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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..................................................................................... 7
2
2.13 FAMÍLIA E ESCOLA NO DESENVOLVIMENTO DA
APRENDIZAGEM .............................................................................................. 29
3.1 LINGUAGEM............................................................................... 31
3.11 INTERVENÇÕES........................................................................ 48
3
3.12 CONTEXTO ESCOLAR E SOCIAL DAS DIFICULDADES DE
APRENDIZAGEM .............................................................................................. 49
4
6.2.2 MÉTODO FÔNICO ...................................................................... 95
5
11.1 O PROFESSOR ALFABETIZADOR E A SUA FORMAÇÃO
ESPECÍFICA.. ................................................................................................. 123
6
1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
7
2 DEFINIÇÕES DE DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM
8
2002; Morrison, Robertson, Laurie e Kelly, 2002; Elias, 2003; Motta, 2003; Sapienzal
e Pedromônico, 2005).
9
dificuldade de aprendizagem, para prevenir problemas que decorrem dela, seja o
foco da intervenção fatores que antecedem a dificuldade de aprendizagem e
poderiam aumentar a probabilidade de ocorrência da mesma.
É possível afirmar que a dificuldade de aprendizagem está inserida em uma
cadeia de causas e consequências de problemas psicossociais na infância, que
precisam receber a atenção necessária, pois ora funcionam como causa, ora como
consequência de problemas comuns na idade escolar.
Assim, o objetivo do presente trabalho foi realizar uma revisão da produção
científica acerca dos trabalhos publicados na literatura nacional e internacional, por
meio de pesquisas em bases de dados, resumos e artigos científicos, teses e
dissertações sobre dificuldades de aprendizagem, abordando suas definições,
consequências, fatores de risco associados em crianças no início da etapa escolar.
A revisão da literatura visou mapear os estudos que têm sido feitos na área e buscou
procurar como as dificuldades de aprendizagem estão situadas no universo
cientifico.
Um estudo de revisão de literatura sobre o tema se faz necessário na
medida em que a dificuldade de aprendizagem na infância, constituída como um
problema de grande relevância na atualidade, precisa ter seu campo de
investigação teórico sistematizado, a fim de que possa contribuir para pesquisas e
intervenções na área, sempre visando responder às demandas por conhecimentos
advindas dos problemas sociais.
Não há consenso na literatura em relação à definição para as dificuldades
de aprendizagem. Numa perspectiva orgânica, as dificuldades de aprendizagem
são consideradas como desordens neurológicas que interferem na recepção,
integração ou expressão de informação e são manifestadas por dificuldades
significativas na aquisição e uso da audição, fala, leitura, escrita, raciocínio,
habilidades matemáticas ou habilidades sociais (Correia e Martins, 2005; Almeida
e Alves, 2002; Fonseca, 1995; García, 1998).
10
O Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais – DSM IV (1994),
por sua vez, define como transtornos da aprendizagem quando os resultados do
indivíduo em testes padronizados de leitura, matemática ou expressão escrita estão
substancialmente abaixo do esperado para sua idade, escolarização e nível de
inteligência. Já a Classificação de transtornos mentais e de comportamento – CID
10 (1993) denomina dificuldade de aprendizagem como transtornos nos quais as
modalidades habituais de aprendizado estão alteradas desde as primeiras etapas
do desenvolvimento.
Numa perspectiva educacional, as dificuldades de aprendizagem refletem
uma incapacidade ou impedimento para a aprendizagem da leitura, escrita ou
cálculo ou para a aquisição de aptidões sociais (Correia e Martins, 2005).
Ballone (2004) afirma que as dificuldades de aprendizagem não devem ser
tratadas como se fossem problemas insolúveis, mas como desafios que fazem parte
do próprio processo da aprendizagem. Também considera necessário identificar e
preveni-las mais precocemente, de preferência ainda na pré-escola.
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emocional (Yunes e Szymansky, 2001), podendo prejudicar sua adaptação e gerar
uma organização patológica de seus sistemas biológico, emocional, cognitivo,
linguístico, interpessoal e representacional (Cicchetti, Rogosh e Toth citados por
Cicchetti e Toth, 1997).
Contudo, a presença de fatores de risco na vida de um indivíduo não
significa, necessariamente, que ele vá apresentar algum problema no seu
desenvolvimento, uma vez que a vulnerabilidade varia de um indivíduo para outro,
sendo também importante considerar a extensão em que cada pessoa experiencia
os fatores de risco em função de sua história pregressa (Yunes e Szymansky, 2001;
Rutter, 1999).
Análises mais sofisticadas sugerem que o risco é um processo, e que o
número total de fatores de risco a que uma pessoa foi exposta, o período de tempo,
o momento da exposição ao risco e o contexto são mais importantes do que uma
única exposição grave (Engle, Castle e Menon, 1996). No entanto, deve-se levar
em conta não apenas o número de eventos de adversidades, mas como o evento
afetou o indivíduo.
Em contraposição ao risco, existem os fatores de proteção que são
influências ambientais e das características do indivíduo que provocam uma
modificação da resposta aos processos de risco. As funções dos fatores de proteção
são:
• Reduzir o impacto dos riscos;
• Reduzir as reações negativas em cadeia que seguem a exposição
do indivíduo à situação de risco;
• Estabelecer e manter a autoestima e autoeficácia, através de
estabelecimento de relações de apego seguras e o cumprimento de
tarefas com sucesso;
• Criar oportunidades para reverter os efeitos do estresse (Rutter,
1987).
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Tendo em conta a diversidade de trabalhos encontrados, eles serão
agrupados em trabalhos que abordam as dificuldades de aprendizagem como
fatores de risco para desenvolvimentos de problemas psicossociais, trabalhos que
apontam fatores de risco para desenvolvimentos das dificuldades de aprendizagem
e os que não fazem essa diferenciação, apenas associando a dificuldade de
aprendizagem a alguma condição.
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acadêmicas tendem a aumentar a vulnerabilidade para a inadaptação psicossocial,
quando o ambiente familiar está repleto de adversidades, como problemas nos
relacionamentos interpessoais, falhas parentais quanto à supervisão,
monitoramento e suporte, menor investimento dos pais no desenvolvimento da
criança, práticas punitivas e modelos adultos agressivos. E enfatizam a importância
de ações preventivas que envolvam a criança e seu ambiente familiar.
Elias (2003) aponta que o baixo desempenho escolar aparece
frequentemente associado a problemas socioemocionais, o que constitui um fator
de risco para distúrbios psicossociais na adolescência e que indivíduos com
problemas dessa natureza apresentam déficits em habilidades de solução de
problemas interpessoais e problemas de comportamento. Motta (2003) também
aponta que a associação entre dificuldade de aprendizagem e problemas de
comportamento tem sido objeto de estudo por constituir fator de risco ao
desenvolvimento das crianças.
Segundo Bianchi (2005), a manifestação simultânea de dificuldades
comportamentais e escolares amplia a possibilidade de problemas nos contextos
social e acadêmico, com prejuízo nos relacionamentos interpessoais e interferência
no ajustamento social, favorecendo a tendência ao isolamento social, com risco de
comportamento antissocial. Além disso, as dificuldades de aprendizagem e a
percepção de limitações quando comparadas ao grupo de iguais leva as crianças a
apresentarem sentimentos de menos valia e impotência.
O trabalho de Barrera e Maluf (2003) aponta correlações significativas entre
os níveis iniciais de consciência fonológica e o desempenho acadêmico de crianças.
A consciência fonológica refere-se à capacidade da criança em reconhecer que o
que ela escreve é aquilo que verbaliza. Constitui uma capacidade que é adquirida
normalmente pela criança ao longo de seu desenvolvimento. Porém, a literatura
mostra que a não aquisição da consciência fonológica contribui para o
desenvolvimento de dificuldades na leitura e escrita (Barrera e Maluf, 2003;
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Capovilla e Capovilla, 2000; Santos, 1996), ou seja, ela pode ser considerada como
um fator de risco.
Carneiro, Martinelli e Sisto (2003) buscaram verificar diferenças
significativas entre os níveis de dificuldade de aprendizagem na escrita e o
autoconceito geral, escolar, social, familiar e pessoal de crianças no Ensino
Fundamental. Os resultados evidenciaram que a dificuldade de aprendizagem na
escrita está significativamente relacionada com o autoconceito geral e com o
escolar, verificando-se que conforme aumenta o nível de dificuldade de
aprendizagem na escrita diminui o autoconceito.
15
O ambiente escolar é um contexto em que o senso de eficácia é
constantemente testado e construído, principalmente na relação do aluno com o
professor, funcionários e colegas.
Resenthal e Jacobson (1968) fizeram um estudo em que professoras foram
levadas a acreditar que alguns de seus alunos deveriam apresentar grande
progresso escolar ao longo do ano e esses alunos realmente mostraram tais
progressos. Os autores sugerem que a explicação para tal resultado está na sutil
interação entre o professor e seus alunos: o tom de voz, a postura, a expressão
facial seriam os meios através dos quais, involuntariamente, o professor comunica
suas expectativas aos seus alunos e essa comunicação contribui para o aluno
construir a concepção de si. Assim, é possível que o aluno vá mal porque é isso que
se espera dele, ou seja, a expectativa negativa do professor pode constituir um fator
de risco para o desempenho acadêmico dos alunos.
16
Marturano, 2004; Medeiros, Loureiro e Marturano, 2003; Carneiro, Martinelli e Sisto,
2003; Jacob, 2001; Loureiro, 2000; Medeiros, 2000; Bandura, 1989).
Bianchi (2005) traz que o prejuízo no autoconceito torna-se maior diante da
sobreposição de dificuldades de aprendizagem e de comportamento, isso porque a
criança que apresenta essa combinação de fatores tem mais dificuldade em
construir confiança em si mesma.
Giurlane (2004) afirma que a influência do ambiente familiar é significativa
tanto sobre problemas de comportamento como sobre dificuldades no aprendizado
acadêmico. As crianças que não vão bem na escola sofrem uma pressão criada por
uma rede de pessoas significativas em suas vidas e da sociedade em geral.
Muitas são as causas que podem levar uma criança a ter problemas na
aprendizagem. Causas que, se não tratadas, podem contribuir no aumento dessas
dificuldades agravando ainda mais esses problemas.
Alguns fatores que podem causar dificuldades na aprendizagem podem
surgir de muitas formas como por: motivos físicos, que podem atingir uma criança
no seu estado anormal de saúde; motivos neurológicos, aqueles que atingem o
sistema nervoso; motivos sensoriais, os que atingem os órgãos dos sentidos;
motivos emocionais, que afetam a personalidade de uma criança através das
emoções e dos sentimentos; os motivos educacionais, que afetam o processo
educativo; o motivo intelectual e cognitivo, que podem afetar a inteligência de uma
criança, entre outros motivos que podem repercutir no desenvolvimento educativo
de um indivíduo, originando distúrbios que contribuem para diferentes problemas de
aprendizagem.
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O ambiente escolar pode favorecer de maneiras diversas o
desenvolvimento do sujeito. Assim, acerca do papel da escola como alienante ou
libertadora, no que diz respeito ao desenvolvimento citado, afirma Pain (1992, p.
12):
18
Algumas crianças não aprendem pelo fato de, muitas vezes, não serem
aceitas ou motivadas, por serem crianças que têm problemas de aprendizagem. De
modo que isso não significa que elas sejam incapazes de aprender ou de se
desenvolverem. Geralmente essas dificuldades levam uma criança a não aprender,
por não possuírem uma maior de assimilação de um determinado assunto, no
entanto, podem se desenvolver em outras coisas. Quando uma criança não é
compreendida diante de seus encalços, a mesma passa a ser cobrada pelos
familiares e professores. Esta cobrança pode prejudicar ainda mais o estímulo da
mesma. Uma criança não tem dificuldades de aprendizagem pelo fato de ela querer
ou desejar, mas por motivos e consequências que geralmente surgem dentro de
casa, problemas que podem afetar primeiramente o seu desenvolvimento
psicológico, trazendo consequências que visam a ocasionar os encalços no
aprender.
Os problemas de comunicação com os colegas e professores, de atenção
de ansiedade, podem levar a criança a não se desenvolver na escola. Um trabalho
de ajuda, de compreensão sensível do que esta criança sofre, é um elemento muito
importante para a ação pedagógica. Se esta relação de ajuda não for algo presente,
uma relação que possa surgir primeiramente da compreensão e do estímulo dos
familiares e professores responsáveis pelo educando, isso poderá fazer com que
essas crianças em déficit de aprendizagem não sintam-se capazes nas suas
atividades escolares, pois o estímulo a compreensão e a motivação de ambas as
partes, escola e família, pode fazer a diferença na vida de crianças nas situações
de exíguo educacional.
19
2.6 COMO COMPREENDER QUE AS CRIANÇAS PASSAM POR
DIFICULDADES?
20
Observando esses pontos torna-se mais fácil perceber quando um aluno
tem problemas na aprendizagem. O momento da identificação do problema é
fundamental para se estabelecer um diálogo com o aluno e a família, procurando a
melhor resolução para o problema. Segundo Dockrell (2000, p. 15):
21
Toda criança já nasce com uma abertura para o saber, e essa sabedoria é
desenvolvida com o seu crescimento, a escola só vem complementar esse
desenvolvimento na vida de uma criança em todas as áreas de sua vida. Isso não
significa que quando uma criança tem dificuldades de aprendizagem ela não possa
aprender. O desenvolvimento pode ser de maneira lenta, mas que venha a trazer
para o aluno a meta escolar esperada, pois com as estratégias adequadas às
necessidades identificadas esse processo se torna viável (Oliveira, 20014).
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Desta forma, segundo Enricone e Goldberg (2007), trabalhar a inclusão
dessas crianças que apresentam uma série de dificuldades, valorizando seu
potencial positivo, através da compreensão e paciência por parte de profissionais e
família é fundamental para que estas se tornem adultos bem-sucedidos (Oliveira,
20014).
2.9 APRENDIZAGEM
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no desafio de ensinar, onde todos têm papéis importantes, o professor sendo a
figura fundamental, assim como o colega de classe, o planejamento das atividades,
sendo a escola o lugar da construção humana.
Outro ponto importante para a aprendizagem, segundo Bock, Furtado e
Teixeira (2008), que é complexo para a psicologia é a motivação, que esta atribuída
na aprendizagem tanto à facilidade quando à dificuldade de aprender. Onde a
motivação possui três tipos de variáveis: o ambiente; as forças internas do indivíduo
(necessidade, desejo, vontade, interesse, instinto) e o objeto que atrai o indivíduo
por ser fonte de satisfação de fator interno que o mobiliza.
A teoria bioecológica de Bronfenbrenner destaca muitas influências sobre a
aprendizagem, citando a autoconfiança da criança, onde crianças com sentimentos
de auto eficiência se esforçam mais conseguindo se destacar; os estilos parentais,
com pais que propiciam ambiente propício para o estudo, auxiliando positivamente
nas tarefas, o nível sócio econômico, sendo este um fator de importante influência,
o sistema educacional e a cultura são fatores que contribuem para o sucesso ou
fracasso no desenvolvimento escolar. (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2010).
Um ponto importante é apresentando por Carvalho (2011), sobre a
deficiência e a dificuldade de aprendizagem, pois segundo o autor, a presença de
deficiência não implica necessariamente em dificuldade de aprendizagem, no
entanto inúmeros alunos apresentam distúrbios de aprendizagem e não são
portadores de deficiência. Verifica-se então, segundo Carvalho (2011), que ambos
os grupos têm a necessidade de uma educação especial e da utilização de recursos
que auxiliem o desenvolvimento, pois segundo as estatísticas há um grande número
de alunos com dificuldades de aprendizagem sem que portem qualquer deficiência
mental, física, sensorial ou múltipla.
Sendo assim, segundo Furtado (2010), aprendizagem é um processo
complexo, pois envolve a pessoa em todas as suas dimensões: afetiva, cognitiva e
psicossocial, implicando em mudanças de formas de comportamentos anteriores,
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se estabelecendo em alguns casos como um risco ou ameaça. Quanto a risco o
autor esclarece que a aprendizagem gera o risco de não se dar conta ou não ser
bem-sucedido, e para isso se faz necessária a ação motivadora do professor para
impulsionar a vontade de aprender.
Furtado (2010) cita o DPA, ou seja, disposição para aprender, colocando
que este é o estado emocional em que se encontra uma pessoa diante de uma
situação de aprendizagem, e que pode ser favorável ou desfavorável. Dependendo
assim de três fatores principais: momento de vida da pessoa, a história pessoal de
aprendizagem e a percepção do contexto da aprendizagem.
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• Fatores relacionados com a escola. Para Rotta (2006), nesses
fatores estão envolvidas desde as condições físicas do ambiente, as
condições pedagógicas e condições do corpo docente no que se
refere a motivação, dedicação, qualificação e remuneração
adequadas.
• Fatores relacionados com a família. Sendo que a família também
deve oferecer condições para o sucesso da aprendizagem, onde
fatores como alcoolismo, drogadição, pais desempregados ou
comportamento antissocial atingem diretamente a criança. (ROTTA
2006).
• Fatores relacionados com a criança. Rotta (2006) aponta a
necessidade de distinguir os problemas físicos em geral, dos
problemas psicológicos e problemas neurológicos.
Neste contexto, Rotta (2006) considera que para atender crianças com
dificuldades para a aprendizagem se faz necessária uma equipe multidisciplinar,
que possa entender a criança como um ser global, e não dividida em pequenas
partes, avaliadas e tratadas de forma isolada. Sendo assim, para o diagnóstico
devem ser considerados os seguintes fatores: fatores orgânicos, fatores específicos
de adequação percepto-motriz e fatores psicogênicos e fatores ambientais.
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termo geral que se refere a um grupo heterogêneo de desordens manifestadas por
dificuldades significativas na aquisição e utilização da compreensão auditiva, da
fala, da escrita, da leitura e do raciocínio matemático.
Sisto (2001) ressalta que vez ou outra as pessoas sentem algum tipo de
dificuldade para aprender alguma coisa durante a vida escolar. Algumas superadas
e outras pela pouca importância dada àquele conteúdo passam despercebidas,
assim, as razoes das dificuldades de aprendizagem foram e são identificadas por
diferentes critérios, que implicam em distintas definições sobre o que realmente
poderia ser considerado como dificuldades de aprendizagem. Desta forma segundo
Sisto (2001), crianças defasadas em sala de aula, em idade ou em determinadas
matérias especificas, que indicam ser crianças mais lentas do que as demais, ou
com comportamento inadequado, podem estar na origem da classificação de
crianças com dificuldades de aprendizagem.
No Brasil não há estatísticas sobre o fato, porém a quantidade de crianças
que não se alfabetizam nem na primeira, nem na segunda série estava estimada
em torno 60%, sendo que o ciclo básico e a proposta de não avaliação até a quarta
série do Ensino Fundamental retardou esta estatística. Desta forma crianças que
não foram alfabetizadas, mas não apresentam dificuldades de aprendizagem,
podem estar produzindo o sintoma por causa do processo pelo qual estão
passando. (SISTO,2001).
De acordo com Sisto (2001), para muitos autores, dificuldades de
aprendizagem significam em qualquer dificuldade observável vivenciada pelo aluno
ao acompanhar o ritmo de aprendizagem dos colegas da mesma idade,
independente do fator determinante da defasagem. Desta forma, são caracterizados
como dificuldades de aprendizagem problemas situacionais de aprendizagem
problemas de comportamento, problemas emocionais, de comunicação, físicos e
problemas múltiplos (SISTO, 2001).
27
Para Santo e Marturano (1999), as dificuldades de aprendizagem são
visualizadas como uma condição de vulnerabilidade psicossocial, pois a criança
com dificuldades de aprendizagem pode desenvolver sentimento de inferioridade e
baixa autoestima. Sendo que as dificuldades de aprendizagem são frequentemente
acompanhadas de déficits em habilidades sociais e problemas emocionais ou de
comportamento.
Sisto (2001) coloca que as dificuldades de aprendizagem podem somente
ser entendidas em sua complexa interação com fatores intra e extraescolares.
Requerem intervenções tanto no âmbito do aluno, quanto nas praticas pedagógicas,
formação de professores, e mudanças de natureza política, econômica e social.
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psicológico tem como queixa problemas de escolarização, sendo que metade das
crianças encaminhadas eram ingressantes cujos professores acreditavam ter
problemas de aprendizagem. Onde Souza (1997), que um certo olho clinico do
professor, já representa o início da responsabilização do aluno pelas dificuldades
de aprendizagem.
Sendo desta forma a queixa escolar a principal causa de encaminhamentos,
Souza (1997) enfatiza em sua pesquisa que ao analisar a faixa etária das crianças,
os problemas se apresentam tanto no início do processo de aprendizagem, mas
também em sua continuidade, e com aquelas que estão repetindo o ano. Souza
(1997) cita que quando as crianças se encontram no início da alfabetização, essas
dificuldades podem significar um conjunto de expectativas escolares em relação ao
aluno, então todo aluno que se desviar do padrão pode ser visto como um problema
potencial.
Assim, a base do atendimento psicológico para crianças com queixas de
dificuldade de aprendizagem baseia-se na entrevista inicial e anamnese, aplicação
de testes, encaminhamento psicoterapêutico e orientação aos pais. É importante
também não olhar a queixa escolar como responsabilidade única da criança
encaminhada e não considerar o fracasso escolar apenas como processo
emocional, sendo necessária a prática de um conjunto de avaliações, desde o
social, cultural, passando pelo psíquico, compreendendo a dificuldade apresentada,
para se ter um diagnóstico seguro (SOUZA, 1997).
29
a ampliação dos modelos de relação entre os dois ambientes. Segundo Polonia e
Dessen (2005), família e escola são duas instituições fundamentais para
desencadear os processos evolutivos, e podem atuar tanto como propulsores
quanto como inibidores do crescimento físico, social e intelectual da criança.
Quanto ao papel da família, Polonia e Dessen (2005) ressaltam que a
família pode impulsionar a produtividade escolar e o aproveitamento acadêmico,
mas também o seu distanciamento pode provocar o desinteresse e a desvalorização
da educação. Embora a família seja apontada como uma das variáveis responsável
pelo fracasso escolar é inegável sua contribuição no desenvolvimento da
aprendizagem. Desta forma as autoras apontam que os recursos psicológicos,
sociais, econômicos e culturais dos pais se tornam aspectos fundamentais para o
desenvolvimento humano.
Desta forma para Polonia e Dessen (2005), quando família e escola mantêm
boas relações maximizam o desenvolvimento e aprendizado da criança. Para tanto,
a escola deve reconhecer a importância da colaboração dos pais auxiliando as
famílias a exercerem seu papel na educação.
30
3.1 LINGUAGEM
31
No desenvolvimento da linguagem, duas fases distintas podem ser
reconhecidas: a pré-lingüística, em que são vocalizados apenas fonemas (sem
palavras) e que persiste até aos 11-12 meses; e, logo a seguir, a fase lingüística,
quando a criança começa a falar palavras isoladas com compreensão.
Posteriormente, a criança progride na escalada de complexidade da expressão.
Este processo é contínuo e ocorre de forma ordenada e seqüencial, com
sobreposição considerável entre as diferentes etapas deste desenvolvimento
(Costa DI, 2002).
32
Fonte: Costa DI (2002).
33
A intenção de comunicar-se pode ser demonstrada de forma não-verbal
através da expressão facial, sinais, e também quando a criança começa a
responder, esperar pela vez, questionar e argumentar. Essa competência
comunicativa reflete a noção de que o conhecimento da adequação da linguagem
a determinada situação e a aprendizagem das regras sociais de comunicação é tão
importante quanto o conhecimento semântico e gramatical (Nogueira S, Fernández
B, 2000).
34
porção inferior do lobo frontal, e convertida nos padrões de ativação neuronal
necessários à produção da fala. Também estão envolvidas na linguagem áreas de
controle motor e as responsáveis pela memória (Kandel DB, 1997).
O cérebro é um órgão dinâmico que se adapta constantemente a novas
informações. Como resultado, as áreas envolvidas na linguagem de um adulto
podem não ser as mesmas envolvidas na criança, e é possível que algumas zonas
do cérebro sejam usadas apenas durante o período de desenvolvimento da
linguagem (Casas-Fernández C, 2000).
Acredita-se que o hemisfério esquerdo seja dominante para a linguagem
em cerca de 90% da população; contudo, o hemisfério direito participa do
processamento, principalmente nos aspectos da pragmática (Geschwind N, 1995).
35
Fonte: Caputte AJ (1991).
36
A afasia epiléptica adquirida é caracterizada pela deteriorização da
linguagem na infância associada a crises ou atividade eletroencefalográfica
epileptiforme anormal. Esse tipo de afasia muitas vezes é confundido com síndrome
autística ou deficiência auditiva. Além da deteriorização da linguagem e da agnosia
auditiva, observam-se alterações de comportamento, incluindo traços autistas. Por
isso, devemos estar atentos a qualquer criança que apresente regressão de
linguagem, devendo esta ser avaliada cuidadosamente (para que seja feito um
diagnóstico diferencial) e encaminhada para o tratamento adequado (Ribeiro KMN,
2002).
37
Fonte: Undheim AM (2003)
38
aspectos cognitivos e emocionais do desenvolvimento, que poderão indicar ou não
a severidade do caso, bem como a necessidade de orientação especializada à
família e/ou terapia fonaudiológica (Becker F, 1995).
Sabe-se que a estimulação precoce da linguagem pode prevenir distúrbios
de aprendizagem, dislexia e problemas de desenvolvimento. Pesquisas vêm
demonstrando a importância dos 3 primeiros anos de vida no desenvolvimento do
cérebro humano (Tedesco MRM, 1997).
São princípios básicos da intervenção na criança a avaliação do
desenvolvimento da linguagem em todos os seus níveis, a orientação à família e
escola e a terapia propriamente dita. Esta pode ser dividida em terapia da fala (onde
serão abordados objetivos como desvios fonéticos e fonológicos), terapia de voz
(disfonias), terapia de motricidade oral (distúrbios de alimentação, respiração e
mobilidade de órgãos fonoarticulatórios), terapia de linguagem oral (onde o enfoque
pode estar centrado na expressão e/ou recepção de linguagem) e terapia de
linguagem escrita (dislexias, disortografias e disgrafias) (Becker F, 1995).
Todas as atividades de estimulação dentro da terapia fonoaudiológica
infantil devem ser realizadas de forma lúdica, através de jogos e brincadeiras, para
que a criança sinta prazer nas técnicas propostas. Também é recomendável
envolver a família e, quando necessário, a escola (Landry SH, 2010).
A estimulação através de canto, conversa, brincadeiras e leitura propicia a
aquisição de habilidades que favorecem o desenvolvimento. Para que comece a
ocorrer um processo de comunicação, a criança deverá se sentir motivada. Deverá
existir o que se chama de intenção comunicativa (através da fala serão conseguidos
objetos de interesse da criança). Este aspecto surge através do contato diário com
as pessoas e da estimulação que essa interação propicia. Também devemos
considerar a importância da amamentação materna, alimentação com textura e
consistência adequadas nas diferentes fases e a não-existência de hábito de sucção
de dedo ou chupeta além dos 2 anos. Todos esses fatores contribuem para uma
39
musculatura orofacial adequada à produção da fala. A família tem papel
fundamental na estimulação da linguagem, e cabe ao médico e/ou terapeuta
envolvê-la ou permitir envolver-se pela família (Shaywitz SE, 2003).
40
e a expressão da linguagem escrita necessita da ativação do córtex motor primário
e da área de Broca. Para todo este processo ocorrer, é importante que as fibras de
associação intra-hemisféricas estejam intactas (Kandel DB, 1997).
Em uma pesquisa, observou-se ativação cerebral de pessoas normais
durante a leitura de pseudopalavras nas seguintes regiões: região frontal inferior
esquerda; região parietotemporal, envolvendo os giros angular, supramarginal e a
porção posterior de giro temporal superior; e regiões occipitotemporais, envolvendo
porções mesiais e inferiores do giro temporal e giro occipital. O mesmo estudo foi
realizado em disléxicos, sendo constatado um aumento de ativação no giro frontal
inferior e pouca ativação em regiões posteriores (Shaywitz SE, 1998).
Pesquisadores relatam que, em relação aos mecanismos neurológicos das
dificuldades de leitura, alterações referentes à assimetria hemisférica geram uma
organização atípica do hemisfério direito em crianças e adolescentes com dislexia
(Hayes EA, 2003).
Disléxicos apresentam uma desconexão temporo-parieto-occipital e uma
desconexão com o córtex frontal esquerdo, assim como anormalidades do córtex
têmporo-parietal e do cerebelo em relação a outras regiões do cérebro (Medow N,
2003).
41
das dificuldades de aprendizado da linguagem. Ressalta-se que, entre as alterações
de linguagem oral existentes na infância, são as dificuldades fonológicas, e não as
articulatórias, que podem ocasionar prejuízos no aprendizado posterior da leitura e
da escrita (Spreen O, 1995).
3.11.1 DISLEXIA
42
Sendo considerada uma alteração de aprendizagem, a dislexia caracteriza-
se por dificuldades específicas na realização da leitura e da escrita, havendo, de
maneira geral, dois tipos de dislexia: a dislexia de desenvolvimento e a dislexia
adquirida (Ciasca AS,1995).
A primeira refere-se a alterações no aprendizado da leitura e escrita com
origem institucional, ou seja, ambiental, referente à forma de aprendizado escolar.
Nesses casos, ocorre diminuição da capacidade de leitura associada a disfunção
cerebral, havendo uma alteração específica na aquisição das habilidades de leitura
e conseqüente dificuldade no aprendizado da leitura. Existem autores que
consideram fatores genéticos como uma das causas de dislexia de
desenvolvimento. Já na dislexia adquirida, o aprendizado da leitura e da escrita, que
foi adquirido normalmente, é perdido como resultado de uma lesão cerebral (Medow
N, 2003).
Vários são os fatores ainda em estudo que descrevem as causas da dislexia
de desenvolvimento entre eles, déficits cognitivos, fatores neurológicos
(neuroanatômicos e neurofisiológicos), prematuridade e baixo peso ao nascimento,
influências genéticas e ambientais. Sabe-se, porém, que fatores externos
(ambientais) não podem ser separados de problemas neurológicos, visto que
aspectos tais como instrução inadequada, distúrbios emocionais e pobreza de
estímulos na infância podem causar diferenças no desenvolvimento neurológico e
cognitivo que precedem dificuldades severas de leitura (Landry SH, 2002). As
dislexias podem ser divididas em dois tipos: central e periférica (Tabela 4). Na
primeira, ocorre o comprometimento do processamento lingüístico dos estímulos,
ou seja, alterações no processo de conversão da ortografia para fonologia. Na
segunda, ocorre o comprometimento do sistema de análise vísuo-perceptiva para
leitura, havendo prejuízos na compreensão do material lido. Entre as dislexias
centrais, ressaltam-se a fonológica, a de superfície e a profunda; já as dislexias
43
periféricas incluem a dislexia atencional, a por negligência e a literal (pura) (Capellini
AS, 2000).
Em relação às dislexias de desenvolvimento, as mais comuns são a dislexia
fonológica e a de superfície, já mencionadas anteriormente, e a dislexia semântica.
Esta se caracteriza pela preservação da leitura em voz alta, sem erros de
decodificação (fonema-grafema), porém com pobreza na compreensão da escrita
(Van der Schoot M, 2002).
44
Várias pesquisas vêm fornecendo evidências de déficits fonológicos em
dislexias de desenvolvimento. No entanto, recentes estudos demonstraram a
existência de múltiplos déficits de processamento temporal nas dislexias. De fato,
disléxicos mostram anormalidades visuais e auditivas que podem resultar de
problemas generalizados na percepção e na seleção de estímulos. Crianças com
dislexia apresentam alterações auditivas e visuais referentes à orientação espacial.
Esses achados sugerem que déficits na atenção da seleção espacial podem
desorganizar o desenvolvimento de representações fonológicas e ortográficas que
são essenciais para o aprendizado da leitura (Ramus F, 2003).
Em uma pesquisa realizada pelo Institute of Cognitive Neuroscience
(Londres), foram investigados 16 disléxicos adultos e 16 controles através de uma
bateria de testes psicométricos, fonológicos, auditivos, visuais e cerebelares. Dados
individuais revelaram que todos os disléxicos apresentaram déficits fonológicos, 10
mostraram déficits auditivos, quatro tinham déficits motores, e dois tinham déficits
visuais. Esses achados sugerem que déficits fonológicos podem aparecer na
ausência de qualquer outra alteração motora ou sensorial e são suficientes para
causar um prejuízo significativo, como foi demonstrado em cinco dos 16 disléxicos
(Breier JI, 2003).
45
referentes ao processamento auditivo do lobo temporal dessas crianças. Os
resultados da pesquisa não indicaram um déficit nas funções temporais auditivas
em crianças com dificuldades de leitura, mas sugeriram que a presença de déficit
de atenção e hiperatividade é um fator significante na performance de crianças com
dificuldades de leitura (Downie AL, 2003).
Outra pesquisa realizada na Holanda (Department of Special Education,
Vrije Universiteit, Amsterdã) mostrou que os déficit inibitórios em disléxicos lexicais
podem ser atribuídos a disfunções em estruturas cerebrais fronto-centrais
envolvidas em inibições motoras, sugerindo que possa haver uma associação entre
dislexia lexical e déficit de atenção/hiperatividade, já que os dois grupos apresentam
disfunção executiva (Ramus F, 2003).
46
3.11.4 INFLUÊNCIAS GENÉTICAS NA DISLEXIA
47
a alterações ortográficas na escrita das palavras não esperadas para determinada
faixa etária e escolaridade. A disgrafia e a disortografia podem estar associadas ou
não às dislexias.
3.11 INTERVENÇÕES
48
aprendizado da leitura, como percepção vísuo-espacial, habilidades psicomotoras,
etc (Salles JF, 2003).
Todas as atividades de estimulação da linguagem escrita devem ser
realizadas de forma lúdica, através de jogos e brincadeiras, para que a criança sinta
prazer em ler e escrever. Em casa, o estímulo deve ser iniciado com a leitura de
histórias infantis pelos pais para os filhos, a estimulação de jogos de rimas, que
ajudam na consciência fonológica, jogos com letras e desenhos, para a criança já ir
se familiarizando com a escrita, leitura de rótulos e propagandas enfim, nunca se
deve obrigar uma criança a ler um livro, e sim fazê-la ter vontade de ler e conhecer
a sua história (Capellini AS, 2000).
49
socialização, tendo menos habilidades sociais, problemas estes que persistem por
toda a vida acadêmica. Estas crianças tendem a atribuir o fracasso a fatores
internos e o sucesso a fatores externos.
Desta forma, segundo Enricone e Goldberg (2007), trabalhar a inclusão
dessas crianças que apresentam uma série de dificuldades, valorizando seu
potencial positivo, através da compreensão e paciência por parte de profissionais e
família é fundamental para que estas se tornem adultos bem-sucedidos.
50
estudo (o processo de aprendizagem) e de recursos diagnósticos,
corretores e preventivos próprios.
53
família, testes psicomotores, lateralidade, estruturas rítmicas, dentre outros, com a
finalidade de reunir a maior quantidade de dados possíveis para serem analisados
(BOSSA, 2011).
A entrevista e a anamnese consistem num roteiro de perguntas e
observações sobre cada caso, e configuram-se como o primeiro passo para a
realização de uma avaliação psicopedagógica, pois é através desses instrumentos
que o psicopedagogo busca identificar os principais fatores responsáveis pelas
dificuldades de aprendizagem enfrentadas pelas crianças. Já os demais tipos de
testes aplicados, a exemplo do TAT, trabalham numa perspectiva mais subjetiva,
utilizando a técnica de interpretação de figuras por meio da contação de histórias,
como o objetivo de conhecer determinadas da personalidade do indivíduo (COLL;
MARTIN, 2006).
Observa-se que o objetivo maior do diagnóstico está para além de
simplesmente descobri o que existe por trás das dificuldades de aprendizagem de
uma criança, pois conforme destaca Bossa (2011), independentemente dos fatores
que estão interferindo no processo de ensino-aprendizagem desse aluno, faz-se
necessário que a escola proporcione a elas não somente o acesso à educação, mas
também o seu acesso e permanência.
Após serem diagnosticadas, essas crianças necessitam fazer um
acompanhamento com uma equipe multiprofissional. No caso do psicopedagogo,
pode-se afirmar que ele é um profissional indispensável nesse processo, uma vez
que as crianças pequenas demandam necessidades educacionais que envolvem as
esferas cognitivas, afetivas e sociais, necessitando assim de um acompanhamento
individualizado, incluindo também o apoio à família, pois embora sejam esferas que
necessitam caminhar juntas, possuem suas especificidades:
54
Compreende-se do exposto a necessidade de tanto os alunos quanto as
famílias possuírem orientação quanto aos motivos que ocasionam as dificuldades
de aprendizagem, assim como conhecer e desenvolver estratégias para o
enfrentamento desses problemas, buscando, assim, melhor atender e contribuir no
processo de inclusão desses alunos no ambiente escolar.
Sabe-se ainda que as primeiras experiências da vida de uma criança se dão
no contexto familiar. Por isso, se torna imprescindível que estas primeiras
aprendizagens se desenvolvam num ambiente propício para o desenvolvimento
afetivo e para a busca da autonomia das crianças, uma vez que estas primeiras
experiências e emoções interferem diretamente na construção da identidade da
criança e na forma como ela vai encarar o ambiente escolar, que, na maioria das
vezes, é o primeiro contato da criança com a sociedade fora do ambiente familiar
(SOARES, 2010).
55
especiais no país teve um aumento significativo. Conforme o Censo Escolar do
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio TeixeiraINEP, o número de alunos
matriculados nas escolas subiu de 114.834 para 750.983, somente no período de
2005 a 2015 (INEP, 2016).
Tal fato, segundo as pesquisas do INEP, se justifica pelas mudanças na
legislação brasileira, a exemplo da Política Nacional de Educação Especial na
perspectiva da Educação Inclusiva (2008), que dentre outras prerrogativas reafirma
a educação como um direito inalienável das pessoas consideradas público-alvo da
educação especial (BRASIL, 2008).
Entretanto, é válido afirmar que foi a necessidade de incluir esses alunos
que a princípio gerou a discussão sobre a inclusão escolar como um direito de todos
os alunos, dentre eles aqueles considerados público-alvo da educação especial, ou
seja, discentes com deficiência (física, intelectual, visual, auditiva e múltipla),
transtornos de neurodesenvolvimento, a exemplo do Transtorno do Espectro Autista
(TEA) e Altas habilidades/superdotação, conforme enfatiza a Política Nacional de
Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008).
Assim sendo, a escola inclusiva, defendida pela legislação desde a década
de 1990, deve ser aquela capaz de:
Pode-se inferir que com esta nova tarefa, a escola demanda por
profissionais que estejam capacitados para acolher a diversidade existente em sala
de aula. No caso específico de crianças na educação infantil, sobretudo as que
possuem necessidades educacionais especiais, necessitam realizar o
acompanhamento com o psicopedagogo, a fim de auxiliar no desenvolvimento de
56
suas potencialidades, considerando que na realidade de muitas instituições, este é
o único profissional que além dos docentes e gestores, compõe a equipe
pedagógica.
Sabe-se é na infância que a criança pequena inicia seu processo de
aquisição do conhecimento nas mais diversas áreas, vivenciando situações que
interferem direta e indiretamente em sua aprendizagem. Sobre essa questão,
concorda-se com Relvas (2008), quando afirma que:
57
5 O PAPEL DA LINGUAGEM NO DESENVOLVIMENTO E NA
APRENDIZAGEM
Fonte: MattLphotography/Shutterstock.com.
58
na intercomunicação social para expressar e comunicar ideias e sentimentos, isto
é, conteúdos da consciência.
Assim, quando o indivíduo se vale das palavras, expressando-as de modo
oral ou por meio da escrita, está empregando a linguagem verbal. Segundo Fiorin
(2002), a linguagem verbal é, portanto, o produto do pensamento como meio de
comunicação. Ela está intrinsecamente relacionada às sociedades e comunicações,
a linguagem é usada para exprimir emoções, sentimentos, ideias de cunho
subjetivo, formulada por meio da leitura de mundo entremeada pela realidade
contextual, onde o falante está inserido.
Partindo desse pressuposto, podemos facilmente constatar que a
linguagem vai muito mais além de uma comunicação verbal. Até mesmo um silêncio
é um modo de comunicação. Ao transitarmos por uma cidade, teremos outdoors
nos transmitindo algo por meio de imagens, semáforos nos informando por meio de
cores, símbolos em um hospital que nos informam mensagens tais como “silêncio”,
“não fume”, e assim por diante. Para que possamos exemplificar os diferentes
modos de expressão, apresentaremos algumas imagens que representam um tipo
de linguagem (LEITURA..., 2011).
O alfabeto em Braille (Figura 2) é utilizado por deficientes visuais. É formado
por meio de combinações de seis pontos que fazem a composição da cela Braille,
organizada por meio de duas colunas e três linhas de pontos, de cima para baixo e
da esquerda para direita, cuja forma em relevo representa uma letra ou pontuação
(NICOLAIEWSKY; CORREA, 2008).
59
Figura 2 - Alfabeto em Braille.
Fonte: Pyty/Shutterstock.com
60
Fonte: CHM3N/Shutterstock.com
61
Fonte: Ali Ozgon/Shutterstock.com
62
Fonte: Germán Ariel Berra/Shutterstock.com.
63
Fonte: Sudowoodo/Shutterstock.com.
64
O trabalho com as diversas formas de linguagem favorece a aquisição de
competências essências, tanto para a formação acadêmica quanto para o exercício
de cidadania, visto que a língua faz parte da sociedade, da convivência, da base
das relações interpessoais e é fundamental para o entendimento entre as situações
comunicativas que em estamos inseridos (Lima, 2019).
66
Quadro 2 - Etapas de desenvolvimento nos primeiros anos de vida
67
Outros marcos importantes entre os 24 e 36 meses de vida são observáveis
na aprendizagem de novas palavras a cada dia e na fala que realiza combinações
de três ou mais palavras, passíveis de erros gramaticais pelo nível de
desenvolvimento e aquisição da gramática interna. Por volta dos 36 meses,
demonstram ser capazes de falar até mil palavras, ainda que inteligíveis e
cometendo alguns erros no que tange à sintaxe (PAPALIA; FELDMAN, 2013).
68
garoto está fazendo?”, a criança deve conhecer duas diferenças
importantes entre frases interrogativas e afirmativas.
• De acordo com a análise de elementos semânticos, o vocabulário
verbal de uma criança de seis anos de idade varia de 8 mil a 14 mil
palavras. Considerando que a aprendizagem das palavras começou
quando ela tinha 12 meses, isso traduz uma proporção de 5 a 8
novos significados de palavras por dia, entre um e seis anos de
idade.
• Mudanças substanciais em pragmática também ocorrem durante a
primeira infância. Uma criança de seis anos é muito mais falante do
que uma de dois anos. Quais são algumas das mudanças na
pragmática que acontecem nos anos pré-escolares? Por volta dos
três anos de idade, as crianças melhoram sua habilidade em
conversar sobre coisas que não estão fisicamente presentes. Isto é,
elas melhoram seu domínio sobre a característica da linguagem
conhecida como deslocamento. As crianças se tornam cada vez mais
distantes do “aqui e agora” e são capazes de conversar sobre coisas
que não estão fisicamente presentes, assim como coisas que
aconteceram no passado ou podem acontecer no futuro. Pré-
escolares podem dizer o que querem almoçar amanhã, algo que não
seria possível no estágio das duas palavras na infância. Crianças
pré-escolares também se tornam cada vez mais capazes de
conversar de modos diferentes com pessoas diferentes.
69
a ampliação vocabular e os modos estruturais de construções de sentenças tendem
a se consolidar, e a compreensão de regras mais complexas vai sendo
internalizada. Durante o ensino fundamental, as crianças já podem, segundo
Papalia e Feldman (2013, p. 60), “[...] produzir discursos conectados, relacionando
sentenças conectadas uma a outra e produzir descrições, definições e narrativas
que se compõem e fazem sentido [...]”.
Agora que você identificou as características das primeiras etapas de
aquisição da linguagem, conhecerá algumas teorias a respeito desses processos
envolvendo as abordagens propostas por B. F. Skinner e Noam Chomsky.
70
Fonte: Papalia e Feldman (2013, p. 198).
71
5.5 PRINCIPAIS INFLUÊNCIAS SOBRE O DESENVOLVIMENTO DA
LINGUAGEM
72
movimentos da face e da laringe [...]”. O hemisfério cerebral, responsável pelas
funções linguísticas, inicia seu desenvolvimento muito cedo (HOLOWKA; PETITTO,
2002).
73
Figura 8 - Fatores influenciadores da aquisição da linguagem.
Fonte: HelenField/Shutterstock.com
74
Com o ingresso das crianças nas instituições de educação infantil, elas
iniciam o processo de alfabetização, onde já apresentam uma gramática
internalizada, que lhes oportuniza a detenção de um conhecimento prévio. Elas são
apresentadas a experimentações para que passem a se apropriar das habilidades
relacionadas à leitura e escrita. De acordo com Scopel, Souza e Lemos (2011, p.
733):
75
6 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
76
destaca que não basta apenas dominar a escrita, é preciso inserir o sujeito nesse
mundo para que desenvolva uma leitura crítica das relações sociais.
Se você analisar os dois conceitos, vai notar que ambos caminham para a
mesma direção. Ambos entendem que alfabetizar não é apenas decodificar ou
dominar a leitura e a escrita. É preciso ir além e se torna fundamental pensar na
formação de sujeitos capazes de interpretar e transformar a leitura e a escrita
utilizando-as em suas práticas cotidianas (Kucybala, 2018).
Traçando uma breve trajetória da alfabetização, você pode perceber que
até meados de 1980 ela era pensada a partir de métodos sintéticos e analíticos que
resultavam em formas definidas de como o professor deveria ensinar. Nesses
métodos, em especial no silábico ou no fônico, a criança repetia informações
prontas, transmitidas por meio de cartilhas, nas quais aprendia a memorizar o nome
e o traçado das letras, decorando seus sons. A correspondência som- -grafia e a
memorização das famílias silábicas eram utilizadas nas atividades diárias do
professor, de forma que a criança era exposta a textos prontos para fixar as letras
e sílabas trabalhadas (Kucybala, 2018).
O trabalho era mecânico e bastava a criança decorar o nome das letras, o
som e a junção das sílabas para formar palavras. A alfabetização, nesse caso,
resumia-se à cópia e à repetição, sendo vista sob a perspectiva do professor,
responsável por ensinar (Kucybala, 2018).
Na maioria dos casos, as crianças, por repetirem tantas vezes as
informações obtidas nas cartilhas, as decoravam. Contudo, não compreendiam por
que cada letra era utilizada. Além disso, eram privadas de avançar em sua
aprendizagem. Isso porque os professores acreditavam que a criança só poderia
seguir para a leitura se, primeiro, passasse por esse processo. O chamado “período
preparatório” visava a atividades de motricidade e percepção (Kucybala, 2018).
Os trabalhos de Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1985) mudaram o foco,
pensando em como a criança aprende, se desenvolve e se apropria da língua
77
escrita. A partir desses trabalhos, esses processos passaram a ser compreendidos
como uma construção contínua, desenvolvida concomitantemente dentro e fora da
sala de aula, em processo interativo e que acontece desde as primeiras relações da
criança com a escrita. Aqui, a criança não é mais vista como mero receptor de
conhecimento, mas como um sujeito que pensa a escrita desde muito cedo,
buscando compreender como ela funciona. As cartilhas são substituídas por
atividades e elementos que fornecem indícios para a elaboração de atividades
desafiadoras, a fim de que as hipóteses construídas pelos alunos sejam colocadas
em pauta (Kucybala, 2018).
Para perceber o Sistema de Escrita Alfabética (SEA), é preciso que a
criança compreenda a suas propriedades. Esse sistema envolve um conjunto de
hipóteses e, sabendo disso, o aluno pode realizar a leitura ou a escrita de novas
palavras apenas memorizando a relação entre letra e som de forma produtiva.
O Sistema de Escrita Alfabética significa muito mais que a aquisição de um
código, como propunham as teorias tradicionais. Ele é um sistema notacional de
representação da escrita, em que as habilidades perceptivas e de motricidade não
têm um peso fundamental. Nesse caso, atividades reflexivas e desafiadoras
auxiliarão a criança a compreender os segmentos sonoros da fala e das palavras
(Kucybala, 2018).
É preciso tratar a escrita alfabética como um objeto de conhecimento.
Assim, o professor auxiliará o aluno a descobrir, reconstruir e se apropriar do SEA.
Morais (2005, p. 45) destaca que para alfabetizar letrando é preciso:
78
Nesse sentido, quando a criança ingressa na escola, é fundamental que o
professor crie uma rotina diversificada, com diferentes atividades de reflexão e
exploração sobre os níveis das palavras, assim como com a compreensão do
sistema de escrita como um todo. Seguindo essa linha, é importante também
promover habilidades de consciência fonológica, que permitirão que o sujeito reflita
sobre as dimensões sonoras das palavras (Kucybala, 2018).
As habilidades de consciência fonológica surgem à medida que a criança
consegue refletir sobre as palavras na dimensão da sonoridade, percebendo que
elas podem ser trabalhadas de diferentes formas. Vale apostar em atividades que
façam a criança identificar e compreender o que é uma palavra, quantas sílabas ela
possui, quais os fonemas existentes e como são feitas as correspondências entre
os fonemas e as letras (Kucybala, 2018).
Por isso, você pode utilizar atividades que envolvam separação, contagem
e comparação quanto ao tamanho ou semelhança sonora. Além disso, pode se valer
de atividades que abrangem rimas, som inicial e som final, que contribuem para que
o aluno perceba os sons da fala. Mas, sobretudo, o aluno deve ser incentivado a
escrever e a elaborar hipóteses, mesmo que ainda não domine o sistema alfabético
de escrita. A ideia é que a criança construa o conceito de língua escrita e caminhe
por esse processo significativamente. Portanto, para que ela aprenda a ler e
escrever, é necessário que seja exposta a situações que a desafiem a refletir sobre
a língua, transformando as informações recebidas em saberes próprios (Kucybala,
2018).
79
convivem com a criança. Biazioli (2018) destaca que a criança, desde muito
pequena, está inserida em um contexto letrado, rodeada de situações cotidianas
que envolvem a leitura e a escrita. Entre essas situações, você pode considerar o
uso de livros e revistas, as contações de histórias, as músicas e as cantigas de roda
como exemplos práticos e concretos de como esse processo é rico quando
apresentado desde os primeiros anos de vida. Quando o adulto apresenta o mundo
da cultura à criança, ela se apropria, ou seja, ela internaliza, dando sentido àquilo
que está vivenciando, conhecendo, experimentando.
Depois desse primeiro contato com os pais e familiares, é importante que
as práticas sociais de letramento sejam promovidas. Elas devem ter início desde a
educação infantil, em que a criança tem o seu primeiro convívio coletivo.
Posteriormente, devem ter continuidade no ensino fundamental, em que serão
criadas situações práticas para que esse processo seja aprimorado e aprofundado
(Kucybala, 2018).
É nesse período que a escola e, mais especificamente, o professor
assumem um papel fundamental na inserção no ambiente letrado. Afinal, é
necessário que tanto a sala de aula quanto os demais espaços da escola sejam
vistos pela criança como lugares agradáveis e com múltiplas possibilidades de
atividades e aprendizagens. Em síntese, é preciso instigar a criança a interagir com
as práticas de letramento, alimentando seu desejo de estar na escola. Visitas à
biblioteca, por exemplo, podem proporcionar à criança o contato com diferentes
tipos de materiais escritos e possibilitar ainda uma experiência fora da sala de aula
(Kucybala, 2018).
Quanto mais objetos, instrumentos, linguagens, gêneros e portadores de
textos de conhecimento da criança forem utilizados, maior será o sentido, o desejo
e o significado internalizado por ela. Pensar na função social da leitura e da escrita
é pensar no que os textos representam no dia a dia desses sujeitos dentro e fora da
sala de aula. Ou seja, à medida que as crianças compreendem o uso e a função da
80
escrita, elas têm as suas intenções de aprendizagem contempladas (Kucybala,
2018).
Nessa perspectiva, você deve considerar que utiliza a leitura no seu dia a
dia para os mais variados propósitos, como localizar endereços, fazer uma receita,
ler uma bula de remédio, mandar uma mensagem para algum amigo ou familiar,
entre tantas outras. Essas leituras diversas envolvem o confronto de opiniões e
interpretações e a exploração mais aprofundada do conteúdo abordado. O que você
deve é incorporar tais conhecimentos na rotina da sala de aula para que os alunos
se tornem verdadeiros leitores e escritores (Kucybala, 2018).
O ponto de partida para o processo de efetivo aprendizado é a convivência,
o contato e a experimentação com o mundo da cultura escrita. Os conhecimentos
sobre a linguagem adquiridos nas mais variadas situações que a criança traz
quando chega à escola evidenciam que ela está inserida em um contexto
comunicativo de produção e compreensão das funções da língua escrita. Assim, a
ideia é criar nas novas gerações a necessidade de utilizar a escrita socialmente,
coletivamente, de acordo com a função para a qual foi criada (Kucybala, 2018).
Além disso, é possível ampliar a comunicação e a troca de vivências entre
os alunos, de forma que eles interajam, auxiliem-se e aproximem-se das atividades
propostas pelo letramento. Esse é o sentido, a significação e a reconstrução
proposta por diferentes perspectivas de apropriação do sistema de leitura e escrita
(Kucybala, 2018).
Essa apropriação da escrita possibilita um avanço no desenvolvimento
cultural da criança, pois abre possibilidades para um conhecimento mais refinado
do mundo e, consequentemente, para o raciocínio e o pensamento mais complexos.
Por conta disso, é importante favorecer o contato dos alunos com diferentes tipos
de textos para que façam uso dessa tecnologia da escrita nas diferentes situações
vivenciadas (Kucybala, 2018).
81
Nesse sentido, você precisa ter em mente que a criança, como membro da
sociedade, precisa do convívio com a leitura e a escrita para conhecer o mundo que
a rodeia. Dessa forma, ela se interessa e busca respostas para suas indagações,
tornando o processo de aprendizagem mais significativo. É fundamental que a
criança possa falar, escutar, escrever e se envolver em situações reais de mediação
e interação na sociedade, de forma que a sala de aula também se torne um espaço
de participação, partilha, cooperação recíproca e trocas de opiniões, informações e
experiências. Segundo Franchi (2012), essa interação social proporciona vastas
experiências entre as crianças, além de favorecer que o professor observe as
dificuldades e peculiaridades existentes durante a realização das atividades, na
medida em que faz os devidos encaminhamentos nos momentos apropriados
(Kucybala, 2018).
Esse processo ainda deve levar em consideração que os modelos escritos
sejam contextualizados com uma significação. Ou seja, é fundamental que a criança
faça relações entre a palavra trabalhada e o objeto que ela representa. Para isso, o
professor deve traçar diferentes estratégias que coloquem o sujeito em contato com
distintas situações e informações do cotidiano, levando-o a compreender aquilo que
está escrevendo ou lendo (Kucybala, 2018).
Tais atividades, atreladas a debates e discussões, contribuem para que a
criança contextualize as palavras, fazendo relações entre som, grafia e
interpretando o sentido a que está sendo exposta. Além disso, essas atividades se
tornam significativas quando envolvem os sujeitos na construção do conhecimento
e na resolução de problemas e desafios (Kucybala, 2018).
Outra questão pertinente que favorece a compreensão e a apropriação do
sistema de escrita é o uso de atividades orais e espontâneas. O professor deve
trabalhar tanto a letra, a sílaba e a junção delas na formação de palavras quanto a
contextualização desse conhecimento para que a criança reflita sobre o processo.
A promoção dessas situações dialogadas dá oportunidade para que os alunos
82
construam novas significações voltadas à proposta de alfabetização e letramento
(Kucybala, 2018).
Receitas
Manuais, regras de jogos, listas e instruções
Bilhetes
Cartas
Convites
84
Histórias em quadrinhos, tirinhas
Parlendas, cantigas de roda, trava-línguas, lendas
Músicas
Piadas
Poesias, contos, fábulas
Rótulos e embalagens
Símbolos, placas
Cardápios
Jornais, revistas, sites, noticiários, cartazes informativos
85
abaixo do que é esperado para os objetivos de trabalho, o professor pode
contemplar as hipóteses e saberes que já possuem (Kucybala, 2018).
Na perspectiva do trabalho conjunto entre alfabetização e letramento, o
professor precisa, em primeiro lugar, traçar um perfil da turma, percebendo os
diferentes níveis em que as crianças se encontram. Depois, deve pensar em
atividades diversificadas que trabalhem com o sistema notacional e as situações de
reflexão, questionamento e criação de hipóteses. A partir desse envolvimento e
desse conhecimento que as crianças possuem acerca da escrita, é possível planejar
atividades que de fato contribuam para que o aluno avance em seus conhecimentos
sobre o sistema de escrita alfabética, criando diferentes oportunidades de
aprendizagem e de integração com o processo de escolarização (Kucybala, 2018).
Cabe ao professor compreender o processo, buscar soluções por meio de
estudo, reflexão e troca com seus pares. Assim, ele deve trabalhar com esses
diferentes saberes, conhecendo as práticas culturais e sociais vivenciadas pela
comunidade e pelos alunos. Ele precisa ainda favorecer o contato com a escrita nas
mais variadas circunstâncias, para que a criança vá se familiarizado com as
situações de aprendizagem e avance de nível (Kucybala, 2018).
Por fim, é urgente que escolas e educadores pensem em práticas de
alfabetização e letramento partindo de um planejamento que contemple atividades
capazes de auxiliar os alunos a avançarem em sua aprendizagem. Tais atividades
devem ser do interesse da criança e estar de acordo com a realidade em que ela
está inserida. Somente por meio dessas experiências será possível refletir sobre a
prática da leitura e da escrita em diferentes circunstâncias. Portanto, o
desenvolvimento das capacidades dos alunos em relação à língua escrita não é um
processo que se encerra assim que eles se apropriam do sistema de escrita; pelo
contrário, ele se estende por toda a vida. O que os sujeitos fazem é apenas
aprimorar e criar possibilidades na construção de novos conhecimentos e
habilidades (Kucybala, 2018).
86
7 MÉTODOS DE ALFABETIZAÇÃO
87
soletração, predominantes na Antiguidade e na Idade Média. Esses métodos de
soletração eram considerados difíceis e contribuíam para os grandes índices de
fracasso escolar na fase de alfabetização (Kucybala, 2018).
Os métodos sintéticos, segundo Frade (2005), são procedimentos que
partem das unidades menores para as unidades maiores. Ou seja, inicia-se pelo
ensino das letras, da memorização, da decoração e do domínio do alfabeto para,
posteriormente, passar às sílabas, às palavras, às frases e aos textos (Kucybala,
2019).
Esse método em específico impossibilita que a criança avance para uma
nova fase de conhecimento se não tiver, primeiro, dominado e passado por todas
as etapas anteriores. Isto é, está em jogo um processo no qual a criança aprende
das partes para o todo. É, portanto, um método que foca seu ensino na decifração
e na leitura mecânica, dando ênfase à correspondência entre o som e a grafia e
utilizando como estratégia principal a percepção auditiva, por meio de exercícios de
leitura em voz alta e ditados feitos pelos professores (Kucybala, 2018).
Por ser um método de decoração e memorização, ele traz suas regras já
estabelecidas, o que torna o ensino cansativo, desmotivador e com pouco
significado para a criança. Afinal, as palavras utilizadas nas cartilhas já eram
determinadas, apresentando pouca relevância na percepção da leitura e da escrita.
O aluno, nessa concepção de alfabetização, recebe o conhecimento pronto.
Porém, na maioria das vezes não compreende e possui dificuldades para produzir
textos devido ao restrito vocabulário a que foi exposto. Em contrapartida, acredita-
se que o método sintético seja positivo, devido à grande exposição da criança às
repetições e regras impostas, pois ela alcança a ortografia perfeita mais
rapidamente, visto que já conhece e domina as palavras que necessita escrever em
suas atividades (Kucybala, 2018).
Já os métodos analíticos, diferentes dos sintéticos, “[...] partem do todo para
as partes e procuram romper radicalmente com o princípio da decifração” (FRADE,
88
2007, p. 26). Esses métodos ensinam a criança partindo das unidades maiores para
as unidades menores, ou seja, a leitura é vista como um ato global. Assim, os
métodos analíticos visam a propor atividades que “[...] vão do texto à frase, da frase
à palavra, da palavra à sílaba” (FRADE, 2007, p. 26).
Do ponto de vista da alfabetização, o método analítico favorece que a
criança se aproxime um pouco mais de sua realidade. Afinal, em vez de reconhecer
primeiro as letras e as sílabas fora de contexto, o aluno tem a oportunidade de
aprender a partir das palavras emitidas de forma inteira e não apenas das partes ou
pedaços delas.
Nessa perspectiva, os textos podiam ter sentido um pouco maior, pois a
leitura não era realizada por meio da silabação. Em contrapartida, há as duas faces
da moeda, visto que, por ser um método que parte da leitura de palavra por palavra,
pode também trabalhar a partir de elementos isolados e com poucos significados,
impossibilitando que a criança veja o texto na sua totalidade (Kucybala, 2018).
Além disso, diferente do método sintético, no analítico os professores não
exigiam que os alunos fizessem a correspondência sonora entre a fala e o texto
escrito. Na maioria das atividades, eram propostos exercícios orais em que as
crianças deveriam reconhecer a palavra sem pronunciá-la oralmente e eram
instigadas a realizar cópias e leituras silenciosas, o que também as desestimulava
e tornava o trabalho cansativo e pouco produtivo (Kucybala, 2018).
De acordo com Mortatti ([2006]), iniciaram-se, por volta da década de 1920,
os embates contrários aos métodos analíticos. Buscava-se um ensino que
contemplasse o aprendizado da leitura e da escrita ao mesmo tempo. Surge então
o método misto, que varia entre o analítico e o sintético e destaca-se tanto pelo
ensino do todo quanto pelo ensino das partes, de forma conjunta. Nesse método, o
professor escolhe se as atividades partirão das palavras, das frases ou dos textos.
Mortatti ([2006]) ainda destaca que o método misto se tornou especialmente
relevante a partir de 1934, quando foram criadas as bases psicológicas de
89
alfabetização contidas no livro Testes ABC, escrito por M. B. Lourenço Filho. Esse
autor verificava a maturidade necessária para a criança aprender o processo de
leitura e escrita e classificava os alunos, organizando-os em classes homogêneas,
com vistas à eficácia da alfabetização.
A partir dessa proposta, o ensino volta a ser visto como tradicional. O
trabalho do professor, por sua vez, se baseava na produção de manuais prontos e
cartilhas, que visavam a interligar a habilidade da leitura com a habilidade da
caligrafia e da ortografia (Kucybala, 2018).
Nessa fase, instaurou-se também o período preparatório, no qual a criança
era envolvida em atividades de prontidão, de discriminação auditiva e visual, além
de realizar atividades que testavam a coordenação motora por meio de exercícios
com identificação e traçado das letras. Tal proposta tinha como objetivo medir as
habilidades e conhecimentos das crianças relativos à leitura e à escrita. Além disso,
as separava conforme a sua maturidade (Kucybala, 2018).
Em todos os métodos apresentados, tanto nos sintéticos quanto nos
analíticos e mistos, predominava a utilização das cartilhas, cuja proposta principal
era apresentar às crianças letras, sílabas soltas, palavras, frases e textos com
pouca relevância e significado no contexto em que os alfabetizandos estavam
inseridos. Da mesma forma, o objetivo das cartilhas visava a abordar apenas a
codificação (escrita) e a decodificação (decifração) e pouco agregava
conhecimentos aos envolvidos (Kucybala, 2018).
A aprendizagem do código alfabético acontecia por meio da transmissão do
ensino, cuja proposta era iniciar a alfabetização partindo das unidades mais fáceis
para, em seguida, apresentar as mais difíceis. Nessas concepções de métodos,
acreditava-se que o aluno chegava à escola com pouco ou quase nada de
conhecimento a respeito da língua. Portanto, a escola teria o papel de iniciar o
processo da leitura e da escrita por meio do ensino de letras, sílabas e palavras,
90
passando para os alunos, que eram meros receptores, as informações prontas e
fora do contexto (Kucybala, 2018).
A partir desse período, Mortatti ([2006]) destaca que houve uma descrença
muito grande nos métodos para se alfabetizar. Isso ocorreu, pois os altos índices
de fracasso escolar e reprovação, assim como a aprendizagem superficial a que as
crianças eram submetidas, tornaram-se pontos de discussão entre os educadores
que buscavam respostas e caminhos para alfabetizar de forma mais efetiva.
O processo de ensino e aprendizagem passou a ser debatido e pensado
sob um novo enfoque. Iniciaram-se as discussões acerca do construtivismo como
forma de desmetodizar a alfabetização. Esse campo foi muito estudado por Jean
Piaget, que é apontado como um dos precursores da teoria construtivista. A
aprendizagem, nessa concepção, é vista como um processo contínuo de
desenvolvimento, em que o conhecimento é construído pelo próprio sujeito na sua
interação com o mundo, na medida em que é envolvido em situações de
aprendizagens relevantes e significativas (Kucybala, 2018).
Em meados de 1980, seguindo a linha construtivista, surgem os estudos e
pesquisas de Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1985) acerca da psicogênese da
língua escrita. Esses estudos reforçam que a escrita alfabética não é um código que
se aprende a partir de métodos e atividades de memorização. Pelo contrário: a
criança elabora e formula diferentes hipóteses sobre a escrita, sendo este um
processo gradativo que acontece em momentos diferenciados do seu
desenvolvimento.
Além disso, outra questão levantada é que os processos de aprendizagem
acontecem antes mesmo do ingresso da criança na escola. Isso se dá por meio da
sua inserção em ambientes letrados e da sua participação em vivências e práticas
sociais de leitura e escrita, de forma que o aluno interage com diferentes tipos de
textos nas mais variadas atividades desenvolvidas (Kucybala, 2018).
91
Diante dessas questões, é fundamental que você reflita que não existem
métodos perfeitos, tampouco teorias milagrosas que farão a criança aprender de
forma plena. Cada indivíduo concebe o conhecimento ao seu tempo e da sua
maneira. O importante é que sejam desenvolvidas metodologias de ensino que
auxiliem a criança a refletir sobre a escrita alfabética, tornando-a pensante, crítica,
reflexiva e questionadora (Kucybala, 2018).
Frade (2005, p. 15) destaca que “Muitas vezes, à própria menção da palavra
método, temos um comportamento intolerante, porque pensamos que essa palavra
se refere a apenas um caminho para alfabetizar ou a uma fórmula inflexível”. Para
que não haja retrocessos, é preciso combater aquele ensino a partir de métodos
rígidos em que os professores ficam presos à mesma forma de ensinar e às mesmas
práticas pedagógicas.
Nesse sentido, Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1985, p. 29) destaca: “O
método (enquanto ação específica do meio) pode ajudar ou frear, facilitar ou
dificultar [...] A obtenção do conhecimento é um resultado da própria atividade do
sujeito”. Assim, é importante que a escola pense em intervenções que ajudem a
criança a aprender de forma conjunta, tornando-a um sujeito capaz de formular
hipóteses, discutir e ser “intelectualmente ativo”.
É necessário, portanto, relacionar o momento atual da educação às
discussões de problemática social que permeiam o cenário educacional. Isso
principalmente no que diz respeito ao fato de que não existe uma ideia definitiva ou
limitada acerca das metodologias, apenas a busca por caminhos que levem a
criança a se alfabetizar a partir de conteúdos mais complexos e significativos.
92
7.2 AS ESPECIFICIDADES DO MÉTODO SINTÉTICO DE ALFABETIZAÇÃO
93
sentido inverso e, posteriormente, havia o reconhecimento das letras isoladas
(Kucybala, 2018).
A etapa seguinte era apresentar a forma gráfica das letras. Conforme ia
aumentando o conhecimento da criança, as sequências iam atingindo graus
maiores de dificuldade. Partia-se então para o estudo e a formação das sílabas que
eram soletradas e decoradas pelos alunos para fazer as combinações silábicas.
Nessa etapa, a criança apenas memorizava e não estabelecia a relação entre a
escrita e a fala (Kucybala, 2018).
Segundo Frade (2007), as famílias silábicas eram apresentadas para as
crianças de forma que elas pudessem fazer todas as combinações possíveis. Havia
também a estratégia de que as letras e sílabas fossem cantadas e memorizadas.
Assim, o processo se tornava lento e pouco representativo para a criança.
Carvalho (2005, p. 22) ainda complementa que o método alfabético “[...]
baseia-se na associação de estímulos visuais e auditivos, valendo-se da
memorização como estímulo didático — o nome da letra é associado à forma visual,
as sílabas são aprendidas de cor e com elas se formam palavras isoladas”. Nesse
sentido, você pode considerar que as palavras eram apresentadas e trabalhadas
fora do contexto, sem haver relação entre elas.
De acordo com os estudos de Frade (2007), até os dias de hoje, regiões
como o Nordeste, por exemplo, utilizam esse método para alfabetizar. Seja na
alfabetização doméstica, realizada pelos familiares, seja na educação levada a cabo
por professores leigos e com pouca formação, ainda há o emprego e os estudos
repetitivos que partem das cartas de ABC e que possuem como fundamento o
ensino partindo das letras.
94
6.2.2 MÉTODO FÔNICO
No método fônico, a unidade de ensino parte dos sons e tem como principal
objetivo estabelecer a relação entre a letra e o som que ela representa. A união da
consoante com a vogal auxilia a criança a trabalhar a pronúncia das sílabas que
estão sendo formadas, relacionando a palavra falada à escrita (Kucybala, 2018).
Num primeiro momento, por possuírem nomes e sons iguais, eram
trabalhadas as vogais, depois palavras formadas apenas por elas. No segundo
momento, eram apresentadas as consoantes e as formas mais complexas dos seus
sons dentro da palavra. Para Frade (2007, p. 23), o objetivo do método fônico é
fazer a relação de que: “Cada letra (grafema) é aprendida como um fonema (som),
que, junto a outro fonema, pode formar sílabas e palavras”. A partir da formação
das palavras, surgem as frases e os textos.
Esse método é muito utilizado nos dias de hoje e possui suas vantagens e
desvantagens. Entre as vantagens está o fato de que, se o aluno compreender a
relação entre as letras e os fonemas, haverá uma correspondência direta que será
decifrada mais rapidamente, sem oferecer maiores dificuldades. Isso se dá
principalmente quando é preciso escrever palavras com P, B, T, D e V, por exemplo,
nas quais os fonemas representam a escrita das letras. Em contrapartida, algumas
consoantes, para terem seus sons identificados, precisam do apoio de uma vogal,
mesmo que ela fique oculta na hora da pronúncia. Um exemplo é o fonema /m/, que
necessita de um mê para ser referenciado (Kucybala, 2018).
Entre as desvantagens está o fato de que as letras podem apresentar
diferentes sons e fonemas conforme a posição que ocupam na palavra. Assim, esse
processo de transição até que a criança chegue ao nível ortográfico se torna mais
lento. Outra questão são as variações quanto à pronúncia das palavras, que trazem
confusões na hora da escrita, pois uma mesma palavra é falada de uma forma e
escrita de outra. Como você sabe, o sotaque e as variações da língua conforme
cada região do país influenciam essas inconstâncias (Kucybala, 2018).
95
O método fônico, nesse sentido, tem o objetivo de fazer com que a criança
demonstre compreensão dos padrões regulares de correspondência entre o som e
a soletração, entre os fonemas e os grafemas. A ideia é que, a partir desse domínio,
possa identificar os sons e realizar a leitura de palavras (Kucybala, 2018).
96
Hoje, o método silábico é utilizado, por exemplo, nos silabários simples, que
servem para a fixação das famílias silábicas pelas crianças (Figura 9).
97
evidenciadas pelas crianças. Os textos e histórias eram artificiais, sem relação com
os usos sociais, e tinham o propósito de trabalhar e treinar o ensino das sílabas de
forma mecanizada (Kucybala, 2018).
Nesse sentido, os métodos sintéticos, sejam eles alfabéticos, fônicos ou
silábicos, têm como proposta a progressão das unidades menores para as mais
complexas. Além disso, privilegiam a aprendizagem das partes para o todo por meio
da decodificação, da análise fonológica e da relação entre letras e sons. Você pode
perceber, no entanto, que os métodos da marcha sintética são inflexíveis e tendem
a desconsiderar os usos e funções sociais da escrita, dando pouca importância ao
sentido que os textos têm no contexto da criança (Kucybala, 2018).
98
distintas desse método: palavração, sentenciação e global de contos (Kucybala,
2018).
99
pelos alunos para escrever palavras novas, visto que não era incentivada a análise
e o reconhecimento das partes.
100
palavras e, finalmente, das sílabas e letras. Todo esse processo acontecia de forma
mais lenta, pois, caso esse método fosse apresentado apressadamente, as
unidades menores poderiam não ter sentido para a criança.
Nesse método, por haver a necessidade de trabalhar iniciando-se pelos
textos, as cartilhas foram deixadas em segundo plano. Os textos deveriam ser
escolhidos a partir de temas relevantes para o universo infantil, considerando, nesse
sentido, o “todo” como algo concreto e palpável de ser apreendido. Iniciou-se então
a produção de livros e cartazes que serviriam como material de apoio para o
trabalho do professor (Kucybala, 2018).
Há quem diga que o método global proporciona à criança maior
reconhecimento e uma aprendizagem mais significativa, visto que o ensino da
leitura acontece antes mesmo de a criança conhecer as partes menores ou o nome
das letras. Em contrapartida, há também quem defenda que nesse método a criança
não aprende realmente a ler; ela apenas decora os textos trabalhados em sala de
aula, descobrindo o que está escrito (Kucybala, 2018).
No que diz respeito à tentativa de a criança decodificar e realizar a leitura,
acreditava-se que era um processo que acontecia com mais rapidez por partir de
palavras conhecidas e que tinham como foco a memorização global. No entanto,
alguns questionamentos surgiam, principalmente quando se pensava na
aprendizagem efetiva dos alunos, pois o professor deveria saber identificar se o
processo de leitura está realmente acontecendo, ou se aula está apenas servindo
como um momento para decorar textos e histórias ou recitar palavras (Kucybala,
2018).
Pensando, então, nos métodos de marcha analítica estudados até aqui, é
importante você notar que todos têm como enfoque a compreensão do sentido da
aprendizagem a partir do reconhecimento do todo. Assim, têm como vantagem a
possibilidade de a criança realizar, desde seu primeiro contato com o processo de
101
escolarização, a leitura de palavras, frases ou textos que tenham significado para
ela (Kucybala, 2018).
Como você pode imaginar, se não for conduzido e orientado corretamente
pelo professor, esse processo pode tornar-se um ponto de dificuldade para o aluno,
correndo-se o risco de perder o sentido diante da apresentação de novas palavras
(Kucybala, 2018).
102
falante em relação ao uso da língua são representadas pela fala. No entanto, deve-
se ter cuidado para que não ocorra a confusão da fala com o ato de falar, pois tanto
o ato de falar como o de escrever são manifestados pela fala individual de cada
indivíduo, que está contida no conjunto mais amplo conhecido como língua. Por
exemplo, os falantes da língua portuguesa podem falar ao telefone ou escrever um
texto em alguma rede social. Em ambas as circunstâncias, estarão usando a sua
fala individual para manifestar a língua portuguesa em diferentes meios sociais
(Spessato, 2019).
O caráter social de uma língua e a sua representatividade para o processo
de comunicação são inegáveis em qualquer estudo linguístico. Sabendo que a
linguagem representa o uso da língua em uma esfera social, Preti (1974) afirma
que, para que a vida em sociedade exista, é fundamental que as manifestações
linguísticas sejam compreendidas. Sons, gestos e imagens compõem diferentes
tipos de mensagens que podem se manifestar por diversos canais, como a
televisão, o cinema ou um livro. Ou seja, estudar as manifestações linguísticas
significa compreender que a língua é o suporte para toda e qualquer dinâmica
social. No entanto, segundo Preti (1974), o seu uso não compreende apenas
relações corriqueiras orais, mas também expressões mais específicas, como uma
notícia escrita em um jornal (Spessato, 2019).
Dessa maneira, a fala e a escrita são duas manifestações da linguagem
estabelecidas por um objetivo específico dentro de um contexto linguístico. Para
Calsamaglia e Tuson (2008), o discurso representa, principalmente, uma prática
social interativa que pode se manifestar em contextos tanto orais quanto escritos.
Inclusive, a forma como se compreende a linguagem implica uma análise textual.
Segundo Barbisan (1995), o texto é uma unidade funcional, a qual desempenha um
papel dentro de um contexto. Com uma visão bastante similar, Adam (2008) afirma
que o texto não representa uma sequência de palavras, e sim de atos. Essas
manifestações da língua em uso, em seus contextos e necessidades específicas,
103
são conhecidas como gêneros textuais. Ou seja, as diferentes finalidades que
expressam o uso linguístico são estabelecidas por circunstâncias contextuais que
caracterizam e determinam o gênero textual (Spessato, 2019).
104
fala. Afinal, meios de comunicação como o WhatsApp frequentemente apresentam
duas manifestações linguísticas: o uso da escrita e da fala, com a possibilidade de
enviar áudios. Nesse caso, a conversa, por mais que pareça simultânea e imediata,
não acontece na mesma esfera de uma conversa presencial (Spessato, 2019).
Em relação ao uso e às manifestações da fala nas diferentes esferas
comunicativas, orais e escritas, o vocabulário utilizado é preponderante para
analisá-las. Na oralidade, o vocabulário é bastante alusivo, pois o uso de pronomes
como “eu”, “tu”, “você”, “nosso”, “isto” ou “aquilo” ou de advérbios como “aqui”, “lá”,
“hoje” ou “agora” possibilita que o processo comunicativo ocorra de maneira fluida
e eficaz. Afinal, existe a possiblidade de indicar tudo o que está envolvido na
mensagem sem uma nomeação específica e sem comprometer o entendimento dos
interlocutores. Na escrita, é necessário que a linguagem seja menos alusiva. Para
que a comunicação se estabeleça com êxito, devem-se utilizar formas de referência
mais precisas e específicas, como citar datas, descrever lugares e objetos. Logo, é
possível perceber que, enquanto a fala se adapta ao contexto interacional, a escrita
procura ser suficiente em si mesma (Spessato, 2019).
As manifestações orais e escritas são, portanto, duas modalidades da
língua. Dessa forma, de acordo com Koch e Elias (2017), a oralidade difere- -se da
escrita principalmente devido aos seguintes aspectos: (a) pelo próprio fato de ser
falada; e (b) devido às contingências de sua formulação. Ou seja, os dois códigos,
oral e escrito, têm suas manifestações e suas regras próprias de organização e
funcionamento (Spessato, 2019).
A linguagem oral (fala) se manifesta por meio de emissões dos sons da
língua, os fonemas. Em contraponto, a linguagem escrita utiliza as letras, que nem
sempre mantêm uma correspondência exata com os fonemas. Enquanto o código
oral conta com o tom de voz, com os gestos e com o olhar, o escritor precisa se
expressar por meio da pontuação e de marcas de formação do texto. Além disso,
as estruturas sintáticas das manifestações escritas necessitam de certa linearidade.
105
Já as estruturas das manifestações orais conseguem fazer inúmeros hiperlinks, ou
seja, está em jogo uma leitura sem linearidade, não comprometendo o entendimento
entre os interlocutores. Contudo, embora exista uma descontinuidade na oralidade,
a sintaxe geral da língua está presente na sua constituição (Spessato, 2019).
Ainda que exista uma dicotomia entre textos orais e escritos, perceba que
nem todas as características são essencialmente de uma ou de outra categoria. No
entanto, as manifestações escritas podem ser pensadas, repensadas ou até mesmo
ignoradas por uma questão de planejamento; já as manifestações orais, não. Isso
ocorre porque, de acordo com Koch e Elias (2017), é como se a fala oral estivesse
no mesmo patamar do rascunho de uma manifestação escrita. O texto falado,
embora em muitos casos seja previamente planejado e estruturado, se apresenta
em sua própria criação, visto que o contexto nunca é o mesmo.
No Quadro 4, a seguir, veja as características da linguagem falada e da
linguagem escrita. Embora essas características não sejam exclusivas de uma ou
de outra instância, oral ou escrita, o quadro apresenta uma organização mais geral
e superficial em relação às manifestações linguísticas da língua em uso.
106
Fonte: Adaptado de Koch e Elias (2017)
Todo texto se manifesta com uma forma e com uma fi nalidade. A forma do
texto é representada pelo conceito de tipologia ou tipo textual. Segundo Marcuschi
(2005, p. 154), “Tipo textual designa uma espécie de construção teórica defi nida
pela natureza linguística de sua composição (aspectos lexicais, sintáticos, tempos
verbais, relações lógicas, estilo) [...]”
Em relação à manifestação dos tipos, é importante salientar que eles não
são textos, mas são as formas que os textos assumem em diferentes contextos. Os
principais tipos textuais são os seguintes: narração, argumentação, exposição,
descrição e injunção. Além de se manifestar em determinada forma, o texto também
assume a sua finalidade, ou seja, o seu uso. Quando você analisa as manifestações
contextuais dos textos, você trabalha com o conceito de gênero textual (Spessato,
2019).
107
Os gêneros textuais são os textos que você encontra no cotidiano e que
apresentam padrões característicos, definidos pela funcionalidade, pelo estilo e pelo
objetivo em diferentes esferas comunicativas. Dessa forma, na visão de Marcuschi
(2005), o gênero textual materializa e adapta os textos em diferentes situações
comunicativas. Você pode considerar como exemplos de gêneros: telefonema,
crônica, diálogo, aula de português, reportagem, bilhete, e-mail, notícia, carta
pessoal, carta comercial, resenha, romance, poema, etc.
Segundo Koch e Elias (2017), para viver em sociedade, todo indivíduo
constrói, ao longo de sua existência, uma competência metagenérica, que diz
respeito à utilização dos textos na sua esfera de uso. É por esse motivo que as
pessoas se adequam a diferentes situações comunicativas. Sabendo que a
comunicação é heterogênea e que os gêneros textuais são organizados de acordo
com a finalidade da comunicação, pode-se incluir nesse grupo desde um diálogo
cotidiano até uma tese de doutorado. Ou seja, os gêneros se transformam com o
contexto. Alguns podem desaparecer e outros, surgir, como o da conversa no
WhatsApp.
108
8.2.1 O QUE É UM TEXTO LITERÁRIO?
110
8.3 MARCAS DA ORALIDADE NA ESCRITA
111
crianças no universo da literatura. Seu vocabulário simples, coloquial e objetivo é
familiar ao seu leitor, como é possível perceber na Figura 10.
112
— desde o professor da academia até os do colégio — que mais marcaram a sua
vida.
— Quanto farelo, gente! Quem foi que comeu biscoito sem pratinho
embaixo? Cadê o aspiradorzinho que a minha mãe deu pra gente?
As duas começaram a rir.
Permaneci séria, eu estava muito brava, muito brava.
— Malu! Desestressa! — disse Helô.
— Comemos sem pratinho, sim, depois a gente limpa — completou Bené.
— Depois quando?
— Depois...
— Que biscoito foi? De polvilho? — eu quis saber.
— Arrã — fizeram as duas, sapecas.
— Tem ainda? — rendi-me à gula e à bagunça.
Comi o último do pacote e acabei rindo com elas. Eu até gosto de bagunça.
Sempre gostei.
Mas o apê estava tão bagunçado que tinha ultrapassado até o meu nível
permitido de bagunça.
— Pô, gente, assim não dá! A gente precisa tomar vergonha na cara! Nossa
casa está uma zona!
— Ih, Malu, você está parecendo o Francisco, aquele professor de
português da quinta série que tinha mania de arrumação, lembra? — perguntou
Bené.
— Ô, se lembro... (REBOUÇAS, 2006, p. 9).
113
adolescentes, como as da Thalita Rebouças. Assim, com o estímulo da leitura
durante a infância e a adolescência, é possível que novas portas se abram para
uma literatura mais crítica e complexa (Spessato, 2019).
114
ninguém vai a uma entrevista de emprego com uma roupa de praia, assim como as
pessoas não vão a uma festa de gala com um biquíni —, espera-se que o falante
tenha uma consciência linguística. Essa consciência significa que o mesmo falante
pode utilizar o nível de fala coloquial ou culto, visto que esse nível dependerá da
necessidade e do contexto situacional (Spessato, 2019).
Há uma norma padrão (ou culta), considerada de prestígio, e há também as
variantes dessa norma. A língua pode variar em relação ao tempo (variante
diacrônica ou histórica), em relação ao espaço (variante diatópica, regional ou
geográfica), em relação a aspectos socioculturais (variante diastrática, social ou
sociocultural), em relação ao meio de uso (variante diamésica) e em relação a
contextos situacionais (variante diafásica, situacional ou estilística) (Spessato,
2019).
Os estudos sobre variação linguística em diferentes contextos sociais,
segundo Mollica e Braga (2013), indicam que os falantes têm um repertório
linguístico que pode variar em diferentes situações de comunicação. Ou seja, o uso
consciente da língua se reflete não apenas na oralidade, mas também na escrita.
Os níveis de linguagem são, principalmente, os seguintes: nível formal ou culto,
nível informal ou coloquial, nível popular e nível estilístico.
O nível coloquial é utilizado, normalmente, em situações de informalidade,
familiaridade e entre iguais. O culto insere-se em contextos de formalidade, como
em uma palestra ou em uma entrevista de emprego. O popular representa, de modo
geral, as variantes desprestigiadas, consideradas erradas e desvalorizadas em
relação à norma culta. No entanto, o nível estilístico, também conhecido como
literário, é usado em situações específicas, em que há predominância de liberdade
poética e em que o erro não é considerado, mas apagado por uma necessidade
estética. Ou seja, as formas desprestigiadas podem ser manifestações artísticas. A
linguagem no nível estilístico, que caracteriza o texto literário, além de possibilitar
únicas e diferentes estruturas na fonética, na morfologia e na sintaxe, apresenta,
115
para Fiorin (2000), os seguintes traços: relevância do plano da expressão,
intangibilidade da organização linguística, criação de conotações,
desautomatização e plurissignificação. Ou seja, ela dá identidade e significado aos
textos literários.
A linguagem estilística, com suas características próprias, personaliza os
textos literários. Com ela, é possível descrever desde narrativas em situações
extremamente cultas até outras que se caracterizem pelo uso da linguagem popular.
Tudo depende da intencionalidade do autor com o seu texto. Ou seja, há uma
tendência de aproximação entre o emissor e o receptor que ele quer atingir
(Spessato, 2019).
Qualquer texto, seja oral ou escrito, é produzido por um autor que tem em
mente um receptor. O termo “interlocutor” designa cada um dos participantes do
diálogo. Em um texto escrito, o autor deve saber qual é o perfil de seu interlocutor
para que o processo de comunicação ocorra com êxito e para que haja uma relação
entre o escritor e o seu leitor. A fim de que a interação comunicativa ocorra, o
destinatário deve ter em mente o seu receptor. Segundo Aburre e Aburre (2007),
existem dois principais interlocutores: o universal e o específico.
Na literatura infanto-juvenil, obviamente, estão mobilizadas necessidades e
interesses do público infantil e juvenil. Uma maneira de o autor se aproximar do seu
público, portanto, é explorar o uso de uma linguagem coloquial e mais específica.
Essa linguagem não necessariamente faz parte do cotidiano do emissor, e o seu
emprego é caracterizado como linguagem literária, ou seja, trata-se de um tipo de
variante da norma culta, a variante diafásica, estilística ou situacional. O seu uso
valoriza a proximidade entre os interlocutores, fazendo com que o contexto de
116
leitura integre o universo do receptor. Dessa forma, a referência é direta aos
interlocutores específicos (Spessato, 2019).
Quando se fala em interlocutores universais, normalmente estão em jogo
interlocutores de textos informativos, não literários e compostos por uma linguagem
objetiva e denotativa. No entanto, quando há interlocutores específicos, o texto tenta
se aproximar ao máximo do seu destinatário, com marcas de subjetividade e de
oralidade, por exemplo (Spessato, 2019).
Além de se dirigir a interlocutores com perfis definidos, os textos se referem
a circunstâncias de natureza cultural, social e linguística. Tais circunstâncias
precisam ser compartilhadas por quem produz e quem recebe o texto. Ou seja, está
em jogo o contexto, que representa a totalidade das informações contidas no texto.
A identificação do contexto depende inteiramente do conhecimento de mundo dos
leitores (Spessato, 2019).
Portanto, estabelecer o perfil do leitor juntamente com a linguagem
adequada para abordá-lo é o primeiro e, talvez, o principal passo que o autor pode
dar para que o processo comunicativo ocorra de maneira eficaz. Além disso, quando
o estilo de linguagem é pensado e analisado para determinado perfil, a leitura torna-
se mais fluida e a possibilidade de ela se transformar em um hábito aumenta
(Spessato, 2019).
117
políticas associadas como Reading First Act nos Estados Unidos e todas
impulsionadas pelas pesquisas publicadas nos últimos anos especialmente as
editadas pelo NICHD – National Institute of Children Health and Human
Development dentre outros trabalhos e livros publicados.
Diante das evidências científicas acumuladas e revisadas, especialmente
por Adams (1990) e no NRP (2000), faz-se necessário que se compreenda o que é
o processo de alfabetização e se estabeleça as devidas distinções entre o ato de
aprender a ler do ato de ler para aprender. Tais esclarecimentos fazem a diferença
para que se possa intervir de forma objetiva no desenvolvimento em leitura e escrita
da criança, garantindo maiores chances de sucesso no futuro no campo
educacional.
A alfabetização é imprescindível para o processo inicial de escolarização.
Para uma boa alfabetização é relevante a compreensão de que “ler consiste na
capacidade de extrair a pronúncia e o sentido de uma palavra a partir de sinais
gráficos. Escrever consiste na capacidade de codificar graficamente os sons
correspondentes a uma palavra [...]” (BRASIL, 2007, p. 25).
Esses conceitos e diferenças são importantes, uma vez que confusões
conceituais do aprender a ler com o ler, ocorrem pela falta de clareza do que venha
a ser alfabetização, ou seja, à criança aprender como funciona o sistema de escrita
desde os princípios básicos até a ortografia. No entanto, na alfabetização a criança
aprende muito mais do que o sistema de codificação de uma língua, refere-se ao
processo de aprender a ler, e não ler para aprender cujo objetivo diz respeito aos
outros anos de ensino posteriores à alfabetização.
Cabe salientar que aprender a ler é o primeiro estágio no processo de ler
para aprender, processo considerado longo que requer o reconhecimento de
palavras e a compreensão do significado de textos. “Aprender a ler refere-se a
capacidade de identificar palavras numa sentença ou texto. Para que haja
118
compreensão, a identificação de palavras deve ocorrer de forma imediata, isto, é,
com velocidade e precisão” (BRASIL, 2007, p. 27).
Aprender a ler consiste em adquirir competências para decodificar, sendo
que a decodificação é o processo de converter letras em sons estabelecendo a
correspondência grafema-fonema. Aprender a ler ajuda o leitor a ler e, ler por sua
vez, é fundamental para compreender. Em geral, quando a criança começa a
aprender a ler apresenta capacidade oral, porém pouca capacidade para
reconhecer palavras.
Em suma, pode-se afirmar que o aprender a ler é um processo no qual é
necessário adquirir algumas habilidades que vão desde o reconhecimento de
palavras escritas, como a decodificação e aglutinamento fonológico. Conforme a
competência de leitura avança, por meio da prática, a decodificação fica mais
eficiente o que torna mais fácil o reconhecimento imediato da ortografia das
palavras.
A essência de aprender a ler está em aprender a fazer a decodificação
fonológica a qual constitui o cerne do conceito de alfabetização. Sendo assim,
visualizando a importância do aprender a ler na alfabetização, bem como tendo
claro que não se trata de algo natural, mas algo que pode ser desenvolvido se
observados e trabalhados alguns requisitos que garantam tal aprendizado é que a
alfabetização requer ser tratada no Brasil com outros olhos, focando para além do
que se vivencia, isto é, buscando fundamentar-se nas evidências existentes,
levando em consideração os avanços da Ciência Cognitiva da Leitura.
Tratando-se por tanto de um fato científico, aprender a ler requer uma
compreensão do princípio alfabético, o aprendizado das correspondências entre
grafemas e fonemas, a segmentação das sequências ortográficas e fonológicas de
palavras e, ainda, o uso de regras de correspondência grafema-fonema para
decodificar informações.
119
Hoje, particularmente no Brasil, é comum um manejo didático do ensino de
leitura que além de não proporcionar a compreensão do princípio alfabético
negligencia ou desdenha o ensino explícito e sistemático das
correspondências usuais e permitidas entre grafema e fonema. Nesses
casos os alunos, inevitavelmente, terão que intuir, por conta própria, o
princípio alfabético adivinhar as correspondências permitidas entre
grafema e fonema (OLIVEIRA & SILVA, 2008, p. 3).
120
fonêmica, para que seja assegurado seu aprendizado. O valor dado a essas duas
competências é um fato científico importante produzido pela Ciência Cognitiva da
Leitura.
Segundo o relatório BRASIL (2007), após análise dos fatores que
influenciam a leitura por autores do National Reading Panel (2000), é que foram
estabelecidas competências e habilidades fundamentais para o processo de
alfabetização, que dizem respeito à consciência fonológica que é a habilidade de
perceber os sons da fala como entidades independentes de seu significado;
familiaridade com textos impressos; metalinguagem que é o uso da própria língua
para descrevê-la ou explicá-la; consciência fonêmica, ou seja, o entendimento de
cada palavra falada pode ser concebido como uma sequência de fonemas;
conhecimento do princípio alfabético; decodificação; fluência; vocabulário e
estratégias de compreensão de textos.
Reconhecendo a importância de tais competências e habilidades na
garantia do sucesso da alfabetização, convém salientar que no Brasil tais
competências não são incorporadas às práticas de alfabetização, assim como
frequentemente se confunde alfabetização com a compreensão por meio do
alfabetizar letrando, que sustenta a alfabetização e letramento, entendendo este
como meio mais eficiente de se alfabetizar. Sendo que, as descobertas da
neurociência e os avanços da psicologia cognitiva nos conduzem a uma superação
ideológica para nos firmarmos em evidências científicas.
Evidências essas que atestam para a superioridade dos métodos fônicos
com relação aos outros métodos, principalmente os métodos fônicos sintéticos que
por meio de materiais adequados, possibilitam o ensino sistemático e explicito das
relações grafemas e fonemas (OLIVEIRA, 2006, p. 10).
Ao abordarmos questões referentes às habilidades e competências
observaremos que as idéias referentes à alfabetização no Brasil estão distorcidas e
que é concebida como natural a utilização do termo soletrar e escrever como
121
sinônimos. Cada qual tem suas especificidades e definições. Soletrar é uma
habilidade essencial para as crianças aprenderem a escrever bem. Escrever, é mais
difícil do que ler, refere-se à capacidade de codificar sons usando os sinais gráficos
correspondentes os grafemas. “Num processo de alfabetização, primeiro é preciso
aprender a grafar as palavras adequadamente, aplicando critérios de transcrição
fonológica segundo padrões ortográficos, para em outro momento compor
textos”(BRASIL, 2007, p. 49).
Para que o desenvolvimento da escrita ocorra com êxito, o relatório BRASIL
(2007, p. 49) reforça que é necessário que primeiro ocorra o envolvimento das
crianças com a escrita, por meio de estímulos e de condições no ambiente como o
manuseio de livros e materiais impressos, além do acesso a artefatos que as
possibilitem rabiscar, desenhar, realizar tentativas de escrita, e tais estímulos e
condições devem ser propiciados a criança bem antes da fase de alfabetização,
durante a educação infantil.
O ensino dos códigos e regras de conversão fonema-grafema exerce um
papel fundamental na aprendizagem da escrita por permitir que as crianças utilizem
estas regras, quando necessárias, de forma intencional, e por acelerar a
aprendizagem implícita, entendendo por aprendizagem implícita a responsável pela
leitura automática, enquanto que aprendizagem explícita se refere à possibilidade
da criança tomar decisões quanto ao que está lendo ou escrevendo.
122
beneficiar-se, uma vez que sua vida social será constantemente permeada por
experiências que as exigem. A importância de ser alfabetizado fica evidente quando
você percebe que o sistema de ensino tem investido em programas de formação
continuada voltados aos professores que se dedicam à alfabetização.
Dessa forma, cabe a você, como futuro docente, conhecer as
características necessárias nessa formação para que possa desenvolver o
processo de alfabetização de forma eficaz com seus alunos. A habilidade do
professor alfabetizador de trabalhar com seus alunos na educação infantil e nos
anos iniciais será decisiva e determinante para as futuras conquistas intelectuais
destes durante toda a sua vida escolar, em todas as etapas do ensino de que
venham a participar. Além disso, precisa compreender como a escola contribui com
essa formação e, ainda, como a pesquisa se articula com a prática pedagógica do
docente.
123
saberes e de sua prática, recebendo novas influências de sua práxis, refletindo
sobre ela e a transformando. Veja o que Tardif (2014, p. 11) afirma sobre o assunto:
124
uma vez que a prática pode ser (re)apropriada conforme os diferentes
contextos em que o professor atua (CARVALHO, 2014, p. 102).
125
11.2 A ESCOLA E SUAS IMPLICAÇÕES NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR
ALFABETIZADOR
Dessa forma, você pode notar que é no interior da escola que o professor
alfabetizador vai colocar em prática seus saberes. Esses saberes são construídos
junto aos alunos e o professor deve ser um especialista, desenvolvendo as
aprendizagens necessárias para que o aluno conheça, valorize e exercite sua
cidadania. Se você considerar o conceito de cidadania, pode afirmar que na
sociedade atual, para que um indivíduo consiga minimamente reconhecer seus
126
direitos e deveres sociais e participar ativamente da vida social em seu cotidiano, é
necessário que seja alfabetizado. Logo, a escola, por meio da realização dos
afazeres do professor alfabetizador, poderá conduzir esse aluno à possibilidade de
se instrumentalizar por meio da leitura e da escrita para tornar-se cidadão de fato.
Quando as Diretrizes citam a escola como uma “organização complexa”,
você deve entender que essa instituição apresenta uma diversidade cultural que vai
se fazer presente tanto entre os docentes quanto entre os alunos. Além disso, entre
os docentes existirão várias tendências pedagógicas que irão pautar as práticas
cotidianas, que podem aproximar-se ou afastar-se daquilo que a escola e a
comunidade escolar propuseram em seus projetos político-pedagógicos. Lidar com
essa complexidade e multiplicidade de relações e interações não é tarefa simples e
desafia os gestores escolares no seu cotidiano.
A escola está implicada diretamente na formação do professor
alfabetizador. Suas primeiras experiências, ainda como aluno na sua escolarização
inicial, contribuem para esse processo. Os exemplos que traz consigo em suas
lembranças de professores e práticas utilizadas para alfabetização no interior da
escola também constituem esse docente. Já na formação inicial, quando o professor
busca os conhecimentos teóricos e práticos para tornar-se um docente, a escola
será o palco de inúmeros estágios de observação, entrevistas com docentes e
gestores escolares e regências de classe.
Uma interessante pesquisa realizada por Utsumi (2004) revelou que, no
interior das escolas analisadas pela autora, são destacados alguns aspectos que
caracterizam um professor considerado bem-sucedido em suas práticas docentes.
Essas características são:
• Tempo de casa;
• Tempo de atuação na mesma turma;
• Ações bem-sucedidas.
127
Como você pode perceber, essas características apontadas pela autora
estão presentes na escola, onde o tempo de casa irá relacionar-se com a vivência
que o docente possui no espaço escolar. O tempo de atuação na turma refere-se à
permanência do professor em um mesmo ano, em que pode se apropriar das
especificidades de cada turma e, assim, aprimorar suas práticas com o passar dos
anos. E as ações bem-sucedidas referem-se a todas as atividades planejadas e
colocadas em práticas com os alunos e que trouxeram resultados satisfatórios e
contribuíram significativamente para a aprendizagem. Como você viu, não é
possível falar da formação docente de um professor alfabetizador sem considerar o
local, o espaço, o “laboratório” onde ele vai se propor a tornar-se alfabetizador de
fato: a escola.
Não deixa de ser estranho que, numa época em que tanto se fala de
“autonomia profissional” ou de “professores reflexivos”, se assista a um
desaparecimento dos movimentos pedagógicos, no sentido que este termo
adquiriu na primeira metade do século XX, isto é, coletivos de professores
que se organizam em torno de princípios educativos ou de propostas de
128
ação, da difusão de métodos de ensino ou da defesa de determinados
ideais. A pobreza atual das práticas pedagógicas, fechadas numa
concepção curricular rígida e pautadas pelo ritmo de livros e materiais
escolares concebidos por grandes empresas, é a outra face do excesso do
discurso científico-educacional, tal como ele se produz nas comunidades
acadêmicas e nas instituições de ensino superior.
129
explicações, constitui o patamar mais seguro para orientar nossas ações
coletivas e individuais (PONTES, 1995, p. 48).
130
131
12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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