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Universidade do Minho

Escola de Engenharia

Trabalho Prático 2 – Fadiga de um baloiço

Grupo 5
A100800 André Pereira Ferreira
A100671 Jorge Miguel Alves Marques
A100791 Mariana da Silva Pereira
A100873 Mariana Dias Amaro
A100717 Rui Pedro Diz Ribeiro

Coordenadores UC: Óscar Carvalho e Rita Ferreira

Mecânica dos Materiais II


Universidade do Minho
Guimarães, março 2023
UC Mecânica dos Materiais II Licenciatura em Engenharia Mecânica

1. Descrição
No âmbito da unidade curricular de Mecânica dos Materiais II foi proposto a
análise de fadiga de um componente à escolha pelo grupo através de cálculos analíticos e
simulação de elementos finitos. Para esse efeito, são calculadas todas as reações e tensões
presentes no componente selecionado, bem como esquemas e diagramas de corpo livre
que sejam necessários para o estudo da fadiga e a curva S-N.

2. Componente
O componente selecionado pelo grupo foi um baloiço (figura 1), que é um
dispositivo muito comum em parques, geralmente utilizado por crianças e jovens. É
composto por duas partes principais: um assento fixo a duas cordas que são suspensas e
uma estrutura de madeira.

Figura 1 – Baloiço

A madeira é o material principal utilizado no baloiço, sendo ainda composto por


cordas de nylon, assentos poliméricos e elementos de ligação metálicos.
Além disso, a madeira é um material isotrópico, o que significa que as suas
propriedades são iguais em todas as direções. Este material é, ainda, considerado
sustentável e renovável e apresenta algumas propriedades tais como:
• Resistência mecânica: é um material naturalmente resistente e capaz de suportar
forças físicas e mecânicas, dependendo do tipo de madeira e do seu grau de
umidade. É utilizada em diversas aplicações estruturais, como na construção de
casas, vigas e colunas.
• Tenacidade: apesar de não ser o material mais tenaz, a madeira ainda é um
material com boa capacidade de absorção de energia e resistência à fratura.
• Resistência à corrosão: uma vez que não é afetada por reações químicas com a
água ou com a maioria dos ácidos e bases. No entanto, a madeira pode ser afetada
pela deterioração causada por fungos e insetos. Para prevenir a deterioração da
madeira, é importante realizar tratamentos adequados, como a aplicação de
vernizes.

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• Dureza: a dureza da madeira é medida pela sua capacidade de resistir à abrasão e


à penetração. Esta propriedade é importante na fabricação de produtos que são
sujeitos a desgaste e impacto.

3. Condições de fronteira
De modo a elaborar o estudo, definiram-se condições de fronteira na peça a
analisar garantindo a viabilidade da sua resolução. O baloiço está sujeito a cargas cíclicas,
causadas pelo movimento repetitivo de oscilação do assento, assim cargas são aplicadas
na estrutura de madeira através das cordas que o sustentam. Para a resolução analítica
bem com para a simulação, decidiu-se que o material do veio seria de aço em vez de
madeira, de forma a simplificar os cálculos e a procura dos coeficientes necessários aos
mesmos.
De forma a simplificar o estudo, isolou-se o veio superior do baloiço e considerou-
se que ambas as extremidades se encontram castradas. Foi, ainda, aplicada uma carga
pontual, F, de 750N no assento que, na figura 2, se representa como duas cargas pontuais,
F/2.

∅100

Figura 2 – Diagramas de corpo livre e dimensões da peça em mm

4. Resolução analítica
Fadiga mecânica é a falha gradual de um material sujeito a tensões cíclicas. Isto
ocorre quando o material é submetido a repetidas cargas ou tensões que estão abaixo do
limite da sua resistência mecânica, mas são suficientes para causar a acumulação
progressiva de danos microscópicos no material, levando eventualmente a uma falha.
Tendo isso em conta, procedeu-se à resolução analítica calculando as reações nos
apoios, bem como as tensões nos pontos críticos e a curva S-N admissível.
Reações nos apoios
Para a determinação das reações nos apoios A e D, recorre-se à condição de
equilíbrio (1) em que o somatório das forças de um corpo em equilíbrio é sempre igual a
0.

∑𝐹 = 0 (1)

Assim, substituindo e utilizando uma força de 750N, tem-se que:


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𝑅𝑎 + 𝑅𝐷 = 750 (2)

Para se poder determinar o valor das reações, terá de se recorrer ao somatório dos
momentos num dos pontos, sendo o ponto escolhido o ponto A. Tem-se, assim, que:
𝐹 𝐹
∑ 𝑀𝐴 = 0 ⇔ − ̅̅̅̅ − × 𝐵𝐶
× 𝐴𝐵 ̅̅̅̅ + 𝑅𝐷 × 𝐶𝐷
̅̅̅̅ = 0 (3)
2 2
Substituindo em (3), tem-se:
𝑅𝐷 = 375 𝑁

Com o valor de 𝑅𝐷 calculado, poderá agora ser calculado a reação no ponto A


substituindo em (2). Assim, obtém-se:
𝑅𝐷 = 375 𝑁

Diagramas de esforços transversos e momentos fletores


Após determinadas as reações nos apoios, desenharam-se os diagramas de
esforços transversos e momentos fletores, apresentados nas figuras 3 e 4.

Figura 3 – Diagrama de esforços transversos

Figura 4 – Diagrama de momentos fletores

Tensão máxima no ponto crítico


Pela análise dos gráficos anteriores, observa-se que B e C são possíveis pontos
críticos para a análise da fadiga, pois são os pontos onde estão a ser aplicadas as forças.
Assim, a tensão máxima é dada por:
𝑀×𝑐
𝜎𝑚𝑎𝑥 = (4)
𝐼
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onde 𝑀 corresponde ao momento fletor, 𝑐 a distância ao eixo e 𝐼 o momento de inércia


dado por:
𝜋
𝐼= × 𝑐4 (5)
4
Sendo o momento no ponto B igual ao momento no ponto C, ambos os pontos
terão a mesma tensão, logo, ambos serão pontos críticos, uma vez que a peça não
apresenta furos nem descontinuidades geométricas. Assim, com 𝑀 = 300 𝑁𝑚 e 𝑐 = 𝑑 =
100 𝑚𝑚, substituindo em (4) e em (5) obtém-se um valor de 𝜎𝑚𝑎𝑥 = 3,1 𝑀𝑃𝑎.
Ciclo de tensão
Foi definido que o ciclo de tensões para o veio em questão seria um ciclo
alternado, em que a tensão média, 𝜎𝑚 , é zero. O gráfico correspondente a esse ciclo
encontra-se na figura 5 .

Figura 5 – Ciclo de tensões

Determinação da Curva S-N


A curva S-N admissível de um material (para ciclos com R=-1) e para vidas entre
10 e 107 ciclos, é dada pela curva que passa pelos pontos de coordenadas (0,9 R; 103) e
4

(f; 107). A tensão admissível para uma duração infinita, f, é dada pela expressão
seguinte:

1 1
𝜎𝑓 = (𝑘𝑠 𝑘𝑡 𝑘𝑓 𝑘 𝑇 ) × × × 𝜎𝑓0 (6)
𝐾𝑓 𝑛

em que:
• 𝜎𝑓 – Amplitude de tensão admissível de fadiga
• 𝑘𝑠 – Coeficiente de acabamento superficial
• 𝑘𝑡 – Coeficiente de tamanho
• 𝑘𝑓 – Coeficiente de fiabilidade
• 𝑘 𝑇 – Coeficiente de temperatura
• 𝐾𝑓 – Fator dinâmico de concentrações de tensões
• 𝑛 – Coeficiente de segurança dinâmico
• 𝜎𝑓0 – Amplitude de tensão limite de fadiga

Assim, será necessário determinar todos os coeficientes referidos para se poder


calcular a tensão admissível.
Supondo que:
𝜎𝑟 = 450 𝑀𝑃𝑎; 𝑛 = 1,5; 𝑓𝑖𝑎𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒: 99%;
𝑣𝑒𝑖𝑜 𝑐𝑜𝑚 𝑎𝑐𝑎𝑏𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑠𝑢𝑝𝑒𝑟𝑓𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 𝑚𝑎𝑞𝑢𝑖𝑛𝑎𝑑𝑜
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Coeficiente de acabamento superficial, 𝒌𝒔


Através da análise do gráfico da figura 6, obtém-se um valor de 𝑘𝑠 = 0,79

Figura 6 – Diagrama de coefientes superficiais

Coeficiente de tamanho, 𝒌𝒕
Para a determinação de 𝑘𝑡 , este segue as seguintes especificações:
1 𝑠𝑒 𝑑 ≤ 7,5𝑚𝑚
𝑘𝑡 = {0,85 𝑠𝑒 7,5 ≤ 𝑑 ≤ 50 𝑚𝑚
0,75 𝑠𝑒 𝑑 > 50 𝑚𝑚
Tratando-se de um veio com um diâmetro de 100 mm, 𝑘𝑡 = 0,75.
Coeficiente de fiabilidade, 𝒌𝒇
Tal como no coeficiente anterior, este é determinado através de valores já
definidos. Assim, pela tabela 1, retira-se que, para uma fiabilidade de 99%, 𝑘𝑓 = 0,794.

Tabela 1 - Coeficientes de fiablilidade

Coeficiente de temperatura, 𝒌𝑻
O mesmo se aplica para a determinação deste coeficiente, que possui os seguintes
requesitos:
• 𝑘𝑇 = 1 para T<70ºC
3100
• 𝑘𝑇 = 2460+9𝑇 para T>70ºC

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Sendo a temperatura utilizada, a temperatura ambiente, 𝑇 = 20º𝐶, tem-se que


𝑘𝑇 = 1.
Coeficiente de segurança dinâmico, 𝒏
O valor do coeficiente de segurança dinâmico toma os seguintes valores para
aplicações recorrentes:
4
<𝑛<2
3
Assim, arbitrou-se um valor de 1,5 para o coeficiente de segurança dinâmico.
Fator dinâmico de concentrações de tensões, 𝑲𝒇
Este fator é calculado pela expressão seguinte:
𝐾𝑓 = 1 + 𝑞(𝑘𝑡 − 1)𝐶𝑠 (7)

No entanto, como não foi possível calculá-lo pela expressão (7), assumiu-se que:
𝐾𝑓 = 𝑘𝑡 (8)

Sendo 𝑘𝑡 = 0,75, então 𝐾𝑓 = 0,75.

Amplitude de tensão limite de fadiga, 𝝈𝒇𝟎


Por fim, resta calcular a amplitude de tensão limite de fadiga, 𝜎𝑓0 , que é dada pelas
seguintes expressões:

Como se considerou que 𝜎𝑟 = 450 𝑀𝑃𝑎, terá de ser utilizada a expressão do


primeiro ramo, obtendo-se, assim 𝜎𝑓0 = 225 𝑀𝑃𝑎.

Na tabela seguinte (tabela 2), apresentam-se, resumidamente, todos os valores


determinados e arbitrados inicialmente.

Fiabilidade 99%
Tensão de rotura, 𝜎𝑟 450 𝑀𝑃𝑎
Coeficiente de acabamento superficial, 𝑘𝑠 0,79
Coeficiente de tamanho, 𝑘𝑡 0,75
Coeficiente de fiabilidade, 𝑘𝑓 0,794
Coeficiente de temperatura, 𝑘𝑇 1
Fator dinâmico de concentrações, 𝐾𝑓 0,75
Coeficiente de segurança dinâmico, 𝑛 1,5
Amplitude de tensão limite de fadiga, 𝜎𝑓0 225 𝑀𝑃𝑎
Tabela 2 - Valores atribuídos às incógnitas

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Determinação da tensão admissível para vida infinita, 𝝈𝒇


Substituindo os valores presentes na tabela 1 na equação (6) obtém-se que 𝜎𝑓 =
94,1 𝑀𝑃𝑎.
Construção da curva S-N
Como referido anteriormente, são necessários os pontos de coordenadas
(0,9 𝜎𝑅 ; 103 ) e (𝜎𝑓 ; 107 ) para construir a curva S-N (figura 7).

Tem-se, então:
• 𝜎𝑓 = 94,1 𝑀𝑃𝑎
• 0,9 𝜎𝑅 = 0,9 × 450 = 405 𝑀𝑃𝑎

Figura 7 - Curva S-N

Número de ciclos de vida


O cálculo do número de ciclos N pode ser obtido através da expressão:
log(𝜎𝑐𝑟í𝑡𝑖𝑐𝑜 ) = 𝑏 − 𝑚 × log(𝑁) (9)
No entanto, 𝑏 e 𝑚 são incógnitas e para a sua determinação recorre-se a um
sistema de duas equações de duas incógnitas, assim:
log(0.9 × 𝜎𝑅 ) = 𝑏 − 𝑚 × 𝑙𝑜𝑔(103 )
{ (10)
log(𝜎𝑓 ) = 𝑏 − 𝑚 × log (107 )

Substituindo, tem-se:
log(405) = 𝑏 − 3𝑚
{
log(94,1) = 𝑏 − 7𝑚
Resolvendo o sistema obtém-se:
𝑏 = 3,09
{
𝑚 = 0.16
Com os valores de 𝑏 e 𝑚 determinados, é possível, agora, determinar o valor do número
de ciclos substituindo em (9). Obtém-se, assim:
𝑁 = 1,7 × 1016 [𝑐𝑖𝑐𝑙𝑜𝑠]

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5. Simulação por elementos finitos


De forma a comparar resultados, realizou-se uma simulação pelo método de
elementos finitos através do software Ansys.
Para isso, foi necessária a modelação do componente em análise, o veio superior
de suporte ao baloiço (figura 8).

Figura 8 – Modelação do veio superior de suporte.

Após a sua modelação, definiram-se as solicitações a que o corpo está sujeito.


Como as extremidades se encontram encastradas, foram fixadas para que não se
movessem, e foram aplicadas 2 forças de 375 N nos pontos B e C (figura 9).

Figura 9 – Solicitações aplicadas no veio

Para além disso, foi ainda criada uma malha de modo a obter um valor mais
preciso, sendo menor na secção dos pontos críticos (figura 10).

Figura 10 – Malha do veio

Aplicados todos os constrangimentos e solicitações à peça, foi efetuada a


simulação avaliando a deformação, a concentração de tensões (pelo critério Von-Mises)
e tensões máximas (figura 11) e avaliando a fadiga: vida do componente, fator de
segurança e gráfico de sensibilidade à fadiga. (figuras 12, 13 e 14).

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Figura 11 – Mapa de concentração de tensões

A concentração de tensões é maior na parte inferior do veio localizada nos pontos


críticos B e C (figura 12).

Figura 12 – Mapa de concentração de tensões em pormenor nos pontos críticos

Figura 13 – Coeficiente de segurança

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Figura 14 – Ciclos de vida

Pela análise dos mapas, observa-se que a tensão máxima no ponto crítico é 𝜎𝑚𝑎𝑥 =
5,3𝑀𝑃𝑎, e que o veio apresenta um número de ciclos de vida na ordem dos 106 para um
coeficiente de segurança de 15, sendo, nos dois casos, valores diferentes dos calculados
analiticamente.

6. Conclusões
Ao analisar os resultados obtidos pelo método analítico e através da simulação,
observa-se que os resultados são diferentes. Essa diferença, pode atribuir-se, a nível
analítico, a imprecisões na leitura do valor do fator de coeficiente de segurança,
dimensionamento falacioso do veio, erros de cálculo, seleção de uma carga muito
reduzida para o estudo, arredondamentos efetuados ao longo dos cálculos realizados e o
tipo de malha utilizado durante a simulação. Para a carga utilizada, o número de ciclos de
vida é muito reduzido comparando com a curva S-N construída. Se a carga fosse
aumentada (por exemplo, F=37,5kN), o mapa do número de ciclos de vida mudaria
(figura 15) e, consequentemente, obteria-se um número de ciclos mais próximo ao da
simulação (N=6,8 × 103 ciclos).

Figura 15 – Mapa do número de ciclos de vida para uma força de 3,75kN.

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