementos de um elipsóide de referência, os elementos que
situam esse elipsóide em relação à Terra e o valor de altitude ortométrica do ponto de origem
vertical. O processo convencional para a determinação de um Datum Geodésico é o seguinte:
para o datum horizontal, escolhe-se um ponto apropriado, denominado ponto fundamental ou
simplesmente datum. Determinam-se as coordenadas astronômicas (latitude e longitude
astronômicas) desse ponto e adota-se como hipótese que elas são coincidentes com as
coordenadas geodésicas desse mesmo ponto. Em seguida, determina-se o azimute astronômico
de um alinhamento partindo do ponto fundamental e supõe-se que ele também seja coincidente
com o azimute geodésico. Adota-se também, na maioria dos casos, a separação entre o geóide e
o elipsóide (altura geoidal) como sendo igual a zero, ou seja, as duas superfícies são

21
Notar a não conformidade na quantidade de casas decimais indicadas para os elementos geométricos
dos elipsóides. Os valores indicados estão em conformidade com os indicados nos textos oficiais que
definem os elementos geométricos de cada elipsóide.
22
A constante gravitacional é uma constante física fundamental que aparece na Lei de Gravitação
Universal de Newton e na teoria da Relatividade geral de Einstein. Ela expressa a atração gravitacional
que se produz entre dois corpos separados por uma distância.

19
Fundamentos de Geomática

coincidentes no ponto fundamental. A próxima etapa consiste em estabelecer os demais pontos


de base (por triangulação ou a partir de medições GNSS). Em seguida, através de um
ajustamento pelo Método dos Mínimos Quadrados, calculam-se os valores de um raio e do
achatamento do elipsóide de referência, minimizando os desvios da vertical nos vértices
apropriados.

Tabela 1.2: Alguns sistemas geodésicos nacionais e multinacionais de destaque na


Geomática.
Nome Sigla Datum Horizontal Nome e valores dos elementos
geométricos do Elipsóide de Referência23
BRASILEIRO SGB-CA Córrego Alegre HAYFORD 192424
(Antigo) a = 6.378.388m f = 1 / 297
SUL AMERICANO SAD69 CHUÁ REFERÊNCIA 1967
(South American Datum) a = 6.378.160m f = 1 / 298,25
EUROPEU ED-50 Potsdam INTERNACIONAL DE 1924
(European Datum) a = 6.378.388m f = 1 / 297
NORTE NAD-27 Meades Ranch CLARKE 1866
AMERICANO a = 6.378.206m f = 1 / 294,98
(North American Datum)
RUSSO Pulkovo KRASSOWSKI25
(Pulkovo Datm 1942) a = 6.378.245m f = 1 / 298
JAPONÊS TD Tokyo BESSEL 1841
a = 6.377.397m f = 1/ 299,15
SUL AFRICANO Buffelsfontein CLARKE 1880
(Paralelo 12º) a = 6.37824m f = 1/ 293,46
INGLÊS Herstmonceux AIRY
(Ordnance Survey of a = 6.377.563m f = 1 / 299,3
Great Britain 1936)
AUSTRALIANO AGD Johnston AUSTRALIANO
(Australian Geodetic a = 6.378.160m f = 1 / 298,25
Datum)
ARGENTINO Campo Inchauspe
PARAGUAIO CHUÁ INTERNACIONAL DE 1924
URUGUAIO Yacare a = 6.378.388m f = 1 / 297
CHILENO Hito
COLOMBIANO La Canoa

23
Notar a não conformidade na quantidade de casas decimais indicadas para os elementos geométricos
dos elipsóides. Os valores indicados estão em conformidade com os indicados nos textos oficiais que
definem os elementos geométricos de cada elipsóide.
24
O Elipsóide de Hayford, determinado entre os anos de 1909 a 1910, foi declarado pela IAG como o
Elipsóide Internacional a partir de 1924.
25
Krassowski foi o último pesquisador a determinar os parâmetros de um elipsóide.

20
Conceitos gerais de Geomática

Um sistema geodésico é considerado mundial quando o terno cartesiano é geocêntrico e não


apresenta características regionais, significando dizer que o modelo se ajusta ao um geóide
global.
Um sistema geodésico é dito nacional quando ele é aplicado somente a um país ou a uma região
específica, ou seja, quando o modelo geométrico adotado é o que melhor se adapta ao geóide na
área considerada.
Um sistema geodésico é dito multinacional quando ele apresenta as mesmas características dos
nacionais, mas serve de base para trabalhos geodésicos de diversos países.

1.2.6 O Sistema Geodésico Brasileiro - SGB

Historicamente, antes do IBGE oficializar o SAD69 como referencial geodésico brasileiro, a


cartografia nacional estava fundamentada no datum horizontal CÓRREGO ALEGRE, cujos
parâmetros são válidos para o Elipsóide Internacional de 1924 (vide Tabela 1.2). Devido a isso,
ainda hoje existe em nosso país uma série de mapas e cartas referenciados a esse datum.
Recomendamos aos usuários que antes de usarem uma carta ou um mapa, prestem sempre
atenção a qual referencial a carta ou o mapa está fundamentado. A esse tipo de referencial diz-se
também Base Cartográfica26.
A NBR 13.133 define o SBG da seguinte forma:

“Conjunto de pontos geodésicos descritores da superfície física da Terra,


implantados e materializados na porção da superfície terrestre delimitada
pelas fronteiras do país, com vistas às finalidades de sua utilização, que vão
desde o atendimento a projetos internacionais de cunho científico, passando
pelas amarrações e controles de trabalhos geodésicos e cartográficos, até o
apoio aos levantamentos no horizonte topográficos, onde prevalecem os
critérios de exatidão sobre as simplificações para a figura da Terra. Estes
pontos são determinados por procedimentos operacionais associados a um
sistema de coordenadas geodésicas, calculadas segundo modelos geodésicos
de precisão, compatíveis com as finalidades a que se destinam, tendo como
imagem geométrica da Terra o Elipsóide de Referência Internacional de
1967. Como este elipsóide é o mesmo que o adotado no sistema de
representação cartográfica UTM (Universal Transversa de Mercator) pela
Cartografia Brasileira, há uma correspondência matemática biunívoca
entre as coordenadas geodésicas dos pontos do SGB e as suas homólogas
plano-retangulares nos sistemas parciais UTM, o que vem a facilitar as
amarrações e os controles dos levantamentos cartográficos e topográficos

26
A NBR 14 166/1998 define: conjunto de cartas e plantas integrantes do Sistema Cartográfico Municipal
que, apoiadas na rede de referência cadastral, apresentam no seu conteúdo básico as informações
territoriais necessárias ao desenvolvimento de planos, de anteprojetos, de projetos, de cadastro técnico e
imobiliário fiscal, de acompanhamento de obras e de outras atividades de projeto que devam ter o
terreno como referência.

21
Fundamentos de Geomática

com o emprego das coordenadas UTM, por serem planas, enquanto aquelas
arcos de meridianos e paralelos.”

Os leitores ainda não familiarizados com a sigla UTM devem consultar o capítulo X deste texto.

Transcrito do Boletim das Especificações e Normas Gerais para Levantamentos Geodésicos do


IBGE apresentamos, a seguir, algumas considerações importantes sobre o Sistema Geodésico
Brasileiro.

“Para o Sistema Geodésico Brasileiro, a imagem geométrica da Terra é definida


pelo Elipsóide de Referência Internacional de 1967, aceito pela Assembléia
Geral da Associação Geodésica Internacional que teve lugar em Lucerna, no ano
de 1967. O referencial altimétrico coincide com a superfície eqüipotencial que
contém o nível médio do mar, definido pelas observações maregráficas tomadas
da baía de IMBITUBA, no litoral do Estado de Santa Catarina.”

O IBGE (órgão nacional responsável pela Rede Geodésica de Apoio Fundamental no Brasil)
estabeleceu que, a partir de 1977, o Sistema Geodésico Brasileiro – SGB, seria adotado tendo
como o datum horizontal um ponto relativo ao elipsóide SAD69 (vide Tabela 1.2) e tendo como
origem o vértice de Triangulação CHUÁ (VT-CHUÁ), próximo da cidade de Uberaba (MG).
Da mesma forma, o SGB definiu como datum vertical o ponto de Imbituba, localizado na cidade
de mesmo nome no litoral do Estado de Santa Catarina. Aos interessados em maiores detalhes
sobre o SGB, recomendamos consultar o Boletim das Especificações e Normas Gerais para
Levantamento Geodésicos do IBGE.
Segundo a Resolução PR Nº 22 de 21/07/83, as coordenadas geográficas geodésicas, azimute, e
a altura geoidal, do vértice VT-CHUÁ são os seguintes:
◊ Latitude geodésica φ = 190 45′ 41,6527′′ S
◊ Longitude geodésica λ = 480 06′ 04,0639′′ W
◊ Azimute geodésico Ag = 2710 30′ 04,05′′ SWNE
◊ Altura geoidal N = 0,0 m
◊ Componente meridiana do desvio da vertical ξ = −0,31′′
◊ Componente 1ª vertical do desvio da vertical η = 3,59′′

A componente meridiana (ξ) e a componente da 1ª vertical (η) são resultantes da decomposição


do desvio da vertical local. Estes parâmetros geodésicos serão descritos com maiores detalhes
no Capítulo 3.
Os parâmetros do elipsóide SAD69 são:

◊ Semi-eixo maior a = 6 378 160 m


◊ Achatamento da elipse f = 1 298,25

22
Conceitos gerais de Geomática

A partir de outubro de 2000, o Brasil iniciou um projeto para estudar a adoção do Sistema de
Referência Geocêntrico para as Américas (SIRGAS) como sistema de referência geodésica. Ao
mesmo tempo a 7ª Conferência Cartográfica Regional das Nações Unidas para as Américas,
realizada em Nova Iorque em 2001, recomendou a adoção desse sistema para os países do
continente americano. Como resultado, em 2005, o IBGE regulamentou através da Resolução
do Presidente (R.PR) do IBGE Nº. 1/2005, que o SIRGAS, em sua realização do ano de 2000
(SIRGAS2000), será o novo sistema de referência geodésico para o Sistema Geodésico
Brasileiro (SGB) e para o Sistema Cartográfico Nacional (SCN). A mesma resolução
estabeleceu um período de transição, não superior a 10 anos, onde o SIRGAS2000 poderá ser
utilizado para o SGB em concomitância com o sistema SAD69 e para o SCN com os sistemas
SAD69 e o CÓRREGO ALEGRE, conforme os parâmetros definidos nessa resolução. Durante
este período de transição, os usuários deverão adequar e ajustar suas bases de dados, métodos e
procedimentos ao novo sistema. O IBGE espera que com o tempo os usuários deixem de utilizar
os sistemas anteriores e passem a utilizar exclusivamente o SIRGAS2000. Os usuários que não
adotarem esse sistema de referência poderão no futuro estarem impedidos, por exemplo, de
requisitar uma revisão de limites de uma propriedade, fazer qualquer tipo de questionamento
legal utilizando o sistema antigo e fornecer/receber dados às/das concessionárias de serviços
públicos para o recebimento ou prestação de serviços.
Na Resolução do Presidente N 1/2005 está estabelecido, para ao Brasil, a caracterização do
SIRGAS2000, descrita a seguir:

™ Sistema Geodésico de Referência: Sistema de Referência Terrestre Internacional –


ITRS (International Terrestrial Reference System);
™ Figura geométrica para a Terra: Elipsóide do Sistema de Referência de 1980
(Geodetic Reference System 1980 – GRS80);
◊ Semi-eixo maior a = 6.378.137 metros
◊ Achatamento f = 1/298,257222101
™ Origem: Centro de massa da Terra;
™ Orientação: Pólos e meridiano de referência consistentes em ±0,005” com as
direções definidas pelo BIH (Bureau International de l’Heure), em 1984,0;
™ Época de referência das coordenadas: 2000,4
™ Materialização por intermédio de todas as estações que compõem a Rede Geodésica
Brasileira, implantadas a partir das estações de referência.

É importante salientar que a implantação do SIRGAS foi feita utilizando técnicas modernas de
posicionamento por satélites artificiais, o que lhe confere precisão compatível com as técnicas
de medições atuais. Além disso, ele está referenciado ao ITRS, que é um sistema de referência
internacional materializado a partir de um conjunto de estações com coordenadas e velocidades
radiais de deslocamentos temporais conhecidas.27

27
O conceito atual de definição de um ponto geodésico exige que o mesmo seja identificado por suas
coordenadas geodésicas, suas velocidades radiais de deslocamento e pela época da medição.

23
Fundamentos de Geomática

A adoção do SIRGAS teve como propósito:


™ Adotar o ITRS como sistema geocêntrico de referência para a América do Sul;
™ Estabelecer e manter uma rede de referência geodésica e um datum geocêntrico.

O SIRGAS2000 engloba um conceito moderno que integra os mais recentes desenvolvimentos


na área de posicionamento, e não só permitirá o acesso aos usuários do SGB como fará parte de
uma rede mundial, reduzindo assim custos em campanhas internacionais. As estações que
compuseram a realização SIRGAS2000 (América do Sul, América Central, América do Norte e
Caribe) são mostradas na Figura 1.8. Como pode ser observado, este sistema é composto por
estações localizadas em quase todos os países do continente americano. Este fato reforça a
importância que a implantação deste sistema ganhou por parte de todos os países envolvidos.

24
Conceitos gerais de Geomática

Figura 1.8 – Estações da campanha SIRGAS realizada em 2000. FONTE: www.ibge.gov.br

A Tabela 1.3 apresenta os resultados finais para as estações brasileiras que fizeram parte da
campanha SIRGAS2000.

25
Fundamentos de Geomática

Tabela 1.3: Coordenadas finais SIRGAS2000 (ITRF200028, época de referência 2000,4), relativas ao
GRS80. FONTE: www.ibge.gov.br
Estação Latitude [° ' "] sigma ["] Longitude [° ' "] sigma ["] Altitude [m] sigma [m]

BOMJ S13 15 20,0103 0,0001 W043 25 18,2468 0,0001 419,401 0,002


BRAZ S15 56 50,9112 0,0001 W047 52 40,3283 0,0001 1106,02 0,001
CAC1 S22 41 14,5337 0,0001 W044 59 08,8606 0,0001 615,983 0,002
CANA S25 01 12,8597 0,0001 W047 55 29,8847 0,0001 3,688 0,002
CORU S19 00 01,0131 0,0001 W057 37 46,6130 0,0001 156,591 0,002
CRAT S07 14 16,8673 0,0001 W039 24 56,1798 0,0001 436,051 0,002
CUIB S15 33 18,9468 0,0001 W056 04 11,5196 0,0001 237,444 0,002
FOR1 S03 43 34,3800 0,0001 W038 28 28,6040 0,0001 48,419 0,002
FORT S03 52 38,8046 0,0001 W038 25 32,2051 0,0001 19,451 0,004
IMBI S28 14 11,8080 0,0001 W048 39 21,8825 0,0001 11,85 0,002
IMPZ S05 29 30,3584 0,0001 W047 29 50,0445 0,0001 105,008 0,002
MANU S03 06 58,1415 0,0001 W060 03 21,7105 0,0001 40,16 0,002
MCAE S22 22 10,3989 0,0001 W041 47 04,2080 0,0001 0,056 0,002
PARA S25 26 54,1269 0,0001 W049 13 51,4373 0,0001 925,765 0,002
POAL S30 04 26,5528 0,0001 W051 07 11,1532 0,0001 76,745 0,002
PSAN S00 03 26,4338 0,0001 W051 10 50,3285 0,0001 -15,506 0,002
RECF S08 03 03,4697 0,0001 W034 57 05,4591 0,0001 20,18 0,002
RIOD S22 49 04,2399 0,0001 W043 18 22,5958 0,0001 8,63 0,002
SALV S13 00 31,2116 0,0001 W038 30 44,4928 0,0001 35,756 0,002
UEPP S22 07 11,6571 0,0001 W051 24 30,7223 0,0001 430,95 0,002
VICO S20 45 41,4020 0,0001 W042 52 11,9622 0,0001 665,955 0,002

Com a implantação e o ajustamento da Rede Planimétrica no Sistema de Referência


SIRGAS2000 e a sua oficialização através da Resolução N° 1 de 25/02/2005, o IBGE promove
o acesso dos usuários ao novo sistema geodésico e com este propósito foram disponibilizadas as
seguintes informações em seu site da Internet (http://www.ibge.gov.br/):
™ Coordenadas SIRGAS2000 das estações pertencentes à Rede Planimétrica do Sistema
Geodésico Brasileiro;
™ Modelo Geoidal - MAPGEO2004;
™ Parâmetros de transformação entre os Sistemas SAD69 e SIRGAS2000.

De acordo com o IBGE:

28
Vide Capítulo 3.

26
Conceitos gerais de Geomática

O sistema SIRGAS2000 é geocêntrico e materializado a partir das estações


que compõem a rede de estações da Rede Brasileira de Monitoramento
Contínuo (RBMC) e mais algumas estações implantadas no continente
americano. Este sistema adota como figura geométrica da Terra o elipsóide
GRS80.

Aqui vale a pena comentar que embora o SIRGAS2000 adote como figura geométrica da Terra
o elipsóide GRS80, o IBGE considera que existe uma compatibilidade entre o sistema WGS84 e
o SIRGAS2000 ao nível do centímetro, isto é, a diferença entre usar uma coordenada WGS84 e
o SIRGAS2000 é inferior a 1 centímetro. Desta forma, para fins práticos onde não se exija
qualidade superior ao centímetro é totalmente indiferente usar quaisquer dos dois sistemas, não
sendo, portanto, necessário a realização de transformação de coordenadas entre eles.
Os parâmetros de transformação oficiais entre os sistemas SAD69 e SIRGAS2000 foram
estimados através de 63 estações GPS que possuem coordenadas SAD69 oriundas do
ajustamento de 1996 e as coordenadas ajustadas relativas ao SIRGAS2000. Os valores dos
parâmetros, bem como o modelo matemático indicado para a transformação, podem ser
encontrados nos documentos do IBGE n° 1/2005 e n° 23/1989, respectivamente,
disponibilizados em seu site. O IBGE informa que devido à pequena diferença entre os sistemas
WGS84 e SIRGAS2000 os mesmos parâmetros também podem ser utilizados nas
transformações de coordenadas entre os sistemas SAD69 e WGS84. Essa afirmação, entretanto,
deve ser vista com certo resguardo quando se tratar de redes geodésicas extensas.
O sistema de referência mais utilizado no Brasil, ao qual a maioria dos mapas está referenciado,
ainda é o SAD69. Os parâmetros de transformação entre o SAD69 e o SIRGAS2000 são:

⎡X ⎤ ⎡X ⎤ ⎡ 67,35 ⎤
⎢Y ⎥ ⎢
= ⎢Y ⎥ ⎥ + ⎢⎢− 3,88⎥⎥ m
⎢ ⎥
⎢⎣ Z ⎥⎦ SAD 69 ⎢⎣ Z ⎥⎦ SIRGAS 2000 ⎢⎣ 38,22 ⎥⎦

1.3 A Topografia

Etimologicamente, a palavra topografia é de origem grega. Ela advém do grego topos, que
significa lugar e graphein, que significa descrever. E assim, como o próprio nome indica,
topografia significa a descrição de um lugar ou mais genericamente a descrição dos elementos
que o compõe. Advém daí então o nome Topografia para a ciência que estuda a representação e
a descrição das irregularidades da superfície terrestre a partir de processos e métodos
topográficos utilizando-se instrumentos e equipamentos topográficos. A partir dos processos
topográficos são gerados desenhos representativos da superfície do terreno aos quais dá-se o
nome de plantas topográficas.
Quando comparado a Geodésia a Topografia tem como característica principal o fato de
preocupar-se com os detalhes enquanto a Geodésia preocupa-se com o geral. Por essa razão, até

27
Fundamentos de Geomática

a popularização da informática, que facilitou enormemente os cálculos topográficos e


geodésicos, a Topografia era totalmente baseada na suposição de uma Terra plana, ou seja, os
cálculos topográficos eram coerentes desde que a área medida pudesse desconsiderar a
curvatura terrestre. Sem nenhum rigor geométrico considerava-se que um quadrado de lados
iguais a 10 km podia ser considerado como um plano para os propósitos da Topografia. A partir
da popularização da informática, entretanto, os cálculos topográficos passaram a considerar a
curvatura da Terra realizando transformações rigorosas entre a figura curva e o plano
topográfico local. Somente em casos de obras de pequeno porte (um edifico por exemplo)
considera-se a superfície da Terra como plana.
O principal conceito da medição topográfica é saber que sempre se parte do conjunto para o
detalhe, ou seja, a Topografia baseia-se em pontos fundamentais do Sistema Geodésico
Nacional de um país, para gerar pontos de detalhes que descrevem um objeto de medição - uma
obra de engenharia civil, por exemplo.
Para se realizar a descrição correta dos elementos do terreno que se deseja representar é
necessário realizar operações de mensuração, no campo – fundamentalmente medições de
ângulos e distâncias - e de cálculos e edição gráfica, no escritório, que permitam a determinação
geométrica de pontos, de linhas, de superfícies e de volumes, conforme as necessidades. Diz-se
nesse caso que se realiza um levantamento topográfico através de métodos Topométricos.
Para a aplicação da Topografia utilizam-se, fundamentalmente, processos Topométricos para a
determinação da posição planimétrica dos pontos de detalhes e o nivelamento geométrico ou
mesmo trigonométrico, para a determinação da altitude desses pontos. Os processos
Topométricos, os nivelamentos geométrico e trigonométrico, bem como os instrumentos
topográficos destinados a esse fim serão tratados em detalhes nos capítulos seguintes.
A Topografia é uma das disciplinas básicas estudadas nos cursos da área da Mensuração. Ela é
vital para o planejamento e a execução da maioria das obras de Engenharia Civil e para o
planejamento geral de uma região ou até mesmo de um país. Mesmo assim, devido a amplitude
dos conhecimentos necessários para se poder atuar com profissionalismo na área, ela é tratada
apenas superficialmente nos cursos de Engenharia Civil e Arquitetura. Do engenheiro civil
espera-se apenas que ele tenha o conhecimento básico para poder contratar e julgar os trabalhos
realizados sob a sua responsabilidade. Efetivamente, os trabalhos de Topografia devem ser
realizados por profissionais formados em Agrimensura. No Brasil, existem para isso duas
carreiras de formação: a formação do Técnico em Agrimensura e a formação do Engenheiro de
Agrimensura ou Engenheiro Agrimensor.

1.4 A CARTOGRAFIA
Segundo a definição estabelecida em 1966 pela Associação Cartográfica Internacional, a
Cartografia é o conjunto de estudos e de observações científicas, artísticas e técnicas que, a
partir de resultados de observações diretas ou da exploração de documentos, elabora cartas,
planos e outros modos de expressão, assim como a sua utilização. A carta, vista como um meio
de transcrição gráfica dos fenômenos geográficos constitui o objeto principal da Cartografia. O
objetivo primordial é, portanto, a pesquisa de métodos, processos de elaboração e utilização de
cartas e mapas, além do estudo exaustivo de seu conteúdo.

28
Conceitos gerais de Geomática

No Brasil existe o profissional de Cartografia, denominado Engenheiro Cartógrafo. É um


profissional de nível superior com formação básica para executar praticamente todos os
trabalhos da Geomática. Ele diferencia-se do Engenheiro Agrimensor em vários aspectos, já que
a sua formação é mais ampla. Ousamos dizer que o Engenheiro Cartógrafo possui uma veia
artística quando se trata da execução de cartas e mapas, enquanto que o Engenheiro Agrimensor
é mais direcionado para a operação técnica dos trabalhos de Mensuração. Quanto a veia
artística, em representação cartográfica estudam-se a teoria, métodos e técnicas para a obtenção
de um produto final de boa qualidade visual, mas principalmente com qualidade geométrica.
Além disso, a Cartografia se preocupa muito mais com a geografia e o relevo do que a
Agrimensura.
O perfil profissional do engenheiro cartógrafo é definido como sendo um especialista em
planejamento, organização, especificação, projeto, orientação, direção e fiscalização das
diversas modalidades de levantamentos, do processamento e interpretação dos dados coletados,
bem como da representação e reprodução de documentos cartográficos.

1.5 A HIDROGRAFIA
A Hidrografia é a ciência que tem por objetivo o estabelecimento de planos e de plantas e cartas
representativas da superfície terrestre submersa. Em vários aspectos ela é similar à Topografia,
pois ambas utilizam técnicas de medições em comum. Alguns fatores, entretanto, as
diferenciam, o que torna a Hidrografia uma ciência à parte. A natureza do meio ambiente
marítimo ou mesmo fluvial é o principal fator que as diferenciam. A rugosidade do fundo de um
oceano é muito mais difícil de ser medida que a rugosidade da superfície terrestre. O movimento
dos oceanos ou das correntezas fluviais exige técnicas especiais para a locação de pontos. O
sistema estático da Topografia deve ser substituído por um sistema dinâmico. Existe, por isso,
uma série de técnicas e instrumentos especiais - instrumentos hidrográficos - que substituem as
técnicas e os instrumentos topográficos.
As principais técnicas de medição aplicadas à Hidrografia são a Telemetria29 e a Batimetria30.
A Telemetria é aplicada para a localização de pontos, enquanto que a Batimetria é usada para a
representação da profundidade dos oceanos, lagos e rios.
Existe a profissão de Engenheiro Hidrográfico. A formação, no Brasil, é feita apenas por escolas
militares ligadas a Marinha.

29
Técnica utilizada na localização, monitoramento e processamento através da emissão e recepção de
dados a longa distância.
30
Técnica utilizada para o mapeamento altimétrico da profundidade de lagos, rios e oceanos. A exemplo
dos levantamentos topográficos altimétricos, a profundidade neste caso é representada a partir de
pontos cotados e isolinhas representativas das diferenças de profundidade.

29
Fundamentos de Geomática

1.6 A FOTOGRAMETRIA
A Fotogrametria é a técnica que permite o estudo e a definição das formas, das dimensões e da
posição de objetos no espaço, utilizando-se de medições obtidas a partir de fotografias ou
imagens raster31.
A característica principal desta técnica é que ela permite o registro, quase instantâneo, do estado
de um objeto possibilitando uma posterior exploração das medições em condições geralmente
mais favoráveis do que àquelas permitidas “in situ”. Além disso, a imagem digital é um
documento de arquivo facilmente manipulável, de conservação quase ilimitada e de fácil
restituição. Adiciona-se a isso a amplitude espectral que possibilita análises de fenômenos não
detectados pela vista humana (infravermelho, por exemplo). Vide Figura 1.12.

Figura 1.12: Foto aérea do Campus da Escola de Engenharia de São Carlos


da USP (EESC/USP), tomada no ano de 1998.

A Fotogrametria é uma técnica indispensável para muitos trabalhos da Geomática. Para as áreas
técnicas, em especial para a Engenharia Civil, ela oferece um suporte inestimável, reduzindo
custos e tempo de trabalho. O principal obstáculo ao seu uso extensivo ocorre devido ao alto

31
Dá-se o nome de imagem raster a imagem em forma de pixel, armazenada em algum tipo de meio
digital. O mesmo que imagem digital.

30
Conceitos gerais de Geomática

custo dos equipamentos e a necessidade da presença de técnicos bem treinados para operar os
equipamentos e os programas aplicativos desse setor.
A partir de 1990 a Fotogrametria passou a utilizar imagens digitais ao invés de fotografias em
papel. A essa nova Fotogrametria deu-se o nome de Fotogrametria Digital. Assim, A
Fotogrametria Digital é a parte da Fotogrametria que trata dos aspectos geométricos do uso de
fotografias, com a finalidade de obter valores consistentes de comprimentos, alturas e formas,
baseando-se no uso de imagens digitais, armazenadas em meio magnético, na forma de pixel32.
Ela é totalmente baseada no princípio da estereoscopia e na orientação analítico-digital das
fotos. As imagens aéreas são tomadas através de sensores digitais aerotransportados colocados
adequadamente no interior de um avião. Vide Figura 1.13.

.
Figura 1.13: Sensor aéreo digital ADS40 montado em um avião.
FONTE: Leica Geosystem.

A Fotogrametria é uma técnica estudada nos cursos de Agrimensura e de Cartografia. No Brasil,


não existem cursos exclusivos para o estudo da Fotogrametria. Os operadores dos equipamentos
são formados pelas próprias empresas do ramo. Atualmente, praticamente todas as cartas e
mapas municipais ou de áreas extensas são elaborados através do uso da Fotogrametria.

32
Pixel vem do Inglês e significa elemento de figura. Deve ser entendido como o elemento matricial que
forma uma imagem digital. Nas imagens digitais preto e branco o valor de um pixel pode variar entre 0
a 255.

31
Fundamentos de Geomática

A Figura 1.14 exibe uma imagem


de um Restituidor Fotogramétrico
Digital. O uso de um equipamento
desse tipo permite obter as
coordenadas de pontos sobre a
imagem, com precisão da ordem de
alguns mícrons, que corresponde a
alguns centímetros no terreno
dependendo da altura do vôo. A
partir dos pontos medidos sobre a
imagem são desenhadas as linhas,
os polígonos e outras entidades
gráficas que representam os
elementos geográficos do terreno.
Figura 1.14: Restituidor Fotogramétrico
Digital. FONTE: Leica Geosystems.

1.7 O SENSORIAMENTO REMOTO

O Sensoriamento Remoto é definido como sendo a técnica de observação a distância pela


medição e o tratamento do raio eletromagnético emitido ou refletido pelos objetos estudados,
com o objetivo de obter informações concernentes a sua natureza, as suas propriedades e ao seu
estado. Ele baseia-se, fundamentalmente, na medição da variação da energia
eletromagnética33. Dependendo da natureza da radiação, é possível gravá-la em uma emulsão
fotográfica ou captá-la através de um sensor fotoelétrico, como por exemplo, em uma câmera
CCD, e gravá-la em um meio magnético adequado.
Os sensores atualmente disponíveis podem ser classificados segundo os critérios indicados a
seguir:
™ Quanto à fonte de energia: os sensores podem tanto ser denominados sensores
ativos, que emitem sua própria radiação, como sensores passivos que captam a
energia refletida pelo alvo.
™ Quanto à região do espectro em que operam; os sensores que atuam na região
óptica do espectro podem ser denominados de duas formas: como sensores termais
ou como sensores de energia solar refletida. Sendo que os primeiros operam em
uma faixa espectral que vai de 7 a 15 milímetros, conhecida como infravermelho
distante; e os demais, sensores de energia solar refletida, operam numa faixa de
0,38 mm a 3,0 mm, que se subdivide em visível (de 0,38 a 0,72 mm), infravermelho
próximo (de 0,72 a 1,3 mm) e infravermelho médio (de 1,3 a 3,0 mm).

33
É a energia transportada por um campo eletromagnético. Os campos elétrico e magnético ao se
propagarem no espaço transportam energia sob a forma de radiação eletromagnética.

32
Conceitos gerais de Geomática

™ Quanto ao produto final obtido da transformação sofrida pela radiação detectada:


podem ser não imageadores ou imageadores. Os sensores não imageadores, como o
próprio nome sugere, não produzem uma imagem da superfície investigada, mas
dados numéricos ou gráficos importantes na aquisição de informações mais
detalhadas a respeito dos objetos encontrados na superfície. Entre os sensores não
imageadores mais conhecidos estão os radiômetros de banda e os
espectrorradiômetros. No caso de sensores imageadores, o processamento da
radiação registrada pelo sensor, acarreta em imagens multiespectrais da superfície
observada.

Existem para isso vários tipos de satélites com diferentes tipos de sensores34, entre os quais vale
a pena citar os satélites: LANDSAT, SPOT, IKONOS, QUICKBIRD e CBERS.
Apresentamos a seguir alguns detalhes destes sensores. Recomendamos ao leitor consultar a
bibliografia indicada para obter maiores informações a respeito deste assunto.
A família de satélites LANDSAT teve seu início desde a década de 60 e durante todo o período
de operação sofreu várias alterações tecnológicas tendo como conseqüência uma melhoria na
resolução espacial das imagens. Os sensores dos satélites LANDSAT 5 e 7 possuem sete
bandas, com numeração de 1 a 7, sendo que cada banda representa uma faixa do espectro
eletromagnético captada pelo sensor. Estes sensores apresentam a característica de
repetitividade, isto é, observam a mesma área a cada 16 dias. Uma imagem inteira do sensor,
também chamada de “cena” no jargão do Sensoriamento Remoto representa, no solo, uma área
de abrangência de 185 X 185 km. A resolução geométrica das imagens nas bandas 1, 2, 3, 4, 5 e
7 é de 30 metros (ou seja, cada "pixel" da imagem representa uma área no terreno de 900 m2).
Para a banda 6, a resolução é de 120 metros (cada "pixel" representa 1,4 ha). As imagens
fornecidas por este sensor podem ser em níveis de cinza (formato digital) ou tons de cinza
(formato analógico) ou composições coloridas. A Figura 1.15 apresenta parte de uma imagem
da banda 3 (referente à região do vermelho no espectro eletromagnético de energia) do sensor
TM do LANDSAT 5 da cidade de São Carlos (SP).

34
Dispositivo que capta e registra a energia refletida ou emitida pela superfície do terreno, objetos e
ocorrências físicas, incluindo os acidentes artificiais, os fenômenos físicos e as atividades do homem.

33
Fundamentos de Geomática

Figura 1.15: Imagem TM LANDSAT 5 da banda 3 da cidade de São Carlos (SP).

As evoluções tecnológicas nos sensores da série LANDSAT propiciaram o seu uso em áreas de
engenharia que até então não se beneficiavam dos recursos desse sistema. A Figura 1.16
apresenta um exemplo deste novo tipo de imagem.

34
Conceitos gerais de Geomática

Figura 1.16: Extrato da imagem monocromática do LANDSAT 7 da área central de Brasília (DF).
Fonte: http://www.engesat.com.br

A série de satélites SPOT (Satellite pour l'Observation de la Terre) é semelhante ao sistema


LANDSAT e foi iniciada com o satélite franco-europeu SPOT-1, em 1986, e sob a
responsabilidade do Centre National d'Etudes Spatiales – CNES, da França. Ela prosseguiu com
o lançamento do SPOT-2 e com o SPOT-3, que após um período de funcionamento entrou em
pane. A série teve continuidade com o lançamento dos satélites SPOT-4, em 1999, e com o
lançamento da série SPOT-5 (A e B), partir de 2002.
Os satélites da série SPOT-4 são equipados com sensores que possuem melhorias técnicas
importantes em relação aos seus predecessores. Nestes sensores foi adicionada uma nova banda
espectral no infravermelho de ondas curtas o qual proporciona uma resolução de 20 metros e
também foram substituídos os canais pancromáticos pelos canais monocromáticos (com
comprimento espectral igual a banda 2 e resolução espacial de 10 metros). A Figura 1.17
apresenta um exemplo deste tipo de imagem.

35
Fundamentos de Geomática

Figura 1.17: Extrato imagem SPOT 4 mod PAN, 10 metros de resolução, tomada em 03/04/97, sobre a
cidade de Gurarulhos, SP. Fonte: www.intersat.com.br.

O sensor multiespectral do satélite SPOT-5 possui uma resolução da ordem de 10 metros e o


pancromático possui uma resolução da ordem de 5 metros. A Figura 1.18 apresenta um exemplo
de imagem pancromática deste sensor.

36
Conceitos gerais de Geomática

Figura 1.18: Imagem do sistema SPOT-5 da cidade de São Francisco, Califórnia-EUA.


Fonte: http://www.satimagingcorp.com/gallery-spot5-images.html

A série SPOT inaugurou a possibilidade de imagens tridimensionais graças a sua capacidade de


visada lateral, de até 27o (estereoscopia cilíndrica), e aumentou também a resolução espacial no
canal pancromático para 5 metros.
Entre os sistemas orbitais de alta resolução espacial vale a pena citar o sistema IKONOS. Ele
foi colocado em operação em 24/09/1999 pelos EUA e proporciona uma resolução, no terreno,
da ordem de 1 metro na imagem pancromática e 4 metros na imagem multiespectral. A faixa de
imageamento é de 13 km no nadir, ou seja, uma imagem de 13 km X 13 km. A Figura 1.19
apresenta um exemplo de uma imagem desse sistema.

37
Fundamentos de Geomática

Figura 1.19: Imagem adquirida em 4/3/2000 quando da passagem do satélite IKONOS


sobre o território brasileiro. Apresenta-se nesta imagem a região da Marina da Glória,
Aterro do Flamengo e Aeroporto Santos Dumont, na cidade do Rio de Janeiro (RJ).

O QUICKBIRD é outro sistema orbital de alta resolução. Ele foi lançado em outubro de 2001
pelos EUA. As imagens pancromáticas e multiespectrais são planejadas para dar suporte nas
aplicações em gerenciamento de avaliação de riscos e publicações de mapas com ênfase nas
áreas urbanas. O sistema coleta dados com 61 centímetros de resolução espacial no
pancromático e 2,5 metros no multiespectral em um vasto campo de observação, apresenta
rápida seleção de alvo e permite a geração de pares estereoscópicos. A freqüência média de
visita é de 1 a 3,5 dias. A Figura 1.20 apresenta um exemplo de imagem desse sistema.

38
Conceitos gerais de Geomática

Figura 1.20: Imagem do QUICKBIRD da cidade de São Carlos (SP), onde


apresenta na parte central a Área 1 do Campus da USP e o São Carlos Clube.

No Brasil, o avanço nos diversos programas de satélites da Missão Espacial Completa Brasileira
(MECB) incentivou pesquisas na área da engenharia espacial. Em conjunto com a China o
Brasil criou o Programa CBERS (China-Brazil Earth Resources Satellite ou Satélite Sino-
Brasileiro de Recursos Terrestres) visando a construção de uma família de satélites de
Sensoriamento Remoto. Com isto, o Brasil ingressou no seleto grupo de países detentores da
tecnologia de sensoriamento remoto. Estes satélites se destinam a monitorar o desmatamento na
Amazônia, os recursos hídricos, áreas agrícolas, crescimento urbano, ocupação do solo e o
clima do Brasil.
O CBERS-1 foi o primeiro satélite da série e foi lançado em 1999. Em outubro de 2003 foi
lançado o CBERS-2. Ver Figura 1.21. Uma característica exclusiva dos satélites CBERS são as
diversidades de câmeras com diferentes resoluções espaciais e freqüências de coleta de dados.
As câmeras WFI (Wide Field Imager – Imageador de Amplo Campo de visada) produz imagens
de uma faixa de 890 km de largura, permitindo a obtenção de cartas-imagem com resolução
espacial de 260 metros. As câmeras CCD f(High Resolution CCD Câmera – Câmera
Imageadora de Alta Resolução) fornece imagens de uma faixa de 113 km de largura, com uma
resolução de 20 metros. As câmeras de varredura IRMSS produzem imagens de uma faixa de
120 km de largura com uma resolução de 80 metros no infravermelho médio e de 160 metros
para o infravermelho termal.

39
Fundamentos de Geomática

Estão previstos ainda os lançamentos do CBERS-2B para 2006, do CBERS-3 para 2008 e o
CBERS-4 em 2010.
As imagens CBERS podem ser utilizadas por empresas privadas e instituições governamentais.
A aquisição de imagens pode ser feita basicamente de dois modos: pela Internet
(http://www.dgi.inpe.br), onde o usuário faz o “download” gratuito das imagens a partir do
endereço do próprio catálogo; e por correio, em que o usuário recebe os dados gravados em
CDROM.

Figura 1.21: Imagem CBERS da cidade de Brasília.

Embora o Sensoriamento Remoto possa ser usado para se obter informações geométricas de
objetos na terra, ele tem sido usado, primordialmente, na geração de mapas temáticos. Esse tipo
de informação pode ser utilizado com grandes vantagens na fase de anteprojeto de obras de
engenharia civil, como por exemplo, projetos de drenagem e de rodovias ou então no
planejamento do uso do solo ou qualquer outro tipo de estudo que necessite de mapas com a
representação de áreas extensas. Além disso, o Sensoriamento Remoto permite também o estudo
espectral das imagens para análises da matéria, como por exemplo, as energias caloríficas ou
químicas, que permitem a identificação de objetos no solo, o reconhecimento das variedades da
cobertura vegetal e outras características de fenômenos inerentes a superfície terrestre.
O uso do Sensoriamento Remoto vem crescendo a cada dia em nosso país. Existem vários
cursos que formam profissionais para trabalharem nessa área. Não existe, contudo, nenhum

40
Conceitos gerais de Geomática

curso específico de graduação em Sensoriamento Remoto. Os cursos de Agrimensura,


Agronomia, Geografia e de Cartografia cobrem uma parte do assunto, porém, um conhecimento
mais profundo somente pode ser obtido nos vários cursos de pós-graduação existentes no país.
No Brasil, o maior centro de estudos, pesquisas e análises desta técnica é o Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais – INPE.

1.8 O DESENHO ASSISTIDO POR COMPUTADOR - CAD

O Desenho Assistido por Computador - CAD é uma técnica relativamente nova. Ela teve início
na década de 80, com o aparecimento e o maior acesso ao computador pessoal, e rapidamente
foi incorporada pelos engenheiros, arquitetos, agrimensores e outros profissionais que utilizam o
desenho como base de seus projetos. Ela substituiu completamente as técnicas antigas de
desenho, que utilizavam papel, canetas a nanquim, normógrafos, réguas e escalas. O sistema
CAD consiste basicamente de um computador, um programa CAD, um monitor gráfico, um
“mouse” e um plotter. Através de um cursor comandado pelo mouse e que aparece no monitor
gráfico, é possível realizar todas as tarefas de um desenho como a criação de pontos, linhas,
curvas, círculos, polígonos, textos, figuras complexas, linhas ajustadas a pontos e,
principalmente, funções COGO (Geometria de Coordenadas), para a edição planimétrica do
desenho.
A terceira dimensão é estabelecida através do uso de um Modelo Digital de Terreno – MDT,
que descreve o terreno através de funções de interpolações matemáticas e usa as funções de
CAD para a representação gráfica do relevo. Vide Figura 1.22. Atualmente pode-se afirmar sem
cometer equívocos que pratica-mente todos os projetos, plantas, cartas, mapas e desenhos
técnicos são feitos através do uso de um programa CAD.

Figura 1.22: Representação gráfica da modelagem numérica do terreno utilizando um CAD.

41
Fundamentos de Geomática

Uma série de programas aplicativos foi desenvolvida e estão disponíveis no mercado. Eles
associam as ferramentas CAD com as rotinas de cálculo do aplicativo em uso e permitem assim
que todo o trabalho de cálculo, desenho e edição final do projeto seja feitos através do
computador – são popularmente designados como Programas de Topografia. Para a Geomática,
em particular, existem inúmeros aplicativos que permitem automatizar desde a coleta de dados
até a edição final da planta, carta ou mapa. Eles variam desde rotinas simples de exportação para
um programa CAD até programas aplicativos elaborados para projetos de engenharia civil,
como por exemplo, um projeto geométrico de uma via.
Os equipamentos topográficos de coleta de dados permitem a transferência dos dados coletados
para os programas aplicativos de maneira que, dependendo da agilidade do operador no campo,
resta muito pouca edição gráfica a ser feita.

1.9 O GERENCIAMENTO DE BANCOS DE DADOS

Um banco de dados, resumidamente, pode ser entendido como um sistema de organização


lógica para o armazenamento e recuperação de informações. Com esses atributos ele é a
ferramenta indispensável para milhões de empresas dos mais diversos ramos da atividade
humana. Os primórdios dos bancos de dados datam do início dos anos 70, quando ainda se
usavam computadores do tipo “Mainframe” para o gerenciamento de dados. Porém, foi com o
aparecimento das “Workstations”, dos computadores pessoais e das redes de computadores que
o seu uso generalizou-se no meio profissional.
Um banco de dados constitui-se de uma linguagem de programação, através da qual se organiza
e se estabelece o dicionário dos dados e das funções de entrada, atualização, busca e exibição
dos dados. Os primeiros bancos de dados possuíam uma estrutura hierárquica, ou seja, os dados
eram organizados de maneira hierárquica, seguindo uma rotina de hierarquia predefinida. Eles
foram substituídos, nos anos 80, pelos bancos de dados com estrutura relacional, ou seja, os
dados, ao invés de seguir uma hierarquia predefinida, são estruturados em arquivos
independentes, ligados por identificadores chaves comuns. Através de um banco de dados é
possível realizar operações de pesquisa de informações, de cruzamento de informações, de
cálculos para os atributos ou entre os atributos e de exibição dos resultados obtidos.
Para a Geomática, entretanto, o que interessa primordialmente são os dados espaciais, ou seja,
os dados georreferenciados. E mais do que isso, já que a Geomática se baseia em informações
gráficas, também nos dados georreferenciados com atributos geométricos, tais como,
comprimentos, raios, áreas, orientações e outros.

1.10 O GERENCIAMENTO CADASTRAL

Segundo o dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa a palavra cadastro significa:


documento ou conjunto de documentos em que bens imóveis ou de raiz, ou os proventos por eles
proporcionados, são descritos e avaliados quanto à extensão, ao valor e à qualidade,

42
Conceitos gerais de Geomática

especialmente para servir de base para o cálculo dos impostos que devem incidir sobre esses
bens ou rendas.
O primeiro cadastro consistente e preciso foi estabelecido em Milão, no século XVII, e serviu
como modelo para toda a Europa. Em 1807, Napoleão I (1769-1821) ordenou que fosse feito
um levantamento topográfico geral da França para servir como base cadastral e para a coleta de
impostos. A partir do século XVIII, com o desenvolvimento do mercado imobiliário, o cadastro
passou a ter cada vez mais importância no gerenciamento do território. Do instrumento fiscal
que consistia o cadastro das parcelas, ele transformou-se em um cadastro jurídico, que fixava os
direitos das parcelas. As plantas passaram então a ser parte integrante do registro de imóveis e a
ter o status de título público, em alguns países.
O desenvolvimento social e econômico de um país depende da existência de um sistema
cadastral eficiente que permita aos planejadores o conhecimento e o gerenciamento do território.
Um sistema de cadastro deve ser constituído das seguintes informações básicas do imóvel:

(1) onde fica?


(2) qual o seu tamanho e limites?
(3) quais os direitos a ele associados?
(4) quem detém os seus direitos?

Os dois primeiros itens são próprios do cadastro e os dois últimos são relativos ao registro
imobiliário. Um cadastro está normalmente baseado em lotes ou parcelas e corresponde a um
sistema informativo dos terrenos, com dados de interesse sobre eles (direitos, restrições e
responsabilidades). Em geral, inclui uma descrição geométrica do terreno associada com outras
informações que descrevem a propriedade, a natureza dos interesses, o valor do terreno e seus
melhoramentos. Pode ser estabelecido com propósitos fiscais, tais como impostos e avaliações,
com propósitos legais, tais como transferências, ou para auxiliar no direcionamento e uso do
terreno, em casos de planejamento e outros fins administrativos.
Um cadastro bem elaborado permite um desenvolvimento prolongado e a proteção do meio
ambiente. Eles são normalmente administrados por um ou mais setores governamentais. Além
do auxílio na avaliação de impostos, de bens de consumo e na distribuição de terrenos, eles
ajudam a melhorar a eficiência das transações, com informações relevantes e seguras a respeito
dos terrenos em geral. Também podem dar, a cada nível de governo, um inventário completo
das propriedades, para a implementação de impostos e para o desenvolvimento, administração
dos terrenos e planejamento rural e urbano.
Em geral, as informações de interesse contidas em um cadastro incluem a posição geográfica,
limites e coordenadas das parcelas, possessão (direitos de propriedade e aluguéis) e valores dos
terrenos. Outros tipos de informações, com importância para grupos distintos de usuários,
também podem ser encontradas e usualmente incluem:
♦ Dados referentes às edificações e imobiliários;
♦ Informações relacionadas à agricultura (classificação da capacidade dos terrenos e
uso dos terrenos);

43
Fundamentos de Geomática

♦ Informações florestais;
♦ Utilidades (atendimento quanto à água potável, esgoto, eletricidade e telefonia);
♦ Dados referentes à qualidade do meio ambiente;
♦ Dados demográficos (estatísticas da população).

O Gerenciamento Cadastral do ponto de vista geométrico e até mesmo do ponto de vista


gerencial é uma atribuição da Geomática. Cabe aos profissionais dessa área a incumbência de
estabelecer e gerir o cadastro. No Brasil já existem algumas escolas em nível de pós-graduação
que oferecem cursos de especialização no gerenciamento cadastral.

1.11 O SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG)


As primeiras tentativas de fundamentação técnica de um SIG surgiram com o desenvolvimento
do primeiro computador eletrônico, na década de 40. Essa década marca o início da era da
computação, com rápidas transformações tecnológicas que influenciaram de maneira marcante o
avanço das Geociências. A década de 70 foi o período de difusão dos SIGs. A partir dessa
década a expressão “Sistema de Informações Geográficas – SIG35” foi popularizada. Até então,
os sistemas CAD eram genericamente aceitos como a mais nova tecnologia para
aperfeiçoamento do processo de geração de plantas, cartas e mapas.
A partir da década de 80, os SIGs passaram a integrar os setores industrial e comercial. Nesse
período ocorreu um rápido crescimento técnico aliado a um maior interesse no desenvolvimento
de um SIG. A manipulação dos dados geográficos ganhou rapidez, facilidade e flexibilidade.
Atualmente os SIGs passam por uma fase de confirmação. O meio técnico que antes tinha
dificuldades em compreender exatamente o que era um SIG, atualmente conhece todas as suas
vantagens e dificuldades. Passou a fase de euforia e estamos na fase da maturidade. Os sistemas
em implantação são mais bem estruturados e com maiores possibilidades de atenderem os seus
objetivos e a realidade para a qual eles foram implantados.
Definir um Sistema de Informações Geográficas não é uma tarefa evidente. Existe um grande
número de definições que foram sendo elaboradas na medida em que o próprio SIG evoluiu.
Talvez a definição mais simples e a que recobre a maioria das opiniões dos profissionais que
atuam na área seja a seguinte:

Um SIG é um conjunto de programas computacionais que reúnem técnicas e


métodos de aquisição de informações espaciais georreferenciadas,
possibilitando a manipulação, análises e apresentação (virtual ou gráfica) do
objeto em estudo.

35
Sistema de Informações Geográficas advém do termo inglês Geographic Information System (GIS).

44
Conceitos gerais de Geomática

Um SIG possui a capacidade de


estabelecer relações espaciais entre
elementos gráficos. Essa capacidade,
conhecida como Topologia, além de
descrever a localização e a geometria
das entidades de uma planta, descreve
as conexões entre as entidades
lineares, os perímetros e as relações de
contigüidade dessas áreas.

Figura 1.24: Estrutura geral de um SIG.

Em suma, um SIG pode ser interpretado como uma planta inteligente. Ele pode ser entendido
como um avanço dos sistemas CAD. Num sistema CAD, como as relações entre as entidades
gráficas das plantas se dão apenas através de “layers”36 e de um referenciamento a um sistema
de coordenadas, ele não é adequado para análises. Por exemplo, através dos dados contidos em
um sistema CAD, pode-se descrever a geometria de duas rodovias que se interceptam. No
entanto, o fato das rodovias se interceptarem não é necessariamente identificado pelo sistema, já
que este não é um dado importante para a produção de plantas plotadas. Da mesma forma, um
grupo de linhas dentro de um sistema CAD pode compor o perímetro de um polígono. No
entanto, a relação entre as linhas irá se limitar apenas ao fato de elas pertencerem a um mesmo
“layer” e estarem referenciadas a um mesmo sistema de coordenadas. O fato das linhas
definirem uma área fechada, não pode ser determinado pelo sistema, a não ser visualmente pelo
usuário através da plotagem dos dados gráficos.
Além dos dados geométricos e espaciais, um SIG possui atributos alfanuméricos. Os atributos
alfanuméricos são associados com os elementos gráficos, fornecendo informações descritivas
sobre eles. Os programas para Sistemas de Informações Geográficas são projetados de modo a
permitirem exames de rotina em ambas as bases gráficas e alfanuméricas, simultaneamente. O
usuário é capaz de procurar informações e associá-las as entidades gráficas e vice-versa.
Perguntas do tipo “Quais lotes da parte leste da cidade são maiores que um hectare e destinados
ao uso industrial?” Podem ser solucionadas pelo sistema. A resposta pode ser dada através da
listagem dos números dos lotes ou da identificação dos lotes na planta da cidade, por exemplo.
Por ser um sistema de aplicações tão amplas, os Sistemas de Informações Geográficas acabam
sendo multidisciplinares. Dependendo da aplicação, pode variar o tipo de profissional engajado.
O profissional da área de Geomática, entretanto, é sempre necessário. Qualquer que seja a
aplicação projetada para o sistema, ele necessitará sempre da coleta e da manipulação espacial
primária dos dados para adequá-los à base de dados a ser estabelecida.

36
Layer, do Inglês. Palavra usada no meio técnico e científico em substituição ao termo camadas de
informações ou níveis de informações.

45
Fundamentos de Geomática

Os SIGs têm sido usados pelos mais diferentes tipos de usuários, destacando-se as empresas
públicas, as empresas privadas e os centros educacionais. Os dados alimentadores destes
sistemas podem advir de levantamentos topográficos e geodésicos, plantas, cartas e mapas
existentes, imagens aéreas, imagens de satélites, dados estatísticos e tabulares e outros. As
informações podem ser classificadas de acordo com o interesse de análise e distribuídas em
“layers” ou camadas de informações. É importante citar que os dados apresentados num SIG
devem ser georreferenciados a um sistema único de coordenadas. Os usuários devem estar
atentos à base cartográfica dos dados de forma que seja compatível com o SIG utilizado.
A finalidade de um SIG é permitir o gerenciamento de informações temáticas e
georreferenciadas de uma determinada zona e ser capaz de oferecer, ao usuário, a capacidade de
manipular os dados referentes a essa zona. Ele permite que o usuário tenha:
Ö Disponibilidade constante de informações variadas, passíveis de serem atualizadas
periodicamente;
Ö Melhoria substancial das possibilidades de planificação devido à integração de uma
multiplicidade de dados;
Ö Concepção assistida por computador;
Ö Facilidade para a aplicação em modelos complexos e análises de variantes;
Ö Subsídios para as tomadas de decisões, baseadas sobre uma descrição completa do
território;
Ö Elaboração simplificada de representações cartográficas e relatórios dos resultados
dos trabalhos.

Ainda não existe no Brasil um curso de graduação exclusivo em Sistemas de Informações


Geográficas. Essa técnica é um tema tratado principalmente nos cursos de Agrimensura,
Agronomia, Cartografia e Geografia, embora haja vários outros cursos que também abordam
este assunto. Para um conhecimento mais profundo sobre esse assunto o interessado deve
procurar um dos cursos pós-graduação disponível atualmente no país.

1.12 O SISTEMA DE POSICIONAMENTO GLOBAL POR SATÉLITES - GNSS


O sistema GNSS é um sistema de posicionamento global que possibilita ao usuário determinar
sua posição tridimensional em qualquer lugar da terra ou em suas proximidades. Ele está
integrado atualmente por 3 sistemas individuais que são: o americano GPS/NAVSTAR
(NAVigation System with Timing and Ranging), o russo GLONASS (Global Navigation
Satellite System) e o europeu GALILEO. O governo chinês anunciou também que até o final
desta década estará em pleno funcionamento o sistema BEIDU que certamente será compatível
e fará parte do GNSS.
O primeiro sistema de posicionamento por satélites a ser amplamente usado pelos civis foi o
GPS. Embora o objetivo inicial deste sistema tenha sido fornecer capacidade de posicionamento
somente para as forças armadas americana, atualmente ele está disponível a qualquer usuário.
Para a comunidade civil é disponibilizado um subproduto do sistema, com restrições e
limitações de uso impostas pelos órgãos gestores que detêm o controle sobre os níveis de

46
Conceitos gerais de Geomática

desempenho de cada sistema. O uso do sistema GLONASS foi, inicialmente, restrito à Rússia e
seus aliados, para fins militares e estratégicos. Devido as constantes crises econômicas naquele
país, o sistema chegou próximo de seu fim e somente voltou a repor a constelação em 2005.
Prevê-se que a constelação de satélites estará completa até o ano de 2015.
Apesar das limitações, a facilidade de operação e a precisão proporcionada pelos sistemas
fizeram crescer o número de usuários civis em áreas como navegação, monitoramento de obras
e meio ambiente, agricultura de precisão, controle de frotas, meteorologia, Sistemas de
Informação Geográfica, posicionamentos topográficos e geodésicos de precisão e vários outros.
Para usar o sistema GNSS o usuário precisa de um equipamento capaz de receber e decodificar
o sinal emitido pela constelação de satélites. Esses equipamentos são conhecidos como
receptores e variam em características, capacidades e principalmente em custo, dependendo do
fabricante e das finalidades de aplicação. As modificações freqüentes tanto em função dos
avanços tecnológicos (acrescentados na modernização dos sistemas) como também da inclusão
de aplicativos opcionais (oferecidos pelas empresas fabricantes), tornam difícil classificá-los
adequadamente. De um modo genérico podemos considerar um equipamento GNSS composto
por um receptor, uma antena, um terminal de interface com o usuário e acessórios diversos para
o uso do equipamento no campo. A Figura 1.25 mostra um exemplo de um receptor GNSS com
os seus componentes instalados sobre um tripé

Figura 1.25: Componentes de um equipamento GNSS (Base) com opção de Tempo-real. Fonte:
Adaptado a partir de Leica Geosystems (2007).

47
Fundamentos de Geomática

O principio básico de funcio-


namento do sistema GNSS é a
medição das pseudodistâncias37
entre a antena do receptor e as
antenas dos satélites. A partir das
medições dessas pseudodistâncias
de quatro satélites simulta-
neamente, pode-se determinar a
posição (coordenada) da antena do
receptor (vide Figura 1.26).

Figura 1.26: Posicionamento absoluto


ou instantâneo com o GNSS.

Basicamente existem dois tipos de posicionamento com o sistema GNSS: o posicionamento


Absoluto e o posicionamento Relativo.
Um posicionamento é dito Absoluto quando se determinam as coordenadas da antena do
receptor diretamente a partir das coordenadas conhecidas dos satélites GPS que estão sendo
rastreados. Quando a posição é obtida instantaneamente diz que se tem uma coordenada de
navegação (absoluta ou instantânea). Existe uma outra forma de posicionamento que muito se
assemelha ao método absoluto que é a realização do pós-processamento dos dados coletados e
armazenados no receptor. A este método diz que se tem uma coordenada posicionada por ponto
simples.
Um posicionamento é dito Relativo quando se determinam as coordenadas a partir do pós-
processamento ou a partir do processamento em tempo-real dos dados coletados por dois ou
mais receptores rastreando os mesmos satélites em um espaço de tempo definido.

No posicionamento relativo, a
antena de um receptor,
denominada base, é colocada
sobre um ponto de coordenada
conhecida e a outra antena,
denominada de remoto, é
colocada sobre o ponto onde se
deseja determinar as
coordenadas. Vide Figura 1.27.

Figura 1.27: Ilustração do método de


posicionamento relativo.

37
“Falsas distâncias” ou “distâncias aproximadas” entre as antenas dos satélites e do receptor. Maiores
detalhes consultar SEGANTINE (2005).

48
Conceitos gerais de Geomática

No estágio atual, os posicionamentos com o GNSS, quando em modo absoluto, alcançam


precisões instantâneas da ordem de 3 a 15 metros ou precisões processadas como ponto simples
da ordem de alguns centímetros. Já os levantamentos no modo relativo permitem alcançar
precisões milimétricas, as quais são adequadas para os trabalhos de Mensuração.

1.13 PRINCIPAIS APLICAÇÕES DA GEOMÁTICA


As próprias definições anteriormente apresentadas já indicam, de maneira geral, as aplicações
da Geomática. De forma mais direta, entretanto, a Geomática possui os seguintes objetivos e
aplicações:

1.13.1 Determinação de coordenadas planimétricas de pontos

Esta aplicação diz respeito à determinação da posição de pontos no terreno, a partir da


implantação de marcos geodésicos; segundo um sistema de referência oficial. Esta determinação
pode ser realizada a partir de métodos ditos trigonométricos (medições de ângulos ou
distâncias) ou poligonométricos (medições de ângulos e de distâncias). Quando as coordenadas
dos pontos são determinadas por meio de uma rede de triângulos e, unicamente, através de
medições angulares, diz-se que se realizou uma triangulação. Se, unicamente, através de
medições lineares, diz-se que se realizou uma trilateração. Quando elas são determinadas
através das medições angulares e lineares, diz-se que se realizou uma triangulateração. Se as
coordenadas forem determinadas a partir da medição de uma direção e de uma distância, obtém-
se um ponto lançado. Se vários pontos lançados forem determinados através de um
caminhamento aberto ou fechado, diz-se que se levantou uma poligonal. Além disso, existem os
métodos geométricos de determinação de pontos, que são as interseções de retas, as interseções
de arcos, as interseções de arcos e retas e vários outros.

Uma outra opção, conforme já discutido, é a


determinação das coordenadas a partir do uso do
sistema GNSS. Vide Figura 1.28. Um exemplo
clássico deste tipo de levantamento é a
determinação de coordenadas para o
estabelecimento de pontos de controle horizontal
de redes geodésicas e topográficas.

Figura 1.28: Determinação de coordenadas de pontos


de controle através de uma rede geodésica implantada
com a tecnologia GNSS.

49
Fundamentos de Geomática

1.13.2 Determinação de diferenças de nível

Trata-se da determinação da terceira componente, necessária para situar, exatamente, um ponto


no espaço. A determinação altimétrica de um ponto é normalmente realizada em conjunto com a
planimetria, mas em alguns casos pode ser independente. Para a determinação da diferença de
nível entre dois pontos é necessária apenas a existência de um ponto a ser tomando como
referência, reconhecidos por instituições governamentais. Os pontos de referência são
normalmente designados como Referenciais de Níveis (RN).
Designam-se como nivelamento os métodos topográficos que permitem a obtenção de
diferenças de nível entre pontos. Estes métodos podem ser classificados como indicado a seguir:
◊ Nivelamento geométrico ou direto: realizado através de medições diretas de
distâncias verticais entre pontos. Trata-se de um método que independe da posição
planimétrica dos pontos;
◊ Nivelamento trigonométrico ou indireto: baseado na situação planimétrica
recíproca dos pontos (distâncias entre eles) e na medição do ângulo de altura;
◊ Nivelamento barométrico: permite a obtenção das diferenças de níveis através de
medições das variações da pressão atmosférica entre os pontos. Trata-se de um
método atualmente em desuso devido a sua baixa precisão. Em alguns casos
esporádicos, entretanto, esse tipo de nivelamento pode ser uma alternativa a ser
considerada.

A tecnologia GNSS também pode ser usada para a determinação de diferenças de níveis. É
preciso, porém, tomar alguns cuidados especiais inerentes ao método para não incorrer em erros
sistemáticos. As diferenças de nível medidas pelo sistema GNSS tomam como referência de
nível a superfície elipsoidal, enquanto as diferenças de nível medidas a partir de um
nivelamento tomam como referência de nível a superfície geoidal. Vide Figura 1.29. Para haver
compatibilidade entre os métodos de medição é necessário, portanto, conhecer a altura geoidal
nesses pontos.

50
Conceitos gerais de Geomática

As diferenças de níveis medidas com o


sistema GNSS são relativas às diferenças
de alturas geométricas. A obtenção das
altitudes ortométricas exige o
conhecimento do modelo geoidal da
região levantada38.

Figura 1.29: Determinação da diferença de


nível com o sistema GNSS.

1.13.3 Levantamento de detalhes

O levantamento de detalhes ou levantamento topográfico é realizado com a finalidade de


cadastrar os elementos importantes do terreno para fins puramente cadastrais ou para a
composição da base de dados geométricos de um projeto. Os métodos utilizados para esse
levantamento podem ser:
◊ Numérico: somente as medições de ângulos e de distâncias são realizadas no
campo. Os cálculos e a edição gráfica são realizados no escritório;
◊ Temático: as medições de ângulos e de distâncias e as indicações sobre o tipo de
elemento cadastrado, incluindo os seus atributos, são realizadas no campo através
de uma codificação predefinida e armazenada no instrumento de medição. Os
cálculos e a edição gráfica suplementar são realizados no escritório. Neste caso, o
trabalho de edição gráfica é facilitado devido a uma parte do cadastramento
temático já ter sido realizado no campo;
◊ Gráfico39: este tipo de levantamento é feito com o uso de uma prancheta eletrônica
(Palmtop). Neste caso, todos os elementos medidos (ângulos, distâncias e atributos)
são desenhados e armazenados através do uso da prancheta eletrônica, a medida que
eles são medidos. No final do levantamento têm-se todos os detalhes cadastrados já
calculados e editados. Dependendo da eficiência do operador, restará muito pouco
trabalho para ser feito no escritório.

O método a ser utilizado dependerá do tipo de equipamento disponível. É preciso salientar,


entretanto, que atualmente praticamente todos os equipamentos de topografia possuem artifícios

38
Consultar seção 1.2.4.
39
Adota-se o nome gráfico em analogia ao tipo de levantamento antigo que utilizava uma prancheta de
campo, através do qual o levantamento era totalmente gráfico.

51
Fundamentos de Geomática

para permitirem a aplicação de todos esses métodos de levantamentos de detalhes. A escolha


dependerá da disponibilidade financeira, da habilidade e da capacitação técnica do operador.

1.13.4 Levantamento de perfis

Este é um caso particular do levantamento de detalhes. O trabalho, neste caso, consiste em


estabelecer as altitudes, ou as diferenças de níveis entre pontos notáveis do terreno locados ao
longo de um alinhamento predefinido. Na maioria dos casos, não é preciso determinar as
coordenadas planimétricas dos pontos. O que interessa é a distância relativa entre eles e as suas
altitudes. O alinhamento é conhecido a priori. Basicamente, existem dois tipos de levantamentos
de perfis:

◊ Perfil longitudinal que segue uma linha particular, normalmente longa (eixos de
estradas rodoviárias ou ferroviárias, linha de transmissão, canalizações etc.). Vide
Figura 1.30;

Figura 1.30: Perfil longitudinal de um alinhamento.

◊ Perfil transversal ou seção transversal geralmente perpendiculares ao perfil


longitudinal, espaçados em intervalos pré-estabelecidos. Vide Figura 1.31;

52
Conceitos gerais de Geomática

Figura 1.31: Secção transversal de um alinhamento, referente a estaca 1.

1.13.5 Locação de obras

Consiste basicamente na materialização dos eixos principais e secundários de uma obra de


Engenharia Civil, ou parte dela, através de métodos e instrumentos topográficos (vide Figura
1.32). Trata-se, por exemplo, do estabelecimento de alinhamentos (retas) e curvas (círculos,
clotóides, parábolas e outros) para a construção de casas, edifícios, pontes, barragens, vias de
circulação, canais, linhas de transmissão, curvas de estradas e outros tipos de construções.

Figura 1.32: Ilustração de locação de uma obra civil.

53
Fundamentos de Geomática

1.13.6 Auscultação de obras de engenharia

40
Auscultar uma obra de engenharia consiste em realizar medições de controle, com o intuito
de conhecer o comportamento estrutural ao longo do tempo. Através de medições topográficas é
perfeitamente possível a determinação periódica da posição (coordenadas planas e altimétricas)
de pontos de controle alocados em locais estratégicos da obra, a partir dos quais podemos
deduzir a existência de variações espaciais das mesmas. Desta forma, podemos controlar
construções arrojadas, obras de arte de engenharia, barragens, diques, taludes etc. Vide Figura
1.33.

Este tipo de trabalho é bastante comum na


Engenharia Civil. Praticamente todas as grandes
obras civis exigem um acompanhamento de
rotina ou uma medição das condições críticas de
carga.

Figura 1.33: Medição de controle de uma barragem.

Como exemplo de trabalhos desse tipo realizados no Brasil, pode-se citar os trabalhos de
auscultação feitos nas grandes barragens brasileiras, como Itaipú e outras e a medição do teste
de carga realizado na Ponte Rodo-Ferroviária do Rio Paraná, entre os estados de São Paulo e
Mato Grosso do Sul, feita em 1998. Vide Figura 1.34.

40
Auscultar do latim auscultare significa procurar conhecer, inquirir, sondar.

54
Conceitos gerais de Geomática

(a) Vista Lateral da Ponte Rodo-Ferroviária Sobre o Rio Paraná.

(b) Visada com estação total a um ponto de (c) Ponto de controle de deslocamento vertical.
controle de deslocamento vertical.
Figura 1.34: Auscultação da Ponte Rodo-ferroviária do Rio Paraná.

1.13.7 Levantamento subterrâneo

Dá-se o nome de levantamento subterrâneo ao conjunto de operações topográficas realizadas


em obras subterrâneas de Engenharia Civil, tais como levantamento de galerias ou túneis,
exploração do subsolo (minas) e outros. As condições inerentes a esse tipo de trabalho não
permitem, na maioria das vezes, que se apliquem diretamente os métodos clássicos
topográficos. Nestes casos, são usados métodos topográficos específicos. Vide Figura 1.35.

55
Fundamentos de Geomática

Figura 1.35: Equipamento topográfico posicionado para medição subterrânea em um túnel

A implantação de um túnel é de longe o trabalho de levantamento subterrâneo mais espetacular


que existe. O exemplo mais recente desse tipo de trabalho foi a implantação do Túnel da
Mancha, ligando a Inglaterra a França. Nessa obra foram construídas três galerias de mais de 50
km de extensão cada uma, sendo 37 km sob o mar. Em outubro de 1990, os construtores
franceses e ingleses terminaram a escavação dessas galerias encontrando-se na metade do
caminho com um desvio transversal de apenas 36 centímetros, longitudinal de 7 e altimétrico de
6 centímetros, respectivamente.

1.13.8 Levantamento hidrográfico

De acordo com a definição de Hidrografia apresentada anteriormente, um levantamento


hidrográfico consiste nas operações de campo realizadas com a finalidade de estabelecer
plantas, cartas e mapas de bacias hidrográficas e do fundo de lagos, rios e oceanos. Trata-se,
portanto, de uma Mensuração pertinente aos rios, lagos e outros corpos de água. As linhas
costeiras podem ser desenhadas, as superfícies submersas podem ser determinadas, o fluxo das
águas de um rio pode ser estimado e outras informações relativas à navegação, controle de
enchentes e desenvolvimento de projetos de recursos hidrográficos.

1.13.9 Levantamento cadastral

Dá-se o nome de levantamento cadastral ao conjunto de operações de medições e registro de


informações, destinadas a descrição de propriedades (urbanas ou rurais) para o estabelecimento
de documentos geométricos e descritivos. É através do levantamento cadastral que se

56
Conceitos gerais de Geomática

estabelecem os impostos territoriais e que se planeja a ocupação e o uso do solo de uma cidade
ou de uma região. O levantamento cadastral é possivelmente o levantamento topográfico mais
antigo realizado pelo homem. Desde os seus primórdios ele se caracterizou pelo levantamento
planimétrico para a localização das linhas de divisas de propriedades, para a subdivisão de
propriedades, para a determinação de áreas e outros tipos de informações que envolvam
transferências de propriedades. A figura 1.36 mostra um exemplo de operação de campo para
um levantamento cadastral urbano.
No Brasil ainda não existe uma norma técnica específica para o cadastro urbano. Para o cadastro
rural, entretanto, foi promulgada a Lei 10.267/01, que instituiu o Cadastro Nacional de Imóveis
Rurais (CNIR). A partir dela foi regulamentada pelo INCRA a Norma Técnica para
Georreferenciamento de Imóveis Rurais, cujo propósito é orientar os profissionais que atuam na
área de demarcação, medição e georreferenciamento de imóveis rurais visando o atendimento da
lei.
A Lei 10.267/01, em seu Artigo 225 § 3º, exige que nos autos judiciais que versem sobre
imóveis rurais, a localização, os limites e as confrontações sejam obtidos a partir de memorial
descritivo assinado por profissional habilitado e com a devida Anotação de Responsabilidade
Técnica – ART, contendo as coordenadas dos vértices definidores dos limites dos imóveis
rurais, georreferenciadas ao Sistema Geodésico Brasileiro e com a precisão posicional a ser
fixada pelo INCRA, garantida a isenção de custos financeiros aos proprietários de imóveis
rurais cuja somatória de área não exceda a quatro módulos fiscais. De acordo com a Norma
Técnica para Georreferenciamento de Imóveis Rurais O INCRA estabeleceu que a precisão
posicional, relativas a cada vértice definidor do limite do imóvel, não deverá ultrapassar o valor
de 50 cm.

Figura 1.36: Levantamento cadastral.

57
Fundamentos de Geomática

41
1.13.10 Levantamento “as built”

O levantamento “as built” é uma variável do levantamento de detalhes apresentado no item


1.13.3. Trata-se de um levantamento particular uma vez que ele é realizado após a construção de
um projeto de engenharia civil com o objetivo de retratar o estado final da construção. Em geral,
ele é realizado para verificar se a construção foi executada de acordo com as especificações do
projeto, uma vez que as construções podem sofrer alterações durante a execução, seja por
dificuldade técnica ou por opção do projetista e, nestes casos, é importante a atualização do
projeto final.
A NBR 14 166/1998 define este tipo de levantamento como: “levantamento topográfico
específico, integrante do procedimento fiscal de execução de obras na construção civil e
industrial, que, integrado ao mesmo sistema tridimensional de referência espacial adotado no
projeto de uma construção e utilizando instrumentalmente todos os processos adequados ao
rigor exigido pelo procedimento fiscal, realiza o acompanhamento da obra, passo a passo, até
a sua conclusão, determinando no seu desenvolvimento, com a máxima exatidão possível, o
posicionamento espacial das bases de assentamento e dos detalhes específicos da configuração
espacial da construção considerada em relação a pontos notáveis existentes no terreno e/ou às
divisas de imóveis que lhe são adjacentes, escolhidas como amarração da construção, quando
da elaboração do projeto”.
Esta norma adverte:
1. “o posicionamento dos elementos da construção tem como objetivo a verificação
dos seus eixos de locação e de anomalias estruturais quanto a não-conformidades
entre o que foi projetado e o que foi construído, no sentido da tomada oportuna de
providências corretivas, de modo que, ao final da obra, após revisões e
modificações incorporadas ao seu projeto original, possa ser emitido o Certificado
de Conclusão da Obra, permitindo a verificação de sua regularidade, estabilidade,
manutenção, segurança e salubridade, elementos imprescindíveis à sua aprovação
pelo órgão municipal competente
2. se os levantamentos de obra como construída estiverem amarrados à Rede de
Referência Cadastral, e suas peças gráficas e descritivas, constantes no Relatório
Histórico do Acompanhamento Topográfico no Controle de Qualidade da
Construção, forem apresentadas em escala adequada, estas peças podem ser
utilizadas para a atualização da Planta Cadastral do Município”.

41
Termo em Inglês, cujo significado em Português refere-se ao levantamento cadastral de obras recém
construídas para o cadastro do estado em que se encontra a obra, ou seja, levantamento de “como foi
construída”.

58
Conceitos gerais de Geomática

1.13.11 Metrologia industrial

Dá-se o nome de Metrologia Industrial ao conjunto de técnicas da área da metrologia aplicada


às medições de características físicas e dimensionais dos materiais. Entre as áreas de aplicação
dessa metrologia, destaca-se a Metrologia Dimensional, na qual se insere a Topografia
Industrial ou Topografia Técnico-Industrial.
A Metrologia Dimensional é um exemplo típico do uso de técnicas topográficas especiais de
precisão. Ela é aplicada nas situações em que se exige a locação precisa e o monitoramento de
máquinas ou de grupos de máquinas, a locação e monitoramento de tubulações, o nivelamento
de superfícies, o controle da fabricação de peças, etc. A construção de navios, a locação de
turbinas de barragens, o alinhamento e nivelamento de máquinas industriais e tubulações são
exemplos clássicos do uso de técnicas topográficas na área técnico-industrial.
Para alcançar o alto nível de precisão exigido, a Topografia Industrial baseia-se, atualmente, em
sistemas de medições compostos por equipamentos especiais e programas aplicativos baseados,
essencialmente, na determinação e análise de pontos no espaço (metrologia 3D). Os
equipamentos atualmente utilizados na Topografia Industrial são (vide Figura 1.37):
(a) Teodolitos Eletrônicos industriais;
(b) Estações Totais industriais;
(c) Equipamentos de Videogrametria;
(d) Sensores de Nível;
(e) Interferômetros a laser.

Os Teodolitos Eletrônicos utilizados neste caso são equipamentos especiais, autocolimadores de


alta precisão, com precisão para medir 0,1mm/10m. As Estações Totais, normalmente são
motorizadas e com reconhecimento automático de prismas e possuem precisão da ordem de 1
mm, na medição de distâncias.
Os sistemas baseados em câmeras digitais possuem precisão da ordem de 0,1mm para uma
distância de 3 a 4 metros. Estes tipos de instrumentos são usados, principalmente, na indústria
automobilística.
Os sensores de níveis são utilizados para medir inclinações em dois eixos, simultaneamente. São
equipamentos com precisão da ordem de 0,001 mrad (mm/m). Eles são aplicados nos trabalhos
de avaliação de ondulação de superfícies, plataformas e perfis, monitoramento de máquinas,
monitoramento de construções e outros.

59
Fundamentos de Geomática

Estação Total Industrial (cortesia Leica Geosystems) Câmaras Digitais (cortesia V-Stars)

Laser Tracker (cortesia Leica Geosystems)

Sensor de Nível (cortesia Leica Geosystems)

Figura 1.37: Equipamentos utilizados pela Topografia Industrial.

Para o uso dos instrumentos indicados acima existem vários programas aplicativos. Estes
programas são usados para a administração da base de dados dos pontos medidos e para a
análise geométrica desses dados. De maneira geral eles são:
a) Baseados em triangulações espaciais (através de Teodolitos);
b) Baseados em localização polar (através de Estações Totais);
c) Baseados em localização polar por Laser Tracker.
d) Baseados em localização através de técnicas fotogramétricas.

Além de gerenciar o processo de medição, os programas aplicativos, normalmente, possuem


módulos para o gerenciamento dos dados medidos e funções CAD para a representação gráfica
da medição ou para comparar os valores medidos com os valores de projeto.
Existe uma infinidade de aplicações para a Topografia Industrial. Entre elas podemos citar:

60
Conceitos gerais de Geomática

a) A determinação de formas e posições;


b) As montagens de peças de grandes dimensões;
c) A digitalização de peças;
d) A medição de movimentos

A Topografia Industrial tomou impulso nos últimos anos e o seu crescimento tem sido
gigantesco. Depois da tecnologia GNSS é a área da Mensuração que mais evoluiu. Isso se deve,
em parte, ao aparecimento de equipamentos de alto desempenho e, principalmente, devido a
necessidade de aumentar a eficiência na produção industrial em geral. Trata-se, evidentemente,
de uma área bastante restrita, que exige equipamentos caros e técnicos especializados. A Figura
1.38 exibe uma série de imagens de aplicações da Metrologia Industrial em vários ramos da
construção mecânica.

61
Fundamentos de Geomática

Determinação de formas e posições.

Medição de deslocamentos. Digitalização de peças.

Montagens de peças de grandes dimensões.

Figura 1.38: Aplicações da Topografia Industrial.

62
Conceitos Básicos

2. CONCEITOS BÁSICOS

2.1 UNIDADES DE MEDIDAS


Medir uma determinada grandeza consiste em compará-la com uma outra de mesma espécie e
verificar quantas vezes ela é maior ou menor do que a grandeza tomada como referência. A
grandeza tomada como referência é denominada unidade de medida.
No ano de 1960, aconteceu em Paris a 11ª Conferência Geral de Pesos e Medidas (CGPM) e por
intermédio de sua Resolução 12, adotou o Sistema Internacional de Unidades (SI) para ser um
sistema prático de unidades de medidas e indicou o seu uso para todos os países. O Brasil
adotou o SI como sistema oficial de medidas em 1962. O Instituto Nacional de Metrologia,
Normalização e Qualidade Industrial (INMETRO) é o órgão oficial nacional responsável pela
publicação e fiscalização da aplicação deste sistema.
O Sistema Internacional – SI está concebido de uma maneira rigorosamente científica. Ele é
composto por sete unidades de base que o identificam e que foram escolhidas para que se possa,
em princípio, medir todas as grandezas físicas conhecidas atualmente. Uma propriedade
importante do Sistema Internacional é a sua coerência. As suas unidades derivadas formam-se
sempre a partir de uma combinação das unidades de base e não exigem a utilização de nenhum
fator de conversão. O sistema está baseado em três classes de unidades:

1. As unidades de base, que são sete unidades bem definidas e consideradas


independentes do ponto de vista dimensional. São elas:
¾ O metro;
¾ O quilograma;
¾ O segundo;
¾ O ampére;
¾ O kelvin;
¾ O mole, e
¾ A candela.

2. As unidades derivadas, que podem ser formadas a partir da combinação das


unidades de base, através de relações algébricas entre as grandezas
correspondentes e que podem ser substituídas por nomes e símbolos
especiais.
3. As unidades suplementares que contém algumas unidades especiais.

63
Fundamentos de Geomática

A seguir apresentamos uma breve descrição sobre as unidades de medidas do Sistema


Internacional – SI utilizadas na Geomática.

2.1.1 Medição de natureza linear (comprimento)

A Geomática utiliza como unidade de comprimento a unidade de base do Sistema Internacional


denominada metro (símbolo m) e suas derivadas, como indicadas na Tabela 2.1.
Tabela 2.1: Unidades de medidas lineares.
Relação Prefixo – Nome Símbolo
3
1000 m = 10 m quilo - quilômetro 1 km
2
100 m = 10 m hecto - hectômetro 1 hm
1
10 m = 10 m deca - decâmetro 1 dam
-1
0,1 m = 10 m deci - decímetro 1 dm
-2
0,01 m = 10 m centi - centímetro 1 cm
-3
0,001 m = 10 m mili - milímetro 1 mm
0,001 mm = 10 m -6
micro - mícron 1 µm
0,001 µm = 10 m -9
nano - nanômetro 1 ηm

A unidade metro, originalmente, foi definida como sendo igual ao comprimento da décima
milionésima parte de um quarto de meridiano terrestre. A Resolução 6 da 11ª da Conferência
Geral dos Pesos e das Medidas (CGPM), de 1960, adotou a seguinte definição para a unidade
metro:

“A unidade de base 1 metro é o comprimento do trajeto percorrido pela luz, no


vácuo, durante 1/299 792,458 segundos.”

2.1.2 Medição de natureza angular

A Goniologia é definida com sendo a parte da matemática que estuda os ângulos. Ela divide-se
em Goniometria e Goniografia. A Goniometria se preocupa com o estudo dos métodos,
aparelhos e instrumentos utilizados na medição dos ângulos, enquanto que a Goniografia se
preocupa com o estudo da descrição dos métodos.
Para o caso de medições angulares planas, existem três unidades de medidas definidas pelo
Sistema Internacional de Unidades - SI: o Radiano, o Grau e o Grado.
A unidade angular oficial do Sistema Internacional de Unidades – SI é o Radiano. Aceita-se,
contudo, o uso das unidades suplementares grau e grado. No Brasil, a unidade adotada é o grau
sexagesimal, na qual a circunferência é dividida em 360 partes iguais, sendo cada parte
equivalente a 1º (um grau). Cada grau é dividido em 60 partes iguais, onde cada parte
64
Conceitos Básicos

corresponde a um ângulo de l' (um minuto). Cada minuto é dividido em 60 partes iguais, sendo
que cada parte corresponde a um ângulo de 1" (um segundo). Assim, por definição:

O valor 1 grau sexagesimal equivale ao ângulo central que intercepta


sobre uma circunferência um arco de comprimento igual a 1/360 dessa
circunferência.

A unidade grau sexagesimal embora não seja uma unidade derivada oficial do sistema SI, é a
unidade mais usada mundialmente. Esse uso extensivo deve-se certamente a antiguidade dessa
unidade. Ela já era conhecida por muitos povos da antiguidade, entre os quais podemos citar os
caldeus, os egípcios, os persas e os chineses, entre outros.
Na unidade grau sexagesimal, indica-se os graus,
minutos e segundos, respectivamente, com um
zero superescrito para os graus, um acento agudo
para os minutos e aspas para os segundos,
colocados na parte superior direita do número
correspondente. Assim: 1350 26′ 42′′ , lê-se: 135
graus, 26 minutos e 42 segundos.

Figura 2.1: Representação dos 4 quadrantes


principais da unidade angular sexagesimal sobre a
circunferência42.

A unidade angular radiano (símbolo rad) é definida como segue:

O radiano é o ângulo central que intercepta sobre uma circunferência de 1


m de raio, um arco de 1 m de comprimento. Em outras palavras, é o ângulo
central que corresponde a um arco de comprimento igual ao raio.

42
Notar o sentido de contagem dos ângulos. Na Mensuração, ele é contado no sentido horário. Contrário ao círculo
trigonométrico matemático.

65
Fundamentos de Geomática

Uma circunferência completa possui um ângulo


equivalente a 2π rad (6,2832 rad), onde um
radiano corresponde a um ângulo de
57 0 17′ 44,81′′ . O ângulo reto equivale a
π 2 rad.

Figura 2.2: Representação dos 4 quadrantes


principais da unidade angular radiano sobre a
circunferência.

Como a ângulo plano exprime a relação entre dois comprimentos, a unidade radiano é uma
unidade sem dimensão. Embora ela seja uma unidade importante para a engenharia, ela é pouco
usada para representar valores angulares. O seu uso restringe-se aos cálculos matemáticos.

A unidade grado é uma unidade decimal usada


em muitos países devido a sua facilidade de
cálculo. Neste caso a circunferência é dividida em
400 partes iguais, cada parte equivale a um
ângulo de 1g (um grado). Cada grado é dividido
em 100 partes iguais - cada parte equivale a um
ângulo de 1 centígrado ou 1 minuto centesimal.
Cada centígrado ou cada minuto centesimal é
dividido em 100 partes iguais, onde cada parte
equivale a um ângulo de 1 miligrado ou 1
segundo centesimal.

Figura 2.3: Representação dos 4 quadrantes


principais da unidade angular grado sobre a
circunferência.

Podemos indicar os grados de duas maneiras: a primeira com a letra minúscula g após a parte
inteira procedida das casas decimais. Assim: 135g3542 corresponde a 135 grados, 35
centígrados e 42 miligrados, ou em analogia com a unidade grau sexagesimal, pode-se ler: 135
grados, 35 minutos centesimais e 42 segundos centesimais. Uma segunda maneira de indicação
dos grados é escrever a parte inteira seguida de vírgula e procedida da parte decimal, ou seja:
135,3542g que corresponde a mesma forma da leitura do modo anterior. Por definição.

O valor 1 grado equivale ao ângulo central que intercepta sobre uma


circunferência um arco de comprimento igual a 1/400 dessa circunferência.

66
Conceitos Básicos

Mais recentemente, com o aparecimento das calculadoras de bolso, tem-se utilizado


também uma outra unidade de medida angular denominada grau decimal, a qual divide
a circunferência em 60 graus sexagesimais, porém, subdivide o grau em valores
decimais. Assim, 450 30′ 45′′ seria indicado como 45,51250 .

2.1.2.1 A conversão de ângulos

Em muitos casos é necessário converter os valores angulares de uma unidade para outra, como
por exemplo,

Graus ⇒ Grados
Radianos ⇒ Grau
Radianos ⇒ Grado
Graus ⇒ Graus Decimais

Esse tipo de conversão é uma operação muito simples, principalmente a conversão de graus
para grados e vice-versa. Para as conversões desse tipo pode-se aplicar as seguintes regras:

Para a conversão de graus em grados basta dividir o ângulo que


está em graus por 0,9 para obtê-lo em grados.

α ( g ) = α 0,9
0

Para a conversão de grados em graus basta multiplicar o ângulo


que está em grados por 0,9 para obtê-lo em graus.

α 0 = 0,9 * α ( g )

A conversão de radianos em graus ou em grados é dada por:

2 πrad = 360 0 2 πrad = 400 g

180 0 200 g
1 rad = = 57 0 17′ 44,8′′ 1rad = = 63,661977 g
π π

α rad = 57,295780 * α α rad = 63,661977 g * α

67
Fundamentos de Geomática

Usualmente o ângulo 1rad, quando expresso em uma outra unidade angular, é designado pela
letra grega ρ . Assim,


g
57,295780o = ρo 63,661977 g

c
1 rad = 3537,7468′ = ρ′ 1 rad = 6366,1977c

cc
206264,81′′ = ρ ′′ 636619,77 cc

g c cc
57o 17′ 44,81′′ = ρo ' " 63 g 66c 20cc

Dessa forma, para converter um ângulo dado em radianos, basta multiplicar o seu valor pelo
valor correspondente de ρ na unidade de conversão e para converter um ângulo para a unidade
radiano, basta dividi-lo pelo valor de ρ correspondente na unidade de conversão.
A conversão de graus sexagesimais em graus decimais e vice-versa é dada por:

Para a conversão de graus sexagesimais em graus decimais basta multiplicar os


minutos e segundos sexagesimais por 10/6 para obtê-los em minutos decimais. O
valor do grau mantém-se inalterado.

Para a conversão de graus decimais em graus sexagesimais basta dividir os


minutos decimais por 10/6 para obtê-los em minutos e segundos sexagesimais. O
valor do grau mantém-se inalterado.

Exemplo aplicativo (2.1)

Execute as seguintes transformações entre os sistemas de unidades angulares:

a. 320 22′ 45′′ para a unidade angular grado

α g = 0,9 * 32,37916667 0
α g = 29 g 14125

b. 103g 6397 para a unidade angular sexagesimal

68
Conceitos Básicos

103g 6397
α0 =
0,9
α 0 = 115,15522220
α 0 = 1150 09′ 18,799′′

c. 127 0 18′ 54′′ para a unidade angular radiano

127,315
rad = *π
180

rad = 0,707305555π

d. 0,8763π rad para unidade angular sexagesimal

0,8763 * 180
α0 =
π

α 0 = 50,208291590
α 0 = 500 12′ 13′′

2.1.3 Medida de natureza de superfície

Para a medida de superfície, as unidades adotadas na Geomática são as unidades derivadas e


suplementares indicadas abaixo:

2
1 centiare (ca) 1 m (quadrado de 1 X 1 m)
2
1 are (a) 100 m (quadrado de 10 X 10 m)
2
1 hectare (ha) 10 000 m (quadrado de 100 X 100 m

As unidades are e hectare não são unidades do Sistema Internacional. O sistema, porém,
autoriza a sua utilização como unidades especiais. No Brasil utiliza-se também a unidade de
superfície denominada alqueire (1 alqueire paulista equivale a 24 200m2)43, que embora não
seja oficial é aceita oficiosamente pelos órgãos governamentais brasileiros. Ela varia inclusive
de um Estado a outro do Brasil. Além do alqueire e das unidades indicadas acima, algumas
regiões de nosso país ainda utilizam algumas unidades de superfície antigas. Estas unidades,

43
No Brasil utiliza-se também o alqueire mineiro (equivalente a 48 400 m2) e o alqueire baiano (equivalente a
96 800 m2).

69
Fundamentos de Geomática

embora haja muito tempo em desuso, ainda podem ser encontradas em documentos de escrituras
de sítios e fazendas.

2.2 ALGARISMOS SIGNIFICATIVOS

Em nossas tarefas diárias executamos os mais diversos tipos de medições. A questão a ser
resolvida após as medições é o formato do registro dos dados, ou seja, quantos algarismos
iremos utilizar para representar a grandeza medida, por exemplo, vide a Figura 2.4.

Considere o caso onde se deseja conhecer


o comprimento de um determinado objeto.
Para tanto, foi tomada uma régua para
medi-lo. Numa primeira leitura é
facilmente definido que tal objeto tem um
comprimento aproximado de 10,6
unidades de medida. A indefinição é
quanto ao último algarismo a ser definido
para descrever o comprimento preciso do
objeto.

Figura 2.4: Definição dos algarismos


significativos de uma medida.

A definição do comprimento preciso necessita da definição dos algarismos significativos que


irão definir o comprimento deste objeto. Os algarismos significativos são aqueles que atribuem
um significado físico concreto ao ente em análise. Este significado físico é função da precisão
do instrumento utilizado na medição, da experiência e da habilidade do operador e da definição
dos algarismos exatos e os algarismos duvidosos definidos pelo operador da medição.
No caso da Figura 2.4, o instrumento utilizado garante ao operador a leitura exata do número
10,6 deixando a dúvida quanto à definição (algarismo duvidoso) do último algarismo definidor
da medição. Neste caso, o operador pode apresentar dúvidas quanto aos algarismos 5, 6 ou 7.
Este último algarismo precisa ser definido para dar números finais ao comprimento do objeto e
consequentemente decidirmos quanto aos algarismos significativos da grandeza medida. Sempre
que apresentamos o resultado de uma medição, este será representado pelos algarismos
significativos.

O número de algarismos significativos é dado pela soma do número de


algarismos corretos mais o algarismo duvidoso obtido por estimativa do
operador.

Vejamos alguns exemplos de algarismos significativos:


70
Conceitos Básicos

Medida Algarismos significativos


4,327 4
32, 456233 8
22,045 5
6 378, 160 7
7 325 973 7
-4 390 246,457 10
2
2,2050 * 10 5
1, 0052 5
0,45298 5
0,000249 3
40,00 4
0,020 2

O número de algarismos significativos é normalmente confundido com o número de casas


decimais do valor de uma medida. As casas decimais de um número podem ser usadas para
manter o número de algarismos significativos, mas não indicam o número de algarismos
significativos.
A definição do número de algarismos significativos pode ser realizada através dos seguintes
critérios:
1. A presença de zeros entre algarismos significativos deve ser contabilizada como
algarismos significativos, como por exemplo: o valor de uma distância igual 12,03
metros possui 4 algarismos significativos.
2. Em valores inferiores a unidade, a presença de zeros à direita da representação
decimal não deve ser contabilizada como algarismos significativos, como por
exemplo: a medida do tempo de 0,000345 segundos possui apenas três algarismos
significativos.
3. A presença de zeros no final de um número decimal dever ser contabilizado como
algarismos significativos, como por exemplo: o valor de um ângulo em graus
decimais igual a 123,4570° possui sete algarismos significativos.

O número de algarismos significativos obtidos a partir de uma medição


está diretamente ligado à precisão ou o refinamento aplicado na
operação de mensuração. De forma a ser consistente com a Teoria dos
Erros é essencial que os valores obtidos para as medidas sejam
devidamente registrados com os correspondentes algarismos
significativos.

71
Fundamentos de Geomática

Para ilustrar a observação acima, deve-se atentar ao fato de que ao se realizar uma medição o
operador deve tomar o devido cuidado no registro do valor da medida. Seja o caso em que foi
medida a massa de um saco de areia e foi registrado o valor de 25450 gramas. Observa-se que
esta informação foi registrada considerando 5 algarismos significativos. O operador deve
atentar-se que uma simples mudança de unidade desta medida não pode alterar o número de
algarismos significativos. Para tanto, deve-se lançar mão das potências de base dez. Para o caso
em questão, o operador poderia anotar o valor da medida como sendo igual a 25,45 * 10 3
gramas ou 25,450 kg, mantendo-se desta forma o mesmo número de algarismos significativos.
Ainda ilustrando o caso anterior, considere que foi tomada a medida de uma mesa como sendo
igual a 1,8 metros, medida esta que possui dois algarismos significativos; o operador deverá ter
muito cuidado em transferir esta informação, uma vez que ele não poderá informar a outros o
comprimento desta mesa como sendo igual a 180 cm ou 1800 mm, pois estaria desta forma
alterando o número de algarismos significativos da medida para três e quatro, respectivamente.
Uma questão de grande importância neste ponto é quanto arredondamento dos números quando
da realização de operações com algarismos significativos. A operação correta com algarismos
significativos exige o conhecimento da Teoria dos Erros. No entanto, algumas regras bem
simples podem auxiliar aos operadores de modo a evitar o exagero no uso de casas decimais que
muitas vezes representam uma precisão que não corresponde com a realidade. Vejamos alguns
casos que podem auxiliar na busca de um resultado que melhor represente o valor da medida
desejada.

Adição e Subtração
Uma regra prática para as operações de adição e subtração é executá-la considerando apenas o
menor número de casas decimais presente dentre os números da operação, ignorando assim, as
casas decimais superiores. Vejamos o seguinte exemplo:

Percebe-se no exemplo que existe uma diferença de resultados quanto ao número de algarismos
significativos e consequentemente na precisão do resultado. Quando se realiza este tipo de
cálculo numa calculadora, esta “desconhece” a precisão das medidas informadas e o resultado é
função dos números de casas decimais definidas pelo operador. Durante a operação, a
calculadora preencherá com “zeros” onde faltarem algarismos e fará arredondamentos onde for

72
Conceitos Básicos

necessário. Isto resulta em pequenas diferenças em relação às operações realizadas “a mão” com
o emprego da regra prática.
No caso do exemplo anterior, o número de casas decimais foi considerado como sendo aquele
dado pela capacidade da calculadora e o resultado obtido foi 37,6943 unidades de medida. Caso
o operador venha a fixar o número de casas decimais igual a 2, o resultado oferecido pela
calculadora seria 37,70 e se fosse igual a 3 o resultado seria 37,694 unidades de medida.
Portanto, é de grande importância que o operador esteja sempre atento quanto ao número de
algarismos significativos das medidas envolvidas para que se obtenha um resultado que
expresse a melhor precisão das medidas.
Na subtração, considere o seguinte exemplo:

É importante que o operador esteja sempre atento quanto ao número de


algarismos significativos das medidas envolvidas para que se obtenha
um resultado que expresse a melhor precisão das medidas.

De modo a evitar grandes conflitos de resultados, sugerimos aos usuários que realizem todas as
operações matemáticas considerando todas as casas decimais das medidas envolvidas e
executem os devidos arredondamentos somente na apresentação do resultado final (tomando em
conta o menor número de casas decimais). Para isso, os usuários muitas vezes terão a
necessidade de abandonarem algarismos significativos da medida final no arredondamento.
Nestes casos, indicamos que os usuários sigam as seguintes recomendações:

Ao se abandonar algarismos em um número, o último algarismo


mantido será acrescido de uma unidade se o primeiro algarismo a ser
abandonado for superior a 5; quando o primeiro algarismo abandonado
for inferior a 5, permanece invariável, e quando o primeiro algarismo
abandonado for exatamente igual a cinco, é indiferente acrescentar ou
não uma unidade ao último algarismo mantido.

Do exemplo da adição, temos:

73
Fundamentos de Geomática

Do exemplo da subtração, temos:

Exemplo aplicativo (2.2)


Calcule o volume de um cilindro, sabendo-se que seu diâmetro interno é igual a 1,94 metros e
sua altura é igual a 8,348 metros.
Sabendo-se que o volume de um cilindro pode ser estimado pela expressão:
⎛ π * D2 ⎞
V = ⎜⎜ ⎟*H

⎝ 4 ⎠
Onde: V = Volume do cilindro;
π = 3,141592654 ;
D = Diâmetro interno do cilindro;
H = Altura do cilindro.
Substituindo os valores dados na expressão temos:
⎛ 3,141592654 * 1,942 ⎞
V = ⎜⎜ ⎟ * 8,348

⎝ 4 ⎠
V = 24,67605795 m3
74
Conceitos Básicos

V = 24,68 m3

Multiplicação e Divisão

Seja o caso onde se deseja executar a seguinte operação de multiplicação: 5,284 * 2,9 = ?

Chamamos a atenção que antes de se efetuar as operações matemáticas desejadas, o usuário


deve observar os números em questão e as casas decimais envolvidas. O arredondamento deve
ser realizado somente no final para apresentação do resultado. No exemplo apresentado,
primeiramente foi observado que o número de casas decimais que prevaleceu na análise final
para apresentação do resultado foi dado pelo número 2,9 (uma casa decimal).
Para a execução de operações de divisão, aplicam-se os mesmos critérios apresentados para a
multiplicação. Seja o seguinte exemplo:

No resultado final da operação de divisão prevaleceu o número de casas decimais do


número 56,3.

75
Fundamentos de Geomática

Nunca realize arredondamentos nas fases intermediárias de operações


matemáticas. Durante os cálculos sempre considere todas as casas
decimais envolvidas e faça o arredondamento somente para
apresentação do resultado final, segundo a(s) regra(s) apropriada(s).

Vejamos o seguinte exemplo da soma de algumas medições:


2742 ,844
13,8
298,198
1403

4457 ,842 resultado da calculadora

??? resultado final para


apresentação

Perguntamos: qual o resultado final da soma? Qual a sua forma de representação final?
Ao utilizarmos uma calculadora, temos como resultado 4457,8431. Porém, ao
observarmos as casas decimais dos números envolvidos, notamos que existe uma
medição inteira, ou seja, a medição 1403 não apresenta casas decimais e esta notação
deve ser preservada para a apresentação final do resultado. Neste caso, temos que
realizar os arredondamentos necessários, segundo as regras apresentadas, e obtemos
como resultado final para apresentação do somatório o valor 4458.
Neste exemplo, o usuário deveria estar atento na anotação das medições, de forma que
as mesmas tivessem o mesmo número de casas decimais para designar a mesma
precisão. Como dissemos anteriormente, as calculadoras desconhecem a precisão das
medidas e completam com zeros os algarismos faltosos. Tomando o exemplo anterior
teríamos:
2742 ,844
13,800
298,198
1403,000

4457 ,842 resultado da calculadora

76
Conceitos Básicos

4457,842 resultado final para


apresentação

Potência

As operações matemáticas que envolvem relações de potenciação devem seguir os


seguintes critérios:

se “k” é o valor do primeiro algarismo significativo de um número


qualquer que tenha “n” algarismos significativos e seja “p” a
potência considerada, então considere:

n − 1 algarismos significativos se p ≤ k
senão
n − 2 algarismos significativos se p ≤ 10k

Seja o seguinte exemplo: qual o resultado da seguinte potência 0,3862 4 ?. Neste caso,
k = 3 , n = 4 e p = 4 . Observando os critérios apresentados acima, vemos que devemos
seguir o segundo critério e o resultado final será dado com dois algarismos
significativos, pois p ≤ 30 .

0,3862 4 = 0 ,02224585375 resultado obtido


pela calculadora

0,022 resultado obtido


a partir da consideração
do segundo critério

Raízes

Seja “r” o índice de uma raiz de um número que tenha “n” algarismos significativos e
“k” o primeiro algarismo significativo deste número, então:
n algarismos significativos se rk ≥ 10
senão

77
Fundamentos de Geomática

n − 1 algarismos significativos se rk < 10

Vejamos os seguintes exemplos:


(36) = 6 onde r = 2 , k = 2 , e rk = 4 < 10
4
615 = 5,00 onde r = 4 , k = 6 , e rk = 24 > 10
5
32768 = 8,0000 onde r = 5 , k = 3 e rk = 15 > 10

2.3 ESCALAS
Após a execução das medições no terreno e as conseqüentes reduções das medidas ao plano
horizontal, o objetivo do trabalho topográfico é transferir todas as informações coletadas para
forma gráfica. É intuitivo afirmar que não se pode transferir diretamente para uma planta todos
os valores de medidas obtidas no campo. Para tanto, torna-se necessário lançar mão do conceito
de escala.
Uma escala é definida como sendo a relação constante entre o tamanho de uma imagem (i) e o
tamanho real do objeto que está sendo representado (o). Ou seja,

i
E= (2.1)
o

Diz-se assim que a escala é, por exemplo, igual a 1:1 000 ou 1/1 000. Ela é representada por
uma fração do tipo 1/M, onde M é denominado módulo da escala e é, normalmente, um
múltiplo de 10. O módulo da escala pode variar entre 10 e 10 000 000, podendo atingir valores
maiores, de acordo com a natureza e finalidade do desenho.
Diz-se que uma escala é pequena quando o valor de M é grande e vice-versa. Assim, a escala
igual a 1:50 000 é uma escala pequena e a escala igual a 1:1 000 é uma escala grande. Da
relação acima, podemos fazer a seguinte operação:

1 i
E= = (2.2)
M o
de onde,

o = i*M (2.3)

A expressão (2.3) permite estimar o valor da dimensão de um objeto a partir do conhecimento


da escala da sua representação gráfica e da sua respectiva medida na representação gráfica.
78
Conceitos Básicos

Exemplo aplicativo (2.2)


Mediu-se no desenho, na escala 1/100 000 o comprimento de uma pista de aeroporto obtendo-
se 3 centímetros. Pergunta-se: qual o comprimento no terreno desta pista?

E = 1 100 000
i = 3 cm

i 1
E= ⇒ o = i*
o E

o = 0,03 * 1 100 000

o = 3 000 m

Exemplo aplicativo (2.3)

Seja uma distância medida no terreno igual a 453,279 metros. Considere que se deseja desenhar
este alinhamento na escala 1/2 000. Pergunta-se: qual é o comprimento, no desenho, que
representa a distância medida?

E = 1 2 000
o = 453,279m

i
E= ⇒ i = E *o
o

1
i= * 453,279
2 000

i = 0,227 m ⇒ i = 22,7 cm

O conceito de escala pode ser aplicado nas medições de áreas e volumes. O usuário deve prestar
muita atenção que estas grandezas são, respectivamente, funções quadráticas e cúbicas. Então,
pode-se estabelecer as seguintes relações:

79
Fundamentos de Geomática

2
A ⎛ 1 ⎞
E = i =⎜ ⎟ Áreas
Ao ⎝ M ⎠
(2.4)
3
Vi ⎛ 1 ⎞
E= =⎜ ⎟ Volumes
Vo ⎝ M ⎠

Exemplo aplicativo (2.4)


Numa planta na escala 1/500 foi medida uma área de 275 cm 2 . Pergunta-se: qual o valor desta
área no terreno?

E = 1 500
Ai = 0,0275 m

Ai 1
E= ⇒ Ao = * Ai ⇒ Ao = M 2 * Ai
Ao E

Ao = 5002 * (0,0275)
Ao = 6875 m 2 ⇒ Ao = 0,675 ha

Aqui cabe salientar os diferentes termos usados na Geomática para indicar uma representação
gráfica. Existem três termos usados comumente, os quais descrevemos a seguir:

Mapa Nome dado à representação gráfica de uma superfície que compreende uma
região geográfica político-administrativa bem definida tal como, um país, um
estado ou um município. Diz-se ainda um Mapa Mundi;
Carta Nome dado à representação gráfica parcelada de um mapa, como por
exemplo, as cartas do IBGE que estão na escala 1:50 000;
Planta Nome dado à representação gráfica de áreas parceladas de uma carta tais
como, chácaras, sítios, fazendas, jazidas minerais, obras civis (estradas,
edifícios, barragens, túneis) e outros.

É importante salientar que não existem normas rígidas para a escolha da escala a ser adotada
para uma determinada representação gráfica. Ao engenheiro compete a sua determinação de
acordo com a natureza do seu trabalho. Existem, contudo, alguns parâmetros que devem ser
considerados antes de se estabelecer a escala a ser utilizada. São eles:
80
Conceitos Básicos

ª A extensão da área a ser representada graficamente;


ª A extensão da área a ser representada, comparada com as especificações do
desenho, tais como, tamanho da folha e tipo de representação (planimétrica ou
planialtimétrica, por exemplo);
ª A natureza e número de detalhes a serem representados.
ª Da precisão gráfica o qual o desenho dever ser elaborado.

Para a elaboração de uma representação gráfica existem algumas normas técnicas elaboradas
pela ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas, que devem ser consideradas pelo
usuário. Entre elas cita-se: a NB-8/1969, a NBR 819644, a NBR 840245, a NBR 840346, a NBR
1006847, a NBR 1012648, a NBR 1058249 e a NBR 1064750. A Tabela 2.2 apresenta um resumo
das recomendações da norma NBR 10068:
Tabela 2.2: Dimensões do papel para uma representação gráfica.
Formato do Linha de corte Margem
papel Y [m] X [mm] [mm]
A0 841 X 1189 10
A1 594 X 841 10
A2 420 X 594 10
A3 297 X 420 10
A4 210 X 297 5
FONTE: NBR 10068

São aceitas composições entre


esses valores. A Figura 2.4
apresenta as subdivisões das
folhas a partir da Folha A0.

44
NBR 8196: “Emprega de escalas em desenho técnico – procedimento.”
45
NBR 8402: “Execução de caracteres para escrita em desenho técnico – procedimento.”
46
NBR 8403: “Aplicação de linhas em desenhos – tipos de linhas – larguras das linhas – procedimento.”
47
NBR 10068: “Folha de desenho, layout e dimensões.”
48
NBR 10126: “Cotagem em desenho técnico – procedimento.”
49
NBR 10582: “Apresentação da folha para desenho técnico - procedimento.”
50
NBR 10647: “Desenho técnico – norma geral – terminologia.”

81
Fundamentos de Geomática

Figura 2.4: Sub-divisões das folhas


de desenho a partir da folha A0.

2.4 RESOLUÇÃO GRÁFICA

Denomina-se resolução gráfica de uma escala a menor grandeza susceptível de ser representada
num desenho, através desta escala. No passado podiam-se tecer vários comentários sobre esse
assunto. Atualmente, entretanto, com o advento e o uso extensivo dos sistemas CAD, ele já não
possui a mesma importância do passado. Os sistemas CAD, em geral, operam sem a
necessidade da indicação de nenhuma escala. Através do uso das funções de Zoom, o usuário
pode variar a escala do desenho na tela do computador e representar graficamente qualquer
detalhe que deseje. A resolução gráfica passa então a ter apenas uma importância relativa para
os casos em que o usuário necessita plotar51 o seu desenho. Mesmo assim, uma plotagem,
atualmente, tem apenas a função de criar um documento para discussões técnicas. Todos os
projetos são realizados tomando por base a representação gráfica, no sistema CAD. Mesmo
assim, como orientação técnica, apresentamos a seguir alguns comentários sobre a resolução
gráfica na plotagem de um desenho.
As normas de desenho aceitam como sendo 1/5 de milímetros (0,0002 m) a menor grandeza
gráfica possível de ser apreciada a olho nu, denominada de erro de graficismo52. Deste modo,
conhecendo a escala do desenho, pode-se calcular a menor dimensão possível de ser
representada.

d = 0,0002 * M (2.4)

Como exemplo, nas escalas 1:100, 1:2 000 e 1:5 000, as menores dimensões possíveis de serem
representadas são as seguintes:

d1 = 0,0002 * 1 000 = 0,10 m = 20 cm


d2 = 0,0002 * 2 000 = 0,20 m = 40 cm
d3 = 0,0002 * 5 000 = 0,40 m = 100 cm

Assim, em princípio, nenhum elemento gráfico com dimensão menor do que os valores
indicados acima poderão ser representados nas respectivas escalas. É claro que esses valores são
apenas ilustrativos. Para estabelecer com maior precisão o que pode ou não pode ser

51
A palavra plotar advém da palavra inglesa “plot” e significa posicionar. Mais recentemente, porém, ela passou a ter
um significado mais amplo, no meio técnico, e pode também significar imprimir um desenho a partir de um
equipamento denominado plotter.
52
NBR 13 133/1994: “erro máximo na elaboração de desenho topográfico para lançamento de pontos e traçados de
linhas, com o valor de 0,2 mm, que equivale a duas vezes a acuidade visual.”
82
Conceitos Básicos

representado seria necessário considerar também a espessura do traço com a qual se vai plotar
cada elemento gráfico e o tipo de elemento.

2.5 NOTAÇÕES E SÍMBOLOS PARA AS GRANDEZAS MAIS UTILIZADAS NA


GEOMÁTICA

Para garantir clareza e sistematização nos trabalhos de Geomática é útil definir certas regras e
símbolos para a notação53 dos elementos e das grandezas freqüentemente utilizadas na
Geomática. Infelizmente, não existe uma regra universal para este assunto e por isso as notações
e os símbolos variam bastante entre diferentes escolas. O usuário deve, entretanto, manter
sempre uma coerência nas suas notações e não repetir o mesmo símbolo para grandezas
diferentes. Nunca usar uma notação sem defini-la adequadamente. Para auxiliar na escolha das
notações e dos símbolos, propomos a utilização das regras apresentadas a seguir.
Ö Os pontos devem ser designados por letras maiúsculas;
Ö Os comprimentos e as distâncias devem ser designados por letras minúsculas ou
maiúsculas;
Ö Os ângulos devem ser designados por letras gregas.

As designações poderão possuir um índice.


Se indicarem um ponto Î índice simples de indicação de ponto;

Se indicarem um lado Î índice duplo indicando as duas extremidades.

A Figura 2.5 ilustra a aplicação desta simbologia proposta.

Figura 2.5: Simbologia de notações topográficas.

53
De acordo com o dicionário Aurélio – Notação é o mesmo que sistema de representação ou designação
convencional.

83
Fundamentos de Geomática

2.5.1 Notações para pontos

Pontos Notação Índice


Pontos de coordenadas conhecidas A, B, C , D Λ . Ai , Bi , Λ .
Ponto novo (a determinar) P Pi
Ponto qualquer P, Q, R , S , Λ . Pi , Qi , Ri , Si ,Λ
Ponto de estação do instrumento P, S Pi , S i
Ponto visado qualquer Q Qi

2.5.2 Notações para coordenadas

Notação Índice
Latitude Φ Φi
Coordenadas Astronômica
Longitude Λ Λi
Latitude ϕ ϕi
Coordenadas Geodésicas
Longitude λ λi

Coordenadas Plano-retangulares
Coordenadas oficiais - UTM E, N Ei , N i
Coordenadas locais X,Y X i , Yi

84
Conceitos Básicos

2.5.3 Notações para comprimentos e distâncias

Comprimentos e distâncias Notação Índice


Distância no plano de projeção ou d d PQ
distância plana
Distância horizontal d ou DH d PQ ou DH PQ

Distância esférica (o índice indica


a qual nível se refere a distância –
índice zero indica nível do mar e
LP Λ LQ Λ Lm Λ L0 LPQ Λ LQP Λ (Lm )PQ Λ Ld 0 ( )PQ
índice m indica nível médio entre
P e Q)
Distância inclinada L′ ′
LPQ

Distância vertical DV DVPQ

Comprimento de uma base b bPQ

Excentricidade e ePQ
Raio da Terra R --

2.5.4 Notações para altimetria e nivelamento

Altimetria e Nivelamento Notação Índice


Altitude ortométrica de um ponto H H P , HQ

Altura elipsoidal de um ponto h hP , hQ

Diferença de nível entre dois pontos ∆H , ∆h ∆H PQ , ∆hPQ

Nivelamento geométrico
Leitura ré Lr Lri
Leitura vante Lv Lvi
Nivelamento trigonométrico
Altura do instrumento i iP
Altura do prisma no ponto visado z z PQ
Coeficiente de refração k
-

85
Fundamentos de Geomática

2.5.5 Notações para ângulos e direções

Ângulos e direções Notação Índice


Ângulo qualquer α, β, γ αI , βI , γ
Direção horizontal α, β, γ αI , βI , γ
Ângulo de altura α α PQ
Ângulo zenital ζ ζ PQ
Ângulo nadiral η η PQ
Ângulo de refração τ τ PQ
Ângulo de orientação ω ω PQ
Azimute ϕ , φ , Az ϕ PQ , φPQ , ( Az )PQ

86
Sistemas de coordenadas

3. SISTEMAS DE COORDENADAS

3.1 SISTEMAS DE COORDENADAS

Calcular a posição de um ponto, em Mensuração significa determinar as suas coordenadas. E


determinar as coordenadas de um ponto significa estabelecer a posição desse ponto em relação a
um sistema de coordenadas e uma superfície de referência previamente escolhidos,
estabelecidos de tal forma que todos os pontos tenham uma posição unívoca e atemporal54.
O uso de um sistema de coordenadas possui várias vantagens para a Geomática. Em primeiro
lugar facilita e permite a padronização dos métodos de cálculos, para que cada ponto seja
definido de maneira unívoca. Não existem propagações de erros quando se calculam as
coordenadas de um ponto a partir das observações de campo. E, além disso, o uso de um sistema
de coordenadas evita também a propagação de erros nos processos de locação de pontos sobre o
terreno. Em segundo lugar, o uso de sistemas de coordenadas permite a unificação de vários
sistemas individuais em um único sistema geral, o que simplifica a identificação e o
gerenciamento dos pontos em um projeto.
Existem basicamente quatro sistemas de coordenadas utilizados na Geomática:
™ O Sistema de Coordenadas Cartesiano Plano ou Sistema Plano-retangular
™ O Sistema de Coordenadas Polares Plano
™ O Sistema de Coordenadas Cartesiano Espacial
™ O Sistema de Coordenadas Geodésicas

3.1.1 O Sistema de Coordenadas Plano-retangular

O sistema de coordenadas mais utilizado na Geomática é o Sistema de Coordenadas Plano-


retangular. Este sistema é baseado no Sistema de Coordenadas Retangular criado pelo filósofo
francês, Renée Descartes (1569-1650), cujo nome em Latin era Renatus Cartisus, o que explica
o termo Sistema Cartesiano.
O Sistema de Coordenadas Plano-Retangular consiste de dois eixos geométricos, localizados
num mesmo plano, perpendiculares entre si formando quatro quadrantes, conforme indicado na
Figura 1. O cruzamento dos dois eixos é a origem do sistema. O eixo primário, localizado na
horizontal, é denominado abscissa X. O eixo secundário, localizado na vertical, é perpendicular
ao eixo das abscissas e é denominado ordenada Y. Os dois eixos são igualmente graduados de

54
O conceito de uma posição atemporal dever ser visto com resguardo. O movimento da crosta terrestre tem se
mostrado grande o suficiente para que, em breve, as coordenadas dos pontos sobre a superfície terrestre passem a
ser determinados com uma quarta grandeza, o tempo.

87
Fundamentos de Geomática

acordo com a escala definida para o sistema. O eixo Y é positivo da origem “para cima” e o eixo
X é positivo da origem “para a direita”. As coordenadas retangulares de um ponto são dadas por
dois números que correspondem as projeções geométricas deste ponto sobre o eixo das
abscissas e sobre o eixo das ordenadas. Ao par de coordenadas ( X , Y ) dá-se o nome de
coordenadas retangulares planas.
Este sistema de coordenadas, tal como ele
é usado na matemática, possui o sentido
positivo dos ângulos como sendo o
sentido anti-horário e tem como origem o
eixo positivo das abscissas. Vide Figura
3.1.

Figura 3.1: Sistema de Coordenadas


Cartesiano Plano Matemático.

Uma modificação básica foi feita nesse sistema para o seu uso na Geomática. Trata-se da
inversão do sentido da leitura angular. Para a Geomática os ângulos são medidos no sentido
horário, em conformidade com o sentido da graduação do limbo na maioria dos instrumentos
topográficos mecânicos. No Brasil mantém-se a direção das ordenadas e das abscissas.

Nos países europeus, porém, inverte-se


também o sentido dos eixos das ordenadas
e das abscissas, ou seja, o eixo das
ordenadas (Y) torna-se o eixo horizontal e
o eixo das abscissas (X) torna-se o eixo
vertical. A esse novo sistema de
coordenadas dá-se o nome de Sistema de
Coordenadas Cartesiano Plano-
Topográfico. Vide Figura 3.2.

Figura 3.2: Sistema de Coordenadas Plano-


Retangular Topográfico.

A principal vantagem de se utilizar um sistema de coordenadas cartesiano plano na Geomática é


que qualquer cálculo trigonométrico que se faça em função dos valores representados no
sistema de coordenadas pode ser feito segundo os postulados da geometria Euclidiana. E é
exatamente por este motivo que os Sistemas CAD e os Sistemas de Informações Geográficas
são definidos geometricamente com base em um Sistema de Coordenadas Cartesiano Plano.

88
Sistemas de coordenadas

Para a determinação das coordenadas de


um ponto no Sistema de Coordenadas
Plano-retangular é necessário conhecer as
coordenadas de um ponto de origem, a
orientação e a distância entre essa origem
e o ponto a ser determinado.

Figura 3.3: Determinação das coordenadas


de um ponto a partir do Sistema de
Coordenadas Plano-retangular.

Da Figura 3.3, tem-se:

X Q = X P + d PQ senφPQ
(3.1)
YQ = YP + d PQ cos φPQ

Em trabalhos topográficos, para atender a expressão (3.1), sente-se a necessidade da


definição de um sistema topográfico local. A NBR 14 166 define este sistema da
seguinte forma:

“Sistema de representação, em planta, das posições relativas de


pontos de um levantamento topográfico com origem em um ponto de
coordenadas geodésicas conhecidas, onde todos os ângulos e
distâncias de sua determinação são representados, em verdadeira
grandeza, sobre o plano tangente à superfície de referência (elipsóide
de referência) do sistema geodésico adotado, na origem do sistema,
no pressuposto de que haja, na área de abrangência do sistema, a
coincidência da superfície de referência com a do plano tangente, sem
que os erros, decorrentes da abstração da curvatura terrestre,
ultrapassem os erros inerentes às operações topográficas de
determinação dos pontos do levantamento, compreendendo os
elementos definidos nesta norma”.

89
Fundamentos de Geomática

Figura 3.4: Elementos do sistema topográfico local. FONTE: NBR 14 166, Figura 2, página 6.

Da Figura 3.4, tem-se:


OA′′′ = é a projeção ortogonal de OA sobre o Plano Topográfico Local;
OB′′′ = é a projeção ortogonal de OB sobre o Plano Topográfico Local;
A′′′A′′ = é o erro devido a desconsideração da curvatura terrestre de OA ;
B′′′B′′ = é o erro devido a desconsideração da curvatura terrestre de OB ;
OA′′ = é a representação do arco OA sobre o Plano Topográfico Local;
OB′′ = é a representação do arco OB sobre o Plano Topográfico Local;
( )
AB = é a projeção gnômica ou central de uma distância ab medida no terreno, sobre a
superfície do nível médio do terreno, correspondendo à distância horizontal entre a
e b;
A B′ = é a projeção gnômica ou central de AB sobre a superfície da esfera de

adaptação de Gauss (superfície de nível zero);
A′′B′′ = é a projeção (representação) em verdadeira grandeza de AB sobre o Plano
Topográfico Local.

O plano de representação, a origem, os eixos e a orientação são dados pelos elementos


constituintes do sistema que são fundamentais para o posicionamento dos pontos do
levantamento por intermédio de um sistema cartesiano ortogonal em duas dimensões, segundo o
seguinte critério:
1. Os eixos X e Y estão fixos no Plano do Horizonte Local (plano tangente ao elipsóide
de referência), adotando-se, deste instante em diante, para efeito de cálculos, a

90
Sistemas de coordenadas

esfera de adaptação de Gauss como figura geométrica da terra (superfície de


referência);
2. O eixo Y coincide com a linha meridiana (norte-sul) geográfica, no ponto de
tangência, orientado positivamente, para o norte geográfico;
3. O eixo X é orientado, positivamente, para o leste.

Ressalta-se que o horizonte local é elevado à altitude ortométrica H t média da área de


abrangência do sistema, passando a chamar-se Plano Topográfico Local, conforme indicado na
Figura 3.4.

As coordenadas plano-retangulares ( X , Y ) são coordenadas cartesianas


definidoras da localização planimétrica dos pontos medidos no terreno e
representados no plano topográfico do sistema topográfico local, cuja
origem está no ponto de tangência deste plano com a superfície de
referência adotada pelo SGB.

A NBR 14 166 destaca:


; O sistema de coordenadas plano-retangulares tem a mesma origem do Sistema
Topográfico Local;
; A orientação do sistema de coordenadas plano-retangulares é em relação ao eixo
das ordenadas (Y ) ;
; A fim de serem evitados valores negativos para as coordenadas plano-retangulares,
a estas são adicionados termos constantes adequados a esta finalidade;
; A fim de elevar o plano topográfico de projeção ao nível médio da área objeto do
sistema topográfico, as coordenadas plano-retangulares são afetadas por um fator
de elevação, caracterizando o Plano Topográfico Local;
; A origem do Sistema Topográfico Local deve estar posicionada, geograficamente,
de modo a que nenhuma coordenada plano-retangular, isenta do seu termo
constante, tenha valor superior a 50 km, vide Figura 3.5.

Figura 3.5: Origem do Sistema Topográfico Local


e distância máxima a esta origem.
FONTE: NBR 14 166, Figura 3, página 6.

91
Fundamentos de Geomática

Da Figura 3.5 percebe-se que as coordenadas plano-retangulares dos pontos do Sistema


Topográfico Local devem estar limitadas, em seus valores absolutos (isentas dos termos
constantes), ao máximo de 50 000 metros, de maneira que nenhum ponto dista da origem do
sistema mais que 70 710,68 metros, o que garantirá um erro relativo decorrente da
desconsideração da curvatura terrestre menor que 1/50 000 nesta dimensão e 1/20 000 nas
imediações de sua extremidade.
O fator de elevação (c ) que, aplicado às coordenadas plano-retangulares dos pontos do apoio
geodésico do sistema, definidores do plano topográfico de projeção, isenta de seus termos
constantes, eleva este plano ao nível médio do terreno da área de abrangência do sistema,
caracterizando o Sistema Topográfico Local, onde serão representados todos os pontos
levantados topograficamente, NBR 14 166.

c=
(Rm + H t ) (3.2)
Rm
Onde:
c = É o fator de elevação, adimensional;
H t = É a altitude média do terreno, em [m] ;
Rm = É o raio médio terrestre local, adotado como raio da esfera de adaptação de
Gauss, em [m] ;

Rm = M * N (3.3)

M = É o raio de curvatura da elipse meridiana do elipsóide de referência na origem do


sistema topográfico local, em [m] ;
N = É o raio de curvatura da elipse normal à elipse meridiana na origem do sistema
topográfico local, em [m] .

Como o valor de H t é normalmente muito menor que o valor de Rm , o valor do fator de


elevação (c ) pode ser estimado pela expressão simplificada:

(
c = 1 + 1,57 * 10 −7 * H t ) (3.4)

Às coordenadas plano-retangulares da origem do Sistema Topográfico Local (0,0 ) são


adicionados os termos constantes 150 000 m e 250 000 m , respectivamente para a abscissa
( X ) e para a ordenada (Y ) , no escopo de evitarem valores negativos nos demais pontos da área
de abrangência do sistema.

92
Sistemas de coordenadas

Se a origem do sistema for 0 (zero), de coordenadas geodésicas (ϕ0 , λ0 ) e plano-retangular


X = 150 000 m e Y = 250 000 m , e o ponto geodésico de apoio imediato55 for P, de
coordenadas geodésicas (ϕ P , λP ) , as coordenadas plano-retangulares de P são dadas pelas
seguintes expressões:

X P = 150 000 + xP
(3.5)
YP = 250 000 + yP

xP = − ∆λ1 * cos ϕ P * N P * arc1′′ * c

yP =
1
B
[ ( ) ( ) ( ) (
* ∆ϕ1 + C * xP2 + D * ∆ϕ12 + E * ∆ϕ1 * xP2 + E * C * xP4 * c )] (3.6)

Os parâmetros que definem a expressão (3.6) são apresentados no ANEXO “D”.

3.1.2 O Sistema de Coordenadas Polares Plano

O Sistema de Coordenadas Polares Plano é determinado por um ponto fixo “O”, denominado
origem ou pólo, e por uma direção ou eixo passando por esse pólo. A posição de um ponto é
então definida a partir da indicação de um ângulo β , medido a partir de um eixo de referência,
e de uma distância d, tomados a partir da origem (pólo).
A par de valores (β , d ) , dá-se o nome de
coordenadas polares planas. Da mesma
forma que o Sistema de Coordenadas
Cartesiano Plano, o Sistema de
Coordenadas Polares Plano, tal como ele é
usado na matemática, possui o sentido
anti-horário como sentido positivo e
utiliza o eixo horizontal como eixo de
referência angular. Vide Figura 3.6.

Figura 3.6: Sistema de Coordenadas Polares


Plano Matemático.

55
NBR 14 166: “Devem estar localizados em locais estáveis que facilitem a sua ocupação, a sua identificação, sua
utilização e que garantam a estabilidade e a perenidade de sua materialização. A materialização pode ser através
de marcos e/ou pinos metálicos, nas áreas urbanas, e por marcos, nas áreas rurais, quando não forem
encontradas obras de arte (ponte, viadutos, pontilhões, etc.) estáveis, onde possam ser cravados pinos metálicos.
Estes marcos são determinados a partir de marcos geodésicos de precisão, por intermédio de poligonal de classe I
P (NBR 13 133), ou por rastreamento de satélites do sistema NAVSTAR/GPS, no método diferencial; triangulação
ou trilateração ou por outro método, desde que em termos de exatidão, seja igual, ou melhor, que a obtida por
essa classe de poligonal”.

93
Fundamentos de Geomática

O Sistema de Coordenadas Polares Plano na Geomática sofreu também uma inversão no sentido
positivo do ângulo. O sentido positivo, neste caso, é o sentido horário e, da mesma forma que o
Sistema de Coordenadas Cartesiano Plano Topográfico, a origem do ângulo é o eixo vertical.
A este sistema de coordenadas dá-se o
nome de Sistema de Coordenadas Polares
Plano Topográfico.

Figura 3.7: Sistema de Coordenadas Polares


Plano Topográfico.

O Sistema de Coordenadas Polares Plano é útil para a Geomática considerando-se que, na


prática, na maioria das vezes, a determinação de pontos sobre a superfície terrestre é realizada
com o uso de equipamentos topográficos, a partir dos quais se medem ângulos e distâncias
exatamente como definidos pelo Sistema de Coordenadas Polares Plano.

3.1.3 O Sistema de Coordenadas Cartesiano Espacial

O posicionamento espacial de um ponto pode ser determinado, em um sistema cartesiano, a


partir da adição de um terceiro eixo (eixo Z) ao sistema de coordenadas cartesiano plano ou, em
um sistema polar, a partir da adição de um segundo ângulo ao sistema de coordenadas polares
plano.
No caso do sistema cartesiano, o eixo Z é
adicionado perpendicularmente ao plano
estabelecido pelos eixos X e Y. Vide
Figura 3.8.

Figura 3.8: Sistema de Coordenadas


Cartesiano Espacial.

94
Sistemas de coordenadas

No caso do sistema polar, o segundo


ângulo é adicionado perpendicularmente
ao plano de rotação do primeiro ângulo.
Vide Figura 3.9.

Figura 3.9: Sistema de Coordenadas Polares


Espacial.

Para o seu uso na Geomática, o Sistema de Coordenadas Cartesiano Espacial é definido de


maneira que a sua origem seja o centro de Terra, os eixos X e Y pertençam ao plano do equador,
o eixo Z coincida com o eixo médio de rotação da Terra e o eixo X seja direcionado de maneira
a interceptar o meridiano de referência. Ao sistema definido desta maneira dá-se o nome de
Sistema Cartesiano Geocêntrico.
A Figura 3.10 ilustra a posição do
Sistema de Coordenadas Cartesiano
Geocêntrico em relação a um
elipsóide de referência.

Figura 3.10: O Sistema de


Coordenadas Cartesiano Geocêntrico.

Como exemplos, apresentam-se na Tabela 3.2 as coordenadas cartesianas espaciais dos pontos
STTU, STT-1 e M-02.

Tabela 3.2: Exemplos de Coordenadas Cartesianas Espaciais de


três pontos no Campus da USP em São Carlos (SP), referentes
ao elipsóide WGS84.
Nome do ponto X [m] Y [m] Z [m]
STTU 3 967 008,233 -4 390 246,457 -2 375 229,496
STT-1 3 967 020,471 -4 390 230,287 -2 375 206,040
M-02 3 964 981,293 -4 392 552,674 -2 374 392,149

95
Fundamentos de Geomática

Na área de Geomática, os Sistemas de Coordenadas Cartesiano Geocêntricos são importantes


principalmente devido o se uso no posicionamento por satélites. Para as medições topográficas
em geral, este sistema não é adequado devido ao fato dele não representar convenientemente as
altitudes.

A coordenada Z é perpendicular ao plano


do equador enquanto que a altura
elipsoidal h, é normal a superfície de
referência. Assim, um aumento no valor
de h não produzirá um aumento igual em
Z. É fundamental portanto não confundir
coordenada Z com a altura geométrica ou
com a altitude ortométrica de um ponto.
Vide Figura 3.11.

Figura 3.11: Diferença entre a coordenada Z e


a altura geométrica de um ponto P na
superfície do terreno.

3.1.4 O Sistema de Coordenadas Geodésicas

O Sistema de Coordenadas Geográficas Geodésicas ou, simplesmente, Coordenadas Geodésicas


é um sistema de coordenadas definido sobre um elipsóide de referência. Desta forma, sendo o
elipsóide uma superfície esférica, a posição de um ponto neste sistema é dada em função de
valores angulares de arcos medidos na superfície de referência, definida a partir do
estabelecimento do Sistema Geodésico56 que a contém.
Fundamentalmente o Sistema de Coordenadas Geodésicas baseia-se no eixo de rotação do
elipsóide de referência e no plano perpendicular a este eixo, denominado genericamente de
Plano do Equador.
Tomando como referência os pólos gerados pelo eixo de rotação, são traçadas linhas (grandes
arcos) sobre a superfície de referência passando por estes pólos, as quais são denominadas de
meridianos. Perpendicularmente aos meridianos são traçadas linhas paralelas ao plano do
equador, as quais são denominadas paralelos. Em seguida, tomando um meridiano particular e
ao plano do equador como origens, determinam-se arcos sobre a superfície de referência aos
quais dá-se o nome de latitude e longitude geodésicas.

56
Para maiores informações, referir-se à sessão XXX.
96
Sistemas de coordenadas

Por serem arcos, a latitude e a longitude


são representadas por unidades angulares,
mais especificamente, em unidades
angulares sexagesimais (graus, minutos e
segundos). Na Geomática a latitude
geodésica é representada pela letra grega
ϕ (fi minúsculo) e a longitude pela letra
grega λ (lâmbda minúsculo). Vide Figura
3.12.

Figura 3.12: Sistema de Coordenadas


Geodésicas.

Desta forma:

A latitude geodésica ϕ de um ponto da superfície de referencia é o valor


angular do arco formado pela normal a esta superfície, neste ponto, e o
plano do equador.

As latitudes geodésicas são referenciadas a partir do equador de 0° a 90°, no hemisfério Norte e


de 0° a -90°, no hemisfério Sul, ou simplesmente de 0° a 90° seguido da indicação da latitude
Norte ou Sul.

A longitude geodésica λ de um ponto da superfície de referência é o valor


do ângulo diedro que forma o plano meridiano, que passa pelo ponto, com
o plano que passa pelo meridiano de origem.

As longitudes geodésicas são referenciadas a partir de do meridiano de origem, de 0° a 360°, na


direção Leste, ou de 0° a 180°, na direção Leste, e de 0° a -180°, na direção Oeste.
Como já vimos, o elipsóide de referência pode ser geocêntrico ou não. A maioria, entretanto, é
geocêntrico. A localização do meridiano de origem nesse sistema geocêntrico pode ser
arbitrária, porém, estabeleceu-se formalmente a partir da Conferência Internacional do
Meridiano, realizado em Washington DC – EUA, que o meridiano de origem dever ser o
meridiano localizado a 180º do meridiano de Greenwich, denominado de anti-meridiano. Os
valores das longitudes serão positivos na direção Este desse meridiano e negativa na direção
Oeste.
Como exemplos, apresentam-se na Tabela 3.3 as coordenadas geodésicas dos pontos STTU,
STT-1 e M-02, situados na laje do prédio do Laboratório de Estradas, na lateral do
Departamento de Transportes da EESC/USP e situado no Campus II da USP em São Carlos,

97
Fundamentos de Geomática

respectivamente. É importante citar que os pontos apresentados na Tabela 3.3 estão conectados
a rede geodésica GPS do Estado de São Paulo.
Tabela 3.3: Exemplos de Coordenadas Geodésicas de três pontos no
Campus da USP em São Carlos (SP), referentes ao elipsóide WGS84.
Nome do ponto Latitude Longitude Altura elipsoidal
STTU57 -22º 00’ 17,80064” -47º 53’ 56,99577” 824,577m
STT-158 -22º 00’ 17,13990” -47º 53’ 56,30133” 812,273m
M-0259 -21º 59’ 48,26444” -47º 55’ 43,31400” 838,170m

Analisando a Figura 3.12 deve-se notar que a latitude e a longitude geodésicas do ponto P são
determinadas a partir da linha normal ao elipsóide de referência, a qual, devido a forma
achatada do elipsóide, não passa pelo centro do mesmo. Por essa razão, definem-se também os
termos latitude e longitude geocêntricas como sendo a latitude e a longitude determinadas a
partir de um alinhamento partindo de um ponto na superfície do elipsóide e passando pelo
centro do mesmo. Por outro lado, quando a latitude e a longitude são determinadas a partir de
um instrumento tipográfico nivelado sobre um ponto na superfície terrestre, tem-se um outro par
de coordenadas, que determinadas a partir da linha de prumo do instrumento, ou seja, a partir da
vertical do lugar, que não é geocêntrica e nem normal ao elipsóide60. As coordenadas assim
definidas são conhecidas como latitude e longitude astronômicas. A latitude astronômica é
representada pela letra grega Φ (fi maiúsculo) e a longitude astronômica é representada pela
legra grega Λ (lambida maiúsculo). As coordenadas geodésicas definem cada ponto de maneira
unívoca, ou seja, não existem dois pontos com as mesmas coordenadas geodésicas. Já as
astronômicas não definem um ponto de maneira unívoca.

Devido a variação da gravidade da


Terra, pode ocorrer que dois pontos
tenham coordenadas astronômicas
iguais. A Figura 3.13 ilustra a
ocorrência das latitudes geodésica,
geocêntrica e astronômica sobre um
mesmo elipsóide de referência.

Figura 3.13: Representação das latitudes


geodésica, geocêntrica e astronômica
sobre um elipsóide.

57
Este ponto encontra-se instalado numa torre metálica sobre a laje de cobertura da caixa d’água do prédio do
Laboratório de Estradas do Departamento de Transportes da EESC/USP.
58
Este ponto encontra-se situado na esquina do prédio do Departamento de Transportes da EESC/USP com a via de
acesso à Portaria Norte do Campus de São Carlos.
59
Este ponto é o centro do plano topográfico utilizado na implantação do Campus II da USP em São Carlos.
60
Em algumas situações especiais pode ocorrer que a vertical do lugar seja geocêntrica ou coincidente com a normal.
98
Sistemas de coordenadas

É importante notar que a latitude e a longitude geodésicas não podem ser determinadas a partir
de um instrumento topográfico nivelado sobre um ponto da superfície terrestre. Isso ocorre pelo
fato do instrumento estar nivelado segundo a vertical do lugar enquanto que a latitude e a
longitude geodésicas são calculadas tomando-se como referência um modelo de Terra que é o
elipsóide de revolução. Existe, portanto, como já vimos uma pequena diferença angular entre as
duas retas perpendiculares as duas superfícies de referência – geóide e elipsóide. A esta
diferença angular dá-se o nome de desvio da vertical61, o que é designado pela letra grega θ
(teta).
O desvio da vertical θ logicamente possui uma direção qualquer em relação aos pontos
cardeais geográficos. Para facilitar o seu cálculo ele é dividido em duas componentes (ξ , η ) ,
segundo as direções NS e EW. A primeira componente é chamada de componente meridiana e a
segunda é chamada de componente da primeira vertical.
A componente meridiana é designada pela
letra grega ξ (qsi) e é positiva quando situar-
se ao Norte da normal ao elipsóide. A
componente da primeira vertical é designada
pela letra grega η (eta) e é positiva quando
situar-se a este da normal ao elipsóide. Vide
Figura 3.14.

Figura 3.14: O desvio da vertical e suas


componentes.

A componente meridiana ξ pode ser estimada a partir da seguinte expressão matemática:

ξ = Φ −ϕ (3.7)

Da mesma forma, a componente da primeira vertical η pode ser estimada a partir da seguinte
expressão matemática:

η = (Λ − λ ) * cos ϕ (3.8)

Ou
η = ( Aza − Az ) * cotanϕ (3.9)

61
Também definido como deflexão astro-geodésica.

99
Fundamentos de Geomática

Onde:
Φ = Latitude astronômica do ponto;
Λ = Longitude astronômica do ponto;
ϕ = Latitude geodésica do ponto;
λ = Longitude geodésica do ponto;
Aza = Azimute astronômico do ponto;
Az = Azimute geodésico do ponto.

A partir das equações (3.8) e (3.9) obtem-se a seguinte expressão:

Az = Aza − (Λ − λ ) * sin ϕ (3.10)

A expressão (3.10) é conhecida como a Equação reduzida de Laplace. Através desta equação é
possível transformar um azimute astronômico em geodésico, e vice-versa.
O desvio da vertical pode ser estimado a partir da seguinte expressão matemática:

θ 2 = ξ 2 +η2 (3.9)
Ou,
⎛η ⎞
θ = arctan⎜⎜ ⎟⎟ (3.10)
⎝ξ ⎠

O desvio da vertical nunca passa de alguns segundos de arco e, em geral, gira em torno de 5′′ ,
podendo alcançar excepcionalmente 30′′ e chegando alcançar, raramente a 60′′ . Como podemos
perceber os valores das componentes meridiana e primeira vertical são muito pequenos, assim
como as diferenças entre as coordenadas geodésicas e astronômicas.

O desvio da vertical (e suas componentes) são grandezas relativas ao


elipsóide e a forma com que foi posicionado e anula-se quando o geóide e
o elipsóide na área considerada são paralelos. Neste caso, coincidem a
vertical do lugar e a normal com a conseqüente coincidência das
coordenadas astronômicas e geodésicas.

ROCHA (2000) realizou uma série de experimentos de campo comparando a qualidade de


azimutes obtidos por processos astronômicos e geodésicos (obtidos pela tecnologia GPS). Os
azimutes obtidos por astronomia clássica apresentaram medida angular superiores aos azimutes
obtidos por GPS com a grandeza média de 18,1′′ . A correção de equivalência entre os dois

100
Sistemas de coordenadas

azimutes devido ao desvio da vertical, por Laplace, apresentou uma redução desta diferença
para um valor médio de 15,1′′ .

Exemplo aplicativo (3.1)


Calcule os valores das componentes do desvio da vertical para um ponto cujas coordenadas são:
Φ = − 210 58′ 74,32′′
Λ = − 47 0 52′ 37,81′′
ϕ = − 210 58′ 57,65′′
λ = − 47 0 52′ 21,71′′
Aplicando a equação (3.7), temos:
(
ξ = Φ − ϕ = − 210 58′ 74,32′′ − − 210 58′ 57,65′′ )
ξ = − 16,67′′
Isto implica em afirmar que a componente meridiana encontra-se ao sul da normal no ponto.
Aplicando a equação (3.8)
[ ( )] (
η = (Λ − λ )* cos ϕ = − 47 0 52′37 ,81′′ − − 47 0 52′21,71′′ * cos − 210 58′57 ,65′′ )
η = − 14,93′′
Isto implica em afirmar que a componente da primeira vertical encontra-se a oeste da normal no
ponto.

3.2 TRANSFORMAÇÃO DE COORDENADAS


Uma mesma figura geométrica pode ser representada em vários sistemas de coordenadas
diferentes mantendo-se as suas propriedades geométricas. É possível calcular uma função de
transformação entre sistemas de coordenadas desde que se conheçam as propriedades dos
sistemas e as relações entre eles. Diz-se nesse caso que se realiza uma transformação de
coordenadas.
Neste capítulo, trataremos apenas dos três casos mais simples de transformação de coordenadas,
que são a transformação de coordenadas polares em retangulares e vice versa, a transformação
entre sistemas de coordenadas retangulares e a transformação de coordenadas geográficas
geodésicas em cartesianas espaciais e vice-versa.

101
Fundamentos de Geomática

3.2.1 Transformação de coordenadas polares em coordenadas plano-retangulares


e vice versa.

Da Figura 3.6, conhecendo-se as coordenadas plano-retangulares do ponto P, a transformação


das coordenadas polares em coordenadas plano-retangulares de um ponto Q qualquer, é dada
por:
(
X Q = X P + d PQ * senβ )
(3.4)
(
YQ = YP + d PQ * cos β )
ou inversamente,

d PQ = (X Q ) (
− X P + YQ − YP
2
)
2

(3.5)
XQ − X P
tan (β ) =
YQ − YP

3.2.2 Transformação de coordenadas entre sistemas de coordenadas plano-


retangulares.

Este tipo de transformação de coordenadas é de uso bastante freqüente em Mensuração,


principalmente na Fotogrametria. O procedimento para a transformação exige apenas que se
tenha alguns pontos com as coordenadas conhecidas em ambos os sistemas. A esses pontos dá-
se o nome de pontos de controle. A transformação é dividida em três etapas:
ª Fator de escala
ª Rotação
ª Translação

A seguir descrevemos cada uma destas etapas.

3.2.2.1 Fator de escala

Em alguns casos pode ocorrer que a escala dos dois sistemas de coordenadas retangulares não
sejam iguais. Nesses casos basta calcular o fator de escala existente entre os dois sistemas e
aplicá-lo convenientemente. O fator de escala pode ser calculado a partir do uso das
coordenadas de dois pontos de controle em ambos os sistemas de coordenadas. Assim, se os
pontos P e Q possuírem, por exemplo, as coordenadas XP,YP e XQ,YQ no primeiro sistema de
coordenadas e X’P,Y’P e X’Q,Y’Q no segundo, o fator de escala será igual a

102
Sistemas de coordenadas

s=
(X '
Q − X 'P ) + (Y '
2
Q −Y ' P )
2

(X ) + (Y )
(3.6)
− XP − YP
2 2
Q Q

3.2.2.2 Rotação

Considere a Figura 3.9. Nessa figura, o sistema XY, depois de multiplicado pelo fator de escala
“s”, foi rotacionado por um ângulo θ , para coincidir com o sistema de coordenadas X’Y’.
Nessas condições, as coordenadas de
qualquer ponto no sistema XY serão
transformadas para as coordenadas no
sistema X’Y’ aplicando-se as equações
indicadas abaixo.

Figura 3.9: Rotação de um plano.

X ' p = X p cos θ − Y p senθ


(3.7)
Y ' p = X p senθ + Y p cos θ

Matricialmente têm-se
⎡ X ' p ⎤ ⎡cos θ − senθ ⎤ ⎡ X p ⎤
⎢ Y' ⎥ = ⎢ *⎢ ⎥
cos θ ⎥⎦ ⎣ Y p ⎦
(3.8)
⎣ p ⎦ ⎣ senθ

Ou seja, X ' = R * X onde,

⎡X 'p ⎤ ⎡cos θ − senθ ⎤ ⎡X p ⎤


X '= ⎢ ⎥ R=⎢ X =⎢ ⎥
⎣Y ' p ⎦ ⎣ senθ cos θ ⎥⎦ ⎣ Yp ⎦

O que permite calcular a transformação inversa como indicado a seguir.

X = R −1 * X ' (3.9)

103
Fundamentos de Geomática

3.2.2.3 Translação

Após aplicar o fator de escala e a rotação, pode ser necessário ainda aplicar uma translação para
se obter as coordenadas finais no novo sistema. Considerando ainda a Figura 3.7, considere que
foram aplicadas as translações Tξ e Tη , em relação a origem do sistema de coordenadas X’Y’,
para se obter as coordenadas no novo sistema ξ η . Nestas condições, as coordenadas de
qualquer ponto no sistema E ′N ′ serão transformadas para as coordenadas no sistema ξ η
aplicando-se as seguintes equações:

ξ p = X 'p + Tξ
(3.10)
η p = Yp' + Tη

Generalizando os passos para a transformação de coordenadas, podemos utilizar a forma


matricial geral como indicada abaixo:

ξ = sRX '+T (3.11)

Onde, s = fator de escala e

⎡ξ p ⎤ ⎡cos θ − senθ ⎤
ξ =⎢ ⎥ R=⎢
⎣η p ⎦ ⎣ senθ cos θ ⎥⎦

⎡ X 'p ⎤ ⎡Tξ ⎤
X '= ⎢ ⎥ T =⎢ ⎥
⎣Y 'p ⎦ ⎣Tη ⎦

3.2.3 Transformação de Coordenadas Geográficas Geodésicas em Coordenadas


Cartesianas Espaciais e vice-versa

Se as origens do sistema de coordenadas geodésicas e das coordenadas cartesianas forem


coincidentes no centro de massa da Terra, as relações entre as coordenadas cartesianas e
geodésicas são dadas pelas fórmulas seguintes. Vide Figura 3.10.

104
Sistemas de coordenadas

Figura 3.10: Relação entre coordenadas geodésicas e cartesianas.

Geodésicas para Cartesianas

X = (N + h )cos ϕ * cos λ

Y = (N + h )cos ϕ * senλ (3.12)

[ ( ) ]
Z = N 1 − e 2 + h * senϕ

Cartesianas para Geodésicas


Y
tan λ = (3.13)
X

tan ϕ =
(
Z + e′ 2 bsen 3φ ) (3.14)
p − e 2 a cos 2 φ

⎛ X 2 +Y 2 ⎞
h=⎜ ⎟− N (3.15)
⎜ cos ϕ ⎟
⎝ ⎠

105
Fundamentos de Geomática

a2 − b2
e2 = (3.16)
a2

a 2 − b2
e′2 = (3.17)
b2

p = X 2 +Y2 (3.18)

Za
tan φ = (3.19)
pb

tan φ
senφ = (3.20)
1 + tan φ

1
cos φ = (3.21)
1 + tan 2 φ

a
N= (3.22)
(1 − e sen ϕ )
2 2
1
2

Onde,
a = semi-eixo maior do elipsóide de referência;
b = semi-eixo menor do elipsóide de referência;
h = altura geométrica ou elipsoidal
N = raio de curvatura da seção primeira vertical
e2 = primeira excentricidade
ϕ = latitude geodésica do ponto considerado
λ = longitude geodésica do ponto considerado

106
ANEXO “G”

107

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