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COMPETÊNCIA EM EDUCAÇÃO PÚBLICA PROFISSIONAL

Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza


GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO

APOSTILA
ANÁLISE E PRODUÇÃO DE TEXTOS TÉCNICOS
REVISÃO GRAMATICAL

DISCIPLINAS
Linguagem, Trabalho e Tecnologia
Cursos Técnicos: Química, Mecatrônica, Eletrônica, Eletroeletrônica, Administração, Informática,
Informática para Internet, Contabilidade, Administração, Automação Industrial e Logística

Representação e Comunicação em Língua Portuguesa


Representação e Comunicação Organizacional
Curso Técnico: Secretariado

Autora: Professora Lucivânia A. S. Perico

SÃO BERNARDO DO CAMPO


AGOSTO - 2011
2

SUMÁRIO
1. A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO .............................................................. 3
1.1 VOCABULÁRIO E ADEQUAÇÃO LINGUÍSTICA .................................. 4
2. NOÇÕES DE VARIAÇÃO LINGUÍSTICA ............................................................. 6
2.1 LÍNGUA CULTA X LÍNGUA COLOQUIAL ....................................... 7
EXERCÍCIOS ...................................................................................................... 7
3. CONTEXTO: CONSIDERAÇÕES SOBRE A NOÇÃO DE TEXTO ..................... 9
3.1 COMPREENDENDO O CONTEXTO ......................................................... 11
QUESTIONÁRIO ................................................................................................ 11
4. INTERTEXTUALIDADE: AS RELAÇÕES ENTRE TEXTOS .............................. 12
EXERCÍCIOS ...................................................................................................... 16
5. O TEXTO E SUAS RELAÇÕES COM A HISTÓRIA ............................................ 17
5.1 OS LIMITES DA RETÓRICA DE MERCADO .......................................... 20
QUESTIONÁRIO ................................................................................................ 23
6. RESUMO ................................................................................................................... 24
ATIVIDADE ....................................................................................................... 25
7. RESENHA ................................................................................................................. 26
7.1 DIFERENCIANDO: RESUMO X RESENHA ............................................ 27
REDAÇÃO .......................................................................................................... 28
8. FILME “TEMPOS MODERNOS” ............................................................................ 29
9. REDAÇÃO TÉCNICA E COMERCIAL ................................................................. 30
9.1 CURRÍCULO ................................................................................................ 30
9.2 CARTA COMERCIAL ................................................................................. 32
9.3 MENSAGEM ELETRÔNICA (E-MAIL) ..................................................... 33
9.4 RELATÓRIO ................................................................................................. 34
9.5 ATA ............................................................................................................... 35
9.6 REQUERIMENTO ........................................................................................ 35
9.7 DECLARAÇÃO ............................................................................................ 36
9.8 OFÍCIO .......................................................................................................... 37
9.9 MEMORANDO ............................................................................................. 38
9.10 CIRCULAR ................................................................................................. 38
9.11 PROTOCOLO ............................................................................................. 39
9.12 RECIBO ....................................................................................................... 40
9.13 ATESTADO ................................................................................................ 40
9.14 AVISO ......................................................................................................... 41
9.15 EXPRESSÕES ESTRANGEIRAS MAIS UTILIZADAS .......................... 41
9.16 CARTA PESSOAL ...................................................................................... 42
10. MORFOLOGIA – REVISÃO ................................................................................. 43
EXERCÍCIOS ...................................................................................................... 45
10.1 SIGNIFICAÇÃO DAS PALAVRAS .......................................................... 46
11. SINTAXE – REVISÃO ........................................................................................... 47
EXERCÍCIOS ...................................................................................................... 48
12. REGÊNCIA NOMINAL E VERBAL – REVISÃO ............................................... 49
13. CRASE – REVISÃO ............................................................................................... 53
EXERCÍCIOS – REGÊNCIA E CRASE ............................................................ 54
14. CONCORDÂNCIA NOMINAL – REVISÃO ........................................................ 55
EXERCÍCIOS ...................................................................................................... 56
15. CONCORDÂNCIA VERBAL – REVISÃO ........................................................... 57
EXERCÍCIOS ...................................................................................................... 58
16. ACENTUAÇÃO – REVISÃO ................................................................................ 59
EXERCÍCIOS ...................................................................................................... 60
17. COESÃO, COERÊNCIA E CLAREZA TEXTUAL .............................................. 61
17.1 PONTUAÇÃO – REVISÃO ....................................................................... 61
EXERCÍCIOS ...................................................................................................... 63
BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................... 65

LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica


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1 A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO

Nós, seres humanos, temos um nível de sofisticação que nos diferencia de outros seres vivos,
que é a capacidade de comunicação. A comunicação é a transmissão e a compreensão de informações
entre as pessoas. Comunicar equivale a tornar uma ideia comum entre o emissor e o receptor da
mensagem. É chamada de emissor a pessoa que emite a informação e o receptor é a pessoa que a
recebe.
Para que o processo de comunicação efetiva aconteça, são necessárias oito etapas. Tendo como
ponto de partida o emissor, consideram-se três etapas: elaborar uma ideia, codificar e transmitir a
mensagem. As cinco etapas seguintes, que envolvem o receptor, são: receber, decodificar, aceitar,
usar a informação recebida e dar uma resposta.
Durante esse processo podem ocorrer barreiras, que são ruídos ou interferências que podem
causar distorção na comunicação. Essas barreiras podem ser: físicas, semânticas ou de ordem pessoal.
As barreiras físicas são as que decorrem do ambiente físico, como barulho e distância. As barreiras
semânticas são aquelas que limitam a compreensão das palavras e ações, como o uso de uma
linguagem que não seja comum ao emissor e ao receptor. As barreiras de ordem pessoal decorrem da
falta de sintonia emocional entre as pessoas que se comunicam.
Vejamos o caso abaixo:

Numa cidadezinha pequena do interior... o forró “tava comendo solto”! A moça preparou-se
toda para ir ao baile, que era o único evento da cidade depois de muito tempo. Esperava encontrar o
seu “príncipe encantado” no tal baile. Lá chegando, um rapaz franzino, meio “desengonçado”, que
transpirava muito, aproximou-se dela e convidou-a para dançar.
Ela não achou o rapaz muito interessante, porém, para não arrumar confusão, pois na cidade
isso era considerado “indelicado, acabou aceitando. Mas o rapaz realmente suava tanto, mas tanto,
que ela, já não suportando mais, disse:
- Você sua, hein?
Diante disso, o rapaz sorriu, apertou-a com força e respondeu:
- Também vô sê seu, minha princesa!

Refletindo sobre o texto, que ruído interferiu na comunicação?


É importante considerarmos que há dois de tipos de comunicação: verbal e não-verbal.
A comunicação verbal falada realiza-se através da fala, como no caso de palestras. A
comunicação verbal escrita ocorre por meio da escrita, como ocorre nas mensagens trocadas por e-
mails. A comunicação não-verbal ocorre por intermédio de ações como gestos, expressões faciais,
posturas e movimentos corporais.
Saber comunicar-se efetivamente, iniciar e encerrar uma conversação, fazer e responder
perguntas, gratificar e elogiar, dar e receber feedback são algumas das principais habilidades de
comunicação, e elas são muito valorizadas no mundo do trabalho. As habilidades de fazer e responder
perguntas envolvem entonação, volume de voz, expressão facial e gesticulação. As habilidades de
gratificar e elogiar referem-se a recompensar emocionalmente alguém para que o outro se sinta
valorizado, reconhecido e respeitado, como ocorre quando o elogio é percebido como verdadeiro e
adequado. As habilidades de dar e receber feedback fazem parte das principais habilidades de
comunicação. O feedback pode ser compreendido como crítica construtiva ou como crítica destrutiva.
Como crítica construtiva traz consequências positivas e, como crítica destrutiva faz o contrário,
causando dor, tristeza e sofrimento a quem o recebe.
Sabedores de que é possível promover o desenvolvimento pessoal e profissional através da
nossa forma de comunicação, torna-se fundamental planejá-la adequadamente, de forma ética e
responsável.
Somos seres sociais, devemos cuidar de nossas relações interpessoais em todos os momentos,
a fim de criar, manter e melhorar esses relacionamentos. Certamente, podemos entender a
comunicação como parte disso.
Conceitualmente, o feedback é “uma forma de comunicação pela qual o receptor da mensagem
original transmite ao emissor a maneira como ela foi recebida. Em consequência, a pessoa saberá o
efeito de seu comportamento sobre os outros”. Oferecer feedback pode ser um fator que alavanca a
modificação interna para o desenvolvimento pessoal, desde que o emissor (a pessoa que faz a crítica)

Autora: Lucivânia A. S. Perico


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saiba realmente fazer a crítica e o receptor (a pessoa que a recebe) esteja aberto a recebê-la como algo
construtivo.
Para fazer a crítica construtiva recomenda-se que o emissor descubra a razão de fazê-la,
comunique-se diretamente com a pessoa, seja específico, descreva os fatos, assuma seu ponto de vista,
observe a contingência, faça referência aos efeitos, crie um clima favorável, vá diretamente ao assunto,
escute compreensivamente, foque o objetivo a ser alcançado, resuma ao final. Para receber a crítica de
forma construtiva, recomenda-se que o emissor: escute compreensivamente, aceite-a como crítica
construtiva, faça perguntas ao emissor, agradeça-lhe e, sempre que possível, solicite a crítica.
A ética também deve pautar o ato de fazer e receber críticas, sob pena de, com críticas mal
elaboradas e baseadas em objetivos escusos, gerar prejuízos não só para as relações interpessoais, mas
sofrimento físico e mental a quem as recebe. Assim, observamos que o domínio da comunicação
eficaz é fundamental para o sucesso pessoal e profissional, para tanto é importante nos comunicarmos
com clareza e de maneira apropriada ao ambiente.

1.1 VOCABULÁRIO E ADEQUAÇÃO LINGUÍSTICA

O texto a seguir circulou pela Internet como - Deixa comigo que eu tomarei as
uma piada. Utilize-o como base para responder providências necessárias.
as questões dos exercícios 1 e 2 . E tomou. Redigiu de próprio punho um aviso
que afixou no mural da empresa, juntamente
Correção ortográfica como os faxes do vendedor:
‘A partir de oje nois tudo vamo fazê feito o
“O gerente de vendas recebeu o seguinte fax Nirso. Si pricupá menos em iscrevê serto mod a
de um dos seus novos vendedores: vendê maiz.’
Seo Gomis, Acinado, O Prezidenti’”
O criente de belzonte pidiu mais cuatrucenta
pessa. Faz favor toma as providenssa. (Português Língua e Literatura – pág. 145 e 146)
Abrasso, Nirso

Aproximadamente uma hora depois recebeu 1. Geralmente, as piadas manifestam uma


outro fax: postura preconceituosa e nos permitem refletir
Seo Gomis, sobre como são avaliadas as pessoas a partir do
Os relatório di venda vai xega atrazado uso que fazem da língua, seja na sua forma oral
proque to fexando umas venda. Temo que ou escrita.
manda treiz miu pessa. Amanhã to xegando.
Abrasso, Nirso a) Embora os “erros” ortográficos chamem
imediatamente a atenção de quem lê o texto, o
No dia seguinte, outro fax: problema percebido pelo gerente nos textos do
Seo Gomis, “Nirso” pode ser entendido de outra maneira.
Num xeguei pucausa de que vendi maiz deis Explique.
miu em Beraba.To indo pra Brazilha.
b) Por que a piada reflete uma visão linguística
No próximo fax: preconceituosa?
Seo Gomis,
Brazilha fexo 20 miu. Vo pra Frolinopolis e 2. O comportamento do gerente deixa implícita
de lá pra Sum Paulo no vinhão das cete hora. sua opinião sobre diferentes variantes da
Língua Portuguesa.
E assim foi o mês inteiro. O gerente, muito
preocupado com a imagem da empresa, levou a) Que opinião é essa?
ao presidente as mensagens que recebeu do
vendedor. O presidente, um homem muito b) De que maneira a atitude tomada pelo
preocupado com o desenvolvimento da empresa presidente da empresa demonstra que o uso de
e com a cultura dos funcionários, escutou uma variante não pode ser associado ao modo
atentamente o gerente e disse: de avaliar o falante que a utiliza?

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Leia o texto e responda as questões que o


seguem:

Quem não se comunica... Artigo: A carreira nas alturas


Revista Língua Portuguesa – Ano 5 – nº 63 –
Havia no Rio de Janeiro nos anos 1920 um Janeiro de 2011
gramático famoso, professor do Pedro II,
inimigo dos galicismos, dos pronomes
malcolocados e da linguagem descuidada.
Falava empolado e exigia correção de
linguagem até em casa com a família. Uma vez,
esse gramático foi passar férias em um hotel-
fazenda de Teresópolis. Lá, um dia, decidiu dar
um passeio a cavalo pelos terrenos da fazenda.
Por segurança, ia acompanhado de um
cavalariço montado em um burrinho. Pelas
tantas, o cavalo do gramático disparou. O
cavalariço foi atrás em seu burrinho, gritando:
“Doutor, puxe a rédea! Doutor, puxe a rédea!”
Nada aconteceu, até que o cavalo saltou um
valado e jogou o gramático numa moita de
urtiga. Finalmente o cavalariço o alcançou,
QUESTIONÁRIO
levantou-o e ajudou-o a se livrar de uns
espinhos que se grudaram nele. “Doutor, por
que o senhor não puxou a rédea? Eu vinha
1. Segundo o texto, por que há
gritando atrás, doutor, puxe a rédea, doutor,
necessidade do domínio da norma culta
puxe a rédea!”
da Língua Portuguesa? Justifique.
O gramático, já senhor de si, perguntou: “E o
que é puxar a rédea?”
2. Quais as principais mudanças no
“É fazer isso, ó”, e fez o gesto explicativo.
mercado de trabalho que “exigem” um
“Ah! Dissesses sofreia o corcel, eu teria
novo perfil profissional?
entendido.”
(VEIGA, J. J. O Almanach de Piumhy. RJ: Record, 1998.)
3. A Língua é um instrumento de
(Português Língua e Literatura – pág. 154) prestígio e marginalização. Explique.

3. No texto transcrito, foram utilizadas duas 4. Na sua opinião, qual é o principal fator
variedades linguísticas. Quais são elas? que implica na falta de domínio da
Justifique sua resposta com elementos do texto. norma culta da Língua Portuguesa?

4. Falar e escrever bem significa, além de 5. De que maneira a leitura deste artigo
conhecer o padrão formal da Língua pode auxiliar na sua formação
Portuguesa, saber adequar o uso da linguagem profissional?
ao contexto discursivo. O texto transcrito
mostra uma situação em que a linguagem usada
é inadequada ao contexto. Em que consiste essa
inadequação?

5. Você considera que a postura rígida do


gramático em relação à “correção da
linguagem” a ser utilizada pelos falantes é
adequada? Justifique sua resposta.

Autora: Lucivânia A. S. Perico


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2 NOÇÕES DE VARIAÇÃO LINGUÍSTICA

Todas as pessoas que falam em determinada língua conhecem as estruturas gerais, básicas, de
funcionamento dessa língua. Embora sejam mais ou menos constantes dentro do idioma, essas
estruturas básicas podem sofrer variações devido à influência de inúmeros fatores. Tais variações, que
às vezes são pouco perceptíveis e outras vezes bastante evidentes, recebem o nome genérico de
variedades ou variações linguísticas.
Entre as causas que mais claramente determinam o surgimento das variações linguísticas destacam-
se: o grupo social a que o falante pertence (variação sócio-cultural), o lugar em que ele nasceu ou vive
(variação geográfica) e a época (variação histórica).

• Variação Sócio-Cultural
Esse tipo de variação pode ser percebido com certa facilidade: por exemplo, alguém diz:
“Ta na cara que eles não teve peito de encará os ladrão.” (frase 1)
Que tipo de pessoa comumente fala dessa maneira? Vamos caracterizá-lo, por exemplo, pela sua
profissão: um advogado? Um trabalhador braçal da construção civil? Um médico? Um garimpeiro?
Um repórter de tv?
E quem usaria a frase abaixo?
“Obviamente faltou-lhes coragem para enfrentar os ladrões.” (frase 2)
Sem dúvida, associamos à frase 1 os falantes pertencentes a grupos sociais economicamente mais
pobres. Pessoas que, muitas vezes, não frequentaram nem a escola primária, ou, quando muito,
fizeram-no em condições não adequadas.
Por outro lado, a frase 2 é mais comum aos falantes que tiveram possibilidades sócio-econômicas
melhores e puderam, por isso, ter um contato mais duradouro com a escola, com a leitura, com pessoas
de um nível cultural mais elevado e, dessa forma, “aperfeiçoaram” o seu modo de utilização da língua.
Convém ficar claro, no entanto, que a diferenciação feita acima está bastante simplificada, uma vez
que há diversos outros fatores que interferem na maneira como o falante escolhe as palavras e constrói
as frases. Por exemplo, a situação de uso da língua: um advogado, num tribunal de júri, jamais usaria a
expressão “ta na cara”, mas isso não significa que ele não possa usá-la numa situação informal
(conversando com alguns amigos, por exemplo).

• Variação geográfica
A variação geográfica é, no Brasil, bastante grande e pode ser facilmente notada. Ela se caracteriza
pelo acento linguístico, que é o conjunto das qualidades fisiológicas do som (altura, timbre,
intensidade), por isso é uma variante cujas marcas se notam principalmente na pronúncia. Ao conjunto
das características da pronúncia de uma determinada região dá-se o nome de sotaque: sotaque mineiro,
sotaque nordestino, sotaque gaúcho etc.
A variação geográfica, além de ocorrer na pronúncia, pode também ser percebida no vocabulário,
em certas estruturas de frases e nos sentidos diferentes que algumas palavras podem assumir em
diferentes regiões do país.
Leia, como exemplo, o trecho abaixo, de Guimarães Rosa, no conto “São Marcos”, no qual recria a
fala de um típico sertanejo do centro-norte de Minas:
“- Mas você tem medo dele... [de um feiticeiro chamado Mangolô]
- Há-de-o!... Agora, abusar e arrastar mala, não faço. Não faço, porque não paga a pena... De
primeiro, quando eu era moço, isso sim!... Já fui gente! Gente. Para ganhar aposta, já fui, de noite,
fora d’hora, em cemitério... (...) Quando a gente é novo, gosta de fazer bonito, gosta de se
comparecer. Hoje, não: estou percurando é sossego...”

• Variação histórica
As línguas não são estáticas, fixas, imutáveis. Elas se alteram com o passar do tempo e com o uso.
Muda a forma de falar, mudam as palavras, a grafia e o sentido delas. Essas alterações recebem o
nome de variação histórica.
O trecho abaixo, de Carlos Drummond de Andrade, exemplifica a mudança da língua ao longo do
tempo:

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Antigamente

“Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito prendadas.


Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo não sendo
rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio.
E se levavam tábua, o remédio era tirar o cavalo da chuva e ir pregar em outra freguesia. (...) Os
mais idosos, depois da janta, faziam o quilo, saindo para tomar fresca; e também tomavam cautela de
não apanhar sereno. Os mais jovens, esses iam ao animatógrafo, e mais tarde ao cinematógrafo,
chupando balas de altéia. Ou sonhavam em andar de aeroplano; os quais, de pouco siso, se metiam
em camisa de onze varas, e até em calças pardas; não admira que dessem com os burros n’água.”

2.1 LÍNGUA CULTA X LÍNGUA COLOQUIAL

Convencionalmente, costumamos como “correta” a língua utilizada pelo grupo de maior prestígio
social. Essa é a chamada língua culta, falada e escrita, em situações formais, pelas pessoas de maior
instrução. A língua culta é nivelada, padronizada, principalmente pela escola e obedece à gramática da
língua –padrão. A língua coloquial, por outro lado, é uma variante espontânea, do cotidiano, sem
muita preocupação com as normas. O falante, ao utilizá-la, comete deslizes gramaticais com
frequência considerável. Outra característica da língua coloquial é o uso constante de expressões
populares, frases feitas, gírias etc.
No quadro a seguir, estão resumidas as diferenças que mais facilmente podem ser observadas entre
língua culta e língua coloquial:

USO COLOQUIAL / POPULAR USO CULTO


Pronúncia mais descuidada de certas palavras e Maior cuidado com a pronúncia: nós, não vou,
expressões: nóis, num vô, num qué, cê ta bem? não quer, você está bem?
Não utilização das marcas de concordância. Utilização dessas marcas.
Ex.: Os menino vai bem. Ex.: Os meninos vão bem.
Uso constante de a gente no lugar de nós. Uso regular da forma nós.
Emprego de expressões do tipo: né, então, aí, Raro uso dessas expressões.
pois é.
Mistura de pessoas gramaticais. Uniformidade no uso das pessoas gramaticais.
Ex.: Você sabe que te enganam. Ex.: Você sabe que o enganam.
Tu sabes que te enganam.
Uso “livre” da flexão dos verbos. Utilização da flexão verbal conforme as normas
Ex.: Se ele fazer, se ele por... gramaticais.
Eu truxe o seu presente. Ex.: Se ele fizer, se ele puser...
Eu trouxe o seu presente.
Uso de gírias. Não utilização de gírias.

EXERCÍCIOS

1.Leia o texto abaixo: como conseguir bolsas de estudos e muitas


dicas de profissionais bem-sucedidos. Uma
“Cedo ou tarde, uma dúvida cruel pinta na sua verdadeira luz pra você acertar na escolha da
cabeça: ‘Que profissão escolher?’ Ou ainda: profissão que mais faz sua cabeça.
‘Em que faculdade entrar?’ E é justamente O melhor de tudo é que a decisão será sua e de
nessas horas que aparece uma porção de gente mais ninguém. Com os pés no chão. Sentindo
pra dar os palpites mais infelizes. (...) firmeza.
É por isso que a Editora Abril está lançando o Pode contar com o Guia do Estudante pra
Guia do Estudante. Porque o que ele mais tem encarar essa parada. Ele vai dar a maior força
é exatamente o que você mais precisa saber: pra você.”
tudo sobre todas as profissões universitárias e (Veja, nº 976)
técnicas, o mercado de trabalho, os cursos e o
nível de todas as faculdades brasileiras, onde e (Aprender e praticar gramática – pág. 47)

Autora: Lucivânia A. S. Perico


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a) A que grupo social faz parte o periferia do Brasil (...) Precisamos respeitar a (sua)
consumidor que o anúncio pretende atingir? sintaxe mostrando que sua linguagem é bonita e
b) Transcreva alguns trechos do texto que gostosa, às vezes é mais bonita que a minha. E,
confirmem sua resposta à questão anterior. mostrando tudo isso, dizer a ele: ‘Mas para a tua
c) Transcreva do texto um trecho onde se própria vida tu precisas dizer ‘agente chegou’ em
utiliza uma linguagem mais formal. vez de ‘a gente chegamos’. Isso é diferente, ‘a
abordagem’ é diferente. É assim que queremos
2.Suponha que você seja um criador de trabalhar, com abertura, mas dizendo a verdade.”
textos de campanhas publicitárias e que
tenha sido contratado por uma indústria de Responda:
calçados para produzir os textos de
propaganda de uma nova linha de sapatos. a) Qual a posição defendida pelo professor Paulo
Levando em conta as características Freire com relação à correção dos erros gramaticais
próprias da linguagem de cada grupo social, na escola?
escreva um pequeno texto dirigido a cada b) O comentário do jornal faz justiça ao
um dos seguintes tipos de público pensamento do educador? Justifique sua resposta.
consumidor do produto:
5.Provocou polêmica o fato de um livro
a) jovens adolescentes urbanos recomendado pelo Ministério da Educação endossar
b) homens de elevado padrão sócio- um erro de português. Na página 15 de “Por uma
econômico vida melhor”, o texto afirma: "Você pode estar se
c) crianças de 5 a 8 anos de idade perguntando: 'Mas eu posso falar os livro?'. Claro
d) mulheres idosas que pode. Mas fique atento porque, dependendo da
situação, você corre o risco de ser vítima de
3.(Univ.Metodista-SP) Leia o trecho preconceito linguístico".
abaixo: Muita gente viu aí um erro do livro e do próprio
Ministério da Educação. Há, porém, quem pense e
“Os nossos salário, cum relação ao que nóis diga o contrário, como o próprio MEC e a autora da
fazemo e o lucro que os outros tem, é obra, Heloísa Ramos. Do ponto de vista linguístico,
insignificante. Por que acontece isso? Eu de fato, não há sentido em dizer que alguém fala
tenho que trabaiá trezentos e sessenta e errado apenas porque não obedece à chamada
cinco dias por ano. O outro num trabaia norma culta. Se alguém diz "nós pesca os peixe",
nem... nem cem dias, ganha muito mais. será compreendido por seu interlocutor. Para a
Por que eu sô a máquina que dô descanso linguística, o resultado é o que importa.
pra ele.” Ao advertir seus leitores-estudantes do risco de
(Luiz Flávio, Os peões do Grande ABC) "preconceito linguístico", a autora está apontando
para o fato de que esse tipo de uso da língua,
Transponha a linguagem coloquial para o desconsiderando a norma culta, é mais comum
padrão escrito da linguagem formal. entre pessoas com menos instrução e, portanto, em
geral, em posição inferior na escala social. A autora
4.(Unicamp-SP) O jornal “Folha de São e o MEC defendem o livro com o argumento de que
Paulo” introduziu com o seguinte reconhecem as variedades da língua portuguesa e a
comentário uma entrevista com o professor linguagem dos diversos grupos sociais. (...)
Paulo Freire:
“’A gente cheguemos’ não será uma (Fábio Santos, Jornal Destak. Disponível em:
construção errada na gestão do Partido http://www.destakjornal.com.br/readContent.aspx?id=18,96935
dos Trabalhadores em São Paulo.” consultado em 20/07/2011)
Os trechos da entrevista nos quais a
“Folha de São Paulo” se baseou para fazer Com base nos nossos estudos sobre variação
tal comentário foram os seguintes: linguística, produza um artigo de opinião,
assumindo um posicionamento sobre a polêmica
“A criança terá uma escola na qual a sua apontada no artigo acima.
linguagem seja respeitada (...) Uma escola Imagine que seu artigo será publicado no
em que a criança aprenda a sintaxe editorial de um jornal de grande circulação.
dominante, mas sem desprezo pela sua (...) Seu texto deve ter, no mínimo, 15 linhas.
Esses oito milhões de meninos vêm da Não esqueça do título!

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3 CONTEXTO: CONSIDERAÇÕES SOBRE A NOÇÃO DE TEXTO

Sem dúvida alguma, a palavra texto é familiar a qualquer pessoa ligada à prática escolar. Ela
aparece com alta frequência no linguajar cotidiano tanto no interior da escola quanto fora de seus limi-
tes. Não são estranhas a ninguém expressões como as que seguem: "redija um texto", "texto bem
elaborado", "o texto constitucional não está suficientemente claro", "os atores da peça são bons mas o
texto é ruim", "o redator produziu um bom texto", etc. Por causa exatamente dessa alta frequência de
uso, todo estudante tem algumas noções sobre o que significa texto. Dentre essas noções, algumas
ganham importância especial para redação, que se propõe ensinar a ler e a escrever textos.
Nesta lição introdutória, vamos fazer duas considerações fundamentais sobre a natureza do
texto:
Primeira consideração: o texto não é um aglomerado de frases.
A revista Veja de 1º de junho de 1988, em matéria publicada nas páginas 90 e 91, traz uma
reportagem sobre um caso de corrupção que envolvia, como suspeitos, membros ligados à
administração do governo do Estado de São Paulo e dois cidadãos portugueses dispostos a lançar um
novo tipo de jogo lotérico, designado pelo nome de "Raspadinha". Entre os suspeitos figurava o nome
de Otávio Ceccato, que, no momento, ocupava o cargo de secretário de Indústria e Comércio e que
negava sua participação na negociata.
O fragmento que vem a seguir, extraído da parte final da referida reportagem, relata a resposta
de Ceccato aos jornalistas nos seguintes termos:

Na sua posse como secretário de Indústria e Comércio, Ceccato, nervoso, foi infeliz ao
rebater as denúncias. "Como São Pedro, nego, nego, nego", disse a um grupo de repórteres,
referindo-se à conhecida passagem em que São Pedro negou conhecer Jesus Cristo três vezes na
mesma noite. Esqueceu-se de que São Pedro, naquele episódio, disse talvez a única mentira de sua
vida. (Ano 20. 22:91.)

Como se pode notar, a defesa do secretário foi infeliz e desastrosa, produzindo efeito contrário
ao que ele tinha em mente.
A citação, no caso, ao invés de inocentá-lo, acabou por comprometê-lo.
Sob o ponto de vista da análise do texto, qual teria sido a razão do equívoco lamentável
cometido pelo secretário? Sem dúvida, a resposta é esta: ao citar a passagem bíblica, o acusado
esqueceu-se de que ela faz parte de um texto e, em qualquer texto, o significado das frases não é
autônomo.
Desse modo, não se pode isolar frase alguma do texto e tentar conferir-lhe o significado que se
deseja. Como bem observou o repórter, no episódio bíblico citado pelo secretário, São Pedro, enquanto
Cristo estava preso, foi reconhecido como um de seus companheiros e, ao ser indagado pelo soldado,
negou três vezes seguidas conhecer aquele homem. Segundo a mesma Bíblia, posteriormente Pedro
arrependeu-se da mentira e chorou copiosamente.
Esse relato serve para demonstrar de maneira simples e clara que uma mesma frase pode ter
significados distintos dependendo do contexto dentro do qual está inserida. O grande equívoco do
secretário, para sua infelicidade, foi o de desprezar o texto de onde ele extraiu a frase, sem se dar conta
de que, no texto, o significado das partes depende das correlações que elas mantêm entre si.
Isso nos leva à conclusão de que, para entender qualquer passagem de um texto, é necessário
confrontá-la com as demais partes que o compõem sob pena de dar-lhe um significado oposto ao que
ela de fato tem.
Em outros termos, é necessário considerar que, para fazer uma boa leitura, deve-se sempre
levar em conta o contexto em que está inserida a passagem a ser lida.
Entende-se por contexto uma unidade linguística maior onde se encaixa uma unidade
linguística menor. Assim, a frase encaixa-se no contexto do parágrafo, o parágrafo encaixa-se no
contexto do capítulo, o capítulo encaixa-se no contexto da obra toda.
Uma observação importante a fazer é que nem sempre o contexto vem explicitado
linguisticamente. O texto mais amplo dentro do qual se encaixa uma passagem menor pode vir
implícito: os elementos da situação em que se produz o texto podem dispensar maiores escla-
recimentos e dar como pressuposto o contexto em que ele se situa.

Autora: Lucivânia A. S. Perico


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Para exemplificar o que acaba de ser dito, observe-se um minúsculo texto como este:
A nossa cozinheira está sem paladar.

Podem-se imaginar dois significados completamente diferentes para esse texto dependendo da
situação concreta em que é produzido.
Dito durante o jantar, após ter-se experimentado a primeira colher de sopa, esse texto pode
significar que a sopa está sem sal; dito para o médico no consultório, pode significar que a empregada
pode estar acometida de alguma doença.
Para finalizar esta primeira consideração, convém enfatizar que toda leitura, para não ser
equivocada, deve necessariamente levar em conta o contexto que envolve a passagem que está sendo
lida, lembrando que esse contexto pode vir manifestado explicitamente por palavras ou pode estar
implícito na situação concreta em que é produzido.
Segunda consideração: todo texto contém um pronunciamento dentro de um debate de escala
mais ampla.
Nenhum texto é uma peça isolada, nem a manifestação da individualidade de quem o
produziu. De uma forma ou de outra, constrói-se um texto para, através dele, marcar uma posição ou
participar de um debate de escala mais ampla que está sendo travado na sociedade. Até mesmo uma
simples notícia jornalística, sob a aparência de neutralidade, tem sempre alguma intenção por trás.

Observe-se, a título de exemplo, a passagem que segue, extraída da revista Veja do dia 1º de
junho de 1988, página 54.

CRIME: TIRO CERTEIRO


Estado americano limita porte de armas.

No começo de 1981, um jovem de 25 anos chamado John Hinckley Jr. entrou numa loja de
armas de Dallas, no Texas, preencheu um formulário do governo com endereço falso e, poucos mi-
nutos depois, saiu com um Saturday Night Special - nome criado na década de 60 para chamar um
tipo de revólver pequeno, barato e de baixa qualidade. Foi com essa arma que Hinckley, no dia 30 de
março daquele ano, acertou uma bala no pulmão do presidente Ronald Reagan e outra na cabeça de
seu porta-voz, James Brady. Reagan recuperou-se totalmente, mas Brady desde então está preso a
uma cadeira de rodas. (...)

Seguramente, por trás da notícia, existe, como pressuposto, um pronunciamento contra o risco
de vender arma para qualquer pessoa, indiscriminadamente.
Para comprovar essa constatação, basta pensar que os fabricantes de revólveres, se pudessem,
não permitiriam a veiculação dessa notícia.
O exemplo escolhido deixa claro que qualquer texto, por mais objetivo e neutro que pareça,
manifesta sempre um posicionamento frente a uma questão qualquer posta em debate.
Ao final desta lição, devem ficar bem plantadas as seguintes conclusões:

a) Uma boa leitura nunca pode basear-se em fragmentos isolados do texto, já que o
significado das partes sempre é determinado pelo contexto dentro do qual se
encaixam;

b) Uma boa leitura nunca pode deixar de apreender o pronunciamento contido por trás
do texto, já que sempre se produz um texto para marcar posição frente a uma questão
qualquer.
(SAVIOLI, F.P. & FIORIN, J.L. Para entender o texto: leitura e redação. 17ª ed. São Paulo: Ática, 2007 – pág. 11 a 14)

LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica


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3.1 COMPREENDENDO O CONTEXTO

REFINE SEU VOCABULÁRIO CORPORATIVO

No último 28 de março, o jornalista William Bonner recebeu o prêmio “Melhores do Ano”, da


TV Globo, na categoria jornalismo. Ao ser perguntado sobre qual era o sabor daquele troféu,
especialmente após substituir um dos maiores ícones do jornalismo brasileiro − o apresentador Cid
Moreira −, Bonner respondeu enfaticamente: “Eu não substituí o Cid, eu o sucedi. Seria impossível
substituí-lo”.
Os verbos “substituir” e “suceder” podem, a princípio, parecer quase sinônimos. No entanto,
para Bonner, a opção por “suceder” foi muito mais feliz. “Suceder” soa mais natural que “substituir”,
enquanto “substituir” é muito mais apropriado para uma lâmpada do que para uma pessoa. Pequenas
sutilezas como essa fazem toda a diferença na comunicação.
Muita leitura e um dicionário sempre à mão na hora de escrever são as principais dicas para
quem deseja refinar o vocabulário. É importante ressaltar a diferença entre “refinar” e “rebuscar”. O
primeiro conceito está muito mais próximo de “lapidar”, trabalhar para escolher as palavras que
melhor exprimem a mensagem desejada. Já o segundo significa “florear, sofisticar sem necessidade”.
Não faz sentido em um jantar familiar dizer “Por obséquio, passe-me o sal”. Note que no
exemplo de William Bonner, ele não usa nenhum rebuscamento. No entanto, ele procura a palavra
exata para exprimir sua mensagem. O refinamento assemelha-se a um trabalho mais artesanal.
Em entrevista a Folha de São Paulo, Marina Silva também constrói com palavras a sua posição
na campanha eleitoral para presidente. “O Brasil precisa de um sucessor, e não de um continuador ou
de um opositor. O opositor tende a jogar tudo na lata do lixo, e o continuador acha que já está tudo
pronto.”
Escolher as palavras certas pode ser um diferencial positivo na carreira de um profissional. Por
isso, mãos à obra.

(Disponível em: http://www.scrittaonline.com.br/artigos/refine-seu-vocabulario-corporativo, consultado em 29/07/10)

QUESTIONÁRIO

1. Por que para o jornalista William Bonner seria impossível substituir Cid Moreira?

2. O profissional deve buscar um vocabulário refinado ou rebuscado? Explique.

3. Para a análise de um texto é necessário que se considere o contexto (relação entre o texto e a
situação em que ele ocorre). Em que contexto está inserida a fala de Marina Silva?

4. Considerando o contexto, para Marina Silva, quem é o “continuador” e quem é o “opositor”


(cite nomes)? Justifique sua resposta.

5. Trace um paralelo entre os discursos de William Bonner e Marina Silva justificando a razão de
optarem pelo verbo “suceder”.

Autora: Lucivânia A. S. Perico


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4 INTERTEXTUALIDADE: AS RELAÇÕES ENTRE TEXTOS

Observe os trechos que seguem:


Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores.
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
(DIAS, Gonçalves. Canção do exílio)

Do que a terra mais garrida Nossas flores são mais bonitas


Teus risonhos, lindos campos têm mais flores; nossas frutas mais gostosas
“Nossos bosques têm mais vida” mas custam cem mil réis a dúzia.
“Nossa vida”, no teu seio, “mais amores”. (MENDES, Murilo. Canção do exílio)
(Hino Nacional Brasileiro)

Os três textos são semelhantes. Como o de Gonçalves Dias é anterior aos dois primeiros, o que
ocorre é que estes fazem alusão àquele. Os dois primeiros citam o texto de Gonçalves Dias.
Com muita frequência um texto retoma passagens de outro. Quando um texto de caráter científico
cita outros textos, isso é feito de maneira explícita. O texto citado vem entre aspas e em nota indica-se
o autor e o livro donde se extraiu a citação.
Num texto literário, a citação de outros textos é implícita, ou seja, um poeta ou romancista não
indica o autor e a obra donde retira as passagens citadas, pois pressupõe que o leitor compartilhe com
ele um mesmo conjunto de informações a respeito das obras que o compõem um determinado universo
cultural. Os dados a respeito dos textos literários, mitológicos, históricos são necessários, muitas
vezes, para compreensão global de um texto. A essa citação de um texto por outro, a esse diálogo entre
textos dá-se o nome de intertextualidade.
Compreender um texto implica também acessar conhecimentos prévios, adquiridos em experiências
anteriores a que tenhamos sido expostos em nosso convívio social: leituras, filmes, aulas, palestras,
sermões, conversas. A intertextualidade acontece quando utilizamos esses conhecimentos para
elaborar um novo texto. Essa utilização pode ser em explícita ou implícita.
Voltemos aos três textos colocados no princípio desta lição. O poema de Gonçalves Dias possui
muitas virtualidades de sentido. Entre elas, a exaltação ufanista da natureza brasileira. Para ele, nossa
pátria é sempre mais e melhor do que os outros lugares. Os versos do Hino Nacional retomam o texto
de Gonçalves Dias para reafirmar esse sentido de exaltação da natureza brasileira. Já os versos de
Murilo Mendes citam Gonçalves Dias com intenção oposta, pois pretendem ridicularizar o
nacionalismo exaltado que pode ser lido no poema gonçalvino.
Um texto cita outro com, basicamente, duas finalidades distintas:
a) para reafirmar alguns dos sentidos do texto citado;
b) para inverter, contestar e deformar alguns dos sentidos do texto citado; para polemizar com ele.
Em relação ao texto de Gonçalves Dias, o Hino Nacional enquadra-se no primeiro caso, enquanto o
de Murilo Mendes encaixa-se no segundo. Quando um texto cita outro invertendo seu sentido, temos
uma paródia. Os versos do Hino Nacional parafraseiam versos de Gonçalves Dias; os de Murilo
Mendes parodiam-no.
Compare agora estas duas estrofes, de dois poemas:

Meus oito anos Meus oito anos

Oh! Que saudade que tenho Oh que saudades que eu tenho


Da aurora da minha vida, Da aurora de minha vida,
Da minha infância querida De minha infância querida
Que os anos não trazem mais Que os anos não trazem mais
Que amor, que sonhos, que flores Naquele quintal de terra
Naquelas tardes fagueiras Da Rua de Santo Antônio
À sombra das bananeiras, Debaixo da bananeira
Debaixo dos laranjais! Sem nenhum laranjais!
[...] [...]
(Casimiro de Abreu) (Oswald de Andrade)

LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica


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O texto de Casimiro de Abreu foi escrito no século XIX, o texto de Oswald de Andrade foi escrito
no século XX. As semelhanças entre os textos são evidentes, pois o assunto deles é o mesmo e há
versos inteiros que se repetem. Portanto, o texto de Oswald cita o texto de Casimiro, estabelecendo
com ele uma relação intertextual. Observe, porém, que o 2º texto tem uma visão diferente da
apresentada pelo 1º. No 1º texto, tudo na infância parece perfeito, rodeado por “amor”, “sonhos” e
“flores”; já no 2º texto, esses elementos são substituídos por um simples “quintal de terra”, um espaço
concreto e comum, se idealização. Além disso, com o verso “sem nenhum laranjais”, Oswald ironiza
Casimiro, como que dizendo: na minha infância também havia bananeiras, mas não havia os tais
“laranjais” que o Casimiro cita em seu poema.
Observe que Oswald, com seu poema, não apenas cita o poema de Casimiro, ele também critica
esse poema, pois considera irreal a visão que Casimiro tem da infância. Certamente, na visão de
Oswald, infância de verdade, no Brasil, se faz com crianças brincando no quintal de terra, embaixo das
bananeiras, e não com crianças sonhando embaixo de laranjais. Podemos dizer que o texto de Oswald
é uma paródia do texto de Casimiro.
A percepção das relações intertextuais, das referências de um texto a outro, depende do repertório
do leitor, do seu acervo de conhecimentos literários e de outras manifestações culturais. Daí a
importância da leitura, principalmente daquelas obras que constituem as grandes fontes da literatura
universal. Quanto mais se lê, mais se amplia a competência para apreender o diálogo que os textos
travam entre si por meio de referências, citações e alusões. Por isso, cada livro que se lê torna maior a
capacidade de apreender, de maneira mais completa, o sentido dos textos.
Vamos analisar o poema de Murilo Mendes:

Canção do exílio

Minha terra tem macieiras da Califórnia Eu morro sufocado


onde cantam gaturamos de Veneza. em terra estrangeira.
Os poetas da minha terra Nossas flores são mais bonitas
são pretos que vivem em torres de ametista, nossas frutas mais gostosas
os sargentos do exército são monistas, cubistas, mas custam cem mil réis a dúzia.
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir Ai quem me dera chupar uma carambola de
com os oradores e os pernilongos. [verdade
Os sururus em família têm por testemunha e ouvir um sabiá com certidão de idade!
[a Gioconda. (MENDES, Murilo. Poemas. In: --. Poesias
(1925-1955). Rio de Janeiro, J. Olympio, 1959. p.5)

Observe a seguir o poema de Gonçalves Dias:

Canção do exílio

Minha terra tem palmeiras, Minha terra tem primores,


Onde canta o Sabiá; Que tais não encontro eu cá;
As aves, que aqui gorjeiam, Em cismar –sozinho, à noite–
Não gorjeiam como lá. Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Nosso céu tem mais estrelas, Onde canta o Sabiá.
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida, Não permita Deus que eu morra,
Nossa vida mais amores. Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Em cismar, sozinho, à noite, Que não encontro por cá;
Mais prazer encontro eu lá; Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá.
Onde canta o Sabiá. (DIAS, Gonçalves. Gonçalves Dias: poesia. Por Manuel
Bandeira. Rio de Janeiro, Agir, 1975. p. 11-2)

Autora: Lucivânia A. S. Perico


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Você leu duas canções do exílio diferentes. A de Gonçalves Dias enaltece a pátria, considera-a
superior à terra do exílio. Murilo critica, com mordacidade, o Brasil e julga-se exilado em sua própria
terra por não compartilhar dos valores nela vigentes. Cada texto é um pronunciamento sobre dada
realidade; cada texto revela a visão de mundo de quem o produz.
Mas não é só na literatura que isto acontece!
A intertextualidade é uma forma de diálogo entre textos, que pode se dar de forma mais implícita
ou mais explícita e em diversos gêneros textuais. O intertexto serve para ilustrar a importância do
conhecimento de mundo e como este interfere no nível de compreensão do texto. Ao relacionar um
texto com outro, o leitor entenderá que a intertextualidade é uma das estratégias utilizadas para a
construção dos mesmos.

Caipira Picando Fumo, 1893, Almeida Júnior(1850-99), óleo


Chico Tirando Palha de Milho,2000,acrílica sobre tela sobre tela,202x141cm.Pinacoteca de São Paulo, SP, Brasil
164x125 cm
No caso específico do anúncio publicitário, por exemplo, o intertexto, quando usado, é uma forma
diferente de persuasão, com o objetivo de levar o leitor a consumir um produto e também difundir a
cultura.
A televisão, muitas vezes, divulga sua programação e estimula sua audiência através de seus
próprios produtos comunicacionais fazendo referências uns aos outros. Em alguns episódios de
desenhos animados, como os Simpsons, por exemplo, nota-se esta referência. Os desenhos animados
também são direcionados, e em alguns casos, principalmente, aos adultos. Prova disto está na
utilização de obras da arte (clássica, surrealista, etc.) como elementos que compõem seus argumentos.
A maioria das crianças não faz ideia da existência da "Capela Cistina". (É bem verdade que muitos
adultos também estão na mesma situação!). Mas tudo isso para dizer que a intertextualidade só faz
sentido e, só é percebida, quando o público e/ou audiência a que destinam-se, tem um conhecimento
prévio acerca do assunto.

Quanto à intertextualidade na publicidade, pode-se dizer que ela assume a função não só de
persuadir o leitor como também de difundir a cultura, uma vez que se trata de uma relação com a arte
(pintura, escultura, literatura etc). Assim, quando há a utilização deste recurso, boa parte do efeito de
uma propaganda ou do título de uma reportagem é proveniente da referência feita a textos pré-
existentes. Esses textos ora são retomados de forma direta, ora de forma indireta, levando o
destinatário a reconhecer no enunciado o texto citado.
Veja a seguir outros intertextos:

LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica


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Clichê: é o enunciado que se transformou em uma unidade linguística estereotipada por ser muito
proferido pelas pessoas. Num jornal sobre esportes foi criada uma charge com o enunciado: “Por trás
de todo grande time há um grande treinador”. Tal enunciado remete a outro pertencente ao patrimônio
social “Por trás de todo grande homem há uma grande mulher”. O enunciado do jornal, na época,
pretendia elogiar a conduta do treinador pelo fato do time Vasco ter ganhado o campeonato.
Outro exemplo destacado foi o da publicidade do SESI a respeito de um concurso de empresas
sobre a qualidade no trabalho. O slogan da publicidade era: “Se o trabalho dignifica o homem, o
trabalho em equipe o torna um vencedor”. Observa-se que a partir de um clichê “O trabalho dignifica
o homem”, utilizado numa estrutura com valor condicional “Se o trabalho...”, ressalta-se em seguida a
importância do trabalho em equipe “... o trabalho em equipe o torna um vencedor”.

Proverbial: é um enunciado popular que expressa de forma sucinta uma mensagem. O título de uma
reportagem sobre funcionários e ações trabalhistas: “Depois do suor, o desamparo” que remete ao
provérbio “Depois da tempestade vem a bonança”. Sendo que ao contrário desse (depois dos fatos
negativos vem o positivo), o título da reportagem sugere que depois de todo esforço “suor”, os
funcionários não obtiveram o que almejavam: o reconhecimento. Foram vítimas do desemprego, o
“desamparo”.

Palavrão: é o enunciado que apresenta uma palavra grosseira ou obscena. O jornalista Agamenon,
responsável por uma matéria do Segundo Caderno do jornal “O Dia”, cuja característica é o humor,
nomeou uma de suas matérias de “Cuba se Fidel”. No mesmo, observa-se a alusão ao palavrão “se
fo☺...” e um jogo entre este e o nome do presidente de Cuba, Fidel Castro, por causa da semelhança
fonética “Fidel e fo☺”.

Bíblico: quando o enunciado menciona uma passagem da Bíblia. O título de uma reportagem sobre
o turismo na Ilha Grande “A fé move turistas nas trilhas da Ilha Grande” se referindo à passagem
bíblica que diz: “A fé move montanha”.

Literário: quando o enunciado refere-se a verso(s), a passagem(ns) ou a título(s) de obra.


- Exemplo de título de obra: A publicidade da marca Ceramidas usa como slogan o seguinte
enunciado: “Dona Flor e seus dois produtos”, que, por sua vez, se reporta a uma das obras de Jorge
Amado intitulada “Dona Flor e seus dois maridos”. Observa-se assim que na publicidade Dona Flor é
representada pela marca Ceramidas e os dois produtos pelo xampu e pelo condicionador.
Uma matéria da revista “Isto É” intitulada: “E o vento levou” sobre produtos para cabelo é o título
de uma obra de Margaret Mitchell. Essa matéria mostra como os produtos mencionados deixam os
cabelos leves e soltos.
- Exemplo de verso: O título de uma reportagem: “Infinito, mas enquanto durou” se referindo ao verso
de Vinícius de Moraes “que seja infinito enquanto dure” que, por sua vez, faz alusão ao pensamento de
Sofocleto: “O amor é eterno enquanto dura”.

Musical: quando a letra de uma música se reporta a outra letra já existente. Num trecho do rap
“Sem saúde”, de Gabriel O Pensador, o compositor diz: “... me cansei de lero-lero / dá licença mas eu
vou sair do sério...” mencionando uma das músicas de Rita Lee.
Autora: Lucivânia A. S. Perico
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Com base em tudo o que vimos a respeito de intertextualidade, podemos destacar a importância do
conhecimento de mundo e como esse fator interfere no nível de compreensão do texto. Pois, embora o
aluno-leitor não identifique o intertexto, vai entendê-lo. Mas ao relacionar um texto com outro,
compreenderá o texto lido na sua profundidade e por consequência será capaz de refletir sobre o
recurso adotado pelo autor para quando for compor textos. Dessa forma, na aula de Português, por
exemplo, o aluno compreenderá que a intertextualidade é um das estratégias utilizadas para a
construção de um texto. No caso específico da publicidade, quando utiliza a intertextualidade é uma
forma diferente de persuasão cuja intenção é de levar o leitor a consumir um produto e de também
difundir a cultura.
A intertextualidade deve fazer parte do planejamento de texto daquele que escreve, pois, afinal, é a
cultura do país e do mundo que estão em movimento. Cabe a ele, então, reconhecer intertextos e a
redigir utilizando também esse recurso.

EXERCÍCIOS
Leia este anúncio:
1.Que tipo de linguagem é utilizado na
construção do texto: a verbal, a visual ou ambas?

2.Leia apenas a frase situada na parte inferior do


anúncio. Qual é o seu sentido?

3.Observe a figura central do anuncio: a roupa,


os cabelos, o meio-sorriso da pessoa fotografada
e o cenário de fundo. Por esse conjunto de
elementos, notamos que não se trata de um
anúncio comum, pois há nele a voz de outro
texto bastante conhecido. Que texto é esse?

4.Ao lançar mão desta intertextualidade, o


anunciante pode correr alguns riscos, pois o
leitor pode não conhecer a obra de Leonardo da
Vinci.

a) Levando em conta que o produto anunciado é um amaciante de roupas (portanto algo refinado, que
nem todos utilizam) e que o anúncio foi publicado numa revista de público predominantemente
feminino e de classe média, é provável que a maior parte dos leitores perceba o recurso de
intertextualidade empregado ou não? Por quê?

b) Quanto aos leitores que não conhecem Da Vinci, eles poderiam, mesmo assim, ser atingidos pelo
apelo do anúncio, de modo que seu objetivo principal – promover o produto – fosse alcançado? Por
quê?

5.Imagine como seria um anúncio tradicional desse produto (“compre...”, “use...”, “experimente...”) e
compare ao anúncio lido. Levante hipóteses: que vantagens há, para o anunciante, em criar um
anúncio com esse tipo de inovação?
(Português: Linguagens–pág.111, 112 e 113)

6.Retome os poemas “Canção do exílio”. Observe que quando você redige um texto, você elabora seu
pronunciamento sobre uma determinada realidade. Por isso, num texto, você deve fazer uma reflexão
pessoal e não repetir “lugares-comuns”. Escreva agora sua canção do exílio mostrando como você vê
sua pátria. Seu texto deve ser em verso, mas não precisa ter rima. É importante que nele você arrole
imagens que indiquem a concepção que você tem de seu país. Sua produção deve ter um título e, no
mínimo, 20 linhas.

LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica


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5 O TEXTO E SUAS RELAÇÕES COM A HISTÓRIA

Todos conhecem as aventuras do Super-homem. Ele não é um terráqueo, mas chegou à Terra, ainda
criança, numa nave espacial, vindo de Crípton, planeta que estava para ser destruído por uma grande
catástrofe. É dotado de poderes sobre-humanos; seus olhos de raio X permitem ver através de
quaisquer corpos, a uma distância infinita; sua força é ilimitada, possibilitando-lhe escorar pontes
prestes a desabar e levantar transatlânticos; a pressão de suas mãos submete o carbono a temperaturas
tão altas que o transforma em diamante; sua apurada audição permite-lhe escutar o que se fala em
qualquer ponto. Pode voar a uma velocidade igual à da luz e, quando ultrapassa essa velocidade,
atravessa a barreira do tempo e transfere-se para outras épocas; pode perfurar montanhas com o
próprio corpo; pode fundir metais com o olhar. Além disso, tem uma série de qualidades: beleza,
bondade, humildade. Sua vida é dedicada à causa do bem.
O Super-homem vive entre os homens sob a aparência do jornalista Clark Kent, que é um tipo
medroso, tímido, pouco inteligente, míope. Clark Kent é apaixonado por Lois Lane (quando os
quadrinhos vieram para o Brasil, o nome dela era Miriam Lane, depois passou a ser Lois), sua colega,
que, na verdade, ama loucamente o Super-homem.
Já vimos que todo texto é um pronunciamento sobre uma dada realidade. Ao fazer esse
pronunciamento, o produtor do texto trabalha com as ideias de seu tempo e da sociedade em que vive.
Com efeito, as concepções, as ideias, as crenças, os valores não são tirados do nada, mas surgem das
condições de existência. As concepções racistas, por exemplo, aparecem numa época em que certos
países, necessitando de mão de obra, iniciam a escravização de negros. A ideia de que certas raças são
inferiores a outras não é uma maldade dos brancos, mas uma justificativa apaziguadora da consciência
dos senhores de escravos. Essas concepções ganham um impulso maior quando os países europeus,
precisando de matérias-primas, iniciam o processo de colonização da África e da Ásia. A colonização
é, assim justificada por um belo ideal: expandir a civilização.
Todo texto assimila as ideias da sociedade e da época em que foi produzido. Neste momento, você
poderia estar dizendo que o texto do Super-homem prova exatamente o contrário, pois nada tem ele a
ver com a realidade histórica, na qual não existem super-homens. Quando se afirma que os textos se
relacionam com a história, não se quer dizer que eles narram fatos históricos de um país, mas que
revelam os ideais, as concepções, os anseios e os temores de um povo numa determinada época. Nesse
sentido, a narrativa do Super-homem mostra os anseios dos homens das camadas médias das
sociedades industrializadas do século XX, massacrados por um trabalho monótono e por uma vida sem
qualquer heroísmo. Esse homem, mediocrizado e inferiorizado, nutre a esperança de tornar-se um ser
todo-poderoso assim como Clark Kent, que se transforma em Super-homem. As condições de
impotência do homem diante das pressões sociais geram um ideal de onipotência refletido na narrativa
do Super-homem.
Além disso, as concepções de sociedade em que esse texto foi produzido estão presentes na ideia de
Bem.
Como nota Umberto Eco, famoso autor italiano, um indivíduo dotado dos poderes do Super-
homem poderia acabar com a fome, a miséria e as injustiças do mundo. No entanto, ela não faz nada
disso. Ao contrário, o bem que pratica é a caridade, e o mal que combate é o atentado à propriedade
privada. Lutar contra o mal é assim combater ladrões. Dedica sua vida a isso.
Como se vê, as ideias produzidas num determinado tempo, numa dada época estão presentes no
texto. Cabe lembrar, no entanto, que uma sociedade não produz uma única forma de ver a realidade.
Como ela é dividida pelos interesses antagônicos dos diferentes grupos sociais, produz ideias
contrárias entre si. A mesma sociedade que gera as ideias racistas produz ideias antirracistas. Por isso,
controem-se nessa sociedade textos que fazem pronunciamentos antagônicos com relação aos mesmos
dados da realidade.
Há algumas ideias que predominam sobre suas contrárias numa dada época. Elas refletem os
interesses dos grupos sociais dominantes. Fazer uma reflexão pessoal é analisar essas ideias de
maneira crítica, verificando até que ponto elas têm apoio na realidade.
Para entender com mais eficácia o sentido de um texto, é preciso verificar as concepções correntes
na época e na sociedade em que foi produzido. Assim, não se corre o risco de considerar, por exemplo,
como pronunciamentos idênticos um texto sobre a democracia ateniense e um sobre a democracia nas
sociedades capitalistas modernas, que, na verdade, tratam de concepções distintas. As ideias de uma
época estão presentes nos significados dos textos. Observe a figura a seguir: quais mudanças
discursivas ocorreram ao longo da história?
Autora: Lucivânia A. S. Perico
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Cabe lembrar ainda que as ideias de uma época são veiculadas por textos, uma vez que não existem
ideias puras, ou seja, não transmitidas linguisticamente. Assim, analisar as ideias de um texto é estudar
o diálogo entre textos, em que um assimila e registra as ideias presentes nos outros.
Vamos fazer agora a análise de dois textos cujo discurso mudou ao longo da história.

A CARTEIRA PROFISSIONAL (1976)

Por menos que pareça e por mais trabalho que dê ao interessado, a carteira profissional é um
documento indispensável à proteção do trabalhador.
Elemento de qualificação civil e de habilitação profissional, a carteira representa também título
originário para a colocação, para a inscrição sindical e, ainda, um instrumento prático do contrato
individual de trabalho.
A carteira, pelos lançamentos que recebe, configura a história de uma vida. Quem a examina, logo
verá se o portador é um temperamento aquietado ou versátil; se ama a profissão escolhida ou ainda não
encontrou a própria vocação; se andou de fábrica em fábrica, como uma abelha, ou permaneceu no
mesmo estabelecimento, subindo a escala profissional. Pode ser um padrão de honra. Pode ser uma
advertência.

Alexandre Marcondes Filho


MENSAGEM DO SENHOR MINISTRO (1988)

Criada em 1932, a Carteira de Trabalho e Previdência Social resistiu ao passar dos anos,
assimilando com muita presteza as profundas modificações que se registraram, nestas décadas, na
composição, distribuição e qualificação da nossa força de trabalho.

Sem nenhum exagero, pode-se afirmar que este documento, por muitos ainda hoje conhecido como
“carteira profissional”, converteu-se num dos mais importantes instrumentos à disposição do
trabalhador, fazendo as vezes de cédula de identidade, título de crédito, atestado de antecedentes, de
boa conduta e de residência, para citar apenas algumas de suas múltiplas utilidades.

Em sua simplicidade, a CTPS reflete a carreira do trabalhador e sua evolução profissional. Cabe-
lhe, pois, protegê-la atenta e cuidadosamente, porque enquanto pelos seus aspectos externos essa
Carteira revela traços importantes da personalidade e da formação do seu possuidor, os registros
internos, habitualmente insubstituíveis, se constituem nas melhores garantias da preservação e da
efetivação dos seus direitos trabalhistas e previdenciários.
Almir Pazzianotto Pinto

LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica


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Instituída na década de 1930, a Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) apresentava uma
dupla função, mantida até hoje: além de resguardar os direitos do trabalhador funcionava também
como um tipo de condensação das atividades profissionais deste, servindo de alerta aos empregadores:
“Quem a examina, logo verá se o portador é um temperamento aquietado ou versátil; se ama a
profissão escolhida ou ainda não encontrou a própria vocação; se andou de fábrica em fábrica, como
uma abelha, ou permaneceu no mesmo estabelecimento, subindo a escala profissional. Pode ser um
padrão de honra. Pode ser uma advertência.”
Atendendo às orientações da CTPS de 1976, um funcionário admitido na LIGHT – nome da
empresa estadual de energia elétrica na época – designado para o setor de pessoal da empresa, recebeu
a seguinte orientação do seu chefe: “Fique atento à carteira profissional do candidato e ao número de
anos que permaneceu em cada empresa; entreviste-o bem próximo, para ver se ele não cheira a
cachaça. Conte uma boa piada para fazê-lo rir e avaliar a sua saúde, a partir da qualidade dos seus
dentes”.
Era esta a postura da empresa diante do trabalhador.
O discurso escrito na CTPS foi reformulado e, em 1988, ela passou a ser “atestado de antecedentes,
de boa conduta e de residência, para citar apenas algumas de suas múltiplas utilidades”. Permanecia o
discurso anterior, agora aprimorado.
Atualmente, a CTPS possui nas páginas iniciais quatro itens do Art.XXIII, da Declaração Universal
dos Direitos do Homem, absolutamente utópicos para o momento atual: dizendo que “Todo homem
tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à
proteção contra o desemprego.” Mas será que isso é verdade?
Em seguida, há um trecho do Decreto-Lei nº229, de 28 de fevereiro de 1967, e na sequência um
texto dirigido ao trabalhador, que diz assim:

TRABALHADOR

Esta é a sua Carteira de Trabalho e Previdência Social, instituída pelo Decreto nº 22.035, de 29 de
outubro de 1932, e posteriormente reformulada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, que
aprovou a Consolidação das Leis do Trabalho.
É o documento obrigatório para o exercício de qualquer emprego, seja de natureza urbana, rural, de
caráter temporário, permanente, ou mesmo em atividade profissional exercida por conta própria.
Nela são registrados os salários e todos os elementos básicos para o reconhecimento de seus
direitos perante a Justiça do Trabalho, bem como para a obtenção da aposentadoria e demais
benefícios da Previdência Social, tanto para você como para seus dependentes. Além de registrar todas
as relações de trabalho de seu portador, comprovando o vínculo que mantém com o empregador, a
CTPS garante-lhe também o direito ao Seguro-Desemprego.
Além de valer, também, como prova de identidade, conforme dispõe o artigo 40 da Consolidação
das Leis do Trabalho, o conjunto de anotações da CTPS e seu estado de conservação espelham a
conduta, a formação e o passado do trabalhador. Pelo conjunto das informações que encerra, serve, ao
mesmo tempo, como documento de crédito e atestado de antecedentes, tornando-se instrumento de
múltiplas utilidades ao seu portador.
Pela sua importância, é seu dever protegê-la e cuidá-la. É o registro de toda a sua vida profissional
e a garantia da preservação e validade de seus direitos como trabalhador e cidadão, contribuindo para
assegurar o seu futuro e de seus dependentes.
(sem assinatura)

Observamos a mudança no discurso escrito, porém a CTPS permanece sendo, intrinsicamente, um


“atestado” de conduta pessoal e profissional, uma vez que “o conjunto de anotações da CTPS e seu
estado de conservação espelham a conduta, a formação e o passado do trabalhador. Pelo conjunto das
informações que encerra, serve, ao mesmo tempo, como documento de crédito e atestado de
antecedentes (...)”, ou seja, as palavras mudaram, mas os conceitos não. Ao contrário do discurso
percebido na figura relacionada ao ensino (1969-2009).

O artigo a seguir, extraído da revista Língua Portuguesa, dá conta da análise de campanhas


publicitárias e sua relação com o contexto e a história.

Autora: Lucivânia A. S. Perico


20

5.1 OS LIMITES DA RETÓRICA DE MERCADO


Polêmica mundial envolvendo campanha de agência brasileira mostra a dificuldade em controlar a
interpretação dos consumidores

O anúncio Aviões, da WWF, provocou reações indignadas nos EUA contra a agência DM9DDB: texto insensível

Uma das mais tarimbadas agências do país, com vinte anos de janela, a DM9DDB se meteu num vespeiro,
mês passado, com a repercussão mundial de uma campanha publicitária criada para a WWF, organização não
governamental dedicada à conservação da natureza. A peça, composta pelo impresso Aviões e pelo filme
Tsunami, lança uma centena de aviões contra o World Trade Center. No filme, a cena escurece para dar lugar a
letreiros com a premissa retórica que sustenta o anúncio: "O tsunami matou 100 vezes mais pessoas do que o 11
de setembro". Em seguida, o apelo à reflexão: "Nosso planeta é poderoso. Respeite e preserve".
Além do erro conceitual (tsunamis são fenômenos geológicos, não relacionados à destruição da natureza pelo
homem) e da premissa controversa (o paralelo entre ato terrorista e mudança ambiental), a campanha pôs em
xeque um dos pilares da retórica publicitária desde a era dos reclames: a interpretação (programada) das
mensagens que veicula.
Difícil localizar quem interpretou o anúncio da WWF, conforme o planejado pela DM9, como um alerta à
devastação. Nos EUA, ela foi recebida antes como afronta ao sofrimento norte-americano no aniversário de oito
anos do atentado. Foi condenada não só pela mídia especializada, como a revista nova-iorquina Advertising Age,
mas por programas da rede NBC e pelo tradicional New York Times.
Na primeira semana de setembro, o caso virou um jogo de empurra entre a agência e o braço local da ONG.
Em nota, a DM9DDB alegou que o anúncio foi "fruto somente da inexperiência" dos profissionais envolvidos
"de ambas as partes". Por sua vez, o braço brasileiro do WWF divulgou que a peça havia sido rejeitada. Depois,
em nota conjunta, ambos admitiram que o anúncio foi aprovado em dezembro de 2008, "equivocadamente".
Nenhum reparo prévio, no entanto, impediu que a peça fosse divulgada à imprensa por release da própria
DM9, publicada num jornal de São Paulo antes de ter sua veiculação suspensa, inscrita no festival de Cannes e
premiada com um diploma Merit pelo One Show, competição internacional da propaganda, o que deu lenha à
repercussão mundial do caso. O prêmio foi cancelado, a pedido da agência, mas o estrago já havia sido
potencializado por sites e blogs de todo o mundo.
Na era da internet, com blogs bisbilhoteiros e repercussão em escala, de site a site, a possibilidade de
interpretação indesejada de mensagens publicitárias tem crescido exponencialmente. No início de setembro, a
Unimed Porto Alegre viu um anúncio seu virar alvo de blogs de estudantes e publicitários. A campanha
"Cuidar", desenvolvida pela agência Escala desde o início do ano, partia do conceito de que, para uma
cooperativa de médicos, não mero plano de saúde, cuidar é tão importante quanto curar. Daí desenvolver a série
de anúncios em que letras de palavras, como "trabalho", "respeito" e "amor", fossem substituídas pelo corpo
humano. No caso de "cuidar", no entanto, a letra i deu lugar a uma modelo esguia e ereta, o suficiente para que
blogueiros a vissem como um muro a separar um verbo de um substantivo indesejado.

LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica


21

A campanha da Unimed-RS, em que uma modelo substitui a letra i, dividindo a palavra "cuidar" em um verbo
e um substantivo indesejado

Fora de contexto
A infeliz coincidência, no entanto, de circulação restrita pois publicada num caderno especial do jornal Zero
Hora em 1º de setembro, para comemorar um prêmio recebido pela empresa, espalhou-se pela blogosfera, mas
não teve repercussão negativa junto aos 450 mil usuários da Unimed, garante Eduardo Axelrud, diretor de
criação da agência gaúcha.
- Tirada do contexto, a leitura inadvertida é de fato plausível. Mas para o consumidor, a palavra "cuidar" foi
parte de uma sequência de outras palavras que integraram uma campanha de longa duração, que traduz a ideia de
que "nossa vida é cuidar da sua", com a qual as pessoas têm familiaridade e entendimento já consolidado ao
longo dos anos. Por isso, não teria havido margem a duplo sentido, nem a interpretações escatológicas ou
pornográficas - afirma Axelrud.
A peça, lida isoladamente, descontextualizada, autorizaria a leitura indesejada. Mas, integrante de um
conjunto de ações de marketing e de propaganda, o tropeço se "contamina" pela lógica interna das outras peças
que integram a rede de mensagens de uma campanha. O que reduziria, diz Axelrud, a possibilidade de
interpretação dúbia.
- O anúncio não nos constrangeu. Muito pouca gente que o viu deu atenção ao fato porque ele está num
contexto maior de uma campanha que se prolongou no tempo - diz Gerson Luís Silva, gerente de marketing da
Unimed Porto Alegre.

Funerária
A leitura de duplo sentido, porém, pode ser um efeito proposital de certas campanhas. Maior empresa
funerária do Rio de Janeiro, com 10% do mercado carioca, a seguradora Sinaf criou uma tradição de humor
negro publicitário. Para promover a empresa, a Comunicação Carioca criou uma campanha em 2003 com
slogans de duplo sentido:
"Cremação: uma novidade quentinha da Sinaf."
"Nossos clientes nunca voltaram para reclamar."
"O seguro de vida que você vai dar graças a Deus. Pessoalmente."
"Como planejar a morte da sua sogra."
Apesar de produzir mensagens no limite entre a eficiência comunicativa e o mau gosto, o que poderia
afugentar os interessados nos serviços da empresa, o tom inusitado dos anúncios subvertia a dificuldade de as
pessoas lidarem com a morte. O sucesso da campanha aumentou a procura pelos serviços funerários e facilitou a
abordagem dos vendedores da empresa. Passado o impacto inicial, a atual agência da empresa, a Script, atenuou
o tom escancarado dos anúncios da seguradora, mas ainda mantém a ironia de antes:
"O melhor plano é viver. Mas vai que dá errado."
"Reforme sua casa de olhos fechados."
"Se beber, não dirija. Se dirigir, Sinaf."
"Um dia você não acorda e está rico."
"Sinaf, 25 anos. Incrível chegar onde chegamos perdendo um cliente atrás do outro."
Podemos qualificar as campanhas da funerária Sinaf como um humor negro, mas com resultados.

Café com leite


O mais comum, no entanto, é ver mensagens publicitárias que permitem dupla interpretação botarem a perder
todo um esforço comunicativo. A Parmalat lançou em 1998 uma campanha para promover sua marca de café
solúvel. A ideia era transferir para o café a bem-sucedida imagem da empresa de laticínios, num casamento que
reproduzisse a combinação clássica do café-com-leite. A campanha materializou a combinação numa metáfora
visual, em que brancos e negros formavam casais. A “azeitona da empada”, no entanto, foi a construção do texto,
com involuntária invocação racista: "Um café à altura do leite".
- Dizer que o café está à altura do leite é partir da premissa de discriminação ética, de apresentação alegórica
que reforça a crença na superioridade do leite, branco, sobre o café, que se toma por metáfora do negro - entende

Autora: Lucivânia A. S. Perico


22

Clóvis de Barros, professor de ética da ECA-USP, da Escola Superior de Propaganda e Marketing, e


coordenador do Espaço Ética.
Dar orientação argumentativa a uma ideia é um desafio que extrapola o meio publicitário, explica o professor
Francisco Platão Savioli, da USP e do sistema Anglo de Ensino.
- Bom texto é o que atinge o resultado programado. Bom escritor não é o que escreve correto, mas o que sabe
escolher para o seu texto os recursos que obedecem à sua intenção. O controle da forma mais funcional para
atingir o efeito desejado é um dos ingredientes da construção textual, mas há outros a controlar, como o respeito
por crenças e valores do interlocutor, a adequação à competência interpretativa dos leitores etc. - escreveu ele à
Língua.

Exemplum
A busca do ouro na criação de certas peças publicitárias passa muitas vezes por inverter expectativas, ser
provocativo e imprevisível, com o que se define o sucesso ou o fracasso de uma comunicação. Controlar o efeito
de suas mensagens virou, por isso, o desafio retórico do mundo da propaganda.
Não por acaso, a publicidade bebe na fonte da retórica antiga. A peça criada pela DM9, por exemplo, usou o
manjado recurso persuasivo do exemplum, episódio ou caso exemplar apresentado para ilustrar um ponto forte
do debate. A recomposição da mecânica discursiva mostraria que a DM9 tinha a tarefa de criar a imagem da
devastação da natureza na mente do público-alvo da WWF. Nada parece mais eficiente para dar dimensão de
algo do que compará-lo a exemplo palpável e familiar.

Efeitos sociais
Pensemos num primeiro termo de comparação: o que foi devastador e está fresquinho no imaginário popular?
O tsunami, que matou mais de 280 mil pessoas desde 2006. Eureka! Mas o que poderia dar dimensão da
magnitude de tal cifra? Compará-lo a uma outra devastação que tenha tido ainda maior impacto na memória
coletiva, mas saldo de vítimas bem menor. Que tal o World Trade Center? A sacada parecia genial. Até alguém
notar que o rei estava nu.
- A publicidade nunca vale por ela mesma mas pelos efeitos que provoca na sociedade. Muito de
suas consequências são produzidas em cadeia para além dos resultados mais imediatos no consumo - diz o
professor Clóvis de Barros Filho.
O mundo da propaganda, diz Barros Filho, provoca efeitos sociais que envolvem três níveis de leitura
esperados num consumidor de mensagens comerciais. O primeiro grande efeito procurado é a conversão da
mensagem em práticas de consumo. A segunda leitura desejada é a representação simbólica do anunciante, a
referência a que a marca passou a ser associada após dada campanha. Mas os publicitários não raro ignoram uma
terceira dimensão da interpretação de anúncios, avalia o professor da USP: o da cultura ética.
Para o professor, uma mensagem publicitária não só pode alterar o ritmo de vendas e consolidar uma imagem
que agrada ao anunciante, como tende a participar de uma determinada maneira de interpretar o mundo e atribuir
valor às coisas, que permitem escolhas relativas não só ao consumo.
- É possível conceber uma mensagem que se converta em ganho de consumo e, num segundo momento, em
construção positiva da marca, mas se inscreva no mundo social de modo a contribuir para a defesa de valores
discriminatórios, xenófobos ou que apequenam a existência humana. Esse cuidado deve ser tomado - diz Barros
Filho.

Valores
Foi-se a época em que um anúncio demonstrava a capacidade do produto. Um refrigerante mata a sede, um
carro nos leva a um lugar, o sapólio limpa mais. Um dia, veio a sacada e o refri passou a espantar os males da
vida, uma cervejinha virou afrodisíaco e um singelo sanduíche, sinônimo de realizações. Até fumante virou
atleta nos tempos em que anúncios de cigarro eram parte da paisagem.
O mundo sob o prisma da publicidade é sem nódoas ou crises, pois o menor sinal negativo termina anulado
pela exibição triunfal do produto. Quando Coca-Cola dá vida a tudo e o primeiro sutiã resume a puberdade, um
sinal é dado e consumido. Mas sempre algo trai a dimensão retórica, o fato de a mensagem ser feita para nos
convencer a comprar um peixe. Casos como o dos cem aviões, do café à altura do leite ou do humor funerário
mostram que o ruído ocorre quando a publicidade tenta vender seu peixe a qualquer preço.

Internet estimula sátira a agências e anunciantes


Embora recebendo interpretações distintas por parte das pessoas que tiveram contato com seus anúncios,
tanto a WWF como a Unimed-RS atribuem a repercussão de suas recentes peças publicitárias ao que consideram
uma terra de ninguém: a internet. Veiculadas uma única vez cada um, em jornais locais, as peças "Aviões" e
"Cuidar" se multiplicaram em blogs e no twitter.
O presidente da DDB Brasil, Sérgio Valente, admitiu o impacto da difusão global de tropeços localizados ao
divulgar em setembro um constrangido pedido de desculpas pelos anúncios da campanha "Aviões".
- Essas peças publicitárias, ainda que veiculadas uma única vez em veículos locais, acabaram por gerar
consequências globais que mostram que o alcance de uma peça publicitária já não é mais apenas local.
Eduardo Axelrude, da agência Etapa, que detém a conta da Unimed-RS, também acusa o golpe on-line.

LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica


23

- A repercussão de casos assim mostra a capacidade da internet de "viralizar", replicar comentários sob
pseudônimo, extrapolando a incidência do caso um a um - diz ele.
A internet virou um celeiro de sátiras a anúncios, para além dos comerciais de mentirinha criados pelo grupo
Desencannes, famoso por inventar paródias publicitárias, como a que simula Ronaldo Fenômeno num anúncio
do Santander: "Eu nunca fico no Banco do Brasil".
A divertida iniciativa do Desencannes restringe-se à homenagem paródica. Não é o que foi feito por piratas da
publicidade que criaram, por exemplo, um site de vídeos para a marca GM, como se a própria montadora
apontasse seus produtos como poluidores e recriminasse sua política de distribuição de bônus para executivos.
Em outra ação viral, o logotipo do banco Bradesco foi redesenhado para a inserção de aviões colidindo com as
torres gêmeas, no 11 de setembro.
O comercial das motos Dafra com o ator Wagner Moura foi redublado para desmentir todas as qualidades que
a peça publicitária original anunciava sobre a marca.

Ronaldo na paródia do site Desencannes e o logotipo do Bradesco premonitório do 11 de setembro: ação viral

(JUNIOR, Luiz Costa Pereira. Os limites da retórica de mercado. Língua Portuguesa.


São Paulo, Ano IV, nº 48, p. 46 – 50. Out. 2009)

QUESTIONÁRIO
1. Considerando a campanha publicitária “Aviões”, da WWF, o que provocou reações indignadas nos
EUA contra a agência DM9DDB? Por que o público reagiu assim?

2. Para Eduardo Axelrud, diretor de criação da agência gaúcha Escala, a campanha da Unimed-RS
“não teve repercussão negativa junto aos 450 mil usuários da Unimed”. Por que ele alega isso? Você
concorda com ele?

3. Analise o sucesso das campanhas publicitárias da seguradora Sinaf, maior empresa funerária do Rio
de Janeiro, promovido pela agência Comunicação Carioca. Você acredita que a empresa correu o risco
de ser prejudicada pela campanha publicitária? Justifique sua resposta.

4. Comente a fala do professor Francisco Platão Savioli a respeito da construção textual.


5. Estudamos um recurso chamado intertextualidade e a importância de se considerar o conhecimento
prévio do leitor (o seu repertório) sobre o assunto. Qual a intertextualidade estabelecida pelo trecho a
seguir: “A sacada parecia genial. Até alguém notar que o rei estava nu.”?

6. Percebe-se que a Internet tem um importante papel na divulgação das campanhas publicitárias.
Comente-o.

7. O grupo Desencannes ficou famoso por inventar paródias publicitárias, ou seja, comerciais de
mentirinha na Internet, a intenção era uma homenagem paródica. Porém, piratas da publicidade
criaram propagandas desagradáveis. Quais foram estas propagandas e que prejuízos você acredita que
possam trazer para as empresas citadas?

Para a próxima aula, trazer dicionário.

Autora: Lucivânia A. S. Perico


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6 RESUMO

Resumo é uma condensação fiel das ideias ou dos fatos contidos no texto. Resumir um texto
significa reduzi-lo ao seu esqueleto essencial sem perder de vista três elementos:

a) cada uma das partes essenciais do texto;

b) a progressão em que elas se sucedem;

c) a correlação que o texto estabelece entre cada uma dessas partes.

O resumo é, pois, uma redução do texto original, procurando captar suas ideias essenciais, na
progressão e no encadeamento em que aparecem no texto. Quem resume deve exprimir, em estilo
objetivo, os elementos essenciais do texto. Por isso não cabem, num resumo, comentários ou
julgamentos ao que está sendo condensado.
Muitas pessoas julgam que resumir é reproduzir frases ou partes de frases do texto original,
construindo uma espécie de "colagem". Essa "colagem" de fragmentos do texto original não é um
resumo. Resumir é apresentar, com as próprias palavras, os pontos relevantes de um texto. A
reprodução de frases do texto, em geral, atesta que ele não foi compreendido.
Para elaborar um bom resumo, é necessário compreender antes o conteúdo global do texto. Não é
possível ir resumindo à medida que se vai fazendo a primeira leitura. É evidente que o grau de
dificuldade para resumir um texto depende basicamente de dois fatores:

a) da complexidade do próprio texto (seu vocabulário, sua estruturação sintético-semântica, suas


relações lógicas, o tipo de assunto tratado etc.);

b) da competência do leitor (seu grau de amadurecimento intelectual, o repertório de informações que


possui, a familiaridade com os temas explorados).

Alguns procedimentos para diminuir as dificuldades de elaboração do resumo:

1. Ler uma vez o texto, ininterruptamente, do começo até o fim: sem a noção do conjunto, é mais
difícil entender o significado preciso de cada uma das partes. Essa primeira leitura deve ser feita com a
preocupação de responder à seguinte pergunta: do que trata o texto?

2. Uma segunda leitura é sempre necessária. Mas esta, com interrupções, com o lápis na mão, para
compreender melhor o significado de palavras difíceis (se preciso, recorra ao dicionário) e para captar
o sentido de frases mais complexas (longas, com inversões, com elementos ocultos), bem como as
conexões entre elas.

3. Num terceiro momento, tentar fazer uma segmentação do texto em blocos de ideias que tenham
alguma unidade de significação. Em um texto pequeno, normalmente pode-se adotar como critério de
segmentação a divisão em parágrafos. Quando se trata de um texto maior (o capítulo de um livro, por
exemplo) é conveniente adotar um critério de segmentação mais funcional, o que vai depender de cada
texto. Em seguida, com palavras abstratas e mais abrangentes, tenta-se resumir a ideia ou as ideias
centrais de cada fragmento.

4. Dar a redação final com suas palavras, procurando não só condensar os segmentos mas encadeá-los
na progressão em que se sucedem no texto e estabelecer as relações entre eles.

(SAVIOLI, F.P. & FIORIN, J.L. Para entender o texto: leitura e redação. 17ª ed. São Paulo: Ática, 2007 – pág. 420 e 421)

LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica


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Exemplo:

A Receita Federal brasileira vai iniciar um processo de integração com o fisco dos demais países do
Mercosul (Argentina, Uruguai e Paraguai) para combater as fraudes fiscais que estão ocorrendo nas
operações comerciais feitas entre empresas do bloco econômico.
Com a globalização, os chamados "preços de transferência" se transformaram no principal alvo das
administrações tributárias dos países filiados ao Centro Interamericano de Administradores Tributários
(CIAT). Por esse mecanismo, as empresas conseguem fraudar o fisco realizando operações de compra
e venda com preços que não correspondem ao valor real dos produtos ou serviços negociados. Em
todos os casos, é sempre necessário utilizar um paraíso fiscal - país que apresenta vantagens e isenções
tributárias.
No caso de uma exportação, a empresa vende seu produto por um preço muito baixo, o que
caracteriza uma operação não-lucrativa (portanto, sem incidência de Imposto de Renda). A venda é
intermediada por uma empresa localizada em um paraíso fiscal, que recoloca o preço em seu patamar
real e conclui a venda ao comprador. O lucro realizado por essa empresa retorna ao exportador sem
ônus fiscal.
Na importação, a operação é inversa. O produto é comprado a um preço elevado, reajustado em um
paraíso fiscal antes de chegar ao seu destino. O importador alega prejuízo na operação e escapa ao
fisco.
"A globalização, que agilizou e sofisticou os negócios entre as empresas, criou modernas doenças
fiscais. Temos que combatê-las", disse o Secretário da Receita Federal do Brasil, Everardo Maciel, à
Folha.
Apenas um trabalho conjunto entre os diversos países do Mercosul poderá extinguir ou, pelo
menos, neutralizar as fraudes fiscais internacionais.
(Folha de S. Paulo - 18.5.97, com adaptações)

Resumo

A globalização da economia, embora tenha agilizado e sofisticado os negócios entre as empresas,


também criou algumas "doenças", como fraudes fiscais que estão ocorrendo nas operações comerciais
entre empresas do Mercosul. Assim, o Brasil e os países do Mercosul devem trabalhar em conjunto a
fim de extinguir, ou ao menos neutralizar, essas fraudes fiscais internacionais.

ATIVIDADE

1º Retome o artigo “Os limites da retórica de mercado”, extraído da revista Língua Portuguesa.

2º Já fizemos anteriormente uma primeira leitura ininterrupta, agora é importante fazer uma segunda
leitura e destacar as palavras que você desconhece; logo após, procurar o seu significado no
dicionário;

3º Na terceira leitura, grife em cada parágrafo a ideia central (tópico frasal);

4º Por fim, escreva o resumo, com suas próprias palavras, utilizando o menor número de linhas
possível.

Autora: Lucivânia A. S. Perico


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7 RESENHA

Resenhar significa fazer uma relação das propriedades de um objeto, enumerar cuidadosamente
seus aspectos relevantes, descrever as circunstâncias que o envolvem. O objeto resenhado pode ser um
acontecimento qualquer da realidade (um jogo de futebol, uma comemoração solene, uma feira de
livros) ou textos e obras culturais (um romance, uma peça de teatro, um filme).
A resenha, como qualquer modalidade de discurso descritivo, nunca pode ser completa e exaustiva,
já que são infinitas as propriedades e circunstâncias que envolvem o objeto descrito. O resenhador
deve proceder seletivamente, filtrando apenas os aspectos pertinentes do objeto, isto é, apenas aquilo
que é funcional em vista de uma intenção previamente definida.
Imaginemos duas resenhas distintas sobre o mesmo objeto, o treinamento dos atletas para uma copa
mundial de futebol: uma resenha destina-se aos leitores de uma coluna esportiva de um jornal; outra,
ao departamento médico que integra a comissão de treinamento. O jornalista, na sua resenha, vai
relatar que um certo atleta marcou, durante o treino, um gol olímpico, fez duas coloridas jogadas de
calcanhar, encantou a plateia presente e deu vários autógrafos. Esses dados, na resenha destinada ao
departamento médico, são simplesmente desprezíveis.
Com efeito, a importância do que se vai relatar numa resenha depende da finalidade a que ela se
presta. Numa resenha de livros para o grande público leitor de jornal, não tem o menor sentido
descrever com pormenores os custos de cada etapa de produção do livro, o percentual de direito
autoral que caberá ao escritor e coisas do tipo.
A resenha pode ser puramente descritiva, isto é, sem nenhum julgamento ou apreciação do
resenhador, ou crítica, pontuada de apreciações, notas e correlações estabelecidas pelo juízo crítico de
quem a elaborou.

A resenha descritiva consta de:

a) uma parte descritiva em que se dão informações sobre o texto:


- nome do autor (ou dos autores);
- título completo e exato da obra (ou do artigo);
- nome da editora e, se for o caso, da coleção de que faz parte a obra;
- lugar e data da publicação;
- número de volumes e páginas.

Pode-se fazer, nesta parte, uma descrição sumária da estrutura da obra (divisão em capítulos,
assunto dos capítulos, índices, etc.). No caso de uma obra estrangeira, é útil informar também a língua
da versão original e o nome do tradutor (se tratar de tradução).

b) uma parte com o resumo do conteúdo da obra:

- indicação sucinta do assunto global da obra (assunto tratado) e do ponto de vista adotado
pelo autor (perspectiva teórica, gênero, método, tom, etc.);
- resumo que apresenta os pontos essenciais do texto e seu plano geral.

Na resenha crítica, além dos elementos já mencionados, entram também comentários e


julgamentos do resenhador sobre as ideias do autor, o valor da obra, etc.
Para melhor compreensão da estrutura da resenha, observe a resenha abaixo:

MEMÓRIA - ricas lembranças de um precioso modo de vida

O Diário de uma garota (Record, Maria Julieta Drummond de Andrade) é um texto que comove de
tão bonito. Nele o leitor encontra o registro amoroso e miúdo dos pequenos nadas que preencheram os
dias de uma adolescente em férias, no verão antigo de 41 para 42.
Acabados os exames, Maria Julieta começa seu diário, anotado em um caderno de capa dura que
ela ganha já usado até a página 49. É a partir daí que o espaço é todo da menina, que se propõe a
registrar nele os principais acontecimentos destas férias para mais tarde recordar coisas já esquecidas.

LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica


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O resultado final dá conta plena do recado e ultrapassa em muito a proclamada modéstia do texto
que, ao ser concebido, tinha como destinatária única a mãe da autora, a quem o caderno deveria ser
entregue quando acabado.
E quais foram os afazeres de Maria Julieta naquele longínquo verão? Foram muitos, pontilhados de
muita comilança e de muita leitura: cinema, doce-de-leite, novena, o Tico-Tico, doce-de-banana,
teatrinho, visita, picolés, missa, rosca, cinema de novo, sapatos novos de camurça branca, o Cruzeiro,
bem-casados, romances franceses, comunhão, recorte de gravuras, Fon-Fon, espiar casamentos,
bolinho de legumes, festas de aniversário, Missa do galo, carta para a família, dor-de-barriga, desenho
de aquarela, mingau, indigestão ... Tudo parecia pouco para encher os dias de uma garota carioca em
férias mineiras, das quais regressa sozinha, de avião.
Tantas e tão preciosas evocações resgatam do esquecimento um modo de vida que é hoje apenas
um dolorido retrato na parede. Retrato, entretanto, que, graças à arte de Julieta, escapa da moldura,
ganha movimentos, cheiros, risos e vida.
O livro, no entanto, guarda ainda outras riquezas: por exemplo, o tom autêntico de sua linguagem,
que, se, como prometeu sua autora, evita as pompas, guarda, não obstante, o sotaque antigo do tempo
em que os adolescentes que faziam diários dominavam os pronomes cujo / a / os / as, conheciam a
impessoalidade do verbo haver no sentido de existir e empregavam, sem pestanejar, o mais-que-
perfeito do indicativo quando de direito...
Outra e não menor riqueza do livro é o acerto de seu projeto gráfico, aos cuidados de Raquel Braga.
Aproveitando para ilustração recortes que Maria Julieta pregava em seu diário e reproduzindo na capa
do livro a capa marmorizada do caderno, com sua lombada e cantoneiras imitando couro, o resultado é
um trabalho em que forma e conteúdo se casam tão bem casados que este Diário de uma garota acaba
constituindo uma grande festa para seus leitores.
Marisa Lajolo - Jornal da Tarde, 18 jan. 1986.

O texto é uma resenha crítica, pois nele a resenhadora apresenta um breve resumo da obra, mas
também faz uma apreciação do seu valor (exemplo, 1º período do 1º parágrafo, 3º parágrafo). Ao
comentar a linguagem do livro (6º parágrafo), emite um juízo de valor sobre ela, estabelecendo um
paralelo entre os adolescentes da década de 40 e os de hoje do ponto de vista da capacidade de se
expressar por escrito. No último parágrafo comenta o projeto gráfico da obra e faz uma apreciação a
respeito dele.
No resumo da obra, a resenhadora faz uma indicação sucinta do conteúdo global da obra ("registro
amoroso e miúdo dos pequenos nadas que preencheram os dias de uma adolescente em férias, no verão
antigo de 41 para 42"), mostra o gênero utilizado pela autora (diário) e, depois, relata os pontos
essenciais do livro (um rol dos pequenos acontecimentos da vida da adolescente em férias).
A parte descritiva é reduzida ao mínimo indispensável. Apenas o título completo da obra, a editora e o
nome da autora são indicados.
Estamos diante de uma resenha muito bem-feita, pois se atém apenas aos elementos pertinentes
para a finalidade a que se destina: informar o público leitor sobre a existência e as qualificações do
livro.
(SAVIOLI, F.P. & FIORIN, J.L. Para entender o texto: leitura e redação. 17ª ed. São Paulo: Ática, 2007 – pág. 426 a 429)

7.1 DIFERENCIANDO: RESUMO X RESENHA

Leia o texto abaixo:


Durante toda sua carreira como psicólogo, Maslow interessou-se profundamente pelo estudo do
crescimento e desenvolvimento pessoais e pelo estudo da psicologia como um instrumento de
promoção do bem-estar social e psicológico. Insistiu que uma teoria da personalidade precisa e viável
deveria incluir não somente as profundezas, mas também os pontos que cada indivíduo é capaz de
atingir. Maslow é um dos fundadores da teoria humanista.
Forneceu considerável incentivo teórico e prático para os fundamentos de uma alternativa para o
behaviorismo e a psicanálise, correntes estas que tendem a ignorar ou deixar de explicar a criatividade,
o amor, o altruísmo e os grandes feitos culturais, sociais e individuais da humanidade. Maslow estava
principalmente interessado em explorar novas saídas, novos campos.
Seu trabalho é mais uma coleção de pensamentos, opiniões e hipóteses do que um sistema teórico
plenamente desenvolvido. Sua abordagem em psicologia pode ser resumida pela frase de introdução
de seu livro mais influente, Introdução é psicologia do ser. (Fadiman, James et alii 1986:280).
Autora: Lucivânia A. S. Perico
28

"Está surgindo agora no horizonte uma nova concepção da doença humana e saúde humana,
psicologia que acho tão emocionante e tão cheia de maravilhosas possibilidades que cedi à tentação de
apresentá-la publicamente mesmo antes de ser verificada e confirmada e antes de poder ser
denominada conhecimento científico idôneo." (Maslow, 1968, 27)
Agora, observe que o resumo e a resenha são textos diferentes na sua estrutura:

RESUMO
Maslow sempre se interessou pelo estudo do crescimento e desenvolvimento pessoais e pelo uso da
psicologia como um instrumento de promoção do bem-estar social e psicológico. Forneceu incentivo
para os fundamentos de uma alternativa para o behaviorismo e a psicanálise, correntes estas que
deixam de explicar a criatividade, o amor, o altruísmo e os outros grandes feitos culturais da
humanidade. É um dos fundadores da teoria humanista.

RESENHA

Obra: Teorias da personalidade.


Autor: Fadiman, James et alii in Cap.9
Abraham Maslow e a Psicologia da Auto-Atualização, p. 260 SP Harbra, 1986, 7 e 8.

Trata-se de um capítulo que interessa a todos os estudantes que desejam conhecer desde os dados
biográficos do autor, como a sua metodologia fundada no humanismo e no crédito de que o ser
humano não é tão mau como se pensa.
Demonstra interesse pela antropologia social, interessando-se pelo trabalho dos antropólogos
sociais, tais como Malinowsky, Mead, Benedict e Linton.
Interessou-se pela gestalt e pela teoria e conceitos de auto-atualização.
Lidando com questões ligadas a valores, amor de deficiência e do ser, bem como a psicologia
transpessoal, afirma que " Sem o transcendente e o transpessoal, ficamos doentes, violentos e niilistas
ou então vazios de esperança e apáticos." (Maslow, 1968:12)
(BARROS, A. J. da Silveira & LEHFELD, N. A. de Souza. Fundamentos de metodologia científica. SP. MAKRON. 2000)

REDAÇÃO

Elabore uma resenha crítica do primeiro livro lido por nós neste semestre. Seu texto deve ter no
mínimo 25 linhas, escrito no padrão culto da língua.
Não esqueça do título.

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29

8 FILME “TEMPOS MODERNOS”

“Tempos Modernos” é o último filme mudo de Chaplin, que focaliza a vida urbana nos Estados
Unidos nos anos 30, imediatamente após a crise de 1929, quando a depressão atingiu toda sociedade
norte-americana, levando grande parte da população ao desemprego e à fome.
A figura central do filme é Carlitos, o personagem clássico de Chaplin, que ao conseguir emprego
numa grande indústria, transforma-se em líder grevista conhecendo uma jovem, por quem se apaixona.
O filme focaliza a vida na sociedade industrial caracterizada pela produção com base no sistema de
linha de montagem e especialização do trabalho. É uma crítica à "modernidade" e ao capitalismo
representado pelo modelo de industrialização, no qual o operário é engolido pelo poder do capital e
perseguido por suas idéias "subversivas".
Em sua segunda parte, o filme trata das desigualdades entre a vida dos pobres e das camadas mais
abastadas, sem representar contudo, diferenças nas perspectivas de vida de cada grupo. Mostra ainda
que a mesma sociedade capitalista, que explora o proletariado, alimenta todo o conforto e diversão
para a burguesia. Cenas como a que Carlitos e a menina órfã conversam no jardim de uma casa, ou
aquela em que Carlitos e sua namorada encontram-se numa loja de departamento, ilustram bem essas
questões.
Se inicialmente o lançamento do filme chegou a dar prejuízo, mais tarde tornou-se um clássico na
história do cinema. Chegou a ser proibido na Alemanha de Hilter e na Itália de Mussolini por ser
considerado "socialista". Juntamente com O Garoto e O Grande Ditador, Tempos Modernos está entre
os filmes mais conhecidos do ator e diretor Charles Chaplin, sendo considerado um marco na história
do cinema.
(Disponível em http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=181 , consultado em 11 ago 2011)

ATIVIDADE

Reúna-se com seu grupo para debater e responder às seguintes questões, baseando-se nas cenas do
filme “Tempos Modernos”:

1. Quais as três questões abordadas no filme?


2. Como o funcionário é tratado na fábrica?
3. Ele tem consciência sobre o que está produzindo?
4. Qual a posição do patrão (presidente da fábrica) em relação aos funcionários?
5. Quando Carlitos fica louco e acaba entrando nas engrenagens da fábrica, o que isso representa?
6. Quais são as características da tecnologia (máquinas, ferramentas) utilizadas?
7. Quem decide a maneira (e o tempo) como o trabalho é realizado?
8. Quais questões trabalhistas e sociais mostradas no filme estão presentes na nossa realidade atual?

Autora: Lucivânia A. S. Perico


30

9 REDAÇÃO TÉCNICA E COMERCIAL

O que é redação técnica?


Primeiramente, vejamos esses dois termos separadamente:

Redação é o ato de redigir, ou seja, de escrever, de exprimir pensamentos e ideias através da


escrita. Técnica é o conjunto de métodos para execução de um trabalho, a fim de se obter um
resultado. Logo, para que você escreva uma redação técnica é necessário que certos processos sejam
seguidos, como o tipo de linguagem, a estrutura do texto, o espaçamento, a forma de iniciar e finalizar
o texto, dentre outros.

Desta forma, a necessidade de certa habilidade e de se ter os conhecimentos prévios para se


fazer uma redação técnica é imprescindível!

A redação técnica engloba textos como: ata, circular, certificado, contrato, memorando,
parecer, procuração, recibo, relatório, currículo. Veremos cada um deles na aula de hoje.
Mas antes de chegarmos ao ponto, vamos refletir sobre o que é a correspondência.

Correspondência é um ato que se evidencia pelo traço de informações e se caracteriza pela


emissão e recepção de mensagens. É um meio de comunicação escrita entre pessoas. É o ato ou estado
de corresponder, adaptar, relatar. É uma comunicação efetiva por meio de papéis, cartas ou
documentos. Por ampliação de sentido, passou a designar todo o conjunto de instrumentos de
comunicação escrita: bilhetes, cartas, circulares, memorandos, ofícios, requerimentos etc.

A redação de textos administrativos inclui a necessidade de dinamizar o texto (por isso, o uso
de verbos próprios, substituindo expressões com verbo auxiliar, exemplo: “foi feito um levantamento”
pode ser substituído por “realizou-se um levantamento”), evitar palavras desnecessárias, ampliar o
vocabulário, optar pelo simples em lugar do complexo, utilizar frase curta, usar vocabulários
conhecidos pelo receptor, aproximar-se da coloquialidade sem desrespeitar a gramática, procurar a
inteligibilidade do texto.

São exigências modernas a objetividade e a rapidez na exposição do pensamento. Por isso,


mais do que nunca, é preciso buscar clareza de pensamento, expressão objetiva de ideias, vocabulário
exato. A linguagem utilizada nas relações comerciais exige o conhecimento de certas fórmulas e
praxes em que se deve exercitar o redator comercial.
Observem-se sempre as qualidades da redação como: exatidão, coerência de ideias, clareza e
concisão.

9.1 CURRÍCULO

Quando uma pessoa precisa comprar algum produto, ela vai ao mercado. Quando uma pessoa
precisa vender seu trabalho ou uma empresa precisa encontrar um profissional para atender às suas
necessidades, recorre ao mercado de trabalho. Isso quer dizer que, quando um candidato envia um
currículo para o mercado de trabalho, ele se expõe como se fosse um produto de uma vitrine.
O currículo é a forma abreviada e aportuguesada da expressão latina “curriculum vitae”, e
significa “carreira de vida”. É um documento em que uma pessoa revela sua formação, trajetória
profissional e aspectos da personalidade. Por isso, são necessários cuidados éticos na sua elaboração, a
fim de vender a imagem do profissional competente que você é. O objetivo do currículo é atrair a
atenção do selecionador para que você seja chamado para uma entrevista.
Um dos desafios do currículo é saber comunicar com poucas palavras o máximo de
informações. Portanto, é importante usar palavras que agreguem valor.
Geralmente o currículo é composto pelos seguintes itens: dados pessoais, objetivo,
qualificações ou resumo profissional, experiência ou histórico profissional, formação, formação
complementar e outras informações relevantes. Vamos explicar cada um desses componentes.

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Em dados pessoais, os itens mais importantes são: nome, endereço, números de telefone
convencional e/ou celular, endereço eletrônico, nacionalidade, estado civil e idade e/ou data de
nascimento.
É importante você mencionar o objetivo, isto é, o cargo ou a área em que quer trabalhar. Na
parte de qualificações ou resumo profissional é importante fazer um resumo das informações mais
importantes nas atividades exercidas e também nas almejadas; podem ser citados: experiência,
conhecimentos, formação e aspectos da personalidade.
No item destinado à experiência ou histórico profissional, deve-se citar o nome da empresa,
período de admissão e demissão, cargos assumidos, breve sumário das principais atribuições ou
resultados e conquistas em decorrência das atividades. Se você decidir pelo currículo cronológico-
funcional, não se esqueça de que as datas devem estar dispostas em ordem decrescente.
Em relação à formação, mencionam-se os cursos técnicos e/ou universitários, incluindo nome
da instituição de ensino e ano de conclusão. Na parte de formação complementar, relacionam-se os
cursos de idioma, extensão ou especialização relevantes para a formação ou complementação
profissional e cultural.
Outras informações relevantes são aquelas que possam representar importante diferencial do
candidato e que não foram citadas em nenhum dos itens anteriores, como trabalho voluntário,
participação em associações, viagens internacionais que tenham contribuído na evolução da carreira
profissional.
Juntamente com o currículo, é interessante enviar a carta de intenção ou carta de
apresentação, que é um documento em que o candidato pode declarar sua intenção em relação ao
cargo pretendido e/ou complementar alguma informação importante que não teve espaço de ser
mencionada no currículo. Redigi-los adequadamente poderá ser um diferencial.
Quais itens o currículo deve conter?

1. Nome completo (sem abreviações);

2. Estado civil, nacionalidade e idade (data de nascimento), se tiver filhos, informar quantos;

3. Endereço completo (incluindo o CEP);

4. Telefones para contato e endereço de e-mail;

5. Objetivo (informar apenas um ou especificar em que área deseja atuar);

6. Qualificações (características comportamentais e conhecimentos que permitam a você ocupar


o cargo pretendido);

7. Formação (constando nome do curso, nome da instituição, previsão de término (mês/ano) ou


informar quando concluiu. Não informar o Ensino Fundamental.);

8. Experiência Profissional (da mais recente para a anterior): informar a razão social da empresa,
o cargo ocupado (conforme registro na CTPS), ano de ingresso e ano de saída (ou “atual”,
caso não tenha se desligado da empresa), se quiser, pode informar brevemente as atividades
desenvolvidas (Atenção: se não tiver experiência, não cite este item no currículo);

9. Cursos Extracurriculares (sempre do mais recente para o mais antigo, não esqueça de informar
o nome do curso, o nome da instituição, a carga horária (quantidade de horas (ou meses) total),
a previsão de término (mês/ano) ou informar quando concluiu o curso (mês/ano))

10. Outras informações (experiências vivenciadas por você, viagens, trabalho voluntário etc.)

Proposta 1 – CURRÍCULO

Após orientações sobre elaboração de currículo, redija o seu, encaminhando-o à vaga de seu
interesse.

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9.2 CARTA COMERCIAL

Entre os documentos abarcados pela correspondência, destaca-se a carta comercial.

Os elementos de uma carta comercial são: timbre, índice e número, local e data, referência,
vocativo, texto, cumprimento final, assinatura, anexo iniciais do redator e do digitador (secretária,
datilógrafo), cópia.

Veja o exemplo a seguir:

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TIMBRE

ÍNDICE E NÚMERO

LOCAL E DATA

REFERÊNCIA

VOCATIVO

TEXTO

CUMPRIMENTO FINAL

ASSINATURA

ANEXO

INICIAIS DO REDATOR E DATILÓGRAFO

CÓPIA

Atualmente, o que podemos notar, é que cada vez mais a carta vem sendo substituída pelo e-
mail. Portanto, podemos considerar que a mensagem eletrônica passou a ser adotada também como
uma redação oficial.

Proposta 2 – CARTA COMERCIAL


Suponha que você trabalha na empresa Eletron S.A., especializada em artigos eletrônicos. Foi
solicitado a você que redigisse uma carga à empresa À Jato Ltda.(responsável pelos serviços de
entrega prestados a sua empresa) agradecendo pelos serviços prestados.
Espera-se que você utilize linguagem formal e os elementos: local e data, nome da empresa (ou
pessoa) a quem a carta se destina, desenvolvimento do assunto, fecho e assinatura do remetente.

9.3 MENSAGEM ELETRÔNICA (e-mail)

A mensagem eletrônica é como outra qualquer mensagem escrita. Requer os mesmos cuidados
de clareza, simplicidade, coerência, coesão entre as ideias, precisão. Ao redigir um e-mail, o redator
ocupa-se em dar resposta aos seguintes elementos: o que (o objeto do texto, da comunicação), para
quem (quem receberá a mensagem), para que (objetivo da comunicação), quando ocorreu o fato, ou

Autora: Lucivânia A. S. Perico


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a data em que deve ficar pronto um produto, por exemplo, como o leitor deve proceder, como foram
realizados os trabalhos, por exemplo, e por que se está comunicado, por que ocorreu determinado
fato, por exemplo.
Além desse cuidado com a precisão da informação, o redator deve considerar aspectos
relativos à persuasão: com gentileza poderá alcançar melhores resultados do que com rispidez. Assim,
nunca é demais um por favor, por gentileza, queira por gentileza, muito obrigado, obrigado por sua
atenção, desculpe-nos por... queira por gentileza desculpar...
A preocupação em escrever abreviadamente nos e-mails não se justifica, e deve ser evitada.
Muitas pessoas que escrevem e-mail acreditam que o efeito de sua mensagem está no número de
abreviaturas que utiliza (vc = você; rs = risos; bjs = beijos; msg = mensagem; p.s. = pós-escrito, pq =
porque; tb ou tbm = também). A tela está toda à frente do redator. Não deve, porém, escrever 30 linhas
se a mensagem suficiente comporta apenas 3 para que as ideias fiquem claras.
Ao final do texto, é recomendável colocar o nome e sobrenome, para que o interlocutor possa
identificar quem escreveu o e-mail.

Proposta 3 – E-MAIL

Imagine que você, sem perceber, comprou um produto defeituoso. Elabore um e-mail queixando-se
ao fabricante e requerendo a substituição do produto. É importante fornecer todas as informações
sobre o produto (local onde comprou, quando comprou, modelo do produto, defeito apresentado, etc.).
A linguagem deve ser formal. Lembre-se de empregar corretamente os pronomes de tratamento e bons
argumentos para conseguir convencer o seu interlocutor. Seu texto deve ter, no mínimo, 15 linhas.

9.4 RELATÓRIO

O relatório é um documento em que são registrados os resultados de uma experiência, de um


procedimento ou de uma ocorrência. Pode ser mais simples ou mais complexo, dependendo do que vai
ser registrado ou da sua intenção. A linguagem é clara, objetiva e concisa e, em geral, segue os
padrões da norma culta. O relatório pode ser usado em ambientes de estudo e também de trabalho.
Um relatório pode apresentar as seguintes partes:
- Título: objetivo e sintético
- Remetente / Destinatário
- Objetivo: introdução ao tema, ao objetivo do trabalho
- Referências (obras, sites, fontes consultadas)
- Texto principal: desenvolvimento do relatório
- Conclusões: resumo, resultados, constatações
- Assinatura
Veja o exemplo abaixo:
Reprodução Assexuada

De: Grupo 5
Para: Professora de Química
Objetivo: Registro de experiência para comprovação de reprodução assexuada
Referências: CANTO, Eduardo Leite de. Ciências Naturais – aprendendo com o cotidiano.
São Paulo: Moderna, 1999.
Experimento:
1º Em 24 de abril de 2011, selecionamos uma batata com várias gemas.
2º Cortamos pedaços dessa batata, com uma gema em cada um deles, e os enterramos
separadamente em terra fértil e regada.
3º Após algumas semanas, um pé de batata desenvolveu-se a partir de cada pedaço plantado.
Conclusão: Constatamos a reprodução assexuada caracterizada por divisões celulares a partir
de um único “indivíduo” e pela formação de descendentes geneticamente idênticos àquele que
os originou.
Grupo 5

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Proposta 4 – RELATÓRIO

Examine a sua sala de aula e verifique se há consertos a serem realizados ou a necessidade de


alguma reforma. Elabore um relatório, com no mínimo 25 linhas, registrando os resultados da
inspeção. Justifique com explicações a requisição de conserto ou sugestão de reforma. Lembre-se de
seguir a norma culta e criar um título. Observe o modelo acima.

9.5 ATA

A Ata é um registro em que se relata pormenorizadamente o que se passou em uma reunião,


assembleia ou convenção. Uma de suas características é que a ata deve ser assinada pelos participantes
da reunião em alguns casos (conforme estatuto da empresa), pelo presidente ou secretário, sempre.
Logo após, a ata deve ser lavrada.

Proposta 5 – ATA DE REUNIÃO

Reúna-se com alguns colegas para redigir uma ata de reunião. Imaginem que vocês trabalham em
uma empresa que tem grande número de acidentes causados pelas péssimas condições de trabalho e
pela falta de uso dos equipamentos de proteção individual (EPI) por parte dos funcionários. Redija
uma ata informando os problemas apresentados e as medidas adotadas para mudar a postura da
empresa, conscientizar os funcionários e solucionar a situação.

9.6 REQUERIMENTO

Antes de nos inteirarmos mais do assunto em questão, seria interessante analisarmos


literalmente a palavra requerimento: Requerimento deriva-se do verbo requerer, que, de acordo com
seu sentido significa solicitar, pedir, estar em busca de algo. E principalmente, que o pedido seja
deferido, ou seja, aprovado.
Podemos fazer um requerimento a um órgão público, a um colégio e a uma infinidade de
outros destinatários.
Autora: Lucivânia A. S. Perico
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Ilmo. Sr. Diretor da ETEC Lauro Gomes

(Nome da pessoa que solicita o requerimento), aluna regularmente matriculada no


segundo semestre do ensino técnico, no curso Técnico em Secretariado, vem
respeitosamente solicitar a V. Sª a expedição dos documentos necessários à sua
transferência para outro estabelecimento de ensino.
Nestes termos, pede deferimento.

(Local e data)
(Assinatura)

Proposta 6 – REQUERIMENTO

Imagine que você ingressou em uma faculdade particular muito conceituada, porém não pode arcar
com o valor da mensalidade. Redija um requerimento ao Serviço Social solicitando uma bolsa de
estudos parcial ou integral. Não esqueça de fornecer seus dados.

9.7 DECLARAÇÃO

Declaração é prova escrita, documento, depoimento, explicação. Nela se manifesta opinião,


conceito, resolução ou observação.

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Proposta 7 – DECLARAÇÃO

Imagine que um colega de curso conseguiu um estágio técnico em uma empresa, e esta pediu uma
declaração da ETEC informando que este aluno está regularmente matriculado no curso. Como a
secretaria redigiria esta declaração?

9.8 OFÍCIO

É a forma de correspondência oficial trocada entre chefes ou dirigentes de hierarquia


equivalente ou enviada a alguém de hierarquia superior à daquele que assina. Tem como finalidade o
tratamento de assuntos oficiais pelos órgãos da Administração Pública entre si e também com
particulares. Circula entre Agentes Públicos ou entre um Agente Público e um Particular. A linguagem
deve ser formal sem ser rebuscada, pois a finalidade é informar com o máximo de clareza e precisão,
utilizando-se o padrão culto da língua.

Quando o ofício tiver mais que uma página, como este, a continuação se dará na página
seguinte, com o fecho e a assinatura. O destinatário e o endereçamento ficam sempre na primeira
página.

Autora: Lucivânia A. S. Perico


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Proposta 8 – OFÍCIO

Suponha que a organização onde você trabalha promoverá uma SIPAT (Semana Interna de
Prevenção de Acidentes no Trabalho), com palestras para conscientização dos funcionários visando à
prevenção de acidentes, porém o espaço disponível na empresa não comporta todos os funcionários.
Redija um ofício à Prefeitura de São Bernardo do Campo solicitando um espaço para a realização
das palestras.

9.9 MEMORANDO

Na linguagem comercial, significa a nota ou comunicação ligeira entre departamentos de uma


mesma empresa, ou entre a matriz e suas filiais e vice-versa, ou entre as filiais. É conhecido também
como Comunicado Interno (CI). O memorando pode ainda indicar um livro de apontamentos, ou
notas, com a finalidade de registrar fatos ou lembretes.

Proposta 9 – MEMORANDO
O chefe do Departamento Pessoal de uma empresa precisa redigir um memorando que
comunique a decisão da diretoria de suspender as horas extras dos funcionários da linha de produção
(horistas).
Como este memorando deverá ser redigido? Escreva-o.

9.10 CIRCULAR

A circular caracteriza-se como uma comunicação (carta, manifesto ou ofício) que, reproduzida
em muitos exemplares, é dirigida a várias pessoas ou a um órgão. Serve para transmitir avisos, ordens
ou instruções. Em geral, contém assunto de interesse geral.
Tratando-se de carta-circular, o redator deve escrever de maneira que o receptor tenha a
impressão de que foi redigida especialmente para ele.

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Proposta 10 – CIRCULAR

Imagine que você é síndico de um condomínio e está recebendo muitas reclamações dos
condôminos a respeito dos moradores que têm animal de estimação e fazem barulho e suas
necessidades dentro do condomínio. Escreva uma circular informando as medidas tomadas por você
para solucionar o problema.

9.11 PROTOCOLO

Protocolo, na Antiguidade, significava a primeira folha que se colocava aos rolos de papiro,
com um resumo do conteúdo do texto manuscrito. Hoje, comercialmente, é assim denominado um
livro de registro da correspondência de uma empresa, ou um formulário em que se registra saída ou
entrada de objetos / documentos.

Autora: Lucivânia A. S. Perico


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Proposta 11 – PROTOCOLO

Pense que você foi admitido numa empresa e o RH solicitou uma série de cópias de documentos
pessoais seus para a admissão. Redija um protocolo dos documentos entregues por você ao gerente de
RH da empresa.

9.12 RECIBO

Significa o documento em que se confessa ou se declara o recebimento de algo. Normalmente,


é um escrito particular. Alguns tipos de recibo: recibo de pagamento (indica quitação do pagamento de
uma dívida, em sua totalidade ou parcialmente); recibo por conta (sempre parcial); recibo por saldo
(indica uma quitação referente a todas as transações até sua data).

Proposta 12 – RECIBO

Se você fosse o gerente de RH da empresa da proposta anterior, como escreveria o recibo das
cópias dos documentos?

9.13 ATESTADO

Atestado é a declaração, o documento firmado por uma autoridade em favor de alguém ou


algum fato de que se tenha conhecimento. É um documento oficial com que se certifica, afirma,
assegura, demonstra alguma coisa que interessa a outrem.

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Proposta 13 – ATESTADO
Imagine que você é encarregado em uma empresa e um dos seus funcionários será promovido e
ocupará um cargo em outra área. Redija um atestado informando que o funcionário está apto a exercer
a função.

9.14 AVISO

O aviso caracteriza-se como informação, comunicado de uma pessoa para outra(s). É


empregado no comércio, na indústria, no serviço público e na rede bancária. Serve para ordenar,
cientificar, prevenir, noticiar, convidar. Uma forma conhecida de aviso é aquele em que o empregado
ou empregador comunica a rescisão do contrato de trabalho e que se constitui no chamado aviso
prévio.
Como uma das principais funções do aviso é comunicar com eficácia, advindo daí economia
de tempo, favorecem a consecução desse objetivo o texto breve e a linguagem clara.

Proposta 14 – AVISO
A empresa onde você trabalha dará férias coletivas a todos os funcionários. Como esse aviso deverá
ser redigido? Escreva-o.

9.15 EXPRESSÕES ESTRANGEIRAS MAIS UTILIZADAS

Expressão Significado Expressão Significado


A PRIORI O que precede A POSTERIORI O que vem depois
ASAP (As Soon As O mais rápido possível BREAK-EVEN- Ponto de equilíbrio do custo de um
Possible) POINT determinado produto
BRAINSTORM Tempestade de ideias BREAK DOWN Parada / quebra
BUSINESS Negócio BUY OFF Controle de entrada, controle interno,
controle de produtos
CASE Caso exemplar FEEDBACK Retorno / resposta
FEELING Tato, faro FOLLOW-UP Acompanhamento
FULL TIME O tempo todo GAP Intervalo, defasagem
IN LOCO No local JOINT VENTURE Associação de empresas
KNOW HOW Tecnologia / conhecimento MARKET SHARE Participação de mercado
técnico
MIX Conjunto de itens STAND BY Dar apoio / esperar
SUPLLY CHAIN Rede de fornecedores TARGET Meta, limite, parâmetro
TURN OVER Rotatividade de mão de obra TRADE Comércio, negócio
Autora: Lucivânia A. S. Perico
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Proposta 15 – EXPRESSÕES ESTRANGEIRAS UTILIZADAS

Imagine que você é gerente de uma empresa. Escreva aos seus clientes um e-mail falando a respeito
dos serviços (ou produtos) oferecidos pela empresa, enfocando as vantagens do cliente ao optar pelos
serviços (ou produtos) oferecidos por ela. Utilize no seu texto pelo menos cinco expressões
estrangeiras.

9.16 CARTA PESSOAL

A carta é um gênero textual que visa à comunicação escrita e pode ser de diversos tipos: carta
familiar, carta pessoal, de agradecimento, de reclamação, de amor etc. Em todas, o que se pretende é
estabelecer um diálogo entre o remetente e o destinatário. Compõem a carta os seguintes elementos:
local e data, vocativo, texto, desfecho, despedida, assinatura.

Proposta 16 – CARTA PESSOAL

Redija uma carta pessoal à sua professora, comentando o desempenho do semestre, sugerindo
melhorias, apontando aspectos positivos e negativos, o que poderia ser melhorado, o que favoreceu
seu aprendizado, o que dificultou o andamento das aulas, enfim: avalie este semestre.
Entregue-a à professora!

LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica


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10 MORFOLOGIA - REVISÃO

Dependendo de estar sozinha ou constituindo frases, a palavra pode ser estudada quanto à sua
classe gramatical (morfologia) e quanto à sua função sintática.

Classe gramatical (ou classificação morfológica): quando se considera a palavra isoladamente, fora
da frase, fora de um contexto.
Exemplo: crianças = classe gramatical – substantivo
não = classe gramatical – advérbio
Função sintática: quando se considera a palavra na frase, isto é, relacionada a outras palavras,
formando um todo significativo.
Exemplo: Crianças não brincaram na rua hoje.
crianças = função sintática – sujeito
não = função sintática – adjunto adverbial de negação

Note que quando a palavra está sozinha, isolada, ela só tem classe gramatical, mas na frase ela
apresenta, ao mesmo tempo, classe gramatical e função sintática.
As possíveis classes gramaticais e funções sintáticas de uma palavra são:

CLASSES GRAMATICAIS FUNÇÕES SINTÁTICAS


Substantivo Verbo Sujeito Adjunto adnominal
Artigo Advérbio Objeto direto Predicativo
Adjetivo Preposição Objeto indireto Complemento nominal
Pronome Conjunção Adjunto adverbial Aposto
Numeral Interjeição Agente da passiva vocativo

Vamos ver, resumidamente, as dez classes gramaticais:

SUBSTANTIVO – é a palavra com que damos nomes aos seres em geral.


- Concretos (lua, Ceará, alma) e abstratos (vida, fome, medo)
- Comuns (rio, menino) e próprios (Campinas, Sônia)
- Coletivos (arquipélago – ilhas, legião – soldados, matilha – cães de caça)
- Primitivos (mal) e derivados (maldade)
- Simples (campo, guarda) e compostos (pontapé, guarda-noturno)

Ex.: Aquelas duas cidades pequenas serão inundadas. (substantivo concreto e comum)
O rebanho está sendo cuidado pelo pastor. (substantivo concreto e coletivo (bois, ovelhas etc.))
O substantivo varia em gênero (masculino e feminino), número (singular e plural) e grau
(aumentativo e diminutivo).

ARTIGO – é a palavra que se coloca antes de substantivos para defini-los ou indefini-los.


- Definidos: o, a, os, as
- Indefinidos: um, uma, uns, umas
Ex.: Entre o viver e o morrer existe uma imensa porta.

ADJETIVO – é a palavra que tem por função expressar características, qualidades, estados etc. do
substantivo.
Ex.: Nesta cidade pequena há um barco antigo.
O adjetivo varia em gênero (masculino e feminino), número (singular e plural) e grau (comparativo
e superlativo).

NUMERAL – é toda palavra que indica quantidade, posição numa série, múltiplo ou fração.
- Cardinal: um, dois, três, mil
- Ordinal: segundo, quarto, décimo
- Multiplicativo: dobro, triplo
- Fracionário: metade, dois quintos

Autora: Lucivânia A. S. Perico


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PRONOME – é a palavra que serve para substituir um substantivo (nome) ou acompanhar o


substantivo, definindo-lhe os limites de significação.
Ex.: Meu irmão comprou um livro, mas não o leu.
meu = pronome que acompanha o substantivo irmão
o = pronome que substitui o substantivo livro

Pessoais
Caso Reto Caso Oblíquo Possessivos
1ª eu me, mim, comigo meu(s), minha(s)
2ª tu te, ti, contigo teu(s), tua(s)
3ª ele(a) se, si, consigo, o, a, lhe seu(s), sua(s)
1ª nós nos, conosco nosso(s), nossa(s)
2ª vós vos, convosco vosso(s), vossa(s)
3ª eles(as) se, si, consigo, os, as, lhes seu(s), sua(s)

- Tratamento: são determinadas palavras que equivalem a pronomes pessoais. Os pronomes


de tratamento mais usados são:

Pronome Abreviatura Tratamento usado para:


Vossa Alteza V. A. Príncipes, duques
Vossa Eminência V. Ema. Cardeais
Vossa Excelência V. Exa. Altas autoridades civis e militares
Vossa Majestade V. M. Reis, imperadores
Vossa Santidade V. S. Papas
Vossa Senhoria V. Sa. Pessoas graduadas em geral

- Demonstrativos: este(s), esta(s) – indicam o que está perto de quem fala


esse(s), essa(s) – indicam o que está perto de quem ouve
aquele(s), aquela(s) – indicam o que está longe de quem fala e ouve

- Indefinidos: algum(a), nenhum(a), todo(a), outro(a), muito(a), pouco(a), certo(a), qualquer,


alguém, ninguém, algo.

- Relativos: que, qual, quem, onde, cujo


Os relativos referem-se a um substantivo anterior a eles, substituindo-o na oração seguinte, e
devem ser usados adequadamente.
Onde – refere-se apenas a lugares
Quando – refere-se a tempo
Quanto – refere-se a valores, números, quantidades

- Interrogativos: que, quem, qual, quanto

VERBO – é a palavra que, por si só, indica um fato (em geral, ação, estado ou fenômeno da natureza)
e situa-o no tempo.
Ex.: O animal ficará furioso nessa jaula.
Naquela região chove diariamente.

ADVÉRBIO – é a palavra que modifica o verbo, o adjetivo ou outro advérbio.


Advérbio de tempo (hoje, ontem, sempre, brevemente, agora), de lugar (aqui, longe, perto,
acima, abaixo, lá), de modo (rapidamente, lentamente, mal), de dúvida (talvez, possivelmente, acaso),
de intensidade (muito, pouco, tão, bastante, demais), de negação (não, jamais), de afirmação (sim,
certamente).

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PREPOSIÇÃO – é a palavra que liga outras, estabelecendo entre elas certas relações de sentido e de
dependência:
- Essenciais – só funcionam como preposição: a, com, em, por, ante, contra, entre, sem, após, de,
para, sob, trás, desde, perante, sobre,
- Acidentais – palavras de outras classes gramaticais que, em certas frases, funcionam como
preposição: conforme, como, mediante, segundo, durante, visto etc.
Ex.: A praça foi enfeitada para a festa.

CONJUNÇÃO – é a palavra que tem por função básica ligar duas orações: e, mas, que etc.
Ex.: Faz sol, mas está frio.
Ninguém sabe que ele está doente.

INTERJEIÇÃO – é toda palavra ou expressão usada para exprimir, de forma intensa, viva e
instantânea, nossos estados emocionais: Ah! Oh! Viva! Ai! Oi! Olá! Alô! etc.

EXERCÍCIOS

(Aprender e praticar gramática–pág.83,84,93,105,132,179) Explique qual foi a intenção de Dente Seco


ao usar os diminutivos “servicinho” e
1.Considerando que há substantivos que têm “mocinhos”.
um sentido no singular e outro, diferente, no
plural, explique essa diferença em relação às
palavras destacadas na frase abaixo: 4.(E.E. Mauá-SP) A manhã era linda. (A
borboleta) veio por ali, modesta e negra,
“Onde não se preza a honra se desprezam as espairecendo as suas borboletices, sob a vasta
honras.” (Marquês de Maricá) cúpula de um céu azul, que é azul para todas
as asas. Passa pela minha cabeça, entra e dá
2.Analise a seguinte frase de propaganda: comigo. Suponho que nunca teria visto um
“Para entrar na faculdade que você homem, não sabia, portanto, o que era o
escolheu, não faça um cursinho. Faça um homem; descreveu infinitas voltas...
cursão. Matricule-se no (...)” (Machado de Assis)
Fazendo uma interpretação comparativa do Qual a diferença de sentido da palavra
emprego de “cursinho” e “cursão”, explique a “homem” na frase destacada acima?
intenção do criador da frase ao usar essas duas
formas.
5.(Esc.Fed. Eng. Itajubá-MG) Dê os adjetivos
3.Leia o trecho abaixo, retirado do romance “O correspondentes a cada substantivo abaixo:
retrato”, de Érico Veríssimo: Exemplo: céu – celeste

(...) Comecei a examinar a cara do homem pelo a) sorriso


espelho. Ele viu que eu estava olhando e b) alegria
perguntou: “Sabe quem sou eu?” Respondi que c) mão
não. E o homem: “Me chamo Silvino Neves, d) rito
mas me tratam por Dente Seco”. e) vida
- E tu, que disseste? [perguntou Rodrigo] e) dedo
- Ora, eu fiquei mais pra lá que mais pra cá,
e achei melhor dizer que já conhecia ele de 6.Considerando que certos adjetivos têm
nome. Ensaboei a cara e indaguei assim com ar sentidos diferentes se colocados antes ou
de quem não quer nada: “Ainda que mal depois do substantivo, explique a diferença de
pergunte, que é que o patrício anda fazendo por sentido entre as frases:
estas bandas?” E tu sabes o que foi que ele
respondeu: “Vim fazer um servicinho por a) Ele é um falso advogado.
coronel Trindade”. Comecei a passar a navalha Ele é um advogado falso.
no assentador. “Que servicinho?” E ele, mais
que depressa: “Dar um susto nuns mocinhos b) Aquele goleiro é um grande jogador.
bonitos”. E meio que riu. Quando eu já estava Aquele goleiro é um jogador grande.
barbeando o bandido (...)
Autora: Lucivânia A. S. Perico
46

7.Na frase: “Seu amigo, apesar de rico, só 10.1 SIGNIFICAÇÃO DAS PALAVRAS
almoça em restaurantes de segunda classe.”
A palavra destacada, embora tenha forma de Completando nossos estudos morfológicos,
um numeral ordinal, perde, no contexto da vale comentar a respeito da significação das
frase, o sentido ordinal. Procure explicar qual palavras. O falante que tem domínio da língua
foi a intenção do falante ao utilizar a referida deve ter um vocabulário amplo.
palavra.
SINÔNIMOS: palavras que apresentam, entre
8.Classifique os pronomes destacados nos si, significados iguais ou aproximadamente
versos abaixo: iguais.
“Do Caeté a Vila Rica, Ex.: surgir = aparecer / língua = idioma
tudo ouro e cobre!
o que é nosso, vão levando... ANTÔNIMOS: palavras que apresentam, entre
E o povo aqui sempre pobre!” si, significados opostos.
(Cecília Meireles) Ex.: começar x terminar / falso x verdadeiro

a) tudo b) que c) o HOMÔNIMOS: palavras iguais na forma


(pronúncia ou grafia), mas diferentes no
9.Reúna cada par de frase abaixo em um único significado. Os homônimos podem ser:
período, substituindo por um pronome relativo - Homônimos Homógrafos: iguais na grafia,
o termo destacado na segunda oração. mas diferentes na pronúncia e no significado.
Ex.: governo (/ê/ substantivo) / (/é/ verbo)
a) Eu assisti ao filme. Você gosta do filme. O seu governo é justo. /ê/
b) Eu irei à cidade. Você nasceu nessa cidade. Eu governo com justiça. /é/
c) Você confia em muitas pessoas. Eu não No tempo da seca /ê/, o rio seca /é/.
concordo com essas pessoas. - Homônimos Homófonos: iguais na pronúncia,
d) Este é o escritor. Os livros desse escritor mas diferentes na grafia e no significado.
fazem muito sucesso. Ex.: cheque (de banco)-xeque (lance do xadrez)
e) Não mataram a cobra. Por essa cobra o concerto (de música)-conserto (de manutenção)
garoto foi picado.
PARÔNIMOS: palavras semelhantes na forma
10.(Unicamp) No texto abaixo, ocorre uma (pronuncia e grafia), mas diferentes no
forma que é inadequada em contextos mais significado.
formais, especialmente na escrita. Ex.: mandado (ordem judicial)
“Lula e Meneguelli divergem sobre o pacto. mandato (tempo de um político no cargo)
Concordam em negociar, mas Lula só aprova diferir (diferenciar) - deferir (aceitar)
um acordo se o governo retirar a medida emergir (vir à tona) - imergir (afundar)
provisória dos salários, suspender os vetos à lei sessão (reunião)
da Previdência e repor perdas salariais.” seção (departamento, setor, área, divisão)
(Folha de São Paulo, 21/09/90) cessão (ceder)
Indique a forma inadequada e reescreva o E para finalizar, uma historinha que dizem
trecho em que ocorre, de modo à adequá-lo à ser verdadeira:
modalidade escrita. “Um certo comerciante (não importa a
nacionalidade) escreveu um cartaz e afixou na
11.Observe as frases abaixo: porta da sua padaria:
‘AOS MEUS EMPREGADOS. A PARTIR
I-Os visitantes devem ser conduzidos ao ônibus. DE HOJE, QUERO AS NOSSAS PORTAS
II-Os visitantes devem ser conduzidos no SERRADAS ÀS 18h’.
ônibus. Foi atendido. No dia seguinte, ao chegar à
loja, encontrou todas as portas pela metade.”
a)Explique a diferença de sentidos entre as
frases. 12.O que estava errado na mensagem?
b) Que termo empregado estabelece esta 13.Qual a importância de escrever corretamente
diferença de sentido? as palavras?

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11 SINTAXE – REVISÃO

CONSTITUINTES BÁSICOS DA ORAÇÃO


SUJEITO Simples: é aquele que tem um único núcleo.
Ex.: As meninas sorriram.
Composto: é aquele que apresenta mais de um núcleo.
Ex.: O prazer e o sofrer são riscos do amor.
Indeterminado: ocorre quando não é possível identificar quem praticou a ação
(identifica-se por verbo na 3ª pessoa do plural ou verbo na 3ª pessoa do singular +se)
Ex.: Roubaram a bolsa daquela mulher.
Precisa-se de mão de obra especializada.
Oculto (sujeito elíptico ou desinencial): é determinado pela desinência verbal e não
aparece explícito na frase.
Ex.: Estamos sempre alertas para com os aumentos abusivos de preços. (sujeito: nós)
Inexistente (oração sem sujeito): é designado por verbos que não correspondem a
fenômeno da natureza, haver no sentido de existir, fazer indicando tempo ou clima.
Ex.: Choveu na Argentina e fez sol no Brasil.
Houve um grave acidente na avenida principal.
Faz meses que não a vejo.
PREDICADO Verbal: é aquele que tem como núcleo significativo um verbo.
Ex.: A noite esfriou.
Nominal: é aquele que tem como núcleo um nome, que constitui um predicativo do
sujeito. Funciona como elemento de ligação (verbo de ligação) entre sujeito e
predicado.
Ex.: Ele parece uma estátua.
Verbo-nominal: é aquele que apresenta dois núcleos significativos: um verbo e um
nome.
Ex.: Joaquim voltou machucado.
O juiz declarou o réu inocente.
TERMOS COMPLEMENTARES E AUXILIARES RELACIONADOS A UM NÚCLEO NOMINAL
Adjunto adnominal: é o termo que determina, especifica ou delimita o significado de um substantivo.
Ex.: A quente tarde despencava no horizonte.
Aposto: é o termo da oração que se relaciona a um nome para explicá-lo ou esclarecê-lo.
Ex.: Recife, terra do frevo, está quente.
Complemento nominal: é o termo que completa o sentido de um nome (substantivo, adjetivo ou
advérbio). O complemento nominal vem sempre regido por preposição.
Ex.: A água é necessária à vida.
TERMOS COMPLEMENTARES E AUXILIARES RELACIONADOS A UM NÚCLEO VERBAL
Objeto direto: é o complemento do verbo transitivo direto. Na voz ativa, é o ser sobre o qual recai a
ação verbal. Geralmente, o objeto direto não vem regido por preposição.
Ex.: Comprou um lindo chapéu.
Eu a conheci no baile.
Objeto indireto: é o complemento do verbo transitivo indireto. Vem sempre regido por preposição.
Ex.: Gosto de cinema.
Pediram-lhe explicações.
Agente da passiva: designa o ser que pratica a ação. O agente da passiva vem sempre regido por
preposição.
Ex.: A natureza foi desprezada pelo homem.
Adjunto Adverbial: é o termo que indica uma circunstância do verbo, ou intensifica o sentido de um
adjetivo, verbo ou outro advérbio.
Ex.: Domingo, brincaremos na cidade.
É um filme muito interessante!
VOCATIVO
Vocativo: É um termo independente que serve para chamar, invocar, interpelar um ouvinte real ou
hipotético.
Ex.: Quantos anos você tem, Janaína?
Autora: Lucivânia A. S. Perico
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EXERCÍCIOS

1. Observe atentamente as frases abaixo: 4. Observe as orações abaixo:


I – Cantavam harmoniosamente as crianças.
II – As crianças brincavam felizes. I – Naquela época já não lhe restavam esperanças.
II – Tirou da bolsa um pãozinho e cortou-o
a) Indique a função sintática exercida pelos termos em dois.
destacados nas duas frases. III – Pouco nos importa que ele vá embora.
b) Identifique o tipo de predicado presente em cada IV – Tenho certeza de que ela ainda te ama.
uma delas.
Os pronomes oblíquos destacados são:
2. Observe o verbo destacado nas duas frases:
I – Ando muito distraída ultimamente. a. ( ) Obj. Indireto / Obj. Direto / Obj. Direto / Obj.
II – Nunca andei tanto para chegar a algum lugar. Indireto
b. ( ) Obj. Direto / Obj. Direto / Obj. Indireto / Obj.
a) O verbo destacado classifica-se da mesma forma Direto
nas duas orações? Justifique sua resposta. c. ( ) Obj. Indireto / Obj. Direto / Obj. Indireto /
b) Considerando a classificação do verbo em Obj. Direto
destaque nas duas orações, identifique o tipo de d. ( ) Obj. Direto / Obj. Direto / Obj. Indireto / Obj.
predicado existente em cada uma delas. Indireto
e. ( ) Nenhuma das respostas acima
3. Dê a função sintática dos termos destacados.
5. (Fac. Med. Pouso Alegre-MG) Assinale a
a) Os dois estavam lá dentro conversando alternativa em que o verbo destacado não é de
longamente. ligação:
b) Na hora de pagar a conta foi que dei por falta da
minha carteira. a) A criança estava com fome.
c) Pela minha cabeça passavam, em retrocesso, os b) Pedro parece adoentado.
acontecimentos do dia. c) Ele tem andado confuso.
d) O famoso cantor via-se, agora, completamente d) Ficou em casa o dia todo.
esquecido pelos fãs. e) A jovem continua sonhadora.

O homem que se endereçou


(NICOLA, José de. Português: Ensino Médio – Volume 3. 1ª edição. São Paulo, Scipione, 2005.- pág.48 a 51)

Apanhou o envelope e na sua letra cuidadosa subscritou a si mesmo: Narciso, rua Treze, nº21.
Passou cola nas bordas do papel, mergulhou no envelope e fechou-se. Horas mais tarde a
empregada colocou-o no correio. Um dia depois sentiu-se na mala do carteiro. Diante de uma casa,
percebeu que o funcionário tinha parado indeciso, consultara o envelope e prosseguira. Voltou ao
DCT, foi colocado numa prateleira. Dias depois, um novo carteiro procurou seu endereço. Não achou,
devia ter saído algo errado. A carta voltou à prateleira, no meio de muitas outras, amareladas,
empoeiradas. Sentiu, então, com terror, que a carta se extraviara. E Narciso nunca mais encontrou a si
mesmo.
(BRANDÃO, Ignácio de Loyola. O homem do furo na mão & outras histórias)
Na mitologia, Narciso é o nome do belo personagem que morre por não conseguir afastar os olhos da própria imagem
refletida na água.

6.Considere a oração: “Apanhou o envelope”.


a) Aponte o sujeito e o predicado. Classifique-os.
b) Qual a função sintática de “o envelope”? Analise a função de cada palavra.
7.Considere a frase: “Narciso, rua Treze, nº21.”
Temos, acima, um exemplo de aposto de especificação (o aposto aparece ligado ao substantivo diretamente,
sem pontuação indicando pausa). Aponte-o.
8.Considere a seguinte frase: “Diante de uma casa, percebeu que o funcionário tinha parado indeciso...”
a) Dê a função sintática de “Diante de uma casa”.
b) Aponte o sujeito. Classifique-o.
c) Classifique a forma verbal percebeu quanto a sua transitividade. No caso de pedir um complemento,
aponte-o.
9.Classifique o predicado da oração: “O funcionário parou indeciso”.
10.Analise todos os termos da oração: “Entregou a carta empoeirada”.
11.Analise todos os termos da oração: “A carta ficou empoeirada”.
12.Passe para a voz passiva: “O carteiro colocou a carta na prateleira”.

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12 REGÊNCIA NOMINAL E VERBAL - REVISÃO


Regência Nominal é a denominação que se dá à relação particular que se estabelece entre
substantivos, adjetivos e determinados advérbios e seus respectivos complementos nominais. Essa
relação, em geral, vem marcada por uma preposição.
Leia a frase abaixo, observando o que há de inadequado nela.
Ele tem medo fantasmas.
É fácil notar que nela está faltando a preposição de. Essa preposição é regida, ou seja, exigida pela
palavra medo (ter medo de) e estabelece a relação entre medo e fantasmas.
A frase correta é: Ele tem medo de fantasmas.
Como a palavra medo é um nome, dizemos que aí está ocorrendo um caso de regência nominal.
Abaixo temos uma lista de nomes que costumam vir acompanhados de um complemento nominal e
que exigem o uso de determinadas preposições. Muitos dos nomes aqui apresentados têm exatamente
a mesma regência dos verbos dos quais são derivados. Nesses casos, quando você aprender a regência
do verbo, estará automaticamente aprendendo a regência do nome cognato. É o que ocorre, por
exemplo, com “obedecer” e “obediência”. Na lista a seguir, você encontrará, relacionada ao nome
“obediência”, a preposição a. A preposição é a mesma exigida pelo verbo “obedecer”.

adepto a contente com, por, de inofensivo a, para simpatia a, por


alheio a desprezo a, por junto a, de, com tendência a, para

ansioso para, por, de digno de livre de união com, entre, a

apto a, para favorável a paralelo a vazio de

aversão a, por feliz de, por, em, com próximo a, de vizinho a, com, de

ciente de imune a, de referente a

composto por, de indiferente a relativo a


Mais alguns nomes e as preposições que comumente eles exigem:
• acessível, adequado, desfavorável, equivalente, insensível, obediente: a
• capaz, incapaz, digno, indigno, passível, contemporâneo: de
• amoroso, compatível, cruel, cuidadoso, descontente: com
• entendido, indeciso, lento, morador, hábil: em
• inútil, incapaz, bom: para
• responsável: por

Regência Verbal é a denominação que se dá à relação particular que se estabelece entre verbos e
seus respectivos complementos (objetos diretos e indiretos). Essa relação vem sempre marcada por
uma preposição, no caso dos objetos indiretos.
A regência verbal estuda a relação correta (no sentido prescritivo) que se estabelece entre o verbo
(termo regente) e seu complemento ou seu adjunto (termo regido).
Exemplo: Todos criticam o projeto
VTD OD
O verbo criticar exige (rege) objeto direto (OD).
Exemplo: Todos desconfiam de você.
VTI OI
Neste segundo exemplo, o verbo desconfiar exige (rege) objeto indireto (OI) iniciado pela
preposição de.
Para o estudo da regência verbal é conveniente lembrar:
1.Objeto direto: complemento verbal sem preposição.
2.Objeto indireto: complemento verbal com preposição.
3.Pronome oblíquos o(s), a(s): funcionam somente como objeto direto.
Ex.: Critiquei sua atitude. Critiquei-a.
4.Pronome oblíquo lhe(s): funciona sempre como objeto indireto.
Ex.: O filme agradou ao críticos.  O filme agradou-lhes.

Autora: Lucivânia A. S. Perico


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Regência de alguns verbos

(Com algumas modificações, a presente tabela foi extraída do livro Língua Portuguesa: noções básicas para cursos
superiores, de Maria Margarida de Andrade e Antônio Henriques, São Paulo: Atlas Editora, 1991.)

1. Verbos com variação de regência e sem variação de significado

Verbos - exemplos sentido regência

Casar Desposar / unir-se / ligar-se / harmonizar-se intransitivo


"Vai casar?" ( Machado de Assis)

"...minha ideia é que os homens deviam idem transitivo indireto


casar com senhoras viúvas." (Machado de
Assis)

" Titia não quer casar antes dos vinte." idem transitivo indireto
(Machado de Assis)

"...o seu temperamento casava-se bem à idem transitivo direto e


vertigem das cargas..." (Euclides da Cunha ) indireto

Esquecer perder a lembrança / abandonar transitivo


" Mas a mãe nunca pudera esquecer a tribo , / deixar / elegar direto
e chorava." (Cecília Meireles)

"Seja franco, doutor, tenho ou não tenho idem transitivo direto e


razão de me esquecer de que me lembro das indireto
coisas?" (Leon Eliachar - humorista )

Obs.: Vale o mesmo para os verbos recordar e lembrar. Estamos assinalando apenas os casos de regência mais
comuns.

Informar Comunicar / avisar / noticiar transitivo direto e


"Informa-os do andamento dos indireto
trabalhos..." (Euclides da Cunha)

" Lamento informar-lhe, doutor , que agora idem transitivo direto e


só consigo dormir no seu divã." (Leon indireto
Eliachar - humorista )

Obs.: Vale o mesmo para os verbos certificar e cientificar.

Perdoar Absolver / desculpar / escusar transitivo indireto


"Se perdoou ao filho foi por causa do
padre." ( Machado de Assis)

Deus perdoa os pecados. idem transitivo direto

"Você me perdoa a falta de palavra." idem transitivo direto e


(Pedro Calmon) indireto

Obs.: Vale o mesmo para o verbo pagar.

Responder Corresponder / comunicar-se transitivo indireto


"Interrompo o diálogo na fazenda para
responder ao bilhete que acabo de receber
..." (Carlos Drummond de Andrade)

"Não sabia respondê-los." (Euclides da idem transitivo direto


Cunha )

LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica


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2. Verbos com variação de regência e significado.

Verbos - exemplos sentido regência

Aspirar Desejar / querer transitivo indireto


"A felicidade perfeita a que aspirei..." (Graciliano Ramos) anelar / pretender

"Aspirou seu indescritível odor de Tempo e História ." Respirar / inalar transitivo direto
(Érico Veríssimo) cheirar / sorver

“Na manhã sadia, o homem de barbas poentas, entronado na soprar intransitivo


carrocinha, aspirou forte.” (João Alphonsus)

Assistir Presenciar / ver transitivo


“Assistimos ao final do jantar (mineiros e precavidos, já indireto
tínhamos jantado).” (C.D.A.)

“sendo enviado a Carlos V, que então assistia em Morar / residir intransitivo


Bruxelas...” (M. Bernardes)

“Somente minha mão assiste o filho enfermo.” (Josué socorrer / ajudar transitivo direto
Montello) atender / assessorar

“Leonor assistiu-lhe na enfermidade...” (Camilo) idem transitivo indireto

“Ao dono da loja assiste razão de gabar-se...” (C.D.A.) Competir / caber Transitivo indireto

Atender servir transitivo indireto


“As mucamas faziam prodígios, atendendo a um e a outro.”
(Coelho Neto)

O juiz não atendeu o pedido. Deferir / aceitar transitivo direto

Custar Valer / importar transitivo direto


“Não custava nada levá-lo.” (Fernando Sabino)

Custa-me dizer que acendeu um cigarro.” (Machado de ser penoso / ser difícil transitivo indireto
Assis)

Declinar Baixar / desaparecer / pôr-se intransitivo


“Eram dadas cinco da tarde, a calma declinava...” (Almeida
Garrett)

“Eleito governador, ao volver da campanha, em 1834, recusar transitivo indireto


declinou da honra...” (Rui Barbosa)

“O Latim, declinando tanto, só podia acabar.” (Dirceu – flexionar intransitivo


humorista)

"E declinando o seu nome , apertou pela primeira vez a mão Dizer / relatar / referir transitivo direto
do diretor ..." (Josué Montello)

Deparar Encontrar / ver / cruzar transitivo indireto


"E foi quando surpreendidos deparamos com a mesa."
(Clarice Lispector)

Não deparou solução ao problema. idem transitivo direto e


indireto

Depararam-se várias oportunidades de fuga ao preso. Oferecer / aparecer transitivo indireto

Obs.: Não se diz: deparar- se com.

Entender Compreender / captar transitivo direto


Entendi o raciocínio.

Entende de algebra. estar a par / conhecer transitivo indireto

Entende-se bem com a esposa. comunicar-se / concordar / transitivo direto e


harmonizar-se indireto

Autora: Lucivânia A. S. Perico


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Gostar Apreciar / amar / ter afeto Transitivo indireto


"De quem você gosta mais, do papai ou da mamãe?"
(Fernando Sabino)

Repeli o vinho depois que o gostei. Experimentar / provar transitivo direto

Precisar Necessitar / carecer transitivo indireto


"Precisa-se de secretária. Pega-se bem. Perdão, paga-se
bem." (Leon Eliachar)

Convém precisar os fatos. Esclarecer / especificar / transitivo direto


determinar

Proceder comportar-se / agir Intransitivo


"...procedeu, no ponto de vista em que se colocava, com uma
lógica cruel." (Machado de Assis)

"procedeu-se a eleições gerais no país." (Afonso Celso ) Convocar / marcar / transitivo indireto
estabelecer

A água procede da montanha. origina-se / vir de intransitivo

O argumento não procede. Valer / ter base / ter intransitivo


fundamento

Querer desejar transitivo direto


"As crianças querem mimo." (Caldas Aulete) aspirar a

"Querendo com amor ao idioma ..." (Rui Barbosa) Amar / ter afeto / gostar / transitivo indireto
prezar

Visar Almejar / pretender / querer transitivo indireto


"...visamos ao mesmo norte ." (Machado de Assis)

O soldado visou o alvo. Mirar / apontar transitivo direto

O gerente visou o cheque. Assinar / dar o visto transitivo direto

3. Outros verbos

Verbos - exemplos sentido regência

Namorar ter afeto / transitivo direto


Todos os dias, à tarde, eu vou namorar Maria gostar / amar
Rita.

Ela namora muito. idem intransitivo

Obs.: Namorar com alguém é forma incorreta, segundo a norma padrão.

Preferir ter predileção transitivo direto e indireto


"Capitu preferiu tudo ao seminário." / escolher
(Machado de Assis)

Obs.: Não se diz preferir mais alguma coisa do que outra. Preferir mais é redundância; o do que explica-se
pela analogia com o verbo gostar.

Simpatizar ter afeto / transitivo indireto


"Sempre tive a impressão de que, por algum gostar / amar
motivo imperdoável, ela não simpatizava
comigo." (Rubem Braga)

Obs.: Na norma padrão seria incorreto dizer: simpatizar-se com.

LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica


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13 CRASE - REVISÃO

Crase é o fenômeno da contração de duas vogais semelhantes. Emprega-se o acento grave (`) para
marcar a crase de dois aa. A regra geral afirma que o acento grave indicativo de crase deve ser usado
sempre que o termo regente exigir a preposição a posposta e o termo regido admitir o artigo feminino
a(s) anteposto. A correta utilização do acento indicativo de crase é uma questão de análise do
enunciado. Trata-se de averiguar se ocorre a preposição "a" e o artigo feminino "a(s)", antes,
evidentemente, de uma palavra feminina. Ex.: Ele vai a + a igreja. = Ele vai à igreja.
Regra prática: Troca-se a palavra feminina por uma masculina correspondente. Se, antes da
masculina, aparecer ao(s), coloca-se o sinal de crase no a(s) antes da feminina.
Ex.: Ele vai à igreja. (Ele vai ao cinema.)

Casos em que não ocorre crase


A crase é proibida antes de palavras que não apresentam o artigo a(s).
a) Antes de masculinos. Ex.: Ele foi a pé para casa.
b) Antes de verbos. Ex.: A torcida começou a gritar.
c) Antes de pronomes pessoais (inclusive de tratamento). Ex.: Nada disse a ela nem a você.
d) Antes dos pronomes esta(s), quem e cuja(s). Ex.: Essa é a pessoa a quem pedi ajuda.
e) Com a no singular + palavra no plural. Ex.: Ele se refere a acusações mentirosas.
f) Entre duas palavras repetidas. Ex.: Ficamos cara a cara.
g) Antes de nomes de cidades sem especificativo. Ex.: Ele gosta de ir a Fortaleza.
Se o nome da cidade estiver caracterizado por um especificativo, ocorre crase.
Ex.: Ele gosta de ir à ensolarada Fortaleza.

Casos em que sempre ocorre crase


a) Locuções adverbiais femininas de: - tempo  Ex.: Ele chegou à noite e saiu às seis horas.
- lugar  Ex.: Ninguém chegou à cidade.
- modo  Ex.: Ele entrou às escondidas no armazém.
b) Locuções prepositivas (à + palavra feminina + de). Ex.: Nós ficamos à espera de ajuda.
c) Locuções conjuntivas (à + palavra feminina + que). Ex.: O tempo esfria, à medida que escurece.

Casos em que a crase é facultativa


a) Antes de pronomes possessivos femininos. Ex.: A vizinha pediu ajuda à / a minha mãe.
b) Antes de nomes de mulher. Ex.: O juiz fez uma advertência à / a Paula.
c) Depois da preposição até. Ex.: Eu andei até à / a esquina.

Crase com pronomes demonstrativos e relativos


a) Preposição a + pronome demonstrativo a(s)
O pronome demonstrativo a(s) aparece seguido de que ou de.
Critério prático: Troca-se por um substantivo masculino o feminino que vem antes do a(s). Só ocorre crase
se, com o masculino, aparecer ao(s) antes de que ou de.
Ex.: Esta casa é igual à que você comprou.
 
Este carro é igual ao que você comprou.
b) Preposição a + aquele(s)
Critério prático: Troca-se aquele(s) por este(s). Só ocorre crase se aparecer a antes do este(s).
Ex.: Ele se refere àquele fato.

Ele se refere a este fato.
Esse critério prático vale também para os demonstrativos aquela(s) e aquilo.
c) Crase antes de qual / quais.
Critério prático: Troca-se por um substantivo masculino o feminino anterior ao qual/quais. Só ocorre crase
se, com o masculino, aparecer ao qual / aos quais.
Ex.: Estas são as crianças às quais me refiro.
 
Estes são os alunos aos quais me refiro.

Casos especiais de crase


a) Casa – Sem especificativo = sem crase Ex.: Chegamos cedo a casa.
Com especificativo = com crase Ex.: Chegamos cedo à casa de meu pai.
b) Terra – Com sentido oposto ao de água = sem crase Ex.: Os jangadeiros voltaram a terra.
Com sentido de terra natal e planeta = com crase Ex.: Ele voltou à terra dos avós.
Autora: Lucivânia A. S. Perico
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EXERCÍCIOS

1.Leia as frases. 5.Na frase “Eles teceram vários elogios a


I-Quando a desconfiança se instala entre as minha atuação”, há presença ou não de crase?
pessoas, logo vem a insinuação de que a Justifique.
traição está no ar.
II-A certeza de que Deus nasceu neste país 6.Na frase “Refiro-me a esta moça, e não a que
garante ao povo brasileiro uma esperança que estava aqui antes”, há crase no termo
não tem medida. destacado? Justifique sua resposta.
III-No dia tinha pressentimento de que algo
muito estranho estava por vir, mas não sabia 7.Coloque devidamente o acento grave
precisar o que era. indicativo da crase, quando for necessário:
As frases transcritas trazem casos de
regência nominal ou verbal? Justifique. a) Iremos a uma reunião na casa de uns amigos.
b) Ficar frente a frente com ele não foi
2.Os trechos extraídos de redações de alunos do agradável.
ensino médio apresentam problemas na c) Lorena foi a festa de seus pais contrariada.
construção sintática. Leia-os com atenção. d) Não compete a mim julgar qualquer pessoa.
I-Aquele foi o dia onde eu descobri que estava e) Sentimo-nos completamente a vontade
apaixonado por ele. durante toda a estadia na casa deles.
II-A mulher na qual Sandoval se referia foi uma
das que ele conversou. 8.É possível que a crase ocorra para evitar
III-A mulher cuja qual ele conversava... ambiguidade de um enunciado. É o que
acontece em: “À mãe presenteou a filha.” Qual
a) Explique que tipo de problemas os é a ambiguidade que está sendo eliminada pela
enunciados apresentam. crase?
b) Reescreva-os de forma a adequá-los à norma
culta. 9.Leia o texto a seguir:

3.Corrija as frases inaceitáveis quanto ao uso A dúvida


das preposições. “À ou A realizar-se no dia 8 de dezembro...?
Para que seu convite de casamento não
a) Isto não agradou os hóspedes. apresente erros gramaticais e possa, por isso,
b) Nós aspiramos um futuro melhor. provocar risinhos de algum convidado mais
c) Podemos assistir o jogo no salão principal. exigente, escreva:
d) Devemos atender os clientes imediatamente. ‘A realizar-se no dia 8 de dezembro...’”
e) Ela não atendeu os pedidos do hóspede. (DUARTE, Sérgio Nogueira – Língua viva)
f) Ele ainda não chegou no hotel.
g) Ele foi no banheiro e já volta. Considerando que a crase é definida como a
h) Ela namora com aquele rapaz. contração da preposição a com o artigo
i) Ele não respeita aos seus superiores. feminino a, qual é a explicação gramatical para
j) O motorista dormiu no volante. que não ocorra crase na expressão que suscitou
k) Ela passou toda a manhã no sol. a dúvida?
l) Só temos TV em cores.
10.(PUC-RJ) Na coluna Língua Viva (22/8/99),
4.(ITA-SP) “O programa Mulheres está o professor Sérgio Duarte chama a nossa
mudando. Novo cenário, novos apresentadores, atenção para a possibilidade de variação
muito charme, mais informação, moda, interpretativa de enunciados em função do
comportamento e prestação de serviços. Assista acento grave. Explique como isso ocorre nos
amanhã a revista eletrônica feminina que é a enunciados a seguir:
referência do gênero na TV”.
O verbo “assistir” empregado em linguagem I-Veio à noite de mansinho e encontrou-o
coloquial, está em desacordo com a norma dormindo.
gramatical. II-Veio a noite de mansinho e encontrou-o
Reescreva o último período de acordo com a dormindo.
norma. Justifique a correção.

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55

14 CONCORDÂNCIA NOMINAL - REVISÃO

Leia a frase abaixo e observe que ela contém várias inadequações:


“O meninos pequeno ganhou outra brinquedos.”
Note que os “problemas” apresentados por essa frase referem-se aos desajustes entre as palavras
que a constituem. Pela prática sabemos que, na frase acima, é necessário:
1º ajustar as palavras o e pequeno à palavra meninos.
2º ajustar a palavra outra à palavra brinquedos.
3º ajustar o verbo ganhou ao sujeito meninos.
Nos casos 1 e 2, o ajuste deve ocorrer entre nomes. Esse processo de adaptação de uns nomes aos
outros é o que se chama de concordância nominal.
No caso 3, o ajuste deve ocorrer entre o verbo e o sujeito da oração. Esse processo de adaptação
chama-se concordância verbal.
Na frase em questão, fazendo a concordância nominal e a concordância verbal, temos:
“Os meninos pequenos ganharam outros brinquedos.”

Principais casos de concordância nominal

1. Adjetivo após vários substantivos


a) Se os substantivos são do O adjetivo pode concordar com o Casa e igreja | antiga.
mesmo gênero último substantivo ou ir para o plural | antigas.
b) Se os substantivos são de O adjetivo pode concordar com o Prédio e casa | antiga.
gêneros diferentes último substantivo ou ir para o | antigos.
masculino plural

2. Adjetivo antes de vários substantivos


O adjetivo só pode concordar com o primeiro substantivo.
Ex.: Velha casa e prédio. / Velho prédio e casa.

Mesmo a) na função de pronome, concorda com a palavra a que Ex.: Elas mesmas irão lá.
se refere
b) na função do advérbio (=realmente) é invariável Ex.: Elas irão mesmo lá.
Anexo a) quando adjetivo, concorda com a Ex.: As cartas irão anexas aos contrato.
palavra a que se refere
b) a locução “em anexo” é invariável Ex.: As cartas irão em anexo ao
contrato.
Bastante a) na função de pronome indefinido, concorda Ex.: Eles fizeram bastantes
com a palavra a que se refere (podendo, críticas ao projeto. (= muitas)
portanto, ter plural)
b) na função de advérbio é invariável Ex.: Todos estão bastante
irritados (= muito)
Portanto: bastantes = muitos(as) / bastante = muito(a)
Meio a) na função de numeral (=metade), concorda com a Ex.: O trem trouxe duas
palavra a que se refere meias toneladas de pedra.
b) na função de advérbio (=um pouco), é invariável Ex.: A criança ficou meio
cansada.
Obrigado a) no masculino: quando é homem quem está Ex.: O professor lhe
agradecendo disse: muito obrigado.
b) no feminino: quando é mulher quem está Ex.: A professora lhe
agradecendo disse: muito obrigada.
Só a) quando significa sozinho / sozinhas = plural Ex.: As mulheres queriam ficar
sós na sala. (sozinhas).
b) quando significa apenas / somente = Ex.: As mulheres queriam ficar
invariável só na sala. (apenas)

Autora: Lucivânia A. S. Perico


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3. É bom, é proibido, é necessário + substantivo

a) Se o substantivo está acompanhado de artigo ou pronome = bom, necessário, proibido etc.


concordam com o substantivo.
Ex.: É permitida a entrada de crianças.
É necessária muita paciência.
b) Se os substantivo não está acompanhado de artigo ou pronome = bom, necessário, proibido etc.
ficam no masculino e no singular.
Ex.: É permitido entrada de crianças.
É necessário paciência.

4. Alerta / menos

a) Alerta é invariável, não tem plural.


Ex.: Os vigilantes estavam alerta.
Apesar de, a rigor, a palavra alerta ser invariável, atualmente ela vem sendo usada também no
plural.
Ex.: Todos estavam alertas.

b) Menos é invariável, não tem feminino.


Ex.: No jogo de ontem havia menos pessoas.

EXERCÍCIOS
(Aprender e praticar gramática – pág. 350 a 353) 3.(Univ.Fed.Santa Catarina) Reescreva o
período abaixo, corrigindo-o, se necessário,
1.Reescreva a palavra ou expressão destacada quanto à concordância. Depois, justifique sua
pela palavra que está entre parênteses. Refaça a resposta.
concordância, se necessário. “É proibido a entrada de pessoas estranhas
no recinto.”
a) O mensageiro trouxe-nos muitas informações
sobre a situação. (bastante) 4.(PUC-PR) Assinale a sequência que completa
b) Ela tem argumentos suficientes para nos corretamente estes períodos:
convencer. (bastante) - Ela ...... disse que não iria.
c) Os viajantes estavam muito cansados. - Vão ...... os livros.
(bastante) - A moça estava ...... aborrecida.
d) A plateia ficou um pouco revoltada.(meio) - É ...... muita atenção para atravessar a rua.
e) Ela andou metade da quadra e parou.(meio) - Nesta sala, estudam a terceira e quarta ...... do
f) Essa informação torna desnecessária nossa primeiro grau.
palavra definitiva.(argumentos)
g) Essa região produz bebidas e frutas a) mesmo – anexos – meia – necessário – série
deliciosas. (queijos) b) mesma – anexos – meio – necessária – séries
h) Essa região produz bebidas e frutas c) mesmo – anexo – meio – necessário – séries
deliciosas. (queijos) d) mesma – anexos – meio – necessário – séries
i) Essa região produz deliciosas bebidas e e) mesma – anexos – meia – necessário – séries
frutas. (queijos)
j) Essa região produz deliciosas bebidas e 5.(Fatec-SP) Assinale a alternativa que
frutas. (queijos) completa corretamente as lacunas da frase:
k) As bebidas e as frutas dessa região são “É ... discussão entre homens e mulheres ... ao
deliciosas. (queijos) mesmo ideal, pois já se disse ... vezes que da
l) O juiz considerou culpadas a ré e sua amiga. discussão, ainda que ... acalorada, nasce a luz.”
(amigo) a) bom – voltados – bastantes – meio
b) bom – voltadas – bastante – meia
2.Explique os dois sentidos que podem ser c) boa – voltadas – bastantes – meio
atribuídos à seguinte frase: d) boa – voltados – bastante – meia
“A vendedora ficou só na sala.” e) bom – voltadas – bastantes – meia

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15 CONCORDÂNCIA VERBAL – REVISÃO

A concordância verbal estuda as variações que o verbo da oração deve sofrer para se ajustar ao
sujeito. Para o estudo da concordância verbal, você deve levar em consideração: o sujeito da oração e a
regra de concordância para esse sujeito.

Principais regras de concordância verbal

1. Com sujeito simples

a) o verbo concorda com o núcleo do sujeito Ex.: Os pássaros destruíram a horta.


b) a maior parte de, uma porção de + nome no Ex.: A maior parte dos animais escapou /
plural = verbo no singular ou no plural escaparam.
c) mais de, menos de, perto de + numeral = o Ex.: Mais de um animal escapou.
verbo concorda com o numeral Mais de um animal escaparam.
d) quando o se é pronome apassivador, o verbo Ex.: Alugaram-se alguns caminhões.
concorda com o sujeito (que está na frase) (Alguns caminhões foram alugados)
quando o se é índice de indeterminação do Ex.: Precisou-se de bons reforços.
sujeito, o verbo fica na 3ª pessoa do singular
e) nome próprio no plural = o verbo concorda Ex.: Os Andes ficam na América do Sul.
com o artigo
se não houver artigo, o verbo fica no singular Ex.: Santos localiza-se no litoral paulista.

2. Com sujeito composto

a) antes do verbo = verbo no plural Ex.: O navio e a lancha voltaram.


b) depois do verbo = verbo no plural ou Ex.: Voltaram / Voltou o navio e a lancha.
concordando com o núcleo mais próximo
c) pessoas gramaticais diferentes:
Com a 1ª pessoa (eu/nós) = verbo na 1ª pessoa do Ex.: Ela, tu e eu partiremos. (=nós)
plural
Sem a 1ª pessoa = verbo na 2ª ou 3ª do plural Ex.: Ela e tu partirão / partireis.

3. Verbo ser

a) Quando o sujeito e o predicativo são de


números diferentes (um singular e outro plural), o Ex.: A vida são / é projetos sem fim.
verbo ser pode ficar tanto no singular como no
plural, embora o plural seja mais usual
b) Quando o sujeito ou o predicativo referem-se a Ex.: O velhinho doente era as angústias da
pessoa, o verbo ser só pode concordar com essa família.
pessoa. Nossa maior alegria são os amigos.

4. Verbos impessoais

a) Haver (no sentido de existir / acontecer) = é Ex.: Não haverá outros interessados?
impessoal, ou seja, fica no singular (tanto Não poderá haver outros interessados?
sozinho quanto em locução verbal)
b) Fazer (indicando tempo transcorrido / a
transcorrer) = é impessoal, ou seja, fica no Ex.: Ontem fez dois meses que ele morreu.
singular (tanto sozinho quanto em locução Amanhã vai fazer um ano que eu a conheci.
verbal)

Autora: Lucivânia A. S. Perico


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EXERCÍCIOS
(Aprender e praticar gramática – pág. 366 a 375) 4. Complete fazendo a devida concordância do
verbo entre parênteses.
1.Reescreva na lacuna de cada frase a forma
verbal (ou formas verbais) que torna(m) correta
a concordância. O sujeito está destacado. a) A multidão aglomerada na avenida ___ o
trânsito. (atrapalhava/atrapalhavam)
a) O velho relógio da igreja .... dez horas. (batia b) Livros, apostilas, revistas, nada ___; tudo foi
/ batiam) destruído. (escapou/escaparam)
b) No velho relógio da igreja .... dez horas. c) O bando de meninos ___. (correu/correram)
(batia / batiam) d) Só ___ alguns meninos na sala.
c) Quando .... seis horas, partiremos. (for / (havia/haviam)
forem) e) Aqui ___ invernos muito frios. (faz/fazem)
d) A confusão começou quando .... onze horas. f) O relógio da matriz ___ doze horas.
(deu / deram) (bateu/bateram)
e) O céu e o vento .... outra tempestade. g) No relógio da sala ___ onze horas.
(anunciava / anunciavam) (deu/deram)
f) .... outra tempestade o vento e o céu. h) Os Estados Unidos ___ com a anistia.
(anunciava / anunciavam) (concordou/concordaram)
i) Santos ___ uma cidade litorânea. (é/são)
2.Substitua os verbos existir e acontecer pelo j) ___ -se de mais gente na lavoura. (precisa /
verbo haver. precisam)
k) ___ -se quartos para rapazes.
a) Atualmente não existem lugares tranquilos (aluga/alugam)
nesta cidade. l) ___ -se relógios. (conserta / consertam)
b) Naquele país aconteceram vários golpes m) O pessoal ___ animado. (continua/
militares. continuam)
c) Talvez ainda existam ingressos para o jogo n) Um bando de morcegos ___.
de hoje. (voava/voavam)
o) Naquela época ___ muitas doenças
3. (Unicamp-SP) No dia 19 de novembro de infecciosas. (havia/haviam)
1989, a “Folha de São Paulo” publicou a p) Os melhores marceneiros ___ ótimos
seguinte nota na seção Painel: trabalhos. (faz/fazem)
Pane Gramatical q) ___ dois meses que não o vejo. (faz/fazem)
“Os computadores do TSE emitiam o aviso, r) Lá ___ muitas obras de arte.
ontem, no intervalo dos boletins: ‘Dentro de (existe/existem)
instantes será divulgado novos (sic) s) Lá ___ muitas obras de arte. (havia/haviam)
resultados’.” t) ___ poucos alunos matriculados.
(havia/haviam)
Nesse mesmo dia e no mesmo jornal, lê-se o u) ___ ainda alguns ingressos à venda.
seguinte: (existe/existem)
“É exatamente essa grande maioria que
chamamos, abstratamente, de povo. São os 5. (PUC-SP) Leia o seguinte trecho: “Os
cidadãos humildes, que vivem de pequenos infelizes tinham caminhado o dia inteiro,
serviços na periferia das grandes cidades (...) estavam cansados e famintos. (...) Fazia horas
São para esses cidadãos anônimos, que que procuravam uma sombra.” (Graciliano
ganharam personalidade dia 15 de novembro, Ramos)
que o novo governo deverá estar voltado”. No texto acima, explique o emprego do
(Leo W. Cochrane Jr., “O recado do povo”)
verbo fazer na expressão fazia horas.
a) Que trecho do segundo texto poderia também
ser considerado um caso de pane gramatical?
b) Reescreva corretamente os dois trechos
problemáticos.

LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica


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16 ACENTUAÇÃO - REVISÃO

As regras de acentuação servem, na prática, para orientar o leitor quanto à pronúncia correta das
palavras escritas. Tanto a presença do acento (nas palavras que o exigem) quanto na sua ausência (nas
palavras que não o admitem) são fundamentais para indicar a pronúncia.

Regras gerais de acentuação


1. Monossílabas tônicas – acentuam-se as terminadas em:
a(s): pá, gás e(s): lê, pés o(s): dó, nós
Fique atento: monossílabas átonas são as monossílabas pronunciadas “fracamente”, isto é, com
pouca intensidade. Elas não são acentuadas. Ex.: Ela estava na festa de aniversário, mas não a vi.
As monossílabas tônicas são aquelas pronunciadas com mais intensidade. Ex.: Tu não tens dó de
Célia, mas ela não é má pessoa.

2. Oxítonas – acentuam-se as terminadas em:


a(s): orixá, renascerás o(s): carijó, bongôs
e(s): Xanxerê, através em/ens: porém, manténs

3. Paroxítonas – acentuam-se as terminadas em:


i(s), us: táxi, júris, Vênus, lótus um/uns: fórum, álbuns
l, n: portável, hífen ps, ã(s): tríceps, dólmã (caso militar)
r, x: néctar, bórax (nome de uma substância química)
ditongo (seguido ou não de s): convênio, túneis, tábuas, exigência

4. Proparoxítonas: todas são acentuadas: mágico, transgênico, último, pêssegos

Regras complementares de acentuação gráfica


1. Acentuação dos ditongos abertos éi, ói, éu:
• São acentuados em palavras monossílabas (exemplos réus, dói) e em oxítonas (exemplos coronéis,
constrói, Ilhéus)
• Não são acentuadas em palavras paroxítonas (exemplos paranoico, assembleia)
Fique atento: ditongo fechado é pronunciado com a boca mais fechada, nunca é acentuado
graficamente (ex.: cadeira, bois, perdeu), já o ditongo aberto é pronunciado com a boca mais aberta,
alguns são acentuados, outros não (ex.: caixa, papéis, herói, colmeia, asteroide).

2. i e u na segunda vogal do hiato:


• São acentuados desde que estejam sozinhos (ou +s) na sílaba e não sejam seguidos de nh (exemplos
distraída, ruído, graúdo, baús).
• Não são acentuados quando precedidos de ditongo (exemplo baiuca)
Fique atento: hiato é o encontro de dois sons vocálicos pronunciados em sílabas separadas (ex.:
escoar: es-co-ar / traído: tra-í-do / ruim: ru-im)

3. Verbos ter, vir, crer, dar, ler e ver:


Formas desses verbos que exigem atenção quanto ao acento gráfico:
Ter Vir Crer Dar Ler Ver
Ele tem Ele vem Ele crê Que ele dê Ele lê Ele vê
Eles têm Eles vêm Eles creem Que eles deem Ele leem Eles veem

4. Acento diferencial – esse acento é:


Obrigatório em dois casos:
- na palavra pôr (verbo) para diferenciá-la da preposição por
- na palavra pôde (passado do verbo poder) para diferenciá-la de pode (presente do verbo poder)
Facultativo em dois casos:
- na palavra fôrma/forma, significando “molde ou recipiente”
- na palavra dêmos/demos (1ª pessoa do plural do presente do subjuntivo do verbo dar)

Autora: Lucivânia A. S. Perico


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EXERCÍCIOS
(Coleção Novas Palavras (Vol.1)-pág.307,313,318 e 319) 4. Escreva as frases, substituindo
adequadamente o espaço vazio pelas palavras
1. Leia este trecho de reportagem com dois propostas em cada item.
especialistas em recrutamento e seleção de
trainees (jovens recém-formados que iniciam a a) Use pôr ou por
formação profissional nas empresas): Resolveu  tudo em ordem. Começou 
“[...] A iniciativa, comprometimento e não acatar opiniões  razões indiscutíveis. 
paixão pelo que faz tambem conta muito na isso não vou  em dúvida a competência dele.
seleção”, diz Sofia do Amaral. Alem desses
filtros ha a questão do dominio do Portugues, b) Use pôde ou pode
com testes e, principalmente, redações. Alias, a Ontem você  vencê-lo, mas creio que,
avaliação de conhecimento da lingua para a próxima partida, já não  ter tanta
portuguesa tem eliminado muitos candidatos certeza disso.
[...].
(Sofia do Amaral. O Estado de S.Paulo, SP, 3/10/2004)

5. (IBGE) Assinale a opção cuja palavra não


Você notou alguma coisa estranha na grafia
deve ser acentuada:
de algumas palavras desse texto? Identifique-as
e faça a correção.
a) Não ves que eu não tenho tempo?
b) É difícil lidar com pessoas sem carater.
2. Acentue apenas as palavras que exigem
c) Todo ensino deveria ser gratuito.
acento gráfico:
d) Saberias dizer o conteudo da carta?
e) Veranópolis é uma cidade que não para de
a) boitata h) nectar o) iris
crescer.
b) latex i) incrivel p) eficacia
c) bonus j) cortex q) atomico
d) vez k) funil r) benção 6. (BB) "Alem do trem, voces tem onibus, taxis
e) ves l) tenis s) ambiguo e aviões".
f) semen m) a fabrica t) desagua
g) item n) ele fabrica a) 1 acento
b) 2 acentos
3. Responda objetivamente às perguntas a c) 3 acentos
seguir: d) 4 acentos
e) 5 acentos
a) Por que a palavra jacaré é acentuada, mas
jacarezinho não é?
b) Por que a palavra indústria é acentuada, mas 7. (UF-PR) Assinale a alternativa em que todos
industrial não? os vocábulos são acentuados por serem
c) As palavras herói, heroico e heroicamente oxítonos:
apresentam ditongo aberto. Por que, então,
somente a primeira é acentuada graficamente? a) parabéns, vêm, hífen, saí, oásis
d) Compare estes nomes próprios: Luiz, Luís, b) você, capilé, Paraná, lápis, régua
Luíza, Luísa. Por que só o primeiro não é c) paletó, avô, pajé, café, jiló
acentuado? d) amém, amável, filó, porém, além
e) Considere estas palavras já adequadamente e) caí, aí, ímã, ipê, abricó
grafadas quanto à acentuação: intuito, gratuito,
fortuito. Como é possível concluir que, nas três,
a vogal tônica é o u, e não o i?

LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica


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17 COESÃO, COERÊNCIA E CLAREZA TEXTUAL

É necessário inicialmente termos a noção de texto. Quando falamos em texto, identificamos um uso
da linguagem (verbal ou não-verbal) que tem significado, unidade (um conjunto em que as partes se
ligam umas às outras) e intenção.
Nas diversas situações de comunicação, nosso texto deve apresentar condições de ser lido e
interpretado, para tanto, deve ser claro, coerente e coeso. Devemos ter em mente que não escrevemos
para nós, mas para outros (interlocutor preferencial), portanto, devemos ler e reler nosso texto,
eliminando erros de ortografia, ambiguidades etc.
O interlocutor de um texto é o leitor a quem ele se dirige preferencialmente ou, em outras palavras, é
o leitor em quem pensa o autor no momento da produção daquele texto.
A primeira informação importante a ser considerada no momento da leitura é que todo texto faz
referência a uma situação concreta. Essa situação é o contexto. Há diferentes tipos de contexto (social,
cultural, estético, político, histórico...) e sua identificação é fundamental para que se possa
compreender bem o texto.
Para a produção de um bom texto é preciso que o autor domine todos os recursos textuais
necessários para estabelecer as relações de sentido entre as ideias que pretende expor. Há dois níveis
que o autor precisa dominar: o primeiro deles é o aspecto formal, o segundo é o aspecto da
significação. O aspecto formal é alcançado pela escolha das palavras cuja função é articular entre si as
partes do texto. A ligação textual obtida através dos elementos linguísticos é chamada coesão textual.
O segundo nível, o da significação, é a reunião de ideias, informações e argumentos compatíveis entre
si, obtendo como resultado um texto claro, a que chamamos coerência textual.
Para manter a coesão, a coerência e a clareza textual é necessário também que o texto esteja bem
pontuado, por isso, vamos lembrar os conceitos de pontuação.

17.1 PONTUAÇÃO - REVISÃO

Leia as frases abaixo, observando sua pontuação:


Meu amigo saiu, não está aqui.
Meu amigo? Saiu, não está aqui.
Meu amigo? Saiu não, está aqui.
Meu amigo saiu? Não está aqui?
- Meu amigo saiu?
- Não, está aqui.
Os sinais de pontuação são recursos da língua escrita que visam substituir certos componentes
específicos da língua oral, tais como entonação, pausa, gestos e expressão
facial, permitindo que a linguagem escrita seja veiculada com maior clareza e eficácia.

Vírgula (,) — O emprego da vírgula, na linguagem escrita, não corresponde necessariamente a uma
pausa na linguagem oral, e vice-versa. A vírgula é um sinal que liga orações, separa termos
das orações e indica a ocorrência de certos fenômenos, tais como inversão, omissão ou intercalação de
termos em uma oração.
Emprega-se a vírgula para marcar:

- Inversão:
• de complementos verbais: A vida, eu compro com as mãos.
• de adjuntos adverbiais. À noite, faço um curso de inglês.
• de orações subordinadas adverbiais: Embora não pensassem assim, era a mesma coisa.

- Coordenação:
• entre termos da oração com o mesmo valor sintático: Deu-me de presente, livros, revistas de
arte e discos.
• entre orações assindéticas: Foi à porta, espiou, correu para dentro assustada.
• entre orações sindéticas, com exceção das aditivas: Talvez seja engano meu, mas acho-a agora
mais serena.

Autora: Lucivânia A. S. Perico


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A vírgula deve ser empregada antes da conjunção aditiva e apenas quando esta aparecer repetida
várias vezes e quando ligar orações com sujeitos diferente:
Queria ver, e abaixava os olhos, e tampava-os com as mãos.
O carro desviou-se, e ao cabo de um segundo o ônibus passou.

- Intercalação:
• de termos da oração: A aniversariante, meiga, atenciosa com todos, parecia realmente feliz.
• de conjunção: Ele é seu pai: respeite-lhe, pois, a vontade.
• de expressões explicativas, como: isto é, ou melhor, por
• exemplo, etc.: Entregar-lhe os documentos foi, sem dúvida, um erro.
• de orações subordinadas adverbiais: Antigamente, quando eu era menino, ouvia histórias deste
lugar.

- Supressão de termos:
Elipse: Nós moramos no campo, e vocês, na cidade. (elipse do verbo morar)

- Isolamento:
• de aposto ou de oração subordinada substantiva apositiva: O resto, as louças, os cristais e os
talheres, irão nas caixas menores.
• de vocativo: Você ouviu, Maria, que notícia esquisita?
• de nome de lugar anteposto à data: São Paulo, 20 de dezembro de 1994.
• de orações subordinadas adjetivas explicativas: Até ele, que é o melhor da turma, não quis
participar do torneio de xadrez.

Ponto-e-vírgula (;) — se dá normalmente:


• para isolar orações da mesma natureza: “Este é o dia de todos os santos; amanhã é o de todos
os mortos”. (Machado de Assis)
• para organizar enumerações relativamente longas, principalmente quando a vírgula já foi
utilizada: São estes os poetas líricos do Arcadismo brasileiro: Gonzaga, o Dirceu; Cláudio
Manuel da Costa, o cantor de Nise; e Silva Alvarenga.
• para separar orações quando houver zeugma na segunda: Vocês anseiam pela violência; nós,
pela paz.
• para separar os itens de decretos, leis, portarias, etc.

Ponto (.) — emprega-se no final de frases declarativas: Os livros foram danificados pelas traças.

Dois pontos (:) — Marcam uma pausa para anunciar uma citação, uma fala, uma enumeração, um
esclarecimento ou uma síntese.
Ex.: “Lembrei-me do nome e do tipo: era João Francisco Gregório, caboclo, robusto, desconfiado...”
(Graciliano Ramos)

Ponto de interrogação (?) — Usa-se no final de uma frase interrogativa direta e indica uma pergunta.
Ex.: E eu? O que é que eu devo fazer?

Ponto de exclamação (!) — Usa-se no final de qualquer frase que exprime sentimentos, emoções, dor,
ironia, surpresa e estados de espírito.
Ex.: Saia daqui já!

Reticências (…) — Podem marcar uma interrupção de pensamento, indicando que o sentido da oração
ficou incompleto, ou uma introdução de suspense, depois da qual o sentido será completado. No
primeiro caso, a sequência virá em maiúscula – uma vez que a oração foi fechada com um sentido
vago proposital e outra será iniciada à parte. No segundo caso, há continuidade do pensamento
anterior, como numa longa pausa dentro da mesma oração, o que acarreta o uso normal de minúscula
para continuar a oração.
Ex.: Ah, como era verde o meu jardim... Não se fazem mais daqueles.
Foi então que Manoel retornou... mas com um discurso bastante diferente!

LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica


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São também usadas para supressão de trecho sem importância no texto:


Ex.: “Com os descobrimentos marítimos dos séculos XV e XVI, os portugueses ampliam
enormemente o império de sua língua (...). (Celso Cunha)

Aspas (“ ”) — Usam-se para delimitar citações; para referir títulos de obras; para realçar uma palavra
ou expressão, para destacar palavras estrangeiras, neologismos, gírias, para indicar mudança de
interlocutor nos diálogos, etc.:
Ex.: Estudou “ballet” por insistência da mãe.

Parênteses ( ( ) ) — Marcam uma observação ou informação acessória intercalada no texto, são


empregados normalmente para separar palavras ou frases explicativas dentro do período e nas
indicações bibliográficas:
Ex.: “Depois do jantar (mal servido) Seu Dagoberto saiu do Grande Hotel e Pensão do Sol (Familiar)
palitando os dentes caninos”. (Antônio de Alcântara Machado)

Travessão (—) — Marca: o início e o fim das falas em um diálogo, para distinguir cada um dos
interlocutores; as orações intercaladas; as sínteses no final de um texto. Também usado para substituir
os parênteses.
Ex.: “– Para onde vais tu?..., perguntou-lhe em voz baixa.
– Não sei, filha, por aí!... (Aluisio Azevedo)
“– Não quero saber onde mora – atalhou Quincas Borba”. (M. de Assis)
“Grande futuro? Talvez naturalista, literato, arqueólogo, banqueiro político, ou até bispo – bispo
que fosse –, uma vez que fosse um cargo...” (Machado de Assis)

Parágrafo — Constitui cada uma das secções de frases de um escritor; começa por letra maiúscula,
um pouco além do ponto em que começam as outras linhas.

Colchetes ([ ]) — utilizados na linguagem científica.

Asterisco (*) — empregado para chamar a atenção do leitor para alguma nota (observação).

Barra (/) — aplicada nas abreviações das datas e em algumas abreviaturas.

Hífen (−) — usado para ligar elementos de palavras compostas e para unir pronomes átonos a verbos.

EXERCÍCIOS

Dinheiro encontrado no lixo 2. Leia o texto abaixo e respostas as questões


“Organizados numa cooperativa em Curitiba, seguintes:
catadores de lixo livraram-se dos intermediários
e conseguem ganhar por mês, em média, R$ Novo Computador do Milhão
600,00 – o salário inicial de uma professora de “O SBT decidiu lançar uma nova versão do
escola pública de São Paulo. Computador do Milhão. Os novos micros vêm
O negócio prosperou porque está em Curitiba, equipados com processador Celeron de 1 GHz,
cidade conhecida dentro e fora do país pelo 128 MB de memória RAM, disco rígido de 20
sucesso na reciclagem do lixo.” GB, monitor de 15”, teclado para Internet,
Folha de S. Paulo, 22 set.2000 Windows XP, estabilizador e kit multimídia.”
Revista do CD-ROM, jan. 2002
1. Quando se lê esta notícia, nota-se que seu
título é ambíguo, ou seja, tem duplo sentido. a) Considerando o texto, é possível identificar a
que tipo de leitor se dirige (ou seja, quem é seu
a) Quais são os dois sentidos do título? interlocutor preferencial)?

b) Crie para a notícia um título que lhe seja b) Quais são as informações (explícitas ou não)
adequado e não apresente duplo sentido. que permitem identificar o interlocutor
preferencial desse texto?

Autora: Lucivânia A. S. Perico


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3. O texto a seguir foi construído pela 5. Observe o trecho abaixo:


enumeração de uma série de elementos
conhecidos. Pode-se, porém, pelo conhecimento Andorinha
que se tem de tais elementos, identificar as Andorinha lá fora está dizendo:
situações por eles referidas, atribuindo - Passei o dia à toa, à toa!
coerência ao texto, apesar de não contarmos Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais
com o auxílio dos mecanismos de coesão, [triste!
observe a importância da pontuação. Passei a vida à toa, à toa!...
BANDEIRA, Manuel.
Circuito Fechado
Comente três tipos diferentes de pontuação
“Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. no trecho: “- Passei o dia à toa, à toa!”.
Água. Escova, creme dental, água, espuma,
creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, 6. Leia o texto e responda as questões.
cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha.
Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, “Uma vírgula esquecida ou mal usada afeta
abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata, o sentido da frase. A maldita pode mudar o
paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, sentido ou deixar a frase sem sentido. Observe
chaves, lenço. Relógio, maço de cigarros, caixa a importância da vírgula no exemplo abaixo:
de fósforos, jornal. Mesa, cadeiras, xícara e ‘Os técnicos foram à reunião acompanhados
pires, prato, bule, talheres, guardanapos. da secretária do diretor e de um coordenador.’
Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e (...)
poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, Se usarmos a vírgula, mudaremos o sentido
agenda, copo com lápis, canetas, blocos de da frase (...)”
notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de DUARTE, Sérgio Nogueira. Língua Viva.
saída, vaso com plantas, quadros, papéis,
cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. a) Onde a vírgula deve ser colocada para que o
Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, sentido da frase seja alterado?
cartas, notas, vales, cheques, memorandos,
bilhetes, telefone, papéis. [...]” b) Explique a alteração de sentido produzida
RAMOS, Ricardo. In: JOSEF, Bella (org.) Os com a utilização da vírgula.
melhores contos de Ricardo Ramos. SP: Global, 1998)
7. Leia a frase abaixo e explique o emprego das
Pela leitura do texto, você deve ter aspas.
conseguido regatar uma ideia mais geral
sobre seu sentido. Em alguns acampamentos de férias no
interior de Minas Gerais, quem aprecia a vida
a) De que trata o texto? no campo pode curtir o frio, ouvindo “causos”
à beira da fogueira.
b) Apesar de não terem sido utilizados os
tradicionais elementos coesivos, a pontuação do 8. Leia o texto.
texto nos auxilia bastante na construção de
pequenas unidades de sentido. Volte ao texto e “Era um sujeito realmente distraído: na hora
observe que o autor alterna o uso de vírgulas e de dormir, beijou o relógio, deu corda no gato e
pontos. Como interpretar tal alternância? enxotou a mulher pela janela.”
NUNES, Max. A pulga na camisola.

c) Agora, volte novamente ao texto e,


a) Explique o uso dos dois-pontos no texto
separando cada uma das seqüências, identifique
transcrito.
a que acontecimento cada uma delas se referem.
b) As duas vírgulas utilizadas no texto têm a
4. Reescreva o período a seguir, pontuando-o
mesma função? Justifique sua resposta.
corretamente.
“É fato conhecido por muitos que Paulo Lins
escritor carioca viveu na Cidade de Deus onde
se desenvolve a trama de seu famoso livro.”

LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica


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BIBLIOGRAFIA

ABAURRE, Maria Luiza; PONTARA, Marcela Nogueira; FADEL, Tatiana. Português: língua e
literatura. 2ª edição. São Paulo: Moderna, 2003.

AMARAL, Emília; FERREIRA, Mauro; LEITE, Ricardo; ANTÔNIO, Severino. Novas palavras,
nova edição. 1ª edição. São Paulo: FTD, 2010.

BARRETO, Ricardo Gonçalves. Coleção ser protagonista. 1ª edição. São Paulo: Edições SM, 2010.

BUSUTH, Mariângela Ferreira. Redação Técnica Empresarial. 2ª edição. Rio de Janeiro:


Qualitymark, 2010.

CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português: linguagens. São Paulo:
Atual, 2003.

FERREIRA, Mauro. Aprender e praticar gramática: teoria, sínteses das unidades, atividades
práticas, exercícios de vestibulares. São Paulo: FTD, 1992.

FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, Francisco Platão. Para entender o texto: leitura e redação. 17ª
edição. São Paulo: Ática, 2007.

GOLD, Miriam. Redação Empresarial – Escrevendo com Sucesso na Era da Globalização. 2ª


edição. São Paulo: Pearson, 2002.

MEDEIROS, João Bosco. Português Instrumental. 6ª edição. São Paulo: Atlas, 2007.

NOGUEIRA, Sérgio. Português sem complicação: regras, dicas e respostas comentadas. Coleção
Aula Extra. São Paulo: 2009.

SARMENTO, Leila Lauar. Oficina de Redação. 2ª edição. Belo Horizonte-MG: Moderna, 2002.

VÍDEO

Tempos Modernos (Modern Times, EUA 1936). Direção: Charles Chaplin. Elenco: Charles Chaplin,
Paulette Goddard, 87 min. preto e branco, Continental.

LEITURAS COMPLEMENTARES

HUNTER, James C.. O Monge e o executivo. Uma história sobre a essência da liderança. Tradução:
Maria da Conceição Fornos de Magalhães. Rio de Janeiro: Sextante, 2004.

HUXLEY, Aldous. Admirável mundo novo. Tradução: Lino Vallandro e Vidal Serrano. São Paulo:
Globo, 2009.

ORWELL, George. A revolução dos bichos. Tradução: Heitor Aquino Ferreira. São Paulo: Globo,
2003.

Autora: Lucivânia A. S. Perico

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