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Universidade Federal do Paraná

Setor de Tecnologia
Curso: Engenharia Civil
Disciplina: TH-031 – Projeto de Obras Hidráulicas
Professor: Marcos Palú

TH-031
PROJETO DE
OBRAS
HIDRÁULICAS
Universidade Federal do Paraná
Setor de Tecnologia
Curso: Engenharia Civil
Disciplina: TH-031 – Projeto de Obras Hidráulicas
Professor: Marcos Palú

Sumário
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 6
2 ESTUDOS HIDROLÓGICOS ................................................................................. 7
2.1 Análise de Frequência de Cheias .................................................................... 7
2.1.1 Análise de Frequência Empírica de Vazões Máximas.............................. 7
2.1.2 Análise de Frequência de Vazões Máximas com Base em Distribuições
Teóricas 9
2.2 Vazão Máxima Instantânea ........................................................................... 14
2.3 Riscos Associados a Eventos Extremos ....................................................... 14
2.4 Estudos de Regionalização Hidrológica ........................................................ 15
3 USINAS HIDRELÉTRICAS - ASPECTOS GERAIS ............................................. 20
3.1.1 Introdução .............................................................................................. 20
3.1.2 Transformação de Energia Potencial em Energia Elétrica ..................... 21
3.1.3 Componentes de uma Usina Hidrelétrica ............................................... 23
3.1.4 Barragens .............................................................................................. 24
3.1.5 Vertedores ............................................................................................. 24
3.1.6 Circuito de geração ................................................................................ 25
3.1.7 Turbinas ................................................................................................. 28
3.1.8 Usinas Reversíveis ................................................................................ 32
3.1.9 Estudos Energéticos .............................................................................. 33
4 BARRAGENS ....................................................................................................... 35
4.1 Barragens de Terra e Enrocamento .............................................................. 35
4.1.1 Barragem de Seção Homogênea ou Mista............................................. 37
4.1.2 Barragem de Terra-Enrocamento........................................................... 38
4.1.3 Barragem de Enrocamento .................................................................... 39
4.2 Barragens de Concreto ................................................................................. 41
4.2.1 Barragem Tipo Gravidade ...................................................................... 41
4.2.2 Barragem Tipo Gravidade Aliviada......................................................... 44
4.2.3 Barragens em Arco ................................................................................ 45
4.2.4 Barragens Arco-Gravidade ..................................................................... 46
4.2.5 Barragens de Contrafortes ..................................................................... 47
4.2.6 Barragens de Concreto Compactado com Rolo. .................................... 50
4.3 Critérios de Cálculo ....................................................................................... 50
4.3.1 Tensões Normais na Fundação ............................................................. 50
4.3.2 Verificação de Segurança à Flutuação. .................................................. 51

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4.3.3 Análise de Estabilidade ao Tombamento. .............................................. 52


4.3.4 Fator de Segurança ao Deslizamento .................................................... 53
4.4 Exemplo de Cálculo ...................................................................................... 54
5 VERTEDORES .................................................................................................... 63
5.1 Definição ....................................................................................................... 63
5.2 Tipos ............................................................................................................. 63
5.3 Geometria da Crista ...................................................................................... 69
5.4 Capacidade de Descarga de um Vertedouro Livre ........................................ 73
5.5 Cálculo da Pressão na Crista ........................................................................ 78
5.6 Cálculo dos Níveis de Água na Calha do Vertedouro .................................... 80
5.7 Exemplo de Cálculo de Dimensionamento de um Vertedouro ...................... 84
5.7.1 Cálculo do coeficiente de descarga........................................................ 84
5.7.2 Verificação da pressão na crista ............................................................ 85
5.7.3 Cálculo da largura efetiva....................................................................... 85
5.7.4 Definição da geometria .......................................................................... 86
5.7.5 Exercício ................................................................................................ 89
5.8 Vertedores de Fundo e Descarregadores de Fundo ..................................... 90
6 DISSIPADORES DE ENERGIA ........................................................................... 95
6.1 Bacia de dissipação em ressalto ................................................................... 95
6.2 Força Dinâmica ........................................................................................... 100
6.3 Defletores tipos Salto de Esqui ................................................................... 100
6.4 Bacia de lançamento ................................................................................... 103
7 CAVITAÇÃO E AERAÇÃO DE ESCOAMENTOS DE ALTA VELOCIDADE ....... 105
7.1 Conceituação .............................................................................................. 105
7.2 Cavitação provocada por irregularidades .................................................... 105
7.3 Aeração ....................................................................................................... 107
7.4 Estudo de Caso: Erosão devido à Cavitação na Descarga de Fundo da UHE
Cambambe ............................................................................................................ 109
8 DESVIO DE RIOS .............................................................................................. 113
8.1 Introdução ................................................................................................... 113
8.2 Vazão de Projeto do Desvio ........................................................................ 113
8.3 Esquemas de Desvio .................................................................................. 114
8.4 Obras de Desvio ......................................................................................... 115
8.4.1 Túneis .................................................................................................. 115
8.4.2 Canal de Desvio ................................................................................... 119

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8.4.3 Desvio de Múltiplo Estágio para Barragens de Concreto ..................... 121


8.4.4 Adufas .................................................................................................. 122
8.4.5 Vertedor Rebaixado ............................................................................. 123
8.4.6 Circuito Hidráulico de Geração ............................................................ 124
8.4.7 Ensecadeira ......................................................................................... 125
8.5 Considerações sobre o Projeto de Túneis................................................... 126
8.6 Estudo de Caso: Túneis de Desvio da UHE Mauá ...................................... 132
8.7 Consideração sobre o projeto de adufas ..................................................... 133
8.8 Fechamento de Rios ................................................................................... 135
8.9 Estudo de Caso: Desvio do Rio da UHE São José ..................................... 135
9 CIRCUITO DE GERAÇÃO ................................................................................. 147
9.1 Canal de Adução ......................................................................................... 147
9.2 Tomada de Água ......................................................................................... 147
9.2.1 Localização .......................................................................................... 147
9.2.2 Geometria ............................................................................................ 148
9.2.3 Submergência Mínima ......................................................................... 148
9.2.4 Perda de Carga .................................................................................... 152
9.3 Túneis ou Canais de Adução ...................................................................... 154
9.4 Conduto Forçado ........................................................................................ 154
9.5 Canal de Fuga............................................................................................. 155
10 RESERVATÓRIOS ......................................................................................... 156
10.1 Dimensionamento ....................................................................................... 156
10.2 Trânsito de Cheias ...................................................................................... 157
11 MÁQUINAS HIDRÁULICAS - TURBINAS....................................................... 160
11.1 Condições e Dados de Projetos de Turbinas .............................................. 160
11.2 Turbina Pelton ............................................................................................. 164
11.3 Turbina Francis ........................................................................................... 165
11.4 Turbinas Kaplan .......................................................................................... 167
11.5 Turbinas Bulbo ............................................................................................ 168
12 MODELAGEM FÍSICA .................................................................................... 170
12.1 Dados Básicos ............................................................................................ 170
12.1.1 Topobatimetria ..................................................................................... 170
12.1.2 Hidrologia ............................................................................................. 170
12.1.3 Projeto Hidráulico da Estruturas ........................................................... 170
12.2 Critérios de Semelhança Dinâmica e Escalas ............................................. 170

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12.3 Escolha de Tipo do Modelo a Ser Adotado ................................................. 172


12.4 Limites dos Modelos.................................................................................... 172
12.5 Aferição do Trecho Fluvial ........................................................................... 173
12.6 Estudos das Estruturas Hidráulicas de Desvio ............................................ 174
12.6.1 Canais Naturais e Derivações (Canais Escavados): ............................ 174
12.6.2 Galerias de Desvio ............................................................................... 174
12.6.3 Túneis de Desvio ................................................................................. 174
12.7 Estudos da Estrutura do Vertedouro ........................................................... 175
12.8 Estudos das Estruturas de Dissipação de Energia ...................................... 175
12.8.1 Bacia de Dissipação ............................................................................. 175
12.8.2 Salto de Esqui – Bacia de Lançamento ................................................ 176
12.9 Estudos das Estruturas do Circuito Hidráulico de Geração ......................... 176
12.9.1 Tomada de Água.................................................................................. 176
12.9.2 Chaminé de Equilíbrio .......................................................................... 176
12.9.3 Canal de Fuga...................................................................................... 176
12.10 Plano de Operação das Comportas do Vertedouro ................................. 177
12.11 Efeitos de Escala ..................................................................................... 177
12.12 Resumo e Exemplos................................................................................ 177
13 MODELAGEM NUMÉRICA ............................................................................ 181
13.1 Introdução ................................................................................................... 181
13.2 Princípios Regentes .................................................................................... 181
13.3 Simulações Unidimensionais ...................................................................... 181
13.4 Simulações Bidimensionais ......................................................................... 182
13.5 Métodos Numéricos .................................................................................... 183
13.5.1 Método das Diferenças Finitas ............................................................. 183
13.5.2 Método dos Volumes Finitos ................................................................ 184
13.6 Softwares Comerciais ................................................................................. 184
13.7 Considerações Gerais sobre Modelos Numéricos Hidrodinâmicos ............. 184
14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 188

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Este material é de uso exclusivo dos alunos matriculados na


disciplina TH031 – Projetos de Obras Hidráulicas, curso de Engenharia
Civil, Universidade Federal do Paraná. Responsável: Prof.º Marcos
Cristiano Palú. A divulgação eletrônica deste material não está autorizada.

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1 INTRODUÇÃO
Estruturas hidráulicas são estruturas construídas com o objetivo de controlar a
água, qualquer seja sua origem. Essas estruturas podem ter a função de
armazenamento, aproveitamento, condução, drenagem proteção entre outros e são
feitas pelo homem para aproveitamento da massa, energia e potência biológico da água
ou ainda para evitar que a água cause algum dano. As obras hidráulicas estão sujeitas
à esforços e demais efeitos provindos do contato direto com a água como pressões,
velocidades, erosões, ondas, transbordamentos etc.
Engenheiros civis trabalham com água onde quer que ela afete as estruturas e
a infraestrutura da civilização. As funções dos engenheiros civis e dos técnicos, em
relação aos efeitos diversos da água, podem ser agrupadas em três categorias
principais (Gribbin, 2014) :
1. Controle de inundações: gerenciar o escoamento natural das águas da chuva
para prevenir danos a propriedades e a perda de vidas;
2. Recursos hídricos: explorar os recursos hídricos disponíveis para propósitos
benéficos, como abastecimento de água, irrigação, hidroeletricidade e
navegação;
3. Qualidade da água: administrar o uso da água para prevenir a degradação
causada pelos poluentes naturais e antrópicos;

São exemplos de obras hidráulicas: as barragens, canais, hidrelétricas, obras de


irrigação, captação de água, aquedutos, hidrovias, eclusas, portos, obras de
saneamento, barragens para regularização, bueiros, drenagens, escadas de peixes,
reservatórios etc. Essas obras necessitam dar condições de bom aproveitamento e ser
seguras contra enchentes e outros fenômenos naturais.
Em geral, essas estruturas devem ser construídas em cursos de água e é
inevitável que se façam obras de desvio do rio para isolar a área de construção da
estrutura hidráulica. Portanto, além de se efetuar um bom projeto da própria estrutura
hidráulica há a necessidade do planejamento da obra de desvio. O desvio do rio, que é
normalmente uma obra provisória, pode ser feito por túnel, canal, adufas ou
combinações. Contudo, para isso são necessárias ensecadeiras, que são diques
provisórios que promovem a proteção dos locais de trabalho. Tanto as obras de desvio
quanto o dimensionamento das obras hidráulicas dependem dos estudos hidrológicos
locais.
Um dos aspectos muito importantes para obras que barrem o curso do rio é a
necessidade de manutenção de uma vazão sanitária (ou ecológica) nos cursos de água.
A decisão quanto à determinação da vazão ecológica é comumente realizada com os
órgãos ambientais estaduais, e pode variar de local para local.

Capítulo 1 - Introdução 6
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2 ESTUDOS HIDROLÓGICOS
2.1 Análise de Frequência de Cheias
2.1.1 Análise de Frequência Empírica de Vazões Máximas
A definição de valores extremos de vazões é fundamental para o
dimensionamento de estruturas hidráulicas, uma vez que está diretamente relacionado
com a segurança das estruturas, como a capacidade de um vertedouro para evitar o
galgamento de uma barragem. O texto a seguir é baseado no Capítulo 14 do Livro
Hidrologia para Engenharia e Ciências Ambientais (Collischonn & Dornelles, 2015).
Para definição das vazões máximas inicialmente é necessário observar as
vazões máximas no local da obra em cada ano do histórico. A partir dessa série de
máximas é possível relacionar vazões com probabilidades de ocorrência através de
análises estatísticas.
Na análise de frequências empíricas de vazões máximas, estimativas de
probabilidade são atribuídas a cada um dos valores observados organizando os valores
em ordem decrescente. Para exemplificar a metodologia são apresentadas vazões
máximas do posto Fazenda Rio Branco, no Rio Paraupebas, no estado do Pará (código
ANA 29080000), apresentados na Tabela 2.1 e na Tabela 2.2
Tabela 2.1 – Vazões máximas no posto Fazenda Rio Branco

Vazão máxima
Ano
(m³/s)
1986 575
1987 385
1988 438
1989 526
1990 478
1991 323
1992 457
1993 192
1994 563
1995 565

Capítulo 2 - Estudos Hidrológicos 7


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Tabela 2.2 – Vazões máximas no posto Fazenda Rio Branco organizadas em ordem
decrescente

Vazão
Ordem
Ano máxima
m
(m³/s)
1986 575 1
1995 565 2
1994 563 3
1989 526 4
1990 478 5
1992 457 6
1988 438 7
1987 385 8
1991 323 9
1993 192 10

A probabilidade de que cada um dos valores de vazão seja igualado ou excedido


pode ser estimada a partir do valor correspondente de m (posição que este valor ocorre
na ordem decrescente) e do tamanho da amostra N (para o caso do posto Fazenda Rio
Branco N = 10). Existem diversas formulas para estimar a probabilidade empírica de
excedência, estas equações são comumente chamadas de posição de plotagem
(Naghettini & Pinto, 2007). Uma das fórmulas mais comumente utilizada é a de Weibull,
apresentada abaixo:
𝑚 (2.1)
𝑃=
𝑁+1

A probabilidade de excedência de uma determinada vazão é a probabilidade que


essa vazão venha a ser igualda ou superada em um ano qualquer. O tempo de retorno
ou tempo de recorrência de uma vazão Qmáx é o intervalo médio de tempo em anos que
decorre entre duas ocorrências subsequentes de uma vazão maior ou igual a vazão
Qmáx..O tempo de retorno é o inverso da probabilidade de excedência:
1 (2.2)
𝑇𝑅 =
𝑃

Supondo que a probabilidade de excedência seja 10%, teríamos uma vazão


tempo de retorno de 10 anos, isso significa que teoricamente essa vazão é excedida em
média 1 vez a cada dez anos.
Aplicando-se as equações (2.1) e (2.2) aos dados do posto Fazenda Rio Branco
tem-se a probabilidade empírica, segundo Weibull, apresentados na Tabela 2.3.

Capítulo 2 - Estudos Hidrológicos 8


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Tabela 2.3 – Vazões máximas no posto Fazenda Rio Branco com probabilidade
empírica estimada usando a fórmula de Weibull

Vazão
TR
Ano máxima Ordem Probabilidade
(anos)
(m³/s)
1986 575 1 0,09 11,0
1995 565 2 0,18 5,5
1994 563 3 0,27 3,7
1989 526 4 0,36 2,8
1990 478 5 0,45 2,2
1992 457 6 0,55 1,8
1988 438 7 0,64 1,6
1987 385 8 0,73 1,4
1991 323 9 0,82 1,2
1993 192 10 0,91 1,1

Na análise de máximas e vazões mínimas é conveniente a definição do ano


hidrológico, em contraposição ao ano civil. O ano hidrológico é definido como o período
de 12 meses que se estende do início do período chuvoso até o final do período seco
(Tucci, 2015). A principal motivação para a definição do ano hidrológico diferente do ano
civil é que nas análises de frequência de valores máximos ou mínimos anuais é adotada
a hipótese que os valores em anos sucessivos são independentes entre si. Caso o ano
hidrológico não seja definido corretamente pode ocorrer uma situação em que a vazão
máxima em um ano k seja encontrada no final do ano k, e a vazão máxima do ano k+1
seja encontrada no início do ano k+1, o que significa que os dois valores são na verdade
parte do mesmo evento de cheia. Nesse caso as duas vazões máximas não podem ser
consideradas independentes, e o resultado dessa avaliação de cheias será distorcido.

2.1.2 Análise de Frequência de Vazões Máximas com Base em Distribuições


Teóricas
A extrapolação da análise de eventos extremos para tempos de retorno maiores
que o período de dados observados é comumente realizada utilizando distribuições de
probabilidade teórica, como a distribuição de Gumbel por exemplo. Existem diversas
distribuições de probabilidade utilizadas para a análise de vazões máximas,
mencionam-se aqui algumas: Beta de 4 Parâmetros, Beta, Exponencial, Gama, Valores
Extremos Generalizados, Logistica Generalizada, Pareto Generalizada, Gumbel, Ln-
Normal, Log10-Normal, Logistica, Log-Logistica, Log-Pearson III, Normal, Pearson III,
entre outras.
De acordo com as Diretrizes para estudos e projetos de Pequenas Centrais
Hidrelétricas (Eletrobrás, 2000), duas distribuições são mencionadas: Gumbel e
Exponencial.

Capítulo 2 - Estudos Hidrológicos 9


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Outras referência, como Julien (2018), afirma que duas distribuições são
particularmente úteis para o estudo de frequência de cheias: Gumbel e Log-Pearson III.
De acordo com o Bulletin 17C – Guidelines for Determining Flood Flow Frequency do
USACE (Jr et al., 2019), para os Estados Unidos a distribuição de Log-Pearson III é
recomendada como distribuição básica para a definição da série de cheias anuais.
Desta maneira são apresentadas as distribuições de Gumbel, Exponencial e Log-
Pearson III.
Gumbel - A probabilidade de que uma determinada vazão venha a ser igualada
ou excedida em um ano qualquer pode ser estimada usando a distribuição de Gumbel,
também chamada de Distribuição de Valores Extremos do Tipo 1. A vazão para um dado
tempo de retorno TR (em anos) pode ser obtida pela equação (2.3)
𝑇𝑅 (2.3)
𝑥 = 𝑥̅ − 𝑠 {0,45 + 0,7797. 𝑙𝑛 [𝑙𝑛 ( )]}
𝑇𝑅 − 1

Onde 𝑥 é o valor da vazão máxima desejada, 𝑥̅ é a média das vazões máximas


anuais, 𝑇𝑅 é o tempo de retorno em anos, 𝑠 é o desvio padrão das vazões máximas
anuais dado por:

∑𝑛 (𝑥𝑖 − 𝑥̅ )2 (2.4)
𝑠 = √ 𝑖=1
𝑁−1

Para o posto Fazenda Rio Branco tem-se 𝑥̅ = 450 e 𝑠 = 122,6, dessa maneira a
distribuição de Gumbel resulta nos valores apresentados na Tabela 2.4.
Tabela 2.4 – Ajuste dos dados de vazão máxima no posto Fazenda Rio Branco
utilizando a distribuição de Gumbel

TR Vazão máxima
(anos) (m³/s)
1,1 311
2 430
5 538
10 610
20 679
25 701
50 768
100 835

Exponencial – É calculada utilizada a seguinte formulação (Eletrobrás, 2000):


1 (2.5)
𝑥 = 𝑥̅ − 𝑠 [1 + 𝑙𝑛 ( )]
𝑇𝑅

Aplicando-se a distribuição exponencial para os dados do posto Fazenda Rio


Branco tem-se o resultado apresentado na Tabela 2.5.

Capítulo 2 - Estudos Hidrológicos 10


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Tabela 2.5 – Ajuste dos dados de vazão máxima no posto Fazenda Rio Branco
utilizando a distribuição Exponencial

TR Vazão máxima
(anos) (m³/s)
1,1 339
2 413
5 525
10 610
20 695
25 722
50 807
100 892

Log-Pearson III – Essa distribuição pode ser descrita por três parâmetros:
média, desvio padrão e o coeficiente de assimetria. A equação utilizada para estimar a
vazão máxima é dada por (Collischonn & Dornelles, 2015):

log(𝑥) = ̅̅̅̅̅̅̅̅̅
log (𝑥) + 𝐾(𝑇𝐺) . 𝑠log (𝑥) (2.6)

Onde: log(𝑥) é logaritmo da vazão máxima; ̅̅̅̅̅̅̅̅̅


log (𝑥) é a média dos logaritmos das
vazões máximas anuais observadas; 𝑠log (𝑥) é o desvio padrão dos logaritmos das
vazões máximas anuais observadas. O valor do fator de frequência 𝐾 da distribuição
Log Perason III pode ser estimado pela equação abaixo (válida para períodos de retorno
menores que 100 anos):
1 1 (2.7)
K (𝑇𝐺) = 𝑧 + (𝑧 2 − 1). 𝑓 + (𝑧 3 − 6. 𝑧). 𝑓 2 − (𝑧 2 − 1). 𝑓 3 + 𝑧. 𝑓 4 + . 𝑓 5
3 3

Onde 𝑧 pode ser estimado com base em tabela de distribuição normal, ou pela
função do Excel INV.NORMP.N(1-P), onde P é a probabilidade. O valor de 𝑓 pode ser
obtido a partir do coeficiente de assimetria pela equação a seguir:
𝐺 (2.8)
𝑓=
6

Onde 𝐺 é o coeficiente de assimetria dado por:

∑𝑁
𝑖=1(𝑥𝑖 − 𝑥̅ )
3
(2.9)
𝐺=
𝑁. 𝑠 3

Contudo, o coeficiente de assimetria pode ser simplesmente calculado pela


função DISTORÇÃO do Excel.

Capítulo 2 - Estudos Hidrológicos 11


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Na prática, a utilização da distribuição Log-Pearson III segue os seguintes


passos (Collischonn & Dornelles, 2015):
1. Obter as vazões máximas para o período de N anos;
2. Calcular os logaritmos das vazões máximas;
3. Calcular a média, o desvio padrão e o coeficiente de assimetria dos logaritmos
das vazões máximas;
4. Obter o valor de 𝑧 para a probabilidade correspondente ao tempo de retorno
desejado (usando a função INV.NORMP.N no Excel);
5. Obter o valor de 𝑓 de acordo com a equação (2.8);
6. Obter valor de K (𝑇𝐺) pela equação (2.7);
7. Obter o valor do logaritmo da vazão do tempo de retorno desejado a partir da
equação (2.6);
8. Obter o valor da vazão através da função inversa do logaritmo.

Para o posto Fazenda Rio Branco tem-se ̅̅̅̅̅̅̅̅̅


log (𝑥) = 2,634; 𝑠log (𝑥) =0,147; 𝐺=-
1,718 e 𝑓=-0,286 conforme a Tabela 2.6.
Tabela 2.6 – Cálculo dos parâmetros da distribuição Log-Pearson III para o posto
Fazenda Rio Branco

Vazão máxima Log


Ano Ordem
(m³/s) (Vazão máxima)

1986 575 1 2,760


1995 565 2 2,752
1994 563 3 2,751
1989 526 4 2,721
1990 478 5 2,679
1992 457 6 2,660
1988 438 7 2,641
1987 385 8 2,585
1991 323 9 2,509
1993 192 10 2,283
̅̅̅̅̅̅̅̅̅
𝐥𝐨𝐠 (𝒙) 2,634
𝒔𝐥𝐨𝐠 (𝒙) 0,147
𝑮 -1,718
𝒇 -0,286

O cálculo das vazões máximas para diferentes períodos de retorno, de acordo


com a distribuição de Log-Pearson III é apresentada na Tabela 2.10.

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Tabela 2.7 – Ajuste dos dados de vazão máxima no posto Parauapebas utilizando a
distribuição de Log-Pearson III

TR P 1-P z K(TG) Log(x) Vazão máxima (m³/s)


1,1 0,91 0,1 -1,335 -1,397 2,43 268
2 0,50 0,5 0,000 0,262 2,67 471
5 0,20 0,8 0,842 0,802 2,75 565
10 0,10 0,9 1,282 0,968 2,78 598
20 0,05 0,95 1,645 1,059 2,79 616
25 0,04 0,96 1,751 1,079 2,79 621
50 0,02 0,98 2,054 1,121 2,80 630
100 0,01 0,99 2,326 1,144 2,80 635

A Figura 2.1 apresenta a plotagem da distribuição empírica e do ajuste das


distribuições teóricas Gumbel, Exponencial e Log-Pearson III

Figura 2.1 – Plotagem da distribuição empírica utilizando a fórmula de Weibull e as


distribuições teóricas de Gumbel e Log-Pearson III para o posto Fazenda Rio Branco

De acordo com a plotagem nota-se visualmente que a distribuição de Log-Pearson


III possui melhor aderência com a distribuição empírica, contudo para um tempo de
recorrência de 100 anos a distribuição Exponencial apresenta valores mais
conservadores.

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2.2 Vazão Máxima Instantânea


Os cálculos de vazões máximas são comumente realizados com vazões médias
diárias (em geral são esses os dados disponíveis nas estações fluviométricas). Nos
projetos contudo, é comum a necessidade da vazão máxima instantânea, que é o maior
valor ocorrido (Tucci, 2015). Uma equação frequentemente utilizada é a equação de
Fuller:
𝑄𝑚á𝑥 (2.10)
= 1 + 2,66𝐴−0,3
𝑄𝑚𝑒𝑑

Onde 𝐴 é área de drenagem em km². Deve-se notar que quanto menor a área
maior será a relação entre 𝑄𝑚á𝑥 e 𝑄𝑚𝑒𝑑 . Para o posto Fazenda Rio Branco, em que a
área de drenagem é de 8.450 km² a relação entre 𝑄𝑚á𝑥 e 𝑄𝑚𝑒𝑑 seria igual a 1,17 de
acordo com a formulação de Fuller. Para uma eventual situação de projeto esse valor
deveria ser aplicado nos valores encontrados na Tabela 2.4, Tabela 2.5 e na Tabela 2.7.

2.3 Riscos Associados a Eventos Extremos


O risco pode ser considerado como o produto da probabilidade de ocorrência de
um evento pelas consequências desse evento. Dessa maneira, projetos de estruturas
hidráulicas são elaborados considerando alguma probabilidade de falha. A vazão ou
hidrograma de dimensionamento de projetos hidráulicos, como, por exemplo, de um
sistema extravasor, correspondendo a valores significativos de vazão de pico, ou
volume de dada duração, e associados a um período de retorno, para os quais se
estabelece o risco e a segurança das estruturas ou sistemas hidráulicos.
A Tabela 2.8 apresenta os tempos de recorrência comumente utilizados para o projeto
de estruturas hidráulicas
Tabela 2.8 – Tempo de retorno adotado para algumas estruturas hidráulicas
(Collischonn & Dornelles, 2015)

Estrutura TR (anos)
Bueiros de estradas pouco movimentadas 5 a 10
Bueiros de estradas muito movimentadas 50 a 100
Pontes 50 a 100
Diques de proteção de cidades 50 a 200
Grandes barragens 10.000 ou Cheia Máxima Provável

De acordo com o As Diretrizes para Elaboração de Projeto de Barragens (ANA, 2016),


os tempos de recorrência recomendados para o dimensionamento dos órgãos
extravasores é função da altura da barragem e do volume do reservatório:

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Tabela 2.9 – Tempos de recorrência mínimos recomendados para cheias de projetos


de barragens (ANA, 2016)

Altura ℎ (m) Volume 𝑉 (Mm³) TR (anos)


ℎ ≥ 30 𝑉 ≥ 50 Cheia máxima provável
15 ≤ ℎ < 30 3 ≤ 𝑉 < 50 1000
ℎ < 15 𝑉<3 500

A norma ABNT NBR 13028:2017 - Mineração ― Elaboração e apresentação de


projeto de barragens para disposição de rejeitos, contenção de sedimentos e reservação
de água ― Requisitos apresenta tempos de recorrência para extravasores de barragens
de mineração conforme apresentado na Tabela 2.10.
Tabela 2.10 – Tempo de retorno adotado para algumas estruturas hidráulicas (ABNT,
2017)

Período de retorno de projeto


Consequência ou dano potencial
(período operacional)
Baixa 200 anos a 500 anos
Média 500 anos a 1000 anos
Alta 1000 anos a PMP

2.4 Estudos de Regionalização Hidrológica


Os estudos de regionalização hidrológica têm por objetivo a obtenção da
frequência e magnitude de cheias em locais homogêneos quanto às características
hidrológicas, onde não estão disponíveis dados fluviométricos. À vista disso, o cálculo
das vazões de cheias naturais ao longo da bacia de interesse foi realizado através do
método da cheia-índice ou Index-Flood Method (Dalrymple, 1960). O método é
originalmente composto pelos procedimentos descritos a seguir:
1. Seleção das estações na região de interesse com suficiência de dados;
2. Escolha de um período de base (período comum) para análise de frequência de
cheias nas estações e ajuste dos dados das estações para o período comum;
3. Cálculo dos períodos de retorno das cheias para cada estação;
4. Teste de homogeneidade das estações;
5. Cálculo das cheias adimensionais dadas pela razão entre as cheias para os
diferentes tempos de recorrência e a cheia média (definida como a vazão
máxima anual média - QMM);
6. Plotagem das cheias adimensionais para cada estação e determinação de curva
regional;
7. Plotagem da cheia média em relação as áreas de drenagens para determinação
da correlação entre estas variáveis;
8. Determinação das cheias para qualquer seção na bacia de interesse, utilizando
os resultados dos itens 6 e 7.

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A seguir é apresentado um exemplo de estudo de regionalização hidrológica


para a Bacia do Alto Rio Doce

Figura 2.2 – Bacia do Alto Rio Doce

Os postos utilizados são apresentados na Tabela 2.11.

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Tabela 2.11 – Postos fluviométricos utilizados na regionalização de vazões da Bacia do Alto Rio Doce

Área de
Disponibilidade
Id Nome Código Rio Estado Município Operadora Latitude Longitude drenagem
de dados
(km2)
1 Piranga 56028000 Rio Piranga MG Piranga CPRM -20,69 -43,30 1400 06/1938 a 02/2020
2 Bráz Pires 56055000 Rio Xopotó MG Brás Pires CPRM -20,85 -43,24 1090 08/1938 a 02/2020
3 Senador Firmino 56065000 Rio Turvo MG Senador Firmino CPRM -20,91 -43,10 297 06/1941 a 01/2020
4 Porto firme 56075000 Rio Piranga MG Porto Firme CPRM -20,67 -43,09 4260 06/1938 a 02/2020
5 Seriquite 56085000 Rio Turvo Sujo MG Viçosa CPRM -20,72 -42,92 342 06/1941 a 02/2020
6 Fazenda Varginha 56090000 Rio Turvo Limpo MG Porto Firme CPRM -20,71 -43,00 328 06/1941 a 02/2020
7 Ponte Nova Jusante 56110005 Rio Piranga MG Ponte Nova CPRM -20,38 -42,90 6230 05/1974 a 02/2020
8 Fazenda Paraíso 56240000 Rio Gualaxo do Sul MG Mariana CPRM -20,39 -43,18 855 06/1930 a 03/2020
9 Acaiaca 56335000 Rio do Carmo MG Acaiaca ANA -20,36 -43,14 1330 09/1940 a 12/1975
10 Acaiaca Jusante 56335001 Rio do Carmo MG Acaiaca CPRM -20,36 -43,14 1370 07/1975 a 03/20201
11 Fazenda Ocidente 56337000 Rio Gualaxo do Norte MG Barra Longa CPRM -20,27 -43,10 529 06/1938 a 03/2020
12 São Miguel do Anta 56385000 Rio Casca MG São Miguel Do Anta CPRM -20,70 -42,67 523 09/1965 a 01/2020
13 Rio Casca 56415000 Rio Casca MG Rio Casca CPRM -20,23 -42,65 2030 07/1930 a 01/2019
14 Fazenda Cachoeira D'antas 56425000 Rio Doce MG São José do Goiabal CPRM -19,99 -42,67 10100 11/1981 a 03/2020
15 Raul Soares Montante 56484998 Rio Matipó MG Raul Soares CPRM -20,10 -42,44 1350 10/1976 a 11/2019
16 Abre Campo 56500000 Rio Santana MG Abre Campo CPRM -20,30 -42,48 273 12/1939 a 03/20202
17 Instituto Florestal Raul Soares 56510000 Rio Matipó MG Raul Soares CPRM -20,10 -42,46 1870 01/1982 a 01/2020
18 Cachoeira dos Óculos Montante 56539000 Rio Doce MG Córrego Novo CPRM -19,78 -42,48 15900 09/1974 a 12/2019
19 Pingo D'água 56570000 Ribeirão Sacramento MG Bom Jesus do Galho CPRM -19,71 -42,45 855 10/1974 a 12/2019
20 Rio Piracicaba 56610000 Rio Piracicaba MG Rio Piracicaba CPRM -19,93 -43,17 1160 12/1925 a 03/2020
21 Conceição do Rio Acima 56631000 Rio Conceição MG Santa Bárbara ANA -20,08 -43,58 186 01/1938 a 12/1957
22 Carrapato (Brumal) 56640000 Ribeirão Santa Bárbara MG Santa Bárbara CPRM -19,97 -43,46 609 07/1954 a 03/2020
23 Nova Era IV 56659998 Rio Piracicaba MG Nova Era CPRM -19,77 -43,03 3060 04/1989 a 03/20203
24 Nova Era - Montante 56659999 Rio Piracicaba MG Nova Era ANA -19,77 -43,07 3060 10/1974 a 02/1980

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Área de
Disponibilidade
Id Nome Código Rio Estado Município Operadora Latitude Longitude drenagem
2 de dados
(km )
25 Nova Era 56660000 Rio Piracicaba MG Nova Era ANA -19,77 -43,03 3060 01/1938 a 12/1972
UHE Sá Carvalho Barramento
26
Antônio Dias 56688080 Rio Piracicaba MG Antônio Dias Sá Carvalho -19,65 -42,85 4260 01/1999 a 06/2015
27 Mario de Carvalho 56696000 Rio Piracicaba MG Timóteo CPRM -19,52 -42,64 5270 09/1986 a 10/2017
28 Belo Oriente 56719998 Rio Doce MG Belo Oriente CPRM -19,33 -42,38 24200 10/1986 a 12/2019
29 Conceição do Mato Dentro 56750000 Rio Santo Antônio MG Conceição do Mato Dentro CPRM -19,01 -43,45 302 02/1945 a 12/2018
30 Ferros 56775000 Rio Santo Antônio MG Ferros CPRM -19,23 -43,02 4090 09/1940 a 03/2020
31 Fazenda Barraca 56787000 Rio do Tanque MG Ferros CPRM -19,33 -43,07 1260 10/1965 a 12/2018
32 Senhora do Porto 56800000 Rio Guanhaes MG Senhora do Porto CPRM -18,89 -43,08 1520 06/1945 a 03/2020
33 UHE Porto Estrela Barramento 56820080 Rio Santo Antônio MG Joanésia Cons.Pestrela -19,12 -42,66 9410 09/2001 a 06/2015
34 Naque Velho 56825000 Rio Santo Antônio MG Açucena CPRM -19,19 -42,42 10200 10/1974 a 12/2019
35 Fazenda Corrente 56845000 Rio Corrente Grande MG Virginópolis CPRM -18,89 -42,71 1050 01/1952 a 03/2018
36 Porto Santa Rita 56846000 Rio Corrente Grande MG São Geraldo da Piedade CPRM -18,95 -42,36 1970 09/1975 a 12/2019
37 Governador Valadares 56850000 Rio Doce MG Governador Valadares CPRM -18,88 -41,95 40500 12/1938 a 01/20204

1- Para as análises hidrológicas os postos Acaiaca (56335000) e Acaiaca Jusante (56335001) foram combinados em um único
posto;
2- Falhas de 1982 a 1987;
3- Para as análises hidrológicas os postos Nova Era (56660000), Nova Era Montante (56659999) e Nova Era IV (56659998)
foram combinados em um único posto;
4- Falhas em 1943 a 1945 e 1947 a 1967.

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A Figura 2.3 ilustra a curva regional obtida através da adimensionalização das


cheias com a cheia média enquanto a Figura 2.4 apresenta a correlação entre
as cheias médias e as áreas de drenagem dos postos.
4

3
Q/QMM

0
1 10 100
TR (anos)

56028000 56055000 56065000 56075000 56085000 56090000 56110005


56240000 56335001 56337000 56385000 56415000 56425000 56484998
56500000 56510000 56539000 56570000 56610000 56631000 56640000
56659998 56688080 56696000 56719998 56750000 56775000 56787000
56800000 56820080 56825000 56845000 56846000 56850000 Curva Regional

Figura 2.3 – Curva regional da bacia do Alto Rio Doce

10.000

Q = 0,357A0,841
R² = 0,89
1.000
QMM (m3/s)

100

10
100 1.000 10.000 100.000
Área de drenagem (km2)

Figura 2.4 – Correlação entre cheias médias e áreas de drenagem para o Alto Rio
Doce

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3 USINAS HIDRELÉTRICAS - ASPECTOS GERAIS


3.1.1 Introdução
A matriz elétrica brasileira é predominantemente renovável isso porque grande
parte da energia elétrica gerada no Brasil vem de usinas hidrelétricas (65%). A energia
eólica também vem crescendo bastante, contribuindo para que a nossa matriz elétrica
continue sendo, em sua maior parte, renovável.

Figura 3.1 – Matriz Elétrica Brasileira (EPE, 2021)

A Figura 3.2 apresenta a locação dos empreendimentos hidrelétricos no Brasil.

Figura 3.2 – Empreendimentos hidrelétricos no Brasil

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A Agência Nacional de Energia Elétrica apresenta os dados espaciais dos


empreendimentos de geração elétrica no país (ANEEL, 2022), de acordo com esses
dados o Brasil possui em operação 220 Usinas Hidrelétricas (UHE), isto é, com
potências instaladas superiores a 30 MW, 448 Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH)
com potenciais instaladas entre 5 MW e 30 MW e 736 Centrais Geradoras Hidrelétricas
(CGH) com potências instaladas iguais ou inferiores a 5 MW.
Usinas hidrelétricas são estruturas que usam a energia potencial hidráulica na
geração de energia elétrica a partir da transformação em energia cinética. Os
aproveitamentos hidrelétricos podem ser distribuídos segundo a potência disponível em
usinas pequenas, médias e grandes; quanto a queda podem classificadas como baixa
(até 15 m), média (15 m a 60 m) e alta (60 m a 1500 m). Também, quanto ao
reservatório, podem ser do tipo a fio d‘água, quando não dispõe de um reservatório de
acumulação significativa, ou de acumulação quando há um reservatório que permite o
armazenamento e a regularização da vazão (Schreiber, 1977). A Figura 3.3 apresenta
os componentes de uma usina hidrelétrica.

Figura 3.3 – Componentes de uma usina hidrelétrica

3.1.2 Transformação de Energia Potencial em Energia Elétrica


De acordo com a Figura 3.5 o recipiente 1 representa um reservatório, criando
por uma barragem, que alimenta a turbina. O recipiente 2 representa o canal de fuga da
usina por meio do qual se restituem as águas ao leito natural do rio. A instalação 3
compreende a casa de força, que abriga o conjunto formado pela turbina hidráulica e o
gerador elétrico, os quais são acoplados por um eixo. A altura total de queda 𝐻 (energia
potencial por unidade de peso) é igual a diferença entre os níveis do reservatório e do
canal de fuga, desprezando-se a altura de velocidade 𝑣 2 /2𝑔 (Pereira, 2015).

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Figura 3.4 – Esquema típico de uma instalação hidrelétrica (Pereira, 2015)

A água que se encontra no reservatório possui uma energia potencial em


comparação à água presente no canal de fuga. Essa energia é dada pela equação (3.1)
𝐸 = 𝛾𝐻𝑣 = 𝜌𝑔𝐻𝑣 (3.1)

Onde 𝛾 é o peso específico da água. A energia por unidade de tempo é a potência 𝑃,


como 𝑣/𝑡 é a vazão 𝑄:
𝑃 = 𝛾𝑄𝐻 = 𝜌𝑔𝑄𝐻 (3.2)

Nessas expressões, conforme o sistema que se utilize (MLT – massa, comprimento,


tempo ou FLT – força, comprimento e tempo), tem-se os dados apresentados na
Tabela 3.1 – Variáveis para cálculo da potência de uma usina hidrelétrica

Variável Sistema Internacional Sistema Prático


𝛾 – peso específico da água 9.810 N/m³ 1.000 kg/m³
𝜌 – massa específica da água 1.000 kg/m³ 102 kgf.s²/m4
𝑔 – aceleração da gravidade 9,8 m/s² 9,8 m/s²
𝑄 – vazão m³/s m³/s
𝐻 – queda bruta m m

A energia hidráulica na usina é convertida em energia mecânica pela turbina e esta em


energia elétrica pelo gerador. Deve-se considerar os rendimentos na turbina, da ordem
de 𝜂𝑡 = 0,9 e no gerador 𝜂𝑔 = 0,98, resultando um rendimento do conjunto 𝜂 = 0,88.
Igualmente, a queda bruta não é integralmente aproveitada devido às perdas de carga
no circuito de geração, que são da ordem de 2% a 5% da queda bruta, dependendo das
características do esquema dos aproveitamentos. A potência útil (W), portanto vale:
𝑃 = 𝛾𝐻𝐿 𝑄𝜂 (3.3)

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Onde 𝐻𝐿 é a queda líquida dada por:


𝐻𝐿 = 𝑁𝑀 − 𝑁𝐽 − Δℎ (3.4)

Onde 𝑁𝑀 é o nível de montante, 𝑁𝐽 é o nível de jusante e Δℎ são as perdas de carga


no sistema.
A potência em kW pode ser escrita como:
𝑃 = 9,8𝐻𝐿 𝑄𝜂 (3.5)

O produto da potência 𝑃 pelo intervalo de tempo de geração fornece a energia


gerada pela usina. Por exemplo, considerando que uma usina gera 1MW por 1 hora
tem-se a geração de 1MWh.

3.1.3 Componentes de uma Usina Hidrelétrica


Uma usina hidrelétrica é composta de maneira geral pelos seguintes
componentes (Pereira, 2015):
1) Barragem para criar carga hidráulica e armazenar volume de água;
2) Vertedouro para extravasar as vazões excedentes que não são
turbinadas;
3) Circuito de geração (tomada de água, conduto forçado e casa de força),
onde ocorre a condução do fluxo desde o reservatório até a turbina;
4) Canal de fuga, pelo qual se restitui a água turbinada ao leito natural do
rio.

A montante da tomada de água tem-se um canal de adução, que pode possuir


uma câmara de desarenação, uma câmara de carga e até um vertedouro lateral,
dependendo das condições locais de cada projeto. Entre a tomada de água e a casa de
força comumente existe um conduto forçado, que pode ser incorporado às estruturas de
concreto. Pode também existir um túnel de adução e uma chaminé de equilíbrio.
Muitas são as alternativas possíveis, dependendo de cada situação. Existem
outras estruturas que fazem parte da usina mas não são destinadas à geração de
energia, como escadas de peixes e eclusas de navegação, quando demandadas pelo
projeto.
Os tipos de arranjo geral das obras dos empreendimentos hidrelétricos
dependem das características topográficas e geológico-geotécnicas de cada local de
implantação. Esses arranjos variam muito se o local é em planície, se é em vale
encaixado etc (Pereira, 2015).
A Figura 3.5 apresenta um desenho esquemático do funcionamento de uma
usina hidrelétrica com maiores detalhes.

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Figura 3.5 – Ilustração sobre o funcionamento de uma usina hidrelétrica

3.1.4 Barragens
A construção de uma barragem ligada a uma usina hidrelétrica em geral possui
três finalidades:
1) Geração de desnível para produzir queda;
2) Criação de um reservatório capaz de regularizar a vazão ou
3) Elevação do nível de água para possibilitar a entrada de água em um canal, túnel
ou tubulação que promova a adução para uma casa de força.

As barragens podem ser classificadas segundo o material de construção: terra,


enrocamento ou concreto. Quanto às barragens de concreto podem ser do tipo
gravidade, arco-gravidade, abóboda ou cúpula e com contrafortes. Os tipos de
barragens serão detalhados no Capítulo 4.

3.1.5 Vertedores
Os órgãos extravasores tem por objetivo restituir as vazões de cheia para jusante
do aproveitamento em condições de segurança e sem perturbações de nível prejudiciais
à operação da usina. Em geral, os órgãos extravasores podem ser do tipo vertedores
de superfície ou descargas de fundo.

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Os vertedores de superfície podem ser classificados quanto à utilização: de


serviço (operação mais frequente para cheias até 200 anos) ou de emergência
(vertedores para cheias extremas). Podem ainda ser do tipo livre ou controlados por
comportas. Quanto à estrutura podem ser do tipo soleira (Creager ou espessa), orifício,
lateral, tulipa, labirinto ou tecla de piano, conforme detalhado no Capítulo 5. O
dimensionamento provém da análise de frequência de cheias, realizada nos estudos
hidrológicos bem como do risco assumido para a estrutura.

Figura 3.6 – Abertura do vertedouro de Itaipu

A descarga de fundo ou vertedouro de fundo é uma abertura ou conjunto de


aberturas locada no fundo do reservatório, em geral controlada por comportas ou
válvulas, que atravessa ou circunda uma barragem. Em geral os objetivos dessa
estrutura são: esvaziar o reservatório, evacuar os sedimentos do reservatório,
descarregar vazões de cheias e desviar o rio durante a construção da barragem.

3.1.6 Circuito de geração


O sistema de adução é composto pelas estruturas que conduzem a água do
reservatório até as turbinas, as estruturas do sistema em geral são: tomada de água,
canais ou túneis de escoamento livre e túneis ou condutos sob pressão.

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Figura 3.7 – Ilustração de um circuito de geração (Pereira, 2015)

A tomada de água é uma estrutura que deve estabelecer uma aceleração


progressiva e gradual do escoamento do reservatório á adução, evitando fenômenos de
separação e por consequência perdas de carga. Quanto aos canais ou túneis de
escoamento livre, estes devem ser dimensionados respeitando a máxima velocidade
compatível com o tipo de revestimento.
O dimensionamento do circuito de geração deve levar em conta os custos em
relação às perdas de carga (consequentemente perda de geração) a fim de se obter um
circuito de ótimo custo-benefício.
Os condutos forçados são tubulações que podem estar sujeitas à grandes
pressões. O dimensionamento desses condutos é feito através de um estudo econômico
com o objetivo de minimizar a soma do custo do conduto a do valor presente de energia
perdida (Eletrobrás, 2003). Para os condutos revestidos em aço deve-se estar atento à
espessura mínima da blindagem (função da máxima pressão atuante) bem como o
cobrimento mínimo de rocha. A Figura 3.8 apresenta uma seção do circuito de geração
da UHE Cambambe em Angola.

Figura 3.8 – Circuito de geração da UHE Cambambe, em Angola (Palu et al., 2018)

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Figura 3.9 – Circuito de geração da UHE Foz do Areia, Paraná (CBDB, 1982)

Chaminés de equilíbrio tem por objetivo reduzir a sobrepressão resultante de


golpes de aríete nos condutos, bem como a regulação da frequência dos grupos
geradores. Durante o funcionamento das turbinas toda a massa de água no circuito de
geração tem certa velocidade e inércia de movimento. Quando as turbinas fecham
abruptamente a velocidade dessa massa se transforma em um aumento de pressão nos
órgãos adutores que se propaga em forma de onda de pressão com grande velocidade
para montante, até o reservatório, ou local com nível de água livre. Esse fenômeno é
chamado golpe de aríete. No caso contrário, quando as turbinas são abertas
completamente (após ficarem paradas) a massa de água é acelerada causando uma
diminuição de pressão na entrada da turbina e ao longo do sistema adutor. Com a
finalidade de diminuir esses efeitos inconvenientes, instala-se uma chaminé de
equilíbrio no circuito de geração.
A casa de força tem a finalidade de alojar as máquinas (turbina e gerador) e os
equipamentos para possibilitar sua montagem (ou eventual desmontagem) e a sua
operação e manutenção. A casa de força pode ser a céu aberto, subterrânea (em
caverna) ou semi-abrigada, em que parte fica abrigada na rocha. As dimensões da casa
de força dependem totalmente das dimensões da turbina e do gerador, bem como dos
equipamentos utilizados para o içamento (ponte rolante ou pórtico). A Figura 3.10 ilustra
o interior de uma casa de força de uma PCH.

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Figura 3.10 – Casa de Força da PCH da Ilha – Veranópolis/RS (Albarello, 2014)

3.1.7 Turbinas
De acordo com a norma NBR 6445 (2016): Turbinas hidráulicas, turbinas-
bombas e bombas de acumulação uma turbina hidráulica é uma máquina rotodinâmica
com a finalidade de transformar a energia hidráulica em energia mecânica. Nas usinas
hidrelétricas comumente são utilizadas as turbinas de ação e turbinas de reação.
O fluxo é controlado pela abertura de um mecanismo a montante do rotor. O eixo
da turbina é diretamente conectado a um gerador, que converte a energia mecânica em
energia elétrica.
As turbinas de reação podem ser do tipo Francis1 ,Kaplan2 (tipo hélice) ou bulbo,
enquanto as turbinas de ação são do tipo Pelton3.

1
A turbina Francis foi desenvolvida em 1848 por James B. Francis em Massachusetts
(EUA)
2
A turbina Kaplan foi desenvolvida em 1913 pelo professor Austríaco Viktor Kaplan
3
A turbina Pelton foi desenvolvida na década de 1870 por Allan Lester Pelton.

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Figura 3.11 – Turbina Francis de eixo horizontal

Figura 3.12 – Turbina Francis com detalhes

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Figura 3.13 – Corte de uma turbina Kaplan

Figura 3.14 –Rotor de uma turbina Kaplan

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Figura 3.15 – Esquema de funcionamento de uma turbina Pelton

Figura 3.16 –Rotor de uma turbina Pelton.

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De acordo com Schreiber (1977) para quedas maiores de 600 m deve-se utilizar
somente a turbina Pelton, nas quedas pequenas de cerca de 5 a 20 m, predomina a
turbina Kaplan. Na faixa de 100 m a 600 m podem ser escolhidas turbinas Pelton quanto
Francis e para quedas entre 80 e 15 m são aplicáveis as turbinas Francis e Kaplan. A
Figura 3.17 apresenta um gráfico para seleção de turbinas (Andritz) até 30 MW em
função da vazão e da queda líquida.

Figura 3.17 – Gráfico para seleção do tipo de turbina em função da vazão e da queda
líquida

3.1.8 Usinas Reversíveis


As usinas hidrelétricas também podem ser do tipo reversíveis. A tecnologia de
armazenamento de energia das usinas hidrelétricas reversíveis (UHER) é também
conhecida como de armazenamento por bombeamento de água ou acumulação
hidráulica. Este sistema de acumulação consiste no bombeamento de água desde um
reservatório inferior para um reservatório superior durante períodos de pequena carga
utilizando energia extra de qualquer outra fonte geradora do sistema, utilizando esta
água armazenada para movimentar as turbinas hidráulicas na geração de eletricidade
nas horas de demanda máxima (Canales et al., 2015). A Tabela 3.2 apresenta as usinas
reversíveis construídas no Brasil enquanto a Figura 3.5 ilustra um esquema de uma
usina hidrelétrica reversível.
Tabela 3.2 – Usinas reversíveis construídas no Brasil

Potência Altura de
Potência
Nome Inauguração Equipamento Bombas Queda
Turbinas (MW)
(MW) (m)
Edgar de Souza 1955 1 Francis 14,8 13,13 24
Pedreira 1939 6 Francis 78,5 42,6 25
Traição 1940 4 Kaplan 7,3 6,4 4
Vigário 1952 4 Francis 90,8 72,0 36

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Figura 3.18 – Esquema de uma usina hidrelétrica reversível (Canales et al., 2015)

3.1.9 Estudos Energéticos


Os estudos energéticos são simulações da geração energética de uma usina
considerando uma série de vazões observadas ou sintéticas. Esses estudos são
realizados para definição da potência instalada bem como análise de viabilidade
levando-se em conta a avaliação do retorno financeiro após a implantação da usina em
comparação com os custos para construção e manutenção.
Para as questões referentes à produção energética de uma usina hidrelétrica
são válidas as seguintes definições:
a) Capacidade Instalada ou Capacidade Nominal: Máxima potência produzida
pela usina (MW);
b) Energia Primária (Energia Firme, Energia Garantida, Garantia Física): Energia
que pode ser assegurada ao mercado dentro de um nível de confiabilidade ou
risco (MWmédios);
c) Energia Secundária: Energia excedente à energia primária (Mwmédios);
d) Carga média: valor médio requerido pelo sistema (Mwmédios);
e) Carga de Ponta ou máxima: Potência máxima requerida pelo mercado
(MWh/hora);
f) Fator de Carga: relação entre a carga média e a carga de ponta;
g) Fator de capacidade: relação entre a energia firme e a capacidade instalada.

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Exercício 1:
A usina de Itaipu tem atualmente 14.000 MW instalados em 20 máquinas.
A sua produção anual de energia gira em torno de 95.000 GWh.
As turbinas foram projetadas para gerar 715 MW sob uma queda líquida de
118,40m, e engolindo uma vazão de 690 m3/s. Pergunta-se:
a) Qual a potência média gerada pela usina?
b) Qual o rendimento de projeto da turbina?
c) Qual o fator de capacidade de usina?
Apresente as suas contas detalhadas, a fim de permitir verificação.

Exercício 2:
Considere que o custo para construir uma usina hidrelétrica é de
$100.000.000,00. A geração anual de energia (energia firme) é igual a 36.000 MWh e o
valor de venda da energia é $280 por MWh. O período de contrato é de 30 anos e a
taxa de juro anual é de 10%.
a) Esse contrato é lucrativo? (Use a análise de valor presente)
b) Qual seria o valor mínimo do valor de venda da energia para obter lucro
nesse contrato?
c) Suponha que não é possível elevar o valor de venda da energia. Contudo,
há a informação que é possível vender o empreendimento hidrelétrico no
final do contrato. Qual seria o valor mínimo de venda para evitar perdas
financeiras?

Para resolução do exercício 2 considere o valor presente líquido 𝑃 calculado através da


série uniforme de pagamentos ou receitas 𝑅 e o cálculo do valor futuro 𝐹.
(1 + 𝑖)𝑛 − 1
𝑃 = 𝑅[ ]
𝑖(1 + 𝑖)𝑛 (3.6)

𝑖(1 + 𝑖)𝑛
𝑅 = 𝑃[ ]
(1 + 𝑖)𝑛 − 1 (3.7)

𝐹 = 𝑃(1 + 𝑖)𝑛 (3.8)

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4 BARRAGENS
4.1 Barragens de Terra e Enrocamento
A concepção dessas barragens está fundamentada no uso de materiais
disponíveis nas imediações do local da obra. Os materiais são compactados em
diversas zonas do perfil, segundo sua determinação como órgão de apoio ou vedante.
O material vedante pode ser colocado na posição vertical ou inclinada, dentro do corpo
da barragem ou na zona de montante. A espessura varia dependendo das
características do material.
As condições climáticas do local devem ser levadas em consideração na escolha
das seções das barragens, uma vez que, em regiões de chuvas intensas ou de chuvas
muito prolongadas, a produtividade cai, e o número menor de dias trabalháveis pode
exigir maior intensidade de uso de equipamento, tornando mais alto o custo unitário de
aterro compactado. Nesses casos, os materiais que não exijam tempo seco para
lançamento devem ser considerados, por serem mais competitivos em custo (ANA,
2016).
O tempo requerido para a construção deve ser levado em consideração, de
acordo com os vários aspectos das etapas de construção, reaproveitamento de
materiais e necessidade de estoques intermediários. Essa comparação deve ser feita
mediante o desenvolvimento de um estudo completo de arranjo geral, sequência
construtiva, prazo de construção, balanço de materiais, desembolso, vantagens
financeiras de antecipações, de redução de prazos e/ou adiantamento de desembolsos.
A comparação de custos globais deve indicar o cronograma e metodologia executiva
mais vantajosa.
As características hidrológicas do local e o esquema de desvio do rio são fatores
importantes na seleção do tipo da barragem, técnica e economicamente mais vantajosa,
devendo ter-se presente que para certos tipos de barragens, (como, de um modo geral,
as barragens em concreto) pode aceitar-se um maior risco e, portanto, esquemas de
desvio mais econômicos.
As características geológicas e topográficas da fundação são, também,
importantes fatores da economia das seções da barragem, principalmente porque as
características de resistência da fundação podem condicionar a declividade dos taludes
da barragem (a utilização de taludes mais íngremes, possibilitada pelos enrocamentos,
exige melhores características de resistência dos materiais de fundação). A
deformabilidade e permeabilidade da fundação podem igualmente influenciar a seleção
do tipo de barragem (barragens de seção homogênea impõem menor grau de
exigência). Os aspectos topográficos podem apontar para tipos de barragens que se
adaptam melhor à existência de grandes heterogeneidades de fundação (ANA, 2016).
É conveniente projetar o eixo da barragem, em planta, com uma curvatura para
montante, para resultar em efeito de arco na região impermeável. Devido às
consequências danosas do transbordamento, a cota da crista deve ser fixada com
cuidado, levando-se em conta os eventos meteorológicos extremos e a formação de
ondas no reservatório (comumente protegidas por enrocamentos – riprap).

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Os vertedores são geralmente locados em estruturas de concreto anexadas à


barragem de terra. Com a finalidade de se evitar a saída da água a jusante, e seus
efeitos erosivos, coloca-se no pé da barragem material permeável em forma de
enrocamento ou filtros verticais.
De acordo com Pereira (2015) com o desenvolvimento do setor elétrico
brasileiro, os projetos das barragens de aterro passam a ser feitos usando normas que
estão consolidadas nos Critérios de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas (Eletrobrás,
2003). Em resumo, destacam-se as seguintes regras:
a) O aterro deve ser seguro contra um eventual galgamento, durante a
ocorrência da cheia de projeto do vertedouro, ou pela ação de ondas;
b) A largura da crista é função do processo construtivo, deve ser adotada,
em geral a mínima necessária para o tráfego de veículos nos dois
sentidos cm segurança. Eletrobras e CBDB especificam largura de 10 m
para barragens e 7 m para os diques;
c) A declividade dos taludes deve ser definida considerando-se a variação
do nível de água do reservatório e os parâmetros característicos de
resistência dos materiais do aterro e da fundação;
d) Os taludes do aterro devem ser estáveis para todas as condições de
carregamento (durante a construção, em operação normal e
rebaixamento rápido);
e) O aterro deve ser projetado para não impor tensões excessivas na
fundação;
f) Infiltração através do aterro, fundação e ombreiras deve ser controlada
de tal forma que não ocorra erosão interna; a vazão perdida por
percolação deve ser estimada e controlada de forma a não interferir na
função planejada do projeto;
g) O talude de montante deve ser protegido contra ação de ondas; a crista
e o talude de jusante devem ser protegidos contra a ação de chuvas;
h) Se o aterro for situado em região de atividade sísmica, o projeto deve ser
feito para considerar a ocorrência de terremoto;
i) A fundação, incluindo as ombreiras, deve prover suporte estável para o
aterro sob todas as condições de saturação e carregamento, e prover
resistência suficiente à percolação para prevenir perdas de água em
excesso.

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As barragens de aterro podem classificar-se nos seguintes três tipos principais:


a) Terra, com seção homogênea ou mista;
b) Terra-enrocamento, com uma vedação (ou núcleo) de solo e espaldares de
enrocamento situados a montante e a jusante do núcleo;
c) Enrocamento, com órgão de vedação no talude de montante (face de concreto).

4.1.1 Barragem de Seção Homogênea ou Mista


A utilização de barragens de seção homogênea é, em geral, menos frequente,
face à indisponibilidade de solos com caraterísticas relativamente homogêneas. Nas
barragens de seção mista, aproveitam-se os materiais mais permeáveis para as
camadas mais superficiais, devidamente protegidos contra o efeito de erosões
superficiais, e utilizam-se os menos permeáveis na zona centra
Deve sempre prever-se um sistema de drenagem interna, constituído por um
filtro subvertical ou inclinado, tapete drenante junto à fundação e dreno de pé de jusante.
O filtro subvertical intercepta a percolação através da barragem, sendo a água a ele
afluente conduzida para jusante, através do tapete drenante. Assim, desde que ambos
os dispositivos sejam adequadamente dimensionados, respeitando condições de filtro
entre materiais, e tenham capacidade de escoamento suficiente, o espaldar a jusante
do filtro subvertical permanecerá não saturado, e a erosão interna do seu material fica
controlada.

Figura 4.1 – Seção de uma barragem de terra homogênea (Taquaruçu)

Os drenos de pé de jusante asseguram a continuidade ao tapete drenante e


constituem uma segurança adicional, face à eventual colmatação do filtro ou do tapete
drenante, ou mesmo, a grandes e inesperados fluxos provenientes da fundação.
A largura da crista é definida em função de diversos aspectos, tais como, a altura
e importância da obra, o risco sísmico do local, a natureza dos materiais a empregar, a
configuração da linha de saturação com o reservatório cheio, o processo construtivo e,
se a crista for utilizada como acesso, a largura mínima necessária para o tráfego de
veículos (nos dois sentidos). A inclinação dos taludes é definida de acordo com os
principais esforços e com as características tecnológicas dos materiais, quer dos
aterros, quer das fundações

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4.1.2 Barragem de Terra-Enrocamento


Nas barragens mistas de terra-enrocamento, os taludes podem ser mais
íngremes do que nas barragens de terra, o que permite reduzir consideravelmente o
volume da barragem, podendo essas soluções ser adotadas, sempre que exista
disponibilidade de enrocamento, proveniente de escavações obrigatórias ou de jazidas
próximas da obra, e as fundações sejam de boa resistência

Figura 4.2 – Seção de uma barragem de terra zoneada – Barragem Três Marias, MG

A vedação central ou núcleo nessas barragens, em geral semelhante à das


barragens de seção homogênea ou mistas, pode, portanto, ser constituída por materiais
mais permeáveis, como areias siltosas ou rochas alteradas compactadas, desde que a
permeabilidade e o consequente fluxo resultante seja aceitável.
A rocha do enrocamento dos paramentos de montante e de jusante deve ser
resistente e durável (não deve alterar-se, devido às ações meteorológicas e químicas
da água de percolação e agentes atmosféricos). A largura mínima do núcleo
impermeável deve ser da ordem de 30% da carga hidráulica do reservatório, e maior ou
igual a 3 m no topo da barragem, por razões construtivas.
Para controlar a erosão interna, as barragens devem dispor de um sistema
drenante, incluindo filtros, drenos e transições subverticais ou inclinadas. Desde que o
enrocamento seja suficientemente permeável, a água percola, através da vedação de
solo, e atinge rapidamente a zona do espaldar de jusante, junto à fundação, mantendo-
se a restante zona, por isso, praticamente seca. As poropressões no núcleo são
dependentes da razão entre a permeabilidade horizontal e vertical do seu material
constituinte, mas como essa zona é suportada pelos espaldares de enrocamento, a
estabilidade não é particularmente sensível a essas poropressões. As barragens desse
tipo são particularmente adequadas para obras de grande altura (para obras de altura
inferior a 20 m, esta solução envolve dificuldades de construção, devido ao reduzido
espaço disponível).

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4.1.3 Barragem de Enrocamento


As barragens de enrocamento podem ser classificadas quanto à
impermeabilização:
a) Impermeabilização no corpo do maciço: argila ou material asfáltico (chamadas
BENA: barragem de Enrocamento com Núcleo Argiloso);
b) Impermeabilização na face de montante (EFC-Enrocamento com face de
concreto ou PEAD – polieltileno de alta densidade)

Figura 4.3 – Exemplo de barragem de enrocamento com núcleo asfáltico - Barragem da


UHE Foz do Chapecó, Rio Uruguai

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Figura 4.4 – Exemplo de barragem da erocamento com face de concreto – Barragem


da UHE Campos Novos, Rio Canoas

As barragens de enrocamento com face de concreto apresentam vantagens de


custo para vales relativamente encaixados, com boas fundações, em regiões de grande
pluviosidade e, principalmente, no caso das escavações requeridas para as estruturas
de concreto produzirem o volume de enrocamento necessário para a execução da
barragem. Outras circunstâncias favoráveis a esse tipo de barragem são a ausência,
escassez ou localização muito distante da barragem, de solos argilosos com
características adequadas para execução de um núcleo.

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4.2 Barragens de Concreto


As barragens de concerto podem ser do tipo gravidade, gravidade aliviada, arco
ou com contrafortes. Abaixo são descritas as principais características de cada tipo de
barragem.

Figura 4.5 – Tipos de barragem de concreto

4.2.1 Barragem Tipo Gravidade


As barragens de gravidade são aquelas cuja estabilidade é garantida pelos
esforços de gravidade principalmente. Essa barragem é uma estrutura concebida de tal
forma que seu peso próprio resiste tanto às principais forças horizontais, isto é, á
pressão da água que atua no sentido de fazer a barragem deslizar ao longo da fundação,
quanto às forças verticais, com os esforços de subpressão. Se a fundação é adequada
e a barragem é projetada e construída de forma apropriada, a estrutura será sólida,
permanente e requererá pouca manutenção (Pereira, 2015).

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É de grande importância uma drenagem eficiente no corpo da barragem quanto


na fundação, com a finalidade de reduzir os esforços de subpressão. Para evitar fissuras
irregulares no concerto provocadas pela retração, a barragem é dividia em blocos de 15
m a 20 m. As juntas são fechadas por meio de vedações comumente de borracha
(Fungeband).
Nestas estruturas, a resultante das forças atuantes é transmitida, através de sua
base, ao solo do leito do rio sobre o qual se apoia, e sua segurança global é garantida
pelas suas condições de estabilidade quanto ao tombamento, deslizamento e flutuação
(Possan, 2015).

Figura 4.6 – Barragem Tipo Gravidade da UHE Água Vermelha, São Paulo
(CBDB, 1982)

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Figura 4.7 – Barragem Tipo Gravidade (Schreiber, 1977)

Figura 4.8 – Barragem Tipo Gravidade Dworshak Dam (215m), North Fork of
the Clearwater River, Washington (Ettema, 2018)

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4.2.2 Barragem Tipo Gravidade Aliviada


Apresentam seções mais econômicas, devido ao menor volume de concreto) e
são mais leves que as barragens de gravidade. Essas barragens resultam em menores
cargas na fundação e redução nos esforços de subpressão, devido à menor área de
contato. O inconveniente está no grande número de juntas e vedações, que
representam um ponto fraco (Schreiber, 1977).

Figura 4.9 – Barragem Tipo Gravidade Aliviada (Schreiber, 1977)

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Figura 4.10 – Barragem Tipo Gravidade Aliviada Alto Temo, Itália

4.2.3 Barragens em Arco


Esse formato apresenta uma redução significativa do volume de concreto
quando comparada com as barragens do tipo gravidade. Esse formato resulta em uma
estrutura que suporta parcialmente os esforços de empuxo à montante e age como uma
construção engastada em sua fundação. O arco é apoiado nas encostas do vale,
requerendo a existência de rocha sã e firme, exigindo excelentes condições geológicas
na fundação. Esse tipo não é comumente encontrado no Brasil, mas muito utilizada no
continente europeu.

Figura 4.11 – Barragem em Arco Laouzas, França (CFBR, 2022)

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Figura 4.12 – Barragem em Arco Puylaurent, França (CFBR, 2022)

Figura 4.13 – Barragem em Arco Cambambe, Angola

4.2.4 Barragens Arco-Gravidade


As barragens em arco-gravidade são estruturas que têm sua planimetria em
forma de arco, mas que, por outro lado, funcionam parcialmente como barragens de
gravidade, unindo os benefícios de ambas.

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Figura 4.14 – Barragem em Arco-Gravidade, Buffalo Bill - Wyoming, EUA, (Ettema,


2018)

Figura 4.15 – Barragem em Arco-Gravidade, Hoover Dam (219m), Rio Colorado, divisa
entre os estados de Arizona e Nevada, EUA (Ettema, 2018)

4.2.5 Barragens de Contrafortes


Tem o objetivo de obter um esforço adicional de estabilização, além do peso do
concreto, através de componente vertical da pressão da água. Nessa composição, lajes
de concreto armado ou abóbadas cilíndricas são apoiados nos contrafortes. Em geral
são necessárias armações pesadas para suportar os esforços.

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Figura 4.16 – Esquema de contrafortes de Itaipu

Figura 4.17 –Contrafortes de Itaipu (Possan, 2015)

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Figura 4.18 – Barragem Roselend com contrafortes, França

Figura 4.19 – Barragem com contrafortes do tipo arco: Bartlett Dam (93m), Verde River,
AZ (Ettema, 2018)

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4.2.6 Barragens de Concreto Compactado com Rolo.


O CCR deve ser entendido como um metodo construtivo que proporciona
elevada capacidade de producao e de construcao, reduzindo prazos em relacao ao
concreto convencional e, consequentemente, gerando reducao de custos. Trata-se de
uma mistura de concreto com reduzido fator agua/cimento, produzida em centrais de
mistura continua, transportada e lancada por caminhoes geralmente basculantes,
espalhada por tratores de esteiras e adensada por rolos compactadores em camadas
da ordem de 30 cm.

Figura 4.20 – Seção transversal típica de uma barragem de gravidade com CCR
(Possan, 2015)

4.3 Critérios de Cálculo


4.3.1 Tensões Normais na Fundação
A verificação de tensões na base pode ser realizado comparando-se a razão
entre somatório dos momentos em relação a um ponto O na base da barragem com o
somatório das forças verticais. Essa avaliação resulta no valor x contado a partir do
ponto O, que deve estar no terço central da barragem.

Figura 4.21 – Parâmetros de cálculo de tensões na fundação de uma barragem de


concreto

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Σ𝑃 Σ𝑀 (4.1)
𝜎= ± ≤ 𝜎𝑎𝑑𝑚
𝐿 𝑤

𝑙2
Onde 𝑤 = 6 , Σ𝑀 são os momentos em relação ao centro geométrico da fundação, Σ𝑃 o
somatório das forças gravitacionais e 𝐿 o comprimento da fundação.
Será considerada a abertura da junta de montante quando as tensões de
compressão resultantes das cargas permanentes e acidentais incidentes na barragem
forem menores que o valor da subpressão no pé de montante da barragem. Para estes
casos, será realizado o cálculo iterativo até que se alcance o equilíbrio da estrutura, ou
realizado o cálculo de equilíbrio da estrutura, conforme determina os critérios definidos
no Bureau of Reclamation – Design of Gravity Dams.

4.3.2 Verificação de Segurança à Flutuação.


A verificação de segurança à flutuação é dada pela seguinte expressão:

∑𝑃 (4.2)
𝐹𝑆𝐹 =
∑𝑈

Onde: 𝐹𝑆𝐹 = Fator de segurança à flutuação; ∑ 𝑃 = Somatório das forças gravitacionais;


∑ 𝑈 = Somatório das forças de subpressão.

Figura 4.22 – Esforços atuantes em uma barragem de concreto

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Os coeficientes de segurança mínimos requeridos são:


Tabela 4.1 – Coeficientes de segurança para verificação à flutuação

𝐹𝑆𝐹
Caso de Carregamento
CCN 1,3
CCE 1,2
CCL 1,1

Onde; CCN – caso de carregamento normal, CCE – caso de carregamento excepcional


e CCL – caso de carregamento limite.

4.3.3 Análise de Estabilidade ao Tombamento.


O fator de segurança ao tombamento em qualquer direção é definido como a
relação entre o momento estabilizante e o momento de tombamento em relação a uma
linha efetiva de rotação.
∑ 𝑀𝑒 (4.3)
𝐹𝑆𝑇 =
∑ 𝑀𝑡

Onde ∑ 𝑀𝑒 é a somatória dos momentos estabilizantes (peso próprio, peso da


água sobre o paramento de jusante, pressão hidrodinâmica a jusante). ∑ 𝑀𝑡 é a
somatória dos momentos de tombamento devido a atuação de cargas desestabilizantes
como a pressão hidrostática no paramento de montante e subpressão, conforme
ilustrado na Figura 4.23

Figura 4.23 – Parâmetros de cálculo da verificação ao tombamento de uma barragem


de concreto

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Os coeficientes de segurança mínimos requeridos são:


Tabela 4.2 – Coeficientes de segurança para verificação ao tombamento

Caso de Carregamento 𝐹𝑆𝑇


CCN 1,5
CCE 1,3
CCL 1,1

4.3.4 Fator de Segurança ao Deslizamento


Para essa análise deve-se selecionar superfícies de ruptura que incluam planos
de menor resistência possível ou submetidas a tensões críticas na estrutura, na
fundação ou no contato estrutura-fundação, sobre os quais a estrutura possa sofrer
movimento de deslizamento como corpo rígido.
∑ 𝑁𝑖 tan 𝜙𝑖 ∑ 𝐶𝑖 𝐴𝑖
+ 𝐹
𝐹𝑆𝐷𝜙 𝑆𝐷𝐶 (4.4)
𝐹𝑆𝐷 = ≥1
∑ 𝑇𝑖

Onde 𝐹𝑆𝐷 é o fator de segurança ao deslizamento, 𝐹𝑆𝐷𝜙 é o fator de redução de


resistência ao atrito, 𝐹𝑆𝐷𝐶 é o fator de redução de resistência à coesão, ∑ 𝑁𝑖 é o
somatório das forças normais na superfície em análise, 𝜙𝑖 é o ângulo de atrito
característico da superfície em análise, 𝐶𝑖 é a coesão característica na superfície em
análise, 𝐴𝑖 é área efetiva comprimida na superfície em análise e ∑ 𝑇𝑖 é o somatório das
forças paralelas à superfície de deslizamento.

Figura 4.24 – Parâmetros de cálculo da verificação de deslizamento de uma barragem


de concreto

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Os coeficientes de segurança mínimos requeridos são:


Tabela 4.3 – Coeficientes de segurança para verificação ao escorregamento

Caso de Carregamento 𝐹𝑆𝐷𝜙 𝐹𝑆𝐷𝐶


CCN 1,5 3,0
CCE 1,3 2,0
CCL 1,1 1,3

4.4 Exemplo de Cálculo


Verificar as tensões na fundação e estabilidade para a elevação 552,00 da
barragem em CCR para a combinação de carregamento normal (baseado em um caso
real).
A barragem cuja seção transversal é apresentada na Figura 4.25 é uma
barragem de concreto compactado a rolo (CCR) do tipo gravidade, com crista situada à
elevação 637,50 e fundação em um plano com seu ponto mínimo situado na elevação
552,00.
Seu paramento de jusante possui inclinação de 0,775:1,00 (H:V), com degraus
de dimensões 1,86m x 2,40m (H:V) até a elevação 626,90 e segue vertical até a
elevação 637,50, totalizando uma altura máxima de 85,50m, considerando seu ponto
mais inferior. O paramento de montante é vertical. A crista possui 7,50m de largura em
seu ponto mais elevado, mais uma passarela de pedestres em balanço, projetando-se
1,00m para jusante da crista.
A barragem possuirá duas galerias de drenagem, uma na elevação 572,00, com
linha de drenos situada a 6,50m da face de montante com o objetivo de alívio de
subpressões no contato de fundação. A outra, situar-se-á na elevação 602,00.
Os níveis hidráulicos de montante e jusante são os que seguem:
Tabela 4.4 – Níveis de água a montante e a jusante de uma barragem de CCR

Local Nível Máximo Maximorum Nível Normal


Montante 636,50 635,00
Jusante 573,61 565,96

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Figura 4.25 – Barragem de CCR

As propriedades dos materiais são:


Concreto Compactado a Rolo – CCR

• Peso específico () ≥ 25,8kN/m³


• Resistência característica à compressão (fck) ≥ 7MPa aos 90 dias

Rocha de Fundação

• Ângulo de atrito entre concreto e rocha () = 45°


• Coesão entre concreto e rocha (c) = 400kPa
• Resistência admissível à compressão (adm) ≤ 10MPa

Água

• Peso específico () = 10kN/m³

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Combinações de Carregamento
CCN – Combinação de Carregamento Normal
Esta combinação de carregamento é composta pela soma linear dos seguintes esforços:

• Peso próprio dos materiais;


• Empuxos hidráulicos à montante e jusante da estrutura, referentes aos níveis
normais de operação;
• Subpressões atuantes na estrutura, referentes aos níveis normais de operação,
calculados de acordo com os critérios do Bureau of Reclamation – Design of
Gravity Dams,

CCE1 – Combinação de Carregamento Excepcional de Máxima Cheia


CCE2 – Combinação de Carregamento Excepcional Sísmico
CCE3 – Combinação de Carregamento Excepcional de Sistema de Drenagem
Inoperante
CCL1 – Combinação de Carregamento Limite de Sismo e Cheia Máxima
CCL2 – Combinação de Carregamento Limite de Cheia Máxima e Sistema de Drenagem
Inoperante
Nota: a condição de carregamento excepcional deverá adicionar à condição de
carregamento normal uma carga excepcional; a condição de carregamento limite deverá
adicionar à condição de carregamento normal pelo menos duas cargas excepcionais.

Verificação de Estabilidade da Estrutura na EL. 552,00


Esforços Atuantes na Estrutura na El. 552,00
A determinação dos esforços atuantes, bem como as verificações de tensões na
fundação e estabilidade será realizada para o ponto mais profundo do rio, situada na
elevação 552,00.
As distâncias “dCG” e “dT” referem-se respectivamente aos braços de alavanca para
o cálculo dos momentos em relação ao centro de gravidade da fundação (verificação
das tensões na fundação) e ao pé de jusante da barragem (verificação ao tombamento).

• Peso próprio da estrutura


O peso próprio da estrutura e a posição do seu centro de gravidade será calculado
através da medição da área da seção transversal da barragem em programa de
desenho auxiliado por computador.
𝐴 = 2.812,119𝑚2

𝑃 = 25,8 × 2.812,119 = 72.552,7𝑘𝑁/𝑚

dCG = 11,44m

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dT = 44,45m

• Peso de água à jusante sobre a estrutura para o nível normal do reservatório:


O peso de água sobre o pé de jusante da estrutura e a posição do seu centro de
gravidade será calculado através da medição da área da seção transversal em
programa de desenho auxiliado por computador.

𝐴 = 82,1376𝑚2
𝑃 = 10 × 82,1376 = 821,38𝑘𝑁/𝑚
dCG = 29,15m
dT = 3,87m

• Empuxos hidrostáticos para o nível normal do reservatório:


Os empuxos hidrostáticos referentes aos níveis normais são calculados como
segue:
(635,00 − 552,00)
𝐸𝑚 = 10 × (635,00 − 552,00) × = 34.445𝑘𝑁
2
(635,00 − 552,00)
𝑑𝐶𝐺 = 𝑑 𝑇 = = 27,67𝑚
3
(565,96 − 552,00)
𝐸𝑗 = 10 × (565,96 − 552,00) × = 974,41𝑘𝑁
2
(565,96 − 552,00)
𝑑𝐶𝐺 = 𝑑 𝑇 = = 4,65𝑚
3

• Subpressões
As subpressões serão calculadas conforme os critérios do Bureau of Reclamation –
Design of Gravity Dams, páginas 31 a 33. Os níveis de subpressão para o nível normal
do reservatório na altura dos drenos são dados conforme o que segue:
𝐻𝑚 − 𝐻𝑔 83 − 20
𝐻𝑑 = 𝐻𝑔 + = 20 + = 41𝑚. 𝑐. 𝑎.
3 3

Os esforços finais de subpressão serão calculados adiante, conforme a condição


de abertura de juntas na fundação, à montante.
Quando for detectada uma abertura de juntas à montante, será feito o processo
iterativo para determinação do comprimento de abertura da junta.

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Figura 4.26 – Resumo dos esforços atuantes na estrutura na Elevação 552,00.

Momentos em relação ao centro de gravidade da fundação

• Peso Próprio da Estrutura

𝑀𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑒𝑠𝑡𝑟𝑢𝑡𝑢𝑟𝑎 = 72.552,7 × 11,44 = 830.002,89𝑘𝑁. 𝑚/𝑚 (𝑎𝑛𝑡𝑖 − ℎ𝑜𝑟á𝑟𝑖𝑜)

• Peso de Água sobre a Estrutura para o nível normal do reservatório:

𝑀𝑝𝑒𝑠𝑜 á𝑔𝑢𝑎 = 821,38 × 29,15 = 23.943,23𝑘𝑁. 𝑚/𝑚 (ℎ𝑜𝑟á𝑟𝑖𝑜)


• Empuxos Hidrostáticos para o nível normal do reservatório:

𝑀𝑒𝑚𝑝𝑢𝑥𝑜 𝑚𝑜𝑛𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒 = 34.445 × 27,67 = 953.093,15𝑘𝑁. 𝑚/𝑚 (ℎ𝑜𝑟á𝑟𝑖𝑜)

𝑀𝑒𝑚𝑝𝑢𝑥𝑜 𝑗𝑢𝑠𝑎𝑛𝑡𝑒 = 974,41 × 4,65 = 4.531,01𝑘𝑁. 𝑚/𝑚 (𝑎𝑛𝑡𝑖 − ℎ𝑜𝑟á𝑟𝑖𝑜)

Para o cálculo das tensões na fundação será utilizada a convenção de sinais


conforme a Figura 5.1. Forças verticais gravitacionais, forças horizontais de montante
para jusante e momentos no sentido horário serão positivos. Braços de alavanca serão
considerados sempre positivos.

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Figura 4.27 – Convenção de sinais para cálculo das tensões na fundação

A Tabela 4.5 resume os momentos resultantes no centro de gravidade da fundação


já considerando o sentido de atuação das forças e momentos conforme a convenção de
sinais estabelecida:
Tabela 4.5 – Momentos em relação ao centro de gravidade da fundação

MCG
Gravitacionais Valor (kN/m) BraçoCG (m)
(kN.m/m)
Peso próprio 72.552,70 11,44 -830.002,89
Peso de água jusante 821,38 29,15 23.943,23
Peso de água montante 0,00 0,00 0,00
MCG
Horizontais Valor (kN/m) BraçoCG (m)
(kN.m/m)
Empuxo montante 34.445,00 27,67 953.093,15
Empuxo jusante -974,41 4,65 -4.531,01

Verificação das Tensões na Fundação na El. 552,00 e Cálculo das Subpressões


Somatório das forças gravitacionais:
ΣG = 72.552,70 + 821,38 = 73.374,08𝑘𝑁/𝑚
Somatório das forças horizontais:
Σ𝐻 = 34.445,00 − 974,41 = 33.470,59𝑘𝑁/𝑚
Somatório dos momentos em relação ao centro de gravidade da fundação:
Σ𝑀 = −830.002,89 + 23.943,23 + 953.093,15 − 4.531,01
= 142.502,48kN. m/m (horário)
Tensões totais na fundação:
Como o momento resultante no centro de gravidade da fundação está no sentido
horário, podemos observar que no cálculo das tensões na fundação a seguir, a parcela
referente ao momento resultante alivia as tensões no pé de montante (as tensões devido
ao momento são subtraídas das tensões devido ao somatório das forças gravitacionais)
e compressão no pé de jusante (as tensões devido ao momento são somadas às
tensões devido às forças gravitacionais):

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Σ𝐺 Σ𝑀 73.374,08 142.502,48
𝜎= ± = ± = 1.111,22 ± 196,11
𝑙 𝑤 66,03 66,032 ⁄6

𝜎𝑚𝑜𝑛𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒 = 1.111,22 − 196,11 = 915,11𝑘𝑁/𝑚2 /𝑚 (𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜)

𝜎𝑗𝑢𝑠𝑎𝑛𝑡𝑒 = 1.111,22 + 196,11 = 1.307,33𝑘𝑁/𝑚2 /𝑚 (𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜)

Nota: tensões positivas significam compressão e negativas tração.

Subpressão:
A subpressão atua perpendicularmente ao plano da fundação, no sentido de
baixo para cima, aliviando as tensões totais na fundação. Portanto, serão tratadas como
negativas.

𝜎𝑢 𝑚𝑜𝑛𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒 = 𝛾ℎ = 10 × (635,00 − 552,00) = 830𝑘𝑁/𝑚2 /𝑚 → −830𝑘𝑁/𝑚2 /𝑚

𝜎𝑢 𝑗𝑢𝑠𝑎𝑛𝑡𝑒 = 𝛾ℎ = 10 × (565,96 − 552,00) = 139,6𝑘𝑁/𝑚2 /𝑚 → −139,6𝑘𝑁/𝑚2 /𝑚

Nota: tensões positivas significam compressão e negativas tração.

Tensões efetivas na fundação:


Como não há zonas descomprimidas na fundação, sobrepõe-se o diagrama de
tensões totais com o de subpressões, para obtenção das tensões efetivas.

𝜎𝑒𝑓𝑒𝑡𝑖𝑣𝑜 𝑚𝑜𝑛𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒 = 915,11 − 830 = 85,11𝑘𝑁/𝑚2 /𝑚

𝜎𝑒𝑓𝑒𝑡𝑖𝑣𝑜 𝑗𝑢𝑠𝑎𝑛𝑡𝑒 = 1.307,33 + 139,6 = 1.167,73𝑘𝑁/𝑚2 /𝑚

Nota: tensões positivas significam compressão e negativas tração.

Figura 4.28 – Valores de subpressão calculados

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O valor da subpressão, para a situação acima é de 20.388,84kN, e o braço de


alavanca para a posterior verificação ao tombamento é dT=40,28m.
Tabela 4.6 – Tensões efetivas na fundação

Parâmetro Valor Unidade


Comprimento da base 66,03 m
ƩG 73.374,08 kN
ƩH -33.470,59 kN
ƩM (em relação ao CG) 142.502,48 kNm
σmontante 915,11 kN/m²
σjusante 1.307,33 kN/m²
Carga hidráulica montante 83,00 m.c.a.
Carga hidráulica jusante 13,96 m.c.a.
σefetivo montante 85,11 kN/m²
σefetivo jusante 1.167,73 kN/m²
Juntas? NÃO
Drenagem? SIM

Verificação da Segurança à Flutuação

72.552,7 + 821,38
𝐹𝑆𝐹 = = 3,6 > 1,3 → 𝑜𝑘
20.388,84

Verificação da Segurança ao Deslizamento

(72.552,7 + 821,38 − 20.388,84)𝑡𝑔45° 400 × 66,03


+
1,5 3
𝐹𝑆D = = 1,32 (> 1) → 𝑜𝑘
(34.445 − 974,41)

Verificação da Segurança ao Tombamento


Momentos Estabilizantes

• Peso próprio da estrutura


• Peso de água à jusante
• Empuxo de jusante

𝑀𝐸 = 72.552,70 × 44,45 + 821,38 × 3,87 + 974,41 × 4,65 = 3.232.677,27

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Momentos de Tombamento

• Empuxo de montante
• Subpressão

𝑀𝑇 = 34.445,00 × 27,67 + 20.388,84 × 40,28 = 1.774.355,63

Tabela 4.7 – Resumo dos momentos em relação ao ponto de tombamento

Braço Momento Momento


Vertical Horizontal
Esforço Tombamento Estabilizante Tombamento
(kN/m) (kN/m)
(m) (kN.m/m) (kN.m/m)
Peso próprio 72.552,70 - 44,45 3.224.967,52 -
Peso de água
821,38 - 3,87 3.178,74 -
jusante
Peso de água
0,00 - 0,00 0,00 -
montante
Subpressão 20.388,84 - 40,28 - 821.262,48
Empuxo montante - 34.445,00 27,67 - 953.093,15
Empuxo jusante - 974,41 4,65 4.531,01 -
Somatório Momentos 3.232.677,27 1.774.355,63

Então tem-se:
3.232.677,27
𝐹𝑆𝑇 = = 1,82 > 1,5 → 𝑜𝑘
1.774.355,63

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5 VERTEDORES
5.1 Definição
Vertedores são estruturas hidráulicas incorporadas em barragens cuja finalidade
é permitir a passagem de enchentes com segurança, isto é, preservando a integridade
do próprio vertedouro e da barragem.

5.2 Tipos
Uma vez definida a cheia de projeto existe uma infinidade de soluções para o
vertedouro. Os vertedores podem ser:
a) Vertedores com e sem comportas: sem comportas (livres), operação
totalmente automática e em geral com baixo custo de manutenção; controlados,
oferecem maior flexibilização de operação, contudo apresentam custo e
necessidade de operação;
b) Vertedores de serviço: Em geral projetados para cheias com tempo de
recorrência entre 50 a 200 anos. Requer um vertedouro auxiliar para passar
maiores cheias.
c) Vertedores de emergência: Podem ser utilizados para evitar o extravasamento
sobre barragens de terra ou enrocamento em emergências.
d) Vertedores fusíveis: Estrutura (dique) que se rompe para evitar o galgamento
de uma barragem.

Quanto aos tipos podem ser:


1) Soleira vertente;
2) Vertedouro em degraus;
3) Canal lateral;
4) Vertedouro orifício;
5) Túnel;
6) Tulipa;
7) Labirinto;

As figuras a seguir ilustram alguns tipos de vertedores

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Figura 5.1 – Escoamento sobre o vertedouro de Burdedin Dam, Queensland, Australia


(Ettema, 2018)

Figura 5.2 Barragem Riou com vertedouro em degraus – França (CFBR, 2022)

Capítulo 5 - Vertedores 64
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Figura 5.3 - Esboço de um vertedouro do tipo canal lateral (USBR, 1987)

Figura 5.4 - Vertedouro do tipo canal lateral Nihotupu Dam – Nova Zelândia (Ettema,
2018)

Capítulo 5 - Vertedores 65
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Figura 5.5 - Vista aérea do vertedouro tipo canal lateral da UHE Quebra-Queixo, Brasil

Figura 5.6 - Vista aérea do vertedouro lateral em curva da UHE Dardanelos, Brasil

Capítulo 5 - Vertedores 66
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Figura 5.7 – Vertedouro oriíficio da barragem Cahora- Bassa em Moçambique

Figura 5.8 – Vertedouro em túnel da UHE Irapé, Brasil

Capítulo 5 - Vertedores 67
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Figura 5.9 – Vertedouro do tipo tulipa – Barragem Monticello, Caifórnia, EUA

Figura 5.10 – Vertedouro do tipo labirinto (USBR, 1987)

Capítulo 5 - Vertedores 68
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Figura 5.11 – Vertedouro do tipo labirinto da barragem 19th Street, EUA (Kohn, 2006)

Os principais componentes dos vertedores são:


1) Estrutura de controle (soleira, orifício, conduto, etc);
2) Canal de descarga (barragem a gravidade, calha, túnel);
3) Estrutura terminal (dissipador de energia, defletor em salto de esqui);
4) Canais de aproximação e restituição.

5.3 Geometria da Crista


O formato da crista de um vertedouro que se aproxima do perfil inferior de um
jato sobre um vertedouro de soleira delgada (com ponta biselada), conforme ilustrado
na Figura 5.12, é o formato ideal para obtenção de maior capacidade de descarga. O
formato desse perfil depende da carga hidráulica, da inclinação do parâmetro de
montante, da altura de aproximação (distância entre o topo da crista e o canal de
aproximação) e possui influência da velocidade de aproximação (USBR, 1987).

Capítulo 5 - Vertedores 69
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Figura 5.12 – Exemplo de perfil de jato livre para conformação de perfil vertente
(Vuuren et al., 2015)

Para a maioria das condições, os dados de entrada e da geometria podem ser


resumidos conforme apresentado na Figura 5.13.

Figura 5.13 – Equação de perfil vertente (USBR, 1987)

Capítulo 5 - Vertedores 70
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A equação da crista possui o seguinte formato (USBR):


𝑦 𝑥 𝑛
= 𝑘( ) (5.1)
𝐻𝑜 𝐻𝑜

Onde 𝐻𝑜 é carga de projeto e 𝑘 e 𝑛 são parâmetros definidos em função da


velocidade de aproximação e da declividade do paramento de montante, em geral
1,75 < 𝑛 < 1,88 e 0,43 < 𝑘 < 0,53 (USBR, 1987)

Figura 5.14 – Determinação do parâmetro K em função da carga de projeto e da


declividade do paramento de montante (USBR, 1987)

Figura 5.15 – Determinação do parâmetro n em função da carga de projeto e da


declividade do paramento de montante (USBR, 1987)

Capítulo 5 - Vertedores 71
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Figura 5.16 – Parâmetros geométricos da crista de um vertedouro (USBR, 1987)

Capítulo 5 - Vertedores 72
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5.4 Capacidade de Descarga de um Vertedouro Livre


A vazão de um vertedouro livre é expressa pela equação abaixo:

𝑄 = 𝐶𝐿𝐻3/2 (5.2)

O coeficiente de descarga 𝐶 é calculado em função da carga. Para um


vertedouro de soleira espessas 𝐶 = 1,70.
Para vertedouros com soleira do tipo ogiva o coeficiente de descarga 𝐶𝑜 , que
corresponde à carga de projeto 𝐻𝑜 e varia com a altura relativa da soleira 𝑃/𝐻𝑜 é
calculado. Para cargas diferentes da de projeto o coeficiente varia com a relação com
carga efetiva 𝐻𝑒 /𝐻𝑜 .

Figura 5.17 – Coeficiente de descarga em função da altura de aproximação P e da


carga de projeto (USBR, 1987)

Figura 5.18 – Coeficiente de descarga em função da altura de aproximação P e da


razão entre carga efetiva e da carga de projeto (USBR, 1987)

Capítulo 5 - Vertedores 73
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Curso: Engenharia Civil
Disciplina: TH-031 – Projeto de Obras Hidráulicas
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Figura 5.19 – Coeficiente de descarga em função da declividade do paramento de


montante (USBR, 1987)

O efeito da contração dos pilares e encontros laterais é levado em conta na


definição da largura efetiva 𝐵 do vertedouro:
𝐿 = 𝐿′ − 2(𝑁𝐾𝑝 + 𝐾𝑎 )𝐻𝑒 (5.3)

Onde 𝑁 é o número de pilares, 𝐾𝑝 é coeficiente de contração dos pilares, 𝐾𝑎 é o


coeficiente de contração dos encontros e 𝐿′ é a largura livre.

Figura 5.20 – Coeficiente de contração dos pilares Kp em função da razão entre carga
efetiva e da carga de projeto (USBR, 1987)

Capítulo 5 - Vertedores 74
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Figura 5.21 – Coeficiente de contração dos encontros Ka em função da razão entre


carga efetiva e da carga de projeto para barragens de concreto (USBR, 1987)

Capítulo 5 - Vertedores 75
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Figura 5.22 – Coeficiente de contração dos encontros Ka em função da razão entre


carga efetiva e da carga de projeto para barragens de enrocamento (USBR, 1987)

Capítulo 5 - Vertedores 76
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Para o caso de um vertedouro controlado, a descarga para abertura parcial das


comportas é dada por (orifício de grandes dimensões, isto é, a sua dimensão vertical é
maior que 1/3 da carga média):
2
𝑄 = √2𝑔𝐶𝐿(𝐻1 3/2 − 𝐻2 3/2 ) (5.4)
3

Figura 5.23 – Coeficiente de descarga para abertura parcial de comporta segmento em


função da carga e da abertura (USBR, 1987)

A capacidade para o vertedouro parcialmente aberto também pode ser calculada


pela equação a seguir:

𝑄 = 𝐶𝐷𝐿√2𝑔𝐻 (5.5)

Onde 𝐻 é carga hidráulica até o centro da abertura da comporta (m), 𝐷 é a menor


distância entre o bordo inferior da comporta e crista do vertedouro (m) e 𝐿 é a largura
da crista. O coeficiente de descarga 𝐶 pode ser calculado conforme a Figura 5.24.

Capítulo 5 - Vertedores 77
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Figura 5.24 – Coeficiente de descarga para abertura parcial de comporta segmento em


função da carga e da abertura (USBR, 1987)

5.5 Cálculo da Pressão na Crista


A redução da carga de projeto 𝐻𝑜 em relação à altura de aproximação 𝑃 e da
carga efetiva 𝐻𝑒 é interessante, tendo em vista o aumento do coeficiente de descarga e
consequentemente na capacidade do vertedouro. Contudo, a pressão na crista deve ser
verificada. O Hydraulic Design Criteria – HDC (USACE, 1987) recomenda que a carga
de projeto do vertedouro seja selecionada de maneira que a pressão na crista não seja
inferior a 6 m de coluna de água de maneira a evitar a cavitação. Para essa verificação
pode ser utilizada a Chart 111-16/2 do HDC, apresentada na Figura 5.25.

Capítulo 5 - Vertedores 78
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Figura 5.25 – Pressão ao longo da crista do vertedouro em função da relação entre a


carga efetiva e a carga de projeto (USACE, 1987)

Capítulo 5 - Vertedores 79
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5.6 Cálculo dos Níveis de Água na Calha do Vertedouro


O rápido é parte da calha do vertedouro que conecta a ogiva até a estrutura
terminal. A declividade é em geral selecionada de acordo com as condições topográficas
no local da obra. A altura dos muros laterais deve ser dimensionada para conter a cheia
de projeto com uma borda livre.
Inicialmente a profundidade do fluxo sobre a crista é estimada utilizando os
dados tabelados do Hydraulic Design Criteria (USACE, 1987) , conforme apresentado
na Figura 5.26.

Figura 5.26 – Perfil de água sobre a crista de um perfil creager ao longo da linha central
do vão de um vertedouro (USACE, 1987)

Capítulo 5 - Vertedores 80
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O nível de água no rápido do vertedouro é calculado utilizado o Standard Step


Method, apresentado de maneira simplificada a seguir (Julien, 2018) e válido para
canais retangulares de grande largura 𝑅ℎ = ℎ:
ℎ𝑖+1= ℎ𝑖 + 𝛥ℎ (5.6)

ℎ 10/3
[1 − ( 𝑛 ) ]
ℎ𝑖
𝛥ℎ = 𝑆𝑜 Δ𝑥 (5.7)
ℎ 3
[1 − ( 𝑐 ) ]
ℎ𝑖

3/5
𝑛𝑄
ℎ𝑛 = ( 1/2 ) (5.8)
𝐿𝑆𝑜

1/3
𝑞2
ℎ𝑐 = ( ) (5.9)
𝑔

Onde Δ𝑥 é a distância entre duas seções de cálculo, 𝑆𝑜 é a declividade do fundo


do canal, ℎ𝑛 é a profundidade normal, 𝑛 é o coeficiente de rugosidade de Manning, 𝑄 é
vazão de projeto, 𝐿 é a largura total do vertedouro, ℎ𝑐 é a profundidade crítica e 𝑞 é a
vazão específica do vertedouro.
A partir do cálculo dos níveis de água na calha uma borda livre de no mínimo
0,60 m é recomendada. Uma equação para estimativa da borda livre é apresentada a
seguir (USACE, 1987):
3
𝐵𝑜𝑟𝑑𝑎 𝑙𝑖𝑣𝑟𝑒 = 0,61 + 0,0051𝑣 √ℎ (5.10)

Como ilustração de projetos reais a Figura 5.27 e a Figura 5.28 apresentam o


projeto do vertedouro da UHE Capivara, no rio Paranapanema e da UHE Água
Vermelha, no rio Grande.

Capítulo 5 - Vertedores 81
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Figura 5.27 – Vertedouro da UHE Capivara, Paraná (CBDB, 1982)

Capítulo 5 - Vertedores 82
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Figura 5.28 – Vertedouro da UHE Água Vermelha, São Paulo (CBDB, 1982)

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5.7 Exemplo de Cálculo de Dimensionamento de um Vertedouro


5.7.1 Cálculo do coeficiente de descarga
A seguir apresenta-se um exemplo de cálculo de dimensionamento de um
vertedouro de soleira livre (baseado em um caso real). Inicialmente os requisitos do
projeto são:

• Cheia de projeto igual a 4.500 m³/s (TR 50 anos);


• O vertedouro deve descarregar essa cheia de maneira a manter a elevação do
reservatório na cota 130 m;
• O número de comportas deve ser no mínimo igual a dois;

Devido ao pequeno volume do reservatório, quando comparado com o volume


das cheias afluentes, o amortecimento da onda de cheia não é aplicável. O cálculo da
capacidade do vertedouro é dado pela equação (5.2, contudo algumas definições são
necessárias antes da aplicação desta equação.

No local da obra, devido às condições geológicas e para evitar um volume


massivo de escavação, o comprimento efetivo da crista foi definido como L’ = 39 m.
Devido às mesas razões, a altura da aproximação foi definida como P = 5 m.

Dessa maneira, a elevação do fundo do canal de aproximação resultou na


elevação 110 m e elevação da crista na elevação 115 m. Uma vez que o nível do
reservatório foi definido na elevação 130 m, a carga hidráulica efetiva He é igual a 15 m.

Com as condições de projeto definidas o coeficiente de descarga é então


calculado. Deve-se ter em mente que o coeficiente é influenciado por diversos fatores
como: (1) altura de aproximação P; (2) relação entre a geometria da crista definida e o
formato do jato teórico; (3) declividade do paramento de montante; (4) condição de
afogamento por jusante (vertedores de baixa queda).

O próximo passo é a definição da carga de projeto Ho. Deve-se notar que quanto
maior a relação entre a carga efetiva e carga de projeto, maior é o coeficiente de
descarga (Figura 5.18), contudo pode resultar em pressões inaceitáveis na crista do
vertedouro. Dessa maneira, após a realização de cálculos iterativos, a carga de projeto
foi definida como 13,50 m.

Dessa maneira, o coeficiente de descarga é calculado de acordo com os


parâmetros a seguir:
𝑃 = 5𝑚

𝐻𝑜 = 13,5 𝑚
𝑃
≅ 0,4
𝐻𝑜
Utilizando a Figura 5.17 tem-se que:

𝐶𝑜 = 3.77 𝑓𝑡 1/2 /𝑠

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Como as figuras são provindas do Design of Small Dams (USBR, 1987), que
fornece valores no sistema imperial de unidades, deve ser feita a correção para o SI:

𝑓𝑡 1/2 0,3048 𝑚 1/2


𝐶𝑜 = 3,77 𝑥 ( ) = 3,77 𝑥 0,552 = 2,08 𝑚1/2 /𝑠
𝑠 1 𝑓𝑡
O próximo passo agora é considerar o efeito de diferentes valores de carga em
relação à carga de projeto, conforme apresentado pela Figura 5.18, assim tem-se:

𝐻𝑒 15 𝑚
= = 1,11
𝐻𝑜 13,5 𝑚
O coeficiente de descarga para a carga efetiva será dado por:
𝐶
= 1,01 → 𝐶 = 1,01 𝑥 2,08 = 2,10 𝑚1/2 /𝑠
𝐶𝑜
O efeito da declividade do paramento de montante sobre a capacidade de
descarga deve ser considerado. Para o vertedouro em questão a declividade foi
escolhida como 3:3, dessa maneira utilizando a Figura 5.19 tem-se:
𝐶𝑖𝑛𝑐𝑙𝑖𝑛𝑎𝑑𝑜
= 1,018 → 𝐶𝑖𝑛𝑐𝑙𝑖𝑛𝑎𝑑𝑜 = 1,018 𝑥 2,10 = 2,14 𝑚1/2 /𝑠
𝐶𝑣𝑒𝑟𝑡𝑖𝑐𝑎𝑙
Uma vez que o vertedouro não sofre interferência dos níveis de água de jusante,
não são necessários novos ajustes no coeficiente de descarga. Finalmente, o
coeficiente de descarga para as condições de projeto é igual a:

𝐶 = 2,14 𝑚1/2 /𝑠

5.7.2 Verificação da pressão na crista


Como descrito anteriormente a razão entre a carga de projeto e a carga efetiva
é igual a 1,11. Portanto a pressão mínima, de acordo com a Figura 5.25, considerando
𝐻
a curva 𝐻𝑑 = 1,17, é igual a:

ℎ𝑝
≅ −0.22 → ℎ𝑝 = −0.22 𝑥 13.5 𝑚 ≅ −3.0 𝑚 > −6.0 𝑚
𝐻𝑜
Portanto a pressão mínima é maior que o mínimo recomendado pelo HDC.

5.7.3 Cálculo da largura efetiva


O próximo passo para o cálculo da capacidade de descarga do vertedouro em
questão está relacionado à largura efetiva do vertedouro devido às contrações fluxo no
encontro com a barragem e com pilares. O cálculo é efetuado utilizando-se a equação
Figura 5.3 e a Figura 5.20 e a Figura 5.21, uma vez que a barragem é de concreto, se
fosse uma barragem de enrocamento seria utilizada a Figura 5.22. Outro dado
necessário é o raio do encontro, para o vertedouro em questão utilizou-se um raio R =
6m, dessa maneira tem-se:

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𝐻𝑒 15 𝑚
= = 2,5
𝑅 6𝑚
𝐾𝑎 ≅ 0,05
Para o cálculo da contração causada pelos pilares inicialmente definiu-se o
formato do pilar como um Tipo 3 (Figura 5.20). Deve-se observar que essa figura resulta
em valores negativos para o coeficiente de contração do pilar, o que pode ser
interpretado fisicamente como uma sucção. Contudo, para fins de projeto esse valor
será considerado igual zero, seguindo um padrão conservador, dessa maneira:

𝐾𝑝 = 0,00

O número de pilares N será considerado igual a 1, uma vez que duas comportas
estão propostas para esse vertedouro. Dessa maneira, o comprimento efetivo L do
vertedouro será calculado como:

𝐿 = 39,00 𝑚 − 2(1 𝑥 0,00 + 0,05)𝑥15,00 𝑚 = 37,50 𝑚


Finalmente, a capacidade de descarga é igual a:
1 3
𝑄 = 2,14 𝑚2 /𝑠 𝑥 37,5 𝑚 𝑥 (15,00 𝑚)2 = 4.660 𝑚3 /𝑠
Deve-se notar que a capacidade de descarga do vertedouro é um pouco maior
que a cheia de projeto (4.500 m³/s), o que é considerado aceitável.

5.7.4 Definição da geometria


Considerando a carga de projeto definida como 𝐻𝑜 = 13,5 𝑚 a vazão
correspondente (considerando o mesmo procedimento apresentado no item 5.7.1) é
igual a:

𝑄𝑜 = 3,968 𝑚3 /𝑠.
A descarga específica no canal de aproximação pode ser calculada como:
𝑄𝑜
𝑞𝑜 = (5.11)
𝐿𝑐𝑎𝑛𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑎𝑝𝑟𝑜𝑥𝑖𝑚𝑎çã𝑜

𝐿𝑐𝑎𝑛𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑎𝑝𝑟𝑜𝑥𝑖𝑚𝑎çã𝑜 = 𝐿′ + 𝑁𝑥𝐿𝑝𝑖𝑙𝑎𝑟𝑒𝑠 (5.12)

Onde: 𝐿𝑝𝑖𝑙𝑎𝑟𝑒𝑠 = largura do pilar, adotada igual a 4,5 m, 𝐿′ é a largura livre e 𝑁 é


o número de pilares. Dessa maneira:

𝐿𝑐𝑎𝑛𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑎𝑝𝑟𝑜𝑥𝑖𝑚𝑎çã𝑜 = 𝐿′ + 𝑁𝑥𝐿𝑝𝑖𝑙𝑎𝑟𝑒𝑠 = 39,00 𝑚 + 1𝑥4,50 𝑚 = 43,50 𝑚

Portanto:

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3.969 𝑚3 /𝑠 𝑚3
𝑞𝑜 = = 91,24 /𝑚
43,50 𝑚 𝑠
Então, resolvendo as equações da Figura 5.13:
𝑞𝑜 (5.13)
𝑣𝑜 =
𝑃 + ℎ𝑜
𝑞𝑜2 (5.14)
ℎ𝑎 =
2𝑔(𝑃 + ℎ𝑜 )2
(5.15)
𝐻𝑜 = ℎ𝑜 + ℎ𝑎
É possível obter:
ℎ𝑜 = 12,04 𝑚
ℎ𝑎 = 1,46 𝑚

ℎ𝑎 1,46 𝑚
= = 0,108
𝐻𝑜 13,50 𝑚
ℎ𝑎
Com a o valor da razão é possível obter os parâmetros da crista a partir da
𝐻𝑜
Figura 5.14 e Figura 5.15 considerando a declividade 3:3 (45º).

𝐾 = 0,53
𝑛 = 1,746
Portanto a equação da crista do vertedouro será igual a:

𝑦 𝑥 1.746
= −0,53 ( )
13,50 13,50
𝑦 = −0,076𝑥 1,746
Os demais parâmetros podem ser obtidos da Figura 5.16 e são apresentados na

Tabela 5.1 – Parâmetros geométricos da crista do vertedouro

Fator Vaor
K 0,53
n 1,746
Xc/Ho 0,193
Yc/Ho 0,04
R1/Ho 0,463
R2/Ho 0,463

Considerando a carga de projeto 𝐻𝑜 = 13,5 𝑚 tem-se:

𝑋𝑐 = 2,60 𝑚

𝑌𝑐 = 0,54 𝑚
𝑅1 = 𝑅2 = 6,25 𝑚

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Com esses valores a concordância entre a crista e o rápido do vertedouro pode


ser efetuado utilizando o arco de um círculo (aqui com raio = 38,50 m).

120

115
Elevation (m.a.s.l)

Slo
pe 3:3 R = 38,30 m
110 R1 = R2 = 6,25 m

105

100
-10 -5 0 5 10 15 20 25 30
Distance (m)

Slope Face Upstream 3:3 Circle R1=R2


Equation Concordance Circle R= 38.30 m

Figura 5.29 – Crista do vertedouro

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5.7.5 Exercício
Calcule a capacidade de descarga para o mesmo vertedouro do item anterior
para os níveis do reservatório fornecidos na Tabela 5.2. Após realizar os cálculos plote
a curva obtida (vazão x nível do reservatório)

Tabela 5.2 – Cálculo da curva de descarga do vertedouro livre

Nível do Carga Coef de Contração do Contração Largura Capacidade de


Reservatório Efetiva descarga encontro do pilar efetiva descarga
(m) He (m) C (m1/2/s) Ka Kp L (m) (m³/s)
115
116
117
118
119
120
121
122
123
124
125
126
127
128
129
130

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5.8 Vertedores de Fundo e Descarregadores de Fundo


Os descarregadores de fundo (ou descargas de fundo) permitem o rebaixamento
do nível do reservatório, abaixo da crista do vertedouro, o que pode constituir uma
importante medida de segurança (com especial enfoque no primeiro enchimento), assim
como manter uma vazão a jusante (quando é imperativo para abastecimento, irrigação
ou outros usos), e ainda a descarga de sedimentos finos, que se encontram depositados
no reservatório na zona adjacente a montante.
No caso de barragens de concreto, é usual prever-se a sua instalação através do
corpo da barragem, enquanto nas barragens de aterro, os descarregadores são túneis
escavados no maciço de fundação ou nas margens, ou condutos preferencialmente
instalados em trincheiras escavadas no maciço de fundação, e não incorporados no
aterro.
Os descarregadores de fundo devem ser projetados de maneira a permitir a
condução da água, através da barragem em condições de segurança com eficiência
hidráulica elevada. O controle deve ser efetuado através de comportas ou válvulas de
regulação. Na restituição a jusante, deve ser prevista a conveniente dissipação de
energia e minimização dos efeitos erosivos.
Em barragens com altura superior a 15 m (quinze metros) e capacidade total do
reservatório superior a 3M m³ (três milhões de metros cúbicos), em especial no caso de
barragens com dano potencial alto, é recomendável a utilização de descarregadores de
fundo (descargas de fundo), equipados com duas comportas ou válvulas, controladas
por montante, uma funcionando como segurança e a outra destinada ao serviço normal
de operação. Deve-se estar atento às velocidades resultantes, geralmente elevadas,
que podem causar abrasão no concreto ou danos substanciais devido à cavitação.

Capítulo 5 - Vertedores 90
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Figura 5.30 – Descarga de Fundo de Höljes Dam - Suécia (Pinto, 1979)

Figura 5.31 – Descarga de Fundo de Dworshak Dam - EUA (Pinto, 1979)

Capítulo 5 - Vertedores 91
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Figura 5.32 – Descarga de Tarbela - Paquistão (Pinto, 1979)

Figura 5.33 – Vertedouro de Fundo de Sobradinho, Q – 16.880 m³/s (Pereira, 2015)

Capítulo 5 - Vertedores 92
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Figura 5.34 – Descarga de fundo de Capivari-Cachoeira (CBDB, 1982)

Capítulo 5 - Vertedores 93
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O cálculo da capacidade de descarga de um vertedouro (ou descarga) de fundo


é realizado considerando a equação de um orifício:

𝑄 = 𝐶𝐴√2𝑔𝐻 (5.16)

Onde o coeficiente de descarga é igual a 𝐶 = 0,61, 𝐴 é a área da adufa e 𝐻 é a


carga hidráulica até o centro do orifício.
Para o caso de aberturas parciais de uma comporta segmento é possível utilizar
a equação (5.17) até a (5.20), bom os parâmetros ilustrados na Figura 5.35.

Figura 5.35 – Parâmetros para cálculo da capacidade de descarga de uma comporta


segmento parcialmente aberta (Henderson, 1966)

𝑄 = 𝑞𝐿 (5.17)

𝑞 = 𝐶𝑑 𝑤√2𝑔𝑦1 (5.18)

𝐶𝑐
𝐶𝑑 = (5.19)
√1 + 𝐶𝑐 𝑤⁄𝑦1

𝐶𝑐 = 1 − 0,75𝜃 + 0,36𝜃 2 (5.20)

Obs: A equação (5.17) até a (5.20) é também utilizada para o cálculo de desvios
de rios do tipo soleira rebaixada.

Capítulo 5 - Vertedores 94
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6 DISSIPADORES DE ENERGIA
A estrutura terminal de um vertedouro, ou outra estrutura hidráulica, deve
propiciar a dissipação de energia do escoamento a fim de se evitar os efeitos erosivos
no pé ou a jusante da estrutura. Algumas soluções são:

6.1 Bacia de dissipação em ressalto


O ressalto hidráulico é um fenômeno que ocorre na transição de um escoamento
torrencial ou supercrítico para um escoamento fluvial ou subcrítico. O escoamento é
caracterizado por uma elevação brusca no nível de água acompanhada de uma
instabilidade na superfície com ondulações e entrada de ar do ambiente e por uma perda
de energia em forma de turbulência. (Porto, 2006).
O cálculo do ressalto em bacias de dissipação é dado pelo cálculo das
profundidades conjugadas (válido para canais retangulares ou canais de grande
largura):

ℎ1
ℎ2 = (√1 + 8𝐹𝑟1 2 − 1) (6.1)
2

ou

ℎ2
ℎ1 = (√1 + 8𝐹𝑟2 2 − 1) (6.2)
2

Onde ℎ1 e ℎ2 são as profundidades a montante e a jusante do ressalto


respectivamente. O número de Froude para um canal retangular pode ser calculado em
função da profundidade 𝑣 e velocidade 𝑣 do escoamento:
𝑣
𝐹𝑟 = (6.3)
√𝑔ℎ

A perda de energia pode ser calculada como:


(ℎ2 − ℎ1 )3
∆𝐸 = (6.4)
4ℎ2 ℎ1

O comprimento do ressalto estacionário se situa normalmente entre 5 a 7 vezes


o valor de sua altura (ℎ2 − ℎ1 ) ou segundo certos autores da ordem de 6ℎ2 . A Figura 6.1
apresenta a relação entre o número de Froude e comprimento do ressalto hidráulico.

Capítulo 6 – Dissipadores de Energia 95


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Figura 6.1 –Relação entre número de Froude de um ressalto e comprimento em


relação a profundidade de jusante

Estudos do Bureau of Reclamation (USBR, 1987) permitem classificar os


ressaltos em função do número de Froude do escoamento rápido:

• 𝑭𝒓 < 𝟏, 𝟕 – Ondulações da superfície da água, praticamente não existe


ressalto;
• 𝟏, 𝟕 < 𝑭𝒓 < 𝟐, 𝟓 – Pré-ressalto, perturbação inicial mais intensa com correntes
de retorno, dissipação de energia pouco eficiente;
• 𝟐, 𝟓 < 𝑭𝒓 < 𝟒, 𝟓 – Ressalto oscilante, o jato rápido concentra-se ora junto ao
fundo ora em superfície. Uma bacia Tipo IV é recomendada (Figura 6.2). Em
termos práticos recomenda-se ao projetista alterar as dimensões do vertedouro
na tentativa de elevar o número de Froude e conseguir condições hidráulicas
mais estáveis.
• 𝟒, 𝟓 < 𝑭𝒓 < 𝟗 – Ressalto bem definido com desempenho adequado. A
turbulência ocorre principalmente no corpo principal do ressalto e o escoamento
efluente é menos perturbado. A bacia de dissipação Tipo III se aplica (Figura
6.3). Quando as velocidades excedem 18 m/s a bacia Tipo II pode ser utilizada.
• 𝑭𝒓 > 𝟗 – Ressalto eficiente, mas sensivelmente turbulento e agitado.

Obs: Na Figura 6.2 e na Figura 6.3 as profundidades d1 e d2 se referem às


profundidades de montante e jusante do ressalto (h1 e h2 da equação (6.1)). A variável
TW depth se refere à profundidade do rio a jusante (obtido da curva-chave do rio).

Capítulo 6 – Dissipadores de Energia 96


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Figura 6.2 – Bacia tipo IV (USBR, 1987)

Capítulo 6 – Dissipadores de Energia 97


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Figura 6.3 – Bacia Tipo III (USBR, 1987)

Capítulo 6 – Dissipadores de Energia 98


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Figura 6.4 – Bacia Tipo II (USBR, 1987)

Capítulo 6 – Dissipadores de Energia 99


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Na realidade blocos de dissipação não são recomendados para obras de


maiores de dimensões porque dão origem com muita frequência a problemas de
cavitação. O ganho na eficiência obtido nos estudos em modelo não compensa os
problemas de manutenção aumentados (Pinto, 1987). De fato, como observado após
10 anos de operação, a bacia de dissipação do vertedouro da UHE Porto Colômbia
apresentou danos severos nos blocos de dissipação devido à cavitação. Obras de
reparo foram realizadas, demolindo os blocos de dissipação (CBDB, 2010).

6.2 Força Dinâmica


As lajes de fundo das bacias de dissipação em ressalto são submetidas
principalmente às cargas de subpressão que além do seu valor médio, que pode ser
considerado com uma carga estática, apresenta também uma componente dinâmica
devido à grande turbulência devido ao processo de dissipação de energia do ressalto.
Desta maneira, nas bacias de dissipação devem ser levadas em conta não só o valor
médio da subpressão, mas as flutuações devidas ao próprio ressalto. Da análise da
resultante de forças em uma laje pode-se estimar a espessura da laje 𝑎 como (Pinto,
1987):
𝛾∆ℎ𝑚
𝑎= (6.5)
𝛾𝑐 − 𝛾

Onde 𝛾 é o peso específico da água, 𝛾𝑐 é o peso específico do concreto e ∆ℎ𝑚 é


a flutuação média. Uma estimativa da flutuação média pode ser obtida pela equação
do ICOLD (1987)
𝑣2
∆ℎ𝑚 = 0,12 (6.6)
2𝑔

Onde 𝑣 é a velocidade de aproximação.

6.3 Defletores tipos Salto de Esqui


Nos vertedores com estrutura termina do tipo salto de esqui a dissipação da
energia não se verifica na estrutura, mas sim sobre o leito natural a jusante. A trajetória
do jato pode ser calculada por (USBR, 1987) :
𝑥2
𝑦 = 𝑥 𝑡𝑔𝜃 −
𝑉2 (6.7)
𝐾 [4 (𝑑 + 2𝑔) 𝑐𝑜𝑠 2 𝜃]

Onde o eixo é contado a partir da borda defletor, 𝜃 ângulo do defletor com a


horizontal, 𝐾 é um fator igual a 1 para o jato teórico, 𝑑 é profundidade do fluxo no
defletor.
De acordo com o Design of Small Dams (USBR, 1987) o ângulo de saída não
deve ser maior que 30º e raio não deve ser menor que 5d (a profundidade do fluxo na
saída do rápido).

Capítulo 6 – Dissipadores de Energia 100


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Figura 6.5 – Estimativa de alcance do jato em um defletor tipo salto de esqui (USACE,
1987)

Capítulo 6 – Dissipadores de Energia 101


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Figura 6.6 – Comparativo entre cálculo teórico do jato e estudos em modelo reduzido –
UHE Cambambe

Figura 6.7 – Operação de teste do vertedouro da UHE Cambambe

Capítulo 6 – Dissipadores de Energia 102


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6.4 Bacia de lançamento


Nos vertedores em salto de esqui a dissipação de energia não se verifica na
estrutura mas sim sobre o leito natural a jusante. A erosão provocada pelo escoamento
é de difícil avaliação, dependendo da velocidade e concentração do jato de água que
atinge a bacia e a natureza da rocha.
A envoltória (situação limite) da profundidade da fossa de erosão pode ser
estimada pela equação apresentada pelo Comitê Brasileiro de Barragens, baseado na
equação de Veronese e conforme erosões observadas a jusante de barragens no Brasil
e em outros países:

ℎ𝑒 = 𝐾. 𝑞0,54 𝐻0,225 (6.8)

Onde: ℎ𝑒 é a profundidade da fossa de erosão, contada a partir do nível de água


de jusante até o fundo da fossa; 𝐻 é a carga hidráulica entre o nível de água do
reservatório e o nível de jusante; 𝑞 é a vazão específica e 𝐾 é um parâmetro dependente
da qualidade da rocha 𝐾 = 0,7 (rocha com elevada resistência a erosão); 𝐾 = 1,2 (rocha
com resistência moderada a erosão) 𝐾 = 1,5 (rocha como baixa resistência a erosão,
como arenito, ou submetida a longas exposições de vazões elevadas) e 𝐾 = 1,9 (valor
limite – envoltória de Veronese). As variáveis da equação (6.8) podem ser visualizadas
na Figura 6.8.

Figura 6.8 – Estimativa de profundidade de fossas de erosão (CBDB, 2010)

Capítulo 6 – Dissipadores de Energia 103


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Figura 6.9 – Esccavação da fossa de erosão da UHE Cambambe (22/01/2014)

Figura 6.10 –Fossa de erosão da UHE Kariba, Rio Zambesi, Zambia/Zimbawe


(Pereira, 2017)

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7 CAVITAÇÃO E AERAÇÃO DE ESCOAMENTOS DE ALTA VELOCIDADE


7.1 Conceituação
O processo de cavitação é definido como a formação de bolhas ou vazios em
um líquido. Quando um escoamento rápido é acelerado localmente por uma
irregularidade do conduto o aceleramento localizado do fluxo é acompanhado por uma
redução de pressão que pode atingir a pressão de vapor de provocar a formação de
bolhas de água vaporizada.
Arrastados pelo escoamento para regiões de maior pressão, imediatamente a
jusante, as bolhas são destruídas. O súbito colapso dessas bolhas é acompanhado de
intensa elevação de pressão constituindo verdadeiros choques que se sucedem
initerruptamente. Este processo é caracterizado por danos na superfície da estrutura
(erosão por cavitação).
Investigações experimentais do USBR e do USACE para definição das
condições incipientes de cavitação para diferentes desníveis graduais ou abruptos
conduziram ao índice de cavitação:
𝐻 − 𝐻𝑉 (7.1)
𝜎𝑖 =
𝑣 2⁄
2𝑔

Onde 𝐻 é a pressão absoluta (pressão atmosférica em m.c.a acrescida da


profundidade do fluxo), 𝐻𝑉 é a pressão de vapor e 𝑣 2 ⁄2𝑔 é a altura de velocidade.
Em termos práticos um limite de velocidade de 30 m/s ou índice de cavitação
menor ou igual a 0,25 indicam a possibilidade de cavitação e um aerador é
recomendado.

7.2 Cavitação provocada por irregularidades


Conforme publicação do CEHPAR, “Cavitação e Aeração em Fluxos de Alta
Velocidade” (Pinto, 1979), foram observados valores do índice de cavitação para
irregularidades na superfície de uma estrutura hidráulica sujeita à elevadas velocidades
(Figura 7.1 e Figura 7.2).
Conforme descrito por Pereira (2017), o desenvolvimento da camada limite é a
principal cauda do melhor desempenho dos vertedores quando comparados com
descargas de fundo. Nestas estruturas, a acentuada curvatura do fluxo à jusante da
comporta elimina a camada limite e qualquer irregularidade milimétrica é submetida a
velocidades muito elevadas. Já nos vertedouros, o aumento da velocidade do fluxo se
faz concomitantemente ao desenvolvimento da camada limite e pequenas
irregularidades, da ordem do centímetro, podem ser toleradas.

Capítulo 7 – Cavitação e Aeração 105


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Figura 7.1 – Tipos de irregularidades dos contornos sólidos e localização das prováveis
áreas atingidas pela ação da cavitação (Pereira, 2017; Pinto, 1979)

Figura 7.2 – Valores do índice de cavitação incipiente para desníveis abruptos e


graduais em superfícies de contorno (Pereira, 2017; Pinto, 1979)

Capítulo 7 – Cavitação e Aeração 106


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7.3 Aeração
O efeito benéfico da injeção de ar em um escoamento para evitar ou reduzir
os efeitos perniciosos da cavitação tanto em estruturas como em máquinas
hidráulicas é conhecido a longo tempo. A influência do ar sobre fenômeno erosivo
foi avaliado por Rasmussen e Peterka. Percentagens de ar da ordem de 7 a 8% em
volume, praticamente eliminaram nos testes qualquer ação erosiva da cavitação.
Experiências de Russel e Sheehan, em que corpos de prova de concreto foram
submetidos a velocidades da ordem de 46 m/s em laboratório confirmaram que os
danos devidos à cavitação podiam ser muito reduzidos pela admissão de uma
pequena quantidade de ar e que uma dosagem de 5 % era suficiente para eliminar
qualquer erosão. A concentração de ar no escoamento pode ser calculado utilizado
a equação a seguir:
𝑉𝑎𝑟 (7.2)
𝐶𝑎𝑟 =
𝑉𝑎𝑟 + 𝑉á𝑔𝑢𝑎

Uma vez identificada a necessidade de aeração no escoamento propõe-se a


instalação de aeradores dimensionados conforme os parâmetros descritos na
sequência. A razão entre a vazão de unitária de ar e a vazão de água passante através
da estrutura hidráulica é dada por:
𝑄𝑎𝑟 (7.3)
𝛽=
𝑄á𝑔𝑢𝑎

Onde: 𝑄𝑎𝑟 é a vazão de ar e 𝑄á𝑔𝑢𝑎 é a vazão de água.

Segundo Pinto (1986) testes em alguns protótipos sugeriram que o arraste


de ar pode ser descrito aproximadamente pela equação:

𝛽 = 𝑘 𝐿⁄ℎ (7.4)

Onde 𝐿 – comprimento do vazio sob o jato de água a jusante do aerador (m);


ℎ – profundidade do fluxo a montante do aerador (m); 𝑘 – coeficiente típico de um
aerador, é dependente da geometria e das condições do fluxo no aerador. A Figura
7.3 ilustra os parâmetros de um aerador.

Figura 7.3 – Parâmetros de um aerador

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Apesar da simplicidade da expressão, o comprimento L é um parâmetro de difícil


definição devido ao intenso “spray” sob o jato. Também o parâmetro k é variável
conforme o tipo do aerador, e segundo Falvey (1990), comumente possui valores entre
0,012 e 0,033.
Segundo Pinto (1979) a otimização de projetos deve seguir uma metodologia
prática que combine adequadamente os resultados do modelo e as informações
existentes sobres obras análogas, assim definida:

• Verificar em modelo reduzido, na maior escala possível, as características


principais do escoamento, sua configuração e o funcionamento adequado do
aerador;
• Com base em informações do protótipo de casos semelhantes estimar a vazão
de ar arrastada;
• Calcular as perdas de carga do fluxo de ar através dos condutos de aeração
parra estimar a pressão sob a lâmina vertente a jusante do degrau ou rampa;
• Simular no modelo a pressão calculada, com base na semelhança de Froude,
para comprovar o bom funcionamento do sistema;
• Corrigir e aperfeiçoar o dispositivo se necessário;
• Avaliar o número de aeradores e o seu espaçamento ao longo da superfície e
proteger, adimitindo uma taxa de perda de ar junto á parede.

Através de testes em modelo físico de algumas usinas e uma análise


dimensional sobre os parâmetros que influenciam o arraste do aerador conclui-se que
𝛽 = 𝑓(𝐹𝑟, 𝐷/ℎ), onde Fr = número de Froude do Escoamento e:

𝐷 = 𝑐 𝐴⁄𝑏 (7.5)

Onde: c – coeficiente de descarga do duto de ar relacionado à diferença entre a


pressão atmosférica e a pressão sob o jato de água; A – área da seção transversal do
orifício de controle (m²); b – largura da rampa suprimida pelo aerador(m); Pinto (Pinto &
Wood, 1991) avaliou uma expressão para os protótipos das usinas de Foz do Areia
(Brasil), Emborcação (Brasil), Amaluza (Equador), Colbun (Chile) e Tarbela (Paquistão),
apesar da diversidade de geometrias.
0,59 (7.6)
𝛽 = 0,29(𝐹𝑟 − 1)0,62 (𝐷⁄ℎ)

Esta equação resultou em um fator de correlação de 97,6 %. Os dados de


protótipo cobriram um faixa de números de Froude de 4 a 21 e D/h de 0,028 a 3,23.
Para avaliação da concentração média de ar no escoamento utilizou-se a seguinte
formulação apresentada na equação abaixo:
𝛽 (7.7)
𝐶𝑎𝑟 =
1+𝛽

Capítulo 7 – Cavitação e Aeração 108


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Um aerador adequado dever gerar localmente uma alta concentração de ar,


contudo a jusante deste ocorrerá um decréscimo desta concentração até atingir um
estado de equilíbrio com o fluxo.
Bratsk e Alicura indicaram uma redução de ar ao longo da calha dos vertedores.
Para declividades mais acentuadas (tan α = 1,25) a concentração média de ar foi
relatada à uma taxa de decréscimo de 0,5 % por metro de calha. Para Alicura (tan α =
0,35), a taxa de perda de concentração do ar no fundo variou de 0,45% a 0,26 %. O
ângulo α refere-se à declividade da calha dos vertedores citados. Segundo Falvey
(1990) para uma seção retilínea o decréscimo na concentração de ar seria entre 0,15%
a 0,20% por metro.
Aeradores têm sido utilizados com sucesso em várias estruturas no Brasil e no
mundo, ex: Foz do Areia, Emborcação, Yellow Tail (EUA), Tarbela (Paquistão), Bratsk
(URSS), Colbun (Chile), entre outras.

7.4 Estudo de Caso: Erosão devido à Cavitação na Descarga de Fundo da UHE


Cambambe
Texto baseado no artigo: Processo de Cavitação e Projeto dos Aeradores no
Descarregador de Fundo do AH Cambambe (Palu, Salles, et al., 2010). Visando
possibilitar a execução das obras do barramento da UHE Cambambe, foram executadas
galerias sob a barragem e a descarga de fundo com emboque na margem direita. O
presente trabalho será focado para a descarga de fundo, que possui as características
descritas a seguir.
O túnel do descarregador possui uma extensão total em planta de 523 m. O
emboque é constituído, em perfil longitudinal, por uma soleira aceleradora terminando
em curva, sendo a alimentação feita por uma crista circular à cota 56,00, com
desenvolvimento de 30 m. Este emboque possui com perfil hidrodinâmico, com diâmetro
em planta de aproximadamente 12 m. Após o emboque existe uma curva vertical com
raio de aproximadamente 26 m, nesta região o túnel revestido possui seção retangular
variável, com dimensões médias de 6 x 7 m. Logo após a curva tem-se um trecho de
aproximadamente 8 m de extensão em seção retangular, nas dimensões 4,5 x 6,7 m
(largura x altura). Nesse trecho está situada a comporta ensecadeira, do tipo lagarta.
A jusante da comporta ensecadeira existe uma transição de aproximadamente 12
m de extensão, com dimensões médias do túnel de 6,35 x 5,2 (largura x altura). Logo
após a seção anterior existe uma transição de aproximadamente 5,5 m de extensão,
com variação da seção do túnel de 6 x 5,6 para 6 x 3,5 (largura x altura).
Sequencialmente a esta transição existe uma comporta segmento, com as dimensões
6 x 3,5 (largura x altura); com raio de 7,212 m, assentada na El. 35,062 m.s.n.m. A
jusante da comporta existe um túnel em seção arco-retângulo com 7,5 m de altura e 6
m de largura, com 420 m de extensão, declividade 0,0341 m/m e a elevação final do
fundo, a jusante, de 21,02 m. Após o túnel existe um canal com aproximadamente 36 m
de comprimento, com seu término na elevação 19,34 m. Este canal possui saída livre e
lança o jato no Rio Kwanza.

Capítulo 7 – Cavitação e Aeração 109


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Figura 7.4 – Descarga de Fundo de Cambambe (Palu et al., 2018)

Uma inspeção nos túneis do descarregador após cinco décadas de


funcionamento revelou um processo de cavitação/erosão de grandes proporções.
Contudo cabe o comentário que na época da concepção e execução do projeto (década
de 60) os efeitos de cavitação não eram suficientemente conhecidos, a única aeração
existente prevista era a do poço da comporta segmento. Com a ocorrência de casos
históricos em estruturas como vertedores e descargas de fundo em diversas partes do
mundo (Yellowtail-EUA, Bratsk-Rússia, Sirikit- Tailândia), a partir da década de 70, a
identificação e o tratamento para mitigação do efeito tiveram grande progresso.

Figura 7.5 – Erosão na descarga de Fundo de Cambambe (Palu et al., 2018)

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Considerando que a carga hidráulica é de aproximadamente 70 m, tem-se uma


velocidade da ordem de 35 m/s, o que justifica a ocorrência desse fenômeno.
Uma vez identificado o problema foi proposto a utilização de aeradores para
resolução do problema de cavitação de Cambambe. Em resumo o procedimento de
cálculo foi basicamente:
1) Cálculo da capacidade de descarga da estrutura de controle (comporta
segmento);
2) Cálculo de níveis e velocidades (standard step method) e cálculo do índice de
cavitação;
3) Proposição do posicionamento inicial dos aeradores conforme necessidade
identificada no item anterior;
4) Cálculo do β do aerador (como a equação (7.6)) e da concentração de média de
ar no escoamento (equação (7.7)). Para casos em que não se dispões
recomenda-se a utilização da metodologia apresentada por Falvey (1990).
5) Aplicação do decréscimo da concentração de ar segundo taxas encontradas na
literatura (Falvey (1990));
6) Verificação do limite mínimo de concentração de ar estipulado como 10%.

Para o descarregador de fundo de Cambambe adotou-se uma taxa de decréscimo


na concentração de ar de 0,2%. Também, a partir dos exemplos utilizados (Tarbela e
Colbun) foi proposto o seguinte esquema de aeração para o descarregador de fundo de
Cambambe: três aeradores, o primeiro situado imediatamente a jusante da comporta
segmento, ao final da blindagem.

Figura 7.6 – Aeradores propostos para a descarga de fundo de Cambambe.(Palu,


Baptista, et al., 2010)

Capítulo 7 – Cavitação e Aeração 111


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Figura 7.7 – Dimensões em perfil e planta do Aerador 1 – locado imediatamente a


jusante da comporta segmento.(Palu, Baptista, et al., 2010)

A jusante do Aerador 1 foram inseridos mais dois aeradores locados a 150 m e 300
mrespectivamente, denominados Aerador 2 e 3. Com a implantação dos aeradores
obteve-se a concentração de ar teórica ao longo do túnel utilizando o β da equação 5.28,
a concentração de ar média da equação 5.29 e a taxa de decréscimo na concentração
de ar indicada por Falvey (1990) avaliada em 0,2% por metro.
Após o desenvolvimento do projeto os aeradores foram testados com sucesso em
modelo reduzido e posteriormente construídos na obra.

Capítulo 7 – Cavitação e Aeração 112


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8 DESVIO DE RIOS
8.1 Introdução
Texto obtido das notas de aula sobre Desvio de Rios do Professor Gilberto
Bobko. A construção de barragens no leito de rios, independente de sua finalidade
requer que a área no leito do rio seja ensecada para execução da obra. Portanto, é
necessário desviar temporariamente o rio de seu curso normal através de passagens
provisórias, que normalmente tem apenas essa função de desviar o fluxo da área de
construção.
O esquema de desvio a ser adotado em cada obra deve ser estudado de forma
criteriosa uma vez que o custo dessas obras provisórias pode ser tão importante quanto
outros itens do projeto, bem como causar grandes impactos no cronograma da obra. De
outro Iado, a importância do esquema de desvio não se limita à questão de seus custos,
mas tem também estreita relação com os aspectos de segurança/risco tanto das obras
provisórias como da barragem em construção.
Cada local de implantação de barragem tem limitações. Topografia e
disponibilidade de materiais, por exemplo, podem ser determinantes na escolha do
esquema de desvio. Se o rio está em seu estado natural e sem controle ou se é
desenvolvido e com controle a montante, em razão da existência de outras barragens,
são fatores que seguramente afetarão o esquema de desvio a ser escolhido. Da mesma
forma, a concentração de população e de propriedades a jusante deverá ser
considerada na avaliação de riscos de danos ou perdas de vidas que possam resultar
da ultrapassagem/colapso de uma ensecadeira.
De um modo geral, o esquema selecionado representará uma conciliação entre
o custo das instalações de desvio e a quantidade de risco envolvido. O plano de desvio
apropriado minimizará os danos de enchentes potenciais à obra em construção a um
mínimo de despesas.

8.2 Vazão de Projeto do Desvio


Os aspectos hidrológicos envolvidos no projeto estão essencialmente
associados à vazão de projeto do desvio que, por sua vez, é indissociável dos riscos
que possam ser assumidos na execução da obra.
A análise da série histórica de vazões que permitirá caracterizar a hidrologia do
rio, isto é, seu padrão de escoamento, foge ao escopo deste texto; lembramos aqui
apenas que a partir dessa análise ficam caracterizadas as probabilidades de ocorrência
de vazões de diferentes magnitudes, dentre as quais deverá ser selecionada aquela que
condiz com os riscos a serem assumidos no empreendimento.
De outro lado, a capacidade de descarga do desvio a ser adotada será função
não apenas das vazões de determinada magnitude ou probabilidade, mas também de
flutuações sazonais no comportamento do rio, do tempo (quando) e da duração do
período seco, da duração do período de construção da obra (quantos períodos de cheia
deverão ocorrer durante a construção) e, não menos importante, do próprio esquema
de desvio selecionado.

Capítulo 8 - Desvio de Rios 113


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No que diz respeito a riscos a assumir, na escolha da vazão de projeto do desvio


deve-se ter em conta o custo de possíveis danos à obra completa ou em construção, se
for inundada, o custo do atraso na conclusão da obra, incluindo o custo de forçar os
equipamentos do empreiteiro a permanecer ociosos enquanto os danos à obra são
reparados, e a segurança dos trabalhadores da obra e até dos habitantes a jusante da
obra caso o colapso das obras de desvio resulte em enchente artificial. A decisão
apropriada resultará da comparação entre os custos mencionados com os custos das
obras adicionais de proteção para lidar com enchentes maiores (para diminuir o risco).
Há ainda que se considerar como condicionante adicional a possibilidade de ser
necessário manter uma vazão mínima a jusante, seja para geração, navegação,
abastecimento de água, recreação, sobrevivência de peixes ou outras finalidades.
O critério básico para a definição da enchente de desvio depende do tipo
construtivo da barragem: em desvios associados à construção de barragens de
concreto, onde os danos pela eventual ultrapassagem do fluxo sobre a estrutura é
pequeno, enchentes com TR de 5 a 10 anos são usualmente consideradas satisfatórias.
Quando se trata, entretanto, de uma barragem de terra, onde os danos resultantes de
qualquer ultrapassagem do fluxo são potencialmente maiores, enchentes de projeto
com menor probabilidade de ocorrência — TR = 50 anos — devem ser escolhidas como
valor de projeto.
Para desvios com duração superior a um ano normalmente considera-se o risco
assumido (r) em vez do tempo de recorrência (TR).
1 𝑛
𝑟 = 1 − (1 − ) (8.1)
𝑇𝑅

Onde n corresponde a duração em anos. Em termos gerais, a vazão de


dimensionamento do fechamento de um rio corresponde aproximadamente a uma vez
e meia a vazão média de longo período ou a vazão com 20% de permanência.

8.3 Esquemas de Desvio


O desvio de um rio pode ser conseguido por meio da construção de túneis
escavados na encosta, de um canal escavado em uma das margens ou pelo es
rangulamento do leito com auxílio de uma ensecadeira. Em obras de pequeno porte o
desvio pode também ser feito através de um conduto ou de uma calha. O escoamento
pelo túnel ou pelo canal é forçado pela interposição de duas ou mais ensecadeiras no
leito do rio, geralmente uma a montante e outra a jusante. Os desvios efetuados através
de canais ou de estrangulamento parcial do leito do rio são geralmente executados em
duas fases, a saber:
• Primeira fase: isola-se uma área para a construção de parte da barragem
onde estarão situadas as estruturas de desvio que funcionarão na segunda etapa
(adufas, estrutura incompleta do vertedor, tomada de água);

Capítulo 8 - Desvio de Rios 114


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• Segunda fase: isola-se a área remanescente do leito para a construção


do restante da barragem, desviando-se o fluxo através das estruturas de desvio
construídas durante a primeira fase.
Entre os fatores a considerar em um estudo para determinar o melhor esquema de
desvio de um rio estão: características do rio (hidrologia), tamanho e freqüéncia da
enchente de desvio; características físicas do local, tipo de barragem a ser construída,
natureza das obras acessórias (vertedor, condutos forçados e obras de descarga),
disponibilidade de materiais e provável seqüência das operações de construção. O
objetivo é selecionar o esquema ótimo considerando a praticabilidade, o custo e os
riscos envolvidos. As obras de desvio devem ser tais que possam ser incorporadas no
programa geral de construção com um mínimo de perdas, danos ou atrasos.

8.4 Obras de Desvio


8.4.1 Túneis
Em vales muito estreitos geralmente não é possível executar parte significativa das
obras de fundações antes que o rio seja desviado. Nesse caso, a execução de um ou
mais túneis se mostrará como a opção mais viável, tanto para a construção de
barragens de concreto como de terra.
A escolha de túneis como estrutura de desvio em vales encaixados também
apresenta o atrativo adicional de permitir que se preveja seu uso como parte das
estruturas definitivas, por exemplo como tomada de água para a casa de força,
descarregador de fundo, vertedor de emergência ou outros usos.
O esquema de desvio baseado na utilização de túneis compreende, além do próprio
túnel ou túneis, a execução de duas ensecadeiras, uma a montante e outra a jusante da
barragem a ser construída, dessa forma assegurando o ensecamento da área
necessária à execução da obra principal.
O dimensionamento dos túneis e da altura da ensecadeira a montante são
determinadas a partir de um balanço econômico das obras envolvidas. Quanto menor o
custo dos túneis (menor diâmetro dos túneis), maior será o custo da ensecadeira de
montante (maior altura da ensecadeira para permitir a passagem da vazão de projeto).
Variáveis adicionais devem ser ainda levadas em conta: um mesmo túnel (mesmo
diâmetro e mesma rugosidade) pode apresentar diferentes eficiências, em termos da
capacidade de descarga, diferentes facilidades construtivas e diferentes economias
conforme se considerem diferentes cotas do emboque e do desemboque.
Na execução de túneis estará também sempre presente a questão da qualidade da
rocha local e sua permeabilidade. A conveniência de revestir um túnel ou mantê-lo não
revestido se evidenciará na comparação de custos entre um túnel revestido e outro, de
maior tamanho, não revestido, que tenha a mesma capacidade de descarga.
Ao término da obra e não sendo usados como parte das estruturas definitivas, os
túneis devem ser fechados, inicialmente com comportas planas e, em definitivo, com
tampões de concreto. A seguir são ilustrados alguns exemplos de desvio em túneis:

Capítulo 8 - Desvio de Rios 115


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Figura 8.1 – 1ª e 2ª Fase do desvio do Rio Iguaçú para construção da UHE Foz do
Areia (CBDB, 1982)

Figura 8.2 – 3ª Fase do desvio do Rio Iguaçú para construção da UHE Foz do Areia
(CBDB, 1982)

Capítulo 8 - Desvio de Rios 116


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Curso: Engenharia Civil
Disciplina: TH-031 – Projeto de Obras Hidráulicas
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Figura 8.3 – Perfil do túnel de desvio da UHE Foz do Areia (CBDB, 1982)

Capítulo 8 - Desvio de Rios 117


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A Figura 8.4 apresenta o sistema de desvio em túneis da UHE Mauá, no Rio Tibagi,
no estado do Paraná.

Figura 8.4 – Esquema de desvio em túneis da UHE Mauá (Andriolo et al., 2013)

Figura 8.5 – Seção do túnel de desvio da UHE Mauá (Andriolo et al., 2013)

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Figura 8.6 – Aspecto final do túnel de desvio da UHE Mauá após tratamento (Andriolo
et al., 2013)

8.4.2 Canal de Desvio


A adoção de esquema de desvio através de canal é apropriada no caso de vales
largos e abertos, onde as vazões de desvio são geralmente maiores e onde, também
por essa razão, o estrangulamento do leito do rio não comportaria a vazão de projeto.
Quando o material é resistente, esses canais são escavados na margem do rio. Em
um rio estrangulado pela presença de uma ensecadeira pode-se ampliar a seção de
escoamento escavando a margem do rio, permitindo assim que a cota de coroamento
da ensecadeira de montante seja menor que a necessária sem a escavação. Este
procedimento também possibilita o uso de enrocamento de menores dimensões na
proteção da ensecadeira pois as velocidades do fluxo junto a ela serão menores.
Pode-se também criar um canal para o desvio do fluxo mantendo, no próprio corpo
de uma barragem de terra, uma brecha, enquanto a barragem é executada. O canal
assim formado deve ter taludes laterais suaves, não mais que na relação 1V:4H, de
forma a facilitar o seu preenchimento ao final da construção e também para evitar trincas
no maciço já construído que possam resultar de recalques diferenciais. O desvio por
essa abertura é feito até que se tenha completado suficiente altura da barragem no
restante do leito e também se tenha executado parte suficiente das obras auxiliares —
vertedor, por exemplo - por onde deverá passar o fluxo ao ser fechado o canal. Esse
fechamento do canal deve ser executado durante o período seco, o enchimento dessa
área devendo se dar a uma velocidade superior à do enchimento do reservatório, fase
em que o fluxo deverá ser desviado pelo vertedor (ou outra estrutura de concreto),
parcial ou já totalmente construído.

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Como no caso da brecha deixada no próprio corpo da barragem, em que o desvio


do fluxo se dá em duas etapas, o desvio através de um canal escavado na margem
também pode se dar em duas etapas. Nesse caso, durante a fase em que o fluxo é
desviado pelo canal lateral, na área ensecada deverão estar sendo construídas a
barragem e as estruturas pelas quais o fluxo deverá ser desviado na segunda etapa.
Do ponto de vista de dimensionamento, o desvio através de canal requer
procedimentos similares aos adotados em túneis. Há que se fazer o confronto de custos
entre canais de maiores dimensões, mais caros, mas com maior capacidade de
descarga, e as alturas de coroamento da ensecadeira de montante, tanto menores — e
mais baratas- quanto maiores forem as dimensões do canal de desvio. A solução ótima
será aquela que conduzir ao menor custo na combinação entre as dimensões do canal
e a altura da ensecadeira de montante.

Figura 8.7 – Desvio por canal da UHE Itaipu (CBDB, 2009)

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Figura 8.8 – Fases do desvio do rio da UHE Itaipu (CBDB, 2009)

8.4.3 Desvio de Múltiplo Estágio para Barragens de Concreto


Este processo requer o deslocamento do fluxo de um lado do rio pai a o outro
durante a fase de construção da barragem. Na primeira fase o rio é desviado para uma
parte do leito enquanto no trecho restante da seçăo transversal é construída a barragem
com as estruturas auxiliares para desviar o rio na segunda fase (vertedor rebaixado,
adufas). Na segunda fase uma nova ensecadeira passa a bloquear a parte do leito
anteriormente aberta, enquanto o fluxo do rio é conduzido para as estruturas de
concreto, total ou parcialmente construídas na primeira fase.
Nos desvios de múltiplo estágio pode-se ter vazões de projeto diferentes em um
e outro estágio. A escolha da vazão de projeto para cada uma dessas fases segue os
critérios já discutidos anteriormente.

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Figura 8.9 – Galgamento da barragem da UHE Salto Caxias em CCR durante a


segunda etapa de desvio (CBDB, 2009)

8.4.4 Adufas
As adufas são estruturas em geral provisórias, curtas e sem controle hidráulico
por jusante. São utilizadas durante o desvio de segunda fase, quando ocorre a remoção
total ou parcial da ensecadeira de primeira fase e efetuando-se o fechamento do rio,
fazendo com que o escoamento passe pelas estruturas de concreto. As adufas são
aberturas, muitas vezes sob o vertedor, que são fechadas após a construção total da
barragem, quando são preenchidas com concreto.
Existem dificuldades na hora do fechamento das adufas. Sua obstrução é uma
operação trabalhosa e dispendiosa e a concretagem é delicada. Geralmente se forma,
no teto da adufa, uma fenda entre o concreto velho e o novo, sendo necessárias injeções
de concreto para a colagem das duas superfícies.
As aberturas das adufas podem ser projetadas para ser uma obra permanente,
caso em que são chamadas de descarregadores de fundo; nesse caso as adufas são
dotadas de comportas, de seção predominantemente retangular, tendo a altura como
maior dimensão.
A forma do emboque das adufas é em geral composta de contornos elípticos
para dar ao escoamento uma aceleração gradual, de forma a evitar a possibilidade de
ocorrência de pressões negativas nessa região do fluxo.

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Figura 8.10 – Adufas de Desvio da UHE São Roque, Rio Canoas, Santa Catarina

Figura 8.11 – Adufas de Desvio da UHE São Roque, Rio Canoas, Santa Catarina

8.4.5 Vertedor Rebaixado


Pode-se aproveitar uma fase intermediária de construção do vertedor para
utilizá-lo como estrutura para desvio de segunda fase. lsso é feito no estágio em que os
vão entre os pilares do vertedor ainda se encontram em um nível relativamente baixo,
situação em que funcionam como vertedores de soleira espessa.

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A finalização da construção do vertedor com sua ci ista curva definitiva é


executada em alguns dos vão enquanto os demais continuam permitindo o desvio do
fluxo. Concluídos os vão com a crista definitiva do vertedor, os demais vãos são
fechados com comportas, permitindo que esse vãos remanescentes sejam finalizados.
Durante essa fase de término do vertedor o desvio é feito pelos próprios vãos do
vertedor que já se encontravam concluídos.

Figura 8.12 – Projeto do vertedouro da UHE Colider, no Rio Teles Pires, Mato Grosso
(Andriolo & Oliveira, 2015)

Figura 8.13 – Desvio do Rio Teles Pires por vãos rebaixados do vertedouro da UHE
Colíder(Copel, 2022)

8.4.6 Circuito Hidráulico de Geração


A utilização das estruturas de geração de energia para o desvio não é freqüente;
esse esquema é às vezes observado em usinas de baixa e média queda. Sua utilização
pode trazer uma economia considerável uma vez que não são necessárias estruturas
construídas especialmente para o desvio, porém certos cuidados são fundamentais.

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Os problemas nesses casos são a cavitação e a vibração a que podem ficar


sujeitos o tubo de sucção, a caixa espiral e o conduto forçado, pois ao se utilizar as
estruturas de geração para desvio, estas são submetidas a um escoamento diferente
das condições de projeto. Na fase de desvio as velocidades do fluxo serão maiores
devido à ausência do rotor. Os fabricantes de turbina são contrários a esse
procedimento, isentando-se de responsabilidade pelas conseqüências da utilização das
peças para outras finalidades que nâo a geração de energia.

8.4.7 Ensecadeira
A altura à qual deve ser construída uma ensecadeira envolve um estudo
econômico da altura da ensecadeira versus capacidade de descarga das obras de
desvio, incluindo estudos de propagação das cheias de desvio. O tamanho e a forma
das ensecadeiras é também determinado pela necessidade da área a ser ensecada:
deve ser suficiente para a construção da barragem e permitir o trânsito de equipamentos
de terraplenagem, guindastes, etc.
As ensecadeiras de enrocamento e/ou terra podem ser incorporadas à própria
barragem, resultando nesse caso em vantagem econômica, particularmente por não ser
necessária a sua remoção após a conclusão da obra.
O lançamento de material para a execução de ensecadeiras segue duas
técnicas:
• Lançamento em ponta de aterro, caminhando de uma margem à outra do
rio ou até a ponta de outro aterro;
• Lançamento em camadas horizontais uniformes ao longo de toda a
largura do rio, até o fechamento final.
Um problema característico das ensecadeiras é a sua vedação, embora um certo
grau de infiltração seja permitido. Os problemas de impermeabilização crescem com a
profundidade (altura da ensecadeira), tornando difícil garantir a estanqueidade e a
estabilização do material impermeabilizante. Às vezes constroem-se pré-ensecadeiras
precárias a montante para se poder construir as definitivas em seco, sob melhores
condições de controle das fundações, de forma a se poder obter melhor vedação.
Existem dois tipos de pré-ensecadeiras: a de duplo cordão e a de cordão
simples. O início do lançamento é feito com material fino pois a velocidade do
escoamento é baixa; à medida que o cordão avança a velocidade aumenta passando a
exigir o lançamento de materiais de maior diâmetro.
A impermeabilização da pré-ensecadeira de cordão simples é feita pelo Iado
externo à área a ser ensecada, lançando-se material fino (argila) dentro da água até
atingir uma espessura satisfatória. Para o lançamento de terra em região onde existe
correnteza muito forte utilizam-se espigões colocados em locais estratégicos a fim de
deslocar o fluxo rápido da região de lançamento.
A pré-ensecadeira com dois cordões é impermeabilizada lançando-se a argila
entre os cordões, ao mesmo tempo em que o aterro impermeabilizador vai sendo
compactado.

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Após a impermeabilização vem a fase de alteamento da ensecadeira até a cota


definitiva. No caso da ensecadeira com cordão simples drena-se a área delimitada e
faz- se a escavação junto ao pé do talude interno até atingir a rocha sã, elevando-se,
então, o aterro compactado até a cota prevista. No caso do cordão duplo, colocam-se
camadas de terra sobre o material impermeabilizante até atingir a cota desejada.
A ensecadeira de duplo cordão é geralmente mais econômica que a de cordão
simples devido ao ângulo de equilíbrio do enrocamento ser sempre maior que o da
argila. A desvantagem do duplo cordão é que não há possibilidade de controlar a
compactação na interface entre o leito do rio e o aterro pois o material é lançado
submerso.

8.5 Considerações sobre o Projeto de Túneis


a) Forma

A forma dos túneis de desvio depende das condições geológicas do local. Deve-
se adotar a forma de arco-retângulo ou, caso se deseje maior estabilidade, a seção em
forma de ferradura.
b) Diâmetro

O diâmetro dos túneis é função da velocidade máxima do fluxo (15 m/s),


conduzindo a túneis com diâmetro da ordem de 15 m em locais com rocha de basalto.
Na otimização dos túneis deve-se analisar o “número de túneis x altura das
ensecadeiras”.
c) Espaçamento entre túneis e cobertura mínima de rocha

Para evitar a influência do escoamento de um túnel sobre seu vizinho deve-se


manter um espaçamento de pelo menos 1,5 vez o seu diâmetro. O mesmo critério se
aplica à cobertura mínima do túnel.
d) Curvas nos túneis

Evitar curvas fechadas próximo à entrada e à saída dos túneis.

• Ângulo máximo (Qmax.): 45º


• Raio de curvatura mínimo: 5D
e) Declividade

Aproveitar ao máximo as condições topográficas locais, observando a condição


de velocidade de 15 m/s. Emboques, inferior e superior, construídos em cotas diferentes
geralmente conduzem a declividades diferentes.
f) Estrutura do emboque

A estrutura do emboque dos túneis inferiores é de concreto, dotada de comportas


para o fechamento, com o coroamento na mesma cota que a da ensecadeira de

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montante. Os túneis superiores possuem o emboque escavado em rocha, sem


estrutura, e serão tamponados com concreto antes do fechamento dos túneis inferiores.
No canal de aproximação dos túneis superiores deve-se prever soleira em rocha
que possibilite a passagem, pelos túneis inferiores, de 1,5 vez a vazão normal. Esta
soleira também permite o lançamento da ensecadeira nos emboques dos túneis
superiores para posterior tamponamento dos mesmos. O número de vãos
intermediários na estrutura do emboque normalmente adotado é de 3 vãos, se
D > 12 m.
g) Dimensionamento hidráulico
• Na fase de estudos: usar a vazão máxima de desvio.
• No projeto básico, verificar as seguintes condições de escoamento:
o Situações de fechamento do rio;
o Situações em diversas fases de construção da barragem.
• Velocidades admitidas no interior do túnel (Eletrobrás, 2003):
o TR = 10 anos → v = 10 m/s;
o TR=100 a 200 anos → v = 20 m/s;
o TR = 500 anos → v = 25 m/s.

Obs: As velocidades máximas no interior do túnel devem ser consideradas de


maneira cautelosa, preferencialmente em acordo com engenheiros geólogos.
Velocidades acima de 5 m/s podem requerem tratamentos mais pesados, enquanto
acima de 10 m/s requer o cobrimento com concreto. Outro ponto que se deve atentar é
a possibilidade de cavitação, que pode causar grandes danos, além de bloqueio do
túnel.
A equação geral que conduz ao cálculo dos níveis a montante do túnel 𝑁. 𝐴. 𝑀 é:

𝑣2 𝐿 𝑣2 (8.2)
𝑁. 𝐴. 𝑀 = 𝑦𝑝 + ∑ 𝐾𝐿 +𝑓
2𝑔 𝐷 2𝑔

Para o caso de saída afogada:

𝑣2 𝐿 𝑣2 (8.3)
𝑁. 𝐴. 𝑀 = 𝑁. 𝐴. 𝐽 + ∑ 𝐾𝐿 +𝑓
2𝑔 𝐷 2𝑔

Onde 𝐾𝐿 = 1 + 𝐾𝑒 , L é o comprimento do túnel em m, 𝑓 é o coeficiente de


rugosidade, 𝐷 é o diâmetro do túnel e 𝑣 é a velocidade média no túnel.
Uma vez definido o nível a montante e considerando-se uma borda livre
(comumente adotada como 1 m), tem-se a elevação da ensecadeira. A definição das
demais variáveis é apresentada a seguir:

• Coeficientes de perda de carga na entrada:


o Na fase de estudo de alternativas, usar 𝐾𝑒 = 0,30;
o Na fase de otimização, usar:

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𝐾𝑒 = 0,20, com estrutura de concreto;


𝐾𝑒 = 0,30, sem estruturas de concreto.

• Coeficiente de rugosidade (Ks ou n) para perdas contínuas:


o Na fase de estudo de alternativas: usar 𝐾𝑠 = 35 (Strickler) ou 𝑛= 0,028
(Manning), para qualquer diâmetro, sem considerar a sobre-escavação

o Na fase de otimização deve-se considerar a sobre-escavação: usar


𝐾𝑠 = 30 ou n = 0,033.

Quando existem levantamentos topográficos após a execução do túnel a


rugosidade relativa 𝑘 do túnel pode ser obtida através da verificação sobrescavação
(overbreak) do túnel:

Figura 8.14 – Parâmetros para cálculo da rugosidade relativa em um túnel (USACE,


1987)

4𝐴𝑚 4𝐴𝑛
𝑘 = 𝐷𝑚 − 𝐷𝑛 = √ −√ (8.4)
𝜋 𝜋

Onde 𝐷𝑚 é o diâmetro hidráulico referente à uma área média da sobreescavação


e 𝐷𝑛 é o diâmetro hidráulico referente à área mínima da escavação.A relação entre o
diâmetro médio e a rugosidade relativa do túnel é dada por:
𝐷𝑚 1
=
𝑘 𝐴 (8.5)
1 − √𝐴 𝑛
𝑚

• Coeficiente de rugosidade (𝑛) para seções mistas com diferentes rugosidades:

2/3
3/2
Σ (𝑛𝑖 𝑃𝑖 )
𝑛𝑒𝑞 = [ ] (8.6)
Σ𝑃𝑖

Ou

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1/3
Σ(𝑛𝑖2 𝑃𝑖 )
𝑛𝑒𝑞 =[ ] (8.7)
Σ𝑃𝑖

• Fator de resistência (𝑓):

1 𝐷𝑚
= 2𝑙𝑜𝑔 + 1,14 (8.8)
√𝑓 𝑘

Figura 8.15 – Fator de atrito em túneis ajustado em função da rugosidade relativa


(USACE, 1987)

Capítulo 8 - Desvio de Rios 129


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• Fator de resistência médio (𝑓𝑚 ):

124,5
𝑓𝑚 = 1/3 (8.9)
𝐷𝑚 𝐾𝑠2

Ou

78,43𝑛2 (8.10)
𝑓𝑚 = 1/3
𝑅ℎ

A relação entre o diâmetro e o raio hidráulico é dada por:


𝐷𝑚 = 4𝑅ℎ (8.11)

Valores mínimos, médios e máximos dos coeficientes de rugosidade podem ser


encontrados na Tabela 8.1
Tabela 8.1 – Coeficientes de rugosidade (Eletrobrás, 2003)

Mínimo Médio Máximo


Tipo
n Ks n Ks n Ks
Canais escavados em terra:
Limpo 0,018 56 0,022 45 0,027 37
Com alguma vegetação 0,03 45 0,027 37 0,033 30
Revestido com enrocamento 0,028 35 0,035 28 0,045 22
Canais ou túneis escavados em rocha 0,03 33 0,033 30 0,038 26
Canais ou túneis em concreto projetado 0,02 50 0,022 45 0,025 40
Canais e condutos de concreto 0,013 77 0,014 71 0,017 59
Rios ou canais com fundo rochoso
0,03 33 0,035 28 0,04 25
sem vegetação nas margens
Rios ou canais com fundo rochoso
0,04 25 0,045 22 0,05 20
com vegetação nas margens

• Coeficiente de perdas de carga nas curvas:

𝛼 𝐷𝑚 3,5 (8.12)
𝐾𝑐 = [0,131 + 1,847 ( ) ]
90 2𝑟

Onde 𝛼 é o ângulo central da curva e 𝑟 é o raio de curvatura conforme a


Figura 8.16.

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Figura 8.16 – Parâmetros para cálculo de perda de carga em curva

h) Determinação da curva de descarga dos túneis


• Fase de estudos das alternativas:

Usar a vazão máxima de desvio e a condiçăo como conduto forçado.


Fase de otimização:

• O cálculo deve se estender a toda faixa de vazões, com atenşão especial à


vazão máxima de desvio e à de fechamento do rio.

Para cada vazão considerar, em relação à determinação das condições de


escoamento no túnel:
o Se em canal:
1) Regime subcrítico (o N.A. de jusante condiciona a saída);
2) Regime supercrítico (ocorre a expulsão da massa na saída; comparar as
quantidades de movimento M1 e M2).

𝑀1 = quantidade de movimento imediatamente a jusante da saída;


𝑀2 = quantidade de movimento a jusante do ressalto hidráulico
Se 𝑀1 > 𝑀2 ocorre a expulsão, saída livre, se 𝑀1 < 𝑀2 , saída afogada
Apenas lembrando que a quantidade de movimento é dada por:
𝑄 (8.13)
𝑀= + 𝑦̅𝐴
𝑔𝐴

Onde 𝑄 é a vazão, A a área do escoamento e 𝑦̅ é a distância vertical desde a


superfície livre até o centro de gravidade da seção molhada.

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o Se em conduto forçado:
Se a saída for livre o nível de água a jusante 𝑦𝑝 é função do diâmetro médio do
túnel e do número de Froude
𝑦𝑝 = 0,82𝐷𝑚 𝐹𝑟 −0,27 (8.14)

e
𝑣 (8.15)
𝐹𝑟 =
√𝑔𝐷𝑚

Se a saída for afogada o nível de água a jusante 𝑁. 𝐴. 𝐽 , dado pela curva chave
do rio, é o próprio nível para o cálculo.

8.6 Estudo de Caso: Túneis de Desvio da UHE Mauá


A Usina Hidrelétrica Mauá está localizada no trecho médio do rio Tibagi,
afluente pela margem esquerda do rio Paranapanema, na divisa dos municípios de
Telêmaco Borba e Ortigueira, no Estado do Paraná. Os dois túneis de desvio estão
localizados na margem direita, com seção arco-retangular de 9 m de diâmetro e,
área de 72,3 m² cada, totalizando uma área de escoamento de 144,6 m², e
comprimentos de 313 m e 360 m (Figura 8.4 e Figura 8.5).
O fechamento do cordão da ensecadeira da UHE Mauá e desvio total das
águas do rio Tibagi pelos túneis ocorreram no dia 11 de novembro de 2009, e o
fechamento do desvio do rio e início do enchimento do reservatório, no dia
28/06/2012. Assim, durante 960 dias as águas do rio Tibagi passaram pelos dois
túneis de desvio.
A velocidade média do escoamento no período do desvio foi de
aproximadamente 3 m/s chegando ao valor máximo de 11,7 m/s, que corresponde
a uma vazão defluente de 1.700 m³/s. Durante cerca de um mês as velocidades do
escoamento se mantiveram acima de 8 m/s. Após 960 dias de uso e velocidade
máxima do escoamento atingindo 11,7 m/s, o tratamento aplicado nos túneis de
desvio da UHE Mauá apresentou-se em excelente estado, com boa aderência ao
siltito, não sendo verificados desplacamentos, vazios ou regiões com infiltrações
significativas (Andriolo et al., 2013).

Capítulo 8 - Desvio de Rios 132


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8.7 Consideração sobre o projeto de adufas


• Altura maior do que a largura (5m x 10m) máximo;
• Fase de estudo das alternativas;

𝑣2 (8.16)
𝑁. 𝐴. 𝑀 = 𝑁. 𝐴. 𝐽 + 𝐾𝐿
2𝑔

Para as adufas 𝐾𝐿 = 1,6 e corresponde às perdas na saída e na entrada.

• Fase de otimização;
o Vazões baixas: escoamento livre, regime subcrítico;
o Vazão máxima: verificar as condições de escoamento na saída.

a) Saída desafogada: utilizar a equação (8.2) com 𝐾𝐿 = 1,5 e velocidade máxima


igual a 15 m/s.
b) Saída afogada: utilizar a equação (8.3).

• Galerias transformadas em descarregadores de fundo:


o Comportas tipo segmento: deve-se evitar comportas verticais devido
à dificuldade de operação, controle da vazão e problemas de
cavitação
o A vazão, considerado abertura total, é calculada utilizando a equação
do orifício:

𝑄 = 𝐶𝐴√2𝑔𝐻 (8.17)

Onde o coeficiente de descarga é igual a 𝐶 = 0,61, 𝐴 é a área da adufa e 𝐻 é a


carga hidráulica até o centro do orifício.

• Equações úteis para determinação de curvas de descarga (canais):

𝐸𝑚𝑖𝑛 = 1,5ℎ𝑐 (8.18)

(8.19)
3𝑞
ℎ𝑐 = √
𝑔

Onde 𝑞 é a vazão específica.

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Figura 8.17 – Possíveis situações de escoamento em um túnel de desvio

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8.8 Fechamento de Rios


A velocidade crítica de arrastamento de blocos pode ser estimada por:
(8.20)
𝛾𝑠 − 𝛾𝑤
𝑉𝑐𝑟𝑖𝑡 = 𝐶𝑒𝑥𝑝 √[2𝑔𝐷 ( )]
𝛾𝑤

Onde 𝐶𝑒𝑥𝑝 é um coeficiente experimental, igual a 0,86 para deslizamento e 1,20


para rolamento; 𝐷 é o diâmetro de uma esfera equivalente, 𝛾𝑤 é o peso específico da
água e 𝛾𝑠 é o peso específico do bloco (𝛾𝑠 = 2,65 ton/m³).

Utilizando-se o coeficiente 𝐶𝑒𝑥𝑝 = 1,20 na equação (8.20) tem-se 𝐷 = 0,42∆𝐻,


onde ∆𝐻 é igual a diferença de nível a montante e a jusante da ensecadeira ou cordão.
Comumente é utilizada a seguinte expressão para dimensionamento dos blocos:

𝑉2 (8.21)
𝐷𝑐𝑟𝑖𝑡 ≅ 0,30∆𝐻 ≅
40

8.9 Estudo de Caso: Desvio do Rio da UHE São José


Inicialmente o desvio do Rio Ijuí foi proposto em duas fases, sendo a primeira
caracterizada pela construção em seco das obras da margem direita constituídas pelo
vertedouro: estrutura da tomada de água/ casa de força, muros ala e barragem da
ombreira direita. Nesta fase o rio seguiria o seu leito natural, estrangulado por uma
ensecadeira longitudinal disposta junto à margem direita, conforme ilustrado na
Figura 8.18
A segunda fase caracterizava-se pelo fechamento do leito do rio, através da
construção das ensecadeiras de montante e jusante, desviando todo o escoamento
pelos seis vãos da estrutura do vertedouro. Esse desvio permitiria a construção, a seco,
da barragem na margem esquerda, conforme a Figura 8.19.

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Figura 8.18 – Primeira etapa de desvio do Rio Ijuí (Palu, Baptista, et al., 2010)

Figura 8.19 – Segunda etapa de desvio proposta para o Rio Ijuí (Palu, Baptista, et al.,
2010)

Capítulo 8 - Desvio de Rios 136


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Figura 8.20 – Execução do vertedouro na área ensecada (06/10/2009)

A segunda fase do fechamento estava prevista para uma vazão de fechamento


de 500 m³/s, correspondendo a duas vezes a vazão média de longo termo e
representando uma vazão com 10% do tempo de permanência. O procedimento seria
um fechamento com duas frentes (cordão da ensecadeira de montante e da ensecadeira
de jusante) atingindo teoricamente um desnível de aproximadamente 3 m, o que
resultaria em uma velocidade de aproximadamente 7,5 m/s. Para a velocidade calculada
estimou-se o arraste de blocos de até 1,5 m.
Para definição do procedimento de fechamento alternado dos cordões das
ensecadeiras foram efetuados testes em modelo reduzido, de onde se constatou
dificuldades para o fechamento das ensecadeiras de segunda etapa e necessidade de
grande volume de material (devido ao arraste pelo fluxo) de diâmetros médios de
1,70 m.
Atendendo a solicitação do empreendedor, efetuou-se o desvio por um canal na
margem esquerda do Rio Ijuí buscando-se atender os seguintes objetivos: dilatar os
prazos para a execução da Barragem de CCR, por permitir antecipar o seu início, e
adicionar mais tempo para as montagens eletromecânicas do vertedouro, fazendo com
que estas estruturas saíssem do caminho crítico da obra. Também seria possível prover
parte da rocha necessária para a britagem de agregados para concreto, reduzindo em
quase 50% o volume de escavação da pedreira já previsto no planejamento da obra.
O canal foi escavado em rocha na margem esquerda do Rio Ijuí, no local do eixo
da UHE São José, possuindo 40 m de largura e cota de fundo na EL. 129,90 m. A
capacidade de descarga é de 1.800 m³/s, correspondente à vazão de 10 anos no
período seco, (vazão de projeto para o desvio de 2º etapa).

Capítulo 8 - Desvio de Rios 137


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Esse canal possui cerca de 330 m de comprimento e profundidade máxima de


escavação de aproximadamente 10 m. O volume de escavação comum previsto foi de
48.000 m³ e em rocha de 165.600 m³. Ensaios foram realizados no modelo reduzido
para o teste do fechamento das ensecadeiras de segunda etapa e das ensecadeiras de
fechamento do canal, para observação da dimensão dos blocos necessária para o
fechamento da ensecadeira de segunda etapa e procedimento de fechamento alternado
para as ensecadeiras do canal de desvio.
O modelo demonstrou a necessidade de blocos de diâmetro médio de 1,70 m, e
ainda com grande volume arrastado. O diâmetro desses blocos e o volume necessário
tornaram o processo de fechamento inviável, sendo necessária a adoção de outras
soluções para o fechamento do canal.

Figura 8.21 – Canal de desvio para construção da UHE São José (Palu, Baptista, et
al., 2010)

Capítulo 8 - Desvio de Rios 138


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Figura 8.22 – Lançamento dos cordões da ensecadeira de 2ª etapa

Figura 8.23 – Canal de desvio executado na obra (06/10/2009)

Capítulo 8 - Desvio de Rios 139


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Figura 8.24 – Ensaio em modelo reduzido (CEHPAR), fechamento da ensecadeira de


montante do canal de desvio – blocos diâmetro 1,70 m (Palu, Baptista, et al., 2010)

Após diversas tentativas partiu-se para a utilização de obstáculos fixados no


fundo do canal, junto à saia de jusante da ensecadeira de montante. Estes obstáculos
constituem-se basicamente de pilaretes de diâmetro 0,60 m, com uma altura de 2 m e
espaçados de metro em metro ao longo de 25 m da margem direita do canal de desvio
+

Figura 8.25 – Projeto de implantação de obstáculo no canal de desvio (Palu, Baptista,


et al., 2010)

Capítulo 8 - Desvio de Rios 140


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Figura 8.26 –Implantação de obstáculo no canal de desvio no modelo físico (Palu,


Baptista, et al., 2010)

Figura 8.27 – Fechamento da ensacadeira de montante do canal desvio com


obstáculos – blocos de diâmetro 1,20 m (Palu, Baptista, et al., 2010)

Capítulo 8 - Desvio de Rios 141


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Segundo os estudos em modelo reduzido, com a utilização dos obstáculos o


diâmetro necessário para o fechamento foi reduzido para 1,2 m, podendo ainda ser
utilizados blocos de diâmetro médio de 0,8 m, contudo apresentando maior volume de
material carreado. De fato os pilares criaram um barreira que impediu o arraste dos
blocos no fundo do canal facilitando o fechamento.
Ao final dos ensaios constatou-se a possibilidade da diminuição dos blocos de
1,70 m para 0,80 m, tornando viável o fechamento. As características geológicas locais
não eram propícias para extração de blocos com diâmetros grandes, desta maneira com
a implantação dos obstáculos foi possível a execução do fechamento do desvio com
materiais disponíveis nas imediações da obra.
As figuras a seguir apresentam algumas etapas de execução do desvio do rio
até a conclusão com sucesso em agosto de 2010.

Figura 8.28 –Implantação de obstáculo no canal de desvio na obra (Palu, Baptista, et


al., 2010)

Capítulo 8 - Desvio de Rios 142


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Figura 8.29 – Desvio pelo canal e início da construção da barragem

Figura 8.30 – Desvio pelo canal e avanços na construção da barragem

Capítulo 8 - Desvio de Rios 143


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Figura 8.31 – Conclusão da barragem

Figura 8.32 – Fechamento do canal com lançamento do material em ponta de aterro

Capítulo 8 - Desvio de Rios 144


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Figura 8.33 – Fechamento do canal com lançamento do material em ponta de aterro


(observar o tamanho dos blocos)

Figura 8.34 – Conclusão do fechamento do canal

Capítulo 8 - Desvio de Rios 145


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Figura 8.35 – Após o fechamento do canal o fluxo foi desviado pelo vertedouro

Figura 8.36 – UHE São José concluída em fevereiro de 2011

Capítulo 8 - Desvio de Rios 146


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9 CIRCUITO DE GERAÇÃO
9.1 Canal de Adução
O dimensionamento do canal de adução será feito com base em um estudo
econômico objetivando a minimização da soma do custo da estrutura e do valor presente
da energia perdida. Em princípio, o canal será dimensionado para o engolimento
máximo das máquinas, considerando o reservatório em seu nível mínimo operacional.
A velocidade máxima será da ordem de 2,5 m/s para canais escavados em rocha ou
revestidos em concreto, e de 1,0 m/s para canais escavados em solo (Eletrobrás, 2003).
A perda de carga nos canais de adução será calculada através do método das
diferenças finitas "Standard Step Method", utilizando-se a equação de Manning-
Strickler:
1 2/3 1/2 (9.1)
𝑣= 𝑅 𝑆
𝑛 ℎ 𝑜

Onde 𝑣 é a velocidade média da seção em m/s; 𝑅ℎ é o raio hidráulico (razão


entre a área do escoamento e o perímetro molhado) em m, 𝑆𝑜 é a declividade do canal
em m/m, 𝑛 é o coeficiente de rugosidade. Os valores de coeficientes de rugosidade
podem ser encontrados na Tabela 8.1.

9.2 Tomada de Água


9.2.1 Localização
A estrutura de tomada d’água deve ser localizada, sempre que possível, junto à
margem do reservatório, ao longo de trechos retos. Nos trechos em curva, a tomada
d’água deve ser posicionada do lado côncavo, pois os sedimentos transportados pelo
escoamento, na maior parte, se depositam na parte convexa. Além disso, como na parte
côncava as profundidades, geralmente, são maiores, os sedimentos (Eletrobrás, 2000).
A figura a seguir mostra, esquematicamente, os locais recomendáveis para implantação
da estrutura de captação.

Figura 9.1 – Localização da tomada de água: A – locais recomendáveis; B – locais


inconvenientes, pode ocorrer deposição de material carregado pelo fluxo; C – locais
inconvenientes pois durante a época de cheias pode ocorrer impacto de materiais danificando
a estrutura; D – áreas sujeitas à deposição de material (Eletrobrás, 2000)

Capítulo 9 - Circuito de Geração 147


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9.2.2 Geometria
No projeto da tomada d’água propriamente dita, devem ser observados os
seguintes aspectos: a definição do eixo da estrutura depende dos mesmos aspectos
que condicionam a definição do arranjo geral. Se possível, o eixo deve fazer um ângulo
de 50o a 70o com o eixo da barragem; - a cota da laje de fundo do canal de aproximação
deve estar 1,0 m abaixo da cota da soleira;
A tomada de água será projetada de forma a estabelecer uma aceleração
progressiva e gradual do escoamento do reservatório à adução, evitando-se os
fenômenos de separação do escoamento e minimizando-se as perdas de carga. Para
tomadas com carga menor que 30 m.c.a., a velocidade adotada na seção bruta das
grades será de 1,0 a 1,5 m/s. Para tomadas com carga maior que 30 m.c.a., a velocidade
adotada será de 1,5 a 2,5 m/s. Na seção das comportas, a velocidade máxima não
deverá ultrapassar a 6 m/s (Eletrobrás, 2003).

Figura 9.2 – Exemplo de perfil de tomada de água (Eletrobrás, 2000)

9.2.3 Submergência Mínima


No projeto da tomada de água a formação de vórtices com arrastamento de ar
deverá ser evitada, fixando-se a elevação do portal de entrada em função da
submergência mínima e reduzindo-se a circulação do escoamento na área da tomada.
O valor referente à submergência pode ser avaliado pela fórmula de Gordon:

𝑆𝑢 = 𝐾𝑡 𝑣√𝐷 (9.2)

Onde: 𝑆𝑢 = submergência da tomada, em m; 𝐷 = mínima dimensão vertical na


seção longitudinal da tomada, em m; 𝑣 = velocidade média nesta seção, em m/s; 𝐾𝑡 =
coeficiente variável, igual a 0,545 para condições simétricas de aproximação, e 0,725
para condições assimétricas de aproximação.

Capítulo 9 - Circuito de Geração 148


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A elevação máxima da geratriz superior do conduto, na seção onde foi tomada


a dimensão 𝐷, será definida pela cota do nível de água mínimo normal do reservatório
subtraído do valor de𝑆𝑢 s.
Além desta condição, a aresta superior do portal de entrada da tomada de água
deverá se situar pelo menos 2,0 m abaixo do nível de água mínimo normal do
reservatório (para PCHs a recomendação é de 1 m).
A formação de vórtices desfavoráveis é muito influenciada pela circulação do
escoamento no canal de aproximação. Portanto, o critério de submergência deverá ser
considerado apenas como uma estimativa preliminar para o projeto da tomada de água,
que será posteriormente verificado em modelo reduzido.

Figura 9.3 – Exemplo de tomada de água com desarenador (Eletrobrás, 2000)

As figuras a seguir ilustram exemplos de projetos de tomadas de água e circuito


de geração de usinas brasileiras:

Capítulo 9 - Circuito de Geração 149


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Figura 9.4 – Exemplo de tomada de água da UHE Funil (CBDB, 1982)

Figura 9.5 – Exemplo de tomada de água da UHE Salto Santiago (CBDB, 1982)

Capítulo 9 - Circuito de Geração 150


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Figura 9.6 – Exemplo de tomada de água da UHE Água Vermelha (CBDB, 1982)

Figura 9.7 – Exemplo de tomada de água da UHE Curuá- Una (CBDB, 1982)

Capítulo 9 - Circuito de Geração 151


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Figura 9.8 – Exemplo de tomada de água da UHE Canoas I (Pereira, 2015)

9.2.4 Perda de Carga


A perda de carga na tomada de água inclui a perda de carga nas grades,
contínua ao longo da entrada até a seção da comporta e nas ranhuras da comporta,
conforme a seguinte expressão (Eletrobrás, 2003)
𝑣2 (9.3)
ℎ𝑡 = (𝐾𝑒 + 𝐾𝑔 + 𝐾𝑟 )
2𝑔

Onde: ℎ𝑡 = perda de carga na tomada de água, em m; 𝐾𝑒 = coeficiente de perda


de carga na entrada (Figura 9.9), entre o portal de entrada e a seção das comportas e
𝐾𝑔 = coeficiente de perda de carga nas ranhuras das comportas.

Capítulo 9 - Circuito de Geração 152


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Figura 9.9 – Coeficientes de perda na entrada da tomada de água (USACE, 1987)

Para o cálculo do coeficiente de perda de carga nas grades, Kg, deverá ser
levada em consideração a seção real de obstrução incluindo os perfis estruturais e de
contraventamento, obtendo-se o coeficiente de perda de carga através de fórmulas
como a de Levin e Berezinski.

𝑎𝑙 𝑎𝑙 2 (9.4)
𝐾𝑔 = 1,45 − 0,45 −( )
𝑎𝑏 𝑎𝑏

Onde: 𝑎𝑙 é a área líquida através das grades e 𝑎𝑏 é a área bruta das grades e guias.

Capítulo 9 - Circuito de Geração 153


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9.3 Túneis ou Canais de Adução


O dimensionamento do conduto adutor será feito com base em estudo econômico
objetivando a minimização da soma do custo da estrutura e do valor presente da energia
perdida.
Em princípio, o túnel adutor será dimensionado para o engolimento máximo das
máquinas. A velocidade máxima do escoamento será da ordem de 2,5 m/s para túneis
não revestidos, de 3,0 m/s para túneis revestidos com concreto projetado e de 4,5 m/s
para túneis revestidos com concreto estrutural (Eletrobrás, 2003). O cálculo da perda de
carga pode ser efetuado utilizando a equação (9.5).

9.4 Conduto Forçado


O dimensionamento do diâmetro do conduto forçado será feito através de um
estudo econômico objetivando minimizar a soma do custo do conduto e do valor
presente da energia perdida, limitando-se as velocidades máximas a 7 m/s em condutos
revestidos de concreto e 8 m/s em condutos de aço (Eletrobrás, 2003).
As perdas de carga contínuas, devido às forças de inércia ao longo dos condutos
forçados, serão calculadas através da fórmula de Darcy-Weissbach:
𝐿 𝑣2 (9.5)
ℎ𝑝 = 𝑓
𝐷 2𝑔

Onde 𝐿 é o comprimento do conduto em m, 𝐷 é o diâmetro do conduto e 𝑣 é a


velocidade média no condutol 𝑓 é o coeficiente universal de perda de carga, calculado
pela expressão de Colebrook-White:
1 2𝜀 2,51 (9.6)
= −2𝑙𝑜𝑔 ( + )
√𝑓 𝐷 𝑅𝑒 √𝑓

Onde
𝑣𝐷 (9.7)
𝑅𝑒 =
𝛾
𝛾 = viscosidade cinemática da água (1,01.10-6 m²/s para temperatura 20ºC) e
𝜀 = rugosidade absoluta das paredes do conduto (m), conforme a Tabela 9.1.
Tabela 9.1 – Valores de rugosidade absoluta equivalente (Porto, 2006)

Material 𝜀 (mm) – Rugosidade absoluta equivalente


Aço laminado novo 0,04 a 0,10
Aço soldado novo 0,05 a 0,10
Aço soldado moderadamente oxidado 0,4
Concreto novo 0,16
Concreto armado liso vários anos de uso 0,20 a 0,30

Os valores do coeficiente 𝑓 para concerto pode ser obtido na Figura 9.10 obtido
em observações em túneis de usinas norte americanas.

Capítulo 9 - Circuito de Geração 154


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Figura 9.10 – Coeficientes de perda de carga f para o concreto a partir de observação


em túneis de usinas americas (USACE, 1987)

9.5 Canal de Fuga


O dimensionamento do canal de fuga será feito com base em estudo econômico,
comparando-se as perdas na geração com os custos de escavação. Em geral, admite-
se uma velocidade máxima em torno de 2 m/s. A influência das oscilações do nível de
água decorrentes do escoamento do vertedouro deverá ser observada em modelo
reduzido.

Capítulo 9 - Circuito de Geração 155


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10 RESERVATÓRIOS
10.1 Dimensionamento
A equação da continuidade aplicada a um reservatório representa a variação do
volume em relação ao tempo como uma diferença entre as vazões de entrada e saída
no reservatório.
𝑑𝑆
=𝐼−𝑄 (10.1)
𝑑𝑡

Onde S é o volume (m3), 𝑡 é o tempo (s), 𝐼 é a vazão afluente 𝑄 a vazão de saída


do reservatório, ambas em m3/s. As vazões de entrada incluem todos os fluxos que
contribuem para o reservatório como fluxos superficiais, subterrâneos, precipitação, etc.
Os fluxos de saída são as vazões retiradas para atender demandas como
abastecimento, irrigação, demandas ambientais, geração de energia nas turbinas,
vertimentos e demais perdas como evaporação.
Para um intervalo de tempo longo (um mês por exemplo) a equação da
continuidade pode ser escrita de maneira simplificada da seguinte maneira:
𝑆𝑡+∆𝑡 = 𝑆𝑡 + 𝑉𝐸 − 𝑉𝑆 (10.2)

Onde 𝑆𝑡+∆𝑡 é o volume armazenado no final do intervalo de tempo, 𝑆𝑡 é vazão


armazenada no início do intervalo de tempo, 𝑉𝐸 é a volume de entrada (produto 𝐼. ∆𝑡) e
𝑉𝑆 é o volume de saída (produto𝑄. ∆𝑡).
A equação acima pode ser utilizada para dimensionamento e análise de um
reservatório através da metodologia de simulação. O método de análise de capacidade
de regularização e o dimensionamento do reservatório pode ser realizada com base na
equação de balanço hídrico e na estimativa das vazões de entrada e saída do
reservatório. Tradicionalmente a análise de capacidade de regularização e
dimensionamento de um reservatório era realizada através de um método gráfico
denominado Diagrama de Rippl, contudo atualmente é mais fácil e intuitivo utilizar
planilhas eletrônicas para realizar simulações, resolvendo a equação do balanço hídrico
para cada intervalo de tempo.
As vazões de entrada podem ser estimadas utilizado séries históricas de postos
pluviométricos da região. As vazões de saída são as demandas a serem atendidas, bem
como a estimativa de perdas por evaporação.
Se o objetivo da análise for a estimativa da máxima vazão que pode ser
regularizada, então as dimensões são determinadas inicialmente. As demandas são
alteradas até que se atinja um valor máximo de demanda que possa ser suprido sem
falhas no atendimento, ou com um percentual de falhas considerado aceitável.
Ao final de cada intervalo de tempo, é necessário verificar se o volume
armazenado não rompe uma das restrições definidas a seguir:
𝑆𝑡+∆𝑡 ≤ 𝑉𝑚𝑎𝑥
𝑆𝑡+∆𝑡 ≥ 𝑉𝑜

Capítulo 10 - Reservatórios 156


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Onde 𝑉𝑚𝑎𝑥 é o volume máximo e 𝑉𝑜 é o volume morto.


Quando a primeira restrição é rompida deve-se considerar 𝑆𝑡+∆𝑡 = 𝑉𝑚𝑎𝑥 uma vez
que o volume máximo foi atingido e é necessário verter o volume excedente. Quando a
segunda restrição é rompida registra-se falha no atendimento,
considerando-se 𝑆𝑡+∆𝑡 = 𝑉𝑜 .
Conforme o propósito do estudo são feitos ajustes na demanda ou no
dimensionamento do reservatório. Para um dado tamanho do reservatório faz-se a
análise da máxima demanda que pode ser atendida sem falhas, ou com um percentual
de falhas aceitável (a probabilidade de falha é calculada dividindo-se o número de
meses com falha pelo número total de meses), verificando-se qual a máxima vazão
regularizada que pode ser atendida através da simulação da vazão do balanço hídrico
e das restrições apresentadas.
Para a situação de dimensionamento do reservatório deve-se efetuar a
simulação fixando-se a demanda, bem como as perdas por evaporação e verificar por
tentativa qual volume do reservatório é necessário para atender a demanda sem falhas,
ou com um número de falhas aceitável. Ao final das simulações obtém-se um gráfico da
relação entre o volume do reservatório e a máxima vazão regularizada:

Figura 10.1 – Exemplo de relação entre vazão regularizada e volume útil do


reservatório (Collischonn & Dornelles, 2015)

10.2 Trânsito de Cheias


O objetivo da análise de propagação de cheias em reservatórios é determinar o
comportamento de um hidrograma de cheia ao longo de sua passagem por um
reservatório. Essa análise é realizada para estimar o hidrograma de saída, conhecido o
hidrograma de entrada no reservatório, bem como as dimensões do reservatório e as
estruturas de descarga.

Capítulo 10 - Reservatórios 157


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O método de análise de propagação de cheias em reservatórios mais utilizado é


o método de Puls ou Puls modificado. Esse método é baseado na equação da
continuidade
𝑑𝑆
=𝐼−𝑄 (10.3)
𝑑𝑡

Aplicando-se o método das diferenças finitas tem-se:


𝑆𝑡+∆𝑡 − 𝑆𝑡 𝐼𝑡 + 𝐼𝑡+∆𝑡 𝑄𝑡 + 𝑄𝑡+∆𝑡
= − (10.4)
∆𝑡 2 2

Onde 𝑆 é o volume armazenado, 𝐼 é a vazão de entrada e 𝑄 é a vazão de saída.


Os índices 𝑡 e 𝑡 + ∆𝑡 indicam os valores no início e final do intervalo de tempo.
Nessa equação são conhecidas as vazões de entrada no início e fim do intervalo
de tempo, a vazão de saída e o volume armazenado no início do intervalo de tempo.
Não são conhecidos os termos 𝑆𝑡+∆𝑡 e 𝑄𝑡+∆𝑡 e ambos dependem do nível de água.
De acordo com o método de Puls (ou Puls Modificado) o hidrograma de saída
pode ser calculado de acordo com equação da continuidade rearranjada conforme
abaixo, onde os termos conhecidos aparecem do lado direito e os desconhecidos do
lado esquerdo:
2𝑆𝑡+∆𝑡 2𝑆𝑡
+ 𝑄𝑡+∆𝑡 = 𝐼𝑡 + 𝐼𝑡+∆𝑡 + − 𝑄𝑡 (10.5)
∆𝑡 ∆𝑡

Em suma para aplicação do método são necessários os seguintes passos:


1) Definir o intervalo de tempo ∆𝑡 e obter os valores da vazão de entrada (𝐼𝑡 + 𝐼𝑡+∆𝑡 ).
Para o instante inicial considerar o nível do reservatório conhecido, bem como o
armazenamento 𝑆𝑡 e vazão de saída 𝑄𝑡 ;
2) Criar uma tabela relacionando o nível de água no reservatório e o volume
armazenado 𝑆 bem como relacionando o nível de água com a vazão vertida
(vazão de saída) 𝑄 pelas estruturas de descarga;
3) Criar uma coluna na tabela do passo anterior somando os volumes armazenados
2𝑆
com a vazão descarregada no seguinte formato + 𝑄.
∆𝑡

4) Com base no hidrograma inicial (𝐼𝑡 + 𝐼𝑡+∆𝑡 ) aplicar a equação do método para
2𝑆
obter a soma + 𝑄;
∆𝑡
2𝑆
5) Com base no valor da soma + 𝑄 obter os valores de 𝑄 e 𝑆 através de
∆𝑡

interpolação na tabela criada nos itens 2) e 3). Esses valores correspondem a


𝑄𝑡+∆𝑡 e 𝑆𝑡+∆𝑡 .
6) Repetir os passos 4) e 5) em todos os intervalos de tempo.

Capítulo 10 - Reservatórios 158


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A Figura 10.2 ilustra um exemplo de resultado de trânsito de cheias em


reservatórios.

Figura 10.2 – Exemplo de resultado do cálculo do trânsito de cheias em reservatórios

Capítulo 10 - Reservatórios 159


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11 MÁQUINAS HIDRÁULICAS - TURBINAS


11.1 Condições e Dados de Projetos de Turbinas
A velocidade rotacional n (rpm) do conjunto turbina-gerador tem que ser a
velocidade síncrona correspondente à frequencia (f) de corrente alternada do sistema
(no Brasil 60 Hz):
𝑛 = 60𝑓/𝑍 (11.1)

Em que 𝑍 é o número de pares de polos do gerador (a maioria dos geradores tem entre
12 a 96 polos). A Figura 11.1 apresenta a montagem do gerador da UHE Itaipu, onde
é possível visualizar os polos (placas alaranjadas).

Figura 11.1 – Montagem do gerador da UHE Itaipu

Existem dois tipos de turbina baseados em dois princípios diferentes de


conversão de energia, as turbinas de ação e as turbinas de reação. De acordo com a
norma NBR 6445 (2016) turbinas de ação são aquelas em que a energia mecânica é
obtida pela transformação da energia cinética do fluxo de água por meio do rotor,
enquanto as turbinas de reação a energia mecânica é obtida pela transformação das
energias cinéticas e de pressão do fluxo de água através do rotor.

Capítulo 11 - Turbinas 160


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Uma turbina hidráulica é feita geralmente sob medida, para se ajustar a uma queda
líquida e a uma vazão de projeto. Os dados nominais de uma turbina usualmente são:
𝐻𝐿 – Queda líquida (m); 𝑛 – rotação da turbina (rpm); 𝑃 – potência de saída no eixo da
turbina (kW) para a queda 𝐻𝐿 . O projeto hidráulico da turbina é baseado no ponto de
melhor eficiência carga-vazão, visando otimizar seu desempenho hidráulico para um
intervalo amplo de vazão e queda. Esse ponto, dependendo do tipo de turbina por estar
no intervalo entre 60% a 95% da vazão total (Pereira, 2015).
As figuras a seguir ilustram diagramas de vazão x queda líquida para escolha do
tipo de turbina.

Figura 11.2 – Diagrama vazão x queda líquida para seleção de turbina – Vinogg e
Elstad (Pereira, 2015)

Capítulo 11 - Turbinas 161


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Figura 11.3 – Diagrama vazão x queda líquida para seleção de turbina – Miranda
(Pereira, 2015)

Figura 11.4 – Diagrama vazão x queda líquida para seleção de turbina – Miranda
(Pereira, 2015)

Capítulo 11 - Turbinas 162


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Setor de Tecnologia
Curso: Engenharia Civil
Disciplina: TH-031 – Projeto de Obras Hidráulicas
Professor: Marcos Palú

O projeto estrutural do circuito hidráulico que envolve a turina é feito para a


pressão hidrostática máxima, mais o transiente máximo de pressão devido ao golpe de
aríete no conduto forçado, visando-se a segurança da obra (Pereira, 2015).
Na escolha da turbina, além dos diagramas de vazão x queda líquida
apresentados, utiliza-se o fator 𝐾, um fator adimensional prático comparativo que define
a evolução técnica na fabricação de turbinas.

𝐾 = 𝑛𝑠 (𝐻)0,5 (11.2)

𝑛𝑠 = 𝑛𝑃0,6 /𝐻1,25 (11.3)

Em que 𝑛 é a rotação da turbina (rpm); 𝑃 é a potência de saída no eixo da turbina (kW);


𝐻 é a queda e 𝑛𝑠 é a velocidade específica. O fator 𝐾 pode ser adotado com base na
experiência dos fabricantes no fornecimento de turbinas semelhantes (Pereira, 2015):

• Fator 𝐾 recomendado para turbina Francis 2.100 < 𝐾 < 2.300;


• Fator 𝐾 recomendado para turbina Kaplan 2.400 < 𝐾 < 2.800;

A seguir apresentam-se alguns cálculos estimativos para a determinação de parâmetros


das turbinas:
Cálculo da velocidade específica preliminar
(11.4)
Turbinas Francis 𝑛𝑠 ′ = 2.200/𝐻0,5
(11.5)
Turbinas Kaplan 𝑛𝑠 ′ = 2.6001,25 /𝐻0,5

Determinação da rotação nominal

𝑛′ = 𝑛𝑠 . 𝐻1,25 /𝑃0,5 (11.6)

𝑛ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑝𝑜𝑙𝑜𝑠 = 7.200/𝑛′ (11.7)

𝑛 = 7.200/𝑛ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑝𝑜𝑙𝑜𝑠 (11.8)

Velocidade específica corrigida

𝑛𝑠 = 𝑛. 𝑃0,5 /𝐻1,25 (11.9)

Valor de K corrigido

𝐾 = 𝑛𝑠 /𝐻0,5 (11.10)

Determinação do diâmetro do rotor


Utiliza-se no projeto básico um cálculo de diâmetro preliminar, conforme fórmula a
seguir, o diâmetro final dever ser calculado pelo fabricante da turbina:

Capítulo 11 - Turbinas 163


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(11.11)
Turbinas Francis 𝐷 = 84,5𝐾𝑢. 𝐻0,5 /𝑛
(11.12)
Turbinas Kaplan 𝐷 = 84,5𝐾𝑢. 𝐻0,5 /𝑛

Em que 𝐷 é o diâmetro em metros e 𝐾𝑢 é o coeficiente de velocidade = velocidade


periférica (m/s)/ velocidade do vetor água (m/s), cujos valores podem ser obtidos na
Figura 11.5

Figura 11.5 – Coeficientes de velocidade x velocidade específica (Pereira, 2015)

11.2 Turbina Pelton


A turbina Pelton é o tipo dominante de turbina para quedas superiores a 300 m
e para quedas menores quando as vazões são baixas, da ordem de 2m³/s. O jato atinge
o rotor tangencialmente ao círculo do passo da concha. Cada concha tem uma aresta
curva cortante, que é normalmente a primeira parte da concha que entra no jato, sua
forma é muito importante para evitar cavitação. A Figura 11.6 apresenta as partes de
uma turbina Pelton.
Para prevenir o aumento inaceitável da rotação do rotor em grandes rejeições
de carga, um defletor de jato é instalado na saída do bocal, nesses casos o defletor se
move rapidamente na direção do jato e o desvia do rotor. A agulha se move lentamente
para a posição na qual a vazão se ajusta à nova carga reduzida, enquanto o defletor
desvia do jato.

Capítulo 11 - Turbinas 164


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Figura 11.6 – Turbina Pelton (Pereira, 2015)

A turbina Pelton tem uma boa eficiência para um amplo intervalo de vazão, a
eficiência do pico está entre 91% a 92% para um bom projeto hidráulico.

11.3 Turbina Francis


A turbina Francis domina o intervalo entre 60 m e 300 m de queda, mas pode ser
utilizada para quedas maiores. Por razões hidráulicas, mecânicas, práticas e
econômicas considera-se 750 m como um limite superior. Na faixa superior, entre 300
m e 750 m há uma superposição entre as turbinas Pelton e Francis. Já na faixa inferior
há uma superposição entre as turbinas Francis e Kaplan (Pereira, 2015).
O princípio básico de funcionamento é que a água da caixa espiral é guiada na direção
das pás do rotor pelas pás fixas do pré-distribiudor e pelas palhetas diretrizes do
distribuidor, que também controlam a vazão. Um vórtice grande, criado pela caixa espiral
e cascata das pás fixas e palhetas diretrizes, entra no rotor. A velocidade e a energia de
pressão no vórtice são absorvidas pelo rotor da turbina, criando o torque e a velocidade
na câmara da turbina (Pereira, 2015).

Capítulo 11 - Turbinas 165


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Figura 11.7 – Turbina Francis (Pereira, 2015)

O pico de eficiência de uma turbina Francis está no intervalo entre 93% e 96%,
dependendo do número de velocidade e do seu tamanho.

Capítulo 11 - Turbinas 166


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11.4 Turbinas Kaplan


A turbina Kaplan foi desenvolvida para utilizar quedas baixas e comparativamente altas
vazões. Por razões técnicas a máxima queda considerada é da ordem de 70 m. Existe
uma superposição entre turbinas Francis e Kaplan no intervalo entre 50m e 70 m, entre
Kaplan e bulbo no intervalo de 15 m a 20 m.

Figura 11.8 – Turbina Kaplan (Pereira, 2015)

Capítulo 11 - Turbinas 167


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A turbina Kaplan, para quedas baixas, tem uma caixa espiral de concreto e para
quedas altas, uma caixa espiral revestida de aço. Existem pás fixas do pré-distribuidor
e palhetas diretrizes do distribuidor, assim como para a turbina Francis. O rotor é uma
hélice de fluxo axial. Nas turbinas Kaplna, a pá do rotor é ajustável e ela se adapta
automaticamente, sob o controle do regulador de velocidade da turbina, a um ângulo
ótimo da pá do rotor para qualquer vazão.
O pico de eficiência está no intervalo entre 93% e 95%, dependendo do tamanho
e do projeto. O ângulo ajustável da palheta do rotor fornece uma boa eficiência sobre
um intervalo de vazões maior do que o de uma turbina Francis.

11.5 Turbinas Bulbo


A turbina bulbo utiliza quedas mais baixas, menores que 20m, entre 3,5 m e 15 m. A
potência pode ser superior a 40 MW, as máquinas das UHEs Jirau e Santo Antônio, no
rio Madeira, por exemplo tem quedas de 15,2 m e potências unitárias de 75 MW e 71,6
MW (vazões de 549 m³/s e 543 m³/s).

Figura 11.9 – Turbina bulbo (Pereira, 2015)

Capítulo 11 - Turbinas 168


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A turbina bulbo pode ser considerada uma turbina Kaplan com eixo horizontal, a
diferença é que o gerador fica encapsulado.
Nesse tipo de turbina a água escoa axialmente com mudanças mínimas na direção do
fluxo ao longo do bulbo, na direção das pás fixas radiais do pré-distribuidor, das palhetas
diretrizes cônicas do distribuidor e das pás do rotor. A regulação da carga é feita pelas
palhetas diretrizes do distribuidor, como na turbina Kaplan.
A eficiência da turbina bulbo é teoricamente um pouco melhor que a da turbina Kaplan,
em razão das melhores condições do fluxo axial e tubo de sucção sem cotovelo.

Capítulo 11 - Turbinas 169


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12 MODELAGEM FÍSICA
O texto a seguir foi retirado do Critério de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas da
Eletrobrás (Eletrobrás, 2003).

12.1 Dados Básicos


12.1.1 Topobatimetria
Planta topográfica em escala de denominador não superior a 2.000, com curvas
de nível de metro em metro. Nos trechos em que as superfícies batimétricas influenciam,
com predominância, nas características do escoamento, deverão ser adotados
levantamentos mais detalhados, através de seções transversais ou de pontos cotados
que cubram as regiões de interesse.

12.1.2 Hidrologia
Postos fluviométricos, com curvas-chave extrapoladas, na área de interesse do
modelo, abrangendo desde vazões mínimas observadas na natureza até a vazão
máxima de projeto.

12.1.3 Projeto Hidráulico da Estruturas


a) Arranjo Geral e Projeto Hidráulico das Estruturas a serem estudados, com
detalhamento geométrico compatível com as respectivas necessidades de
reprodução em modelo reduzido.
b) Dados característicos do projeto, vazão de projeto do vertedouro, vazões de
projeto das diversas etapas construtivas das obras, vazões turbinadas máximas
e mínimas, Nível Mínimo Normal, Nível Máximo Normal e Nível de Máxima
Enchente no Reservatório, níveis máximo e mínimo no canal de fuga.
c) Projeto das etapas construtivas das obras principais e de desvio do rio.
d) Programa dos estudos a serem desenvolvidos.
e) Regras operativas quando os estudos forem realizados para empreendimentos
em fase de ampliação, repotenciação e/ou recuperação.

12.2 Critérios de Semelhança Dinâmica e Escalas


Dois escoamentos serão semelhantes se suas características geométricas e
físicas em pontos e instantes homólogos mantém entre si uma relação bem definida. A
semelhança integral exige que se tenha, simultaneamente, a semelhança geométrica
(as mesmas relações em todas as dimensões lineares), semelhança cinemática
(semelhança de movimento) e semelhança dinâmica (semelhança de forças).

Capítulo 12 - Modelagem Física 170


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Contudo, conseguir a semelhança integral é inviável. Deve-se determinar quais


forças são preponderantes para a definição do movimento. Define-se desta forma os
critérios de semelhança, isto é, as condições de semelhança que de forma simplificada
se adotam para reproduzir um determinado escoamento em escala reduzida ou
ampliada.
Dois critérios de semelhança são comuns: Froude e Reynolds.
Para o primeiro são importantes as forças devido à gravidade, e para o segundo
as forças de natureza viscosa. Para implementação destes critérios os números
adimensionais do modelo 𝑚 e do protótipo 𝑝 devem ser iguais:
𝑣𝑝 𝑣𝑚 𝑔 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡 𝑣𝑝 𝑣𝑚
𝐹𝑟𝑜𝑢𝑑𝑒: 𝐹𝑟 = = → =
√𝑔𝑙𝑝 √𝑔𝑙𝑚 √𝑙𝑝 √𝑙𝑚

𝑙𝑝 𝑣𝑝 𝑙𝑚 𝑣𝑚
𝑅𝑒𝑦𝑛𝑜𝑙𝑑𝑠: 𝐹𝑟 = =
𝜐𝑝 𝜐𝑚

Escala: Relação entre duas grandezas físicas em dois escoamentos


semelhantes entre si.
Escala geométrica.
2 3
𝑙𝑚 𝑙𝑚 𝑙𝑚
𝜆= , 𝜆𝐴 = ( ) , 𝜆∀ = ( )
𝑙𝑝 𝑙𝑝 𝑙𝑝

Escala de velocidades (ex: critério de semelhança de Froude).

𝑣𝑝 𝑣𝑚 𝑣𝑚 √𝑙𝑚
= → = = 𝜆1/2
√ 𝑙𝑝 √𝑙𝑚 𝑣𝑝 𝑙
√𝑝

Outras escalas para o critério de semelhança de Froude (vazão, tempo e


pressão) 𝜆𝑄 = 𝜆5/2 , 𝜆𝑡 = 𝜆1/2 e 𝜆𝑝 = 𝜆.

Viscosidade - Como o regime de escoamento no modelo deverá ser semelhante ao do


protótipo, torna-se necessário verificar se o número de Reynolds, no modelo, ultrapassa
os limites necessários para a minimização dos efeitos viscosos.
Tensão Superficial - A escala geométrica deverá também ser definida de modo que a
tensão superficial, para as informações a serem obtidas, não interfira nas características
do escoamento, no modelo.
Rugosidade - Dada a dificuldade de se reproduzir, em escala reduzida, a rugosidade
prevista para superfícies muito lisas como, por exemplo, as superfícies de calhas
vertedouras, o fator rugosidade deve ser considerado quando da seleção da escala
geométrica a ser adotada, para se detectar eventuais efeitos de escala.

Capítulo 12 - Modelagem Física 171


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12.3 Escolha de Tipo do Modelo a Ser Adotado


Modelos Tridimensionais - São utilizados para o estudo de escoamentos hidráulicos
que ocorrem simultaneamente em várias direções, como no caso dos estudos de
condições de acesso a vertedouros e tomadas de água, verificação da influência dos
escoamentos do vertedouro no canal de fuga, estudos de erosão, estudos de desvio do
rio, etc.
Modelos Bidimensionais - Onde são estudados os escoamentos hidráulicos cujos
componentes principais ocorrem longitudinalmente.

12.4 Limites dos Modelos


Os limites dos modelos deverão ser definidos de forma a abranger todas as
zonas e acidentes naturais responsáveis pela geração de fenômenos que influem no
trecho fluvial, objeto do estudo. Não existem regras para a fixação dos limites de um
modelo. A experiência e o bom senso de quem projeta será, portanto, fundamental.
Limite de Montante - O limite de montante deverá ser analisado para atender às
condições fluviais na fase de desvio do rio e após a implantação das obras, na fase
operação do reservatório. Na fixação da seção limite de montante, os filetes deverão
estar o mais próximo possível da normal a esta seção, podendo ser utilizados guias
correntes para o direcionamento do fluxo.
Limite de Jusante - O limite de jusante deverá conter o posto de controle do modelo e
estar suficientemente afastado da região de estudo de modo a manter inalteradas, no
referido posto, as condições fluviais existentes antes da implantação das obras.
Limites Laterais - Os limites laterais deverão envolver, se possível, a curva de nível
que representa o espelho de água. Não há necessidade de se representar zonas de
braços mortos e de águas estagnadas, ou de velocidades muito reduzidas, que não
influenciam o fluxo de água natural. O importante é manter as condições de contorno do
escoamento.
Limite Altimétrico - O limite altimétrico deverá atender às elevações máximas e
mínimas previstas no projeto considerando também, se for o caso, a profundidade
máxima prevista para a fossa de erosão, a jusante do vertedouro.

A Figura 12.1 apresenta os limites do modelo físico do Canal de Fuga da UHE


Belo Monte (Palu et al., 2013).

Capítulo 12 - Modelagem Física 172


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Figura 12.1 – – Limites do modelo físico e pontas de medição de níveis


(círculos em vermelho) (Palu et al., 2013)

12.5 Aferição do Trecho Fluvial


Consiste em garantir que o escoamento fluvial no modelo, após a reprodução das
características físicas, no trecho considerado, seja hidrodinamicamente semelhante ao
escoamento fluvial correspondente ao referido trecho do protótipo. Poderão ocorrer
basicamente duas situações de aferição, a saber:
a) Aferição de todo o estirão fluvial reproduzido no modelo, quando as obras
estiverem ainda em fase de projeto.
b) Aferição do trecho do estirão fluvial situado a jusante das obras, quando estas já
tiverem sido implantadas.

Para a aferição do estirão fluvial devem ser reproduzidos, no modelo, perfis instantâneos
de nível de água, em regime permanente, definidos através de postos fluviométricos,
nele posicionados. Estes deverão ser aferidos na faixa das vazões observadas e
verificados para os níveis excepcionais, extrapolados e previstos no projeto.

Capítulo 12 - Modelagem Física 173


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12.6 Estudos das Estruturas Hidráulicas de Desvio


Dentre os critérios para os estudos das estruturas hidráulicas de desvio, devido às
diversas concepções possíveis com uma grande abrangência de casos e soluções,
serão especificados aqueles considerados de fundamental importância para as
definições de projeto.

12.6.1 Canais Naturais e Derivações (Canais Escavados):


a) Verificação das elevações das ensecadeiras longitudinais e/ou transversais de
montante e jusante. Determinação dos perfis longitudinais, dos níveis de água
junto às ensecadeiras e verificação dos pesos dos blocos de proteção dos
taludes das mesmas.
b) Verificação da capacidade de vazão das derivações, conjugadas com as
elevações das cristas das ensecadeiras.
c) Fechamento do rio, estudos dos diversos estágios de avanço das ensecadeiras
ou pré-ensecadeiras, com medidas de níveis de água a montante e a jusante,
de velocidades, principalmente junto às extremidades dos avanços e avaliação
dos pesos dos blocos a serem utilizados no processo de fechamento.

12.6.2 Galerias de Desvio


a) Análise dos diversos tipos de escoamento, com medições de velocidades e
estimativas em casos especiais de possibilidade de cavitação no interior das
galerias.
b) Determinação da capacidade de vazão, curvas de descarga, medições de níveis
de água e pressões médias.
c) Os ensaios deverão ser realizados, caso necessário, com as ranhuras das
comportas livres e tamponadas.

12.6.3 Túneis de Desvio


a) Reprodução das rugosidades previstas no projeto, principalmente em túneis sem
revestimento.
b) Análise das condições hidráulicas, de aproximação na entrada do túnel e de
restituição à calha fluvial.
c) Análise dos tipos de escoamento possíveis de ocorrer, determinação da curva
de descarga e medições de pressões médias.

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12.7 Estudos da Estrutura do Vertedouro


a) Análise das condições de aproximação, procurando definir, principalmente, as
geometrias das ombreiras e das ogivas dos pilares.
b) Medições de velocidades e pressões médias na soleira e em todo perfil vertente,
em pontos estrategicamente selecionados, principalmente onde poderão ocorrer
as menores pressões.
c) Medições de pressões instantâneas em pontos sujeitos a baixas pressões
configuradas com oscilações de grandes amplitudes.
d) Determinação de perfis de linha de água junto aos muros laterais e pilares.
e) Determinação da capacidade de vazão do vertedouro, curva de descarga para
escoamento livre e com controle de comportas.

12.8 Estudos das Estruturas de Dissipação de Energia


12.8.1 Bacia de Dissipação
a) Verificação da contenção do ressalto hidráulico no interior da bacia para a vazão
de projeto, e a estabilidade do mesmo considerando um abaixamento do nível
de água de jusante de alguns metros. Tal precaução é decorrente das
imprecisões e indefinições normalmente existentes nas extrapolações das
curvas-chave.
b) Medições de perfis de linha de água junto aos muros laterais.
c) Medições de pressões médias e velocidades em pontos previamente analisados,
no interior da bacia.
d) Caracterização das erosões a jusante realizando ensaios com e sem remoção
de barras.
e) Medições de velocidades e eventualmente pressões médias no trecho a jusante,
em fundo fixo.
f) Determinação do rendimento da bacia para toda a faixa operacional do
vertedouro.

Capítulo 12 - Modelagem Física 175


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12.8.2 Salto de Esqui – Bacia de Lançamento


a) Determinação das vazões de lançamento e manutenção do salto.
b) Determinação das características do jato (altura e alcance).
c) Medições de níveis de água, velocidades e pressões médias na calha e junto ao
salto.
d) Caracterização das erosões a jusante.
e) Análise dos escoamentos a jusante, em fundo fixo, com medições de velocidade,
verificando o comportamento das correntes de retorno.
f) Verificação do comportamento e evolução da fossa de erosão estimada no
projeto.
g) Os ensaios deverão ser realizados com e sem remoção de barras.
h) Medições de pressões médias em fundo fixo na fossa de erosão, caso
necessário.

12.9 Estudos das Estruturas do Circuito Hidráulico de Geração


12.9.1 Tomada de Água
Análise das condições de aproximação dos escoamentos, distribuição de
velocidades e formação de vórtices. A análise das vorticidades deverá considerar
situações operativas, com níveis máximos médios e mínimos, conjugadas com
várias combinações de operação das unidades geradoras funcionando
isoladamente e em conjunto com o vertedouro, se for o caso. Podem ser instrutivos
ensaios com vazão correspondente ao dobro da real.

12.9.2 Chaminé de Equilíbrio


Definição das formas e dos coeficientes de perda de carga das singularidades
hidráulicas, objetivando obter-se melhores resultados do que aqueles obtidos em
simulações com modelos matemáticos de regimes transitórios.

12.9.3 Canal de Fuga.


a) Determinação das perdas de carga e análise das distribuições das
velocidades.
b) Determinação dos níveis de água, das amplitudes e freqüências das
oscilações em pontos próximos à saída dos tubos de sucção das unidades
geradoras, quando houver influência do escoamento do vertedouro no
escoamento do canal de fuga.
c) Verificação dos impactos nos níveis de água do canal de fuga, devido à
formação de barras oriundas de erosões a jusante do vertedouro.

Capítulo 12 - Modelagem Física 176


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12.10 Plano de Operação das Comportas do Vertedouro


Deverá ser elaborado um plano de operação das comportas do vertedouro, para
as condições normais e emergenciais com uma ou mais comportas total ou parcialmente
inoperantes. O plano terá como objetivo estabelecer diretrizes para a operação eficiente
e segura do vertedouro, sem impactos importantes sobre o conjunto das obras.
Deverão ser evitadas ou minimizadas as amplitudes dos seguintes fenômenos:
vorticidade, oscilações de nível de água, descolamentos, galgamentos dos muros
laterais e batimentos das lâminas vertentes nas comportas.

12.11 Efeitos de Escala


Diferenças consideráveis entre as medições realizadas no modelo podem
resultar dos efeitos de escala. Estes são efeitos devido à reprodução inapropriada de
forças no modelo em escala reduzida. Alguns itens devem ser observados:
1) Todos os modelos envolvem algum tipo de efeito de escala, uma vez que é
impossível reproduzir corretamente todos as forças do escoamento;
2) Quanto maior a escala maior é o desvio na modelagem do escoamento e maior
são os efeitos de escala;
3) A magnitude dos efeitos de escala depende do fenômeno ou parâmetro
investigado;
4) Uma vez que as forças em um modelo são mais dominantes que no mundo real,
em geral os modelos possuem um efeito de amortecimento das forças.

12.12 Resumo e Exemplos


Para escoamentos livres o critério de Froude é o mais adequado. É comum o
estudo de barragens e estruturas hidráulicas associadas. Para grandes barragens a
escala do modelo pode ser 1:100, mas a adoção de escalas maiores é frequente (1:50;
1:20), mas o uso de modelos parciais é mais recomendado.
Para a construção do modelo são necessários dados de topografia, batimetria e
projeto das estruturas. A instrumentação adequada e os métodos de medidas
hidráulicas são fundamentais na precisão e validade dos estudos em modelo.
Os maiores benefícios dos estudos em modelo são relacionados à definição de
aspectos não previsíveis através do cálculo ou da modelagem matemática. A
possibilidade da visualização do escoamento é uma característica única do modelo
reduzido.
Estudos comuns em modelos físicos são: desvio do rio, fechamento de rio,
vertedouro, tomada de água, condutos forçados, casa de força, descarregadores de
fundo, transposição de peixes, eclusa, etc.

Capítulo 12 - Modelagem Física 177


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Figura 12.2 – Teste do vertedouro em degraus da Barragem Gross Dam (Colorado,


EUA) do Engineering Research Center (ERC) da Colorado State University

Figura 12.3 – Modelo físico do canal de fuga da UHE Belo Monte, laboratório CEHPAR
(Palu et al., 2013)

Capítulo 12 - Modelagem Física 178


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Figura 12.4 – Modelo físico do canal de fuga da UHE Cambambe, laboratório CEHPAR
(Palu et al., 2018)

Figura 12.5 – Modelo físico do vertedouro lateral e canal de adução da UHE


Dardanelos, laboratório CEHPAR (Palu, 2009)

Capítulo 12 - Modelagem Física 179


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Figura 12.6 – Modelo físico de uma calha para medição de transporte de sedimentos,
laboratório CNR, Lyon, França

Figura 12.7 – Modelo físico da descarga de fundo da UHE Cambambe, laboratório da


Bardella, São Paulo. (Palu, Salles, et al., 2010)

Capítulo 12 - Modelagem Física 180


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13 MODELAGEM NUMÉRICA
13.1 Introdução
Modelos matemáticos podem ser definidos como formulações ou equações que
descrevem as características essenciais de um processo físico. Dessa maneira, todo o
tipo de modelagem hidrodinâmica, seja numérica ou física, é uma representação
simplificada do mundo real, contudo, quando devidamente aplicada, pode providenciar
soluções adequadas com uma precisão aceitável (Brunner, Savant, e Heath 2020).
A obtenção de resultados confiáveis está condicionada ao conhecimento das
premissas teóricas envolvidas bem como das limitações dos modelos. Em vista disso,
o presente artigo tem por objetivo apresentar algumas das principais considerações
teóricas envolvidas no desenvolvimento dos modelos numéricos hidrodinâmicos, uma
breve descrição dos métodos numéricos mais comumente utilizados em softwares
comerciais e por fim algumas considerações gerais sobre a elaboração de modelos 1D
e 2D (Palu, 2022).

13.2 Princípios Regentes


Os princípios de conservação de massa (ou da continuidade) e da quantidade
de movimento em um corpo d’água definem as equações governantes nas simulações
hidrodinâmicas. As hipóteses assumidas na derivação dessas equações são (Brunner
et al., 2020; Palu & Julien, 2020): (1) a distribuição das pressões é hidrostática; (2) o
fluido é homogêneo e incompressível; (3) a declividade do fundo do canal é pequena
(inferior a 10%); (4) os efeitos de resistência do fluxo são representados de maneira
aproximada por equações de resistência utilizadas em escoamentos permanentes
(como Manning por exemplo) e (5) a aproximação de Boussinesq é válida (ignora
esforços causados por diferenças na densidade da água).

13.3 Simulações Unidimensionais


A derivação das equações da continuidade e da quantidade de movimento em
sua forma unidimensional, comumente chamadas de equações de Saint Venant,
assume que as forças em um corpo d’água são predominantes em uma direção x ao
longo do eixo central do canal. Essa premissa considera que as forças verticais e laterais
são pequenas quando comparadas com os esforços na direção x (Brunner et al., 2020).
Desta forma, as equações da continuidade de quantidade de movimento podem ser
escritas em função da distância 𝑥 e do tempo 𝑡 respectivamente, conforme apresentado
a seguir:
𝜕𝑄 𝜕𝐴
+ =0 (13.1)
𝜕𝑥 𝜕𝑡

𝜕𝑄 𝜕 𝑄2 𝜕ℎ (13.2)
+ ( ) + 𝑔𝐴 + 𝑔𝐴(𝑆𝑓 − 𝑆𝑜 ) = 0
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝐴 𝜕𝑥

Capítulo 13 - Modelagem Numérica 181


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Setor de Tecnologia
Curso: Engenharia Civil
Disciplina: TH-031 – Projeto de Obras Hidráulicas
Professor: Marcos Palú

Onde 𝑄 é a vazão [m³/s], 𝐴 é a área da seção transversal [m²], ℎ é a profundidade


do fluxo [m], 𝑆𝑜 é a declividade do fundo do canal [m/m], 𝑆𝑓 é a declividade da linha de
energia [m/m] e 𝑔 é a aceleração da gravidade[m/s²]. Essas equações negligenciam
contribuições como fluxo lateral, tensão tangencial devido ao vento e perdas localizadas
devido às expansões ou contrações bruscas. Os termos da Equação (13.2) descrevem
os processos físicos envolvidos no princípio da quantidade de movimento, assim, a
𝜕𝑄
aceleração local descreve a variação da quantidade de movimento ao longo do
𝜕𝑡
𝜕 𝑄2
tempo, o termo referente a aceleração convectiva ( )
𝜕𝑥 𝐴
representa a variação da
quantidade de movimento devido as alterações da velocidade ao longo do canal, o termo
𝜕ℎ
referente ao gradiente de pressão 𝑔𝐴 𝜕𝑥 é proporcional às alterações da profundidade
do fluxo ao longo do canal, os termos referentes à força gravitacional 𝑔𝐴𝑆𝑜 e a força de
atrito 𝑔𝐴𝑆𝑓 são proporcionais à declividade do fundo do canal 𝑆𝑜 e da declividade da
linha de energia 𝑆𝑓 , respectivamente (Palu & Julien, 2020).

13.4 Simulações Bidimensionais


Para o caso da derivação das equações da continuidade e da quantidade de
movimento no formato bidimensional (chamadas de equações de águas rasas), as
forças em um corpo d’água são predominantes em uma direção 𝑥 ao longo do eixo
central de um canal e 𝑦, lateralmente ao longo do canal ou nas margens. Essas
equações consideram uma profundidade média e assumem que os esforços verticais
são pequenos quando comparados com os esforços nas direções 𝑥 e 𝑦 (Brunner et al.,
2020). As equações da continuidade e da quantidade de movimento no formato
bidimensional são apresentadas a seguir:

𝜕𝐻 𝜕(ℎ𝑣𝑥 ) 𝜕(ℎ𝑣𝑦 ) (13.3)


+ + −𝑞 =0
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦
𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑥 𝜕𝐻 𝜕 2 𝑣𝑥 𝜕 2 𝑣𝑥
+ 𝑣𝑥 + 𝑣𝑦 = −𝑔 + 𝜐𝑡 ( 2 + ) − 𝑐𝑓 𝑣𝑥 + 𝑓𝑣𝑦 = 0 (13.4)
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑦 2

𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑣𝑦 𝜕𝐻 𝜕 2 𝑣𝑦 𝜕 2 𝑣𝑦


+ 𝑣𝑥 + 𝑣𝑦 = −𝑔 + 𝜐𝑡 ( 2 + ) − 𝑐𝑓 𝑣𝑦 + 𝑓𝑣𝑥 = 0 (13.5)
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑦 𝜕𝑥 𝜕𝑦 2

Onde 𝐻 é a elevação do nível de água [m] (profundidade mais elevação do


fundo), 𝑞 é a vazão lateral por unidade de área (fonte ou sumidouro) [m/s], 𝑣𝑥 é a
velocidade na direção 𝑥 [m/s], 𝑣𝑦 é a velocidade na direção 𝑦 [m/s], 𝜐𝑡 é o coeficiente
de viscosidade de torvelinho (eddy viscosity) [m²/s], 𝑐𝑓 é o coeficiente de atrito do fundo

[s-1], dado por: 𝑐𝑓 = 𝑔√𝑣𝑥 2 + 𝑣𝑦 2 ⁄(𝐶𝑧 2 𝐻) onde 𝐶𝑧 é o coeficiente de Chezy, e 𝑓 é o


parâmetro de Coriolis[s-1].

Outros termos podem ser adicionados para representar demais forças atuantes
em casos específicos, como é o caso de simulações de escoamentos hiperconcentrados
(fluxo de detritos após a ruptura de uma barragem de rejeitos por exemplo).

Capítulo 13 - Modelagem Numérica 182


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Métodos numéricos são geralmente utilizados para a resolução das derivadas parciais
apresentadas nas equações (13.3) a (13.5).

13.5 Métodos Numéricos


Modelos numéricos são utilizados para reformular problemas matemáticos de tal
maneira a possibilitar a resolução utilizando apenas operações aritméticas. Alguns dos
principais métodos numéricos utilizados em modelos hidrodinâmicos são o método das
diferenças finitas e o método dos volumes finitos, conforme descrição sucinta
apresentada a seguir.

13.5.1 Método das Diferenças Finitas


O método das diferenças finitas é comumente utilizado como uma aproximação
das derivadas de funções explícitas e pode ser facilmente derivado da expansão da
série de Taylor (Moin, 2010).
Devido à simplicidade esse método é muito difundido na solução de problemas
em canais (Szymkiewicz, 2010). A aproximação para uma derivada da função 𝑓(𝑥) em
um ponto 𝑥𝑗 pode ser escrita como:
2

(𝑥𝑗+1 − 𝑥𝑗 ) ′ (13.6)
𝑓(𝑥𝑗+1 ) = 𝑓(𝑥𝑗 ) + (𝑥𝑗+1 − 𝑥𝑗 )𝑓 (𝑥𝑗 ) + 𝑓′ (𝑥𝑗 ) + ⋯
2

Rearranjando os termos tem-se:

𝑓(𝑥𝑗+1 ) − 𝑓(𝑥𝑗 ) Δ𝑥𝑗 ′


𝑓 ′ (𝑥𝑗 ) = − 𝑓′ (𝑥𝑗 ) + ⋯ (13.7)
Δ𝑥𝑗 2

Onde Δ𝑥𝑗 = 𝑥𝑗+1 − 𝑥𝑗 é o tamanho da malha. O primeiro termo no lado direito da


Equação (13.7) é a aproximação da derivada da função 𝑓(𝑥𝑗 ) por diferenças finitas e o
próximo termo a direita é o erro.
Apesar da simplicidade do método cuidados devem ser tomados na utilização de
modelos numéricos baseados nessa abordagem, pois a maneira como a função é
discretizadas pode resultar em maior ou menor precisão (ordem dos erros relacionada
com o tamanho da malha) bem como resultar em difusão numérica (atenuação artificial
de hidrogramas) ou em erros de fase (atraso na propagação). Também é possível a
ocorrência de instabilização numérica, erro comumente associado ao tamanho da
malha.

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13.5.2 Método dos Volumes Finitos


O método dos volumes finitos consiste essencialmente em dividir o domínio em
volumes de controle discretos. Os contornos ou faces dos volumes de controle são
posicionados em uma distância média entre os nós adjacentes da malha, desta maneira
cada nó é rodeado por um volume de controle ou célula. O principal passo na aplicação
do método dos volumes finitos é a integração das equações governantes sobre o volume
de controle de maneira a gerar um equação discretizada ao redor dos pontos nodais
(Versteeg & Malalasekera, 2007).
A derivação desse método é baseada em princípios físicos, o que é uma
vantagem sobre o método das diferenças finitas, que é puramente numérico.

13.6 Softwares Comerciais


Exemplos de softwares comerciais 1D baseado em diferenças finitas são o HEC-
RAS (USACE, 2022), SRH-1D (USBR, 2018), FLDWAVE (Sylvestre et al., 2010) e MIKE
11(DHI, 2017). Cabe o comentário que a partir da versão 6.0 o HECRAS também
possibilita simulações 1D baseadas no método dos volumes finitos. Quanto aos modelos
2D os softwares comerciais baseados em volumes finitos são o HEC-RAS (USACE,
2022), RiverFlow2D (Hydronia, 2020), TUFLOW (TUFLOW, 2020) e SRH-2D (USBR,
2017).

13.7 Considerações Gerais sobre Modelos Numéricos Hidrodinâmicos


Para os modelos unidimensionais os dados topográficos necessários são
apenas seções transversais do leito do rio e das margens. Contudo, as seções devem
ser levantadas em locais que definam bem o terreno, bem como as perdas de carga
tanto contínuas quanto localizadas. Também devem ser locadas de maneira a captar
diferenças de declividade do rio, estruturas hidráulicas de controle, mudanças de
rugosidade, junções e separações do fluxo bem como locais onde há alteração do fluxo
(Brunner et al., 2020). Uma vez que as seções tenham sido obtidas, outras seções
podem ser interpoladas para redução do ∆𝑥 (tamanho da malha) no modelo numérico.
Uma estimativa inicial do espaçamento pode ser obtida pela seguinte expressão
(USACE, 2022):
0,15𝐻𝑜
∆𝑥 ≤ (13.8)
𝑆𝑜
Onde ∆𝑥 é a distância entre as seções em metros e 𝐻𝑜 é a profundidade média
da calha principal. O cálculo do passo de tempo ∆𝑡 pode ser inicialmente estimado por
(USACE, 2022):
𝑇𝑟
∆𝑡 ≤ (13.9)
20

Para os modelos bidimensionais são necessários dados topográficos do tipo


MDT (modelo digital do terreno) que englobem todo o domínio da simulação, incluindo
a batimetria do canal principal.

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Além disso, esse tipo de modelagem é definido pelo tamanho das células, que podem
ser mais grosseiras ou refinadas em áreas apropriadas para representação do terreno.
Em geral células menores são necessárias onde há mudança significativa do terreno e
onde possam ocorrer alterações nos níveis de água e velocidades. Uma prática comum
é o refinamento do tamanho das células dentro da calha principal e em pontos
particulares do terreno que possam afetar o fluxo.

Figura 13.1 – Exemplo de malha bidimensional (Brunner et al., 2020)

Também, recomenda-se o alinhamento das células com o fluxo e com pontos


importantes do terreno como rodovias, diques ou outras barreiras artificias ou naturais
do terreno, o que pode melhorar a precisão e reduzir difusões numéricas (Brunner et al.,
2020).

Figura 13.2 – Ilustração de malha computacional unidimensional e bidimensional

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Quanto à escolha do passo de tempo passo de tempo ∆𝑡 um indicador da


precisão e estabilidade numérica comumente utilizado é o número de Courant 𝐶𝑜
(também chamado de Courant-Friendrich-Lewy), conforme a relação geralmente dada
por:
∆𝑡
𝐶𝑜 = 𝐶𝑒 ≤1 (13.10)
∆𝑥

O passo de tempo pode então ser calculado como:


∆𝑥
∆𝑡 ≤ (13.11)
𝐶𝑒

Onde ∆𝑥 é a distância média entre as seções transversais (1D) ou o tamanho


das células (2D) e 𝐶𝑒 é a celeridade ou velocidade de propagação da onda de cheia
(m/s). Em alguns casos o valor de ∆𝑡 é automaticamente calculado pelo software,
levando-se em conta a condição 𝐶𝑜 = 1 (ou outro valor indicado pelo software),
conforme explicitado pela equação (13.11). Em outras situações o valor de ∆𝑡 pode ser
definido pelo próprio usuário. Contudo, recomenda-se testar diferentes dimensões da
malha para verificação da consistência dos resultados.
Outro tema relevante, independente da dimensão do modelo numérico, é a
calibragem, pois sem a qual não há possibilidade de validação. A calibragem baseia-se
essencialmente na verificação de níveis de água com o protótipo. Para isso dados
observados precisos de níveis e vazões são necessários. Entretanto, não é rara a
utilização de modelos em regiões desprovidas de qualquer informação hidráulica ou
hidrológica. Para esses casos a prática é a utilização de coeficientes de rugosidade da
literatura que, juntamente com análises de sensibilidade, podem auxiliar na para
mitigação dos erros e incertezas.

Figura 13.3 – Modelo unidimensional do canal de Fuga da UHE Belo Monte, modelo
HECRAS (Palu et al., 2013)

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Figura 13.4 – Modelo bidimensional do canal de Fuga da UHE Belo Monte, modelo
River2D (Palu et al., 2013)

Figura 13.5 – Modelo tridimensional do vertedouro da UHE Cambambe (Souza et al.,


2013)

Capítulo 13 - Modelagem Numérica 187


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