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VEÍCULOS ESPACIAIS
JANEIRO, 2019
1
PREFÁCIO
Esta obra foi concebida como material de apoio para a disciplina de mesmo nome
ministrada por mim no curso de pós-graduação strictu sensu de Ciência e Tecnologia
Aeroespaciais nos níveis de mestrado e doutorado, oferecido pelo ITA em parceria com
dois outros institutos do DCTA, o IEAv e o IAE, onde desenvolvo minhas atividades
profissionais.
Nesta obra foram compilados a teoria usada e os resultados obtidos nos trabalhos
relativos à análise térmica dos veículos espaciais e suborbitais desenvolvidos ou em
desenvolvimento pelo IAE, pela qual sou responsável no momento. O objetivo foi
preservar e difundir o conhecimento acumulado em anos de trabalho, baseado na
formação técnica e experiência e corroborado por resultados obtidos em voos reais dos
veículos.
A intenção é que seja atualizada e revisada constantemente, incluindo
contribuições dos colegas, parceiros, alunos da disciplina e orientados do autor, de
modo a se manter como referência nas aplicações espaciais desenvolvidas no IAE.
Deve-se frisar que, embora se trate de uma obra relativa ao campo de
transferência de calor, conhecimentos básicos e genéricos e técnicas de solução
analíticas e/ou numéricas dessa disciplina não serão abordados, visto que podem ser
encontrados em livros texto consagrados específicos sobre o assunto. Assim, considera-
se que os leitores e usuários deste trabalho tenham uma base consistente nessa área, de
forma a poder entender e aplicar o conteúdo apresentado.
Aproveito para agradecer a todos os citados nas referências de minha autoria ou
coautoria, que direta ou indiretamente contribuíram para a confecção deste trabalho.
Pesquisador Titular
Divisão de Aerodinâmica, Controle e Estruturas – ACE
Instituto de Aeronáutica e Espaço – IAE
Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespaciais – DCTA
Professor Adjunto
Departamento de Mecânica e Energia – DME
Faculdade de Tecnologia de Resende – FAT
Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ
2
ÍNDICE
PREFÁCIO....................................................................................................................................... 2
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 5
2. AMBIENTE EXTERNO ................................................................................................................. 9
2.1. Voo hipersônico ................................................................................................................. 9
2.2. Características do voo hipersônico .................................................................................. 11
2.2.1. Camadas de choque finas.......................................................................................... 11
2.2.2. Camada de entropia .................................................................................................. 11
2.2.3. Interação viscosa ....................................................................................................... 12
2.2.4. Escoamento à alta temperatura ............................................................................... 13
2.2.5. Escoamento à baixa densidade ................................................................................. 15
2.2.6. Sumário ..................................................................................................................... 16
3. AQUECIMENTO AERODINÂMICO ............................................................................................ 18
3.1. Introdução ........................................................................................................................ 18
3.2. Determinação do fluxo de calor ....................................................................................... 19
3.3. O Método de Zoby ........................................................................................................... 21
3.3.1. Determinação das condições após a onda de choque e de estagnação ................... 22
3.3.2. Distribuição de pressão ao longo do corpo ............................................................... 23
3.3.3. Estimativa do fluxo de calor local.............................................................................. 24
3.3.4. Cálculo da espessura de momento laminar .............................................................. 25
3.3.5. Cálculo da espessura de momento turbulenta .......................................................... 26
3.3.6. Cálculo do fluxo de calor transicional........................................................................ 26
3.3.7. Cálculo das propriedades na fronteira da camada limite ......................................... 27
3.3.8. Correção para os efeitos de compressibilidade ......................................................... 27
3.3.9. Equilíbrio químico ...................................................................................................... 28
3.3.10. Exemplo: Plataforma SARA Sub-orbital................................................................... 31
3.4. Cavidades e Protuberâncias ............................................................................................. 33
3.4.1. Cavidades .................................................................................................................. 33
3.4.2. Protuberâncias .......................................................................................................... 35
3.5. Outros Casos .................................................................................................................... 38
3.5.1. Veículo com ângulo de ataque diferente de zero ...................................................... 38
3.5.2. Regiões com descolamento e formação de esteira turbulenta ................................. 42
4. PROTEÇÃO TÉRMICA ............................................................................................................... 45
4.1. Introdução ........................................................................................................................ 45
3
4.2. Tipos de sistemas de Proteção Térmica ........................................................................... 45
4.2.1. Poços de calor............................................................................................................ 46
4.2.2. Sistemas radiativos.................................................................................................... 46
4.2.3. Transpiração e filme refrigerante.............................................................................. 46
4.2.4. Sistemas ablativos ..................................................................................................... 49
4.3. Ablação ............................................................................................................................. 49
4.3.1. Histórico .................................................................................................................... 49
4.3.2. Materiais ablativos .................................................................................................... 53
4.3.3. Compósitos ................................................................................................................ 54
4.3.4. Processos para fabricação de compósitos ablativos ................................................. 55
4.3.5. Processo de polimerização ........................................................................................ 62
4.3.6. Modelagem física da ablação em compósitos .......................................................... 63
4.3.7. Simulação do processo ablativo ................................................................................ 67
4.4. Proteção térmica integrada à estrutura ........................................................................... 79
5. AMBIENTE INTERNO ................................................................................................................ 85
5.1. Introdução ........................................................................................................................ 85
5.2. Modelagem da transferência de calor ............................................................................. 85
5.2.1. Transferência de calor por radiação ........................................................................ 87
5.2.2. Transferência de calor por condução ....................................................................... 87
5.2.3. Transferência de calor por convecção ...................................................................... 88
5.2.4. Fatores externos ........................................................................................................ 88
5.2.5. Potência dissipada pelo elemento ............................................................................. 88
5.3. Sistemas de arrefecimento .............................................................................................. 89
5.3.1. Sistemas de refrigeração passivos ............................................................................ 89
5.3.2. Sistemas de refrigeração ativos ................................................................................ 90
5.4. Dispersão do calor ............................................................................................................ 91
6. PROPULSÃO ............................................................................................................................. 95
6.1. Introdução ........................................................................................................................ 95
6.2. Transferência de calor em motores foguete .................................................................... 95
6.3. Aquecimento na tubeira .................................................................................................. 97
6.4. Efeitos do escoamento bifásico ....................................................................................... 99
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................. 108
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1. INTRODUÇÃO
O Instituto de Aeronáutica e Espaço - IAE, do Departamento de Ciência e
Tecnologia Espaciais – DCTA (São José dos Campos, SP), tem sido responsável pelo
projeto, construção e lançamento de centenas de foguetes de sondagem ao longo dos
últimos 40 anos, alguns do quais atendendo a requisitos de agências espaciais de outros
países, e pelo desenvolvimento do veículo Lançador de Satélite (VLS), além de outros
projetos relativos ao Programa Nacional de Atividades Espaciais – PNAE (VLM,
SARA, etc..) (IAE, 2019; AEB, 2019).
O projeto e desenvolvimento de veículos espaciais e sub-orbitais envolve a
escolha dos diversos subsistemas, seus materiais e componentes e o cálculo e
dimensionamento dos mesmos. Para tanto, são estimadas as cargas a que o veículo é
submetido durante a missão. Neste trabalho, o estudo estará limitado às chamadas
cargas térmicas, onde estão envolvidos os diversos processos de transferência de calor.
O cálculo dessas cargas visa assegurar que os limites de temperatura não serão
ultrapassados durante a missão.
As cargas térmicas mais estudadas na área espacial são aquelas envolvidas em
satélites e espaçonaves, que são substancialmente diferentes das cargas a que estão
submetidos os veículos lançadores com voo em ambiente atmosférico. Em geral, nos
primeiros, os limites são de temperaturas superiores e inferiores, já que no espaço os
sistemas estarão submetidos a esses dois extremos de temperatura. No caso de
lançadores, praticamente a única preocupação é manter as temperaturas abaixo de
limites de aquecimento. Também o ciclo de operação é bem diferente. Os satélites e
naves espaciais estão sujeitos a ciclos térmicos de longa e média duração. Já os veículos
lançadores estão submetidos a processos de aquecimento transitórios que em geral
nunca passam de algumas dezenas de minutos, se tanto, atingindo um pico durante a
ascensão e outro na reentrada, no caso de veículos recuperáveis (Palmério, 2016).
Se para os satélites e naves espaciais existe toda uma gama de metodologias e até
mesmo softwares dedicados a esse cálculo, no caso dos lançadores cada problema é
tratado de forma independente, somente sendo possível o acoplamento entre eles em
certos casos específicos. Os softwares são genéricos, empregados para casos
específicos, como programas de CFD (Computational Fluid Dynamics) ou análise
estrutural.
No IAE em particular nem sempre esses recursos estiveram disponíveis ou são
aplicáveis devido ao alto custo computacional. Nesses casos, modelos aproximados de
engenharia também são usados e tem demonstrado precisão satisfatória na previsão das
condições de operação, desempenho e temperaturas alcançadas pelos sistemas.
Assim sendo, neste curso será dada ênfase aos processos físicos e modelos de
engenharia usados no cálculo e dimensionamento dos lançadores. Porém, simulações
completas poderão se usadas sempre que possível, para demonstrar a viabilidade e
precisão desses modelos.
5
Durante a operação de veículos espaciais e suborbitais, ocorrem diversos
processos de transferência de calor, simultâneos ou não, nas fases de solo e de voo. Na
Fig.1.1 estão mostrados esquematicamente no VLS (Veículo Lançador de Satélite),
outrora em desenvolvimento no IAE/DCTA, os principais processos de aquecimento
sofridos pelo veículo.
Aquecimento aerodinâmico
6
Aquecimento aerodinâmico: devido às grandes velocidades alcançadas dentro da
atmosfera, especialmente em veículos orbitais, ocorre o processo de aquecimento
aerodinâmico da superfície do veículo. Diversos tipos de TPS (Thermal Protection
System) são empregados para proteção do veículo e da carga útil. Para o correto
dimensionamento o TPS, é necessário o conhecimento prévio da carga térmica incidente
em cada região do veículo durante a missão. Essa carga é calculada através de modelos
de engenharia, que necessitam de estimativas prévias da vários parâmetros, tais como
coeficiente de película do ar durante o voo, propriedades do material usado na estrutura
do veículo, etc.
Aquecimento da base por radiação da pluma: o fluxo de calor por radiação da pluma do
propelente sobre a base do foguete deve ser estimado de modo a garantir que a proteção
térmica dessa região assegure que a temperatura se manterá dentro dos limites
prescritos. Existem modelos de engenharia e cálculo através de métodos numéricos que
permitem estimar o fluxo de calor radiante sobre a base do veículo. No entanto, esses
modelos demandam o conhecimento prévio de diversos parâmetros e propriedades, dos
quais somente uma parte pode ser obtida a partir dos resultados do tiro em banco do
motor.
7
Como foi mencionado, o principal limitante no projeto de foguetes relativo à
transferência de calor são os limites de temperatura. No caso do aço, esse limite em
geral está próximo de 700 K (427º C), embora temperaturas maiores sejam aceitáveis de
acordo com o tipo de aço. O alumínio e compósitos (como Kevlar, por exemplo)
perdem rapidamente suas propriedades mecânicas a partir e 395 K (122º C). No caso
dos aços, apesar do limite de 700 K ser aceitável, deve-se considerar o contato com
materiais menos resistentes à temperatura, como adesivos e compósitos. Um adesivo
típico perde suas propriedades em torno de 400 K.
Um fator a ser levado em conta na análise é o caráter transiente do processo de
aquecimento. Uma vez que o ciclo de operação do foguete compreende um curto
intervalo de tempo, em diversas partes do veículo as temperaturas máximas serão
alcançadas somente após o voo, devido ao processo difusivo de condução de calor.
Esse fato impacta diretamente o projeto de diversos sistemas internos.
Normalmente se considera a temperatura máxima aceitável para a superfície interna da
estrutura da carga útil como 60º C. Dependendo do material de isolamento e do sistema
de arrefecimento interno, essa temperatura pode ser superada após a missão, desde que
seja mantida abaixo do limite durante o voo.
Além do objetivo primário de manter a integridade estrutural do veículo, há
diversas limitações no projeto que precisam ser estabelecidas e resolvidas antes da
própria análise térmica. Algumas limitações são requisitos de projeto. Outras devem ser
analisadas em conjunto com outros requisitos durante a fase preliminar o projeto.
O projeto térmico de um veículo deve levar em conta cada uma ou as
combinações das limitantes do sistema de proteção térmica:
Peso mínimo da seção transversal do isolamento
Espessura mínima (permite maior carga de propelente no motor)
Respeito às margens específicas de segurança na erosão do isolamento ou de
resistência mecânica
Custo mínimo (incluído matérias-primas, fabricação e isolamento)
Pirólise do isolamento contribuindo com mínimos efeitos sobre a queima ou
degradação da superfície
Disponibilidade, reprodutibilidade e ciclo de vida do isolamento
Compatibilidade química e de adesão com a formulação do propelente, por exemplo
migração do plastificador.
Limitações no processamento e instalação
8
2. AMBIENTE EXTERNO
Subsônico: M<1
Transônico: M=1
Supersônico: M>1
Hipersônico: M>5
M = V/C (1.1)
𝐶 = √𝛾𝑅𝑇 (1.2)
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(a) Veículo supersônico: caça Lockheed F-104 (década de 1950), capaz de manter
uma velocidade de Mach 2.
(b) Veículo hipersônico: Space Shuttle (década de 1980), que superava Mach 20
durante a reentrada.
Figura 2.1. Comparação entre as formas de veículo supersônico (a) e hipersônico (b).
10
2.2. Características do voo hipersônico
Apesar de o regime hipersônico ter sido definido como aquele que ocorre acima
de Mach 5, não existe um fenômeno pontual a essa velocidade que demarque esse
limite, ao contrário do voo supersônico, quando a onda de choque é formada em Mach
1. Nesse caso, mesmo que a velocidade não atinja Mach 5 é possível identificar um voo
hipersônico através de uma série de fenômenos físicos que se tornam importantes ou
dominantes nessa faixa de velocidade, embora possam acontecer em velocidades
menores, na faixa de Mach 3:
O gás sofre um aumento de entropia após cruzar a frente de choque. Quanto mais
intenso o choque maior o incremento de entropia. No caso de corpos rombudos, como
na Figura 2.4, na região do nariz a frente de choque será extremamente curva. Uma
streamline (linha de corrente) passando pelo centro produzirá um aumento de entropia
maior do que na vizinhança onde a superfície é plana. Nesse caso, um gradiente de
entropia aparece, formando uma camada de entropia onde ocorre um acúmulo de
vorticidade, que interage com a camada limite viscosa. Em consequência, o cálculo
usando a aproximação clássica de camada limite apresenta imprecisões, pois não é
possível determinar sua espessura com precisão.
11
Figura 2.4. Camada de entropia ao redor de um corpo rombudo.
12
A combinação desses e outros efeitos resulta numa relação aproximada:
2
𝑀∞
𝛿= (2.4)
√𝑅𝑒𝑥
13
Figura 2.7. Camada de choque em alta temperatura.
Figura 2.8. Temperatura após uma onda de choque normal como função da velocidade
do escoamento a uma altitude de 52 km.
14
Na Figura 2.8, a curva superior assume um valor constante para , o que
equivale a assumir o ar como um gás caloricamente perfeito. Essa hipótese resulta em
temperaturas superestimadas. A curva seguinte apresenta a temperatura para um
escoamento considerando equilíbrio químico, que é próxima da situação real. Assim:
A temperatura na região do nariz pode atingir valores extremamente altos, por
exemplo, 11000 K a Mach 36 (reentrada da cápsula Apollo), o que é quase duas
vezes a temperatura da superfície do Sol.
A inclusão dos efeitos de reações químicas é vital para a previsão acurada da
temperatura.
Kn = /L (2.5)
15
Figura 2.9. Regime de aplicabilidade para várias equações em escoamentos a baixa
densidade.
2.2.6. Sumário
16
O estudo e análise de escoamentos hipersônicos envolve a contabilização
simultânea dos diversos fenômenos discutidos nessa seção. Uma organização desse
estudo é apresentada na Figura 2.11. Aqui somente modelos de engenharia aplicados à
estimativa do fluxo de calor serão abordados. Os demais tópicos fogem ao escopo deste
trabalho.
17
3. AQUECIMENTO AERODINÂMICO
3.1. Introdução
No caso de veículos hipersônicos, as condições são ainda mais severas, como foi
visto no capítulo anterior. Porém nesse caso, a principal causa de aquecimento é a
convecção entre o ar aquecido após o a onda de choque e a superfície do veículo. Essa
condição é crítica no ponto de estagnação do veículo, onde o aquecimento atinge o pico.
Nessa situação, o aquecimento por fricção chega no máximo a 5% da carga térmica,
sendo 95% devido à convecção e eventualmente à radiação (Anderson, 2006).
Ao ser iniciada a indução de reentrada atmosférica, um veículo hipotético estaria a
300 km de altitude. Na fase entre 120 e 30 km, quando o veículo entra com alta
velocidade em uma atmosfera mais densa, esta velocidade é reduzida de 7,6 km/s a 2
km/s. É nessa fase que a maior parte da energia cinética do veículo deverá ser dissipada
18
pela frenagem na atmosfera. Os cursos possíveis de trajetória se encontram em uma
pequena faixa, denominada corredor de reentrada, cujo limite superior é estabelecido
pela carga térmica e o limite inferior é dado por requisitos estruturais (devido à grande
desaceleração) e por um fluxo de calor limite. Os pré-requisitos de fluxo de calor e
carga térmica mínimos do veículo são antagônicos: a trajetória descrita no corredor de
reentrada como sendo o limite inferior permite uma reentrada rápida, ocasionando um
fluxo térmico alto e uma forte desaceleração em altitudes baixas, embora a carga
térmica seja menor devido ao menor tempo de aquecimento. A trajetória do limite
superior proporciona uma reentrada mais lenta, com um fluxo térmico menor, mas com
uma maior carga térmica. No primeiro caso o fluxo de calor mais alto irá exigir o uso de
materiais capazes de suportar altas temperaturas e com um a inércia térmica maior,
enquanto o segundo caso exigirá materiais que sejam bons isolantes térmicos. Um
exemplo da diferença citada para uma reentrada da cápsula americana Apolo resultaria
num fluxo térmico de 12,5 MW/m2 e carga térmica de 4.050 J para o primeiro caso e 4,2
MW/m2 de fluxo e 8.185 J de carga para o segundo caso. Na Figura 3.2 são
apresentadas as curvas (mapas velocidade x altitude) esperadas para diversos tipos de
reentrada.
Figura 3.2. Trajetórias otimizadas para diversos tipos de reentrada (Da Costa, 2000).
19
softwares implica em estudos próprios e prática na sua aplicação. Por isso, esses
métodos não serão abordados aqui. Este estudo será limitado ao método de engenharia
atualmente empregado no IAE para estimativa do fluxo de calor. No caso deste
trabalho, será empregado um método de temperatura de referência, (Reference
Temperature Method, na figura 3.2), a ser descrito em detalhe a seguir.
Figura 3.2. Sequência para análise do escoamento viscoso com complexidade crescente
para estimativa do fluxo de calor em escoamentos hipersônicos.
20
3.3. O Método de Zoby
𝑑𝑢
𝑞𝑤 = 0,763𝑃𝑟 −0,6 (𝜌𝑒 𝜇𝑒 )1/2 √ 𝑑𝑥𝑒 (ℎ𝑎𝑤 − ℎ𝑤 ) (3.1)
21
3.3.1. Determinação das condições após a onda de choque e de estagnação
Assume-se que as condições da corrente livre são dadas por v, T, p e M,
respectivamente a velocidade, temperatura, pressão e Mach. As condições atmosféricas
(propriedades do ar com a altitude) são obtidas a partir da U. S Standart Atmosphere
(NOA, 1976), de onde se extraem a pressão e temperatura ambientes, velocidade do
som e demais propriedades físicas do ar. As variações de pressão, densidade,
temperatura e velocidade do som do ar de acordo com essa fonte são apresentadas na
Figura 3.3. Estas são as propriedades do escoamento antes da onda de choque. Os
valores após a onda de choque dependem do modelo de gás adotado. No caso de um gás
caloricamente perfeito são usadas as equações básicas das ondas de choque normais:
2 2𝛾
𝑃𝐴 = 𝑃∞ [1 + 𝛾+1 (𝑀∞ − 1)] (3.3)
(𝛾+1)𝑀2
∞
𝜌𝐴 = 𝜌∞ 2+(𝛾−1)𝑀 2 (3.4)
∞
2𝛾 2+(𝛾−1)𝑀∞2
2
𝑇𝐴 = 𝑇∞ {[1 + 𝛾+1 (𝑀∞ − 1)] [ 2
(𝛾+1)𝑀∞
]} (3.5)
(𝛾−1) 2
1+[ ]𝑀∞
𝑀𝐴 = √ 2
2 −(𝛾−1)
(3.6)
𝛾𝑀∞
2
𝑉𝐴 = 𝑀𝐴 √𝛾𝑅𝑇𝐴 (3.7)
ℎ𝐴 = 𝐶𝑝 𝑇𝐴 (3.8)
𝑉𝐴2
ℎ𝑆 = ℎ𝐴 + (3.9)
2
𝛾
ℎ 𝛾−1
𝑃𝑆 = 𝑃𝐴 (ℎ 𝑠 ) (3.10)
𝐴
𝛾
ℎ 𝛾−1
𝜌𝑆 = 𝜌𝐴 (ℎ 𝑠 ) (3.11)
𝐴
22
120000 1.6
1.2
80000
Densidade (kg/m3)
Pressão (Pa)
0.8
40000
0.4
0 0
0 40 80 120 0 40 80 120
Altitude (km) Altitude (km)
360 400
320
360
Velocidade do som (m/s)
Temperatura (K)
280
320
240
280
200
160 240
0 40 80 120 0 40 80 120
Altitude (km) Altitude (km)
pi p 2 p
1 cos i (3.12)
ps ps ps
23
r
y
i
R
y=0 z
q H(Taw Tw ) (3.13)
Ve2
Taw Te FR (3.14)
2C p
K3
*e *e
C F K1 Re
K2
(3.16)
e e
24
O sobescrito “*” refere-se à propriedades avaliadas à temperatura de referência de
Eckert (Te*).
A variação da viscosidade com a temperatura é obtida a partir da formula de
Sutherland.
𝑇 1,5 398
𝜇𝑒 = 1,789𝑥10−5 (288
𝑒
) (110+𝑇 ) (3.18)
𝑒
2N
m
1 N 1 N
K1 2 (3.19.a)
C5 N 1N 2
2
m (3.19.b)
N 1
De acordo com as equações 3.13, 3.15 e 3.16, os fluxos de calor laminar qL e turbulento
qT são dados por:
𝜌∗ 𝜇∗ 𝑚
𝑞𝐿 = 0,22 (𝑅𝑒𝜃 )−1 (𝜌𝑒) (𝜇𝑒 ) 𝜌𝑒 𝑉𝑒 𝑃𝑟𝑊−0,6 𝐶𝑝 (𝑇𝑎𝑤 − 𝑇𝑤 ) (3.20.a)
𝑒 𝑒
𝜌∗ 𝜇∗ 𝑚
𝑞𝑇 = 0,5𝐾1 (𝑅𝑒𝜃 )−𝑚 (𝜌𝑒) (𝜇𝑒 ) 𝜌𝑒 𝑉𝑒 𝑃𝑟𝑊−0,4 𝐶𝑝 (𝑇𝑎𝑤 − 𝑇𝑤 ) (3.20.b)
𝑒 𝑒
0.664 *e*e Ve R 2 dy
S 2
L 0 (3.21)
e Ve R
25
onde R é o raio de curvatura loca da superfície, conforme mostrado na Figura 3.4. No
ponto de estagnação R = 0 e a eq. (3.21) se torna indeterminada. Nesse caso, quando y <
0.1 RN (raio da região esférica), foi empregado o limite da eq. (3.21) quando R 0 :
1
0.332 *e*e 2
L (3.22)
1
1 2p s p 2
e
R N s
Ij+1 = Ij + 0,5 [(*e,j *e,j Ve,j rj2 + *e,j+1 *e,j+1 Ve,j+1 rj+12)(yj+1 – yj)] (3.23)
onde:
𝜃𝐿,𝑗 𝜌𝑒,𝑗 𝑉𝑒,𝑗 𝑅𝑗 2
𝐼𝑗 = ( ) (3.24)
0,664
Com o valor de Ij+1 calculado, j+1 é obtido através da equação 3.24. A espessura de
momento nos pontos subsequentes é obtida de modo similar.
De Ve R ee
0.5C Fe Ve R (3.25)
Dy
Supondo que entre dois pontos consecutivos da malha o produto (eVeRee) varia
linearmente com S, temos:
1
𝜃𝑇,𝑖+1 = 𝜌 [𝜌𝑒,𝑖 𝑉𝑒,𝑖 𝑅𝑖 𝜃𝑇,𝑖 + 0,5𝐶𝐹,𝑖 𝜌𝑒,𝑖 𝑉𝑒,𝑖 𝑅𝑖 (𝑦𝑖+1 − 𝑦𝑖 )] (3.26)
𝑒,𝑖+1 𝑉𝑒,𝑖+1 𝑅𝑖+1
q Tr q L F( y)(q T q L ) (3.27)
1
p
e,i s e,i (3.29.a)
ps
1
p
h e ,i h s e,i (3.29.b)
ps
h e ,i
Te,i (3.29.d)
Cp
Te*,i T
1 0.032M e2,i 0.58 W 1 (3.30)
Te,i Te,i
O modelo foi estendido por Zoby and Moss (1982) para o caso do ar em equilíbrio
químico e cobre o intervalo de 1800-8000 km/s e 2-1000 Pa. O modelo é baseado nas
equações para entalpia e temperatura:
Pm
h Ch (3.32)
n
Pz
T CT (3.33)
k
h T P
h ; T ; P ; (3.34)
h0 T0 P0 0 0
onde as propriedades de referência T0, P0, 0 e 0 são assumidas à 273 K, 1 atm, 1.292
kg/m3 1.715 x 10-5 kg/m.s, respectivamente. Para a entalpia de referência, h0 = RT0,
onde R = 287.1387 J/kg.K.
As constantes Ch e CT são estimadas considerando uma linha de corrente cruzando
a frente de choque em direção normal a esta. São obtidas a partir de:
C h C *h (3.35)
C *T
CT (3.36)
e CP.BP
10
C *h a i U ih1 (3.37)
i 1
28
11
C *T b i U iT1 (3.38)
i 1
onde:
0.05
U 20 U T 12
2
CP T (3.39)
18 12
2x10 7
ln
P
BP (3.40)
50
1
2x10 5 15 U 2.4384
U h
(3.41)
P 2.4384
U
UT (3.42)
0.3048
V A VA (3.43)
V2 VA2
h hA (3.45)
2 2
1
C h PAm n
A 0 (3.47)
h A
29
iii. Obtenha hA da Eq.(3.45);
iv. Obtenha A da Eq.(3.47 );
v. Estime um novo valor para VA através da Eq.(3.43);
vi. Repita os passos 2-6 até que a precisão desejada seja atingida.
V2 VA2
hs h hA (3.48)
2 2
n
n 1 1 n 1
n m n m n 1
h h An 1 P n
P
n (3.49)
A
Ch n n m
n
n m 1 n m
n 1 n 1 n m
n
P PA C h
n
hs n
h A n (3.50)
n 1
Uma vez que hs e Ps são conhecidos, Ts e s são estimados a partir das Eqs. (3.32, 3.33).
O método de Newton e a Eq.(3.49) permitem obter a pressão e entalpia em qualquer
ponto da superfície do corpo. As demais propriedades são calculadas empregando as
equações prévias para ar em equilíbrio químico.
i ai bi
1 4.529228633899 12.297991101529
2 4.446970720900 -8.238094255731
3 1.386555275431 2.419592541157
4 -13.142746144615 -0.33538942364
5 6.997767376225 0.02067595608575
6 21.914473834036 0.1046732310838 x 10-3
7 -34.236435659858 -0.1014180246941 x 10-3
8 20.407510958029 0.6888281850264 x 10-5
9 -5.658335244460 -0.2245678457584 x 10-6
10 0.611030863675 0.3725350878072 x 10-8
11 - -0.2518960222376 x 10-10
30
3.3.10. Exemplo: Plataforma SARA Sub-orbital
A plataforma SARA sub-orbital, mostrada na Figura 3.5, foi planejada como uma
plataforma recuperável para experimentos em ambiente de microgravidade e é um dos
projetos em desenvolvimento no IAE. Tem um peso total de 250 kg e uma carga útil
prevista de 25 kg. A versão orbital deverá ser capaz de se manter em uma órbita de 300
km durante 10 dias (Moraes, 1998). As características da trajetória do SARA são
mostradas na Figura 3.6.
2500
400 8
2000
Velocity (m/s)
Altitude (km)
300 6
Mach
1500
200 4
1000
100 2
500
0 0 0
0 100 200 300 400 500 600 700 800 0 100 200 300 400 500 600 700 800 0 100 200 300 400 500 600 700 800
Time (s) Time (s) Time (s)
31
4000 300
Perfect gas Perfect gas
Chemical Equilibrium Chemical Equilibrium
200
Temperature, K
2000
100
1000
0 0
0 200 400 600 800 0 200 400 600 800
time, s time, s
700
F = 1.01
F = 1.02
600 F = 1.03
500
h (W/m2)
400
t = 634 s
300 t = 724 s
t=4s
t = 24 s
200
100
t = 44 s t = 39 s
0
0 0.5 1 1.5
Y (m)
32
3.4. Cavidades e Protuberâncias
3.4.1. Cavidades
33
(a) Mapeamento da profundidade (b) Fator de amplificação
b
H L a L
1 BF e M e Re (3.51)
H
34
onde:
– espessura local da camada limite
Me - número de Mach local na fronteira da camada limite
Re – número de Reynolds local (baseado na espessura local da camada limite).
BF - (Bump Factor) é o fator de amplificação do coeficiente de transferência de calor
por convecção, dado por:
BF = hl/h0 (3.52)
Coeficiente a b
1
Regime Laminar (Re < 163) -0,6305 3,8695 3,30 3,70 0,20 0,05
Regime Turbulento (Re > -2,3741 2,6034 3,30 2,70 0,00 0,10
1,2
275)
(1) Para 163 < Re < 275, o regime é considerado transicional, e a média ponderada empregada na
Equação 3.27 é usada na obtenção dos parâmetros.
(2) Devido à ausência de dados experimentais, não foram encontrados coeficientes para o caso de
cavidade aberta (open cavity). Por isso, foram empregados os coeficientes obtidos para o caso de
cavidade fechada (closed cavity).
Segundo os autores do estudo, a correlação apresentada na Eq. 3.51 tem uma faixa de
aplicabilidade de 1,8 < Mach < 9 e 4.409 < Re < 32.288. No caso de defletores, um
incremento considerável na troca de calor por convecção é produzido nesse elemento,
conforme mostrado por Hozumi et al (2001).
3.4.2. Protuberâncias
35
(a) (b)
36
Tal comportamento é coerente com os resultados experimentais obtidos por Berry e
Hovarth (2007), que induziram a transição do escoamento através de uma protuberância
de pequenas dimensões, mostrando que h tendia para o valor previsto em uma superfície
lisa sob escoamento turbulento logo após a perturbação, Fig. 3.14.
Para estimar h nos pontos de interesse, Toro (1994) empregou um fator de correção
sobre o valor obtido a partir da superfície lisa, extraído de Wilson (1966). Nas
estimativas realizadas no IAE, tem sido empregada a correlação apresentada por Cline
(1969) para valores médios de h em função dos Números de Reynolds e Mach locais:
h 22 M e
(3.53)
h0 Re e0.15
onde:
h – coeficiente de troca de calor por convecção na protuberância/cavidade.
ho - coeficiente de troca de calor por convecção no ponto de estagnação do veículo.
Me – Número de Mach local na fronteira da camada limite.
Ree – Número de Reynolds local (baseado na extensão da coordenada y).
Esta correlação apresenta limitações em sua aplicação. Os dados para sua construção
foram obtidos até o limite de Mach 4,44, com uma dispersão de aproximadamente
20 %. O valor obtido corresponde ao valor máximo atingido por h no entorno da
protuberância, o que, como foi visto, ocorre em pontos específicos da mesma. Em geral,
as médias devem tender para valores bem abaixo dos obtidos. Esses fatores devem ser
levados em conta na análise dos resultados.
37
3.5. Outros Casos
Neste tópico serão tratados alguns casos especiais, estudados para situações
específicas, não previstas nos tópicos anteriores. Como mencionado, em todos os casos
foram empregados métodos de engenharia para estimativas aproximadas a baixo custo.
O método de Zoby pode ser estendido para corpos com ângulo de ataque não nulo
a partir de aproximações para alguns parâmetros. Utilizando a teoria de escoamento
Newtoniana, pode-se deduzir uma relação entre a pressão na superfície de um corpo
esférico e a corrente levando em consideração a inclinação (Figura 3.31.)
𝛼 𝛼 𝛼
𝐶𝐷 = 𝐶𝐷,0 + 12(1 − 𝐶𝐷,0 )𝑠𝑒𝑛2 ( ) − 6(6 − 5𝐶𝐷,0 )𝑠𝑒𝑛4 ( ) + 4(6 − 5𝐶𝐷,0 )𝑠𝑒𝑛6 ( )
2 2 2
(3.55)
H = 0,5.e.Cp.Ve.Prw-a.CD (3.56)
39
Figura 3.33. Fluxo de calor ao longo da coordenada z para ângulo de ataque 5o.
40
c
Figura 3.34. Fluxo de calor ao longo da coordenada z para ângulo de ataque 10o.
41
3.5.2. Regiões com descolamento e formação de esteira turbulenta
No caso da reentrada, existe troca de calor por convecção entre a esteira e a base
do veículo, que deve ser estimada. Não foram encontradas análises prévias desse
fenômeno em trabalho realizados no IAE. Uma análise qualitativa será apresentada, e
será feita uma estimativa grosseira do aquecimento naquela região.
Na Figura 3.35, São mostradas as duas situações limite de formação da esteira,
usando como exemplo a plataforma SARA Sub-orbtial. No caso de ângulo de ataque
zero, existe axisimetria ao longo do SARA. Com o ângulo de ataque máximo de 60o,
ocorre o deslocamento do ponto de estagnação e a esteira se forma em pontos diferentes
da superfície do SARA. Nesse caso é possível considerar o ponto inicial de formação da
esteira como o ponto mais adiante onde o ângulo entre a normal à superfície e o
escoamento é de 90o. A partir daí, para a determinação do aquecimento aerodinâmico, é
preciso avaliar o campo de pressões. Neste trabalho, será feita uma análise qualitativa
do caso em que o ângulo de ataque é nulo, e os resultados serão extrapolados para um
ângulo de ataque de 60o.
Voo
Ângulo de ataque 2
Ponto de de 60
o
1
Estagnação
Ponto de
Estagnação
3
1
T V 2
(3.57)
Tmáx Vmáx
Observando a Figura 3.35, podemos admitir que os valores máximos para a velocidade
e a temperatura serão respectivamente a velocidade do escoamento (V∞) e a temperatura
de recuperação (Tr) no último ponto calculado sobre a superfície (no caso de ângulo de
ataque nulo, o ponto 1). Esses valores serão assumidos de forma a manter uma
abordagem conservadora dos resultados.
A Figura 3.36 mostra a variação de h com a coordenada y, tangente à superfície do
SARA na direção axial. Observa-se que na região final, de forma cilíndrica, h tende a
assumir um valor aproximadamente constante.
42
Frame 001 30 May 2007 CAMPOS
700
600
500
H (W/m2 K)
400
634 s
300
674 s
200 724 s
100
629 s
0
0 0.5 1 1.5 2
Y (m)
Figura 3.36. Variação do coeficiente de troca de calor por convecção ao longo de y
para vários instantes da trajetória descendente.
43
Figura 3.37. Coeficiente de transferência de calor em função da coordenada Y.
44
4. PROTEÇÃO TÉRMICA
4.1. Introdução
45
Figura 4.1. Proteção térmica do Space Shuttle.
O sistema de proteção por poço de calor (heat sink) é o mais simples e foi usado nas
primeiras gerações de veículos espaciais e mísseis balísticos. Consiste em uma massa
que absorve e distribui o calor por condução. O limite de aplicação é restrito e as
temperaturas atingidas são baixas demais para tornar a troca radiante significativa. Foi
abandonado nas aplicações mais críticas e tem utilização restrita nas áreas onde a
estabilidade geométrica da superfície deve ser mantida.
47
Figura 4.3. Aplicação dos sistemas de proteção térmica.
48
Figura 4.4. Típico sistema de resfriamento por transpiração.
A ablação pode ser definida como “um processo auto-regulado de troca de calor e
massa no qual a energia térmica incidente é absorvida e eliminada pelo sacrifício de
material”. Atualmente o sistema mais usado como TPS, tem sido objeto de vastas
pesquisas, tanto em termos de modelagem e simulação quanto no desenvolvimento de
novos materiais. É o sistema de aplicação corrente nos veículos em operação e
desenvolvimento no IAE. Sendo assim, será o objeto principal deste capítulo.
4.3. Ablação
4.3.1. Histórico
Apesar dos vários estudos sobre voo espacial desde os anos de 1940, incluindo
Werner von Braun e outros especialistas, ninguém havia pensado como um veículo
poderia voltar do espaço até os anos de 1950. Os poucos que o fizeram, como von
Braun, concluíram que provavelmente o melhor caminho era construir um veículo de
grandes dimensões e circular um fluido sob sua superfície de modo a dispersar o calor.
Claramente o problema de reentrada atmosférica na Terra se tornava um desafio
significativo para os primeiros pesquisadores espaciais à medida que estudavam como
suplantar o calor gerado pela fricção. Entretanto, nem todos os veículos que
experimentavam a reentrada eram espaçonaves; como por exemplo as ogivas nucleares
provenientes de mísseis balísticos. Elas deveriam voar em um arco similar a uma bala
de canhão, em grande parte sobre a atmosfera, e então reentrar a aproximadamente 20
vezes a velocidade do som, sofrendo um tremendo aquecimento aerodinâmico.
Como foi visto, a pesquisa inicial em reentrada de veículos hipersônicos,
especialmente mísseis, foi focada em perfis longos em forma de agulha. Quando eram
testados em túneis aqueciam tanto que simplesmente queimavam ou derretiam. O
cientista H. Julian Allen, do Laboratório Aeronáutico Ames, fez uma descoberta contra
intuitiva em 1952: aumentando o arrasto do veículo ele reduzia o calor gerado. Grande
parte do calor gerado era defletido para longe do veículo. Assim, as melhores
geometrias apontadas por Allen e outro cientista, Alfred J. Egers, foram chamadas
blunt-bodies (corpos rombudos). Ao contrário do formato de agulha os corpos
rombudos formam uma fina camada de choque a frente do veículo que deflete o calor e
reduz sua velocidade mais rapidamente, representando um menor aquecimento e uma
maior proteção térmica.
49
Baseados nessa pesquisa, em 1955 os engenheiros da General Electric (GE)
começaram a trabalhar no veículo de reentrada Mark 2 (Figura 4.5) para as missões
Thor, Júpiter a Atlas. O Mark 2 era um corpo rombudo que defletia muito o calor
gerado, porém uma grande parte ainda atingia a superfície a partir do ar superaquecido
formado na frente do veículo e isso era um sério problema para o projeto. A GE decidiu
usar o conceito de heat sink (poço de calor), onde o calor da reentrada era conduzido da
superfície para uma massa de material que poderia dissipa-lo rapidamente. O segredo
era conduzir o calor para longe da superfície tão rapidamente que o material da
superfície não fundisse ou sublimasse. Os engenheiros da GE testaram diversos
materiais como poço de calor, incluindo berílio, ferro fundido e aço, mas o cobre
mostrou-se a melhor opção. Colocar uma grande massa de cobre logo abaixo da
superfície externa do veículo era capaz de prevenir sua incineração. A Figura 4.6 mostra
poço de calor de cobre de um míssil balístico intercontinental. Uma concha de 1000
libras de cobre e aço inox foi manufaturada através de eletrousinagem, com uma
cobertura de níquel e uma superfície externa reflexiva de platina. O desenho foi o
precursor dos módulos Mercury tripulados com poços de calor de berílio e dos módulos
Gemini e Apollo, que usavam escudos térmicos em lugar dos poços de calor, mas com
as mesmas geometrias.
50
período na atmosfera superior, arrastando uma corrente de gás ionizado bastante visível
no radar. Tal comportamento era inadequado para uma ogiva, já que para mísseis
balísticos o comportamento desejado era que viajassem o mais rapidamente através da
atmosfera sem serem detectados, o que tornava um alto desejável. Os engenheiros da
GE duvidavam que a tecnologia de poço de calor pudesse funcionar nesse caso. Além
disso, o conceito implicava em um considerável peso adicional resultante da massa de
cobre, que era sacrificado da carga útil.
51
O princípio da proteção ablativa funciona para veículos espaciais e mísseis
balísticos, para alto ou baixo e permite que um veículo com perfil de corpo rombudo
com baixo mantenha a temperatura relativamente baixa durante a reentrada. No caso
da reentrada de ogivas de mísseis balísticos o aquecimento é ainda mais intenso, embora
por períodos mais curtos. Nesse caso o emprego de materiais ablativos também permite
a redução das temperaturas atingidas, reduzindo a possibilidade de detecção. A chave
para a aplicação de proteções ablativas é a escolha correta do material. Um dos
materiais mais comumente empregados é a resina fenólica. Nos primeiros mísseis
nucleares foi empregado um tecido de nylon impregnado com resina fenólica e moldado
na forma desejada.
A primeira nave Mercury usou uma forma rombuda e um poço de calor, mas as
versões posteriores usaram superfícies ablativas, Figura 4.7. A GE construiu um veículo
de reentrada semi-rombudo para a Força Aérea Americana e a CIA, a
Discoverer/CORONA, que deveria retornar com filmes de satélites espiões, Figura 4.8.
Outras empresas, como a AVCO, também desenvolveram escudos ablativos para
mísseis. O formato rombudo e materiais ablativos aperfeiçoados também foram usados
nas naves Gemini e Apollo, avançando rapidamente durante os anos 60. No fim daquela
década, outras tecnologias e técnicas para a sobrevivência ao tremendo aquecimento
aerodinâmico na reentrada atmosférica foram desenvolvidos.
52
4.3.2. Materiais ablativos
53
Na classe dos compósitos, encontram-se os sistemas de proteção térmica de maior
interesse, que são os materiais compósitos que sofrem carbonização. Estes podem ser
fabricados com resinas por termopolimerização tais como: fenólicas, epóxi e silicones.
Estas resinas podem ser utilizadas puras ou com reforços internos de fibras orgânicas ou
refratárias como: vidro, asbesto, grafite ou nylon.
Os seguintes materiais são usados atualmente pelo IAE como proteção térmica:
Compósito quartzo-fenólico prensado
Compósito carbono-fenólico bobinado e prensado
Compósito carbono-epóxi bobinado
Compósito Kevlar-epóxi
Compósito vidro-epóxi
Compósito Ambatex-Celeron 1016 concêntrico e com fibra paralela
Compósito carbono-carbono 3D
Compósito C-C-Si
Cortiça Copa 6A
Grafite
EPDM
Borracha nitrílica
4.3.3. Compósitos
55
“hi-silica fibers” (95% de SiO2) e o quartzo (99,99% da SiO2), tipicamente maus
condutores de calor, sejam indicados.
Outro material que ganhou importância no desenvolvimento de compósitos
ablativos foi a fibra de carbono. Embora o carbono apresente uma condutividade
térmica maior que a dos filamentos inorgânicos à base de dióxido de silício, ele
apresenta alta estabilidade física a temperaturas elevadas, reduzindo o desgaste ablativo
durante a operação, ou seja, mantendo, neste aspecto, melhores desempenhos devido à
boa preservação da geometria dos divergentes e tubeiras, por exemplo.
Por outro lado, a matéria-prima selecionada como matriz (resina) da estrutura
deverá apresentar, tanto quanto possível, um alto teor de carbono fixo ou carbono
pirolítico, associado à boa resistência à temperatura. Isto faz das resinas fenólicas puras
ou fenólicas modificadas, através de aditivos químicos ou mesmo cargas sólidas, a
categoria de materiais que apresenta um dos mais altos potenciais de utilização na
construção de componentes ablativos.
Entretanto, ao lado da escolha das matérias-primas mais indicadas em cada caso,
as propriedades finais da estrutura são fortemente influenciadas pelo processo de
fabricação utilizado. Estes processos visam, de forma geral, conseguir materiais com um
alto grau de compactação e um teor de resina na estrutura final controlado dentro de
certos limites. Os processos de fabricação de materiais compósitos ablativos mais
utilizados encontram-se descritos a seguir:
56
específicas onde as propriedades quase isotrópicas do material prensado são de alguma
utilidade prática.
A qualidade estrutural e o desempenho ablativo, podem ser fortemente
melhorados pela utilização de reforços contínuos, na forma de tecidos à base de fibras
de vidro, quartzo e carbono. Neste caso, as várias camadas de reforço pré-impregnado
com resina fenólica podem ser arranjados de forma tal que proporcione melhoria de
desempenho estrutural e ablativo da peça. Algumas peças de aplicação aeroespacial
como Proteções Térmicas Rígidas internas para motores de foguete a propelente sólido
e pontas de ogivas para foguetes de médio porte são, frequentemente, fabricadas pelo
método de prensagem de reforço contínuo.
57
Figura 4.9. Equipamento de bobinagem de fitas (“TAPE WRAPPING”) do IAE.
58
Bobinagem Paralela (Parallel Wrapping): Consiste na deposição das fitas na direção
paralela ao eixo principal do mandril de bobinagem. Nesta técnica, as fitas utilizadas
possuem normalmente as fibras orientadas a 0º e 90º, de forma balanceada, isto é, com
igual quantidade de filamentos por unidade de comprimento nas direções do urdume
(direção longitudinal do tecido) e da trama (direção transversal do tecido), em relação às
direções principais da mesma. Não existe um padrão de tecelagem preferencial para as
fitas a serem bobinadas de forma paralela. As Figuras 4.12-13 apresentam uma vista em
planta do sistema de deposição por bobinagem paralela, mostrando o movimento dos
principais eixos do equipamento em operação respectivamente sobre um mandril em
forma de tronco de cone reto e parabólico (bell-shapped).
59
Para que isto seja possível, as fitas a serem utilizadas deverão permitir certo
deslocamento relativo entre as diversas fibras que a constituem. Diz-se que a fita tem
capacidade de “trabalhar” quando solicitada em cisalhamento no plano 1-2, de modo a
acomodar-se sobre uma superfície curva. As fibras, neste caso, deverão ser orientadas a
45º em relação às direções principais da mesma e, como no caso anterior, estas fibras
deverão ser distribuídas de forma balanceada nas direções da trama (direção 2) e
urdume (direção 1).
60
a) Tecelagem segundo padrão 0/90º - “Plain”
Figura 4.16. Padrões de tecelagem mais usuais dos tecidos utilizados na confecção de
divergentes.
D1 1
CWC sen . 5 (4.1)
D2 sen
onde CWC (Critical Warpnes Condition) define-se como o limite acima do qual a
bobinagem inclinada (Biased Wrapping) torna-se impraticável independente do padrão
de tecelagem da fita utilizada, sendo D1 e D2 , respectivamente, os diâmetros da parte
interna e externa da fita inclinada e β o ângulo entre o plano da fita e o eixo do mandril.
Tanto a bobinagem com fita tipo paralela, quanto à inclinada, apresentam
vantagens e desvantagens. As vantagens da bobinagem paralela sobre a inclinada, no
que se refere ao processo de fabricação em si, ficam evidentes nos parágrafos anteriores.
As vantagens da bobinagem inclinada estão relacionadas ao desempenho em ablação da
estrutura assim construída.
Ambas as técnicas são passíveis de utilização, desde que o equipamento assim o
permita, em processos de bobinagem sobre superfícies retas (troncos de cone) ou curvas
(divergentes do tipo “Bell Shape”).
Desta forma, mesmo os divergentes com perfis internos especiais podem ser
produzidos diretamente sobre mandris cujos contornos externos correspondem
fielmente aos internos dos componentes projetados, sem que haja necessidade de
usinagem posterior do perfil interno, o que é altamente desaconselhável.
61
4.3.5. Processo de polimerização
62
fato destas últimas possuírem uma pressão máxima de operação bem mais elevada. A
faixa de operação situa-se entre 0,1 e 10,0 MPa e 25ºC e 200ºC. As hidroclaves
utilizadas para produção de estruturas ablativas são dotadas de sistema de aplicação de
vácuo para drenagem dos gases gerados durante a polimerização das resinas e permitir a
saída do excesso desta. Recentemente, alguns processos especiais ligados à área dos
materiais compósitos, como materiais Carbono-Carbono, exigiram o desenvolvimento
de câmaras de processamento que operem a altíssimas pressões. Tais equipamentos têm
sido chamados de hiperclaves, oferecem pressões da ordem de 100,0 MPa e utilizam
como meio pressurizante a própria água ou nitrogênio, porém com volumes úteis da
câmara bem menores quando comparados aos das hidroclaves.
63
Figura 4.18. Ablação por carbonização.
Tabela 4.1. Produtos voláteis gerados da pirólise da resina fenólica (Pesci, 2018).
64
A ablação de compósitos é um fenômeno complexo, que envolve diversos
processos físicos em diferentes escalas, como mostrado na Figura 4.19 (Duffa, 2013):
No nível atômico em processos reativos homogêneos e heterogêneos;
No nível de escoamento, incluindo escalas muito pequenas (até 10 m) na
turbulência;
No nível das fibras e vizinhança (microrugosidade);
No nível da superfície (macrorugosidade);
No nível do veículo.
65
Figura 4.20. Fenômenos físicos da ablação em compósitos agrupados em função da
escala (Martin et al, 2014).
66
4.3.7. Simulação do processo ablativo
67
Tabela 4.2. Principais códigos em uso para simulação do processo ablativo.
68
Tabela 4.3. Métodos numéricos usados nos principais códigos em uso para simulação
do processo ablativo.
69
Tabela 4.4. Capacidades dos principais códigos em uso para simulação de ablação.
70
O sistema de equações usado para representar o problema físico é escrito de forma
conveniente para aplicação no método de captura de interface a ser usado na simulação
computacional. A estrutura e o ar ambiente são representados como partes de um
domínio contínuo. A equação da conservação da energia é representada por:
( .C p .T )
.KT Q (4.2)
t
Q q ( x xF )dA (4.3)
A
q LV H ( t , y )TF ( t , x F ) Taw TF4 ( t , x F ) T4 (4.4.a)
q L pV (4.4.b)
Nesse caso, Lp é o calor de pirólise. Também o fluxo de massa dos gases de injeção é
desprezado (devido à baixa massa específica, quando comparada ao material sólido).
Observe-se que a massa específica que aparece na Eq.(4.4.b) é a da interface, cujo
cálculo será detalhado no próximo capítulo.
Apesar do fluxo de ar externo estar incluído no domínio, seu efeito está implícito
no coeficiente de película H. Assim sendo, essa região é considerada adiabática, com
capacidade térmica e condutividade térmica nulas. Uma vez que a temperatura de
ablação é atingida. A condição na interface se torna:
TF T A 0 (4.5)
Uma condição de salto semelhante aparece na frente de pirólise (Tp no Lugar de TA).
Método de solução
71
reconstrução. Cada região do domínio (sólido ou ar) é caracterizada através da Função
Indicadora.
Esse método permite a representação da qualquer geometria usada no TPS e a
discretização de cada camada da parede (estrutura mais TPS) separadamente. Qualquer
alteração desses parâmetros pode ser feita sem grande esforço computacional, e como
uma malha regular é usada no domínio, não é necessário nenhum tipo de pré-
processamento (geração de malha não-estruturada ou transformação de coordenadas).
Nesse trabalho o método foi empregado para estimar a performance do TPS ablativo,
considerando um problema bidimensional na condução de calor e no problema de
fronteira móvel.
A interface é representada por uma curva paramétrica , R(u), de onde os vetores
normal e tangente e a curvatura são extraídos. Os pontos da interface são interpolados
por um polinômio de Lagrange, que permite obter aquelas informações e reconstruir a
curva, mantendo a distância d entre eles dentro do intervalo 0.9 < d/h < 1.1, onde h é a
distância entre os pontos fixos da malha Euleriana, como mostrado na Fig. 4.21.
‘
Lagrangean point
I,J k at interface
d
X
que deve ser zero exceto sobre a interface, como representado pelo Delta de Dirac, .
Entretanto essa representação não é conveniente para um número discreto de pontos. A
Função Distribuição é usada para representar esse salto. Essa função é similar a uma
distribuição Gaussiana e seu valor depende da distância |xij - xk| entre os pontos
Lagrangeanos e Eulerianos:
f [( xk xi ) / h ]. f [( y k y j ) / h ]
Dij ( xk ) (4.7)
h2
onde Dij é a Função Distribuição para um ponto k na malha Lagrangeana com respeito a
um ponto i,j qualquer da malha Euleriana. Deve-se notar que um aumento no valor de h
72
torna a interface mais espessa. A função f é a Função Distribuição Probabilística, Fig.
4.22, relacionada com a distância h por:
f1( x ) if x 1
f ( x ) 1 / 2 f 1 ( 2 x ) if 1 x 2 (4.8.a)
0 if x 2
3 2. x 1 4. x 4 x 2
f1( x ) (4.8.b)
8
1.6
1.4
1.2
1.0
f(x)
0.8
0.6
0.4
0.2
0.0
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0
x
Figura 4.22. Função Distribuição Probabilística.
2 I .G (4.9)
O acoplamento entre as malhas móvel e fixa é feito em cada instante através da Função
Distribuição, que representa o termo fonte nas equações de balanço e interpola a
descontinuidade infinitesimal como uma região de espessura finita sobre a interface.
A forma inicial da interface, R(u), é especificada e o campo da Função Indicadora
é construído. A partir das condições iniciais os campos das propriedades e da
temperatura são determinados. Fora do período ablativo, a temperatura da interface se
mantém abaixo da temperatura de ablação e a equação da energia é solucionada com o
um problema de condução de calor, através do método dos Volumes Finitos,
empregando um método explícito marchante no tempo.
Assim que a temperatura da interface atinge a temperatura de ablação em um dado
ponto, um processo iterativo é iniciado, de modo a determinar a velocidade da interface
73
em cada passo de tempo, a qual deve satisfazer a condição de salto (Eq. 4.5) no ponto
Lagrangeano. Os passos a serem seguidos são:
1. Com o valor corrente de V, os pontos da Lagrangeanos são transportados para a
nova posição da interface, calculada explicitamente através da equação Vn= (dxf
/dt).n;
2. A densidade e o calor específico são calculados para a nova posição da interface;
3. Vn+1 é estimada através de iterações de Newton, usando um sistema de relaxação
numérica.
4. O fluxo de calor q cruzando a interface é calculado através da Eq. (4.4) e distribuído
na malha fixa;
5. De acordo com as condições de contorno, a equação da energia, Eq. (4.2), é usada
para obter o campo de temperatura no passo de tempo n+1;
6. A temperatura é interpolada para achar TF na interface;
7. A condição de salto é testada e se o resíduo é menor que a tolerância, os campos de
viscosidade e condutividade são atualizados para a nova posição, avançando um
passo no tempo. Caso contrário, uma nova estimativa para Vn+1 é calculada e o
processo retorna ao passo 3.
V n 1 V n .R( T ) (4.12)
NFC
Ig
i 1
i i (4.13)
onde NFC é o número de regiões. Igi é a Função Indicadora Global de uma determinada
região, obtida a partir do cálculo da função indicadora para cada interface (conforme
descrito no item anterior):
Ig i I i 1 I i (4.14.a)
I0 = 1 ; INFC = 0 4.14.b)
74
O termo fonte Q, da Eq. (4.2) é distribuído conforme descrito no item anterior. Porém, o
termo q da Eq.(4.4) passa a ser definido para cada interface i, tornando-se qi. Com isso,
a Eq. (4.4) se torna:
NFC 1
Q
i 1
Ai
qi i ( x x Fi )dAi (4.15)
Figura 4.24. (a) Conjunto com porta-amostras antes da montagem na câmara; (b)
Desenho 3D de porta amostra montado.
75
Primeiramente a tocha é ligada e posteriormente posiciona-se o porta-amostra em
frente à tocha, como representado na Figura 4.25. O corpo de prova é mostrado na
Figuras 4.26. A taxa de perda de massa específica (𝑚̇) das amostras submetidas ao jato
de plasma é obtida por meio da expressão 4.16, onde se divide o valor de perda de
massa no ensaio pela área projetada e pelo tempo de exposição ao jato de plasma.
(∆𝑚/𝜋𝑟²)
𝑚̇ = (4.16)
𝑡𝑒𝑗
Figura 4.25. (a) Interação entre tocha e porta-amostra e (b) esquema de posicionamento
de porta amostra e tocha.
Figura 4.26. Corpos de prova de carbono/fenólica sem e com isolamento térmico para
montagem no porta-amostra e dimensões.
76
A Figura 4.27 mostra as curvas de taxa específica de perda de massa obtidas por
simulação computacional. Na Figura 4.27.a, o resultado experimental de 50 s está muito
acima da curva da simulação, devido a um problema de centragem, enquanto nos outros
pontos as barras de erro cruzam a curva de simulação. Nas Figuras 4.27.b,c, os
resultados de simulação foram próximos aos resultados obtidos experimentalmente de
maneira que as barras de erro cruzassem a curva da simulação. Na Figura 4.27.d, o
resultado experimental de 30s está muito abaixo da curva da simulação, devido a o
desalinhamento do porta-amostra o que causou a contaminação pela presença de
material estranho aos da fibra de carbono e da resina fenólica. Este material é a sílica,
proveniente dos anéis de quartzo/fenólica utilizados como proteção térmica nos ensaios.
Na Figura 4.28 são mostradas a evolução das interfaces onde em azul está
delineada a frente de pirólise e em vermelho a frente de ablação do char. Figura 4.29
algumas comparações entre a os perfis reais e obtidos a partir da simulação
computacional, É possível observar que, mesmo com o uso de um modelo bastante
simples, a concordância entre as geometrias finais é próxima.
0.16 0.2
0.16
Taxa de perda de massa, kg/m2 oC
Taxa de perda de massa, kg/m2 oC
0.12
0.12
0.08
0.08
0.04
0.04
0 0
0 20 40 60 80 100 0 20 40 60 80 100
tempo de exposição, s tempo de exposição, s
(a) 0,626 MW/m² (b) 0,903 MW/m²
0.2 0.25
0.16 0.2
Taxa de perda de massa, kg/m2 oC
0.12 0.15
0.08 0.1
0.04 0.05
0 0
0 20 40 60 80 100 0 20 40 60 80 100
tempo de exposição, s tempo de exposição, s
(c) 1,379 MW/m² (d) 1,725 MW/m²
Figura 4.27. Curvas da simulação computacional da taxa de perda de massa específica.
77
Frame 001 10 Oct 2017 CAMPOS | CAMPOS Frame 001 10 Oct 2017 CAMPOS | CAMPOS
Frame 001 10 Oct 2017 CAMPOS | CAMPOS Frame 001 10 Oct 2017 CAMPOS | CAMPOS
y, m
y, m
0.008 0.008
y, m
y, m
0.007 0.007 0.007 0.007
0.006 0.006 0.006 0.006
0.005 0.005 0.005 0.005
0.004 0.004 0.004 0.004
0.003 0.003 0.003 0.003
0.002 0.002 0.002 0.002
0.001 0.001 0.001 0.001
0 0 0 0
0 0.002 0.004 0 0.002 0.004 0 0.002 0.004 0 0.002 0.004
x, m x, m x, m x, m
78
4.4. Proteção térmica integrada à estrutura
79
das diversas camadas do sistema. No caso do isolamento fibroso que recheia a estrutura
treliçada, isso envolve a combinação dos diversos processos de transmissão de calor
para a obtenção de um valor aplicável como condutividade térmica: condução através
das fibras, condução pelo gás retido entre as fibras, troca radiante em um meio
participante (fibras e gás) e possivelmente alguma convecção natural.
O isolamento fibroso é submetido a pressões ambientes que variam de 1.33 x 10–5
– 101.32 kPa e temperaturas entre 300 e 1300 K. Varias formulações para a
transferência de calor em isolamentos fibrosos têm sido investigadas, mas a maioria dos
modelos foi validada através de resultados experimentais em intervalos limitados de
pressão e temperatura (Daryabeigi, 2003). A transferência de calor radiante foi
modelada de forma satisfatória (Yuen & Cunnington, 2005; Daryabeigi et al, 2006;
Pessoa Filho & Genaro, 2006; Daryabeigi et al., 2007). A maior fonte de incerteza é a
determinação da condutividade térmica efetiva do material fibroso. A determinação
dessa propriedade depende do modelo de condução de calor aplicado ao gás retido entre
as fibras, e que pode representar 90% da condutividade térmica efetiva total do meio
fibroso.
Os modelos de condução nesses gases são baseados no efeito Knudsen, que
descreve vários regimes de transferência de calor: moléculas livres, transição, salto de
temperatura e meio contínuo. Cada regime apresenta características específicas para a
modelagem do processo de troca térmica. Os parâmetros fundamentais para
caracterização e modelagem física da condução são o comprimento característico de
condução no gás e o caminho livre médio das moléculas (Raed & Gross, 2007). Apesar
de diversos modelos para a estimativa do comprimento característico terem sido
desenvolvidos, a maioria apresenta limitações em relação ao intervalo de pressões onde
são aplicáveis, especialmente as pressões ambientes na atmosfera superior. Não há um
modelo considerado satisfatório para este intervalo. O modelo de Knudsen também
implica na estimativa do caminho livre médio das moléculas do gás. Apesar de esse
parâmetro estar bem definido para um gás puro, em um meio poroso ele depende
também da porosidade e da geometria dos poros, e deve ser estimado de forma
muitoprecisa. Finalmente, a condutividade térmica efetiva do gás em um meio poroso
depende fortemente da combinação daqueles dois parâmetros e da modelagem e
combinação dos modos de transferência de calor envolvidos.
O modelo matemático é descrito em detalhe por Daryabeigi (2000-2007). O
modelo considera a transferência de calor entre duas placas, combinando os modos de
radiação e condução. O isolamento fibroso entre as placas é considerado um meio
participante. A principal equação resultante dessas hipóteses é a equação da
conservação da energia na forma unidimensional, com o inclusão de um termo fonte
para a troca radiante.
T
"
T q
c
k
. r
(4.17)
t
c
y y y
Para um meio oticamente espesso, a aproximação difusiva pode ser usada, resultando
em um fluxo de calor radiante dado por:
T
q"r kr . (4.18)
y
80
T
c k
T
eq
, (4.19)
t
y
y
k = kr + ks + kg . (4.20)
n*2T3
16
kr , (4.21)
3e
k
s(T)F
sf
b*
vks(T), 1 b 3, (4.22)
kgo(T)
kg
2 Kn
Pr , (4.23.a)
= 1, = 0 para Kn < 0.01 (meio contínuo),
= 1, = 1 para 0.01 < Kn < 10 (transição),
= 0, = 1 para Kn > 10 (moléculas livres),
81
22
1, (4.23.b)
Kn = /LC, (4.24)
é o caminho médio das moléculas do gás e LC é o comprimento característico do
isolamento fibroso.
O modelo de condutividade térmica equivalente para o meio poroso foi validado
através da comparação com os resultados experimentais de Daryabeigi (2003),
utilizando o modelo corrente, já descrito neste trabalho, e uma versão modificada,
incluindo um termo de convecção natural em micro escala, proposto por Machado
(2013), para os casos listados na Tab. 4.4, utilizando o Saffil® como meio poroso. A
concordância entre os resultados teóricos e experimentais foi aprimorada com o modelo
modificado, como é possível observar na Fig. 4.31 e na Tab. 4.5.
Tabela 4.5. Resultados de erro rms geral (todos os casos) para os dois modelos.
rms (%)
Pressão Modelo Modelo
corrente Modificado
P < 0.1 Torr 5.84 5.24
0.1 < P < 100 6.28 3.39
Torr
P > 100 Torr 9.00 3.18
Todas as 6.60 3.82
pressões
82
(a) = 24.2 kg/m3 and L = 13.3 mm (b) = 24.2 kg/m3 and L = 26.6 mm
(c) = 24.2 kg/m3 and L = 39.9 mm (d) = 48.6 kg/m3 and L = 13.3 mm
(e) = 48 kg/m3 and L = 26.6 mm (f) = 72 kg/m3 and L = 26.6 mm
83
0.12
Measurement
Current model 1240 K
Modified model
1020 K
0.08
860 K
K, W/m K 0.04
0
0.001 0.01 0.1 1 10 100 1000
P, Torr
Figura 4.31. Condutividade térmica efetiva como função da pressão para várias
diferenças de temperatura entre as superfícies externa e interna do meio
poroso.
84
5. AMBIENTE INTERNO
5.1. Introdução
85
As fontes de calor que compõe a carga térmica sobre cada elemento devem ser
contabilizadas individualmente. Podem ser listadas:
Fontes externas: o calor proveniente do aquecimento aerodinâmico, da radiação da
pluma do motor ou da exposição solar que atravessa a parede do veículo.
Fontes internas: a dissipação térmica dos componentes eletrônicos ou elétricos e
experimentos embarcados e qualquer outra fonte pontual proveniente do interior do
veículo.
Uma observação a ser feita é que raramente o calor proveniente da queima de
propelente é relevante neste cálculo, já que durante a fase de projeto do motor já estão
previstos a proteção térmica e isolamento em relação à estrutura do veículo, conforme
será visto no próximo capítulo.
As hipóteses consideradas na construção do modelo físico foram:
Todos os elementos têm temperatura uniforme e constituição homogênea (mesmo
material).
Todos os elementos se comportam como corpos cinzentos (emissividade igual à
absorvidade em todo o espectro)
𝑑𝑇𝑖
𝑚𝑖 𝐶𝑝𝑖 =𝑄𝑖 (5.1)
dt
onde Ui,j é o coeficiente de transferência de calor entre dois elementos adjacentes (i, j) ,
igual ao inverso da resistência térmica.
O calor trocado por convecção entre um elemento i e o ar interno:
86
O resultado é um sistema de equações diferenciais ordinárias com n equações e n
incógnitas (temperatura de cada elemento). Caso os termos não lineares dependentes do
tempo não permitam uma solução analítica (caso mais comum), essa equação pode ser
resolvida por um método explícito marchante no tempo de implementação simples:
R = L/(K.A) (5.7)
Li Lj
Ai Aj
Ri RC Rj
87
A resistência térmica total entre dois elementos adjacentes será:
Ri,j = Ri + Rc + Rj (5.8)
88
5.3. Sistemas de arrefecimento
Esses sistemas são dimensionados para absorver uma carga térmica fixa
proveniente do sistema que se quer refrigerar. A carga térmica é estimada integrando a
potência dissipada pelo equipamento ao longo do tempo durante o período da missão.
Caso o equipamento não opere em um ciclo ou função variável com o tempo e a
potência dissipada seja constante, o valor é obtido simplesmente multiplicando a
potência dissipada pelo intervalo de tempo.
Uma vez obtida a carga térmica, pode ser empregado o sistema mais simples, o
poço de calor (heat sink), onde uma massa de metal ou outro material absorvedor é
colocado em contato com o equipamento, funcionando como inércia térmica e
absorvendo o calor gerado. No IAE têm sido usados blocos de alumínio nessa função.
Esse sistema é limitado pelo peso do bloco e dependendo do valor da carga térmica
pode se tornar inviável.
Uma opção é o uso de capacitores térmicos, Figura 5.2, onde a massa do poço de
calor é substituída por um material que muda de fase a partir de certa temperatura
armazenado dentro de um recipiente que fica em contanto com o equipamento. Nesse
caso a capacidade de absorção de calor é bastante amplificada para uma mesma massa,
em comparação com o poço de calor, já que a absorção ocorre por calor latente no lugar
de calor sensível. Apresentam um custo bem superior aos poços de calor e são
desenvolvidos de forma personalizada. Esse sistema é de emprego comum em satélites
(Vlasov, 2003) e ainda não tem sido usado nos veículos do IAE.
89
5.3.2. Sistemas de refrigeração ativos
90
São sistemas de construção simples e apresentam como vantagens:
Não tem partes móveis.
Vida útil de mais de 100,000 horas de operação (>11 anos).
Não tem líquido.
Permite controle com alta precisão ( de +-0.05o C).
Reversível (aquecimento-resfriamento).
Thermal straps: são acessórios usados para conduzir o calor. Consistem em extensões
flexíveis com alta condutividade, que também possibilitam o isolamento de vibrações.
Podem ser de diversas formas, com o mostrado na Figura 5.5, e utilizam diversos
materiais, como cobre, alumínio ou compósitos de carbono.
91
Figura 5.6. Comparação entre as condutividades de diversos materiais usados em
thermal straps.
As vantagens são:
• Altíssima condutividade: ~100 vezes maior do que um tubo sólido de mesmo
tamanho.
• Possibilidade de implementação com condutividade variável (“self-conrol”).
Desvantagens:
• Limites operacionais
• Sensitividade à gravidade
• Precisa de tecnologia especial para fabricação
Na Figura 5.8 são mostrados exemplos de tubos de calor. Na Figura 5.9 são comparadas
as capacidade de transporte para diversos fluidos de trabalho.
92
Figura 5.8. Exemplos de tubos de calor.
93
Figura 5.10. Funcionamento e exemplo de spreaders.
Aletas e ventiladores: como a troca de calor por radiação e convecção depende da área
superficial do elemento, um aumento dessa área resulta em um maior coeficiente global
de troca U. Como foi visto, esses modos de transmissão de calor têm efeito limitado em
veículos espaciais durante o voo, uma vez que, devido à alta velocidade e eventual falta
de pressurização, a pressão interna e a presença de ar diminuem rapidamente (no caso
de troca por convecção) e as temperaturas são relativamente baixas (no caso de troca
por radiação). Porém, seu uso em conjunção com ventiladores no período de espera para
o lançamento no launchpad pode contribuir para manter a temperatura interna dentro do
limite. Uma vez que se conheça a velocidade do escoamento induzido pelo ventilador e
as dimensões das aletas, o coeficiente de troca pode ser estimado através de correlações
convenientes, obtidas de acordo com o regime de escoamento interno (para isso é
preciso estimar o número de Reynolds correspondente).
94
6. PROPULSÃO
6.1. Introdução
95
Como já foi mencionado, diversos processos citados e seu tratamento já foram
apresentados. Nas fases avançadas do projeto, o ideal é que sejam realizadas simulações
completas via CFD dos processos internos do motor. Nas fases iniciais de projeto,
modelos simplificados podem ser usados para a obtenção de resultados preliminares
com precisão aceitável. Alguns desses modelos já foram apresentados, como o
aquecimento aerodinâmico, ablação e condução na parede. Outros modelos serão vistos
para os problemas específicos da propulsão sólida.
Na Figura 6.2 é apresentado o processo de transferência de calor no interior da
câmara de combustão durante a queima do propelente. Uma vez que este se comporta
como um excelente isolante térmico, enquanto não for totalmente consumido não ocorre
um aquecimento relevante na parede. Após esse período a troca de calor local deve ser
analisada. Nas regiões descobertas, uma proteção deve ser adicionada. Normalmente do
tipo ablativo, o processo é semelhante ao apresentado no capítulo 4. No entanto, nesse
caso a radiação tem papel relevante devido à presença de partículas sólidas, como será
visto adiante. A distribuição do calor ao longo do comprimento do motor é mostrada na
Figura 6.3. É possível observar que o fluxo de calor na parede se amplia à medida que a
velocidade do escoamento aumenta. Assim, as maiores taxas ocorrem na tubeira, que
merece uma análise específica.
Figura 6.2. Camadas da parede antes e depois de o propelente ter sido consumido.
96
Figura 6.3. Ambiente térmico interno do motor.
onde:
q – fluxo de calor (W/m2)
h – coeficiente local de troca térmica por convecção ((W/m2K)
Tg – Temperatura média do escoamento na seção transversal (K ou ºC)
Tw – Temperatura da parede na seção transversal (K ou ºC)
97
Figura 6.4. Variação do fluxo de calor interno ao longo do eixo da tubeira.
onde:
A – área da seção transversal (in2)
At – área da garganta (in2)
Dt – diâmetro da garganta (in)
g – aceleração gravitacional (ft/s2)
98
Pc – pressão de estagnação no interior da câmara de combustão (lb/in2)
c* - velocidade característica (ft/s)
rc – raio de curvatura na seção da garganta (in)
Cp – calor específico à pressão constante (Btu/lboF)
- viscosidade absoluta (lb/in.s)
Pr – número de Prandtl
Subescrito 0 – referente à condições de estagnação
- fator de correção que leva em conta as variações de e ao longo da camada limite:
onde:
Tw – Temperatura local da parede
T0 – Temperatura de estagnação
M – Número de Mach local
- constante isentrópica do gás (Cp/Cv)
w – expoente da temperatura na equação da viscosidade
99
Para a modelagem do problema, foram consideradas as seguintes hipóteses:
Fluxo unidimensional e em regime permanente;
Não há perdas de massa ou energia no sistema (bocal adiabático com paredes
impermeáveis);
Não há troca de massas entre as fases;
O volume ocupado pelas partículas é desprezível;
As partículas não interagem entre si;
O movimento térmico (Browniano) das partículas é desprezível;
O gás é considerado não-viscoso, exceto para interações com as partículas (arrasto
dinâmico);
O gás é considerado perfeito e de composição constante;
A distribuição do tamanho das partículas pode ser aproximada para grupos de
diferentes tamanhos de esferas;
A temperatura interna das partículas é considerada uniforme;
A troca de energia térmica entre o gás e as partículas ocorre somente por convecção;
As capacidades térmicas de gás e partículas são constantes.
Equação da Continuidade
100
Equação do Momentum
A dP du p (1 ) du 0 (6.5)
Equação da Energia
1 C T T0 1 u 2 C p T p T0 1 u 2p 0 (6.6)
2 2
Equação de Estado
P R T (6.7)
du p 9 F (Re) u u p
(6.8.a)
dx 2 p a 2 uupu
C d Re
F (Re) (6.8.b)
24
2a
Re u up (6.9)
Apesar das altas velocidades envolvidas o raio das partículas é muito pequeno,
tornando o Número de Reynolds baixo, em torno de 10. De acordo com Machado
(1990), pode-se considerar F(Re) = 1 sem incorrer em um erro relevante.
dT p 3 h T p T
(6.10)
dx p C p a u p
2ha
Nu Re (6.11)
K
dT p 3 K Nu (Re) T p T
(6.12)
dx 2 a 2 p C p u p
101
Substituindo ρ da Eq. (6.7) na Eq. (6.4.a) e diferenciando o resultado da equação em x,
obtemos após algumas manipulações:
1 dP 1 du 1 dA 1 dT
(6.13)
P dx u dx A dx T dx
Dividindo a Eq. (6.5) por dx e evidenciando du/dx e substituindo os termos λω e (1- λ)ω
de acordo com a equação da continuidade temos:
du R T 1 dP du p
(6.14)
dx u P dx 1 dx
R T dA du p C p dT p u p du p
u R R
du u A dx 1 dx C dx C dx
(6.15)
dx R T M 2 1
c R T (6.16)
u
M (6.17)
R T
Z
1
2
M 2 1
2
(6.18)
u2
M 2 R (6.19)
T
dZ
dx
2 M 2 1 M
dM
dx
(6.20)
102
u du u 2 dT dM
2 2 2 R M (6.21)
T dx T dx dx
dM
Isolando M da Eq. (6.20), diferenciando a equação da energia (6.6) e isolando
dx
dT
e substituindo esses termos na Eq. (6.21), obtemos:
dx
2
dZ M 2 u2
2
dx
T RC T
T dA R du p C p dT p du p
R up R u
A dx 1 C dx C dx dx
du p
1
M 2 1
M2
C T
C p
dT p
up (6.22)
dx dx
A Eq. (6.22), junto com as Eqs. (6.8.a) e (6.12) constituem um sistema de equações
diferenciais não lineares a qual pode ser resolvida com a equação abaixo:
M 2 1 2 Z (6.23)
Na equação anterior, o sinal será negativo até o ponto exato em que Z = 0, isto é, o
número de Mach for igual a 1 (onde ocorre a singularidade em du/dx). A partir daí, o
sinal passa ser positivo. Com os valores de M, up e Tp e com a equação (6.19), aplicada
na equação da energia do sistema, obtém-se:
:
C p T p T0 u 2p
1
C T0
1 2
T (6;24)
M 2 R
C
2
u x para x 0 (6.25)
103
onde α é um coeficiente a ser determinado. Aplicando a Eq. (6.25) na Eq. (6.8.a):
du p 9 x
1 (6.26)
dx 2 p C2 u
p
c12 4 c1 c1
(6.28)
2
onde:
9
c1 (6.29)
2 p a2
dT p c 2 T0 Cp 1
1
dx 1 C x
c Cp T p c2 2
2 1 2 x (6.30)
1 C x 2 C 1
3 K
c2 (6.31)
p a2 Cp
Tem-se então uma equação diferencial linear de 1ª ordem, resolvida pelo método do
fator integrante, dando como resultado:
c2 2
2 x 2
T p T0
2C 1 (6.32)
C2 Cp
1 2
1 C
104
c2 Cp
1 2
Ce 1 C
(6.33)
C 2 c2
1
1 2 2
2 C 2
T T0 x (6.34)
2 C Ce
𝜆 𝐶𝑝
1+( )( )
1−𝜆 𝐶
𝛾𝑒 = 𝛾 [ ]
𝜆 𝐶𝑝
1+𝛾( )( )
1−𝜆 𝐶
(6.35)
O passo seguinte é calcular a velocidade do gás a distâncias cada vez mais próximas da
entrada. O ponto zero não pode ser usado como valor inicial, pois resulta em uma
singularidade. Com essa velocidade, obtida pela formulação unifásica encontra-se o
correspondente. Esse processo é repetido até que as velocidades do gás e partículas
obtidas com o real e no processo bifásico atendam a uma tolerância prescrita.
O modelo pode ser detalhado a ponto de considerar diversos tamanhos de
partículas. A solução completa do escoamento bifásico revela que as partículas menores
possuem menores lags, o que era esperado, e se concentram na periferia do escoamento.
Quando possível essa informação deve ser levada em conta em análises mais precisas.
Os resultados para o 1º e 2º estágios do VLS são apresentados nas Figuras 6.6-6.8.
105
(a) 1º Estágio (b) 2º Estágio
Figura 6.6. Número de Mach (M) ao longo do eixo da tubeira (coordenada x).
106
A importância desse cálculo reside no efeito da presença das partículas na saída da
tubeira. Em geral, a emissividade do gás de combustão é baixa, por isso o aquecimento
por radiação térmica na vizinhança da pluma a partir das partículas é muito mais
importante. Essa radiação impacta diretamente as superfícies da base do veículo, como
mostra a Figura 6.9. O fluxo de calor por radiação da pluma naquela região pode ser
estimado pela equação:
Essa equação já foi empregada anteriormente e seus termos já são conhecidos. Nesse
caso específico, Tp é a temperatura das partículas na saída da tubeira, obtida pela
metodologia descrita no tópico anterior e Tw é a temperatura na superfície da base. F é o
fator de forma (view factor) entre a pluma e a superfície da base, que pode ser estimado
de forma aproximada usando as regras de cálculo desse fator, disponíveis em diversos
textos sobre transferência de calor por radiação. O valor de F é influenciado pela forma
da pluma, que por sua vez depende da pressão atmosférica externa, como mostrado na
Figura 6.10. Essa variação é importante em voo atmosférico e deve ser levada em conta.
Aquecimento aerodinâmico
Recirculação
Pluma de
exaustão
Aquecimento
convectivo
Partículas de
Alumina
Radiative
heating
107
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