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AS MEMÓRIAS NA TOCA DO TEMPO: a narração da experi-
ência brasileira nos romances de João Ubaldo Ribeiro*
A nação é uma alma, um princípio espiritual. Constituem essa alma esse princípio espiritual, duas
coisas que, para dizer a verdade, são uma só. Uma delas é a posse em comum de um rico legado
de lembranças; a outra, o consentimento atual, o desejo de viver juntos, a vontade de continuar a
fazer valer a herança que recebemos indivisa. (Ernest Renan)

UMA HISTORINHA IDILVA GERMANo•• acontecido naquele reino - ;a


EXEMPLAR tinha sido há tanto tempo! Em
RESUMO
Era uma vez, uma terra compensação, a morena (ela era
Este trabalho discute como a experiência brasileira
muito grande e fértil onde um rem sido organizada nos romances Viva o povo morena) notou que sua presen-
povo vivia feliz em meio à far- brasileiro (I 984) e O feitiço da ilha do pavão ça não passava despercebida.
tura e à bem-aventurança. Cer-
(I 997), de João Ubaldo Ribeiro. Estas obras Todos ficavam curiosos em vê-
reúnem fragmentos da história política e da la tão moça e bonita a sair pelo
to dia, aportou naquelas plagas formação cultural brasileiras, dando-lhes um
um bando de estrangeiros fortes mundo, sem eira nem beira.
encadeamento novo, de modo a rever ou reforçar
e cruéis que passaram a domi- outras narrativas da tradição intelectual brasileira.
As pessoas só queriam mesmo
nar as terras e águas da gente Assim, este ensaio analisa alguns temas e saber da vida dela: por que ela
nativa, roubar suas riquezas e mecanismos literários adotados pelo escritor para saíra de casa? Por que não se
escravizar homens, mulheres e
compreensão das origens e dos rumos da nação. casara? Por que então deixara
crianças. ABSTRACT seus pais e irmãos? Para onde
Muitos e muitos anos se This paper discusses how Brazilian historical iria depois?
passaram. Foi tanto tempo que experience has been organized in João Ubaldo Foi aí que ela decidiu
o povo esqueceu como era an- Ribeiro's noveis Viva o povo brasileiro ( 1984) contar as coisas que queria con-
and O feitiço da ilha do pavão (I 997). These tar, mas de um jeito diferente:
tes e não sabia mais sonhar o noveis garher fragmenrs of rhe narion's political
futuro, pois achava que sempre não contando o que aconteceu,
hisrory and cultural developmenr, esrablishing
tinha sido assim. a new way of connecting these elements. The
mas aquilo que poderia ter
Foi então que uma filha proposed connection eirher reviews or confirms acontecido. Então, narrou como
dessas terras, muito jovem, bela other imporrant narratives of Brazilian intellecrual a invasão estrangeira tinha co-
tradition. This work analyses some of the author's meçado, conforme ela mesma
e pensadora, resolveu fazer al-
preferred themes and lirerary srrategies used to havia presenciado a chegada
guma coisa contra a apatia da interpret the origins and the course of Brazilian
sua gente. Decidiu sair por aí dos forasteiros, de que modo
nation.
contando as histórias de seus ' Este artigo foi apresentado, com modificações, na XXIV
ela e outras moças tinham sido
antepassados (que ela ouvira de Reunião Brasileira de Antropologia-ABA (Oiinda, junho raptadas pelos invasores e esca-
de 2004), no Simpósio 11, intitulado 'Antropologia
sua avó), antes que se perdesse pado a um destino cruel.
e Estética: as narrativas instituintes - dos mitos às
de todo a memória do passado telenovelas", coordenado pelo professor doutor Eduardo Nos episódios emocio-
e a esperança de um destino Diatahy Bezerra de Menezes. nantes das lutas entre os heróis
melhor. " Doutora em Sociologia e Professora Adjunta do da terra e os opressores, procu-
Departamento de Psicologia da Universidade Federal
Nas suas andanças, po- rava a palavra mais eloqüente,
do Ceará (UFC).
rém, ela observou com tristeza o tom mais pungente, seus ges-
que ninguém queria saber do que realmente tinha tos acompanhando a gravidade dos Jatos imaginados.

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Podiam-se ver os perigos que passara no medo do seu às estruturas patriarcais e autoritárias que oprimem
rosto, às vezes alguns ouvintes chegavam a reparar o largas populações no país, desde a colonização. São
brilho das lágrimas que dançavam no canto dos seus personagens femininas que, embora sintam neces-
olhos amendoados. Outras vezes, deixava todos em sidade de conhecer a história do país, ensinada na
suspense, logo na parte mais interessante da história. escola, também guardam a memória do povo, cul-
Outras vezes, ainda, dirigia-se a uma pessoa da roda tivando os saberes ancestrais geralmente silencia-
como quem vai confidenciar uma intimidade e isso dos nos livros. São personagens emblemáticas da
era o mote para contar a todos mais um episódio do necessidade de "narrar a nação': de organizar numa
seu repertório de histórias. estrutura lógica o aparente caos da experiência bra-
A moça ficou perplexa ao notar que os ouvin- sileira.
tes não paravam de crescer à sua volta. Concluiu com Como informa a tradição hermenêutica, a
espanto que o jeito que se conta a história era tão im- vivência do tempo humano só é possível na medi-
portante quanto a história em si. E saiu pelo mundo da em que este está articulado de modo narrativo,
cumprindo seu destino de personagem de ficção. isto é, quando o homem dispõe suas múltiplas ex-
periências em alguma forma de ordem inteligível. E
A historinha que acabo de contar me pareceu também a narrativa só é capaz de ser significativa, de
a melhor forma de apresentar o espírito das narrati- fazer sentido para alguém, na medida em que captu-
vas romanescas, dedicadas à decifração do Brasil e ra e revela na sua forma o movimento da vida: a ex-
da brasilidade. Penso que alguns romances de João periência da passagem do tempo, o ato de recordar-
Ubaldo Ribeiro (e de outros escritores brasileiros) se e o de criar expectativas, a vivência subjetiva dos
funcionam para criar o "rico legado de lembranças" eventos e circunstâncias em que o homem está mer-
de que é feita uma nação (como afirmava Ernest Re- gulhado (Ricreur, 1994). Creio que o "tempo brasi-
leiro" tem sido particularmente bem articulado nos
nan), mediante a recriação estética da história do
romances de João Ubaldo Ribeiro, especialmente em
país e dos modos de ser da gente brasileira.
Viva o povo brasileiro (1984) e O feitiço da ilha do
Essas recriações têm um pé na realidade fac-
pavão (1997). Sem a preocupação de fidelidade aos
tua! e outro na fantasia. Mas é fato, também, que essa
fatos, os dois romances conseguem condensar vastos
duplicidade marca não apenas a ficção, mas, igual-
painéis da vida brasileira, capturando o movimento
mente, a escrita histórica. É isso que o escritor vai
real das diferentes experiências nacionais - vividas
frisar logo na epígrafe de Viva o povo brasileiro: "O
a partir dos diversos níveis e lugares sociais - que,
segredo da verdade é o seguinte: não existem fatos,
de outra forma, seria difícil de captar. Talvez isso
só existem histórias". Mesclando situações históricas
explique porque os romances históricos costumam
e fingimento literário, os romances produzem uma
ser mais atraentes que a historiografia e porque, na
verdade estética que serve, inclusive, aos fins peda-
nossa historinha, a morena tenha optado pela ficção
gógicos de conhecer o Brasil "real". Em sentido con-
e suas deliciosas possibilidades de comunicação.
trário, os romances também revelam as mentiras e
enganos que compõem as narrativas oficiais sobre o NARRATIVAS FICCIONAIS E MEMÓRIA
país, bem como desmascaram a fabricação ideoló- NACIONAL: A INVENÇÃO LITERÁRIA DO
gica de segmentos privilegiados da sociedade brasi- BRASIL
leira. As nações, como concepção histórica e social,
A morena da história pode-se chamar Maria são inventadas. Essa invenção ocorre mediante a
Dafé, Dadinha ou Crescência, algumas das heroínas elaboração de variados tipos de narrativas que exer-
ubaldianas que encarnam as utopias patrióticas da cem um papel de fundação dessas sociedades. Tais
sociedade brasileira, dentro do espírito de oposição narrativas podem ser míticas, poéticas, científicas,

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ideológicas e utópicas e, muitas vezes, um pouco de lo, na ficção contemporânea. Os romances de João
cada. Orientando-se para um passado esquecido no Ubaldo Ribeiro mantêm um vínculo com a tradição
tempo ou vaticinando um futuro longínquo, essas "missionária" da literatura brasileira que é marcada,
narrativas participam da construção social da me- entre outras características, por uma reflexão sobre
mória dos povos. a história do Brasil (principalmente o passado colo-
Agregando culturas e formas de sociabilida- nial) e pelas influências exercidas, pela herança es-
de altamente fragmentárias e distintas, as nações cravocrata e autoritária, na cultura política.
tornam-se algo em comum quando, do interior da Neste sentido, os romances de João Ubaldo
miscelânea étnica e cultural, são compartilhados - particularmente Viva o povo brasileiro e O feitiçc
sentidos de união e familiaridade, que reduzem tal da ilha do pavão - contribuem para modelar, de for-
pluralidade a um acervo relativamente homogêneo ma alegórica, um vasto acervo de imagens, saberes
de idéias sobre a terra em que se vive. Na realidade, e práticas que compõem a experiência brasileira no
uma nação, do ponto de vista sócio-antropológico, é tempo. Em geral, as narrativas exploram a técnica da
um ser imaginado, uma invenção que se dá constan- paródia para subverter a memória "oficial" do Bra-
temente enquanto os membros de uma sociedade se sil, composta de visões e lugares-comuns, veiculados
pensam como unidos por laços de solidariedade. pelo sistema de ensino e pelos meios de comunica-
Quando falamos em "memória relativamente ção de massa. Observa-se que, nos dois romances, a
homogênea", decerto reconhecemos que uma "me- narrativa é centrada na história e na cultura brasilei-
mória nacional" é feita de muitas memórias e tem- ras; talvez não seja audacioso afirmar que o prota-
poralidades, em certos casos, agonisticamente cin- gonista é o próprio Brasil ou a totalidade da cultura
didas: a celebração triunfante de umas, tristemente brasileira. O timbre empenhado é visível na forma
vinculada ao tácito soterramento de outras, impedi- como são exploradas as "versões" do Brasil pequeno
das de se perpetuarem no tempo. A redução desses e dominado - os muitos Brasis esquecidos e venci-
arquivos a um repertório mais coeso se dá mediante dos que, na ficção, às vezes, "dão a volta por cima':
processos coercitivos de seleção e recorte, desde os contrariando a história factual.
limites que se impuseram no próprio instante do É interessante notar como a representação fic-
primeiro registro até as revisões históricas que os cional de João Ubaldo é capaz de revelar quem so-
sucederam. mos nós brasileiros (nossos valores, códigos, estere-
As obras literárias são a cultura materializada ótipos etc.) com grande efeito de verossimilhança. E,
de um povo e elas fabricam memórias. Não há uma usualmente, o leitor ri da familiaridade que os textos
anterioridade cultural que a obra erudita ou popular evocam, em cumplicidade com o narrador. A leitura
apenas expresse. A música popular, o monumento, das situações brasileiras (personagens, intrigas, ce-
as narrativas orais, o livro constroem, eles mesmos, nários, momentos históricos) dá a imediata sensa-
o perfil identificador de uma sociedade e só por meio ção de coisa verdadeira, apesar de, freqüentemente,
dessas positividades temos uma cultura. A "brasili- as narrativas explorarem o mágico e o sobrenatural.
dade", isto é, a singularidade de um Brasil imaginado O narrador ubaldiano parece assinalar, a toda
tem, nas obras literárias, um observatório privilegia- hora, que há algo de "ficção perversa" na experiência
do. Os escritores brasileiros forjaram uma tradição histórica brasileira: o Brasil é uma mentira que nem
de auto-reflexão que acompanhou os rumos do Bra- a criação romanesca consegue igualar. A história do
sil como nação politicamente independente, e essa Brasil, particularmente aquela conduzida pelas eli-
tradição ainda permanece na escrita empenhada de tes econômicas e políticas, é uma "mentira ruim': É
alguns romancistas. uma mentira risível, mas fundamentalmente objeto
A preocupação com o delineamento de uma de repúdio, na voz de um narrador irônico. O nar-
fisionomia brasileira pode ser encontrada, portan- rador permite que o leitor ria de sua própria desgra-

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ça (como cidadão brasileiro), mas sempre deixando De fato, o princípio de refiguração literária da
claro que toda a narrativa é "pedagógica", no senti- experiência brasileira, em João Ubaldo Ribeiro, é o
do de que tem uma inspiração conscientizadora, escrutínio das peculiaridades da formação do povo
em última instância. A amargura que repousa sob o brasileiro, a partir da marca escravocrata e patriar-
riso do narrador romanesco pode ser encontrada de cal. Repontam nos enredos as temáticas da miscige-
forma mais patente no cronista João Ubaldo, num nação adoçada; do excesso sexual e de violência na
gênero que permite maior lealdade com os fatos e história social brasileira (o elemento de hybris, tal
maior expressão pessoal do escritor. De modo geral, como discutido por Araújo (1994) em sua análise da
o sentimento pessimista de João Ubaldo traduz a ex- obra de Gilberto Freyre); do complexo "casa grande
periência e a sensibilidade coletivas das elites educa- e senzala" e seus condicionamentos, na dinâmica pú-
das do país, que sempre oscilaram entre a esperança blico-privado no Brasil, e nas formas de dominação
frustrada e o franco complexo de inferioridade com e exercício do poder. Com efeito, os romances foca-
os rumos da pátria. lizam o vinco profundo, resultante do longo período
Contra a mentira ruim da vivência histórica de escravidão no Brasil sobre a existência social e
brasileira, o narrador apela para as possibilidades li- psicológica brasileira. Neste sentido, particular aten-
bertadoras da mentira romanesca. A idéia é revelar ção é dada ao lugar do escravo negro (em especial, à
o lado ficcional dos discursos oficiais sobre o Bra- mulher negra ou mestiça) na vida sexual e de famí-
sil (especialmente as interpretações históricas dos lia, no Brasil colonial. O lugar do elemento indígena
eventos políticos) e, ao mesmo tempo, apresentar as na cultura brasileira também é assinalado, ganhando
verdades subterrâneas que tais discursos ocultaram. tratamento, muitas vezes, carnavalizante em perso-
De tal forma que a narrativa de João Ubaldo, além nagens subversivas, representantes de uma forma de
de abordar o que aconteceu no país, também busca vida alternativa que ainda resiste à extinção.
o avesso da história brasileira: o que não aconteceu, Todo o painel cultural do Brasil é arrematado
mas poderia ter acontecido. Nesse empreendimento, pela idéia da coexistência de forças arcaizantes e mo-
a narrativa destaca o papel dos elementos tradicio- dernizadoras, conferindo uma vivência ambivalente
nalmente dominados: o feminino, a negritude, a mi- do tempo e da experiência nacionais. Aqui, a ima-
séria, e no campo dos saberes, a magia e a religiosi- ginação criadora procura dar corpo à vivência do
dade popular. tempo brasileiro, explorando os sentidos de utopia
e ucronia, soterrados ao longo da história nacional.
CASA GRANDE & SENZALA NO RECÔNCAVO:
O sobrenatural e o fantástico servem como recursos
REMINISCÊNCIAS FREYRIANAS NA FICÇÃO DE
para transfigurar os sonhos coletivos e as possibi-
JOÃO UBALDO RIBEIRO
lidades históricas não viabilizadas: um Brasil mais
Uma das características da escrita de João justo e igualitário.
Ubaldo Ribeiro é a sua fecundidade de interpretação As marcas patriarcais e escravocratas tratadas
intertextual. Em especial, suas obras dialogam com por G. Freyre podem ser examinadas em toda a nar-
a tradição literária nacional, incluindo a linhagem rativa de Viva o povo brasileiro, sob estilo irônico.
dos grandes ensaios sócio-antropológicos, respon- O romance inicia com uma paródia da história da
sáveis pelas mais abrangentes interpretações doBra- Independência do Brasil que subverte o seu discurso
sil. A análise comparativa de Casa Grande & Senzala oficial. O Alferes José Francisco Brandão Galvão, he-
(1998) com os romances Viva o povo brasileiro e O rói da Independência, morre baleado pelas bombar-
Feitiço da Ilha do Pavão revela uma série de regula- detas portuguesas, em 10 de junho de 1822, na Ponta
ridades temáticas, no tratamento que as obras dão à das Baleias da Baía de Todos os Santos e é tornado
história e à cultura brasileira. herói, sem que a sua vida justificasse a glória póstu-

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ma. Como nos manuais escolares, a morte do alferes brasileiros cujas vidas são marcadas por suas origens
é romanceada, acrescida de motivos, gestos e deta- de raça e classe. Os brasileiros espoliados de hoje
lhes honrosos: o jovem que o povoado se acostumou são os filhos e netos dos massacrados de ontem. Os
a chamar de alferes seria um revolucionário contra que dominam o Brasil, hoje, são também herdeiros
as forças portuguesas inimigas, guardando as costas dos vencedores do passado. Assim, Ubaldo Ribei-
brasileiras e teria, antes de morrer, perorado às gai- ro percorre os eventos marcantes da vida brasileira
votas palavras "nobres contra a tirania e a opressão", - a Independência, a Guerra do Paraguai, Canudos.
milagrosamente registradas e desde então lembradas a República, o período militar pós-64 - assina~an­
pelo povo do Recôncavo. do, alegoricamente, as forças sociais em luta através
Para explicar as raízes do "caráter nacional", de personagens emblemáticas das várias classes de
Ubaldo constrói um mito da origem e da trajetória da brasileiros. Este é um breve resumo da saga da alma
consciência nacional rumo à emancipação e à certe- brasileira, tema central da obra.
za de uma singularidade brasileira. Na cosmogonia A alegoria é rica de significações. A alma
do narrador, a alma recentemente gerada do meio da brasileira, como a desastrada alma da ficção, é plas-
grande sopa cósmica vai para o "poleiro das almas", mada através da história de muitas vidas, não tendo,
de onde parte para encarnar em um ser vivo. As ai- portanto, nascido pronta. E a certeza de sua existên-
minhas não têm nacionalidade, nem qualquer saber. cia é obtida no difícil caminho da aprendizagem. O
Têm, basicamente, um instinto, que é o de "descer" roteiro é tortuoso: a brasilidade foi feita a ferro e a
à Terra para reencarnar em corpo vivo - útero, ovo, fogo, por meio da dominação de corpos e mentes.
semente- para, a partir desta corporificação, apren- Aqui, a paródia deixa seu lado de farsa e comicidade
der. para adentrar o mundo trágico, concreto das reali-
É possível que a primeira encarnação da alma dades vividas. O Brasil histórico consagrou a barbá-
brasileira tenha sido a de um macaco ou papagaio, rie, a vileza e a mediocridade, deixando esquecidas
embora se pretenda que tenha sido a do alferes, feito personagens que colaboraram efetivamente para a
herói nacional. De fato, a hipótese mais "plausível" é riqueza e transformação do País.
que a primeira pessoa que a alma animou tenha sido Em O feitiço da ilha do pavão, numa miste-
uma índia tupinambá, nos idos da colonização, e que riosa ilha (espaço que alude ao Brasil, como espaço
acabou sendo estuprada e morta por oito brancos, sociológico e ideológico que figura a formação so-
antes dos doze anos. Sucederam-se outras tantas en- cial brasileira), a história tomou rumos diferentes
carnações como índio, depois como caboclo canibal, daqueles do Brasil vivido. Lá, o conquistador Capi-
sendo tão mal-sucedidas, que a alminha "fez tenção tão Cavalo, conhecedor das guerras, perseguiç5es,
firme de evitar o Hemisfério Austral". Mas, uma que intrigas e misérias da sua Europa medieval, preferiu
ela não aprendera efetivamente nada, acabou revo- não reproduzir a história da sua civilização, optando
ando ao léu e sendo atraída pela barriga da mãe do por libertar seus escravos e viver pacificamente entre
alferes. negros e índios. Na utópica Ilha do pavão, o visitante
O sentimento de singularidade e orgulho na- possivelmente
cional se constrói, assim, através de gerações de per-
sonagens que virão até a contemporaneidade. A nar- ( ... ) estranhará ver negros calçando botas, sen-
rativa transcorre entre 1647, momento ilustrativo da tando-se à mesa com brancos, tuteando-os com natu-
colonização e principalmente da catequese jesuítica, ralidade e agindo em muitos casos como hom ens do
até 1972, período que marca a vida nacional contem- melhor estofo e posição financiai, além de negras tra-
porânea. Ao longo desses séculos de formação na- jadas como damas e de braços dados com moços alvo~
cional, o narrador conta as histórias de gerações de como príncipes do norte (F. L P.: 17).

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Somente no quilombo de um rei congo, de Para o aventureiro cansado, Capitão Cavalo,
consciência e retórica de superioridade racial, os e para os estrangeiros Hans e a Degredada, sobre-
negros de outras nações permanecem escravos. Essa viventes da Inquisição, a ilha é reduto edênico, a
subversão da ordem - uma ilha livre e apenas um ser protegida contra as tentativas de retrocesso dos
quilombo de negros escravizados por outros negros conservadores. Para o Monsenhor e sua Mesa de Vi-
- leva à insatisfação de alguns habitantes poderosos sitação, a ilha é lugar de anarquia e subversão da or-
da Vila de São João Esmoler, que preferem ver reto- dem, a ser disciplinada e devidamente colocada nos
mados os costumes escravocratas de toda a colônia. eixos.
Para começar, alguns militares se reúnem para de- Na vertente que reescreve parodicamente a
clarar guerra aos índios, a fim de mantê-los longe da história, Ubaldo torna grotescamente visíveis os dis-
cidade e livres de sua "espantosa indolência': "falta cursos e as práticas dos segmentos dominantes. No
de indústria", de sua "natureza traiçoeira, ardilosa, episódio da declaração de guerra aos selvagens, re-
velhaca e mentirosa", vícios que podem corromper gistrada em ata pelo mestre-de-campo, o narrador
a vida dos aldeões. revela a ficcionalidade da história oficial, mostrando
Numa escrita que privilegia a linha do riso, como a versão dos vencedores é confeccionada:
o autor vai revelando ora os mecanismos de domi-
nação qee regem a sociedade brasileira desde o seu Como primeiro registro, ditou uma breve
passado colonial (o poder da Igreja e da Coroa Por- história da ilha do Pavão e alinhavou
tuguesa), ora os caminhos não trilhados na vida real algumas palavras, em anástrofes
(como, por exemplo, a abolição precoce da escravi- graciosamente torneadas, assíndetos
dão). Na perspectiva da utopia, a ilha surge como arrebatados, aliterações extasiantes e
microcosmo nacional que se opõe aos fatos como demais recursos de que a língua provê
eles aconteceram ou acontecem no Brasil, propondo os que a defendem da mesma forma
o seu avesso: um reino de tolerância, de liberdade intransigente com que guarnecem o
e de riqueza para todos. Mas, esse estado de coisas torrão natal, sobre o heroísmo de seus
enfrenta poderosos interesses do resto do país e, em ancestrais, concluindo com algumas
suas próprias terras, a ilha afronta certo número de estrofes de sua lavra (F. I. P.: 61).
mentes retrógradas.
Para cada classe de personagens, a ilha ganha O desfecho da guerra é carnavalesco, de for-
um significado diferente. Para o índio Balduíno, ela ma a marcar a "ironia da histórià' que pode se voltar
significa a vila São João do Esmoler com seus luxos, contra os vencedores. Balduíno Galo Mau, o índio
tornados agora imprescindíveis. Sua retórica asse- esperto, derrota os adversários, não pelo enfrenta-
melha-se à do índio Ipavu, de A expedição Montaigne menta direto e corajoso, mas pelos meios que são
(1982 ), de Antônio Callado - um índio que não quer possíveis aos dominados. Ele contamina a água dos
voltar para o mato de jeito nenhum, renunciando inimigos com uma poção que causa uma incontro-
aos prazeres da civilização. Como diz Balduíno, "O lável colite, impedindo-os de prosseguirem com os
branco vem sem ninguém chamar nem sentir neces- combates. O que seria uma glória para as forças mili-
sidade, traz as coisas dele, ensina ao índio, acostuma tares transforma-se na Batalha do Borra-botas, com
o índio bem acostumadinho e depois quer tirar tudo o estrondoso vexame da soldadesca, envenenada
do índio?" (F. I. P.: 44). O índio arguto tira do mato com ervas diarréicas.
e da memória ancestral o saber necessário para a sua Na vertente que figura, em tom de seriedade,
sobrevivência e segurança, mas não admite ser ex- o Brasil que poderia ter sido, o narrador edifica as
cluído dos benefícios da vida urbana. personagens que defendem os valores da tolerância,

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PERIODICOS
do pacifismo, da solidariedade e da auto-afirmação deza, as mulheres são obrigadas a dizer as mesmas
étnica e cultural. Crescência, a negra que se educa palavras. Apenas Crescência, por quem Pepeu mor-
cultural e politicamente, a partir dos livros e ensina- re de amores, se nega a dizer tais palavras, de modo
mentos que adquire, percebe que o grande mistério que ele é impotente com ela. Crescência de fato nega
(ou utopia) da ilha é a reescritura da história noutros a condição de objeto - que é a condição escrava - e
moldes. Ao ler sobre os horrores da Inquisição, ela só aceitará dizer as palavras, quando alcançar sua
reflete: auto-afirmação como pessoa e o reconhecimento do
Talvez o Grande Feitiço fosse encontrar rapaz quanto à relação de amor e igualdade que os
um jeito de garantir que, na Ilha do une.
Pavão, jamais viessem a acontecer Viva o povo brasileiro explora a hybris da
aquelas histórias horrendas, era deixar formação brasileira praticamente ao longo de toda a
que os habitantes da ilha vivessem narrativa. A figura de Perilo Ambrósio ilustra de que
na liberdade e na santa paz, sem que modo sexo e violência marcaram as relações entre
ninguém tiranizasse ninguém. Era senhores e escravos, legando um lastro duradouro
porventura tirar a ilha do pavão do de despotismo na sociedade brasileira. Perilo Am-
mundo sem tirá -la do mar do Pavão, brósio Góes Farinha, indivíduo sádico, glutão, um
água onde mais peixe não pode haver, patife tanto em sua vida privada quanto na pública,
e das costas do Recôncavo, terra de onde torna-se Barão de Pirapuama às custas da delação de
o sol e a brisa nunca se vão por muito sua família e de meia dúzia de mentiras sobre suas
tempo (F.I.P:. l 06). façanhas na Revolução pela Independência, refor-
çadas com o assassínio de um escravo para simular
As interseções entre o olhar freyriano e o com o seu sangue ferimentos de guerra. Estupra a
ubaldiano sobre a cultura e a história brasileiras são jovem escrava, prestes a casar, e corta a língua de es-
bastante claras e facilmente rastreáveis. Aqui, desta- cravos rebeldes. Sua perversidade foi exacerbada por
camos como ilustração os temas da miscigenação, da anos de poder absoluto sobre a escravaria, mulher e
sexualidade exacerbada do português e da impor- agregados.
tância da escrava negra na sexualidade do homem Perilo Ambrósio não suporta se submeter a
de extração senhorial. Em Casa Grande & Senzala, qualquer limitação de seu poder, ainda que os li-
Freyre apresenta casos ilustrativos de exclusivismo mites sejam as pequenas regras de etiqueta social
ou fixação sexual do branco por negras e mulatas, seguidas por sua mulher. Num gesto simbólico do
reforçando, assim, seu argumento sobre a força des- homem que tripudia sobre a vida daqueles que tem
sa intimidade entre senhores e escravos na vida fa- em suas mãos, Perilo Ambrósio urina e se masturba
miliar do brasileiro. sem censura sobre o mundo:
Em O Feitiço da Ilha do Pavão, Ubaldo Ribei-
ro retrata essa condição de forma bem humorada, E não só em Antônia Vitória mijava
de modo a apresentar o avesso da escravidão: o do- ele, mijava em tudo, sentia que podia
mínio do branco por uma negra caprichosa e altiva. mijar em tudo o que quisesse, podia
O filho do poderoso Capitão Cavalo, Ioiô Pepeu, em fazer qualquer coisa que quisesse. (. ..)
tenra infância foi seduzido por uma negra mais ve- começou a masturbar-se à janela, mal
lha que servia ao seu pai. Na ocasião, a negra falou podendo conter a vontade de gritar c
certas palavras eróticas que marcaram para sempre urrar, pois que se masturbava por tudo
os hábitos sexuais do rapaz. Em todas as freqüentes aquilo que era infinitamente seu, os
relações do jovem com as negras da casa e da redon- negros, as negras, as outras pessoas, o

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mundo, o navio a vapor, as árvores, a (.. .) Dominavam o segredo da toca
escuridão, os animais e o próprio chão do tempo, deteriam sua marcha e
da fazenda( ... ) (V. P. B: 90). desapareciam do mundo sempre que
a ilha fosse ameaçada em seu destino
A narrativa de Viva o povo brasileiro oscila en- independente e sempre mais libertário,
tre abordar as relações de dominação no Brasil num apesar do quilombo e de Borges Lustosa,
registro sério ou no cômico. No segundo registro, padre Tertuliano e seus seguidores. Não
podemos acompanhar as reviravoltas das persona- era dominação, era apenas uma arma
gens oprimidas que buscam estratégias de sobrevi- contra um futuro indesejável. Parava-se
vência, resistência e confraternização num mundo
o tempo, abria-se caminho para um novo
senhorial: caso do negro Capiroba, comedor de ho-
futuro que, mesmo que não pudesse ser
landês e de sua filha Vu, amante insaciável de seu
escolhido por eles, seria diverso do que o
prisioneiro estrangeiro.
precederia (F. I. P.: 30 1-302).
A toca do tempo e as utopias brasileiras: a me-
táfora dos tempos possíveis
Na linhagem de escritores empenhados na
A prosa de ficção, menos presa aos ditames
questão nacional, é particularmente visível o pro-
da referencialidade, é hábil em veicular os desejos
cesso de elaboração simbólica em que se constitui a
coletivos de transformação social, capturados e re-
idéia de "nação". Como já foi assinalado em referên-
elaborados pelo escritor em linguagem poética. Em
cia a outros contextos nacionais (Anderson, 1998;
Viva o povo brasileiro, a utopia é figurada não so-
Bhabha, 1999), o Brasil pode ser entendido como
mente nas heroínas (a exemplo de Maria da Fé), mas
um poderoso artefato cultural, produzido continu-
também nos objetos, como a canastra que guarda a
amente pelo campo dos seus escritores, tanto entre
memória do povo brasileiro oprimido e que, no fim
do romance, é violada, entornando caudalosamente aqueles que se dedicam ao ramo das ciências sociais,
seu conteúdo. Em O feitiço da Ilha do Pavão, a uto- quanto aos que se envolvem na criação estética.
pia é encarnada em Crescência e na "toca do tempo': A investigação de obras literárias revela que o
uma estranha construção circular de onde se podem processo de invenção do Brasil deve ser entendido
vivenciar outros espaços e tempos da ilha. Lá, a his- à luz da tradição do campo intelectual que fabrica,
tória pode apresentar vários desfechos, embora não divulga e reapropria continuamente um acervo de
possa ser manipulada pelas vontades individuais. Na imagens e representações sobre o ser brasileiro, ao
esfera mágica que permite o acesso a outros mundos longo da história do País. Esse acervo constitui de
ou a outros momentos, os relógios da ilha param e fato uma vasta memória que deita suas marcas sobre
toda a ilha parece sair do espaço geográfico usual e os escritores contemporâneos, fazendo tais imagens
existir sozinha no universo: e representações ressurgirem, transfiguradas, nas
obras mais recentes. De certa forma, cada obra guar-
Agora que podiam parar o tempo e sair da em si mesma muitas outras, produzidas noutros
do mundo, certamente conseguiriam na tempos, mas que ainda exercem influência sobre a
ilha tudo o que sempre almejaram, ou percepção da história e da cultura brasileiras.
seja, mantê-la cada vez mais livre e livres Cada romance de João Ubaldo parece confi-
seus habitantes, sem que tivessem sempre, gurar uma toca do tempo, no sentido de um lugar
apesar de protegidos pela Natureza, simbólico onde se cruzam os muitos momentos de
de temer que o mundo os alcançasse e interpretação da história brasileira e se desvelam os
lhes tirasse tudo o que tinham ganho e projetos e sonhos de país, irrealizados. Creio que a
continuavam a ganhar ( .. .) metáfora desse espaço sobrenatural, guardando o

J241 REVISTA DE CitNCIAS SOCIAIS v.36 n. 1/2 2005


passado, o presente e o futuro n' O feitiço da Ilha do Memória e desejo sempre caminham juntos
Pavão, equivale à função arquiva[ a que Echevarría nas alegorias de João Ubaldo Ribeiro. Creio que a
(1998) se refere, ao analisar o romance latino-ame- canastra e a toca do tempo falam também dos an-
ricano. No romance de "arquivo", sempre há perso- seios irrealizados de gerações de intelectuais e escri-
nagens e objetos que funcionam como guardiães tores empenhados em fazer o Brasil dar certo. Assim,
da memória. Em Viva o povo brasileiro, temos a es- essas alegorias abordam as inúmeras possibilidades
crava Dadinha e o cego Faustino que representam históricas não realizadas no Brasil, seja advertindo
o memorialismo da tradição oral, além de Patrício quanto aos perigos por vir, seja sonhando com a
Macário, o herói arquivista, emblema do intelectual bem-aventurança de um Brasil futuro.
identificado com sua própria cultura: Por fim, a toca do tempo também funciona
como metáfora do trabalho narrativo, no sentido de
Um menino que o fitava intensamente, referir-se à própria atividade literária. Assim, o texto
parecendo ao mesmo tempo prestes a é auto-reflexivo, pois deixa clara a ficcionalidade da
chorar, correu lá para dentro, chamando narrativa, revelando que a história contada pode ter
mais gente para ouvir as histórias do tantos desfechos quantos aprouverem à imaginação
general, o general ia contar histórias, criadora.
que histórias ele não teria para contar!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Mas o general, baixando a cabeça como
se estivesse olhando para alguma coisa ANDERSON, Benedict {1998). Imagined Communities:
dentro de si, disse que não, que apenas rejlections on the origin and spread of nationalism. London/
pensara em contar histórias, pois sempre New York: Verso

soubera que não as contaria, nunca ARAÚJO, Ricardo Benzaquen de (1994). Guerra e Paz: Casa

contaria histórias, isso fariam outros, Grande & Senzala e a obra de Gilberto Freyre nos anos 30. Ri c·

sempre haveria alguém para contar de Janeiro: Editora 34.

histórias. Ele queria- continuou falando, BHABHA, Homi {1999). Nation and narration. London/New
York: Routledge.
a voz calada mais tênue - dizer alguma
CALLADO, Antônio {1982). A Expedição Montaigne. Rio de
coisa sobre o povo brasileiro, pois que
Janeiro: Nova Fronteira.
aprendera muito com o povo brasileiro,
ECHEVARRÍA, Roberto González {1998) . Myih and arquivi!: a
sabia do povo brasileiro. Mas não podia
theory of Latin American narrative. Durham/London: Duke
falar sobre isso, porque isso era uma
University Press.
vida, e uma vida só se pode viver, não
FREYRE, Gilberto {1998). Casa Grande & Senzala. Rio de
contar (V. P. B.: 660).
Janeiro: Record.
RENAN, Ernest (1997). "O que é uma nação?" In ROUANET,
Até sua morte, aos cem anos, Macário guarda Maria Helena (org.). Nacionalidade em questão. Cadernos
a canastra da Irmandade do Povo Brasileiro, um re- da Pós/Letras da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
positório simbólico dos conhecimentos e vivências Volume 19, p. 12-43. Rio de Janeiro: Instituto de Letras/U
da vida brasileira, desde as suas origens e das desgra- ERJ.
ças reservadas à nação que despreza suas populações RIBEIRO, João Ubaldo {1984) . Viva o povo brasileiro. Rio de
humildes. Como a "toca do tempo", a canastra evo- Janeiro: Nova Fronteira.
ca a coexistência das muitas memórias, geralmente RIBEIRO, João Ubaldo (1997). O Feitiço da Ilha Pavão. Rio de
sangrentas, de que é feita a nação brasileira. De cer- Janeiro: Nova Fronteira.
to modo, a totalidade dos romances aqui estudados RICCEUR, Paul {1994). Tempo e narrativa (tomo I) . Campina-
equivale à função de tais objetos de "arquivo". SP: Papirus.

GERlvlANO, I. As memórias na toca do tempo ... p. 117-125

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