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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA – UFBA

ESCOLA POLITÉCNICA
DEPARTAMENTO DE CONSTRUÇÃO E ESTRUTURAS

PROFESSOR – ALEXANDRE DE MÂCEDO WAHRHAFTIG

APOSTILA DE
ENG285 – RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS I-A
ENGN90 – MECÃNICA DOS MATERIAIS I-A

Salvador/BA
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

APRESENTAÇÃO

Este material representa a reunião das notas de aulas do Prof. Alexandre de Macêdo
Wahrhaftig ministradas durante as mais de duas décadas de docência no ensino superior. È
um conteúdo desenvolvido com base em Beer, F. P. E Russel Johnston Jr, E., 1995 –
Resistência Dos Materiais, Ed. Makron Books, São Paulo; Timoshenko, S. P.; Gere, J. E.,
1994 – Mecânica dos Sólidos; Timoshenko, S. P., 1973 – Resistência dos Materiais;
Melconian, S., 1999 – Mecânica Técnica e Resistência dos Materiais, entre outros, que
inspiraram a elaboração da parte teórica e exercícios, que neste compêndio se encontram
resolvidos visando, fundamentalmente, orientar o aprendiz de primeiro contato com o tema.
É importante deixar registrado o agradecimento aos alunos que ajudaram a dar forma a este
material transcrevendo notas literalmente manuscritas com esquemas gráficos elaborados à
mão. A revisão mais abrangente é recente e foi realizada nos anos de 2020 a 2022 durante o
período de ensino remoto. Entretanto, a consolidação de uma revisão mais detalhada a fim
de localizar erros e melhorar o conteúdo só ocorre mesmo à medida em que este material é
exposto, lido e relido por um número significativo de pessoas. Nosso desejo ao elaborar esta
obra é o de poder colaborar para a formação e aperfeiçoamento de engenheiros.

Salvador, agosto de 2022.

Alexandre Wahrhaftig

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Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ...................................................................................................................... 2

1. CONDIÇÕES DE EQUILÍBRIO DOS CORPOS RÍGIDOS .............................................. 9

1.1. CINEMÁTICA................................................................................................................................. 10
1.1.1. Translação: ........................................................................................................................... 10
1.1.2. Rotação: ............................................................................................................................... 11

2. SISTEMAS DE FORÇAS ..................................................................................................11

2.1. SISTEMAS ESPACIAIS .................................................................................................................... 12

3. CONDIÇÕES DE EQUILÍBRIO .......................................................................................13

3.1. ESTÁTICO ( V = 0 ; a = 0 ) .......................................................................................................... 13

3.2. DINÂMICO ( V  0 ; a = 0 )......................................................................................................... 13

3.3. DECOMPOSIÇAO DE UM SISTEMA DE FORÇAS ............................................................................. 13

3.4. CONDIÇÕES DE EQUILÍBRIO PARA SISTEMAS COPLANARES .......................................................... 14


3.4.1. Na Translação ....................................................................................................................... 15
3.4.2. Na Rotação ........................................................................................................................... 15

3.5. SITUAÇÕES PARTICULARES DE EQUÍLIBRIO NO PLANO ................................................................. 16

4. VÍNCULOS ESTRUTURAIS ............................................................................................17

4.1. 1° Tipo: Vínculo simples ou móvel/ Ligação do 1° gênero/ Apoio Livre ......................................... 17

4.2. 2° Tipo: Vínculo duplo ou fixo/ Ligação do 2° gênero/ Apoio fixo ................................................. 18

4.3. 3° Tipo: Engastamento/ Ligação do 3° gênero/ Engaste................................................................ 19

5. TIPOS DE ESTRUTURAS...............................................................................................20

5.1. 1° Tipo: Estruturas hipostáticas .................................................................................................... 20

5.2. 2° Tipo: Estruturas isostáticas....................................................................................................... 21

5.3. 3° Tipo: Estruturas hiperestáticas ................................................................................................. 21

6. TIPOS DE CARREGAMENTOS NAS ESTRUTURAS ..................................................22

6.1. 1° Tipo: Cargas concentradas........................................................................................................ 22

6.2. 2° Tipo: Carregamento distribuído ............................................................................................... 22

6.3. 3° Tipo: Carga Binária ou Carga Momento .................................................................................... 24

7. CÁLCULO DAS REAÇÕES EM SISTEMAS ISOSTÁTICOS .........................................25


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7.1. Sistemas lineares contínuos ......................................................................................................... 25

7.2. Sistemas não lineares articulados................................................................................................. 25

8. EXERCÍCIOS.....................................................................................................................26

9. ESFORÇOS SOLICITANTES ..........................................................................................31

9.1. Efeitos da translação .................................................................................................................... 32

9.2. Efeitos da rotação ........................................................................................................................ 32

9.3. Convenção de sinais ..................................................................................................................... 34

10. EXERCÍCIOS .................................................................................................................37

11. DIAGRAMAS DO ESFORÇO CORTANTE E MOMENTO FLETOR .......................43

11.1. CARGA CONCENTRADA ................................................................................................................ 43


11.1.1. Viga bi-apoioada................................................................................................................... 43
11.1.2. Viga em Balanço ................................................................................................................... 46

11.2. CARREGAMENTO UNIFORMEMENTE DISTRIBUÍDO ...................................................................... 47


11.2.1. Viga bi-apoiada..................................................................................................................... 47
11.2.2. Viga em balanço ................................................................................................................... 50

11.3. CARREGAMENTO COM VARIAÇÃO LINEAR ................................................................................... 51


11.3.1. Viga bi-apoiada..................................................................................................................... 51
11.3.2. Viga em Balanço ................................................................................................................... 54

11.4. CARREGAMENTO BINÁRIO ........................................................................................................... 56

12. EXERCÍCIOS .................................................................................................................58

13. RELAÇÕES DIFERENCIAIS DE EQUILÍBRIO OU RELAÇÕES ENTRE (M, V, Q)


61

14. EXERCÍCIOS .................................................................................................................65

15. ELASTICIDADE (CONCEITO) – PRINCÍPIO DA RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS


104

15.1. DIVISÃO DOS MATERIAIS............................................................................................................ 107


15.1.1. Materiais Dúcteis................................................................................................................ 107
15.1.2. Materiais Frágeis ................................................................................................................ 107

16. ESFORÇO AXIAL OU ESFORÇO NORMAL ........................................................... 107

16.1. Princípios da lei de Hooke .......................................................................................................... 108

16.2. Desenvolvimento da lei de Hooke .............................................................................................. 108

16.3. Fórmulas de definição ................................................................................................................ 110

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17. EXERCÍCIOS .............................................................................................................. 112

18. DEFORMAÇÃO TRANSVERSAL ............................................................................ 125

18.1. COEFICIENTE DE POISSON .......................................................................................................... 126

19. EXERCÍCIOS .............................................................................................................. 130

20. DIAGRAMA TENSÃO-DEFORMAÇÃO (ENSAIO DE TRAÇÃO) ....................... 132

20.1. TENSÃO ADMÍSSIVEL .................................................................................................................. 138

20.2. CONSIDERAÇÕES SOBRE A ESCOLHA DO COEFICIENTE DE SEGURANÇA ...................................... 139

21. EXERCÍCIOS .............................................................................................................. 143

22. GENERALIZAÇÃO DA LEI DE HOOKE OU CARREGAMENTO MULTIAXIAL 158

22.1. DILATAÇÃO VOLUMÉTRICA ........................................................................................................ 160

23. EXERCÍCIOS .............................................................................................................. 161

24. TRABALHO DE DEFORMAÇÃO ............................................................................ 165

25. EXERCÍCIOS .............................................................................................................. 169

26. CARREGAMENTO POR IMPACTO........................................................................ 171

27. EXERCÍCIOS .............................................................................................................. 173

28. RETICULADOS ......................................................................................................... 175

28.1. SOLUÇÃO PELO MÉTODO DOS NÓS ............................................................................................ 177

28.2. SOLUÇÃO PELO MÉTODO DAS SEÇÕES OU MÉTODO DE RITTER ................................................. 181

29. EXERCÍCIOS .............................................................................................................. 181

29.1. SOLUÇÃO PLEO MÉTODO DE MAXWELL CREMONA.................................................................... 182

30. TENSÕES INDUZIDAS POR VARIAÇÃO TÉRMICA ........................................... 184

31. EXERCÍCIOS .............................................................................................................. 186

32. TENSÃO E DEFORMAÇÃO NUMA BARRA POR SEU PESO PRÓPRIO........... 194

33. EXERCÍCIOS .............................................................................................................. 198

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34. SÓLIDOS DE IGUAL TENSÃO ................................................................................ 200

35. EXERCÍCIOS .............................................................................................................. 204

36. ANÁLISE PLÁSTICA ................................................................................................ 210

37. EXERCÍCIOS .............................................................................................................. 214

38. PRINCÍPIO DE SAINT-VENANT............................................................................ 220

39. EXERCÍCIOS .............................................................................................................. 223

40. ESFORÇO CORTANTE (CORTE PURO) ............................................................... 230

40.1. Tensão de Cisalhamento: ........................................................................................................... 231

40.2. Diagrama Tensão-Deformação para o cisalhamento: ................................................................. 232

41. EXERCÍCIOS .............................................................................................................. 233

42. TENSÕES EM PLANO OBLÍQUO AO EIXO .......................................................... 238

43. EXERCÍCIOS .............................................................................................................. 243

44. TENSÕES BIAXIAIS ................................................................................................. 247

45. EXERCÍCIOS .............................................................................................................. 250

46. RELAÇÃO ENTRE G, E E Ν ..................................................................................... 251

47. COMPONENTES DE TENSÕES .............................................................................. 255

48. TENSÕES PLANAS ................................................................................................... 260

49. EXERCÍCIOS .............................................................................................................. 262

50. TENSÕES PRINCIPAIS E EXTREMAS DE CISALHAMENTO ............................ 265

51. DIAGRAMA CIRCULAR DE MOHR ....................................................................... 269

52. EXERCÍCIOS .............................................................................................................. 275

52.1. TENSÕES PRINCIPAIS TRIAXIAIS.................................................................................................. 281

53. EXERCÍCIOS .............................................................................................................. 283

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54. TORÇÃO PURA ........................................................................................................ 286

54.1. ANÁLISE DAS DEFORMAÇÕES ..................................................................................................... 286

54.2. ANÁLISE DAS TENSÕES ............................................................................................................... 289

55. EXERCÍCIOS .............................................................................................................. 294

56. PROJETOS DE EIXOS DE TRANSMISSÃO ........................................................... 297

57. EXERCÍCIOS .............................................................................................................. 299

58. EIXOS ESTATICAMENTE INDETERMINADOS .................................................. 300

59. EXERCÍCIOS .............................................................................................................. 301

60. EIXOS DE SEÇÃO NÃO-CONVENCIONAIS ........................................................... 308

61. EIXOS VAZADOS DE PAREDES FINAS ................................................................ 310

62. EXERCÍCIOS .............................................................................................................. 313

63. TORÇÃO EM PLANOS INCLINADOS .................................................................... 315

64. EXERCÍCIOS .............................................................................................................. 317

65. COMBINAÇÃO DE TORÇÃO COM ESFORÇO AXIAL ......................................... 319

66. EXERCÍCIOS .............................................................................................................. 321

67. FLEXÃO PURA – TENSÕES .................................................................................... 324

68. MOMENTO DE INÉRCIA......................................................................................... 331

68.1. INÉRCIA DE FIGURAS REGULARES (FORMULÁRIO) ...................................................................... 333

69. EXERCÍCIOS .............................................................................................................. 336

70. FLEXÃO EM BARRAS DE SEÇÃO HETEROGÊNEA ............................................ 344

70.1. POSIÇÃO DA LINHA NEUTRA ...................................................................................................... 344

70.2. RELAÇÃO MOMENTO-CURVATURA ............................................................................................ 348

70.3. MÉTODO DA SEÇÃO EQUIVALENTE ............................................................................................ 349

71. EXERCÍCIOS .............................................................................................................. 351

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72. CISALHAMENTO NA FLEXÃO OU TENSÕES DE CISALHAMENTO


PRODUZIDAS POR CARREGAMENTO TRANSVERSAL ............................................... 357

73. EXERCÍCIOS .............................................................................................................. 370

74. CISALHAMENTO EM PERFIS DE CHAPA FINA ................................................. 378

75. EXERCÍCIOS .............................................................................................................. 383

76. FLEXÃO COMPOSTA NORMAL ............................................................................. 386

77. EXERCÍCIOS .............................................................................................................. 389

78. FLEXÃO OBLÍQUA................................................................................................... 395

78.1. FLEXÃO OBLÍQUA POR FORÇA DUPLAMNTE EXCÊNTRICA .......................................................... 395

79. EXERCÍCIOS .............................................................................................................. 397

79.1. FLEXÃO OBLÍQUA DE SEÇÃO SEM SIMETRIA ............................................................................... 402

80. EXERCÍCIOS .............................................................................................................. 409

81. ESFORÇOS COMBINADOS ..................................................................................... 415

82. DEFORMAÇÃO DE VIGAS ...................................................................................... 422

83. FLAMBAGEM............................................................................................................ 429

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1. CONDIÇÕES DE EQUILÍBRIO DOS CORPOS RÍGIDOS

Para que se possa chegar às condições de equilíbrio de um corpo rígido, antes é preciso
entender o movimento dos corpos através de uma introdução à Mecânica Racional.

Introdução a Mecânica:

A mecânica pode ser definida como a ciência que descreve e prevê as condições de repouso
ou movimento dos corpos sob a ação de forças. A mecânica está dividida em Mecânica do
contínuo e Mecânica dos meios discretizados. A primeira pode ser dividida em:

1 – Mecânica dos corpos rígidos;


2 – Mecânica dos corpos deformáveis;
3 – Mecânica dos fluídos.

E a segunda em:

4 – Mecânica computacional.

A Mecânica computacional é uma área que se desenvolveu a partir do surgimento dos


computadores modernos, digitais. Nela, é possível tratar os problemas de sólidos e fluídos
das demais áreas por meio de métodos numéricos e modelagem computacional. O mais
conhecido desses métodos é o método dos elementos finitos (MEF). Por sua vez a mecânica
dos corpos rígidos está classificada em estática e dinâmica. O Diagrama apresentado na
Figura 1-1 permite uma visualização das divisões da Mecânica Clássica.

Figura 1-1. Divisão da Mecânica Clássica.

Dinâmica

A dinâmica dos corpos rígidos está subdividida em Cinemática e Cinética:


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Cinemática: Estuda a geometria do movimento e relaciona deslocamento, velocidade,


aceleração e tempo sem se preocupar com a causa do movimento.

Cinética: Estuda a relação entre as forças que atuam sobre o corpo, a massa do corpo e seu
movimento. A cinética é usada para predizer o movimento causado por forças dadas ou
determinar as forças necessárias para predizer determinado movimento.

1.1. CINEMÁTICA

Um sistema de forças qualquer pode ser entendido através dos efeitos que podem produzir
sobre um corpo. Esses efeitos são a translação e a rotação.

Figura 1-2. Um sistema de forças qualquer.

1.1.1. Translação:

Diz-se que um movimento é de translação se qualquer reta pertencente ao corpo conserva a


mesma direção durante o movimento. Se essas trajetórias são retas o movimento é de
translação retilínea; se são curvas o movimento é uma translação curvilínea.

Translação retilínea:
Todos os pontos materiais se deslocam segundo retas paralelas. A sua velocidade e
aceleração conservam a orientação durante o movimento.

Figura 1-3. Translação retilínea.

Translação curvilínea:
A velocidade e a aceleração variam tanto em direção quanto em módulo a todo instante.

Figura 1-4. Translação curvilínea.

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1.1.2. Rotação:

Nesse movimento pontos materiais que formam o corpo rígido se deslocam em planos
paralelos ao longo de círculos cujos centros estão sobre o mesmo eixo. Esse eixo é chamado
de eixo de rotação e não necessariamente estará contido no corpo, mas se assim estiver,
todos os pontos situados sobre ele possuem velocidade e acelerações nulos.

(a ) Corpo rígido com eixo de rotação (b) Corpo rígido com eixo de rotação
contido no corpo. fora do corpo.
Figura 1-5. Movimentos de rotação.

2. SISTEMAS DE FORÇAS

As forças agrupam-se em sistemas que recebem o nome segundo a posição relativa em que
se acham entre si. Podem ser concorrentes, paralelas ou quaisquer. Qualquer um desses
sistemas pode ser espacial ou coplanar. Considere-se, como exemplo, o sistema de forças
espacial qualquer F1, F2, F3...Fn ilustrado na Figura 2-1.

Figura 2-1. Um sistema de forças qualquer.

Resumindo, esquematicamente tem-se:

Figura 2-2. Classificação dos sistemas de forças.

Todo e qualquer sistema de forças pode ser substituído pela ação de duas forças, que em
relação a um ponto qualquer venham a produzir o mesmo efeito que o sistema original dado.
Esses efeitos estão relacionados à resultante das forças e ao momento resultante. A força
resultante, ou apenas resultante, é a responsável pelo movimento de translação e o
momento resultante pelo movimento de rotação.

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As forças que agem sobre os corpos caracterizam-se por atuações à distância ou por ações
de contato. No primeiro caso, são introduzidas por campos de influência, como por exemplo,
os campos magnético e gravitacional.

As forças de contato são ditas cargas. As cargas alteram as condições de equilíbrio dinâmico
das estruturas ou agem no equilíbrio estático.

Características de uma força:

» Ponto de aplicação;
» Intensidade; São importantes na indução dos efeitos ocasionados no
» Direção; corpo.
» Sentido.

Força é uma grandeza vetorial que pode ser representada graficamente por um segmento de
reta orientado, ou seja, uma seta de ponta simples que contém o número de unidades de
medida do vetor:

Características de um momento:

» Grandeza: Produto da intensidade da força pela distância ao ponto considerado;


» Sentido de rotação: Horário ou anti-horário;
» Plano de atuação;
» Direção: Perpendicular ao plano de atuação (Regra da mão direita).

Momento é uma grandeza vetorial dada por M = F  d (diz-se F vetorial d) em que F é a


força aplicada e d é o vetor distância em relação ao ponto considerado. O momento pode
ser representado graficamente por um segmento de reta orientado, caracterizado por uma
seta de ponta dupla contendo quantas unidades de medida correspondam à intensidade do
vetor. A direção do vetor deve coincidir com o polegar da mão direita, sendo que o seu
efeito é dado pelos demais dedos da mão.

Entretanto, existe a possibilidade de representar o momento por meio de uma seta curva,
contida em seu plano de atuação e que indica o efeito produzido por essa grandeza:

↺ (a) Giro anti-horário ↻ (b) Giro horário

2.1. SISTEMAS ESPACIAIS

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No caso de sistemas espaciais deve ser tomado como referência para a resultante e o
momento resultante os três eixos cartesianos x, y, z, com origem no ponto O, ligados à Terra,
constituindo assim um sistema de forças não-Newtoniano. Dessa forma, a resultante fornece
três componentes Fx, Fy, Fz e o momento resultante também fornecerão três componentes
Mx, My e Mz de acordo com a Figura 2-3, ou seja:

» P, F1, F2, F3 são forças que agem no sistema.


» Fx, Fy, Fz são as componentes da resultante, R , segundo os eixos cartesianos.
» Mx, My, Mz são as componentes do momento resultante, M , em torno dos eixos
cartesianos

Figura 2-3. Referencial não inercial.

3. CONDIÇÕES DE EQUILÍBRIO

O estudo da Estática compreende a ação de forças exteriores sobre um corpo rígido em


posição de repouso. A finalidade principal da Estática é estudar os sistemas em equilíbrio
onde os movimentos de translação e rotação são nulos.

Observações sobre Equilíbrio:

3.1. ESTÁTICO ( V = 0 ; a = 0 )

Estável: Quando o ponto de equilíbrio se situa acima do centro de gravidade do sistema.


Instável: Quando o ponto de equilíbrio se situa abaixo do centro de gravidade do sistema.
Indiferente: O ponto de equilíbrio situa-se sobre o centro de gravidade do sistema.

3.2. DINÂMICO ( V  0 ; a = 0 )

Obedece aos mesmos princípios do equilíbrio mecânico. (Observar forças de inércia:


F = m.a) a = 0 , mas V  0 e constante.

3.3. DECOMPOSIÇAO DE UM SISTEMA DE FORÇAS

Um sistema de forças espacial qualquer, gerando uma força resultante e um momento


resultante pode ser decomposto segundo as direções cartesianas, formando um sistema ativo
de forças e momentos, Figura 3-1.

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Figura 3-1. Decomposição de forças e momentos: sistema ativo.

Para equilibrar um sistema ativo é necessário a introdução de um sistema que lhe seja
equivalente, mas de sinal contrário, tornando nulas as ações da Resultante das forças e do
Momento Resultante. Portanto, para promover o equilíbrio do sistema ativo original, é
preciso introduzir um sistema equivalente mas com forças e momentos em sentidos
contrários, como indicado na Figura 3-2.

Figura 3-2. Decomposição de forças e momentos: sistema reativo.

Nesse sistema reativo:

» Fx’, Fy’, Fz’ são as reações ou forças que agem no sentido contrário aos de Fx, Fy, Fz .
» Mx’, My’, Mz’ são os momentos resistores ou momentos contrários a Mz, My, Mz.

Portanto, a condição de equilíbrio estático de um sistema de forças espacial qualquer ocorre


quando:

Fx =0
A força resultante é nula: R = 0 → Fy =0
Fz =0
Equações universais da
Estática
M x =0
O momento resultante é nulo: M = 0 → M y =0
M z =0

3.4. CONDIÇÕES DE EQUILÍBRIO PARA SISTEMAS COPLANARES

O estudo é feito sobre sistemas coplanares porque o dimensionamento consiste na busca de


uma seção transversal resistente aos esforços exteriores. A seção transversal é uma região
bidimensional, específica, que está situada de maneira perpendicular ao eixo longitudinal do

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elemento estrutural. O eixo fica caracterizado no plano perpendicular ao da seção transversal


pela interseção dos centroides dessas mesmas seções transversais.

3.4.1. Na Translação

O vetor deslocamento r e o ângulo α caracterizam o movimento de translação no plano xy.

Figura 3-3. Movimento de translação no plano.

Se as forças aplicadas ao centroide do corpo tiverem resultante diferente de zero, o corpo se


encontra em movimento. Para que isso não ocorra às projeções da Resultante em x e y, devem
ser zero, ou seja:

F
x =0
R=0 →
F
y =0

3.4.2. Na Rotação

O agente causador do movimento de rotação é um BINÁRIO, ou seja, duas forças iguais e


de sentidos contrários. Quanto maior forem as forças e a distância entre elas, maior será a
tendência de rotação do corpo.

(a) Binário de forças (b) Referência da rotação


Figura 3-4. Movimento de rotação.

O binário causa um momento, grandeza vetorial, M = F  d , que se torna M = Fd sen  ,


onde F é a força que age a uma distância d conhecida como braço de alavanca, pois que é
ortogonal à linha de ação da força. O momento estará contido no plano do binário e é
vetorialmente dirigido de forma perpendicular ao plano de atuação, obedecendo à regra da
mão direita. Como sen90 = 1, o binário se reduz a M = F  d .

Seja considerada a estrutura abaixo indicada:

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Figura 3-5. Exemplo de equilíbrio na rotação.

» A força F1 produzirá movimento de rotação em torno da rótula definido por:

M 1 = F1d1 ↻.
» A força F2 produzirá movimento de rotação em torno da rótula definido por:

M 2 = F2 d 2 ↺.

Se M1 e M2 tiverem valores iguais a tendência de rotação se anula. Logo, para que não haja
giro é preciso que a soma dos momentos em torno da rótula (Rot), por um lado ou pelo outro
lado dessa, seja nula. Portanto, pela direita (Dir) tem-se:

Dir
M Rot = 0 → F2 d 2 − F1d1 = 0 → F1d1 = F2 d 2 .

Obs.: o eixo z é o eixo perpendicular ao plano da figura.

3.5. SITUAÇÕES PARTICULARES DE EQUÍLIBRIO NO PLANO

1° Caso: As forças são paralelas segundo uma direção.

Figura 3-6. Forças segundo uma mesma direção.

Nessa estrutura, a expressão

F x =0

não se aplica, pois não há forças que possam ser projetadas sobre o eixo x. Nesse caso, as
equações de equilíbrio disponíveis são:

F y =0 e M z = 0.

2° Caso: As forças são concorrentes em um ponto.

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Figura 3-7. Forças concorrentes em um ponto.

O momento em torno do ponto “O” será nulo, pois a linha de ação das forças passa pelo
ponto “O” e a condição

M z =0

não se aplica. Nesse caso, dispõe-se apenas de duas equações de equilíbrio:

F x =0 e F y =0.

3° Caso: A linha de ação das forças é única.

Figura 3-8. A linha de ação das forças é única.

No equilíbrio desse sistema não há translação nem rotação, em consequência só existe uma
equação de equilíbrio disponível:

F x =0.

4. VÍNCULOS ESTRUTURAIS

Os vínculos são elementos de construção que limitam o movimento estrutural, produzindo


reações estruturais. Os vínculos podem ser de apoio ou de ligação, não havendo como
estabelecer uma separação distinta entre o apoio e a ligação. Podemos dizer que apoio é o
contato do sistema com o exterior, ao passo que ligação é o contato entre as partes internas
da estrutura.

Uma estrutura qualquer é internamente ligada por três tipos de vínculos:

4.1. 1° Tipo: Vínculo simples ou móvel/ Ligação do 1° gênero/ Apoio Livre

Este tipo de vínculo impede o movimento de translação na direção normal ao plano de apoio,
fornecendo, desta forma, uma única reação, que, por essa razão, é normal ao plano de apoio.

Representação simbólica de um apoio simples:

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Figura 4-1. Apoio simples.

O apoio livre, Figura 4-2, é constituído por uma rótula (1) na parte superior, no contato com
a estrutura, o que permite o movimento de rotação; uma configuração indeformada (2) e uma
representação (3) que permite o movimento da estrutura na direção paralela ao plano de
apoio. O seu respectivo diagrama de corpo livre na figura ao lado:

(a) elementos constituintes


(b) diagrama do corpo livre
Figura 4-2. Representação do apoio móvel.

Logo, a equação de equilíbrio para esse tipo de apoio é:

F y =0.

Pode ser citado como exemplo de um apoio móvel a coluna de sustentação de um viaduto.
O material sintético usado na ligação do tabuleiro com o pilar confere à estrutura liberdade
de movimento horizontal e de rotação em torno do apoio, mas esse oferece restrição à
tendência de movimento vertical do tabuleiro.

(a) Apoio de um tabuleiro (b) Apoio de uma passarela


Figura 4.4 – Exemplos de um apoio móvel.

4.2. 2° Tipo: Vínculo duplo ou fixo/ Ligação do 2° gênero/ Apoio fixo

Este tipo de vínculo impede o movimento de translação em duas direções, na direção normal
e na direção paralela ao plano de apoio, podendo fornecer até duas reações, desde que
solicitado. O movimento de rotação é livre, devido à presença da rótula na extremidade
superior do apoio. A representação simbólica de um apoio fixo pode ser vista na Figura 4-3.

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Figura 4-3. Apoio fixo.


As equações de equilíbrio disponíveis para esse tipo de apoio são:

F x =0 e Fy =0.

A Figura 4-4 apresenta exemplos de sobre apoio fixo.

Figura 4-4. Exemplos de apoio fixo.

4.3. 3° Tipo: Engastamento/ Ligação do 3° gênero/ Engaste

Este tipo de vínculo impede a translação em qualquer direção, restringindo, também, a


rotação sobre a ligação. A representação simbólica e as reações fornecidas por este vínculo
são as seguintes:

(a) Representação simbólica. (b) Esquema estático. (c) Diagrama do corpo livre.

Figura 4-5. Engaste.

Rx → impede o movimento de translação na direção x.


Ry → impede o movimento de translação na direção y.
Mz → impede a rotação da estrutura em torno do apoio.

Para esse tipo de vínculo, as equações de equilíbrio disponíveis são:

F x = 0 ,  Fy = 0 e  M z = 0 .

A Figura 4-6 apresenta exemplos de estruturas engastadas.

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Figura 4-6. Exemplos de estrutura engastada (Fonte: internet).


Nas condições estabelecidas, nenhum movimento mecânico é possível. Esse tipo de ligação
é a mais cara, sendo muitas vezes inviável. Nesse caso, uma solução possível é a utilização
de outros recursos construtivos, como por exemplo:

» Substituir o engastamento por um apoio fixo e um apoio livre, como na figura abaixo.

Figura 4-7. Exemplo de substituição do engaste por um apoio fixo e outro móvel.

» Utilizar apoios fixos nas duas extremidades:

Figura 4-8. Exemplo de substituição do engaste por dois apoios fixos.

O exemplo da Figura 4-8 é classificado como uma Estrutura Hiperestática, pois haveria
ligações estaticamente supérfluas (ou superabundantes).

5. TIPOS DE ESTRUTURAS

Por definição, estrutura é o conjunto de elementos de construção composto por uma ou mais
peças, ligadas entre si e ao meio exterior de modo a receber e a transmitir carregamento, isto
é, um conjunto capaz de receber solicitações externas, absorvê-las internamente e transmiti-
las para os seus apoios mantendo-se em equilíbrio. As estruturas planas são classificadas em
três tipos, conforme o sistema de vinculação. Considere-se: NE = número de equações e NI
= número de incógnitas.

5.1. 1° Tipo: Estruturas hipostáticas

Essas estruturas não são estáveis, permanecendo equilíbrio estático sob uma condição muito
particular. O número de equações da Estática é superior ao número de incógnitas.

NE  NI

(a) Esquema estático (b) Diagrama do corpo livre

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Figura 5-1. Estrutura hipostática.

Caso a força P1 ocorra, a estrutura se movimenta.

5.2. 2° Tipo: Estruturas isostáticas

O número de equações disponíveis coincide com o número de incógnitas a serem


determinadas.

NE = NI

(a) Esquema estático (b) Diagrama do corpo livre


Figura 5-2. Estrutura isostática.

5.3. 3° Tipo: Estruturas hiperestáticas

As estruturas hiperestáticas têm um número de reações superior ao necessário para impedir


qualquer movimento. São assim classificadas as estruturas quando as equações da estática
são insuficientes para determinar as reações nos apoios.

NE  NI

GRAU 1

(a) Hiperestático de grau 1

GRAU 2

(b) Hiperestático de grau 2

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GRAU 3

(c) Hiperestático de grau 3


Figura 5-3. Graus de hiperestaticidade.

O grau de hiperestaticidade indica o número de equação que faltam para resolver o sistema.

6. TIPOS DE CARREGAMENTOS NAS ESTRUTURAS

6.1. 1° Tipo: Cargas concentradas

Esse tipo de carregamento representa uma força aplica em um único ponto da estrutura.
Exemplos: (a) Peso de máquinas, cabos ou tirantes, (b) viga chegando em viga, (c) vigas de
transição de edifícios (vigas que apoiam pilares).

(a) Força peso P. (b) Viga apoiando em viga.

(c) Viga apoiando pilar.


Figura 6-1. Exemplo de forças concentradas.

6.2. 2° Tipo: Carregamento distribuído

São cargas distribuídas continuamente ou funções carregamento. Os tipos mais usuais são
as cargas uniformemente distribuídas e as cargas triangulares. Mas o estudo por ser feito
para um caso qualquer desse tipo de carregamento. O vento, por exemplo é função contínua
na altura que atua na fachada de um edifício.

(Carregamento distribuído - Caso qualquer):

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Figura 6-2. Carregamento distribuído (caso qualquer).

Para o estudo de um caso qualquer de carregamento distribuído, q(x) é a taxa ou variação do


carregamento, ou melhor, é a função carregamento; dQ é a carga do elemento infinitesimal
dx, definida por: dQ = q(x)dx. Portanto, o somatório dos infinitos elementos dQ = q(x)dx
definirá a carga total ‘Q’, que está aplicada em um ponto x ainda desconhecido,
compreendido entre a origem e x1. Esse somatório é dado pela integral definida, no
comprimento definido pelo carregamento, de forma que pode ser escrito que:

x1
dQ = q ( x )dx → Q =  q ( x)dx .
0

Fazendo momento em relação ao ponto ‘O’, tem-se que:

- Do elemento infinitesimal dQ:

dM = xdQ .

O que leva a:

x1 x1
M =  xdQ → M =  xq ( x )dx .
0 0

- Da resultante Q: M = Qx .

Como esses dois momentos devem ser iguais:

x1
Qx =  q ( x) xdx .
0

Então:

x1

x=
 0
q ( x) xdx
.
x1
 0
q ( x)dx

A operação matemática realizada anteriormente, nada mais senão a relação entre o momento
estático e a área da figura que representa o carregamento distribuído. Expressando a equação
anterior em função da área da figura, pode-se escrever, simplesmente, que:

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 xdA
x= A
,
A

onde o numerador representa o momento estático e o denominador a área da figura. Conclui-


se, portanto, que a resultante que corresponde à força concentrada equivalente ao
carregamento distribuído atua sempre no centroide da superfície que representa a carga
distribuída, cuja intensidade é dada pela área da figura.

Como já mencionado, um tipo de ação que representa bem um carregamento distribuído é


pressão exercida pelo vento sobre as edificações. Essa pressão é calculada por:

q( y) =   vk2 ( y) ,

onde  é densidade do ar (0,613 kg/m3) e vk é velocidade característica do vento para a


localidade em estudo. Portanto, a pressão dinâmica exercida pelo vento se torna uma função
contínua com a altura porque a velocidade do vento assim o é. Com isso, a força concentrada
equivalente por unidade de largura (Q) e o centro de pressão (cp) são encontrados por:

L
L
Q =  q ( y )dy ; cp =
 q( y) ydy ,
0
x1
 q( y)dy
0
0

onde L é a altura da edificação sobre a qual se deseja determinar a ação do vento. Considere-
se uma situação particular de uma edificação de 40 m de altura em que a velocidade, em m/s,
e a pressão do vento, em kN/m2, sejam dadas pelos gráficos a seguir.

Nas condições apresentadas, o centro de pressão estará a 22 m da base da edificação (nível


0) e a força estática equivalente por metro de altura correspondente à ação dinâmica do vento
será de 11 kN/m. Portanto, se a edificação possui 40 m de altura a força total é de 440 kN.

6.3. 3° Tipo: Carga Binária ou Carga Momento

No plano esse tipo de carregamento é representado por uma seta curva, que indica o sentido
de giro do vetor momento. Quando o vetor momento entra no papel (sentido horário) será
positivo, e quando sai do papel (sentido anti-horário) será negativo. O Binário representa a
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ação de duas forças de mesma intensidade e direção, mas de sentidos contrários, como
indicado a seguir.

↺ Anti-horário + (vetor
saindo do papel). Vê-se a
ponta do vetor.

↻ Horário - (vetor
entrando no papel). Vê-se
o rabo do vetor.

Figura 6-3. Carregamento binário.

7. CÁLCULO DAS REAÇÕES EM SISTEMAS ISOSTÁTICOS

Como os sistemas isostáticos dependem unicamente das equações da Estática, pode-se, por
meio de suas equações, calcular as reações desses sistemas. No caso de sistemas
hiperestáticos de grau 1, serão vistos alguns sistemas após o estabelecimento da equação
fundamental da Resistência dos Materiais (ou da Mecânica dos Materiais). Como sistemas
isostáticos podem ser citados:

7.1. Sistemas lineares contínuos

(a) Vigas bi-apoiadas e em balanço. (a) Colunas engastadas e articuladas.


Figura 7-1. Vigas e colunas.

(a) Quadros bi-apoiados (b) Quadros engastados


Figura 7-2. Quadros ou pórticos.

7.2. Sistemas não lineares articulados

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(a) Pórticos articulados bi-apoiados (b) Vigas articuladas


Figura 7-3. Sistemas articulados

Nos sistemas articulados, a rótula “quebra” a indeterminação estática do sistema, pois


fornece mais uma equação de equilíbrio. Importante mencionar que uma rótula mantém os
vínculos de translação, horizontal e vertical, mas permite que ocorra a rotação (giro) em
torno dela, dividindo o sistema em duas partes, uma à esquerda e outra à direita da rótula.

8. EXERCÍCIOS

Exercício 8.1.
Calcular as reações de apoio para a seguinte estrutura:

Figura 8-1. Exercício 8.1.

Resolução:

Obs.: Por se tratar de uma estrutura plana e com as forças atuantes dispostas segundo uma
única direção, a vertical, e nenhuma força atuando na direção horizontal, o equilíbrio do
sistema pode ser resolvido pelas equações Eq. (8.1):

F y =0 e M = 0. (8.1)

Cabe observar que, embora o apoio da B pudesse oferecer a reação horizontal, a equação
para a translação horizontal,  Fx = 0 , não se aplica a esse caso.

Passo 1- Diagrama de Corpo Livre (DCL)

É o diagrama que representa a geometria do sistema e onde se lançam as forças atuantes e


se arbitram as reações. Se a solução das equações de equilíbrio resultar em valor negativo
para uma força desconhecida, o sentido inicialmente admitido para essa reação será oposto
ao que foi adotado inicialmente.

DCL:

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Passo 2- Equações de Equilíbrio:

Como convenção para as orientações positivas e negativas dos esforços, ativos ou reativos,
será utilizada a recomendação já existente da Estática, onde as forças verticais para cima,
forças horizontais para a direita e giros no sentido trigonométrico (ou anti-horário) são
positivos. Os que estiverem com orientação contrária serão negativos:

Figura 8-2. Convenção da Estática para esforços positivos.

Portanto, para o sistema apresentado, tem-se:

 F = 0 → R + R = 50 + 10 + 20  R + R = 80kN .
y A B A B

 M = 0 → − R  8 + 50  6 + 10  4 + 20  2 = 0 R = 47,50kN
B A A → RB = 80 − 47,50 ⸫
RB = 32,50kN .

As reações de apoio do sistema, portanto, são: RA = 47,50 KN e RB = 32,50 KN .

Observa-se que os sinais positivos confirmam a orientação adotada. Também é importante


observar que as intensidades das forças reativas são distintas, o que permite dimensionar
apoios com dimensões diferentes.

Exercício 8.2.
Calcular as reações de apoio para a estrutura “ABCD”, constituída por uma barra horizontal
“AB” e outra vertical “CD”:

Figura 8-3. Exercício 8.2.

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Resolução:

Passo 1- Calcular a equivalência da carga distribuída

Nesse caso, existe uma carga distribuída com taxa de carregamento constante de 1 kN/m e
cargas concentradas horizontais de 20 kN e 30 kN e verticais de 20 kN e 10 kN. Aplicando
a fórmula para cargas distribuídas de:

Q =  q( x)dx , com limites de integração entre 0 e L, encontra-se:

L
Q =  q ( x )dx . Como q(x) = q = constante, tem-se que:
0

Q = qL = 1 2 = 2kN .

Passo 2- Cálculo do ponto de aplicação da carga distribuída (centroide da figura)

O ponto de aplicação da carga concentrada equivalente ao carregamento distribuído está


localizado no centroide da superfície que representa o referido carregamento. Logo:

L L
qL2
x=
 q( x) xdx → x = q  xdx → x =
0 0 2 = 1 L.
L L
 q( x)dx
0
q  dx
0
qL 2

Passo 3 - Diagrama de Corpo Livre:

Com os passos anteriores definidos, o diagrama do corpo livre (DCL) pode ser construído:

DCL:

Passo 4 - Equações de equilíbrio:

+ →  Fx = 0 → H A + 20 − 30 = 0  H A = 10kN ,
+   Fy = 0 → RA + RB − 20 − 2 − 10 = 0  RA + RB = 32kN . Quanto à rotação, tem-se:
+ M A = 0 → RB  6 − 20 1 − 2  4 − 10  5 − 20  2 − 30  2 = 0  RB = 29, 67 kN .
Logo, RA = 32 − 29, 67 → RA = 2,33kN .

Assim, as reações desse sistema são: H A = 10kN ; RA = 2,33kN ; RB = 29, 67kN .

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Exercício 8.3.
Calcular as reações de apoio para o pórtico “ABCDE” seguinte.

Figura 8-4. Exercício 8.3.

OBS.: Há uma carga distribuída de forma linear cuja especificação é dada pela maior
ordenada. Normalmente, esse é um tipo de carregamento está relacionado a empuxos de
solos e/ou pressões hidrostáticas em reservatórios).

Resolução:

Passo 1- Calcular a equivalência da carga distribuída

Por semelhança de triângulos, tem-se:

q q( x) qx
= → q( x) = → que é uma função linear (equação da reta).
L x L

Intensidade da força equivalente:

L L qx q L
Q =  q ( x)dx → Q =  dx =  xdx , com
0 0 L L 0
2
qL 1 1
Q=  Q = qL , que é a área do triângulo. Logo, Q =  5  6  Q = 15kN .
L 2 2 2

Passo 2- Cálculo do ponto de aplicação da carga distribuída (centroide)

Ponto de Aplicação da força equivalente:

qx q L 2 L3
 q( x) xdx = 0 L xdx = L 0 x dx = 3 → x = 2 L .
L L

x = 0L
0 q( x)dx 0 L dx L 0 xdx L2
L qx 2
q L 3

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2
Assim, x = L é o centro de gravidade do triângulo. Logo, com os dados do problema,
3
2
tem: x =  6 → x = 4m .
3

Passo 3 - Diagrama de Corpo Livre:

Passo 4 - Equações de equilíbrio:

F = 0 → H = 0
x A

 F = 0 → R + R = 45 ,
y A B

 M = 0 , implica em ter: R
270
A B  6 − 15  4 − 30  7 = 0 → RB =  RB = 45kN .
6
Logo, RA = 0kN .

Exercício 8.4.
Calcular as reações de apoio para a seguinte estrutura “ABCD”, constituída de uma barra
horizontal “AB” e outra vertical “CD”:

Figura 8-5. Exercício 8.4.

Resolução:

Passo 1 - Diagrama de Corpo Livre:

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Passo 2 - Equações de equilíbrio

 F = 0 → H + 20 − 20 = 0  H = 0 ,
x A A

F = 0 → R = 0,
y A

 M = 0 → 20  2 + 20  2 + 10 + M = 0 → M
A A A = −90kN  m .

H A = 0

  RA = 0
 M = −90kN  m sentido horário
 A ( )

Como o momento no ponto “A” é negativo, o sentido real do momento reativo será horário
(sentido contrário ao adotado inicialmente).

9. ESFORÇOS SOLICITANTES

Os esforços solicitantes são esforços internos, sendo os responsáveis pela mudança de


posição de uma seção transversal. São eles, a força normal (N), força cortante (V), momento
fletor (M) e o momento torsor (T). A peça indicada abaixo pode ser dividida em duas partes:
superior e inferior. Dessa forma, para definir os esforços solicitantes deve-se olhar em uma
das partes e não nas duas ao mesmo tempo. As forças Px, Py e Pz estão aplicadas na aresta
do corpo e, portanto, de forma excêntrica em relação ao centro geométrico da seção. Ao
serem deslocadas no centro, isso faz com que apareçam momentos em tornos dos eixos
centrais (x, y, z) designados como Mx, My e Mz.

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Figura 9-1. Visualização dos esforços internos

As seções podem ter dois tipos de movimento:

1 – Translação → As forças são responsáveis,


2 – Rotação → Os momentos são responsáveis.

Quando uma força atua deslocada em relação a um ponto, ou no caso de uma seção, atua
fora do seu geométrico, seu efeito será igual ao efeito dessa força atuando no centro
geométrico, ou no ponto em referência, somado ao efeito do momento dessa força em relação
ao ponto para o qual foi deslocada, conforme ilustrado na figura a seguir.

Figura 9-2. Sistema equivalente para uma força excêntrica.

9.1. Efeitos da translação

a) Efeitos da força Py:

A força Py provoca deslocamento na direção vertical. Esse esforço é chamado de Esforço


Normal, pois é normal à seção considerada, e, para sua determinação, devemos somar todas
as forças que agem seguindo direção y.

O Esforço Normal numa seção, portanto, é o somatório de todas as forças que atuam de um
lado ou do outro lado da seção considerada, projetadas sobre o eixo perpendicular
(perpendicularismo) à seção, será representado por N.

N =  Py

b) Efeitos das forças Px e Pz:

As forças Px e Pz causam deslocamento na direção perpendicular ao eixo longitudinal e são


chamadas de Esforço de Cisalhamento ou Esforço Tangencial e serão representadas por
V e por um sub índice que indica a direção em que atuam. Caso essa notação não seja
suficiente para definir, univocamente, o esforço, esse será identificado por dois sub índice,
um indicando a direção em relação à qual o esforço é perpendicular e o outro a direção em
que é paralelo.

O esforço cortante numa seção, por definição, é o somatório das forças que atuam de um
lado ou do outro lado da seção considerada, projetadas sobre os eixos nela contidos
(paralelismo).

Vx =  Px ; Vz =  Pz

9.2. Efeitos da rotação

A condição para que uma força cause momento em relação a um eixo é que ela esteja em
um plano perpendicular ao eixo.
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a) Momento Fletor (M):

É o somatório dos momentos produzidos por todas as forças que atuam de um lado ou do
outro lado da seção considerada. Aplicando a regra da mão direita para descobrir sentido do
momento em relação ao eixo adotado, encontraremos as equações para Mx e para Mz que
são os momentos resultantes em relação ao eixo x.

» Momento em relação ao eixo x:

b
M x = Py    − Pz  c
2

» Momento em relação ao eixo z:

a
M z = Py    − Px  c
2

OBS.: Durante a flexão algumas fibras da seção sofrem alongamento e outras encurtamento.
As fibras que não sofrem modificação são chamadas de Fibras Neutras. Essas fibras situam-
se sobre a linha que separa a região comprimida da região tracionada denominada de “Linha
neutra”.

Figura 9-3. Linha neutra na flexão.

b) Momento Torsor (T)

É o somatório dos momentos produzidos por todas as forças de um lado da seção considerada
em relação ao eixo perpendicular a seu plano.

a b
T = Pz    − Px    .
2  2

Portanto, um sistema de forças quaisquer que satisfaça às equações universais da Estática,


atuando sobre um corpo rígido, provocará nele o aparecimento de esforços que, analisados
segundo seu eixo e uma seção que lhe é perpendicular, poderão ser definidos como esforços
simples e classificados como:

1 – Esforço Normal (N)  que age no sentido de comprimir ou tracionar a seção.


2 – Esforço Cortante (V)  que age no sentido de cisalhar ou cortar a seção.
3 – Momento Fletor (M)  que age no sentido de envergar ou flexionar o eixo, ou então
afastar o plano da seção do ângulo de 90° que forma com o eixo.
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4 – Momento Torsor (T)  que age no sentido de torcer, girar a seção em torno do eixo, ou
seja. no seu próprio plano.

Esforço solicitante é o agente que tende a produzir uma deformação:

1 - Alongamento;
2 - Encurtamento; Translação
3 - Corte (distorção);

4 - Flexão (giro);
Rotação
5 - Torção (giro).

Para determinar os valores desses esforços numa seção basta estudar as forças que atuam de
um lado ou do outro da mesma, pois os valores são iguais e com sentidos contrários,
necessitando, assim, de uma convenção de sinais, que será vista caso a caso. Se tivermos a
barra abaixo, com A sendo a área de sua seção transversal, E uma propriedade relativa ao
material e L é o seu comprimento:

Figura 9-4. Barra solicitada axialmente.

os esforços nessa barra podem aumentar até o limite da resistência da peça e a informação
da intensidade da força (20 kN) será uma informação parcial da qual não se poderá fazer um
julgamento adequado. Será, portanto, necessário fornecer os parâmetros A, E e L de forma
a fazer possível uma avaliação com respeito à segurança e ao grau de deformabilidade do
sólido.

Cabe salientar que, embora a força possa aumentar até a sua capacidade resistente, a barra
permanece estaticamente em equilíbrio, porém o sólido tende a se alongar (sólido
deformável). Em sólidos deformáveis, esforços equivalentes podem produzir efeitos
distintos em corpos constituídos de materiais diferentes, pois as dimensões do corpo e as
propriedades dos materiais interferem no resultado.

9.3. Convenção de sinais

1 – Esforço Normal

Positivo: Força de tração. Esforços apontando para fora da seção.

Negativo: Força de compressão. Esforços apontando para dentro da seção

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Figura 9-5. Convenção de sinais para o esforço normal.

2 – Esforços Cortantes

Positivo: Binário que provocara um giro no sentido horário. Ou seja, uma força que tenda a
produzir um giro no sentido horário

Negativo: Binário que provoca um giro no sentido anti-horário. Ou seja, uma força que tenda
a produzir um giro no sentido anti-horário

Figura 9-6. Convenção de sinais para o esforço cortante.

3 – Momento Fletor

Positivo: Traciona as fibras inferiores.

indica entrando no papel


indica saindo do papel

Negativo: Traciona as fibras superiores.

indica entrando no papel


indica saindo do papel

Figura 9-7. Convenção de sinais para o esforço cortante.

(Para o Momento Fletor a melhor referência é a região tracionada pelo esforço.)

4 – Momento Torsor

Positivo: Quando as forças do lado esquerdo tendem a provocar, nessa parte, um


deslocamento para a direita e as forças da direita tendem, nesta parte, a provocar um
deslocamento para a esquerda. Ou ainda, quando o vetor momento possui a mesma direção
da normal externa (n) à seção em que atua.
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Negativo: Quando apresentar configuração oposta a anterior, ou seja, quando o vetor


momento possui direção oposta à da normal externa à seção em que atua.

Figura 9-8. Convenção de sinais para o Momento Torsor.

Observação: Para sistemas planos a identificação é bastante natural, porém para sistemas
espaciais a definição de esquerda e direita pode ser confusa. Para barras verticais, por
exemplo, essa definição torna-se imprópria, e uma alternativa é rebater visualmente a barra
para a horizontal pelo ângulo externo, como mostrado a seguir.

Figura 9-9. Estratégia para posicionar o observador.

Exemplos:
Exercício 9.1.
Determine os esforços solicitantes nas seções indicadas da figura abaixo.

Figura 9-10. Exercício 9.1.

Resolução:

Os esforços solicitantes são “Normais” em relação ao eixo horizontal da barra.

Fazendo o estudo das forças em cada seção, tem-se:

Seção A: Pela direita: 45 + 35 = 80 kgf


Pela esquerda: 50 + 30 = 80 kgf

Seção B: Pela direita: – 30 + 35 + 45 = 50 kgf


Pela esquerda: 50 kgf

Seção C: Pela direita: 45 kgf


Pela esquerda: 50 + 30 – 35 = 45 kgf
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Traçando o diagrama do esforço normal (DEN). (Em escala):

Exercício 9.2.
Qual o trecho mais solicitado AB ou BC?

Figura 9-11. Exercício 9.2.Exercício 10.1.

Uma característica importante do diagrama do esforço normal é que as descontinuidades


representam as forças concentradas, ativas ou reativas, no elemento estrutural analisado.

10. EXERCÍCIOS

Exercício 10.1.
Determinar os esforços solicitantes na estrutura abaixo.

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Figura 10-1. Exercício 10.1.

Resolução:

Força 1 Força 2
N1 = −10kN N 2 = −10kN
V1 = 0 V2 = 0
M1 = 0 M 2x = 0
T1 = 0 M 2 z = −10 10 = −100kN  cm (Negativo → contrário a z)
T2 = 0

Força 3 Força 4
N3 = 5kN N4 = 0
V3 = 0 V4 x = 20kN
M 3 x = 5 10 = 50kN  cm V4 y = 0
M 3 y = −5 10 = −50kN  cm M 4 x = −20  40 = 800kN  cm
T3 = 0 T4 = 20 10 = 200kN  cm

RESULTANTES:

Esforço Normal: N = −10 −10 + 5 + 0 = −15kN .


Esforços cortante em x: Vx = 0 + 0 + 0 + 20 = 20kN .
Esforços cortante em z: Vz = 0 .
Momentos fletor em x: M x = 0 + 50 + 0 + 0 = 50kN  cm .
Momentos fletor em z: M z = −100 − 50 − 800 = −950kN  cm .
Momentos torsor: T = 200kN  cm .

Exercício 10.2.
Determinar os esforços solicitantes nas seções indicadas da estrutura ABC abaixo.

Figura 10-2. Exercício 10.2.

Solução:

Seção : Seção β:
N = 0 , N = −20kN ,

38
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

V = −20kN , V = 0 ,
M  = 20 1 = 20kN  m , M  = 20  3 = 60kN  m ,
T = 0 . T = 0 .

Exercício 10.3.
Determinar os esforços solicitantes na estrutura “ABC” abaixo.

(a) Vista em perspectiva (b) Vista Superior


Figura 10-3.Exercício 10.3.

Solução:
Para melhor visualização da solução do problema, o observador ( ) deve se posicionar
na forma indica na figura:

Vista B-C Vista A-B

Esforços em α: Esforços em β:

N = 0 , N = 0 ,
V = 20kN , V = 20kN ,
M  = −20  2 = −40kN  m , M  = −20  4 = −80kN  m ,
T = 0 . T = −20  5 = −100kN  m .
39
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Exercício 10.4.
Determinar os esforços solicitantes nas seções  e  da estrutura “ABC” abaixo

Figura 10-4. Exercício 10.4.

Solução:

Verifica-se a necessidade de definir as direções normal e paralela às seções indicadas. No


caso da seção a essas direções são a da tangente e da direção radial à curva, respectivamente.

Portanto:

N → definida pela reta tangente à curva na seção.


V → definida pela reta normal à curva na seção (radial).

Em α: Em β:

N = 45  sen 60 = 39, 0kN , N = 0 ,


V = 45  cos 60 = 22,5kN , V = 45kN ,
M  = 45(5  sen 60) = 194,90kN  m , M  = −45  2 = −90kN  m ,
T = 0 . T = 0 .

Exercício 10.5.
Determinar os esforços solicitantes na estrutura abaixo, para um ângulo genérico “”.

40
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Figura 10-5. Exercício 10.4.

Resolução:

Fazendo para uma seção genérica localizada por meio de um ângulo ‘θ’ como indicado,
teremos os esforços como uma função desse ângulo:

N ( ) = P  sen  , V ( ) = P  cos  e M ( ) = P  ( r  sen  ) .

Se se deseja encontrar os esforços máximos, a derivada da função em relação a ‘θ’ igualada


a zero fornece as posições de interesse, que substituídas nas equações fornecem os valores
máximos e mínimos.

dN ( ) d ( P  sen  )
= = 0  P  cos  = 0 → Logo,  = 90 →
d d

dV ( ) d ( P  cos  )
= = 0 − P  sen  = 0 → Logo,  = 0 →
d d

dM ( ) d ( P  r  sen  )
= = 0  P  r  cos  = 0 → Logo,  = 90
d d

Considerando o ângulo  como a variável independente do problema e estando situado no


intervalo 0 ≤  ≤ π (π = 180º), para o caso em particular em estudo, pode-se construir os
gráficos que representam a variação dos esforços solicitantes ao longo da
semicircunferência, tais como:

Esforço Normal:

41
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Esforço cortante:

Momento fletor:

Com os gráficos anteriores elaborados, é possível, a partir deles, realizar atividades de


projeto como o dimensionamento do referido componente estrutural, além de ser possível

42
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

embasar tomadas de decisões sobre aspectos construtivos e verificações de ordem estrutural


que forem necessárias.

11. DIAGRAMAS DO ESFORÇO CORTANTE E MOMENTO FLETOR

11.1. CARGA CONCENTRADA

11.1.1. Viga bi-apoioada

Considere-se uma viga bi-apoiada de comprimento l, na qual atua uma carga concentrada P,
conforme mostra a Figura 11-1, onde a e b são os tramos da viga. Por definição, vigas são
barras que recebem carregamento transversal em relação ao seu eixo. No estudo do esforço
cortante e momento fletor, admite-se que:

1 – A viga possua um plano de simetria paralelo ao da figura;


2 – Que a seção transversal tenha um eixo vertical de simetria.

Figura 11-1. Carga concentrada (viga bi-apoioada).

1) Diagrama de Carregamento (DC)

O problema consiste em determinar os esforços solicitantes nas seções α e β localizadas pela


variável independente do problema x, e traçar os diagramas de esforço cortante (DEC) e
momento fletor (DMF). Defina-se como A e B os apoios da esquerda, fixo, e o da direita,
móvel. Cabe observar que a seções situam-se entre as forças concentradas, quer sejam ativas
ou reativas, sendo tomadas quantas seções foram necessárias para formular todo o problema.

2) Diagrama de Corpo Livre (DCL)

Vale a pena recordar que o diagrama do corpo livre (DCL) compreende a representação da
geometria do sistema, das forças ativas e reativas, essas com suas orientações arbitradas.
Para elementos unidimensionais a geometria da peça é conferida por seu eixo. O eixo, por
definição, é a interseção dos centroides das seções transversais. Uma peça pode ser de eixo
reto ou curvo. É importante observar que a comprovação das orientações que foram
inicialmente adotadas para as reações de apoio se dará por meio da avaliação do sinal obtido
43
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

nas equações de equilíbrio. Caso um sinal negativo apareça, isso será indicativo de que a
orientação inicialmente admitida para a reação está incorreta, ou seja, que a essa está em
sentido contrário ao adotado.

3) Condições de equilíbrio

F = 0 → H = 0,
x A

F = 0 → R + R − P = 0,
y A B

 M = 0 → R l − P  a = 0 ∴
Pa
A B , RB =
l
Pb
 M B = 0 → −RA  l + P  b = 0 ∴ RA = l .
4) Esforços solicitantes

É importante ter em mente a definição e convenção de sinais para os esforços solicitantes


que foi estabelecida.

Na seção  Na seção 

N = 0 , N = 0 .
Pb Pa Pb
V = , V = − . (Pela direita) ou V = − P (Pela esquerda).
l l l
Pb Pa Pb
M = x, M = (l − x) (Pela direita) ou M  = x − P ( x − a ) (Pela esquerda).
l l l
T = 0 . T = 0 .

OBS.:

» Note-se que a equação do momento fletor no intervalo da seção  é uma função linear
em x, uma reta do tipo y = mx , onde m = Pb / l é o coeficiente angular da reta. Para a
seção  a equação da reta é do tipo y = mx + n com o coeficiente angular igual a
m = −Pa / l e o coeficiente linear n = Pa .
» Para o dimensionamento de vigas ou elementos de máquinas é preciso estabelecer os
valores máximos ao longo da peça, o que se obtém pelos diagramas dos esforços
solicitantes.
» Além disso, para realizar o detalhamento de peças estruturais é preciso conhecer o valor
dos esforços em diversas seções transversais, por essa razão traça-se o diagrama de cada

44
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

esforço ao longo da estrutura. Esses diagramas permitem conhecer a maneira pela qual
os esforços variam ao longo de um elemento estrutural.

3) Traçado dos diagramas (Usando as expressões para os esforços solicitantes)

3.1 Para a seção α: (0  x  a)

N = 0 ,
Pb
V = ,
l
Pb
M = x,
l
T = 0 .
Quando x = 0 → M  = 0 .
Pab l Pl
Quando x = a → M  = . Se a = b = → M  = .
l 2 4

3.2 Para a seção β: (a  x  l)

N = 0 ,
Pb Pb − Pl P (b − l ) P (l − b) Pa
V = −P= = =− → V = − ,
l l l l l
Pb
M = x − P( x − a) .
l
Pab
Quando x = a → M  = ,
l
Pbl
Quando x = l → M  = − P (l − a ) = Pb − Pb = 0 .
l

(Diagramas traçados em escala)

45
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Figura 11-2. DEC e DMF para carga concentrada (viga bi-apoioada).

OBS.: Como os diagramas são desenhados em escala, para saber o valor do esforço em uma
seção qualquer, basta medir a ordenada no diagrama na posição de interesse. Ressalta-se que
o sinal + no diagrama de momento fletor e poderia até ser dispensado, pois se sabe que o
desenho do DMF visa indicar a região tracionada da viga.

Considerações sobre o diagrama de esforço cortante (DEC)

» As áreas dos diagramas são iguais: área superior igual a área inferior:

Pb Pab
ASup = RA a = a= (Área superior);
l l
Pa Pab
AInf = RB b = b= (Área inferior).
l l

» O trecho de esforço cortante constante é representado por uma reta paralela ao eixo;
» A descontinuidade no diagrama marca um ponto de carga concentrada. Por exemplo:

Pb Pa P ( a + b ) Pl
+ = = = P.
l l l l

» O diagrama começa em zero e acaba em zero.

Considerações sobre o DMF

» Marca-se o momento na região tracionada pelo momento.


» Onde o cortante é zero, o momento é máximo;
» O diagrama começa em zero e termina em zero;
» Onde há uma descontinuidade no DEC a reta do DMF muda a inclinação.

11.1.2. Viga em Balanço


46
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Figura 11-3. Carga concentrada (viga em balanço).

1) Condições de equilíbrio

F = 0 → H = 0 ,
x E

 F = 0 → −P + R = 0 → R = P ,
y E E

 M = 0 → Pl + M = 0 → M = − Pl .
E E E

2) Expressões para V e M (0  x  l)

V = − P ,
M  = − Px .
Quando x = 0 → M  = 0 ,
Figura 11-4. Diagramas para carga Quando x = l → M  = − Pl .
concentrada (viga em balanço).

OBS.: Para uma viga em balanço não se faz necessário calcular as reações de apoio, pois o
problema pode ser equacionado a partir da extremidade livre da peça.

11.2. CARREGAMENTO UNIFORMEMENTE DISTRIBUÍDO

11.2.1. Viga bi-apoiada

Um carregamento uniformemente distribuído é definido por uma taxa de carregamento q


que é especificada por força por unidade de comprimento (kN/m, tonf/m). Esse carregamento
pode ser caracterizado pela reação de uma laje que é a força na viga ou o peso da própria
viga.

Figura 11-5. Carga uniformemente distribuída (viga bi-apoiada)

» O problema compreende determinar as expressões do cortante e momento fletor e


construir os respectivos diagramas:
» No diagrama de carregamento (DC) são definidas as posições A na extremidade à
esquerda da viga e B na extremidade direita, ambas sobre os apoios. Para equacionar os
esforços solicitantes, uma seção genérica é tomada a partir da extremidade esquerda da
peça, definindo a origem e a variável independente do problema x.

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» No diagrama do corpo livre (DCL), a força concentrada e seu ponto de aplicação são
atribuídos ao diagrama para fim de cálculo das reações:

Figura 11-6. Parâmetros - carga uniformemente distribuída (viga bi-apoiada)

1) Condições de equilíbrio

F = 0 → H = 0,
x B

 F = 0 → R + R = ql
y A B

 M = 0 → R l − ql 2 = 0 →
l ql ql ql
A B RB =  RA = ql − → RA = .
2 2 2

OBS.: A expressão ql representa a força resultante do carregamento distribuído atuando no


centroide da viga. É força concentrada equivalente ao carregamento distribuído.

2) Expressões para os esforços solicitantes

Seção  (0  x  l):

N = 0 ,
ql
V = − qx , (Equação de 1 grau)
2
ql x qlx qx ²
M  = x − qx → M  = − , (Equação de 2 grau)
2 2 2 2
T = 0 .

3) Traçando dos diagramas para V e M

3.1 Cortante

Quando:
ql ql
x = 0 → V = − q  0 → V = ,
2 2

ql ql − 2ql ql
x = l → V = − ql = → V = − .
2 2 2

3.2 Momento Fletor

48
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Quando:
ql 0
x = 0 → M =  0 − q  0  → M = 0 ,
2 2

ql l
x = l → M =  l − q  l  → M = 0 .
2 2

Para achar o ponto onde o momento é máximo, faz-se a expressão do cortante igual a zero:

ql ql 1 l
V ( x) = − qx = 0 → x =  → x = .
2 2 q 2

Substituindo na expressão do momento o valor de x para quando o cortante é zero, encontra-


se o momento fletor naquela posição:

ql q
M ( x) = x − x² ,
2 2

2
 l  ql l q  l  ql ² ql ² ql ²
M   =  −   = − → M = .
2 2 2 2 2 4 8 8

que é o valor do momento máximo, que representa a flecha da parábola do diagrama de


momento fletor. Para seu traçado, marca-se o momento em B, ligando-o ao momento em A
e no meio do segmento, marca-se, na vertical, a flecha f = ql ² / 8 , obtendo-se, assim, uma
parábola simétrica, conforme Figura 11-7.

Figura 11-7. DC, DEC e DMF para carregamento uniformemente distribuído (viga
bi-apoiada)

Observações gerais sobre o DEC e o DMF:

– Onde o diagrama do cortante intercepta os eixos das abcissas tem valor nulo, o momento
fletor, nesse ponto, assume valores máximos (valores positivos) e mínimos (valores

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Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

negativos). Se o cortante passa do positivo para o negativo, o momento passa por um


máximo. Se o cortante passa do negativo para o positivo, o momento passa por um mínimo.

– Nos pontos de “concentração” de carga o momento sofre uma descontinuidade (inflexão).


Como a carga é distribuída a “descontinuidade” é suave e não abrupta.

11.2.2. Viga em balanço

Figura 11-8. Carregamento distribuído (viga engastada ou em balanço).

» O problema consiste em determinar as expressões do cortante e momento fletor,


construir os respectivos diagramas e determinar seus máximos valores.
» No diagrama de carregamento (DC) são definidas as posições A na extremidade livre
da viga e B na proximidade do engaste. Para equacionar os esforços solicitantes, uma
seção genérica é tomada a partir da extremidade livre da peça, definindo a origem e a
variável independente do problema x.
» No diagrama do corpo livre (DCL), a força concentrada e seu ponto de aplicação são
atribuídos ao diagrama para fim de cálculo das reações:

Figura 11-9. DC e DCL para carregamento distribuído (viga engastada).

1) Condições de Equilíbrio

F x = 0 → HB = 0,

F y = 0 → RB = ql ,

M
l ql ²
B = 0 → ql  + M B = 0 → M B = − .
2 2

2) Expressões para os esforços solicitantes

Seção  (0  x  l):

N = 0 ,

50
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V = −qx ,
x qx ²
M  = − qx → M  = − ,
2 2
T = 0 .

3) Traçando os diagramas para V e M

Quando:
x = 0 → V = 0 ,
x = l → V = −ql .

Quando:
x = 0 → M = 0 ,
l ql ²
x = l → M  = − ql → M = − .
2 2

Para uma viga em balanço, quando x = l (sobre o engastamento) o cortante e o fletor são
máximos. Une-se VB e VA por uma reta. Marca-se M  = −ql ² / 2 e une-se MB à MA = 0 por
uma reta suporte sobre a qual marca-se na vertical a flecha ql ² / 8 da parábola, Figura 11-10.

Figura 11-10. Representação dos DEC, DMF de uma viga em balanço.

11.3. CARREGAMENTO COM VARIAÇÃO LINEAR

11.3.1. Viga bi-apoiada

Considere-se a viga simplesmente apoiada, conforme indicado na Figura 11-11, sujeita a um


carregamento distribuído por comprimento, que varia linearmente de 0 a q (q em
força/metro).

Figura 11-11. Carregamento com variação linear (viga bi-apoiada).

51
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Para efeito de equilíbrio, o carregamento distribuído pode ser substituído por uma carga
concentrada equivalente, cuja intensidade é dada pela área da figura que representa o
carregamento, aplicada no seu centro geométrico, permitindo construir o diagrama do corpo
livre (DCL). Matematicamente, é possível obter essas informações por meio da função
carregamento integradas no domínio do problema:

» Definição da função carregamento.

Por semelhança de triângulos, tem-se:

q q( x) qx
= → q( x) = → que é uma função linear em x.
l x l

» Intensidade da força equivalente:

l qx l q l q l2 1
Q =  q ( x)dx → Q =  dx =  xdx , com isso: Q =  Q = ql .
0 0 l L 0 l 2 2

» Ponto de aplicação da força equivalente ao carregamento distribuído:

qx l q l 2 l3
 q( x) xdx = 0 l l 0
l
xdx x dx
2
x = 0l = = 32 → x = l .
0 q( x)dx 0 l dx l 0 xdx l2
l qx q l 3

» O problema consiste em determinar as expressões do cortante e momento fletor e


construir os respectivos diagramas:
» No diagrama de carregamento (DC) são definidas as posições A na extremidade à
esquerda da viga e B na extremidade direita, ambas sobre os apoios. Para equacionar os
esforços solicitantes, uma seção genérica é tomada a partir da extremidade esquerda da
peça, definindo a origem e a variável independente do problema x.
» No diagrama do corpo livre (DCL), a força concentrada e seu ponto de aplicação são
atribuídos ao diagrama para fim de cálculo das reações:

Figura 11-12. DC e DCL carregamento com variação linear (viga bi-apoiada).

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1) Condições de Equilíbrio (Cálculo das reações)

F x = 0 → HB = 0,

F
ql
y = 0 → RA + RB =,
2
1 2 ql ² ql
 M A = 0 → RBl − 2 ql  3 l = 0 → RBl − 3 = 0 → RB = 3 ∴
1 ql 3ql − 2ql ql
RA = ql − → RA = → RA = .
2 3 6 6

2) Expressões para os esforços solicitantes

Seção  (0 ≤ x ≤ l):

q( x) q qx
= → q( x) =
x l l

N = 0 ,
q( x) x qx ql
V = RA − , como q ( x) = e RA = , tem-se que:
2 l 6
qx
x
ql ql qx ²
V = − l → V = − (Expressão de uma parábola quadrática),
6 2 6 2l
qx
x
q( x) x 1 ql l 1 ql q
M  = RA x −  x → M = x −  x → M  = x − x ³ (Expressão de uma
2 3 6 2 3 6 6l
parábola cúbica).

3) Traçado do diagrama de V e M

Para o Cortante:

Quando:
ql
x = 0 → V = ,
6
ql ql ² ql ql 2ql − 6ql 4ql ql
x = l → V = − = − = =− → V = − .
6 2l 6 2 12 12 3

Para o Momento Fletor:

Quando:
x = 0 → M = 0 ,
ql q ql 2 ql 2
x = l → M = l − l3 = − → M = 0 .
6 2l 6 6

53
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

O momento máximo ocorre no ponto onde o cortante é nulo, portanto:

ql qx 2
V = V ( x ) = 0 → − =0,
6 2l
ql qx 2 l2 l 3
= → x2 = → x= = l → x = 0,5777l  60%l (Ocorre depois do meio do
6 2l 3 3 3
vão).

Substituindo na expressão do momento:

ql q (0,5777l )3
M Máx =  0,5777l − → M Máx = 0,096  ql 2 − 0,032  ql 2 → M Máx = 0,064ql 2
6 6l

DEC/DMF:

DEC: A expressão da parábola


tem sinal negativo no termo
quadrático, portanto a parábola
tem concavidade para baixo.

DMF: Marca-se ponto a ponto no


diagrama, lembrando que a
orientação do eixo vertical é para
baixo, y = M(x).

11.3.2. Viga em Balanço

A viga em balanço, indicada na Figura 11-13, suporta um carregamento distribuído que varia
linearmente de 0 a q.

Figura 11-13. Carregamento com variação linear (viga engastada).

» O problema consiste em determinar as expressões do cortante e momento fletor,


construir os respectivos diagramas e determinar seus máximos valores.
» No diagrama de carregamento (DC) são definidas as posições A na extremidade livre
da viga e B na proximidade do engaste. Para equacionar os esforços solicitantes, uma
seção genérica é tomada a partir da extremidade livre da peça, definindo a origem e a
variável independente do problema x.
» No diagrama do corpo livre (DCL), a força concentrada e seu ponto de aplicação são
atribuídos ao diagrama para fim de cálculo das reações:

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Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Figura 11-14. DC e DCL para carregamento com variação linear (viga engastada).

1) Condições de Equilíbrio (Cálculo das reações)

F x = 0 → HB = 0,

F
ql
y = 0 → RB =
,
2
ql 1 ql 2
 B
M = 0 → 
2 3
l + M B = 0 → M B = −
6
.

2) Expressões para os esforços solicitantes

Seção  (0 ≤ x ≤ l):

N = 0 ,
1 qx 1 qx qx 2
V = − q ( x ) x , como q ( x) = ; V = −   x → V = − ,
2 l 2 l 2l
q( x) x 1 1 1 q  x  x2 qx3
M = −  x = − q( x) x 2 → M  = −  → M = − .
2 3 6 6 l 6l

3) Traçado do diagrama

Para o cortante (DEC):

Quando:

x = 0 → V = 0
ql
x = l → V = −
2

Para o momento fletor (DMF):

Quando:

x = 0 → M = 0 ,
ql 3 ql 2
x = l → M = − → M = − .
6l 6

55
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11.4. CARREGAMENTO BINÁRIO

Tome-se a viga bi-apoiada de comprimento l e com um binário MI aplicado em uma posição


a do vão.

Figura 11-15. Carregamento binário.

» O problema consiste em determinar as expressões do cortante e momento fletor,


construir os respectivos diagramas e determinar seus máximos valores.
» No diagrama de carregamento (DC) são definidas as posições A sobre o apoio da
esquerda, móvel, e B sobre o apoio da direita, fixo. Para equacionar os esforços
solicitantes, se faz necessário a definição de duas seções genéricas,  e , ambas
tomadas a partir da extremidade esquerda da peça, definindo a origem e a variável
independente do problema x.
» No diagrama do corpo livre (DCL), o binário é posicionado para fim de cálculo das
reações:

Figura 11-16. Parâmetros de cálculo: carregamento binário.

1) Diagrama do Corpo Livre (DCL)

2) Cálculo das reações (Condições de Equilíbrio)

F x = 0 → HB = 0

F y = 0 → RA + RB = 0 → RA = − RB
 M 
M
MI M
A = 0 → RB  l + M I = 0 → RB = − ∴ RA = −  − I  → RA = I
l  l  l
2) Expressões para os esforços

Seção α: (0 ≤ x < a)

N = 0 ,

56
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MI
V = RA = , (Constante)
l
M
M  = RA x = I x , (Equação do 1° grau)
l
T = 0 .

Seção β: (a ≤ x ≤ l)

N = 0 ,
MI
V = RA = (Constante)
l
MI M
M  = RA x − M I =  x − M I → M  = I (x − l) (Equação do 1° grau)
l l
T = 0

3) Traçado dos diagramas

Para o esforço Cortante (DEC).

Quando:
MI
x = 0 → V = RA = ,
l
MI
x = a → V = ,
l
M
x = a → V = I .
l
MI
x = l → V = .
l

Para o Momento fletor (DMF).

Quando:
x = 0 → M = 0 ,
M
x = a → M = I  a ,
l
M M M b
x = a → M  = I (a − l ) → M  = − I (l − a ) → M  = − I ,
l l l
M
x = l → M  = I (l − l ) → M  = 0 .
l

57
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

OBS.: A presença de um binário no diagrama de carregamento (DC) representa uma


descontinuidade no diagrama do momento fletor (DMF), semelhante à carga concentrada
para o esforço cortante. O valor desse trecho vertical corresponde à intensidade do binário,
pois somando-se os segmentos superior e inferior, tem-se:

M I a M Ib M I (a + b) M Il
+ = = = MI .
l l l l

12. EXERCÍCIOS

Exercício 12.1.
Determinar os esforços no ponto B e traçar os diagramas dos esforços solicitantes.

Figura 12-1. Exercício 12.1.

1) Diagramas de carregamento e de corpo livre:

2) Condição de equilíbrio (Cálculo das reações):

F x = 0 → H A − 4 + 7 = 0 → H A = −3kN ,
F y = 0 → RA + RC = 15kN ,

58
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M A = 0 → −5 1 − 10  3 + 5 + RC  5 = 0 → RC = 6kN ∴ RA = 15 − 6 → RA = 9kN .

2) Esforços em B:

N B = 7kN ; VB = 4kN ; M B = 9  2 − 5 1 = 18 − 5 → M B = 13kN  m .

2) Diagramas de esforços:

Exercício 12.2.
Determinar o DEC, o DMF e as expressões para o cortante e momento fletor para viga
abaixo indicada.

Figura 12-2. Exercício 12.2.

1) Diagramas de carregamento e de corpo livre:

Figura 12-3. DC e DCL Exercício 12.2.

59
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

2) Cálculo das reações:

 F = 0 → R + R = 80kN ,
y A B

 M = 0 → R  4 − 80  2 + 20 = 0 → R
140
A B B = → RB = 35kN ∴ RA = 45kN .
4

3) Expressões para o cortante e momento fletor:

Seção  (0 ≤ x ≤ 4):

V = 45 − 20 x ,
x
M  = 45 x − 20 x  − 20 → M = −10 x2 + 35x − 20 .
2

4) Traçado dos diagramas:

3.1 Para o cortante (DEC):

Quando:
x = 0 → V = 45 ,
x = 4 → V = 45 − 20  4 → V = −35 .

3.2 Para o momento fletor (DMF):

Quando:
x = 0 → M  = −20 ,
x = 4 → M = −10(4)2 + 45(4) − 20 → M  = 0 .

A posição em que o momento fletor é máximo corresponde à do cortante nulo:

V = 0 → M  = M Máx .

Portanto, igualando-se a expressão obtida para o esforço cortante em  a zero, tem-se:

45
45 − 20x = 0 → x = → x = 2, 25m ,
20

que representa posição em o momento encontra seu máximo. Substituindo esse valor na
equação do momento em  tem-se o momento fletor máximo:

M Máx = −10  2, 252 + 35  2, 25 − 20 → M Máx = 30, 62kNm

A flecha da parábola f para o traçado do DMF, é dada por:

ql 2 20  42
f = = = 40kNm ,
8 8

60
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Assim, com todos os elementos definidos, os diagramas do cortante e momento fletor


possuem as seguintes formas:

13. RELAÇÕES DIFERENCIAIS DE EQUILÍBRIO OU RELAÇÕES


ENTRE (M, V, q)

Muitas vezes o carregamento em uma viga torna trabalhoso o traçado dos diagramas pelo
método das seções. São carregamentos concentrados, carregamentos distribuídos e binários
que podem estar atuando ao mesmo tempo. Por isso, pode ser mais viável entender a relação
entre o momento fletor e o carregamento atuante para traçar os diagramas DEC e DMF. Essa
relação é válida para qualquer tipo de carregamento, seja ele distribuído, concentrado ou
binário e só pode ser aplicado desde que não haja descontinuidades de carregamentos, ou
seja, que a função carregamento seja contínua no intervalo considerado.

Tome-se a viga bi-apoiada AB com carregamento distribuído q(x), da Figura 13-1.

Figura 13-1. Viga Bi-apoiada com carregamento distribuído q(x)

Localize-se um trecho dx da viga, situado entre duas seções adjacentes α e β, em pontos C e


D da viga, com esforços externos definidos como indicado a seguir:

Verifica-se que, na composição do equilíbrio, os esforços internos aparecem com a


configuração da Figura 13-2(a). Devido ao carregamento existente, os esforços cortante e
normal, e momento fletor sofrem variação ao longo do comprimento da viga. Para o
61
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

elemento diferencial dx, essa variação representa uma diferença desses esforços nas faces à
esquerda e à direita dados por dM, dV e dN, conforme se vê na Figura 13-2(b).

(a) Sentido dos esforços internos positivos. (b) Esforços Internos.


Figura 13-2. Relações diferenciais

Fazendo o equilíbrio do elemento infinitesimal com as equações da Estática, tem-se:

1) Equilíbrio da rotação em torno do ponto D:

M D = 0 , implica que:

dx
−Vdx − M + q ( x )dx  + ( M + dM ) = 0 ,
2
dx 2
−Vdx + (− M + M ) + q ( x) + dM = 0 .
2

Anulando os parâmetros com sinais opostos e os infinitésimos de segunda ordem, a equação


anterior fica:

dM
−Vdx + 0 + 0 + dM = 0 → dM = Vdx ou V = o que leva a M =  Vdx .
dx

Integrando no trecho CD :

D D

 dM =  Vdx , lembrar que V = V ( x) = V , portanto:


C C

D D
M D − M C =  Vdx → M D = M C +  Vdx .
C C

Pode-se enunciar, em função da equação anterior, que o momento em um ponto é igual ao


momento em um ponto anterior mais a integral da função do esforço cortante entre esses
dois pontos.

Integrando para toda a viga, tem-se:

B
M B − M A =  Vdx ou M B = M A + SDEC A .
B

62
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

S → Indica área, nesse caso, a área do diagrama do esforço cortante (DEC). Assim, a regra
expressa pela equação anterior passa ser enunciada em termos da área do diagrama de
cortante como sendo: o momento em um determinado ponto corresponde ao momento numa
posição anterior mais a área do diagrama do esforço cortante entre as duas posições.

2) Equilíbrio da translação na direção vertical em y:

F y = 0 , leva a:

V − q ( x)dx − (V + dV ) = 0 ,

V − q ( x)dx − V − dV = 0 ,

que, após eliminação dos termos com sinais contrários, fica:

− q ( x)dx − dV = 0 → dV = −q ( x)dx ou

dV
= −q ( x) , o que leva a V =  q ( x ) dx .
dx

Note-se que a relação diferencial dV/dx é a derivada da expressão do cortante (uma função
de x), representando a inclinação da reta tangente à curva, dada por q(x) com o sinal negativo.
Se, por exemplo, se tratar de um carregamento uniformemente distribuído, q(x) = q, o valor
de q será o coeficiente angular dessa reta tangente.

Integrando para o trecho CD :

D D

 dV = − q( x)dx ,
C C
D
VD − VC = −  q( x)dx ,
C
D
VD = VC −  q( x)dx .
C

Pode-se concluir que o cortante em um ponto é igual ao cortante no ponto anterior, menos a
integral da função carregamento entre esses dois pontos.

Integrando para toda a viga:

B B

 dV = − q( x)dx ,
A A
B
VB − VA = −  q( x)dx ou VB = VA − SDC A .
B

A equação anterior estabelece que o valor do cortante em um determinado ponto corresponde


ao cortante em um ponto anterior mais a área do diagrama de carregamento entre os pontos
considerados.

63
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

dV dM
Como −q = eV = , pode-se escrever, ainda, que:
dx dx

 dM 
d  2
−q ( x) =   → d M = −q( x) ,
dx
dx dx 2

que é a equação que representa a inclinação da reta tangente à curva do diagrama de


momento. Se esse for uma parábola, a expressão q(x) descreve a reta tangente à parábola,
calculada em um ponto x, qualquer, no intervalo de validade da equação.

3) Equilíbrio da translação na direção horizontal em x:

F x = 0 , leva a:

− N + N ( x)dx + ( N + dN ) = 0 ,

− N + N ( x)dx + N + dN = 0

que, eliminando os termos com sinais contrários, fica:

N ( x )dx + dN = 0 ,

dN = − N ( x )dx ou

dN
= − N ( x ) , o que leva a N = − N ( x ) dx .
dx

Integrando para o trecho CD :

D D

 dN = −  N ( x)dx ,
C C
D
N D − NC = −  N ( x)dx ,
C
D
N D = NC −  N ( x)dx .
C

Pode ser verificado que o esforço normal em um ponto é igual ao esforço no ponto anterior,
menos a integral da função esforço normal entre esses dois pontos.

Integrando para todo o elemento:

B B

 dN = − N ( x)dx ,
A A

64
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B
N B − N A = − N ( x)dx ou N B = N A − SDFN A .
B

14. EXERCÍCIOS

Exercício 14.1.
Usar as relações diferencias e o método das áreas para a viga simplesmente apoiada AB, de
comprimento l, abaixo, indicada, definindo as expressões do esforço cortante e momento
fletor e traçando seus diagramas.

Figura 14-1. Exercício 14.1.

As reações são RA = RB = ql / 2 , pois o carregamento é simétrico em relação aos apoios.


Após calculadas as reações, as expressões dos esforços cortante e momento fletor, com base
nas relações diferenciais, podem ser obtidas. Para isso. tome-se uma seção , genérica,
definida por meio da variável x que tem origem no apoio A.

Para o Cortante:
x
V = VA −  q( x)dx . Como q é constante:
0
x
ql
V = − q  dx ,
2 0

ql
Va = − qx , que é uma expressão já obtida. Deixando q em evidência, encontra-se:
2

l 
Va = q  − x  .
2 

Para o momento fletor:


x
M  = M A +  V ( x)dx ,
0

l 
x
ql qx 2
M  = 0 +  q  − x  dx → M  = x − . Colocando q/2 em evidência, tem-se:
0  
2 2 2
65
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q
M = (lx − x 2 ) .
2

Construção dos diagramas (DEC) e (DMF):

DEC:

Quando:

ql
x = 0 → V (0) = ,
2
l

l l ql 2 ql ql l
x = → V ( ) = −  q( x)dx = − → V( ) = 0,
2 2 2 0 2 2 2
ql ql − 2ql ql
x = l → V (l ) = − ql = → V (l ) = − .
2 2 2

DMF:

Quando:

x = 0 → M (0) = 0 ,
x = l → M (l ) = 0 , e para a posição de cortante nulo o momento é máximo, ou seja:
V = 0 → M = M Máx .

Considerando a regra das áreas, o momento fletor na posição l/2 é dado por:

l
 
M Máx = M A + S DEC 2
A
.

A forma do DEC entre as posiações A e l/2 representa uma área triangular de altura ql/2 e
base l/2. Como não há nenhum binário aplicado sobre o apoio A, MA = 0, os valores para a
equação ficam:

1 ql l ql 2
M Máx = 0 +   → M Máx = .
2 2 2 8

Com isso, os gráficos do cortante e do momento fletor têm a forma dada pela figura abaixo.

66
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Exercício 14.2.
Traçar o DEC e o DMF usando as relações diferenciais.

Figura 14-2. Exercício 14.2.

Obs.: A bolinha cheia sobre o apoio B indica o ponto de aplicação do binário.

Resolução:

Definem-se os pontos A e B sobre os apoios. Escolhem-se pontos notáveis ou pontos de


interesse na viga. Esses pontos são tomados na vizinhança à esquerda e à direita de forças e
momentos, quer sejam ativos ou reativos, início e fim de trechos de carregamentos
distribuídos. Portanto:
» O ponto 1 é definido na vizinhança à esquerda, enquanto o ponto 1’ está na vizinhança
à direita da reação vertical do apoio A.
» O ponto 2 e o ponto 2’ estão, tão perto quanto se deseje, à esquerda e à direita,
respectivamente, do fim do trecho de carregamento distribuído, que coincide com o
ponto de aplicação da força vertical de 40 kN.
» O ponto 3 e 3’ estão imediatamente antes e depois da reação do apoio B, que também é
o ponto de aplicação do binário.
» E o ponto 4 define a posição final da viga. Assim, tendo todos os pontos sido definidos,
pode-se construir o DEC usando o DC e o DMF usando o DEC.

DC

67
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1) Cálculo de Reações

M B = 0 → − RA 10 − 30 + (20  8)  6 + 40  2 − (10  2) 1 = 0 → RA = 99kN ,


M A = 0 → RB 10 − (20  8)  4 − 40  8 − 30 − (10  2) 11 = 0 → RB = 121kN .

2) Traçando DEC por pontos do DC

V1 = 0 ,
V1' = RA = 99 ,
V2 = RA − (20  8) = 99 − 160 = −61 ,
V2' = −61 − 40 = −101 (Descontinuidade no DEC),
V3 = V2' = −101 → DEC fica constante pois o
diagrama de carregamento não muda nesse trecho.
V3' = −101 + RB = −101 + 121 = 20 ,
V4 = 20 − 10  2 = 0 . DEC (kN)

3) Traçado do DMF com base no DEC

M1 = 0 ,
 99 − 61  1
M2 = 0 +    8 = 152 , lembrando que: A = 2 (h1 − h2 )l .
 2 
M 3 = 152 + [2  (−101)] = 152 − 202 = −50 ,
M 3' = −50 + 30 = −20 (Esse valor representa uma descontinuidade no DMF),
1
M 4 = −20 +  20  2 → M 4 = 0 .
2

Para encontrar a posição de cortante nulo, é preciso fazer uma análise por semelhança de
triângulos do trecho de interesse do diagrama de esforço cortante (DEC), ou seja, a e 8 – a.
Com isso, a relação entre os lados dos triângulos é dada por:

99 61
= → 99(8 − a ) = 61a → 792 − 99a = 61a → a = 4,95m .
a 8−a

Portanto, o momento máximo será a soma do momento no ponto anterior (ponto A) com a
área triangular do DEC entre A e a. Como não há binário sobre o apoio A (MA = 0), a
expressão fica:

1
M Máx = 0 +  (99  4,95) → M Máx = 245kN  m .
2

68
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DMF (kNm)

Exercício 14.3.
Realizado o traçado do DEC de uma viga, obteve-se o esquematizado na Figura 14-3. Sabe-
se que esta viga pode estar submetida exclusivamente a um binário aplicado no seu término.
Pede-se:

a) Verificar se de fato há o binário;


b) Em caso afirmativo qual o valor e sentido deste;
c) Reconstruir a viga;
d) Traçar o DMF.

Traçado do DEC (em kN).

Figura 14-3. Exercício 14.3.

Resolução:

1) Definição dos pontos de interesse


São definidos os pontos de 1 a 5, na vizinhança à esquerda e à direita dos segmentos verticais
do diagrama de cortante, como indicado na figura abaixo, pois esses pontos são indicativos
da presença de singularidades no diagrama de carregamento.

2) Determinação das taxas de carregamento (Carregamentos uniformemente distribuídos)

Deve-se observar que as retas inclinadas no diagrama indicam os trechos de carregamento


uniformemente distribuído; que as retas horizontais indicam trechos sem carregamento e que
69
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as descontinuidades no diagrama de cortante indicam cargas concentradas no diagrama de


carregamento.

Veja-se, por exemplo, que o carregamento que conduz o cortante de 80 para 60 é uma carga
distribuída relativa a 4q2, e assim por diante. Recorda-se que: VB = VA − S DC A → O cortante
B

em um ponto é o cortante no ponto anterior menos a área do diagrama de carregamento entre


os pontos considerados.

−40 = −20 − 2q1 → q1 = 10kN / m .


60 = 80 − 4q2 → q2 = 5kN / m .
0 = 20 − 4q3 → q3 = 5kN / m .

3) Reconstrução do carregamento da viga após encontrar as cargas distribuídas

Pode-se construir o diagrama de carregamento simplesmente caminhando na viga da


esquerda para direita, observando-se os trechos verticais e inclinados. O momento M5 tem
seu giro arbitrado para o sentido anti-horário, positivo.

DC

4) Verificação da existência de um binário

- 1 Modo: Por meio do diagrama de carregamento reconstruído.

A condição de equilíbrio é a de que o somatório dos momentos deve ser nulo. Portanto:

M 5 = 0 ∴ 20 16 + 10  2 15 − 120 14 + 5  4 12 + 110 10 − 70  4 + 5  4  2 + M 5 = 0 ∴

M 5 = −40kN  m (Sentido horário, vetor momento entrando no papel).

- 2 Modo: Pelas áreas do DEC

Preliminarmente, seja considerada uma função linear em x descrita pelo diagrama composto
por duas alturas h1 e h2, a primeira positiva e a segunda negativa, como se mostra a seguir.
Deseja-se calcular a área entre a curva e o eixo horizontal.

70
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

A equação geral da reta é dada por:

y ( x) = ax + b ,

Pelas condições de contorno do problema, tem-se que:

y (0) = h1  b = h1

y (l ) = −h2 −h2 = la + h1 → a = −
( h2 + h1 ) .
l

Com isso, a equação geral, com as constantes definidas, passa a ser escrita como:

y ( x) = −
( h2 + h1 ) x + h
1 .
l

A área entre a curva e o eixo horizontal é determinada por integração da área elementar
definida pela função que define a reta e o elemento diferencial dx, de forma que:

l
 ( h2 + h1 )
l
 ( h2 + h1 ) l 2
A =  y ( x)dx → A =   − x + h1  dx → A = − + h1l ⸫
0  
0
l l 2

( h2 + h1 ) l + h l − h2l − h1l + 2h1l h l − h2l 1


A=− 1 → A= → A= 1 → A = ( h1 − h2 ) l .
2 2 2 2

Fica, assim, demonstrada uma importante propriedade para o uso dos diagramas. Pela regra
das áreas, foi visto que o momento em um ponto é igual ao momento no ponto anterior mais
a área do diagrama de esforço cortante entre esses dois pontos. Portanto:

M 5 = M1 + S DEC 1 ,
5

  20 + 40   80 + 60  1 
M 5 = 0 + −  2 +    4 − (6  50) +  20  4 ∴ M 5 = −40kN  m .
  2   2  2 

Obs.: O sinal que aparece no resultado pelo método das áreas indica haver um momento
fletor no sentido negativo na extremidade da viga, que coincide com a orientação obtida
pelas condições de equilíbrio da estática. Recorde-se que em termos de esforços internos
tem-se para positivo e negativo, respectivamente, o seguinte esquema:

71
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

4) Traçado do DMF

Cálculo das flechas: Há três trechos de carga distribuída:

10  22 5  42 5  42
f1 = = 5kN  m ; f 2 = = 10kN  m ; f3 = = 10kN  m
8 8 8

Cálculos dos momentos pelo DEC.

M 1 = 0 (não há nenhum binário aplicado na extremidade esquerda da viga),

 −20 − 40 
M 2 = 0 + S DEC 1 → M 2 =    2 = −60 ,
2

 2 
 80 + 60 
M 3 = M 2 + S DEC 2 → M 3 = −60 +    4 = 220 ,
3

 2 
M 4 = M 3 + S DEC 3 → M 4 = 220 − (50  6) = −80 ,
4

1
M 5 = M 4 + S DEC → M 5 = −80 +  20  4 = −40 ,
5
4
2
M 5' = −40 + 40 = 0 .

DMF (kNm)

Exercício 14.4.
Dado o diagrama de momentos fletores, determine o diagrama dos esforços solicitantes e a
viga de origem:

Traçado do DMF (em kN.m).

72
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Figura 14-4. Exercício 14.4.

Resolução:

Deve ser observado que os trechos da curva com flechas são parábolas do 2 grau, que
representam os trechos, na viga, onde há carregamento distribuído uniformemente. As
inflexões representam posições de forças concentradas, podendo ser essas ativas ou reativas.
Nessas posições, pode-se estimar pela presença de forças, que serão calculadas com os dados
presentes no diagrama de momento fletor.

I) Solução pelas condições de equilíbrio:

1) Determinação da carga uniformemente distribuída

ql 2 q  22
10 = = → q = 20kN / m .
8 8

2) Pontos de aplicação das forças concentradas

Os pontos de aplicação de forças concentradas são aqueles onde o diagrama de momento


muda a inclinação da curva (pontos de inflexão). No entanto, é preciso verificar também nos
extremos da viga. As forças concentradas são indicadas por P1 a P5 no gráfico abaixo.

Hipótese para a posição de forças concentradas

Assim, o momento de valor (– 40) é causado pela ação da carga distribuída q, calculado
anteriormente, de valor (20·2·1) e o de mais uma força P 1, caso exista, portanto:

−40 = −(20  2 1) − P1  2 ,


−40 = −40 − P1  2 ,
−2 P1 = −40 + 40 → P1 = 0 .

73
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

P1, caso existisse, poderia ter sentido contrário ao arbitrado, o que seria revelado pelo sinal
obtido. Como P1 = 0, significa que não há carga concentrada na extremidade da viga.

Para avaliar as demais forças pode ser aplicado o mesmo procedimento feito para P1.

» Para o momento de (100) pela esquerda (P2):

100 = −(20  2)  7 + P2  6 → P2 = 63,3kN

» Para o momento de (– 60) pela esquerda (P3):

−60 = −(20  2) 11 + 63,3 10 − P3  4 → P3 = 63,3kN

» Para o momento de (– 20) pela esquerda (P4)::

−20 = −(20  2) 13 + 63,3 10 − 63,3  4 − P4  2 → P4 = 60,1kN .

» Para o momento de (– 60) pela direita (P5):

Para verificar a existência de uma força concentrada na extremidade direita da viga (P5) faz-
se o cálculo para o momento de (– 60), mas pela direita daquele ponto. Portanto:

−60 = −20 − P5  2 → P5 = 20kN .

onde −20 é um binário, constatado pela existência de uma reta vertical, representando uma
descontinuidade no diagrama de momentos fletores.

3) Reconstrução da viga

Com os valores dos carregamentos calculados, a viga pode ser reconstruída.

Viga reconstruída

4) Traçado do DEC utilizando as áreas do DMF

 2  h1 
M 2 = M1 + SDEC 1 → −40 = 0 + 
2
 , com h1 sendo a ordenada do diagrama. Logo,
 2 
h1 = −40 .

M 3 = M 2 + S DEC 2 → 100 = −40 + 6  h2 → 6h2 = 14 → h2 = 23,3 .


3

com 6h2 → área do retângulo, onde 6 é o vão e h2 é a altura do DEC.

74
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

160
M 4 = M 3 + S DEC 3 → −60 = 100 + (4  h3 ) → h3 = − → h3 = −40 ,
4

4
40
M 5 = M 4 + S DEC → −20 = −60 + (2  h4 ) → h4 = → h4 = 20
5
4
2

DEC (kN)

II) Solução pelas relações diferenciais:

Outra forma de solucionar o problema é usando as relações diferenciais dos esforços


internos. Este é uma solução baseada nas funções matemáticas que aparecem em cada trecho
do diagrama.

Para o trecho AB

Tome-se a expressão geral para o momento, que é o da equação de uma parábola na forma
de:

M ( x) = ax 2 + bx + c .

As condições de contorno para examinar essa equação são:

Quando: x = 0 → M (0) = 0 → c = 0
x = 2 → M (2) = 4a + 2b .

A outra equação que complementa o sistema é obtida pela derivada da expressão do


momento:

dM ( x) dM ( x)
= 2ax + b ∴ quando x = 0 → = 0 . Com isso:
dx dx

dM (0)
= 0 = 2a  0 + b → b = 0 . Logo, a parábola é do tipo M ( x) = ax 2 .
dx

Para x = 2 → M = −40 . Assim, pode-se escrever que:

−40 = a (2) 2 → −40 = 4a → a = −10 , o que leva a M ( x) = −10 x 2 .

A carga distribuída é obtida pela derivada segunda do momento:

d 2 M ( x) d 2 M (−10 x 2 )
= − q ( x ) → = −q → q = 20 .
dx 2 dx 2

O cortante nesse trecho é obtido derivando-se a equação do momento:

75
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

dM ( x) d (−10 x 2 )
V ( x) = → V ( x) = → V ( x) = −20 x .
dx dx

Para o trecho BC (trecho reto):

M ( x) = ax + b ∴
M (2) = −40 → −40 = 2a + b
M (8) = 100 → 100 = 8a + b ∴
−140 = −6a → a = 23, 33
−40 = 2(23,33) + b → b = −86, 66 ∴

dM ( x )
M ( x) = 23,33 x − 86, 66 ∴ = 23,33 → V ( x) = 23,33 (2 ≤ x ≤ 8)
dx

Quando x = 2 e x = 8 → V (2) = V (8) = 23,33 .

Para o trecho CD (trecho reto):

M ( x) = ax + b ∴
M (8) = 100 → 100 = 8a + b
M (12) = −60 → −60 = 12a + b ∴
160 = −4a → a = −40
100 = −320 + b → b = 420 ∴

dM ( x )
M ( x) = −40 x + 420 ∴ = −40 → V ( x ) = −40 (8 ≤ x ≤ 12).
dx

Para o trecho DE (trecho reto):

M ( x) = ax + b ∴
M (2) = −60 → −60 = 12a + b
M (14) = −20 → −20 = 14a + b ∴
−40 = −2a → a = 20 .
−60 = 12  20 + b → −60 − 240 = b → b = −300 ∴

dM ( x)
M ( x ) = 20 x − 300 ∴ = V ( x) → V ( x) = 20 (12 ≤ x ≤ 16) .
dx

Exercício 14.5.
Determinar a medida a de modo que o momento fletor máximo negativo, seja, em módulo,
igual ao momento fletor máximo positivo.

Figura 14-5. Exercício 14.5.


76
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Solução:

Para estabelecer as condições de equilíbrio os apoios são definidos como A e B, esquerda e


direita, respectivamente e são tomadas, a seu momento, as seções ,  e  para o
equacionamento dos esforços solicitantes, nos seus respectivos intervalos de validade.

1) Diagrama do corpo livre (DCL):

2) Cálculo das reações:

10  (10 + 2a)
M B = 0 → − RA 10 + (10 + 2a)  2  5 = 0 → RA =
10
→ RA = 10 + 2a .

Como RA = RB (por simetria) → RB = 10 + 2a .

3) Expressões dos esforços solicitantes:

– Para a seção α (0 ≤ x < a):

V = −2 x ,
x
M  = −2 x  → M = − x 2 .
2

– Para a seção β [ a ≤ x < (10 + a)]:

V = (10 + 2a) − 2 x ,
M  = (10 + 2a)( x − a) − x 2 .

– Para a seção  [(10 + a)] ≤ x ≤ (10 + 2a)]:

V = (10 + 2a)2 − 2 x ,
M = (10 + 2a)( x − a) + (10 + 2a)[ x − (10 + a)] − x² .

4) Obtenção dos diagramas:

77
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

4.1) Cortante.

x = 0 → V = 0 ,
x = a → V = −2a ,
x = a → V = 10 + 2a − 2a → V = 10 ,
x = (10 + a ) → V = (10 + 2a) − 2  (10 + a) = 10 + 2a − 20 − 2a → V = −10 ,
x = (10 + a ) → V = (10 + 2a)2 − 2  (10 + a) = 20 − 20 + 4a − 2a → V = 2a ,
x = (10 + 2a ) → V = (10 + 2a)2 − 2  (10 + 2a) → V = 0 .

4.2) Momento Fletor.

x = 0 → M = 0 ,
x = a → M  = −a 2 ,
x = a → M  = (10 + 2a)(a − a) − a 2 → M  = −a 2 ,
x = (10 + a ) → M  = (10 + 2a)[(10 + a) − a] − (10 + a)2 ,
M  = (10 + 2a)10 − 102 − 20a − a 2 = 102 + 20a − 102 − 20a − a 2 ,
M  = −a 2 ,
x = (10 + a ) → M  = (10 + 2a)[(10 + a) − a] + (10 + 2a)[(10 + a) − (10 + a)] − (10 + a) 2 ,
M  = (10 + 2a)10 − (10 + a 2 ) = 102 + 20a − 102 − 20a − a 2 ,
M  = −a 2 ,
x = (10 + 2a ) →
M  = (10 + 2a)[(10 + 2a) − a] + (10 + 2a)[(10 + 2a) − (10 + a)] − (10 − 2a) 2 ,
M  = (10 + 2a)(10 + a) + (10 + 2a)(a) − (10 − 2a) 2 ,
M  = 102 + 20a + 10a + 2a 2 + 10a + 2a 2 − 102 ,
M = 0 .

5) Traçando os diagramas por pontos do DEC (se o DCE já estiver traçado):

M1 = 0 ,
a
M 2 = −2 a  → M 2 = −a 2 ,
2
10 + a
M 3 = (10 + 2a ) 10 − (10 + a)  2  = 100 + 20a − 100 − 20 a − a 2 → M 3 = −a 2 ,
2
M4 = 0 .
2  a2 a2 2 102 100
Flechas: f1 = f3 = = ; f2 = = = 25 .
8 4 8 4

78
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

DEC e DMF

Verifica-se que o momento positivo ocorre no intervalo pertencente à seção β conforme


figura anterior, sendo máximo quando o cortante for nulo. Portanto:

Quando V = 0 → M = MMáx, logo:

10 + 2a
0 = 10 + 2a − 2x → x = → x = 5+ a.
2

A expressão para o momento em β é:

M  = (10 + 2a)( x − a) − x 2 .

Substituindo-se x = 5 + a nessa expressão, tem-se:

M  = (10 + 2a)[(5 + a) − a] − (5 + a) 2 ,
M  = (10 + 2a)5 − 52 − 10a − a 2 = 50 + 10a − 25 − 10a − a 2 ,
M  = M Máx = 25 − a 2 .

Pela condição do problema: M Mín = M Máx , portanto:

25
a 2 = 25 − a 2 → 2a 2 = 25 → a =  → a = 3, 54m .
2

Tomando o valor positivo da solução → a = 3,54m .

Obs.: Uma solução prática do problema seria obtida pela flecha do DMF:

DMF

M Máx = 25 − a 2 ⸫ −a 2 = 25 − a 2 → 2a 2 = 25 → a 2 = 25 → a = 3,54m .
2

79
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Exercício 14.6.
A viga da Figura 14-6 tem as extremidades a em balanço e suporta uma carga distribuída,
cuja intensidade varia linearmente de q1 a q2. Estabelecer a razão de a/L para que o esforço
cortante seja sempre nulo no meio da viga.

Figura 14-6.Exercício 14.6.

Solução:

1) DCL

2) Cálculo da força concentrada equivalente e de seu ponto de aplicação:

Para calcular a força concentrada equivalente e seu ponto de aplicação, tome-se um elemento
diferencial dx localizado de x a partir da extremidade esquerda da viga, como indicado:

A força concentra dQ correspondente ao elemento dx é dada por:

dQ = q ( x )dx ,

que integrada no domínio do problema, ou seja, de 0 a l, leva à força concentrada equivalente


total. Portanto:

l
Q =  q ( x )dx .
0

A função carregamento, por sua vez, fica definida como uma função linear na forma de:

q( x) = q1 +
( q2 − q1 )  x
.
l

Levando a função carregamento para a equação anterior e integrando no domínio do


problema tem-se:
80
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

l (q − q ) 
Q =   q1 + 2 1  x  dx ,
 l 
0

l l (q − q ) 
Q =  q1 dx +   q1 + 2 1  x  dx .
 l 
0 0

Resolvendo a integral, encontra-se:

q2 − q1 l 2 2 q l + (q2 − q1 ) l q +q 
Q = q1 l +  → Q= 1 → Q =  2 1 l ,
l 2 2  2 

que a equação que representa a área do trapézio. A posição da força concentrada equivalente
é determinada pela seguinte equação:

x=
 q( x) x dx .
0
l
 q( x)dx
0

Desenvolvendo para a função carregamento, q(x), do presente problema, tem-se:

l  ( q2 − q1 )  x  x dx l q −q 
 q +
l
 0 + 0  2 l 1  x dx
2
1 q 1 x dx
x=
0 l  → x= ,
l ( q2 − q1 )  l l q −q 

0 q1 + l  x  dx 0 q1 dx + 0  l  x dx
2 1

q1l 2 q2 − q1 l 3 q1 l 2 q2 − q1 2 3 q1l 2 + 2(q2 − q1 )  l 2


+  + l
x= 2 l 3 → x= 2 3 → x= 6 ,
q2 − q1 l 2 q2 − q1 2 q1l + (q2 − q1 )  l
q1l +  q1 l + l
l 2 2 2

3 q1l 2 + 2 q2l 2 − 2 q1l 2 ( q1 + 2 q2 )  l 2


3 3 ( q + 2 q2 )  l
x= → x= → x= 1 ,
2 q1l + q2l − q1l (q1 + q2 )  l 3(q1 + q2 )

que é a equação que determina o centroide do trapézio. Substituindo l por (L+2a) na equação
anterior, chega-se a:

( q1 + 2 q2 )  ( L + 2a)
x= .
3(q1 + q2 )

3) Cálculo da reação “RA”:

O equilíbrio na rotação pelo somatório de momentos em torno do ponto “B”, leva a:

81
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Q  ( L + a) − x 
M B = 0 → − RA  L + Q   ( L + a) − x  = 0 → RA = .
L

Logo:

 q2 + q1  ( q1 + 2 q2 )  ( L + 2a) 
 2  ( L + 2a)  ( L + a) − 3(q1 + q2 ) 
RA =  .
L

Assim:

 q2 + q1   3(q1 + q2 )( L + a) − ( q1 + 2 q2 )  ( L + 2a) 
 2  ( L + 2a)   3(q1 + q2 ) 
RA =  ,
L

o que leva a:

( L + 2a )
RA = 3(q1 + q2 )( L + a) − ( q1 + 2 q2 )  ( L + 2a) 
6L

4) Condição do problema:

A condição imposta pelo problema é a de o momento máximo ocorra no meio do vão, o que
impõe a que o cortante nessa posição seja nulo. Logo, pode ser escrito que:

L L
M ( + a ) = M MÁX → V ( + a ) = 0
2 2

A equação para o cortante em uma seção , observando as forças pelo lado esquerdo da
seção, como indicado a seguir, é:

V ( x) = RA − Q( x) , com a  x  L + a .

A força concentrada equivalente como uma função de x, Q(x), devido ao carregamento


linearmente distribuído, q(x), é encontrada pela área da figura apresentada, de forma de:

q ( x) + q1
Q( x) = x.
2
q −q
Como q ( x) = q1 + 2 1  x , tem-se que:
L + 2a

82
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

 q2 − q1 
 q1 + L + 2a  x  + q1
Q( x) = x,
2

Cabe registrar que o processo realizado anteriormente é equivalente à integração da função


carregamento entre 0 e x, tal que, alternativamente, poderia ser feito:

x
Q( x) =  q ( x)dx , para todo x no domínio.
0

Como o problema especifica o ponto central x = L/2 + a para condição de nulidade do esforço
cortante, o valor de Q(x) pode ser definido para essa posição, de forma que:

 q −q L 
 q1 + 2 1  ( + a )  + q1
L + 2a 2
Q( + a) =  
L L
 ( + a) .
2 2 2

Desenvolvendo a equação, encontra-se:

 q − q  L + 2a  
 q1 + 2 1    + q1
L  L + 2a  2    L + 2a 
Q( + a) =  ,
2 2  2 

 q −q 
 q1 + 2 1  + q1
 L + 2a 
Q( + a) = 
L 2 
 ,
2 2  2 

2q1 + q2 − q1
+ q1
L 2  L + 2a 
Q( + a ) =  ,
2 2  2 

q1 + q2
+ q1
L 2  L + 2a 
Q( + a) =  ,
2 2  2 

q1 + q2 + 2q1
L 2  L + 2a 
Q( + a ) =  ,
2 2  2 

L 3q + q
Q ( + a ) = 1 2  ( L + 2a ) .
2 8

Assim, o esforço cortante em (L/2 + a) será:

L L
V ( + a ) = RA − Q ( + a ) .
2 2

Portanto:
83
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

( L + 2a) 3q + q
3(q1 + q2 )( L + a) − ( q1 + 2 q2 )  ( L + 2a) −  1 2  ( L + 2a ) .
L
V ( + a) =
2 6L  8 

L
Pela imposição do problema, V ( + a ) = 0 . Logo:
2

( L + 2a ) 3q + q
3(q1 + q2 )( L + a) − ( q1 + 2 q2 )  ( L + 2a) = 1 2  ( L + 2a ) ,
6L 8

Desenvolvendo a equação, encontra-se:

1 3q + q
3(q1 + q2 )( L + a) − ( q1 + 2 q2 )  ( L + 2a) = 1 2 ,
3L 4

4 3(q1 + q2 )( L + a) − ( q1 + 2 q2 )  ( L + 2a)  = 3L ( 3q1 + q2 ) ,

4 3q1L + 3q2 L + 3q1a + 3q2 a − q1L − 2q1a − 2 q2 L − 4q2a  = 3L ( 3q1 + q2 ) ,

4  2q1L + q2 L + q1a − q2 a  = 9q1L + 3q2 L ,

8q1L + 4q2 L + 4q1a − 4q2 a = 9q1L + 3q2 L ,

4q1a − 4q2 a = q1L − q2 L ,

a 1
4a(q1 − q2 ) = L(q1 − q2 ) → 4a = L → = .
L 4

Exercício 14.7.
Determine a força P para que o momento máximo ocorra no ponto C.

Figura 14-7. Exercício 14.7.

Solução:

1) DCL

2) Reações

84
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

M B = 0 → − RA 10 + (10 1)  5 + P 12 = 0 → −10 RA + 50 + 12 P = 0 ⸫

50 − 12 P
RA = → RA = 1, 2 P + 5 .
10

2) Cálculo de P

A condição para que o momento seja máximo é a de que o cortante seja nulo no ponto C.

Como VC = 0, tem-se que:

VC = VA − S DC → 0 = 0, 2P + 5 − 6 1 → 0 = 0, 2 P − 1 ⸫
C
A

1 10
0, 2 P − 1 = 0 → 0, 2 P = 1 → P = = → P = 5tf .
0, 2 2
Exercício 14.8
Determinar a força P para que o valor do momento máximo positivo na viga da Figura 14-8
seja 8 tf·m.

Figura 14-8. Exercício 14.8


Solução:

Para iniciar a solução do problema, os aparelhos de apoio são identificados com as letras A
e B, para os apoios da esquerda e direita, respectivamente, para fins de cálculo das reações.
Em seguida, é traçado o diagrama do corpo livre (DCL) e tomadas as seções  e  para o
equacionamento dos esforços cortante e momento fletor ao longo da viga.

85
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

1) Reações

M B = 0 → − RA 10 + (10 1)  5 + P 12 = 0 → 10 RA + 50 + 12 P = 0 → RA = 1, 2 P + 5 ,

F y = 0 → RA + RB = P + 10 → RB = P + 10 − (1, 2 P + 5) = P − 1, 2 P + 5 → RB = −0, 2 P + 5 .

2) Expressões para o cortante e fletor

Seção α (0 ≤ x < 2):

V = − P ,
M  = − Px .

Seção β (2 ≤ x ≤ 12):

V = −P + (1, 2P + 5) −1 ( x − 2) .
x−2
M  = − Px + (1, 2 P + 5)( x − 2) − 1 ( x − 2)  .
2

3) Diagramas

DEC e DMF

Para o cortante nulo (em β):

V = 0 → 0 = − P + (1, 2 P + 5) − 1  ( x − 2) → 0 = − x + 02P + 7 → x = 0, 2 P + 7 .

Substituindo x = 0, 2 P + 7 na equação de M  :

[(0, 2 P + 7) − 2]2
M  = − P  (0, 2 P + 7) + (1, 2 P + 5)[(0, 2 P + 7) − 2] − 1  ,
2

1
M  = −0, 2 P 2 − 7 P + (1, 2 P + 5)(0, 2 P + 5) −  (0, 2 P + 5) 2 ,
2

1
M  = −0, 2 P 2 − 7 P + 0, 24 P 2 + 6 P + P + 25 −  (0, 04 P 2 + 2 P + 25) ,
2

86
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

M  = −0, 2P 2 + 0, 24P 2 − 7 P + 7 P + 25 − 0,02 P 2 − P − 12,5 ,

M  = −0, 2 P 2 + 0, 24P 2 − 0,02 P 2 − P + 25 − 12,5 ,

M  = 0,02 P 2 − P + 12,5 , M  = 0,02 P 2 − P + 12,5 , que o momento máximo na viga.

Como, por imposição do enunciado, M Máx = 8tf  m , tem-se, portanto:

0, 02 P 2 − P + 12,5 = 8 → 0, 02 P 2 − P + 4,5 = 0 ,

que é uma equação do segundo grau em “P”. Portanto as raízes da equação podem ser
calculadas fazendo-se:

−(−1)  (−1) 2 − 4  (0, 02)  (12,5) 1  0, 64


P= = , o que leva aos seguintes resultados:
2  0, 02 0, 04

P ' = 45tf e P " = 5tf .

Esses resultados representam duas raízes reais e positivas, portanto, existe a necessidade de
verificação para validação das soluções obtidas.

1) Substituindo P ' = 45tf em x = 0, 2 P + 7 , encontra-se: x = 0, 2  45 + 7 = 16m .

Esse valor indica que o resultado obtido para P = 45 tf é inválido pois a abscissa
correspondente à essa força está situada fora do intervalo de validade da expressão, que é (2
≤ x ≤ 12).

2) Substituindo P " = 5tf em x = 0, 2 P + 7 , obtém-se: x = 0, 2  5 + 7 = 8m , que um resultado


que se encontra dentro do intervalo de validade da equação (2 ≤ x ≤ 12). Com isso, pode ser
concluído que a força que pode ser aplicada ao sistema, dada as condições indicadas, é
P = 5tf .

Exercício 14.9.
A viga ABCD está sujeita a cargas uniformemente distribuídas q1 e q2, como mostrado na
figura a seguir. Achar o esforço cortante V e o momento fletor M no ponto B e, também, no
meio da viga. Admitir a = 1,20 m, b = 2,40 m e q1 = 5000 kgf/m.

Figura 14-9. Exercício 14.9.

Resolução:

Fazendo:
87
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

q1  b 5000  2, 40
F y = 0 → q1  b = q2 (b + 2a) → q2 = =
b + 2a 2, 40 + 2 1, 20
→ q2 = 2500kgf / m .

1) Cortante e fletor em B:

VB = q2  a = 2500 1, 20 → VB = 3000kgf ,


1, 202
M B = q2  a = 2500  → M B = 1800kgf  m .
2

2) Cortante e fletor no meio da viga:

2.1) Cortante:

b  b
Vm = q2  + a  − q1  .
2  2

Substituindo o valor de cada parâmetro na equação, tem-se:

b  b  2, 40  2, 40
Vm = q2  + a  − q1  = 2500   + 1, 20  − 5000  → Vm = 0 .
2  2  2  2

2.2) Momento:

b b
+a
b  b
M m = q2  + a  2 − q1   2 ,
2  2 2 2

2
q2  b 
2
b
Mm =  + a  − q1 .
2 2  8

Logo:

2
2500  2, 40  2, 402
Mm =  + 1, 20  − 500  → M m = 3600kgf  m .
2  2  8

Exercício 14.10.
Traçar os diagramas para a viga abaixo.

Figura 14-10. Exercício 14.10.

1) Cálculo das reações:


88
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Para realizar o cálculo das reações, os apoios são identificados pelas letras A e B,
correspondendo ao apoio móvel, da esquerda e o fixo, da direita. Em seguida, o diagrama do
corpo livre é traçado arbitrando a orientação das forças reativas.

As condições de equilíbrio da Estática para os movimentos de translação e rotação são:

 F = 0 → 4 cos 30 − H = 0 → H = 4 cos 30 → H = 34, 6kN ,


x B B B

 F = 0 → R + R = 40sen 30 + 100 → R + R = 120 ,


y A B A B

 M = 0 → R 10 − 40sen 30 4 − 40 − 10 10  5 = 0 → R = 62kN


A B B ⸫ RA = 58kN .

2) Expressões para os esforços:

Para definir as expressões para os esforços solicitantes é preciso tomar três seções genéricas
,  e , localizadas a partir da extremidade esquerda da viga, definindo a origem da variável
e os intervalos de validade para as equações.

Seção α (0 ≤ x < 4): Seção β (4 ≤ x ≤ 6):

V = 58 − 10 x , V = 58 − 40sen 30 −10 x → V = 38 −10 x ,


M = 58x − 5x , 2
M  = 58 x − 40sen 30( x − 4) − 5 x 2 ,
N = 0 . N = −40cos30 .

Seção  (6 ≤ x ≤ 10):

V = 58 − 40sen 30 −10 x → V = 38 −10 x ,

89
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

M  = 58x − 40sen 30( x − 4) − 5 x 2 ,


N = −40cos30 .

3) Traçado dos diagramas:

DEC:

Seções:

x = 0 → V = 58 ,

x = 4 → V = 58 − 10  4 = 8 ,
x = 4 → V = 38 − 10  4 → V = −2 ,
β
x = 6 → V = 38 − 10  6 → V = −22 ,
x = 6 → V = 38 −10  6 → V = −22 ,

x = 10 → V = 38 −10 10 → V = −62 → −62 + RB = −62 + 62 = 0 .

DMF:

Seções:

x = 0 → M = 58  0 − 5  02 → M  = 0 ,

x = 4 → M = 58  4 − 5  42 → M  = 152 ,
x = 4 → M  = 58  4 − 40sen 30(4 − 4) − 5  42 → M  = 152 ,
β
x = 6 → M  = 58  6 − 40sen 30(6 − 4) − 5  62 → M  = 128 ,
x = 6 → M  = 58  6 − 40sen 30(6 − 4) − 5  62 + 40 → M  = 168 ,

x = 10 → M  = 58 10 − 40sen 30(10 − 4) − 5 102 + 40 → M  = 0 .

Diagramas de esforços:

Flechas do DMF:

10  42 10  22
f1 = = 20 , f2 = =5,
8 8
10  42
f3 = = 20 .
8

90
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Exercício 14.11.
Determinar os esforços solicitantes nas seções indicadas e traçar os diagramas dos esforços
solicitantes.

Figura 14-11. Exercício 14.11.

1) Diagrama de Corpo Livre:

2) Cálculo das Reações:

 F = 0 → H + 20kN = 0 → H = −20kN ,
x A A

 M = 0 → − R  8 − 40  2 − 20  8 + 8  6 = 0 → R = −24kN ,
B A A

 F = 0 → R + R = 40 + 8 → R = 48 − R = 48 − (−24) → R
y A B B A B = 72kN .
2 2
E o ângulo  será tg  = →  = arctg   →  = 25,56
4 4

3) Determinação dos Esforços Solicitantes:

Umas conhecidas as orientações verdadeiras das reações, pode ser de maior praticidade que
os esforços solicitantes sejam determinados a partir da adoção dos sentidos das reações
obtidos nas condições de equilíbrio, como indicado a seguir:
91
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Seção α: Seção β:

N = 24kN , N = 0 ,
V = H A = 20kN , V = 40kN ,
M  = 20  4 = 80kNm . M  = −40kN  m .

Seção :

Esforços devido à RA:


N RA = RA sen  = 24sen(26,56) → N RA = 10, 733kN ,
VRA = − RA cos  = −24 cos(26,56) → VRA = −21, 466kN .

Esforços devido à HA
N HA = H A cos  = 20 cos(25,56) → N HA = 17,889kN ,
VHA = H A sen  = 20sen(26,56) → VHA = 8,944kN .

Esforços devido à q(x) com x válido entre 0 e 4m:


Nq ( x ) = 2 x sen  = 2 x sen(26,56) .

Logo, os reforços são obtidos pela superposição dos efeitos:

N = NRA + NHA + Nq ( x ) = 10,733 + 17,889 + 2 x sen(26,56) → N = 28,622 + 0,894 x ,


V = VRA + VHA + Vq ( x ) = −21, 466 + 8,944 − 2 x cos(26,56) → V = −12,522 −1,789 x .
M = −RA x + H A (8 + x / 2) − 2x  x / 2 → M  = −24 x + 20(6 + x / 2) − x 2 .

Substituindo x nas equações anteriores, os esforços solicitantes na seção  podem ser


obtidos. Portanto, fazendo-se:

1 1 1
tg  = → x = = , encontra-se:
x tg 2
4

92
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

N = 28,622 + 0,894  2 = 30, 41kN ,


V = −12,522 −1,789  2 = 16,10kN ,
M  = −24  2 + 20(6 + 2 / 2) − 22 = 88,00kNm .

4) Diagramas:

4.1 Esforço Normal: 4.2 Esforço Cortante:

Barra CD - Quando: Barra CD - Quando:

x = 0 → NC = 28, 622kN , x = 0 → VC = −12,522kN ,


x = 4 → N D = 31,199kN . x = 4 → VD = −19, 677kN .

Barra DE:

Contribuições da força vertical de 40kN e da reação vertical RB:

N 40 kN = 40sen  = 40sen(26,56) → N RB = − RB sen  = −72sen(26,56) →


N 40 kN = 17,885kN N RB = −32,199kN ,
V40 kN = 40 cos  = 40 cos(26,56) → VRB = RB cos  = −64 cos(26,56) →
V40 kN = 35, 779kN VRB = −64,399kN .

Normal e cortante na barra DE:

N DE = −32,199 + 17,885 → N DE = −14,311kN ,


VDE = −64,399 + 35, 779 → VDE = −28, 622kN .

DEN (kN) DEC (kN)

M C = 20  6 = 120
DMF (kNm) M D = − RA  4 + H A  8 − 8  2 = 48
M E = −40  2 = −80
Para simples conferência, pela direita:
93
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M D = −40  6 + 72  4 = 48kN  m .
2  42
A flecha: f = = 4kN  m .
8

Pode-se usar a expressão obtida anteriormente para a barra CD (0 ≤ x ≤ 4)

x
M CD = − RA x + H A (6 + x tg  ) − q  x 
2
x
M CD = −24 x + 20(6 + x tg  ) − 2  x 
2
M CD = −24 x + 20(6 + x tg  ) − x2 (com tg  = 1 ).
2

Portanto, quando: x = 0 → M C = 120 , e


x = 2 → M D = 48 .

Exercício 14.12.
Considere-se o arco tri-articulado ABC dado na figura abaixo. Determinar os esforços
solicitantes na seção , indicada.

Figura 14-12. Exercício 14.12.

1) DCL:

2) Condições de equilíbrio (Reações):

F x = 0 → H A = HB ,

94
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F = 0 → R + R = 2,
y A B

 M = 0 → R 10 − 2  (5 − 5cos 45) → R = 0, 29tf ,


A B B

 M = 0 → R  5 − H  5 = 0 → R = H ∴ H = 0, 29tf
Direita
C B B B B B ∴ RA = 2 − 0, 29 →
RA = 1, 71tf .

E, como H A = H B → H A = 0, 29tf .

Cálculo dos esforços solicitantes na seção α:

N RB = − RB cos 60 (Normal devido à RB)


VRB = − RB sen 60 (Cortante devido à RB)

NHB = −H B sen 60 (Normal devido à HB)


VH B = H B cos 60 (Cortante devido à HB)

A determinação dos esforços resultantes na seção indicada é feita somando-se as parcelas


devido a cada reação, com os seus respectivos sinais:

Esforço normal:

N = N RB + N HB ⸫
N = − RB cos 60 − H B sen 60 ,
N = −0, 29 cos 60 − 0, 29sen 60 → N = −0, 40tf .

Esforço cortante:

V = VRB + VHB ⸫
V = − RB sen 60 + H B cos 60 ,
V = −0, 29sen 60 + 0, 29 cos 60 → V = 0,11tf .

Momento fletor:

M  = RB (5 − 5cos 60) − H B (5sen 60) ,


M  = 0, 29  (5 − 5cos 60) − 0, 29  (5sen 60) → M  = 0,54tf  m .

Para ampliar a discussão sobre o problema, pode-se incluir todo o arco na análise. Assim, as
equações anteriores serão escritas em função de um ângulo genérico  Portanto, para a seção
, cujo equacionamento que já se encontra realizado, o ângulo específico de 60º deve ser
substituído por . Cabe observar que essas equações só terão validade no intervalo
compreendido entre 0 ≤  < 135º

Logo, as expressões para os esforços solicitantes ficam:

Seção  (0 ≤  < 135º):

95
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

N ( ) = − RB cos ( ) − H B sen ( ) ,
V ( ) = − RB sen ( ) + H B cos ( ) ,
M ( ) = RB ( r − r cos ( ) ) − H B ( r sen ( ) ) .

Para considerar o restante da semicircunferência, se faz necessária a inclusão de uma nova


seção, designada por  definida por um ângulo (), válida no intervalo entre
135º ≤  ≤ 180º, como indicado abaixo. A adoção desse ângulo permite que a análise dos
esforços seja feita pela esquerda da seção, facilitando a projeção das componentes das
reações nas direções radial e tangencial à circunferência, que são as direções dos esforços
cortante e normal, respectivamente.

Seção  (135º ≤  ≤ 180º):

N ( ) = − RA cos (  ( ) ) − H A sen (  ( ) ) ,
V ( ) = RA sen (  ( ) ) − H A cos (  ( ) )
M ( ) = RA ( r − r cos (  ( ) ) ) − H A ( r sen (  ( ) ) ) ,

com  ( ) = 180º −  .

r nas expressões do momento para ambas as seções,  e , é o raio da circunferência.

Uma vez definidas as funções para os esforços solicitantes, é possível traçar os gráficos que
representam a variação desses esforços com a variação de . Observe-se que o artifício de
colocar o sinal negativo no ângulo nos gráficos a seguir visa fazer coincidir o do lado direito
dos gráficos com o apoio B, fazendo com que o ângulo tenha orientação trigonométrica.

Esforço normal:

96
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Em coordenadas retangulares N- Em coordenadas polares N-

Esforço cortante:

Em coordenadas retangulares N- Em coordenadas polares V-

Momento fletor:

Em coordenadas retangulares M- Em coordenadas polares M-

Deve ser registrado que, mesmo que os gráficos anteriores forneçam os valores máximos e
suas posições, a melhor opção para o traçado dos diagramas é sobre a geometria original do
sistema. Essa opção, além de fornecer informações sobre os máximos valores e suas
posições, permite realizar o detalhamento da estrutura além da tomada de decisões no campo
da análise estrutural.

97
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Para fazer esse traçado, uma opção que tem estado à disposição da engenharia é o método
dos elementos finitos (MEF) por meio de análise numérica em modelagem computacional.
Cabe mencionar que o MEF é um método de discretização do contínuo criando elementos
conectados por meio de nós ou juntas, onde os seus deslocamentos são as incógnitas do
problema. Os elementos formam subdomínios que possuem coordenas locais que são
relacionadas às coordenadas globais do sistema por meio de equações de transformação.

Assim, é possível resolver o problema no elemento e depois correlacioná-los ao sistema de


coordenadas globais. Dessa forma, tem-se:

1) Geometria e condições de contorno:

Rótula ou articulação

Apoio fixo Apoio fixo

2) Discretização do meio:

Elemento

Diagrama de carregamento (Valor em tf):

98
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Reações (Valores em tf):

Diagrama do esforço normal (Valores em tf):

99
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Diagrama do esforço cortante (Valores em tf):

Diagrama do momento fletor (Valores em tf.m):

(Observe-se que o diagrama é traçado para a região tracionada do sistema).

100
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Exercício 14.13.
Considere o sistema espacial a seguir:

d = 0,52 + 0,52 → d = 0, 781m ,


 0, 4 
 = arctg   →  = 27,12 .
 0,781 

Figura 14-13. Exercício 17.1

Fxz = F cos  ∴ Fxz = 10 cos(27,12) → Fxz = 8,901kN ,


Fy = F sen  ∴ Fy = 10sen(27,12) → Fy = 4,558kN .

 0,6 
Com  = arctg   →  = 50,194 ,
 0,5 

Fx = Fxz sen  → Fx = 6,838kN ,


Fz = Fxz cos  → Fz = −5, 698kN .

Com isso, é possível escrever a força em função de suas componentes de forma vetorial da
seguinte forma:

F = 6,838i + 4,558 j − 5,698k .

O momento no engastamento é obtido pelo produto vetorial de r pela força, sendo o vetor
posição do ponto “D” dado por:

101
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r2 = D − A , com D = (2; 0, 7; 0) e A = (0;0;0) . Logo: r2 = (2;0, 7;0) .

As componentes da força pelo cálculo vetorial são encontradas considerando:

1) Coordenadas do ponto D: D = (2; 0, 7; 0) ,


2) Coordenadas do ponto E: E = (2, 6;1,1; −0,5) .

O vetor é determinado por:

r = E − D = (2, 6 − 2;1,1 − 0, 7; −0,5 − 0) → r = (0, 6;0, 4; −0,5) que em notação vetorial fica:

r = 0,6i + 0, 4 j − 0,5k .

O módulo de r é obtido por: r = 0, 62 + (−0,5) 2 → r = 0,877 .

E o vetor unitário u na direção da força pode ser escrito como:

u x = 0, 684 ,
r (0, 6;0, 4; −0,5)
u= = → u y = 0, 456 ,
r 0,877
u z = 0, 684 .

Que em notação vetorial fica:

u = 0,684i + 0, 456 j − 0,570k .

A força F é dada por F = F  u . Em termos de componentes, tem-se:

Fx = 10  0, 684 = 6,838 ,
Fy = 10  0, 456 = 4,558 ,
Fz = 10  0,570 = 5, 698 .

Logo, em notação vetorial: F = 6,838i + 4,558 j − 5,698k . Com r2 = 2i + 0, 7 j + 0k , o


momento será dado por:

M = r2  F (Diz-se: r2 vetorial F ), que em forma matricial se torna:

i j k
M = r2 x r2 y r2 z = (r2 y Fz − r2 z Fy )i + (r2 z Fx − r2 x Fz ) j + (r2 x Fy − r2 y Fx )k ,
Fx Fy Fz

o que forma as componentes do momento:

102
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

M x = r2 y Fz − r2 z Fy = [0,7  (−5,698) − 0  (4,558)] = −3,989kN  m ,


M y = r2 z Fx − r2 x Fz = [0  (6,838) − 2,0  (−5,698)] = 11,396kN  m ,
M z = r2 x Fy − r2 y Fx = [2,0  (4,558) − 0,7  (6,838)] = 4,331kN  m .

que em notação vetorial é:

M = −3,989i + 11,396 j + 4,331k .

A intensidade do momento será dada por:

M = (−3,989)2 + (11,396) 2 + (4,331) 2 → M = 12,837 kN  m .

É possível calcular as componentes do momento reativo segundo as componentes do vetor


força.

M x = Fz  0, 7 = −3,989kN  m
M y = Fz  2 = 11,396kN  m
M z = −Fx  0,7 + Fy  z = 4,331kN  m

Assim como também é possível calcular os cossenos diretores que são os ângulos formados
pelo vetor momento com os eixos cartesianos.

M   −3,989 
cos  =  x  →  = arccos   →  = 108,12 ,
M   12,837 
M   11,396 
cos  =  y  →  = arccos   →  = 27,322 ,
 M   12,837 
M   4,331 
cos  =  z  →  = arccos   →  = 70, 269 .
M   12,837 

Cálculo dos esforços solicitantes em B:

Coordenadas ponto: B = (0,80; 0, 0; 0, 0) .

Vetor r3 = D − B = (2 − 0,8;0,7 − 0;0 − 0) → r3 = (1, 2;0, 7;0) . Vetorialmente escreve-se

r3 = 1, 2i + 0,7 j + 0k .

Esforços solicitantes em “B”:

Momento fletor: M B = r3  F (Diz-se: r3 vetorial F ),

i j k i j k i j
M = 1, 2 0, 7 0 = 1, 2 0, 7 0 1, 2 0, 7 .
6,838 4,558 −5, 698 6,838 4,558 −5, 698 6,838 4,558

103
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Suas componentes, portanto, são:

M Bx = [0, 7  (−5, 698) − 0] = −3,989i ,


M By = [0 − (1, 2)(−5, 698)] = 6,838 j ,
M Bz = [(1, 2)(4,558) − (0, 7)(6,838)] = 0, 684k .

Diagramas:

DEN:

DEC:

DMF:

DET:

15. ELASTICIDADE (CONCEITO) – PRINCÍPIO DA RESISTÊNCIA DOS


MATERIAIS

Resistência não é a única característica que um bom material estrutural deve ter. Todos os
materiais tracionados ou comprimidos devem possuir outra característica importante,
chamada elasticidade. Um corpo é formado de partículas e moléculas que se opõem à
mudança de sua forma, produzidas por forças externas.

Seja considerado um corpo em equilíbrio, conforme figura abaixo.

Figura 15-1. Sólido com em equilíbrio: Esforços externos e internos

104
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

As forças internas R e R’ e momentos m e m’ interagem entre si para manter o equilíbrio,


cuja origem se encontra na coesão entre as partículas. Portanto, um corpo, em estado sólido,
submetido à influência de esforços externos, procura oferecer resistência através de esforços
internos, proveniente da ação coesiva das moléculas, a fim de que seja mantido o equilíbrio
(F = R; M = m). Esse é o denominado Princípio da elastotécnica.

Tome-se, como exemplo, o corpo abaixo submetido a uma força externa P, com a direção
do eixo vertical coincidindo com a orientação da força, apenas por uma questão de
conveniência:

Figura 15-2. Trabalho de uma força realizado em um sólido deformável

Nas condições apresentadas, l (=) é a variação do comprimento do sólido após a aplicação


da força P, enquanto dy é o deslocamento de uma seção genérica . Entende-se que existe
uma resistência interna do corpo, R, dada pela soma das infinitas resistências, ri, distribuídas
na seção.

R =  ri

Figura 15-3. Esforços internos opondo-se à deformação do corpo

Até quando as forças externas P e as forças internas R se equilibrarem, o corpo se encontra


em deformação. Durante a deformação, as forças externas produzem trabalho:

T = P  l , com l =  dy ,
0

que é transformado em energia potencial de deformação. Portanto, é válido afirmar que:

U = T.

Fase elástica:

Na fase elástica de deformação, a energia armazenada pelo sólido durante o trabalho


realizado pela força externa é dada por:

dU = Rdy .

105
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Como, no equilíbrio, R = P a energia de deformação pode ser escrita em termos da força


externa conhecida, uma vez que é admitido existir a proporcionalidade entre essas. Logo:

dU = Pdy → U =  Pdy → U = P ,
0

que é a energia de deformação acumulada pelo sólido em regime elástico. Se, ao mesmo
tempo, a força aplicada puder ser escrita em termos do movimento (de translação) de uma
seção genérica durante a deformação, e sendo, essa mesma força, proporcional ao
deslocamento imposto, para qualquer posição y durante o movimento, pode-se escrever que:

P ( y ) = ky ou, simplesmente, P = ky .

De forma semelhante à uma mola, a energia potencial acumulada pelo sólido em todo o
processo de deformação passa a ser escrita como:

1 2
U =  (ky )dy → U = k ,
0
2

com k sendo a constante de rigidez ou constante de mola associada ao sólido. Esse conceito
pode ser representado graficamente pela relação força – deslocamento ou, de forma análoga,
pela relação momento – rotação, sendo k a rigidez à rotação ou coeficiente de mola
rotacional do sólido, como visto na Figura 15-4, onde a energia de deformação, em ambos
os casos, corresponde à área do gráfico sob a curva.

Esforço axial Momento


Figura 15-4. Deformação elástica de uma mola

Lembrando da lei da ação e reação, que a cada ação corresponde uma reação de mesma
direção, mas de sentido contrário, as forças internas crescem proporcionalmente às forças
externas, até o limite do material, limite, esse, convencionado.

Durante a deformação, o corpo pode retornar ao seu estado inicial ao cessarem as forças
externas. Assim, a energia potencial de deformação acumulada pelo sólido é convertida
novamente em trabalho pelas forças internas. Portanto, pode ser escrito que:

 e = i ,

o que significa que o trabalho realizado das forças externas, Te, é igual ao trabalho das forças
internas, Ti. Uma vez retirado o carregamento, as forças internas realizam trabalho,
restituindo ao sólido o seu estado original.

106
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Dessa forma, a propriedade de os corpos voltarem à forma inicial, após cessadas as forças
externas chama-se elasticidade. Elasticidade é, portanto, definida como a propriedade pela
qual o corpo (o material) tende a retornar à forma original após cessado o carregamento.

Em função da elasticidade os corpos podem apresentar dois tipos básicos de comportamento:

1 – Comportamento perfeitamente elástico

Um corpo é dito perfeitamente elástico, quando recupera completamente sua forma inicial,
após cessar o carregamento. O trabalho das forças externas é igual à energia potencial de
deformação armazenada. A deformação inicial sofrida é dita deformação elástica imediata.

2 – Comportamento parcialmente elástico (comportamento plástico)

Um corpo é dito parcialmente elástico, se a deformação não desaparece completamente após


cessar o carregamento, ou seja, parte do trabalho realizado pelas forças externas é perdido
sob a forma de calor. O fato de a deformação não voltar ao ponto zero indica que o material
sofreu uma deformação permanente ou plástica.

Na maioria das aplicações de engenharia e no curso de Resistência dos Materiais, o


dimensionamento das estruturas deve ser feito para que essas se comportem como
perfeitamente elásticas, sob as condições de trabalho, para que não haja deformação
permanente em nenhum dos seus componentes. Entretanto, algumas normas construtivas
permitem que certos membros estruturais e certos componentes, por exemplo, em aviões e
mísseis sejam projetados para agirem na região plástica, de modo a obterem menores pesos.

15.1. DIVISÃO DOS MATERIAIS


Na temperatura ambiente, em função de algumas características comuns, os materiais podem
ser separados em duas categorias, em função do ensaio de tração:

15.1.1. Materiais Dúcteis


(Ex.: Aço de baixo teor de carbono, alumínio, latão e cobre)

» Possuem escoamento;
» Possuem estricção;
» A ruptura se dá por tensões de cisalhamento;
» Apresentam grande deformação antes de ocorrer a ruptura (acima de 5%).
» Possuem boa resistência a tensões de tração.

15.1.2. Materiais Frágeis


(Ex.: Aço com alto teor de carbono, pedra, concreto, vidro, gesso)

» Não possuem escoamento;


» Não possuem estricção;
» A ruptura se dá por tensões normais.
» Não apresentam grandes deformações. A ruptura ocorre abruptamente (Deformações <
5%)
» Apresentam baixa tolerância a tensões de tração.

16. ESFORÇO AXIAL OU ESFORÇO NORMAL

107
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16.1. Princípios da lei de Hooke

Robert Hooke (1635-1703) foi um matemático e físico inglês, sendo o primeiro a estabelecer
experimentalmente a relação linear existente entre tensões e deformações. Em 1678 Hooke
formulou uma lei que permite calcular a deformação longitudinal, alongamento ou
encurtamento ( ou l) em barras solicitadas axialmente, tracionadas ou comprimidas, tendo
publicado suas ideias sob o título de “LECTURES De Potentia Restitutiva, OR OF SPRING
Explaining the Power of Springing Bodies” pela “Royal Society of Science” de Londres.

Condições da aplicação da Lei de Hooke:

1 – Uma das dimensões do prisma deve ser bem superior às outras duas, caracterizando um
eixo longitudinal e uma seção que lhe é transversal;
2 – A barra está exclusivamente sujeita a forças axiais;
3 – Forças axiais são aquelas aplicadas segundo a direção longitudinal da peça, ou seja, são
forças que agem perpendicularmente à seção transversal, aplicadas no centroide dessa seção.
Quando uma força (carga) não atua no centroide, a peça está simultaneamente sujeita a
esforço normal e momento fletor, caracterizando a flexão composta (normal ou oblíqua).
4 – Não se consideram partes das barras situadas na vizinhança da aplicação da força devido
à concentração de tensões que ocorre nessas regiões → Princípio de “Saint-Vennant”.
5 – Admite-se que durante a aplicação do esforço normal, as fibras longitudinais ao longo
da altura e da largura da seção transversal sofram o mesmo alongamento ou encurtamento.
6 – Admite-se que as seções transversais da barra prismática, tidas originalmente como
planas e perpendiculares a seu eixo, permaneçam nessa condição durante a deformação.
7 – Cabe recordar que as forças normais (ou axiais) podem ser de:
Tração, quando provocam um alongamento do eixo central e um encurtamento das
laterais (efeito estudo pelo físico francês “Siméon Denis Poisson”), e de
Compressão, quando provocam uma diminuição do eixo central e um alongamento
das laterais. Se a força for de tração, essa será positiva, e será negativa se for de
compressão:

Tração (+) Compressão (-)

16.2. Desenvolvimento da lei de Hooke

A lei de Hooke é uma lei experimental que foi desenvolvida com os seguintes passos:

1° Passo: Hooke submeteu os corpos de prova de medidas iguais a diferentes


carregamentos P, medindo as deformações absolutas (deslocamentos) δ. Ele
observou que o crescimento de δ era diretamente proporcional ao aumento
da carga.

 P

OBS.: Próximo aos pontos de aplicação da força essa relação deixa de existir.

2° Passo: Hooke variou o comprimento longitudinal l dos corpos de prova, mantendo


a área e o carregamento constantes. Observou que os deslocamentos (δ) eram
proporcionais ao comprimento do corpo de prova.

108
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 l

3° Passo: Hooke mediu a variação de δ mantendo o comprimento l e a carga P


constantes e variou a área A da seção transversal, notando que δ diminuía
com o aumento da área A.

 1 A

4° Passo: Hooke variou o material e manteve as dimensões iguais para os corpos de


prova. Verificou que para um mesmo material existe sempre o mesmo δ, em
materiais diferentes os δ anotados eram diferentes, ou seja, as deformações
estarem relacionada a uma propriedade típica de cada material. Essa
propriedade foi designada por e.

 e

Conclusão: Hooke concluiu que os deslocamentos apresentados pelos corpos de prova sob
solicitação axial eram diretamente proporcionais à força aplicada, ao comprimento do sólido,
inversamente proporcional à área da seção transversal do prisma e dependia diretamente do
material investigado. Matematicamente, isso quer dizer que:

1 Pl 1
  P, l , , e →= e , e fazendo e = , pode-se escrever que:
A A E

Pl
= ,
EA

onde:

P é a força aplica ao sólido,


l é o comprimento da barra,
E é o módulo de elasticidade ou módulo de Young, e
A é a área da seção transversal do prisma.

O produto EA é conhecido como “produto de rigidez axial” da barra, e envolve uma


propriedade elástica e outra geométrica. Essa relação informa o quão fácil (ou difícil) é para
um sólido ser deformado quando solicitado axialmente. O módulo de elasticidade pode ser
expresso em: kgf/cm², nas unidades técnicas, ou em Pascal (N/m²) e seus múltiplos, no
Sistema Internacional. Para a determinação do módulo de elasticidade, é necessário obter
um diagrama denominado “curva tensão-deformação” por meio de ensaios. O módulo de
elasticidade é calculado pela inclinação da reta do trecho linear desse diagrama, conforme
ilustrado na Figura 16-1.

109
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( 2 − 1 ) ( f − 1 ) ( f − 2 )
E = tan( ) = = = , com
( 2 − 1 ) ( f − 1 ) ( f −  2 )

 f indicando a tensão que corresponde ao fim do


trecho linear, sendo  f a deformação específica
correspondente à essa posição no diagrama.

Figura 16-1. Diagrama tensão - deformação (módulo de elasticidade)

16.3. Fórmulas de definição

São definidos:

l
1.  = → Deformação específica ou deformação por unidade de comprimento, sendo
l
representada pela letra grega ε (épsilon) e é adimensional.

P
2.  = → Tensão ou tensão axial ou normal (tensão média), sendo representada pela letra
A
grega  (sigma).

É de interesse evidenciar que a tensão média é uma grandeza equivalente à divisão da força
total dividida pela área da seção transversal em que essa força atua. Se a tensão for de tração
será positiva. Se for de compressão será negativa.

Importante, entretanto, é ter claro que o conceito de tensão deve estar associando à notação
diferencial, ou seja, a tensão é referida a um determinado ponto. Nesse caso, o cálculo da
tensão deve considerar uma área infinitesimal dA na qual atua uma força elementar dR, o
que representa um conceito pontual da tensão. Isso quer dizer que a tensão é calculada no
ponto de interesse. Se o valor médio é utilizado, significa que todos os pontos da superfície
têm o mesmo valor de tensão.

dR R
= ,  = lim .
dA  A → 0 A

É com o valor da tensão que se avalia se uma peça irá romper ou não, e é com o valor das
tensões admissíveis que se faz o dimensionamento de um determinado componente
estrutural. A condição de segurança é dada pelas tensões internas geradas pelas forças
atuantes. Nesse sentido, a simples informação de que uma barra está sujeita a um esforço
externo não revela se ela é “segura” ou não. É preciso conhecer a área de sua seção
transversal e as características do material com que ela foi canfeccionada, como ilustrado a
seguir:

110
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R
= (Tensão média. Todos os pontos
A
estão com a mesma tensão).
R
 ADM = Max → Condição de Segurança.
AMin
No equilíbrio: R = P → Proporcionalidade
entre esforços externos e internos.

Uma vez que foram estabelecidos os conceitos de tensão e deformação, a lei de Hooke pode
ser escrita da seguinte forma:

Pl  P1 1
= → = →  = →  = E .
EA l AE E

Pode ser visto, a equação anterior descreve a dependência, em primeiro grau, da tensão com
a deformação específica. É uma lei que estabelece a proporcionalidade entre tensões e
deformações com uma constante (de proporcionalidade) entre elas. Isso significa que as
tensões em uma peça comprimida ou tracionada são proporcionais às deformações impostas
e isso ocorre de forma linear. Essa é a lei fundamental da elasticidade linear. No Sistema
Internacional a força P é dada em Newton N e a área A em m², então:

P N
= = = Pascal .
A m2

Como Pascal é uma unidade muito pequena, a tensão vem, normalmente, expressa em um
de seus múltiplos:

Quilo (k) Pascal = kPa = 10³ Pa,


Mega (M) Pascal = MPa = 106 Pa,
Giga (G) Pascal = GPa = 109 Pa.

OBS.: 1 N/mm2 = MPa.

A tensão também pode ser definida no sistema técnico como:

kgf/cm² (quilograma força por centímetro quadrado),


kgf/m² (quilograma força por metro quadrado), ou mesmo em
tf/m² (tonelada força por metro quadrado),

com 1 tf = 1000 kgf, 1m = 100 cm, 1 cm = 10 mm, 1m = 1000 mm. Na conversão do sistema
técnico ao SI deve ser observado que:

1 kgf = 9,80665 N ≅ 10 N (considerando a aceleração da gravidade g = 9,80665 m/s2).

Um exemplo de resistência, que do ponto de vista prático representa a especificação de um


material, é a resistência característica à compressão do concreto (fck). O concreto é um
material definido, para fins de cálculo, por sua resistência à compressão.

Exemplo de valores típicos para o fck: 150 kgf/cm² = 15 MPa; 180 kgf/cm² = 18 MPa,
200 kgf/cm² = 20 MPa, 250 kgf/cm² = 25 MPa; 300 kgf/cm² = 30 MPa, 350 kgf/cm² =
35 MPa.
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Outro material cuja definição é feita por sua resistência característica é o aço. O aço é
especificado em função de sua resistência característica contra o escoamento (fyk). O aço
ASTM-A36, especificação da Associação Americana de Normalização ou American Society
of Testing and Materials, por exemplo, que é o aço estrutural mais comum, usado para a
confecção das estruturas metálicas mais tradicionais, tem uma tensão característica contra o
escoamento de 250 MPa.

Por sua vez, os aços para concreto armado (CA), os vergalhões, têm tensões de escoamento
conforme sua categoria. O aço CA-50 possui tensão de escoamento de 500 MPa
(5000 kgf/cm²) e o aço CA-60 de 600 MPa (6000 kgf/cm²). O aço CA-50 é o utilizado na
confecção da armadura longitudinal de vigas, lajes e pilares, enquanto o CA-60 é o usado
para a confecção de estribos.

Importante observar que a tensão é uma grandeza puramente matemática. Já as deformações


podem ser medidas, tanto as específicas quanto os deslocamentos absolutos. A medida da
deformação específica é feita por meio de extensômetros elétricos de resistência e a dos
deslocamentos por medidores como relógios comparadores (Figura 16-2).

(a) extensômetro elétrico de resistência (b) relógio comparador


Figura 16-2. Sensores de medição: (a) deformações específicas, (b) deslocamentos

17. EXERCÍCIOS

Exercício 17.1.
Uma barra prismática, com seção retangular de (25 x 50) mm e comprimento l = 3,60 m, está
submetida a uma força axial de tração de 100 kN. O alongamento da barra é de 1,23 mm.
Calcular a tensão e a deformação unitária da barra.

O problema pede σ e . Assim:

A área da seção é: A = (25  50)mm2 = 1250mm2 = 1250 10−6 m2 .

P 100kN
A tensão, portanto, será:  = = = 80000kPa →  = 80MPa .
A 1250 10 −6 m 2

l 1, 2mm 1, 2 10−3 m
e a deformação específica:  = = = →  = 3,33 10−4 .
l 3, 60m 3, 60m

Exercício 17.2.
Um parafuso de aço (E = 21.000 kgf/mm2), com 50 mm de diâmetro, está sujeito a uma carga
de tração de 30.000 kgf. Sabendo que o comprimento inicial da parte carregada é 550 mm,
calcular o comprimento final.
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Dados:

E = 21.000 kgf/mm²,
d = 50 mm,
P = 30.000 kgf,
lo = 550 mm.

O alongamento, ou variação de comprimento, total da barra é dado por:

Pl 30000  550
l = = → l = 0, 40mm .
EA    502 
21000   
 4 

Portanto, o comprimento final da barra será encontrado somando-se o comprimento inicial


com a deformação absoluta obtida:

l f = l0 + l = 550 + 0, 40 → l f = 550, 40mm .

Exercício 17.3.
Uma barra prismática de aço de 60 cm de comprimento é distendida de 0,06 cm sob a ação
de um a força de tração. Achar a grandeza da força P, sendo o volume da barra de 400 cm³.
(E = 21 x 105 kgf/cm²).

Dados:

P=?
l = 60 cm
Δl = 0,06 cm
Vol = 400 cm³

A deformação específica é a relação entre a deformação absoluta e o comprimento inicial da


barra. Logo:

l
= .
l

Pela lei da elasticidade linear as tensões são proporcionais às deformações na forma de:

l
 = E →  = 
l

Substituindo os dados do problema:

0, 06 6 10−2
=  2110 =
5
 21105 →  = 21102 kgf / cm2 .
60 6 10

O volume de uma barra prismática é encontrado por: Vol = A  l .

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Vol 400 20 2
Logo, a área da barra será: A = = → A= cm .
l 60 3

Como tensão média é a relação entre a força e a área da seção transversal:

P 20
= → P =  A = 21 102  → P = 14 103 kgf .
A 3

Exercício 17.4.
Dada à barra da figura, calcular o alongamento total:

Figura 17-1. Exercício 9.4

Dados:

l1 = l2 = l3 = 25cm
P ' = 5000kgf
P = 2500kgf
E = 21105 kgf / cm2
A = 6cm 2

Definindo seções na barra nos trechos de interesse é possível estudar o equilíbrio dessas
seções por meio dos esforços internos em cada segmento:

Seção 1:

A seção 1 é uma seção genérica situada entre o ponto A e a vizinhança à direita do ponto B.
Visualizando o problema em termos do conjunto de forças, interna e externa, atuantes na
seção, tem-se que:

A condição de equilíbrio imposta à seção 1 é a de que:

F x = 0 → − R1 + P ' = 0 → R1 = P ' .

A deformação absoluta do segmento l1 é encontrada analisando-se o efeito produzido pelo


esforço interno R1, de forma que:
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l1R1
l1 = .
E1 A1

Como, no equilíbrio, e admitida a hipótese de proporcionalidade entre esforços internos e


externos, R1 = P ' e tendo em vista que E1 A1 = EA , pois se trata de uma barra prismática, ou
seja, de área constante, e feita de mesmo material, a equação anterior pode ser escrita como:

l1 P '
l1 = ,
EA

o que permite obter o deslocamento do segmento l1 em função da força externa conhecida,


P’.

Seção 2:

A seção 2 é uma seção genérica, situada entre a vizinhança à esquerda do ponto B e a


vizinhança à direita do ponto C. O diagrama do corpo livre, que contempla a força interna,
R2, e o conjunto das forças externas, P e P’, é:

A condição de equilíbrio, representada pelo somatório nulo das forças, é dada por:

F x = 0 → − R2 − P + P ' = 0 → R2 = P '− P .

A deformação absoluta do segmento, escrita em termos do esforço interno, será:

l2 R2 l ( P '− P )
l2 = . Como R2 = P '− P e E2 A2 = EA → l2 = 2 .
E2 A2 EA

Seção 3:

A seção 3 é uma seção genérica, situada entre a vizinhança à esquerda do ponto C e o ponto
D na extremidade esquerda da barra. Com isso:

Pela condição de equilíbrio: P ' = R3 .

l3 R3 l P'
A deformação do segmento é: l3 = . Como P ' = R3 e E3 A3 = EA → l3 = 3 .
E3 A3 EA

O alongamento total da barra é o somatório dos alongamentos de cada trecho. Assim:

n
lt = l1 + l2 + ... + ln , com n sendo o número de segmentos existentes → lt =  li .
i =1

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No presente caso, existem apenas três segmentos, de forma que: lt = l1 + l2 + l3 . Como
l1 = l3 , pois l1 = l3 , pode-se escrever que: lt = 2l1 + l2 . Com isso, e substituindo-se
adequadamente as parcelas calculadas anteriormente, é possível escrever que o alongamento
total será dado por:

 l P '   l ( P '− P) 
lt = 2  1  +  2 .
 EA   EA 

Como l1 = l2 e colocando EA em evidência, pode ser escrito que:

l1 l
lt = (2 P '+ P '− P) → lt = 1 (3P '− P ) ⸫
EA EA

25cm
lt = (3  5000kgf − 2500kgf ) → lt = 0, 0248cm .
2110 kgf / cm 2  6cm 2
5

Uma vez calculada a deformação absoluta, é possível determinar a deformação específica


apresentada pela barra. No formato usualmente apresentado, essa deformação específica é:

0, 0248cm
= = 330, 67 x10−6 .
3  25cm

Adicionalmente, é possível traçar o diagrama do esforço normal na barra e calcular as


tensões em cada uma de suas partes:

DEN (kgf)

5000kgf kgf 2500kgf kgf


1 =  3 = 2
= 833.33 2 e  2 = 2
= 416, 67 2 (Todas de tração).
6cm cm 6cm cm

Com o DEN traçado, é possível verificar a segurança do sistema e/ou tomar decisões de
projeto.

Exercício 17.5.
Uma barra supostamente rígida está suspensa por dois cabos que a mantém em posição
horizontal sob a ação da força conhecida P, Figura 17-2. Determinar a posição desta carga,
sabendo-se que a barra deverá permanecer na horizontal.

Dados:
3
lBB ' = 1,5l AA ' ; EBB ' = E AA ' ; ABB ' = 2 AAA ' .
5

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Figura 17-2. Exercício 17.5.

Solução:

1) Diagrama do corpo livre

É importante observar que os cabos só permitem esforços axiais, pois são bi-rotulados. Por
serem flexíveis, só admitem esforço de tração. O problema impõe a que a barra permaneça
na horizontal. Para isso, a deformação do cabo AA’ tem que ser igual à do cabo BB’. Portanto:

l AA ' = lBB ' .

1) Cálculo dos esforços nos cabos. (Condições de equilíbrio da Estática).

 F = 0 , (Essa equação não se aplica, pois não há esforços segundo a direção x)


x

F = 0 → R + R = P ,
y AA ' BB ' (I)
Px
 M = 0 → −P  x + R  5 = 0 → R = 5 .
A BB ' BB ' (II)

Verifica-se que esse é um problema estaticamente indeterminado, pois as equações de


equilíbrio da Estática são insuficientes para resolvê-lo. Portanto, há a necessidade de mais
uma equação para tornar o sistema determinado. Essa equação será obtida por meio do
estudo das deformações do sistema.

2) Compatibilidade das deformações (Pela Resistência dos Materiais)

l AA ' = lBB ' (Condição imposta pelo problema),

RAA'l AA' R l RAA 'l AA ' R 1,5l AA'


= BB ' BB ' → = BB ' ⸫
EAA ' AAA ' EBB ' ABB ' EAA ' AAA ' 3 E  2 A
AA ' AA '
5

5 1,5
RAA ' = RBB ' → RAA ' = 1, 25RBB ' . (III)
3 2

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Substituindo (III) em (I):

P
1, 25RBB ' + RBB ' = P → 2, 25RBB ' = P → RBB ' = . (IV)
2, 25

Igualando (IV) e (II):

Px P 5
= → x= → x = 2, 22m ,
5 2, 25 2, 25

que é a posição desejada para a força P para que a barra permaneça na horizontal.

Exercício 17.6.
Determinar a intensidade da força P para que a tensão normal seja a mesma em ambas as
barras cilíndricas AB e BC da figura abaixo. Desconsiderar o peso próprio das barras.

Figura 17-3. Exercício 17.6.

Solução:

É sempre útil resolver o problema observando o esforço interno na região de interesse.


Portanto, a tensão nas barras AB e BC podem ser definidas a partir do esforço interno obtido
por um corte imaginário em seções genéricas naquelas porções.

Barra A-B - seção : Barra B-C - seção 

O equilíbrio impõe que:

Na seção :

F y = 0 → R − P = 0 → R = P ,

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Na seção :

F y = 0 → R − 40 − P = 0 → R = P + 40 .

A condição imposta pelo problema é a de que:

− AB = − BC (sendo ambas são de compressão) ⸫

 R   R   P   P + 40 
−   = −  → −  = −  ⸫
 AAB   ABC   AAB   ABC 

P  ABC = ( P + 40)  AAB → P  ABC − P  AAB = 40  AAB → P ( ABC − AAB ) = 40  AAB ⸫



40  d AB 2 40  d AB 2
40  AAB 4
P= → P= → P= ⸫
ABC − AAB  d 2
− d 2
(d BC − d AB )
2 2 BC AB
4
40  302
P= 2 → P = 22,5kN .
50 − 302

Exercício 17.7.
Determine a intensidade da força P para que a tensão de tração na barra AB tenha a mesma
intensidade que a tensão de compressão na barra BC, da figura. Desconsiderar o peso próprio
das barras.

Figura 17-4. Exercício 17.7.

Solução:

Como no problema anterior, a solução deve ser iniciada a partir da observação do esforço
interno na região de interesse. Portanto, a tensão nas barras AB e BC são definidas realizando
um corte imaginário por meio de seções genéricas naquelas porções.

Barra A-B - seção :

Barra B-C - seção 

119
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O equilíbrio impõe a que se tenha:

Na seção :

F y = 0 → R − P = 0 → R = P ,

Na seção :

F y = 0 → R + 260 − P = 0 → R = P − 260 .

A condição imposta pelo problema é a de que:

+ AB = − BC (uma de tração e outra de compressão) ⸫

R  R  P  P − 260 
= −   → = −  → P  ABC = − P  AAB + 260  AAB ⸫
AAB  ABC  AAB  ABC 

P  ABC + P  AAB = 260 AAB → P( ABC + AAB ) = 260  AAB ⸫


260   502
260  AAB 4 260  502
P= = = 2 → P = 80kN .
ABC + AAB  (752 + 502 ) 75 + 502
4

Exercício 17.8.
Uma barra de seção transversal variável, com espessura e, suporta uma força P, como se vê
na figura. A largura da barra varia linearmente de b1, no suporte, até b2, na extremidade livre.
Estabelecer a fórmula para o cálculo do alongamento  da barra, devido à ação da força P.

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Figura 17-5. Exercício 17.8.

Solução:

São criados elementos paramétricos na geometria da barra, conforme indicado na figura


abaixo, letra (a). Uma vista isométrica, letra (b), permite visualizar a seção com espessura
constante e na altura do elemento:

(a) Parâmetros da solução (b) Vista isométrica da barra

Por relação de triângulos:

b( y ) b1 b
= = 2 (I)
y h h−L

Como um dos parâmetros da equação para o cálculo da deformação absoluta varia ao longo
do comprimento, nesse caso a área, a formulação é realizada para um elemento infinitesimal
dy na altura da barra, de forma que:

Pdy
d = , com A( y ) = b( y )  e . (II)
EA( y )

Substituindo a equação (I), que representa a largura variável da barra no comprimento, na


equação (II), obtém-se a função da área em termos dos parâmetros definidos para a solução:

b1 y by
b( y ) = → A( y ) = 1 e , (III)
h h

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que sendo introduzida na equação (II) e integrando no domínio do problema de (h-L) a h,


tem-se:
h
Pdy Pdy
d = →=  ,
 b1 y  h− L E  b1 y 
E e  e
 h   h 

que com os parâmetros constantes colocados fora da integral, obtém-se:

 h  h P  h 
h
P dy P
=
Eb1e 
h− L
y
→ = ln  
Eb1e  h − L 
→= ln  .
b1 Ee  h − L 
(IV)

h h

É necessário, agora, colocar a expressão (IV) em termos dos parâmetros fornecidos no


problema, retirando os elementos criados como suporte da solução. Portanto, de (I) se obtém
a relação que está entre parêntesis na equação (IV):

b1 b h b
= 2 → = 1. (V)
h h−L h − L b2

Desenvolvendo as relações da equação (V), tem-se que:

b1L h L
b1h − b2 h = b1L → h(b1 − b2 ) = b1 L → h = → = (VI)
b1 − b2 b1 b1 − b2

Substituindo-se (VI) em (IV), já com a relação obtida em (V), chega-se à equação final:

PL b 
= ln  1  .
Ee(b1 − b2 )  b2 

Exercício 17.9.
Determinar as reações nas rótulas A, B e C, para a estrutura representada.

Figura 17-6. Exercício 17.9.


Dados:

AAA’= 10 cm²; ABB’= 15 cm²; ACC’= 20 cm².


EAA’ = EBB’ = ECC’ = 10 kgf/cm².

122
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1) Diagrama de Corpo Livre:

É importante observar que em um sistema bi-rotulado só há forças axiais agindo nas barras.
A orientação adotada para os esforços internos, abaixo indicada, admite que essas sejam
forças de tração, ou seja, sua representação vetorial está saindo do nó (ou dá rótula).

DCL

2) Condições de equilíbrio:

 F = 0 → Não se aplica.
x

 F = 0 → R + R + R = 50tf ,
y AA ' BB ' CC '

 M = 0 → R  6 + R  8 − 10  3 − 40  7 = 0 →
A BB ' CC ' 6 RBB ' + 8RCC ' = 310 .

Logo, pela Estática:

RAA ' + RBB ' + RCC ' = 50 ,


6 RBB ' + 8RCC ' = 310 .

Portanto, pode ser observado que se trata de um sistema estaticamente indeterminado, pois
há 3 incógnitas, que são as reações nas rótulas, e apenas duas equações. Nesse caso, a
Resistência dos Materiais deverá fornecer a equação complementar. Isso será feito
analisando-se a deformação elástica de elemento que constitui o sistema, por meio das
relações de compatibilidade dos deslocamentos.

3) Compatibilidade:

Para elaborar a relação de compatibilidade, é preciso confeccionar um diagrama que


represente a configuração deformada do sistema. No presente caso, os elementos estão sob
esforço axial de tração, conforme estabelecido no DCL. Portanto, as deformações
apresentadas por cada elemento devem ser compatíveis com essa condição, ou seja, cada
elemento só poderá apresentar alongamento de seu eixo. Assim, o elemento AA’ apresentará
um alongamento lAA’, o elemento BB’ apresentará um alongamento lBB’ e o elemento CC’
apresentará um alongamento lCC’. No diagrama da direita da figura a seguir, é formada uma
relação de triângulos, por meio da subtração, nos demais alongamentos, da parcela lAA’.

123
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Assim, é possível estabelecer a relação entre as deformações dos diversos elementos


considerando-se as proporções obtidas nos triângulos do diagrama, de forma que:

lBB ' − l AA ' lCC ' − l AA '


= ,
6 8

lBB ' − l AA ' 3


= → 4 ( lBB ' − l AA' ) = 3 ( lCC ' − l AA' ) → l AA ' = 4lBB ' − 3lCC ' .
lCC ' − l AA ' 4

RAA 'l AA '  R l   R l 


= 4  BB ' BB '  − 3  CC ' CC '  .
E AA ' AAA '  EBB ' ABB '   ECC ' ACC ' 

Como l AA ' = lBB ' = lCC ' e EAA ' = EBB ' = ECC ' , a equação se reduz a:

RAA ' R  R 
= 4  BB '  − 3  CC '  .
AAA '  ABB '   ACC ' 

Substituindo os valores das respectivas áreas:

RAA ' R R
− 4  BB ' + 3  CC ' = 0 , multiplicando por 60 e simplificando a equação:
10 15 20

 RAA' RBB ' RCC ' 


 10 − 4  15 + 3  20 = 0   60 , chaga-se à equação: 6 RAA ' − 16 RBB ' + 9 RCC ' = 0 .
 

Com isso, o sistema fica formado pelas seguintes equações:

RAA ' + RBB ' + RCC ' = 50 , (I)


6 RBB ' + 8RCC ' = 310 , (II)
6 RAA ' − 16 RBB ' + 9 RCC ' = 0 . (III)

A solução do sistema pode ser obtida multiplicando a equação (I) por –6 e somando com a
equação (III). Assim, tem-se que:

−6 RAA ' − 6 RBB ' − 6 RCC ' = 300 (I) +


6 RAA ' − 16 RBB ' + 9 RCC ' = 0 (III) → −22 RBB ' + 3RCC ' = −300 (IV).

155 − 4 RCC '


Por (II), tem-se que: RBB ' = , que sendo substituída em (IV), essa equação fica:
3

 155 − 4 RCC ' 


−22   + 3RCC ' = −300 → −22 (155 − 4 RCC ' ) + 9 RCC ' = −900 ⸫
 3 

−22 155 + 88RCC ' + 9 RCC ' = −900 → +97 RCC ' = −900 + 22 155 → RCC ' = 25,88tf ⸫

124
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155 − 4  25,88
RBB ' = → RBB ' = 17,16tf ,
3

RAA ' = 50 − 17,16 − 25,88 → RAA ' = 6,96tf .

É importante ter em mente que a obtenção das forças internas nos elementos estruturais é
uma informação parcialmente desejada no processo de análise. Uma informação mais
completa e que permite a realização de algum julgamento sobre a condição de segurança do
sistema estrutural é a que diz respeito às tensões a que os elementos estão submetidos. Para
obtê-la, é preciso dividir a força interna pela área da seção transversal correspondente a cada
elemento. Assim:

RAA' 6960kgf kgf


 AA' = = 2
→  AA ' = 696 2 ,
AAA' 10cm cm

RBB ' 17160kgf kgf


 BB ' = = 2
→  BB ' = 1144 2 ,
ABB ' 15cm cm

RBB ' 25880kgf kgf


 CC ' = = 2
→  CC ' = 1294 2 .
ACC ' 20cm cm

(Obs.: na transformação de tonf (tonelada-força)para kgf (quilograma-força) foi considerado


que a aceleração da gravidade era aproximadamente igual a 10 m/s2).

18. DEFORMAÇÃO TRANSVERSAL

Quando um corpo está submetido a uma força axial, de tração ou de compressão, ele
apresenta deformação longitudinal e transversal ao mesmo tempo, implicando em uma
alteração no comprimento do eixo central e nas dimensões da seção transversal. Essa
alteração pode ser de aumento ou de diminuição, conforme a força seja de compressão ou
tração. Se a força for de tração a seção transversal diminui, aumentando em caso contrário,
conforme ilustrado na Figura 18-1, letras (a) e (b), respectivamente.

Direção longitudinal Seção transversal

li = comprimento inicial ti = dimensão inicial


lf = comprimento final tf = dimensão final

(a) Força normal de tração

125
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Direção longitudinal Seção transversal

li = comprimento inicial ti = dimensão inicial


lf = comprimento final tf = dimensão final

(b) Força normal de compressão


Figura 18-1. Deformações longitudinais e transversais

Por definição, deformação transversal em uma direção é a relação entre a variação


apresentada na respectiva direção por sua dimensão inicial, ou seja:

t
t = , com t = t f − ti ,
t

onde tf e ti são as dimensões transversais finais e iniciais, respectivamente. Durante a


deformação transversal, assume-se que o material seja homogêneo, ou seja, que suas várias
propriedades mecânicas são independentes do ponto considerado; e isotrópico, que suas
propriedades elásticas sejam mesmas em todas as direções. Se um material não é isotrópico
ele é anisotrópico, como a madeira.

A parte mais acentuada da deformação transversal provoca estricção da seção, como pode
ser visto na para uma barra tracionada.

Figura 18-2. Estricção em uma barra tracionadas

18.1. COEFICIENTE DE POISSON

A relação entre a deformação transversal e a deformação longitudinal é constante dentro da


região elástica de deformação. O valor absoluto dessa relação é conhecido como coeficiente
de Poisson, em razão do famoso matemático francês S. D. Poisson (1781-1840). Para fins
práticos o valor numérico do coeficiente de Poisson é o mesmo, independentemente de o
sólido estar sob tração ou compressão. Assim, pode ser escrito que:

t
Coeficiente de Poisson =  = , ( diz-se “ni”).
l

É importante ser observado que o coeficiente de Poisson é uma grandeza adimensional cujo
valor é um número absoluto, sem sinal. Como as deformações transversal e longitudinal
ocorrem em sentidos contrários, ou seja, enquanto o eixo se alonga a seção diminui e

126
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enquanto o eixo se encurta a seção aumenta, há a necessidade de compatibilizar a matemática


com a física do problema por meio da colocação de um sinal negativo na expressão. Disso,
decorre que:

t l 
 =− ∴  t = − l →  t = − ou  t = − .
l l E

Observe-se que a deformação transversal é um valor percentual da deformação longitudinal


até o valor limite do coeficiente de Poisson. Para a determinação desse limite considere-se
o cubo da Figura 18-3, um sólido sendo comprimido por uma força P, constituído de material
homogêneo e isotrópico. As dimensões de sua seção transversal são dadas por a e b e a do
eixo longitudinal por c.

Figura 18-3. Cubo de arestas a, b, c

Antes da aplicação da força P o volume do cubo era:

Vi = a  b  c .

Após a aplicação da força P o volume passa a ser:

V f = (a + a)(b + b)(c − c) ,

Δa
sendo: Δb as respectivas deformações absolutas (expansões ou contrações).
Δc

Exceto para a borracha ou a parafina, que são materiais muito elásticos, o volume final de
um sólido comprimido deve ser menor que o volume inicial. No caso contrário, ou seja, na
ocorrência de um alongamento na direção longitudinal, promovido por uma força de tração,
haverá um aumento de volume. O volume é modificado em função dos efeitos simultâneos
da deformação longitudinal e transversal. Embora exista, de fato, a modificação de volume,
a simples ocorrência dos efeitos longitudinal e transversal de forma simultânea indica uma
“tentativa” de o corpo manter o volume que possuía inicialmente, antes de ser carregado. No
estudo do cubo apresentado na Figura 18-3 tem-se, portanto, que:

V f  Vi .

Substituindo os volumes final e inicial em termos das dimensões transversais a e b, e da


dimensão longitudinal c, e sua deformações absolutas Δa, Δb e Δc, a equação anterior passa
a ser escrita como:

127
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(a + a)(b + b)(c − c)  abc .

O produto das parcelas entre si, conduz a:

(ab + a  b + a  b + a  b)(c − c )  abc , com

abc + a b  c + a  b  c + a b  c − a  b c − a b c − a  b c − a b c  abc .

Como as deformações absolutas que correspondem às parcelas representadas pela letra grega
 são admitidas muito pequenas quando comparada às outras grandezas, é possível desprezar
o produto entre elas. Levando isso em consideração e passando o termo da direita da
inequação para a esquerda, decorre que:

abc − abc + a b  c + a  b  c + 0 − a  b c − 0 − 0 − 0  0 .

Reescrevendo a equação anterior, tem-se que:

bc  a + ac  b − ab  c  0 .

Dividindo todas as parcelas por abc, que é o volume inicial do sólido, chega-se a:

bc  a ac  b ab  c
+ −  0.
abc abc abc

Eliminando os as dimensões comuns do numerador e do denominador, pode-se escrever:

a b c
+ −  0.
a b c

a b c
Enquanto as relações e são as deformações transversais, a relação é a
a b c
deformação longitudinal do sólido. Portanto, tem-se:

t + t − l  0

Como o material mantem suas propriedades mecânicas independentemente da direção, é


possível somar as deformações transversais:

t 
2 t −  l  0 → 2 t   l →  t  0,5 l →  0,5 . Como t =  →   0, 5 .
l l

Esse é o valor limite do coeficiente de Poisson para materiais isotrópicos. Poisson achou 0,25
como valor geral para os materiais que têm as mesmas propriedades elásticas em todas as
direções (isotropia). Para os metais o coeficiente fica na faixa de 0,25 a 0,35 (usual é ν = 0,3
para o aço, ABNT NBR 16775/2020). A borracha e a parafina têm ν = 0,5, próximo do
limite. O concreto tem ν = 0,2 pela ABNT (NBR 6118/2014). Alguns exemplos do
coeficiente de Poisson são:

Aço → 0,25 – 0,33 Pedra → 0,16 – 0,34


Alumínio → 0,32 – 0,36 Cobre → 0,31 – 0,34
128
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Para um material dúctil, a deformação transversal máxima ocorre justamente próxima à


ruptura do material, quando a seção sofre estricção. A estricção pode ser calculada por:

A0 − Af
= 100% , onde:
A0

 = estricção,
A0 = Área inicial da seção transversal,
Af = Área final da seção transversal,

devendo ser lembrado que A0 > Af no ensaio de tração. É importante observar que a estricção
ocorre na fase plástica de deformação e representa o estrangulamento do corpo de prova
próxima da ruptura.

Para a determinação experimental do coeficiente de Poisson uma técnica que pode ser
empregada é a colagem de extensômetros elétricos nas direções longitudinal e transversal na
superfície do sólido cujo parâmetro precisa ser medido, como se vê a seguir para o caso de
um corpo metálico sob tração. Esses extensômetros são ligados a um sistema de aquisição
de dados, que por sua vez está conectado a um microcomputador. Assim, é possível gravar
os resultados obtidos, permitindo operações matemáticas no âmbito da análise de dados. O
esquema de operação de um ensaio desse tipo é descrito no fluxograma da Figura 18-5.

Detalhe dos Sistema de aquisição de Microcomputador


Arranjo extensômetros dados
Figura 18-4. Técnica experimental para determinação do coeficiente de Poisson.

Figura 18-5. Fluxograma do ensaio para determinação do coeficiente de Poisson.

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Os resultados são obtidos em termos de deformação específica em cada direção, conforme


representação no gráfico da Figura 18-6(a). Os valores para as relações t/l são dadas no
diagrama da Figura 18-6(b), cujo valor médio, para o caso estudado, é de 0,29.

(a) Valores das deformações específicas (b) Valores do coeficiente de Poisson


Figura 18-6. Valores das deformações e coeficiente de Poisson.

19. EXERCÍCIOS

Exercício 19.1.
A figura dada representa duas barras soldadas na seção BB. A carga de tração que atua na
peça é de 4,5 kN. Desprezando o efeito do peso próprio, pede-se determinar para as seções
(1) e (2):

a) A tensão normal;
b) O alongamento em (1) e (2);
c) A deformação longitudinal unitária;
d) O alongamento total da peça;
e) A deformação transversal;
f) A variação no diâmetro de (1) e (2).

Dados: EAço = 210 GPa e νAço = 0,3.


Figura 19-1. Exercício 19.1.

Resolução:

a) Tensões normais:

P1 4,5 103
Seção 1:  1 = = = 25, 46 106 Pa →  1 = 24, 26MPa ,
A1  (15 10 )
−3 2

4
P 4,5 103
Seção 2:  2 = 2 = = 9,17 106 Pa →  2 = 9,17MPa .
A2  (25 10−3 )2
4

b) Alongamentos:

130
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 1l1 25, 46 106  0, 6


l1 = = = 0, 073 10−3 m → l1 = 0, 073mm ou l1 = 73 m ,
EAço 210 109

 2l2 9,17 106  0,9


l2 = = = 0, 0393 10−3 m → l2 = 0, 0393mm ou l2 = 39,3 m .
EAço 210 10 9

c) Deformações unitárias:

l1 73 m
1 = = → 1 = 122 ,
l1 0, 6m

l2 39,3 m
2 = = →  2 = 43 .
l2 0,9m

d) O alongamento total da peça:

lt = l1 + l2 = 73 + 39,3 → lt = 112,3 m .

e) Deformações transversais:

 t = − l = −0,3 122 →  t = −39,6 ,


1 1 1

 t = − l = −0,3  43 →  t = −12,9 .


2 2 2

f) Diâmetros finais

d1
t = → d1 =  t1 d1 = −36,6 10−6 15mm = −5, 49 10−4 mm ,
1
d1

d f1 = d1 + d1 → d f1 = 15mm − 5, 49 10−4 mm → d f1 = 14,999451mm ,

d 2
t = → d 2 =  t2 d 2 = −12,9 10−6  25mm = −3, 22 10−4 mm ,
2
d2

d f2 = d2 + d2 → d f2 = 25mm − 3, 22 10−4 mm → d f2 = 24,999678mm

(Obs.:  = 10-6 m).

Exercício 19.2,
Uma barra circular com d = 55 mm é comprimida por uma carga inicial de 20.000 kgf.
a) Achar o acréscimo Δd no diâmetro da barra, supondo E = 8.750 kgf/mm² e  = 0,30.
b) Calcular o acréscimo de volume da barra sendo o seu comprimento 380 mm.

Dados:

d = 55 mm; E = 8.750 kgf/mm²; li = 380 mm; P = 20.000 kgf;  = 0,30, Δd = ?; Volf = ?

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Resolução:

d2   552
A= = = 2375,83mm 2 (Área da seção transversal),
4 4

20000
x = − = −8, 42kgf / mm 2 (Tensão normal de compressão),
2375,83

x 8, 42
x = − =− = −9, 62  10−4 (Deformação específica),
E 8750

 t = − x = −0,30  (−9,62 10−4 ) = 2,87 10−4 (Deformação específica transversal),

d =  t d = 2,87 10−4  55 → d = 0, 0159mm (Variação do diâmetro),

 (d + d ) 2  (55 + 0, 0159)2
Afinal = = → Afinal = 2377, 20mm2 (Área final),
4 4

l f = li − l → l =  xl → l = −380  9, 62 10−4 = 0,36556mm (Var. do comprimento),

l f = 380 − 0,36556 → l f = 379,63444mm (Comprimento final),

Deve ser observado que o volume final da barra é obtido multiplicando-se a seção transversal
final pelo comprimento após a deformação, de forma que:

Vol f = Af l f . Com isso, tem-se que:

Vol f = 2377, 20  379,63444 → Vol f = 902466,99mm3 (Volume final).

O volume inicial, por sua vez, é obtido pelo produto da área inicial pelo comprimento inicial:

Voli = Ali i → Voli = 2375,83  380 → Voli = 902815, 40mm3 (Volume inicial).

A variação de volume é, portanto, a diferença entre o valor inicial e o final:

Vol = Voli − Vol f = 902815, 40 − 902466,99 → Vol = 348mm3 (Variação de volume).

20. DIAGRAMA TENSÃO-DEFORMAÇÃO (ENSAIO DE TRAÇÃO)

Para realização do diagrama conhecido como curva tensão-deformação de um certo material,


podem ser feitos ensaios padronizados, de tração, como para o aço, ou de compressão como
para o concreto e a madeira. Para isso, são confeccionados corpos de prova para serem
levados à uma máquina de testes, normalmente de acionamento hidráulico, onde são
aplicadas forças, P, em níveis crescentes. No ensaio de tração, por exemplo, toma-se uma
amostra do material por meio de um corpo de prova de seção, A, conhecida, marcando-se
dois pontos na direção longitudinal para a determinação do comprimento inicial, l,
correspondente ao trecho do ensaio, conforme se vê na Figura 20-1.
132
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A = área da seção transversal


l = comprimento do trecho de ensaio
P = força axialmente aplicada

Figura 20-1. Corpo de prova para o ensaio de tração

As forças, P, são aplicadas de forma gradativa sendo anotados os alongamentos, l,


apresentados pelo material, para cada nível de força. Dividindo o valor da força aplicada, P,
pela área da seção transversal, A, obtém-se a tensão (  = P / A ) relativa àquele nível de
força, que deverá ser marcada no eixo das ordenadas, enquanto a correspondente deformação
específica (  = l / l ), relação entre o alongamento absoluto, l, e o comprimento inicial, l,
deve ser marcada no eixo das abscissas. Essa sequência de eventos permite construir um
diagrama com o par de valores de tensões e deformações para diferentes níveis da força
aplica ao longo do ensaio. É importante recordar que os materiais podem ser dúcteis ou
frágeis e, portanto, possuem diagramas compatíveis com suas características mecânicas.

1) Materiais Dúcteis: Materiais que possa ser submetido a grandes deformações antes da
ruptura. Exemplo: Aço, alumínio, cobre, bronze, latão.

Escolhendo o aço e o alumínio como representantes dos materiais dúcteis, é possível


apresentar as curvas tensão-deformação típicos desses materiais:

Diagramas Tensão-Deformação do aço e do alumínio:

(a) Aço. (b) Alumínio.


Figura 20-2. Diagrama tensão-deformação

Entre esses dois materiais os diagramas tensão-deformação apresentam diferenças quanto à


determinação da tensão de escoamento, mesmo sendo ambos os materiais dúcteis. No
primeiro caso há um patamar de escoamento definido no diagrama, enquanto no segundo o
escoamento é obtido de forma convencional.

Aço (Ampliando o diagrama)

133
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Figura 20-3. Diagrama tensão-deformação no ensaio de tração – Aço

A = limite de proporcionalidade do material;


B = limite superior de escoamento;
C = limite inferior de escoamento;
D = final do escoamento e início de recuperação;
E = limite máximo de resistência (encruamento);
F = limite de ruptura do material.

» No trecho em que as tensões são diretamente proporcionais às deformações o diagrama


é linear.
» A proporcionalidade entre a força de tração e o alongamento só existe até certo ponto,
designado como limite de proporcionalidade.
» A relação entre a tensão e a deformação é constante e igual ao módulo de elasticidade
do material até o limite de proporcionalidade, sendo o gráfico representado por uma
reta.
1  2
= = E = tg  .
1  2

» Além do limite de proporcionalidade, quando o diagrama se torna curvo, a lei de Hooke


não valerá mais, pois atingiu o limite da região elástica.
» A partir desse ponto passa-se para a região plástica de deformação. Com o aumento da
carga, as deformações crescem mais rapidamente do que as tensões, quando uma
deformação considerável começa aparecer sem que haja aumento apreciável da força
de tração. Esse fenômeno é conhecido como escoamento e a tensão que caracteriza o
escoamento é dita tensão de escoamento.
» O escoamento da barra está ligado a uma contração lateral. No entanto, mesmo havendo
a redução da seção, no cálculo da tensão de ruptura, costuma-se usar a área inicial da
seção transversal;
» A partir do escoamento diz-se que o material se tornou plástico;
» Na fase plástica as deformações são permanentes;
» A tensão de escoamento do aço estrutural é obtida por observação, durante o teste de
tração (ensaio sem registro computacional). Após o período de crescimento constante
da carga, observa-se que a força cai subitamente para um valor ligeiramente menor, que

134
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se torna invariável durante a ocorrência do escoamento. Quando o teste é realizado


cuidadosamente é possível distinguir entre o valor superior de escoamento,
correspondente à força que atua imediatamente antes do escoamento e o limite inferior
de escoamento, correspondente à força necessária para manter o escoamento. Como o
valor superior é momentâneo, adota-se o valor inferior para a determinação da tensão
de escoamento do material.
» Após o início do escoamento do aço, a tensão permanece constante para uma gama de
deformações, configurando o patamar de escoamento;
» Após o patamar de escoamento, os valores das tensões crescem para que a barra volte a
se alongar, ou seja, o material oferece resistência extra ao aumento da força, acarretando
acréscimo de tensão para um aumento da deformação, atingindo um valor máximo ou
tensão máxima (tensão última). A esse fenômeno é dado o nome de recuperação. Ocorre
o encruamento;
» Durante o alongamento há contração lateral, que resulta na diminuição da área da seção
transversal. Isso não é considerado no diagrama até a tensão máxima. Daí em diante a
diminuição da área afeta de maneira apreciável o cálculo da tensão, ocorrendo o
estrangulamento da barra (estricção);
» Na estricção ocorre a ruptura do corpo de prova.

Alumínio

No caso do alumínio e muitos outros materiais dúcteis o escoamento não é caracterizado por
um trecho horizontal no diagrama. Ao invés disso, as tensões continuam aumentando,
embora não mais de maneira linear, até que a última tensão ou tensão máxima é alcançada.
Começa a haver então a estricção que pode levar à ruptura.

Figura 20-4. Diagrama tensão-deformação no ensaio de tração – Alumínio

Para esses materiais se define a tensão de escoamento por um valor convencional, que é
obtida tomando-se, no eixo das abscissas, a deformação específica de 0,2% ( = 0,002) e
por esse ponto, traçando-se uma reta paralela ao trecho linear inicial do diagrama, a tensão
correspondente é a tensão de escoamento. A ruptura, para os materiais dúcteis, se dá através
de um corte inclinado, o que pressupõe que o rompimento foi causado por tensões de
cisalhamento, pois o plano de ruptura forma um ângulo de 45° com a direção da força.

Cabe observar que os aços de construção civil são especificados em função da tensão de
escoamento (fy)

CA-25 → fy = 2500 kgf/cm² = 250 MPa,


CA-50 → fy = 5000 kgf/cm² = 500 MPa,
CA-60 → fy = 6000 kgf/cm² = 600 MPa,
ASTM - A-36 → fy = 250 MPa.

O ensaio de tração permite calcular a ductilidade do material ou alongamento percentual, a


estricção, além de possibilitar a análise de outras características mecânicas.
135
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Ductilidade:

LF − L0
d= 100 (%) , onde: LF = comprimento final; Lo = comprimento inicial.
L0

Estricção:

A0 − AF
= 100 (%) , onde: AF = área final; Ao = área inicial.
A0

A estricção de uma barra de aço para concreto armado após ensaio de tração pode ser vista
na Figura 20-5.

Figura 20-5. Estricção de uma barra de aço para CA após ensaio de tração.

Dois gráficos de ensaios de tração realizados com aços com patamar de escoamento definido
e sem patamar de escoamento definido são apresentados a seguir:

Com aço com patamar de escoamento definido

136
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Sem patamar de escoamento definido.


Figura 20-6. Diagramas de ensaios de tração realizados para o aço.

2) Material Frágil

Um material frágil não apresenta deformação plástica. O diagrama passa do regime elástico
para o rompimento. Para esses materiais, as deformações apresentadas são pequenas ≤ 2.5%.
Exemplo: Concreto, vidro, madeira (na tração), cerâmica, gesso, porcelana, ferro fundido.

Figura 20-7. Diagrama tensão-deformação no ensaio de tração – Material Frágil

» Início do ensaio carga nula, ponto O;


» O ponto A é o limite máximo de resistência (ponto de ruptura do material) e também o
limite de proporcionalidade do material;
» A tensão última é igual à tensão de ruptura;
» A ruptura, para os materiais frágeis, se dá através de um corte transversal, o que
pressupõe que o rompimento foi causado por tensões normais, pois o plano de ruptura
forma um ângulo de 90° com a direção da força.

No caso do concreto, o diagrama completo da curva tensão-deformação é caracterizado por


ter um pequeno trecho de resistência à tração, equivalente a 10% da resistência à compressão,
um segmento que traduz o comportamento linear na compressão até mais ou menos 50% de
sua resistência à compressão, que é seguido por um trecho de comportamento não-linear
onde ocorre a plastificado até a deformação máxima de 3,5 x 10 -3. Essa descrição pode ser
exemplificada considerando-se a prescrição da NBR 6118/2014 para valores de cálculo

137
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

sobre uma resistência característica, fck, de 35 MPa, conforme pode ser observado na Figura
20-8.

Tensão (MPa) Pequeno trecho linear na tração

Limite do comportamento linear na


compressão de até 50% do fck

Comportamento
não-linear em
compressão.

Deformação específica ( x 10-3)

Figura 20-8. Diagrama tensão-deformação do concreto (NBR 6118/2014)

20.1. TENSÃO ADMÍSSIVEL

O projeto de elementos estruturais ou componentes mecânicos deve ser feito restringindo-se


a tensão do material a um nível seguro, portanto, deve ser usada uma tensão, dita admissível,
que permite que os elementos estruturais estejam dentro de regime elástico de deformação.
O ensaio de tração fornece ao projetista informações valiosas sobre o comportamento dos
materiais, permitindo que seja definida a tensão de trabalho mais adequada ao projeto que
está sendo realizado.

Sendo conhecido o limite de escoamento e a tensão de ruptura dos materiais, é possível


estabelecer para cada problema de engenharia, a grandeza da tensão que pode ser
considerada como tensão de segurança. Essa tensão é denominada Tensão admissível ou
tensão de trabalho.

Para que a estrutura ou componentes de máquinas esteja em condição elástica de trabalho e


possa ser afastada a probabilidade de deformações permanentes, é importante adotar o valor
para a tensão admissível relativamente bem inferior ao limite de proporcionalidade do
material. Para isso deve ser empregado um número positivo e maior que a unidade de forma
a deixar reservada parte resistência do material, em termos de deformação elástica, para a
cobertura das incertezas existentes no projeto. Portanto, pode ser escrito que:

Materiais dúcteis: Materiais frágeis:

e  rup
 adm = e  adm = ,
n n

onde adm é a tensão admissível e n é o coeficiente de segurança que vai depender das
necessidades de cada projeto em específico.

138
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Cabe observar que:

» A determinação do valor a ser adotado para o coeficiente de segurança nas muitas


aplicações possíveis é um dos importantes fatores da engenharia.
» A escolha de um coeficiente baixo pode levar a uma probabilidade da ruína da estrutura
muito alta, em contrapartida, um coeficiente de segurança muito alto pode levar a
projetos com custo elevado e poucos funcionais.
» Uma peça estrutural ou elemento de máquina deve ser projetado de forma que a tensão
de ruptura ou de escoamento deva ser maior que a tensão a que a peça está submetida.
» Quando se aplica a tensão admissível, apenas parte da capacidade de resistência do
material está sendo utilizada, outra parte é reservada para possíveis aumentos na
solicitação.
» A grandeza do coeficiente de segurança depende grandemente da precisão com que
podem ser calculadas as forças exteriores (carregamentos) que atuam na estrutura, da
precisão com que podem ser calculadas as tensões nos elementos de uma estrutura e,
também, das características dos materiais empregados.

20.2. CONSIDERAÇÕES SOBRE A ESCOLHA DO COEFICIENTE DE


SEGURANÇA

(1) Modificações que ocorrem nas propriedades do material

A composição, resistência e dimensões dos materiais estão sujeitos a pequenas variações


durante a fabricação:

» As propriedades podem ser alteradas;


» Podem ocorrer tensões residuais;
» Alterações no transporte, armazenamento ou execução da estrutura.

(2) O número de vezes em que a carga é a aplicada durante a vida útil da estrutura

» A aplicação de ações cíclicas pode levar à fadiga do material.

(3) O tipo de carregamento que atua na estrutura e o de projeto.

» Alterações na finalidade da estrutura. Mudança no carregamento.

(3.1) Tipos de carregamento

Carga estática (constante)

É a carga que permanece constante na estrutura. Ex.: Um parafuso preso a um lustre. Uma
corrente suportando um peso.

Figura 20-9. Carregamento estático

139
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Carga Intermitente

A carga é aplicada gradativamente na peça, fazendo com que o esforço seja máximo em um
determinado intervalo de tempo. Ao atingir o valor máximo a carga é retirada
gradativamente no mesmo intervalo de tempo, fazendo com que a tensão volte à zero. Ex.:
O dente de uma engrenagem.

Figura 20-10. Carregamento intermitente

Carga alternada

Neste tipo de solicitação, a carga aplicada varia entre um máximo positivo para um mínimo
negativo e vice-versa, constituindo, essa, a pior situação para o material, tal fenômeno pode
levar à fadiga. Ex.: Eixos, molas, amortecedores, ação do vento.

Figura 20-11. Carregamento alternado

(4) O modo de ruptura

» Materiais frágeis rompem abruptamente,


» Materiais dúcteis rompem apresentando grande deformação.

(5) Métodos aproximados de análise

» Deve ser levado em conta as simplificações dos métodos de cálculo.

(6) Desgastes que poderá ocorrer no futuro

» Como exemplo a decomposição da madeira por meio de fungos e umidade, e a oxidação


de elementos metálicos.

(7) A importância da análise do coeficiente para integridade de toda a estrutura

» Na escolha do coeficiente de segurança é preciso levar sempre em consideração as vidas


e os bens que estão em jogo.
» Na maioria das aplicações, os coeficientes de segurança são indicados por normas
técnicas ou construtivas, mas pode ser utilizada a relação abaixo como um parâmetro
de referência (Sarkis Melconian - Mecânica Clássica e Resistência dos materiais),

n = x  y  z  w , onde:

140
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

x (fator do tipo de material):

x = 2 para materiais comuns.


x = 1,5 para aços de qualidade e aços liga.

y (fator do tipo de solicitação):

y = 1 para carga constante,


y = 2 para carga intermitente,
y = 3 para carga alternada.

z (fator do tipo de carga):

z = 1 para carga gradual,


z = 1,5 para choques leves,
z = 2,0 para choques bruscos.

w (fator para possíveis falhas de fabricação):

w = 1 a 1,5 para aços


w = 1,5 a 2,0 para materiais frágeis

Cabe ressaltar que de forma geral as normas técnicas trazem coeficientes de segurança a
serem aplicados nos projetos de engenharia, os quais são especificados em conformidade
com as propriedades de cada material. É de interesse, também, mencionar que, ligeiramente
diferente do conceito de tensão admissível, o conceito moderno de segurança envolve a
consideração probabilística da atuação simultânea das diversas ações na estrutura, divididas
em ações permanentes e acidentais. As ações permanentes representam as cargas fixas e o
peso próprio dos elementos estruturais. As ações acidentais, tais como a sobrecarga nas
edificações e o vento se alternam nas combinações, ora uma sendo considerada como a ação
variável principal e noutra como secundária. São estabelecidas tantas combinações quanto
foram necessárias para contemplar todas as ações acidentais na estrutura. Esse conceito pode
ser descrito, no denominado Estado Limite Último, pela expressão abaixo:

Fd =  (  gi FGi ,k ) +  qi FQi ,k +  ( qj 0 j FQi ,k ) ,


m n

i =1 j =2

onde:

» Fd é o valor de cálculo das ações para combinação última;


» FGi,k representa os valores característicos das ações permanentes: diretas (peso próprio
da estrutura, peso dos elementos construtivos fixos, peso das instalações permanentes e
empuxos permanentes); indiretas (retração do concreto, fluência do concreto,
deslocamentos de apoio e imperfeições geométricas).
» FQ1,k representa o valor característico da ação variável principal (cargas acidentais, ação
do vento, ação da água e ações variáveis durante a construção);
» FQj,k representa as outras “m-1” ações variáveis Fq2k, Fq3k, Fqmk;
» gi representa o coeficiente de ponderação para ações permanentes;
» Q1, Qj representam os coeficientes de ponderação para ações variáveis;
» 0j representa o fator de redução de combinação para ações variáveis;

141
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

É importante ter em mente que o conceito fundamental que deve ser atendido em relação a
qualquer sistema, é o de que as solicitações de cálculo Sd devam ser menores ou iguais às
resistências de cálculo Rd. Isso é assegurado pelo atendimento à seguinte desigualdade:

S d  Rd .

Cabe destacar que em Resistência dos Materiais o conceito de tensão admissível considera
todas as variações e incertezas existentes no sistema por meio do fator de segurança atribuído
à tensão característica do material. Portanto, o uso do fator de segurança visa projetar uma
estrutura que mantenha o equilíbrio entre qualidade, segurança e custo, que se traduz pelo
equilíbrio do binômio Segurança-Economia, ou seja:

Segurança x Economia  Equilíbrio

Portanto, se esse balanço é desobedecido, podem aparecer os seguintes cenários:

SEGURANÇA x Economia  Quando se aumenta demasiadamente a segurança se perde


em economia.

Segurança x ECONOMIA  Uma grande economia pode significar baixa segurança


(elevado risco).

CONSEQUÊNCIAS LEGAIS:

Se evento indesejado ocorre na atividade laboral, as consequências legais podem ter duas
naturezas:

Homicídio (Art. 121 do CPB)


1 – CONSEQUÊNCIAS PENAIS  Se ocorre: Lesões Corporais (Art. 129 do CPB)

O homicídio pode ser classificado como:

- Doloso, quando o agente deseja o resultado. Esse enquadramento raramente ocorre no


âmbito da atividade profissional, pois é difícil conceber que um engenheiro execute mal um
edifício com intensão deliberada de matar alguém.

- Culposo, quando o agente produz o resultado, sem ter tido a intensão de fazê-lo. Um evento
criminoso de natureza culposa pode ocorrer por:
Negligência – quando o agente deixa de tomar os cuidados necessários.
Exemplo: O engenheiro que deixa de examinar o escoramento antes de apoiar uma parede e
essa vem a cair, ou não toma os cuidados no levantamento das cargas de projeto.
Imprudência – quando o agente vê o risco, mas assume as consequências pelo
resultado.
Exemplo: O engenheiro manda retirar o escoramento da estrutura recém concretada antes do
tempo necessário para o endurecimento do material com o fim de acelerar o processo
construtivo e a estrutura vem a ruir.
Imperícia – o engenheiro é perito pois adquiriu a formação que lhe permite exercer
a profissão.

2 – CONSEQUÊNCIA CÍVIL – são as indenizações ($).

142
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21. EXERCÍCIOS

Exercício 21.1.
Determinar o diâmetro necessário das barras de aço da prensa para uma força de compressão
máxima de 50000 kgf, sabendo que a tensão de escoamento do material é de 3000 kgf/cm².
Qual o alongamento seguro de cada barra que medem 125 cm. Considere o
EAço = 21 x 105 kgf/cm² e o coeficiente de segurança n = 4.

As barras laterais em
preto são chamadas de
barras de reação.

Figura 21-1. Exercício 21.1.

Solução:

1) Diagrama do Corpo Livre (DCL)

Estabelecendo o diagrama do corpo livre por meio de um corte imaginário e observando o


equilíbrio de forças, externas e internas, nesse corte, tem-se:

Onde:

P = força que atua na prensa.


R1 e R2 são as reações nas barras (tração nas barras).

2) Equilíbrio (Equações da Estática)

As barras reagem à força aplicada pela prensa. À medida que P aumenta, R1 e R2 aumentam
proporcionalmente, até os seus limites. Até esses limites, as barras respondem a P de modo
que:

143
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F y = 0 → R1 + R2 = P .

Como a força está aplicada de forma equidistante das reações, temos que R1 = R2, então:

P 50000
2R1 = P → R1 = R2 = = → R1 = R2 = 25000kgf .
2 2

3) Dimensionamento (Tensões admissíveis)

P = Pmáx
P
Sendo  = , para a carga máxima:  =  máx
A
A = Amín
Pmáx
 máx =  adm = ,
Amín

e 3000kgf / cm 2
 adm = →  adm = →  adm = 750kgf / cm2 .
n 4

Pmáx 25000kgf
Como Amín = = → Amín = 33,33cm2 .
 adm 750kgf / cm 2

Como as barras são circulares:

  4  33,33cm2
Amín = d mín 2 → 33,33cm 2 = d mín 2 → dmín = → d mín = 6,51cm .
4 4 

O alongamento seguro, por sua vez, será:

Pmáxl  l 750kgf / cm2 125cm


lseg = → lseg = adm = → lseg = 0,0446cm .
E Aço Amín EAço 21105 kgf / cm2

Ou lseg = 0, 446mm .

Exercício 21.2.
Um tubo de aço, com tensão de escoamento σe = 28 kgf/mm², deve suportar uma carga de
compressão de 125 tf com coeficiente de segurança contra o escoamento de 1,8. Sabendo
que a espessura da parede do tubo é 1/8 de diâmetro, calcular o diâmetro externo mínimo.

Seção: Dados:

σe = 28 kgf/mm²
e = espessura = 1/8 D P = 125 tf
d = diâmetro interno n = 1,8
D = diâmetro externo e = 1/8 D
D=?

144
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Aef → área efetiva é que responde aos esforços.

Aef = Aexterna – Ainterna ⇒ Aef = Aex – Ain.

 D2 d2 1
Com isso, define-se: Aex = ; Ain = ; e= D ⸫
4 4 8

1 1 3
D = d + 2e → d = D − 2e = D − 2   D = D − D → d = D.
8 4 4

Substituindo-se o diâmetro interno na expressão da área efetiva:

 D2 d2 
 3     2 9 2 7 D 7  D2
2 2
Aef = − = D −  D   = D − D  = 
2
→ Aef =  .
4 4 4   4   4  16  16 4 16 4

Como, por definição:

P  P Pn
 Adm = → e = → Aef = , tem-se que:
Aef n Aef e

16  4 16  4  Pn  16  4  Pn 
D2 = Aef → D 2 =   ⸫ D=   . Com os dados do problema:
7 7   e  7   e 

16  4  125 103 1,8 


D=   → D = 152,92mm .
7  28 

A especificação do tubo deve incluir a definição da espessura, pois, para um mesmo diâmetro
comercial, há tubos com espessuras diferentes, portanto:

1 152,92
e= D= → e = 19,12mm .
8 8

Importante, também, é observar que, na hora da escolha do tubo com dimensões comerciais
disponíveis, ou na adoção de outro tipo de seção, a área da seção transversal escolhida não
esteja abaixo da mínima necessária:

7  D 2 7  (151,92mm) 2
Aef =  =  → Aef = 8035,72mm2 .
16 4 16 4

Exercício 21.3.
Determinar as dimensões da seção transversal de uma viga de madeira BC e da barra de aço
AB da estrutura ABC, carregada em B, sendo a tensão admissível para a madeira tomada
igual a 11 kgf/cm² e para o aço igual a 700 kgf/cm². A carga P é de 3000 kgf.

145
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Solução:

A solução deste problema se inicia com o estudo da geometria do sistema e de suas condições
de contorno. As barras que constituem a estrutura apresentada são rotuladas nas duas
extremidades, por essa razão só admitem esforço normal.

Da geometria, a hipotenusa do triângulo, que é o comprimento da barra de aço, é calculada


por Pitágoras na forma de:

h = 3602 + 2702 = 450cm .

1) Forças nas barras:

Há duas maneiras de determinar as forças nas barras. Tome-se o esquema estático,


representado pela figura abaixo. A partir dele, pode-se usar a regra da poligonal fechada ou
o equilíbrio de ponto material.

Figura 21-2. Exercício 21.3.

1º método: A primeira opção está relacionada ao fato de que se um sistema vetorial em


equilíbrio forma uma poligonal fechada, onde a resultante é nula. Portanto, os vetores são
representados por setas orientadas que correspondem às forças ativas e aquelas que agem
nas barras. A natureza das forças, se de tração ou compressão, deve ser obtida projetando-se
o vetor em relação ao nó de referência. Se estiver saindo desse será de tração. Em caso
contrário será de compressão.

2º método: O segundo método se baseia na adoção de um sistema local de referência x-y,


em relação ao qual vetores que representam as diversas foças concorrentes no ponto são
projetas para atenderam às condições de equilíbrio da estática:

F x =0 e F
y =0.

Nesse processo as forças nas barras podem ter seus sentidos arbitrados inicialmente e
confirmados posteriormente por meio do sinal obtido. Por essa razão, a adoção de forças

146
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

positivas (de tração, saindo do nó) facilita a verificação, pois, em havendo um sinal negativo,
esse já seria associado a uma força compressiva.

1º método: Regra da poligonal 2º método: Equilíbrio de ponto material

P 270
sen  = Pelo triângulo formado sen  =
RA 450
na geometria do
R 360
cos  = M sistema, tem-se: cos  =
RA 450

Pelo primeiro método, o da poligonal fechada, as expressões trigonométricas podem ser


igualadas, logo:

270 3000kgf
= → RA = 5000kgf ,
450 RA

360 RM
= → RM = 4000kgf .
450 5000kgf

2) Dimensionamento:

2.1) Da barra de aço:

RA kgf 5000kgf 5000kgf


 admA = → 700 2 = → AA = → AA = 7,14cm2 .
AA cm AA 700kgf / cm 2

Uma vez calculada a área, qualquer geometria para a seção pode ser adotada, como barra
chata (seção retangular), perfis “I”, “H” ou mesmo cantoneiras são opção de projeto. Se
considerada de seção circular, a barra terá diâmetro de:

d2 7,14cm2  4
AA = → dA = → d A = 3, 01cm .
4 

2.2) Da barra de madeira:

RM kgf 4000kgf 4000kgf


 adm = → 11 2 = → AM = → AM = 363,64cm2 .
M
AM cm AA 11kgf / cm 2

Como uma primeira aproximação, é possível admitir a barra de madeira como de seção
quadrada. Daí, resulta que as suas dimensões da seção advenham de L = A , logo:

L = 363, 64cm 2 → L = 19, 07cm .

147
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Uma observação alusiva à barra de madeira refere-se ao fato de essa estar sendo comprimida.
Barras comprimidas podem sofrer colapso mesmo sem terem atingido a capacidade
resistente de suas seções. Trata-se de um fenômeno relacionado à perda de equilíbrio ou
flambagem, cujo principal parâmetro é a esbeltez da peça. A esbeltez é a relação do
comprimento de flambagem lf, que depende das condições de contorno da barra, pelo seu
raio de giração i, que, por sua vez, é relação entre a inércia I e a área A da seção transversal.
Para barras bi-rotuladas, o comprimento de flambagem é o seu próprio comprimento. Daí,
pode-se calcular:

4
i= I , onde I para seções quadradas vale: I = L . Logo:
A 12

L4 4 2
i= 12 = L 1 = L = L = L 12 → i = 19, 07 12 = 5,50cm .
L2 12 L2 12 12 12 12

A esbeltez, então, é dada por:  = lf / i →  = 360cm / 5,50cm →  = 65 . Esse valor


classifica a peça, segundo a NBR 7190 - Projeto de estruturas de madeira, como sendo de
esbeltez média ou peça medianamente esbelta. Cada normativa estabelece intervalos
próprios para cada material. No caso da NBR 7190, as peças são classificadas da seguinte
forma:

» peça curta, de 0 a 40;


» peça medianamente esbelta, de 40 a 80, e
» peça esbelta, de 80 a 140.

É importante deixar claro que o grau de esbeltez define o roteiro de verificação quanto à
estabilidade preconizado pela norma brasileira. .

Após definidas as seções dos elementos estruturais, é preciso confeccionar os desenhos


executivos que serão levados à campo para a realização do sistema. Esses desenhos contém
o detalhamento das ligações e, normalmente, se fazem acompanhar de especificações e notas
de esclarecimento para melhor compreensão do que foi projetado.

Exercício 21.4.
Uma barra de seção transversal circular (d = 40 mm) com um furo radial, conforme mostra
a figura, com diâmetro igual a d/4. Supondo que a tensão admissível seja σadm = 7 kgf/mm2,
calcular a carga provável P que a barra pode suportar sob tração.

Figura 21-3. Exercício 21.5.

P
Lembre-se que tensão é  = , que em termos da tensão admissível é expressa como:
A

148
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Pmáx
 adm = ,
Amín

onde adm é a tensão de trabalho do material, Pmax é a força máxima que pode ser aplica e
Amin é a área mínima necessária para que a seção transversal possa resistir à força atuante.

Como a seção transversal possui um furo central, deve-se calcular a área efetiva de material
que compõe a seção. Portanto:

Aef = A1 + A2 é a área efetiva ou líquida da seção, que pode ser escrita como:

Aef = 2 A1 ou Aef = ATotal − A3 , onde A3 é a área do furo e ATotal é área total ou área bruta da
seção, dada por:

d2   402
ATotal = = = 1256, 64mm2 .
4 4

Portanto, o problema, basicamente, consiste em calcular a área do furo.

Cálculo de A3 (área do furo):

Verifica-se que a área do furo, geometricamente, é composta pela área de dois triângulos a
e dois setores circulares b. Calculando-se essas figuras, tem-se:

Cálculo da área a:

A altura do furo tem ¼ do diâmetro da seção que vale 40 mm altura.

d 40
= = 10mm .
4 4

Logo , a metade desse valor, que constitui um dos catetos y do triângulo é:

10
y= =5.
2

Com isso, tem-se o triângulo com um dos catetos conhecidos e a hipotenusa, permitindo
calcular o cateto adjacente ao ângulo .

→ x 2 + 52 = 202 → x = 19,36mm .

149
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Com os catetos do triângulo calculado, pode-se obter a metade da área “a”:

a 1
= 19,36  5 → 2a = 2 19,36  5 → 2a = 193, 69mm 2 .
2 2

Cálculo do setor b:

O cálculo do setor b se inicia com a definição do ângulo interno  em função de :

2 ( 90 −  ) +  = 180 →  = 180 −180 + 2 →  = 2 .

5 5
Determinando a : sen  = →  = arcsen →  = 14, 47 ∴ 2 = 28,95 .
20 20

Ou ainda pela lei dos cossenos:

102 = 202 + 202 − 2  20  20  cos  →  = 28,95 .

Calculando a área do setor b:

360  r2  r 2   202  28,95


= → b= = → b = 101, 07mm2 → 2b = 202,14mm 2 .
 b 360 360

Com isso, pode-se calcular a área do furo A3:

A3 = 2a + 2b = 193, 60 + 202,14 → A3 = 395,74mm2 , que é a área do furo.

Portanto, a área efetiva seção, ou seja, a quantidade de material na seção, é dada por:

Aef = 1256,64 − 395,74 → Aef = 860,90mm2 .

A carga máxima que pode ser aplica, por fim, é encontrada por:

Pmáx
 adm = → Pmáx = Aef   adm = 860,90  7 → Pmáx = 6026,30kgf .
Aef

Exercício 21.5.
Uma coluna de concreto armado, de seção quadrada, suporta uma carga axial de compressão
P. Calcular a fração da carga suportada pelo concreto, sabendo que a área da seção
transversal das barras de aço da armação é 1/10 da do concreto e que o módulo de
elasticidade do aço é 10 vezes o do concreto.

150
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Vista longitudinal Corte A-A (Seção transversal)


Figura 21-4. Exercício 21.5.

Solução:

Definindo:

AC = Área do concreto; AA = Área total das barras de aço


RC = Carga absorvida pelo concreto; RA = Carga absorvida pelo aço

1) DCL

Pode-se dividir a força P em duas parcelas, uma destinada ao concreto e outra destinada ao
aço. Logo, haverá duas reações (ou resistências), uma devido ao concreto, outra devido ao
aço.

Diagrama de Corpo Livre (DCL)

2) Equilíbrio

F y = 0 → RA + RC = P (I)

Verifica-se que a equação disponível da estática não resolve completamente o problema,


portanto, esse é dito que esse é um problema estaticamente indeterminado, precisando, dessa
forma, de uma equação adicional para que possa ser resolvido. Essa equação virá da
Resistencia dos Materiais por meio do estudo da compatibilidade dos deslocamentos.

3) Compatibilidade

Como os componentes resistentes da seção, concreto e aço, estão solidários, as deformações


parciais, de cada elemento serão iguais e iguais a deformação total do conjunto, portanto:

lC = l A ,

151
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

que é a equação de compatibilidade dos deslocamentos. Escrevendo cada parcela por meio
da lei fundamental da Resistência em termos das propriedades elásticas e geométrica de cada
material, tem-se que:

RC lC Rl
= AA .
EC AC EA AA

EC AC
Como lC = l A = l , onde l é o comprimento da coluna → RC = RA   .
EA AA

Considerando que:

AC E 10 AC
AA = e E A = 10 EC → RC = RA  C  → RC = RA . (II)
10 10 EC AC

P
Como RA + RC = P , por (I), → RC + RC = P → RC = ,
2

que é a parcela da força que deve ser resistida pelo concreto. Uma complementação
interessante para esse problema pode ser feita se se deseja dimensionar a área de concreto e
a de aço para a coluna dada. Admitindo-se uma resistência característica à compressão para
o concreto, fck, igual 300 kgf/cm2 (29,42 MPa) e uma força P na extremidade de 200 tf
(1779,29 kN), g = 9,807 m/s2 para ambas as transformações, tem-se:

1. Por tensões admissíveis:

P
RC R fck R P 2 .
 adm = → AC = C , com  adm = , AC = C , com RC = → AC =
AC  adm n fck 2 fck
n n
200000
Adotando n = 1,96 → AC = 2 → A = 592,69cm2 (área de concreto).
C
300
1.96

Como a área de aço é um décimo da do concerto, por imposição do enunciado, tem-se:

AA = 59,27cm2 (área de aço).

2. Por Estados Limites:

Em face do conceito dos Estados Limites Últimos (ELU), que norteia o desenvolvimento
dos projetos atuais, as solicitações de cálculo devem ser menores ou iguais às resistências
de cálculo ( S d  Rd ), onde essa são consideradas com seus fatores de ponderação. Nesse
contexto, ações são multiplicadas por seus coeficientes de majoração e as resistências por
seus coeficientes de minoração. Esses coeficientes, no presente exemplo, são:

• para a força P (ação), a é igual a 1,4; e


• para a resistência do concreto (material), c é igual a 1,4.

Assim, para a definição das áreas mínimas necessárias, tem-se, para cada material o seguinte:
152
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Para o concreto:

RC   a fck
= .
AC c

Note-se que se é feito que:

RC fck
= ,
AC  a   c

A relação fck / ( a   c ) pode ser entendida no conceito de tensão admissível como a que
considera todas as incertezas existentes na resistência característica do material, onde o
produto entre o coeficiente de majoração das ações pelo coeficiente de minoração das
resistências (  c   a ) se torna o coeficiente de segurança n do método das tensões admissíveis
do item 1. Logo:

fck
 adm = .
 c  a

Fazendo n =  c   a chaga-se na expressão preconizada para a tensão admissível:

fck
 adm = . Se a = 1,4 e c = 1,4, n = 1,96.
n

Retomando a equação inicial e isolando a área necessária de concreto, chega-se a:

RC   a   c
AC = .
fck

P
Como RC = , valor encontrado na presente aplicação, a área de concreto passa a ser:
2

P  
AC = 2 a c.
fck

Substituindo os valores da força que recai sobre o concreto, obtida anteriormente, e dos
coeficientes de segurança, encontra-se a área resistente necessária, na forma de:

AC =
( 200000 )1, 4 1, 4
2 → A = 592,69cm2 .
C
300

Se um primeiro dimensionamento é feito para considerar a coluna como tendo seção


quadrada, as dimensões de seus lados são:

L = AC → L = 24,35cm  25cm → L  25cm .

153
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Para o aço:

Como estipulado no enunciado, a área total de aço deve ser 1/10 da área de concreto, logo:

592,69cm 2
AS = → AS = 59, 27cm2 .
10

Cabe observar que as barras comerciais dos aços para concreto armado (CA) possuem
diâmetros (bitolas) padronizados, conforme indicado na Tabela 21-1. O peso linear é obtido
multiplicando-se a área de cada barra pelo peso específico do aço, que é de 7850 kgf/m3
(~77 kN/m3 ).

Tabela 21-1 – Bitolas comerciais


Barras de aço para CA
Diâmetro Diâmetro Área Área Peso linear
Tipo
(pol.) (mm) (mm2) (cm2) (kgf/m)
3/16 5,0 19,63 0,20 CA-60 0,154
1/4 6,3 31,17 0,31 CA-50 0,245
5/16 8,0 50,27 0,50 CA-50 0,395
3/8 10,0 78,54 0,79 CA-50 0,617
1/2 12,5 122,72 1,23 CA-50 0,963
5/8 16,0 201,06 2,01 CA-50 1,578
3/4 20,0 314,16 3,14 CA-50 2,466
1 25,0 490,87 4,91 CA-50 3,853
1 1/4 32,0 804,25 8,04 CA-50 6,313
1 9/16 40,0 1256,64 12,57 CA-50 9,865

Escolhendo a barra de 25,0 mm (1 polegada), que possui uma área de 4,91 cm2, o número de
barras, nb, a ser adotado é:

59, 27cm2
nb = = 12, 01 .
4,91cm2

Portanto, são adotadas 12 barras. Com isso, tem-se uma coluna de seção de (25 x 25) cm,
com 12 barras de 25 milímetros de diâmetro e sua indicação em projeto é:

Importante registrar que o exemplo apresentado anteriormente considera a força aplicada no


centro geométrico da seção, portanto, somente válido para colunas curtas, ou seja, de baixa
esbeltez. Outro registro que deve ser feito, em qualquer caso, é a necessidade do atendimento
às disposições construtivas com a verificação dos espaços mínimos entre as barras de forma
a favorecer uma boa concretagem, evitando-se a formação de vazios e nichos e favorecendo
a distribuição homogênea do concreto quando em estado fluido.

154
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Exercício 21.6.
Uma coluna curta de concreto armado tem 8 barras de aço e está submetida a uma força P
de compressão. a) Determine o diâmetro mínimo de cada barra de modo que ¼ da força seja
suportada pelo aço e ¾ pelo concreto. b) Nessas condições, determine a força máxima que
pode ser aplicada na coluna. Considere: Para o aço: EAço = 205 GPa (módulo de
elasticidade); fy = 500 MPa (tensão de escoamento); A = 1,15 (coeficiente de segurança).
Para o concreto: EConcreto = 25 GPa (módulo de elasticidade); fck = 25 MPa (resistência
característica à compressão); C = 1.40 (coeficiente de segurança)

Solução:

a) Compatibilidade:

Pela compatibilidade das deformações entre o aço e o concreto, tem-se que

FAl A Fl FA F
 A = C → = C C . Como l A = lC → = C .
EA AA EC AC EA AA EC AC

Substituindo as forças no aço e no concreto pela condição imposta pelo problema:

1 3
FA = P e FC = P ,
4 4

tem-se que:

1 3
P P
4 = 4 ,
E A AA EC AC

o que leva a:

1 3
= → 3E A AA = EC AC .
EA AA EC AC

Designando a área bruta da seção por AS, a área líquida de concreto será:

AC = AS − AA .

Com isso, pode-se escrever que:

3EA AA = EC ( AS − AA ) → 3E A AA + EC AA = EC AS . Portanto:

155
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

EC AS
AA ( 3EA + EC ) = EC AS → AA = .
( 3EA + EC )
Substituindo-se os dados do problema, a área de aço pode ser encontrada na forma de:

25GPa  (250mm  250mm)


AA = → AA = 2441,41mm2 .
3  205GPa + 25GPa

Como a área de aço é composta por 8 barras de seção circular, a área total de aço será:

d2
AA = 8 , onde d é o diâmetro da barra. Logo:
4

4  AA 4  2441,41mm2
d= → d= → d = 19,71mm .
8 8

b) Equilíbrio (força máxima da coluna):

A força máxima que pode ser aplicada, ou a capacidade da coluna, é encontrada pela soma
das parcelas do aço e do concreto:

fy fck fy f ck
PMáx = AA + AC → PMáx = AA + ( AS − AA ) .
A C A C

Incluindo os dados fornecidos na equação anterior, chega-se a:

500  25 
PMáx = 2441,41 + ( 250  250 − 2441,41)  → PMáx = 2133955,87 N ⸫
1,15  1, 4 

PMáx = 2133,96kN ou PMáx = 239,87tf .

Exercício 21.7.
Uma carga axial P é suportada por uma pequena coluna tipo W 150 x 22,5 (H) de seção
transversal A = 2900 mm², e é transmitida a um bloco de fundação de concreto por uma placa
quadrada de 450 mm de lado, como mostrado na figura abaixo. Sabendo-se que a tensão
média na coluna não poderá exceder a 217,39 MPa e que a tensão média sobre a fundação
não poderá ultrapassar sua capacidade resistente de 14,29 MPa, determine a máxima carga
P admissível.

156
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Vista longitudinal Vista em planta


Figura 21-5. Exercício 21.7.

1. Verificação para a coluna de Aço

Obs.: 1 MPa = N / mm 2 .

Paço =  aço Aaço = 217,39 N / mm2  2900mm2 = 217,39  2900 N → Paço = 630, 43kN .

2. Verificação para a base de Concreto

Pbc =  bc Abc = 14, 29N / mm2  (450  450)mm2 = 14, 29  4502 N → Pbc = 2892,86kN .

A carga admissível do sistema será a menor das duas, portanto, Padm = 630,43 kN, que é a
força máxima possível de ser aplicada.

Exercício 21.8.
Sabendo-se que a haste de ligação BD tem uma seção uniforme, de área igual a 800 mm²,
determine a intensidade da carga P para que a tensão normal na haste BD seja 50 MPa.

Figura 21-6. Exercício 21.8.

Solução:

157
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

1) DCL

Pela geometria do sistema:

240 450
RBDy = RBD cos , RBDx = RBD sen  ; sen  = , cos  = .
510 510

2) Equilíbrio

Pela condição imposta do problema:

 BD = 50MPa → RBD =  BD  ABD .

Considerando que:

RBD = 50 106 N / m2  800 10−6 m2 → RBD = 40000 N ∴ RBD = 40kN .

Fazendo-se o somatório dos momentos em relação ao ponto C igual a zero, tem-se:

240mm
M C = 0 → P 135mm − RBDy  240mm = 0 → P = RBDy 
135mm
.

Logo:
240mm 450mm 240mm
P = RBD  cos   → P = 40kN   → P = 62, 74kN .
135mm 510mm 135mm

22. GENERALIZAÇÃO DA LEI DE HOOKE OU CARREGAMENTO


MULTIAXIAL

Até agora foram calculadas tensões em barras sujeitas a carregamento apenas em uma
direção, na direção longitudinal. Isso significa que as outras duas dimensões eram pouco
representativas diante de uma terceira. Por essa razão, foi considerado que: σx ≠ 0 = P/A, mas
σy = 0 e σz = 0, ou seja, as direções transversais ao eixo estavam livres para se deformarem.
Agora, as três dimensões do sólido serão consideradas proporcionais entre si e as forças
podem ser ditas axiais nas três direções.

Considerando elementos extraídos de peças estruturais sujeitos a ação de carregamentos que


atuam nas direções dos três eixos cartesianos, produzindo tensões normais σx, σy e σz, todas

158
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

diferentes de zero, tem-se um Estado de Carregamento Multiaxial, conforme indicado na


Figura 22-1. É importante não confundir com um estado geral de carregamento, onde
aparecem tensões de cisalhamento.

Figura 22-1. Cubo solicitado tri-axialmente (vista isométrica).

Às vezes é mais prático observar o problema por duas figuras planas, como se vê em projetos.

Vista frontal. Planta.


Figura 22-2. Vistas bidimensionais.

Se se considera um cubo de arestas unitárias, tem-se que:

l
= →  = l  l → l f = l + l → l f = l +  l → l f = l (1 +  ) .
l

Como l = 1 → l f = 1 +  .

Indeformado. Deformado.

Figura 22-3. Cubo unitário.

A orientação das deformações é feita através dos eixos coordenados, lembrando que:

Tração (+) Expansão (+)


Tensão ; Deformação
Compressão (-) Contração (-)

Utilizando o método da superposição pode-se escrever as equações que representam a


deformação em cada direção, no elemento prismático unitário. Esse método consiste em
somar os efeitos provocados por cada solicitação na direção observada, sendo preciso
entender que:

» Cada causa é diretamente proporcional ao efeito que produz;


» A deformação causada por qualquer dos carregamentos é pequena e não afeta as
condições de aplicação dos outros carregamentos.

159
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Tome-se a direção x para exame. A deformação na direção x vai ser a soma das deformações
provocadas pelos carregamentos nas direções x, y, z. A primeira de caráter longitudinal e as
outras duas transversais. Daí:

x
Por Px ou σx será:  xx = → Longitudinal.
E
 y
Py ou σy será:  xy = −
E Transversais.
 z
Pz ou σz será:  xz = −
E

Portanto, pode ser escrito que:

 x  y  z
x = − − ,
E E E
 y  x  z
y = − − , (I)
E E E
 z  x  y
z = − − .
E E E

22.1. DILATAÇÃO VOLUMÉTRICA

Sendo o corpo de arestas unitárias, após a deformação sua configuração é dada por:

Figura 22-4. Cudo deformado.

Disso decorre que o volume final do sólido será:

V f = (1 +  x )(1 +  y )(1 +  z ) ,
V f = (1 +  y +  x +  x y )(1 +  z ) ,
V f = 1 +  y +  x +  x y +  z +  y z +  x z +  x y z .

Como as deformações são pequenas, o produto entre elas pode ser desprezado. De forma
que a expressão anterior se reduz a:

Vf = 1+  x +  y +  z .

Como o volume anterior do sólido era o de um cubo de arestas unitárias, o volume inicial do
sólido é Vi = 1. Então, subtraindo do volume final o inicial, a variação volumétrica é dada
por:

V = V f − Vi .

160
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Como o sólido inicialmente tinha volume unitário, e representa a variação de volume por
unidade de volume, ou seja:

e = V / Vi = V /1 → e = V .

Essa relação é chamada de dilatação volumétrica específica ou dilatação específica cúbica


do material. Com isso:

e = (1 +  x +  y +  z ) −1 → e =  x +  y +  z (II)

Substituindo as parcelas de (I), que são:

 x  y  z  y  x  z  z  x  y
x = − − , y = − − , z = − − ,
E E E E E E E E E

em (II), pode-se escrever que:

 x  y  z  y  x  z  z  x  y
e= − − + − − + − − ⸫
E E E E E E E E E
x y z

x y z 2 x 2 y 2 z


e= + + − − − ,
E E E E E E

1 2 1 − 2
e= ( x +  y +  z ) − ( x +  y +  z ) → e = ( x +  y +  z ) .
E E E

23. EXERCÍCIOS

Exercício 23.1.
Há um exercício que foi resolvido por meio da deformação longitudinal e as deformações
transversais para calcular o volume final, em que ΔV ≌ 347,85 mm³. Agora, pode ser feito
que:

 
1 − 2  0,30  20000  −4
e= −  = −3,85 10 ⸫
8750    352 
 
 4 

V = Vi  e = 2375,83  (−3,85 10−4 ) → V = −347, 43mm3 .

Exercício 23.2.
Considere a barra solicitada uniaxialmente por uma força P compressiva:

161
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Figura 23-1. Exercício 23.2.

 y =  z = 0 → Não há tensões nas direções y e z, pois não há restrições à expansão do


sólido nessas direções. Portanto, y e z são diferentes de zero, pois o sólido pode se expandir
lateralmente, sem restrições. Com isso, o problema fica descrito da seguinte forma:

x
x  0 → x = ,
E
 x
y = 0 → y = − ,
E
 x
z = 0 → z = − .
E

Exercício 23.3.
Três primas de mesmo material (E = 300.000 kgf/cm²; ν = 0,2) com iguais alturas e seções
transversais estão sujeitas a cargas axiais conforme se indica nas figuras ABC. Determine o
valor da carga P que produz um encurtamento de 0,5 mm na aresta vertical do prisma.

Figura 23-2. Exercício 23.3.

Situação A:

y = ? → y = 0 ,
z = ? →  z = 0 ,
l 0,5
x = =− (imposição do problema) →  x  0 .
l 1000

162
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

x 0,5
x = →  x = xE = −  300000 →  x = −150kgf / cm² .
E 1000

Logo, − PA = − x A → PA = 150  (6 10) → PA = 9000kgf .

Podem ser calculadas, ainda:

 x
0, 2  ( −150)
y = z = − =− →  y =  z = 0,0001; ou ainda:
E 300000
t  0,5 
= − →  t = − x →  t = −0, 2   −  →  t = 0, 0001 . Portanto, as variações são:
x  1000 
l y =  yl y = 0,0001 6 → l y = 0,0006cm .
lz =  z lz = 0, 000110 → lz = 0, 001cm .

Situação B:

0,5
x = − (imposição do problema) → x  0,
1000
y = 0 (peça confinada na direção y) → y  0,
z  0 (peça livre na direção z) → z = 0.

Com isso, monta-se o sistema de duas equações a duas incógnitas:

 x  y  z 0,5  x − 0, 2
x = − − → − = y
→  x − 0, 2 y = −150 (1),
E E E 1000 300000
 y  x  z  y − 0, 2 x
y = − − → 0= →  y = 0, 2 x (2),
E E E 300000

Portanto, levando (2) em (1), tem-se:

 x − 0, 2  0, 2 x = −150 →  x − 0, 4 x = −150 ,
0,96 x = −150 →  x = −156, 25kgf / cm2 .
PB
Logo: −156, 25 = − → PB = 156, 25  (6 10) → PB = 9375kgf .
A

E, ainda, pode-se fazer:

 y = 0, 2 x →  y = 0, 2  (−156, 25) →  y = −31, 25kgf / cm2 ,


 0, 2
lz =  z lz →  z = − ( x +  z ) = − (−156, 25 − 31, 25) ,
E 300000
 z = 1, 25 10 −4
∴ lz = 1, 25 10  6 → lz = 7,5 10−4 cm .
−4

Situação C:

0,5
x = − (imposição do problema) → x  0,
1000

163
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

y = 0 (peça confinada na direção y) →  y  0 ,


z = 0 (peça confinada na direção z) →  z  0 .

Com isso o sistema de três equações a três incógnitas fica:

0,5  x − 0, 2 y − 0, 2 z
− = →  x − 0, 2 y − 0, 2 z = −150 , (1),
1000 300000
 y − 0, 2 x − 0, 2 z
0= →  y − 0, 2 x − 0, 2 z = 0 , (2),
300000
 − 0, 2 x − 0, 2 y
0= z →  z − 0, 2 x − 0, 2 y = 0 (3).
300000

De (2) extrai-se:  y = 0, 2 x + 0, 2 z .
De (3) tem-se que:  z = 0, 2 x + 0, 2 y , que sendo levada à equação (2) encontra-se:
 y = 0, 2 x + 0, 2  (0, 2 x + 0, 2 z ) →  y = 0, 2 x + 0,04 x + 0,04 z → 0,96 y = 0, 24 x
→  y = 0, 25 x (4).

Substituindo (4) em (1) conduz a:

 x − 0, 2  (0, 25 x ) − 0, 2  [0, 2 x + 0, 2  (0, 25)   x ] = −150 ,


 x − 0, 05 x − 0, 04 x − 0, 01 x = −150 → 0,9 x = −150 →  x = −166, 67kgf / cm² ∴
− PC = − x A = 166, 67  (6 10) → PC = 10000kgf .

E, ainda, pode-se conhecer as demais componentes de tensões com:

 y = 0, 25 x = 0, 25  (−166,67)
 y = 0, 25 x = 0, 25  (−166,67) →  y = −41,67kgf / cm2 ,
 z = 0, 2  ( x +  y ) = 0, 2  (−166,67 − 41,67) →  z = −41,67kgf / cm2 .

Poder-se-ia, adicionalmente, calcular a variação de volume apresentada pelo corpo para as 3


situações.

Exercício 23.4.
Uma esfera de controle de fluxo de 25 cm de diâmetro está sujeita a pressões p de
500 kgf/cm2, como indicado na Figura 23-3. Considere que o material tem E =
2100000 kgf/cm²; ν = 0,33. Determine o volume final da esfera.

Figura 23-3. Exercício 23.4.

164
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Sabe-se que o volume V de uma esfera é determinado por:

d3
V= , onde d é o diâmetro da esfera.
6

A variação volumétrica específica é dada por:

1 − 2
e= ( px + p y + pz ) .
E

Como as pressões são iguais a p nas três direções e sendo p de compressão, a equação fica:

1 − 2 1 − 2  0,33
e= (−3 p ) → e = (−3  500) → e = −2, 429 10−4 .
E 2100000

A variação volumétrica específica representa a variação de volume por unidade de volume,


de forma que:

  ( 25cm )
3
V
e= → V = e Vi . Como Vi = → Vi = 8181,23cm3 , tem-se que:
Vi 6

V = ( −2, 429 10−4 )  (8181,23cm3 ) → V = −1,987cm3 ,

que é a variação volumétrica absoluta. O volume final é encontrado considerando o volume


inicial mais a variação volumétrica absoluta, tal que:

V f = Vi + V → V f = 8181,23cm3 − 1,987cm3 → V f = 8179,244cm3 .

24. TRABALHO DE DEFORMAÇÃO

Recorde-se que uma barra de comprimento l, seção transversal A, material E, Figura 24-1 ,
sofre um alongamento (ou encurtamento) l quando submetida a um esforço de tração ou
compressão. A força (carga) P que produz essa deformação realiza trabalho durante a
deformação da barra que é convertido em energia potencial de deformação:

U = P .

Figura 24-1. Barra prismática sob a ação de uma força P.

Para um elemento infinitesimal dx da barra, o trabalho realizado pela força P será dado por
Pdx. Com isso, pode-se escrever que:

165
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig


dU = Pdx ∴ U =  Pdx .
0

Se, adicionalmente, a força estiver variando ao longo do comprimento, P = P( x) , a energia


de deformação deve considerar essa variação e se torna:

U =  P( x)dx .
0

No diagrama carga-deslocamento, o trabalho realizado é dado pela área do trecho abaixo da


curva, como mostrado na Figura 24-2.

Figura 24-2. Diagrama força-descolamento.

Nesse caso, a energia de deformação é calculada pela área abaixo da curva, qualquer que
seja a fase, elástica ou plástica, sendo a força ainda proporcional, sob alguma lei, ao
deslocamento. O trabalho da força P enquanto ela é aplicada gradualmente resulta em um
acúmulo de energia que é chamado de:

- Energia Potencial de deformação, ou


- Energia de deformação, ou
- Trabalho de deformação.

Trabalho = energia = Newton · Metro = Joule.

Se a deformação é elástica o gráfico força - deslocamento é uma reta.

Figura 24-3. Diagrama força - deslocamento linear.

E o trabalho realizado para um deslocamento qualquer x é igual à área do triângulo abaixo


da curva. Como P é uma função linear em x:

P ( x ) = kx ,

com k sendo a constante de proporcionalidade, ou melhor, uma característica elástica do


material, a energia de deformação para um deslocamento qualquer x se torna:

166
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

x x
1 2
U =  P( x)dx → . U =  kxdx . → U = kx .
0 0
2

Considerando a deformação total da barra x = :

1 2
U= k
2

Pôde ser visto que o trabalho de deformação depende do material de que é constituída a barra
e da intensidade da força à qual está submetida. Para fazer com que a análise não fique
restrita às dimensões de um corpo e possa a ser dirigida para as propriedades do material,
cria-se o conceito de

Trabalho de deformação específico,

que é o trabalho por unidade de volume, obtido dividindo-se o trabalho de deformação


encontrado pelo volume da barra. Daí, e formulando em termos das forças internas, tem-se:

ou simplesmente dU = P ( x )dx , pois há a proporcionalidade de esforços internos e externos.


Com isso:

dU Pdx dU Pdx
V
=
V
→  V
=
V
,


Trabalho total U Pdx
→ = ,
Volume total V 0 V


U P dx P dx
=   , como =  , e = d ,
V 0A L A l

 
U U
V 0
=  d  , fazendo  = →  =   d ,
V 0

Sendo:

ε a deformação específica correspondente ao alongamento x, e


μ o trabalho de deformação específico ou trabalho por unidade de volume, que é dado em
(N·m)/m³ = Joule/m³.

Se a deformação estiver dentro do regime elástico, a tensão permanece abaixo do limite de


proporcionalidade do material, e é possível aplicar a Lei da elasticidade linear (  = E ).
Disso, resulta que:
  
1 2
 =   d  =  E d  = E   d  ∴  = E .
0 0 0
2

167
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Figura 24-4. Módulo de resiliência do material.

A equação anterior pode, também, ser expressa em função da tensão:

 1   1 E 2 12
2

 = →  = E  =  2 ⸫  = .
E 2 E 2 E 2 E

Fazendo  =  e , no escoamento, encontra-se:


1  e2
R =
2 E

que é denominado de módulo de resiliência do material. O módulo de Resiliência representa,


portanto, a capacidade de o material suportar impacto sem ser deformado permanentemente.
Chama-se módulo de resiliência a energia que o corpo armazena, por unidade de volume,
quando, a partir de zero, se eleva o valor da tensão até o limite de proporcionalidade. A
resiliência de um material é a sua capacidade de absorver energia na região elástica.

Se a deformação ingressa no regime plástico e o material for descarregado, as tensões caem


para zero, mas ocorre uma deformação permanente εP ou residual, e somente parte da
deformação pode ser recuperada, Figura 24-5.

Figura 24-5. Módulo de tenacidade.

Fazendo com que no trabalho de deformação específico a deformação e a tensão sejam as


correspondentes à ruptura do corpo de prova, ε = εP, e σ = σR,, tem-se o módulo de
tenacidade:

R
 =   R d .
0

Admitindo σR constante e desprezando a estricção e a perda de energia por calor,

R
 =  R  d  → T =  R R .
0

168
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Essa expressão representa um método aproximado para o cálculo de tenacidade, pois esse,
na verdade, é dado pela área do diagrama abaixo da curva até a ruptura. No gráfico tensão-
deformação o módulo de tenacidade é a área compreendida até σR.

Figura 24-6. Módulo de tenacidade do material.

Cabe fazer algumas observações sobre o módulo de tenacidade:

» O módulo de tenacidade representa a energia de deformação por unidade de volume


necessária para provocar a ruptura do material;
» Está claro que a dureza do material está diretamente relacionada à sua ductilidade e à
tensão última e que a capacidade de uma estrutura em resistir a uma força de impacto
depende da tenacidade do material;
» Chama-se Módulo de Tenacidade a energia que o corpo armazena, por unidade de
volume, quando, a partir de zero, se eleva o valor da tensão até o limite de ruptura. A
tenacidade de um material é a sua capacidade de absorver energia incluindo a região
plástica de deformação;

25. EXERCÍCIOS

Exercício 25.1.
Usando E = 200 GPa, determinar o módulo de resiliência para os seguintes materiais:

a) ASTM-A36; σe= 250 MPa,


b) ASTM-A441; σe= 320 MPa,
c) ASTM-A514; σe= 690 MPa.

Solução:

1 (250 106 ) 2
a)  R = → R = 0,156MJ / m3 .
2 200
1 (320 106 ) 2
b)  R = → R = 0, 256MJ / m3 .
2 200
1 (690 106 ) 2
c)  R = → R = 1,19MJ / m3 .
2 200

Exercício 25.2.
O diagrama tensão-deformação abaixo foi desenhado a partir de dados obtidos durante um
ensaio de tração de um corpo-de-prova de um aço estrutural. Usando E = 200 GPa,
determinar:

a) O módulo de resiliência;
b) Por meio aproximado, o módulo de tenacidade.

169
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Figura 25-1. Exercício 25.2.


Solução:

a) Módulo de Resiliência:

Por observação direta do gráfico σe ≅ 300 MPa, assim:

1  e2 1  300 106 
R = → R =   ⸫
2 E 2  300 109 
J
 R = 0, 272 106 3 ⸫
m

R = 0, 272MJ / m3

b) Módulo de Tenacidade:

T =  R R = 450  0, 25 ⸫

T = 112,50MJ / m3

(R Por observação direta no gráfico).

Exercício 25.3.
O diagrama tensão-deformação mostrado foi desenhado a partir de dados obtidos durante
um ensaio de tração de um corpo-de-prova de uma liga de alumínio. Usando E = 72 GPa,
determinar: a) O módulo de resiliência; b) Por meio aproximado, o módulo de tenacidade da
liga.

Figura 25-2. Exercício 25.3.


170
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Solução:

a) No eixo das deformações, ε, com uma escala determina-se ε = 0,2% ou ε = 0,002. Com
uma reta paralela ao trecho reto do diagrama, no ponto que essa reta intercepta o gráfico,
determina-se a tensão de escoamento.

1 (460 106 ) 2
R = → R = 1, 47MJ / m3 .
2 72 10 9

b) T = (460 106 )  0,18 → T  81MJ / m3 . Ou dividindo o gráfico em 2 áreas, um


triângulo e um retângulo:

1
A1 = (330  0, 0055) e
2

A2 = 460  (0,18 − 0, 0055) ⸫

T = A1 + A2  82MJ / m3 .

26. CARREGAMENTO POR IMPACTO

Carregamento por impacto é um carregamento dinâmico onde a taxa de carregamento é


praticamente instantânea, e as forças de amortecimento não conseguem dissipar quantidade
significativa de energia, sendo que a resposta estrutural depende da energia de impacto, da
rigidez da estrutura e do contato e das propriedades mecânicas dos materiais. Considere-se
um corpo de massa m que se choca, com uma velocidade Vo, a uma estrutura, provocando
deformação, como ilustrado na Figura 26-1.

Figura 26-1. Carregamento por impacto.

Nesse processo:

1 – A barra se deforma pela ação do impacto;


2 – Durante certo tempo a barra permanece vibrando;

171
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

3 – Quando entra em repouso, as tensões desaparecem;

Essa sequência de eventos se denomina: Carregamento por impacto. Para se determinar o


valor máximo σm da tensão que ocorre em um ponto da estrutura sujeita a um carregamento
por impacto, admite-se que a energia cinética,

1
Um = mV0 2
2

do corpo em movimento é transmitida totalmente para a estrutura. Assim, o trabalho de


deformação máximo, Um, corresponde à deformação máxima, , daí:

1 – Não ocorre dissipação de energia durante o impacto;


2 – O corpo se choca sem ricochetear-se na estrutura e voltar;
3 – A inércia da estrutura pode ser desprezada face a inércia do corpo. Na prática isso não
ocorre, mas se se admite a transferência total de energia estar-se-á adotando uma condição a
favor da segurança;
4 – Adota-se que o diagrama tensão-deformação é válido para um carregamento produzido
por impacto;

⇒ Para se calcular o valor do carregamento produzido por impacto, deve-se observar o


trabalho de deformação elástica para tensões normais.

Quando as tensões não são uniformes, o trabalho de deformação específico μ pode ser
definido para um pequeno elemento ΔV.

U dU
 = lim → = .
V → 0  V dV

Como o trabalho de deformação específico, considerando a curva tensão-deformação, ocorre


para valores dentro do limite de proporcionalidade, a lei da elasticidade linear (  = E )
pode ser aplicada. Portanto:


1 2 12
 =   d →  = E ou  = .
0
2 2 E

dU 12
Com  = → dU =  dV . Logo, U =  dV .
dV V
2 E

Assim, para a energia máxima de deformação associada à tensão máxima, tem-se:

1  m2
Um =  dV .
V
2 E

No caso de a barra ser uniforme, a tensão máxima tem o mesmo valor ao longo de seu
comprimento:

1  m2 1  m2
2 E V
Um = dV → U m = V , com V sendo o volume da barra.
2 E
172
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

1
Como U m = mv0 2 , é a energia cinética transferida à barra pela massa m, escreve-se que:
2

1 1  m2 Emv0 2 Emv02
mv0 2 = →  m2 = ∴ m = .
2 2 E V V

Pode ser observado que a tensão máxima é proporcional ao módulo de elasticidade e


inversamente proporcional ao volume do corpo que recebe o impacto.

Observações:

Para se obter uma estrutura para resistir bem a carregamentos introduzidos por choque,
devem ser observadas as seguintes condições:

1 – Ter grande volume;


2 – Ser constituído por material de baixo módulo de Elasticidade e de alta tensão de
escoamento;
3 – Ter uma forma que permita que as tensões se diluam de modo mais uniforme ao longo
da estrutura.

Comportamento dos Materiais quanto ao choque:

1. Materiais Frágeis:

» Apresentam pequenas deformações, absorvendo pouco trabalho antes da ruptura;


» Não distribuem rapidamente as tensões concentradas devido ao choque.

2. Materiais Dúcteis ou Resilientes

» Apresentam grandes deformações, absorvendo muito trabalho, podendo-se romper


completamente ou não, depois do choque;
» Distribui as tensões concentradas mais rapidamente.

27. EXERCÍCIOS

Exercício 27.1.
Um colar D de 6,0 kg tem uma velocidade V0 = 4,5 m/s quando ele se choca com uma
pequena placa presa na extremidade de A da barra AB, de diâmetro 20 mm. Usando
E = 200 GPa, determinar: a) A força elástica equivalente para a barra; b) A máxima tensão
na barra; c) A máxima deflexão na extremidade A.

Figura 27-1. Exercício 27.1.

a) Cálculo da tensão máxima:

173
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Emv0 2 (200 109 N / m2 )(6,0kg )(4,5m / s) 2


m = = →  m = 253,88 106 Pa ⸫
V 
(20 10−3 m)2 1, 2m
4

 m = 253,88MPa .

b) Cálculo da carga estática equivalente

Pm N  
m = → Pm =  m A = (253 106 2 )   (20 10−3 m) 2  → Pm = 79,76 103 N ⸫
A m 4 

Pm = 79, 76kN .

c) Cálculo da deflexão

c.1) Pelo método da energia de deformação:

2
1 1  m
U m = mv0 2 =  6, 0kg   4,5  → U m = 60, 75 J .
2 2  s

1 kgm 2 1
Como U m = Pm   → 60, 75 2 =  79, 76  103 N   →  = 1,523 10−3 m ⸫
2 s 2

 = 1,52mm

c.2) Pela lei de Hooke (usando a força como carga estática)

Pl (79,76 103 N )(1, 20m)


= = →  = 1,52mm
EA 9 N  −3 2
(200 10 2 )  (20 10 m) 
m 4 

Exercício 27.2.
Um fio flexível de uma máquina possui uma tensão admissível de 690 MPa e é projetado
para suportar os esforços oriundos da queda de um peso P quando se estende totalmente de
seu comprimento. Se o fio tem diâmetro de 9,0 mm, qual o valor máximo da carga que o fio
consegue suportar? (E = 205 GPa).

Dados:
 Adm = 690MPa ; P = ? ; d = 9, 0mm ; E = 205GPa .

A tensão produzida pela queda do peso pode ser associada à tensão por impacto.

174
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

A energia cinética com a energia potencial na extensão do fio:

1 2
EC = EP → mv = mgl → v 2 = 2 gl .
2

O cálculo da tensão é realizado por:

Emv 2 Em  2 gl Em  2 gl 2Emg 2EP


= = = = . Como P = mg →  = ⸫
V V Al A A

A 2
Da equação anterior se extrai que: P = . Logo, tem-se:
2E

 N 2
(9 10−3 m) 2  (690 106 )
P= 4 m 2 → P = 73,87 N .
N
2  205 109
m2

28. RETICULADOS

É sempre possível substituir um corpo rígido em equilíbrio por um sistema de barras


articuladas, sujeitas a esforços aplicados nas articulações, dirigidos, assim, exclusivamente
sobre seus próprios eixos. O sistema estrutural obtido dessa forma é dito Sistema reticulado.
Nesses sistemas as barras estarão sujeitas unicamente a esforços normais.

Figura 28-1. Sólido em equilíbrio convertido em um sistema reticulado.

As forças exteriores e as barras formam então uma configuração geométrica conhecida como
dinâmica das forças exteriores ou dinâmico fechado, que é a condição gráfica primária para
o equilíbrio das forças exteriores (poligonal fechada).
175
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Os sistemas funiculares, aqueles formados por cordas ou cabos, assumem uma configuração
de equilíbrio compatível com as forças externas, é o caso de uma corda como na figura
abaixo.

Figura 28-2. Funicular.

Tomem-se os reticulados mostrados nas Figura 28-3(a), (b) e (c). Percebe-se que na
configuração (a), o equilíbrio do sistema se ajusta às forças aplicadas. Portanto, embora
possa estar em equilíbrio estático, sua configuração final depende das forças atuantes. Esse
é um reticulado deformável.

Se, entretanto, forem adicionadas barras, ligando o nó 1 ao nó 3, como no caso (b), e ligando,
também, o nó 2 ao 4, como no caso (c), esses reticulados tornar-se-ão indeformados e suas
configurações de equilíbrio não mais dependerão das forças externas.

(a) Reticulado deformável. (b) Reticulado isostático. (c) Reticulado hiperestático.


Figura 28-3. Reticulado deformável e indeformável.

Quando o reticulado é indeformável ele é conhecido como treliça, sendo frequente usado
em aplicações de engenharia por se constituírem em sistemas práticos e econômicos.

Um sistema reticulado, portanto, pode ser definido como um conjunto de pontos materiais
submetidos a ação de forças exteriores e ligados entre si, seja por barras rígidas ou por fios
“inextensíveis”, podendo ser bem representados por um grafo (representação gráfica) de nós,
interconectados por barras.

Treliças, então, são definidas como sendo o conjunto de elementos de construção (barras
redondas, chatas, cantoneiras, perfis I, U etc) interligados entre si, sob a forma geométrica
triangular, através de pinos, soldas, rebites, parafusos, que visem formar uma estrutura
rígida, com a finalidade de receber e transmitir esforços.

Condição de estaticidade. Uma treliça é classificada em relação à estaticidade conforme o


seguinte critério:

b  2n − 3 (treliça hipoestática),
b = 2n − 3 (treliça isostática),
b  2n − 3 (treliça hiperestática),

176
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com b sendo o número de barras e n o número de nós. Tome-se, como exemplo, o caso da
Figura 28-3:

(a) b = 4, n = 4, logo: 4  2  4 − 3 → 4  5 . Portanto, treliça hipoestática.


(b) b = 5, n = 4, logo: 5 = 2  4 − 3 → 5 = 5 . Portanto, treliça isostática.
(c) b = 6, n = 4, logo: 6  2  4 − 3 → 6  5 . Portanto, treliça hiperestática.

28.1. SOLUÇÃO PELO MÉTODO DOS NÓS

A análise é feita a partir do diagrama de corpo livre de cada nó que compõe a treliça. A
solução, portanto, consiste em verificar o equilíbrio de cada nó através das equações de
equilíbrio da estática. Como em cada nó, as forças (incluindo as barras) concorrem em um
único ponto, a condição de equilíbrio da Estática:

F x =0, F y =0 e M = 0,
se reduz a apenas a:

F x =0 e F y =0,

já que as forças, concorrendo em equilíbrio em um mesmo ponto, não geram momento em


relação a esse, pois que tendo suas linhas de ação passando pelo centro de momento, não
possuem braço de alavanca. Com isso, tem-se apenas duas equações disponíveis para cada
rótula (nó).

São consideradas:

1. Forças saindo do nó → como forças de tração,


2. Forças dirigidas para o nó → como forças de compressão.

Procedimentos de Solução:

1º Passo – São determinadas as reações dos apoios.


2º Passo – São identificados os tipos de solicitação em cada barra (tracionada ou
comprimida). Se não se conhece a natureza da força em uma determinada barra, é possível
arbitrá-la (por exemplo tração) e o sinal obtido ao final do equilíbrio indicará o sentido
correto do vetor em relação ao nó considerado.
3º Passo – O estudo do equilíbrio é iniciado pelo nó que tenha o mesmo número de incógnitas
e de equações.

Exercício 28.1.
Resolver a treliça abaixo usando o método dos nós.

177
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Figura 28-4. Exercício 28.1.

1) Identificação de nós e barras.


Inicialmente, numeram-se os nós e são identificadas as barras da treliça.

2) Diagrama de Corpo Livre:


Posteriormente, é traçado o diagrama do corpo livre (DCL) que permite o cálculo das reações
de apoio. Nessa etapa a treliça é considerada como corpo rígido.

3) Cálculo das reações:


As reações de apoio são calculadas usando as equações da Estática.

F y = 0 → RA + RB = 600 ,

M
1200
A = 0 → RB  4 = 200 1 + 200  2 + 200  3 → RB = → RB = 300kN ∴ RA = 300kN .
4

Pode ser verificado que esse é um resultado já esperado dada a simetria do sistema. Da
simetria decorre que metade do total das forças verticais, de 600 kN, portanto, 300 kN, vai
para cada reação.

4) Esforços nas barras (equilíbrio dos nós)

Como a treliça é simétrica, só é preciso resolver metade do sistema. Cabe recordar que só é
possível equilibrar um nó com no máximo duas incógnitas, pois as equações de equilíbrio
disponíveis para cada nó são:  Fx = 0 e  Fy = 0 .

178
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

4.1 – Orientação dos eixos locais de referência.

Sistema local de referência.

São consideradas como orientações positivas para os eixos locais de referência, em termos
de equilíbrio, as direções para a direita e para cima. Trata-se aqui, portanto, de equilíbrio de
ponto material, onde as forças com orientações coincidentes com a dos eixos de referência
são consideradas positivas. Importante não confundir essas orientações com as usadas na
determinação das naturezas das forças, de tração ou compressão.

4.2 – Equilíbrio do Nó 1

No equilíbrio do nó 1, Fa e Fb são admitidas saindo do nó, portanto, forças de tração.

Nó 1: Orientação inicial das forças (arbitradas).

Essas forças, segundo o sistema de referências local, ficam:

Nó 1: Forças no sistema local de referências

A decomposição das forças é feita conforme a geometria do sistema, com o ângulo  sendo
definido por:

1
, tg  = →  = 45 .
1

Com isso, o equilíbrio de ponto material pode ser feito com as equações disponíveis:

F x = 0 → − Fa cos 45 − Fb = 0 ∴ Fb = − Fa cos 45 ,

F y = 0 → Fa sen 45 + 300 = 0 ∴ Fa = −424, 26kN ⸫


Fb = −(−424,30) cos 45 ∴ Fb = −(−424, 26) cos 45 ∴ Fb = 300kN .

179
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Como Fa foi encontrada ser negativa, nesse caso, o sentido dessa força se inverte em relação
ao sentido adotado, de forma que:

Fa entrando no nó (força de compressão)

Uma alternativa que pode ser adotada, é a assunção da orientação original, de tração, saindo
do nó, mas mantendo-se o sinal negativo que foi obtido para essa força.

Fa entrando saindo do nó (força de tração de -Fa)

3.3 – Nó 2

No equilíbrio do nó 2, se Fa entra no nó 1 entrará também no nó 2. Assim, a força Fa estará


dirigida para o nó (sentido indicado pela solução do nó anterior). Arbitrando como de tração
as demais forças, ou seja, Fa e Fd saindo do nó, o equilíbrio do ponto material fica:

Nó 2

Portanto, decompondo o conjunto de força segundo os eixos locais de referência, tem-se:

F x = 0 → − Fd − Fc cos 45 − 424, 26 cos 45 = 0 → Fd = − Fc cos 45 − 300 ,


300 − 200
F y = 0 → −200 − Fc sen 45 + 424, 26sen 45 = 0 ⸫ Fc =
sen 45
→ Fc = 141, 42kN .

Logo: Fd = −141, 42 cos 45 − 300 → Fd = −400kN .

Lançando-se os valores encontrados nas barras da treliça, pode-se construir o diagrama final
com todas as forças e suas naturezas (tração ou compressão). Importante registrar que,
vetorialmente, esse conjunto de forças deve constituir uma poligonal fechada.

180
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

→ Tração
→ Compressão

Diagrama final (em kN)

28.2. SOLUÇÃO PELO MÉTODO DAS SEÇÕES OU MÉTODO DE RITTER

Este método foi apresentado por Ritter em 1860 na Escola Técnica de Hannover. Sua
característica está no traçado de seção em três barras e cujos esforços são desconhecidos. As
três barras não devem ser concorrentes num mesmo ponto. A seção tem por finalidade fazer
transparecer os esforços nas barras, os quais existem para possibilitar o equilíbrio físico entre
as diversas forças exteriores em pontos distintos da estrutura.

Para determinar as cargas axiais atuantes nas barras de uma treliça plana, através do método
de Ritter, deve-se proceder da seguinte forma:

─ Corta-se a treliça em duas partes;


─ Adota-se uma das partes para verificar o equilíbrio, ignorando-se a outra parte até o
próximo corte.

Ao cortar a treliça deve-se observar que a seção a intercepte de tal forma, que se apresentem
no máximo 3 incógnitas, para que possa haver solução por meio das equações de equilíbrio.
É importante ressaltar que entrarão nos cálculos, somente as barras da treliça que forem
cortadas, as forças ativas e reativas da parte adotada para a verificação de equilíbrio.

29. EXERCÍCIOS

Exercício 29.1
Calcular o esforço na barra a da treliça abaixo.

Figura 29-1. Exercício 29.1

Numeram-se os nós e realiza-se o corte por meio de uma seção de forma a interceptar a barra
em estudo. Dessa forma, tem-se:

181
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Numeração dos nós. Corte passando pela barra de interesse.

Com a realização do corte expõem-se as barras cuja seção intercepta, que são: Fa, Fb e Fc.
Para calcular Fa com apenas uma equação (método de Ritter), deve ser feito o somatório de
momento em relação ao ponto (ou nó) (6), devido ao fato que a linha de ação das forças Fb
e Fc passam por esse ponto.

Se se quisesse calcular Fb com apenas uma equação, o somatório dos momentos deve ser
realizado em relação ao ponto (1), onde concorrem Fa e Fc. Para calcular Fc com apenas uma
equação, o somatório de momentos deve ser feito em relação ao ponto (5), onde concorrem
Fa e Fb.

Como o problema pede apenas Fa, será feito o momento em relação ao ponto (6). Nesse caso,
por Fb e Fc estarem concorrendo nesse ponto não geram momento pois suas linhas de ação
passam pelo ponto considerado. Assim, fazendo-se o somatório dos momentos das forças
existente à direita da seção, tem-se:

M 6
Direita
= 0 → −100  2 − 100  4 − 100  6 − Fa  6  tg 30 = 0 ⸫

Fa = −346, 41kN . Logo, Fa é de compressão.

O método das seções é bastante útil no cálculo de uma barra determinada (específica), pois
não há a necessidade de serem calculados todos os nós até a barra de interesse, ou seja, nó-
a-nó, partindo daquele que tenha no máximo duas barras concorrendo, até que se possa
chegar ao nó onde está a barra desejada.

29.1. SOLUÇÃO PLEO MÉTODO DE MAXWELL CREMONA

Este método é o mais empregado método gráfico na resolução de todos os reticulados


indeformáveis e é mais conhecido como método de Cremona. Antes de Cremona, Maxwell
e Rankine já haviam apresentado a teoria do método.

Para a utilização do método de Cremona, é preciso empregar a notação de Bow, que serve
para designar as forças que atuam num sistema reticulado, tanto as forças interiores (esforços
nas barras) quanto as forças exteriores. A notação de Bow consiste em marcar com letras os
espaços limitados por forças, quer exteriores, quer interiores, designando-se cada força por
duas letras: as relativas aos espaços de cada lado.

Regra para o traçado das cremonas:

1ª Regra – Só se pode iniciar e prosseguir o traçado de Cremona, estudando o equilíbrio em


um vértice que contenha apenas duas barras cujos esforços sejam desconhecidos.
182
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

2ª Regra – Deve-se fixar um sentido de rotação e percorrer cada nó sempre no mesmo


sentido.
3ª Regra – Deve-se estudar o equilíbrio de cada nó, iniciando o traçado do polígono
respectivo por uma força exterior ou por uma força já conhecida, escolhida de tal sorte que,
percorrendo o nó no sentido fixado, se encontre primeiro as forças conhecidas, ficando para
últimas, as duas forças conhecidas.

Natureza dos Esforços:

Para serem conhecidos os esforços, se são de compressão ou de tração, deve ser observado
o sentido de cada esforço no diagrama das cremonas em relação ao nó em evidência
diretamente na treliça. Se o sentido do esforço estiver dirigido para fora do nó, ele será de
tração, se dirigido para o nó, será de compressão.

Ao estudar o equilíbrio de cada nó devem ser reconhecidos os sentidos dos esforços nas
barras, percorrendo o polígono de equilíbrio correspondente sempre no mesmo sentido.

Exercício 29.2
Calcular os esforços nas barras da treliça indicada abaixo, usando o método de Cremona.

Figura 29-2. Exercício 29.2

1° Passo:

Numeração dos nós dos espaços entre as barras e forças (ativas ou reativas).

2° Traçar a Cremona usando par de esquadros:

O diagrama deve ser traçado em escala. Para se conhecer a intensidade da força basta medir
ao segmento na escala utilizada. Para se saber se é de tração ou compressão uma força deve
pronunciar a origem e o destino formando um vetor orientado. A partir daí, é observado se
o vetor entra ou sai do nó de interesse. Se sair é de tração e de compressão em caso contrário.

Diz-se por exemplo: De A para B, orienta-se a reta em a para b e verifica-se qual a orientação
em relação ao nó, se entrar no nó é compressão, se sair é de compressão.
183
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

30. TENSÕES INDUZIDAS POR VARIAÇÃO TÉRMICA

Quando uma estrutura é estaticamente determinada, a variação uniforme da temperatura em


todo seu comprimento não provoca nenhuma tensão, pois a estrutura é capaz de se expandir
ou se contrair livremente. Por outro lado, a variação de temperatura em estruturas fixas,
estaticamente indeterminadas, produz tensões em seus elementos, denominadas tensões
térmicas.

Seja uma barra com comprimento inicial l sem restrições de apoio. Seja também uma viga
bi-apoioada com um dos apoios, móvel. Essa, é uma estrutura isostática e está livre para
realizar movimento horizontal se estiver sob uma variação de temperatura t, à semelhança
da barra simples.

(a) barra simples (a) viga isostática


Figura 30-1. Barra (a) e viga (b) sob variação de térmica sem restrição.

Se a barra, ou a viga, estiver livre, sem restrições de apoio, não haverá impedimento à sua
deformação (expansão ou contração), e a dilatação linear (positiva ou negativa), lt (ou t),
induzida pela variação de temperatura será proporcional ao comprimento inicial da barra l e
ao coeficiente de dilatação linear α, de modo que se pode escrever que:

lt =  t = lt . e l f = l + lt .

Entretanto, se a mesma barra estiver confinada entre dois apoios fixos, não haverá
deformação das extremidades nessas condições, pois ela será impedida de se deformar, ou
seja, o alongamento ou encurtamento final da barra será zero.

184
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Figura 30-2. Barra sob variação de térmica com restrição de apoio.

Pode-se representar essa situação substituindo um dos anteparos por uma força, que é a
reação do anteparo sobre a barra, de modo que o alongamento produzido pela dilatação seja
igual ao encurtamento provocado pela reação:

RB = reação superabundante
Figura 30-3. Barra com reação superabundante.

A estratégia de solução é liberar o apoio, permitindo que a barra de deforme, e em seguida


aplicar uma reação que produza uma deformação equivalente. Como a deformação final da
barra é zero devido às restrições de apoio, tem-se:

lt + lRB = 0 → lt = −lRB . O sinal indica que são deformações contrárias. Logo:

RB l
 l t = − → RB = − EAt . Com isso, a tensão será:
EA

RB EAt
R = =− →  RB = −Et .
B
A A

Como a tensão obedece a lei de Hooke, ou seja, a lei da elasticidade linear:

R
= B
, tem-se que:  t = −t ,
E

que é entendida como a parcela da deformação específica devido à variação térmica. Pode-
se concluir, portanto, que a variação de temperatura produz tensões em sistemas
estaticamente indeterminados, ainda que sobre eles não ajam forças externas. O resultado
anterior se aplica ao caso de uma barra de seção transversal uniforme e material homogêneo.

Qualquer outro problema envolvendo estruturas impedidas de se deformarem deve ser


analisado dentro de suas características. De qualquer modo, é possível sempre considerar
separadamente as deformações provocadas pela variação de temperatura e pelas reações
superabundantes e sobrepor os resultados.
185
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31. EXERCÍCIOS

Exercício 31.1.
Os trilhos de uma estrada de ferro são soldados quando a temperatura é de 10º C. Calcular
as tensões que se desenvolverão nos trilhos quando o aquecimento pelo calor do sol atingir
50º C, sabendo que  = 11, 7 10−6 / C e que E = 21000kgf / mm2 .

Solução:

t0 = 10C ,
t f = 50C .

 = −Et ,
 = −21000kgf / mm2 11, 7 10−6 / C  (50 − 10)C ,
 = −9,83kgf / mm2 = −88, 26MPa .

O sinal indica que a tensão induzida pela variação de temperatura é compressão.

Exercício 31.2.
A figura dada representa uma viga do tipo ‘i’(I) de aço, com comprimento l de 5 m e área de
seção transversal 3600 mm². A viga se encontra engastada na parede A e apoiada junto à
parede B, com uma folga de 1 mm dessa, a uma temperatura de 12ºC. Determinar a tensão
induzida na viga quando a temperatura subir para 40ºC. Considerar: EAço = 2,1105 MPa ,
 Aço = 1, 2 10−6 / C .

Figura 31-1. Exercício 31.2.

Caso a viga estivesse completamente livre, o alongamento seria:

l = lt = 5m 1, 2 10−6 / C  (40 − 12)C → l = 1, 680 10−3 m → l = 1, 680mm .

Como existe a parede, a viga é impedida de se alongar completamente. Alonga-se no espaço


da folga até que encosta na parede e pára de se deformar. A partir daí dá-se início ao
aparecimento das tensões térmicas.

186
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Como existe o anteparo a viga tem uma restrição à deformação, equivalente a:

lv = 1, 68mm − 1mm → lv = 0, 68mm .

será definido como o alongamento impedido da viga, que é o deslocamento associado à


variação de temperatura. Deve ser observado que a viga agora tem um comprimento inicial
que leva em conta a folga já ocupada por sua dilatação, logo:

l = lt , com l = 5000mm + 1mm = 5001mm .

Portanto, a deformação que é restringida pelo anteparo estará associada à uma variação de
temperatura que a provoca, de tal forma que:

0, 68mm = 5001mm 1, 2 10−6 / C  t → t = 11,33C .

Disso, resulta que a tensão associada à essa variação de temperatura é:

 = −2,1105 MPa 1, 2 10−6 / C 11,33C →  = −28,56MPa .

Pode ser observado que, também, a solução para esse problema poderia ser obtida a partir
da lei de Hooke quando calculada a deformação restringida pelo anteparo, de forma que:

l   5001mm
2,1105 MPa  0, 68mm
l = → 0, 68mm = →= →  = −28,56MPa .
E 2,1105 MPa 5001mm

Ou ainda, pode ser feito que:

l 1mm
l = l0t → t = = → t = 16, 667C .
l0 5000mm 1, 2 10−5

Logo, t f = t0 + t = 12C + 16,667C → t f = 28,667C .

Assim,  = − Et = −2,1105 MPa 1, 2 10−5 / C  (40 − 28, 667)C →  = −28,56MPa .

Exercício 31.3.
Uma barra composta de duas porções cilíndricas AB e BC é engastada em ambas as
extremidades. A porção AB é de aço ( E = 200GPa ;  = 11, 7 10−6 / C ) e a porção BC é de
latão ( E = 105GPa ;  = 20,9 10−6 / C ). Sabendo-se que a barra está inicialmente sem
tensão, determinar as tensões normais induzidas nas porções AB e BC, por uma variação de
temperatura de 50º C.

187
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Figura 31-2.Exercício 31.3.

Define-se que FAC como a força de C em A e FCA como a força de A em C.

Solução:

1) Cálculo das tensões:

A solução se inicia fazendo o equilíbrio dos esforços reativos:

RA + RC = 0 → RA = − RC ou ainda RC + FCA = RA + FAC

Se não houvesse anteparo A, por exemplo, cada barra se deformaria linearmente seguindo a
lei da dilatação linear, dada por:

l = lt ,

onde l é o comprimento inicial da barra,  é o coeficiente de dilatação térmica e t a variação


de temperatura. Assim, os efeitos da temperatura podem ser computados liberando-se o
anteparo A e permitindo que haja a dilatação do sólido, como se não houvesse impedimento
para tal, como representado na figura a seguir:

Expansão do sólido como se não houvesse impedimento à sua dilatação

Essa operação é feita de tal forma que a deformação total da barra seja a soma da dilatação
ocorrida no aço e no latão. Com isso, tem-se que:

lt = ltAço + ltLatão → lt = l A A t + lL L t ,

onde:

l A e  A são o comprimento inicial e o coeficiente de dilatação térmica da barra de aço, e

188
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lL e  L são o comprimento inicial e o coeficiente de dilatação térmica da barra de latão.

Substituindo os dados de cada porção da barra, tem-se:

lt = 50C  (250 10−3 m 11,7 10−6 / C + 300 10−3 m  20,9 10−6 / C) . Logo:

lt = 4,5975 10−4 m (I)

Por outro lado, pela lei de Hooke, a deformação absoluta que a reação RA impele sobre cada
porção é dada pela por l = Pl / EA , com esse deslocamento associado aos parâmetros
elásticos e geométricos de cada parte do conjunto. Portanto, operando-se como se o anteparo
A fosse retirado e em seu lugar houvesse uma força de reação agindo no sistema, pode ser
escrito que:
lRA = lRA + lRA ,
Aço Latão

o que leva a:

RAl A Rl
lRA = + AL ,
EA AA EL AL

onde:

E A , l A e AA são o módulo de elasticidade, o comprimento e a área da barra de aço, e EL , lL


e AL são o módulo de elasticidade, o comprimento e a área da barra de latão. Como essas
são barras cilíndrica, logo, de seção circular, a expressão se converte em:

RA l A RAl L 4R  l l 
lRA = + = A  A 2 + L 2 ,
d 2
d 2
  E A d A EL d L 
EA  A EL  L
4 4

onde d A e d L são os diâmetros das barras de aço e latão, respectivamente. Com isso:

 
4 RA  250 10−3 m 300 10−3 m 
lRA =  + ,
  200 109 N  (30 10−3 m)2 105 109 N  (50 10−3 m)2 
 m2 m2 

4 RA m m
lRA =  2,532  10−9 → lRA = 3, 22 10−9  RA (II).
 N N

Igualando as deformações obtidas em (I) e (II) e fazendo lt = −lRA encontra-se:

m
4,5975  10 −4 m = −3, 22 10 −9  RA → RA = −142,6 103 N → RA = −142, 6kN .
N

O cálculo das tensões é feito relacionando essa força com a área de cada porção da barra, de
forma que:
189
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

RA 142, 6 103 N
No aço:  Aço = =− →  Aço = −201,77MPa ,
AAço  2
(30mm)
4

RA 142, 6 103 N
No latão:  Latão = =− →  Latão = −72, 64MPa .
ALatão  2
(50mm)
4

2) Cálculo do deslocamento final do ponto B:

Usando o mesmo raciocínio realizado no item precedente, se o engastamento A fosse


liberado, o ponto B se deslocaria obedecendo a lei da dilatação térmica do latão. Como a
reação RA age sobre ambas as porções, impedindo o latão de se deformar, o deslocamento
final no ponto B será dado por:

lFB = lTB + lRA (Admitindo o alongamento como positivo, RA com o sinal negativo).
B

Ou seja, o deslocamento final do ponto B é igual à diferença entre o deslocamento provocado


pela temperatura (alongamento) mais o deslocamento produzido pela reação no anteparo
(encurtamento), o que permite que seja escrito que:

RAlL  R 
lFB =  lL t + → lFB = lL  t + A  , que com os dados do problema, fica:
EL AL  EL AL 

 

l F = 300  10−3 m 20,9  10−6 / C  50C +
( −142, 6  10 3
N ) 
,
9 N  2
 105 10 2  ( 50 10 m )  
B
−3

 m 4  

l F = 1,05998 10−4 m = 105,998 10−6 m → l FB = 106  m (diz-se 106 micrometro).


B

Exercício 31.4.
Uma coluna (curta) de concreto armado tem armadura composta por seis barras de aço de
15 mm de diâmetro. Sabendo-se que os módulos de elasticidade e os coeficiente de dilatação
térmica são para o aço e para o concreto, respectivamente, E A = 205GPa ,
 A = 11,7 10−6 / C e Ec = 25GPa , c = 9,9 10−6 / C , determinar as tensões normais
induzidas no aço e no concreto após um aumento de temperatura de 50ºC.

Figura 31-3. Exercício 31.4.


190
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Após a dilatação, os comprimentos finais são os mesmos. No entanto, como o aço tende a se
alongar mais que o concreto devido ao fato de que seu coeficiente de dilatação é maior que
o do concreto, há a indução de tensões normais em ambos os materiais. Isso ocorre devido à
restrição que impõe igualdade aos deslocamentos finais de ambos os materiais em virtude
da hipótese de perfeita aderência entre o aço e o concreto. Por essa razão, o aço tende a ser
comprimido e o concreto tracionado. Nesse caso, a equação base é a que impõe a igualdade
de deslocamentos para os materiais após a variação de temperatura ocorrer, ou seja:

ltA = ltC ,

sendo:

ltA a deformação devido à temperatura no aço, e ltC a deformação devido à temperatura


no concreto. Com isso, a dilatação apresentada pelos dois materiais é dada por:

1) aço: ltA = l A A t , e 2) concreto: ltC = lC C t .

Como os coeficientes de dilatação do aço e do concreto são diferentes, esses materiais


tendem a apresentar deformações térmicas de magnitude diferentes. O Aço por ter um
coeficiente de dilatação maior que o concreto tende a se dilatar mais. Como os materiais
estão intimamente ligados por hipótese de perfeita aderência entre eles, a deformação final
será a mesma para ambos os materiais. No entanto, devido à diferença existente nos
coeficientes de dilatação, o aço fica comprimido na massa de concreto, enquanto o concreto
fica tracionado pelo aço, ou seja, ambos os materiais ficam sujeitos à mesma força, a que
comprime o aço e traciona o concreto, sendo lícito escrever:

lFA = lFC ,

com FA sendo a força compressiva no aço e FC a força trativa no concreto. Daí resulta que:

FAl A Fl
lFA = − e lFC = C C .
EA AA EC AC

Nesse contexto, a força produz o encurtamento do aço é a mesma que alonga o concreto,
portanto, FA = FC = F. Ao mesmo tempo, os comprimentos iniciais do aço e do concreto são
também iguais, e iguais ao comprimento da coluna, logo, l A = lC = l . Com isso, a soma das
deformações em cada material, parcela a parcela, leva a.

Fl Fl
l At − = lC t + ,
EA AA EC AC

onde:

E A = módulo de elasticidade do aço,


AA = área de aço,
EC = módulo de elasticidade do concreto,
AC = área de concreto.

191
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Disso, resulta que:

 F   F 
l   A t −  = l   C t + ,
 E A AA   EC AC 

F F  1 1 
+ =  At − C t → F  +  = ( A −  C ) t .
EC AC EA AA  EC AC E A AA 

Portanto, isolando F, a equação anterior se torna:

F=
( A − C ) t .
1 1
+
EC AC E A AA

Substituindo os dados do problema e observando a compatibilidade das unidades, tem-se:

F=
(11, 7 − 9,9 ) 10−6  50
1 1
+
 2  2 

25 109 2  ( 250 10−3 m ) − 6 
N 2  ( 15  10 −3
m )  N 
205 109 2  6 
 ( 15  10 −3
m ) 
m 4  m  4 
 área bruta da seção de concreto  
 área total de aço   área total de aço 
área líquida da seção de concreto

A área total de aço corresponde a 6 barras de 15 mm de diâmetro. Portanto, a força que


comprime o aço e traciona o concreto é de:

F = 17137,21N , logo: F = 17,14kN .

As tensões induzidas no aço e no concreto são calculadas pela relação da força F com as
áreas de cada material na coluna. De forma que:

F 17137, 21N
No aço:  Aço = =− →  Aço = −16162796,38Pa . Logo:
 (15 10−3 m )
2
AAço
6
4
área total de aço

 Aço = −16,16MPa .

F 17137, 21N
No concreto:  Concreto = = . Portanto:
 2
 (15 10−3 m ) 
AConcreto

 ( 250 10 m )
−3 2
− 6 
4
 área bruta da seção de concreto 
 área total de aço 
área líquida da seção de concreto

192
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

 Concreto = 278927,27Pa →  Concreto = 0, 28MPa .

Exercício 31.5.
Um tubo de alumínio é totalmente preenchido pelo cilindro de latão e o conjunto se encontra
sem efeitos de tensão à temperatura de 15ºC. Considerando apenas deformações axiais,
determinar as tensões no alumínio, quando a temperatura for de 195ºC.

Figura 31-4. Exercício 31.5.

Dados:
– Cilindro de latão: EL = 105GPa ;  L = 19 10−6 / C .
– Tubo de alumínio: EA = 70GPa ;  A = 2310−6 / C .

Solução:

Como o alumínio tem coeficiente de dilatação maior que o do latão, tende a se dilatar mais
que esse. Portanto, fica comprimido enquanto o latão fica tracionado, de forma que:

Fl A Fl
 Al At − =  LlL t + L .
EA AA EL AL

Eliminando l, que é comum às duas parcelas, a equação fica:

F F
 At − =  L t + ,
EA AA EL AL

F F
+ =  At −  L t ,
EL AL EA AA

 1 1 
F +  = ( A −  L ) t .
 EL AL E A AA 

Isolando F, pode-se escrever que:

193
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

( A −  L )t ( EA AA )
F= .
E A
1+ A A
EL AL

Substituindo-se os dados do problema, e considerando que GPa = 103 MPa = 103 N/mm2,
tem-se:

N 
(23 − 19) 10−6  (195 − 15)  70 103  ( 60mm ) − ( 25mm ) 
2 2
2
mm 4  
F= ⸫
N 
70 10  ( 60mm ) − ( 25mm ) 
3 2 2

1+ mm 2
4 
N 
105 103  ( 25mm )
2
2
mm 4

F = 28218N → F = 28, 218kN .

As tensões são calculadas por:

No aço:  A = F = 28218 N →  A = 12,077 MPa .


AA  ( 60mm ) − ( 25mm ) 
2 2

4 

No latão:  L = F = 28218 N →  L = 57, 485MPa .


AL  25mm 2
( )
4

32. TENSÃO E DEFORMAÇÃO NUMA BARRA POR SEU PESO


PRÓPRIO

Quando as dimensões de um corpo passam a ter importância e/ou o material constituinte tem
uma relação peso por volume elevada, o seu peso próprio pode produzir uma tensão adicional
considerável, que deverá ser levada em conta. De um modo geral, os materiais estruturais
possuem uma relação peso por volume que não pode ser desconsiderada.

Em alguns casos é possível ter a força ou a área variando com o comprimento da barra.
Quando isso ocorre, a análise para o cálculo do alongamento total do sólido, deve ser feita
para um elemento infinitesimal, dy, e a força e/ou área devem ser representados em função
da variável independente do problema, y. Assim sendo, a deformação absoluta, d para um
elemento diferencial, dy, será:

P( y )dy
d = .
EA( y )

Tome-se um prisma com seção de área A e comprimento l, como indicado na Figura 32-1(a).
Os dados a serem fornecidos junto com o problema são:

E = módulo de elasticidade, e
γ = peso específico.
194
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Por definição, peso específico é a relação de peso por volume. No SI sua unidade é N/m³.

(a) (b) (c)

Figura 32-1. Barra prismática submetida exclusivamente ao seu peso próprio.

Considere-se um elemento de altura dy, entre duas seções  e . Conforme Figura 32-1(b),
o peso do elemento infinitesimal é obtido pelo produto do volume elementar Ady pelo peso
específico do material . Logo:

dG = A dy .

Integrando na altura de zero a y para manter a variável do problema, tem-se:


y

G ( y ) =  A dy .
0

Com isso, é obtida a função força normal, ou função peso próprio, do sólido, que representa
um carregamento distribuído ao longo da altura, Figura 32-1(c), uma variação que obedece
à lei:

G ( y ) = A y .

Essa é uma função do primeiro grau em y, ou seja, o peso próprio de uma barra prismática
varia de forma linear ao longo de seu comprimento. Se a integral, entretanto, for resolvida
para toda a barra, y = l, o resultado encontrado será o peso total do prisma:
l
G =  A dy → G = A l
0

Para ser calculada a deformação absoluta, é preciso analisar o problema por meio dos
esforços internos, considerando o mesmo elemento diferencial, de forma que:

R ( y ) dy
d = .
EA

Uma vez que o equilíbrio da seção  é dado por R ( y ) = G ( y ) = A y , conforme indicado na


Figura 32-1(c), é possível substituir essa função na equação anterior, o que leva a:

( A y )dy ( A y )dy
l
d =
EA
⸫=
0
EA .

195
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Como, neste caso, a área, o peso específico e o módulo de elasticidade são constantes, o
alongamento total do sólido prismático será obtido com a integral resolvida para todo o
comprimento da barra:

A
l A l 2

=  ydy →  =  .
EA 0 EA 2

Reescrevendo, tem-se:

1 l
 =  A l  .
EA 2

Considerando que A l = G , o deslocamento absoluto pode ser escrito como:

1 l
= G  ,
EA 2

onde G é o peso total do prisma. A equação anterior permite calcular o deslocamento


apresentado por uma barra quando submetida exclusivamente ao seu peso próprio. Esse
problema pode ser entendido de duas formas diferentes, mas equivalentes: uma como se o
peso total da barra estivesse aplicado na metade da altura; outra como se a metade do peso
total a barra estivesse aplicado na extremidade da coluna. Ambas as formas estão ilustradas
na Figura 32-2, a seguir.

Todo o peso da barra na metade de sua altura

G l
 = 2
EA

Metade do peso da barra na sua extremidade

G l
 = 2
EA
G = Peso próprio de todo o sólido.

Figura 32-2. Problema equivalente de barra submetida a seu peso próprio.

A demonstração anterior permite entender que G possa estar aplicado no centro de gravidade
do sólido, ou seja, na metade de seu comprimento, a l/2, ou como tendo metade de seu valor,
G/2, aplicado na extremidade da barra, em l.

Por sua vez, a tensão normal para um elemento de peso infinitesimal é dada por:

dG
 = .
dA

Integrando o numerador e o denominador nos seus respectivos domínios, tem-se:

196
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

 A dy A y
= 0
, cuja solução leva a:  = →  =  y , que é uma equação linear em y.
A
A
A

Portanto, a tensão máxima, σmáx, ocorre para y = l, no suporte, ou seja,  máx =  l . Essa
mesma expressão poderia ter sido obtida fazendo-se:

G A l
= = →  = l .
A A

Se, no mesmo prisma, atua uma força P, como indicado na Figura 32-3(a), o alongamento
total da barra será obtido por integração dos alongamentos diferenciais após a análise do
equilíbrio de uma seção genérica  Figura 32-3(b). No equilíbrio, as forças externas são
proporcionais às forças internas, ou seja:

R ( y ) = P + A y .

(a) (b)
Figura 32-3. Barra prismática com peso próprio e força na extremidade.

O alongamento de um elemento diferencial dy para a barra prismática de área A é dado por:

R ( y ) dy
d = .
EA

Substituindo R ( y ) = P + A y na equação anterior, encontra-se:

G l
( P + A y )dy ( P + A y )
l
Pl
d =
EA
→=
0
 EA
dy . Logo:  = + 2 .
EA EA

A tensão, por sua vez, é calculada fazendo-se:

R ( y ) P + A y P A y  ( y) =  P +  y ,
 ( y) = = →  ( y) = + →
A A A A

que é a equação de uma reta começando com p ou seja, um trapézio. No caso de uma barra
exclusivamente sujeita ao seu peso próprio, a tensão máxima ocorre para y = l, logo:

197
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

 máx =  P +  l ∴  máx =  P +  G .

Com as equações para a variação das tensões para os dois casos definidas, pode-se construir
tanto o diagrama do esforço normal (DEN) quanto o diagrama das tensões normais (DTN).
O traçado desses diagramas é feito substituindo-se as condições de contorno do problema
nas referidas equações, que são: na extremidade inferior y = 0 e na superior y = l .

Diagrama do esforço normal (DEN) Diagrama das tensões normais (DTN)

G ( y ) = A y G ( y ) = P + A y  ( y) =  y  ( y) = P / A +  y

33. EXERCÍCIOS

Exercício 33.1.
Uma barra de aço, de seção uniforme, colocada sobre um plano horizontal, mede 5 m.
Calcule o alongamento quando a barra é suspensa verticalmente por uma extremidade,
ficando sujeita exclusivamente ao seu peso próprio. Considere seu módulo de elasticidade
como sendo E = 21000 kgf/mm2 e o peso específico do material  = 8 gf/cm3, com gf definido
como grama-força, ou seja, 10-3 kgf.

G l
 = 2 , com G = peso próprio total. Substituindo-se G =  Al , a equação fica:
EA

 Al l 2  Al 2  l2
= = →  = ⸫
EA 2 EA 2E

8 10−3
3
kgf / mm3  50002 mm 2
 = 10 →  = 0, 004762mm
2  21000kgf / mm 2

Exercício 33.2
Um fio longo está pendurado e sujeito a ação de seu peso próprio. Calcular o maior
comprimento que poderá ter sem causar rompimento, se for de:

a) Aço ⇒ com tensão de ruptura = 240 kgf/cm² e γAço = 8 gf/cm³


b) Alumínio ⇒ com tensão de ruptura = 40 kgf/mm² e γAl = 2,7 gf/cm³

198
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Solução:

a) Aço:
 rup
 máxAço = lmáxAço   Aço → lmáx = ⸫
Aço
 Aço

240kgf / (10−3 )2 m2 240


lmáxAço = = → lmáxAço = 30000m
8 10 kgf / (10 ) m 8 10−3 m
−3 −2 3 3

b) Alumínio:
 rup
 máxAl = lmáxAl   Al → lmáxAl = ⸫
 Al

40kgf / (10−3 )2 m2 40
lmáxAl = = → lmáxAl = 14815m
2, 7 10 kgf / (10 ) m 2, 7 10−3 m
−3 −2 3 3

Exercício 33.3
Determine a área da seção transversal de uma barra de aço prismática vertical, suportando
na sua extremidade inferior uma carga P = 32.000 kgf, sendo o comprimento da barra de
220 m, a tensão admissível σAdm = 700 kgf/cm² e o peso específico do aço igual a
0,00785 kgf/cm3. Determine também o alongamento total da barra (E = 21× 105 kgf/cm²).

Dados: P = 32.000 kgf A=?


l = 220 m Δl = ?
σAdm = 700 kgf/cm²
γ = 0,00785 kgf/cm3

Solução:

1) Cálculo da Área

O conceito de tensão admissível envolve a força máxima que pode ser aplicada com a área
mínima necessária para atender à solicitação existente:

Pmáx
 Adm = .
Amín

Como a força é conhecida, a área passa a ser a incógnita do problema. Assim:

Pmáx
Amín = .
 Adm

Com Pmáx = P + G , a equação anterior pode ser escrita como:

199
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

P+G
Amín = → Amín Adm = P + G .
 Adm

Como o peso total do prisma é o produto de seu volume pelo peso específico do material:

G = Amín l ,

tem-se que:

Amín Adm = P + Amín l → Amín Asm − Amín l = P → Amín ( Adm −  l ) = P ⸫

P
Amín = .
 Adm −  l

Pode ser observado que se l, que é a tensão devido ao peso próprio da barra, tender para
Adm, seja por o sólido ter um grande comprimento ou por ter um peso específico elevado, a
área mínima necessária fica impossível de ser calculada. Nessa condição, a solução do
problema passa a requerer que o sólido tenha área variável ao longo da altura.

Com os dados do problema sendo substituídos na equação acima, encontra-se:

Amín =
32000kgf → Amín = 60,68cm2 .
kgf kgf
700 2 − 0, 00785 3  22000cm
cm cm

2) Cálculo do alongamento total

l
=
Pl G 2
EA
+
EA
=
l
EA
P+G
2
⸫ ( )
22000cm  1 kgf 2
=  32000kgf +  0,00785 3  22000cm  60,68cm  ⸫
2110 kgf / cm  60,68cm 
5 2
2 cm 

 = 6, 43cm .

É importante observar que o dimensionamento tomou por base a maior solicitação existente
no sólido, que está na seção mais próxima ao suporte. Portanto, para seções abaixo dessa, as
solicitações são de menor intensidade, o que requereria uma área com dimensão menor à
calculada. Com isso, pode ser constatado que o dimensionamento feito para a seção mais
solicitada, embora garanta a segurança nas demais seções, implica um maior consumo de
material. A melhor hipótese é aquela que considera a área do sólido compatível com o nível
de solicitação a que esteja submetida, sem, obviamente, superar a tensão admissível.

34. SÓLIDOS DE IGUAL TENSÃO

Seja um corpo de seção variável, como indicado na Figura 34-1(a). Considere-se, nesse
sólido, um elemento infinitesimal, dy, entre duas seções adjacentes α e β, conforme mostrado
200
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

na Figura 34-1(b). A hipótese da proporcionalidade entre esforços internos e externos está


assegurada neste problema. O conceito de sólido de igual tensão implica que a tensão em
qualquer ponto do corpo não pode superar a tensão admissível, σAdm. Isso impõe que a tensão
em qualquer seção do sólido deve ser constante e igual à tensão admissível.

(a) (b)
Figura 34-1. Sólido de igual tensão

Portanto:

G( y)
» A tensão na seção α é:   = (1).
A( y )

G ( y ) + dG
» A tensão na seção β é:   = (2).
A( y ) + dA

Como as tensões são iguais:  =   =  Adm , pode ser feito que:

G( y)
  =  Adm = (3) e
A( y )

G ( y ) + dG
  =  Adm = (4).
A( y ) + dA

Igualando as equações (3) e (4), tem-se que:

G ( y ) G ( y ) + dG
= ,
A( y ) A( y ) + dA

de onde decorre que:

G ( y )( A( y ) + dA) = A( y )(G ( y ) + dG ) .

Logo:

A( y )G ( y ) + G ( y ) dA = A( y )G ( y ) + A( y )dG → G ( y )dA = A( y )dG .

Assim, tem-se que:

201
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

dG G ( y ) dG G ( y )
= , que deve ser igual a tensão admissível ⸫ = =  Adm
dA A( y ) dA A( y )

Portanto, para um elemento diferencial de volume dV, considerando um incremento


diferencial de área dA, é possível escrever que:

dV = A( y )dy

O peso correspondente ao elemento de volume elementar é obtido multiplicando-se o


volume pelo peso específico , de forma que:

dG = dV  → dG = A( y ) dy .

Para esse elemento, a tensão admissível é dada por:

dG
 Adm = .
dA

Considerando que dG = A( y ) dy , a equação anterior a fica:

A( y ) dy dA  dy
 Adm = → = .
dA A( y)  Adm

Integrando ambas as parcelas nos seus respectivos domínios, mas mantendo o limite superior
como variáveis, pode ser escrito que:

 dy → ln A( y) − ln A =  y →  A( y )   y → A( y )
A( y ) y y
dA
 = ln  = = e  Adm ⸫
A0
A 0  Adm
0
 Adm  0 
A  Adm A 0

y

A( y) = A0e Adm .

Quando:
y=0 → A(0) = A0 ,
l

y =l → A(l ) = A1 → A1 = A0e  Adm


.

A solução para este problema poderia também ser obtida da seguinte forma. Considere um
elemento diferencial de volume dV e área de base dA, conforme Figura 34-2.

Figura 34-2. Elemento de volume elementar.

202
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

O peso desse elemento diferencial é indicado por dG. Portanto, a tensão induzida sobre a
área elementar dA será:

dG
 = .
dA

O valor da tensão em qualquer ponto do sólido deve se igualar à σAdm, que é um critério para
uma condição ótima de análise. Disso, decorre que:

dG
 Adm = .
dA

A( y ) dy dA  dy
Como dG = A( y ) dy →  Adm = → = .
dA A( y)  Adm

Integrando ambos os lados da equação nos seus respectivos domínios, tem-se:

 dy → ln A − ln A =  y →  A   y .
A( y ) y
dA

A0
=
A 0  Adm
0
 Adm
ln  =
 A0   Adm

Elevando os termos de ambos os lados da equação:

 A y y y
ln  
 Adm A( y ) 
e  A0 
=e → = e  Adm , leva a: A( y) = A0e Adm , que é uma função exponencial em y.
A0

Quando:
y=0 → A(0) = A0
l

y =l → A(l ) = A1 → A1 = A0e . Adm

O problema pode ter, ainda, mais uma solução, pela integral indefinida:

l
ln A( y) + c1 = +c
 Adm 2

Quando:
y=0 → A(0) = A0 → ln A0 + c1 = c2 → c1 = c2 − ln A0 ,
l
y =l → A(l ) = A1 → ln A1 + c1 =
+c ⸫
 Adm 2
l l A1 l A1
l l
− ln A0 + ln A1 = → ln A − ln A = → ln = → =e 
⸫ A1 = A0e 
.
Adm Adm

 Adm
1 0
 Adm A0  Adm A0

Optando por deixar y como variável, fica-se com uma constante de integração:

y
ln A( y) + c1 = .
 Adm
203
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Quando y = 0 → A(0) = A0 , c1 = − ln A0 , logo:

y A( y)  y A( y )
y y
ln A( y) − ln A0 = → ln = → =e 
→ A( y) = A0e 
Adm
. Adm

 Adm A0  Adm A0

Se sobre o corpo também atua uma força P na extremidade, como indicado na Figura 34-3(a),
ter-se-á:

(a) (b)
Figura 34-3. Sólido de igual tensão com uma força P aplicada.

Por definição, Figura 34-3(b), tem-se:

P P + G( y) P + G ( y ) + dG
 ( A0 ) = ,  ( A( y )) = ,  ( A( y ) + dA) = .
A0 A( y ) A( y ) + dA

Todas essas tensões devem ser iguais à tensão admissível,  Adm . Assim:

P P + G( y) P + G( y) + dG P
= = =  Adm ⸫ =  Adm .
A0 A( y) A( y) + dA A0

y y
P P
Com isso, de A( y) = A0e  Adm
, com A0 = , chega-se a A( y ) = e  Adm .
 Adm  Adm

35. EXERCÍCIOS

Exercício 35.1.
Estabeleça a equação que define o raio de um pilar, de seção circular variável, de modo que
seu volume seja mínimo. O pilar suporta uma força P no topo mais seu próprio peso,
conforme ilustrado na Figura 35-1. O material do pilar tem peso específico γ e tensão
admissível σAdm. Calcule a área da base e do topo, assim como o seu volume.

204
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Figura 35-1. Exercício 35.1.

Pode ser verificado que a área das seções é uma função na altura do pilar, na forma de:

y
P  Adm
A( y ) = e .
 Adm

Como a seção transversal tem uma geometria circular, essa será escrita como uma função do
raio, que depende da posição a longo da altura da coluna. Com isso:

A( y) =  R 2 ( y) , onde R(y) é o raio da seção. Portanto:

y y
P P  Adm
 R ( y) =
2
e  Adm
→ R( y ) = e .
 Adm  Adm

O volume (V) é dito mínimo porque está relacionado à tensão admissível e sólido de igual
tensão. A diferença entre a área da base e área do topo deve conduzir ao volume desejado
(mínimo) e, também, absorver os esforços atuantes, pois σAdm é a mesma para todas as seções.

l l
P  Adm P P   Adm 
A = A1 − A0 = e − = e − 1 .
 Adm  Adm  Adm  

Recorde-se que área × tensão = força (peso) ⇒ ΔA × σAdm = Força, logo:

l
P   Adm    l 
e − 1   Adm = P  e Adm − 1 .
 Adm  




O produto do volume do sólido pelo peso específico do material é igual à força peso, peso
próprio. Daí, podes ser feito que:

V = G .

Logo:

l
  l  P   Adm 
Pe Adm
− 1 = V  ⸫ V =  e − 1 .
    
  

205
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Um outro caminho matemático, também bastante prático, pode ser usado na obtenção do
volume. Para isso deve ser observado que peso de todo o sólido mais a força na extremidade
da coluna sobre a área da base deve ser igual à tensão admissível, logo:

P+G A − P
=  Adm . Como G = V  → P + V  = A1 Adm → V = 1 Adm ⸫
A1 

 P  l    l 
 Adm  e Adm −P P  e Adm − 1
  Adm    l
P   Adm 
V=   → V=   ⸫ V = e − 1 .
    

Por outro lado, uma solução diferencial pode ser construída calculando-se o volume do
elemento infinitesimal dy. Assim:

 P  y  l y l y
dV = A( y )dy → dV =  e Adm  dy → V =  P e dy → V = P  e dy (1).
  Adm 
Adm Adm

  0
 Adm  Adm 0

Fazendo uma mudança de variável para resolver a integral anterior, tem-se:

y  dy  Adm
u= (2), logo du = e, portanto, dy = du (3).
 Adm  Adm 

Com (2) e (3) resolve-se a integral da equação (1):


l
 Adm  l

e du = Adm  eu du = Adm eu 
u l
(4).
0
  0  0

y y l
 Adm  Adm   
De u como definido em (1), obtém-se: e , de forma que (4) fica: eAdm
 ⸫
   0
l
l
 Adm   
e du = Adm  e − 1 .
u Adm

0
   

Logo, é possível escrever a integral da equação (1) como:

y l
l l
   
e dy =  e Adm du = Adm  e
 Adm u Adm
− 1 .
0 0
   

Portanto:

y l
l
  
e
 Adm
dy = Adm  e Adm
− 1 .
0
  

l y
Assim, a equação original, V = P  e dy , fica: Adm

 Adm 0

206
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

l
P   Adm   Adm  P   Adm 
l

V=  e − 1  ⸫ V =  e − 1 .
 Adm    
   

Exercício 35.2.
Determine o valor da força F para que a maior tensão de tração na barra AB tenha a mesma
intensidade que a menor tensão de compressão na barra BC. Ambas são barras cilíndricas.
Considere materiais com pesos específicos como indicado na Figura 35-2.

Figura 35-2. Exercício 35.2.

Solução:

O equilíbrio de forças internas e externas impõe a que se tenha:

Seção : Seção :

1) Na seção :

F y = 0 → R ( y ) − F −  AAB y = 0 → R ( y) = F +  AAB y (0 ≤ y < LAB) (1)

2) Na seção :

F y = 0 → R ( y) − F −  AAB LAB − 2 ABC ( y − LAB ) + 4F = 0 ,

R ( y) = F +  AAB LAB + 2 ABC ( y − LAB ) − 4F ,

R ( y) =  AAB LAB + 2 ABC ( y − LAB ) − 3F (LAB ≤ y ≤ LBC) (2)

207
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Como visto, ambas as equações (1) e (2) são funções lineares em y.

3) Condição do problema:

As tensões como funções na altura do sólido são encontradas por:

R ( y) F +  AAB y
  ( y) = →   ( y) = (0 ≤ y < LAB) (3)
AAB AAB
e
R ( y)  AAB LAB + 2 ABC ( y − LAB ) − 3F
  ( y) = →   ( y) = (LAB ≤ y ≤ LBC) (4)
ABC ABC

A condição imposta pelo problema é a de que a maior tensão de tração na barra AB tenha a
mesma intensidade que a menor tensão de compressão na barra BC, portanto uma de tração
e a outra de compressão. Assim:

+ AB max + = − BC min − .

Ou seja:

R ( LAB )  R ( L + LBC ) 
= −   AB .
AAB  ABC 

Substituindo:

R ( LAB ) = F +  AAB LAB

R ( LAB + LBC ) =  AAB LAB + 2 ABC ( LAB + LBC ) − LAB  − 3F ,

tem-se:

F +  AAB LAB   AAB LAB + 2  ABC LBC − 3F 


= − ,
AAB  ABC 

Desenvolvendo a equação anterior, encontra-se:

( F +  AAB LAB ) ABC = − (  AAB LAB + 2 ABC LBC − 3F ) AAB ,

FABC +  AAB LAB  ABC = −  AAB LAB  AAB − 2 ABC LBC  AAB + 3FAAB ,

FABC − 3FAAB = −  AAB LAB  ABC −  AAB LAB  AAB − 2 ABC LBC  AAB ,

F ( ABC − 3 AAB ) =  (− AAB LAB  ABC − AAB LAB  AAB − 2 ABC LBC  AAB ) ⸫
208
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

 (− AAB LAB ABC − AAB LAB AAB − 2 ABC LBC AAB )


F= .
( ABC − 3 AAB )

Como as seções são circulares:

 (d AB ) 2  (d BC ) 2
AAB = e ABC = . Logo:
4 4

   (d AB ) 2  (d BC ) 2   (d AB ) 2  (d AB ) 2  (d BC ) 2  (d AB ) 2 
 −  LAB − LAB −2 LBC 
  4 4  4 4 4 4 
F= ,
  (d BC ) 2  (d AB ) 2 
 −3 
 4 4 

   2  
2
 
2

  −   (d AB ) LAB (d BC ) −   (d AB ) LAB (d AB ) − 2   (d BC ) 2 LBC (d AB ) 2 
2 2 2 2

 4 4 4 


F=  ,
  (d BC ) 2
 (d AB ) 
2

 −3 
 4 4 

 
2

    −(d AB ) 2 LAB (d BC ) 2 − (d AB ) 2 LAB (d AB ) 2 − 2(d BC ) 2 LBC (d AB ) 2 


F=
4  ⸫

(d BC ) − 3(d AB ) 
2 2

4


  −(d AB ) 2 LAB (d BC ) 2 − (d AB ) 2 LAB (d AB ) 2 − 2(d BC ) 2 LBC (d AB ) 2 
F= 4 .
(d BC ) 2 − 3(d AB ) 2

Exercício 35.3.
Para o problema anterior, considere LAB = 0,50 m, LBC = 1,25 m, dAB = 0,30 m, dBC = 0,50 m
e o peso específico do material como sendo  = 26,48 kN/m3. Após calcular a força F elabore
o diagrama do esforço normal (DEN), em kN, e o diagrama de tensões normais (DTN), em
MPa. A aceleração da gravidade g vale 9,807 m/s2.

Solução:

A determinação da força F é feita com o uso da expressão desenvolvida no item anterior:


  −(d AB ) 2 LAB (d BC ) 2 − (d AB ) 2 LAB (d AB ) 2 − 2(d BC ) 2 LBC (d AB ) 2 
F= 4
(d BC ) 2 − 3(d AB ) 2

Substituindo os dados do problema, tem-se:

209
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26,48kN / m3  −(0,3m) 2 0,5m(0,5m) 2 − (0,3m) 2 0,5m(0,5m) 2 − 2(0,5m) 21, 25m(0,3m)2 
F= 4
(0,5m)2 − 3(0,3m) 2

F = 74,40kN .

Com isso, o DEN é traçado usando as equações (1) e (2), e o DTN as equações (3) e (4),
nos seus respectivos intervalos de validade. Daí:

DEN (kN) DTN (MPa)

36. ANÁLISE PLÁSTICA

Ao atingir o escoamento, o material entra na fase elástica. Sabe-se que após a tensão de
escoamento o material pode endurecer, oferecendo uma resistência adicional ao esforço
aplicado. No entanto, a tensão de escoamento, para muitas estruturas é uma condição limite,
portanto, assume-se que, ao ser atingida a condição de escoamento, as deformações crescem
indefinidamente sem o aumento das tensões. Nesses casos, diz-se que o material é
perfeitamente plástico.

Segue abaixo o esboço de dois gráficos, representando o comportamento de um material não


linear, mas elástico, e o outro representando um material elastoplástico perfeito.

Elástico mas não linear Elastoplástico perfeito


Figura 36-1. Material elástico não linear e elstoplástico perfeito.

A análise feita dentro da hipótese de material com comportamento elastoplástico perfeito é


dita análise plástica ou análise limite. Na análise plástica admite-se conhecido o diagrama
tensão-deformação do material. Nessa análise é útil conhecer o diagrama carga-
deslocamento do sistema.
210
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Em sistemas elasticamente indeterminados, a análise é muito mais complicada, porque as


forças não podem ser encontradas sem que antes sejam calculados os deslocamentos, que
por sua vez dependem das forças e da relação tensão-deformação.

Portanto, para iniciar a análise é preciso assumir um deslocamento para a estrutura, que
conduzirá a uma equação de compatibilidade para os deslocamentos nas barras. Uma vez
obtidos os deslocamentos de cada barra, calculam-se as deformações específicas de cada
uma, para em seguida, a partir do diagrama tensão-deformação obter as tensões. Com as
áreas, chega-se à força, verificando-se o equilíbrio. Se as forças não estiverem em equilíbrio,
reinicia-se o processo com a assunção de um novo deslocamento, buscando uma nova
equação de compatibilidade.

Exercício 36.1.
Tome-se o seguinte sistema hiperestático composto por uma treliça com 3 barras idênticas.

Figura 36-2. Exercício 36.1.

Para a solução do problema, numeram-se nós e barras. Importante ter em consideração que
como uma treliça é constituída por barras bi-rotuladas, essas só admitem esforço normal
agindo sobre elas, ou seja, esforço segundo a direção paralela ao eixo.

Quando a força P varia, variam também as forças nas barras, F1 e F2. A barra (2) é a barra
mais carregada. Quando a força na barra fizer com que atinja o escoamento, essa não
suportará mais esforço, no entanto, as barras inclinadas seguirão impondo resistência ao
avanço da força. Até que a barra (2) atinja o escoamento o sistema comporta-se
elasticamente.

Após a barra (2) chegar ao escoamento as barras inclinadas permanecem em comportamento


elástico linear, até que cheguem ao escoamento, ponto B.

211
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As barras (1) e (3) ao atingirem o escoamento definem a carga limite do sistema, pois a partir
daí o sistema escoa indefinidamente seu o aumento da carga de A e B o esforço na barra
central permanece σe.A (tensão de escoamento vezes a área) e as forças nas barras podem
ser encontradas pelo equilíbrio no nó D.

Analisando fase-a-fase:

De O a A (Comportamento elástico do sistema)

1) Equilíbrio

F x = 0 → F1 sen  = F3 sen  ∴ F1 = F3 , (1)

F y = 0 → 2 F1 cos  + F2 = P → P = 2 F1 cos  + F2 . (2)

Portanto, verifica-se ser um problema estaticamente indeterminado, no qual o sistema


precisa de mais uma equação para que possa ser resolvido. Essa equação vem da
compatibilidade das deformações.

2) Compatibilidade

l1
cos  = → l1 = l2 cos  . (3)
l2

212
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F1l1 Fl
Pela lei de Hooke: l1 = ; l2 = 2 2 . Logo, substituindo (3) em (1), tem-se:
EA EA

F1l1 F2l2
= cos  → Fl1 1 = F2l2 cos  (4)
EA EA

l2 l2
Como cos  = → l1 = , (5)
l1 cos 

pode-se substituir (5) em (4), de forma que:

l2
F1 = F2l2 cos  → F1 = F2 cos2  . (6)
cos 

Voltando ao equilíbrio e substituindo (6) em (2), tem-se:

P = 2(F2 cos2  )cos  + F2 → P = 2F2 cos3  + F2 → P = F2 (1 + 2cos3  ) (7)

A continuação da análise implica em que a força P siga aumentando até que a força na barra
(2) faça com que essa escoe, definindo o ponto A. Nesse instante: F2 = Fe = σeA e P = Pe.

Substituindo P por Pe e F2 por σe.A na equação (7) , pode-se escrever:

Pe =  e A(1 + 2cos3  ) (8)

Com a continuidade do aumento de P ingressa-se na fase do gráfico força-deslocamento


correspondente ao trecho de A até B e a força nas barras inclinadas pode ser obtida pelo
equilíbrio do nó D.

P −e A
F y = 0 → 2 F1 cos  +  e A = P → P = 2 F1 cos  +  E A ⸫ F1 =
2cos 
. (9)

Quando as barras inclinadas atingirem o escoamento F1 = σeA e P = Plim .

Plim = 2 e A cos  +  e A → Plim =  e A(1 + 2cos  ) . (10)

213
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37. EXERCÍCIOS

Exercício 37.1.
Considere o sistema formado por um tubo e uma barra em seu interior, sendo solicitado
axialmente, conforme Figura 37-1:

Barra interna b: Barra externa (tubo) t


Ab = 45mm Eb = 200GPa
2
At = 60mm2
 yb = 200MPa Et = 100GPa
 yt = 250MPa

Figura 37-1. Exercício 37.1.

Admitindo o comportamento elastoplástico, determine:

a) O gráfico força-deslocamento do conjunto, admitindo-se:


– Carregamento até 19,5 kN e
– Descarga total
b) Deformação residual do conjunto
c) Tensão residual na barra
d) Tensão residual no tubo

Solução:

As curvas tensão-deformação para as respectivas são construídas admitindo-se


comportamento elastoplástico perfeito, para o qual as tensões crescem até o escoamento
ocorrer e, a partir daí, continuam escoando.

As deformações específicas que correspondem às tensões de escoamento, são:

 yb 200MPa
→  Pb = 110
−3
P = = (barra b - núcleo)
b
Eb 200 10 MPa
3

 yt 250MPa
→  Pb = 2,5 10
−3
P = = (barra t - tubo)
t
Et 100 10 MPa
3

Assim, seus diagramas ficam:

214
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Barra b Barra t
Gráfico Tensão-Deformação das barras b e t

Diagramas Força-Deslocamento

Os diagramas de Força-Deslocamento de cada componente são obtidos multiplicando as


tensões pelas áreas das respectivas seções transversais:

Barra interna b:

N
N eb =  y b Ab = 200  45mm 2 = 9kN ,
mm 2

 eb =  Pb L →  e = 110−3  800 →  eb = 0,8mm


b

Barra externa t - tubo:

N
N et =  y t At = 250  60mm 2 = 15kN ,
mm 2

e =  P L →  e = 2,5 10−3  800 →  e = 2mm .


t t t t

Barra b Barra t
Gráfico Força-Deslocamento das barras b e t

Verifica-se que a força que produz o escoamento do tubo é maior que a da barra interna.
Portanto, é preciso conhecer a força que corresponde à essa posição no diagrama força-
deslocamento do tubo. Assim, por semelhança de triângulos (ou pela equação da reta):

15
Nt =  .
2

Substituindo o deslocamento correspondente ao escoamento da barra interna.  = 0,8mm :

15
Nt =  0,8 = 6kN .
2

Ou ainda, pela deformação específica, considerando o comprimento do tubo de 800 mm:

215
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 0,8 =
0,8
= 1 10 −3 ∴  0,8t = E0,8t   0,8t →  0,8t = 100MPa . Como força é tensão x área:
t
800

N0,8t =  0,8t  At = 100  60 → N0,8t = 6kN .

Gráfico Força-Deslocamento do conjunto:

Em um primeiro instante, o conjunto se comporta elasticamente, portanto é um sistema


estaticamente indeterminado, necessitando que se estabeleça uma equação adicional, da
compatibilidade dos deslocamentos ou deformações.

1) Equilíbrio

F x = 0 → F = Nb + Nt (1).

2) Compatibilidade

Como os deslocamentos são iguais em ambas as barras:

Nbl Nl
lb = lt → = t .
Eb Ab Et At

Portanto, isolando a força no tudo, por exemplo:

EA 
Nt = Nb  t t  (2),
 Eb Ab 

que substituída em (1), conduz a:

EA   EA 
F = Nb + Nb  t t  → F = Nb 1 + t t  (3).
 Eb Ab   Eb Ab 

Quando a barra interna atinge o escoamento, a força na barra interna é a força que produz o
seu escoamento e F passa a ser a força do primeiro estágio do conjunto, ou seja:

Nb = Nbe e F = Fce .

 Et At   100  60 
 , logo: Fc = 9  1 +
e
Com isso, a equação (3) fica: Fc e = Nb e 1 +  ⸫
 Eb Ab   200  45 

 60   2  5  45
Fc e = 9  1 +  = 9  1 +  = 9    = ∴ Fc = 15kN .
e

 90   3  3 3

Dessa fase até o escoamento do tubo, tem-se, por equilíbrio:

216
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Nbe = 9kN → tensão de escoamento da barra interna,


, quando o tubo escoa Nt = Nt e F = Fc = 9 + 15 → Fclim = 24kN .
e lim lim
F = 9 + Nt ⸫ Fc

Os pontos correspondentes a essas forças são os pontos do diagrama Força-Deslocamento


do conjunto:

Com as tensões sendo determinadas por:

Pode-se obter o módulo de elasticidade do conjunto fazendo:

Primeiro trecho:

N1
1 = ; Ac = At + Ab ; Ac = 105mm2 (área do conjunto),
Ac

15 103 N
1 = = 142,857 MPa (nesse ponto (1) a deformação e o deslocamento do conjunto
105mm2
são os do escoamento da barra):

1
1 =  eb → E1 = ∴ E1 =
142,857 MPa
→ E1 = 142,857GPa (menor do que o da barra,
1 1 10−3
mas maior que o do tubo).

Segundo trecho:

Raciocínio análogo pode se fazer para o segundo trecho

N 2 − N1 ( 24 − 15) 10 N
3

 2 = = = 85, 741MPa .
Ac 105mm2

217
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 2 85,7416MPa
Como  2 =  et −  eb = 1,5 10 → E2 =
−3
= → E2 = 57,143GPa
 2 1,5 10−3

Observação:

Preliminarmente,

Seja r: y = mx + n (1), uma reta de coeficiente angular m.

Se A ∊ r, então: ( x0 , y0 ) satisfaz à equação de r. Assim:

y0 = mx0 + n (2).

y − y0
Fazendo (1) – (2), vem y − y0 = mx − mx0 ou y − y0 = m( x − x0 ) ∴ m= .
x − x0

Para o diagrama dado as duas retas têm o mesmo coeficiente angular m:

O Ponto A tem coordenadas:

A = (1, 4;19, 5) ,

de forma que a equação da reta fica:

F − 19, 5 = m( − 1, 4) → F = 19, 5 + m( − 1, 4) .

15
Como m = , que é coeficiente angular da reta paralela, reta do trecho inicial do diagrama,
0,8
tem-se:

15
F = 19,5 + ( − 1, 4 ) (3)
0,8

218
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Que é a reta que representa a descarga do conjunto. O procedimento matemático descrito


anteriormente pôde ser feito porque, quando conjunto é descarregado, a reta da descarga é
paralela à reta do carregamento, ou seja, essas possuem a mesma inclinação.

a) O conjunto é solicitado até 19,5 kN e descarregado.

Para se saber qual o deslocamento do conjunto quando esse é carregado até 19,5 kN, usa-se
a semelhança dos triângulos formados pelas ordenadas (19,5-15) e (24-15), e abscissas (-
0,8) e (2,0-0,8):

19,5 − 15 24 − 15 (19, 5 − 15)(2 − 0,8)


= →= + 0,8 →  = 1, 4mm .
 − 0,8 2,0 − 0,8 24 − 15

b) Com o resultado anterior, é possível estabelecer a equação da reta da descarga,


considerando que a reta de descarga é paralela ao trecho inicial, ou seja têm o mesmo
coeficiente angular (15/0,8):

15
F = 19,5 + ( − 1, 4) ,
0,8
Quando o corpo é descarregado a deformação é a deformação residual: F = 0 →  =  r .

15 15
0 = 19,5 + ( r − 1, 4) → −19,5 = ( r − 1, 4) ⸫
0,8 0,8

−19, 5  0,8 19, 5  0,8


 r − 1, 4 = →  r = 1, 4 − →  r = 0, 36mm .
15 15

c) Tensão residual na barra interna b:

A equação da descarga da barra interna é:

 9 
Nb = 9 +   ( b − 1, 4) ; quando  b =  br ∴ Nb = Nbr ,
 0,8 
219
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

 9 
Nbr = 9 +   (0,36 − 1, 4) → Nbr = −2,7kN .
 0,8 

Portanto, a tensão residual na barra interna será:

Nbr 2700
b = =− →  br = −60MPa .
r
Ab 45

No tubo t:

O deslocamento do conjunto recaiu no trecho livre do tubo, portanto a equação da reta de


descarga será:

15kN
Nt = 
2, 0mm

Como  =  cr ( cr = deformação residual do conjunto)

15
N tr =  0,36 → Ntr = 2,7kN .
2, 0

E a tensão residual será:

N tr 2700
t = = ∴  tr = 45MPa .
r
At 60

38. PRINCÍPIO DE SAINT-VENANT

O princípio relativo à concentração de tensões foi estabelecido por Adhemar Barré de Saint-
Venant, matemático e engenheiro francês (1797-1886). Para o entendimento do problema, é
preciso considerar, inicialmente, que, embora o problema esteja aplicado a barras
unidimensionais, ele só pode ser apreciado se observado com elementos planos, ou seja,
admitindo a barra como placa ou casca.

Considere-se uma barra prismática de área A, comprimento l e módulo de elasticidade E,


sendo comprimida por uma força P, conforme indicado na Figura 38-1. Se a força estiver
sendo aplicada com o uso de dispositivos rígidos nas extremidades, que distribuam seus
efeitos de forma uniforme na seção, a lei de Hooke pode ser aplicada e a tensão induzida,
assim como a deformação imposta ao sólido, podem ser calculadas, respectivamente, por:

220
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 med =
P
, =
Pl
e lf = l − .
A EA

Se a distribuição uniforme de tensões ocorrer, pode ser verificado que linhas verticais e
horizontais desenhadas na superfície do sólido, as quais eram, inicialmente, paralelas entre
si, se mantém nessa condição mesmo após a aplicação da força.

Figura 38-1. Força distribuída uniformemente na seção.

Se, entretanto, a força é aplica diretamente sobre o sólido, as regiões localizadas nas
proximidades do ponto de aplicação da força ficarão sujeitas à concentração de tensões e as
linhas que identificam a deformação das fibras longitudinais nessas regiões deixam de ser
paralelas. Na condição apresentada, as fibras apresentam deformações desiguais, ocorrendo
o esmagamento dessas regiões, no sólido . Apenas a região central, afastada da força, é que
conserva o paralelismo inicial, onde a validade da lei de Hooke é preservada.

Figura 38-2. Concentração de tensões induzida por foça concentrada.

A solução para esse problema passa por majorar as tensões médias, levando em conta a
distância da seção da posição de aplicação da força, Figura 38-3.

221
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Figura 38-3. Concentração de tensões em posições próximas às forças.

O fenômeno também está presente em furos e entalhes (Figura 38-4):

Figura 38-4. Distorções de fibras produzidas por uma força axial.

Em furos circulares Em frisos ou entalhes


Figura 38-5. Concentração de tensões em furos e entalhes.

A solução para o problema reside no emprego de coeficientes de majoração obtidos


experimentalmente por meio da fotoelasticidade. Os ábacos elaborados para esse fim, tomam
por base o estudo da concentração de tensões em barras chatas sob carregamento axial, tendo
sido realizados por M. M. Froncht e publicados em “Estudos fotoelásticos de concentração
de tensões” em Mechanical Engineering (1936).

222
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Figura 38-6. Coeficientes para barras chatas sob carregamento axial.

39. EXERCÍCIOS

Exercício 39.1.
Para a barra da Figura 39-1, com aço com fy = 250 MPa:
a) Calcular a força P que inicia o escoamento da peça;
b) Calcular a máxima força P que pode ser aplicada.

Figura 39-1. Exercício 39.1.


Solução:

Considerando os parâmetros de referência para o problema, conforme figura a seguir,

os dados são: f y = 250MPa = 0, 25kN / mm ; D = 40 mm; r = 8 mm; t = 2 mm.


2

Com isso, a distância da borda da placa até a borda do entalhe é:

d = D − 2r → d = 40mm − 2  8mm → d = 24mm .

E as relações de interesse para uso do gráfico são:

D 40mm D r 8mm r
= → = 1, 667 e = → = 0, 333 .
d 24mm d d 24mm d

Localizando na abcissa a posição correspondente a r/d = 0,33 para em seguida alcançar a


curva correspondente à relação D/d = 1,67 (cabe interpolação entre as curvas) encontra-se K
223
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

= 1,58, ou seja um coeficiente de majoração de cerca de 60% da tensão média. Isso é indicado
pelas setas vermelhas no ábaco abaixo.

No início da plastificação:

 med  K = f y .

Isso quer dizer que no entalhe a tensão máxima já deverá ser a de escoamento do material.
Nesse caso, a tensão média deve ficar abaixo da tensão de escoamento, e a tensão no entalhe
é a que inicia a plastificação da placa, como indicado, estabelecendo uma condição de
plastificação local da placa.

Assim,

fy 250MPa
 med = →  med = = 158, 228MPa ⸫  med = 0,158kN / mm2 .
K 1,58

Para calcular a força necessária para iniciar o escoamento, a tensão média deve ser
multiplicada pela área da seção central da barra. Com A sendo a área de parte central da peça,
tem-se:

A = d  t → A = 24mm  2mm = 48mm 2 .

Com isso a força será:

P =  med  A → P = 0,158kN / mm 2  48mm 2 → P = 7, 595kN .

Com a peça completamente plastificada:

224
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

A solução implica que a tensão média seja a de escoamento e a tensão no entalhe também.
Isso quer dizer que o entalhe plastifica primeiro e entra em escoamento, permanecendo em
escoamento até que a região central atinja a tensão de escoamento, como ilustrado na figura
a seguir, estabelecendo uma configuração de plastificação total da placa.

Assim,  med = f y ⸫ P = f y  A → P = 0, 250kN / mm 2  48mm 2 → P = 12kN .

Modelagem Computacional:

O problema pode, também, ser resolvido por modelagem computacional, empregando o


método dos elementos finitos (MEF). Esse método permite que sejam reproduzidas as
dimensões do problema com grande fidelidade em relação à sua geometria. É importante
mencionar que os procedimentos de cálculo baseados em modelagens computacionais
realizam análises matriciais lineares. O MEF, cuja origem remete aos trabalhos de
Hrennikoff, Courant e Argyris é uma técnica de discretização de contínuos e aproximação
numérica de suas equações diferenciais. Na técnica de discretização por elementos finitos,
os domínios são divididos em regiões pequenas, porém finitas, de formato simples, unidas
em nós, cujos deslocamentos generalizados se tornam incógnitas do problema.

Cabe mencionar que quanto maior for a discretização do domínio mais próximo do resultado
esperado se estará. Entretanto, uma grande discretização aumenta o tempo de processamento
e passa a exigir o uso de maior memória por parte do computador.

Reproduzindo a placa do presente problema no ambiente do método dos elementos finitos,


Figura 39-2, aplicando o módulo de elasticidade do aço ao modelo e a força obtida para
iniciar a plastificação, de 7,595kN, encontra-se um diagrama em cores, no qual podem ser
observadas as tensões em qualquer posição da peça, incluindo nas extremidades, onde estão
aplicadas as forças, e nas regiões de bordas, todas essas zonas de concentração de tensões.

A tensão observada na região central da peça é de 0,157925 kN/mm2 (~ 0,158 kN/mm2)


coincidindo como valor obtido anteriormente. Na região do entalhe o valor encontrado foi
de 0,217773 kN/mm2 (~ 0,22 kN/mm2) valor bastante próximo à tensão de escoamento do
material, de 0,25 kN/mm2.

Tensão média:

225
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Concentração de tensões:

Enquanto isso, no entalhe a tensão já está próxima da tensão de escoamento. Cabe mencionar
que os resultados estão condicionados à discretização do modelo nessa região.

Para o caso correspondente à barra completamente plastificada, tem-se:

Figura 39-2. Modelo computacional de uma placa entalhada.


226
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Exercício 39.2.
Avaliar a concentração de tensões em uma placa com espessura de 2 mm, com um furo
central e tendo as dimensões indicadas na Figura 38-2.

Figura 39-3. Exercício 39.2.

P
A tensão média é:  med = ,
A

onde A é a área da placa fora da região do furo. Portanto, a área da seção transversal para o
cálculo da tensão média é definida por:

A = D  t → A = 40mm  2mm = 80mm 2 .

Sendo P = 45 kN, a tensão média fica:

45kN kN
 med = = 0,563 ,
80mm mm 2

que é uma tensão representativa de posições entre a borda da placa e uma região próxima ao
entorno do furo, como definido na Figura 38-5. Para encontra o fator de multiplicação da
tensão média na determinação da tensão máxima na borda do furo, é preciso entrar no ábaco
com as relações métrica da placa. De forma que:

r
D = 40mm ; r = 12mm ; d = D − 2r → d = 40mm − 2 12mm → d = 28mm ⸫ = 0,214 .
d

227
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2,35

A = d  t → A = 24mm  2mm = 48mm 2 .

Com isso a tensão máxima na borda do furo será:

kN kN
 med = 0,563  2, 35 →  med = 1,327 .
mm 2 mm 2

A abordagem pelo MEF também pode ser feita para o caso de uma placa com um furo
central. No presente exemplo, a placa está engastada na extremidade esquerda e tem uma
força de 45 kN aplica no nó central da direita, como sugere o problema.

Figura 39-4. Modelo computacional de uma placa com furo central (forças em kN).

O modelo computacional foi realizado usado a teoria de “cascas” e revela as regiões de


máximas e mínimas de tensões no entorno do furo e nas bordas superior e inferior da placa,
conforme escala de valores existente na borda direita da imagem da Figura 39-5 (valores em
kN/mm2). A tensão média, definida para uma região entre a borda da placa e a proximidade
do furo, confirma o valor obtido analiticamente. Entretanto, a tensão máxima na borda do
furo, de 1,453 kN/mm2, guarda uma diferença de 8,5% em relação à calculada usando o

228
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ábaco, considerando a discretização assumida no modelo. Portanto, nas condições


apresentadas a tensão máxima é 2,58 vezes a tensão média.

Figura 39-5. Tensões uma placa com furo central modelada como elemento de casca.

Uma maneira de diminuir a concertação de tensões no furo, no modelo computacional, é


distribuindo a força ao longo da altura da chapa, como indicado na Figura 39-6.

Figura 39-6. Modelo computacional de uma placa com furo central (forças em kN).

Com isso, pode ser percebido que há uma mudança nos resultados gerados, conforme escala
de valores à direita da Figura 39-7, em comparação com o diagrama da Figura 39-5. Por
229
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outro lado, importante observar que aparecem tensões elevadas nos vértices do lado direito
da chapa. Isso denota a diferença de resultados que se obtém quando são realizadas
estratégias distintas na modelagem computacional.

Figura 39-7. Tensões uma placa com furo central modelada como elemento de casca.

40. ESFORÇO CORTANTE (CORTE PURO)

A análise das tensões e deformações em peças submetidas à solicitação de corte puro será
feita de maneira simples, computando-se o valor médio da tensão tangencial. Nesse caso,
uma força F agindo de forma oblíqua à seção transversal deve ser decomposta segundo suas
componentes ortogonais, uma que define o esforço normal N e outra o esforço cortante V.

Figura 40-1. Esforço normal e cortante numa seção genérica.

Como indicado na Figura 40-2(a), o conceito de tensão impõe a que as tensões sejam
calculadas em um determinado ponto. Portanto, a tensão normal é definida por  = dN / dA
e a de cisalhamento por  = dV / dA . Na condição em que aos esforços N e V estejam
distribuídos de maneira uniforme na seção, Figura 40-2(b),, essas serão tensões médias e
todos os pontos estarão sob a mesma condição, logo,  med = N / A e  med = V / A , Figura
40-2(c).

230
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;

(a) tensão em um ponto (b) esforços uniformes (c) tensões médias

Figura 40-2. Tensões em um ponto e tensões médias.

Por definição, esforço cortante é a força que atua tangencialmente à seção, ou seja,
paralelamente à essa. Esse esforço tende a cisalhar, ou cortar, a peça, fazendo com uma parte
deslize em relação à outra, Figura 40-3(a). Para sólidos em equilíbrio, pode não ocorrer esse
corte, mas a sua tenência permanece, sendo, essa, traduzida em termos de deformação
angular , Figura 40-3(b).

(a) corte por esforço tangencial (b) tendência de corte


Figura 40-3. Efeito produzido pelo esforço cortante (peça curta).

Para que uma peça esteja sujeita exclusivamente ao corte é preciso que a sua altura h seja
igual ou superior ao seu comprimento l. Assim, a única deformação existente será a formação
de um ângulo  (distorção) que representa o “escorregamento” de seções adjacentes. No
entanto, se l crescer muito, a peça sofrerá flexão, e, nesse caso, o cisalhamento deve ser
entendido no contexto de peças fletidas, necessitando uma abordagem específica para o
problema.

( = distorção – deformação pelo cortante)


Figura 40-4. Deformação pelo esforço cortante (h ≥≥ l).

40.1. Tensão de Cisalhamento:

A ação da força constante sobre a área cisalhada causa uma tensão de cisalhamento dada por
 (diz-se “tau”), que é a relação do esforço por essa área:

V V = Esforço Cortante,
= (Tensão média) ⇒
AC AC = área cisalhada ou área sujeita ao corte.

Essa é uma tensão média e bastante adequada ao cálculo de ligações, pinos, rebites e regiões
coladas. Em ligações, se há mais de um elemento de conexão, pode-se escrever:
231
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V
= ,
nAC

onde n é igual ao número de elementos. É importante observar que a equação anterior pode
ser usada no dimensionamento de ligações parafusadas, mas, se os parafusos forem muito
longos haverá a introdução de efeitos de flexão e, portanto, essa relação não será mais válida.

Enquanto as deformações axiais tendem a formar um paralelepípedo retângulo, a


deformação tangencial tende a formar um paralelepípedo oblíquo ou paralelogramo, como
se vê na Figura 40-5, onde γ é a distorção ou deformação tangencial calculada em radianos
(rad).

Cubo de arestas unitárias.


Figura 40-5. Deformação em um cubo unitário por tensões de cisalhamento.

Quando a distorção provoca uma redução no ângulo formado pelas faces orientais ela é
positiva, caso contrário é negativa.

Esforço positivo e negativo respectivamente

Isso quer dizer que, se o esforço cortante provocar um momento horário ele é positivo, se o
esforço provocar um momento anti-horário ele é negativo.

Binários indicam a natureza do cisalhamento.

40.2. Diagrama Tensão-Deformação para o cisalhamento:

O diagrama tensão-deformação para o cisalhamento, Figura 40-6, é obtido por meio de um


ensaio de torção e é semelhante ao diagrama para a tensão normal, possuindo um trecho
linear que representa a região elástica de deformação e outro não-linear que representa a
região de deformação plástica.

232
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Figura 40-6. Diagrama tensão-deformação para o cisalhamento.

A fase inicial, reta, do diagrama caracteriza a fase elástica, na qual existe proporcionalidade
entre tensões e deformações. A relação entre tensão e deformação, nesse trecho, define o
módulo de elasticidade transversal do material. O módulo de elasticidade transversal é
representado pela letra G, de forma que:


G= ou  = G ,

que é a lei da elasticidade linear para o cisalhamento, ou seja, as tensões são proporcionais
às deformações com uma constante de proporcionalidade entre elas. Com a obtenção do
diagrama tensão-deformação para o cisalhamento pode-se determinar a tensão de
escoamento e a tensão máxima ao cisalhamento. A relação entre o módulo de elasticidade
longitudinal e o transversal está entre um terço e um meio, ou seja:

E E
G .
3 2

A tensão admissível será, de forma semelhante à tensão normal:

e R
 Adm = (para materiais dúcteis);  Adm = (para materiais frágeis),
n n

onde n é o coeficiente de segurança, um número maior que a unidade. Experiências mostram


que as tensões normais admissíveis e de escoamento com as respectivas tensões de
cisalhamento, são:

 adm = 0,5  adm


= 0,6
e = 0,5 e
= 0,6

41. EXERCÍCIOS

Exercício 41.1.
Dimensionar o pino para suportar a tensão originada pelo esforço cortante aplicado, sendo a
tensão admissível  adm = 800kgf / cm2 . Considere P = 2 tf.

Figura 41-1. Exercício 41.1.

Solução:
233
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Vmáx kgf 2000kgf 2000kgf  4 80 2


 adm = → 800 2 = ⸫ d mín = →d= cm →
Amín cm  d mín 2
800kgf / cm 
2
8
4
d = 1, 78cm → d = 17,8mm .

No âmbito do projeto, é importante que sejam especificadas as distâncias do centro do


parafuso às bordas da placa, assim como a espessura dessa de forma a evitar o seu
esmagamento na zona de contato. São as normas técnicas que apresentam especificações que
orientam a definição dessas distâncias. No entanto, uma indicação simplificada pode ser
vista a seguir.

Representação simplificada das distâncias de borda.

Exercício 41.2.
Considere a placa anterior, agora fixada por dois pinos.

Figura 41-2. Exercício 41.2.

Neste caso, em cada seção do parafuso a força será P/2, de modo que:

2000kgf
kgf 2000kgf kgf 2 2000  4 2
800 2 = → 800 2 = → d mín = cm →
cm  d mín 2
cm  dmín 2
800  2
2
4 4

80
d= cm2 → d = 1, 26cm → d = 12, 6mm .
16

O resultado obtido representa uma redução de 29,21% no diâmetro do pino. Com isso, é
possível observar que a redução não ocorre de forma linear, ou seja, ao ser adicionado mais
um pino o diâmetro não é reduzido à metade. Para este tipo de ligação, além das distâncias
em relação às bordas da placa devem ser especificadas as distâncias entre parafusos, como
indicado, esquematicamente, a seguir:
234
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Representação simplificada das distâncias de borda e entre pinos.

OBS.: O Exercício 41.1.e o Exercício 41.2.são representativos de situações de Corte


Simples:

Exercício 41.3.
Considere um garfo agindo sobre um parafuso com  adm = 800kgf / cm2 . Dimensione o
parafuso para o esforço abaixo.

Figura 41-3. Exercício 41.3.

A análise da situação de corte do parafuso para este problema, pode ser feita por meio do
equilíbrio de duas seções adjacentes  e , observadas separadamente, por cima ou por baixo
dessas. A observação revela que a metade do esforço cortante age em cada lado das seções:

Essa é, portanto, uma situação de Corte Duplo.

Solução:

5000kgf kgf 50  4 2 25 2
= 800 2 → d = cm = cm → d = 1,99cm → d = 19,9mm .
d 2
cm 16 2
2
4

Exercício 41.4.
Duas peças de madeira são coladas na disposição vista na figura. Todas têm a mesma seção
transversal e tem 200 mm de comprimento na área perpendicular ao plano da figura.

a) Para P = 10 tf, qual a tensão de cisalhamento nas juntas coladas?

235
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Figura 41-4. Exercício 41.4.

Solução:

Essa é uma situação de corte duplo, pois há duas áreas envolvidas no processo de colagem.
Dessa forma, tem-se:

Área sujeita ao cisalhamento: AC = 2  (50  200)mm2 .

V 10000kgf 10 kgf kgf


Tensão de cisalhamento:  = = → = →  = 0,5 .
AC 2  (50  200)mm 2
20 mm 2
mm 2

b) Para qual valor se conseguirá reduzir a tensão com a introdução de um pino de


 adm = 800kgf / cm2 e diâmetro d = 0,5cm .

Solução:

Segue-se com a situação de corte duplo. Portanto, o esforço máximo suportado pelo pino é
obtido fazendo-se:

VmáxP =  adm  ACP , com ACP sendo a área cortada do pino.

Com isso, o esforço absorvido por esse componente estrutural é calculado multiplicando-se
a tensão admissível do material pela área cortada, logo:

kgf    ( 0,5cm ) 
2

VmáxP = 800 2   2  ,
cm  4 

onde o número 2 indica que são duas as áreas cortadas ou cisalhadas, o que leva a ter:

Vmáx = 314, 20kgf .

No equilíbrio, o esforço cortante que atua na junta colada é suportado tanto pela cola quanto
pelo pino. Assim, a força que recai na junta após a introdução do pino é :

VTotal = VCola + VPino → VCola = VTotal − VPino = 10000kgf − 314, 20kgf → VCola = 9685,80kgf .

Logo, a tensão, nessa nova condição, fica:

VCola 9685,80kgf kgf


 Cola = = →  Cola = 0, 48 ,
AColada 2  (50  200)mm 2
mm 2

236
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o que representa uma redução de 4% na tensão induzida pelo esforço cortante.

Exercício 41.5.
Dimensionar os rebites da junta excêntrica, sabendo que os centros do rebites devem ser
iguais(  adm = 105MPa ).

Figura 41-5. Exercício 41.3.

1) Diagrama do Corpo Livre

Diagrama do corpo livre da ligação.

Trazendo a força de 20 kN para a linha vertical do centro da ligação aparece um momento


M devido à excentricidade (M = 20 kN . 360 mm). Nota-se que o pino (2) está no ”CG” da
ligação e por isso não tem esforço horizontal, apenas apresentando uma componente vertical.

2) Equilíbrio

Fazendo momento em relação ao ponto (ou pino) (3), tem-se:

.  M 3 = 0 . → R1x  240mm = 20kN  360mm → R1x = 20kN 


36mm 3
= 20kN  →
24mm 2

R1x = 30kN .

Como os rebites tem o mesmo diâmetro, na vertical as componentes são iguais.

20kN
F y = 0 → R1 y + R2 + R3 y = 20kN ⸫ R1 y = R2 = R3 y =
3
= 6, 67 kN .

O somatório das forças na direção x deve impedir o movimento de translação horizontal:

237
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

F x = 0 → R1x = R3 x → R1x = 30kN .

A resultante do rebite mais solicitado, será:

R1 = R3 = ( 30kN ) + ( 6, 67kN )
2 2
→ R1 = R3 = 30, 73kN .

Para o dimensionamento do pino deve ser usada a tensão admissível ao cisalhamento do


material. De forma que:

V 30, 73  103 N d2 30, 73 N 4  30, 73


 adm = → A= → = →d= m2 ⸫
A 105  10 N / m
6 2
4 105 10 N / m
3 2
 105 103

d = 19,3 10−3 m → d = 19,3mm .

A título de ilustração, a Figura 41-6 representa, de forma simplificada, o detalhamento,


em projeto, de dois tipos de ligações metálicas: (a) ligação de topo de uma viga a uma coluna
e (b) encontro de duas vigas, longarina e transversina:

(a) ligação de topo de uma coluna (b) detalhe da união transversina/longarina


Figura 41-6. Ilustração de ligações em estruturas metálicas.

42. TENSÕES EM PLANO OBLÍQUO AO EIXO

Foram estudados até agora os esforços axial e tangencial (corte puro), conforme Figura 42-1.
Nas situações indicadas, as tensões (médias) foram definidas para uma seção A,
perpendicular ao eixo, ou seja, a seção transversal, cuja denominação surge exatamente por
ser transversal ao eixo. Neste capítulo, será demonstrado que tanto forças axiais como
transversais causam, ao mesmo tempo, tensões normais e de cisalhamento em planos
oblíquos ao eixo da barra.

Para um carregamento uniaxial, como mostrado na Figura 42-1(a), as tensões normais


médias são do tipo  = P / A , sendo P o esforço na direção do eixo e A a área da seção
transversal eixo. O esforço normal tem sua linha de ação agindo perpendicularmente a seção
transversal, estando aplicado no seu centroide. No caso do corte puro, conforme representado
na Figura 42-1(b), as tensões médias são do tipo  = V / A , desde que l seja pequeno quando
comparado com as dimensões da seção transversal da barra. A linha de ação do esforço
cortante é paralela à direção perpendicular ao eixo.

238
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

(a) Esforço axial (b) Esforço cortante


Figura 42-1. Tensões em relação à seção transversal.

Considere-se uma barra sob carregamento uniaxial, conforme Figura 42-2(a). Deseja-se
conhecer as tensões em um plano oblíquo ao eixo que forma um ângulo  com a seção
transversal. A barra está sendo solicitada axialmente por uma força Px. O subíndice x indica
a direção em que essa força atua. Considere-se uma seção A cujo plano forma um ângulo 
com a seção transversal Ax, que é a origem do ângulo, cuja orientação positiva é a
trigonométrica. Admite-se que, se o corpo está em equilíbrio, suas partes internas também o
estão. Isso significa dizer que a soma vetorial das forças internas no plano inclinado A deve
ser igual à força Px, ou seja, Px = N + V , conforme ilustrado na Figura 42-2(b).

(a) Carregamento uniaxial (b) Componentes em plano obliquo


Figura 42-2. Tensões em plano oblíquo.

Decompondo Px nas direções normal e tangencial ao plano oblíquo, tem-se:

N
cos  = → N = Px cos  ,
Px

V
sen  = → V = Px sen  .
Px

Denotando a seção transversal por Ax (área perpendicular à direção x) e decompondo Ax em


relação ao ângulo , a área do plano inclinado A será:

Ax A
→ cos  = ⸫ A = x .
A cos 

Importante mencionar que as operações matemáticas anteriores levam a um estado de


tensões nas faces A do plano inclinado composto por uma tensão normal, , e outra de
cisalhamento, , como indicado a seguir. A componente normal x que aparece na figura
está relacionada à direção em que a força Px atua. Uma vez que só há possibilidade de haver
uma componente normal à superfície um único subíndice é suficiente para estabelecer sua
identificação, mas nada impede que sua representação fosse xx para indicar a existência de
uma componente na face perpendicular a x e na direção de x.

239
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

As tensões normal e de cisalhamento no plano oblíquo são obtidas pela divisão dos
respectivos esforços pela área da face inclinada, de forma que:

N Px cos  P P
 = = →   = x cos  cos  . Como  x = x →   =  x cos  cos  .
A Ax Ax Ax
cos 

Logo, pode ser escrito que:

 =  x cos2  (1).

A tensão tangencial por sua vez, será:

V Px sen  P
 = = →   = x sen  cos  . Portanto:
A A x Ax
cos 
  =  x sen  cos  (2).

Lembrando da relação trigonométrica do seno da soma de dois ângulos:

sen(a + b) = sen a cos b + sen b cos a , sendo a = b =  ,


sen( +  ) = sen  cos  + sen  cos  ,
sen(2 )
sen(2 ) = 2sen  cos  ∴ sen  cos  = ,
2

é possível escrever a equação (2) em uma notação mais compacta, na forma de:

x
 = sen 2 (3).
2

É importante que seja observado que as equações anteriormente obtidas representam funções
cuja variável independente é o ângulo . Portanto, quando  varia os valores dessas funções
variam também, fazendo com que passem por máximos e mínimos. O ângulo tem origem na
face perpendicular a x, ou seja, na posição de Ax, e está orientado de forma trigonométrica,
como se indica na figura baixo. Com isso em mente, alguns resultados podem ser
apresentados para posições particulares do ângulo .

1) Quando θ = 0:

240
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Px P
 =  x cos2 (0) →   =  x . Como  x = →   =  x = x (valor máximo).
Ax Ax

Nessa posição, a tensão de cisalhamento fica:

x
 = sen(2  0) →   = 0 .
2

2) Quando θ = 45º:

x Px  P
 =  x cos2 (45) →   = . Como  x = , tem-se   = x = x .
2 Ax 2 2 Ax

Para esse ângulo, a tensão de cisalhamento fica:

x x Px
 = sen(2  45) →   = = (valor máximo).
2 2 2 Ax

Da exposição anterior, pode ser constatada a existência de duas posições de máximo para o
ângulo : uma para a tensão normal e outra para a tensão de cisalhamento. Portanto, tem-se
que:

Px
 =  x = (valor máximo),
quando θ = 0 → Ax
 = 0 .

e
x
Px
 = ,=
2 2 Ax
quando  = 45 → ⸫  45º =  45º .
 P
  = x = x (valor máximo).
2 2 Ax

Isso quer dizer que, em termos de tensões máximas, tem-se:

para  = 0 →   =  0 =  Máx ,

e para

 = 45 →   =  45 =  Máx .

Dessa evidência resulta a necessidade de verificar a segurança de um elemento de barra


tracionado ou comprimido para essas duas posições, θ = 0 e θ = 45º, pois que essas
representam as posições de máximos para as funções, a primeira para a tensão normal e a
segunda para a de cisalhamento.

Em caso de verificação ou de dimensionamento de uma barra solicitada axialmente, as


tensões nas posições de máximo devem ser igualadas às tensões admissíveis. Logo:

241
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

PMax P
quando  = 0 →  Máx =  adm = →  adm = x ; e
AMin Ax

VMax P
quando  = 45 →  45 =  Máx = →  adm = x .
AMin 2  Ax

Cabe destacar que para a posição particular de θ = 90° →   =   = 0 .

As assunções anteriores podem ser comprovadas por meio das derivadas das expressões de
 e . Portanto, derivando essas expressões em relação a θ e igualando a zero, as posições
de máximo podem ser encontradas.

1) Derivada da função tensão normal:

Derivando a expressão de  em relação a θ, igualando a zero, tem-se:

d (  )
=0 (posição de máximo),
d

d ( x cos 2  )
= 0 →  x  2 cos   (− sen  ) = 0 → −2 x cos  sen  = 0 .
d

Como  x  0 → cos sen  = 0 . Nesse caso, ou cos = 0 , ou sen  = 0 , logo:

cos = 0 →  = 90 , ou
sen  = 0 →  = 0 ou  = 180 .

Para  = 90 e  = 180 a tensão normal é nula, pois  =  x cos2  . Além do mais, quando
 = 90 a força estaria perpendicular ao eixo e para  = 180 a seção estaria fora do corpo.
Portanto, a posição de máximo será a de  = 0 .

Pode-se, ainda, fazer:

− x (2 cos  sen  ) = 0 →  x sen 2 = 0 (pois 2cos sen  = sen 2 ) ⸫


 x  0 → sen 2 = 0 → 2 = 0 →  = 0 ou  = 90 . Para  = 90 a tensão normal é nula.

O estudo da derivada segunda pode revelar o ponto de mínimo, pois a regra é que:

d 2 ( x cos 2  )
 0 → Ponto de máximo, e
d 2
d 2 ( x cos 2  )
 0 → Ponto de mínimo.
d 2

Assim, aplicando a segunda derivada à função tensão normal, tem-se:

d 2 ( x cos 2  ) d (−2 x cos  sen  )


=0 → = 0 → 2 x sen 2  − 2 x cos2  = 0 ⸫
d 2
d

242
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

2 x ( sen 2  − cos 2  ) = 0 ⸫ cos = sen  →  = 45 .

2) Derivada da função tensão de cisalhamento:

Derivando a expressão de τ em relação a θ, igualando a zero, fica-se com:

d (  ) d ( x sen  cos  )
=0 → = 0,
d d

 x [sen  (− sen  ) + cos  cos  ] = 0 →  x  0 ∴ − sen 2  + cos 2  = 0 . Como

cos 2  = sen 2  → cos = sen  →  = 45 .

Para ilustrar o efeito físico das tensões máximas de cisalhamento, pode ser observada uma
coluna curta de madeira em um ensaio de compressão. Para essa peça, a ruptura ocorre de
forma visível em uma posição que forma um ângulo de 45º com o plano da seção transversal.

Figura 42-3. Ruptura de uma coluna curta de madeira em compressão.

43. EXERCÍCIOS

Exercício 43.1.
Uma barra prismática com seção transversal de área A = 12,50 cm2 está tracionada por uma
força P = 16000 kgf. Determinar as tensões em um plano para o qual  = 30 .

Solução:

Deve ser recordado que para uma barra solicitada axialmente aparecerá tensões em planos
inclinados de um ângulo  na forma indicada na figura.

Figura 43-1. Exercício 43.1.

Portanto, a tensão na face perpendicular a x e na direção de x é:

243
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

16000kgf kgf
x = 2
= 1280 2 ,
12,50cm cm

e as componentes um plano inclinado orientado por uma abertura  , serão:

1 - Componente normal:  =  x cos2  , e



2 - Componente de cisalhamento:   = x sen 2 .
2

Com  =30º, encontra-se:

1 - Componente normal:

 30 = 1280kgf / cm2  cos2 ( 30 ) →  30 = 960kgf / cm2 , e

2 - Componente de cisalhamento:

1280kgf / cm 2
 30 = sen ( 2  30 ) →  30 = 554, 26kgf / cm2 .
2

Exercício 43.2.
Achar a força de tração máxima P que pode ser aplicada a uma barra de seção transversal
quadrada de (50 x 50) mm2. Considere a tensão normal admissível igual a 15 kgf/mm2 e a
tensão de cisalhamento admissível igual a 10 kgf/mm2.

1 – Análise pela tensão normal máxima

Quando  = 0 →  0 =  Máx =  adm =  x ∴

kgf PMáx1
15 = → PMáx1 = 37500kgf .
mm 2
(50  50)mm 2

2 – Análise pela tensão de cisalhamento máxima

x
Quando  = 45 →  45º =  Máx =  adm = ∴
2

kgf PMáx 2
10 = → PMáx 2 = 50000kgf .
mm 2
2  (50  50) mm 2

A máxima força que pode ser aplicada será a menor entre os dois valores obtidos. Assim:

PMáx = 37500kgf .

Exercício 43.3.
Um elemento de barra tracionado é composto de dois pedaços de materiais diferentes, Mat
1 e Mat 2, que são colados ao longo da linha m-n. A tensão de cisalhamento na junta colada
é  = 70 kgf/cm2 e a tensão de tração é = 140 kgf/cm2. Qual deve ser o valor do ângulo θ,
244
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

a fim de que a barra suporte a força P de tração? Determinar também a força que pode ser
aplicada se a área da seção transversal da barra for igual a 10 cm2.

Figura 43-2.Exercício 43.3.

Solução:

Usando as expressões para o caso de carga uniaxial em um plano oblíquo, tem-se:

  =  x cos  cos  = 140 


→ = tg  .
  =  x sen  cos  = 70 

Com isso,

 70 
 = arctg   →  = 26,56 ou  = 2634' .
 140 

Fazendo:

  =  adm → 140 =  x cos2 26,56 →  x = 175kgf / cm2 .

Considerando que a tensão é a relação da força pela área:

Px
x = ,
Ax

a força normal será obtida multiplicando-se a tensão calculada pela área da seção transversal:

Px =  x Ax → Px = 175kgf / cm2 10cm2 → Px = 1750kgf .

Exercício 43.4.
Determinar as tensões nas fibras da madeira do bloco indicado na Figura 43-3?

Figura 43-3. Exercício 43.4.


245
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Solução:

A tensão normal é:

400kgf
y = − = −1, 6kgf / cm 2 .
(10  25)cm 2

Como

  =  y cos 2  →  28 = −1,6kgf / cm2 cos2 28 →  28 = −1, 25kgf / cm2 ,

a tensão tangencial será dada por:

y −1, 6kgf / cm 2
 = sen(2 ) →  28 = sen(2  28) →  28 = −0,66kgf / cm2 .
2 2

Ou ainda:  28 = −1,6sen 28 cos 28 = −0,66kgf / cm2 .

Portanto, as tensões apresentam a seguinte configuração:

Exercício 43.5.
Determinar a tensão normal e o ângulo θ para uma barra tracionada cujas tensões num plano
oblíquo pq são  = 900kgf / cm2 e  = 300kgf / cm2 .

Figura 43-4. Exercício 43.5.

Solução:

Dados do problema:

 = 900kgf / cm2 ,
 = 300kgf / cm2 .

As tensões no plano oblíquo são calculadas pelas seguintes expressões:


246
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

 =  x cos2  ,   =  x cos  cos  ,



  =  x sen  cos  .   =  x sen  cos  .

  300kgf / cm2
Fazendo = , tem-se:
  900kgf / cm2

 x sen  cos  3 cos  1 1


= → = → tg  = ∴  = 18, 43 ou  = 1826'82'' .
 x cos  cos  9 sen  3 3

900kgf / cm 2
Por:  =  x cos2  →  x = →  x = 1000kgf / cm2 .
cos 18, 43
2

44. TENSÕES BIAXIAIS

Considere-se um estado de tensão mais geral de tensões que aquele produzido por um
carregamento uniaxial em que um elemento diferencial, Figura 44-1, de lados dx e dy, está
sujeito a tensões normais x e y atuando segundo suas direções ortogonais x e y, que serão
positivas se forem de tração. Esse estado de tensões é conhecido como estado de tensões
biaxiais.

Embora essa seja uma condição mais geral que a análise uniaxial, ela ainda caracteriza uma
configuração particular do estado de tensões, uma vez que restringe as tensões a que sejam
exclusivamente de natureza normal. Um exemplo típico e representativo desse estado de
tensões é o que ocorre em vasos de pressão, onde existe uma tensão radial e outra
longitudinal nas paredes do recipiente.

Figura 44-1. Elemento em estados de tensões Biaxiais.

As faces ortogonais do elemento diferencial são identificadas por Ax e Ay, por estarem de
forma perpendicular às direções x e y. Estabeleça-se um plano inclinado p-q por meio de um
ângulo  cuja origem está na face vertical direita do elemento, ou seja, a face perpendicular
à direção x, Ax. O ângulo está orientado trigonometricamente e por meio de sua posição é
possível definir uma área inclinada A em relação à qual n e v são duas direções privilegiadas
e interdependentes. A primeira é perpendicular e a segunda paralela ao plano inclinado. A
maneira como é feita a representação na Figura 42-2 define os sentidos positivos para as
tensões  e ,, a tensão normal e a tangencial ao plano inclinado, respectivamente.

É importante observar que as faces do elemento são dotadas de espessura, e. Portanto, em


notação diferencial, para as áreas, pode ser escrito que:
247
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Ax = dy  e , Ay = dx  e e A = ds  e .

Figura 44-2. Tensões em um plano inclinado p-q.

Cabe ressalta que a notação diferencial das áreas para o presente problema poderia ser
dispensada uma vez que essas irão desaparecer ao final do processo de cálculo, como será
visto. Esse aspecto evidencia o tratamento pontual que deve ser dado para as tensões.

É possível ser observado que cada uma das faces ortogonais do elemento pode ser
relacionada à área do plano inclinado por meio do ângulo  , de forma que:

Ax Ax
A = , cos  = ,
cos  A

A A
A = y , sen = y .
sen A

Para que sejam obtidos os esforços nas distintas faces do elemento diferencial é preciso
multiplicar cada componente de tensão pela área da face em que cada uma atua, de forma
que:

N x =  x Ax , N y =  y Ay , N =   A e V =   A .

Na ordem apresentadas, esses são os esforços normais nas faces perpendiculares às direções
x e y, e os esforços normal e cortante na face inclinada definida pelo ângulo .

Para realizar o equilíbrio de forças segundo as direções n e v, perpendicular e paralela ao


plano p-q, é preciso decompor os esforços segundo essas direções, com a observância do
devido sinal, sendo positivo aqueles que estiverem dirigido conforme a orientação positiva
do eixo e sendo negativo os que possuírem direção contrária.

248
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Figura 44-3. Equilíbrio de esforços nas direções normal e tangencial do plano p-q.

Com isso, pode ser feito o somatório de forças segundo a direção n:

F n = 0 → N = N x cos + N ysen .

Como N =   A , N x =  x Ax e N y =  y Ay , tem-se que:

 A =  x Ax cos +  y Aysen . Dividindo toda a expressão por A , encontra-se:

Ax A
 =  x cos  +  y y sen .
A A

Ax A
Como cos  = e sen = y , pode-se escrever que:
A A

 =  x cos cos +  ysen sen →   =  x cos2  +  y sen 2 (1)

De modo análogo, o equilíbrio para o esforço cortante, ou seja, na direção v, paralela ao


plano inclinado, é:

F v = 0 → V = N xsen − N y cos  .

Como V =   A , N x =  x Ax e N y =  y Ay , pode ser escrito que:

 A =  x Axsen −  y Ay cos .

Dividindo ambos os lados da equação por A , tem-se que:

Ax A
 =  x sen −  y y cos  .
A A

249
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Ax A
Podem ser substituídos na equação anterior o cos  = e o sen = y , de forma que:
A A

 =  x cos sen −  ysen cos , logo:  = ( x −  y )sen  cos .

sen2
Como sen cos  = chega-se a:
2

sen2 ( x −  y )
  = ( x −  y ) →  = sen2 (2).
2 2

Quando  = 0 , sen0 = 0 e cos0 = 1 . Logo:

 0 =  x1 +  y 0 →  0 =  x =  Máx ,

( x −  y )
0 = sen ( 2  0 ) →  0 = 0 .
2

   2
Quando  = , sen = cos = , logo:
4 4 4 2
2 2
 2  2  x y x + y
 45 =  x   +  y   = + →  45 = ,
 2   2  2 2 2

( x −  y )    − y
 45 = sen  2   →  45 = x =  Máx .
2  4 2

45. EXERCÍCIOS

Exercício 45.1.
Achar as tensões para o elemento mostrado, quando:

 x = 8,5kgf / mm2 ,
 y = −4,5kgf / mm2 .

Figura 45-1. Exercício 45.1.


250
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A orientação para o elemento em estado plano tensões, conforme dados do problema, é:

O estado de tensões anterior configura uma situação de tensões biaxiais, podendo ser
resolvido pelas expressões gerais, com observância da posição e orientação correta do ângulo

 = 8,5cos2 (−60º ) − 4,5sen 2 (−60º ) →  = −1, 25kgf / mm2 ,

8,5 − ( −4,5)
 = sen[2  (−60º )] →  = −5,63kgf / mm2 .
2

Suas orientações, portanto, serão:

46. RELAÇÃO ENTRE G, E e ν

1) Relação entre G, E e ν (por tensões biaxiais – dedução 1)

Considere-se um aplaca submetida ao estado de tensões indicado na figura abaixo, com


 x = − y .

 x → tração,
 y → compressão.

Figura 46-1. Elemento plano a 45º.


Quando  = e  x = − y , tem-se:
4

 
  =  x cos2  +  y sen 2 →   =  x cos 2 +  y sen 2 ⸫   = 0 → Corte Puro.
4 4

E,

251
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( x −  y )  x − (− x )  
 = sen2 →   = sen  2   ⸫   =  x .
2 2  4

Portanto, verifica-se que um elemento a 45º sob um estado biaxial de tensões no qual uma
tensão seja de tração e a outra de compressão, encontra-se em uma situação de corte puro,
ou seja, atuam apenas tensões de cisalhamento. Nessa situação, é importante ter claro que as
arestas do elemento não sofrem alongamento ou encurtamento, mas as diagonais sim.

Figura 46-2. Deformação do elemento plano a 45º.

Da Figura 46-2:

 
 −  1+  y     1+  y
tg  2 = → tg  −  = (1).
 2  1+  x  4 2  1+  x
 
 
tg − tg
4 2 .  
Da relação trigonométrica da tangente dos ângulos, tem-se tg  −  =
 4 2  1 + tg tg 

4 2

 
Como γ é pequeno pode-se fazer tg = e, portanto a equação anterior fica:
2 2


1−
   2
tg  −  = (2).
 4 2  1+ 
2

1−
Igualando (2) com (1) , tem-se: 2 = 1+  y (3).
 1+  x
1+
2

Para um estado biaxial de tensões sabe-se que:

 x  y  y  x
x = − e y = − , como  x = − y ,
E E E E

 x  (− x )  x  x x
x = − → x = + ∴ x = (1 + ) (4), e
E E E E E

252
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

 x  x x
y = − − → y = − (1 +  ) ∴  y = − x (5).
E E E

Substituindo (5) em (3):


1−
2 = 1 +  y , como  = − → 1 −   (1 +  ) = 1 +   (1 −  ) .
 1+  x y x   x   x
1+  2  2
2

Assim, se obtém:

   
1+  x − −  x = 1−  x + −  x ,
2 2 2 2

   
x − = −x → − − = − x −  x .
2 2 2 2

 
Logo: 2  = 2  x ∴  x = (6).
2 2

Da igualde de (4) com (6) se extrai:

x   x 
(1 +  ) = . Como  = → (1 +  ) = .
E 2 G E 2G


Como para um elemento a →  =  x , em um estado biaxial de tensões, se obtém:
4

x x E
(1 +  ) = → G= (7).
E 2G 2(1 +  )

2) Relação entre G, E e ν (Considerando uma força de tração - dedução 2)

Considerem-se dois elementos A e B numa placa ambos tendo arestas unitárias. O elemento
A está alinhado com o eixo enquanto o elemento B está rotacionado de 45º (/4) em relação
à direção horizontal. O primeiro desses elementos está sujeito apenas a tensões normais x
nas faces perpendiculares à direção do eixo. Já o elemento B possui tensões axiais  e
tensões de cisalhamento  e em suas faces ortogonais, dadas por:

( x −  y )
  =  x cos2  +  y sen 2  e   = sen 2 ,
2

A indicação dessas tensões nas faces do elemento e no plano da placa é dada por:

253
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 ( x −  y ) x   
Quando  = →  = sen 2 ⸫  y = 0 →   = sen  2   →   = x
4 2 2  4 2

Por sua vez:

x
  =  x cos2  +  y sen 2  , com  y = 0 →   = .
2

Sob a ação de uma força de tração, o elemento B sofre deformação de tal maneira que a
distorção imposta provoca variação nos ângulos que eram perpendiculares, fazendo com que,
em um dos lados esses se tornem obtusos (/2+), e nos outros agudos (/2-). Ao mesmo
tempo, a aresta vertical tem uma diminuição de comprimento dada por (1-y) enquanto a
dimensão horizontal sofre um alongamento dado por (1+x) :

Da configuração expressa na figura anterior, podem ser extraídas as seguintes relações


trigonométricas:

 
 −  1−  y     1−  y
tg  2 = → tg  −  = (1).
 2  1+  x  4 2  1+  x
 

Sabe-se que:

 
tg − tg
   4 2 , e como γ é pequeno pode-se fazer tg  =  , logo:
tg  −  =
 4 2  1 + tg  tg  2 2
4 2

254
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig


1−
   2
tg  −  = (2).
 4 2  1+ 
2

A igualdade de (1) com (2) leva a:


1−
2 = 1 −  y → 1 −   (1 +  ) = 1 +   (1 − ) ,
 1+  x   x   x
1+  2  2
2

       
1+  x − −  x = 1 + − x − x → − − −  x +  x = − x −  x ,
2 2 2 2 2 2 2 2

 
(1 + 1 +  x − x ) =  x (1 + ) →  2 +  x (1 − ) =  x (1 + ) ,
2 2

  x (1 + )  x (1 + )
= →= .
2 2 +  x (1 − ) x
1 + (1 − )
2

Considerando a deformação x pequena quando comparado à unidade, pode-se fazer que:

 x (1 +  )
= .
1

 x  x
Lembrando que  = , x = e que quando  = → = , tem-se:
G E 4 2

 x x x E
= (1 +  ) → = (1 +  ) → G = .
G E 2G E 2(1 +  )

Pode ser visto que:

E E
Para  = 0,5 → G = = → G = 0,33E .
2(1 + 0,5) 3
E E
Para  = 0, 2 → G = = → G = 0, 42 E .
2(1 + 0, 2) 2, 4
E E
Para   0, 0 → G = = → G = 0, 5 E .
2(1 + 0) 2

47. COMPONENTES DE TENSÕES

Para uma situação de carregamento genérico temos um estado mais geral para o estado de
tensões e analisamos as tensões para um ponto I situado no interior de um corpo genérico.

255
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Figura 47-1. Sólido em equilíbrio submetido a forças externas e de volume.

Considere-se um sólido genérico em equilíbrio como mostrado na Figura 47-1, onde F1, F2,
F3 são forças atuantes, provenientes do carregamento qualquer. P é a força peso. Extraia-se
de seu interior um cubo de aresta a que contém o ponto I Se o sólido está em equilíbrio o
cubo também estará. As tensões que agem sobre o ponto diferem um pouco daqueles que
agem nas faces do cubo, desaparecendo à medida que a aresta a tende a zero.

Figura 47-2. Cubo de aresta “a" com as componentes das tensões.

Nesse cubo estão representadas as nove componentes das tensões (σx, σy, σz, τxy, τxz, τyz, τyx,
τzx, τzy) que agem segundo as direções x, y, z nas 3 faces visíveis do cubo. Nas outras 3 faces
não visíveis agem as mesmas tensões de sinais contrários, portanto tem-se um total de
6 x 3 = 18 tensões.

σx, σy, σz são as tensões normais que agem nas faces perpendiculares a seus eixos. τxy
representa a componente y que atua na face perpendicular ao eixo x, assim como τyx
representa a componente x que age na face perpendicular a y.

Para que se obtenham as forças normais e cortantes nas várias faces do cubo, deve-se
multiplicar as componentes das tensões pela área da respectiva face. Assim, para serem
encontradas a força normal e as de cisalhamento na face perpendicular a x, multiplicam as
componentes que atuam nessa faze por sua respectiva área, portanto:

N x =  x Azy
Vxy =  xy Azy O que deve ser estendido às outras faces.
Vxz =  xz Azy

256
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Como o cubo deve permanecer em equilíbrio estático, então as condições para o equilíbrio
espacial devem ser atendidas, de forma que:

F x =0, F y =0, F z = 0, M x = 0, M y =0, M z = 0.

Considere-se o diagrama de corpo livre anterior centrado no ponto I posicionado no centro


do cubo:

Figura 47-3. Eixos cartesianos situados no centro do cubo.

Considerem-se os esforços que produzem momento em torno do eixo z. Esses esforços são
são Vxy e Vyx,, que são obtidos por:

Vxy =  xy Azy ,
Vyx =  yx Azx .

A área desse face em que esses esforços atuam são Azy = Azx = a  a e a distância em relação
ao centro do cubo é definida por a/2. É de interesse recordar que:

Tração ⇒ positiva
Tensão normal:
Compressão ⇒ negativa

Sentido horário ⇒ positiva


Tensão de cisalhamento:
Sentido anti-horário ⇒ negativa

Pela condição de equilíbrio estático da rotação em torno do eixo z, o momento produzido


por Vxy e Vyx em relação ao centro do cubo deve ser zero. A convenção da Estática preconiza
que momentos anti-horários sejam positivos e momentos horários sejam negativos. Portanto,
a equação de equilíbrio pode ser escrita como:

M = 0 → ( xy a 2 ) − ( yx a 2 ) = 0 →  xy =  yx .
a a
z
2 2

Em face do resultado anterior, pode ser concluído que as componentes de cisalhamento


situadas em planos ortogonais são iguais e de sentidos contrários. Essa conclusão deve ser
estendida às outras faces do elemento.

Como as tensões de cisalhamento que atuam em planos ortogonais são iguais e de sentidos
contrários só há necessidade de se calcular, então, 6 componentes de tensões, que são:

σx, σy, σz, τxy, τyz, τxz,


257
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

pois que  xy =  yx ,  yz =  zy e  xz =  zx .

Pode-se colocar essas componentes dispostas em uma matriz. Com isso, a lei de elasticidade
linear pode ser escrita em forma matricial onde a matriz das tensões   e das deformações
  em notação cartesiana, ou técnica, aparecem da seguinte forma:

 x  x 
   
 y  y
   
  =  z     =  z  .
 xy   xy 
 yz   yz 
   
 xz   xz 

Portanto,  61 =  D 66  61 , que em notação indicial se torna:  i = Dij j .

A matriz  D representa uma lei constitutiva para o material. Para materiais isotrópicos, essa
lei relaciona o módulo de elasticidade e o coeficiente de Poisson da seguinte maneira:

   
 1 1 − 1 −
0 0 0 
 
  1

0 0 0 
1 − 1 − 
 
  
1 0 0 0 
E (1 − ) 1 − 1 − 
 D =  1 − 2 .
(1 + )(1 − )  0 0 0 0 0 
 2(1 − ) 
 1 − 2 
 0 0 0 0 0 
 2(1 − ) 
 1 − 2 
 0 0 0 0 0 
 2(1 − ) 

Por outro lado, no Estudo Clássico das Tensões as tensões normais e de cisalhamento são
obtidas por meio de um operador matemático chamado de tensor.

Tome-se um corpo em equilíbrio:

Figura 47-4. Teoria clássica das tensões.

258
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

A tensão normal será:  =   n ;


e a de cisalhamento:  =  −  ;
onde  é o vetor tensão que depende do ponto e o plano considerado:
 = ( P, Plano  ) . Portanto,  =  ( P, n ) , com n sendo a normal externa ao plano.

Escrevendo a matriz completa das tensões:

 xx  xy  xz 
  =  yx  yy  yz  ,
  zx  zy  zz 
 

que em notação tensorial, pode vir como:

 T11 T21 T31 


T  = T12 T2 2 T32  ,
T13 T23 T33 
 

onde T  representa o Tensor das tensões, que aplicado à normal externa à face definida
pelo plano fornece a tensão no ponto e no plano de interesse. Portanto, esse Tensor é função
do ponto e do plano em consideração.

Logo, pode-se fazer:

T = T ( P,  ) ;
 =T n;
 =   n →  = n  (T  n ) ;
 =  − .

Por exemplo, se se desejam as tensões na direção x usa-se o versor dessa direção:

 xx  xy  xz  1   xx 
 
 yx  yy  yz   0  =  yx  ,
  zx  zy  zz  0    zx 

na direção y, o versor da direção y:

 x  xy  xz  0    xy 
     
 yx  y  yz   1  =  yy  ,
 zx  zy  z  0    zy 
   

de forma análoga, para a direção z:

259
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

 xx  xy  xz  0   xz 
 
 yx  yy  yz   0  =  yz  .
  zx  zy  zz  1   zz 

48. TENSÕES PLANAS

Considerando que duas das faces do cubo elementar se encontram isentas de tensões, o que
ocorre em placas finas e superfícies livres de peças estruturais, as componentes das tensões
reduzem-se a três tensões a se determinar σx, σy, τxy. As componentes em relação à z são
iguais a zero. Esta condição caracteriza um Estado Plano de Tensões.

Figura 48-1. Cubo com uma das faces isenta de tensões.

Seja um corpo em Estado Plano de Tensões dado pela figura abaixo.

Figura 48-2. Elemento em Estado Plano de Tensões.

Defina-se um plano p-q formado a partir de um ângulo θ com o plano da face lateral direita,
onde atua a tensão x, conforme Figura 48-3. Pode ser observado que sendo n perpendicular
e v paralela à direção do plano p-q, as tensões segundo essas direções serão  e ,
respectivamente. Essas componentes estão relacionadas aos esforços N e V, obtidos pelo
produto dessas tensões por suas respectivas áreas de atuação. No equilíbrio, essas forças
estarão associadas às componentes geradas pelos demais esforços, que devem ser
decompostas segundo as direções normal e paralela ao plano atribuindo-lhes os sinais
conforme sejam coincidentes ou não com as direções positivas indicadas para as direções n
e v, como se vê a seguir:

260
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Figura 48-3. Tensões em um plano inclinado.

Cada uma das faces do elemento está associada a uma área, de forma que, assumindo a
mesma inclinação θ, tem-se que:

Ax
A = ,
cos 
A
A = y ,
sen 

Ax A
cujas relações trigonométricas podem ser escritas como: cos  = e sen  = y .
A A

Para o equilíbrio das forças segundo a direção n, perpendicular ao plano p-q, é preciso
multiplicar cada componente pela área da face em que atuam. Daí, encontra-se:

F n = 0 →  A =  x Ax cos +  y Ay sen  +  yx Ay cos +  xy Ax sen  .

Dividindo todos os termos por A :

Ax A A A
 =  x cos  +  y y sen  +  yx y cos +  xy x sen  .
A A A A

Ax A
Como cos  = e sen  = y , pode-se escrever que:
A A

 =  x cos cos +  y sen  sen  +  yx sen  cos +  xy cos sen  ,

E considerando que  xy =  yx , tem-se:

  =  x cos2  +  y sen 2  + 2 xy sen  cos  ,

o que torna a equação igual a:

  =  x cos2  +  y sen 2  +  xy sen 2 (1)


261
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Equilibrando as componentes na direção v, tangencial ao plano, tem-se que:

F v = 0 →  A =  x Ax sen  −  y Ay cos +  yx Ay sen  − xy Ax cos .

Dividindo ambos os lados da equação por A :

Ax A A A
 =  x sen  −  y y cos +  yx y sen  −  xy x cos ,
A A A A

Ax A
Como cos  = e sen  = y , faz-se:
A A

 =  x cos sen  −  y sen  cos +  yx sen  sen  − xy cos cos ,

  = ( x −  y )sen  cos  +  xy (sen 2  − cos 2  ) ,

ou

  = ( x −  y )sen  cos  −  xy (cos 2  − sen 2  ) (2).

Uma versão mais compacta da equação anterior pode ser obtida usando-se as seguintes
relações trigonométrica:

sen(a + b) = sen a cos b + sen b cos a , e


cos(a + b) = cos a cos b − sen a sen b .

Se a = b = , obtém-se:

sen 2 = 2sen  cos , e


cos 2 = cos 2  − sen 2  ,

que substituídas na equação (2) conduz a:

( x −  y )
 = sen 2 −  xy cos 2 (3)
2

49. EXERCÍCIOS

Exercício 49.1.
Determine as tensões no plano inclinado da figura abaixo.

262
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Figura 49-1. Exercício 49.1.

É preciso, inicialmente, observar a convenção de sinais que foi adotada originalmente para
o equilíbrio do elemento no estado plano de tensões, onde positivas serão as tensões normais
de tração, e as tensões xy de cisalhamento que estiverem no sentido anti-horário. O sentido
positivo para o ângulo será a orientação trigonométrica, logo:

Tensões normais: . Cisalhamento: . Ângulo: .

A orientação positiva das componentes deve estar em conformidade com as orientações do


elemento originalmente utilizado para estabelecer as equações de equilíbrio, ou seja:

Orientação original das componentes no estado plano

Confrontando o elemento dado com as orientações estabelecidas, as componentes do


problema dado ficam:

 x = 500kgf / cm2 ;
 y = −800kgf / cm2 ;
 xy = −200kgf / cm2 ; e
 = −75º = (90º +15º ) = 105º .

 =  x ,
Pois quando  = 0 → Face x:
 = − xy .

Substituindo os dados do problema nas equações de cada componente, tem-se:

 −75 = 500cos2 (−75) + (−800)sen 2 (−75) + (−200)sen 2  (−75)  →  −75 = −612,92kgf / cm2

500 − (−800)
 −75 = sen  2  (−75)  − (−200) cos  2  (−75)  →  −75 = −498, 20kgf / cm2 .
2
263
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Os sinais negativos indicam que essas componentes possuem orientações contrárias às


estabelecidas, podendo ser representadas da seguinte forma:

Orientação positivas das componentes no plano inclinado

Logo, as componentes calculadas no presente problema estarão:

Orientação das componentes do problema

Uma avaliação adicional pode ser feita para incluir o estudo da variação do campo de tensões
do elemento fornecido no problema, realizada tanto para a componente normal quanto de
cisalhamento. Esse estudo revela posições de máximos e mínimos dessas funções e seus
valores correspondentes:

Para a função tensão normal:

Para a função tensão de cisalhamento:

264
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

50. TENSÕES PRINCIPAIS E EXTREMAS DE CISALHAMENTO

As tensões planas para o caso qualquer de carregamento são dadas por:

  =  x cos2  +  y sen 2  +  xy sen 2 ,

 =
( x − y )
sen 2 −  xy cos 2 .
2

Nesses casos o ângulo θ varia de 0 a 2 (ou de 0 a 360º) e as tensões oscilam entre valores
máximos e mínimos. Quando as tensões normais atingem seus valores mais elevados são
chamadas Tensões principais e os planos onde elas ocorrem são denominados de Planos
principais. No caso das tensões de cisalhamento não há uma nomenclatura própria para as
tensões máximas e mínimas e se diz apenas que são tensões extremas de cisalhamento.

Para que as tensões sejam máximas ou mínimas é preciso que:

d 
=0 (1),
d

d 
=0 (2).
d

Portanto, da equação (1), tem-se que:

d  d ( x cos  +  y sen  +  xy sen 2 )


2 2

= =0
d d

Assim:

 x  2cos (− sen  ) +  y  2sen  cos +  xy  2cos 2 = 0 (3).

265
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Multiplicando por -1 e colocando sen  cos em evidência na primeira parcela da equação:

( x −  y )sen  cos − xy cos 2 = 0 .

sen 2
Como sen  cos  = , pode ser escrito que:
2

sen 2
( x − y )
2
−  xy cos 2 = 0 .

Dividindo tudo por cos 2 :

( x −  y ) sen 2
−  xy
cos 2
=0.
2 cos 2 cos 2

Portanto:

( x −  y )  xy
tg 2 −  xy = 0 → tg 2 = .
2 ( x −  y )
2

É preciso observar que com a derivada primeira nula é encontrada uma posição específica
para a função tensão normal. Portanto, fazendo indicação para essa posição, tal que  = p,
para definir o ângulo onde ocorrem os planos principais, pode ser escrito que:

 
 xy   xy 
tg 2 P = ∴ 2 P = arctg  ,
( x −  y )  ( x −  y ) 
2  2 

o que leva a:

 
1   xy  1  2 xy 
 P = arctg   , ou seja,  P = arctg  .
2  ( x −  y )  2  ( x −  y ) 
 2 

Com isso, θP define o plano onde ocorrem as tensões principais, posição de máximo ou
mínimo da função tensão normal. Para conhecer se a posição dada por esse ângulo é uma
posição de máximo ou mínimo é preciso fazer a derivada segunda da função tensão normal,
de forma que se:

d 2  d 2 
 0 → Ponto de máximo, e  0 → Ponto de mínimo.
d 2 d 2

Portanto, derivando a equação (3), que é a derivada primeira da função tensão normal, tem-
se:

266
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

d ( x  2 cos  (− sen  ) +  y  2sen  cos  +  xy  2 cos 2 = 0)


=0,
d

2 x sen 2  − 2 x cos 2  + 2 y cos 2  − 2 y sen 2  − 4 xy  sen 2 = 0 .

Dividindo tudo por 2:

 x sen 2  −  x cos2  +  y cos2  −  y sen 2  − 2 xy sen 2 = 0 ,

 x (sen 2  − cos2  ) −  y (sen 2  − cos2  ) − 2 xy sen 2 = 0 ,

( x −  y )(sen 2  − cos 2  ) − 2 xy sen 2 = 0

Como cos 2 = cos 2  − sen 2  → − cos 2 = sen 2  − cos 2  , chega-se a:

−( x −  y )cos 2 − 2 xy sen 2 = 0 .

Dividindo ambas as parcelas por cos 2 , tem-se que:

−( x −  y )
−( x −  y ) − 2 xy tan 2 = 0 → 2 xy tan 2 = −( x −  y ) → tan 2 = .
2 xy

Logo, colocando um subíndice específico para o ângulo  da segunda derivada, chega-se a:

1  −( x −  y ) 
 2 = arctan   .
2 2 
 xy 

Se o valor encontrado para esse ângulo for menor que zero, a posição encontrada será relativa
à de máximo. Observe-se que a equação anterior é a mesma expressão que leva ao s.

Por sua vez, para o cisalhamento, fazendo a primeira derivada da equação (2) igual a zero,
tem-se:

 ( x −  y ) 
d sen 2 −  xy cos 2 
d   2 
=  = 0,
d d

é encontrado que:

( x − y )
2cos 2 −  xy 2(− sen 2 ) = 0 (4).
2

Dividindo toda a equação por 2cos 2 , tem-se:

267
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

( x −  y ) 2cos 2
+  xy
2sen 2
= 0,
2 2cos 2 2cos 2

( x − y )
+  xy tg 2 = 0 .
2

Estabelecendo  =  S como o ângulo que define o plano onde a tensão de cisalhamento é


extrema, pode ser escrito que:

( x −  y )  ( x −  y ) 
− −   −( x −  y ) 
1 1
tg 2 S = 2 →  S = arctg  2  , ou ainda,  S = arctg  .
 xy 2   xy  2  2 xy 
 

Para saber se essa abertura representa uma posição de máximo ou mínimo da função, pode
ser aplicada a mesma regra da derivada segunda, o que pode ser feito derivando a equação
(4), que é a derivada primeira da função tensão de cisalhamento. Dessa forma:

 ( x −  y ) 
d 2 cos 2 −  xy 2( − sen 2 ) 
 2 
=0,
d

−4
( x − y )
sen 2 + 4 xy cos 2 = 0 . Dividindo todas as parcelas por -4:
2

( x − y )
sen 2 −  xy cos 2 = 0 . Dividindo todas as parcelas por cos 2 , encontra-se:
2

( x − y )
tan 2 −  xy = 0 → tan 2 =
2 xy 1  2 xy
→  2 s = arctan 

  −  ,
2  x − y 2  x y 

que é o ângulo que corresponde à p. Complementarmente, pode ser observado que a
derivada primeira da expressão da tensão axial fornece da tensão do cisalhamento. Tanto θP
quando θS são tomados no sentido trigonométrico em relação ao eixo x. Substituindo θP e θS
em suas respectivas equações de origem, equações (1) e (2), chega-se a:

x + y   x − y 
2

 Máx
Mín =    +  xy → Tensões principais,
2

2  2 

  x − y 
2

 Máx
Mín =   +  xy → Tensões extremas de cisalhamento,
2

 2 

cuja demonstração será feita por meio do diagrama circular de Mohr. A questão algébrica
corresponde à definição das tensões principais no campo da análise matricial recai na solução
268
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

de um problema de autovalores e autovetores da matriz das tensões. Deve ser notado que as
tensões principais, nesse caso, representam as invariantes da matriz das tensões. Portanto,
essa matriz será formada apenas pelas componentes da diagonal principal, configurando um
estado triaxial de tensões, ou Tensões triaxiais:

 xx 0 0 
 P  =  0  yy 0  .

 0 0  zz 

51. DIAGRAMA CIRCULAR DE MOHR

Os objetivos básicos são dois: primeiro, com a interpretação gráfica das equações poderá ser
atingida uma melhor compreensão do problema geral da transformação de tensão. Segundo,
com a ajuda da construção gráfica, é possível obter, frequentemente, uma solução mais
rápida para os problemas de transformação de tensão. Logo, as equações para  e  podem
ser representadas graficamente, pois são as equações paramétricas de uma circunferência,
por meio de um diagrama conhecido como Círculo de Mohr.

Recorda-se que no estado plano de tensões original, conforme indicado a seguir, o Círculo
de Mohr, que se destina a representar qualquer tensão no estado plano, pode ser traçado para
o ponto I de coordenadas  e . Portanto: I = (  ,  ) .

Figura 51-1. Orientação básica das componentes em estado plano.

É importante observar que quando  = 0 a face inclinada coincide com a face lateral direita,
face X, e as coordenadas do ponto I = X são   =  x e  = − xy , pois  xy fica orientada de
forma contrária à   (e ao eixo y):

Quando  = 90 o plano coincide com a face superior, face Y do elemento e as coordenadas
do ponto I = Y são  =  y e  =  xy ( xy =  yx ) com  yx positiva pois coincide com a
orientação de   (e do eixo x).

269
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Disso decorre que, para o traçado do diagrama circular de Mohr os pontos X e Y a serem
utilizados, são:

X = ( x , − xy ) ,
Y = ( y , xy ) .

Portanto, o traçado do Círculo é feito para as tensões   e   , admitindo-se um ângulo


genérico θ, que para os casos particulares de  = 0 e  = 90 as tensões   e   coincidem
com as componentes atuantes em cada face, com os correspondentes sinais. Assim, a
representação no diagrama é realizada para um ponto I no plano definido pelo ângulo  e
dado por (  ,  ) .

Fazendo as coordenadas do ponto I como X e Y, tem-se que:

– Ponto X = ( x , − xy ) , quando  = 0 →   =  x e  = − yx .
– Ponto Y = ( y , xy ) , quando  = 90 →  =  y e  =  yx =  xy .

Na construção do diagrama, são marcadas no eixo das abscissas as tensões normais e no eixo
das ordenadas as tensões de cisalhamento. Adota-se uma escala conveniente ao traçado.

Procedimento para a construção do diagrama:

1 – Com as coordenadas dos pontos X e Y marcam-se os pontos nos eixos ortogonais do


diagrama usando uma escala conveniente ao traçado. Esses pontos são sempre opostos em
relação ao eixo das abcissas. No círculo de Mohr eles estão defasados de 180°, enquanto no
estado plano estão defasados de 90°. Portanto, os ângulos no estado plano de tensão
representados no diagrama de Mohr terão o dobro do valor.

270
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

2 – A união dos dois pontos estabelece o diâmetro do círculo. O ponto onde essa reta
intercepta o eixo das abscissas estabelece centro, ponto C, e, consequentemente, o raio do
diagrama, segmentos CX e CY . Com isso, são também definidos os segmentos OB , OD
e DX . Portanto: C = Centro do círculo; CY = CX = raio de círculo.

3 – Com o compasso centrado no ponto C e com abertura em X ou Y, traça-se a


circunferência. Com isso, são caracterizadas novas intersecções com o eixo das abscissas,
definindo os segmentos OA e OE , que servem de base para a determinação das tensões
principais, mínima e máxima. Logo, como se vê, o eixo das abscissas é o plano das tensões
principais. Para a determinação dessas tensões, mede-se, para  Mín , o valor da abscissa OA ,
 Mín = OA , e, para  Máx , o valor da abscissa OE ,  Máx = OE .

4 – Para as tensões de cisalhamento Extremas, deve ser observado o eixo das ordenadas. A
máxima,  Máx , tem ordenada positiva, segmento CF , e a mínima,  Mín , tem ordenada
negativa, segmento CG .

271
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

5 – Como os ângulos no estado plano de tensão representados no diagrama de Mohr têm o


dobro do valor, o ângulo formado entre o eixo horizontal do diagrama e a reta que une X a Y
será 2θP, tomado como positivo se for no sentido trigonométrico. Assim –2θP terá o sentido
contrário, ou horário. Os planos relativos às tensões de cisalhamento têm, no diagrama de
Mohr, 90º em relação à horizontal. Portanto, terão abertura de 45º em relação aos planos
principais quando representados no elemento em estado plano.

6 – É possível definir qualquer valor para as tensões nos diversos pontos do diagrama. Para
um ponto I definido pelo ângulo  no estado plano de tensões haverá correspondência para
uma abertura igual a 2 no diagrama circular, tomado com a mesma orientação, o que
conduzirá às tensões  e .

Figura 51-2. Construção do diagrama circular de Mohr.

Pelo diagrama de Mohr, observa-se que:

OC = OB + BC , onde

OD − OB
BC = CD = .
2
 x − y
Como OB =  y e OD =  x , resulta que: BC = CD = .
2

 x − y 2 y +  x −  y x + y
Portanto, OC =  y + → OC = → OC = ,
2 2 2

272
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

que é a tensão normal média, centro do círculo. O raio R do diagrama é definido pelo
triângulo retângulo:

2 2 2
CX = DX + CD .

2 2
Como R = CX → R2 = DX + CD .

Nessa configuração, os catetos do triângulo são:

  − y 
DX =  xy e CD =  x .
 2 

Assim,

  − y 
2

R =  xy
2 2
+ x  =  Mín ,
Máx

 2 

que é a tensão extrema de cisalhamento (máxima e mínima). Por sua vez, o ângulo que leva
ao plano das tensões principais é definido por:

DX  xy 1  xy
tg 2 P = = →  P = arctg ,
CD  x −  y 2  x − y
2 2

enquanto o que leva ao plano das tensões extremas de cisalhamento é dado por:

 x − y  x − y
CD 1
tg 2 S = − =− 2 →  S = − arctg 2 .
DX  xy 2  xy

As tensões principais,  Máx e  Mín serão obtidas somando e subtraindo da tensão média o
raio:

 Mín
Máx
= OC  R , logo:

x + y   x − y 
2

 Máx
Mín =   xy 2
+  ,
2  2 

e as tensões extremas  Máx e  Mín são iguais ao próprio raio, uma com o sinal positivo e outra
com o negativo:

  x − y 
2

 Máx
Mín =   xy 2
+  .
 2 

273
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

É de interesse registrar que no emprego das expressões para o  e  , que foram obtidas a
partir das condições de equilíbrio, o sinal das componentes já está implícito na dedução.
Assim, no uso daquelas equações, o sinal positivo das componentes de cisalhamento deve
obedecer à orientação dos eixos cartesianos:

e as componentes das tensões axiais são positivas conforme sejam de tração:

com as tensões que atuam no plano inclinado de  sendo, portanto, positivas se estiverem
com as seguintes orientações:

Em suma, as componentes serão positivas se as tensões normais forem de tração e a


componente xy estiver no sentido anti-horário, de forma que:

Comentários sobre o sinal das componentes no círculo de Mohr foram feitos anteriormente.
Cabe mencionar que no diagrama circular de Mohr é possível representar qualquer estado
de tensões, a exemplo de:

Ensaio de tração:

 xx 0 0
 0 0 0 

 0 0 0 

Ensaio de compressão:

274
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

 − xx 0 0
 0 0 0

 0 0 0

Corte puro:

 0  xy 0
 0
 yx 0
 0 0 0 

52. EXERCÍCIOS
Exercício 52.1.
Para o elemento esquematizado na figura, pede-se:
a) As tensões em planos cujas direções formam um ângulo de 20º.
b) Tensões nos planos principais.
c) Tensões de cisalhamento extremas e planos onde elas ocorrem.

Figura 52-1. Exercício 52.1.

É preciso recordar o Estado de Tensões original para facilitar o emprego dos sinais e a
orientação do ângulo :

1) Analiticamente:

275
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Tensão normal a 20º:

  =  x cos2  +  y sen 2  +  xy sen 2 ,

 20 = −200cos2 20 + 800sen 2 20 + 400sen(2  20) →  20 = 174,093kgf / cm2 .

Tensão de cisalhamento a 20º:

 =
( x − y )
sen 2 −  xy cos 2 ,
2

−200 − 800
 20 = sen(2  20) − 400 cos(2  20) →  20 = −627,812kgf / cm2 .
2

Tensão principal máxima:

x + y   x − y 
2

 Máx = +  xy 2
+  ,
2  2 

−200 + 800  −200 − 800 


2

 Máx = + 4002 +   = 940,312kgf / cm .


2

2  2 

Tensão principal mínima:

x + y   x − y 
2

 Mín = −  xy 2
+  ,
2  2 

−200 + 800  −200 − 800 


2

 Mín = − 4002 +   = −340,312kgf / cm .


2

2  2 

Tensões extremas (máximas e mínimas) de cisalhamento:

  x − y 
2

 Máx
Mín =   xy 2
+  ,
 2 

 −200 − 800 
2

 Máx
Mín =  400 +  2
 = 640,312kgf / cm .
2

 2 

Planos principais e de cisalhamento extremo:

1  xy 1 400
 P = arctg →  P = arctg →  P = −19,33 .
2  x − y 2 −200 − 800
2 2

276
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 x − y −200 − 800
1 1
e  S = − arctg 2 →  S = − arctg 2 →  S = 25, 67 .
2  xy 2 400

É possível observar que a abertura dada pela soma dos ângulos é de 45º.

1) Graficamente:

Escala: 1 cm = 100 kgf/cm2. Ponto X = (−200, −400) . Ponto Y = (800, 400) .

O estudo da variação das funções tensão normal e de cisalhamento para o estado de tensões
apresentado no enunciado do problema, assim como o diagrama circular de Mohr podem ser
vistos a seguir elaborados em um programa de base matemática, assumindo uma variação
de 360º para . Como p é negativo (-19,33º) esse leva ao plano da tensão mínima (
−340,312kgf / cm2 ). Para se chegar ao plano da tensão max é preciso percorrer mais 90º no
sentido horário (180º do círculo de Mohr), ou seja, p - 90º = -109,33º. Adotando valores
negativos para o ângulo é possível ver a variação das tensões normal:

277
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940,312kgf / cm 2

−340,312kgf / cm2
-19,33º

-109,33º
Variação da tensão normal ( < 0).

Para observar a variação da tensão de cisalhamento, a melhor opção é o giro no sentido anti-
horário (positivo):

−640,312kgf / cm2

25,67º

Variação da tensão de cisalhamento (  0).

O diagrama de Mohr, para o estado de tensão dado é:

Diagrama circular de Mohr.

Exercício 52.2.
278
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Para um elemento no interior de um corpo encontrou-se para um plano as tensões


1 = 8 N/mm2 e 1 = 3 N/mm2 e para outro plano 2 = 5 N/mm2 e 2 = 1 N/mm2. Pede-se
determinar as tensões principais e extremas de cisalhamento.

Solução:

Para a solução desta questão é preciso estar munido de um par de esquadros, compasso e
escalímetro. É preciso adotar uma escala para colocar os pontos dados no diagrama onde as
tensões normais estarão no eixo das abcissas e as de cisalhamento no eixo das ordenadas.

Definindo os pontos: 1 = (8,3); 2 = (5,1) .

1º Passo: marcar os pontos de coordenas 1: (8;3) e 2: (5;1), escolhendo adequadamente uma


escala. Nesse caso escolheu-se 1:100. No eixo das abscissas marcam-se as tensões normais
 e no eixo das ordenadas as tensões de cisalhamento .

2º Passo: unir os pontos 1 e 2, definindo uma corda da circunferência.

279
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3º Passo: marcar traços acima e abaixo do segmento estabelecido com a união dos pontos 1
e 2, tomando uma abertura do compasso maior que a metade, apoiando-se em 1 e 2 com a
mesma abertura, marcar os pequenos arcos acima e abaixo da reta 1-2.

4º Passo: unir as marcações acima e abaixo da reta 1-2, dividindo esse segmento ao meio e
estendendo a mediatriz até a interseção com a abscissa, de forma a estabelecer o centro do
diagrama circular.

5º Passo: centrar do compasso na interseção com a abcissas para traçar a circunferência com
a abertura do compasso em 1 ou 2. Assim, ficam definidas as tensões principais e de
cisalhamento ao serem medidos, na escala escolhida, o tamanho dos segmentos que estão
mais distantes e mais próximo da origem. Na horizontal tem-se as tensões principais e na
vertical as tensões extremas de cisalhamento.

280
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A tensão normal máxima é aproximadamente 8 N/mm2, a tensão normal mínima é de


aproximadamente  N/mm2 e a tensão de cisalhamento extrema é de aproximadamente +
ou -  N/mm2.

52.1. TENSÕES PRINCIPAIS TRIAXIAIS

Cabe observar, adicionalmente, que para o estado plano de tensões original tem-se:

Portanto, há um elemento situado em um plano definido por p no qual só há tensões axiais,


que são os planos principais.

Isso quer dizer que, se se acrescentar uma tensão no elemento definido pelo plano principal,
a situação não é alterada, podendo o problema ser tratado como estado plano de tensão
orientado segundo os eixos principais de tensão, formando três estados planos ou distintos
definidos pelos pares de pontos:

281
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onde:
(σ1, σ2),
(σz, σ2),
(σz, σ1),

que sendo traçados no diagrama de Mohr permitem conhecer qual a tensão máxima de
cisalhamento. A face Az (perpendicular a z) permanece sem tensão de cisalhamento,
portanto:

x’, y’, z’ são as direções principais:

Figura 52-2. Estado triaxial de tensões.

Diz-se que um elemento está em estado triaxial de tensões quando se encontra sujeito a
tensões σx, σy, σz em três direções ortogonais. As tensões σx, σy, σz são as tensões principais
no elemento. As tensões máximas de cisalhamento estarão em um plano a 45º paralelo a um
dos eixos coordenados, dependendo do valor relativo de σx, σy, σz.

Figura 52-3. Estado triaxial de tensões principais.

Os eixos x’, y’ e z’ são denominados eixos principais de tensões. No círculo de Mohr esse
eixo vai corresponder à origem “O”, onde σ = τ = 0. Busca-se um giro em que as tensões σx’,
σy’, σz’ sejam as principais. Assim sendo, esse giro faz com que desaparecem as tensões de
cisalhamento. Ao se considerar o estado tridimensional de tensões principais, as tensões
máximas de cisalhamento podem ocorrer fora do plano x-y, caso em que as tensões principais
possuem sinais iguais. É importante deixar claro que essas transformações são válidas para
os planos principais, ou seja, as direções principais.

282
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Esse estado triplo de tensões principais é representado em um diagrama circular por três
círculos distintos. Se todas as componentes forem positivas e σz’< σy’< σx’ a tensão de
cisalhamento máxima estará fora do plano x-y.

Figura 52-4. Tensão de cisalhamento máxima fora do plano x-y.

Entretanto, a tensão máxima de cisalhamento, estará no plano x-y se as componentes σy’e


σx’ tiverem sinais contrários:

53. EXERCÍCIOS

Exercício 53.1.
Determinar, para o estado de tensões indicado, a tensão de cisalhamento máxima, quando:

a)  y = +48MPa ,
b)  y = −48MPa ,
c)  y = 0 .

Solução:

283
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É importante observara que o estado tridimensional de tensões pode ser associado ao estado
plano de tensões no plano zy e mais o eixo x. Portanto faz-se a transformação para o plano
de tensões principais nesse plano (zy) e adiciona-se, após a transformação, o eixo x.

a) Definem-se os pontos: 1 = (48,32) , 2 = (0, −32) para o traçado do diagrama, em escala:

Obs.: A tensão de cisalhamento máxima está no plano z’x.

b)

c)

284
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Obs.: Quando as tensões axiais que agem em planos distintos são do mesmo sinal, a tensão
de cisalhamento máximo ocorreria fora do plano dessas tensões enquanto no caso de terem
o mesmo sinal, a tensão máxima de cisalhamento será a tensão máxima de cisalhamento
desses planos.

1)

 −20 − 48 
2

 Máx =   = 34MPa
 2 

(2)

285
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(3)

Obs.: Se fosse separadamente a tensão de cisalhamento máxima não apareceria nos


diagramas

54. TORÇÃO PURA

54.1. ANÁLISE DAS DEFORMAÇÕES

Uma barra circular estará sob torção pura quando estiver carregada por binários T aplicados
em suas extremidades. Os binários, ou conjugados, T podem ser denominados momentos de
torção, momentos torcionais ou TORQUE.

286
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Figura 54-1. Torção pura: Análise das deformações.

As seções α e β são seções planas circulares e adjacentes, separadas por uma distância dx. O
torque T pode ser representado por usa seta curva ou por uma com duas pontas que obedece
à regra da mão direita, onde o polegar tem a direção do vetor e sua ação é dada pelos demais
dedos da mão.

Durante a torção:

1 – Haverá a rotação do eixo longitudinal de uma extremidade em relação à outra.


2 – Considerando a extremidade esquerda fixa a da direita gira de um ângulo .
3 – Se o ângulo total de rotação for pequeno não haverá variação nem do raio nem do
comprimento da barra.
4 – Enquanto a seção gira de  em relação à outra, uma linha (fibra) situada na superfície da
barra gira de um pequeno ângulo .
5 – Com o giro, um ponto m situado na superfície da barra e na extremidade direita assume
uma nova posição n, descrevendo o arco mn .
6 – Todas as seções transversais se mantêm planas e conservam suas formas, isso se dá
porque o eixo circular é assimétrico, ou seja, sua aparência se mantém, mesmo quando é
observado de um ponto fixo e é rodado de certo ângulo arbitrário.
7 – α e β são seções planas circulares adjacentes, mas não muito próximas do ponto de
aplicação do esforço (T).
8 – O esforço torsor provoca o aparecimento de tensões de cisalhamento na superfície, assim
como no interior do cilindro, nas suas respectivas seções transversais.

9 – Considerando o elemento infinitesimal dx situado entre duas seções adjacentes  e ,

Figura 54-2. Elemento diferencial dx em torção.


287
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Pode ser observado que:

» ab e cb são fibras genéricas na superfície da barra,


»  é a deformação de cisalhamento ou distorção, medida pela variação do ângulo formado
pelos lados do elemento e expresso em radiano.
» A peça (ou elemento dx) se encontra em corte puro.
» Cada seção gira como uma placa rígida, mantendo-se plana e indeformável.
» Durante a torção a seção da direita gira em relação à face oposta.

A cinemática do problema para pequenas rotações (deformações), implica que o arco bb '
pode ser aproximado a um segmento de reta bb ' pois que γ é pequeno, daí:

bb ' = bb ' .

Disso resulta a formação de um triângulo retângulo onde os segmentos bb ' e dx são seus
catetos e a distorção  é o ângulo entre o cateto adjacente e a hipotenusa:

bb '
Da relação entre os catetos do triângulo, tem-se que: tg  = .
ab

E por ser γ pequeno a tangente do ângulo pode ser aproximada pelo próprio ângulo, ou seja:

bb '
tg  =  ∴  = .
ab

Como dx tem o comprimento da fibra ab , pode ser escrito que:

bb ' bb '
= → = .
ab dx

Por sua vez, na seção transversal, bb ' é um pequeno arco de raio r, então: bb ' = rd , logo:

rd
r = .
dx

Cabe mencionar que o subíndice r indica que a deformação está relacionada à essa posição
na seção. Na rotação pura, a taxa de variação d é constante no comprimento dx, então:

d
= constante e será definida por θ, daí:  r = r .
dx

Estendendo essa análise para toda a barra: d =  e dx = L , logo:


288
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig


= (1),
L

e, portanto,

r
r = (2),
L

onde:

 → é o ângulo total de rotação,


L → é o comprimento da barra.

Pela expressão anterior pode ser verificado que a deformação é proporcional ao ângulo
torcido e ao raio de seção transversal, e inversamente proporcional ao comprimento da peça.

Levando essa análise a posições no interior do eixo, que estejam situados a uma distância 
do centro da circunferência, as deformações para esses elementos serão semelhantes àquelas
situadas na superfície, na posição do raio r e podem ser obtidas de modo análogo.

Figura 54-3. Elementos no interior do eixo circular.

Nesse caso, a expressão para a deformação de um elemento situado a uma distância ρ do


centro, é:

 L
  =  . Substituindo  da equação (1), encontra-se:   =  . Assim,  = (3).
L 

Sabendo-se que a distorção máxima ocorre na superfície do cilindro, tem-se que:

rL
= (4).
r

Igualando as duas expressões anteriores, (3) e (4), encontra-se:

L rL 
= →  = r ,
 r r

o que mostra que a deformação em um elemento no interior da barra é uma fração daquela
que ocorre na sua superfície, uma vez que ρ varia de zero a r.

54.2. ANÁLISE DAS TENSÕES


289
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As tensões que são geradas na torção são tensões de cisalhamento e, para um momento torsor
positivo, possuem o sentido indicado.

Se uma barra fosse formada pela superposição de placas sucessivas, o momento torsor
provocaria um deslizamento relativo entre as placas. Em materiais homogêneos esse
deslizamento não ocorre, porém a sua tendência permanece, provocando, assim, o
aparecimento das tensões.

Cabe observar que quando aparecem tensões de cisalhamento em um plano, ocorrem


idênticas tensões no plano ortogonal. Portanto, as tensões que agem no plano da seção
transversal são acompanhadas de tensões iguais que atuam em planos paralelos ao eixo
longitudinal. Em muitos casos, ocorre o aparecimento de fissuras na superfície do elemento,
segundo a direção do eixo. É importante fazer essa observação porque existem materiais que
possuem tolerâncias distintas para tensões de cisalhamento transversais e longitudinais
(como a madeira), além do fato de que as tensões de cisalhamento induzem tensões axiais
em planos oblíquos.

Como às deformações estão no regime elástico, ou seja, as tensões estão abaixo da tensão de
escoamento, a lei da elasticidade linear pode ser aplicada:

 = G .

Na superfície da barra:


 r = G r = Gr = Gr ∴  r = Gr (5),
L

que é a expressão que relaciona as tensões na superfície com o ângulo de torção por unidade
de comprimento.

No interior da barra:

  = G (6)

A equação (6) relaciona as tensões de cisalhamento com a distância ao centro da seção,


mostrando que a tensão varia linearmente com essa distância, partindo de zero e aumentando
na direção da superfície. Pode, também, ser escrito que:


  = G .
L

r  
Igualando  = , da equação (5), com  = , da equação (6), tem-se:   =  r .
Gr G r

290
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Isso revela que as tensões no interior da seção são valores percentuais da tensão máxima,
variando linearmente do centro para a extremidade, conforme ilustrado a seguir.

Figura 54-4. Variação das tensões no interior do eixo circular.

Tome-se um elemento de área dA, em uma seção circular, como indicado na Figura 54-5:

Figura 54-5. Elemento infinitesimal de área dA na seção circular.


r
Esse elemento diferencial de área é definido por dA = 2 d  , logo A =  2 d  .
0
r
Como 2 é constante, a integral pode ser expressa por: A = 2   d  → A =  r 2 .
0

O momento elementar mobilizado por uma força interna dF agindo sobre o elemento de área
dA é dado por

dM =  dF , cuja integral sobre toda a área leva ao somatório dos momentos internos. Logo:

M =   dF ,
A

que é o momento total das forças internas. Devido ao fato de a barra estar em equilíbrio
estático, o momento resultante interno deve ser igual ao torque externo aplicado, ou seja, o
somatório de todos os produtos das forças elementares dF por suas respectivas distâncias ao
centro da seção. Assim sendo, tem-se que a soma de todos os momentos elementares deve
equilibrar o momento torsor externo. Portanto, no equilíbrio, e admitindo a
proporcionalidade entre esforços internos e externos, tem-se que:

291
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

M =T .

As tensões geradas pelo momento torsor são de cisalhamento, de forma que:

dF
= → dF =  dA .
dA

Como dM =  dF e dF =  dA → dM =  dA (7).

Da equação (6) vem que   = G , portanto, a equação (7) fica dM = G  2 dA , que
integrada para toda a área da seção, leva a:

M = G   2 dA ,
A

onde M é o momento interno que equilibra o esforço externo T aplicado. Definindo

  dA = J ,
2

como o Momento de Inércia Polar e tendo que no equilíbrio M = T, pode-se escrever:

T
T = G J ∴  = (8).
GJ


Da equação (1),  = . Essa expressão pode ser igualada à equação (8), de forma que:
L

 T
= .
L GJ

Logo:

TL
= (9).
GJ

A equação (9), anteriormente desenvolvida, fornece o ângulo de giro total de uma seção
transversal sob torção. Como pode ser visto, esse ângulo é proporcional ao esforço T e ao
comprimento da barra L e inversamente proporcional à grandeza GJ, conhecida como
produto de rigidez à torção, que envolve uma propriedade elástica e outra geométrica. O
produto de rigidez à torção representa o quão fácil ou difícil é para girar um eixo.

Cabe registrar que a expressão anterior é usada para determinar o módulo e elasticidade
transversal (G) em um ensaio de torção, uma vez que relaciona o ângulo de giro com o
momento torsor.


Lembrando que   = G →  = . Portanto igualando essa relação com (8), tem-se que:
G

292
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 T T
= →  = (10),
G  GJ J

que é a equação que relaciona a tensão de cisalhamento ao torque e à distância ao centro da


seção.

Quando  = r →   =  r =  Máx , logo:

Tr
r = =  Máx (11).
J

Importante observar que as fórmulas para a torção não podem ser usadas para determinar
tensões próximas às seções onde o momento de torção está aplicado, nem próximo a uma
seção onde ocorre uma variação abrupta de diâmetro. Portanto, cabe esclarecer que:

– As expressões estão restritas ao regime elástico do material,


– As forças de cisalhamento atuam perpendicularmente ao lixo longitudinal.

Momento de inércia polar:

– Seção circular cheia:

Observando o elemento de área dA da Figura 54-5 e a definição de que:

J =   2 dA ,
A

com J sendo o momento de inércia polar, pode-se substituir a diferencial dA como uma
função da variável independente do problema  e integrar a expressão nos limites do seu
domínio, de zero a r, de forma que:

 r4
r r
dA = 2 d  → J =   2 d  → J = 2   3d  → J =
2
.
0 0
2

– Seção circular vazada:

Como as tensões que ocorrem numa barra circular são máximas na superfície e nula no
centro, grande parte dos materiais trabalham com tensões bem inferiores à admissível. Se a
redução do peso e a economia de material forem fatores importantes, é preferível usar eixos
vazados, seções tubulares, com r1 sendo o raio interno e r2 o externo, como se segue.

Figura 54-6. Eixo circular vazado. Seção tubular.

293
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Com a inércia polar da seção vazada sendo:

J Total = J 2 − J1 ,

onde J2 e J1 são as inércias correspondentes aos raios r2 e r1, respectivamente. Com isso:

 r2 4  r14  4 4
J Total =
2

2
→ J Total =
2
( r2 − r1 ) .
Digno de nota é o fato de que, embora a inércia da seção tubular leve em conta os dois raios
da seção, as tensões máximas continuam a ocorrer na superfície do eixo, ou seja, para a
posição do raio externo, r2. Se se compara uma seção vazada de raio r2 com uma seção cheia
de mesma dimensão, haverá uma redução da inércia no primeiro caso, o que elevará a tensão
induzida, pois essa é inversamente proporcional à inércia polar. Entretanto, a redução de
peso obtida com uma peça de seção vazada pode ser importante para eixos longos, que
transmitem potência, por exemplo.

55. EXERCÍCIOS

Exercício 55.1.
Determinar o comprimento de um eixo de aço (G = 8,4 x 103 kgf/mm2), diâmetro d = 50 mm,
se a tensão de cisalhamento máxima é Máx = 9,45 kgf/mm2, quando o ângulo de torção tiver
6º.

Solução:

A tensão máxima é relativa à superfície onde  é igual ao raio r:

Tr T  25 T 9, 45 T
 Máx = → 9, 45 = → = → = 0,378 .
J J J 25 J

TL T G G
Como  = → = → L= .
GJ J L T
J
Convertendo 6º em radianos e substituindo os dados do problema, tem-se

2 x 0,105  8, 4 103 kgf / mm 2


= → x = 0,105rad ⸫ L = → L = 2327,10mm .
360 6 0,378kgf / mm3

Exercício 55.2.
Qual deve ser a razão comprimento/diâmetro (L/d) para um arame de aço
(G = 8,4 x 103 kgf/mm2) se a tensão de cisalhamento máxima for Máx = 9,45 kgf/mm2,
quando o ângulo de torção tiver 90º.

Dados: G = 8,4 x 103 kgf/mm2,


Máx = 9,45 kgf/mm2,
 = 90º.

294
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Para a solução do problema têm-se as seguintes expressões disponíveis:

TL
(1) = ,e
GJ

Tr
(2)  Máx = .
J

T G
Por (1), tem-se : = ,e
J L

T  Máx
por (2), tem-se: = .
J r

Igualando as duas, obtém-se:

G  Máx L G L G L G
= → = , logo = → = ⸫
L r r  Máx d 2  Máx d 2 Máx

L
  8, 4 103 kgf / mm2 L
= 2 ∴ = 698,13 .
d 2  9, 45kgf / mm 2
d

Exercício 55.3.
Qual é o diâmetro mínimo necessário de uma barra circular sujeita a um torque
T = 363200 kgf mm se o ângulo de torção admissível por unidade de comprimento for 1° por
3600 mm. (Admitir G = 8,4 x 103 kgf/mm2 e a tensão admissível de cisalhamento
for Adm = 2,10 kgf/mm2).

T = 363200 kgf mm,


Adm = 2,10 kgf/mm2,
Dados:
Adm = 1º/3600 mm,
G = 8,4 x 103 kgf/mm2.

x 2
= → x = 0, 0174rad .
1 360

1ª Condição. Giro admissível:

 T 0, 0174 363200
 Adm ∴ = → = → J = 8918497,38mm4 .
L GJ 3600 8, 4 10  J
3

O momento de inércia polar é dado por:

 r4 2  8918497,38
J= → r= 4 → r = 48,81mm ∴ d = 97, 63mm .
2 

295
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

2ª Condição. Tensão admissível:

Tr 363200r 363300  2
 Adm ∴  Adm = →  Adm = → r=3 → r = 47,93mm ∴ d = 95,86mm
J r 4
  2,10
2

O diâmetro mínimo é o maior deles, logo: d Mín = 97, 63mm .

Exercício 55.4.
Um eixo de alumínio vazado (G = 2,8 x 103 kgf/mm2), com diâmetro externo de 100mm e
interno de e interno de 87,5 mm, tem 2,10 mm de comprimento.
a) Se o eixo for torcido por torques nas extremidades, qual será o ângulo de torção total ϕ,
quando a tensão for 7,00 kgf/mm2?
b) Que diâmetro, d, teria esse eixo se não fosse vazado?

Solução:

d 2 = 100mm (diâmetro externo);


d1 = 87,5mm (diâmetro interno);
G = 2,8 103 kgf / mm2 ;
L = 2,10m ;
 Máx = 7,00kgf / mm2 .

a) Cálculo do ângulo total de giro

Pela tensão máxima, tem-se que:

Tr  T
 Máx = → Máx = (  Máx → raio externo, r2 = d 2 / 2 = 100 / 2 = 50 ).
J r J

7, 00 T
Logo, = . (1).
50 J

TL TL 7, 00kgf / mm2 2100mm


Fazendo  = →= →=  ∴
GJ GJ 50mm 2,8 103 kgf / mm 2

 = 0,105rad ou  = 6, 02 .

b) Cálculo do diâmetro correspondente a uma seção cheia

O momento de Inércia da seção vazada é calculado fazendo-se:

   100   87,5  
4 4

JV = (r
2
4
−r
1
4
) = 2   −   → JV = 4062652, 243mm
2   2  
4

2 

O torque a que a peça poderia estar submetida, é:


296
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Tr  J 7, 00kgf / mm2  4062652, 243mm4


 Máx = → T = Máx = → T = 568771,314kgf  mm
J r 50mm

Assim, o diâmetro equivalente a uma seção cheia, dC, é:

 rC 4
2 = T →  rC = T → r 3 = 2T ⸫
3
TrC J T
 Máx = → C = →
JC rC  Máx rC  Máx 2  Máx C
 Máx

2  568771,314
rC = 3 → rC = 37, 26mm , logo dC = 74,52mm .
  7, 00

56. PROJETOS DE EIXOS DE TRANSMISSÃO

As principais especificações a serem consideradas no projeto de eixos de transmissão são a


potência a ser transmitida e a frequencia de rotação. O dimensionamento visa buscar formas
adequadas e materiais para que a tensão admissível não seja superada ao transmitir a
potência. É de interesse fazer a seguinte distinção:

Eixo → fica parado, apenas recebe carregamento.


Eixo árvore (ou eixo de transmissão) → transmite movimento.

Pela dinâmica, tem-se que:

P = potência de transmissão,
P = T , onde T = torque no eixo de transmissão,
ω = velocidade angular,

com  = 2 f , onde f é a frequência de rotação, ou seja, o número de rotações por segundo.


f é expressa em Hz = 1s −1 . A demonstração da equação anterior será feita a seguir.

A definição de Potência leva a:

rab trabalho F d
P= = → P= ,
t tempo t

onde F é a força que realiza o trabalho e d é o deslocamento apresentado. Como

d deslocamento
= v , ou seja, = velocidade , tem-se que:
t tempo

P = F v ,

onde v é a velocidade tangencial ou periférica. No movimento circular, Figura 56-1, a


velocidade periférica pode ser relacionada à velocidade angular na forma de:

v =  r
 = velocidade angular,
r = raio.
297
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Portanto, P = F    r .

Figura 56-1. Relações no movimento giratório.

Como F  r = T , com T sendo o torque transmitido ao eixo, chega-se a: P = T   .


Relacionando a velocidade angular com a tangencial na forma de  = 2 f , a expressão da
potência fica:

P
P = T  2 f . Logo: T = (1).
2 f

N m Joule
Com T em N·m, e f em Hz, a potência deverá vir em = Watt ou P = = Watt .
s s

Se a frequência for fornecida em rotações por minuto (rpm), ter-se-á:

n = número de rotações por minuto (rpm),


f = n/60,

P
e o torque será expresso por: T = (2),
2 n
60

que é a solução usada para transmissões mecânicas constituídas de polias, engrenagens,


rodas de atrito, correntes etc. Por sua vez, a tensão de cisalhamento devido ao torque é dada
por:

Tr  J
 Máx = → T = Máx (3).
J r

Igualando (2) com (3), chega-se a:

 Máx J P r P
= →  Máx =  .
r 2 f J 2 f

J T
Pela equação (3) ainda pode ser feito que: = .
r  Máx

Para um eixo de seção cheia J =  r 4 / 2 . Esse dado sendo levado à equação (1), conduz a:

 r4 P
2 = 2 f →  r =
3
P P P P
→  r3 = → r3 = 2 ⸫ r=3 2 .
r  Máx 2 2 f  Máx  f  Máx  f  Máx  f  Máx

298
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

No campo da análise, seja para dimensionamento ou verificação, deve ser igualda a tensão
máxima à admissível (Max = adm) para sejam determinadas dimensões mínimas necessárias
ao eixo ou esforços máximos que podem ser aplicados. É de interesse observar que:

» τ vem Pascal N/m²;


» T em N·m;
1 −1 1 m
» 1rpm = s = Hz ; 1HP = 746 N  ;
60 60 s
m m
» 1CV  75kgf   746 N  .
s s

57. EXERCÍCIOS

Exercício 57.1.
Determinar o diâmetro necessário, d, para um eixo que transmite 200 CV a 120 rpm, se a
tensão admissível em cisalhamento é τadm = 2,10 kgf/mm².

Solução:

P 200CV  75kgfm / s 1000mm


O torque é dado por: T = = → T = 1193662, 073kgf  mm
2 f 2 120rpm 60s

Tr
Como a tensão de cisalhamento máxima é dada por  Máx = , tem-se:
J

J T J 1193662, 073kgf  mm J
= → = → = 568410,511mm3 .
r  Máx r 2,10kgf / mm 2
r

 r4
Como o momento de inércia polar é calculado por J = , tem-se que:
2

 r4
J J  r3  r3 568410,551mm3  2
= 2 → = → = 568410,551mm ∴ r =
3 3 →
r r r 2 2 

r = 71, 26mm . Logo, o diâmetro será d = 2  r . Assim: d = 2  71, 26mm → d = 142,52mm .

Exercício 57.2.
O eixo de propulsor de um navio é vazado e transmite 8000 CV a 100 rpm, admitindo uma
tensão de cisalhamento máxima de 3,15 kgf/mm². Achar o diâmetro externo “d” do eixo se o
diâmetro interno for d/2.

Solução:

1) Cálculo do torque:

299
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

P 8000CV  75kgfm / s 1000mm


T= = → T = 57295779,52kgf  mm .
2 f 2 100rpm 60s

2) Cálculo do momento de inércia polar:

r2
Considerando que d 2 = 4r1 → d 2 = 2r2 ∴ 4r1 = 2r2 → r1 = , o momento de inércia fica:
2

     4 r2 4    16r2 4 − r2 4 
4
r  15 r2 4
J = (r2 − r ) =  r2 −  2 
4
1
4 4
 =  r2 −  =   → J = .
2 2  2  2  16  2  16  32

A relação anterior pode, também, ser encontrada pelo uso direto da expressão:

  d24  d2 2     4 d 2 4    16d 2 4 − d 2 4 
4
15 d 2 4
J=  −   =  2
d −  =   → J = .
2  16  2   32  16  32  16  512

3) Determinação do diâmetro pela tensão admissível:

Tr
Com  Adm = , e fazendo  Máx =  Adm e r = r2 , raio externo, pois a tensão máxima ocorre na
J
superfície da peça, tem-se:

15 r2 4
J T T 32T 32  57295779,52
= → 32 = → r23 = ∴ r2 = 3 ⸫
r2  Adm r2  Adm 15 Adm 15  3,15

r2 = 231,16mm → d 2 = 2r2 = 2  231,16mm → d 2 = d = 462,31mm .

58. EIXOS ESTATICAMENTE INDETERMINADOS

As incógnitas podem ser os momentos torsores ou os ângulos de giro, que só podem ser
determinados considerando as propriedades dos materiais (G) e as propriedades geométricas
eixos (L, r, J).

Para a solução de problemas desta natureza é necessário usar de equações de equilíbrio e


compatibilidade, portanto:

a) equações de equilíbrio em termos de momentos torsores


envolvidos;
é preciso fazer uso de: b) equações de compatibilidade dos ângulos de giro;
c) relações entre esforço e deformação (momento torsor e
ângulo de giro).

Estratégias de solução:

As estratégias de solução que podem ser adotadas são:

300
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

– Método da flexibilidade: (os ângulos de torção são escritos em função dos momentos
torsores). O termo L/GJ é o inverso da rigidez, daí o nome flexibilidade:

TL L
= →= T.
GJ GJ

– Método da rigidez (os momentos torsores são escritos em função dos ângulos de torção).
Diz-se rigidez porque o termo GJ/L é a rigidez à torção da barra.

GJ
T= .
L

Há situações nas quais os momentos de torção internos não podem ser determinados somente
pela estática. Na verdade, em tais casos os próprios momentos externos, os torques aplicados
nos eixos pelos apoios e conexões, não podem ser determinados pelos diagramas de corpo
livre. Nesses casos, as equações de equilíbrio devem ser complementadas por relações
envolvendo as deformações, obtidas considerando-se a geometria do problema. Devido à
estática não ser suficiente para determinar os momentos exteriores e internos, diz-se que os
eixos são estaticamente indeterminados.

– Método da superposição:

O emprego do método da superposição consiste na análise de uma estrutura isostática


fundamental sujeita ao carregamento externo; e na análise da mesma estrutura isostática
submetida ao esforço que substitui o vínculo retirado (reação superabundante).

59. EXERCÍCIOS

Exercício 59.1.
O eixo composto indicado deverá receber um momento torsor T na extremidade A. Sabe-se
que o módulo de elasticidade transversal é 75 GPa para o aço e 27,5 GPa para o alumínio,
determinar o maior ângulo de rotação que pode ocorrer em A sem exceder as seguintes
tensões admissíveis:

Para o aço:  Aço = 55MPa ;


Adm

Para o alumínio:  AlAdm = 41MPa .

Figura 59-1. Exercício 59.1.

Reunindo os dados:

301
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Aço: GAço = 75GPa ,  Aço =  Aço = 55MPa .


Máx Adm

Alumínio: GAl = 27,5GPa ,  AlMáx = 41MPa .


AB = ?

Solução:

1) DCL:

2) Equilíbrio:

O torque aplicado deve ser resistido por ambos os materiais, aço e alumínio, de forma que:

T = TAço + TAl (1).

Portanto: TAço = T − TAl e TAl = T − TAço .

3) Compatibilidade

3.1) Pelo método da flexibilidade:

A condição de compatibilidade das deformações impõe que os dois cilindros formados pelo
aço e pelo alumínio devem apresentar o mesmo giro. Com isso:

Aço = Al .

Cada uma dessas deformações está associada às propriedades elásticas e geométricas de cada
parte que compõe o conjunto, logo:

TAço LAço TAl LAl GAço J Aço


= → TAço = TAl (2)
GAço J Aço GAl J Al GAl J Al

Substituindo (2) em (1), tem-se:

GAço J Aço  G J  T
TAl + TAl = T → TAl 1 + Aço Aço  = T , logo: TAl = (3)
GAl J Al  GAl J Al  G J
1 + Aço Aço
GAl J Al

Substituindo os correspondentes produtos de rigidez à torção:

302
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

T T
TAl = = → TAl = 0, 442T .
  57mm 
4
75  57 4
75GPa 
 1+
2  2 
 27,5  ( 764 − 57 4 )
1+
  76mm   57mm  
4 4

27,5GPa    −  
2  2   2  

Logo, de (1): TAço = T − TAl = T − 0, 442T → TAço = 0,558T .

3.2) Pelo método da rigidez:

Ainda pode ser feito que:

Equilíbrio: T = TAço + TAl .

Compatibilidade: Aço = Al .

TL GJ
Rotações (ângulo de giro):  = ∴T= .
GJ L

GAço J Aço GAl J Al


Logo: TAço =  Aço e TAl =  Al .
L L

Reescrevendo a equação de equilíbrio, tem-se:

GAço J Aço GAl J Al


 Aço +  Al = T , como Aço = Al , que é igual ao ângulo de giro total , faz-se:
L L

L
GAço J Aço + GAl J Al = TL ⸫  = T (4).
GAço J Aço + GAl J Al

Com isso, o torque resistido pelo aço em função do ângulo de giro será.

GAço J Aço GAço J Aço


TAço =  Aço . Como Aço =  , a equação fica: TAço =  (5).
L L

Substituindo a equação (4) na equação (5), pode-se escrever que:

GAço J Aço L GAço J Aço


TAço =  T , o que leva a: TAço = T.
L GAço J Aço + GAl J Al GAço J Aço + GAl J Al

GAl J Al
Analogamente, para o alumínio tem-se: TAl = T.
GAço J Aço + GAl J Al

Resumindo, os torques absorvidos pelos dois cilindros dependem da relação entre os seus
produtos de rigidez à torção. Logo:

303
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

GAço J Aço
TAço = T,
GAço J Aço + GAl J Al

GAl J Al
TAl = T.
GAço J Aço + GAl J Al

Portanto, introduzindo os dados do problema na equação do aço, por exemplo, fica-se com:

N   57
4

75 10 2    10−3 m 
9

m 2 2 
TAço = T.
9 N   57 −3 
4
9 N

  76 −3
4
  57 −3  
4

75 10 2   10 m  + 27,5 10 2   10 m  −   10 m  


m 2 2  m 2  2   2  

Com isso:

TAço = 0,558T .

A relação anterior sendo substituída na condição de equilíbrio, conduz a:

TAl = T (1 − 0,558) → TAl = 0, 442T .

Torques máximos permitidos:

– Análise para o aço:

Máx
TAço r
A tensão máxima no aço é calculada por:  Máx
Aço = .
J

Como a tensão máxima não deve ultrapassar a admissível, tem-se que:  Aço =  Aço ⸫
Máx Adm

Máx  57 
TAço   10−3 m 
N
55 106 2 =  2  → T Máx = 1999,941N  m  2kN  m .
Aço
  57
4
m −3 
  10 m 
2 2 

Como a parcela do torque que recai sobre o aço é TAço = 0,558T e fazendo TAço = TAço :
Máx

TAço 1999,941kN  m
T= = . Logo: T = 3584, 256 N  m → T = 3,584kN  m .
0,558 0,558

– Análise para o alumínio:

TAlMáx r
A tensão máxima no alumínio é calculada por: Máx
Al = .
J

304
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Como a tensão máxima não deve ultrapassar a admissível, tem-se que:  AlMáx =  AlAdm ⸫

 76 
TAlMáx   10−3 m 
N
41106 2 =  2  → TAlMáx = 2451,753N  m .
m 
  76 −3
4
  57 −3 
4

  10 m  −   10 m  
2  2   2  

Com TAl = 0, 442T e fazendo TAl = TAlMáx , tem-se que:

TAl 2451, 753 N  m


T= = → T = 5, 465kN  m .
0, 442 0, 442

Portanto, dois valores possíveis foram encontrados. O torque máximo, nesse caso, que pode
ser aplicado ao composto, deverá ser limitado ao menor deles, pois qualquer valor acima
desse levará o aço à plastificação. Assim:

T = 3584, 256 N  m ou T = 3,584kN  m .

Com isso, o cálculo do giro da seção em A pode ser realizado adotando-se esse torque e
considerando as propriedades do aço, por exemplo:

TAço L 1999,941N  m  2,540m


= = →  = 0, 0654rad = 3, 745 ,
N   57
4
GAço J Aço 
75 109 2    10−3 m 
m 2 2 

ou ainda, pelo alumínio, se se deseja:

L
= T ⸫
GAço J Aço + GAl J Al

2,540m  3584, 256 Nm


= →
9 N   57 −3  
9 N   76
4
−3
4
  57 −3  
4

75 10 2   10 m  + 27,5 10 2   10 m  −  10 m  


m 2 2  m 2  2   2  

 = 0, 0654rad .

Exercício 59.2.
Dois eixos maciços de 80 mm de diâmetro são conectados rigidamente entre si e suportados
como mostrado na figura. Um momento torsor desconhecido T é aplicado na junção dos dois
segmentos, como indicado na Figura 59-2. As tensões tangenciais admissíveis são 130 MPa
para o aço e 40 MPa para o bronze. O módulo de elasticidade transversal do aço é 80 GPa e
do bronze 40 GPa. Determinar o valor máximo admissível para T.

305
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Figura 59-2. Exercício 59.2.

Solução:

Por se tratar de uma estrutura estaticamente indeterminada é preciso lançar mão de uma
equação de equilíbrio e outra de compatibilidade.

1) Diagrama de corpo livre:

2) Condição de Equilíbrio:

Considerando os momentos anti-horários como positivos e os horários como negativos, pode


ser escrito que:

TA + TB − T = 0 → TA + TB = T

Como o problema é hiperestático, a solução deve ser construída considerando uma das
reações como superabundante, liberando um dos vínculos e voltando a colocá-lo
posteriormente, de maneira a produzir o mesmo efeito que o da estrutura liberada. A
representação dessa hipótese é:

(a) sistema original (b) sistema equivalente

Portanto, liberando-se a extremidade B, o eixo gira naquela extremidade de um ângulo 


devido ao torque T, aplicado em C. Para que o sistema tenha compatibilidade com o sistema
desmembrado é preciso que se introduza um torque na extremidade B, TB, para que esse
produza o mesmo giro que o produzido por T. Dessa forma, o problema original pode ser
resolvido pela superposição da solução de dois problemas derivados. A condição de
compatibilidade é, portanto, a de que o ângulo de giro produzido pelo torque T,  tenha o
mesmo valor daquele produzido pelo torque TB, TB , ou seja, que a soma de ambos os giros
seja nula. Isso se dá porque os giros ocorrerem em sentidos opostos. Logo:

−T + TB = 0 ∴ T = TB .


306
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Com isso, pode ser formado o seguinte o sistema de equações:

TA + TB = T (Equilíbrio) (1),
T = T B
(Compatibilidade) (2).

A expressão geral para o ângulo de giro na torção é dada por:  = TL / GJ . Como T está
aplicado em C e a extremidade B foi liberada para a deformação, ou seja, para o giro, esse
esforço atua sobre a parte esquerda do cilindro, que é o segmento de aço. Logo:

TLA
T = ,
GA J A

No caso do torque da extremidade B, a reação superabundante, esse esforço age sobre toda
a barra, quer dizer, sobre os segmentos de aço e de bronze. Assim:

TB LB TB LA  L L   L G J + LAGB J B 
T = + → TB = TB  B + A  → TB = TB  B A A .
B
GB J B GA J A  GB J B GA J A   ( G J
B B )( G J
A A ) 

Igualando T e TB , tem-se:

TLA  L G J + LAGB J B  LA (GB J B )


T = T → = TB  B A A  → TB = T .
GA J A  ( GB J B )( GA J A )  LB (GA J A ) + LA (GB J B )
B

Como as inércias polares são iguais , J B = J A , pode ser escrito que:

LAGB
TB = T (3).
LBGA + LAGB

Substituindo a equação (3) na equação de equilíbrio (1), fica-se com:

LAGB  LAGB 
TA = T − TB → TA = T −  T → TA = T 1 − ⸫
LBGA + LAGB  LB GA + LAGB 

 L G + LAGB − LAGB  LBGA


TA = T  B A  → TA = T (4).
 LB GA + LAGB  LBGA + LAGB

3) Verificação do torque máximo dada as tensões admissíveis

3.1) Verificação para o aço:

2 
 MáxA J A 130 N / mm  2 (40mm)
4
TArA
 Máx = → TA = = → TA = 13069, 025kN  mm .
A
JA rA 40mm

Substituindo em (4):
307
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

LBGA + LAGB
T=  TA →
LBGA

2500mm  80 103 N / mm 2 + 1500mm  40 103 N / mm 2


T = 13069, 025  103 N  mm  →
2500mm  80 103 N / mm 2

T = 16,99kN

3.2) Verificação para o bronze:

2 
 MáxB J B 40 N / mm  2 (40mm)
4
TB rB
 Máx = → TB = = → T|B = 4021, 239kN  mm .
B
JB rB 40mm

Substituindo em (1)

LBGA + LAGB
T=  TB →
LAGB

2500mm  80 103 N / mm 2 + 1500mm  40 103 N / mm 2


T = 4021, 239 103 N  mm  →
1500mm  40 103 N / mm 2

T = 17, 425kN .

Como foram obtidos dois resultados em função das tensões admissíveis de cada material, o
torque máximo que pode ser aplicado ao sistema é o menor desses valores. Assim, o valor
máximo que pode ser aplicado é:

T = 16,99kN .

60. EIXOS DE SEÇÃO NÃO-CONVENCIONAIS

Torção em eixos de seções não circulares

Para as seções circulares a hipótese básica era de que as seções planas permaneciam planas
após a deformação, o que não é válido para outros tipos de seção, pois essas sofrem
empenamento. Portanto, as expressões obtidas para os eixos circulares não podem ser usadas
para outras formas, o que significa que não pode ser adotada uma distribuição de tensão
linear a partir do centro da seção.

Considerando um cubo elementar situado no vértice de uma seção de uma barra retangular
submetida à torção, Figura 60-1, as faces do cubo voltadas para a superfície estão isentas de
tensões:

308
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Figura 60-1. Cubo elementar no vértice de uma barra retangular.

 xy = 0 ;  yx = 0 ;  zx = 0 ;
 xz = 0 ;  yz = 0 ;  zy = 0 .

Os elementos situados nas arestas da barra ficam isentas de tensões, enquanto as tensões
ocorrem ao longo da parte central. Isso pode ser notado pela torção de um modelo de
borracha.

Figura 60-2. Deformação de elementos na região central da barra.

A tensão máxima para uma barra retangular sujeita a um torque T, Figura 60-3, é dada por:

Figura 60-3. Parâmetros de uma barra de seção retangular.

T
 Máx = ,
c1ab 2

onde de a e b são os lados da barra, com a sendo o lado maior e b o lado menor. O ângulo
de torção, por sua vez, é dado por:

TL
= ,
c2 ab3G

onde L é o comprimento da barra, G é o módulo de elasticidade transversal, e c1 e c2 são


dados na tabela seguinte:

309
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

a/b c1 c2
1,0 0,208 0,1406
1,2 0,219 0,1661
1,5 0,231 0,1958
2,0 0,246 0,229
2,5 0,258 0,249
3,0 0,267 0,263
4,0 0,282 0,281
5,0 0,291 0,291
10,0 0,312 0,312
∞ 0,333 0,333

Para o caso particular de uma seção quadrada:

4,81T 7,1TL
 Máx = 3
;= .
a Ga 4

Para uma seção triangular:

20T 46TL
 Máx = 3
;= .
a Ga 4

Elipse:

16T 16(a 2 + b 2 )TL


 Máx = ;  = .
 ab 2 G a 3b3

61. EIXOS VAZADOS DE PAREDES FINAS

Considere-se um elemento diferencial situado na parte central de uma barra de seção


qualquer, de paredes finas, conforme indicado na Figura 61-1, na qual:

tb = espessura superior do elemento dx, e


tc = espessura inferior do elemento dx.

310
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Figura 61-1. Eixo de paredes finas: equilíbrio de um elemento infinitesimal.

Fazendo o equilíbrio do elemento diferencial em x, tem-se:

F x = 0 → − Fab + Fcd = 0 → Fab = Fcd ∴  b (tb dx) =  c (tc dx) →  btb =  ctc .

Assim, pode ser visto que o produto da tensão pela espessura da parede é constante e igual
a f. Logo, pode-se escrever que:

 t = f ,

onde f é conhecido como fluxo de cisalhamento. Fluxo em analogia ao escoamento em


canais, que embora haja variação na largura do canal, a vazão permanece constante. f vem
expressa em força por unidade de comprimento. Escrevendo a relação anterior em termos da
tensão, tem-se:

f
= .
t

Tome-se a seção transversal de uma barra de paredes finas, conforme se indica a seguir

Figura 61-2. Seção de uma barra de paredes finas.

A tensão de cisalhamento em qualquer ponto da seção transversal é paralela à parede da


superfície, e seu valor médio pode ser calculado ao longo da linha média por meio do
equilíbrio de forças, considerando o fluxo de cisalhamento.

A tensão de cisalhamento é definida como sendo:

dF
= → dF =  dA
dA

Considerando um elemento infinitesimal de comprimento ds na linha média da espessura


que percorre o perímetro da seção, a diferencial da área será dada por:

311
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

dA = tds .

Com isso:

dF =   tds .

f
Como  = → dF = fds .
t

O torque infinitesimal da força elementar é dado por:

dT = dF  r → dT = ( fds )r .

Integrando no comprimento da linha média da espessura da parede, Lm, tem-se:


Lm Lm

T=  0
frds ⸫ T = f  rds .
0

Lm

Pode ser percebido que a integral  rds


0
é igual a 2 vezes a área do triangulo elementar

formado pela linha média e o centro da seção, pois:


Lm Lm Lm
1 1 1
dAm = ds  r → Am =
2 
0
2
ds  r → Am =
2  rds → 2 A
0
m =  rds .
0

Portanto, pode ser escrito que:


Lm

 rds = 2 A
0
m ,

com Am sendo a área definida pela linha média e o interior da seção vazada. Logo:

T
T = f 2 Am → f = .
2 Am

T
f 2 Am T
Como,  = → = →= ,
t t 2tAm

onde t é a espessura da parede no ponto considerado e τ é o valor médio da tensão de


cisalhamento na parede. O ângulo de torção, por sua vez, será dado por:

TL
= ,
GJ

com o momento de inércia polar J obtido pelo método da energia, sendo calculado por:

312
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4 Am 2
J= Lm
,
ds

0
t

com a integral resolvida a linha central da seção na parede.

62. EXERCÍCIOS

Exercício 62.1.
A extremidade B da barra de aço inoxidável indicada gira de 2° pela ação do torque T.
Sabendo que G = 80GPa , determinar a máxima tensão de cisalhamento da barra.

B = 2
G = 80GPa
 Máx = ?

Figura 62-1. Exercício 62.1.

Solução:


 = 2 →  = 2  →  = 0, 0349rad .
180

TL a 30 c1 = 0, 231
= ; = = 1,5 →
c2 ab3G b 20 c2 = 0,1958

Logo:

T  750mm
0,0349 = → T = 174,969kN  mm .
kN
0,1958  30mm  (20mm)  80
3

mm2

A tensão, então, será:

T 174,969kN  mm
 Máx = →  Máx = →  Máx = 0,063kN / mm2 →  Máx = 63MPa
c1ab 2
0, 231  30mm  (20mm) 2

Exercício 62.2.

313
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Uma barra de seção transversal indicada na figura, é formada por uma lâmina metálica de
1,5 mm de espessura. Determinar o maior momento torsor que pode ser aplicado à barra, se
a tensão não pode exceder a 2,5 MPa.

Figura 62-2. Exercício 62.2.

Solução:

Inicialmente, deve ser estabelecida a linha média na espessura da parede.

A área delimitada pela linha média na parede da seção e seu interior será obtida dividindo-
se a região em duas partes para formar dois retângulos A1 e A2:

Am = A1 + A2 = (50 − 1,5)  (20 − 1,5) + (30)  (20 − 1,5) → Am = 1452, 25mm2

T
A tensão limite é dada por:  Máx = com a máxima sendo 2,5MPa = 2,5 N / mm2 .
2tAm

N T
Assim: 2,5 = → T = 10892Nmm ∴ T = 10,892 Nm .
mm 2
2 1,5mm 1452, 25mm 2

Supondo L = 2,0 m qual o ângulo de torção? ( G = 80GPa ).

314
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TL 4A 2
= , com J = Lm m , tem-se:
GJ ds
0 t

ds 4  (50 − 1,5)
Lm

0
t
=
1,5
= 129,333 , que é um parâmetro adimensional. Logo:

4  (1452, 25mm2 )2
J= = 6,5234 104 mm4 ∴ J = 6,5234 10−8 m 4 .
129,333

Uma vez obtido o momento de inércia polar a rotação da seção pode ser calculada por:

10,892 Nm  2, 0m
= →  = 0,00417rad →  = 0,239º .
80 10 N / m 2  6,5234 10−8 m 4
9

63. TORÇÃO EM PLANOS INCLINADOS

Considere-se uma barra circular submetida a um esforço torsor T, Figura 63-1. Nessa
condição, é formado um estado de tensões na superfície da barra composto exclusivamente
por tensões de cisalhamento, ou seja, corte puro

Figura 63-1. Estado de tensões no torque.

Extraindo um elemento da superfície da barra, pode ser observado que:

Figura 63-2. Elemento em corte puro.

Esse estado de tensões corresponde à condição no Círculo de Mohr dada pela Figura 63-3(a),
com os pares de pontos definidos por:

X = (0, − ) , Y = (0, ) .

315
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(a) círculo de mohr para corte puro (b) tensões para um ângulo 
Figura 63-3. Diagrama circular de Mohr para o corte puro.

Portanto, pode ser verificado, nesse diagrama, o aparecimento de tensões em planos


inclinados de um certo ângulo θ que localiza o ponto de tensões correspondentes a σθ e τθ,
Figura 63-3(b), como visto para o caso geral de tensões planas, o que leva a concluir que o
estado de tensões na torção reduz-se a um caso particular do caso geral de tensões planas.

Nota-se, ao mesmo tempo, o aparecimento de tensões principais situadas a um ângulo de 90°


no Círculo de Mohr, relativas ao plano onde atua a tensão τxy, plano X, definido pelo ângulo
2θP no diagrama e, por conseguinte θP no corpo, onde não atuam tensões de cisalhamento.
O valor dessa tensão corresponde ao raio do círculo, ou seja,  Máx =  1 =  = Raio. Em um
plano ortogonal a esse, defasado de 90° no elemento plano e de 180° no diagrama de Mohr,
encontra-se uma outra tensão principal, essa de compressão, e de igual valor, logo
 Mín = − 2 = −  = Raio do círculo. Nesse plano, o das tensões principais, não há tensões
de cisalhamento.

Resumindo:

316
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64. EXERCÍCIOS

Exercício 64.1.
Determinar o máximo momento torsor T que pode ser resistido por um eixo circular vazado,
tendo um diâmetro interno de 25 mm e um diâmetro externo de 50 mm, sem exceder a tensão
normal de 70 MPa de tração ou a tensão tangencial de 75 MPa.

Dados: de = 50 mm, di = 25 mm, adm = 70 MPa, adm = 75 MPa.

Figura 64-1. Exercício 64.1.

Solução:

Ao ser submetida ao torque, a barra apresenta dois estados de tensão bem definidos, um para
o elemento que está com a face direita transversalmente situada em relação ao eixo
longitudinal da barra, elemento (1), e o outro que está com essa face inclinada de 45° da
direção do eixo da barra, elemento (2).

No corpo:

O estado de tensões existente no elemento (2) será o que


deve limitar o esforço, pois para esse  =  = 70MPa .

Para o primeiro estado, a tensão de cisalhamento produzida será a máxima de 75 MPa. Logo,
o esforço máximo que pode ser aplicado estará limitado pela menor tensão de cisalhamento.

Tr  J
 = →T= ∴
J r

N   50  
4 4
−3   25 −3
70 106    10 m  −  10 m  
m 2 2  2   2  
T= = 1611N  m → T = 1, 6kN  m
50 −3
10 m
2
317
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Exercício 64.2.
Para o eixo mostrado na Figura 64-2, determine:

a) as tensões correntes no ponto A (na superfície da haste) sobre o plano B-B, que é normal
à superfície da peça no ponto A e faz um ângulo de 40° com o eixo. Esboçar essas tensões
na área elementar representando o ponto A.

b) as máximas tensões normais ocorrentes no ponto A. Esboce essas tensões na área


elementar em torno de A.

Figura 64-2. Exercício 64.1.

Solução:

A tensão na superfície devido ao torque é:

100mm
4 106 Nmm  N
Tr
= = 2 →  = 64 = 64 MPa .
  100mm 
4
J mm 2
 
2  2 

Uma solução para o problema pode ser obtida pela construção do diagrama de Mohr
tomando o par de pontos X e Y e usando uma escala adequada:

X = (0, − ) = (0, −64) ; Y = (0, ) = (0, 64) .

(a) Esboço usando desenho técnico (b) Traçado usando recurso computacional
Figura 64-3. Diagrama circular de Mohr.
318
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

A solução também pode ser obtida analiticamente, considerando a figura abaixo. Para este
problema, o conjunto de tensões são:

 x = 0 ,  y = 0 ,  xy = 64MPa .

Daí:

a)  40 = 0cos2 40 + 0sen 2 40 + 64sen 2  40 →  40 = 63, 028MPa

0−0
 40 = sen 2  40 − 64 cos 2  40 →  40 = −11,113MPa .
2

0+0  0−0
2

b)  1,2 =    + 64 → 1,2 = 64MPa ,


2

2  2 

que é a própria tensão de cisalhamento, que também é o raio do diagrama.

(a) Tensão normal ( ) (b) Tensão de cisalhamento ( )


Figura 64-4. Variação das tensões normal e de cisalhamento.

65. COMBINAÇÃO DE TORÇÃO COM ESFORÇO AXIAL

Na solução de problemas em que haja a combinação do esforço normal com a torção, a


aplicação do princípio da superposição, é válida.

– Princípio da superposição:
319
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1. Os efeitos (tensões, deslocamentos, deformações ou deformações específicas) devem ser


funções lineares dos esforços.
2. Regime elástico.
3. Os carregamentos devem produzir efeitos independente que não interfiram entre si.

Com essas considerações, na aplicação do princípio da superposição, calculam-se os efeitos


provocados por cada agente, separadamente, somando-os ao final seus efeitos. Daí, a correta
aplicação do sinal de cada componente passa a ser de fundamental importância. No caso
específico da torção com o esforço normal, tem-se:

Figura 65-1. Superposição dos esforços normal e torsor.

O sinal “+”, presente na Figura 65-1, não deve ser entendido como soma algébrica, mas sim
como superposição de efeitos. O estado de tensão resultante da superposição dos esforços
será:

Portanto, para a confecção do círculo de Mohr devem ser usados os pontos X e Y indicados
a seguir. Com esses pontos definidos, o diagrama apresentará a configuração dada na Figura
65-2.

X = ( x , − xy ) ; Y = (0, xy ) .

Figura 65-2. Superposição dos esforços normal e torsor.

320
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

A composição do estado plano de tensões a ser analisado deve ser feita para um ponto
escolhido em uma posição determinada da estrutura. Se o problema for de máximas tensões,
o elemento crítico deve ser o elemento a ser definido para análise.

66. EXERCÍCIOS

Exercício 66.1.
Dado o eixo ABC da Figura 66-1, determine:
a) as tensões principais e de cisalhamento máximo no ponto mais solicitado do eixo.
b) o ângulo de torção entre as seções A e C.

Figura 66-1. Exercício 66.1

Solução:

1) Diagrama de Corpo Livre (DCL)

2) Diagrama dos esforços solicitantes

DMT (kN·m)

Pode ser notado que para o esforço torsor o trecho


BC é o mais solicitado.

DEN (kN)

Enquanto para o esforço normal, toda a barra é


igualmente solicitada.

3) Tensões principais e de cisalhamento

Para a solução das tensões mais elevadas dever ser observado o ponto mais solicitado do
sistema, que é um ponto na superfície da barra pertencente ao trecho BC.
321
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- Tensão devido ao esforço normal:

N 75 103 N
= = = 30 MPa ,
A   100mm 2
( )
4

- Tensão devido ao esforço torsor:

100mm
3 106 Nmm 
Tr
= = 2 = 48MPa .
  100mm 
4
J
 
2  2 

Deve ser observado que o sentido da tensão tem a orientação dada pelo torque.

- Superposição:

O estado de tensões resultante da superposição da tensão devido ao esforço normal e a devido


ao torque será, em MPa, igual a:

a) Solução analítica:

2  Máx = 65, 289MPa ,


30  30 
 Máx , Mín =    + 482 →
2  2   Mín = −35, 289MPa ,

2
 30 
 Máx =   + 482 →  Máx = 50,3MPa .
 2 

É possível ver a variação das tensões para o estado de tensões obtido pela superposição das
tensões devido ao esforço normal e ao torque, expressas nos gráficos da Figura 66-2. Para o
estado de tensões analisado, as equações para  e  são:

30
 = 30cos2  + 48sen(2  ) e   = sen(2   ) − 48cos(2   ) .
2

Com isso, fazendo  variar de forma independente de zero até uma volta completa, encontra-
se, para  e  , o seguinte comportamento:

322
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(a) Tensão normal ( ) (b) Tensão de cisalhamento ( )


Figura 66-2. Variação das tensões normal e de cisalhamento.

b) Solução gráfica:

Graficamente, em MPa, para X = (30, −48) , Y = (0, 48) , tem-se o diagrama de Mohr:

(a) Esboço usando desenho técnico (b) Traçado usando recurso computacional
Figura 66-3. Diagrama circular de Mohr.

4) O ângulo de giro

O ângulo de giro de uma seção submetida a um torque T é calculado por:

TL
= .
GJ

Portanto, o giro entre as seções A e C deverá levar em conta o giro de cada porção, com seus
sinais, ou seja:

 AC =  AB + BC ,

com:

TAB LAB 2 106 Nmm  2000mm


AB = →  AB = →  AB = 0, 016rad ,
N 
GAB J AB 80 10   ( 50mm )
3 4

mm 2 2
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TBC LBC −3  106 Nmm 1000mm


BC = → BC = → BC = −0, 024rad ∴
N 
GBC J BC 40  10   ( 50mm )
3 4

mm 2 2

AC = 0, 016 − 0, 024 = −0, 008rad →  AC = −0, 458 .

67. FLEXÃO PURA – TENSÕES

A flexão pode ocorrer da seguinte forma:

1 – FLEXÃO PURA – Apenas momento fletor. Caracteriza-se pela existência exclusiva de


tensões normais.

2 – FLEXÃO SIMPLES – Momento fletor e esforço cortante. Constitui basicamente o


projeto de vigas. Para peças em flexão simples, o dimensionamento é feito em duas etapas:

1 – Analisando-se o momento fletor (tensões normais), e


2 – Analisando-se o esforço cortante (tensões de cisalhamento).

3 – FLEXÃO COMPOSTA – Ocorrência simultânea momento fletor e esforço normal.


Pode ser Normal ou Oblíqua.

De um modo geral, o estudo dos esforços sobre os elementos estruturais, pode ser entendido
pelo princípio da superposição, no qual são calculados os efeitos de cada esforço
separadamente e somados, algebricamente, ao final, com a observação cuidadosa dos
respectivos sinais.

Utilizando os métodos da Estática, será estudada a FLEXÃO PURA em uma viga


biapoiada AB, com o carregamento indicado, por meio da extração de um elemento
infinitesimal dx, compreendido entre duas seções adjacentes, α e β:

Figura 67-1. Viga com forças em quatro pontos.

onde L é o comprimento da viga, a é distância das forças P em relação aos apoios, A é a área,
Iz0 e Iy0 são os momentos de inércia em relação aos eixos baricêntricos da seção, z0 e y0, com
y0 definindo o eixo vertical de simetria em cujo plano ocorre a flexão. Os diagramas
correspondentes à viga dada são:

324
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DCL

DEC

DMF

1 – ANÁLISE DA CINEMÁTICA DO PROBLEMA

Ampliando o elemento infinitesimal dx é possível estabelecer os parâmetros cinemáticos da


análise, quais sejam:

– Antes da deformação:

Figura 67-2. Parâmetros cinemáticos da seção na flexão.

LINHA NEUTRA – São fibras que não sofrem alongamento ou encurtamento com a flexão.
A união das infinitas fibras neutras na seção transversal conduz à chamada de LINHA
NEUTRA. Portanto, a LINHA NEUTRA, na seção transversal, separa a região comprimida
da região tracionada.

– Durante a deformação na flexão:

» A deformação ocorre em Regime Elástico Linear, portanto é admitida a validade da lei


de Hooke.
» Admite-se que a seção, que era plana antes da deformação, permaneça plana durante a
flexão. Princípio instituído por Bernoulli.
» O ponto de convergência de duas seções é chamado de centro de curvatura da peça
fletida (O).
» A distância da linha neutra ao centro de curvatura define o raio de curvatura da peça
fletida ().
» A distância y da linha neutra a uma fibra qualquer é a variável do problema.

325
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» y para baixo é positivo e localiza uma fibra genérica na região tracionada da seção.
» M é o momento fletor que atua no plano de simetria da seção;
» ab = cd = comprimento inicial da fibra = dx = ds ;
» de = acréscimo do tamanho da fibra genérica cd .

A ilustração desses parâmetros pode ser encontrada na Figura 67-3.

Figura 67-3. Seção da viga após deformação em flexão.

Para uma melhor visualização a Figura 67-3 pode ser reelaborada de forma a permitir o
equacionamento das relações métricas existentes entre triângulos semelhantes, Figura 67-4.

Figura 67-4. Relações métricas na peça deformada em flexão.

Por semelhança de triângulos, admitindo os arcos pequenos, tem-se que:

ab = ds = ab = dx

Portanto:

ds = dx ,

A relação de semelhança implica que:

ˆ .
ˆ = dbe
aob

326
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Logo, pode ser escrito que:

ab ob
= (1).
de be

É possível ver que:

de
=  (deformação específica), uma vez que de é o alongamento da fibra cd .
cd

de
Como ab = cd pode ser escrito que = .
ab

Definindo que:

be = y → como a distância da fibra genérica à fibra neutra.


ob =  → raio de curvatura,

é possível reescrever a equação (1) como:

de be y
= ∴= (2).
ab ob 

A equação (2) indica que a deformação apresentada por uma fibra genérica é dependente, de
forma linear, da distância em relação à fibra neutra, ou à linha neutra na seção transversal,
podendo, a deformação máxima, ocorrer tanto na parte tracionada quanto na região
comprimida. É de interesse recordar que a deformação de compressão, encurtamento, é
NEGATIVA e que a de tração, alongamento, é POSITIVA. Aplicando a Lei de Hooke,
válida para deformações no regime elástico linear, e considerando que os módulos de
elasticidade sejam iguais tanto para a tração quanto para a compressão, tem-se:

y Ey
 = E , como  = → = (3).
 

Pode-se reescrever a equação (3) na forma de:

 E 1 
= ou = (4).
y   Ey

A equação (3) é conhecida como a Lei de Navier, e indica que a tensão é uma função do 1º
grau da sua posição em relação a LN.

Para estudar o equilíbrio de esforços que se processa em uma seção da viga, seja considerado
o trecho de momento constante do diagrama, como indicado na Figura 67-5. Como fica
evidenciado, os esforços internos, Fc e Ft, formam um binário (ou momento interno) dado
por M = F  d , que equilibra o momento externo aplicado. O somatório de todas as forças
internas deve ser nulo, ou seja, Fc = Ft, pois a viga está exclusivamente submetida momento
fletor, não havendo movimento de translação da seção, apenas ocorrendo sua rotação. Nessa
327
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

condição, a resultante das forças de tração deve ser igual, em módulo, à de compressão. As
duas forças, portanto, formam o binário mencionado, que responderá às ações do momento
fletor externo, equilibrando a viga.

Figura 67-5. Equilíbrio de forças na seção em flexão.

Seja considerado um elemento infinitesimal de área dA, como indicado na Figura 67-6.

Figura 67-6. Momento interno de uma força elementar.

Para esse elemento, a tensão normal é dada por:

dF
= → dF =  dA .
dA

Substituindo na expressão anterior a equação (3), pode ser feito que:

Ey
dF = dA .

Integrando a expressão da força elementar em toda a área A da seção, chega-se a:

Ey Ey
 dF =  dA → F =  dA .
A A
 A

A resultante das forças é nula, pois haverá forças positivas e negativas de mesma intensidade,
gerando tensões positivas e negativas, mas de sentidos contrários. Logo, F = 0. Assim:

Ey E
0=
 A
dA → 0 = ydA .
A

E = constante ≠ 0,
Deve ser notado que:
ρ = constante ≠ 0.
328
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Portanto, para que o produto de dois parâmetros seja nulo, é preciso que um deles o seja.
Como o módulo de elasticidade e o raio de curvatura não o são, conclui-se que a integral é
que deva ser. Logo, é possível afirmar que:

0 =  ydA .
A

Essa conclusão indica que a LN deve ser uma linha baricêntrica, pois a integral anterior
representa o Momento Estático, ou momento de primeira ordem da seção, pois y está
referenciado à LN. Isso implica dizer que a Linha Neutra de uma peça em flexão pura é o
lugar geométrico dos pontos de tensão nula e passa pelo centro geométrico da seção
transversal.

Por sua vez, o momento interno de uma força elementar é dado pelo produto dessa força por
seu braço de alavanca em relação à LN. Portanto, como ilustrado na Figura 67-6, esse
momento é definido por:

dM = dF  y . Como dF =  dA , tem-se que:

dM =  dA  y → dM =  ydA .

Ey
Pela equação (3)  = . Logo:

Ey E E
ydA → M = 

dM = y 2 dA → M = 2
y dA ,
 A
 A

onde:

M é o momento interno mobilizado pelas forças internas, ou o momento produzido por todas
as forças elementares, que no equilíbrio se iguala ao momento externo aplicado. Com isso:

E
 A
M= y 2 dA ,

onde a integral anterior é conhecida como momento de inércia ou momento de segunda


ordem, sendo caracterizado pela letra I. Assim sendo, é possível representar a integral pela
letra que a designa, de forma que:

 y dA = I ,
2

o que leva a equação do momento interno total a ser escrita como:

E
M= I (5).

De (5) pode-se fazer que:

329
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

M E 1 M 1 M
= ou =k = → = (6).
I   EI  EI

Igualando as equações (4) e (6), tem-se que:

 M My
= → = (7)
Ey EI I

A expressão (7) é a equação usada para o cálculo das tensões normais em peças fletidas. É
importante ser observado que a distância y foi tomada em relação à fibra tracionada, o que
leva a uma tensão de tração (positiva). É adequado recordar que, para a dedução das
expressões anteriores, y foi orientado para baixo como se faz para a expressão da linha
elástica.

Na aplicação da equação para o cálculo das tensões normais na flexão é preciso observar
que:

» σ poderá ser de tração ou de compreensão;


» y será positivo se tomado para baixo;
» M é positivo se traciona as fibras inferiores ;
» M é negativo se traciona as fibras superiores .

Deve ser observado que o momento de inércia representa a dificuldade que uma viga tem
para ser fletida. Quanto maior a inércia da seção, maior será sua oposição à flexão. O
momento da inércia é expresso em: mm4; cm4; m4. Para o dimensionamento de vigas pode-
se fazer:

Máx Máx
M y
Máx
 =
I
(8),

onde:

Máx
 = é o módulo da máxima tensão, que será igualda à tensão admissível;
Máx
M = é o módulo do máximo momento, obtido no DMF, dentre o positivo ou negativo;
Máx
y = é o módulo da máxima distância em relação à LN, podendo ser para cima ou para
baixo.

Fazendo:

I
W= Máx
,
y

onde W é o modulo resistente da seção, a equação (8) passa a ser escrita como:

Máx
M
Máx
 = (9),
W
330
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

com W sendo expresso em mm3, cm3; m3. Igualando a máxima tensão à admissível, que é o
limite de segurança da tensão axial, para fins de dimensionamento, a equação para a tensão
normal pode ser escrita considerando o maior valor absoluto do momento fletor. Disso,
decorre que o modulo resistente obtido por essa operação deve ser o mínimo necessário à
segurança da viga. Logo:

Máx Máx
M M
Máx
 =  adm →  adm = → WMín = .
WMín  adm

Como o W pode ser obtido em tabelas fornecidas por fabricante de perfis metálicos, é
possível dimensionar vigas com seções tipo “I” por meio desse parâmetro. Isso é possível
desde que o valor calculado para o W seja considerado como o valor mínimo necessário ao
equilíbrio da seção mais solicitada, devendo ser escolhido para ser tão próximo quanto
possível, mas imediatamente acima, dos valores tabelados.

68. MOMENTO DE INÉRCIA

Por definição, o momento de inércia de uma figura plana em relação a um eixo de referência
é a integral dos produtos dos infinitésimos elementos de área que compõem a superfície e
suas respectivas distâncias, ao quadrado, em relação ao respectivo eixo.

Figura 68-1. Definição de momento de inércia.

Portanto, por definição, matematicamente, tem-se:

dI x = y 2dA e dI y = x dA ⸫
2

I x =  y 2 dA e I y =  x 2 dA .
A A

Se os eixos x0 e y0 forem os eixos baricêntricos, x0 e y0 serão os eixos locais, ou seja, os eixos


locais de referência.

Teorema de Steiner:

Considere-se a situação em que os eixos baricêntricos x0 e y0 estão transladados em relação


a eixos paralelos x e y, por distâncias b e a, respectivamente, conforme se indica na Figura
68-2. Em relação a um elemento de área dA as distâncias para os eixos x0 e y0 são y e x .

331
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Figura 68-2. Inércia de eixos transladados.

Por definição, as inércias em relação ao eixo x é obtida por:

I x =  y 2 dA .
A

Substituindo y = b + y na equação anterior, tem-se:

I x =  y 2 dA =  (b + y )2 dA =  b2 dA +  2bydA +  y 2dA =  b2dA + 2b ydA +  y 2dA


A A A A A A A A

Como o momento estático em relação ao centro geométrico da seção é nulo, tem-se que:

 ydA = 0 .
A

Com isso, a inércia em relação a x fica:

I x =  b2 dA +  y 2 dA ,
A A

que pode ser rescrito como:

I x =  y 2 dA +  b2 dA → I x = I x0 + b A ,
2

A A

onde:

I x0 é o momento de inércia em relação ao baricentro da figura,


b é a distância que separa os eixos, e
A é a área da figura.

Por analogia o momento de inércia em relação ao eixo y será:

I y = I y0 + a 2 A ,

sendo:

I y0 é o momento de inércia em relação ao baricentro da figura,


a é a distância que separa os eixos, e
332
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

A é a área da figura.

As equações anteriores permitem enunciar que: O momento de inércia de uma figura plana
em relação a um eixo qualquer paralelo ao seu centroide é igual ao momento de inércia em
relação ao seu centroide mais a distância entre seu eixo baricêntrico e o eixo de referência
elevada ao quadrado multiplicada pela área da figura. Essa propriedade sugere que ao se
colocar uma pequena área afastada do centro geométrico da seção, a inércia do conjunto
aumentará significativamente, pois a área que está sendo afastada será multiplicada pelo
quadrado da distância entre o baricentro dessa e o da seção transversal.

68.1. INÉRCIA DE FIGURAS REGULARES (FORMULÁRIO)

RETÂNGULO:

1) Determinação do centroide pelo momento estático da área:

Por definição:

h h

 ydA  ybdy b  ydy h2


h
y= A
; como dA = bdy → y = 0
= 0
= 2 → y= .
A
h h
h 2
A  bdy
0
b  dy
0

2) Momento de Inércia em relação ao centroide:

Inércia é, por definição:


h h
bh3
dI x = y dA → I x =  y dA =  y bdy = b  y dy → I x =
2 2 2 2
,
A 0 0
3

que é o momento de inércia em relação à base do retângulo, eixo x. Usando o Teorema de


Steiner, faz-se:

I x = I x0 + y 2 A ,

2
bh3 h bh3 bh3 4bh3 − 3bh3 bh3
= I x0 +   (bh) → I x0 = − = → I x0 = .
3 2 3 4 12 12

333
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

A dedução poderia, ainda, ser feita adotando-se a posição, agora conhecida, y , do eixo
baricêntrico, com a integração da expressão que define a inércia de −h / 2 a +h / 2 . Logo:

dI x0 = y 2 dA → I x =  y 2 dA , 0
A

b  h3  h3  
h /2
h /2
 y3 h /2
I x0 =  y (bdy) = b  y dy = b  
2
=  −  −  ,
2

− h /2 − h /2  3 − h /2 3  8  8  

b  h3 h3  b h3 bh3
I x0 =  +  =  → I x0 = .
3 8 8  3 4 12

TRIÂNGULO:

1) Posição do baricentro:

 ydA
y= A
; dA = b1dy .
A
A

h h h h
b b
 b dy 1 0 y h (h − y)dy h 0
y (h − y )dy  (h − y ) ydy
y= 0
h
= h
= h
= 0
h
,
b b
 b dy
0
1 0 h (h − y)dy h 0
(h − y )dy  (h − y )dy
0

h
 hy 2 y 3  h3 h3 3h3 − 2h3
 −  −
 2 3 0 2 3 = 6 h3 h
→ y= .
y= = =
 y2 
h
h 2
2h − h
2 2
2h 2
3
− h2 −
 hy  2 2
 2 0

2) Inércia:
h h
dI x = y dA → I x =  y dA =  y (b1dy ) =  b1 y 2 dy .
2 2 2

A 0 0

Pela relação de triângulos encontra-se b1, que é função de y.

334
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

h h− y h− y b
= → b1 =  b = (h − y ) = b1 ( y ) .
b b1 h h

Substituindo na integral da inércia:


h h
b b
I x =  (h − y ) y 2 dy =  (h − y ) y 2 dy ,
0
h h0

h
b  hy 3 y 4  b  h 4 h 4  b  4h 4 − 3h 4 
Ix =  −  =  − =  ,
h 3 4 0 h  3 4  h  12 

b  h4  bh3
Ix =   → I x = .
h  12  12

Pelo teorema de Steiner, tem-se que: I x = I x0 + y A , logo:


2

2
bh3 1  1  bh3 h2 1 bh3 bh3
= I x0 +  h   bh  → = I x0 +  bh → = I x0 +
12 3  2  12 9 2 12 18

bh3 bh3 3bh3 − 2bh3


I x0 = − = → .
12 18 36

CÍRCULO:

O momento de inércia polar é definido como dJ =  2 dA , onde ρ é a distância em relação ao


centro.

Como dA = 2 d  ∴ dJ =  2 2 d  , que integrando no raio fica:

2 r 4  r4
r r
J =  2 3d  = 2   3d  → J = → J= .
0 0
4 2

Para uma superfície qualquer, tem-se que:

335
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

onde x e y são as coordenadas retangulares e ρ a coordenada polar de uma área diferencial


dA. O momento de inércia polar pode ser relacionado aos momentos de inércia retangulares
fazendo:

I x =  y 2 dA e I y =  x 2 dA .
A A

Se a superfície é um círculo, as inércias retangulares são iguais devido à simetria da figura:

Ix = I y

Por sua vez, o momento de inércia polar, por definição, é:

J =   2 dA .
A

Como  2 = x 2 + y 2 , a equação anterior pode ser escrita como:

J =  ( x2 + y 2 )dA → J =  x2 dA+  y 2 dA → J = I x + I y .
A A A

Como I x = I y → J = 2 I x . Então, como J =  r 4 / 2 e I x = J / 2 , é possível escrever que:

 r4
2 → I = r = I .
4
Ix = x y
2 4

69. EXERCÍCIOS

Exercício 69.1.
Dimensionar uma viga de madeira AB, abaixo, cuja tensão normal admissível é de
150 kgf/cm², adotando-se uma seção quadrada.

Figura 69-1. Exercício 69.1.

1) Diagrama do corpo livre:


336
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

2) Cálculo das reações:

F = 0 → H = 0,
x A

F = 0 → R + R = 3,
y A B

 M = 0 → − R  5 + 3  0,5 = 0 → R
B A A = 0,3tf ∴ RB = 2, 7tf .

3) Diagramas dos esforços solicitantes:

Usando o método das áreas, pela área do diagrama de cortante:

0,3 1, 7
= → 0,3(2 − a) = 1, 7 a → 0,3  2 − 0,3a = 1, 7 a → 2a = 0, 6 → a = 0, 3 .
a 2−a

Portanto:

1
M Máx = 0,9 +  0,3  0,3 → M Máx = 0,945tf  m .
2

My
As tensões normais na flexão são dadas por:  = .
I

Para encontrar a máxima tensão é preciso usar parâmetros máximos, máximo momento e a
máxima distância, na seção, em relação ao centroide. Logo:

Máx
M Máx y
Máx
= .
I

337
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Se o problema se refere a questões de dimensionamento e verificação, a máxima tensão deve


ser igualada à tensão admissível, o que leva a :

Máx Máx
M y
 adm = .
I

Se a seção é quadrada de lados L, como indicado:

a solução do problema é obtida por:

kgf 0,945 105 kgf  cm  L / 2 0,945 105  cm3  6


150 = → 150 = →
cm2 L4 /12 L3

0,945 105  cm3  6 0,945 105  cm3  6


L3 = ⸫ L= 3 → L = 15,58cm .
150 150

Logo, a área da seção fica sendo:

A = (15,58cm ) → A = 242, 66cm2 .


2

Para melhorar a inércia pode ser adotada uma seção retangular de base b e altura h, como
indicado.

Arbitrando-se uma das dimensões, como por exemplo, b = 10 cm, tem-se:

kgf 0,945 105 kgf  cm  h / 2


150 2 = → h  19,50cm .
cm 10cm  h3
12

Esse resultado oferece uma área de A = 19,50cm 10cm = 195cm2 , que é cerca de 20% mais
econômica que a anterior.

Exercício 69.2.
Determinar a máxima tensão na viga AB abaixo.

338
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Figura 69-2. Exercício 59.1.

1) DCL:

2) Cálculo das reações:

 F = 0 → R + R = 4 + 10 → R + R = 14 ,
y A B A B

36 + 30
 M = 0 → − R 10 + 4  9 + 10  3 = 0 → R = 10
B A A → RA = 6, 6tf .

Logo: RB = 14 − 6, 6 → RB = 7, 4tf .

3) Expressões para o cortante e para o fletor

São tomadas seções ,  e  , definindo intervalos de validade das funções dos esforços
solicitantes ao longo do comprimento da viga. Portanto:

V = RA − 2 x → V = 6, 6 − 2 x
x (0  x  2m)
M  = RA x − 2 x  → M = 6,6 x − x2
2
V = 6,6 − 4 −1( x − 2) → V = 4,6 − ( x − 2)
( x − 2) 2 (2m  x  10m)
M  = 6, 6 x − 4( x − 1) −
2
V = 14 − 4 − 1( x − 2) → V = 10 − ( x − 2)
( x − 2) 2 (10m  x  12m)
M  = 6, 6 x − 4( x − 1) − + 7, 4( x − 10)
2

339
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

4) Diagramas

4.1 – DEC (tf)

Quando x = 0 → V = 6, 6
Seção α:
Quando x = 2 → V = 2, 6
Quando x = 2 → V = 6,6 − 4 − (2 − 2) = 2,6
Seção β:
Quando x = 10 → V = 6,6 − 4 − (10 − 2) = −5, 4
Quando x = 10 → V = 6,6 + 7, 4 − 4 − (10 − 2) = 2
Seção γ:
Quando x = 12 → V = 6,6 + 7, 4 − 4 − (12 − 2) = 0

4.2 – DMF (tf.m)

Quando x = 0 → M  = 0
Seção α:
Quando x = 2 → M = 6,6  2 − 22 = 9, 2
1(2 − 2) 2
Quando x = 2 → M  = 6, 6  2 − 4(2 − 1) − = 9, 2
2
Seção β:
1(10 − 2) 2
Quando x = 10 → M  = 6, 6 10 − 4(10 − 1) − = −2
2
(12 − 2) 2
Quando x = 10 → M  = 6, 6 10 − 4(10 − 1) − + 7, 4(10 − 10) = −2
2
Seção γ:
(12 − 2) 2
Quando x = 12 → M  = 6, 6 12 − 4(12 − 1) − + 7, 4(12 − 10) = 0
2

Os diagramas, portanto, são:

4  22 16
f1 = = =2
8 8
,
1  82
f2 = =8,
8
1  22
f3 = = 0,5 .
8

O máximo momento, nesse caso, o positivo, ocorre no intervalo da seção β, portanto:

V = 0 → M = M Máx ⸫

0 = 6, 6 − 4 − ( x − 2) → 0 = 6, 6 − 4 − x + 2 → x = 4, 6m .

340
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Substituindo o valor anterior na equação de M  , tem-se que:

1
M  = 6, 6(4, 6) − 4(4, 6 − 1) − (4, 6 − 2) 2 → M Máx = M  = 12,58tf  m .
2

4) Cálculo da posição da Linha Neutra (Centroide da seção):

A posição do centroide de uma figura fica determinado calculando-se o momento estático


da figura em relação a um eixo de referência. Por definição:

 ydA
n

Ay i i
y= A
ou y=i =1
.
 dA A i
A

No caso particular, a seção dada pode ser dividida em dois retângulos, um horizontal A1 e
outro vertical A2, como indicado na figura a seguir:

Com as áreas A1 e A2 definidas, pode ser escrito que:

A1 y1 + A2 y2
y= ,
A1 + A2

onde y posiciona o centroide da seção, por onde passa o eixo z0, y1 e y2 são as distâncias
dos centroides das áreas A1 e A2, eixos z01 e z02, ao eixo de referência que passa na base da
seção, em relação ao qual o centroide também é referenciado. Substituindo os valores das
áreas que compõem a seção transversal da viga, tem-se:

12  60 
(30 12)(60 + ) + (6  60)  
y=
2  2  → y = 48cm .
(30 12) + (6  60)

É importante ressaltar que o centroide define a origem para as distâncias na seção transversal
no momento de serem calculadas as tensões normais.

5) Cálculo da inércia da seção:

Como os eixos locais z01 e z02 estão afastados do centroide da seção, o teorema dos eixos
paralelos deve ser empregado para a determinação da inércia da seção, Iz0, que deve ser

341
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

representada pela soma das inercias das partes, A1 e A2, em relação ao centroide da seção, ou
1 2
seja I z 0 e I z 0 . Assim:

I z 0 = I 1z 0 + I z20 ,

com

I 1z 0 = I z 01 + A1 ( y1 − y )2 ,

30 123
I z0 = + ( 30 12 )  ( 66 − 48 ) → I 1z 0 = 120960cm4 ,
1 2

12

I z20 = I z 02 + A2 ( y2 − y )2 ,

6  603
I z0 = + ( 6  60 )  ( 30 − 48 ) → I z20 = 224640cm4 .
2 2

12

Com as duas inércias calculadas, pode ser obtida a inércia total da seção fazendo:

I z 0 = 120960 + 224640 → I z 0 = 345600cm4 .

6) Cálculo da máxima tensão:

As tensões normais na altura da seção são calculadas por:

My
= .
I

Para o máximo valor, deve ser escrito que:

Máx
M Máx y
Máx
= ,
I

onde Máx M e Máx y podem assumir valores positivos ou negativos. Essa possibilidade existe
devido ao fato de que o máximo momento pode estar na região positiva ou negativa do
diagrama de momentos fletores e a máxima distância em relação ao centroide da seção, onde
está a linha neutra, pode ocorrer na borda superior ou inferior da seção. Assim, é preciso
verificar qual é o maior valor, em módulo, dentre esses dois valores possíveis. Portanto:

1 - em relação à borda superior, tem-se: ySuperior = 72 − 48 = 24cm .

2 - em relação à borda inferior, tem-se: yInferior = y = 48cm .

Logo, a maior distância em relação à LN é: Máx


y = yInferior = y = 48cm .

342
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Cabe destacar que o centroide da seção define a origem da variável independente do


problema, y, na altura, sendo positiva se tomada para baixo e negativa se tomada para cima,
como se indicado a seguir. A necessidade de tomar o eixo vertical para baixo visa
compatibilizar a matemática com a física do problema. Caso não fosse adotada essa medida,
um sinal negativo teria que será adicionado à equação da tensão normal na flexão, Eq.(7) do
capítulo anterior.

Com isso:

12,58 105 kgf  cm  48cm


Máx
= → Máx
 = 174, 72kgf / cm2 (Tração).
345600cm 4

A tensão que ocorre na borda superior da seção pode ser calculada por:

12,58 105 kgf  cm  ( −24cm )


= 2
→  = −87,36kgf / cm2 (Compressão).
345600cm

Exercício 69.3.
Uma viga de madeira de seção transversal circular está apoiada em A e B e suporta um
carregamento uniformemente distribuído ao longo do balanço, como indicado. Determinar
o diâmetro mínimo d que deve ter a seção, considerando  adm = 85kgf / cm2 , a = 1, 00m e
b = 2, 00m . Desprezar o peso próprio da viga.

Figura 69-3. Exercício 69.3.

1) Diagrama do corpo livre:

2) Reações:

Considerado a = 100 cm e b = 200 cm, as condições de equilíbrio da viga são:

343
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

M B = 0 → 100 RA + 5  200 100 = 0 ⸫ RA = −1000kgf ,

F y = 0 → RA + RB = 5  200 → RB = 5  200 + 1000 ⸫ RB = 2000kgf .

3) Diagrama do esforço cortante e momento fletor:

4) Dimensionamento

O dimensionamento é feito considerando que a tensão normal máxima, que ocorre na


extremidade da seção, seja igual à tensão admissível:

Igualando a tensão admissível à máxima, pode ser escrito que:

Máx Máx
M y
 adm =  =
Máx

I

kgf 100000kgfcm  r 4 100000cm3


85 2 = →r =
3
→ r = 11, 44cm → d = 22,88cm .
cm  r4 85
4

70. FLEXÃO EM BARRAS DE SEÇÃO HETEROGÊNEA

70.1. POSIÇÃO DA LINHA NEUTRA

Tomemos uma seção genérica composta de dois materiais com módulos de elasticidade
diferentes, E1 da área 1 e E2 da área 2, sujeita a um momento fletor Mz, como indicado.

344
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Figura 70-1. Flexão em seção heterogênea.

As tensões nas extremidades da seção, são:

 1 = 1 E1 e  2 =  2 E2 .

O ângulo de giro da seção é dado por:

x y x 1 1
tg  = → como  x = → = ⸫ tg  = ,
y  y  

onde  é o raio de curvatura da peça fletida e y é a distância em relação ao centroide da


seção, em outras palavras, a varável independente do problema, que posiciona qualquer
elemento infinitesimal de área dA em relação a esse centro.

O eixo x é perpendicular ao plano da seção, ou seja, saindo da figura. A barra se deformará


mantendo a hipótese de seção plana, mesmo sendo constituída de dois materiais, conforme
indicado na Figura 70-1(b). Assim, a deformação εx varia linearmente com a distância em
relação ao centroide da seção, onde está a linha neutra, portanto:

y
x = , com y para baixo positivo a partir do centro.

Como os módulos de elasticidade E1 e E2 dos dois materiais são diferentes, as expressões


obtidas para a tensão normal em cada material também serão diferentes, daí:

E1 y 1  x1
 x1 = E1 x = → = , (1),
  E1 y

E2 y 1  x2
 x 2 = E2 x = → = , (2),
  E2 y

com y podendo ser positivo ou negativo. A área A é constituída de dois materiais, assim:

A = A1 + A2 .

345
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n
Como A1 =  dA e A2 =
A1
 dA , a área total será A =  dA +  dA ou simplesmente A =  Ai .
A2 A1 A2 i =1

A equação anterior, escrita em termos de um somatório, permite levar em conta um número


arbitrário n de materiais na seção. Por definição, a força elementar agindo em um elemento
diferencial é dada por:

dF
= → dF =  dA ,
dA

onde  é a tensão normal no elemento de área infinitesimal, pois dF age de forma


perpendicular à superfície. Portanto, a força que age no elemento dA na região ocupada pelo
material 1 é

dFx1 =  x1dA ,

e no elemento dA, na região de área 2, é

dFx 2 =  x 2 dA .

Para encontrar a força total na seção deve-se integrar, nas respectivas áreas A1 e A2, essas
forças elementares, de forma que:

Fx1 =   x1dA e Fx 2 =   x 2 dA .
A1 A2

Como consequência, a resultante das forças internas na seção será dada pela soma das
contribuições de cada parte, logo:

F = Fx1 + Fx 2 .

Como essa resultante é nula, pois a barra está apenas em flexão, F = 0 , o equilíbrio das
forças internas leva a:


A1
x1 dA +   x2 dA = 0
A2
(3).

Substituindo as equações (1) e (2) na expressão (3), tem-se:

E1 y E2 y

A1

dA + 
A2

dA = 0 .

Como a curvatura é a mesma para qualquer ponto da seção, pode ser feito que:

E1  ydA + E2  ydA = 0 (4),


A1 A2

346
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que é a equação que permite determinar a posição do centroide, onde está a linha neutra
(LN). Para sua determinação, tome-se um eixo zb passando na base da seção, como sendo o
eixo de referência para as alturas, como indicado a seguir.

Figura 70-2. Determinação da linha neutra na seção heterogênea.

Os elementos de área dA, em cada parte da seção, têm suas alturas em relação ao eixo de
referência definidas por y1 e y2.

Como y = y1 − y e y = y2 − y , pode-se escrever, da equação (4), que:

E1  ( y1 − y )dA + E2  ( y2 − y )dA = 0 ,
A1 A2

E1  y1dA − E1  ydA + E2  y2 dA − E2  ydA = 0 ,


A1 A1 A2 A2

E1  y1dA − E1 y  dA + E2  y2 dA − E2 y  dA = 0 ,
A1 A1 A2 A2

 
y  E1  dA + E2  dA  = E1  y1dA + E2  y2 dA ⸫
 A 
 1 A2  A1 A2

E1  y1dA + E2  y2 dA
y=
A1 A2
,
E1  dA + E2  dA
A1 A2

onde as integrais do numerador representam os momentos estáticos parciais, das áreas 1 e 2


em relação à LN, Q1 e Q2,

Q1 =  y dA e Q =  y dA ,
A1
1 2
A2
2

e as do denominador representam as respectivas áreas, como já indicado. Para o caso de


seção composta por dois materiais, como representado na Figura 70-1, tem-se:

347
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E1Q1 + E2Q2 E A y + E2 A2 y02


y= → y = 1 1 01 ,
E1 A1 + E2 A2 E1 A1 + E2 A2

com y01 e y02 sendo as distâncias dos centroides das áreas 1 e 2 em relação ao centroide da
seção. De uma forma geral pode-se escrever:

 E  y dA
i =1
i i

y=
Ai
n
,
 E  dA
i =1
i
Ai

ou em termos dos momentos estáticos das áreas que compõem a seção:

E A y i i 0i
y= i =1
n
,
E Ai =1
i i

onde Ai y0i é o momento estático da área Ai composta por um material com módulos de
elasticidade Ei, tendo uma distância y0i de seu eixo baricentrico ao eixo de referência. Se a
seção fosse composta de um único material, ter-se-ia:

Q + Q2 +  + Qn  Ai y0i
y= 1 ou y = i =1n ,
A1 + A2 +  + An
A i =1
i

que é a equação geral para a determinação dos centroides de figuras planas.

70.2. RELAÇÃO MOMENTO-CURVATURA

Lembrando que  = dF / dA → dF =  dA , portanto dF  y = dM , com dM sendo o


momento elementar de uma força infinitesimal dF, agindo na área elementar dA e tendo y
como a distância perpendicular à sua linha de ação, tomada em relação ao centroide da seção
como indicado na Figura 70-3, tem-se:

Figura 70-3. Forças elementares agindo em áreas infinitesimais.

348
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Ey 2 1
M =  ydF =  y dA → M =  dA ou M =  kEy 2 dA , com k = ,
A A A
 A

Para os elementos de área dA da Figura 70-2 tem-se que dM = dM1 + dM2, com respeito às
partes 1 e 2 da seção, com dM1 sendo o momento da força elementar dF1 agindo na área
elementar dA1 distante y1 da LN e dM2 o momento da força elementar dF2 agindo na área
elementar dA2 distante y2 da LN, logo:

dM = dFx1 y + dFx 2 y .

Integrando em toda a área:

M =   x1dAy +   x 2 dAy .
A1 A2

Substituindo-se as equações (1) e (2) na equação anterior, escreve-se, portanto:

E1 y E2 y E1 E2
M= ydA +  ydA → M =  y dA +
2
 y dA .
2

A1
 A2
  A1
 A2

Como as integrais anteriores são os momentos de inercia com respeito às partes 1 e 2:

 y dA = I  y dA = I
2 2
1 e 2 , escreve-se que:
A1 A2

E1 I1 E2 I 2 1 M
M= + → = =k,
   E1I1 + E2 I 2

que é a relação momento-curvatura da seção, com I1 e I2 sendo as inércias das áreas 1 e 2 em


relação à linha neutra.

1  x1 M
Como  x1 = E1 x , equação (1), faz-se = →  x1 = E1 y  (5),
 E1 y E1I1 + E2 I 2

que é a equação para o cálculo da tensão na área constituída pelo material 1 e

1  x2 M
= →  x 2 = E2 y  (6),
 E2 y E1I1 + E2 I 2

a equação para o cálculo da tensão para a região constituída pelo material 2, podendo, em
ambos os casos y ser positivo ou negativo, mas devendo estar restrito à região onde está
sendo calculada a tensão.

70.3. MÉTODO DA SEÇÃO EQUIVALENTE

O método da seção equivalente consiste em transformar uma seção transversal formada por
de um material, em outra, que lhe é equivalente, mas formada por apenas um material. Essa
última, denominada seção equivalente é estudada como visto para vigas constituídas de um
só material.
349
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Tomando-se a equação:

E1  ydA + E2  ydA = 0 e fazendo E2 / E1 = n tem-se:


A1 A2

 y dA + n  y dA = 0 , o que indica que a linha neutra não mudará de posição.


A1
1
A2
2

Ao se multiplicar o momento estático da área 2, mantendo-se a primeira inalterada, pode-se,


a partir daí, considerar toda a viga formada apenas pelo material 1. A seção obtida por esse
mecanismo é dita equivalente à original, e a relação E2/E1, em termos gerais, pode ser maior
ou menor que 1.

Em resumo, a técnica da seção equivalente consiste na transformação de uma seção


composta de dois materiais por uma que lhe seja equivalente, homogeneizada, porém
formada de um só material.

A transformação da seção em uma equivalente pode ser vista na Figura 70-4, onde b é a
largura da seção. Com a homogeneização da seção definida pela relação E2/E1 = n, a base da
seção relativa à presença do material 2, fica modificada de n vezes. Assim, área A2 ao ser
homogeneizada também será multiplicada por n, logo AH = n A2.

Figura 70-4. Homogeneização da seção heterogênea.

Com isso, a tensão no material 1 é dada por:

My
 x1 = ,
I eq

com Ieq sendo a inércia da seção equivalente, calculada por: I eq = I1 + I 2H → I eq = I1 + nI 2 .

 E  My
No material 2 a tensão será:  x 2 =  2  ,
 E1  I eq

o que indica que as tensões na região do material 2 devem ser multiplicadas por n. É de
interesse mencionar que a equação anterior vem da relação

M E2 yM
 2 = E2 y  , ou seja,  2 = .
E1I1 + E2 I 2 E1I1 + E2 I 2
350
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Como E2 = nE1 a equação fica:

nE1 yM nE1 yM nyM My


2 = → 2 = ⸫ 2 = ou  2 = n .
E1I1 + nE1I 2 E1 ( I1 + nI 2 ) I1 + nI 2 I eq

71. EXERCÍCIOS

Exercício 71.1.
A seção de uma viga é formada pela união de dois materiais que são unidos de maneira
solidária. O módulo de elasticidade do material 1 é 205 GPa e do material 2,72 GPa valor.
Sabendo-se que sobre a viga age um momento fletor positivo de M = 15 kNm, determinar:
a) a máxima tensão nos dois materiais;
b) a variação das tensões ao longo da altura.

Dados:
E1 = 205GPa (material 1),
E2 = 72GPa (material 2),
M z = 15kNm .

Figura 71-1. Exercício 71.1.

Solução:

1) Posição da linha neutra:

A posição da linha neutra (LN) é calculada por meio do momento estático das áreas que
compõem a seção em relação ao eixo que passa na base da seção (eixo de referência). L1 e
L2 são os comprimentos correspondentes às áreas do material 1 e 2 e y1 e y2 são as alturas
dos centroides dessas áreas ao eixo de referência. Nesse contexto:

A1 = L1  b e A2 = L2  b ,

com b sendo a largura da seção.

Portanto, fazendo a soma dos momentos estáticos das partes A1 e A2 serem iguais ao
momento estático de toda a seção, tem-se:

351
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E1 A1 y01 + E2 A2 y02
y= ⸫
E1 A1 + E2 A2

205(50  20)(150 + 20 / 2) + 72(50 150)(150 / 2)


y= → y = 98,39mm ,
205(50  20) + 72(150  50)

que é a distância tomada em relação à base da seção. Uma vez definido, o centroide marca a
origem da variável independente y na altura da seção, sendo positivo para baixo no sentido
de compatibilizar o resultado esperado para as tensões, como se ilustrar a seguir:

2) Momentos de inércia em relação à LN

Os momentos de inércia de cada parte que compõe a seção devem ser calculados com base
no teorema dos eixos paralelos tendo em vista que os seus eixos biocêntricos estão
deslocados em relação ao centroide da seção. Portanto, cabe escrever, que:

I 1z 0 = I z01 + A1d12 Teorema dos eixos paralelos, com I z01 e I z02 sendo as inércias em
I = I z02 + A2 d 2
2
z0
2
relação aos eixos centrais das áreas 1 e 2, respectivamente.

A inércia total, portanto, será: I z 0 = I z10 + I z20 , com:

50  203
I 1z 0 = + (50  20)(160 − 98,39) 2 = 3829216,40mm 4 , e
12

50 1503
I =
2
z0 + (50 150)(75 − 98,39) 2 = 18165431,74mm 4 .
12

3) Máximas tensões

3.1) Máxima tensão no material 1:

Considerando y para cima negativo, tem-se:


352
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E1M z 205 15 106


 Máx
=  y1
Máx
→  Máx
=  [−(170 − 98,39)] →
E1I1 + E2 I 2 205  3829216,40 + 72 18165431,74
x1 x1

 xMáx
1 = −105,21MPa (compressão).

3.2) Máxima tensão no material 2:

E2 M z 72 15 106
 xMáx
2 =  y2Máx →  2Máx =  98,39 →
E1I1 + E2 I 2 205  3829216,40 + 72 18165431,74

 2Máx = 50,77MPa (tração).

4) Usando o método da seção homogeneizada

4.1) Homogeneização

E2 72
n= = = 0,35 → n = 0,35 .
E1 205

A área da seção homogeneizada para o material 2 é:

AH = nA 2 → AH = 0,35(50 150) = 2634,15mm2 ,

o que, para a altura de 150 mm, corresponde a uma base igual a:

2634,15
bH = → bH = 17,56mm .
150

Portanto, a seção homogeneizada, com a área de material 2 transformada em uma área


equivalente de material 1, fica:

4.2) Posição do centroide da seção (LN)

A linha neutra não modifica sua posição na seção com a sua homogeneização:

50  20 165 + 17,56 150  75


y= → y = 98,39mm
50  20 + 17,56 150

353
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4.3) Inércia:

A inércia é calculada como se toda a seção fosse feita de um só material: I z 0 = I z10 + I z20 , com:

50  203 17,56  403


I z0 = (50  20)(160 − y ) 2 + (17,56 150)(75 − y )2 → I z 0 = 10209270,47mm4
12 12

4.4) Tensões máximas

– Máxima tensão no material 1:

15 106 [−(170 − 98,39)]


 Máx
x1 = →  xMáx
1 = −105,21MPa .
10209270,47

– Máxima tensão no material 2

15 106  98,39
 Máx
x2 = 0,35  →  xMáx
2 = 50,77 MPa .
10209270,47

4.5) Variação das tensões ao longo da altura

Para se estudar a variação das tensões ao longo da altura da seção, é preciso calcular as
tensões na interface dos dois materiais e ligar esses pontos aos anteriormente calculados por
meio de uma reta, uma vez que a tensão varia de maneira linear com y.

Com base na relação momento-curvatura, na interface, tem-se:

E1M 205 15 106


 Int
=  yInt →  x1 =
Int
 [−(150 − 98,39)] ⸫
x1
E1I1 + E2 I 2 205  3829216,40 + 72 18165431,74

 xInterface
1 = −75,83MPa .

E para o material 2:

E2 M 72 15 106
 xInt2 =  yInt →  xInt2 =  [−(150 − 98,39)] ⸫
E1I1 + E2 I 2 205  3829216,40 + 72 18165431,74

 xInterface
2 = −26,63MPa

Unindo-se os valores das tensões em um diagrama que representa a variação das tensões na
altura da seção, encontra-se:

354
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No ambiente computacional, uma pequena rotina de programação, baseada em


condicionantes, pode ser elaborada para o traçado desse diagrama, como sugerido a seguir.

Início

Defina:
E1, E2, L1, L2, b, M

Calcule:
A1 = L1  b; y1 = L2 + L1 / 2 ; A2 = L2  b; y2 = L2 / 2

E1 A1 y1 + E2 A2 y2 bL13 bL 3
y= ; I1 = + A1 ( y1 − y ) 2 ; I 2 = 2 + A2 ( y2 − y ) 2
A1 y1 + A2 y2 12 12

Defina:
Valor inical de y: yi = −( L1 + L2 − y )
Valor final de y: y f = y
Passo para o incremento de y: y

Incremente y de yi até y f
yi = yi + y

Para cada passo


Sim
verifique se
−( L1 + L2 − y )  y  y

Não
Calcule: Calcule:
E1M E2 M
 ( y) = y  ( y) = y
E1I1 + E2 I 2 E1I1 + E2 I 2

Memorize: Gere gráfico:


y; ( y ) Fim
y; ( y )

Com isso, o gráfico que representa a variação da tensão na altura da seção pode ser
visualizado. Nesse caso, o eixo das ordenadas abriga a variável independente y (em mm) e o
eixo das abscissas a tensão normal (y) (em N/mm2 ou MPa):

355
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

 (MPa)

Uma adaptação na rotina anterior pode ser feita para considerar a presença de três materiais
na seção:

Início

Defina:
E1, E2,E3, L1, L2, L3, b, M

Calcule:
A1 = L1  b; y1 = L3 + L2 + L1 / 2 ; A2 = L2  b; y2 = L3 + L2 / 2 ; A3 = L3  b; y3 = L3 / 2

E1 A1 y1 + E2 A2 y2 + E3 A3 y3
y= ;
A1 y1 + A2 y2 + A3 y3

bL13 bL 3 bL 3
I1 = + A1 ( y1 − y ) 2 ; I 2 = 2 + A2 ( y2 − y ) 2 ; I 3 = 3 + A3 ( y3 − y ) 2
12 12 12

Defina:
Valor inical de y: yi = −( L1 + L2 + L3 − y )
Valor final de y: y f = y
Passo para o incremento de y: y

Incremente y de yi até y f
yi = yi + y

Verifique se y  Sim
−( L1 + L2 + L3 − y )  y  −( L2 + L3 − y )
Calcule:
E1M
Não  ( y) = y
E1I1 + E2 I 2

Verifique se y  Sim
−( L2 + L3 − y )  y  L3
Calcule:
E2 M
Não  ( y) = y
E1I1 + E2 I 2
Calcule:
E3 M
 ( y) = y
E1I1 + E2 I 2 Memorize:
y; ( y )

Gere gráfico:
y; ( y ) Fim

356
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

com:

Normalmente, a configuração de uma seção composta de três materiais está associada às


chamadas peças tipo sanduiche na qual um núcleo com baixo módulo de elasticidade compõe
a seção com materiais de melhor qualidade, ambos com as mesmas propriedades, aplicados
nas bordas da seção. Essas partes costumam ter a mesma extensão na altura. Dessa forma,
pode ser dito que L1 = L3 e E1 = E3. Com esse arranjo, o gráfico da tensão normal na altura
da seção tem a forma de um zigue-zague, onde os trechos horizontais denotam as regiões de
interface.

Interface

Núcleo

Bordas

72. CISALHAMENTO NA FLEXÃO OU TENSÕES DE CISALHAMENTO


PRODUZIDAS POR CARREGAMENTO TRANSVERSAL

Em uma peça submetida a carregamento transversal aparece um momento fletor e um


esforço cortante, caracterizando a flexão simples. Em duas placas superpostas sujeitas a um
carregamento transversal ao eixo, como indicado na Figura 72-3, ocorre o deslizamento de
uma placa sobre a outra, demonstrando a existência de esforços longitudinais.

Figura 72-1. Duas placas superpostas com carregamento vertical.

357
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Se as placas forem unidas de forma solidaria, esse deslizamento não ocorre, mas a sua
tendência permanece, fazendo aparecer tensões de cisalhamento no interior da peça. Para
estudar a cinemática do problema, considere-se uma viga suportando uma carga concentrada
numa posição qualquer ao longo do comprimento L, definindo os tramos a e b.

Figura 72-2. Carregamento vertical em uma viga biapoiada.

Quando a viga se deforma por efeito do carregamento transversal aparecem esforços


cortantes e momentos fletores, o que fica representado por seus respectivos diagramas, DEC
e DMF. Selecione-se um elemento diferencial dx, como indicado na Figura 72-3:

Figura 72-3. Cisalhamento na flexão.

Pode ser verificado que no trecho entre as seções α e β o esforço cortante é constante e
negativo:

Nesse mesmo trecho, o momento fletor M é positivo, mas, diminui na direção do apoio,
sofrendo um decremento dM em relação à face da direita:

358
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Extraindo e ampliando o elemento dx, onde h é altura da seção, tem-se:

Figura 72-4. Equilíbrio horizontal de um elemento infinitesimal.

Pode ser notado que há uma diferença entre as forças horizontais nas faces  e  originadas
na flexão. Isso decorre do fato de haver, também, uma diferença entre os momentos fletores
nessas mesmas faces. Isso quer dizer que Fbd é menor que Fac. Assim sendo, é preciso haver
uma força horizontal, FH, adicional, que complementa o equilíbrio. É importante observar
que essa força atua na face inferior do elemento infinitesimal dx, ou seja, no setor de área
situado entre a borda superior e uma fibra genérica c-d definida por r. Portanto, na seção
transversal, r é a posição da fibra genérica em relação à LN, h é a altura da seção e b a sua
largura.

Figura 72-5. Parâmetros na seção transversal do cisalhamento na flexão.

A força horizontal FH é introduzida pelo esforço cortante que induz tensões de cisalhamento
verticais, xy, que são iguais à do plano ortogonal, yx, de forma que o produto dessa tensão
pela área da face em que atua, ou seja, dx vezes br (dx . br), leva àquela força. Admite-se que
as tensões de cisalhamento sejam constantes na largura, br, da viga e que a seção possua um
plano vertical de simetria  onde atua o momento fletor, como indicado na Figura 72-6.

Figura 72-6. Esquema isométrico das forças no plano vertical de simetria.

359
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Por condições impostas de equilíbrio, yx = xy. Por outro lado, Fac e Fbd são os esforços
normais nas faces no elemento dx devido à flexão, que produzem tensões normais nessas
faces, seções α e β. Admite-se que as tensões de cisalhamento tenham a mesma direção do
esforço cortante, ou seja, paralela à seção transversal. Assim, τxy é tensão de cisalhamento
na face perpendicular ao eixo x e na direção de y. Para o trecho considerado, que contém o
elemento dx, o esforço cortante é negativo e dirigido para cima. Em planos perpendiculares,
as tensões de cisalhamento existentes são iguais e de sentidos contrários. Por essa razão
aparecem tensões de cisalhamento longitudinal, τyx, na mesma direção das tensões normais
produzidas pela flexão.

É importante ter em mente que a componente τxy não interfere na condição de equilíbrio das
forças horizontais, que a componente τyx atua na superfície inferior do elemento considerado
e que a distribuição das tensões normais em uma certa direção não é afetada pelas tensões
de cisalhamento e é linear ao longo da altura da viga. Cabe destacar que:

» Fac e Fbd são esforços de compressão, pois ocorrem acima da linha neutra para um
momento positivo. Essas forças estão aplicadas no centroide da área definida por r e t.
» M e (M – dM) são os momentos fletores, positivos, que agem nas faces do elemento
infinitesimal, portanto tracionam a parte inferior da viga e comprimem a superior.
» cd é uma fibra genérica.

Condição de equilíbrio:

A condição de equilíbrio das forças horizontais é dada por:

F x = 0 → Fac − FH − Fbd = 0 → FH = Fac − Fbd (1).

Para um elemento infinitesimal dA as tensões normais são dadas por:

 = dF / dA → dF =  dA ⸫ F =   dA .
A

Como Fac e Fbd, na equação (2), são forças induzidas pela flexão, tem-se que:

Fac =   ac dA (2)
A

Fbd =   bd dA (3),
A

com essas forças agindo no elemento infinitesimal dA situado no centroide da área entre a
borda superior da seção, cuja altura é dada por t, e uma posição qualquer estabelecida pela
variável r, ou seja, em uma ordenada y dependente de r, y = yrt . Como σac e σbd são tensões
normais produzidas pelo momento fletor, assumem a forma de:

M ac yrt
 ac = (4)
I

360
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

M bd yrt
 bd = (5),
I

com Mac e Mbd sendo os momentos fletores que atuam em cada lado do elemento diferencial
dx, seções  e . Como definido na Figura 72-4:

M ac = M e M bd = ( M − dM ) .

Substituindo esses momentos nas equações (4) e (5), obtém-se:

Myrt
 ac = (6)
I

( M − dM ) yrt
 bd = (7).
I

Dessa forma, as expressões para Fac e Fbd, dadas pelas equações (2) e (3), ficam:

Myrt
Fac =  dA (8)
A
I

( M − dM ) yrt
Fbd =  dA . (9).
A
I

A condição de equilíbrio estabelecida pela equação (1), escrita em termos das integrais das
equações (8) e (9), se torna, portanto:

Myrt (M − dM ) yrt
FH =  dA −  dA . (10).
A
I A
I

Como os momentos fletores não variam ao longo da seção, ou seja, não são funções da altura
y em relação a LN podem sair da integral. Com isso:

M M dM dM
FH =  y dA − I  y dA +  y dA → F =  y dA
t t t t
r r r H r (11),
I A A
I A
I A

onde FH é a força horizontal originada pelo cisalhamento, que para ser obtida é preciso
multiplicar a tensão de cisalhamento atuante na face inferior do elemento infinitesimal pela
área da respectiva face. Logo:

FH =  yxbr dx . (12).

361
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

É importante mencionar que equação anterior representa a força horizontal total no


comprimento do elemento diferencial dx. Se se deseja obter a força por unidade de
comprimento, essa força deve ser dividida pelo comprimento do elemento. A grandeza assim
estabelecida é chamada de fluxo de cisalhamento horizontal e designada pela letra f . Assim:

FH
=  yx br = f ⸫ f =  yxbr . (13).
dx

Diante do que foi exposto, para se obter o equilíbrio de forças, a equação (12) deve ser
substituída na equação (11). Portanto:

dM
 yxbr dx =  y dA .
t
r
I A

Assim, isolando a tensão no lado esquerdo da igualdade, pode ser escrito que:

1 dM
 yx =   y dA
t
r (14),
br I dx A

onde:

 y dA = Q
t t
r r (15)
A

representa o momento estático da área entre r e t em relação à LN, e

dM
=V (16)
dx

é o esforço cortante na seção em análise. Assim sendo, escrevendo a equação (14) em termos
das equações (16) e (17), chega-se a:

VQrt VQrt
 yx = . Como  yx =  xy →  xy = (17),
br I br I

que é a expressão geral para a obtenção das tensões de cisalhamento verticais induzidas por
carregamento transversal ao eixo, onde br é a base cisalhada ou base cortada – face inferior
do elemento onde se calcula a tensão de cisalhamento e I é o momento e inércia da seção.
Portanto, br depende da linha de corte, a exemplo de:

Figura 72-7. Definição da linha de corte na seção transversal.

362
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Vale a pena observar que o momento estático de uma figura plana é igual em relação ao seu
centroide (LN), se calculado por cima ou por baixo desse. Considerando a equação (17)
reescrita como:

VQrt
 yx b = ,
I

o fluxo de cisalhamento dado pela equação (13) pode ser expresso da seguinte forma:

VQrt
f = (18).
I

Seção retangular:

Uma seção retangular é uma forma geométrica regular definida pelas duas dimensões que a
caracterizam, sua base b e altura h. Devido à sua simetria, a linha neutra (LN) corta a seção
na metade da altura. Tome-se, para a presente abordagem, um elemento de área dA de altura
dy situado a uma distância y = yrt que define o centroide da área Art entre a borda superior
e uma posição genérica r, como indicado na Figura 72-8.

Figura 72-8. Parâmetros de análise de uma seção retangular.

Dado o diagrama de esforço cortante e momento fletor indicado na Figura 72-3, o equilíbrio
horizontal em um elemento diferencial dx, na posição de cortante negativo, é estabelecido
pelo somatório das forças induzidas pelas tensões normais e de cisalhamento em relação ao
plano vertical de simetria da seção , como indicado na Figura 72-9.

Figura 72-9. Equilíbrio de forças em uma seção retangular.

Cabe observar que as forças horizontais provenientes do momento fletor podem ser
entendidas por meio do diagrama de tensões ao longo da altura, conforme indicado na Figura
72-10.
363
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Figura 72-10. Equilíbrio de forças considerando o diagrama de tensões normais.

Como pode ser observado, a força Fac* é encontrada pela área do diagrama de tensões, um
trapézio, ou seja:

  +c 
Fac* =  a  (t − r ) .
 2 

Como:

Mya Myc
a = , com ya = t e  c = , com yc = r , essas tensões passam a ser escritas como:
I I

Mt Mr
a = e c = . Com isso:
I I

 Mt Mr 
 I + I  M (t + r )
Fac = 
*

2
 ( t − r ) → Fac =
*

I 2
( t − r ) ⸫ Fac =
I 2
(t − r ) .
M 1 2 2
 
 

A equação anterior representa a força por unidade de largura da viga. Para encontrar a força
total deve-se multiplicar essa equação pela largura, b, da seção. Com isso:

Fac =
I 2
(t − r ) b .
M 1 2 2

Como o momento estático da área entre r e t é dado por

(t − r )
Qrt = Art  yrt , onde Art = (t − r )  b e yrt = r + , tem-se que:
2

 (t − r ) 
 , logo: Qr = 2 ( t − r ) b . Portanto,
1 2
Qrt = (t − r )  b   r + t 2

 2 

MQrt
Fac = (19).
I

Analogamente,

364
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

( M − dM )Qrt
Fbd = (20).
I

Com isso, o equilíbrio de forças horizontais é obtido substituindo as equações (13), (19) e
(20) na equação (1). Portanto:

MQrt ( M − dM )Qrt
FH = Fac − Fbd →  yx bdx = − ,
I I

o que leva a:

MQrt MQrt dMQrt dMQrt dMQrt VQrt


 yxbdx = − + →  yxbdx = →  yx = →  yx = .
I I I I dxbI bI

Nessa mesma linha de raciocínio, o desenvolvimento poderia ter sido realizado tomando-se
por base as equações (2) e (3), considerando a área elementar dada por dA = bdy e integrando
de r a t. Com isso, tem-se que:

Fac = 
t
My
bdy e Fbd = 
( M − dM ) y bdy .
t

r
I r
I

O equilíbrio horizontal, portanto, pode ser escrito como:

t t t t
M M dM dM
b ydy − b ydy + b ydy →  yxbdx =
I r
FH = Fac − Fbd →  yxbdx = b ydy ⸫
I r I r I r

 yx bdx =
I 2
( t − r ) b . Como Qrt = ( t 2 − r 2 ) b , tem-se que:  yx bdx =
dM 1 2 2 1
2
dM t
I
Qr .

Isolando a tensão de cisalhamento do lado esquerdo da igualdade:

dM Qrt
 yx = ,
dx bI

dM
e sabendo que a derivada do momento em relação a x é o esforço cortante, =V ,
dx

VQrt
chega-se a :  yx = .
bI

O estudo da variação das tensões na altura da seção pode ser feito considerando uma seção
retangular de altura h e base b, com os elementos indicados na Figura 72-11;

365
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Com:

r = posição da fibra genérica em relação à LN


yrt = posição do centroide do setor de área Art .

Figura 72-11. Variação de tensões de cisalhamento em uma seção retangular.

O momento estático do setor entre a borda superior e a fibra genérica definida por r é:

Qrt = Art yrt ,

com a área Art sendo dada por:

Art = (t − r )b ,

e com o braço de alavanca yrt dessa área em relação ao centroide da seção definido como:

t −r  t+r
yrt = r +   → yr = 2 .
t

 2 

Levando os parâmetros anteriores à expressão geral da tensão de cisalhamento, tem-se:

  t + r  b  b 
V (t − r )b   V  (t − r )(t + r )  V  ( t 2 − r 2 )
 
t
=  → =   →  = 2  ⸫
VQ 2 2
= r
3 3 3
br I bh bh bh
b b b
12 12 12

6V (t 2 − r 2 )
= .
bh3

Como t = h / 2 , a equação pode ser reescrita da seguinte forma:

 h2 
6V  − r 2 
=  3 
4
(22),
bh

onde r é a variável que posiciona a superfície cisalhada, portanto a variável do problema na


seção dada pelo esforço cortante V.

A expressão anterior é a equação geral para o cálculo das tensões de cisalhamento em uma
posição r na seção transversal retangular de base b e altura h, com r variando de zero, na
linha neutra, a h/2, na borda superior (inferior). Essa expressão demonstra que a tensão de
cisalhamento varia de forma quadrática na altura da seção, anulando-se quando r = h / 2 e
sendo máxima quando r = 0 . Isso quer dizer que as bordas da seção, as superfícies da viga,

366
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

estão isentas de tensões de cisalhamento, e o valor máximo ocorre sobre a linha neutra, onde
está o centroide da seção.

Fazendo r = 0 (no centroide), encontra-se:

 h2 
6V  − 0  2
 Máx =  4  = 6Vh →  = 3V →  = 3 V .
Máx Máx
bh3 4bh3 2bh 2 bh

V V
Como bh é a área da seção, a relação é equivalente à tensão média. Logo:  Méd = .
bh bh

Como isso, tem-se que:  Máx = 1,5 Méd , que é um valor 50% maior que a tensão média.

Fazendo r = h / 2 (na borda):

 h2 h2 
6V  − 
=  3
4 4
= 0.
bh

Isso quer dizer que as bordas da seção estão isentas de tensões de cisalhamento devido ao
cortante.

Sendo a seção circular:

Considere-se uma seção circular de raio R, conforme indicado na Figura 72-12.

Figura 72-12. Variação de tensões de cisalhamento em uma seção circular.

Definindo um elemento de área infinitesimal dA localizado na área entre r e t por:

dA = by dy ,

onde by é a largura da seção na altura y, com by = 2 R 2 − y 2 , o momento estático em relação


à LN, desse elemento de área, é:

dQ = ydA .

Integrado nos limites dados por r e t = R, esse diferencial fica:

367
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

t=R R R
Qrt = 
r
ydA → Qrt =  by ydy → Qrt =  2 R 2 − y 2 ydy .
r r

Faz-se uma mudança de variável, de forma que:

R R
du du
u = R 2 − y 2 → du = −2 ydy → = ydy → Qrt =  2u1/2 → Qrt = − u1/2 du .
−2 r
−2 r

Com isso:

R
 −u 3/2 
R R
 2   2 
Q =
t
r  =  − u 3/2  → Qrt =  − ( R 2 − y 2 )3/2  .
 3 / 2 r  3 r  3 r

Substituindo em y os limites dados para a integral:

 2   2 
Qrt =  − ( R 2 − R 2 )3/2  −  − ( R 2 − r 2 )3/2  ,
 3   3 

chega-se a

Qrt =
3
(R − r ) .
2 2 2 3/2

Portanto, empregando a equação das tensões de cisalhamento para uma posição r na altura
da seção transversal, encontra-se:

V ( R2 − r 2 )
2
( ) ,
3/2
2 3/2
VQrt 4 V R 2
− r
 xy = →  xy = 3 →  xy =
br I R 4
3 R2 − r 2  R4
2 R2 − r 2
4

que é uma função quadrática em r. Portanto, quando r = 0 (no centroide):

4 V (R )
2 3/2
4 VR 3 4 V
 xy = →  xy = →  xy = .
3 R R
2 4 3 R R 4
3  R2

V 4
Como  Méd = →  xy =  Méd .
R 2
3

4 V (R − R )
2 2 3/2

Quando r = R (na borda):  xy = →  xy = 0 .


3 R2 − R2  R4

Pode ser visto que, que a posição de tensão máxima está sobre o diâmetro da seção, ou seja
quando é considera a área da semicircunferência e seu centroide, que pode ser encontrado,
por via alternativa, pela definição de momento estático:

368
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

 ydA 2 R 2 − y 2 ydy
4 (R )
2 3/2
4R
y= A
→ y= 0
→ y= → y= .
 dA 3 R 3
R 2

A 2
0
R 2 − y 2 dy

Logo, para a máxima tensão, tem-se:


 r2
Asc = (semicircunferência)
2
  r 2 4r 
V   
VQrt  2 3  V  4 / 3r 3
= = →  Máx = ⸫
br I  r4  r5
2r 
4
4 V 4
 Máx = →  Máx =  Méd .
3 r 2
3

O diagrama a seguir mostra a variação das tensões de cisalhamento em uma seção transversal
retangular/circular de mesma altura e área para o mesmo esforço cortante.


Figura 72-13. Distribuição de tensões de cisalhamento na altura.

É importante observar que na flexão simples, onde há a presença de momento fletor e esforço
cortante, a análise com vistas ao dimensionamento ou verificação das seções transversais
envolve o cômputo das tensões normais e de cisalhamento, cujos valores máximos ocorrem
em posições diferentes da seção. A distribuição dessas tensões obedece a leis diferentes,
sendo linear para as tensões normais e quadrática para as de cisalhamento, conforme é
mostrado na Figura 72-14.

369
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Figura 72-14. Distribuição de tensões normais e de cisalhamento na flexão.

Verifica-se, portanto, que quando  = 0 →  =  Máx e quando  =  Máx →  = 0 .

73. EXERCÍCIOS

Exercício 73.1.
Dada a viga esquematizada, determinar a tensão normal e de cisalhamento para a seção C
nas fibras a 5 cm acima da borda inferior da viga.

Figura 73-1. Exercício 73.1.Exercício 73.2.

1) Reações

Pb 1 1 1
RA = = = → RA = 0, 2tf ∴ RB = 0,8tf .
L 5 5

2) Diagramas de esforços

3) Esforços em C

Vc = 0, 2tf e M c = 0, 2  2 = 0, 4tf  m .

370
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4) Tensões:

No cálculo das tensões normal e de cisalhamento, é preciso observar, na seção, as distâncias


em relação ao seu centroide:

4.1) Tensão normal

My 0, 4 105 kgfcm  25cm kgf


= = →  = 5,56 2 (tração).
I 10  603
cm
cm4
12

4.2) Tensão de cisalhamento

VQrt 0, 2 10 kgf   (10  5)  (25 + 2,5)  cm


3 3
kgf
= = →  = 0,15 2 .
br I 10  60 3
cm
10cm  cm 4
12

Obs.: Como já pôde ser demonstrado:

t + r 30cm + 25cm 55cm


yrt = = = → yrt = 27,5cm .
2 2 2

Exercício 73.2.
Qual o máximo valor de P compatível com segurança da viga? Dados:  adm = 150kgf / cm2
e  adm = 8kgf / cm2 .

Figura 73-2. Exercício 73.2.

1) Diagrama de Corpo Livre e de esforços:

Identificando o apoio da esquerda por A e o direita por B, e as distâncias que posicionam a


força P como a* e b*, o diagrama de carregamento é definido da seguinte forma:

371
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Com isso, o diagrama de corpo livre, do esforço cortante e do momento fletor podem ser
traçados considerando uma representação simbólica de seus parâmetros, como:

2) Cálculo das reações:

As reações de apoio da viga são dadas por:

Pb* Pa*
RA = e RB = ,
L L

com a* = 4 m e b* = 1 m as distâncias que localizam a força P no vão, e L = 5 m o seu


comprimento total.

3) Cálculo da força permissível por meio das tensões admissíveis:

3.1) Tensão de cisalhamento:

Com visto, a tensão máxima de cisalhamento é encontrada pela seguinte equação:

Máx
V MáxQ
Máx
= ,
bLN I

onde bLN indica que a posição de cisalhamento máxima ocorre na linha neutra (LN). Devido
à simetria da seção a LN se encontra na metade de sua altura, ou seja, h/2.

372
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Para problemas de dimensionamento ou de verificação da capacidade de carregamento, a


máxima tensão deve ser igualada à tensão admissível:

Máx
 =  adm .

Introduzindo na equação da tensão máxima o valor da tensão admissível fornecida para o


material (  adm = 8kgf / cm2 ), e fazendo: Máx Q = bLN  h / 2  (h / 2 / 2) e I = bh 3 / 12 , onde b é
largura da viga e h sua altura, tem-se:

kgf V (10cm  30cm 15cm)


Máx
8 = → Máx
V = 3200kgf = 3, 2tf .
cm2 10cm  (60cm)3
10cm 
12

Pelo diagrama do esforço cortante há duas possibilidades para o cortante máximo:

Pa*
(1) Máx
V= , ou
L

Pb*
(2) Máx
V= .
L

Verificando cada uma à sua vez, tem-se:

P  4m 3200kgf  5
Por (1): 3200kgf = → P= → P = 4000kgf → P = 4tf .
5m 4

P 1m 3200kgf  5
Por (2): 3200kgf = → P= → P = 16000kgf → P = 16tf .
5m 1

3.2) Tensão normal

Para problemas de dimensionamento ou verificação sabe-se que: Máx


 =  adm . A tensão
normal máxima é obtida fazendo-se:

Máx Máx
M y
Máx
 = ,
I

com o maior valor do momento, em módulo, sendo extraído do diagrama de momentos


fletores (DMF). Com isso:

Pa*b*
Máx
M = .
L

A tensão normal admissível dada para o problema é  adm = 150kgf / cm2 . Levando esse valor
para a equação da tensão máxima, com Máx
y = h / 2 e I = bh 3 / 12 , tem-se:

373
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

kgf
Máx
M  30cm 150kgf 10  603 4 25  603
150 2 = → Máx
M =  cm → Máx
M = kgf  cm .
cm 10cm  (60cm)3 30cm3 12 6
12

Portanto, o momento máximo que pode ser aplicado, em módulo, é:

Máx
M = 9 105 kgf  cm → Máx
M = 9 103 kgf  m → Máx
M = 9tf  m .

Com esse valor é possível calcular a força que conduz à tensão normal admissível, por:

Pa*b* P  4m 1m 45 103


Máx
M = → 9 103 kgf  m = → P= kgf → P = 11250kgf →
L 5m 4

P = 11, 25tf .

Portanto, a força máxima permissível será a menor dentre as calculadas. Logo, P = 4tf ,
tendo sido determinada pelo esforço cortante sobre o apoio esquerdo da viga.

Exercício 73.3.
Calcular as máximas tensões na seção (indicada à direita) da viga abaixo.

Figura 73-3. Exercício 73.3.

1) DCL

2) Reações

Como a viga é simétrica ( ), as reações podem ser calculadas para a metade da peça.

M Rót1
Esq = 0 → − RA  4 + 2  4  2 = 0 → RA = 4tf .

F y Esq = 0 → RA + RB = 2  5 + 2 → RB = 12 − 4 → RB = 8tf .

374
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Pela simetria: RA = RD e RB = RC .

2) Diagramas dos esforços (DEC e DMF)

Para o traçado dos diagramas é de interesse definir pontos relevantes ao longo da viga. Esses
pontos marcam as posições de início e fim de carregamentos e localizam forças concentradas
(ativas ou reativas). Nesse sentido, foram definidos os pontos de A à F, conforme se indica.

2.1) DEC

Traçado do DEC com base no DC (por pontos):

VA = 0 ,
VA ' = 4 ,
VB = 4 − 2  5 = −6 ,
VB ' = −6 + 8 = 2 ,
VE = 2 − 2 = 0 ,
VC = 0 − 2 = −2 ,
VC ' = −2 + 8 = 6 ,
VD = 6 − 2  5 = −4 ,
VD ' = −4 + 4 = 0 .

DEC (tf):

2.1) DMF

Traçado do DMF com base no DEC:

MA = 0,
 −6 + 4 
MB = 0 +   5 → M B = −5tf  m ,
 2 
M E = −5 + 2  2 = −1tf  m ,
M F = −1tf  m ,
375
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

M C = −1 − 2  2 = −5tf  m ,
 −6 + 4 
M D = −5 +  5 → MD = 0 .
 2 

As duas flechas são:

2  52 25
f1 = = = 6, 25tf  m .
8 4

DMF (tfm):

3) Determinação do máximo momento

O máximo momento deverá ser verificado para os pontos (seções) onde os cortantes são
nulos. Uma dessas posições corresponde ao momento de −5tf  m . A outra está no intervalo
do momento positivo a ser determinada fazendo-se o cortante nulo no trecho A-B da viga.
Para isso, será tomada uma seção  distante de x da extremidade esquerda da viga:

Assim, a equação do esforço cortante fica sendo:

RA 4
V = RA − 2 x , que igualada a zero leva a: RA − 2 x = 0 → x = = = 2m .
2 2

Substituindo o valor obtido na passagem anterior na equação do momento fletor, tem-se:

M = RA x − x2 = 4  2 − 22 = 8 − 4 → M  = 4tf  m .

É preciso comparar os valores do momento máximo (positivo) e do momento mínimo


(negativo) para ver qual deles é o maior em módulo, ou seja:

M Mín = 5 ; M Máx = 4 , logo, pode ser concluído que o máximo momento em módulo é:

Máx
M = M Mín = 5 .

376
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Cabe observar que, embora esteja sendo analisado o maior momento em módulo, o sinal
negativo será levado em conta no cálculo da máxima tensão.

4) Determinação da posição da linha neutra (centroide)

As medidas de interesse na altura da seção são y01 e y02 uma vez que posicionam os
centroides z01 e z02 das partes 1 e 2 em relação à base da seção.

Com isso, pode ser escrita a equação para determinação do centroide z0 da seção, fazendo:

 12    90  
12  48   90 +  + 2  90 12    
 2   2 
y= → y = 55, 74cm ⸫
12  48 + 2  ( 90 12 )

A partir dessa posição podem ser definidas as distâncias para o cálculo da inércia da seção e
das tensões normais e de cisalhamento, conforme se indica a seguir:

5) Determinação da inércia da seção em relação ao seu centroide (posição da LN)

Total
O centroide da seção z0 abriga a linha neutra, de forma que a inércia da seção I LN é a soma
1 2
das inércias das partes que a compõe em relação a essa posição, indicadas por I LN e I LN ,
sendo essa última contada duas vezes por haver dois retângulos idênticos. Portanto:

Total
I LN = I LN
1
+ 2  I LN
2
,

com

1
I LN = I z 01 + A1d12 e I LN
2
= I z 02 + A2d22 ,

sendo A1 e A2 as áreas das partes 1 e 2 e d1 d2 as distâncias que separam seus eixos centrais,
z01 e z02, ao centroide z0 da seção onde está a linha neutra , conforme indicado a seguir:
377
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Numericamente, tem-se:

48 123
1
I LN = + 48 12  (96 − 55, 74) 2 → I LN
1
= 940678, 205cm4 ,
12

12  903
2
I LN = + 12  90  (45 − 55, 74) 2 → I LN
2
= 8535502,161cm4 ⸫
12

Total
I LN = 940678, 205 + 2  (8535502,161) → I LN
Total
= 2647682,53cm4 .

6) Determinação das máximas tensões

6.1) Máxima tensão normal

My −5 105 kgfcm  55, 74cm


= = →  = −10,53kgf / cm2 .
I 2647682,53cm4

6.2) Máxima tensão de cisalhamento

 55, 74  3 
6 103 kgf  2  12  55, 74   cm 
VQ   2   →  = 8, 45kgf / cm2 .
= =
bI ( 2 12 ) cm  2647682,53cm 4

Importante observar que se poderia calcular o momento estático em relação à LN por cima
dessa.

74. CISALHAMENTO EM PERFIS DE CHAPA FINA

As expressões deduzidas para o cálculo da tensão de cisalhamento τxy são validas para o caso
de seções de paredes finas, no entanto a força horizontal responsável pelo equilíbrio do
elemento diferencial dx deriva da componente τzx = τxz, tendo em vista que por ser esse um
perfil de parede fina a componente τxy na altura é muito pequena (Figura 74-1) .

No presente estudo, o perfil possui os parâmetros geométricos básicos que definem sua
forma como indicado na Figura 74-1, onde: tf é a espessura da mesa (ou flange), tw e h são
a espessura e a altura da alma (ou web) e d é a altura total do perfil.

378
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Figura 74-1. Elementos geométricos de um perfil de paredes finas.

Para estabelecer a cinemática do problema, seja considerada uma viga bi apoiada com uma
carga concentrada e seus diagramas de Esforço Cortante (DEC) e Momento Fletor (DMF),
de onde se extrai um elemento diferencial de comprimento dx, entre duas seções adjacentes
 e , como mostrado na Figura 74-2.

DEC: DMF:

Figura 74-2. Viga em flexão simples.

Pode ser observado que as seções α e β estão no trecho de cortante negativo no DEC,
assim como estão no trecho de momento positivo no DMF, com o valor do momento
diminuindo na direção do apoio.

DEC: DMF:

Figura 74-3. Cortante e momento fletor no elemento diferencial dx.

379
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Como já visto, o fluxo de cisalhamento horizontal é calculado por:

VQrt
f =  yxbr → f = ,
I

onde br é a largura no ponto em consideração da seção e Qrt é o momento estático da área Art
definida por r e t, sendo igual a Qrt = Art yrt , onde yrt é a posição do centroide dessa área em
relação à linha neutra, que depende da altura r onde está sendo calculado o fluxo de
cisalhamento. É importante destacar que o fluxo de cisalhamento ocorre na parte inferior do
setor de área destacado, conforme Figura 74-4.

Figura 74-4. Fluxo de cisalhamento na parede do perfil.

Portanto, a equação anterior evidencia que f dependente de Qrt . Nesse caso, f não é
constante e varia proporcionalmente à variação do momento estático em relação à LN,
crescendo da borda em direção ao centro da peça, maneira pela qual Qrt é calculado. Pela
observação do fluxo de cisalhamento no elemento diferencial de comprimento dx, é possível
constatar a existência de tensões de tensões de cisalhamento na mesa do perfil agindo na
face perpendicular a x e na direção de z (xz), como indicado na Figura 74-5.

Figura 74-5. Distribuição das tensões de cisalhamento na parede do perfil.

380
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Analisando o elemento dx, é possível observar o equilíbrio das forças atuantes na direção de
x. Nesse contexto, a componente de cisalhamento xz faz aparecer uma componente de
mesma intensidade, mas de direção contrária, no plano ortogonal, ou seja, na face
perpendicular a z (zx), como se ilustra a seguir. No setor de área destacado, a-b é uma fibra
situada na lateral do perfil e c-d uma fibra genérica cuja posição cresce da borda para o
interior da seção, segundo a grandeza s. Essa fibra é a responsável por definir um elemento
infinitesimal de área na face lateral do setor, dada por dx tf .

Figura 74-6. Tensões de cisalhamento horizontais.

No plano da seção, s é a variável que posiciona a fibra genérica c-d, estando localizada sobre
a linha média da espessura, com altura estabelecida pela ordenada yrt em relação à linha
neutra (LN). O elemento infinitesimal ds, sobre essa linha, define a área diferencial dA, com:

dA = t f ds .

Figura 74-7. Elementos do cisalhamento horizontais.

O equilíbrio das forças horizontais do elemento dx, como visto na Figura 74-6, analisada em
conjunto com a Figura 74-7, leva a:

F x = 0 → Fac − FH − Fbd = 0 ,

381
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onde Fab e Fbd são forças provenientes da flexão e FH vem do fluxo de cisalhamento
horizontal induzido pelo esforço cortante. É possível constatar, na equação de equilíbrio, que
a força horizontal FH compensa a diferença de forças da flexão, pois o momento da face  é
menor que o da face , logo:

FH = Fac − Fbd ⸫

Myrt Myrt dM dM
FH =  dA −  dA +  y dA → F
t
r H =  y dA .
t
r
A
I A
I I A
I A

Como

FH =  zxt f dx ,

tem-se que:

dM dM
 zxt f dx =  y dA →  =  yrt dA .
t
r zx
I A
It f dx A

Como a derivada do momento em relação à x é o cortante e a integral da direita representa


o momento estático da área delimitada por s em relação à LN, com

dM
V= e Qs =  yrt dA ,
dx A

a relação anterior pode ser escrita na forma de:

VQs
 zx = ,
tf I

onde:

Qs é o momento estático da área hachurada em relação à linha neutra (LN), que depende
da posição s tomada em relação à borda lateral do perfil;
tf é a espessura da mesa (flange) do perfil; e
I é a inércia total da seção em relação ao seu centroide.

A notação anterior, em termos do momento estático, torna prática a apresentação da solução


do problema analisado. Entretanto, é possível desenvolver um pouco mais o resultado obtido,
visando explicitar a solução em função dos parâmetros geométricos existentes na seção.
Como dA = t f ds , a integral passa a ser escrita como:

dM  t 
 zx =  yr  t f ds  .
It f dx  s 
382
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Sendo a espessura da mesa constante, essa pode ser retirada da integral. Assim:

dM  t 
 zx =  yr t f  ds 
It f dx  s 

Como a variável do problema se situa entre 0 e s, definindo os limites da integral, pode ser
feito que:

dM  t
s
 V ( yrt t f s )
 zx =  r f 
It f dx 
y t ds →  zx =
dM
( r f )  zx = It ,
y t
t s →
0  It f dx f

que é uma função implícita em s, onde a parcela entre parêntesis representa o momento
estático da área definida por essa variável e a espessura tf na parede do perfil. Importante
registrar que a variável da equação está situada sobre a linha média da espessura da parede
e varia de zero até bf/2.

Por fim, pode ser concluído que a componente vertical τxy que existe na mesa é muito
pequena. Na alma, a componente τxz é desprezada por também ser de pequeno valor.
Portanto, na mesa, o equilíbrio decorre de  zxt f b f / 2 e na alma de  xytwh . Em qualquer das
bordas mais afastadas do perfil as tensões de cisalhamento são nulas. Portanto, no caso do
esforço cortante, a alma praticamente absorve todo o esforço, entretanto, na mesa, essa
componente não consegue compensar a diferença de momentos na flexão, e a componente
τxz passa a desempenhar o papel principal, conforme indicado na Figura 74-8.

Figura 74-8. Tensões de cisalhamento máxima e média na altura do perfil.

75. EXERCÍCIOS

Exercício 75.1.
Dado perfil indicado na Figura 75-1 sujeito a um esforço cortante V de 250 kN, pede-se:
a) Determinar o módulo da tensão de cisalhamento vertical nos pontos A, B, C e D.
b) Calcular a tensão de cisalhamento vertical média.
c) Determinar o módulo da tensão de cisalhamento horizontal no ponto B.

383
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Figura 75-1. Exercício 75.1.

a) Determinação do módulo da tensão de cisalhamento vertical nos pontos A, B, C e D.

1) Cálculo do momento de inércia total da seção:

125mm  (20mm)3 
 + (125mm  20mm)(100mm − 10mm) 2 + 
12
I z0 = 2   →
 20mm  (80mm)3  80mm 
2

 + (20mm  80mm)   
 12  2  

I z = 47, 49 106 mm4 .

Ou ainda:

20mm  (160mm)3 125mm  (20mm)3 


I z0 = + 2 + (125mm  20mm)(90mm) 2  →
12  12 

I z = 47, 49 106 mm4 .

2) Cálculo das tensões de cisalhamento verticais:

Ponto A: QA = 125mm  20mm  90mm + 20mm  80mm  40mm = 289 103 mm3 .

250 103 N  289 103 mm3 N


 xy = →  xy A = 76,1 = 76,1MPa .
A
20mm  47, 49 10 mm
6 4
mm 2

384
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Ponto B: QB = 125mm  20mm  90mm = 225 103 mm3 .

250 103 N  225 103 mm3 N


 xy = →  xyB = 59, 2 = 59, 2 MPa .
B
20mm  47, 49 10 mm
6 4
mm 2

O ponto B está situado ligeiramente abaixo da mesa, portanto está na alma do perfil.

Ponto C: QC = 125mm  20mm  90mm = 225 103 mm3

250 103 N  225 103 mm3 N


 xy = →  xyC = 9,5 = 9,5MPa .
C
125mm  47, 49 10 mm
6 4
mm 2

O ponto C está situado na mesa, ligeiramente acima da na alma do perfil.

Ponto D: QD = 0 , pois o ponto D está situado na superfície (ou na borda) da seção.

 xy = 0 → Na seção tem-se a distribuição de  xy .


D

b) Cálculo da tensão de cisalhamento vertical média

V 250 103 N N
 Méd = →  Méd = →  Méd = 78,1 →  Méd = 78,1MPa .
Aalma 20mm 160mm mm 2

Isso representa uma diferença de 2,7% em relação à τmáx.

c) Determinação do módulo da tensão de cisalhamento horizontal no ponto B

Conforme indicado na figura, o ponto B se situa na alma do perfil, mas imediatamente (ou
na vizinhança) abaixo da linha que separa a alma da mesa. Logo, o ponto pertence à alma do
perfil.

O momento estático, nesse caso, leva em conta a região da mesa do perfil acima do ponto B
até a posição do ponto B, que é (125mm-20mm)/2 = 52,5 mm.

 xz → QB = 52,5mm  20mm  90mm = 94,5 103 mm3 .


B

Mas como o ponto se situa na alma do perfil, a largura de corte deve ser espessura desse, ou
seja, 20mm. Com isso:
385
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250 103 N  94,5 103 mm3 N


 xz = →  xzB = 24,9 = 24,9 MPa .
B
20mm  47, 49 10 mm
6 4
mm 2

Ao final, é possível traçar um diagrama de tensões na altura da seção. Valores em MPa:

76. FLEXÃO COMPOSTA NORMAL

A flexão composta normal ocorre quando uma barra, viga, eixo, está sujeita a ação de uma
força situada em um dos planos de simetria da seção, mas atuando fora do seu centro
geométrico (ou centroide nessa direção). Nessa condição, o efeito final é o equivalente à
ação da força axial atuando no centroide da seção, somada à do momento fletor devido à
excentricidade da força. Na Figura 76-1, y0 é um dos eixos de simetria da seção.

Figura 76-1. Peça e flexão composta normal.

Como a força P está situada sobre o eixo vertical y0, o momento fletor que surge devido à
posição excêntrica da força é o que ocorre em torno do eixo z0, cujo valor é dado pelo produto
da força pela excentricidade na direção de y, ou seja, ey, de forma que:

M z0 = Pey .

Esse momento atua no plano vertical de simetria da seção. Com isso, a flexão irá ocorrer
nesse plano, produzindo efeitos diferentes nos pontos ao longo da altura da seção. Portanto,
a superposição dos efeitos do esforço do esforço normal P e do momento fletor Mz0 fornecerá
o efeito final nos diversos pontos na altura da seção. Na configuração apresentada na Figura
76-2, haverá no ponto A tração pelo esforço axial e compressão pelo momento fletor. No
ponto B haverá apenas tração pelo esforço normal, uma vez que essa é a posição do centroide
da seção. E no ponto C haverá tração tanto pelo esforço normal quanto pelo momento.

Figura 76-2. Superposição dos efeitos na flexão composta normal.


386
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Na aplicação do princípio da superposição é preciso recordar que:

» Deve ser respeitado o princípio de Saint-Venant, que diz que a seção em estudo não
deve estar muito próxima de um ponto de aplicação da força.
» As tensões estarão abaixo do limite de proporcionalidade.
» Os efeitos provocados por um esforço não interferem nos efeitos produzidos pelo outro
esforço.
» As deformações provocadas por um certo carregamento não devem afetar a
determinação das tensões devidas a outros carregamentos.

Na condição de flexão composta normal apresentada anteriormente, os correspondentes


diagramas, de carregamento (DC), de corpo livre (DCL), do esforço normal (DEN) e do
momento fletor (DMF), são os seguintes:

Figura 76-3. Diagrama de esforços na flexão composta normal.

Para a flexão composta normal a superposição dos efeitos pode ser expressa,
matematicamente, como:

 = N +M , z0

de forma que a tensão resultante na seção em análise pode ser escrita da seguinte forma:

P M z0 y
= + (1).
A I z0

A equação (1) representa a soma de duas tensões de mesma natureza, a primeira devido ao
esforço axial e segunda devido à flexão, podendo uma ou outra assumir valor positivo ou
negativo. Na equação (1) y é variável independente do problema, representando a distância,
na seção transversal, de uma fibra qualquer em relação ao centroide da seção, podendo ser
positiva, se tomada para baixo, ou negativa, se tomada para cima. O momento fletor também
poderá ser positivo ou negativo, conforme tracione a fibra inferior ou superior à linha neura,
e o esforço normal será positivo se de tração, ou negativo se de compressão, conforme a
convenção já adotada, a seguir reproduzida:

Momento fletor Esforço normal

387
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Figura 76-4. Sinais para os esforços normal e momento fletor.

A equação (1) escrita em termos do esforço normal e sua excentricidade toma a seguinte
forma:

P Pey y
= + (2),
A I z0

onde a excentricidade pode assumir tanto valor positivo quanto negativo conforme localize
a força na posição positiva ou negativa do eixo. Quando uma força age fora do centro
geométrico da seção, a linha neutra (LN), ou eixo neutro, que é a linha que separa a região
tracionada da comprimida, não mais estará situada no centroide da seção e sua posição passa
a ser uma das incógnitas do problema, sendo determinada para a posição onde a tensão
resultante seja nula (  = 0 ). Logo:

L L
P Pey yN P Pey yN Iz
0= + →− = → yNL = − 0 (3).
A I z0 A I z0 Aey

O sinal negativo existente na equação (3) indica que a posição da LN está acima do centro
geométrico da seção, para uma força de tração situada abaixo do seu centroide, sendo
paralela a um dos eixos principais de inércia, como indicado na Figura 76-5. Por essa razão
se faz necessária apenas uma coordenada da reta para localizar a LN, pois sua inclinação já
é de previamente conhecida.

Figura 76-5. Posição da linha neutra na flexão composta normal.

A distribuição das tensões na seção transversal será, por extensão, obtida pela superposição
dos efeitos. Dependendo da forma da seção transversal, bem como do valor da
excentricidade, as tensões superpostas podem ter todas o mesmo sinal ou não. Na primeira
hipótese, a seção possuirá tensões de ambas as naturezas, de tração e compressão, possuindo,
portanto, uma região comprimida e outra tracionada. Nessa condição, a linha neutra
interceptará a seção em uma posição a ser determinada, sendo, assim, uma das incógnitas do
problema. Na segunda hipótese, a seção transversal possuirá apenas tensões de mesma
natureza, de tração ou de compressão, e a linha neutra não interceptará a seção, embora,
matematicamente, exista.

1ª Hipótese: seção com linha neutra interceptando.

388
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

+ ≡

2ª Hipótese: seção sem linha neutra interceptando.

+ ≡

Tensão produzida Tensão produzida pelo Tensão resultante obtida por


pela força normal: momento fletor: superposição:

P My  = N +M
N = M =
A I

77. EXERCÍCIOS

Exercício 77.1.
Dada a viga da Figura 77-1:

a) Determinar a tensão σx de maior módulo;


b) Determinar a posição da linha neutra na seção mais solicitada.
c) Determinar o estado de tensão no ponto H, localizado a 1,0 m à direita do apoio A, e a
40 mm abaixo da face superior da viga;
d) Dimensionar a viga para uma tensão normal admissível de 140 MPa, utilizando perfis
comerciais laminados do tipo “I”.

Figura 77-1. Exercício 77.1.

1) Diagrama de Corpo Livre (DCL):

15  3 45
F1 = = → F1 = 22,5kN
2 2
2
d1 =  3 = 2m
3

389
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2) Reações

 F = 0 → H = 300kN ,
x A

 F = 0 → R + R = 22,5 + 5 → R + R = 27,5kN ,
y A B A B

 M = 0 → − R  5 + 22,5  3 + 5 1 + 10 = 0 → R = 16,5kN
B A A ∴ RB = 11kN .

3) Diagramas dos esforços solicitantes (por pontos – métodos das áreas):

3.1) Esforço Normal (DEN - kN)

3.2) Esforço Cortante (DEC - kN)

VA = RA = 16,5
VC = 16,5 − 22,5 = −6
VD ' = −6 − 0 = −6
VD = −6 − 5 = −11
VB ' = −11 − 0 = −11
VB = −11 + 11 = 0

3.3) Momento fletor (DMF - kNm)

MA = 0
M C = 16,5  3 − 22,5 1 = 27kN  m
M D ' = 16,5  4 − 22,5  2 = 21kN  m
M D = 21 − 10 = 11kN  m
M B = 11 − 111 = 0

Para encontrar o momento máximo positivo é preciso igualar a expressão do cortante a zero
no primeiro trecho da viga. Portanto, equacionando o cortante nesse trecho (seção ), e
igualando a zero a equação obtida, tem-se:

1
V = 16,5 − q ( x) x (0 ≤ x < 3).
2

A função carregamento é encontrada por relação de triângulos, fazendo:

q q( x) qx 15
= → q( x) = → q( x) = x → q( x) = 5 x .
L x L 3

Com isso, a função esforço cortante, pode ser escrita como:

1 5
V = 16,5 −  5 x  x → V = 16,5 − x 2 ,
2 2
390
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que igualada a zero, leva a:

5 2
16,5 − x = 0 . Assim:
2

33
5 x 2 = 33 → x 2 = → x = 2, 569m (Considerando apenas o valor positivo da raiz).
5

Equacionando o momento fletor para esse mesmo trecho e substituindo o valor de x


encontrado anteriormente, tem-se:

1 1 5
M  = 16,5 x − q ( x) x  x → M  = 16,5 x − x 3 → M (2,569) = 28, 26kN  m .
2 3 6

4) Cálculo da tensão de maior módulo (letra a):

Como pode ser observado, o esforço normal é constante em toda a viga. Portanto, a
combinação que levará à maior tensão, como será demonstrado a seguir, será aquela dada
pela superposição da tensão devido ao esforço axial, de compressão, com a da flexão
produzida pelo maior momento na borda superior, também de compressão, pois o momento,
neste problema, é sempre positivo. As tensões são calculadas pela superposição dos efeitos,
com:

P My
x = + .
A I

1 - Na borda superior (bs) da viga haverá a superposição da tensão de compressão do esforço


normal e do máximo momento fletor positivo que também comprime essa posição. Com
isso, tem-se que:

− P M (− y ) −300 103 N 28, 26 106 Nmm  (−75mm)


 xbs = + →  xbs = + ⸫
A I z0 (50 150)mm2 50 1503 4
mm
12
 xbs = −190,72MPa .

2 - Na borda inferior (bi) da viga há a superposição da compressão do esforço normal com a


tração do momento fletor:

− P M (+ y ) −300 103 N 28, 26 106 Nmm  (+75mm)


 xbi = + →  xbi = + ⸫
A I (50 150)mm2 50 1503 4
mm
12
 xbi = +110,72MPa .

Logo, a maior tensão em modulo, é:  x = 190, 72MPa .

5) determinação da linha neutra na seção mais solicitada (letra b):

391
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

5.1) Com base no diagrama de tensões

A determinação da linha pode ser feita por meio de relações geométricas na seção com base
no diagrama de tensões ao longo da altura. Definindo a distância da borda superior da seção
à linha neutra como yLN é possível estabelecer a relação entre os lados de dois triângulos
semelhantes, como:

−190,72MPa +110,72MPa
= ⸫
yLN 150mm − yLN

yLN = 94,904mm .

Portanto, a diferença para o centro da seção


será: 94,904mm − 75mm = 19,904mm

Com isso, a linha neutra pode ser traçada na altura da seção da seguinte forma:

5.2) Com base na equação da LN

A linha neutra é paralela ao eixo baricêntrico horizontal da seção transversal, de forma que
sua posição fica definida com apenas uma coordenada, sendo determinada por:

I z0
yNL = − .
Aey

A excentricidade que a força normal precisaria estar para produzir o momento que atua na
seção é encontrado fazendo:

28, 26 103 kN  mm
ey = → ey = −94,2mm .
−300kN

Com isso, a posição da LN, determinada a partir do centro da seção, será:

50 1503
mm 4
yN = −
L 12 → yNL = 19,904mm .
(50 150)mm 2  ( −94,2mm )

A representação gráfica dessa posição será:

392
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

6) Estado de tensão no ponto H (letra c):

Considere-se as seguintes medidas na altura da seção:

6.1) O esforço cortante a 1 m do apoio A é:

15 12 15
V (1m) = 16,5 − = 16,5 − → V (1m) = 14kN .
6 6

Portanto, o cisalhamento em H devido ao cortante V (1m) = 14kN , será:

14 103 N  [40  50  (75 − 20)]mm3


H = →  H = 2,19MPa .
50 1503
50mm  mm 4

12

6.2) Tensão normal no ponto H:

Momento fletor atuante na seção:

5
M (1m) = 16,5 1 − 13 → M (1m) = 15, 67 kNm
6

A tensão normal no ponto H é obtida pela superposição das tensões devido ao esforço normal
e ao momento fletor atuante na seção, de forma que se tem:

300 103 N 15, 67 106 Nmm  (75 − 40)mm


H = − − →  H = −78,99MPa (Compressão).
(50 150)mm2 50 1503 4
mm
12

7) Verificação para perfis comerciais (letra d):

7.1) Verificação quanto à tensão normal:


393
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Inicialmente, é feita uma estimativa para o módulo de resistência da seção W, com:

M Máx 28, 26 106 Nmm


W= = = 201853,655mm3 → W = 201,854cm3 que é o WMín.
 adm 140 N / mm 2

A = 38,5cm2
Na tabela fornecida pelo fabricante escolhe-se: W 150 x 29,8 ( H )
W = 221,5 cm3

Calcula-se a máxima tensão atuante para esse perfil, que ocorre na borda superior:

−300 103 N 28, 26 106 Nmm


= + →  = −205,50MPa →  = 205,50MPa
38,5 102 mm2 −221,5 103 mm3

Esse valor não atende à segurança, pois supera a tensão admissível de 140 MPa. Portanto,
é feita uma nova escolha. Verificação para o novo perfil adotado:

A = 53,5cm2 ,
Na tabela de perfis, encontra-se: W 200 x 41,7 ( H )
W = 401, 4cm3 .

A máxima tensão será:

−300 103 28, 26 106


= + →  = −126, 48MPa →  = 126, 48MPa .
53,5 102 −401, 4 103

Esse resultado atende à segurança, pois a tensão encontrada é menor que a admissível de
140 MPa.

7.2) Verificação quanto ao cisalhamento:

Essa verificação pode ser feita pela tensão média, calculada considerando a área da alma do
perfil escolhido:

16,5 103 N
Aalma = 181mm  7, 2mm = 1303,20mm2 ⸫  alma = = 12,66MPa .
1303,20mm2

Adotando uma tensão admissível ao cisalhamento igual a:

 adm = 0,5 adm →  Adm = 0,5 140 = 70MPa .

Portanto, pode ser concluído que o perfil está seguro.

7.3) Tabela de perfis (Gerdau):

394
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» 1ª opção W 150 x 29,8 ( H ) :

» 2ª opção W 200 x 41,7 ( H ) :

78. FLEXÃO OBLÍQUA

78.1. FLEXÃO OBLÍQUA POR FORÇA DUPLAMNTE EXCÊNTRICA

É muito comum a flexão oblíqua ser induzida por carga duplamente excêntrica. Se a força
está aplicada fora dos planos de simetria da seção ou a seção transversal não possui planos
de simetria, diz-se que a seção está sob flexão oblíqua e o resultado das tensões será a
superposição da tensão provocada pela força axial e a de dois momentos fletores.

Em uma primeira abordagem, seja analisado o caso de uma seção simétrica com a força
posicionada com dupla excentricidade na seção, conforme indicado na Figura 78-1.

Figura 78-1. Seção simétrica com força duplamente excêntrica.

395
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Nessa condição, a equação da tensão normal resultante, , fica composta por três parcelas:

 = P +M +M , z0 y0

onde z0 e y0 são os eixos de simetria da seção. Cada uma das parcelas fica definida em função
do agente a produz. Logo:

P M z0 y M y0 z
= + + (1).
A I z0 I y0

Uma vez que os momentos de flexão são gerados pela força duplamente excêntrica:

M z0 = Pey e M y0 = Pez , pode ser escrito que:

P Pey y Pez z
= + + (2),
A I z0 I y0

que é uma equação linear a duas variáveis, em y e z. Para se encontrar as coordenadas da


linha neutra, y = yNL e z = zNL , a condição que deve ser imposta é a de que a tensão resultante
dada pela equação (2) seja igual a zero (  = 0 ). Portanto:

L
P Pey yN Pez z NL
0= + + .
A I z0 I y0

Multiplicando por A e dividindo por P todas as parcelas da equação anterior, tem-se que:

Aey yNL Aez z NL Aey yNL Aez z NL


0 = 1+ + → + = −1 (3),
I z0 I y0 I z0 I y0

onde A, ey, ez, Iy0, Iz0 são grandezas conhecidas. A determinação da posição da LN impõe
que, sucessivamente, na equação (3), a condição de yNL = 0 e z NL = 0 seja feita. Assim:

Aez z NL I
quando: yNL = 0 → = −1 → zNL = − y0 (4),
I y0 Aez

Aey yNL I z0
quando: z NL = 0 → = −1 → yNL = − (5),
Iz Aey

devendo as excentricidades levarem para as respectivas equações os sinais de suas posições.


Fica evidente que a flexão é dita oblíqua porque ocorre fora dos planos de simetria da seção,
com a linha neutra (LN) posicionada de forma inclinada em relação a esses eixos, que são
os eixos centrais de inércia da seção uma vez que sendo a seção é simétrica, os eixos
principais de inércia coincidem com os eixos de simetria. Tendo em vista que as coordenadas
da linha neutra podem ocupar uma posição ao longo dos eixos, essa pode cortar ou não a
seção transversal. Se cortar, a seção terá tensões de compressão e de tração. Caso contrário,

396
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

haverá somente uma ou outra. Na flexão oblíqua, a distribuição de tensões é linear e depende
de duas varáveis, que são as coordenadas do ponto onde se deseja calcular a tensão.

Figura 78-2. Posição oblíqua da linha neutra.

79. EXERCÍCIOS

Exercício 79.1.
Determinar as máximas tensões e a posição da linha neutra da coluna (curta) prismática
indicada na Figura 79-1. Na consideração de peça curta podem ser dispensadas a verificação
da estabilidade em relação à flambagem da coluna e de efeitos adicionais de flexão,
denominados como de segunda ordem. Considere P = 2 tf.

Vista isométrica Vista em planta


Figura 79-1. Exercício 79.1.

1) Características geométricas da seção transversal:

Área: A = 60cm  20cm = 1200cm 2 .

60cm  ( 20cm )
3

Inércia em relação a z0: I z0 = = 40000cm4 .


12

20cm  ( 60cm )
3

Inércia em relação a y0: I y0 = = 360000cm4 .


12

OBS.: Como a seção é simétrica os eixos z0 e y0 são os eixos principais de inércia.

2) Diagrama equivalente de esforços na seção

397
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

O problema da determinação das tensões, assim como da linha neutra, encontra solução na
adoção de um sistema de esforços equivalentes, que inclui a força normal posicionada no
centro da seção, com a ação simultânea de dois momentos fletores:

» a, b, c e d são pontos situados nos vértices da seção;

» P é a força normal posicionada no centroide da seção;

» Mz0 e My0 são os momentos fletores em torno dos eixos y0


e z0, originados na dupla excentricidade da força P.

3) Tensão devido à força normal

Como a força P está localizada no centro da seção transversal, todos os seus pontos serão
igualmente solicitados. Essa é uma tensão média, cujo valor é obtido dividindo-se a força
pela área da seção. Assim:

P 2000 kgf
P = − =− 2
→  P = −1,67kgf / cm2 (compressão).
A 1200 cm

4) Tensões devidas aos momentos fletores

4.1) Cálculo dos momentos:

Devido à excentricidade da força normal, os momentos fletores Mz0 e My0 são:

M z0 = Pey → M z0 = 2000kgf  (10 − 5)cm ∴ M z0 = 10000kgf  cm ,

M y0 = Pez → M y0 = 2000kgf  (30 − 20)cm ∴ M y0 = 20000kgf  cm ,

4.2) Tensões nas bordas da seção:

As tensões induzidas pelos momentos fletores Mz0 e My0 são de natureza normal e possuem
variação linear na direção considerada, como indicado na equação (1). Nessa, as variáveis y
e z alcançam seus valores máximo nas bordas da seção transversal. Devido à simetria da
seção as distâncias máximas podem ocorrer tanto na posição positiva quanto negativa dos
eixos y0 e z0. Por essa razão, é útil calcular em módulo, deixando a aplicação do sinal
correspondente à ação de cada momento para ser feita analisando individualmente o efeito
que cada esforço induz nos pontos de interesse. É importante observar que essas tensões são
de natureza normal e podem ser operadas, algebricamente, com outras componentes que
tenham natureza semelhante.

Máx
M z0 y 10000kgfcm 10cm
Máx
M = → Máx
M = = 2,5kgf / cm 2 ,
z0
I z0 z0
40000cm 4

398
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Máx
M y0 z 20000kgfcm  30cm
Máx
M = → Máx
M = = 1, 67 kgf / cm 2 .
y0
I y0 y0
360000cm 4

5) Determinação das tensões nas arestas (máximas tensões).

Por serem de mesma natureza, as tensões resultantes podem ser obtidas por meio do princípio
da superposição, somando-se as contribuições de cada esforço, com seus respectivos sinais:

 = P +M +M . z0 y0

Observando o efeito individual que cada agente produz nos pontos de interesse, pode ser
verificado que P comprime igualmente todos os pontos da seção; Mz0 comprime os pontos a
e b, tracionado c e d; e My0 comprime os pontos a e d, tracionando b e c; o que pode ser
constato analisando-se a figura a seguir.

A descrição, previamente realizada, pode, matematicamente, ser descrita em termos das


tensões nos referidos pontos, como:

 a = −1,67 − 2,5 −1,67 = −5,83kgf / cm2 ,

 b = −1,67 − 2,5 + 1,67 = −2,50kgf / cm2 ,

 c = −1,67 + 2,5 + 1,67 = +2,50kgf / cm2 ,

 d = −1,67 + 2,5 −1,67 = −0,83kgf / cm2 .

6) Determinação da posição da linha neutra

a) Por semelhança de triângulos:

A determinação da linha neutra (LN) pode ser feita geometricamente estudando-se a


distribuição das tensões nas arestas da seção. Assim sendo, pode ser verificado que nas
arestas a-b e d-a não há mudança na natureza das tensões, isso ocorrendo apenas nas arestas
b-c e c-d. Na aresta c-d a interseção do diagrama de tensões se dá no meio do segmento, pois
a magnitude da tensão em b é igual à da tensão em c. Com isso, fica definido que o segmento
b-e é a metade do segmento b-c. Resta, assim, a definição do ponto f, que estabelece o ponto
de interseção do diagrama de tensões na aresta c-d.

399
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Determinação de cf :

2,50 0,83
= → 2,50(60 − cf ) = 0,83cf ,
cf 60 − cf

150 − 2,50cf = 0,83cf → 150 = 3,33cf → cf = 45,04cm .

Com isso, a posição da linha neutra (LN) pode ser representada, graficamente, no plano da
seção ligando-se por uma reta os pontos e-f, da seguinte maneira:

Da mesma forma que a LN, a distribuição das tensões por ser representada graficamente, por
meio de um diagrama, como segue:

b) Solução pela equação da LN:

Aey yNL Aez z NL


A equação da linha é definida por: + = −1 .
I z0 I y0

400
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

I y0 360000cm 4
Quando: yNL = 0 → zNL = − → z NL = − → zNL = −30cm .
Aez 1200cm 2 10cm

I z0 40000cm 4
Quando: z NL = 0 → yNL = − → yNL = − → yNL = −6,67cm .
Aey 1200cm  5cm
2

Importante ter em mente que as coordenadas obtidas pela equação da linha neutra devem ser
assinaladas a partir do centro dos eixos de referência.

7) Solução das tensões por meio da equação

Da mesma maneira que a linha neutra, as tensões nos pontos a, b, c e d podem ser obtidas
por meio da equação (1), empregando-se, nela, as coordenadas de cada posição da aresta:

P Pey y Pez z
= + + .
A I z0 I y0

No presente problema, as excentricidades são positivas e iguais a ey = +5cm e ez = +10cm .


Portanto, a solução da equação anterior, com valores em kgf e cm, fica:

−2000 −2000  (+5)  ( +10 ) −2000  (+10)  ( +30 ) kgf


a = + + = −5,83 2 ,
1200 40000 360000 cm

−2000 −2000  (+5)  ( +10 ) −2000  (+10)  ( −30 ) kgf


b = + + = −2,50 2 ,
1200 40000 360000 cm

−2000 −2000  (+5)  ( −10 ) −2000  (+10)  ( −30 ) kgf


c = + + = +2,50 2 ,
1200 40000 360000 cm

−2000 −2000  (+5)  ( −10 ) −2000  (+10)  ( +30 ) kgf


d = + + = −0,83 2 .
1200 40000 360000 cm

Cabe mencionar que a equação da tensão, como sendo dependente de duas variáveis em
primeiro grau, gera um plano de possíveis valores na seção transversal, o que pode ser
representado no gráfico abaixo:

401
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

79.1. FLEXÃO OBLÍQUA DE SEÇÃO SEM SIMETRIA

Considere-se uma seção sem simetria em relação aos seus eixos baricênticos, sujeita a um
momento fletor M, como indicado na Figura 79-2, sendo y e z os eixos principais de inércia.

Figura 79-2. Flexão oblíqua em seção sem simetria.

Nessas condições, a flexão ocorre no plano zy e o traço do momento não é mais perpendicular
à linha neutra. Para encontrar a tensão em qualquer ponto da seção será preciso usar o
princípio da superposição para levar em conta a ação das componentes Mz e My do momento
M em relação aos eixos principais de inércia z e y, como indicado na Figura 79-3.

Figura 79-3. Parâmetros da flexão oblíqua em seção sem simetria.

Portanto,

402
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

 = M +M ,
z y

o que leva a ter:

Mz y Myz
= − , (1).
Iz Iy

É de importância mencionar que o sinal negativo presente na segunda parcela da equação


(1) tem por objetivo compatibilizar a matemática com a física do problema, pois momentos
positivos em torno do eixo y estão comprimindo posições positivas do eixo z. Para encontrar
a posição da linha neutra (LN) é preciso impor que a tensão resultante seja nula na equação
(1), ou seja,  = 0 . Com isso z e y passam a ser z NL e yNL , respectivamente, de forma que:

L
M z yNL M y z N yL M I
0= − → NL = y z .
Iz Iy zN M z I y

Definindo  como ângulo que a LN faz com o eixo z, tem-se que:

yNL M I  M y Iz 
tg  = L , logo: tg  = y z →  = arctg   (2).
zN MzIy M I
 z y 

My
Como = tg  , com  sendo o ângulo que o vetor momento faz com o eixo z, tem-se:
Mz

Iz
tg  = tg  .
Iy

Com essas referências estabelecidas, as componentes do momento podem ser decompostas


em relação à z, segundo às direções em que atuam. Dessa forma:

M y = M sen  e M z = M cos  .

Cabe ressaltar que a linha neutra estará sempre localizada entre o vetor momento fletor M e
o eixo principal correspondente ao momento mínimo de inércia.

Rotação dos Eixos de Inércia:

Já foi visto o cálculo de inércias em relação a eixos transladados por meio do teorema dos
eixos paralelos ou de Steiner. Agora será analisado o caso em que os eixos sofrem rotação.
Para isso, tome-se um elemento infinitesimal de área dA, definido por uma abertura  em
relação ao eixo horizontal z0 e pela distância polar r, como indicado na Figura 79-4.

403
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Figura 79-4. Rotação dos eixos de inércia.

As coordenadas do elemento de área dA em relação aos eixos do baricentro z0 e y0 são:

z0 = r cos  ,
(1),
y0 = r sen  ,

e em relação a um sistema de eixos ortogonais, z e y, rotacionado de um ângulo , a partir


de z0, essas coordenadas são:

z = r cos( −  ) ,
(2).
y = r sen( −  ) ,

Considerando que na transformação trigonométrica:

cos( −  ) = cos  cos  + sen  sen  , e

sen( −  ) = sen  cos  − cos  sen  ,

de (2) pode ser escrito que:

z = r (cos  cos  + sen  sen  ) → z = r cos cos  + r sen  sen  ,

y = r (sen  cos  − cos  sen  ) → y = r sen  cos  − r cos  sen  .

Substituindo, convenientemente, as relações anteriores nas equações (2), é possível escrever


que:

z = z0 cos  + y0 sen  , (a)


(3).
y = y0 cos  − z0 sen  . (b)

Os momentos de inércia da área elementar em relação à y e z são, respectivamente:

dI y = z 2 dA → I y =  z 2 dA , (a)
A
(4).
dI z = y dA → I z =  y dA .
2 2
(b)
A

Substituindo a equação (3a) na integral da inércia da equação (4a), tem-se:


404
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

I y =  ( z0 cos  + y0 sen  ) 2 dA ,
A

I y =  ( z0 cos  )2 dA +  2( z0 cos  )( y0 sen  )dA +  ( y0 sen  ) 2 dA ,


A A A

I y =  z0 2 cos2  dA +  2 z0 y0 cos   sen  dA +  y0 2 sen 2  dA ,


A A A

I y = cos2   z02 dA + 2cos  sen   z0 y0 dA + sen 2   y02 dA .


A A A

z y
2 2
As integrais 0 dA e 0 dA são as inércias em relação aos eixos de simetria da seção, z0
A A

e y0, indicadas por I y0 e I z0 , e a integral  z y dA representa o produto de inércia da seção,


A
0 0

designado por I z0 y0 . Com isso, a equação anterior pode ser escrita como:

I y = I y0 cos2  + I z0 sen 2  + I z0 y0 2cos  sen  .

sen 2
Como cos  sen  = , pode ser feito que:
2

I y = I y0 cos2  + I z0 sen 2  + I z0 y0 sen 2 , (5).

De forma semelhante, em relação ao eixo z deve ser substituída a equação (3b) na equação
(4b). Com isso:

I z =  y 2 dA =  ( y0 cos  − z0 sen  )2 dA ,
A A

I z =  ( y0 cos  )2 dA −  2 y0 cos   z0 sen  dA +  ( z0 sen  )2 dA ,


A A A

I z =  y0 2 cos2  dA −  2 y0 z0 cos   sen  dA +  z02 sen 2  dA ,


A A A

I z = cos2   y0 2 dA − 2cos  sen   y0 z0 dA + sen 2   z0 2 dA ,


A A A

I z = I z0 cos2  + I y0 sen 2  − I z0 y0 2cos  sen  ,

I z = I z0 cos2  + I y0 sen 2  − I z0 y0 sen 2 , (6).

A terceira equação de interesse diz respeito à determinação do produto de inércia em relação


aos eixos rotacionados. O produto de inércia, por definição, é obtido multiplicando entre si
os valores de z e y da equação (3), para o mesmo elemento diferencial de área dA. Logo:

405
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

dI zy = zydA → I zy =  zydA ,
A

I zy =  ( z0 cos  + y0 sen  )( y0 cos  − z0 sen  )dA ,


A

I zy =  ( z0 cos   y0 cos  − z0 cos   z0 sen  + y0 sen   y0 cos  − y0 sen   z0 sen  )dA ,


A

I zy =  ( z0 y0 cos2  − z0 2 cos   sen  + y0 2 sen   cos  − z0 y0 sen 2  )dA ,


A

I zy =  ( z0 y0 cos2  − z0 y0 sen 2  − z0 2 cos   sen  + y0 2 sen   cos  )dA ,


A

I zy =  [ z0 y0 (cos2  − sen 2  ) + ( y02 − z02 ) cos   sen  ]dA .


A

I zy =  z0 y0 (cos2  − sen 2  )dA +  ( y02 − z02 ) cos   sen  dA ,


A A

 
I zy = (cos 2  − sen 2  )  z0 y0 dA + cos   sen    y0 2 dA −  z0 2 dA  .
A A A 

Com isso:

I zy = I z0 y0 (cos 2  − sen 2  ) + cos   sen  ( I z0 − I y0 ) .

sen 2
Como cos 2  − sen 2  = cos 2 2 e cos   sen  = , pode ser escrito que:
2

( I z0 − I y0 )
I zy = I z0 y0 cos 2 2 + sen 2 ,
2

sen 2
I zy = ( I z0 − I y0 ) + I z0 y0 cos 2 2 , (7).
2

Importante observar que as equações (5), (6) e (7) representam funções cuja variável
independente á o ângulo . Portanto, à medida que esse ângulo varia, as equações variam
junto, passando por valores máximos e mínimos. Uma vez que haja sido calculadas as
inércias em relação aos eixos do centroide da seção, é possível construir um diagrama
circular, como mostrado na Figura 79-5, para a obtenção das inércias máximas e mínimas,
bem como da posição dos eixos principais de inércias. Tome-se, para tanto, o par de pontos:

G = ( I z0 , I z0 y0 ) e G = ( I y0 , − I z0 y0 ) ,

406
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

onde I y0 e I z0 são grandezas sempre positivas e I z0 y0 pode ser positivo ou negativo. Para a
construção do diagrama deve ser estabelecida uma escala adequada ao traçado e um par de
eixos ortogonais, onde são marcados os pontos G e G’. O eixo vertical abrigará o produto de
inércia e o eixo horizontal as inércias. Na escala escolhida, são marcados os segmentos:

OD = I z0 , OG = I z0 y0 ,
OB = I y0 e OG = − I z0 y0 ,

definindo os pontos G e G’. Unindo esses dois pontos por meio de uma reta, o diâmetro do
círculo fica determinado. A intersecção da reta que une G a G’ com o eixo horizontal marca
o centro do diagrama, ponto C. Com a ponta do compasso apoiada nesse ponto e com a
abertura do instrumento em G ou G’ é traçada a circunferência.

Figura 79-5. Diagrama circular para definição das inércias principais.

As interseções da circunferência com o eixo horizontal do diagrama definem os valores


mínimos e máximos das inércias, segmentos OA e OE , respectivamente. A maior altura,
segmento CF , quer seja positiva ou negativa, dará o maior produto de inércia da seção. É
possível perceber que no eixo das inércias principais o produto de inércia é nulo,
caracterizando os planos de simetria da seção; e que no plano da inércia média o produto de
inércia é máximo.

Por sua vez, o ângulo 2p, definido entre o segmento CG e a abcissa do diagrama, fornecerá
a localização do eixo principal de inércia. Essa abertura será positiva se estiver
trigonometricamente orientada. Cabe ressaltar que o sentido de giro observado no diagrama
circular deve ser obedecido para ser posicionado o correspondente eixo na seção transversal.

Embora a construção gráfica proporcione resultados adequados com boa visualização para
as orientações das inércias, as relações métricas existentes no diagrama circular permitem,
ao mesmo tempo, estabelecer equações que possibilitam uma solução analítica para o
problema, como descrito a seguir.

O centro do diagrama OC é obtido somando ao segmento OB o segmento BC . Assim:

OC = OB + BC .

407
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Por sua vez, BC é igual à CD , e é a metade da diferença entre os segmentos OD e OB , de


forma que:

OD − OB I z − I y0
BC = . Como OD = I z0 e OB = I y0 → BC = 0 .
2 2

Com isso:

I z0 − I y0 2 I y0 + I z0 − I y0 I z0 + I y0
OC = I y0 + → OC = → OC = ,
2 2 2

que é a inércia média da seção. O raio do diagrama, R, é a hipotenusa do triângulo formado


pelos catetos CD e DG , logo:

2 2 2
R2 = CG = CD + DG .

Como:

I z0 − I y0
CD = BC → CD = e DG = I z0 y0 , o raio fica sendo:
2

 I z − I y0 
2

R=  0  + I z0 y0 .
2

 2 

Com isso, a inercia máxima e mínima é encontrada somando e subtraindo, à média, o raio:

I z0 + I y0  I z − I y0 
2

I Máx
Mín =   0  + I z0 y0 .
2

2  2 

E o produto de inércia máximo/mínimo é o próprio raio:

 I z − I y0 
2

I xyMáx =  0  + I z0 y0 .
2

 2 

O ângulo que leva ao eixo de inércia máxima é obtido por meio da relação entre os catetos
do triangulo GCDˆ . Deve ser observado que a origem para o ângulo está no segmento DG e
que a orientação positiva é o sentido trigonométrico de giro, sendo negativa em caso
contrário. Portanto:

DG I z0 y0 1  2 I z0 y0 
− tg 2 P = → − tg 2 P = ⸫  P = − arctg  . (8).
CD  I z0 − I y0  2  Iz − I y 
 0 
 
0

 2 

408
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

É preciso ter claro que o momento estático define as posições dos eixos do baricentro da
seção, enquanto o produto de inércia define os eixos de simetria da seção. Se um eixo for o
de simetria, o produto de inércia da seção em relação a ele é nulo.

80. EXERCÍCIOS

Exercício 80.1.
Uma viga com uma seção cantoneira está carregada com um momento fletor de 20kN  m
aplicado num plano z0y0. Determine: (a) a tensão de flexão no ponto A; (b) a orientação da
linha neutra (mostre sua localização num esboço).

Figura 80-1. Exercício 79.1.

1) Determinação do centroide da seção:

Dividindo a figura em duas partes, como indicado, pode-se calcular a posição do centroide
da seção pelo momento estático dessas partes em relação a um eixo passando na base e na
lateral esquerda da seção. Portanto:

409
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

y=
( 60 120 ) 120 + (120  60 )  30 → y = 75mm ,
60 120 + 120  60

z=
( 60 120 )  30 + (120  60 )  60 → z = 45mm .
120  60 + 120  60

2) Determinação das inércias da seção:

2.1) Em relação ao eixo horizontal do centroide (z0)

A inércia da seção é dada pela soma das inércias das partes que a compõem, logo:

I z0 = I z10 + I z20 ,

com:

I 1z0 = I z0 + A1 y12 e I z20 = I z0 + A2 y2 2 ,


1 2

sendo:

I z0 e I z0 as inércias das áreas 1 e 2 em relação aos seus eixos baricêntricos, z01 e z02 ;
1 2

A1 e A2 as áreas das partes 1 e 2; e


y1 e y 2 as distâncias que separam os eixos centrais z01 e z02 ao eixo z0 .

Portanto, conforme indicado na figura a seguir:

Numericamente, tem-se:

60 1203
I z0 = + (60 120)(75 − 120) 2 → I z0 = 23, 22 106 mm4 ,
1 1

12

120  603
I z0 = + (120  60)(75 − 30) 2 → I z0 = 16, 74 106 mm4 ,
2 2

12

I z0 = (23, 22 + 16, 74) 106 mm4 → I z0 = 39,96 106 mm4 .

410
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

2.2) Em relação ao eixo vertical centroide (y0)

A inércia da seção é encontrada somando-se as inércias de suas partes de forma que

I y0 = I 1y0 + I y20 , com

I 1y0 = I y0 + A1 z12 e I y20 = I y0 + A2 y2 2 ,


1 2

sendo:

I y0 e I y0 as inércias das áreas 1 e 2 em relação aos seus eixos baricêntricos, y01 e y02 ;
1 2

A1 e A2 as áreas das partes 1 e 2; e


z1 e z2 as distâncias que separam os eixos centrais y01 e y02 ao eixo y0 .

Substituindo os valores correspondestes a cada parâmetro, conforme indicado na figura:

encontra-se:

120  603
I 1y0 = + (60 120)(45 − 30) 2 → I 1y0 = 3, 78 106 mm4 ,
12

60 1203
I y20 = + (120  60)(45 − 60) 2 → I y20 = 10, 26 106 mm4 ,
12

I y0 = (3, 78 + 10, 26) 106 mm4 → I y0 = 14,04 106 mm4 .

2.3) Determinação do produto de inércia da seção:

O produto de inércia da seção é dado pela soma dos produtos de inércia de suas partes

411
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

I z0 y0 = I z10 y0 + I z20 y0 ,

com

I z0 y0 = A1 y1 z1 + A2 y2 z2 ,

sendo

A1 e A2 as áreas das partes 1 e 2,


y1 e y 2 as distâncias que separam os eixos centrais z01 e z02 ao eixo z0 ,
z1 e z2 as distâncias que separam os eixos centrais y01 e y02 ao eixo y0 .

Portanto, numericamente, tem-se:

I z0 y0 = (60 120)(75 −120)(45 − 30) + (60 120)(75 − 30)(45 − 60) ⸫ I z0 y0 = −9, 72 106 mm4 .

2.4) Inércias principais:

I z0 = 39,96 106 mm4 , Pontos:


I y0 = 14,04 106 mm4 , G = (39,96; −9, 72) ,
I z0 y0 = −9, 72 106 mm4 . G ' = (14, 04;9, 72) .

Graficamente, pelo diagrama circular, escolhendo uma escala adequada, os pontos G e G’


podem ser representados. A união desses pontos por meio de uma reta define diâmetro do
círculo e sua intersecção com a abscissa o centro. Com o compasso no ponto C, a abertura
em G ou G’, a circunferência é traçada definindo as interseções como eixo horizontal, que
correspondem às inercias principais. O ângulo 2p, que leva à maior inércia, deve ser medido
com o auxílio de um transferidor.

Analiticamente, pode ser feito que:

I z0 + I y0  I z − I y0 
2
39,96 + 14, 04  39,96 − 14, 04 
2

I Máx = +  0  + I z0 y0
2
= +   + (−9, 72)
2

2  2  2  2 

I Máx = 43, 20 106 mm4 .

412
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

I z0 + I y0  I z0 − I y0 
2
39,96 + 14, 04  39,96 − 14, 04 
2

I Mín = −   + I z0 y0 =
2
−   + (−9, 72)
2

2  2  2  2 

I Mín = 10,80 106 mm4 .

1  2 I z0 y0  1  2(−9, 72) 
 P = − arctg   = − arctg   →  P = 0,321 ∴  P = 18,364 .
2  Iz − I y  2  39,96 − 14, 04 
 0 0 

a) Tensão no ponto A:

O ponto A dever ter suas coordenadas definidas em relação aos eixos principais de inércia,
z e y. Conforme calculado anteriormente, para se chegar ao eixo z saindo do eixo z0, deve ser
percorrido um ângulo de 18,36º no sentido trigonométrico, ou seja, de forma anti-horária.

Com isso, é possível calcular a abertura  zA0 entre a reta que liga o centro da seção, ponto 0,
ao ponto A (reta d0A ) e o eixo z0, assim como seu comprimento:

 180 − 75   105 
 zA = arctg   →  z0 = arctg 
A
 ∴
0
 60 − 45   15 

 zA = 81,87 , e
0

d0A = 1052 + 152 → d0A = 106,066mm .

Portanto, o ângulo que essa reta faz com o eixo z,  zA , é encontrado pela diferença entre  zA0
e  P . Logo:

413
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 zA =  zA −  P ∴
0

 zA = 81,87 −18,36 ∴

 zA = 63,51 .

A partir daí, as coordenadas do ponto A em relação a z e y podem ser definidas:

yA = d0A sen  z A = 106,066  sen 63,51 ⸫


y A = 94,93mm

z A = d0A cos  z A = 106,066  cos 63,51 ⸫


z A = 47,32mm .

Como A está na posição negativa dos eixos z e y:

z A = −47,32mm e y A = −94,93mm .

O momento fletor M pode ser decomposto segundo os eixos principais de inércia, como:

M z = M cos  P = 20  cos18,36 ⸫
M z = 18,981kN  m .

M y = M sen  P = 20  sen18,36 ⸫
M y = −6,301kN  m .

Com todas as informações anteriormente calculadas, a tensão no ponto A pode, finalmente,


ser determinada. A expressão geral para a tensão em um determinado ponto numa seção em
flexão oblíqua, para momentos coincidindo com a orientação positiva dos eixos, é:

Mz y Myz M y M z
= − ⸫ A = z A − y A ,
Iz Iy Iz Iy

equação que, para seu emprego, deve levar em conta os sinais de todos os parâmetros
existentes. Assim, no presente caso, tem-se que:

414
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M z = 18,981kN  m
M y = −6,301kN  m
z A = −47,32mm
y A = −94,93mm
I z = 43, 20 106 mm4
I y = 10,80 106 mm4

18,981106 ( Nmm)  (−94,93mm) −6,301106 ( Nmm)  (−47,32mm)


A = − ⸫
43, 20 106 mm4 10,80 106 mm4

 A = −69,32MPa .

(b) Inclinação da LN:

A inclinação d alinha neutra é obtida pela equação:

M y I z −6,301 43, 20
tg  =  =  → tg  = −1, 328 , logo  = −0,925 ∴  = −53, 02 ,
M z I y 18,981 10,8

que é o ângulo formado entre a LN e o eixo z. Portanto, a representação gráfica da LN na


seção é:

81. ESFORÇOS COMBINADOS

Calcule as máximas tensões e a posição da linha neutra na seção mais solicitada na barra
circular F-E. Considerando g = 9,81 m/s2 , 1 tf = 907,18 kgf.

415
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Figura 81-1. Combinação de esforços.

O problema deve ser tratado por meio de um sistema equivalente, com a força vertical situada
no ponto E e com a força horizontal (Ph) situada no centroide da seção. Com isso aparecem
o momento torsor (T) em torno do eixo longitudinal x0 e momentos em torno dos eixos
baricêntrios ( M z2 e M y ) que surgem devido às excentricidades da força horizontal. Nesse
contexto, M yR é o momento resultante em torno do eixo horizontal, tendo em vista que a
força vertical (Pv) também produz momento em torno desse eixo de referência ( M 1z ).

Figura 81-2. Sistema equivalente de esforços.

1) Diagramas
O diagrama do corpo livre e dos esforços solicitantes da viga circular C-E podem ser
representados, esquematicamente, da seguinte forma:

416
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Figura 81-3. Diagramas da viga circular.

2) Cálculo das tensões:

2.1) Tensão de cisalhamento devido ao torque:

Tr ( 453,59kgf 110cm ) 10cm


T = = →  = 31, 76kgf / cm 2 .
  (10cm )
4
J
2

2.2) Tensão normal de flexão devido ao momento fletor produzido pela força vertical (Pv):

M 1z y
M =
1
z
, onde M 1z = −(453,59kgf 150cm) = −68,04 103 kgf  cm ,
I

M 1z (  r ) −68 103 kgf  cm  (10cm)


M = →  Mz = →  M z = 86, 63kgf / cm2 .
1 1 1
z

  (10cm )
4
I
4

2.3) Tensão normal de flexão devido à força horizontal (Ph) excêntrica:

M z2 = 1814,37kgf  5cm = 9,07 103 kgf  cm ,

M z2 ( r ) 9, 07 103 kgf  cm  (10cm)


M = → = →  M z = 11,55kgf / cm2 .
2 2
z M z2

  (10cm )
4
I
4

M y = 1814,37kgf  7cm = 12,70 103 kgf  cm ,


417
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M y ( r ) 12,70 103 kgf  cm  (10cm)


 = → = → = 16,17kgf / cm2 .
My My My

  (10cm )
4
I
4

2.4) Tensão normal devido ao esforço axial:

1814,37kgf
P =h
= 5, 78kgf / cm2 .
  (10cm )
2

2.5) Tensão normal resultante nas posições A, B, C e D pelo princípio da superposição:

 A =  AM +  AM +  AP = 86, 63 − 11,55 + 5, 78 →  A = 80,85kgf / cm2 .


1 2
z z h

 B =  BM +  BM +  BP = −86, 63 + 11,55 + 5, 78 →  B = −69,30kgf / cm2 .


1 2
z z h

 C =  C +  CP = −16,17 + 5, 78 →  C = −10,04kgf / cm2 .


My h

 D =  D +  DP = 16,17 + 5,78 →  D = 21,95kgf / cm2 .


My h

Verifica-se que na seção próxima ao engaste o ponto A é o que tem a tensão normal mais
elevada, analisando em módulo.

2.6) Tensões principais no elemento A:

O estado de tensões formado no elemento A corresponde a:

Figura 81-4. Estado (plano) de tensões do elemento A (kgf/cm2).

No elemento A as tensões e direções principais e de cisalhamento extremas são:

A  
2 2
80,85  80,85 
 Máx = +  A  + 2 = +   + 31, 76 →  Máx = 127,30kgf / cm ,
2 2

2  2  2  2 

A 
2 2
80,85  80,85 
 Mín = −  A  + 2 = −   + 31, 76 →  Mín = −46, 44kgf / cm .
2 2

2  2  2  2 

418
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

1  2  31, 76 
 P = arctg   →  P = 0,33 ou  P = 19, 08 .
2  80,85 

E as tensões estremas de cisalhamento e suas direções são:

2
 80,85 
 Máx =   + 31, 76 →  Máx = 86,87kgf / cm .
2 2

Mín  2  Mín

1  80,85 
 S = − arctg   →  P = −0, 45 ou  P = −25, 20 .
2  2  31,76 

O diagrama de Mohr corresponde ao estado plano de tensões do elemento A é:

Figura 81-5. Diagrama circular de Mohr para o elemento A.

2.7) Cisalhamento devido à força vertical:

A tensão máxima de cisalhamento devido ao esforço vertical, na seção transversal, é:

4 V
 Pv = ⸫
3   r2

4 453,59kgf
 Pv = → Pv = 1,93kgf / cm2 .
3   (10cm ) 2

3) Linha Neutra:

Pela equação da linha neutra é preciso determinar a excentricidade que a força normal
deveria ocupar para produzir o mesmo resultado da flexão resultante na direção horizontal.
Com isso:

(9, 07 − 68, 04) 103 kgf  cm


ey = → ey = −32.5cm ,
2000kgf

419
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 (10cm ) / 4
4
I
yLN =− =− = 0, 77cm ,
A  ey  (10cm )  (−32.5cm)
2

 (10cm ) / 4
4
I
zLN =− =− = 3,57cm .
A  ez  (10cm )  (−7cm)
2

Graficamente, na seção, tem-se:

Figura 81-6. Linha neutra na seção do engaste.

4) Estudo da variação das tensões:

4.1) Variação das tensões ao longo da altura da seção, eixo y0 (Elementos A e B):

Equação das tensões (eq. da reta A-B)

 A − B
 ( h) =  h +  B . Sendo a ordenada h a variável independente.
2r

Figura 81-7. Variação das tensões normais ao longo da linha A-B.

Verificação:

420
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kgf kgf
Pela equação da tensão:  (0) = −69.3 2
,  (2r ) = 80,85 2 .
cm cm
Posição da LN:

A B 80,85 69,30
= → = → hLN
y
= 10,77cm ⸫ 10, 77 − 10cm = 0, 77cm .
h y
LN 2r − h y
LN
y
hLN 20 − hLN
y

4.2) Variação das tensões ao longo da lateral da seção, eixo z0 (Elementos C e D):

Equação das tensões (eq. da reta C-D):

C − D
 ( h) =  h +  D . Com h sendo a variável independente.
2r

Figura 81-8. Variação das tensões normais ao longo da linha C-D.

Verificação:
kgf kgf
Pela equação da tensão:  (0) = 21,95 2
,  (2r ) = −10, 40 2 .
cm cm
Posição da LN:

C D 10, 40 21,95
= → = → hLN
z
= 6.43cm ⸫ 10cm − 6, 43cm = 3,57cm .
h z
LN 2r − h z
LN
z
hLN 20 − hLN
z

4.3) Variação das tensões de cisalhamento devido ao cortante ao longo da altura:

421
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4.3) Variação das tensões de cisalhamento devido ao torque ao longo do raio:

82. DEFORMAÇÃO DE VIGAS

A equação diferencial de linha elástica descreve a posição que o eixo da viga ocupa quando
fletido, podendo ser obtida com base na figura abaixo

FIG

onde  é o raio de curvatura, e O é o centro de curvatura da peça fletida. Com isso, tem-se:

1 M ds 1 d
= → ds =  d →  = → = .
 EI d  ds

Como as deformações são muito pequenas

dy
ds  dx e   tg = .
dx

d M
Fazendo = , pode ser escrito que:
ds EI
422
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d ( dy / dx ) M d2y M
=− → 2
=− ,
dx EI dx EI

que é a equação da linha elástica da viga. O sinal indica a concavidade para cima, já que “y”
foi tomado para baixo.

Reescrevendo a equação anterior, tem-se:

d2y
EI = − M (2).
dx 2

Na configuração apresentada pela equação (2) o momento positivo:

» Traciona a parte inferior da viga.


» A linha elástica tem concavidade para cima.
» A ordenada y é positiva com concavidade para baixo.

Observações:

» A primeira integração permite o cálculo da rotação da seção, ou seja:  = dy/dx.


» A segunda integração possibilita o cálculo do deslocamento, ou flecha, da linha elástica;
» A linha elástica é o lugar geométrico dos baricentros das seções retas, na flexão da peça;
» A flecha “y” é o deslocamento linear do centro geométrico da seção transversal.

Exercício 82.1.

FIG

1) Reações:

l
RA = RB = 9
2

2) Equação para o momento fletor:

l x l x2
M  = q x − qx   M  = q x − q
2 2 2 2

3) Equação da linha elástica

d2y d2y −ql qx 2


EI = − M  2 EI = x+
dx 2 dx 2 2

Multiplicando ambos os membros por dx, tem-se:

d2y −ql qx 2
EI  dx = ( x + )dx
dx 2 2 2
423
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Integrando ambos os lados da equação, chega-se a:

dy −ql x 2 q x 3
EI = (  + ) + C1 ,
dx 2 2 2 3

dy
com =  sendo a inclinação da tangente. Portanto:
dx

quando x = l   = 0 (Reta horizontal)


2

ql l 2 q l 3 ql 3 ql 3 ql 3
0 = −  +  + C1 → C1 = − + → C1 = .
4 4 6 8 16 48 24

Com isso, a equação fica:

dy qlx 2 qx3 ql 3
EI = − + + .
dx 4 6 24

Multiplicando ambos os lados da equação por dx e integrando, chega-se a:

ql x3 q x 4 ql 3
EI  y = −  +  +  x + C2 .
4 3 6 4 24

Verifica-se que quando x = 0  y = 0 , então C2 = 0 . Reescrevendo, a equação fica:

ql 3 q 4 ql 3
EIy = − x + x + x ,
12 24 24

que é a expressão que permite calcular o deslocamento, ou flecha, do centro da viga.

Fazendo x = l → y = ymáx . Com isso:


2

3 4
ql  l  q  l  ql 3  l 
ymáx EI = −   +   +  ,
12  2  24  2  24  2 

ql 4 ql 4 ql 4
ymáx EI = − + +
96 384 48

−4ql 4 + ql 4 + 8ql 4 5ql 4


ymáx EI = → ymáx = .
384 384 EI

Exercício 82.2.

Calcular yA:

424
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FIG

M = −3x − 2 x  x  M = −3x − x 2 = M ( x)
2

d2y
EI = − M ,
dx 2

d2y
EI = 3x + x 2 .
dx 2

Integrando:

3x3 x 4
yEI = + + C1 x + C2
6 12

 yb = 0

Quando x = 2 →  dy
 =0
 dx

3  2 2 23 8 −26
0= + + C1  −C1 = 6 +  C1 = ,
2 3 3 3

3  23 24 26 −48 − 16 + 208
0= + −  2 + C2  C2 =  C2 = 12 ⸫
6 12 3 12

3 x3 x 4 26
EIy = + − x + 12 .
6 12 3

Para x = 0  y = y A . Portanto:

12
EIy A = 0 + 0 − 0 + 12  ( 4  x  6 ) → y A = .
EI

Exercício 82.3.
Calcular as tensões críticas e a deflexão a 2 metros do apoio esquerdo

FIG

Solução:

1) Reações:

425
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

F y = 0  RA + RB = 6  2  RA + RB = 12 ,

M A = 0  12  3 − RB  4  RB = 9tf  RB = 3tf .

2) Expressões para os esforços solicitantes:

Seção  ( 0  x  4 ) :
V = 3 − 2 x
M  = 3x − x 2

Seção  ( 4  x  6 ) :
V = 12 − 2 x
M  = 3x + 9( x − 4) − x 2

3) Diagramas:

Para o cortante (DEC). Quando:

x = 0  V = 3
x = 4  V = −5
x = 4  V = 4
x = 6  V = 0
Para o Momento fletor (DMF). Quando:

x = 0  M = 0
x = 4  M  = −4
x = 4  M  = −4
x = 6  M = 0

Para o momento máximo: V = 0 → M  = M máx . Com isso, tem-se:

0 = 3 − 2 x  x = 1,5 ⸫ M máx = 31,5 −1,52 → M máx = 2, 25tfm .

4) Propriedades da geometria da seção:

4.1) Centroide (posição da linha neutra):

40  5  30 + 25  10  5
y=  y = 16,11cm .
40  5 + 25  10

4.2) Momento Estático (por cima da LN – máximo):

Q = 5  ( 50 − 16,11) 
( 50 − 16,11)  Q = 2871,14cm3 .
2
426
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

4.3) Momento de Inércia:


  5  403   25  53 
I =  + (30 − 16,11) 2 (5  40)  +  + (16,11 − 5 ) ( 25  5 )  
2


  12   12 

I = 80939, 43cm .
4

5) Tensões:

5.1) Máxima tensão normal:

−4 105  ( −50 + 16,11)


=   = 167, 48kgf cm2
80939, 43

5.2) Máxima tensão de cisalhamento:

5 103  2871,14
=   = 35, 47 kgf cm2 .
5  80939, 433

6) Equação da linha elástica para o trecho AB:

d2y
EI = −(3 x − x 2 ) ,
dx 2

d2y
2
EI = −3x + x 2 .
dx

Assim:

dy −3x 2 x3
1) EI = + + C1 ,
dx 2 3

−3x3 x 4
2) yEI = + + C1 x + C2 .
6 12

Condições de Contorno:

Quando: x = 0  y = 0 , logo por (2) C2 = 0 . Reescrevendo a equação:

x3 x 4
yEI = − + + C1 x
2 12

−43 44 128 32 8
Quando x = 4  y = 0 , logo 0 = + + C1 4 → C1 = = → C1 = .
2 12 48 12 3

427
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Reescrevendo a equação:

x3 x 4 8
yEI = − + + x,
2 12 3

dy −3x 2 x3 8
EI = + + .
dx 2 3 3

Calculando para x = 2 m:

23 2 4 8 −48 + 16 + 64 32 8
yEI = − + + 2  yEI = = = . Logo:
2 12 3 12 12 3

8
yEI = = 2, 67 .
3

Considerando o módulo de elasticidade como sendo:

10−3 tf
E = 2110 kgf cm → E = 2110  −2 2 2 ,
5 2 5

(10 ) m

E = 21105 10−3 104 tf m2 → E = 21106 tf m2 .

Sendo I = 80939, 43cm = 80939, 43 (10−2 ) m4 → I = 80939, 43 10−8 m4 . Portanto:


4 4

8 1
y=   y = 0,16 10−3 m → y = 0,16mm .
3 2110  80939, 43 10−8
6

Verificando a flecha máxima para o trecho AB:

A flecha máxima ocorre quando a tangente elástica é horizontal (nula) e a condição é dada
por:

d2y
= 0 . Logo:
dx

dy −3x 2 x3 8
= + + → 2 x3 − 9 x 2 + 16 = 0
dx 2 3 3

Resolvendo a equação, tem-se:

2 x 3 − 8 x 2 − x 2 + 16 = 0 ,

2 x 2 ( x − 4) − ( x 2 − 16) = 0 ,

2 x 2 ( x − 4) − ( x − 4)( x + 4) = 0 ,

428
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

( x − 4)  (2 x 2 − x − 4) = 0 .

Portanto: 1ª raiz: x’ = 4 ou:

−1  (−1)2 − 4  2  (−4) −1  33
x= → x= . Com isso, as raízes são:
22 4

−1 + 33
x '' = → x " = 1, 69m ,
4

−1 − 33
x ''' = → x ''' = −1,19m .
4

A variável x é válida no intervalo de 0 a 4 ( 0  x  4 ). Quando x = 4 → y = 0 e x = −1,19


está fora do intervalo. Logo, x = 1,69 m é a solução válida. Assim:

−1, 693 1, 694 8


yEI = + +  1, 69 → yEI = 2, 77 . Logo:
2 12 3

2, 77
y= → y = 0,16mm .
2110  80939, 43 10−8
6

83. FLAMBAGEM

Uma coluna pode ser entendida como uma viga colocada verticalmente e submetida a carga
axial. Se a força P foi pequena, para qualquer perturbação no sistema a barra volta à posição
original e permanece ESTÁVEL. Se a força P, por outro lado, for grande, a deformação será
permanente. E se P = Pcr (carga crítica de flambagem), que é a maior carga que pode ser
aplicada, a deformação é mantida.

FIG

d 2 y −M
= ,
dx 2 EI

d 2 y − Py
= ,
dx 2 EI

d2y P
+ y =0.
dx 2 EI

P
Fazendo = k2 ,
EI

429
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

d2y
+ k2 y = 0,
dx 2

que é uma equação diferencial homogênea de 2°ordem, que descreve o movimento


harmônico simples, onde a variável independente é x em vez do t de tempo, cuja solução
geral é:

y = C1senkx + C2 cos kx .

Pelas condições de contorno do problema, quando x = 0 → y = 0 e x = l → y = 0 . Portanto:

1) 0 = 0 + C2 → C2 = 0 , e
2) 0 = C1senkl .

Como C1  0 , pois se C1 = 0 → y = 0 a coluna teria o eixo reto. Daí o “ senkl ” é que deve
ser igual a zero. Como senkl = 0 implica que kl = n com n sendo um número inteiro
(n = 1,2,3...)

Elevando ao quadrado o produto kl, tem-se que: k 2l 2 = n 2 2 .

P P 2
Como k 2 = → l = n 2 2 , o real valor de P será para n = 1. Portanto:
EI EI

Pcr 2  2 EI
l =  2  Pcr = 2 , que é a carga crítica de Euler ou a carga crítica de flambagem.
EI l

x
Como y = C1senkx → y = C1sen ,
l

que á a equação da linha elástica da coluna, para k = , com n = 1.
l

Dividindo a carga pela área da seção transversal, encontra-se a tensão crítica de flambagem:

Pcr
=  cr .
A

 2 EI
Logo:  cr = .
lf 2
A

Como I = i 2 A , chega-se a:

 2 Ei 2 A  2 Ei 2  2E
 cr = →  cr = →  cr = .
lf 2 lf 2 lf 
2

 i 
A  

430
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

Cabe destacar que a relação l / i =  é conhecida por índice de esbeltez onde l é o


comprimento de flambagem e i o raio de giração. Assim:

Imín l
imín = → = f .
A imin

Comprimento de flambagem:

FIG

 2 EI
Lembrando que Pa = .
lf 2

OBS: As tensões devem ficar abaixo do limite de proporcionalidade do material.

Exercício 83.1.

FIG

Para peças quadradas ou circulares a flambagem pode ocorrer em qualquer direção.

Iz = I y

20  203
Iz = = 13333,33cm 4 .
12

 2  21105 13333,33
Pcr = 2
= 307, 05 103 kgf → Pcr = 307tf .
300

FIG

 20  403
 I z = 12
I 2  I y pois  ,
 I = 40  20
3

 y 12

I z = 106666,67cm4 e I y = 26666,67cm4 . Com isso:

350
= →  = 60, 62
26666, 67
( 40  20 )

Portanto:

 2  21105  26666, 67
Pa = = 4511,8 103 kgf → Pa = 4512tf e
3502
431
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

4511103
 cr = →  cr = 563,98 kgf cm2 .
20  40

A inércia da seção é:

   54 
 2  21105  
d4  r4  64 
I= = → Pcr = 2
→ Pcr = 15,90 103 kgf → Pcr = 16tf .
64 4 200

A esbeltez, portanto, fica:

200
= →  = 160 .
(  5 4
64 )
  52
4

Para calcular o “d”, faz-se:

 2 EI  2  21105  I
P= 2
→ 10000 = 2
→ I = 19,3cm4 .
ef 200

Como:

 D4 d4 
I= − → I= (D4 − d 4 ) ⸫
64 64 64

 19,3  64
19,3 = (54 − d 4 ) → − 54 = − d 4 ⸫ d = 3,90cm .
64 

432
Notas de aula - Prof. Alexandre de Macêdo Wahrhaftig

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