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VOZ

PROF.A ANNE PAULA P. M. AMARAL


PROF.A MA. MARIANA HAMMERER
Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira
REITOR

Reitor:
Prof. Me. Ricardo Benedito de
Oliveira
Pró-Reitoria Acadêmica
Maria Albertina Ferreira do
Nascimento
Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo Diretoria EAD:
(a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá.
Prof.a Dra. Gisele Caroline
Primeiramente, deixo uma frase de Novakowski
Sócrates para reflexão: “a vida sem desafios
não vale a pena ser vivida.” PRODUÇÃO DE MATERIAIS
Cada um de nós tem uma grande Diagramação:
responsabilidade sobre as escolhas que Alan Michel Bariani
fazemos, e essas nos guiarão por toda a vida Thiago Bruno Peraro
acadêmica e profissional, refletindo diretamente
em nossa vida pessoal e em nossas relações Revisão Textual:
com a sociedade. Hoje em dia, essa sociedade
é exigente e busca por tecnologia, informação
Fernando Sachetti Bomfim
e conhecimento advindos de profissionais que Marta Yumi Ando
possuam novas habilidades para liderança e
sobrevivência no mercado de trabalho. Produção Audiovisual:
Adriano Vieira Marques
De fato, a tecnologia e a comunicação Márcio Alexandre Júnior Lara
têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, Osmar da Conceição Calisto
diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e
nos proporcionando momentos inesquecíveis. Gestão de Produção:
Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino a
Distância, a proporcionar um ensino de qualidade, Aliana de Araújo Camolez
capaz de formar cidadãos integrantes de uma
sociedade justa, preparados para o mercado de
trabalho, como planejadores e líderes atuantes.

Que esta nova caminhada lhes traga


muita experiência, conhecimento e sucesso.

© Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114
UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA

01
DISCIPLINA:
VOZ

ELEMENTOS DA PRODUÇÃO VOCAL


E ACÚSTICA DA FALA
PROFA. ANNE PAULA P. M. AMARAL
PROFA. MA. MARIANA HAMMERER

SUMÁRIO DA UNIDADE

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................................................5
1. HISTOLOGIA, ANATOMOFISIOLOGIA, NEUROLOGIA DA PRODUÇÃO VOCAL.....................................................6
1.1. ANATOMIA DE LARINGE.........................................................................................................................................6
1.2 HISTOLOGIA............................................................................................................................................................ 10
1.3 INERVAÇÃO LARÍNGEA.......................................................................................................................................... 12
1.4 FISIOLOGIA VOCAL................................................................................................................................................. 13
2. TEORIAS DA FONAÇÃO............................................................................................................................................ 15
3. RESPIRAÇÃO E RESSONÂNCIA DA VOZ FALADA................................................................................................. 16
3.1 RESPIRAÇÃO........................................................................................................................................................... 16
3.2 RESSONÂNCIA DA VOZ FALADA E FORMANTES............................................................................................... 17
4. FÍSICA ACÚSTICA DA FALA..................................................................................................................................... 18

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5. DISFONIAS ORGÂNICAS, FUNCIONAIS, ORGANOFUNCIONAIS, ETIOLOGIA E CLASSIFICAÇÕES...................19
5.1 DISFONIAS ORGÂNICAS.........................................................................................................................................19
5.2 DISFONIAS FUNCIONAIS...................................................................................................................................... 22
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................................................................... 24

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

INTRODUÇÃO
Esta unidade tem como objetivo compreender características anátomo-morfológicas
e anatomofuncionais laríngeas, possibilitando discriminar o processo de fonação normal do
patológico e compreender os componentes físicos e acústicos que constituem a voz. Conhecer o
funcionamento da fonação é imprescindível para o raciocínio clínico, permite que o profissional
tenha uma visão das estruturas e as relacione com seu funcionamento e seu papel dentro da
produção vocal.
Veremos quais os mecanismos responsáveis pela modificação do som emitido pelas
pregas vocais, conjunto de fatores físicos e orgânicos que influenciam na produção e que resulta
na voz percebida pelo ouvido humano. Após esta discussão, o aluno será capaz de identificar os
processos envolvidos na fonação, incluindo a respiração. Também veremos que a voz vai além dos
seus componentes físicos e orgânicos; assim, conheceremos as características de comportamento
e os aspectos psicossociais da voz.
No final desta unidade, o aluno deverá compreender todos esses processos para que
consiga descrever quais as alterações que podemos encontrar na produção vocal. Deverá também
conhecer os princípios das alterações e classificá-las de acordo com sua etiologia, que é de suma
importância para o raciocínio clínico, para que possa elaborar, com maior precisão, o diagnóstico
e conseguir identificar qual o caminho a ser seguido no tratamento e na orientação ao sujeito.

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1. HISTOLOGIA, ANATOMOFISIOLOGIA, NEUROLOGIA


DA PRODUÇÃO VOCAL
1.1. Anatomia de Laringe
A laringe faz parte do trato respiratório inferior, localizado entre a 4ª e a 6ª vértebra, é um
tubo musculoesquelético revestido por mucosa e que comporta as pregas vocais. Está delimitada
superiormente pela laringofaringe e inferiormente pela traqueia.
Sua função primordial é a proteção de vias aéreas inferiores. Devido a sua localização
estratégica e com a movimentação da epiglote, ocorre a vedação dessa estrutura, impedindo a
entrada de corpos indesejados e possibilitando a respiração e a produção vocal.
Para compreender melhor suas estruturas, dividiremos a laringe em cavidades glótica,
supraglótica e infraglótica. De acordo com Andrade Filho e Pereira (2005), essas regiões são
delimitadas pelas pregas vestibulares e pregas vocais, estrutura importante para compreender
as dimensões laríngeas. Entre as duas estruturas, há a porção glótica e, abaixo da prega vocal, a
cavidade infraglótica.
Sua estrutura é complexa e minuciosa, composta por músculos precisos e com funções
específicas e cartilagens articulares e rígidas. Vamos descrever quais os principais componentes
da laringe:
• Cartilagens;

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• Músculos intrínsecos e extrínsecos;
• Pregas vestibulares;
• Pregas vocais;
• Osso hioide;
• Nervos.

CARTILAGENS
A cartilagem tireóidea é constituída por duas lâminas, é a maior em tamanho e mais
fácil de visualizar e palpar. Na junção dessas placas é que se forma uma proeminência laríngea, o
“pomo de adão”, que é um dimorfismo sexual, sobressalente nos homens e menor em mulheres.
A cartilagem cricóidea forma um anel único que conecta a laringe e a traqueia; esta
apresenta uma espessura posterior maior do que a anterior. A cartilagem cricóidea se articula com
a cartilagem tireóidea e, na margem superior da lâmina, ocorre a articulação com a cartilagem
aritenóidea.
As pregas vocais estão conectadas diretamente às cartilagens aritenóideas, que são duplas
e se articulam com a cartilagem cricóidea, juntas participam dos movimentos de abdução das
pregas vocais. Hiatt e Gratner (2011) descrevem que ocorre nessa estrutura a fixação do ligamento
vestibular e músculo vocal. Os músculos cricoaritenóideos posteriores e laterais, aritenóideo
transverso se conectam a essas cartilagens.
Já a cartilagem epiglótica é única e apresenta formato que se assemelha a uma folha.
Localizada na região posterior à cartilagem tireóidea, está fixada pelo ligamento tireoepiglótico,
lateralmente às pregas ariepiglóticas, e fixam a epiglote às cartilagens aritenóideas.

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As cartilagens corniculadas e cuneiformes compreendem as menores estruturas


anatômicas da laringe. As cartilagens corniculadas se articulam com as cartilagens aritenóideas e
as cuneiformes se conectam com as pregas ariepiglóticas.
Veja a localização das cartilagens e como elas se relacionam entre si:

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Figura 1 - Laringe, visão lateral. Fonte: Rizzo (2012).

Figura 2 - Laringe, visão anterior. Fonte: Rizzo (2012).

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Figura 3 – Laringe, visão posterior. Fonte: Rizzo (2012).

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MÚSCULOS EXTRÍNSECOS
Os músculos extrínsecos da laringe são responsáveis por abaixar e levantar a laringe,
participam indiretamente no processo de fonação e mastigação. Os músculos que se localizam
acima do osso hioide e levantadores da laringe são denominados supra-hióideos, abaixo e
abaixadores da laringe, os infra-hióideos.
Sobre os músculos supra-hióideos, Fuller, Pimentel e Peregoy (2014) descrevem que os
músculos milo-hióideo, gênio-hióideo e genioglosso originam-se na mandíbula. O músculo
milo-hióideo tem sua origem na superfície interna do corpo da mandíbula, sua inserção na rafe
mediana contém fibras posteriores para o corpo do hioide, que eleva o osso hioide ou abaixa a
mandíbula. Genio-hióideo se origina na parte inferior da sínfise mentual da mandíbula, a inserção
no corpo anterior do hioide e a contração desse músculo acarretarão a elevação do osso hioide
direcionada para a frente. O músculo genioglosso origina-se na parte inferior da sínfise mentual
da mandíbula e sua inserção ocorre nas fibras inferiores para o hioide, também apresenta fibras
superiores para a região inferior da língua, participa do movimento de posicionar a laringe.
Já o músculo digástrico se origina em dois ventres: um no ventre da mandíbula e outro no
processo mastoide do osso temporal, e se insere nos cornos menores do osso hioide, participa da
elevação do osso hioide ou abaixamento da mandíbula.
Os músculos estilo-hióideos elevam para trás o osso hioide e têm sua origem no processo
estiloide do osso temporal e a inserção na junção do corpo do hioide e dos cornos maiores. O
músculo milo-hióideo forma o assoalho da cavidade oral e abaixa a mandíbula, originando-se
no corpo interno da mandíbula e se insere na rafe mediana, fibras posteriores para o corpo do
hioide.
Por fim, o músculo hioglosso está associado diretamente à língua e indiretamente ao osso
hioide. Tem origem no corpo e cornos maiores do hioide e a inserção na superfície póstero-lateral
da língua.

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Fazem parte do grupo muscular infra-hióideo os músculos esterno-hióideo e


esternotireóideo. Ambos se originam no osso esterno: o primeiro na região medial da clavícula
e se insere na borda inferior do corpo do hioide e o outro tem origem na primeira cartilagem
costal e se insere na linha oblíqua da lâmina tireóidea. O músculo esterno-hióideo é responsável
pelo abaixamento do osso hioide; já o esternotireóideo é responsável por abaixar a cartilagem
tireóidea, contudo ele não é subclassificado como um músculo infra-hióideo, pois não está
inserido no osso hioide.
O músculo omo-hióideo apresenta dois ventres: inferior e superior. O ventre superior se
origina na escápula e se insere no tendão intermediário, e o ventre inferior se origina no tendão
intermediário e se insere na borda inferior dos cornos maiores do hioide. Este músculo tem a
função de impedir que o pescoço entre em colapso durante uma inspiração profunda (FULLER;
PIMENTEL; PEREGOY, 2014).
Já o músculo tireo-hióideo tem sua origem na linha oblíqua da lâmina tireóidea e
sua inserção na borda inferior dos cornos maiores do osso hioide, permite que ele realize o
abaixamento do osso hioide ou a elevação da cartilagem tireóidea.
Por fim, os músculos constritores da laringe também não se inserem no osso hioide e, por
isso, também não estão nessa subdivisão. Estes músculos formam a parede inferior da faringe e
sua movimentação permite alterar a ressonância vocal. O músculo constritor inferior da faringe
tem sua origem na porção inferior do tubo que se origina na base do crânio e a inserção é no
esôfago.

MÚSCULOS INTRÍNSECOS
Este grupamento muscular é responsável pelas modificações vocais precisas. Durante a

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intervenção fonoaudiológica, o profissional precisa compreender a ação de cada músculo para
causar modificações significativas, melhorando a performance vocal, corrigindo comportamentos
e trabalhando nas compensações.
Os músculos intrínsecos da laringe estão diretamente relacionados à produção vocal,
controlam a frequência e intensidade vocal através da abertura e do fechamento de pregas vocais.
A nomenclatura de cada um deles é determinada por sua origem e inserção; assim, conhecendo
as cartilagens, é fácil reconhecer a posição desses músculos. Este grupamento muscular está
subdividido em: músculos abdutores, adutores e tensores.
O primeiro músculo intrínseco da laringe a ser estudado será o músculo tireoaritenóideo
(TA), é um músculo par e apresenta duas divisões anatômicas importantes: a primeira é a porção
medial, que corresponde à porção tireovocal, e a segunda é a porção tireomuscular, que se trata
da parte lateral do músculo.
Este músculo apresenta dupla função, realiza adução e abdução. A adução ocorre quando
a porção tireomuscular é contraída e a abdução ocorre quando a porção tireovocal realiza
a própria fonação. O objetivo principal desse músculo é aumentar a tensão e aduzir as pregas
vocais. A porção tireoaritenóidea superior se origina no limite superior da incisura tireóidea e se
insere na porção muscular da cartilagem tireóidea. A porção tireoaritenóidea muscular se origina
no ângulo superior da cartilagem tireóidea e se insere na base das cartilagens aritenóideas; já a
porção vocal se origina também no ângulo posterior da cartilagem tireóidea e se insere na lateral
inferior do processo vocal da cartilagem aritenóidea.
O músculo cricoaritenóideo posterior (CAP) é o músculo responsável pela abdução
das pregas vocais, também encontrado em número par. Origina-se na cartilagem cricóidea e a
inserção acontece nas cartilagens aritenóideas, causando o movimento de rotação póstero-lateral
das cartilagens aritenóideas. Pinho (2002) descreve as atividades desse músculo, que também gera
a elevação, alongamento, engrossa as bordas da prega vocal, o arredondamento da sua margem
livre e a tensão do corpo das pregas vocais e da mucosa. A autora descreve a participação desse
músculo na respiração e deglutição.

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Os músculos cricoaritenóideos laterais (CAL) se originam no início da cartilagem


cricóidea e se inserem no processo muscular da cartilagem aritenóidea, por isso ele realiza a
adução das pregas vocais e também o seu relaxamento.
Seguindo a ordem dos músculos intrínsecos, veremos o músculo aritenóideo, o qual
tem sua origem na cartilagem tireóidea e a inserção também na outra cartilagem aritenóidea.
Subdivide-se em aritenóideos oblíquo e transverso, mais externamente encontra-se a porção
oblíqua em aparência de X e internamente a porção transversal, que tem uma posição horizontal.
Este músculo atua no controle da adução glótica, aproximando as cartilagens entre si (FULLER;
PIMENTEL; PEREGOY, 2014).
O próximo agrupamento muscular são os cricotireóideos (CT), também em números
pares, os quais se originam no arco da cartilagem cricóidea e sua inserção ocorre na cartilagem
tireóidea. Estes músculos executam a tensão e o alongamento das pregas vocais, e diminuem o
espaço entre a cartilagem cricóidea e a tireóidea.

Veja o vídeo Canto músculos extrínsecos, no qual você terá uma


dimensão do funcionamento isolado de cada um dos músculos
intrínsecos da laringe, lembrando que não é possível acionar um
músculo isoladamente durante a fonação, e sim um agrupamento
muscular. Disponível em:

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https://www.youtube.com/watch?v=mmckasxrkEw.
Acesso em: 4 fev. 2020.

1.2 Histologia
A histologia de laringe permite compreender a produção vocal, partindo do conhecimento
da morfologia e da função do agrupamento celular que forma os tecidos desse sistema. Os tipos
de tecidos encontrados na laringe são os tecidos conjuntivos, tecido nervoso, tecido muscular,
tecido ósseo e tecido conjuntivo.
Estudaremos a histologia da porção condutora do sistema respiratório, configurada
na parte laríngea. Abrahansohn (2016) descreve que grande parte do aparato de condução do
ar é revestida por um epitélio pseudoestratificado cilíndrico ciliado com células caliciformes,
responsáveis pela produção de muco que umidifica, retém micropartículas e aquece o ar
transportado, preparando para os alvéolos, que são extremamente sensíveis.
A produção do muco ocorre nas glândulas e por células calciformes em toda a parede
do tubo; sem exceção, esse epitélio também reveste o tubo laríngeo, constituído por células
basais, células colunares com cílios, células caliciformes, células colunares com microvilos e
células granulosas, todas participam da umidificação do ar transportado. Sendo assim, devemos
considerar o aparato respiratório desde o nariz, fossas nasais e faringe como parte importante
para a saúde vocal.

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Existem duas outras proporções anatômicas relevantes da laringe, são elas: as pregas
vestibulares e pregas vocais. Ambas apresentam estruturas diferenciadas importantes. As pregas
vestibulares são revestidas por epitélio respiratório, sua porção profunda apresenta glândulas
que secretam muco e cartilagem; já as pregas vocais são revestidas por epitélio estratificado
pavimentoso e, em sua porção profunda, encontramos tecido conjuntivo frouxo e rico em matriz
extracelular fundamental e fibras do músculo tireoaritenóideo. É importante saber que este
espaço do tecido conjuntivo que forma as pregas vocais é denominado espaço de Reinke.

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Figura 4 - Corte histológico da laringe, epitélio estratificado pavimentoso na prega vocal e epitélio respiratório na
mucosa. Fonte: Abrahansohn (2016).

Observe, na Figura 4, a diferenciação dos tecidos das pregas vestibulares para o tecido das
pregas vocais propriamente ditas.

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1.3 Inervação Laríngea


O nervo trigêmeo apresenta fibras sensitivas e motoras, é responsável pela sensação da
mucosa bucal, de dois terços anteriores da língua e articulação temporomandibular (ATM); já as
fibras motoras participam dos músculos da mastigação e tensor do véu palatino.
O nervo facial apresenta fibras sensitivas, fibras motoras e fibras eferentes. As fibras
sensitivas participam da gustação de dois terços da língua; as fibras motoras, dos movimentos
faciais; e as fibras eferentes participam do acionamento das glândulas lacrimais, submandibulares
e sublinguais. O nervo glossofaríngeo apresenta fibras sensitivas e fibras motoras. As fibras
sensitivas participam da sensibilidade geral e gustativa do terço posterior da língua, enervam os
músculos constritores da faringe, o músculo estilofaringe (PINHO; JARRUS; TSUJI, 2004).
Nervo vago é o mais relevante para a produção da fala, tem sua porção sensitiva, motora
e autônoma, além da divisão dos seus ramos: o ramo faríngeo faz a inervação dos músculos
faríngeos, músculos laríngeos e músculos do palato mole, sendo que o nervo superior laríngeo
enerva a junção laringofaringe e região superior das pregas vocais, base da língua e epiglote; já o
ramo laríngeo recorrente inerva a mucosa da laringe, prega vocal e todos os músculos intrínsecos
da laringe, exceto o cricotireóideo (FULLER; PIMENTEL; PEREGOY, 2014).

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Figura 5 - Trajetória do nervo vago e nervo laríngeo. Fonte: Ensino Biologia USP (2011-2012).

O nervo acessório enerva todos os músculos da laringe e o músculo esternocleidomastóideo.


O nervo hipoglosso inerva músculos extrínsecos e intrínsecos da língua e está mais relacionado
ao abaixamento da laringe.

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1.4 Fisiologia Vocal


Discutiremos a fisiologia e o funcionamento da laringe na produção vocal, deglutição
e respiração. Todas essas funções são primordiais para a sobrevivência humana, o controle do
bolo alimentar, a proteção das vias aéreas e, não menos importante, a fonação, que permite ao
indivíduo a comunicação através da fala e o canto, capacidades fundamentais de se expressar por
meio da voz.
A laringe auxilia no processo de deglutição, o mecanismo de acionamento permite que
as pregas ariepiglóticas e glote se contraiam, provocando o fechamento e a elevação laríngea
para que o alimento transportado não adentre o tubo laríngeo, evitando sua entrada nas vias
respiratórias. A entrada de algum corpo estranho – alimento ou até o acúmulo de muco – aciona
imediatamente o reflexo de tosse, para que seja expelido bruscamente.
O processo de fonação é mais complexo e exige sua atenção para compreender a fisiologia
das movimentações sofisticadas da laringe e da vibração de pregas vocais.
O fechamento das pregas vocais ocorre devido à diferença de pressão, fato físico que se
inicia através da respiração: o ar que sai dos pulmões provoca a adução das pregas vocais causada
pela diminuição da pressão subglótica, ou seja, pressão abaixo das pregas vocais. Essa diferença
de pressão dará início ao processo de fonação.
O Efeito Bernoulli ocorre quando a velocidade do ar que está saindo pelos pulmões
aumenta, aumentando também a pressão na cavidade subglótica e diminuindo a pressão
supraglótica. A pressão se eleva até que consiga vencer a resistência das pregas vocais, que se

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abrem; logo após a abertura, a pressão do ar cai nas bordas mediais das pregas vocais, causada
pela intensa saída de ar, então um vácuo se forma reaproximando as pregas vocais. Essa ação
ocorre centenas de vezes por segundo, sendo este movimento chamado de ciclo glótico. (FULLER;
PIMENTEL; PEREGOY, 2014).

Figura 6 - Efeito Bernoulli na laringe. Fonte: Do Vale (2012).

Na imagem acima, verificamos o aumento da pressão: FI representa a pressão subglótica


impulsionada pelos pulmões; FB, a pressão de Bernoulli ao encontrar o estrangulamento; e FM,
a força mioelástica das pregas vocais.
Um exemplo prático sobre esse efeito é quando observamos um caminhão que utiliza uma
“lona” para cobrir a sua carga. Quando está parado, a lona permanece lisa, e andando na estrada,
vemos a lona estufada para cima, isso ocorre porque a pressão dentro do caminhão é maior do
que fora devido à velocidade com que o ar passa em cima da lona; isso causa o estufamento da
lona. Este efeito ocorre também nas asas de um avião e no vácuo que ocorre quando um carro
está em alta velocidade.

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Figura 7 - Efeito Bernoulli demonstrado na lona do caminhão. Fonte: Física comentada (2013).

A velocidade em que ocorre o ciclo glótico é tão elevada que, ao visualizarmos um


exame de imagem de videolaringoscopia com luz estroboscópica (videolaringoestroboscopia),
conseguimos ver essa movimentação em câmera lenta devido aos feixes de luz que são disparados
na mesma frequência do movimento.

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Figura 8 - Ciclo de fechamento da prega vocal. Fonte: Do Vale (2012).

O modelo corpo cobertura determina a característica da teoria mioelástico-


aerodinâmica, que reserva a compreensão da manutenção da vibração. Após observar o exame de
videolaringoestroboscopia, é possível identificarmos que a membrana da prega vocal não vibra
como um todo, mas em formato de onda. No ciclo glótico, após a prega vocal vencer a resistência
da pressão causada pelo ar que sai dos pulmões, as partes inferiores são forçadas lateralmente pela
pressão; contudo, por estarem mais afastadas, nesse momento, gera uma convergência no fluxo
de ar, forçando as partes superiores a se moverem lateralmente enquanto a parte inferior retorna
à linha mediana, e o processo se repete (FULLER; PIMENTEL; PEREGOY, 2014).

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Leia mais e veja todas as teorias da fonação conhecidas até hoje no livro Tratado
de fisiologia aplicada a ciências médicas, de Carlos Roberto Douglas (p. 421- 428).

Veja um exemplo desse exame no vídeo Videolaringoestroboscopia


digital: é possível, graças à luz estroboscópica, a movimentação da
prega vocal. Observe a repetição do movimento e como ocorre a
aproximação das pregas vocais. Também é possível ouvir o tom
emitido pelas pregas vocais. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=z4_zasvMcz8.

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2. TEORIAS DA FONAÇÃO
A movimentação realizada nas pregas vocais causa uma perturbação na onda sonora,
sendo que a quantidade de ciclos realizados por segundo determina a frequência fundamental
(f0) da voz. Temos uma média equivalente para homens e mulheres: para os homens, a frequência
fundamental está em torno de 125 Hz e, para as mulheres, 200 Hz; na criança, em torno de 300
Hz.
Ao analisarmos a f0, estamos analisando a velocidade em que ocorrem as vibrações das
pregas vocais. Nos homens, essa velocidade de vibração é menor do que nas laringes das mulheres
e crianças; isso porque comprimento, tensão, rigidez e as massas das pregas vocais são diferentes
entre essas populações.
A frequência fundamental é constituída por harmônicos; isso porque as pregas vocais
apresentam variadas formas de vibração em toda sua extensão. Cada metade das pregas vocais
vibra com o dobro de velocidade que todo o comprimento, assim como cada terço vibra, sendo
um múltiplo da frequência fundamental de todo o comprimento. Exemplo: a f0 é 100 Hz e cada
terço apresenta componentes múltiplos de 100.
Já as frequências que surgem devido à ressonância das cavidades orais são denominadas
formantes, elas determinam as características das vogais produzidas durante a fala, essas
características em específico são responsáveis pela qualidade e brilho da voz. (GUSMÃO;
CAMPOS; MAIA, 2010).
Jitter e Shimmer são as variações que ocorrem na frequência fundamental, sendo o Jitter
a variação na frequência fundamental e Shimmer, a variação da amplitude da onda sonora.

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De acordo com Douglas (2006), pitch e loudness são parâmetros que designam a percepção
que temos da voz: loudness equivale à intensidade em que percebemos o som, a fisiologia do
loudness depende da amplitude da vibração, que é modificada pela quantidade de energia contida
na corrente aérea, que é impulsionada pelo pulmão e acusticamente é medida em decibéis (db).
Pitch corresponde à percepção da mudança da quantidade de ondas sonoras produzidas pela
vibração das pregas vocais. Essa mudança altera a nossa percepção sobre o som grave ou agudo.
Na elevação do pitch, as pregas vocais são cada vez mais esticadas e sua espessura é diminuída,
sendo sua medida acústica feita em Hertz (Hz).

3. RESPIRAÇÃO E RESSONÂNCIA DA VOZ FALADA

3.1 Respiração
A resposta mais urgente do sistema respiratório são as trocas gasosas que ocorrem na
respiração, a entrada e saída de ar garante o suprimento de oxigênio para a respiração celular.
O sistema respiratório é constituído por um par de pulmões que estão alojados na região
torácica, cada pulmão está revestido por pleuras que revestem também o músculo diafragma,
pericárdio e mediastino. Já o trato respiratório superior consiste em nariz, faringe e laringe, e o
trato respiratório inferior compreende traqueia, dois brônquios, direito e esquerdo.

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A caixa torácica que armazena esse sistema é composta por osso esterno, 12 pares de
costelas e espaço intercostal e diafragma, os espaços intercostais estão revestidos pelos músculos
intercostais internos e externos. Abaixo de toda essa estrutura, está localizado o músculo mais
importante para a respiração, que é o diafragma. Sua localização ajuda a separar o tórax do
abdômen.
O músculo diafragma é formado por duas porções, uma muscular e um tendão central,
que está fundido ao pericárdio. Participam da inspiração os músculos diafragmas intercostais
interno e externo, os músculos abdominais realizam a expiração do músculo reto do abdômen,
transverso do abdômen, oblíquo externo e oblíquo interno (WARD; LEACH, 2012).
O diafragma é inervado pelo nervo frênico; já os músculos da inspiração são inervados
por nervos espinais e cervicais. Os músculos da expiração são inervados por nervos espinais.

Figura 9 - Movimento de diafragma e costelas na inspiração e expiração. Fonte: Boer (2017).

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É importante saber que encontramos pouquíssimos músculos lisos nos pulmões; por
isso, a movimentação dos pulmões é passiva, depende da ação de músculos adjacentes para
fazê-lo contrair e expandir. A regulação da respiração é inconsciente, mas pode ser controlada
conscientemente (BOER, 2017).
O primeiro princípio a ser compreendido acerca da respiração é o lei de Boyle. Para a
inspiração, quando os pulmões se expandem, ocorre a diminuição de pressão dentro dos alvéolos;
isso porque o volume e a pressão são inversamente proporcionais. Neste caso, ocorre o aumento
do volume nos espaços dos alvéolos, ocasionando a diminuição da pressão. O inverso ocorre na
expiração: a contração dos pulmões gera o aumento da pressão.
Além disso, existem ainda duas ações que permitem que a expiração aconteça: a força
exercida pela abertura das costelas e a contração do diafragma ocasionando uma pressão intra-
abdominal. E para que a expiração aconteça, o músculo diafragma necessita relaxar (FULLER;
PIMENTEL; PEREGOY, 2014).

Leia mais sobre a fisiologia da respiração no livro Anatomia e fisiologia aplicadas


à fonoaudiologia (p. 137-142).

VOZ | UNIDADE 1
3.2 Ressonância da Voz Falada e Formantes
Compreendemos a fonte da produção vocal em nível glótico e a conversão de energia
aerodinâmica em energia acústica. Agora passaremos a compreender quais os outros elementos
que constroem a voz do indivíduo. Partimos então para os elementos da ressonância, onde o som
passa a ser filtrado.
O filtro do som produzido nas pregas vocais são as cavidades superiores a elas, divididas
em cavidades oral, faríngea e nasal. Já as regiões de ressonância são as estruturas da cavidade oral,
como dentes, lábios, véu palatino e mandíbula, as câmaras na cavidade nasal e parte laríngea da
faringe. Todos estes elementos apresentam a capacidade de ressoar dependendo do tom emitido,
ou seja, cada estrutura é mais favorável à ressonância dependendo do tipo de sinal emitido pelas
pregas vocais.
É na cavidade oral que ocorrem as modificações articulatórias dos fonemas que compõem
a nossa língua, todos os elementos da cavidade oral modificam o pitch. Participam indiretamente
da ressonância os lábios, língua, dentes, bochechas, palato duro, véu palatino e mandíbula
(FULLER; PIMENTEL; PEREGOY, 2014).
O véu palatino participa ativamente do equilíbrio de ressonância, a movimentação
adequada permite o equilíbrio entre ressonância oral e nasal, a falta de movimentação dessa
estrutura pode tornar a percepção da voz anasalada. A faringe, no entanto, trata-se de um tubo,
por isso também influencia diretamente na ressonância, exerce influência direta nas cavidades
oral e nasal. A língua também é um elemento ativo na produção de fala e contribui para a mudança
na ressonância.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

As frequências emitidas sempre encontram alguma região de ressonância, podem ocorrer


frequências específicas ou frequências múltiplas, neste caso denominadas bandas de frequência;
quando essas bandas de frequência ressoam, ocorre a produção de formantes (FULLER;
PIMENTEL; PEREGOY, 2014).
Existe uma infinidade de formantes, contudo os três primeiros formantes caracterizam
as vogais e dependem da faixa de frequência que ressoam. O primeiro formante (F¹) são faixas
de baixa frequência e que sofrem influência da altura da língua; o segundo formante (F²) são
frequências altas sofrendo influência da posição anterior ou posterior da língua; o terceiro
formante (F³), frequências ainda mais altas (FULLER; PIMENTEL; PEREGOY, 2014).

4. FÍSICA ACÚSTICA DA FALA


A característica principal do som que produzimos é a onda mecânica, que se propaga
pelo ar gerando uma movimentação das moléculas. As pregas vocais abrem e fecham causando
uma perturbação, por ser capaz de realizar ajustes finos. Somos capazes de produzir variadas
frequências, que são controladas pelo nível de tensão, massa e alongamento.
Esta onda sonora irá se propagar pelo trato vocal, atingindo suas áreas de ressonância e
transformando-se em um som harmônico, que pelo interlocutor é percebido. Esta ação é uma
reação de forças. Quando a onda sonora encontra o seu local de ressonância, este local responde
também com uma vibração que, por sua vez, causa uma perturbação de moléculas.
Como já vimos anteriormente, a onda sonora tem como característica a frequência e a

VOZ | UNIDADE 1
intensidade. A frequência é medida pelo número de vibrações por minuto (Hz). Ao analisarmos
a onda sonora, isso corresponde ao comprimento da onda medida entre a crista entre duas
ondas, então a análise acústica da voz compreende na junção várias ondas que formam uma onda
complexa (BOECHAT, 2015).

Figura 10 – Onda sonora de baixa e alta frequência. Fonte: Fonética e Fonologia (2008).

O comprimento de onda sonora determina a frequência do som que ela representa:


quanto maior o comprimento, mais baixa é a frequência e, quanto menor o comprimento entre as
cristas da onda, maior é a frequência do som que ela representa, medidas em Hz. Já a intensidade
corresponde à amplitude da onda. É importante saber como as ondas sonoras se comportam em
ambiente externo, onde poderá acontecer o fenômeno de propagação, reflexão, difração, refração
e absorção. Estes fenômenos são dependentes dos obstáculos que encontram no caminho
(BOECHAT, 2015).

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

5. DISFONIAS ORGÂNICAS, FUNCIONAIS,


ORGANOFUNCIONAIS, ETIOLOGIA E CLASSIFICAÇÕES
Após compreender os elementos e a fisiologia da voz, passaremos a conhecer o distúrbio
que acomete esses elementos. De maneira geral, qualquer alteração que prejudique a emissão
vocal é denominada disfonia. Iremos compreender neste tópico quais as classificações desses
distúrbios.
A definição de disfonia, para Le Huche e Allali (2005), envolve a abordagem de tópicos
diferentes: alguns autores consideram a disfonia uma perturbação do timbre vocal, outros uma
perturbação em várias características vocais. No entanto, a disfonia é um distúrbio da função
vocal que acomete o sujeito por alguns dias, meses ou pode vir a ser permanente, sentida como
tal pelo próprio indivíduo ou seu meio de convívio.
Existem muitas teorias acerca do surgimento das disfonias, considerando a alteração
anatômica e a causa do surgimento dessas alterações. As principais teorias discutem sobre
circunstâncias que podem afetar a produção vocal, anomalias congênitas, lesões benignas, lesões
pré-malignas e malignas, distúrbios infecciosos e inflamatórios, distúrbio neurológico, distúrbios
adquiridos, trauma cego ou penetrante, agentes farmacológicos, paralisia de prega vocal, disfonias
funcionais, causas emocionais e ocupacionais (LALWANI, 2013).
Para uma abordagem didática e para que os distúrbios da voz possam ser classificados,
as disfonias são divididas em disfonias orgânicas, disfonias funcionais e disfonias orgânico-

VOZ | UNIDADE 1
funcionais. Atualmente, existe uma discussão acerca das disfonias funcionais, por ocorrerem,
nas disfonias orgânicas, fatores funcionais; por isso, pretende-se alterar a nomenclatura para
disfonias comportamentais, conforme iremos compreender a seguir.

5.1 Disfonias Orgânicas


As disfonias orgânicas apresentam alterações estruturais que influenciam diretamente
na voz, não necessariamente ela se desenvolve por algum comportamento vocal. As disfonias
orgânicas estão mais relacionadas aos casos com patologias. O distúrbio orgânico da laringe
modifica sua estrutura e função (FULLER; PIMENTEL; PEREGOY, 2014).

LESÕES BENIGNAS
O fonotrauma é a definição para a lesão ocasionada pelo trauma repetitivo nas pregas
vocais, o ponto de maior atrito entre as pregas vocais fica no local onde ocorre mais amplitude de
onda máxima, a patologia vocal é secundária ao fonotrauma.
Nódulo vocal é uma lesão bilateral pequena e esbranquiçada, ocorre no terço anterior e
nos dois terços posteriores das pregas vocais. A incidência é maior em crianças e mulheres em
consequência da anatomia da laringe desses grupos, no entanto é característica de uma lesão por
esforço e é mais facilmente encontrada em cantores por mau uso vocal.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Figura 11 - Nódulo vocal Fonte: Martins e Trindade (2003).

Pólipos de prega vocal são lesões unilaterais com característica peduncular e sua cor não
difere da mucosa. É facilmente vascularizado, a incidência é maior em homens que fumam e que
façam abuso vocal, ocorre no terço anterior médio da prega vocal (LALWANI, 2013).

VOZ | UNIDADE 1
Figura 12 – Pólipo. Fonte: Sarmento (2015b).

O edema de Reinke é a lesão mais relacionada ao tabagismo, sua característica morfológica


é o acúmulo de líquido na camada superficial da lâmina própria, lesão bilateral de aspecto úmido
no exame laringoscópico.

Figura 13 - Edema de Reinke. Fonte: Tecnovoz (2020).

Os cistos laríngeos podem aparecer por toda a laringe, exceto na borda medial das pregas
vocais. Podemos encontrar dois tipos de cistos: cistos intracordais e cistos saculares. Os cistos
intracordais ocorrem quando há retenção de muco ou ceratina, é uma lesão unilateral que ocorre
no terço médio da prega vocal. Na observação do exame, não é possível ver a movimentação da
mucosa onde ele está inserido. Já os cistos saculares são obstruções de glândulas (LALWANI,
2013).

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Figura 14 - Cisto de prega vocal. Fonte: César (2020).

A papilomatose são lesões verrucosas causadas pelo vírus HPV e ocorre em crianças de
2 ou 4 anos e sua transmissão se dá de forma vertical, de mãe para filho. Essas verrugas ocorrem
entre as pregas vocais e as pregas vestibulares (LALWANI, 2013).

VOZ | UNIDADE 1
Figura 15 - Papilomatose laríngea. Fonte: Tsuji, Imamura e Frizzarini (2008).

Laringite é o quadro mais recorrente no contexto clínico, ocorre uma afecção com
produção de catarro, tosse seca, consequência da irritação na laringe. Pode durar de 3 a 4 dias e
pode ocorrer um quadro de disfonia momentânea com rouquidão, podendo evoluir para afonia
(LE HUCHE; ALLALI, 2005).

LESÕES MALIGNAS
O câncer de laringe envolve, em 90% dos casos, carcinomas de células escamosas; na
maioria dos casos, está associado ao uso de cigarro e álcool. As lesões supraglóticas são tardiamente
detectadas, enquanto as lesões glóticas são facilmente detectadas. As pessoas com esse tipo de
lesão podem apresentar rouquidão, disfagia, hemoptise, massa no pescoço, dor de garganta, dor
de ouvido, comprometimento das vias aéreas e aspiração. Ainda características como uma voz
soporosa podem indicar uma paralisia de prega vocal e uma voz abafada, uma lesão supraglótica.
Uma das medidas de tratamento das lesões malignas de laringe é a laringectomia parcial ou total
(MARCHESAN; JUSTINO; TOMÉ, 2014).

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Figura 16 - Lesão maligna de laringe do tipo carcinoma. Fonte: Sarmento (2015a).

5.2 Disfonias Funcionais


Muito se discute acerca da disfonia funcional, começando pela dicotomia da nomenclatura
“funcional”, que acaba dificultando a compreensão do que é essa alteração; ela é causada por um
comportamento disfuncional da voz, ou seja, da ação que prejudica a função vocal. O consenso
geral é o de que existe o fator comportamento como causador, contudo uma alteração de

VOZ | UNIDADE 1
comportamento pode levar a uma alteração na estrutura e também ser classificada como orgânica.
O comportamento/hábito é, em geral, uma compensação que o indivíduo realiza com
a suposta ideia de que está melhorando sua condição vocal naquele momento; isso mostra que
o mecanismo vocal é facilmente adaptável. O comportamento modificado é o causador das
disfonias, provocando uma mudança na execução da voz, e pode ter como consequência uma
lesão orgânica (LE HUCHE; ALLALI, 2005).
É necessário compreender que fatores psicoemocionais podem influenciar na disfonia
funcional. Sujeitos com estado emocional tenso apresentam hipertonia vocal, realizam hipertonia
dos músculos laríngeos para a execução da fala, assim como hipertonia dos músculos que
participam indiretamente da fonação, músculos da região do pescoço, ombros e costas. Le Huche
e Allali (2005) apontam que o fator emocional leva o sujeito a modificar sua voz; conforme a sua
vivência, as experiências emocionais influenciam na construção vocal.
Estudaremos agora as causas mais comuns de disfonias funcionais e como elas acontecem.
Classificaremos conforme o tipo de comportamento que desencadeará uma disfonia funcional.
Quadros clínicos otorrinolaringológicos podem desencadear comportamentos de
compensação. Por exemplo, uma laringite ou algum edema faz com que o indivíduo realize
estratégias de compensação, o que Le Huche e Allali (2005) descrevem como ciclo vicioso, para
ter uma fonação mais clara. No entanto, está ocasionando um esforço prejudicial que pode
acarretar uma disfonia.
Assim, quadros decorrentes de dificuldades emocionais ou estresses traumáticos geram
uma tensão psicomotora. Essa tensão pode ser percebida na voz pela disfonia, podendo acarretar
uma alteração de curto ou longo prazo. O cansaço e o estresse se tornam, cada vez mais, parte do
cotidiano da população, assim como o excesso de demanda familiar ou profissional. O cansaço
físico pode modificar a condição emocional do indivíduo.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

A mudança hormonal está diretamente relacionada às alterações vocais, pois age


na mucosa da laringe. Nas mulheres, ocorrem modificações hormonais ocasionadas pela
menstruação, menopausa ou gravidez: no período pré-menstrual, ocorre o espessamento da
mucosa diminuindo a maleabilidade de forma recorrente; já no período gestacional, a parede do
abdômen distende modificando a forma de projeção vocal.
Dificilmente apenas uma alteração será a causadora da disfonia, ocorrem também fatores
que a potencializam. A população que mais está suscetível a essas alterações são as pessoas que
utilizam a voz de forma profissional, que estão em constante exigência vocal, bem como técnica
vocal inadequada para o canto.
O tabagismo e o uso abusivo do álcool são fatores que favorecem a instalação da disfonia
por modificarem a estrutura da mucosa, bem como edemas causados por inflamações e infecções
de vias aéreas superiores, laringe ou faringe. Outro fator importante a ser relacionado é o refluxo
gastroesofágico, o extravasamento dos ácidos estomacais para a laringe causa também a formação
de edemas.
Além da classificação quanto à origem das disfonias, podemos classificá-las quanto
ao estado de tensão da laringe, podendo ela estar hipotônica ou hipertônica, o que classifica a
disfonia como hipercinética ou hipocinética.
As disfonias hipocinéticas ocorrem quando a musculatura da laringe está enfraquecida
por um parestesia, por exemplo, que pode ocorrer em grupamentos musculares específicos,
por isso veremos diferentes manifestações. Durante o exame laringológico de uma disfonia
hipocinética, é possível visualizar várias alterações no fechamento glótico, que varia conforme o
movimento específico da fonação. Em alguns casos, é possível observar o fechamento normal; em
outros, observamos uma hiperabdução das cartilagens aritenóideas e ainda nestes casos podemos

VOZ | UNIDADE 1
visualizar uma saliência no espaço glótico na região do terço médio e terço inferior das pregas
vocais (LE HUCHE; ALLALI, 2005, p. 83).
Já na percepção da fonação, ocorre uma falha no atrito entre as pregas vocais, podendo
atingir cada terço de sua extensão. Encontramos essa alteração no terço anterior, onde não ocorre
a aproximação total, e no terço posterior, onde ocorre a aproximação. Outra alteração pode atingir
a borda livre da prega vocal; ocorre então a aproximação das extremidades e a borda livre, apesar
de vibrar, não se aproxima totalmente, causa um aspecto velado na visualização do fechamento.
Ocorre também a falha no fechamento em toda extensão longitudinal das pregas vocais; nesta
alteração, percebemos as pregas vocais retas no momento do fechamento glótico.
Nas disfonias hipercinéticas, percebemos, no exame laringológico, um aumento no
acúmulo de secreção, aspecto hipertônico das pregas vestibulares, mucosa espessa devido aos
edemas e, de modo geral, nota-se um esforço no fechamento glótico. Encontramos também,
nestas disfonias, um esforço em todas as etapas da fonação, como, por exemplo, tensão na região
do pescoço, veias jugulares, fadiga. Nota-se um esforço na voz e, em cantores, ocorre a redução
da extensão vocal.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Construímos até aqui um raciocínio importante para o conhecimento clínico. As
questões presentes no consultório fonoaudiológico são sempre singulares; por isso, é preciso ter
conhecimento amplo da anatomia e fisiologia laríngea e correlacionar os achados clínicos com as
condições normais de produção vocal, bem como é importante conhecer todo o funcionamento
do corpo humano para que você possa conhecer o paciente que pode ter sido acometido por um
problema vocal.
O paciente sempre precisa ser analisado como um ser único e como um todo, avaliar
seus aspectos anatômicos, fisiológicos, emocionais, comportamentais e sua ocupação, ou seja, é
importante entender que o indivíduo é também um ser social e que a voz é fundamental em suas
relações sociais.
A produção vocal é complexa, até hoje é difícil descrever como um órgão tão pequeno
consegue realizar tantos ajustes minuciosos que acarretam a produção de ilimitados tipos de
sons, projeções e características tão singulares.
Atualmente, a fonoaudiologia participa, por exemplo, de estudos criminais para traçar
um perfil vocal e detectar as características vocais específicas de um criminoso. Analisando
uma ligação telefônica, por exemplo, o fonoaudiólogo é capaz de dizer se é ou não o indivíduo
procurado, comparando com as características que pertencem apenas àquele sujeito, interpretar

VOZ | UNIDADE 1
as emoções transparecidas na voz para os casos de perícia criminal. Tudo isso graças ao
conhecimento específico da produção vocal.

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UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA

02
DISCIPLINA:
VOZ

AVALIAÇÃO DAS DISFONIAS E


COMPORTAMENTOS VOCAIS
PROFA. ANNE PAULA P. M. AMARAL
PROFA. MA. MARIANA HAMMERER

SUMÁRIO DA UNIDADE

INTRODUÇÃO................................................................................................................................................................27
1. DISFONIAS DA CRIANÇA, DO ADOLESCENTE, DO ADULTO E DO IDOSO........................................................28
1.1 DISFONIA NA CRIANÇA.........................................................................................................................................28
1.2 DISFONIA NO ADOLESCENTE...............................................................................................................................30
1.3 DISFONIA NO ADULTO E NO IDOSO..................................................................................................................... 31
2. AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO VOCAL, ANÁLISE PERCEPTIVO-AUDITIVA, VISUAL E ACÚSTICA......33
2.1 AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO VOCAL.......................................................................................................34
2.2 ANÁLISE PERCEPTIVO-AUDITIVA......................................................................................................................35
2.3 ANÁLISE ACÚSTICA E VISUAL DA FALA..............................................................................................................36
3. AVALIAÇÃO FUNCIONAL E AUTOAVALIAÇÃO VOCAL: PROCEDIMENTOS E AVALIAÇÃO..................................38
4. COMPORTAMENTOS RELACIONADOS AO ABUSO E MAU USO VOCAL.............................................................40

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5. PSICODINÂMICA VOCAL: AVALIAÇÃO E APLICAÇÃO TERAPÊUTICA................................................................. 41
6. REABILITAÇÃO VOCAL E TÉCNICAS VOCAIS........................................................................................................44
6.1 TÉCNICAS VOCAIS.................................................................................................................................................. 46
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................................................50

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

INTRODUÇÃO
Esta unidade contempla princípios fundamentais para o tratamento das disfonias. Você
terá a oportunidade de conhecer as especificidades de cada grupo populacional que depende
de fatores como a idade para sua classificação. Para cada idade, veremos que as necessidades
fisiológicas, emocionais, cognitivas são diferentes; sendo assim, as propostas terapêuticas são
diferentes.
Você conhecerá quais as ferramentas de avaliação que estão à disposição para que os dados
sejam precisos. Mesmo tendo posse das ferramentas, é dever do fonoaudiólogo selecionar qual
a melhor estratégia ou ferramenta que se faz necessária neste momento, levar em consideração
a condição de saúde geral do paciente, a capacidade de resposta e, principalmente, respeitar a
queixa do paciente. A avaliação de voz exclui a ideia de que conhecer apenas a anatomia da voz
é suficiente para detectar um problema, compreender as causas do problema e, principalmente,
compreender que o sujeito constrói a sua voz através de suas vivências e suas experiências
emocionais.
Quanto maior a quantidade de informações que o fonoaudiólogo obtiver sobre a saúde
vocal do seu paciente, mais esclarecedora será a reabilitação. Durante a avaliação e reabilitação,
devemos oferecer autoconhecimento ao paciente para que ele não repita mais comportamentos
nocivos e que aprenda a cuidar da própria voz. Ao final desta unidade, após ter respaldo teórico

VOZ | UNIDADE 2
para compreender o paciente e processo terapêutico, só então você terá como compreender a
aplicabilidade dos exercícios vocais e estratégias de reabilitação.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

1. DISFONIAS DA CRIANÇA, DO ADOLESCENTE, DO


ADULTO E DO IDOSO
1.1 Disfonia na Criança
A diferenciação da laringe na criança começa pela própria anatomia, não podemos
considerar a laringe de uma criança uma versão em miniatura da laringe do adulto. Mesmo
tratando-se de uma estrutura ainda em desenvolvimento, devemos considerar a histologia
morfológica e a topográfica.
A diferença estrutural da laringe é que as pregas vocais são mais espessas em relação
ao seu comprimento, que é menor, pois as estruturas como cartilagem e ossos ainda irão se
expandir. A camada de lâmina própria ainda não completou seu desenvolvimento e a membrana
que reveste as pregas vocais ainda estão frouxas e uniformes, o que a torna mais propensa para o
desenvolvimento de uma lesão por edema.
As características acústicas da voz de uma criança são singulares, neste período as
crianças manifestam dificuldade em controlar as emoções. O interesse por atividades intensas e
que exijam movimento, por exemplo, são características emocionais que modificam a forma de
produção vocal nessa população. Devemos considerar não apenas a instabilidade emocional, mas
a instabilidade neuromuscular, que é percebida na emissão vocal; encontramos, ainda, certo grau
de soprosidade e instabilidade na voz (MARCHESAN; JUSTINO; TOMÉ, 2014).

VOZ | UNIDADE 2
As causas mais recorrentes em crianças para disfonia são as disfonias funcionais,
sendo estas causadas por esforço, são as alterações mais encontradas nessa população; ainda se
elenca o nódulo vocal como a patologia mais incidente. O TDAH é um fator de risco para o
desenvolvimento de disfonias, bem como fatores comportamentais como o modelo negativo do
adulto que reforça a fala em altos níveis de intensidade, gritando, e até mesmo uma personalidade
mais controladora exige um abuso vocal.
As causas orgânicas mais encontradas são alterações cromossômicas como Síndrome de
Down (SD) e síndrome Cri-Du-Chat, doenças congênitas como cisto, estenose, laringomalácia,
laringocele, diafragma laríngeo e fissura laríngea posterior, lesões de massa, insuficiência velo-
faríngea, distúrbios metabólicos, perda auditiva e alterações respiratórias (MARCHESAN;
JUSTINO; TOMÉ, 2014).
Esses autores concordam que a avaliação das disfonias infantis parte das queixas
apresentadas por pais e escola geralmente, a própria criança não se dá conta das modificações
e perda da qualidade vocal. É importante iniciar por uma anamnese para conhecer a queixa
apresentada pelos pais, história pregressa da queixa, fatores causais das disfonias, abusos vocais e
antecedentes familiares.
Devemos avaliar padrões acústicos, como tipo de voz, se apresenta características de uma
voz rouca e áspera associadas à lesão de massa, voz tensa ou soprosa, geralmente associada à
ineficiência glótica. É importante avaliar o tipo de ressonância que a criança apresenta, bem como
pitch e loudness a fim de verificar se aquela voz está adequada à idade e tipo físico da criança
(MARCHESAN; JUSTINO; TOMÉ, 2014).
A avaliação laringológica é de extrema relevância para as disfonias infantis, pois serão as
informações mais precisas que podemos obter sobre a criança. É possível encontrar, nos exames,
uma espécie de dilatação regular das pregas vocais, que é raro, porém possível. Nessa população,
os nódulos acontecem na quarta parte da laringe (LE HUCHE; ALLALI, 2005).

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

A análise dos tempos máximos fonatórios deve levar em consideração que, para as
crianças, torna-se difícil compreender regras e contabilizar tempo; para isso, podemos utilizar
medidas visuais para auxiliar na compreensão da ordem, neste caso, é possível somar a análise
através de softwares que oferecem feedback visual das ações. Marchesan, Justino e Tomé (2014)
determinam que o tempo máximo de vogais e a relação entre os fonemas s/z, os valores somados
e divididos devem ficar entre 0,8 e 1,3; havendo discrepância entre esses valores, fica sugestiva a
alteração.

REABILITAÇÃO
A literatura não aponta um método específico que seja o mais eficaz no tratamento das
disfonias infantis, devido à falta de incentivo e motivação ao ser a criança encaminhada para
o tratamento fonoaudiológico. Por isso, o primeiro passo é conhecer a motivação, aceitação,
incentivar a sensibilização da família, a compreensão acerca da necessidade, apontando os
benefícios e quais os malefícios a longo prazo. O contrário é esperado em famílias em que as
crianças utilizam a voz de maneira profissional, em que as expectativas são excessivas.
Marchesan, Justino e Tomé (2014) apontam a preocupação do terapeuta; para crianças,
os recursos terapêuticos precisam ser concretos, as mudanças precisam ser ilustradas de maneira
concreta, representando os aspectos que causaram a disfonia e os que a mantêm. A criança e
os pais necessitam compreender as estruturas que compreendem a fala e como ela acontece,
neste momento podemos usar recursos concretos como figuras, desenhos ou miniaturas para
apresentar para a criança. Após compreender a fonação, pais e criança devem ser orientados
também sobre os novos comportamentos saudáveis que devem ser ensinados.
Estas estratégias fazem parte de um modelo cognitivo de reabilitação, tornando família

VOZ | UNIDADE 2
e criança mais conscientes do problema com apoio de materiais concretos, ilustrativos e lúdicos
como, por exemplo, jogos, vivenciando uma situação-problema. Todas as pessoas que convivem
diretamente com a criança devem receber as orientações como, por exemplo, professores,
professores de canto, colegas de classe e familiares próximos, isso porque a fala do adulto deve
servir como apoio e exemplo para a criança (MARCHESAN; JUSTINO; TOMÉ, 2014).
Para aumentar o nível de percepção da criança sobre o próprio corpo e adequar as tensões
que ela acaba realizando, podemos utilizar estratégias concretas e lúdicas como, por exemplo,
“quietinho feito um sapo”, “ficar parada como uma boneca de pano” (LE HUCHE; ALLALI, 2005).
Dentre as disfonias orgânicas em crianças, a laringomalácia é a mais incidente, ela causa
um estridor na respiração dos bebês, necessita de tratamento médico para a diminuição das
dificuldades respiratórias, sendo o tratamento cirúrgico em casos graves. Já os cistos congênitos
apresentam nas crianças estridor na respiração e o tratamento é cirúrgico. (LALWANI, 2013).
A paralisia de prega vocal em crianças pode ser congênita ou adquirida. As paralisias
congênitas ocorrem como na malformação de Arnold-Chiari, anomalias congênitas de coração
e grandes vasos. As causas adquiridas podem acontecer como sequelas de cirurgias reparadoras
para essas malformações, trauma no nascimento, trauma por intubação, lesão na cabeça,
encefalopatias e doença de Guillain-Barré. As paralisias ocorrem de forma uni ou bilateral;
quando unilaterais, geralmente não ocorre obstrução de vias aéreas, mas nota-se uma voz rouca,
soprosa e tosse fraca, enquanto que, nas paralisias bilaterais, ocorre estridor respiratório, cianose
e apneia (LALWANI, 2013).
A terceira anormalidade mais comum congênita de laringe é a estenose, crescimento de
tecido fibroso que ocorre na região glótica, que também pode ocorrer de forma adquirida, como
consequência da intubação endotraqueal prolongada. Não são lesões malignas. Já a papilomatose
congênita é uma neoplasia causada pelo vírus HPV, o tratamento é cirúrgico e requer cautela,
pois o crescimento ocorre, mesmo depois de cirurgia.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

1.2 Disfonia no Adolescente


Atualmente, a sociedade moderna estabelece os parâmetros para determinar o período
da adolescência precocemente. A Organização Mundial de Saúde (OMS, 2017) determina que o
período da adolescência vai dos 10 até os 19 anos de idade.
Esse período é conhecido com o período mais conturbado no desenvolvimento e na
construção do indivíduo, devido às mudanças hormonais, sociais, corporais e sexuais. As
mudanças sexuais que ocorrem nesse período são crescimento de pelos pubianos nas meninas
e meninos, a menarca e crescimento mamário nas meninas. Outras mudanças físicas ocorrem
como o crescimento global ósseo e muscular, mudanças na pele como o surgimento de espinhas,
aumento de estruturas da face e da laringe (MARCHESAN; JUSTINO; TOMÉ, 2014).
A laringe, no menino principalmente, sofre um aumento drástico, ocasionado pelos
hormônios androgênicos, hormônios relacionados com a testosterona que, na laringe, ocasionam
a aumento da musculatura. Como consequência, a voz se torna mais virilizada. Todas as estruturas
de produção vocal e ressonância alteram, há o aumento da largura do pescoço, abaixamento da
laringe, a mucosa laríngea deixa de ser transparente, ocorre atrofia de amígdalas e adenoide,
crescimento dos seios paranasais e cornetos.
A mudança na estrutura de prega vocal que mais chama atenção é o aumento do
comprimento de prega vocal, esta é a mudança que implica a variação da frequência fundamental:
quanto maior a estrutura que participa da vibração, mais lenta ela será; sendo assim, o som
produzido se torna mais grave. Nos meninos, a voz diminui uma oitava e, nas meninas, descem

VOZ | UNIDADE 2
entre 2 a 4 semitons (MARCHESAN; JUSTINO; TOMÉ, 2014).
Os autores concordam que, nesse período de modificação das estruturas, é onde ocorrem
as disfonias temporárias, as instabilidades na voz dos meninos são marcantes, podemos encontrar
soprosidade, rugosidade, quebra de frequência e sonoridade. Fato que pode vir a gerar incômodo,
dependendo do traço de personalidade de cada indivíduo; nos meninos, quando a voz passa a
ficar muito grave, pode causar estranheza, este fator irá também depender da autopercepção de
cada um.
Na tentativa de encontrar um padrão em sua autopercepção – até o momento da muda o
menino apresentava uma voz aguda –, podem surgir desvios no padrão, o sujeito busca modificar
a própria voz para manter o padrão agudo, mesmo depois do fim do crescimento das estruturas.
Esse distúrbio é considerado de origem psicogênica, recebe o nome de puberfonia ou falsete
mutacional, em que a estrutura física e o sexo são incompatíveis com a voz do sujeito. Podemos
perceber ainda o tom grave durante a tosse, por exemplo. Para que seja feito esse diagnóstico,
qualquer outra causa deve ser descartada e ainda deve existir o fator psicogênico (MARCHESAN;
JUSTINO; TOMÉ, 2014).
Fisiologicamente, essas pessoas tendem a deixar a laringe mais alta, impedindo que a
voz se torne mais grave, fato que acontece, pois registram que aquela voz aguda te trouxe algum
benefício, medo de amadurecer, dificuldade em se perceber adolescente, tentativa de compensar
os desarranjos tonais do início da muda vocal. Podemos encontrar alterações vocais como
soprosidade, fadiga vocal, constrição laríngea, edema de prega vocal. Essas alterações podem
gerar uma lesão orgânica secundária como nódulo ou fenda glótica (MARCHESAN; JUSTINO;
TOMÉ, 2014).

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A avaliação desses casos deve ser conjunta com a avaliação otorrinolaringológica, exame
de vídeo, avaliação perceptivo-auditiva, avaliação acústica do sinal vocal que, para o adolescente,
deve apresentar decréscimo da frequência fundamental a partir dos 15 anos de idade. Devemos
considerar, durante a avaliação, a percepção do indivíduo sobre seu problema, sobre os causadores
do seu problema e fatores que colaboram para a disfonia, como o uso de bebida alcoólica, drogas,
gritar muito, ou seja, todos os maus hábitos de saúde que influenciam nas disfonias.
O tratamento deve conter recursos que incentivem a adesão do adolescente ao tratamento,
sendo que os recursos tecnológicos tendem a despertar o interesse dessa população, com a
utilização de softwares de monitoramento vocal, jogos de ensinamento didático, biofeedback
eletromiográfico para percepção do nível de tensão desse sujeito.

O atleta de MMA famoso Anderson Silva tem uma voz desproporcional ao seu
tipo físico, é um sujeito com tipo físico grande e uma voz muito fina. Veja nesta
entrevista, em dois vídeos, o lutador falando sobre sua voz e ainda conversando
com a fonoaudióloga Mara Behlau sobre o assunto. Notem que Anderson se
identifica com sua voz mais fina e talvez por isso ele tenha construído sua voz
dessa maneira, ele relata que na adolescência foi difícil passar pela transição, é
um fator que colabora para o falsete mutacional. Veja os vídeos, disponíveis em:
https://globoplay.globo.com/v/2791536/ e

VOZ | UNIDADE 2
https://globoplay.globo.com/v/2791552/.

1.3 Disfonia no Adulto e no Idoso


Como já vimos anteriormente na Unidade I, as disfonias que acometem a população
adulta podem ser de origem orgânica e/ou funcional. Neste tópico, trataremos das disfonias que
especificamente são mais incidentes nos adultos: as disfonias ocupacionais. A característica da
vida adulta que mais impacta esta fase é a interrupção do trabalho. Atualmente a aposentadoria
ocorre entre os 60 anos para a mulher e 65 anos para o homem. Suponhamos que o trabalhador
comece a trabalhar aos 18 anos de idade; ele passará toda sua fase adulta em ocupação no trabalho.
Grande parte das ocupações exige da voz uma grande demanda. A pessoa utiliza a voz
profissionalmente, a voz se torna o seu instrumento de trabalho, são eles os profissionais das
artes, da comunicação, da educação, do telemarketing, profissionais do gerenciamento de pessoas,
supervisores, profissionais do judiciário e líderes religiosos.

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As demais populações estão sujeitas aos distúrbios vocais, contudo essa população é
mais exposta ao risco devido à sua ocupação. As estruturas físicas, o ambiente, a condição do
trabalho, o desgaste, a alta demanda, tudo isso pode ser agravado por maus hábitos vocais e
comportamentos inapropriados para o alto desempenho.
Atualmente, no quadro geral e na literatura sobre disfonias ocupacionais, estão os
professores, que utilizam a voz como via principal de comunicação com seus alunos. Diante
disso, até mesmo a atuação fonoaudiológica mudou para atender essa população. Antes os
atendimentos eram apenas curativos e reabilitadores e hoje a atuação é preventiva dentro das
escolas. Estudaremos com maior detalhes as disfonias ocupacionais nas Unidades III e IV.
Estudaremos agora a voz da população idosa. Encontramos, nessa população, queixas
vocais recorrentes. O processo de envelhecimento influencia na voz, nos comportamentos
vocais, na estrutura e na fisiologia. Tais mudanças impactam diretamente a qualidade de vida da
população, que já sofre com várias mudanças em seu dia a dia. As alterações vocais causadas pelo
envelhecimento natural são chamadas presbifonia.
Estruturas laríngeas são modificadas com o avançar da idade, a laringe tende a se
posicionar mais baixa, cartilagens ossificam, ocorre o desgaste das cartilagens, perda de massa
muscular, o muco que reveste todo o trato vocal passa a produzir menos muco. Tais mudanças
estruturais implicam a modificação da configuração de prega vocal, ocorre o arqueamento de
prega vocal, saliência dos processos vocais na respiração e fenda fusiforme membranácea durante
a fonação. Outro prejuízo na função acometido pelo envelhecimento pode ser a diminuição na
capacidade respiratória (MARCHESAN; JUSTINO; TOMÉ, 2014).
A avaliação da presbifonia necessita de um protocolo que quantifique a percepção do
sujeito sobre seu problema. No idoso, esse fator é ainda mais específico, pois o idoso sente-se

VOZ | UNIDADE 2
fragilizado por não conseguir desempenhar seu papel na comunicação. É comum encontrarmos
quadro de hipofunção e, em mulheres, são comuns casos de edema que geram uma voz mais grave
e rouca. Devemos também avaliar o quadro de saúde geral no idoso, pois casos de perda auditiva
são causadores de uma disfonia devido à perda do feedback auditivo reduzido (MARCHESAN;
JUSTINO; TOMÉ, 2014).
O tratamento das disfonias no idoso é, na maioria das vezes, pautada na geração de maior
fechamento glótico, aumento da força e compensação das alterações estruturais causadas pelo
envelhecimento. Podemos elencar exercícios que aumentem o fechamento glótico, aumento
subglótico, melhora da instabilidade fonatória, aumento de força muscular. Além da fonoterapia,
é possível também realizar cirurgia para melhorar o arqueamento de prega vocal.
Os autores afirmam que o planejamento terapêutico para a presbifonia deve abranger
as dificuldades que o paciente possa apresentar, como disfagia, função respiratória, controle
do bolo alimentar e função mastigatória. Os exercícios vocais podem favorecer todas essas
alterações concomitantemente. A doença de Parkinson tem maior incidência na população idosa,
causa degeneração progressiva, e a degeneração acontece pela perda da massa negra no tronco
encefálico, gerando um esgotamento do neurotransmissor dopamina. Inicialmente, a doença se
manifesta com rigidez muscular, lentidão nos movimentos, tremor e alterações posturais. Os
sintomas evoluem até que o paciente apresenta disfunção respiratória e disfagia, levando-o à
morte.
É fundamental, na avaliação da doença de Parkinson, a comunicação entre as especialidades
que acompanham o paciente, fisioterapeutas, médicos e, claro, com a família e quem o assiste,
para conhecer quais medicamentos, tipos de abordagens feitas e como está o dia a dia desse
paciente (MARCHESAN; JUSTINO; TOMÉ, 2014).

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Também faz parte da avaliação conhecer quais as alterações dos músculos da face.
Esses pacientes costumam apresentar perda de expressões faciais; por isso, é importante avaliar
as alterações sensoriais motor-orais. Quanto aos aspectos vocais, é necessário avaliar a função
respiratória na fonação através do tempo máximo fonatório.
São achados vocais, na doença de Parkinson, voz hipofônica, monótona, soprosa, trêmula,
hipofunção do mecanismo respiratório, articulação imprecisa, projeção vocal insuficiente, perda
de intensidade vocal, velocidade de fala reduzida, redução de média tonal, redução de loudness,
pitch agudo, incoordenação pneumofonoarticulatória e fonodeglutitória (MARCHESAN;
JUSTINO; TOMÉ, 2014).
Estudos apontam que o tratamento dos distúrbios vocais na doença de Parkinson tem
maior chance de melhora quando associado ao tratamento medicamentoso e cirúrgico. Todas
essas propostas têm como objetivo melhorar a qualidade de vida desse paciente. O método Lee
Silverman Voice Treatment é de grande valia para esses pacientes. Esse método foi desenvolvido
para pacientes com doença de Parkinson e recebeu o nome da primeira paciente a se beneficiar
dele. Esse programa sugere um tratamento intensivo de exercícios que melhoram a intensidade
vocal, exercícios que, como consequência, favorecem a melhora da articulação, entonação e,
precocemente, também auxiliam nos problemas de deglutição (BEHLAU, 2010).

Assista a uma reportagem que fala sobre os dados do IBGE,

VOZ | UNIDADE 2
que projeta como a população brasileira envelhecerá em 2039.
Teremos mais idosos do que crianças, e a preocupação com a
saúde dessa população irá crescer com a mesma intensidade;
nessa perspectiva, a fonoaudiologia também deve acompanhar
essa preocupação em busca de medidas preventivas em relação
à saúde vocal do idoso. Disponível em: https://g1.globo.com/
economia/noticia/2018/07/25/1-em-cada-4-brasileiros-tera-mais-de-65-anos-em-
2060-aponta-ibge.ghtml.

2. AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO VOCAL, ANÁLISE


PERCEPTIVO-AUDITIVA, VISUAL E ACÚSTICA
Neste tópico, iniciaremos a compreensão da avaliação vocal. Os aspectos discutidos aqui
são parte da avaliação, capazes de fornecer dados importantes para o entendimento da disfonia.
Contudo, não devem ser os únicos parâmetros avaliados. Como vimos nas discussões anteriores,
a avaliação global é sempre relevante para oferecer um planejamento terapêutico eficaz.

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2.1 Avaliação do Comportamento Vocal


A voz é produzida como resposta a estímulos físicos, neurológicos e orgânicos, como já
vimos anteriormente. Neste tópico, será abordada a voz como comportamento apreendido. A voz
é uma função adaptada e apreendida, e graças aos estímulos neurofisiológicos, somos capazes de
construir a nossa voz. Neste caso, o controle neurofisiológico organiza, prepara e executa a nossa
função vocal.
Compreender anatomia e fisiologia são tão relevantes como compreender os aspectos
emocionais, cognitivos, sociais do indivíduo. A soma de todos esses fatores constrói a voz com
que o sujeito se identifica, é através dela que ele se expressa e se relaciona com o meio à sua volta.
A voz precisa ser compatível à personalidade, estrutura física, sexo e faixa etária de seu indivíduo.
Se a voz passa a ser identidade, uma alteração como a disfonia pode causar incômodo muito
grande, pela dificuldade em se reconhecer, na voz, seja um distúrbio permanente ou temporário
(LOPES FILHO et al., 2013).
A análise acústica da voz se diferencia da análise do comportamento vocal, apesar de
ambas serem importantes. Na análise do comportamento vocal, devemos correlacionar dados do
cotidiano do sujeito, iniciando a avaliação dos comportamentos físicos que envolvem respiração,
tensões musculares, esforço e aspectos como a relevância da voz em seu trabalho, no seu laser,
nível de exigência quanto ao uso da voz e ainda analisar a subjetividade do sujeito (LE HUCHE;
ALLALI, 2005).
De acordo com esses autores, a avaliação do comportamento começa já na anamnese;

VOZ | UNIDADE 2
neste momento, devemos conhecer a queixa apresentada pelo paciente e correlacionar com os
achados patológicos, avaliar qual o nível de sensações subjetivas com relação à fonação, aos órgãos
que participam da fonação. Após essa entrevista, é imprescindível avaliar o comportamento vocal
na voz conversacional espontânea. Para essa avaliação, recomenda-se a utilização de filmagem
para registro e comparação após a intervenção fonoaudiológica. Os aspectos a serem avaliados
devem ser avaliados em todas as modalidades de fala, canto.
A intensidade é um dos parâmetros avaliados e ela pode ser forte, fraca, irregular ou
abafada, podendo ser classificada até como voz de sussurro quando está em baixíssima intensidade.
Quanto à altura da voz, pode ser avaliada com a ajuda de um diapasão, medidor de nível de som
ou um sonograma, recursos que garantem a classificação. A avaliação subjetiva, conforme este
critério, pode estar equivocada; portanto, é de extrema importância a avaliação objetiva.
O timbre vocal necessita de uma avaliação subjetiva; neste caso, o ouvido humano é mais
suscetível a perceber as alterações de timbre, que podem determinar um timbre rouco, timbre
nasal, timbre crepitante, timbre gutural, timbre estridente, timbre abafado, timbre surdo e timbre
soproso. A denominação de cada uma das características do timbre é exatamente a correção
subjetiva que fazemos ao perceber a voz (LE HUCHE; ALLALI, 2005).
A variabilidade do distúrbio vocal pode acontecer até mesmo durante a avaliação; nota-
se que o distúrbio vocal se agrava ou desaparece até mesmo dentro de uma única frase. Isso
ocorre devido à mudança do estado emocional, quantidade de percepção sobre a própria voz.
Já o comportamento de esforço também pode alterar a percepção do distúrbio. Devemos avaliar
quando ocorre a tensão, que pode ser manifestada por respiração torácica mais do que abdominal,
flexão do tronco e protraimento do mento. É possível visualizar tensão com ombros contraídos,
ombros em desalinho etc.

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Os autores fazem apontamentos importantes sobre a articulação e o fluxo de fala, que são
características do comportamento que devem ser avaliadas de início pela inteligibilidade de fala, o
modo como os fonemas são claramente articulados. Podemos encontrar articulação reduzida, em
que o grau de abertura de boca é reduzido, ou alterações fonéticas, como ceceio lateral ou medial,
articulação exagerada, em que a abertura de boca é desproporcional à mensagem transmitida, ou
a fala em ritmo acelerado ou a própria gagueira.
Um teste interessante é a leitura com mascaramento, esse teste consiste em solicitar a
leitura de um texto, ao mesmo tempo em que é realizado um mascaramento auditivo que impede
de ouvir a própria voz. Nesse teste, podemos avaliar a melhora na qualidade vocal quando o
paciente tem algum distúrbio psicogênico que gera uma modificação intencional na voz, sendo
que, quando normal, a pessoa irá elevar a entonação vocal pela falta de feedback. Outro teste
interessante é o tempo máximo fonatório: pede-se ao paciente que permaneça executando um
tom confortável o máximo de tempo possível com apenas um fôlego só (LE HUCHE; ALLALI,
2005).

2.2 Análise Perceptivo-auditiva


Medida subjetiva que depende da percepção que o avaliador tem dos aspectos vocais;
para isso, é preciso que o fonoaudiólogo conheça as distorções criadas pelas pregas vocais. Essa
avaliação fornece ao fonoaudiólogo a percepção da alteração que acomete o paciente, analisando
a subjetividade do sujeito com os aspectos fisiológicos por ele conhecidos, correlacionando com a

VOZ | UNIDADE 2
avaliação laringológica por vídeo e os aspectos funcionais da voz. Veja a seguir alguns parâmetros
de avaliação dos aspectos perceptivo-auditivos.
Lopes Filho et al. (2013) descrevem o ataque vocal, que corresponde ao início da fonação.
O primeiro empuxo de ar direcionado à voz, que pode ser suave, isocrônico ou equilibrado,
quando o início da vibração da prega vocal ocorre junto com a saída de ar dos pulmões, ou seja,
permite uma percepção suave da fonação. Quando a saída de ar dos pulmões através da expiração
não ocorre de modo sincronizado ao fechamento glótico das pregas vocais, percebemos um ruído
de explosão causado pelo impacto das pregas vocais antes do início da fonação. Neste caso, nota-
se esforço no fechamento glótico e/ou em todo o trato vocal. Quando o ataque vocal aparenta
estar soproso ou aspirado, demonstra irregularidade no fechamento glótico. A saída de ar, neste
caso, está insuficiente ou atrasada.
Outro parâmetro que deve ser avaliado é pitch e loudness. O pitch vocal é a característica mais
facilmente percebida, pois deve corresponder ao sexo, idade, característica física, personalidade
etc. Ou seja, para que o pitch seja adequado, ele deve corresponder à personalidade, sexo e tipo
físico do sujeito e, em casos patológicos como no Edema de Reinke, o pitch torna-se grave, mesmo
quando as características não correspondem (LOPES FILHO et al., 2013).
O loudness é analisado através da percepção do volume da voz, quando adequado,
reduzido, aumentado ou como média, fraca ou forte intensidade, e o parâmetro de comparação
é o ambiente físico em que o sujeito está; assim, quando em ambiente pequeno fala com forte
intensidade, está desproporcional.
A avaliação perceptivo-auditiva deve ser capaz de estabelecer a estabilidade e a modulação
de frequência. Quando uma voz flutua em relação à intensidade e frequência, sugere uma alteração
na força aerodinâmica da corrente de ar. A modulação de frequência avalia a capacidade de
emissão de sons agudos e graves. Esse parâmetro permite ao avaliador saber quanto as estrutura
físicas são capazes de produzir os sons, pede-se ao avaliado que realize a emissão de /a/ grave ao
agudo, para avaliar a quebra de passagem de um registro para outro, capacidade de sustentar a
emissão e a própria habilidade de produzir o som grave ou agudo (LOPES FILHO et al., 2013).

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Um dos critérios que mais exige experiência do profissional é a ressonância. Na voz falada,
a utilização da ressonância deve ser equilibrada e não exige muitas variações, diferentemente
da avaliação da voz cantada, em que o sujeito deve ter a habilidade de usar variados tipos de
ressonância. As condições de ressonância podem ser classificadas em oral, hipernasal, hiponasal,
faríngea, laringofaríngea ou laríngea.
Os autores consideram que a respiração e a coordenação pneumofonoarticulatórias
também podem ser avaliadas dentro do aspecto perceptivo-auditivo. A respiração pode ser
classificada como superior, torácica, mista, abdominal ou inferior, costodiafragmático abdominal
e completa. A respiração superior é considerada o tipo de respiração que causa tensão, a respiração
mista é adequada para fala habitual e a respiração completa é ideal para voz profissional. No
que tange à coordenação pneumofonoarticulatória, podem ocorrer alterações dos mais variados
graus de comprometimento. Nota-se, na avaliação, o uso do ar reserva tentando prolongar a frase
ou palavra e frases muito curtas entre as respirações, causando desequilíbrio muscular e tensão
na prega vocal.
Um importante instrumento de avaliação é a escala GRBAS, criada, em 1981, pela
sociedade japonesa de logopedia e foniatria, na figura de Hirano, que avalia cinco parâmetros na
identificação perceptiva dos distúrbios vocais relacionados à irregularidade da vibração de pregas
vocais. Pinho (2002) realizou a tradução dessa escala para o português, nela a sigla passa a ser
RASATI. Nessa escala, podemos avaliar em graus de 0 a 3, onde 0 corresponde a “não apresenta” e
3, “grau severo”. Avaliam grau de rouquidão, aspereza, soprosidade, astenia, tensão e instabilidade.
Este protocolo encontra-se disponível para download em: https://www.pucsp.br/laborvox/
dicas_pesquisa/instrumentos_avaliacao.html.
Outro protocolo amplamente utilizado para avaliação perceptivo-auditiva da voz é o

VOZ | UNIDADE 2
CAPE – V. Originalmente disponibilizado pela ASHA, ressalta a gravidade do distúrbio vocal
através de uma escala visual por meio das análises de vogais sustentadas e fala encadeada. Ambas
as análises podem ser feitas e servirem como comparação entre si, com o objetivo de fornecer mais
informações sobre o grau de comprometimento vocal. Esse protocolo também está disponível
em: https://www.pucsp.br/laborvox/dicas_pesquisa/downloads/CAPEV.pdf.

2.3 Análise Acústica e Visual da Fala


Quando falamos de análise acústica e visual de fala, estamos nos referindo a softwares
de avaliação, que permitem transformar as informações acústicas analisadas em imagem para
dar clareza ao avaliador, que deve sempre relacionar com os dados levantados na avaliação
otorrinolaringológica, perceptivo-auditiva e de comportamento vocal. Todas essas informações
garantem ao fonoaudiólogo maior conhecimento da qualidade vocal do paciente, mas de maneira
nenhuma substitui a importância das demais modalidades de avaliação.
Nas palavras de Lopes Filho et al. (2013), os programas de análise acústica da voz “[...]
são úteis para processar o sinal de fala, criar um banco de dados e codificar a voz em dispositivos
numéricos e gráficos”. Podemos avaliar a qualidade vocal, aspectos articulatórios e prosódicos.
Esse exame ajuda a compreender como esses dados se correlacionam e, em nível diagnóstico, não
tem maior importância do que a análise perceptivo-auditiva.
Podem ser analisados dados por meio de espectrogramas que proporcionam a avaliação
de diversos parâmetros vocais, através de diversas ondas sonoras que compõem o espectrograma,
que podem ser de banda larga ou de banda estreita. Dentro do espectrograma, podemos obter
informações referentes a medidas de frequência, medidas de ruídos e medidas de ressonância.
O espectrograma é criado a partir da análise acústica do sinal de saída sonoro, não sendo capaz
de avaliar o sinal glótico diretamente produzido pelas pregas vocais (MARCHESAN; JUSTINO;
TOMÉ, 2014).

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Figura 1 - Tela do software Praat. Fonte: Escola Superior de Saúde da Universidade de Aveiro (2020).

Ao analisar um espectrograma, a primeira impressão é a de que este analisa todos os sons


produzidos na fala, então veremos um gráfico oscilatório em formato de onda, que apresenta
variação entre vogais e consoantes. As vogais são distintas pela análise dos três primeiros
formantes.
Podemos analisar as frequências produzidas, determinando o valor da frequência
fundamental, que poderá ser média, habitual, sua extensão e variabilidade. Pode ser avaliado

VOZ | UNIDADE 2
valor de Jitter e Shimmer, através dos valores de perturbação por ciclos de onda e os formantes,
que correspondem ao local de ressonância do trato vocal.
A maioria dos softwares aponta os valores dos picos espectrais, que correspondem aos
formantes F1, F2, F3, F4; as bandas; sintonia fonte-filtro, que corresponde à diferença entre o
primeiro formante e a frequência fundamental; intensidade do sinal sonoro.

O software Praat de análise acústica está disponível para download


gratuito em http://www.fon.hum.uva.nl/praat/, e um tutorial
disponível para baixar e utilizar o aplicativo está disponível em
http://www.usp.br/gmhp/soft/praat.pdf.

No artigo Análise espectrográfica da voz: efeito do treinamento


visual na confiabilidade da avaliação, que está disponível em
http://www.scielo.br/pdf/rsbf/v15n3/05.pdf, você complementará
o entendimento sobre avaliação visual da voz.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

3. AVALIAÇÃO FUNCIONAL E AUTOAVALIAÇÃO VOCAL:


PROCEDIMENTOS E AVALIAÇÃO
Estudamos até aqui procedimentos e instrumentos de avaliação direcionados pelo
avaliador, em busca do mais preciso diagnóstico vocal. Neste tópico, veremos o quanto a
autoavaliação é parte importante para levar o sujeito a autoconhecimento, tornando o diagnóstico
e a reabilitação vocal mais eficientes.
Uma das ferramentas mais utilizadas para a autoavaliação são questionários. Esses
questionários são constituídos a partir de estudos que objetivam conhecermos impactos e
percepção do próprio sujeito sobre sua voz. Os questionários podem ser específicos para uma
determinada população, um distúrbio, uma característica ou uma profissão, a aplicação do teste
pode ter finalidades diferentes. Por exemplo, pode ser aplicado no início do acompanhamento
durante a avaliação para que possamos ter a dimensão da percepção do sujeito sobre seu
problema. Outra aplicação importante é a medida comparativa após tratamento vocal. Veremos
agora protocolos internacionais elaborados e adaptados ao português.
O Voice Handicap Index (VHI) tem como objetivo verificar o impacto psicossocial da
disfonia, que, através de 30 questões, avalia domínio funcional, domínio emocional, domínio
orgânico (LOPES FILHO et al., 2013). No português, o teste é encontrado como Índice de
Desvantagem Vocal (IDV). Esse teste também foi adaptado para que pudesse auxiliar no
acompanhamento de diversas modalidades de canto, uma vez que, na população de cantores, é

VOZ | UNIDADE 2
onde encontramos os maiores impactos na qualidade de vida.
A versão do IDV mais utilizada no Brasil é a versão reduzida, nomeada IVD-10, que avalia
mais rapidamente e com a mesma eficiência, com número reduzido de perguntas, a somatória
das 10 questões que apresentam escore máximo de 40 pontos. O objetivo terapêutico dessa
avaliação é avaliar a eficiência terapêutica; também pode ser aplicado antes do tratamento e após
o tratamento. No Brasil, de maneira geral, a população não apontou tanto impacto financeiro e
exclusão social em decorrência das disfonias (MARCHESAN; JUSTINO; TOMÉ, 2014).
O protocolo está disponível em https://www.pucsp.br/laborvox/download/anexo6_IDV.
pdf. Observe a forma de análise e interpretação dos valores obtidos, e como cada protocolo
objetiva uma análise diferente, cabe ao avaliador identificar as necessidades do paciente para
direcionar sua avaliação.
Outro questionário mundialmente reconhecido é o Voice Related Quality of Life (V-RQOL)
que, no Brasil, é conhecido como Qualidade de vida em voz (QVV). Esse protocolo também é
simplificado com apenas 10 questões e, assim como os demais questionários, é autoaplicável, ou
seja, o próprio paciente pode responder sozinho. O paciente tem 5 opções de respostas, entre
as quais: “não é um problema” e “é um problema muito grande”. Avaliando domínios físicos e
socioemocionais, o cálculo da pontuação vai de 0 a 100, onde zero corresponde à qualidade de
vida ruim e 100, excelente.
Esse protocolo apresenta também sua versão pediátrica: o Qualidade de Vida em Voz
QVV-P. É comum que o questionário pediátrico seja respondido pelos pais quando a criança não
é capaz, os dados coletados permitem conhecer o impacto na qualidade de vida da criança no
ambiente escolar, na relação com outras crianças e no ambiente familiar, principalmente no caso
de doenças crônicas e na análise da saúde geral (MARCHESAN; JUSTINO; TOMÉ, 2014).

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

O VoiSS é a sigla para Voice Symptom Scale, avaliação internacional desenvolvida através
de um grande estudo. Em português, esse estudo é conhecido como Escala de Sintomas Vocais
(ESV), questionário com 30 perguntas, que avalia os domínios limitação, emocional e físico. O
avaliado tem cinco opções de resposta entre “nunca” e “sempre”. A somatória total pode atingir
120 pontos; quanto maior a pontuação, maior é a percepção do problema pelo indivíduo.

Os questionários de avaliação são amplamente utilizados no contexto clínico,


porém são ferramentas muito importantes no contexto acadêmico, pois são
instrumentos de fácil aplicação e com muitos objetivos na prática acadêmica,
pela facilidade de análise dos dados analisados. Faça uma busca rápida nas
plataformas de artigos científicos com as palavras-chave “autoavaliação vocal” e
veja a quantidade de artigos que utilizam questionários de autoavaliação.

Existem outros protocolos de avaliação, além dos apresentados aqui, cada um apresenta
uma finalidade específica. Cabe ao avaliador conhecer qual o objetivo de sua avaliação e ter
afinidade com os dados encontrados, além de relacionar com os achados encontrados em toda
sua avaliação. Por isso, também deve fazer parte da avaliação o exame funcional da voz. Veremos

VOZ | UNIDADE 2
a seguir outros procedimentos de avaliação.
Le Huche e Allali (2005) apontam que, entre as avaliações funcionais de tempo máximo
fonatório, temos a relação S/Z, teste que avalia a diferença entre a produção de um fonema surdo
“S” e um fonema sonoro “Z”. Captamos, em uma única expiração e única fonação, o fonema S
e o fonema Z, três vezes cada para que seja feita uma média. Essa avaliação permite detectar a
hipercontração e coaptação de prega vocal.
Parte fundamental da avaliação fonoaudiológica é a análise do exame de videolaringoscopia,
também conhecida como fonoscopia. O exame consiste na visualização das estruturas de prega
vocal através da visualização com ajuda da luz estroboscópica, exame já comentado na Unidade I.
Esse exame tem como objetivo mostrar qual é a real localização da lesão e correlacionar
com os achados das demais avaliações. É possível visualizar também a frequência fundamental,
simetria no movimento ondulatório de prega vocal, fechamento glótico, amplitude horizontal
da prega vocal, movimento da mucosa. Quanto maior informação coletada nesse exame, mais
preciso será o diagnóstico otorrinolaringológico e maior é a quantidade de informações que o
fonoaudiólogo terá para traçar um plano terapêutico; por isso, a melhor informação é registrada
pelos registros digitais de alta velocidade (HSD) (LALWANI, 2013).
É possível identificar sintomas vocais através do protocolo Escala de Sintomas Vocais (ESV),
disponível em https://www.pucsp.br/laborvox/download/anexo3_ESV.pdf. Com a resposta do
paciente, podemos identificar as dificuldades que ele enfrenta no dia a dia desde dificuldades que
a disfonia implica quanto os sintomas orgânicos que colaboram para o surgimento da alteração.
Os protocolos de avaliação facilitam a interpretação dos dados, a validação dos dados é
garantida através de estudos comparativos e que garantam a eficiência dos resultados. Protocolos
surgiram para a avaliação de grupos específicos como cantores, atores, professores etc. O protocolo
Condição de produção vocal - Professor (CPV) é uma ferramenta específica que descreve as
especificidades gerais da função do professor, como a situação funcional da voz, condições do
ambiente de trabalho e relação da organização do trabalho com a atividade vocal.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Esse protocolo encontra-se disponível em https://www.pucsp.br/laborvox/dicas_pesquisa/


downloads/cpv_%20novo%2003_06_2013.pdf.
Através do questionário citado, foi criado o protocolo de avaliação para atores: o
Instrumento Condição de Produção Vocal do Ator (CPV-A), coerente e amplo para a identificação
do perfil do ator e das características de produção vocal alteradas e quais precisam ser otimizadas
(https://www.pucsp.br/laborvox/download/cpv-atorr.pdf). A resposta é a média entre as opções
nunca/raramente/às vezes. Em um grande número de questões, o fonoaudiólogo pode identificar
com precisão os aspectos a serem trabalhados.
Quanto à avaliação do cantor, sempre dedicaremos nossa atenção a coletar o maior número
de informações possível. A soma de todos os fatores avaliados e ainda o conhecimento artístico
fazem a diferença na vida do profissional; portanto, protocolos ainda mais específicos foram
criados, como o instrumento Índice de desvantagem para o canto moderno (IDCM) e Índice de
desvantagem para o canto clássico (IDCC), respectivamente disponíveis em: https://www.pucsp.
br/laborvox/download/anexo2_IDCM.pdf e https://www.pucsp.br/laborvox/download/anexo1-
IDCC.pdf.

4. COMPORTAMENTOS RELACIONADOS AO ABUSO E


MAU USO VOCAL
Nos demais tópicos, vimos os fatores desencadeadores de uma disfonia. Deve ter lhe
chamado a atenção como o comportamento participa da construção vocal, modificação e até

VOZ | UNIDADE 2
mesmo das alterações. Isso demonstra como o mau comportamento pode ser nocivo à voz.
O impacto causado pelo abuso e mau uso vocal é perceptível não só pelo próprio sujeito,
mas as pessoas podem perceber os efeitos nocivos. Um exemplo é quando conversamos com
alguém que tem uma voz extremamente rouca e áspera; logo, associamos a má qualidade vocal
ao uso do cigarro, ou quando encontramos um amigo no dia seguinte após um show, notamos
sua rouquidão.
No entanto, a população que mais sofre com esse tipo de comportamento são os indivíduos
que utilizam a voz de forma profissional. Pessoas que passam a usar a voz por um longo período
do dia se expondo a comportamentos ruins irão sentir mais depressa e com mais constância
alterações. Esses comportamentos ocorrem quando o indivíduo não apresenta conhecimentos
sobre quais os hábitos saudáveis, não compreendem mecanismo vocal ou apresentam alguma
alteração que os impeça de identificar dificuldades.
O mais comum dos comportamentos nocivos é gritar; neste comportamento, o indivíduo
muda toda a configuração corporal, estica o pescoço, leva os ombros para frente, tenciona a
musculatura laríngea, acionando o mecanismo de voz de alerta constantemente. Em crianças,
ocorre mais esse comportamento, mas no adulto também encontramos (LE HUCHE; ALLALI,
2005).
Os autores descrevem que a demanda profissional também pode ser um hábito ruim,
a sobrecarga profissional acaba exigindo além do que a pessoa está apta a oferecer naquele
momento. É comum que o trabalhador passe por um quadro alérgico, gripal ou alguma afecção
e isso dificulte a emissão vocal e é nesse momento que a pessoa não diminui a intensidade de
utilização da voz, o sujeito é incapaz de reduzir a intensidade até a remissão do quadro.
Podemos dizer que o hábito mais nocivo para a saúde da laringe é o tabagismo, alcoolismo
e uso de drogas. Esses fatores estão sempre relacionados a estudos que tentam buscar as causas
do câncer laríngeo. Os efeitos podem ser percebidos na avaliação acústica da fala, e os efeitos a
longo prazo são lesões orgânicas malignas. Esse hábito, quando associado ao uso profissional da
voz, torna-se mais nocivo ainda.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Veja este artigo científico, que descreve as alterações fisiológicas


e vocais causadas pelo uso do cigarro. Disponível em:
h t t p : // w w w . s c i e l o . b r / s c i e l o . p h p ? s c r i p t = s c i _
arttext&pid=S1808-86942014000100060.

O uso profissional da voz exige um conhecimento amplo sobre os cuidados e técnica


vocal. Quando isso não acontece, o despreparo leva a abusos, por exemplo, quando as condições
não são favoráveis, o conhecimento faz com que se utilize a voz, mesmo em condições adversas.
A exposição ao ruído, poeira, agentes químicos e ar condicionado são fatores quase
sempre relacionados à ocupação, todos estes fatores são nocivos à voz: o ruído faz com que a
pessoa tenha que intensificar e aumentar o tom de voz, e os outros elementos são agressivos à
mucosa (LE HUCHE; ALLALI, 2005).
Outros fatores são hábitos alimentares, abuso de café, alimentos gordurosos, utilização
de medicamentos sem indicação médica. Outro ponto importante é a respiração oral, que, assim
como os hábitos citados anteriormente, age na mucosa, acaba ressecando a mucosa e dificultando
a modificação da pressão subglótica (MARCHESAN; JUSTINO; TOMÉ, 2014).

VOZ | UNIDADE 2
Além dos comportamentos vocais apresentados, a avaliação fonoaudiológica da voz deve
compreender todos os fatores que estão implicados nesse comportamento, com a investigação
complementar dos distúrbios alérgicos, como a rinite, caracterizada por coriza, obstrução nasal,
espirros. Até o momento da avaliação, o paciente pode não relacionar esse fato ao distúrbio vocal.
Distúrbios laríngeos e bucais como a faringite, laringite e que o paciente pode apenas relatar
como dor de garganta, aftas e estomatites frequentes podem dificultar a ressonância, articulação,
além de que os processos inflamatórios geram irritação em toda a mucosa (BEHLAU, 2008).
Distúrbios de vias respiratórias, como a sinusite, desvio de septo, ou qualquer obstrução
nasal, bronquite e asma, dificultam a eficácia da respiração, diminuem o equilíbrio das forças
aerodinâmicas, que também resulta na modificação da vibração de prega vocal. Os distúrbios do
trato digestivo são patologias que dificultam a evolução na reabilitação: acidez, refluxo, gastrite,
prisão de ventre, refluxo gastroesofágico causam irritação na mucosa da laringe, podendo chegar
até a uma lesão de massa, como o carcinoma laríngeo. Essa patologia tem tomado maior atenção
nas pesquisas, visto que sua incidência está relacionada ao estresse (BEHLAU, 2008).

5. PSICODINÂMICA VOCAL: AVALIAÇÃO E APLICAÇÃO


TERAPÊUTICA
Parte fundamental no raciocínio clínico é compreender qual a real necessidade do seu
paciente, não se pode realizar uma intervenção em voz sem antes conhecer quais os aspectos
psicodinâmicos da voz. São estas as características perceptíveis ao ouvido humano que nos
diferencia, partindo da voz por ele construída. Neste tópico, você fará a relação dos aspectos
auditivos percebidos com as particularidades da personalidade de cada indivíduo, estado
emocional e qual o conteúdo emocional da mensagem transmitida.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

O que justifica a capacidade que temos de ouvir alguém da nossa convivência falando
e já sabermos se essa pessoa está brava, alegre, ou ainda se ela tem uma mensagem triste a ser
passada, isso tudo é possível graças à percepção que temos da voz e não somente da fala. Através
da psicodinâmica vocal, conseguimos idealizar quem é a pessoa que nos fala, é possível dizer se
essa pessoa tem uma voz imponente, insegura ou até mesmo um tom de arrogância ou ironia.
A psicodinâmica vocal é muito utilizada em análise forense. Através dessa análise, o
profissional consegue traçar um perfil para o investigado, analisar qual a situação emocional no
momento analisado, não só nessa área, mas a avaliação da psicodinâmica vocal é, via de regra,
para a avaliação fonoaudiológica. Encontramos, na clínica fonoaudiológica, pessoas com a queixa
de que sua própria voz não as representa, ou a necessidade de aprimorar a voz para determinada
utilização como no meio empresarial e jurídico.
Portanto, a avaliação da psicodinâmica vocal depende em partes da autoavaliação do
indivíduo, mas diferentemente de outras análises, a avaliação de quem escuta é fundamental. A
voz deve corresponder ao gênero sexual, idade, personalidade e características biofísicas. Quando
não há uma correspondência entre esses fatores, o sujeito não se identifica com sua própria voz.

VOZ | UNIDADE 2
Figura 2 - Paciente transgênero sendo atendida por alunos de fonoaudiologia. Fonte: Boeckel (2016).

Além disso, temos a capacidade de modificar a mensagem transmitida de acordo com


nossas emoções, desejos e intenções, mesmo quando tentamos omitir uma informação. Essas
modificações podem ser inconscientes ou conscientes. Quando atores e músicos desejam
transmitir emoções em suas performances, conscientemente criam ajustes motores para que as
características emocionais sejam reveladas (LOPES FILHO et al., 2013).
Os locutores radialistas são um exemplo que facilita a compreensão. Quando ligamos o
rádio e escutamos o locutor, não o vimos e por isso nos concentramos na sua voz, percebemos
que, ao noticiar o falecimento de alguém em uma notícia, sua voz se modifica para notarmos a
seriedade e tristeza da informação, mas logo na sequência, ao anunciar uma música descontraída,
percebemos que sua voz muda novamente para levar alegria e entusiasmo para quem escuta.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Para avaliar então a psicodinâmica da voz, Behlau (2010), em uma adaptação, nos traz
uma lista de características que descrevem as impressões mais encontradas.

VOZ | UNIDADE 2
Figura 3 - Termos descritivos da voz. Fonte: Behlau (2010).

Estes termos ajudam a visualização da imagem e impressão da voz, não devem ser obtidos
como uma resposta simples e imparcial. Para chegar até esse denominador, o histórico de vida
deve ser levado em consideração, contexto social, profissão, estado emocional, além de descartar
a possibilidade de disfonias. Mais de uma alternativa pode ser selecionada dentre esses termos.
Articulação, prosódia, ritmo, velocidade de fala devem ser considerados nessa avaliação
conjuntamente. Para coletar esses dados, o avaliador deve se tornar imparcial e não colocar o seu
julgamento sobre suas próprias convicções, separar a mensagem verbal da própria percepção da
voz, já que a mensagem transmitida envolve emoção e pode alterar a voz. É necessário também
que as manifestações que ocorrem no ambiente, como a reação do interlocutor, presença de
outras pessoas na sala, não interfiram na avaliação (BEHLAU, 2008).
Além das impressões causadas e percebidas pela voz, devemos distinguir informações
sobre a impressão da ressonância; frequência vocal, que revela qual a intenção do discurso;
extensão vocal, que está relacionada ao caráter do indivíduo; e maneira de transmitir as emoções.
Já a intensidade vocal é fundamental para avaliar a capacidade de lidar com os próprios limites
e do outro, e a impressão revelada pela articulação demonstra o quanto o sujeito quer ser
compreendido (BEHLAU, 2008).

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6. REABILITAÇÃO VOCAL E TÉCNICAS VOCAIS


Nas palavras de Mara Behlau (2010),

O tratamento fonoaudiológico das disfonias, ou seja, terapia de voz, é um


processo que envolve procedimentos de diversas naturezas a fim de desenvolver
uma melhor comunicação oral, reduzindo esforço fonatório e adequando a
qualidade vocal às necessidades pessoais, sociais, e profissionais do indivíduo
(BEHLAU, 2010, p. 409).

As necessidades vocais dos pacientes são múltiplas e diversificadas. Podemos nos deparar
com pessoas que buscam um aperfeiçoamento vocal ou pessoas que buscam tratamento para
disfonias completamente incapacitantes. Nas duas situações, busca-se melhorar a comunicação
através da voz.
A reabilitação só deve ser iniciada após a avaliação fonoaudiológica e otorrinolaringológica,
não é recomendado que a terapia inicie antes de um exame otorrinolaringológico, e não
menos importante é a realização da videolaringoestroboscopia para complementar a avaliação
fonoaudiológica, bem como uma reavaliação médica após o tratamento fonoaudiológico
(BEHLAU, 2010).
Após compreender o sujeito como um todo, ter dimensão da autopercepção de seu
problema, as características acústicas, fisiológicas, emocionais e perceptivas, será possível montar
o planejamento terapêutico, que deve ter como objetivo final promover mudanças para que o

VOZ | UNIDADE 2
paciente estabeleça/restabeleça a voz com a qual se identifica. Promover a autopercepção e o
monitoramento para que, mesmo depois do processo terapêutico, ele consiga monitorar suas
condições vocais.
A terapia em voz deve favorecer o monitoramento auditivo, ajudar o paciente a construir
uma percepção auditiva da própria voz, e o mesmo se aplica para autopercepção corporal,
conhecer quais são suas tensões corporais, a participação de cada região do corpo na produção
vocal e quais os ajustes musculares mais indicados para sua prática vocal. A tensão corporal
exige uma percepção maior durante o tratamento, quando a tensão corporal não permite que a
comunicação corporal acompanhe a performance vocal, ou quando a tensão corporal pode ser a
causa da disfonia (LOPES FILHO et al., 2013).

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Figura 4 - Hearfone de retorno psicoacústico. Fonte: Hearfones (2020).

VOZ | UNIDADE 2
Na Figura 4, vemos um cantor usando um recurso para favorecer o retorno da própria
voz. Esse recurso colabora para o próprio monitoramento auditivo, quando existe a dificuldade
de controlar e ter uma atenção psicoacústica sobre a própria produção vocal.
Em algum momento da vida, todas as pessoas já se sentiram tensas, por isso o relaxamento
deve fazer parte do processo terapêutico, com estratégias que aliviam a tensão naquele momento
e que seja possível pôr em prática após esse período.

Qual tipo de condição emocional adversa é a principal geradora de tensão? O


estresse é uma reação do organismo que mantém todo o funcionamento corporal
em estado de alerta, o corpo se prepara para uma resposta rápida diante do perigo.
Na sociedade atual, o estresse passa a fazer parte do cotidiano das pessoas;
prejudicialmente, a resposta muscular para o estresse é a tensão, os músculos se
contraem para uma resposta rápida e, geralmente, a tensão ocorre na região da
cabeça e pescoço, ou seja, na região que mais interfere na produção vocal.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Outra mudança importante que deve ser gerada durante a terapia é a respiração;
geralmente, a diminuição de tensão e aprimoramento da respiração são o ponto de partida para
o tratamento das disfonias, e a respiração ideal para cantores deve ser do tipo costodiafragmático
ou, pelo menos, abdominal. Para gerar esta mudança, devemos compreender que a respiração
é uma ação inconsciente, mas que pode ser controlada conscientemente. Para isso, devemos
favorecer a musculatura responsável por essa função e também tornar o movimento espontâneo
e automático. A realização da respiração, associada a movimentos corporais, é efetiva na
mudança do padrão respiratório. A consequência desse trabalho é o aumento da coordenação
pneumofonoarticulatória (LOPES FILHO et al., 2013).
Faz parte do tratamento fonoaudiológico, mas não o representa sozinho, o treino vocal.
Exercícios vocais são ferramentas que auxiliam na adequação do funcionamento laríngeo com
a finalidade de eliminar adaptações inadequadas e, como consequência, ocorre a eliminação de
alterações orgânicas. Mas não representam exclusivamente o tratamento fonoaudiológico, que
abrange globalmente a produção vocal e seus influenciadores.
Dividiremos os exercícios vocais em dois grupos. O primeiro são exercícios que
aperfeiçoam a qualidade vocal geral, são exercícios que favorecem quase todos os pacientes ao
favorecerem a produção vocal de maneira global, denominada técnica universal. A segunda
classe de exercícios são os exercícios específicos, como o próprio nome pressupõe, são exercícios
de dimensão da autopercepção de seu problema, das características acústicas, fisiológicas,
emocionais e perceptivas. Assim, será possível montar o planejamento terapêutico, que deve ter
como objetivo final promover mudanças para que o paciente estabeleça/restabeleça a voz com a
qual se identifica. Favorecem um determinado grupo muscular, agindo especificamente em uma
ação na produção vocal.

VOZ | UNIDADE 2
Outro elemento importante no treinamento vocal são as provas terapêuticas, nas quais
podemos observar a resposta vocal do paciente através de exercícios, técnicas, abordagens,
manobras. Dessa forma, criamos possibilidades de comparação e comprovação das respostas
vocais. A resposta positiva da prova terapêutica é quando se observa a melhora na disfonia, ou seja,
houve a eliminação do mecanismo compensatório, ou quando a resposta é neutra, que significa
que não houve melhora na técnica empregada, comprovando que não é a melhor técnica a ser
indicada ao paciente. As provas terapêuticas são fundamentais na decisão da conduta terapêutica
e diagnóstico (BEHLAU, 2010).

6.1 Técnicas Vocais


Muito se discute sobre qual o melhor método de tratamento a ser adotado. No
decorrer dos tempos, as mudanças tecnológicas, sociais e o incentivo à pesquisa ampliaram as
possibilidades terapêuticas e o aperfeiçoamento das técnicas. Behlau (2010), com a finalidade
da compreensão didática, elaborou uma classificação das categorias de abordagens, tendo sido
descritas sete categorias de tratamento. Serão esses os objetos de estudo deste tópico para facilitar
a compreensão da dinâmica dos exercícios práticos.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

No livro Novo tratado de Fonoaudiologia de Otacílio Lopes


Filho et al. (p. 654-657), leia as indicações de exercícios
para a melhora na qualidade vocal de cada componente
já descrito aqui em avaliação, ataque vocal, ressonância,
modulação de Pitch, Loudness, flexibilidade articulatória.

Fonte: Amazon (2020).

As sete categorias são: método corporal, método dos órgãos fonoarticulatórios, método
auditivo, método de fala, método de sons facilitadores, método de competência fonatória, método
de ativação vocal. Veremos a seguir exemplos de exercícios correspondentes a esses métodos.

MÉTODO CORPORAL
Método que proporciona ao paciente harmonia entre voz e corpo. É dividido em ação
direta ou indireta sobre o aparelho fonador: as ações indiretas estão relacionadas ao corpo todo;

VOZ | UNIDADE 2
já a ação direta está relacionada aos músculos laríngeos propriamente ditos. Ações diretas na
laringe são mais rapidamente percebidas. De forma geral, o tônus muscular deve estar equilibrado,
reduzir ações exageradas musculares como movimentos anormais, contrações, tensões excessivas
e desnecessárias.
Tais ações podem ser associadas à emissão de sons facilitadores, com o objetivo de
aumentar a consciência corporal, o relaxamento dinâmico e proporcionar uma expressão corporal
com voz equilibrada. Consistem em realizar a movimentação corporal ampla, associando a sons
facilitadores como vogais bocejadas ou projetadas ou até textos. Outra aplicação é associada ao
posicionamento da cabeça com sonorização. A modificação de cabeça proporciona a compensação
em tamanho de estrutura, massa, forma, vibração, mais comum em casos cirúrgicos, neurológicos
e de malformação congênita. Esse movimento ajuda a compensar e o objetivo da terapia é o de que
o paciente passe a realizar com a mesma qualidade, sem a compensação horizontal ou vertical.
A compensação horizontal é realizada com a cabeça inclinada para o lado desfavorecido
com emissão vocal, e a compensação vertical pode ser feita com a cabeça para trás com a emissão
de /K/ e /G/, para baixo com sons nasais, ou cabeça e tronco para baixo, respectivamente.
Favorecem a constrição anteroposterior, elevam a ressonância e suavizam a emissão e vibram a
mucosa com a ajuda da força da gravidade. São técnicas aplicadas em casos de fendas fusiformes,
laringectomias, disfonias vestibulares.
Outras duas técnicas são bastante utilizadas no método corporal: a massagem de cintura
escapular e a manipulação digital. A massagem na cintura escapular é realizada quando ocorre
excesso de contração nessa região. Realizamos toque, pressionamento, estiramento, massagens
e pequenas batidas, associadas ou não ao estímulo quente e à sonorização. No momento da
aplicação da técnica, é importante considerar a sensibilidade à dor e ao toque do paciente. A
manipulação digital da laringe é realizada na musculatura perilaríngea com apoio dos dedos,
realizando o abaixamento da laringe ou lateralização, e pode ser associada ao calor e à emissão de
sons nasais ou bocejo.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Essa técnica tem o objetivo de reduzir a hipertonia, abaixar a frequência fundamental e é utilizada
em casos de disfonia por tensão, muda vocal incompleta, falsete mutacional. A restrição é a
mesma em pacientes sensíveis à dor e toque nessa região.

MÉTODO DE ÓRGÃOS FONOARTICULATÓRIOS


Esses órgãos realizam funções distintas. Para execução de cada uma dessas funções,
vemos a variação da fisiologia e de recursos anatômicos acionados, contudo relacionam-se entre
si. Nesta técnica, a produção vocal é associada à mastigação, sucção, deglutição, bocejo, voz ou
fala para potencializar a produção vocal.
A língua executa papel fundamental em quase todas as funções orais; portanto, é
fundamental compreender a participação na produção vocal. Podemos usar a técnica de
deslocamento de língua para promover o relaxamento, modificando a tensão na base da laringe,
e corrigir ajustes motores incorretos. Podemos usar os movimentos de posteriorização, que
aproveita o espaço oral; de anteriorização, que libera a faringe; e de exteriorização de língua para
elevação da laringe.
A língua ainda pode participar das técnicas de rotação de língua no vestíbulo bucal, e
estalo de língua associado ao som nasal. A primeira, que consiste na movimentação da língua
no vestíbulo com emissão vocal, ajuda na diminuição das tensões no trato vocal, posicionando
melhor a língua e ampliando a faringe, aumentando a ressonância oral. O segundo também
promove a redução da tensão, principalmente na musculatura supra-hióidea, promove sintonia
entre ressonância, através do estalo de língua associado à produção do som nasal /N/.
Outra técnica é o bocejo-suspiro, em que o paciente boceja após inspirar profundamente,
sonorizando uma vogal aberta ou suspiros prolongados. Essa técnica é usada em casos que

VOZ | UNIDADE 2
necessitam diminuir ataques vocais bruscos, abaixamento de laringe e ajustes nas projeções de
ressonância.
Já a técnica de mastigatória é amplamente usada, chegando a ser denominada como
técnica universal, recomendada para que o paciente alcance uma fonação equilibrada, reduzindo
construções inadequadas. Essa técnica deve ser feita com movimentos amplos de lábio, língua,
mandíbula e bochechas com sonorização (BEHLAU, 2010).

MÉTODO DE SONS FACILITADORES


Essa classe de exercícios é fundamental no trabalho direto na fonte glótica. A variação do
fonema ou do som utilizado acaba especificando ainda mais o exercício. Essa variação faz com
que esses exercícios sejam utilizados tanto em disfonias hiper ou hipocinéticas (MARCHESAN;
JUSTINO; TOMÉ, 2014).
São exercícios facilitadores a técnica dos sons nasais, emissão de M e N sustentados ou
em escalas – sons que proporcionam a suavização da emissão, levando a energia sonora também
para as cavidades nasais, o que tira a sobrecarga da cavidade glótica, modifica a ressonância,
favorecendo a ressonância superior.
Sons fricativos e sons vibrantes são estratégias que ajudam a controlar a sonorização
glótica. Os sons fricativos podem ser auxiliadores na passagem de sonoridade entre S/Z e ainda o
ponto de fricção ocorre entre lábios e dentes, o que ajuda a dissociar o esforço laríngeo. Nos sons
vibrantes, ocorre recrutamento de mucosa através da emissão sonora com vibração de língua ou
lábios. A vibração de língua e lábios reduz o esforço fonatório. A variação desse exercício é grande,
podendo ser associado a escalas musicais, vibração dessonorizada, a sonorizada e movimentos
de cabeça.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

TÉCNICA DE COMPETÊNCIA GLÓTICA


Essa técnica tem como objetivo o ajuste muscular básico para a fonação, permitindo
que ocorra a fonação sem esforço em excesso ou fadiga, garantindo que a fonação ocorra com
eficiência. Exercícios como fonação inspiratória, que consiste em inspirar produzindo a vogal “I”
após expirar a vogal A, tem como objetivo aproximar ou afastar as pregas vocais, assim como o
exercício de sussurro, que também favorece o fechamento de prega vocal, mais especificamente
na região anterior (MARCHESAN; JUSTINO; TOMÉ, 2014).
Já a técnica de esforço é usualmente indicada para grandes dificuldades na coaptação
glótica, fonação. É associada a esforço físico, principalmente de braços, como, por exemplo,
emitir sílabas plosivas com socos no ar, emissão sonora com levantamento de peso, ou na técnica
de deglutição incompleta sonorizada, que atua diretamente no fechamento da laringe, ambos
proporcionando firmeza glótica.
Nos exercícios de B prolongado, ocorre o prolongamento do fonema B, forçando o
abaixamento laríngeo e finalizando com a fonação de BA. É o exercício mais indicado para
o abaixamento laríngeo junto com fechamento glótico, sendo relevante para a redução da
compressão mediana de prega vocal (BEHLAU, 2010).

VOZ | UNIDADE 2

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegamos ao fim desta unidade com a compreensão do diagnóstico vocal.
Compreendemos os elementos causadores de distúrbios e como eles se comportam. Peço que não
se atenha apenas ao que foi disponibilizado neste material. Ao longo da sua apostila, você verá
sugestões complementares de leitura para engrandecer seu conhecimento a respeito das mais
variadas formas de tratamento e comentários que te ajudarão a formar o raciocínio clínico.
Não é menos importante a leitura complementar, você tem disponível em sua biblioteca
online referências apontadas significativas para a atuação fonoaudiológica, além, é claro, das
videoaulas disponíveis. Ainda durante sua atuação, será fundamental saber quais as literaturas às
quais recorrer, pois a pluralidade dos casos obriga o fonoaudiólogo a buscar novos conhecimentos.
Entendemos também que os exercícios disponíveis não são formas truncadas para que sejam
usados uniformemente para todos os pacientes. As causas, anatomia e funcionamento do
indivíduo fazem com que tenhamos que aprimorar cada exercício de acordo com a necessidade
do paciente.
As ações que serão tomadas por você ao decidir o melhor tratamento para seu paciente
devem abranger em sua maioria a mudança no comportamento vocal. Vimos o quanto a voz pode
ser influenciada por comportamentos nocivos e quais propostas terapêuticas podemos oferecer
para a redução de danos, mudança de hábitos e aperfeiçoamento no caso de pessoas que usam a

VOZ | UNIDADE 2
voz profissionalmente.

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UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA

03
DISCIPLINA:
VOZ

SAÚDE VOCAL E PARÂMETROS PARA


REABILITAÇÃO
PROFA. ANNE PAULA P. M. AMARAL
PROFA. MA. MARIANA HAMMERER

SUMÁRIO DA UNIDADE

INTRODUÇÃO................................................................................................................................................................52
1. PROGRAMA DE HIGIENE VOCAL.............................................................................................................................53
2. PROCESSO DE EVOLUÇÃO NA TERAPIA VOCAL...................................................................................................54
2.1 EVOLUÇÃO TERAPÊUTICA EM LESÕES MALIGNAS............................................................................................56
3. ASPECTOS BIOPSICOSSOCIAIS DA VOZ PROFISSIONAL FALADA....................................................................60
4. ATUAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA NA VOZ PROFISSIONAL FALADA.......................................................................62
5. DEFINIÇÃO DE USO PROFISSIONAL DA VOZ E SUAS ALTERAÇÕES..................................................................63
6. FATORES CAUSAIS DOS DISTÚRBIOS DA VOZ NO USO PROFISSIONAL...........................................................64
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................................................................................68

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

INTRODUÇÃO
Nesta unidade, você irá compreender a aplicação fonoaudiológica prática nos distúrbios
da voz. O primeiro tópico irá disponibilizar um conceito amplo de saúde vocal que é a higiene
vocal, cuidados básicos que o falante deve ter. Hábitos vocais saudáveis não estão relacionados
apenas a disfonias, mas a doenças graves como o câncer.
As lesões malignas da laringe são preocupantes, pois podem gerar grande nível de
incapacidade após os procedimentos cirúrgicos; esses comprometimentos devem ser compensados
na reabilitação, devolver a possibilidade de comunicação para o paciente, sempre respeitando
seus limites físicos e estruturais devido às remoções da laringectomia. Tão importante quanto
determinar uma técnica a ser empregada na reabilitação é compreender a evolução terapêutica
e determinar condutas estruturadas e coerentes, dando a possibilidade de prever como seria a
prática clínica, garantindo eficiência no tratamento.
Das complicações vocais que encontramos, as complicações do trabalhador da voz
recaem sobre o fonoaudiólogo, que deve acompanhar esse trabalhador, como garantir saúde
vocal para essa população. No profissional da voz falada, veremos quais as esferas de atuação que
competem ao fonoaudiólogo. Área que mais tem exigido a preocupação em saúde vocal é a saúde
do trabalhador. Você verá nesta unidade quais os fatores prejudiciais à saúde ocupacional e qual o
impacto dessas alterações. Durante o estudo desta unidade, é importante que você faça as leituras

VOZ | UNIDADE 3
complementares sugeridas e pesquise sobre o assunto no material que você tem disponível na
biblioteca.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

1. PROGRAMA DE HIGIENE VOCAL


Estudamos, nas demais unidades, quais os hábitos nocivos à produção vocal e como
as pessoas se comportam diante de um fator causador do distúrbio. Nesta unidade, você irá
compreender qual o processo necessário para obter e manter a voz saudável.
Relacionamos aqui o termo “higiene vocal” ao conceito amplo de saúde, que atualmente a
OMS descreve como estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não somente ausência
de afecções e enfermidades. Para atingir o conceito de saúde vocal, precisamos garantir uma
voz limpa, clara, sem esforço e agradável aos ouvidos, que seja possível manter a adaptação em
diferentes contextos e ambientes (BEHLAU, 2010).
Práticas de higiene vocal devem ser incorporadas ao cotidiano de todos e principalmente
para aqueles indivíduos dos quais se requer exigência vocal, começando pelos primeiros hábitos
do dia, levantando pela manhã e garantindo boa alimentação, hidratação e atividades físicas.
Diante da prática negativa de hábitos, podemos considerar que qualquer pessoa estará sujeita a
realizar esforço vocal.
A higiene vocal é considerada terapia indireta das alterações vocais, utiliza aspectos
não diretamente relacionados à voz, como, por exemplo, postura corporal, hábitos alimentares
e comportamentos globais. Muito se discutia sobre quais os comportamentos e ações que o
indivíduo não deveria fazer; contudo, atualmente se discute quais as ações que devem ser feitas.
São tidos como casos alterados casos de rouquidão que perdurem por mais de quinze dias; no
entanto, para a higiene vocal, o cuidado deve ser tomado em qualquer caso de alteração, até

VOZ | UNIDADE 3
mesmo evitando que a rouquidão apareça. Considerar uma alteração vocal normal pode ser
extremamente prejudicial à saúde. Em casos de câncer laríngeo, é fundamental que o diagnóstico
seja feito o quanto antes para garantir melhor possibilidade de remissão (LE HUCHE; ALLALI,
2005).
Aspectos vocais como timbre alterado, intensidade desregulada, sensação de esforço ao
produzir a voz, associada a uma queda na atividade vocal, chamam atenção e não devem ser
considerados normais, ou casos em que o excesso de preocupação pode levar o sujeito a aumentar
níveis de ansiedade e a tomar medidas desnecessárias. Para que essas más interpretações não
aconteçam, um bom programa de higiene vocal deve começar pela compreensão de como a voz
é produzida.
Desmitificar os conhecimentos empíricos de como a voz é produzida, por exemplo,
elucidar que não é uma “corda” que produz o som, qual a região do corpo em que é produzida a
voz, de conhecimentos básicos a conhecimentos mais específicos e aprofundados, por exemplo,
para pessoas que usam a voz profissionalmente, quanto mais informações, menos chances de
criar hábitos nocivos.
O mesmo princípio é válido para justificar que profissionais da voz compreendam a
técnica para utilização da voz em sua ocupação, garantindo bom funcionamento vocal, e menos
chances essa pessoa terá de desenvolver um problema vocal. O cantor e o ator devem realizar
uma boa projeção vocal através do apoio abdominal. O esforço diminui; sendo assim, conseguirá
usar a voz por mais tempo. Técnicas de relaxamento e de produção vocal são fundamentais para
o ator, bem como treino vocal constante para aperfeiçoar e conhecer a voz; este treino leva o ator
a identificar e selecionar a melhor voz para cada estilo e, principalmente, conhecer seus limites
(LE HUCHE; ALLALI, 2005).

WWW.UNINGA.BR 53
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

De maneira geral, o aquecimento vocal é de grande importância na higiene vocal; no


caso dos atores e cantores, os vocalizes são fundamentais no aquecimento. Ainda sobre a higiene
vocal profissional, deve-se tomar atenção para o uso de medicamentos. Em mulheres, no caso de
medicamentos que utilizam hormônio masculino, aumentam-se as pregas vocais; há, ainda, os
remédios com efeito psicotrópico ou hormonais.
Além da medicação, devem ser observados fatores que favorecem a irritação da mucosa,
como componentes tóxicos, ar seco, inflamações e processos alérgicos. Mudanças de temperatura
que causam uma perturbação vasomotora, grandes esforços vocais após as refeições não são
recomendados e, ainda sobre alimentação, é comum encontrar hábitos nocivos como comer algum
determinado alimento com a esperança de melhorar a performance vocal; alguns alimentos, na
verdade, são prejudiciais, como, por exemplo, o café, álcool, bala de menta e pastilhas. A dieta
deve ser equilibrada, o gasto muscular exige um consumo adequado de proteínas, e restringir
alimentos pesados e gordurosos de maneira geral e, principalmente, próximo a atividades vocais.
Alimentos favoráveis e que devem ser consumidos com frequência são maçã e salsão,
que têm propriedades adstringentes, favorecendo a limpeza do trato vocal e afinando a mucosa,
lembrando de consumir esses alimentos antes do show, por exemplo, ou antes de longos períodos
de esforço vocal. O contrário também ocorre: o espessamento da mucosa com a ingestão de
alimentos derivados do leite e com muito açúcar (PINHO, 2002).
Uma área que requer nossa atenção são os educadores físicos, isso porque a prática de
exercícios físicos associados à fala intensa pode desencadear uma disfonia, a contração muscular
em excesso durante o exercício pode aumentar o fechamento glótico, além do descontrole aéreo
e mudança do padrão respiratório.
Evitar excessos é a regra de ouro para higiene vocal, tossir ou pigarrear excessivamente

VOZ | UNIDADE 3
é um sinal que pode estar associado não somente a quadros gripais, mas em crianças, por
exemplo, está associado à irritação na laringe causada por abuso vocal ou alergia, potencialmente
mais comuns em crianças. A tosse causa uma pequena irritação nas pregas vocais, o que gera
aumento na produção de muco, que, por sua vez, aumentará a necessidade de pigarrear, o alívio
momentâneo ao pigarrear pode ser sentido ao ingerir líquido (PINHO; JARRUS; TSUJI, 2004).

2. PROCESSO DE EVOLUÇÃO NA TERAPIA VOCAL


Independentemente da etiologia do distúrbio vocal que chega à clínica fonoaudiológica, o
processo terapêutico necessita de uma organização e de princípios a serem seguidos. A partir da
escolha do melhor método ao seu paciente, inicia-se a evolução terapêutica, e a melhor escolha
depende de uma correta avaliação e da familiaridade com o método escolhido.
Duas pessoas com diagnóstico médico idêntico podem ter condutas terapêuticas diferentes,
isso porque os fatores causadores são diferentes e as pessoas apresentam comportamentos vocais
diferentes. Devemos pensar em cada característica da alteração, por exemplo, na lesão de massa,
a ênfase deve ser aliviar o atrito sobre a lesão, quando a mucosa se manifesta rígida, com os
exercícios de vibração ou, por exemplo, na fenda fusiforme de origem estrutural ou funcional, o
mesmo tratamento pode apresentar resultados diferentes.
Seguindo o raciocínio clínico, devemos compreender o nível de expectativa do paciente
e adequar ao real planejamento do terapeuta, através de questionários de autoavaliação, como,
por exemplo, QVV. Compreender o nível de expectativa do paciente em relação à evolução do
tratamento é fundamental, isso porque o alto nível de expectativa pode gerar ansiedade e alto
nível de exigência sobre a melhora, ou ainda frustração. Para evitar distorção, devemos esclarecer
qual o real prognóstico de seu caso e quais os limites terapêuticos.

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Durante a aplicação das técnicas, vários cuidados devem ser tomados: o nível cognitivo do
paciente em relação à compreensão dos exercícios, a quantidade de repetições feita exaustivamente
pode tornar a evolução tediosa, o nível de constrangimento ao executar algumas técnicas, a
dificuldade em executar um exercício complexo sob a exigência do terapeuta. Todos estes fatores
podem comprometer o trabalho, dificultando a execução da técnica, causando a sensação de
descrédito e falta de adesão ao tratamento. A terapêutica consiste então no aprendizado sequencial
e hierárquico dos exercícios, o processo de modificação vocal requer o aprendizado de diversos
parâmetros (BEHLAU, 2010).
Durante a evolução e a escolha dos exercícios, requer-se conhecimento da fisiopatologia
e do trato vocal, norteado pelo conceito de produção vocal. Duas técnicas podem ser aplicadas
ao mesmo tempo, desde que se completem durante a execução conjunta ou que uma seja a
preparação de alguma estrutura ou movimento para outra (LOPES FILHO et al., 2013).
A frequência na terapia é pouco comentada em pesquisas, no entanto existe um consenso
de que duas vezes por semana é a quantidade indicada para reabilitação vocal. Alguns métodos
específicos determinam tempos variados, como, por exemplo, o método Lee Silverman sugere
uma aplicação intensiva de quatro sessões por semana. Além de determinar a periodicidade, o
método determina qual o período de tempo em que as sessões devem ser realizadas, passando de
quatro atendimentos por semana no primeiro mês, reduzindo para duas e uma vez por semana
nos próximos meses, dependendo da evolução.
Outra aplicação dos intensivos terapêuticos são os casos pós-operatórios, em que é
necessária rápida mudança de comportamento de abuso vocal ou eliminação do granuloma.
Em casos de processos microcirúrgicos, a garantia de uma boa recuperação é a reabilitação. Nas
disfonias infantis, é necessário maior quantidade de sessões semanais para a formação de vínculo

VOZ | UNIDADE 3
paciente/família com o terapeuta.
Sobre quais os exercícios e qual a quantidade de repetições não há uma regra, ou seja, não
existe um padrão a ser seguido para todos os pacientes. No início, é preciso verificar a eficácia
do exercício e a capacidade de execução, para então determinar se esse exercício é válido e,
durante a execução, fica visível a necessidade de repetições. A recomendação é que a quantidade
de exercício seja equilibrada, o princípio é o de que, com menos exercícios aplicados ao mesmo
tempo, fica mais fácil visualizar quais têm mais resultados para o paciente em específico. Estas
medidas também garantem que os exercícios possam ser feitos em casa com qualidade, mesmo
sem supervisão; neste momento, devemos considerar que os exercícios feitos em casa garantem a
generalização do novo padrão vocal (BEHLAU, 2010).
A autora comenta sobre a garantia da boa execução e a compreensão do exercício pelo
paciente. Podem ser estabelecidos exercícios de cinco a dez minutos, três vezes ao dia, diante de
uma fenda, ou no caso de comprometimento de outras estruturas, como as pregas vestibulares, é
recomendada a aplicação de exercícios de alguns minutos de hora em hora. Para aplicação clínica,
podemos controlar a intensidade dos exercícios e ainda verificar qual a quantidade necessária
para gerar uma modificação e garantir que o exercício está ocasionando melhora ou não.
Sob essa perspectiva, a duração do tratamento deve ser ponderada pelo terapeuta,
analisando as condições e qual a perspectiva de evolução, no entanto temos uma média de
evolução de acordo com o tipo de alteração. Em casos de disfonias comportamentais sem lesão
de massa, a evolução ocorre em menos de dois meses de atendimento e, em lesões benignas,
um pouco mais que dois meses. Em disfonias funcionais do tipo muda vocal, a evolução pode
ser percebida com cinco sessões, paralisia de prega vocal unilateral apresenta compensação em
três meses de atendimento e, nos casos de voz esofágica, em um mês o paciente passa a produzir
frases.

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No entanto, em alguns casos, podemos gerar certo grau de ansiedade nos pacientes ao estabelecer
prazo para melhora; para que isso não ocorra, devem ser oportunizados ao paciente orientação,
explicação, avaliação do grau de expectativa, planejamento terapêutico eficiente e noção da
colaboração paciente/terapeuta.
Medidas devem ser bem direcionadas até o processo de alta, para que seja indicada alta de
um paciente e não necessariamente deve-se obter uma voz sem desvios, com redução de edema
ou lesão. O processo de reabilitação é eficaz quando garante ao paciente uma adaptação vocal
correspondente às suas necessidades, que já foram delimitadas no momento da avaliação.

2.1 Evolução Terapêutica em Lesões Malignas


Infelizmente, o câncer de cabeça e pescoço representa 2% do total das doenças malignas,
muito associado a hábitos ruins, como abuso de álcool, cigarro e exposição solar. A preocupação
aumenta ao verificarmos que o diagnóstico desses tumores é tardio, diminuindo as possibilidades
de tratamento. Sinais primários podem ser detectados na voz, em alguns casos, nota-se a mudança
na qualidade vocal.
A base do tratamento das lesões no câncer laríngeo é através da radio e quimioterapia;
cirurgia para remover lesões, chamadas de laringectomia parcial ou total; em casos mais avançados
mesmo depois do tratamento cirúrgico, ainda é recomendada a rádio ou quimioterapia. O
acompanhamento clínico será para o resto da vida, principalmente pelo risco de reincidência nos
5 primeiros anos (LOPES FILHO et al., 2013).

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Figura 1 - Traqueostomia infantil. Fonte: Biosom (2020).

Na Figura 1, vemos uma das consequências das cirurgias de laringectomia, a traqueostomia


permite que o paciente respire devido à impossibilidade de respiração por vias aéreas tradicionais,
podendo ser momentânea ou definitiva.
Os quadros clínicos fonoaudiológicos manifestam alterações vocais distintas. Quando
ocorre na região glótica, verificamos variados graus de rouquidão; quando na região supraglótica,
dor ao deglutir; e falta de ar, quando os tumores ocorrem na região subglótica. A seguir, veremos
as diferenças da evolução nos quadros de laringectomia parcial e total.

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LARINGECTOMIAS PARCIAIS
O tratamento cirúrgico muitas vezes remove estruturas importantes para funções de
deglutição, mastigação, articulação e fonação. Estes são os quadros que necessitam de reabilitação
para adequar à nova condição. Na cirurgia de laringectomia parcial, o objetivo é preservar as
funções da laringe, apesar da urgente necessidade de ressecar o tumor. Nas laringectomias
verticais, as consequências estão mais relacionadas a disfonias e, nas horizontais, as sequelas são
disfagia e disfonia.
Em cirurgias de laringectomia vertical, ocorre a diminuição do trato vocal removendo
estruturas importantes como a cartilagem epiglótica; nestes casos, o paciente pode estar ainda
usando sonda e traqueostomia durante a reabilitação. Verificamos mudança na ressonância, no
padrão vocal e no aspecto vocal, que pode vir a ser modificado após as fibroses causadas pela
radioterapia e escape de saliva devido à disfagia. A primeira etapa da terapia envolve o controle da
disfagia, aumentando o controle vertical, garantindo proteção de vias aéreas. São sugeridos, nesta
abordagem, aumento da mobilidade da língua, elevação da laringe e interiorização posterior da
laringe, garantindo o aumento do fechamento laríngeo adaptado (LOPES FILHO, 2013).
Já na laringectomia horizontal, o principal objetivo do procedimento é preservar a função
vocal, por isso abrange técnicas variadas como a cordectomia, laringectomia frontal, frontolateral
e hemilaringectomia. As queixas vocais estão relacionadas à perda da mobilidade da prega vocal,
quando não a ausência dela, a rugosidade e aspereza são características desse procedimento.
Encontramos também tensão e soprosidade em decorrência da perda da função esfincteriana
da prega vocal e fechamento glótico. O paciente passa a gerar tensão para compensar o déficit
(MARCHESAN; JUSTINO; TOMÉ, 2014).
Na técnica de cordectomia, pode haver a preservação da comissura anterior e processo vocal,

VOZ | UNIDADE 3
no entanto a perda de estrutura implica dificuldade na coordenação pneumofonoarticulatória.
Verificamos tempo máximo fonatório reduzido e loudness reduzido. A indicação terapêutica
é de exercícios que recrutem maior mobilização de mucosa, fechamento glótico e equilíbrio
de ressonância. A hemilaringectomia é a técnica que secciona uma ou mais estruturas como
subglote, ariepiglote e prega vocal contralateral; dessa forma, a reabilitação vai ser direcionada de
acordo com a possibilidade funcional da ressecção, se será possível estimular a fonte de fonação
glótica ou supraglótica (LOPES FILHO et al., 2013).

LARINGECTOMIAS SUBTOTAIS
São procedimentos que exigem uma maior ressecção do que as laringectomias parciais
e menos do que as laringectomias totais. Nestes casos, o acompanhamento fonoaudiológico é
fundamental, pois pode ocorrer comprometimento em nível de deglutição, com aspiração leve ou
moderada, pode ainda ocorrer a remoção de uma ou duas cartilagens aritenóideas. Estes pacientes
podem necessitar de alimentação por sonda no pós-cirúrgico e ainda cânula de traqueostomia.
No procedimento de laringectomia supracricoide, ocorre a ressecção das pregas
ariepiglóticas e aritenóideas, a característica dessa voz é soprosidade e disfagia, a intervenção
fonoaudiológica é fundamental para garantir a proteção das vias aéreas, proporcionando
estratégias de compensação vocal, possibilitando a retirada de sonda e adequando o padrão
vocal. Outros procedimentos podem ser realizados com o Near total, onde são removidos ¾ da
laringe. Neste procedimento, a traqueostomia é definitiva; portanto, o trabalho do fonoaudiólogo
é garantir a passagem de ar pela fístula, coordenando a pneumofonoarticulação (MARCHESAN;
JUSTINO; TOMÉ, 2014).

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LARINGECTOMIA TOTAL
Esta é a conduta e o tratamento que mais comprometem a fonação. O paciente perde
totalmente a voz produzida na laringe decorrente da total remoção dessa estrutura: retiram-
se cartilagem, músculos e outras estruturas nela contidas. O segmento de reabilitação neste
procedimento é mais intenso e relevante para o paciente, pois neste momento de silêncio total, a
necessidade de voltar a falar é emergencial.
Antes mesmo do procedimento cirúrgico, o paciente deve começar os processos pré-
operatórios passando pela avaliação e orientação de psicólogos, fonoaudiólogos e enfermeiros. O
papel do fonoaudiólogo no momento pré-operatório é orientar o paciente sobre quais as sequelas
da cirurgia e quais possibilidades de reabilitação estão disponíveis. São métodos de reabilitação:
a voz esofágica, o uso de laringe eletrônica ou voz traqueoesofágica. A decisão de qual tipo de
reabilitação deve ser seguida é exclusivamente do paciente, o fonoaudiólogo não pode tomar essa
decisão pelo paciente.
A voz esofágica compreende a constrição de ar no segmento faringoesofágico e na
adequação articulatória e de ressonância. O primeiro passo para reabilitação é proporcionar a
percepção do funcionamento esofágico, tornando possível notar a localização de vibração do
segmento faringoesofágico. Iniciamos ensinando ao paciente a sequência da deglutição que
consiste em abrir bem a boca para que o ar entre, fechar a boca e sentir como se fosse uma
“batata”, engolir o ar, perceber a contração do segmento faringoesofágico, contrair o diafragma e
emitir a vogal “a”. Na sequência, é preciso ensinar a produção de consoantes através da sequência
de injeção por pressão consonantal (MARCHESAN; JUSTINO; TOMÉ, 2014).
Ensinada a produção consonantal dos fonemas surdos /p/, /t/, /k/, utilizando esses
fonemas para introdução de ar no esôfago onde ocorre um aumento de pressão na cavidade oral

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que libera o segmento faringoesofágico, produz-se pressão para o próximo fonema a ser emitido.
A partir de então, o paciente seguirá um treino na terapia com práticas em casa. Segue a ordem
de aprendizagem do fonema /a/ ou /pa/, aumento do tempo máximo fonatório, emissão de todas
as vogais associadas ao fonema /p/, emissão de ditongos, dissílabos, trissílabos, frases curtas do
cotidiano, frases longas e, por fim, o refinamento.
O treino para voz traqueoesofágica começa pela higienização, que garante a durabilidade
da prótese. Somente após a liberação médica ao fim do processo de cicatrização, é que deve ser
iniciada a reabilitação vocal. Ao iniciar o treino, a primeira oclusão deve ser feita pelo terapeuta,
pede-se para o paciente para que inspire, o terapeuta veda a traqueostoma e pede para o paciente
emitir a vogal /a/. O próximo treino é que o paciente consiga ocluir a traqueostoma sozinho,
de preferência com a mão não dominante, para que ele consiga utilizar a mão enquanto fala,
seguindo a coordenação pneumofonoarticulatória, começando com a fonação pequena como
a contagem de números para então partir para palavras maiores com automatização. O treino
de respiração começa pela inspiração pelo estoma e inspiração pela boca. Pitch e modulação
podem ser trabalhados através de sons vibrantes, fricativos sonoros, para então realizar o treino
articulatório (MARCHESAN; JUSTINO; TOMÉ, 2014).

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Figura 2 - Explicação do fluxo de ar na voz traqueoesofágica. Fonte: Junqueira (2016).

O método de reabilitação vocal através da laringe eletrônica é o procedimento que requer


menos sessões, fisiologicamente o aparelho realiza uma vibração que, ao ser encostada em um
tubo de ressonância, irá produzir um som associado ao movimento articulatório. O trabalho
fonoaudiológico consiste em adequar a melhor posição para utilização do aparelho, adequar
velocidade de fala com exercícios de sobrearticulação, seguidos da coordenação de fonação e
acionamento do aparelho (LOPES FILHO et al., 2013).

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Figura 3 - Paciente cantando em um coral usando laringe eletrônica. Foto de Leo Munhoz. Fonte: NSC Total (2018).

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Assista ao vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=C7o8eE_lQq0. Em entrevista,
fonoaudióloga responsável pelo serviço de fonoaudiologia do
Hospital do Câncer de Barretos fala sobre o trabalho fonoaudiológico
com pacientes oncológicos, a pluralidade do trabalho que não
se restringe apenas a restabelecer a voz, mas como uma equipe
integrada favorece o estabelecimento da qualidade de vida desses pacientes.

3. ASPECTOS BIOPSICOSSOCIAIS DA VOZ


PROFISSIONAL FALADA
A grande parcela dos profissionais da voz falada corresponde a trabalhadores que
desconsideram a necessidade de preparo vocal para o desempenho das suas funções. Enquanto
atores são instruídos, mesmo que basicamente, a preparar a sua voz, outros profissionais, como
professores, desconsideram a necessidade e buscam atendimento depois de um problema
instalado. Veremos, neste tópico, os fatores biológicos, psíquicos e sociais que influenciam a
voz desses profissionais, e a primeira questão a ser compreendida é a de que cada profissional e
profissão tem sua especificidade e, portanto, serão discutidas uma a uma.

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A primeira profissão a ser discutida será o de professor, profissional que usa a fala para
transmitir seu conhecimento e realizar trocas com seus alunos, entende-se que o professor passa
quase todo seu tempo de sala de aula falando; portanto, o esforço e demanda vocal são intensos.
Alguns professores acreditam que uma aula, para ser empolgante, precisa de uma fala alta e
intensa, assim como para chamar a atenção do aluno, necessita aumentar o tom de voz, mas não
são necessários e ainda são hábitos nocivos à saúde vocal. O estresse é o problema de saúde mais
intenso na vida do professor devido a condições de trabalho ruins, baixo salário, salas cheias. A
voz do professor também deve ser aprimorada, o professor deve transparecer domínio sobre o
que ensina e segurança para quem aprende (BEHLAU, 2010).
A categoria de atores dentro de suas formações recebe algum nível de instrução, além de
que a própria exigência da função faz com que o ator busque compreender melhor sua voz para a
construção de um personagem. Por outro lado, essa mesma exigência faz com que a complexidade
dos ajustes vocais deixe essa população mais suscetível a alterações. As dificuldades estão nas
demandas do ofício, nas mudanças vocais, articulatórias, muitas apresentações, apresentações
longas, adequação entre corpo, voz e expressão, que exige uma demanda corporal intensa.
Locutores, radialistas e narradores fazem parte de um grupo que usa especialmente a voz
por terem uma característica singular em suas vozes. Essa característica é específica para cada
campo de atuação. Narradores de rodeio, por exemplo, apresentam uma voz mais imponente
e velocidade de fala aumentada, diferente de um locutor de rádio, por exemplo. A locução
exige múltiplas características, como, por exemplo, locutor esportivo, locutor de noticiário etc.
Geralmente locutores estão em ambientes favoráveis à produção vocal em estúdios, amplificação,
retorno e jornadas de trabalho compactas. As alterações vocais nesse grupo estão relacionadas à
falta de higiene vocal e ao tabagismo (BEHLAU, 2010).

VOZ | UNIDADE 3
Repórteres de telejornal associam a voz à comunicação não verbal, à imagem, por isso
o padrão vocal é diferente do usado no rádio. O apresentador está sujeito a maiores problemas
vocais, ambientes desfavoráveis à saúde vocal são encontrados, excesso de luz, acúmulo de funções,
excesso de maquiagem, maior predisposição para alteração na qualidade vocal. A jornada de
trabalho é intensa, gravações ao longo do dia e plantões ao vivo com notícias urgentes, em cada
momento de gravação ocorre um ajuste vocal diferente e o despreparo para essa função causa
maior probabilidade de desenvolver uma alteração vocal.
No decorrer das nossas aulas, vimos características individuais das profissões que utilizam
a voz profissional falada, por isso é importante compreender as necessidades do grupo e que
o fonoaudiólogo deve ser um investigador não só dos aspectos vocais, mas das características
biopsicossociais de cada indivíduo para que sua intervenção seja válida e contribua positivamente
ao aspecto dinâmico da sua profissão.

A fonoaudióloga Leny Kirillos, juntamente com o jornalista Milton


Jung, produziram o livro: Comunicar para liderar, que trata de
aspectos biopsicossociais da comunicação para as lideranças e,
para o seu lançamento, produziram este vídeo comentado sobre as
perspectivas do livro, disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=X96Ll6eY4vQ.

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4. ATUAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA NA VOZ


PROFISSIONAL FALADA
A proposta fonoaudiológica nesta categoria visa principalmente atuar na prevenção dos
distúrbios vocais, criando e implantando programas de saúde vocal, ações desempenhadas pelos
profissionais de saúde ocupacional formulando ações para a promoção da saúde.
Por exemplo, com os operadores de telemarketing, são criadas estratégias para a promoção
da saúde dessa população, através da análise das características de comunicação: se a função do
funcionário é ativa ou receptiva, a rotina de trabalho, a utilização de scripts, nível de estresse,
metas, cobranças e relacionamentos interpessoais. São fatores a serem analisados e trabalhados
com o agente de prevenção. Quando não é possível, encontramos problemas vocais como lesão
por esforço vocal, doenças associadas como refluxo, distúrbios alérgicos e doenças causadas por
estresse.
Portanto, a ação primordial do fonoaudiólogo está voltada à promoção da saúde vocal,
em que o profissional deve organizar e fazer um diagnóstico do contexto de trabalho. A atuação
está voltada para a competência comunicativa também, hoje uma área da fonoaudiologia que se
dedica ao estudo da fonoaudiologia empresarial (MARCHESAN; JUSTINO; TOMÉ, 2014).
A fonoaudiologia empresarial volta sua atenção não só para serviços como o do
telemarketing, mas compreende as necessidades empresariais de diversos setores e segmentos,
com objetivo de otimizar a comunicação não só no aspecto corretivo das alterações de voz, mas

VOZ | UNIDADE 3
trabalhando aspectos comunicativos assertivos, melhorando o perfil comunicativo dentro do
mundo corporativo. Aspectos como o discurso, a narrativa e a adequação da comunicação são
os objetivos dessa área, englobando conhecimentos técnicos da fonoaudiologia com a exigência
comunicativa do meio empresarial.

O artigo Fonoaudiologia empresarial: sua aplicabilidade,


disponível em http://mariadocarmocarrasco.com.br/blog3/
post21fonoaudiologiaempresarialsegmentos, foi escrito por uma
fonoaudióloga atuante e pesquisadora na área da fonoaudiologia
empresarial. Ele te ajudará a ter uma visão prática da atuação do
fonoaudiólogo nessa área.

Outra demanda surge quando se trata de atores. O fonoaudiólogo atua na preparação e


produção vocal. O ator deve adquirir conhecimento sobre o próprio aparelho fonador e técnica
para se tornar um ator contemporâneo completo em nível de formação, para que esteja preparado
para as demandas em sua atuação. O fonoaudiólogo deve abordar tópicos como prevenção de
alterações vocais, dieta vocal, fonoterapia, aprimoramento e composição vocal, prosódia e, claro,
aquecimento e desaquecimento vocal.

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Dentro do acompanhamento fonoaudiológico, buscamos levar o ator à melhor


performance vocal, por isso devemos auxiliá-lo na exploração da voz em equilíbrio com as
emoções transparecidas no teatro, trabalhando a expressividade, expressões faciais e corporais,
todos em associação com a voz. Exercícios vocais exigem alta complexidade em sua execução, pois
a produção da voz se trata de uma atividade psicofísica, que está relacionada às emoções, porém
quanto mais memória do comportamento vocal, mais repertório terá para o desenvolvimento da
sua atuação (MARCHESAN; JUSTINO; TOMÉ, 2014).
Grande parte dos atores busca o atendimento fonoaudiológico quando o quadro de
disfonia já está instalado, contudo iremos conhecer qual o papel do fonoaudiólogo na preparação
vocal. Acompanhando os ensaios, pode oferecer ao grupo uma combinação de exercícios de
relaxamento, resistência e ressonância; quando pode direcionar o atendimento para o consultório,
durante o tempo de preparação para um espetáculo, a voz pode ser construída junto a toda equipe,
trabalhando a projeção vocal e ainda a psicodinâmica vocal (MARCHESAN; JUSTINO; TOMÉ,
2014).
Atualmente, o fonoaudiólogo foi inserido em diversos momentos de ação na voz
profissional, na prevenção de problemas principalmente e no auxílio da otimização da voz
empregada como ferramenta de trabalho, graças à compreensão da relevância da voz nas relações
pessoais e comerciais. Se a voz é a expressão do que somos, devemos garantir que ela realmente
corresponda à nossa essência e ainda atenda às necessidades sociais do profissional da voz.

5. DEFINIÇÃO DE USO PROFISSIONAL DA VOZ E SUAS


ALTERAÇÕES

VOZ | UNIDADE 3
No âmbito da voz profissional, não nos limitamos apenas aos aspectos preventivos e
curativos das alterações vocais, o fonoaudiólogo também participa do preparo, otimização e
habilitação desses indivíduos que, de alguma maneira, utilizam a voz profissionalmente. Veremos,
neste tópico, quem são essas pessoas e profissões, e como é o desempenho vocal dessas ocupações.
Atualmente, a definição de voz profissional abrange muitas profissões devido à crescente
diversificação das funções ocupacionais e às novas tecnologias. Não só trabalhadores da arte,
como cantores e atores, mas jornalistas, teleoperadores, trabalhadores de gestão de pessoas,
cargos de gerência e chefia, jornalistas, apresentadores, professores, locutores, dubladores,
líderes religiosos etc., enfim, uma lista grande de profissões utiliza a voz de maneira profissional,
portanto corresponde à expectativa de uma voz clara, bem impostada e que corresponda ao papel
desempenhado em sua ocupação.
A voz profissional é considerada quando o indivíduo necessita da sua voz para a
realização da sua atividade ocupacional, essa é a justificativa para várias atividades laborais que
estão expostas aos cuidados vocais. A preocupação se eleva ao considerar que, sem sua voz, é
impossível desempenhar sua atividade, ou ainda que o bom desempenho da sua função está
atrelado à qualidade vocal e que a alteração vocal causada pela ocupação pode comprometer sua
função (BRASIL, 2018).
Compete ao fonoaudiólogo compreender as necessidades específicas da voz ocupacional,
atualmente a saúde vocal compreende muito mais as medidas de prevenção desses distúrbios. Por
isso, há necessidade de se conhecer os fatores de risco para o trabalhador, como fatores ambientais,
demanda vocal excessiva, competição sonora, acústica deficiente, alteração de postura, agentes
químicos e também psicológicos no desempenho da função.

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Além dos aspectos já conhecidos na clínica fonoaudiológica, os aspectos comprometedores da


voz devem ser analisados junto ao grau de comprometimento emocional para o desempenho
da sua função. Sob estas condições, diferenciamos profissionais da voz artística da não artística,
como também voz profissional falada de voz profissional cantada.
É comum encontrarmos discrepâncias específicas da voz profissional, como, por exemplo,
formas muito distorcidas entre a fala e o canto do mesmo indivíduo, fala em região grave e canto
em região aguda, por exemplo, apresentam tensões musculares específicas, como tensão de língua
e pescoço dificultando a ressonância, abertura de mandíbula, alongamento de pescoço, tensão de
ombros. De maneira geral, pequenas distorções fazem grande diferença na produção vocal, como
a distorção de fonemas e que, na maioria das vezes, só podem ser percebidos durante a própria
atividade (BEHLAU, 2010).

O Ministério da Saúde desenvolveu uma pesquisa que descreve


o processo de prevenção e tratamento de distúrbios vocais
causados pela ocupação. Abrange princípios da vigilância em
saúde e discute um protocolo que cuida da saúde vocal do
trabalhador. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/
publicacoes/disturbio_voz_relacionado_trabalho_dvrt.pdf.

VOZ | UNIDADE 3
6. FATORES CAUSAIS DOS DISTÚRBIOS DA VOZ NO USO
PROFISSIONAL
Seguimos o mesmo princípio básico da avaliação das alterações vocais clínicas, cada
sujeito é único e por isso deve ser analisado de maneira única, pois pode apresentar necessidades
diferentes, plurais e específicas neste caso, podendo ser específica a função que desempenha
também. Fatores que comprometem a voz de um cantor são diferentes dos fatores que acometem
o professor, por exemplo, e ainda são diferentes os fatores que acometem um professor do ensino
médio comparado a um professor de modalidades esportivas em uma academia. Discutiremos,
neste tópico, alterações que encontramos no cotidiano do profissional da voz e elencamos algumas
profissões.
A prática e a literatura concordam que a maior incidência de problemas vocais se
relaciona à docência, às condições de trabalho, condições emocionais, ao trabalho excessivo, à
falta de preparação vocal ou até mesmo falta de conhecimentos básicos sobre a voz. São fatores
comprometedores da função vocal. Ainda existem características mais peculiares à profissão
como qual a faixa etária dos alunos, qual o comportamento do professor e dos alunos durante
a aula, uso do giz, uso de componentes agressivos em aulas práticas. No caso de professores de
modalidades, o exercício físico geralmente é associado à fala, o que gera uma sobrecarga vocal
(BEHLAU, 2010).

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Outra demanda profissional em que o ambiente físico compromete a função vocal é a dos
atores. É comum atores de teatro se apresentarem em ambientes com acústica comprometida,
poeira, mofo, ruído, o material utilizado para compor um personagem, maquiagem, efeitos da
cena; além das condições físicas, os atores sofrem a pressão de continuar, mesmo não se oferecendo
boas condições de saúde. Alguns atores recebem orientações vocais, mas geralmente estão
relacionadas à composição para um personagem. Em muitas situações, não utilizam nenhuma
forma de amplificação e desenvolvem hábitos ruins como ingestão de álcool e falta de cuidados
com a saúde geral.
Operadores de telemarketing apresentam jornada de trabalho de seis horas consecutivas,
este é em si um fator desencadeador de uma disfonia pela alta demanda vocal, pois esse
trabalhador passa as seis horas utilizando a voz ininterruptamente. Essa profissão também sofre
com os fatores ambientais, como ar condicionado muito gelado, headset mal posicionado, baia
de trabalho e cadeira não ergonômicas. A exigência também parte dos princípios articulatórios,
clareza nas palavras e alta capacidade de resolver problemas (BEHLAU, 2010).
Líderes religiosos apresentam uma modificação vocal muito atrelada à mensagem
espiritual que desejam comunicar, para que essa mensagem seja transmitida de maneira eficaz,
além de criar emoção. Devem, em outros momentos, levar uma palavra de calma e conselho
para os fiéis, para isso também é necessário aprimoramento vocal para que o profissional consiga
desempenhar suas funções sem causar prejuízo à própria voz. O aprimoramento vocal também
se faz necessário no desempenho da função do político pela exigência da mensagem a ser
transmitida, uma vez que esse profissional circunda entre tantos ambiente sociais como reuniões,
discursos a céu aberto, conversas com a comunidade, debates e comícios. Em época eleitoral, os
distúrbios vocais surgem com mais frequência devido à demanda vocal, as modificações vocais

VOZ | UNIDADE 3
favorecem a transparência na comunicação (BEHLAU, 2010).
A classificação dos estilos musicais também gera características diferentes nos fatores
causadores de distúrbios vocais, como, por exemplo, no estilo de canto popular que mais
se aproxima dos ajustes da voz falada, um cantor que busca canto popular geralmente busca
ajustes vocais múltiplos, pois apresenta estilos variados. Nessa busca, o cantor que não está bem
preparado irá criar comportamentos nocivos à voz. A falta de higiene vocal e a falta de educação
musical formal e falta de resistência vocal são achados comuns no canto popular.

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Figura 4 - Cantor popular Emicida ao lado de sua fonoaudióloga. Fonte: Stachewski (2019).

Diferentemente do canto popular, no canto erudito, é imprescindível que o cantor já


tenha conhecimento técnico vocal para iniciar. São estilos muito diferentes. No canto erudito,
é preciso controle respiratório, técnicas vibratórias, ressonância e postura. Quando há uma falta
de equilíbrio entre as técnicas, os problemas vocais surgem. A classificação vocal errada nesse
estilo pode levar a lesões, isso porque o cantor deve buscar a melhor performance dentro das suas
possibilidades anatômicas e fisiológicas (BEHLAU, 2010).
Outros fatores influenciam no comprometimento das funções vocais, como a falta
de lubrificação e hidratação da mucosa laríngea, que pode aumentar a produção de muco
viscoso; a falta de repouso vocal nos quadros de laringite aguda; abuso e mau uso vocal; refluxo
gastroesofágico; sobrepeso; alergia; medicamentos e alterações hormonais.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Veja a seguir uma sequência de vídeos de entrevistas com dois profissionais


que atuam com voz profissional, mais especificamente com atores. Os vídeos
fazem parte de uma série chamada “A voz”, que apresenta entrevistas com uma
fonoaudióloga e um professor de canto, que fazem uma correlação entre fisiologia
vocal e a voz para o teatro. Você verá outra parte desse episódio na Unidade IV. Os
referidos vídeos estão disponíveis em:
Vídeo 1: https://www.youtube.com/watch?v=mabITWYoupM.
Vídeo 2: https://www.youtube.com/watch?v=dkGeLlUxULk.
Vídeo 3: https://www.youtube.com/watch?v=T63Gg3f0Q0E.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os problemas vocais são impactantes na qualidade de vida das pessoas, muitas vezes, só
nos damos conta de sua relevância ao nos depararmos, por exemplo, com uma crise de afonia.
Para pacientes que sofrem um tratamento agressivo do câncer, poder recuperar a função fonatória
através de alguma técnica é garantia de qualidade de vida após um período conturbado.
Medidas preventivas devem ser tomadas, é papel do fonoaudiólogo atuar também em
ações preventivas quanto à saúde geral e à saúde do trabalhador, dentro dos aspectos de saúde
vocal. Os cuidados contínuos são fundamentais; portanto, é papel do fonoaudiólogo garantir
aprendizagem de conceitos básicos de cuidado e higiene vocal, tanto nos profissionais da voz
falada quanto nos profissionais da voz cantada.
Vimos, nesta unidade, as possibilidades de atuação do fonoaudiólogo, fundamental para
o preparo e a garantia da promoção da saúde vocal. A promoção da saúde é um elemento em
evidência nas discussões sobre saúde. Atores, jornalistas, professores, dubladores, narradores,
teleoperadores etc. apresentam características particulares para o desempenho de cada função.
Cabe ao fonoaudiólogo compreender e tornar a ocupação favorável à sua voz.
A parcela da população que utiliza a voz de maneira profissional está sujeita a complicações
durante suas funções que podem impedir o trabalho. Além do impacto gerado pela autoimagem
distorcida, isso pode comprometer a carreira do trabalhador impedido de trabalhar, ou com

VOZ | UNIDADE 3
baixo rendimento, problema de inter-relação. O processo de orientação e reabilitação vocal é
singular para os profissionais da voz, grupo que apresenta uma exigência em sua performance.
Cabe ao fonoaudiólogo compreender as necessidades de cada um e adequar a voz dentro das suas
possibilidades e características.

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UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA

04
DISCIPLINA:
VOZ

VOZ CANTADA
PROFA. ANNE PAULA P. M. AMARAL
PROFA. MA. MARIANA HAMMERER

SUMÁRIO DA UNIDADE

INTRODUÇÃO................................................................................................................................................................70
1. PROPRIEDADES DA VOZ CANTADA: REGISTROS, TIMBRES, AFINAÇÃO E GOLPES DE GLOTE....................... 71
2. CARACTERÍSTICAS DA VOZ CANTADA ..................................................................................................................72
3. ESTILOS DE CANTO.................................................................................................................................................75
4. INFLUÊNCIA DIRETA E INDIRETA NA VOZ CANTADA..........................................................................................78
5. AVALIAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DA VOZ CANTADA................................................................................................80
6. DIFERENÇA ENTRE VOZ CANTADA E VOZ FALADA.............................................................................................83
6.1 DINÂMICA VOCAL NA VOZ CANTADA.................................................................................................................84
7. ATUAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA NA VOZ CANTADA...............................................................................................85
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................................................87

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

INTRODUÇÃO
Esta última unidade da disciplina “Voz” procura trazer aspectos sobre a voz cantada.
Compreender que a parte prática é muitas vezes diferente da teórica estudada ajuda a compreender
o quanto a voz cantada tem particularidades, características e peculiaridades tanto na área
musical quanto na área fonoaudiológica. Se pensarmos na voz falada e na voz cantada de pessoas
que conhecemos, nem sempre se parecem!
Sendo assim, ao longo da unidade, abordaremos assuntos sobre características da voz
cantada, extensão e tessitura vocal, registros, vibrato, timbre, ataque glótico e finalização vocal.
Traremos informações sobre variados estilos de canto e algumas de suas particularidades.
Falaremos de Canto lírico, Coro Lírico, Canto de musical e a preparação do cantor, Belting, Canto
popular e Canto Coral, sempre nos voltando para a realidade do nosso país.
Você encontrará algumas recomendações sobre influência direta e indireta na voz
cantada, desde questões como uso de incentivadores vocais ou até mesmo discussões sobre alguns
alimentos que podem ou não influenciar diretamente a voz no canto.
Apresentamos uma proposta de avaliação e classificação da voz cantada, por meio de uma
ficha de avaliação vocal de cantores/coralistas, que possibilita analisar vários aspectos da voz, por
meio da sonoridade.
Por fim, garantir que esses fatores colaborem para o bom desempenho do cantor exige

VOZ | UNIDADE 4
raciocínio clínico. Você verá as possibilidades de apoio ao cantor e como potencializar seu
desempenho vocal.

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1. PROPRIEDADES DA VOZ CANTADA: REGISTROS,


TIMBRES, AFINAÇÃO E GOLPES DE GLOTE
Muitas vezes, escutamos alguns sons na voz, que são ou não produzidos conscientemente.
Muitos aspectos e características da voz cantada podem dar impressão de um “canto errado”. A
verdade é que não existe certo ou errado dentro do canto! O que existe é uma técnica inadequada
para um estilo musical e, muitas vezes, falta de orientação vocal (técnica) e musical (estilo).
Falemos de registros; para os cantores, é comum se pensar em voz de peito e voz de
cabeça. No Brasil, também é usada a linguagem de registro denso (voz de peito) e registro tênue
(voz de cabeça).

Registros vocais são séries de tons homogêneos que se caracterizam por


um especial timbre sonoro, distinto dos outros registros e independente da
frequência do tom emitido. É um evento totalmente laríngeo consistindo de
séries de frequências ou, de uma faixa de frequências vocais que podem ser
produzidas com qualidades idênticas. A definição operacional do registro deve
depender de evidências perceptivas, acústicas, fisiológicas e aerodinâmicas
(PINHO; PONTES, 2008, p. 49).

Outros nomes como Mix de cabeça ou Speaking (mix de cabeça), Registro médio e Borda
tênue, cada vez mais, vêm sendo usados. Ainda, nomes como voz de flauta e registro médio são

VOZ | UNIDADE 4
comuns quando falamos de registros.
O timbre é a qualidade que a voz apresenta. Entendemos que reconhecemos um timbre
do instrumento violão, ou piano, ou ainda violino, quando escutamos e não vemos o instrumento,
conseguimos pela escuta reconhecer seu timbre. “Timbre, a ‘côr’ dos sons ou da voz; a qualidade
que faz ser diferente uma voz da outra, a flauta do violino, a trompa do oboé, etc., o registro
médio da voz do registro grave ou alto” (SINZIG, 1976, p. 577).
O timbre em relação à voz se dá por características como soprosidade, voz rouca,
metálica, anasalada, e podemos modificar a qualidade do timbre, que pode vir da fonte ou do
filtro. A fonoaudióloga Silvia Pinho, no “1º Episódio” (A VOZ, 2011a), dá alguns exemplos de
como modificar o timbre, deixando a qualidade mais soprosa, tenso e mais rouco, mostrando essa
qualidade que vem do nível glótico, com as pregas vocais. Depois, ela demonstra alguns timbres
que apresentam uma relação com o trato vocal, como uma voz nasal ou uma voz metálica.
O vibrato é um efeito musical que consiste na variação regular da frequência de
determinado som, somada a vibrações sincrônicas de intensidade. Na voz humana, varia a
frequência em altura: “[...] de modo geral, em um semitom ou menos, dependendo do gênero de
música e do cantor” (SOUZA, 2016, p. 59). Foi usado pelos cantores de rádio, influenciado pelo
bel-canto da ópera italiana: “[...] a rítmica e a fonética do português do Brasil, o vibrato na música
popular acabou se revestindo de características próprias” (SOUZA, 2016, p. 59).
Pode ser produzido de várias maneiras por meio da articulação, há três maneiras de se
obtê-lo: pela movimentação da laringe, pela movimentação do diafragma e pela combinação de
ambos (SOUZA, 2016, p. 59).
Outras características, como melismas e drives em alguns estilos, também são termos
frequentemente usados em alguns estilos de canto.
Na finalização vocal, em momentos de performance, notamos o envolvimento de todos
os aspectos e características da técnica vocal e outras questões importantes, como a afinação do
cantor.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Há pessoas que desenvolvem a habilidade da afinação. Quando tratamos de um adulto


que teve uma vivência anterior, que sempre escutou música, de estilos variados, tem boa
percepção rítmica e melódica, provavelmente, terá boa afinação. Outras pessoas infelizmente não
apresentam condições de cantar, pessoas que têm patologias graves nas pregas e distorcem o
som. Outras pessoas têm amusia, uma incapacidade patológica de percepção musical (produzir,
reproduzir ou perceber sons).
Nestes casos citados, deve-se procurar um professor de música, ou especificamente
para canto, um professor de canto. Outra situação semelhante com problemas de afinação são
bloqueios psicológicos.
Alguns sons produzidos no canto apresentam posturas e finalizações, que muitas vezes
podem vir acompanhadas de ataques. O cantor pode se machucar dependendo da forma como
emite alguns sons. Por exemplo, quando um cantor ataca de forma brusca o som, iniciando
uma palavra com vogal, realiza o que chamamos de golpe de glote. Iniciando alguns exercícios
vocalizes com consoantes fricativas [z], [v] ou [j], com consoantes nasais [m] ou [n], podemos
evitar o golpe. Mas e na música? Quando a frase inicia com uma vogal?
Há várias formas de atacar a nota, e da região grave e aguda, há diferença não só do
tamanho da boca que o cantor vai abrir, do fluxo de ar, apoio respiratório, mas também esses
detalhes que fazem a diferença, se o cantor gastar um pouco de ar no ataque, mesmo se a
intensidade do som for forte ou fraca, o golpe de glote não acontecerá.
No canto coral, principalmente classificado como amador (com cantores amadores, que
não possuem leitura musical e conhecimentos técnicos avançados), não costumamos realizar
exercícios que iniciem com vogais, procuramos iniciar com consoante, por exemplo, “vi”, ou “ziu”,
que, além de auxiliar no apoio, evitam o golpe de glote.

VOZ | UNIDADE 4
Escolher bons professores, para técnicas específicas para seu estilo musical, é fundamental.

2. CARACTERÍSTICAS DA VOZ CANTADA


A voz é única, como se fosse uma “digital” humana. Identifica a personalidade, a forma
como a pessoa encara o mundo, a sexualidade, a forma de comunicação com as pessoas, e
características de personalidade; assim, por exemplo, apresentam vozes retraídas pessoas que são
tímidas. Na voz cantada, é necessário mexer na voz, mudando assim o corpo inteiro.
Um desafio comum entre os cantores é a criação da sua identidade vocal. Ao longo de
anos, ela é construída, ou até modificada, com ajustes, e vários fatores nos mostram que, como já
dissemos acima, a voz é única!
Entre os fonoaudiólogos que trabalham com voz cantada e professores de canto, há um
tema em discussão dos profissionais sobre a Formante do Cantor (GUSMÃO; CAMPOS; MAIA,
2010).
Um cantor, ator ou coralista, iniciante ou não, deve procurar um professor de canto para
realizar a prática de seus estudos vocais. É necessário que o professor de voz conheça a anatomia
e a musculatura, pois como dissemos acima, cada voz é uma voz, e cada corpo também. Há
situações físicas que influenciam a forma de emissão vocal entre as pessoas, como, por exemplo,
um cantor que tem queixo pequeno deverá abrir mais a vogal “A” do que um cantor que já possui
essa estrutura maior. Outras pessoas apresentam dificuldades em realizar exercícios com vibração
de língua, que podem ter relação com fatos ocorridos desde o seu nascimento, se usou chupeta,
mamou na mamadeira ou no peito, ou ainda, se a pessoa mastiga mais de um lado do que do
outro. Tudo isso vai influenciar na musculatura; consequentemente, algumas vogais poderão ter
alterações sonoras por conta de estruturas externas, internas ou da própria voz.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Quando há queixas de cansaço vocal no início dos estudos vocais, orientamos que o
cantor faça uma avaliação e um exame de laringoscopia ou videoestroboscopia com um médico
otorrinolaringologista. Após diagnóstico do exame, se apresentar fendas, nódulos vocais ou
calos, ou ainda pólipos vocais, recomendamos que inicie um tratamento com fonoaudiólogos
especialistas em voz, na área de voz/canto, que podem realizar a reabilitação desse cantor, e
ainda orientar para prevenção, mudança dos comportamentos e depois, sim, trabalhar a estética
no canto. Em muitos casos de atores, fonoaudiólogos ajudam na construção de personagem,
trabalhando características de timbre.
A tessitura vocal envolve todas as notas que o cantor consegue cantar, entretanto a extensão
vocal é o limite das notas que ele canta com qualidade, por exemplo, uma cantora consegue, em
seus exercícios de canto, cantar de dó3 a dó5, mas no repertório que realiza, fica mais confortável
cantar de ré3 a lá4.
As características individuais vocais já mostram que não é necessário, quando cantamos,
cantar no mesmo tom do cantor que executa aquela música, às vezes, abaixar ou subir ½ tom faz
muita diferença na qualidade vocal final.
As pregas vocais, conhecidas popularmente como cordas vocais, são duas pregas,
produzem o som e podem participar da construção de um personagem, por exemplo, um som
“growling”, usado em estilos como jazz e rock, é produzido pelas falsas pregas vocais.
Outras características dependem da execução da projeção vocal e da intensidade. A
projeção se refere ao brilho que uma voz no palco precisa ter, por exemplo. O trabalho com a
intensidade (forte ou fraco) tem a ver com a quantidade de ar que vem do pulmão, da pressão
subglótica e da projeção.

VOZ | UNIDADE 4
A VOZ - Episódio Final - TV Guia do Ator (Programa 23). 2011.
Publicado no canal Guia do Ator. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=pEMH3faVy0g. Acesso em:
12 mar. 2020. Veja neste vídeo alguns exemplos sobre a projeção
vocal com a fonoaudióloga Dra. Silvia Pinho (nos primeiros 8 min).

Os ciclos de inspiração e expiração na voz cantada são diferentes da voz falada. (BEHLAU;
REHDER, 2009, p. 6). Na voz cantada, a respiração é treinada, diferente da falada, que é uma
respiração natural. As respirações no canto se dão de acordo com as frases musicais, de forma
rápida e pela boca, há também casos em que respiramos pelo nariz e pela boca juntos. Respirar
somente pelo nariz altera o som; na respiração pela boca, o palato automaticamente levanta,
facilitando o canto. O volume de ar é outra característica diferente entre a voz falada e cantada. No
canto, o volume de ar é grande, esvaziando totalmente os pulmões. A movimentação pulmonar
também é grande, durante a tomada de ar, há expansão de todas as paredes do tórax; em alguns
casos, apoio abdominal inferior. Para controlar a expiração, necessitamos manter a caixa torácica
expandida, sendo ativa no canto.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Cada estilo musical apresenta uma respiração indicada, para uma performance
adequada, que apresente as características vocais, é necessária a também a respiração, ela pode ser
clavicular, abdominal, intercostal, posterior, costodiafragmática, com ou sem apoio abdominal.
Cada professor, que trabalha com seu estilo, saberá orientar. No caso do canto coral, coletivo,
geralmente se propõe uma respiração costodiafragmática ou respiração costal diafragmática
com apoio abdominal inferior, para que mantenha sempre a laringe baixa, para que os coralistas
realizem menos esforço vocal ao cantar, e sim mais apoio na região aguda e gastem menos o ar, e
menos apoio no grave, gastando mais o ar.
Nenhuma das respirações é mais correta ou errada, depende do resultado estético e
técnico devido ao estilo musical.

Leia mais a respeito do assunto em Estudo da respiração em


técnica vocal, disponível em: http://www.uel.br/pos/musica/
pages/arquivos/artigoRespiracao.pdf. Acesso em: 15 mar. 2020.

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A fonação no canto também traz características variadas da voz falada (BEHLAU;
REHDER, 2009, p. 7). Como falamos, no caso do coral, mantém-se a laringe baixa – o que
também ocorre na maior parte das escolas de canto –, estabilizada, até nas regiões mais agudas.
A ressonância, na “máscara”, comumente é alta. Para o canto, buscamos esse conjunto
entre respiração, ressonância e projeção para chegarmos a uma qualidade vocal. Os espaços da
ressonância, onde o cantor vai “colocar” o som, é muito importante para que a performance
aconteça com excelência (BEHLAU; REHDER, 2009, p. 8).
A qualidade vocal depende do estilo e do repertório musical. No canto coral, procura-se
uma sonoridade mais uniforme, mesmo quando há solista; esta voz se destaca, diferente do coro,
que mantém essa característica em todo o tempo. A performance individual traz características
próprias, necessitando estar totalmente no seu estilo, por exemplo, um cantor de bossa nova não
pode cantar como o lírico, e vice-versa. Para isso, há a necessidade de o professor ser específico
quanto ao estilo que lhe interessa aprender (BEHLAU; REHDER, 2009, p. 9)
Há relatos de pessoas que fazem aula de canto há um bom tempo e que tiveram que tratar
alguma alteração vocal nas pregas vocais. Será que esse cantor está com o profissional correto?
Muitas vezes, está fazendo aula com professor de outro estilo, ou então, falta uma orientação
continuada, como na voz falada.
Como podemos observar, há muitas variações entre a voz falada e a cantada. Dependendo
da profissão, no dia a dia do cantor (nem sempre ele é só cantor), se usa muito a voz falada
incorretamente, com pouca projeção, e outras características que o prejudicam. Isso irá refletir na
voz cantada e, consequentemente, o mesmo acontecerá em caso contrário.
Por isso, é importante o cantor conhecer sua voz, sua musculatura, a técnica dentro do
estilo musical que quer aprender, e cuidar da voz, prevenindo alterações.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

3. ESTILOS DE CANTO
Iniciaremos pelo Canto lírico, que explora o máximo do performer, da sua respiração,
apoio, espaço faríngeo, e o que conseguir de voz sem auxílio do microfone. Andreia Vitfer, em
entrevista para o “1º Episódio” (A VOZ, 2011a), diz que, neste estilo de canto, não é comum o
uso de microfone nas performances, ele só é posto em palco quando há gravação, captação, ou
quando há rádios que vendem programas orquestrais de concertos, ou ainda, para amplificação,
quando estão em ambientes sem acústica necessária, como um estádio ou campo de futebol.
No Coro Lírico, todos os cantores devem ser treinados no repertório operístico. Há
algumas características no coro desse estilo diferentes do solista; por exemplo, nos madrigais,
preferem-se cantores com vozes leves, sem muito vibrato, com grande importância para a dicção
do texto, para uma qualidade de afinação do coro.
Canto de musical é um estilo que propõe um foco no texto, na história cantada e a
valorização da consoante. A vogal acaba sendo trabalhada, entretanto, para contar a história, há
este diferencial. O uso de microfone é mais comum nesse estilo.
Na preparação do cantor para musicais, o cantor precisa, neste caso, se desenvolver em
várias habilidades artísticas, não só no canto. O maestro Marconi Araújo, em entrevista no “3º
Episódio” (A VOZ, 2011c), diz que, no Brasil, temos uma diferença brusca quando comparado
com os EUA e, em outros países, neste tipo de canto, os cantores já apresentam vivências diferentes
em artes, aprendem que a arte é mais ampla.
Belting contemporâneo é uma técnica vocal de canto muito usada em teatro musical,

VOZ | UNIDADE 4
muito nova no Brasil. Exige-se mais tecnicamente do emissor, é forma de fazer mix voice – registro
médio. Como a técnica foi desenvolvida pelo maestro Marconi Araújo, temos a vantagem de a
literatura ser em português.

Assista a uma entrevista com o maestro Marconi Araújo sobre o


Belting Contemporâneo. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=DF80xLGDRg8. Acesso em: 20
mar. 2020.

Canto popular é um estilo que depende do uso de microfone. Andreia Vitfer, em


entrevista para o “1º Episódio” (A VOZ, 2011a), diz que o foco está no timbre e na identidade do
artista, que, muitas vezes, mescla técnicas para cantar, usando “voz de peito”, belting e até passa
pelo lirismo, buscando qualidades diferentes na execução.
Canto Coral é uma prática de canto em conjunto, na qual temos divisões de vozes entre
vozes femininas e masculinas. Dependendo da formação do coro, este pode usar microfones
individuais se for, por exemplo, um grupo vocal, ou ainda microfones próprios para coro, quando
não se tem acústica adequada em apresentações. Caso não tenha essas características, o coro
canta sem uso de microfones.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

É importante saber que nem todo repertório de coral é possível para qualquer coro!
Depende muito do nível do coro, de seus coralistas (se tem equilíbrio entre as vozes masculinas e
femininas), quantidade de coralistas por naipes, entre outros aspectos.
Há muitos coros que trabalham com acompanhamento de pianista e que realizam
correpetição do repertório. Outros coros costumam cantar a capella – sem acompanhamento
instrumental.
Temos diversos tipos de corais e suas formações, as mais encontradas são: Coros de
estudantes (Infantis – Coros de escolas, ou Coros de Universidades – adultos), Coros institucionais,
Coros religiosos, Coros independentes, Coro de câmara, Ensembles, Coro sinfônico, Coro lírico,
Coro Cênico e Coros de aprendizado.
Temos a classificação CORO MISTO (obrigatoriamente tem que ter vozes masculinas e
femininas) e CORO DE VOZES IGUAIS (feminino ou masculino).
Quando um coral ensaia um repertório popular, encontramos alguns instrumentos
acrescentados à performance, além do piano de que já falamos anteriormente, percussão
(instrumental ou corporal), violões, bateria, entre outros. É comum também, nos arranjos, alguns
usarem sons vocais como acompanhamento do coro (harmonia).

Assista ao vídeo da performance do Angel City Chorale Choir no

VOZ | UNIDADE 4
America’s Got Talent 2018. Notamos efeitos de sonoridades (com
sons de “x”, sons de pássaros) e algumas coreografias simples
que o coro realiza e que, em nenhum momento, prejudicam a
performance musical. Há um solista junto ao coro, que destaca sua
voz nos momentos de solo, não perdendo o estilo musical. Este faz
uso de microfone auricular. Muitas vezes, as vozes masculinas estão cantando
junto na mesma voz que o solo; mesmo assim, há um destaque do solo. O grupo
coral usa instrumentos de percussão na sua apresentação, por conta do estilo.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=B1cjW3rGSvg. Acesso em: 2
fev. 2020.

Há uma busca pelo repertório a ser apresentado por cada grupo, tanto em obras quanto
em arranjos, pois as dificuldades técnicas que aparecem para o conjunto precisam ser levadas
em consideração. Temos hoje um grande número de coros classificados como “Coros amadores”,
em que as pessoas não têm uma intenção de trabalhar repertório para performance, mas, sim,
aprender a técnica vocal, cantar corretamente, interagir com outras pessoas. Não quer dizer que
esse coro não possa ter qualidade musical, mas o foco não é rígido como um Coro de Câmara,
pois o perfil é outro.
Há muitos coros no Brasil e no mundo. No nosso país, encontramos de todos os tipos, de
várias formações diferentes. Basicamente, no Canto Coral, as vozes se dividem em naipes; depois
de uma classificação vocal, o regente ou preparador do coral divide as vozes pela sua tessitura
vocal, basicamente, em:

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

VOZES FEMININAS VOZES MASCULINAS

Naipe Extensão vocal Naipe Extensão vocal

Soprano de dó3 a dó5 Tenor de dó2 a dó4

Meio-soprano de lá2 a lá4 Barítono de lá1 a lá3

Contralto de fá2 a fá4 Baixo de fá1 a fá3

Quadro 1 – Dados do livro Higiene vocal para canto coral. Fonte: Adaptado de Behlau e Rehder (2009).

Se observarmos na literatura, podemos encontrar outras variações sobre os dados


apresentados, nem todas as sopranos cantarão exatamente as mesmas notas da tessitura ou
extensão vocal.
As vozes apresentam diferenças dentro do parâmetro musical ALTURA (graves e
agudos). Sopranos e tenores são vozes mais agudas (mais “finas”); contraltos e baixos são as vozes

VOZ | UNIDADE 4
mais graves (mais “grossas”); as vozes classificadas como meio-soprano, que podem também ser
chamadas de mezzo-soprano, e barítono são vozes medianas, ou “médias”, nem tão graves ou tão
agudas.
Há outras nomenclaturas de vozes, que existem além das mais comuns apresentadas,
como contratenores e sopranistas. Embora alguns repertórios sejam comuns das duas vozes, elas
são diferentes por questões fisiológicas, de timbre e de passagem.

Veja o vídeo Vida de Cantor Lírico 2 | Diferença entre contratenor e sopranista. Neste
vídeo, você terá uma explicação detalhada sobre a diferença dessas vozes pelo
sopranista brasileiro Bruno de Sá Nunes. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=HWQH3z-moTQ. Acesso em: 2 fev. 2020.
Veja também uma performance do sopranista para compreender sonoramente
como é essa voz. Neste vídeo, ele se apresenta junto com o contratenor Martin
Oro. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=AL1PDDBj7LY. Acesso
em: 2 fev. 2020.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Embora as vozes de meio-soprano e barítono apareçam no quadro anterior, em muitos


casos, nos arranjos/obras para canto coral, não há essa divisão de voz escrita; sendo assim,
geralmente essas vozes cantam nos naipes mais graves, contralto (mulheres) e baixos (homens).
Outros arranjos propõem divisões entre vozes do próprio naipe, por exemplo, Soprano I
e Soprano II, Contralto, Tenor I e Tenor II e Baixo. Neste caso, nem sempre podemos colocar as
mezzo-soprano/meio-soprano para cantar essa voz, pois depende da extensão vocal que estará
determinada na partitura musical.
No caso dos coros amadores, recebemos pessoas com pouca ou nenhuma experiência
vocal anterior. Muitas vezes, a pessoa se interessa em ser coralista pela socialização, e pelo
aprendizado vocal e musical que terá com o canto coral. Entretanto, é um trabalho de difícil
execução para o regente, pois cada um tem uma voz específica, traz consigo suas vivências (boas
ou ruins), muitas vezes, o aspecto psicológico influencia no resultado sonoro imediato do cantor
(se já tentou cantar antes quando criança ou mesmo adulto em outro coro, e ficou com traumas
por terem dito: “você não serve para isto”, ou “você é desafinado, não pode cantar”). Em minha
carreira, recebi muitas pessoas com esses perfis, que demoraram muito tempo para interiorizar e
realizar com qualidade suas performances, por não acreditarem em suas capacidades.

4. INFLUÊNCIA DIRETA E INDIRETA NA VOZ CANTADA


Podemos entender que tudo o que influencia diretamente ou indiretamente a voz também
influencia o nosso corpo de maneira geral. Ainda há muitos mitos sobre higiene vocal, entretanto,

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hoje, podemos nos amparar em recursos que possam nos ajudar na prevenção, ou na melhora,
quando há um desgaste vocal.
Inalação com soro e nebulização, hidratação com água, dormir bem são fundamentais
para o cantor no seu dia a dia e nos momentos de performance. Usar LaxVox e realizar exercícios
vocalizes apropriados será o ideal para o cantor.

O inalador portátil, que funciona com duas pilhas, é super prático, podendo,
assim, fazer inalações com soro em intervalos de trabalho, ou até mesmo, durante
o aquecimento vocal, auxiliando na hidratação das pregas vocais. Ideal para
cantores e outros profissionais que usam a voz como instrumento de trabalho. E
tem uma vantagem: é muito silencioso!

Figura 1 - Inalador portátil. Fonte: Nebzmart (2020).

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O uso de alguns incentivadores vocais por fonoaudiólogos, como Shaker, Respiron,


Tubo LaxVox, Power Breath, Threshold, Termoterapia (vapor quente), Crioterapia (frio ou gelo),
inalação e nebulização, influencia diretamente no resultado sonoro. Recomendamos também o
uso de massageadores na região do pescoço e ombros, onde há muitas tensões.
Outro recurso que está sendo muito usado por fonoaudiólogos e cantores é o MindVox,
que funciona como um retorno individual, de modo que o próprio cantor tem um feedback
auditivo ao cantar.
Sabemos que não é ideal cantar quando estamos gripados, com dor de garganta, com
infecções, pois isso afeta nosso corpo. Por exemplo, a gripe, se acompanhada de tosse e espirros,
coriza e congestionamento nasal, pode causar rouquidão e/ou também uma alteração da
sonoridade do timbre do cantor.
As mulheres, em período pré-menstrual, também deveriam evitar cantar, especialistas
em voz recomendam: “[...] quando possível, evite cantar ou vocalizar com muito esforço vocal no
período pré-menstrual (geralmente de 1 a 3 dias antes da menstruação) e durante a menstruação
(BEHLAU; REHDER, 2009, p. 29).
Outro problema no corpo que temos que afeta diretamente o canto é o refluxo
gastroesofágico. Ele é prejudicial à saúde. O sintoma mais comum do refluxo é a disfonia, ele
afeta o comportamento laríngeo, levando à hiperfunção vocal com efeitos diretos ou indiretos.
Ocorre edema de mucosa e hiperemia nas pregas vocais. Alguns sintomas como rouquidão,
tosse, sensação de queimação, pigarro, dor de garganta são comuns quando se tem refluxo
gastroesofágico, que pode ser uma condição fisiológica ou um refluxo patológico, influenciando
na qualidade de vida em geral.
É necessário procurar um médico, que pode ser o próprio otorrinolaringologista para

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averiguar as sensações. Evitar alguns hábitos como líquido junto com as refeições, alimentos
ácidos como café, frutas cítricas, chocolate, pimentão e álcool auxilia na melhora dos sintomas.
Dormir de estômago cheio também não é recomendado, pode causar refluxo gastroesofágico.
Além de alterações, lidamos com uma questão muito difícil para muitos cantores: a
ansiedade! Ela causa um problema que afeta diretamente a voz do cantor! Muitas vezes, o cantor
precisa enfrentar outras características físicas e psíquicas que não são necessariamente vocais,
mas que afetam diretamente o resultado final. Ele sabe a técnica, a respiração, onde “colocar a
voz” no seu estilo e, muitas vezes, a parte psicológica faz com que se perca todo o trabalho que
ele tem.

É importante observar, no caso de alguns cantores, iniciantes ou não, que se deve,


além de procurar um fonoaudiólogo quando necessitam de reabilitação, realizar
uma avaliação com um psicólogo.

Em geral, deve-se primeiro evitar um abuso vocal, ou ainda o mau uso da voz; por
exemplo, quando o cantor realiza ataques bruscos, a falta de coordenação da respiração, a falta de
ar para impulsionar, falta de apoio, tensões na garganta ou cervical são prejudiciais.
A falta de hidratação causa um ressecamento da mucosa, acarretando, assim, um maior
esforço vocal, um aumento da tensão na garganta e tem-se perda de volume. E quando há
rouquidão, deve-se evitar cantar e fazer repouso vocal.

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A primeira mudança tem que ser do comportamento vocal do cantor. Ele deve observar
o que influencia direta ou indiretamente a sua voz especificamente. Para algumas pessoas, água
gelada faz mal, isso não é uma regra para todos, entretanto tomar algo gelado diminui a circulação
de sangue na garganta. Para alguns, não há sensação diferente. O mel, por exemplo, é benéfico
para a saúde, mas não pode ser usado para a performance. É o mesmo caso do gengibre, que tem
efeito anestésico, faz bem para o corpo, mas, antes da performance, tomar chá de gengibre deve
ser evitado, seu efeito é anestésico. Algumas fórmulas em spray, geralmente, “[...] incluem um
componente analgésico e anestésico que atua como o álcool sobre as paredes da boca e faringe”
(BEHLAU; REHDER, 2009, p. 37).
Por isso, a Fonoaudiologia é voltada para a reabilitação do cantor ou uma habilitação,
propondo esta mudança no comportamento vocal, e o professor de canto vai realizar
posteriormente um treinamento vocal desse cantor.
Após a performance, deve haver o que chamamos de desaquecimento vocal. O cantor
deve continuar hidratando com água e soro fisiológico, realizar bocejos e depois deve ter um
repouso vocal.
É fundamental ter boa alimentação, pois o que comemos influencia diretamente, causando
ou não pigarros, deixando a saliva mais grossa, e conhecer o seu corpo e observar o que lhe
faz mal é importante. Antes de cantar, o cantor deve evitar alimentos com gorduras, chocolates,
alimentos “pesados”. Deve preferir alimentos mais leves, comer maçã; além disso, deve usar
roupas confortáveis, principalmente quando for cantar por um longo período de tempo.

5. AVALIAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DA VOZ CANTADA

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Cada exercício de técnica vocal é pensado para uma finalidade específica, exercícios
de vibração, por exemplo, massageiam as pregas vocais e ajudam a circular o sangue no tecido.
Outros exercícios são pensados para o trabalho da extensão vocal, um “alongamento” da prega
vocal; outros, ainda, para trabalhar o apoio, com sons staccato. Existem diversos exercícios, e
cada professor de canto dentro do seu estilo realizará o mais adequado para aplicar com o cantor
dentro do repertório.
Apresentaremos a seguir um modelo de avaliação vocal usado para uma classificação
vocal com cantor coralista, útil também para cantores.

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Quadro 2 - Instrumento para avaliação vocal. Fonte: Adaptado de Costa (2005).

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Esta ficha de avaliação vocal foi criada a partir de modelos disponibilizados na dissertação
de mestrado Diagnose em canto coral: parâmetros de análise e ferramentas para avaliação, de
Paulo Rubens Moraes Costa (2005).
Nos primeiros campos preenchidos, temos informações importantes, como a idade do
cantor, se é criança, adolescente, adulto ou idoso. Essas características são fundamentais para a
escolha do repertório, e ainda, dependendo da idade do cantor, é necessário verificar se a criança
está passando por muda vocal, ou se o idoso já apresenta algumas dificuldades vocais por conta
da idade, estruturas que devem ser pensadas de acordo com a característica individual.
A experiência com canto nos traz não só se a pessoa fez aula de canto e com qual professor,
mas também outras informações relevantes, como, por exemplo, se cantou em algum grupo de
igreja e, se fez aulas, foi individual ou coletiva?
Saber a preferência musical é importante para detectar outros aspectos vocais, pois em
alguns estilos musicais, muitos tentam “imitar” e “copiar” a forma como o cantor realiza sua
performance vocal. E verificar se há uma preferência por um estilo de música no contexto descrito
pelo aluno leva à procura por uma técnica específica de um estilo musical.
Conseguimos realizar uma classificação da tessitura geral e também da extensão vocal.
Na tessitura geral, registramos todas as notas musicais que a pessoa consegue atingir ao cantar,
por meio de exercícios vocalizes. A extensão vocal é classificada pela qualidade de emissão dos
sons. Por exemplo, o cantor pode atingir até a nota si5, entretanto na sua extensão vocal, é ideal
que cante até sol5. Usamos a clave de sol para escrever as notas para as vozes femininas e a clave
de fá para vozes masculinas, no caso de notação musical.
As regiões de passagens vocais são caracterizadas pelo tipo de classificação vocal e
ajudam a classificar e identificar problemas como “quebras”, reclamações comuns de cantores,

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dependendo da música, quando exige uma grande extensão vocal, pois, muitas vezes, escutamos
“falhas” vocais, ou até mesmo passagens entre registros.
O tom cantado por um cantor não é, e não deve ser, o mesmo tom cantado por todos! O
tom deve ser confortável, em regiões que explorem sua extensão vocal com qualidade. Se o tom
estiver muito agudo ou muito grave, notaremos perdas claras de qualidade vocal ao escutar e,
muitas vezes, subindo ou abaixando um tom ou meio tom, fica ideal para aquela voz.
Após observarmos os aspectos vocais da emissão nessa ficha, observaremos a postura.
Pediremos para o aluno cantar uma música inteira ou um trecho, de preferência com variações de
alturas – podemos pensar em estrofe e refrão; assim, poderemos ter uma ideia em regiões graves,
médias e agudas.
Um item muito importante a ser observado é a respiração. Observar se ela está “alta”, com
ou sem expansão das costelas, ou sem nenhum tipo de movimentação, é necessário para seguir
um trabalho com o cantor.
No item “características vocais”, observamos toda e qualquer qualidade ou modificação
apresentada, desde sonora até o aspecto visual. Externamente, na região do rosto, podemos
observar a articulação: se é precisa em relação às consoantes, como são pronunciadas junto às
vogais, o movimento da língua, se o som é frontal ou não, metálico ou não, nasal, entre outros.
Marcamos os itens que o aluno apresenta com um “x” e, nos outros, escrevemos as demais
características.
Muitas vezes, a falta de percepção musical, a falta da vivência com canto traz problemas
com a afinação, ou outras situações que já tratamos no início da unidade.

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A memória rítmica vem antes da afinação. Quando um bebê pequeno começa a cantar,
é provável que ele cante desafinado “borboletinha tá na cozinha”, e ainda, algumas das sílabas
das palavras, mas não perde a memória rítmica. A prega vocal da criança demora um tempo
para iniciar no canto de fato. É aconselhável que iniciem em corais crianças maiores de 5 anos. E
muitas vezes, não temos coros infantis, temos coros mistos, como “infanto-juvenis”, justamente
pela dificuldade e falta de conhecimento de regentes corais para trabalhar com vozes de crianças
tão pequenas.
Há alguns casos em que o cantor faz uma avaliação vocal para participar em um coral;
muitas vezes, sua classificação não será o naipe que ela irá cantar. Desse modo, podemos
determinar uma “atual classificação vocal” durante um tempo. Isso se deve ao tanto de técnica
que a pessoa já apresenta. A voz pode ser de soprano; entretanto, se a técnica está muito iniciante,
e a coralista realiza esforços vocais, ela pode iniciar cantando algumas músicas do repertório na
voz de contralto, cuja extensão vocal não seja inadequada para ela no momento.
Outras observações podem vir a ser relevantes, inclusive algumas orientações ou
solicitações, qualquer tipo de observação que necessite de tratamento. Explicamos a necessidade
de procurar um otorrinolaringologista para realizar um exame de videolaringoscopia ou
videoestroboscopia para visualizar as condições das pregas vocais, e com o laudo médico, caso
haja fenda, nódulo ou outra alteração, solicitamos imediatamente que procure um tratamento
fonoaudiológico.
Essa avaliação pode ser realizada por profissionais na área do canto e/ou fonoaudiólogos
que trabalham com voz cantada. Música e fonoaudiologia são duas áreas que se complementam,
principalmente no canto, entretanto o fonoaudiólogo faz fonoterapia, de reabilitação ou adequação
vocal do cantor; já o professor de canto ou regente (no caso do canto coral) trabalhará a técnica

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vocal, aspectos musicais e performance dentro do estilo.

6. DIFERENÇA ENTRE VOZ CANTADA E VOZ FALADA


É fundamental compreender que, mesmo falando sobre voz profissional, existem
diferenças entre as atuações. A principal delas é a diferença entre voz falada profissional e voz
cantada profissional.
A primeira diferença é em relação à intenção comunicativa de cada uma, sendo que uma
tem intenção de transmitir uma mensagem através da clareza das palavras, que devem ser bem
articuladas, e essa habilidade é muito menos consciente do que na voz cantada, demonstrando
que, para realizar a atividade de cantar, o sujeito necessita de um mínimo de treino.
O nível de exigência e expectativa sobre as vozes são parâmetros importantes a serem
analisados. A emoção contida nas vozes faladas pode ser manipulada; já as vozes cantadas são
transmitidas pela sensação que o cantor tem naquele momento, o movimento corporal irá conduzir
essa expressão. Veremos então, neste tópico, componentes físicos distintos nessas situações.
O primeiro item a ser diferenciado é a respiração. Na voz falada, a respiração é conduzida
pelas emoções sentidas no momento, na fala a respiração torna-se rápida e bucal enquanto pode
haver aumento no fluxo aéreo e no recrutamento da musculatura torácica quando é preciso
aumentar a intensidade vocal. Já na voz cantada, o acionamento da respiração é previamente
treinado. O cantor pode, em uma música, treinar qual o tipo de respiração usar e em quais
frases vai precisar de uma quantidade maior de ar ou não. A respiração bucal favorece a entrada
rápida do ar, facilitando a performance que precisa de uma resposta rápida dos pulmões e maior
amplitude de movimento, sendo recomendado que o cantor mantenha as costelas abertas.

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Outro parâmetro que pode ser diferenciado é a fonação: na voz falada, ocorrem maiores
ciclos de abertura de prega vocal do que fechamento, provocando mais clareza na produção de
vogais; na voz cantada, a vibração de prega vocal permite a criação de mais harmônicos na voz.
A altura tonal em decibéis da voz falada está em torno de 64 db; este é um dado que
representa a diferença de ressonância e projeção vocal entre voz falada e cantada. No canto,
algumas pessoas são capazes de alcançar 110 db. A projeção da voz falada é amparada pelo
aumento da respiração, abertura de boca e está em nível médio, enquanto na voz cantada a
tendência de uso da ressonância é alta. Com o aprimoramento vocal, o cantor desenvolve técnica
para executar todos os níveis de ressonância, médio, alto e peito, lembrando que, para cada estilo
musical, o cantor desenvolve uma técnica específica e os ajustes vocais são específicos daquele
estilo (BEHLAU, 2010).
Outras características com qualidade vocal, pausa e postura são diferentes na voz falada
e cantada pela exigência que ocorre no canto, enquanto que, na voz falada, não. Os sons de fala
são empregados na voz falada de maneira mais articulada, precisa e ampla, pois o objetivo central
nessa modalidade é ser compreendido quanto às palavras; no canto, a influência da mensagem
passada está nos aspectos melódicos.

6.1 Dinâmica Vocal na Voz Cantada


As características fisiológicas do canto são fundamentais para a prática clínica,
principalmente para o aprimoramento vocal. Muitos autores comparam a atividade de cantar
com exercícios de alta performance, cantores são descritos como atletas da voz. Veremos agora a

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exigência muscular e a dinâmica executadas no canto.
Dois músculos desempenham função determinante na voz: o músculo TA (tiroaritenóideo)
e CT (cricotireóideo). O primeiro corresponde ao corpo da prega vocal e à produção dos sons
graves, é um músculo extremamente fatigável, pois realiza contração lenta. O músculo CT realiza
o alongamento das pregas vocais produzindo os sons agudos, facilitando a produção de uma voz
com a sensação de ressonância mais alta (MARCHESAN; JUSTINO; TOMÉ, 2014).
No canto erudito, por exemplo, a grande maioria das mulheres canta em região aguda,
recrutando mais ainda a participação do músculo CT; neste estilo de canto, normalmente não é
utilizado o microfone, portanto o cantor busca maior projeção vocal para transmitir o canto.

Observe no vídeo Tonos agudos - Músculo cricotiroideo - Cricothyroid


muscle, disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=z5EVVPcv7TY,
a movimentação de pregas vocais. O exame de vídeo de
laringoscopia demonstra o alongamento de prega vocal, portanto
você irá perceber a movimentação dos músculos TA e CT acionados
na realização de som grave e som agudo, respectivamente.

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7. ATUAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA NA VOZ CANTADA


O princípio da atuação fonoaudiológica na voz cantada é a compreensão do que é
música, não se limitando apenas ao conhecimento estético da voz. Somente com esse nível de
conhecimento o fonoaudiólogo será capaz de compreender qual a real necessidade do paciente. A
primeira dificuldade está nas necessidades vocais desse grupo, devido ao maior nível de exigência.
Qualquer desvio pode causar grande impacto sobre a qualidade de vida do sujeito.
Assim como nas demais alterações da voz, a proposta inicial é auxiliar o paciente
a compreender de maneira real o quanto a alteração afeta sua qualidade de vida. Quando
essa concepção é desproporcional ao nível real, o paciente passa a desmerecer o ocorrido ou
superestimar a realidade da alteração. Por isso, o fonoaudiólogo que recebe em seu consultório
um cantor deve se ater a noções específicas, como ser sensível aos problemas mínimos que podem
ser relatados, saber aconselhar e criticar de maneira positiva, melhorar as técnicas já usadas pelo
cantor, manter foco e equilíbrio no sistema pneumofonoarticulatório, explicar detalhadamente
cada exercício, explicar a necessidade de se generalizar o que foi aprendido no dia a dia, estar
atento às evoluções e próximas etapas do tratamento e, por último e não menos importante,
auxiliar o paciente na compreensão de que, mesmo com uma alteração, ele pode manter uma
qualidade vocal no desempenho das suas funções, dentro de suas possibilidades (BEHLAU, 2010).
O próximo passo é ensinar o cantor sobre o aquecimento vocal específico para sua
necessidade, acionando musculatura intrínseca e extrínseca para reduzir tensão, equilibrar
qualidade vocal, melhorar a onda mucosa e aumentar tônus de prega vocal, além de adequar

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postura e preparar o corpo para receber as modificações corretas (MARCHESAN; JUSTINO;
TOMÉ, 2014).
O aquecimento vocal consiste em uma ordem sequenciada de exercícios. O primeiro
exercício é a ativação máxima do músculo tireoaritenóideo com a produção de “a” basal grave
repetida cinco vezes. O segundo exercício é a ação do músculo cricotireóideo, realizando sopro em
som agudo cinco vezes repetidas. O terceiro é a mobilização de mucosa da prega vocal realizada
através da vibração de língua em tom médio e, na sequência, em escala musical, passando para o
quarto exercício de projeção de voz no espaço: a produção de sons fricativos como F/Z/J e, por
último, o quinto exercício, ativando as ressonâncias através da produção de sons nasais M/N/NH
modulados, dissipando a energia. Esse aquecimento vocal é muito importante para a prática da
voz cantada, todos os estilos musicais devem compreender sua importância e nunca devem ser
subestimados (BEHLAU, 2010).
A recuperação de uma disfonia deve seguir o conceito clínico que já aprendemos;
no entanto, na prática da voz cantada, o fonoaudiólogo deve proporcionar ao paciente o
aprimoramento vocal. É nesse sentido que cada estilo musical demanda uma aplicação diferente
para cada um.
Começamos pelo canto popular, nele temos estilos mais conhecidos como o sertanejo. As
características marcantes desse estilo são ressonância nasal e excesso de vibrato. A característica
de qualidade vocal observada é tensa e comprimida. No estilo musical samba e pagode, a
característica principal são as rápidas variações rítmicas e de qualidade. Já o estilo musical rock
requer maior constrição laríngea, qualidade vocal áspera e rouca e o canto de alta intensidade.
Essas infinitas variações fazem com que a atuação fonoaudiológica nestes casos seja de
seleção de quais comportamentos podem ser mantidos e quais devem ser trabalhados. Uma vez
que alguns comportamentos nocivos constituem a característica do cantor, deve ser trabalhada a
resistência vocal correspondente à exigência da sua agenda, principalmente em cantores da noite.
Fatores com articulação podem fazer parte do processo (BEHLAU, 2010).

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Já no canto erudito, as demandas são diferentes. O primeiro passo da terapêutica é a


classificação das vozes femininas, que podem ser soprano, meio-soprano e contralto; as masculinas
são tenor, barítono e baixo. Essa classificação deve ser feita em conjunto com o professor de
canto. Em algumas situações, é possível solicitar a avaliação do otorrinolaringologista, que pode
correlacionar estruturas à classificação.
Nesta população, os cuidados do fonoaudiólogo devem se dividir entre a voz cantada e
falada. É comum encontrarmos alterações em relação à voz falada, pois ela deixa de ser o foco
do cantor. Estudos tentam encontrar ligações entre a voz falada e cantada do cantor lírico, no
entanto não é observada nenhuma influência. É fundamental a troca entre fonoaudiólogo e
professor de canto para que as orientações e o trabalho de ambos entrem em harmonia, seguindo
as mesmas orientações, tomando sempre cuidado para que os exercícios não modifiquem ajustes
já empregados pelo cantor, que é muito sensível a essas mudanças (BEHLAU, 2010).

Montserrat Caballé - O mio babbino caro, disponível em


https://www.youtube.com/watch?v=RxZSP1Dc78Q, é uma apresentação da
cantora Montserrat Caballé interpretando a composição musical O mio babbino
caro do autor Giacomo Puccini. Observem a qualidade vocal da cantora e quantos
ajustes são necessários para desempenhar o canto Lírico. Esta composição
é executada em soprano pela cantora, ou seja, para desempenhar a técnica, é

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preciso estudos e preparo.
Agora veja o vídeo Freddie Mercury - How can I go on, disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=akdAvg8SO1A, em que a mesma cantora
realiza uma performance com o cantor Freddie Mercury. A cantora utiliza
ajustes do canto lírico enquanto o cantor do canto popular, em determinado
momento da performance, utiliza a voz falada, característica do canto popular.
Independentemente das classificações do canto, o preparo vocal se faz necessário
para o bom desempenho e manter a saúde vocal.

Uma ferramenta muito didática para ajudar o cantor a compreender


a alteração em sua voz é a ferramenta de análise acústica da
voz por meio de softwares. Algumas versões estão disponíveis
gratuitamente para download. Veja uma versão disponível em:
http://www.usp.br/gmhp/soft/praat.pdf.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entender o papel de cada profissional no meio da voz cantada é muito importante. As áreas
se completam, por isso é necessário que o cantor tenha um bom otorrino, um bom fonoaudiólogo
e um bom professor de canto.
O médico otorrinolaringologista deve ser consultado em média uma vez por ano, ou
quando o cantor notar perda de agudos ou muita rouquidão frequente. O fonoaudiólogo fará a
fonoterapia, de reabilitação ou adequação vocal, do cantor. Já o professor de canto trabalhará as
questões técnicas na música, de estilo musical e fará manutenção.
Conhecer sua voz, saber o que faz bem para seu corpo e utilizar meios que possam influenciar
diretamente no seu resultado sonoro é fundamental para um cantor, independentemente do nível
musical ou da experiência vocal que ele tenha.
Por isso, as áreas que atuam diretamente com o cantor (música e fonoaudiologia) devem
ter muitas parcerias e integrações. É importante que o professor de canto conheça e saiba trabalhar
a voz do seu cantor, assim como o fonoaudiólogo saiba compreender as ações da voz cantada
para, assim, as áreas trabalharem juntas!
O mais importante para quem quer desenvolver o canto é criar uma disciplina de estudos.
Cada um já traz consigo um nível musical, as vivências anteriores aos seus futuros estudos;
entretanto, há muitas questões fonoaudiológicas e musicais envolvidas para ser um excelente

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cantor.

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