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Material Específico –Engenharia Mecânica – Tomo 1 – CQA/UNIP

ENGENHARIA MECÂNICA

MATERIAL INSTRUCIONAL ESPECÍFICO

Tomo 1
Material Específico – Engenharia Mecânica – Tomo 1 – CQA/UNIP

CQA/UNIP – Comissão de Qualificação e Avaliação da UNIP

ENGENHARIA MECÂNICA

MATERIAL INSTRUCIONAL ESPECÍFICO

TOMO 1

Christiane Mazur Doi


Doutora em Engenharia Metalúrgica e de Materiais, Mestra em Ciências
(Tecnologia Nuclear), Engenheira Química e Licenciada em Matemática, com
Aperfeiçoamento em Estatística. Especialização em Língua Portuguesa e
Literatura em curso. Professora titular da Universidade Paulista.

José Carlos Morilla


Doutor em Engenharia de Materiais, Mestre em Engenharia de Materiais e
em Engenharia de Produção, Especialista em Engenharia Metalúrgica e Física
e Engenheiro Mecânico, com MBA em Gestão de Empresas. Professor
adjunto da Universidade Paulista.

Material instrucional específico, cujo conteúdo integral ou parcial não


pode ser reproduzido ou utilizado sem autorização expressa, por
escrito, da CQA/UNIP – Comissão de Qualificação e Avaliação da UNIP -
UNIVERSIDADE PAULISTA.

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Questão 1
Questão 1.1
A figura mostra, esquematicamente, uma turbina de alta rotação que aciona um gerador
através de um redutor com engrenagens helicoidais.

O gerador opera com rotação de 50 rad/s (478 rpm) a uma potência de 280 kW. O diâmetro
do eixo de acionamento do gerador deve ser dimensionado pelo Critério de Tresca (mais
conservativo), utilizando um fator de segurança igual a π. O material do eixo é o aço de alta
resistência ASTM-A242 cuja resistência ao escoamento medida no ensaio de tração vale 350
MPa. Considerando o eixo sujeito a torção pura (máx=T.R/J, na qual J=.R4/2) e
desprezando qualquer perda no sistema de transmissão, seu diâmetro mínimo, em mm,
deve ser
A. 20
B. 40
C. 60
D. 80
E. 100

1Questão 22 – Enade 2008.


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1. Introdução teórica

1.1. Momento de torção em uma barra

Seja um sólido submetido a uma força 𝐹


⃗⃗⃗ constante que, devido a essa força, sofra

deslocamento 𝑑, como se vê na figura 1.

Figura 1. Sólido submetido a uma força constante.

O trabalho  executado por 𝐹


⃗⃗⃗ é definido como o produto escalar entre 𝐹 ⃗⃗⃗ , ou
⃗⃗⃗ 𝑒 𝑑

seja:

⃗⃗⃗ ∙ 𝑑  𝜏 = |𝐹 | ∙ |𝑑| ∙ cos 𝜃


𝜏=𝐹

Para o caso em estudo, define-se a potência P como o trabalho realizado em um


intervalo de tempo, isto é:

𝜏
𝑃=
△𝑡

Considerando que o trabalho é 𝜏 = |𝐹 | ∙ |𝑑 | ∙ cos 𝜃, a potência pode ser escrita como:

|𝐹 | ∙ |𝑑 | ∙ cos 𝜃
𝑃=
△𝑡

|𝑑 |
Lembrando que é o módulo da velocidade 𝑣 do corpo, a potência é:
△𝑡

𝑃 = |𝐹 | ∙ |𝑣| ∙ cos 𝜃

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Para um sólido em rotação, como o mostrado na figura 2, a velocidade 𝑣 de um


ponto é:

⃗⃗⃗⃗ ∧ 𝑅⃗
𝑣=𝜛

Na expressão anterior, R é a distância entre o ponto e o centro de rotação, como se


vê na figura 2.

Figura 2. Sólido em rotação em torno de um eixo.

Com isso, a potência pode ser escrita como:

⃗⃗⃗⃗ ∧ 𝑅⃗ | ∙ cos 𝜃
𝑃 = |𝐹 | ∙ |𝜛

Visto que os vetores 𝜛


⃗⃗⃗⃗ e ⃗⃗⃗
𝑅 são perpendiculares entre si, o módulo do produto
vetorial 𝜛
⃗⃗⃗⃗ ∧ 𝑅⃗ fica:

⃗⃗⃗⃗ ∧ 𝑅⃗ | = |𝜛
|𝜛 ⃗⃗⃗⃗ | ∙ |𝑅⃗ |

Assim, a potência pode ser escrita é:

⃗⃗⃗⃗ | ∙ |𝑅⃗ | ∙ cos 𝜃


𝑃 = |𝐹 | ∙ |𝜛

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Como |𝐹 | ∙ |𝑅⃗ | ∙ cos 𝜃 é o módulo do torque 𝑇


⃗ em relação ao eixo de rotação, a

potência é:

⃗ | ∙ |𝜛
𝑃 = |𝑇 ⃗⃗⃗⃗ |  ⃗|= 𝑃
|𝑇 |𝜛
⃗⃗⃗⃗ |

1.2. Critério de Tresca ou critério da máxima tensão de cisalhamento

Segundo Riley (2003), o critério de Tresca tem como premissa limitar a máxima
tensão de cisalhamento que ocorre em um ponto, a fim de que neste não haja deformação
plástica. Essa premissa tem como suporte o fato de que o principal mecanismo de
deformação plástica é o mecanismo de escorregamento, que está associado à tensão de
cisalhamento.
De acordo com Hibbeler (2004), as tensões principais em uma torção possuem o
mesmo valor e sinais contrários. O valor dessas tensões é igual ao da tensão de
cisalhamento máxima. Isso pode ser observado na figura 3.

Figura 3. Tensões principais no círculo de Mohr de uma barra solicitada à torção (MILFONT, 2009).

Na figura 3, os pontos A e B representam, respectivamente, as tensões principais


𝜎1 𝑒 𝜎3 .
Observando-se a figura 3, para a torção pura, é possível escrever:

𝜎1 = −𝜎3 = 𝜏𝑚á𝑥

No critério de Tresca, a tensão equivalente (eq) é dada por:

𝜎𝑒𝑞 = 𝜎1 − 𝜎3

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Para evitar que ocorra deformação plástica, segundo o critério de Tresca, o


dimensionamento deve ser feito limitando a tensão equivalente ao valor da tensão de
escoamento (e). A relação entre a tensão de escoamento e a tensão equivalente é o fator
de segurança do dimensionamento (s). Dessa forma, é possível escrever (HIBBELER, 2004):

𝜎 𝜎𝑒 𝜎𝑒 𝜎𝑒
𝑠 = 𝜎𝑒 = 𝜎 ou 𝜎𝑒𝑞 = ==> 𝜎1 − 𝜎3 =
𝑒𝑞 1 −𝜎3 𝑠 𝑠

2. Indicações bibliográficas

 FRANÇA, L. N. F.; MATSUMURA, A Z. Mecânica Geral. São Paulo: Edgard Blucher, 2004.
 HALLIDAY, D. Fundamentos de Física: Mecânica. Rio de Janeiro: LTC, 2009, v. 1.
 HIBBELER, R. C. Resistência dos materiais. São Paulo: Pearson, 2004.
 JUVINALL, R. C.; MARSHEK, K. M. Fundamentos do projeto de componentes de
máquinas. Rio de Janeiro: LTC, 2008.
 RILEY, W. F.; STURGES, L. D.; MORRIS, D. H. Mecânica dos materiais. Rio de Janeiro:
LTC, 2003.

3. Análise das alternativas

A – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Para que a resposta A fosse correta, seria necessário que a potência
fornecida ao sistema fosse igual a 35 kW. Se o leitor, equivocadamente, considerasse que a
velocidade angular fosse igual à rotação em Hz, o resultado seria aproximadamente 20 mm.

B – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Para que a resposta B fosse correta, a possibilidade mais evidente seria
entender que o problema pede o diâmetro do eixo e não o raio. Outra possibilidade que
fornece resultado aproximado é considerar, equivocamente, o momento de torção como
sendo:
𝑘𝑁𝑚
280
𝑇= 𝑠 = 44,6𝑘𝑁𝑚
𝑟𝑎𝑑
2𝜋 𝑠

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C – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Para que a resposta C fosse correta, uma possibilidade seria considerar a
resposta como sendo o diâmetro e o dimensionamento como 𝜎𝑒𝑞 = 𝜁𝑚á𝑥 .

D – Alternativa correta.
JUSTIFICATIVA. Com os dados fornecidos, o momento de torção no eixo é 5,6 kNm,
conforme indicado nos cálculos a seguir.
𝑘𝑁𝑚
𝑃 280 𝑠
𝑇= = = 5,6𝑘𝑁𝑚 = 5,6 × 106 𝑁𝑚𝑚
𝜔 𝑟𝑎𝑑
50 𝑠

Com esse valor e com as expressões fornecidas no exercício (ζmáx=T.R/J, na qual J=π.R4/2),
ζmáx fica:
5,6 × 106 𝑁𝑚𝑚 × 𝑅 11,2 × 106
𝜁𝑚á𝑥 = = 𝑁𝑚𝑚
𝜋 × 𝑅4 𝜋 × 𝑅3
2
Segundo Tresca, a tensão equivalente (𝜎𝑒𝑞 ) pode ser escrita como 𝜎𝑒𝑞 = 𝜎1 − 𝜎3 . No caso da
torção pura, como 𝜎1 = −𝜎3 = 𝜏𝑚á𝑥 , temos que 𝜎𝑒𝑞 = 𝜎1 − 𝜎3 = 2 × 𝜁𝑚á𝑥 . Sendo assim:
22,4 × 106
𝜎𝑒𝑞 = 𝑁𝑚𝑚
𝜋 × 𝑅3
Utilizando o fator de segurança igual a 𝜋, e indicando a tensão de escoamento por 𝜎𝑒 , o
dimensionamento fica:
22,4 × 106 𝜎𝑒
𝜎𝑒𝑞 = 3
𝑁𝑚𝑚 =
𝜋×𝑅 𝜋
𝑁
22,4 × 106 350
𝑁𝑚𝑚 = 𝑚𝑚2
𝜋×𝑅 3 𝜋
𝑅 = 40𝑚𝑚
Logo, o diâmetro é d = 2.R = 2.40 = 80 mm.

E – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. A possibilidade que forneceria um resultado aproximado seria considerar a
resposta como sendo o diâmetro e a tensão limite de escoamento como sendo metade do
valor fornecido.

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Questão 2
Questão 2.2
Durante um teste de aterrissagem em pista molhada, foram medidas as deformações
específicas em um ponto da fuselagem de um avião, utilizando extensômetros elétricos
(strain gages), e as tensões correspondentes foram calculadas, resultando nos valores,
expressos em MPa, apresentados na figura.

Com base nessas tensões e considerando o material da fuselagem elástico linear, conclui-se
que este é um ponto sujeito a um (a)
A. Cisalhamento puro.
B. Estado uniaxial de tensão.
C. Estado plano de deformações.
D. Tensão cisalhante máxima superior a 5 MPa.
E. Tensão normal máxima de tração igual a 10 MPa.

2Questão 24 – Enade 2008.


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1. Introdução teórica

Estado de tensões

Um ponto material de um corpo qualquer está sujeito a um estado de tensões que


pode ser uniaxial, plano ou geral (SHIGLEY, 2005).
Os extensômetros elétricos são equipamentos aplicados à superfície de uma peça e
possuem a capacidade de medir deformações uniaxiais na direção de seu eixo, como
mostrado na figura 1.

Figura 1. Direção da medida da deformação (adaptado de ANDOLFATO, 2004).

A partir da deformação medida por um extensômetro, é possível determinar a tensão


normal existente no ponto em estudo, na direção de aplicação do extensômetro.
Como os extensômetros são aplicados nas superfícies dos corpos, eles permitem
estudar apenas os estados planos de deformação, já que, para o estado geral, é necessário,
também, estudar as deformações que ocorrem na direção normal ao plano dessas
superfícies (GERE, 2003).
Nos estados planos de tensão, tomada uma direção como referência e indicando-a
por x , a tensão normal  e a tensão de cisalhamento  variam de acordo com as funções
(NORTON, 2004):

𝜎 = 𝜎𝑥 𝑐𝑜𝑠 2 𝜃 + 𝜎𝑦 𝑠𝑒𝑛2 𝜃 + 2𝜏𝑥𝑦 𝑠𝑒𝑛𝜃𝑐𝑜𝑠𝜃

𝜎𝑦 − 𝜎𝑥
𝜏= 𝑠𝑒𝑛2𝜃 + 𝜏𝑥𝑦 𝑐𝑜𝑠2𝜃
2

Nas expressões, x é a tensão na direção x; y é a tensão na direção y, que é


perpendicular a x; xy é a tensão de cisalhamento que atua no plano cuja normal é x;  é a

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tensão normal que forma ângulo  com a direção x e  é a tensão de cisalhamento atuante
no plano cuja normal é a direção de  (GERE, 2003).
Por serem expressões cíclicas, possuem valores máximos e valores mínimos que,
segundo Gere (2003), valem:

𝜎𝑥 + 𝜎𝑦 𝜎𝑥 − 𝜎𝑦 2
𝜎1 = + √( 2
) + 𝜏𝑥𝑦
2 2

𝜎𝑥 + 𝜎𝑦 𝜎𝑥 − 𝜎𝑦 2
𝜎2 = − √( 2
) + 𝜏𝑥𝑦
2 2

𝜎𝑥 − 𝜎𝑦 2
𝜏𝑚á𝑥 = √( 2
) + 𝜏𝑥𝑦
2

Nas expressões acima, 1 é a tensão normal máxima, 2 é a tensão normal mínima e


máx é a tensão de cisalhamento máxima.
Uma maneira gráfica de mostrar o estado duplo é pelo círculo de Mohr. Nesse círculo,
cada plano de tensões é representado por um ponto cujas coordenadas são as tensões
atuantes no plano. A figura 2 ilustra um círculo de Mohr para um estado duplo de tensões
(NORTON, 2004).

máximo
X
xy 2j

2 y 1 
x
-xy Y
mínimo
Figura 2. Círculo de Mohr (adaptado de NORTON, 2004).

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Seguem algumas observações importantes.


 Nos planos cujas normais são as direções de 1 e 2, a tensão de cisalhamento é igual a
zero.
 As tensões 1 e 2 possuem direções perpendiculares entre si.
 A média entre as tensões de direções perpendiculares entre si é constante para um
estado plano.
 A tensão normal que atua no plano onde age máx é a igual à tensão média.
 As tensões de cisalhamento em planos perpendiculares entre si são iguais e de sinais
opostos.
 Nos planos de máx e mín, a tensão normal possui o mesmo valor e é igual à tensão
normal média.

2. Indicações bibliográficas

 ANDOLFATO, R. P.; CAMACHO, J. S.; BRITO, G. A. Extensometria básica. Disponível em


<http://www.nepae.feis.unesp.br/Apostilas/Extensometria basica.pdf>. Acesso em 11 ago.
2010.
 GERE, J. M. Mecânica dos Materiais. São Paulo: Thomson Learning, 2003.
 JUVINALL, R. C.; MARSHEK, K. M. Fundamentos do projeto de componentes de
máquinas. Rio de Janeiro: LTC, 2008.
 NORTON, R. L. Projeto de máquinas – uma abordagem integrada. Porto Alegre:
Bookman, 2004.
 SHIGLEY, J. Projeto de Engenharia Mecânica. Porto Alegre: Bookman, 2005.

3. Análise das alternativas

Considerando o estado de tensões apresentado na questão, o círculo de Mohr fica


como o apresentado na figura 3.

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(MPa)

9.04

5.00
(MPa)
5.00

5.00 10.00

6.57 11.51

Figura 3. Círculo de Mohr para o estado de tensões da questão.

Com isso, as tensões principais e a tensão de cisalhamento máxima são,


respectivamente, 1 = 11,51 MPa, 2 = -6,57 MPa e máx = 9,04 MPa.

A – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. No cisalhamento puro, a tensão normal média é igual a zero. Na figura 3, a
tensão normal média é igual a 2,5 MPa.

B – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. A figura do enunciado mostra um estado plano de tensões. Para que fosse
um estado uniaxial de tensões, seria necessário que apenas existisse uma das tensões de
direção perpendicular à aresta do quadrado (ou a de 10 MPa ou a de -5 MPa).

C – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. A figura do enunciado mostra um estado plano de tensões.

D – Alternativa correta.
JUSTIFICATIVA.
 Para que a tensão xy=5 MPa seja máxima, é necessário que as tensões normais
indicadas tenham o mesmo valor.

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 A figura mostra um estado plano de tensões com x=10 MPa, y=-5 MPa e xy=5 MPa.
Quando esses valores são substituídos na expressão que fornece a tensão de
cisalhamento máxima, temos:

𝜎𝑥 −𝜎𝑦 2 10−(−5) 2
𝜏𝑚á𝑥 = √( 2
) + 𝜏𝑥𝑦  𝜏𝑚á𝑥 = √( ) + 52  𝜏𝑚á𝑥 = 9,01 MPa
2 2

O resultado obtido é superior a 5 MPa.

E – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA.
 Para que a tensão de 10 MPa seja máxima, é necessário que no plano cuja normal é a
direção da tensão a tensão de cisalhamento seja nula e isso não está mostrado na figura
do enunciado.
 Quando substituímos os valores das tensões da figura do enunciado na expressão da
tensão máxima, encontramos:
10+(−5) 10−(−5) 2
𝜎1 = + √( ) + 52  𝜎1 = 2,5 + 9,01  𝜎1 = 11,51 𝑀𝑃𝑎.
2 2

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Questão 3
Questão 3.3
No estado plano de tensões, as tensões principais σ1 e σ2 podem ser utilizadas para efeito
de dimensionamento e análise de falhas em componentes estruturais. No gráfico, estão
representados os eixos relativos a essas tensões principais e as curvas de limite de
resistência, segundo os critérios de Tresca e de Von Mises, onde Y representa a tensão de
escoamento do material.

A análise do gráfico permite concluir que, segundo


A. O critério de Von Mises, um ponto sujeito às tensões σ1 = σY/2 e σ2 = -σy/2 não falhará.
B. O critério de Von Mises, um ponto fora do polígono de seis lados e da elipse representa
uma condição de falha.
C. O critério de Von Mises, as maiores tensões normais não podem ultrapassar a tensão de
escoamento Y.
D. O critério de Tresca, um ponto sujeito às tensões σ1 = σY e σ2 = -σy não falhará.
E. Os dois critérios, um ponto entre o polígono de seis lados e a elipse representa uma
condição de falha. 3

3Questão 23 – Enade 2005.


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1. Introdução teórica

Critérios de resistência

Segundo Juvinall (2008), a falha de um componente estrutural ocorre por uma


combinação das tensões principais oriundas do estado de tensões a que esse ponto está
sujeito. Assim, é necessário estabelecer uma teoria de falha para os materiais a fim de
prever sua resistência, tendo como base o ensaio de tração do material.
As teorias de falhas estáticas visam a estabelecer uma relação entre a tensão de falha
de um ensaio de tração e o estado de tensões que levou o componente à ruína.
Das teorias desenvolvidas, destacamos a teoria da máxima tensão de cisalhamento ou
teoria de Tresca e a teoria da máxima energia de distorção, conhecida, também, como
teoria de Von Mises (GERE, 2003).
A teoria da máxima tensão de cisalhamento estabelece que qualquer material falhará
quando a tensão cisalhante máxima for superior à resistência do material ao cisalhamento,
que deve ser determinada a partir do ensaio de tração uniaxial (HIBBELER, 2004).
Para um estado plano de tensões, de acordo com a teoria de Tresca, é possível traçar
o gráfico da figura 1.

Figura 1. Gráfico da teoria de Tresca (adaptado de JUVINALL, 2008).

Na figura 1, é possível observar um polígono de seis lados que cruza os eixos 1 e 2


(eixos das tensões principais) nos pontos onde o valor da tensão é o da tensão de
escoamento e (JUVINALL, 2008).

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De acordo com essa teoria, não ocorrerá falha quando o estado de tensões produzir
as tensões principais (σ1 e σ2) tais que, ao serem representadas no gráfico, forem
coordenadas de um ponto dentro do polígono.
A teoria da máxima energia de distorção baseia-se no fato de que qualquer material
elástico sujeito a determinado estado de tensões sofre variação de forma e/ou volume. A
energia necessária para essa deformação fica armazenada como energia elástica
(HIBBELER, 2004).
Essa teoria relaciona a energia de deformação absorvida no regime elástico de um
ensaio de tração com a armazenada no corpo pelo estado de tensões a que ele está
submetido. Existe a falha quando a energia de distorção por unidade de volume material é
igual ou ultrapassa a energia de distorção por unidade de volume do mesmo material em
um ensaio de tração simples.
Quando se traça, para um estado plano de tensões, um gráfico semelhante ao da
teoria de Tresca, obtém-se uma elipse como a mostrada na figura 2.

Figura 2. Gráfico da teoria de Tresca – elipse (adaptado de HIBBELER, 2004).

Da mesma forma que na teoria da máxima tensão de cisalhamento, estados de


tensão que produzem pontos na região compreendida pela elipse não causam falhas. As
falhas ocorrerão quando o estado de tensões produzirem um ponto que esteja na linha da
elipse ou fora da região compreendida por ela (HIBBELER, 2004). Quando comparamos os
dois critérios, podemos traçar a figura 3.

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Figura 3. Gráfico da teoria de Tresca comparado ao da teoria de Von Mises (adaptado de JUVINALL, 2008).

Na figura 3, o polígono de seis lados que representa o gráfico da teoria da máxima


tensão de cisalhamento tem seus vértices coincidentes com a elipse que representa o gráfico
da teoria da máxima energia de distorção.
Quando comparamos os dois critérios, verificamos que, se não ocorre falha pelo
critério de Tresca, também não ocorrerá pelo critério de Von Mises; caso ocorra falha pelo
critério de Von Mises, também ocorrerá pelo critério de Tresca.
Existe uma região, compreendida entre o polígono e a elipse, em que ocorre falha
pelo critério de Tresca e não ocorre pelo critério de Von Mises.

2. Indicações bibliográficas

 GERE, J. M. Mecânica dos materiais. São Paulo: Thomson Learning, 2003.


 HIBBELER, R. C. Resistência dos materiais. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2004.
 JUVINALL, R. C.; MARSHEK, K. M. Fundamentos do projeto de componentes de
máquinas. Rio de Janeiro: LTC, 2008.

3. Análise das alternativas

A – Alternativa correta.
JUSTIFICATIVA. As tensões σ1 = σY/2 e σ2 = -σy/2 apresentadas no gráfico que mostra as
regiões de falha (figura 4) produzem um ponto dentro da região compreendida pela elipse.
Para essa situação, segundo o critério de Von Mises, não ocorre falha.

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Figura 4. Regiões de falha para os critérios de Tresca e Von Mises.

B – Alternativa incorreta
JUSTIFICATIVA. A condição de falha para o critério de Von Mises é que o ponto esteja fora
da área compreendida pela elipse. Um ponto fora do polígono de seis lados pode não estar
fora da área delimitada pela elipse. Existe uma região entre a elipse e o polígono em que,
segundo o critério de Von Mises, não ocorre falha.

C – Alternativa incorreta

JUSTIFICATIVA. A figura 5 mostra um ponto gerado por tensões, sendo uma delas maior

que a tensão limite de escoamento y e dentro da região compreendida pela elipse.

Portanto, não ocorre a falha.

Figura 5. Regiões de falha para os critérios de Tresca e Von Mises com uma das tensões pricipais maior do que y.

D – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Um ponto sujeito às tensões σ1 = σY e σ2 = -σy falha no critério de Tresca,
pois essas tensões geram um ponto no gráfico fora da região limitada pelo polígono de seis
lados. Isso é observado na figura 6.

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Figura 6. Regiões de falha para os critérios de Tresca e Von Mises com tensões pricipais y e -y.

E – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Um ponto entre o polígono de seis lados e a elipse representa uma
condição de falha para o critério de Tresca e não representa uma condição de falha pelo
critério de Von Mises.

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Questão 4
Questão 4.4
Os aços ABNT 1020 não são temperáveis. Isto ocorre por que:
A. É baixo o teor de carbono desses aços, e o cotovelo da curva TTT toca o eixo das
ordenadas.
B. Trincam-se quando submetidos a um resfriamento rápido.
C. Possuem elementos de liga que deslocam o cotovelo da curva TTT para a esquerda.
D. Só possuem fase austenítica.
E. Somente os aços-ligas são passíveis de têmpera, pois os aços comuns ao carbono não
são.

1. Introdução teórica

1.1. Aços

Aços são ligas ferro-carbono cuja porcentagem de carbono não ultrapassa 2%


(CHIAVERINI, 2005). A figura 1 mostra o diagrama de fases para ligas ferro-carbono.

4
Questão 26 – Enade 2008.
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Figura 1. Diagrama ferro–carbono (adaptado der ASKELAND, 2008).

Em função do teor de carbono, os aços, quando resfriados lentamente, possuem na


temperatura ambiente estrutura formada por ferrita, perlita e/ou cementita. Para aços com
porcentagem de carbono inferior a 0,8% (aços hipoeutetoides), a estrutura é constituída por
grãos de ferrita e grãos de perlita. Com 0,8% de carbono (aços eutetoides), há apenas
grãos de perlita. Para porcentagens acima de 0,8% (aços hipereutetoides), há grãos de
perlita com cementita depositada no contorno deles (COLPAERT, 2008).
No gráfico da figura 1, o ponto que se encontra no cruzamento entre a linha A3 e a
linha Acm é chamado de ponto eutetoide. A liga que possui a porcentagem de carbono
correspondente a esse ponto (0,8%) é chamada liga eutetoide ou aço eutetoide. A
temperatura na qual esse ponto ocorre (727 oC) é denominada temperatura eutetoide
(COLPAERT, 2008).
O ferro, assim como outros metais, possui uma propriedade chamada de alotropia ou
polimorfismo, que é a capacidade de mudar de forma de reticulado em função da
temperatura. Para o ferro puro, acima de 1400 oC, a forma de seu reticulado é cúbica de
corpo centrado, conhecida como forma alotrópica . Entre 910 oC e 1400 oC, a forma do
reticulado é cúbica de face centrada, indicada pela letra . A solução de carbono nessa
forma é a austenita. Abaixo de 727 oC, a forma do reticulado é cúbica de corpo centrado,
indicada pela letra . A solução de carbono nessa forma é a ferrita (COLPAERT, 2008)
Notamos que abaixo da temperatura eutetoide não existe nenhuma parcela de
austenita ()

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As estruturas encontradas para os aços estão representadas na figura 2 (COLPAERT,


2008).

Figura 2. Micrografias dos aços (COLPAERT, 2008).

O teor de perlita cresce com o aumento da porcentagem de carbono, tendo como


limite 0,8%.
A perlita se forma em lâminas bastante finas, somente visíveis ao microscópio, com
elevadas ampliações. Tal estrutura é a ferrita e a cementita em forma laminar. Para que
essas estruturas ocorram, é necessário que o resfriamento respeite as condições
termodinâmicas das transformações. Se o resfriamento for acelerado, ocorrerá a formação
de outras estruturas (PADILHA, 2007).
Com relação à sua designação, os aços para construção mecânica são normalizados
pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e indicados por quatro dígitos
precedidos da sigla ABNT (NBR NM ISO 4948-1; 2000). Dos quatro dígitos, os dois primeiros
correspondem ao tipo de aço (por exemplo, os aços carbono são indicados por 10) e os dois
últimos correspondem à porcentagem de carbono presente (por exemplo, se os dois últimos
dígitos forem 20, isso significa que na estrutura o teor de carbono é igual a 0,20%) (NBR
NM ISO 4948-1; 2000).

1.2. Tratamento Térmico

Curva TTT

A relação entre a temperatura e o tempo (história) do resfriamento para obter


determinada microestrutura é o que se denomina tratamento térmico. A base teórica para o
estudo dos tratamentos térmicos é a cinética química. Nesse estudo, é introduzida uma
importante variável, o tempo, que permite a construção de um tipo de diagrama,
22
Material Específico – Engenharia Mecânica – Tomo 1 – CQA/UNIP

denominado TTT (Temperatura, Tempo, Transformação). O diagrama TTT é similar ao


diagrama de fase e permite mapear transformações de difusão de estado sólido
(dependentes de tempo) e transformações rápidas, que ocorrem por outros mecanismos
(independentes de tempo) (CHIAVERINI, 2005).
O gráfico representativo do diagrama TTT é também conhecido como diagrama de
transformação isotérmico.
A partir da temperatura eutetoide, resfria-se rapidamente o material até determinada
temperatura, mantida constante até que ocorra a transformação da austenita (a austenita é
instável abaixo da temperatura eutetoide). Assim, a transformação da austenita ocorre
isotermicamente (CALLISTER, 2008).
A figura 3 mostra que a evolução da transformação pode ser representada por uma
família de curvas, que indicam os percentuais de transformação ao longo do tempo.

Figura 3. Diagrama TTT (adaptado de CHIAVERINI, 2005).

Na figura 3, a curva mais à esquerda mostra o início da transformação e a curva mais


à direita mostra o término da transformação. Assim, para determinada temperatura abaixo
da temperatura eutetoide, a transformação se inicia em um instante e termina em outro
(CHIAVERINI, 2005).
Dessa maneira, conforme a velocidade de resfriamento, é possível que essas
transformações não ocorram ou não ocorram por completo.
Na figura 4, estão representadas duas curvas de resfriamento, uma da superfície de
uma peça e outra do centro da mesma peça. Na superfície, a velocidade de resfriamento é
alta o suficiente para impedir que a transformação se inicie. No centro, a velocidade de
resfriamento é suficientemente baixa para permitir a total transformação (CHIAVERINI,
2005).

23
Material Específico – Engenharia Mecânica – Tomo 1 – CQA/UNIP

Figura 4. Curvas de resfriamento em um diagrama TTT (CHIAVERINI, 2005).

Assim sendo, as estruturas encontradas na superfície são diferentes das encontradas


no centro da peça. Na temperatura ambiente, a estrutura de um aço que sofreu um
resfriamento semelhante ao da superfície da figura anterior é chamada de martensita
(CALLISTER, 2008).

Têmpera

A têmpera tem como característica uma velocidade de resfriamento capaz de impedir


a transformação de fase da austenita, fazendo com que se encontre no material resfriado a
estrutura martensítica (COLPAERT, 2008).
Para os aços carbono, o percentual de carbono altera a posição das curvas TTT,
sendo que, quanto maior o teor de carbono, mais à direita ficam as curvas do diagrama. A
figura 5 mostra dois diagramas: uma para um aço hipoeutetoide (a) e outro para um aço
eutetoide (b) (CHIAVERINI, 2005).

(a) (b)
Figura 5. Diagramas TTT para aços hipoeutetoide (a) e eutetoide (b) (CHIAVERINI, 2005).

24
Material Específico – Engenharia Mecânica – Tomo 1 – CQA/UNIP

Observamos que, para o aço hipoeutetoide, a curva de início da transformação toca o


eixo da temperatura. Com isso, mesmo para velocidades de resfriamento muito altas irá
ocorrer a transformação de fase da austenita, não permitindo a transformação em
martensita. Nessa situação, esses tipos de aços não são temperáveis (CHIAVERINI, 2005).

2. Indicações bibliográficas

 NBR NM ISO 4948-1; 2000 - Classificação dos aços não ligados e ligados.
 ASKELAND, D. R. Ciência e Engenharia dos Materiais. São Paulo: Cengage Learning,
2008.
 CALLISTER Jr., W. D. Ciência e Engenharia de Materiais – uma introdução. Rio de
Janeiro: LTC, 2008.
 CHIAVERINI, V. Aços e ferros fundidos. São Paulo: Associação Brasileira de Metalurgia e
Materiais, 2005.
 COLPAERT, H. Metalografia dos produtos siderúrgicos comuns. São Paulo: Edgard
Blucher, 2008.
 FREIRE, J. M. Materiais de construção mecânica. Rio de Janeiro: LTC, 1983
 PADILHA, A. F.; Materiais de Engenharia – microestrutura e propriedades. São Paulo:
Hemus, 2007.

3. Análise das alternativas

A – Alternativa correta.
JUSTIFICATIVA. Como o aço ABNT 1020 é um aço ao carbono com 0,20% de carbono, é um
aço hipoeutetoide. Nesse tipo de aço, a curva para início da transformação desloca-se para a
esquerda e toca o eixo das temperaturas, fazendo com que, mesmo em velocidades de
resfriamento muito altas, ocorra a transformação de fase da austenita.

B – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Segundo Freire (1983), a origem das trincas provocadas pelo resfriamento
está associada à velocidade do resfriamento, podendo aparecer em qualquer liga,
independentemente do teor de carbono.

25
Material Específico – Engenharia Mecânica – Tomo 1 – CQA/UNIP

C – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Os aços ABNT-1020 são os chamados aços ao carbono, não havendo
elementos de liga que provocam alteração no comportamento mecânico do material. Os
elementos encontrados, além do Fe e do C, estão em porcentagens tais que são
considerados impurezas (NBR NM ISO 4948-1;2000). A posição das curvas no diagrama TTT
depende exclusivamente do teor de C.

D – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Para que um aço possua fase austenítica na temperatura ambiente é
necessário que a transformação de fase não ocorra. Quando isto acontece, há martensita na
estrutura, característica dos materiais temperáveis.

E – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Os aços ao carbono são passíveis de têmpera, dependendo do teor de
carbono na liga.

26
Material Específico – Engenharia Mecânica – Tomo 1 – CQA/UNIP

Questão 5
Questão 5.5
O alumínio é um metal que, em volume de produção, só é superado pelos ferrosos. Analise
as afirmações a seguir sobre esse material.
I. Apresenta baixa condutividade térmica e, por isso, é usado como matéria-prima para
fabricação de panelas.
II. Tem grande aplicação na indústria aeronáutica por possuir baixa relação
resistência/peso.
III. Trata-se de um metal com baixo ponto de fusão e, portanto, não é recomendado em
aplicações com temperaturas superiores a 150°C.
IV. Possui boa resistência à corrosão, com aplicação na construção civil e na indústria
automotiva, e pode ser 100% reciclado.
Estão corretas as afirmações
A. I e III, apenas.

B. II e III, apenas.

C. III e IV, apenas.

D. I, II e IV, apenas.

E. I, II, III e IV.

1. Introdução teórica

Alumínio e suas ligas

As ligas de alumínio são largamente empregadas em Engenharia devido a uma


combinação favorável de propriedades, tais como condutividade elétrica e térmica, leveza e
resistência à corrosão. Essas propriedades advêm de sua forma cristalina, que é cúbica de
face centrada (CFC) (CALLISTER, 2008). Na figura 1, está representada a estrutura cristalina
do alumínio.

5Questão 27 – Enade 2008.

27
Material Específico – Engenharia Mecânica – Tomo 1 – CQA/UNIP

Figura 1. Estrutura cristalina do alumínio (CALLISTER, 2008).

Comparado ao aço, o alumínio é melhor condutor de eletricidade e melhor condutor


de calor (FREIRE, 1983). O quadro 1 mostra um comparativo entre as propriedades do
alumínio e do aço (ASKELAND, 2008).

Quadro 1. Propriedades do aço e do alumínio (adaptado de ASKELAND, 2008)

Propriedade Alumínio Aço Alumínio/Aço

Ponto de fusão (K) 933 1811 0,52

W
Condutividade Térmica ( ) 237 50 4,74
m.K

Condutividade elétrica (Ohm-1m-1) 3,77x107 9,93x106 3,80

Massa específica (kg/m3) 2,7x103 7,8x103 0,75

Limite de Resistência (MPa) 80 400 0,2

Comparado ao aço, o alumínio possui ponto de fusão bem mais baixo, massa
específica menor e limite de resistência inferior. A relação entre o limite de resistência e a
massa específica para o alumínio é 29,6x10-3 e para o aço é 51,2x10-3.
As ligas de alumínio podem ser trabalhadas, chegando a possuir limites de resistência
em torno de 200 MPa (DIETER, 1999). Nessa situação, a relação entre o limite de resistência
e a massa específica é igual a 74,1x10-3, 44,73% maior do que o do aço.
Como todo metal, o alumínio é passível de reciclagem, pois pode ser fundido
novamente e, a partir do produto fundido, constroem-se novas peças e equipamentos
(CALLISTER, 2008).
28
Material Específico – Engenharia Mecânica – Tomo 1 – CQA/UNIP

O óxido de alumínio (Al2O3) é um composto químico de alumínio e oxigênio conhecido


como alumina, responsável pela resistência à corrosão do alumínio metálico. O metal
alumínio é muito suscetível ao oxigênio atmosférico e uma camada fina de óxido de alumínio
se forma rapidamente na superfície exposta de metal, protegendo o metal abaixo (DIETER,
1999).
O Al2O3 possui estrutura octaédrica e ponto de fusão de 2345 K. Ao formar a camada
na superfície da peça, a geometria de sua estrutura não permite a penetração do oxigênio.
Essa película, chamada de camada passiva oferece características de resistência à corrosão
(DIETER, 1999).

2. Indicações bibliográficas

 ASKELAND, D. R. Ciência e Engenharia dos Materiais. São Paulo: Cengage Learning,


2008.
 CALLISTER Jr., W. D. Ciência e Engenharia de Materiais – uma introdução. Rio de
Janeiro: LTC, 2008.
 DIETER, G. E. Engineering design. New York: Mc Graw Hill, 1999.
 FREIRE, J. M. Materiais de construção mecânica. Rio de Janeiro: LTC, 1983.

3. Análise das alternativas

A – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Ao contrário da afirmativa I, o alumínio apresenta boa condutividade
térmica (4,74 vezes a do aço) e, exatamente por isso, é usado na fabricação de panelas.

B – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Ao contrário da afirmativa II, a aplicação na aeronáutica se dá pelo fato de
a relação resistência/massa ser maior do que a da maioria dos materiais.

C – Alternativa correta.
JUSTIFICATIVA. A afirmativa III está correta, na medida em que o ponto de fusão é
relativamente baixo. A afirmativa IV mostra que a formação da camada passiva impede a
penetração do oxigênio, fazendo com que o alumínio apresente elevada resistência à
corrosão.
29
Material Específico – Engenharia Mecânica – Tomo 1 – CQA/UNIP

D e E – Alternativas incorretas.
JUSTIFICATIVA. Ao contrário da afirmativa I, o alumínio apresenta boa condutividade
térmica e, exatamente por isso, é usado na fabricação de panelas. Ao contrário da afirmativa
II, a aplicação na aeronáutica se dá pelo fato de a relação resistência/massa ser maior que a
da maioria dos materiais.

30
Material Específico – Engenharia Mecânica – Tomo 1 – CQA/UNIP

Questão 6
Questão 6.6
O gráfico abaixo representa a curva tensão x deformação de um determinado aço, obtida
em um teste de tração.

Pela análise do gráfico, conclui-se que


A. A tensão no ponto C corresponde ao limite de proporcionalidade.
B. A fratura ocorre no ponto D.
C. O módulo de elasticidade do material pode ser obtido pela inclinação do trecho AB.
D. O limite elástico do material ocorre no ponto E.
E. O limite de escoamento do material é dado pelo valor da tensão no ponto D

1. Introdução teórica

Ensaio de tração

O ensaio de tração tem por finalidade determinar características de um material


quando solicitado por força que atua ao longo do eixo do corpo. Esse ensaio consiste na
aplicação de carga axial de intensidade crescente até que ocorra a ruptura. Mede-se a
variação do comprimento como função da carga, obtendo dados quantitativos das
características mecânicas dos materiais (CALLISTER, 2008).
______________________
6Questão 22 – Enade 2005.

31
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Nesse ensaio, são utilizados corpos de prova padronizados, como o mostrado no item
(b) da figura 1, em equipamentos chamados máquinas de ensaios de tração, que provocam
um afastamento de suas extremidades, de maneira lenta e progressiva. O item (a) da figura
1 é um desses equipamentos (EMIC, 2010).

(a) (b)
Figura 1. (a) Máquina universal de ensaios (EMIC, 2010) – (b) Corpos de prova para ensaio de tração (adaptado de
SOUZA, 2000).

Aplica-se uma carga de tração que cresce com o tempo, até que ocorra a ruptura do
corpo de prova. Durante o ensaio, é medido o alongamento (L) que o corpo de prova sofre
e a resistência ao avanço (Q), correspondente a cada alongamento (SOUZA, 2000).

Conhecidas as dimensões iniciais do corpo de prova (diâmetro d0 para corpos de


prova circular e o comprimento útil L0), calculam-se, para cada alongamento, a tensão () e
a deformação () pelas expressões (SOUZA, 2000):

Q ΔL
σ= ε=
π×d20 L0
4

Os dados referentes às deformações e suas tensões correspondentes são lançados


em um gráfico conhecido como diagrama tensão-deformação (FREIRE, 1983).
Basicamente, quando se ensaiam materiais metálicos, são encontrados dois tipos de
comportamento: o dúctil, representado na figura 2 (a), e o frágil, representado na figura 2
(b) (SOUZA, 2000).

32
Material Específico – Engenharia Mecânica – Tomo 1 – CQA/UNIP

Figura 2. Tipos de diagramas (adaptado de SOUZA, 2000).

A diferença básica entre os materiais de comportamento dúctil e os materiais de


comportamento frágil é a presença de uma região chamada de região de escoamento,
assinalada na figura 2 (a).
Na figura 3, estão marcados alguns pontos importantes que podem ser extraídos de
um diagrama tensão-deformação.

Figura 3. Diagrama tensão-deformação (adaptado de PUCPR, 2010).

Na figura 3, é possível distinguir duas regiões: a região elástica (que ocorre antes do
escoamento) e a região plástica (que ocorre após a região elástica e vai até a ruptura).
Na região elástica, pressupõe-se que a ausência de esforço está relacionada à
ausência de deformação. Nessa região vale a Lei de Hooke, que afirma ser a tensão (σ)
proporcional à deformação (). A proporcionalidade entre a tensão e a deformação é dada
por uma característica do material, chamada de módulo de elasticidade (E). A expressão da
Lei de Hooke é:

𝜎 =𝐸×𝜀

33
Material Específico – Engenharia Mecânica – Tomo 1 – CQA/UNIP

As tensões correspondentes aos pontos destacados na figura 3 estão descritas a


seguir (SOUZA, 2000):
 σu - tensão última ou limite de resistência do material (máxima tensão que se atinge).
 σR - tensão de ruptura (tensão que ocorre no momento da ruptura do material).
 σe - tensão de escoamento (tensão que, se atingida, provoca o deslocamento das
discordâncias e a deformação plástica).
 σp - tensão limite de proporcionalidade (tensão acima da qual não é mais respeitada a
proporcionalidade entre a tensão e a deformação – Lei de Hooke).
 εR - deformação de ruptura (deformação que, se atingida, provocará a ruptura do
material).

2. Indicações bibliográficas

 CALLISTER, W. D. Ciência e Engenharia de Materiais – uma introdução. Rio de Janeiro:


LTC, 2008.
 EMIC Máquinas universais de ensaio. Disponível em
<http://www.emic.com.br/produtos.php?codigo=59> Acesso em 23 ago. 2010.
 FREIRE, J. M. Materiais de Construção Mecânica. Rio de Janeiro: LTC, 1983
 PUC – PR, Deformações - da deformação específica até o comportamento dos materiais
- diagrama tensão () x deformação (). Disponível em
<http://www.lami.pucpr.br/cursos/estruturas/Parte03/Mod23/Curso1Mod23-03. htm>.
Acesso em 23 ago. 2010.
 SOUZA, S. A. Ensaios mecânicos dos materiais metálicos. São Paulo: Edgard Blücher,
2000.

Análise das alternativas

A – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. A tensão no ponto C não corresponde ao limite de proporcionalidade. O
limite de proporcionalidade está sobre a reta que representa a Lei de Hooke, dentro da
região elástica, indicado pelo ponto B. O ponto C está no limite da região de escoamento.

34
Material Específico – Engenharia Mecânica – Tomo 1 – CQA/UNIP

B – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. A fratura não ocorre no ponto D. O ponto D marca o limite de resistência
do material. A fratura ocorre no ponto E.

C – Alternativa correta.
JUSTIFICATIVA. O módulo de elasticidade do material pode ser obtido pela inclinação do
trecho AB. A proporcionalidade entre a tensão e a deformação é dada por uma característica
do material chamada de módulo de elasticidade (E). A expressão da Lei de Hooke é escrita
como (SOUZA, 2000):
𝜎 =𝐸×𝜀

No trecho reto, apresentado na figura 4, existe essa proporcionalidade, portanto, respeita-se


𝜎
a Lei de Hooke. Com isso, é possível escrever: = 𝐸.
𝜀

tg=/=E


Figura 4. Determinação do módulo de elasticidade pela inclinação do trecho reto de um diagrama tensão–deformação.

D – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. O limite elástico do material não ocorre no ponto E; nesse ponto ocorre a
fratura.

E – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. No gráfico apresentado, a região de escoamento é aquela logo após o
ponto C, terminando no início da curva que tem como máximo o ponto D e encerra-se no
ponto E. O limite de escoamento, em geral, é marcado como sendo o menor valor
encontrado na região de escoamento. O ponto D marca o limite de resistência do material.

35
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Questão 7
Questão 7.7
Os aços inoxidáveis ferríticos e austeníticos não permitem o endurecimento por meio de
têmpera.
PORQUE
Nos aços inoxidáveis ferríticos, independentemente da velocidade de resfriamento, a
estrutura é sempre ferrítica e, nos aços inoxidáveis austeníticos, a presença do níquel como
elemento de liga estabiliza a austenita.
Analisando essas afirmativas, conclui-se que
A. As duas afirmativas são verdadeiras, e a segunda justifica a primeira.
B. As duas afirmativas são verdadeiras, e a segunda não justifica a primeira.
C. A primeira afirmativa é verdadeira, e a segunda é falsa.
D. A primeira afirmativa é falsa, e a segunda é verdadeira.
E. As duas afirmativas são falsas.
6

1. Introdução teórica

Aços inoxidáveis

Os aços com teor elevado de cromo (11% ou mais) oferecem resistência à corrosão
muito maior que as apresentadas pelos aços carbono comuns, sendo chamados de aços
inoxidáveis (SCHAKELFORD, 2008).
Em função de sua microestrutura básica, encontrada na temperatura ambiente, eles
podem ser classificados em martensíticos, ferríticos ou austeníticos.
Os aços martensíticos, após resfriamento rápido a partir da zona de solubilização,
apresentam estrutura caracterizada pela presença de martensita. Em geral, possuem entre
12 e 17% de cromo e entre 0,1 e 0,5% de carbono. Uma característica apresentada por
esses aços é o fato deles serem ferromagnéticos (SCHAKELFORD, 2008).
Os aços inoxidáveis martensíticos sofrem a operação de têmpera, que transforma a
ferrita em austenita e a esta última em martensita durante o resfriamento. Após a têmpera,
o carbono forma parte da fase martensítica e não está disponível para ser precipitado como

7Questão 27 – Enade 2005.

36
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carboneto de cromo. Ou seja, a resistência à corrosão desses aços está vinculada à têmpera
(CHIAVERINI, 2005). A figura 1 é uma micrografia de um aço inoxidável martensítico na
qual é possível observar apenas grãos de martensita.

Figura 1. Estrutura de um aço inoxidável martensítico ABNT – 420 (COLPAERT, 2008).

Os aços ferríticos, após o resfriamento rápido a partir da zona de solubilização,


apresentam estrutura predominantemente ferrítica. Apresentam entre 16 e 30% de cromo e
não sofrem alteração de propriedades quando submetidos a resfriamentos muito rápidos por
possuírem baixo teor de carbono, ou seja, não são endurecidos por tratamento térmico
(SCHAKELFORD, 2008). A figura 2 é uma micrografia de um aço inoxidável ferrítico (ABNT–
409 com porcentagem de cromo igual 0,08%) na qual é possível observar apenas grãos de
ferrita.

Figura 2. Estrutura de um aço inoxidável ferrítico ABNT – 409 (COLPAERT, 2008).

Os aços inoxidáveis austeníticos são obtidos principalmente pela introdução de níquel


em sua composição química. Com essa adição, consegue-se uma alteração na estrutura,
transformando ligas ferríticas em ligas austeníticas pela estabilização da austenita
(SCHAKELFORD, 2008). Outros elementos, como o molibdênio, o titânio e o nióbio, são
introduzidos para melhorar a resistência à corrosão intergranular. A quantidade de carbono
na estrutura não ultrapassa 0,25% e não é possível endurecer esse tipo de aço por
tratamento térmico, mas é possível aumentar a dureza e a resistência à tração por
37
Material Específico – Engenharia Mecânica – Tomo 1 – CQA/UNIP

encruamento (CALLISTER, 2008). A figura 3 é uma micrografia de um aço inoxidável


austenítico (ABNT-304, com porcentagem de níquel igual a 8%) na qual é possível observar
apenas grãos de austenita.

Figura 3. Estrutura de um aço inoxidável austenítico ABNT – 304 (COLPAERT, 2008).

Dos três tipos de aço, o austenítico é aquele que apresenta a maior resistência à
corrosão e a mais baixa taxa de escoamento, sendo indicado para o trabalho a frio (FREIRE,
1983).

2. Indicações bibliográficas

 CALLISTER Jr., W. D. Ciência e Engenharia de Materiais – uma introdução. Rio de


Janeiro: LTC, 2008.
 CHIAVERINI, V. Aços e ferros fundidos. São Paulo: Associação Brasileira de Metalurgia e
Materiais, 2005.
 COLPAERT, H. Metalografia dos produtos siderúrgicos comuns. São Paulo: Edgard
Blucher, 2008.
 FREIRE, J. M. Materiais de construção mecânica. Rio de Janeiro: LTC, 1983
 SCHAKELFORD, J. F. Ciência dos materiais. São Paulo: Pearson Education, 2008.

Análise das alternativas

A – Alternativa correta.
JUSTIFICATIVA. Nos ferríticos, ocorre a transformação de fase, independentemente da
velocidade de resfriamento, e sua estrutura será sempre ferrítica. Nos austeníticos, cuja
porcentagem de carbono não ultrapassa 0,25%, a presença do níquel, que varia entre 3,5 e
14%, estabiliza a austenita, não permitindo que ela se transforme em ferrita, mantendo-se
38
Material Específico – Engenharia Mecânica – Tomo 1 – CQA/UNIP

até a temperatura ambiente. Assim, as duas afirmações são verdadeiras e a segunda


justifica a primeira.

B – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. O que transforma um aço inoxidável ferrítico em austenítico é a presença
do níquel na sua composição química. Assim, a segunda afirmação justifica a primeira.

C – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. As duas afirmativas são verdadeiras.

D – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. As duas afirmativas são verdadeiras.

E – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. As duas afirmativas são verdadeiras.

39
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Questões 8 e 9

Questão 8.8
Considere o diagrama de equilíbrio Fe-C para teores de carbono até 6,7%, mostrado na
figura a seguir.

Com relação ao diagrama mostrado e seus constituintes, conclui-se que:


A. A austenita é um carboneto contendo 2,11% de carbono.
B. A solução sólida do carbono do ferro é chamada cementita.
C. Este é, de fato, um diagrama Fe-Fe2O3, visto que a extremidade direita do mesmo
corresponde a 6,7% de carbono, que representa a solubilidade máxima do carbono no
fe2O3.
D. A solubilidade do carbono na austenita é máxima a 1148 °C e corresponde a 4,3% de
carbono.
E. Este é, de fato, um diagrama Fe-Fe3C, visto que a extremidade direita do mesmo
corresponde a 6,7% de carbono, que é a composição aproximada do carboneto de ferro
Fe3C.

a. 7

8Questão 31 – Enade 2005.

40
Material Específico – Engenharia Mecânica – Tomo 1 – CQA/UNIP

Questão 9. 9
Considere o diagrama de equilíbrio Fe-C para teores de carbono até 6,7%, mostrado na
figura a seguir.

ESTÃO

Os ferros fundidos denominados hipoeutetoides são ligas de Fe-C que possuem teor de
carbono entre, aproximadamente, 2,0 e 4,3%.
PORQUE
A liga binária Fe-C com teor de carbono de 4,3% corresponde à liga de mais baixo ponto de
solidificação ou fusão (temperatura de 1148 °C), sendo esta liga denominada eutética.
Analisando essas afirmativas, conclui-se que
A. As duas afirmativas são verdadeiras, e a segunda justifica a primeira.
B. As duas afirmativas são verdadeiras, e a segunda não justifica a primeira.
C. A primeira afirmativa é verdadeira, e a segunda é falsa.
D. A primeira afirmativa é falsa, e a segunda é verdadeira.
E. As duas afirmativas são falsas.
8

9Questão 32 – Enade 2005.


41
Material Específico – Engenharia Mecânica – Tomo 1 – CQA/UNIP

1. Introdução teórica
9

1.1. Diagramas de equilíbrio (diagramas de fase)

Os diagramas de fase são representações gráficas das varáveis de estado associadas


com as microestruturas. Os diagramas mais comumente encontrados são os das ligas
binárias, que representam sistemas de dois componentes (SCHAKELFORD, 2008).
Dentre os diagramas binários, os tipos básicos são aqueles cujos componentes são:
 completamente miscíveis no estado sólido;
 completamente imiscíveis no estado sólido;
 parcialmente miscíveis no estado sólido.
Na figura 1, estão representados esses três tipos de diagramas (SCHAKELFORD,
2008).

Figura 1. Tipos básicos de diagramas de fase (SCHAKELFORD, 2008).

Quando os materiais são completamente miscíveis no estado sólido (item (a) da


figura 1), na temperatura ambiente são encontrados grãos com uma solução desses
materiais, independentemente das quantidades de cada um deles.
Quando os materiais são completamente imiscíveis no estado sólido, na temperatura
ambiente são encontrados grãos que possuem os materiais distintos. Para esses materiais,
existe uma composição chamada de eutética. A composição eutética é aquela que solidifica
na menor temperatura, conhecida como temperatura eutética (item (b) da figura 1).
Dependendo do teor de cada elemento, é possível encontrar grãos do material A e grãos

42
Material Específico – Engenharia Mecânica – Tomo 1 – CQA/UNIP

com a composição eutética ou encontrar grãos do material B e grãos com a composição


eutética. Observa-se que, na composição eutética, os materiais não estão em solução, sendo
possível distinguir os materiais dentro do grão (CALLISTER, 2002).
Quando os materiais são parcialmente solúveis no estado sólido (item (c) da figura 1),
comportam-se como se fossem completamente insolúveis no estado sólido. Para esses
materiais, existe uma composição chamada de composição eutética que, neste caso, é
formada pelas soluções e β. Dependendo do teor de cada elemento, é possível encontrar
grãos da solução  e grãos com a composição eutética e é possível encontrar grãos da
solução β e grãos com a composição eutética (SCHAKELFORD, 2008).

1.2. Diagrama de equilíbrio das ligas ferro-carbono

O diagrama ferro-carbono, também conhecido como diagrama de Rozemboom,


mostra as estruturas dessas ligas para diversas concentrações de carbono a temperaturas
diferentes (FREIRE, 1983). A figura 2 é um diagrama ferro-carbono cujo limite máximo de
carbono é de 6,7% (CHIAVERINI, 2005).
Os componentes básicos de um aço carbono são o ferro e o carbono, que formam o
carboneto de ferro Fe3C, contendo 6,7% de carbono (COLPAERT, 2008). Assim, esse
diagrama pode ser considerado como Fe-Fe3C com equilíbrio metaestável (CHIAVERINI,
1986).

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Figura 2. Diagrama ferro-carbono (adaptado de COLPAERT, 2008).

As ligas com teor inferior a 2,11% de C são chamadas de aços e as ligas com teor
superior são chamadas de ferro fundido (CHIAVERINI, 1986).
Quando o teor de carbono é igual a 0,8%, a liga é eutetoide e sua microestrutura é
chamada de perlita (camadas de ferrita alternadas com camadas de carboneto de ferro).
Quando se analisam as ligas ferro-carbono que constituem os aços, com o teor de
0,8% de carbono, elas apresentam comportamento semelhante ao comportamento eutético,
sendo chamadas de ligas eutetoides.
Em função do teor de carbono, é possível classificar os aços em três tipos, conforme
segue abaixo (CHIAVERINI, 2005).
 Aços hipoeutetoides: possuem teor de carbono inferior a 0,8%.
 Aços eutetoides: possuem teor de carbono igual a 0,8%.
 Aços hipereutetoides: possuem teor de carbono superior a 0,8%.
As estruturas encontradas nesses aços são as descritas a seguir.
 Nos aços hipoeutetoides: grãos de ferrita e grãos de perlita, como os observados na
figura 3.

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Figura 3. Grãos de ferrita e grãos de perlita (COLPAERT, 2008).

 Nos aços eutetoides: grãos de perlita, como os observados na figura 4.

Figura 4. Grãos de perlita (COLPAERT, 2008).

Observação: nos grãos de perlita, é possível observar a ferrita (parte clara) e o composto
Fe3C (parte escura).

 Nos aços hipereutetoides: grãos de perlita, com o composto Fe3C depositado no contorno
dos grãos (cementita), como observado na figura 5.

Figura 5. Grãos de perlita com cementita no contorno (COLPAERT, 2008).

Quando analisamos as ligas ferro-carbono que constituem os ferros fundidos, é


possível classificá-las nos três tipos a seguir (COLPAERT, 2008).
 Hipoeutéticas: possuem teor de carbono superior a 2% e inferior a 4,3%.
 Eutéticas: possuem teor de carbono igual a 4,3%.
 Hipereutéticas: possuem teor de carbono superior a 4,3%.

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1.3. Alotropia do Ferro

O ferro, assim como outros metais, apresenta a característica de possuir formas de


reticulados diferentes em temperaturas diferentes, chamada de alotropia ou polimorfismo.
Para temperaturas inferiores a 910 oC, o ferro apresenta um reticulado com a forma cúbica
de corpo centrado (CCC), indicada pela letra grega ; entre 910 oC e 1380 oC, essa estrutura
muda para cúbica de face centrada (CFC), indicada pela letra grega  a partir daí, até a
temperatura de fusão, ele volta a ter a forma cúbica de corpo centrado (CCC), indicada pela
letra grega  (CHIAVERINI, 2005).

2. Indicações bibliográficas

 CALLISTER Jr., W. D. Ciência e Engenharia de Materiais – uma introdução. Rio de


Janeiro: LTC, 2008.
 CHIAVERINI, V. Tecnologia mecânica – materiais de construção mecânica. São Paulo:
MacGraw-Hill, 1986.
 CHIAVERINI, V. Aços e ferros fundidos. São Paulo: Associação Brasileira de Metalurgia e
Materiais, 2005.
 COLPAERT, H. Metalografia dos produtos siderúrgicos comuns. São Paulo: Edgard
Blucher, 2008.
 FREIRE, J. M. Materiais de construção mecânica. Rio de Janeiro: LTC, 1983.
 SCHAKELFORD, J. F. Ciência dos materiais. São Paulo: Pearson Education, 2008.

Análise das alternativas

Questão 8.
A – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. A austenita não é um carboneto contendo 2,11% de carbono. A austenita é
uma solução de carbono na fase  do ferro. Essa solução é encontrada acima de 723 oC,
tendo como limite máximo 2,11% de solubilização, que ocorre a 1148 oC.

B – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. A cementita é o composto formado entre o carbono e o ferro (Fe3C) nos
aços hipereutetoides, depositada nos contornos dos grãos.
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C – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Trata-se de um diagrama Fe-Fe3C, pois, no estado sólido, o carbono e o
ferro são praticamente insolúveis e formam o Fe3C.

D – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. A solubilidade do carbono na austenita é máxima a 1148 °C e corresponde
a 2,11% de carbono.

E – Alternativa correta.
JUSTIFICATIVA. Esse é, de fato, um diagrama Fe-Fe3C, visto que a sua extremidade direita
corresponde a 6,7% de carbono, que é a composição aproximada do carboneto de ferro
Fe3C.

Questão 9.
A e B – Alternativas incorretas.
JUSTIFICATIVA. A primeira afirmativa está incorreta porque a liga eutetoide apresenta teor
de carbono igual a 0,8% e está dentro da faixa na qual são encontrados os aços. Os ferros
fundidos podem ser hipoeutéticos (teor de carbono entre 2% e 4,3%), eutéticos (teor de
carbono igual a 4,3%) ou hipereutéticos (teor de carbono superior a 4,3%).

C e E – Alternativas incorretas.
JUSTIFICATIVA. A primeira afirmativa está incorreta: a liga eutetoide apresenta teor de
carbono igual a 0,8% e está dentro da faixa na qual são encontrados os aços. A segunda
afirmativa está correta: o ponto eutético das ligas Fe-Fe3C ocorre com teor de carbono de
4,3% em temperatura aproximada de 1147 oC.

D – Alternativa correta.
JUSTIFICATIVA. A primeira afirmativa está incorreta: a liga eutetoide apresenta teor de
carbono igual a 0,8% e está dentro da faixa na qual são encontrados os aços. A segunda
afirmativa está correta, pois o ponto eutético das ligas Fe-Fe3C ocorre com teor de carbono
de 4,3% em temperatura aproximada de 1147 oC.

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Questão 10
Questão 10.10
Uma transmissão, formada por duas engrenagens e utilizada para aumentar a velocidade
angular, tem seu eixo de entrada conectado a um motor que gira a 300 rpm e fornece 31,4
kW de potência mecânica. Considerando que as engrenagens possuem 50 e 10 dentes e que
a eficiência da transmissão é 0,8, calcule o torque na engrenagem menor.

1. Introdução teórica

Transmissão por engrenagens

Segundo JUVINALL (2008), a transmissão de movimento entre duas engrenagens


cilíndricas de dentes retos pode ser estudada por meio da transmissão entre duas
circunferências, chamadas de circunferências primitivas, que representam dois cilindros
pressionados, um contra o outro.
Se não existe deslizamento entre os cilindros, a rotação de um cilindro causará a
rotação do outro. Não existindo deslizamento, a velocidade periférica dos cilindros deve ser
a mesma (SHIGLEY, 2005).
Considere a transmissão da figura 1, na qual dp é o diâmetro da circunferência
primitiva da engrenagem motora e dc é o diâmetro da circunferência primitiva da
engrenagem movida. Para essa situação, Wp é a velocidade angular da engrenagem motora
e Wc, a velocidade angular da engrenagem movida.
10

Figura 1. Transmissão por engrenagens cilíndricas de dentes retos (adaptado de JUVINALL, 2008).

10Questão 5 – Discursiva – Enade 2005.


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Para um ponto em rotação, a velocidade tangencial (v) é igual ao produto entre a


velocidade angular (W) e o raio de rotação (r). A velocidade (v), para os pontos
pertencentes às circunferências primitivas das duas engrenagens da figura 1, é (CUNHA,
2005):

dp dc
v=Wp × =Wc ×
2 2

Dessa forma, pode-se obter uma relação entre as velocidades angulares e os


diâmetros das engrenagens:

Wp dc
=
Wc dp

A velocidade angular (W), a partir da frequência de rotação (n), pode ser


determinada por:

W=2×π×n

A relação entre as velocidades angulares pode ser escrita como:

Wp 2πnp dc
= =
Wc 2πnc dp

Com a última expressão, é possível observar que, em uma transmissão por


engrenagens, a relação existente para as velocidades angulares é a mesma para as
frequências de rotação, isto é:

dc Wp np
= =
dp Wc nc

O sistema mais utilizado para a fabricação de engrenagens é o sistema módulo. Nele,


as engrenagens de uma transmissão possuem o mesmo módulo que fornece as mesmas
larguras de dentes. Quando esse sistema é utilizado, o diâmetro de uma engrenagem pode
ser obtido por (JUVINALL, 2008):
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d = m×z

Na expressão, m é o módulo e z é o número de dentes da engrenagem.


Assim, em uma transmissão, a relação entre os diâmetros é igual à relação entre os
números de dentes, podendo ser escritas as seguintes igualdades:

dc zc wp np
= = =
dp zp wc nc

A relação entre as velocidades angulares e, por consequência, a relação entre as


frequências de rotação, é inversa à relação entre os diâmetros e à relação entre os números
de dentes.
Com relação ao torque T que atua em cada engrenagem, sabendo que a potência
disponível é P, temos (CUNHA, 2005):

P
T=
W

Como em uma transmissão por engrenagens os dentes permitem que se considere


que não existe o escorregamento entre elas, o rendimento de uma transmissão só pode
estar associado à potência. A potência de saída (Ps) é (SHIGLEY, 2005):

Ps =ηxPe

Na expressão,  é o rendimento da transmissão e Pe é a potência na entrada.

2. Indicações bibliográficas

 CUNHA, L. Elementos de máquinas. Rio de Janeiro: LTC, 2005.


 JUVINALL, R. C.; MARSHEK, K. M. Fundamentos do projeto de componentes de
máquinas. Rio de Janeiro: LTC, 2008.
 SHIGLEY, J. E. Projeto de Engenharia Mecânica. São Paulo: Bookman, 2005.

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3. Solução da questão

Como é desejado que a rotação sofra aumento (nc > np), é necessário que zp seja
maior que zc. Assim, a rotação de saída fica:

zc np
=
zp nc

10 300𝑟𝑝𝑚
=  nc =1500 rpm
50 𝑛𝑐

A potência de saída é Ps =ηxPe  Ps =0,8x31,4 kW

P P
Como T= e W=2×π×n  T= .
W 2×π×n

Dessa forma, o torque na engrenagem menor fica:

𝑃𝑐
𝑇c =
2 × π × nc

𝑁𝑚
0,8 × 31,4 × 103 𝑠
𝑇c =
1500 1
2 × π × 60 s

𝑇c =160 𝑁𝑚

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ÍNDICE REMISSIVO

Questão 1 Momento de torção em uma barra. Critério de Tresca ou critério da


máxima tensão de cisalhamento.
Questão 2 Estado de tensões.
Questão 3 Critérios de resistência.
Questão 4 Aços. Tratamento térmico.
Questão 5 Alumínio e suas ligas.
Questão 6 Ensaio de tração.
Questão 7 Aços inoxidáveis.
Questões 8 e 9 Diagramas de equilíbrio (diagramas de fase). Diagrama de equilíbrio das
ligas ferro-carbono. Alotropia do Ferro.
Questão 10 Transmissão por engrenagens.

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