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Educação Vocal:

Técnica e Práticas
Vocais
Profª Mariana Lopes Junqueira
Profª Tereza Cristina Benevenutti Lautério

Indaial – 2020
1a Edição

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J95p

Junqueira, Mariana Lopes

Educação Vocal: Técnica e Práticas Vocais. / Mariana Lopes Junqueira;


Tereza Cristina Benevenutti Lautério. – Indaial: UNIASSELVI, 2020.

215 p.; il.

ISBN

1. Fisiologia da voz. - Brasil. I. Lautério, Tereza Cristina Benevenutti.


II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

CDD 780

Impresso por:

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Sumário
UNIDADE 1 – A VOZ – QUESTÕES FISIOLÓGICAS .................................................................... 1

TÓPICO 1 – FUNÇÃO VOCAL ............................................................................................................ 3


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3
2 APARELHO RESPIRATÓRIO ............................................................................................................ 4
2.1 RESPIRAÇÃO ................................................................................................................................... 6
2.2 EXERCÍCIOS DE RESPIRAÇÃO ................................................................................................... 8
3 APARELHO FONADOR ..................................................................................................................... 10
4 APARELHO RESSONADOR ............................................................................................................. 17
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 20
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 21

TÓPICO 2 – CARACTERÍSTICAS VOCAIS ..................................................................................... 23


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 23
2 VOZ FALADA ....................................................................................................................................... 23
3 VOZ CANTADA ................................................................................................................................... 27
3.1 RESPIRAÇÃO E APOIO .................................................................................................................. 29
3.2 CLASSIFICAÇÃO VOCAL .............................................................................................................. 33
3.3 AFINAÇÃO ....................................................................................................................................... 36
3.4 VIBRATO ............................................................................................................................................ 38
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 39
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 40

TÓPICO 3 – HIGIENE E SAÚDE VOCAL .......................................................................................... 43


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 43
2 PROFESSOR: UM PROFISSIONAL DA VOZ ............................................................................... 53
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 56
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 59
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 60

UNIDADE 2 – A VOZ – QUESTÕES MUSICAIS ............................................................................. 63

TÓPICO 1 – TÉCNICA VOCAL ............................................................................................................ 65


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 65
2 RESSONÂNCIA .................................................................................................................................... 66
3 ARTICULAÇÃO .................................................................................................................................... 73
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 80
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 81

TÓPICO 2 – INTERPRETAÇÃO VOCAL ........................................................................................... 83


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 83
2 EMISSÃO E PROJEÇÃO VOCAL ..................................................................................................... 83
3 VOZ E INTERPRETAÇÃO .................................................................................................................. 85
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 91
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 92

III

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TÓPICO 3 – CARACTERÍSTICAS VOCAIS ..................................................................................... 95
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 95
2 VOZES INFANTIS ................................................................................................................................ 95
3 VOZES ADOLESCENTES .................................................................................................................. 98
4 VOZES ADULTAS ................................................................................................................................ 102
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 105
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 106

TÓPICO 4 – EXERCÍCIOS PARA TÉCNICA VOCAL ..................................................................... 107


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 107
2 AQUECIMENTO E RELAXAMENTO CORPORAL ..................................................................... 107
3 AQUECIMENTO E DESAQUECIMENTO VOCAL ...................................................................... 111
4 VOCALIZES ........................................................................................................................................... 113
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 122
RESUMO DO TÓPICO 4 ....................................................................................................................... 129
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 130

UNIDADE 3 – A PRÁTICA VOCAL VOLTADA PARA A EDUCAÇÃO MUSICAL ................ 131

TÓPICO 1 – O CANTO NA EDUCAÇÃO MUSICAL ..................................................................... 133


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 133
2 TRABALHANDO COM A VOZ INFANTIL ................................................................................... 134
2.1 EXERCÍCIOS ..................................................................................................................................... 144
2.2 REPERTÓRIO ................................................................................................................................... 148
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 163
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 164

TÓPICO 2 – TRABALHANDO COM A VOZ ADOLESCENTE .................................................... 167


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 167
2 EXERCÍCIOS ......................................................................................................................................... 168
3 REPERTÓRIO ........................................................................................................................................ 172
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 182
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 183

TÓPICO 3 – TRABALHANDO COM A VOZ ADULTA E IDOSA ............................................... 185


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 185
2 TRABALHANDO COM A VOZ ADULTA ...................................................................................... 185
2.1 EXERCÍCIOS E RESPIRAÇÃO ...................................................................................................... 186
3 TRABALHO VOCAL COM IDOSOS ............................................................................................... 194
3.1 EXERCÍCIOS E REPERTÓRIO ....................................................................................................... 195
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 203
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 207
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 208

REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 209

IV

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UNIDADE 1

A VOZ – QUESTÕES FISIOLÓGICAS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo, você deverá ser capaz de:

• conhecer a fisiologia vocal;

• refletir sobre o trabalho correto de cada aparelho responsável pela emissão


vocal;

• conscientizar-se sobre as características da voz falada e da voz cantada;

• conhecer os cuidados básicos para preservar a saúde vocal;

• refletir sobre os cuidados com a voz no cotidiano da profissão docente.

CHAMADA

Preparado para ampliar teus conhecimentos? Respire e vamos em


frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverás
melhor as informações.

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2

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UNIDADE 1
TÓPICO 1

FUNÇÃO VOCAL

1 INTRODUÇÃO
Você já parou para pensar de que forma a sua voz é produzida? A
produção e a emissão da voz são um trabalho complexo, nos quais vários músculos
trabalham intensamente. A voz é uma ferramenta de comunicação e expressão,
seja falada ou cantada. Fisiologicamente falando, “a voz é a utilização inteligente
dos ruídos e sons musicais produzidos no interior da laringe com o impulso da
expiração controlada, ampliados e timbrados nas cavidades de ressonância e
modelados pelos articuladores no tempo, no meio e no estado pulsátil de cada
pessoa” (COELHO, 1994, p. 13). Para as autoras, além da definição citada, a voz
é também a expressão sonora da personalidade dos sujeitos, bem como o reflexo
de seu estado psicológico.

O professor, de modo geral, utiliza diariamente sua voz, como um


instrumento de seu trabalho, e por vezes não faz o uso consciente da sua
voz, o que pode causar danos a sua saúde vocal. Ao cursar a Licenciatura em
Música, você poderá exercer a docência na educação básica, e em outros espaços
educativos, como organizações não governamentais (ONGs), escolas livres de
música, bandas, corais, entre outros (KANDLER; GUMS; SCHAMBECK, 2014).
Ao realizar um trabalho com a voz, é importante conhecer e se conscientizar
de como ela é produzida, bem como os cuidados que você precisa ter para
preservá-la, assim como as características vocais das diferentes faixas etárias,
para trabalhar adequadamente com cada uma. Portanto, o cuidado com a voz
não deve ser apenas ao utilizá-la para cantar, mas também quando fazemos um
uso prolongado dela ao falar.

A função vocal é um conjunto determinado pela interação entre os


diferentes órgãos responsáveis pela emissão dos sons e órgãos respiratórios. A
atividade muscular utilizada na emissão da voz, produz em nós uma série de
sensações, as quais precisamos ter consciência para uma melhor emissão sonora.
Essas sensações não são percebidas pelos ouvintes, mas são muito importantes
para o cantor, uma vez que serão o resultado de um longo treinamento. Além
de ter consciência e controle sobre esses músculos, o cantor também precisa
desenvolver a percepção sonora, pois é por meio dela que ele vai ter consciência
se está realizando o uso adequado da voz (DINVILLE, 1993).

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UNIDADE 1 | A VOZ – QUESTÕES FISIOLÓGICAS

Ao estudarmos um instrumento musical, aprendemos sobre os diversos


cuidados que devemos ter com esse instrumento, assim como devemos praticá-lo
para melhorar nosso desempenho. A voz como instrumento é o meio mais natural
e antigo que possibilita a produção musical. Devemos cuidar desse instrumento,
realizar exercícios para que possamos utilizá-la de maneira correta e eficiente,
para não prejudicar nossa saúde vocal e dos nossos alunos. O instrumento vocal
é separado em três partes: aparelho respiratório, aparelho fonador e aparelho
ressonador. Estudaremos cada um deles, para que você conheça o funcionamento
de cada um.

2 APARELHO RESPIRATÓRIO

A respiração é uma função vital que garante a troca do gás carbônico


(CO2), que está no sangue, por oxigênio (O2), vindo do ambiente, é “um gesto
inconsciente, instintivo, cujos movimentos são regulares, rítmicos, simétricos e
sincrônicos” (DINVILLE, 1993, p. 51). Segundo Coelho (1994), a respiração é um
ato espontâneo de caráter ativo-passivo realizado pelo movimento do músculo
diafragma e dos músculos intercostais, este movimento tem sua origem no
cérebro. Assim, o ato de respirar envolve o trabalho de muitos músculos e órgãos
do nosso corpo. O aparelho respiratório é formado pelas vias aéreas e pulmões:

• Vias aéreas: narinas, fossas nasais, faringe, glote, laringe e traqueia.


• Pulmões: brônquios, bronquíolos e alvéolos (MARSOLA; BAÊ, 2000).

No ato da respiração realizamos dois movimentos: a inspiração,


caracterizada pela entrada de ar nos pulmões, e a expiração, que compreende a
saída de ar dos pulmões. “As inspirações e expirações ocorrem a partir dos níveis
de oxigênio no sangue e são naturalmente comandadas pelo sistema nervoso
involuntário” (PACHECO; BAÊ, 2006. p. 17).

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TÓPICO 1 | FUNÇÃO VOCAL

FIGURA 1 – APARELHO RESPIRATÓRIO

FONTE: <http://static.todamateria.com.br/upload/54/07/540759a3340e6-sistema-respiratorio.jpg>.
Acesso em: 1º set. 2019.

Cada órgão do aparelho respiratório exerce uma função. No Quadro 1,


conheceremos um pouco mais sobre cada órgão do aparelho respiratório.

QUADRO 1 – APARELHO RESPIRATÓRIO

Órgão Características
Narinas Têm como função aquecer, umedecer e filtrar o ar.
Traqueia Divide-se em bifurcações que dão origem aos brônquios.
Tórax Composto de 12 pares de costelas, que são fixas atrás da coluna vertebral.
Pulmões Localizam-se na caixa torácica e são os principais órgãos do aparelho respiratório.
Os pulmões possuem consistência esponjosa e cor rosada, devido à grande
quantidade de sangue que nele circula.
Brônquios Levam ar aos pulmões.
Alvéolos Realizam a troca de oxigênio pelo gás carbônico. O oxigênio vem do ar inspirado
e o gás carbônico vem do sangue, que é devolvido para o ar. O ar entra e sai dos
alvéolos pelo movimento realizado pelo tórax e diafragma.

FONTE: Adaptado de Marsola e Baê (2000)

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UNIDADE 1 | A VOZ – QUESTÕES FISIOLÓGICAS

NOTA

Os pulmões têm em média o peso de 700 gramas, e sua altura geralmente


corresponde a 25 centímetros (DINVILLE, 1993).

2.1 RESPIRAÇÃO
A voz é o som produzido pelo ar que sai dos pulmões, passa pelas pregas
vocais, comumente chamadas de cordas vocais, e é amplificado e modulado pelas
cavidades de ressonância (face e tórax) e órgãos articuladores (palato, língua e
maxilar). A passagem do ar faz com que nossas pregas vocais vibrem, assim,
sem ar não há som. O ar pode ser considerado o combustível da nossa voz. Para
uma boa emissão vocal, é muito importante aprendermos a respirar de maneira
correta. Para tanto, é preciso que tenhamos consciência de como nosso sistema
respiratório funciona, assim como é importante exercitarmos nossa respiração.

Quando respiramos naturalmente há uma contração muscular ativa


durante a inspiração e passiva durante a expiração, fazendo com que a entrada
e saída do ar dos pulmões seja realizada com o auxílio da musculatura torácica
superior. Existem três tipos de respiração consideradas naturais: a costal superior,
a diafragmática abdominal e a costodiafragmático abdominal (PACHECO; BAÊ,
2006). Você sabe quando cada um desses tipos de respiração é utilizado?

• A respiração costal superior é a que realizamos durante a atividade física, ela


permite uma entrada mais rápida de ar e maior oxigenação.
• A respiração diafragmática abdominal é a que utilizamos enquanto dormimos.
• A respiração costodiafragmático abdominal é a ideal para utilizarmos enquanto
falamos e cantamos (PACHECO; BAÊ, 2006).

A respiração costodiafragmático abdominal fortalece os pulmões e oxigena


o sangue, ativando, assim, os órgãos responsáveis por equilibrar estas funções
(MARSOLA; BAÊ, 2000). O ar entra e sai dos alvéolos devido ao movimento
conjunto do tórax e do diafragma. O diafragma é um músculo que separa a
cavidade torácica da cavidade abdominal. Ele possui um centro tendíneo que
lhe dá resistência, e que permite a movimentação da parte muscular que está ao
redor desse centro, durante a inspiração e a expiração (PACHECO; BAÊ, 2006).

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TÓPICO 1 | FUNÇÃO VOCAL

FIGURA 2 – DIAFRAGMA

FONTE: <https://drauziovarella.uol.com.br/wp-content/uploads/2017/06/
diafragma2-e1497469202603.jpg>. Acesso em: 7 set. 2019.

Quando inspiramos, o cérebro emite um comando que faz com que


o centro tendíneo do diafragma se contraia e abaixe, fazendo com que a parte
muscular do diafragma comprima as vísceras e empurre a parede abdominal
para a frente. Na expiração o diafragma é elevado, retornando à posição inicial
(PACHECO; BAÊ, 2006).

Além de auxiliar no processo de respiração e na sustentação do ar para a


atividade do canto, outra função do diafragma é ajudar no processo de digestão
dos alimentos. Os movimentos desse músculo, contração e força, também são
importantes para: tosse, espirro, parto e no processo de defecação (WEISS, 1988).

FIGURA 3 – ATIVIDADE DO DIAFRAGMA DURANTE A RESPIRAÇÃO

FONTE: <https://www.sobiologia.com.br/figuras/Fisiologiaanimal/respiracao11.jpg>. Acesso em:


9 set. 2019.
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UNIDADE 1 | A VOZ – QUESTÕES FISIOLÓGICAS

DICAS

Para observar a ação do diafragma no momento da respiração, assista ao


vídeo “Funcionamento do diafragma”, disponível no link: https://www.youtube.com/
watch?v=T5gY6G64H54.

Assim como abordamos anteriormente, a voz é um dos instrumentos de


trabalho do professor, seja qual for sua formação. Para o professor de música,
além disso, apresenta-se como um elemento para o desenvolvimento de trabalhos
musicais na educação básica e em outros contextos de educação musical, como
os corais.

O Quadro 2 apresenta sinteticamente a função de cada órgão do aparelho


respiratório, na sua função biológica e na sua função fonatória, ou seja, na
produção sonora.

QUADRO 2 – FUNÇÕES DOS ÓRGÃOS DO APARELHO RESPIRATÓRIO

Órgão Função Biológica Função Fonatória


Cavidades Filtrar, aquecer e umidificar o ar. Vibração e amortização do som –
Nasais. ressonância nasal.
Faringe. Via de passagem do ar. Amplia os sons – caixa de ressonância.
Laringe. Via de passagem do ar. Vibrador – contém as pregas vocais.
Traqueia. Via de passagem do ar - defesa da Suporte para a vibração das pregas vocais.
via aérea.
Pulmões. Trocas gasosas e respiração vital. Fole e reservatório de ar para vibrar as
pregas vocais.
Musculatura Desencadeia o processo Produção de pressão no ar que sai.
respiratória. respiratório.

FONTE: <http://canone.com.br/attachments/article/252/a_fisiologia_da_voz.pdf>. Acesso em:


14 set. 2019.

Sintetizando, além da função biológica e vital, o aparelho respiratório


participa ativamente na função fonatória, atuando nas funções de produção e
emissão sonora, como vibração e ressonância.

2.2 EXERCÍCIOS DE RESPIRAÇÃO


Para que você possa ter mais consciência sobre a sua respiração, e ter
mais controle sobre a sua expiração, é muito importante realizar exercícios de

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TÓPICO 1 | FUNÇÃO VOCAL

respiração. Ao realizar algum trabalho de educação musical que utiliza o canto,


também é importante realizar os exercícios de respiração com os alunos. É
importante que você mantenha uma constância nos exercícios, se possível realizá-
los diariamente, para que assim, você possa aprimorar a sua técnica de respiração
e para trabalhar a sua musculatura respiratória. É importante também repetir os
exercícios, e não fazer cada exercício apenas uma vez. Lembre-se de observar se
os músculos estão trabalhando corretamente durante os exercícios. Assim como
um atleta cuida do seu corpo para ter um bom desempenho, o profissional da
voz (aqui, o professor) deve procurar exercitar e trabalhar sua voz, passando
inicialmente por exercícios de respiração.

NTE
INTERESSA

Vamos exercitar? Um lembrete: procure inspirar pelo nariz e expirar pela


boca. É importante lembrar que ao inspirar pelo nariz, o ar é filtrado e umedecido,
retirando assim, as impurezas presentes. Em alguns momentos, em especial, no canto,
será necessário fazer a inspiração oro-nasal, pelo nariz e pela boca, considerando o
tempo das frases musicais.

Você pode realizar os exercícios em frente ao espelho. Assim, você pode observar os seus
músculos trabalhando durante a respiração. Ao realizar os exercícios você pode sentir uma
tontura, se isso acontecer com você, pare um pouco e, quando se sentir melhor, volte a
realizar os exercícios. Com a prática você não vai mais sentir essas tonturas.

1. Inicialmente procure uma posição confortável, sentado, de pé ou mesmo deitado. Sinta


sua respiração. Procure observar como o ar entra e sai de seu corpo. Quais músculos são
ativados. Neste exercício, é importante que você inspire pelo nariz e expire pela boca. O
exercício ajudará na consciência respiratória. Sinta o ar. Inspire como se estivesse sentindo
um aroma, um cheiro agradável.
2. Ande em uma velocidade tranquila pelo espaço, inspire em um passo e expire emitindo
o som de “ssss” em dois passos. Conforme fizer os exercícios, vá aumentando os passos
sempre expirando no dobro de passos, do que inspirou. Exemplo: Inspirar em 2 passos,
expirar em 4 passos; inspirar em 3 passos e expirar em 6 passos. Cada vez que realizar o
exercício tente aumentar o número de passos.
3. Expire todo o ar. Inspire (neste momento repare se você está abrindo as costelas e
expandindo o abdômen; imagine que seus pulmões são dois balões e será necessário
enchê-los), e expire emitindo o som de “sssssssss”, controlando o fluxo de saída do ar.
Comece emitindo o som em torno de 10 segundos, depois vá ampliando, gradualmente, o
tempo de emissão do som.
4. Realize o mesmo exercício explicado anteriormente (exercício 3), mas agora emita o som
de “fffffff” ao soltar o ar.
5. Realize o exercício 3, emitindo o som de “chchchchch” ao soltar o ar. Procure soltar o ar e
controlar a musculatura, deixando as costelas abertas; soltando o ar aos poucos.
6. Expire todo o ar. Inspire (repare nos seus movimentos), e expire emitindo o som de “s”,
com sons curtos (em staccato, isto é, pequenos golpes realizados pela musculatura do
diafragma).
7. Expire todo o ar. Inspire, e expire emitindo o som de “s”, com sons curtos e depois emita
o som de “ssss” com um som contínuo.
8. Expire todo o ar. Inspire e expire emitindo o som de vibração de língua e lábio.

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UNIDADE 1 | A VOZ – QUESTÕES FISIOLÓGICAS

9. Para ampliar sua capacidade respiratória, inspire em 4 segundos, segure o ar por 4


segundos e solte em 4 segundo. Aos poucos vá ampliando o tempo.

Obs.: durante a realização dos exercícios de respiração, procure ingerir água, para hidratar
o corpo e as mucosas do trato vocal.

NOTA

Para o educador musical e para o cantor… O grande problema da angústia


respiratória dos cantores não está na falta de ar, mas em sua utilização errada (COELHO,
1994, p. 34).

3 APARELHO FONADOR
O aparelho fonador é composto pela laringe, onde se encontram as pregas
vocais, pelos pulmões, traqueia, órgãos articuladores e ressonadores. O aparelho
fonador é o lugar “onde o ar se transforma em som” (MARSOLA; BAÊ, 2000). A
voz é produzida por um som básico, gerado na laringe. A laringe está localizada
na região anterior do pescoço e é formada por músculos e cartilagens. A laringe
é responsável pela entrada e saída de ar do pulmão, pela proteção da via aérea
enquanto engolimos (deglutimos) os alimentos, e pela produção do som. É um
órgão que conecta a faringe com a traqueia, e está situada na linha mediana
do pescoço, diante da quarta, quinta e sexta vértebra cervical (WEISS, 1988). A
traqueia, por sua vez, é um tubo que dá continuação à laringe, passa pelo tórax e
bifurca-se nos dois brônquios principais.

A laringe pode se movimentar, elevando-se, abaixando-se, deslocando-


se para frente e para trás. É um órgão muito versátil e pode realizar diversos
“ajustes” que auxiliam na produção de diversos tons e intensidades vocais
(PACHECO; BAÊ, 2006). A laringe possui cinco cartilagens principais que são:
epiglote, tireoide, crinoide e o par de carotenoides. As cartilagens dão estrutura
à laringe e apoio aos músculos intrínsecos e extrínsecos. A ação dos músculos
extrínsecos e intrínsecos determinam os movimentos de abaixamento e elevação
da laringe, assim como de abertura e fechamento das pregas vocais (PACHECO;
BAÊ, 2006).

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TÓPICO 1 | FUNÇÃO VOCAL

FIGURA 4 – ESTRUTURA DA LARINGE

FONTE: <https://static.todamateria.com.br/upload/57/21/5721f5a273865-laringe.jpg>. Acesso


em: 7 set. 2019.

O ar é transformado em som ao passar pelas pregas vocais. Esse som, ainda


não é o som da voz que ouvimos, ele é chamado de buzz laríngeo e o seu som se
parece com o de um vibrador elétrico (BEHLAU; PONTES, 2001). Para o som se
transformar naquilo que ouvimos, ele ainda precisa passar pelos outros órgãos
responsáveis pela emissão da voz. Nós temos um par de pregas vocais, que estão
localizados na laringe em forma de “V” e se encontram na posição horizontal.
As pregas vocais abrem e fecham enquanto nós respiramos e durante a fonação.
Os homens possuem pregas vocais maiores que as mulheres. A prega vocal
maior e mais espessa, produz uma voz mais grave. A prega vocal menor e menos
espessa, produz uma voz mais aguda. Por isso, a voz de cada pessoa é única, pois
dependem das características anatômicas de cada um. Por exemplo, uma criança
possui a voz mais aguda, em relação ao adulto, uma vez que suas pregas vocais
são mais curtas. Quando a voz é emitida, as pregas vocais se aproximam, esse
trabalho é feito pelos músculos intrínsecos, que são comandados pelo cérebro
(PACHECO; BAÊ, 2006).

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UNIDADE 1 | A VOZ – QUESTÕES FISIOLÓGICAS

FIGURA 5 – PREGAS VOCAIS

FONTE: <https://static.mundoeducacao.bol.uol.com.br/mundoeducacao/conteudo/traqueia3.
jpg>. Acesso em: 7 set. 2019.

Observe a Figura 5. No momento da inspiração as pregas vocais estão


abertas. E no momento da fonação estão mais próximas. Se no momento da
expiração não formos produzir nenhum som, as pregas vocais estarão afastadas,
permitindo somente a saída do ar.

NTE
INTERESSA

Você já se perguntou se uma pessoa muda possui pregas vocais? Essa é uma
dúvida muito comum. Segundo Pacheco e Baê (2006):

a laringe tem função biológica e não biológica. Sua função


biológica é possibilitar a entrada e a saída de ar do pulmão e
também proteger a via aérea durante a deglutição, expulsando
elementos estranhos através da tosse. Sua função não biológica
é a fonação. Assim, o som é produzido, enquanto as funções
biológicas não acontecem (PACHECO; BAÊ, 2006, p. 33).

As pregas vocais que estão localizadas na laringe, então, apresentam funções biológicas e
não biológicas, sendo parte do corpo humano.

Os músculos intrínsecos, responsáveis pela movimentação das pregas


vocais, são divididos em:

• adutores: unem as pregas vocais durante a fonação e deglutição;


• abdutores: separam as pregas vocais durante a inspiração;
• tensores: alongam as pregas vocais (PACHECO; BAÊ, 2006).

Nos músculos adutores, que são responsáveis por unir as pregas vocais,
encontramos o músculo Tireoaritenóideo (TA). O TA se divide em duas partes: a
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TÓPICO 1 | FUNÇÃO VOCAL

externa e a interna. A parte interna desse músculo é chamada de corpo das pregas
vocais, esse músculo é o responsável pelo fechamento das pregas vocais durante
a fonação (PACHECO; BAÊ, 2006).

FIGURA 6 – MÚSCULO TA

FONTE: <https://3.bp.blogspot.com/--96tnnRNPkU/VlYz9vDbpVI/AAAAAAAAL7U/MpfN9jNxwd4/
s400/laringe-intrinsecos-adutores.jpg>. Acesso em: 9 set. 2019.

O músculo Cricoaritenóideo Lateral (CAL) auxilia no fechamento da


parte medial e posterior das pregas vocais, com o músculo Interaritenóideo (IA)
(PACHECO; BAÊ, 2006).

FIGURA 7 – MÚSCULO CAL

FONTE: <https://static.wixstatic.com/
media/6d7400_43200834411240c28827260753c5fbbd~mv2.jpeg/v1/fill/w_333,h_297,al_c,lg_1,
q_90/6d7400_43200834411240c28827260753c5fbbd~mv2.webp>. Acesso em: 28 fev. 2019.
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UNIDADE 1 | A VOZ – QUESTÕES FISIOLÓGICAS

O IA, quando contraído aproxima a parte posterior das pregas vocais.


Para as pregas vocais se fecharem por completo, o TA, o IA e o CAL precisam
entrar em funcionamento (PACHECO; BAÊ, 2006).

FIGURA 8 – MÚSCULO IA

FONTE: <https://massoterapiataichi.files.wordpress.com/2014/09/muscoli_della_laringe.jpg>.
Acesso em: 16 set. 2019.

O músculo Cricotireóideo (CT), é um músculo tensor, que ao se contrair


aproxima as cartilagens tireoide e crinoide, esse movimento tensiona e alonga
as pregas vocais, permitindo a emissão de tons mais agudos (PACHECO, BAÊ,
2006).

FIGURA 9 – MÚSCULO CT

FONTE: Adaptado de <https://image.slidesharecdn.com/aula-02-171218010449/95/


aula-02laringe-21-638.jpg?cb=1513559452>. Acesso em: 28 fev. 2019.

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TÓPICO 1 | FUNÇÃO VOCAL

DICAS

Para ver as pregas vocais, é necessário fazer um exame chamado


estroboscopia. Você pode assistir o exame sendo realizado em cantores, para ver como as
pregas vocais se movimentam. Esse vídeo está disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=odmeSd1UCrs. Outro vídeo que mostra o funcionamento das pregas vocais está
disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=DwTjSTHl5QE.

A produção do som ocorre pela modificação da corrente de ar que vem


dos pulmões, passa pelas pregas vocais e pelos órgãos articuladores. Os órgãos
responsáveis pela articulação são: mandíbula inferior, língua, palato mole (a parte
final do céu da boca), lábios, alvéolos, dentes e palato duro (a parte inicial do céu
da boca). Desse modo, quando os órgãos articuladores recebem o som da laringe
(pregas vocais), levam-no para o aparelho ressonador (MARSOLA; BAÊ, 2000).

Desses órgãos, os que realizam movimentos durante a articulação são:


língua, mandíbula, lábios e palato mole. Já os órgãos articuladores passivos
são: dentes, palato duro e alvéolos. As vogais e consoantes são produzidas pelo
movimento desses órgãos (PACHECO; BAÊ, 2006). Você já percebeu como seus
órgãos articuladores se movimentam conforme a emissão das vogais e consoantes?
Você pode ir em frente ao espelho e emitir as vogais, e algumas consoantes como
B, V, D, Z, L, N, M, S, para perceber como os órgãos trabalham na emissão de cada
uma delas.

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UNIDADE 1 | A VOZ – QUESTÕES FISIOLÓGICAS

FIGURA 10 – APARELHO FONADOR

FONTE: <https://www.gta.ufrj.br/grad/09_1/impvocal/propdosinal.htm>. Acesso em:


8 set. 2019.

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TÓPICO 1 | FUNÇÃO VOCAL

4 APARELHO RESSONADOR
O aparelho ressonador é o local onde se tira a qualidade do som, ele
influencia na constituição do timbre, na sonoridade e na amplitude da voz. O
timbre é uma das características do som. É o que distingue uma mesma frequência
quando produzida por diferentes instrumentos ou vozes, ou seja, é a identidade
dos sons. Sem o aparelho ressonador não seria possível ouvirmos a voz. O ar que
faz as pregas vocais vibrarem, produz um som fundamental, que é amplificado
e modulado pelo aparelho ressonador. O aparelho ressonador é formado pela:

• Caixa de ressonância inferior: faringe, traqueia, brônquios e pulmões.


• Caixa de ressonância superior: cavidades bucais e cavidades da face
(MARSOLA; BAÊ, 2000).

FIGURA 11 – RESSONÂNCIA SUPERIOR

FONTE: Pacheco e Baê (2000, p. 18)

Quando o som passa pelo nosso trato vocal (formado pela laringe, faringe,
palato mole, palato duro, língua, mandíbula, dentes, lábios e cavidade nasal) ele
é ampliado ou abafado. O trato vocal interfere na produção vocal, assim cada
alteração influenciará na nossa voz. Isso também faz com que cada pessoa tenha
uma voz única, pois cada um de nós possui caixas de ressonâncias diferentes
(PACHECO; BAÊ, 2006).

Quando estamos resfriados ou gripados, com sinusite ou rinite, nossa voz


fica com um aspecto anasalado, isto ocorre porque nossa caixa de ressonância
está com secreção, o que impede a livre circulação do ar entre os espaços ósseos.

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UNIDADE 1 | A VOZ – QUESTÕES FISIOLÓGICAS

DICAS

Um exercício para trabalhar a ressonância dos seios faciais é o bocca chiusa.


Este exercício consiste na produção de um som: hummmm; a boca deve estar fechada e
com uma posição de bocejo e a língua relaxada e apoiada nos dentes inferiores.

NOTA

Acústica da Voz

A acústica é um ramo da física que estuda o som e suas propriedades. O som é definido,
acusticamente, como uma onda que vibra e se propaga num meio elástico, por exemplo,
o ar. O ar é feito de partículas ou moléculas, que se movem em resposta à energia que o
movimenta. Se fizermos vibrar a corda de um violão o vai e vem que se repete recebe o
nome de vibração. Essas vibrações põem as moléculas de ar em movimento, deslocando-
as e fazendo-as voltar ao lugar anterior. Esse vai e vem é representado na forma de ondas
sonoras, que se propagam em todas as direções. As ondas sonoras, ao atingirem nossos
ouvidos, colocam em movimento a membrana do tímpano. Esta movimentação do
tímpano é transmitida ao cérebro por impulsos nervosos, possibilitando que os diferentes
sons sejam identificados por nós. Portanto, o som é a sensação produzida no ouvido pela
vibração de corpos elásticos.

FIGURA – FREQUÊNCIA DO SOM

FONTE: <https://anasoares1.files.wordpress.com/2011/01/som_freq1.png?w=300&h=230>.
Acesso em: 28 fev. 2020.

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TÓPICO 1 | FUNÇÃO VOCAL

As propriedades do som são:

Altura – determinada pela frequência mais grave ou aguda.


Duração – tempo de produção do som.
Intensidade – determinada pela amplitude das vibrações, dando ao som a propriedade de
ser mais forte ou mais fraco.
Timbre – qualidade do som que permite reconhecer sua origem. Dependendo do som que
ouvimos, podemos identificá-lo como sendo de um piano, de um violino ou de uma voz.

Outros aspectos importantes que fazem parte do som que escutamos são:
Frequência – corresponde ao número de vibrações por segundo do corpo elástico que está
vibrando, sendo medida em hertz.
Harmônicos – o som tem uma frequência principal denominada frequência fundamental.
Essa frequência vem acompanhada de outras frequências ou sons secundários denominados
harmônicos.

FONTE: PACHECO, C.; BAÊ, T. Canto: equilíbrio entre corpo e som: princípios da
fisiologia vocal. São Paulo: Irmãos Vitale S/A Indústria e Comércio, 2006.

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RESUMO
Você aprendeu que:

• A voz é um instrumento de trabalho para vários profissionais: professores,


cantores, locutores, dentre outros.

• A voz humana é o nosso primeiro instrumento musical, e é importante


conhecermos como ela é produzida, para que possamos produzir um som com
mais qualidade, além de não prejudicarmos a nossa saúde.

• O aparelho respiratório é responsável pela respiração. O ar é o combustível da


voz, sem ar não há som.

• O aparelho respiratório é formado pelas vias aéreas e pulmões.

• A respiração ideal, quando utilizamos a voz, é a costodiafragmático abdominal.

• No aparelho fonador o ar é transformado em som, chamado de buzz laríngeo,


mas esse som ainda não é o som que ouvimos.

• Quanto maior e mais espessa as pregas vocais, mais grave será a voz produzida.
Quanto menor e menos espessa as pregas vocais, mais aguda será a voz
produzida.

• O sistema ressonador e os órgãos articuladores são os responsáveis,


respectivamente, por amplificar e moldar o som.

• O sistema ressonador é formado pela caixa de ressonância superior e a caixa de


ressonância inferior.

• Os órgãos articuladores são: mandíbula inferior, língua, palato mole, lábios,


alvéolos, dentes e palato duro.

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AUTOATIVIDADE

1 A emissão da voz é um sistema complexo, no qual vários órgãos trabalham


em conjunto. Sobre a emissão da voz, classifique V para as alternativas
verdadeiras e F para as alternativas falsas:

( ) O ar é transformado em som ao passar pelas pregas vocais.


( ) As pregas vocais são imóveis, ou seja, elas não podem se movimentar.
( ) Quando o ar passa pelas pregas vocais, ele é transformado no som que
ouvimos.
( ) A alteração no trato vocal não interfere na produção da voz.

Assinale a sequência CORRETA:

a) ( ) V – V – V – F.
b) ( ) V – F – F – F.
c) ( ) F ­– F – V – V.
d) ( ) F – V – F – V.

2 Os órgãos que compõem o aparelho respiratório possuem funções biológicas,


vitais e funções fonatórias, que auxiliam na produção sonora. Sobre este
assunto, assinale a alternativa INCORRETA:

a) ( ) As cavidades nasais têm como função biológica filtrar, aquecer e umidificar


o ar que entra em nosso corpo. Já sua função fonatória, consiste em auxiliar
na vibração e amplitude do som.
b) ( ) Os pulmões são responsáveis pelas trocas gasosas, sendo o órgão principal
da respiração. Assim, na função fonatória são considerados o reservatório
de ar para a produção sonora.
c) ( ) A traqueia funciona como uma via de defesa do sistema respiratório,
possibilitando somente a entrada de ar nos pulmões. Também é o órgão
que dá suporte para a vibração das pregas vocais.
d) ( ) A laringe tem como função biológica fazer com que as pregas vocais vibrem.
Também é responsável pela produção de pressão no ar que é expirado.

3 Cada pessoa possui uma voz única, assim como a impressão digital é única,
não existem duas pessoas com o mesmo timbre de voz. Disserte sobre o que
faz cada pessoa ter uma voz única.

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UNIDADE 1
TÓPICO 2

CARACTERÍSTICAS VOCAIS

1 INTRODUÇÃO
A voz é considerada um instrumento de comunicação, e por meio dela é
possível transmitir informações e emoções. Vários profissionais utilizam a voz
como instrumento de trabalho, como: atores, dubladores, locutores, repórteres,
telefonistas, vendedores, professores, entre outros.

A voz é uma expressão sonora absolutamente individual, podendo


ser comparada a uma impressão digital. Cada voz é única e possui
peculiaridades, de modo que as características vocais de uma pessoa
se devem, em parte, as suas características anatômicas, como tamanho
do trato vocal, dimensão das pregas, formação da estrutura da face etc.
No entanto, a identidade vocal não se limita apenas às configurações
anatômicas, já que a história pessoal, os relacionamentos interpessoais,
a idade, as condições ambientais, a saúde física, a situação e o
contexto de comunicação são fatores determinantes na constituição da
identidade vocal de cada um (COSTA; ZANINI, 2016, p. 120).

Assim, cada pessoa possui uma voz única, apresentando características


que a definem e possibilitam o seu reconhecimento. O professor de música, por
sua vez, além de utilizar a voz como os demais professores, pode empregá-la como
um instrumento musical de possibilidades diversas em contextos de educação
musical, sendo um recurso acessível ao fazer musical porque quase todos a levam
consigo.

Apesar de serem produzidas por um único aparelho fonador, voz cantada


e voz falada apresentam características diversas. A seguir, serão apresentadas as
especificidades da voz falada e da voz cantada.

2 VOZ FALADA

Já nascemos com a nossa voz, e ela se manifesta por meio do choro, riso e
grito, ou seja, ela é um dos meios de interação mais poderosos que temos, assim
como um meio de comunicação entre as pessoas (BEHLAU; PONTES, 2001).

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UNIDADE 1 | A VOZ – QUESTÕES FISIOLÓGICAS

Conforme as autoras:

Comunicamo-nos de múltiplas formas: pelo olhar, pelos gestos, pela


expressão corporal, pela expressão facial e pela fala. A voz, porém,
é responsável por uma porcentagem muito grande das informações
contidas em uma mensagem que estamos veiculando e revela muita
coisa sobre nós mesmos. A voz fala mais do que as palavras [...]
(BEHLAU; PONTES, 2001, p. 1).

Na fala, a voz é espontânea e serve como instrumento de expressão e da


comunicação. O foco principal do falante é o conteúdo de sua fala. Não se separa
voz, da fala e da linguagem. Como mencionamos anteriormente, cada voz é única,
mas nossa voz pode mudar de acordo com a situação que estamos passando,
com a pessoa que estamos conversando, com o nosso estado físico e emocional.
“Assim, nossa voz em casa é diferente da voz no trabalho; a voz com que nos
dirigimos às crianças é diferente de quando conversamos com nosso cônjuge; e,
quando estamos tristes ou felizes, nossa voz também demonstra esse sentimento”
(BEHLAU; PONTES, 2001, p. 11). O fato de podermos mudar nossa voz demonstra
o quanto todo o sistema que produz a voz é flexível, ao mesmo tempo em que
temos um padrão básico vocal que nos identifica (BEHLAU; PONTES, 2001).

Um exemplo de como nossa voz representa nossa personalidade e quem


somos, é o fato que muitas pessoas não gostam de ouvir a gravação de sua própria
voz, porque geralmente acham sua voz diferente e chata. Algumas pessoas não
conseguem reconhecer a sua própria voz em uma gravação, mas conseguem
reconhecer a voz de outras pessoas. Isso acontece porque nós escutamos a nós
mesmos, de um modo diferente de como as outras pessoas nos escutam. A nossa
própria voz chega até os nossos ouvidos por dois caminhos: pela via externa e pela
via interna. A via externa é quando a voz sai dos nossos lábios e as ondas sonoras
se propagam pelo ar, atingem nossos ouvidos, passando por alguns órgãos até
chegar ao nosso cérebro. E a via interna, é quando as ondas sonoras põem o nosso
corpo em vibração, levando o som diretamente para nossos ouvidos. Como nós
ouvimos dessas duas formas, nossa voz se torna mais grave para nós. Já as outras
pessoas nos ouvem apenas pela via externa, percebendo assim a nossa voz mais
aguda (BEHLAU; PONTES, 2001). Você já parou para pensar como as outras
pessoas escutam a sua voz? Você já ouviu a sua voz em uma gravação? Para saber
como é a sua voz, ouça uma gravação dela.

Apesar da nossa voz ser determinada pelas nossas características


anatômicas, a nossa história, os nossos relacionamentos interpessoais e a
forma como nos comunicamos com as outras pessoas também formam a nossa
identidade vocal. Nesse sentido, nossa voz carrega uma série de informações que
correspondem a três dimensões: a biológica, a psicológica e a socioeducacional.

• Dimensão biológica – revela nossos dados físicos básicos, como gênero, idade
e condições de saúde.
• Dimensão psicológica – está relacionada às características básicas da
personalidade e do estado emocional durante a emissão da voz.

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TÓPICO 2 | CARACTERÍSTICAS VOCAIS

• Dimensão socioeducacional – revela sobre os grupos que pertencemos, tanto


sociais quanto profissionais (BEHLAU, PONTES, 2001).

Quando falamos devemos ter alguns cuidados, para que possamos nos
expressar melhor. Um desses cuidados é a velocidade em que falamos, se falamos
muito rápido, as pessoas podem ter dificuldade em nos entender, mas também
passamos a sensação de sermos uma pessoa ansiosa e que queremos falar rápido
para terminar logo o assunto. Temos que cuidar com a velocidade que estamos
falando, não podemos falar nem muito rápido, nem muito devagar.

Cabe destacar que a respiração na voz falada se apresenta de forma natural


e o ciclo completo depende do comprimento das frases e da emoção. A respiração
será lenta e nasal nas pausas e mais rápida e bucal durante a fala, pouca expansão
torácica e expiração passiva. O ciclo respiratório é o que mais se altera frente a
emoção. Por isso, a voz carrega consigo várias expressões.

Outro aspecto que devemos cuidar ao falar é a intensidade da nossa voz.


A intensidade do som é o volume, ou seja, a força com qual o som é produzido
(POUGY; VILELA, 2016). Quando falamos muito alto, pode parecer que estamos
invadindo o espaço da outra pessoa, que não estou respeitando o meu interlocutor.
Se falamos muito baixo, podemos parecer uma pessoa calma, mas podemos
demonstrar também certa insegurança, o que pode fazer com que a pessoa que
está nos ouvindo tenha dificuldade em entender o que estamos falando, assim
como causar uma certa monotonia com a nossa fala. Devemos falar em um
volume médio, e evitar o uso excessivo da voz em locais com muito barulho. No
Quadro 3, você pode conferir como nossa voz pode interferir na interpretação de
quem nos ouve.

QUADRO 3 – EXEMPLOS DE PARÂMETROS VOCAIS E SUAS ASSOCIAÇÕES PSICODINÂMICAS

Voz do falante Interpretação do ouvinte


Voz rouca. Cansaço, estresse, esgotamento.
Voz soprosa. Fraqueza, mas também sensualidade.
Voz comprimida. Caráter rígido, emissões contidas, esforço e necessidade
de controle da situação.
Voz monótona. Indivíduo monótono, repetitivo, chato e desinteressante.
Voz trêmula. Sensibilidade, fragilidade, indecisão ou medo.
Voz infantilizada. Ingenuidade ou falta de maturidade emocional.
Voz nasal (fanhosa). Limitação intelectual e física, falta de energia e inabilidade
social.
Voz grave. Indivíduo enérgico e autoritário.
Voz aguda. Indivíduo submisso, dependente, infantil ou frágil.
Conversa em tons agudos. Clima alegre.
Conversa em tons graves. Clima triste e melancólico.

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UNIDADE 1 | A VOZ – QUESTÕES FISIOLÓGICAS

Pouca variação de tons na fala. Rigidez de caráter e controle das emoções.


Variação rica de tons na fala Alegria, satisfação e riqueza de sentimentos.
Intensidade elevada (falar alto). Franqueza, energia ou falta de educação.
Intensidade reduzida (falar baixo). Pouca experiência nas relações pessoais, timidez ou medo.
Articulação definida dos sons da Clareza de ideias, desejo de ser compreendido.
fala.
Articulação imprecisa dos sons da Dificuldade na organização mental ou desinteresse em
fala. comunicar-se.
Articulação exagerada dos sons da Sinal de narcisismo.
fala.
Velocidade lenta da fala. Falta de organização de ideias, lentidão de pensamento
e atos.
Velocidade elevada da fala. Ansiedade, falta de tempo ou tensão.
Respiração calma e harmônica. Organismo equilibrado e mente calma.
Respiração profunda e ritmada. Pessoas ativas e enérgicas.
Ciclos respiratórios irregulares. Agitação e excitação.

FONTE: Behlau e Pontes (2001, p. 19-21)

Ao falarmos temos que cuidar também com a nossa articulação. Devemos


articular bem as palavras para que as pessoas possam nos entender melhor.
Quando falamos, devemos abrir a nossa boca, para que aumente a amplificação
do som. Devemos também articular bem cada palavra. Você deve cuidar também,
para não exagerar nessa articulação. Os articuladores têm a função de ajudar na
formação dos fonemas e dirigir o som para o aparelho ressonador. Como vimos
anteriormente, são articuladores: mandíbula inferior, língua, palato mole, lábios,
dentes, palato duro (céu da boca) e as pregas vocais. Os articuladores serão
tratados mais especificamente.

A postura é outro ponto que influencia na emissão da voz, por isso é


importante que você preste atenção na sua postura, você deve manter uma
postura ereta e não tensionar o seu corpo. Preste também atenção na sua cabeça,
para que ela não fique abaixada, nem muito elevada.

Quando utilizamos a voz como instrumento do nosso trabalho, é


importante realizarmos períodos de descanso, para não forçarmos a nossa voz.
Assim, devemos realizar pequenas pausas. Por exemplo, se ao falar estivermos
interagindo com outras pessoas, devemos dar espaços para que elas possam falar,
assim conseguimos descansar a nossa voz. A voz falada comumente prima pela
emissão da mensagem, com grande demanda da articulação para a transmissão
do conteúdo vocal.

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TÓPICO 2 | CARACTERÍSTICAS VOCAIS

3 VOZ CANTADA

A voz é o instrumento musical que une o texto à música (DINVILLE,


1993). Dessa forma, ao cantarmos transmitimos emoções e sensações. Ao nos
expressarmos durante o canto, refletimos também a nossa personalidade. Mais
adiante, abordaremos a expressividade durante o canto. É importante termos a
consciência de como nosso corpo trabalha para que a nossa voz seja produzida.
Ao cantarmos, precisamos ter consciência de como cada parte do corpo trabalha,
para podermos ampliar a nossa qualidade vocal. No ato de cantar, diferentemente
do ato de falar, a respiração é treinada e varia de acordo com as frases musicais.

Segundo Dinville (1993), na voz cantada, ao contrário da voz falada,


a ênfase está muito mais na sua forma, em como emitir esta voz. O conteúdo
do que se canta já é sabido, não é espontâneo, elaborado pelo cantor naquele
momento. É estudado, é uma realização mental prévia do som que se quer obter.
Há também diferenças de ritmo observadas na voz falada e na voz cantada. O
ritmo caracteriza-se pelo movimento do som ordenado no tempo. No canto, o
que determina o ritmo é a estrutura melódica, sendo que, às vezes, uma sílaba
pode demorar mais que um compasso. Já na fala, o ritmo dependerá diretamente
do sujeito falante ou, no caso do ator, das exigências interpretativas.

No Quadro 4 você pode conferir as diferenças entre a voz falada e cantada


no que diz respeito à fonação, ressonância e projeção de voz, qualidade vocal,
articulação dos sons, pausas, velocidade e ritmo e postura:

QUADRO 4 – DIFERENÇAS ENTRE VOZ FALADA E VOZ CANTADA

Voz falada Voz cantada

As pregas vocais fazem ciclos vibratórios


com o quociente de abertura (O
quociente de abertura é um parâmetro
que mede a relação entre o tempo de
As pregas vocais fazem ciclos
abertura da glote pelo tempo total de
vibratórios com o quociente
um ciclo. Está relacionado à intensidade
de fechamento maior que o de
vocal, quanto maior a intensidade
abertura, o que gera um som
vocal, menor será o valor de quociente
acusticamente mais rico e com
de abertura), levemente maior que
maior tempo de duração.
o de fechamento (o quociente de
fechamento é um parâmetro que mede
Fonação a relação entre o tempo de fechamento
da glote pelo tempo total de um ciclo).

Produz-se uma série regular de


Produz-se uma série rica, de
harmônicos, vinte deles, em média, com
mais de trinta harmônicos com
intensidade decrescente em direção aos
maior intensidade.
tons mais agudos.

A extensão de frequências em uso A extensão de frequências no


habitual é de 3 a 5 semitons, dependendo canto é ampla, ao redor de duas
da língua que se fala e da entonação oitavas e meia.
empregada.

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UNIDADE 1 | A VOZ – QUESTÕES FISIOLÓGICAS

A ressonância é geralmente
alta, dita “na máscara” (quando
A ressonância é geralmente média, em
são utilizados os ressonadores
condições naturais do trato vocal, sem
Ressonância faciais), o que indica que o foco
maior uso de uma ou outra cavidade,
e projeção de ressonantal concentra-se na
pois geralmente não há necessidade de
voz parte superior do trato vocal.
grande projeção vocal, a não ser para
Estes recursos são utilizados
gritar.
para se conseguir uma maior
projeção vocal.

Projeção vocal é uma


Quando a projeção vocal é necessária, necessidade constante no
para chamar alguém que está distante canto, que deve ser audível
Ressonância
ou para dar um grito, geralmente, utiliza- mesmo durante a emissão de
e projeção de
se uma inspiração profunda, aumenta- sons pianíssimos; para tanto, a
voz
se a abertura da boca e utilizam-se sons expiração é maior que a usada
mais agudos e mais extensos. na fala, e a boca tende a ficar
mais aberta.

A intensidade habitual situa-se ao redor A intensidade quase nunca


de 64 dB (decibéis) para conversação, é constante, com variações
mantendo-se relativamente constante controladas e rápidas do
durante o discurso; a faixa de variações pianíssimo ao fortíssimo,
fica ao redor de 10dB. podendo variar de 45dB a 110dB.

A qualidade vocal pode ser adaptada ou


com pequenos desvios que identificam
Qualidade A qualidade vocal depende da
o falante, mas que não chegam a ser
vocal (timbre natureza do canto, do estilo
considerados sinais de disfonia, por
da voz) musical e do repertório.
exemplo, voz levemente rouca, soprosa
ou nasal.

A qualidade vocal é extremamente


sensível, dependendo de quem seja o
interlocutor, qual a natureza do discurso A qualidade vocal é estável em
ou quais os aspectos emocionais função do treino dos cantores e
da situação. Variações ocasionais, sofre menos influência de fatores
como presença de tremor ou palavras externos à realidade musical.
sussurradas, são aceitas como parte do
conteúdo emocional do discurso.

Os distúrbios na produção da
Qualidade
Os distúrbios na produção da voz falada voz cantada denominam-se
vocal (timbre
são chamados de disfonias. disodias, podendo ou não ser
da voz)
acompanhados de disfonia.

A mensagem a ser transmitida


está além das palavras e,
A articulação deve ser precisa para que portanto, privilegiam-se os
Articulações as palavras sejam inteligíveis, uma vez aspectos musicais, o que pode
dos sons que o principal objetivo é a transmissão significar, em alguns casos, a não
da mensagem. valorização da articulação de
certos sons, que podem ser sub
articulados.

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TÓPICO 2 | CARACTERÍSTICAS VOCAIS

Na frase musical, as vogais são


geralmente mais longas que
As vogais e as consoantes têm duração
as consoantes e servem de
definida de acordo com a língua que se
apoio para a manutenção da
fala.
ressonância, qualidade musical e
afinação.

Os movimentos articulatórios básicos


Os movimentos articulatórios
são definidos pela língua utilizada,
básicos recebem influência dos
porém, o padrão de articulação
aspectos tonais da música e da
sofre grande influência dos aspectos
frase musical.
emocionais do falante e do discurso.

As pausas sofrem influência direta das As pausas são pré-programadas


características de personalidade do e definidas pelo compositor e/
Pausas falante, podendo ocorrer por hesitação ou regente do coro, para que se
de valor enfático ou, ainda, refletir cause apelo emocional durante a
interrupções naturais do discurso. interpretação.

A velocidade e o ritmo da emissão falada


são pessoais e dependem de múltiplos A velocidade e o ritmo da
Velocidade e fatores, tais como características emissão cantada dependem do
ritmo da língua falada e regionalismo, tipo de música, da harmonia,
personalidade, profissão, intenção melodia e do andamento que o
emocional do discurso e fatores de regente confere ao tema.
controle neurológico do falante.

Alterações na velocidade e no ritmo da


Alterações na velocidade
emissão geralmente ocorrem de forma
e no ritmo da emissão são
inconsciente, mas podem ser reguladas
controladas, ensaiadas e pré-
de acordo com o objetivo emocional da
programadas.
emissão.

É variável, com mudanças constantes. É menos variável, devendo-se


A utilização da linguagem corporal é sempre manter o tronco ereto,
Postura um complemento importante para para facilitar o apoio respiratório
transmitir a mensagem e tornar a e a estabilidade na produção da
comunicação mais atraente. voz.

As mudanças habituais na postura As mudanças na postura corporal


corporal não interferem de modo podem interferir na qualidade
significativo na produção da voz vocal e, consequentemente, no
coloquial. desempenho profissional.

FONTE: Adaptado de Behlau e Rehder (2009)

3.1 RESPIRAÇÃO E APOIO

A respiração ideal para o canto é a costodiafragmático abdominal, que


já vimos. Nesse tipo de respiração, na inspiração você deve abrir as costelas e
expandir o abdômen, para que assim, possa encher com o ar toda a estrutura dos
pulmões. Nesse momento da inspiração, é muito importante que você observe se
está levantando os ombros, pois se estiver, você realizará uma respiração mais
torácica. Durante a expiração, as costelas permanecem abertas, e o abdômen é

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Educação Vocal - Técnica e Práticas Vocais.indd 29 03/05/2023 15:13:21


UNIDADE 1 | A VOZ – QUESTÕES FISIOLÓGICAS

contraído. É muito importante que, ao expirar, você contraia o abdômen na região


abaixo do umbigo (quatro dedos abaixo do umbigo), porque se você contrair a
região mais alta do abdômen pode causar uma tensão nas costelas. É importante
frisar que ao contrair o abdômen, você não pode apertá-lo, para não tencioná-lo.

NTE
INTERESSA

Tente inspirar e expirar, utilizando a respiração costodiafragmática abdominal,


para verificar se você está respirando corretamente, treine em frente ao espelho, e coloque
as mãos sobre as costelas e sobre o abdômen para verificar se você está movimentando-os
corretamente.

Durante a fala e o canto é muito importante que você faça o apoio durante
a respiração. O apoio é a capacidade de controlar a saída do ar, para não o gastar
desnecessariamente. O apoio é muito importante, em especial, para o canto,
pois permite uma boa projeção da voz, melhora a qualidade vocal e ajuda na
sustentação das notas musicais. Vários órgãos trabalham para fazer a função de
apoio enquanto cantamos. São eles:

• A cinta abdominal: reto abdominal, oblíquo interno e externo e transverso do


abdômen.
• A musculatura superior: diafragma e intercostais, internos e externos.
• A musculatura torácica inferior: quadrado lombar, oblíquos e ilíaco (PACHECO;
BAÊ, 2006).

DICAS

Para a abertura das costelas, para que a base dos pulmões receba o ar, imagine
que seus pulmões são dois balões.

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Educação Vocal - Técnica e Práticas Vocais.indd 30 03/05/2023 15:13:21


TÓPICO 2 | CARACTERÍSTICAS VOCAIS

FIGURA 12 – MÚSCULOS UTILIZADOS DURANTE O APOIO

FONTE: <http://4.bp.blogspot.com/-vyRJBLtPlGQ/UI-y5o5O5aI/AAAAAAAAADM/aYhkuAk5HA8/
s640/popo.jpg>. Acesso em: 7 set. 2019.

Ao cantar a sua inspiração deve ser normal, sem exageros. Já na expiração


é importante saber controlar o sopro, economizando o ar, para utilizar somente o
que a música necessita, assim como para inspirar nos momentos corretos da frase
musical, para não interromper nenhuma frase. Por isso é importante praticarmos a
respiração, para aprender a utilizar apenas o necessário (MARSOLA; BAÊ, 2000).
O apoio durante a respiração, faz com que você solte o ar de maneira constante, e
de acordo com a necessidade das frases e dos sons que serão emitidos.

No apoio devemos realizar uma pressão suave e firme na musculatura


pubiana (é a musculatura que fica quatro dedos abaixo do umbigo), essa contração
gera uma pressão interna no abdômen que irá pressionar levemente o diafragma
para cima. Algumas pessoas pressionam a musculatura pélvica e abdominal
gradativamente para dentro, com a intenção de utilizar o apoio, mas além de
pressionar essa musculatura para dentro, é importante conseguir mantê-la parada,
ao executar alguns trechos musicais para se obter o apoio necessário (PACHECO;
BAÊ, 2006). A respiração de apoio é um dinâmico e imutável relacionamento
entre as forças que trazem o ar para dentro do seu corpo e aquelas que o fazem
sair. É a relação dinâmica entre os músculos da inalação/inspiração e da exalação.

Outro ponto importante para uma boa respiração é a postura. Uma boa
postura na hora de cantar, auxilia na respiração. Uma boa postura para cantar, é
manter o corpo relaxado, mas firme, é importante não tensionar o corpo, manter as
costas retas e a cabeça alinhada. Se estiver sentado, o ideal é sentar mais na ponta

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Educação Vocal - Técnica e Práticas Vocais.indd 31 03/05/2023 15:13:21


UNIDADE 1 | A VOZ – QUESTÕES FISIOLÓGICAS

da cadeira, e manter o corpo relaxado, as costas retas e a cabeça alinhada. Os pés


devem ficar apoiados no chão. Durante a respiração, a capacidade pulmonar pode
variar de acordo com cada pessoa. A posição na qual nos encontramos também
influencia na respiração, quando estamos em pé a capacidade pulmonar é mais
profunda, e quando estamos sentados ela perde um pouco de sua capacidade
(DINVILLE, 1993).

NTE
INTERESSA

Como sentir a respiração de apoio? Coloque-se em uma boa postura,


inspire e expire lentamente. Inspire novamente e solte fazendo um leve chiado; aumente
gradativamente o som do chiado. Procure observar o que você sente na região abdominal
quando produz o pequeno chiado, e quando o som vai aumentando. Essa é a sensação da
respiração de apoio.

A respiração no ato de cantar apresenta quatro estágios: (1) inspiração


(inalação); (2) instalação (sustentação); (3) expiração controlada (realização do
som vocal enquanto exala) e (4) descanso ou recuperação.

QUADRO 5 – ESTÁGIOS DA RESPIRAÇÃO DURANTE O CANTO

Estágios da respiração Descrição do estágio


(1) Inalação / inspiração Deve ser mais rápida que a inspiração natural. Mais ar é tomado
e a respiração para os pulmões é mais profunda. Ao inalar, você
deve sentir o ar mover-se dentro do seu corpo, descendo para
os pulmões e se espalhando pela parte central do seu tronco.
A inalação deve ser fácil, sem barulho e não de forma forçada.
Uma boa inalação tem o mínimo de ruído.
(2) Instalação / Sustentação Não é realizada na respiração natural, pois não se faz necessária,
mas no canto é muito importante que a respiração seja
sustentada. O propósito desse momento de sustentação é
ajustar ou graduar o ar exalado que vai ser usado no som vocal.
Quando é realizada corretamente, a sustentação possibilitará
começar o som sem esforço significativo. A sustentação deve
ser elaborada e praticada pelo cantor, através dos exercícios de
respiração, até que se torne espontânea.
(3) Expiração controlada No canto é o momento no qual o som vocal é produzido. A
respiração precisa ser conservada (mantida), e depois solta de
uma forma bem lenta, de acordo com a música executada.
Assim como a sustentação, a expiração controlada deve ser
exercitada pelo cantor.

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TÓPICO 2 | CARACTERÍSTICAS VOCAIS

(4) Descanso/Recuperação É o breve momento ao final de cada respiração quando todos


os músculos se associam a um relaxamento. O período de
recuperação na respiração natural é bem mais longo que no
momento do canto, pois a música pede um retorno imediato
à ação.

FONTE: Adaptado de McKinney (1983)

Os quatro estágios da respiração para o canto, de acordo com McKinney


(1983), devem ser praticados de forma pensada e lenta, até que todo o processo
esteja bem seguro e espontâneo.

Quando cantamos, diferente do que abordamos na voz falada, há uma


diferença na duração dos sons das notas que emitimos, e cantamos notas mais
agudas. Alcançamos notas mais agudas por meio de exercícios específicos e
trabalhando o apoio durante a respiração. Repare que todos os órgãos que
abordamos anteriormente, trabalham em conjunto para uma boa qualidade vocal.
O Quadro 6 sintetiza algumas diferenças no ato da respiração na voz falada e na
voz cantada. Observe:

QUADRO 6 – DIFERENÇAS ENTRE VOZ FALADA E VOZ CANTADA NO QUE SE REFERE A


RESPIRAÇÃO

Voz falada Voz cantada


● A respiração é natural. ● A respiração é treinada.
● A respiração completa (entrada e saída ● A respiração completa (entrada e saída de ar)
de ar) varia de acordo com a emoção e será pré-programada de acordo com as frases
com comprimento da fala. musicais.
● A saída do ar é um processo passivo. ● O controle da saída do ar (expiração) será ativo,
● O objetivo da voz falada é a transmissão mantendo a caixa torácica ativa.
da mensagem, portanto a articulação deve ● A mensagem a ser transmitida no canto está
ser precisa, mantendo a identidade dos além das palavras, privilegiando também os
sons. aspectos musicais: ritmo, altura.

FONTE: Adaptado de Fagundes (2004)

3.2 CLASSIFICAÇÃO VOCAL

A voz humana possui uma classificação. A classificação se refere à voz


cantada, considerando as bases anatômicas, morfológicas e acústicas de cada
pessoa. O sistema classificatório mais adotado é o SATB (Soprano, Alto/Contralto,
Tenor e Baixo), sendo: soprano (mulher) e tenor (homem), vozes agudas e
contralto (mulher) e baixo (homem), vozes graves. Ainda é possível considerar
vozes intermediárias, ou médias: mezzo-soprano (mulher) e barítono (homem).
Confira a classificação das vozes no Quadro 7:

33

Educação Vocal - Técnica e Práticas Vocais.indd 33 03/05/2023 15:13:21


UNIDADE 1 | A VOZ – QUESTÕES FISIOLÓGICAS

QUADRO 7 – CLASSIFICAÇÃO VOCAL

Vozes Características

Vozes femininas Soprano Aguda

Mezzo-soprano Intermediária

Contralto Grave

Vozes masculinas Tenor Aguda

Barítono Intermediária

Baixo Grave

FONTE: As autoras

O ideal é que um professor de canto, com amplo conhecimento para


observar todas as características de um cantor, possa realizar essa classificação.
A voz é classificada por alguns fatores como: extensão vocal, tessitura, timbre, a
estrutura corporal e as características anatômicas. A extensão vocal é o limite de
sons emitidos por uma pessoa, do mais grave ao mais agudo, mesmo os além dos
limites naturais da tessitura. A tessitura é o conjunto de notas que você canta com
facilidade, ou seja, as notas que consegue cantar de forma tranquila e cômoda, da
mais grave até a mais aguda. Em geral, a tessitura abrange 10 notas. O timbre, por
sua vez, é a personalidade de cada voz.

A voz possui características individuais e, portanto, deve ser


classificada de acordo com os padrões que a determinam. Entre as
variáveis, encontram-se o fator biológico inerente ao sexo, masculino e
feminino, e o fator da idade como cruciais no momento da classificação
vocal. A literatura aponta outros critérios que devem ser considerados,
como as características anatômicas da laringe, a estrutura corporal, os
aspectos funcionais (ZIMMER; CIELO; FERREIRA, 2012, p. 1).

A seguir, você pode observar a extensão vocal de cada voz, conforme


Dinville (1993), lembrando que a extensão vocal é o limite de sons emitidos por
uma pessoa, mesmo que essas notas ultrapassem a sua tessitura vocal.

FIGURA 13 – CLASSIFICAÇÃO VOCAL

Soprano

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Educação Vocal - Técnica e Práticas Vocais.indd 34 03/05/2023 15:13:22


TÓPICO 2 | CARACTERÍSTICAS VOCAIS

Mezzo-soprano

Contralto

Tenor

Barítono

Baixo

FONTE: Adaptado de Dinville (1993)

DICAS

Para compreender auditivamente as características de cada extensão vocal,


ouça atentamente os vídeos, disponíveis nos links a seguir.
Voz soprano: https://www.youtube.com/watch?v=9T16YttOcRU.
Voz contralto: https://www.youtube.com/watch?v=YPO1iaetL2I.
Voz tenor: https://www.youtube.com/watch?v=qVfG8q9HsF8.
Voz baixo: https://www.youtube.com/watch?v=hHQlMtN6R1A.

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Educação Vocal - Técnica e Práticas Vocais.indd 35 03/05/2023 15:13:22


UNIDADE 1 | A VOZ – QUESTÕES FISIOLÓGICAS

NTE
INTERESSA

Uma extensão vocal pouco encontrada são os contratenores. Os contratenores


são homens adultos com voz falada de tenor ou barítono/baixo, que geralmente usam uma
técnica vocal de falsete para cantar partes de contralto (alto) ou soprano (CRUZ; GAMA;
HANAYAMA, 2004). Para uma melhor contextualização, assista ao vídeo “Vivaldi: il Giustino,
"Vedro con mio diletto" par Jakub Józef Orliński”, disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=yF4YXv6ZIuE.

3.3 AFINAÇÃO

Como tratado, o professor de música utiliza em suas aulas a voz falada,


como os demais professores, e a voz cantada como um recurso pedagógico
no processo de educação musical. Assim, o professor/educador musical deve
preocupar-se com sua afinação. Você sabe o que é afinação? Diz-se que uma
pessoa é afinada quando atinge as alturas sonoras propostas de maneira correta.
Segundo Marsola e Baê (2000, p. 47) afinar “é atingir a mesma frequência que
foi tocada ou ouvida na melodia original a ser cantada”. O som é uma vibração
que possui uma determinada frequência (quantidade de vibrações por segundo).
Cada nota musical possui uma frequência. Assim, nós cantamos afinados,
quando cantamos com a mesma frequência em que a nota foi tocada na melodia
original que devemos cantar (MARSOLA; BAÊ, 2000). Segundo Dinville (1993),
a afinação é regulada por movimentos extremamente delicados, pelo domínio de
um conjunto de sensações às quais é preciso ficar muito atento.

Tafuri (2000) considera que a afinação é uma questão cultural que adquire
sentido e importância diferente aos contextos culturais e, por isso, não podemos
absolutilizá-la. Contudo, para nossa cultura é um elemento determinante,
sobretudo, pelos aspectos sociais como cantar em uma festa de aniversário –
cantar em grupo, e imprescindível na atividade musical em sala de aula.

Para termos uma boa afinação, é muito importante termos uma boa
audição. Alguns fatores interferem na afinação: Marsola e Baê (2000) apontam
que a falta de percepção auditiva é um deles e que todos devem aprender a ouvir.
Quem canta, ao ouvir um som, deve conseguir compará-lo e diferenciá-lo dos
demais, por exemplo: sons graves, médios e agudos; sons fortes ou fracos, sons
mais longos ou mais curtos, até distinguir intervalos das notas musicais. Por isso,
a audição está atrelada à afinação: porque quando o nosso ouvido capta o som,
outros estímulos transmitem a informação para os centros cerebrais, que guarda
o som na nossa memória. Quando emitimos o som, novos estímulos partem do
nosso cérebro para os centros nervosos dos músculos respiratórios, laríngeos,

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Educação Vocal - Técnica e Práticas Vocais.indd 36 03/05/2023 15:13:22


TÓPICO 2 | CARACTERÍSTICAS VOCAIS

bucais, entre outros necessários para emitir o som. Assim, ouvimos, guardamos o
som na memória, para depois emiti-lo. A falta da percepção sonora, pode afetar a
afinação (MARSOLA; BAÊ, 2000).

A falta de atenção, a respiração incorreta, a falta de apoio na respiração, o


nervosismo, podem interferir na afinação. Algumas pessoas são conhecidas como
tone deaf, essas pessoas podem cantar a música em outro tom sem perceber. O tone
deaf, não é a pessoa desafinada, pois a pessoa desafinada percebe quando erra a
nota, já o tone deaf não consegue reconhecer a frequência, assim não consegue
perceber seu erro, mesmo que uma outra pessoa fale que ele está errado. Existe
também a pessoa que tem o ouvido absoluto, que é a pessoa capaz de reconhecer
a frequência das notas tocadas imediatamente, tanto as notas isoladas quanto na
harmonia (MARSOLA; BAÊ, 2000).

Para melhorarmos a nossa afinação, é fundamental realizarmos exercícios


de técnica vocal e de percepção auditiva constantemente, e não apenas na
hora que iremos cantar, mais adiante abordaremos alguns desses exercícios.
Os exercícios de respiração são muito importantes para mantermos uma boa
afinação. O nervosismo também pode influenciar na nossa afinação, quando
estamos inseguros e nervosos podemos desafinar. A tonalidade que escolhemos
para cantar a música também influencia na afinação, podemos estar desafinando
porque estamos cantando em uma tonalidade que não é adequada para a nossa
voz. Por isso, é importante conhecer sua tessitura vocal, isto é, conhecer o conjunto
de sons que você consegue emitir com mais facilidade. Se esse for o caso, devemos
transportar a tonalidade da música, para uma tonalidade mais adequada à nossa
extensão vocal.

DICAS

Uma dica para você conseguir melhorar a sua afinação, é que você grave
enquanto estiver cantando, e depois ouça para identificar se em algum ponto da música
você está desafinando. Você pode treinar essa parte específica, e depois gravar novamente
para ouvir se a sua afinação melhorou.

DICAS

O link a seguir apresenta o áudio de uma canção indígena do povo Paiter


Surui que vive no estado de Rondônia. Procure observar a forma de cantar e a afinação,
que difere da afinação ocidental, observadas em nosso repertório. Disponível no link http://
www.cantosdafloresta.com.br/audios/meko-perewabe/.

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Educação Vocal - Técnica e Práticas Vocais.indd 37 03/05/2023 15:13:22


UNIDADE 1 | A VOZ – QUESTÕES FISIOLÓGICAS

Trataremos sobre os vocalizes, exercícios que dentre outras funções como


o aquecimento e a preparação vocal, trabalham a afinação dos cantores.

3.4 VIBRATO

Conforme Pacheco e Baê (2006, p. 69), “o vibrato é descrito como pequenas


variações de frequência e intensidade que ocorrem de forma rápida e irregular
durante o canto”. O vibrato é um ornamento utilizado tanto no canto popular,
quanto no canto erudito. As autoras classificam o vibrato em dois tipos, o vibrato
de amplitude e o vibrato de frequência.

O vibrato de amplitude é controlado pela movimentação da musculatura


abdominal. Nele os músculos abdominais são contraídos, produzindo pulsações
rítmicas na pressão aérea, que atuam sobre a musculatura intrínseca da laringe
(PACHECO; BAÊ, 2006). Nesse tipo de vibrato é mantida a mesma nota musical,
mas há uma mudança na intensidade da nota.

O vibrato de frequência, é realizado por contrações do músculo


cricotireóideo (CT), situado na laringe. Deve-se ter cuidado para não tensionar
a musculatura, uma vez que isso pode interromper a emissão do vibrato
(PACHECO; BAÊ, 2006). Esse tipo de vibrato geralmente oscila a frequência da
nota em um semitom descendente.

Você deve utilizar o vibrato no canto, de acordo com seu gosto musical,
mas você deve ter o cuidado de observar se não está exagerando no uso de
vibratos, e se o vibrato condiz com o estilo da música. O vibrato, também deve
ser estudado e treinado, para ser emitido com mais naturalidade e controle.

DICAS

Uma das formas de treinar o vibrato de sequência, é cantar uma nota


musical emitindo a vogal “a” e alternar essa nota em um semitom descendente. Utilize um
instrumento musical para auxiliar você, enquanto canta. Por exemplo, cante a nota Dó,
emitindo a vogal “a” e alterne cantando a nota Si, retornando para a nota Dó sucessivamente.
Comece treinando mais devagar. Depois treine aumentando o andamento do exercício.
Depois você pode trocar a vogal emitida no exercício. Você também pode alterar a nota
cantada.
Para observar a produção do vibrato na voz humana, assista ao vídeo Como fazer vibrato,
disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ZIWLcUrQjcY.

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Educação Vocal - Técnica e Práticas Vocais.indd 38 03/05/2023 15:13:23


RESUMO
Você aprendeu que:

• Muitos profissionais utilizam a voz como instrumento de trabalho. Assim,


devemos cuidar da nossa voz, não apenas para cantar, mas também para falar.

• A diferença da voz falada é que emitimos sons mais curtos, e falamos em um


registro confortável para a nossa voz.

• Quando falamos devemos ter o cuidado para não falarmos muito rápido,
não falarmos com uma intensidade muito forte e devemos articular bem as
palavras, para que as pessoas possam nos entender.

• Ao utilizarmos a nossa voz como instrumento de trabalho, devemos realizar


pequenas pausas, para descansar a voz.

• Quando cantamos transmitimos emoções e sensações.

• Também é possível observar a classificação vocal, direcionada para a voz


cantada. A classificação vocal está ligada diretamente com a tessitura e o timbre
de cada pessoa.

• As vozes femininas são classificadas em: soprano (voz aguda), mezzo-soprano


(voz intermediária) e contralto (voz grave).

• As vozes masculinas são classificadas em: tenor (voz aguda), barítono (voz
intermediária) e baixo (voz grave).

• Afinação é quando cantamos com a mesma frequência em que a nota foi tocada
na melodia original que devemos cantar.

• A afinação está relacionada à percepção auditiva e é um conceito cultural.

• O vibrato é um ornamento no qual ocorrem pequenas variações de frequência


ou intensidade durante o canto.

• Os vibratos são classificados em vibrato de amplitude e de frequência.

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AUTOATIVIDADE

1 A afinação é quando cantamos com a mesma frequência em que a nota foi


tocada na melodia original que devemos cantar. Alguns fatores podem
influenciar na nossa afinação. Sobre os fatores que influenciam na afinação,
classifique V para as opções verdadeiras e F para as falsas:

( ) Percepção sonora.
( ) Tonalidade da música.
( ) Nervosismo.
( ) Respiração.

Assinale a sequência CORRETA:

a) ( ) V – V – F – F.
b) ( ) F – F – V – F.
c) ( ) F – F – V – V.
d) ( ) V – V – V – V.

2 O vibrato são pequenas variações de frequência e intensidade que ocorrem


de forma rápida e irregular durante o canto. Com relação ao vibrato,
classifique V para as opções verdadeiras e F para as falsas:

( ) O vibrato é um ornamento utilizado apenas no canto popular.


( ) No vibrato de amplitude é mantida a mesma nota musical, mas há uma
mudança na intensidade da nota.
( ) No vibrato de frequência a frequência da nota oscila em um semitom
ascendente.
( ) Não devemos nos preocupar com o uso excessivo do vibrato durante a
música.

Assinale a sequência CORRETA:

a) ( ) F – V – F – F.
b) ( ) V – F – F – V.
c) ( ) F – V – V – V.
d) ( ) V – F – V – F.

3 Durante o canto, não basta, apenas, utilizarmos o tipo de respiração correta,


é preciso também controlarmos a saída do ar enquanto emitimos as notas,
não gastando o ar de maneira desnecessária. Isso permite uma boa projeção
da voz, melhora a qualidade vocal e ajuda na sustentação das notas musicais.
Esse controle do ar é chamado de:

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a) ( ) Apoio.
b) ( ) Inspiração.
c) ( ) Diafragma.
d) ( ) Máscara.

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UNIDADE 1
TÓPICO 3

HIGIENE E SAÚDE VOCAL

1 INTRODUÇÃO
O uso da voz em alta demanda, seja falada ou cantada, requer cuidados.
Para assegurar uma saúde vocal, a higiene é o cuidado que temos que ter. Quem
trabalha muito com a voz deve ter um cuidado com a higiene vocal, para que
as irregularidades não provoquem rouquidão, irritação ou alterações vocais.
Behlau e Rehder (1997) definem o termo higiene vocal como sendo algumas
normas básicas que auxiliam a preservar a saúde e a prevenir o aparecimento de
alterações e doenças. Assim, a higiene vocal consiste em um conjunto de normas
básicas e cuidados que ajudam a preservar a saúde vocal e prevenir qualquer tipo
de alteração ou patologia vocal. Essas normas e cuidados devem ser seguidas
por todos nós, principalmente, por pessoas que usam a voz como instrumento de
trabalho e que podem ter qualquer tipo de alteração vocal.

Cantores, professores, médicos, atores, vendedores e apresentadores


públicos são exemplos de pessoas que tem grande demanda do uso de suas vozes.
Na sociedade atual, um de cada três profissionais utilizam a voz como ferramenta
básica de trabalho, ou seja, são profissionais que utilizam a comunicação como
base no seu processo de trabalho. Devemos ficar atentos a alguns sinais de alerta,
porque eles indicam que algo não vai bem com a nossa saúde vocal:

• rouquidão;
• extensão vocal reduzida;
• falta de projeção;
• fadiga vocal;
• tremor vocal.

Quando apresentamos algum desses sintomas por mais de uma semana,


devemos procurar um acompanhamento médico. Devemos cuidar com as receitas
caseiras, uma vez que nem sempre elas funcionam e acabamos forçando ainda
mais a nossa voz. As soluções caseiras como chá de alho, gengibre moído, mel com
limão, gema de ovo com conhaque, refrigerante de azeite, entre tantas outras, não
apresentam uma ação direta sobre a laringe, uma vez que os alimentos e líquidos
não passam pelo sistema respiratório e sim pelo sistema digestivo.

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Não existe nenhum estudo científico que comprove a eficácia dessas soluções
caseiras sobre a voz. Se você costuma experimentar essas receitas, você deve fazer
com cautela pois algumas delas podem irritar a boca e a faringe, dificultando
a emissão vocal. Assim, nunca experimente uma dessas receitas antes do uso
importante da voz, e analise os efeitos produzidos por essas substâncias em sua
voz. O automedicamento também é muito perigoso (BEHLAU; PONTES, 2001).
Agora, conversaremos sobre algumas dicas para manter uma boa saúde vocal:

Bons hábitos

1) Aquecimento: antes de começar a utilizar a voz é muito importante aquecê-


la. Da mesma forma que um atleta não faz uma prova ou exercício sem
aquecimento, assim devemos trabalhar nossa voz. Mais adiante abordaremos
alguns exercícios vocais que você pode realizar.

2) Beba água regularmente e em pequenos goles, principalmente quando estiver


fazendo uso profissional da voz. A água hidrata o organismo e favorece uma
emissão vocal sem tensão. O consumo de água deve ser feito constantemente, e
não apenas quando sentirmos sede, ou após falarmos e cantarmos. A sensação
de sede, já é uma indicação de desidratação, então não espere sentir sede para
beber água. É importante não esquecermos de tomar água no inverno.

FIGURA 14 – ÁGUA HIDRATA

FONTE: <https://png.pngitem.com/pimgs/s/68-687814_water-bottle-clipart-png-type-of-water-
is.png>. Acesso em: 3 fev. 2020.

3) Alimentação: devemos manter uma alimentação equilibrada e consumir


proteínas para dar força e vigor ao tônus muscular. Alimentos pesados
e condimentados dificultam a digestão e a movimentação do diafragma.
Mastigar bem as verduras e as frutas faz com que a musculatura da mandíbula
fique relaxada, o que melhora a dicção.

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FIGURA 15 – ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL

FONTE: <https://encrypted-tbn0.gstatic.com/
images?q=tbn:ANd9GcQkgRPQ0KX3W2Ps2O14Y6Z6j4mHiHLktfA8MAoZBtwflY70aXLdLA&s>.
Acesso em: 3 fev. 2020.

4) Alguns alimentos fazem bem para a voz, como a maçã que auxilia na limpeza
da boca e da faringe, pois possui propriedade adstringente, o que deixa a
saliva mais fina. O suco de laranja e de limão também auxiliam na absorção do
excesso de secreção. Como a maçã é uma fruta com consistência dura, quando
mordemos ela e mastigamos, ajuda no trabalho com os músculos da face, que
são os responsáveis pela articulação.

FIGURA 16 – BENEFÍCIOS DA MAÇÃ

FONTE: <https://cdn.iset.io/assets/35418/produtos/5263493/maca-extrato-glicolico.jpg>.
Acesso em: 3 fev. 2020.

5) Descanso vocal e corporal: dormir bem faz com que você descanse a sua voz.

O que evitar

45

Educação Vocal - Técnica e Práticas Vocais.indd 45 03/05/2023 15:13:23


1) Fumo: a faringe e as pregas vocais são revestidas por um tecido chamado
mucosa. A mucosa possui cílios móveis que expelem a secreção do trato
vocal. Quando a fumaça do cigarro atinge as pregas vocais, é acionado um
mecanismo de defesa que aumenta a produção de secreção, e outro para a
movimentação dos cílios, que causa o depósito de muco, provocando assim o
pigarro. Devemos ficar atentos que não somente as pessoas que fumam sofrem
as consequências do cigarro, mas, as que estão expostas à fumaça do cigarro
em algum ambiente.

FIGURA 17 – NÃO FUMAR

FONTE: <https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTDW6C9vTcNwa0HM6NAj
G2Z2bV08V3T57s8KmIbmYUBWj12L4-J&s>.

2) Drogas: o consumo de drogas, além de prejudicar a saúde no geral, também


prejudica a saúde vocal.

3) Álcool: quando ingerimos álcool antes de cantar, nos sentimos mais soltos e
a laringe é levemente anestesiada, assim cometemos abusos vocais que serão
percebidos apenas após o efeito da bebida. Como consequência desses abusos
podemos sentir ardor, queimação e voz rouca e fraca. Assim, não devemos
tomar bebidas alcoólicas antes de cantar ou de falar muito. Além disso, o álcool
causa a desidratação e irritação do aparelho fonador.

FIGURA 18 – ÁLCOOL

FONTE:<https://svgsilh.com/svg_v2/306047.svg>. Acesso em: 3 jan. 2020.

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4) Uma dica importante, em especial para os cantores: antes de cantar devemos
evitar alguns alimentos como o chocolate, leite e derivados, pois eles aumentam
a formação de secreção, prejudicando a ressonância e produzindo o pigarro.

5) Alimentos e bebidas gelados: quando consumimos algo muito gelado há uma


mudança brusca de temperatura que causa uma descarga de muco. Antes de
engolir esses alimentos, devemos mantê-los na boca por algum tempo.

6) Evite se automedicar: evite o uso de pastilhas, balas de hortelã. Quando você


está com algum problema na voz, ao utilizar um desses recursos, você apenas
engana a dor, e acaba forçando ainda mais a sua voz. Se você estiver rouco ou
com dor de garganta há mais de uma semana, procure um médico.

7) Não gritar: deve-se ter o cuidado para não gritar, ou falar muito alto, forçando
assim a voz. Você precisa ter o cuidado para manter a intensidade vocal em
um nível moderado em todas as situações, mesmo que você esteja em um local
com muito barulho.

FIGURA 19 – NÃO GRITAR

FONTE:<https://pixy.org/src/9/thumbs350/97329.jpg>. Acesso em: 3 fev. 2020.

8) Não cochichar ou sussurrar: ao cochichar ou sussurrar você também faz um


esforço vocal maior do que para falar normalmente.

9) Ar condicionado ou aquecedor: o ar condicionado e o aquecedor de ar, retira


a umidade do ar, o que resseca as pregas vocais. Se estiver em um ambiente
com ar condicionado mantenha-se hidratado, tomando água constantemente
em temperatura ambiente.

FIGURA 20 – AR CONDICIONADO

FONTE: <https://bit.ly/36QwSS7>.Acesso em: 3 fev. 2020.

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10) Café: a cafeína quando consumida em excesso pode ressecar a mucosa
e estimular o refluxo. A cafeína pode ser encontrada também em alguns
refrigerantes. É importante evitar o consumo de cafeína antes de cantar ou
falar muito.

FIGURA 21 – CAFÉ

FONTE: <https://bit.ly/2RR1lvh>. Acesso em: 3 fev. 2020.

11) Tossir ou pigarrear: pigarrear é o famoso “haham”, que fazemos com a


intenção de limpar a garganta. Quando pigarreamos ou tossimos, as pregas
vocais vibram com muita força, causando muito atrito entre elas, o que pode
causar lesões nas pregas vocais. Por isso devemos ter o cuidado ao tossir, e
evitar pigarrear, porque isso só aumenta a produção de mucosa.

12) Roupa: não utilize roupas apertadas na região da garganta ou da cintura, para
que você possa utilizar com maior liberdade os músculos.

13) Evite falar ao fazer exercícios físicos, ou enquanto estiver carregando peso,
pois isso pode sobrecarregar o aparelho fonador.

Esses pequenos hábitos diários poderão contribuir para a preservação de


sua saúde vocal. Segundo Behlau e Rehder (1997) a área da voz humana é rica em
mitos, devido a sua natureza artística e por ser um produto considerado abstrato.
É importante você lembrar que esses pequenos hábitos servem para prevenção de
algumas patologias vocais como os nódulos e pólipos, os quais estão associados
ao uso excessivo e de forma incorreta da voz. Características vocais comuns a
essas patologias são rouquidão, cansaço vocal e voz soprosa.

Os nódulos são “calos” nas pregas vocais, “são lesões pequenas,


caracterizadas pelo espessamento da mucosa, normalmente bilaterais” (CIELO,
et al. 2011, p. 3). A ocorrência de nódulos vocais é maior em mulheres e crianças
do que em homens, em função das questões anatômicas das pregas vocais. “As
propriedades mecânicas da cobertura das pregas vocais determinam as suas
características vibratórias e a voz resultante. Tais propriedades ficam alteradas
na presença de quaisquer lesões de massa” (BEHLAU; AZEVEDO; PONTES,
2008, p. 300). Quando uma pessoa está com nódulos iniciantes, geralmente
eles vibram com o resto da mucosa, e a voz pode ser emitida levemente rouca

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ou soprosa. Quando a pessoa possui os nódulos mais antigos e rígidos, pode
ocorrer um abafamento do processo de oscilação da prega vocal, causando uma
maior rouquidão, podendo haver presença de aspereza. Assim, geralmente, a
rouquidão e a soprosidade são os principais sinais, que conseguimos identificar
por meio da audição, da presença de nódulos vocais. Segundo Behlau, Azevedo
e Pontes (2008), a pessoa com nódulos vocais pode também sentir fadiga vocal,
perda da potência da voz com o uso, dor na laringe ou no pescoço, e dificuldade
em produzir notas agudas.

Há tratamento para os nódulos vocais, sendo que a primeira opção é a


reabilitação vocal, na qual são realizados exercícios e modificação dos hábitos
inadequados. De acordo com Behlau, Azevedo e Pontes (2008), geralmente a
cirurgia para a retirada dos nódulos vocais só é realizada quando os nódulos
são antigos, fibróticos, ou quando o paciente não tem o tempo suficiente para se
dedicar à reabilitação.

Os pólipos geralmente são unilaterais. A faixa etária de maior incidência


é de 21 a 60 anos, sendo raramente encontrado em crianças. A frequência de
ocorrência é maior no sexo masculino (CIELO, et al. 2011).

A Figura 22 ilustra as pregas vocais, comumente chamadas de cordas


vocais, de forma saudável e com alterações de nódulos e pólipos.

FIGURA 22 – PATOLOGIAS DAS PREGAS VOCAIS

FONTE: <https://www.msdmanuals.com/-/media/manual/professional/images/ent_
laryngeal_disorders_pt.gif?la=pt&thn=0>. Acesso em: 14 set. 2019.

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NOTA

O médico otorrinolaringologista é quem pode diagnosticar possíveis problemas


vocais. A partir de seu diagnóstico, se necessário, é importante contar com a ação conjunta
deste profissional com o fonoaudiólogo, para realizar a correção das possíveis patologias
através de exercícios. Em alguns casos, é necessário a realização de um procedimento
cirúrgico. Um dos casos mais conhecidos e divulgados na época pela mídia foi o do cantor
sertanejo Zezé di Camargo. Em 2007 o artista não conseguiu mais fugir e teve que retirar
um cisto na borda da corda vocal através de uma microcirurgia. O entrave já tinha sido
descoberto há cerca de dez anos. Depois do procedimento, em 2008, ele voltou aos palcos
normalmente.

A seguir apresentamos uma lista de comportamentos de abuso e mau


uso vocal, para que você identifique como está a sua saúde vocal. Assinale os
itens que representam os hábitos que você costuma ter e marque a pontuação
conforme a tabela. Depois some os pontos que você obteve e busque seu tipo
vocal na classificação que aparece ao final da lista.

Não ocorre 0
Raramente ocorre 1
Ocorre às vezes 2
Ocorre muitas vezes 3
Ocorre sempre 4

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QUADRO 8 – LISTA DE SITUAÇÕES DE ABUSO E MAU USO VOCAL E CONDIÇÕES ADVERSAS À
SAÚDE VOCAL

____ Fala em grande intensidade ____ Fala durante muito tempo


(voz forte) ____ Fala grave demais
____ Fala agudo demais ____ Fala com os dentes travados
____ Fala sussurrando ____ Fala sem respirar
____ Fala com esforço ____ Usa o ar até o final
____ Fala enquanto inspira o ar ____ Fala junto com os outros
____ Fala rápido demais ____ Fala sem descansar
____ Fala durante muito tempo sem ____ Fala muito ao telefone
se hidratar ____ Fala muito ao carro, metrô ou ônibus
____ Articula exageradamente as ____ Tosse demais
palavras ____ Chora demais
____ Fala muito ao ar livre ____ Trabalha em ambiente ruidoso
____ Pigarreia constantemente ____ Imita vozes dos outros
____ Ri demais ____ Pratica esportes que usam a voz
____ Grita demais ____ Tem alergias
____ Vive em ambiente familiar ____ Frequenta competições esportivas
ruidoso ____ Usa a voz normalmente quando
____ Vive com pessoas com resfriado
problema de audição ____ Permanece em ambiente com ar
____ Mantém rádio, som ou TV condicionado
ligados enquanto fala ____ Expõe-se a mudanças bruscas de
____ Usa a voz em posturas temperatura
corporais inadequadas ____ Toma café ou chá em excesso
____ Participa de grupos religiosos ____ Fuma
com grande uso de voz ____ Vive em ambiente de fumantes
____ Toma pouca água ____ Usa drogas
____ Vive em cidade com ar muito ____ Dorme pouco
poluído ____ Canta fora de sua extensão vocal
____ Permanece em ambiente ____ Usa roupas apertadas no pescoço,
empoeirado, com mofo ou tórax ou cintura
pouca ventilação ____ Apresenta má digestão
____ Toma bebidas geladas ____ Tem vida social intensa
constantemente
____ Faz automedicação quando
tem problemas de voz
____ Canta demais Some seus pontos: ________
____ Canta em várias vozes
____ Apresenta azia
____ Tem refluxo gastroesofágico
____ Tem estresse
FONTE: Behlau e Pontes (2001, p. 44-47)

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QUADRO 9 – CLASSIFICAÇÃO DO COMPORTAMENTO VOCAL

Tipo 1 – Até 15 pontos – O comportamento vocal

Você não tem propensão para desenvolver um problema de voz.


Parabéns, pois você respeita os limites do organismo! Siga assim e estará
contribuindo para a sua longevidade vocal. Contudo, se apesar dessa
classificação você estiver apresentando um problema de voz, tal como voz
rouca ou esforço para falar, consulte rapidamente um especialista, pois
provavelmente trata-se de um quadro orgânico, ou seja, independente do
comportamento vocal, e necessita de uma avaliação detalhada.

Tipo 2 – de 16 a 30 pontos – O candidato a problemas de voz

Você tem tendência para desenvolver um problema de voz e, talvez,


já apresente alguns sinais e sintomas de alteração vocal – a chamada disfonia.
Você está em uma situação em que um acontecimento estressante adicional
ou um simples aumento do uso da voz na atividade profissional podem
levá-lo a um sério risco vocal. Você precisa ser avaliado por um especialista.
Procure verificar em seu ambiente de trabalho, familiar e social quais as
modificações que podem ser introduzidas para reunir melhores condições de
comunicação. Conscientize-se da importância de sua voz e reduza a prática
dos comportamentos negativos.

Tipo 3 – de 31 a 50 pontos – O risco sério

Você tem arriscado demais e pode vir a perder um dos maiores bens
que possui – sua voz. Talvez você já apresente uma disfonia e já tenha recorrido
a um especialista. Siga corretamente a orientação e o tratamento indicados.
Procure refletir sobre o modo como você se comunica com as pessoas, em
diferentes situações, caracterizando os principais focos de tensão e estresse de
seu dia a dia, procurando reunir condições para reverter esse quadro. Pense
o quanto sua vida se tornará difícil se você tiver de viver com uma limitação
vocal definitiva. Reaja!

Tipo 4 – acima de 51 pontos – O campeão de abusos vocais

De duas uma: ou você sofre de um problema de voz crônico ou apresenta


uma resistência vocal excepcional, acima do normal! Se você tem um problema
de voz, sabe o quanto esta situação interfere negativamente em sua vida e
como este fato representa uma sobrecarga adicional em casa e no trabalho.
Conscientize-se da necessidade imediata de desenvolver comportamentos
vocais adequados e saudáveis. Melhore seu ambiente de comunicação! Se você
ainda não consultou um especialista, é melhor não adiar. Busque orientação.
Por outro lado, se apesar dessa quantidade de desvios no uso da voz ela ainda

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se apresenta saudável, você ainda se apresenta saudável, você pertence a esse
raro tipo de indivíduo com resistência vocal a toda prova. Contudo, cuide-se,
pois a voz não é eterna e os limites do organismo mudam constantemente com
a idade e com as condições gerais de saúde. Além disso, seu comportamento
vocal pode estar sendo invasivo para seus interlocutores, representando
também um modelo vocal inadequado, principalmente para as crianças. Que
tal mudar?

FONTE: Behlau e Pontes (2001, p. 44-47)

2 PROFESSOR: UM PROFISSIONAL DA VOZ

A voz é o instrumento de trabalho do professor, por isso é importante


que o professor tome certos cuidados. No cotidiano, por vezes o professor tem
certos hábitos e não percebe que está prejudicando sua saúde vocal, como postura
inadequada, tensão na musculatura da região cervical, passar muitas horas
falando, não respirar corretamente, gritar, entre outros (PINTO, FURCK, 1988).

Como o professor utiliza muito a voz, ele deverá ficar atento quando
aparecer algum desses sintomas, porque é sinal de que algo não vai bem:
rouquidão, cansaço ao falar, dor na garganta, garganta seca, dificuldade para
engolir, pigarro, instabilidade na voz, dificuldade para projetar a voz, sensação
de garganta “arranhando”. O professor atua como um modelo para seus alunos,
em especial o professor de música. Assim, os hábitos que o professor tiver em
suas aulas, poderão refletir diretamente na atividade vocal de seus alunos.

O professor deve estar atento também, se a voz melhora nas férias ou


nos finais de semana, e piora enquanto está dando aula, se precisa fazer força
para falar, se teve que mudar a forma de como lecionar por causa da voz, esses
também são sinais de alerta que algo não vai bem com a saúde vocal. O professor
deve ficar atento quando algum desses sintomas aparecem, e se eles persistirem,
o professor deve procurar ajuda médica. É muito importante o cuidado adequado
com a voz, e, principalmente, evitar o automedicamento, ou continuar forçando a
voz, apesar do aparecimento desses sintomas.

Alguns cuidados para manter sua voz saudável:

1) Tente modular a sua voz enquanto fala, evitando falar sempre na mesma
tonalidade. Procure trabalhar com entonações: forte, fraco... além de não forçar
a voz em uma única região, auxiliará na compreensão da mensagem a ser
transmitida.
2) Cuidar com a intensidade que você fala, se você fala com intensidade muito
forte, logo irá cansar sua voz, se você fala com intensidade muito fraca, os
alunos terão dificuldade para lhe ouvir.

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3) Mantenha-se hidratado, não deixe para tomar água após falar, tome água
durante o dia, em pequenas frações.
4) Faça repousos vocais, você não pode falar por horas sem parar, senão irá
desgastar muito a sua voz.
5) A escola geralmente é um ambiente muito ruidoso, devemos cuidar para não
competir sonoramente com esses sons. Pois iremos cada vez falar muito alto,
o que irá desgastar nossa voz. Devemos evitar falar em locais muito ruidosos,
nem sempre isso é possível na escola, mas ainda podemos realizar alguns
ajustes. Por exemplo, se você for fazer uma atividade em um local muito aberto,
com muito ruído, explique a atividade em um ambiente mais silencioso, para
depois se deslocar para esse ambiente ruidoso.
6) Não tente competir com barulhos excessivos, por exemplo, quando passa um
carro tocando uma sirene, ou quando tiver uma obra.
7) Durante a aula, dê espaços para que os alunos possam participar, deixe eles
realizarem algumas leituras, e deixe os seus alunos falarem mais durante a
aula. Assim, você terá mais espaço para descansar sua voz, assim como irá
permitir que seus alunos participem mais das aulas.
8) Ao falar se movimente pela sala, para que todos os alunos possam lhe ouvir.
9) Faça gestos naturais enquanto fala. Utilize os gestos para reforçar pontos
específicos da sua fala.
10) Evite falar enquanto você estiver escrevendo no quadro, pois você estará
falando de costas para os alunos o que atrapalha a projeção da sua voz. Assim
você vai ter que falar com uma intensidade maior, desgastando mais a sua voz.
11) É importante cuidar da sua respiração enquanto fala, e realizar um aquecimento
vocal.
12) Ao final do dia faça um repouso vocal (ficar em silêncio) mais prolongado.

Mesmo que você opte por lecionar em escolas especializadas de música,


nas quais geralmente se atende menos alunos por vez, é preciso manter os
cuidados com a voz. Em uma pesquisa sobre a saúde vocal dos professores de
música que comparava com a saúde vocal de professores de outras disciplinas,
constatou-se que a maioria deles realizam exercícios de aquecimento vocal antes
de lecionar, mas que a maioria apresentava algum problema com a voz. O que
mais chamou a atenção na pesquisa, é que desses professores de música nenhum
tinha conhecimento sobre o termo fisiologia, assim como o seu conteúdo (AMATO;
CARLINI, 2008). Por isso a importância de conhecer como a voz é produzida
e como cada órgão trabalha para que isso aconteça. Outro dado apontado na
pesquisa é que os professores de música são os que mais ficavam com a voz rouca
ao final do dia, e eram os que mais se automedicavam (AMATO; CARLINI, 2008).

SOUZA et al. (2011) realizaram uma pesquisa sobre fatores associados a


patologias de pregas vocais em professores. Segundo os autores, “distúrbios da
voz comprometem o desempenho e a efetividade de sua função e podem levar a
faltas ao trabalho, afastamentos e até abandono da atividade” (SOUZA et al., 2011,
p. 914). Eles ainda destacam que os distúrbios da voz podem decorrer de interação
entre fatores hereditários, comportamentais, estilo de vida e ocupacionais.

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No estudo observou-se que as patologias de pregas vocais foram mais
prevalentes nas professoras, uma vez que elas são em maior número na atividade
docente, e por possuírem ainda dupla jornada de trabalho: o docente e os afazeres
domésticos, o que contribui para o desenvolvimento de doenças relacionadas
ao estresse. Além disso, há a influência de fatores biológicos, como a ácido
hialurônico, que é uma proteína que atrai água para a lâmina própria das pregas
vocais e que diminui o trauma de superfície durante a emissão sonora. Esse ácido
é mais presente nos homens, o que pode explicar a menor frequência de nódulos
vocais neles (SOUZA et al., 2011).

Os autores ainda abordam que as patologias das pregas vocais foram mais
prevalentes em professores com mais de sete anos de docência. O uso intenso da
voz, somado ao falar alto e gritar podem ser as principais causas do aparecimento
dessas patologias. Outro fator que influenciou no surgimento das patologias, foi
o ambiente de trabalho, visto que nas escolas podemos encontrar ruído excessivo,
umidade, poeira, dentre outros fatores que podem influenciar na saúde vocal
(SOUZA et al., 2011).

Esse conhecimento, não é somente importante para você, professor.


O ideal é que você realize um trabalho de conscientização de como a voz é
produzida, e sobre a saúde vocal com os seus alunos. É comum observarmos que
os alunos fazem mau uso da voz, gritando sem necessidade, e tendo maus hábitos
de higiene vocal.

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UNIDADE 1 | A VOZ – QUESTÕES FISIOLÓGICAS

LEITURA COMPLEMENTAR

AFINAÇÃO E DESAFINAÇÃO VOCAL

Dion Calebe Diniz Silva

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho proporciona uma breve pesquisa bibliográfica sobre


a afinação e a desafinação vocal. Expõe definições e conceitos acerca do assunto
com o intuito de responder alguns questionamentos de como se dá a afinação
proporcionando uma visão ampla sobre o tema, constatando as possíveis causas
do problema apresentado. Está organizado em três focos, falando primeiramente
sobre a Afinação Vocal, conceitos no âmbito cultural, posteriormente Desafinação
Vocal e a sua influência do meio, e por fim os Requisitos para o canto.

2 AFINAÇÃO VOCAL

Pode-se conceituar afinação de diferentes formas. Algumas pessoas


acreditam que se trata de um dom natural adquirido de forma genética ou até
mesmo de ordem espiritual, dizendo que se trata de algo recebido de forma
sobrenatural. Outras, estas, muito poucas, creem que ela pode ser alcançada por
meio de exercícios específicos.

Segundo Houaiss, a afinação é definida como o estado de perfeito acordo


entre todas as notas de um instrumento, de uma orquestra, de um grupo vocal,
de um conjunto musical ou da voz humana. Ajuste de um instrumento ao tom de
outro ou de uma voz.

Para explicar esta definição, é necessário entender o que seria esse acordo
perfeito entre as notas. Entendendo a altura de uma nota ou som musical definido
por sua frequência. Pelo fato de os princípios da afinação mudarem conforme as
culturas e épocas, é admissível que se escute uma música que corresponda a um
princípio de afinação que não consista no aguardado, tenha-se a ideia de que os
sons ouvidos estão desafinados.

Conforme Abraham na cultura ocidental, é comumente utilizado o sistema


tonal, ou seja, quando uma determinada música se mostra com uma tonalidade
determinada, em que existe uma hierarquia em meio as notas, quando elas existem
ou circulam em torno de uma fundamental. Assim sendo, mesmo quando no
ocidente se escuta uma música fora deste padrão tonal, a impressão que se tem
é de que está soando desafinado. Já na civilização oriental, é de costume, ou são
habitualmente explorados, mais divisões nos sons musicais, onde aparecem entre
os semitons, subdivisões não usuais no sistema tonal.

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TÓPICO 1 | FUNÇÃO VOCAL

3 DESAFINAÇÃO VOCAL

A afinação, portanto, pode ser avaliada como um agente cultural e não


como algo estável, determinado, invariável ou inflexível. Consequentemente,
para avaliar alguém como desafinado, é necessário que se respeite a cultura e o
contexto em pauta. Inclusive existem culturas que não conhecem esta terminologia.
Debatendo a problemática do talento musical, Kingsbury (1986, p. 62) faz uma
citação do antropólogo John Messenger.

[...] nós procurávamos, em vão, por pessoas não musicais, achando


difícil fazer perguntas a respeito da desafinação e seus supostos efeitos
porque na língua Arang não há tal conceito [...] eles não admitem, como
nós tentamos tão arduamente convencê-los, que existem aqueles que
não tenham o requisito dessas habilidades. Essa mesma atitude se aplica
a outras áreas estéticas. Alguns dançarinos e cantores são considerados
mais hábeis do que os outros, mas todos podem dançar e cantar bem.

Gainza comenta que na própria cultura ocidental, a desafinação é sinônimo


de ausência de talento ou habilidade musical; sendo que isto não deve ser aceito
de modo tão ingênuo, uma vez que se tem o conhecimento de instrumentistas que
apesar de competentes em tocar ou até mesmo afinarem seus instrumentos, possuem
dificuldades de afinarem vocalmente. Além da questão cultural, a desafinação
vocal pode ser considerada atinente ao nível de conhecimento do indivíduo. Seria
o caso de um músico experiente ouvir um trecho musical soar desafinado a sua
orelha e isso passar desapercebido para um músico iniciante. Pelo fato de o músico
experiente possuir mais conhecimentos e maior vivência musicais, seu nível de
sensibilidade e reconhecimento melódico pode ser mais preciso comparado ao
iniciante.

4 DESAFINAÇÃO VOCAL E A INFLUÊNCIA DO MEIO

Assim como as pessoas aprendem a falar pelo simples fato de permanecerem


expostos espontaneamente a sua língua natal, pode-se comparar a questão da
desafinação vocal relacionada ao contexto do meio.

Costuma-se usar a expressão “filho de peixe, peixinho é”, quando se fala


em filhos de músicos ou cantores que seguem os passos dos pais ou pelo menos
tem uma certa facilidade para afinar, ou ao fazer musical. O que se pode chegar à
conclusão de que, no mínimo, essa pessoa foi influenciada pelo meio.

Pelo fator musical decorrente a sua volta, durante a gestação, infância ou


até mesmo idade adulta. Desta maneira, a carência de exposição à música, pode ser
uma das causas da desafinação. Pelo fato de ser difícil de estabelecer um parâmetro
de afinação apenas pelo ouvido humano, por ser impreciso sem o auxílio de um
equipamento tecnológico, a definição de desafinação segue o critério de que se o
indivíduo mesmo sendo exposto naturalmente desde cedo aos padrões estético-
musicais de seu contexto cultural, não consegue o indivíduo reproduzir vocalmente

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UNIDADE 1 | A VOZ – QUESTÕES FISIOLÓGICAS

uma linha melódica. Desta forma, o problema pode ser corrigido ou reduzido,
mesmo que as decorrências podem mudar nos diferentes indivíduos.

5 REQUISITOS PARA O CANTO

Segundo Goetze, Cooper e Brown, os requisitos para o canto resumem-se em


discriminar as alturas, compreendendo a capacidade de passar de uma nota para
a outra memorizando uma sucessão de notas. Produzir a altura da nota, cantando
sobre uma extensão ampla, monitorar as alturas e ter motivação para tentar cantar.

Outros fatores importantes que complementam os anteriores, são a


percepção musical, que seria a forma de conhecimento e experiência com música,
a memória musical, contendo a memorização de frases sendo proporcionado um
ambiente musical em casa e a produção vocal, que engloba alguns problemas
comumente enfrentados, como a tensão muscular e problemas respiratórios, a
inadequação à extensão vocal, a dificuldade de reprodução de intervalos e outros
fatores relevantes como o sexo, idade, problemas psicológicos, hereditariedade, se
o canto é individual ou coletivo e se é com o acompanhamento de instrumentos
musicais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste artigo foi responder ao questionamento inicial de como se dá


a afinação e a desafinação, tentando descobrir as possíveis causas e logo apresentar
prováveis soluções para a problemática. Foi realizada uma pesquisa bibliográfica
visando abrir o campo de visão a respeito do tema. Dessa forma, constatou-se que
a afinação é um conceito um tanto relativo, variável de acordo com a cultura e o
contexto em que o indivíduo foi criado ou se encontra. Dependendo desse contexto
cultural, o termo desafinação sequer existe, demonstrando o quão atinente é o
tema. Trouxe à tona também os possíveis motivos da desafinação, sendo eles pela
influência do meio, fisiológicos ou emocionais, cada qual sendo tratado de acordo
com sua conjuntura.

Por fim, apresentou-se requisitos básicos para o canto, levando o leitor ao


entendimento de que o problema da desafinação vocal pode ser resolvido, levando
em conta o histórico de cada indivíduo. Ao longo deste trabalho surgiram novas
possibilidades que não foram desenvolvidas, para não o tornar muito extenso. As
principais seriam de trazer um aprofundamento maior sobre a afinação, tratando
do sistema temperado, a série harmônica e outros padrões de afinação. Mesmo não
sendo unidas ao artigo, foi delineado de forma que seja dada uma sequência ao
mesmo.

[...]

FONTE: SILVA, D. C. D. Afinação e desafinação vocal. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DA


FACULDADES EST, 2., 2014, São Leopoldo. Anais [...] São Leopoldo: EST, 2014, p. 1611-1616.

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RESUMO
Você aprendeu que:

• A higiene vocal são os cuidados que temos que ter para assegurar uma saúde
vocal.

• Pequenos hábitos diários auxiliam na manutenção da saúde vocal.

• Se algum problema vocal, como rouquidão persistir por mais de 15 dias,


recomenda-se ir ao otorrinolaringologista, médico responsável pela parte
vocal.

• Caso seja detectado alguma patologia vocal, recomenda-se a ação conjunta do


otorrinolaringologista e do fonoaudiólogo, através de exercícios.

• São exemplos de patologias vocais: nódulos, pólipos, fendas e sulcos.

• Dentre os profissionais da voz, o professor deve ter atenção redobrada, pois


atua também como exemplo vocal para seus alunos.

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AUTOATIVIDADE

1 O uso da voz em alta demanda, cantada ou falada, requer cuidados para que
possamos garantir uma boa saúde vocal. Observe as informações a seguir:

I- Quando você estiver rouco é aconselhável usar pastilhas, balas de hortelã


e até mesmo remédios caseiros como chá de gengibre.
II- A cafeína quando consumida em excesso pode ressecar a mucosa e
estimular o refluxo.
III- Hábitos como gritar, cochichar e sussurrar devem ser evitados pois
representam um esforço vocal muito grande.
IV- Antes de cantar, para aquecer a voz, é importante beber uma dose de
uísque.

Assinale a alternativa que apresenta as sentenças CORRETAS:

a) ( ) I, II, III.
b) ( ) II, III, IV.
c) ( ) II, III.
d) ( ) III, IV.
e) ( ) I, III, IV.

2 O uso incorreto da voz de forma excessiva pode desencadear em alguma


patologia vocal. Com relação às patologias vocais é correto afirmar, EXCETO:

a) ( ) Os nódulos, comumente chamados de calos, são pequenas lesões


caracterizadas pelo espessamento da mucosa, normalmente bilaterais.
b) ( ) A ocorrência de nódulos vocais é maior em homens, em função das
questões anatômicas das pregas vocais.
c) ( ) Fadiga vocal, perda da potência da voz com o uso, dor na laringe ou no
pescoço, e dificuldade em produzir notas agudas são alguns sintomas
de nódulos vocais.
d) ( ) Os pólipos geralmente são unilaterais, e tem maior incidência entre
pessoas do sexo masculino de 21 a 60 anos.

3 Coloque V para as informações verdadeiras e F para as informações que


considerar falsas:

( ) A higiene vocal consiste em um conjunto de normas básicas e cuidados que


ajudam a preservar a saúde vocal e prevenir qualquer tipo de alteração ou
patologia vocal.
( ) Rouquidão, extensão vocal reduzida, falta de projeção, fadiga e tremor
vocal são alguns sinais de possíveis patologias vocais.
( ) Antes de começar a utilizar a voz é muito importante aquecer a voz. Uma
forma de aquecer a voz é fazer exercícios de respiração.
( ) É importante que o professor procure falar sempre na mesma tonalidade.

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A alternativa que apresenta a sequência CORRETA é:
a) ( ) V – V – V – F.
b) ( ) V – F – V – V.
c) ( ) V – F – F – F.
d) ( ) F – F – V – F.

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UNIDADE 2

A VOZ – QUESTÕES MUSICAIS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo, você deverá ser capaz de:

• conhecer as questões relacionadas à técnica vocal direcionada para a


prática do canto;

• conscientizar-se da importância do aparelho ressonador e dos


articuladores na produção, emissão e projeção vocal;

• refletir sobre o conceito de afinação;

• reconhecer as particularidades das vozes infantis, dos adolescentes e


vozes adultas;

• conhecer exercícios de aquecimento, desaquecimento e preparação vocal;

• conhecer vocalizes para o ensino e aprendizagem do canto.

CHAMADA

Preparado para ampliar teus conhecimentos? Respire e vamos em


frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverás
melhor as informações.

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UNIDADE 2
TÓPICO 1

TÉCNICA VOCAL

1 INTRODUÇÃO
Estudaremos as questões relacionadas à técnica vocal. O que é técnica
vocal? Abordamos as questões sobre a respiração e sua importância no momento
da fala e do canto. Trataremos das questões referentes à ressonância, articulação,
emissão e projeção vocal. Enquanto professor, você poderá trabalhar com as
atividades apresentadas, procurando uma melhora em sua produção vocal, tendo
em vista que a voz é seu instrumento de trabalho. No entanto, os exercícios são
direcionados para o ensino e aprendizagem do canto.

A técnica vocal abrange diversas possibilidades de ajustes vocais os


quais diferem de acordo com o estilo musical, pois cada estilo musical possui
características particulares. Ter o domínio da técnica vocal é importante para
todos que cantam independente do estilo escolhido (PACHECO; BAÊ, 2006, p.
12-13). A técnica vocal, segundo Pereira et al. (2001), também pode ser entendida
como um conjunto de modalidades de aplicação de um exercício vocal utilizado
para um fim específico, isto é, podem ser realizados exercícios direcionados para
a afinação, para a ressonância, para o trabalho de articulação, dentre outros.

Com uma técnica vocal eficaz e saudável, o cantor pode aprender a


variar a sonoridade da voz em todos os registros, o que permitirá ao cantor, o
desenvolvimento de possibilidades de dinâmicas no ato de cantar. Coelho (1994,
p. 10) ressalta que a técnica vocal “promove o autoconhecimento e a sensibilização
que permite o encontro consigo mesmo e a integração com o mundo circundante”.

“A trajetória do estudo do canto foi baseada nas percepções e sensações dos


cantores, o que provocou muita controvérsia sobre alguns temas” (PACHECO;
BAÊ, 2006, p. 11). “O funcionamento do instrumento vocal era um mistério, que
foi sendo desvendado a partir da descoberta de aparelhos que pudessem analisar
o que realmente acontecia no momento do canto” (PACHECO; BAÊ, 2006, p.
12). Com o advento da tecnologia, foi possível verificar o funcionamento do
instrumento vocal. A Figura 1 apresenta a videolaringoscopia.

FIGURA 1 – VIDEOLARINGOSCOPIA

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UNIDADE 2 | A VOZ – QUESTÕES MUSICAIS

FONTE: <http://srv218.teste.website/~otorrinoc/wp-content/uploads/2017/09/exame-
viodelaringoscopia.png>. Acesso em: 5 fev. 2020.

A videolaringoscopia, também chamada de estroboscopia, é um exame


realizado pelo médico otorrinolaringologista. Consiste em um exame de imagem
que tem por objetivo visualizar as estruturas da boca, a orofaringe e a laringe,
sendo indicado para investigar as causas de tosse crônica, rouquidão e dificuldade
para engolir. Estudaremos as estruturas do trato vocal mais adiante.

O trabalho de técnica vocal se inicia com os exercícios de respiração.


Agora você estudará as outras estruturas que participam da produção vocal, a
ressonância e as questões articulatórias.

2 RESSONÂNCIA
Você já deve ter se perguntado, o que acontece com o som depois que
sai das pregas vocais? Sabemos que o ar, vindo dos pulmões, ao fazer vibrar as
pregas vocais, produz um som semelhante ao som de vibração de língua, que
necessita encontrar uma caixa de ressonância para poder amplificar-se. O aparelho
ressonador é o local onde se tira a qualidade do som, e influencia também na
constituição do timbre, na sonoridade e amplitude da voz. Desta forma, o que
escutamos não é somente o som que sai de nossas pregas vocais, escutamos um
som que é modificado ao passar por nosso trato vocal, podendo ser amplificado

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TÓPICO 1 | TÉCNICA VOCAL

ou abafado (PACHECO; BAÊ, 2006), assim a forma do trato vocal determina as


propriedades de ressonância. Sobre os órgãos e músculos que fazem parte do
nosso trato vocal, estudaremos na próxima seção. Vamos recapitular!

A voz é produzida a partir do movimento ondulatório da mucosa das


pregas vocais, que fecham e abrem o espaço da glote provocando modulações
no fluxo aéreo (PACHECO; BAÊ, 2006), esses movimentos produzem vibrações.
Essas vibrações a partir de comando neurais, produzem o som, que podem ser
graves ou agudos. Segundo Pacheco e Baê (2006), a diferença na produção de
um som grave ou agudo é o resultado da ação muscular e da pressão do ar, que
determina o número de vibrações de nossa prega vocal. Assim, os sons graves
necessitam de espaços maiores para ressoarem, e os sons mais agudos são
amplificados em espaços menores.

As cavidades de ressonância humanas são “aquelas cavidades do corpo


cujo conteúdo aéreo e cujos componentes ósseos, cartilaginosos ou musculares
entram ou podem entrar em vibração a partir das vibrações do interior da laringe”
(COELHO, 1994, p. 59). Os ressonadores, segundo Coelho (1994), são cavidades
cujas dimensões e formas têm a capacidade potencial de entrar em vibração
quando próximo a elas existir um sistema oscilante que transmita as vibrações ao
ar contido em seu interior.

Nossa caixa de ressonância está dividida em inferior e superior. Constituem


a caixa de ressonância inferior: a faringe, a traqueia, os brônquios e os pulmões. As
cavidades bucais e da face são consideradas nossa caixa de ressonância superior.
Fisiologicamente, as cavidades, os espaços de ressonância “podem ser fixos:
nariz, seios nasais e rinofaringe – com uma parede móvel formada pelo palato
mole e laringe, ou móveis: faringe, boca, lábios e bochechas” (COELHO, 1994, p.
59). Todo o corpo humano vibra em ressonância, considerando que temos ossos
em todo o corpo.

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UNIDADE 2 | A VOZ – QUESTÕES MUSICAIS

FIGURA 2 – CAIXA DE RESSONÂNCIA

FONTE: <http://srv218.teste.website/~otorrinoc/wp-content/uploads/2017/09/exame-
viodelaringoscopia.png>. Acesso em: 5 fev. 2020.

A videolaringoscopia, também chamada de estroboscopia, é um exame


realizado pelo médico otorrinolaringologista. Consiste em um exame de imagem
que tem por objetivo visualizar as estruturas da boca, a orofaringe e a laringe,
sendo indicado para investigar as causas de tosse crônica, rouquidão e dificuldade
para engolir. Estudaremos as estruturas do trato vocal mais adiante.

Como já vimos, o trabalho de técnica vocal se inicia com os exercícios de


respiração. Agora você estudará as outras estruturas que participam da produção
vocal, a ressonância e as questões articulatórias.

E
IMPORTANT

Quando estamos gripados, resfriados, com rinite ou sinusite, nossa caixa de


ressonância está com secreção nos espaços destinados para a circulação do ar, fazendo
com que a nossa voz tenha uma característica mais nasal.

Para sentir a ressonância dos sons faça os exercícios a seguir:

• Caixa de ressonância superior

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TÓPICO 1 | TÉCNICA VOCAL

1) inspire profundamente;

2) expire emitindo o fonema: mémmmmmmmmmmmm;

3) coloque as mãos no rosto (para sentir a vibração), experimente fazer sons


graves e agudos; fortes e fracos.

• Caixa de ressonância inferior

1) inspire profundamente;

2) expire emitindo a vogal a, no grave;

3) coloque as mãos no peito para sentir a vibração (MARSOLA; BAÊ, 2001, p. 17).

O trato vocal determina as propriedades de ressonância. As estruturas


que fazem parte do trato vocal além dos articuladores, são a laringe e a faringe.
Assim, “a laringe pode ser abaixada ou elevada enquanto falamos ou cantamos,
respiramos ou deglutimos” (PACHECO; BAÊ, 2006, p. 49). As autoras apontam
ainda que, esses movimentos são realizados pela ação de músculos elevadores e
abaixadores, que possibilitam o aumento ou diminuição do trato vocal.

FIGURA 3 – TRATO VOCAL

FONTE: <https://acordesprajesus.files.wordpress.com/2017/07/voz-humana-aparelho-fonador.
jpg>. Acesso em: 5 fev. 2020.

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UNIDADE 2 | A VOZ – QUESTÕES MUSICAIS

NOTA

É importante lembrar que na laringe se localizam as pregas vocais,


popularmente chamadas de cordas vocais.

DICAS

Para sentir o abaixamento da laringe realize movimentos de abertura de boca e


bocejos; após sentir a posição dos articuladores no momento dos movimentos, emita um
som ou uma canção, mantendo a laringe na posição do exercício realizado.

A faringe é um tubo muscular associado a dois sistemas: respiratório e


digestório, que se estende da boca até o esôfago, apresenta suas paredes muito
espessas devido ao volume dos músculos que a revestem externamente. Por
dentro, o órgão é forrado pela mucosa faríngea, um epitélio liso, que facilita a
rápida passagem do alimento (COELHO, 1994). A faringe corresponde a toda
parte posterior da nossa cavidade oral, situa-se, posteriormente a cavidade nasal,
bucal e a laringe. Didaticamente, a faringe se divide em três partes: “nasofaringe
– corresponde ao espaço logo ao fundo da cavidade nasal; orofaringe – no fundo
da nossa garganta e laringofaringe – espaço que vai desde a base da língua até
o início da laringe” (PACHECO; BAÊ, 2006, p. 50). A Figura 4 apresenta as três
partes da faringe.

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TÓPICO 1 | TÉCNICA VOCAL

FIGURA 4 – FARINGE

FONTE: <https://sites.google.com/site/sistdigestorio/_/rsrc/1401294071511/home/faringe/Faringe.
png>. Acesso em: 5 fev. 2020.

A nasofaringe diferencia-se das outras duas partes, orofaringe e


laringofaringe, por sua cavidade permanecer sempre aberta, servindo assim,
como passagem para o ar que será inspirado ou expirado. O Quadro 1 apresenta
exercícios para que você possa sentir as partes da faringe.

QUADRO 1 – EXERCÍCIOS PARA SENTIR AS PARTES DA FARINGE

Parte da Faringe Exercícios


Para sentir a sua movimentação, provoque um
Orofaringe bocejo e perceberá uma expansão no fundo da
garganta, além de uma elevação do palato mole.
Inspire lentamente como se estivesse inalando
um perfume muito suave e agradável, com
Nasofaringe sensação de prazer. Você irá perceber um
pequeno movimento no fundo da sua narina,
esse é o lugar da nasofaringe.
Você poderá senti-la ao deglutir um alimento
Laringofaringe que tenha maior massa como, por exemplo, um
pedaço de pão francês.

FONTE: Pacheco e Baê (2006, p. 51)

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UNIDADE 2 | A VOZ – QUESTÕES MUSICAIS

O palato mole também faz parte das estruturas que formam a faringe,
sendo “importante para a ressonância do som” (PACHECO; BAÊ, 2006, p. 52).
Quando elevamos o palato, ampliamos o espaço da orofaringe e fechamos o espaço
da nasofaringe. A úvula faz parte do palato mole, auxiliando no fechamento da
nasofaringe na emissão de sons orais. Quando produzimos sons nasais, o palato
mole se abaixa e permite que o som passe pelas cavidades nasais. Pacheco e
Baê (2006) ressaltam que os movimentos de elevação do palato mole podem ser
observados no início de um bocejo. A Figura 5 apresenta o palato dividido em
palato mole e palato duro.

FIGURA 5 – PALATO

FONTE: <http://eloquencia.com.br/wp-content/uploads/2018/08/palato2.jpg>. Acesso em: 5


fev. 2020.

Pacheco e Baê (2006) salientam que é comum ouvirmos que determinada


voz possui coloridos, que acentuam sua beleza. Esse colorido decorre das
modificações na estrutura das cavidades do trato vocal e das mudanças de tensão
das estruturas vocais.

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TÓPICO 1 | TÉCNICA VOCAL

NTE
INTERESSA

“Observe um violino e um violoncelo, o primeiro possui uma caixa pequena


compatível com ondas sonoras que representam sons agudos; já o segundo possui caixa
grande, que faz ressoar melhor as ondas sonoras graves” (PACHECO; BAÊ, 2006, p. 53).
Assim, também acontece com a nossa voz, que como vimos é nosso instrumento musical
mais natural. Para percebermos as mudanças que podem ocorrer em nossa voz, basta
cantarmos o mesmo trecho de uma música exagerando o movimento da abertura da
nossa boca e projetando os lábios para frente. Em seguida, cante o mesmo trecho como se
estivesse sorrindo, assim, diminuindo o espaço da boca.

3 ARTICULAÇÃO
Articulação é a movimentação muscular dos órgãos que participam
no processo de produção dos sons, nos momentos de fala ou de canto, como
os dentes, a língua, os músculos faciais e o maxilar. A articulação vocal, ajuda
na dicção, interferindo na pronúncia das palavras. Segundo Coelho (1994), a
articulação vocal é uma série de movimentos realizados pelas partes móveis das
cavidades de ressonância através dos quais o ruído e o som glótico, os sons que
são produzidos pelas pregas vocais, se transformam em palavras e linguagem.
Coelho (1994, p. 43) apresenta que “a boa dicção inclui pronúncia correta,
enunciação clara, movimentos musculares livres e depende da ação correta do
sistema articulatório".

Uma boa articulação precede uma boa dicção, possibilitando uma maior
compreensão de texto, e facilitando assim sua interpretação. No canto essa prática,
além de facilitar o entendimento do texto, possibilita um menor esforço ósseo-
muscular. Assim, exercícios de articulação, que serão apresentados mais adiante,
devem ser realizados em frente ao espelho, pois segundo Coelho (1994, p. 44)
nenhum de nós jamais viu seu próprio rosto – pelo menos não da forma como os
outros o veem. “[...] ao cantarmos, o centro de atenção de todos está localizado
exatamente no ponto mais desconhecido por nós mesmos”.

NTE
INTERESSA

Para uma boa articulação, considera-se importante exercícios de ginástica


facial. Além de auxiliar na articulação, a ginástica facial retarda o aparecimento de rugas por
firmar os músculos, traz brilho à pele e normaliza sua oleosidade e lubrificação, evitando
acnes, espinhas e poros dilatados (COELHO, 1994, p. 45).

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UNIDADE 2 | A VOZ – QUESTÕES MUSICAIS

Os órgão e músculos responsáveis pela articulação vocal são denominados


articuladores, “as vogais e consoantes são produzidas a partir dos movimentos
realizados por essas estruturas” (PACHECO; BAÊ, 2006, p. 48). Os articuladores
são estruturas que fazem parte do trato vocal e são classificados como ativos
e passivos. Segundo Pacheco e Baê (2006), os articuladores ativos do som são
aqueles que realizam movimentos: língua, mandíbula, lábios, palato mole e
pregas vocais. Os articuladores passivos não se movimentam, porém são pontos
de referência para onde se move o articulador ativo, sendo: dentes, palato duro
e parede posterior da faringe. De acordo com Pacheco e Baê (2006, p. 48), “essas
estruturas (articuladores) interferem no som produzido pelas pregas vocais de
diversas maneiras, seja modificando a ressonância ou desempenhando a função
de articuladores do som. Portanto, cada um de nós é único, pois possuímos caixas
de ressonância diferentes”. A Figura 6 apresenta a disposição dos articuladores.

FIGURA 6 – ARTICULADORES

FONTE: <http://www.ebanataw.com.br/roberto/fonador/boca.jpg>. Acesso em: 16 out. 2019.

O Quadro 2 apresenta a descrição dos articuladores e sua atuação no


momento da produção vocal.

QUADRO 2 – DESCRIÇÃO DOS ARTICULADORES

Descrição e
Articulador Descrição e Funcionamento
Funcionamento
Único osso móvel da face, que sempre deve estar
Mandíbula inferior Ativo
relaxado.

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TÓPICO 1 | TÉCNICA VOCAL

Deitada e rasa no fundo da mandíbula inferior,


apoiada contra os incisivos inferiores. Nas vogais
e na maior parte das consoantes a posição da
Língua língua deve ser a mesma; apenas nas vogais Ativo
“e” e “i” tem um levantamento natural, porém
sempre apoiada nos incisivos inferiores. Modifica
a cavidade oral.
Desobstrui o fundo da garganta ao levantar-
Palato Mole se eliminando assim a aspereza da sonoridade Ativo
tornando-a redonda.
Naturais, sem contrações musculares, mas firmes,
Lábios de acordo com a pronúncia. O lábio inferior Ativo
modifica a cavidade oral.
A falta de dentes ou desalinhamento deles,
provoca pronúncia imperfeita e até mesmo
Dentes Passivo
ruídos desagradáveis, como chiados ou mesmo
assovios.
Auxiliar na ressonância vocal e na modulação dos
Palato Duro e Alvéolos Passivo
sons, criando espaços na parte interna da boca.

FONTE: Adaptado de MARSOLA e BAÊ (2000, p. 15-16)

DICAS

Para sentir o movimento do palato mole, inspire; emita a vogal “a”, passando
em seguida para “an”; se necessário, encoste um dos dedos no palato mole para sentir
melhor o movimento. Ao realizarmos este exercício, “a” e “an” várias vezes dentro de uma
respiração, vamos perceber o movimento do palato mole no “a” para trás (saída de ar pela
boca) e no “an” para frente (saída de ar pelo nariz) (PACHECO; BAÊ, 2006, p. 52).

As vogais são formadas sem que os articuladores causem obstáculo à


onda sonora, e as consoantes se formam a partir da obstrução da onda sonora
que ocorre pela modificação do ar pela ação dos articuladores (PACHECO; BAÊ,
2006).

Segundo Marsola e Baê (2006), as consoantes são fonemas produzidos


por uma corrente de ar que vem dos pulmões, e é modificado dependendo
das diferentes posições da língua e dos lábios. Para verificar a articulação das
consoantes, pronuncie B, V, D, Z, L, G, N, R, e observe as modificações que
ocorrem quando você as emite. O local da cavidade bucal que serve de obstáculo à
corrente de ar é chamado de ponto ou zona de articulação. O Quadro 3 apresenta
a zona de articulação das consoantes:

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UNIDADE 2 | A VOZ – QUESTÕES MUSICAIS

QUADRO 3 – ARTICULAÇÃO DAS CONSOANTES

Classificação Pontos de articulação Consoantes


Bilabiais Contato dos lábios superior e inferior. P, B, M
Labiodentais O lábio inferior toca os dentes incisivos inferiores. FeV
Linguodentais A língua toca a face interna dos dentes incisivos D, T e N
superiores.
Alveolares A língua toca o palato duro ou céu da boca. S, Z e L
Palatais O dorso da língua toca o palato duro ou céu da X, J, Lh e Nh
boca.
Velares A parte posterior da língua toca o palato mole. K, G (u) e R

FONTE: Adaptado de Marsola e Baê (2000, p. 29)

DICAS

Pronuncie as consoantes apresentadas e observe a movimentação dos


articuladores. Procure observar essas movimentações também nos momentos de canto.

Assim como as consoantes, você aprenderá o posicionamento dos


articuladores nas vogais, considerando os sons graves e os sons agudo. Observe
o Quadro 4.

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TÓPICO 1 | TÉCNICA VOCAL

QUADRO 4 – POSICIONAMENTO DOS ARTICULADORES DAS VOGAIS

Vogais Caracterização Posicionamento nos Posicionamento nos sons


sons graves agudos
A, É, Ó São vogais cuja Mandíbula, faringe e Mandíbula – quando can-
características sonoras laringe na mesma posição tamos na região aguda, a
nos parece, auditiva- da voz falada. sonoridade de nossa voz se
mente, mais aberta. beneficia com a descida da
Essas vogais, quando Palato mole – elevado. mandíbula; este movimento
cantadas nas notas Língua – como na voz favorece a descida da
graves da tessitura, falada, cuidando para não laringe, proporcionando
podem ser ajustadas tensionar, o que poderia características mais
da mesma forma que trazê-la para o fundo da aveludadas para os sons
na voz falada. garganta, abafando o som agudos.
da voz.
Palato mole – elevando-se à
medida que atinge as notas
mais agudas.

Língua – relaxada, sem


tensão. Procure manter a
ponta da língua sempre na
direção dos dentes incisivos
inferiores.
Ê, I Vogais mais horizon- Faringe e laringe na Mandíbula – vai descendo
talizadas. posição normal. à medida que você sobe na
escala musical.
Mandíbula – dar um leve
sorriso (horizontal), o que Faringe – vai expandindo.
diminui o trato vocal. Pense sempre num
movimento de abertura
Palato mole – elevado das paredes da faringe sem
tensão.

Palato mole – vai levantando


à medida que você sobe na
escala musical.

Língua – relaxada e apoiada


na parte posterior dos dentes
incisivos inferiores.

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UNIDADE 2 | A VOZ – QUESTÕES MUSICAIS

Ó, U Característica sonora Mandíbula, faringe e Mandíbula – vai descendo à


mais grave, escura, laringe – na mesma medida que você sobre na
posição da voz falada. escala musical.

Palato mole – elevado. Faringe – vai expandindo,


pense sempre em um
Lábios – levemente movimento de abertura
projetados para a frente. das paredes da faringe sem
tensão.

Palato mole – vai se


levantando à medida que
você sobe na escala musical.

Lábios – projetados para


frente.

Língua – sem tensão,


observe para que a parte
posterior da sua língua não
vá se colocando para o fundo
da garganta e o som fique
entubado.

FONTE: Adaptado de Pacheco e Baê (2006, p. 59-60)

Na música, temos o estudo de canto popular e lírico ou erudito. Você sabe


a diferença entre os dois? No Quadro 5 apontamos algumas características sobre
o canto popular e lírico ou erudito:

QUADRO 5 – CANTO LÍRICO E POPULAR

Canto lírico/erudito Canto popular


Projeção vocal Geralmente os cantores líricos não utilizam Os cantores
microfone (somente quando as apresentações u t i l i z a m
são realizadas em grandes locais abertos), assim o microfone, o que
estudo da projeção vocal é mais intenso. não exige tanto
do estudo de
projeção vocal.
Classificação vocal A música é composta para cada tipo de voz. Assim, O cantor
o cantor é escolhido, conforme a classificação pode mudar
para qual a música foi composta. a tonalidade
da música,
conforme a sua
classificação
vocal.

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Educação Vocal - Técnica e Práticas Vocais.indd 78 03/05/2023 15:13:28


TÓPICO 1 | TÉCNICA VOCAL

Interpretação O cantor procura interpretar a música, conforme O cantor possui


foi composta, respeitando as indicações que o mais liberdade
compositor escreveu na partitura. para interpretar
a música,
criando assim
uma versão da
música. Nesse
sentido, uma
música pode ter
várias versões.

FONTE: As autoras

Sintetizando, o mecanismo da voz é o seguinte: pela inspiração os pulmões


se enchem de ar. Este ar se transforma em som quando, na expiração, as pregas
vocais se aproximam o suficiente entre si, para vibrar com a passagem do ar. Os
articuladores recebem o som da laringe (pregas vocais), o dirigem para o aparelho
ressonador, onde adquire amplitude e qualidade (MARSOLA; BAÊ, 2000).

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Educação Vocal - Técnica e Práticas Vocais.indd 79 03/05/2023 15:13:28


RESUMO
Você aprendeu que:

• A técnica vocal é a possibilidade de ajustes vocais que auxiliam o cantor na


produção de vários sons.

• A técnica vocal abrange os exercícios de respiração, ressonância, articulação,


emissão e projeção vocal.

• A videolaringoscopia ou videoestroboscopia é um exame de imagem


direcionado para o aparelho vocal.

• Os ressonadores são cavidades que têm a capacidade potencial de entrar em


vibração quando próximo a elas existir um sistema oscilante que transmita as
vibrações ao ar contido em seu interior.

• A caixa de ressonância humana é dividida em inferior: a faringe, a traqueia, os


brônquios e os pulmões; e superior: cavidades bucais e da face.

• A faringe é um tubo muscular associado ao sistema respiratório e digestivo.


Divide-se em nasofaringe, orofaringe e laringofaringe.

• Articulação é a movimentação muscular dos órgãos que participam no processo


de produção dos sons, nos momentos de fala ou de canto, como os dentes, a
língua, os músculos faciais e o maxilar.

• A articulação vocal, ajuda na dicção, interferindo na pronúncia das palavras.

• Os articuladores são estruturas que fazem parte do trato vocal, com as cavidades
de ressonância modulam, modificam e amplificam o som.

• Os articuladores são classificados como ativos e passivos.

• Existem dois tipos de estudo de canto: popular e lírico/erudito, cada um com


suas especificidades.

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AUTOATIVIDADE

1 Com relação às características do aparelho ressonador, coloque V para as


assertivas que julgar corretas e F para as que julgar erradas:

( ) O aparelho ressonador é o local onde se tira a qualidade do som.


( ) O aparelho ressonador influencia no timbre, na sonoridade e na amplitude
da voz.
( ) Os espaços onde o ar circula constituem as cavidades de ressonância.
( ) No aparelho ressonador, o som gerado nas pregas vocais, é ampliado e
amplificado.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – V – F – V.
b) ( ) V – V – V – V.
c) ( ) F – V – V – F.
d) ( ) V – F – F – V.

2 Nossa caixa de ressonância é dividida em superior e inferior e funciona


como uma caixa de som que amplifica o som dos instrumentos musicais.
Com relação à caixa de ressonância é correto afirmar, EXCETO:

a) ( ) A caixa de ressonância superior é constituída pelas cavidades bucais e


faciais.
b) ( ) O nariz, os seios nasais e o palato mole são espaços de ressonância
considerados fixos, não se movimenta durante a amplificação vocal.
c) ( ) A faringe, a traqueia e os pulmões constituem a caixa de ressonância
inferior.
d) ( ) O trato vocal determina as propriedades de ressonância de cada pessoa.
Constituem o trato vocal os articuladores, a faringe e a laringe.

3 A faringe é um tubo muscular associado a dois sistemas do corpo humano,


respiratório e digestório. É um órgão que apresenta paredes muito espessas
devido ao volume dos músculos que a revestem externamente. Sobre a
faringe é correto afirmar, exceto:

a) ( ) A faringe é dividida em três partes: nasofaringe, orofaringe e


laringofaringe.
b) ( ) A faringe corresponde a parte posterior da nossa cavidade oral, situa-se,
posteriormente a cavidade nasal, bucal e a laringe.
c) ( ) A parte denominada orofaringe é responsável pelos sons orais e nasais.
d) ( ) A nasofaringe corresponde ao espaço logo ao fundo da cavidade nasal.

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4 Com relação à articulação vocal é correto afirmar, EXCETO:

a) ( ) A articulação auxilia na dicção, isto é, na pronúncia das palavras.


b) ( ) Uma boa articulação possibilita uma maior compreensão de um texto
musical e facilita, assim, a interpretação da canção.
c) ( ) Uma boa articulação causa menos esforço nas estruturas e músculos que
atuam na produção vocal.
d) ( ) Os exercícios de articulação não devem ser realizados em frente ao espelho,
você deve somente sentir o que acontece com os músculos e órgãos da face
no momento da emissão vocal.

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UNIDADE 2 TÓPICO 2

INTERPRETAÇÃO VOCAL

1 INTRODUÇÃO
Abordaremos as questões relacionadas à interpretação vocal. Você
estudará mais profundamente a importância de uma boa emissão e projeção
vocal, às quais ampliam as possibilidades de interpretação e expressão do cantor.
A voz é uma forma de expressão e comunicação, e não somente na voz falada,
mas na voz cantada também.

No canto, você pode expressar suas emoções ou mesmo buscar transmitir


as emoções que o compositor enfatizou em sua música. Exercícios de interpretação
vocal ajudarão você a construir uma personalidade vocal, tanto para a voz falada
como para a voz cantada.

2 EMISSÃO E PROJEÇÃO VOCAL


Ao falar de emissão e projeção vocal estamos nos referindo à amplificação
da voz. A projeção auxilia no volume vocal. Sousa et al. (2015) consideram que
a projeção vocal requer o devido preparo técnico, a fim de que se consiga uma
execução da música com menor esforço na emissão vocal, tanto na fala quanto
no canto. Segundo Marsola e Baê (2001), para uma boa emissão é importante
a aplicação correta da vocalização. Os exercícios chamados vocalizes serão
trabalhados.

Sousa et al. (2015) salientam que a voz projetada ou direcionada caracteriza


a ação de um sujeito sobre outro. O direcionamento da voz, na fala está associado
ao olhar e acontece nas intenções do interlocutor, já no canto o processo é
semelhante, porém a projeção deve ser mantida mesmo que o olhar não esteja
voltado para o outro (SOUSA et al., 2015).

A projeção vocal depende da ação coordenada da respiração, da emissão


vocal, da articulação das palavras, bem como da ressonância e amplificação dos
sons. Além dos ajustes específicos e da ação coordenada dos fatores citados, o
local onde o cantor se apresenta pode ser propício ou não para uma boa projeção
vocal.

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UNIDADE 2 | A VOZ – QUESTÕES MUSICAIS

A acústica do espaço poderá favorecer ou não a projeção vocal. A acústica


é um ramo da física que estuda o som e suas características: altura, duração,
intensidade e timbre. O espaço físico não favorável pode exigir um maior esforço
vocal por parte do cantor, uma vez que a acústica do ambiente determina a
qualidade de audibilidade da voz. Assim, é importante verificar e observar as
condições dos locais de apresentação, para que a performance e o bem-estar vocal
do cantor não sejam comprometidos.

Além da amplificação natural da voz, a projeção vocal melhora na


entonação e na dicção das palavras cantadas e, assim, uma maior compreensão
dos ouvintes. A projeção da voz está ligada com a movimentação do diafragma,
por isso a respiração e o apoio respiratório, são imprescindíveis para uma melhor
projeção vocal.

DICAS

Uma dica para encontrar a melhor forma de projetar a sua voz é gravar áudios
de você mesmo cantando para entender os seus próprios volumes.

Um exercício que auxilia no trabalho da projeção e emissão vocal é o bocca


chiusa, que consiste em um som de hummm, como se entoando o som de um
mantra ou se deliciando com alguma comida; a boca externamente se mantém
fechada e internamente deve estar aberta como na produção de um bocejo, pois
trabalha com a amplificação natural da voz. Você pode iniciar o som de bocca
chiusa, procurando deixar a cabeça abaixada, lentamente vá levantando a cabeça
e produza o som das vogais, uma a uma, ligado ao som do bocca chiusa.

DICAS

Possibilidade para você trabalhar com a projeção de sua voz!

Imagine uma bola arremessada em uma parede. Para voltar ao arremessador, ao jogá-
la, ele deverá utilizar de uma força muscular, neste caso, estarão envolvidos os membros
inferiores e superiores (pernas e braços). Assim é o som. Este deve ser arremessado, e a
força muscular com o trabalho de respiração e articulação. Experimente! Você pode “jogar”
o som para uma colega, podendo utilizar as questões da intensidade: forte...fraco...

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TÓPICO 2 | INTERPRETAÇÃO VOCAL

3 VOZ E INTERPRETAÇÃO
Interpretar é a forma com que você executa uma determinada canção,
trazendo sua personalidade para a música. O maior desafio de cantores iniciantes,
é colocar sua personalidade e identidade ao cantar. A interpretação também
está ligada com as emoções, as quais são postas pelo compositor, e devem ser
transmitidas aos ouvintes pelo cantor. Segundo Amato (2006, p. 66) “o canto deve
ser entendido como uma forma de expressão e comunicação dos sentimentos,
tanto quanto a fala, sem dicotomizar a racionalidade que está presente na voz
falada e a emoção inserida na voz cantada”.

Há diversas formas de interpretação. A interpretação de uma música está


ligada ao estilo musical que você executa. O estilo musical é caracterizado como
uma forma de expressão individualizada, ou seja, a maneira que um músico,
seja ele arranjador e ou intérprete, organiza seu discurso musical, sua forma de
realizar e apresentar sua prática musical.

Todo o nosso corpo participa do ato de cantar, “toda voz habita um corpo
e quando ela soa todo este corpo vibra, movimenta-se sentido as sensações dessa
vibração” (MARSOLA; BAÊ, 2000, p. 59). Além de cantar afinado, utilizando
corretamente todos os recursos corporais disponíveis, o cantor deve buscar a
emoção. A emoção quando é verdadeira, faz com que o corpo reaja através de
gestos, expressões faciais e corporais (MARSOLA; BAÊ, 2000).

UNI

É importante que o cantor, principalmente iniciante, não se prenda somente


a um estilo musical, sendo interessante pesquisar um acervo variado de música, de
compositores de diferentes épocas, estando aberto para ouvir música primitiva, étnica,
erudita, caipira, popular, jazzística, contemporânea (MARSOLA; BAÊ, 2000).

O repertório vocal é constituído por peças musicais que contém texto.


Os textos trazem uma mensagem específica que amplia as possibilidades de
significação da performance por parte do intérprete, uma vez que, estabelece
relação com as emoções da letra, assim, cabe ao intérprete desvendar os aspectos
essenciais da obra que executa (BRIGUENTE; APRO, 2017). O corpo do cantor é
portador de recursos expressivos e deve ser gerenciado por ele com a finalidade
de imprimir significados à obra musical executada.

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UNIDADE 2 | A VOZ – QUESTÕES MUSICAIS

UNI

Assista ao vídeo da música Atrás da Porta, de Chico Buarque, interpretada por


Elis Regina, disponível no link https://www.youtube.com/watch?v=35FPZR24djg. Procure
observar a interpretação e a entrega da cantora na execução da música. Assista também
ao vídeo da música Disparada, de Geraldo Vandré, com a interpretação de Jair Rodrigues.
Essa canção é caracterizada como uma canção de protesto, apresentada no Festival de
Música Popular Brasileira no ano de 1966. A música está disponível no link https://www.
youtube.com/watch?v=82dRs2z6iQs. Observe os movimentos do intérprete e como isso
enfatiza a emoção na música.

Como exercício de interpretação vocal, leia o poema a seguir e procure


utilizar a voz de acordo com o que as palavras sugerem:

Com a “voz” alguém pode cantar um som: grave, agudo, médio.


Pode ser forte, fraco, intermediário.
Um som vocal pode ser curto, durar muito tempo, seguir soando com a
mesma força,
com a mesma suavidade, tornar-se cada vez mais forte, ou mais fraco, pouco
a pouco, repentinamente, sumindo...
Sua voz pode movimentar-se (como se estivesse subindo ou descendo)
para formar desenhos melódicos, passo a passo, deslizando.
Sua voz pode cantar palavras como “hum...”; “trá-lá-lá” para parecer alegre;
“u-u-u” para parecer triste e solitária; sua voz pode assobiar...
Sua voz forma os sons com o ar que respira e com alguns músculos especiais
de sua garganta.
Cada pessoa “soa” diferente das demais pessoas.
Aonde quer que você vá, sua voz o acompanha.

(Frances Aronoff)
FONTE: Brito (2003, p. 90)

No poema acima foram utilizadas as características do som. Vamos


recordar? O som possui características, relacionadas à altura (grave e agudo), à
intensidade (forte e fraco) à duração (curto e longo) e ao timbre. A intensidade é

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TÓPICO 2 | INTERPRETAÇÃO VOCAL

muito importante na constituição da interpretação vocal, pois ela traz dinâmica


à música. A dinâmica é conceituada como a graduação da intensidade do som,
é o grau de intensidade com que o som é emitido ou articulado (MED, 1996). A
dinâmica em música possibilita uma melhor compreensão das emoções que o
cantor deseja passar.

DICAS

Para verificar as nuances de dinâmica no canto, assista ao vídeo da música


Flow my tears, de John Dowland, interpretada pela soprano Valeria Mignaco, disponível no
link: https://www.youtube.com/watch?v=jkRrzAo9Wl4.

No trabalho com o canto a letra da música é fundamental. Assim, é


importante que o cantor além de preparar sua voz, conheça o texto que irá cantar.
Segundo Dinville (1993), é importante um momento de estudo para o texto. Esse
momento exige a resolução da qualidade do timbre, da amplitude vocal, da
homogeneidade e do alcance da voz, bem como permite verificar os momentos
de respiração e trabalhar a afinação. As autoras sugerem uma sequência didática
para a preparação de um texto para ser cantado.

1. Falar o texto da canção em voz alta, para que o ouvido se habitue à diferenciação
das vogais e à clareza das consoantes.

2. Cantar o mesmo texto na mesma nota, subindo em semitons.

3. Vocalizar a melodia com uma vogal favorável, a fim de se conscientizar das


modificações do volume das cavidades de ressonância e do deslocamento da
sensação vibratória.

4. Unir texto e melodia, utilizando os três passos apresentados anteriormente.

E a hora de cantar em público? Cantar em público permite que você entre


em contato com o público, algo que você não vivencia durante as aulas. Marsola
e Baê (2000) consideram que a aula é o momento de repetir, experimentar, tirar
dúvidas. Já em uma apresentação pública aparecem outras situações: palco,
plateia, recursos de amplificação e sonorização; esse é o momento de “pôr
em prática seus descobrimentos e tirar deles experiências, conscientizar-se se
dificuldades e qualidades” (MARSOLA; BAÊ, 2000, p. 69). Assim, no momento
da apresentação, você colocará em prática o que aprendeu nas aulas. “O palco é
um lugar mágico, fascinante, e todas as pessoas que têm oportunidade de ocupá-

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UNIDADE 2 | A VOZ – QUESTÕES MUSICAIS

lo devem fazê-lo com o máximo de respeito e honestidade consigo mesmo e com


quem as está ouvindo” (MARSOLA; BAÊ, 2000, p. 69).

A apresentação possibilita ao cantor expressar seus sentimentos, suas


ideias por meio da música, para um grande público.

Cantar aquilo em que realmente se acredita. O canto reflete a alma.


Independente, de você se sentir preparado ou não, aproveite o
momento e entregue-se à música e não transforme sua apresentação
num problema. Aceite seus limites e faça tudo com muita calma
e carinho. Tudo que é feito com verdade, certamente, terá boa
receptividade do público (MARSOLA; BAÊ, 2000, p. 69).

Como você estudou, nosso corpo como um todo participa do ato de


cantar. Tensões nas musculaturas, não somente nas estruturas envolvidas na
produção vocal, mas em outras partes do corpo, podem prejudicar a processo de
aprendizagem e a performance do cantor. Por isso, é fundamental a realização
dos exercícios preparatórios para o canto. Assim, todo nosso corpo deve estar
conectado e preparado para o momento do canto. “A voz existe no corpo. É o
corpo que sabe o caminho da produção vocal, do movimento e da sua expressão”
(ALEIXO, 2005, p. 1). 

Existem técnicas que relacionam os movimentos corporais com as


questões vocais. Uma técnica utilizada por professores e alunos de canto, bem
como por outros profissionais da voz é a Técnica de Alexander. Essa técnica, não
é direcionada apenas para o canto, porém auxilia no sentido do cantor “perceber o
aspecto da consciência corporal na escolha em realizar um movimento” (VIEIRA,
2008, p. 273). Além das estruturas vocais, o cantor deve conhecer o seu corpo
como um todo. 

Marsola e Baê (2000) consideram que os cantores devem buscar uma


consciência corporal. Por isso reiteramos a importância de o cantor conhecer seu
corpo. Inicialmente, é fundamental observar: 

Seu movimento, sua postura, seu equilíbrio, suas tensões e pontos


relaxados, seu andar, suas articulações. A conscientização se refletirá
na interpretação que por sua vez, possui dois momentos. Primeiro
momento: como eu compreendo determinada canção (letra, música,
harmonia, arranjo, ritmo); segundo momento: de que maneiras eu
transmito o que compreendi (gestos, dinâmica vocal, luz, roupa,
postura, localização no palco) (MARSOLA, BAÊ, 2000, p. 59, 60). 

Compreendendo a voz como parte integrante do corpo, nos faz entender


que o corpo todo participa da expressão e interpretação do cantor. “Quando se
acredita de verdade naquilo que se canta, transmite-se a emoção, o sentimento,
de dentro para fora fazendo com que o corpo “fale”, imóvel ou em movimentos,
sensibilizando o ouvinte” (MARSOLA; BAÊ, 2000, p. 60). 

Em síntese, o cantor deve trabalhar questões relacionadas à preparação


vocal, através de exercícios. Bem como trabalhar as questões das letras das canções,
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TÓPICO 2 | INTERPRETAÇÃO VOCAL

buscando conhecer o texto, e, assim, estudar a melhor forma de apresentá-la. A


forma de apresentação de cada pessoa é única, ela pode ter algumas referências
de cantores de sua preferência, mas a pessoa constrói a interpretação no decorrer
do processo de aprendizagem dos estudos de canto. “Ouça, mas não se preocupe
em imitar; ao interpretar uma canção que já foi gravada, busque a sua “voz”, o
seu estilo e a sua interpretação (MARSOLA; BAÊ, 2000, p. 60). 

QUADRO 6 – DICAS PARA OS CANTORES E PROFISSIONAIS DA VOZ

1 - Não abandone os exercícios respiratórios e de técnica vocal que são as


bases para uma boa carreira e saúde vocal.  

2 - Uma voz bem trabalhada permite o domínio da expressão.

3 - Não desgastar a voz em brigas, gritos, telefonemas longos e ao falar em


locais ruidosos. É aconselhável manter a intensidade vocal em um nível
moderado em todas as situações.

4 - Ao primeiro sinal de resfriado: repouso vocal e alimentação adequada, na


medida do possível.

5 - Usar roupas leves e folgadas permitindo a movimentação livre do corpo.


Não apertar regiões do pescoço, onde se encontram a laringe e as pregas
vocais, nem a cintura, pois aperta o diafragma, como você já estudou, esse
é um músculo muito importante para o apoio respiratório.

6 - O calçado deve ser confortável e seguro. Muito importante: nunca compre


um calçado novo e vá para o palco sem testar antes. 

7- O sono descansa a voz. Uma noite bem dormida é muito importante.

8 - Cuidado com o ar condicionado, pois ele retira a umidade do ar, ressecando


as pregas vocais. Se o seu uso for imprescindível, aconselha-se a ingestão
constante de água em temperatura ambiente. 

9 - Não acredite em tudo o que dizem que é bom para a voz, pois nem sempre
é.

10 - É importante que o cantor estude música, teoria, história, solfejo,


percepção... para se integrar melhor no contexto do espetáculo e facilitar a
comunicação com os músicos, podendo assim expressar melhor suas ideias
musicais.

11 - O espelho é um ótimo recurso para correção da emissão vocal. Verificar


em frente ao espelho os lábios, a língua, o relaxamento do maxilar e a
expressão facial e corporal como um todo.

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UNIDADE 2 | A VOZ – QUESTÕES MUSICAIS

12 - Saber ouvir é muito importante. Escutar discos e assistir a shows são


atividades que enriquecem a vida do cantor.

13 - Ouça outros cantores, mas busque a sua identidade vocal. 

14 - Articule cuidadosamente ao falar – isso requer menos esforço vocal para


fazer-se ouvir.

15 - Cultive a humildade, tendo consciência de suas qualidades e limites.

16 - O equilíbrio entre mente, corpo e espírito reflete um cantor harmonioso.

FONTE: Adaptado de Marsola e Baê, (2000, p. 63-65)

• A emissão e a projeção vocal estão ligadas à amplificação da voz, isto é, ao


volume vocal produzido.

• A projeção vocal melhora a entonação e a dicção das palavras e, assim, facilita


a compreensão do ouvinte.

• Uma boa projeção vocal precede uma boa respiração, articulação e ressonância
vocal, as quais são melhoradas com a realização de exercícios específicos.

• Para uma boa projeção vocal, também é preciso considerar as questões acústicas
dos espaços.

• Interpretar é a forma como o cantor executa uma canção, imprimindo nela sua
personalidade.

• A interpretação também está ligada ao estilo musical do cantor.

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RESUMO
Você aprendeu que:

• A emissão e a projeção vocal estão ligadas à amplificação da voz, isto é, ao


volume vocal produzido.

• A projeção vocal melhora a entonação e a dicção das palavras e, assim, facilita


a compreensão do ouvinte.

• Uma boa projeção vocal precede uma boa respiração, articulação e ressonância
vocal, as quais são melhoradas com a realização de exercícios específicos.

• Para uma boa projeção vocal, também é preciso considerar as questões acústicas
dos espaços.

• Interpretar é a forma como o cantor executa uma canção, imprimindo nela sua
personalidade.

• A interpretação também está ligada ao estilo musical do cantor.

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AUTOATIVIDADE

1 Com relação à projeção vocal é CORRETO afirmar:

I- A projeção vocal contribui para uma boa emissão vocal, possibilitando a


amplificação natural da voz.

II- Uma boa projeção auxilia para que a emissão vocal aconteça com menos
esforço, seja na voz falada ou cantada.

III- O espaço onde é realizada a atividade de canto também contribui para


uma boa projeção vocal. A acústica do espaço poderá ou não a favorecer.

IV- Para uma boa projeção vocal não é interessante a realização do apoio
respiratório, uma vez que a projeção da voz depende apenas da ação dos
articuladores.

Estão CORRETAS:

a) ( ) I, II e III.
b) ( ) I, II e IV.
c) ( ) II e IV.
d) ( ) II, III e IV.

2 Além das questões técnicas, um cantor deve buscar trabalhar sua


interpretação, para que, assim, possa imprimir suas emoções no ouvinte.
Considerando a informação anterior, coloque V para a alternativa que julgar
verdadeira e F para a alternativa que julgar falsa.

a) ( ) O canto é uma forma de expressão e comunicação dos sentimentos,


tanto do cantor que muitas vezes é o intérprete da música, como do
compositor.
b) ( ) Todo o nosso corpo participa do ato de cantar, muitas vezes as nuances
vocais são espelhadas no corpo.
c) ( ) A interpretação de uma música está ligada com questões relacionadas à
história que determinada música nos conta.
d) ( ) O estilo musical é caracterizado como uma forma de expressão
individualizada, ou seja, a maneira como o cantor organiza e trabalha
sua apresentação.

A alternativa que apresenta a sequência CORRETA é:


a) ( ) F – V – V – V.
b) ( ) V – V –V – V.
c) ( ) V – F – V – F.
d) ( ) F – F – F – V.

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3 Com relação à preparação de uma apresentação musical pública, é correto
afirmar, EXCETO:

a) ( ) Além da técnica vocal é importante que o cantor estude o texto, a letra


da canção que irá apresentar. Caso não seja o compositor, procure
pesquisar o que ele quis transmitir na letra da canção.
b) ( ) Vocalizar a melodia com uma vogal favorável, a fim de se conscientizar
das modificações do volume das cavidades de ressonância e do
deslocamento da sensação vibratória, é um dos exercícios para juntar
texto e melodia.
c) ( ) Durante a apresentação estão presentes fatores que não fazem das aulas,
como é o caso público. A apresentação configura-se como o momento
de colocar em prática e expor os conhecimentos adquiridos nas aulas.
d) ( ) Cada pessoa deve buscar sua interpretação, porém é interessante que
nas primeiras apresentações ela copie a interpretação de um intérprete
de sua preferência.

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UNIDADE 2 TÓPICO 3

CARACTERÍSTICAS VOCAIS

1 INTRODUÇÃO
O timbre é característica que permite reconhecer a origem do som.
Dependendo do som que ouvimos, “podemos identificá-lo como sendo de
um piano, de um violino ou de uma voz” (PACHECO; BAÊ, 2006, p. 47). Com
relação à voz não existem timbres iguais, pois o timbre é único para cada pessoa,
enfatizando as características vocais de cada um.

As características vocais, o timbre de cada pessoa, é influenciado pela


idade e pela estrutura anatômica de cada um. É possível observar mudanças
significativas nas questões das características vocais no decorrer da vida. Agora
falaremos sobre as principais características da voz humana nas fases da vida.

2 VOZES INFANTIS

De acordo com o art. 2º do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA,


“considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade
incompletos” (BRASIL, 1990). Direcionando o olhar para as questões vocais,
no período supracitado, temos diversas variáveis. Neste período, as crianças
começam a utilizar as vozes como forma de comunicação e contato com o mundo.
Cada criança desenvolve formas de usar a voz para expressar-se, iniciar e manter
contato com os outros, satisfazer suas necessidades e controlar seu mundo desde
o seu nascimento através do choro.

As vozes infantis, tanto de meninos quanto de meninas, sob o ponto de


vista musical, não apresentam muita diferença e, por isso, são simplesmente
classificadas como vozes infantis. Segundo Marsola e Baê (2000, p. 36) “a criança
sabe naturalmente como usar seu aparelho vocal e deve cantar livremente”.

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UNIDADE 2 | A VOZ – QUESTÕES MUSICAIS

NTE
INTERESSA

Se você estiver de olhos fechados e ouvir uma criança falando ou cantando,


não conseguirá saber se é um menino ou uma menina; mas saberá que é uma criança.
Experimente!

Para cantar, como já vimos é muito importante preparar a voz. Para


as vozes infantis existem exercícios que permitem que ela possa explorar e
reconhecer as possibilidades de sua voz. Segundo Costa (2013), para as crianças,
os aquecimentos vocais são importantes no sentido que auxiliam na concentração,
percepção do som, desenvolvimento do timbre individual e coletivo, no caso de
um grupo, o exercício da transposição cromática (ascendente e descendente) e,
sobretudo, a preparação do aparelho fonador para os desafios do repertório.

O canto acompanha a vida da criança desde que ela nasce por meio de
cantigas de ninar e, à medida que ela vai crescendo, outras canções vão surgindo,
com os jogos e rodas. Brito (2003) ressalta que o bebê cantarola algumas linhas
melódicas antes dos seis meses, antes mesmo da fala, que acontece aos poucos,
próximo aos nove meses começa a habilidade de produzir as vogais e próximo
aos doze meses, as consoantes.

O desenvolvimento vocal das crianças deve ser muito rico. Muito mais
que cantar, é importante brincar com a voz, explorando e experimentando
possibilidades sonoras. Segundo Beyer (1998, p. 31), “a música é vista como
um elemento humanizador das crianças”. Conforme Brito (2003), cantar com as
crianças, estabelece um vínculo afetivo e prazeroso. Cantando coletivamente,
aprendemos a ouvir a nós mesmo, o outro e ao grupo como um todo. Dessa forma,
desenvolvemos também aspectos da personalidade, como atenção, concentração,
cooperação e espírito de equipe.

QUADRO 7 – BRINCANDO COM A VOZ - POSSIBILIDADES DE AQUECIMENTO VOCAL PARA


CRIANÇAS

• Experimente brincar pesquisando possibilidades de realização vocal.


Pesquise seus próprios recursos e estimule as crianças a fazer o mesmo.

• Produza tons (sons com afinação).

• Faça estalos de língua – além de divertir, é uma possibilidade de relaxamento


desse músculo.

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TÓPICO 3 | CARACTERÍSTICAS VOCAIS

• O trotar de cavalos, as vozes dos animais, os sons da natureza, sibilar,


assoviar de diversas maneiras... são sempre ótimos exercícios vocais, que
ficarão ainda mais interessantes se inseridos em contextos expressivos: uma
canção, um diálogo, dentre outros.

• Trabalhar com poesias também é uma ótima maneira de conscientizar


as potencialidades vocais, além de unir música e literatura. Interpretar
uma poesia, valorizando seu material fonético, bem como seu conteúdo
expressivo - assim você poderá trabalhar as questões de articulação e
interpretação.

• Sonorize histórias e poesias também!

• Sempre conscientizar a importância da saúde vocal.

FONTE: Adaptado de Brito (2003, p. 91)

DICAS

Assista ao vídeo Técnica Vocal disponível em: https://www.youtube.com/


watch?v=XgY4-PYu_ek, que traz a canção Faça uma careta, de Ana Yara Campos, podendo
ser utilizada também como forma de aquecimento. A seguir você pode acompanhar a
partitura da música:

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UNIDADE 2 | A VOZ – QUESTÕES MUSICAIS

FONTE: <https://pt.scribd.com/document/369997019/faca-uma-careta-pdf>. Acesso em: 19 out.


2019.

3 VOZES ADOLESCENTES

A adolescência é a fase compreendida como a transição entre a criança


e a fase adulta. No entanto, esta fase da vida do ser humano possui suas
particularidades, e não deve ser entendida apenas como um momento de
passagem. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) considera adolescente,
a pessoa entre 12 e 18 anos de idade, em casos especiais, podem ir até 21 anos de
idade (BRASIL, 1990). A adolescência não se caracteriza apenas pela transição
entre infância e fase adulta, mas por envolver muitas transformações. Podemos
considerar aqui a mudança vocal, e cultural, como as escolhas da vida profissional,
afirmação de personalidade. Segundo Arroyo (2013) a adolescência é um período
de possibilidades de desenvolvimento humano nas mais variadas dimensões.

As vozes infantis de meninas ou meninos são parecidas, pois até a fase


da adolescência, a laringe é bastante semelhante em ambos os sexos e, apenas
baseando-se na voz em emissão sustentada, é difícil realizar a discriminação do
sexo do falante. A voz do adolescente possui algumas características, que devem
ser observadas no momento do canto. Nesta fase, a voz se torna disfônica, ocorre

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TÓPICO 3 | CARACTERÍSTICAS VOCAIS

perda de agudo e grave na voz e o adolescente fica impossibilitado de alcançar


com precisão notas extremas, tanto para o grave como para o agudo, este fato se
deve em função da mudança anatômica da prega vocal, denominada muda vocal.

Neste período, ocorre um crescimento corporal, mais acentuado nos


rapazes. Esse crescimento associado à ação de níveis hormonais transforma a
laringe infantil em adulta. Segundo Behlau et al. (2010), nos meninos os efeitos
causados pela muda vocal são mais intensos, afinal as pregas vocais masculinas
alongam em até 1 cm. O processo da alteração da laringe, durante a fase da
muda vocal, causa à voz do adolescente danos negativos para a afinação,
pois, com o crescimento da laringe, as pregas vocais são afetadas diretamente,
comprometendo a qualidade vocal.

NTE
INTERESSA

Abordar o tema do problema da muda vocal na prática do canto nos remete


ao século XVI, época dos castrati. Os castrati eram adolescentes que, para manterem o
registro de voz aguda, eram submetidos ao processo cirúrgico de corte dos canais dos
testículos, evitando que entrassem no período de muda, interrompendo a mudança do
registro vocal infantil para o registro vocal adulto. O processo de castração, além de ser
uma mutilação física, causava em muitos deles, conflitos psicológicos e, como muitos não
alcançavam fama, suas vidas ficavam sem perspectiva.

Ao realizar um trabalho vocal direcionado para o canto, o professor deve


considerar as mudanças vocais que ocorrem na fase da adolescência. Como há
uma instabilidade gerada pelo crescimento do trato vocal, não é apropriado
trabalhar o aumento da tessitura vocal. A tessitura vocal é uma sequência de
notas que conseguimos cantar com qualidade e sem esforço. Contudo, para o
desenvolvimento do controle neuromuscular laríngeo, a manutenção da força, a
resistência muscular das estruturas envolvidas e uma melhor percepção auditiva,
a prática, quando bem dirigida, trará resultados benéficos para a voz adolescente
(CAMPOS, 1997).

“Ninguém precisa deixar de cantar porque chegou à adolescência ou está


próximo dela. É necessário apenas que se tome cuidado, pois a acomodação da
nova voz leva tempo” (CAMPOS, 1997, p. 61). A voz do adolescente deve ser
trabalhada utilizando vocalizes a partir das notas agudas, descendo para as notas
graves, como um glissando. O glissando “é um ornamento [...] que consiste no
deslizamento rápido entre duas notas reais. Na execução, o glissando tira o seu
valor do final da primeira nota real” (MED, 1996, p. 327).

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UNIDADE 2 | A VOZ – QUESTÕES MUSICAIS

DICAS

Acesse o link https://www.youtube.com/watch?v=hFkZCweeU9g, na qual o


cantor executa inicialmente o exercício de escalas destacando nota por nota, e em seguida
em forma de glissando. Os exercícios de glissando podem ser realizados com intervalos de
quintas descendentes.

Cooksey (1999, p. 6) resume as principais características vocais desta fase


da vida:

1 - A mudança de voz ocorre no início da puberdade e está diretamente relacionada


ao desenvolvimento de caracteres sexuais primários e secundários.

2 - A maioria do repertório publicado, atualmente, é inadequado para se ajustar


à amplitude e à tessitura da voz masculina em mudança.

3 - Taxas irregulares de crescimento no mecanismo vocal podem tornar a voz


imprevisível e difícil de controlar, especialmente se for forçada a trabalhar na
região errada.

4 - Em grupos de meninos com idades entre 12 e 15 anos, espera-se encontrar


vozes em diferentes estágios de crescimento.

5 - A proporção em que a muda vocal ocorre varia com os indivíduos.

6 - Testes de voz individuais e de grupo são necessários.

7 - Os professores devem ajudar os alunos a entender suas vozes durante a


mudança.

8 - É muito importante estabelecer bons hábitos de canto durante este tempo.

Costa (2018) chama atenção para a necessidade de incluirmos, não


somente as vozes masculinas, como também as vozes femininas, na reflexão
acerca da muda vocal inerente à faixa etária. Além da ampliação geral da laringe,
tudo dentro da laringe também cresce, incluindo cartilagem, músculos e as pregas
vocais. As pregas vocais femininas alongam-se aproximadamente de três a quatro
milímetros, resultando numa extensão da faixa de canto para baixo 1/3 de uma
oitava e até três a quatro tons quando tudo estiver assentado; as pregas vocais
masculinas alongam aproximadamente um centímetro, resultando em uma
extensão de uma oitava para baixo e para cima de seis a sete tons.

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TÓPICO 3 | CARACTERÍSTICAS VOCAIS

Você pode observar que há uma preocupação com a mudança vocal


nos meninos, porém Costa (2018) salienta a importância do cuidado com as
vozes femininas, pois mesmo não tendo uma alteração de tom muito grande, as
estruturas do trato vocal estão sendo modificadas.

Como exemplo de aquecimento vocal para os adolescentes, você pode


experimentar a ciranda "Quando a morena". Esta música pode ser realizada
em forma de cânone. O cânone é um dos primeiros registros musicais a mais
vozes. Consiste em uma única melodia, com diferentes entradas de vozes. Essa
atividade proporciona uma desenvoltura e independência musical, bem como
trabalha com questões de afinação vocal.

FIGURA 7 – PARTITURA DA CIRANDA: QUANDO A MORENA

FONTE: <https://pt.scribd.com/document/386929931/Partitura-Gabril-Levy-Quando-a-morena>.
Acesso em: 28 out. 2019.

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UNIDADE 2 | A VOZ – QUESTÕES MUSICAIS

DICAS

Ouça a gravação da ciranda realizada pelo Coral do Projeto Guri, formado por
jovens. O vídeo está disponível no link https://www.youtube.com/watch?v=wlzOkZpoIbA.

4 VOZES ADULTAS

Como vimos, as vozes adultas podem ser classificadas em soprano, mezzo-


soprano e contralto para as mulheres, e tenor, barítono e baixo para os homens.
Cabe relembrar que essa classificação vocal está relacionada com a extensão vocal
(as notas que uma pessoa consegue emitir) e o timbre (característica da voz de
cada pessoa) dos cantores.

DICAS

Assista ao vídeo: Qual o meu tipo de voz?, disponível no link https://www.


youtube.com/watch?v=FM2lPhfPBq4. Neste vídeo, são apresentadas sonoramente as notas
que compreendem a extensão vocal de homens e mulheres.

Existem diferenças anatômicas e fisiológica entre homens e mulheres. “No


caso das estruturas laríngeas, as pregas vocais dos homens são maiores e mais
largas do que as das mulheres” (BEBER; CIELO, 2011, p. 341), o que caracteriza
as vozes masculinas terem uma característica mais grave. É preciso considerar
também na observação das diferenças, que “as características estruturais dos
elementos da face, como a forma, o tamanho, a densidade e a tensão têm influência
sobre a produção vocal” (BEBER; CIELO, 2011, p. 341). Essas estruturas, os
articuladores, têm a função de moldar o som que vem das pregas vocais, assim, a
forma dessas estruturas também contribuem na constituição do timbre vocal de
cada pessoa.

Conforme o passar do tempo, como toda estrutura do nosso corpo, a voz


das mulheres ficam mais graves e a voz dos homens mais agudas.

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TÓPICO 3 | CARACTERÍSTICAS VOCAIS

A voz difere entre os gêneros e sofre mudanças ao longo do curso


da vida, com maior estabilidade vocal observada na fase adulta.
Modificações estruturais e funcionais marcantes ocorrem na laringe
com o envelhecimento, provocando mudanças vocais proeminentes a
partir dos 60 anos (SPAZZAPAN et al., 2018, p. 2).

Spazzapan et al. (2018) sugerem que as mudanças vocais decorrentes do


avanço da idade podem ser identificadas, acusticamente, no final da fase adulta
e, em mulheres, essas mudanças podem ser marcadas particularmente antes do
período da menopausa.

Mesmo considerando as diferenças entre vozes masculinas e femininas, os


exercícios vocais podem ser realizados por ambos, ao mesmo tempo. Lembrando
de que, a voz masculina deverá soar uma oitava abaixo da voz feminina. Observe
na Figura 8 algumas diferenças entres as pregas vocais infantis e adultas.

FIGURA 8 – CARACTERÍSTICAS DAS PREGAS VOCAIS

FONTE: <https://abrilsuperinteressante.files.wordpress.com/2016/09/super_imgvoz.jpg>. Acesso


em: 20 out. 2019.

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UNIDADE 2 | A VOZ – QUESTÕES MUSICAIS

DICAS

Para você observar as diferenças na produção e emissão do som vocal


masculino e feminino, aprecie a mesma música executada por variados intérpretes. Como
exemplo, ouça a música Ai que saudade d’ocê, na versão do cantor Zeca Baleiro, disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=Xf8za9wjDu8; e com a cantora Elba Ramalho,
disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=77EiccDmCPQ.

Os adultos carregam consigo muitas preocupações e tarefas do dia


a dia. Muitas vezes nos momentos dedicados ao canto a voz enfatiza essas
questões. Assim, como apresentado para as vozes infantis e dos adolescentes
é muito importante a preparação vocal com: alongamento corporal, exercícios
de respiração e aquecimento vocal. Além disso, segundo Bellochio (2011) para o
trabalho com o canto é muito importante o ato de ouvir. De acordo com a autora,
“para cantar é preciso antecipar, mentalmente, como você quer que o som soe.
Não adianta fazer sem pensar” (BELLOCHIO, 2011, p. 63), reiterando assim, a
importância do estudo da letra das canções e os sentimentos que ela transmite.

E
IMPORTANT

Para trabalhar uma canção com adultos, o professor pode inicialmente fazer a
parte rítmica, apresentando ao aluno a teoria musical, estudar a parte melódica e por fim,
trabalhar a interpretação.

É importante você lembrar! Para cantar bem, uma série de fatores estão
envolvidos (físicos, psicológicos), e independente da faixa etária é importante
realizar exercícios de preparação e técnica vocal.

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RESUMO
Você aprendeu que:

• As características vocais, o timbre de cada pessoa, é influenciado pela idade e


pela estrutura anatômica de cada um.

• As vozes infantis, tanto de meninos quanto de meninas, sob o ponto de vista


musical, não apresentam muita diferença e são classificadas como vozes
infantis.

• A voz do adolescente possui algumas características, que devem ser observadas


no momento do canto, pois nessa fase da vida muitas mudanças corporais e
emocionais ocorrem, dentre elas, a mudança vocal.

• As características vocais sofrem alterações no decorrer da vida.

• Independente da faixa etária, é importante realizar exercícios de respiração,


articulação, afinação, dentre outros.

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AUTOATIVIDADE

1 As características vocais de cada pessoa são influenciadas


pela_________________ e pela _____________ ___________ de cada sujeito.
Assim, é possível inferir que cada pessoa possui um____________________,
característica do som que permite reconhecer sua origem.

Assinale a alternativa que apresenta as palavras que preenchem as


lacunas:

a) ( ) Idade, estrutura morfológica, ritmo.


b) ( ) idade, estrutura anatômica, ritmo.
c) ( ) estrutura anatômica, idade, altura.
d) ( ) cavidade bucal, estrutura morfológica, ritmo.

2 Discorra sobre as características vocais infantis que devem ser observadas
no momento do estudo e da prática vocal.

3 Considere as informações a seguir sobre as características vocais no período


da adolescência.

I- Na adolescência ocorre perda de agudo e grave na voz e o adolescente


fica impossibilitado de alcançar com precisão notas extremas. Este fato
se deve em função da mudança anatômica da prega vocal, denominada
muda vocal.
II- Com relação ao canto, na fase da adolescência, não é aconselhável trabalhar
o aumento da tessitura vocal, isto é, da extensão notas alcançadas.
III- Considerando a muda vocal, em função das alterações anatômicas, a voz
do adolescente deve ser trabalhada utilizando vocalizes a partir das notas
mais graves.
IV- As pregas vocais masculinas alongam em até 1 cm, já as pregas vocais
femininas alongam-se aproximadamente de três a quatro milímetros.

Assinale a alternativa que apresenta as afirmativas CORRETAS:


a) ( ) I, II e IV.
b) ( ) I, II e III.
c) ( ) II, III e IV.
d) ( ) II e IV.

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UNIDADE 2
TÓPICO 4

EXERCÍCIOS PARA TÉCNICA VOCAL

1 INTRODUÇÃO
Você aprenderá exercícios direcionados à técnica vocal. Estes exercícios
irão preparar a voz e o corpo como um todo para a atividade da fala e do
canto. Trataremos da importância do relaxamento corporal e do aquecimento e
desaquecimento vocal após a prática do canto.

Os exercícios iniciais são direcionados tanto para a voz falada como


para a voz cantada. A partir da parte chamada de vocalizes, os exercícios são
para a voz cantada. Na seção dos vocalizes, que são apresentados conforme sua
funcionalidade, são apresentadas as partituras, facilitando para o professor, a
execução deles.

2 AQUECIMENTO E RELAXAMENTO CORPORAL


Você aprenderá vários exercícios vocais para o trabalho vocal. Você terá
contato com exercícios de aquecimento e articulação vocal, bem como ressonância
e projeção. Para uma boa emissão vocal e, antes do trabalho com vocalizes, é
importante você realizar aquecimento e relaxamento corporal. O Quadro 8
apresenta uma sequência de aquecimento corporal.

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UNIDADE 2 | A VOZ – QUESTÕES MUSICAIS

QUADRO 8 – AQUECIMENTO CORPORAL


Partes do corpo Aquecimento
Pés com a palma das mãos, massageie os pés;
em seguida dê “tapinhas” para ativar a circulação.
Tornozelos em pé, gire o tornozelo do pé direito para a esquerda e para a direita;
faça o mesmo com o pé esquerdo.
Tronco de pé, curve o tronco para frente, para um lado e para o outro.
Ombros levante os ombros e deixe-os cair lentamente;
gire os dois ombros para frente e depois para trás.
Coluna como numa “escada imaginária” vá subindo com os braços alongando
ao máximo a coluna, até ficar na ponta dos pés;
solte os braços até o chão com os joelhos levemente flexionados e
fique embaixo alguns segundos;
“desenrole” muito lentamente.
“Amassando o barro” apoie e equilibre o corpo em um dos pés;
com o outro vá “amassando o barro” que você imagina estar sob seus
pés;
faça o mesmo do outro lado.
Língua o cantar pede a língua abaixada na boca, apoiada nos dentes
inferiores, para conseguir isso de maneira adequada, são necessários
alguns exercícios para tonificar e fortalecer a língua e ao mesmo
tempo mantê-la relaxada:
rode a língua dentro da boca, 10 vezes para cada lado;
movimente a língua lateralmente e rapidamente;
coloque a língua para fora da boca, e depois coloque para dentro
novamente, 10 vezes.
Pescoço movimente o pescoço como se estivesse dizendo sim (para cima e
para baixo);
não (para esquerda e para direita);
talvez (como se fosse encostar a orelha no ombro – cuide para não
subir o ombro, para não o tensionar; círculo (nos dois sentidos).

FONTE: Adaptado de Marsola e Baê (2001, p. 75-76)

Costa (2013) apresenta exemplos de aquecimento iniciais para um


trabalho com vozes infantis. É importante ressaltar que esses exercícios podem
ser realizados por todas as faixas etárias. A etapa de aquecimento vocal é muito
importante, por objetivar diversos aspectos: concentração, percepção do som
do grupo, caso você esteja trabalhando com coros, desenvolvimento do timbre
individual e coletivo, o exercício da transposição cromática (ascendente e
descendente) e, sobretudo, a preparação do aparelho fonador para os desafios do
repertório. De acordo com Costa (2013), podemos separar o aquecimento em cinco
metas (dentre outras): postura, respiração, ressonância, articulação e afinação. No
Quadro 9 apresentamos exercícios para cada uma das metas.

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TÓPICO 4 | EXERCÍCIOS PARA TÉCNICA VOCAL

QUADRO 9 – PREPARAÇÃO CORPORAL PARA O CANTO

Objetivo Procedimento
Postura Buscar relaxamento (pescoço, Posição 1: pedir que todos fiquem de
ombros, costas etc.) e uma pé, braços relaxados ao longo do corpo,
posição ereta que beneficie a olhando para frente sem elevar o queixo,
coluna de ar. pés paralelos ligeiramente afastados,
coluna ereta.

Posição 2: em seguida, pedir que


os alunos se sentem, mantendo
proporcionalmente a posição da coluna,
da cabeça e dos braços.

Posição 3: pedir que se inclinem para


trás, utilizando o encosto da cadeira,
relaxando completamente o corpo.

A partir daí, a pessoa passa a perceber a


diferença de prontidão entre as posições
sentadas (2 e 3) e, aos poucos,
compreende que para cantar haverá
uma posição
ideal (Posição 1) , que poderá ter seus
parâmetros mantidos na Posição 2.
O professor pode fazer um jogo de
atenção, pedindo ao grupo que faça as
posições
solicitadas (alternadas), como uma
espécie de jogo de “morto e vivo”.
Respiração Expandir e desenvolver a Imaginar que uma mão segura uma
consciência da capacidade vela e outra uma flor. Em seguida, fazer
respiratória. o movimento de cheirar a flor e apagar
a vela. Repetir algumas
vezes, podendo inserir uma contagem de
tempo para cada movimento, buscando
conscientizar a proporcionalidade
de inspiração x expiração. Será uma
boa alternativa também inserir, entre
a inspiração e expiração, o tempo
de pausa com pulmão cheio e com
pulmão vazio. Pode-se, posteriormente,
aumentar a contagem gradativamente,
para que a pessoa perceba o exercício
como um desafio para
expandir o tempo de inspiração e
expiração.

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UNIDADE 2 | A VOZ – QUESTÕES MUSICAIS

Ressonância Conscientizar as diferentes Pedir que as pessoas coloquem uma


nuanças de vibração do som no mão no topo da cabeça e outra
corpo. e na altura do peito. Em bocca chiusa
(hummm, como se entoando o som
de um mantra ou se deliciando com
alguma comida; a boca externamente
se mantém fechada e internamente
deve estar aberta como na produção
de um bocejo), descendo e subindo
em glissando (escorregar, sem saltos),
entoar sons agudos e graves e observar
onde o corpo vibra.
Pode-se também usar o mesmo
procedimento, pedindo que a mão seja
colocada na testa, em cima do nariz, no
queixo etc.
Articulação Desenvolver a consciência das Alternar as vogais e sublinhar a posição
formas da boca. diferente da boca, para cada uma das
etapas. No canto, utilizamos sete sons
de vogais que são: a, é, ê, i, ó, ô, u.
Afinação Exercitar a acuidade de produção Cantar uma canção subindo e descendo
sonora mudando-se o tom do meio tom.
trecho.

FONTE: Adaptado de Costa (2013)

Considerando os estudos de canto, a afinação é considerada um elemento


imprescindível para o cantor. Afinal, o que é afinação?

Para conceituar o termo afinação, Sobreira (2002, p. 58), aponta que deve
se levar em consideração aspectos como: influências fisiológicas e emocionais, ou
de estado de humor, e cultura na qual o cantor está inserido. As autoras enfatizam
que tanto a afinação quanto a desafinação devem ser analisadas a partir não
apenas do ponto de vista acústico, mas também do cultural, sendo esse último o
fator – o mais influente – na definição de ambos os termos.

O termo afinado será utilizado para designar pessoas que sejam


capazes de reproduzir, vocalmente, as relações sonoras aceitas dentro
dos padrões de nossa cultura. [...] Se a afinação pode ser considerada
um fator cultural, e não como algo fixo e imutável, a desafinação pode
seguir os mesmos critérios de avaliação. Portanto, para se considerar
alguém desafinado, deve-se levar em consideração a cultura em
questão (SOBREIRA, 2002, p. 63)

Direcionando nosso olhar para as vozes infantis, na questão da afinação,


muitas crianças antes dos cinco anos não são afinadas. Elas falam as letras das
canções em lugar de cantar. Com um trabalho auditivo, elas acabarão por aprender
a usar sua voz para o canto. Todas as pessoas ouvintes podem desenvolver a
habilidade de cantar.

Diz-se que um cantor é afinado quando atinge as alturas sonoras propostas


de maneira correta. Para Marsola e Baê (2000, p. 47), afinar é atingir a mesma

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TÓPICO 4 | EXERCÍCIOS PARA TÉCNICA VOCAL

frequência que foi tocada ou ouvida na melodia original a ser cantada. Tafuri (2000)
também afirma, afinar é uma questão cultural que adquire sentido e importância
diferente em contextos culturais e, por isso, é preciso não absolutilizá-lo, porém,
para nossa cultura é um elemento determinante, sobretudo, pelos aspectos sociais
como cantar em uma festa de aniversário – cantar em grupo.

Alguns fatores interferem na afinação. Marsola e Baê (2000) apontam que


a falta de percepção auditiva é um deles e que todos devem aprender a ouvir.
Elas apresentam que quem canta, ao ouvir um som, deve conseguir compará-lo e
diferenciá-lo de outros. Como exemplo: sons graves, médios e agudos; sons fortes
ou fracos, sons mais longos ou mais curtos, até distinguir intervalos das notas
musicais.

Então, cantar afinado também depende das oportunidades oferecidas


para cantar; depende de elementos físicos e fisiológicos, aparelho fonador e
auditivo; estratégias pedagógicas apropriadas para o desenvolvimento de uma
escuta consciente. Para cantar afinado, então, é necessário um trabalho auditivo.

Outro ponto importante a se considerar para afinação, é o ambiente


familiar, que influenciará em primeira instância. Se em casa os familiares cantam,
este processo será mais fácil, ou se só ouvem com indiferença rádio e televisão,
a criança não aprenderá a cantar e, provavelmente, terá mais dificuldade de
afinação. Para crianças que na primeira época de vida foi cantado, ela demonstrará
maiores possibilidades musicais, pois teve o desenvolvimento de seu ouvido,
de sua escuta. O educador musical Kodály (s.d. apud MATEIRO; ILARI, 2012)
defende que, antes de uma criança tocar um instrumento, ela deve cantar. O canto
é a melhor meio para estudar e apreciar a música, pois é nosso primeiro e mais
acessível dos instrumentos.

3 AQUECIMENTO E DESAQUECIMENTO VOCAL


Como nossa voz é produzida e amplificada pela ação de músculos, é
importante que você realize exercícios para a preparação da atividade vocal. Os
exercícios iniciais são chamados de aquecimento vocal. Assim, como preparamos
a voz, após sua utilização devemos desaquecê-la.

O aquecimento e o desaquecimento vocal favorecem também a saúde vocal do


cantor. Agora, trataremos da importância do aquecimento e do desaquecimento
vocal para o cantor. Aquecer e preparar a voz, bem como desaquecê-la após o
uso, são ações muito importantes para preservar a boa saúde vocal do cantor.

O aquecimento vocal tem como objetivos aumentar o fluxo sanguíneo,


a oxigenação e a flexibilização dos tendões, ligamentos e músculos,
possibilitando maior captação glótica, maior flexibilidade das
pregas vocais para o devido alongamento e encurtamento durante
as variações de frequência, qualidade vocal com maior componente
harmônico, aumento do nível de pressão sonora (NPS) e melhora da
projeção vocal e da articulação dos sons (RIBEIRO et al., 2016, p. 1457).

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UNIDADE 2 | A VOZ – QUESTÕES MUSICAIS

Já o desaquecimento, por sua vez, busca o retorno para os ajustes


musculares habituais da voz falada, diminuindo o fluxo sanguíneo e promovendo
o retorno do ácido lático, evitando assim a fadiga muscular (RIBEIRO et al., 2016).
Tanto o aquecimento quanto o desaquecimento vocal têm por objetivo melhorar o
desempenho vocal e atuar na prevenção do aparecimento de lesões no trato vocal,
as quais decorrem do uso incorreto ou abusivo da voz. Assim, a realização do
aquecimento vocal, segundo Ribeiro et al. (2016), objetiva melhorar a qualidade e
a projeção vocal.

O desaquecimento vocal, por sua vez, é realizado com o objetivo de


reduzir a sobrecarga vocal, retornando ao ajuste habitual da voz.
Uma vez que a musculatura laríngea se assemelha à musculatura
esquelética de todo o corpo, ela responde e se ajusta à intensidade
da demanda vocal, portanto, a dinâmica muscular laríngea e vocal é
beneficiada com a realização do aquecimento e desaquecimento vocal
para a manutenção da saúde vocal (RIBEIRO et al., 2016, p. 1458).

Agora, você conhecerá alguns exercícios para o desaquecimento vocal.


Assim como no aquecimento vocal, os exercícios devem ser realizados lentamente
para evitar tensões. Também é importante sempre observar a respiração. 

QUADRO 10 – EXERCÍCIOS PARA O DESAQUECIMENTO VOCAL

1) Técnica do bocejo: inspire e solte o ar fazendo o som de um bocejo. Você


pode utilizar a vogal “a” em uma região média, próximo à voz falada. 

2) Rotação de cabeça com vogais: faça movimentos circulares com a cabeça,


bem lentamente. Durante os exercícios pronuncie as A, O e U, uma de cada
vez, em uma região vocal mais grave. Procure deixar o maxilar bem relaxado. 

3) Sons nasais, como bocca chiusa, e vibrantes de língua (Trrrr) ou de lábio


(Brrrr) associados a glissandos descendentes. 

4) Relaxamento cervical: faça uma massagem cervical com a ponta dos dedos. 

5) Faça também massagens digitais na laringe (parte externa) com movimentos


circulares em volta da cartilagem tireóide;

6) Movimentos verticais na frente do pescoço (músculo cricotireóideo;


FONTE: As autoras

Marsola e Baê (2000) trazem outras possibilidades de exercícios para o


aquecimento e a preparação vocal:

• Assovio: assovie uma canção antes de cantar. O assovio massageia as pregas


vocais e torna mais perceptível o uso do diafragma, bem como a divisão da
respiração.

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TÓPICO 4 | EXERCÍCIOS PARA TÉCNICA VOCAL

• Técnica de vibração: emitir Trrrrrrr (vibração de língua) ou Brrrrr (vibração de


lábio) – reto, com modulação, com intervalos.

• Bocejos vocálicos: fazer bocejos com sons, bem ampliados com terminação em
“m”: Ahhhhhhhhhmmm; Ehhhhhhmmmm, e assim com todas as vogais.

• Emitir: “nnn” com um leve sorriso, em seguida “mmm” e após fazer a emissão
das vogais.

Em síntese! A voz deve ser preparada para o canto, através de exercícios


vocais e corporais. Após seu uso, ela deve ser desaquecida, compreendendo que
voz falada e voz cantada, apesar de serem produzidas pela mesma estrutura,
apresentam ajustes fonatórios e articulatórios diferentes.

4 VOCALIZES

Existem diversos exercícios para o estudo vocal, dentre eles, os vocalizes.


Vocalizes são pequenas frases musicais que utilizamos como exercício para o
treinamento da voz, “que tem por objetivo o aquecimento da voz para a atividade
ou busca desenvolver algum aspecto daquilo que queremos cantar" (COSTA, 2013,
p. 81). São exercícios vocais com altura definida. Comumente é uma pequena
escala, entoada repetidamente, subindo e descendo de meio em meio tom. De
acordo com Marsola e Baê (2000), os vocalizes são feitos com intervalos musicais
dispostos melodicamente e acompanhados por um instrumento harmônico
assegurando a afinação do cantor. Os intervalos musicais na vocalização ajudam
a educar o ouvido e trabalham fundo as nossas pregas vocais. A vocalização
correta exige o domínio da respiração, dos articuladores e dos ressonadores.

Vilela e Carpinete (2014) salientam que os vocalizes são essenciais para


o desenvolvimento técnico vocal e expressivo. Eles fortalecem, flexibilizam,
aumentam a capacidade respiratória e a resistência do aparelho fonador;
promovem o ajustamento da afinação, da dinâmica e da articulação, e expandem
a tessitura. Agora, você receberá algumas dicas para a execução dos vocalizes:

1) Mantenha uma atitude relaxada (mas não largada). Sua coluna deve estar reta,
e seu peso distribuído uniformemente sobre as duas pernas. Rosto, pescoço e
ombros devem estar livres de tensão.

2) Controle a respiração. Faça antes dos vocalizes alguns exercícios respiratórios.

3) Procure bocejar antes dos exercícios. Durante o bocejo, você eleva naturalmente
o palato e abaixa a base da língua; além disso, o som do bocejo é um excelente
modelo para a sonoridade da voz cantada.

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UNIDADE 2 | A VOZ – QUESTÕES MUSICAIS

DICAS

Você pode realizar os exercícios vocais sozinho, com auxílio de playbacks,


ou mesmo com o uso de um instrumento harmônico como violão ou teclado, porém a
presença de um professor é muito importante, pois trará um olhar profissional, e ajudará a
corrigir possíveis erros durante os exercícios.

QUADRO 11 – CLASSIFICAÇÃO DOS VOCALIZES


Classificação
Vocalizes de aquecimento Exercícios monofônicos (exercícios realizados com uma
única melodia), trechos escalares, escalas, arpejos.
Vocalizes de aperfeiçoamento Exercícios com ornamentos, diferentes articulações e
técnico variações de dinâmica.
Vocalizes de estudo Exercícios musicalmente mais elaborados, com
acompanhamento de piano e mais variações melódicas,
rítmicas e de dinâmica.
Vocalizes artísticos Peças compostas com a finalidade de apresentação pública,
acompanhados de diversas formações instrumentais.

FONTE: Adaptado de Vilela e Carpinetti (2014)

É fundamental para o cantor iniciar a prática diária do canto com


exercícios de aquecimento. O aquecimento visa preservar a saúde do aparelho
fonador, aumentando a temperatura muscular, a flexibilidade das pregas vocais,
a intensidade e projeção do som e por coordenarem e mecanizarem diversos
movimentos respiratórios, de abaixamento da laringe e levantamento do véu
palatal.

O trabalho com os vocalizes deve ser iniciado em uma região confortável,


para isso é preciso conhecer sua voz, ou de seu aluno. Durante os exercícios
é importante estar atento à respiração. Inicialmente, é importante enfatizar
exercícios que auxiliam na afinação, por exemplo, escalas descendentes,
verificando a extensão adequada para a voz do aluno. Aos poucos você poderá
aumentar a extensão e a velocidade dos exercícios. Pacheco e Baê (2006) sugerem
que os exercícios devam ser realizados diariamente e praticados de preferência
em frente ao espelho, para que se observe, assim, a postura, possíveis tensões,
a sutileza do timbre, afinação e ritmo. As autoras apontam a importância dos
exercícios para alongar e fortalecer a musculatura vocal.

É importante frisar que no caso de fadiga ou cansaço vocal, rouquidão ou


outras alterações na voz, é importante a visita a um fonoaudiólogo, especialista
em voz, bem como ao médio otorrinolaringologista, pois são eles os profissionais
habilitados para cuidar da saúde vocal. Agora, você conhecerá alguns
aquecimentos vocais e vocalizes, considerando as faixas etárias.

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TÓPICO 4 | EXERCÍCIOS PARA TÉCNICA VOCAL

Abordaremos alguns exercícios vocais para cada faixa etária. Inicialmente,


apresentaremos alguns vocalizes para as vozes infantis. Esses exercícios além de
trabalhar com as questões musicais como afinação, respiração e articulação, são
divertidos. Os exercícios devem ser executados sempre subindo e descendo de
meio em meio tom.

VOCALIZE 1 – SONS ASCENDENTES E DESCENDENTES – GRAUS CONJUNTOS

FONTE: <http://1.bp.blogspot.com/-hEJVR00p_EA/UU8cCkK8SDI/AAAAAAAAAPQ/
IDWrMwmtVjw/s400/vocalize+1.png>. Acesso em: 16. out. 2019.

VOCALIZE 2 – SONS ASCENDENTES E DESCENDENTES COM VARIAÇÃO DE TEMPO – GRAUS


CONJUNTOS

FONTE: <http://2.bp.blogspot.com/-A1bdRhlDYhg/UU8cCR2RzOI/AAAAAAAAAPM/yeXPhJohwj4/
s400/vocalize+2.png>. Acesso em:16 out. 2019.

VOCALIZE 3 – INTERVALOS DE TERÇA MAIOR

<http://2.bp.blogspot.com/-3R2lowS1e5c/UU8cCvQMIMI/AAAAAAAAAPU/mvr7cf4YXIo/s400/
vocalize+5.png>. Acesso em: 16 out. 2019.

Além dos vocalizes, para o aquecimento das vozes infantis é possível


trabalhar com vibrações de língua ou lábio, ascendentes e descendente, bocca
chiusa – como se estivesse mastigando um som. Para soltar a musculatura da
língua, sugere-se fazer estalos e trabalhar com a abertura e o fechamento dos
lábios, verificando a mudança do som.

Como você aprendeu anteriormente, para as vozes adolescentes é


necessário que professor investigue a voz do aluno para verificar as possibilidades
de exercícios. Lembre-se: os exercícios como vocalizes não devem ser realizados
em uma extensão muito longa.

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UNIDADE 2 | A VOZ – QUESTÕES MUSICAIS

Caso você trabalhe com este público, os vocalizes podem ser os mesmos
realizados pelas vozes adultas, os quais serão abordados a seguir.

VOCALIZE 4 – PARA ARTICULAÇÃO DE VOGAIS: ARPEJO; INICIAR EM C

FONTE: <http://canone.com.br/images/stories/users/file/artigos/canto/vocalizes_2/voc_03.gif>.
Acesso em:17 out. 2019.

VOCALIZE 5 – PARA ARTICULAÇÃO DE VOGAIS

FONTE: <https://musicaeadoracao.com.br/recursos/imagens/tecnicos/tecnica/voc_04.gif>.
Acesso em: 20 out. 2019.

VOCALIZE 6 – EXERCÍCIO PARA RESSONÂNCIA

FONTE: <https://musicaeadoracao.com.br/recursos/imagens/tecnicos/tecnica/voc_02.gif>.
Acesso em: 15 out. 2019.

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TÓPICO 4 | EXERCÍCIOS PARA TÉCNICA VOCAL

VOCALIZE 7A – EXERCÍCIO PARA RESSONÂNCIA

FONTE: Goulart e Cooper (2002, p. 25)

VOCALIZE 7B – EXERCÍCIO PARA RESSONÂNCIA

FONTE: Goulart e Cooper (2002, p. 26)

VOCALIZE 8 – EXERCÍCIO PARA AQUECIMENTO DA PREGA VOCAL

FONTE: <https://musicaeadoracao.com.br/recursos/imagens/tecnicos/tecnica/voc_01.gif>.
Acesso em: 15. out. 2019.

VOCALIZE 9 – PARA TRABALHAR AS VOGAIS

FONTE: <http://www.studiomel.com/images/F-11-P-87.jpg>. Acesso em: 17 out. 2019.

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UNIDADE 2 | A VOZ – QUESTÕES MUSICAIS

VOCALIZE 10 – ARTICULAÇÃO DE CONSOANTES

FONTE: <http://www.studiomel.com/images/F-12-13-14-88.jpg>. Acesso em: 17 out. 2019.

VOCALIZE 11 – ARTICULAÇÃO DE CONSOANTES

FONTE: <https://musicaeadoracao.com.br/recursos/imagens/tecnicos/tecnica/voc_07.gif>. Acesso


em: 20 out. 2019.

VOCALIZE 12 – EXERCÍCIO PARA ARTICULAÇÃO

FONTE: Goulart e Cooper (2002, p. 28)

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TÓPICO 4 | EXERCÍCIOS PARA TÉCNICA VOCAL

VOCALIZE 13 – INTERVALOS DE SEGUNDA

FONTE: Leite (2001, p. 11)

VOCALIZE 14 – INTERVALOS DE TERÇA

FONTE: Leite (2001, p. 27)

VOCALIZE 15 – PARA TREINAR STACCATO E LEGATO: A PRIMEIRA FRASE DEVE SER CANTADA
COM STACCATO (SONS CURTOS) E A SEGUNDA FRASE COM LEGATO (LIGANDO AS NOTAS)

FONTE: Goulart e Cooper (2002, p. 20)

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UNIDADE 2 | A VOZ – QUESTÕES MUSICAIS

VOCALIZE 16 – EXERCÍCIO PARA PROJEÇÃO, DIRECIONE SUA VOZ PARA UM PONTO


DISTANTE. À MEDIDA QUE O VOCALIZE VAI FICANDO MAIS AGUDO, AUMENTE O ESPAÇO
INTERNO ABRINDO MAIS A BOCA

FONTE: Goulart e Cooper (2002, p. 34)

VOCALIZE 17 – EXERCÍCIO PARA PROJEÇÃO

FONTE: Goulart e Cooper (2002, p. 35)

VOCALIZE 18 – EXERCÍCIO PARA TRABALHAR A EXTENSÃO, AO CANTAR ESSE EXERCÍCIO


VOCÊ DEVE PRESTAR ATENÇÃO NA NOTA CIRCULADA, POIS É UMA NOTA CROMÁTICA.

FONTE: Goulart e Cooper (2002, p. 39)

Para trabalhar a articulação, além dos vocalizes, você pode realizar também
trava-línguas. No estudo do canto, os trava-línguas auxiliam para melhorar a
dicção e a pronúncia das palavras. Segundo Leffa (2004), um trava-línguas pode
ser definido como uma expressão ou frase difícil de pronunciar quando falada
rapidamente, devido a aliteração ou a repetição de sons semelhantes.

Os trava-línguas, em sua forma mais simples, é uma sucessão de sons


semelhantes, geralmente difíceis de serem reproduzidos, quando pronunciados

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TÓPICO 4 | EXERCÍCIOS PARA TÉCNICA VOCAL

rapidamente. Fazem parte das manifestações populares da cultura das diferentes


línguas e normalmente integram o repertório da literatura oral das crianças. Os
trava-línguas podem ser expressos em pequenas frases:

• Quando a pia pinga o pinto pia.


• O rato roeu a roupa do rei de Roma e a rainha de raiva rasgou o resto.
• Sabia que o sabiá sabia assobiar?

Em pequenos diálogos:

• O seu Tatá tá? — Não, o seu Tatá não tá, mas a mulher do seu Tatá tá. E quando
a mulher do seu Tatá tá, é a mesma coisa que o seu Tatá tá, tá? — Tá.

• Qual é o doce mais doce que o doce de batata doce? O doce mais doce que o
doce de batata doce é o doce feito com o doce do doce de batata doce
E em pequenos textos:

• O vento perguntou pro tempo qual é o tempo que o tempo tem. O tempo
respondeu pro vento que não tem tempo pra dizer que o tempo do tempo é o
tempo que o tempo tem.
• Compadre compre pouca capa parda porque quem pouca capa parda compra
pouca capa parda gasta. Eu pouca capa parda comprei e pouca capa parda
gastei.
• Pardal pardo, por que palras? Palro sempre e palrarei, porque sou pardal pardo
palrador del-rei.
• Num ninho de mafagafos tinham seis mafagafinhos. Quem os desmafagafizar,
bom desmafagafizador será.

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UNIDADE 2 | A VOZ – QUESTÕES MUSICAIS

LEITURA COMPLEMENTAR

CANTO E TEORIA DA COMPLEXIDADE: CONSIDERAÇÕES


ACERCA DO PENSAMENTO COMPLEXO RELACIONADAS AO
APRENDIZADO DO CANTO

Wanderson Moura Costa


Claudia Regina de Oliveira Zanini

Voz: um fenômeno complexo

A voz é uma expressão sonora absolutamente individual, podendo ser


comparada a uma impressão digital. Cada voz é única e possui peculiaridades,
de modo que as características vocais de uma pessoa se devem, em parte, às suas
características anatômicas, como tamanho do trato vocal, dimensão das pregas,
formação da estrutura da face etc. No entanto, a identidade vocal não se limita
apenas às configurações anatômicas, já que a história pessoal, os relacionamentos
interpessoais, a idade, as condições ambientais, a saúde física, a situação e o
contexto de comunicação são fatores determinantes na constituição da identidade
vocal de cada um.

A voz é também um meio de comunicação capaz de promover a


inter-relação entre os seres humanos; “cantar, emitir sons ou palavras que se
sucedem através de modulações musicais da voz é, para o homem, utilizar-se
do seu primeiro instrumento de comunicação como expressão artística sonora”
(BEHLAU et al., 2010, p. 334).

Pinho (2001, p. 2), ao refletir sobre a constituição da voz, afirma que


“os aspectos envolvidos na fonação são: anátomo-fisiológicos, psicossociais e
ambientais”. De acordo com essa mesma perspectiva, Behlau e Pontes (1999, p.
15) ressaltam que “a voz conta com uma série de dados inerentes a três dimensões;
a biológica, a psicológica e a socioeducacional”. No mesmo sentido, Behlau et
al. (2010, p. 287) reiteram que “o atendimento a um profissional da voz é quase
sempre multidisciplinar e pode incluir colegas da área da saúde e das artes, além
de especialistas em saúde coletiva e direito trabalhista”.

No conjunto de afirmações dos referidos autores é possível perceber a


complexidade envolvida no termo “voz”. A voz é biológica, pois “é uma expressão
sonora absolutamente individual, fato semelhante ao que ocorre com a impressão
digital” (BEHLAU; PONTES, 1999, p. 15), ou seja, nascemos com determinadas
características anatômicas que produzirão o tipo de voz característico de cada
um; em suma, não existem duas vozes iguais. A voz é também psicológica, pois
“a voz é o espelho do momento de vida de uma pessoa, portanto, nada mais
cristalino que o impacto do estado mental e emocional sobre a voz” (WEINER,
1978; VERNET, 1990 apud BEHLAU et al., 2010, p. 348). Sendo assim, segundo os

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TÓPICO 4 | EXERCÍCIOS PARA TÉCNICA VOCAL

autores, por meio da voz, dos padrões de comunicação de uma pessoa, é possível
obter “informações variadas sobre o indivíduo, sua saúde, características de
personalidade, estado emocional, marcadores sociais, educacionais e culturais”
(BEHLAU et al., 2010, p. 296). Além dos aspectos supracitados, no caso específico
de cantores, somam-se a eles as dimensões artísticas da produção da voz.

Ante o exposto, podemos perceber que a voz, seja ela cantada ou falada,
é um fenômeno complexo sujeito a uma série de variantes. O ato de cantar é
caracterizado por processos que envolvem funções cognitivas, físicas, emocionais
e acústicas, internas e externas. Tais processos constituem o objeto de estudo das
pedagogias vocais, sejam elas quais forem. Assim, uma melhor compreensão do
ato de cantar somente é possível a partir da análise das inter-relações existentes
entre cada um desses fenômenos.

Contexto atual

Ao observamos as publicações acerca da temática voz, encontramos


uma série de trabalhos publicados abordando o tema sob as mais variadas
vertentes. Sousa (2013) busca compreender a maneira com que professores
de canto preconizam sonoridades, interpretam e nomeiam os fenômenos do
canto; Sacramento (2009) discursa sobre os processos de transição da técnica
erudita para a técnica de teatro musical; Elme (2015) analisa os processos de
ensino-aprendizagem formal e informal do canto popular brasileiro e as suas
particularidades estilísticas; Piccolo (2006) discute os processos de transmissão
e aprendizagem do canto popular e do canto lírico; ademais, Fernandez (2009)
promove um estudo amplo sobre as técnicas vocais e a práticas interpretativas
empregadas na música coral.

Diante do exposto, podemos perceber a quantidade de estudos que


analisam a temática sob diferentes prismas, sendo que todos contribuem de
forma significativa para a ampliação do conhecimento sobre a voz humana, seja
ela cantada ou falada. A contribuição do presente artigo deriva das articulações
e intersecções feitas entre a Teoria da complexidade e os processos de ensino-
aprendizado da voz cantada.

Uma vez que a voz é um fenômeno complexo, uma abordagem que priorize
a complexidade dos fenômenos se faz necessária. Nesse sentido, os conceitos de
Morin acerca do pensamento sistêmico, dos princípios dialógico e hologramático
podem contribuir de forma significativa para uma melhor compreensão dos
processos de ensino e aprendizado do canto.

Ensino do canto: breve panorama histórico

Os primeiros professores de canto dos quais se tem registro foram os


castrati. “Na Itália [...] os castrati dominaram o cenário vocal. Como professores
e intérpretes”. De acordo com Sanford (1979 apud PACHECO, 2006, p. 47), “eles

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UNIDADE 2 | A VOZ – QUESTÕES MUSICAIS

foram largamente responsáveis pelo desenvolvimento dos métodos vocais


italianos dos séculos XVII e XVIII”. Foram eles os pioneiros responsáveis pelas
primeiras tentativas de sistematização de uma didática vocal. Sua didática se
baseava em um conhecimento técnico vindo da sua experiência como cantores, ou
seja, arte de cantar durante os séculos XVII e XVIII era aprendida principalmente
através da imitação [...] o mestre de canto não tinha vastos conhecimentos sobre
fisiologia do mecanismo vocal; suas convicções eram baseadas primeiramente em
suas observações empíricas (PACHECO, 2006, p. 47). Com a revolução científica
desencadeada a partir do Século XIX, a metodologia experimental de ensino
do canto fundamentada basicamente na experiência de vida passou a sofrer
alterações oriundas das experimentações científicas.

No Século XIX, o cenário vocal muda completamente os últimos castrati


dão adeus à cena lírica e já não são mais os principais professores, nem são os
responsáveis pelas inovações técnicas que marcaram o começo desse século.
Começa a se desenvolver uma didática vocal baseada em princípios da fisiologia
vocal (PACHECO, 2006, p. 47).

Em 1854, Manuel Garcia, por meio de uma autolaringoscopia, que


consistia na utilização da luz solar e da colocação sequencial de dois espelhos de
dentistas sobre uma haste, se torna a primeira pessoa a visualizar a laringe e a
porção superior da traqueia de um sujeito vivo (URBINA; TRULLÉN, 2006). Após
essas observações, Garcia começa a descrever os elementos da fisiologia vocal
e os mecanismos vocais. Segundo suas observações, quatro aparelhos distintos
combinavam suas ações e eram responsáveis pela produção vocal; todavia,
apesar de trabalharem combinados, cada um desses aparelhos seria totalmente
independente do restante; são eles: o fole (os pulmões), o vibrador (a glote), o
refletor (a faringe) e o articulador (órgãos da boca) (GARCIA, 1894, p. 1).

No final do Século XX, o avanço da informática e a criação de aparelhos


de medição vocal propiciaram a realização de exames videolaringoscópicos,
promovendo um boom nas descobertas científicas relacionadas ao funcionamento
da prega vocal (VIDAL, 2000). Surge, então, “uma nova tendência de pedagogia
vocal, profundamente engajada com as pesquisas científicas sobre voz cantada”
(SOUSA; ANDRADA E SILVA; FERREIRA, 2010, p. 318).

O legado dos castrati, somado aos avanços da ciência na área da fisiologia


vocal, da acústica e da fonética da voz cantada, possibilitou o desenvolvimento
sem precedentes dos estudos em canto nos últimos séculos.

Correntes estéticas de canto no Brasil

Sousa (2013) afirma que, atualmente, o ensino de canto no Brasil apresenta


três linhas estéticas fortes e bem definidas: o canto erudito, o canto popular e
o canto comercial contemporâneo norte-americano (CCCA). Todavia, tais
categorizações são generalizações de grandes gêneros, cada um contendo estilos
variados.

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TÓPICO 4 | EXERCÍCIOS PARA TÉCNICA VOCAL

Em linhas gerais, as características estéticas do canto popular brasileiro


são: ajustes fonatórios próximos da fala e “a interpretação é o principal recurso
utilizado para a transmissão da emoção, estando subjugadas as variações de ritmo,
intensidade ou mesmo frequência” (BEHLAU et al., 2010, p. 35). Piccolo (2006,
p. 4) acrescenta que “o cantor popular na maioria das vezes, aprende seu ofício
ouvindo e imitando”. Sousa (2013, p. 136) ressalta o fato de que “não pode haver
padronização da voz, mas a busca de uma marca vocal pessoal bem definida”,
coadunando com as afirmações de Elme (2015) acerca das características do canto
popular: recursos vocais desenvolvidos a partir do canto falado, a genealogia
da voz, que consiste em processos imitativos feitos por um cantor iniciante e a
posterior transformação desses elementos estilísticos, o gesto interpretativo, que
consiste na impressão de traços da personalidade do artista nas obras, os gestos
vocais, que se tornam como que marcas registradas daquele timbre do cantor,
entre outros.

O canto erudito, por sua vez, “pressupõe necessariamente a existência de


um treinamento vocal prévio” (BEHLAU et al., 2010, p. 337), sendo caracterizado,
resumidamente, por “um controle respiratório desenvolvido, presença de
formante do cantor e valorização do vibrato” (BEHLAU et al., 2010, p. 337).
Piccolo (2006, p. 68) afirma que o canto lírico inclui “domínio do legato, um tipo
específico de vibrato, a grande projeção, o equilíbrio ressonantal, a ‘neutralidade’
de vogais”. Miller (1996), ao discorrer sobre canto erudito, ressalta a importância
do manejo respiratório, da dicção e do legato. Outro fator envolvido na técnica
do canto erudito é “a importância da técnica de abertura faríngea, ou gola aperta
(garganta aberta), este é um dos raros aspectos sobre o qual todos os pedagogos
estão de acordo” (SACRAMENTO, 2009, p. 129).

O belting, incluso na categoria CCCA, tem como características: “voz


metálica, com emissão frontal, estridente com alto nível de nasalidade” (POPEIL,
2007; MILES; HOLLEIN, 1990 apud CARDOSO; FERNANDEZ, 2015, p. 52), e
“posição de laringe alta e atraso de passagem de ‘voz de peito’ para ‘voz de cabeça’
em relação às notas usualmente referenciadas para cada naipe” (CARDOSO;
FERNANDEZ, 2015, p. 52). Estilisticamente, o belting prima pela clareza do texto
teatral, “consiste numa expressão vocal da ‘fala-cantada’.

É preciso que haja, por parte do professor, uma atitude tanto dialógica, ao
levar em conta as contradições presentes na emissão vocal, como hologramática,
sempre contextualizando os fenômenos através de uma interligação dinâmica
entre o todo e as partes.

Sob o ponto de vista da complexidade, “as partes são ao mesmo tempo


mais que as partes, e as partes são eventualmente mais que o todo e o todo e menos
que o todo” (PENAVEGA; NASCIMENTO, 1999, p. 262). Assim, o professor, ao
observar um determinado problema de afinação, deve levar em conta não apenas
a frequência emitida em si, mas contextualizar o todo da emissão vocal na procura
de uma solução ante essa dificuldade do aluno. Ao interligar as partes e analisar as
interações existentes no processo, novas possibilidades de compreensão e novas
estratégias de ação podem ser tomadas no sentido de propiciar o aprendizado.
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UNIDADE 2 | A VOZ – QUESTÕES MUSICAIS

Outro exemplo está relacionado à dimensão técnica e estilística da voz.


Seja qual for o “tipo” de canto, todos eles pressupõem um desenvolvimento
técnico específico característico daquele estilo. Consequentemente, a forma de
treinamento vocal será diferente para cada estilo. Sob essa ótica, o treinamento
de canto popular certamente divergirá do treinamento de canto erudito ou do
belting, visto que “a técnica vocal ao ser desenvolvida, vai definindo características
tímbricas que conduzem a uma estética específica” (PICCOLO, 2006, p. 69).

Portanto, ao se deparar com um aluno de canto popular, por exemplo, o


professor deverá estar ciente de que os estilos são diferentes e o treinamento a ser
empregado também deverá ser diferenciado. Deverá compreender, também, as
articulações e interações desse canto em cada contexto histórico e com cada aluno
em específico. Ensinar um aluno de gospel, por exemplo, não será a mesma coisa
que ensinar um aluno que canta sertanejo, mesmo que ambos se enquadrem na
categoria de canto popular brasileiro (PICCOLO, 2006; SOUSA, 2013), uma vez
que “o canto popular brasileiro possui padrões bem diversos até de outros cantos
populares como o gospel e o sertanejo, por exemplo” (ELME, 2015, p. 214).

O conceito de pensamento sistêmico pode enriquecer a percepção do


professor sobre a forma de ensinar diferentes estilos. Ao compreender que “a
ideia sistêmica se opõe a ideia reducionista” (MORIN, 2003, p. 72), em que o
ensino é estruturado segundo uma visão racionalista e “o homem é reduzido
a apenas uma dimensão, a apenas uma disciplina” (SANTOS, 2010, p. 19), o
professor de canto passa a se abrir a novos estilos, a outras formas de ensinar, a
outras questões que podem estar além de sua formação técnica.

Sá (2013, p. 132) afirma que “o sistema não pode ser uma totalidade
fechada em relação ao seu entorno ou a outros sistemas”. O professor de canto
não pode se fechar à diversidade de estilos de canto presentes no contexto
brasileiro, não pode ignorar as particularidades de cada um deles, e, ainda que
opte por um lócus de produção específico, deve estar ciente de que as abordagens
por ele utilizadas nesse lócus não são universais e podem não funcionar em
outros estilos. Ainda que alguns recursos técnicos utilizados em um estilo sejam
semelhantes aos de outro estilo, não significa que as práticas empregadas sejam
iguais (PICCOLO, 2006). Ao levar em conta o complexus, os diferentes fios que se
entrecruzam e que formam aquela voz, aquele estilo, e abarcar os mais diversos
saberes dialogando com a diversidade das complexidades, o professor poderá
propiciar um desenvolvimento técnico satisfatório a seus alunos.

Ademais, podemos ressaltar a dimensão psicológica/emocional na


constituição da voz. Behlau et al. (2010, p. 311) afirmam que “a correlação entre voz
e emoção é direta e automática no dia a dia, embora nem sempre consciente e com
níveis de manifestação diversos, de acordo com a personalidade do indivíduo e
com seu treinamento de controle emocional”. E ainda: “na produção da voz e da
fala, convergem aspectos fisiológicos, comportamentais, cognitivos e emocionais,
desvios na esfera mental podem provocar nítidas consequências vocais”

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TÓPICO 4 | EXERCÍCIOS PARA TÉCNICA VOCAL

(BEHLAU et al., 2010, p. 80). O estado psíquico do aluno refletirá diretamente


sobre a emissão da voz no contexto das aulas de canto.

Sendo assim, determinado aluno pode apresentar dificuldades em alguns


aspectos vocais devido a esse processo de resposta emocional automática das
estruturas cerebrais, “pois podemos ativar uma resposta emocional antes mesmo
de entender o percebido” (LESCANO, 2007, p. 96). Em outras palavras, ainda
que a mensagem do professor acerca daquilo que deseja que o aluno realize
esteja clara, se esse comando emitido pelo professor estiver atrelado a uma
emoção negativa por parte do aluno, visto que “os sujeitos tendem a fixar certas
experiências aprendidas, particularmente as negativas” (LESCANO, 2007, p. 97),
a resposta será processada automaticamente antes mesmo de passar por processos
cognitivos de decodificação da informação recebida. Consequentemente, essa
resposta tenderá a ir na contramão do proposto pelo professor.

Suponhamos que determinado professor de canto esteja trabalhando


questões interpretativas de uma determinada canção com seu aluno e esse aluno
apresente certo grau de inibição, caso esse aluno tenha passado por alguma
experiência negativa relacionada a esse processo, por exemplo: críticas, ironias etc.,
e tenha fixado essa memória negativa. No momento em que o professor propuser
o exercício, o aluno responderá automaticamente a partir dessa experiência
prévia, pois o sujeito (aluno) fixará mais as experiências negativas associadas
ao temor (críticas, ironias), recuperando-as mais facilmente que as experiências
positivas (comandos do professor). Nesse sentido, há uma necessidade por parte
dos professores de canto de refletirem sobre as estreitas interações existentes
entre voz e psiquismo. Uma abordagem dicotomizada de ensino, em que mente
e corpo estejam dissociados, consequentemente, prejudicará o processo de
aprendizagem.

Morin afirma: “desunimos, separamos o inseparável, sem lembrar


que o homem tem um espírito, mas este espírito está ligado ao cérebro: tudo
está relacionado” (PENA-VEGA; NASCIMENTO, 1999, p. 33). Ao desunir o
aprendizado de canto dos processos psicológicos inerentes a ele, um professor
certamente tenderá a uma visão prejudicada do todo, em que apenas uma parte é
observada. Dito de outra forma:

As emoções acompanham o processo de ensino/aprendizagem e são a


mola propulsora de um ensino criativo e renovador dos conhecimentos.
A subjetividade é um elemento permanente das partes envolvidas. O
pensar, o sentir e o atuar constituem uma unidade integrada, cada um
deles leva ao outro, não há como separar, há uma interferência mútua
(SANTOS, 2010, p. 35).

Estabelecer diálogos entre nossas mentes, nossas ideias, nosso corpo,


nossa cultura, nossa sociedade é algo indispensável para enfrentar os problemas,
sejam em sala de aula, sejam na vida. Para isso, se faz necessário um pensamento
que caminhe na direção da complexidade.

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UNIDADE 2 | A VOZ – QUESTÕES MUSICAIS

FONTE: COSTA, W. M.; ZANINI, C. R. de O. Canto e Teoria da complexidade:


considerações acerca do pensamento complexo relacionadas ao aprendizado do canto.
Revista da ABEM, Londrina, v. 24, n. 36, p. 116-129, jan./jun. 2016. Disponível em: http://
www.abemeducacaomusical.com.br/revistas/revistaabem/index.php/revistaabem/article/
download/573/468. Acesso em: 6 fev. 2020.

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RESUMO
Você aprendeu que:

• Os exercícios preparam o corpo e as estruturas vocais para o canto.

• É importante que após a realização do alongamento e do aquecimento corporal,


sejam feitos exercícios de respiração, início dos exercícios de técnica vocal.

• A afinação é conceituada numa perspectiva cultural, assim o que é afinação em


nossa cultura, pode não ser para outra.

• Os vocalizes são exercícios vocais com notas musicais, isto é, com altura
definida.

• Os vocalizes fortalecem, flexibilizam, aumentam a capacidade respiratória e a


resistência do aparelho fonador.

• Os vocalizes também promovem o ajustamento da afinação, da dinâmica e da


articulação; e expandem a tessitura.

• Além dos vocalizes, os trava línguas são ótimos exercícios de articulação.

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AUTOATIVIDADE

1 Uma questão sempre presente na prática vocal e na vida do cantor, está


relacionada com a afinação. Com relação a este assunto, é correto afirmar,
EXCETO:

a) ( ) Para Sobreira (2002) o conceito de afinação deve levar em conta apenas as


questões fisiológicas e emocionais do cantor.
b) ( ) A afinação para Sobreira (2002) e Tafuri (2000) é apontada como um fator
cultural, assim, é um conceito mutável.
c) ( ) Fisicamente falando, afinar é atingir a mesma frequência de um som que
foi tocado ou ouvido em determinada melodia.
d) ( ) Alguns fatores influenciam na questão da afinação do cantor. A fala de
percepção auditiva é uma das mais importantes, por isso aprender a ouvir
atentamente é fundamental.

2 Coloque V para as informações verdadeiras e F para as informações que


considerar falsas:

a) ( ) O desaquecimento vocal é opcional. Se o cantor sentir necessidade, poderá


realizá-lo após sua apresentação.
b) ( ) Alguns exercícios de desaquecimento vocal estão relacionados com o
relaxamento das estruturas externas ao trato vocal, como por exemplo a
região cervical.
c) ( ) O aquecimento vocal auxilia na qualidade da emissão e da projeção vocal.
d) ( ) Tanto o aquecimento, quanto o desaquecimento favorecem a saúde vocal
do cantor.

A alternativa que apresenta a sequência CORRETA é:


a) ( ) V – V – F – F.
b) ( ) V – F – V – V.
c) ( ) F – V – V – V.
d) ( ) F – F – V – F.

3 Os _________ _________ são definidos como uma expressão ou frase difícil de


pronunciar quando falada rapidamente, devido a aliteração ou a repetição de
sons semelhantes. São brincadeiras da cultura popular aplicadas ao estudo do
canto que auxiliam para melhorar a ___________e a ____________ das palavras.

A alternativa que contém as palavras que preenchem as lacunas


corretamente é:

a) ( ) Vocalizes, dicção e pronúncia.


b) ( ) Exercícios de aquecimento, pronúncia e dicção.
c) ( ) Trava línguas, dicção e pronúncia.
d) ( ) Exercícios articulatórios, pronúncia e dicção.

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UNIDADE 3

A PRÁTICA VOCAL VOLTADA PARA A


EDUCAÇÃO MUSICAL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo, você deverá ser capaz de:

• refletir sobre o trabalho com canto na educação musical;

• conhecer as características vocais de cada faixa etária;

• conscientizar-se da escolha de atividades de educação vocal conforme a


faixa etária;

• conhecer exercícios de aquecimento e preparação vocal;

• refletir sobre a escolha do repertório a ser trabalhado.

CHAMADA

Preparado para ampliar teus conhecimentos? Respire e vamos em


frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverás
melhor as informações.

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UNIDADE 3
TÓPICO 1

O CANTO NA EDUCAÇÃO MUSICAL

1 INTRODUÇÃO
Na educação básica é comum vermos professores que utilizam o canto
em suas aulas, principalmente com as crianças menores. Muitas vezes o canto
tem servido apenas como apoio para outros fins, como cantar para aprender
conteúdos de outras disciplinas, ou cantar para marcar os diferentes momentos
que acontecerão durante a aula (música de chegada, música do recreio, música
para lavar as mãos, música de saída, entre outras). Muitas vezes quem trabalha a
prática vocal, não é um professor que tem preparo para realizar esse trabalho, o
que pode causar grandes danos à voz infantil ou adolescente.

A voz humana [...] assume um importante papel, uma vez que é um


instrumento musical acessível a todo indivíduo saudável. A nossa
problemática se inicia quando, por ser a música um instrumento tão
popular, a sua forma de utilização cai num senso comum que se afasta
do ideal, ou seja, quando um indivíduo sem o conhecimento devido
do funcionamento de seu aparelho vocal comete abusos que trarão
prejuízos tanto do ponto de vista musical como físico. Este problema
atinge proporções cada vez maiores quando este indivíduo, que mal
conhece sua própria voz, é responsável pela condução de vozes infantis.
Então as consequências podem ser desastrosas (CARNASSALE, 1995,
p. 13).

Na educação musical, é importante trabalhar também com o canto, uma


vez que é um recurso, na maioria das vezes, disponível a todos, e que seu ensino
aliado a outros conhecimentos, torna a educação musical mais significativa.
Ao utilizarmos a prática vocal na educação básica, é importante ter em mente,
que não devemos buscar apenas o resultado de uma determinada música que
queremos cantar com os estudantes, mas é importante trabalhar outros aspectos
relacionados à voz, como o funcionamento da voz e a saúde vocal.

É muito importante que você, como professor, conheça as diversas formas


de trabalhar o canto com as diferentes faixas etárias, uma vez que a prática vocal
se não for trabalhada de maneira consciente, pode prejudicar a saúde vocal.
Outro ponto importante a ser destacado, é o de termos um olhar cuidadoso sobre
cada estudante, com o qual será trabalhado o canto. Quando houver alguma
irregularidade na voz do estudante, devemos sugerir que ele busque uma
consulta com o especialista na área, para não prejudicar seu aparelho fonatório.

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UNIDADE 3 | A PRÁTICA VOCAL VOLTADA PARA A EDUCAÇÃO MUSICAL

É fundamental que você, como futuro professor, busque constantemente


aprofundar e ampliar seus conhecimentos sobre a voz, não se atendo apenas ao
que estamos estudando neste livro, para que possa realizar um trabalho vocal
mais completo e eficiente com seus alunos. Nesse sentido, na educação musical
não devemos apenas cantar com os estudantes, mas devemos trabalhar tudo
o que envolve o canto, para que eles possam ter consciência da sua voz. Esses
apontamentos não servem apenas para o ensino do canto na educação básica, mas
também em outros espaços de educação musical (AMATO, 2008). Lembramos
também que o professor serve como modelo para seus estudantes, assim é
importante que você também tenha os cuidados necessários com sua voz.

2 TRABALHANDO COM A VOZ INFANTIL


O contato das crianças com o universo sonoro já começa na fase
intrauterina, porque os bebês convivem com um ambiente de sons provocados
pelo corpo da mãe, como o som do sangue fluindo nas veias, a respiração e os
batimentos cardíacos. A voz materna, torna-se uma referência afetiva para o bebê.
Os bebês e as crianças interagem com o ambiente sonoro que os envolve, uma
vez que ouvir, cantar e dançar são atividades presentes na vida de quase todos os
seres humanos, mesmo que em cada cultura se apresente de maneira diferente.
Assim, a musicalização dos bebês e crianças começa de forma espontânea, por
meio do contato com os sons que as rodeiam. Nesse período, é importante que
os bebês tenham contato com as cantigas de ninar, canções de roda, parlendas
e jogos musicais, porque por meio das interações que se estabelecem, o bebê
desenvolve um repertório que permitirá sua comunicação por meio dos sons,
desenvolvendo-se afetivamente e cognitivamente, criando vínculos com os
adultos e com a música (BRITO, 2003).

A brincadeira é algo que faz parte do universo infantil e brincando a


criança faz música. A criança é receptiva e curiosa, ela pesquisa diversos materiais
sonoros, transforma objetos em instrumentos, inventa e imita motivos melódicos
e rítmicos e é receptiva a ouvir música de todos os povos. Cada criança é única
e percorre seu próprio caminho na construção do seu conhecimento. Por isso, é
importante que ao trabalhar com bebês e crianças, possamos observar e reconhecer
que cada uma vai se desenvolver e interagir com as propostas apresentadas de
maneira diferente. Por isso, é importante respeitar o tempo e a expressão de cada
criança, não esperando que todas respondam de maneira igual (BRITO, 2003). É
importante conhecermos o desenvolvimento de cada fase da criança, para que
possamos escolher atividades adequadas de acordo com cada faixa etária. Em um
trabalho de educação musical, além de conhecer o desenvolvimento da criança,
devemos ter um olhar voltado para cada estudante separadamente, pois em um
grupo com uma mesma faixa etária, cada criança pode responder de maneira
diferente. No quadro a seguir, conheça um pouco mais sobre o desenvolvimento
vocal do bebê:

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TÓPICO 1 | O CANTO NA EDUCAÇÃO MUSICAL

QUADRO 1 – DESENVOLVIMENTO VOCAL DO BEBÊ

Idade Desenvolvimento
Primeiros meses de vida O bebê explora uma grande quantidade de sons vocais, para
se preparar para a fala, sem se limitar aos sons e fonemas
presentes em sua língua materna, isso começa a acontecer
a partir dos oito meses. Quando emite os sons vocais, com
movimentos sonoros ascendentes (do grave para o agudo)
ou descendentes (do agudo para o grave), o bebê não emite
o som buscando uma afinação baseado no seu repertório
cultural, mas explora as qualidades dos sons, descobrindo e
ampliando novas possibilidades.

O bebê, está atento aos sons vocais que o rodeia, e responde


a eles estabelecendo contato com os adultos, conseguindo
imitá-los.

Inventar sons vocais e responder a eles é importante para o


desenvolvimento afetivo, cognitivo e musical do bebê.
A partir de seis meses O bebê começa a balbuciar os sons que irá ordenar e classificar,
e que começa a produzir as primeiras comunicações verbais
com os adultos.
Perto de nove meses O bebê vai aos poucos adquirindo a habilidade de emitir
vogais.
Perto de doze meses O bebê vai adquirindo a habilidade de emitir consoantes.
Até os dois anos A criança passa por desenvolvimento musical intenso, e a
voz com o movimento é um elemento muito importante

FONTE: Adaptado de Brito (2003)

No trabalho vocal com bebês e crianças, deve-se cantar, brincar com a


voz, explorar diversas possibilidades sonoras como imitar vozes de animais,
ruídos, som das vogais e consoantes, entoação de movimentos sonoros e
pequenos desenhos melódicos. É possível sonorizar histórias, contos de fada, é
possível utilizar apenas sons vocais com livros que contêm imagens de paisagens
sonoras diversas e de animais. Também é possível inventar com as crianças
composições com diferentes sons vocais. O trabalho vocal com a criança deve
ocorrer em um ambiente motivador e descontraído, no qual não exista tensões
que possam comprometer a qualidade vocal infantil (BRITO, 2003). Você, como
professor, irá se tornar um modelo no desenvolvimento vocal para as crianças,
assim é importante que você tenha bons hábitos, como não gritar, não forçar
a voz, respirar tranquilamente, manter-se relaxado e com uma boa postura. É
importante também que você perceba se alguma criança está de vez em quando
com a voz rouca, que geralmente fala gritando ou forçando a voz e fazer os
encaminhamentos necessários para um especialista.

Ao cantar as canções, as crianças imitam o que ouvem e desenvolvem sua


expressão musical. Para que isso ocorra, as atividades vocais devem ser realizadas
em um ambiente de orientação e estímulo ao canto, à escuta e à interpretação.

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UNIDADE 3 | A PRÁTICA VOCAL VOLTADA PARA A EDUCAÇÃO MUSICAL

Cantar com as crianças, de maneira mecânica, não significa que estamos fazendo
música com elas. O mesmo acontece nos momentos de rotina na escola (música
da entrada, do lanche, de lavar as mãos), essas cantigas de rotina são repetitivas,
monótonas, mecânicas e não se constituem como uma aula de educação musical.
As crianças precisam ter a oportunidade de desenvolver sua expressão, para
isso é importante que nós como professores permitamos que ela possa criar seus
gestos, que possam observar e imitar os colegas e que possam se concentrar na
interpretação da canção sem ter que realizar gestos comandados em todo o tempo
(BRITO, 2003).

Estamos vivenciando um momento, em que as crianças estão cantando


cada vez menos, e quando o fazem, é sem uma preparação vocal. O canto muitas
vezes tem sido substituído pela televisão, vídeo, CDs e outros meios. As crianças
na escola, têm cada vez menos contato com as canções populares tradicionais
(GIGA, 2004). Por isso, é tão importante a prática vocal com as crianças, uma
prática voltada para a ampliação do repertório da criança, e não apenas voltada
para a música midiática, que são aquelas que geralmente as crianças já têm acesso.

Ao cantar com as crianças, é importante que você como professor, não


fique pedindo que as crianças cantem “mais alto”, elas precisam perceber a
diferença entre cantar e gritar. A criança, por ainda estar passando pelo estágio
de desenvolvimento vocal, não consegue cantar com grande intensidade,
quando pedimos para que a criança cante cada vez “mais alto”, podemos estar
prejudicando a sua voz.

Outro ponto importante a ser observado é a extensão vocal das crianças,


por isso precisamos cuidar para não cantar em tonalidades graves, nem muito
agudas. O tamanho da letra da música, também é outro ponto importante, as
canções não devem ter uma letra muito longa, que exija muita repetição da canção
(BRITO, 2003). Para entender melhor as diferenças na voz em cada faixa etária,
observe o quadro a seguir:

QUADRO 2 – COMPARAÇÃO DOS PARÂMETROS VOCAIS

Parâmetro Vocal Infância Adulto Terceira Idade


No recém-nascido a
Frequência funda-
frequência funda- As mulheres possuem As mulheres têm uma
mental (é a altura
mental é de 440Hz. uma frequência funda- frequência funda-
de som a que
Aos 3 anos situa-se mental de 204Hz. mental de 180Hz.
corresponde a
perto de 320Hz. Os homens possuem Os homens têm uma
intensidade normal
Na pré-adolescência uma frequência funda- frequência funda-
da voz falada de um
o valor médio é de mental de 113 Hz. mental de 140Hz.
indivíduo).
290Hz.
A extensão vocal é A extensão vocal se Há uma perda nos
Extensão vocal
reduzida. torna mais ampla. extremos.

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TÓPICO 1 | O CANTO NA EDUCAÇÃO MUSICAL

Tempo máximo
de fonação (é o
tempo medido em As mulheres
As mulheres sustentam
segundos, que um sustentam acima de 10
Sustenta no máximo acima de 15 segundos.
sujeito consegue segundos.
até 12 segundos. Os homens sustentam
sustentar uma vogal, Os homens sustentam
acima de 20 segundos.
na altura e intensi- acima de 15 segundos.
dade normais da
fala).
Moderada para Tem tendência a ser
Intensidade Extensão ampla.
elevada. reduzida.

FONTE: Adaptado de Behlau (2008)

Cada criança vivencia os estágios de mudança de voz de forma e em tempo


diferente, assim o professor deve estar atento às transformações psicológicas
e fisiológicas de cada criança. Na escola, em uma mesma classe, crianças que
possuem a mesma idade podem estar em estágios de mudança de voz diferente
(RIBEIRO, 2017). Coelho (2012 apud CAMPBELL, 1995) aborda um quadro do
método Music in childhood que aborda o desenvolvimento da voz infantil, para que
o professor tenha consciência das práticas que poderá realizar com os estudantes:

QUADRO 3 – DESENVOLVIMENTO DA VOZ INFANTIL


Idade Atividades de desenvolvimento
Vocalizes com vocais e consoantes
Menos de 1 ano
(balbuciar).
Articula padrões rítmicos de forma irregular.
Imita o contorno das canções, “frases
De 1 a 2 anos
melódicas”, mas não distingue tonalidades/
afinação.
Balbucias frases melódicas mais extensas.
Balbucia pequenos intervalos de segunda e
2 anos de idade terça.
Imita as linhas melódicas de algumas
canções.
Cria espontaneamente canções recorrendo
a padrões rítmicos e melódicos.
3 anos de idade
Reproduz cânticos e rimas infantis e de
embalar.
Vai descobrir a diferença entre o cantar e o
falar.
Troca de canções conforme altera de jogo.
De 4 a 5 anos
Canta espontaneamente canções entre duas
oitavas.
Canta afinado.

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UNIDADE 3 | A PRÁTICA VOCAL VOLTADA PARA A EDUCAÇÃO MUSICAL

Canta afinado.
Pode começar a desenvolver, com o
acompanhamento do professor, a voz de
De 6 a 7 anos
cabeça (notas na região aguda).
Começa a controlar a sua voz recorrendo à
expressividade.
Canta afinado em um âmbito de oitava com
De 7 a 8 anos
uma tessitura pequena.
Canta afinado em um âmbito de oitava com
uma tessitura pequena.
De 8 a 9 anos
Consegue cantar canções com uma base
harmônica definida.
Canta afinado em um âmbito de oitava com
uma tessitura pequena.
De 9 a 10 anos Pode sofrer a primeira mudança vocal (mais
comum nos meninos).
Consegue cantar diferentes tipos de canções.
Canta afinado em um âmbito de oitava com
uma tessitura pequena.
De 10 a 11 anos Escolhe canções ao seu gosto.
Canta a 2 vozes para além da voz que
contêm a melodia principal.
Canta afinado em um âmbito de oitava com
uma tessitura pequena.
De 11 a 12 anos É muito seletivo na escolha do repertório.
Canta a 3 vozes para além da voz que
contêm a melodia principal.

FONTE: Adaptado de Coelho (2012)

O processo de aprendizagem de canto para a criança deve ser contínuo,


consciente, levando em consideração a evolução de cada criança, assim, Coelho
(2012), sugere algumas recomendações para o ensino de canto:

1) Como professor, é importante que você sempre se mantenha atualizado sobre


os novos estudos sobre o ensino de canto para crianças, uma vez que os estudos
sobre o tema estão sempre se atualizando.
2) De acordo com a evolução de cada voz as respostas vão ser muito diferentes ao
nível da extensão vocal e da emissão das pregas vocais.
3) Desenvolver a voz da criança com base na homogeneização dos registros.
4) O espectro de sons da voz infantil é limitado e deve ser respeitado no seu
tempo de crescimento, maturação e evolução.
5) As crianças devem, inicialmente, executar frases curtas e com reduzida
capacidade de sustentação do som. A evolução deve surgir gradualmente e
sem que se force a voz ao seu limite.

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TÓPICO 1 | O CANTO NA EDUCAÇÃO MUSICAL

6) O repertório deve servir as competências a atingir e não ser um objetivo por


si só.
7) É aconselhável não ultrapassar o tempo de 15 a 20 minutos, do uso da voz
cantada das crianças.
8) Utilizar um repertório em um registro confortável para as crianças, evitando os
extremos agudos.
9) Utilizar a expressividade musical sem que a criança esforce a sua voz, deve-se
10)Evitar o uso de grandes contrastes de dinâmica. Ser cuidadoso ao utilizar
exemplos do que se espera da criança, uma vez que o professor serve de modelo
para a criança, e que a criança geralmente imita o som a ser produzido.
11) Ajustar o repertório para uma tonalidade confortável para a criança (COELHO,
2012).

Outro cuidado importante que se deve ter, na prática vocal com as


crianças, é que elas precisam estar cientes do objetivo de cada atividade realizada,
mas não se deve utilizar termos muito técnicos, a criança precisa vivenciar e se
conscientizar do seu trabalho com a voz. Carnassale (1995), aborda alguns pontos
principais do que Nye e Nye (1957) abordam sobre o desenvolvimento infantil e
suas implicações para o ensino de música, apresentamos esses pontos no quadro
a seguir:

QUADRO 4 – CARACTERÍSTICAS DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL E SUAS IMPLICAÇÕES


PARA O ENSINO DE MÚSICA

6 anos
Implicações para o ensino de
Características do desenvolvimento normal
música
Começam a cantar pequenos
Processo de crescimento mais
motivos e frases: repertório de
lento, apesar de haver uma
melodias simples, bem aprendidas
“espichada”.
e frequentemente repetidas.
Desenvolvimento físico Olhos ainda não atingiram a
maturidade total. Tendência a Cantar de cor.
enxergar melhor de longe.
O coração está em período de Deve ser breve o tempo destinado
rápido crescimento. a atividades.
Períodos de concentração Atividades musicais breves: 20 min.
relativamente curtos. de atividades variadas.
As crianças precisam de
Reações características
Têm dificuldade em tomar oportunidades para escolher
decisões. canções e sugerir interpretações e
dramatizações.

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UNIDADE 3 | A PRÁTICA VOCAL VOLTADA PARA A EDUCAÇÃO MUSICAL

Paciência por parte dos adultos,


E n c o r a j a m e n t o , e l o g i o s uma vez que as crianças aprendem
constantes, entusiasmo e muita devagar. É necessária muita ajuda
paciência por parte dos adultos. no aprendizado de discriminação
das alturas das notas e afinação.
S i t u a ç õ e s e a t i v i d a d e s d e Canções concernentes ao já
Necessidades especiais
a p r e n d i z a d o c o n c r e t a s . conhecido e ao imediato: coisas,
Participação direta. animais, pessoas, atividades.
Algumas responsabilidades, mas,
sem serem pressionadas a tomar Liberdade para as crianças fazerem
decisões, fazer escolhas, ou sugestões nas atividades musicais.
atingir expectativas muito altas.
7 anos
Aumento no repertório de canções
Crescimento lento e constante.
mais longas.
Coordenação olhos-mãos em C a n ç õ e s d i r e c i o n a d a s p a r a
melhores condições. atividades específicas e jogos
Desenvolvimento físico
Melhor uso da musculatura fina. cantados de maior complexidade.
Olhos ainda não atingiram a
Continua a ênfase sobre as canções
maturidade suficiente para ver
decoradas.
de muito perto.

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TÓPICO 1 | O CANTO NA EDUCAÇÃO MUSICAL

Professores devem promover


atividades variadas durante a aula,
Cheias de energia, mas cansam
com canções direcionadas para
com facilidade.
atividades específicas e jogos
cantados.
Pensamentos abstratos ainda
pouco desenvolvidos. Aprendem
Ênfase na audição ativa e no
com maior sucesso em termos
reconhecimento de músicas ou
concretos (manipulação direta) e
intervalos.
onde podem ser ativas enquanto
aprendem.
Falantes exageradas.
Uso de canções com palavras
Podem fazer disputas (brigas)
Reações características absurdas. Criação de novas palavras
com palavras em vez de lutar
para canções.
corporalmente.
As crianças aprendem e criam
canções e frases rítmicas mais
Gostam de canções, ritmos,
complexas. Deve-se ensinar
contos de fadas, lendas, histórias
canções que expressam
sobre a natureza, comédias,
experiências, interesses e
rádio, cinema.
sentimentos do cotidiano da
criança.
Compreensão de valores de notas
Entendimento rudimentar dos musicais simples por meio de
valores de tempo e dinheiro. respostas rítmicas envolvendo o
corpo inteiro.
Apoio, em uma combinação Continuada atenção por parte dos
equilibrada entre independência adultos a fim de ajudar as crianças
e encorajamento. com dificuldades em cantar.
Uma atmosfera de amizade que
conduz à participação segura e
Necessidades especiais
livre em atividades musicais de
Relações afetuosas, animadoras
todos os tipos. Deve-se encorajar
e amigáveis com os adultos.
as crianças a cantarem sozinhas,
independentemente da voz do
professor ou gravação.
8 anos
Crescimento ainda lento e
gradual. Braços e mãos crescem Maior repertório de canções longas.
Desenvolvimento físico em maior proporção.
Olhos agora aptos para a visão Cantam de cor e com uso de
de perto e de longe. partitura.

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UNIDADE 3 | A PRÁTICA VOCAL VOLTADA PARA A EDUCAÇÃO MUSICAL

Deve-se planejar atividades


musicais em função das diferenças
Nova consciência de diferenças
individuais. Há crianças aptas à
individuais.
cantar cantigas de roda e melodias
populares, outras não.
Deve-se ter no repertório canções
Impulsivas, mais entusiasmadas que enfatizam segurança.
do que conscientes. Alto índice
de casualidade.

Reações características Aperfeiçoamento da qualidade


do timbre das crianças no canto.
Melhores condições de fazer
Audição mais crítica: desenvolve-
autoavaliação.
se maior discriminação e gosto
musical.
Professores devem orientar as
crianças na avaliação da sua própria
Responsivas a atividades em
expressão musical, e na avaliação
grupo, tanto espontâneas quanto
da expressão musical dos colegas,
supervisionadas.
levando ao respeito e apreciação
do trabalho dos outros.
Orientação sábia e canalização
Liberdade para experimentar e
dos interesses e entusiasmos em
Necessidades especiais criar em termos de canto tanto
lugar de dominação ou padrões
em grupo quanto individualmente.
de crítica exagerados.
9 anos

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TÓPICO 1 | O CANTO NA EDUCAÇÃO MUSICAL

Deve-se promover um programa


Diferenças individuais distintas
musical variado a fim de se adequar
e claras.
às diferenças individuais. Atitudes
Habilidades aparentes.
de afinação, se necessário.
Atividades musicais devem durar
Capazes de manter o aproximadamente 30 minutos.
interesse prolongadamente. Partituras de canto simples podem
Frequentemente fazem planos e ser introduzidas. Deve-se promover
vão adiante com eles. experiências criativas nas atividades
musicais.
Forte tendência a formarem
Repertório pode conter canções
Reações características grupos só de meninas e grupos
onde os meninos cantam uma
só de meninos, fechados, de
parte e as meninas outra.
curta duração e rotatividade alta.
Perfeccionistas, querem P ro f e s s o r d e v e e n c o r a j a r o
desempenhar bem suas desenvolvimento da autoconfiança
a t i v i d a d e s , m a s p e rd e m o por meio da participação bem-
interesse se desencorajadas ou sucedida em atividades individuais
pressionadas. ou grupais.
Menor interesse em contos de
fadas e fantasias, maior interesse Repertório deve conter canções
na comunidade, no seu país, em relacionadas à realidade da vida.
outros países e pessoas.
Jogos ativos e vigorosos. Canções de atividades e ritos ativos.
Explanações moderadas, falar Explicações claras e simples sobre
Necessidades especiais co m e l a s d e m a n e i r a n ã o os aspectos técnicos, na medida
impositiva, responsabilidades em que elas ocorrem nas variadas
definidas. atividades musicais.
10 a 11 anos

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UNIDADE 3 | A PRÁTICA VOCAL VOLTADA PARA A EDUCAÇÃO MUSICAL

Falta de coordenação motora. As


relações de força e movimento se
alteram continuamente, levando a
Rápido crescimento muscular.
uma falta de controle do próprio
Desenvolvimento físico corpo.

Desajeitamento quanto ao domínio


Crescimento heterogêneo de
da musculatura respiratória.
várias partes do corpo.
Quebras e instabilidade vocal.
Crianças próximas da
As atividades musicais devem ser
adolescência podem se tornar
Reações características selecionadas de forma a possibilitar
supercríticas, inconstantes e não
êxito a todas as crianças.
cooperativas.
Senso de pertencer e ser aceito
por um grupo de “iguais”.
Necessidades especiais Corais a 2 e 3 vozes.
Oportunidades progressivas de
independência.

FONTE: Adaptado de Carnassale (1995)

Lembramos que essas características não podem ser tomadas como


verdades absolutas, e que cada criança pode apresentar suas especificidades
independente de sua faixa etária. Por isso, é muito importante que o professor
observe cada criança.

2.1 EXERCÍCIOS
É interessante que os exercícios utilizados com as crianças sejam
realizados de forma lúdica, com temas que façam parte do contexto da criança, o
que tornará o aprendizado mais significativo. Ao iniciar as aulas com exercícios
de relaxamento, estamos ajudando as crianças a se concentrar, assim como
preparando a musculatura delas para o trabalho vocal.

Exercícios de relaxamento

1) Para realizar esse exercício, as crianças precisam estar deitadas no chão com
a barriga para cima, se possível as cortinas devem estar fechadas e as luzes
apagadas, mas a sala não deve estar totalmente escura, uma vez que você se
movimentará pela sala. Antes de iniciar o exercício, você pode explicar para
as crianças de uma maneira simples, que durante esse exercício elas precisam
se concentrar e ficar em silêncio, pois será um momento de relaxamento.
Deve-se colocar uma música instrumental tranquila de fundo, de preferência
de um repertório conhecido pelas crianças. Pedir que as crianças respirem
profundamente e que se imaginem um lugar tranquilo. Durante o exercício,
é importante que você observe o movimento respiratório das crianças, assim
como a sua musculatura para ver se há alguma tensão.

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TÓPICO 1 | O CANTO NA EDUCAÇÃO MUSICAL

2) Em pé, as crianças deverão responder corporalmente à música que elas estão


ouvindo. Elas deverão se movimentar de acordo com a pulsação da música. As
músicas tocadas deverão ter um andamento mais lento, para que as crianças
se movimentem de forma suave. Você pode participar também do exercício,
para encorajar as crianças. Nesse exercício, podem ser utilizados elementos
extramusicais como fitas de diversas cores e lenços, movimentando-os no ar
(REIS, 2019).

DICAS

Para a atividade nº 2, você pode utilizar músicas como:


As quatro estações de Vivaldi, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=DTTA-
EpRWt0.

O carnaval dos animais de Saint-Saëns, disponível em: https://www.youtube.com/


watch?v=5LOFhsksAYw&t=351s.

Gymnopédies (Lent et douloureux) de Satie, disponível em: https://www.youtube.com/


watch?v=aUaFH2h61J0.

Nocturne, Op. 9, nº 2, de Chopin, disponível em: https://www.youtube.com/


watch?v=9E6b3swbnWg.

Música do personagem Gaston, de A bela e a fera, disponível em: https://www.youtube.com/


watch?v=qNdwVcTu4Bo&list=PL-FXjs0VQCTAZR9h1Gm2M8lE2edFsQ6lY&index=30.

I Just Can't Wait to Be King, do Rei Leão, disponível em: https://www.youtube.com/


watch?v=EzvXiPolY9k&list=PL-FXjs0VQCTAZR9h1Gm2M8lE2edFsQ6lY&index=36.

A capacidade respiratória da criança é menor que a do adulto, assim deve-


se tomar cuidado com notas ou frases longas durante os exercícios.

Exercícios de respiração

1) As crianças, utilizando uma "língua de sogra", devem inspirar pelo nariz,


prestando atenção na expansão costodiafragmática e expirar realizando um
sopro com a boca.
2) Utilizando um balão, as crianças podem aprender as fases da respiração e da
produção vocal. O balão representa os pulmões, quando o balão está cheio
representa o pulmão cheio de ar que é o que ocorre na inspiração, quando o ar
sai do balão representa a expiração que é quando o ar sai dos pulmões. Quando
alongamos e aproximamos as bordas do bico do balão, podemos demonstrar a
vibração das pregas vocais durante a produção vocal, pois durante a saída de
ar, as pregas vocais vibram produzindo um som.

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UNIDADE 3 | A PRÁTICA VOCAL VOLTADA PARA A EDUCAÇÃO MUSICAL

3) Depois de fazer a atividade com o bolão, as crianças podem colocar a mão sobre
a sua barriga e perceber o seu movimento durante a inspiração e a expiração
(PENTEADO et al., 2007).
4) A criança deve imaginar que está com uma vela acesa na mão, e que a vela está
perto da boca, com um sopro rápido ela deve apagar a vela. Sucessivamente
deve afastar a vela, assim o sopro deverá ser mais longo e mais intenso.
5) A criança deve imaginar que está soprando pequenas bolas de sabão, com a
prática ela pode imaginar que está soprando bolas de sabão maiores (PEREIRA,
2009).

O aquecimento vocal tem o objetivo de preparar a voz para o canto,


assim como trabalhar aspectos técnicos como afinação, ressonância, articulação e
projeção. O aquecimento deve ser feito com exercícios com melodias construídas
em graus conjuntos, pequenos saltos e ritmos mais simples.

Exercícios de preparação vocal

1) Emitir o som de “mmm”, fazendo o movimento de mastigação.


2) Emitir o som em “zzzz”, associando ao som da abelha. As crianças podem variar
o som imaginando os diferentes voos da abelha, como realizar o som com uma
intensidade forte quando a abelha está voando alto, realizar o som com uma
intensidade fraca quando a abelha está voando baixo, um voo rasante, um som
agudo quando a abelha está nervosa.
3) Vibrar os lábios emitindo o som “brrrrr”, associando do carro.
4) Vibrar a língua ao som de “trrrrr”, associando ao som do motor do carro.
Enquanto produzem esses sons, as crianças podem colocar a mão no pescoço,
para sentir a vibração da laringe e do pescoço (PENTEADO et al., 2007).
5) Esse exercício pode ser realizado de meio em meio tom, e o ideal é que seja
realizado em até uma oitava, de acordo com a capacidade dos estudantes, é
importante iniciar em uma tonalidade confortável para eles e adaptá-lo caso
for preciso.

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TÓPICO 1 | O CANTO NA EDUCAÇÃO MUSICAL

FIGURA 1 – EXERCÍCIO DE AQUECIMENTO VOCAL

FONTE: Reis (2019, p. 37)

6) O seguinte exercício deve iniciar ao som de bocca chiusa quando se canta a


palavra “hum”.

FIGURA 2 – EXERCÍCIO DE RESSONÂNCIA

FONTE: Reis (2019, p. 38)

7) O exercício da Figura 3 é de nível intermediário e avançado, no final dele deve


ser realizado um glissando.

FIGURA 3 – EXERCÍCIO DE RESSONÂNCIA E ARTICULAÇÃO

FONTE: Reis (2019, p. 38)

8) A parte final do próximo exercício pode ser utilizada para exercitar o controle
respiratório, ao se buscar fazer a sequência de quatro colcheias em um único
fluxo.

FIGURA 4 – EXERCÍCIO COM GRAUS CONJUNTOS

FONTE: Reis (2019, p. 40)

9) Esse exercício da Figura 5 pode ser utilizado com crianças acima de nove anos.
Deve-se ter o cuidado de quando for executado em regiões agudas, que seja
realizado de forma gradual e cuidadosa com o aparelho fonador infantil.

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UNIDADE 3 | A PRÁTICA VOCAL VOLTADA PARA A EDUCAÇÃO MUSICAL

FIGURA 5 – EXERCÍCIO COM GRAUS CONJUNTOS

FONTE: Reis (2019, p. 41)

10)Esse exercício da Figura 6 é indicado para crianças acima de nove anos, no final
é realizado um glissando.

FIGURA 6 – EXERCÍCIO COM GRAUS CONJUNTOS E UM SALTO DE QUINTA

FONTE: Reis (2019, p. 41)

2.2 REPERTÓRIO
No trabalho de musicalização com crianças, é importante apresentar para
elas, canções do cancioneiro infantil tradicional, música popular brasileira, música
regional e de outros povos. As crianças não devem apenas cantar o repertório que
é apresentado a elas, que já está pronto, mas é importante também estimular a
improvisação e invenção de canções (BRITO, 2003).

Outros pontos a serem observados na escolha do repertório a ser trabalhado


com as crianças, é a melodia, o ritmo, a letra e a extensão vocal. O repertório
infantil deve respeitar as capacidades físicas, fisiológicas, cognitivas, emocionais
e psicológicas das crianças, o repertório escolhido deve ser adequado a tessitura
vocal da criança e composto em boa parte de frases curtas, descendentes, graus
conjuntos e pequenos intervalos. Deve-se ter o cuidado também com aspectos
como andamento lento e frases de grande sustentação, uma vez que as crianças
ainda não conseguem sustentar as notas por muito tempo (PEREIRA, 2009). Na
escolha do repertório, é importante que você como professor, ouça as contribuições
das crianças, mas é importante ressaltar que o seu trabalho não deve ser voltado
apenas com repertório veiculado pela mídia (BRITO, 2003).

Não há um consenso sobre a extensão ideal para ser trabalhada com


as crianças, vários autores divergem sobre o assunto. Iremos apresentar uma
classificação feita por Phillips (1992) que foi abordada por Carnassale (1995):

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TÓPICO 1 | O CANTO NA EDUCAÇÃO MUSICAL

QUADRO 5 – EXTENSÃO VOCAL INFANTIL

FONTE: Adaptado de Carnassale (1995)

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UNIDADE 3 | A PRÁTICA VOCAL VOLTADA PARA A EDUCAÇÃO MUSICAL

Apesar dessa classificação, você deve considerar alguns apontamentos.


Essa classificação foi realizada com crianças norte-americanas, então algumas
classificações podem ser diferentes com a realidade brasileira, essa classificação
não considera diferenças individuais, estudantes que estudam a técnica vocal
podem apresentar resultados diferentes. Essa classificação é para que você possa
apenas ter uma noção para a escolha do repertório, mas é importante que você
esteja atento a realidade dos seus estudantes (CARNASSALE, 1995).

Agora, apresentaremos algumas sugestões de repertório que podem ser


trabalhadas na prática vocal infantil, lembrando que eles devem ser adaptados,
se necessário, à realidade dos seus estudantes.

No livro Música na educação Infantil: propostas para formação integral da


criança, a autora Teca Alencar de Brito, aborda algumas sugestões de repertório
que podem ser utilizados com crianças na educação infantil.

FIGURA 7 – CAPA DO LIVRO MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: PROPOSTAS PARA FORMAÇÃO


INTEGRAL DA CRIANÇA

FONTE: <https://www.editorapeiropolis.com.br/wp-content/uploads/2018/03/70.jpg>. Acesso


em: 11 dez. 2019.

Os adultos geralmente utilizam as parlendas e os brincos com os bebês


e as crianças. As parlendas são brincadeiras rítmicas com rima, e sem música.
Os brincos são geralmente cantados com poucos sons e envolvem movimentos
corporais (BRITO, 2003). A seguir, apresentaremos alguns brincos, sugeridos por
Brito (2003), em seu livro:

FIGURA 8 – SERRA, SERRA, SERRADOR

FONTE: Adaptado de Brito (2003)

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TÓPICO 1 | O CANTO NA EDUCAÇÃO MUSICAL

Há uma outra versão da letra:

Serra, serra, serrador


Quantas tábuas já serrou?
Já serrei vinte e quatro
1, 2, 3, 4

FIGURA 9 – BAMBALALÃO

FONTE: Adaptado de Brito (2003)

Brito (2003) sugere que esse brinco seja realizado balançando-se como
cavalinho.

FIGURA 10 – TOQUE PRA SÃO ROQUE

FONTE: Adaptado de Brito (2003)

Brito (2003) propõe que nesse brinco, o adulto deve sentar-se no chão com
os joelhos dobrados e os pés apoiados no chão. Deve-se colocar o bebê sentado
sobre os seus joelhos e acompanhar a música como se estivesse galopando.
Quando a música terminar, ele deve abaixar os joelhos e esticar as pernas.

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UNIDADE 3 | A PRÁTICA VOCAL VOLTADA PARA A EDUCAÇÃO MUSICAL

Dedo Mindinho

Dedo mindinho,
Seu vizinho,
Maior de todos,
Fura-bolos,
Cata-piolhos.

Esse diz que quer comer,


Esse diz que não tem quê,
Esse diz que vai furtar,
Esse diz que não vai lá,
Esse diz que Deus dará.

Paca,
Cotia,
Tatu,
Traíra,
Muçu.
Cadê o bolinho que estava aqui?
O gato comeu.
Foi por aqui, por aqui, por aqui...

FONTE: Brito (2003, p. 105)

Essa brincadeira deve ser realizada com os cinco dedos da mão. Agora,
apresentaremos algumas parlendas sugeridas por Brito (2003):

FIGURA 11 – HOJE É DOMINGO (DUAS VERSÕES)

FONTE: Adaptado de Brito (2003)

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TÓPICO 1 | O CANTO NA EDUCAÇÃO MUSICAL

FIGURA 12 – UM, DOIS, FEIJÃO COM ARROZ

FONTE: Adaptado de Brito (2003)

A partir de agora, iremos abordar algumas brincadeiras de roda que Brito


(2003), recomenda em seu livro:

FIGURA 13 – PASSA, PASSA, GAVIÃO

FONTE: Adaptado de Brito (2003)

As crianças formam duas filas, uma de frente para as outras, juntando as


mãos para cima, formando uma ponte. Na primeira parte da música, as crianças
passam pela ponte e na segunda parte dançam representando as profissões que
são cantadas.

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UNIDADE 3 | A PRÁTICA VOCAL VOLTADA PARA A EDUCAÇÃO MUSICAL

FIGURA 14 – SAMBA-LELÊ

FONTE: Adaptado de Brito (2003)

Samba-lelê tá doente
Tá com a cabeça quebrada
Samba-lelê precisava
É de umas boas lambadas

(Refrão)
Samba, samba, samba, ô lelê
Pisa na barra da saia ô lelê (bis)

Olhe, morena bonita


Onde é que você mora?
Moro na praia formosa
Mas eu de lá vou embora
Refrão

Olhe, morena bonita


Como é que se namora
Põe um lencinho no bolso
Deixa a pontinha de fora
Refrão

Olhe, morena bonita


Como é que se cozinha
Bota a panela no fogo
Vai conversar com a vizinha
Refrão

FONTE: Brito (2003, p. 115)

As crianças podem dançar em roda, alternando o sentido de acordo com


as mudanças de frase.

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TÓPICO 1 | O CANTO NA EDUCAÇÃO MUSICAL

FIGURA 15 – BAMBU

FONTE: Adaptado de Brito (2003)

As crianças em roda e de mãos dadas, giram no sentido horário. Ao ouvir


seu nome sendo cantado, a criança vira-se para fora da roda, cruzando os braços
na frente do corpo. A roda continua até que todos se virem, e prossegue até que
todos virem novamente para o centro.

Em seu livro Brito (2003), sugere que as canções devem fazer parte do
repertório infantil. A canção é um gênero que une a música e a poesia. Como no
exemplo dado pela autora da canção "Canto do povo de um lugar", de Caetano
Veloso:

FIGURA 16 – CANTO DO POVO DE UM LUGAR

FONTE: Adaptado de Brito (2003)

Essa canção faz referência ao caráter ritual e mágico presente na música


e – especialmente – no cantar. Lembra os povos que cantavam ao
nascer e ao pôr do sol, que dançavam nas noites de lua, que cantavam
pedindo chuva, festejando a época da colheita etc., num tempo em
que viver acontecia de modo mais integrado e a música era parte do
cotidiano de todos (BRITO, 2003, p. 92).

DICAS

Você pode ouvir essa canção assistindo ao vídeo disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=Uj-kQGdK1q8.

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UNIDADE 3 | A PRÁTICA VOCAL VOLTADA PARA A EDUCAÇÃO MUSICAL

FIGURA 17 – MARACANGALHA (DORIVAL CAYMMI)

FONTE: Adaptado de Brito (2003)

DICAS

Você pode ouvir essa canção assistindo ao vídeo disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=wuuPJn47n4I.

FIGURA 18 – A NOITE NO CASTELO (HÉLIO ZISKIND)

FONTE: Adaptado de Brito (2003)

É possível realizar atividades de dramatização e sonorização com essa


canção, o único cuidado que se deve ter é para trabalhá-la com uma faixa etária
que não vai sentir medo dessa canção. Pode-se despertar a imaginação criando
personagens.

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TÓPICO 1 | O CANTO NA EDUCAÇÃO MUSICAL

DICAS

Você pode ouvir essa canção assistindo ao vídeo disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=h11-DDDaDOg.

FIGURA 19 – MINHA CANÇÃO (ENRIQUEZ, BARDOTTI E CHICO BUARQUE)

FONTE: Adaptado de Brito (2003)

DICAS

Você pode ouvir essa canção assistindo ao vídeo disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=WV_IFbr6-4w.

Outra sugestão de obras que podem ser utilizadas como repertório com as
crianças, são as canções da Palavra Cantada, fundada pelos músicos Sandra Peres
e Paulo Tatit, em 1994, com músicas compostas para crianças. Palavra Cantada já
gravou alguns CDs voltados para o público infantil e publicou materiais voltados
para educação musical, com livros para alunos e professores.

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UNIDADE 3 | A PRÁTICA VOCAL VOLTADA PARA A EDUCAÇÃO MUSICAL

FIGURA 20 – PALAVRA CANTADA

FONTE: <https://emc.acidadeon.com/dbimagens/programese/lnvTEiY15102018134944.jpg>.
Acesso em: 16 dez. 2019.

DICAS

Você pode ouvir várias canções da Palavra Cantada que estão disponíveis no
Youtube, como: https://www.youtube.com/watch?v=uAVPMdtpVwM. No site oficial da Palavra
Cantada, você pode conferir as cifras de algumas músicas, disponível em: http://palavracantada.
com.br/.

Bia Bedran é mestre pela Universidade Federal Fluminense, professora da


Universidade do Estado do Rio de Janeiro, cantora, compositora, atriz e escritora.
Possui diversos livros, CDs e DVDs, voltados para o público infantil, no qual
mescla canto e narrativa.

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TÓPICO 1 | O CANTO NA EDUCAÇÃO MUSICAL

FIGURA 21 – BIA BEDRAN

FONTE: <https://biabedran.com.br/wp-content/uploads/2018/07/slide-show-cancoes-historias-
brincadeiras-03.jpg>. Acesso em: 16 dez. 2019.

DICAS

Você pode ouvir o trabalho de Bia Bedran no Youtube, como a história O


pescador, o anel e o rei, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=n4bh0ypxoak.

Cecília Cavalieri França é educadora musical, PhD pela Universidade de


Londres, professora, pesquisadora e autora de diversos materiais para educação
musical.

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UNIDADE 3 | A PRÁTICA VOCAL VOLTADA PARA A EDUCAÇÃO MUSICAL

FIGURA 22 – CECÍLIA CAVALIERI FRANÇA

FONTE: <http://ceciliacavalierifranca.com.br/wp-content/themes/cecilia/images/banner1.png>.
Acesso em: 16 dez. 2019.

FIGURA 23 – DA MARÉ (LUIZ TATIT E RICARDO BREIN)

FONTE: Adaptado de França (2008)

DICAS

Você pode ouvir a canção Da maré em: https://www.youtube.com/


watch?v=lxsEWd44NVk. Acesso em: 16 dez. 2019.

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TÓPICO 1 | O CANTO NA EDUCAÇÃO MUSICAL

FIGURA 24 – MARIA FUMAÇA

FONTE: Adaptado de <http://ceciliacavalierifranca.com.br/wp-content/themes/cecilia/downloads/


partituras/maria_fumaca.pdf>. Acesso em: 16 dez. 2019.

DICAS

Você pode ouvir Maria Fumaça em: https://www.youtube.com/


watch?v=iAbQ4MZJTU0. Acesso em: 16 dez. 2019.

Barbatuques é um grupo musical de São Paulo, que foi criado em 1995. O


grupo Barbatuques utiliza diferentes técnicas de percussão corporal, percussão
vocal, sapateado e improvisação musical em seu repertório. O grupo possui um
repertório voltado para o público adulto e infantil.

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UNIDADE 3 | A PRÁTICA VOCAL VOLTADA PARA A EDUCAÇÃO MUSICAL

FIGURA 25 – BARBATUQUES

FONTE: <https://bit.ly/2tHQhYa>. Acesso em: 17 dez. 2019.

DICAS

Você pode ouvir o trabalho do Barbatuques no Youtube, como o Hit percussivo,


disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ZDQHozHu6i8 e Beautiful Creatures em
https://www.youtube.com/watch?v=MW6sp_AXPI0.

Essas são algumas sugestões de repertório que podem ser utilizados com
bebês e crianças, mas ainda há muitos outros exemplos de músicas que podem ser
trabalhas na prática vocal com as crianças, como por exemplo, músicas de cada
região do país e músicas de outras culturas. Essas sugestões, não servem como
modelo pronto do repertório a ser utilizado, uma vez que precisamos adaptar às
especificidades dos estudantes e objetivos da aula.

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RESUMO

Você aprendeu que:

• O canto é utilizado como uma das atividades que fazem parte da educação
musical, e é muito utilizado na educação básica, uma vez que quase todos
possuem o elemento fundamental para cantar: a voz.

• O canto, na educação básica, deve ser visto como uma atividade significativa,
que constitui a educação musical, e não somente como uma atividade para
outros fins (para determinar os diferentes momentos, como facilitador de
aprendizagem de outras disciplinas e apenas como resultado para uma
apresentação).

• É importante conhecer o desenvolvimento musical dos bebês e das crianças,


para se realizar um trabalho de educação vocal, que não os prejudique.

• Os exercícios realizados na prática vocal infantil, não podem ser os mesmos


utilizados com os adultos, para não prejudique a saúde vocal das crianças.

• O repertório escolhido para o trabalho vocal infantil também deve estar


adequado com as características vocais das crianças com que você trabalhará.
É importante que o repertório escolhido não seja somente o da vivência da
criança, mas que possa ampliar seus conhecimentos para novos repertórios.

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AUTOATIVIDADE

1 Sobre o trabalho de educação vocal infantil, assinale V para as alternativas


verdadeiras e F para as alternativas falsas:

( ) O trabalho de educação vocal infantil contempla somente as crianças,


uma vez que os bebês não têm consciência ainda do universo sonoro à
sua volta.
( ) O professor precisa conhecer as características vocais infantis para realizar
um trabalho de educação musical adequado, que não prejudique a saúde
vocal das crianças.
( ) Todos os exercícios de preparação vocal podem ser trabalhados em
qualquer faixa etária.
( ) O objetivo da educação vocal deve ser a educação musical em si.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – V – F – F.
b) ( ) F – V – V – F.
c) ( ) F – F – F – V.
d) ( ) F – V – F – V.

2 Sobre as características voz infantil, analise as sentenças:

I- Todas as crianças passam pela mesma etapa de estágio de desenvolvimento


vocal, ao mesmo tempo.
II- As crianças possuem uma ampla extensão vocal.
III- As crianças devem ser incentivadas a cantar cada vez com uma intensidade
maior.
IV- A capacidade respiratória da criança é menor do que a do adulto.

Assinale a alternativa que apresenta as sentenças CORRETAS:


a) ( ) As alternativas I e IV estão corretas.
b) ( ) Somente a alternativa IV está correta.
c) ( ) Somente a alternativa I está correta.
d) ( ) As alternativas II e III estão corretas.

3 Sobre o repertório a ser cantado com as crianças, assinale a alternativa


CORRETA:

a) ( ) Devemos cantar com as crianças somente o repertório que faz parte do


seu cotidiano.
b) ( ) O professor como modelo, deve cantar as músicas que são mais
adequadas para a extensão vocal dele.

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c) ( ) A escolha do repertório deve respeitar as características vocais das
crianças.
d) ( ) Podemos utilizar com as crianças, o mesmo repertório utilizado com os
adultos.

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UNIDADE 3
TÓPICO 2

TRABALHANDO COM A VOZ


ADOLESCENTE

1 INTRODUÇÃO
Durante a adolescência, tanto as meninas quanto os meninos passam pela
muda vocal. O processo de muda vocal nos meninos ocorre entre 13 e 15 anos, e
nas meninas ocorrem entre os 12 e 14 anos. Na puberdade há um crescimento da
laringe e um alargamento das pregas vocais. Durante a puberdade, o adolescente
perde o controle e a estabilidade vocal, no qual são alterados a extensão vocal,
o timbre e a sustentação da voz. Nesse período, a extensão vocal pode diminuir
uma oitava para os meninos e meia oitava para as meninas, e os adolescentes
perdem a precisão em notas extremas, tanto para o grave quanto para o agudo
(MOTA; ANDRADE; LINHARES, 2011).

Antigamente, defendia-se que o canto não deveria ser ensinado para


as crianças e adolescentes, uma vez que o aparelho fonador está passando por
mudanças. Estudos têm demonstrado que devemos ensinar tanto as crianças
quanto adolescentes a trabalhar de maneira correta com a voz, uma vez que
cantar já faz parte do hábito deles. Inclusive, o adolescente que aprendeu a cantar
e que realizou exercícios vocais durante a infância, passa pelo período de muda
vocal com melhores resultados durante o canto (PEREIRA, 2009).

Durante esse período de muda vocal, é muito importante cuidar com o


trabalho realizado, deve-se atentar para os aspectos vocais do adolescente. Uma
das maneiras de se trabalhar o canto durante o período de muda vocal, é limitar
o canto às notas médias da voz. Nesse período, não se deve trabalhar o aumento
da tessitura vocal, uma vez que o trato vocal está passando por uma fase de
crescimento. Uma alternativa de se trabalhar com a voz adolescente é utilizar
um repertório com trechos de texto recitados, nos quais pode-se trabalhar a
interpretação, expressão, ritmos e timbres vocais. O Rap pode ser uma alternativa
na escolha do repertório, pois além de ter trechos declamados, geralmente faz
parte do repertório musical do cotidiano dos adolescentes, o que pode motivar
os adolescentes durante a prática vocal (MOTA; ANDRADE; LINHARES, 2011).

Um cuidado que se deve ter é beber muita água durante a prática vocal,
assim como realizar um repouso vocal quando o adolescente perceber que
tensionou seu trato vocal. Henry Leck (2009 apud MOTA; ANDRADE; LINHARES,
2011), especialista em coral para adolescentes, aborda que as vozes masculinas

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UNIDADE 3 | A PRÁTICA VOCAL VOLTADA PARA A EDUCAÇÃO MUSICAL

não devem cantar apenas na região grave, uma vez que ao passar pela muda
vocal não significa que a voz sofreu a mudança da região aguda para a grave, mas
sim que sofreu uma expansão. Quando os meninos permanecem cantando na
voz aguda, eles mantêm a voz que utilizavam antes da muda vocal. Após a muda
vocal, a voz aguda serve de base para a voz grave e, assim, na fase de muda vocal,
os meninos que durante os vocalizes partem das notas agudas descendo para as
graves expandem o agudo e desenvolvem a voz grave, exercitando essa passagem
do agudo para o grave (LECK, 2009 apud MOTA; ANDRADE; LINHARES, 2011).

2 EXERCÍCIOS

Os adolescentes, assim como as crianças, também passam por estágios


de mudança de suas vozes de forma diferente e em tempos diferentes, o que
demanda uma maior atenção no trabalho com essas vozes. Por ainda estar em
fase de desenvolvimento, o adolescente não consegue produzir um som forte e
potente, assim, ele deve cantar de maneira mais leve (MENDONÇA, 2011).

Exercícios de alongamento

1) Rodar os ombros para trás e para frente. Depois subir os ombros fazendo
pressão em direção às orelhas e relaxar em seguida.
2) Massagear o rosto e o pescoço com as pontas dos dedos.
3) Em dupla, realizar o jogo do espelho: um estudante é o líder e realiza
movimentos lentos e contínuos com o corpo, a sua dupla repete todos os
movimentos. Depois a dupla troca os papéis.
4) Jogo da confiança: um estudante fecha os olhos, o outro o guia pela sala, o
estudante que está com os olhos fechados precisa explorar o local apenas com
as ponta do dedo indicador. Depois a dupla troca os papéis.
5) Cabeça inclinada para frente (como se o queixo fosse encostar no peito).
Movimentar a cabeça lateralmente em movimento circular amplo, iniciando por
um lado e depois pelo outro. Cabeça inclinada para trás (como se fosse olhar
o teto), esse movimento não deve ser exagerado e a boca deve ficar aberta,
evitando tensão exagerada na musculatura da parte da frente do pescoço.
6) Movimentar a cabeça lentamente para a frente e para trás (como se estivesse
fazendo "sim" com a cabeça). Movimentar a cabeça lentamente para os lados
sem modificar o eixo do corpo (como se estivesse fazendo "não" com a cabeça)
(PHILLIPS, 1992 apud CARNASSALE, 1995).
7) Tensionar os músculos da face “fechando” o rosto: apertar os olhos, boca em
forma de U. Relaxar. Tensionar músculos da face “abrindo” o rosto: abrir os
olhos, levantar sobrancelhas, abrir bem a boca. Relaxar (CARNASSALE, 1995).

Exercícios respiratórios

1) Sentar-se encurvado para a frente, com as mãos descansando no joelho (tentar


encostar cotovelo nas coxas). Inspirar e expirar notando o movimento na linha
da cintura. Levantar e respirar procurando manter o padrão respiratório.

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TÓPICO 2 | TRABALHANDO COM A VOZ ADOLESCENTE

2) Em pé, colocar as palmas das mãos sobre a barriga (abdômen), de modo que as
pontas dos dedos médios encostem um no outro. Inspirar – os dedos médios
devem afastar-se um do outro. Expirar – os dedos médios devem encostar-se
novamente.
3) Inspirar e expirar de uma só vez provocando uma pequena explosão de lábios
como proferindo a consoante “P”, não utilizando o som vocálico. Inspirar
e expirar em “F” mantendo a continuidade do som (PHILLIPS, 1992 apud
CARNASSALE, 1995).
4) Inspirar pela boca em posição de “U”, como se estivesse sugando o ar por
um canudinho, “enchendo a barriga” como se fosse um balão, a expiração
deve durar 3 tempos. Expirar lentamente com a consoante “S”, em 5 tempos.
Aumentar progressivamente o exercício até chegar em 10 tempos de expiração
(CHYNGTON, 1969 apud CARNASSALE, 1995).
5) Executar o exercício a seguir, respirando na indicação por vírgulas:

FIGURA 26 – EXERCÍCIO DE RESPIRAÇÃO

FONTE: Miller (1986 apud CARNASSALE, 1995, p. 116)

Exercícios de aquecimento vocal


1) Realizar o exercício a seguir, repetindo-o elevando meio tom a cada repetição.

FIGURA 27 – EXERCÍCIO PARA TRABALHAR OS REGISTROS AGUDO, MÉDIO E GRAVE

FONTE: Phillips (1992 apud CARNASSALE, 1995, p. 122)

2) Produzir o som “MMMM”, com a boca fechada e os dentes cerrados, notando a


vibração no nariz. Repetir o som com os dentes abertos o máximo que conseguir,
com os lábios fechados. Note que as vibrações se tornam mais profundas, mais
ressonantes. Repetir o som “MMMMMM” com os dentes semiabertos, e os
lábios fechados. Note que os lábios tremem e o som está focalizado na área
oral-nasal, mas que também há vibração na garganta (PHILLIPS, 1992 apud

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UNIDADE 3 | A PRÁTICA VOCAL VOLTADA PARA A EDUCAÇÃO MUSICAL

CARNASSALE, 1995).

3) Executar o exercício com consoante “M”, realizado um glissando.

FIGURA 28 – EXERCÍCIO PARA TRABALHAR A FONAÇÃO

FONTE: Carnassale (1995, p. 123)

4) Realizar o exercício anterior, iniciando em “M”, finalizando o glissando pela


abertura dos lábios na vogal “Ô”.

FIGURA 29 – EXERCÍCIO PARA TRABALHAR A FONAÇÃO

FONTE: Carnassale (1995, p. 124)

5) Executar o exercício iniciando em Ré maior, subindo de meio em meio tom até


Sol Maior e descer de meio em meio tom até Dó maior.

FIGURA 30 – EXERCÍCIO PARA TRABALHAR A FONAÇÃO

FONTE: Phillips (1992 apud CARNASSALE, 1995, p. 124)

6) Executar o exercício em sequência, respirando na indicação das vírgulas.


Realizar o exercício ascendentemente até Sol maior e descendentemente até Ré
maior.

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TÓPICO 2 | TRABALHANDO COM A VOZ ADOLESCENTE

FIGURA 31 – EXERCÍCIO PARA TRABALHAR A RESSONÂNCIA

FONTE: Miller (1986 apud CARNASSALE, 1995, p. 130-131)

7) Executar o exercício descendentemente até Ré maior.

FIGURA 32 – EXERCÍCIO PARA TRABALHAR A RESSONÂNCIA

FONTE: Miller (1986 apud CARNASSALE, 1995, p. 132)

8) Executar o exercício ascendentemente até Sol maior e descendentemente até


Dó maior.

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UNIDADE 3 | A PRÁTICA VOCAL VOLTADA PARA A EDUCAÇÃO MUSICAL

FIGURA 33 – EXERCÍCIO PARA TRABALHAR A ARTICULAÇÃO

FONTE: Carnassale (1995, p. 134)

3 REPERTÓRIO
Classificar a voz dos adolescentes não é uma tarefa fácil, uma vez que,
dentro de um ano ele pode mudar de classificação mais de uma vez, devido a
muda vocal. Iremos apresentar a classificação da voz dos adolescentes, abordada
por Carnassale (1995), lembrando que essa classificação pode variar de acordo
com os estudantes com quem estamos trabalhando.

QUADRO 6 – ADOLESCENTES DE 13 A 15 ANOS, EM FASE DE TRANSFORMAÇÕES VOCAIS


RÁPIDAS

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TÓPICO 2 | TRABALHANDO COM A VOZ ADOLESCENTE

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UNIDADE 3 | A PRÁTICA VOCAL VOLTADA PARA A EDUCAÇÃO MUSICAL

FONTE: Adaptado de Carnassale (1995)

QUADRO 7 – ADOLESCENTES DE 16 A 18 ANOS – EM FASE DE TRANSFORMAÇÕES VOCAIS


LENTAS (PÓS-MUDA)

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TÓPICO 2 | TRABALHANDO COM A VOZ ADOLESCENTE

FONTE: Adaptado de Carnassale (1995)


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UNIDADE 3 | A PRÁTICA VOCAL VOLTADA PARA A EDUCAÇÃO MUSICAL

Apresentaremos algumas sugestões de canções para serem trabalhadas


com os adolescentes, lembrando que, se for preciso, você pode adaptar o
repertório, e que essas são apenas algumas sugestões, não tem como esgotarmos
o assunto nesse livro. Por isso, é importante que você busque aprofundar seus
estudos para conhecer novos repertórios.

Com a canção a seguir, estamos trabalhando como se fala Bom dia em


outros idiomas. Pergunte para os estudantes se eles conhecem como se fala Bom
dia nos idiomas que aparece na música (alemão, inglês, espanhol e italiano). Se
não souberem, ensine como se pronuncia em cada idioma.

Em um primeiro momento, todos devem cantar a música juntos. Depois


ela poderá ser realizada em cânone, você pode dividir a turma em 3 grupos. O
primeiro grupo começa cantando a música, quando ele chegar na parte indicada
pelo número 2, o segundo grupo começa a música. Quando o segundo grupo
chegar na parte indica pelo número 2, o terceiro grupo inicia a música.

FIGURA 34 – GUTEN MORGEN - CÂNONE (MELODIA INGLESA)

FONTE: Cruz (2011, p. 58)

Na música que abordaremos a seguir, você pode iniciar ensinando aos


estudantes a primeira voz, a partir do compasso 17. Depois você ensina a segunda
voz. E se tiver muitos estudantes pode ensinar a terceira voz (essa música pode
ser realizada somente a primeira e segunda voz).

Se algum rapaz estiver passando ou já passou pela muda vocal, o ideal é


que ele cante a primeira voz uma oitava abaixo.

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TÓPICO 2 | TRABALHANDO COM A VOZ ADOLESCENTE

FIGURA 35 – PEIXINHOS DO MAR, MARINHEIRO SÓ (ARRANJO DE JÚLIO CÉSAR GIUDICE)

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UNIDADE 3 | A PRÁTICA VOCAL VOLTADA PARA A EDUCAÇÃO MUSICAL

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TÓPICO 2 | TRABALHANDO COM A VOZ ADOLESCENTE

FONTE: Cruz (2011, p. 85-88)

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UNIDADE 3 | A PRÁTICA VOCAL VOLTADA PARA A EDUCAÇÃO MUSICAL

A música a seguir é para ser cantada a duas vozes:

FIGURA 36 – DUAS CIRANDAS (FOLCLORE PERNAMBUCANO)

FONTE: Cruz (2011, p. 101)

A canção a seguir faz parte do folclore do Caribe, e pode ser executada a


quatro vozes. Divida os estudantes em quatro grupos (dependendo do número de
pessoas, senão você pode dividir em três grupos). Essa canção pode ser cantada
em forma de canône.

FIGURA 37 – JENNIE MAMMA

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TÓPICO 2 | TRABALHANDO COM A VOZ ADOLESCENTE

FONTE: Cruz (2011, p. 150)

A próxima música é africana, como a música é formada por quatro frases,


você pode ensinar as duas primeiras frases e pedir para os estudantes repetirem
e depois fazer o mesmo com as outras duas frases. A tradução do texto é “Nós
marchamos para a Luz (divina).

FIGURA 38 – SIYAHAMBA

DICAS

Você pode ouvir Siyahamba em: https://www.youtube.com/watch?v=N1KZb


MprW8U.

Assim como abordamos no repertório infantil, essas são apenas algumas


sugestões de repertório, que devem ser adaptadas conforme as características dos
estudantes com quem você irá trabalhar. Esses exemplos não tem a pretensão de
esgotar o assunto, você precisa ampliar o repertório para o trabalho vocal com
adolescentes.

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RESUMO

Você aprendeu que:

• O trabalho de educação vocal com adolescentes, pode continuar a ser realizado


mesmo na fase de muda vocal, desde que seja realizado de maneira consciente.

• Existem divergências sobre a classificação vocal dos adolescentes, por isso é


importante observar as características individuais de cada um, respeitando
seus limites para não prejudicar a saúde vocal deles.

• A fase de muda vocal não acontece de forma igual para todos os adolescentes,
nem ao mesmo tempo. Assim em uma mesma sala de aula podemos ter
adolescentes que estão passando por diferentes fases, assim como em um
mesmo ano, a adolescente pode passar por várias fases de mudança na voz.

• Na adolescência, deve-se evitar trabalhar com os extremos da extensão vocal


(tanto para os agudos quanto para os graves).

• Na adolescência, é importante continuar treinando o registro agudo, para que


sirva de base para o registro grave.

• O repertório escolhido deve ter a participação do adolescente, mas ele também


deve ampliar e conhecer novos repertórios.

• Canções com partes faladas, em cânone e a duas vozes podem fazer parte do
repertório a ser trabalhado com os adolescentes.

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AUTOATIVIDADE

1 Sobre o trabalho com a voz adolescente, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O trabalho com a voz adolescente sempre foi incentivado pelos estudos


sobre o assunto.
b) ( ) Em uma sala de aula, com estudantes da mesma idade, podemos ter
estudantes em diferentes fases de muda vocal.
c) ( ) Há um consenso entre os diversos estudos sobre a classificação vocal
dos adolescentes.
d) ( ) O professor deve trabalhar as notas mais agudas e graves, para que os
adolescentes possam cantá-las.

2 Durante a adolescência, ocorre a muda vocal. Sobre as características da


voz dos adolescentes assinale V para a alternativa verdadeira e F para a
alternativa falsa:

a) ( ) Durante a puberdade o adolescente perde o controle e a estabilidade


vocal, no qual são alterados a extensão vocal, o timbre e a sustentação da
voz.
b) ( ) Durante a puberdade as meninas perdem extensão vocal mais que os
meninos.
c) ( ) O adolescente deve beber muita água durante a prática vocal.
d) ( ) Somente os meninos passam pela muda vocal.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – V – F.
b) ( ) V – V – F – F.
c) ( ) V – V – V – F.
d) ( ) F – V – F – V.

3 Sobre a escolha do repertório a ser trabalhado com os adolescentes, assinale


a alternativa CORRETA:

a) ( ) As obras escolhidas devem ser executas sempre em uníssono.


b) ( ) Devem ser cantadas somente o repertório que os adolescentes já
conhecem.
c) ( ) O repertório escolhido pode abranger uma grande extensão vocal.
d) ( ) Músicas com partes faladas e em cânone podem fazer parte do repertório
trabalhado com os adolescentes.

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UNIDADE 3
TÓPICO 3

TRABALHANDO COM A VOZ ADULTA E


IDOSA

1 INTRODUÇÃO
Abordaremos como trabalhar o canto com adultos e idosos. Como
professor, você poderá ter a oportunidade de trabalhar com essa faixa etária em
diversos espaços como igrejas, associações de moradores, asilos, na Educação de
Jovens e Adultos (EJA), entre outros.

Cada faixa etária possui suas especificidades, por isso é importante


conhecer como a voz é produzida em cada faixa etária, para não causar nenhum
dano à saúde vocal de seus estudantes.

2 TRABALHANDO COM A VOZ ADULTA


Vimos como a voz é produzida e os cuidados que devemos ter para manter
uma boa saúde vocal. O que foi abordado, aplicam-se para o trabalho com a voz
adulta, uma vez que todo o sistema que produz a voz já está desenvolvido.

Assim como na prática vocal com crianças e adolescentes, também é


importante que o adulto aprenda música por meio da vivência musical. Não
é porque se está realizando um trabalho com adultos, que devemos ensinar
primeiro toda a parte teórica musical para depois ensinarmos a prática vocal. Até
mesmo se você trabalhar com adultos que já estudaram canto na sua infância e
adolescência, devemos evitar realizar um trabalho exaustivo da teoria musical,
ou seja, é importante que os adultos também vivenciem a música para refletirem
sobre o que estão realizando em termos musicais.

Ao trabalhar o canto com adultos, temos que considerar duas situações: se


ele já teve algum aprendizado vocal durante a infância ou adolescência, ou se está
tendo o primeiro aprendizado vocal na fase adulta. Outro ponto a ser destacado é
que, assim como as crianças e adolescentes já possuem uma vivência musical, que
faz parte do seu convívio familiar e por meio da mídia, antes de iniciar as aulas
de educação musical o adulto também já tem uma vivência musical, que deve ser
respeitada. Isso não significa que o trabalho realizado com os adultos deve ser
somente o que o repertório que eles já conhecem.

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UNIDADE 3 | A PRÁTICA VOCAL VOLTADA PARA A EDUCAÇÃO MUSICAL

É importante contrapor a ideia que alguns adultos possuem de que não se


pode mais ter uma educação musical na fase adulta, se essa educação não iniciou
na infância. O aprendizado de música pode iniciar em qualquer idade, inclusive
na fase adulta.

Ao trabalharmos o canto com os adultos, temos que ter em mente que o


ensino não pode ser baseado apenas em repetições. Assim como no ensino com
crianças e adolescentes, os adultos também precisam de uma aula dinâmica,
com momentos de criação e que seus interessem e curiosidades possam ser
contemplados. O adulto deve participar ativamente da aula, e não ser apenas um
receptor do conteúdo.

2.1 EXERCÍCIOS E RESPIRAÇÃO

Abordamos alguns exercícios que podem ser realizados com os adultos.


Agora, ampliaremos o estudo sobre os exercícios que podem ser realizados com
adultos na prática vocal.

Exercícios de alongamento

1) Em pé, erguer os braços e ficar na ponta do pé, colocando o rosto para trás,
olhando para cima. Deve-se ter o cuidado para não forçar o pescoço.
2) Em pé, expirar e abaixar a cabeça, deixando os braços caírem completamente.
Sentir o balanço do corpo e dos braços, flexionar os joelhos até sentir o equilíbrio.
Inspirar e jogar os braços para trás e para o alto. Repetir a atividade.
3) Em pé, girar o corpo para a esquerda e para a direita em torno de um eixo
imaginário.
4) Em pé, flexionar os joelhos e baixar o corpo em uma linha vertical, sem inclinar-
se, como se fosse sentar-se no ar.
5) Sentar-se em uma cadeira, sem encostar-se, mantendo as pernas e os pés
paralelos, apoiando o quadril paralelamente ao assento. Deixar os braços
pendidos e girar o corpo em torno de um eixo imaginário.
6) Na mesma posição do exercício 5, levantar um pé de cada vez, em uma altura
de mais ou menos 10 cm, desenhar círculos no ar, com o dedão, de um lado
para o outro (COELHO, 1994).

Exercícios de Respiração

1) Sentar-se com as costas retas, colocar as mãos na altura do estômago com os


dedos paralelos e soprar. Apertar a musculatura e soltar em seguida. Observar
os movimentos ocorridos durante o exercício.
2) Inspirar e expirar com energia e rapidamente, em forma de “F”, como se fosse
apagar uma vela que está longe. Repetir o exercício expirando em forma de
“S”.

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TÓPICO 3 | TRABALHANDO COM A VOZ ADULTA E IDOSA

3) Inspirar pela narina direita enquanto fecha a esquerda com um dedo. Reter o
ar e trocar a posição da mão para tapar a narina direita. Expirar pela esquerda.
4) Expirar, inspirar e soltar o ar com golpes de diafragma utilizando fonemas
curtos como “F”, com um breve intervalo entre eles. Repetir o exercício em “S”
e “X”.
5) Repetir o exercício anterior, mas agora articulando “P”, “T” e “K” (COELHO,
1994).

Exercícios de preparação vocal

1) Com os lábios fechados, deixar uma abertura dentro da boca e realizar o


exercício a seguir em bocca chiusa.

FIGURA 39 – EXERCÍCIO EM GRAUS CONJUNTOS

FONTE: Hauck-Silva (2012, p. 119)

2) Realizar o exercício a seguir, cantando a vocal “I”. Esse exercício pode ser
cantado com “Mi”, “Vi”, “Si” e “Zi”.

FIGURA 40 – EXERCÍCIO EM GRAUS CONJUNTOS

FONTE: Hauck-Silva (2012, p. 119)

3) Realizar o exercício a seguir, articulando bem as sílabas.

FIGURA 41 – EXERCÍCIO PARA TRABALHAR A RESSONÂNCIA

FONTE: Hauck-Silva (2012, p. 122)

4) O exercício a seguir deve ser realizado em stacatto.

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UNIDADE 3 | A PRÁTICA VOCAL VOLTADA PARA A EDUCAÇÃO MUSICAL

FIGURA 42 – EXERCÍCIO PARA TRABALHAR AGILIDADE

FONTE: Hauck-Silva (2012, p. 137)

5) Esse exercício deve iniciar na região média e ir para a região grave.

FIGURA 43 – EXERCÍCIO DE HOMOGENEIZAÇÃO

FONTE: Hauck-Silva (2012, p. 140)

6) Esse exercício pode ser realizado com “mei-mai-mei”, “voi” e “brim-brei-


brim”.

FIGURA 44 – EXERCÍCIO DE ARTICULAÇÃO

FONTE: Prueter (2010, p. 71)

Os adultos devem fazer parte da escolha do repertório a ser trabalhado


com eles, para que a prática vocal se torne mais prazerosa. Isso não significa
que devemos somente trabalhar com o repertório sugerido pelos estudantes,
pois devemos lhes apresentar novos gêneros a fim de ampliar o seu repertório
musical. Assim, podemos trabalhar com temas de outros povos e culturas, assim
como canções da sua própria região. Devemos evitar trabalhar com os adultos
cantos infantilizados.

Durante a fase adulta, várias possibilidades musicais podem ser


exploradas, uma vez que nessa fase o sistema responsável pela produção vocal
está totalmente desenvolvido. Os exercícios trabalhados podem servir para o
estudo da técnica vocal, visando a ampliação da extensão vocal. Mesmo que o
sistema produtor da voz já esteja totalmente desenvolvido, é importante que se
faça um uso consciente da voz, tomando os devidos cuidados para se manter
uma boa saúde vocal.

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TÓPICO 3 | TRABALHANDO COM A VOZ ADULTA E IDOSA

No trabalho vocal com adultos, se esse for o primeiro contato que eles
têm com a educação musical, pode-se iniciar o trabalho em uníssono, para que
depois possa se realizar um trabalho a mais vozes. Os cânones também são um
bom recurso para iniciar a prática vocal. Lembramos que a prática vocal não deve
ser realizada apenas com o fim de estudar o canto, mas também com o fim de
ser parte integrante de um trabalho de educação musical. A seguir, sugerimos
algumas canções que podem ser feitas com adultos:

FIGURA 45 – CANÇÃO DA AMÉRICA

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UNIDADE 3 | A PRÁTICA VOCAL VOLTADA PARA A EDUCAÇÃO MUSICAL

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TÓPICO 3 | TRABALHANDO COM A VOZ ADULTA E IDOSA

FONTE: <http://www.festivaldecorais.com.br/wp-content/uploads/fic/arranjos/
Can%C3%A7%C3%A3o-da-Am%C3%A9rica-FIC2015-Voice-3.pdf>. Acesso em: 23 dez. 2019.

FIGURA 46 – CIO DA TERRA

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UNIDADE 3 | A PRÁTICA VOCAL VOLTADA PARA A EDUCAÇÃO MUSICAL

FONTE: <http://www.festivaldecorais.com.br/wp-content/uploads/fic/arranjos/CIO%20DA%20
TERRA%20-%20coral%20SAH%20Arr%20Bantzeye%20Sandoval.pdf>. Acesso em: 23 dez. 2019.

FIGURA 47 – MULHER RENDEIRA

192

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TÓPICO 3 | TRABALHANDO COM A VOZ ADULTA E IDOSA

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UNIDADE 3 | A PRÁTICA VOCAL VOLTADA PARA A EDUCAÇÃO MUSICAL

FONTE: <http://www.festivaldecorais.com.br/wp-content/uploads/fic/arranjos/Teco%20Galati%20
-%20Mulher%20Rendeira%20duas%20vozes%20D.pdf.pdf>. Acesso em: 23 dez. 2019.

Essas são apenas algumas sugestões de obras que podem ser cantadas
com adultos.

3 TRABALHO VOCAL COM IDOSOS


A prática vocal com alunos idosos, demanda alguns cuidados, uma vez
que, como vimos anteriormente, eles perdem um pouco da extensão vocal e da
sua capacidade respiratória, por isso deve-se haver um cuidado com a emissão de
frases longas. É preciso valorizar a participação dos alunos idosos nas atividades
realizadas, assim como respeitar suas reais capacidades, sem exigir mais do que
eles conseguem realizar, uma vez que eles podem apresentar dificuldades de
coordenação motora, de memória, entre outros (RODRIGUES, 2009).

Isso não significa que você deve limitar o que seu aluno idoso pode
fazer, é importante assim como nas demais faixas etárias, observar seus alunos
e adaptar as atividades conforme a necessidade de cada um (RODRIGUES,
2009). Por ser idoso, não significa que seu aluno não irá conseguir adquirir novos
conhecimentos.

Com o avançar da idade, as pessoas podem adquirir uma soprosidade na


voz, perder o alcance vocal, perder o controle de ar, adquirir a fadiga vocal e uma
imprecisão de afinação (SATALOFF, 2017 apud PEDROSO JUNIOR, 2018). Isso
não significa que essas características são irreversíveis.

“Cantar envolve atividade corporal e vivência musical, promove uma


profunda percepção do corpo e coloca o indivíduo em contato com suas emoções”
(DEGANI; MERCADANTE, 2010, p. 152). A música demanda um grande
empenho mental uma vez que estimula os dois hemisférios cerebrais, assim sua
prática promove a melhora do raciocínio, da concentração, ativa a memória, e
aproxima o estudante do seu universo subjetivo (SACKS, 2007 apud DEGANI;

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TÓPICO 3 | TRABALHANDO COM A VOZ ADULTA E IDOSA

MERCADANTE, 2010). Cantar na terceira idade pode trazer benefícios aos


alunos como melhora no padrão respiratório, na postura, na projeção, articulação
e ressonância (PEDROSO JUNIOR, 2018).

Além disso, a prática vocal e os exercícios vocais direcionados para pessoas


idosas são uma alternativa para o estímulo do funcionamento do organismo,
agindo de forma semelhante às atividades físicas. O canto não substitui a
atividade física, mas pode promover uma percepção do corpo, uma vez que exige
um empenho muscular e gasto energético (DEGANI; MERCADANTE, 2010).
Assim como no trabalho com o adulto, não é tarde iniciar o aprendizado musical
na terceira idade.

A educação musical com idosos exige paciência por parte do professor,


uma vez que inicialmente eles não consigam realizar todas as atividades propostas,
e que os resultados possam ser mais lentos, mas como pudemos abordar, o canto
pode trazer muitos benefícios para idosos.

3.1 EXERCÍCIOS E REPERTÓRIO


Nos exercícios realizados com a terceira idade, é importante nos atentarmos
para as particularidades de cada um, assim como respeitar a atividade que
cada um consegue realizar e ter paciência, uma vez que é um processo. Alguns
poderão ser mais ativos, enquanto outros poderão apresentar mais dificuldades
para realizar os exercícios, mas todos devem se sentir integrados nos exercícios.
Deve-se tomar o cuidado para não escolher exercícios que possam intimidar os
alunos, como por exemplo ter que se equilibrar em um pé só.

Exercícios de alongamento

1) Levantar os braços, unindo as mãos, e inclinar o tronco para um lado e depois


para o outro, para frente e para trás. O tronco precisa estar alinhado com os
quadris para que o exercício não cause tensões.
2) Girar os ombros para trás e depois para frente.
3) Esticar um braço para o lado contrário e sustentar o braço esticado com a outra
mão, na altura do cotovelo.
4) Inclinar o pescoço para o lado, segurando a cabeça com a mão. Depois inclinar
para o outro lado. Inclinar para frente e para trás, nesse movimento se deve
deixar a boca um pouco aberta (PEDROSO JUNIOR, 2018).

Exercícios de respiração

1) Inspirar em silêncio enquanto o professor conta 5 tempos, observando bem a


movimentação da respiração. Expirar silenciosamente em 5 tempos contados
pelo professor. Ir aumentando os tempos, conforme os exercícios forem
evoluindo (FERNANDES, 2009).
2) Inspirar e expirar emitindo o som de “S” em stacatto.
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UNIDADE 3 | A PRÁTICA VOCAL VOLTADA PARA A EDUCAÇÃO MUSICAL

FIGURA 48 – EXERCÍCIO DE RESPIRAÇÃO

FONTE: Hauck-Silva (2012, p. 107)

3) Repetir o exercício em “S”, agora segurando a última nota.

FIGURA 49 – EXERCÍCIO DE RESPIRAÇÃO

FONTE: Hauck-Silva (2012, p. 107)

4) Nesse exercício deve ser realizado alternando as consoantes, conforme a figura


a seguir.

FIGURA 50 – EXERCÍCIO DE RESPIRAÇÃO

FONTE: Hauck-Silva (2012, p. 108)

5) Esse exercício é parecido com o anterior, mas agora são utilizadas outras
consoantes.
FIGURA 51 – EXERCÍCIO DE RESPIRAÇÃO

FONTE: Hauck-Silva (2012, p. 108)

Exercícios de aquecimento vocal

1) Cantar a sequência de vogais, sem abrir a boca horizontalmente.

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TÓPICO 3 | TRABALHANDO COM A VOZ ADULTA E IDOSA

FIGURA 52 – EXERCÍCIO DE RESSONÂNCIA

FONTE: Pedroso Junior (2018, p. 55)

2) O exercício a seguir deve ser executado em bocca chiusa.

FIGURA 53 – EXERCÍCIO PARA TRABALHAR A RESSONÂNCIA

FONTE: Pedroso Junior (2018, p. 57)

3) O exercício a seguir pode ser realizado com as consoantes “Z”, “V” e “Z”.

FIGURA 54 – EXERCÍCIO PARA TRABALHAR A RESSONÂNCIA

FONTE: Pedroso Junior (2018, p. 57)

4 )No próximo exercício se utiliza as palavras “brim” e “trim” no lugar de “br” e


“tr”.

FIGURA 55 – EXERCÍCIO PARA TRABALHAR A RESSONÂNCIA

FONTE: Pedroso Junior (2018, p. 57)

5) Esse exercício pode ser realizado com as palavras “ziu”, “lui” e “rio”.

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UNIDADE 3 | A PRÁTICA VOCAL VOLTADA PARA A EDUCAÇÃO MUSICAL

FIGURA 56 – EXERCÍCIO PARA TRABALHAR A RESSONÂNCIA E ARTICULAÇÃO

FONTE: Pedroso Junior (2018, p. 58)

O repertório escolhido para se trabalhar com alunos idosos, deve levar


em consideração suas vivências musicais e suas dificuldades, como coordenação
motora e memória.

O ideal é que os alunos participem da escolha do repertório, eles precisam


se sentir participantes durante o processo de aprendizado. Não se deve utilizar
canções infantilizadas com o trabalho vocal nessa faixa etária. O trabalho vocal
pode evoluir gradativamente, pode-se iniciar com um repertório em uníssono,
para depois ser trabalhado cânones e mais vozes. A seguir abordaremos algumas
sugestões de repertório para cantar com os alunos idosos:

FIGURA 57 – MARIA MARIA

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UNIDADE 3 | A PRÁTICA VOCAL VOLTADA PARA A EDUCAÇÃO MUSICAL

FONTE: <http://www.festivaldecorais.com.br/wp-content/uploads/fic/arranjos/Maria%20
Maria%20Soprano.pdf>. Acesso em: 24 dez. 2019.

Sansa Kroma é uma canção tradicional da África do Sul, ela pode ser
executada em uníssono ou à duas vozes:

FIGURA 58 – SANSA KROMA

FONTE: Cruz (2011, p. 179)

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TÓPICO 3 | TRABALHANDO COM A VOZ ADULTA E IDOSA

FIGURA 59 – ACALANTO

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UNIDADE 3 | A PRÁTICA VOCAL VOLTADA PARA A EDUCAÇÃO MUSICAL

FONTE: <http://www.festivaldecorais.com.br/wp-content/uploads/fic/arranjos/Acalanto.pdf>.
Acesso em: 24 dez. 2019.

Essas canções são apenas algumas sugestões para serem trabalhadas com
alunos idosos, lembrando que você precisa observar se elas são apropriadas para
seus alunos, caso contrário, você precisará adequá-las.

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TÓPICO 3 | TRABALHANDO COM A VOZ ADULTA E IDOSA

LEITURA COMPLEMENTAR

OS BENEFÍCIOS DA MÚSICA E DO CANTO NA MATURIDADE

Marcia Degani
Elizabeth Frohlich Mercadante

Este artigo trata da relação da música, mais precisamente da prática


orientada do canto direcionada a pessoas idosas, focando os benefícios que
ela poderá lhes conferir à saúde e ao bem-estar. Mercadante (1997) ressalta
a importância de se destacar o processo de envelhecimento da fase a qual
denominamos velhice, demonstrando que a vivência do envelhecer não implica o
aniquilamento dos potenciais criativos e nem a busca por novas conquistas.

Há quem tema pelo desgaste vocal e se preocupe em aprender a usar


a voz saudavelmente para usufruir dessa experiência com mais tranquilidade,
segurança e prazer. Para muitos, a busca se concentra no aprimoramento e no
desenvolvimento de novos e melhores recursos vocais (agudos, agilidade,
potência) e outros ainda descobrem no canto uma via que proporciona o bem-
estar aliado ao autoconhecimento corporal e emocional, assim como um caminho
que os ajude a vencer limitações de diversas naturezas.

Não se pode esquecer que cantar é expressão artística. A arte se alimenta


da criação, e criar é gerar o novo a partir do que se sabe, do que se pensa e do que
se é. Criar é dar movimento e sentido ao que se assimilou, tendo a oportunidade
de transformar, construir e ressignificar uma série de conteúdo internos; logo,
criar passa a ser uma forma de reafirmação da vida (BARRENECHEA, 2008).

Qualquer veículo de expressão artística pode servir de material criativo.


Cantar pode ser um deles. O criador acolhe inteiramente o novo e age com a
mente no aqui e agora, colocando todo o conhecimento adquirido no passado
em estado dinâmico (BARRENECHEA, 2008). Produzir beleza através do corpo
é criar. Cantar é criar sons que partem de timbres únicos e que soarão uma vez
somente, num momento único. Interpretar uma canção é uma complexa atividade
de criação. Um artista sabe que o momento de sua performance é único e descobre
o quanto é fundamental valorizá-lo ao máximo, administrando toda a sua energia.
Para isso, ele se prepara até o limite, para que naquele instante de realização possa
oferecer o melhor de si. Nietzsche compreendeu que todos os instantes da vida
são únicos e sugeriu uma concepção artística para cada momento vivido.

O corpo reflete a história de vida e, à medida que os indivíduos


amadurecem, vão acumulando os registros de suas experiências. Não é fácil
superar por completo a vivência de situações traumáticas. A experiência do
sofrimento se imprime no corpo como uma marca e, mesmo após um empenho
psicológico para que haja uma reelaboração e racionalização do fato vivenciado, o
corpo denuncia-o através de reações corporais inconscientes (REICH, 1998).

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UNIDADE 3 | A PRÁTICA VOCAL VOLTADA PARA A EDUCAÇÃO MUSICAL

A capacidade pulmonar diminui com a idade, perdendo-se vitalidade


e o funcionamento metabólico se lentifica (HERMÓGENES, 2007). O músculo
diafragma, ao se expandir, massageia os órgãos abdominais (estômago, intestino,
rins, fígado, órgãos sexuais etc.) e estimula o seu funcionamento justificando
sua ação no metabolismo (CAMPIGNION, 1998). Assim, podemos concluir que
melhorar o padrão respiratório sempre trará resultados positivos, especialmente
no caso de pessoas mais maduras que possam apresentar restrições a alguns tipos
de atividades físicas.

O ar é o combustível do canto. O primeiro passo no trabalho de técnica


vocal é colocar o indivíduo em contato com o seu potencial respiratório. No início,
ao se intervir na respiração, obtém-se pouca resposta acerca da percepção dos
seus movimentos, ritmos e profundidade (COSTA, 2001). A maioria das pessoas
lida com o corpo de forma autônoma, e mesmo os que praticam atividades físicas
raramente desenvolvem uma sensibilidade corporal que se conecte às sensações
e movimentos internos. Respirar bem é fundamental para a manutenção da
boa postura e de uma atitude corporal saudável. Ao entrar em contato com a
respiração, faz-se o mesmo com o ritmo interno. Os estados emocionais se refletem
nos movimentos respiratórios e na percepção da respiração.

O aperfeiçoamento da voz cantada se distingue das demais abordagens


vocais por ter a música como foco principal de aprendizado e por dedicar-se ao
seu desenvolvimento, considerando-a instrumento estético e expressivo. Durante
o aprendizado do canto as atenções são voltadas para as mínimas nuances de
todos os elementos vocais. Para o aprendiz, a descoberta da própria voz costuma
ser muito benéfica, pois é uma via para conectá-lo com a sua própria identidade.
Em especial, no caso de pessoas idosas, se reflete em oportunidade para o
estabelecimento de uma percepção mais íntima de si mesmas, tanto corporal,
como emocionalmente.

Enquanto nos expressamos vocalmente, usamos o corpo inteiro para nos


comunicar. Não raro, confere-se às cordas vocais um excesso de responsabilidade
pela comunicação vocal. As cordas vocais representam apenas a fonte produtora
de energia sonora e funcionam como um “transformador” que converte a energia
do ar expirado em onda sonora (DINVILLE, 1993). A emissão da voz mobiliza
todo o organismo, o corpo inteiro ressoa e é sensibilizado por essa energia. Cantar
envolve muitos elementos, os quais serão trabalhados e aperfeiçoados, tais como
postura, movimentação do corpo, gestos, expressão facial, articulação, agilidade,
projeção, entonação, fraseado musical e timbre vocal.

Em termos anatômicos, são encontrados os seguintes tipos de alterações


na laringe do idoso em relação à de indivíduos mais jovens: “calcificação e
ossificação gradual das cartilagens, que, como consequência, ao redor dos 65 anos
apresenta-se quase sem nenhuma mobilidade.” Zemlim, 1968, citado em Behlau,
2001, p. 63), atrofia dos músculos intrínsecos laríngeos, que resulta numa menor
eficiência biomecânica de todo o sistema, redução nas cartilagens aritenóideas,

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TÓPICO 3 | TRABALHANDO COM A VOZ ADULTA E IDOSA

redução na espessura da prega vocal e alterações na contratura muscular


(MORRISON; RAMMAGE; NICHOL, 1989 apud BEHLAU, 2001, p. 63). Quanto
aos principais parâmetros de avaliação vocal, em análise acústica de sujeitos
idosos brasileiros, Behlau (1999) obteve os seguintes resultados: qualidade vocal
com tendência à instabilidade e tremor, extensão vocal reduzida com perda nos
extremos, gama tonal reduzida, identificação do sexo comprometida, intensidade
reduzida, estabilidade vocal comprometida, ataque vocal soproso, padrão
respiratório superficial e incoordenação pneumofonoarticulatória por falta de
suporte respiratório.

O canto é uma atividade que aborda indiretamente questões vocais,


corporais e comportamentais, embora seu foco seja o aprimoramento vocal
para a música e a realização musical. Ao exercitar a voz cantando, o indivíduo
aperfeiçoa respiração, postura, emissão vocal, articulação, extensão vocal e
projeção, harmoniza os movimentos do corpo, adquire uma comunicação
mais expressiva e espontânea, passa a explorar contrastes tonais, rítmicos e de
intensidade, tornando sua voz e sua fala mais agradável, melodiosa e atraente.
Estes elementos, que vão sendo trabalhados e que no início são percebidos apenas
nas situações em que se pratica o canto, passam a ser incorporados pouco a pouco
pelo organismo e, assim, transformam-se em hábitos positivos para a saúde e o
bem-estar.

Música

Cantar é tornar o próprio corpo um instrumento musical. Vivenciar


a música através do canto é uma experiência que mobiliza o indivíduo como
um todo. A prática musical, por si só, tem sido explorada como uma verdadeira
ginástica para o cérebro. O termo psicologia cognitiva da música tem sido
amplamente difundido, servindo de base para diversos tipos de estudos, tais
como: os neurológicos e psicológicos, que buscam compreender o funcionamento
da música no cérebro e a mente musical; os sociológicos e antropológicos, que
realizam estudos comparativos entre as culturas; os musicológicos, que investigam
os componentes mentais envolvidos na audição, na execução instrumental e na
composição; os filosóficos e históricos, que refletem sobre o papel da música ao
longo do tempo; e em outras áreas que tratam de investigar a gênese, a prática e
os efeitos do fazer musical nos indivíduos (ILARI, 2006).

Com relação às funções cerebrais da população idosa, é comum verificar-


se que as respostas a estímulos ficam mais lentas. A memória a curto prazo
diminui com a memória visual entre os 50 e os 60 anos e se prejudica ainda mais
aos 70, assim como a capacidade de aprendizado de materiais orais, em oposição
a materiais escritos (memória auditiva). Há também uma perda progressiva da
audição em todas as frequências, mais acentuada nos homens que nas mulheres
(MACIEL, 2002).

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UNIDADE 3 | A PRÁTICA VOCAL VOLTADA PARA A EDUCAÇÃO MUSICAL

Verificou-se que, tanto a audição como a execução musical estimulam


o funcionamento do cérebro. Pesquisas demonstraram, entretanto, que o
treinamento musical pode melhorar muito este desempenho, levando a
modificações consideráveis.

Conclusão

Cantar é uma atividade muito mais completa do que se imagina. Pode-se


abordar o canto com diversos enfoques e explorar seus benefícios com diversas
finalidades. Esta atividade tão ancestral tem acompanhado o homem desde
os primórdios. Desenvolvê-la está muito mais para um resgate de um antigo
hábito que para a aquisição de novos conhecimentos. O canto já esteve muito
mais próximo da vida cotidiana em outros períodos históricos e já foi realizado
de forma muito mais natural e espontânea. As artes têm sido exploradas como
veículos terapêuticos e preventivos em diversas áreas. “A arte e a prática clínica
pertencem a terrenos diferentes. Por outro lado, a arte pode auxiliar o clínico
à medida que promove novas aberturas do mundo e novas aberturas para o
contato com o outro” (BASTIDAS, 1996, p. 17). O canto, em particular, muito
tem a acrescentar ao idoso trazendo-lhe uma série de contribuições, que poderão
abranger desde a melhora das funções mentais, até uma grande e significativa
mudança no comportamento corporal e emocional. Como foi mencionado, estar
em contato com a própria voz é uma forma de ao mesmo tempo estar integrado
ao corpo, aos sentimentos e às ações inconscientes, portanto, cantar reúne ganhos
preciosos para a vida e para o bem-estar do idoso.

É importante demonstrar às pessoas que estão na maturidade o quanto


o canto pode contribuir e acrescentar as suas vidas, incentivá-las a sua prática e
estimulá-las a libertarem a expressão de suas vozes, seus corpos e suas emoções.
Mais importante para o idoso é investir na descoberta da possibilidade de recriar
a própria existência, transformando-a em objeto artístico e transmutar o tempo de
algoz em aliado, utilizando-o como instrumento para amoldá-la e aperfeiçoá-la.

FONTE: DEGANI, M.; MERCADANTE, E. F. Os benefícios da música e do canto na maturidade.


Revista Kairós Gerontologia, São Paulo, v. 13, n. 2, p. 149-166, nov. 2011. Disponível em: https://
revistas.pucsp.br/kairos/article/download/5372/3852. Acesso em: 10 fev. 2020.

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RESUMO DO TÓPICO 3

Você aprendeu que:

• É na fase adulta que o sistema produtor da voz está todo desenvolvido, e é


nessa fase que o ensino de canto pode ser ampliado.

• É possível iniciar a educação musical na fase adulta ou na terceira idade.

• Na terceira idade, perde-se um pouco da extensão vocal, a capacidade


respiratória diminui, há perda de memória e os movimentos podem ficar
comprometidos. A prática vocal precisa levar em consideração esses pontos,
não levando os alunos idosos ao constrangimento.

• O aprendizado do canto pode trazer vários benefícios para os idosos, tanto


físicos quanto emocionais.

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AUTOATIVIDADE

1 Sobre o trabalho com a voz idosa, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O trabalho com a voz idosa requer alguns cuidados, haja vista que nessa
idade é possível que se tenha perdido um pouco da extensão vocal e sua
capacidade respiratória.
b) ( ) É necessário limitar o canto com a voz idosa pois nessa faixa etária o
estudante está passando por diversas mudanças e tem foco apenas em
canto lírico.
c) ( ) A soprosidade da voz acontece apenas na voz adolescente.
d) ( ) O cantar para alunos idosos não traz nenhum benefício pois nessa
idade as músicas trabalhadas exigem muito pouco ou quase nada do
estudante.

2 Sobre as características da voz dos idosos, assinale V para a alternativa


verdadeira e F para a alternativa falsa:

(  ) Deve-se tomar o cuidado para não escolher exercícios que possam


intimidar os alunos.
(  ) É importante se atentar as particulares de cada um nos exercícios e
alongamentos propostos.
(   ) A prática vocal é uma alternativa para o estímulo do funcionamento do
organismo, agindo de forma semelhante às atividades físicas.
(  ) Cantar na terceira idade pode trazer benefícios aos alunos como melhora
no padrão respiratório, postura, projeção, articulação e ressonância.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – V – V.
b) (  ) V – V – F – F.
c) ( ) V – V – V – V.
d) (  )  F – V – F – V.

3 Assinale a alternativa CORRETA sobre o trabalho com a voz adulta:

a) ( ) Não é necessário ter cuidados com a voz na fase adulta, uma vez que o
sistema produtor da voz nessa fase, está completamente desenvolvido.
b) ( ) O trabalho vocal com adultos só é possível de ser realizado, se for iniciado
na infância.
c) ( ) No trabalho de educação musical com os adultos, eles precisam vivenciar
a música.
d) ( ) No trabalho vocal com adultos, o professor ensina tudo o que sabe, e o
aluno apenas aprende o conteúdo ensinado.

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