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VOLUME II

XIX CONGRESSO BRASILEIRO DE MECÂNICA DOS SOLOS E


ENGENHARIA GEOTÉCNICA
TOMO II
EDUCAÇÃO EM GEOTECNIA, GEOSSINTÉTICOS, GEOTECNIA
AMBIENTAL, GEOTECNIA SOCIAL, INOVAÇÕES EM GEOTECNIA

ANAIS
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil

VOLUME II
XIX CONGRESSO BRASILEIRO DE MECÂNICA DOS SOLOS E
ENGENHARIA GEOTÉCNICA
TOMO II
EDUCAÇÃO EM GEOTECNIA, GEOSSINTÉTICOS, GEOTECNIA
AMBIENTAL, GEOTECNIA SOCIAL, INOVAÇÕES EM GEOTECNIA
Realização:

Patrocinadores Ouro:

Patrocinadores Prata:

Patrocinadores Bronze:

Patrocinadores Estanho:

Apoio:
SUMÁRIO GERAL

VOLUME I – Listagem Geral de Artigos


VOLUME II – XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
TOMO I - Análise e Gerenciamento de Riscos, Desempenho e Segurança de Obras Geotécnicas,
Estruturas de Contenção, Fundações, Obras de Infraestrutura
TOMO II – Educação em Geotecnia, Geossintéticos, Geotecnia Ambiental, Geotecnia Social,
Inovações em Geotecnia
TOMO III - Ensaios de Laboratório e Campo, Modelagem Física e Numérica, Obras de Terra e
Enrocamento, Solos não Saturados, Expansivos, Colapsíveis e Moles
VOLUME III – VIII Simpósio Brasileiro de Engenheiros Geotécnicos Jovens
VOLUME IV – IX Congresso Luso-Brasileiro de Geotecnia
VOLUME V – V Simposio Panamericano de Deslizamientos
VOLUME VI – VIII Simpósio Brasileiro de Mecânica das Rochas
DIRETORIA NACIONAL DIRETORIA NRBa
Biênio 2017/2018 Biênio 2017/2018
Presidente: Alessander C. Morales Kormann Presidente: Luis Edmundo Prado de Campos
Vice-Presidente: Alexandre Duarte Gusmão Vice-Presidente: Demóstenes de A. Cavalcanti Jr.
Secretário Geral: Maurício Martinez Sales Secretário Geral: Fabricio Nascimento de Macedo
Secretário Executivo: Paulo Cesar de A. Maia Secretário Executivo: Luciene de M. Eirado Lima
Tesoureiro: Celso Nogueira Corrêa Tesoureiro: Ronaldo Ramos de Oliveira

CONSELHO DIRETOR (2017/2018)

NRBA NRRS
Luis Edmundo Prado de Campos / Hélio Machado Antonio Thomé / Felipe Gobbi / Fernando Schnaid
Baptista / Marcos Strauss / Cezar Augusto Burkert Bastos /
Luiz Antonio Bressani
NRCO
Antônio Luciano Espindola Fonseca / José NRSP
Camapum de Carvalho / Wilson Conciani / Marcia Paulo J. R. de Albuquerque / Celso Orlando / Akira
Maria dos Anjos Mascarenha / Ennio M. Palmeira / Koshima / Nelson Aoki / Urbano Rodrigues Alonso
Gilson de Farias Neves Gitirana Jr. / Jaime Domingos Marzionna / Tarcísio Barreto
Celestino / Artur Rodrigues Quaresma Filho /
NRES Frederico Fernando Falconi / Mário Cepollina /
Uberescilas Fernandes Polido Hugo Cássio Rocha / Marcos Massao Futai /
Celso Nogueira Corrêa / Ilan Davidson Gotlieb /
NRMG Luiz Guilherme F. Soares de Mello / Maria
Gustavo Rocha Vianna / Gustavo Ferreira Simões Eugênia Gimenez Boscov / Makoto Namba / Paulo
/ Cássia Maria Dinelli de Azevedo / Terezinha de Teixeira da Cruz / Mauri Gotlieb
Jesus Espósito / Ivan Libanio Vianna / Sergio
Cançado Paraiso / Lucio Flávio de Souza Villar / CBMR
Fernando Portugal Maia Saliba Lineu Azuaga Ayres da Silva / Milton Assis Kanji /
Sergio Augusto Barreto da Fontoura / Nick Barton /
NRNE Eda Freitas de Quadros / Vivian Rodrigues
Ricardo Nascimento Flores Severo / Roberto Marchesi / João Luiz Armelin / Fernando Olavo
Quental Coutinho / Karina Cordeiro de Arruda Franciss / Paulo Alberto Neme / Anna Luisa
Dourado / Alexandre Duarte Gusmão / Isabella Marques Ayres da Silva / Ricardo Antonio Abrahão
Santini Batista / Joaquim Teodoro Romão de / Reuber Ferreira Cota
Oliveira
CBT
NRNO Werner Bilfinger / Argimiro Alvarez Ferreira /
Gerson Jacques Miranda dos Anjos / Julio Carlos Eduardo Moreira Maffei / Fernando Leyser
Augusto de Alencar Jr Gonçalves / Maria Cecília Guazzelli / Denis
Vicente Perez Vallejos / Eloi Angelo Palma Filho /
NRPS André Jum Yassuda / Edson Peev / Marlísio
Luiz Henrique Felipe Olavo / Edgar Odebrecht / Oliveira Cecílio Jr. / George Joaquim Teles de
Antonio Belincanta / Ney Augusto Nascimento / Souza / Marco Aurélio Abreu Peixoto da Silva /
Luiz Antoniutti Neto / Carlos José Marques da Luis Rogério Martinati / Luis Ferreira Vaz
Costa Branco
Conselheiros Vitalícios (ex-presidentes ABMS)
NRRJ Fernando E. Barata / Alberto Henriques Teixeira /
Ana Cristina C. Fontela Sieira / Bernadete Ragoni Carlos de Sousa Pinto / Faiçal Massad / Francis
Danziger / Ian Schumann Marques Martins / Bogossian / Sussumu Niyama / Willy A Lacerda /
Fernando Artur Brasil Danziger / Mauricio Ehrlich / Waldemar Hachich / Alberto S F J Sayão / Jarbas
Manuel de Almeida Martins / Anna Laura Lopes da Milititsky / Arsenio Negro Jr. /
Silva Nunes / Denise Maria Soares Gerscovich / André P. de Assis
Paulo Henrique Vieira Dias / André Pereira Lima /
Luciano Jacques de Moraes Jr
COMISSÃO ORGANIZADORA
Presidente do Congresso: Luís Edmundo Prado de Campos
Presidente da Comissão Organizadora: Luciene de Moraes Eirado Lima
Captação de Patrocínios: João Carlos B. Jorge da Silva / Celso Nogueira Corrêa
Tesoureiro: Ronaldo Ramos de Oliveira
XIX COBRAMSEG
COMISSÃO CIENTÍFICA COMITÊ ASSESSOR DO CONGRESSO (CAC)
Hélio Machado Baptista (presidente) Roberto Coutinho (Cobramseg 2012)
Carlos Carrillo W. Delgado Maurício Sales (Cobramseg 2014)
Paulo Gustavo C. Lins Gustavo Simões (Cobramseg 2016)
Maurício Martines Sales Representante da diretoria da ABMS junto ao CAC:
Alexandre Gusmão
VIII GEOJOVEM
COMISSÃO ORGANIZADORA
Maria do Socorro Costa São Mateus (Presidente)
Mário Sérgio de Souza Almeida
Ronaldo Ramos de Oliveira

COMITÊ CIENTÍFICO
Maria do Socorro Costa São Mateus
IX CLBG
COMISSÃO ORGANIZADORA COMITÊ CIENTÍFICO
Manuel M. Fernandes (Presidente SPG) Emanuel Maranha das Neves (IST)
José L. M. do Vale (ex-Presidente SPG) Ricardo Oliveira (COBA)
Luís Lamas (LNEC) Pedro Sêco e Pinto (LNEC)
Jorge Almeida e Sousa (U. Coimbra) Ana Quintela (Tetraplano)
Vitor Cavaleiro (Univ. da Beira Interior) José Mateus de Brito (CENOR)
Alessander Kormann (Presidente ABMS) Jorge Sousa Cruz (LCW)
Maurício Sales (Secretário Geral ABMS) Jorge Vazquez (EDIA)
Luis Edmundo P. Campos (Presidente COBRAMSEG) Celso Lima (EDP)
Alberto Sayão (PUC-Rio) João Marcelino (LNEC)
António Viana da Fonseca (FEUP)
V SPD
COMISSÃO ORGANIZADORA
Marcos Massao Futai (Presidente do SPD)
Adrian Torrico Siacara
Carlos Carrillo Delgado
José Orlando Avesani Neto
Leonardo De Bona Becker
Luiz Antonio Bressani
Luiz Antoniutti Neto
Roberto Bastos Guimarães
Willy Lacerda (Presidente de honra do SPD)
VIII SBMR
COMISSÃO ORGANIZADORA
Lineu Azuaga Ayres da Silva (presidente)
Sergio Augusto Barreto da Fontoura
Vivian Rodrigues Marchesi
Paulo Gustavo Cavalcante Lins

COMITÊ CIENTÍFICO
Carlos Emmanuel Ribeiro Lautenschläger
REVISORES DE TRABALHOS – XIX COBRAMSEG

Adriano Frutuoso da Silva – UFRR Ilan Davidson Gotlieb – MG&A


Akira Koshima – NOVATECNA Ivan Libanio Vianna – NOVASOLO
CONSOLIDAÇÕES E CONSTRUÇÕES S/A Jean Rodrigo Garcia – UFU
Alberto Sayão – PUC RIO João Carlos Baptista Jorge Da Silva – JCJ
Aldo Durand Farfán – UENF CONSULTORIA E PROJETOS
Alfran Sampaio Moura – UFC Joaquim Teodoro Romão De Oliveira – UNICAP
Ana Cristina Castro Fontela Sieira – UERJ José Adriano Cardoso Malko – PUC RIO
Ana Cristina Strava Correa – SIPAM Jose Antonio Schiavon – USP
Ana Luiza Rossini Valente de Oliveira – PUC José Camapum De Carvalho – UNB
RIO/TERRATEK José Maria de Camargo Barros – IPT
André Luís Brasil Cavalcante – UNB Juan Felix Rodriguez Rebolledo – UNB
André Pacheco de Assis – UNB Juan Manuel Girao Sotomayor – PUC RIO
Andrelisa Santos de Jesus – UFG Juliane Andréia Figueiredo Marques – UFAL
Anna Silvia Palcheco Peixoto – UNESP Júlio Augusto de Alencar Junior – UFPA
Antonio Thomé – UPF Karina Cordeiro de Arruda Dourado – IFPE
Argimiro Alvarez Ferreira – METRO SÃO PAULO Katia Vanessa Bicalho – UFES
Arlam Carneiro Silva Júnior – IFG Larissa de Brum Passini – UFPR
Bernadete Ragoni Danziger – UERJ Lilian Medeiros Gondim – UFC
Bruno Teixeira Lima – UERJ / UFF Lílian Ribeiro De Rezende – UFG
Carina Maia Lins Costa – UFRN Luan Carlos De Sena Monteiro Ozelim – UNB
Carlos Alberto Lauro Vargas – UFG Luciene de Moraes Eirado Lima – UFBA
Carlos Medeiros Silva – EMBRE/CEUB Lúcio Flávio de Souza Villar – UFMG
Carlos Petrônio Leite da Silva – IFB Luis Henrique Rambo – UNIFAP
Carlos Wilfredo Carrillo Delgado – ENVGEO Luiz Carlos de Figueiredo – IFMT
ENGENHARIA / UNIJORGE Luiz Guilherme F. S. de Mello – VECTTOR
Celso Romanel – PUC-RIO PROJETOS
Cibele Clauver de Aguiar – UFV Luiz Russo Neto – PUCPR
Cláudia Azevedo Pereira – IFG Magnos Baroni – UFSM
Cláudia Francisca Escobar de Paiva – UFABC Manoel de Melo Maia Nobre – UFAL
Cláudia Márcia Coutinho Gurjão – UNB Manuelle Santos Góis – UNB
Clovis Gonzatti – UFRGS Márcia Maria Dos Anjos Mascarenha – UFG
Consuelo Alves da Frota – UFAM Marcos Fábio Porto De Aguiar – IFCE
Delma De Mattos Vidal – ITA Maria Claudia Barbosa – UFRJ
Denilson José Ribeiro Sodré – UFPA Maria de Oliveira Cruz Mariano – CESI DO
Denise Maria Soares Gerscovich – UERJ BRASIL
Edmundo Rogerio Esquivel – EESC/USP Marta Pereira da Luz – ELETROBRAS
Eduardo Pavan Korf – UFFS FURNAS/PUC GOIÁS
Elisabeth Ritter – UERJ Maruska Tatiana Nascimento da Silva Bueno –
Enio Fernandes Amorim – IFRN UNICEUB
Ennio Marques Palmeira – UNB Mauricio Abramento – USP / CEG ENGENHARIA
Fagner Alexandre Nunes de França – UFRN Mauricio Giambastiani – UNIVERSIDADE
Faiçal Massad – USP NACIONAL DE LA RIOJA
Fernando Antonio Medeiros Marinho – USP Maurício Martines Sales – UFG
Fernando Eduardo Rodrigues Marques – UERJ Milton Assis Kanji – USP
Fernando Henrique Martins Portelinha – UFSCAR Miriam F. Carvalho Machado – UCSAL
Fernando Olavo Fanciss – PROGEO Mylane Viana Hortegal – DNIT
CONSULTORIA DE ENGENHARIA Nelson Padron Sanchez – UNB
Fernando Saboya Albuquerque Junior – UENF Newton Moreira de Souza – UNB
Fernando Silva Albuquerque – UFS Nilton de Souza Campelo – UFAM
Flavia Silva Dos Santos – ABMS/RIO Nima Rostami Alkhorshid – UNIFEI
Gentil Miranda Junior – GEOPROVA Olavo Francisco dos Santos Júnior – UFRN
Gilson De Farias Neves Gitirana Junior – UFG Osvaldo de Freitas Neto – UFRN
Gisleine Coelho de Campos – IPT Patrício José Moreira Pires – UFES
Glacielle Fernandes Medeiros – ITPAC Paulo Augusto Diniz Silva – IFG
Gracieli Dienstmann – UFSC Paulo César de Almeida Maia – UENF
Gregório Luís Silva Araújo – UNB Paulo César Lodi – UNESP
Guilherme Bravo De Oliveira Almeida – UFS Paulo Gustavo Cavalcante Lins – UFBA
Gustavo Ferreira Simões – UFMG Paulo Márcio Fernandes Viana – LTEC / UEG
Hélio Machado Baptista – ENVGEO Petrucio Jose dos Santos Junior – MACCAFERRI
ENGENHARIA LTDA / UNIJORGE Rafaela Faciola Coelho de Souza Ferreira – UFAL
Heraldo Luiz Giacheti – UNESP Raquel Souza Teixeira – UEL
Hudson Regis Oliveira – ABMS NRPS Rebecca Pezzodipane Cobe – PUC RIO
REVISORES DE TRABALHOS – XIX COBRAMSEG

Renata Conciani Nunes – UCB


Renato Cabral Guimarães – UEG / FURNAS
Renato Resende Angelim – UFG
Ricardo Adriano Martoni Pereira Gomes – USP
Ricardo Nascimento Flores Severo – IFRN
Rinaldo Jose Barbosa Pinheiro – UFSM
Roberto Aguiar dos Santos – UNESP / UFMT
Rodrigo Cesar Pierozan – UNB
Rodrigo de Lima Rodrigues – FUNDAÇÃO
PARQUE TECNOLÓGICO ITAIPU
Sérgio Pacífico Soncim – UNIFEI
Sérgio Tibana – UENF
Stela Fucale Sukar – UPE
Suelly Helena de Araújo Barroso – UFC
Suzana Aparecida da Silva – IFMT
Vítor Pereira Faro – UFPR
Waldemar Coelho Hachich – USP
Werner Bilfinger – VECTTOR PROJETOS
Wilson Conciani – IFB
Yuri Daniel Jatoba Costa – UFRN
MENSAGEM DA ABMS

Temos certeza de que boas recordações ficarão na memória das 1.500 pessoas que estiveram na edição
2018 do Cobramseg em Salvador.
O evento, que congregou também o VIII Congresso Luso-Brasileiro de Geotecnia, o V Simposio Panamericano
de Deslizamientos, o VIII Simpósio Brasileiro de Mecânica das Rochas e o VIII Simpósio Brasileiro de
Engenheiros Geotécnicos Jovens, foi organizado em uma época desafiadora para a engenharia de nosso país.
Mas a determinação e dedicação dos colegas do Núcleo Bahia da ABMS conseguiram superar os obstáculos,
tendo nos brindado com um evento bem-sucedido em todos os aspectos, certamente um marco na história
da nossa associação.
A edição de Salvador veio para coroar uma trajetória crescente do Cobramseg, que já é um importante
acontecimento da engenharia nacional. Esse sucesso se traduz nos números do evento: 946 trabalhos
publicados, 459 apresentações em 50 sessões técnicas e pôsteres, 44 palestras especiais em sessões
paralelas e 30 apresentações plenárias. O grande público presente, que envolveu também muitos colegas
portugueses e dos países sul-americanos, reforça o alcance e o potencial do Cobramseg.
Não temos dúvida de que estes anais do evento constituem um amplo retrato de desenvolvimentos práticos
e acadêmicos, onde o leitor poderá encontrar um conjunto de referências que traduzem muito do estado da
arte da geotecnia nacional e internacional.

Saudações,

Alessander Kormann Alexandre Gusmão


Presidente da ABMS Vice-Presidente da ABMS
MENSAGEM DA COMISSÃO ORGANIZADORA DO EVENTO

Caros Colegas Geotécnicos,


É com imensa satisfação que entregamos os Anais do Cobramseg 2018, realizado no Othon Bahia Palace
Hotel, em Salvador-Bahia, entre os dias 28 de agosto e 1ª de setembro de 2018. O tema principal do evento
foi “Geotecnia e o Desenvolvimento Urbano”, com vistas à discussão sobre os problemas que afligem nossas
metrópoles em um ambiente de crescimento muitas vezes desordenado e sem levar em consideração as
particularidades dos solos e rochas constituintes da geologia do sítio urbano.

Nesses volumes estão todos os artigos submetidos e aprovados pela Comissão Científica do Congresso, e
que foram tema de discussão ao longo dos dias de evento, com apresentações dos trabalhos mais relevantes
dispostos nos diversos temas da Geotecnia, com inúmeras sessões paralelas de apresentação oral e em
formato de pôster.

No evento tivemos recorde de inscritos, mais de 1.500 pessoas circulando pelos corredores e salas do Othon
Bahia, aproveitando a programação científica e a área de exposição, onde nossos patrocinadores
apresentaram seus serviços e produtos.

Pela primeira vez foi realizada uma sessão plenária com toda a mesa e palestrantes do sexo feminino, com
objetivo de homenagear a força das mulheres geotécnicas, e demonstrar que a Geotecnia é plural e
diversificada. Esperamos que essa singela demonstração de admiração e respeito possa disseminar o espírito
de igualdade entre nossos colegas geotécnicos.

Além das discussões técnicas tivemos ainda a primeira Corrida Geotécnica, a “Run Geo Run” onde os colegas
puderam se exercitar e socializar, ao longo do percurso de 5 km na belíssima orla atlântica de Salvador.

No jantar Luso-Brasileiro, realizado no Restaurante Bargaço, com pratos típicos da culinária praiana da Bahia,
foi possível congraçar os colegas, para além das discussões geotécnicas, criando vínculos de amizades entre
os lusófonos.
No penúltimo dia do evento, à noite, teve lugar o Jantar de Confraternização e a GeoMicareta. Ambos
realizados em paralelo, no boêmio bairro do Rio Vermelho, onde pulsa a noite soteropolitana.
Com o sentimento de dever cumprido, essa comissão agradece a todos que participaram e contribuíram
para o engrandecimento do evento e da Geotecnia nacional.
Axé!

Luciene de Moraes Eirado Lima Hélio Machado Baptista


Presidente da Comissão Organizadora Presidente do Comitê Científico
SUMÁRIO
TEMA: EDUCAÇÃO EM GEOTECNIA

CB 35829 A Importância do Conhecimento do Solo Para a População e Seus Meios de Vivência. - Jesus Carlos Tiburtino Brasil;
Túlio Henrique Gomes; Vitória Barros de Sá Magalhães; Yago Wiglife de Araújo Maia; Yanneson Marlon de Araújo
Lira
CB 34976 Análise da Influência do Operador na Confiabilidade da Espacialização de Resultados de Sondagens em um Caso
Real de Obra - Darym Junior Ferrari de Campos; Luan Carlos de Sena Monteiro Ozelim; José Camapum de Carvalho
CB 35283 Construção de um Protótipo de Barragem Homogênea de Terra: Investigação dos Efeitos do Fluxo na Zona de
Percolação do Maciço - Thaís Mota Freitas; Joaz de Souza Batista; Geovana Luz Amaral; Gislan Silveira Santos
CB 35145 Desenvolvimento da Prática da Engenharia Geotécnica, como Ferramenta Pedagógica, em Momentos de Crise. -
Haroldo S Paranhos; Rideci Farias; Maruska Nascimento
CB 35270 Diálogo entre um Professor e uma Estudante: Relato da Aplicação de uma Nova Metodologia de Ensino-
Aprendizagem - Alcino de Oliveira Costa Neto; Kátia Cristina Milagres Oliveira
CB 35048 Do risco ao Dolo Eventual: Criminalização da Prática Profissional na Engenharia Geotécnica - Antonio Maria Claret
Gouveia; Miguel Paganin Neto; Ana Paula Tavares; Alberto Frederico Vieira de Sousa-Gouveia; Marina Tavares e
Silva
CB 35856 Elaboração de Perfis Geotécnicos e Fundações em Modelos Reduzidos como Vivência da Disciplina de Solos para
o Curso de Arquitetura - Pedro Oliveira; Joaquim Teodoro Romão de Oliveira; Lorena Lins Cavalcanti de Albuquerque
CB 34707 Ensaio de Adensamento Unidimensional: Elaboração de um Protótipo de Custo Reduzido para Fins Didáticos -
Augusto Montor de Freitas Luiz; Andressa Cristina Zigoski da Silva; Roberto Arthur Pissinatti da Silva
CB 35194 Estudo do Comportamento da Equação Diferencial de Laplace Aplicada à Percolação de Água: Investigação da
Permeabilidade do Solo em um Modelo Reduzido de Barragem de Terra - Geovana Luz Amaral; Gislan Silveira
Santos; Thaís Mota Freitas; Joaz de Souza Batista
CB 36568 Estudo sobre o Panorama da Produção Científica em Geotecnia no Brasil - Leonardo Silva de Oliveira Pires; Lauren
Ferreira Colvara; Adinele Gomes Guimarães
CB 34776 Mapeamento de Risco e Educação Ambiental em Comunidades de João Pessoa (PB) - Larissa Ferreira Da Silva;
Fábio Lopes Soares
CB 36387 O que, Onde e Como Ensinar o Conteúdo Geotécnico - José Camapum de Carvalho; Andrelisa Santos de Jesus;
Márcia Maria dos Anjos Mascarenha; Fernanda Maria dos Reis Porto; Marta Pereira da Luz
CB 35599 Os conceitos da Andragogia Aplicados ao Ensino da Geotecnia Visando a Retenção do Aprendiz - Fernanda Simoni
Schuch; Fábio Krueger da Silva
CB 34743 Popularização do Conhecimento em Solos: Experiência de Ação de Extensão Universitária Junto à Sociedade e
Comunidade Escolar - Márcia Maria dos Anjos Mascarenha; Andrelisa Santos de Jesus; Mariana Araujo Guimarães;
Katia Kopp; Ana Paula de Oliveira; Mauricio Martines Sales; Renato Resende Angelim; José Camapum de Carvalho
CB 36483 Utilização de História em Quadrinhos como Estratégia Didática no Ensino Superior - Erika Santos Brito; André Alves
Teixeira; Luiz Felipe Moreira Rocha; Judson Souza Silva; Cristian Campos Nunes; Marcus Vinícius Nunes Dos Santos;
Matheus Franco Pereira de Almeida; Thiago da Fonseca Martins; Alcino de Oliveira Costa Neto

TEMA: GEOSSINTÉTICOS

CB 36412 A Influência dos Reforços por Geogrelha sobre a Vida de Serviço de Lastros Ferroviários de Alto Tráfego e Carga
Elevada - Luiz Gustavo Paulo Oran; Delma de Mattos Vidal
CB 35395 Adensamento de Resíduo Confinado no Processo de Desague em Sistema de Confinamento de Resíduos (SCR):
Um Estudo Comparativo entre Dados de Campo e Bibliografia. - Matheus Müller; Delma Vidal; Eduardo Andrade
Guanaes
CB 34454 Análise de Capacidade de Carga de Solo Residual e Laterítico Quando Submetido à Provas de Carga em Placa com
Reforço por Geotêxtil em Cascavel/PR - Maycon André de Almeida; Nicolas Vinicius Baldin Slobodzian; Vanessa
Wiebbelling
CB 36199 Análise Numérica do Comportamento de um Geocomposto Drenante - Flávia Silva dos Santos; Ana Cristina Castro
Fontenla Sieira
CB 34824 Análise Paramétrica de Estabilidade e Custos de Estruturas de Contenção em Solo Reforçado com Geossintéticos
- Maytê Pietrobelli de Souza; Alessandra Lidia Mazon; Bianca Penteado de Almeida Tonus; André Fanaya
CB 34709 Aspectos Estruturais de Muros de Flexão Reforçados com Geogrelha - Alan Rizzato Espessato; Sérgio Trajano
Franco Moreiras; Carlos Alberto Caldeira Brant
CB 35585 Avaliação da Absorção de Água do Poliestireno Expandido após Exposição a Hidrocarbonetos - Beatriz Garcia Silva;
Mariana Basolli Borsatto; Paulo César Lodi; Rogério Custódio Azevedo Souza; Bruna Rafaela Malaghini; Caio
Henrique Buranello dos Santos
CB 34380 Avaliação de Metodologias de Dimensionamento de Solo Reforçado com Geossintéticos: Estudo de Caso - Arthur
Cardillo Afonso; Guilherme Sanches Paulino; Guilherme Yuki Sawamura Theophilo; Fernando Luiz Lavoie; José
Orlando Avesani Neto
CB 34580 Avaliação de Propriedades de Geotêxteis de Poliéster Reciclado Submetido a Agentes Climáticos - Iasnara Chagas
Fernandes; Carina Maia Lins Costa; Jefferson Lins da Silva; Delma de Mattos Vidal; Clever Aparecido Valentin; Weber
Anselmo dos Ramos Souza
CB 34802 Avaliação Experimental da Resistência ao Arrancamento de Tiras Metálicas e Poliméricas em Areia Uniforme e
em Solo Laterítico Siltoso - Rodrigo César Pierozan; Gregório Luís Silva Araújo; Ennio Marques Palmeira
CB 34792 Comportamento de Geotêxteis Aplicados na Retenção de Partículas em Sistema de Desaguamento de Resíduos -
Rodrigo Alves e Silva; Delma de Mattos Vidal
CB 34952 Comportamento de um Resíduo Granular Reforçado com Geocélula Submetido a Ensaios de Placa - Julia Favretto;
Gustavo Dias Miguel; Maciel Donato; Márcio Felipe Floss
CB 34618 Danificação Mecânica de uma Geogrelha Induzida por Agregados Naturais e Reciclados - José Ricardo Carneiro;
Adriana da Silva; Francisco Violante; Maria de Lurdes Lopes
CB 35968 Deformações da Geomembrana em Sistemas de Controle e Desvio de Fluxo - Gabriel Orquizas Mattielo Pedroso;
Jefferson Lins da Silva
CB 34339 Degradação de Geotêxteis de Polipropileno Expostos à Intempéries - Beatriz Mydori Carvalho Urashima; Denise de
Carvalho Urashima; Mag Geisielly Alves Guimarães; Juliano Elvis de Oliveira
CB 35467 Degradação de Geotêxteis Não-Tecidos em Ambiente Costeiro - Marcio Avelino de Medeiros; Fagner Alexandre
Nunes de França
CB 36251 Desenvolvimento de Sensor de Deformação para Monitoramento de Geossintéticos - Helcio Gonçalves de Souza;
Mauricio Ehrlich; Cid Almeida Dieguez
CB 34556 Durabilidade de Geotêxteis por Intemperismo Acelerado: Influência dos Fatores de Degradação - Mag Geisielly
Alves Guimarães; Thais Ribeiro Melki; Rodrigo Lucas da Silva Souza; Denise de Carvalho Urashima
CB 34617 Efeito de Substâncias Ácidas e Alcalinas e de Catiões Metálicos na Resistência à Termo-Oxidação de um Geotêxtil
de Polipropileno - José Ricardo Carneiro; Paulo Joaquim Almeida; Maria de Lurdes Lopes
CB 36289 Estudo da Capacidade de Suporte da Estabilização de Solos para Pavimentação Rodoviária - José Breno Ferreira
Quariguasi; Haikel Buganem Busgaib Gonçalves; Francisco Heber Lacerda de Oliveira; Marcos Fábio Porto de Aguiar
CB 34433 Estudo do Comportamento da Bentonita Utilizada em GCL’s (Geosynthetic Clay Liners) para Aplicação em Bases
de Aterros de Resíduos - Leonardo Sanches Previti; Fernando Luiz Lavoie; Thiago Villas Boas Zanon
CB 36059 Estudo do Emprego de Biomantas na Prevenção de Processos Erosivos - Mateus Henrique Sottani Soares; Esthela
Rosa Coimbra; Bianca Oliveira Pereira; Iasmin Gabriela de Paula Nader; Cíntia Tavares Assunção; Caroline Maiolini
de Mello; Saulo Rocha Ferreira
CB 34782 Estudo Numérico da Influência da Condição de Umidade de Solos Tropicais na Resistência ao Arrancamento do
Geossintético - Gabriel Steluti Marques; Jefferson Lins da Silva
CB 36068 Estudo Paramétrico da Utilização de Geogrelha em Base de Pavimentos por Meio de Retroanálise de Bacias
Deflectométricas Obtidas de Ensaio de Laboratório. - Gabriela Bento de Moraes; Francis Massashi Kakuda
CB 34458 Influencia da Altura da Textura na Resistência ao Cisalhamento de Interfaces entre Areia e Geomembrana - Nelson
Padrón Sánchez; Gregório Luís Silva Araújo; Ennio Marques Palmeira
CB 34784 Influência da Inserção de uma Camada de Solo Granular na Interface Solo Coesivo-Geogrelha através de
Modelagem Numérica - Gabriel Steluti Marques; Jefferson Lins da Silva
CB 36146 Metodologia de Construção e Dimensionamento de Barreiras de Sedimentos: Revisão Científica, Normativa e
Laboratorial - Matheus Muller; Delma Vidal; Emília Mendonça Andrade
CB 34290 Mobilização dos Parâmetros de Resistência e Comportamento Volumétrico de um Rejeito de Minério de Ferro
Reforçado com Fibras de Polipropileno Sob Condição Não Drenada - Juan Manuel Girao Sotomayor; Michéle Dal
Toé Casagrande
CB 36024 Obtenção de Danos de Instalação em Geogrelhas a partir de Ensaios em Campo - Rafael Pinho Biazotto; José
Orlando Avesani Neto
CB 36507 Reforço de Solo Tropical de Brasília com Uso de Fibras PET e Canudos Plásticos Reciclados - Lucas Gabriel Lopes da
Silva; Raphael de Sousa Neves; Luiz Fernando Jordão Graciano; Leidiane Moraes Garcia; Rideci de Jesus da Costa
Farias
CB 34801 Restauração de Pavimentos Flexíveis com o Emprego de Geossintético - Bruno Andrade de Freitas; Raimundo
Leidimar Bezerra
CB 36030 Seismic Analysis of a Geosynthetic-Reinforced Soil Retaining Wall in Peru - Marko A. López Bendezú; Cecilia Torres
Quiroz; Jorge Zegarra Pellanne; Celso Romanel
CB 34345 Sinergismo de Degradação em Geotêxteis: Ensaios Laboratoriais Sob Fluência à Tração, Temperatura e Incidência
de Radiação Ultravioleta - Denise de Carvalho Urashima; Plinio Marcos Lemos Silva; Mag Geisielly Alves Guimarães;
Carlos Alberto Carvalho Castro
CB 34346 Sistemas Fechado de Geotêxteis Empregados em Desaguamento de Resíduos: Análise da Durabilidade - Denise
de Carvalho Urashima; Viviane Amaral Moreira; Anthony Bahia Scalioni; Mag Geisielly Alves Guimarães; Romero
César Gomes
CB 34340 Sistemas Fechados de Geotêxtil Empregados no Desaguamento de Resíduos de Estação de Tratamento de Água:
Estudo de Caso - Beatriz Mydori Carvalho Urashima; Denise de Carvalho Urashima; Saulo Rocha Ferreira; Valentina
Mendes Álvares; Marina Botelho Barbosa Lima; João Pedro Goulart Cintra
CB 36036 Soil Survey: Metodologia Inovadora, no Brasil, Adotada pela CTR-Rio, para Controle de Qualidade da Instalação
de Geomembranas - Priscila Mendes Zidan; Luiz Paulo Achcar Frigo
CB 34847 Soluções em Geossintéticos na Comunidade Filipeia, João Pessoa, Paraíba - Camila de Andrade Oliveira; Hanna
Barreto de Araújo Falcão; Jorge Luiz de Souza Junior; Leonardo Ferreira da Silva; Fábio Lopes Soares; Aline Flávia
Nunes Remígio Antunes

TEMA: GEOTECNIA AMBIENTAL

CB 36332 A Influência das Raízes na Resistência ao Cisalhamento de um Solo Arenoso de Origem Aluvionar no Estado do
Rio Grande do Sul - Tiane Maria Jaskulski; Jéssica Anversa Venturini; Rinaldo José Barbosa Pinheiro
CB 34399 Amostragem de Solos Contaminados e Resíduos Sólidos: Comparativo de Normativas - Christiane Jacinto; Giulliana
Mondelli
CB 36407 Análise da Importância da Granulometria do Material Fresado na Estabilização do Solo. - Tiago Onuczak Poncio;
Roberta Centofante; Rodrigo André Klamt; Thaís Aquino dos Santos
CB 36368 Análise da Quebra de Grãos de Misturas de Resíduos de Construção e Demolição com Solo da Formação Geológica
de Guabirotuba Durante a Compactação. - Eclesielter Batista Moreira; Jair Arrieta Baldovino; João Luiz Rissardi;
Juliana Lundgren Rose; Ronaldo Luis dos Santos Izzo
CB 35424 Análise da Resistência ao Cisalhamento de Misturas de Solo Argiloso com Resíduos Fibrosos da Casca do Coco
(Coco nuciferas) - Antônio Italcy de Oliveira Júnior; José Fernando Thomé Jucá; Janilson Alves Ferreira
CB 34557 Análise da Variabilidade do Comportamento Geotécnico de Mistura de Solo Residual Silto Argiloso e Resíduo da
Construção Civil Frente ao Solo Residual Silto Argiloso In Natura - Tiago Luiz Costa da Silva; Christiane Ribeiro da
Silva; Flavia Cauduro
CB 34689 Análise de Compatibilidade entre Solução Contaminante de Cloreto de Sódio e Misturas de Solo Tropical
Quimicamente Estabilizadas com Fosfogesso e Bentonita - Yago Isaias da Silva Borges; Bismarck Chaussê Oliveira;
Márcia Maria dos Anjos Mascarenha
CB 34413 Análise de Metodologias de Estudo da Susceptibilidade à Liquefação de Solos e Rejeitos de Mineração - Vanessa
Luiza Thums; Karla Cristina Araújo Pimentel Maia; Thiago Coutinho de Souza
CB 35633 Análise de Compressibilidade dos Resíduos Sólidos Urbanos do Aterro de Nova Iguaçu –RJ - Ana Ghislane
Henriques Pereira Van Elk; Annik Frassa Klink; Andreia Lima Gontijo; Mariana Garcia Araujo
CB 35918 Análise dos Deslocamentos Verticais e Horizontais do Vazadouro de Marambaia, Nova Iguaçu – RJ - Ana Ghislane
Henriques Pereira van Elk; Gabriele Sthefanine Silva Azevedo; Laendro Rangel Correia; Elisabeth Ritter
CB 36064 Análise Geotécnica Comparativa da Aplicação de Misturas de Solo-RCD dos Estados do Rio Grande do Norte e
Mato Grosso em Camadas de Pavimentos Urbanos - Janaína Galvíncio de Azevedo; Enio Fernandes Amorim;
Chaiany Barbosa dos Santos
CB 34608 Análises Estatísticas dos Parâmetros de Resistência ao Cisalhamento e Peso Específico de Resíduos Sólidos
Urbanos Presentes na Literatura - Leonardo Vinícius Paixão Daciolo; Natália de Souza Correia; André Luis
Christoforo
CB 36126 Aplicação de Materiais Naturais e Resíduos Oriundos da Mineração em Obras de Pavimentação - Francisco das
Chagas da Costa Filho; Enio Fernandes Amorim; Maria del Pilar Durante Ingunza; Mauriceia Medeiros
CB 36025 Aplicação de Telhados Verdes em Coberturas Pré-Existentes: Casos de Obra - Italo Andrade Vasconcelos; Fagner
Alexandre Nunes de Franca; Eduardo Euler Batista de Araújo; Ada Cristina Scudelari
CB 34411 Avaliação da Densidade Real das Partículas de Materiais Geotécnicos Expostos a Ataque Ácido - Rafael de Souza
Tímbola; Suéllen Tonatto Ferrazzo; Lucimara Bragagnolo; Elvis Prestes; Eduardo Pavan Korf; Pedro Domingos
Marques Prietto; Gean Delise Leal Pasquali Vargas
CB 34317 Avaliação da Erodibilidade do Solo de Característica Não Laterítica Sob o Enfoque Geotécnico nas Margens da TO-
222 no Município de Araguaína – TO - Glacielle Fernandes Medeiros; Renata de Morais Farias; Palloma Borges
Soares; Ana Sofia Oliveira Japiassu; Andressa Fiuza de Souza; Igor Guimarães Matias
CB 35838 Avaliação da Erodibilidade do Solo, por Métodos Indiretos no Campo de Instrução de Santa Maria – RS - Leila
Posser Fernandes; Rinaldo José Barbosa Pinheiro; Andrea Nummer
CB 35140 Avaliação da Resistência à Compressão Não-Confinada e Cisalhamento de Dois Tipos de Solos com Adição de
Fibras de Papel Kraft - Daphne Rossana León Mogrovejo; Paulo José Rocha de Albuquerque
CB 34595 Avaliação do Comportamento de Misturas Alternativas de Solo, Cimento e Pó de Pedra para Aplicação em
Pavimentação. - Leandro Canezin Guideli; Caio Vinicius Ronha Peres; Jesner Sereni Ildefonso; Juliana Azoia
Lukiantchuki
CB 35004 Avaliação do Comportamento do Solo Laterítico de Brasília Misturado com a Fração de Vermiculita Expandida no
Preenchimento de Cavas em Regiões Urbanas - Sonny Albert Amorim da Silva; Neusa Maria Bezerra Mota; Victoria
Maria Callai de Melo
CB 35654 Avaliação do Comportamento Mecânico de Solo Típico de Manaus/AM Aditivado com Resíduos Poliméricos -
Brendo Wesley Souza de Azevedo; Juliano Rodrigues Spínola; Cláudia Ávila Barbosa; Consuelo Alves da Frota
CB 35272 Avaliação do Comportamento Mecânico do Solo Laterítico de Brasília Misturado com a Fração de Vermiculita
Expandida e Cimento no Preenchimento de Cavas de Infraestruturas em Regiões Urbanas - Sonny Albert Amorim
da Silva; Vanilson Santos Gustavo; Wallace Leonel Silva Peres; Jairo Furtado Nogueira
CB 35471 Avaliação do Efeito da Camada de Cobertura na Estabilidade em Aterros de Resíduos Sólidos Urbanos - Alison de
Souza Norberto; Rafaella de Moura Medeiros; Maria Odete Holanda Mariano
CB 35496 Avaliação do Perigo de Contaminação do Solo em Função do Sistema de Disposição Final de Resíduos Sólidos em
Valas Utilizando Ferramenta SIG - Grasiele Simplicio Murari Rodrigues; Anna Silvia Palcheco Peixoto
CB 34476 Avaliação do Uso de Resíduos de Construção e Demolição Reciclados (RCD-R) Produzidos em Aparecida de
Goiânia-GO em Estruturas de Solo Reforçado (ESR) com Geossintéticos e em Pavimentação. - Mateus Porto Fleury;
Eder Carlos Guedes dos Santos
CB 35802 Bibliometric Analysis of Iron Nanoparticle Toxicity in Soil Remediation - Guilherme Victor Vanzetto; Pietra Taize
Bueno; Antônio Thomé
CB 35719 Camadas de Cobertura Oxidativas Aplicadas a Aterros Sanitários - Riadny Patrícia de Souza Ferreira; Guilherme
José Correia Gomes; José Fernando Thomé Jucá
CB 35662 Caracterização de Resíduos Químicos nos Sedimentos da Barragem de Abastecimento de Água no Ribeirão São
João no Município de Porto Nacional – Tocantins - Marcus Vinícius Vieira Viana Souza; Ana Caroliny Vanderley
Carvalho; Alan Henrique Carneiro Brito; Ângelo Ricardo Balduíno
CB 36232 Caracterização dos Passivos Ambientais Rodoviários Geotécnicos Encontrados ao Longo da Faixa de Domínio da
BR-116 de Acordo com a Localização Geográfica - Amanda Christine Gallucci Silva; Jhonatan Tilio Zonta; Cristhyano
Cavali da Luz; Larissa de Brum Passini
CB 35340 Caracterização Geotécnica de Resíduos de Construção e Demolição Reciclados (RCD-R) Produzidos por uma Usina
de Reciclagem em Aparecida de Goiânia-GO - Marcela Leão Domiciano; Eder Carlos Guedes dos Santos
CB 34721 Carga Elétrica Superficial Variável e Adsorção de Chumbo no Resíduo Casca de Arroz - Diego Diez Garcia; Paulo
Scarano Hemsi
CB 35412 Comportamento Geotécnico de Misturas de Areia Argilosa Laterítica com Lodo da Estação de Tratamento de Água
do Município de Cubatão - Edy Lenin Tejeda Montalvan; Maria Eugenia Gimenez Boscov
CB 35448 Comportamento Mecânico de um Solos Siltoso com Cal de Carbureto. - Andréa Vanessa Carvalho Leal Correa; Geisa
de Almeida Fontinele; Jonatha Jalbem Monte de Matos; Lucas Fernandes Santos; Consuelo Alves da Frota
CB 34364 Composição Gravimétrica dos Resíduos Domiciliares da Região Administrativa Leste do Município de Teresina/PI
- Anderson do Nascimento Sousa; José Fernando Thomé Jucá; João Francisco Oliveira Nery; Domingos Brasil da Silva
Junior; Jerônimo da Silva Sales; João Paulo Ferreira de Oliveira
CB 34755 Compresibilidad de Residuos Sólidos Urbanos en Rellenos Controlados - Ana Ghislane Henriques Pereira Van Elk;
Maria Eugênia Gimenez Boscov; Luis Sopeña Mañas; Ricardo Abreu
CB 36304 Determinação de Parâmetros Característicos de um Solo Tropical da Baixada Fluminense no Estado do Rio de
Janeiro - Viktor Labuto Fragoso Sereno Ramos; Claúdio Fernando Mahler; Fernando Benedicto Mainier
CB 35507 Efeito da Adição de Resíduo de Alumínio nos Parâmetros de Resistência ao Cisalhamento de Solo Típico de
Manaus/AM - Bruno Barbosa Frota; Paulo Sergio da Silva; Matheus Pena da Silve e Silva; Consuelo Alves da Frota
CB 34670 Efeito da Contaminação por Combustíveis nos Parâmetros de Compactação de Solos Tropicais – Uma Análise
Comparativa dos Resultados com a Microscopia Eletrônica de Varredura - José Wilson Batista da Silva; Natália de
Souza Correia
CB 34626 Efeito do Encapsulamento com Cal na Plasticidade e Resistência à Compressão Uniaxial de um Solo Areno-Argiloso
Contaminado com Óleo Diesel - Igor Santos Mendes; Fernando Henrique Martins Portelinha; Natália de Souza
Correia
CB 34724 Efeito do Teor de Sólidos na Resistência ao Cisalhamento de um Lodo de ETA Visando Seu Uso em Cobertura Diária
de Aterros Sanitários - Angélica dos Santos Silva; Paulo Scarano Hemsi
CB 35911 Efeitos da Incorporação de Resíduos Grits na Qualidade Tecnológica de Tijolos Solo-cimento - Júlia Fonseca
Colombo Andrade; André Geraldo Cornélio Ribeiro; Rafael Farinassi Mendes; Lucas Cardoso Lima; Gustavo Dalia
Foresti
CB 35233 Emissão Fugitiva de Metano Através do Sistema de Cobertura do Aterro Sanitário Metropolitano Centro - Larissa
Aparecida Góes Damasceno; Miriam de Fátima Carvalho; Sandro Lemos Machado; Iara Brandão de Oliveira
CB 34559 Ensaios de Caracterização Geotécnica e Reológica de Rejeito Granular e Lama Depositada em Barragem de
Rejeitos da Mineração de Carvão - Christiane Ribeiro da Silva; Jair Carlos Koppe; Flavia Cauduro
CB 34309 Estabilização do Rejeito de Manganês de Licínio de Almeida-BA com Cimento para Utilização em Rodovias -
Adriana Viana Neves; Hélio Marcos Fernandes Viana; José Carvalho Borges Santos; Rubem Xerxes Trindade
Rodrigues; João Paulo Freire Rocha
CB 36343 Estabilização do Solo com Material Não Convencional: Um Estudo Experimental. - Jaqueline dos Santos Santos;
Beatriz Ferreira Pantoja; Victória Araújo corrêa; Gérson Jacques Miranda dos Anjos
CB 36623 Estudio de una Barrera Impermeable Portante de Grava-Bentonita como Material Sellante - Maria Turcuman;
Sergio Yazzar; Nelly Rojas; Pablo Valenzuela; Emilia Flores
CB 35457 Estudo da Caracterização Geotécnica de Zeólita Natural para Utilização em Geotecnia Ambiental - Ligia Abreu
Martins; Karla Maria Wingler Rebelo; Yago Guidini da Cunha
CB 35028 Estudo da Erodibilidade de Solos Modificados com Fibra de Cana-de-Açúcar por Meio do Ensaio de Inderbitzen
Adaptado - Adinele Gomes Guimarães; Ana Carolina Moraes Rangel; Pamella Nobrega Neves; Pamella Nobrega
Neves
CB 34304 Estudo da Erodibilidade de um Solo do Bairro do Gomeral, Guaratinguetá – SP - Jessica Duarte de Souza; Mariana
Ferreira Benessiuti Motta; George de Paula Bernardes
CB 35772 Estudo da Infiltração em Camadas de Cobertura Compostas com Resíduos da Construção Civil - Lourdes Lina Padilla
Martinez; Maria do Socorro Costa São Mateus
CB 35833 Estudo da Resistência Mecânica de Tijolos Solo-Cal Incorporados dom Resíduos Industriais - Wily Santos Machado;
Jonatas Kennedy Silva de Medeiros; Damares de Sá Ramalho Neta; Palloma Karolayne Santos Oliveira; Nayla Kelly
Antunes de Oliveira; Raquel Ferreira do Nascimento; Suélen Silva Figueiredo; Larissa Santana Batista
CB 34734 Estudo da Sorção de Fósforo como Subsídio para a Disposição Final de Efluente Doméstico Tratado no Solo. - Hana
Carolina Gomes e Souza; Rose Mary Gondim Mendonça
CB 34671 Estudo de Estabilização Granulométrica Utilizando Rejeito de Mineração - Klaus Henrique De Paula Rodrigues;
Gilberto Fernanes
CB 36160 Estudo de Misturas de Solo com Adição de Lodo de Estação de Tratamento de Água para uso em Aterro Sanitário
- Eduarda Fração Santos; Juliana Scapin; Rinaldo José Barbosa Pinheiro
CB 35818 Estudo do Solo para Utilização em Camada de Base e Cobertura de Aterro Sanitário na Cidade de Campina Grande
– PB. - Damares de Sá Ramalho Neta; Larissa Santana Batista; Nayla Kelly Antunes de Oliveira; Palloma Karolayne
Santos Oliveira; Jonatas Kennedy Silva de Medeiros; Wily Santos Machado
CB 35188 Estudo Experimental da Erosão em Margens de Reservatórios pela Simulação de Diferentes Escoamentos
Superficiais. - Marlon Silva Schliewe; Ricardo Moreira Vilhena; Márcia Maria dos Anjos Mascarenha; Joel Roberto
Guimarães Vasco; Maurício Martines Sales
CB 35598 Estudo Pedológico em Área de Aterro Sanitário do Consórcio de Municípios do Agreste e Mata Sul do Estado de
Pernambuco - Raliny Mota de Souza Farias; Laís Roberta Galdino de Oliveira; Ericka Patrícia Lima De Brito; Silvio
Romero de Melo Ferreira; José Fernando Thomé Jucá
CB 34786 Estudos, Análises e Proposta de Recuperação para um Processo Erosivo Localizado às Margens da DF 250 no
Distrito Federal - Rideci Farias; Haroldo Paranhos; Luana Rangel Marques; Nelson Otávio da Motta Vieira; Yngrid
Pereira Marques
CB 35534 Gestão de Áreas Contaminadas: Um Panorama do Cenário Mundial - Adeli Beatriz Braun; Adan William da Silva
Trentin; Caroline Visentin; Antonio Thomé
CB 35425 Influência da Adição de Fibra de Coco (Coco nuciferas) na Compressibilidade de um Solo Argiloso - Antônio Italcy
de Oliveira Júnior; José Fernando Thomé Jucá; Janilson Alves Ferreira
CB 34277 Influência da Adição de Resíduo de Polimento de Porcelanato (RPP) nas Propriedades de Misturas Asfálticas
Densas - Carlos Alexandre Scheffer; Luiz Renato Steiner; Ingrid Milena Reyes Martinez Belchior
CB 36317 Influência de Parâmetros Geoquímicos em Misturas de Solo com Rejeitos de Mineração de Ferro com Finalidade
de Reaproveitamento em Obras Civis - Thaís Guimarães dos Santos; André Augusto Nobrega Dantas; Luís Fernando
Martins Ribeiro
CB 34491 Influência do Resíduos da Construção Civil e Demolição no Ganho de Resistência a Erodibilidade dos Solos
Tropicais no Município de Araguaína –TO - Glacielle Fernandes Medeiros; Lucas Lima Coelho; Rayssa Rafaella de
Souza da Cruz Oliveira; Taysa de Morais Rocha; Stefany Lima Botelho; Mônica Ciriaco Dias
CB 34294 Influência Mecânica do Rejeito de Carvão Mineral Incorporado ao Revestimento Asfáltico - Kelyn Rodrigues
Moreno; Agenor de Noni Junior; Ingrid Milena Reyes Martinez Belchior; Carlos Alexandre Scheffer
CB 34351 Mapeamento Geoambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Cubatão – Joinville/SC - Diogo Marcelo Zimmermann;
Rafael Augusto dos Reis Higashi
CB 35827 Melhoramento de Solo com Adição de PET Reciclado e Cimento Portland. - Jonatas Kennedy Silva de Medeiros;
Giovanna Feitosa de Lima; Valéria Victória Pereira da Silva; Larissa Santana Batista; Wily Santos Machado; Palloma
Karolayne Santos Oliveira; Nayla Kelly Antunes de Oliveira; Damares de Sá Ramalho Neta
CB 36515 Melhoria das Propriedades Mecânicas do Solo de Subleito Mediante Utilização de Escória de Aciaria - Gabriella
Melo de Deus Vieira; Pryscilla Morais de Oliveira; Lucas Gabriel Lopes da Silva; Ivonne Alejandra Maria Gutiérrez
Góngora
CB 34884 Projeto de Remediação de Área Degradada pela Disposição Inadequada de Resíduos Sólidos no Município de São
José dos Ausentes/RS - Amanda Bueno de Lima; Jaqueline Bonatto
CB 34316 Redução da Permeabilidade de Amostras Compactadas de Solos Areno-Argilosos com a Percolação da Águas de
Produção de Petróleo Devido à Dispersão de Argilas - Fernando Antonio Leite Vieira Lima; Sandro Lemos Machado
CB 35675 Remediação de um Solo Argiloso Contaminado com Cromo Hexavalente, Utilizando Nanopartículas de Ferro Zero
Valente - Cleomar Reginatto; Iziquiel Cecchin; Antonio Thomé; karla Salvagni Heineck; Krishna R. Reddy; Marcos
Mognon
CB 36002 Resistência ao Cisalhamento de Solo Arenoso com Fibras de Politereftalato de Etileno Reciclado - Tayane
Westermann Lopes Castilho; Roger Augusto Rodrigues
CB 35213 Revisão Bibliográfica dos Estudos Sobre a Utilização de Rejeito de Minério de Ferro na Construção - Luisa Muniz
Santos Sampaio; Diogo Wagmacker Nascimento; Cláudia Rodrigues Teles; Geilma Lima Vieira
CB 35247 Revisão Sistemática de Pesquisas Relacionadas a Solos Contaminados por Petróleo Bruto, Alto Grau de Salinidade
e Ensaios de Toxicidade - Thaynara Santana Rabelo; Fabiana Pereira Coelho; Daniela Maia Bila; Elisabeth Ritter
CB 35533 Sustentabilidade Aplicada na Remediação de Áreas Contaminadas - Caroline Visentin; Adan William da Silva
Trentin; Adeli Beatriz Braun; Antonio Thomé
CB 35649 Utilização de Rejeitos de Demolição da Construção Civil (RDC) em Concreto Asfáltico - Joel Carlos Moizinho;
Francinelly Felix Cavalcante de Andrade; Adriano Frutuoso da Silva

TEMA: GEOTECNIA SOCIAL

CB 36247 Análise das Condições Geológico-Geotécnicas de Vilas e Favelas - Gustavo Vinicius Gouveia; Bruno Henrique
Longuinho Gouveia; Gabrielle Sperandio Malta; Cristina Santos Araujo; Ana Mara Torres; Karoline Rodrigues Costa
CB 36439 Conscientização Ambiental e Geotécnica: O Papel da Universidade na Comunidade em um Projeto de
Geoprevenção - Carla Vieira Pontes; Talita Gantus de Oliveira; Vítor Pereira Faro; Roberta Bomfim Boszczowski
CB 35755 Mapeamento Geotécnico Preliminar e Análise do Meio Físico como Instrumento de Auxílio ao Planejamento
Urbano na Cidade de Braço do Norte/SC. - Dayani Della Giustina Michels; Rafael Augusto dos Reis Higashi

TEMA: INOVAÇÕES EM GEOTECNIA

CB 35774 A Técnica de Solos Transparentes Aplicada em Modelagem Física Geotécnica - Luisa Muylaert de Menezes Póvoa;
Vivian de Melo Fonseca; Paulo César de Almeida Maia; Fernando Saboya Albuquerque; Ana Carolina das Chagas
CB 35647 Adequação de uma Obra de Estabilização de Encosta na Cidade do Salvador-BA Levando em Consideração os
Conceitos de Sustentabilidade Ambiental e Interação com o Meio - Danilo Bastos Barbosa; Márcio dos Santos Brito;
Ronaldo Ramos de Oliveira; Hélio Machado Baptista
CB 34585 Análise da Inclusão de Fibras de Garrafa PET em Aterros de Rodovias - Virna Iayane Montenegro de Carvalho;
Isabelly Cicera Dias Vasconcelos; Glauton de Moura Macêdo; Rhavena Luzia Ferreira de Lima; Tales Lourenço da
Silva
CB 35812 Análise da Interferência do Tempo na Técnica de Inversão de Polaridade e a Influência da Porcentagem de Sólidos,
no Processo de Desaguamento Eletrocinético de um Rejeito Proveniente de Mineração de Bauxita - Ana Carolina
Ferreira; Lucas Deleon Ferreira; Romero César Gomes
CB 34753 Análise da Variação dos Fatores de Segurança de Taludes com Adição de Resíduos de Gesso - Laís Verissimo do
Nascimento; Carla Beatriz Costa de Araújo; Tiago Alves Morais
CB 34914 Análise da Viabilidade do Emprego de Fibras Naturais de Sisal como Reforço de Solos - Hellen Evenyn Fonseca da
Silva; Caio Soares Camargos; Ivonne M. A. G. Góngora; Rideci de Jesus Farias
CB 34889 Análise dos Parâmetros do Solo Misturado com Polietileno de Baixa Densidade (PEBD) Reciclado - Caio Soares
Camargos; Lorena Silva Pereira; Ivonne Alejandra Gutierrez Gongora; Hellen Evenyn Fonseca da Silva
CB 36177 Desaguamento de Rejeitos do Processamento de Minério de Ferro com Uso de Polímeros Superabsorventes. -
João Paulo Aparecido Arruda; Douglas Henrique Santos Sousa; Dr. Eleonardo Lucas Pereira; Dr. Romero César
Gomes; Augusto Cesar da Silva Bezerra
CB 35758 Efeitos da Inclusão de PET Triturado em um Solo Predominantemente Arenoso de Porto Alegre/RS. - Angelo
Mazzarolo Rigo; João Paulo Louzada Nardin; Maurício Tellechea Martini; Lysiane Menezes Pacheco
CB 34946 Estudo Comparativo dos Parâmetros de Resistência do Solo Reforçado com Cal e Geogrelha - Hellen Evenyn
Fonseca da Silva; Caio Soares Camargos; Matheus Viana de Souza; Rideci Farias
CB 36026 Estudo Comparativo entre Fibras Naturais e Fibras Sintéticas Empregadas como Reforço Estrutural de Latossolos
- Luis Felipe dos Santos Ribeiro; André Augusto Nóbrega Dantas
CB 36204 Estudo do Comportamento Mecânico de um Solo Argila Arenosa Estabilizado com Casca de Ovo Galináceo
Calcinada - Jaqueline dos Santos Santos; Augusto Bopsin Borges; Luciana Carvalho Queiroz; Beatriz Ferreira Pantoja
CB 34712 Mapeamento da Voçoroca Contorno em Anápolis–GO por Meio de Geotecnologias - Rafael Veloso de Moura;
Antônio Lázaro Ferreira dos Santos; Leomar Rufino Alves Junior
CB 34768 Utilização da Técnica de Melhoramento de Solo Típico da Serra Gaúcha para Uso em Pavimentação - Suelen
Menegotto; Jaqueline Bonatto
CB 34330 Melhoramento de Solos Arenosos com Polímeros - Thiago Manes Barreto; Michéle Dal Toe Casagrande; Lucas
Mendes Repsold
CB 36101 Monitoramento da Velocidade de Fluxo Subsuperficial de uma Barragem de Terra com o Uso da Tecnologia de
Fibra Óptica - Marcelo Buras; Esther Dyck; José Henrique Ferronato Pretto; Joubert Weigert Favaro; Rodrigo Moraes
da Silveira; Roberto Werneck Seara
CB 36088 Monitoramento Geotécnico através da Tecnologia de Fibra Óptica para Avaliação das Deformações de uma
Encosta da Serra do Mar Catarinense - Joubert Weigert Favaro; José Henrique Ferronato Pretto; Marcelo Buras;
Rodrigo Moraes da Silveira; Lúcio Flávio Rocha Carvalho
CB 35741 O Uso de Drone Multirrotor de Pequeno Porte para Diagnóstico e Monitoramento de Acidentes Geológicos -
Marcelo Fischer Gramani; Caio Pompeu Cavalhieri; Ana Paula de Souza Silva; Juliana da Costa Mantovani; Camila
Bertaglia Carou
CB 36477 Prova de Carga a Tração em Fundações Rasas Construídas em Terreno Melhorado a partir de Injeção de Calda de
Cimento - Adilson Santiago da Silva; Marcelo Buras; Rodrigo Moraes da Silveira
CB 36190 Resistência, Rigidez e Durabilidade de uma Areia Melhorada por Meio da Utilização de Resíduos Industriais -
Mariana da Silva Carretta; Helena Batista Leon; Maurício Birkan Azevedo; João Victor Linch Daronco; Nilo Cesar
Consoli
CB 35646 Reutilização de Resíduos de Misturas Asfálticas para Estabilização à Quente de Solo para Base e Sub-Base de
Pavimentos - Joel Carlos Moizinho; Gabriel Ricardo Sousa Freitas; Adriano Frutuoso da silva; Gioconda Santos e
Sousa Martinez; Maria de Nazaré Batista da Silva
CB 36611 Sistema de Monitoramento Contínuo de Convergência e Vibrações em Escavações Subterrâneas - Arthur Resende
Matos; Alexandre Assunção Gontijo; Gustavo Batista; Leandro Roque da Fonseca
CB 35294 Uso da Tecnologia Expander Body em Estacas Solicitadas a Tração e a Compressão Assentes em Solo Tropical do
Brasil - Carlos Medeiros Silva; Mario A. Tercero H.; Carmine Esposito; Dasiel Hernández; Renato Pinto Cunha
CB 34650 Utilização de Metodologia para Detecção e Alívio de Tensões em Dutos Enterrados Causadas por Movimentação
de Rastejo - Laís Regina de Oliveira Tavares; Roberta Amorim Leite; Marcelo Luvison Rigo; José Pereira Soares;
Janaina Dias Avelino; Erica Varanda; Leandro Souza Fully de Goveia
 

TEMA:  
EDUCAÇÃO EM GEOTECNIA 
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

A Importância do Conhecimento do Solo para a População e seus


Meios de Vivência.
Jesus Carlos Tiburtino Brasil
Universidade Federal de Campina Grande, Pombal – PB, Brasil, jesuscarlos0800@gmail.com

Túlio Henrique Gomes


Universidade Federal de Campina Grande, Pombal – PB, Brasil, tulio_henrique_g@hotmail.com

Vitória Barros de Sá Magalhães


Universidade Federal de Campina Grande, Pombal – PB, Brasil, vitoria_sah@hotmail.com

Yago Wiglife de Araújo Maia


Universidade Federal de Campina Grande, Pombal – PB, Brasil, yagowiglife23@gmail.com

Yanneson Marlon de Araújo Lira


Universidade Federal de Campina Grande, Pombal – PB, Brasil, yannesonaraujo@gmail.com

RESUMO: O conhecimento adequado das condições do solo na construção civil é fator essencial
para que se desenvolvam alternativas que levem a soluções tecnicamente seguras e viáveis
economicamente. O estudo destas condições é hoje uma das grandes carências da sociedade, onde
remetem a vários problemas. O presente artigo objetiva mostrar a necessidade de conscientizar a
população acerca dos problemas enfrentados comumente pela falta de conhecimento do uso do solo,
que vem à tona anualmente com os dados divulgados pelos orgãos competentes em relação aos
desastres naturais que estão, em boa parte deles, diretamente ligados ao tratamento inadequado do
solo. A pesquisa apresenta uma relação da parte dos individuos leigos que utilizam, sem o devido
conhecimento, de regiões inadequadas para construção de obras, bem como, a parcela daqueles que
estão cientes dos danos que o solo pode sofrer caso não seja tratado da forma correta.

PALAVRAS-CHAVE: Estudo Geotécnico, Uso do Solo, Desastres Naturais.

1 INTRODUÇÃO material está presente em diversas situações do


processo construtivo. Um exemplo clássico é
Dado como uma ciência que proporciona várias que toda a edificação é apoiada no solo, assim,
frestas para outras áreas, a geotecnia vem sendo para a execução da fundação necessita-se do
um ponto importante de ligação entre o homem estudo desses itens. Os solos estão presentes em
e o solo. O crescimento habitacional em várias etapas ou tipos de construção, algumas
diversas regiões do Brasil e do mundo surge delas são fundações de obras civis, compactação
atrelado ao aparecimento de construções de de solos, estabilização de solos, estabilidade de
obras de infraestrutura, sendo essa ciência que taludes, erosões, drenagens e túneis. Sendo
lidará com a forma na qual o meio ambiente se assim, o solo se torna um componente
adaptará e aceitará as atividades humanas sobre indispensável para obras de engenharia civil e é
ele. imprescindível que se conheça seu
Quando pensamos no estudo dos solos para comportamento nas mais diversas situações.
as construções devemos lembrar que esse (De Souza, 2015).
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
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A investigação, previsão e precaução de a paisagem urbana, tornando-a mais vulnerável


vários problemas naturais ligados ao solo como, a novas ocorrências.
deslizamentos de terra, inundações, erosão, Segundo Rosa Filho & Cortez (2010) a
lixiviação, aparecimento de sumidouros, entre intensa urbanização e o agravamento da crise
outros, estão diretamente atrelados à atividade econômica do Brasil têm reduzido as
geotécnica. A necessidade de uma informação alternativas habitacionais da população de mais
sobre o conhecimento das ocorrências no solo baixa renda, que passou a ocupar áreas
vai muito além de uma sala de aula e sim de geologicamente desfavoráveis, sem
uma interação entre os vários meios de planejamento e infraestrutura. Esse quadro tem
divulgação e dispersão das informações em contribuído para o incremento das situações de
torno dele. risco associadas a processos do meio físico.
Segundo dados do Instituto de Pesquisas Com poucas alternativas de locais de
Tecnológicas – IPT (2007), o aumento do moradia, a população de baixo poder aquisitivo
número de pessoas vivendo em áreas de risco de acabam tendo que morar em áreas de risco,
deslizamentos, enchentes e inundações têm sido ficando vulneráveis aos movimentos de terra e
uma das características negativas do processo colocando-se à mercê do acaso. O fato é que,
de urbanização e crescimento das cidades embora vivendo em áreas de deslizamento, de
brasileiras, o que se verifica, principalmente, acordo com Rosa Filho & Cortez (2010) os
nas regiões metropolitanas. Fatores econômicos, moradores de algumas favelas permanecem no
políticos, sociais e culturais contribuem para o local, sendo possível identificar em suas
avanço e a perpetuação desse quadro percepções:
indesejável.  Não têm para onde ir;
Os solos tropicais, mesmo em seu estado  Não têm condições de pagar aluguel;
natural, estão sujeitos a processos de  Já vivem nas encostas há muito tempo,
instabilização, rastejos, escorregamentos, possuindo raízes históricas no local;
quedas e tombamentos de blocos de solo ou  Pensam sempre que o risco ocorre com o
rocha e rolamentos de matacões. A ação outro e nunca consigo mesmo;
humana, como a ocupação urbana de forma Grande parte dessas situações está associada
inadequada, induz a deflagração de tais aos escorregamentos e processos correlatos.
processos. Esses têm provocado acidentes com graves
danos sociais e econômicos em várias cidades,
além de danos diversos em obras civis como
2 CONTEXTO HISTÓRICO estradas, dutovias e etc, em diferentes regiões
do país.
Os deslizamentos de terra têm aumentado Rosa Filho & Cortez (2010) apud Cerri
consideravelmente nas últimas décadas, (1993), abordando a extensão geográfica dos
principalmente nos centros urbanos dos países riscos geológicos associados a escorregamentos,
emergentes, onde esses movimentos afirma que mais de 100 países das Américas do
gravitacionais de massa são agravados Norte, Central e do Sul, e da Europa, África e
proporcionalmente pela urbanização intensa e a Ásia, apresentam graves situações deste tipo
construção de moradias em encostas particular de risco. Para o autor, no Brasil,
acentuadas. Os deslocamentos de massa considerando-se o histórico de acidentes e as
constituem riscos, que provocam consequências perdas potenciais inerentes aos riscos
graves como o bloqueio de vias de circulação, o geológicos instalados em áreas de encostas
soterramento de casas e, consequentemente, a ocupadas, os escorregamentos representam, de
ocorrência de vítimas fatais. Além disso, longe, os de maior gravidade, principalmente
provocam diversos danos ambientais, alterando em razão de frequentemente acarretarem perda
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Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
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de vidas humanas. distribuídos: como enchentes ocorrem


Ainda segundo Cerri (1993), os aspectos normalmente em várzeas e em áreas onde a
relacionados com a expansão das cidades e o drenagem é insuficiente.
desenvolvimento industrial e a concentração Os respectivos autores concluem dizendo
urbana, a crise econômica e a implantação de que características do mercado de terras, fazem
habitações subnormais acabam por induzir à com que áreas de risco (próximas a lixões,
instalação de inúmeras situações de risco sujeitas a desmoronamentos) sejam as únicas
geológico associadas a escorregamentos em áreas acessíveis a grupos de renda mais baixa,
encostas de vários municípios brasileiros, que acabam por construir nesses locais
frequentemente envolvendo áreas de grande domicílios em condições precárias, além de
dimensão. As regiões metropolitanas do Rio de enfrentar outros problemas sanitários e
Janeiro, São Paulo, Salvador e Belo Horizonte nutricionais.
são áreas onde os riscos geológicos associados a De acordo com Cerri (1993), os resultados de
escorregamentos em encostas ocupadas identificação de riscos geológicos e
assumem as maiores proporções. hidrológicos na Região Metropolitana de São
De acordo com o Instituto de Pesquisas Paulo e no Município de São Paulo – RMSP, os
Tecnológicas - IPT (2002) os riscos ambientais, levantamentos realizados por empresas de
são qualificados sob díspares abordagens na geotecnia em 1989 e 1990, em 240 favelas
bibliografia internacional e nacional. críticas do município de São Paulo, concluíram
 Naturais - Referentes ao meio ambiente e que cerca de 60% das moradias em risco
à dinâmica natural (interna e externa). apresentavam problemas de instabilização de
Embora naturais, podem ser induzidos e encostas, enquanto 40% correspondiam a riscos
intensificados pelas atividades humanas. associados a enchentes e inundações.
Ex: terremotos, escorregamentos,
enchentes.
 Tecnológicos - Referentes ao meio 3 DESASTRES NATURAIS
ambiente antrópico e associados a
processos produtivos, opções e Destacam-se hoje no Brasil, pelo Anuário de
concepções técnicas. Ex.: vazamentos de Desastres Naturais, três diferentes bases de
produtos tóxicos, materiais explosivos. dados para os históricos de desastres que
 Sociais - Referentes ao meio ambiente ocorrem no país, são elas: O Atlas Brasileiro de
social e associados a circunstâncias que Desastres Naturais, organizada pelo Centro de
envolvam, diretamente, as atividades Estudos e Pesquisas em Engenharia e Defesa
econômicas e a liberdade do homem. Civil - CEPED; o Diagnóstico do Plano
Ex: guerras, atentados. Nacional de Gestão de Riscos e Respostas a
Sayago & Guido (1990) ressaltam os termos Desastres, organizada pela Fundação Getúlio
risco geológico associado a processos sísmicos, Vargas (FGV) e; o Sistema Integrado de
de inundação pluvial, como alagamentos por Informações sobre Desastres. O Atlas Brasileiro
ausência de drenagem superficial, e de de Desastres Naturais é resultado de uma
inundação fluvial; Risco geomorfológico pesquisa realizada pelo CEPED da
quando há processos de remoção de massa e de Universidade Federal de Santa Catarina
erosão, e risco geotécnico quando associado a (UFSC), com cooperação da Secretaria
obras de engenharia. Nacional de Defesa Civil, o Atlas Brasileiro de
Para Torres & Costa (2000), a ideia de risco Desastres Naturais disponibiliza informações de
resulta na existência de um agente ameaçador e desastres ocorridos entre os anos de 1991 e
de um agente receptor. Assim, os riscos 2013.
ambientais são muitas vezes espacialmente É forte a ligação entre o uso do solo e os
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desastres naturais. A busca por informações se move sob a ação da força da gravidade,
pelo material em que se está trabalhando é de necessariamente sob efeito de rupturas de solo
extrema importância para a prevenção de e/ou rochas. Incluem-se neste processo
acidentes que ocorrem diretamente no terreno escorregamentos, corrida de detritos, quedas de
como, por exemplo, erosões e deslizamentos de blocos, etc., sendo classificados de acordo com
terra e, por outro lado, alagamentos e as características do material, velocidade e
enxurradas que, quando ocorrem, podem chegar natureza do movimento, segundo o Anuário
a devastar totalmente a obra caso sua Brasileiro de Desastres Naturais (2013).
infraestrutura e o solo não estejam preparados
para receberem tal incidente.
Visando a importância de traçar os perfis das
ocorrências e planejar o gerenciamento desses
desastres, além da adoção de medidas de
prevenção de modo a evitar e diminuir os
impactos causados por eles, é que o Ministério
da Integração Nacional lançou o Anuário
Brasileiro de Desastres Naturais.
É considerável o número de afetados a cada
ano pelos acidentes naturais e os impactos em Figura 1: Incidentes relacionados a deslizamento de terra
por regiões.
longo prazo. Sendo assim, segundo o Anuário
Brasileiro de Desastres Naturais (2013),
podemos mostrar que foram oficialmente
4 LIMITES DO SOLO
reportados 493 desastres naturais, os quais
causaram 183 óbitos e afetaram 18.557.233
“O solo é o material de construção mais antigo
pessoas.
e mais comum que o homem dispõe, é uma
matéria prima bastante heterogênea e com
propriedades complexas, sendo de extrema
dificuldade a elaboração de um modelo exato
que caracterize satisfatoriamente o seu
comportamento” (De Souza, 2015). Muitas
vezes o estudo do solo não é feito em
determinado no lugar por ali já ter alguma
construção e os responsáveis não julgarem
como necessário. Porém é essa heterogeneidade
Tabela 1: Danos Humanos x Acidente Natural
que justifica ainda mais a necessidade de obter
o conhecimento prévio do solo.
Um dos eventos já citados nesse trabalho e Ainda de acordo com De Souza (2015):
que causam grandes danos a quem não toma o  O solo não possui comportamento
devido conhecimento do solo em que se está tensão-deformação linear ou único;
trabalhando é o deslizamento de terra. No  O comportamento de um solo varia de
Brasil, os danos causados por esse desastre é acordo com a solicitação aplicada, com
tanto material como humano, principalmente o tempo de aplicação e do meio
devido à ocupação inadequada e/ou irregular de ambiente;
áreas sob a ocorrência desse evento.  Para cada local existe um solo diferente;
O movimento de massa pode ser definido  Nem sempre está situado na superfície o
como o processo pelo qual o material rochoso solo a ser pesquisado, na maioria das
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vezes estão em horizontes profundos,


assim necessitando uma retirada de
pequenas amostras para seu estudo em 5 OCUPAÇÃO DE ENCOSTAS
laboratório;
 Muitos solos são sensíveis às No Brasil, uma realidade que sempre existiu foi
perturbações (modificações) na uso de áreas periféricas como, por exemplo, as
amostragem e não reproduzem, em encostas. Conforme Robaina (2008) é a partir
laboratório, suas características reais; da ampliação das cidades, e o avanço da
 Deve-se ainda considerar a possibilidade ocupação de áreas geomorfologicamente
de todos esses fatores se juntarem, o que vulneráveis por populações com baixo poder
acontece frequentemente, tornando o econômico que as situações de risco a desastres
problema de solos de difícil solução. naturais, no Brasil se intensificam e passam a
Para Becker (2001), os grandes riscos caracterizar um fenômeno urbano.
envolvidos em obras engenharia estão Com os crescentes avanços ocorridos nas
associados a problemas com o subsolo. Os áreas da geotecnia e geologia, pode-se afirmar
problemas estão associados com as incertezas que é possível ocorrer o subsidio de diversas
que são resultadas da ação da natureza e do ocupações em encostas com informações de
homem. Isto pode prejudicar substancialmente o valores imensuráveis. Porém, mesmo com a
projeto e o meio ambiente se o subsolo não é existência de Cartas Geotécnicas, que são
adequadamente conhecido. relacionadas diretamente com Planos Diretores
Conhecer de forma mais precisa o solo, a e Códigos de Obra, são dificilmente utilizadas.
exemplo daqueles que por sua fragilidade Sendo assim o conhecimento existente é ainda
devem permanecer intatos, ou, em raramente posto em prática.
contrapartida, por exemplo, aqueles que Assim, subsídios como os citados dão
permitem a execução de extensos cortes direcionamentos importantes para concepção de
subverticais sem necessitar de obras de novos assentamentos habitacionais em encostas,
contenção, bem como o processo de indicando também que tal tipo de
estabilização, seja ela potencial ou em curso, empreendimento necessita de
proporciona um projeto mais delineado, seguro multidisciplinaridade e interdisciplinaridade na
e econômico, e devido a isso, adequados às sua elaboração, compreendendo ao menos
particularidades do terreno. profissionais como arquitetos, geólogos e
Ainda nesse contexto, é permitido avaliar engenheiros geotécnicos.
inúmeras das decisões de projeto, como o No estudo feito por Farah (2003) mostra que
exemplo, na necessidade de obras geotécnicas a ocupação de encostas associada à habitação da
mais significativas, majoraram os custos, que população de baixa renda, no Brasil, tem
em habitações de interesse social, por exemplo, assumido características que variam entre o
o que pode inviabilizar o empreendimento. inadequado e o perigoso. Indicam-se raízes
Segundo Lima (1979), a melhor investigação sociais e técnicas do problema e suas
é aquela que fornece os elementos adequados no consequências. Analisam-se aspectos das
prazo que é necessário e com o custo legislações ambiental e urbana, em sua relação
compatível com o valor da informação. Ele com o problema, constatando-se sua ineficácia,
afirma que se pode estimar o custo das além de inadequações da legislação urbana, que
investigações do subsolo entre 0,5 e 1,0% do até mesmo induz implantações inadequadas.
custo da construção da estrutura, no qual o valor Comenta-se ser necessária a observância de
de uma investigação pode ser medido pela aspectos geológicos e geotécnicos, raramente
quantia que seria dispendida na construção se a considerados na ocupação.
investigação não for feita. Os deslizamentos de terra e a erosão são
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problemas que acontecem comumente nessas elaborado pelo Banco Mundial, as perdas e
áreas devido justamente a falta de planejamento danos foram significativos para o estado,
e cuidados com o solo na construção dessas totalizando 4,75 bilhões de reais. O relatório
obras conhecidas, muitas vezes, como aponta, ainda, que mais de 80 mil pessoas foram
informais. Geralmente presente em áreas de desalojadas e 38 mil ficaram desabrigadas. As
proteção ambiental ou com restrições de indústrias catarinenses estimaram perdas de R$
ocupação, a tomada de encostas esbarra em dois 358 milhões e o governo do Estado previu a
preceitos básicos de construção: a urbanização e perda de 15% na arrecadação anual.
o meio ambiente. Para os pesquisadores Maria Lúcia de Paula
Hermman, da UFSC (Universidade Federal de
Santa Catarina), e Júlio César Wasserman, da
6 A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO UFF (Universidade Federal Fluminense), ainda
GEOTECNICO que as características do clima e relevo
catarinense facilitem esse tipo de desastre, a
Diante dos vários problemas relacionados à responsabilidade maior da tragédia foi do poder
instabilidade do solo enfrentados hoje, é público, que ao longo dos anos não orientou as
necessário à população estar ciente dos pessoas a não ocuparem regiões de risco e não
contratempos que ocorrem originados pelo mau preparou a população catarinense para eventos
uso do solo na engenharia civil. Proveniente desse porte.
disso, o Brasil esteve diante de diversas Neste contexto, é nítida a importância da
catástrofes causadas por problemas no estudo população sempre estar ciente dos seus deveres
geotécnico, dentre elas: com o cuidado no uso e ocupação do solo nos
 Angra dos Reis cenários da construção civil e áreas afins. Um
Ocorreu no réveillon de 2010, atingindo várias mau conhecimento do solo pode ocasionar nas
regiões de Angra do Reis, no Sul Fluminense. A estruturas diversos tipos de problemas como,
tragédia que deixou 53 vítimas fatais devido ao por exemplo, o recalque resultando em trincas,
deslizamento de terra que foi provocado rachaduras ou o próprio rompimento da
principalmente, pelo excesso de precipitação na estrutura.
região, em 40 horas choveu cerca de 100 A ausência de um estudo para realização de
milímetros. De acordo com especialistas, a técnicas necessárias com destino ao
chuva concentrada em um ponto localizado melhoramento do solo nas construções, além de
encharcou a terra na encosta da ilha, chegando à problemas de compactação, contribui para
formação rochosa, o que provocou o impulsionar os problemas de erosão, que são
descolamento entre a terra e a rocha. A partir naturais, porém podem ser solucionados de
daí a terra descolada da rocha começa a várias maneiras as quais a engenharia
despencar em grande quantidade. geotécnica se dispõe a determinar. Em qualquer
É possível comparar o deslizamento de terra tipo de construção, este conhecimento mínimo
com uma avalanche – fenômeno comum em no solo em que está trabalhando é bastante
montanhas cobertas por neve. A velocidade que necessário para evitar todos estes problemas
a terra cai morro abaixo faz com que nenhum descritos, que por um lado podem custar
obstáculo neste percurso seja poupado. bastante caro para aquele que tentou
 Santa Catarina economizar, ou não teve conhecimento
Em novembro de 2008, após um período de suficiente para realização daquela obra.
grandes chuvas que ocasionaram deslizamentos
e inundações. De acordo com o
relatório “Avaliação de Perdas e Danos: 7 NECESSIDADE DA EDUCAÇÃO
Inundações bruscas em Santa Catarina,” GEOTÉCNICA NA PRÁTICA
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sensoriamento são utilizadas, analisando


Existem alguns meios que podem ajudar na informações de satélites, a fim de compreender
disseminação dessas informações e mostrar a as relações e os padrões dos eventos. Essas
importância do estudo do solo. Primeiro, a técnicas podem ser combinadas com o uso de
fiscalização deve ser mais empenhada: mapas geomorfológicos, geológicos e
Instituições públicas como prefeituras, devem topográficos.
cobrar o estudo de solo nas obras, independente O uso de imagens de satélite tem se
da magnitude, que ocorram na sua limitação. mostrado uma alternativa fundamental para as
Tendo em vista que isso começa a despertar na tradicionais medidas in situ, sendo uma
população a curiosidade para saber se esse importante ferramenta que permite analises
estudo é importante ou não, o que é um bom geoespaciais integradas e resulta em produtos
caminho para torná-lo algo rotineiro. que se coadunam com as demandas por suporte
Outra maneira é que esse incentivo parta à tomada de decisão (Tralli et at., 2005).
também das Universidades, que podem ter um Todas essas medidas contribuem para a
papel importante e altamente contribuidor, evolução do conhecimento. Aliado a isso, pode-
como a realização de palestras para a população se mencionar a necessidade de treinamento
que ratifiquem a necessidade de que o solo seja adequado para as coloboradores das obras,
previamento estudado, formando, assim, melhorando a capacidade de conhecer o solo,
engenheiros com a mentalidade de que a mesmo que de maneira tato-visual bem como
investigação geotécnica deve ser feita. entender questões de erosão e ocorrência de
Além disso, projetos de extensão escorregamento. No geral, melhorar a
universitária podem ser um meio de ajudar as identificação das possíveis áreas de riscos.
pessoas a se prevenirem contra esses demais
riscos, podendo através desses novos
conhecimentos reduzirem ao máximo os 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
impactos gerados pelos desastres. Com a
realização de orientações em comunidades de Sabe-se que os solos tropicais estão sujeitos a
regiões em que as características do solo processos de instabilização mesmo em seu
estejam mais facilmente sujeitas à estado natural. A ação humana, como a
deslizamentos, instruindo a identificação tato ocupação urbana de forma indevida,
visual, bem como as características de uma área principalmente por questões econômicas, induz
de risco. Assim, a aprendizagem de ações a deflagração de processos como
corretivas mais imediatas, como o manejo de escorregamentos, quedas e tombamentos de
lonas, implantação de sacos solo cimento ou blocos de solo.
plantações, caso não seja possível tomar A necessidade do estudo geotécnico na fase
medidas de longo prazo ou a realocação de inicial de um processo construtivo é constatada
pessoas para fora de áreas instáveis. devido à heterogeneidade do solo, que pode
Desastres como tsunami, terremotos e variar seu comportamento mecânico de acordo
tornados, são fenômenos que apresentam uma com as solicitações de cargas impostas por uma
difícil prevenção. Porém, desastres como estrutura. Assim, suposições do desempenho do
deslizamentos de terra e enchentes, apresentam solo, objetivando poupar recursos na obra,
uma facilidade maior de prevenção. Hoje já podem, por fim, custar danos irreparáveis
existem valiosas ferramentas que podem posteriormente.
gerenciar os riscos deslizamentos e enchentes, Vale ressaltar que a ocupação indevida de
são elas: o Geoprocessamento, o Sensoriamento áreas de risco, principalmente para fins
Remoto e os Sistemas de Posicionamentos habitacinais, tornou-se comum. Circunstancias
Globais. Técnicas de geoprocessamento e como as citadas fragilizam ainda mais um
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maciço de solo que já pode estar comprometido, Geologia Ambiental CCNE/Universidade Federal de
e com a ação de fenômenos naturais, como Santa Maria/RS, Brasil. Ciência e Natura, UFSM, 30
(2): 93 -105.
chuvas, são estopins para desastres. Rosa Filho, A.; Cortez, A.T.C. (2010). A problemática
Conhecer a área em que se pretende alocar, socioambiental da ocupação urbana em áreas de
bem como identificar pontos que demonstrem a risco de deslizamento da "Suíça Brasileira". Revista
vulnerabilidade do solo, é essencial para a Brasileira de Geografia Física, v. 03, p. 33-40.
população que, por meios circunstanciais, não Sayago, J.M; Guigo, E.Y. (1990). Caracterización de los
riesgos geológicos y geomorfológicos en la ciudad de
possue acesso às informações técnicas. Para Chilecito (La Rioja). Argentina. In: Simpósio Latino-
isso, é necessário que se incentive as Americano sobre Risco Geológico Urbano. São Paulo.
instituições públicas, principalmente Anais. ABGE. Pág. 236-247.
prefeituras, para que se inspecione e exija o Torres, H.G.(2000). A Demografia do Risco Ambiental.
estudo do solo em obras na cidade, bem como, In: Torres, H.; Costa H. (Orgs), População e Meio
Ambiente: debates e desafios. São Paulo, Editora
parcerias com as universidades desenvolvendo Senac. Pág. 53-73
informativos, discurssões e palestras com a Tralli, D.M.; Blom, R.G.; Zlotnicki, V.; Donnelan, A.;
comunidade, dispersando conhecimento e Evans, D.L. (2005). Satellite remote sensing of
aguçando o senso crítico e observatório da earthquake, volcano, flood, landslide and coastal
inundation hazards. Journal of Photogrammetry e
população.
Remote Sensing. V. 59, p. 185-198.
Desta forma, é notável a importância de se
propagar a percepção e a indispensabilidade do
estudo geotécnico como prevenção de
patologias em uma edificação, bem como o
acontecimento de desastres em áreas de risco,
que, em ambas as situações, podem levar
estruturas à ruina.

REFERÊNCIAS

Cerri, L.E.S. (1993). Riscos Geológicos Associados a


Escorregamentos: Uma Proposta para a Prevenção
de Acidentes. Tese (Doutorado). UNESP. Rio Claro,
São Paulo.
De Souza, J.S. e Bastos, C.W.M. (2015). Mecânica dos
solos. / NT Editora. – Brasília – DF. 188p.
Farah, F. Habitação e encostas no Brasil. São Paulo-SP.
Divisão de Engenharia Civil do IPT.
Instituto de Pesquisa Tecnologica – IPT. (2002). Risco:
definição e classificação. Fonte: www.ipt.br.
Acessado em 02/05/2018.
Lima, M.J.C.P.A. de. (1979). Prospecção geotécnica do
subsolo. Livros Técnicos e científicos. 104p.
Marinho, F.A.M. (2005). Investigação Geotécnica Para
Quê Universidade de São Paulo, São Paulo, São
Paulo, Brasil. COBRAE - Vol. 2.
Ministério da Integração Nacional (2014). Anuário
Brasileiro de Desastres Ambientais 2013. Secretaria
Nacional de Proteção e Defesa Civil. Centro Nacional
de Gerenciamento de Riscos e Desastres. 40p.
Robaina, L.E.S. (2008). Espaço Urbano: Relação com os
acidentes e desastres naturais no Brasil.
Departamento de Geociências/Laboratório de
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Análise da influência do operador na confiabilidade da


espacialização de resultados de sondagens em um caso real de
obra
Darym Junior Ferrari de Campos
Universidade de Brasilia, Brasilia, Brasil, darymjunior@gmail.com

Luan Carlos de Sena Monteiro Ozelim


Universidade de Brasília, Brasilia, Brasil, luanoz@gmail.com

José Camapum de Carvalho


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, camapumdecarvalho@gmail.com

RESUMO: Dentro do escopo da Engenharia Geotécnica, é comum que a concepção de uma solução
para um determinado projeto de fundação seja pautada na execução de sondagens de
reconhecimento do subsolo. É comum identificar em casos práticos que a interpretação errônea de
dados coletados resulta na dificuldade das análises espaciais e pontuais, trazendo-se condições não
confiáveis do subsolo. Haja vista a facilidade de execução e baixo custo, o método de investigação
mais utilizado no Brasil é o ensaio à percussão tipo SPT (Standard Penetration Test), sendo alvo de
críticas devido à possibilidade de dispersão de resultados. Os estudos desta pesquisa tiveram como
finalidade avaliar a influência da interpretação dos resultados dos ensaios em um caso real de obra
do Distrito Federal. Para isso, realizaram-se espacializações por meio de interpolações dos dados
usando o software RockWorks. Fica claro que há grande variação entre os resultados das campanhas
de sondagens, ainda que as mesmas tenham sido feitas em locais sobremaneira próximos. Ao
analisar as inconsistências relatadas, conclui-se que o entendimento dos fatores geotécnicos é
essencial para evitar a ampliação dos efeitos da variabilidade natural encontrada em campo. Além
disso, deve-se fomentar a reflexão sobre novas soluções e padronizações a fim de melhorar a
qualidade das sondagens na Engenharia Geotécnica.
PALAVRAS-CHAVE: Sondagens, Espacialização, Investigação do subsolo

1 INTRODUÇÃO termos econômicos, possui um excelente fator


custo-benefício. Atenta-se para a sua adequada
O conhecimento das características e interpretação, pois o ensaio representa dados
parâmetros geotécnicos dos solos é de imprescindíveis dentro do processo de projeto e
fundamental importância, conduzindo-se a uma concepção das obras. Por exemplo, o
maior segurança e eficiência na otimização dos aproveitamento ou realização de sondagens em
projetos geotécnicos, destacando-se os casos períodos anteriores às escavações, assim como a
das fundações e estruturas de contenções utilização de resultados elaborados por
presentes em edificações. empresas diferentes, podem afetar os resultados.
O tipo de investigação geotécnica mais É importante perceber que, conforme indica
difundida no Brasil consiste em campanhas de Reinert (2011), as incertezas geotécnicas são
sondagens à percussão SPT, normatizada pela fatores que podem estar presentes em qualquer
NBR 6484 (ABNT, 2001). Segundo Schnaid e investigação, principalmente por conta da
Odebrecht (2012), considera-se o ensaio como variabilidade natural das formações geológicas,
rotineiro devido a sua facilidade executiva e tendo em vista que os processos de
pela simplicidade do equipamento. Já em intemperização produzem transformações no
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perfil que dificultam muitas vezes a definição


da estratigrafia do terreno e a previsão de 2 METODOLOGIA
determinados materiais que compõem o solo.
Ainda em relação às incertezas, Wang et al. A primeira etapa para o desenvolvimento da
(2016) ressaltam os erros de equipamentos, de pesquisa consistiu-se no levantamento de dados
procedimentos operacionais e randômicos. O das campanhas de investigação geotécnica
primeiro ocorre pela imprecisão nos realizadas por duas empresas diferentes em
dispositivos de medição, variação da geometria tempos distintos, que serviram como ferramenta
do próprio equipamento e rotina dos ensaios. Os e suporte para o projeto da estrutura de
erros de procedimento dos operadores ocorrem contenção e fundação.
devido às limitações das normas existentes e Para a segunda etapa, interpretou-se os dados
como as mesmas são seguidas. Finalmente, os crus dos boletins das sondagens gerados pelos
erros randômicos estão associados à dispersão técnicos das equipes executantes,
dos dados das medidas não atribuíveis a um espacializando-os por meio do software
determinado tipo de incerteza. RockWorks para todo o terreno útil da
Ao finalizar o ensaio, repassam-se as edificação. Basicamente, a espacialização
amostras e os seus boletins realizados em consistiu-se em um mapeamento tridimensional
campo a um laboratório. A análise prévia já da subsuperfície, gerando-se modelos
carece de um profissional especializado, mas geostatísticos e volumétricos a partir da sua
normalmente é realizada por operários com extrapolação e interpolação em vários pontos
poucos anos de escolaridade básica e que não específicos referentes às campanhas de
necessariamente possuem capacitação sondagens. Dessa forma, facilitou-se a
suficiente. Da mesma forma, deve-se atentar a visualização e o entendimento da variabilidade
qualificação do corpo técnico laboratorial para encontrada a partir de ambos os ensaios.
as demandas necessárias, como por exemplo, a A terceira e última etapa tratou-se da
identificação das amostras pelo método táctil- reflexão sobre a utilização prática desse tipo de
visual, de acordo com a NBR 7250 (ABNT, campanha de investigação, amplamente
1982), etapa importante na presente pesquisa. utilizado e sujeito à erros. Além disso,
Percebe-se que a identificação e classificação apresentam-se discussões do ponto de vista
do perfil geotécnico do solo a partir da coleta técnico de soluções e padronização dos ensaios,
das amostras dependem da experiência e pois os mesmos envolvem fatores geológicos,
percepção do responsável, agregando-se uma geomorfológicos e mecânicos, essenciais para a
carga empírica ao resultado. Seguindo esse previsão do comportamento do solo.
raciocínio, De Mio (2015) afirma que se o
critério utilizado for fundamentado na medida 3 INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA
de um instrumento, essa percepção perde um REALIZADA
pouco da sua importância na fase de aquisição
de dados, produzindo-se resultados mais 3.1 Sondagens MISTA
precisos e, portanto, classificações com menor
grau de empirismo e pessoalidade. Executou-se a primeira campanha de
O perfil estratigráfico escolhido para a sondagens mistas dois anos antes do período da
realização deste estudo geotécnico baseou-se implantação das cortinas e execução da
naquele encontrado em um empreendimento escavação dos subsolos, sendo do tipo mista
local, localizado no Distrito Federal, Brasília. (SM), englobando-se tanto o tipo à percussão
Vale destacar que este estudo faz parte de uma quanto o tipo rotativo. Conforme a Figura 1,
dissertação de mestrado da Universidade de realizaram-se dois furos de sondagens nos
Brasília (Ferrari de Campos, 2018). primeiros 10 dias de março, período chuvoso.
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Figura 1. Corte A-A’ com os resultados da primeira campanha de sondagens

Figura 2. Corte B-B’ com os resultados da segunda campanha de sondagens


característica predominante de um perfil de solo
3.2 Sondagens SPT tropical, típico da região. Nesse caso, as
camadas superficiais comportam-se como solos
Após a implantação do sistema de cortina de lateríticos e na medida em que aprofundam-se,
contenção e a realização da escavação atingir a são marcadas por solos saprolíticos, descritos
cota ou nível de projeto para a execução da por Nogami & Vilibor (1983) e Cardoso (2002).
fundação, iniciou-se a segunda campanha de
sondagem, mas dessa vez apenas à percussão e 3 RESULTADOS
no decorrer da obra. Assim, observando-se a
Figura 2, realizaram-se quatro furos de Observaram-se inconsistências ao
sondagens, possibilitando a verificação do compatibilizar os resultados das sondagens,
subsolo compatível com a situação mesmo realizadas em locais sobremaneira
geomorfológica de implantação das fundações. próximos e durante as mesmas estações do ano,
Ressalta-se que ambas as campanhas de inviabilizando-se assim a modelagem desejada.
sondagens foram coincidentemente operadas no Como solução para reverter a situação, ao
mesmo período do ano, sendo esta realizada modelar as camadas da estratigrafia, corrigiram-
final de março e conforme já mencionado, 2 se algumas classificações pré-estabelecidas em
anos após a primeira campanha. campo. Observam-se nas Figuras 3 e 4 as
Observando-se individualmente as duas modificações realizadas para a primeira e
campanhas de sondagem, confirma-se a segunda campanha de sondagens.
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Figura 3. Corte A-A’ com os resultados corrigidos da primeira campanha de sondagens

Figura 4. Corte B-B’ com os resultados corrigidos da segunda campanha de sondagens

A modificação proposta foi estabelecida a grande de variáveis (tipos de solos) e poucos


partir do entendimento dos resultados das duas pontos (sondagens mistas), inviabilizando a
campanhas de sondagens e dos métodos de interpolação e a espacialização. Com a
interpolação presentes no software RockWorks, compatibilização empregada, equalizaram-se os
implicando-se em quatro passos fundamentais, tipos de solo e o comportamento mecânico entre
listados a seguir: as duas campanhas de sondagens, permitindo-se
1. Observaram-se os tipos de solos a implementação no software. Vale ressaltar que
predominantes: argila e silte; o comportamento mecânico impacta
2. Interpretou-se a característica secundária diretamente na capacidade de carga.
principal de cada perfil: argiloso, siltoso, A partir da estratigrafia modificada, dos
arenoso e puro; resultados NSPT e do nível do lençol freático
3. Relacionaram-se os dados listados com os do terreno natural e escavado, espacializaram-se
valores de NSPT e como variavam com a globalmente as sondagens SP e SM. Nesse caso,
profundidade, indicando-se quais camadas criou-se na Figura 5 um modelo tridimensional
representariam o mesmo comportamento referente ao terreno completo da edificação e
mecânico; adicionalmente fez-se um corte transversal,
4. Implementaram-se os dados no software. observado na Figura 6 e designado como
As correções serviram para simplificar de modelos de cercas ou fence, localizado entre
forma coerente as características presentes, pois ambas as locações das campanhas de
observou-se inicialmente uma quantidade sondagens.
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Figura 5. Modelo tridimensional referente a estratigrafia das campanhas de sondagens

Figura 6. Corte tridimensional referente a estratigrafia das campanhas de sondagens


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dificuldade na interpretação e as incertezas ao


6 ANÁLISES compilar os dados estratigráficos. Além disso, a
época da realização dos ensaios pode ter sido
Comumente utiliza-se no Brasil a sondagem à considerado como fator de impacto, assim como
percussão SPT na tomada de decisões de um o estado ou efeito das tensões e pela própria
projeto geotécnico, influenciando-se morfologia imposta ao maciço ao realizar a
diretamente nos padrões de segurança, segunda campanha de sondagens após a
qualidade e economia, tornando a sua qualidade escavação do solo, gerando-se um alívio ao
executiva uma grande responsabilidade. Em descarregá-lo. Essa morfologia, como já
contrapartida, essa qualidade e cuidado na discutido, afeta não só a distribuição de tensões
execução não foi necessariamente observada no como a de umidade no manto não saturado.
caso da presente pesquisa, assim como em Apresenta-se nas Figuras 7 e 8 as
inúmeros outros casos práticos. Sendo assim, a informações, segundo o Instituto Nacional de
interpretação errônea do subsolo pode causar Meteorologia (INMET), das chuvas
prejuízos futuros e danos irreparáveis. Os acumuladas, das umidades relativas do ar e
resultados aqui discutidos apontam para temperatura relativos ao mês de cada campanha
diferenças na execução das sondagens nas duas de sondagem.
campanhas apesar de, em princípio, terem
seguido a mesma norma técnica.
O fato de não ser adotado um sistema que
automatize a classificação dos solos e a
condição de aplicação dos golpes NSPT, junto a
baixa qualidade da mão-de-obra geralmente
utilizada, faz com que se torne natural a
ocorrência de erros nos resultados de campo
(Carvalho, 2012). Delatim (2011) afirma que a
técnica de execução do ensaio é repassada pelos
próprios sondadores, normalmente para o
ajudante que se mostra mais interessado e,
como não existe uma interface entre a prática e
na norma, os procedimentos executivos vão
sendo cada vez mais abreviados.
Um ponto de importante reflexão, segundo
Uzielli et al. (2007), deixa evidente que se fosse
possível executar os ensaios de sondagens
exatamente na mesma localização, os resultados
difeririam devido simplesmente à variabilidade
da técnica. Tal variabilidade poderia ser
limitada com o treinamento dos operadores e
automatização do ensaio.
Verificou-se que em decorrência dos fatos Figura 7. a) Chuva acumulada; b) Umidade relativa do ar;
citados, ocorreu um desencontro entre as c) Temperatura do ar; - Março de 2014
informações e verificações das amostras geradas
pelas duas campanhas de sondagens. Em
especial, considerando os diferentes
procedimentos adotados pelas duas empresas
em função dos relatórios, aumentou-se a
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execução dos mesmos não é algo muito raro


atualmente, partindo-se do princípio de que
todo o processo é extremamente sensível à
experiência e à habilidade do operador, em
especial quando da precariedade na automação
do sistema usado nas sondagens.
Além disso, as decisões e o senso crítico
sobre a característica e resistência do solo
estimadas por meio do resultado das sondagens
deverão estar inteiramente sob responsabilidade
de um engenheiro e/ou geólogo qualificado(s)
para o serviço, como forma de mitigar ao
máximo as possibilidades de interpretações
errôneas.
Segundo Carvalho (2012), a ausência de
padronização e certificação dos serviços
referentes às sondagens traz associado uma
enorme potencialidade de desperdícios
financeiros, ambientais e energéticos, podendo
comprometer a sustentabilidade das sociedades
em que estamos inseridos. Nesse sentido, esse
autor propõe um modelo em termos de
Figura 8. a) Chuva acumulada; b) Umidade relativa do ar; certificação e padronização para o ensaio SPT,
c) Temperatura do ar; - Março de 2016
reforçando a problemática encontrada no
boletim em campo e laboratório, quando as
Tendo em vista os fatos citados, que amostras estão sujeitas à identificação e
normalmente não ocorrem apenas nesta classificação táctil-visual.
pesquisa, mas em diversas ocasiões no quadro A espacialização como forma de ferramenta
da engenharia atual, faz-se sempre necessário a na análise dos resultados dos ensaios tornou-se
base reflexiva que leva ao entendimento para uma solução eficaz no âmbito da interpretação
que se adote soluções coerentes. Para que se dos dados, diminuindo incertezas que podem
tenha algum nível de aproveitamento dos dados ser observadas entre dados pontuais. Aliando-se
gerados, antes da espacialização tem-se que ainda com o conhecimento prévio da geologia
executar as adaptações nos dados local, pode-se identificar a probabilidade de
fundamentadas em base técnica levando a uma ocorrência de estruturas favoráveis ou
maior equalização ou homogeneização de desfavoráveis ao adequado funcionamento das
dados. fundações. Dessa forma, as análises e reflexões
apresentadas nesse artigo servem como subsídio
6 CONCLUSÕES para uma melhor avaliação das interações entre
as solicitações impostas pela obra e a real
O conhecimento prévio das formações capacidade de suporte do subsolo, auxiliando
geológicas e estratigráficas locais e as suas nas tomadas de decisões a nível de investigação
relações com a obra a ser executada são de para o empreendimento estudado.
fundamental importância para os planos de É fundamental que se entenda como varia o
investigação por meio das sondagens. A substrato ao longo de toda obra e como ele se
ocorrência da contratação insuficiente de comporta em função da própria obra, de
ensaios ou a contratação de empresas com maneira a garantir que o projeto não falhe em
equipes não qualificadas tecnicamente para a
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pontos cruciais. Dessa forma, aumenta-se a


confiabilidade tanto do projeto quanto de sua
execução, impactando positivamente na prática
da Engenharia.

REFERÊNCIAS

ABNT-Associação Brasileira de Normas Técnicas


(1982). NBR 7250: Identificação e descrição de
amostras de solos obtidas em sondagens de simples
reconhecimento de solos. Rio de Janeiro, RJ.
ABNT-Associação Brasileira de Normas Técnicas
(2001). NBR 6484: Solo - Sondagens de simples
reconhecimento com SPT - Método de ensaio. Rio de
Janeiro. RJ.
Cardoso, F.B.F. (2002). Propriedades e Comportamento
Mecânico de Solos do Planalto Central Brasileiro.
Tese de Doutorado, Publicação G.TD-009A/02,
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental,
Universidade de Brasília, Brasília, DF, 357 p.
Carvalho, I. S. (2012). Proposta para certificação das
empresas de sondagens à percussão – Tipo SPT.
Dissertaçao de Mestrado, Universidade Federal de
Mato Grosso. Cuiabá, p. 94.
De Mio. G. (2015). Condicionantes geológicos na
intepretação de ensaios de piezocone para
identificação estratigráfica na investigação geotécnica
e ambiental. Tese de Doutorado, Universidade de São
Paulo, São Carlos, p. 359.
Delatim, G.I. J. (2011). “A Qualidade dos Serviços de
Sondagens executadas no Brasil”, ABGE –
Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e
Ambiental – Mesa Redonda: Sondagens – Método,
Procedimentos e Qualidade. Nº1, São Paulo- SP.
Ferrari de Campos, D.J. (2018). Energia De Escavação
De Estacas Hélice Contínua Como Ferramenta De
Avaliação Da Competência Do Terreno. Dissertação
de Mestrado, Departamento de Engenharia Civil e
Ambiental, Universidade de Brasília, Brasília, DF (a
ser publicada).
Nogami, J.S. & Vilibor, D.F. (1983). Os solos tropicais
Lateríticos e Saprolíticos e a Pavimentação. Anais 19
RAP – Porto Alegre, V.2. p. 463-484.
Schnaid, F.; Odebrecht, E. (2012). Ensaios de Campo: e
suas aplicações à Engenharia de Fundações. 2. ed. São
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Uzielli, M.; Vannucchi, G.; Phoon, K. K. (2005).
Random field characterisation of stress-normalised
cone penetration testing parameters. Géotechnique,
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Approaches For Geotechnical Site Characterization
And Slope Stability Analysis. Hong Kong: Springer.
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Construção de um Protótipo de Barragem Homogênea de Terra:


investigação dos efeitos do fluxo na zona de percolação do maciço
Thaís Mota Freitas
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia, Vitória da Conquista- Ba, Brasil,
thais.freitas@ifba.edu.br

Joaz de Souza Batista


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia, Vitória da Conquista- Ba, Brasil,
joaz.batista@ifba.edu.br

Geovana Luz Amaral


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia, Vitória da Conquista- Ba, Brasil,
geovana.amaral@ifba.edu.br

Gislan Silveira Santos


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia, Vitória da Conquista- Ba, Brasil,
gislan.santos@ifba.edu.br

RESUMO: A estabilidade hidráulica é uma das maiores preocupações no que diz respeito ao
projeto geotécnico de barragens, uma vez que o rompimento de estruturas como esta podem causar
diversos impactos negativos, tanto sociais quanto ambientais e econômicos. No que se refere às
barragens de terra, o conhecimento das condições de fluxo é fundamental para análises de
segurança. Diante disso, torna-se importante o estudo sobre o comportamento da água no maciço de
uma barragem de terra e sobre os efeitos causados por esta percolação. Assim, o presente estudo
visa construir uma barragem de terra em modelo reduzido, para a partir de então delinear o fluxo de
água na zona de percolação do mesmo, por meio de dados observados a respeito da quantidade de
água percolada através do maciço terroso, bem como o tempo necessário para ocorrência dessa
percolação e a permeabilidade do solo utilizado. Além disso, buscou-se identificar os riscos de
ocorrência da erosão interna do solo, ou seja, um processo no qual o barramento passa a se
comportar com um fluido denso, conduzindo-o ao colapso.

PALAVRAS-CHAVE: Barragem, Canais de Fluxo, Percolação.

1 INTRODUÇÃO qualquer obra desse tipo. Os principais


carregamentos influentes em barragens são o
Uma das maiores preocupações em um projeto peso próprio, peso e pressões hidrostáticas,
geotécnico de barragens é o controle na subpressão, peso e pressões devido aos
determinação de sua estabilidade ao sedimentos. A água é um importante agente
deslizamento. A ruptura de uma barragem pode desses carregamentos, além de afetar nesses
acarretar perdas de vidas, crises econômicas e pontos citados anteriormente, quando
ambientais, e danos sociais. Assim, é acumulada é capaz de se infiltrar na estrutura e
imprescindível que estas estruturas sejam percolar para seu interior, gerando mais uma
adequadas à resistência aos diversos tipos de pressão desfavorável à manutenção da
esforços a que estejam sujeitas, como os estabilidade da barragem.
esforços por carregamento que são usuais em
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Entende-se que com o aumento demográfico


mundial e com as alterações climáticas que
sinalizam ocorrer, a demanda de recursos se 2 METODOLOGIA
tornará irregular. Um dos mais importantes
recursos da natureza é a água, e esta pode A concepção do protótipo destinado ao estudo
tornar-se cada vez mais escassa com as de problemas de percolação foi dada início a
alterações climáticas, acentuando naturalmente partir da elaboração do projeto contendo a
a sua procura em função do aumento forma e as respectivas dimensões do tanque que
demográfico, assim, o armazenamento de água comportará a barragem em modelo reduzido.
com vistas a seu uso mais consciente e sua Desse modo, a geometria definida para o tanque
distribuição mais controlada é cada vez mais está representada na Figura 1.
necessário. Uma das alternativas para o
armazenamento, dessa forma, é a construção de
reservatórios artificiais para a retenção de
grandes quantidades de água, para futuras
utilizações tais como: controle de cheias e
regularização de vazões, irrigação, produção de
energia, abastecimento doméstico e industrial
da água, recreação, dentre outras, englobando as
esferas econômicas e sociais.
Em projetos de barragens, o controle do
fluxo pelo maciço, fundação e ombreiras
constitui um dos requisitos fundamentais à Figura 1 - Vista modelo do tanque de vidro
Fonte Própria
segurança da obra (CRUZ, 1996). O estudo do
fluxo pelo maciço de uma barragem de terra
faz-se necessário, pois permite avaliar o
O equipamento montado possui basicamente
comportamento e desempenho do mesmo, em
três constituintes: o tanque de vidro, um suporte
relação às hipóteses formuladas no projeto, a
metálico e um pequeno circuito hidráulico.
fim de garantir a segurança do barramento. O
A construção do tanque foi destinada a
estudo das linhas de fluxo e das linhas
profissionais especializados da área de
equipotenciais combinados com análise de
vidraçaria, com vistas a alcançar a qualidade
modelos matemáticos para simulação do fluxo
desejada. A espessura das paredes do tanque é
através do maciço de uma barragem, constitui-
de 10 mm, as quais foram unidas umas às outras
se em uma importante ferramenta para esta
por silicone de modo que pudesse garantir a
avaliação, podendo prever o surgimento de
estanquidade. As dimensões adotadas para o
elementos instabilizadores que podem favorecer
tanque foram 0,80×0,40×0,40 m³ (comprimento
a ruptura do maciço.
× altura × largura). A largura e altura adotadas
Diante disso, selecionou-se um protótipo de
permitem manusear o solo como facilidade
uma barragem homogênea de terra e através da
durante a construção da barragem. Tendo em
análise do fluxo, espera-se quantificar o volume
vista o volume de solo e água que o tanque
de água que infiltra e percola através do maciço
pode conter e a pressão que ele comporta, por
terroso e por consequência estimar o
segurança, ligou-se a parte frontal com a
surgimento ou não de processo de erosão
traseira do tanque num ponto central do topo.
regressiva. O arranjo geral do protótipo consta
Na Figura 2 é apresentada uma fotografia, na
essencialmente de uma barragem de terra
qual é possível observar alguns dos detalhes
homogênea, composta por um maciço de
descritos.
material silte-argiloso, um vertedouro e uma
tomada d’água do tipo galeria.
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Além disso, com vistas a determinar o


coeficiente de permeabilidade do solo utilizado,
construiu-se uma espécie de pemeâmetro de
carga constante, composto por 5 amostras
indeformadas de solo e um circuito hidráulico,
como mostrado na Figura 5 abaixo:
Figura 2- Tanque de Vidro
Fonte Própria

O suporte metálico fora aproveitado do


laboratório, tendo atestado se realmente este
conseguiria suportar o peso do tanque. O
circuito hidráulico que compõe o modelo é
composto basicamente de um orifício no fundo
do tanque, o qual recebe uma mangueira,
utilizada para drenagem da água.

Figura 5- Permeâmetro de Carga Constante


Fonte Própria

A partir de então, foi dado início a


concepção do protótipo de barragem
homogênea de terra. A geometria e dimensões
definidas para o maciço, tais como
comprimento da base, inclinações dos taludes
de montante e jusante, altura e comprimento da
Figura 3 - Suporte Metálico crista, foram determinadas proporcionalmente
Fonte Própria às medidas em tamanho real. As Figuras 6 e 7,
respectivamente, mostram o projeto do maciço
Para caracterização do solo que constituiria a
e a reprodução do mesmo nas paredes do tanque
barragem, retirou-se uma amostra, a qual foi
de vidro:
pesada e logo após submetida a uma
temperatura de 105 °C, para que pudessem ser
definidos os índices físicos do solo utilizado.
Na Figura 4, é mostrado o processo de secagem
da amostra:

Figura 6 - Projeto Geométrico do Maciço da Barragem de


Figura 4 - Amostras submetidas à secagem Terra
Fonte Própria Fonte Própria
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Após a construção da fundação, partiu-se


para a edificação do maciço terroso. O solo
utilizado é do tipo arenoso siltoso, procedeu-se
com a compactação do mesmo, de modo que
fosse evitada a desestabilidade. O processo de
compactação foi realizado com golpes de um
compactador manual em camadas de cerca de 5
cm de solo sobrepostas, como mostra na Figura
10:
Figura 7- Reprodução da Geometria do Barramento no
Tanque
Fonte Própria

Como pode ser visto na Figura 6, foi


definida uma altura para a lâmina d’água de
0,15m, a qual seria mais adequada para a
instabilidade do maciço.
O primeiro passo para a construção do
protótipo foi a idealização de uma espécie de
fundação para o maciço. Para isso, utilizou-se
uma argila, na qual foi adicionada certa
quantidade de água, formando uma argamassa Figura 10 - Compactação do solo
Fonte Própria
(Figura 8), de modo que revestiu-se as paredes
do tanque com esse material. Com a aderência
Posteriormente à compactação, foi feita a
da argila ao vidro, tornou-se possível evitar o
remoção dos excessos de solo adjacentes ao
deslizamento do maciço, o que seria provável
maciço, dando forma ao mesmo, como
quando o solo entrasse em contato direto com o
mostrado na Figura 11:
vidro. A Figura 9, mostra a fundação criada
para a barragem.

Figura 11 - Maciço do modelo de barragem


Figura 8 - Preparação da argila para a fundação Fonte Própria
Fonte Própria

Tendo sido finalizada a parte de execução do


maciço da barragem homogênea de terra, o
tanque foi preenchido com água, lentamente, à
montante da barragem, sendo a altura de lâmina
d’água determinada em projeto de 0,15 m
(Figura 12). A saída de água situada no lado
oposto foi fechada.
Figura 9 - Fundação da Barragem
Fonte Própria
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Após a caracterização do solo partiu-se para


os ensaios no modelo reduzido de barragem.
Como foi dito, efetuou-se o preenchimento do
modelo com água, obtendo uma altura de
lâmina d’água de 0,15 m. A partir daí,
observou-se o tempo necessário para que
ocorresse a saturação do maciço, ou seja, para
que os vazios existentes no solo fossem
Figura 12 - Maciço e altura de lâmina d'água completamente preenchidos por água,
Fonte Própria expulsando o ar. Assim, a Tabela 1, a seguir,
mostra variação da altura de lâmina d’água:
A partir de então foi dada sequência aos
ensaios para determinação do comportamento Tabela 1. Variação da Altura de Lâmina d’água
da água no solo, tendo observado o tempo Tempo (min.) Variação da Altura de Lâmina
necessário para saturação do maciço e d’água
ressurgência de água no parâmetro de jusante. 0 15,00
60 13,30
120 12,70
160 12,40
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES 180 11,90

Com o objetivo de facilitar a visualização do


comportamento da água em um meio Tais valores foram dispostos num gráfico
homogêneo e isotrópico, procederam-se ensaios (Figura 13), para melhor visualização do
no modelo reduzido de barragem de solo progresso de saturação no solo. É possível
homogêneo, com vistas a verificar os efeitos da observar que nos primeiros 60 minutos houve
percolação no corpo dessa barragem. uma variação maior da altura da lâmina da
A determinação do coeficiente de água, uma vez que o solo estava inicialmente
permeabilidade do solo é de grande seco e com maior número de vazios, com o
importância quando se trata da dinâmica da passar do tempo, foi se reduzindo o número de
água no solo, uma vez que esse fator é usado vazios, os quais foram preenchidos pela água e,
para quantificar a dificuldade que o solo impõe portanto, houve menor variação da altura de
a água de percolar em meio aos seus grãos lâmina d’água.
(DARCY, 1856). A permeabilidade é função de
diversos fatores, como o índice de vazios,
temperatura, umidade, estrutura do solo e o grau
Saturação do Maciço
de saturação. Solos com granulometria mais
fina tem vazios menores, portanto a água 20
Lâmina d'água(cm)

percola com maior dificuldade, tendo esses um 15


coeficiente de permeabilidade menor 10
(FERREIRA, 2008). Nesse contexto, o ensaio 5
realizado por meio do permeâmetro de carga 0
constante forneceu um coeficiente de 0 50 100 150 200
permeabilidade , um Tempo (min)
valor relativamente alto, podendo classificar o
solo utilizado como arenoso siltoso. Os cálculos Figura 13 - Variação da Altura de Lâmina d'água
Fonte Própria
para determinação do coeficiente de
permeabilidade não fazem parte do escopo
De posse desses dados, é possível calcular
deste trabalho e por isso não foram
vazão percolada por entre o maciço durante o
demonstrados.
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processo de saturação. Sendo o volume de água


percolado e o tempo
necessário para que ocorresse a saturação total
do maciço , calculou-
se a vazão de saturação pela Equação 1:

(1)

Assim sendo, a vazão estimada para que


Figura 15 - Nível d'água estabilizado
ocorresse a saturação do solo que compõe o
Fonte Própria
maciço da barragem equivale a .
Esse valor pode ser considerado satisfatório, Desse modo, foi feita uma reposição de
uma vez que o solo é classificado como arenoso água, elevando o nível novamente a altura de
siltoso e possui um coeficiente de 0,15 m. A partir disso, procedeu-se com a
permeabilidade relativamente elevado. observação da variação da altura de lâmina
A partir de então, tendo sido finalizado o d’água certo período de tempo, reunindo os
processo de saturação do solo, foi possível valores na Tabela 2 a seguir:
observar que a água começou encher o lado
oposto da barragem (jusante) como mostra a Tabela 2. Variação da Altura de Lâmina d’água durante a
Figura 14. Saturação
Tempo (min.) Variação da Altura de Lâmina
d’água
0 15,00
60 13,10
120 11,50
180 9,50
240 7,60

A partir dos dados dispostos na Tabela 2,


Figura 14 - Passagem de água para jusante da barragem comparando-os com os valores da Tabela 1, é
Fonte Própria possível perceber que após a saturação ocorreu
a variação da altura de lâmina d’água com
Assim, aguardou-se por um período de 24 maior rapidez, o que era esperado, visto que o
horas, até que o nível de água se estabilizasse. coeficiente de permeabilidade de um solo
Tendo decorrido esse tempo, observou-se que o saturado é maior que o do solo quando ainda se
nível foi estabilizado, atingindo uma altura de encontra não saturado. Isso pode ser explicado
lâmina d’água equivalente a 7,6 cm, pelo fato de que quando o solo é não saturado
aproximadamente, em ambos os lados (ver existe a presença de bolhas de ar, as quais
Figura 15). constituem obstáculos ao fluxo de água. A
partir do momento que essas bolhas de ar são
preenchidas por água, tornando o solo saturado,
a água consegue percolar com maior facilidade,
ou seja, o coeficiente de permeabilidade torna-
se maior.
Considerando a estabilização do nível d’água
na altura de lâmina d’água igual a 7,6 cm, foi
calculada a vazão que percola no maciço
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durante esse período. Sendo o volume de água A linha de fluxo superior formada no maciço
percolado e o tempo é também chamada de linha freática ou linha de
, utilizando a Equação saturação, uma vez que esta curva limita duas
1, a vazão que percola pelo maciço é regiões do corpo da barragem, aquela que
, vazão consideravelmente maior que a possui água percolada em seu interior e aquela
vazão considerada para o maciço durante o que não possui. A importância da linha freática
período de saturação, no qual os vazios é a obtenção da vazão de infiltração ao longo da
presentes no solo ainda dificultavam a barragem de terra. Nesse contexto, foi possível
percolação da água. calcular a vazão de infiltração no talude de
A partir da formulação desenvolvida jusante. De acordo com Tomaz (2011), a vazão
anteriormente sobre os conceitos de linhas de de infiltração no talude jusante é calculada pela
fluxo e linhas equipotenciais, estimou-se que o Equação 2:
comportamento dessas linhas descreve,
aproximadamente, o delineado mostrado na (2)
Figura 16.
Sendo:

Q= vazão de infiltração (m3/s/m) ou em


(m3/dia/m);
= permeabilidade vertical do solo da
barragem (m/s);
= permeabilidade horizontal do solo da
barragem (m/s);
Figura 16 - Estimativa de linha de fluxo para o maciço = ângulo do talude de jusante em graus
Fonte Própria
= comprimento da barragem (m);
Não foi possível prever o delineado da linha
Os parâmetro e são dados pelas
de fluxo a partir do uso de corantes, uma vez
Equações (3) e (4), respectivamente:
que não houve a possibilidade da visualização.
No entanto, sabe-se que o caminho percorrido
pelo fluído por entre o maciço terroso descreveu (3)
a trajetória representada na Figura 17, uma vez
que a tendência do fluído é percolar em direção
ao ponto de menor carga hidráulica, situado à (4)
jusante da barragem.
Onde:

H= altura da barragem de terra (m);


= altura da linha freática no talude de jusante
(m);
d= largura da crista da barragem (m).

Sendo o coeficiente de permeabilidade


vertical igual ao coeficiente de permeabilidade
horizontal, visto que o solo da barragem é
Figura 17 - Representação das Linhas de Fluxo no homogêneo, foi realizado o cálculo da vazão de
maciço
Fonte Própria
infiltração no talude de jusante do modelo
reduzido utilizando a Equação (2). Com a altura
da barragem definida , largura da
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crista , o ângulo de inclinação do com a construção do modelo físico, promoveu a


talude jusante e coeficiente interação entre os pressupostos teóricos e
, tem-se que e . práticos.
Portanto, a vazão de infiltração no talude de As bases teóricas referentes à percolação e à
jusante resulta em . mecânica dos solos abriram caminho para o
Assim, vazão infiltrada no talude de jusante é projeto de construção do protótipo de barragem
de . homogênea de terra, que culminou com a coleta
Quanto à erosão regressiva no maciço, pode- de dados referentes à vazão e saturação do
se destacar a não ocorrência deste fenômeno. maciço. Foram obtidos resultados satisfatórios
Embora a compactação do solo tenha sido quanto à visualização do fenômeno de
realizada de forma manual, a mesma percolação e comparação dos dados numéricos
proporcionou a aderência suficiente entre as recolhidos durante os ensaios. Nesse contexto,
partículas do solo, de modo que não foi vale ressaltar o grande potencial didático
verificado o carregamento do material de fornecido pelo modelo de barragem a partir,
jusante para montante. Tal fenômeno de principalmente, da visualização de linhas de
instabilidade hidráulica pode ser bastante fluxo ou de corrente. Além disso, o modelo
perigoso, uma vez que a sua ação consegue pode ser adaptado para posteriormente fornecer
alcançar proporções elevadas sem que haja dados a respeito da carga hidráulica em pontos
indícios no exterior do maciço. Uma das formas ao longo do maciço.
mais adotadas ultimamente para conter esse A construção de barragens de terra tem como
processo é a adoção de soluções que aumentam seu principal constituinte o solo e, por esta
o caminho percorrido pela a água, como por razão, a necessidade de conhecer as
exemplo, a instalação de filtros (SANDRONI, propriedades desse material. Partindo do estudo
2012). da percolação de água em um elemento de solo,
foram desenvolvidos os ensaios para
caracterização a partir do qual será construída a
CONCLUSÕES barragem, os quais foram fundamentais, pois
permite prever o tipo de solo que deverá ser
A crise hídrica no Brasil é uma problemática utilizado, o teor de umidade do mesmo, além do
que tem tomado dimensões assustadoras nos seu coeficiente de permeabilidade.
últimos anos e, por isso, enxerga-se na A erosão regressiva (piping) é um problema
construção de barragens uma alternativa para o recorrente no que se refere à instabilidade
armazenamento de água, garantindo assim, o hidráulica, sendo fundamental a análise desse
abastecimento da população. No entanto, fenômeno dos maciços terrosos. A não
qualquer descuido durante a fase de projeto e ocorrência de erosão no maciço comprovou a
construção desse tipo de obra pode ocasionar eficiência de uma boa compactação no solo.
catástrofes tanto no âmbito social quanto Esse artigo constitui o primeiro passo para o
ambiental. Desse modo, observa-se a aprofundamento do estudo relacionada à
necessidade de aprofundar o conhecimento a geotecnia, sobretudo do comportamento da
respeito de obras de terra, sobretudo, no que se água nos maciços terrosos, uma vez que a
refere ao caminho pelo qual a água percorre no construção do experimento possibilita à
solo, bem como os efeitos dessa percolação, realização de outros ensaios para determinação
visto que a instabilidade hidráulica é uma das do fluxo.
principais variáveis a serem consideradas no
projeto geométrico de barragens. O
entendimento a respeito da percolação da água AGRADECIMENTOS
no solo, sobretudo no que se refere às linhas
equipotenciais e das linhas de fluxo, juntamente Ao Instituto Federal da Bahia (IFBA).
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REFERÊNCIAS

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Sabugal, da concepção à execução. 7º Congresso
Nacional de Geotecnia. A geotecnia portuguesa no
início do novo século. Sociedade Portuguesa de
Geotecnia e Faculdade de Engenharia da Universidade
do Porto. Porto, 1999.
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do solo residual do granulito-gnaisse percolados por
água e efluente tratado de esgoto. / Joaz de Souza
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Históricos, Materiais de Construção, Projeto. São
Paulo: Oficina de Textos, 1996.
Darcy, H. Les Fontaines Publiques de La Ville de Dijon,
Delmont, Paris, 1856.
Ferreira, C. R. C. Equipamento Laboratorial para o estudo
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Porto, 2008.
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Aprenda Fácil. Viçosa – MG, 2005.
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Marques, J. C. A percolação de água em solos – Estudos
em modelo reduzido. 4ª Jornadas de Hidráulicas,
Recursos Hídricos e Ambiente – FEUP. Porto,2009.
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em barragens de aterro. 5ª Jornadas de Hidráulicas,
Recursos Hídricos e Ambiente – FEUP. Porto,2010.
Massad, F. Obras de Terra: curso básico de Geotecnia.
216p. 2 ed., 2003.
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Terra e Enrocamento. Curso de Mestrado da
COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, 2012.
Scott, R.; SCHOUSTRA, J. Soil: Mechanics and
Engineering. USA: McGraw-Hill, Inc., 1968.
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York: John Wiley & Sons, 1976.
Tomaz. P. Pequenas Barragens de Terra. Cap. 88. São
Paulo, 2011.
Vargas, M. Introdução à Mecânica dos Solos. São Paulo:
McGraw-Hill, 1977.
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Desenvolvimento da Prática da Engenharia, como Ferramenta


Pedagógica, em Momentos de Crise
Haroldo Paranhos
Uniceub, Brasília, Brasil, reforsolo@gmail.com

Rideci de Jesus
Uniceub, Brasília, Brasil, rideci.reforsolo@gmail.com

Maruska Tatiana N. S. Bueno


Uniceub, Brasília, Brasil, maruska.silva@ceub.edu.br

RESUMO: Este projeto é interdisciplinar, envolve demanda técnica e socioambiental cuja solução
técnica depende do entendimento amplo dos problemas de engenharia, primordialmente
geotécnicos, da interligação entre os grupos de trabalho e o cliente, caracterização geotécnica,
estudo de viabilidade técnica e econômica, estudos e projetos de engenharia, estudos e projetos da
arquitetura, fundamentos administrativos e jurídicos, entre outras modalidades transversais do
conhecimento, possibilitadas entre as disciplinas do curso de engenharia civil. Por meio de
empresas parceiras, os alunos adquirem experiência, nos estágios, complementando, inclusive
necessidades de carga horária para finalização do curso. Todos participam das atividades de
caracterização do ambiente, conversa com o cliente, segurança no trabalho, testes de sondagens,
coletas de amostras, desenho do croqui, preenchimento de planilhas de campo, com posteriores
cálculos das soluções pretendidas. O Dia de campo acontece em horário comercial com o almoço no
trecho e entrega de relatório técnico.

PALAVRAS-CHAVE: Engenharia, Campo, Geotécnicas, Projetos.

1 INTRODUÇÃO engenharia, apresentam seus currículos


organizados em disciplinas trazendo
A Interdisciplinaridade, sugere uma maneira consequências negativas para a qualidade dos
de ensinar que desenvolva no estudante a cursos de engenharia e para os profissionais por
competência de estabelecer relações entre partes eles formados, pois a fragmentação dos
e o todo, superando a concepção unidirecional e conteúdos das disciplinas sem considerar a
fragmentada do conhecimento que tem integração entre elas. Realizar atividades que
caracterizada atualmente as práticas proporcionam ao aluno o entendimento da
pedagógicas, BUONICONTRO (2001). Por prática aliada a parte teórica enriquece o futuro
outro lado, sendo o ensino uma atividade profissional, foi por causa deste pressuposto que
complexa e dinâmica, que se efetiva num esta pesquisa foi iniciada.
ambiente social particular, formalmente
responsável pela educação do aluno, devendo
entender à demanda do contexto atual, que 2 PROJETOS ATUAIS EM
possibilite a formação de um cidadão crítico, DESENVOLVIMENTO
capaz de lidar conscientemente, com a realidade
científica e tecnológica na qual está inserido. Atualmente são três projetos em andamento,
Segundo BORGES (2000), os cursos de descritos a seguir e denominados de Projeto 1, 2
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e 3.

2.1 Projeto 1 - projeto da pista de caminhada


/ ciclovia

Inicialmente foi realizada a avaliação da


viabilidade técnica e econômica para a
construção da pista de caminhada
compartilhada com ciclovia na Avenida Vereda
da Cruz – DF, com aproximadamente 2.850,0 Figura 1 – Localização da implantação do projeto.
metros de extensão.
Foram feitas visitas ao local de implantação As Figuras 2 e 3 mostram a área disponível
do projeto, percorrendo todo o caminhamento e para a implantação deste projeto e as Figuras 4 e
induzindo os moradores e comerciantes da 5 mostram um esboço da futura concepção.
região a participarem desta empreitada.
Por meio de plantas existentes
(Ortofotocartas), foram traçadas a diretrizes
gerais do projeto. Posteriormente, com auxílio
da topografia planialtimétrica cadastral foram
traçadas as diretrizes parciais do caminhamento
da pista.
Sondagens geotécnicas foram realizadas no
eixo da pista de caminhada e as amostras
encaminhadas para a caracterização em
laboratório.
Sobre a plataforma preestabelecida, foram
dimensionadas as camadas e os tipos de Figura 2 – Local de implantação da ciclovia pista de
revestimentos, visando a sustentabilidade da caminhada (Google).
área. De acordo com o “layout” foram
implementadas o paisagismo técnico, a
sinalização vertical/ horizontal e a iluminação.

2.1.1 Localização da área do projeto 1

A Figura 1 mostra a localização de


implantação do projeto 01.

Figura 3 – Local de implantação da ciclovia / pista de


caminhada (Google).
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impermeabilização do solo em obras acima de


600 m2. A Figura 6, mostra uma ciclovia
construída com pisos drenantes.

Figura 04 – Esboço da ciclovia / pista de caminhada


(Google).

Figura 6 – Detalhe do piso drenante sustentável proposto


no projeto (Google).

Revegetação da área: Como contrapartida e


compensação ambiental, será proposta que o
paisagismo utilize espécies nativas do cerrado,
promovendo a vegetação da área e tornando um
ambiente possível de utilização durante os
períodos de maior incidência de sol, promovido
pela presença de sombreamento natural.
Figura 05 – Esboço da ciclovia / pista de caminhada.

2.2 Projeto 2 – avaliação da resistência do


aterro da ponte do Bragheto - DF
Para a realização desta empreitada foram
necessários os seguintes estudos e projetos:
Em contato com a empresa construtora do
projeto topográfico cadastral, projeto
Trevo de Triagem Norte, foi solicitada uma
geométrico, estudos geotécnicos, projeto de
visita técnica diferenciada, com os alunos do
pavimentação, projeto de drenagem, estudos
UniCEUB. Visto o porte da obra e a quantidade
ambiental, estudo de viabilidade técnica e
de universidades que solicitam este tipo de
econômica, entre outros.
visita, sem calendário para atender todas, foi
sugerida uma contrapartida ao engenheiro da
2.1.2 Materiais e técnicas construtivas a serem obra: “Um dia de campo, com os alunos, com a
empregadas passagem por diversas etapas da obra e
caracterização e análise de estabilidade do
Piso drenante: O sistema para este piso é aterro de solo mole com posterior apresentação
sugerido no projeto de forma a atender a do laudo técnico”.
Resolução n.º 9 de abril de 2011 da ADASA; Foram realizadas sondagens geotécnicas,
juntamente com o Drecreto do GDF que trata durante a visita no aterro em questão, com o
sobre as intervenções por meio de
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preenchimento das planilhas e coletas de tomada de decisão da obra. Os alunos


amostras. identificaram o problema, participaram das
Os serviços realizados na obra: sondagens de campo e deram a solução. Nas
Caracterização da obra, sondagens DPL, condições atuais, o aterro sobre o solo mole só
sondagem com Vane Test, sondagem à trado, poderá ter 1,90 metros de altura.
coleta de amostras Shelby, ensaio de densidade
in situ e preenchimento das planilhas de campo.
A Figura 9 mostra a localização de 2.2 Projeto 3 – recuperação de aterro,
implantação do Projeto 2. dimensionamento de vertedouro,
dimensionamento de reservatório e controle de
erosão no Parque Águas Claras – DF

Essa demanda foi para o desenvolvimento


dos projetos para a recuperação do aterro sobre
o bueiro; dimensionamento do vertedouro do
laguinho, dimensionamento do sistema de
bombeamento, dimensionamento do
reservatório de água bruta e controle de erosão
do Parque de Águas Claras.
Figura 9 – Localização da implantação do projeto Em contato com a Diretora do Parque de
(Google).
Águas, onde semestralmente são realizadas as
aulas práticas da disciplina de Topografia,
foram apresentados inúmeros problemas que
2.2.1 Serviços realizados para o projeto 2 demandam soluções técnicas de engenharia, em
que a administração do Parque não tem técnico
Foram realizados os serviços de pesquisa de disponível para tal. Estudos topográficos foram
solo, de dimensionamento, cálculo das realizados por parte dos alunos para a avaliação
planilhas, interpretação dos dados coletados e da área. Sondagens geotécnicas foram
dimensionamento da altura crítica do aterro realizadas, com o preenchimento das planilhas e
rodoviário, conforme a Figura 10. coletas de amostras.
Serviços a serem realizados pelo grupo no
Parque de Águas Claras: Caracterização da
Aterro
obra, sondagens DPL, sondagem com Vane
Test, sondagem à trado, coleta de amostras
h = 7,0 m
 = 16,9 KN/m3
Shelby, ensaio de densidade in situ e
preenchimento das planilhas de campo.
Solo mole; Su = 9,29 Kpa h = 2,68 m
A Figura 11 mostra a localização de
Solo Resistente
implantação do Projeto 3.

Figura 10 – Identificação do Problema por meio dos


trabalhos de campo.

Em forma de contrapartida, após as análises


finais, foi encaminhada ao cliente uma pré-
análise da solução técnica, que o auxiliou na
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Figura 11 – Localização da implantação do projeto.


(Google) Figura 14 – Levantamento dos elementos hidráulicos.

Alguns pesquisadores fizeram incursões para a


avaliação pormenorizada da área e ensaios
específicos (Figuras de 12 a 20).

Figura 12 – Avaliação da área a jusante do aterro. Figura 15 – Caracterização dos solos locals.

Figura 13 – Levantamento Topográfico.


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Figura 19 – Avaliação da capacidade de armazenamento.

Figura 16 – Caracterização das trincas no pavimento.

Figura 20 – Avaliação das estruturas existentes

As Figuras 21 ,22 e 23 apresentam os


croquis dos problemas, onde foram
apresentadas as soluções técnicas.

Figura 17 – Avaliação das trincas de tração.

Figura 21 – Croqui do problema do Talude


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espírito crítico com o desenvolvimento da


Vertedouro a ser dimensionado capacidade de trabalho do futuro profissional,
tanto do ponto de vista prático quanto teórico.
Trabalhos desta natureza garantem ao
Lagoa
egresso, condições de adaptação ao mercado de
trabalho e favorece o desenvolvimento de
Terreno Natural Tubo extravasor habilidades particulares, de acordo com as
aptidões, o interesse e o ritmo próprio do aluno.
Percebe-se com clareza a melhorar a
Figura 22 – Croqui do problema do Vertedouro
qualificação do graduando como pessoa e como
cidadão, isto gera condições que permitam ao
recém-graduado ingressar com mais maturidade
nos programas de pós-graduação.
Reservatório
5000 l
Nesta dinâmica, de utilização de diferentes
espaços não-formais para o desenvolvimento da
educação formal, OLIVEIRA (2009), é descrita
aqui a prática pedagógica em epígrafe, diante da
Solo Superficial apresentação de três projetos distintos mas
interligados pela interdisciplinaridade.
Solo Mole
Fundação a ser projetada
REFERÊNCIAS
Figura 23 – Croqui do problema do Reservatório
BORGES, M. N. & NETO, B. G. A. (2000). Diretrizes
Curriculares para os Cursos de Engenharia – Análise
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Comparativa das Propostas da Abenge e do MEC.
Revista da Abenge, Brasília, v.19, n°2, dez 2000.
Segundo MORALES (2001) entre as BUONICONTRO, C. M. S (2001). O Processo de
necessidades da profissão, é descrita como Construção da Prática Pedagógica do Engenheiro-
formação básica, as sub-áreas da Engenharia Professor: Um Estudo no Curso De Engenharia
Civil, proporcionalmente a sua importância Mecatrônica da PUC Minas. Dissertação de Mestrado.
Belo Horizonte – MG, 244 p.
intrínseca, à demanda atual do mercado e à
demanda prevista para um futuro a curto e MORALES, G. (2001). Indiciação de Diretrizes
médio prazo. Curriculares para o Curso de Graduação em
O desenvolvimento de atividades teóricas e Engenharia Civil. Semina: Ci. Exatas Tecnol.,
práticas, de maneira a se manter um equilíbrio Londrina, v. 22, p. 19-23, dez.
entre o ensino verbalizado e a execução OLIVEIRA, R. I. R. & GASTAL, M. L. A. (2009).
proporciona ao aluno a capacidade de estudar, Educação Formal Fora da Sala de Aula – Olhares
projetar, dirigir, fiscalizar e executar os Sobre o Ensino de Ciências Utilizando Espaços
trabalhos relativos a obras e serviços técnicos Nãoformais. VIII ENPEC – Encontro Nacional de
de sua área, além de responder às expectativas Pesquisa em educação em ciências.Florianópolis –
SC.
de mercado de maneira eficiente e ainda
desenvolver práticas inovadoras no ensino de
Engenharia Civil.
Este projeto proporcionou aos pesquisadores
todos os fatores supramencionados e ainda
motivou o afloramento de novas ideias e de
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Diálogo entre um Professor e uma Estudante: Relato da Aplicação


de uma Nova Metodologia de Ensino-Aprendizagem
Alcino de Oliveira Costa Neto
UFVJM - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Teófilo Otoni, Brasil,
alcino.neto@ufvjm.edu.br

Kátia Cristina Milagres Oliveira


UNIGRANRIO - Universidade do Grande Rio Porfessor José de Souza Herdy, Duque de Caxias,
Brasil, katiamilagres@hotmail.com

RESUMO: Um dos maiores desafios das instituições de ensino superior na atualidade é formar
profissionais com habilidades para a inserção no mercado de trabalho, que perpassa por uma
verdadeira revolução tecnológica e está em atualização contínua, repleto de incertezas e
acompanhado por uma economia instável. Diante desse cenário, o diálogo entre um professor e uma
estudante foi construído a partir das experiências desenvolvidas na disciplina de Mecânica dos
Solos II, em uma turma de 7º período do curso de Engenharia Civil, cujo resultado da aplicação
desta nova metodologia apontou para melhores caminhos no processo de ensino-aprendizagem. No
diálogo, limitou-se a abordagem apenas da metodologia aplicada, embora a mesma linha de
raciocínio possa ser aplicada a outras unidades curriculares. O perfil da classe era totalmente
heterogêneo, com idades bastante distintas e anseios diversos, o que tornou ainda mais desafiador
esse processo. Como resultado da aplicação, a maior inovação foi na apresentação dos resultados
finais de forma não convencional, destacando a pintura, braile, história em quadrinhos, infográfico,
jogo de tabuleiro, quebra-cabeça, diálogo, dentre outros. Para avaliar a aplicação da metodologia, ao
final de cada entrega de trabalho em grupo, os estudantes avaliavam seus pares e se autoavaliavam,
além do feedback do professor.

PALAVRAS-CHAVE: Ensino-aprendizagem, Inovação, Geotecnia.

1 INTRODUÇÃO buscarem as respostas para os questionamentos.


Como preparar profissionais para atuar em um
Um dos maiores desafios das instituições de cenário atípico como este? Quais as habilidades
ensino superior na atualidade é formar um e competências devem ser desenvolvidas por
profissional com habilidades para se inserir no esses futuros engenheiros? Contudo vem a
mercado de trabalho, que perpassa por uma necessidade de oferecer uma metodologia
verdadeira revolução tecnológica e uma diferenciada, que atinja de forma efetiva um
atualização contínua, repleto de incertezas e maior número de estudantes, que forme o
acompanhado por uma economia instável. profissional dotado de uma visão holística e
Segundo Christensen (2014), as uma real capacidade de atuação. Torna-se
universidades que sobreviverão aos desafios necessário então refletir sobre este ensino na
que se colocarem para elas no curto prazo serão graduação, na tentativa de romper com o ensino
aquelas capazes de honrar seus pontos fortes, ao tradicional, haja vista que é uma ação
mesmo tempo em que se mostram capazes de desafiadora e que exige criatividade. Porém
realizar inovações com otimismo. Visando a romper com o modelo tradicional não é uma
superação dos desafios cabe às instituições tarefa simples, e segundo Morán (2015), os
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ajustes necessários mesmo progressivos – são envolvente diálogo entre professor e estudante,
profundos, porque são do foco: estudante ativo acerca das inovações no ensino em Geotecnia.
e não passivo, envolvimento profundo e não
burocrático, professor orientador e não
transmissor. 2 METODOLOGIAS ATIVAS COMO
Este relato de experiências foi desenvolvido INOVAÇÃO
na disciplina de Mecânica dos Solos II, em uma
turma de 7º período de Engenharia Civil. O - Professor: Iniciando nossa conversa, é
perfil da turma era totalmente heterogêneo, com necessário saber de fato como inovar no ensino-
idades bastante discrepantes e anseios diversos, aprendizagem em Geotecnia. O que você
o que tornou ainda mais desafiador esse entende por essa ótica?
processo. - Estudante: Entendo que o ensino deve evoluir
Nas aulas tradicionais, o bom professor assim como o mundo globalizado. Esse método
sempre foi visto como aquele que possuía uma arcaico ainda utilizado nas Universidades
boa gama de conhecimentos e assim transmitia brasileiras, em nada agrega ao aprendizado.
de forma sistemática aos estudantes, que eram Faz-se necessário que as aulas sejam mais
meros ouvintes. Tendo em vista que as aulas dinâmicas, com interação entre os estudantes e a
expositivas não cumprem totalmente o papel de prática. Quando se aborda apenas a teoria
transmitir conhecimento, fazendo com que o desalinhada da prática cria-se uma enorme
estudante cumprisse o papel de mero lacuna na aprendizagem e muitas vezes esse
expectador, perdendo a oportunidade de conhecimento adquirido perde o sentido, se não
construir o próprio aprendizado, foi detectada a houver aplicabilidade ao mesmo.
necessidade de uma nova forma de construir - Professor: Realmente as aulas mais dinâmicas
essa aprendizagem em uma disciplina propiciam uma maior interação de ideias, o
importante para a Engenharia. ensino baseado em problemas reais pode
Logo que foi apresentada, a Metodologia preparar os alunos para solucionarem problemas
Ativa em um primeiro momento foi vista com reais e não apenas fictícios. O que você faria se
certa apreensão pelos alunos, pois tudo que é ao sair da faculdade se deparasse com um
novo e desafiador causa certo receio, e depois problema já vivenciado em situações criadas em
de implementada e ao final das avaliações da sala de aula?
primeira etapa já havia sido desmistificada, e - Estudante: Tudo que é novo nos desafia. Mas
vista como uma forma de autodesenvolvimento. se você já passou por problemas semelhantes
Essa nova metodologia, foca na em situações anteriores, com certeza estará mais
autoinstrução, tendo o estudante como centro do preparado para tomar decisões mais acertivas, e
processo de aprendizagem, como principal se ainda assim for preciso, haverá mais
agente de seu aprendizado. A participação do segurança para buscar novas soluções para o
estudante traz a fluidez do processo de mesmo problema.
aprendizagem e visa aumentar a performance - Professor: E no campo das inovações
em sala. Essa aprendizagem pautada no tecnológicas, como podemos utilizá-las a nosso
autodidatismo ajuda desenvolver habilidades de favor, tendo em vista que elas estão cada vez
um aprendizado avançado que vai além da mais presentes no mundo contemporâneo?
organização pessoal e profissional – o - Estudante: Utilizando ferramentas simples
desenvolvimento autônomo. como o computador e softwares mais modernos
Destaca-se que neste artigo, o resumo e a que propiciem um processo de ensino-
introdução não seguem a apresentação em aprendizagem com maior riqueza de detalhes e
forma de diálogo, pois buscou-se preservar a precisão. Um exemplo é o programa Sigma do
explanação do que será abordado neste pacote da GeoStudio, versão estudante, que foi
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utilizado para desenvolver o trabalho de nós, a princípio, nos julgamos incapazes de


Tensões no solo. Mas cabe ressaltar que deve realizar?
haver um equilíbrio entre tecnologias, desafios - Professor: Primeiramete se deve ao fato de
e informações contextualizadas. É necessário que vocês precisam ser desafiados a todo
que haja flexibilidade e adaptação às nossas instante. Depois para que vocês tenham a
reais necessidades. oportunidade de desenvolver algumas
- Professor: Você conhece as Metodologias habilidades que vocês próprios desconhecem, e
Ativas? O que você entende sobre isso? por fim, para que vocês possam desenvolver
- Estudante: Sim. Elas fazem sucesso em seus potenciais.
universidades estrangeiras de ponta. - Estudante: Uma das práticas que você adotou
Apresentam-se em várias vertentes, como a Sala foi construir um Fluxograma ao abordar cada
de aula invertida, onde os papéis de professor e tema estudado. Por que isso foi importante?
aluno são literalmente invertidos, segundo um - Professor: A utilização do fluxograma auxilia
de seus criadores, Bergman (2017); o ensino na organização do tema estudado. Por vez,
híbrido, também conhecido como Blended, observa-se que os estudantes até dominam os
nesse caso grande parte da aprendizagem se dá assuntos desenvolvidos em sala de aula, no
por ensino on-line e autoinstrução, segundo entanto, de uma forma desorganizada sem trazer
Horn, (2015); e o famoso PBL (Problem Based benéficios no processo ensino-aprendizagem.
Learning), a Aprendizagem baseada em - Estudante: Mas por que optou-se pela
problemas. Segundo Ribeiro (2010), trata-se de elaboração de produtos sobre Compactação e
uma metodologia de cunho colaborativo, Tensões no Solo, em forma de pintura, jogos de
contextualizada e construtivista, no qual se tabuleiro, braile, quebra-cabeça, diálogo,
utiliza de situações-problema para o início, quadrinhos, infográfico, entre outros? O que
direcionamento e motivação da aprenizagem da isso tem a ver com a Engenharia?
teoria e dos conceitos, visando o
desenvolvimento de habilidades e competências
no âmbito da sala de aula.
- Estudante: Professor, você utiliza algumas
dessas metodologias em suas aulas. Qual é o
seu maior desafio?
- Professor: Para se obter êxito nesse tipo de
metodologia os problemas devem ser bem
articulados com a prática profissional, para que
as soluções sejam efetivamente criadas e assim
possibilitem inclusive o surgimento de novas Figura 1. Jogo de Tabuleiro- Trilha da Compactação
descobertas no decorrer do processo. Caso
contrário não teria eficácia no processo ensino-
aprendizagem.

3 O PROCESSO DE ENSINO-
APRENDIZAGEM

- Estudante: Professor, por que após dar o


trabalho de pesquisa, cálculos e apresentação
dos resultados, você propôs essas atividades
Figura 2. Revista em quadrinhos- Compactação
ousadas, não-convencionais, onde a maioria de
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aptos a atuar nesse campo tão desafiador, que é


o da Engenharia Civil.

- Estudante: Mas desenvolver estas atividades


em grupos tão heterogêneos não é fácil,
professor! Por que não agrupar por afinidade?
- Professor: Porque no mercado de trabalho
você terá que lidar com essas situações. Você
não vai conviver só com pessoas de sua
preferência. Terá que lidar com pessoas com
personalidades diversas. Nesse caso, preciso ser
o direcionador da aprendizagem de vocês, não
apenas para o conteúdo de Mecância dos Solos,
mas também de como se comportar frente aos
problemas que forem surgindo.
Figura 3. Revista em quadrinhos (capa)- Compactação - Estudante: Entendo. Mas mesmo assim
tenho colegas que ficaram insatisfeitos por
estarem distantes das pessoas de maior
afinidade. Com o tempo eles entenderão!
- Professor: O fato de estarem inseguros nos
novos grupos pode ter interferido no resuldado
final dos grupos?
- Estudante: Creio que não, pois todos
procuraram dar o seu melhor, e desconhecendo
a capacidade dos membros do grupo, todos
tiveram que se esforçar de maneira semelhante
para que tudo fosse realizado e entregue no
prazo estipulado. Foi um verdadeiro trabalho
em equipe e sabendo que além de serem
avaliados por você, também seriam avalidados
por cada membro do grupo, em uma avaliação
em 360º, não se arriscaram.
Figura 4. Pintura – Tensões no Solo - Professor: Pensando por essa ótica creio que
alcancei o que propuz.
- Professor: Podem parecer simples
brincadeiras, mas fará com que vocês
desenvolvam habilidades necessárias ao
mercado de trabalho, tais como a criatividade,
respeito às diferenças, autocontrole, capacidade
de dialogar de forma clara e concisa, falar em
público, desenvolver a oratória, liderar equipes,
administrar conflitos, e buscar soluções antes
inimagináveis. É esse o perfil do profissional
que o mercado contemporâneo precisa, e ter
estas competências, pode ser um diferencial. O
engenheiro precisa propôr soluções para os Figura 5. Apresentação do Grupo
problemas a todo tempo, e vocês precisam estar
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- Estudante: Professor, depois de muita CONCLUSÕES


pesquisa sobre os temas abordados em sala,
utilização de softwares especializados para a - Estudante: Depois de tantos desafios durante
comparação com os cálculos desenvolvidos todo o período, você sente que o objetivo foi
manualmente, confecção de tutorial do sofware alcançado com esse trabalho inovador? Como
para o exercício desenvolvido e do trabalho você se autoavalia nesse processo?
propriamente dito, o que você acha que - Professor: Nas faculdades de engenharia
sobressaiu mais? A parte mais tradicional ou a brasileiras predominam docentes com formação
proposta da inovação? Por quê? em engenharia, porém que não tiveram
- Professor: O perfil do profissional de nenhuma formação para a docência,
engenharia deve ser aquele que planeja e diversificando-os entre os respectivos graus de
constrói uma metodologia de intervenção a titulação: graduação, especialização, mestrado e
partir do domínio teórico e crítico-reflexivo do doutorado. Ao contrário do que muitos pensam
processo histórico de construção da realidade a pós-graduação não está diretamente ligada
social. A intervenção deve ser capaz de com a aplicação pedagógica, e sim com o
enfrentar as determinações conjunturais da desenvolvimento da capacidade pensante,
sociedade, reconhecendo a singularidade dos voltada para a pesquisa. Dessa forma, essa
indivíduos que a constitui. A formação dos associação entre uma sugestão de metodologia
novos engenheiros deve construir uma para o processo de ensino-aprendizagem e a
competência crítica, destinada a formar forma pedagógica adequada, ainda está por ser
intelectuais com a capacidade de compartilhar construída e, esta construção é uma tarefa que
saberes específicos e gerais a serem aplicados cabe à Universidade realizar, sendo a
na sociedade em que vivem e que vão influir na Universidade composta por todos que justificam
vida de contemporâneos e no futuro. a existência da mesma.
- Estudante: Professor, por que depois de - Estudante: Em relação ao desempenho e
abordar estas novas formas de trabalho, sempre aproveitamenteo dos estudantes com essa nova
eram aplicadas as tradicionais avaliações metodologia, como você poderia fazer uma
conteudistas? Você sente necessidade desse tipo análise em comparação ao ensino tradicional?
de avaliação para verificar a aprendizagem dos - Professor: Ótima pergunta. Ao longo do
estudantes? semestre, observou-se uma evolução em
- Professor: As avaliações conteudistas competências cognitivas de muitos acadêmicos
aplicadas individualmente a cada estudante é e que de alguma forma, foi visível uma
um ponto importante da evolução do processo evolução também nas avaliações conteudistas.
ensino-aprendizagem de cada acadêmico. Nesta A mensuração de competências cognitivas não é
ocasião, o estudante é colocado em uma uma relação direta com notas e sim no
situação onde estão apenas ele e a avaliação, engenheiro que estará no mercado de trabalho
onde de alguma forma, ele precisará propôr com uma consciência social, profissional e
soluções aos problemas apresentados. Assim pessoal aplicada às novas necessidades do
sendo, o estudante experimenta mais uma parte mundo contemporâneo.
do processo de ensino-aprendizagem que são a - Estudante: Encerrando esse nosso diálogo,
autonomia, o processo de decisão, o foco, a utilizo de um pensamento do filósofo chinês
concentração para terminar a avaliação no Confúcio para resumir minha experiência de
tempo proposto e por fim o própio conteúdo. forma bem simples: “O que eu ouço, eu
esqueço; o que eu vejo, eu lembro; o que eu
faço, eu aprendo”.
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AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao PROAPP da


Universidade Federal dos Vales do
Jequitinhonha e Mucuri pelo apoio financeiro.

REFERÊNCIAS

Bergman, Jonathan. Sams, Aron. Sala de Aula Invertida:


uma metodologia ativa de aprendizagem/ tradução:
Afonso Celso Cunha Serra - 1. ed – Rio de Janeiro:
LTC, 2017.
Christensen, Clayton M. A universidade inovadora:
mudando o DNA do ensino superior de fora para
dentro/ Clayton M. Christensen, Henry J. Eyring;
tradução: Ayresnede Casarin da Rocha. Porto Alegre:
Bookman, 2014.
Horn, Michael B., Staker Heather. Blended: usando a
inovação disruptiva para aprimorar a
educação/tradução: Maria Cristina Gularte Monteiro;
revisão técnica: Adolfo Tnazi Neto, Lilian Bacich –
Porto Alegre: Penso, 2015.
Morán, José. Mudando a Educação com Metodologias
Ativas. Coleção Mídias Contemporâneas.
Convergências Midiáticas, Educação e Cidadania:
aproximações jovens. Vol. II] Carlos Alberto de
Souza e Ofelia Elisa Torres Morales (orgs.). PG: Foca
Foto-PROEX/UEPG, 2015
Ribeiro, Luiz Roberto de Camargo. Universidade Federal
de São Carlos, Centro de Educação Ciências
Humanas. Aprendizagem Baseada em Problemas
(PLB): Uma implementação da educação em
Engenharia na voz dos autores, 2005. 236p. Tese
(Doutorado), disponível em
https://repositorio.ufscar.br/bitstream/handle/ufscar/23
53/TeseLRCR.pdf?sequence=1, acesso em 26 de
novembro de 2017.
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Do risco ao Dolo Eventual: Criminalização da Prática Profissional


na Engenharia Geotécnica
Antonio Maria Claret-Gouveia
Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, DEURB, Brasil, amclaretgouveia@gmail.com

Miguel Paganin Neto


Université Laval, Quebec, Canada, paganin@hotmail.com

Ana Paula Tavares


Universidade Federal de Ouro Preto, NUGEO, Ouro Preto, Brasil, atavares@dfmais.eng.br

Alberto Frederico Vieira de Sousa-Gouveia


Universidade Federal de Ouro Preto, MPSSA, Ouro Preto, Brasil, fredvsg@gmail.com

Marina Tavares e Silva


Universidade Federal de Ouro Preto, MPSSA, Ouro Preto, Brasil, marinatavaress@hotmail.com

RESUMO: Esse trabalho parte da constatação de que existe uma tendência nos meios jurídicos de
vários países de imputação de crime com dolo eventual a profissionais de Engenharia Geotécnica,
quando são responsáveis técnicos por estruturas que sofrem colapso. Discutem-se os fundamentos
desse tipo de imputação com o objetivo de limitá-la aos casos em que se evidenciem os elementos
do tipo penal com dolo eventual. Emprega-se como metodologia o exame hermenêutico tanto de
textos jurídicos quanto de textos técnicos. As conclusões apontam para a existência de um vazio
normativo que não conceitua adequadamente perigo e risco. A avaliação de riscos é impedida pela
simples falta da definição do risco máximo admissível nos textos normativos. Nessa situação, a
assunção coletiva de perigo vem dando lugar à assunção de riscos que fundamenta a imputação de
dolo eventual.

PALAVRAS-CHAVE: Perigo, Risco, Risco Máximo Admissível, Dolo, Dolo Eventual.

1 INTRODUÇÃO A segurança de segmentos sociais ou de


grupos de pessoas nas situações de desastres
Uma das grandes contribuições da Constituição ambientais é um interesse coletivo onde o MP
da República Federativa do Brasil-CRFB tem atuado com relevo desde que os
(BRASIL, 1988) promulgada em 1988 foi a am- movimentos de defesa do meio ambiente se
pliação do papel do Ministério Público (MP) intensificaram em todo o mundo nos anos
situando-o como o principal legitimado para setentas. A ACP foi introduzida no orde-
propor a Ação Civil Pública-ACP por meio do namento jurídico pátrio em 1985 por meio da
Art. 129, III. Mais de uma vez, já foi Lei Nº 7347, inspirada nas class actions
reconhecido na literatura jurídica internacional existentes no Direito estadunidense. Tratando-
(MACALLISTER, 2009) que o MP desem- se de lei eminentemente processual, a Lei das
penha, no Brasil, importante papel na defesa do ACP tem base no conceito de responsabilidade
meio ambiente. civil, firmado nos Arts. 186, 187, 927 caput e
parágrafo único do Código Civil.
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A ACP é precedida do competente inquérito profissionais foram julgados e condenados em


civil levado a cabo pelo MP. Quando se primeira instância, pois ficou demonstrado pelo
verificam danos ambientais criminosos por ação MP o dolo eventual de matar. Recorreram e,
ou por omissão do legitimado passivo, a CRFB- oito anos depois, a Suprema Corte os inocentou,
88 prevê no Art. 225, VII, &3º sanções penais e mantendo apenas uma pena para o comandante
administrativas aos autores de atividades lesivas da defesa civil, certamente por relaxar na sua
ao meio ambiente. O MP que é o titular das obrigação de prontidão emergencial.
ações penais públicas, nessas situações, após Os prejuízos para os profissionais envolvidos
investigação policial, oferecerá denúncia ao juiz no caso anterior são evidentes, movidos que
da vara penal competente, não sem antes pedir foram para o cerne de um longo processo
medidas cautelares contra os supostamente judicial, ainda que tenham sido declarados
responsáveis. inocentes na sentença final. Outros casos
Ora, a Engenharia Geotécnica atua com noticiados (BBCNEWS, 2013) demonstram que
frequência em projetos, laudos periciais e obras a criminalização da prática profissional em
cuja segurança é interesse coletivo em face dos situações que envolvem riscos, mais ou menos
danos que um evento desastroso pode causar. prováveis, é uma tendência atual em vários
Sejam os moradores de um edifício que temem países. Ela decorre da grande confusão con-
desabamento, seja uma comunidade que se ceitual que subsiste na interface das Engenha-
formou à jusante de uma cortina atirantada que rias e do Direito.
agora se supõe instável, seja os habitantes de
um arraial que pode ser atingido pelo colapso de
uma barragem, todos se constituem potenciais 2 CONCEITO DE SEGURANÇA
vítimas, ensejando a pronta ação acusatória do
MP contra empresas e profissionais geotéc- Os conceitos de segurança normalmente encon-
nicos. trados em textos não especializados encerram
Um caso recentemente ocorrido na Itália é ideias comuns na população: "a segurança é o
ilustrativo (HALL, 2011) dessa situação. Antes estado, qualidade ou condição de uma pessoa ou
do grande terremoto de L’Áquila, ocorrido em 6 coisa que está livre de perigos, de incertezas,
de abril de 2009, preocupados com uma série de assegurada de danos e riscos eventuais"
pequenos abalos que se sucediam há mais de (HOUAISS, 2009). Esse conceito reflete a
um mês, os cidadãos de L´Aquila pediram uma longa tradição do “paraíso tropical”, epíteto que
audiência pública com a defesa civil local. se atribuiu ao Brasil até o final dos anos oitentas
Compareceram à reunião, realizada em 31 de para significar uma suposta imunidade a
março de 2009, além do comandante da defesa desastres naturais (STEVAUX et al., 2010).
civil, três sismólogos, um vulcanólogo e dois Analisando esse conceito popular, observa-se
engenheiros sísmicos. Questionados sobre a que se trata de uma segurança absoluta que
ocorrência de um grande terremoto, ousaram afasta todos os riscos. Há uma evidente
afirmar que não esperavam um evento severo oposição entre "estar seguro" e "estar em risco".
por razões tais e quais. Uma semana após, Por outro lado, ela é inconcebível no mundo
ocorreu o grande terremoto que deixou 309 real: a experiência cotidiana mostra que a
mortos, grande número de feridos e edificações segurança de um sistema convive sempre com
em ruína. cenários de risco prováveis. Desse modo,
O MP italiano ofereceu denúncia contra os segurança e risco deixam de ser antônimos
sete integrantes da comitiva que “afirmara”, radicais como seria de se imaginar pelo conceito
como haviam entendido os cidadãos de popular, mas passam a ser tão próximos em
L’Áquila, a segurança local contra a ocorrência sentido que se aproximam da classe de
de um terremoto de grande intensidade. Os sete sinônimos. Permanece entre os conceitos de
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segurança e risco apenas uma oposição quanto Segurança de Barragens a "garantia da segu-
às suas medidas, uma vez que se admite que rança da barragem" que é responsabilidade do
quanto maior a segurança, menor o risco. empreendedor.
(CLARET, 2017). Textos técnicos como os citados confirmam
O conceito popular de segurança é o conceito leigo de segurança. Quando pro-
encontrado subjacente em muitos textos téc- fissionais de áreas de interface como o Direito
nicos e, particularmente em Direito, está na são levados a avaliar o comportamento de
base de denúncias contra profissionais sob a outros profissionais não é de estranhar que
acusação agir com dolo eventual na produção de vejam confirmados os conceitos que
resultados indesejáveis. Cite-se, para ilustrar, o assimilaram pela via não científica. Acrescente-
seguinte excerto da denúncia em um rumoroso se que muitas vezes eles são brindados com
caso1 recente: documentos formais assinados por responsáveis
técnicos como o que afirma "... atesto a
O motivo torpe dos homicídios ficou estabilidade da barragem em consonância com
caracterizado pela constatação de que, a lei... e portarias vigentes".
mesmo absolutamente conscientes, O mito da segurança absoluta atravessa o
desde a época do licenciamento do caminho do profissional de geotecnia e neces-
empreendimento, de todos os riscos sita ser banido de todos os textos normativos.
envolvidos na construção e operação da Antes de propor textos substitu-tivos, examine-
barragem, os denunciados optaram por se com esse trabalho o conceito de risco.
uma política empresarial de priorização
de resultados econômicos em detrimento
de práticas de segurança para o meio 3 CONCEITOS DE PERIGO E RISCO
ambiente e para as pessoas potencial-
Perigo é um evento geológico, atmosférico ou
mente afetadas, assumindo todos os
hidrológico que tem o potencial de causar danos
riscos da causação das mortes.
a pessoas, ao meio ambiente e ao patrimônio
(WAMSLER, 2007). Um perigo natural não é
É relevante sublinhar que o texto foi lavrado
necessariamente causado por forças naturais
para caracterizar uma das qualificadoras do
unicamente, mas podem ser induzidos pela ação
crime de matar qual seja o motivo torpe. Nele é
humana. Não se mede o perigo, mas se o
evidente a crença do acusador na oposição entre
percebe de forma própria conforme o
segurança e risco dos quais é possível, segundo
conhecimento e a vivência de cada um. Uma
afirma, ter "absoluto conhecimento".
comunidade pode perceber um perigo com
O pressuposto da oposição entre segurança e
sentimento que varia do simples receio ao
risco é observável também na definição de
pânico e pode até reagir a ele com indiferença.
segurança de barragem encontrada no Art. 2º,
Uma barragem é uma fonte de perigos assim
III, da Lei N° 12.334 de 20 de setembro de
como uma usina nuclear, uma rodovia ou uma
2010: "segurança de barragem: condição que
indústria. Em geral, para identificar perigos
vise a manter a sua integridade estrutural e
oriundos de uma mesma fonte se utilizam
operacional e a preservação da vida, da saúde,
cenários que se descrevem literalmente ou se
da propriedade e do meio ambiente". Isto é,
traduzem por meio de critérios de falha. Ao
como se depreende, existe uma "condição" em
cenário de perigo se associa um risco que é uma
que nenhuma consequência negativa é admitida.
entidade física distinta.
No Art. 4°, III, dessa mesma lei, se estabelece
Textos jurídicos costumam usar risco em
como fundamento da Política Nacional de
lugar de perigo. Mesmo entre os profissionais
1Apesar de se tratar de documento público, omite-se a da Engenharia, subsiste um conceito inade-
autoria e os elementos de identificação do caso. quado de risco cuja origem se identifica na área
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financeira. Desde o início do século XIX, a considerado (HASSEL, 2010; CLARET et al.,
partir da institucionalização do controle da eco- 2017). é o número dos cenários mais prová-
nomia privada pelo Estado, expressões como veis.
alto, médio e baixo são utilizadas para Questionados sobre a natureza do risco,
classificar os riscos de investimentos (FLOOD, Kaplan e Garrick (1981) afirmam que o risco
2012). O fundamento dessa avaliação quali- "é" essa entidade física, expressa matematica-
tativa de risco é o balanceamento dos parâ- mente por esse conjunto de triplas ordenadas
metros que impulsionam o desempenho favo- . Desse modo, na opinião desses
rável de um sistema contra os que o dificultam. autores, os métodos unidimensionais e os mé-
A noção qualitativa desse desbalan-ceamento todos qualitativos omitem dimensões essen-
corresponde ao conceito de coeficiente de ciais do risco.
segurança. No que concerne ao interesse desse trabalho,
A análise de riscos é comumente feita em tanto em Engenharia quanto em Direito, perigo
Geotecnia de Barragens por métodos qualita- e risco são utilizados, mas é evidente que
tivos, assentes sobre a atribuição subjetiva de frequentemente se emprega risco para significar
pesos aos fatores favoráveis e aos desfavoráveis perigo. O perigo é apenas uma das dimensões
à estabilidade. Há diversas variantes desses do risco; as duas outras são a probabilidade de
métodos uma das quais é a constante na Portaria um determinado evento perigoso e a grandeza
Nº 70.389 de 17 de maio de 2017 do das consequências a ele associadas. No Art.
Departamento Nacional de Produção Mineral 225, §1°, V, da CRFB-88 se encontra uma das
(DNPM). ocasiões onde perigo teria sido mais bem
Evolutivamente, buscando uma medida do empregado em lugar de risco:
risco, há métodos de avaliação que propõem o
emprego do produto da probabilidade de um Art. 225. § 1º - Para assegurar a
evento desfavorável pela grandeza das suas efetividade desse direito, incumbe ao
consequências calculadas monetariamente, . O Poder Público:
risco, nesses casos, é . Isto equivale, em ...
sentido amplo, a identificar um desastre natural V - controlar a produção, a comercia-
a um desastre meramente financeiro. Trata-se, lização e o emprego de técnicas,
de fato, de uma abordagem quantitativa unidi- métodos e substâncias que comportem
mensional, adequada apenas para aplicações risco para a vida, a qualidade de vida e
financeiras. Esse método pode ser apenas pseu- o meio ambiente;
doquantitativo, se a probabilidade do evento ...
desfavorável é estabelecida por consenso técni-
co, persistindo ainda a dificuldade de calcular Como se observa, o perigo de danos à vida e
monetariamente as várias consequências negati- ao meio ambiente é inerente à produção e à
vas do evento. comercialização de alguns bens e, do mesmo
O método mais adequado para aplicações de modo, ao emprego de técnicas, métodos e
Engenharia tem origem nas análises de riscos determinadas substâncias. Não se trata de risco,
feitas em Engenharia Nuclear nos anos setentas porque ao menos duas das três dimensões
e oitentas (KAPLAN e GARRICK, 1981). Por estariam faltando quais sejam a probabilidade
ele, o risco é uma entidade física tridimensional do perigo (ou de um cenário cuja fonte é esse
que pode ser expresso por um conjunto de perigo) e a grandeza das consequências a ele
triplas ordenadas do tipo associadas. Na mesma linha, veja-se, para
sendo o cenário de risco; , a probabilidade ilustrar, o texto seguinte que se extraiu de um
de ocorrência desse cenário; e , a grandeza libelo de denúncia de crime contra a fauna
das consequências associadas ao cenário decorrente do colapso de uma barragem:
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Registra-se que a mortandade de Inglês, para perigo se usa hazard e para risco,
espécimes da fauna foi praticada com o risk. O processo de Gestão de Riscos se inicia
emprego de métodos e instrumentos com uma fase de identificação de perigos que
capazes de provocar destruição em consiste em buscar conhecer onde, quando, por
massa, qual seja, a construção de que e como eventos naturais podem gerar
barragem de rejeito pelo método de efeitos indesejáveis sobre um dado sistema.
alteamento a montante, técnica Segue-se uma fase de análise de riscos que
construtiva de menor custo, mas que consiste na determinação do risco, ou seja, da
apresenta a maior quantidade de riscos descrição de cenários de perigo, do cálculo da
operacionais. probabilidade de cada cenário e da determina-
ção da grandeza das consequências que lhe são
O que se pretende com a acusação acima é associadas. Uma terceira fase, a de avaliação de
agravar a pena pela qualificação de crime riscos, porém, é essencial qual seja a compa-
cometido com "emprego de métodos e ração dos riscos com o risco máximo admissível
instrumentos capazes de provocar destruição em de modo a orientar a tomada de decisões.
massa" previsto no Art. 29, §4°, VI da Lei N° Se se adota um conceito qualitativo de risco,
9605/98. Seria necessário dizer que a técnica de em geral, duas situações são comparadas com a
construção da barragem pelo método de definição de coeficientes de segurança. Embora
alteamento a montante representa maiores seja uma avaliação qualitativa, inadequada para
perigos operacionais, na opinião do autor da a tomada de decisões ou para a imputação de
denúncia. Barragens, como todas as construções responsabilidade criminal, o coeficiente de
humanas, são fontes de perigos. Esses perigos segurança, porque é uma avaliação subjetiva da
não são riscos e, não sendo riscos, não foram segurança relativa de dois ou mais sistemas, são
praticados por nenhum profissional, pois são muito utilizados. Mas, geram ilusão de segu-
perigos inerentes às barragens e aceitos coleti- rança.
vamente. Quando se adota um conceito unidimen-
Ocorre também com frequência que o sional de risco, duas situações distintas podem
mesmo texto alterne perigo e risco com o ser comparadas por meio dos valores diretos do
mesmo sentido de perigo. Veja-se, por exemplo, risco em cada caso. Aqui o problema maior é o
o texto extraído de uma denúncia: significado de cada um deles já que as
consequências em cada caso são distintas e
Ora, seria escusado dizer que as precisaram ser monetizadas para se conhecer o
consequências colocaram em risco a risco. Subjaz nessa comparação toda a questão
saúde e a integridade, não de um da valoração de bens jurídicos como a vida
homem, mas de uma comunidade. (...) humana, rios, fauna e flora.
Como se não bastasse, há de ponderar A adoção do conceito tridimensional do risco
que o rio federal (...) foi, como bem da permite uma avaliação de risco em caráter
União, na subespécie de uso comum do absoluto. Uma vez fixado o cenário de perigo, a
povo, exposto a perigo de morte efetiva sua probabilidade e a grandeza das consequên-
pelo aumento excessivo da carga de cias se comparam de forma independente. Nesse
demanda biológica de oxigênio, e caso, não só a probabilidade do cenário não é
consequente e danosa diminuição do atribuída de forma subjetiva, mas com base na
oxigênio dissolvido. modelação e simulação do comportamento físi-
co dos sistemas, como as consequências podem
Normas internacionais (IEC 31010, 2009; ser avaliadas na sua diversidade.
ISO AS-NZS, 2009) de gestão de riscos são Portanto, para se afirmar que há assunção de
mais cuidadosas no uso dessa terminologia. Em risco por parte de um profissional, é preciso que
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se tenha feito análise de riscos e que as normas quatro teorias (GRECO, 2018) se admitem para
aplicáveis determinem o risco máximo admis- a análise da conduta cujo resultado se constatou
sível possibilitando a sua avaliação. Se essas lesivo a um bem protegido por lei.
condições não se preenchem, não houve assun- Em apertada síntese, essas teorias são como
ção de risco, mas apenas se está diante de um segue. A primeira delas, denominada teoria da
perigo que se percebe mais ou menos intenso vontade, põe o seu foco na vontade livre e
conforme a vivência de cada um. consciente de ultrapassar a limitação da lei,
agindo na forma prevista no tipo penal. A
segunda e majoritária é a teoria do assentimento
4 DOLO E DOLO EVENTUAL pela qual o agente reconhece a possibilidade do
resultado lesivo de sua ação, mas a executa
Duas expressões notáveis são usadas em Direito assumindo o risco de produzi-la. A terceira
contendo as palavras "perigo" e "risco": denomina-se teoria da representação pela qual
"iminente perigo", referindo-se ao estado ou à não se deve avaliar se houve ou não assunção de
condição de um sistema ou de um conjunto de risco, mas simplesmente se o agente, conhe-
pessoas, e "assumiu o risco", referindo-se à cendo a possibilidade do resultado lesivo,
conduta de um agente. Uma análise permite prossegue ou não na ação. A quarta teoria é a da
concluir que essas expressões se aproximam no probabilidade pela qual o dolo cinge-se ao
seu conteúdo semântico a "risco iminente" e conhecimento das chances do resultado lesivo:
"assumiu o perigo", respectivamente. se o agente o considerava provável além de um
Por "iminente perigo" se entende um limite admissível conhecido, haveria dolo
determinado cenário de perigo cuja proba- eventual; se não, haveria culpa consciente ou
bilidade de ocorrer é grande, muito superior à negligência criminosa.
admissível, associado a consequências quali- É relevante a consideração dessas teorias,
tativamente avaliadas como indesejáveis. Logo, porque frequentemente os libelos acusativos se
quando se usa essa expressão, de alguma forma valem de mais de uma delas com o fim de
a tridimensionalidade do risco está satisfeita, incriminar o agente. No caso da responsabi-
ainda que de forma qualitativa, mas de modo lização de profissionais geotécnicos por aciden-
suficiente para exigir uma decisão. "Iminente tes como o de uma barragem, podem-se afastar
perigo", portanto, se aproxima conceitualmente de imediato as teorias da vontade e da repre-
de "risco iminente". sentação, uma vez que é inadmissível que se
Quando se afirma que o agente "assumiu o chegue a usar uma barragem como equipamento
risco" se diz, na verdade, que ele age com para cometer um crime e que uma barragem,
negligência diante de cenários de perigo cujas como qualquer outra obra humana, só por
probabilidades não conhece e cujos resultados existir já represente uma fonte de perigos já
não avalia, embora certamente indesejáveis. aceitos coletivamente.
Ora, essa é literalmente a uma assunção do As teorias do assentimento e da probabi-
perigo inerente a toda empreitada humana. lidade se equivalem, sendo a primeira mais
Logo, "assumiu o risco", se não for possível gravosa para o profissional geotécnico. Ambas
demonstrar que o agente o conhecia nas suas subsistem em um vazio normativo de respon-
três dimensões e que o poderia comparar com sabilidade do Estado, que gera acusações
um risco máximo admissível, significa "assu- descabidas e injustas. Esse vazio normativo
miu o perigo", algo que, em geral, se faz consiste na adoção de conceitos qualitativos de
coletivamente. risco ou quantitativos unidimensionais e na
A questão conceitual subjacente no emprego indefinição do risco máximo aceitável. A
da expressão "assumiu o risco" em Direito adoção do conceito tridimensional de risco e a
refere-se ao conceito de dolo. Em Direito Penal, inclusão nas normas do risco máximo aceitável
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poderiam afastar os raciocínios jurídicos que Se a análise é feita por um método


confundem perigos assumidos coletivamente unidimensional, o cenário de perigo é fixo a
com condutas profissionais de assunção de risco priori e, para esse cenário, se deve estabelecer a
com dolo eventual. probabilidade e a grandeza das consequências a
No Código Penal Brasileiro, Art. 18 se lê que ele associadas. O risco somente pode se dar por
é doloso o crime, "quando o agente quis o conhecido se a probabilidade do cenário é
resultado ou assumiu o risco de produzi-lo". Na calculada com base em árvore de falhas ou por
primeira hipótese, quando o agente quis o simulação indireta de Monte Carlo. Porém,
resultado, trata-se de dolo ordinário; na ainda permanece o problema da valoração
segunda, quando o agente assumiu o risco de jurídica das consequências.
produzir o resultado, trata-se de dolo eventual. Portanto, a rigor, o risco permanece des-
Em geral, os geotécnicos são denunciados por conhecido, se a análise e a avaliação são feitas
dolo eventual, se um resultado indesejável com base em um conceito qualitativo ou
ocorre em uma estrutura onde estiveram unidimensional de risco. No que tange à
incumbidos de projeto, manutenção ou avaliação de riscos tridimensionais, existe no
verificação de estabilidade. País um vazio normativo que impede a
Para se afirmar que o agente assumiu o risco avaliação de risco. Logo, assunção de risco no
de produzir o resultado é de se supor que o risco Brasil é, de fato, assunção de perigo que já se
fosse conhecido e avaliado. Conhecer o risco assumiu coletivamente em outra ocasião antes
implica em conhecê-lo nas suas três dimensões; da implantação do sistema que é fonte de
avaliar o risco significa compará-lo a um risco perigos.
máximo admissível. Raramente o risco é No texto seguinte, extraído de um libelo de
conhecido, em parte por deficiência normativa. denúncia em um rumoroso caso de rompimento
Em consequência, o risco máximo admissível de barragem, observa-se que o argumento da
também não é definido nas normas nacionais. assunção de risco só pode perseverar no espaço
Cabe aqui refletir sobre a valoração jurídica da insuficiência normativa que é de
da informação contida coeficientes de segurança responsabilidade do mesmo Estado que acusa:
que costumam ser conhecidos em análises de
risco de barragens. Se o método de análise é um Cabe ainda notar que, na vistoria
método de balanceamento em que se atribuem realizada pela empresa (...), há
pontos a parâmetros que favorecem a segurança indicativo que naquele local o fator de
e, do mesmo modo, a parâmetros que segurança estava em 1,3, ou seja, menor
favorecem o risco, um coeficiente de segurança do que o exigido de 1,5, sendo que a
pode ser definido pela razão do total ou do análise daqueles instrumentos poderia
produto dos primeiros para o total ou o produto ter pesado para uma negativa de
dos segundos. Ora, como o método é subjetivo estabilidade da barragem. Ao desprezar
na atribuição de pontos, o coeficiente de tais instrumentos e declarar a barragem
segurança tem significado apenas relativo, isto estável, o responsável técnico assumiu o
é, dentre duas barragens analisadas pela mesma risco de declarar que a barragem estava
equipe, utilizando a mesma escala de estável e poderia continuar funcio-
pontuação, a que tiver maior coeficiente de nando.
segurança é a mais segura. Mas, não se pode
dizer com esse método se a barragem é segura O raciocínio acusativo seria válido, se a
ou não para atendimento de uma norma técnica, análise de risco absoluta estivesse sendo feita
a não ser que se eleja uma determinada por meio do conceito tridimensional de risco.
barragem como padrão de segurança. Os coeficientes de segurança referidos são
relativos e somente afirmam que uma barragem
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é mais segura que uma barragem teórica peça de denúncia em um caso de colapso de
idealizada pelo proponente da escala de pesos uma barragem:
do método. Tendo sido a análise feita por outra
pessoa que não o proponente do método, esses A (...) e a (...), com o simples
coeficientes de segurança perdem todo o comportamento de decidirem construir e
significado e, particularmente, é destituída de pôr em operação a barragem de rejeitos
significado a diferença entre o valor medido e o (...) criaram uma situação típica de
valor mínimo ilusoriamente estabelecido em risco, entendida essa como a
norma. probabilidade de danos físicos e
Não há dolo eventual na assunção coletiva de patrimoniais para as comunidades
perigo. A noção vaga de perigo não substitui o humanas e os elementos do ecossistema
conhecimento objetivo do risco que é situados à jusante do empreendimento.
pressuposto da lei. A assunção dolosa do risco
exige que se tenha conhecimento do risco nas As empresas, omitidas no texto, de fato
suas três dimensões e que, comparado ao risco criaram uma situação típica de perigo, porque, a
máximo aceitável estabelecido em norma, ele se rigor, toda obra humana é geradora de perigo.
revele superior. Se isto ocorre, pode ter havido Na origem do processo de sua implantação, essa
imprudência ou negligência culposa ou, mesmo, fonte de perigos deve ser aceita coletivamente e
culpa consciente. um nível máximo aceitável de risco deve ser
definido. Desse modo, todos os envolvidos são
risktakers (assumem o perigo racionalmente) e
5 COMUNICAÇÃO DE RISCOS não apenas stakeholders (meros participantes).
Cuidado especial deve ser tomado em
audiências públicas onde os profissionais
A comunicação de riscos é uma etapa muito
geotécnicos não devem afirmar determinis-
sensível da gestão de desastres naturais. Tanto
ticamente a segurança de um equipamento.
as comunidades que podem ser afetadas pelas
Pessoas sem a formação técnica tendem a
consequências negativas associadas a cenários
interpretações ilusórias que primam por ignorar
de risco quanto as autoridades públicas devem
a persistência do perigo. Segundo depoimentos
ser alvo da comunicação de riscos. As normas
colhidos no desastre sísmico de L'Áquila,
internacionais (ISO 31010, 2009) enfatizam
diversos cidadãos afirmaram ter ouvido da
essa necessidade, obrigando à comunicação de
equipe de cientistas que não havia risco de um
riscos em todas as fases da gestão de desastres
grande terremoto e, por essa razão, se quedaram
naturais.
inertes sem a devida precaução (HALL, 2011).
A política empresarial típica tem sido a de
É de se supor que ao provocar a assunção de
ocultar os riscos associados a suas instalações o
perigo coletiva, a eficácia dos planos de
que certamente reduz o sucesso dos planos
emergências seja maior que a constatada no
emergenciais, quando ocorre um evento desas-
caso de colapso de barragem mencionado antes:
troso e se torna um passivo empresarial para
com as comunidades que podem vir a estar
O plano de ação emergencial da (...),
envolvidas em um desastre.
além de não ser, como seria de se
No caso de obras geotécnicas, parece
esperar, um plano ótimo, simplesmente
incentivar a percepção de riscos o que é por
não funcionou e, com isso, as vítimas
natureza um processo lento e gradual de modo a
tiveram sua capacidade de defesa
levar a comunidade que pode ser impactada por
gravemente comprometida. Não houve
um colapso a assumi-las como fonte de perigos.
comunicação adequada, nem meio
A assunção coletiva de perigos é capaz de evitar
tempestivo de evitar o pior. De se notar
acusações como a que segue, extraída de uma
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que o plano de ação emergencial era direitos humanos e do meio ambiente. Ela
obrigação legal da (...). Não um papel somente é viável, porque existe um espaço
com um roteiro proforma, mas um vazio normativo que deixa em uma zona
documento que, de fato, possibilitasse ambígua os conceitos de perigo e risco.
que, na ocorrência do inesperado, a Ademais, o Estado, a quem incumbe por
esperada ajuda da empresa se desse de dispositivo constitucional a segurança das
modo efetivo a evitar prejuízo maior. pessoas e a proteção do meio ambiente, nesta
seara se omite, ou, pelo menos, tarda a
O texto é ilustrativo de deficiências da gestão definição de risco máximo aceitável, capaz de
de riscos que podem ser sanadas pela racionalmente distinguir as situações de
comunicação de riscos. Na avaliação do autor assunção coletiva de perigo e de assunção de
do texto, "as vítimas tiveram sua capacidade de risco que, por sua vez, pode caracterizar o dolo
defesa gravemente comprometida" o que eventual.
realmente se verifica, quando não se assumiu Órgãos de fiscalização geotécnica necessitam
racionalmente a permanência dos perigos do estabelecer métodos objetivos de análise e
equipamento. Observa-se que o plano de avaliação de riscos. Os métodos subjetivos
emergências é criticado por falhar na podem criar ilusão de segurança e impulsionar a
comunicação do risco. Por último, é criminalização profissional. A comunicação de
extremamente indesejável que os stakeholders riscos merece maior atenção das empresas que
se quedem inertes, esperando ajuda para evitar o utilizam equipamentos geotécnicos e das
perigo maior. Em um processo racional de equipes que são interpeladas em audiências
assunção de perigo, cada um dos risktakers públicas ou via meios de comunicação. A ilusão
deve conhecer o seu papel no plano de de segurança é uma tendência dos cidadãos que
emergências. Se isto não ocorre, a comunicação contraria a assunção coletiva de perigo que, se
de riscos em todo o processo falhou. não antecede a implantação do empreen-
A comunicação de riscos deve ser racional, dimento, deve ocorrer pelo estabelecimento de
baseando-se em objetividade na avaliação uma relação dialógica entre empresas, cidadãos
permanente do risco, ou seja, na comparação do e Estado.
risco medido com o risco máximo aceitável.
Essa avaliação de risco objetiva e racional tem REFERÊNCIAS
três pilares a preservar sempre operacionais
(SHRADER-FRECHETTE, 1991), a saber: (a) BRASIL. Constituição (1988). Constituição da Repúbli-
a possibilidade de que a avaliação de risco seja ca Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal:
Centro Gráfico, 292 p.
criticada por cientistas e pelos stakeholders; (b) BRITISH BROADCASTING CORPORATION NEWS.
a possibilidade de que a avaliação de risco Lac Megantic disaster: Engineer blamed for Canada blast.
mude perante novas descobertas sobre as Available at: www.bbc.com/news/world-us-canada-2326
probabilidades dos cenários e da grandeza das 4397. Acessed on March, 28, 2018.
consequências; (c) a possibilidade de que a CLARET-GOUVEIA, A.M.; PAGANIN NETO, M.,
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análise de riscos tanto preveja os riscos quanto a concept in Geotechnics: qualitative and quantitative
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Conclui-se que a criminalização profissional em GRECO, R. (2018). Código Penal: comentado. 11ª. ed.
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Elaboração De Perfis Geotécnicos E Fundações Em Modelos


Reduzidos Como Vivência Da Disciplina De Solos Para O Curso
De Arquitetura
Pedro Oliveira
Universidade Católica de Pernambuco, Recife, Brasil, pedrocivil@hotmail.com

Lorena Lins Cavalcanti de Albuquerque


Universidade Católica de Pernambuco, Recife, Brasil, lorenalins15@gmail.com

Joaquim Teodoro Romão de Oliveira


Universidade Católica de Pernambuco, Recife, Brasil, jtrdo@uol.com.br

RESUMO: O perfil do aluno universitário vem se alterando no tempo. As tecnologias disponíveis


mudam a forma como a humanidade aprende. Existe a tendência da experimentação, do acesso.
Aulas que são exclusivamente expositivas, tendem a não atingir mais a mesma eficiência de outrora,
tendo em vista que o público aprende diferente. Metodologias como o PBL (aprendizado baseado
em problemas) tendem a ser mais eficientes para esse novo público. O presente trabalho apresenta
uma experiência diferente de avaliação, baseada em problemas reais a serem resolvidos com
resultados obtidos diferentes do que sempre são solicitados. Foram cedidos aos alunos, grupos de
sondagens reais e cargas nas fundações provenientes de uma estrutura real para que fossem
projetadas as fundações do edifício, baseado em assunto vivenciado em sala de aula. Como
resultado eram esperados os projetos das fundações, bem como a entrega de maquetes reais, da
volumetria do edifício, das fundações e do perfil geotécnico.

PALAVRAS-CHAVE: Fundações, Engajamento, PBL, Maquete.

1 INTRODUÇÃO dispositivos assim, os nativos digitais.


Essa geração já chegou a universidade e tem
Após o advento do computador pessoal, o comportamento próprio. Desenvolvem
mundo assiste uma efervescência de novas tendência para a experimentação dos problemas,
tecnologias e equipamentos. Novas indústrias se fato que combina com as teorias do aprendizado
desenvolvem em torno do conceito de que afirmam o sujeito como protagonista da
geração do seu próprio conhecimento, assim
massificação de produção e entrega de serviços
como o PBL (Problem Based Learning, ou ABP
diretos ao cliente final. Existe o debate se a em português). Segundo Kokotsaki et al (2016),
humanidade está inserida em um contexto de este metodologia se caracteriza por ser uma
nova revolução industrial, ou se os conceitos de forma ativa de ensino centrada no aluno.
industrias estão mudando. Para além do Gerando mais autonomia através de
computador, os dispositivos “smart”: fones, estabelecimento de metas, colaboração,
eletrônicos, carros e impressoras já são certeza comunicação e reflexão dentro das práticas do
mundo real. Martins et al (2018), o tutor assume
do presente humano. Nesse cenário se debate
papel diferente do ensino tradicional e é
sobre a geração que já nasceu em contato com
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bastante relevante para a eficácia do método. fácil acesso de pesquisa através dos novos
Assim o professor assume outra meios de comunicação, que podem gerar
responsabilidade, deixa de ser fornecedor de conclusões errôneas devido à textos e
informações para ser facilitador de aprendizado.
informações cujas veracidades são duvidosas.
Martins ainda cita que a maioria dos professores
que são cobrados que ensinem em nova
metodologia não vivenciaram aulas nesse 2 METODOLOGIA
modelo, e é natural que se sintam
desconfortáveis com essa nova metodologia. A partir do estudo sobre a metodologia PBL,
Já do ponto de vista dos alunos, segundo decidiu-se fazer uma adaptação para
Benjamin e Kenan (2006), têm que analisar os implemanta-la na disciplina de Solos com a
problemas, decidir o que precisam saber e, turma de Arquitetura e Urbanismo, ministrada
tendo adquirido o conhecimento, desenvolver por um professor de Engenharia. Com isso,
soluções apropriadas. O trabalho em grupo é decidiu-se passar para os alunos os assuntos
parte integrante da estratégia, com a partilha e
referentes à disciplina durante o decorrer do
avaliação da aprendizagem formando um
elemento essencial no desenvolvimento de semestre, por meio de aulas teóricas e
soluções. Como os alunos recebem controle expositivas. Esses conteúdos foram
sobre o currículo detalhado e são obrigados a apresentados antes da proposição do trabalho
avaliar e aplicar seu aprendizado, um maior final, tendo o intuito de preparar os alunos,
senso de propriedade é gerado do que seria pelo fornecendo o todo o conhecimento necessário,
processo de educação mais tradicional.
para que de maneira mais assertiva, eles
Aplicado como uma estratégia educacional, o
pudessem obter um resultado satisfatório.
PBL tem o intuito de formar profissionais mais
Após as primeiras provas do semestre, foi
preparados para a realidade do mercado de
proposto para os alunos o projeto em questão.
trabalho. Isso ocorre pois o seu desenrolar
Este tratava-se de uma simulação, onde um
funciona como um gatilho mental para a
escritório de Engenharia estaria contratando um
independência, raciocínio e comunicação, onde
serviço, utilizando-se de uma problemática
o conhecimento é construído através de
verídica, para que os alunos pudessem
pesquisas, debates e trocas de experiências.
desenvolver os seguintes fatores:
Gerando assim, um maior senso crítico e de
responsabilidade entre os alunos, visto que eles
→ Análise da composição do perfil geotécnico
serão os encarregados por solucionar aquela
→ Cálculo das dimensões das sapatas
problemática.
→ Cáculo do volume de cada sapata
A partir disso, é percebido que essa nova
→ Projeto executivo das fundações
metodologia é mais assertiva em ambientes
O cenário em questão trata-se de uma
cujos alunos são mais focados e interessados,
edificação que possuía 7 pavimentos,
visto que há uma ausência de cobrança em
comportando 26 pilares distribuídos em uma
provas e trabalhos escolares ou acadêmicos,
área de 460m2, localizada no estado do Rio de
podendo ocasionar uma falta de interesse e
Janeiro. O intuito de utilizar uma sondagem
dedicação por parte dos alunos ao decorrer do
real, assim como dissemina a metodologia PBL,
tempo. Outro fator alarmante é de que, a partir
foi de propiciar aos alunos uma experiência
do momento que a busca pelo conhecimento se
profissional fidedigna à realidade, mesmo que
torna responsabilidade do aluno, e este possui
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através do meio acadêmico, a fim de prepará-los seus futuros projetos. (Pontuação: De 0 a 3


de maneira mais assertiva para o mercado de pontos)
trabalho. 3. Maquete: Forma de apresentar a volumetria
Com o trabalho introduzido, dividiu-se a da edificação e das sapatas de maneira mais
turma de 36 alunos em 6 grupos de 6. E com o visual, em escalas pré estabelecidas. Deveriam
intuito de promover um auxílio ainda mais estar em cima do aquário para evidenciar o
eficaz, foram disponibilizados os cortes e planta posicionamento das sapatas em relação ao solo.
baixa da estrutura com o posicionamento de (Pontuação: De 0 a 2 pontos)
todos os pilares, e 3 sondagens do solo 4. Extra: Foi proposto também uma pontuação
específicas para cada grupo, que serviriam de extra para os grupos que apresentassem uma
base para o desenvolvimento do projeto. modelagem 3D da edficação com as sapatas e o
Nesse período entre a introdução e entrega solo. (Pontuação: 0,5 pontos)
final, foram ministrados 2 assessoramentos:
Um com o professor, para avaliar a questão do 3 RESULTADOS
dimensionamento das sapatas e a modelagem da
Após todas as aulas, debates e
edificação, e outro com o monitor, para
assessoramentos, espera-se que com o fim do
esclarecimento de dúvidas gerais que poderiam
trabalho, que os alunos tenham capacidade de
vir a surgir durante o decorrer do caminho. E
analisar todos os elementos que compõem uma
paralelamente a isso estavam ocorrendo
fundação, um maior entendimento sobre a
normalmente as aulas semanais para conclusão
relação de transferência de cargas, tensões e
do conteúdo programativo do semestre.
recalques que acontecem entre a edificação e o
O prazo estimado para a conclusão do projeto
solo, e estarem aptos para escolher o tipo de
foi de 5 semanas, e a sua entrega consistia em 3
fundação que deve ser implementada, levando
partes, onde cada uma teria um peso em relação
em consideração o tipo de solo e sua resistência.
à nota final. Foram elas:
Como esperado, foram entregues os 6
1. Aquário: Caixas prismáticas de vidro ou
trabalhos conforme solicitado (relatório, aquário
outro material transparente, onde seria
e maquete) dentro do prazo estipulado. E todos
representada as camadas do solo através de
os resultados foram avaliados como
areias de jardinagem, diferenciando-as pelas
satisfatórios. Entretanto, apenas 1 grupo se
cores. Essa forma de abordagem foi proposta
dispôs a fazer a modelagem 3D como atividade
para que os alunos tivessem uma melhor
extra (Figura 1). A meta padrão seria a entrega
compreensão e visualização da interface do
das maquetes com perfis geotécnicos, todos os
perfil do solo. (Pontuação: De 0 a 5 pontos)
grupos entregaram, ver Figura 02.
2. Relatório: Consistia na documentação de
Outra forma de perceber o engajamento da
todo o trabalho, ou seja, a parte escrita. Foram
turma se traduziu na vontade de entregar mais
incluídos todos os documentos de referência (os
material do que havia sido solicitado. Como é o
que foram disponibilizados pelo professor), a
caso da maquete 3D, supracitada.
descrição da estrutura, perfil geotécnico e
fundação, o memorial de cálculo do volume e as
medidas das sapatas. Essa abordagem tinha
como intuito habituar os alunos à documentar
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4 CONCLUSÕES

Foi possível observar que o perfil do aluno de


arquitetura difere do perfil do aluno de
Engenharia Civil. A experiência prática é
normalmente mais requisitada por alunos de
Arquitetura da universidade em estudo. Logo,
uma metodologia de avaliação baseada em
problemas reais, a serem resolvidos, tende a
aumentar o engajamento dos alunos. E esse
fenômeno de fato foi observado. Os resultados
são esteticamente interessantes, existe também:
a experiência dos alunos com diversas texturas
de solos decorativos, entendimento sobre a
Figura 1. Modelagem 3D da edificação e perfil do solo. volumetria e composição das partes envolvidas
na fundação, entendimento e interpretação das
sondagens de subsolo de uma região real,
também compõe o conjunto de habilidades
desenvolvidas.

5 REFERÊNCIAS

Benjamin C., Kenan C. (2006). Implications of


introducing problem-based learning in a traditionally
taught course. Engeneering education, volume 1, p. 2-
7.

Koktsaki D., Menzies V. e Wiggins A., (2016). Project-


Figura 2. Maquete volumétrica de um dos grupos based learning: A review of the literature. Improving
Schools, volume 19, p. 267-277.
Outro ponto importante notado foi que, de Martins., A.C. Falbo Neto, G e Silva F.A.M (2018).
fato, trabalhar com problemáticas reais Características do Tutor Efetivo em ABP – Uma
despertam um maior interesse e curiosidade por Revisão de Literatura. Revista Brasileira de Educação
Médica, volume 42, p. 103-112.
parte dos alunos. Essa percepção ocorreu devido
à frequência dos grupos nos assessoramentos e
abordagens ao professor em períodos extra-
classe. Entretanto, as aulas convencionais sobre
os assuntos da disciplina, que aconteciam em
paralelo com o desenrolar do projeto, não
pareciam mais tão atrativas, visto que houve
uma diminuíção na quantidade de pessoas em
sala de aula e uma falta de cobrança que uma
prova teórica corroboraria.
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Ensaio de Adensamento Unidimensional: Elaboração de um


Protótipo de Custo Reduzido para Fins Didáticos
Andressa Cristina Zigoski da Silva
Faculdades Integradas de Cacoal, Cacoal, Brasil, andressa.zigoski@gmail.com

Augusto Montor de Freitas Luiz


Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Apucarana, Brasil, augustom@utfpr.edu.br

Roberto Arthur Pissinatti da Silva


Faculdades Integradas de Cacoal, Cacoal, Brasil, robertopissinatt@gmail.com

RESUMO: O ensaio de adensamento é utilizado para obtenção de parâmetros de compressibilidade


dos solos, contudo sua utilização ainda é restrita em função do custo do equipamento e do tempo
demandado para sua realização. Desta forma, o presente estudo tem como objetivo desenvolver um
protótipo de baixo custo frente ao equipamento já existente e comercializado, com intuito de ser
utilizado de forma didática nas disciplinas referentes a área de Geotecnia, em regiões que carecem
de conhecimento acerca dos solos. Futuramente, o mesmo poderá a vir ser utilizado de forma a
produzir conhecimento referente aos solos, uma vez validada a sua eficiência. Para tal, a
metodologia norteou-se em duas etapas: desenvolvimento e montagem do equipamento; e operação
da mesma. Os resultados obtidos indicam que é possível desenvolver um equipamento semelhante
ao comercializado de custo inferior, com economia na ordem de 87% sendo capaz de simular o
ensaio de adensamento de forma completa.

PALAVRAS-CHAVE: Adensamento, Protótipo, Compressibilidade, Equipamentos didáticos.

1 INTRODUÇÃO saturados, que ocorre devido à expulsão


gradativa da água existente em seus vazios.
O comportamento físico e mecânico dos solos Segundo Caputo (2015, pag. 78), a
de algumas regiões do Brasil ainda é pouco compressibilidade do solo é uma das principais
conhecido, principalmente em função da causas de recalques. Todos os materiais
carência de dados provenientes da realização de utilizados na construção civil apresentam
ensaios, justificada pelo desconhecimento ou deformações quando sujeitos a carregamentos,
negligência dos profissionais da área. com o solo não é diferente, porém, quando se
Sabe-se que um projeto geotécnico tem como trata da engenharia de fundações, há maior
base dados provenientes de ensaios laboratoriais complexidade, pois existem deformações de
e/ou investigação do subsolo. Desta forma, para maiores intensidades, entretanto em solos finos
se elaborar um projeto econômico, é necessário não ocorrem instantaneamente e sim em função
obter o máximo de informações possíveis a do tempo.
respeito do solo presente no local da obra. No ensaio adensamento, a célula de
Um dos ensaios realizados para a adensamento (oedômetro) juntamente com sua
caracterização dos solos é o de adensamento, prensa, munido de extensômetro mecânico ou
conhecido também como ensaio oedométrico, transdutor elétrico de deslocamento possibilita
que permite a obtenção de parâmetros para a medir as deformações de amostras de solo
estimativa de recalques em solos coesivos indeformadas, permitindo a execução deste
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ensaio. Tal conjunto pode ser adquirido por suportada pela água. Em um instante qualquer,
fornecedores específicos, que comercializam a água começará a ser expulsa, pois o exterior
equipamentos para ensaios laboratoriais ou in da câmara estará sob a pressão atmosférica, com
loco, alguns destes são especialistas na área de isso a mola começará a ceder sofrendo uma
solos. determinada deformação. Com o acréscimo de
Contudo, este ensaio ainda é pouco cargas a água continuará sendo expulsa até o
executado no intuito de caracterização dos solos momento em que a mola, já bastante
em função do alto custo do equipamento comprimida, suportará sozinha toda a carga
comercializado no país e do tempo demandado aplicada, fazendo com que haja o equilíbrio de
para sua completa execução. forças. Quando não houver mais aplicação de
Esta problemática se agrava nas instituições cargas a água não será mais expulsa dos vazios.
de ensino privadas do Brasil onde os
laboratórios de Geotecnia carecem de
equipamentos para realização de ensaios mais 3 O ENSAIO DE ADENSAMENTO
complexos como, por exemplo, resistência e
compressibilidade, prejudicando a capacidade Com finalidade de determinar a
de aprendizado do acadêmico que não tem a compressibilidade do solo é necessário obter
oportunidade de acompanhar a execução destes seu índice de adensamento. O método mais
ensaios. conhecido para estabelecer tal parâmetro é o
Neste cenário, a elaboração de modelo de ensaio de adensamento lateralmente confinado
prensa para o ensaio de adensamento de custo que foi desenvolvido por Terzaghi.
reduzido se mostra como uma alternativa para O ensaio de adensamento consiste
estas instituições, complementando a formação basicamente na aplicação de carregamentos
acadêmica dos alunos no que tange as práticas progressivos em uma amostra de solo
laboratoriais de Geotecnia. indeformada, geralmente com cinco centímetros
de diâmetro, tendo cautela ao talha-la para não
exceder as dimensões verticais do anel de
2 MODELO MECÂNICO adensamento utilizado. A amostra é então
DESENVOLVIDO POR TERAZGHI confinada em uma célula de adensamento,
assim o corpo de prova não sofrerá nenhuma
O adensamento dos solos se dá pela expulsão da deformação lateral.
água contida nos vazios a partir de uma carga Contudo, o carregamento aplicado na
aplicada em sua superfície, fazendo com que a unidade já saturada provocará a expulsão da
água seja expulsa reduzindo o índice de vazios água, que irá percolar pela pedra porosa
do solo. Para explicar a teoria do adensamento, localizada na parte inferior da célula, com isso
Terzaghi propôs um modelo mecânico que as partículas do solo serão realocadas
consiste basicamente em um pistão com uma gradativamente conforme o acréscimo de carga,
pequena válvula que possibilita a passagem da provocando assim, o recalque.
água em quantidades mínimas, representando Segundo a NBR 12007/90 – MB 3336, a
assim, a baixa permeabilidade do solo, além célula de adensamento é constituída de diversos
disso, o pistão é suportado por uma mola que elementos conforme ilustrado na Figura 1, estes,
tem como base o fundo de uma câmara essenciais para a realização do ensaio:
preenchida por água. Inicialmente é aplicada a) Pedras porosas: Devem ser fabricadas com
uma força no pistão. Imediatamente após a material quimicamente inerte em relação ao
aplicação da carga não haverá tempo hábil para solo e a água, e devem estar sempre limpas e
que a água seja expulsa, sendo assim a mola não livres de trincas. A pedra porosa localizada na
sofrerá deformação, pois toda a carga será parte superior do corpo de prova deve ter
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dimensões que variam entre 0,2 mm a 0,5 mm adensamento simples ou duplos, bem como o
menores que o diâmetro interno da amostra; sistema de braço de alavanca utilizado para
b) Bureta e Válvula: A bureta é o canal por possibilitar a aplicação de carga no solo
onde a água será expulsa e a válvula é o ensaiado. No ano de 2017, o custo total para
fechamento da mesma; aquisição deste investimento girava em torno de
c) Base rígida: É a base que sustentará todas as R$20.000,00 a R$25.000,00.
partes, sendo fundamental para a fixação do
anel de adensamento, quando fixo;
d) Anel fixo e Anel flutuante: O diâmetro
interno do anel de adensamento deve ser de 50
mm e sua altura de 13 mm, sendo estas
dimensões mínimas, sua rigidez deve ser tal,
que, sob as pressões exercidas pela água e pela
compressão axial, a variação do seu diâmetro
não exceda 0,03%, o material utilizado para
confecção do anel de adensamento deve ser não
corrosível e sua superfície interna altamente Figura 2. Conjunto de aplicação de carga e célula de
polida ou recoberta com material de baixíssimo adensamento - modelo comercializado.
atrito; Fonte: Gutierrez (2005)
e) Cabeçote: Local onde será aplicado o
carregamento. O material constituinte do
cabeçote deverá ser resistente; 4 DESENVOLVIMENTO DO
f) Extensômetro: Capaz de medir deformações PROTÓTIPO
de até 1,5 cm, com resolução de 0,01 mm.
g) Prensa: Confeccionada com material No projeto, montagem e validação utilizou-se
resistente podendo suportar todo o peso das como base a normativa brasileira ABNT NBR
anilhas a serem utilizadas. 12007/90 – MB 3336, que se encontra
cancelada atualmente sem substitutiva, e as
americanas ASTM D2435 e BS1377. Destaca-
se a grande similaridade entre elas, tanto nos
parâmetros de ensaio, quanto na normatização
do equipamento.
Para a confecção do protótipo buscou-se
empregar materiais resistentes com custos
reduzidos como o aço, porém, alguns
componentes que apresentaram inviabilidade de
produção, foram adquiridos em empresa do
ramo de equipamentos laboratoriais para solos.
O projeto foi desenvolvido buscando manter
a fidelidade ao equipamento tradicional e seus
resultados, porém como se trata de um aparelho
de grande porte e havia o interesse em manter
um custo mínimo, projetou-se um protótipo
Figura 1. Modelos de células de adensamento. reduzido, que execute os ensaios com a mesma
Fonte: ABNT NBR 12007 – MB 3336
qualidade que o tradicional. O modelo
idealizado inicialmente está ilustrado na Figura
A Figura 2 ilustra um modelo do conjunto 3a.
com célula, utilizado para realizar ensaios de
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rígida juntamente com seu cabeçote de fixação,


foram produzidas em aço, conforme pode ser
visto na Figura 4b, possuindo diâmetro interno
de 12,9 cm, altura interna de 3,6 cm e externa
de 7,4 cm. Foram reproduzidos através de peças
maciças, torneadas possuindo guias de encaixe
em medidas ideais para o anel de adensamento e
pedras porosas.

Figura 3. Esquema dos equipamentos: a) ideia inicial; b)


ideia adaptada.

Contudo, o projeto inicial se mostrou


defectivo quanto ao seu manuseio e a massa da Figura 4. a) Anel de adensamento e pedra porosa; b)
haste, pois a carga para assentamento seria célula de adensamento.
demasiada alta, logo foram necessárias
adaptações, visando a melhor trabalhabilidade Porém, optou-se em dividir o cabeçote em
na realização do ensaio e a coerência aos duas partes: o cabeçote de fixação que serve
resultados que se esperam alcançar, então, com como guia para a pedra porosa superior e o
tais alterações obteve-se o projeto que se ilustra cabeçote de transferência da carga, mostrado na
na Figura 3b. Neste, quando as anilhas são Figura 5, este é ajustável conforme a altura
inseridas na barra de cargas, a célula é elevada inicial da amostra constante no anel de
pelo prato central, que possui suas laterais adensamento, juntamente com a pedra porosa.
afixadas por cabos de aço, fazendo com que Uma vez que o cabeçote de transferência de
haja a transferência de cargas direta. Desta carga estiver regulado e fixo na barra guia o
forma, as massas foram facilmente equilibradas ensaio poderá ser iniciado.
e o problema inicial solucionado.
O ponto de partida para a montagem do
equipamento foi a obtenção do anel de
adensamento e das pedras porosas, de acordo
com a Figura 4a. Estes foram adquiridos na
empresa Solotest Aparelhos para Mecânica do
solo Ltda., de acordo com as normas brasileira e
americana, características estas, que
inviabilizaram a confecção dos mesmos. A
confecção das peças se mostrou infactível em
função da precisão demandada para as mesmas,
justificando a opção pela compra.
O anel possui diâmetro interno de 5,005 cm e
altura de 2 cm, possibilitando ensaiar uma Figura 5. (A) Cabeçote de transferência de cargas; (B)
amostra de aproximadamente 20 cm², já as Cabeçote de fixação.
pedras porosas, possuem diâmetro de 5 cm e
altura de 1 cm. Com a elevação da célula, devido as anilhas
A célula de adensamento, munida de base adicionadas, o corpo de prova será comprimido
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e as respectivas deformações lidas. como ferramenta a célula de carga juntamente


As partes constituintes da prensa, o suporte com indicador digital.
para as anilhas, o prato central, as hastes guias e Os testes realizados se deram por simples
a base para fixação do extensômetro que aferem inserções de anilhas, equilibradamente, em
as deformações que advirem do ensaio, foram ambos os lados da barra da prensa, submetendo
confeccionados igualmente em aço, estes com assim, a célula de carga, a tal, conforme
alta rigidez para que não haja interferências disposto na Figura 7. Posteriormente houve a
durante os ensaios e leituras, conforme ilustrado retirada das anilhas, procedendo da mesma
na Figura 6. Assim, tem-se o conjunto de forma. Como o sistema de transferência de
aplicação de carga e a célula de adensamento. cargas foi projetado para transmissão direta,
este deve conduzir fielmente o carregamento à
célula. A cada anilha inserida houve o
acompanhamento do acréscimo de massas
através do indicador digital, sendo possível
constatar o bom funcionamento do sistema em
questão, logo, pode-se afirmar que este segue de
acordo com o esperável.

Figura 6. Conjunto de aplicação de carga e célula de


adensamento.

A aplicação de transferência de cargas ocorre


através de roldanas e cabos de aço, tornando
esta direta, assim, quando as anilhas são
inseridas no equipamento, o mesmo a comete
fielmente ao solo ensaiado, possibilitando Figura 7. Calibração da transferência de carga através de
submeter à amostra a aproximadamente 320 célula de carga.
kPa.
A fabricação do conjunto e célula se deu na Com o protótipo desenvolvido é possível
Tornearia Rondônia na cidade de Cacoal/RO, executar o ensaio de adensamento unidirecional
com devido acompanhamento e seguindo em amostras de solos indeformadas nas
rigorosamente as normativas. Estes passaram condições seca ou inundada, sendo possível
por acabamento de pintura envernizada para que traçar as curvas de consolidação para os níveis
haja a conservação das peças e o processo de tensões pré-determinados, bem como a curva
químico de corrosão, que ocorre comumente em de adensamento, onde se obtém uma
tal material, seja evitado. aproximação para tensão de pré-adensamento.
Anterior à utilização do conjunto de A Figura 8 representa um resultado típico
aplicação de carga, é necessário executar a obtido na etapa de teste do protótipo elaborado.
calibração deste, para que, seja possível Ressalta-se que a confiabilidade dos dados
pormenorizar a transferência de cargas pelo obtidos não foi verificada uma vez que o
sistema desenvolvido, assim efetivando a equipamento se destina para fins
aprovação do mesmo. Para isto, utilizou-se acadêmicos/didáticos.
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5 CONCLUSÕES

O protótipo da prensa de adensamento se


mostrou viável construtivamente e
financeiramente, visto que, os conjuntos de
aplicação de carga com célula de adensamento,
comercializados, possuem um valor demasiado,
entre vinte e vinte e cinco mil reais e, o
protótipo desenvolvido exigiu um investimento
de aproximadamente três mil reais,
apresentando assim, uma economia de 87%,
considerando a média do valor de
comercialização do equipamento. A fabricação
se manteve fiel ao projeto idealizado e o sistema
Figura 8. Curva de adensamento obtida com o protótipo
elaborado de transferência de cargas operou perfeitamente,
ressalva-se que os conjuntos comercializados
4.1 Custos da fabricação do protótipo possuem o sistema de braço de alavanca,
possibilitando que pequenas cargas, transmitam
Dentre serviços, peças e materiais e adquiridos, grandes tensões, já o protótipo, devido ao seu
o valor aproximado, gasto, foi dois mil e sistema de transmissão direta, possibilita a
trezentos reais, as despesas e custos estão aplicação máxima de cerca de 320 kPa.
elencados na Tabela 1. Portanto, conclui-se que é possível executar
As anilhas adquiridas (63kg) são o suficiente um protótipo para a realização de ensaios de
para realizar ciclos de carga e descarga do adensamento com um custo reduzido para fins
ensaio de adensamento até a tensão máxima da didáticos, possibilitando o acompanhamento do
ordem de 320 kPa. Caso maiores níveis de ensaio por parte dos acadêmicos e interessados,
tensões sejam requeridos, novas anilhas deverão bem como da obtenção dos principais resultados
ser adquiridas. referentes a compressibilidade de um solo.
Desta forma, o presente equipamento se
Tabela 1. Custos para fabricação do protótipo na região consolida como uma opção frente ao
do Estado de Rondônia (Brasil) equipamento comercial disponível no mercado,
TIPO DA DESPESA CUSTOS PROPORÇÃO podendo solucionar a problemática levantada
Material (Aço) R$ 291,00 12,68 % neste estudo, porém é necessário demandar
Tornearia (Mão de 44,66 % maior atenção e tempo para a etapa de validação
R$ 1025,00
obra)
Anel e Pedras porosas R$ 500,00 21,79 % para dar confiabilidade aos dados do ensaio.
Anilhas (63 kg) R$ 157,50 6,86 %
Pinturas R$ 116,25 5,07 %
Outros R$ 205,40 8,95 % REFERÊNCIAS
TOTAL R$ 2295,15 100 %
American Society for Testing and Materials. ATSM BS
Como observado na Tabela 1, os gastos 1377: Methods of test for soils for civil engineering
substanciais apresentados são com mão de obra, purposes. Compressibility, permeability and durability
tests. Philadelphia, 1990.
que compõe a maior parte dos custos gerais, Associação Brasileira de Normas Técnicas. ABNT NBR
alcançando 44,66%, seguido pela aquisição do 12007 – MB 3336: Solo – Ensaio de adensamento
anel de adensamento e pedras porosas que unidimensional. Rio de Janeiro, 1990.
ocupam 21,79% do valor total do investimento. Caputo, H.P. (1988). Mecânica dos solos e suas
aplicações, 6. ed., Rio de Janeiro: LTC.
Gutierrez, N.H.M. (1988). Influências de aspectos
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estruturais no colapso de solos do norte do Paraná,


Tese (Doutorado), Escola de Engenharia de São
Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 311 p.
Marangon, M. (2013). Compressibilidade e adensamento
dos solos, 03 p. Disponível em: <
http://www.ufjf.br/nugeo/files/2009/11/04-MS-
Unidade-03-Compressibilidade-e-Adensamento-
2013.pdf> Acesso em: 21 de outubro de 2017.
Pinto, C.S. (2006). Curso básico de mecânica dos solos
em 16 aulas, 3. ed., São Paulo: Oficina de Textos.
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Estudo do comportamento da Equação Diferencial de Laplace


aplicada à percolação de água: investigação da permeabilidade do
solo em um modelo reduzido de barragem de terra
Geovana Luz Amaral
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia, Vitória da Conquista, Brasil,
geovana.amaral@iba.edu.br

Gislan Silveira Santos


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia, Vitória da Conquista, Brasil,
gislan.santos@ifba.edu.br

Thaís Mota Freitas


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia, Vitória da Conquista, Brasil,
thais.freitas@ifba.edu.br

Joaz de Souza Batista


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia, Vitória da Conquista, Brasil,
joazbatista@ifba.edu.br

RESUMO: Apresenta-se um estudo de uma das propriedades mais importantes no que se refere à
estabilidade e segurança de obras de terra: a dinâmica da água no solo, com o foco principal de
verificar e avaliar o comportamento de Equações Diferenciais numéricas, especificamente a equação
de Laplace, aplicada na descrição de linhas de fluxo (percolação) de uma barragem em um maciço
de terra, cuja garantia da estabilidade depende da correta determinação dos parâmetros do solo,
especialmente da quantidade de água que percola para o seu interior. A partir da construção de um
modelo reduzido de uma barragem de terra, a permeabilidade do solo foi estudada com a finalidade
de verificar a importância do coeficiente de permeabilidade e da compactação do solo. Para o solo
granular utilizado no maciço, foi necessária muita cautela no processo de compactação, sendo
possível verificar a eficiência e importância do processo de compactação bem feito e adequado,
visto que o solo era altamente permeável e por conta disto, o modelo físico poderia ter ido ao
colapso durante o enchimento.

PALAVRAS-CHAVE: Barragens, Compactação, Percolação de Água.

1 INTRODUÇÃO Segundo Baptista e Lara (2010) os recursos


hídricos são essenciais, e se tornam
As barragens de terra são um exemplo de como efetivamente proveitosos se forem
o solo pode ser utilizado como material de adequadamente controlados, armazenados e
construção em uma obra de engenharia. Por transportados, conforme suas finalidades. Dessa
terem diversas finalidades, a ocorrência de forma, para o melhor aproveitamento e
problemas na execução ou no projeto dessas preservação dos recursos hídricos é necessária a
barragens causa prejuízos enormes, tanto implantação de obras hidráulicas e uma das
financeiros quanto sociais e ambientais. alternativas mais utilizadas é a construção de
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barragens, em especial, barragens de aterro que amplamente utilizados para solucionar a


são as mais comuns no Brasil. Equação de Laplace envolvendo o fluxo de água
Algumas preocupações em um projeto através de meios porosos. Esses métodos são
geotécnico de barragens estão relacionadas com soluções para encontrar a resolução de sistemas
a determinação da sua estabilidade ao que, muitas vezes, é impossível de ser obtida
deslizamento. Quando acontece o rompimento sem a utilização desses artifícios, como é o caso
de uma barragem, podem ocorrer diversos do solo, já que este é um sistema contínuo e se
impactos negativos na sociedade, crises no faz necessária a discretização do problema
âmbito da economia, impactos ambientais que utilizando um método numérico tal como o
causarão danos muitas vezes irreversíveis. Método das Diferenças Finitas (MDF).
Como exemplo, vivenciamos no Brasil, em Assim, o estudo foi desenvolvido com o
novembro de 2015, um caso de rompimento de objetivo de compatibilizar a Equação
uma barragem de rejeitos sólidos, situada no Diferencial de Laplace com as linhas de fluxo
estado de Minas Gerais, que gerou vários danos em um maciço de terra, além de analisar, a
para a população residente na região. partir da solução numérica desta Equação, o
Diante disso, é necessário que estas comportamento da rede de fluxo no corpo de
estruturas sejam adequadas à resistência aos uma barragem e verificar a validade das
vários tipos de esforços nos quais elas estão sob equações discretizadas. Além disso, foi feito um
efeitos, como por exemplo, os esforços que são estudo sobre o coeficiente de permeabilidade
causados por carregamento, os quais podem ser dos solos, salientando sua importância e
o peso próprio da barragem, peso e pressões influência sobre a estabilidade do maciço
hidrostáticas, subpressão, peso e pressões terroso de um modelo reduzido de barragem de
devido aos sedimentos, fatores que influenciam terra, de forma que se previna a ocorrência de
na ruptura ou não da barragem. Sabe-se que a erosão interna garantindo sua estabilidade.
água é um importante agente desses
carregamentos, isto é, além de afetar de forma
significativa em todos esses pontos citados 2 ANÁLISE DO FLUXO DE ÁGUA
acima, acumulada ela é capaz de se infiltrar na
estrutura e percolar para seu interior, gerando Por ser um material poroso e permeável, o solo
mais uma pressão desfavorável à manutenção constituinte da barragem, permite que a água
da estabilidade da barragem. flua, ou percole, através de seus vazios: a água
Dessa forma, é indispensável analisar a flui de um ponto de maior energia para um
dinâmica da água no solo e como este se ponto com menor energia no interior do solo. O
comporta nessas condições. Para tanto, existem coeficiente de permeabilidade (ou
conceitos matemáticos importantes da condutividade hidráulica) k é usado para
hidráulica dos solos que auxiliam no quantificar esta propriedade, ou seja, a
desenvolvimento das equações que regem o dificuldade que o solo impõe a água de percolar
fluxo da água através de meios porosos como a em meio aos seus grãos. As barragens de terra
Lei de Darcy e equações de equilíbrio da construídas sem controle de compactação e com
mecânica dos fluidos. Na maioria dos baixa umidade podem gerar uma estrutura
problemas presentes em algum ramo das metaestável, ou seja, solos não-saturados que
Engenharias, possivelmente existe a ideia de podem sofrer um rearranjo radical das partículas
encontrar soluções de determinadas equações com grande diminuição de volume durante o
diferenciais que explique o comportamento dos fluxo de água transiente, com ou sem cargas
fenômenos que estão sendo estudados (ZILL, adicionais (BARA, 1976).
2011). A água ocupa a maior parte ou a totalidade
Os métodos numéricos vêm sendo dos vazios do solo. O estudo da percolação da
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água nos solos é essencial devido a três tipos de utilizado o Método das Diferenças Finitas
problemas práticos: (MDF), o qual aproxima as derivadas na
• Análise de recalques, que estão equação diferencial por meio do truncamento da
relacionados com a diminuição do índice de expansão da série de Taylor. Tal processo
vazios devido a expulsão de água desses vazios; resulta em uma série de equações algébricas nas
• Estudos de estabilidade, porque a tensão quais as condições de contorno são aplicadas
efetiva, responsável pela resistência do solo, para a resolução do problema. Como mostrado a
depende da pressão neutra, e esta é função das seguir, são obtidas equações para cinco
tensões provocadas pela percolação da água; condições diferentes:
• Cálculo das vazões, para a estimativa da
quantidade de água que se infiltra numa Carga em um nó central:
escavação ou maciço de terra.
h0 
1
h 1  h 2  h 3  h 4  (2)
Durante o primeiro enchimento com o 4
reservatório, estabelecem-se fluxos de
percolação, constituindo-se progressivamente Carga em um nó em 1 eixo impermeável:
uma rede de fluxo permanente. Uma vez que a
água percola de montante para jusante, a h0 
1
h 1  2h 2  h 4  (3)
4
pressão de percolação é favorável à estabilidade
do talude de montante e desfavorável à do Carga em um nó em 2 eixos impermeáveis:
talude de jusante. (PASCHOALIN FILHO,
2004). h0 
1
2h 1  2h 2  (4)
4
2.1 Fluxo de água em meios porosos
Carga em um nó em diferentes tipos de solo:
Sendo válidas a Lei de Darcy e a Equação da 1 2k 1 2k 2 
h0   h 1  h 3  h2  h 4  (5)
Continuidade, é possível deduzir que a Equação 4 k 1  k 2  k 1  k 2  
de Laplace é uma equação diferencial parcial
que descreve, matematicamente, muitos Carga em um nó abaixo de parede impermeável:
fenômenos físicos, dentre eles se encontra o 1 h  h5 
fluxo de água através de meios porosos, como o h0   h1  h 3  h 4  2  (6)
4 2 
solo:

 ²h  ²h A partir da discretização, verificou-se que


 =0 (1) um método iterativo pode ser utilizado para
x² z²
calcular os valores das cargas de forma que
A Equação (1), descrita acima, neste caso estes se tornem os mais satisfatórios possíveis
representa uma condição particular de fluxo para garantir a estabilidade do modelo, além de
bidimensional em um solo isotrópico em facilitar estes cálculos, visto que, o valor
relação à permeabilidade. Contudo, por meio de calculado para um nó depende de outros nós ao
um artifício matemático, é possível estudar o seu redor, o que altera todos os valores e as
fluxo através de um solo anisotrópico como se equações são diferentes a depender da posição
estivesse ocorrendo em um solo isotrópico. do nó no modelo. A simulação do
Desta forma, a Equação de Laplace satisfaz o comportamento foi, então, feita com o auxílio
fluxo de água através do solo em um sentido do software MATLAB por meio de um código
muito amplo, tanto em solo isotrópico quanto que, a partir das equações algébricas obtidas
em solo anisotrópico. com a discretização de Laplace, permite a
Para a discretização da Equação (1), pode ser obtenção dos valores ideais de carga hidráulica
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nos pontos de um modelo hipotético de maciço A depender dos valores iniciais estipulados
em suas diversas condições de contorno: para a carga e do mínimo erro desejado, o
número de iterações necessárias para alcançá-lo
é muito grande, o que pode ser facilmente
resolvido com a utilização do código que
calcula corretamente os valores por meio das
equações obtidas via a discretização da Equação
de Laplace.

3 PERMEABILIDADE DOS SOLOS

O solo contém inúmeros espaços vazios entre


seus grãos devido à forma irregular das
Figura 1 – Exemplo de Aplicação. partículas sólidas que o constituem. Esses
Fonte: GERSCOVICH, 2011, p. 139. espaços vazios interligados se dispõem de
maneira que formem pequenos tubos os quais
Com o objetivo de otimizar os cálculos das possibilitam o escoamento da água. A
cargas em cada ponto a fim de satisfazer as quantidade de água que poderá passar com
equações acima de forma que o resíduo gerado segurança por esses tubos depende da
seja o mais próximo de zero, foi construído um porosidade do solo que é determinante para a
código em linguagem MATLAB, que atenda à percolação.
situação da Figura 1, no qual valores iniciais Em estruturas geotécnicas é indispensável a
das cargas nos nós de 1 a 15 são valores análise da quantidade de água de percolação e
hipotéticos e com o método iterativo os valores as forças associadas a esse fluxo para evitar o
são alterados de forma que as novas cargas colapso da estrutura. A importância da
calculadas sejam as mais próximas de uma quantificação da permeabilidade do solo ao ar
situação ideal: deve-se, por exemplo, à necessidade de
caracterizar o espaço poroso e identificar
mudanças na estrutura do solo, ocasionadas
pelas práticas de manejo (BLACKWELL et al.,
1990; CAVALIERI et al., 2009 apud
SILVEIRA, 2011).
Por conta da resistência oferecida pelas
partículas do solo, a água perde energia
enquanto percola de um ponto de maior carga
hidráulica para um ponto de menor carga
hidráulica. Essa perda de energia, ou seja, a
variação da carga hidráulica é calculada pela
diferença de cota entre os pontos considerados,
visto que a carga hidráulica total tem dimensões
de um comprimento.
Em escala microscópica verifica-se que o
percurso das partículas de água é tortuoso por
conta da disposição aleatória das partículas
sólidas. No entanto, à escala macroscópica, o
Figura 2 – Captura de tela obtida após o código.
Fonte: Própria.
fluxo de água pode ser considerado laminar,
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para que seja válida a Lei de Darcy, no qual amostras deformadas e indeformadas.
ocorre o mínimo de agitação entre as camadas Deve-se destacar que os solos em condições
do fluido devido à baixa velocidade de naturais raramente são iguais de um ponto para
percolação imposta pelas dimensões reduzidas outro, bem como em profundidade. Assim,
dos interstícios da maioria dos solos. foram coletadas amostras de diferentes camadas
Segundo Alvarez Javier et. Al (2003) a do solo. Para a amostragem com estrutura
condutividade hidráulica é o principal indeformada, utilizou-se de um cilindro vazado
parâmetro requerido para a predição de fluxo de de PVC, com diâmetro de 75 mm e altura
água nos solos, devido a sua dependência com a aproximada de 10 cm, o qual foi introduzido em
estrutura do solo e à elevada variabilidade diversas camadas de solo manualmente, sendo
espacial que possui esta propriedade. removido cuidadosamente para que a amostra
Para a evolução da engenharia foi não sofra deformações e/ou perturbações
indispensável o estudo da permeabilidade, físicas, e colocadas em sacos plásticos para não
porque havia problemas práticos, como os já perderem a umidade natural:
citados, que só poderiam ser resolvidos se fosse
possível prever esta propriedade dos solos, cuja
importância se deve à função de indicar as
diferenças estruturais nas diversas camadas que
constituem o perfil.

3.1 Determinação da Permeabilidade

Após a escolha do solo caracterizado como


Figura 3 – Extração da Amostra Indeformada.
areia argilosa, normalmente encontrado na Fonte: Própria.
cidade de Vitória da Conquista, para a
construção do modelo reduzido de barragem de Para a realização do ensaio, foram as
terra, o coeficiente de permeabilidade foi amostras coletadas, funis de plástico e caps
determinado em laboratório por meio dos PVC para encaixe das mangueiras de silicone,
ensaios com permeâmetro de carga constante. além das conexões utilizadas para a passagem
De acordo com Braja M. Das (2008), os ensaios de água. Com um béquer graduado, foi medido
de carga constante, apesar de teoricamente o tempo necessário para a percolação de 100
poderem ser usados em todo o tipo de solo, são cm³ pelo corpo de prova. Foi utilizado silicone e
mais adequados para materiais granulares, com cola veda-rosca para garantir a vedação entre os
maior permeabilidade, enquanto os ensaios de corpos de prova e os caps/funis. Nas duas
carga variável são melhores para solos finos. superfícies, superior e inferior, do corpo de
A amostra do solo a ser analisado deve ser, prova, foi colocado papel filtro para impedir o
na medida do possível, indeformada, ou seja, carreamento de partículas do solo.
extraída com o mínimo de perturbação possível O ensaio de carga constante, mostrado a
de modo a preservar suas estruturas e condições seguir (Figura 4), é aplicado a solos granulares,
de umidade, compacidade e consistência ou seja, solos com alta permeabilidade.
naturais, porque à nível de campo ocorre uma
extrapolação de uma determinação executada
em laboratório, e quanto mais próximo da
condição real, menores serão as distorções e os
resultados terão maior representatividade. A
NBR 9604/86 rege a abertura de poço e
trincheira de inspeção em solo, com retirada de
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Tabela 1 – Determinação do Coeficiente de


Permeabilidade
CP L A t (cm/s)
(cm) (cm²) (s)
1 9,95 39,60 95 0,002845
2 10,00 39,60 127 0,002139
3 10,00 39,60 218 0,001246
4 9,92 39,60 92 0,002928
5 10,00 39,60 140 0,001940
Fonte: Própria.

A partir dos dados calculados acima, obteve-


se o valor médio do coeficiente de
permeabilidade kmed ≈ 2,2.10-3 cm/s.
Figura 4 – Ensaio para determinação da permeabilidade
Fonte: Própria. Antes do fim do ensaio, foi possível intuir
que a permeabilidade do solo seria alta, porque
a água estava passando pelo corpo de prova
Para o cálculo do coeficiente de
mais rápido do que se supunha, sendo
permeabilidade por meio do ensaio de
necessário, talvez, escolher outro solo para a
permeâmetro de carga constante, é necessário o
construção do maciço. O coeficiente acima
conhecimento de cinco parâmetros, a saber:
caracteriza um solo com permeabilidade alta, o
• V: volume de água que passa pela
que requer um estudo mais avançado para
amostra em determinado tempo, fixado em 100
realizar a compactação do solo da forma mais
cm³;
cautelosa possível, para que a pressão de
• L: altura do corpo de prova;
percolação da água pelo maciço não seja
• h: altura da carga hidráulica, constante
causadora da instabilidade do modelo reduzido
durante o ensaio, medida em 93 cm;
de barragem. Assim, com o objetivo de verificar
• A: área da seção do corpo de prova;
a interferência da boa compactação na
• t: tempo necessário para atingir o
manutenção da estabilidade do maciço, optou-se
volume V;
por utilizar o mesmo solo, com permeabilidade
A estimativa da condutividade hidráulica é
alta, e realizar a compactação adequada.
feita, então, por meio da equação:

V.L
k= (7) 4 CONSTRUÇÃO DO MODELO
h.A.t REDUZIDO
Foram medidos a altura dos corpos de prova, A compactação é um dos vários métodos para
a altura da carga hidráulica e o tempo, em melhoramento das propriedades mecânicas de
segundos, necessário para a percolação de 100 um solo. É definido como um método mecânico
cm³ pelo corpo de prova. Com as dimensões dos baseado na expulsão de ar dos poros do solo
moldes calculou-se a área das seções que é a reduzindo o índice de vazios sob umidade
mesma para todos os moldes, considerando o constante. Tem como objetivo básico a
diâmetro externo de 75 mm e descontando a obtenção de um novo material, pois a
espessura de 2 mm. Para a temperatura da água compactação gera deformações permanentes
durante o ensaio de aproximadamente 21°C e que modificam as propriedades originais do
altura de carga hidráulica constante de 93 cm, solo, e este novo material deve apresentar um
os resultados obtidos estão tabelados a seguir: comportamento adequado para a aplicação a
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que se destina (BAPTISTA, 1976; mais facilidade de ser transportada devido à alta
BALMACEDA, 1991). porosidade do solo, facilitando o fluxo da água
A partir da formulação das técnicas de através dele. O solos mais finos, então, são
compactação com a determinação prévia da indicados para conter o fluxo de água.
umidade ótima, foi constatado que continuando Por essa razão, foi preparada uma mistura de
a umedecer a amostra, o ar existente nos poros é argila colocada na área de contato entre o
expulso pela a água introduzida pelo maciço de terra e o tanque de vidro para que
umedecimento que passa a preenchê-los, esta funcione como impermeabilizante e não
impedindo a aproximação das partículas e a permita a formação de um caminho preferencial
redução do volume durante a compactação, para a água pelas superfícies lisas do tanque,
reduzindo, então, a densidade. conforme a figura:
Desta forma, através da compactação com
uma determinada energia, obtém-se a densidade
máxima aparente de um solo, para uma umidade
denominada ótima, obtendo-se a maior
quantidade de partículas sólidas por unidade de
volume, garantindo a estabilidade. Assim, para
toda e qualquer execução de obras que
necessitem da construção de aterros, a obtenção
das maiores densidades possíveis é fator de
segurança e estabilidade, inclusive pela
melhoria da impermeabilidade deste solo Figura 5 – Aplicação da Argila para Impermeabilização.
compactado (SENÇO, 1997). Fonte: Própria.
De acordo com os diversos tipos de solo, é
necessário o conhecimento dos parâmetros que Para a compactação do solo do modelo
influenciam no processo de compactação, para reduzido da barragem, buscou-se manter
que seja possível ajustá-los de tal forma que se constante a força utilizada nos soquetes da
alcance a maior eficiência e os melhores compactação manual por impacto feita em
resultados, a saber: a umidade do solo, o camadas de aproximadamente 5 cm de
número e a espessura das camadas, a energia de espessura. Após a compactação de cada
compactação e o tipo equipamento utilizado. camada, estas foram escarificadas para melhor
A energia de compactação transferida ao solo aderência da camada posterior a ser
depende da pressão aplicada, do número e compactada.
espessura das camadas, da velocidade de
aplicação, entre outros. Para qualquer tipo de
solo, o aumento da energia de compactação
resulta em diminuição do teor de umidade
ótimo e no aumento da densidade máxima
(DHAWAN e BAHRI, 1957; BAPTISTA,
1976; RICARDO e CATALANI, 1990, apud
WERK, 2000).
Nos solos mais finos como o argiloso, a água
não ultrapassa com facilidade porque não possui
quantidade de espaços vazios suficiente,
dificultando o fluxo da água por ele. Se a água Figura 6 – Compactação do maciço do modelo.
vai escoar através de um solo mais granular, Fonte: Própria.
como o arenoso, acontece o contrário, ela tem
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horas. Os resultados obtidos foram apresentados


na tabela a seguir:

Tabela 2 – Determinação da Umidade


Umidade na Umidade a 40 Umidade a 50
Superfície (%) cm (%) cm (%)
15,51 8,70 9,06
14,55 8,40 8,73
14,50 9,04 8,82
Fonte: Própria.
Figura 7 – Modelo reduzido após o enchimento.
Fonte: Própria. A partir dos valores de umidade das diversas
amostras em camadas diferentes do solo, o teor
Em seu estado natural, os solos apresentam de água médio é aproximadamente igual a
umidade acima, em períodos de chuvas, ou 10,81%. Como foi verificado com os valores
abaixo, em períodos de secas, da umidade das amostras, a umidade não se distribui
ótima. Quando a umidade é baixa, o solo uniformemente nos solos. A umidade da
compactado tem baixa densidade e altos valores superfície mostrou-se maior do que a umidade
de índice de vazios porque se apresenta rígido, em camadas mais profundas, o que se deve ao
dificultando sua densificação. Com o acréscimo fato da camada superficial ser mais acidentada e
de água, o solo se torna mais trabalhável, e o porosa. Além disso, se forem separadas as
ponto no qual se encontra a melhor condição de partículas de diferentes tamanhos do solo, por
trabalhabilidade, ou seja, quando com a energia peneiramento, o teor de umidade da fração de
de compactação empregada ocorre o maior partículas menores será muito maior. Isso
agrupamento das partículas do solo, expelindo ocorre porque a superfície específica de
uma maior quantidade de ar, é denominada partículas pequenas é maior que a das maiores.
como o ponto de densidade máxima e teor de Ao considerar apenas a média das camadas
umidade ótimo (BAPTISTA, 1976; RICARDO mais profundas, excluindo os dados da camada
e CATALANI, 1990). superficial porque esta não representa bem as
O teor de umidade ( ) de uma amostra de características do solo, o teor de umidade
solo, é definido como a razão entre a massa da representativo é 8,79%.
água contida em certo volume de solo e a massa Sabe-se que as barragens não são obras
da parte sólida, ou massa seca, existente nesse destinadas a impedir totalmente a passagem de
mesmo volume, expressa em porcentagem. Para água por suas fundações e/ou pelos aterros. O
isso, a massa de água é equivalente à diferença fluxo de água, ou seja, a percolação de certa
entre a massa úmida de solo ( ) e a massa seca quantidade é inevitável e requerida, sendo
de solo ( ), obtida após 24 horas em estufa a aceitável até certo ponto, por isso a necessidade
105°C. A umidade é calculada conforme a de se estabelecer as características do solo que
seguinte fórmula: condicionam a passagem da água e se este vai
se manter estável ou não.
Mu  M s
w= .100 (8)
Ms 4.1 Controle da Percolação

Foram ensaiadas 9 amostras de solo, sendo 3 Como as barragens não são feitas para bloquear
da superfície do terreno, 3 a 40 cm de a passagem da água, inevitavelmente ocorre a
profundidade e 3 a 50 cm de profundidade, em percolação desta pelo maciço. Segundo Souza
cápsulas que foram colocadas na mufla por 24 (2013), a percolação é o modo responsável por
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aproximadamente 66% de todos os acidentes de 5 CONCLUSÕES


natureza geotécnica em barragens com
reservatório cheio. Para evitar os problemas Por meio de deduções matemáticas, cujo ponto
causados e agravados pela infiltração da água de partida foi o estudo da percolação da água
no aterro, é necessário estudar e garantir o em um elemento de solo e da utilização de
controle do fluxo. conceitos básicos da mecânica dos solos, foi
Conforme Sandroni (2012), a segurança das possível comprovar que a Equação de Laplace
obras de barramento e de suas fundações quanto descreve matematicamente o fluxo através de
à ocorrência de carreamento coloca-se como o meios porosos e representa, nesse caso, uma
principal objeto de atenção da geotecnia de condição particular de fluxo bidimensional em
barragens. O estudo de percolação se dá em três um solo isotrópico em relação à permeabilidade
aspectos, que são: percolação em aterros, e, além disso, satisfaz o fenômeno em um
percolação pelas fundações e percolação em sentido muito amplo, tanto em solo isotrópico
interfaces. Neste trabalho, analisou-se a quanto em solo anisotrópico.
percolação em aterros e a percolação em Dessa forma, foi intuído que a segurança de
interfaces do modelo físico. obras hidráulicas, em especial barragens de
Para evitar a percolação em interfaces terra, é uma preocupação permanente, tanto pela
criando rotas preferenciais para a água, no caso potencialidade do risco que representa a
do modelo, adotou-se como solução utilizar possibilidade de algum acidente em termos de
argila, que não permite a passagem da água com impactos ambientais e sociais, quanto pelos
facilidade, nas áreas de contato entre o solo do prejuízos materiais devido sua importância
aterro e a superfície lisa do tanque de vidro. econômica. As soluções da engenharia devem
Para solucionar este problema em barragens de ser confiáveis, seguras e comprovadas.
terra nas interfaces tais como aterro-fundações, Para o solo granular utilizado no maciço, foi
aterro-muro e aterro-galeria, são utilizados necessária muita cautela no processo de
alguns métodos como a escarificação das compactação, para que o material não fosse
camadas e posterior compactação, remoção de carreado quando estivesse em contato com a
blocos soltos e matéria orgânica da superfície e água. Dessa forma, foi possível verificar a
formação de uma protuberância no muro que eficiência e importância do processo de
penetra no aterro para reforço. compactação bem feito e adequado, visto que o
Para o modelo físico estudado, a percolação solo era altamente permeável e por conta disto,
no aterro foi evitada com a adequada o modelo físico poderia ter ido ao colapso
compactação do maciço. Em barragens de terra, durante o enchimento.
além da compactação, evita-se este problema Além disso, o fluxo de água pode promover
com a utilização de drenos que criam caminhos a ocorrência de erosão interna (piping), ou seja,
preferenciais seguros para a água. O sistema de o carreamento de partículas sólidas ou de
drenagem interna, além de controlar a vazão e a material em solução, provocando instabilidade
rota do fluxo, deve garantir que as partículas de no aterro. Para garantir a segurança de obras
solo do aterro não sejam carreadas através do hidráulicas o plano de auscultação da barragem
dreno e que não ocorra colmatação. deve prever todas as fases da vida útil da
Assim, a questão que se deve responder é se barragem, tendo a auscultação o objetivo de
a percolação coloca em risco a segurança da controlar as suas condições de segurança,
barragem, por isto, é necessário realizar um comprovar a validade das hipóteses e dos
estudo de controle de fluxo, para evitar o piping métodos de cálculos utilizados no projeto,
e minimizar as vazões e poropressões. verificar a necessidade da utilização de medidas
corretivas e fornecer subsídios para a
elaboração de novos critérios de projeto.
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AGRADECIMENTOS Jornadas de Hidráulica, Recursos Hídricos e


Ambiente, pp. 167-171.
Pinto, C. S. (2006). Curso Básico de Mecânica dos Solos,
Agradecemos a Fundação de Amparo à 3 ed, São Paulo: Oficina de textos, 368 p.
Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB) e ao Ricardo, H. de S.; Catalani, G. (1990). Manual prático de
Instituto Federal de Educação, Ciência e escavação - Terraplenagem e Escavação de Rocha, 2
Tecnologia da Bahia (IFBA) - Campus Vitória ed, Editora PINI, 381 p.
da Conquista, pelo suporte no desenvolvimento Ruggiero, M. A. G.; Lopes, V. L. R. (1996). Cálculo
numérico: aspectos teóricos e computacionais. 2ed.
da pesquisa. São Paulo: Pearson, 424 p.
Sandroni, S. (2012). “Notas de aula da disciplina de
Barragens de Terra e Enrocamento”. Curso de
REFERÊNCIAS Mestrado da COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro.
Senço, W. de. (1997). “Manual de técnicas de
pavimentação”, 2 ed. Editora PINI, Vol. 1, 761 p.
ABNT; NBR 6457 (2016) – “Amostras de Solo –
Silveira, L. et al. (2011). “Sistema de Aquisição de Dados
Preparação para Ensaios de Compactação e Ensaios
para Equipamento de Medida da Permeabilidade
de Caracterização”. Rio de Janeiro, 8 p.
Intrínseca do Solo ao Ar”. ESALQ/USP, São Paulo,
ABNT; NBR 13292 (1984) – “Solo – Determinação do
SP, Rev. Bras. Ciênc. Solo, Vol.35, n.2, pp.429-436.
coeficiente de permeabilidade de solos granulares à
Souza, M. M. (2013). Estudo para o projeto geotécnico
carga constante”. Rio de Janeiro, 8 p.
da barragem de Alto Irani, SC/ Mariana Miranda de
Alvarez, J.; Garcia, D.; Muños R. (2003). Determinación
Souza. – Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica,
de la Conductividad Hidráulica en Suelos Mediante
169 p.
um Permeâmetro de Carga Variable Automatizado.
Unas, M. S. P. (2010). Estudo Experimental e Numérico
Servicio de Investigación y Tecnología Agraria Junta
de Problemas de Percolação em Modelo Reduzido,
de Castilla y León. España, Innovación, Año 15, Nº 1,
Tese de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -
p.7-16.
Geotecnia, FEUP, Porto, 194 p.
Balmaceda, A. R. (1991). Suelos Compactados - Um
Vargas, M. (1977). Introdução à Mecânica dos Solos.
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São Paulo: McGraw-Hill, 509 p.
Politécnica de Catalunya. Tesis Doctoral. Barcelona.
Werk, S. M. S. (2000). Estudo da Influência dos Métodos
445 p.
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Baptista, C. de F. Nogueira. (1976). Pavimentação.
Solos. Dissertação de Mestrado. Escola de Engenharia
Editora Globo. Tomo 1 e 2.
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Baptista, M. e Lara, M. (2010). Fundamentos de
Alegre, RS, 118 p.
Engenharia Hidráulica. 3. Ed.Belo Horizonte:
Zill, D. G. (2011). Equações diferenciais com aplicações
Editora UFMG. 116 p.
em modelagem. 9 ed. São Paulo: Cengage Learning,
Bara, J. P. (1976). Collapsible Soils. ASCE Annual
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Conventionand Exposition, heldat Philadelphia, Pa.
Presentedat the September.
Carvalho, D.; Paschoalin Filho, J. A. (2004). Estudo da
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Chapman, S.J. (2011). Programação em MATLAB para
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Das, B. M. (2008). Advanced Soil Mechanics, Third
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Gerscovich, D. M. S. (2011). Fluxo em Solos Saturados.
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Libardi, P.L. (2005). Dinâmica da água no solo. 3ed,
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Marques, J. C., Ferreira, C. R. (2009). A percolação de
água em solos. Estudos em modelo reduzido. 4as.
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Estudo sobre o Panorama da Produção Científica em Geotecnia no


Brasil
Leonardo Silva de Oliveira Pires
Universidade Federal de Itajubá, Itajubá, Brasil, leonardosop@hotmail.com

Lauren Ferreira Colvara


Universidade Federal de Itajubá, Itajubá, Brasil, laucolvara@unifei.edu.br

Adinele Gomes Guimarães


Universidade Federal de Itajubá, Itajubá, Brasil, adinele@unifei.edu.br

RESUMO: Este trabalho visou investigar o desenvolvimento histórico e a distribuição geográfica das
pesquisas científicas na área de Geotecnia no âmbito da Pós-Graduação no Brasil. No Banco de Teses e
Dissertações da CAPES, foi realizado um levantamento dos trabalhos produzidas nos programas de pós-
graduação relacionados à área de Geotecnia, sendo encontrados 2.183 resultados em um intervalo de 35
anos. Os dados referentes a esses trabalhos foram obtidos e analisados de modo a evidenciar o
desenvolvimento histórico da produção científica e a distribuição e densidade geográfica dos trabalhos
publicados. Verifica-se no período um crescimento quantitativo na produção científica e uma distribuição
geográfica bastante heterogênea. Por fim, destaca-se a importância da elaboração de pesquisas do tipo
estado da arte na área de Geotecnia, no âmbito da Pós-Graduação brasileira, para que seja possível
reconhecer o que a ciência já realizou, para então refletir sobre suas próximas realizações.

PALAVRAS-CHAVE: Geotecnia, Pós-Graduação, Produção científica.

1 INTRODUÇÃO Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio


de Janeiro (UFRJ) e que também deu origem ao
Nas pesquisas dedicadas a versar sobre a história atual Instituto Militar de Engenharia (IME).
da Engenharia há uma concordância em afirmar A denominação “Engenharia Civil” passou a ser
que ela se confunde com a própria história da utilizada no país a partir da desvinculação da então
humanidade, já que a técnica de construir, chamada Escola Central (sucessora da Real
transformar materiais e fabricar ferramentas é tão Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho)
antiga quanto o ser humano, como relatado pelo do Ministério da Guerra, em 1874, e sua
Conselho Federal de Engenharia e Agronomia – transformação em Escola Politécnica, primeira
CONFEA (2010). instituição não militar dedicada ao ensino de
No Brasil, a gênese da Engenharia está nas Engenharia, como explicitam Almeida e Oliveira
fortificações militares da época colonial, onde (2010). Assim, “o ensino de Engenharia não militar,
ocorriam estudos de matemática e cartografia no Brasil, também se iniciou pela Engenharia hoje
visando aprimorar as técnicas de defesa com conhecida como Engenharia Civil” (CONFEA,
construções apropriadas. O ensino de Engenharia 2010, p. 42).
se iniciou formalmente em 17 de dezembro 1792 De acordo com o CONFEA (2006), as
com a criação da Real Academia de Artilharia, possibilidades de atuação do engenheiro civil,
Fortificação e Desenho, predecessora da atual definidas no Anexo II da Resolução nº 1.010, de
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22 de agosto de 2005, se agrupam nos seguintes panorama da produção científica das pesquisas em
setores: Construção Civil, Sistemas Estruturais, Geotecnia.
Geotecnia, Transportes, Hidrotecnia, Saneamento
Básico, Tecnologia Hidrossanitária, Gestão
Sanitária do Ambiente, Recursos Naturais, 2 A ÁREA DE GEOTECNIA NO ÂMBITO
Recursos Energéticos e Gestão Ambiental. E na DA PÓS-GRADUAÇÃO NO BRASIL
Tabela de Áreas do Conhecimento da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de No Brasil, a Pós-Graduação em Engenharia Civil
Nível Superior – CAPES (2017), a Engenharia se iniciou em 1965 com a criação de um programa
Civil é entendida como a ciência dividida nas na Pontifícia Universidade Católica do Rio de
subáreas: Construção Civil, Estruturas, Geotécnica, Janeiro (PUC-Rio), oferecendo inicialmente o
Engenharia Hidráulica e Infraestrutura de curso de mestrado (PUC-Rio, 2017a). Esse
Transportes. programa envolvia, a princípio, as áreas de
No que se refere à Geotecnia, também Estruturas e Recursos Hídricos, e a área de
chamada de Engenharia Geotécnica, ela pode ser Geotecnia foi inserida em 1967, o que acarreta um
definida como a área da Engenharia Civil que se período de pouco mais de 50 anos da
baseia nos conceitos da Mecânica dos Solos, da institucionalização dessa área da ciência na Pós-
Mecânica das Rochas e da Geologia aplicada à Graduação brasileira. Em 1970, as áreas de
Engenharia na identificação e classificação dos concentração passaram a ser Estruturas e
solos de modo a conceber projetos de fundações, Geotecnia, sendo até hoje vigente dessa forma. O
obras de contenção de maciços, obras curso de doutorado foi incluído no programa em
subterrâneas, infraestrutura de sistemas de 1984 e a área de Geotecnia absorveu alguns
transportes, aterros, barragens e demais obras de aspectos da área de Recursos Hídricos, além de
terra. Além disso, envolve o estudo da estabilidade introduzir, pela primeira vez no país, a linha de
de taludes, susceptibilidade de maciços a pesquisa em Geotecnia Ambiental, em meados da
processos erosivos, deslizamento de terra, década de 1980, e a linha de pesquisa em
ocupação de encostas e mapeamento de riscos, Geomecânica do Petróleo, nos anos 1990 (PUC-
resíduos sólidos urbanos, técnicas de reforço de Rio, 2017b).
solos, como o uso de materiais sintéticos para Contudo, o primeiro programa de pós-
melhorar o comportamento mecânico do material, graduação com a denominação “Geotecnia” foi
entre outros (PINTO, 2006; DAS, 2007; criado na Escola de Engenharia de São Carlos
ZUQUETTE, 2015). (EESC), da Universidade de São Paulo (USP).
No Brasil, as pesquisas científicas são, em sua Sua gênese está na década de 1960, quando foi
maior parte, realizadas na esfera da Pós- concebido na instituição o Departamento de
Graduação, estando elas, portanto, vinculadas aos Geologia e Mecânica dos Solos, constituído por
cursos de mestrado e doutorado (TEIXEIRA e geólogos e engenheiros trabalhando na área
MEGID NETO, 2006). Dessa forma, pressupõe- geotécnica, até então com suas atividades voltadas
se que os programas brasileiros de pós-graduação apenas à graduação. Em 1976, se iniciou o curso
em Geotecnia são substanciais na produção de de mestrado em Geotecnia junto àquele setor, que
conhecimento científico nessa área. Com o intuito teve seu nome alterado para Departamento de
de compreender como essa produção se Geotecnia, em 1977, para refletir de uma maneira
desenvolveu e como ela se encontra atualmente, no melhor a subárea de conhecimento da Engenharia
país, este trabalho se propõe a apresentar um Civil. O curso de doutorado na instituição se iniciou
em 1984 (EESC, 2016).
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Atualmente, segundo dados disponíveis na


Plataforma Sucupira da CAPES (2016a), há 111 3 METODOLOGIA
cursos de pós-graduação reconhecidos e
distribuídos em 75 programas classificados na área Para a realização do presente trabalho, foi
de avaliação “Engenharias I” e na subdivisão compreendido que uma fonte adequada para o
“Engenharia Civil”, como indicado na Tabela 1. levantamento de informações sem tratamento
prévio seria fornecida por um banco de dados que
Tabela 1. Dados gerais dos programas e cursos de pós- elencasse as teses e dissertações especializadas da
graduação na área de Engenharia Civil no Brasil – 2016.
área e assim possibilitasse mapear o
Total de Total de
desenvolvimento da produção científica da Pós-
programas cursos de
Nível Graduação brasileira em Geotecnia.
de pós- pós-
graduação graduação A escolha pelas dissertações de mestrado e
Mestrado 27 63 teses de doutorado se justifica por elas estarem
Doutorado 0 36 inseridas em um contexto substancial de formação
Mestrado Profissional 12 12 de professores e pesquisadores nas diversas áreas
(não se do conhecimento, além de representarem a maior
Mestrado/Doutorado 36
aplica) parte das investigações científicas elaboradas nas
Total 75 111
IES (TEIXEIRA e MEGID NETO, 2006).
Como instituído pela CAPES, por meio da
Dentre as informações apresentadas pela Portaria nº 13, de 15 de fevereiro de 2006, os
plataforma, identificam-se 24 programas, em 23 programas de pós-graduação de todas as IES
Instituições de Ensino Superior (IES), cujas áreas devem obrigatoriamente, desde março de 2006,
de concentração contêm “Geotecnia”, “Engenharia disponibilizar ao público suas teses e dissertações
Geotécnica” ou uma área diretamente relacionada, em arquivos digitais por meio da internet. O Banco
totalizando 22 cursos de mestrado, 18 de de Teses e Dissertações da CAPES (2016b), que
doutorado e 2 de mestrado profissional. Desse funciona como um catálogo online oficial do
conjunto, apenas três programas são intitulados governo brasileiro com dados de todas as teses e
como “Geotecnia”, um como “Geotecnia, dissertações defendidas no país, compila essas
Estruturas e Construção Civil”, um como informações e disponibiliza para consulta pública.
“Geotecnia e Transportes” e um como “Engenharia Todos os trabalhos presentes no banco da
Geotécnica”. Além disso, entre todos os CAPES, mesmo os anteriores a março de 2006 ou
programas, dois são classificados na área de aqueles que não estão digitalizados e acessíveis
conhecimento “Geotécnica”, um em “Obras de pela internet, apresentam os seguintes dados
Terra e Enrocamento” e os demais em “Engenharia bibliográficos básicos: autor, título, data de defesa,
Civil”. quantidade de páginas, nível de ensino do curso de
Como apontado por Teixeira e Megid Neto pós-graduação, nome do programa de pós-
(2006), a maioria das pesquisas científicas graduação, instituição de ensino, cidade da
realizadas nas IES do Brasil está vinculada aos instituição e biblioteca onde o volume impresso
cursos de mestrado e doutorado, ocupando uma está disponível. Além disso, há as seguintes
posição privilegiada em nosso modelo universitário. ferramentas que auxiliam a filtragem dos dados:
Assim, é natural presumir que os programas de tipo (nível de ensino), ano, autor, orientador,
pós-graduação identificados representem um banca, grande área de conhecimento, área de
cenário imprescindível na produção de conhecimento, área de avaliação, área de
conhecimento em Geotecnia no país. concentração, nome do programa, instituição e
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biblioteca. resultados.
Ao serem exibidos os resultados da busca pelo Do levantamento de dados supracitado, o
termo “geotecnia”, foi realizada uma filtragem pelas trabalho mais antigo é uma tese finalizada na USP –
opções “instituição”, “nome do programa” e “área São Carlos em 1983, sendo o único resultado
de concentração”, para tornar visível apenas os daquele ano. O mais recente foi finalizado em junho
dados referentes aos programas identificados de 2017, acarretando um intervalo de 35 anos de
anteriormente. produção intelectual na área de Geotecnia. O
Não foram estabelecidas, a princípio, datas de desenvolvimento dessa produção pode ser
início e fim do período de abrangência dos visualizado na Figura 1.
trabalhos. Assim, todos os dados apresentados
após a filtragem supracitada foram levantados.
O próximo passo foi a definição de categorias
de análise que possibilitaram o agrupamento dos
dados para evidenciar diferentes aspectos, a saber:
desenvolvimento histórico da produção científica e
distribuição e densidade geográfica dos trabalhos.
Através de abordagem quantitativa foi
evidenciado, por intermédio de gráficos e mapa, o
raciocínio dedutivo da análise de dados expressos
numericamente, segundo as categorias de análise Figura 1. Quantidade de trabalhos produzidos nos
que tornaram possível compreender como a programas de pós-graduação na área de Geotecnia, no
pesquisa na área de Geotecnia se desenvolveu nos Brasil – 1983-2017.
cursos de pós-graduação no Brasil.
Percebe-se que não foram encontradas
publicações entre 1984 e 1986, havendo, após
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES esse hiato, um crescimento quantitativo da área,
com alguns momentos de declínio na produção
Através da busca pelo termo “geotecnia” no Banco anual. Mais da metade dos trabalhos (55,3%) está
de Teses e Dissertações da CAPES, houve um contida nos últimos 10 anos do período (2008-
total de 2.677 resultados exibidos. Foram, então, 2017). Nesse intervalo, a média de produção é de
utilizadas algumas das opções disponíveis para 121 trabalhos por ano, quase o dobro da média se
refinar a pesquisa. Primeiramente, na categoria considerado o período total, que por sua vez
correspondente ao nome do programa, foram equivale a 62 trabalhos por ano.
selecionados somente os nomes presentes no O ano de 2016 foi responsável pela maior
levantamento realizado anteriormente, implicando parcela de produções, isto é, 219 trabalhos, o que
2.393 resultados. Em seguida, na categoria representa aproximadamente 10,0% de toda a
instituição, foram selecionadas somente as 23 IES produção levantada. Posteriormente, se iniciou uma
previamente identificadas, fazendo os resultados queda vertiginosa das pesquisas até o ano de
diminuírem para 2.354. Por fim, foi necessária uma 2017. Somente no primeiro semestre de 2016
filtragem pela seleção da área de concentração foram produzidos 108 títulos, enquanto apenas 33
relacionada à Geotecnia no caso de algumas IES, foram finalizados no mesmo período em 2017. Até
cujos nomes dos programas e a busca pelo termo então, 2016 pode ser considerado o ano mais
não apontaram somente essa área de expressivo da Geotecnia no Brasil em cursos de
concentração, restando finalmente 2.183 pós-graduação.
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A série histórica apresentada na Figura 1 revela, (2010), no qual foi sobreposta a localização das
também, o grande crescimento dos investimentos IES, representadas por círculos com áreas
em Pós-Graduação no Brasil a partir de 2003 e o proporcionais à sua produção de trabalhos.
seu decrescimento a partir de 2016. No total, foram encontrados trabalhos em 21
Em relação às regiões geográficas onde são diferentes IES, distribuídas em 13 unidades
realizados os trabalhos acadêmicos em Geotecnia, federativas. A Fundação Universidade Federal de
observa-se uma distribuição bastante heterogênea. Sergipe (FUFSE) e a Universidade Federal do
A região Sudeste concentra a maior parcela, Pará (UFPA) – Tucuruí não apresentaram
equivalente a 70,4% dos trabalhos. Com menores resultados de acordo com o levantamento de
contribuições, a região Centro-Oeste apresenta dados realizado, e, por isso, elas não são
20,1% dos trabalhos, seguida pelas regiões apontadas no mapa. Além disso, a Universidade
Nordeste com 7,0%, e Sul com 2,5%. Quanto à Estadual de Campinas (Unicamp), apresentou
região Norte, não foi encontrada nenhuma apenas um resultado, se tornando inidentificável na
contribuição segundo o procedimento figura.
metodológico adotado. A distribuição geográfica
dos trabalhos é apresentada na Figura 2.

Figura 3 – Distribuição geográfica dos trabalhos


produzidos nos programas de pós -graduação na área de
Figura 2 – Distribuição dos trabalhos produzidos nos Geotecnia, no Brasil – 1983-2017.
programas de pós-graduação na área de Geotecnia, no
Brasil, por região geográfica das IES – 1983-2017.
Observa-se na região Sudeste a maior
densidade populacional, acompanhada da grande
A distribuição desigual dos programas de pós-
concentração das pesquisas em Geotecnia. O
graduação na área de Geotecnia no território
estado do Rio de Janeiro se destaca por apresentar
brasileiro dificulta o desenvolvimento de pesquisas
produções em quatro diferentes IES.
em algumas regiões, especialmente estudos que
Especificamente na capital do estado, há três
envolvem peculiaridades regionais ou locais.
instituições: UFRJ, de administração pública
Na Figura 3, é possível visualizar melhor a
federal, Universidade do Estado do Rio de Janeiro
distribuição da produção de teses e dissertações
(UERJ), de administração pública estadual, e
em Geotecnia nas regiões do Brasil, bem como das
PUC-Rio, de administração privada, sendo esta
IES identificadas. Esta figura foi elaborada a partir
última a responsável pela maior contribuição na
de um mapa de densidade demográfica do Instituto
região e por 18,7% de toda a produção do Brasil.
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE
No estado de São Paulo, que também contribui
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com trabalhos de maneira significativa, verifica-se 2016 foi responsável pela maior parcela de
apenas a presença de universidades estaduais, produções, podendo ser considerado, até então, o
sendo a USP – São Carlos a que se sobressai, ano mais expressivo da Geotecnia nos programas
totalizando 13,9% da produção nacional. Já em de pós-graduação. Foi revelado, também, o
Minas Gerais, é exclusiva a presença de grande crescimento dos investimentos em Pós-
universidades federais, sendo a Universidade Graduação no Brasil a partir de 2003 e o seu
Federal de Ouro Preto (UFOP) a que apresenta a decrescimento vertiginoso a partir de 2016.
maior contribuição, isto é, 7,1% de todos os Quanto às regiões geográficas onde são
trabalhos encontrados. Esses três estados são os realizados os trabalhos, foi observada uma
únicos que possuem mais de uma IES com cursos distribuição bastante heterogênea, já que a região
de pós-graduação na área de Geotecnia. Sudeste concentra 70,4% da produção, seguida
Na região Centro-Oeste, precisamente na pelas regiões Centro-Oeste, Nordeste e Sul, com
Universidade de Brasília (UnB), é notável outro 20,1%, 7,0% e 2,5%, respectivamente. Além
ponto de concentração de produções científicas. disso, há produção de trabalhos em 13 unidades
Essa universidade responde pela maior parcela de federativas.
trabalhos produzidos, ou seja, 18,9% de todas as Um mapa foi elaborado para melhor visualizar a
teses e dissertações encontradas. distribuição geográfica, no qual se sobrepôs, a um
As regiões Nordeste e Sul, assim como o mapa de densidade demográfica do Brasil, a
Sudeste, apresentam grandes índices de densidade localização das IES, representadas por círculos
populacional, porém não produzem trabalhos com áreas proporcionais à sua produção de
científicos de maneira proporcional. E a região trabalhos. Analisando esse elemento, foi averiguada
Norte, no que tange à área de Geotecnia, carece uma concentração de instituições, bem como da
de produção científica. produção científica, no estado do Rio de Janeiro,
especialmente em sua capital, que possui três IES
com programas de pós-graduação na área. A
5 CONCLUSÃO participação de São Paulo é dada unicamente por
instituições estaduais, e de Minas Gerais, por
Este trabalho teve como objetivo principal a instituições federais, sendo que esses dois estados
investigação do desenvolvimento histórico e a contribuem com trabalhos de maneira significativa.
distribuição geográfica da produção científica dos Há também uma concentração de pesquisas
cursos de mestrado e doutorado em Geotecnia, no produzidas na capital do país, onde se verifica a
Brasil. maior parcela de trabalhos.
Como procedimento metodológico, foi realizada Assim sendo, o presente estudo permitiu uma
uma busca no Banco de Teses e Dissertações da melhor compreensão da Geotecnia enquanto área
CAPES a fim de obter dados bibliográficos da ciência no contexto da Pós-Graduação nas
referentes aos trabalhos produzidos nos programas instituições brasileiras.
de pós-graduação na área de Geotecnia, no Brasil. Destaca-se a importância da elaboração do
No total, foram encontradas 2.183 teses e estado do conhecimento na área de Geotecnia, no
dissertações produzidas entre 1983 e 2017, âmbito da Pós-Graduação brasileira, para que seja
incluindo os extremos, acarretando um intervalo de possível reconhecer o que a ciência já realizou,
35 anos de produção intelectual. para então refletir criticamente sobre suas próximas
Em relação à série histórica da produção realizações.
científica na área, houve um crescimento
quantitativo de trabalhos realizados. O ano de
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AGRADECIMENTOS Das, B. M. (2007) Fundamentos de Engenharia


Geotécnica, Tradução de All Tasks, 6ª. ed., Thomson
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entos_diversos_2017/TabelaAreasConhecimento_072
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2017.
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Mapeamento de Risco e Educação Ambiental de Comunidades em


João Pessoa - PB
Fábio Lopes Soares
Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Brasil, flseng@uol.com.br

Larissa Ferreira da Silva


Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Brasil, larissaferreira.ufpb@gmail.com

RESUMO: A elaboração de mapas de risco englobando comunidades da cidade de João Pessoa (PB)
teve por objetivo alertar as autoridades e órgãos competentes do município sobre a vulnerabilidade
de determinadas regiões no que tange à possibilidade de deslizamento de terra em áreas de encosta.
Após uma ampla revisão bibliográfica sobre o assunto, foram coletados registros junto à
Coordenadoria Municipal de Proteção e Defesa Civil (COMPDEC-JP), realizando posteriormente
visitas de campo a algumas localidades identificadas como de risco. Contando com o apoio dos
líderes comunitários e dos respectivos representantes dos Centros de Referência de cada bairro,
tornou-se possível a interação com os moradores das comunidades, relatando-se a ocorrência de
desastres naturais nos anos anteriores e suas consequências. A educação ambiental da população que
habita essas zonas consideradas de risco também foi contemplada como meta, visto que a ação
antrópica é um fator que tem agravado os acidentes no referido cenário.

PALAVRAS-CHAVE: Comunidades, Deslizamento, Educação Ambiental, Risco.

1 INTRODUÇÃO capital do estado da Paraíba, desde o fim da


década de 1960, vêm apresentando um
Os processos geológicos naturais da dinâmica acelerado e desordenado crescimento urbano,
externa e interna do planeta ocorrem sem planejamento adequado em infraestrutura e
independentemente da presença do homem. No saneamento, forçando a ocupação de novas
entanto, a intensidade das atividades antrópicas áreas nem sempre adequadas para a população
na superfície terrestre proporciona alterações desfrutar das condições básicas de vida.
nas características geomorfológicas da crosta, Segundo dados da Coordenadoria Municipal de
criando um ambiente favorável a desastres. Proteção da Defesa Civil de João Pessoa
Ao longo da história, o ser humano vem (COMPDEC-JP), atualmente 27 núcleos urbanos
transformando o espaço geográfico global estão situados em zonas de risco associadas a
buscando atender seus interesses, modificando escorregamento de encostas.
drasticamente os elementos da paisagem, A falta de conhecimento das pessoas sobre a
substituindo a vegetação por moradias precárias, influência das suas atitudes pode ser
retirando morros, construindo estradas em determinante para a ocorrência dos movimentos
relevos acidentados e até mesmo aterrando de massa. Por isso, ações integradas entre
lugares de depressão. Como resultado dessas comunidades, universidades e outras instituições
ações, os deslizamentos de terra em encostas são muito importantes para que os efeitos dos
têm aumentado consideravelmente nas últimas desastres provocados por fenômenos naturais
décadas, principalmente nos países sejam atenuados. A Universidade Federal da
subdesenvolvidos e países em desenvolvimento. Paraíba, em conjunto com a Prefeitura
Nesse contexto, o município de João Pessoa, Municipal de João Pessoa e a Defesa Civil,
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desenvolve pesquisas periódicas sobre os velocidades muito baixas a baixas e


deslizamentos, atuando em projetos nas geometria indefinida;
comunidades a fim de mapear as áreas de risco.  Escorregamentos (slides): Poucos planos
Desse modo, a presente pesquisa objetivou de deslocamento (externos), com
analisar o quadro natural das encostas, velocidades médias a altas e geometria e
observando a possibilidade de acidentes
materiais variáveis;
patrimoniais e humanos por desmoronamentos,
classificando a área de acordo com o grau de  Quedas (falls): Não há planos de
risco apresentado, para posterior elaboração de deslocamento, as velocidades são muito
mapas de risco, auxiliando na atualização do altas e a geometria variável (lascas,
banco de dados dos órgãos competentes. Além placas ou blocos). Envolvem pequenos a
disso, a tomada de consciência dos moradores médios volumes de material rochoso.
das áreas de risco sobre os perigos dos Podem ser do tipo queda livre ou em
deslizamentos de encostas aparece como um plano inclinado;
foco importante do estudo, pois ao morarem em  Corridas (flows): Muitos planos de
áreas de risco, as pessoas ficam vulneráveis aos deslocamento com movimento
deslizamentos e colocam-se à mercê do acaso. semelhante a um líquido viscoso,
Uma vez que nem sempre é possível a remoção
velocidades médias a altas e extenso raio
dessa população para locais seguros, a educação
ambiental aparece como fator determinante para de alcance, transportando grande volume
recuperar e preservar o meio físico, visando de material.
proporcionar uma melhor qualidade de vida aos Inúmeros são os fatores que atuam no
habitantes dessas comunidades. desencadeamento desse tipo de evento, os quais
podem ter origem geológica, morfológica, física
ou antrópica. Raramente há um único e
2 CONTEXTUALIZAÇÃO definitivo fator condicionante. Destacam-se
BIBLIOGRÁFICA como principais agentes deflagradores as
características climáticas, as propriedades e
Os movimentos de massa, popularmente distribuição dos materiais que compõem o
conhecidos como escorregamentos ou substrato rochoso do talude, os aspectos
deslizamentos, são responsáveis por uma grande geomorfológicos (principalmente inclinação,
quantidade de problemas que resultam em danos amplitude e forma do perfil das encostas), o
materiais significativos e algumas vezes, em regime das águas de superfície e sub superfície,
vítimas fatais. além do uso e ocupação do solo (no qual se
Existem diversos tipos de classificações e incluem cobertura vegetal e intervenções
descrições para os movimentos de massa. As antrópicas nas encostas).
classificações tentam agrupar o tipo de Segundo Soares, Morais e Dias (2017), cada
movimento a um conjunto de características, tais fator mencionado contribui seja para a
como, o material envolvido, velocidade e diminuição da resistência do solo, seja para o
direção do movimento, profundidade e aumento das solicitações no maciço pela ação de
extensão, a geomorfologia local e ambiente sobrecargas atuantes.
climático, entre outros (Castro, 2006). Os De acordo com Bonuccelli apud Castro
principais tipos de movimentos de massa podem (2006), como tentativas de solucionar ou
ser: minimizar os problemas relacionados aos
 Rastejos (creep): Há vários planos de movimentos de massa deve-se proceder
deslocamento (internos), com primeiramente ao levantamento dos processos,
levantamento das características do meio físico,
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zoneamento ou hierarquização das áreas sujeitas deslizamentos, onde quase 27 mil pessoas
à ocorrência de movimentos de massa e estavam convivendo com o risco alto de
processos correlatos, permitindo uma previsão deslizamento. Nesse mesmo ano, o projeto
de futuros problemas e intervenções. Assim, a “João Pessoa em Ação - Força Municipal de
produção de mapas que distinguem as áreas com Prevenção de Riscos” foi criado pela Prefeitura
diferentes riscos de deslizamento - mapeamentos Municipal de João Pessoa, a fim de prevenir as
de riscos - são ferramentas importantes para a consideradas áreas de risco através de medidas
sociedade, auxiliando na tomada de decisão por como desassoreamento de rios, loneamento de
parte do poder público para a adoção de taludes, demolição de residências, poda de
medidas estruturais ou não. árvores e assistência social. Após 3 anos de
gestão, em 2016, o projeto conseguiu diminuir o
número de áreas de risco de 35 para 27, número
3 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ainda considerável.
ESTUDO
3.2 Clima
3.1 Aspectos Gerais
João Pessoa possui clima tropical úmido,
João Pessoa é a capital, maior centro econômico apresentando dois regimes climáticos. Segundo
e financeiro, e o município mais populoso do Pereira (2014), o primeiro regime é o período
estado da Paraíba. Além disso, a capital chuvoso, correspondendo à parte do verão, o
paraibana guarda o título de terceira cidade mais outono e início do inverno, totalizando um
antiga do Brasil e é considerada uma das cidades conjunto de sete meses com os maiores totais
mais arborizadas do planeta, pois apesar de ter pluviais, sendo os meses de Abril à Julho os
sido bastante devastada, ainda conta com mais representativos. Já o segundo regime, é o
importantes resquícios da Mata Atlântica período seco, que apresenta baixos índices
original preservados. pluviométricos, equivalente ao final do inverno,
A cidade se localiza na porção mais oriental abarcando todo o período da primavera e início
das Américas, com latitude sul de 07°06’54’’ e do verão (Setembro à Janeiro).
longitude oeste de 34°51’47’’. Limita-se ao A temperatura média anual é 25,2 °C e a
norte com o município de Cabedelo; ao sul com pluviosidade média anual é de 1888 mm.
o município do Conde; a leste com o Oceano Novembro é o mês mais seco e junho é o mês de
Atlântico; e a oeste com os municípios de maior precipitação. Além disso, janeiro é o mês
Bayeux e Santa Rita, respectivamente. Com uma mais quente e agosto o mês com a mais baixa
população de 811 598 pessoas, de acordo com temperatura.
estimativas do IBGE para o ano de 2017, o Um fator importante relacionado às chuvas
município de João Pessoa tem uma área total de de João Pessoa diz respeito aos chamados
211, 5 km², possuindo atualmente 65 bairros. “eventos de chuvas diárias extremas”, que são
Desde a década de 70, a cidade possui Plano valores e intensidade de precipitação bem
Diretor, mecanismo legal que visa orientar a superiores ao esperado em um curto espaço de
ocupação do solo urbano, entretanto a tempo. Esses eventos constituem uma
quantidade de áreas de risco acompanhou de preocupação constante para a população e a
forma ascendente o crescimento da população defesa civil, pois são a causa de inundações,
ao longo dos últimos anos. No ano de 2013, destruição e deslizamentos em encostas.
conforme dados fornecidos pela Coordenadoria
Municipal de Proteção da Defesa Civil de João
Pessoa (COMPDEC-JP), havia 35 áreas de
riscos suscetíveis a alagamentos, inundações e
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3.3 Solo nacionalmente para o gerenciamento de áreas de


risco, apresentando uma escala hierárquica de
Sobre os aspectos pedológicos, a partir da classificação disposta em quatro níveis ou graus
análise do Mapa de Reconhecimento de Solos (Risco baixo ou sem risco – R1, Risco médio –
do Município de João Pessoa (EMBRAPA), R2, Risco alto – R3, Risco muito alto – R4).
verificou-se que a superfície sólida da referida É um método de mapeamento que apresenta
cidade é composta principalmente pelos solos um baixo grau de complexidade na classificação
arenosos, solos derivados de sedimentos das áreas de risco com um baixo custo de
aluviais, solos argilosos e solos derivados de execução, permitindo comparar as mais variadas
sedimentos de mangues. Sendo os três primeiros situações presentes no país (Brasil, 2007).
solos citados os de maior ocorrência, geralmente Trata-se de uma análise qualitativa do risco,
encontrados ao decorrer dos taludes ou nas através da utilização de indicadores de
margens dos rios que os rodeiam. instabilidade, observando-se as características
do local, as condições de moradia, o tipo de
3.4 Geologia e Geomorfologia talude, as possíveis formas de ocorrência de
água, a presença e o porte da vegetação, a
No tocante à geologia, a Formação Barreiras é a existência de sinais de movimentação ou
unidade geológica de maior exposição na cicatrizes, entre outros fatores que influenciam
extensão geográfica do município. Trata-se de no desencadeamento de processos de
sedimentos clásticos, correspondente a arenitos, movimento de massa.
siltitos, argilitos e conglomerados, Seguindo o roteiro mencionando, após a
frequentemente lenticulares, em cores vivas e aquisição dos dados bibliográficos preliminares e
variadas, formando falésias, em grandes trechos de registros junto à COMPDEC-JP, procedeu-se
e aflorando ao longo da costa, ocorrendo as visitas de campo, onde registrou-se através de
principalmente no litoral do Nordeste. fotos a situação de áreas de risco espalhadas em
Com relação à geomorfologia, João Pessoa cinco bairros da capital paraibana (Cristo,
apresenta um relevo com predominância dos Varjão, Valentina, Cruz das Armas,
Baixos Planaltos Costeiros, superfícies tabulares Mandacaru). Realizou-se também, por uso das
planas com a presença de ondulações moderadas chamadas “fichas de risco”, uma caracterização
ou fortes, de curta a média extensão, que das localidades para obtenção do grau de risco.
recobrem cerca de 97% do território pessoense. Ressalta-se que a maior parte das visitas foi
Os outros 21% da área em estudo são realizada no período de estiagem, uma vez que a
recobertos pelas Planícies Fluviais, formadas probabilidade de ocorrência de desastres é
pela ação da água ou do vento nas proximidades menor.
de rios. Após a etapa de mapeamento, foi promovido
um momento de ação social e utilidade pública
nas comunidades, por meio de palestras
4 METODOLOGIA educativas e distribuição de cartilhas, a fim de
esclarecer a população a agir de modo não
Para realização do presente estudo, tomou-se agressivo em relação à natureza, eliminando ou
como base o manual proposto pelo Ministério reduzindo os riscos de acidentes e assim,
das Cidades e desenvolvido pelo Instituto de aprendendo a conviver com os problemas.
Pesquisas Aplicadas (IPT) no ano de 2007,
intitulado de “Mapeamento de Riscos em
Encostas e Margens de Rios”.
A metodologia descrita no material
supracitado tem sido bastante utilizada
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5 RESULTADOS

Finalizadas as atividades de campo, os mapas de


risco das comunidades foram confeccionados
com auxílio de software SIG (Sistema de
Informações Geográficas), de acordo com a
orientação de fichas padronizadas de
mapeamento e classificação dos riscos. As cores
verde, amarelo, vermelho e roxo, representam
nos mapas, respectivamente, situações de risco
baixo, médio, alto e muito alto.
No bairro do Cristo, foram capturadas fotos
nas comunidades Boa Esperança e Pedra
Branca, verificando-se casas no sopé e no topo
do talude, com presença de árvores de grande
porte, como consta na Figura 1. Foram
identificados 5 setores de risco, sendo 3 com Figura 2. Setorização das comunidades Boa Esperança e
risco baixo ou sem risco (R1), 1 com risco Pedra Branca (Cristo), que apresentaram pontos de
médio (R2) e 1 com risco alto (R3), conforme baixo, médio e alto risco.
apresentado na Figura 2.
Próximo ao bairro do Cristo, no Varjão,
encontrou-se um setor de baixo risco (R1) e
outro de médio risco (R2). Na Rua Oswaldo
Lemos, mesmo após a construção de duas
“escadarias de pedra” para dissipação da energia
da água da chuva que escorre pelo talude, ainda
verificou-se o problema envolvendo o médio
risco de deslizamento, além da ocorrência anual
de enchentes, trazendo vários transtornos aos
moradores da área (Figura 3). O mapa de risco
Figura 1. (A) Casas no sopé do talude, presença de para essa localidade está disposto na Figura 4.
vegetação de grande porte e entulho na comunidade Boa
Esperança; (B) Construções no topo da encosta na
comunidade Pedra Branca.

Figura 3. (A) Escadarias de pedra na Rua Oswaldo


Lemos; (B) Enchente durante período chuvoso.
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Figura 4. Setorização do Varjão, verificando-se pontos


Figura 6. Mapa de Risco das comunidades Santa Bárbara
de baixo e médio risco.
e Cuiá, no Valentina, localizando-se pontos de baixo,
médio e alto risco.
No Valentina, localizou-se um ponto
conhecido como “Buracão” (Figura 5), uma
Em Cruz das Armas, também há uma cratera
cratera que vem crescendo a cerca de dez anos,
que possui mais de 20 metros de profundidade
resultante da erosão devido à chuva e ao
(Figura 7), sendo comum a três ruas paralelas:
escoamento de água oriunda da rede de esgoto,
Rua Estevão Dávila Lins, Avenida Lima Filho e
além da deposição de entulho; trata-se de uma
Rua Alcides Bezerra, zona de médio risco (R2).
área de alto risco (R3). Ao total, foram
Nesse enorme buraco há árvores de grande
detectados 2 setores de baixo risco (R1), 1 setor
porte (bananeiras, coqueiros), além do despejo
de médio risco (R2) e 1 setor de alto risco (R3),
de esgoto e outros dejetos, o que facilita o
de acordo com o exposto na Figura 6.
desprendimento e escorregamento do solo,
provocando o aumento da cratera e a
possibilidade de acidentes. Foram caracterizados
4 setores de baixo risco (R1) e 1 setor de médio
risco (R2), apresentados no mapa da Figura 8.

Figura 5. (A) “Buracão” no bairro do Valentina; (B)


Deposição de lixo e entulho na cratera.

Figura 7. (A) Cratera no bairro de Cruz das Armas; (B)


Árvores de grande porte na cratera.
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Figura 8. Mapeamento realizado no bairro de Cruz das Figura 10. Caracterização da comunidade Jardim
Armas, identificando-se pontos de baixo e médio risco. Mangueira I, observando-se pontos de baixo, médio e
alto risco.
No bairro de Mandacaru, na comunidade
Jardim Mangueira, registrou-se 2 setores de Realizada a fase de setorização e análise do
baixo risco (R1), 1 setor de médio risco (R2) e 1 grau de risco, partiu-se para a etapa de
setor de alto risco de deslizamento (R3). educação ambiental nas comunidades (Figura
Observando-se que mesmo havendo políticas 11) e a elaboração de cartilhas educativas
para relocação dos moradores da área, alguns (Figura 12) - as quais foram distribuídas entre os
ainda insistem em permanecer convivendo com habitantes destas localidades após as palestras -
o perigo (Figura 9). O resultado do mapeamento contendo questões referentes a situações de
nessa área pode ser verificado na Figura 10. risco, dicas de como prevenir desastres, locais
propícios para construção e habitação. A
cartilha contém ainda, alguns telefones e
orientações de como e quando a população deve
chamar órgãos como a Defesa Civil, o SAMU, o
Corpo de Bombeiros, entre outros.

Figura 9. Comunidade Jardim Mangueira, área de alto


risco de deslizamento.

Figura 11. Educação Ambiental na comunidade Boa


Esperança (Cristo).
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primordial para a melhoria da qualidade de vida


e para a convivência harmoniosa no meio em
que estão inseridos.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a colaboração da equipe


da COMPDEC-JP e aos demais colegas
participantes do projeto “Mapeamento de Áreas
de Risco e Educação Ambiental de comunidades
Figura 12. Parte interna da cartilha educativa. em João Pessoa - PB”.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS

A partir da análise das áreas de risco, verificou- Brasil, Ministério das Cidades. (2007). Mapeamento de
se a necessidade de diagnosticar e informar os Riscos em Encostas e Margens de Rios, Instituto de
órgãos gestores e a sociedade quanto a Pesquisas Tecnológicas – IPT, Brasília, 176p.
Castro, J.M.G. (2006). Pluviosidade e movimentos de
eventuais ocorrências envolvendo bens massa nas encostas de Ouro Preto, Dissertação de
particulares e vidas humanas. As pesquisas Mestrado, Programa de Pós-Graduação em
apontam cada vez mais indicadores Engenharia Civil, Departamento de Engenharia
desfavoráveis à presença da ocupação humana Civil, Universidade Federal de Ouro Preto, Escola de
nesses locais, relacionando-se diretamente os Minas, 355p.
EMBRAPA, Empresa Brasileira de Pesquisa
problemas ambientais aos de caráter social.
Agropecuária. Mapa de Solos do Município de João
A realização de estudos mais aprofundados Pessoa. Disponível em: <
sobre o tema visa uma maior divulgação nos http://www.uep.cnps.embrapa.br/solos/index.php?lin
meios de comunicação, alertando para a k=pb >. Acesso em: 23 de abril de 2018.
realização de um controle e monitoramento IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
periódico, não apenas durante os meses que Disponível em: <
https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pb/joao-
apresentam maior índice pluviométrico. Nas pessoa/panorama >. Acesso em: 23 de abril de 2018.
áreas mais críticas, sugere-se a adoção de Pereira, M.D.B. (2014). As chuvas na cidade de João
algumas medidas como o plantio de espécies Pessoa: uma abordagem genética, Monografia
vegetais de pequeno porte, construção de (Graduação), Departamento de Geociências,
barreiras e muros de arrimo, remoção de Universidade Federal da Paraíba, 94p.
Soares, F.L.; Morais, G.S. e Dias, S.P. (2017).
entulhos, diminuição da inclinação das encostas,
Mapeamento de Área em Risco de Deslizamento e
entre outras ações que existem e poderiam e Análise de Estabilidade de Talude na Cidade de
muito reduzir os riscos de acidentes humanos e João Pessoa-PB, XII Conferência Brasileira sobre
patrimoniais. Estabilidade de Encostas, COBRAE, ABMS, Rio de
Desocupar essas áreas que oferecem risco à Janeiro, v.1. Disponível em: <
população seria a medida mais eficaz, entretanto http://www.cobrae2017.com.br/arearestrita/apresenta
coes/63/4132.pdf >. Acesso em: 24 de abril de 2018.
a construção de moradias em novos loteamentos
envolve um grande investimento governamental.
Observa-se assim, a importância de se realizar
um trabalho de educação ambiental dentro das
comunidades, pois a transformação da
mentalidade dos usuários do lugar é uma fator
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O que, Onde e Como Ensinar o Conteúdo Geotécnico


José Camapum de Carvalho
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, camapumdecarvalho@gmail.com

Andrelisa Santos de Jesus


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, andrelisajesus@gmail.com

Márcia Maria dos Anjos Mascarenha


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, marciamascarenha@gmail.com

Fernanda Maria dos Reis Porto


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, reis.fernandam@gmail.com

Marta Pereira da Luz


Pontifícia Universidade Católica e Eletrobras Furnas, Goiânia, Brasil, martapluz@gmail.com

RESUMO: Hoje existe, por meio da internet, um grande acesso à informação e ao conhecimento
técnico-científico. Muitas dessas informações técnicas disponibilizadas para a sociedade são
dotadas de ideologias, vícios ou mesmo erros diante do estado da arte atual sobre o tema
pesquisado. Além disso, embora a informação seja fundamental para a construção do conhecimento,
existe uma profunda diferença entre informação e conhecimento, fazendo com que o acesso ao
conhecimento seja mais complexo do que o acesso à informação. O acesso ao conhecimento
necessariamente resulta de um processo de educação, seja formal ou não formal. Logo, tem-se a
necessidade de se aprofundar nos processos de educação e ensino, desenvolvendo a reflexão e o
senso crítico. Para isso, faz-se necessário definir onde, o que e como se vai ensinar. Tais questões
serão discutidas neste artigo apresentado na forma de diálogo. Busca-se, com isso, aprofundar as
discussões e reflexões sobre as formas de ensino de modo que este se mantenha útil e necessário.

PALAVRAS-CHAVE: Educação, Ensino, Meio Ambiente, Piscossocial.

1 INTRODUÇÃO sustentável e, em especial, para o seu bem-estar,


assegurando uma boa qualidade de vida à
Este artigo volta-se para a busca de socialização sociedade. Nesse contexto, cabe lembrar as
da educação em sentido amplo, ou seja, palavras de Santos (2004, p. 172):
abrangendo não só todos os indivíduos, mas O espaço é a matéria trabalhada por
também voltando-se para o todo e para o ponto. excelência. Nenhum dos objetos sociais tem
tanto domínio sobre o homem, nem está
Daí o seu título “O que, Onde e Como Ensinar o presente de tal forma no cotidiano dos
Conteúdo Geotécnico”, sendo o “Geotécnico”, indivíduos. A casa, o lugar de trabalho, os
nesse título, uma particularidade que pode ser pontos de encontro, os caminhos que unem
substituída por outras áreas do conhecimento, entre si esses pontos são elementos passivos
guardando-se a essência do artigo. que condicionam a atividade dos homens e
comandam sua prática social. (grifou-se).
A Geotecnia envolve várias ações humanas
Verifica-se, nessa citação, que a atividade
que se voltam ou deveriam se voltar não apenas
geotécnica perpassa por todos esses pontos e
para as atividades econômicas de engenharia
por muitos outros, apontando para a
civil, mas também para o desenvolvimento
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importância da educação geotécnica como um ensino fundamental.


elemento essencial para o bem-estar e a O onde ensinar é aqui colocado sem
segurança da sociedade no que tange ao aspecto qualquer foco ou conteúdo discriminatório, mas
ambiental. Esse alcance amplo da Geotecnia sim buscando alimentar as discussões sobre a
mostra ainda a necessidade de um educar importância do cenário, observando-se, dentre
multidisciplinar, pois ela, de modo isolado, outros, os contextos psicossocial,
jamais conseguirá ter o alcance necessário, o psicoambiental, ambiental, econômico, humano
que conduz a abordagem deste artigo a essa e cultural.
visão multidisciplinar. Focando, agora, a questão do como ensinar,
No COBRAMSEG de 2016, foi publicado o faz-se necessário colocar de lado o
artigo Diálogo geotécnico entre dois direcionamento voltado puramente para o
professores: o que e como ensinar (Camapum conteúdo da disciplina, buscando situá-lo
de Carvalho et al., 2016), que se manteve perante não só a prática da engenharia, mas em
restrito a discussões sobre o que e como ensinar relação a outras questões, como a ambiental, a
no âmbito universitário. Neste artigo, além de psicoambiental, a psicossocial e para a vida e
apresentar outras contribuições para o ensino convívio socioambiental em sentido amplo, ou
universitário, pretende-se, como já colocado, seja, envolvendo a relação humana com as
discutir a questão do ensino Geotécnico em diferentes formas de vida. Esse foco deve ser
sentido amplo, para a sociedade como um todo. dado sem negligenciar aspectos culturais que
Nesse contexto, o “em sentido amplo” volta-se influenciam diretamente sobre a escolha
para a multiciplinaridade, e o “como um todo” metodológica de transferência do conhecimento.
vislumbra não apenas os diferentes níveis da Nesse contexto, o como ensinar termina
estrutura educacional formal, como também a adentrando no o que ensinar. Observa-se,
educação não formal. Três questões principais então, que tudo termina passando por um educar
serão discutidas: o que ensinar; onde ensinar; fundamentado na reflexão, o que é importante
como ensinar. para o docente e para o aluno ou a comunidade-
O que ensinar será tratado buscando-se alvo.
realçar conteúdos específicos voltados para Espera-se, com o artigo, aprofundar as
interesses mais regionais e conteúdos gerais discussões sobre as formas de ensino que estão
com aplicações mais amplas. Ainda no que tendo que passar por várias adaptações para
tange ao o que ensinar, buscar-se-á mostrar que manter-se útil e necessária. Essas discussões
ele não é limitado pelo nível de escolaridade, serão travadas entre profissionais com formação
mas sim que deve passar por ajustes de em diferentes áreas do conhecimento, embora o
linguagem e conteúdo para se adaptar à texto apenas se referira ao diálogo entre um
realidade educacional e cognitiva do próprio professor e uma professora.
público-alvo. A título de exemplo, Lelis e
Camapum de Carvalho (2011) apresentam uma
atividade proposta para alunos do primeiro ao 2 O QUE ENSINAR?
sexto ano do ensino fundamental, em que, ao
tratar da interação água-solo, introduzem-se os Prof.: Iniciando esse nosso diálogo, poderia a
conceitos de atrito, coesão, tensão capilar, não colega nos apontar o que ensinar com vistas a
saturação e saturação, além de se abrir espaço uma educação ampla da sociedade sobre
para discutir segurança e risco de contaminação. aspectos ligados à Geotecnia?
Cabe destacar que o comportamento dos solos Profa.: Sim, mas antes, como os estudos
não saturados, ainda hoje, não é apresentado e geotécnicos estão diretamente ligados a solos e
discutido em vários cursos de Engenharia Civil rochas, gostaria de abrir um parêntese sobre o
no Brasil, mas já poderia ter sido introduzido no estudo do solo em diferentes áreas do
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conhecimento, sem a pretenção de exaurí-las. humano. Antes do projeto e da própria obra,


Prof.: Pois não, é oportuna a lembrança. surge a demanda, e esta pode ter várias origens,
Profa.: Os solos são estudados pelos como a humana, a social, a ambiental, a
Agrônomos, Geógrafos, Cientistas Ambientais, econômica e a simplesmente política. Mas
Ecólogos, Biólogos, Engenheiros Ambientais e qualquer que seja a origem, não se pode
Civis, dentre outros. Podemos citar até mesmo prescindir de conhecer e, portanto, também de
artistas cuja obra é toda feita usando solos após educar sobre as propriedades e o
minuciosa análise de suas propriedades e comportamento de solos e rochas e sobre o
comportamento para o fim desejado. Ouso, próprio espaço geográfico em que se habita,
então, dizer que, ao debater sobre o que ensinar pois este não só impacta diretamente no modus
em Geotecnia, devemos também realçar o solo vivendi, como, muitas vezes, reflete segregações
no seu contexto mais amplo, como suporte para econômicas e sociais (JESUS; CAMAPUM DE
vida biólógica, socioeconômica e cultural no CARVALHO, 2017).
planeta terra. Devemos ainda nos lembrar que, Prof.: Pensando, aqui, na educação em
no processo educativo, não existe uma mão sentido amplo e para todos, não seria
única, pois, ao ensinar, também se aprende e, demasiadamente complicado falar das
quanto mais aprendemos, mais temos a ensinar, propriedades e do comportamento dos solos e
num ciclo virtuoso de construção do rochas para crianças do ensino fundamental e
conhecimento. para a população em geral?
Prof.: Ótimas e oportunas colocações, mas Profa.: O artigo Popularização do
podemos agora retornar ao início de nossa conhecimento em solos: experiência de ação de
discussão? extensão universitária junto à sociedade e
Profa.: Sem dúvida que sim. Como, neste comunidade escolar, proposto para publicação
artigo, estamos tratando de Geotecnia, antes de nesse mesmo evento (MASCARENHA et al.,
mais nada, parece-me relevante definir o que se 2018), mostra que não. Nesse trabalho, a partir
entende por Geotecnia para, a seguir, definir o de atividades bastante simples e envolventes, os
seu alcance e a forma de educar a sociedade autores discutem propriedades, como a textura
quanto a ela. Nesse sentido, o colega que está a dos solos e sua erodibilidade, envolvendo
compartilhar conosco essa discussão, por ser questões ambientais ligadas à proteção do solo
mais especializado no tema, poderia nos dada pelas plantas.
esclarecer. Prof.: Poderia, a colega, apresentar exemplos
Prof.: Dentro de uma visão simples e sobre o que ensinar, fazendo o elo
concisa, pode-se dizer que a Geotecnia é um exemplificativo, abrangendo questões humanas,
ramo da Engenharia Civil que trata de projetos e sociais e ambientais?
execução de projetos nos aspectos ligados às Profa.: É possível sim, mas evitarei abordar
propriedades e ao comportamento dos solos e de forma direta aspectos já realçados no referido
rochas. Mas veja, essa simples definição artigo que citei há pouco. Uma questão humana
envolve questões muito mais amplas, como as relevante é considerar os diferentes aspectos
relativas às relações da obra com o meio relacionados às diferenças físicas e mentais de
ambiente e com a sociedade. Sem a pretenção algumas pessoas. No tocante a esse aspecto, é
de restringir a resposta da colega aos limites possível tratar o mesmo tema, “textura do solo”,
dessa definição, espero ter aberto espaço para com crianças sem limitações de ordem física,
discutir o que ensinar. assim como com aquelas que as apresentam.
Profa.: Sem perder de vista o significado Para a criança sem deficiência, é possível usar
dado ao termo Geotenia, vou apresentar minha recursos tanto táteis como visuais, porém, se ela
resposta, dando ênfase a questões relevantes apresenta deficiência visual, seria interessante
ligadas ao meio ambiente, à sociedade e ao fator recorer a atividades envolvendo o tátil e, se
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tiver deficiência física, a atividade deve voltar- existe todo um universo que se abre para o que
se para a parte física não afetada; e se todas ensinar.
tiverem sido afetadas, ela deve voltar-se para
atividades visuais e sonoras.
Prof.: Entendi e concordo, mas me parece 3 ONDE ENSINAR?
que a resposta da colega se volta mais para o
como ensinar que para o propriamente o que Prof.: Seguindo a sequência apresentada no
ensinar. título deste diálogo, proponho que adentremos,
Profa.: É verdade, e voltando, então, para o agora, na questão do onde ensinar, pois, a
que ensinar, penso que devemos, aqui, colocar mim, parece difícil apresentar e discutir com
aspectos simples e básicos para o entendimento crianças e com o público em geral assuntos e
das propriedades e do comportamento temas que geralmente só se veem em cursos
geotécnico de solos e rochas, buscando associá- universitários.
los a questões práticas que cercam o cotidiano Profa.: Em parte, tem razão, mas precisamos,
das pessoas. Por exemplo, usando uma ao meu ver, mudar essa realidade. Para mostrar
bentonita, um caulim, uma areia e uma brita já é que a maioria das abordagens geotécnicas que
possível mostrar a diferença entre um solo e fazemos pode ser apresentada de modo simples,
uma rocha, e, aproveitando esses mesmos colocando-se ao alcance de todos, vamos, ao
materiais, pode-se, ainda, abordar temas como discutir o como ensinar, trabalhar com crianças
mineralogia, textura, porosidade, da primeira série do ensino fundamental, mas
sucção/capilaridade, coesão e atrito. essa colocação que acabo de fazer já aponta
Prof.: Mas não seria muito complicado para uma grande abertura quanto ao onde
discutir tais questões com alunos do ensino ensinar.
fundamental? Prof.: A professora poderia ser mais clara,
Profa.: Não. Basta descomplicarmos, mas, detalhando melhor o onde ensinar?
antes, gostaria de lembrar a importancia de se Profa.: É evidente. Isso não é um problema.
observar a não contaminação dos materiais a Devemos, no entanto, esclarecer sobre o olhar
serem usados, assim como a eventual presença voltado para o onde. O onde pode estar ligado
de crianças alérgicas de modo a protegê-las. ao espaço geográfico e ao ambiente
Prof.: Fiquei curioso. Por favor, nos dê socioambiental, mas também ao nível de
exemplos. escolaridade, mas nenhum desses aspectos deve
Profa.: Penso que seria conveniente deixar os oferecer restrições em absoluto quanto ao o que
exemplos para a discussão sobre o como ensinar.
ensinar e vou aqui complementar a minha visão Prof.: Não? Mas, então, como proceder?
quanto à discussão sobre o que ensinar. Profa. Vamos, inicialmente, tratar do aspecto
Prof.: Concordo. espaço geográfico. No que tange a esse aspecto,
Profa.: Veja que falamos um pouco sobre o o onde ensinar se relaciona com o que
que ensinar em termos de propriedades e ensinar. Se o educando se situa em área rural
comportamento, mas é muito importante fazer o ou urbana, já deve, em princípio, intervir mais
elo dessas informações com aspectos que no como ensinar do que propriamente no o que
integram a vida das pessoas. Por exemplo, sobre ensinar, mas, de qualquer modo, se observa que
o uso do solo em obras como barragens e o onde assume, aqui, certa relevância, quando
rodovias ou ainda sobre o seu uso na não, muita relevância. Por exemplo, a
agricultura. Dependendo do contexto, é possível geomorfologia desse espaço em ambiente
ainda discutir problemas como as erosões em urbano e rural conduz a abordagens diferentes
suas diferentes formas, os alagamentos e quanto às propriedades e ao comportamento de
inundações e as rupturas de encostas. Portanto, solos e rochas, mantendo, muitas vezes, no
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entanto, a essência do o que ensinar. Deve-se, orientação dessas mesmas encostas em relação
portanto, entender que o onde sobre a questão ao sol e ao vento poderá acelerar ou retardar o
do espaço geografico extravasa esses limites processo de intemperização do maciço por meio
puramente espaciais. das modificações das energias que condicionam
Prof.: Seria possível esclarecer um pouco o fluxo de umidade e dos elementos e
mais sobre a importância do onde ensinar no compostos químicos solubilizados em direção à
que tange ao espaço geográfico em sua relação atmosfera. E veja, descortinaram-se, aqui, novas
com a geomorfologia? perspectivas de conteúdos a serem discutidos e
Profa.: Perfeitamente, sem problema. Veja, inseridos no o que ensinar: a química e a
no espaço rural, uma morfologia do terreno em solubilização.
declive acentuado pode, por exemplo, impactar Prof.: Mas e a questão socioambiental teria
de modo significativo os processos erosivos e, espaço nesses mesmos cenários de discussão?
nesse caso, as propriedades e o comportamento Profa.: Certamente, sim. Por exemplo, no
do solo vão assumir grande relevância nesse meio urbano, a infraestrutura existente na
processo. Em meio urbano, um terreno com as ocupação de uma encosta não é a mesma para as
mesmas particularidades morfológicas oferecem diferentes classes sociais e nem as obras e
outros tipos de preocupação. Por exemplo, construções envolvidas. Enquanto para uma
podem ser discutidas desde questões classe social menos abastada os problemas se
urbanísticas, como posicionamento das ruas e situariam, principalmente, no campo da
avenidas em relação às vertentes, até questões inexistência de infraestrutura básica, para a
atinentes à estabilidade das próprias encostas. classe social com maior poder aquisitivo,
Prof.: Mas, no meio rural, as encostas não certamente, os maiores riscos se situariam no
poderiam, igualmente, passar por processos de campo dos cortes e aterros realizados. Mas veja,
instabilização? isso pode até realçar aspectos distintos do o que
Profa.: Certamente sim, e essa pergunta é ensinar, mas não minimiza a importância do
muito apropriada às discussões aqui mantidas, e estudo geotécnico nos diferentes níveis de
vou exemplificar para mostrar que o onde tem escolaridade e classe social. Por exemplo,
sua importância, mas não deve servir de dependendo da geologia estrutural, um corte ou
obstáculo para o o que ensinar. Na área rural, o mesmo um aterro, pode ser um fator fortemente
uso de insumos na agricultura praticada da instabilizador de uma encosta.
encosta poderá, eventualmente, levar à sua Prof.: Entendo, mas não vejo como a questão
ruptura, pois, como mostrou Pérez (2018), os socioambiental impactaria na estabilidade da
insumos podem favorecer a instabilização encosta em meio rural.
estrutural do solo. Já em ambiente urbano, um Profa.: Interessante, falei do ambiente urbano
corte ou mesmo a simples infiltração de águas por imaginá-lo mais complexo e deixei de lado
servidas para manter o foco na interferência o rural. No meio rural, a classe social mais
química na estabilidade estrutural do solo pode abastada não só se serve em maior escala dos
levar a encosta à ruptura. É evidente que tanto insumos agrícolas, como trabalha o solo de
em um espaço geográfico como no outro, esses modo mais acentuado, fazendo uso de
processos instabilizadores geralmente requerem implementos agrícolas, como os arados. Já a
certo tempo. classe social mais humilde, geralmente, atua de
Prof.: Então, posso concluir que o onde se modo menos agressivo por meio de
situa o espaço geográfico e a declividade do intervenções, geralmente, manuais e, muitas
maciço seriam os aspectos mais relevantes na vezes, se servindo de insumos orgânicos mais
definição do o que e do como estudar? naturais e menos agressivos. Com isso, percebe-
Profa.: Penso que não, pois sempre existe se que os agentes modificadores da estabilidade
espaço para outras reflexões. Por exemplo, a das encostas tendem a ser distintos nos dois
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ambientes sociais. a qual se tem a pretensão de promover a


Prof.: É, as discussões sobre o onde ensinar construção do conhecimento.
ampliaram a importância do ensino geotécnico Prof.: Poderíamos começar discutindo o
nos diferentes ambientes sociais, mas me ensino geotécnico no ensino fundamental?
inquieta a prática desse ensino nos diferentes Profa.: Sem problema, vamos, então, discutir
níveis de escolaridade. uma dinâmica para a primeira série do ensino
Profa.: Penso que a discussão quanto ao fundamental. Vamos primeiro preparar os
ensino geotécnico nos diferentes níveis de materiais e instrumentos a serem utilizados.
escolariadade nos remete ao como ensinar. Prof.: Nos diga, então, professora, que
Prof.: Sim, claro mas você considera que a materiais e intrumentos utilizaremos, pois já
popularização dos conhecimentos geotécnicos estou passando do estado curioso para o
também pode ser feita dentro da academia? ansioso.
Profa.: Na verdade, dentro da academia Profa.: Veja, sem a pretenção de ampliar sua
existe muito espaço para ensinar e construir ansiedade ao postegar um pouco a discussão,
conhecimento em Geotecnia que não me sinto na obrigação de chamar a atenção
exclusivamente na Engenharia Civil. Certa vez, diante de sua colocação sobre a necessidade de
em um curso de mapeamento de solos, ouvi um estarmos atentos à condição psicológica e
estudante de doutorado em Agronomia dizer cultural das crianças e das pessoas em geral, a
que eles não estudavam mecânica dos solos. depender do público-alvo.
Vejam, não estudam a forma como é ensinada Prof.: É verdade, esteja certa, o simples estar
na Engenharia Civil, mas toda a parte de física atenta ao meu estado psicológico já me acalmou
do solo, compactação e alterações estruturais do e me transmitiu certa confiança em relação à
solos, dentre outros, são aspectos abordados nossa discussão.
dentro da mecânica dos solos em Geotecnia. Profa.: Na preparação dos materiais, vamos
Prof.: Com seu relato, nota-se que a pegar 12 copos de plástico transparente com
disciplinaridade da ciência, muitas vezes, cria capacidade em torno de 200 ml, duas bandejas,
muros onde, na verdade, deveria haver uma vasilha plástica ou de metal com água, uma
interseções, e isso abre um grande campo para a régua plástica, um pequeno pedaço de tábua (10
educação geotécnica dentro da própria cm x 30 cm aproximadamente) e uma lupa de
academia. mão, preferencialmente em material plástico.
Prof.: Desculpe-me interrompê-la, mas
considerando a preservação ambiental não seria
4 COMO ENSINAR? melhor copos de vidro, que são igualmente
transparentes?
Prof.: Poderia, então, nos falar um pouco sobre Profa.: Considerando a questão puramente
o como ensinar, apresentando, se possível, ambiental, é verdade e podemos já aqui
exemplos? introduzir discussões nesse sentido, no entanto,
Profa.: Por certo que sim. O como ensinar estaremos trabalhando com crianças e não
requer, para um mesmo tema, adaptações de podemos colocar de lado a questão da
linguagem e de abordagem de modo a despertar segurança, além do fato de que em parte das
e manter o interesse das pessoas. atividades vamos precisar fazer pequenos furos
Prof.: Com certeza, adaptações se fazem na base de quatro dos copos separados.
necessárias, mas isso não é muito complicado? Prof.: É, realmente devemos estar atentos à
Profa.: Na verdade, é uma atividade que tem segurança e por duas vezes já bem colocou a
seus desafios, mas a descomplicação reside no questão: agora e quando chamou a atenção para
fato de aproximar o conteúdo ensinado da a questão do uso de materiais não
realidade da criança ou de quaquer pessoa com contaminados, além de ter realçado a questão da
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alergia de algumas crianças. areia se deslocará com mais facilidade que o


Profa.: Vamos, então, às atividades. Vamos grão de brita e, com isso, se pode discutir a
pegar quatro copos e colocar, em cada um deles, erosão hídrica.
um dos quatro materiais selecionados, ou seja, Prof.: Mas, nessa análise dos processos
serão quatro copos com quatro diferentes tipos erosivos, seria ainda possível fazer associação
de solo (bentonita, caulin, areia e brita, por com o comportamento mecânico?
exemplo). Como quantidade, vamos usar a Profa.: Por certo que sim. Para isso, vamos
régua plástica e definir uma altura de, colocar algumas gotas de água na superfície do
aproximadamente, 6 cm de material em cada pequeno pedaço de tábua e, sobre ela, verter um
copo. Observe que aqui já se está abrindo pouco de areia; e ao lado, na mesma face, mais
espaço para discutir, com as crianças, aspectos algumas gotas de água e, sobre ela, verter um
ligados à geometria, como comprimento, área, pouco de caulim ou bentonita, em ambos os
volume, e unidades, como o centímetro e o casos, de modo a ficar úmido, mas não em
milímetro. Colocados os materiais nos copos, estado líquido. Após um ou dois minutos, vá
vamos chamar a atenção visual das crianças inclinando a tábua até que a areia comece a
para que observem aspectos como o tamanho deslizar e a argila certamente ainda se manterá
das partículas e dos poros, lembrando que, aderida. Com base nesse experimento, será
certamente, essas caracterísitcas não serão possível discutir os temas coesão e
visualizadas a olho nu no caulim e na bentonita, sucção/capilaridade.
mas podemos, nesse caso, recorrer ao uso da Prof.: Mas e o ângulo de atrito?
lupa para que possamos percebê-los. Profa.: Nesse caso, uma possibilidade será
Prof.: Mas se a criança for deficiente visual? colocar uma pequena camada de caulim ou de
Profa. Nesse caso, podemos recorrer à bentonita em uma área aproximada de 10 cm x
percepção tátil, observando a maciez e o atrito 10 cm sobre a tábua e, sobre ela, colocar a
dos materiais. Caso a criança apresente as duas bandeja com um pouco de brita e inclinar a
deficiências, podemos recorrer à percepção tábua até que a bandeja comece a escorregar.
sonora, derramando, de uma certa altura, os Depois, repita o procedimento usando a areia.
materiais na bandeja. Os ruídos serão Certamente, se verá que, com a argila, a bandeja
seguramente diferentes. escorregará com maior facilidade do que com a
Prof.: Finda essa etapa relacionada à textura areia, o que se explica pelo atrito. E com base
e ao tamanho das partículas, teriam outras nesse mesmo experimento, pode ser ampliada a
propriedades físicas relevantes e de fácil discussão sobre a coesão e sobre a
percepção das crianças? sucção/capilaridade, pois a argila em estado
Profa.: Sim. Por exemplo, tomando às mãos, seco e desestruturado não terá nela atuando
de um lado, a brita e, de outro, a bentonita ou o nenhum nem outro apesar de sua atividade e
caulim, serão percebidos pesos diferentes, natureza coesiva.
abrindo, assim, espaço para discutir a densidade Prof.: Por enquanto, usamos apenas quatro
dos materiais. Agora, de modo a fazer um elo, copos; o que faremos com os demais?
por exemplo, com processos erosivos, a criança Profa.: Vamos, então, pegar mais quatro
tomará, em uma das mãos, um grão de areia e, copos, fazer pequenos furos em seus fundos e
do outro, um grão de brita, e ele poderá tentar colocá-los sobre a bandeja, contendo, em seu
deslocar com um sopro o grão de areia e, em fundo, uma pequena camada de areia
seguida, o de brita e, com base na diferença, (aproximadamente, 5 mm), sobre a qual se
pode ser explicada a erosão eólica. Colocando, apoiarão os copos. Em seguida, como no caso
agora, o grão de areia e o grão de brita na anterior, vamos colocar em cada um deles os
bandeja, inclinando-a um pouco e vertendo nela mesmos 6 cm de cada material. Feito isso,
um pouco de água, se perceberá que o grão de vamos completá-los com água e observar
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comparativamente a velocidade de escoamento, sustentáveis.


abrindo-se espaço para discutir a Prof.: Mas e sobre o como ensinar na
permeabilidade dos materiais e suas interações universidade?
com a água. Certamente, se observará também Profa.: O ensino na universidade deve
uma elevação no nível do solo contendo a constituir-se em uma base mais ampla de
bentonita, o que viabiliza discutir a expansão. reflexão sobre o uso do conhecimento
Veja que, em cada fase desse experimento, é geotécnico nas questões práticas. Nesse sentido,
possível fazer o elo com questões do cotidiano, sugerimos a adoção de atividades estabelecendo
por exemplo, o maior potencial de alagamento o elo entre os temas tratados e os projetos e as
em solo argilosos do que em solos granulares. O obras de engenharia. Por exemplo, se estou
problema da expansão gerando danos em tratando do tema granulometria e distribuição
edificações e outras obras, enfim... granulométrica, que importância ela assume em
Prof.: Mas ainda temos quatro copos. Seriam um projeto de baragem e em um projeto
eles apenas para matar a sede depois de tanta rodoviário ou ainda em problemas ambientais,
atividade? como erosão e inundações? Faz-se necessário
Profa.: Poderia até ser, mas vamos que o aluno faça um exercício reflexivo,
desenvolver mais uma atividade voltada para o buscando enquadrar o assunto em estudo em
ensino da Geotecnia. Vamos pegar a outra diferentes situações de engenharia. Esse tipo de
bandeja. Em seguida, vamos colocar as mesmas atividade é importante até para que ele perceba
quantidades dos materiais nos quatro copos a importância do que está estudando.
restantes. Feito isso, vamos vertê-los na bandeja Prof.: Mas que formato se poderia dar a essa
e retirá-los, observando as formas de cada prática?
montículo. Em seguida, pegar a outra bandeja, Profa.: Sugiro que se estabeleçam temas para
colocar de lado os copos com os materiais seminários, como meio ambiente, barragens,
úmidos, limpá-la e colocar, sobre ela, os copos construção rodoviária, cortes, aterros, fossas e
com a boca para baixo e, em seguida, removê- sumidouros, aterros sanitários, etc. Em seguida,
los, buscando manter os materiais na bandeja. que se divida a turma em grupos e, antes de ser
Comparando as formas dos montículos, se dado cada assunto, os grupos devem apresentar
poderá explicar mais claramente a questão da seminários com duração de cinco a 10 minutos
sucção/capilaridade. E para ampliar ainda mais sobre os diferentes temas. Cada grupo fica com
a discussão, pode-se, finalmente, encher essas um tema e, no assunto seguinte, mudam-se os
bandejas com água e observar o que ocorrerá. temas dos grupo. Essa atividade permite aos
Essa etapa pode ampliar ainda mais as alunos um amadurecimento sobre os assuntos e
discussões e o entendimento sobre a coesão e temas, assuntos que, como colocado, eles
sobre a sucção/capilaridade. podem até já terem visto com outro olhar no
Prof.: Não resta dúvida de que essas ensino fundamental.
discussões são muito interessantes para o ensino Prof.: Penso ter sido possível, por meio das
fundamental, mas e, na universidade, como discussões apresentadas nesse diálogo, observar
ensinar agora temas que se tornaram tão simples que não só é possível como também é relevante
após a atividade com as crianças? levar o conteúdo geotécnico para os diferentes
Profa.: Em primeiro lugar, cabe destacar que níveis de ensino (fundamental, médio e
as atividades com as crianças tiveram por universitário) e formas de educação (formal e
objetivo mostrar que podemos levar o ensino da não formal).
Geotecnia para todas as etapas do ensino formal Profa.: Esse foi o meu obetivo, mostrar que
e até mesmo para o ensino não formal, isso é plenamente possível e que tem grande
oferecendo à sociedade elementos para reflexão relevância para a sociedade, podendo ajudar no
sobre práticas ambientalmente mais desenvolviemento sustentável. Mas realço que
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esse tipo de exercício objetiva preparar o aluno exemplo busca mostrar que o engenheiro deve
para o autoeducar-se, tendo em vista a grande desenvolver o seu senso de observação mesmo
disponibilização do conhecimento hoje em práticas de lazer e em outros momentos do
existente. cotidiano.
Prof.: Me desculpe, mas tenho ainda uma Prof.: Interessante! Tenho recomendado esse
pequena questão: se, como mostrado, podemos livro nas disciplinas que leciono, mas não tinha
levar conteúdos geralmente tratados na atentado para essa particularidade, mas, sobre o
universidade para os primeiros anos do ensino cotidiano, a professora teria algo a nos dizer?
fundamental, não seria igualmente possível Fiquei curioso.
trazer para o ensino universiversitário cenários Profa.: É claro, pois a engenharia está em
da infância ou mesmo questões do cotidiano? quase tudo e em quase todos os lugares.
Profa.: Certamente sim, e vou aqui Prof.: Nos diga, então.
apresentar dois exemplos. Me lembro que, ao Profa: O exemplo não é meu, mas vou relatá-
dar aula para o quinto semestre do curso de lo, pois integrou a palestra Prática da
Engenharia Civil, logo após ter sido lançada a Engenharia: um olhar voltado para além dos
cartilha Meio Ambiente: Infiltração, disponível livros, à qual assisti e foi proferida pelo
nos sites www.geotecnia.unb.br e professor José Camapum de Carvalho para
www.eec.ufg.br/gecon (LELIS; CAMAPUM alunos universitários. O referido professor disse
DE CARVALHO, 2011), estabeleci, para os que, ao ser indagado, pela esposa, sobre os
alunos da turma, uma tarefa a ser feita em casa, motivos que levavam o pão a endurecer e a
na qual os alunos reviveriam um pouco a bolacha a amolecer depois de alguns dias de
infância ao praticá-la. Trata-se da atividade expostos às condições atmosféricas, repondeu
Infiltração: interação água-solo (p. 26-29). que a engenharia permitiria entender o que
Nessa atividade, a criança toma conhecimento ocorria e que, em breve, lhe daria a resposta.
daquilo que seria complexo (coesão, sucção, Prof.: Mas qual foi a resposta? Me parece
atrito, erosão, etc.) por meio do simples, e agora interessante e, certamente, interessará ao leitor
o universitário podia perceber, por meio dessa deste artigo.
prática, que é importante, na engenharia, buscar Profa.: O professor disse ter pego algumas
o entendimento a partir do simples. fatias de pão e algumas bolachas e as conduziu
Prof.: Mas e o outro exemplo? ao laboratório para que fossem analisadas as
Profa.: Se observarmos a capa do livro Solos microestruturas e determinadas as curvas
não saturados no contexto geotécnico características de ambos, isso porque ele queria,
disponível no site www.abms.com.br além de responder à sua esposa, fazer um elo de
(CAMAPUM DE CARVALHO et al. – similaridade entre o pão e a bolacha e o solo em
organizadores, 2015), veremos, em sua diferentes níveis de alteração. Ele, então, fez
lombada, a mão de uma criança fazendo um imagens com lupa eletrônica do pão e da
castelo de areia, o que mostra a importância da bolacha e as comparou, respectivamente, a
capilaridade nessa pequena grande obra de imagens obtidas no microscópio eletrônico de
engenharia. Já na capa, é possível notar a varredura para um solo profundamente
mudança na profundidade das pegadas quando intemperizado e para um solo pouco
se afasta da zona com maior capilaridade. No intemperizado, mostrando ser possível o
encontro com a água, ela desaparece, porque a paralelo devido às semelhanças estruturais.
capilaridade tende para zero e, ao afastar um Prof.: Mas essa semelhança estrutural ainda
pouco mais, embora a capilaridade tenda a não explica por que o pão endurece e a bolacha
continuar aumentando, diminui o número de amolece.
contatos em que atua, tornando o solo menos Profa.: É verdade, mas, pelo que eu entendi,
resistente. Veja que a segunda parte desse elas objetivavam mostrar, com base nas
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características estruturais, embora outros sobre o que ensinar, onde ensinar e como
fatores, como o químico-mineralógico ensinar questões referentes à Geotecnia nos
intervenham, que era possível traçar um diferentes níveis de escolaridade, sem
paralelo entre o comportamento do solo e o do desconsiderar os aspectos sociais, culturais,
pão e da bolacha. ambientais e psíquicos dos sujeitos envolvidos
Prof.: Seria possível explicar melhor? no processo de ensino e aprendizagem,
Profa.: Sim. Ele colocou, então, em uma O artigo mostra como, a partir de exemplos
mesma figura, as curvas características obtidas concretos e cotidianos, podem-se discutir temas
para o pão e a bolacha, e um gráfico da relevantes na área de Geotecnia, adaptando-se o
resistência de um solo em função do logaritmo conteúdo, a linguagem e as técnicas didáticas,
da sucção em cetímetros de coluna de água, considerando-se os espaços ocupados pelos
dividido pelo índice de vazios do solo. Nesse sujeitos, seus níveis de escolaridade e suas
gráfico, observava-se, como esperado, que características psicossociais.
quanto maior a sucção ou menor o índice de Acredita-se que as reflexões aqui
vazios, maior a resistência do solo, e é sabido apresentadas podem contribuir para políticas de
que, quanto maior a umidade, menor é a popularização da ciência e do conhecimento,
sucção/capilaridade e, por consequência, menor tão em voga no meio acadêmico.
a resistência. Fazendo um paralelo entre o solo,
e o pão e a bolacha, o referido professor lançou,
sobre as curvas características do pão e da REFERÊNCIAS
bolacha, as variações de umidade que ele
registrou entre o pão recém produzido e seco ao Camampum de Carvalho, J.; Gitirana Junior, G. F. N.;
ar e entre a bolacha recém desempacotada e Machado, S. L.; Mascarenha, M. M. A.; Silva Filho,
F. C. (2015). Solos não saturados no contexto
umedecida devido ao contato com a atmosfera. geotécnico. 1. ed. São Paulo: ABMS, v. 1, 650 p.
Observou-se, no gráfico, que a bolacha ganhou Camampum de Carvalho, J.; Mascarenha, M. M.
umidade e o pão perdeu umidade, levando, A.; Luiz, G. C. (2016) . Diálogo geotécnico entre dois
respecivamente, à perda (amolecimento) e ao professores: o que e como ensinar?. XVIII Congresso
ganho (endurecimento) de resistência. Logo, Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia
Geotécnica, COBRAMSEG, ABMS, v. 1. p. 1-9.
esse exemplo mostra que, mesmo no cotidiano, Jesus, A. S.; Camapum de Carvalho, J. (2017). Processos
podemos, por meio da reflexão, estar erosivos em área urbana e as implicações na qualidade
associando o conteúdo visto nos cursos de de vida. Boletim Goiano de Geografia. Goiânia, v. 37,
engenharia. n. 1, p. 1-17.
Prof.: Muito interessante o exemplo e a ideia Lelis, A. C.; Camapum de Carvalho, J. (2011). Cartilha
Meio Ambiente: Infiltração. 1. ed. Brasília: Faculdade
de se ver e analisar os problemas de engenharia de Tecnologia, v. 1, 47 p.
a partir do simples. Mascarenha, M. M. A; Jesus, A. S.; Guimarães, M. A.;
Profa: É verdade, mas finalizo minha Kopp, K.; Oliveira, A. P.;Sales, M. M.; Angelim, R.
participação neste agradável e prazeroso R.; Camapum de Carvalho, J. (2018). Popularização
diálogo, destacando a necessidade de do conhecimento em solos: experiência de ação de
extensão universitária junto à sociedade e comunidade
prepararmos os nossos alunos para uma atuação escolar. XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos
reflexiva e participativa, para que amadureçam Solos e Engenharia Geotécnica, COBRAMSEG,
o senso de reflexão e para que se preparem para ABMS, Salvador, 8 p.
um autoeducar-se continuado. Pérez, A. C. (2018). Influência de insumos agrícolas em
propriedades físicas de solos tropicais. Brasília:
Dissertação de Mestrado 298/2018, Programa de Pós
Graduação em Geotecnia, Disponível em:
5 CONSIDERAÇÔES FINAIS <http://www.geotecnia.unb.br/downloads/dissertacoes
/298-2018.pdf>.
Este artigo se propôs a apresentar reflexões Santos, M. (2004). Por uma Geografia Nova. São Paulo:
Editora da Universidade de São Paulo. 285 p.
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Os conceitos da Andragogia aplicados ao Ensino da Geotecnia


visando a retenção do aprendiz
Fernanda Simoni Schuch 1
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil,
fernandass@ifsc.edu.br

Fábio Krueger da Silva 2


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil,
fabio.krueger@ifsc.edu.br

RESUMO: Neste artigo são apresentadas algumas práticas que têm sido adotadas para o ensino da
Geotecnia em curso de nível pós-médio e graduação, cujo público está contido numa faixa etária
que varia entre 20 e 60 anos de idade. Para se obter sucesso no aprendizado de um público tão
eclético e com experiências de vida tão diversas, têm-se adotado uma metodologia de ensino que
necessita ir muito além das aulas expositivas e dialogadas, tão difundidas e arraigadas no ensino
Brasileiro, metodologia esta, que foi a empregada no aprendizado do docente. Portanto, a realização
das aulas práticas, sejam elas realizadas em laboratório ou noutro ambiente externo à Instituição de
Ensino, tornam-se importantíssimas, pois propiciam a prática o conhecimento bem como a reflexão
sobre o tema estudado. Os princípios da andragogia nos levam a perceber que, para o aprendiz, é de
suma importância que ele perceba a necessidade do conteúdo desenvolvido, a aplicabilidade do
mesmo na sua futura profissão, e ainda, deve-se pensar na troca de experiências entre os atores deste
processo educacional, propiciando a interação entre eles, sob um clima de segurança e respeito.
Acerca desta temática o texto provoca uma discussão a respeito da forma de ensino, do aprendizado
e das influências destes na retenção dos alunos, ponto chave para as políticas de planejamento da
educação brasileira.

PALAVRAS-CHAVE: Andragogia, Aulas Práticas, Geotecnia.

1 INTRODUÇÃO professor começa a ser questionado e, na fase


adulta, o conhecimento que chega ao discente é
É muito difunfida nos atuais modelos avaliada em função de suas experiências
educacionais brasileiros as teorias pedagógicas prévias, do conhecimento acumulado, onde este
de aprendizagem onde, praticamente se confere verifica a necessidade ou não desta informação
ao professor toda a responsabilidade do (Carvalho et al, 2010).
processo de ensino-aprendizagem. Segundo Neste contexto é que se analisa como esta
Chotguis (2018) a andragogia é a antítese disto experiência prévia, aliada a recursos didáticos
sendo considerada “a arte e a ciência de ajudar variados, auxilia o ensino de unidades
o adulto a aprender”. curriculares da área de Geotecnia para adultos,
Analisando-se o histórico de formação humana nos Cursos Técnico de Edificações pós-médio e
percebe-se que, na sua formação inicial e na graduação em Engenharia Civil do Instituto
infantil, o ser humano está submetido aos Federal de Educação Ciência e Tecnologia de
cuidados de terceiros. Sendo dependentes na Santa Catarina (IFSC).
fase pré-escolar onde é esperada proteção por Apresentam-se aqui algumas práticas que têm
parte do docente. Na adolescência o ‘poder’ do sido adotadas para um público está contido
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numa faixa etária que varia entre 20 e 60 anos vi) motivação para o aprendizado:
de idade. Para se obter sucesso no aprendizado contextualizando o ganho pessoal e
de um público tão eclético e com experiências os valores intrísecos.
de vida tão diversas, têm-se adotado uma Os princípios da andragogia nos levam a
metodologia de ensino que necessita ir muito perceber que, para o aprendiz, é de suma
além das aulas expositivas e dialogadas, tão importância que ele perceba a necessidade do
difundidas e arraigadas no ensino Brasileiro, conteúdo desenvolvido, a aplicabilidade do
metodologia esta, que foi a anteriormente mesmo na sua futura profissão, e ainda, deve-se
empregada no aprendizado do docente e, pensar na troca de experiências entre os atores
portanto, é a qual este está intimamente deste processo educacional propiciando a
familiarizado. interação entre eles, sob um clima de segurança
Neste contenxto, entende-se que, a realização de e respeito.
aulas práticas, sejam elas realizadas em Caso contrário, pode-se estar levando o discente
laboratório ou noutro ambiente externo à ao desânimo e à desistência de sua formação,
Instituição de Ensino, tornam-se aumentado os números relativos à evasão
importantíssimas, pois propiciam a aplicação daqueles que ingressam nas instituições de
direta do conhecimento bem como a reflexão ensino.
sobre o tema estudado. No caso do ensino da Geotecnia utilizam-se as
aulas práticas de laboratório como ferramenta
1.1 Os princípios da andragogia de aprendizado e motivação para reter os
aprendizes tanto no nível médio como no
Na década de 70 um estudioso chamado superior. Na graduação atenta-se também para
Malcom Knowles apresentou suas ideias sobre uma prática que contemple o despertar da
o processo de aprendizagem do indivíduo adulto ciência através da pesquisa aplicada, com a
o qual chamou de andragogia (Knowles et al, escrita de artigos técnicos elaborados a partir de
2012). Segundo este autor, os princípios proposta de aprendizagem transversal,
centrais da aprendizagem adulta estão multidisciplinar, que favoreça a análise crítica.
concentrados em seis pontos:
i) o aprendiz necessita saber por quê, o quê 1.2 A evasão escolar
e onde;
ii) autoconceito do apreendiz: onde o Neste artigo considera-se evasão escolar quando
aluno(a) precisa de autonomia para o(a) aluno(a) deixa de frequentar a escola,
se desenvolver e caracterizando o que chamamos de abandono
autodirecionamento; escolar. A observação e análise dos motivos que
iii) experiência prévia do aprendiz: a levam à evasão escolar são primordiais para que
utilização de diferentes recursos de as instituições tracem planos e metas visando
aprendizagem, a construção de reter o(a) aluno(a).
mapas mentais para incorporar as A SETEC (Secretaria de Educação Profissional
prévias experiências do aprendiz são e Tecnológica), vincula ao Ministério da
necessárias; Educação divulgou dados da análise da evasão
iv) prontidão para o aprendizado: da rede federal (AERF) com dados de 2009 a
incorporam o desenvolvimento de 2017. A partir destes dados, as Instituições
tarefas e a discussão dos temas Federais devem realizar seua Planos
relacionados à vida cotidiana; Estratégicos de Permanência e Êxito, afim de
v) orientação para o aprendizado: promover ações cuja meta seja minimizar os
contextualizando e centrando na valores apontados pelo levantamento da
solução de problemas; SETEC.
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Como o foco deste artigo é relacionar as 59%.


atividades práticas de ensino com os dados de Vale ressaltar aqui que, dentre os cursos de
evasão e retenção, os dados obtidos e as bacharelado estão alguns cursos de engenharia
respectidas análises são particulares do IFSC - que ainda não estão integralizados, ou seja, a
Campus Florianópolis, onde as práticas primeira turma de alunos ainda não se formou.
anteriormente mencionadas são aplicadas. No caso dos cursos de tecnologia, alguns dos
De acordo com os dados divulgados em cursos analisados já não estão mais em oferta,
https://public.tableau.com/profile/ericagallindo# justamente por uma análise realizada há
!/vizhome/2017-02-18AnliseEvasoRF/Painel1 , aproximadamente 7 anos atrás, a qual apontou
o IFSC têm uma evasão de 44% sendo que, a problemas relacionados ao exercício legal da
média nacional para a educação presencial nos profissão de tecnólogo, e seus conflitos com o
IF’s, está em 37,81%. A plataforma de análise mercado de trabalho e seus conselhos fiscais.
de evasão mostra graficamente a situação dos Os constantes problemas apontados por
níveis de ensino no IFSC (Figura 1). egressos os quais retornavam à secretaria dos
cursos buscando documentação para
‘completar’ sua graduação num curso de
engenharia em instituição privada, devido aos
problemas enfrentados no mercado de trabalho,
em especial no quesito financeiro. Estes
motivos levaram a Instituição (servidos e
discentes em conjuntos) a realizar um estudo
aprofundado e optar pela oferta de cursos de
graduação em engenharia.

2 GEOTECNIA PARA ADULTOS

Partindo-se dos princípios apontados no estudo


da aprendizagem de adultos, a andragogia, e,
visando motivar o aluno e orientar o tema
estudado para o exercício da profissão e para
solução de problemas reais, é que se
desenvolvem aulas práticas direcionadas ao
referido público. Neste artigo, as aulas práticas
a que se refere estão subdivididas em dois tipos:
aulas práticas de laboratório onde são realizados
os experimentos preconizados pelas normas da
ABNT e, as práticas de campo onde o aluno é
Figura 1. Dados de evasão de 2009 a 2017 do IFSC levado para fora dos limites físicos do Campus
Campus Florianópolis.
Fonte: adaptado de
para melhor vizualizar os conceitos teóricos
https://public.tableau.com/profile/ericagallindo#!/vizhom estudados e interagir com a comunidade
e/2017-02-18AnliseEvasoRF/Painel1 . externa.

Na figura acima (Figura 1), a percentagem de 2.1 As práticas de laboratório


alunos considerados evadidos ou abandono
(egresso sem êxito) para os cursos técnicos As aulas práticas, no caso dos cursos técnicos
subsequentes é de 45%, para o bacharelado é de na modalidade pós-médio, são obrigatórias para
26% e, para os cursos superiores de tecnologia fornecer habilitação profissional ao egresso. No
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curso de Edificações, por exemplo, o discente


que cursar 660 horas de um total de 1320 horas,
têm a habilitação de Auxiliar Técnico de
Materiais e Solos. Isto por si só, já demandaria
que as aulas práticas em laboratório fossem
realizadas, mas é necessário buscar-se a
transformação das informações passadas em
sala de aula em conhecimento, seja pelo ‘saber
fazer’, seja pelas trocas de experiência, seja pela
visualização do princípios físicos aplicados aos
solos seja pelo estudo prático das propriedades
deste importante material para a construção
civil.
Para tanto, as aulas de laboratório são
planejadas observando-se o número de alunos Figura 3. Alunos em aula prática de compactação de solos
matriculados. Sempre que necessário divide-se no laboratório.
a turma em outras duas, de modo a se otimizar o
número de equipamentos disponíveis, o espaço Cada aula de laboratório é motivo de avaliação
físico e o tempo hábil para realizar o onde se observa a participação em aula e conta
experimento. com a entrega de um relatório técnico, onde são
Os ensaios considerados básicos para as registrados os procedimento adotados, as
unidades curriculares de Geotecnia no nível adaptações às normas de ensaio (necessárias em
técnico modalidade pós-médio e graduação são: função do tempo disponível para a realização
massa específica dos grãos que passam na durante o período da aula e dos equipamentos
peneira 4,8mm; análise granulométrica do solo, disponíveis), os resultados obtidos e sua
limites de liquidez e plasticidade (Figura 2) e respectiva interpretação.
compactação dos solos (Figura 3). Neste período de realização do ensaio ocorre
Para os cursos de graduação, além dos acima uma oportunidade ímpar de troca de experiência
mencionados também são executados os ensaios entre o docente e os discentes, discutem-se as
de CBR (ìndice de suporte califórnia), aplicações dos conhecimentos estudados e dos
permeabilidade para solos grossos dados por eles gerados.
(permeâmetro de carga constante), resistência à
compressão simples. 2.2 As práticas de campo

Outra forma de se favorecer a aprendizagem de


adultos é através da realização de atividades
práticas em campo, o que geralmente ocorre
através de visitas técnicas, sejam elas realizadas
em empresas públicas e privadas, em locais à
céu aberto para observação da paisagem ou em
obras de cunho geotécnico.
Em sendo o Estado de Santa Catarina dotado de
uma geografia favorável à observação de
formações geológicas variadas (litoral com
inúmeras praias, formação de restingas, serras e
Figura 2. Alunos em aula prática de limite de plasticidade planalto), a realização de atividades em campo
no laboratório. enriquece a formação do egresso tanto no
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aspecto técnico cientifico quanto cultural. 2.3 Os princípios da Andragogia aplicados ao


Através destas práticas os alunos são levados a ensino da Geotecnia
identificar as diferentes feições exisitentes no
relevo, observar as jazidas de material As aulas práticas de Geotecnia estimulam
geológico (algumas exploradas diversos aspectos relacionados ao processo de
comercialmente), conhecer formações ensino-aprendizagem envolvendo os princípios
geológicas relevantes como a Serra do Mar, da andragogia apresentados no subitem 1.1, a
Serra Tereza Cristina, Cavernas do Parque de saber:
Grutas de Botuverá (Figura 4), entre outros. I. o aprendiz desenvolve aspectos de
tomade de decisão e autonomia quando
compreende a razão de estar realizando
um procedimento dentro de aspectos
normalizados e soluciona problemas ou
desafios na aplicação das normas
técnicas;
II. há troca de conhecimentos prévios entre
docente e discente onde o primeiro
expõe aspectos que facilitam o
desenvolvimento das atividades
propostas e o aprendiz correlaciona tais
práticas com outras já por ele
desenvolvidas, fazendo com que o
Figura 4. Grutas de rochas calcáreas em Botuverá/SC
Fonte: Prefeitura de Botuverá, 2018 ambiente diferenciado de um
laboratório, em relação a uma sala de
O conhecimento geológico básico, para os aula tradicional, seja uma
alunos de graduação, por exemplo, dá subsídios ferramenta/recurso de ensino e
para que o aluno avance em seus estudos acerca aprendizagem diferenciado;
do comportamento mecânico dos solos e das III. as discussões de ‘como fazer’ e a
rochas, onde as obras civis são projetadas e necessidade de discutir com colegas as
executadas. soluções apresentadas aos desafios
Nestas visitas ocorre também uma importante encontrados para realizar um
troca de experiências entre os profissionais que experimento promovem o
trabalham em campo e possuem exepiência na enriquecimento pessoal, e a percepção
área da geotecnia ou áreas correlatas, como no de que o trabalho em equipe é essencial
caso de visitas à obras de engenharia (Figura 5). para o desenvolvimento profissional;
IV. chega-se a uma solução de problema
contextualizado num tema/conteúdo
proposto facilitando o emprego do
conhecimento gerado.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Acredita-se que as metodologias empregadas


nas aulas práticas têm sido ferramentas de
Figura 5: Inspeção de tirantes e retirada de entulho nas
sucesso para aumentar os índices de retenção
obras do túnel da BR-280 em 2016/2. dos alunos.
Fonte: Schuch et al, 2017. Os cursos técnicos pós-médio do Departamento
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Acadêmico da Construção Civil (DACC), onde SETEC/MEC, acessado em 01/05/2018.


as aulas práticas de Geotecnia são ministradas PREFEITURA DE BOTUVERÁ. Grutas de Botuverá.
Disponível em
têm valores de evasão de 15,97% no curso de <http://www.botuvera.sc.gov.br/turismo-lazer/parque-
Edificações e 13,65% em Engenharia Civil, das-grutas/>. Acessado em 21/04/2018.
valores bem abaixo da média de valores SCHUCH, F. S. et al; A Geotecnia na Engenharia: a
encontrados para o Campus. Experiência das Visitas Técnicas e sua Importância na
É claro que o sucesso não se deve apenas às Formação Acadêmica. REVISTA
INTERDISCIPLINAR DE TECNOLOGIAS E
aulas práticas de Geotecnia pois outras unidades EDUCAÇÃO, v. 3, p. 1-5, 2017
curriculares também realizam muitas atividades
de caráter prático, direcionando o(a) aluno(a) à
observação da aplicação teórica de forma
enriquecida, onde consegue interagir com os
colegas, enriquecendo as aulas com suas trocas
de experiências.
Este cuidado especial em relação ao processo de
construção da aprendizagem do adulto é um
diferencial para a inserção destes futuros
egressos no mercado de trabalho, pois,
possibilita a transformação dos conceitos
teóricos e práticos em conhecimento aplicado
(algo difícil em algumas áreas profissionais
dado o preconceito com relação à idade do
egresso à procura de emprego).
Ainda assim, segundo os dados do SISTEC, a
média dos valores de evasão para o DACC está
em 31,05% (considerando os cursos de perfil
jovem e adulto). Apesar de estar abaixo da
média nacional (37%), entende-se que muito
ainda há que ser feito para se contribuir com
práticas inovadoras de ensino – aprendizagem,
colocando em prática os princípios da
andragogia.

REFERÊNCIAS

Carvalho, J. A. De; et al. (2010). Andragogia:


Considerações sobre a Aprendizagem do Adulto,
REMPEC, Ensino, Saúde e Ambiente v.3 n 1 p. 78-90
Abril 2010.
Chotguis, José (2018). Angragogia: arte e ciência na
aprendizagem do adulto, Disponível em:
http://www.logisticareversa.net.br/uploads/1/6/3/0/163
0201/andragogia.pdf, acessado em 07/5/2018.
Knowles, M. S. et al (2012); The adult learner: the
definitive classic in adult education and human
resource development , 7a ed., Ed. Routledge, 0. 1-5.
PNP (Plataforma Nilo Peçanha) 2018, disponível em:
https://www.plataformanilopecanha.org/,
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Popularização do conhecimento em solos: experiência de ação de


extensão universitária junto à sociedade e comunidade escolar
Márcia Maria dos Anjos Mascarenha
Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, marciamascarenha@gmail.com

Andrelisa Santos de Jesus


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, andrelisajesus@gmail.com

Mariana Araujo Guimarães


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, guimaraujo17@gmail.com

Katia Kopp
Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, kakopp@gmail.com

Ana Paula de Oliveira


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, anadeoli@gmail.com

Mauricio Martines Sales


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, sales.mauricio@gmail.com

Renato Resende Angelim


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, tecnoeng@gmail.com

José Camapum de Carvalho


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, camapumdecarvalho@gmail.com

RESUMO: O presente artigo visa apresentar uma experiência de ação de extensão universitária,
organizada por professores da Universidade Federal de Goiás, no ano de 2017, que trabalhou o
conhecimento sobre processos erosivos em solos como instrumento de educação ambiental. A
execução da ação foi composta por três etapas. A primeira referiu-se à seleção de educandos de
diversos cursos de graduação a serem capacitados como multiplicadores do conhecimento. Na
segunda etapa esse grupo de educandos passou por um curso de formação sobre os assuntos
relacionados a solos, erosão e didática e em seguida desenvolveram materiais didáticos sobre esses
temas. A terceira etapa consistiu de intervenções realizadas em eventos técnico-científicos regionais
e em escolas de ensino fundamental e médio em Goiânia. As intervenções permitiram uma maior
intimidade dos participantes com o solo, com sua cidade e a ampliação da consciência quanto aos
riscos de ocupação em áreas do meio físico mais sensível ambientalmente.

PALAVRAS-CHAVE: Erosão, Solos, Educação, Meio ambiente, Ocupação do solo.

.
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1 INTRODUÇÃO importante do projeto de controle e mitigação


dos processos erosivos.
Ocorrências de erosões em áreas urbanas e Uma das formas de iniciar esse processo é
rurais, resultantes de uma ocupação inadequada intervindo na educação básica, a partir da
do solo, são comuns em países em formação de educandos e professores em torno
desenvolvimento de clima tropical, onde fatores dessa temática. Esse processo de ensino-
sociais, pedológicos, geotécnicos e climáticos aprendizagem também foi bastante útil para a
aumentam a suscetibilidade a esse fenômeno. formação dos discentes dos cursos de graduação
As erosões acarretam sérios problemas envolvidos no projeto.
ambientais como perda de solo agricultável e Dessa forma, o presente artigo visa
edificável, alterações ecossistêmicas e do apresentar uma experiência de ação de extensão
ambiente pedológico e da paisagem. Em geral, universitária que tem trabalhado o
em erosões mais profundas como as voçorocas, conhecimento em solos como instrumento de
estabelecem-se ambiente de riscos geológico- educação ambiental voltado para prevenção de
geotécnico relacionado à instabilidade das processos erosivos.
margens, escorregamentos de taludes e até
transmissão de doenças, uma vez que as 2 METODOLOGIA
incisões erosivas são alvo do lançamento de
lixo e entulho que favorecem a proliferação de Essa experiência de extensão ocorreu no ano de
vetores de doenças e também a contaminação 2017 numa parceria entre professores da Escola
dos recursos hídricos (Jesus e Camapum de de Engenharia Civil e Ambiental e do Instituto
Carvalho, 2017). Além disso, o assoreamento de Estudos Socioambientais, ambos
das drenagens por meio das partículas de solo pertencentes a Universidade Federal de Goiás –
removidas pela erosão gera uma série de Regional Goiânia
impactos socioambientais, dentre eles o A execução da ação foi composta por três
favorecimento de inundações. etapas. A primeira consistiu na seleção de
De acordo com Conciani (2008), o multiplicadores do conhecimento (25 alunos).
aceleramento de processos erosivos pode Essa seleção foi feita entre discentes dos cursos
ocorrer pelas ações humanas, que acentua o de Ciências Ambientais, Engenharia Ambiental
desequilíbrio natural entre a formação e o e Sanitária, Engenharia Civil e Geografia,
desgaste de solos. Dessa forma, considerando o incluindo e envolvendo os membros da Liga de
homem um agente importante no Geotecnia (EECA) e da Empresa Júnior GAIA
desenvolvimento das erosões, o conhecimento (IESA).
das causas e consequências dos processos Na segunda etapa, esse grupo de educandos
erosivos pela comunidade, bem como das suas passou por um curso de formação sobre os
técnicas de prevenção e controle, é um assuntos relacionados à erosão. O curso foi
instrumento importante como forma de mitigar composto por dois eixos temáticos principais:
e prevenir erosões. erosão dos solos e abordagem educacional,
No entanto, soluções técnicas isoladas não correspondendo a uma carga horária total de 70
são geralmente suficientes para a mitigação dos horas. No eixo temático Erosão dos Solos foram
processos erosivos, visto que a interação entre abordados os seguintes temas: Solos Tropicais,
as comunidades e os locais onde ocorrem as Processos Erosivos, Ensaios para Análise de
erosões é outra variável do processo de Erodibilidade de Solos, Controle de Erosões e
degradação ambiental antrópica. A Erosão à Luz da Legislação Ambiental. No
Assim, para que se remedie o problema de eixo temático Abordagem Educacional foram
uma forma mais ampla e eficaz, a educação trabalhados os seguintes temas: Processos de
ambiental da comunidade constitui parte Ensino e Aprendizagem, Didática e Elaboração
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de Material Didático. Na Figura 1 constam abrangeram exposições em eventos científicos


algumas imagens do curso. regionais tais como no lançamento do livro
Erosão em Borda de Reservatório e na IV
edição do Simpósio Prática de Engenharia
Geotécnica na Região Centro-Oeste (Geocentro,
2017), e no “Dia C da Ciência”. Também houve
participação na Semana das Profissões da UFG
e fornecimento de apoio didático com relação
ao conteúdo de solos no Colégio Aplicação da
UFG em aulas de geografia.

a) 3 RESULTADOS

Como resultado da ação de extensão, têm-se os


materiais didáticos desenvolvidos pelos
participantes do projeto de extensão e
multiplicação do conhecimento por meio das
intervenções realizadas por eles em diversos
espaços.

3.1. Produção de Materiais Didáticos


b)

No segundo semestre de 2017 os participantes


do projeto se dedicaram a desenvolver os
materiais didáticos que foram usados nos
eventos para disseminar o conhecimento de
solo. Os participantes foram divididos em
c) grupos: física dos solos, erosões, perfil de solo,
Figura 1. Curso de formação: a) aulas teóricas; b) aula de jogos e tinta de solo.
laboratório; c) oficina de construção de material didático.
Em relação à física dos solos foram
desenvolvidos os seguintes materiais didáticos:
Uma equipe multidisciplinar de professores, a) densidade: garrafas pet com o mesmo
composta por biólogas, engenheiro civis e volume foram preenchidas com diversos tipos
geógrafas, foi responsável por ministrar o curso, de solo (orgânico, argila, areia e pedregulho)
utilizando como principal metodologia o estudo para fornecer aos educandos o conceito de
dirigido e aulas práticas. Além disso, também densidade ao perceber a diferença de massa de
foram desenvolvidos nessa etapa, por parte dos cada uma das garrafas (Figura 2a).
educandos e com orientação dos professores, b) cores: solos com diferentes cores foram
materiais didáticos sobre solos e erosão. Os colocados dentro de tubos de acrílico para
participantes foram divididos em cinco grupos: explicar aos educandos que os solos têm
física dos solos, erosões, tinta de solo, perfil de diferentes cores, que essas cores ajudam a
solo e jogos. identificá-los e que são resultados da
Depois do curso de formação, esses composição químico-mineralógica dos mesmos
educandos foram considerados aptos a serem (Figura 2b).
multiplicadores desses conhecimentos junto às c) porosidade: esferas de isopor com
comunidades escolares no âmbito da 3ª etapa da diferentes dimensões foram pintadas e
ação de extensão. colocadas dentro de uma vasilha plástica
Foram realizadas várias intervenções que
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transparente, a fim de apresentar aos educandos vegetais (Figura 3). A água escoada pelo
o conceito dos vazios existentes no solo, e que sistema é coletada e a turbidez, bem como a
estes dependem das dimensões dos grãos do eventual presença de partículas visíveis,
solo e de sua distribuição granulométrica permitem verificar a eficiência da cobertura
(Figura 2c). dificultando a remoção.
d) faixa granulométrica: um determinado
tipo de solo foi passado por diversas peneiras,
equivalente ao peneiramento fino da NBR 7181
(ABNT, 2016). Uma porção do solo e as frações
retidas nas diversas peneiras foram coladas em
um painel para permitir aos alunos entenderem
que o solo é constituído de partículas de
diversos tamanhos, assim como perceber os
tamanhos equivalentes às faixas areia grossa,
areia média, areia fina, siltes e argilas (Figura
2d).
Figura 3. Experimento sobre erosões.

Para permitir ao público entender a


classificação pedológica dos solos, assim como
os diversos perfis que podem ser desenvolvidos
a partir da intensidade do intemperismo, foram
elaborados diferentes perfis de solo (Figura 4).
Os solos representados foram o Neossolo,
b) Cambissolo, Argilosso e Latossolo, fornecendo
a)
uma variabilidade em termo de grau de
evolução pedológica. Os diferentes horizontes
texturais também foram identificados em cada
tipo de perfil.

c) d)
Figura 2. Material didático sobre física dos solos: a)
densidade; b) coloração; c) porosidade; d) faixas
granulométricas.

Para fornecer aos educandos conceitos sobre


processos erosivos, perda de massa de solo e
importância da cobertura vegetal quando os
solos são submetidos à ação da água da chuva,
foram desenvolvidos experimentos sobre erosão Figura 4: Perfil do solo.
e infiltração. Este experimento baseando em
(Yoshioka e Lima, 2004; Jesus et al. 2016) No âmbito desse projeto, foram
consiste em, com a ajuda de um regador, lançar desenvolvidos os seguintes jogos:
água sobre as garrafas pets preenchidas com a) Palavras cruzadas: para esse jogo foram
solo, em diferentes situações: sem cobertura utilizados conceitos relacionados a processos
vegetal e com diferentes tipos de coberturas erosivos e à preservação ambiental com uma
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linguagem apropriada para educandos da 2ª As lacunas das Palavras Cruzadas a serem


etapa do Ensino Fundamental e educandos de preenchidas foram feitas na cor preta,
Ensino Médio. A versão final do jogo foi permitindo então a utilização de giz branco,
impressa em lona no tamanho de 60x90 cm, utilizado para escrita em lousa (Limiro et al.,
permitindo ser posicionado no chão ou 2018). O layout do jogo é apresentado na Figura
pendurado na parede, além de possibilitar a 5.
participação de um grupo maior de educandos.

Figura 5. Palavras Cruzadas (Limiro et al., 2018).


2018). O jogo da memória é apresentado na
b) Jogo da memória: para ampliar o leque Figura 6.
de habilidades estimuladas pelo jogo escolheu-
se elaborar um jogo da memória modificado, no
qual os pares não são formados por figuras
idênticas, mas por uma figura e sua definição.
Dessa forma, o jogador completará um par ao
selecionar a figura e a definição do que é
ilustrado. Espera-se com isso ligar a memória
visual a um conceito, tornando possível que os
participantes consigam identificar, através de
sua definição, o objeto ou fenômeno ilustrado e
vice-versa. Definiu-se para o jogo da memória
Figura 6. Jogo da memória.
um conjunto de oito pares de cartas, em
tamanho 6x8 cm, impressas em papel A4 c) Jogo de tabuleiro: de acordo com
gramatura 75 g/m2, recortadas e plastificadas Gonçalves et al. (2018), a opção pelo modelo de
para aumentar sua durabilidade (Oliveira et al, jogo de tabuleiro foi a sua popularidade, o que
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auxilia no despertar de interesse por parte dos poderia propiciar avanços ou regressões de
jogadores. Para inserir os objetivos casas. Além disso, algumas dessas casas teriam
educacionais nessa modalidade de jogo, em também perguntas objetivas relacionadas aos
algumas dessas casas foram colocadas temas já citados, de modo que o acerto do
mensagens de alerta quanto a posturas de cunho jogador o faz avançar e o erro o mantém em sua
ambiental fictícias, tanto positivas quanto casa. O jogo foi denominado “Erosópolis” e é
negativas dos jogadores, de forma que isso apresentado na Figura 7.

Figura 7. Jogo de tabuleiro Erosópolis (Gonçalves et al., 2018)

médio. Para o desenvolvimento desse material


Por fim, foram desenvolvidas tintas de solo são utilizados solos de diversas cores, água
com o intuito de trabalhar o lado lúdico e potável e cola branca escolar. Nessa atividade é
artístico dos educandos de ensino fundamental e recomendável o uso de luvas de modo a
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proteger as mãos contra eventuais


contaminações do solo ou processos alérgicos
de alunos envolvidos na atividade.
Na Figura 8 é apresentado um painel de
diversas pinturas executadas utilizando tintas
pigmentadas com solos coloridos produzidas
pelos participantes do projeto de extensão.
.

a)

b)
Figura 9. Espaço das profissões: a) Curso de Ciências
Figura 8. Pinturas executadas com tintas de solo. Ambientais; b). Cursos de Engenharia Civil e Engenharia
Ambiental e Sanitária
3.2. Multiplicação do conhecimento
O segundo evento foi o Dia C da Ciência
Como treinamento para a ida às escolas (Figura 10), evento nacional e localmente
municipais de ensino fundamental e ensino conduzido pelo Programa de Pós-Grauação em
médio, os participantes estiveram em vários Geotecnia, Estruturas e Construção (PPG –
eventos relacionados à ciência e ao solo, onde GECON), que ocorreu no dia 25 de outubro de
houve exposição de materiais didáticos e 2017. O evento inseriu-se nas atividades
distribuição de cartilhas desenvolvidas em incentivadas pela Pró-Reitoria de Pesquisa e
outros projetos, tais como Lelis e Camapum de Inovação (PRPI) com o objetivo de popularizar
Carvalho (2011) e Camapum de Carvalho e a ciência. A primeira visita foi no Colégio Santo
Diniz (2014). Agostinho (da rede particular), onde se visitou 8
O primeiro evento foi o Espaço das turmas do 7º ao 9º ano. As turmas tinham em
Profissões (Figura 9), promovido pela Pró- torno de 30 alunos. No intervalo, houve a
Reitoria de Graduação e pelo Centro de Seleção exposição dos materiais didáticos e distribuição
da Universidade Federal de Goiás, nos dias 19 e de cartilhas, o que permitiu a interação dos
20 de junho de 2017. O objetivo desse evento educandos de ensino fundamental com o Dia C
foi apresentar aos alunos de ensino médio os da Ciência. No período vespertino, houve
diversos cursos de graduação oferecidos pela visitas na Escola Estadual Dom Abel onde no 9º
UFG. Os participantes do projeto participaram ano foram distribuídas cartilhas e falou-se sobre
da exposição dos cursos de Ciências as pesquisas desenvolvidas sobre erosões e sua
Ambientais, Engenharia Ambiental e Sanitária e importância para a sociedade.
Engenharia Civil.
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a)
a)

b)
b)
Figura 11. Lançamento do livro Erosão em Borda de
Reservatório a) auditório; b) exposição.

O quarto evento foi a participação no dia 11


de novembro de 2017, no IV Simpósio de
Prática de Engenharia Geotécnica na região
Centro – Oeste (GEOCENTRO, 2017),
realizado pelo Núcleo Regional Centro-Oeste
c) da Associação Brasileira de Mecânica dos Solos
e Engenharia Geotécnica (NRCO-ABMS). O
Figura 10. Dia C da Ciência: a); sala de aula – Colégio
Santo Agostinho; b); exposição no pátio; c) sala de aula – evento ocorreu no Hotel Mercure e na Figura 12
Colégio Dom Abel. constam algumas imagens da exposição.
Nesses eventos os participantes perceberam a
O terceiro evento (Figura 11) foi a cerimônia importância de ações como essa para
de encerramento do Projeto de Pesquisa e popularizar o conhecimento e receberam críticas
Desenvolvimento “Monitoramento e Estudo de e elogios que irão nortear os próximos passos
Técnicas Alternativas na Estabilização de dos projetos de extensão do grupo de trabalho.
Processos Erosivos em Reservatórios de Destaca-se o apoio didático oferecido ao
UHE’s", que ocorreu no dia 07 de novembro de CEPAE, onde os educandos foram
2017 no Auditório da Gerência de Serviços e acompanhados à trincheira feita em solo no
Suporte Tecnológico da empresa Eletrobras IESA para fins educativos nas disciplinas de
Furnas. Nessa ocasião foram lançados a Cartilha solos (Figura 13 a). Em outra ocasião um grupo
Meio Ambiente: Erosão em Borda de de educandos multiplicadores foi até a sala de
Reservatório (Ribeiro et al., 2016), Cartilha aula do CEPAE levando experimentos de
Erosão em Borda de Reservatório (Camapum infiltração e erosão dos solos (Figura 13 b).
de Carvalho et al., 2016) e o Livro Erosão em
Borda de Reservatório (Sales et al., 2017). A
exposição ocorreu no intervalo no período da
tarde.
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4 CONCLUSÕES

A construção dos materiais didáticos pelos


participantes do projeto permitiu uma
consolidação do conhecimento adquirido no
curso de formação e um amadurecimento em
relação à didática, além do estímulo à
capacidade criativa.
As intervenções realizadas proporcionaram
a) condições para construção do conhecimento
muito além das abordagens generalizadas dos
livros didáticos, que desconsideram as
especificidades locais e mesmo certas
particularidades técnicas de fácil transferência
do conhecimento.
A interação entre os participantes do projeto
de extensão, educandos de ensino fundamental
e ensino médio e diversos profissionais de suas
áreas de formação foi enriquecedora e permitiu
b)
Figura 12. Geocentro 2017: a) equipe; b) exposição. a troca de conhecimentos e experiências entre as
diversas partes, chamando a atenção dos alunos
de graduação para a importância deles como
agente de transformação social.
O projeto de extensão continua sendo
desenvolvido e avaliou-se a necessidade de
incorporar profissionais de outras áreas do
conhecimento que trabalham com o solo, tais
como Agrônomos e Engenheiros Florestais.

AGRADECIMENTOS

a) Os autores agradecem à PROEC-UGF pela


bolsa de extensão oferecida à terceira autora.

REFERÊNCIAS

ABNT ‒ Associação Brasileira de Normas Técnicas


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Rio de Janeiro, 12 p.
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Camapum de Carvalho, J.; Lelis, A. C.; Sales, M.
M.; Mascarenha, M. M. A.; Angelim, R.R.; Luz, M. P.
b) (2016). Cartilha Erosão em Borda de Reservatório.
Figura 13. Apoio didático no CEPAE: a) visita à Goiânia: Gráfica UFG, 2016 (disponível em
trincheira; b) exposição em sala de aula. https://gecon.eec.ufg.br/p/18785-publicacoes).
Conciani, W. (2008). Processos Erosivos. Conceitos e
Ações de Controle. CEFET-MT, Cuiabá. 148p.
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Gonçalves, L.M.; Limiro, G.C.P.; Oliveira. B.M.; Jesus,


A.S.; Mascarenha, M.M.A. (2018). Jogo de Tabuleiro:
Uma Alternativa de Ferramenta na Educação em
Solos. In Educação em solos no meio rural, entre as
escolas e a extensão. IX Simpósio Brasileiro de
Educação em Solos, Dois Vizinhos, Paraná. (resumo
expandido aceito para publicação).
Jesus, A. S.; Cruz Júnior, A. J.; Rodrigues, W. J. (2016).
A erosão que leva o nosso chão: experiência de
educação em solos por meio de ação de extensão. VIII
Simpósio brasileiro de educação em solos, SBCS, São
Paulo, v.1, p.216-222.
Jesus, A. S. e Camapum de Carvalho, J. (2017).
Processos erosivos em área urbana e as implicações
na qualidade de vida. Boletim Goiano de Geografia.
Goiânia, v. 37, n. 1, p. 1-17.
Lelis, A.C. e Camapum de Carvalho, J. (2011). Cartilha
Meio Ambiente: Infiltração. 1. ed. Brasília: Faculdade
de Tecnologia. v. 1. 47p.
Limiro, G.C.P.; Oliveira. B.M.; Gonçalves, L.M.; Jesus,
A.S.; Mascarenha, M.M.A. (2018). Palavras
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Solos. In Educação em solos no meio rural, entre as
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Oliveira. B.M.; Gonçalves, L.M. Limiro, G.C.P.; Jesus,
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R.R.; Luz, M. P. (2016) . Cartilha Meio Ambiente:
Erosão em Borda de Reservatório. Goiânia: Gráfica
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https://gecon.eec.ufg.br/p/18785-publicacoes).
Sales, M. M.; Camampum de Carvalho, J.; Mascarenha,
M. M. A.; Luz, M. P.; Souza., N. M.; Angelim, R. R.
(2017) Erosão em Borda de Reservatório. 1. ed.
Goiânia: Gráfica UFG, v. 1. 584p. (disponível em
https://gecon.eec.ufg.br/p/18785-publicacoes).
Yoshioka, M. H. e Lima, M. R. (2004). Experimentoteca
de solos: infiltração e retenção da água no solo.
Arquivos da APADEC, Maringá, v. 8, n. 1, p. 63-66.
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Utilização de História em Quadrinhos como Estratégia Didática


no Ensino Superior
Erika Santos Brito
UFVJM, Teófilo Otoni, Brasil, erika.s.brito@hotmail.com

André Alves Teixeira


UFVJM, Teófilo Otoni, Brasil, andretx8@gmail.com

Luiz Felipe Moreira Rocha


UFVJM, Teófilo Otoni, Brasil, luizpontof@hotmail.com

Judson Souza Silva


UFVJM, Teófilo Otoni, Brasil, judsonsouza@outlook.com

Cristian Campos Nunes


UFVJM, Teófilo Otoni, Brasil, cristiancampos@outlook.com

Marcus Vinícius Nunes dos Santos


UFVJM, Teófilo Otoni, Brasil, marcusviniciusnds@hotmail.com

Matheus Franco Pereira de Almeida


UFVJM, Teófilo Otoni, Brasil, matheusfranco9@gmail.com

Thiago da Fonseca Martins


Unigranrio, Duque de Caxias, Brasil, tmartins.mg@gmail.com

Alcino de Oliveira Costa Neto


UFVJM, Teófilo Otoni, Brasil, alcino.neto@ufvjm.edu.br

RESUMO: O presente trabalho foi realizado como atividade complementar da disciplina Mecânica
dos Solos, sendo seu objetivo apresentar um relatório de uma atividade prática através de um
produto que permite a compreensão de pessoas com pouco ou nenhum conhecimento do assunto. A
plataforma indicada para apresentação dos resultados foi uma história em quadrinhos (HQ)
utilizando o idioma mais praticado no mundo, o inglês, com a apresentação de um relatório de
Adensamento de Solos Moles. Quanto à criação da HQ, a ideia foi desenvolver os personagens em
situação corriqueira da construção civil, de forma que cada personagem desempenha um papel
importante na construção da história e também na compreensão dos conceitos envolvidos. A
ferramenta gráfica utilizada para criação dos personagens foi um software de edição de imagens, e
os diálogos desenvolvidos pelos autores, resultando em uma história engraçada, introdução de
termos técnicos em inglês, além de conhecimentos com relação ao adensamento de argilas moles.

PALAVRAS-CHAVE: História em Quadrinhos em Inglês, Adensamento, Ensino-Aprendizagem.


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1 INTRODUÇÃO foram propostas na disciplina de Mecânica dos


Solos, do Instituto de Ciência, Engenharia e
Ao longo do tempo criou-se a ideia de que um Tecnologia – ICET, da Universidade Federal
bom professor de ensino superior deveria ter dos Vales Jequitinhonha e Mucuri e tais
amplo conhecimento sobre o assunto que se questões são referentes ao adensamento de
desejasse lecionar, além de dispor de argilas moles.
comunicação fluente. Atualmente sabe-se que O solo em questão trata-se de uma argila
apenas o conhecimento e a comunicação fluente arenosa, mole, de cor cinza com amarelo
não são suficientes para um professor, sendo (camada de oito metros), sobre uma camada de
necessárias habilidades pedagógicas para tornar um metro de areia fina, média, compacta, de cor
a aprendizagem mais eficaz. cinza. Estes solos são de origem fluvial, sendo
Segundo os Parâmetros Curriculares os sedimentos carregados e depositados pela
Nacionais, o ensino de qualidade que a água e têm origem em regiões inundáveis ou
sociedade demanda atualmente se expressa próximas dos rios. Outra característica a ser
como a possibilidade do sistema educacional destacada nesse solo, é a cor cinza que indica a
promover práticas educativas adequadas às lixiviação do ferro, sendo a cor amarela
necessidades sociais, políticas, econômicas e relacionada também ao ferro, porém refere-se à
culturais da realidade brasileira, considerando oxidação do mesmo.
os interesses e as motivações dos estudantes e Inicialmente, objetivou-se construir
garantindo aprendizagens essenciais para a sobre esse solo um conjunto habitacional com
formação de cidadãos autônomos, críticos e dois pavimentos às margens de um rio. Em
participativos, capazes de atuar com função do nível da água e da necessidade de
competência, dignidade e responsabilidade na declividade para as instalações de esgoto tem-se
sociedade em que vivem (Brasil, 1998). a necessidade da realização de um aterro. O
O uso de histórias em quadrinhos (HQ) como peso do aterro somado ao peso da construção irá
ferramenta didática vem sendo utilizado ao gerar um recalque na camada de argila desse
longo dos anos, especialmente como método de solo. No entanto se deseja que esse recalque
alfabetização (Azevedo, 2015). Leiros, 2017 ocorra em 105 dias antes da construção dos
aponta que as HQ’s criam um ambiente mesmos e a solução adotada para acelerar o
favorável ao aprendizado vencendo as recalque foi a construção de um aterro de
dificuldades e diferenças dos alunos, pois sobrecarga.
apresenta o conteúdo de forma atraente e Foram fornecidos dados como cotas do
amistosa. terreno, peso específico natural e peso
A proposta desse artigo é mostrar que é específico saturado do material disponível para
possível o uso de história em quadrinhos no construção do aterro, bem como os dados de
ensino superior apresentando o assunto de ensaio de solos de regiões semelhantes que
Adensamento dos Solos para a disciplina de indicam camada de argila mole.
Mecânica dos Solos, utilizando essa estratégia Pede-se então a altura do aterro de
didática. sobrecarga para que o recalque relativo à ação
do aterro, edificação e 15 centímetros relativos
2 METODOLOGIA a recalque por adensamento secundário ocorra
em 105 dias. Posteriormente, pede-se o mesmo
2.1 Dados Iniciais cálculo, mas considerando uma camada de areia
drenante sobre o solo. E por fim um gráfico
As questões a serem resolvidas no trabalho com a curva de recalque do aterro, relacionando
prático e posteriormente aplicadas na HQ, altura do aterro, tempo e recalque.
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105 dias. Foi considerada altura drenante igual à


altura total da camada de argila mole (8,0 m),
2.2 Resolução pois só havia drenagem em uma direção, os
parâmetros necessários para esse cálculo foram
encontrados com base nas informações dadas no
A) Cálculo da altura do solo de sobrecarga: problema e o coeficiente de adensamento. A
altura calculada para o aterro de sobrecarga, nas
Dados do problema: condições descritas anteriormente, foi de 29
metros, sendo considerando um aterro inviável.

B) Altura do aterro para drenagem nas duas


direções (duas faces drenantes)

Para uma altura drenante igual à metade da


altura da camada de argila, devido a uma
camada de areia drenante colocada sobre o solo,
encontrou-se um valor de 6,62 metros para o
aterro de sobrecarga, sendo este de execução
viável quando comparado ao aterro com
drenagem em apenas uma direção (uma face
Figura 1. Perfil do solo. drenante).

C) Curva de recalque
Com esses dados foram calculadas as
tensões vertical inicial e final, e com o valor e
Optou-se por construir uma camada
OCR = 1,5 foi possível calcular a tensão de pré-
drenante entre o aterro de sobrecarga e o nível
adensamento. Sabendo-se que a tensão vertical
do terreno natural. Esses tipos de aterros
final é maior que a tensão de pré-adensamento
argilosos são muito impermeáveis, dificultando
foi possível calcular o recalque por
o escoamento da água.
adensamento primário, chegando a um valor de
Desta forma foi plotado o gráfico, temos
recalque de 85 centímetros. Para saber o
que o aterro inicial de altura 2,95m não será
recalque total foram adicionados 15 centímetros
suficiente para cumprir as determinações do
relativos ao adensamento secundário,
problema e que será necessária a construção de
totalizando 100 cm de recalque.
um aterro de sobrecarga que terá uma altura de
Com este recalque de 100 cm a
6,62 metros. Esse novo aterro acarretará um
edificação não estará na cota desejada. A altura
recalque de 1,29 metros em 105 dias, que é o
do aterro deve ser de tal forma que se descontar
tempo planejado para a obra. A sobrecarga
os recalques as edificações devem permanecer
então poderá ser removida e os recalques irão
na cota de 452 metros. Então, adotando uma
cessar. Para a altura remanescente, todo o
altura de 2,95 metros as edificações
recalque já terá ocorrido.
permaneceram na cota desejada após o recalque.
Modificando a altura do aterro todas as
tensões foram novamente calculadas, e o
recalque total chegou ao valor de 144 cm
satisfazendo a condição da cota de 452 metros.
A partir desse recalque total foi
calculado o recalque devido o aterro de
sobrecarga, para que tal recalque ocorresse em
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Figura 2 - Curva altura aterro

Figura 3. Curva do recalque.


É importante frisar que foi plotado o
recalque por adensamento primário. Figura 4. Imagen do diálogo entre os personagens.

3 RESULTADOS

O produto proposto e desenvolvido neste


trabalho foi uma história em quadrinhos em
inglês, onde através delas foram apresentados os
resultados obtidos na questão prática, além de
alguns conceitos relacionados a adensamento
dos solos. As figuras a seguir são recortes da
história em quadrinhos.

Figura 5. Imagem do diálogo a respeito dos tipos de


adensamentos.
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Figura 6. Imagen do diálogo informando a importancia do


processo de sondagem. Figura 7. Imagem do jogo de palavras cruzadas.

Como forma de complementar a revista


em quadrinhos, foram inseridos elementos de
jogos educativos como caça-palavras e palavras
cruzadas, que envolve o conhecimento de
mecânica dos solos como mostradas nas figuras
a seguir:

Figura 8. Imagem do jogo de caça palavras.


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3.1 Enredo 3.3 Composição de custos

A história se inicia quando um A tabela 2 apresenta a composição de


empresário decide construir um condomínio as custos para a produção da história em
margens de um rio. Para realizar este trabalho quadrinhos e impressão de uma unidade da
uma empresa de engenharia é contratada e inicia mesma.
a sua empreitada explicando ao cliente a
necessidade de se efetuar a sondagem no solo. Tabela 2. Composição de custos.
Com a realização da sondagem e os
resultados em mãos, o engenheiro responsável
tem a missão de escolher a melhor solução para
o caso, pensando sempre no recalque por
adensamento do solo, que apresenta uma
camada de argila mole significativa.
Nos diálogos são introduzidos
interpretação dos resultados da análise do solo 4 CONCLUSÕES
através da sondagem, bem como termos
técnicos da área, através de explicações do Diante disso, foi observado que o uso de
engenheiro responsável ao cliente e ao mestre história em quadrinhos na estratégia didática no
de obras. ensino superior na apresentação de uma
resolução sobre Adensamento de Solos Moles
3.2 Termos técnicos para a matéria de Mecânica dos Solos é uma
excelente ferramenta na construção do
O fato da revista em quadrinhos ser conhecimento, tanto para os alunos do ensino
escrita em inglês possibilita a introdução de superior, os quais irão se familiarizar com a
termos técnicos na área de solos e de engenharia aplicação dos conhecimentos teóricos obtidos
no vocabulário de quem lê, sendo de duplo em sala de aula, quanto para os leigos que terão
aprendizado para o leitor que estuda engenharia acesso a este conhecimento de uma forma
e/ou inglês. A tabela a seguir apresenta o didática e mais atrativa.
glossário que consta no final da história, como Outro ponto positivo que deve ser
uma forma de auxiliar a leitura. explicitado é o uso de outro idioma, que amplia
a visão dos leitores e incentiva busca de maior
entendimento desse idioma, inglês,
Tabela 1 - Glossário da História em Quadrinhos
principalmente no que diz respeito a temas
Glossário acadêmicos e profissionais.
Backfill Aterro Espera-se boa aceitação dos alunos com
Compaction Compactação relação ao material, tanto pela temática, quanto
Consolidation Adensamento pelo idioma e teor cômico apresentados na
Construction work Obra história. A aceitação dos mesmos é a prova de
Density Densidade que a utilização de revistas em quadrinhos
Fines Finos como estratégia didática, que funciona há
Liquid Limit Limite de Liquidez tempos na alfabetização de crianças e adultos,
Permeability Permeabilidade funciona também no ensino superior.
Plastic Limit Limite de plasticidade
Soil Solo
Soil survey Sondagem
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AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao PROAPP da


Universidade Federal dos Vales do
Jequitinhonha e Mucuri pelo apoio financeiro.

REFERENCIAS

AZEVEDO, F. D.: Recalques do Depósito de Solos


Moles de Camboinhas, RJ. Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro – PUC RJ. Rio de Janeiro,
2015. Disponível em: http://www.civ.puc-rio.br/wp-
content/view/down_pdf.
php?pdf=../pdf/2015_Fernando_Duarte_Azevedo.pdf,
Acesso em 22 fev. 2018.
LEIROS, L. H M.: Estimativa de Recalques em Aterros
sobre Solos Moles. Universidade Federal do Rio
Grande do Norte - UFRN, Natal – RN, 2017.
Disponível em:
https://monografias.ufrn.br/jspui/bitstream/123456789
/5301/3/estimativa-recalques-aterros-Leiros-
Monografia.pdf. Acesso em 22 de fev. 2018.
BRASIL. Ministério da Educação e Ministério da
Cultura. PNLL: plano nacional do livro e leitura.
2008. Acesso em 22 de fev. 2018.
 

TEMA:  
GEOSSINTÉTICOS 
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A Influência dos Reforços por Geogrelha sobre a Vida de Serviço


de Lastros Ferroviários de Alto Tráfego e Carga Elevada.
Luiz Gustavo Paulo Oran
ITA - Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos, Brasil, oran@oran.eng.br

Delma de Mattos Vidal


ITA - Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos, Brasil, delma@ita.br

RESUMO: A necessidade de construir e manter vias férreas que possibilitem a passagem de trens de
minério com elevadas cargas por eixo e velocidade de tráfego exige explorar jazidas produtoras de
lastro de excelente qualidade, capazes de fornecer volumes crescentes de material. O trabalho
apresenta resultados de ensaios com material de lastro que não atende as especificações, reforçado
com geogrelha, a fim de avaliar a possibilidade de utilização deste tipo de material. A passagem de
trens de carga elevada e velocidade de 70km/h foi simulada por um atuador hidráulico. Foram
avaliados corpos de prova reforçados com geogrelhas tecidas aplicadas em duas cotas distintas. A
utilização de geogrelha com adequada abertura de malha implicou em aumento significativo do
tempo de vida de serviço do lastro e consequente redução do consumo de matéria-prima.

PALAVRAS-CHAVE: Lastro, Geogrelha, Confinamento, Atuador Hidráulico, Vida de Serviço,


Carga Cíclica.

1 INTRODUÇÃO permanentes assentados em teorias clássicas de


elasticidade.
Entre os aspectos mais estudados atualmente A movimentação constante das partículas
acerca do desempenho de ferrovias, o lastro entre si aumenta o desgaste por abrasão e assim
ocupa papel central. O particulado, comumente a geração de finos cresce em paralelo à quebra
chamado de brita 3, é o mais usualmente de partículas. Conforme esse percentual
utilizado nessa aplicação. Dentre as nove aumenta, a resistência ao cisalhamento da
recomendações das características físicas e estrutura do lastro é reduzida e os recalques
mecânicas citadas pela DNIT-ISF-212:2015, a laterais e longitudinais ao longo da via têm sua
abrasão Los Angeles Máxima para essa incidência acelerada. A quebra das partículas
aplicação não deve ultrapassar 30% e a altera a granulometria do lastro e o módulo
proporção máxima de partículas não cúbicas resiliente é afetado. Esse fato acelera o desgaste
deve ser de 15%. do material rodante e da própria ferrovia.
Tais propriedades são encontradas em britas A opção de utilização de materiais menos
de lastro de alta qualidade, mais caras e de nobres de lastro para aplicação na
difícil obtenção em decorrência do esgotamento superestrutura de ferrovias reduz ainda mais o
das jazidas desse padrão de material. As cargas tempo de vida de serviço. Outro fator
cíclicas decorrentes do tipo de carregamento importante é a magnitude da relação carga/eixo
aplicado pelas composições ferroviárias causam no trem. Quanto maior essa razão no
efeitos distintos das formulações de cargas carregamento cíclico, maior a degradação do
estáticas utilizadas nos modelos matemáticos e particulado. A alternância entre tensão máxima
analíticos em estudos e projetos de vias aplicada sob o eixo do trem e a tensão residual
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resultante após a passagem do eixo tem maior têm relação com os grandes volumes de solo
interveniência sobre a degradação do lastro escavado. Resultam em desmatamento,
decorrente da máxima tensão aplicada que da destruição de espécies vegetais e animais das
amplitude entre ambas as tensões. Em outras matas, erosão superficial e possíveis erosões
palavras, o efeito causado pela tensão máxima é profundas ocasionadas pela alteração de
mais significativo que o devido à diferença regimes hídricos.
entre tensão máxima e tensão residual. Investigações que resultem em aumento da
Associada a esses aspectos, a velocidade com vida de serviço de lastros ferroviários têm
que o composição passa na via impõe a reflexo direto nas perspectivas ambiental e
frequência do carregamento e seu efeito na econômica da logística ferroviária. Neste artigo
degradação é maior quanto maior for a apresentamos resultados obtidos por meio de
velocidade. simulações satisfatoriamente realísticas. Para
Para trens com vagões GDT, típicos da tanto, foi utilizado um atuador hidráulico do
Estrada de Ferro Carajás (EFC) da VALE, Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE/ASA-E)
mineradora e produtora de minério ferro, é da sub-divisão de Ensaios Estruturais do DCTA,
frequente considerar carregamento de 37,5 em São José dos Campos.
toneladas/eixo, a uma velocidade média de 70 O carregamento cíclico foi aplicado sobre
km/h. Essas características de aplicação de amostra de brita da Pedreira Jambeiro/
carga cíclica exigem manutenções com SERVENG, cujas características físicas e
intervalos mais reduzidos entre si. mecânicas não atendiam de forma plena e
A avaliação do estado de conservação das satisfatória à recomendação do DNIT-
linhas são realizados pela medida do abatimento ISF-212:2015. Os índices avaliados do material
vertical da via ou pelo grau de contaminação foram a resistência à abrasão Los Angeles,
por finos no lastro. No primeiro caso, massa específica aparente e o percetual máximo
Magalhães et al. (2009) afirmam que de partículas não cúbicas. Essa escolha foi
nivelamentos com levantes de 2,5 cm, por resultado da avaliação das propriedades mais
exemplo, correspondem a uma reposição de relevantes em um ensaio controlado feito em
3,5% do volume total do perfil do lastro para a laboratório, sem exposição a intempéries.
Estrada de Ferro Vitória-Minas da VALE. Em A massa específica aparente medida atendeu
relação à contaminação por finos, esses autores à recomendação. A residência ao desgaste e o
indicam que o teor de finos (endógenos e percentual máximo de partículas não cúbicas
exógenos) até 40% não comprometem a ficaram aquém do requerido no documento.
elasticidade e a drenagem, com formação de Os resultados obtidos nos ensaios realizados
laqueados que reduzem a vida de serviço da via. no atuador hidráulico foram feitos em duas
As consequências dessas intervenções, além situações específicas: i) sem reforço e ii) com
dos custos diretos envolvidos, são as paradas de reforço por geogrelha de poliéster tecida. O
fluxo necessárias para o serviço e o consumo reforço foi aplicado no interior do corpo de
elevado de brita utilizada para os levantes de prova do lastro e não na camada subjacente, já
nivelamentos e os desguarnecimentos. Esse que a base do corpo-de-prova estava apoiada
maior consumo de material, gerado pelas em uma chapa metálica sobre piso de concreto.
características dos vagões e das cargas O número de ciclos aplicados foi de
transportadas, impõe acréscimo na extração de 200.000, pois a partir de 20.000 ciclos, o padrão
matéria-prima e na produção de brita para de comportamento do lastro sob carregamento
lastro. cíclico ja está caracterizado, com o grau de
Os impactos ambientais que disso decorrem abatimento já bem estabelecido.
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As análises foram realizadas por meio de 2.2 Altura do Lastro


comparação direta entre o abatimento medido e
quantidade de finos gerados pelos corpos de Um parâmetro importante é a altura mínima do
prova. Dessa maneira, por esses indicadores, lastro, cuja dimensão afeta diretamente o
pode-se estimar os ganhos esperados no tempo espaçamento das cargas, o grau de vibração da
de vida de serviço do lastro após a aplicação de composição e o conforto dos passageiros.
reforço com a geogrelha utilizada e a redução Assim, a engenharia ferroviária buscou
no consumo de matéria-prima de lastro. classificá-lo por sua espessura. O DNIT-
ISF-212:2015 sugere a subdivisão feita em três
classes conforme as alturas mínimas abaixo,
2 SUPERESTRUTURA DA FERROVIA igualmente para aterros quanto para cortes em
materiais de primeira categoria, bem como em
2.1 Lastro Convencional cortes em rochas devidamente rebaixados:

Composta por elementos estruturais, a via a) Classe I (Grande Porte) - 40 cm;


permanente pode ser entendida como uma grade b) Classe II (Médio Porte) - 30 cm;
constituída pelos componentes longitudinais c) Classe III (Pequeno Porte) - 25 cm.
(trilhos), fixos aos dormentes (componentes
transversais) por meio de elementos de fixação O particulado deve possuir um grau de
de trilhos, apoiada em um meio elástico confinamento mínimo para que sua estrutura se
composto por lastro, sub-lastro, plataforma da mantenha adequada à sua finalidade. Assim,
via (ou outro meio elástico). Por isso pode ser para os ombros do lastro, as diretrizes são
tratada como uma viga contínua sobre apoio tomadas da AREMA (America Railway
elástico e aparelhos especiais de via (NABAIS E n g i n e e r i n g a n d M a i n t e n a n c e - o f - Wa y
2014). Association). Ela estabelece que a largura do
Segundo Magalhães et al. (2009), a ombro não deve ultrapassar 12”, isto é, 30,48
superestrutura ferroviária se caracteriza por um cm.
conjunto de quatro elementos heterogêneos Para a Instrução DNIT-ISF-212:2015, o
(trilhos, dormentes, fixação e lastro) - embora talude não deve ter inclinação menor que 1:1,5
alguns autores incluam o sub-lastro como (altura-base) e devem ser observadas as
quinto componente da superestrutura - cuja dimensões mínimas de ombro de lastro:
interação ocorre para suprir de forma adequada
as condições de suporte, pista de rolamento e a) Classe I - 30 cm;
guia para o material rodante que sobre ela b) Classe II - 20 cm;
trafega. c) Classe III - 15 cm.
Por essa razão, o chamado sub-lastro é
considerado integrante da camada superior da No caso de trilhos TLSs (trilhos longos
infraestrutura por protagonizar importante papel soldados), o ombro do lastro deve ter no
no desempenho da ferrovia. Entretanto, não faz mínimo 30 cm independentemente da classe.
parte da abordagem deste trabalho, cujo ponto
focal está nas características do lastro com e 2.3 Lastro com Reforço Convencional
sem reforço por geogrelha, assentado em base
de características rígidas, para análise do lastro A aplicação de reforços com geossintéticos é
em si e dos fatores intervenientes em utilizada ha décadas na engenharia ferroviária.
configurações com reforços. O geotêxtil é utilizado na função reforço na
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camada subjacente, exatamente na interface foi dada por Lackenby et al. (2007) e Indraratna
lastro/sub-lastro e na função separador e filtro et al. (2005). Ao tratarem do comportamento de
para evitar bombeamento de finos. Como degradação do lastro sob cargas cíclicas
revestimento do perfil do lastro, o geotêxtil age apresentaram-no conforme três zonas:
na função filtro para evitar a contaminação e DUDZ (σ’3 < 30 kPa), ODZ (30 kPa < σ’3 <
colmatação por finos provenientes das cargas de 75 kPa), CSDZ (σ’3 > 75 kPa) e o conceito de
minério de ferro e carvão, a ponto de reduzir BBI (índice de quebra de lastro).
sua capacidade de drenagem e sua residência ao DUDZ (Dilatant unstable degradation zone):
cisalhamento. Amostras submetidas a σ’3 baixo, com aumento
Geogrelhas igualmente são utilizadas na da dilatação volumétrica devido à rápida e
função reforço. Aplicados na interface lastro/ significativa deformação radial e axial sofrem
sub-lastro, esses geossintéticos melhoram as considerável dilatação e ampla quebra no início
características de resistência ao cisalhamento do do carregamento associada à deformação axial e
sub-lastro ou mesmo da plataforma da via à taxa de dilatação máximas.
permanente e também aumentam o grau de ODZ (Optimun degradation zone): A faixa
imbricamento das partículas. σ’3 é diretamente influenciada pela magnitude
aplicada na máxima tensão desviatória (qmax,
2.4 Lastro com Reforço não Convencional cyc). Esses autores defendem que um menor
acréscimo em σ’3 causaria distribuição ótima de
2.4.1 Reforço em Ensaios de Cisalhamento tensão de contato interno, gerando reduzidas
Direto concentração de tensão e de tração com
consequente menor quebra de partículas. De
Para melhor desempenho no imbricamento, outro lado, acréscimos em σ’3 causariam menor
estudos de Brown et al. (2007) indicaram que a deformação axial.
relação entre a abertura das geogrelhas e o CSDZ (Compressive stable degradation
diâmetro nominal do lastro deve estar sob uma zone): Nesse caso, afirmam que a dilatação e o
razão entre 1,2 e 1,6. movimento das partículas é consideravelmente
Em ensaios de cisalhamento direto, Cook e supresso. O motivo seria a elevada tensão
Horvat (2014) e Horvat e Klompmaker (2014), confinante. Em síntese, a mobilidade reduzida e
verificaram existir uma zona de influência cujo a elevada tensão dos pontos de contato são as
desempenho seria diretamente influenciado pela diferenças mais significativas entre ODZ e
rigidez dos nós e a taxa de fluência dos CSDZ. Como consequência, o abatimento é
elementos constituintes das geogrelhas. Essa menor, porém há maior quebra de partículas na
zona segue por cerca de 2 dezenas de estrutura.
centímetros acima e abaixo do ponto de
aplicação do reforço.
3 REFORÇO DENTRO DO CORPO DO
2.4.2 Efeitos de Tensão Confinante em Lastro LASTRO
sob Carga Cíclica
A ideia de aplicação de reforço dentro do corpo
A interveniência da tensão confinante foi do lastro e submetido a carregamento cíclico em
melhor detalhada por outros pesquisadores. escala natural levou em consideração a hipótese
Uma significativa caracterização do grau de da existência de uma zona de influência em
confinamento como fator interveniente sobre o torno do ponto de aplicação e a influência da
índice de quebra do lastro em ensaios triaxiais tensão confinante sobre a degradação do lastro
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submetido também a cargas cíclicas. A abrasão pirâmide, com base inferiores e superiores
Los Angeles do Corpo de Prova do lastro quadrangulares (115 x 115 cm e 25 x 25 cm),
atingiu 35% e o percentual de partículas não respectivamente, conforme Figura 2. Maiores
cúbicas acima de 30%. detalhes sobre a montagem, procedimento e
As propriedades índice e funcionais da resultados destes ensaios estão indicados em
geogrelha como resistência ao puncionamento, Oran e Vidal (2018).
rigidez dos nós, rigidez dos elementos
singulares e abertura da malha influenciam
diretamente sua capacidade de confinamento do Sapata Metálica
particulado. Foi selecionada para reforço a Reforço R1 Reforço R2
geogrelha bidirecional - FORTRAC 8080 70T - 15 10
10 30
de poliéster tecida, cuja abertura de 70 mm em 10
ambas as direções atende à proporção entre 1,2 45 25 45 Geocomposto
e 1,6 para a razão abertura da malha/diâmetro
Figura 2. Corpos de prova reforçados no atuador
nominal do agregado para melhor resultado de hidráulico (dimensões em centímetros). Adaptado de
eficiência no confinamento, Como mostra a Oran e Vidal (2018).
Figura 1.

Figura 1. Geogrelha e Lastro Figura 3. Atuador Hidráulico

Para a avaliar o grau de influência do O número de ciclos aplicados nesse


reforço confinante sobre o lastro, as cotas de carregamento foi de 200.000. No corpo de
aplicação escolhida foram a 10 centímetros e a prova sem reforço, o abatimento chegou a 4,3
20 centímetros da base, para o corpo de prova cm. No reforço R1 foi de 1,7 cm e no reforço
de lastro com 30 centímetros de altura. Esses R2 foi de 2,6 cm, sob mesmas condições de
corpos de prova foram construídos de maneira a geometria e carregamento no ensaio. A estrutura
maximizar a influência do reforço. Suas de ensaio com atuador hidráulico está ilustrada
características geométricas são de tronco de na Figura 3. Nestas condições, a geração de
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finos foi diferente para cada situação descrita, consumidas em cada situação de reforço para
conforme ilustrado na Tabela 1. estas características de carregamento.

Tabela 1. Massa de Finos gerada com 200.000 ciclos. Tabela 3. Volume de brita total no perfil para reposição
com levante de nivelamento.
Solo Finos (g)
Reforço % Volume de Estimativa de
Sem Reforço 2.698 brita Levantes
Reforço 1 694 Sem Reforço 5,30 1,5
Reforço 2 1.228 Reforço 1 1,14 0,3

Reforço 2 3,35 1,0

O abatimento vertical foi significativamente


distinto conforme os reforços foram alterados
5 CONCLUSÕES
para as mesmas condições de carregamento
cíclico, por 200.000 ciclos, como mostrado na A utilização de reforço com geogrelha
Tabela 2. resultou em economia de 5 vezes quando posta
na cota 20 cm a partir da base e economia de
1,5 vezes quanto posta na cota a 10 centímetros
Tabela 2. Abatimentos Verticais dos Corpos de Prova
da base. Tal resultado implica que mesmo com
Reforço Abatimento (mm)
materiais de característica desfavoráveis para
Sem Reforço 43 aplicação em lastros ferroviários, a presença de
Reforço 1 17 reforços adequadamente interpostos e
dimensionados, pode proporcionar ganhos reais
Reforço 2 26
no tempo de vida de serviço dos lastros e por
conseguinte, menos paradas de intervenção e
menores volumes de extração de materiais para
4 LEVANTES DE NIVELAMENTO reposição nos levantes e desguarnecimentos.
Outras propriedades como rigidez dos nós,
Considerando composições formadas por 330 espessura e rigidez dos elementos da geogrelha
vagões do tipo GDT, carregados com 150 possuem interveniência sobre os resultados do
toneladas cada, 200.000 ciclos correspondem a desempenho do lastro e do geossintético. O
151 trens nessas características, cada trem módulo de Resiliência é influenciado
transportando 49.500 toneladas por viagem. diretamente por esses parâmetros.
Desse modo, 200.000 ciclos correspondem a Fatores de redução para essas propriedades
50.000 vagões de carga ou 7.500.000 toneladas estão sendo avaliados para quantidades de
de minério de ferro transportadas. Estima-se ciclos mais elevados. Todos esses estão sendo
que a Estrada de Ferro Carajás transporte investigados e tratados estatisticamente.
120.000.000 de toneladas de carga por ano.
Equivalente a 3.200.000 ciclos de carga por 892
km de extensão. AGRADECIMENTOS
Com as proporções assinaladas, conforme
Magalhães et al. (2009), cada 2,5 cm de Agradecemos ao IAE - Instituto de Aeronáutica
abatimento no perfil da via, corresponde a 3,5% e Espaço, sub-divisão de Ensaios Estruturais
de perda de volume total de material. A Tabela 3 ASA-E do DCTA em São José dos Campos.
compara os percentuais de volumes de brita
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REFERÊNCIAS

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Geomembranes, v. 25, n. 6, p. 326–335.
Cook, Jonathan. e Horvat, Ferenc. (2014) Assessment of
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stabilized layer, IGS, DGGT, Berlin.
DNIT-ISF-212. Projeto de Superestrutura da via
permanente - Lastro e Sublastro, DNIT, 2015. Horvat,
F. e Klompmaker, J. (2014) Investigation of
Confinement Effect by Using the Multi-Level Shear
Box Test.
Indraratna, B.; Lackenby, J.; Christie, D. (2005) Effect of
confining pressure on the degradation of ballast under
cyclic loading. Géotechnique, v. 55, n. 4, p. 325–328.
Lackenby, J., Indraratna, B. e McDowell, G. (2007) The
Role of Confining Pressure on Cyclic Triaxial
Behavior of Ballast. Géotechnique, Institution of Civil
Engineer, UK, v. 55, n. 4 p. 325-328.
Magalhães, P. C. B., Duval Filho, E., Silva, M. W P.
(2009) Via Permanente - Módulo VIII. São Luís:
VALER - Educação VALE.
Oran, L. G. P e Vidal, D. M. Interveniência de Reforço
em Lastro Ferroviário sob Carga de Alto Tráfego,
Revista Geotecnia, Lisboa, (Submissão).
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Adensamento de resíduo confinado no processo de desague em


Sistema de Confinamento de Resíduos (SCR): Um estudo
comparativo entre dados de campo e bibliografia
Matheus Müller
ITA, São José dos Campos, Brasil, mrlmuller@gmail.com

Delma Vidal
ITA, São José dos Campos, Brasil, delma@ita.br

Eduardo Guanaes
HUESKER, São José dos Campos, Brasil, eduardo@huesker.com.br

RESUMO: O presente artigo traz análise do funcionamento e do processo de desague de resíduos


com alto teor de líquidos, dispostos em dois Sistemas de Confinamento de Resíduos (SCR) idênticos,
sendo que um foi submetido a ciclo de preenchimento único e outro à dois ciclos de preenchimento.
O lodo utilizado é um resíduo da Estação de Tratamento de Água, ETA, do Centro Tecnológico de
Aeronáutica (São José dos Campos). Ensaios em campo, compreendendo medidas de tempo de
preenchimento dos SCR por ciclo, medidas das dimensões máximas de cada sistema, e
acompanhamento das dimensões durante o desague dos SCR foram coletadas. Estes ensaios e os
ensaios de laboratório, como a caracterização do lodo e a determinação do teor de sólidos em massa
dos diversos corpos de prova coletados dos ensaios de campo permitem avaliar o comportamento
destes sistemas. Mediante o estudo foi possível perceber que o processo de desague do resíduo no
interior de um SCR acontece de maneira mais rápida que o previsto pela literatura. Este processo de
desague acelerado pode ser propiciado pela pressão de bombeamento do lodo em seu preenchimento
e pelo confinamento do resíduo através da membrana de geotêxtil permeável (permitindo a passagem
da água), acelerando o processo de adensamento e desague.

PALAVRAS-CHAVE: Desague, SCR, Ciclos de preenchimento, Teor de sólidos, Geotêxtil.

1 INTRODUÇÃO de remediar esta situação, proporcionando a


elevação do teor de sólidos do lodo/sedimento,
Predominantemente todas as atividades humanas diminuindo o teor de umidade do resíduo final e
que envolvem o uso de água recebem tratamento facilitando sua manipulação, como um sólido ou
anterior a seu uso, através de uma estação de semi-sólido (GUIMARAES et al., 2014)
tratamento de água, e posterior a seu uso, em (METCALF & EDDY, 1991).
estação de tratamento de esgoto ou de efluentes Assim, soluções de desague, que colaborem
industriais. Todas estas atividades resultam num com a diminuição do teor de umidade do resíduo
grande volume de efluente com alto teor de final, são interessantes em diversas situações,
umidade. possibilitando o transporte de menor volume e
O transporte e disposição deste tipo de menores custos de disposição.
efluente é inviável, representando a necessidade O processo de redução do teor de líquidos
e o custo de transporte de grandes volumes, com ocorre naturalmente por drenagem (processo
potencial de aumentar ainda mais os problemas relativamente rápido) e evaporação (processo
ambientais. lento e contínuo) (BOULLOSA ALLARIZ et al.,
A técnica de desague pode ser um meio viável 2017) (PENMAN, 1948) (ROHWER, 1934). No
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entanto, o desague natural é geralmente costumizaveis e, asumindo forma tubular


demorado, isto se acentuando nos particulados mediante seu preenchimento (CASTRO, 2005)
finos e, portanto, um processo de desague (KOERNER, 2005) (PILARCZYK, 2000)
acelerado, como o obtido em Sistemas de (TOMINAGA, 2010) (VERTEMATTI, 2015).
Confinamento de Resíduos (SCR), representa Um SCR pode ser preenchido com grande
uma melhor solução. variedade de materiais, como areias, resíduos de
SCR é uma solução de desague mista, mineração, lodos e outros, possuindo grande
constituída por tubo confeccionado com leque de aplicações, desde desague de resíduos
geossintético e hidraulicamente preenchido com de estações de tratamento, até construção de
lodo ou similar (CASTRO, 2005) (KOERNER, estruturas de proteção costeira, como diques e
2005) (PILARCZYK, 2000) (TOMINAGA, molhes (PILARCZYK, 2000).
2010) (VERTEMATTI, 2015). Na etapa de O sucesso desta tecnologia foi proporcionado
preenchimento, correspondente ao desague pela capacidade de reter a parte sólida enquanto
mecânico, a pressão hidráulica faz com que a permite a saída da parte líquida, possuindo boa
parte líquida seja expulsa através do função filtrante (MOO-YOUNG, GAFFNEY e
geossintético (filtração forçada), enquanto a MO, 2002).
parte sólida é retida por este. Após o O processo de desague em um SCR é
preenchimento e o alívio da pressão, o lodo sofre descontinuo e misto, ocorrendo mecanicamente
desaguamento natural. Onde o processo de por filtração forçada mediante a pressão de
evaporação fica cada vez mais relevante a preenchimento e, após esta, por processo natural,
medida que zonas não saturadas começam a se desague por peso próprio, drenagem e
formar. evaporação.
Para o uso correto de um SCR, este deve ser
posicionado sobre um berço drenante, o berço é 2.2 Correlações
responsável pela coleta da água percolada dos
tubos ou bolsas, permitindo sua recirculação no Diversas correlações são propostas na literatura
sistema de tratamento ou seu retorno a corpo considerando as propriedades de fase do solo e
hídrico pertinente. suas relações (FREDLUND e RAHARDJO,
Neste artigo um estudo referente ao 1993) (HOLTZ et al.; 1991).
desaguamento em dois SCRs será abordado, Quanto ao teor de sólidos por peso:
sendo um deles preenchido com apenas um ciclo
de preenchimento e o outro, preenchido em dois 𝑡𝑠𝑝 = (𝑃𝑠 ÷ 𝑃) × 100 (1)
ciclos de preenchimento, espaçados de 5 dias, até
a altura de volume máximo em ambos os ciclos. Onde tsp é o teor de sólidos da amostra [%];Ps
As diferenças nos processos de desague serão é o peso dos sólidos na amostra [g]; e P é o peso
apresentadas e discutidas, e os resultados total da amostra úmida [g].
comparados com os resultados estimados a partir Quanto ao teor de umidade por peso:
da literatura.
𝑃−𝑃𝑠
𝑊= × 100 (2)
𝑃𝑠
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 SCR Onde W é o teor de humidade [%]; P é o peso


total da amostra húmida [g]; e Ps é o peso dos
Um sistema de confinamento de resíduo (SCR) é sólidos na amostra [g].
um tubo geotêxtil tecido ou não tecido, com Quanto a densidade do lodo:
propriedades estabelecidas em função das 100×𝜌 ×𝐺
características do efluente que se deseja 𝜌𝑙𝑜𝑑𝑜 = (100×𝐺 )−𝑡𝑠𝑝𝑤 ×(𝐺𝑠 −𝜌 (3)
𝑠 𝑖 𝑠 𝑤)
desaguar, possuindo comprimento e perímetro
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Onde ρlodo é a densidade do lodo [g/l]; ρw é a Leshchinsky et al. (1996) prevê o decrescimento
densidade da água doce [g/l]; Gs é a densidade em altura de um SCR como um movimento
seca dos sólidos [g/l]; e tspi é o teor de sólidos unidimensional, somente para baixo,
em peso inicial do lodo [%]. desprezando-se movimentos laterais. Deste
Quanto a densidade final do resíduo modo, a relação de abatimento em altura de um
desaguado: SCR pode ser expressa como:
100×𝜌 ×𝐺 𝑊𝑜 −𝑊
𝜌𝑟𝑑 = (100×𝐺 )−𝑡𝑠𝑝𝑤 ×(𝐺𝑠 −𝜌 (4) 𝛥ℎ = 𝐻 × 𝐺𝑠 × 1+𝑊 ×𝐺𝑓 (8)
𝑠 𝑓 𝑠 𝑤) 𝑜 𝑠

Onde ρrd é a densidade final do resíduo Onde Δh é o abatimento na altura inicial [m];
desaguado [g/l]; ρw é a densidade da água doce H é a altura inicial [m]; Gs é a densidade seca dos
[g/l]; Gs é a densidade seca dos sólidos [g/l]; e sólidos [g/l]; Wo é o teor inicial de umidade do
tspf é o teor de sólidos em peso final do resíduo resíduo [%]; e Wf é o teor final de umidade do
desaguado [%]. resíduo desaguado [%].
Quanto ao peso dos sólidos no resíduo
desaguado: 3 ENSAIOS

𝜌𝑟𝑑 ×𝑡𝑠𝑝𝑓 3.1 Ensaios de Campo


𝑃𝑟𝑑 = (5)
100

Os ensaios de campo foram realizados em dois


Onde, Prd é o peso de sólidos por volume de SCR, ambos confeccionados com geotêxtil
material [g/l]; ρrd é a densidade final do resíduo tecido com abertura de filtração característica
desaguado [g/l]; e tspf é o teor de sólidos em peso (NBR ISO 12.956, 2013) de 0,2mm, velocidade
final do resíduo desaguado [%].
de fluxo normal ao plano do geotêxtil (NBR ISO
Quanto ao volume de sólidos no resíduo 11.058, 2013) de 20.10-3m/s e resistência à
desaguado: tração nominal (NBR ISO 10.319, 2013)
𝑃𝑟𝑑 longitudinal e transversal de 105kN/m, que
𝑉𝑟𝑑 = (6) costuma ser utilizado para a função de desague
𝐺𝑠
em casos reais de aplicação.
Onde, Vrd é o volume de sólidos no resíduo Ambos os SCRs foram confeccionados com
desaguado [l/l]; Prd é o peso dos sólidos no 2,5m de comprimento e 2,5m de perímetro,
resíduo desaguado [g/l]; e Gs é a densidade seca possuindo um bocal de preenchimento de 0,3m
dos sólidos [g/l]. de altura e 0,3m de diâmetro centralizado na
E quanto ao volume de resíduo desaguado parte superior dos tubos.
produzido: Um berço drenante foi construído para
receber os SCRs, com sistema de revestimento
𝑉𝑖 ×𝜌𝑙𝑜𝑑𝑜 ×𝑡𝑠𝑝𝑖 de fundo constituído por geomembrana,
𝑉𝑓 = (7)
𝜌𝑟𝑑 ×𝑡𝑠𝑝𝑓 conduzindo o percolado a destinação final e,
georrede para a função de drenagem, garantindo
Onde, Vf é o volume de resíduo desaguado que os SCR não ficassem em contato direto com
produzido [m³]; ρlodo é a densidade do lodo [g/l]; a geomembrana, o que acarretaria no cegamento
tspi é o teor de sólidos em peso inicial do lodo destas superficies, prejudicando o desague.
[%];ρrd é a densidade final do resíduo desaguado Uma vez os SCR corretamente posicionados
[g/l]; e tspf é o teor de sólidos em peso final do sobre o berço, o preenchimento foi iniciado. Para
resíduo desaguado [%]. isso, uma bomba submersa foi utilizada, com
desnível máximo de trabalho de 6,5m, e vazões
2.3 Previsão de abatimento em um SCR máxima e mínima de respectivamente 1.970 l/h
e 550 l/h. Para o preenchimentos nos ensaios de
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campo, a vazão foi de 1.800 l/h (~30 l/min). Por fim, as amostras coletadas dos SCR foram
A bomba succionou o material do fundo de secas em estufa e seus teores de sólidos
um dos decantadores da ETA, diretamente para determinados para cada momento de coleta.
os SCR, sem polimerização, até que os SCR Ressalta-se que os SCR foram mantidos a céu
atingissem altura onde houvesse vazamento de aberto, sujeitos as intempéries e mudanças
efluente pelo bocal de preenchimento, momento climáticas.
que o bombeamento foi interrompido. No caso
do SCR com dois ciclos de preenchimento, este 4 RESULTADOS E DISCUSSÇÕES
processo se repetiu mais uma vez após 5 dias do
preenchimento inicial. 4.1 Ensaios de Campo
O volume para cada preenchimento foi
mensurado, considerando a vazão da bomba e o Os ensaios de campo foram realizados em dois
tempo de preenchimento em cada ciclo. SCR, preenchidos com lodo da ETA do CTA. Na
Dados de altura e largura dos SCR foram Figura 2 pode ser visto o SCR preenchido pela
coletados logo após o preenchimento e, primeira vez e, ao fundo, o SCR ainda a ser
periodicamente durante o processo de desague. preenchido.

3.2 Ensaios Laboratoriais

Os ensaios de laboratório compreenderam a


caracterização do lodo (quanto a fatores
pertinentes à análise pretendida) e determinação
do teor de sólidos das amostras de resíduo
coletadas durante o desaguando.
Para a caracterização do lodo, visando
informação para realizar demais correlações
pertinentes, o ensaio com picnômetro para Figura 2. SCR preenchido e a preencher.
determinação da densidade dos grãos foi
realizado. Além dele, coleta e secagem em estufa Os SCR foram preenchidos de tal forma que
de 3 amostras de lodo foram efetuadas, o primeiro recebeu dois ciclos de preenchimento
permitindo assim encontrar o teor de sólidos (SCR2), recebendo um total de 2,31 m³ de lodo
inicial do lodo da ETA do CTA. e, o segundo um ciclo de preenchimento (SCR1),
Para determinação do teor de sólidos no recebendo um total de 1,00 m³ de lodo.
tempo, em cada SCR foram coletadas 5 amostras Perante os preenchimentos e desague, dados
equidistantes para cada momento de medição. relativos à altura e a largura, pelo tempo, foram
As coletas seguindo o esquema apresentado na coletados. Estes dados podem ser observados nas
Figura 1. Este procedimento foi realizado em Tabelas 1 e 2.
quatro oportunidades no tempo, em faixas
distintas. Tabela 1. Dados geométricos pelo tempo (SCR1).
SCR1 t h L
(dias) (m) (m)
0,000 0,000 2,500
0,023 0,370 1,000
1,000 0,100 1,160
2,000 0,080 1,160
5,000 0,070 1,165
6,000 0,067 1,165
15,00 0,050 1,165

Figura 1. Exemplo de faixas e pontos de coleta de


amostras.
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Tabela 2. Dados geométricos pelo tempo (SCR2). Tabela 3. Teor de sólidos por peso no tempo (SCR1).
SCR2 t h L SCR1 t tsp
(dias) (m) (m) (dias) (%)
0,000 0,000 2,500 0 1,74
0,036 0,470 0,990 12 10,92
1,000 0,150 1,160 21 20,94
5,000 0,100 1,200 28 38,47
5,028 0,400 1,010
6,000 0,180 1,130 Tabela 4. Teor de sólidos por peso no tempo (SCR2).
7,000 0,140 1,150 SCR2 t tsp
8,000 0,125 1,150 (dias) (%)
11,00 0,110 1,155 0 1,74
12,00 0,108 1,155 12 16,34
21,00 0,091 1,165 21 23,73
28 26,45
Com os dados referentes a altura no tempo, é
possível elaborar um gráfico expressando os Através destes dados percebe-se facilmente
ciclos de preenchimento e o processo de que o teor de sólidos por peso na SCR preenchida
desaguamento. A Figura 3 apresenta os duas vezes é inicialmente maior do que o da SCR
resultados obtidos e ilustra como o desague pelo preenchida apenas uma vez, isto ocorre devido
geotêxtil foi eficiente, como evidencia a queda ao maior volume que foi inserido na SCR2,
na altura (saída de água). expulsando maior quantidade de água e retendo
o particulado sólido.
O gráfico ilustrativo do aumento do teor de
sólidos por peso no tempo para ambos os SCR
pode ser encontrado na Figura 4.

Figura 3. Gráfico Altura do SCR x Tempo.

4.2 Ensaios Laboratoriais


Figura 4. Gráfico Teor de sólidos por peso x Tempo.
Primeiramente o lodo foi caracterizado quanto
ao teor de sólidos por peso (no bombeamento) e Imagens relativas aos momentos de coleta de
quanto a densidade seca dos grãos. Para o teor de amostras do resíduo desaguando podem ser
sólidos por peso (tsplodo) o valor de 1,74 % foi encontradas nas Figuras 5 e 6, referentes as
encontrado e, para a densidade seca dos grãos coletas nos dias 12 e 28 respectivamente.
(Gs), o valor de 2,58 g/cm³.
Amostras de resíduo desaguando foram
retiradas de ambas as SCR no tempo, estas
amostras foram levadas ao laboratório e os seus
teores de sólidos foram avaliados. As Tabela 3 e
4 foram elaboradas, expressando os dados (a) (b)
Figura 5. Coleta de amostras de resíduo desaguando (dia
encontrados. 12). a) SCR2. b) SCR1.
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m³ para o SCR2, é possível estimar o volume de


resíduos desaguados por (7). Estes resultados
estão expressos na Tabela 7.

Tabela 7. Comparativo do volume desaguado gerado.


Tempo SCR1 SCR2
(dias) Vf(m³) Vf(m³)
0 1,00 2,31
12 0,15 0,22
(a) (b) 21 0,07 0,15
Figura 6. Coleta de amostras de resíduo desaguando (dia 28 0,04 0,13
28). a) SCR2. b) SCR1.
Por fim, comparativo quanto ao abatimento
Pelas imagens é possível perceber grande de altura devido ao desague real dos SCR e a
diferença na umidade inicial e final dos SCR previsão proposta em (8) são expressas na
estudados, onde na Figura 4 visualmente a Tabela 8.
umidade na SCR2 é menor que na SCR1 e na
Figura 5 esta situação se inverte. Tabela 8. Comparativo de abatimento na altura devido ao
desague.
4.3 Estudo Comparativo Tempo SCR1 SCR1 SCR2 SCR2
(dias) Hfreal(m) Hfcalc(m) Hfreal(m) Hfcalc(m)
12 0,05 0,05 0,11 0,06
Com os valores de Gs, tsplodo, utilizando-se (3),
consegue-se encontrar o valor da densidade do O momento (dia 12) foi escolhido devido a
lodo (ρlodo), esta sendo de aproximadamente grande diferença no teor de sólidos por peso em
1010,8 g/l no período de preenchimento dos ambos os SCR, o que evidencia as singularidades
SCR. Da mesma forma, por (4) a densidade do de cada procedimento de preenchimento.
resíduo desaguando em ambos os SCR pode ser
estimada, estes resultados estão expostos na 5 CONCLUSÕES
Tabela 5.
O volume bombeado em cada SCR é bem
Tabela 5. Comparativo de densidades por tempo.
Tempo SCR1 SCR2 diferente, um sendo mais que o dobro do outro,
(dias) ρrd(g/l) ρrd(g/l) representando diferença significativa no
0 1010,8 1010,8 processo de desague, esta mais visivel
12 1071,7 1111,2 inicialmente.
21 1147,1 1170,0 Percebe-se que até o dia 21 o teor de sólidos,
28 1308,2 1193,3
densidade e volume de sólidos no resíduo
desaguando eram maiores na SCR2,
Por (5) e (6) é possível também se estimar o caracterizando que esta teve um processo de
volume de sólidos no resíduo desaguando, deste desague inicialmente acelerado, diferente do
modo, a Tabela 6 expressa estes resultados. natural. Enquanto que, após o dia 21, a SCR1
passa a frente, atingindo maiores parâmetros de
Tabela 6. Comparativo do volume de sólidos por tempo.
Tempo SCR1 SCR2 desague.
(dias) Vrd(l/l) Vrd(l/l) Analisando as imagens relativas aos dias 12 e
0 0,007 0,007 28, é possível perceber visualmente que
12 0,045 0,070 inicialmente a SCR2 era mais seca e, que com o
21 0,093 0,108 passar do tempo, a SCR1 desagua mais, através
28 0,195 0,122
da evaporação, esta ocorrendo com mais
facilidade na SCR1 devido a espessura dos
Com conhecimento dos volumes iniciais resíduos desaguando e devido ao aumento
bombeados aos SCR, 1,00 m³ para o SCR1 e 2,31
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gradativo da superficie exposta, esta ocorrendo mestrado, Programa de Pós-Graduação em infra-


mais acentuadamente devido ao seu volume estrutura aeroportuária, Departamento de Engenharia
Civil, ITA, 103 p.
redizido de material. Porém, em caso real, onde Guimaraes, M.G., Urashima, D.C., Vidal, D. (2014)
os volumes de preenchimento são bastante Dewatering of sludge from a water treatment plant in
superiores aos deste estudo, este fenômeno seria geotextile closed systems. Geosynthetics International.
mais brando. Vol. 21 I. 5, October 2014, p. 310-320
Através da ánalise do volume inicial de Koerner, R.M. (2005). Designing with Geosynthetics, 5th
ed., Upper Saddle River, Pearson, NJ, USA, 796 p.
preenchimento, observa-se que ocorreu uma Leshchinsky, D., Leshchinsky, O. (1996) GeoCoPs 2.0
grande redução em comparação com o volume Supplemental Notes. ADAMA Engineering, USA. 24 p.
final, este representando uma redução de 17 Metcalf & Eddy (1991). Wastewater engineering:
vezes no SCR2 e de 25 vezes no SCR1. Treatment, Disposal and Reuse. 3th Ed., Revista por
Caracterizando que o uso da técnica de desague Tchobanoglous, G. and Burton, F.L., International Ed.,
McGraw-Hill, Inc.
é de grande valia para a redução dos custos de Penman, H.L. (1948). Natural evaporation from open
transporte, disposição em aterro sanitário e ainda water, bare soil and grass. Proc. Roy. Soc. London
para a redução da pegada de carbono associada. A(194), 120-145
Percebe-se que a previsão da altura final do Pilarczyk, K.W. (2000). Geosynthetics and Geosystems in
desague para o SCR1 foi acurada, representando Hydraulic and Costal Engineering. 1st ed.,
A.A.Balkema, Netherlands, 913 p.
que o desague no SCR1 foi muito próximo ao Rohwer, C. (1934). Evaporation from different types of
desague natural. O que não ocorre no caso da pans. Transactions. A. S. C. E., vol. 99, p. 673
SCR2, representando que o desague nesta Tominaga, E. (2010). Análise dos procedimentos para
ocorreu de forma diferente, acelerada, com mais avaliação de desempenho de sistemas fechados com
fatores envolvendo sua determinação. geotêxtil para desaguamento. Dissertação de
mestrado, Programa de Pós-Graduação em infra-
Por fim, é possível perceber que o desague estrutura aeroportuária, Departamento de Engenharia
por ciclos de preenchimento em um SCR ocorre Civil, ITA, 126 p.
de maneira mais significativa nas 3 primeiras Vertematti, J.C. (2015). Manual brasileiro de
semanas e, após estas, o resíduo já pode ser geossintéticos. 2. ed., Blucher, São Paulo, BR, 570 p.
manejado e corretamente disposto.

AGRADECIMENTOS

À empresa HUESKER Ltda pelo apoio na


pesquisa.

REFERÊNCIAS

ABNT. Associação brasileira de normas técnicas. NBR


ISO 10.319 (2013) Geossintéticos - Ensaio de tração
faixa larga.
___-NBR ISO 11.058 (2013) Geotextiles And Geotextiles-
Related Products - Determination Of Water
Permeability Characteristics Normal To The Plane,
Without Load.
___-NBR ISO 12.956 (2013) Geotêxteis e produtos
correlatos - Determinação da abertura de filtração
característica.
Boullosa Allariz, B.; Levacher, D.; Thery, F. (2017)
Behaviour of dredged dam sediments during natural
dehydration. 16th Geo-Environmental Engineering –
GEE, Seul-Korea, pp. 105-110.
Castro, N. (2005). Sistemas tubulares para contenção de
lodo e sedimentos contaminados. Dissertação de
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Análise de Capacidade de Carga de Solo Residual e Laterítico


Quando Submetido à Provas de Carga em Placa com Reforço por
Geotextil em Cascavel/PR.
Maycon André de Almeida
Centro Universitário Assis Gurgacz, Cascavel, Brasil, mayconalmeida@creapr.org.br

Nicolas Vinicius Baldin Slobodzian


Centro Universitário Assis G urgacz, Cascavel, Brasil, nicolas.baldin@hotmail.com

Vanessa Wiebbelling
Centro Universitário Assis Gurgacz, Cascavel, Brasil, vanessawi2@hotmail.com

RESUMO: As fundações em sapatas são comumente utilizadas em solos arenosos devido a sua alta
resistencia ao cisalhamento. Não ocorre o mesmo nos solos lateríticos típicos do interior do Paraná
por apresentarem alto teor de argila e, portanto, alta suscetibilidade à recalques devido ao
adensamento das camadas superficiais do solo. A fim de analisar o ganho na capacidade do solo
superficial de Cascavel-PR com a utilização de mantas geotêxteis, foram realizadas três provas de
carga em placa no Campo Experimental de Engenharia do Centro Universitário Assis Gurgacz. A
tensão de ruptura média encontrada a partir dos resultados dos ensaios foi de 92,33 kPa, utilizando
o critério de Van der Veen (1953). Comparando-se os resultados obtidos com os das provas de
carga realizadas por Vieira et al. (2017), executadas sem reforço, verificou-se ganho de 30% na
capacidade de carga do solo em condições naturais de umidade, demonstrando a eficiência desse
material de reforço.

PALAVRAS-CHAVE: Fundações rasas, solos lateríticos, geotêxtil.

1 INTRODUÇÃO A avaliação da capacidade de carga de


sapatas pode ser feita através de métodos
As obras realizadas em conjuntos habitacionais teóricos e/ou semi-empíricos, sendo esse último
normalmente utilizam sistemas de fundações amplamente utilizado na prática de fundações
rasas para viabilizar sua implantação. Porém, no Brasil. Os métodos semi-empíricos mais
nem sempre esses sistemas são eficientes, utilizados no Brasil baseiam-se principalmente
podendo levar à recorrencia de patologias na no ensaio de sondagem a percussão do tipo
edificação quando o solo não apresentar Standard Penetration Test (SPT).
capacidade de carga adequada. Segundo Teixeira e Godoy (1998), quando
Para projetar fundações é imprescindivel tensões são aplicadas nos solos, estes tendem a
prever o comportamento do solo, analisando sofrer deformações cisalhantes ou de distorção,
como serão desenvolvidas as tensões e, que são as causas de deslocamentos verticais.
principalmente, as deformações no solo ao Para sapatas assentadas em solos firmes,
longo do tempo. Segundo Cintra et al. (2003), o predominam as deformações imediatas à
desempenho de uma estrutura ao longo da sua aplicação da carga. Já para solos como argilas
vida útil, especialmente de sua fundação, moles ou aterros sobre solos compressíveis,
depende diretamente do grau de alteração do verifica-se predominantemente recalques por
maciço de solo. adensamento.
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Segundo Vertematti (2004), os geotêxteis granulométrica, é de uma argila silto arenosa.


são produtos têxteis bidimensionais permeáveis Em relação ao sistema unificado (SUCS), foi
e flexíveis, compostos de fibras cortadas, classificado como solo argiloso muito
filamentos contínuos, monofilamentos, compressível (CH) e pelo sistema rodoviário
laminetes ou fios, formando estruturas tecidas, (TBR) como A-7-6, correspondendo a argila
não tecidas ou tricotadas, cujas propriedades siltosa medianamente plástica, classificada com
mecânicas e hidráulicas permitem várias regular a mau para utilização como subleito.
aplicações numa obra geotécnica, como Na Tabela 1, observam-se os valores médios
separação, proteção, filtração, drenagem, dos principais índices físicos determinados para
controle de erosão, reforço e impermeabilização as camadas de solo identificadas no CEEF.
quando impregnado com material asfáltico.
No reforço, o material geossintético aumenta Tabela 1. Índices físicos do solo do CEEF (Zen, 2016).
a resistência do sistema através da introdução CAMADA 1 CAMADA 2
VALORES MÉDIOS
1 a 9 metros 10 a 15 metros
do geotêxtil que acrescenta características
w (%) 34 53
mecânicas que faltam ao meio, como resistencia LL (%) 53 59
a tração e redução de recalques. Pode ser LP (%) 38 42
utilizado sobre solos moles em estradas, IP (%) 15 17
aeroportos, ferrovias, aterros etc., ou em aterros γd (KN/m³) 12 12
γs (KN/m³) 27 27
e paredes reforçadas. (Vertematti, 2004).
Argila (%) 70 56
O solo característico da cidade de Silte (%) 25 35
Cascavel/PR apresenta grande porosidade e é Areia (%) 5 9
composto basicamente por argila não saturada, Consistência
Muito mole
Rija a dura
apresentando uma boa resistência no estado a média
natural e queda repentina da mesma quando Índice de vazios (e) 1,22 1,55
umedecido, conforme comprovaram Vieira et
al. (2017). Considerou-se o perfil geotécnico médio
Diante do exposto, este artigo analisou a obtido através de 3 ensaios a percussão do tipo
influência da aplicação de geotêxtil tecido na SPT, o qual apresenta o subsolo do CEEF e é
capacidade de carga superficial do solo exposto na Tabela 2. Nos referidos ensaios, o
residual, lateritico e colapsível de Cascavel/PR, nível da água variou entre a profundidade de 12
quando submetido à prova de carga direta sobre e 15 metros nas datas de execução dos mesmos.
placa. As 3 provas de carga foram realizadas no
Tabela 2. SPT realizado no CEEF (Zen, 2016).
Campo Experimental de Engenharia do Centro Z Nspt
Universitário Assis Gurgacz (CEEF), realizadas Descrição do Subsolo
(m) Médio
em 3 cavas separadas de aproximadamente 1 1 1,7
metro de profundidade, seguindo critérios da 2 1,7
NBR 6489 (1984) – Provas de Carga Direta Sob 3 2,5
Terreno de Fundação. 4 2,8 Argila Siltosa Marron
5 4,1 Avermelhada Muito Mole a
6 7,8 Média
7 6,4
2 MATERIAIS E MÉTODOS 8 5,6
9 10,0
2.1 Caracterização do solo local 10 11,9 Argila Siltosa Marron
11 12,6 Avermelhada Rija
12 16,6 Argila Siltosa Marron
A caracterização do solo do CEEF foi realizada 13 27,0 Avermelhada Rija a Dura
por Zen (2016). Segundo a autora, a 14 31,3 Percolações Brancas
classificação do solo, conforme especificado na 15 Limite da sondagem
NBR 7181/84 e de acordo com a curva
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2.2 Provas de carga ja realizadas no CEEF Tabela 3. Resultados das provas de carga em placa.
PC
Ρmáx σult σadm Variação
(mm) (kPa) (kPa) (%)
Vieira et al. (2017), realizaram 6 provas de
PCN1 53,10 55,22 27,61
carga no CEEF, sendo 3 em condições normais PCI1
1
46,82 46,35 23,17
16%
de umidade (PCN) e 3 em condições de pré- PCN2 57,14 66,24 33,12
inundação por 24 horas (PCI). Todas as provas 2 42%
PCI2 50,00 38,11 19,05
de carga foram realizadas em cavas a uma PCN3
3
58,82 50,21 25,10
27%
profundidade de 80 cm, seguindo o PCI3 50,00 36,84 18,42
especificado pela NBR 6489 (1984), utilizando
chapa metálica de 80 cm de diâmetro. Na Segundo os autores, comparando os ensaios
Figura 1 são apresentadas as curvas tensão x com e sem inundação preliminar do solo,
deformação determinadas para todas as provas verificou-se que este sofreu uma redução na
de carga em placa. tensão de ruptura média de 30%, resultado esse
já esperado pelos autores já que para o solo de
Londrina/PR, Branco et al. (2016) relatou uma
redução de quase 60% em seus ensaios.

2.3 Execução de provas de carga

Para verificar a influência dos materiais


geossintéticos no reforço do solo quando
solicitado por fundações rasas, procurou-se
adotar um material de fácil acesso. Optou-se
então por utilizar uma manta geotêxtil tecido,
que foi aplicada conforme Figura 02, realizando
a ancoragem da mesma nas laterais, de modo a
não permitir sua movimentação sob
solicitações.
Figura 1. Prova de carga nas condições naturais no CEEF
(Vieira et al., 2017).

Para a realização das provas de carga


inundadas foram utilizadas as mesmas valas
escavadas para a realização das provas de carga
nas condições naturais. Utilizando o critério de
Van der Veen (1953), foram determinadas as
tensões de ruptura de todas as provas de carga,
considerando uma deformação de 25 mm. Já as
tensões admissíveis foram determinadas através
da aplicação de um fator de segurança igual a
2,0 sobre o valor da tensão de ruptura. Os
resultados são apresentadas na Tabela 3.
Figura 2. Aplicação da manta geotêxtil.

Seguindo a NBR 6489 (1984), foi utilizada


uma placa metálica com diâmetro de 80 cm,
com área de 0,50 m², e de espessura 25 mm,
acomodada sob uma pequena camada de solo
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sem prévia compactação, com única função de Com o valor da tensão admissível do solo
realizar o cobrimento da manta geotêxtil. determinado, nas condições naturais, por Vieira
Para se transmitir o carregamento ao solo foi et al. (2017), obteve-se os incrementos de carga
montado um sistema de reação sob a placa que foram realizados nas provas de carga.
metálica, com a utilização de um macaco Conforme a NBR 6489 (1984), as aplicações de
hidráulico tipo garrafa, dotado de pistão carga devem ser de 10% da tensão admissível
hidráulico e fuso manual de ajuste, com do solo. Os incrementos de carga realizados nos
capacidade para suportar até 16 tf, verificado e ensaios foram de aproximadamente 300 kg.
calibrado inicialmente em laboratório através de Posteriormente, a cada estágio de incremento
prensa hidráulica. de carga realizada, foi feito a leitura do
O sistema teve também em sua composição deslocamento vertical dos extensômetros. Em
quatro contrapesos de aproximadamente 1 tf seguida, se aguardava 1 minuto e ocorria uma
cada e um perfil I com dimensões de 7x30x315 nova leitura. Assim progressivamente para 2, 4,
cm, que serviu como apoio dos contrapesos. O 8, 15, 30 e 60 minutos. Quando havia a
sistema montado pode ser visto na Figura 3. observação da estabilização no recalque de 5%,
no mínimo em três extensômetros, era aplicado
o próximo estágio de carregamento.
Os descarregamentos foram feitos em dois
estágios, sendo um de 50% com leituras de
recalques imediatas e após 15 minutos, e outro
com descarregamento total com leituras de
recalques imediatas e após 15 minutos.

3 ANÁLISE E DISCUSSÕES

3.1 Provas de carga com geotêxtil tecido


Figura 3. Sistema de prova de carga montado.

Para se realizar a leitura dos deslocamentos Na primeira prova de carga (PCG1) adotou-se
sofridos pela placa metálica, foram utilizados 4 inicialmente um incremento de carga de 200 kg,
extensômetros localizados em quatro pontos sendo possivel verificar uma rápida
diametralmente opostos da placa, que tinham estabilização das deformações do solo, assim, a
uma precisão de 0,01 mm. Os mesmos partir do oitavo incremento de carga, aumentou-
possuiam capacidade de leitura máxima de 10 se o incremento de carga para 300 kg. O ensaio
mm. Desta forma foi preciso zerá-los quando os em questão apresentou uma deformação total de
mesmos se aproximavam do deslocamento de 9 23,09 mm, com uma tensão de 69,63 kPa. Por
mm, visto que a NBR 6489 (1984) recomenda questão de segurança, o ensaio foi encerrado
que o ensaio seja executado até no mínimo 25 sem a ruptura nítida do solo, apenas a
mm de recalque. Os mesmos foram fixados em deformação prevista na NBR 6489 (1984).
vigas de reação posicionadas em porção de solo Já a segunda e terceira prova de carga
que não sofria influência do carregamento apresentaram deformações máximas de 12,67
imposto pela placa, a fim de evitar alterações na mm e 29,41 mm, com tensões máximas
leitura. determinadas ao final do ensaio de 71,62 kPa,
Para aquisição de dados, utilizou-se uma 65,65 kPa, respectivamente, como pode ser
célula de carga contendo capacidade para 20 tf, verificado na Figura 4.
interligada ao sistema de leitura de dados
digital.
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Figura 4. Curvas carga x deformação obtidas através de Figura 5. Curvas carga x deformação determinadas
provas de carga em placa com reforço de geotextil no utilizando o critério de Van der Veen (1953) para provas
CEEF. de carga em placa com reforço de geotextil no CEEF.

Em todas as provas de carga foram Na Tabela 4 são apresentadas as tensões de


verificadas pequenas deformações distribuidas ruptura, considerando uma deformação de 25
conforme foram dados os acréscimos de carga, mm, afim de prevenir possíveis recalques
sendo somente verificada ruptura nítida do solo diferencias em obras, conforme Berberian
na terceira prova de carga (PCG3), com (2015) recomenda. As tensões admissíveis
deformações incessantes mediante manutenção foram determinadas através da aplicação de um
do último estágio de carregamento. A primeira fator de segurança igual a 2,0 sobre o valor da
e segunda provas de carga apresentaram maior tensão de ruptura. Já a deformação apresentada
rigidez no solo e foram conduzidas apenas até o é a máxima obtida para as provas de carga. É
critério de norma. apresentado também a massa específica do solo
Em face dos resultados, optou-se por utilizar média, coletada em 3 pontos, logo após o
o critério de Van der Veen (1953), para término das provas de carga e remoção da
determinar as provaveis tensões de ruptura de chapa metálica de 80 cm, utilizando amostrador
todas as provas de carga. Segundo Bessa et al. de parede fina.
(2016), este método pode ser considerado como
o mais eficiente disponível, devido à Tabela 4. Dados provas de carga normalizadas.
possibilidade de indicação de carga de ruptura, Ensaio ρruptura σult σadm 
além de prever a capacidade de carga de ruptura (mm) (kPa) (kPa) (g/cm³)
de estacas com variações entre de 3% a 7% PCG1 23,18 73,12 36,56 1,59
apenas, justificando sua escolha. PCG2 12,64 84,70 42,35 1,66
PCG3 29,01 62,52 31,26 1,70
As curvas tensão x deformação ajustadas por
Van der Veen (1953) podem ser verificadas na
Observou-se leve compactação do solo
Figura 5. Foi possível determinar uma tensão de
abaixo da placa, que pode ser comprovada pelo
ruptura de 105 kPa, 89 kPa e 83 kPa,
valor obtido de massa específica médio de 1,65
respectivamente, para os ensaios 1, 2 e 3.
g/cm³, ligeiramente superior a massa específica
natural do solo nesta mesma cota, que é de
aproximadamente 1,60 g/cm³, em condições
naturais de umidade (34%), podendo variar com
a umidade.
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3.2 Análise comparativa entre provas de carga que a prova de carga 1, utilizando o método de
Van der Veen (1953), apresentou uma tensão de
Comparando os resultados de capacidade de ruptura de 105,45 kPa, superior as provas de
carga obtidos por Vieira et al. (2017), que carga 2 e 3, que apresentaram tensões de
realizou prova de carga semelhante e no mesmo ruptura estimadas de 89,53 kPa e 83,56 kPa,
solo, com os obtidos neste trabalho, verificou-se respectivamente. Comparando com os
um ganho médio de capacidade de carga de resultados obtidos por Vieira et al. (2017), em
23%, em condições naturais, quando utilizando provas de carga sob condições naturais,
como critério a deformação máxima de 25 mm, constatou-se um ganho de capacidade de carga
como pode ser visto na Tabela 5. de 30%.
De acordo com os resultados encontrados
Tabela 5. Tensões com e sem uso de geotextil quando nos ensaios, a experiência com a utilização da
sob o mesmo nível de deformações de 25 mm. manta geotêxtil tecido para aumentar a
σult σadm
Autor Ensaio capacidade de carga do solo alcançou o
(kPa) (kPa)
PCN1 53,10 26,55 resultado esperado, servindo assim como uma
Vieira et al PCN2 57,14 28,57 saída para fundações rasas em solo com baixa
(2017) PCN3 58,82 29,41 capacidade de carga.
Média 56,35 28,18 A pesquisa comprovou a importância de se
PCG1 73,12 36,56 realizar provas de carga na utilização de
PCG2 84,70 42,35
Autores
PCG3 62,52 31,26
fundações rasas em Cascavel-PR, considerando
Média 73,44 36,72 que, por se tratar de um solo laterítico,
apresenta grande porosidade e perca de
Observando-se o ganho de capacidade de resistência quando umedecido, fator este
carga verificado, conclui-se que o material agravante para a utilização de fundações rasas
utilizado para reforço de solo possui uma ótima na região. A pesquisa comprovou também que a
resistência à tração, assim favorecendo a utilização do geotêxtil tecido se apresenta como
resistência ao cisalhamento do solo, uma solução viável e barata para reforço de
consequentemente aumentando a capacidade de pequenas fundações rasas, visando a obtenção
carga do solo, conforme Vertematti (2004), e de recalques menores e uniformes com o
reduzindo as deformações para um mesmo acrescimo de carga.
carregamento. Recomenda-se ainda realizar mais provas de
cargas diretas com a utilização de geotêxtil
tecido, afim de comprovar a eficácia da
4 CONCLUSÕES utilização do reforço e suas implicações, além
da realização de ensaios complementares com o
Esta pesquisa teve como objetivo verificar o solo sob inundação e com controle de sucção,
ganho na capacidade de carga do solo existente para averiguar sua influência sob condições
na cidade de Cascavel-PR, com a utilização de desfavoráveis.
uma manta geotêxtil tecido como reforço, a fim
de avaliar sua viabilidade na utilização como
reforço de solos na utilização de fundações em
sapatas. Para isso, foram utilizados os dados das
provas de carga em placa realizadas por Vieira
et al. (2017) no Campo Experimental de
Engenaharia do Centro Academico da FAG
(CEEF).
Analisando os resultados é possível constatar
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REFERÊNCIAS
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6489 (1984). Prova de carga direta sobre terreno de
fundações. Rio de Janeiro.
Abnt – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR
7181 (2016). Análise Granulométrica. Rio de Janeiro.
Berberian, D. (2015). Engenharia de Fundações. 1. ed.
UnB-Infrasolo, Brasília, 926p.
Bessa, A. K. S.; Monteiro, F. F.; Aguiar, M. F. P.;
Monteiro, T. M.; Oliveira, F. H. L. (2016). Análise de
Métodos de Interpretação de Curva Carga x
Recalque de Provas de Carga Estática em Fundações
Profundas no Nordeste do Brasil. XVIII Congresso
Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia
Geotécnica. Belo Horizonte.
Branco, C. J. M. C; Zambom, V. S; Cancian, V. A;
Teixeira, R. S. (2016). Estimativa de Recalque de
Sapata Apoiada em Solo Argiloso Típico de
Londrina/PR. XVIII Congresso Brasileiro de
Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica. Belo
Horizonte.
Cintra, J. C. A.; Aoki, N. e Albiero, J. H. (2003). Tensão
Admissível em Fundações Diretas – São Carlos,
RiMa, 135p.
Teixeira, A. H.; Godoy, N. S. (1998). Análise, projeto e
execução de fundações rasas. In: HACHICH et al.
(eds). Fundações teoria e prática. São Paulo.
Van Der Veen, C. (1953). The Bearing Capacity of a
Pile. Proc. Third International Conference Soil
Mechanics Foundation Engineering, Zurich, vol. II.
Vertematti, J. C. (2004). Manual Brasileiro de
Geossintéticos. São Paulo: Edgard Blücher.
Vieira, M. K.; Radoll, J.; Almeida, M. A. (2017). Análise
da Aplicação de Fundações Rasas a partir de
Resultados de Provas de Carga em Solo de Cascavel-
PR. Geocentro. Goiânia.
Zen, B. A. B. (2016) Caracterização geotécnica do
subsolo do campo experimental do Centro Acadêmico
da FAG em Cascavel/PR. Monografia (Bacharelado
em Engenharia Civil). Centro Universitário Assis
Gurgacz. Cascavel, PR.
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Análise numérica do comportamento de um geocomposto drenante


Flávia Silva dos Santos
Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ, Rio de Janeiro, Brasil, proflavia@gmail.com

Ana Cristina Castro Fontenla Sieira


Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ, Rio de Janeiro, Brasil, sieira@eng.uerj.br

RESUMO: O presente estudo visa a obtenção de dados mais apurados sobre o desempenho de
geocompostos destinados à drenagem. Para compreender a performance do material, fez-se
necessária uma fase experimental que constou de ensaios de laboratório, para a obtenção das
propriedades mecânicas e hidráulicas do geocomposto. A partir destes ensaios, foram obtidos os
módulos de deformabilidade do geocomposto sob diferentes níveis de tensão, assim como suas
respectivas vazões. Posteriormente, foram executadas análises numéricas com o programa
computacional PLAXIS, baseado no Método dos Elementos Finitos. Fundamentando-se nos
resultados obtidos, o modelo numérico mostrou um desempenho considerado bastante satisfatório,
permitindo um conhecimento mais apurado da performance do material. Os resultados numéricos
mostraram-se coerentes com os resultados experimentais e com formulações analíticas.

PALAVRAS-CHAVE: geossintéticos, geocomposto drenante, modelagem numérica, PLAXIS.

1. INTRODUÇÃO considerar as peculiaridades e adaptações às


situações específicas. No passado, as drenagens
Geossintéticos são produtos poliméricos de muros eram executadas com fôrmas de
industrializados, desenvolvidos para aplicação madeira, utilizando-se o geotêxtil como filtro e
em obras geotécnicas, desempenhando uma ou a brita como material drenante. Essa
mais funções. Como um componente metodologia resulta em um impacto ambiental
extremamente versátil, os geossintéticos maior, já que usa agregados como meio
encontram variados fins e são disponibilizados drenante, além do custo mais elevado. Por esses
nas mais diversas formas, cada um adequado a motivos tem se tornado cada vez mais frequente
um determinado uso ou necessidade. o uso de geocompostos drenantes com a
O uso de geossintéticos tem dois objetivos finalidade de captação e condução da água
principais: eficiência no trabalho executado (por presente no solo. Além da rapidez de instalação,
exemplo, sem deterioração do material ou perda quando comparada ao processo anterior, resulta
excessiva) e o fator econômico (menor custo, em uma espessura bem menor de superfície
maior durabilidade, maior vida útil e redução de drenante (Vertematti, 2015).
custos de manutenção, Koerner, 1997). Como resultam da combinação de vários
Na engenharia geotécnica merecem destaque geossintéticos, a variedade de geocompostos
as aplicações destes produtos poliméricos nas drenantes é grande e se justifica também pelo
funções de drenagem. Reconhecidamente a fonte fato de admitir a adequação às dificuldades a
de grandes problemas na construção civil, a serem vencidas pelos projetos na área da
drenagem exige atenção especial do projetista. Engenharia Civil.
Um projeto de drenagem é parte fundamental A compreensão do comportamento de
para o sucesso de qualquer intervenção de geocompostos pode representar um
engenharia e embora os princípios sejam básicos dimensionamento mais preciso e,
a aplicação nem sempre é simples, devendo-se consequentemente, uma maior segurança na
aplicação e redução de custos para a geomanta atua como núcleo drenante,
implementação dessas soluções. conduzindo o fluido a ser drenado, enquanto o
O presente trabalho surge da necessidade de geotêxtil trabalha como filtro, impedindo que as
um estudo mais detalhado sobre o partículas de solo sejam carreadas para o interior
comportamento de geocompostos drenantes, em da geomanta, o que pode causar a sua
especial do produto MacDrain 2L©. Com o colmatação.
objetivo de compreender o comportamento do
material foi realizado um programa de ensaios 2.2. Ensaios Realizados
que contou com a execução de ensaios de
laboratório para investigação de características O programa experimental constou de ensaios
do material. Além disso, foi realizada a segunda de transmissividade e compressão a curto prazo
fase do estudo a partir de análises numéricas para a determinação das propriedades do
executadas com o programa computacional material e conhecimento do comportamento e
PLAXIS, baseado no Método dos Elementos desempenho do mesmo.
Finitos.
2.2.1. Ensaios de compressão

2. PROGRAMA EXPERIMENTAL A compressibilidade é uma característica de


interesse especial deste trabalho, já que a
2.1. Sobre o produto capacidade de condução através do geossintético
está ligada à espessura. Desta forma, a
O material utilizado no estudo é o geocomposto compressibilidade faz com que a permeabilidade
exibido na Figura 1, produto destinado à dos geotêxteis seja função da tensão normal a
drenagem, cujo núcleo é composto por uma qual estão submetidos.
geomanta tridimensional termosoldada a dois Os ensaios de compressão foram executados
geotêxteis (não-tecidos) em todos os pontos de de acordo com a norma ASTM D6364 (1999),
contato. que estabelece os procedimentos para avaliação
das deformações de um geossintético sob carga
de compressão de curto prazo.
Durante os ensaios, são registradas as cargas e
compressões correspondentes. O limite de
elasticidade à compressão é avaliado a partir da
relação tensão versus deformação para aqueles
materiais que apresentam um ponto de
escoamento à compressão bem definido.

2.2.2. Ensaios de permeabilidade planar e


transmissividade
Figura 1 - Amostra geocomposto drenante MacDrain 2L©. A permeabilidade no plano ( ) é função do
Fonte: Santos (2017)
esforço normal aplicado ao material. Desta
A geomanta é fabricada com filamentos forma, à medida que o geossintético comprime,
espessos de polipropileno, que por processos de a vazão no plano consequentemente diminui.
extrusão e união por entrelaçamento, formam Como o volume percolado é função da espessura
uma estrutura tridimensional que apresenta cerca do geossintético, define-se a transmissividade
de 90% de vazios. O geotêxtil não-tecido ( , como o produto da permeabilidade planar
consiste em uma manta têxtil fabricada com pela sua espessura sob certa tensão normal de
filamentos sintéticos dispostos aleatoriamente. confinamento. Nos esnaios, foi adotada a norma
Na fabricação, ocorre a sobreposição do ASTM D4716 (2013). A transmissividade
geotêxtil não-tecido com a geomanta, cuja exprime a capacidade que o geossintético possui
aderência se dá através de processos térmicos. A de conduzir fluido no seu próprio plano:
. (1)
Onde: Para o geossintético em estudo as tensões de
- coeficiente de permeabilidade no plano do maior aplicação prática ficam em torno de 100
geossintético; kPa. Na Figura 3, pode-se observar com maior
t - espessura do geossintético. clareza o comportamento do material para essas
Um registro do equipamento pode ser visto na tensões.
Figura 2. Este equipamento é capaz de manter a
200
carga hidráulica constante a diferentes níveis
180
correspondendo aos gradientes hidráulicos
160
desejados. Os ensaios foram realizados para 140
tensões de 10, 20, 50 e 100 kPa e gradientes 1;

Tensão (kPa)
120
0,1 e 0,01. 100
80
60
40
20
0
0 10 20 30 40 50 60
Deformação (%)
CP1 CP2 CP3 CP4 CP5

Figura 3 - Resultados dos ensaios de compressão a curto


prazo - Tensões de interesse prático. Fonte: Santos (2017)

Figura 2 – Equipamento utilizado no ensaio de Nota-se que até o ponto em que as deformações
transmissividade. Fonte: Santos (2017) atingem o valor de 50% o comportamento do
2.3 Resultados dos Ensaios material é muito próximo de um comportamento
linear.
2.3.1. Resultado dos ensaios de compressão Para o cálculo da espessura do corpo de prova
comprimido, espessura residual, foi determinada
Os resultados dos ensaios de compressão, com a a tensão correspondente a cada nível de
correção no trecho inicial estabelecida na norma deformação e calculada a espessura residual a
estão reunidos na Tabela 5. Para obtenção da partir da média de espessura inicial das amostras,
resistência à compressão de cada corpo de prova que foi de 13,16 mm. Observa-se que a
(CP) foi delimitada a seção de interesse através compressão inicial para tensões inferiores a 200
de alterações na escala do gráfico. Desta forma, kPa ocorre a uma taxa maior enquanto que, para
foram determinadas as retas tangentes inferior e tensões mais elevadas, a taxa de compressão é
superior. O valor médio de resistência à menor pois ocorre o confinamento do núcleo e
compressão foi de 324 kPa. Para esta tensão, a uma tendência à estabilização da espessura
deformação média foi de 67,54 %. (Figura 4).
14
Tabela 1 - Resultado dos ensaios de compressão a curto
prazo. Fonte: Santos (2017) 12
Espessura (mm)

Corpo de Espessura Resistência à Deformação 10


Prova inicial compressão (%) 8
(CP) (mm) (kPa)
6
1 13,99 322 67,84
2 13,26 331 63,92 4
3 12,44 348 72,10 2
4 12,95 313 67,82 0
5 13,3 306 66,04 0 100 200 300
Média 13,16 324 67,54 Tensão (kPa)
Desvio 0,57 16,39 3,01 Figura 4 - Espessura residual média entre as cinco
Padrão amostras ensaiadas. Fonte: Santos (2017)
2.3.2.Resultados do ensaio de transmissividade foram definidos de acordo com o nível de tensão
(fase de carregamento) durante o processo de
A Figura 5 apresenta os valores médios de cálculo. O peso específico foi determinado
capacidade de vazão obtidos para os diferentes experimentalmente, a partir da razão
gradientes ensaiados. Coerentemente, observa- peso/volume do geocomposto.
se que a capacidade de vazão diminui com o
aumento da tensão e cresce com o aumento do Tabela 2 - Parâmetros do geocomposto drenante: modelo
linear elástico. Fonte: Santos (2017)
gradiente.
Como esperado, o acréscimo de tensão impacta Peso específico 1 kN/m3
de maneira significativa na redução da Coeficiente de Poisson 0,1
capacidade de vazão do geocomposto. Observa- Tensão(kPa) E(kPa)
Módulo de elasticidade
se que essa capacidade sofre maior impacto para
10 315,46
tensões inferiores a 50 kPa. Para tensões
maiores, ocorre um maior confinamento do 20 317,97
núcleo e redução dos poros, havendo uma 50 318,47
tendência à estabilização da espessura e da
capacidade de vazão do geocomposto. 100 290,70
3.0 150 296,37
200 339,78
Capacidade de vazão (l/s).m

2.5

2.0
Foram usados ainda, dados de permeabilidade
1.5 (k) e compressibilidade (E) obtidos nos ensaios
1.0
de compressão e de transmissividade. A Tabela
3 apresenta a relação entre a permeabilidade e a
0.5 tensão, obtida com os valores de vazão extraídos
do ensaio de transmissividade, considerando a
0.0
10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 redução de espessura decorrente da compressão
do geocomposto, para diferentes valores de
1 0,1 0,01
Tensão (kPa) gradiente hidráulico.
Figura 5 - Resultados dos ensaios de transmissividade -
Vazão vs tensão. Fonte: Santos (2017) Tabela 3 - Parâmetros do geocomposto: ensaio de
transmissividade. Fonte: Santos (2017)
Módulo de
3. ANÁLISE NUMÉRICA Tensão Permeabilidade (m/dia)
Elasticidade
Gradiente Gradiente Gradiente
As análises numéricas foram executadas com o kPa E (kN/m3)
1 0,1 0,01
programa computacional PLAXIS (Finite
Element Code for Soil and Rock Analyses, 10 19571,0 45862,2 116142,6 315,46
versão 8.2), baseado no Método dos Elementos 20 16554,5 41332,4 106309,6 317,97
Finitos (Brinkgreve e Vermeer,1999). 7650,4 18596,2 51703,6 318,47
50
2837,9 5456,3 15479,6 290,70
3.1. Parâmetros dos materiais 100

Nas análises numéricas, o geocomposto foi 3.2. Calibração do Modelo


modelado como um material linear elástico, uma
vez que para as tensões de interesse essa Para a calibração do modelo numérico e aferição
condição é atendida. dos parâmetros, procedeu-se à reprodução dos
Os parâmetros necessários para a adoção ensaios de compressão simples e de
do modelo linear estão reunidos na Tabela 2. Os transmissividade, executados no Laboratório da
módulos de elasticidade foram obtidos a partir Maccaferri e da TRI – Testing, Research,
dos ensaios de compressão simples. Os valores Consulting and Field Services.
3.2.1. Modelagem numérica do ensaio de
compressão 3.3. Modelagem Numérica de uma Situação de
Campo
Para um conhecimento mais abrangente, a
modelagem numérica foi conduzida até tensões Para efeitos de comparação, procedeu-se à
da ordem de 200 kPa. reprodução de uma situação genérica de campo,
Para efeito de comparação com o ensaio representada na Figura 8, que consiste em um
realizado, foi considerada uma espessura de aterro contido por uma estrutura de contenção de
13,16 mm conforme as médias das amostras do 10 m de altura. O geocomposto é inserido ao
ensaio de compressão. A aplicação crescente de longo da altura da estrutura de contenção.
carga foi dividida em seis fases de carregamento A partir da rede de fluxo, determina-se, de
(10, 20, 50, 100, 150 e 200 kPa) e a geometria forma simplificada, a vazão máxima que percola
considerada está apresentada na Figura 6. pelo solo:

(2)
Onde:
Figura 6 - Geometria e condições de contorno - k = coeficiente de permeabilidade do solo = 10-3
Modelagem do ensaio de compressão simples. Fonte: cm/s;
Santos (2017) h = altura da estrutura = 10 m;
= número canais de fluxo = 6;
Em cada etapa de cálculo (nível de tensão), o
= número de perdas de carga unitária = 8.
material representativo do geocomposto
Assim, tem-se como resultado:
drenante foi modificado com novos valores de 6
módulo de elasticidade. 10 10 0,075 / / 6,48 /
8
A Tabela 4 apresenta os parâmetros
3.2.2. Modelagem Numérica do Ensaio de geotécnicos adotados para o solo do aterro.
Transmissividade

Os ensaios de transmissividade foram realizados


para tensões de 10, 20, 50 e 100 kPa, e gradientes
iguais a 1; 0,1 e 0,01. As análises foram
realizadas separadamente para cada gradiente
hidráulico. Após as simulações, são obtidas a
compressão do material e a vazão
correspondente a cada gradiente.
A espessura do geocomposto inserida no
modelo foi de 12 mm, conforme ensaios de Figura 8 – Modelo para estudo de caso.
transmissividade. A Figura 7 apresenta a
geometria adotada nas análises numéricas, onde
se observa a presença do carregamento de Tabela 3 – Parâmetros do Solo do Aterro
Parâmetro Geotécnico Valor
compressão (A).
Peso específico saturado (kN m3) 20
Coeficiente de empuxo no repouso 0,5
Coeficiente de permeabilidade (cm/s) 10-3
Figura 7 - Geometria e condições de contorno: Ensaios de
transmissividade. Fonte: Santos (2017) Coeficiente de Poisson 0,3

Ângulo de atrito (º) 30


Na fase de cálculo, foram introduzidas quatro
etapas de carregamento, buscando-se reproduzir O caso de campo foi idealizado em duas
fielmente as etapas de ensaio. Para cada etapa, dimensões, e as análises numéricas foram
foram adotados os valores de módulo de executadas em condições de deformação plana.
elasticidade e permeabilidade obtidos a partir Sabe-se que a representação bidimensional
dos ensaios de compressão e transmissividade. implica em uma aproximação, já que a geometria
real é tridimensional. No entanto, essa análise foi adotados valores típicos de permeabilidade e
considerada aceitável para o caso em estudo. deformabilidade.
A partir das análises numéricas, foram obtidas Tabela 5 – Parâmetros do Materiais
as deformações e as vazões do geocomposto, A B C D E F G
permitindo uma comparação com o kx ky E
[kN/m3] [m/dia] [m/dia] [N/m2]
comportamento observado nos ensaios de Geocomposto Linear
laboratório, e estimado analiticamente. 1 216 189510,10 325
drenante elástico
Mohr-
Fundação 20 0,005 0,005 0,30100000
3.3.1. Geometria e condições de contorno Coulomb
Solo Mohr-
20 0,864 0,864 0,30 80000
A Figura 9 apresenta a geometria adotada nas compactado Coulomb
análises numéricas com geocomposto. A: Material, B: Modelo Constitutivo, C: Peso Específico,
D: Permeabilidade Horizontal, E: Permeabilidade vertical,
F: Coeficiente de Poisson, G: Módulo de elasticidade.

3.3.2. Metodologia de cálculo

A simulação numérica constou de cinco etapas


de cálculo. Em cada fase, foram acrescidas
camadas de 2,0 m de altura de solo compactado
(aterro) até atingir a altura final de 10,0 m. Para
o geocomposto drenante, foram adotados,
Figura 9 - Geometria e condições de contorno - conforme ensaio, módulos de elasticidade
Modelagem da situação de campo. Fonte: Santos (2017)
correspondentes à tensão atuante.
As condições de contorno consistiram na A permeabilidade do geocomposto, no entanto,
restrição dos deslocamentos horizontais nas foi mantida constante durante todo o cálculo, de
fronteiras laterais, esquerda e direita, e restrição forma a verificar se o programa é capaz de
dos deslocamentos verticais na fronteira inferior. considerar a redução da permeabilidade com a
Ressalta-se que, em uma etapa preliminar, foi diminuição da espessura do elemento drenante.
analisada a influência dos contornos nos
resultados, chegando-se à geometria ótima
apresentada na Figura 9. Pode-se observar a 4. RESULTADOS
inclusão de um cluster em amarelo
representando o tubo dreno responsável pela 4.1. Resultados da Modelagem Numérica do
captação do fluxo proveniente do geocomposto Ensaio de Compressão
drenante alocado na face interna do muro. A
modelagem considera uma construção em A espessura inicial do geocomposto era de 13,16
etapas, portanto o aterro foi dividido em 5 partes, mm. Após a aplicação da carga, as análises
cada uma com 2,0 m de altura. indicaram uma compressão de 8,29 mm,
Na Tabela 4, são apresentados os parâmetros resultando em uma espessura residual do
adotados para cada material nas análises da geocomposto de 4,87 mm.
situação de campo. A permeabilidade do A Tabela 6 reúne os resultados da modelagem
geocomposto drenante foi calculada a partir do numérica do ensaio de compressão para os
ensaio de transmissividade e considera a área diferentes níveis de tensão e a Figura 10 compara
não deformada do geocomposto com espessura os resultados previstos numericamente com os
de 12 mm (permeabilidade inicial). O módulo de obtidos experimentalmente.
elasticidade do geocomposto, apresentado na Tabela 6 - Resultado da modelagem do ensaio de
Tabela 5, é referente à condição inicial. Os compressão
parâmetros da fundação e do solo compactado Tensão Compressão Espessura Residual
(kPa) (mm) (mm)
foram arbitrados, considerando-se o exemplo
adotado. Com relação ao tubo dreno, foram 10 0,41 12,75
20 0,81 12,35
50 2,02 11,14
20 2,2500 0,4610 0,1383
100 4,23 8,93
50 1,0400 0,2100 0,0605
150 6,40 6,76
100 0,3822 0,0630 0,0141
200 8,29 4,87

Observa-se que o modelo numérico se 2.5


aproxima satisfatoriamente dos resultados do
2.0
ensaio de compressão simples. A tensão adotada

Vazão (l/s).m
para utilização do material na prática fica em 1.5
torno de 100 kPa, para fins de investigação do 1.0
comportamento efetivo do material a adoção do
modelo linear é válida. 0.5

0.0
14 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Tensão (kPa)
12
Espessura Residual (mm)

Modelagem (1) Modelagem (0,1)


10 Modelagem (0,01) Ensaio(1)
Ensaio(0,1) Ensaio(0,01)
8
Figura 11 – Comparação entre ensaios de transmissividade
6 e modelagem numérica. Fonte: Santos (2017)

4 Para o gradiente de maior interesse, gradiente 1,


2
os valores de vazão previstos numericamente
encontram maior compatibilidade para tensões
0 menores, o que era esperado, visto que o modelo
0
100 50
150 200 linear elástico admitido não se adequa para
Tensão (kPa)
Espessura Residual - Ensaio tensões maiores e/ou mais próximas a 200 kPa.
Espessura Residual Modelagem - Eajustado Para os demais gradientes, os resultados se
Espessura Residual Modelagem - Emédio mostraram satisfatoriamente próximos dos
Figura 10 - Ensaio de compressão simples: Comparação valores de ensaio, corroborando os parâmetros
entre resultados numéricos e experimentais Fonte: Santos adotados.
(2017)

4.3.Resultados da modelagem numérica da


4.2. Resultados da Modelagem Numérica do
situação de campo
Ensaio de Transmissividade
Na Figura 12, são apresentadas as distribuições
Nos ensaios de transmissividade, as tensões
das tensões horizontais efetivas para cada estágio
aplicadas foram de 10, 20, 50 e 100 kPa. Nas
de carregamento. Nessa fase de cálculo é feita a
análises numéricas, após aplicação de carga em
ativação do dreno e, consequentemente, a
cada fase, foram obtidas as vazões previstas
poropressão na face do muro é nula, ocasionando
numericamente, e comparadas com as fornecidas
um aumento da tensão efetiva.
pelos ensaios. A Tabela 7 apresenta as vazões
A Figura 13 mostra a comparação entre os
previstas numericamente, para os diferentes
resultados obtidos na análise e os calculados
gradientes hidráulicos, e a Figura 11 compara os
analiticamente para o repouso e a condição ativa.
resultados experimentais com as previsões
Observa-se que os resultados da análise figuram
numéricas.
de modo intermediário entre as duas condições.
Tabela 7 - Vazões previstas numericamente: Modelagem O programa detecta o deslocamento do muro e o
dos ensaios de transmissividade
solo deixa a condição inicial de repouso e
Tensão Vazão (l/s).m aproxima-se da condição ativa, ocorrendo uma
(kPa) Gradiente Gradiente Gradiente variação nas tensões horizontais efetivas.
10 2,6600 0,5110 0,1562
Figura 15 - Deformações horizontais resultantes da
modelagem numérica da situação de campo. Fonte: Santos
(2017)

Para as respectivas tensões horizontais na face


Figura 12 - Tensão horizontal efetiva - Modelagem da
situação de campo. do muro extraídas da modelagem numérica,
foram calculadas as deformações obtidas no
100 ensaio de compressão. Os resultados constam na
TENSÃO HORIZONTAL EFETIVA

90 0bela 8, em comparação com as deformações


80 previstas na modelagem.
70
60 Tabela 8 - Comparação entre as deformações previstas
numericamente e as medidas experimentalmente
KPA

50
40 Tensão efetiva Modelagem Ensaio
30 horizontal Numérica Laboratório
20 kN/m2
Deformação( ) Deformação ( )
10
15,52 1,21% 4,39%
0
10.0 8.4 8.0 6.4 6.0 4.4 4.0 3.6 2.0 0.4 27,42 4,96% 9,27%
ALTURA DA CAMADA DE SOLO (M)
PLAXIS REPOUSO ATIVO
49,11 10,15% 17,65%
65,42 15,70% 23,52%
Figura 13 - Tensões horizontais efetivas. Fonte: Santos
(2017) 83,09 21,78% 29,46%

A distribuição das poropressões está exibida na


A deformação sofrida pelo geocomposto na
Figura 14. Observa-se o comportamento
situação de campo mostrou-se inferior à obtida
coerente do geocomposto nas análises
nos ensaios de compressão. Cabe ressaltar que
numéricas, com valores de poropressão nulos
nos ensaios de compressão ocorre a aplicação de
nos pontos próximos ao material drenante,
uma carga uniformemente distribuída ao longo
indicando a coerência do modelo.
do geocomposto, o que não ocorre na condição
de campo. Além disso, no campo, ocorrem
pequenos deslocamentos do muro, que, de certa
forma, aliviam a tensão no geocomposto. Passa
a existir uma pequena parcela de deslocamento
de corpo rígido que impacta na deformação do
geocomposto.
Figura 14 - Poropressões previstas numericamente. Apesar da deformação do geocomposto, as
análises numéricas não indicaram variações nos
A Figura 15 apresenta as deformações no valores de vazão com o nível de carregamento.
geocomposto, decorrentes do carregamento Esperava-se que, com a deformação do
horizontal imposto pelo solo do retroaterro. geocomposto e consequente redução na
Nota-se que a deformação localiza-se espessura, o programa ajustasse a
basicamente no geocomposto drenante, uma vez permeabilidade e, assim, a vazão seria reduzida,
que os materiais circundantes apresentam como ocorreu no ensaio de transmissividade. O
módulos de elasticidade mais elevados. programa, no entanto, não é capaz de realizar
uma análise acoplada tensão-deformação- Na 0gura 17, apresenta-se uma comparação
permeabilidade, sendo necessário o uso de uma entre os valores de vazão previstos na
metodologia para incorporar a redução da modelagem numérica e os resultados de vazão
permeabilidade com a deformação. obtidos no ensaio de transmissividade. Os
Tendo em vista que as deformações do valores da capacidade de vazão obtidos na
geocomposto foram satisfatoriamente modelagem numérica apresentaram
reproduzidas nas análises numéricas, optou-se concordância com os resultados experimentais.
por variar a permeabilidade em cada etapa de
cálculo em função da deformação prevista 235
numericamente. Para tanto, foram utilizados os 215
resultados da modelagem de campo (Figura 15) 195
e a equação da curva referente à permeabilidade 175

Vazão (m³/dia)m
do geocomposto obtida no ensaio de
155
transmissividade para o gradiente 1 (Figura 5). A
partir desta metodologia, foram obtidos os 135
valores de permeabilidade constantes na 0bela 9. 115
95
Tabela 9 - Valores de permeabilidade definidos em função
da deformação. Fonte: Santos (2017) 75
Ensaio de 55
Modelagem Numérica Transmissividade 35
Tensão normal 10 20 30 40 50 60 70 80
Deformação Permeabilidade
efetiva máxima
horizontal definida por ensaios
atuante no Tensão (kPa)
prevista de transmissividade
geocomposto
numericamente [m/dia] Vazão - Modelagem da situação de campo
[kN/m2]
1,41% 15,52 17344 Vazão - Ensaio de transmissividade
4,07% 27,42 13349 Figura 17 - Comparação entre as vazões previstas na
7,49% 49,11 8283 modelagem da situação de campo e obtidas
10,50% 65,42 5786 experimentalmente. Fonte: Santos (2017)
20,49% 83,09 3922

Desta forma, nas análises subsequentes, o 5. CONCLUSÕES


geocomposto foi atualizado em cada etapa de
carregamento a partir da modificação da
permeabilidade e do módulo de elasticidade, em O presente trabalho apresentou um estudo do
função do nível de tensão. comportamento de um geocomposto drenante a
A Figura 16 apresenta os valores de vazão partir de resultados de ensaios de laboratório e
previstos nas novas análises, em cada etapa de análises numéricas.
cálculo. Observa-se que os resultados se Ensaios de compressão simples e
mostraram coerentes e compatíveis com os transmissividade foram executados buscando-se
obtidos nos ensaios de transmissividade. parâmetros representativos do comportamento
do geocomposto. Posteriormente estes ensaios
foram reproduzidos numericamente, de forma a
calibrar o modelo para a simulação de uma
situação real de campo.
Na reprodução do ensaio de compressão
simples observou-se que o modelo numérico se
aproximou satisfatoriamente dos resultados do
ensaio. Sabe-se que a tensão adotada para
utilização do material na prática é inferior a 200
Figura 16 - Vazão no dreno em cada etapa de cálculo – kPa, assim, para fins de investigação do
Valores de permeabilidade ajustados. Fonte: Santos (2017)
comportamento efetivo do material, a adoção do
modelo linear foi considerada válida.
Na simulação do ensaio de transmissividade
constatou-se que para o gradiente de maior
interesse, gradiente 1, os valores de vazão
previstos numericamente encontram maior
compatibilidade para tensões menores, o que era
esperado, visto que o modelo linear admitido não
se adequa para tensões maiores e/ou mais
próximas a 200 kPa.
Na reprodução de uma situação de campo, as
deformações no geocomposto e a capacidade de
drenagem foram reproduzidas satisfatoriamente,
e mostraram-se coerentes com os resultados dos
ensaios de laboratório e com formulações
analíticas.

AGRADECIMENTOS
As Autoras agradecem à CAPES pelo apoio à
pesquisa e à Empresa Maccaferri do Brasil pelo
apoio físico e técnico para realização dos ensaios
necessários.

REFERÊNCIAS

American Society For Testing And Material


(1999). ASTM D 6364 - Standard Test
Method for Determining the Short–Term
Compression Behavior of Geosynthetics,
West Conshohocken, PA.
__ASTM D 4716 (2013) – Standard Test
Method for Determining the (In-plane) Flow
Rate per Unit Width and Hydraulic
Transmissivity of a Geosynthetic Using a
Constant Head, West Conshohocken, PA.
Koerner, M. R. (1997). Designing with
Geosynthetics. 4º. ed. New Jersey: Prentice
Hall.
Santos, F. S. (2017). Estudo do Comportamento
de Geocompostos Drenantes. Dissertação de
Mestrado, Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Civil, Universidade do Estado do
Rio de Janeiro - UERJ. 135 p.
Vertematti, C. J. (2015). Manual Brasileiro de
Geossintéticos. 2º. ed. São Paulo: Blucher.
Brinkgrave, R. B. J.(1999). Vermeer, P. A.
Finite Element code for Soil and Rock
Analyses. Netherlands: Balkema.
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Análise Paramétrica de Estabilidade e Custos de Estruturas de


Contenção em Solo Reforçado com Geossintéticos
Maytê Pietrobelli de Souza
Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, Brasil, maytepietrobelli@gmail.com

Alessandra Lidia Mazon


Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, Brasil, alessandralidiamazon@gmail.com

Bianca Penteado de Almeida Tonus


Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, Brasil, biancapenteado@gmail.com

André Fanaya
GeoSoluções, São Paulo, Brasil, andre.fanaya@geosolucoes.com

RESUMO: Este artigo tem como objetivo dimensionar e orçar estruturas de contenção em solo
reforçado com geossintéticos, especificamente, geotêxteis e geogrelhas. Para tanto, os
dimensionamentos foram feitos para as alturas de 3, 6, 9 e 12 metros, envolvendo cenários de solo
arenoso e argiloso. Tais dimensionamentos consideraram as verificações de estabilidade interna e
externa. Ao final, essas soluções foram orçadas com três tipos de face: bloco de concreto, tela
soldada e face auto-envelopada, e seus custos foram comparados com a terra armada. Dentre suas
conclusões, a pesquisa mostrou influência significativa da coesão na redução do empuxo em
contenções com até 6 metros de altura e os diferentes mecanismos de estabilidade que governaram
os dimensionamentos para cada solo. Concluiu-se também que os reforços com geotêxteis são
competentes somente em estruturas com altura máxima de 3 metros, devido sua resistência à tração.
Finalmente, a análise de custos demonstrou que o tipo de faceamento afeta significativamente o
custo global.

PALAVRAS-CHAVE: Geossintético, Solo reforçado, Análise paramétrica.

1 INTRODUÇÃO com Ehrlich e Becker (2009), essa interação é


Estruturas de contenção são sistemas que visam caracterizada pela resistência satisfatória da
estabilizar e impedir o deslocamento de uma estrutura às tensões nela atuantes, uma vez que
massa de solo devido à solicitação de seu a deficiência significativa do solo quanto à sua
empuxo de terra e sobrecarga acidental ou resistência à tração é suprida com o advento do
permanente atuantes. Essas estruturas podem reforço. Essas estruturas são constituídas por
ser construídas com diferentes tipos de camadas de solo compactado intercaladas pelos
materiais, como concreto, aço, blocos de rocha, elementos de reforço, cujos componentes
etc. e/ou com o prório solo do local da obra. principais podem ser metálicos, como grampos
Estruturas ou muros de solo reforçado e fitas de aço, ou, mais comumente, polímeros,
utilizam o próprio solo local para realizar a representados pela categoria dos geossintéticos.
contenção. Tal sistema parte do princípio de que (GEOSOLUÇÕES, 2017). Sua representação
a estabilidade da massa de solo contida ocorre esquemática pode ser observada na Figura 1.
por meio da interação entre algum tipo de
reforço utilizado e o próprio solo. De acordo
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responsáveis por compor um sistema resistente


ao empuxo da massa de solo como um bloco
rígido, sem que a mesma sofra dano ou
qualquer tipo de ruptura. Consiste em quatro
análises de segurança, sendo elas deslizamento,
tombamento, capacidade de carga da fundação e
ruptura global, ilustradas na Figura 2.
(VERTEMATTI, 2015).

Figura 1. Seção transversal típica de uma contenção em


solo reforçado

Segundo Vertematti (2015), os geossintéticos


referem-se a produtos poliméricos, formados a
partir de polímeros naturais ou sintéticos, que
possuem características específicas de acordo
com o tamanho de sua cadeia constituinte e com
os teores de aditivos neles empregados. Em uma
estrutura de contenção em solo reforçado
(ECSR) os principais geossintéticos utilizados
como reforços são os geotêxteis e as geogrelhas. Figura 2. Mecanismos de ruptura externa
As alternativas de faceamento para essas
estruturas são bastante amplas, podendo variar O fator de segurança para cada uma das
desde a exposição do próprio geossintético na análises é encontrado pela relação entre os
face, peças de concreto ou pré-moldadas de esforços resistivos e solicitantes que atuam na
diferentes geometrias, concreto projetado, estrutura, conforme exposto na Tabela 1.
gaiolas com elementos de preenchimento, até
Tabela 1. Fatores de segurança para verificação da
muros verdes (EHRLICH E BECKER, 2009).
estabilidade externa
Fatores de Segurança
Verificação FS Observação
2 ESTABILIDADE DE ESTRUTURAS DE Deslizamento ≥ 1,5 -
CONTENÇÃO EM SOLO REFORÇADO Verificação segundo a NBR
COM GEOSSINTÉTICOS Tombamento ≤ Lr/6
19286 (ABNT, 2016)
Cap. de Carga
≥ 2,5 -
A fim de verificar a segurança em uma estrutura da Fundação
de contenção em solo reforçado, duas análises Estabilidade ≥ 1,3 Condições não críticas
devem ser feitas, sendo elas a de Estabilidade Global ≥ 1,5 Condições críticas
Externa e a de Estabilidade Interna.
2.1.1 Empuxo
2.1 Estabilidade Externa
Para a realização dessas análises de estabilidade
A verificação das condições de estabilidade faz-se necessário o cálculo do empuxo,
externa objetiva determinar o comprimento dos principal esforço solicitante em uma contenção,
reforços utilizados na estrutura, os quais são que trata de forças laterais atuantes entre
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estruturas de contenção e massas de terra 2c


z0 =
contidas, sendo essas forças laterais resultantes  K (3)
da pressão lateral de solo. No presente artigo
utilizou-se a teoria clássica de Rankine (1856),
Sendo:
a qual estuda tais pressões e aborda as
condições de tensão no solo em um estado de z 0 a profundidade em que a pressão ativa torna-
equilíbrio plástico na iminência de ruptura se zero (m);
(DAS, 2007). Sendo assim, o empuxo ativo do c a coesão do solo (kN/m²);
solo pode ser calculado de acordo com a
Equação (1): Sendo assim, para solos coesivos, o empuxo
ativo pode ser calculado considerando uma
1 altura menor do esforço atuante devido ao efeito
Ea =    K a  (H  z0 ) 2 da coesão do solo.
2 (1)
Solos não-coesivos não contam com esse
Sendo: decréscimo de altura advindo da coesão,
Ea o empuxo ativo do solo (kN); portanto, tendo em vista uma superfície
horizontal e o próprio solo não-coesivo, a altura
 o peso específico do solo (kN/m³); de contribuição do empuxo é a própria altura do
K a o coeficiente de empuxo ativo do solo; muro. Em decorrência, no cálculo de seu
H a altura do muro (m); empuxo ativo exclui-se da Equação (1) a
z 0 a profundidade em que a pressão ativa torna- parcela de z 0 , a qual, neste caso, é inexistente.
se zero (m). (DAS, 2007).

Referente ao coeficiente de empuxo ativo do 2.1.2 Segurança contra o Deslizamento


solo, o mesmo pode ser calculado através da
Equação (2): A fim de garantir a estabilidade da estrutura
contra o deslizamento, deve-se operar com um
3 ' equilíbrio de forças horizontais: empuxo e atrito
Ka =  tg 2 (45  ) na base da estrutura, conforme Equação (4). A
1 2 (2)
favor da segurança, é usual desprezar a
sobrecarga.
Sendo:
 3 a pressão efetiva horizontal (kN/m²); ( . H  q) . L R . tg '
 1 a pressão efetiva vertical (kN/m²); FS d =
Ea (4)
 ' o ângulo de atrito do solo (°).
Sendo:
No entanto, vale ressaltar que há uma FS d o fator de segurança contra o deslizamento
diferença no cálculo do empuxo ativo de uma
ao longo da base do muro;
estrutura de acordo com o solo utilizado.
q a sobrecarga uniformemente distribuída sobre
Segundo Das (2007), em caso de solo coesivo, a
pressão ativa torna-se negativa na parte superior o terrapleno (kPa);
do muro até uma profundidade dita como z 0 , Lr o comprimento do reforço (m).
parcela de altura responsável por diminuir a
pressão efetiva atuante no tardoz da estrutura. 2.1.3 Segurança contra o Tombamento
Esta dimensão pode ser encontrada pela
De acordo com a NBR 19286 (ABNT, 2016), é
Equação (3):
necessário assegurar que a resultante vertical
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dos esforços solicitantes externos localize-se Rv


dentro do núcleo central de inércia, o qual é  máx 
Lr  2e (7)
caracterizado pelo terço central da base da
estrutura (isto é, menor ou igual a Lr 6 ). Essa excentricidade ocorre devido ao
Tem-se então, que a segurança ao empuxo ativo, uma vez que a resultante vertical
tombamento trata-se de uma relação de na base da estrutura desloca-se no sentido do
excentricidades como visto na Equação (5). esforço (empuxo ativo). Seu cálculo pode ser
realizado através da Equação (8).
M o Lr
e 
Rv 6 (5) Ea . y E
e
Rv (8)
Sendo:
e a excentricidade (m). Sendo:
M o o momento atuante no muro (kN.m); y e o braço de alavanca do empuxo ativo com
Rv a resultante vertical de esforços solicitantes base no pé do muro (m).
externos (peso próprio (W) + sobrecarga (q))
(kN). 2.1.5 Segurança contra a Ruptura Global

2.1.4 Segurança contra Ruptura de Solo de O objetivo dessa análise é verificar a


Fundação (Capacidade de Carga) estabilidade global de todo o talude, tomando
por base a estrutura de solo reforçado e também
O estudo relacionado à ruptura do solo de o solo já existente, como uma análise de
fundação de uma ECSR opera com a estabilidade de taludes.
equiparação de tensões transmitidas à base e a Para a análise de estabilidade global
tensão admissível do solo de fundação da utilizam-se os métodos de equilíbrio limite, os
estrutura, a fim de que não ocorra a perda de quais se baseiam no pressuposto da massa de
sustentabilidade do muro. Verifica-se o solo, compreendida como um corpo rígido, estar
atendimento do fator de segurança desta análise em equilíbrio na iminência do colapso. No
(Tabela 1) como visto na Equação (6). entanto, o número de equações de equilíbrio
estático disponível é menor que o número de
r incógnitas existentes em uma análise de
FS f   2,5 estabilidade de taludes, tornando o problema
 máx (6) estaticamente indeterminado. Então, os métodos
de equilíbrio limite se propõem a torná-lo
Sendo:
estaticamente determinado através da adoção de
FS f o fator de segurança contra a ruptura do algumas hipóteses.
solo de fundação; De acordo com Tonus (2009), o fator de
 r a capacidade de carga do solo de fundação segurança é obtido pela relação entre a
(kN/m²), calculada através da formulação de resistência ao cisalhamento do solo ( s ) e a
Terzaghi (1943) para fundações superficiais ou tensão cisalhante atuante ou resistência
através de métodos semi-empíricos. mobilizada (  ) ao longo da superfície de
 máx a tensão máxima aplicada ao solo (kN/m²). ruptura, conforme a Equação (9).

s
O cálculo da tensão máxima aplicada ao solo FS g 
pode ser expresso de acordo com a Equação (7):  (9)
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Sendo: Tabela 2. Fatores de segurança para verificação da


FS g o fator de seguranção contra ruptura global; estabilidade interna
Fatores de Segurança
s a resistência ao cisalhamento do solo (kN/m²); Fator de
 a tensão cisalhante atuante (kN/m²). Verificação
Segurança
Observação
Ruptura do Quando se considera
≥ 1,0
A resistência ao cisalhamento do solo pode Reforço os fatores de redução
Arrancamento ≤ 1,5 -
ser descrita pela Equação (10).

s  c   .tg ' (10)


3 METODOLOGIA
Sendo:
3.1 Parametrização
 a tensão normal ao plano de ruptura (kN/m²);
A presente pesquisa delineou quatro
Entre os diversos métodos de equilíbrio
possibilidades de alturas para a estrutura de
limite pode-se destacar Morgenstern e Price
contenção em solo reforçado, as quais variam
(1965) e Spencer (1967), os quais satisfazem
entre 3, 6, 9 e 12 metros. Adotou-se o valor
todas as condições de equilíbrio estático.
constante de 40 cm tanto para o espaçamento
(Sv) entre cada camada de reforço da estrutura
2.2 Estabilidade Interna
quanto para o seu embutimento (D), bem como
uma sobrecarga (q) de 20 kPa uniformemente
No que se refere à análise da estabilidade
distribuída sobre o terrapleno. Estes
interna, a mesma tem como objetivo garantir
componentes estão ilustrados na Figura 3.
que não ocorram ruptura ou arrancamento dos
reforços. Asseguram-se estes fatores fazendo
com que as solicitações do reforço sejam
inferiores à sua capacidade resistiva, além de
garantir uma ancoragem eficiente, traduzidas
em comprimento das camadas e espaçamento
vertical adequados entre elas.
Um dos métodos baseado nas teorias
clássicas de equilíbrio limite disponíveis para
análise da estabilidade interna é o de Mitchell e
Villet (1987), o qual propõe que a transferência
de tensões do solo para o reforço contempla
dois mecanismos básicos, sendo eles o atrito e a
resistência passiva (PERALTA, 2007).
Estes métodos adotam algumas hipóteses,
tais como, estrutura na iminência do colapso,
separação do maciço em zonas ativa e
resistente, comportamento do solo rígido e Figura 3. Exemplo dos componentes de uma seção
perfeitamente plástico, inclinação e distribuição transversal típica de uma contenção em solo reforçado
de reforços por toda a extensão da superfície de
ruptura e mobilização total da resistência ao Quanto ao solo, a pesquisa define o solo 1
cisalhamento do solo. como argila e o solo 2 como areia. As
Os fatores de segurança para estas análises propriedades de cada um deles estão
estão descritos na Tabela 2. apresentadas na Tabela 3 e foram adotadas de
acordo com valores médios e usuais observados
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em situações práticas de campo e na literatura redução parciais para a obtenção do valor de sua
disponível. resistência máxima, fornecidos através dos
catálogos do fabricante e demonstrados através
Tabela 3. Parâmetros hipotéticos dos solos da Tabela 4.
Tipo de Solo Parâmetros do Solo
γ (kN/m³) 17 Tabela 4. Fatores de Redução de tensão admissível
Argila c (kPa) 10 Fatores de Redução Geogrelha Geotêxtil
ϕ (°) 25
Fluência em tração 1,07 4
γ (kN/m³) 19
Areia c (kPa) 0 Danos de instalação 1,51 1,3
ϕ (°) 33 Degradação ambiental 0 0
Nota: γ – Peso específico do solo; Incertezas est. Material 1,05 1,05
c – Coesão do solo; Total 1,70 5,46
ϕ – Ângulo de atrito do solo.
Após os dimensionamentos, cada solução foi
3.2 Geossintéticos combinada com diferentes tipos de faceamento.
A primeira situação fez uso de uma tela soldada
A geogrelha e o geotêxtil foram os dois tipos de na face em conjunto com uma geogrelha como
geossintéticos submetidos à análise estrutural da reforço. Na segunda situação a geogrelha foi
pesquisa, combinados com os dois tipos de solo novamente empregada como reforço, entretanto,
e as diferentes alturas. Esses materiais são combinada com blocos de concreto na face. Por
responsáveis por garantir o reforço do sistema, e último, foi avaliada a junção entre a face auto-
essas combinações estão resumidas na Figura 4. envelopada utilizando geogrelha, geotêxtil, ou
ambos, quando for necessária maior resistência.

3.3 Dimensionamento

As análises de estabilidade externa e interna


foram realizadas com o auxílio de planilha
desenvolvida no software Excel para cada
camada de reforço implantado, sendo realizadas
de acordo com o método de Mitchell e Villet
(1987), que se baseia na teoria dos empuxos de
Rankine. Para o estudo da segurança contra
ruptura global dos maciços foi utilizada a
ferramenta Slope/W do software GeoStudio
Figura 4. Organograma para dimensionamento
2018, utilizando o método de equilíbrio limite
de Morgenstern e Price, por ser um método
Nota-se que, para o reforço com geotêxtil, a rigoroso que obedece todas as equações de
altura máxima estudada do muro limita-se em 6 equilíbrio estático e contempla as forças entre
metros. Isso acontece devido ao geotêxtil as fatias.
apresentar baixa rigidez e grande O comprimento de reforço foi dimensionado
deformabilidade quando comparado à para atender a situação mais crítica de cada solo
geogrelha, inviabilizando seu uso para alturas e altura de muro, verificando a estabilidade
superiores. externa e interna, e assim, adotando-se a mesma
No que diz respeito as particularidades de dimensão para as demais camadas.
cada geossintético relacionadas ao Para as verificações da capacidade de suporte
dimensionamento, foram empregados fatores de na estabilidade externa, o cálculo da capacidade
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de carga última do solo adotou a formulação de Tabela 6. Tabela resumo para situações de solo argiloso
Terzaghi. Situação Análise crítica
H Lr
Nº Geossintético Estab. Verif.
3.4 Análise de Custos (m) (m)
02 Geogrelha 3 2,00 Ext. Tomb.
04 Geogrelha 6 3,70 Ext. Cap. Carga
Ao final de todos os dimensionamentos 06 Geogrelha 9 6,00 Ext. Cap. Carga
realizou-se um orçamento comparando as 08 Geogrelha 12 8,40 Ext. Cap. Carga
diferentes possibilidades de faceamento da 10 Geotêxtil 3 2,00 Ext. Tomb.
estrutura: tela soldada, blocos de concreto e face 12 Geogrelha/Geotêxtil 6 3,70 Ext. Cap. Carga
auto-envelopada. As propostas orçamentárias
têm como base os valores fornecidos pela Frente a análise que rege o dimensionamento
empresa GeoSoluções. Foram orçadas também, de cada situação, isto é, aquela cuja verificação
os mesmos casos de solos e alturas em terra é a mais crítica dentre todas (resultando num
armada, cujos valores foram fornecidos por uma menor intervalo entre o fator de segurança
empresa localizada na região sudeste do Brasil, obtido e o fator de segurança requerido),
especializada nesta tecnologia. Todos os dados, percebe-se que a análise do arrancamento do
de ambas empresas, foram coletados em reforço categoriza-se como sendo a verificação
outubro de 2017. mais crítica apenas nas situações envolvendo
Em todos os casos os valores se dão por solos arenosos. Isso pode ser explicado pelo
metro quadrado de face (R$/m² de face), a fim fato da coesão reduzir a tensão solicitante do
de possibilitar a comparação com a terra solo no reforço, o que faz com que seu
armada. comprimento de ancoragem seja maior,
portanto, nos solos não-coesivos. No entanto,
isso foi observado apenas até 6 metros de altura
4 RESULTADOS de muro.
Ainda analisando o cenário comparativo
Os dados da Tabela 5 e Tabela 6 expressam o entre os dois solos, percebe-se também que,
resumo do dimensionamento realizado para para uma altura de até 6 metros, o comprimento
todas as 12 situações (discriminadas do reforço é maior no solo arenoso do que no
anteriormente na Figura 4), distinguindo-se pelo solo argiloso. Tal fato ocorre devido à coesão
tipo de solo empregado. É possível verificar a do solo argiloso auxiliar na diminuição do
altura do muro (H), o comprimento do reforço empuxo, pois a pressão ativa torna-se negativa
(Lr) e o mecanismo de ruptura que apresentou o na parte superior do muro até a profundidade
menor fator de segurança, condicionando o z 0 . A partir de 6 metros de altura a situação se
comprimento do reforço. inverte: o comprimento do reforço passa a ser
maior no solo argiloso e menor no solo arenoso.
Tabela 5. Tabela resumo para situações de solo arenoso
Situação Análise crítica
Essa inversão ocorre pelo motivo do valor de
H Lr
ser constante, uma vez que o mesmo depende
Nº Geossintético Estab. Verif. apenas de parâmetros do solo (coesão, peso
(m) (m)
01 Geogrelha 3 2,40 Int. Arranc. específico e coeficiente de empuxo ativo). Por
03 Geogrelha 6 4,10 Int. Arranc. esse motivo, a medida que a altura do muro
05 Geogrelha 9 5,50 Ext. Tomb. aumenta, a redução do valor do empuxo atuante
07 Geogrelha 12 7,00 Ext. Tomb. na estrutura começa a tornar-se cada vez menos
09 Geotêxtil 3 2,40 Int. Arranc.
11 Geogrelha/Geotêxtil 6 3,90 Ext. Tomb.
significativa.
Percebe-se também que para o solo argiloso,
com exceção dos muros com 3 metros de altura,
todas as análises foram governadas pela
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capacidade de carga da fundação. Isso ocorre


devido aos parâmetros de resistência da argila
resultarem em menores tensões admissíveis do
que a areia.
Já para ambas as situações com altura de
muro de 3 metros e solo argiloso a análise de
estabilidade foi governada pelo tombamento,
pois as tensões aplicadas ao solo são menores e
tornam a excentricidade causada pelo momento
do empuxo ativo mais significativa.
No que se refere ainda às alturas do muro, na Figura 6. Custo x Altura de contenções em solo argiloso
apresentação do dimensionamento fica explícito
que o geotêxtil supre todas as solicitações do De acordo com os dados apresentados, fica
solo no reforço apenas nas situações de até 3 explícito que o geotêxtil é caracterizado como a
metros. A partir desse valor é necessário solução mais econômica dentre todas as outras.
realizar a inclusão de geogrelhas nas camadas Todavia, sua utilização restringe-se a muros de
mais inferiores da estrutura. Pode-se afirmar pequenas alturas, uma vez que estes são
que a sobrecarga adotada possui parcela solicitados a menores carregamentos. A medida
significativa nessa constatação, pois caso seu que a altura do muro aumenta, aumentam
valor seja ignorado no dimensionamento também os esforços nele solicitantes, o que
(supondo uma situação em campo em que a implica no surgimento de grandes deformações
mesma seja inexistente), tornar-se-á possível a no geotêxtil que inviabilizam sua utilização.
execução de uma ECSR em geotêxtil com Além disso, no quesito de maior viabilidade
alturas maiores em aproximadamente 1 metro. econômica, tem-se que a face auto-envelopada,
tanto com reforço em geotêxtil quanto em
geogrelha, é a solução mais notória.
5 CUSTOS Nota-se também que a contenção em Terra
Armada apresenta custo geralmente inferior ao
Tomando por base as alturas de muro e os custo da ECSR com faceamento em blocos de
valores referentes às soluções de contenção concreto. Todavia, de acordo com a empresa
analisadas para cada tipo de solo, torna-se fonte dos orçamentos desse tipo de solução,
possível comparar graficamente o custo total de existe uma limitação granulométrica dos solos
cada situação com a geometria vertical do muro, argilosos a serem utilizados nesse tipo de
como exibido na Figura 5, para solo arenoso, e solução, o que pode encarecer sua utilização em
na Figura 6, para solo argiloso. função do solo disponível no local.
A solução com face em tela soldada
apresenta vantagem econômica significativa
sobre as soluções que usam concreto na face.

6 CONCLUSÕES

6.1 Coesão

Do exposto, percebe-se que a coesão influi


diretamente na tensão solicitante do solo no
Figura 5. Custo x Altura de contenções em solo arenoso reforço, uma vez que é responsável por diminuir
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o empuxo atuante na estrutura, tornando a mecanismo condicionante da geometria. Isso


pressão ativa negativa na parte superior do muro ocorre em função dos parâmetros de resistência
até a profundidade z 0 . Entretanto, vale ressaltar do solo, que resultaram em uma tensão
que a coesão é um valor de difícil determinação, admissível da ordem da metade da tensão
e, mesmo quando há resultados de ensaios de admissível da areia.
cisalhamento, os valores de coesão obtidos Para os parâmetros de resistência adotados
podem não ser reais e influenciados pela para os dois cenários de solo, o deslizamento e a
envoltória de ruptura adotada ou pelas ruptura global não governaram nenhuma análise
condições de saturação. Desse modo, de estabilidade. Isso pode ser distinto para
normalmente recomenda-se trabalhar com o outros parâmetros, o que reforça a importância
valor de coesão reduzido, o qual estará da confiabilidade dos parâmetros utilizados em
realmente disponível durante toda a vida útil da situações reais.
obra, independente das condições de umidade.
Esse efeito benéfico da coesão é mais 6.3 Geossintéticos
significativo para pequenas alturas, o que fez os
muros de 3 e 6 metros em solo argiloso Tratando-se dos materiais utilizados como
apresentarem menores comprimentos de reforço reforço, geogrelhas e geotêxteis, é possível
que no solo arenoso, que por sua vez apresentou observar que as geogrelhas apresentam maiores
a análise interna de arrancamento como sua resistências a tração, podendo assim alcançar
condicionante. maiores alturas de muro. Para este fato, tem-se a
influência dos fatores de redução,
6.2 Mecanismo condicionante principalmente o de fluência em tração, o qual
trata das deformações dos geossintéticos, e que
Analisando as situações que apresentaram o apresenta um valor cerca de 4 vezes maior para
tombamento como mecanismo de ruptura geotêxteis comparado às geogrelhas. Isso
condicionante, independente do tipo de solo, demonstra que o geotêxtil apresenta maiores
pode-se concluir que isso ocorreu devido ao deformações, reduzindo significativamente a
método de dimensionamento ter sido realizado resistência do mesmo e restrigindo seu uso para
de acordo com a NBR 19286 (ABNT, 2016), maiores alturas, como pode ser observado para
onde verifica-se se a força resultante da as Situações Híbridas 11 e 12 (Tabela 5 e
estrutura encontra-se no núcleo central de Tabela 6).
inércia da base. No entanto, grande parte da No que diz respeito a estabilidade interna,
literatura disponível recomenda verificar o nota-se que o reforço sofre maior tensão de
tombamento através da razão entre momento ruptura nas camadas mais inferiores da
resistente e momento solicitante da estrutura, o estrutura, localizadas imediatamente acima do
que normalmente traz fatores de segurança mais embutimento, sendo esta solicitação reduzida à
elevados. No entanto, fisicamente, se a força medida que se analisam as camadas mais
resultante se situa no núcleo central de inércia superiores. Isso se deve ao fato de que há uma
da base, toda a base estará comprimida e será redução de tensões devido a menor massa de
impossível a estrutura tombar. Sendo assim, solo atuante em camadas situadas em maiores
esse tipo de análise pela excentricidade é mais alturas, fazendo com que estas, sofram menores
conservadora que a análise apenas dos solicitações à ruptura do reforço presente.
momentos, a qual provavelmente não resultaria Sob outra perspectiva, constata-se que as
em um mecanismo de ruptura condicionante da camadas localizadas a maiores alturas nas
geometria em tantas situações. estruturas são as mais solicitadas ao
Nas demais situações analisadas para o solo arrancamento do reforço. A explicação disso,
argiloso a capacidade de carga da fundação foi o está no fato de que pela geometria, a cunha de
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ruptura parte exatamente do pé do muro, acima resultam na degradação da face e contribuem


do embutimento, configurando uma superfície para a diminuição de sua vida útil. Com o
plana e inclinada, fazendo com que o intuito de prevenir tal degradação, deve-se
comprimento de ancoragem diminua executar sobre o seu faceamento uma proteção
gradativamente a cada camada à medida que específica, como concreto projetado, aumentado
aumenta a altura da estrutura. Com isso, a assim o custo do emprego dessa solução. Além
última camada mais superior apresenta menor disso, soluções auto-envelopadas estão sujeitas
resistência ao arrancamento e menor fator de ao vandalismo e não são esteticamente
segurança, sendo a situação mais crítica para agradáveis, podendo também apresentar
esta análise. maiores deformações na face.

6.4 Análise Financeira REFERÊNCIAS

Com relação a comparação financeira entre as Associação Brasileira de Normas Técnicas NBR 19286
propostas de estruturas reforçadas com Muros em solo mecanicamente estabilizados –
Especificação. Rio de Janeiro, 2016.
geossintéticos e com terra armada, foi possível Das, B. M. Fundamentos da engenharia geotécnica.
visualizar que para os mesmos comprimentos Tradução da 6ª ed. americana. São Paulo: Thomson
de reforços, divergem os valores das estruturas, Editora, 2007. 559p.
tendo em vista a face utilizada. Sendo assim, Ehrlich, M.; Becker, L. Muros e taludes de solo
verifica-se que a terra armada apresenta reforçado. São Paulo, Editora Oficina de Textos,
2009. 126p.
vantagem econômica sobre uma ECSR com Geosoluções. Disponível em:
geogrelha e face de bloco de concreto, porém é <https://www.geosolucoes.com/>. Acesso em: 24 jul.
economicamente inferior quando comparada a 2017.
mesma estrutura quando o faceamento é Mitchel, V. e Villet, W. (1987) Reinforcement of earth
executado em tela soldada. slopes and embankments, National Cooperative
Highway Research Program Report n.290, 162 p.
Observou-se que solos reforçados com Peralta, F. N. G. Comparação de Métodos de Projeto para
geotêxteis, ou até mesmo híbridos, apresentam Muros de Solo Reforçado com Geossintéticos. 2007,
valores significativamente menores do que os 162 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) –
que possuem como reforço somente a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, 2007.
geogrelha. Este fato ocorre devido ao custo do
Tonus, B. P. A. (2009) Estabilidade de taludes:
geotêxtil ser cerca de 1,5 vezes inferior ao da avaliação dos métodos de equilíbrio limite aplicados
geogrelha para as maiores resistências de a uma encosta coluvionar e residual da serra do mar
geotêxteis, chegando até cerca de 3 vezes paranaense, Dissertação de Mestrado, Programa de
inferior para as menores. Pós-Graduação em Geotecnia, Setor de Tecnologia,
Universidade Federal do Paraná, 147 p.
Por fim, dentre as situações de faceamento,
Vertematti, J. C. Manual brasileiro de geossintéticos. 2.
verifica-se que a face auto-envelopada é a opção ed. São Paulo: Blucher, 2015. 570p.
economicamente mais viável. Porém, deve-se
atentar ao fato de que todos os produtos
geossintéticos são suscetíveis aos raios
ultravioletas emitidos pelo sol, com exceção
daqueles fabricados a partir do polímero PEAD
(Polietileno de Alta Densidade). Isso significa
que a incidência direta desses raios na estrutura
sem uma devida proteção do material exposto
no paramento tende a quebrar sua cadeia
polimérica, ocasionando seu enrijecimento e
diminuindo sua resistência. Todos esses fatores
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Aspectos Estruturais de Muros de Flexão Reforçados com


Geogrelha
Alan Rizzato Espessato
Universidade Estadual de Maringá, Umuarama-PR, Brasil, alan.uem@gmail.com

Prof. Dr. Sérgio Trajano Franco Moreiras


Universidade Estadual de Maringá, Umuarama-PR, Brasil, strajano@gmail.com

Carlos Alberto C. Brant


Universidade Estadual de Maringá, Umuarama-PR, Brasil, betocbrant@hotmail.com

RESUMO: A estrutura de contenção usualmente adotada em Umuarama-PR é o Muro de Flexão do


tipo “grelha”, cuja estrutura é composta por vigas e pilares em concreto armado e fechamento de
alvenaria. Para resistir aos esforços de tração, faz-se necessário a construção de um reforço (mão
francesa), porém a execução desse reforço é complexa, sendo esse reforço, uma fonte de problemas
construtivos e patologias. O objetivo desse trabalho foi dimensionar um Muro de Flexão do tipo
“grelha”, substituindo o reforço em mão francesa por reforços com geogrelhas. Para auxiliar o
dimensionamento, utilizou-se o software Robot Structural 2018 para obtenção dos diagramas de
esforços internos e deformações. O dimensionamento das geogrelhas foi realizado através do método
de Ehrlich e Mitchell (1994 apud ). Como solução, adotou-se 3 camadas de geogrelhas ligadas nas
vigas intermediárias e de base da estrutura. Concluiu-se que as geogrelhas podem ser utilizadas como
reforço para esse tipo de estrutura.

PALAVRAS-CHAVE: Estruturas de contenção; Solo reforçado; Modelagem numérica; Robot


Structural.

1 INTRODUÇÃO metros por 20 a 25 metros de profundidade,


tornando necessário o aproveitamento máximo
Na última década o Brasil vivenciou um período do lote para construção da edificação.
de grande ascensão econômica, principalmente A topografia da região de Umuarama-PR é
entre os anos de 2007 e 2014. ondulada, necessitando muitas vezes da
Nesse período o governo federal lançou o construção de estrutura de arrimo para
programa “minha casa minha vida”, programa estabilização do maciço de terra. Devido ao
esse que facilitou o acesso ao crédito para reduzido tamanho dos terrenos, essas estruturas
pessoas de baixa renda, estimulando a compra da são de concreto armado (flexão), pois ocupam
casa própria e que consequentemente ajudou a pouco espaço no terreno em comparação com o
fomentar ainda mais o mercado da construção muro de gravidade.
civil, desencadeando um processo que ficou Na região de Umuarama, a estrutura de
conhecido como “boom da construção civil”. contenção usualmente adotada é o Muro de
Em virtude desse aquecimento e elevada Flexão do tipo “grelha”. Sua estrutura é
demanda de novas construções, o mercado composta por vigas e pilares em concreto
imobiliário acabou sendo inflacionado. Segundo armado e fechamento de alvenaria. Para resistir
Bassi (2016), os lotes que antes costumavam ter aos esforços de tração provenientes do empuxo
dimensões de 15 x 20 metros passaram a ser de terra, faz-se necessário a construção de um
divididos, ficando com uma largura entre 6 a 7 dispositivo de reforço. O elemento de reforço
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tipicamente utilizado é a mão francesa, que responsáveis por absorver os esforços de tração
consiste em uma viga inclinada ligando o tardoz em excesso que surgem no muro devido ao
do muro a estrutura de fundação. empuxo de terra.
Esses muros geralmente são executados de
maneira empírica baseado na experiência de
construtores da região, ou seja, sem um estudo 2 METODOLOGIA
prévio sobre as características do solo,
levantamento de cargas e análise de estabilidade 2.1 Materiais
do maciço, comprometendo assim a relação
SEGURANÇA x ECONOMIA. 2.1.1 Geogrelha
Devido a geometria do reforço e sua
inclinação, a execução desse dispositivo é Para o dimensionamento do reforço foram adotas
complexa, sendo a principal fonte de problemas geogrelhas da linha Fortrac® MP. Essas
construtivos, que surgem devido à dificuldade do geogrelhas são feitas de filamento de Poliálcool
posicionamento das armaduras e fôrmas. Esses vinílico (PVA) de alta tenaciadade e baixa
problemas executivos podem gerar trincas e fluência. A tensão admissível na geogrelha deve
posteriormente causar patologias (corrosão da ser minorada através dos fatores de redução, por
armadura, infiltração). Fato esse que pode afetar questões de segurança. Os modelos de geogrelha
o desempenho do reforço e consequentemente o utilizados foram: Fortrac MP – J1100 e Fortrac
desempenho do muro, sendo que, o mau MP – J1600.
funcionamento desse dispositivo pode levar a As especificações técnicas, assim como os
deformações excessivas na face do muro fatores de redução dessas geogrelhas, foram
comprometendo a segurança. obtidas através do catálogo do fabricante.
Uma vertente que vêm ganhando espaço na
geotecnia, especialmente em obras de contenção, 2.1.2 Solo
é a técnica de solo reforçado. Essa técnica tem
como principal característica, realizar a união de Para o dimensionamento do reforço em
dois materiais com características mecânicas geogrelha, foi necessário obter os parâmetros do
distintas: o solo, que se bem compactado, solo de Umuarama – PR. Dessa forma, foram
apresenta boa resistência a compressão e ao realizados ensaios de análise granulométrica e
cisalhamento, e o geossíntético que apresenta compactação proctor normal do solo.
elevada resistência a tração. A utilização dessa O ensaio de análise granulométrica foi
técnica é justificada por suas vantagens, dentre realizado de acordo com a NBR 7181/1984. O
as quais podemos citar: rápida e fácil execução, solo apresentou a seguinte distribuição
não necessita de mão de obra especializada e granulométrica, areia 76,36%, silte 2,36% e
geralmente tem custo inferior as soluções argila 21,29%. A Figura 1 ilustra a curva de
tradicionais. distribuição granulométrica do solo.
A técnica de solo reforçado surgiu com o
objetivo de substituir as estruturas de contenção
tradicionais (muros de arrimo), na literatura tem-
se pouca informação da associação da técnica de
solo reforçado com muro de arrimo. Devido à
dificuldade de execução do reforço em mão
francesa, esse trabalho estudou a associação das
duas técnicas (Solo reforçado e muro de flexão),
com objetivo de substituir o reforço em mão
francesa. Nessa situação as geogrelhas (reforço
do solo) atuam como reforço do muro,
Figura 1. Curva Granulométrica.
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realizar um pré-dimensionamento dos elementos


Dessa forma o solo foi classificado como uma de concreto do muro. Tanto as vigas quanto os
areia argilosa. Também foi realizado o ensaio de pilares foram lançados com seções transversais
compactação proctor normal, conforme a NBR de 20x20 cm. Conforme a Figura 3, os vãos entre
7182/1986. A Figura 2 mostra a curva de pilares possuem 1,8 m e 0,80 m entre as vigas.
compactação do solo. Para a fundação do muro foram adotadas estacas
com 30 cm de diâmetro e 5 m de profundidade.

Figura 3. Pré dimensionamento dos elementos.


Figura 2. Curva de Compactação.

Os parâmetros de compactação teor de 2.2.2 Modelagem computacional


umidade ótima e peso específico máximo seco
atingiram os seguintes valores, 10,80% e 1,980 Com intuito de obter as deformações e
(g/cm³), respectivamente. A partir desses dados, diagramas de esforços internos dos elementos do
foi possível estabelecer os parâmetros do modelo muro, foi realizado a modelagem computacional
hiperbólico proposto por Duncan (1980). De com auxílio do software Robot Structural
acordo com Ehrlich e Becker (2009), os Analysis 2018. A Tabela 2 indica os dados de
parâmetros adotados para esse solo estão entrada relativo ao concreto, conforme a NBR
dispostos na Tabela 1. 6118/2014.

Tabela 1. Parâmetros do solo. Tabela 3. Parâmetros do solo.


γ c' Φ k ku Rf n Propriedades do Concreto – 6118/2014
(kN/m³) (kN/m²) (°) fck E ν γc
19 0 30 225 450 0,8 0,40 20 25044 0,2 25

Onde: γ – Peso específico do solo (kN/m³); c’ Onde: fck – Resistência característica do


– coesão (kN/m²); Φ' – Ângulo de atrito interno concreto (Mpa); E – Módulo de elasticidade
do solo (°); K – é o módulo do modelo longitudinal (Mpa); ν – Poisson; γc – Peso
hiperbólico de Duncan et al. (1980) para específico do concreto (kN/m³).
carregamento; Ku – é o módulo do modelo
hiperbólico de Duncan et al. (1980) para Para representar o solo optou-se pelo modelo
descarregamento; Rf – coeficiente de ruptura; de Winkler, no qual o solo pode ser representado
n – é o expoente dos módulos do modelo por uma série de molas. Para estipular os valores
hiperbólico de Duncan et al. (1980). dos coeficientes das molas, foi utilizado os
parâmetros indicados por Alonso (1989),
2.2 Dimensionamento adotando-se o espaçamento de 1 m entre as
molas e estaca de 30 cm os valores Kmola
2.2.1 Estrutura do muro (coeficiente de rigidez da mola) são expressos na
Tabela 4.
Para dar início a modelagem foi necessário
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Tabela 4. Parâmetros de rigidez do solo.


Compacidade Profundidade ηh Kmola
da areia z (m) (kN/m³) (kN/m)
1 2600 780
Areia fofa
2 2600 1560
Areia 3 8000 7200
medianamente
4 8000 9600
compacta

Para o cálculo das pressões exercidas pelo


maciço de terra sobre a estrutura, utilizou-se a
teoria de Rankinie para o caso ativo de tensões e
terrapleno horizontal. A Figura 4 ilustra a
modelagem do muro.
Figura 5. Camadas de Geogrelha.

Com empuxo atuando sobre o muro, a


estrutura tende a deformar-se, nesse momento as
geogrelhas são ativadas, sendo que o seu
funcionamento assemelha-se a um tirante. O
sistema é basicamente atritivo, portanto a
compactação é um aspecto fundamental para o
bom desempenho dessa estrutura.
Através do modelo computacional foram
lançadas forças contrárias ao empuxo de terra.
Essas forças representam a mobilização de
Figura 4. Modelo Computacional do Muro. tração nas geogrelhas necessária para limitar a
deformação da estrutura. Após obter o valor
dessas forças, foi utilizado o método de Ehrlich
2.2.3 Análise de deformação e reforço estrutural e Mitchell (1994) para o dimensionamento das
camadas de geogrelhas.
Após o lançamento da estrutura, carregamentos
atuantes e condições de vinculação foi avaliado
a necessidade de reforçar a estrutura, sendo esta 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
avaliação realizada através da análise da
deformação da estrutura. Segundo a NBR 3.1 Muro de flexão tipo “grelha” sem reforço
6118/2014, pelo estado limite de utilização, os estrutural
elementos de concreto armado devem ter uma
deformação limitada a L/250, onde L é o Primeiramente foi simulado um modelo
comprimento do elemento. Para o modelo, foi contendo apenas a estrutura de vigas, pilares e
então estabelecido que a deformação máxima fundação, não havendo presença de elementos de
permitida é H/250, ou 0,4% H onde H é a altura reforço. A NBR 6118/2014 recomenda que seja
do muro. verificado o Estado Limite de Serviço (ELS),
Posteriormente ao processamento de dados, através da combinação quase permanente de
foi verificado a necessidade de reforçar a ações. Não havendo presença de ações variáveis,
estrutura. Nesse caso, adotou-se camadas de a combinação foi realizada com as ações do peso
geogrelhas como reforço para o muro de flexão. próprio mais o empuxo do solo, ambos com fator
A Figura 5 ilustra o funcionamento das igual a 1,0.
geogrelhas como reforço. Para essa situação, o muro apresentou uma
deformação máxima de 13,4 cm, deformação
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essa que ocorreu no ponto médio da viga 3.3 Dimensionamento das Geogrelhas
localizada no topo do muro.
Em relação a altura do muro, essa Inicialmente foi realizado o cálculo da
deformação equivale a 3,38%, portanto acima do resistência a tração admissível para uma vida útil
limite estabelecido de 0,4% H. Sendo assim, foi de projeto de 60 anos. Através dos fatores de
necessário reforçar a estrutura. segurança, foram minoradas as resistências
nominais. Sendo que os valores das trações
3.2 Muro de flexão tipo “grelha” com reforço admissíveis obtidos foram 28,93 kN/m para
estrutural J1100 e 42,48 kN/m para J1600.
Como a face do muro apresenta elevada
Conforme visto anteriormente, somente a rigidez, admitiu-se que o paramento em concreto
estrutura do muro sem a presença de elementos armado é capaz de fornecer a estabilidade
de reforço, não foi suficiente para limitar as externa para o maciço, sendo então dispensadas
deformações causadas pelo maciço de terra, essas análises. Para verificação da estabilidade
sendo necessário, portanto reforçar a estrutura. interna, por representar uma situação mais
Como solução de reforço, optou-se por fixar 3 realista, foi utilizado o método de Ehrlich e
camadas de geogrelhas ligadas nas vigas do Mitchell (1994), que se baseia nas condições de
muro. Para o dimensionamento do reforço, é serviço, portanto foi adotada uma sobrecarga de
necessário conhecer a carga de tração atuante compactação de 60 kN/m².
sobre o mesmo, essa carga de tração é Através das equações analíticas
responsável por absorver parte dos empuxos de desenvolvidas por Ehrlich e Mitchell (1994), e
terra, limitando a deformação do muro. com auxílio de planilha eletrônica, realizou-se os
Com objetivo de representar as geogrelhas, cálculos para definição dos comprimentos e
foram lançadas cargas uniformemente tração máxima em cada camada de reforço. A
distribuídas ao longo das vigas, no sentido Tabela 6 indica os resultados desses cálculos.
contrário ao empuxo de terra. Essas cargas
representam a tração necessária mobilizada nas Tabela 6. Dimensionamento das geogrelhas.
camadas de geogrelhas para restringir a Camada
Z Lr J Tadm Tmax
FS
deformação. (m) (m) (kN/m) (kN/m) (kN/m)
Para determinar o valor dessas cargas, foram 1 3,20 3,0 1100 28,93 13,21 2,19
realizadas algumas simulações. Com a intenção 2 2,10 3,0 1100 28,93 18,06 1,60
de limitar a deformação do muro, foram criados 3 1,10 3,5 1600 42,48 28,23 1,51
diversos apoios do 2º gênero ao longo das vigas.
Dessa forma, os deslocamentos foram Onde: Z – Altura de solo acima da camada; Lr –
limitados, consequentemente surgiram forças de Comprimento do reforço; J – Módulo de rigidez
reação nesses apoios. Todavia, mesmo que de longitudinal; Tadm – Tensão admissível; Tmax –
maneira simplificada, essas forças pontuais Tensão máxima atuante em cada camada; FS –
foram convertidas em forças distribuídas Fator de Segurança (Tadm/Tmax).
equivalentes, distribuídas ao longo das vigas.
Assim sendo, obteve-se as cargas de tração Ainda complementando a análise de
necessária em cada camada de geogrelhas, para estabilidade interna, foi verificado a resistência
que a deformação do muro seja limitada. Os ao arrancamento dos reforços (Pr), em função
valores das cargas estão indicados na Tabela 5. dos comprimentos de embutimento (Le). Os
resultados dessa análise estão expressos na
Tabela 5. Parâmetros do solo. Tabela 7.
Camada Tnec (kN/m)
1 10
2 12
3 10
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Tabela 7. Verificação da resistência ao arrancamento. elemento, e a direção do carregamento devido ao


Z Le Pr Tmax empuxo de terra.
Camada FS
(m) (m) (kN/m) (kN/m)
1 3,20 3,0 192,88 13,21 14,60
2 2,10 2,4 92,19 18,06 5,11
3 1,10 2,3 44,66 28,23 1,58

Nesse caso o fator de segurança é expresso


pela razão entre Pr e Tmax.
A Tabela 8 mostra um comparativo entre a
carga de tração necessária, obtida através da
modelagem numérica e a carga de tração máxima
mobilizada em cada camada, calculada através
do método de Ehrlich e Mitchell (1994).
Figura 6. Coordenadas locais; (a) Estacas e Pilares; (b)
Tabela 8. Comparativo entre Tnec e Tmax. Vigas.
Camada Tnec (kN/m) Tmax (kN/m)
1 10 13,21
Os eixos dos pilares/estacas, foram
2 12 18,06 numerados de 1 a 6, da esquerda para direita.
3 10 28,23 Para vigas, no entanto, a numeração foi realizada
de acordo com as cotas, sendo a cota 0 relativo a
Através dos cálculos, foi observado que as viga da base, e a cota 3,20 m referente a viga do
camadas de geogrelhas são capazes de fornecer topo.
a resistência à tração necessária para limitar as Analisando as vigas, o diagrama de momento
deformações. Tanto para análise de tração fletor (Mz), apresentou comportamento
máxima dos reforços, quanto para análise de aproximadamente parabólico com valor máximo
arrancamento, Ehrlich e Becker (2009) de 32,23 kN.m. Outro fato observado é que na
recomendam um fator de segurança mínimo de região central da viga o elemento está sujeito a
1,5. Esse fator de segurança foi atendido em flexão pura. Nas demais regiões surgiram
todas camadas para as duas análises, portanto esforços de torção (Mx) e esforços cortantes
pode-se considerar os reforços dimensionados (Fy). A Tabela 9 indica os valores máximos
capazes de suportar as solicitações. desses esforços.

Tabela 9. Esforços internos nas vigas.


3.4 Aspectos Estruturais
Viga / Cota (m) Fy (kN) Mz (kN.m) Mx (kN.m)
0 (base) 8,45 21,68 17,98
Através da modelagem foi possível obter os 1,10 18,54 29,86 15,37
diagramas de esforços internos de todos 2,10 19,36 34,47 8,88
elementos do muro, esse trabalho não teve, 3,20 17,58 40,29 4,93
porém, o objetivo realizar o cálculo das
armaduras dos elementos de concreto armado, Para os pilares, foi observado que em sua base
limitando-se então apenas para análise de existem esforços internos de momento fletor
deformações e esforços internos. A seguir serão (Mz), indicando que ocorre a transmissão de
apresentados os resultados mais relevantes dessa esforços de momento para o topo das estacas de
análise. fundação.
Os diagramas de esforços internos Conforme a Tabela 10, cabe salientar que
apresentados a seguir, são exibidos com relação devido a simetria da estrutura, a distribuição de
aos eixos locais dos elementos, a Figura 6 ilustra esforços também se deu de forma simétrica.
o sistema de coordenadas local de cada
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Tabela 10. Esforços internos nos pilares. 3.5 Arranjo final do Muro de flexão tipo “grelha”
Pilar / Eixo Fy (kN) Mz (kN.m) Mx (kN.m) reforçado com geogrelhas.
1e6 38,83 31,13 13,70
2e5 17,05 14,45 12,75
3e4 30,68 23,52 4,52 Alguns detalhes construtivos são importantes
para o bom desempenho do sistema, sendo o
Um ponto interessante nessa análise é que na primeiro deles a drenagem. Vertematti (2004)
prática costuma-se chamar de pilar o elemento recomenda que a estrutura reforçada, sempre que
de concreto armado orientado na direção possível, deve estar livre da presença de águas
vertical. Conforme a NBR 6118/2014, os pilares freáticas. Portanto deve-se tomar um cuidado
são definidos como: “elementos lineares de eixo especial com a drenagem do sistema.
usualmente dispostos na vertical, em que as Outro fator importante é a rigidez da face.
forças normais de compressão são Pedroso (2000) relata a influência da rigidez da
preponderantes”. Porém os esforços face em estruturas com solos reforçados,
preponderantes nesses elementos do muro são destacando que a face rígida contribui para o
devido a flexão. Segundo a norma citada acima, confinamento do solo e absorve os empuxos em
as vigas são definidas como: “elementos lineares sua superfície, reduzindo o deslocamento do
em que a flexão é preponderante”. Sendo assim, maciço. Apesar de vários autores comprovarem
esses elementos devem ser dimensionados como a influência da rigidez da face nesse tipo de
vigas. estrutura, os métodos de dimensionamento
Também foram analisados os esforços convencionais não levam em consideração a
internos nas estacas, esses elementos estão contribuição dessa rigidez.
sujeitos a carregamentos transversais no topo. Os Com base nesses detalhes e seguindo as
valores dos esforços internos das estacas estão recomendações de Ehrlich e Becker (2009) e
dispostos na Tabela 11. Vertematti (2004). A Figura 7 apresenta o
arranjo final da estrutura de contenção.
Tabela 11. Esforços internos nas estacas.
Estaca / Eixo Fy (kN) Mz (kN.m)
1e6 5,29 10,72
2e5 36,59 51,94
3e4 53,93 79,58

Conforme citado anteriormente, para


fundação do muro foram adotadas estacas com
30 cm de diâmetro e 5 m de profundidade. Rossi
(2017) mostrou em seu trabalho, através do
método de Aoki e Velloso, que para o solo de
Umuarama-PR uma estaca com diâmetro de 32
cm e 5 m de profundidade é possível de oferecer Figura 7. Arranjo final da estrutura.
uma resistência lateral de 69,70 kN.
Através da modelagem foi possível obter os A Tabela 12 indica as especificações de cada
diagramas de esforços internos e a estaca mais camada de goegrelha.
solicitada à compressão apresentou uma força de
11,26 kN. Por simplificação do modelo não Tabela 12. Especificações de cada camada.
foram feitas verificações de capacidade de carga Camada Cota Geogrelha Comprimento
e com base no trabalho de Rossi (2017) assumiu- de reforço (m) Fortrac® MP Lr (m)
se que a fundação fornece resistência suficiente 1 0,00 J1100 3
para o muro de flexão tipo grelha. 2 1,10 J1100 3
3 2,10 J1600 3,5
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4 CONCLUSÕES ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS


TÉCNICA. NBR 7181: Solo – Análise
Granulométrica. Rio de Janeiro, 1984.
Através desse trabalho foi possível concluir que ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
as geogrelhas podem ser utilizadas como reforço TÉCNICA. NBR 7182: Solo – Ensaio de
estrutural do muro de flexão com seção tipo compactação. Rio de Janeiro, 2016.
“grelha”. Utilizando-se o método de Ehrlich e ALONSO, Urbano Rodriguez. Dimensionamento de
Mitchell (1994), foi possível definir os fundações profundas. São Paulo: Edgard Blucher,
1989.
espaçamentos e tração máxima em cada camada. AUTODESK. Robot Structural Analysis 2018. Disponível
Para limitar da deformação excessiva do em: <https://www.autodesk.com/education/free-
muro, adotou-se 3 camadas de geogrelhas software/robot-structural-analysis-professional>.
ligadas nas vigas intermediárias e de base da BASSI, N. M. Metodologia de cálculo de muro de arrimo
estrutura. Essa solução se mostrou eficiente, na região de Umuarama. 2016. 83 f. TCC (Graduação)
- Curso de Engenharia Civil, Universidade Estadual de
capaz de limitar a deformação e absorver os Maringá, Umuarama - Pr, 2016.
empuxos de terra. CINTRA, J. C; AOKI, N. Carga Admissível em Fundações
A modelagem computacional mostrou-se uma Profundas. São Paulo: EESC USP - Projeto Reenge,
ferramenta poderosa para auxiliar as projetista 1999.
estrutural a entender melhor o comportamento e CINTRA, José Carlos A.; AOKI, Nelson. Fundações por
estacas: projeto geotécnico. São Paulo: Oficina de
esforços atuantes na estrutura. A partir dos Textos, 2010.
esforços internos da estrutura, o projetista pode EHRLICH, M.; BECKER, L. Muros e Taludes de Solo
realizar o dimensionamento das armaduras Reforçado: projeto e execução. São Paulo: Oficina de
conforme a NBR 6118/2014. Nessa análise foi Textos, 2009.
observado que os esforços preponderantes nas EHRLICH, M.; MITCHELL, J. K. Working Stress Design
Method for Reinforced Soil Walls. Journal of
vigas e pilares são devido a flexão, porém em Geotechnical Engineering, v. 120, n. 4, p.625-645, abr.
alguns elementos surgiram esforços de torção. 1994
Na prática, de forma geral os esforços de torção MITCHEL, V. e VILLET, W. Reinforcement of earth
são desconsiderados. Dessa forma recomenda-se slopes and embankments. National Cooperative
que para um melhor dimensionamento estrutural Highway Research Program Report n.290, 162 p. 1987
PEDROSO, Emerson Oliveira. Estruturas de Contenção
do muro deve ser feito uma análise crítica sobre Reforçadas com Geossíntéticos. 2000. 90 f.
a influência da torção nessas vigas. Dissertação (Mestrado) - Curso de Engenharia Civil,
Por fim, além de alcançar os objetivos Eesc/usp, São Carlos, 2000
propostos, o trabalho abriu espaço para futuras ROSSI, M. L. Modelagem numérica de muros de flexão na
pesquisas em torno da utilização de região de Umuarama. 2017. 83 f. TCC (Graduação) -
Curso de Engenharia Civil, Universidade Estadual de
geossintéticos como elementos de reforço para Maringá, Umuarama, 2017.
estruturas de contenção. VERMATTI, José Carlos. Manual Brasileiro de
Geossintéticos. São Paulo: Blucher, 2009.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos a Universidade Estadual de


Maringá, especialmente ao campus regional de
Umuarama-PR - DTC, pelo incentivo e
contribuição dada ao longo dessa pesquisa.

REFERÊNCIAS

ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS


TÉCNICA. NBR 6118: Projeto de estruturas de
concreto – Procedimento. Rio de Janeiro, 2014.
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Avaliação da Absorção de Água do Poliestireno Expandido após


Exposição a Hidrocarbonetos
Beatriz Garcia Silva
Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, bia.garcia0102@gmail.com

Mariana Basolli Borsatto


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, mbborsatto@gmail.com

Paulo César Lodi


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, plodi@feb.unesp.br

Rogério Custódio Azevedo Souza


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, rogerio.azevedo@ortalc.com.br

Bruna Rafaela Malaghini


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, bruna1997.bruh@gmail.com

Caio Henrique Buranello dos Santos


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, caioburanello@hotmail.com

RESUMO: Este trabalho avaliou a absorção de água de amostras de poliestireno expandido (EPS)
após 1 e 2 semanas de exposição a hidrocarboneto (gasolina). As amostras foram fornecidas por
uma empresa nacional em três massas específicas diferentes (10, 18 e 33,5 kg/m3). O ensaio de
absorção de água foi realizado de acordo com a norma ASTM C272 (2001). Os corpos de prova
possuíam dimensões cúbicas de 100 mm. A exposição aos vapores de gasolina foi realizada usando
um tanque com uma lâmina de gasolina de 4 cm de altura. As amostras foram suspensas a uma
distância de 15 cm da gasolina. Após cada período de exposição, três corpos de cada densidade
foram removidos para os ensaios. Os principais resultados mostram que os valores obtidos para
absorção de água foram altos para todas as amostras intactas, sendo que a menor densidade
apresentou um aumento de 336% e a maior um aumento de 70%. Após exposição de 1 e 2 semanas
ao vapor de gasolina, esses valores aumentaram significativamente, atingindo 430% (menor massa
específica) e 128% (maior massa específica). Após a exposição aos vapores de gasolina, os valores
de absorção de água aumentaram, resultando em perda de características desejáveis para o uso do
EPS. A menor massa específica (10 kg/m³) foi a mais afetada. Uma tendência de redução
significativa na absorção de água é observada à medida em que a massa específica aumenta para
ambas as condições (intacta e exposição). Os resultados sugerem a importância da drenagem e
impermeabilização para proteger o EPS.

PALAVRAS-CHAVE: poliestireno expandido, gasolina, absorção de água.

1 INTRODUÇÃO de engenharia geotécnica. Isso pelo fato deste


apresentar reduzida massa específica (0,10 a
O poliestireno expandido (EPS) é um 0,40 g/cm3), elevada resistência (80 a 300 kPa)
geossintético (geoexpandido) que pode ser e baixa compressibilidade (módulo de
utilizado em uma gama de aplicações em obras elasticidade de 1 a 11 MPa). Além disso, não
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possui valores nutritivos para abrigar EPS quando ocorrer a possibilidade deste estar
microorganismos e outros animais e não é em contato com hidrocarbonetos. É interessante
quimicamente afetado no contato com o solo e a que sejam realizados os mesmos ensaios
água (BASF, 1990; 1991; HORVATH, 1994; considerando diferentes densidades do material
STARK et al., 2004; AVESANI NETO, 2008). para que efetuem-se análises comparativas entre
Essas características fazem com que este os resultados, ou seja, para avaliar-se o quanto
material seja amplamente empregado em a massa específica influencia no
construção de estradas sobre solos com baixa comportamento do material, tanto na condição
capacidade de suporte, alargamento de rodovias intacta quando na degradada. Assim, este
e aterros leves de encontros de pontes/viadutos trabalho apresenta resultados da absorção de
(JAFARI, 2010; STARK et al., 2012; água do EPS após exposição ao vapor de
BARTLETT et al., 2015). gasolina ao longo do tempo.
Em função da massa específica, há
consideráveis mudanças no comportamento
mecânico e hidráulico do material. No caso 2 MATERIAL E MÉTODOS
particular da absorção de água, é importante
frisar que o aumento desta propriedade pode Foram utilizados corpos de prova de 3 massas
acarretar comprometimento da aplicação do específicas distintas (10, 18 e 33,5 kg/m3),
geoexpandido, uma vez que irá aumentar sua sendo que, para cada uma, foram ensaiados 3
massa específica. Além disso, o material corpos de prova, os quais foram mantidos à
apresenta como desvantagem a fácil degradação temperatura de 23º C no laboratório, conforme
química quando em contato com solventes prescreve a ASTM D1621 – 2000.
orgânicos (derivados petrolíferos, tais como
óleos, gasolina e diesel) e por radiações solares, 2.1. Exposição ao Vapor de Gasolina
sendo o efeito da degradação neste caso
intensificado por intempéries. Neste contexto, Para adequada exposição do EPS, os corpos de
podem ocorrer efeitos sinérgicos de degradação prova foram suspensos por arame de aço
e de alteração da propriedade comprometendo inoxidável em varais construídos em um
ainda mais o desempenho do geoexpandido. recipiente com gasolina e, para evitar eventual
Tendo em vista que as pesquisas sobre o EPS evaporação e escape da gasolina para o
restringem-se muito ao cenário internacional, ambiente, vedou-se a abertura superior do
em especial em aplicações de aterros sobre recipiente com um plástico impermeável.
solos moles, encontros de pontes e viadutos e O recipiente contendo a gasolina possui
bases de pavimentos e que, num contexto medidas aproximadas de 100 cm de
nacional, há poucas pesquisas desenvolvidas na comprimento, 60 centímetros de largura e 60
área, é de suma importância o estudo do cm de altura. Os corpos de prova ficaram a uma
geoexpandido em função das condições de distância da lâmina de gasolina de 15 cm,
campo onde será utilizado. lâmina esta que possuía 4 cm de altura. Essa
Um dos ramos de pesquisa, que ainda carece altura foi escolhida de forma a se garantir que
de avaliações, é a degradação do EPS por houvesse vapor de gasolina no ambiente (60 cm
hidrocarbonetos e por raios ultravioletas (UV), de altura). O recipiente está ilustrado na Figura
o que de fato é algo preocupante tendo em vista 1 seguinte.
a aplicação do EPS em aterros para obras Os corpos de prova foram expostos por 2
viárias e a exposição que este pode sofrer em períodos distintos: 1 e 2 semanas.
contato com intempéries. Ressalta-se que a exposição foi realizada
Considerando todos esses fatores, é com o EPS sem contato direto com a gasolina,
necessário um maior estudo acerca do pois esse contato promove imediata corrosão do
comportamento mecânico, hidráulico, etc do corpo de prova.
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!"
𝐴𝑏𝑠á!"# (%) = ( !" )100 (1)

sendo: Ma a absorção de água do material (em


gramas) e Ms a massa seca (em gramas).
A Tabela 1 apresenta os resultados dos
ensaios de absorção de água para amostras
intactas. As Tabelas 2 e 3 apresentam os
resultados obtidos para amostras expostas em
vapor de gasolina após 1 e 2 semanas,
Figura 1. Corpos de prova pendurados em varais sobre respectivamente.
lâmina de gasolina. Nas três situações analisadas (intacta,
exposição após 1 semana e 2 semanas), um
padrão observado foi o de significativa redução
2.2. Ensaio de Absorção de Água
na percentagem de absorção de água conforme
aumentava-se a massa específica do EPS
O ensaio de absorção de água foi realizado de
(devido a menor presença de espaços vazios nas
acordo com a norma ASTM C272 de 2001 tanto
amostras mais densas).
para os corpos de prova intactos quanto para os
Observa-se que, nas amostras intactas, os
que foram expostos ao vapor de gasolina.
valores de absorção de água foram elevados
Primeiramente, os corpos de prova foram
para todas as massas específicas. Notam-se
pesados para a obtenção de sua massa natural.
aumentos de 336 e 70% em peso,
Logo em seguida, foram colocados em uma
respectivamente, nas massas específicas de 10 e
estufa a uma temperatura aproximada de 95º
33,5 Kg/m3. Vale observar ainda que a
por um período de 24h, a fim de se obter sua
exposição aos vapores de gasolina acarretou
massa seca.
aumentos dos valores de absorção de água das
O próximo passo foi imergir os corpos de
amostras. Assim, para a exposição durante
prova em água destilada durante 24h para
maior tempo, ocorreram as maiores
depois pesá-los com o intuito de, após enxugá-
percentagens de absorção de água, sendo estas
los para a retirada do excesso de água, obter-se
de aproximadamente 430% para a menor
a massa saturada (massa seca mais massa da
densidade e 130% para a maior densidade.
água absorvida).
Comparando-se os resultados após exposição,
As medidas foram feitas em balança de alta
é possível afirmar que a menor densidade foi a
precisão e, para cada densidade, foram
mais afetada. Portanto, a suscetibilidade do EPS
utilizados 3 corpos de prova.
à exposição ao vapor de gasolina foi tanto
Dessa forma, obteve-se o valor da massa seca
maior quanto menor foi sua densidade.
e saturada e, consequentemente, da massa de
Ainda assim, a variação dos índices de
água absorvida pelo material. Da relação entre
absorção de água no EPS é afetada
esses valores, calculou-se a percentagem de
predominantemente pela densidade, uma vez
absorção de água do material.
que a alteração desta propriedade do material
resultou em capacidades de absorção 3 ou 4
vezes maior para a menor densidade (10 Kg/m³)
3 RESULTADOS OBTIDOS E
quando comparada com a maior (33,5 kg/m³),
ANÁLISES
ambas nas mesmas condições (somente intacto
ou somente exposto). Enquanto isso, ao
Para todos os resultados apresentados, o cálculo
comparar-se amostras de mesma densidade,
da absorção de água do material foi feito por
porém ensaiadas em condições diversas, a
meio da expressão (1).
exemplo da amostra intacta em relação à
amostra exposta durante 2 semanas no caso
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mais discrepante, a absorção da amostra Tabela 3. Massa de água absorvida e valores de absorção
exposta não chegou a 2 vezes a absorção da em percentagem, para amostras de EPS saturadas e
expostas ao vapor de gasolina após 2 semanas.
amostra intacta.
Massa Específica (Kg/m³)
Tabela 1. Massa de água absorvida e valores de absorção
em percentagem, para amostras de EPS saturadas
intactas. 10 18 33,5
Massa Específica (Kg/m³)
Massa seca (g) 9,64 16,89 32,88
10 18 33,5
Massa saturada
51,60 57,09 75,06
(g)
Massa seca (g) 11,34 18,95 29,45
Massa de água
41,96 40,20 42,18
Massa saturada absorvida (g)
49,43 53,59 50,13
(g)
Absorção de
435,27 238,01 128,28
Massa de água água (%)
38,09 34,63 20,68
absorvida (g)
A Figura 2 seguinte ilustra a variação da
Absorção de
336,0 182,7 70,20 absorção de água em função da massa
água (%)
específica. Nesta é possível observar que a
maior diferença de absorção de água sofreu
Tabela 2. Massa de água absorvida e valores de absorção
em percentagem, para amostras de EPS saturadas e
maior influência da massa específica do que da
expostas ao vapor de gasolina após 1 semana. exposição ao vapor de gasolina.
Massa Específica (Kg/m³)

10 18 33,5

Massa seca (g) 9,54 16,75 32,34

Massa saturada(g) 50,67 55,34 87,21

Massa de água Figura 2. Relação de percentual de massa de água


41,13 38,59 54,87 absorvida em função da massa específica do EPS.
absorvida (g)

Absorção de água 431,1 230,4 169,67


(%)
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4 CONCLUSÃO 461.
Basf. (1990) Guidelines for use of EPS board products in
building construction. Technical Bulletin E-I,
Os resultados obtidos permitem obter as Parsippany, N J, USA.
seguinte conclusões: Basf. (1991) Styropor® - Construction; Highway
Construction/Ground insulation. Technical
• Os valores de absorção de água foram Information TI 1 – 800e, BASF, Ludwigshafen,
Germany.
elevados para todas as massas
Horvath J. S. (1994) Expanded Polystyrene (EPS)
específicas. No entanto, a menor massa Geofoam: An Introduction to Material Behavior.
específica (10 kg/m3) foi a mais afetada: Geotextiles and Geomembranes. n. 13, p. 263 – 280.
ocorreram aumentos de 336% em peso Jafari, H. (2010) Mechanical and Hydraulic Behavior of
na condição intacta e de 430% após 2 Geosynthetic Aggregate Drainage Systems and the
Effectiveness of Geofoam as a Compressible
semanas de exposição ao vapor de
Inclusion over Flexible Pipe. Submitted in Partial
gasolina; Fulfillment Of the requirements for a Degree with
• Ocorreu significativa redução na Honors (Civil Engineering), Helen Hardin Honors
percentagem de absorção de água Program. University of Memphis.
conforme o aumento da massa Stark, T. D.; Arellano, D.; Horvath, J. S.; Jshchinsky, D.
(2004) Geofoam Applications in the Design and
específica do EPS independente da Construction of Highway Embankments. NCHRP
condição (intacta ou exposta); Web Document 65 (Project 24 – 11). TRB of the
• Esses resultados reiteram a necessidade National Academies
de atenção quando do contato de (http://www.nationalacademies.org).
hidrocarbonetos com EPS bem como da Stark, T.D., Bartlett, S.F., Arellano, D. Expanded
Polystyrene (EPS) (2012) Geofoam Applications and
importância de se programar a Technical Data. The EPS Industry Alliance, 1298
impermeabilização do material e um Cronson Blvd., Suite 201, Crofton, MD 21114, p. 36.
sistema de drenagem, evitando-se assim
o contato prolongado da água com o
geoexpandido.

AGRADECIMENTOS

À FAPESP pelo apoio financeiro para


realização da pesquisa. À empresa
Termotécnica, com matriz em Joinville, Santa
Catarina, pelo fornecimento dos corpos de
prova já dimensionados para os ensaios que
foram realizados. Ao laboratório de Geotecnia
da Faculdade de Engenharia de Bauru
(UNESP).

REFERÊNCIAS

Avesani Neto J. 0. A. (2008) Caracterização do


comportamento geotécnico do EPS através de ensaios
mecânicos e hidráulicos. Dissertação de Mestrado,
São Carlos, SP, 227 p.
Bartlett, S.F., Bret N. Lingwall, B.N., Vaslestad, J.
(2015) Methods of protecting buried pipelines and
culverts in transportation infrastructure using EPS
geofoam. Geotextiles and Geomembranes, 43, p. 450-
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Avaliação de Metodologias de Dimensionamento de Solo


Reforçado com Geossintéticos: Estudo de Caso
Arthur Cardillo Afonso
Instituto Mauá de Tecnologia, São Caetano do Sul, Brasil, acardilloa@gmail.com

Guilherme Sanches Paulino


Instituto Mauá de Tecnologia, São Caetano do Sul, Brasil, guilherme.sanches.0@gmail.com

Guilherme Yuki Sawamura Theophilo


Instituto Mauá de Tecnologia, São Caetano do Sul, Brasil, guitennis@hotmail.com

Fernando Luiz Lavoie


Instituto Mauá de Tecnologia, São Caetano do Sul, Brasil, fernando.lavoie@maua.br

José Orlando Avesani Neto


Geosoluções, São Paulo, Brasil, avesani.neto@geosolucoes.com

RESUMO: Neste artigo são descritos diferentes métodos para dimensionamento de solo reforçado,
indicando os critérios e parâmetros necessários para o cálculo. Foi realizado um dimensionamento
para o solo do estudo de caso de uma obra na cidade de São José dos Campos-SP, variando
parâmetros como ângulo de atrito, coesão e peso específico. Com as comparações feitas para cada
método foi possível verificar que, para o caso em estudo, o método de Mitchell & Villet necessitou,
de modo geral, de uma quantidade menor de material para garantir a estabilidade do solo. Já o
método de Jewell mostrou uma certa desvantagem em casos de alta coesão. Por fim, o método de
Ehrlich & Mitchell mostrou bons resultados para alta coesão e alto peso específico, apresentando
desvantagens em relação ao uso de reforços mais resistentes.

PALAVRAS-CHAVE: Solo Reforçado, Geogrelha, Dimensionamento.

1 INTRODUÇÃO indústria têxtil passou a produzir materiais


sintéticos para serem usados como melhorias
Segundo Vertematti el al (2004), o uso de em solos. Isso deu origem aos materiais
materiais naturais para melhorias nas condições chamados geossintéticos. Estes materiais
de resistência do solo é trabalhado pelo homem apresentam bons desempenhos para diversas
desde o começo da civilização, tendo funções, mas, principalmente por terem uma
exemplares tão antigos quanto o uso em forte resistência à tração, passaram a apresentar
Zigurates na antiga Mesopotâmia, com a uma boa alternativa para uso em reforço de
utilização de bambus e palha. Avançando na solos.
história, por volta de 1966 foi desenvolvido o Os principais geossintéticos com função de
método de terraarmada para reforço de solo, reforço são os geotêxteis e as geogrelhas. A
consistindo na introdução de fitas metálicas instalação destes materiais se dá por camadas de
para aumentar a resistência do solo à tração. mantas do geossintético escolhido, com
Ainda no século XX, com o espaçamentos e comprimentos inseridos no
desenvolvimento de alguns polímeros, a maciço definidos em projeto.
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Para a realização de um projeto de reforço de estudo foram obtidos a partir de correlações por
solo, definindo comprimentos de manta e meio de sondagens e podem ser vistos na
espaçamento entre as camadas, é necessária a Tabela 1.
utilização de métodos de dimensionamento, que
fornecem estes parâmetros como resultado, Tabela 1. Parâmetros do Muro no Estudo em Questão.
assim como um fator de segurança. Porém, Propriedade Valor
existem diversos métodos de dimensionamento fund (kN/m3) 18
c'fund (kPa) 10
na literatura, fazendo com que várias variáveis ϕ’fund () 30
sejam levadas em consideração, dificultando a aterro (kN/m3) 17
escolha. Para isso, este trabalho visa analisar e c'aterro (kPa) 25
comparar alguns dos principais métodos, ϕ’aterro () 25
realizando um estudo de caso. q (kPa) 60
Sv (m) 0,6
Equipamento Compactador Rolo Autopropelido
2 ESTUDO DE CASO Peso do Tambor (kN) 120
Comprimento do Tambor (m) 2,10
2.1 Descrição da Obra em Estudo
Foram feitos dimensionamentos para o solo
Para estudo de caso foi selecionada uma obra padrão (solo do estudo de caso), variação do
localizada em São José dos Campos – São ângulo de atrito, variação da coesão, variação
Paulo, cujo projeto foi realizado pela empresa do peso específico, variação da altura do aterro
Geosoluções. Foi executado um muro de solo e variação da sobrecarga.
reforçado com comprimento de
aproximadamente 170 metros e altura máxima 3 MÉTODOS DE ANÁLISE DE
de 12 metros, com utilização da geogrelha com ESTABILIDADE
função de reforço, geocomposto drenante com
função de drenagem atrás do muro e geotêxtil 3.1 Estabilidade Interna
nãotecido com função de filtração entre o
terrapleno e a face do muro. A Figura 1 mostra Segundo Hadlich et al (2014), para a
o muro em execução. determinação da estabilidade interna,
normalmente são utilizados métodos de análise
de estabilidade por equilíbrio limite. Para este
cálculo, determina-se a superfície de ruptura do
maciço de terra (cunha), que representa o plano
onde há menores resistências e, portanto, o
plano em que a estrutura tenderá a romper. Com
a cunha traçada, o conjunto pode ser dividido
em duas zonas, a ativa, que é a parcela que
tenderá a escorregar, e a resistente, que
mobilizará forças para impedir a ruptura.
Ao instalar as camadas de geossintético no
maciço, cada região do reforço sofrerá um tipo
de solicitação diferente. O comprimento
inserido na zona ativa deve estar preso e aderido
nessa região, tendo a função de confinar o solo
Figura 1. Aterro do Estudo de Caso em Execução. e transferir os esforços da zona ativa para a zona
resistente. O comprimento inserido na zona
Os parâmetros do muro considerados no resistente tem como função a ancoragem da
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zona ativa, impedindo que haja ruptura no e ruptura global. A representação destas
maciço. A Figura 2 representa a separação de situações pode ser verificada na Figura 3.
um maciço de solo reforçado, representando as
zonas ativa, resistente e não reforçada.

Figura 2. Separação das Zonas em um Maciço de Solo


Reforçado (Pedroso, 2000). Figura 3. Mecanismos de Análise de Estabilidade Externa
(Benjamim, 2006).
A análise de estabilidade interna para
maciços reforçados com geossintéticos tem Neste trabalho foi realizada a análise de
como objetivo a determinação do comprimento estabilidade externa do muro para os parâmetros
de ancoragem e do espaçamento entre as do estudo em questão.
camadas de inclusão. Esses parâmetros são
obtidos pela verificação da ruptura do reforço 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
por arrancamento e por tração.
Para esta verificação, existem diversos 4.1 Dimensionamento do Muro com o Solo
métodos que diferem em suas considerações do Estudo de Caso
iniciais de superfície de ruptura e esforços de
tração mobilizados no reforço. Foram 4.1.1 Método de Mitchell e Villet
analisados neste trabalho os métodos de
Mitchell & Villet (1987), Jewell (1991) e O maciço foi dimensionado com 20 inclusões,
Ehrlich & Mitchell (1994). utilizando-se os fatores de redução parciais para
Neste trabalho foi realizada a análise da a obtenção da resistência à tração de projeto da
estabilidade interna do muro para os parâmetros inclusão, em que:
do estudo em questão, além das comparações
entre as metodologias de dimensionamento da fcr=1,50, fator de redução parcial para fluência
estabilidade interna, variando-se os parâmetros em tração;
do solo, conforme descrito no item 2.1. fmr=1,10, fator de redução parcial para danos
mecânicos de instalação;
3.2 Estabilidade Externa fcl=1,05, fator de redução parcial para
degradação ambiental;
Para a verificação de estabilidade externa, fm= 1,0, fator de redução parcial para incertezas
considera-se o comportamento do maciço de estatísticas na determinação da resistência do
solo reforçado como o mesmo de um muro de geossintético.
gravidade. Os mecanismos clássicos analisados
na estabilidade externa de um maciço são: A Tabela 2 apresenta os resultados do
deslizamento, tombamento, capacidade de carga dimensionamento da análise da ruptura do
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reforço. metodologia de Jewell.

Tabela 2. Resultados da Análise da Ruptura do Reforço Tabela 4. Resultados da Análise de Estabilidade Interna
por Mitchell e Villet. por Jewell.
Inclusão σh Tult Td σR FS Inclusão σreq Tult Td σR zcrit
20 12,05 35 20,2 33,7 2,8 20 30,9 35 20,2 33,7 4,3
19 15,65 35 20,2 33,7 2,2 19 35,6 55 31,7 52,9 6,7
11 44,45 80 46,18 77,0 1,7 11 73,3 80 46,2 77,0 9,8
10 48,05 80 46,18 77,0 1,6 10 78,0 110 63,5 105,8 13,5
9 51,65 110 63,49 105,8 2,0 9 82,7 110 63,5 105,8 13,5
2 265,2 150 86,58 144,3 1,9 2 115,7 150 86,6 144,3 18,4
1 276,0 150 86,58 144,3 1,8 1 120,4 150 86,6 144,3 18,4

Em que: Em que:

σh(kPa): Tensão horizontal na inclusão; σreq(kPa): Tensão atuante na camada;


Tult(kN/m): Resistência à tração última na Tult(kN/m): Resistência à tração última na
geogrelha; geogrelha;
Td(kN/m): Tensão admissível máxima na Td(kN/m): Tensão admissível máxima na
geogrelha; geogrelha;
σR(kPa): Tensão resistida pela inclusão; σR(kPa): Tensão resistida pela inclusão;
FS: Fator de segurança à (FS= σR/σh). zcrit (m): Cota crítica (z≤zcrit).

A Tabela 3 apresenta os resultados do 4.1.3 Método de Ehrlich e Mitchell


dimensionamento da análise de arrancamento
do reforço. A Tabela 5 apresenta os resultados do
dimensionamento da análise de estabilidade
Tabela 3. Resultados da Análise do Arrancamento do interna do maciço reforçado quanto a ruptura do
Reforço por Mitchell e Villet. reforço, de acordo com a metodologia de
Inclusão Lr Le Lmin
Ehrlich e Mitchell.
20 6,58 1,0 7,58
19 6,24 1,0 7,24
11 3,46 1,0 4,46 Tabela 5. Resultados da Análise da Ruptura do Reforço
10 3,12 1,0 4,12 por Ehrlich Mitchell.
9 2,77 1,0 3,77 Inclusão Tult Td σS σR FS
2 0,35 1,0 1,35 20 35 20,2 11,5 33,67 2,92
1 0 1,0 1,0 19 35 20,2 12,8 33,67 2,63
11 80 46,18 40,9 76,96 1,88
10 80 46,18 44,9 76,96 1,72
Em que: 9 80 46,18 49,0 76,96 1,57
2 150 86,58 87,1 144,3 1,66
Lr(m): Comprimento de reforço na zona ativa; 1 150 86,58 93,8 144,3 1,54
Le(m): Comprimento de reforço na zona
resistente; Em que:
Lr(m): Comprimento total mínimo de reforço.
Tult(kN/m): Resistência à tração última na
4.1.2 Método de Jewell geogrelha;
Td(kN/m): Tensão admissível máxima na
A Tabela 4 apresenta os resultados do geogrelha;
dimensionamento da análise de estabilidade σS(kPa): Tensão atuante na inclusão;
interna do maciço reforçado, de acordo com a σR(kPa): Tensão resistida pela inclusão;
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FS: Fator de segurança à (FS= σR/σh). fundação.

A Tabela 6 apresenta os resultados do 4.1.5 Configurações dos Reforços do Aterro


dimensionamento da análise de arrancamento
do reforço. A Figura 4 apresenta a configuração dos
reforços no aterro para o dimensionamento pelo
Tabela 6. Resultados da Análise do Arrancamento do método de Mitchell e Villet. A Tabela 8 mostra
Reforço por Ehrlich e Mitchell. as características dos reforços para este método.
Inclusão Le Pr FS
20 1,92 49,4 7,13
19 2,26 67,21 8,76
11 5,04 307,73 12,53
10 5,38 350,04 13,0
9 5,73 395,07 13,44
2 8,15 786,51 15,05
1 8,5 853,31 15,17

Em que:

Le(m): Comprimento de ancoragem do reforço;


Pr(kPa): Resistência ao arrancamento do
reforço;
FS: Fator de segurança ao arrancamento.

4.1.4 Análises de Estabilidade Externa

A Tabela 7 apresenta os parâmetros de entrada e


resultados da estabilidade externa, bem como os
resultados obtidos (com excessão da análise de
estabilidade global). Figura 4. Arranjo dos Reforços no Dimensionamento de
Mitchell e Villet.
Tabela 7. Resultados das Análises de Estabilidade
Externa. Tabela 8. Resultados da Análise da Ruptura do Reforço
Análise FS Lmín e pelo Método de Mitchell e Villet.
Deslizamento 1,5 3,82 - Resist.
Comprimento
Tombamento 2,0 2,98 - Descrição Tração Quantidade
(m)
Ruptura (kN/m)
3,0 3,82 0,74 Reforço 1 150 8,0 3x
Fundação
Reforço 2 110 8,0 6x
Reforço 3 80 8,0 4x
Em que: Reforço 4 55 8,0 4x
Reforço 5 35 8,0 3x
FS: Fator de segurança ao deslizamento,
tombamento ou capacidade de carga da A Figura 5 apresenta a configuração dos
fundação;. reforços no aterro para o dimensionamento pelo
Lmín(m):Comprimento mínimo calculado para método de Jewell. A Tabela 9 mostra as
garantir a estabilidade ao deslizamento do características dos reforços para este método.
maciço, tombamento ou capacidade de carga da
fundação, de acordo com os fatores de
segurança descritos;
e(m): Excentricidade na Aplicação da Carga na
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Figura 5. Arranjo dos Reforços no Dimensionamento de


Figura 6. Arranjo dos Reforços no Dimensionamento de
Jewell.
Ehrlich e Mitchell.
Tabela 9. Resultados da Análise da Ruptura do Reforço
Tabela 10. Resultados da Análise da Ruptura do Reforço
pelo Método de Jewell.
pelo Método de Ehrlich e Mitchell.
Resist.
Comprimento Resist.
Descrição Tração Quantidade Comprimento
(m) Descrição Tração Quantidade
(kN/m) (m)
(kN/m)
Reforço 1 150 10,8 4x
Reforço 1 150 8,5 4x
Reforço 2 110 10,8 6x
Reforço 2 110 8,5 4x
Reforço 3 80 10,8 5x
Reforço 3 80 8,5 4x
Reforço 4 55 10,8 4x
Reforço 4 55 8,5 4x
Reforço 5 35 10,8 1x
Reforço 5 35 8,5 4x

A Figura 6 apresenta a configuração dos


4.1.6 Análise de Estabilidade Global
reforços no aterro para o dimensionamento pelo
método de Ehrlich e Mitchell. A Tabela 10
Para a análise de estabilidade global foi
mostra as características dos reforços para este
utilizado o software Slide 5.0. As configurações
método.
e o arranjo das geogrelhas são as mesmas
empregadas no método de Mitchell & Villet. A
configuração final do maciço reforçado,
considerando apenas a análise de estabilidade
global é apresentada na Figura 7, o fator de
segurança encontrado nesta configuração foi de
1,587.
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Figura 8. Comprimento de Geogrelha em Relação a


Altura do Aterro (L/H) para φ=30°, Separados em Faixas
de Resistência.
Figura 7. Análise de Estabilidade Global.

4.2 Dimensionamento do Muro com a


Variação no Ângulo de Atrito do Solo

Para este dimensionamento foram utilizados os


parâmetros padrão, havendo alterações apenas
no ângulo de atrito. A Tabela 11 mostra os
Figura 9. Comprimento de Geogrelha em Relação a
resultados obtidos para o comprimento total de
Altura do Aterro (L/H) para φ=35°, Separados em Faixas
geogrelha e o comprimento total de geogrelha
de Resistência.
em relação à altura do aterro utilizados no
dimensionamento para os diferentes valores de
ângulo de atrito.

Tabela 11. Indicação do Comprimento Total de


Geogrelha em Relação a Altura do Aterro, Variando-se o
Ângulo de Atrito.
Ângulo de Mitchell & Ehrlich &
Jewell
Atrito Villet Mitchell
(L/H)
(°) (L/H) (L/H)
30 0,67 0,90 0,71 Figura 10. Comprimento de Geogrelha em Relação a
35 0,58 0,78 0,54 Altura do Aterro (L/H) para φ=40°, Separados em Faixas
40 0,54 0,71 0,54 de Resistência.

As Figuras 8, 9 e 10 representam o Analisando inicialmente um comportamento


comprimento total de uma resistência de geral dos gráficos, verificou-se que em todos os
geogrelha, em relação à altura do aterro, métodos houve uma grande diminuição na
utilizado no maciço, fixando os métodos de quantidade do uso de geogrelhas de maior
dimensionamento e variando o valor do ângulo resistência conforme foi aumentado o ângulo de
de atrito. atrito do solo, acarretando em um leve aumento
na utilização de reforços de menor resistência.
A partir de uma análise de forma isolada de
cada método, é possível notar que os métodos
de Mitchell & Villet e de Ehrlich & Mitchell
apresentam uma diminuição mais equilibrada na
resistência do material quando se aumenta o
ângulo de atrito. Já o método de Jewell, a
medida que se aumenta o ângulo de atrito, o
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gráfico apresentou crescimento na quantidade Tabela 12. Indicação do Comprimento Total de


de reforços de baixa resistência até as de média Geogrelha em Relação a Altura do Aterro, Variando-se a
Coesão.
resistência, ao mesmo tempo em que ocorreu Coesão Mitchell & Villet Ehrlich & Mitchell
uma queda brusca na quantidade de geogrelhas (kPa) (L/H) (L/H)
mais resistentes. 0 0,67 0,88
O método de Ehrlich & Mitchell foi o que 10 0,67 0,71
apresentou maior redução na quantidade total de 20 0,67 0,63
30 0,67 0,58
material, conforme o aumento do ângulo de
atrito, sendo nessa análise o mais recomendado
para situações de ângulo de atrito médio ou alto. As Figuras 11, 12, 13 e 14 representam o
Analisando a distribuição de resistências ao comprimento total de uma resistência de
longo do maciço, para valores baixos de ângulo geogrelha, em relação à altura do aterro,
de atrito, é recomendável o método de Mitchell utilizado no maciço, fixando os métodos de
& Villet, pois apresentou o menor uso de dimensionamento e variando a coesão do solo.
material, com excessão apenas para geogrelhas
de 110 kN/m, nas quais o método de Ehrlich &
Mitchell apresenta menor consumo. Conforme o
aumento do angulo de atrito, os métodos de
Mitchell & Villet e Ehrlich & Mitchell passam a
ser muito consideráveis. Como Mitchell &
Villet apresenta um uso quase exclusivo de
geogrelhas menos resistentes e Ehrlich &
Mitchell uma quantidade relativamente
Figura 11. Comprimento de Geogrelha em Relação a
constante, porém com camadas de maior Altura do Aterro (L/H) para c=0 kPa, Separados em
resistência, é necessário realizar uma análise de Faixas de Resistência.
custos para verificar qual método entre os dois é
mais vantajoso. Caso haja um aumento elevado
no custo conforme o aumento da resistência da
geogrelha, o método de Mitchell & Villet se
torna o mais recomendado. Já se esse aumento
não for muito significativo, o método de Ehrlich
& Mitchell pode ser considerada a melhor
opção.
Figura 12. Comprimento de Geogrelha em Relação a
Altura do Aterro (L/H) para c=10 kPa, Separados em
4.3 Dimensionamento do Muro com a Faixas de Resistência.
Variação da Coesão do Solo

Para este dimensionamento foram utilizados os


parâmetros padrão, havendo alterações apenas
no ângulo de atrito. A Tabela 12 mostra os
resultados obtidos para o comprimento total de
geogrelha e o comprimento total de geogrelha
em relação à altura do aterro utilizados no
dimensionamento para os diferentes valores de Figura 13. Comprimento de Geogrelha em Relação a
coesão. Altura do Aterro (L/H) para c=20 kPa, Separados em
Faixas de Resistência.
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custos conforme o aumento da resistência da


geogrelha torna o método de Mitchell & Villet
mais recomendado, enquanto um aumento de
custos mais discreto torna o método de Mitchell
& Villet possivelmente o mais vantajoso.

4.4 Dimensionamento do Muro com a


Figura 14. Comprimento de Geogrelha em Relação a Variação no Peso Específico do Solo
Altura do Aterro (L/H) para c=30 kPa, Separados em
Faixas de Resistência.
Para este dimensionamento foram utilizados os
parâmetros padrão, havendo alterações apenas
Analisando o comportamento geral dos
no peso específico. A Tabela 13 mostra os
gráficos pelos métodos de Mitchell & Villet e
resultados obtidos para o comprimento total de
Ehrlich & Mitchell, observa-se que quando não
geogrelha e o comprimento total de geogrelha
há coesão há uma grande utilização de
em relação à altura do aterro utilizados no
geogrelhas de alta e média resistência. A
dimensionamento para os diferentes valores de
medida que se aumenta a coesão, verificou-se
peso específico.
nos dois métodos o aumento da quantidade de
material de menor resistência e, Tabela 13. Indicação do Comprimento Total de
consequentemente, uma diminuição na Geogrelha em Relação a Altura do Aterro, Variando-se o
quantidade de reforços mais resistentes. Para Peso Específico.
situações de baixa coesão, o método de Mitchell Peso Mitchell & Ehrlich &
Jewell
& Villet se apresenta como o mais vantajoso Específico Villet Mitchell
(L/H)
(kN/m3) (L/H) (L/H)
pois utiliza, no geral, menos material. A 17 0,67 0,91 0,71
variação conforme o aumento da coesão é 18 0,67 0,90 0,71
praticamente inexistente, pois gera uma melhora 19 0,67 0,89 0,71
com valor abaixo do valor mínimo utilizado 20 0,67 0,88 0,71
para o dimensionamento. Conforme há o
aumento da coesão, o método de Ehrlich & A partir da variação do peso específico é
Mitchell passa a ser mais vantajoso, possível notar que não houveram mudanças
considerando a menor utilização de material no significativas nas diferentes resistências de
geral. geogrelha utilizadas. A quantidade de cada tipo
Analisando a quantidade de geogrelha de reforço sofreu pequena variação, sem que
utilizada por faixa de resistência, o método de fosse possível observar um padrão de
Mitchell & Villet possui uma menor utilização comportamento para os três métodos. Porém
de material para a maior parte das faixas de para o método de Ehrlich & Mitchell, pode-se
resistência, sendo o método mais vantajoso. notar que à medida que se variou a coesão,
Porêm, para valores mais elevados de coesão, o aumentou-se a quantidade de geogrelhas mais
método de Mitchell & Villet utiliza mais resistentes.
geogrelhas de resistência baixa e poucas Analisando de forma individual, notou-se que
geogrelhas de alta resistência, enquanto o o método de Jewell utilizou maior quantidade
método de Ehrlich & Mitchell apresenta o de material em relação aos outros métodos,
comportamento contrário, utilizando menos enquanto o método de Mitchell & Villet foi o
material para geogrelhas de menor resistência e que apresentou na sua configuração final menor
uma quantidade significativa de geogrelhas de utilização de reforço, tornando-se o mais
resistência elevada. Para determinar o melhor vantajoso para esta situação.
método para a situação, é necessária uma
análise de custos, pois um grande aumento de
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5 CONCLUSÕES mesmo que em quantidade reduzida, fazendo


com que isso possa se tornar uma desvantagem.
De acordo com os resultados obtidos, pode-se É importante ressaltar que os métodos, em
dizer que o método de Mitchell & Villet sua formulação original, não levam em conta a
apresenta, para o caso em estudo, uma certa coesão para o dimensionamento. Assim, os
vantagem de modo geral em relação aos outros métodos de Mitchell & Villet e Ehrlich &
métodos, considerando o uso de menos material Mitchell, que sofreram adaptações para incluir
como principal fator para que o custo final seja este parâmetro, geraram resultados que
reduzido. O método mostrou-se vantajoso para apresentam uma diferença significativa para o
a grande maioria das situações avaliadas, método de Jewell, que não teve essa adaptação.
apresentando uma configuração final com uma Este é um dos motivos que pode representar a
utilização de material inferior a todos os outros diferença significativa nos resultados, sendo
métodos na maioria dos casos. possível que, com a adaptação da coesão para o
Para este estudo, o método de Ehrlich & método de Jewell, os resultados se
Mitchel apresentou vantagens em relação ao apresentassem mais próximos para os
método de Mitchell & Villet apenas em casos dimensionamentos realizados.
onde os fatores coesão e ângulo de atrito
possuíam valores mais elevados, porém, com
resultados similares em grande parte das REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
situações analisadas.
Analisando os resutados obtidos pelo método de
Jewell, é possível indicar que este método é o Benjamim, C.V.S (2006). Avaliação experimental de
protótipos de estruturas de contenção em solo
menos vantajoso para o caso em estudo. reforçado com geotêxtil. 326 f. Tese (Doutorado) -
O método de Mitchell & Villet apresenta Curso de Geotecnia, Escola de Engenharia de São
resultados que podem torná-lo vantajoso em Carlos, São Carlos.
relação aos outros métodos para solos com alta Ehrlich, M. e Mitchell, J. K. (1994). Working Stress
coesão e ângulo de atrito, já que concentra a Design Method for Reinforced Soil Walls, Journal of
Geotechnical Engineering, v. 120, n. 4 (april), pp.
maior parte de material utilizado em camadas 625-645.
de resistência reduzida. Hadlich, C.A.O et al (2014). Estudo das aplicações de
O estudo aponta que o método de Jewell geossintéticos em obras civis: Análise de Caso com
pode se tornar inviável em casos de alta coesão, Geogrelha. 2014. 304 f. Trabalho de Graduação.
pois como não utiliza este parâmetro para o Curso de Engenharia Civil, Instituto Mauá de
Tecnologia, São Caetano do Sul.
dimensionamento, não existe variação da Jewell, R. (1991). Application of revised design charts for
disposição de resistências de geogrelha no steep reinforced slopes. Vol. 10. Geotextiles and
maciço. Outra situação desfavorável seria um Geomembranes, Barking Essex.
caso com baixo ângulo de atrito, pois concentra Pedroso, E.O. (2000). Estruturas de contenção
reforçadas com geossintéticos. Dissertação
a disposição de material entre as camadas de
(Mestrado) - Curso de Geotecnia, Escola de
resistência alta e intermediária. Engenharia de São Carlos, São Carlos.
O método de Ehrlich & Mitchell se apresenta Vertematti, J.C. et al (2004). Manual Brasileiro de
como uma alternativa relevante pois apresenta Geossintéticos. São Paulo: Edgard Blucher Ltda, 413
na maioria dos casos uma disposição regular p.
entre as diferentes resistências utilizadas no
maciço, apresentando ainda valores
intermediários entre os outros dois métodos.
Porém, este método utiliza materiais de
resistência mais alta, diferentemente dos demais
para situações com elevado ângulo de atrito,
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Avaliação de Propriedades de Geotêxteis de Poliéster Reciclado


Submetido a Agentes Climáticos
Iasnara Chagas Fernandes
UFRN, Natal, Brasil, iasnaracf@gmail.com

Carina Maia de Lins Costa


UFRN, Natal, Brasil, cmlins@gmail.com

Jefferson Lins da Silva


EESC – USP, São Carlos, Brasil, jefferson@sc.usp.br

Delma de Mattos Vidal


ITA, São José dos Campos, Brasil, delma@ita.br

Clever Aparecido Valentin


EESC – USP, São Carlos, Brasil, cclever@sc.usp.br

Weber Anselmo dos Ramos Souza


UFRN, Natal, Brasil, weberars@hotmail.com

RESUMO: A degradação de geossintéticos mediante exposição à agentes climáticos, em particular


aos raios ultravioleta, é um fator de grande relevância quando a aplicação do produto exige
exposição de longo prazo. Esse é o caso da aplicação de geotêxteis em obras ambientais como
barreiras de sedimentos, que no Brasil, têm sido executadas muitas vezes mediante o emprego de
geotêxteis não tecidos produzidos a partir de poliéster reciclado pós-consumo. Como a durabilidade
dos geossintéticos depende do ambiente natural e das condições climáticas existentes é importante
dispor de dados de degradação representativos do local de aplicação. Sendo as condições climáticas
do nordeste brasileiro bastante propicias a esse tipo de degradação, principalmente pelas altas
concentrações de radiação UV, esse estudo apresenta resultados de degradação de um geotêxtil não
tecido de poliéster reciclado após exposição ao ar livre na cidade de Natal/RN. Os ensaios de
exposição foram realizados de acordo com a ASTM5970, com algumas pequenas adaptações.
Foram obtidos dados meteorológicos da cidade através da estação meteorológica do INMET
(Instituto Nacional de Meteorologia). Realizaram-se também leituras da temperatura da superfície
do geotêxtil, utilizando-se termômetro de infravermelho. As sub-amostras de geotêxtil foram
expostas, removidas após determinados períodos de exposição e submetidas a ensaios de tração do
tipo faixa estreita, de acordo com a ASTM5035. Os resultados obtidos foram comparados com
resultados de sub-amostras virgens gerando valores percentuais retidos. A partir da análise dos
dados percebeu-se uma redução da resistência retida do geotêxtil com o aumento do tempo de
exposição. Além disso, os valores de massa por unidade de área obtidos em sub-amostras virgens e
em sub-amostras após determinado tempo de exposição foram comparados. Embora os dados
experimentais sejam específicos para as condições locais, os resultados obtidos apresentam grande
relevância para promover o desenvolvimento de futuras correlações entre a exposição ao ar livre e
os ensaios de intemperismo acelerado para geotêxteis reciclados.

PALAVRAS-CHAVE: Geossintéticos, Geotêxtil de poliéster reciclado, Exposição ao ar livre,


Degradação.
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1 INTRODUÇÃO pesquisa, observaram-se mudanças


significativas nas resistências à tração e na
A durabilidade de um material corresponde a deformação na ruptura dos materiais, como
sua capacidade de manter as propriedades também na massa por unidade de área. Os
requeridas para emprego, considerando o tempo geotêxteis de PET apresentaram uma perda de
de sua utilização. No caso dos geossintéticos, aproximadamente 50% da sua resistência à
esse tempo de uso é bastante variável, de meses tração após 5 anos de exposição. A deformação
a anos, e diferentes mecanismos podem afetar na ruptura caiu cerca de 10% durante todo o
sua durabilidade. Para aplicações nas quais o período de exposição. Houve perdas
geossintético é exposto a intempéries é essencial significativas de gramatura, sendo esse material
avaliar a influência dos agentes climáticos no o que mais sofreu desgaste ao intemperismo.
processo de degradação do material. É o caso de Benjamim et al. (2007) estudaram o dano a
barreiras de sedimentos e de muitas das obras de geotêxteis não-tecidos de PET sujeitos à
controle de erosão com geossintéticos. exposição real a raios ultravioletas por um
Brand e Pang (1991) ponderam sobre a período de 200 dias. Percebeu-se um desgaste
importância de se investigar o comportamento visual do material, apresentando mudanças
dos geotêxteis, quando eles estão expostos aos significativas em sua coloração e textura
raios ultravioletas, levando em consideração (superfície quebradiça e endurecida), como
principalmente os polímeros e processos também em suas propriedades mecânicas.
utilizados em sua fabricação, já que esses Observou-se uma redução de 44% da sua
influenciam diretamente o efeito da radiação resistência à tração no sentido longitudinal e
UV. A degradação de geossintéticos expostos 38% na sua direção transversal.
pode ser diretamente relacionada com a Como citado, a degradação de geotêxteis
intensidade de irradiação UV incidente no depende das caracteristicas de fabricação
mesmo como mostrado por Ding e Yang (2006). (polímero, tipo de geotêxtil, quantidade de
Resultados de ensaios de degradação de aditivos) e ainda das condições climáticas
geotêxteis na literatura comprovam a existentes no local de exposição. Assim, é
importância da avaliação da resistência desses sempre importante dispor de dados de
materiais sujeitos a agentes climáticos, degradação representativos do local de
especialmente em relação à exposição UV (Ex. aplicação.
Grubb et al., 2000; Guimarães et al., 2015; Nesse contexto, esse estudo apresenta uma
Guimarães et al. 2016). análise da degradação de geotêxteis não tecidos
Entretanto a degradação de cada material submetidos a agentes climáticos presentes na
depende do local de exposição, do tempo e do cidade de Natal/RN. Foram avaliadas a
método de exposição como ressaltado por resistência à tração e a massa por unidade de
Milagres (2016). Nesse sentido, Milagres área (m.u.a..) de um getêxtil fabricado com
(2016) aponta que em relação ao método de resina de poliéster reciclado. Esse tipo de
exposição, os ensaios de campo, apesar de não material foi empregado considerando sua
reproduzirem fielmente a realidade, são mais utilização em obras de proteção ambiental no
confiáveis e eficazes que os ensaios acelerados Brasil e em função da escassez de dados de
conduzidos em laboratório. degradação desse tipo de material.
No caso específico do comportamento de Esse estudo é ainda particularmente
geotêxteis de poliéster (PET), Dierickx e Van pertinente considerando os altos indices de
Den Berghe (2003) realizaram a exposição a radiação UV presentes na cidade de Natal/RN
condições climáticas de geotêxteis de PET e identificados por Silva e Marinho (2008).
geotêxteis fabricados com polietileno (PE),
durante cinco anos. Como resultado da
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2 METODOLOGIA O procedimento de exposição das sub-


amostras foram determinados segundo a ASTM
Neste trabalho, sub-amostras coletadas numa 5970, considerando algumas adaptações como:
amostra de geotêxtil não tecido de poliéster a inclinação da mesa de suporte igual à latitude
reciclado foram expostas durante um ano, no local e análise da resistência à tração feita
período de abril de 2017 a abril de 2018. apenas na direção longitudinal. Cinco tempos
Durante o período de exposição, houve o distintos de exposição foram considerados (1, 2,
acompanhamento das condições climáticas 4, 8 e 12 meses de exposição).
locais a partir de dados fornecidos pela estação
meteorológica do INMET (Instituto Nacional de
Meteorologia). A temperatura da superfície das
sub-amostras expostas foi ainda determinada em
três horários distintos durante o dia. As sub-
amostras expostas foram removidas após
determinados períodos de exposição e
submetidas a ensaios de tração do tipo faixa
estreita para a avaliação de sua resistência.
Maiores detalhes sobre materiais,
procedimentos de exposição e ensaios são
apresentados a seguir.

2.1 Geotêxtil
Figura 1. Projeto da mesa de exposição utilizada na
pesquisa
Para a realização da pesquisa foi utilizado um
geotêxtil não tecido agulhado, fabricado com A mesa foi instalada em direção ao norte e
resina de poliéster reciclado pós consumo. O sobre um terreno plano e coberto por grama,
material possui uma resistência à tração sem que qualquer sombra atingisse sua
longitudinal nominal de 14 kN/m e uma m.u.a. superfície. A fixação das sub-amostras na mesa
nominal de 300 g/m2. Além disso, segundo o foi feita utilizando-se grampo de aço inox
fabricante, em sua composição foram utilizados conforme as recomendações da ASTM 5970.
aditivos para a diminuição da ação dos raios Além da mesa de exposição foi utilizado um
UV. termômetro de infravermelho para medir a
temperatura superficial de cada sub-amostra
2.2 Equipamentos e Procedimentos de exposta. As medições de temperatura foram
Exposição realizadas em 3 horários distintos durante o dia
(7:00, 12:30 e 18:00 h) e três vezes por semana,
A mesa confeccionada para exposição das sub- com o objetivo de determinar a amplitude
amostras é composta por um suporte de aço com térmica diária e possibilitar a comparação da
tampo em compensado naval. A mesa foi temperatura do geotêxtil à temperatura do
confeccionada segundo recomendações da ISO ambiente.
877, no que se refere à inclinação do tampo e
altura. Assim, a mesa possui altura igual a 2.3 Sub-amostras
0,80m (superior à recomendada pela ISO 877,
que preconiza uma altura mínima de 0,50m). A A amostra foi coletada de acordo com a NBR
inclinação adotada para o tampo corresponde à ISO 9862 e dela foram retirados, também de
latitude do local de exposição, nesse caso da acordo com a ISO9862 grupos de seis sub-
cidade de Natal (5.7793° norte). A Figura 1 amostras de 300x180mm. O primeiro grupo
mostra um esquema da mesa utilizada. corresponde ao grupo de controle (sub-amostras
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sem exposição) e cinco grupos foram ambiente de alta umidade relativa, em torno de
submetidos à exposição, cada um representando 80%, e a um acumulo de radiação ultravioleta
um determinado tempo. Assim, um total de 36 de 602MJ/m², valor considerado muito alto.
sub-amostras foram preparadas, das quais 6
foram utilizadas como sub-amostras de controle Tabela 1 – Resultados obtidos para os grupos G1 a G3
e 30 foram submetidas aos ensaios de Grupo de Sub-amostras G1 G2 G3
exposição. Tempo de Exposição (dias) 0 31 62
Para a escolha de quais sub-amostras Temperatura Média Diária¹
- 27,8 27,5
estariam em cada grupo, optou-se por selecionar (ºC)
grupos de seis sub-amostras em que a m.u.a. Amplitude térmica do
- 6,3 5,9
média do conjunto fosse aproximadamente igual Ambiente (ºC)
a fim de reduzir os efeitos da variabilidade do Umidade Relativa¹ (%) - 78,0 79,2
material nos resultados de degradação. Radiação Global
0,0 678 1389
Acumulada¹ (MJ/m²)
2.4 Ensaios de Tração e Determinação da Radiação UV Acumulada¹
0,0 51 104
massa por unidade de área (MJ/m²)
Precipitação¹ (mm) 0,0 106,0 214,0
Para avaliar a degradação do geotêxtil foram m.u.a.. (g/cm²) 276,4 278,7 278,3
realizados ensaios de resistência à tração do
Resistência à tração (kN/m) 11,69 8,69 7,46
material antes (ensaios de controle) e após
exposição nos tempos pré-estabelecidos, ou ¹ dados meteorológicos da estação do INMET-RN
seja, 1, 2, 4, 8 e 12 meses. Os ensaios foram
Tabela 2 – Resultados obtidos para os grupos G4 a G6
realizados no laboratório de geossintéticos da
Grupo de Sub-amostras G4 G5 G6
EESC/USP.
De cada sub-amostra anteriormente citada, Tempo de Exposição (dias) 123 244 365
com dimensões de 300x180mm, foram retirados Temperatura Média Diária¹
cinco corpos de provas, os quais foram 26,3 26,2 26,6
(ºC)
ensaiados segundo a ASTM 5035 (ensaio de Amplitude térmica do
tração de faixa estreita). Os corpos de prova 5,9 5,9 5,7
Ambiente (ºC)
possuíam 50 mm de largura, adotando-se uma
Umidade Relativa¹ (%) 80,9 78,6 78,2
distância entre garras de 75 mm. O ensaio foi
realizado a uma velocidade de 305 mm/min, Radiação Global
2623 5450 8025
como recomendado por norma. Acumulada¹ (MJ/m²)
Realizou-se, ainda, a determinação da m.u.a. Radiação UV Acumulada¹
das sub-amostras antes e depois dos períodos de 197 409 602
(MJ/m²)
exposição para auxiliar as análises de sua Precipitação¹ (mm) 849,6 1090,6 1659,6
degradação.
m.u.a.. (g/cm²) 281,1 285,6 276,7
Resistência à tração (kN/m) 6,03 4,17 2,30
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
¹ dados meteorológicos da estação do INMET-RN
As Tabelas 1 e 2 apresentam um resumo de
todos os parâmetros obtidos nos ensaios de A Figura 2 mostra a diferença entre a
laboratoratório e através da estação amplitude térmica do ambiente no local de
meteorológica do INMET. Nessas tabelas, o exposição e a amplitude térmica com base no
grupo de controle é identificado como G1 e os termômetro de infravermelho utilizado para
grupos G2 a G6 correspondem às sub-amostras medir a temperatura superficial das sub-
expostas. Nas Tabelas 1 e 2 é possível observar amostras expostas. É possível observar que
que as sub-amostras ficaram submetidas a um apesar da amplitude térmica do ambiente não
passar de 10°C, as sub-amostras chegavam a
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absorver grandes quantidades de energia, temperaturas muito variáveis ao longo do dia.


principalmente em horários próximos ao meio Contudo, após 1 ano de exposição as sub-
dia, chegando a atingir amplitudes térmicas amostras apresentaram uma redução da m.u.a..
superiores a 50°C. que pode ser explicada pela redução
A Figura 3 mostra os valores acumulados de significativa do seu peso inicial. Essa redução
radiação e a temperatura média diária às quais de peso foi consistente com o aspecto visual das
as sub-amostras estavam submetidas. Durante sub-amostras, que apresentaram aspecto
todo o período que ficaram expostas, as sub- quebradiço e desprendimento de fibras mais
amostras receberam um total de 602 MJ/m² de intenso, para o maior tempo de exposição.
radiação UV e estiveram submetidas a
temperaturas ambiente variando de 23 a 29°C. Tabela 3 – m.u.a. obtida para os grupos G1 a G3
Essas temperaturas, que se mantiveram Grupo de Sub-amostras G1 G2 G3
relativamente altas, podem ter causado danos na Tempo de Exposição
0 1 2
estrutura polimérica do material. (Meses)
Principalmente, ao se consider a ação catalítica Área (m²) 0,0548 0,0551 0,0548
da temperatura nas reações químicas, m.u.a.. (g/m²) 276,40 278,73 278,28
acelerando assim a formação de radicais livres. C.V (%) 13,19 7,57 12,78
Esses radicais, em contato com o oxigênio,
geram a oxidação do polímero base do material, Tabela 4 – m.u.a. obtida para os grupos G4 a G6
provocando tanto danos físicos como mecânicos Grupo de Sub-amostras G4 G5 G6
no material. Tempo de Exposição
4 8 12
(Meses)
A Figura 4 apresenta os valores de
Área (m²) 0,0540 0,0536 0,0548
precipitação e umidade relativa diários às quais
m.u.a.. (g/m²) 281,10 285,57 276,66
as sub-amostras também estiveram submetidas C. V. (%) 14,31 18,45 14,59
durante os 365 dias de exposição. É possível
observar que a umidade relativa do ar tinha A Figura 5 mostra os resultados obtidos para
valores elevados mesmo quando não estava a resistência à tração longitudinal do material
ocorrendo o fenômeno de precipitação em função do tempo de exposição. Os
confirmando o clima úmido e quente típico da resultados são mostrados em termos da
cidade de Natal-RN. Além disso, é possível resistência retida do material. Ou seja, a
observar a existência de períodos no quais a resistência média do grupo de sub-amostras
incidência de chuva foi maior e mais constante, após exposição em relação a resistência do
indicando que o material permaneceu em grupo de controle (material sem exposição).
contato direto com a água. Esse contato pode É possível observar na Figura 5 que há uma
provocar a extração total ou parcial dos aditivos queda substancial da resistência em apenas 4
existentes no geotêxtil, aditivos estes, meses de exposição, nesse período ocorre uma
responsáveis pela redução da degradação por diminuição de cerca de 50% da sua resistência
raios UV. Essa extração pode ter ocorrido tanto inicial. A taxa de degradação é maior nos
por lixiviação ou mesmo a volatilização dos primeiros meses e apresenta uma tendência de
aditivos juntamente com o fluido em contato. estabilização com tempo. Com um ano de
Nas Tabelas 3 e 4 são apresentados os dados exposição, o material perdeu um pouco mais de
para a m.u.a.. média das sub-amostras e o 80% da sua resistência.
respectivo coeficiente de variação (C.V.). Pode-
se observar que para quase todos os grupos
houve um aumento gradativo desta propriedade
em função da redução da sua área. Essa redução
de área pode ser explicada pelo fenômeno da
retração do material que ficou exposto a
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Figura 2. Amplitude Térmica do ambiente Vs. Amplitude Térmica das sub-amostras

Figura 3. Temperatura e Radiação UV durante o período de exposição

Figura 4. Umidade Relativa do ar e Precipitação durante o período de exposição


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O nível de degradação observado para o Tabela 6 – Análise da resistência a tração para os grupos
material ensaiado foi compatível com o G4 a G6
observado por Lin et al. (2016) para um Grupo de Sub-amostras G4 G5 G6
geotêxtil de PET submetido a condições
climáticas de Taiwan. Os autores não 5,61 3,76 2,02
IC 95% (kN/m)
mencionam o tipo de polímero, se reciclado ou 6,45 4,58 2,58
não, apenas que se trata de um geotêxtil de PET 19,55
C.V (%) 27,44% 33,82%
%
não tecido agulhado.
A equação que melhor relaciona a perda de
resistência em função do número de dias que o Os resultados indicam uma queda
material ficou exposto é apresentada na Figura significativa da resistência à tração longitudinal
5, a qual apresentou um coeficiente de do material em 1 ano de exposição. Para
determinação R² de 0,981. identificar a influência de alguns agentes
climáticos na perda de resistência à tração do
material em estudo, os dados obtidos para
radiação e precipitação foram inicialmente
avaliados quanto a possibilidade do
estabelecimento de uma regressão linear
múltipla. Como variáveis independentes do
modelo foram escolhidas a precipitação e a
radiação UV, ambas em valores acumulados.
Essas variáveis foram selecionadas baseadas em
trabalhos anteriores que as apresentam como as
principais responsáveis pela degradação de
geotêxteis (Ex. Milagres, 2016; Brand e Pang,
Figura 5. Resistência retida do material 1991).
Como os dados de resistência e radiação UV
Nas Tabelas 5 e 6 são apresentados os não apresentam um comportamento linear foi
intervalos de confiança (IC) para a resistência feita uma linearização dos dados utilizando-se a
com nível de confiança igual a 95%. Os valores aplicação de logaritmo, permitindo a análise por
de coeficiente de variação são ainda mostrados regressão linear múltipla. A Tabela 7 mostra a
nas Tabelas 5 e 6, indicando uma dispersão mais matriz de correlação encontrada.
acentuada dos valores de resistência após 4 Analisando a Tabela 7, pode-se perceber que
meses. Com base nesse resultado e em relação tanto a radiação como a precipitação tiveram
ao procedimento de exposição de sub-amostras uma significância menor que 0,05 indicando
em estudos futuros, recomenda-se um maior assim que essas possuem uma boa correlação
número de corpos para os maiores tempos de com a resistência do material. Contudo a
exposição. regressão tornou-se inválida por não apresentar
ausência de multicolinearidade. Como pode ser
Tabela 5 – Análise da resistência a tração para os grupos observado pelo valor de significância entre as
G1 a G3 duas várias independentes utilizadas no modelo,
que também possuem uma significância menor
Grupo de Sub-amostras G1 G2 G3
que 0,05.
10,94 7,95 6,98 Por conseguinte, sabendo que de maneira
IC 95% (kN/m)
12,44 9,43 7,93 independente uma da outra, precipitação e
radiação possuem uma boa correlação com a
C.V (%) 17,92% 23,76% 17,56%
resistência à tração do material, foram
realizadas análises de regressão independentes.
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A regressão da radiação acumulada com a


resistência à tração pode ser vista
na Figura 6. A função que melhor se adequou
aos dados foi a exponencial, apresentando um
coeficiente de determinação de 0,9788,
ratificando que há uma influência significativa
da radiação na perda de resistência do material.

Tabela 7 – Matriz de correlações


Radiação Precipitação
Resistên-
acumulada acumulada
cia kN/m)
(kJ/m²) (mm)
Resistência
- 0,002 0,002
(kN/m)
Significância

Radiação
Acumulada 0,002 - 0,000 Figura 7 – Resistência versus precipitação acumulada
(kJ/m²)
Precipitação 4 CONCLUSÕES
acumulada 0,002 0,000 -
(mm)
Essa pesquisa teve por objetivo analisar a
degradação de sub-amostras de geotêxtil não
Já a regressão entre a precipitação acumulada
tecido de poliéster reciclado submetidas às
e a resistência do geotêxtil está mostrada na
condições climáticas de Natal/RN por um
Figura 7. Assim como no caso anterior, o
período de 12 meses. Para tanto, foram
melhor ajuste foi obtido para uma função
realizados ensaios de resistência à tração no
exponencial. A regressão apresentou um valor
material e determinação de m.u.a. em sub-
do coeficiente de determinação igual 0,9493.
amostras submetidas a diferentes tempos de
exposição.
A partir dos resultados obtidos, foi possível
observar a influência dos agentes climáticos nas
propriedades físicas e mecânicas do material
ensaiado. Nos primeiros meses de exposição
percebeu-se a tendência de crescimento na
m.u.a. devido à redução das dimensões das sub-
amostras. Porém, ao final da exposição, houve
uma diminuição da m.u.a. provocada pelo
desgaste físico do material, o qual gerou perda
de peso nas sub-amostras ensaiadas.
Os resultados de resistência à tração
Figura 6 – Resistência versus radiação UV acumulada mostraram que em 4 meses o material já havia
perdido quase 50% da resistência. Após 12
Embora os dados experimentais sejam
meses de exposição a altas variações térmicas e
específicos para as condições locais da cidade
a alta incidência de radiação, as sub-amostras
de Natal/RN, os resultados obtidos apresentam
sofreram uma redução ainda mais significativa
grande relevância para promover o
da sua resistência, cerca de 80% do seu valor
desenvolvimento de futuras correlações entre a
inicial. Esse resultado demonstra a importância
exposição ao ar livre e os ensaios de
de se avaliar a degradação do material a partir
intemperismo acelerado para geotêxteis
dos fatores climáticos existentes em cada região.
reciclados.
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A velocidade de degradação do geotêxtil, em Brasileiro de Geotecnia Ambiental, REGEO 2007,


termos de redução de resistência, apresentou Recife, Brasil, 18-21 Junho, pp. 1-8 (CD-ROM),
uma diminuição com o tempo. Por outro lado, a 2007.
Brand E. W., Pang, P. L. R. Durability of geotextiles to
dispersão dos valores de resistência, para um outdoor exposure in Hong kong. J. Geotech. Eng.,
determinado tempo, apresentou uma tendência 1991, 117(7): 979-1000.
de crescimento após 4 meses de exposição, Dierickx W., Van Den Berghe P. Natural Weathering of
como indicado pelos valores do coeficiente de Textiles Used in Agricultural Applications.
variação de resistência obtidos para 8 e 12 Geotextiles and Geomembranes, vol 22 (2004),
pp.255-272. (2003).
meses. Nesse sentido, em relação à execução de Ding X. And Yang X. Prediction of Outdoor Weathering
ensaios futuros, recomenda-se um maior número Performance of Polypropylene Filaments by
de corpos de prova para tempos mais elevados Accelerated Weathering Tests. Geotextiles and
de exposição. Geomembranes, vol 24 (2006), pp. 103-109. 2005.
As análises de regressão mostraram que a Grubb, D.G., Diesing, W.E., III, Cheng, S.C.J. e Sabanas,
R.M., 2000. Comparison of Geotextile Durability to
radiação UV e a precipitação influenciaram na Outdoor Exposure Conditions in the Peruvian Andes
degradação do material estudado em relação à and Southeastern USA. Geosynthetics International, V.
resistência à tração longitudinal. Esses agentes 7, No. 1, pp. 23-45.
podem ser utilizados para a previsão de Guimarães, M. G. A., Vidal D. M., Urashima D. C. And
degradação mediante correlações locais. Os Castro, C. A.C. Degradation of Polypropylene Woven
Geotextile: Tensile Creep and Weathering. Minas
melhores ajustes para a resistência do material Gerais. Geosynthetics International, 2016.
com o tempo de exposição foram obtidos para [http://dx.doi.org/10.1680/jgein.16.00029].
funções exponenciais A incidência de radiação Guimarães, M. G. A., Urashima, D. C., Castro, C. A.C.
solar foi o parâmetro que obteve melhor And Lopes, M. L. C. (2015). Durability of a
coeficiente de determinação nas análises Polypropylene Wovwn Geotextile under Climatic and
Chermical Agentes. Academic Star Publishing
realizadas. A expressão encontrada com a Company, 2015.
regressão pode ser empregada para uma International Standard. ISO877. Plastics – Methods od
avaliação preliminar da vida útil do geotêxtil exposure to solar radiation. Geneva, 2009
utilizado para condições climáticas semelhantes. International Standard. ISO9862. Plastics – Geosynthetics
– Sampling and preparation of test specimens.
Geneva, 2005.
AGRADECIMENTOS Lin, K., Tang, A., Wu, J. Long-Term Outdoor Exposure
Test of Geosynthetics. 3rd Pan-American Conference
Ao Laboratório de Geossintéticos da EESC- on Geosynthetics. Geoamericas 2016.
USP que realizou todos os ensaios de tração Milagres, B. V. Degradação de geotêxteis frente a
necessários para a análise dos resultados. elementos climáticos em ensaios de campo e
laboratório: Realidade Climática local. Ouro Preto.
UFOP, 2016.
REFERÊNCIAS Silva, F. R., Marinho, G. S. Estudo da radiação
ultravioleta na Cidade de Natal-RN. Natal. UFRN,
American Society For Testing And Materials. 2008.
ASTMD5970 Standard Test Method for deterioration
of geotextiles from outdoor Exposure. West
Conshohocken, Pensnsylvania, USA, 2009.
American Society For Testing And Materials.
ASTMD5035. Standard Test Method for breaking
force and Elongation of Textile Fabrics (Strip
Method). Materials, West Conshohocken,
Pensnsylvania, USA.
Benjamim, C. V. S., Bueno, B. S., Lodi, P. C. e Zornberg,
J. G. Investigação do Dano Mecânico e do Dano aos
Raios Ultravioleta em Geotêxteis Expostos a
Condições de Campo. 50° Simpósio Brasileiro de
Geossintéticos, Geossintéticos 2007, e 60° Congresso
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Avaliação Experimental da Resistência ao Arrancamento de Tiras


Metálicas e Poliméricas em Areia Uniforme e em Solo Laterítico
Siltoso
Rodrigo César Pierozan
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, rodrigopierozan@hotmail.com

Gregório Luís Silva Araújo


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, gregorio@unb.br

Ennio Marques Palmeira


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, palmeira@unb.br

RESUMO: A presente pesquisa trata da resistência ao arrancamento de tiras metálicas e poliméricas


em dois diferentes tipos de solos por meio de ensaios laboratoriais de arrancamento em grande
escala, com o objetivo de estudar as diferentes interfaces solo-reforço. Amostras de areia média
uniforme e solo laterítico típico do Distrito Federal correspondem aos solos estudados. Além dos
ensaios de arrancamento, as amostras de solo também foram submetidas a ensaios de granulometria,
massa específica, limites de Atterberg, índices de vazios máximo e mínimo e ensaios de
cisalhamento direto. Com base nos resultados, foi possível analisar e comparar a mobilização de
resistência, o comportamento das envoltórias de ruptura e os ângulos de atrito de interface,
permitindo a delimitação de parâmetros de projeto e a avaliação do uso dos diferentes tipos de
reforços.

PALAVRAS-CHAVE: Solo Reforçado, Tiras Metálicas, Tiras Poliméricas, Resistência de


Interface.

1 INTRODUÇÃO Apesar do uso de solos granulares ser


desejável em muros de solo reforçados,
O conhecimento dos mecanismos de interação encontrar depósitos de materiais com
entre o solo e os elementos de reforço é propriedades adequadas em regiões próximas ao
importante para o projeto de muros de solo local da obra pode ser difícil e oneroso. Por essa
mecanicamente estabilizados, entre os quais razão, alguns trabalhos podem ser encontrados
destaca-se a técnica da terra armada. na literatura a respeito do uso de materiais de
Basicamente, este tipo de estrutura consiste em
construção não-convencionais como material de
um aterro compactado com características
geotécnicas apropriadas, reforços flexíveis enchimento em solos reforçados com
colocados horizontalmente e uma face flexível geossintéticos e em terra armada, como o uso de
de concreto, na qual os reforços são fixados misturas entre solo e rochas (Yang et al., 2014),
(ABNT, 2016). Os reforços são elementos o uso de solos de comportamento laterítico,
lineares cuja performance depende da aderência típicos de países tropicais, como é o caso do
solo-reforço. Neste contexto, as características Brasil (Riccio et al., 2014; Tupa, 1994), o uso
geotécnicas do solo empregado como aterro são de escória de cobre (Prasad & Ramana 2016) e
preponderantes nos esforços mobilizados, o uso de resíduos de construção reciclados
recomendando-se o uso de solos de boa (Santos et al., 2014; Vieira et al. 2016). Apesar
qualidade, como as areias angulosas. de haver estudos que tratam de solos de
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granulação fina reforçados com geogrelhas (e.g. presença de ressaltos nas tiras metálicas e
Sridharan et al., 1991; Benjamim et al., 2007; sintéticas em relação aos reforços que não
Portelinha e Zornberg, 2017), há demanda de apresentam esse detalhe construtivo.
estudos que tratem do reforço dos solos em
questão com o uso de elementos lineares, como
é o caso das tiras metálicas e sintéticas. 2 CÁLCULO DA RESISTÊNCIA AO
Weldu et al. (2015) conduziram uma série de ARRANCAMENTO
ensaios em laboratório para estudar a resistência
ao arrancamento de tiras metálicas com Na norma ASTM D6706-01 apresenta-se o
ressaltos. Como material de aterro, foram método de ensaio de arrancamento de reforços
aplicados agregados uniformes com coeficientes com o uso de um equipamento laboratorial
de uniformidade (CU) variando entre 1,4 a 14. específico. De acordo com esse documento, a
Os autores concluíram que os valores resistência ao arrancamento por unidade de
padronizados pela AASHTO (2012) para os largura (Tmáx) é determinada em função da força
coeficientes de aderência aparente solo- de arrancamento (Fmáx) e da largura do
armadura (f*) foram conservadores quando geossintético (Wg), conforme a Equação 1:
comparados com os dados experimentais,
mesmo para os agregados uniformes (Cu < 4). Fmáx
Análises experimentais que tratam de ensaios Tmáx = (1)
Wg
de cisalhamento e de arrancamento em
equipamento de grande escala podem ser
encontradas em Palmeira (1987) e Palmeira De acordo com a AASHTO (2012), o
(2009). Os trabalhos em questão tratam da coeficiente de aderência aparente solo-reforço
interação solo-reforço, investigando como a (f*) para elementos lineares é dada pela
escala e outros fatores podem afetar os Equação 2:
resultados dos ensaios. Entre outras conclusões,
os artigos salientam que ensaios de Fmáx
f*= (2)
arrancamento podem ser severamente afetados C * *Wg * Le * v
pelas condições de contorno, em especial pelo
atrito na face frontal da caixa de arrancamento. Na Equação 2 considera-se que Fmáx =
Outras pesquisas acerca da interação solo- esforço máximo ao arrancamento, Φ = fator de
geogrelhas foram apresentadas por Teixeira resistência ao arrancamento do reforço (0,90
(2003), Moraci e Recalcati (2006), Teixeira et para o estado limite de serviço e 1,00 para o
al. (2007), Alagiyawanna et al. (2001) e Abdi e estado limite último), σn = tensão vertical de
Arjomand (2011). confinamento no nível do reforço, C = fator
A presente pesquisa trata da resistência ao geral de área superficial do reforço (2,00 para
arrancamento de tiras metálicas e poliméricas tiras), Wg = largura do geossintético e Le =
em areia uniforme e em solo laterítico siltoso, comprimento do reforço na zona ancorada.
característico da cidade de Brasília, Distrito Ainda de acordo com a referida norma, para
Federal. Os ensaios de arrancamento foram materiais de aterro convencionais (com exceção
feitos em um equipamento de grande escala, das areias uniformes, com coeficiente de
adaptado para reforços lineares. O objetivo uniformidade Cu=D60/D10 < 4), no caso da
principal foi avaliar a interface de resistência ausência de dados experimentais, é aceitável a
solo-reforço em materiais com propriedades adoção de valores de f* estimados de forma
geotécnicas distintas e comparar os resultados conservadora com base em propriedades
com os valores especificados por normas. geotécnicas do solo de aterro. No caso de tiras
Também foi possível quantificar a influência da metálicas lisas, pode-se adotar f* = 0,4. No caso
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de tiras metálicas com ressaltos, as Equações 3 densidade específica (ASTM D854-14) para
e 4 devem ser consideradas: ambos materiais e limites de Atterberg (ABNT
NBR 7180; ABNT NBR 6459) e ensaio de
Proctor (ABNT NBR 7182) para o solo
f * = tg r (3)
laterítico siltoso e índices de vazios máximo e
mínimo (ASTM D4253-16 e ASTM D4254-16)
 z z para areia uniforme. Após estes ensaios, os
f * = (1,2  log Cu)  1 -   tg r   (4) solos foram classificados de acordo com o
 6 6
Sistema de Classificação Unificado (ASTM
D2487-11) como SP (areia mal graduada) e ML
Nas equações em questão considera-se que z (silte inorgânico). A análise granulométrica da
é igual a profundidade abaixo da superfície do fração fina do solo laterítico siltoso foi obtida
muro e r corresponde ao ângulo de atrito com e sem o uso de defloculante (sem
interno do aterro. A Equação 3 é válida para defloculante: ABNT NBR 13602), uma vez que
profundidades iguais ou maiores que 6 metros, a curva de distribuição granulométrica deste
enquanto que a Equação 4 é válida para material é altamente influenciada pela presença
profundidades menores. de agente dispersor (Guimarães, 2002).
A norma brasileira ABNT NBR 19286 Na Figura 1 encontra-se apresentada as
também sugere o uso das Equações 3 e 4 para curvas de distribuição granulométrica e na
Tabela 1 estão apresentadas as principais
estimar f* no caso de tiras metálicas quando há
propriedades geotécnicas dos solos, assim como
ausência de dados experimentais de algumas propriedades adotadas nos ensaios de
arrancamento, desde que os solos atendam arrancamento (densidade relativa da areia e grau
determinadas especificações. A mesma de compactação do solo siltoso). O símbolo CU
regulamentação recomenda que se considere corresponde ao coeficiente de não-uniformidade
f*=tg r quando se está trabalhando com solos e CC corresponde ao coeficiente de curvatura.
de granulação fina (D20 < 0,015 mm ≤ D40, com
ângulo de atrito interno ≥ 25º).
No caso de tiras sintéticas, a norma francesa
NF P 94-270 (Norme Française, 2009)
apresenta equações para o cálculo de f* de
acordo com o tipo de material, as propriedades
geotécnicas do mesmo e a profundidade do
ponto considerado. No caso de solos granulares
com D70 < 2 mm e Cu > 2, f*=1,1 no topo do
muro e f*=0,8*tg r a 6 metros ou mais de
profundidade. No caso de solos de menor
permeabilidade e Cu > 2, f*=1,1*(tg r / tg 36º)
no topo do muro, mantendo-se o valor em
profundidades iguais ou superiores a 6 metros.
Para profundidades entre 0 e 6 metros, faz-se a
interpolação dos valores.

3 MATERIAIS

Os ensaios de caracterização aos quais os solos Figura 1. Curvas de distribuição granulométrica.


(areia e silte) foram submetidos consistiram em
análise granulométrica (ABNT NBR 7181) e
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Tabela 1. Propriedades geotécnicas dos materiais. presente pesquisa o equipamento em questão foi
Solo adaptado de forma a performar ensaios de
Areia
Parâmetro Laterítico
Uniforme
Siltoso
arrancamento em reforços lineares, como
Classificação unificada do geotiras e tiras metálicas (Figure 2 – A). Foram
SP ML implementados os seguintes componentes:
solo
Massa específica dos estrutura de reação aos carregamentos, sistema
solos (g/cm3) 2,64 2,67 de aplicação de cargas verticais composto por
Limite de liquidez (%) - 39 bolsa de borracha, sistema de ar comprimido e
Limite de plasticidade (%) - 28 sistema de interface ar-água e sistema de
Índice de Plasticidade (%) - 11 arrancamento, composto por cilindro hidráulico,
Massa específica seca célula de carga e garra para fixação dos
máxima (g/cm3) - 2,60
Teor de umidade ótimo
reforços.
(%) - 22,00 A instrumentação dos ensaios consistiu em
Grau de compactação (%) - 95-100 dois medidores de deslocamento linear com
Índice de vazios mínimo 0,58 - intervalo de medição de até 150 mm, célula de
Índice de vazios máximo 0,83 -
caga com capacidade de 50 kN (Figura 2 – B) e
células de tensão total. Para reduzir o atrito nas
Densidade relativa (%) 95 -
paredes laterais, membranas de polietileno de
CU=D60/D10 3 >10
2
alta densidade (PEAD) foram aplicadas sobre as
CC=(D30) /(D10*D60) 1 <1
paredes laterais da caixa, em conjunto com
lubrificante (conforme ASTM D6706-01).
Ensaios de cisalhamento direto foram
Foram ensaiados quatro tipos de reforços:
realizados em ambos os materiais, conforme tira metálica com ressaltos, tira metálica lisa,
procedimentos estabelecidos pela norma ASTM tira sintética de alta aderência (com ressaltos
D3080 – 98. As condições de ensaio a serem nas laterais) e tira sintética convencional. O
consideradas estão descritas na norma ABNT comprimento ancorado das tiras foi igual a 1225
NBR 19286. No caso da areia uniforme o mm. As tiras metálicas foram ensaiadas
parâmetro f foi determinado por meio ensaios individualmente, enquanto as tiras poliméricas
de cisalhamento direto rápido inundado em foram ensaiadas em pares, paralelamente entre
amostra com grau de compacidade de 95%, si e separadas por 50 mm, como mostrado na
sendo adotado o ângulo de atrito residual. Por Figure 2 – C. Essa disposição dos reforços
sua vez, no caso do solo laterítico siltoso o sintéticos resulta em uma melhora dos
parâmetro f foi determinado por ensaios de mecanismos de resistência, provavelmente
cisalhamento direto rápido e inundado sobre relacionados a um efeito de arqueamento e à
amostras moldadas na umidade ótima e com dilatância que são criados entre ambas as tiras,
grau de compactação de 95%. Dessa forma, no aumentando a área solicitada no entorno das
caso da areia uniforme f = 31º, enquanto que inclusões (Abdelouhab et al., 2010).
no caso do solo laterítico siltoso f = 28º. A areia uniforme foi preparada com o uso da
técnica da chuva de areia (Pierozan, 2016). Este
método é descrito por uma série de autores (Rad
4 MÉTODOS e Tumay, 1987; Lo Prest et al., 1992 e Brandon
et al., 2001). Compactação adicional com o uso
Palmeira (1996) projetou e construiu uma caixa de um martelo mecânico manual foi necessária
de arrancamento em escala real, com a para atingir a densidade desejada (Tabela 1). O
finalidade de realizar ensaios em geogrelhas. A martelo em questão possui base circular com
caixa possui 570 mm de altura, 900 mm de diâmetro igual a 25 cm, tendo sido projetado
largura e 1450 mm de comprimento. Na especificamente para a presente pesquisa.
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O martelo também foi usado na compactação


do solo fino, adotando-se energia de
compactação equivalente ao ensaio Proctor
normal, de forma a atingirem-se as
especificações apresentadas na Tabela 1.
Os ensaios de arrancamento foram realizados
com tensões verticais no nível das tiras iguais a
12,5 kPa, 25 kPa e 50 kPa, as quais incluem a
pressão referente ao peso do solo mais a
sobrecarga na superfície. Os reforços foram
testados em areia uniforme e no solo laterítico
siltoso, totalizando 24 ensaios.

5 RESULTADOS

Na Figura 3 estão apresentados os resultados de


ensaios de arrancamento de tiras metálicas com
e sem ressaltos, considerando o uso de (A) areia
uniforme e (B) solo siltoso característico do
Distrito Federal. Da mesma forma, na Figura 4
estão apresentados os resultados dos ensaios de
arrancamento das tiras sintéticas de alta
aderência e das tiras sintéticas convencionais.
As máximas resistências ao arrancamento
(Fmáx), assim como os coeficientes de aderência
aparente solo-reforço (f*), estão ilustrados na
Figura 5 (A e B, respectivamente).
Em todas as situações, os coeficientes de
aderência (f*) foram superiores aos valores
estimados conforme as especificações de
referência (AASHTO, 2012; ABNT, 2016;
Norme Française, 2009), mesmo considerando-
se o uso de solo laterítico siltoso. Isso era
esperado, uma vez que as normas tendem a
apresentar valores conservadores que são
adequados para uma grande quantidade de
situações.
Todos os elementos de reforço apresentaram
melhor performance quando confinados em
areia uniforme, uma vez que esse material
apresenta melhores propriedades geotécnicas
para uso em muros de solo mecanicamente
Figura 2. Equipamento de arrancamento: (A) vista lateral, estabilizados. Isso pode ser explicado pelo
(B) transdutores de deslocamento linear, célula de carga e
aumento localizado das tensões verticais sobre
cilindro hidráulico e (C) tiras sintéticas convencionais em
areia uniforme. os reforços, em função da dilatância do solo
(Schlosser e Bastick, 1991).
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Figura 3. Ensaios de arrancamento das tiras metálicas em Figura 4. Ensaios de arrancamento das tiras sintéticas em
(A) areia uniforme e (B) solo laterítico siltoso (A) areia uniforme e (B) solo laterítico siltoso
característico do Distrito Federal. característico do Distrito Federal.

Na Figura 5 pode-se observar que as maiores No caso das tiras metálicas, foi possível
resistências ao arrancamento (Fmáx) foram observar que a presença de ressaltos resultou no
obtidas com o uso das tiras metálicas com aumento dos coeficientes f* em relação aos
ressaltos em areia. As tiras sintéticas de alta reforços sem ressaltos. Isso ocorreu de maneira
aderência e as tiras sintéticas convencionais mais acentuada no caso de pequenas
também apresentaram alta resistência ao profundidades, uma vez que a dilatância do solo
arrancamento com o uso de areia. é maior conforme há a diminuição das tensões
No caso das tiras metálicas sem ressaltos, confinantes. Por esse motivo, houve diminuição
observou-se pouca diferença de comportamento de f* com o aumento da profundidade,
entre os ensaios com o uso de areia uniforme e atingindo valores próximos de tg r para
com o uso de solo laterítico siltoso, indicando profundidade de 6 m.
que a performance destes elementos foi Considerando o uso de areia uniforme, os
prejudicada pela ausência de ressaltos e também coeficientes de aderência aparente (f*) para as
pela baixa rugosidade superficial. Neste caso, os tiras sintéticas de alta aderência foram
coeficientes f* se aproximaram de tg r (0,6 no levemente superiores aos obtidos pelas tiras
caso da areia uniforme). sintéticas convencionais (3%, 5% e 8% para
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tensões normais iguais a 12,5 kPa, 25 kPa e 50 Conforme os resultados obtidos nos ensaios
kPa, respectivamente). Dessa forma, em alguns de arrancamento de tiras sintéticas sem
casos, este nível de diferença pode não justificar ressaltos, observou-se que a rugosidade
o uso de um material de reforço mais caro e superficial das mesmas permitiu que os
esse fator deve ser considerado em projeto. coeficientes de aderência aparente solo-reforço
(f*) fossem superiores aos valores observados
no caso da tira metálica sem ressaltos.
Sendo assim, no caso dos reforços sintéticos,
os ressaltos laterais não foram os principais
responsáveis pela mobilização da resistência,
uma vez que não foram observadas grandes
diferenças de comportamento entre as situações
com e sem ressaltos. Quanto a este fator, deve-
se considerar que as tensões que se
desenvolvem horizontalmente são inferiores às
tensões que se desenvolvem verticalmente
quando o coeficiente de empuxo (K) é menor
que 1.
De forma geral, o aumento localizado das
tensões normais resultante da dilatância do solo
foi induzido por determinadas características
dos elementos de reforço, aumentando a
aderência entre ambos e, consequentemente, os
coeficientes de aderência aparente solo-reforço
(f*). Este foi o caso dos ressaltos presentes nas
tiras metálicas de alta aderência e da rugosidade
superficial característica das tiras sintéticas.
Observou-se que o comportamento de todos
os elementos de reforço foi semelhante quando
os mesmos foram confinados em solo siltoso.
Dessa forma, conclui-se que o material siltoso
não é capaz de induzir o aumento de resistência
como resultado da dilatância durante os ensaios
de arrancamento, sendo que os coeficientes f*
se aproximam de f* = tg r (0,5 no caso do solo
siltoso).

6 CONCLUSÕES

Este artigo apresentou um estudo sobre a


resistência ao arrancamento de tiras metálicas
com e sem ressaltos e de tiras sintéticas
convencionais e de alta aderência confinadas
Figura 5. (A) Máximas resistências ao arrancamento em areia uniforme e em solo laterítico siltoso,
(Tmáx) e (B) coeficientes de aderência aparente solo- sendo este último típico de regiões tropicais.
reforço (f*) resultantes dos ensaios de laboratório.
Um equipamento de grande escala foi usado nos
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ensaios laboratoriais, assim como outros Alagiyawanna, A.M.N., Sugimoto, M., Sato, S. e Toyota.
(2001). Influence of longitudinal and transverse
equipamentos auxiliares. Os ensaios permitiram members on geogrid pullout behavior during
um melhor entendimento acerca dos deformation, Geotextiles and Geomembranes, Vol.
mecanismos de resistência solo-reforço, 19, p. 483-507.
validando o equipamento e a metodologia American Society for Testing and Materials. (1998).
ASTM D3080 – 98. Standard Test Method for Direct
empregada. O uso de areia uniforme resultou Shear Test of Soils Under Consolidated Drained
em altos valores de interação (f*), superiores Conditions, Pennsylvania, USA, 6 p.
aos recomendados pelas normas técnicas em American Society for Testing and Materials. (2011a).
ASTM D2487 – 11. Standard Practice for
vigor. Por outro lado, o uso de solo laterítico de Classification of Soils for Engineering Purposes
granulação fina resultou em coeficientes de (Unified Soil Classification System), Pennsylvania,
aderência solo-reforço (f*) inferiores, mais USA, 12 p.
próximos dos valores conservadores American Society for Testing and Materials. (2011b).
ASTM D3080/D3080M – 11. Standard Test Method
recomendados pela AASHTO (2012) e ABNT for Direct Shear Test of Soils Under Consolidated
(2016). A presença de ressaltos nos reforços Drained Conditions, Pennsylvania, USA, 9 p.
resultou em melhor performance, American Association of State Highway and
Transportation Officials. (2012). Highway
principalmente no caso das tiras metálicas. A Subcommittee on Bridges and Structures, Design
presença de ressaltos laterais nas tiras sintéticas Specifications, Section: Abutments, Piers, and Walls.
de alta aderência resultou em pequeno aumento Washington, USA, 1661 p.
de resistência em relação às tiras sintéticas American Society for Testing and Materials. (2013).
ASTM D6706 - 01. Standard Test Method for
convencionais. No caso das tiras sintéticas sem Measuring Geosynthetic Pullout Resistance in Soil,
ressaltos, a rugosidade superficial das tiras Pennsylvania, USA, 8 p.
permitiu um entrosamento melhor com o solo American Society for Testing and Materials. (2014).
em relação à tira metálica sem ressaltos. ASTM D854 – 14. Standard Test Methods for
Specific Gravity of Soil Solids by Water Pycnometer,
Estudos experimentais vêm sendo conduzidos Pennsylvania, USA, 8 p.
com a finalidade de melhorar o entendimento da American Society for Testing and Materials. (2016a).
interação entre elementos de reforço lineares e ASTM D4253 – 16. Standard Test Methods for
Maximum Index Density and Unit Weight of Soils
solos de granulação fina por Pierozan (2018). Using a Vibratory Table, Pennsylvania, USA, 14 p.
American Society for Testing and Materials. (2016b).
ASTM D4254 – 16. Standard Test Methods for
AGRADECIMENTOS Minimum Index Density and Unit Weight of Soils and
Calculation of Relative Density, Pennsylvania, USA,
9 p.
Os autores gostariam de agradecer ao Programa Brandon, T.L., Clough, G.W. e Rahardjo, P. (1991).
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Universidade de Brasília, à Comissão de 14(1), p. 46-55.
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(CAPES) e ao Conselho Nacional de Pesquisa 13602. Avaliação da dispersibilidade de solos
(CNPq) pelo suporte financeiro. argilosos pelo ensaio sedimentométrico comparativo –
Ensaio de dispersão SCS, Rio de Janeiro, Brasil, 5 p.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. (2016a).
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Comportamento de Geotêxteis Aplicados na Retenção de


Partículas em Sistema de Desaguamento de Resíduos
Rodrigo Alves e Silva
Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), São José dos Campos, Brasil,
rodrigoasilva.civil@gmail.com

Delma de Mattos Vidal


Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), São José dos Campos, Brasil, delma@ita.br

RESUMO: Destaca-se, no âmbito de aplicações de geossintéticos em medidas de proteção


ambiental, a contenção de materiais com elevado teor de líquido como lodos, lamas e sedimentos
em sistemas de confinamento de resíduos (SCR’s) em geotêxtil, os quais permitem seu
desaguamento seguro, contribuindo para uma redução significativa de seu volume. O presente
estudo tem como principal objetivo compreender os mecanismos envolvidos em SCR’s
permanentes na forma de caixa, considerando fluxo perpendicular ao plano do geotêxtil. Uma caixa
cúbica de pequena dimensão foi construída e os seguintes parâmetros de eficiência foram
quantificados: eficiência de filtração, perda de partículas e sólidos passantes. Todos os ensaios
apresentaram eficiência de filtração bem alta, com uma porção pequena de sólidos passando através
dos filtros. Além disso, ficou evidente que o aspecto dominante no processo de desaguamento não é
a rapidez com a qual o filter cake se forma, mas a compatibilidade entre a abertura de filtração do
filtro e a natureza granulométrica dos solos sendo filtrados.

PALAVRAS-CHAVE: Geotêxteis, Desaguamento, Retenção, Eficiência de Filtração.

1 INTRODUÇÃO bombeamento do material dragado, lodo ou


sedimentos com alto teor de líquidos dentro da
O geossintético mais frequentemente estrutura formada pelo geotêxtil, de modo que o
empregado como elemento de filtro é o fluido seja filtrado pelas aberturas do geotêxtil
geotêxtil, material têxtil plano, permeável, a (Gaffney e Moo-Young, 2000). Condicionantes
base de polímero natural ou sintético, podendo químicos especialmente escolhidos em função
ser não-tecido, tecido ou tricotado, utilizado em do rejeito a ser desaguado podem ser
contato com o solo ou outros materiais em adicionados antes ou durante o enchimento, de
aplicações da engenharia geotécnica e civil modo a melhorar a eficiência de filtração e a
(ABNT NBR ISO 10318:2018). Suas qualidade do efluente líquido, conseguindo
propriedades mecânicas e hidráulicas vêm muitas vezes que este efluente possa ser lançado
sendo empregadas com sucesso no no meio-ambiente ou ser reaproveitado sem
desaguamento de materiais particulados por tratamento especial (Pilarczyk, 2000), fator que
meio de sistemas de confinamento em geotêxtil torna a técnica consideravelmente benéfica para
costurados em forma de bolsa ou tubo, operações de proteção ambiental. É importante
denominados Sistemas de Confinamento de lembrar que quando se trata de rejeitos com
Resíduos ou simplesmente SCR (IGSBR potencial de contaminação, o SCR deve estar
004:2016). sobre um sistema de revestimento de fundo que
O desaguamento utilizando SCR’s é parte de garanta a coleta e condução para reservatório e
um processo de disposição que envolve o análise de todo efluente e água pluvial que
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percole sobre a área ocupada por ele. 2 SISTEMAS DE CONFINAMENTO EM


De uma maneira geral, geotêxteis aplicados GEOTÊXTEIS
como elementos filtrantes devem apresentar
propriedades capazes não só de prevenir a Duas das técnicas mais proeminentes para
migração excessiva de partículas de sólidos, desaguamento de resíduos com alto teor de
como também de assegurar a passagem do líquido envolvendo o uso de sistemas de
fluido, ou seja, apresentar permeabilidade confinamento são os chamados tubos e bolsas
suficiente para que haja um fluxo desimpedido em geotêxtil. Tais sistemas são construídos por
através do filtro (Luettich et al., 1992). Muitas meio da costura de um ou mais geotêxteis, de
vezes, reforçam Moo-Young et. al (2002), maneira a formar um conjunto que,
sendo essas características conflitantes, uma paralelamente ao processo de enchimento
deve ser priorizada em relação à outra. No caso hidráulico, é capaz de filtrar o material em
da utilização de geotêxteis em sistemas de suspensão (Moo-Young et al., 2002). Ainda que
confinamento contínuo para o desaguamento de os mesmos estágios ao longo de todo o processo
resíduos contaminados com alto teor de fluido, de desaguamento sejam semelhantes, tubos em
a retenção de partículas é em geral considerada geotêxtil são preferidos quando o volume de
prioritária. material a ser desaguado é considerável,
SCR’s para grandes volumes de rejeitos enquanto bolsas são usualmente empregadas
necessitam de grandes dimensões, o que implica quando este mesmo volume é relativamente
em altas solicitações em tração, exigindo pequeno.
geotêxteis e costuras de elevada resistência. O processo de desaguamento envolvendo
Para reduzir custos, algumas empresas, bolsas e tubos em geotêxtil basicamente
mineradoras por exemplo, vem utilizando para engloba três estágios (Guo et al., 2014 ;Khachan
o desaguamento estruturas permanentes na e Bhatia, 2016): (1) uma etapa de enchimento,
forma de caixas revestidas com um filtro em durante a qual o material contendo alto teor de
geotêxtil em suas faces laterais e no fundo. líquido é bombeado dentro do tubo ou bolsa; (2)
Aspectos importantes para esse e outros tipos de uma etapa de desaguamento propriamente dita,
aplicações muito pouco estudados são os na qual o peso próprio do material sendo
mecanismos de filtração envolvidos. bombeado conjuntamente com a tensão
Com o intuito de superar a carência na confinante fornecida pelo geotêxtil força a saída
compreensão dos mecanismos de filtração de água através da estrutura permeável do filtro
inerentes ao processo de desaguamento e partículas de solo são retidas (o que
envolvendo, sobretudo, materiais com alto teor subsequentemente resulta em uma significativa
de líquido, o presente trabalho apresenta redução de volume total do material); e (3) uma
resultados de ensaios realizados em um sistema etapa de consolidação, onde a água capilar é
de desaguamento em caixa em pequena retirada do material sedimentado e o sistema
dimensão, considerando fluxo perpendicular ao consolida sob ação de seu peso próprio,
plano do geotêxtil. Os ensaios realizados trazem posteriormente sendo deixado para secagem.
uma contribuição que na verdade transcende Clássicas aplicações de filtros em estruturas
aplicações de desaguamento, visto que geotécnicas, sejam eles granulares ou
permitirão um melhor entendimento acerca do geossintéticos, incorporam a função de permitir
dimensionamento de filtros envolvendo a livre passagem do líquido percolante
partículas em suspensão. (geralmente água) e paralelamente reter as
partículas de solo, função esta que precisa ser
assegurada durante toda a vida útil do filtro. Em
outras palavras, considerando o cenário em que
uma condição estacionária é mantida, o fluxo de
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água através da estrutura do filtro é infinito Tabela 1. Propriedades dos Solos de Base Empregados.
(Bourgès-Gastaud et al., 2014). É interessante Solo CU¹ CC² Gs³ d50 (μm)
notar que, para aplicações envolvendo
desaguamento, o objetivo do filtro é A 1,21 0,98 2,64 403
B 1,94 0,75 2,71 110
ligeiramente diferente: à medida que o material
C 1,45 0,95 2,72 55
em suspensão vai sendo desaguado, a 1
Coeficiente de Uniformidade = d60/d10; 2 Coeficiente de
permeabilidade do sistema decresce Curvatura = (d30)2/[d10.d60]; 3 ABNT NBR 6458/2016.
substancialmente, porém a quantidade de água
sendo expulsa aumenta, fazendo o fluxo de água Pela natureza dos materiais de base
através do filtro ser finito. Tal aspecto nos leva empregados bem como análise de suas curvas
a considerar que os mecanismos de filtração granulométricas ilustradas na Figura 1, é
envolvidos podem muitas vezes não ser possível notar que tratam-se de solos não-
comparáveis àqueles existentes na filtração de coesivos formados por partículas cujos
solos. diâmetros são conceitualmente característicos
de silte (2μm < d < 60μm), areia fina (60μm < d
< 200μm) e média (200μm < d < 600μm).
3 MATERIAIS E MÉTODOS
3.2 Geotêxteis
3.1 Solos de Base
Como material de filtro foram utilizados dois
Os solos de base empregados, ou seja, que tipos de geotêxtil tecido (i.e. T-1 e T-2)
representam os materiais a serem filtrados, empregados em sistemas de confinamento para
consistiram de quartzo moído fornecido pela desaguamento de rejeitos e um geotêxtil não-
empresa Brasilminas Mineração do Brasil Ltda. tecido (i.e. NT-1) agulhado, sendo todos
Três faixas desse material foram utilizadas, fabricados com fibras de polipropileno.
cujas curvas granulométricas e propriedades se Contatos foram realizados com fabricantes
encontram respectivamente na Figura e Tabela destes produtos, que se dispuseram a doar o
1. Para cada faixa granulométrica, 2kg de material necessário. As propriedades físicas dos
material particulado foram misturados com geotêxteis utilizados na pesquisa foram: massa
água de modo a trabalhar, em todos os ensaios por unidade de área (μ) e espessura nominal
conduzidos, com aproximadamente 19L de (tGT), determinadas respectivamente de acordo
material contendo teor inicial de água de 800%. com as Normas ABNT NBR ISO 9864:2013 e
9863-1:2013, cuja amostragem e preparação
seguiu a Norma ABNT NBR ISO 9862:2013.
Tais propriedades são mostradas na Tabela 2.

Tabela 2. Propriedades Físicas dos Geotêxteis


Empregados.
μ tGT
Geotêxtil 2 CV¹ (%) CV (%)
(g/m ) (mm)
T-1 484 1,8 1,75 1,0
T-2 494 2,7 1,76 0,5
NT-1 211 3,4 2,02 5,3
¹ Coeficiente de Varação = [(desvio
padrão)/(média)]x100

As características hidráulicas convencionais,


Figura 1. Granulometria dos Solos de Base Empregados. permeabilidade normal e abertura de filtração,
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foram determinadas de acordo com as Normas


ABNT NBR ISO 11058 e 12956,
respectivamente. Ainda seguindo
procedimentos delineados na NBR ISO 11058,
foi também determinada a velocidade índice
(VH50), a qual, segundo a norma, é definida
como velocidade do fluxo correspondente à
uma perda de carga de 50mm através do corpo
de prova. Tais dados são mostrados na Tabela 3.

Tabela 3. Propriedades Hidráulicas dos Geotêxteis Figura 2. Estrutura planar dos geotêxteis empregados no
Empregados. presente trabalho: (a) geotêxtil tecido T-1, (b) geotêxtil
VH50 (10-3) tecido T-2 e (c) geotêxtil não-tecido NT-1.
Geotêxtil O90¹ k (cm/s)
(m/s)
T-1 450 0,19 70,2 3.3 Caixa para desaguamento
T-2 220 0,10 30,5
NT-1 70 0,29 72,6 Para avaliar os mecanismos envolvidos na
¹ O ensaio incorpora o conceito de peneiramento úmido. filtração de materiais com alto teor de líquido
em sistemas de confinamento de resíduos, um
A Figura 2 justapõe imagens dos geotêxteis dispositivo de desaguamento em caixa em
utilizados no presente trabalho, feitas pequena dimensão (33x33x33cm) foi
capturando o plano perpendicular à direção de construído, o qual permitiu o posicionamento
filtração. dos filtros na direção horizontal. O dispositivo
foi construído com perfis metálicos maciços em
aço-carbono, com faces em acrílico e acessórios
para vedação pertinentes. Acoplado a esse
sistema, trabalhou-se com um reservatório
superior com capacidade para 20L, um suporte
para fixação e um reservatório para coleta de
efluente, configurando a instalação
esquematizada na Figura 3:

Figura 3. Configuração do Sistema para Desaguamento


Utilizando o Dispositivo em Caixa.

Foram conduzidos 3 tipos de ensaios de


desaguamento utilizando as seguintes
combinações: solo A e geotêxtil T-1; solo B e
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geotêxtil T-2; solo C e geotêxtil NT-1. Estas onde: PP é a perda de partículas, A a área
combinações foram estabelecidas com base na efetiva do geotêxtil no ensaio de desaguamento
relação entre a abertura de filtração e conforme definido em (1), porém em
característica dos filtros e o d50 das partículas a gramas.
serem filtradas (ver Tabelas 1 e 3). Para Seguindo ainda proposições de Satyamurty e
assegurar controle de qualidade, os ensaios Bhatia (2009), o valor de sólidos passantes pode
foram realizados em duplicata. ser determinado por:

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
(3)
4.1 Avaliação dos Resultados de Ensaio
onde: SP é a percentagem de sólidos passantes e
Os resultados do ensaio utilizando o dispositivo os termos e conforme definidos
em caixa descrito em 3.3 foram avaliados a em (1).
partir de análises dos seguintes parâmetros de A Tabela 4 sumariza os parâmetros
eficiência envolvidos no processo de calculados a partir dos resultados de ensaio.
desaguamento: eficiência de filtração (EF),
perda de partículas (PP) e sólidos passantes Tabela 4. Resumo dos Ensaios de Desaguamento
(SP). Geotêxtil/Solo EF (%) PP (g/m²) SP (%)
A eficiência em filtração é a capacidade do
geotêxtil em reter sólidos, filtrando a água. Tal T-1/Solo A 98,63 321,46 1,37
T-2/Solo B 95,96 950,49 4,04
parâmetro pode ser quantificado fazendo uso da
NT-1/Solo C 98,71 302,32 1,29
seguinte expressão (Moo-Young e Tucker,
2002; Liao e Bhatia, 2006):
Pelos resultados mostrados na Tabela 4, é
possivel perceber que para todos os ensaios a
eficiência em filtração é bem alta, mesmo para
(1)
os geotêxteis tecidos, os quais possuem grandes
aberturas de filtração. Isto indica que, mesmo
onde: EF é a eficiência de filtração, o
que as partículas de solo das amostras A, B e C
valor de sólidos totais iniciais do material antes
tenham diâmetro inferior às aberturas dos
de ser desaguado (mg/L) e o valor de
filtros, todos geotêxteis foram capazes de reter
sólidos totais no efluente (mg/L), obtido após boa parte dos sólidos.
secagem. De uma maneira geral, uma porção pequena
Tominaga (2010) comenta que empregar o de sólidos passa através dos geotêxteis, como
termo “sólidos totais no efluente” é, de fato, pode ser visto pelos dados referentes à perda de
mais pertinente, uma vez que que os sólidos partículas e sólidos passantes. Esta perda é
encontrados no efluente são a soma dos sólidos relativamente mais acentuada para o conjunto
suspensos e sólidos dissolvidos. T-2/Solo B, aspecto que é justificado pelo fato
A quantificação da perda de partículas pode da razão O90/d50 (2,0 para esse caso) ser a maior
ser avaliada à luz dos sólidos totais no efluente, dentre as três.
segundo a seguinte expressão (Satyamurty e
Bhatia, 2009): 4.2 Filter Cake

Os mecanismos de filtração envolvidos no


(2) desaguamento dependem não só da estrutura
porométrica dos geotêxteis utilizados, como
também da formação do filter cake durante o
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processo. Essa formação pode ser monitorada


por meio da avaliação da mudança na taxa de
fluxo à medida em que esta diminui ao longo do
ensaio, ou ainda por meio da verificação da
distribuição do teor de umidade após o ensaio.
Embora o monitoramento do filter cake não
tenha sido feito durante os ensaios aqui
reportados, fotografias são apresentadas
(Figuras 4, 5 e 6) com o intuito de estabelecer
conexão entre o aspecto do cake resultante e a
passagem de partículas.

Figura 6. Cake resultante após ensaio: NT-1/Solo C

Pela análise da Figura 4, logo sobrevém a


interpretação de que o processo de
desaguamento se deu de maneira muito rápida,
com a taxa de fluxo através do geotêxtil T-1
descrecendo de maneira igualmente acelerada.
Por esse motivo, o acúmulo de partículas nos
vazios do filtro, bem como umas sobre as
outras, não ocorreu de maneira uniforme e
consequentemente a permeabilidade do
Figura 4. Cake resultante após ensaio: T-1/Solo A conjunto solo/geotêxtil em certas regiões (e.g.
no centro) permaneceu maior em comparação
com as demais ao final do ensaio. Ainda assim,
esse aspecto não gerou valores mais altos no
que diz respeito à perda de partículas (PP) e
sólidos passantes (SP), como pode ser visto pela
Tabela 4. A rapidez com que o desaguamento se
deu para esse caso fez com que, ao final do
ensaio, ainda se pudesse observar gotejamento
do material no cake já formado, o que
ocasionou o pequeno buraco visto na Figura 4.
O processo de desaguamento durante os
ensaios com os conjuntos T-2/Solo B e NT-
1/Solo C ocorreu de maneira bem mais lenta.
Ainda que a taxa de fluxo tenha sido alta no
Figura 5. Cake resultante após ensaio: T-2/Solo B
ínicio de ambos os ensaios, foi descrescendo
mais lentamente, o que favoreceu o acúmulo
uniforme das partículas de solo em toda área do
geotêxtil efetivamente ensaiada.
É interessante notar que, apesar da formação
do filter cake para esses dois casos ter se dado
de maneira lenta, o carreamento de partículas
mensurado pelos parâmetros PP (g/m²) e SP (%)
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não foi tão grande (vide Tabela 4). Tais do solos sendo filtrados, evidenciado pela razão
parâmetros tiveram, contudo, valores O90/d50 computada para cada caso.
superiores para os ensaios realizados com a
combinação T-2/Solo B, o que indica que, para
esse caso, a abertura de filtração e a natureza AGRADECIMENTOS
granulométrica do solo de base não possuem
uma compatibilidade favorável para o Os autores agradecem à CAPES pelo suporte
desempenho do sistema filtrante, sendo esse o financeiro.
aspecto que provavelmente mais influenciou a
eficiência do processo de desaguamento. Isto se REFERÊNCIAS
evidencia quando comparamos a relação O90/d50
nos três casos (1,12 para o solo A e o geotêxtil Associação Brasileira de Normas Técnicas (2018). PR
T-1; 2,00 para o solo B e o geotêxtil T-2; e 1,27 NBR ISO 10318. Geossintéticos – Termos e
Definições.
para o solo C e o geotêxtil NT-1). Associação Brasileira de Normas Técnicas (2016). NBR
6458. Grãos de pedregulho retidos na peneira de
abertura 4,8 mm - Determinação da massa específica,
5 CONCLUSÃO da massa específica aparente e da absorção de água.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (2013). NBR
ISO 12956. Geotêxteis e produtos correlatos:
O objetivo do presente trabalho consistiu em determinação da abertura de filtração característica.
analisar os mecanismos de filtração existentes Associação Brasileira de Normas Técnicas (2013). NBR
em sistemas de confinamento de resíduos ISO 9864. Geossintéticos – Método de ensaio para
(SCR’s), considerando fluxo perpendicular ao determinação da massa por unidade de área de
plano dos filtros. Tal análise se baseou na geotêxteis e produtos correlatos.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (2013). NBR
realização de 3 ensaios em equipamento na ISO 9863. Geossintéticos – Determinação da
forma de caixa em pequena dimensão, cada qual espessura a pressões especificadas.
com uma combinação geotêxtil/solo de base Associação Brasileira de Normas Técnicas (2013). NBR
diferente, e incorporou a quantificação dos ISO 9862. Geossintéticos – Amostragem e preparação
de corpos de prova para ensaios.
seguintes parâmetros: eficiência de filtração
Associação Brasileira de Normas Técnicas (2013). NBR
(EF), perda de partículas (PP) e sólidos ISO 11058. Geotêxteis e produtos correlatos -
passantes (SP). Determinação das características de permeabilidade
Para todos os ensaios a eficiência de filtração hidráulica normal ao plano e sem confinamento.
foi bem alta, com uma porção pequena de Bourgès-Gastaud, S., Stoltz, G., Sidjui, F., Touze-Foltz,
N. (2014). Nonwoven geotextiles to filter clayey
sólidos passando através dos geotêxteis, ainda
sludge: An experimental study. Geotextiles and
que os geotêxteis em todas as combinações Geomembranes, Vol. 42, p. 214–223.
apresentassem abertura bem superior às Gaffney, D. A., Moo-Young, H. K. (2000) Dewatering
partículas dos solos de base. A rapidez com a highly organic, fine-grained dredge material using
qual o filter cake se formou durante os ensaios geotextile tubes. Western Dredging Association, 20th
Technical Conference, Texas, USA, Vol 20, p.179-
não influenciou tanto a passagem de partículas,
189.
face ao fato de que tanto o ensaio com a Guo, W., Chu, J., Nie, W. (2014). Analysis of
combinação T-1/Solo A, durante o qual o geosynthetic tubes inflated by liquid and consolidated
desaguamento foi bem rápido, quanto aquele soil. Geotextiles and Geomembranes, Vol. 42, p. 277–
com a combinação NT-1/Solo C, em que o 283.
IGS Brasil (Associação Brasileira de Geossintéticos):
desaguamento se deu de maneira bem mais Recomendação 004 (2016) - Aplicação de
lenta, apresentaram valores de PP e SP Geossintéticos em Áreas de Disposição de Resíduos.
relativamente próximos. O aspecto dominante Khachan, M.M., Bhatia, S.K. (2016). Influence of fibers
parece, pois, ter sido a compatibilidade entre a on the shear strength and dewatering performance of
abertura de filtração e a natureza granulométrica geotextile tubes. Geosynthetics International. Vol. 23,
p. 317–330.
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Liao, K., Bhatia, S. (2006) Evaluation on Filtration


Performance of Woven Geotextiles by Falling Head,
Pressure Filtration Test, and Hanging Bag Tests.
International Conference on Geosynthetics,
Yokohama, Vol. 8.
Luettich, S. M., Giroud, J. P., Bachus, R. C. (1992)
Geotextile Filter Design Guide. Geotextiles and
Geomembranes, Vol. 11, p. 355-370.
Moo-Young, H. K., Gaffney, D. A., Mo, X. (2002)
Testing Procedures to Assess the Viability of
Dewatering with Geotextiles Tubes. Geotextiles and
Geomembranes, Vol. 20, p. 289-303.
Moo-Young, H. K., Tucker, W.R. (2002) Evaluation of
Vacuum Filtration Testing for Geotextile Tubes.
Geotextiles and Geomembranes, Vol. 20, p. 191-212.
Pilarczyk, K.W. (2000) Geosynthetics and Geosystems in
Hydraulic and Coastal Engineering. Rotterdam,
Balkema.
Satyamurthy, R.; Bhatia, S.K. (2009). Experimental
Evaluation of Geotextile Dewatering Performance.
Geosynthetics. Salt Lake City, p. 464–473.
Tominaga, E. (2010) Análise dos Procedimentos para
Avaliação de Desempenho de Sistemas Fechados com
Geotêxtil para Desaguamento. Dissertação de
Mestrado, Programa de Pós-Graduação em
Engenharia de Infraestrutura Aeronáutica,
Departamento de Engenharia Civil, Instituto
Tecnológico de Aeronáutica, 127 p.
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Comportamento de um Resíduo Granular Reforçado com


Geocélula Submetido a Ensaios de Placa
Julia Favretto
Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Rio Grande do Sul, juliafavretto@hotmail.com

Gustavo Dias Miguel


Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Rio Grande do Sul,
gustavo2995@hotmail.com

Maciel Donato
Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Rio Grande do Sul, mdonato@upf.br

Márcio Felipe Floss


Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Rio Grande do Sul, marciofloss@upf.br

RESUMO: Este estudo tem por objetivo avaliar o comportamento de um sistema de reforço de
solos, composto por geocélula preenchida com resíduos da rolagem de pedras preciosas, utilizado
como alternativa de melhoramento da resistência de um solo arenoso. A análise foi realizada através
de provas de carga realizadas em laboratório. O sistema de reforço foi instalado sobre o substrato
arenoso e submetido a carregamento estático em placa circular, com medidas diretas de tensão e
deslocamento. O desempenho da fundação foi avaliado através das curvas carga-deslocamento e dos
índices Fator de Melhora da Capacidade de Carga (If) e Porcentagem da Redução do Recalque na
Sapata (PRS). Os resultados apontam que a utilização do resíduo, nas condições de granulometria e
densidade testadas, não é uma alternativa adequada devido aos elevados níveis de recalque
observados na camada. Porém, em relação à eficiência do reforço, foi verificado um aumento da
ordem de 70% na resistência da fundação quando utilizada a geocélula.

PALAVRAS-CHAVE: Melhoramento de Solos, Geocélula, Reutilização de Resíduo, Provas de


Carga Estática.

1 INTRODUÇÃO com condições inadequadas têm contribuído


para o desenvolvimento de novas técnicas de
Um aspecto de grande importância a ser estabilização de solos. Uma alternativa
considerado nos projetos de engenharia é a satisfatória para o melhoramento de solo é
condição geotécnica do local de implantação de através da utilização de geocélula. Trata-se de
determinada obra. Muitas vezes, é necessário um geossintético para reforço de solo,
construir ou realizar obras civis em locais empregado em diversas aplicações da
desfavoráveis, cujo solo apresenta baixa engenharia geotécnica, como estabilização e
resistência ou recalques excessivos. Isso ocorre proteção de taludes, fundações, base de aterros,
devido ao intenso processo de urbanização e a pavimentos e ferrovias (Bathurst e Jarrett, 1988;
expansão das obras de infraestrutura, cujo Dash et al., 2008; Sireesh et al. 2009). A
resultado é o aumento da demanda por espaço. geocélula é uma estrutura tridimensional aberta
A necessidade de solos competentes aliada à de células interconectadas para confinamento de
dificuldade na realização de obras em locais solo que foi inicialmente estudada por Webster
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e Watkins (1977) e Webster e Alford (1978). O confeccionada em polipropileno, estruturada no


desenvolvimento da resistência de uma camada formato diamante. As células possuem 20 cm de
reforçada com geocélula é baseado no princípio altura, largura e comprimento médio de 27 cm.
do confinamento celular, que impede As paredes da geocélulas são lisas, sem textura
completamente o deslocamento lateral do solo. ou aberturas. A geocélula está ilustrada na
Estudos realizados em solos reforçados com Figura 1.
geocélulas, tomando como exemplo os
realizados por Mandal e Gupta (1994), Dash et
al. (2001) e Dash et al. (2003), sugerem que o
efeito do confinamento do solo resulta em um
sistema de reforço mais rígido, capaz de
melhorar o desempenho e aumentar a
resistência da fundação.
Em geral, o preenchimento das geocélulas é
dado por materiais granulares, como areia ou
pedregulho, por apresentarem melhores
propriedades interfaciais e alto controle no Figura 1. Geocélula utilizada para reforço.
processo de enchimento das células (Rajagopal
et al., 1999; Biswas e Krishna, 2017). Nesse
sentido, algumas pesquisas têm sido O resíduo utilizado na pesquisa como
desenvolvidas utilizando o resíduo do material de preenchimento da geocélula é
beneficiamento de pedras preciosas como oriundo do processo de rolagem de pedras
material de preenchimento de geocélulas, a fim preciosas e provém de empresas do setor de
de reutilizar esse material na engenharia civil, gemas e joias do município de Soledade/RS. O
como pode ser visto nos trabalhos de Miguel et resíduo em seu estado original foi peneirado,
al. (2016) e Baruffi et al. (2016). No sul do obtendo o material passante na peneira #3/8
Brasil estão localizadas diversas empresas do (9,50 mm) e retido na peneira #40 (0,42 mm). O
setor de joias e pedras preciosas, cujas material estudado foi classificado como
atividades de extração e processamento de pedregulho fino, com peso específico dos
gemas gera grande quantidade de resíduo sólido sólidos de 25,94 kN/m3, diâmetro efetivo (D50)
granular, na forma de refugos, peças semi- de 3,20 mm, sendo o coeficiente de
acabadas ou pouco beneficiadas. Muitas vezes, uniformidade e de curvatura de 6,15 e 1,25,
esse resíduo acaba sendo armazenado respectivamente. Os índices de vazios mínimo e
inadequadamente nos pátios das empresas, máximo são de 0,40 e 0,68, respectivamente.
podendo causar danos ambientais (Thomé et al., Na Figura 2(a) é apresentada uma amostra do
2010). resíduo e na Figura 3 a sua distribuição
O presente trabalho tem como objetivo granulométrica.
estudar, através de ensaios de prova de carga em O solo de base a ser reforçado foi constituído
placa circular, o comportamento de um sistema por uma areia proveniente do município de
de reforço para solo arenoso composto por Osório/RS. Este material foi caracterizado por
geocélula preenchida com resíduos da rolagem Donato (2007), indicando uma areia fina, com
de pedras preciosas. peso específico dos sólidos de 26,30 kN/m3,
diâmetro efetivo (D50) de 0,16 mm, sendo o
coeficiente de uniformidade e de curvatura de
2 MATERIAIS 2,10 e 1,00, respectivamente. Os índices de
vazios mínimo e máximo apresentados por
A geocélula empregada no estudo foi Miguel e Floss (2017) são de 0,702 e 0,913,
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respectivamente. Na Figura 2(b) é apresentada de 50%. A moldagem da caixa de teste iniciou


uma amostra da areia e na Figura 3 sua com o espalhamento da areia homogeneizada
distribuição granulométrica. em uma espessura total de 40 cm, moldada e
compactada manualmente em camadas de 10
cm.
A camada de reforço executada sobre o solo
arenoso foi composta por geocélula com 20 cm
de altura preenchida com resíduo de pedras
preciosas. Com o objetivo de quantificar o
aumento da resistência resultante da inserção da
geocélula, também foi ensaiada uma
configuração de resíduo não reforçado com
(a) (b)
mesma espessura. Sobre a camada de resíduo,
Figura 2. (a) Amostra peneirada do resíduo da rolagem de foi executado um recobrimento com o mesmo
pedras preciosas; (b) Areia de Osório/RS. material na espessura de 2 cm para evitar
contato direto entre a placa e a geocélula,
conforme indicado por Dash et al. (2001). As
amostras de resíduo foram moldadas secas e
compactadas manualmente em camada única
com densidade relativa de 50%.
Após a confecção das amostras, o sistema de
aplicação de carga foi instalado para dar início
às provas de carga. A execução do ensaio de
placa seguiu as instruções da ABNT NBR
6489:1984, que normatiza as provas de carga
diretas no país.
A transmissão dos esforços ao solo foi dada
através de uma placa rígida de aço, com 15 cm
Figura 3. Distribuição granulométrica dos materiais. de diâmetro. Os ensaios foram realizados com
carregamento lento, onde as tensões de
carregamento foram aplicadas em cargas
3 METODOLOGIA sucessivas por meio de pequenos incrementos.
Um novo estágio de carregamento era realizado
Os experimentos foram conduzidos no após verificação do critério de estabilização dos
Laboratório de Geotecnia da Universidade de recalques resultantes do último incremento, com
Passo Fundo, com base em normatização tolerância máxima de 5% do recalque total
técnica e estudos de referência. A seguir são neste estágio, entre leituras sucessivas.
apresentados os procedimentos utilizados para a Para posterior apresentação dos resultados, o
execução do trabalho. deslocamento da placa (s) foi normalizado pelo
Foram realizados ensaios de placa sobre diâmetro da placa (D), expressando os
camada de resíduos não reforçada e reforçada resultados no formato adimensional como s/D
por geocélula em uma caixa de madeira de (%). Os ensaios foram conduzidos até atingir
dimensões 90 x 90 x 70 cm (largura, um recalque máximo limitado em 25 mm (s/D =
comprimento e altura), que acomodou as 17%), cujos valores iguais e superiores a este
camadas de solo e resíduo. caracterizam a ruptura do solo.
Para a confecção do solo de base, foram A carga transferida para a sapata foi
fixadas a umidade de 10% e densidade relativa monitorada por uma célula de carga disposta
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entre o sistema de reação e o macaco hidráulico 4 RESULTADOS


utilizado para o carregamento. Os
deslocamentos da placa foram medidos através Os resultados da pesquisa são expressos a
de duas réguas resistivas (R1 e R2) locadas em seguir.
pontos opostos ao diâmetro da placa. Já as
deformações da superfície, elevação e recalque, 4.1 Comportamento Carga-Deslocamento da
foram medidas por três deflectômetros digitais Placa.
(D1, D2 e D3) dispostos, respectivamente, nas
distâncias (x) iguais a 0,83, 1,50 e 2,17 vezes o A Figura 6 apresenta as curvas carga-
diâmetro da placa (D), partindo da linha de deslocamento dos ensaios sobre camada de
centro da placa. Uma fotografia do ambiente de resíduo com e sem reforço de geocélula, bem
ensaio está ilustrada na Figura 4. A geometria como a curva resultante do ensaio de referência
da fundação pode ser vista na Figura 5, onde as realizado no solo arenoso por Miguel e Floss
medidas estão apresentadas na forma (2017).
adimensional, em função do diâmetro da placa. Ao longo dos ensaios, notou-se que a
aplicação do carregamento gerava um rearranjo
dos grãos da camada de resíduo, principalmente
na região da placa, devido à instabilidade do
material. O deslocamento elevado das partículas
de resíduo é consequência da granulometria e
densidade utilizadas no estudo. Além disso,
trata-se de um material obtido nos processos de
rolagem de pedras, que resulta em partículas
residuais com forma mais arredondada. De
acordo com Pokharel et al. (2010), essa forma
textural configura um material relativamente
fraco. Em razão disso, os ensaios que
continham a camada de resíduo, mesmo com a
utilização do reforço, resultaram em resistências
mais baixas da fundação, quando comparado
com o ensaio de referência na areia.
Por outro lado, para fins de quantificação da
melhora da capacidade de carga do solo devido
à inserção do reforço, foram comparados os
ensaios em camada de resíduo com e sem
geocélula. Os resultados evidenciam
Figura 4. Ambiente dos ensaios de placa.
desempenho superior da fundação, ao longo de
todo o ensaio.

4.2 Fator de Melhora da Capacidade de Carga


(If)

O aumento na capacidade de carga devido ao


emprego do reforço pode ser quantificado
através de um parâmetro adimensional chamado
de Fator de Melhora da Capacidade de Carga
Figura 5. Geometria da fundação. (If), que, segundo Dash et al. (2003), é definido
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como sendo a razão entre a tensão do solo 4.3 Porcentagem de Redução no


reforçado para um recalque definido e a tensão Deslocamento da Placa (PRS)
do solo não reforçado para o mesmo recalque.
A Tabela 1 apresenta a variação do fator de A eficiência da geocélula também pode ser
melhora de capacidade em função do recalque avaliada através da comparação entre os
normalizado da placa resultante do emprego da recalques desenvolvidos nos ensaios com e sem
geocélula. A comparação foi realizada com o o reforço. Tal comparação pode ser realizada
ensaio sem reforço sobre a camada de resíduo. por um fator conhecido como porcentagem de
Observa-se comportamento crescente ao redução no deslocamento da placa (PRS), que é
longo da evolução dos recalques, a partir de s/D determinado pela razão da diferença entre os
= 3%. Os resultados obtidos para o fator de deslocamentos do solo não reforçado pelo solo
melhora da capacidade de carga dos ensaios reforçado, sobre o valor do recalque do solo não
indicam que a influência do uso da geocélula é reforçado, para uma dada carga aplicada.
mais significativa para níveis mais elevados de De forma análoga à apresentada para os
recalque, atingindo uma melhoria de 69% na fatores de melhora If, a comparação se deu entre
resistência no momento da ruptura. os ensaios com e sem reforço na camada de
resíduo. Os resultados de PRS estão dispostos
na Tabela 2. Observa-se efeito significativo do
reforço na porcentagem de redução dos
recalques da placa desde o início dos ensaios,
atingindo até 74% no instante da ruptura.

Tabela 2. Porcentagens de redução no deslocamento da


sapata (PRS)
Carga
PRS
(kPa)

50 66%
100 34%
150 49%
200 68%
226
Figura 6. Curvas carga-deslocamento dos ensaios. 74%
(qrup)

Tabela 1. Fatores de melhora da capacidade de carga (If)


4.4 Deformações da Superfície
Deslocamento
If
s/D
A Figura 7 apresenta a variação da deformação
1% 2,20 da superfície em relação ao recalque da placa
resultante do ensaio sem geocélula. De modo
3% 1,33
geral, observa-se comportamento crescente de
5% 1,45 elevação da superfície com o aumento dos
10% 1,60 recalques na placa em todos os pontos de
medição. O leve recalque observado no início
15% 1,67
do carregamento, em x/D = 0,83, pode estar
17% 1,69
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relacionado com problemas na compactação do


solo nessa região.
Já na Figura 8, tem-se a variação da
deformação da superfície em relação ao
recalque da placa decorrente do ensaio sobre
solo reforçado com geocélula. Na região mais
próxima da placa, em x/D = 0,83, a superfície
do solo apresentou deformações de recalque ao
longo de todo ensaio. Nos pontos mais
afastados da placa, seguem sendo observadas
elevações, porém em magnitude inferior àquelas
apresentadas no ensaio sem reforço. Ao
contrário do que ocorre em solos não
reforçados, onde são verificadas maiores
elevações na superfície, em solos reforçados
essa elevação é muito menor. De acordo com Figura 8. Variação da deformação da superfície com o
Dash et al. (2001) e Avesani Neto (2013), esse recalque da placa – Ensaio com reforço.
comportamento é resultado da utilização da
geocélula, que conduz a um recalque mais
uniforme da superfície, devido ao efeito da 5 CONCLUSÃO
distribuição das tensões. Hegde e Sitharam
(2014) notaram, para diferentes materiais de Com base nos resultados apresentados, as
preenchimento, que enquanto a fundação não seguintes conclusões podem ser feitas:
apresentava ruptura, não era observada elevação  Comparando os ensaios sobre camada de
da superfície próxima à placa na presença de resíduo com e sem reforço, tem-se um aumento
geocélula, atribuindo tal comportamento à de cerca de 70% na resistência da fundação
possibilidade de as superfícies de falha estarem devido ao emprego da geocélula.
presas dentro das células.  A utilização do resíduo de pedras preciosas
como material de preenchimento de geocélulas,
na faixa granulométrica e densidade testadas,
não é uma alternativa adequada para reforço do
solo arenoso estudado.
 O emprego do reforço celular na camada de
resíduo resultou em recalques mais uniformes e
elevações menos expressivas da superfície do
solo ao entorno da placa.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem o apoio da CAPES pela


bolsa de mestrado concedida ao primeiro autor
da pesquisa; e ao Programa de Pós-Graduação
em Engenharia Civil e Ambiental da
Figura 7. Variação da deformação da superfície com o Universidade de Passo Fundo.
recalque da placa – Ensaio sem reforço.
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Danificação Mecânica de uma Geogrelha Induzida por Agregados


Naturais e Reciclados
José Ricardo Carneiro
Construct-Geo, FEUP, Porto, Portugal, rcarneir@fe.up.pt

Adriana da Silva
FEUP, Porto, Portugal, ec10058@fe.up.pt

Francisco Violante
FEUP, Porto, Portugal, franciscommviolante@gmail.com

Maria de Lurdes Lopes


Construct-Geo, FEUP, Porto, Portugal, lcosta@fe.up.pt

RESUMO: O processo de instalação em obra (que muitas vezes causa danificação mecânica) pode
provocar alterações indesejáveis no comportamento a curto prazo dos geossintéticos. Este trabalho
estuda o efeito de diferentes agregados na danificação mecânica sob carga repetida sofrida por uma
geogrelha. Para tal, a geogrelha foi danificada em laboratório (com exceção para o uso de diferentes
agregados, procedimento de acordo com a norma EN ISO 10722) com corundum (agregado usado
na norma EN ISO 10722), com agregados naturais (areia siltosa, areia 0/4, tout-venant, brita 4/8 e
brita 6/14) e com agregados reciclados (resíduos de construção e demolição e cinzas de incineração
de resíduos sólidos urbanos). Os danos ocorridos na geogrelha (nos ensaios de danificação mecânica
sob carga repetida) foram avaliados através da monitorização do seu comportamento à tração.

PALAVRAS-CHAVE: Geossintéticos, Geogrelha, Danificação Mecânica, Agregados Reciclados,


Resíduos de Construção e Demolição.

1 INTRODUÇÃO têm uma resistência à tração elevada (e baixa


deformação), sendo utilizadas com a função de
Os geossintéticos são materiais poliméricos que reforço.
podem ser utilizados na construção de diversas O processo de instalação pode induzir danos
estruturas de Engenharia Civil. As vantagens da muito relevantes nos geossintéticos, provocando
utilização destes materiais (em substituição de alterações indesejáveis nas suas propriedades
materiais de construção tradicionais) incluem a físicas, mecânicas e hidráulicas. Os danos que
rapidez e facilidade de construção, baixo custo, ocorrem durante o processo de instalação (como
boa eficiência dos materiais e reduzido impacto orifícios ou rasgos, cortes em componentes ou
ambiental. De forma simples, os geossintéticos abrasão) são originados pelo manuseamento dos
podem ser divididos em três grupos: geotêxteis, geossintéticos e pela colocação e compactação
geomembranas e produtos relacionados (onde se de materiais de enchimento sobre estes (Pinho-
incluem as geogrelhas). Lopes e Lopes, 2010). Em algumas situações, as
As geogrelhas possuem uma estrutura aberta tensões induzidas pelo processo de instalação
e plana, com uma malha quadrada ou retangular podem ser maiores do que as consideradas no
(as aberturas são tipicamente maiores do que os dimensionamento para as condições de serviço
elementos sólidos). As geogrelhas normalmente (Shukla e Yin, 2006). Os danos induzidos pelo
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processo de instalação dependem de vários exceção da utilização de agregados naturais e


fatores, como por exemplo: o tipo/estrutura do reciclados, ensaios de acordo com a norma EN
geossintético, a distribuição granulométrica dos ISO 10722), tendo sido analisadas as alterações
agregados, a angularidade das partículas dos ocorridas no seu comportamento à tração. Estes
agregados, a energia de compactação e o uso, ou ensaios (para simplificação de escrita, daqui em
não, de procedimentos de instalação adequados. diante designados simplesmente por ensaios de
Os danos que ocorrem durante a instalação danificação mecânica) foram realizados com o
dos geossintéticos podem ser avaliados de duas agregado sintético especificado na norma EN
formas: (1) através de ensaios laboratoriais que ISO 10722 (corundum), com agregados naturais
simulem as ações de danificação ou (2) através (areia siltosa, areia 0/4, tout-venant, brita 4/8 e
de ensaios de danificação em campo (instalação brita 6/14) e com agregados reciclados (vários
sob condições reais e remoção imediata dos resíduos de construção e demolição e cinzas de
materiais para análise). Os danos ocorridos nos incineração de resíduos sólidos urbanos).
geossintéticos (nos ensaios de danificação) são Os principais objetivos do estudo incluíram:
normalmente avaliados pela monitorização de (1) avaliação do efeito de diferentes agregados
diferentes propriedades dos materiais. na danificação mecânica sofrida pela geogrelha,
A danificação mecânica está muitas vezes (2) comparação da danificação provocada pelo
associada ao processo de instalação em obra dos corundum (procedimento normalizado) com a
geossintéticos. De modo a induzir danificação danificação causada pelos agregados naturais e
mecânica nos materiais, foi desenvolvido um reciclados e (3) avaliação da viabilidade, em
procedimento normalizado (ENV ISO 10722-1, termos da danificação mecânica induzida à
posteriormente atualizado para EN ISO 10722). geogrelha, da utilização de agregados reciclados
Este procedimento foi usado por muitos autores como materiais de enchimento (em substituição
para avaliar a danificação que ocorre durante a de agregados naturais).
instalação dos geossintéticos, enquanto outros
autores procuraram encontrar correlações entre
este método laboratorial e os danos que ocorrem 2 DESCRIÇÃO EXPERIMENTAL
em ensaios de danificação em campo.
Os materiais de enchimento (com os quais os 2.1 Geogrelha
geossintéticos contactam em várias aplicações)
são normalmente de origem natural e poderão, Foi estudada uma geogrelha tecida em poliéster
em alguns casos, ser eventualmente substituídos e revestimento em policloreto de vinilo (Figura
por agregados reciclados. Os estudos existentes 1).
sobre a utilização de agregados reciclados em
contacto com geossintéticos são relativamente
escassos e estão sobretudo relacionados com as
propriedades de interface entre ambos (Vieira e
Pereira, 2016; Vieira et al., 2016). Existem
também alguns estudos sobre a danificação
mecânica induzida por agregados reciclados a
geossintéticos (Carneiro et al., 2017; Pereira et
al., 2017), uma questão fundamental para o uso
destes agregados como materiais de enchimento
em contacto com geossintéticos.
Neste trabalho, uma geogrelha foi submetida
a ensaios laboratoriais de danificação mecânica
sob carga repetida com vários agregados (com a Figura 1. Geogrelha.
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A geogrelha possuía uma massa por unidade 200 kPa durante um período de 60 s. A camada
de área de 290 g/m2 e uma espessura de cerca superior (camada única) tinha 75 mm de altura e
de 1,8 mm. Os processos de amostragem e de não foi compactada. O processo de danificação
preparação de provetes seguiram as indicações envolveu a aplicação de uma carga cíclica entre
da norma EN ISO 9862. os 5 e os 500 kPa à frequência de 1 Hz durante
200 ciclos.
2.2 Ensaio de Danificação Mecânica Os ensaios de danificação mecânica foram
efetuados com vários agregados: com corundum
Com exceção para o uso de agregados naturais e (agregado sintético usado no método descrito na
reciclados, os ensaios de danificação mecânica norma EN ISO 10722), com agregados naturais
foram realizados de acordo com a norma EN (areia siltosa, areia 0/4, tout-venant, brita 4/8 e
ISO 10722. O equipamento usado nos ensaios brita 6/14) e com agregados reciclados (resíduos
(um protótipo desenvolvido no Laboratório de de construção e demolição (RCD) e cinzas de
Geossintéticos da Faculdade de Engenharia da incineração de resíduos sólidos urbanos). Foram
Universidade do Porto) era constituído por uma utilizados três RCDs diferentes: um RCD fino
caixa de danificação (caixa metálica rígida onde (indiferenciado), um RCD de origem cerâmica e
foi colocada a geogrelha e os vários agregados), um RCD de origem cimentícia. Os RCDs foram
uma placa de carregamento e um mecanismo de obtidos numa unidade industrial de gestão deste
aplicação de carga (Figura 2) (a descrição total tipo de resíduos (RCD, SA – Figueira da Foz,
do equipamento pode ser encontrada em Lopes Portugal). Por sua vez, as cinzas foram obtidas
e Lopes, 2003). numa estação de incineração de resíduos sólidos
urbanos (Lipor II – Maia, Portugal).
Os D10 (diâmetro correspondente a 10% de
1 passados), D50 (diâmetro correspondente a 50%
de passados) e os DMax (diâmetro máximo das
5
partículas) dos diferentes agregados podem ser
encontrados na Tabela 1.
2 Tabela 1. Caracterização da distribuição granulométrica
4 dos agregados (EN 933-1).
D10 D50 DMax
Agregado
3 (mm) (mm) (mm)
Corundum 5,77 7,91 10,0
Areia Siltosa <0,063 0,39 2,0
Areia 0/4 0,26 0,87 4,0
Tout-venant 0,08 3,67 31,5
Brita 4/8 2,99 5,66 8,0
Figura 2. Representação esquemática do equipamento de Brita 6/14 6,42 10,63 14,0
danificação mecânica (Carneiro et al., 2012). Legenda: RCD Fino <0,063 0,52 4,0
(1) placa de carregamento; (2) caixa de danificação (parte RCD Cerâmico 0,71 12,85 22,4
superior); (3) caixa de danificação (parte inferior); (4) RCD Cimentício 0,93 14,81 31,5
geossintético; (5) agregado. Cinzas 0,19 3,83 14,0

A geogrelha (provetes na direção de fabrico 2.3 Avaliação de Danos


com cerca de 250 mm de largura e 500 mm de
comprimento) foi colocada entre duas camadas Os danos ocorridos na geogrelha (provocados
de agregado. A camada inferior (altura total de pelas ações de danificação) foram avaliados por
75 mm) era formada por duas subcamadas com ensaios de tração de acordo com a norma EN
37,5 mm de altura cada. Cada subcamada foi ISO 10319. Estes ensaios foram realizados à
compactada pela aplicação de uma pressão de
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velocidade de 20 mm/min e englobaram, para pelo corundum), como ligeiros cortes e alguma
cada situação, o teste de um número mínimo de abrasão. Por fim, o tout-venant induziu danos
5 provetes. muito idênticos aos provocados pela brita 4/8 e
Os parâmetros mecânicos determinados nos pela brita 6/14, mas com menor efeito abrasivo.
ensaios de tração (valores na direção de fabrico) As propriedades de tração da geogrelha, obtidas
incluíram a resistência à tração (T, em kN/m) e antes e após os ensaios de danificação mecânica
a extensão na força máxima (EFM, em %). Os com os vários agregados naturais, encontram-se
resultados obtidos para a resistência à tração são na Tabela 3.
também apresentados em termos de resistência
à tração residual (TResidual, em %), determinada Tabela 3. Propriedades de tração da geogrelha antes e
pelo quociente entre a resistência à tração das após os ensaios de danificação mecânica com agregados
naturais.
amostras danificadas e a resistência à tração da T EFM TResidual
amostra de referência (não danificada). Agregado
(kN/m) (%) (%)
Não danificado 46,7 (1,4) 10,1 (0,4) -
Areia Siltosa 46,3 (1,5) 10,1 (0,6) 99,1
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Areia 0/4 44,8 (2,9) 9,8 (1,4) 95,9
Tout-venant 41,9 (2,1) 9,7 (0,4) 89,7
Brita 4/8 40,8 (2,1) 10,1 (0,3) 87,4
3.1 Agregado Normalizado Brita 6/14 40,2 (1,1) 10,4 (0,8) 86,1
(entre parêntesis encontram-se os desvios padrão obtidos)
A geogrelha apresentava alguns sinais visíveis
de degradação depois do ensaio de danificação O ensaio de danificação mecânica com areia
mecânica com corundum. De facto, ocorreram siltosa não provocou alterações significativas na
pequenos cortes em algumas barras e alguma resistência à tração da geogrelha (resistência à
abrasão. A Tabela 2 resume as propriedades de tração residual de 99,1%). De forma idêntica, o
tração da geogrelha, antes e depois do ensaio de ensaio de danificação mecânica com a areia 0/4
danificação mecânica com corundum. também não causou alterações muito relevantes
(resistência à tração residual de 95,9%). Por sua
Tabela 2. Propriedades de tração da geogrelha antes e vez, os ensaios de danificação mecânica com o
após o ensaio de danificação mecânica com corundum.
tout-venant e com as britas 4/8 e 6/14 causaram
T EFM TResidual
Agregado pequenas diminuições na resistência à tração da
(kN/m) (%) (%)
Não danificado 46,7 (1,4) 10,1 (0,4) - geogrelha - as reduções de resistência induzidas
Corundum 36,6 (2,9) 9,8 (0,8) 78,4 por estes agregados não foram muito diferentes
(entre parêntesis encontram-se os desvios padrão obtidos) (resistências à tração residuais entre os 86,1% e
89,7%). Não ocorreram alterações significativas
A resistência à tração da geogrelha diminuiu na extensão na força máxima da geogrelha em
depois do ensaio de danificação mecânica com nenhum dos ensaios de danificação mecânica
corundum (redução de 21,6%). Por sua vez, a com os agregados naturais (tal como não havia
extensão na força máxima não sofreu alterações ocorrido após o ensaio de danificação mecânica
muito significativas. com o corundum).
A inexistência de danos na geogrelha depois
3.2 Agregados Naturais do ensaio de danificação mecânica com a areia
siltosa deve-se ao facto deste agregado ser fino
Os ensaios de danificação mecânica com a areia (D50 de 0,39 mm e DMax de 2,0 mm), originando
siltosa e com a areia 0/4 (agregados mais finos) uma superfície lisa, plana e regular depois de
não induziram danos visíveis na geogrelha. Por compactado. Desta forma, existiu uma grande
sua vez, a brita 4/8 e brita 6/14 causaram danos superfície de contacto entre a areia siltosa e a
idênticos (e semelhantes aos danos provocados geogrelha, permitindo uma boa distribuição das
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forças aplicadas e minimizando a ocorrência de ISO 10722). Embora o corundum não tivesse as
danos mecânicos. partículas de maior dimensão, estas ainda assim
Tal como a areia siltosa, a areia 0/4 também eram relativamente grandes (D50 de 7,91 mm e
não provocou danos significativos na geogrelha. DMax de 10,0 mm), tinham uma forma angular e
Tendo em conta os desvios padrão obtidos, não possuíam um grande efeito abrasivo. Assim, o
é possível concluir se a pequena diminuição na uso de corundum no método da norma EN ISO
resistência à tração da geogrelha (diminuição de 10722 parece ser uma abordagem conservativa.
4,1%) reflete alguma danificação induzida pela
areia 0/4 ou se resulta apenas da existência de 3.3 Agregados Reciclados
heterogeneidade no material (o que dá origem a
pequenas variações nas propriedades obtidas em O ensaio de danificação mecânica com o RCD
repetições de um ensaio de caracterização). À fino não provocou danos visíveis na geogrelha.
semelhança da areia siltosa, a areia 0/4 também Por sua vez, os ensaios de danificação mecânica
era formada por partículas de pequena dimensão com os RCDs de origem cerâmica e cimentícia
(D50 de 0,87 mm e DMax de 4,0 mm), originando induziram danos idênticos, como ligeiros cortes
igualmente uma superfície plana e regular após e alguma abrasão. Os tipos de danos provocados
o processo de compactação. pelas cinzas eram idênticos aos causados pelos
O tout-venant, embora fosse o agregado RCDs de origem cerâmica e cimentícia, mas um
natural contendo partículas de maior dimensão pouco mais pronunciados. As propriedades de
(DMax de 31,5 mm), possuía uma granulometria tração da geogrelha, obtidas antes e depois dos
extensa. De facto, o tout-venant era constituído ensaios de danificação mecânica com os vários
por uma percentagem relativamente elevada de agregados reciclados, estão resumidas na Tabela
partículas finas (% de partículas < 0,063 mm de 4.
8,0%) e uma pequena quantidade de partículas
de grandes dimensões quando comparado com Tabela 4. Propriedades de tração da geogrelha antes e
as britas 4/8 e 6/14 (o D50 do tout-venant era após os ensaios de danificação mecânica com agregados
reciclados.
inferior ao D50 das britas 4/8 e 6/14). Assim, e T EFM TResidual
tal como a areia siltosa e a areia 0/4, depois de Agregado
(kN/m) (%) (%)
compactado ficou com uma superfície plana e Não danificado 46,7 (1,4) 10,1 (0,4) -
regular (as partículas reorganizaram-se, ficando RCD Fino 45,9 (1,7) 9,7 (0,9) 98,3
as partículas de menor dimensão a envolver as RCD Cerâmico 44,2 (1,5) 9,4 (0,7) 94,6
RCD Cimentício 44,9 (2,6) 9,6 (1,7) 96,1
partículas de maior dimensão e, desta forma, a
Cinzas 41,6 (2,9) 9,9 (1,2) 89,1
ocupar os vazios). No entanto, as partículas de (entre parêntesis encontram-se os desvios padrão obtidos)
maior dimensão foram ainda assim capazes de
causar alguns danos (pequenos cortes e alguma Tal como esperado (tendo em consideração a
abrasão), responsáveis pela redução de 10,3% inexistência de danos visualmente detetáveis), o
na resistência à tração da geogrelha. ensaio de danificação mecânica com RCD fino
A brita 4/8 e a brita 6/14 eram constituídas não induziu alterações muito significativas nas
por partículas grandes e com forma angular (D50 propriedades de tração da geogrelha (resistência
de 5,66 mm e de 10,63 mm, respetivamente), o à tração residual de 98,3%). Este agregado, tal
que explica o facto de terem sido os agregados como a areia siltosa, era formado por partículas
naturais que induziram maiores diminuições na de pequena dimensão (D50 de 0,52 mm e DMax
resistência à tração da geogrelha. de 4,0 mm), originando uma superfície plana e
As diminuições de resistência (na geogrelha) regular depois da compactação (o que permite a
induzidas pelos vários agregados naturais foram obtenção de uma grande superfície de contacto
inferiores às causadas pelo corundum (agregado entre o agregado e a geogrelha e possibilita uma
sintético usado no procedimento da norma EN boa distribuição da força aplicada, minimizando
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assim a ocorrência de danos). nos componentes da geogrelha.


Os ensaios de danificação mecânica com os De um modo geral, os ensaios de danificação
RCDs de origem cerâmica e cimentícia tiverem mecânica com os diversos agregados reciclados
um efeito muito idêntico na resistência à tração não provocaram alterações muito significativas
da geogrelha (resistências à tração residuais de no comportamento à tração da geogrelha. É de
94,6% e de 96,1%, respetivamente). Tal como a realçar que, tal como os agregados naturais, os
resistência à tração, a extensão na força máxima agregados reciclados induziram diminuições na
da geogrelha também não teve alterações muito resistência à tração da geogrelha inferiores às
significativas depois dos ensaios de danificação provocadas pelo corundum. Desta forma, e em
mecânica com os RCDs de origem cerâmica e termos de danificação mecânica, existem boas
cimentícia. perspetivas para o uso deste tipo de agregados
As reduções causadas pelos RCDs de origem como materiais de enchimento em contacto com
cerâmica e cimentícia na resistência à tração da geogrelhas.
geogrelha não foram muito pronunciadas. Dessa
forma, e tendo em conta a dispersão associada
aos resultados, poderiam até ser explicadas pela 4 CONCLUSÕES
heterogeneidade característica da geogrelha (tal
como referido anteriormente, a heterogeneidade Os efeitos dos ensaios de danificação mecânica
dos materiais pode ser responsável por ligeiras incluíram, em alguns casos, pequenos cortes em
variações nas propriedades obtidas em múltiplas componentes e abrasão, os quais se traduziram
repetições de um ensaio de caracterização). No numa diminuição (de um modo geral, não muito
entanto, e considerando a existência de danos elevada) da resistência à tração da geogrelha. A
visíveis na geogrelha (pequenos cortes e alguma ocorrência e a severidade destes danos foram
abrasão), essas pequenas reduções de resistência influenciadas pelas características dos diferentes
poderão expressar a ocorrência desses danos. agregados (como a distribuição granulométrica
É de notar que as reduções de resistência (na ou a dimensão, forma e textura das partículas).
geogrelha) provocadas pelos RCDs de origem Os agregados mais finos (areia siltosa, areia
cerâmica e cimentícia foram menores do que as 0/4 ou o RCD fino) não induziram danos muito
induzidas, por exemplo, pelas britas 4/8 ou 6/14 relevantes na geogrelha. Os agregados formados
(agregados constituídos por partículas de menor por partículas com maior dimensão tenderam a
dimensão do que os RCDs de origem cerâmica causar danos mais significativos. Nesses casos,
e cimentícia). Tal poderá ser devido ao facto das a superfície de contacto entre os agregados e a
britas 4/8 e 6/14 serem formadas por partículas geogrelha era mais irregular, resultando numa
(embora de menor dimensão) mais angulosas e menor área de contacto para a distribuição da
com maior efeito abrasivo do que as partículas carga aplicada. Muitos desses agregados tinham
dos RCDs de origem cerâmica e cimentícia. também partículas angulares e ásperas, dando
As cinzas foram o agregado reciclado que origem a cortes e à ocorrência de abrasão.
causou a maior redução na resistência à tração O uso do corundum no método descrito na
da geogrelha (diminuição de 10,9%). Tal como norma EN ISO 10722 parece estabelecer uma
nos outros casos, a extensão na força máxima abordagem conservativa à danificação mecânica
não sofreu alterações significativas. Embora não de geossintéticos. De facto, todos os agregados
fossem o agregado reciclado com partículas de (naturais ou reciclados) induziram alterações de
maior dimensão (D10, D50 e DMax inferiores aos resistência na geogrelha inferiores às causadas
dos RCDs de origem cerâmica ou cimentícia), pelo corundum. A execução de danificações em
as cinzas possuíam na sua composição materiais campo (sob condições de instalação reais) com
cortantes (como pedaços de vidro ou de metais) os mesmos agregados, e posterior comparação
que podem ter promovido a ocorrência de cortes com os resultados laboratoriais, poderá permitir
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obter conclusões com maior confiança sobre a Carneiro, J.R., Lopes, M.L. e da Silva, A. (2017)
adequabilidade do corundum na simulação de Mechanical damage of a nonwoven geotextile induced
by recycled aggregates, Wastes – Solutions,
condições de instalação reais. Treatments and Opportunities II, CRC Press/
Por fim, e relativamente à possibilidade de Balkema, Leiden, Netherlands, p. 45-50.
usar os agregados reciclados como materiais de EN 933-1 (2012) Tests for Geometrical Properties of
enchimento em contacto com geogrelhas (e/ou Aggregates – Part 1: Determination of Particle Size
com outros geossintéticos), o presente estudo Distribution – Sieving Method, Comissão Europeia de
Normalização, Bruxelas, Bélgica.
não permite obter conclusões definitivas, dado EN ISO 9862 (2005) Geosynthetics – Sampling and
terem sido apenas avaliados os danos mecânicos Preparation of Test Specimens, Comissão Europeia de
causados pelos agregados à geogrelha. Contudo, Normalização, Bruxelas, Bélgica.
os danos induzidos pelos agregados reciclados EN ISO 10319 (2015) Geosynthetics – Wide-Width
no comportamento a curto prazo da geogrelha Tensile Test, Comissão Europeia de Normalização,
Bruxelas, Bélgica.
foram menores do que os danos causados pelo EN ISO 10722 (2007) Geosynthetics – Index Test
corundum (e por alguns agregados naturais), o Procedure for the Evaluation of Mechanical Damage
que abre boas perspetivas para o uso deste tipo Under Repeated Loading – Damage Caused by
de agregados como materiais de enchimento em Granular Material, Comissão Europeia de
Normalização, Bruxelas, Bélgica.
estruturas reforçadas com geogrelhas, podendo
ENV ISO 10722-1 (1998) Geotextiles and Geotextile-
desta forma ser reaproveitados. Related Products – Procedure for Simulating Damage
During Installation. Part 1: Installation in Granular
Materials, Comissão Europeia de Normalização,
AGRADECIMENTOS Bruxelas, Bélgica.
Lopes, M.P. e Lopes, M.L. (2003) Um equipamento para
a realização de ensaios laboratoriais de danificação
Este trabalho foi financiado pelo projeto POCI- durante a instalação, Revista da Sociedade
01-0145-FEDER-028862 e pelo projeto POCI- Portuguesa de Geotecnia, n.º 98, p. 7-24.
01-0145-FEDER-007457 – financiados pelo Pereira, P.M., Vieira, C.S. e Lopes, M.L. (2017) Damage
Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional induced by recycled C&D wastes on the short-term
tensile behavior of a geogrid, Wastes – Solutions,
(FEDER), através do COMPETE 2020 –
Treatments and Opportunities II, CRC Press/
Programa Operacional Competitividade e Balkema, Leiden, Netherlands, p. 119-124.
Internacionalização (POCI) e com o apoio Pinho-Lopes, M. e Lopes, M.L. (2010) A Durabilidade
financeiro da FCT/MCTES através de fundos dos Geossintéticos, FEUP Edições, Porto, Portugal,
nacionais (PIDDAC). José Ricardo Carneiro 294 p.
Shukla, S.K. e Yin, J.-H. (2006) Fundamentals of
agradece à FCT a bolsa de Pós-Doutoramento Geosynthetics Engineering, Taylor & Francis/
com a referência SFRH/BPD/88730/2012 (bolsa Balkema, Leiden, Netherlands, 410 p.
apoiada por financiamento POPH/POCH/FSE). Vieira, C.S. e Pereira, P.M. (2016) Interface shear
properties of geosynthetics and construction and
demolition waste from large-scale direct shear tests,
Geosynthetics International, Vol. 23(1), p. 62-70.
Vieira, C.S., Pereira, P.M. e Lopes, M.L. (2016)
Recycled construction and demolition wastes as filling
material for geosynthetics reinforced structures.
Interface properties, Journal of Cleaner Production,
Vol. 124, p. 299-311.
REFERÊNCIAS

Carneiro, J.R., Morais, L.M. e Lopes, M.L. (2012) Efeito


do processo de instalação no comportamento
mecânico de geotêxteis não-tecidos, Atas do 13.º
Congresso Nacional de Geotecnia, Lisboa, Portugal,
7 p. (CD-ROM).
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Deformações da geomembrana em sistemas de controle e desvio


de fluxo
Gabriel Orquizas Mattielo Pedroso
Universidade de São Paulo – Escola de Engenharia de São Carlos, São Carlos, Brasil,
gabpedroso@hotmail.com

Jefferson Lins da Silva


Universidade de São Paulo – Escola de Engenharia de São Carlos, São Carlos, Brasil,
jeffersonlins@gmail.com

RESUMO: Geomembranas se caracterizam como elementos chaves em sistemas de controle e


desvio de fluxo. Neste contexto, deve-se garantir sua estanqueidade para que não haja vazamentos.
O presente trabalho avalia o tipo de proteção adequada para evitar o puncionamento e deformação
excessiva na geomembrana. Realizou-se um estudo experimental, onde, foram aplicados
carregamentos de 1800 kPa com 100 h de duração. Utilizou-se como camada de proteção um
geotêxtil não tecido e uma proteção dupla, ou seja, um acoplamento de dois geotêxteis. Também foi
realizado um ensaio sem o elemento de proteção, a fim de comparação. Os resultados mostram que
na configuração com geotêxtil único houve semelhança na distribuição das deformações e na
presença de puncionamento quando comparado com o ensaio sem proteção. No ensaio com a
configuração de dois geotêxteis acoplados não foi verificado pontos de perfuração, e constatou-se
uma redução das deformações em comparação com uma única camada de geotêxtil.

PALAVRAS-CHAVE: Geomembrana, Puncionamento, Geossintético.

1 INTRODUÇÃO recomenda-se uma camada de proteção acima


da geomembrana. A ABNT NBR 16199:2013,
As atividades antrópicas ocasionam diversos divide em três tipos os revestimentos utilizados
problemas ambientais, especificamente nas em Sistemas de Revestimento de Fundo (SRF)
obras de mineração e aterro sanitário, com a para definir os elementos de proteção
questão das pilhas de rejeito e a geração de considerando as solicitações mecânicas atuando
lixiviado e chorume, respectivamente. Nessas no dispositivo de estanqueidade: revestimento
obras, as geomembranas são componentes simples; revestimento composto; e revestimento
essenciais para a função de barreira de fluxo e, duplo, sendo que, cada um dos tipos apresentam
assim, quando projetadas e instaladas recomendações para o elemento de proteção.
adequadamente, evitam que o chorume e o Atualmente, há duas alternativas para o
lixiviado contaminem o solo subjacente e as dimensionamento das camadas de proteção. A
águas subterrâneas. No entanto, há casos em primeira tem como objetivo evitar o
que a geomembrana ao entrar em contato com o puncionamento da geomembrana, em que seu
elemento drenante pode ser puncionada ou calculo é feito atráves do ensaio de cones
apresentar deformações excessivas, o que pode truncados, conforme apresentado em Geroto
levar a ruptura e perda da função de barreira de (2008). A segunda alternativa consiste no
fluxo. critério adotado para avaliar o desempenho a
A fim de evitar o puncionamento ou a longo prazo, visando limitar as deformações
deformação excessiva da geomembrana,
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que ocasionem rupturas por stress cracking Foi utilizada como base uma camada de solo
(fissuramento sob tensão) (SAGEOS, 2003). compactado e como camada de proteção da
O instituto de estudo alemão BAM geomembrana, uma argila arenosa coletada na
(Bundesanstalt fur Materialforschung und – rodovia Luiz Augusto de Oliveira (SP – 215),
puefung) elaborou em 1995 recomendações para sentido São Carlos-SP – Ribeirão Bonito-SP.
restringir as deformações na superfície da O solo utilizado foi classificado como um
geomembrana (cylinder test) que aceleram os silte plástico arenoso (MH), pelo Sistema
processos de ruptura frágil como, por exemplo, Unificado de Classificação de Solos (SUCS) e
o fenômeno de fissuramento sob tensão. Desta como uma argila arenosa-siltosa, conforme a
forma, sugere-se a utilização de geotêxteis não- norma brasileira NBR 6502/95. Trata-se de um
tecidos de elevada massa por unidade de área solo com 50% de finos e tamanho máximo de
(>2000 g/m2). O valor da deformação limite partícula de 2 mm. A Tabela 1, apresenta a
estabelecido para geomembranas por esse caracterização básica deste solo.
instituto foi de 0,25%. Em seguida, os estudos
realizados por Seeger e Muller (2003), Tabela 1. Caracterização do solo
limitaram a deformação da geomambrana para Parâmetro Valor
ρs (g/cm³) 2,87
3%, diferentemente dos 0,25% proposto por
ωp (%) 35
BAM (1995). Posteriormente, Peggs et al. ωL (%) 58
(2005), recomendaram que esse valor deveria ρs é o peso específico dos sólidos, ωp é o limite de
estar em um intervalo variando entre 6% para plasticidade e o ωL é o limite de liquidez.
geomembranas carregadas com stress cracking
menor que 1500 horas, e 8% para stress Em um sistema de revestimento de fundo, a
cracking maior que 1500 horas. brita exerce a função de drenagem e é disposta
Geroto (2008), utilizou uma prensa servo- acima do elemento de proteção e da
controlada para aplicar uma pressão de 600 kPa geomembrana. Este trabalho, como já
em uma caixa metálica com dimensões internas anunciado, tem por objetivo analisar diferentes
de 500 x 500 mm em planta e 500 mm de configurações de camada de proteção; portanto,
altura, onde, no interior da caixa foi executado faz-se necessário conhecer as características
um SRF composto. Ao final de cada ensaio, a físicas da brita a ser utilizada nos ensaios. A
geomembrana era analisada visualmente e camada drenante utilizada nesta pesquisa é um
verificada à presença de danos mecânicos, com agregado de basalto com 20/50 mm de
a realização posterior de ensaios pós-dano para diâmetro, sendo que, D10 é 25 mm, D30 é 29
constatar a perda da integridade física. mm, D60 é 38 mm, o coeficiente de
Com base nos conceitos apresentados, este uniformidade é 1,5 e o coeficiente de graduação
trabalho, tem como objetivo principal analisar é 0,9, desta forma, classificando o material
as deformações da geomembrana ocasionadas granular como rocha ígnea britada angular mal
após o ensaio de compressão estática. Para isto, graduada.
foi usado a mesma prensa servo-controlada de A curva de distribuição granulométrica do
Geroto (2008) e a mesma caixa, entretanto, para solo e do material granular é apresentada na
obter a superfície deformada de cada ensaio, Figura 1.
utilizou-se o lençol de chumbo e uma máquina
de leitura por coordenadas.

2 METODOLOGIA

2.1 Materiais
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Solo argiloso
100
Para a caracterização do geotêxtil não tecido
90
Camada granular foram realizados ensaios que permitiram
80
mensurar suas propriedades físicas e mecânicas,

Percentagem que passa (%)


70

60
conforme apresentado na Tabela 3. Os
50 geotêxteis não tecido escolhidos para a pesquisa
40 foram do tipo PP (polipropileno) de fibra
30 cortada com massa por unidade de área de 650
20
g/m2.
10

0
0.001 0.01 0.1 1 10 100 Tabela 3. Caracterização do geotêxtil não tecido.
Diâmetro dos grãos (mm) Propriedade Unidade Valor Norma
Figura 1. Curva granulométrica dos materiais utilizados. Polímero Polipropileno
Massa por unidade g/m2 650 NBR
Geomembranas de PEAD (polietileno linear de área CV (%) 0,35 9864
mm 5,43 NBR
de alta densidade), PELBD (polietileno linear Espessura
CV (%) 0,18 9863
de baixa densidade) e PVC (polivinil clorado) kN/m 41,71 NBR
são os tipos mais utilizados em barreiras de Tração faixa larga
CV (%) 10,04 10319
controle de fluxo segundo Vertematti, (2004). Deformação faixa % 151,6 NBR
Neste trabalho, utilizou-se um lote de larga CV (%) 5,76 10319
N 6334 NBR
geomembrana de PEAD (polietileno de alta Punção CBR
mm 85,44 12236
densidade) com espessura de 2,0 mm, devido a N 1320 ASTM D
elevada resistência mecânica e a pequena Punção estática
mm 22,94 4833
atividade química em SRF. Apresenta-se na
Tabela 2, a caracterização mecânica e física da A escolha por geotêxteis não tecidos do tipo
geomembrana utilizada nos ensaios. PP decorre de Koerner (2010), em que os
resultados dos ensaios de cones truncados
Tabela 2. Caracterização da geomembrana. mostraram uma melhor eficiência na proteção
Propriedade Unidade Valor Norma da geomembrana; isso acontece em virtude do
Polietileno de alta densidade
Polímero
g/cm³ 0,94 ASTM D
peso específico do PP (polipropileno) ser menor
Densidade que o PET (polietileno), portanto, há mais
CV (%) 0 792
mm 2 NBR ISO filamentos em uma massa por unidade de área
Espessura
CV (%) 3,8 9863-1 equivalente. Além de que, o geotêxtil não tecido
MPa 20,19 NBR de PP apresenta maior estabilidade química.
Tração no escoamento
CV (%) 0,49 15856
Deformação no % 15 NBR
escoamento CV (%) 1,62 15856 2.2 Configuração do experimento
MPa 31,22 NBR
Tração na ruptura
CV (%) 8,22 15856 Neste experimento foi utilizado uma caixa com
Deformação na % 787 NBR seção quadrada com dimensão interna de 500 x
ruptura CV (%) 7,57 15856
Puncionamento N 804 NBR 500 mm e altura de 500 mm, para testar
estático mm 13,70 12236 diferentes camadas de proteção conforme
mostra a Figura 2. No topo da caixa aplicou-se
Uma das funções do geotêxtil não tecido em uma pressão vertical de 1800 kPa sobre uma
SRF é a de proteção da geomembrana contra os placa de aço. O atrito ao longo das paredes da
esforços de puncionamento e de deformação caixa foi minimizado usando duas folhas de
excessiva. Por esse motivo, para uma melhor polietileno de 0,1 mm (PE) com graxa entre as
eficiência, costuma-se utilizar geotêxteis não folhas. A primeira folha foi anexada à parede
tecidos com maior massa por unidade de área. interna do equipamento, e a outra ficou livre
para mover-se junto com as camadas. Este
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equipamento é o mesmo relatado por (Geroto, vertical foi aplicada em incrementos de 360 kPa
2008). a cada 1 hora até atingir a pressão de 1800 kPa,
Em todos os casos para simular a camada de em seguida, foi mantida constante por 100 h.
fundação, utilizou-se o solo argiloso Todos os experimentos foram realizados a uma
compactado, anteriormente caracterizado, em temperatura de 24 ± 2ºC. Após a conclusão do
uma camada de 250 mm de espessura, sendo ensaio, a geomembrana foi inspecionada
que a compactação foi realizada em cinco visualmente para verificação de pontos de
etapas de 50 mm na umidade ótima (26% a puncionamento e classificada com grau
28%), e densidade aparente entre 1490 a 1550 puncionamento “baixo”, “moderado” ou
kg/m³. “severo”.
Thiel e Smith (2004) relataram que os pesos
Pistão específicos do minério triturado nas pilhas de
lixiviação estão entre 17,3 e 20,4 kN/m3,
Placa metálica também, Abreu (2015) apresentou a
Camada granular caracterização de resíduos de aterro sanitário e
Proteção relatou que seus pesos específicos variam entre
250

Geomembrana 10,0 e 15,0 kN/m³. Portanto, a pressão vertical


500

Lençol de chumbo de 1800 kPa admitida nos experimentos


Argila compactada
corresponde, aproximadamente, a pilhas de
250

lixiviação com 40 m de altura e aterros


sanitários com 50 m devido ao fator de
carregamento de 2,5.
500

Figura 2. Configuração da caixa de ensaio. 2.3 Leitura das deformações

Rowe et al. (2013) concluem que o tipo de Ao final de cada ensaio, o lençol de chumbo foi
material e seu módulo de rigidez influenciam no cuidadosamente removido e as coordenadas de
desenvolvimento das deformações da sua superfície foram medidas na máquina de
geomembrana, também, que o diâmetro e leitura por coordenadas, como mostra a Figura
angularidade do material granular aumenta a 3-A.
deformação da geomembrana. Considerando Com a finalidade de eliminar os efeitos de
estas constatações, todos os experimentos foram borda do lençol de chumbo, que inicialmente
cuidadosamente montados para se garantir o tem 495 x 495 mm, diminui-se a área de análise
mesmo grau de compactação, e não apresentar para 400 x 400 mm, como ilustrado na Figura 3-
nenhum material granular no solo da fundação. B.
Para registrar a deformação da geomembrana As deformações foram calculadas de acordo
durante o carregamento foi colocada entre a com a metodologia citada em Hornsey e
camada de fundação e a geomembrana um Wishaw (2012). O método divide a leitura em
lençol de chumbo macio de 0,5 mm de um grid de 1 x 1 mm e, através da Equação 1, é
espessura (495 x 495 mm). realizado o cálculo da deformação a partir da
Acima da geomembrana foi instalada a altura dos 8 pontos ao redor (duas diagonais,
camada de proteção, e os agregados da camada uma vertical e uma horizontal) de um ponto
granular foram colocados cuidadosamente e central e adota-se o maior valor entre eles,
devagar dentro da caixa de testes. Para eliminando os pontos da borda da superfície,
uniformizar a carga aplicada, uma placa de aço como ilustrado na Figura 3-C. Dessa forma,
foi colocada por cima. com uma superfície de 400 x 400 mm e um grid
Após o início de cada experimento, a pressão de 1 mm, totalizando 160.000 pontos de análise,
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criou-se uma macro (código computacional de GT simples Severo P*- 1


sequência programada que executa EP* - 6
E* - >6
automaticamente tarefas específicas), pelo GT duplo Moderado P* - 0
Visual Basics, no Excel, para facilitar o cálculo EP* - 3
da deformação entre os pontos. E* - >6
Sem proteção Severo P* - 1
EP* - 5
E* - >6
* P – Perfuração da geomembrana
* EP – Entalhe profundo
* E – Entalhe
Sendo que:
Observou-se na Figura 4, em vermelho, os
ε – Deformação da geomembrana (%);
pontos em que houve perfuração e entalhe
L – Comprimento original;
Δz – Diferença entre a altura original e pós profundo das geomembranas ensaiadas.
ensaio; Percebeu-se visualmente, na Figura 4-B e C
uma maior concentração de danos mecânicos e
também a presença de uma perfuração. A Figura
A B 4-A apresentou menor magnitude e quantidade
de danos ao ser comparada com as outras duas
configurações.

A
C

Figura 3. A) Equipamento para leitura das deformações;


B) Tamanho considerado na leitura; C) Esquema de
cálculo das deformações.

B C
3 RESULTADOS

Ao final de cada ensaio as geomembranas foram


inspecionadas visualmente, a fim de analisar
qualitativamente os danos mecânicos, como
ilustrado na Figura 4. Os danos foram
classificados como baixo, moderado e severo. A
Tabela 4, apresenta um resumo das avaliações Figura 4. A) Geomembrana do ensaio com proteção
realizadas. dupla; B) Geomembrana do ensaio com proteção simples;
C) Geomembrana do ensaio sem proteção.
Tabela 4. Ensaios realizados e avaliação visual dos danos
mecânicos. Com o auxílio do programa Surfer 8,
Análise elaborou-se a superfície deformada de cada
Camada de proteção Tipos de danos
Visual
geomembrana analisada, com o objetivo de
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visualizar a distribuição das deformações no A partir da Figura 5, pode-se verificar a


lençol de chumbo, comparando-a com a distribuição das deformações por toda a área do
avaliação visual da geomembrana após o ensaio. lençol de chumbo e, assim, visualizar se houve
As superfícies deformadas são apresentadas na uma distribuição uniforme da camada granular
Figura 5. no interior da caixa. Com base na Figura 5,
analisou-se que a superfície deformada do
A ensaio com geotêxtil duplo (Figura 5 - C), tem
uma menor concentração de deformações na
parte inferior do lençol de chumbo, enquanto
que, nos ensaios realizados sem proteção e com
proteção simples (Figura 5- A e B) a
distribuição das deformações foi uniforme.
Na Figura 6 mostra-se a comparação da
frequência das deformações em intervalos e
porcentagem da área total, para cada tipo de
proteção ensaiada.
30.00%
% Área total com o intervalo da deformação

B 25.00%

20.00%

15.00%

10.00%

5.00%

0.00%

Intervalo deformação (%)


Sem proteção Geotêxtil simples Geotêxtil duplo
Figura 6- Comparação do Intervalo deformação x
Porcentagem da área total para cada tipo de proteção.
C
Observa-se pela Figura 6, que praticamente
não há diferença nos valores de deformação do
ensaio realizado sem proteção e com proteção
simples (um geotêxtil não tecido), de forma que
estas configurações possuem uma maior
concentração das deformações no intervalo de 3
a 6%. Por outro lado, os valores de deformação
para o ensaio realizado com proteção dupla
tendem a ser maiores nos intervalos mais
baixos, entretanto, sua maior concentração
também é no intervalo de 3 a 6%.
Considerando o valor limitante de
Figura 5. A) Superfície deformada do ensaio sem deformação de 6%, verificou-se que o ensaio
proteção; B) Superfície deformada do ensaio com
proteção de geotêxtil simples; C) Superfície deformada sem proteção teve 20% da sua área com
do ensaio com proteção de geotêxtil duplo. deformações maiores que 6%, similiarmente, o
ensaio com proteção de geotêxtil simples
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apresentou 21%, enquanto que, o ensaio com longo prazo (operação), portanto a escolha do
proteção de geotêxtil duplo apresentou 14%. sistema de barreiras sintéticas de controle e
desvio de fluxo deve-se levar em consideração
os diversos agentes.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
AGRADECIMENTOS
Um experimento para avaliar o desempenho de
camadas de barreiras de controle e desvio de Ao CNPq pela bolsa de estudos.
fluxo com geossintéticos, quanto a proteção da
geomembrana de esforços de puncionamento e REFERÊNCIAS
limitação do desenvolvimento de deformações
foi apresentado neste trabalho. Abreu, A. E. S. (2015). Investigação geofísica e
Analisando os resultados, verifica-se que a resistência ao cisalhamento de resíduos sólidos
urbanos de diferentes idades. Tese Doutorado, Escola
proteção com geotêxtil não tecido simples não de Engenharia de São Carlos/ USP. São Carlos, SP,
apresentou valores de propriedades físicas 247 pp.
(espessura e massa por unidade de área) Associação brasileira de normas técnicas. NBR 16199
suficientes para diminuir as deformações da (2013) Geomembranas termoplásticas – Instalação
geomembrana, quando aplicada a carga de 1800 em obras geotécnicas e de saneamento ambiental. Rio
de Janeiro.
kPa. Consequentemente, a superfície deformada ___. NBR 6502 (1995) Rochas e solos. Rio de Janeiro.
e a presença de entalhes profundos e ___. NBR 9863 (2013) Geossintéticos – Determinação
perfurações foi similar a configuração sem da espessura a pressões especificadas Parte 1:
proteção. Camada única. Rio de Janeiro.
Outro aspecto relativo ao tipo de proteção ___. NBR 9864 (2013) Geossintéticos – Método de
ensaio para determinação da massa por unidade de
equivale ao melhor desempenho na limitação área de geotêxteis e produtos correlatos . Rio de
das deformações. O trabalho revelou que a Janeiro.
utilização da camada dupla de geotêxtil não ___. NBR 10319 (2013) Geossintéticos – Ensaio de
tecido reduziu a concentração das deformações tração faixa larga. Rio de Janeiro.
___. NBR 12236 (2013) Geossintéticos – Ensaio de
acima de 6%. Entretanto, para a carga aplicada
puncionamento estático (punção CBR). Rio de
de 1800 kPa e considerando o valor limitante de Janeiro.
6% proposto por Peggs et al. (2005), 14% da ___. NBR 15856 (2010) Geomembranas e produtos
área total tem sua deformação acima do limite. correlatos – Determinação das propriedades de
A metodologia adotada, utilizando o lençol tração. Rio de Janeiro.
American society for testing and materials – ASTM D
de chumbo para leitura e posteriormente análise
792 (2013) Standard test method for density and
da superfície deformada da geomembrana, specific gravity (relative density) of plastics by
mostrou-se eficiente para visualizar, em toda a displacement. West Conshocken, PA.
área da geomembrana, a eficiência da camada ___. ASTM D 4833 (2013) Standard test method for
de proteção para evitar o puncionamento e index puncture resistance of geomembranes and
related products. West Conshocken, PA
avaliar sua deformação. Desta forma, esta
BAM (1995). Guidelines for the certification of
metodologia pode ser utilizada como uma nova geomembranes as a component of composite liners
abordagem de análise do desempenho da for municipal and hazardous waste landfills and for
geomembrana contra danos mecânicos. lining contaminated land.
Sublinha-se que, nas condições reais de obra, Geroto, R. E. (2008). Desempenho de camadas de
proteção para geomembranas. Dissertação de
os geossintéticos estão expostos a diversos mestrado. Escola de Engenharia de São Carlos/USP.
agentes que os podem degradar (intempéries, São Carlos, SP, 188 pp.
elevadas temperaturas, ambientes altamente Hornsey, W.P., Wishaw, D.M., (2012). Development of a
químicos, entre outros), além dos danos methodology for the evaluation of geomembrane
mecânicos de curto prazo (instalação) e de strain and relative performance of cushion
geotextiles. Geotextile Geomembrane 35, 87 - 99.
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Koerner, R. M., Koerner, G. R., (2010). Puncture


resistance of plyester (PET) and polypropylene (PP)
needle-punched nonwoven geotextiles. Geotextiles
and Geomembranes 29, 360-362.
Peggs, I.D., Schmucker, B., Carey, P., (2005).
Assessment of maximum allowable strains in
polyethylene and polypropylene geomembranes. In:
Proceedings of ASCE Geo-Frontiers 2005, Austin,
TX.
SAGEOS (2003). Puncture protection of geomembranes.
SAGEOS internal report.
Seeger, S., Muller, W., (2003). Theoretical approach to
designing protection: selecting a geomembrane strain
criterion. In: Dixon, D., Smith, D.M., Greenwood,
J.R., Jones, D.R.V. (Eds.), Geosynthetics: Protecting
the Environment. Thomas Telford, London, pp. 137–
151.
Thiel, R., Smith, M.E., (2004). State of the practice
review of heap leach pad design issues. Geotextiles
and Geomembranes 22, 555-568.
Rowe, K.R., Brachman, R.W.I., Irfan, H., Smith, M.E.,
Thiel, R., (2013). Effect of underliner on
geomembrane strains in heap leach applications.
Geotextiles and Geomembranes 40, 37-47.
Vertematti, J.C./Coordenador, (2015) Manual brasileiro
de geossintéticos. Ed. Bluncher. São Paulo, Brasil.
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Degradação de Geotêxteis de Polipropileno Expostos à


Intempéries
Beatriz Mydori Carvalho Urashima
Universidade Federal de Lavras, Lavras, Brasil, urashimabeatriz@gmail.com

Denise de Carvalho Urashima


Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Varginha, Brasil, urashima@cefetmg.br

Mag Geisielly Alves Guimarães


Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Varginha, Brasil, mag@cefetmg.br

RESUMO: Para o emprego adequado dos geossintéticos deve-se conhecer as variáveis que
influenciam na sua durabilidade, inclusive a dinâmica atmosférica a que ficarão expostos. O artigo
apresenta resultados da degradação de dois tipos de geotêxteis tecidos de polipropileno, G1 e G2,
submetidos ao intemperismo de campo. A degradação foi avaliada por meio da resistência à tração
antes e após exposição em duas distintas estações climáticas (verão e outono de 2017), bem como o
efeito acumulativo da ação do período equivalente às duas estações em estudo, com os parâmetros
meteorológicos monitorados. No verão foi avaliada uma radiação UV-A de 136 MJ/m2 e no outono
70 MJ/m2. As perdas de resistência à tração para G1 por período foram: 13% no verão e 8% no
outono. As amostras expostas no período total perderam 20% da resistência à tração. Os resultados
isolados e com acúmulo de feitos foram promissores, considerando as variabilidades envolvidas.

PALAVRAS-CHAVE: Durabilidade, degradação, intemperismo, resistência.

1 INTRODUÇÃO compreendida como a capacidade do material


de manter suas propriedades funcionais durante
Distintos fatores podem afetar o comportamento o seu tempo de vida de serviço requerido no
de materiais poliméricos, pela alteração tanto de projeto. Neste contexto, a durabilidade engloba
suas características moleculares (massa molar, a ocorrência de mudanças a nível micro e
ramificações, reticulações, taticidade, entre macroestrutural dos geossintéticos. O primeiro
outras) como também de suas características envolve mudanças nas moléculas dos
físicas (cristalinidade, orientação molecular, polímeros, constituintes básicos dos
tensões internas, entre outras). Estas alterações geossintéticos, e o segundo abrange alterações
podem levar a degradação do material e mesmo em suas propriedades físicas e mecânicas.
a sua falha prematura (HANSEN, 2002). (ASTM D 5819, 2018; GREENWOOD,
Geossintéticos são materiais poliméricos SCHROEDER e VOSKAMP, 2012).
empregados na engenharia civil em projetos A durabilidade dos geossintéticos depende
geotécnicos e de proteção ambiental, com de vários fatores, mas, principalmente, do
distintas funções, tais como: drenagem, ambiente a que estes materiais serão expostos
filtração, barreiras de fluxo, controle de erosões ao longo do tempo. Ressalta-se que a não
superficiais, entre outras. observância destes fatores degradantes pode
A durabilidade dos geossntéticos durante seu gerar a ocorrência de falhas ou mesmo colapso
tempo de serviço é essencial para o bom das obras que empregam geossintéticos, sendo
desempenho destes. A durabilidade pode ser relevante o estudo da durabilidade dos mesmos
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em distintas situações (ISO TS 13434, 2008). de geossintéticos, incluindo o polipropileno,


A exposição dos geossintéticos a radiação possuem baixa resistência a ataques de agentes
solar, principalmente a parcela referente ao externos que promovem a redução da sua vida
ultravioleta (UV), é uma das principais causas de serviço. Assim sendo, podem sofrer dois
de degradação dos mesmos, sendo esta situação tipos de degradação, por processo termo-
agravada pela temperatura, presença de oxidativo ou por foto-oxidação (AGNELLI e
umidade, choque térmico ocasionado por CHINELATTO, 1992).
chuvas e demais elementos climáticos A foto-oxidação ou fotodegradação é
específicos do local de exposição, dando origem induzida pela absorção de radiação UV com
a cisões das cadeias poliméricas (KOERNER, comprimentos de ondas menores que 250nm, o
HSUAN e KOERNER, 1998). que ocasiona reações oxidativas autocatalíticas,
A ponderação da degradação de as quais são caracterizadas pela quebra de
geossintéticos por intempéries e, ligações covalentes, na cadeia principal ou
consequentemente de sua durabilidade, pode ser lateral, originando espécies altamente reativas
realizada mediante exposição destes materiais denominadas de radicais livres (SUITS e
aos elementos climáticos de campo ou ensaios HSUAN, 2003; MONTAGNA e SANTANA,
acelerados em laboratório. Ensaios de 2012).
intemperismo de campo visam avaliar o Os carbonos terciários, presentes nas cadeias
comportamento dos materiais quando expostos poliméricas do polipropileno, requerem uma
às condições climáticas de um determinado menor energia na dissociação da ligação
local, visto que nem todas as intempéries são carbono-hidrogênio para formação de radicais
passíveis de serem simuladas em laboratório. livres, se comparado aos carbonos primários e
Contudo, tem-se como desvantagem um maior secundários, já que o carbono terciário possui
período de ensaio (FECHINE, SANTOS e três carbonos adjacentes capazes de distribuir a
RABELLO, 2006; SHUKLA e YIN, 2006; nuvem eletrônica mais facilmente, tornando este
LEECH, 2010). um ponto muito reativo. Por esse motivo este
Considerando a importância da durabilidade polímero é tão suscetível à degradação pela
na estimativa da vida de serviço de um radiação UV (KOERNER, 2005; ISO TS
geossintético, bem como as dificuldades ainda 13434, 2008).
encontradas para realizar esta previsão, o No polipropileno são aplicados aditivos
presente artigo avalia a degradação em campo como estabilizantes térmicos, negro de fumo
de geotêxteis tecido de polipropileno, com dois (carbon black) e antioxidantes, com o objetivo
distintos níveis de proteção contra radiação de reduzir a degradação por raios UV e
ultravioleta (UV). aumentar a durabilidade e a resistência. Porém,
Os geotêxteis foram submetidos às situações a concentração e a combinação desses devem
de intempéries, em ensaios de campo, avaliando ser avaliadas levando em consideração os
os resultados obtidos por meio de ferramentas mecanismos de degradação do polímero em
estatísticas. questão, sua forma de processamento, as
As variáveis respostas tomadas para análise dimensões da peça e as condições de uso da
foram resultados de ensaios de tração antes e mesma, visto que, geralmente, o aditivo se
após os períodos de exposição. transforma em outro composto químico depois
de ser consumido e sofrem mudanças devido ao
processo de estabilização. Além disso, altas
2 DEGRADAÇÃO DE POLIPROPILENO concentrações podem produzir pró-degradantes,
assim como mostra a Figura 1 (MOL, 2014; DE
Poliolefinas, que correspondem a maior parcela PAOLI, 2008).
de polímeros virgens utilizados na manufatura
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3.1 Ensaios de Exposição em Campo

Para a realização dos ensaios de exposição em


campo foi necessário cortar amostras com
dimensões superficiais de (110 x 450) mm.
Os geotêxteis do tipo G1 e G2 cortados com
as dimensões superficiais especificadas foram
colocados em exposição no campo.
Para a realização deste ensaio foram
utilizados pórticos de aço galvanizado com
Figura 1. Esquema da variação do efeito do aditivo em armaduras que permitissem a livre circulação do
função da sua concentração. (Adaptado de DE PAOLI, ar e, consequentemente, a exposição aos efeitos
2008).
do tempo em ambos os lados do material
polimérico.
Os aditivos estabilizantes reduzem ou Os pórticos, localizados no Centro Federal
retardam a degradação pela radiação UV, visto de Educação Tecnológica de Minas Gerais –
que todos os polímeros sofrem este processo de CEFET MG, Varginha (Latitude: 21° 33’ 05’’
degradação iniciado pela luz. Os tipos mais S, Longitude: 45° 25’49’’ W, Altitude: 916m
comuns destes aditivos são os UV screeners, acima do nível do mar), possuíam inclinação de
que absorvem ou refletem a radiação 22°, estavam voltados para o Norte, garantindo
ultravioleta, fornecendo opacidade ao polímero assim que houvesse a maior exposição possível
como o negro de fumo (carbon black). Os à radiação solar, e se encontravam onde não
mesmos, quando combinados com outros existiam elementos que provocariam sombra,
aditivos químicos, como as HALS (hindered interferindo nos resultados. A Figura 2
amine light stabilisers), fornecem melhor apresenta os pórticos já com os geotêxteis
desempenho contra a degradação pela ação da fixados (ISO 877-1, 2009; ISO 877-2, 2009).
radiação ultravioleta (CARNEIRO, 2009; ISO
TS 13434, 2008).

3 METODOLOGIA

A metodologia do presente artigo abordou


ensaios de avaliação do comportamento e,
consequentemente, da durabilidade de
geotêxteis tecido de polipropileno com maior
percentual de aditivo de proteção contra
radiação UV do tipo HALS, o qual é
denominado nesta pesquisa de G1, e com menor Figura 2. Pórticos para ensaios de exposição em campo.
percentual, denominado de G2.
Os geotêxteis foram fabricados para fins de A primeira etapa teve inicio no dia 21 de
pesquisas, ainda em andamento, sendo que o dezembro de 2016, ou seja, no ínicio do verão.
percentual de aditivo do tipo HALS no G1 é o No dia 21 de março de 2017 (fim do
dobro do percentual no G2 e ambos os verão/início do outono), uma das amostras de
percentuais foram menores que 1%. geotêxtil tecido de polipropileno do tipo G1 foi
As análises foram realizadas por meio de retirada, assim como uma do tipo G2.
ensaios de exposição de campo, ensaios de Ao fim do outono/início do inverno o mesmo
tração e análise estatística dos dados. procedimento foi realizado. Desta maneira, no
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final da exposição foram obtidas amostras Compressão, a Figura 4 ilustra o equipamento


expostas aos fatores climáticos do verão e do empregado.
outono individualmente, assim como de forma Os ensaios foram realizados na direção
acumulativa (verão + outono), para análise de longitudinal de fabricação devido ao fato dos
perda de resistência. resultados obtidos apresentarem menor
Destas amostras foram retirados corpos de coeficiente de variação se comparado com a
prova para a realização dos ensaios de direção transversal, para este tipo de geotêxtil.
resistência à tração, cujos resultados
comparados com os resultados dos ensaios de
tração dos geotêxteis em estudo intactos
demonstraram a degradação sofrida.

3.2 Dinâmica Atmosférica

A dinâmica atmosférica foi avaliada por meio


dos dados meteorológicos dos períodos de
exposição, obtidos por meio do site do Instituto
Nacional de Meteorologia – INMET (Latitude:
21,566513° S, Longitude: 45,404300° W,
Altitude: 950m acima do nível do mar), sendo
os principais parâmetros a radiação solar total
do local e a precipitação, já que esses são os
principais agentes responsáveis na degradação
dos materiais poliméricos.
Foi feito um embasamento em normas como
a EN 13362 (2013), a EN 12224 (2000), a ISO Figura 3. Fixação do corpo de prova na Máquina
TS 13434 (2008) e autores como Greenwood, Universal.
Schroeder e Voskamp (2012) para estimativa da
radiação UV do local de exposição, adotando-se
na pesquisa um valor médio de 7,5% para a
radiação UV local em relação à radiação global.

3.3 Ensaios de Resistência à Tração do Tipo


“Strip Tests”

Os ensaios de tração para determinar a


resistência nesta pesquisa foram realizados
conforme preconiza a Norma ASTM D 5035
(2011), os corpos de prova ensaiados possuiam
50 mm de largura, sendo os mesmos fixados a
uma distância de 75 mm entre as garras, e
tracionados com uma velocidade de
300mm/min. A Figura 3 ilustra um corpo de
prova a ser ensaiado, conforme diretrizes
preconizadas na norma ASTM D 5035 (2011).
Os ensaios foram realizados em uma
Figura 4. Equipamento utilizado para realização dos
Máquina Universal para Ensaios de Tração e
ensaios de tração.
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3.4 Análise Estatística sendo essa efetivada pelo ensaio mecânico de


resistência à tração faixa estreita (ASTM D
Depois de transcorridos os ensaios de tração 5035, 2011).
tanto dos geotêxteis intactos, bem como, dos Assim sendo, foram ensaiados dez corpos de
corpos de provas, após os períodos pré- prova de ambos os tipos de geotêxtil, G1 e G2,
estabelecidos de degradação em campo, os na direção longitudinal. Os resultados obtidos e
resultados foram avaliados a partir da o comportamento dos materiais empregados na
ponderação estatística por meio de intervalos de pesquisa estão apresentados nos gráficos da
confiança (IC). Figura 5 e Figura 6.
Em termos conceituais, o IC é um dos
elementos mais importantes da inferência
estatística, pois é a partir deste, em conjunto
com um estudo amostral, que se torna possível
estimar, dentro de um nível de confiança pré-
estabelecido, qual é a faixa de valores que tem
certa probabilidade de conter no seu interior o
verdadeiro valor do parâmetro populacional em
análise (MONTGOMERY, 2008).
Para tanto, é necessário associar ao IC um
nível de confiança, que é a probabilidade 1 - α
que o intervalo de confiança realmente contém
o parâmetro populacional, supondo que o
processo de estimação seja repetido um grande
número de vezes. O nível de confiança mais
comum de escolha é de 95% (com α = 0,05), Figura 5. Gráfico representativo dos resultados obtidos na
caracterização longitudinal do geotêxtil G1 não
pois resulta em um bom equilíbrio entre
degradado.
precisão (conforme refletido na largura do
intervalo de confiança) e confiabilidade
(conforme expresso pelo nível de confiança).
Para cada situação de ensaio pós-
degradação, utilizou-se oito corpos de prova no
ensaio de resistência à tração do tipo “Strip
Tests” (ASTM D 5035, 2011), com o intuito de
se obter valores médios e os respectivos
coeficientes de variação, bem como para a
construção dos IC segundo distribuição t de
Student. Esta quantidade de corpos de prova foi
dimensionada a partir da variabilidade inerente
dos dados de caracterização mecânica do
geotêxtil tecido de polipropileno.

Figura 6. Gráfico representativo dos resultados obtidos na


4 RESULTADOS caracterização longitudinal do geotêxtil G2 não
degradado.
Para a análise da degradação do geotêxtil
exposto, primeiramente foi necessário realizar a Para fazer a análise da degração foi preciso
caracterização do material não degradado, avaliar a dinâmica atmosférica do período em
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estudo. Assim sendo, a Tabela 1 apresenta os deslocaram à esquerda dos respectivos


valores, obtidos por meio do site do INMET, de intervalos para os geotêxteis intactos.
radiação local e precipitação no verão e outono,
do ano de 2017. A Figura 7 apresenta o gráfico
da dinâmica atmosférica relativo às estações
verão e outono do ano de 2017.
Posteriormente, as amostras expostas às
estações verão e outono foram ensaiadas, bem
como do período de exposição verão + outono.
Os resultados obtidos são apresentados na
Figura 8 e 9, nas quais se comparam os
Figura 9. Geotêxtil G2: Intervalos de confiança de
intervalos de confiança, com nível de confiança resistência à tração (KN/m) do geotêxtil intacto e
de 95%, dos geotêxteis intactos e expostos. degradado nos períodos pesquisados.

Tabela 1. Valores de radiação local e de precipitação para Devido a maior incidência de radiação UV
as estações do ano de 2017. no verão, ocorreu um maior gradiente de
Radiação UV
Estação do ano Estimada
Precipitação degradação para esta estação climática.
(mm) As perdas de resistência à tração por período
(MJ/m²)
Verão 136 342,40 para G1 foram: 29% no verão e 7,5% no
Outono 70 165,40 outono. As amostras expostas no período total
perderam 28,6% da resistência à tração. Para
G2, as perdas obtidas foram: 13% no verão e
8% no outono e 20% de perda de resistência à
tração para o período total.

5 COMENTÁRIOS FINAIS

A manutenção das propriedades de materiais


polímericos frente a sua exposição a fatores que
podem levar a sua degradação prematura precisa
Figura 7. Dinâmica atmosférica das estações verão e ser avaliada no desenvolvimento de projetos,
outono do ano de 2017. viabilizando a eficácia e sucesso da obra.
Os geossintéticos são materiais constituídos
por matrizes poliméricas, com distintas
aplicações dentro de obras geotécnicas ou
ambientais, podendo ficar expostos e,
consequentemente, sofrer degradação por ação
de intempéries.
Assim sendo, para o emprego adequado dos
geossintéticos deve-se: conhecer as variáveis
Figura 8. Geotêxtil G1: Intervalos de confiança de que influenciam na degradação ao longo da vida
resistência à tração (KN/m) do geotêxtil intacto e de serviço; compreender de que forma esses
degradado nos períodos pesquisados. agentes degradadores afetam a estrutura do
material estudado em cada realidade climática;
Verifica-se a ocorrência da degradação por e compreender como as propriedades mais
intemperismo em ambos os geotêxteis GT1 e relevantes do material em estudo são afetadas.
GT2, uma vez que os intervalos de confiança se
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Foi possível verificar uma maior degradação REFERÊNCIAS


para a estação climática do verão se comparado
a estação do outono, devido a maior incidência Agnelli, J.AM. e Chinelatto, M. A. (1992). Degradação
de radiação UV em ambos os geotêxteis de Polipropileno: Aspectos Teóricos e Recentes
Avanços em sua Estabilização, Polímeros: Ciência e
ensaiados. Deste modo, o comportamento de Tecnologia, ABPol, Vol. jul/set-92, p. 27-31.
longo prazo de geossintéticos usados em AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND
situações expostas às intempéries podem ser MATERIALS. ASTM D 5035 (2011) Standard Test
diretamente infuenciados pelo início Method for Breaking Force and Elongation of Textile
estabelecido para a instalação e uso de tais Fabrics (Strip Method), ASTM International,
Pennsylvania, 2011.
materiais em campo. ________. ASTM D 5819 (2018) Standard Guide for
Além disso, é importante se atentar para as Selecting Test Methods for Experimental Evaluation
condições de armazenagem dos geossintéticos of Geosynthetic Durability, ASTM International,
antes de sua utilização (tanto em fábrica quanto Pennsylvania.
na obra), obedecendo-se as condições ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR ISO 10318 (2013) Geossintéticos
estabelecidas em norma (ISO TS 13434, 2008), — Termos e definições, Rio de Janeiro, 2013.
principalmente para o emprego em situações Carneiro, J.R.C. (2009). Durabilidade de Materiais
nas quais os geossintéticos forem Geossintéticos em Estruturas de Carácter Ambiental -
dimensionados para uso enterrados ao solo. A Importância da Incorporação de Aditivos
Químicos, Tese de Doutorado, Universidade do Porto,
Destaca-se a relevância do emprego de
602 p.
ferramentas estatísticas, como construção de De Paoli, M.A. (2008). Degradação e Estabilização de
intervalos de confiança (IC), para a Polímeros. 2° versão online, Chemkeys, São Paulo,
compreensão da relação estresse-resposta, dado São Paulo, BR, 221 p.
a variabilidade inerente dos dados, mas sempre EUROPEAN STANDARD. EN 12224 (2000)
Geotextiles and geotextile-related products –
dentro de um intervalo de confiança.
Determination of the resistance to weathering.
Embora o geotêxtil do tipo G1 tenha European Committee for Standardization. Brussels.
apresentado valores médios de perda de ________. EN 13362 (2013) Geosynthetic barriers.
resistência à tração maiores que o G2, são Characteristics required for use in the construction of
necessários novos estudos para a verificação se canals. European Committee for Standardization.
Brussels..
o percentual dos aditivos estabilizantes
Fechine, G.J.M.; Santos, J.A.B. e Rabello, M.S. (2006).
utilizados é elevada ao ponto de estar Avaliação da fotodegradação de poliolefinas através
produzindo efeito pró-degradante. de exposição natural e artificial, Química Nova, SBQ,
Por último, pode-se inferir que os resultados Vol. 29, n 4, p. 674-680.
foram promissores, considerando as dinâmicas Greenwood, J.H., Schroeder H.F. e Voskamp, W. (2012).
Durability of Geosynthetics. CUR Committee C 187–
atmosféricas envolvidas, bem como o somatório Building & Infrastructure.
dos períodos isolados pode ser considerado Hansen, C.M. (2002). On predicting environmental stress
equivalente ao período total de exposição. cracking in polymers, Polym. Degrad. Stab. Vol. 77,
p. 43-53.
INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR
STANDARDIZATION. ISO TS 13434 (2008)
AGRADECIMENTOS Geosynthetics - Guidelines for the assessment of
durability. Switzerland.
A empresa HUESKER Ltda, pela fabricação e ________. ISO 877-1 (2009) Plastics – Methods of
fornecimento de materiais específicos para o exposure to solar radiation – Part 1: General guidance.
desenvolvimento da pesquisa. A Universidade Switzerland..
________. ISO 877-2 (2009) Plastics - Methods of
Federal de Lavras pelo suporte financeiro e ao exposure to solar radiation – Part 2: Direct weathering
Centro Federal de Educação Tecnológico de and exposure behind window glass. Switzerland,.
Minas Gerais pelo suporte para a pesquisa Koerner, G.R., Hsuan, G. e Koerner, R.M. (1998). Photo-
laboratorial. Initiated Degradation of Geotextiles. Journal of
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Geotechnical and Geoenvironmental Engineering,


ASCE, Vol. 124, p. 1159-1166.
Koerner, R.M. (2005). Design with geosynthetics, 5nd
ed., Prentice Hall, Englewood Cliffs, New Jersey,
USA, 816 p.
Leech, A.D. (2010). Geotextiles long term durability –
product design parameters, International Conference
on Geosynthetics, Proc. 9th, Guarujá.
Lopes, M.P. e Lopes, M.L. (2010). A Durabilidade dos
Geossintéticos, FEUP Edições, Porto, Portugal, 294 p.
Mol, A.S. (2014). Preparação e Funcionalização de
Nano Fibras (whiskers) de Quitina e Sua Aplicação
Como Agente de Recuperação de Propriedades em
Polímeros Reciclados, Tese de Doutorado,
Universidade Federal de Minas Gerais, 125 p.
Montagna, L.S. e Santana, R.M.C. (2012). Influência da
radiação solar na degradação do polipropileno.
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Ambiente. Bento Gonçalves. Rio Grande do Sul.
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Experiments. 7th ed. New York: John Wiley & Sons
Inc..
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Geosynthetic Engineering, Taylor & Francis Group,
London, UK, 410 p.
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degradation of geosynthetics by outdoor exposure and
laboratory weatherometer, Geotextile and
Geomembranes, Technical Note, Vol. 21, p. 111-122.
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Degradação de Geotêxteis Não-Tecidos em Ambiente Costeiro


Marcio Avelino de Medeiros
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, avelino.marcio@yahoo.com.br

Fagner Alexandre Nunes de França


Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, fagneranfranca@gmail.com

RESUMO: Os geossintéticos são materiais poliméricos muito empregados em diversas obras da


Engenharia Civil, principalmente nas obras geotécnicas. Um dos ambientes em que se aplicam é o
ambiente costeiro, que apresenta agentes degradadores, como a radiação UV, a salinidade do mar
(aliado ao embate direto das ondas) e a presença do oxigênio, que provoca o processo de oxidação.
Portanto, a garantia da durabilidade do geossintético é uma característica decisiva para sua aplicação.
Este trabalho avalia um geotêxtil não-tecido submetido, em diversas combinações, aos principais
agentes agressivos ao qual está exposto no ambiente costeiro. Analisaram-se as condições de
exposição dos materiais: radiação UV máxima diária, temperatura média e acompanharam-se os
dados pluviométricos. Os valores de chuva foram muito pequenos no período analisado, não
representando perturbações nos resultados. Os resultados demonstraram alta impregnação de sais no
geotêxtil submetido a ciclos de saturação e secagem em água do mar combinado com radiação UV.
Além disso, uma inspeção visual das amostras demonstrou seu enrijecimento quando combinando
efeitos de saturação e secagem por água do mar com radiação UV.

PALAVRAS-CHAVE: Geossintéticos, Degradação, Ambiente Costeiro, Radiação UV, Água do Mar

1 INTRODUÇÃO principalmente em reforço de solos de baixa


capacidade. Nessa mesma época, começa a ser
A Engenharia Civil, desde 3.000 a. C. emprega comercializado no país os geotêxteis não-tecidos
diversos tipos de materiais naturais para cardados (...) e é criada a Comissão de Estudos
melhorar a qualidade dos solos (Aguiar & de Geossintéticos, pelo Comitê Brasileiro de
Vertematti, 2004). Com o desenvolvimento da Construção Civil – CB-02 a Associação
indústria têxtil, a partir do desenvolvimento de Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) (Aguiar
alguns polímeros, os materiais geossintéticos & Vertematti, 2004).
tiveram um grande salto em seu A aplicação dos geotêxteis em ambientes
desenvolvimento. costeiros, embora recente, já apresenta alguns
Entretanto, o uso de geossintéticos em obras estudos que demonstram seu bom desempenho
geotécnicas ainda é recente. Os geotêxteis foram mecânico. Conforme explicou Carrol et al.
primeiramente aplicados no controle de erosão (1992), a flexibilidade dos geotêxteis aplicados
no final da década de 1960 e início da década de em controle de erosão destaca-se como uma
1970, quando pesquisas mostraram que certos grande vantagem de sua performance, uma vez
materiais têxteis poderiam ser utilizados em que pode minimizar a ocorrência de solapamento
substituição de filtros granulares. Esses materiais ou arraste do dissipador, o que pode ocorrer em
funcionariam impedindo a erosão causada por enrocamento e outras soluções rígidas.
infiltração de águas subterrânea, chuva, Conforme Castro & Vertematti (2004)
escoamento superficial e/ou ação das ondas afirma, a flexibilidade dos geossintéticos é uma
(Carrol et al., 1992, p. 4). das propriedades mais relevantes em sua
No Brasil, a fabricação dos geotêxteis tecidos aplicação numa obra hidráulica, “pois o
tem início na década de 1980, aplicados geossintético deve se amoldar à superfície do
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solo-base e, caso este se movimente, área, a fim de se analisar a durabilidade e


acompanhar seu deslocamento”. Essa é uma das eficiência desses materiais quando aplicados em
propriedades que justificam seu uso em ambiente ambientes com essa agressividade.
costeiro. Outra propriedade importante é a Este trabalho busca elaborar um
resistência à tração, uma vez que “em geral, nas procedimento de análise da degradação de
obras hidráulicas, os geossintéticos são geotêxteis não tecido expostos às principais
submetidos a tracionamento pela ação do peso ações degradantes do ambiente costeiro:
dos solos saturados ou da própria água, nas ações radiação UV, salinidade do mar e oxidação por
de marés, variações de níveis, ondas e fluxos ciclos de saturação e secagem.
tangenciais” (Castro & Vertematti, 2004).
Além disso, as alternativas de aplicação 2 REVISÃO DE LITERATURA
acabam por se restringirem em algumas áreas do
litoral, devido à grande taxa de ocupação do solo 2.1 Geossintéticos
e avançado processo de urbanização, o que exige
soluções de engenharia que provoquem a menor De acordo com a ISO 10318-1/15, o
perturbação na área. geossintético (GSY) é um produto que possui
Uma vez que a aplicação dos geossintéticos pelo menos um dos seus componentes como
aconteceu recentemente, muitas das obras sendo polímero (sintético ou natural) e se
geotécnicas que o aplicam, em especial aquelas encontra na forma de uma folha, uma tira, ou
em ambiente costeiro, ainda não atingiram sua uma estrutura tridimensional, utilizado em
vida útil de projeto e, portanto, é necessária a contato com o solo e/ou outros materiais de
definição de um método de avaliação da aplicação em engenharia geotécnica ou civil. A
durabilidade desses materiais quando expostos ISO 10318-1 define geotêxteis como sendo
aos agentes agressivos do ambiente costeiro. material têxtil planar, permeável, polimérico
Segundo Koerner et al. (1998), todos os (natural ou sintético), que pode ser não-tecido,
geossintéticos, por sua constituição de de malha ou tecidos. A principal matéria prima
polímeros, em particular os geotêxteis, têm a luz dos geossintéticos são os polímeros, podendo
solar como um importante fator de degradação, haver ou não outras adições na sua fabricação. A
cuja suscetibilidade aumenta para os geotêxteis Tabela 1 apresenta os principais polímeros
não-tecidos, em virtude de sua alta área utilizados na fabricação de geossintéticos.
superficial. Essa situação é agravada, pois a
umidade e a temperatura elevada acompanha a Tabela 1. Principais polímeros utilizados na fabricação dos
radiação direta ao ultravioleta (UV). geossintéticos
Polímero Sigla Aplicações
Nesses ambientes, deve-se haver a
Geotêxteis,
preocupação com a durabilidade do material, geomembranas,
uma vez que a recuperação de áreas degradadas Polietileno PE
geogrelhas, geutubos,
pode demorar, é importante analisar a georredes e geocompostos
continuidade das propriedades do material ao Poliestireno
EPS Geoexpandidos
expandido
longo do tempo.
Geotêxteis,
Segundo Neves (2003), a análise do geomembranas,
desempenho de um material em situações Polipropileno PP
geogrelhas e
semelhantes a de projeto é essencial e deve ser geocompostos
considerada na escolha de aplicação desse Geomembranas, geotubos
Polivinil clorado PVC
e geocompostos
material em uma obra costeira.
Poliéster PET Geotêxteis e geogrelhas
Os estudos avaliando a combinação de ações Geocompostos e
degradadoras em geossintéticos no ambiente Poliestireno PS
geoexpandidos
costeiro ainda são pouco precisos, por isso se faz Poliamida PA
Geotêxteis, geogrelhas e
necessário o desenvolvimento de pesquisas na geocompostos
Fonte: Bueno (2004)
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servem tanto para proteção (controle de erosão)


Os geossintéticos possuem em sua quanto recuperação, conforme alguns casos de
constituição, além da resina básica (polimérica), uso narrados por Carrol et al. (1992). Vários
os os aditivos, que podem ser plastificantes, tipos de dissipadores de energia podem ser
antioxidantes, inibidores da ação ultravioleta confeccionados para proteção costeira utilizando
(antiUV) etc., dependendo da aplicação do geossintéticos e podem assumir diferentes
geossintético. Além disso, o processo de formatos. A norma ISSO 10.318:2013 define
fotoxidação, causada pela radiação ultravioleta, geoforma como uma estrutura tridimensional,
tem efeito degradador sobre os geossintéticos, permeável, em forma de saco, preenchida com
pois provoca a ruptura de ligações principais do solo, resíduo, entre outros materiais.
polímero (Bueno, 2004). Isso faz com que, em
ambientes com alta exposição à radiação UV, a 2.1.2 Geotêxteis
utilização de aditivos inibidores de ação
ultravioleta seja uma prerrogativa para o seu Aguiar & Vertematti (2004) vai definir
bom funcionamento. Geotêxtil como sendo o “produto têxtil
Ainda segundo Bueno (2004), o poliéster bidimensional permeável (...) cujas propriedades
(PET) é “o produto resultante da polimerização mecânicas e hidráulicas permitem que
de etilenoglicol e dimetiltereftalato ou ácido desempenhem várias funções numa obra
tereftálico. Difere da maioria dos polímeros geotécnica”.
utilizados na fabricação de geossintéticos porque O geotêxtil não-tecido (GTX-N) vai ser
sua estrutura molecular contém oxigênio. (...) definido como “produto composto por fibras
Contém aditivos para minimizar degradações cortadas ou filamentos contínuos, distribuídos
térmicas e UV”. aleatoriamente, os quais são interligados por
Van Zanten (1986) apud Vertematti et al. processos mecânicos, térmicos ou químicos”
(2004) apresenta o poliéster como bem resistente Aguiar & Vertematti (2004).
a sais (Prine) e moderadamente à Luz UV, Um exemplo de processo mecânico é o
durante o uso. geotêxtil não-tecido agulhado, cujas fibras são
Segundo Stevens (1990) apud Vertematti et interligadas mecanicamente por processo de
al. (2004), o PET apresenta resistência à tração agulhagem.
entre 48 e 72 Mpa e elongação na ruptura entre
50 e 300%. 2.2 Durabilidade dos geossintéticos

2.1.1 Funções dos geossintéticos Ao se optar por um determinado geossintético,


deve-se ter em mente a importância da
Os geossintéticos podem assumir diferentes preservação de suas propriedades ao longo de
funções em obras de engenharia, podendo, toda a vida útil de projeto da obra em que se
inclusive, assumir mais de uma ao mesmo aplica. Essa preocupação deve ser maior quando
tempo. Por isso, ao se dimensionar um os geossintético são aplicados em ambiente
geossintético para uma determinada aplicação, externo, uma vez que a exposição às intempéries
devem-se avaliar as funções requeridas e aumenta nesses casos.
hierarquiza-las, a fim de, também, determinar o Os geossintéticos expostos a essas condições
tipo de geossintético mais adequado. sofrem ações degradadoras principalmente por
As principais funções dos geossintéticos são agentes climáticos, como luz solar
definidas na norma internacional ISO (particularmente a radiação UV) em combinação
10.318:2013. com o oxigênio atmosférico, ação da
Uma das aplicações que está se temperatura, umidade, fluidos e perturbação
desenvolvendo no ambiente costeiro é a mecânica (no caso de ambientes onde não há
utilização de dissipadores de energia, que controle de circulação de pessoas sobre o
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geossintético). A seguir, são explanados alguns


dos fatores de degradação dos geossintético, Hsieh et al. (2006) concluíram em seu estudo,
particularmente os geotêxteis. entretanto, que a imersão em água do mar tinha
um menor efeito deletério em relação às outras
2.2.1 Degradação por radiação UV ações de intemperismo do ambiente costeiro,
como a degradação por radiação UV.
A degradação por ação da radiação UV se inicia
quando a radiação solar atinge a superfície dos 2.2.3 Ação da temperatura
materiais com energia igual ou superior à energia
de ligação química do polímero, corroborando A ação da temperatura em campo, isoladamente,
na formação de radicais livres e, em combinação não constitui um grande fator na degradação dos
com o oxigênio atmosférico, provocam a foto- geossintéticos. Entretanto, como apresentou
oxidação dos polímeros (Suits e Hsuan, 2003 Koerner et al. (1998), quando combinada com a
apud Milagres, 2016). Por isso, a radiação UV radiação UV e a oxidação, o aumento da
constitui como o principal agente agressivo na temperatura acelera os efeitos deletérios da
degradação de geotêxteis em ambientes radiação no processo de degradação dos
costeiros, especialmente pela sua combinação geotêxteis, uma vez que induz reações
com outros agentes, como o oxigênio, formando secundárias de degradação do material.
a foto-oxidação citada anteriormente.
A foto-oxidação consiste na absorção de raios 2.2.4 Oxidação
ultravioletas com reações oxidativas, que
reduzem o peso molecular e alteram a estrutura O oxigênio é tido como um dos principais
química dos polímeros que constituem o material agentes deletérios em polímeros, incluindo os
(Rabello e White, 2000 apud Milagres, 2016). geossintéticos, uma vez que desencadeia a
reação de oxidação nos materiais. Esse processo
2.2.2 Extração de aditivos por ação de fluidos consiste na perda de elétrons dos elementos
químicos aumentando o seu número de oxidação
A extração total ou parcial dos aditivos pode (NOX) quando na presença do oxigênio. Essas
correr por lixiviação ou volatilização quando em reações acontecem normalmente na superfície
contato prolongado com algum fluido (água ou dos materiais poliméricos e causa alterações
outra substância química). A lixiviação consiste físicas (alterações de brilho, transparência, cor e
na extração ou solubilização dos constituintes aparecimento de fissuras) e mecânicas
químicos do aditivo pela ação do fluido, já a (diminuição de características, como
volatilização é a perda desses constituintes por flexibilidade, resistência à tração, resistência ao
ação do ar ou evaporação (Carneiro, 2009 apud impacto ou da elongação). (Carneiro, 2009;
Milagres, 2016). A Figura 1 esquematiza bem Paoli, 2008; Sarsby, 2007, apud Milagres, 2016).
esse processo.
2.3 Ambiente costeiro

O ambiente costeiro é constituído de uma grande


área, sendo definido a partir de um limite físico
e um limite econômico. Entretanto, na análise do
comportamento de materiais frente às ações
deletérias presentes nesse ambiente, as praias do
ambiente costeiro são o ambiente de maior
atenção na degradação dos materiais
Figura 1. Extração de aditivos por lixiviação e geossintéticos aplicados em engenharia costeira.
volatilização. Fonte: Carneiro (2009) apud Milagres As praias, especificamente, são definidas como a
(2016)
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“área coberta e descoberta periodicamente pelas 2.4 Geossintéticos no ambiente costeiro


águas, acrescida da faixa subsequente de
material detrítico (...) até o limite onde se inicie Segundo Neves (2003), com relação às
a vegetação natural, ou, em sua ausência, onde propriedades de resistência dos geossintéticos,
comece um outro ecossistema”. (art. 10, § 3.º, da estas podem sofrer alterações devido a
Lei 7.661/88) deformações, efeito de temperatura, radiação
Deve-se notar que o ambiente costeiro mais ultravioleta e outros fatores ambientes. Além
agressivo no processo de degradação avaliado disso, Neves (2003) afirma ainda que os custos
nesse estudo é a praia. As praias podem ser de manutenção associados ao material
divididas em três micro-zonas principais: selecionado numa obra costeira são diretamente
 Antepraia: região em que o solo está sempre proporcionais à vida útil da estrutura e, quanto
submerso e onde se localizam as quebras de maior a vida útil da obra, mais relevantes são os
onda custos de manutenção da obra. Por esse motivo,
 Estirâncio: região compreendida entre o avaliar a degradação dos materiais que podem
limite da baixa-mar e o limite da preamar. O ser empregados nas obras costeiras é importante
solo e dispositivos presentes nessa área irão tanto no ponto de vista técnico de seu uso quanto
sofrer diariamente o processo de saturação e do ponto de vista econômico, a fim de avaliar a
secagem. viabilidade dos custos empregados.
 Pós-praia: região que se segue ao estirâncio.
Normalmente não sofre com a ação direta 3 MATERIAIS E MÉTODOS
das ondas ou saturação de água do mar,
exceto em marés mais altas ou ressacas. 3.1 Geotêxtil
A Figura 2 apresenta a localização dessas
três micro-zonas. Esta pesquisa utilizou o Geotêxtil Não Tecido
Agulhado (cor cinza) Geofort GH16, 100%
Poliéster, cujas características, segundo o
fabricante, são: Resistência à tração em faixa
larga (transversal e longitudinal) de 16kN/m,
alongamento (transversal e longitudinal) ≥ 50%,
largura de 2,30 m e gramatura de 255 g/m².

3.2 Amostras e Corpos de Prova

3.2.1 Amostragem, identificação e preparação


dos corpos de prova

A amostragem e preparação dos corpos de prova


foi realizada seguindo as recomendações da
Figura 2. Micro-zonas da praia. Fonte: Maciel et al. (2014)
NBR ISO 9862:2013.
Todos os corpos de prova foram identificados
Os geossintéticos podem ser aplicado nas três
e datados do início da exposição. Antes da
zonas, seja isoladamente, como no caso de obras
identificação, foi realizada a pesagem desses
costeiras de proteção de talude com utilização de
corpos de prova, a fim de se obter a gramatura da
geofôrmas tipo saco ou em mais de uma zona,
amostra. A identificação deve ser feita,
como dissipadores transversais.
preferencialmente, sem provocar qualquer dano
à amostra, seja através de fixação ou marcação.
Entretanto, caso necessário, a fixação ou
marcação deve ser feita na borda menor da
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amostra, o mais distante possível dos 100 mm determinação da resistência à tração do geotêxtil
centrais. A Figura 3 apresenta a etiquetagem não-tecido foi o mesmo utilizado nesta última
utilizada nos corpos de prova desta pesquisa. norma citada.

3.3 Teste de degradação

A fim de analisar a ação degradadora da água do


mar, da radiação UV e dos ciclos de saturação e
secagem sobre o geossintético, isoladamente e
em conjunto, foram analisadas 5 condições:
a) Radiação UV isoladamente;
b) Imersão em água do mar isoladamente;
c) Imersão em água do mar em intervalos de
saturação e secagem (ação cíclica);
d) Radiação UV combinada com imersão em
Figura 3. Identificação dos corpos de prova através de água do mar; e
etiquetas. Fonte: Autor e) Radiação UV combinada com imersão em
água do mar em intervalos de saturação e
3.2.2 Corpos de prova para ensaio de tração secagem.
As amostras submetidas à ação de imersão em
O ensaio de tração recomendado pela NBR ISO água do mar (cíclica ou contínua) devem ser
10.319:2015 – tração de faixa larga – considera, acondicionadas em ambiente fechado, a fim de
para geotêxteis não tecido (GTX-N) a dimensão se evitar a exposição à radiação UV, à
de 200 mm de largura por 200 mm de altura, de temperatura ambiente. Nessa pesquisa, a
modo que haja um espaço mínimo de 100 mm temperatura média no laboratório onde as
entre as garras. As amostras padrão para a amostras focam acondicionadas era de 24°C. Os
definição da resistência à tração neste trabalho ciclos de saturação e secagem eram tomados a
foram tomadas em faixa média, com largura de cada 24h.
100 mm e comprimento de 200 mm, de modo Em campo, as amostras submetidas a ação da
que entre garras fossem mantidos os 100 mm radiação UV deve ser posicionada seguindo a
mínimos de distância. A Figura 4 apresenta as latitude do local, no caso de Natal/RN, onde foi
dimensões da amostra definida na NBR ISO realizada a pesquisa, a latitude terreno era de
10.319:2015 e o corpo de prova padrão tomado aproximadamente 5°50’ o Norte, o que previa
neste trabalho. uma inclinação aproximada de 10%. Para isso, as
amostras foram posicionadas em uma plataforma
construída em madeira, de modo que a
inclinação fosse preservada para as condições de
análise “c”, “d” e “e”. O local de exposição das
amostras para degradação era o terreno de
construção da Unidade de Tratamento de
Resíduos Químicos da UFRN (Latitude
Figura 4. Comparação dos tamanhos dos corpos de prova. 5°50’02” S e Longitude 35°12’13,7” O).
Fonte: Autor
Para a degradação por ação de água do mar,
foi utilizada água coletada diretamente da Praia
O tamanho do corpo de prova Padrão desse
de Ponta Negra, localizada no município de
estudo foi determinado a partir de uma
Natal/RN, como pode ser visualizado na Figura
comparação entre as normas NBR ISO
5.
10.319:2015 e NBR 13.041:2004, uma vez que o
dinamômetro e software utilizados na
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27,5

27,0

Temperatura (°C)
26,5

26,0

25,5

25,0

Diária Dia do ano

Figura 5. Localização da praia onde foi coletado o material Média


Fonte: adaptado de Amaro et al. (2015) Figura 9. Gráfico das Temperaturas Médias Diárias em
Natal/RN no Período de Análise. Fonte: adaptado de
INMET (2017).
3.4 Gramatura do Geotêxtil

Para avaliação da degradação a partir da As temperaturas médias diárias em Natal


gramatura, foram pesadas todas as amostras 100 ficaram próximas de 27°C, com variação média
x 200 mm, a fim de se avaliar perdas por de 0,5°C em quase todos os dias, com exceção
oxidação e/ou radiação e acréscimos devido à do dia 9 de novembro, quando a temperatura
impregnação de sais. Para isso, foram utilizadas média foi de 26,0°C.
balanças com precisão de 0,01 g. Segundo Koerner et al. (1998), embora a
temperatura não afete as reações primárias de
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO degradação provocada pela ação UV, ela afeta as
reações secundárias, um incremento de
4.1 Variáveis de exposição temperatura de 10°C pode praticamente dobrar a
taxa de degradação iniciada pela exposição UV.
A seguir são apresentas as variáveis climáticas Isso foi visualizado numa mudança de 20°C para
obtidas no período de exposição das amostras. 30°C numa exposição de cerca de 250 h. A
Os meses de setembro a novembro em Natal/RN, Figura 10 apresenta a variação da radiação UV
historicamente, apresenta altos valores de horária máxima nos dias analisados.
radiação UV, de modo que o período de
exposição foi adotado dentro desse intervalo, a 12000,0
Radiação (kJ/m²)

fim de se obter uma degradação mais 10000,0


desfavorável. 8000,0
A Figura 9 apresenta a variação da 6000,0
temperatura média diária no período de 4000,0
2000,0
exposição.
0,0
30/10/2017
01/11/2017
03/11/2017
05/11/2017
07/11/2017
09/11/2017
11/11/2017
13/11/2017
15/11/2017
17/11/2017

UV máx

Dias analisados
Figura 10. UV máximo horário nos dias analisados. Fonte:
adaptado de INMET (2017)

A radiação máxima horária por dia em


Natal/RN atingiu valores próximos de 10.000
kJ/m² nos primeiros dias analisados, entretanto
durante maior parte do período os valores
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máximos ficaram em torno de 4.000 kJ/m²,


Variação da Gramatura
embora estes ainda sejam altos e deletérios ao
geotêxtil. 800,00

Gramatura (g/m²)
600,00
4.2 Análise qualitativa da degradação dos
geossintéticos 400,00

200,00
Quando expostos à radiação e à água salgada, 0,00
além de resultados numéricos nos parâmetros de Amostra UV Amostra Água do
resistências, as amostras de geotêxtil também Mar (Ciclo)
apresentam mudanças qualitativas, que podem Antes Depois
ser avaliadas visualmente. Uma delas foi o Figura 11. Gráfico da Variação de Gramatura das
enrijecimento das amostras, tanto submetidas à Amostras. Fonte: Autor.
radiação UV natural quanto à agua salgada (com
ou sem participação também da ação UV). As Os resultados demonstram que, apesar de a
amostras submetidas às ações combinadas de literatura afirmar que a radiação UV apresenta
radiação UV e imersão em água salgada com efeitos mais deletérios à durabilidade dos
intervalos de saturação e secagem se geossintéticos, em termos de variação na
apresentaram mais enrijecidas que as demais gramatura a diferença foi muito pequena, apenas
amostras, o que demonstra uma maior 2,8%. Nas amostras submetidas a ciclos de
impregnação de sais e possíveis mudanças na saturação e secagem por água do mar, por sua
estrutura do material em virtude das altas vez, a gramatura mais que dobrou (em torno de
temperaturas e radiação. 111% a variação), subindo de 301,2 g/m² para
638,5 g/m². Isso implica dizer que houve grande
4.3 Variação da Gramatura das Amostras impregnação de sais na superfície e nos poros do
geotêxtil.
Ao serem submetidos à ação dos agentes
deletérios, o geossintéticos podem apresentar 5 CONCLUSÕES
mudanças na gramatura. No caso da radiação
UV, por sofre oxidação, os geotêxteis não- Este artigo apresentou um estudo preliminar da
tecidos podem sofrer diminuição da gramatura e, degradação de geotêxteis não-tecidos a partir de
no caso de ciclos de saturação e secagem, o da definição de um procedimento. Diante dos
material pode impregnar sais em sua superfície e resultados obtidos e da literatura, pode-se
poros, aumentando a gramatura. A Figura 11 concluir que: o ambiente costeiro apresenta uma
apresenta os resultados obtidos de gramatura combinação de fatores que provocam a
antes e depois da exposição à radiação UV degradação dos geotêxteis, especialmente os
isoladamente e à imersão cíclica (saturação e não-tecidos, por sua constituição polimérica. O
secagem) em água do mar. principal fator dessa degradação é a radiação
UV, a qual, quando combinada ao oxigênio
atmosférico, às temperaturas altas e à ação da
água do mar como fluido de contato prolongado
com o geossintético, aumenta seu impacto na
degradação. Além disso, em curto prazo, a ação
da radiação UV não é capaz de provocar perdas
de gramatura significativas no material.
Entretanto, devido à porosidade do material, a
impregnação de sais junto ao geotêxtil não-
tecido devido à ação cíclica (saturação e
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secagem) provocada pela água do mar mais que Geotextiles and Geomembranes, n. 11. 1992. p. 523-
dobra a gramatura do material e sua influência 534.
no comportamento mecânico deve ser objeto de CASTRO, G. R. & VERTEMATTI, J. C. (2004).
estudos. Por sua vez análise qualitativa da Contenções em Obras Hidráulicas. Manual Brasileiro
degradação dos geotêxteis não-tecidos é um fator de Geossintéticos. São Paulo: Edgar Blücher, 2004.
auxiliar na determinação da mudança de
propriedades do material, entretanto, para uma INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR
STANDARDIZATION. ISO 9862: Geosynthetics –
análise da durabilidade, a verificação da Sampling and preparation of test specimens. Geneva,
mudança nos parâmetros de resistência é 2005. 5p.
essencial, pois vai determinar a vida útil daquela
aplicação. Finalmente, o estudo da degradação ______. ISO 10318-1: Geosynthetics – Part 1: Terms and
de um material através de simulação das ações e definitions. Geneva, 2015. 8p.
ensaios laboratoriais, com ou sem construção de ______. ISO 10319: Geosynthetics – Wide-width tensile
um protótipo, é fundamental para determinação test. 3.ed. Geneva, 2015. 14p.
do comportamento da aplicação em campo,
principalmente através de ensaios acelerados que HSIEH, C., WANG, J. B., CHIU, Y. F. (2006).
simulem tais ações, uma vez que muitas obras de Weathering properties of geotextiles in ocean
environments (Technical Note). Geosynthetics
engenharia costeira que empregam International. 13, n. 5, 2006. p. 210-217.
geossintéticos ainda não atingiram a vida útil de
projeto. INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA.
Estações e dados. Disponível em: <
AGRADECIMENTOS http://www.inmet.gov.br/sonabra/pg_dspDadosCodig
o_sim.php?QTMwNA==> Acesso em 17 nov 2017.

Ao Diretor de Meio Ambiente da KOERNER, G. R.; HSUAN, G.; KOERNER, R. M.


Superintendência de Infraestrutura, Eng. Herbert (1998). Photo-Initiated Degradation of Geotextiles.
Halamo, pela liberação do espaço para exposição Journal of Geotechnical and Geoenvironmental
das amostras e ao Prof. Moisés Vieira de Melo, Engineering. p.1159-1166.
coordenador do laboratório de controle de MILAGRES, B. V. Degradação de geotêxteis frente a
qualidade de materiais têxteis. elementos climáticos em ensaios de campo e
laboratório [manuscrito]: realidade climática local.
REFERÊNCIAS 2016. 136p. Dissertação (Mestrado em Geotecnia) –
Escola de Minas, Núcleo Geotecnia, Universidade
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2016.
TÉCNICAS. NBR 13.041: Não-tecido – Determinação
da resistência à tração – tira e grab. 2.ed. Rio de NEVES, L. P. Geossintéticos e Geossistemas em
Janeiro, 2004. 6p. Engenharia Costeira. 2003. 196p. Dissertação
(Mestrado em Engenharia do Ambiente) – Faculdade
AGUIAR, P. R. & VERTEMATTI, J. C. (2004). de Engenharia, Universidade do Porto, Porto, 2003.
Introdução. Manual Brasileiro de Geossintéticos. São
Paulo: Edgar Blücher, 2004.

BRASIL. Lei n. 7.661, de 16 de maio de 1988. Institui o


Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro e dá outras
providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7661.htm.
Acessado em 15 maio 2017.

BUENO, B. S (2004). Matérias Primas. Manual Brasileiro


de Geossintéticos. São Paulo: Edgar Blücher, 2004

CARROL, R. G., RODENCAL JR., J., COLLIN, J. G.


Geosynthetics in Erosion Control – The Principles.
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Desenvolvimento de Sensor de Deformação para Monitoramento


de Geossintéticos
Hélcio Gonçalves de Souza
COPPE/PEC, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, helcios@gmail.com

Mauricio Ehrlich
COPPE/PEC, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, me@coc.ufrj.br

Cid Almeida Dieguez


COPPE/PEC, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, cid@coc.ufrj.br

RESUMO: Apresenta-se um sensor de deformação axial em geossintéticos, projetado e construído


no Laboratório de Geotecnia da COPPE em 2007. O equipamento foi utilizado, com êxito, no
monitoramento de cargas em geossintético utilizado como reforço em um aterro de obra portuária.
As medidas de deformação possibilitam acompanhar cargas mobilizadas em reforços, conhecida
sua rigidez. O sensor é robusto podendo facilmente ser instalado no campo sem grandes transtornos
ao andamento da obra. O equipamento compreende de duas bases de fixação para firme adesão na
geossintético e numa cápsula metálica de proteção mecânica a um transdutor elétrico de
deslocamento, posicionado internamente ao conjunto. O sistema de proteção inclui um êmbolo que
se movimenta livremente no sentido longitudinal da cápsula de proteção. A vedação do sistema,
garante a liberdade de movimentação do êmbolo, sem permitir a entrada de água e detritos em seu
interior. Os testes efetuados em laboratório demonstraram a confiabilidade e acurácia do
equipamento.

PALAVRAS-CHAVE: Geossintético, Geotêxtil, Instrumentação, Sensor de Deformação, Solo


Reforçado.

1 INTRODUÇÃO do monitoramento das deformações é sensivel


às variações do módulo de rigidez, seja pelo
A necessidade de monitoramento das cargas efeito reológico ou pela conformação do
mobilizadas em solo reforçado leva ao material, sempre exigindo confiança no módulo
desenvolvimento de técnicas e instrumentos de rigidez a ser adotado. Também, no caso do
para medição das deformações ou cargas uso de um sensor de deformação acoplado ao
associadas. Se tratando de geogrelhas, geotêxteis reforço, é necessário que o atrito ou a rigidez do
ou outros reforços de materiais geossintéticos, instrumento não altere de alguma forma o
diversas técnicas de instrumentação são módulo de rigidez do reforço.
empregadas e facilmente encontradas na literatura Em 2007, foi desenvolvido no Laboratório
como: tell-tales (Nunes et al, 2006); fibra ótica de Geotecnia da COPPE, um sensor de
(Habel & Krebber, 2011); strain gauges deformação capaz de monitorar deformação de
solidarizados (Hatami & Bathurst, 2005); uso de geossintéticos. Foi avaliado o desempenho
células de carga como elementos de ligação testando requisitos como acurácia, robustez,
(Mirmoradi et al 2016); e célula de deformação facilidade na aplicação e boa estanqueidade
instrumentada com strain gauges (Almeida et com baixo atrito, de forma que não se altere a
al 2007). rigidez do geossintético. Em 2018, o
A prática de retroanálise das cargas através instrumento foi aperfeiçoado, se tornando mais
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compacto e de maior alcance na medição das O deslocamento do êmbolo acompanha os


deformações. movimentos do trecho correspondente aos
pontos de fixação da barra do reforço (180 mm
2 DESENVOLVIMENTO DO APARATO para o mais antigo e 110 mm para o mais novo).
Tal permite monitorar as deformações no trecho
O princípio mecânico do equipamento é em questão. O transdutor LVDT consegue
simples: requer que um êmbolo deslize medir com precisão valores de deslocamento,
livremente no sentido longitudinal da cápsula possuindo acurácia de 0,01 mm e apresentando
de proteção movimentando a haste sensível de ótima repetibilidade.
um LVDT. As Figuras 1 e 2, ilustram os O cabo elétrico do sensor é isolado por um
componentes básicos do equipamento, sendo duto de nylon resistente a água salgada, este
(1) base de fixação em aço inoxidável; (2) duto tem também a função de proteger
cápsula metálica de proteção mecânica, com mecanicamente o cabo elétrico; no terminal do
êmbolo e vedação com o’rings (3) transdutor cabo encontra-se um conector elétrico (terminal
elétrico de deslocamento, LVDT (4) cabo de leitura do sensor) isolado em sua entrada por
elétrico com protetor e conector isolado. uma tampa com o’rings. Para garantir a
estanqueidade do sistema é fundamental o
aperto da tampa de forma a promover a
compressão da vedação.
(1)
(4)
3 AVALIAÇAO DE DESEMPENHO DO
(2) (3)* INSTRUMENTO

O desempenho do instrumento foi avaliado com


(1) base nos seguintes testes: calibração e acurácia
da resposta; estanqueidade e resistência
mecânica; resistência a salinidade; efeito de
temperatura e comprimento do cabo; e efeitos
da excentricidade e inércia do sensor.
Figura 1. Componentes do sensor de deformação
desenvolvido em 2007. * o transdutor LVDT encontra-se
interno à capsula. 3.1 Calibrações

O LVDT foi calibrado com um micrômetro de


profundidade, com resolução de 0,001mm para
a medição de deslocamentos e de igual
sensibilidade.
(1) As leituras do sinal elétrico foram feitas
com um multímetro de 5 ½ dígitos. Foram
(2) realizados 03 (três) ciclos de avanço e retorno
(3)
(1) em curso total do transdutor, utilizando-se a
medição do sinal elétrico em forma de
resistência ou de tensão. A tensão de
alimentação foi de 10 volts em corrente
contínua. A medição do sinal na forma de
Figura 2. Componentes do sensor de deformação mais resistência elétrica pôde ser feita diretamente
recente (Dieguez et al, 2018). com um multímetro digital, sem a necessidade
da utilização de fonte de alimentação: o que
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torna o procedimento de leitura mais simples no infiltração no interior do mesmo (Figura 5).
campo. Para as medidas de acurácia do sensor
foram imprimidos deslocamentos aleatórios no
sensor e medidos através do micrômetro,
resultando em uma exatidão em centésimos de
milímetro. Um resultado típico da calibração do
sensor para leituras realizadas com um
voltímetro e um ohmímetro (para o mesmo
sensor) é apresentado nas Figuras 3 e 4.

Calibração do Sensor de Deformação


Deslocamento em mm

y = -1,1229x + 8,192
6
R2 = 1
5 carregamento 1

4
descarregamento
3 1

2 carregamento 2

1
descarregamento
0 2

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 carregamento 3

Leitura em volts Figura 5. Teste de resistência mecânica e estanqueidade.


descarregamento
3

Linear

Figura 3. Calibração de um sensor para leitura realizada


3) com
(descarregamento
3.3 Resistência à salinidade
voltímetro.
Para avaliar o desempenho do material que
Calibração do Sensor de Deformação constitui o corpo do sensor (aço inox 316L),
y = -11,236x + 9,3201 todo o sistema foi colocado em imersão num
Deslocamento em mm

6 R2 = 1 recipiente com água concentração de saturação


5 carregamento 1
em cloreto de sódio, por um período de sete
4
descarregamento dias. Não foi verificados quaisquer prejuízos no
3 1

2 carregamento 2
material metálico, o sistema se apresentou
1 inerte à salinidade (Figura 6).
descarregamento
0 2

0,0 0,5 1,0 1,5 carregamento 3

Leitura em kohm descarregamento


3

Linear
(descarregamento
Figura 4. Calibração do mesmo sensor para leitura
3) realizada
com ohmímetro.

3.2 Estanqueidade e resistência mecânica

Buscando-se verificar a estanqueidade do corpo


do sensor, bem como a robustez do mesmo, o
equipamento foi submetido a uma carga
transversal de 10 kN eqüidistante dos apoios Figura 6. Resistência a salinidade: sensor imerso em solução
situados em suas extremidades. Durante o salina.
carregamento, o instrumento apresentava-se
imerso em um recipiente com água, não se 3.4 Efeito de temperatura e comprimento do
registrando ao final do ensaio qualquer cabo
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Foram realizadas calibrações, variando-se a Nesse ensaio também se monitorou


temperatura ambiente e o comprimento do cabo externamente o deslocamento cotejando as
elétrico do sensor (2,00 m e 40.00 m), não se medições com as leituras do mesmo e se
tendo registrado efeitos na curva de calibração, acompanhou as cargas necessárias à
apresentada no gráfico da Figura 7. mobilização dos deslocamentos. Os resultados
mostraram que o sistema é imediatamente
Teste de Efeito do Comprimento do Cabo mobilizado e não há efeito significativo da
excentricidade, sob um carregamento que não
Deslocamento em mm

6
5 foi possível ser mensurado (<10 N, gráfico da
4 Carregamento Fio Longo Figura 9).
3
Descarregamento Fio Longo
2
1 Carregamento Fio Curto CAR GA
0
0,0 0,5 1,0 Descarregamento Fio Curto DESLOCAMENTO
INTERNO
Leitura em kohm

DESLOCAMENTO
EXTER NO
Figura 7. Calibração do sensor para teste de efeito do
comprimento do cabo.

3.4 Efeito de excentricidade e inércia do


sensor

Para avaliação do efeito da excentricidade das


cargas e o atrito entre o êmbolo e a cápsula de Figura 9. Ensaio de carregamento longitudinal excêntrico ao
sensor.
proteção do sensor, efetuou-se um ensaio de
carregamento longitudinal excêntrico ao sensor
(Figura 8).
4 AVALIAÇÃO DA SISTEMÁTICA DE
FIXAÇÃO DO SENSOR AO MATERIAL
GEOSSINTÉTICO

4.1 Acoplamento utilizando resina epóxi

Num primeiro momento avaliou-se a


possibilidade de utilizar como sistema de
fixação, uma resina epóxi de grande capacidade
de aderência e de cura rápida (15 min). Para tal,
foram realizados testes de adesividade e de
reatividade ao meio salino.

4.1.1 Reatividade

Uma amostra da resina foi colocada em imersão


em solução salina, mesmo procedimento
descrito no teste de resistência a salinidade. Não
foram verificados quaisquer prejuízos no
material que se mostrou inerte à salinidade
Figura 8. Ensaio de carregamento longitudinal excêntrico ao (Figura 10).
sensor.
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Em função dos resultados observados nos ensaios


com a resina epóxi, concluiu-se ser mais
adequado um modelo puramente mecânico. Tal
sistema deveria ser de simples e rápida
implementação em campo, e que possibilitasse
precisa definição do comprimento correspondente
à medida de deformação. Adotou-se um sistema
constituído de um bastonete de borracha de 2 mm
de diâmetro, pressionado por arrebites entre as
barras de fixação (Figura 12).
Figura 10. Amostra de resina epóxi em meio salino. Foram realizados testes de reatividade e
adesividade similares aos anteriormente
4.1.2 Adesividade e fixação do sensor efetuados com a resina epóxi. As amostras de
arrebite (de aço inox) e dos bastonetes de
Foi realizado ensaio de tração em um sensor borracha foram imersas em solução salina e se
fixado ao geotêxtil através de resina epóxi, apresentaram inertes ao meio (Figuras 13 e 14).
como mostrado na Figura 11. Ao final do ensaio
verificou-se que a resina apresentava-se
trincada ao longo da área de fixação, alertando
para a não adequação deste processo de fixação.
Tal comportamento tem origem na elevada
rigidez da resina, incapaz de acompanhar as
deformações da grelha. Além desse aspecto
tem-se que a faixa de colagem não permitiu
com clareza a definição do comprimento da
zona envolvida na deformação, sendo este o
objeto de medida. Figura 12. Barra de fixação por arrebites e bastonete de
borracha.

Figura 13. Arrebite de aço inox em meio salino

Após a verificação da conformidade dos


materiais em meio salino, foram realizados
ensaio de tração no geossintético, o que
possibilitou a obtenção da curva tração (kN/m)
versus deformação (%), tendo sido observado o
Figura 11. Teste de tração com fixação por resina epóxi. bom desempenho da aderência do novo sistema
ao geossintético (Figura 15).
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Figura 14. Bastonete de borracha em meio salino

kN/m x def

180,000
160,000
Figura 16. Medidores de deformação instalados na
geossintético.
140,000
120,000
kN/m

100,000
80,000
60,000 y = 10391x - 8,1981
40,000 R2 = 0,9904
20,000
0,000
0,000 0,005 0,010 0,015 0,020

Figura 15. Resultados do ensaio de tração com sensor de


deformação fixado ao geossintético por arrebites.

Figura 17. Ferramenta para pré-esticamento do geossintético.


5 INSTALAÇÃO DOS MEDIDORES DE
DEFORMAÇÃO NO CAMPO De forma a garantir situação inicial similar
em todos os pontos de medida, desenvolveu-se
Os sensores foram testados em campo para uma sistemática de padronização de operação
monitoração das solicitações em aterro de pré-carga. O sistema incluía a aplicação de
reforçado em obra portuária (Figura 16). O total uma solicitação transversal conhecida e o
de 12 instrumentos foram instalados em ambos acompanhamento do abatimento vertical da
os sentidos longitudinal e transversal do grelha. Para tal, se utilizou um bastonete de
reforço. PVC preenchido com mercúrio metálico
Visando uma correspondência direta e linear (pesando 2,300 kg, indicado no centro da Figura
entre os deslocamentos medidos e as cargas 18). Adotando-se como padrão o abatimento de
atuantes nos reforços, desenvolveu-se um 2.mm do geossintético, medidos no topo superior
sistema (Figura 17) para promover, no trecho de do bastonete, tendo por ponto de referência a base
instalação do sensor, uma pré-carga do material. do esticador (Figura 18). Cálculos teóricos
Tal, visou eliminar os movimentos oriundos do indicaram uma correspondência de 1 kN/m na
não alinhamento inicial das fibras. pré-carga utilizando este procedimento.
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Concluída a instalação efetuaram-se as leituras


iniciais nos medidores.
Os resultados demonstraram o bom
funcionamento dos mesmos, todos os sensores
apresentaram leitura compatível com uma
condição normal de operação.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao suporte financeiro do


CNPQ e CAPES. Ao Laboratório de Geotecnia
da COPPE/UFRJ. Ao Programa de Engenharia
Figura 18. Sistema geral de pré-carga do geossintético para Civil da COPPE/UFRJ.
fixação dos medidores de deformação

Em campo, após a pré-carga o medidor de REFERÊNCIAS


deformação era então posicionado e fixado ao
reforço através de arrebites (Figura 19 e 20). Almeida, M. S. S., Ehrlich, M., Spotti, A.P. (2007).
Embankment supported on piles with biaxial geogrid.
Proceedings of the Institution of Civil Engineers.
Geotechnical Engeneering, v. 160, p.185-192.
Dieguez, C., Ehrlich, M. , Eleutério, J.O.S. (2018).
Physical Model of a Geosynthetic-Reinforced Pile-
Supported Embankment Systems (GRPS) under Work
Stress Conditions, 10th International Symposium on
Field Measurements in Geomechanics, Rio de
Janeiro, Brasil.
Habel, W.R., Krebber, K., (2011), Fiber-Optic Sensor
Applications in Civil and Geotechnical Engineering,
Photonic Sensors, p.275.
Hatami, K., and Bathurst, R. J. (2005). Development and
verification of a numerical model for the analysis of
geosynthetic reinforced-soil segmental walls, Can.
Geotech. J., v.42(4), p.1066–1085.
Figura 19. Posicionamento e fixação do medidor após pré- Mirmoradi, S.H., Ehrlich, M., Dieguez, C. (2016).
esticamento do geossintético. Evaluation of the combined effect of toe resistance and
facing inclination on the behavior of GRS walls,
Geotextiles and Geomembranes, v.44 (3), p. 287-294.
NBR ISO 10319:2013, Geossintético – Ensaio de tração
faixa larga, Associação Brasileira de Normas
Técnicas, Brasil.
NBR ISO 9862:2005, Geossintético – Amostragem e
preparação de corpos de prova para ensaios,
Associação Brasileira de Normas Técnicas, Brasil.
Nunes, A.L.L.S., Sayão, a. S.F.J.; Springer, F.O.; Lima,
A.P.; Saré, A.R.; Dias, P.H.V. (2006). Instrumentação
e Monitoramento de Taludes em Solo Grampeado, X
Congresso Nacional de Geotecnia de Portugal,
Lisboa. Sociedade Portuguesa de Geotecnia - SPG,
v.1. p. 175-186.

Figura 20. Proteção dos cabos e medidores após instalação.


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Durabilidade de Geotêxteis por Intemperismo Acelerado:


Influência dos Fatores de Degradação
Mag Geisielly Alves Guimarães
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, CEFET-MG, Varginha, Brasil,
mag@cefetmg.br

Thais Ribeiro Melki


Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, CEFET-MG, Varginha, Brasil,
thaismelki@gmail.com

Rodrigo Lucas da Silva Souza


Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, CEFET-MG, Varginha, Brasil,
rodrigo.lsouza97@gmail.com

Denise de Carvalho Urashima


Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, CEFET-MG, Varginha, Brasil,
urashima@cefetmg.br

RESUMO: Geossintéticos são materiais poliméricos em que ao menos um de seus componentes é


constituído de polímero sintético ou natural. Tais materiais têm sido empregados nas últimas
décadas em distintas aplicações de engenharia, o qual tem demandado o estudo da durabilidade
quando em contato com fatores do meio que possam culminar em sua degradação prematura. O
artigo apresenta uma análise do comportamento de durabilidade por intemperismo acelerado em
laboratório a partir da exposição de geotêxteis tecidos de polipropileno a diferentes ciclos
climáticos, de modo a ponderar a atuação dos elementos climáticos nos distintos mecanismos de
degradação. Os resultados apontaram em perdas de resistência mecânica principalmente nas
condições de ensaio com condensação. O presente trabalho almejou agregar informações aos
estudos de durabilidade por ação de fatores de intemperismo acelerado, considerando a real
existência de distintas condições climáticas em aplicações de campo de geotêxteis.

PALAVRAS-CHAVE: Geotêxtil, durabilidade, degradação acelerada, intemperismo.

1 INTRODUÇÃO quando expostos a meios degradantes (LOPES e


LOPES, 2010).
A durabilidade dos geossintéticos face aos A aplicação dos geossintéticos em distintas
agentes de degradação é um importante aspecto obras de engenharia melhoram a estabilidade e a
a ser considerado para a análise de sua vida de integridade em longo prazo de uma estrutura de
serviço e adequação ao projeto. Devido à solo, possuindo vantagens técnicas, ecológicas e
crescente utilização destes materiais em econômicas por necessitar de menor
situações de maior agressividade em obras manipulação e transporte de recursos naturais.
geotécnicas e de proteção ambiental, torna-se Com mais de 50 anos de utilização bem
relevante a avaliação da sua durabilidade sucedida, os geossintéticos estão bem
estabelecidos em muitas aplicações na
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Engenharia Civil. Atualmente, existe uma danos de instalação, carregamentos cíclicos e


grande variedade de materiais e produtos no fluência à tração a longo prazo
mercado, e o número de diferentes usos para (GREENWOOD, SCHROEDER e VOSKAMP,
eles cresce continuamente (GREENWOOD, 2012; GUIMARÃES et al., 2017; HSIEN,
SCHROEDER e VOSKAMP, 2012). WANG e CHIU, 2006; LAWSON, 2008;
Durante o seu tempo de serviço, os SARSBY, 2007; SHUKLA e YIN, 2006).
geossintéticos podem estar sujeitos à ação de Nos últimos anos, a análise da durabilidade
vários agentes de degradação físicos, químicos e dos geossintéticos tem sido reportada pela
biológicos. É um consenso na literatura que a comunidade científica, projetistas e fabricantes
exposição de materiais poliméricos a radiação como um importante aspecto a ser ponderado a
solar, principalmente a parcela referente ao estes materiais. O maior domínio sobre os
ultravioleta (UV), é uma das principais causas fatores que influenciam os processos de
de degradação destes materiais, sendo esta degradação, bem como o emprego de
situação agravada pela temperatura devido a ferramentas estatísticas para a ponderação da
radiação solar, presença de umidade, choque degradação são aspectos importantes para
térmico ocasionado por chuvas, e demais garantir aplicações de longo prazo com
elementos climáticos específicos do local de segurança e qualidade.
exposição, dando origem a cisões da cadeia Além disso, torna-se igualmente necessário
polimérica (KOERNER, HSUAN e conhecer o comportamento dos elementos
KOERNER, 1998; SHUKLA e YIN, 2006). climáticos do local em que os geossintéticos
A energia da radiação ultravioleta induz a serão empregados principalmente em situações
rupturas de ligações químicas em materiais de exposição prolongadas. No caso do Brasil,
poliméricos, com ocorrência de reações foi publicado no ano de 2001, com uma última
oxidativas autocatalíticas denominadas de publicação em 2017, um Atlas Brasileiro de
fotodegradação (ou foto-oxidação), que são Energia Solar (PEREIRA et al., 2017), que
caracterizadas por quebras de ligações contém um levantamento da distribuição da
covalentes, na cadeia principal ou lateral, energia solar no território brasileiro a partir de
originando espécies altamente reativas dados climatológicos coletados durante 10 anos.
denominadas de radicais livres (DE PAOLI, A partir desta publicação, é possível verificar a
2008; SUITS e HSUAN, 2003). presença de macrorregiões que apresentam
Uma exposição prolongada a esses radiação solar global (kWh/m2) semelhantes e
mecanismos de degradação pode resultar em outras regiões com radiação solar global com
impactos negativos nas propriedades dos níveis inferiores e superiores à média anual.
geossintéticos, tendo potencial de reduzir Portanto, o levantamento da radiação solar
consideravelmente a sua vida de serviço global incidente no local onde os geossintéticos
(CARNEIRO, 2009). Cita-se, por exemplo, a serão aplicados de forma exposta deve fazer
aplicação de geotêxteis em obras costeiras, tais parte do escopo do estudo de durabilidade as
como proteção de margens e quebra-mar, a intempéries de campo.
construção de ilhas artificiais sendo estes Nesta temática, o artigo apresenta uma
estruturas de proteção, bem como o seu uso em análise do comportamento de durabilidade por
sistemas fechados para aplicações de intemperismo acelerado em laboratório a partir
desaguamento e confinamento de resíduos e da exposição de geotêxteis a diferentes ciclos
rejeitos produzidos em diversos processos climáticos, de modo a ponderar a atuação dos
industriais. Nestas aplicações, os geotêxteis são elementos climáticos nos distintos mecanismos
suscetíveis a degradação por elementos de degradação.
ambientais (principalmente radiação
ultravioleta), degradação química e efeitos por
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2 MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Geotêxteis utilizados

Para o desenvolvimento da pesquisa, foi


utilizado dois geotêxteis tecidos de laminetes
com matriz polimérica de polipropileno, os
quais serão reportados como GT1 e GT2. A
Tabela 1 sumariza os parâmetros de
caracterização física e mecânica destes
geotêxteis. Figura 1. Câmara de intemperismo acelerado.

Tabela 1. Caracterização dos geotêxteis ensaiados. A câmara de envelhecimento utilizada


Propriedades GT1(4) GT2(4) possui compartimentos para exposição dos
Massa por unidade 273 g/m 2
270 g/m2 corpos-de-prova, quatro lâmpadas UVA 340nm
(1)
área (1,3%) (0,9%) para simulação da radiação ultravioleta, bicos
Espessura 0,96 mm 0,86 mm aspersores para o ciclo de spray de água, bem
nominal(2) (4,8%) (2,3%)
Resistência à tração 58,6 kN/m 57,5 kN/m
como sistema de aquecimento de água para
nominal(3) (2,2%) (2,7%) simulação de condensação (Figura 2).
Observações: (1)NBR ISO 9864 (2013), (2)NBR ISO
(3)
9863-1 (2013), ASTM D5035 (2011), (4)Entre
parêntesis os respectivos coeficientes de variação.

Ressalta-se que a caracterização mecânica


por resistência à tração nominal foi realizada a
partir da norma ASTM D 5035 (2011), que
preconiza ensaios com corpos-de-prova de
geotêxteis com largura de 50 mm, distância
entre garras de 75 mm e velocidade de
tracionamento de 300 mm/min. A escolha de Figura 2. Detalhes da câmara de intemperismo acelerado.
ensaios de resistência à tração por faixa estreita
foi tomada, bem como a opção pela norma Para a realização dos ensaios, os corpos-de-
ASTM D 5035 (2011), em função das prova foram cortados com dimensão de 350mm
dimensões do suporte de amostras da câmara de x 70mm e colocados dobrados, dois a dois, em
intemperismo acelerado, que comportam suportes (Figura 3).
corpos-de-prova com dimensões máximas de 75
mm x 150 mm.

2.2 Ensaios de intemperismo acelerado

Os geotêxteis foram submetidos a ensaios de


intemperismo acelerado em laboratório, sendo
expostos a ciclos de Radiação UVA, chuva e
condensação. Para a simulação desses
mecanismos de degradação foi utilizado uma
câmara de intemperismo acelerado apresentada Figura 3. Fixação dos corpos-de-prova nos suportes para
na Figura 1. ensaios de intemperismo acelerado.
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Os geotêxteis foram submetidos a dois


diferentes condições de envelhecimento,
denominados tratamentos, sendo eles
adaptações da norma EN 12224 (2000)
conforme detalhes indicados na Tabela 2.

Tabela 2. Tratamentos utilizados na degradação dos


geotêxteis.
Número
Tratamentos Normas repetições de
ciclos Figura 4. Radiômetro utilizado para controle da
1º EN 12224 (2000) 72 irradiância.
EN 12224 (2000) +
2º condensação (ASTM 72 Após a exposição aos fatores de degradação
G 154, 2016) simulados em laboratório, os corpos-de-prova
foram submetidos ao ensaio de tração por faixa
Conforme é mostrado na Tabela 2, cada ciclo estreita de acordo com a norma ASTM D 5035
foi repetido 72 vezes, de modo que ao fim dos (2011), seguindo os mesmos procedimentos
dois primeiros tratamentos foram obtidos 50 adotados na caracterização mecânica.
MJ/m² para intensidade total de radiação UV,
equivalente a um mês de exposição no sul da 2.3 Análise estatística dos resultados
Europa, conforme exposto na norma ISO TS
13434 (2008). A Tabela 3 detalha as condições Os dados obtidos nos ensaios foram submetidos
de degradação por intemperismo. a um tratamento estatístico por intervalos de
confiança de 95% pela distribuição t de Student.
Tabela 3. Condições de degradação por intemperismo Esta distribuição estatística foi adotada, uma
acelerado.
vez que os materiais em estudo se comportam
segundo uma distribuição Normal. Além disso,
Condensação
Tratamento

Irradiância

Tempo do
Radiação

por não se conhecer o desvio padrão


UVA /

Chuva

ciclo

populacional e por se trabalhar com


amostragens n < 30 (TRIOLA, 2008).
5hs (50°C) 1h
1º(1) --- 6h 00min
0,76 W/m² (25°C)
5hs (50°C) 1h 1h 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
2º(2) 7h 00min
0,76 W/m² (25°C) (50°C)
Observações: (1)Seguiu-se as condições da norma EN A Tabela 4 apresenta uma sumarização dos
12224 (2000), que especifica irradiância de 0,76 W/m² a resultados de resistência à tração retida, bem
50ºC e incidência total de 50 MJ/m2 (Tabela 2), e choque
como dos percentuais de perdas de resistência.
térmico com spray de água a 25ºC durante 1 hora;
(2)
Incorporação de 1 hora do evento de condensação a Analisando a Tabela 4 foi possível
50ºC na condição do 1º Tratamento. Na norma ASTM G constatar que todas as condições de
154 (2016) apresentam-se propostas de ciclos de envelhecimento geraram perdas de resistência
intemperismo acelerado contendo o evento da nos geotêxteis GT1 e GT2, sendo que as
condensação a temperatura de 50ºC. Para efeitos desta
maiores ocorreram com os tratamentos que
pesquisa, adotou-se tempo de condensação de 1h.
contemplaram o ciclo de condensação. Para o
O valor da irradiância de 0,76 W/m2 ou GT1, obteve-se perda de 3,2% e o GT2 com
0,076 mW/cm2 foi controlado com o auxílio de perda total de 8,2%.
um radiômetro (Figura 4). Para uma melhor inferência a respeito dos
resultados, a Figura 5 apresenta os resultados
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tratados em termos de intervalos de confiança, Deste modo, afirma-se com nível de


considerando um nível de confiança de 95%. confiança de 95% que os geotêxteis GT1 e GT2
sofreram degradação em função da exposição
Tabela 4. Resultados de resistência à tração dos por exposição a intemperismo acelerado, com a
geotêxteis após ciclos de intemperismo acelerado. atuação da condensação.
Resistência
Perda
à tração
Geotêxtil Tratamento resistência
retida
mecânica (%)*
(kN/m)* 4 COMENTÁRIOS FINAIS
57,5
01 1,9
(3,8%) Com a análise dos dados obtidos, foi possível
GT1
56,7
02 3,2 verificar a perda de resistência dos geotêxteis
(2,1%)
GT2 56,5 pela exposição aos agentes de degradação
01 1,7 considerados. Tanto para o GT1 quanto GT2, a
(4,0%)
02
52,8
8,2
maior perda de resistência ocorreu no
(4,6%) tratamento em que o material foi exposto a
Observação: *Entre parêntesis os respectivos coeficientes condensação, de modo mais evidente para o
de variação.
GT2.
Esta pesquisa preliminar evidenciou a
necessidade de se ponderar acerca de cada
produto para uma certa condição de exposição,
que tende a se aproximar ao máximo das
condições de campo os quais estarão
submetidos. Além disso, mesmo para ensaios
do 1º Tratamento, que considera a condição
(a) Intervalos de confiança – GT1
básica da norma EN 12224 (2000), que
corresponde a exposição total de 50MJ/m2 com
intercalações de choques térmicos com spray de
água, evidencia-se a importância do correto
armazenamento dos geossintéticos na fábrica e
em campo preliminarmente a sua utilização,
(b) Intervalos de confiança – GT2 bem como da necessidade de se cobrir tais
Figura 5. Tratamento estatístico dos resultados por materiais em aplicações nos quais não forem
intervalos de confiança. especificados para uso exposto ao
intemperismo.
O geotêxtil GT1 apresenta intervalo de Assim sendo, ressalta-se a importância de
confiança correspondente ao material intacto se respeitar os prazos estabelecidos pela norma
entre 57,7 < 58,6 < 59,5 kN/m. Para o GT2, ISO TS 13434 (2008) para tempos máximos de
obteve-se 56,4 < 57,5 < 58,5 kN/m. Tomando exposição após a instalação em função do
os intervalos supracitados, verificam-se a percentual de perda de resistência e da sua
ocorrência de deslocamentos das faixa de aplicação o qual foi especificado,
intervalos correspondentes aos ensaios de principalmente se a resistência ao longo prazo
intemperismo acelerado à esquerda das faixas for a propriedade mais relevante. Contudo, tais
dos respectivos intervalos intactos. Este prazos máximos também deverão ser
comportamento foi mais acentuado para os considerados a partir do estabelecimento da data
tratamentos que incluiram o efeito da de início da instalação em campo, uma vez que
condensação (1 h à temperatura de 50ºC). em cada época do ano ocorre oscilações das
incidências de radiação solar, ou seja, do
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ultravioleta, bem como da temperatura de Carneiro, J.R.C. (2009). Durabilidade de Materiais


exposição, de maiores índices de precipitação e Geossintéticos em Estruturas de Carácter Ambiental -
A Importância da Incorporação de Aditivos
efeitos de condensação e orvalho distintos. Químicos. Tese de Doutorado, Universidade do Porto,
O presente trabalho foi promissor no Portugal, 602p.
sentido de agregar informações aos estudos de De Paoli, M.A. (2008). Degradação e Estabilização de
durabilidade por ação de fatores de Polímeros. Chemkeys: Editado por João Carlos de
intemperismo acelerado, considerando a real Andrade. 2º versão on-line (revisada), 228 p.
European Standard. EN 12224: Geotextiles and
existência de distintas condições climáticas em geotextile-related products – Determination of the
aplicações de campo de geotêxteis. resistance to weathering. European Committee for
Por último, reitera-se a importância da Standardization. Brussels, 2000.
continuidade desta pesquisa, com o intuito de Greenwood, J.H., Schroeder, H.F. e Voskamp, W.
melhor compreender o comportamento de tais (2012). Durability of Geosynthetics. CUR committee
C 187– Building & Infrastructure, 295 pages.
materiais considerando maiores níveis de Guimarães, M.G.A., Vidal, D.M., Urashima, D.C.,
radiação UV para análise da influência deste Castro, C.A.C. (2017). Degradation of polypropylene
agente no envelhecimento do material, bem woven geotextile: tensile creep and weathering,
como o estudo de outras matrizes poliméricas, Geosynthetics International, Vol. 24, Issue 2, p. 213-
visto que cada polímero se comporta de maneira 223.
Hsieh, C., Wang, J.B.; Chiu, Y. F. (2006) Weathering
diferente. properties of geotextiles in ocean environments,
Geosynthetics International, Vol. 13, p. 210-217.
International Organization for Standardization. ISO TS
AGRADECIMENTOS 13434: Geosynthetics - Guidelines for the assessment
of durability, Switzerland, 2008, 52p.
Koerner, G.R., Hsuan, G.; Koerner, R.M. (1998). Photo-
Os autores agradecem ao Centro Federal de Initiated Degradation of Geotextiles, Journal of
Educação Tecnológica de Minas Gerais Geotechnical and Geoenvironmental Engineering.
(CEFET-MG) e a Fundação de Amparo à December, p. 1159-1166.
Pesquisa do Estado de Minas Gerais Lawson, C.R. (2008). Geotextile containment for
hydraulic and environmental engineering,
(FAPEMIG) pelo apoio financeiro. A Huesker
Geosynthetics International, Vol. 15, p. 384-427,
pelo apoio e fornecimento do geotêxtil para a 2008.
realização dos ensaios. Lopes, M.P. e Lopes, M.L. (2017). A Durabilidade dos
Geossintéticos, FEUP Edições, Porto, 294 p.
Pereira et al. (2017). Atlas brasileiro de energia solar. 2º
Edição, São José dos Campos: INPE, 88p.
REFERÊNCIAS
Sarsby, R. W. (Edited by), (2007). Geosynthetics in Civil
Engineering, The Textile Institute, Woodhead
ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR Publishing Limited, Cambridge, 308 p.
ISO 9864 (2013): Geossintéticos – Método de ensaio Shukla, S.K., Yin, J.H. (2006). Fundamentals of
para determinação da massa por unidade de área de Geosynthetic Engineering, Taylor & Francis Group,
geotêxteis e produtos correlatos. Rio de Janeiro. London, 428 p.
ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR Suits, L.D, Hsuan, Y.G. (2003). Assessing the photo-
ISO 9863-1 (2013): Geossintéticos — Determinação degradation of geosynthetics by outdoor exposure and
da espessura a pressões especificadas. Parte 1: laboratory weatherometer, Geotextile and
Camada única. Rio de Janeiro. Geomembranes, Vol. 21, p. 111-122.
ASTM: American Society for Testing and Materials. Triola, M.F. (2008). Introdução à Estatística. 10º edição.
ASTM D 5035 (2011): Standard Test Method for Rio de Janeiro: LTC.
Breaking Force and Elongation of Textile Fabrics
(Strip Method). ASTM International. Pennsylvania.
ASTM: American Society for Testing and Materials.
ASTM G 154 (2016): Standard Practice for Operating
Fluorescent Light Apparatus for UV Exposure of
Nonmetallic Materials. ASTM International,
Pennsylvania.
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Efeito de Substâncias Ácidas e Alcalinas e Catiões Metálicos na


Resistência à Termo-Oxidação de um Geotêxtil de Polipropileno
José Ricardo Carneiro
Construct-Geo, FEUP, Porto, Portugal, rcarneir@fe.up.pt

Paulo Joaquim Almeida


Requimte, FCUP, Porto, Portugal, pjalmeid@fc.up.pt

Maria de Lurdes Lopes


Construct-Geo, FEUP, Porto, Portugal, lcosta@fe.up.pt

RESUMO: A durabilidade (resistência à degradação) é um tema muito relevante na investigação


sobre geossintéticos. Neste trabalho, foram estudadas algumas interações entre dois tipos de agentes
de degradação dos geossintéticos: a ação de líquidos (água e soluções aquosas de ácido sulfúrico,
ácido nítrico, hidróxido de sódio, nitrato de ferro e nitrato de níquel) e a termo-oxidação. Para tal,
numa primeira fase, um geotêxtil de polipropileno foi exposto de forma isolada (exposição única) à
ação dos líquidos e à termo-oxidação (método do forno). Dessa forma, foi avaliado o efeito isolado
de cada um desses agentes. Em seguida, o geotêxtil foi exposto sucessivamente a dois agentes de
degradação (combinação da ação de líquidos e termo-oxidação), procurando-se avaliar a existência
de interações entre eles. Os danos sofridos pelo geotêxtil (nos vários ensaios de degradação) foram
avaliados através da monitorização do seu comportamento à tração.

PALAVRAS-CHAVE: Geossintéticos, Geotêxteis, Durabilidade, Termo-oxidação, Resistência a


Líquidos, Interações.

1 INTRODUÇÃO durante um longo período de tempo (dezenas de


anos). Não sendo conhecidas as propriedades a
Os geossintéticos são materiais poliméricos que longo prazo dos materiais, é necessário prever a
podem ser utilizados para a construção de várias degradação que irão sofrer ao longo do tempo.
estruturas de Engenharia Civil, como aterros de Essas previsões são normalmente baseadas em
resíduos, estradas, ferrovias, túneis ou estruturas ensaios laboratoriais, onde os geossintéticos são
hidráulicas. A durabilidade é um tema relevante expostos (muito frequentemente sob condições
na investigação sobre geossintéticos. De facto, de degradação aceleradas) a vários agentes de
nas suas mais variadas aplicações, estes podem degradação.
estar expostos a agentes de degradação capazes De modo a ter em conta a degradação que os
de afetar negativamente o seu desempenho. Os geossintéticos sofrem ao longo do tempo, são
agentes/tipos de degradação mais comuns dos normalmente usados coeficientes de segurança
geossintéticos incluem a danificação durante o na fase de dimensionamento. Cada coeficiente
processo de instalação, a fluência, a ação das de segurança pretende representar uma redução
espécies químicas existentes no solo, a oxidação de resistência devido à ação de um, ou mais,
(induzida pela temperatura ou pela radiação agentes/tipos de degradação. Por exemplo, para
ultravioleta) ou a ação dos agentes climatéricos. aplicações de reforço, a resistência à tração (T)
Em muitas aplicações, os geossintéticos têm dos geossintéticos é frequentemente afetada por
de desempenhar corretamente as suas funções vários coeficientes de segurança representativos
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dos efeitos do processo de instalação (RFID), 2 DESCRIÇÃO EXPERIMENTAL


fluência (RFC), envelhecimento climatérico
(RFW), agentes químicos e biológicos (RFQB) e 2.1 Geotêxtil
ainda um fator de segurança extra (fS) (Equação
1) (ISO/TR 20432; Carlos et al., 2015). O uso Foi estudado um geotêxtil não-tecido agulhado
da Equação 1 permite determinar a resistência à de PP com 0,2% (percentagem em massa) de
tração de projeto (TD). Chimassorb 944 (C944) na sua composição. O
C944 é um estabilizante ultravioleta pertencente
T à família das HALS (do inglês, hindered amine
TD = (1)
RFID x RFC x RFW x RFCB x f S light stabilisers). As principais características
do geotêxtil estão resumidas na Tabela 1 (onde,
Os estudos existentes acerca da durabilidade μA – massa por unidade de área, t – espessura, T
dos geossintéticos consideram, na sua maioria, a – resistência à tração e EFM – extensão na força
ação isolada dos vários agentes de degradação, máxima).
não contemplando as possíveis interações que
Tabela 1. Principais características do geotêxtil (amostras
podem ocorrer entre eles. Da mesma forma, nos intactas).
métodos de dimensionamento atuais e normas Composição 99,8% PP + 0,2% C944 (m/m)
para avaliar a durabilidade dos geossintéticos, o μA * (g.m-2) 272 (± 15)
efeito dos diferentes agentes de degradação é t ** (mm) 3,16 (± 0,10)
também considerado em separado. Contudo, a T *** (kN/m) 13,12 (±0,55)
EFM *** (%) 112,5 (±4,3)
ação conjunta de vários agentes de degradação (intervalos de confiança de 95% entre parêntesis)
(o que ocorre em situações reais) pode ser muito *EN ISO 9864.
diferente do somatório dos efeitos individuais **EN ISO 9863-1.
de cada um dos agentes (Carneiro et al., 2014). ***EN ISO 10319 (direção de fabrico).
Deste modo, o estudo das interações que podem
ocorrer entre os agentes de degradação permitirá O processo de amostragem (para os ensaios
obter uma melhor previsão do comportamento a de caracterização e de degradação) foi realizado
longo prazo dos geossintéticos. segundo as indicações da norma EN ISO 9862.
Este trabalho estuda algumas interações que Os provetes (preparados na direção de fabrico)
podem ocorrer entre dois agentes de degradação foram recolhidos de posições dispersas por toda
de um geotêxtil de polipropileno (PP): a ação de a largura da amostra (fornecida sob a forma de
líquidos (água, substâncias ácidas e alcalinas e rolo), excluindo os bordos laterais (pelo menos,
soluções de nitrato de ferro e nitrato de níquel) 100 mm de cada lado do rolo foram rejeitados).
e a termo-oxidação. Os principais objetivos do Os provetes para um mesmo ensaio (para cada
trabalho incluíram: (1) determinação do efeito ensaio foram testados, pelo menos, 5 provetes)
dos agentes de degradação no comportamento à foram recolhidos em diferentes locais do rolo
tração do geotêxtil, (2) avaliação da influência (cortados em diagonais, abrangendo diferentes
da imersão prévia em líquidos na resistência do zonas na largura e no comprimento do rolo).
geotêxtil à termo-oxidação, (3) identificação de
interações entre os dois agentes de degradação e 2.2 Ensaios de Degradação
(4) comparação dos coeficientes de segurança
calculados pela metodologia tradicional para o Numa primeira fase do trabalho, o geotêxtil foi
efeito combinado dos agentes de degradação exposto isoladamente (exposição única) à ação
(determinação dos coeficientes de segurança em de vários líquidos (água e soluções aquosas de
separado para cada agente de degradação e ácido sulfúrico, ácido nítrico, hidróxido de
posterior multiplicação) com os obtidos através sódio, nitrato de ferro e nitrato de níquel) e à
da exposição sucessiva a esses mesmos agentes. termo-oxidação (TO) (descrição dos ensaios nos
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pontos seguintes). Em seguida, o geotêxtil foi imersão) e foram secas à temperatura ambiente
exposto sucessivamente à ação de líquidos e à e ao abrigo da luz. Os subsequentes ensaios de
termo-oxidação (exposição múltipla). A Tabela termo-oxidação foram realizados imediatamente
2 resume os ensaios de degradação realizados. após o processo de secagem.

Tabela 2. Ensaios de degradação realizados. 2.2.2 Ensaios de Termo-oxidação


Exposição única Exposição múltipla
H 2O H2O + TO
Os ensaios de termo-oxidação foram realizados
H2SO4 H2SO4 + TO
HNO3 HNO3 + TO num forno (marca Heraeus Instruments, modelo
NaOH NaOH + TO T6120) e consistiram na exposição do geotêxtil
Fe(NO3)3.9H2O Fe(NO3)3.9H2O + TO a 110 ºC numa atmosfera normal de oxigénio
Ni(NO3)2.6H2O Ni(NO3)2.6H2O + TO (21% de O2) sem circulação forçada de ar. O
TO
período de exposição foi de 14 dias (método A1
da norma EN ISO 13438).
2.2.1 Ensaios de Imersão em Líquidos
2.3 Avaliação dos Danos
O geotêxtil foi imerso à temperatura ambiente
(cerca de 20 ºC), e na ausência de luz, em água Os danos ocorridos no geotêxtil (causados pelos
desionizada (H2O) e em soluções aquosas de ensaios de degradação) foram avaliados através
ácido sulfúrico (H2SO4), ácido nítrico (HNO3), de ensaios de tração de acordo com a norma EN
hidróxido de sódio (NaOH), nitrato de ferro (III) ISO 10319. As condições dos ensaios de tração
(Fe(NO3)3.9H2O) e nitrato de níquel (II) estão resumidas na Tabela 4.
(Ni(NO3)2.6H2O) (para simplificação de escrita,
os estados de oxidação dos catiões metálicos Tabela 4. Condições experimentais dos ensaios de tração.
serão omitidos no texto). A Tabela 3 resume as Largura dos provetes 200 mm
condições em que foram realizados os ensaios Comprimento dos provetes* 100 mm
de imersão. Número mínimo de provetes 5
Velocidade de ensaio 20 mm/min
*comprimento entre garras.
Tabela 3. Condições dos ensaios de imersão.
Ensaio Concentração Duração
H2O pH 7 150 dias Os parâmetros mecânicos determinados nos
H2SO4 0,1 mol/L (pH 1) 150 dias ensaios de tração (valores na direção de fabrico)
HNO3 0,01 mol/L (pH 2) 100 dias incluíram a resistência à tração (T, em kN/m) e
NaOH 0,1 mol/L (pH 13) 150 dias a extensão na força máxima (EFM, em %). Os
Fe(NO3)3.9H2O 10 g/L (pH 2)* 100 dias
Ni(NO3)2.6H2O 10 g/L (pH 2)* 100 dias resultados (valores médios de, pelo menos, 5
*pH ajustado para pH 2 pela adição de ácido nítrico. provetes) serão apresentados com intervalos de
confiança de acordo com Montgomery e Runger
As condições utilizadas na imersão em ácido (2010). Os resultados obtidos para a resistência
nítrico (pH 2) deveram-se ao facto deste ácido à tração serão também apresentados em termos
ter sido usado para acidular as soluções dos sais de resistência à tração residual (TResidual, em %),
de nitrato (na ausência de acidulação, poderia determinada pelo quociente entre a resistência à
ocorrer a formação de hidróxidos de ferro e de tração das amostras danificadas (TDanificado) pela
níquel). Por isso, foi necessário avaliar o efeito resistência à tração da amostra de referência
(se algum) do ácido nítrico. (não danificada) (TReferência) (Equação 2).
As amostras imersas em líquidos que foram
depois expostas à termo-oxidação (exposição TDanificado
TResidual = x 100 (2)
múltipla) não foram lavadas (de modo a ficarem TReferência
contaminadas com os restos das soluções de
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2.4 Coeficientes de Segurança A extensão na força máxima também não sofreu


alterações muito relevantes.
Foram determinados coeficientes de segurança
(RF) com base nas alterações provocadas pelos Tabela 5. Propriedades de tração do geotêxtil antes e após
ensaios de degradação na resistência à tração do os ensaios de degradação (exposição única).
T EFM TResidual
geotêxtil (Equação 3). Exposição única
(kN/m) (%) (%)
H2O 13,06 125,6 99,5
TReferência (±1,44) (±10,3)
RF = (3) H2SO4 13,10 110,4 99,8
TDanificado
(±1,60) (±14,3)
HNO3 13,39 123,3 102,1
Os coeficientes de segurança calculados pela (±0,87) (±13,9)
metodologia tradicional para o efeito conjunto NaOH 13,74 122,6 104,7
(±1,71) (±12,0)
da imersão num líquido e da termo-oxidação
Fe(NO3)3.9H2O 13,21 113,1 100,7
(RFL+TO TRAD) foram obtidos multiplicando os (±1,13) (±8,9)
coeficientes de segurança obtidos isoladamente Ni(NO3)2.6H2O 13,13 113,4 100,1
para cada agente de degradação (RFL e RFTO, (±0,82) (±7,8)
respetivamente) (Equação 4). TO 12,93 86,5 98,6
(±0,68) (±7,3)
(intervalos de confiança de 95% entre parêntesis)
RFLTO Trad = RFL x RFTO (4)
Tal como os ensaios de imersão, o ensaio de
Os coeficientes de segurança apresentados no termo-oxidação de acordo com o método A1 da
presente trabalho são relativos a condições de norma EN ISO 13438 (exposição à temperatura
degradação muito particulares e não podem ser de 110 ºC durante 14 dias) também não causou
generalizados, nem aplicados diretamente no alterações muito pronunciadas na resistência à
dimensionamento. Os coeficientes de segurança tração do geotêxtil (resistência à tração residual
a usar no dimensionamento devem ser sempre de 98,6%). Contudo, provocou uma redução na
analisados caso a caso, tendo em consideração extensão na força máxima (redução de 112,5%
as condições específicas de cada obra. para 86,5%).
Por fim, é importante referir que a presença
do aditivo C944 resultou num grande aumento
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO da resistência do geotêxtil à termo-oxidação. De
facto, na ausência do aditivo, o material estaria
3.1 Exposição Única totalmente destruído após 9 dias de exposição a
110 ºC (Carneiro, 2009).
As imersões em nitrato de ferro e em nitrato de
níquel induziram alterações na cor do geotêxtil. 3.2 Exposição Múltipla
De facto, o material (cor branca) ficou com tons
amarelos e verdes após as imersões em nitrato Os provetes imersos em ácido sulfúrico ficaram
de ferro e nitrato de níquel, respetivamente. Por com uma coloração castanha durante os ensaios
sua vez, as imersões em água, ácido sulfúrico, de termo-oxidação (Figura 1). Para além desta
ácido nítrico e hidróxido de sódio não causaram alteração de cor, os provetes não apresentavam
alterações na cor do geotêxtil. outras alterações visíveis. Por sua vez, a cor dos
De um modo geral, os ensaios de imersão em provetes imersos em água, em ácido nítrico e
líquidos não provocaram grandes alterações na em hidróxido de sódio não possuía alterações
resistência à tração do geotêxtil (resistências à relevantes após os ensaios de termo-oxidação.
tração residuais próximas de 100%) (Tabela 5). A cor dos provetes imersos em nitrato de ferro
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(tons amarelos) e nitrato de níquel (tons verdes) facto, os provetes imersos em ácido sulfúrico
também não sofreu alterações relevantes depois apresentavam uma resistência à tração residual
dos ensaios de termo-oxidação. de 87,9% depois do ensaio de termo-oxidação.
Desta forma, dois agentes que individualmente
não induziram danos significativos (resistências
à tração residuais próximas de 100%), causaram
em conjunto alguns danos no geotêxtil.
A redução da resistência à termo-oxidação
depois da imersão em ácido sulfúrico poderá ter
duas explicações possíveis: (1) a ocorrência de
perdas e/ou consumo do aditivo C944 durante a
imersão em ácido sulfúrico, ficando o geotêxtil
Figura 1. Cor do geotêxtil imerso em ácido sulfúrico menos protegido contra a termo-oxidação e (2)
antes (à esquerda) e depois do ensaio de termo-oxidação os restos de ácido sulfúrico funcionaram como
(à direita). catalisadores do processo de termo-oxidação (os
provetes não foram lavados depois do ensaio de
Os valores obtidos para a resistência à tração, imersão de modo a ficarem contaminados com
extensão na força máxima e resistência à tração restos de ácido sulfúrico).
residual do geotêxtil após as várias exposições A exposição múltipla a hidróxido de sódio e
múltiplas a líquidos e à termo-oxidação podem à termo-oxidação também causou uma redução
ser encontrados na Tabela 6. na resistência à tração do geotêxtil (resistência à
tração residual de 94,0%). No entanto, e tendo
Tabela 6. Propriedades de tração do geotêxtil antes e após
os ensaios de degradação (exposição múltipla).
em conta os intervalos de confiança de 95%, é
T EFM TResidual difícil determinar se esta pequena diminuição se
Exposição múltipla deve à existência de algum efeito do hidróxido
(kN/m) (%) (%)
H2O + TO 13,09 88,9 99,8 de sódio no processo de termo-oxidação ou se
(±1,40) (±8,6) reflete apenas a heterogeneidade característica
H2SO4 + TO 11,53 80,3 87,9 dos geotêxteis não-tecidos (a heterogeneidade
(±0,91) (±5,7)
HNO3 + TO 13,13 94,4 100,1 pode ser responsável por pequenas variações em
(±2,28) (±11,5) propriedades determinadas em repetições de um
NaOH + TO 12,33 88,7 94,0 ensaio de caracterização). Embora inconclusivo
(±0,93) (±5,2) nas condições experimentais usadas no presente
Fe(NO3)3.9H2O + TO 5,19 44,6 39,6 trabalho, a existência de um efeito do hidróxido
(±0,97) (±4,1)
Ni(NO3)2.6H2O + TO 4,82 43,9 36,7 de sódio no processo de termo-oxidação foi
(±0,66) (±4,5) identificada, noutras condições experimentais,
(intervalos de confiança de 95% entre parêntesis) por Carneiro et al., 2014.
Ao contrário da imersão em ácido sulfúrico,
As propriedades de tração após os ensaios de a imersão em ácido nítrico (menor concentração
termo-oxidação eram idênticas para os provetes molar, menor duração da imersão) não originou
imersos em água (exposição múltipla) e para os alterações relevantes na resistência do geotêxtil
provetes sem imersão (exposição única à termo- à termo-oxidação. De facto, os provetes imersos
oxidação). Assim, a imersão em água (durante em ácido nítrico apresentavam uma resistência à
150 dias a ≈ 20 ºC) não causou uma diminuição tração residual de 100,1% depois dos ensaios de
da resistência do geotêxtil a termo-oxidação. termo-oxidação.
Ao contrário da imersão em água, a imersão As imersões em nitrato de ferro e em nitrato
em ácido sulfúrico originou uma ligeira redução de níquel provocaram uma grande diminuição
da resistência do geotêxtil à termo-oxidação. De da resistência do geotêxtil à termo-oxidação. De
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facto, após as exposições múltiplas a (1) nitrato (3) imersão em ácido nítrico e termo-oxidação
de ferro e termo-oxidação e (2) nitrato de níquel e, por fim, (4) imersão em hidróxido de sódio e
e termo-oxidação, a resistência à tração residual termo-oxidação não foram muito diferentes dos
do geotêxtil era de, respetivamente, 39,6% e de encontrados nas exposições sucessivas aos dois
36,7% (reduções idênticas em ambos os casos). agentes de degradação (Tabela 7). A diferença
Tal como a resistência à tração, a extensão na mais relevante ocorreu na exposição sucessiva a
força máxima também sofreu grandes reduções ácido sulfúrico e à termo-oxidação (coeficientes
depois das exposições sucessivas às soluções de de segurança de, respetivamente, 1,01 e de 1,14
catiões metálicos e à termo-oxidação (mais uma pelo método tradicional e na exposição múltipla
vez, diminuições idênticas em ambos os casos). aos agentes de degradação). Esta diferença pode
A diminuição da resistência do geotêxtil à ser explicada pela ocorrência de uma interação
termo-oxidação depois das imersões em nitrato (não muito pronunciada) entre os dois agentes
de ferro e nitrato de níquel poderá ser explicada de degradação.
pelas ações catalisadoras dos catiões metálicos
no processo oxidativo (o efeito do catião ferro Tabela 7. Coeficientes de segurança obtidos para o efeito
foi também relatado em Carneiro et al., 2014). combinado da imersão em líquidos e termo-oxidação pelo
método tradicional (RFL+TO Trad) e na exposição sucessiva
Outra explicação possível seria a ocorrência de aos agentes de degradação (RFL+TO).
perdas relevantes do aditivo C944 (por difusão Exposição múltipla RFL+TO RFL+TO Trad
ou lixiviação) durante as imersões em nitrato de H2O + TO 1,00 1,01
ferro ou nitrato de níquel (desprotegendo assim H2SO4 + TO 1,14 1,01
o geotêxtil contra a termo-oxidação). Contudo, HNO3 + TO 1,00 1,01
NaOH + TO 1,06 1,01
essa hipótese não é provável, pois não existem
Fe(NO3)3.9H2O + TO 2,53 1,01
indícios de que a imersão em ácido nítrico tenha Ni(NO3)2.6H2O + TO 2,72 1,01
induzido perdas relevantes de C944 (a imersão
em ácido nítrico não originou uma diminuição Os coeficientes de segurança encontrados nas
da resistência à termo-oxidação) e não existem exposições sucessivas a nitrato de ferro e termo-
motivos para presumir que a presença adicional oxidação e a nitrato de níquel e termo-oxidação
dos catiões ferro ou níquel possa ter originado a foram muito superiores aos determinados pela
perda do aditivo (com exceção da presença dos metodologia tradicional para o efeito conjunto
catiões metálicos, as soluções de ácido nítrico e dos dois agentes de degradação. Por exemplo, o
de sais de nitrato eram idênticas). coeficiente de segurança obtido na exposição
múltipla a nitrato de ferro e termo-oxidação foi
3.3 Coeficientes de Segurança cerca de 2,5 vezes maior do que o coeficiente de
segurança determinado pelo método tradicional
Os coeficientes de segurança obtidos nas várias (coeficientes de 2,53 e de 1,01, respetivamente).
exposições múltiplas aos agentes de degradação Para o efeito combinado da imersão em nitrato
(imersão em líquidos e termo-oxidação) foram de níquel e termo-oxidação a diferença foi ainda
comparados com os coeficientes de segurança maior (coeficiente de segurança de 2,72 obtido
calculados pela metodologia tradicional para o na exposição sucessiva e de 1,01 calculado pelo
efeito conjunto dos dois agentes de degradação método tradicional). Estes resultados revelam
(determinação dos coeficientes de segurança de que os coeficientes de segurança determinados
forma isolada para cada agente de degradação e pelo método tradicional não estão a ser capazes
posterior multiplicação) (Tabela 7). de representar corretamente (subestimando) o
Os coeficientes de segurança calculados pela efeito conjunto dos agentes de degradação. As
metodologia tradicional para o efeito conjunto diferenças encontradas entre os coeficientes de
da (1) imersão em água e termo-oxidação, (2) segurança (obtidos pela metodologia tradicional
imersão em ácido sulfúrico e termo-oxidação, ou na exposição sucessiva aos dois agentes de
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degradação) podem ser atribuídas às interações 2001) que indicam que o processo de oxidação
que ocorrem entre os agentes de degradação (as de poliolefinas (como o PP) pode ser acelerado
quais a metodologia tradicional não conseguiu pelo efeito catalítico de alguns metais.
contabilizar). A identificação e quantificação de interações
Na existência de interações relevantes entre entre os agentes de degradação é relevante para
os agentes de degradação, os coeficientes de compreender o comportamento dos geotêxteis
segurança determinados pelo método tradicional sob condições de degradação reais (onde estão
são inferiores aos obtidos na exposição múltipla normalmente expostos à ação conjunta de vários
a esses agentes. Isto mostra que a multiplicação agentes). Os resultados obtidos mostraram que
de coeficientes de segurança (cada um deles na existência de interações significativas entre
representado o efeito isolado de um agente de os vários agentes de degradação, os coeficientes
degradação) pode não representar com exatidão de segurança encontrados diretamente a partir
o efeito combinado dos agentes de degradação. das exposições múltiplas podem ser diferentes
Exemplos adicionais de interações entre vários dos determinados pela metodologia tradicional
agentes de degradação de geossintéticos podem (determinação dos coeficientes de segurança de
ser encontrados em Carneiro et al., 2014, Dias forma isolada para cada agente de degradação e
et al., 2017 e Carneiro et al., 2018. subsequente multiplicação). De facto, o método
tradicional não conseguiu representar com rigor
(subestimando) os danos provocados pelo efeito
4 CONCLUSÕES combinado das imersões nas soluções de catiões
metálicos e da termo-oxidação. A definição de
As exposições isoladas à ação de vários líquidos coeficientes de segurança com maior segurança
e à termo-oxidação não provocaram alterações (tendo em consideração as várias interações que
significativas na resistência à tração do geotêxtil podem ocorrer entre os agentes de degradação)
(resistências à tração residuais muito próximas pode contribuir para uma melhor aplicação dos
de 100%). A extensão na força máxima sofreu geossintéticos em Engenharia Civil.
uma redução após a exposição à termo-oxidação
(não sofreu alterações relevantes após a imersão
em líquidos). No geral, o geotêxtil apresentou AGRADECIMENTOS
uma boa resistência à ação isolada de líquidos e
à termo-oxidação. Este trabalho foi financiado pelo projeto POCI-
Os danos ocorridos no geotêxtil na exposição 01-0145-FEDER-028862 e pelo projeto POCI-
sucessiva aos agentes de degradação não foram 01-0145-FEDER-007457 – financiados pelo
sempre iguais à soma dos danos provocados por Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional
cada agente individualmente. Os exemplos mais (FEDER), através do COMPETE 2020 –
relevantes incluíram as exposições sucessivas a Programa Operacional Competitividade e
nitrato de ferro e termo-oxidação e a nitrato de Internacionalização (POCI) e com o apoio
níquel e termo-oxidação. De facto, dois agentes financeiro da FCT/MCTES através de fundos
que de forma isolada não induziram degradação nacionais (PIDDAC). José Ricardo Carneiro
relevante foram capazes de causar em conjunto agradece à FCT a bolsa de Pós-Doutoramento
uma degradação muito significativa. com a referência SFRH/BPD/88730/2012 (bolsa
A diminuição da resistência do geotêxtil à apoiada por financiamento POPH/POCH/FSE).
termo-oxidação (depois da imersão nas soluções
de catiões metálicos) pode ser atribuída ao facto
dos catiões ferro e níquel terem atuado como
catalisadores do processo de oxidação. Existem
referências na literatura (por exemplo, Wright,
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Os autores agradecem à Carvalhos Lda. (Lousã, Wright, D.C. (2001) Failure of Polymer Products due to
Portugal) pelo fornecimento do geotêxtil. Thermo-Oxidation, iSmithers Rapra Publishing, 132
p.

REFERÊNCIAS

Carlos, D.M., Carneiro, J.R., Pinho-Lopes, M. e Lopes,


M.L. (2015). Effect of soil grain size distribution on
the mechanical damage of nonwoven geotextiles
under repeated loading, International Journal of
Geosynthetics and Ground Engineering, Vol. 1, paper
9, 7 p.
Carneiro, J.R. (2009) Durabilidade de materiais
geossintéticos em estruturas de carácter ambiental –
a importância da incorporação de aditivos químicos,
Tese de Doutoramento em Engenharia do Ambiente,
Faculdade de Engenharia, Universidade do Porto,
Portugal, LXVIII-534 p.
Carneiro, J.R., Almeida, P.J. e Lopes, M.L. (2014) Some
synergisms in the laboratory degradation of a
polypropylene geotextile, Construction and Building
Materials, Vol. 73, p. 586-591.
Carneiro, J.R., Almeida, P.J. e Lopes, M.L. (2018)
Laboratory evaluation of interactions in the
degradation of a polypropylene geotextile in marine
environments, Advances in Materials Science and
Engineering, Vol. 2018, artigo 9182658, 10 p.
Dias, M., Carneiro, J.R. e Lopes, M.L. (2017) Resistance
of a nonwoven geotextile against mechanical damage
and abrasion, Ciência & Tecnologia dos Materiais,
Vol. 29, p. 177-181.
EN ISO 9862 (2005) Geosynthetics – Sampling and
Preparation of Test Specimens, Comissão Europeia de
Normalização, Bruxelas, Bélgica.
EN ISO 9863-1 (2005) Geosynthetics – Determination of
Thickness at Specified Pressures. Part 1: Single
Layers, Comissão Europeia de Normalização,
Bruxelas, Bélgica.
EN ISO 9864 (2005) Geosynthetics – Test Method for the
Determination of Mass per Unit Area of Geotextiles
and Geotextile-Related Products, Comissão Europeia
de Normalização, Bruxelas, Bélgica.
EN ISO 10319 (2015) Geosynthetics – Wide-Width
Tensile Test, Comissão Europeia de Normalização,
Bruxelas, Bélgica.
EN ISO 13438 (2004) Geotextiles and Geotextile-Related
Products – Screening Test Method for Determining
the Resistance to Oxidation, Comissão Europeia de
Normalização, Bruxelas, Bélgica.
ISO/TR 20432 (2007) Guidelines for the determination
of the long-term strength of geosynthetics for soil
reinforcement, Organização Internacional de
Normalização, Genebra, Suíça.
Montgomery, D.C. e Runger, G.C. (2010) Applied
Statistics and Probability for Engineers, 5th ed., John
Wiley and Sons, Hoboken, NJ, USA, 776 p.
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Estudo da capacidade de suporte da estabilização de solos para


pavimentação rodoviária
José Breno Ferreira Quariguasi 1
Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Brasil, brenoquariguasi@det.ufc.br

Haikel Buganem Busgaib Gonçalves 2


Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Brasil, haikelbusgaib@gmail.com

Francisco Heber Lacerda de Oliveira 3


Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Brasil, heber@det.ufc.br

Marcos Fábio Porto de Aguiar 4


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Fortaleza, Brasil,
marcosfpa@hotmail.com

RESUMO: Dada a importância da pavimentação rodoviária nas atividades necessárias da sociedade


e diante de um cenário não muito distante em que será preciso encontrar materiais que possam
viabilizar as obras viárias, este artigo tem como objetivo analisar a utilização de fibras de
polipropileno, cal hidratada e cimento Portland, misturados aos solos, em obras rodoviárias. Para
tanto, foi coletado um solo na Região Metropolitana de Fortaleza e, em seguida foram realizados
ensaios de laboratório, tais como compactação e Índice de Suporte Califórnia, e, assim, fazer
comparações entre as diferentes misturas de materiais e o solo in natura de caráter areno-argiloso.
Percebeu-se que as misturas de solo, fibras e cimento apresentaram os melhores aumentos de
capacidade de suporte; já as amostras com cal foram melhores quanto a estabilização da expansão
volumétrica. Porém, todas as misturas analisadas proporcionaram alguma melhoria ao solo
estudado.

PALAVRAS-CHAVE: Pavimentação, Solo, Fibras, Cal, Cimento.

1 INTRODUÇÃO Atualmente, a população mundial enfrenta


dificuldades para encontrar formas sustentáveis
A pavimentação rodoviária é um elemento de executar as suas construções. Para poder
importante quando se trata da infraestrutura de aproveitar melhor as áreas de ocupação
transportes. Desde a civilização egípcia, disponíveis ou por motivos econômicos, surge a
segundo Saunier (1936, apud Bernucci et al., necessidade de reforçar solos com baixa
2008), tem-se registros do uso da pavimentação capacidade de suporte.
para o transporte de cargas. Porém, foi atribuída O reforço pode ser entendido como uma
ao Império Romano a arte maior do melhoria das características do solo por meio de
planejamento e construção viária, com um processos físicos ou químicos. Essas técnicas
sistema robusto construído com elevado nível podem ser aplicadas com a adição de cimento
de critério técnico. De acordo com Hagen Portland, de materiais geossintéticos, tais como
(1955, apud Bernucci et al., 2008), os romanos as fibras de politereftalato de etileno, sisal e
exploraram a pavimentação para fins militares, polipropileno, além das raspas de pneus e de
facilitando o deslocamento das tropas para aditivos (químicos e orgânicos).
manter e ampliar seu território. A aplicação da fibra de polipropileno é
amplamente estudada em concretos estruturais.
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Segundo Dobbin Junior e Rocha (2011), essas emprego de lã de lhama como reforço. Uma das
fibras demonstraram-se eficazes em aplicações que mais se aproxima de um
proporcionar aos concretos, mesmo após o geossintético dos dias atuais foi a utilização de
aparecimento das primeiras fissuras e ruptura, mantas de algodão pelo Departamento de
uma capacidade de resistir ao carregamento Estradas da Carolina do Sul – EUA, em 1926,
deformando-se e mantendo a sua capacidade de como reforço de camadas asfálticas em
suporte. Tal feito é essencial para um acréscimo pavimentos (PALMEIRA, 1992).
de segurança em estruturas de concreto como Segundo Casagrande (2001), a compreensão
pontes, túneis e edificações em geral. do mecanismo de interação matriz-reforço e da
Já a adição de cimento ao solo é um método parcela de contribuição de cada uma das fases
definido pelo Departamento Nacional de no comportamento do material compósito como
Infrarestrutra de Transportes (DNIT, 2006) um todo é fundamental para a definição do tipo
como um estabilizante químico, tornando-o e da quantidade de fibra a ser empregado. Esta
menos sensível aos efeitos da água e definição dependerá fundamentalmente das
diminuindo a sua plasticidade. características da matriz a ser reforçada e das
Para Rosa (2009), a cal é um dos características desejadas do material compósito
estabilizantes de maior utilização e abundância, resultante.
bem como o mais econômico usado para McGown et al. (1978) procurando
estabilização de solos, com aplicação em compreender a interação entre solo e fibra,
pavimentação e aterros. A sua eficiência foi estabeleceu uma analogia entre o elemento de
comprovada através de vários estudos sobre a reforço de solo e uma estaca cravada, Figura 1.
utilização da cal no melhoramento de solo para Em sistemas de estacas pode-se existir estacas
pavimentação, apresentando bons resultados em comprimidas ou tracionadas, dependendo das
relação a sua capacidade de suporte e na forças externas aplicadas a estas. As estacas,
redução de recalques. por sua vez, induzem deformações ao solo.
Diante do exposto, este artigo tem como
objetivo analisar a influência na capacidade de
suporte de misturas de um solo misturado com
fibras de polipropileno, cal hidratada e cimento
Portland como reforço em um solo para uso em
camadas de pavimentação rodoviária. Para
tanto, utilizou-se como comparativo pesquisa
iniciadas por Lima Neto (2016) e, assim,
realizar análises entre solo in natura, solo com
fibra, solo com fibra e cal e solo com fibra e
cimento.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O reforço de solos com fibras é uma técnica há


muito conhecida e empregada pelo homem. As Figura 1. Comparação de estaca com elemento de reforço
muralhas da Mesopotâmia (1400 a.C.), de solo. (McGown et al., 1978)
existentes ainda hoje, foram construídas
empregando-se camadas intercaladas de solo e 3 MATERIAIS E MÉTODOS
mantas de raízes. Indícios do emprego desta
técnica também são encontrados em partes da Neste tópico estão descritos os materiais e os
Grande Muralha da China e em estradas métodos utilizados nesta pesquisa.
construídas pelos Incas, no Peru, através do
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3.1 Solo utilizado O ensaio de Compactação foi realizado


conforme a ABNT (1986), com energia
O solo analisado foi recolhido de uma jazida intermediária (26 golpes por camada). Com
localizada próxima da Av. Eta Gavião, em isso, foi possível a elaboração da curva de
Itaitinga, na Região Metropolitana de Fortaleza compactação, em que encontrou-se uma
(RMF), estado do Ceará. Também pode ser umidade ótima do solo de 14,5% e o peso
localizado através das coordenadas 3º 52’ 43” S específico aparente seco máximo de 1,980
/ 38º 32’ 20” O. A extração do material foi feita gf/cm³, conforme demonstrado na Figura 3.
com aproximadamente três metros de
profundidade, sendo retirados cerca de 400 kg
de solo. A amostra possui uma coloração
variegada com predominância do vermelho,
além da presença de torrões e pedregulhos.
O ensaio de granulometria foi feito conforme
a ABNT (1984a). Já os ensaios de Limites de
Liquidez e Plasticidade foram realizados de
acordo com a ABNT (1984b; 1984c). Estes
ensaios foram realizados para fazer a
classificação do solo pelo Transportation
Research Board (TRB), que resultou em A-2-4,
ou seja, um solo arenoso com presença de Figura 3. Curva de compactação solo in natura.
pedregulhos. A Figura 2 e a Tabela 1
apresentam o resumo granulométrico do ensaio O ensaio de Índice de Suporte Califórnia
realizado. (ISC) ou (California Bearing Ratio CBR), tem
como finalidade conhecer a capacidade de
suporte do solo e sua expansão volumétrica. O
ensaio foi realizado conforme a norma DNER
049/94, em que se deve compactar uma amostra
de solo utilizando a umidade ótima, encontrada
no ensaio de compactação. Foram feitos três
corpos de prova para o solo in natura, cujos
resultados são apresentados na Tabela 2.
Ressalta-se que o valor de 31% foi
desconsiderado, uma vez que é muito
divergente dos demais e o mesmo pode estar
Figura 2. Resultado do ensaio de granulometria por associado a erros durante a execução do ensaio.
peneiramento.

Tabela 2 Resultados de ISC para o solo in natura


Tabela 1. Resumo granulométrico do solo. CP ISC (%) Expansão (%)
Pedregulho (>2,00mm) 38,06% 1 19 0,24
Areia Grossa (2,00-0,42mm) 11,25% 2 21 0,25
Areia Fina (0,42-0,075mm) 20,81% 3 31 0,21
Silte, Argila (<0,075mm) 29,88%
Total 100,00%

3.2 Fibra de polipropileno


O solo apresentou um Limite de Liquidez
Foram utilizadas fibras de polipropileno de
(LL) de 31,5%, Limite de Plasticidade (LP) de
comprimento de 24 mm e diâmetro de 18 μm
23,77% e Índice de Plasticidade (IP) de 7,73%.
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em seção circular, apresentando área de 3.4 Cimento Portland


superfície específica de 244 m²/kg. Alguns
dados adicionais de propriedades físicas e Devido à sua capacidade de adquirir
mecânicas estão presentes na Tabela 3. propriedades de resistência e deformabilidade
favoráveis em curto espaço de tempo, optou-se
pelo uso do cimento Portland de alta resistência
Tabela 3. Características da fibra (Maccaferri, 2008). inicial (ARI) Tipo CP V ARI RS.
Propriedades Físicas Essa propriedade do cimento foi importante
Diâmetro 8 µm
para que se pudesse verificar algum possível
Seção circular
Comprimento 24 mm aumento na capacidade de suporte do
Alongamento 80% compósito, já que o ensaio de ISC leva quatro
Matéria-prima polipropileno dias para ser realizado, enquanto os cimentos de
Peso Específico 0,91 g/cm³ forma geral demoram cerca de 28 dias para
Propriedades Mecânicas adquirir a sua resistência máxima. Como é
Temperatura de fusão 160 °C
Temperatura de mostrado na Figura 4, o CP V consegue obter
365 °C maiores resistências à compressão que os
ignição
Resistência á tração 300 MPa demais cimentos após 3 ou 4 dias de seu
Módulo de Young 3000 MPa preparo.

3.3 Cal hidratada

Nesta pesquisa utilizou-se a cal hidratada do


tipo CH-I. A escolha deveu-se por ser
considerada a de maior pureza (92,5%) e
qualidade. Este material possui uma densidade
de 2,7 g/cm³, umidade inferior ou igual a 2,0%
e densidade aparente de 0,55 a 0,65 g/cm³,
segundo Carbomil (2016).
Para a dosagem da cal foi utilizada como
referência os estudos de Lopes Júnior (2007). Figura 4. Evolução de resistência à compressão dos tipos
Utilizou-se a quantidade mínima de cal, de de cimento Portland.
1,0%, para modificação de solos considerados
pedregulho argiloso bem graduado, conforme a A porcentagem de cimento analisada neste
Tabela 4. trabalho é equivalente a 2% da massa seca da
amostra de solo. Essa porcentagem foi
escolhida pois, segundo DNIT (2006), as
Tabela 4. Dosagem da cal (Lopes Júnior, 2007). porcentagens entre 2% e 4% garantem que a
Teor de cal (%) camada seja considerada como flexível,
Tipo de solo
Para modificação denominando, assim, o compósito como solo
Pedra finamente britada 2a4 adicionado de cimento.
Pedregulho argiloso
1a3
bem graduado
Areias Não recomendado 3.5 Métodos
Argila arenosa Não recomendado
Argila siltosa 1a3 Nesta pesquisa foram realizados ensaios de
Argilas 1a3 Compactação e de Índice de Suporte Califórnia
Solos orgânicos Não recomendado em um determinado solo adicionado de 1,0% e
2,0% de fibra de polipropileno e 1,0% de cal,
também foram realizados ensaios com solo-
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cimento, teor de 2,0%, e com fibra de adotado por Lima Neto (2016) em que foi
polipropileno nos teores de 0,5% e 1,0% mais considerado os resultados de compactação do
2,0% de cimento. Ressalta-se que as fibras de solo in natura para a realização do ensaio de
polipropileno foram distribuídas de forma ISC.
aleatória nos corpos de prova. Com os
resultados, foram feitas análises comparativas
com solo in natura e solo adicionado de 0,5%, Tabela 6. Resumo do ensaio de compactação.
1,0% e 2,0% de fibra, dados obtidos de pesquisa Peso Específico
Teor de fibra Aparente Umidade Ótima
de Lima Neto (2016). (%) Seco Máximo (%)
(gf/cm³)
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES Solo in natura 1,98 14,5
Solo + 0,5% de
1,93 14,2
Neste tópico estão descritos os resultados e as fibra
discussões sobre a pesquisa. Solo + 1,0% de
1,90 13,2
fibra
Solo + 1,0% de 1,909 17,3
4.1 Solo e fibras de polipropileno cal 1,887 16,7

De acordo com os resultados obtidos por Lima


Neto (2016), quando adicionado fibra ao solo Vale ressaltar, também, que foram utilizados
houve um aumento considerável da resistência dois modos de homogeneização nas pesquisas
em relação ao solo in natura. É importante de Lima Neto (2016), em que no primeiro modo
salientar que o valor de ISC de 31% para o solo adicionava-se fibra ao solo e depois se
in natura foi descartado por ser muito homogeneizava com água, já no segundo modo,
divergente dos demais, para tanto considerou-se o solo era misturado com água e em seguida
o ISC de 21%. Conforme mostrado na Tabela 5. homogeneizado com fibra. De acordo com os
resultados encontrados, o segundo modo de
homogeneização demonstrou ser mais eficiente.
Tabela 5. Resumo do ensaio de ISC para solo e fibra. Portanto, esta pesquisa foi executada utilizando
Teor de fibra
(%)
ISC (%) Expansão (%) o segundo modo de homogeneização.
0,0 21 0,24 Para os ensaios de ISC com a mistura de
0,5 29 0,23 solo, fibra e cal, em que foram utilizados
1,0
31 0,05 primeiramente 1,0% de fibra e 1,0% de cal, os
31 0,08 resultados apresentaram aumento de resistência
33 0,32 se comparado ao solo in natura, porém houve
2,0
36 0,28
uma pequena redução na resistência se
comparado à mistura solo e 1,0% de fibra. Para
a mistura solo, fibra e cal utilizando as
4.2 Solo, fibras de polipropileno e cal
porcentagens de 2,0% de fibra e 1,0% de cal os
hidratada
resultados apresentados foram melhores, uma
vez que houve aumento de resistência em
Os resultados dos ensaios de compactação
comparação ao solo in natura e à mistura solo e
realizados com fibras apresentaram pouca
2,0% de fibra. A expansão volumétrica dos
diferença quando comparado ao solo in natura,
ensaios realizados com solo, fibra e cal foi
como mostrado na Tabela 6. No entanto,
menor do que em relação ao solo in natura. A
percebe-se uma pequena tendência de
mistura solo e fibra apresentou aumento de
diminuição no peso específico aparente seco
expansão quando se aumentou o teor de fibra de
máximo e na umidade ótima à medida que
1,0% para 2,0%, mas não há aumento de
aumenta-se o teor de fibra. Porém, para efeitos
expansão quando se adicionou cal à mistura. A
comparativos, optou-se pelo mesmo método
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Tabela 7 expressa os resultados do ISC obtido


com solo, fibra e cal, foram feitos 3 corpos de
prova para as duas misturas.

Tabela 7. Resumo do ensaio de ISC para a mistura solo,


fibra e cal
Teor de fibra e cal ISC (%) Expansão (%)
28 0,11
1,0% fibra + 1,0%
61 0,12
cal
27 0,11
40 0,12
2,0% fibra + 1,0%
42 0,12 Figura 5. Corpo de prova com cimento e fibra.
cal
46 0,13
4.3 Análise dos resultados

O valor de ISC igual a 61% foi descartado A Figura 6 mostra um comparativos entre as
por ser muito divergente dos demais, portanto curvas de compactação obtidas através dos
pode estar associado a erros na execução do ensaios realizados com solo in natura, solo
ensaio. De acordo com os resultados, pode-se misturado com cal e solo com cimento.
perceber que a cal reagiu melhor na presença de
um teor maior de fibra.

4.2 Solo, fibras de polipropileno e cimento


Portland

Devido ao cimento tratar-se de um material


granular, espera-se uma alteração nos
parâmetros de compactação da amostra. O solo
melhorado com cimento possui uma umidade
ótima de 14%, adquirindo um peso específico
aparente seco de aproximadamente 2,05g/cm³.
Em seguida foram realizados os ensaios de
ISC, conforme exposto na Tabela 8 e na Figura Figura 6. Comparativo entre as curvas de compactação.
5.
Percebe-se que o solo in natura apresentou a
maior variação em seu peso específico aparente
Tabela 8. Resultados dos ensaios de ISC para Solo, seco quando adicionado água, se comparado às
cimento e fibra.
Cimento Fibra ISC (%) Expansão(%) demais misturas. Contudo, o solo misturado ao
2,0% 0,0% 116 0,26 cimento foi o corpo de prova que apresentou o
2,0% 0,5% 120 0,25 maior peso específico aparente seco dentre as
2,0% 1,0% 147 0,29 misturas analisadas. Já o solo misturado de cal
apresentou a maior variação de umidade dentre
os materiais estudados.
A Figura 7 mostra a relação entre a tensão e
o deslocamento provenientes dos resultados de
ISC, fazendo um comparativo entre o solo in
natura, o solo com fibra, o solo com fibra e cal
e o solo com fibra e cimento. Percebe-se que as
misturas adicionadas de cimento apresentaram
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tensão significativamente mais elevada do que comportamento de tensão x deslocamento


os demais materiais, principalmente quando semelhante aos demais, com exceção dos
analisado o corpo de prova ensaiado com 2,0% materiais com cimento, porém com uma
de cimento e 1,0% de fibra de polipropileno. resistência um pouco superior ao solo
Contudo, verifica-se que todos os materiais adicionado de fibra e significativamente melhor
estudados proporcionaram ao solo in natura.
aumento de resistência ao solo in natura, pois
as misturas com solo e fibra e, também, as
misturas com solo, fibra e cal apresentaram
aumento de capacidade de suporte. Os corpos
de provas analisados com a cal apresentaram

Figura 7. Relação Tensão (kg/cm²) x Deslocamento (mm)


5 CONCLUSÕES
Analisando os resultados quanto à expansão
volumétrica, percebe-se que a cal proporcionou As misturas analisadas trouxeram benefícios ao
certa estabilização, pois houve um aumento da solo estudado, principalmente quanto ao
expansão quando se observa os corpos de prova aumento da capacidade de suporte
com 1,0% e 2,0% de fibra, e esse proporcionado pelo cimento Portland e pela
comportamento não foi observado quando se fibra. Contudo, apesar da cal hidratada e a fibra
adicionou cal, embora, inicialmente, a mistura não melhorarem a resistência tanto quanto as
de solo, fibra e cal tenha sido um pouco misturas com cimento, elas ainda propiciaram
superior ao solo com fibra. As misturas com uma resistência superior ao solo in natura,
cimento, em geral, apresentaram expansões assim como, também, estabalizou a expansão
superiores aos demais corpos analisados, com volumétrica.
exceção do material solo com 2,0% de fibra, Destaca-se que a cal apresentou resultados
que foi o material com maior expansão mais satisfatórios quando adicionado de mais
observada. A Figura 8 expressa o comparativo fibras, (2,0%), do que a quantidade inicial de
dos dados analisados. 1,0%. Haja vista que seu ISC aumentou
significativamente. Porém, salienta-se que
apenas os corpos de prova com cimento
atingiram o Índice de Suporte Califórnia
superiores a 100%.
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0.40%

0.30%

0.20%

0.10%

0.00%
1,0% de 1,0% de 2,0% de 2,0% de 2,0% de 2,0% de 2,0% de
FIBRA FIBRA + FIBRA FIBRA + CIMENTO CIMENTO CIMENTO
1,0% de 1,0% de + 0,5% de + 1,0% de
CAL CAL FIBRA FIBRA

Figura 8. Comparativo da expansão volumétrica entre as misturas.

REFERÊNCIAS polipropileno como reforço em solo para


pavimentação rodoviária. Trabalho de conclusão de
Associação Brasileira de Normas Técnicas – curso, Universidade de Fortaleza. Fortaleza.
ABNT.NBR-7181 (1984a): Análise granulométrica. Lopes Júnior, L. S. (2007). Parâmetros de controle da
Rio de Janeiro. resistência mecânica de solos tratados com cal,
Associação Brasileira de Normas Técnicas – cimento e rocha basáltica pulverizada. Dissertação
ABNT.NBR-6459 (1984b): Determinação do limite (Mestrado em Engenharia) – Programa de Pós-
de liquidez. Rio de Janeiro. Graduação em Engenharia Civil, da Universidade
Associação Brasileira de Normas Técnicas – Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 147 p.
ABNT.NBR-7180 (1984c): Determinação dos limites Maccaferri (2008). FibroMac 24: Fibras para Reforço do
de Atterberg. Rio de Janeiro. Concreto. Jundiaí, São Paulo.
Associação Brasileira de Normas Técnicas – McGown, A.; Andrawes, K. Z.; Al-Hasani, M. M. (1978)
ABNT.NBR-7182 (1986): Solo – Ensaio de Effect of inclusion properties on the behavior of sand.
compactação. Rio de Janeiro. Geotechnique, London, v.28, n.3, p.327-346.
Bernucci, L. B., Mota, L. M. G., Ceratti, J. A. P. e Soares, Palmeira, E. M. (1992). Geossintéticos: tipos e evolução
J. B. (2008) Pavimentação Asfáltica. Formação nos últimos anos. In: Seminário sobre
Básica para Engenheiros. Petrobras. Abeda, Rio de Aplicações de Geossintéticos em Geotecnia.
Janeiro. Geossintéticos 92. Brasília, p.1-12.
Carbomil. (2016) dados da cal: acesso em 9 de outubro Rosa, A. D. (2009). Estudo dos parâmetros-chave no
de 2016. <http://www.carbomil.com.br/portfolio- controle da resistência de misturas solo-cinza-cal.
item/cal-hidratada-ch-i/> 198 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Engenharia
Casagrande, M. D. T. (2001) Estudo do comportamento Civil, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
de um solo reforçado com fibras de polipropileno Porto Alegre.
visando o uso como base de fundações superficiais.
Dissertação (Mestrado em Engenharia), Universidade
Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre.
Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (1994)
– DNER-ME 049. Solos – determinação do Índice de
Suporte Califórnia utilizando amostras não
trabalhadas. Rio de Janeiro.
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes
(2006) - DNIT. Manual de Pavimentação. Rio de
Janeiro.
Dobbin Júnior, E. S.; Rocha, L. F. S. (2011). Estudo de
concreto com adição de fibra de polipropileno para
controle da fissuração. TCC – Curso de Engenharia
Civil, Universidade da Amazônia. Belém.
Lima Neto, P. S. (2016). Utilização de fibras de
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Estudo do Comportamento da Bentonita Utilizada em GCL’s


(Geosynthetic Clay Liners) para Aplicação em Base de Aterros de
Resíduos
Leonardo Sanches Previti
Instituto Mauá de Tecnologia, São Caetano do Sul, Brasil, leopreviti@uol.com.br

Fernando Luiz Lavoie


Instituto Mauá de Tecnologia, São Caetano do Sul, Brasil, fernando.lavoie@maua.br

Thiago Villas Boas Zanon


Solví Participações S/A, São Paulo, Brasil, thiago.villas@gmail.com

RESUMO: Para impermeabilizar-se a base de aterros sanitários, o uso de geossintéticos como o GCL
é imprescindível. O princípio ativo deste material é a bentonita sódica, uma argila expansiva com
baixíssimos índices de permeabilidade. Este estudo destinou-se a ensaiar amostras diferentes deste
solo (uma em pó e outra granulada) para compará-los com dados existentes na literatura. Para
determinar-se o índice de expansão, seguiram-se diretrizes estipuladas pela ASTM D4829. Os ensaios
de permeabilidade e adensamento foram feitos paralelamente em prensa de adensamento de acordo
com a NBR 14545 e NBR 12007, respectivamente. Assim, foi possível estabelecer relação entre
aumento da tensão aplicada e diminuição da permeabilidade. Dentre as propriedades estudadas da
bentonita, podemos citar suas alta expansibilidade (da ordem de 200%) e baixa permeabilidade, que
pode atingir valores próximos a 9x10-10 cm/s para tensões superiores a 196 kPa. Concluiu-se que a
amostra em pó apresenta propriedades mais adequadas para o uso acima descrito.

PALAVRAS-CHAVE: Bentonita, GCL’s (Geosynthetic Clay Liners), Aterros de Resíduos,


Geocomposto Bentonítico, Barreiras Geossintéticas Argilosas.

1 INTRODUÇÃO exemplo o GCL (Geosynthetic Clay Liner),


apresentam inúmeras vantagens em relação à
Um dos maiores problemas ambientais atuais, no argila compactada, pois possuem espessuras
Brasil, é a destinação inadequada de resíduos muito menores, permitindo-se assim um uso
sólidos. Por muitos anos, devido à ausência de mais eficiente da área destinada aos resíduos.
regulamentação, conviveu-se com soluções Além disso, são de fácil instalação e possuem
precárias e de extrema insalubridade como, por propriedades mais homogêneas, devido ao
exemplo, os lixões e aterros controlados. processo industrial de produção, mais controlado
Com a instituição da Política Nacional de e sujeito a menos variações.
Resíduos Sólidos, em 2010, atingiu-se, enfim, O material impermeabilizante contido no
um ponto de inflexão. A construção de aterros GCL é a argila bentonítica, o objeto de estudo
sanitários passou a ser prioritária para muitos desta pesquisa. Devido à sua natureza expansiva
municípios em situação irregular. quando saturado, a bentonita é capaz de impedir
Para garantir-se a impermeabilização da base a passagem de subprodutos da decomposição dos
do aterro de resíduos pode-se optar por duas resíduos, como lixiviado (popularmente
soluções: uso de geossintéticos ou o uso conhecido como “chorume”) e gases
combinado dos mesmos com a compactação de contaminantes.
solos argilosos. Os geossintéticos, como por Sabe-se que, quando um solo é submetido à
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tensões de compressão, seu índice de O índice de plasticidade (IP), determinado


permeabilidade tende a diminuir. A eficiência do através da diferença entre o LL e o LP, busca
GCL como barreira de fluxo é notoriamente avaliar a faixa de comprtamento plástico da
conhecida, entretanto, são escassos os dados fração argila.
relativos à permeabilidade da bentonita sódica
quando sujeitada à tensões elevadas, como é o 2.3 Ensaio de inchamento
caso da aplicação na impermeabilização de base
de aterros sanitários. O ensaio de inchamento foi executado de acordo
O presente trabalho buscou determinar as com a norma ASTM D5890.
propriedades de duas amostras de bentonita e Ele consiste na hidratação gradativa de
avaliar se ambas estavam coerentes com o 2 gramas da argila peneirada em uma proveta
esperado para este tipo de material. Espera-se graduada, com um volume de 90 mL de água
também que os dados obtidos nesta pesquisa destilada. Ao término da colocação da amostra,
possam ser incorporados ao já existentes na feita cuidadosamente a cada 0,1 g, adiciona-se
literatura especializada. mais 10 mL de água para retirada de eventuais
resíduos presos às paredes da proveta. Após um
período de 16 horas, registra-se o volume de
2 MATERIAL E MÉTODOS expansão da argila.

As amostras analisadas foram fornecidas por um 2.4 Ensaio de expansão livre


produtor nacional de GCL, sendo uma delas
granular e a outra em pó. Ambas foram ensaiadas O ensaio de expansão livre foi executado de
para todos os experimentos descritos a seguir. acordo com a norma ASTM D4829.
Neste experimento, o solo é colocado num
2.1 Ensaio granulométrico aparelho que o confina lateralmente, permitindo
apenas a expansão vertical. Sobre o solo, é
A caracterização granulométrica foi realizada de posicionado um edômetro, capaz de medir a
acordo com a norma NBR 7181, através de variação de altura do corpo de prova. O ensaio é
peneiramento e sedimentação. finalizado quando a variação de altura cessa e o
solo estabiliza-se.
2.2 Limites de Atterberg
2.5 Ensaio de permeabilidade a carga
Os limites de consistência de cada amostra foram variável e adensamento unidimensional
determinados através dos ensaios de limite de
liquidez (LL), de acordo com a norma NBR 6459 Os ensaios de permeabilidade e adensamento
e limite de plasticidade (LP), de acordo com a foram executados de acordo com as normas
norma NBR 7180. NBR 14545 e NBR 12007, respectivamente.
Para encontrar-se o limite de liquidez, Os corpos de prova foram ensaiados numa
colocou-se um corpo de prova moldado sobre prensa de adensamento. Encapsuladas, as
um aparelho de Casagrande. Com o auxílio de amostras foram saturadas com água e
uma ferramenta, fez-se uma pequena ranhura na comprimidas com uma tensão de confinamento
argila. O LL corresponde à umidade do corpo em constante. A cada 24 horas, a carga de
que a ranhura se fecha após a aplicação de 25 confinamento do CP era aumentada. As
golpes pelo aparelho. deformações sofridas pelo solo foram
O limite de plasticidade, por outro lado, registradas em um software sincronizado com a
corresponde à umidade em que a amostra, prensa de adensamento.
moldada no formato de pequenos cilindros de até Simultaneamente, foi feita a determinação de
3 mm de diâmetro, fragmenta-se. variação volumétrica de água de uma bureta
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conectada à célula onde o corpo de prova era


mantido. Pela diferença de volume, foi possível
calcular os coeficientes de permeabilidade do
solo sob diferentes pressões. A Figura 1 mostra
a prensa utilizada no laboratório.

Figura 3. Curva granulométrica da bentonita em pó.

A Tabela 1 apresenta propriedades obtidas em


ensaios de caracterização das amostras.

Tabela 1. Propriedades das amostras.


Propriedade Bentonita Bentonita
Figura 1. Prensa de adensamento utilizada nos ensaios. Granulada em Pó
ρs (g/cm3) 2,87 2,79
LL (%) 323 333
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO LP (%) 54 43
IP (%) 269 290
w (%) 13,24 11,7
Os resultados dos ensaios granulométricos estão
apresentados nas Figuras 2 e 3. Ambas as curvas
granulométrica são praticamente idênticas, Analisando-se as curvas granulométricas, foi
devido ao fato da origem das amostras ser a possível determinar a atividade coloidal
mesma. (também conhecida como indice de atividade) de
cada amostra.
𝐼𝑃
𝐴𝐶 = % 𝐴𝑟𝑔𝑖𝑙𝑎 (1)

Esta propriedade relaciona-se com a


capacidade expansiva do solo. Os resultados
estão expressos na Tabela 2. Observa-se que os
valores de atividade de ambas as amostras são
muito próximos.

Tabela 2. Atividade coloidal das amostras.


Propriedade Bentonita Bentonita
Granulada em Pó
Figura 2. Curva granulométrica da bentonita granulada. AC 3,63 3,72

Os resultados dos ensaios de inchamento e de


expansão livre, além do valor mínimo de
inchamento recomendado na especificação
internacional GRI-GCL3, estão apresentados na
Tabela 3. As curvas de expansão livre em função
do tempo podem ser vistas nas Figuras 4 e 5,
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respectivamente, para a bentonita granulada e 24,5 2,59 24,5 3,47


em pó. 49,0 2,59 49,0 3,45
98,1 2,46 98,1 3,28
196 2,17 196 2,81
Tabela 3. Resultado dos ensaios de inchamento e expansão 490 1,47 490 2,16
livre. 980 0,99 980 1,73
1.961 0,57 1.961 1,28
Valor 490 0,80 490 1,50
Bentonita Bentonita mínimo da 98,1 1,26 98,1 1,85
Propriedade
Granulada em Pó especificação 12,3 1,87 12,3 2,12
GRI-GCL3
Inchamento
(mL/2g)
20 25 24 Com estes resultados, foi possível determinar
graficamente a pressão de expansão das argilas.
Expansão livre
(%)
162 208 - Esta propriedade corresponde à tensão em que o
índice de vazios, após a expansão, iguala-se ao
índice da amostra antes de ser ensaiada.
As Figuras 6 e 7 apresentam as curvas de
adensamento das bentonitas granuladas e em pó,
respectivamente.

Figura 4. Expansão livre da bentonita granulada em função


do tempo.

Figura 6. Índice de vazios da bentonita granulada em


função da tensão aplicada.

Figura 5. Expansão livre da bentonita em pó em função do


tempo.

Os resultados do ensaio de adensamento de


ambas as amostras estão apresentados na
Tabela 4.

Tabela 4. Resultados do ensaio de adensamento.


Bentonita Granulada Bentonita em Pó
Tensão Índice de Tensão Índice de
(kPa) vazios (kPa) vazios
12,3 1,53 12,3 1,79
12,3 2,59 12,3 3,48 Figura 7. Índice de vazios da bentonita em pó em função
da tensão aplicada.
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confinante, apresentados na Tabela 6, foi


Na Tabela 5 são apresentadas as pressões de possível deduzir uma equação para determinação
expansão das amostras ensaiadas. dos outros coeficientes de permeabilidade,
apresentados na Tabela 7, sendo ela:
Tabela 5. Pressão de expansão das amostras.
Propriedade Pressão de Expansão (kPa)
k = 1,51 x 10-06 x h-1,39 (2)
Bentonita granulada 470
Bentonita em pó 870
onde h é a alura de resíduos no aterro.
O coeficiente de permeabilidade (k) em função
das tensões de confinamento de cada amostra
estão apresentadas na Tabela 6.

Tabela 6. Coeficiente de permeabilidade em função da


pressão confinante.
Bentonita Granulada Bentonita em Pó
Tensão k (cm/s) Tensão k (cm/s)
(kPa) (kPa)
12,3 9,8x10-9 12,3 5,0x10-8
-9
24,5 3,7x10 24,5 1,9x10-8
-9
49,0 3,7x10 49,0 4,2x10-9
98,1 3,8x10-9
196 9,0x10-10
Figura 8. Gráfico da tensão pelo coeficiente de
permeabilidade da bentonita em pó.
Como para a determinação do coeficiente de
Tabela 7. Coeficiente de permeabilidade para diferentes
permeabilidade há necessidade de medição da alturas de resíduos.
variação volumétrica nos equipamentos do Altura de Tensão (kPa) k
ensaio, e considerando que as amostras tem resíduos (m) (cm/s)
baixíssima permeabilidade, o intervalo de tempo 0,5 6,25 1,2x10-7
para medir uma reduzida variação volumétrica 1,0 12,5 4,5x10-8
foi significativamente elevado, resultando numa 2,0 25,0 1,7x10-8
4,0 50,0 6,6x10-9
diferença razoável de dados entre a amostra em 8,0 100 2,5x10-9
pó, ensaiada antes, e a granulada. 10,0 125 1,8x10-9
Para correlacionar os valores de tensão 25,0 312,53 5,1x10-10
respectivos a cada coeficiente de 50,0 625 2,0x10-10
permeabilidade, foi relacionada a altura de 75,0 938 1,1x10-10
resíduos com a permeabilidade do solo. Para esta 100,0 1.250 7,4x10-11
análise, foram utilizados os valores de k obtidos
para a bentonita em pó. Sabe-se que a altura (ou espessura) de resíduos
Além disso, foi necessária a adoção de um no maciço de aterros sanitários é variável. Para o
valor médio para o peso específico de resíduos. gráfico mostrado na Figura 9, estipulou-se que a
Utilizou-se γmédio = 12,5 kN/m3 por ser um valor altura média de um aterro de resíduos é 25
arredondado próximo ao encontrado na metros, consistente com a maioria dos aterros.
literatura, apenas para efeito de cálculo, tendo
em vista a variabilidade desta propriedade para
resíduos descartados.
Através da curva do gráfico apresentado na
Figura 8, parametrizada de acordo com os
valores obtidos no ensaio de permeabilidade para
a bentonita em pó em função da tensão
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abaixo de 10-10 cm/s são extremamente


incomuns, mesmo em solos altamente
expansivos como este). Apenas para efeito de
comparação, areias finas apresentam coeficiente
de permeabilidade da ordem de 10-3 cm/s. Ou
seja, esta amostra de bentonita, quando
comprimida a uma tensão de 313 kPa, apresenta
um coeficiente de permeabilidade 10 milhões de
vezes menor que o da referida areia.
Tomando-se como base os valores obtidos
Figura 9. Gráfico do coeficiente de permeabilidade em por Shan (1991), os dados correspondentes a
função da altura de resíduos. alturas inferiores a 25 m estão de acordo com os
já registrados na literatura. Confirmou-se
experimentalmente, portanto, que as amostras
4. CONCLUSÕES
utilizadas atendem aos critérios exigidos para
impermeabilização de aterros sanitários.
Baseando-se nos dados experimentais de Bueno
Confirma-se experimentalmente, portanto, a
(2002), os valores obtidos para a análise
eficiência do uso de Geosynthetic Clay Liners
granulométrica e para os limites de Atterberg
(GCL’s) em aterros sanitários. Além de
estão coerentes com os registrados na literatura.
apresentarem um volume consideravelmente
A atividade coloidal de ambas as amostras é
menor que as argilas compactadas, seu
significativamente superior ao mínimo esperado
baixíssimo coeficiente de permeabilidade é
para argilas ativas (AC > 1,25). Desta forma,
ainda melhor aproveitado quando o aterro
percebe-se que as amostras ensaiadas
transmitir altas tensões de confinamento no
apresentam um potencial expansivo alto.
GCL.
Verifica-se que apenas a amostra de bentonita
em pó atende à especificação GRI-GCL3 quanto
ao valor mínimo de inchamento.
AGRADECIMENTOS
No ensaio de adensamento, a tensão exercida
pela expansão da bentonita granulada foi
Ao professor Fernando Luiz Lavoie, pela
próxima da metade da pressão exercida pela
competente orientação deste trabalho.
bentonita em pó (470 kPa e 870 kPa,
Ao técnico Jorge Maximiliano de Oliveira,
respectivamente). A expansão livre das amostras
pelo auxílio na execução dos ensaios
apresentou uma relação parecida (162% para a
laboratoriais.
granular e 207% para a em pó). Pode-se concluir,
Ao engenheiro Thiago Villas Bôas Zanon, por
portanto, que a bentonita em pó é mais expansiva
aceitar o convite para coescrever este artigo.
que a granulada.
Ao Instituto Mauá de Tecnologia, pela
Como esperado, os coeficientes de
concessão de bolsa de estudos.
permeabilidade, determinados para diferentes
A Ober S/A, pela doação das amostras de
tensoes de confinamento, diminuiram com o
bentonita.
aumento da tensão confinante.
Por fim, agradeço aos meus pais, André Carlos
Para a análise da relação entre a altura de
Previti e Denise Aparecida Sanches, pelo apoio
resíduos e coeficientes de permeabilidade, foi
sempre que precisei.
utilizada uma equação baseada nos dados
obtidos para a bentonita em pó. Como a equação
foi parametrizada dessa forma, alguns dos
REFERÊNCIAS
coeficientes calculados para alturas acima dos 25
m, valor de altura considerada como altura média AMERICAN SOCIETY OF TESTING AND
de aterros (coeficientes de permeabilidade MATERIALS, ASTM D4829-11: Standard Test
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Method for Expansion Index of Soils. 2017. 5p.


AMERICAN SOCIETY OF TESTING AND
MATERIALS, ASTM D5890-11: Standard Test
Method for Swell Index of Clay Mineral Component
of Geosynthetic Clay Liners. 2017. 7p.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS, ABNT NBR 6459: Solo - Determinação
do limite de liquidez. Rio de Janeiro. Pini, 2016.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS, ABNT NBR 7180: Solo - Determinação
do limite de plasticidade. Rio de Janeiro. Pini, 2016.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS, ABNT NBR 7181: Análise
granulométrica de solos. 2017. 15p.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS, ABNT NBR 12007: Solo - Ensaio de
adensamento unidimensional. 2017. 13p.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS, ABNT NBR 14545: Solo - Determinação
do coeficiente de permeabilidade de solos argilosos a
carga variável. Rio de Janeiro. Pini, 2000.
Bueno, B.S.; Vilar, O.M. (2002) Development of a GCL:
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Camargo Barros, J.M. (2011) Curso de Mecânica dos
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Geosynthetic Clay Liners (GCLs). Folsom. 12p.
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Desempenho em Liners em Aterros de Resíduos.
Silveira, A.M.M. (2004) Estudo do Peso Específico de
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Shan, H.; Daniel, D.E. (1991) Results of laboratory on a
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the Geosynthetics ’91.
Vertematti, J.C.; Villar, O.M.; Bueno, B.S.; Benvenutto,
C. (2015) Aplicação em Barreiras Impermeabilizantes,
Manual Brasileiro de Geossintéticos, 457-503.
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Estudo do Emprego de Biomantas na Prevenção de Processos


Erosivos
Mateus Henrique Sottani Soares
Universidade Federal de Lavras, Lavras, Brasil, sottanimateus@engenharia.ufla.br

Esthela Rosa Coimbra


Universidade Federal de Lavras, Lavras, Brasil, esthela.coimbra@engenharia.ufla.br

Bianca Oliveira Pereira


Universidade Federal de Lavras, Lavras, Brasil, bianca.pereira@engenharia.ufla.br

Iasmin Gabriela de Paula Nader


Universidade Federal de Lavras, Lavras, Brasil, iasmin.nader@engenharia.ufla.br

Cíntia Tavares Assunção


Universidade Federal de Lavras, Lavras, Brasil, cintia.assuncao@engenharia.ufla.br

Caroline Maiolini de Mello


Universidade Federal de Lavras, Lavras, Brasil, caroline.mello@engenharia.ufla.br

Saulo Rocha Ferreira


Universidade Federal de Lavras, Lavras, Brasil, saulo.ferreira@deg.ufla.br

RESUMO: A proteção e controle da erosão pela estabilização de taludes é uma prática importante
em obras de engenharia dado o crescente número de ocorrências de desastres naturais. O artigo
apresenta uma contribuição na prevenção de ocorrência de movimento de massa, avaliando a
técnica de bioengenharia e o desempenho de biomantas na proteção de áreas susceptíveis a estes
eventos. O estudo foi realizado por meio da comparação do escoamento superficial de solo em
rampa de um teste testemunha e testes com biomantas de fibras de coco e de juta. Avaliou-se ainda
a degradação das biomantas durante o tempo de serviço através de ensaios mecânicos de resistência
à tração. Observou-se que houve a revegetação dos protótipos com proteção de biomanta, enquanto
o teste testemunha permaneceu com solo pobre e propício aos movimentos de massa. Os ensaios
mecânicos mostraram considerável degradação nas fibras evidenciando sua biodegradação e
interação com o meio.

PALAVRAS-CHAVE: Erosão, biomantas, movimento de massa, bioengenharia.

1 INTRODUÇÃO ocorrência natural em paises com clima


tropical. Diante desse problema surge
A retirada da camada vegetal e movimentação necessidade de soluções usando matéria-prima
do solo tem tornado alguns locais muito local, que possam ser justificadas
vulneráveis à processos erosivos acelerados, economicamente e que tenha eficiência
principalmente, se estes locais estiverem comprovada por meio de ensaios experimentais
sujeitos à ação de precitipações elevadas, (LENKHA e FIELD, 2004).
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A ocorrência de erosão pluvial, é um solo protegido por cada uma das duas mantas e
fenõmeno natural que pode ser acelerado por o solo sem nenhuma proteção (testemunho).
atividades antrópicas. Assim sendo, uma das
opções de controle e prevenção da erosão é a
proteção da superfície do talude. A técnica mais 2 METODOLOGIA
usual e simples é a reimplantação de uma
cobertura vegetal, que diminui a energia de 2.1 Materiais
impacto das gotas de chuva e minimiza a
desagregação do solo, além de reduzir o Foram empregadas biomanta de fibra de coco,
escoamento de água pelo fato de aumentar a biomanta de fibra de juta, sementes de Grama-
porosidade do solo da superfície. Amendoim (Arachis Pintói) e solo coletado na
No entanto, muitas vezes somente o plantio de região da Universidade Federal de Lavras, em
vegetação não é suficiente, seja por falta de Lavras – MG, com alto potencial erosivo
nutrientes no solo, pela declividade, ou outros conforme ilustrado na Figura 1.
fatores, o uso de materiais sintéticos se mostra
como uma boa opção (HOLANDA, ROCHA e
OLIVEIRA, 2008).
Atualmente a indústria de geossintéticos é
bem ampla na proteção de taludes contra ação
erosiva. Entre os diversos materiais, há um forte
destaque para geotêxtil, geogrelhas, georredes,
biomantas e geomantas (AVESANI, e BUENO,
2005; MARQUES et al, 2014; LI e KHANNA,
2008).
Segundo o relatório de 2015 do CPRM –
Serviço Geológico do Brasil, a região de
Lavras-MG, local onde se desenvolve a
pesquisa, apresenta diversas localidades com
risco geológico eminente, seja ele de Figura 1. Solo coletado na Universidade Federal de
movimento de massa ou inundação. Tais riscos Lavras.
podem ser naturais, devido a formação
geológica da região ou desenvolvidos pela ação 2.2 Métodos
do homem e a falta de tratamentos corretos para
prevenção de tais eventos. Para simulação de processos erosivos em
Este trabalho teve como objetivo a aplicação laboratório, foram confeccionados três
e avaliação da técnica de bioengenharia de solos protótipos com formato de caixa aberta e
no controle da erosão por meio da estabilização dimensões de 21x10x7 centímetros.
dos taludes e diminuição da perda de sementes Os protótipos foram envolvidos com uma
plantadas pela ação do escoamento pluvial. camada de geotêxtil nas faces laterais e inferior
Foi utilizado o solo de uma área considerada para inibir a passagem de solo, devido aos
de risco situada na cidade de Lavras, no Sul de espaçamentos presentes na caixa. Os protótipos
Minas Gerais, para desenvolvimento da podem ser visualizados na Figura 2.
pesquisa.
O método utilizado foi a cobertura do solo
por biomantas de fibra de coco e fibra de juta,
apresentando uma análise comparativa entre o
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Após determinar o teor de umidade, fixa-se a


massa de sólidos em cada protótipo através da
Equação 3:

Mt
Ms  (3)
w
(1  )
100

Figura 2. Protótipos reforçados com camada geotêxtil Na Equação 3, Ms representa a massa de


para receber solo. sólidos (em gramas), Mt representa a massa
total de solo e w o teor de umidade.
Os protótipos foram pesados para Posteriormente, cada protótipo recebeu 30
determinação da sua massa sem solo. sementes de Arachis Pintói e substrato de
Posteriormente, os protótipos foram nutrientes.
preenchidos com solo, sendo compactado em Os protótipos foram cobertos com as
duas camadas com auxílio de um soquete e biomantas de fibra de coco e fibra de juta e
golpes manuais à uma altura de 20 centímetros. ficaram dispostos à uma inclinação de 18º, além
A energia envolvida no processo de do testemunho que só possuia solo compactado
compactação foi obtida através da Equação 1: sem nenhuma proteção.
Posteriormente, deu-se início a observação
(N.n.P.h) das mudanças que ocorram nos protótipos ao
E (1)
V longo de trinta dias com preciptações
simuladas, por meio de aspargidores acionados
Sendo E a energia específica de compactação periodicamente.
por unidade de volume (g.cm/cm³), N o número A simulação de precipitação foi realizada a
de camadas compactadas, n o número de golpes cada 24 horas na primeira semana com 1 litro
por camada, P a massa do soquete e V o volume de água aspargida em cada protótipo e após a
compactado. saturação do solo, na sequência adotou-se o
Após compactado o solo juntamente com os regime de 1 litro de água aspargida no intervalo
protótipos foram novamente pesados e coletou- de cada 48 horas.
se a massa total do protótipo, para determinação Ao final do período de experimento (trinta
da massa total do solo e posteriormente a sua dias), a massa de sólidos foi novamente
massa específica seca. determinada, obtendo-se o percentual de perca
Assim sendo, foi determinado o teor de de sólidos. A germinação da espécie foi
umidade do solo que preencheu cada protótipo, analisada de forma qualitativa.
para tanto, amostras foram levadas para estufa Após o término dos ciclos de precipitação,
por um período de 24 horas à 105ºC, o teor de novas amostras de solo foram coletadas em
umidade foi determinado pela Equação 2: cada protótipo e determinou-se o novo teor de
umidade de cada protótipo e a massa de solo
Mw retida.
w(%)  x100 (2) Ensaios mecânicos de resistência à tração
Ms
foram realizados nas biomantas utilizadas para
avaliação da sua degradação antes e após perído
Onde w representa o valor do teor de
de ensaio de perca de solo. Os ensaios de tração
umidade (em porcentagem), Mw é a massa de
uniaxial foram realizados em uma máquina de
água presente no solo e Ms é a massa seca em
ensaios universal EMIC com célula de carga de
estufa.
500N e sistema de garras à pressão manual.
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A velocidade do ensaio foi de 1,25 mm/min Tabela 1. Massa total inicial dos protótipos.
e o mesmo foi conduzido segundo a norma Protótipo Massa sem solo Massa com solo
(g) (g)
ASTM C1557 (2008). Foi utilizado como
parâmetro para determinação da resistência à Testemunha 1646 24065
tração a área da seção transversal de 0,052mm² Fibra de coco 1624 24447
Fibra de juta 1676 22509
para a fibra de coco e 0,048mm² para fibra de
juta e realizada uma análise estatística dos
resultados com nível de confiança de 95%.
A metodologia adotada é descrita por Fidelis O solo apresentou umidade inicial de 10,75%
(2014). A Figura 3 mostra um filamento de conforme determinada pela Equação 2. As
biomanta de fibra de coco sendo submetido ao massas finais em cada protótipo são
ensaio. apresentadas na Tabela 2.

Tabela 2. Massa total final dos protótipos.


Protótipo Massa sem solo Massa com solo
(g) (g)

Testemunha 1646 25294


Fibra de coco 1624 28158
Fibra de juta 1676 25037

Após os ciclos de precipitação, cada


protótipo atingiu uma umidade espécifica,
baseada nas propriedades de cada biomanta, e
nas propriedades do solo exposto sem biomanta.
As umidades características são apresentadas na
Figura 3. Filamento de fibra de biomanta de fibra de coco Tabela 3.
submetido ao ensaio de tração uniaxial.

A análise dos valores de resistência à tração Tabela 3. Umidade característica de cada protótipo ao
antes e após período de ensaio nos protótipos término dos ciclos de precipitação.
viabilizou avaliar a perda de resistência das Protótipo Umidade do solo (%)
fibras vegetais durante o tempo em que foram
Testemunha 33,93
expostas sobre o solo e sobre agentes de
Fibra de coco 40,86
intempéries. Fibra de juta 38,11

3 RESULTADOS A Tabela 4 apresenta a massa de sólidos


calculada pela Equação 3 para os protótipos
A energia de compactação a que o solo foi antes e após os ciclos de precipitação e a perca
submetido, calculado pela Equação 2, foi de percentual de sólidos durante o experimento.
97,96 g.cm/cm³.
As massas iniciais em cada protótipo são
apresentadas na Tabela 1.
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Tabela 4. Massa de sólidos no solo.


Protótipo Massa de Massa de Perca
sólidos sólidos final percentual
inicial (g) (g) de sólidos
(%)
Testemunha 20243 18886 6,70
Fibra de
20635 19990 3,13
coco
Fibra de 18811 18128 3,63
juta

As Figuras 4 a 6 representam vistas dos Figura 6. Vista superior dos protótipos após 1 mês com a
protótipos após o período de um mês de retirada das biomantas.
experimento, ou seja, vista frontal dos
protótipos, vista superior dos protótipos com Os resultados dos ensaios de resistência à
cobertura da biomanta e vista superior dos tração unixial realizados nas fibras das
protótipos sem cobertura da biomanta, todas as biomantas empregadas na pesquisa foram
fotos tiradas após trinta dias de ensaio. tratados estatísticamente, com um nível de
confiança de 95%. Os resultados são
apresentados nas Figuras 7 a 10.
A resistência à tração média na fibra de coco
intacta (caracterização) foi de 172,9 N/mm², e o
alongamento médio de 15,4%.
A resistência à tração média fibra de coco
degradada foi de 97,4 N/mm², e o alongamento
médio de 17,9%.

Figura 4. Vista frontal dos protótipos após 1 mês com


cobertura da biomanta.

Figura 7. Ensaio de resistência à tração uniaxial em fibra


de coco intacta (caracterização).
Figura 5. Vista superior dos protótipos após 1 mês com
cobertura da biomanta.
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Figura10. Ensaio de resistência à tração uniaxial em fibra


de juta degradada após um mês de serviço.
Figura 8. Ensaio de resistência à tração uniaxial em fibra
de coco degradada após um mês de serviço. A partir dos resultados obtidos, é possivel
determinar que a fibra de coco teve uma perca
A resistência à tração média fibra de juta intacta
de resistencia mecânica em seus fios de 43,67%
foi de 1047,5 N/mm², e o alongamento de 4,8%.
após ser submetida à tecnica de bioengenharia
A resistência à tração média fibra de juta
para revegetação do solo. A fibra de juta teve
degradada após um mês de serviço. foi de 770,5
uma perca de resistência de 26,44%.
N/mm2, e o alongamento de 4,7%.

4 COMENTÁRIOS FINAIS

Observando os resultados obtidos, foi possível


notar um aumento da umidade nos solos após a
simulação de ciclos de precipitação.
O protótipo sem cobertura com biomanta foi
o que apresentou menor teor de umidade após
um mês, visto que por não haver proteção sobre
ele, o processo de evaporação dos líquidos no
solo foi maior. O protótipo com biomanta de
fibra de coco foi o que preservou maior
umidade ao final do experimento.
A biomanta de fibra de coco é mais fechada,
apresentando menos vazios entre as fibras
Figura 9. Ensaio de resistência à tração uniaxial em fibra
de juta intacta (caracterização).
fazendo com que fosse mais difícil a
evaporação da água presente no solo. Essa
característica é apreciável, pois previne que o
solo perca umidade e nutrientes em épocas de
seca, garantindo uma boa evolução da espécie
vegetal durante todas as épocas do ano. A
biomanta de fibra de juta também obteve um
alto teor de umidade, evidenciando também a
utilidade deste material para prevenir a perca de
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umidade nas épocas mais secas. AGRADECIMENTOS


Baseado nos resultados da Tabela 4, verifica-
se a eficiência da utilização da técnica de A Universidade Federal de Lavras – Lavras –
bioengenharia na recuperação de solos com MG pelos laboratórios cedidos para execução
processos erosivos. O processo de recuperação da pesquisa.
de taludes utilizando bioengenharia envolve
primordialmente a proteção da espécie vegetal
escolhida para dar sustentação e proteção ao REFERÊNCIAS
solo, garantindo assim o seu desenvolvimento,
ao passo que a biomanta é degradada. Essa ASTM, 2008. ASTM C1557, Standard Test Method for
proteção da vegetação se dá pela dissipação de Tensile Strength and Young’s Modulus of Fibers.
American Society for Testing and Materials. West
energia sobre a superfície da biomanta, evitando Conshohocken, Pennsylvania, USA.
que essa energia cause impacto direto sobre a Avesani Neto, J. O. e Bueno, B. S. (2005). Proteção e
vegetação recente ou frature o solo. Controle de Erosão em Taludes com Geocélula,
Além disso, a cobertura do solo em que foi Conferência Brasileira sobre Estabilidade de
aplicado as sementes da espécie vegetal com Encostas, COBRAE, ABMS, São Paulo.
Fidelis, M.E.A. (2014). Desenvolvimento e
biomantas previne a perca dessas sementes nos caracterização mecânica de compósitos cimentícios
eventos de precipitação uma vez que as têxteis reforçados com fibra de juta, Tese de
biomantas são capazes de segurar essas Doutorado, Programa de pós-graduação em
sementes no solo. Engenharia Civil, COPPE, Universidade Federal do
Observando as Figuras 4 e 5, foi possível Rio de Janeiro, 238p.
Holanda, F. SR; Rocha, IP da; Oliveira, V. S. (2008).
perceber que os protótipos onde foram Estabilização de taludes marginais com técnicas de
utilizadas as biomantas obtiveram uma bioengenharia de solos no Baixo São Francisco.
considerável revegetação, visto que o Revista Brasileira de engenharia agrícola e
experimento foi abordado com tempo limitado ambiental, Vol. 12, n. 6, p. 570-575.
Lekha, K. R. Field (2004). Instrumentation and
de trinta dias. A Figura 6 revela que o
monitoring of soil erosion in coir geotextile
experimento testemunha sem biomantas não stabilished slopes – a case study. Geotextiles and
obteve uma revegetação apreciável. Geomembranes. v. 22.
Os resultados dos ensaios de tração sem Li, M.-H; Khanna, S. (2008). Aging of rolled erosion
degradação (intactas) e após período de control products for channel erosion control.
Geosynthetics International, Vol. 15, n. 4, p. 224-231.
exposição enfatizam uma das principais
Marques, A. R.; Patrício, P. S. O.; Santos, F. S.;
caracteristicas das biomantas: rápida Monteiro, M. L.; Urashima, D. C.; Rodrigues, C. S.
degradação para que a vegetação por si só possa (2014). Effects of the climatic conditions of the
proteger o solo após sua estabilidade. A alta southeastern Brazil on degradation the fibers of coir-
degradação da biomanta de fibra de coco geotextile: Evaluation of mechanical and structural
properties. Geotextiles and Geomembranes. Vol. 42,
evidencia a sua utilidade para tal aplicação,
p. 76-82.
visto que possui uma degradação mais rápida se
comparada à fibra de juta. Sendo assim, pode-se
prever uma degradação total da biomanta em até
três anos após a sua aplicação.
Identificou-se que a técnica de bioengenharia
aliada a proteção da espécie vegetal com o uso
de biomantas promove a redução dos
movimentos de massa a longo prazo, visto que a
espécie vegetal desenvolvida irá garantir que o
solo menos sucetível à erosão acelerada e
consequentes movimentos de massa.
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Estudo Numérico da Influência da Condição de Umidade de Solos


Tropicais na Resistência ao Arrancamento do Geossintético
Gabriel Steluti Marques
Escola de Engenharia de São Carlos – Universidade de São Paulo, São Carlos, Brasil,
gabrielstmarques@gmail.com

Jefferson Lins da Silva


Escola de Engenharia de São Carlos – Universidade de São Paulo, São Carlos, Brasil,
jefferson@sc.usp.br

RESUMO: Com o intuito de se verificar a viabilidade de utilização do solo local em obra, avaliar a
influência da água no mecanismo de interação solo coesivo-geogrelha e difundir o uso da teoria dos
solos não saturados na modelagem numérica, este trabalho apresenta um estudo numérico
comparativo para avaliar a interação entre uma geogrelha de polietileno e dois tipos de solos, um
arenoso (convencional) e um argiloso laterítico (não convencional), em diferentes condições de
umidade (seca, ponto ótimo de compactação, úmida e saturada) e diferentes disposições dos solos.
A simulação foi realizada através do módulo SEEP e SIGMA do software GeoStudio 2012. Os
resultados mostraram uma maior influência da umidade na resistência ao arrancamento para o solo
argiloso laterítico do que para o solo arenoso. Além disso, quanto menores os teores de umidade do
material, maiores as resistências ao arrancamento máximas do geossintético. As análises presentes
indicaram que a modelagem numérica é uma importante ferramenta, que permite uma boa
implementação das análises do comportamento de tensão-deformação para solos não saturados.

PALAVRAS-CHAVE: interação solo-geossintético, solos não saturados, elementos finitos

1 INTRODUÇÃO eficientemente utilizado para se obter os


esforços (tensões e deformações) atuantes no
Os geossintéticos usados como material de material durante o desenvolvimento dos
reforço melhoram o comportamento a tração do deslocamentos. No entanto, apesar da
solo e se tornam uma econômica alternativa efetividade deste método, os resultados
para muros reforçados (Abdi & Zandieh, 2014). dependem de uma gama de fatores, que podem
No entanto, uma elevada resistência a tração tornar a análise relativamente complexa e
não garante a melhor performance, de modo que sujeita a erros (Sugimoto; Alagiyawanna, 2003).
a interação com o solo circundante é um aspecto Em muros, aterros e pavimentos reforçados
importante a ser considerado (DeMerchant et al. com geossintéticos, a substituição do uso de
2002). solos granulares, provenientes de jazidas, por
Esta interação pode ser quantificada através solos locais argilosos é uma alternativa bastante
do ensaio de arrancamento, tanto na forma atraente do ponto de vista econômico. No
monotônica (muros e aterros reforçados), entanto, solos não convencionais utilizados
quanto na forma cíclica (reforço de como material de aterro, podem possibilitar o
pavimentos), no qual o parâmentro de força de desenvolvimento de pressões positivas no
arrancamento obtido é uma variável essencial interior do maciço reforçado, provocadas pelo
para os projetos geotécnicos (Perkins, 1999). efeito da capilaridade intersticial (Orlando,
O método dos elementos finitos é 2015). Tem-se como consequência a diminuição
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da resistência ao arrancamento do reforço 2.2 Materiais


inserido no maciço de solo. Por outro lado, o
desenvolvimento de sucção matricial, em solos 2.2.1 Reforço
parcialmente saturados, pode gerar um
incremento de resistência ao arrancamento. A geogrelha é composta por PoliPropileno (PP),
Assim, conhecer o comportamento da água revestida com Policloreto de Vinila (PVC). As
intersticial no interior das estruturas de solo características do material de reforço são
reforçado, e a forma como o desenvolvimento apresentadas na Tabela 1.
de pressões internas influência na estabilidade
dessas estruturas é de grande interesse para o Tabela 1. Propriedades do reforço
desenvolvimento de critérios mais realistas para Resistência média à tração [kN/m] 34,37
projetos (Pereira, 2003). Deformação na ruptura [%] 6,2
Desta maneira, este trabalho apresenta um (ε = 2%) 881
estudo numérico comparativo para avaliar a Módulo de rigidez [kN/m]
(ε = 5%) 608
interação entre uma geogrelha de polietileno e Largura do elemento [mm] 5,50
dois tipos de solos, em diferentes condições de Espaço entre os eixos [mm] 45,00
umidade e diferentes disposições dos solos. A Espessura do elemento transversal [mm] 1,05
simulação foi realizada para uma caixa com
dimensões de pequeno e grande porte, 2.2.2 Solos
disponíveis no Laboratório de Geossintéticos da
EESC-USP, através do módulo Seep e Sigma Os solos coesivo e granular do estudo são
do software GeoStudio 2012, que realiza tipicamente encontrados na região de São
análises de tensão-deformação pelo método dos Carlos e classificados como solos tropicais. A
elementos finitos. Uma vez calibrados os Tabela 2 apresenta um resumo das propriedades
resultados, esta ferramenta permitiu a realização geotécnicas dos solos arenoso e argiloso, onde
de uma análise da influência do teor de umidade os parâmetros necessários para a realização da
do solo na resistência ao arrancamento entre o modelagem numérica foram obtidos através de
solo e a geogrelha, de acordo com a sucção ensaios no Laboratório de Mecânica dos Solos
inicial do solo obtida na curva de retenção. da EESC-USP. Os parâmetros de resistência e
deformabilidade foram obtidos através de
2 MODELO EXPERIMENTAL ensaios triaxiais CD e CU.
2.1 Caixa de Arrancamento 3 ANÁLISE NUMÉRICA
A caixa usada na simulação consiste em uma As analises apresentadas foram executadas pelo
caixa rígida de aço de grandes dimensões, que software Geostudio 2012, com uma licença full.
possui dimensões interrnas de 1,0 m de As análises de tensão e deformação foram
comprimento, 0,8 m de largura e 0,8 m de conduzidas no pacote Sigma usando a opção
altura, atingindo as mínimas especificações “Load/deformation” como tipo de análise. Este
requeridas pela ASTM D6706 (2007) para a pacote permitiu simular o ensaio usando as
realização de ensaios de arrancamento. No caso mesmas condições de contorno e dimensões do
do equipamento de pequenas dimensões, equipamento de arrancamento apresentado em
possuindo 0,245 m de comprimento, 0,3 m de 2.1. Nesta simulação, foi assumida a largura da
largura e 0,145 m de altura, não dispõe-se do caixa igual a zero, o que resulta em um modelo
espaço mínimo entre a inclusão e as paredes da de elementos finitos de duas dimensões e,
caixa recomendado pela norma ASTM D6706. consequentemente, um problema de deformação
plana.
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Tabela 2. Propriedades dos solos (2016) e podem ser vistos na Tabela 3.


Argila
Areia
Parâmetros areno-
argilosa
siltosa
ρs
Massa específica dos sólidos 2,913 2,646
[g/cm³]
ρd max
1,626 1,983
[g/cm³]
Proctor normal wot [%] 22,75 9,24
Sr [%] 84 73
wL [%] 55 16
wp
Limites de consistência 32 14
[%]
Ip [%] 23 2 Figura 1. Modelo numérico do equipamento de grande
Φ’ [°] 27 31 porte elaborado no GeoStudio e malha de elementos
Parâmetros de resistência c [kPa] 66,27 34,64 finitos gerada
obtidos do Ensaio triaxial CD e
CU E
922,00 38830,00 Tabela 3. Parâmetros de interface solo-geogrelha
[Mpa]
Classificação SUCS MH SC Parâmetros Valor
Ângulo de dilatância Ψ [º] 0,0 1,0 Módulo de elasticidade - E [MPa] 0,1
Coeficiente de Poisson υ 0,35 0,31
Coeficiente de interação Rinter 0,11 0,17 Ângulo de atrito - φ [°] 15
Coeficiente de empuxo K0 1,0 0,4849
Coesão - c [kPa] 25

Dilatância - Ψ = φ - 30 [°] 0
O modelo numérico para a caixa de grandes
dimensões, é apresentado na Figura 1. Para as Peso específico - Ɣ [kN/m³] 17
condições de contorno, apoios foram colocados
em torno da caixa para evitar o deslocamento 4 RESULTADOS
lateral. A malha de elementos finitos, composta
por elementos quadráticos e triangulares, foi 4.1 Calibração do Modelo
refinada próximo ao reforço da geogrelha
(região central) de 0,05 m para 0,01 m do A calibração do modelo foi realizada através
tamanho global do elemento. Além disso, um dos resultados experimentais realizados por
elemento de barra estrutural foi utilizado para Rincón B. (2016), que realizou ensaios na caixa
simular o comportamento do reforço, onde o de pequenas e grandes dimensões, com os solos
módulo de rigidez foi o principal parâmetro do utilizados na presente pesquisa, sendo a areia
geossintético a ser definido. A caixa de compactada na região acima do geossintético e
pequenas dimensões foi simulada com as a argila na região abaixo do geossintético, para
mesmas características descritas acima. sobrecargas de 25, 50 e 100 kPa. A Figura 2
Uma pequena região de baixa resistência, ilustra a comparação das envoltórias de
conhecida como zona de interface entre o solo e resistência, obtidas numérica e
a geogrelha foi criada nas superfícies do experimentalmente, de acordo com as forças de
reforço. Nesta região, os parâmetros de arrancamento máximas obtidas para as três
resistência e deformação apresentam valores tensões de confinamento.
reduzidos pois influenciam diretamente no De acordo com a Figura 2, a modelagem
formato da curva. O módulo de elasticidade foi numérica apresentou resultados bastante
reduzido a 10% do valor original do solo. semelhantes aos obtidos experimentalmente, de
Alguns dos parâmetros dessa região foram modo que, o aumento da tensão de
obtidos experimentalmente por Rincón B. confinamento, proporcionou um acrécimo da
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resistência ao arrancamento. Além disso, ambos correspondem com a realidade. Portanto, para
os coeficientes lineares e angulares das as análises paramétricas da seção 4.3 estes
equações possuem uma diferença insignificante parâmetros serão fixados, e serão modificadas
para cada curva, com exceção do equipamento somente as condições de umidade do solo.
de grandes dimensões, na tensão confinante de
100 kPa, onde a ruptura do geossintético 4.2 Distribuição dos Esforços e
provocou disparidade nos resultados e, Deslocamentos
consequentemente, alterou a inclinação da
envoltória de resistência. O software GeoStudio também permite a
visualização da distribuição dos esforços e dos
deslocamentos ao longo do geossintético,
conforme Figura 3.

Figura 2. Comparação das envoltórias de resistência Figura 3. Caixa de pequenas dimensões (a)
obtidas numerica e experimentalmente (a) Caixa de Deslocamentos horizontais ao longo do geossintético (b)
pequeno porte (b) Caixa de grande porte Distribuição da força de arrancamento

As envoltórias de resistência obtidas pelo Observa-se que, quanto mais distante a


equipamento de pequeno porte tiveram posição da geogrelha da face frontal, maior a
melhores relações lineares do que os resultados força de tração axial e o deslocamento ao longo
obtidos pelo equipamento de grande porte, para do reforço, o que atesta que o geossintético não
os resultados obtidos numérica e se desloca pelo solo como um corpo rígido.
experimentalmente, de acordo com o Além disso, foi verificada uma pequena
coeficiente de determinação “r²”. variação entre as curvas com diferentes tensões
De acordo com a calibração, certificou-se de confinamento.
que os parâmetros dos solos e da geogrelha Através destas modelagens, também foi
utilizados na modelagem numérica possível verificar se as dimensões da caixa e as
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condições de contorno interferem na geral, estes comportamentos obtidos


distribuição de tensões. Na Figura 4, percebe-se numericamente condizem com os fenômenos
que as maiores tensões horizontais estão esperados para ensaios experimentais, indicados
localizadas nas proximidades do ponto de na literatura.
aplicação da força de arrancamento. Além
disso, percebe-se que no equipamento de
pequenas dimensões ocorreu a mobilização de
tensões ao longo de toda a geogrelha, enquanto
que no equipamento de grande porte esta
mobilização ocorreu apenas na região inicial do
reforço.

Figura 5. Distribuição dos deslocamentos horizontais (a)


caixa de pequeno porte (b) caixa de grande porte

Figura 4. Distribuição das tensões efetivas (a) caixa de


pequeno porte (b) caixa de grande porte

A Figura 5 ilustra os deslocamentos


horizontais no geossintético, que ocorrem em
maiores proporções nas proximidades da
geogrelha. A Figura 6 ilustra a variação dos
deslocamentos verticais com a profundidade.
Destaca-se que, quanto maior a profundidade e
mais distante do centro de aplicação de força,
menores os deslocamentos observados, isso
ocorre devido a aplicação da tensão confinante.
De acordo com estas análises, conclui-se que Figura 6. Distribuição dos deslocamentos verticais (a)
caixa de pequeno porte (b) caixa de grande porte
os comprimentos do reforço escolhido possuem
dimensões adequadas, uma vez que as tensões e
4.3 Análise da Influência do Teor de Umidade
deslocamentos horizontais mobilizados
decrescem após a extremidade da geogrelha.
Uma vez calibrados os resultados numéricos, as
Além disso, o equipamento de grande porte,
seções subsequentes abordarão as análises
poderia ter suas dimensões reduzidas, de acordo
numéricas realizadas, cujo objetivo principal foi
com a modelagem numérica, já que grande
de se verificar como o processo de
parte de seu volume não influência na
umedecimento e secagem influencia no
resistência ao arrancamento da geogrelha. No
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mecanismo de interação solo-geogrelha, bem flui no interior das partículas em meios


como difundir o uso da teoria dos solos não saturados e parcialmente saturados, pelo método
saturados na modelagem numérica. Para isso, dos elementos finitos, através da imposição de
foram definidos três pontos na curva de uma sucção inicial ao solo, correspondente ao
compactação, com diferentes teores de umidade teor de umidade desejado, de acordo com a
e grau de compactação, para cada tipo de solo, curva de retenção do solo.
conforme Figura 7. Esta curva é de fundamental importância
para o entendimento do comportamento dos
solos não saturados, pois representa a
capacidade do solo de armazenar água quando
submetido à diferentes teores de umidade.
Como Rincón B. (2016) não realizou ensaios
para a determinação da curva de retenção dos
solos utilizados, foi necessário se estimar esta
curva. Existem diferentes proposições
matemáticas para a modelagem da curva
característica dos solos, onde a maioria dos
modelos baseia-se na interdependência entre a
forma da curva característica e a distribuição do
volume de vazios. Para este trabalho, optou-se
Figura 7. Definição dos três pontos de estudo (seco “S”;
ótimo “O”; e, úmido “U”) na curva de compactação para pelo uso do Geostudio 2012, que possui uma
o solo arenoso (base) e argiloso (subleito) ferramenta que permite estimar a curva de
retenção, através da granulometria do solo e do
O primeiro ponto de estudo corresponde ao limite de liquidez (Figura 8).
ponto ótimo da curva de compactação do
Proctor Normal, referenciado na Figura 7 pela
letra “O”. Assim, as amostras de solo
modeladas neste ponto, para a areia,
apresentaram um teor de umidade de 9,24% e
uma densidade seca de 1,983 g/cm³, por
exemplo. Os outros dois pontos visaram simular
o aumento “U” e a redução “S” do teor de
umidade do material (sucção), que também
foram referenciados pelas estrelas, nos ramos
úmido e seco das curvas de compactação,
respectivamente.
Como os pontos foram posicionados Figura 8. Curva de retenção estimada para os solos
argiloso e arenoso
sobrepostos na curva de compactação, assume-
Definidos os pontos da curva de
se que todas as modelagens foram realizadas
compactação, foi possível se calcular o teor de
com a mesma energia de compactação e,
umidade volumétrico do solo e, com base na
portanto, com a mesma estrutura intergranular.
curva de retenção (Figura 8), se definir as
Com o intuito de se impor os teores de
sucções iniciais para cada condição de ensaio
umidade desejados no solo, para a modelagem
desejada na modelagem. A Tabela 4 apresenta
de solos não saturados, foi necessário acoplar os
um resumo dos dados iniciais de moldagem
módulos Seep e Sigma do software Geostudio
referentes às condições “S” (ramo seco), “O”
2012. Esta ferramenta permite simular
(ponto ótimo) e “U” (ramo úmido) em estudo.
numericamente, o processo físico da água que
Adicionalmente, foi escolhido um ponto para
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simular as condições saturadas do solo.

Tabela 4. Condições iniciais de modelagem dos pontos de


estudo (S, O, U e Sat)
Tipo de ƿs ƿd p
Ponto w (%) θ (m³/m³) Sucção
solo (g/cm³) (g/cm³) (g/cm³)
S 2,646 1,9 6,3 2,020 0,120 -30,0
O 2,646 1,983 9,24 2,166 0,183 -18,0
Areia
U 2,646 1,85 13 2,091 0,241 -9,0
Sat 2,646 1,68 21 2,033 0,353 0,0
S 2,913 1,5 18 1,770 0,270 -200,0
O 2,913 1,626 22,7 1,995 0,369 -100,0
Argila
U 2,913 1,5 27,5 1,913 0,413 -80,0
Sat 2,913 1,25 37 1,713 0,463 0,0

4.3.1 Camada Superior de Areia e Camada


Inferior de Argila
Figura 9. Influência da sucção no valor da máxima tensão
de arrancamento na caixa de pequenas dimensões
As Figuras 9 e 10 sintetizam os resultados das
forças de arrancamento máximas obtidas para as
modelagens do ensaio de arrancamento em
diferente condições de umidade, para a caixa de
pequenas e grandes dimensões,
respectivamente. Para estas simulações foi
considerado areia na região superior da caixa,
simulando uma base de pavimento e argila na
região inferior, simulando o subleito, tal como
fez Rincón B. (2016).
Constata-se que, para uma mesma tensão
normal, quanto maior o valor da sucção inicial
imposta, maior a máxima tensão de
arrancamento obtida, mesmo com a condição
“S” apresentando um grau de compactação
menor que a condição “O”. Os resultados Figura 10. Influência da sucção no valor da máxima
mostraram que o umedecimento na tensão de arrancamento na caixa de grandes dimensões
compactação do solo (passagem da condição
“O” para a “Sat”) gerou uma redução de até Nota-se que, para o ensaio de arrancamento
11% nos valores das máximas tensões de pós-ciclagem, onde eram aplicados 10000 ciclos
arrancamento, enquanto que a secagem do na geogrelha, com uma força de 20% da força
mesmo (passagem da condição “O” para “S”) de arrancamento máxima, para uma posterior
gerou um ganho de resistência de até 4%, para a aplicação do arrancamento monotônico, não
caixa de pequenas dimensões, onde estes houveram diferenças significativas após as
valores foram mais pronunciados para a menor variações dos teores de umidade iniciais.
tensão de confinamento (25 kPa). Para a caixa No geral, apesar da constatação de que a
de grandes dimensões, a redução máxima da variação da sucção dos solos influencia
resistência por umedecimento foi de 6,5% e o diretamente na resistência ao arrancamento,
máximo acréscimo de resistência de 1,9%, percebe-se que, para este caso (areia como base
ambos para as tensões de confinamento de 50 e argila como subleito), a influência deste fator
kPa. pode ser considerada baixa. Isto pode ser
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justificado, pela presença da areia na camada Estes resultados ratificam os cuidados e


superior, cuja capacidade de drenagem permite restrições recomendadas pelas normas, quanto
evitar o surgimento de pressões neutras, ao uso de solos denominados “não
prejudiciais para a interação solo-geossintético. convencionais” nestes tipos de obras. Percebe-
se que, quanto maior a tensão de confinamento,
4.3.2 Camadas Superior e Inferior Compostas menor as resistências ao arrancamento, o
por Solo Argiloso inverso do ocorrido anteriormente, onde foi
utilizado o solo arenoso como base.
O estudo subsequente traz uma análise da Para o ensaio de arrancamento cíclico, desta
influência da sucção, utilizando somente o solo vez foram constatadas maiores influências da
argiloso na caixa, que não possui as mesmas sucção na resistência de arrancamento pós-
propriedades hidráulicas da areia, tanto na cíclica. Em vista disso, os autores deste trabalho
região inferior quanto na superior do recomendam estudos adicionais, quanto ao
equipamento. Para efeito comparativo, como a comportamento da sucção em ensaios de
menor caixa apresentou uma melhor calibração arrancamento cíclico, haja vista que não
com os resultados experimentais, de acordo existem dados de estudos anteriores avaliando
com a seção 4.1, foram analisados apenas as estes resultados, que poderiam ser de grande
simulações referentes à caixa de pequeno porte valia para a prática da engenharia de
(Figura 11). pavimentos. Além disso, ressalta-se a
importância de se utilizar a teoria dos solos não
saturados para a modelagem de solos coesivos,
uma vez que o teor de umidade pode influenciar
bastante nos valores de resistências adotados em
projetos.

4.3.3 Camadas Superior e Inferior Compostas


por Solo Arenoso

Com o intuito de se comparar os resultados


obtidos com o solo argiloso na seção 4.3.2,
nesta análise foi utilizado apenas o material
arenoso, como base e subleito, em torno do
geossintético. A Figura 12 ilustra os resultados
obtidos para cada condição.
Figura 11. Influência da sucção no valor da máxima força Apesar de não ser uma condição muito
de arrancamento na caixa de pequenas dimensões utilizada nos projetos rodoviários, devido ao
preenchida somente com solo argiloso
uso do material granular, percebe-se que as
resistências ao arrancamaneto máximas obtidas
De acordo com a Figura 11, continua
aumentaram em até 25% em relação à condição
evidente a influência da sucção nos resultados
onde foi utilizado somente o solo argiloso.
de resistência ao arrancamento máxima. Os
De acordo com a Figura 22, as propriedades
resultados mostraram que o umedecimento na
filtrantes das areias não proporcionaram uma
compactação do solo até a condição saturada,
alteração significativa da resistência máxima ao
gerou uma redução de até 26% nos valores das
arrancamento, após a variação do teor de
máximas forças de arrancamento. No entanto, a
umidade do material. Assim, fica evidente o
secagem não gerou ganhos de resistências
porquê das normas técnicas nacionais e
significativos, apresentando aumentos de, no
internacionais recomendarem o uso de material
máximo, 5% da resistência na umidade ótima.
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granular nos pavimentos, já que as resistências estudos adicionais, quanto ao comportamento


se mantiveram em diferentes condições de da sucção em ensaios de arrancamento cíclico,
umidades e diferentes tensões de confinamento, haja vista que não existem dados de estudos
o que permite um fácil controle de execução da anteriores avaliando estes resultados, que
obra. poderiam ser de grande valia para a prática da
engenharia de pavimentos.
No geral, as análises indicaram que a
modelagem numérica é uma ferramenta que
permite uma efetiva implementação das análises
convencionais do comportamento de tensão-
deformação para os solos não saturados. A
máxima resistência ao arrancamento
monotônico aumentou com o aumento da
tensão confinante para os dois equipamentos, de
pequena e grande dimensão.

REFERÊNCIAS

ASTM D6706 (2007). Standard test method for


measuring geosynthetic pullout resistance in soil.
Figura 12. Influência da sucção no valor da máxima American Society for Testing and Materials, USA.
tensão de arrancamento na caixa de pequenas dimensões Abdi, M. R.; Zandieh, A. R (2014). Experimental and
preenchida somente com solo arenoso. numerical analysis of large scale pull out tests
conducted on clays reinforced with geogrids
encapsulated with coarse material. Geotextiles and
5 CONCLUSÃO Geomembranes, KNT University, Tehran, Iran, pp.
494 – 504.
Este artigo apresenta uma análise numérica de DeMerchant, M. R.; Valsangkar, A. J.; Schriver, A. B.
ensaios de arrancamento monotônico e pós- (2002). Plate load tests on geogrid-reinforced
expanded shale lightweight aggregate. Geotextiles and
ciclagem, considerando diferentes condições de Geomembranes, University of New Brunswick.
umidade no solo (S, O, U e Sat) em um solo Fredericton, Canada, n. 20, p. 173-190.
argiloso e um arenoso, utilizando-se o Orlando, P. D. G. (2015) Avaliação experimental da
acoplamento dos módulos Seep e Sigma do interação solo coesivo-fita polimérica sob condições
software GeoStudio 2012. de teor de umidade variáveis. Dissertação de
Mestrado – Escola Politécnica da Universidade de
Os parâmetros geotécnicos adotados tiveram São Paulo, Universidade de São Paulo. São Paulo,
elevada influência nos resultados, o que ressalta Brasil.
a importância da escolha correta destas Pereira, D. A. B. (2003). Modelação numérica de ensaios
variáveis, para uma boa calibração do modelo de arranque de geossintéticos – estudos paramétricos.
numérico. Dissertação de mestrado. Universidade do
Porto/Porto.
As variações entre os valores de resistência PERKINS, S. W., (1999). Mechanical response of
ao arrancamento máximas obtidas com a geosynthetic-reinforced flexible pavements.
variação do teor de umidade em diferentes Geosynthetic International, Vol. 6, n. 5, p. 347-382.
condições do solo, ratificam a importância da Rincón B., S. A. (2016). Estudo comparativo da
interação solo-geogrelha por meio de ensaios de
inclusão da teoria dos solos não saturados para a
arrancamento monotônico e cíclico utilizando
simulação numérica de experimentos, equipamentos de pequenas e grandes dimensões. 191
principalmente para solos coesivos, uma vez p. Dissertação de Mestrado – Escola de Engenharia de
que as resistências obtidas são mais susceptíveis São Carlos, Universidade de São Paulo. São Carlos,
à variação do teor de umidade. Brasil.
Sugimoto, M.; Alagiyawanna, A. M. N. (2003) Pullout
Os autores deste trabalho recomendam
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behavior of geogrid by test and numerical analysis.


Journal of Geotechnical and Geoenvironmental
Engineering © ASCE, Vol. 129, No. 4, p. 361-371.
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Estudo paramétrico da utilização de geogrelha em base de


pavimentos por meio de retroanálise de bacias deflectométricas
obtidas de ensaio de laboratório
Gabriela Bento Moraes
Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, Brasil, gabrielamoraes.civil@gmail.com

Francis Massashi Kakuda


Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, Brasil, francis@ufscar.br

RESUMO: O objetivo deste trabalho foi comparar e analisar os módulos de resiliência e as espessuras
equivalentes das camadas constituintes do pavimento, obtidos pelo processo de retroanálise das
bacias deflectométricas levantadas por Kakuda (2010). Foram analisadas as situações com e sem
utilização de uma geogrelha na interface base-subleito. Utilizou-se o software de dimensionamento
de pavimentos SisPav (FRANCO, 2007). Os resultados de módulos resilientes obtidos das simulações
apresentaram uma taxa de benefício de 42%, devido ao uso da geogrelha. Na análise da espessura da
camada de base verificou-se uma possível redução de 29% da camada de base, quando utilizado uma
geogrelha na interface base-subleto. Por fim, as simulações realizadas no programa apresentaram
resultados que refletem a melhora do módulo resiliente da camada de base possibilitando um
prolongamento na vida de serviço do pavimento ou uma possível redução da espessura da camada de
base.

PALAVRAS-CHAVE: Pavimento flexível; Geossintéticos; Reforço; Deflexão elástica.

1 INTRODUÇÃO Uma das tecnologias disponíveis no controle


e redução das principais patologias encontradas
As más condições de rodagem da maioria das nos pavimentos flexíveis é a incorporação de
rodovias brasileiras têm elevado os custos com uma geogrelha como elemento de reforço. A
manutenção da frota e vias, o consumo de utilização de uma geogrelha como elemento de
combustível e também o número de acidentes. reforço em uma estrutura de pavimento flexível
As principais patologias encontradas nos busca, de uma maneira geral, contribuir na
pavimentos flexíveis são as trincas por fadiga do redução das camadas granulares, evitar o
revestimento submetido a carregamento cíclico e cravamento dos agregados nas camadas de solos,
afundamento da trilha da roda devido ao resistir aos esforços solicitantes, distribuir as
recalque das camadas subjacentes. tensões nas camadas de menor resistência e
Sabe-se que a rede rodoviária nacional se aumentar a vida de serviço do pavimento.
encontra envelhecida, deficiente e precária em Os efeitos benéficos da utilização de
grande parte do país, o que, aliado à falta de geossintéticos como elemento de reforço em
investimento do setor público na manutenção e estruturas de pavimentos flexíveis foram
melhoramento da infraestrutura de transporte, apresentados em experimentos de laboratório
demanda técnicas inovadoras ou não como em experimentos de campo (KAKUDA,
convencionais de construção de pavimentos que 2010; LENG, J. & GABR, M. A., 2002; MIURA
incorporem maneiras de reduzir custos de et al., 1990, etc). Os resultados obtidos indicam
execução, aumentar a durabilidade das vias e que os pavimentos reforçados apresentam
reduzir as intervenções de reparos e período de projeto maior em comparação a
reconstruções. seções similares sem reforço. No caso de reforço
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das camadas granulares os experimentos biblbiográfico das utilizações de geossintéticos


mostraram uma redução de 20 a 50% na como elemento de reforço de camadas
espessura desta camada devido a inclusão do granulares de uma estrutura de pavimento e os
geossintético. métodos de dimensionamentos em que
Neste contexto, novos estudos devem ser consideram a incorporação de geossintético.
desenvolvidos para que se avance ou aumente a Posteriormente, foi realizado uma seleção de
divulgação deste conhecimento do dados de ensaios de laboratório em dimensões
comportamento de estruturas de pavimentos próximas as usuais, obtidos por Kakuda (2010).
reforçados com geossintéticos e para que seja Escolhido as curvas deflectométricas de
possível incorporar informações sobre seu efeito estruturas de pavimentos com e sem utilização
estrutural se comparado com estruturas de geogrelha para 400.000 aplicações de carga .
convencionais. Realizou-se o estudo paramétrico por meio do
Para possibilitar o melhor entendimento dos módulos de resiliencias das camadas
mecanismos e mensurar os benefícios gerados constituintes de uma estrutura de pavimento.
pela incorporação de uma geogrelha em uma Eses módulos foram obtidos por retroanálise das
estrutura de pavimento é importante o curvas deflectométricas, em que se utilizou o
levantamento das deformações elásticas e software de dimensionamento de pavimentos
permanentes em ensaios de laboratório que SisPav (FRANCO, 2007).
reproduzam as condições de campo e por meio Os módulos foram obtidos por um processo
de retroanálise das bacias deflectométricas interativo em que se alterava os módulos
obtenção de valores de módulos de resilencias resilientes das camadas até que as curvas se
das camadas constituintes do pavimento. convergissem. O modelo utilizado nestas
análises foi o modelo constante para as camadas
granulares.
2 OBJETIVO Numa etapa complementar, verificou-se a
espessura da camada de base com o módulo
O objetivo deste trabalho foi analisar a eficiência encontrado para a configuração com e sem
e o benefício do uso de uma geogrelha como utilização de geogrelha e buscou-se a espessura
elemento de reforço da camada granular de uma da camada de base equivamente para convergir
estrutura de pavimento, a partir da análise dos na curva deflectométrica do ensaio sem
módulos resilientes obtido por meio de utilização de geogrelha.
retroanálise de bacias deflectométricas
levantadas nos estudos de Kakuda (2010).
Comparou-se os módulos resiliêntes das 4 DADOS COLETADOS
camadas granulares para a situação com e sem a
utilização de uma geogrelha posicionada na As bacias deflectométricas utilizadas neste
interface base-subleito e também a espessura da estudo foram lenvantados de Kakuda (2010).
camada de base equivalente para as duas Que obteve as bacias de deformações elásticas e
situações analisadas. Para isso, foi utilizado o plasticas na superfície da estrutura de pavimento
software de dimensionamento de pavimentos analisadas em um equipamento de laboratório
SisPav (FRANCO, 2007). de grandes dimensões.
O equipamento utilizado nos ensaios tem
dimensões de 1,5x 1,5m de largura por 1,2m de
3 METODOLOGIA profundidade e o carregamento cíclico é aplicado
na superfície da seção ensaiada por meio de uma
Este estudo foi desenvolvido segundo as placa metálica circular com 300mm de diâmetro
seguintes etapas: e 25,4mm de espessura. Um elemento de
Primeiramente, foi feito um levantamento borracha com 4mm de espessura foi instalado na
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face inferior da placa para torná-la semi-flexível


e evitar que ocorram rupturas localizadas na
superfície sob as suas extremidades e aproximar
as condições do experimento às condições de
campo.
O sistema responsável pela geração do
carregamento cíclico é composto de um cilindro
pneumático de 300mm de diâmetro. Aplicou-se
carregamento cíclico de 40kN com frequencia de
1Hz, buscando-se reproduzir a condição
preconizada para o ensaio ‘Determinação das
Deflexões Utilizando o Deflectômetro de
Impacto Tipo Falling Weight Deflectometer –
FWD’, segundo a norma DNER-PRO 273/96.
Nestas condições, é aplicada na superfície do
pavimento uma tensão de 550kPa. A Figura 1 (a)
apresenta uma vista geral do equipamento de
ensaio descrito. Maiores detalhes quanto ao
equipamento encontra-se em Kakuda (2010).

(b)
Figura 2. Vista esquemática do posicionamento da
instrumentação (a); disposição LVDTs (b) (KAKUDA,
2010).
Figura 1. Vista geral do equipamento de ensaio
(KAKUDA, 2010) Para a construção da seção do pavimento
foram utilizados dois solos e uma brita. Um dos
A instrumentação foi composta por solos foi usado como subleito, e o outro,
transdutores para a medida da força aplicada, juntamente com a brita, para a composição da
deslocamentos na superfície da seção ensaiada e mistura solo-brita na proporção de 30% de solo
tensões no interior das camadas. A força é e 70% de brita. As classificações dos solos
monitorada por uma célula de carga acoplada ao segundo os sistemas S.U.C.S., H.R.B e MCT são
cilindro pneumático e os deslocamentos respectivamente, para o Solo 1, A-4, CL e NS’;
superficiais são monitorados por seis LVDTs e para Solo 2, A-2-6, SC e LA’.
alinhados e apoiados sobre a superfície do Os materiais usados na composição do
pavimento, cinco deles posicionados fora da subleito e da base foram compactados nas
região carregada, e um posicionado em um energias normal e modificada do ensaio Proctor
pequeno orifício da placa, próximo ao seu (DNER-ME 129/94), respectivamente. Também
centro, conforme apresentado na Figura 2. foram realizados ensaios para a determinação
dos índices de suporte Califórnia (ISC) (DNER
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ME 049/94). Os resultados destes ensaios são aplicações, para a configuração de ensaio sem a
apresentados na Tabela 1. utilização de geogrelha estão apresentadas na
Figura 3. Para o ensaio em que se utilizou a
Tabela 1. Resultados dos ensaios de compactação e CBR geogrelha posicionada na interface base-subleito
do subleito e da base
as bacias deflectométricas para as mesmas
Wot dmax CBR quantidades de aplicação de carregamento estão
Material Energia
(%) (g/cm2) (%)
apresentados na Figura 4. A frequência do
Solo (subleito) Normal 25,7 1,459 8 carregamento foi de 1Hz (0,3s de
Solo/brita (base) Modif. 5,6 2,315 190
carregamento/descarregamento para 0,7s de
A Tabela 2 apresenta as constantes K1, K2 e repouso). Neste trabalho foram utilizadas as
K3 do modelo composto (1) e os respectivos bacias deflectométricas obtidas para
5
coeficientes de determinação R2. 4x10 aplicações de carga.

M R  K1   3k2   dk3 (1)

em que, MR: módulo de resiliência (MPa);


d: tensão desvio (kPa);
3: tensão confinante (kPa);
K1, K2 e K3: parâmetros de regressão.

Tabela 2. Resultados do ensaio triaxial cíclico


Material Parâmetros de regressão
R2
K1 K2 K3
Subleito 29,00 0,52 -0,44 0,93 Figura 3. Deflexões para configuração sem geogrelha
Base 63,59 0,78 -0,35 0,96 KAKUDA, 2010)

Para o reforço foi utilizada uma geogrelha


biaxial de filamentos de polipropileno (PP) com
revestimento polimérico protetor de alta rigidez,
modelo Fornit J600 (30/30) fabricada pela
Empresa Huesker Ltda. A Tabela 3 apresenta as
propriedades fornecidas pela fabricante da
geogrelha em questão.

Tabela 3. Propriedades mecânicas da geogrelha Fornit J600


(30/30) (fornecidos pelo fabricante)
Propriedades Unidade Fornit
J600 (30/30) Figura 4. Deflexões para configuração com geogrelha
Gramatura g/m2 240 (KAKUDA, 2010)
Malha longitudinal mm 40
Malha transversal mm 40 A Tabela 4 apresenta as deflexões levantadas
Tensão última longitud. kN/m 30 pelos lvdts posicionados conforme Figura 2,
Tensão última transversal kN/m 30
Módulo de rigidez à para a configuração de ensaio sem e com
tração nominal (à 2% de kN/m ≥600 utilização de uma geogrelha na interface
deformação) subleito-base.
As análise dos módulos de resiliencias
As deflexões encontradas na superfície, a retroanalisádos partir destas curvas de deflexão,
7,5cm, 10cm, 20cm, 30cm, 40cm, 50cm e 60cm sendo utilizado o Software SisPav para a
do eixo de aplicação de carga para ciclos de simulações dos deslocamentos na superfície do
50.000, 100.000, 200.000, 300.000 e 400.000 pavimentos em análise.
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Tabela 4. Deflexões na superfície do pavimento ensaios foram os dados de saída utilizados para
para 400.000 ciclos de carregamentos. comparação e apresentados juntamente com o
Distância do Sem Geogrelha na controle de Kakuda (2010). Foram realizadas
centro de geogrelha interface algumas tentativas para verificar a sensibilidade
carregamento (mm) subleito-base da variação do módulo de resiliência nas
(mm) (mm)
75 -1,10 - 0,90
respostas das deflexões na superfície da estrutura
200 -0,79 -0,66 em análise. Foi realizado um processo de
300 -0,40 -0,42 tentativas até que a curva obtida por retroanálise
400 -0,23 -0,31 convergisse com a levantada em experimento de
500 -0,14 -0,14 laboratório. A Figura 5 apresenta a curva de
600 -0,11 -0,13
deflexão de referência e as demais curvas obtidas
da resposta do software SisPav.
A Tabela 5 apresenta os módulos adotados
5 ANÁLISE DOS RESULTADOS
das camadas de base e subleito utilizados nas
simulações realizadas no SisPav.
Neste estudo foram utilizados para comparação
apenas os resultados de deflexões elásticas para Tabela 5. Módulos das camadas utilizados nas simulações
realizadas no SisPav..
as configurações de ensaio com o subleito
compactado na umidade ótima com e sem Tentativas Mr Base Mr Subleito
utilização de geogrelha na interface base- (MPa) (Mpa)
1 280 37
subleito. As curvas deflectométricas escolhidas 2 210 45
para utilizar neste estudo foram as curvas obtidas 3 165 45
após 4 x 105 aplicações de carga. Para as 4 227,5 40,8
simulações no programa SisPav (FRANCO,
2007), foram utilizados os seguintes dados de
entrada: camada de base de 20cm (Solo 2);
subleito com 50cm de espessura (Solo 1);
camada drenante de brita 1 de 10cm de espessura
abaixo da camada de subleito, utilizado nos
ensaios para inundação uniforme do subleito de
baixo para cima, quando conveniente
(coeficiente de Poisson = 0,35; 𝐾1 /𝑀r =
500MPa; 𝐾2 = 0; 𝐾3 = 0); e fundo da caixa de
ensaio, representado por um material de
espessura infinita (coeficiente de Poisson = 0,1; Figura 5. Comparações das curvas retroanalisadas com a
𝐾1 /𝑀r = 50000MPa; 𝐾2 = 0; 𝐾3 = 0). de referência, situação sem geogrelha.
A aba seguinte denominada “Carregamento”
foi preenchida com a pressão dos pneus de
0,55MPa e com carga de configuração do eixo
de 8200kg, sendo os valores restantes gerados
pelo programa (Figura 3.2.5). Na aba
“Resultados”, antes de pressionar o botão
calcular, o valor de iterações foi alterado de 1
padrão para 3 (afim de refinar o resultado
obtido), as linhas da coluna “X” foram
preenchidas com as distâncias do eixo de carga
que se deseja obter deflexões, sendo estas as
mesmas apresentadas na Tabela 4. Os valores de Figura 6. Melhor aproximação da curva deflectométrica
deflexão na superfície gerados na coluna “Uz” reanalisada para situação sem utilização de geogrelha.
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Nas Figuras 5 e 6, observa-se uma boa


convergência das curvas de referência com a
obtida por retroanálise. Apesar do ponto a 20cm
do centro de carregamento apresentar
graficamente uma disparidade, julgou-se que
esta configuração representou a melhor resultado
quando analisada a curva como um todo.
Tendo em vista que as medidas de deflexões
medidas pelos Lvdts foram na ordem de décimo
de milímetro e que a maior diferença se
apresentou para o ponto com distância de 20cm
do centro de carregamento, sendo da ordem de Figura 7. Melhor aproximação da curva deflectométrica
0,16mm. Entende-se que possivelmente esta reanalisada para situação com utilização de geogrelha.
pequena diferença possa ter ocorrido devido a
utilização de uma placa rígida que fez com que
esse ponto em questão tenha apresentado uma Analisando a Figura 7, nota-se que todos os
deflexão maior se comparado com a simulação pontos da curva simulada estão bastante
no programa SisPav (FRANCO, 2007). próximos à curva de referência. As medidas de
De sorte, chegou-se aos módulos de deflexões medidas pelos Lvdts foram na ordem
resiliência das camadas analisadas por meio da de décimo de milímetro e a maior diferença se
retroanálise da curva deflectométrica para apresentou para o ponto com distância de 20cm
400.000 ciclos de carga, com o auxílio do do centro de carregamento, sendo este da ordem
programa SisPav (FRANCO, 2007). Os módulos de 0,07mm.
de resiliência das camadas de base e subleito Os módulos de resiliência das camadas de
foram de 227,5MPa e 40,8Mpa, base e subleito foram obtidos com a média
respectivamente. ponderada das camadas fracionadas, resultando
Na análise da estrutura com utilização de um nos módulos resilientes de 395MPa e 35,2Mpa,
geogrelha na interface base-subleito, o respectivamente.
procedimento foi semelhante ao da Etapa A taxa de benefício foi encontrada
anterior, porém comparou-se a simulação à comparando-se os valores médios dos módulos
curva de referência do ensaio com geogrelha na de resiliencia da camada de base encontrados por
interface subleito-base. O objetivo foi mostrar, retroanálise para a situção analisada
de forma comparativa, o aumento de resistência anteriormente, ou seja, os módulos utilizados
do solo equivalente ao uso da geogrelha nessa para convergir as curvas deflectométricas
posição. obtidas de ensaios experimentais (Kakuda, 2010)
Para uma melhor sensibilidade nas análises, para situação sem e com utilização de uma
optou-se por dividir a camada de base em duas geogrelha na interface base-subleito.
Taxa de Benefício do Módulo de Resiliência
camadas. Na aba “Estrutura” os coeficientes 𝐾2
da camada de base em função do uso de
e 𝐾3 foram mantidos iguais a zero coerentemente
geossintético na interface subleito-base foi de
ao modelo constante adotado. Após diversas
42%.
tentativas, o melhor resultado foi alcançado com
Como análise complementar, buscou-se
𝑀𝑟 395 Mpa da camada de base obtido pela
identificar uma possível redução da camada de
média ponderada e Mr de 35,4Mpa para o
base devido a inclusão de uma geogrelhas na
subleito. A Figura 7 compara a curva da
interface base-subleito.
simulação com a curva de referência de Kakuda
Para isso, utilizou-se como referência a curva
(2010) com a utilização de geogrelha na
encontrada por Kakuda (2010) para a
interface subleito-base com aplicação de carga
configuração de ensaio com a utilização de
de 400.000 ciclos.
geogrelha.
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Então, utilizando os módulos resilientes obtidos comparados geram uma taxa de benefício de
por retroanálise para a configuração sem utilização 42% devido ao uso da geogrelha na interface
de uma geogrelha, ou seja, Mr=227,5Mpa para base base-subleito.
e Mr= 40,8Mpa para o subleito, passou-se então a Na comparação entre as espessuras da base para
variar a espessura da camada base até encontrar uma
as configurações sem e com reforço de geogrelha
curva de deflexão próxima à de referência. As
deflexões da curva encontrada estão apresentadas na
na interface subleito-base do pavimento. Os
Figura 8. resultados obtidos foram de 28cm na primeira
situação e 20cm na segunda, um ganho de 8cm
em material igual a uma redução de 29% na
espessura da camada de base para desempenhar
o equivalentemente à estrutura sem reforço.
Por fim o uso de geogrelha na interface
subleito-base mostrou-se significativamente
positivo para as configurações de pavimento
estudadas. As simulações realizadas no
programa SisPav (FRANCO, 2007)
apresentaram resultados que pode refletir um
aumento do módulo resiliente da camada de base
quando utilizou uma geogrelha como reforço ou
Figura 8. Curva de deflexão com uso de geogrelha uma possível redução da sua espessura, o que vai
(KAKUDA, 2010) vs curva de deflexão retroanalisa com
variação da espessura de base. de encontro com os resultados relatados na
literatura.
Taxa de Benefício da espessura da camada de
base em função do uso de geossintético na
interface subleito-base: REFERÊNCIAS
 Espessura de base de partida = 0,20m AASHTO Designation: T307-99. “Standard Method of
 Espessura de base (retroanaálise)= 0,28m Test for Determining the Resilient Modulus of Soil and
Aggregate Materials”.
(
20𝑐𝑚
− 1) 𝑥 100% = −29% (2) ABNT. NBR 9895: Solo - Índice de Suporte Califórnia
28𝑐𝑚 (ISC) - Método de ensaio, Brasil, 2016, p.14.
DNER-ME 035/94. Agregado - Abrasão “Los Angeles”.
Ou seja, o uso da geogrelha na interface DNER-ES 303/97. “Pavimentação – Base estabilizada
subleito-base gera uma redução de 29% na granulometricamente”.
espessura da camada de base para desempenhar DNER-PRO 273/96. “Determinação das Deflexões
Utilizando o Deflectômetro de Impacto Tipo Falling
o equivalentemente à estrutura de partida sem Weight Deflectometer – FWD”.
reforço. Cabe ressaltar que esta análise está a DNER ME 049/94. “Solos-determinação do índice de
julgar-se apenas na questão das deflexões Suporte Califórnia utilizando amostra não
elásticas. trabalhadas”.
Franco, F. A .C .P (2007). Método de dimensionamento
mecanístico empírico de pavimentos asfálticos –
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS SisPav. Tese de Doutorado Engenharia Civil -
Universidade Federal do Rio de Janeiro – COPPE, Rio
Os resultados obtidos das simulações executadas de Janeiro, 294p.
no programa SisPav sem geogrelha, para os Garcez, G. L. (1999) - Aplicação de geossintéticos como
módulos de resiliência das camadas de base e reforço de base em obras viárias. Dissertação de
Mestrado em Ciência na área de Infraestrutura de
subleito foram de 227,5MPa Mpa e 40,8Mpa, Transportes – Pós-Graduação do Instituto Tecnológico
respectivamente. Com a utilização de geogrelha de Aeronáutica, São José dos Campos, 109p.
posicionada na interface subleito-base, os Kakuda, F. M. (2010) - Desenvolvimento e a utilização de
valores foram de 395MPa e 35,2Mpa, um equipamento de grandes dimensões na análise do
respectivamente. Estes resultados, quando comportamento mecânico de uma seção de pavimento
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sob carregamento cíclico. - Tese de Doutorado -


Departamento de Transportes -- Escola de Engenharia
de São Carlos, São Carlos, 262p.
Leng, J. and Gabr, M. A. (2007). “Deformation-resistance
model for geogrid-reinforced unpaved road”. TRR
1975, Transportation Research Board.
Miura, N., et. al., (1990). “Polymer grid reinforced
pavement on soft clay grounds”. Geotextiles and
Geomembranas, vol 9.
Medina, J., Motta, L. M. G. (2005) “Mecânica dos
Pavimentos”. Editora UFRJ, Rio de Janeiro.
Trichês, G.; Bernucci, L. B. Reforço de Base de
Pavimentos. In: Vertamatti, J. C. (Ed.). Manual
Brasileiro de Geossintéticos. 1ª ed. São Paulo: Edgard
Blutcher, 2004. cap.4.9, p.153-174.
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Influência da Altura da Textura na Resistência ao Cisalhamento de


Interfaces entre Areia e Geomembrana
Nelson Padrón Sánchez
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, nelsonwerpnsn@gmail.com

Gregório Luís Silva Araújo


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, gregorio@unb.br

Ennio Marques Palmeira


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, palmeira@unb.br

RESUMO: Neste trabalho estudou-se a resistência de interface de duas geomembranas com diferente
microtopografia e tipo de matriz com areia média, por meio de ensaios de cisalhamento em três
tamanhos de área de contanto. Foram empregados três valores de tensões confinantes, sendo os
valores de 25, 50 e 100 kPa para ensaios de cisalhamento direto e tensões iniciais de 2, 4 e 6 kPa para
ensaio de plano inclinado. Por meio de microscópio digital, caracterizou-se a microtopografia para
cada tipo de geomembrana. A realização dos ensaios permitiu analisar e comparar a influência do
tamanho da área de contato nos ensaios nos ângulos de atrito e na resistência ao cisalhamento de
interface, assim como da altura e espaçamento das asperezas e tipo de matriz.

PALAVRAS-CHAVE: Geossintéticos, Resistência de Interface, Altura de Aspereza,


Microtopografia, Plano Inclinado, Aterro Sanitário.

1 INTRODUÇÃO interface adequada. A natureza sintética destes


torna-os adequados para tal uso onde um alto
Na construção de obras geotécnicas torna-se nível de durabilidade é exigido para as barreiras
relevante o emprego de materiais geossintéticos, impermeáveis. Com isso, evitam-se possíveis
que na maioria dos casos propicia vantagens alterações ambientais consideráveis pelo
técnicas, de custo e de tempo de execução. Os vazamento de substâncias contaminantes
diversos tipos de geossintéticos podem ser perigosas presentes nos aterros sanitários.
utilizados em obras com diferentes funções Neste trabalho estuda-se a influência da altura
como separação, proteção, filtração, drenagem, de textura na resistência ao cisalhamento de
controle de erosão, reforço e impermeabilização. interfaces entre areia média e geomembranas
Especificamente na construção de aterros texturizadas, por meio de ensaios em diferentes
sanitários, o aumento da inclinação dos taludes, escalas e caraterização microtopográfica das
assim como o aumento da profundidade das texturas das geomembranas. Objetivou-se
células, contribui para o incremento da analisar e comparar a influência da altura de
instabilidade das massas de solo e das soluções textura das geomembranas, do diferente tipo de
de impermeabilização das células. Isso torna matriz e do espaçamento e forma das asperezas,
necessária a realização de uma análise adequada no comportamento das envoltórias de ruptura e
de tal comportamento e os geossintéticos muitas dos ângulos de atrito de interface determinados,
vezes são ótimos materiais para adquirir-se uma em função do tipo e escala do ensaio.
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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.2 Efeito da rugosidade das geomembranas

2.1 Ensaios de cisalhamento em interfaces Poucos estudos de interfaces areia/geomembrana


areia/geomembrana texturizada texturizada consideram a influência da altura e o
espaçamento entre as asperezas, mostrando que
Para tensões normais baixas em ensaios de é necessário aprofundar esse estudo.
cisalhamento direto e de plano inclinado, a Alguns autores (Uesugi & Kismda, 1986;
dilatância dos solos aumenta o atrito de interface, Kishida & Uesugi, 1987; Dove & Frost, 1996;
ocorrendo uma envoltória de ruptura curva para Frost & DeJong, 2005) estudaram o efeito da
as interfaces com solo granular denso rugosidade, obtendo que quanto maior é tal
(Koutsourais et al., 1991). Entretanto, a valor, maior é a resistência ao cisalhamento e
utilização de baixos níveis de tensão em ensaios maior deslocamento horizontal na ruptura (Frost
de cisalhamento direto convencionais pode gerar et al., 2012).
erros grosseiros e fornecer resultados Para Blond & Elie (2006) a maior altura de
desfavoráveis à segurança (Girard et al. 1990; asperezas aumenta a resistência ao cisalhamento
Giroud et al. 1990; Gourc et al. 1996). Conforme de interfaces com geomembranas, até uma altura
os estudos de Lima Júnior (2000), Lopes (2000), de 0,5 mm, e a partir desse valor o aumento da
Mello (2001), Viana (2007), Monteiro (2012) altura das asperezas não gera um ganho
com experimentação laboratorial na análise de significativo de força cisalhante. Os autores
interface para variados materiais, os ensaios de realizaram seu estudo da resistência de interfaces
rampa ou plano inclinado possibilitam estudos com areia e geomembranas de matriz balão, sob
sob tensões normais reduzidas de maneira mais tensões normais de até 140 kPa e para 7 alturas
confiável. Neste tipo de interface a ruptura de aspereza entre 0 e 1,4 mm, medidas pelo
acontece para pequenos deslocamentos Método GRI GM 12 (2002).
cisalhantes (Tupa, 1994). Os níveis de Fowmes et al. (2017) determinaram que o
deslocamento na ruptura podem ser diferentes, espaçamento ótimo entre asperezas da
influenciados pela rigidez à tração das geomembranas em interfaces com argila não
geomembranas e para superfícies mais rígidas os deve ser, necessariamente, o menor possível.
grãos tendem a deslizar. Por sua vez, para Estes autores mostraram como a interação das
superfícies mais compressíveis, há a tendência asperezas com solo é diferente à de interfaces
de rolamento dos grãos, provocando um geomembrana-geotêxtil, onde um menor
acréscimo da resistência ao cisalhamento da espaçamento das asperezas proporciona maior
interface (Mello, 2001; Fleming et al., 2006). resistência ao cisalhamento. Isso ocorre tendo
Para tensões normais baixas a imbricação em vista que o maior número de asperezas
entre os materiais é menor, e isso impõe que os permite a distribuição da tensão de cisalhamento
mecanismos de engrenagem, atrito e travação se em um maior número de fibras dentro do
produzem a nível superficial, originando geotêxtil.
contatos pontuais. Enquanto para tensões
normais altas, devido ao aumento da compressão 2.3 Caraterização da rugosidade das
e imbricação, as interações se produzem a nível geomembranas
mais interno, proporcionando interações mais
globais e continuas. A mobilização em maior ou Um trabalho pioneiro na caracterização da
menor medida para um ou outro mecanismo de aspereza das superfícies de geomembranas foi o
interação depende do tipo de rugosidade, e de Dove et al. (1996), que apresentaram uma
rigidez dos materiais que constituem a interface revisão da terminologia da rugosidade
(Martínez et al., 2011; Frost et al., 2012). superficial e dos parâmetros de rugosidade
superficial utilizados em outros campos de
pesquisa. Os autores ressaltam que não existia
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uma normativa específica, tendo-se que recorrer


a conceitos aceitos e adotados por outras áreas da
engenharia.
Outras pesquisas focaram no estudo da
relação entre a resistência ao cisalhamento de
interfaces (solo/geossintético) e os parâmetros
de rugosidade dos geossintéticos,
fundamentalmente com areias de diferentes
morfologias (Janoo, 1998; ABNT, 2002; Frost
et al., 2002; Duhwan & J. David, 2005; Kim,
2006; Vangla & Gali, 2016b, 2016a; Afzali-
Nejad et al., 2017; Feng et al., 2017; Punetha et Figura 1. Curva granulométrica da areia média
al., 2017).
Até o momento, os autores deste trabalho não 3.2 Geomembranas
encontraram nenhum estudo que considere a
influência do tipo de matriz da geomembrana, da As características das geomembranas
altura e da concentração de asperezas em ensaios texturizadas fornecidas por empresas que
de cisalhamento em várias escalas. comercializam estes materiais no Brasil são
mostradas na Tabela 2. Todas as geomembranas
são texturizadas em ambas as faces.
3 MATERIAIS
Tabela 2. Características das geomembranas empregadas
Valores especificados
Para o estudo, foram definidas as seguintes Características
GMT1 GMT2
interfaces empregadas com areia: (i)
Areia/GMT1, onde a GMT1 é a geomembrana Material PEAD PEAD
de PEAD com textura nas duas faces usando o Matriz Balão Plana
processo de matriz balão, (ii) Areia/GMT2, onde Espessura média (mm) 2,00 2,00
GMT2 trata-se da geomembrana de PEAD Altura da textura (mm) 0,400 0,600
RE (kN/m) 29 29
texturizada nas duas faces usando o processo de RT (kN/m) 21 21
matriz plana com textura composta por dois tipos AR (%) 100 100
de rugosidade (uma saliência pontiaguda e uma RP (N) 534 534
textura de fundo entre saliências. Nota: RE - Resistência ao Escoamento, RT - Resistência a
Tração na Ruptura, AR - Alongamento na Ruptura e RP -
Resistência ao Puncionamento, GMT – Geomembrana
3.1 Solo
Texturizada

Na Tabela 1 apresentam-se as propriedades da


areia utilizada e na Figura 1 é mostrada a sua 4 METODOLOGIA
curva granulométrica.
Para os ensaios de cisalhamento, utilizaram-se os
Tabela 1. Propriedades da areia
Parâmetro Valor Unidade
equipamentos disponíveis no Laboratório de
Massa específica dos sólidos 2,710 g/cm³
Geotecnia do Programa de Pós-graduação em
Massa específica mínima 1,457 g/cm³
Geotecnia da Universidade de Brasília, que são
Massa específica para ID 1,590 g/cm³ mostrados na Figura 2. Para evitar a deformação
Massa específica máxima 1,707 g/cm³ das geomembranas durante os ensaios colou-se
Índice de vazios mínimo 0,588 - uma lixa abrasiva P80 segundo
Índice de vazios para ID 0,705 - ABNT NBR ISO 12957.1 (2013a) e, sobre ela, a
Índice de vazios máximo 0,860 - geomembrana. Logo acima desta foi colocada a
Nota: (ID) Índice de densidade de 57% areia média com massa específica de 1,59 g/cm³
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correspondente a um valor de densidade relativa O equipamento empregado tem dois métodos


de 57%. de medição: "medição de rugosidade linear" e
"medição de rugosidade de área ou
superfície". Ele usa as características de um
microscópio laser para medições na amostra sem
contato e sem perder o desempenho de
observação.
Pelo método do perfil (2D) foram
determinados 10 perfis de rugosidade para cada
geomembrana e, a partir destes, medidos os
parâmetros de rugosidade, tomando-se como
b) resultado a média dos 10 valores.
Pelo método da análise da superfície (3D)
foram obtidos parâmetros de rugosidade
verticais e horizontais, assim como os volumes
de vazios e de material das amostras.

4.1 Determinação dos parâmetros de


Rugosidade

Neste trabalho empregou-se o parâmetro Rc


(Figura 4) para a determinação da altura média
a) c) da textura em geomembranas, que segundo a
ABNT NBR ISO 4287 (2002) é definida como
Figura 2. Equipamento de ensaios para o estudo de a “altura média dos elementos do perfil de
interfaces com materiais geossintéticos: a) cisalhamento rugosidade no comprimento de amostragem”. A
direto convencional com caixa modificada, b) escolha da Rc dentre outros parâmetros justifica-
cisalhamento direto em média escala com caixa com lado
com 300 mm e c) equipamento de plano inclinado
se por se este considerar mais os dados de picos
e vales no comprimento de amostragem. Tal
A microtopografia das geomembranas foi valor informa a distribuição média da superfície
determinada por meio do perfil de rugosidade vertical.
segundo a ABNT NBR ISO 4287 (2002) e por
meio da curva Abbott & Firestone (1933)
empregando o microscópio confocal mostrado
na Figura 3. Posteriormente, estes valores foram
relacionados com os ensaios de cisalhamento
para se avaliar a influência da rugosidade nas
interfaces.

Figura 4. Determinação da Rc (modificado - OLYMPUS,


2018)

Figura 3. Equipamento de microscopia confocal Já o parâmetro Vmc permitiu caracterizar a


densidade de concentração de asperezas, ao
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representar o volume de geomembrana 4.4 Ensaio de Plano Inclinado (CPI)


descartando picos e vales proeminentes isolados
(Figura 5). Uma descrição mais detalhada de A velocidade de elevação do plano foi de 3±0,5
parâmetros de rugosidade pode ser encontrada graus por minuto, os valores de tensão normal
em Sánchez (2018). inicial (com inclinação zero) foram 2, 4 e 6 kPa
e os ensaios seguiram a norma ABNT NBR ISO
12957.2 (2013). Utilizou-se equipamento com
base rígida e caixa sobre roletes. O critério de
finalização dos ensaios foi o deslocamento
horizontal de 50 mm da caixa (192 cm x 47 cm)
preenchida com solo. As tensões normal e
cisalhante (𝜎 , e 𝜏 , ) foram calculadas
seguindo as fórmulas da norma ABNT NBR ISO
12957.2 (2013).
A ancoragem da geomembrana foi garantida
mediante garras metálicas, além da lixa sobre a
base rígida. A eficiência do sistema foi
Figura 5. Determinação do Vmc (modificado -
OLYMPUS, 2018) comprovada mediante uma célula de carga
solidária à garra superior, que registrou valores
4.2 Ensaio de cisalhamento direto nulos de tração na geomembrana.
convencional (CDC) em caixa de
100 mm x 100 mm
5 RESULTADOS OBTIDOS
A velocidade do ensaio empregada foi
0,5 mm/min e as pressões normais aplicadas 5.1 Caracterização da Rugosidade
foram 25, 50 e 100 kPa. conforme norma ASTM
D3080M (2011). O critério de finalização dos Na Figura 6 apresentam-se as superfícies das
ensaios foi o deslocamento horizontal de 8 mm. geomembranas onde foram feitos os perfis para
A fixação da geomembrana foi garantida com a determinação dos parâmetros de rugosidade
resina epóxi, colando-a à caixa inferior. segundo o item anterior.

4.3 Ensaio de cisalhamento direto médio


(CDM) em caixa de 300 cm x 300 cm

A velocidade do ensaio utilizada foi 0,5 mm/min


e as tensões normais aplicadas foram de
25, 50 e 100 kPa, conforme ABNT NBR ISO 1
2957.1 (2013a). O critério de finalização dos
ensaios foi deslocamento horizontal de 50 mm.
Figura 6. Imagens das superfícies das geomembranas
Para diminuir o efeito do atrito da areia com
avaliadas, 20 mm de lado para zoom 10x
as faces internas verticais da caixa superior,
utilizou-se um sistema de lubrificação composto Dos parâmetros que foram determinados,
de duas camadas de óleo e filme de PVC, apresentam-se na Tabela 3 apenas os que serão
também empregado por Sánchez et al. (2016) e empregados nas análises deste trabalho.
por Palmeira (1987). Por sua vez, a
geomembrana foi ancorada à caixa inferior por
meio de garras metálicas dentadas parafusadas.
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Tabela 3. Parâmetros de rugosidade apenas pela a areia. Nestes dois casos são se
Parâmetros GMT1 GMT2 observou influência de Rc nos resultados.
Rc (µm) 180,777 239,735 Cabe salientar que os resultados praticamente
iguais foram obtidos para as duas interfaces por
𝜇𝑚³ meio de ensaios CDM e CPI com tensões
𝑉𝑚𝑐 ( ) 52,560 42,199
𝜇𝑚² normais e mecanismos de ensaio diferentes,
embora as matrizes das geomembranas sejam
5.2 Relação do ângulo de atrito de interface e diferentes e o Rc tenha aumentado
altura de aspereza aproximadamente em 0,6 mm, pouco mais do
que o D50 da areia. Isto, difere dos resultados
Mostram-se na Figura 7 os ângulos de atrito das obtidos por Blond & Elie (2006) que ensaiaram
duas interfaces para as três escalas ensaiadas. interfaces com geomembranas de matriz balão
Observa-se que, com o aumento da Rc, uma por meio de ensaios de CDC e relataram um
diferença de 3 graus entre as duas interfaces para ganho de resistência para estas alturas.
ensaios de CDC, sendo menor o ângulo para
maior Rc. Fato que pode estar relacionado com a 5.3 Relação do espaçamento das asperezas e o
matriz plana da GMT2. Tendo em vista que as ângulo de atrito da interface.
asperezas geradas pelas calandras durante a
fabricação são arredondadas e espaçadas com O aumento do espaçamento entre as asperezas
pequenas regiões sem microtextura. foi considerado como sendo o inverso do Vmc,
caracterizando Vmc a densidade de
concentração de asperezas apresentadas pelas
geomembranas estudadas. Na Figura 8 podem
ser observados, além dos resultados de ângulo de
atrito, os valores pico e pós-pico (ângulos pós-
pico determinados para 40 mm de deslocamento
horizontal), de maneira a se observar se há
variação relevante entre tais valores. Conforme
os valores mostrados para as geomembranas
estudadas, Vmc e, por consequência, o
espaçamento, não influíram significativamente
nos ângulos de atrito para as interfaces avaliadas,
como era esperado segundo as análises no item
anterior.
Figura 7. Influência da Rc nos ângulos de atrito tangente
de pico para as áreas de contato avaliadas
Os ensaios de CDM mostraram uma tensão
cisalhante pico e pós-pico com diferença nos
Este comportamento não foi observado nos ângulos de atrito tangente de pico e pós-pico de
resultados para escalas maiores (CDM e CPI), apenas 1º (Figura 8) e, de praticamente 0º para
evidenciando-se outro motivo para críticas ao ensaios de CPI, sem evidência de pico na tensão
emprego dos ensaios de CDC no estudo de cisalhante.
interfaces areia/geomembrana, como vem sendo Os ângulos de atrito das envoltórias em
observado na bibliografia (Giroud et al.,1990, ensaios de CPI foram iguais (31º) para ambas
Girard et al., 1990, Koutsourais et al. 1998 e interfaces. Tal resultado influência na escolha
Monteiro, 2012). Por sua vez, os resultados dos econômica do tipo de geomembrana a se
ensaios de CPI mostram-se menos empregar em áreas de taludes sob baixas tensões
conservadores quando comparados com os normais (σ ≤ 6 kPa).
resultados dos ensaios de CDM para as Fowmes et al. (2017) encontraram a formação
interfaces e para o ângulo de atrito apresentado de um plano de ruptura acima das asperezas pela
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sua proximidade. No presente trabalho, com também não influiu o tipo de matriz e forma de
utilização de areia, não foi observada diferença fabricação. Entretanto, deve-se notar que a
alguma na resposta cisalhante das interfaces amostra de solo ensaiado apresentava baixa
ensaiadas, embora o espaçamento de GMT1 seja compacidade, o que pode, em parte, explicar a
menor que o de GMT2 (Figura 6). proximidade de valores de ângulo de atrito.
O ensaio tipo CPI representa melhor as
tensões na interface em obras com baixa
espessura de solo sobre a geomembrana.
Com o aumento da tensão normal na interface
é de se esperar que a ruptura seja mais
consequência do deslizamento dos grãos ao
longo da superfície da geomembrana. Já para
tensões mais baixas, é de se esperar o
intertravamento de grãos de solo, dependendo
das características de rugosidade da
geomembrana.

Figura 8. Influência da densidade de concentração de AGRADECIMENTOS


asperezas no ângulo de atrito tangente de pico
Os autores registram seus agradecimentos ao
Conselho Nacional de Desenvolvimento
6 CONCLUSÕES Científico e Tecnológico-CNPq pelo
financiamento, ao Programa de Pós-graduação
O presente trabalho apresentou resultados de em Geotecnia da Universidade de Brasília e aos
ensaios de resistência de interfaces solo- fabricantes das geomembranas fornecidas.
geomembrana texturizada obtidos em diferentes
equipamentos. Para as condições de ensaio REFERÊNCIAS
utilizadas, as principais conclusões obtidas são
Abbott, E.J. & Firestone, F.A. (1933). Specifying surface
sumariadas a seguir. quality: a method based on accurate measurement and
A microscopia confocal se mostra uma comparison". Mechanical Engineering, (55): 569–572.
ferramenta satisfatória para a caraterização da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT. NBR
microtopografia de geomembranas, embora (2002). ISO 4287:2002 Especificações geométricas do
produto (GPS) - Rugosidade: Metódo do perfil - Termos,
ainda se deva continuar buscando um parâmetro definições e parâmetros da rugosidade.étricas do produto
de rugosidade que caracterize melhor o (GPS) - Rugosidade: Metódo do perfil - Termo.
espaçamento das asperezas na geomembranas. Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT. (2013a).
Ensaios de cisalhamento direto convencional NBR ISO 12957.1: Geossintéticos - Determinação das
características de atrito. Parte 1: Ensaio de cisalhamento
podem superestimar os resultados de aderência direto.
em obras com características de materiais Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT. (2013b).
similares aos ensaiados neste trabalho. NBR ISO 12957.2: Geossintéticos - Determinação das
características de atrito. Parte 2: Ensaio de Plano
A maior altura de asperezas numa faixa de Rc Inclinado.
entre 0,18 mm e 0,24 mm não influenciou a Afzali-Nejad, A., Lashkari, A. & Shourijeh, P.T. (2017).
resistência ao cisalhamento da interface. Influence of particle shape on the shear strength and
Para as condições de ensaio e materiais dilation of sand-woven geotextile interfaces. Geotextiles
and Geomembranes, 45(1): 54–66.
empregados não houve influência da textura no American Society for Testing and Materials - ASTM. (2011).
ângulo de atrito da interface, independentemente D3080/D3080M-11. Standard Test Method for Direct
da altura, forma e espaçamento das asperezas Shear Test of Soils Under Consolidated Drained
para os ensaios tipo CDM e CPI. Assim como Conditions.
Blond, E. & Elie, G. (2006). Interface shear-strength
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Kishida, H. & Uesugi, M. (1987). Tests of the interface topographical analysis. Geotextiles and Geomembranes,
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Géotechnique, 37(1): 45–52.
Koutsourais, M.M., Sprague, C.J. & Pucetas, R.C. (1991).
Interfacial friction study of cap and liner components for
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Influência da Inserção de uma Camada de Solo Granular na


Interface Solo Coesivo-Geogrelha através de Modelagem
Numérica
Gabriel Steluti Marques
Escola de Engenharia de São Carlos – Universidade de São Paulo, São Carlos, Brasil,
gabrielstmarques@gmail.com

Jefferson Lins da Silva


Escola de Engenharia de São Carlos – Universidade de São Paulo, São Carlos, Brasil,
jefferson@sc.usp.br

RESUMO: Este trabalho apresenta um estudo numérico sobre a influência de uma camada de
material granular na resistência ao arrancamento de uma geogrelha em solo coesivo. Por conta da
granulometria fina, estes solos podem gerar pressões neutras que induzem a diminuição da
resistência ao arrancamento de uma geogrelha. Para tanto, uma análise complementar sobre a
influência da umidade do solo na resistência ao arrancamento foi realizada. Os ensaios foram
modelados com parâmetros geotécnicos de solos ensaiados e disponíveis no Laboratório de
Geossintéticos da EESC-USP. A simulação numérica foi realizada através do programa Plaxis
versão 8.5. Como resultado, obteve-se uma espessura de camada de areia ótima de 4 a 8 cm. Esta
espessura se mostrou mais dependente da tensão confinante do que da condição de umidade do solo.
A saturação do solo resultou num decréscimo de resistência de até 27% em relação à amostra seca.

PALAVRAS-CHAVE: interação solo-geossintético, ensaio de arrancamento monotônico,


elementos finitos

1 INTRODUÇÃO (Marques et al., 2016).


Na maioria das obras reforçadas com
O ensaio de arrancamento pode ser usado para geossintéticos são utilizados materiais
quantificar a interação entre o solo e o granulares como preenchimento, devido sua
geossintético. A força de arrancamento é um considerável resistência ao cisalhamento e sua
importante parâmetro de projeto para se avaliar elevada capacidade de drenagem. A extração
essa interação, onde uma solicitação de tração é deste tipo de material pode causar impactos
induzida no geossintético até ocorrer a perda de ambientais negativos, o que contribui para a
adesão com o material de contato. No entanto, nova tendência em se utilizar solos locais
devido às dificuldades de execução do ensaio de coesivos neste tipo de obra, especialmente em
arrancamento, especificamente pelo fato da países tropicais como o Brasil. No entanto, estes
implementação envolver considerável consumo solos com partículas muito finas, podem
de tempo e esforço físico, geralmente apenas possibilitar o desenvolvimento de pressões
um limitado número de investigações são neutras positivas no interior do maciço
conduzidas para avaliar a interação entre o solo reforçado, provocadas pelo efeito da
e a geogrelha (Sugimoto & Alagiyawanna, capilaridade intersticial (Orlando, 2015). Deste
2003). A simulação numérica de ensaios de modo, têm-se como consequência a diminuição
arrancamento pode ser considerada como uma da resistência ao arrancamento do reforço
poderosa ferramenta para otimizar este processo inserido no solo.
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Assim, o acréscimo de uma camada de 2.1 Equipamento de Arrancamento


material granular no entorno do reforço pode ser
vantajoso, aumentando consideravelmente a O equipamento consiste em uma caixa rígida de
resistência ao arrancamento do sistema, tal aço de grandes dimensões, que possui
como concluíram Abdi e Zandieh (2014), após a dimensões interiores de 1,0 m de comprimento,
realização de um estudo experimental que 0,8 m de largura e 0,8 m de altura, atingindo as
obteve uma espessura ótima da camada de areia mínimas especificações requeridas pela ASTM
adjacente ao geossintético. D6706 para a realização de ensaios de
Deste modo, este trabalho apresenta uma arrancamento (Figura 1). Neste equipamento,
investigação numérica das possíveis melhorias um pistão hidráulico é utilizado para aplicar o
na resistência ao arrancamento proporcionadas esforço de tração na inclusão. A tensão
por esta metodologia. Os ensaios foram confinante no material é aplicada através de um
simulados em uma caixa de grandes dimensões, bolsa de ar compressível, projetada para manter
utilizando-se como ferramenta o programa uma pressão constante durante o ensaio.
Plaxis versão 8.5. Esta ferramenta permitiu a
aceleração do processo e a realização de uma 2.2 Materiais
análise da influência do teor de umidade do solo
na resistência ao arrancamento solo-geogrelha. 2.2.1 Reforço
Porém, os resultados devem ser avaliados com
cautela, uma vez que é complexa a simulação O material de reforço corresponde a uma
numerica da curva de arrancamento após geogrelha extrudada HDPE, cujas
atingida a ruptura do reforço. características utilizadas na modelagem são
mostradas na Tabela 1.
2 MODELO EXPERIMENTAL

Figura 1. Esquema de funcionamento do equipamento de arrancamento, Campos (2013).


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Tabela 1. Propriedades do reforço, Abdi e Zandieh contorno e dimensões do equipamento de


(2014). arrancamento apresentado na seção 2.1. Nesta
Resistência máxima à tração
Longitudinal 90,00 simulação, foi assumida que as tensões e os
[kN/m]
Resistência média à (ε = 2%) 26,00 deslocamentos na direção da largura da caixa
Longitudinal
tração[kN/m] (ε = 5%) 50,00
fossem iguais a zero, o que resulta em um
Módulo de rigidez [kN/m] Longitudinal 1020,00
modelo de elementos finitos de duas dimensões,
Longitudinal 5,50 ou seja, de deformação plana.
Largura do elemento [mm]
Transversal 15,00
Tabela 2. Propriedades dos solos
Abertura entre os eixos dos Longitudinal 200,00
elementos [mm]
Argila
Areia
Transversal 15,00
Parâmetros areno-
argilosa
siltosa
Espessura do elemento
15,00
transversal (deq) [mm] ρs
Massa específica dos sólidos 2,913 2,646
[g/cm³]
ρd max
2.2.2 Solos [g/cm³]
1,626 1,983
Proctor normal wot [%] 22,75 9,24
Os solos coesivo e granular do estudo são Sr [%] 84 73
tipicamente encontrados na região de São wL [%] 55 16
Carlos, chamados de solos tropicais, cujas Limites de consistência
wp
32 14
procedências foram da rodovia Luiz Augusto de [%]
Ip [%] 23 2
Oliveira (SP-215), nos km 153 + 900,00 e km
Φ’ [°] 27 31
154 + 800,00, respectivamente, no sentido São Parâmetros de resistência c [kPa] 66,27 34,64
Carlos – Ribeirão Bonito. A Tabela 2 apresenta obtidos do Ensaio triaxial CD e
E
CU 922,00 38830,00
um resumo das propriedades geotécnicas dos [Mpa]
solos arenoso e argiloso, onde os parâmetros Classificação SUCS MH SC
necessários para a realização da modelagem Ângulo de dilatância Ψ [º] 0,0 1,0
numérica foram obtidos por meio de ensaios de Coeficiente de Poisson υ 0,35 0,31
laboratório realizados no Laboratório de Coeficiente de interação Rinter 0,11 0,17
Mecânica dos Solos da EESC-USP, sendo que Coeficiente de empuxo K0 1,0 0,4849
os parâmetros de resistência e deformabilidade
foram obtidos através de ensaios triaxiais CD e O modelo numérico para a caixa de grandes
CU. O peso específico utilizado foi de 19,95 dimensões é apresentado na Figura 2. Este
kN/m³ para a argila e 21,66 kN/m³ para a areia. modelo foi calibrado com resultados
O coeficiente de empuxo para a areia foi experimentais em Marques et al. (2016). Para as
adotado pela expressão “K0 = 1 – sen(φ)”. O condições de contorno, apoios foram colocados
Coeficiente de Poisson foi adotado de acordo em torno da caixa para evitar o deslocamento
com Teixeira e Godoy (1996). E o ângulo de lateral. A malha de elementos finitos, composta
dilatância foi obtido pela proposição de por elementos triangulares e 15 nós, foi refinada
Vermeer (1990), que sugeriu empiricamente a com uma distribuição do tipo “muito fina” por
obtenção de ψ pela subtração do ângulo de toda a caixa. Um elemento de geogrelha de 80
atrito por 30º. cm de comprimento foi utilizado para simular o
reforço, onde o módulo de rigidez foi o
3 ANÁLISE NUMÉRICA principal parâmetro a se definir. Os membros
transversais foram espaçados em 20 cm e
As análises de tensão e deformação foram simulados através de “plate elements”, com os
conduzidas no Plaxis, que permitiu simular o mesmos parâmetros utilizados para a geogrelha.
ensaio usando as mesmas condições de A tensão confinante foi modelada através de um
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carregamento uniforme distribuído na parte análise. Estes parâmetros adotados podem ser
superior da caixa. A força de arrancamento foi visualizados na Tabela 3.
aplicada considerando um deslocamento na
parte frontal do geossintético pré-estabelecido Tabela 3. Parâmetros de interface solo-geogrelha
de 10 cm, adotado como critério de finalização Parâmetros Valor
do ensaio. Os solos foram modelados por Mohr- Módulo de elasticidade - E [kPa] 38830,00
Coulomb, onde para a argila foi tomado o
Ângulo de atrito - φ [°] 20,66
módulo de Young inicial (E0) e para a areia o
módulo secante de 50% da resistência (E50) Coesão - c [kPa] 0
(Vermeer e Brinkgreve, 1995).
Dilatância - Ψ = φ - 30 [°] 0

Peso específico - Ɣ [kN/m³] 0

(a) 4 RESULTADOS

4.1 Calibração do modelo

A princípio, os modelos de arrancamento


monotônico foram realizados sob três tensões
de confinamento distintas de 25, 50 e 100 kPa,
possibilitando a geração de uma envoltória de
(b)
resistência ao arrancamento. A Figura 3 ilustra
os resultados para as três tensões de
confinamento, retiradas de um ponto situado na
parte frontal do geossintético.

Figura 2. (a) Modelo numérico do equipamento de grande


porte elaborado no Plaxis (b) Malha de elementos finitos
gerada

Além disso, foi criada uma região de baixa


resistência nas superfícies do reforço, conhecida
como zona de interface entre o solo e a
geogrelha. Nesta região, acima e abaixo do
geossintético, os parâmetros de resistência e
deformação costumam apresentar uma redução
dos seus valores e este detalhe deve ser
considerado na análise numérica, devido sua
grande influência no formato da curva de
arrancamento. O ângulo de atrito de interface
foi considerado como dois terços do valor do
ângulo de atrito da areia argilosa. Apesar da
geogrelha possuir aberturas de contato com o Figura 3. Modelo preliminar (a) Curva de arrancamento
solo, a coesão foi reduzida para zero na presente (b) Envoltória de arrancamento
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Analisando a Figura 3 (a), percebe-se que o 5, o tamanho escolhido da caixa de


trecho da curva após o arrancamento da arrancamento (100 cm de comprimento e 80 cm
geogrelha, não foi modelado no presente de espessura total) é adequado e suficiente para
trabalho, uma vez que foi escolhido como as análises numéricas, de modo que as tensões
critério de finalização do ensaio, um número verticais e horizontais se concentram apenas nas
específico de iterações para a força imposta na regiões adjacentes do geossintético. Além disso,
forma de um deslocamento pré-estabelecido. esta análise permite visualizar uma maior
Adicionalmente, as curvas se mostraram concentração de tensões nos elementos
coerentes com resultados experimentais obtidos transversais da geogrelha.
com esta geogrelha, de modo que quanto maior
a tensão confinante, maior o deslocamento do
geossintético para atingir a força de
arrancamento máxima.
Assim como na prática, os resultados
numéricos apresentaram uma envoltória muito
próxima de uma reta, com “R²” de 0,9935
(Figura 3 (b)). Deste modo, para as análises
subsequentes deste trabalho, optou-se por
simular numericamente apenas as tensões de
confinamento de 25 e 100 kPa, como forma de
simplificação das análises e tempo de
modelagem por envoltória.
O software Plaxis também permite a
visualização da distribuição dos esforços e dos
deslocamentos ao longo do geossintético,
conforme Figura 4. Neste caso, é possível
verificar que os maiores esforços e
deslocamentos encontram-se na região frontal
da geogrelha e vão diminuindo gradativamente,
o que atesta que o geossintético não se desloca
pelo solo como um corpo rígido.
Figura 5. (a) Distribuição das tensões (b) Distribuição dos
deslocamentos horizontais

4.2 Análises de Elementos Finitos

Após a calibração do modelo da caixa de


arrancamento, os itens subsequentes apresentam
as análises numéricas realizadas, cujo objetivo
principal foi de se definir uma espessura ótima
da camada de areia inserida no solo coesivo,
Figura 4. (a) Distribuição da força de arrancamento (b) para as condições de umidade natural de
deslocamentos horizontais ao longo do geossintético compactação e de solo saturado no interior da
caixa, sendo que a primeira será denominada
Através destas modelagens, também foi condição de umidade seca e a segunda condição
possível verificar se as dimensões da caixa e as de umidade saturada. Assim, foram simuladas
condições de contorno interferem na espessuras de 2, 4, 8, 16, 32 e 60 cm de camada
distribuição de tensões. De acordo com a Figura de areia para as tensões de confinamento de 25
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e 100 kPa. Assim, no total foram realizadas 24 proporcionou um aumento de 62,51% na


simulações numéricas distintas, ou seja, 12 para resistência ao arrancamento comparado com a
cada condição de umidade. menor espessura de 2 cm (resultado semelhante
A curva de retenção é de fundamental considerando a retirada completa da camada de
importância para o entendimento do areia). No entanto, para a tensão confinante de
comportamento dos solos não saturados, pois 100 kPa e a espessura de 8 cm, a força de
representa a capacidade do solo de armazenar arracamento máxima apresentou valor
água quando submetido à diferentes teores de “incoerente” sugerindo que a definição de uma
umidade. No entanto, como a versão 8.5 do espessura ótima se torna complexa, já que as
Plaxis ainda não permite a inserção das curvas resistências deveriam apresentar melhoria com
de retenção dos solos e a imposição de uma o aumento da espessura da camada de areia.
sucção inicial no solo, a condição “seca” foi
simulada com o nível d’água na base da caixa Tabela 4. Resumo dos parâmetros obtidos na simulação
(sem nível d’água) e a condição saturada foi Força
Areia Confinante arr. Deslocamento
simulada com o nível d’água posicionado no Umidade
(cm) (kPa) máxima máximo (m)
topo da caixa. (kN/m)
Seco 60 25 23,97 0,01026
4.2.1 Modelos de Arrancamento na Condição Seco 60 100 54,25 0,02749
de Umidade Seca Seco 32 25 23,59 0,01079
Seco 32 100 40,65 0,01865
A partir dos resultados numéricos obtidos Seco 16 25 22,37 0,01071
através da simulação dos ensaios de Seco 16 100 33,71 0,01692
arrancamento monotônico, por meio de curvas Seco 8 25 21,55 0,01325
de força de arrancamento vs. deslocamento, Seco 8 100 27,21 0,01577
extraídas de um ponto situado na região frontal Seco 4 25 15,13 0,00845
do geossintético, os resultados mostraram um Seco 4 100 29,67 0,0214
aumento considerável da máxima resistência ao Seco 2 25 13,26 0,00843
arrancamento com as tensões de confinamento Seco 2 100 25,92 0,01964
para todas as simulações. Isto também é comum
na prática experimental, uma vez que altas
tensões normais causam um maior
confinamento e, portanto, uma maior resistência
passiva é mobilizada nos membros transversais.
A Tabela 4 resume as forças de arrancamento e
o deslocamento máximo obtidos para cada
simulação.
A partir dos dados da Tabela 4 foi possível
obter uma curva de força de arrancamento vs.
espessura da camada de areia inserida no solo
coesivo (Figura 6). De acordo com estes
resultados, percebe-se que para uma tensão de
confinamento de 25 kPa obtém-se uma
Figura 6. Força de arrancamento obtida com o aumento
espessura ótima de 8 cm, uma vez que maiores
da camada de areia
espessuras das camadas de areia não
apresentaram uma contribuição Para uma melhor visualização dos
substancialmente crescente para a resistência de resultados, a Figura 7 ilustra uma curva do
arrancamento. A espessura de areia de 8 cm acréscimo de resistência de arrancamento
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normalizado pela espessura da camada de areia todos os casos, porém com uma variação maior.
inserida no ensaio de arrancamento. Desta A Tabela 5 resume as forças de arrancamento
forma, é possível se obter o acréscimo de força e os deslocamentos máximos obtidos para cada
de arrancamento proporcionado, por centímetro simulação na condição de umidade saturada.
de areia adicionado na espessura da camada.
Através da Figura 7, percebe-se que, para a Tabela 5. Resumo dos parâmetros obtidos na simulação
Forxa
tensão confinante de 25 kPa, a espessura ótima
Confinante arr. Deslocamento
é, realmente, de 8 cm de areia, assim como foi Umidade Areia
(kPa) máxima máximo (m)
visto anteriormente, no qual o acréscimo de (cm)
(kN/m)
força é de 1,03 kN por cm de espessura da areia. Sat 60 25 17,04 0,00651
Para a tensão de confinamento de 100 kPa, a Sat 60 100 39,07 0,01782
espessura ótima obtida foi de 4 cm, com uma Sat 32 25 16,09 0,00654
taxa de 0,93 kN por centímetro de areia, embora Sat 32 100 32,48 0,01438
fique claro que o acréscimo de tensão se Sat 16 25 16,52 0,00752
mantenha aproximadamente constante após os Sat 16 100 26,75 0,01234
16 cm de espessura. Além disso, percebe-se que Sat 8 25 17,03 0,00885
para uma espessura de aproximadamente 22 cm, Sat 8 100 25,01 0,01469
a taxa de acréscimo de força é igual para as Sat 4 25 11,68 0,00653
duas tensões confinantes. Sat 4 100 27,46 0,02006
Sat 2 25 9,77 0,00581
Sat 2 100 20,13 0,01458

Através da curva de força de arrancamento


pela espessura de areia, ilustrada na Figura 8,
percebe-se que para a tensão de confinamento
de 25 kPa encontramos uma espessura ótima de
8 cm, que aumentou 74,31% da força de
arrancamento inicial. Para a tensão confinante
de 100 kPa, a espessura da camada de areia de 4
cm pode ser considerada como ótima, uma vez
que a resistência de arrancamento foi
aumentada em 36,41%. A Figura 9 atesta estas
Figura 7. Acréscimo de resistência ao arrancamento
unitário por centímetro de areia pela espessura da camada
afirmações, no qual para espessura de 8 cm o
acréscimo de força é de 0,91 kN por cm de areia
4.2.2 Modelos de Arrancamento na Condição na tensão confinante de 25 kPa e a espessura de
de Umidade Saturada areia de 4 cm proporciona um acréscimo de
força de 1,83 kN por cm de areia. Além disso,
As curvas de força de arrancamento vs. para uma camada de 16 cm de areia, o
deslocamento, para os solos na condição acréscimo de força é o mesmo para ambas as
saturada, se mostraram crescentes com o tensões.
aumento da tensão de confinamento. Para
tensões de 25 kPa as forças de arrancamento 4.3 Comparação dos Resultados nas
máximas ocorreram próximas do deslocamento Condições de Umidade Seca e Saturada
de 7 mm para todas as simulações. Para as
tensões confinantes de 100 kPa os Esta seção compara a diminuição da resistência
deslocamentos foram superiores a 13 mm para ao arrancamento considerando os resultados
numéricos apresentados anteriormente, para as
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condições de umidade denominadas seca e “saturada”, o que já era esperado.


saturada. A interpretação destas análises de
umidade deve ser realizada com cautela, pois
mesmo não utilizando o nível d’água na caixa
de arrancamento, na modelagem foi
considerado que o solo tem sucção igual a zero,
ou seja, saturado, que neste trabalho está sendo
denominado como condição de umidade seca.

Figura 10. Comparação das envoltórias de resistência nas


duas condições de umidade – espessura de 2 cm

Figura 8. Força de arrancamento obtida com o aumento


da camada de areia
Figura 11. Comparação das envoltórias de resistência nas
duas condições de umidade – espessura de 4 cm

Figura 12. Comparação das envoltórias de resistência nas


duas condições de umidade – espessura de 8 cm
Figura 9. Acréscimo de resistência ao arrancamento
unitário por centímetro de areia pela espessura da camada As Tabelas 6 e 7 apresentam, de forma
resumida, as diferenças e as variações
As Figuras 10, 11, 12, 13, 14 e 15 comparam percentuais da força de arrancamento máxima
as envoltórias de resistências obtidas para as duas condições de umidade, nas
numericamente para as duas condições de sobrecargas de 25 e 100 kPa, respectivamente.
umidade, o que permite a visualização da Para a tensão de confinamento de 25 kPa,
diminuição de resistência na interação entre o percebe-se que quanto mais espessa a camada
solo e a geogrelha proporcionada pela pressão de areia menor a diminuição da força de
neutra. Percebe-se que houve uma queda de arrancamento. No entanto, considerando a
resistência em todos os casos na condição variação percentual, percebe-se que as reduções
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de resistências são similares, na faixa de 25%. laterítico), típico da região de São Carlos, como
Para a tensão confinante de 100 kPa as material de preenchimento, com uma camada de
conclusões são semelhantes, com destaque para areia em contato com o geossintético e uma
as espessuras de 16 e 32 cm que quase não geogrelha como material de reforço. Os
reduziram sua resistência ao arrancamento na resultados foram obtidos através do software
condição saturada. Plaxis, versão 8.5.

Tabela 6. Comparação entre as resistências ao


arrancamento entre as duas condições de umidade para
uma tensão confinante de 25 kPa
Esp. Máx. força de arr. para confinante de 25 kPa
Areia Seco (kN/m) Sat (kN/m) Diferença Variação
2 cm 23,97 17,04 6,93 28,91%
4 cm 23,59 16,09 7,5 31,79%
8 cm 22,37 16,52 5,85 26,15%
16 cm 21,55 17,03 4,52 20,97%
Figura 13. Comparação das envoltórias de resistência nas 32 cm 15,13 11,68 3,45 22,80%
duas condições de umidade – espessura de 16 cm 60 cm 13,26 9,77 3,49 26,32%

Tabela 7. Comparação entre as resistências ao


arrancamento entre as duas condições de umidade para
uma tensão confinante de 100 kPa
Esp. Máx. força de arr. para confinante de 100 kPa
Areia Seco (kN/m) Sat (kN/m) Diferença Variação
2 cm 54,25 39,07 15,18 27,98%
4 cm 40,65 32,48 8,17 20,10%
8 cm 33,71 26,75 6,96 20,65%
16 cm 27,21 25,01 2,2 8,09%
32 cm 29,67 27,46 2,21 7,45%
Figura 14. Comparação das envoltórias de resistência nas 60 cm 25,92 20,13 5,79 22,34%
duas condições de umidade – espessura de 32 cm

Os parâmetros geotécnicos adotados tiveram


elevada influência nos resultados, ressaltando-
se a importância da correta escolha destas
variáveis para obtenção de modelagens
coerentes com a prática.
As variações entre os valores de resistência
ao arrancamento máximas obtidas com a
variação do teor de umidade para a condição
normal (seca) e condição inundada (saturada),
Figura 15. Comparação das envoltórias de resistência nas ratificam a importância da inclusão da teoria
duas condições de umidade – espessura de 60 cm dos solos não saturados para a simulação
numérica de experimentos, principalmente para
5 CONCLUSÃO solos coesivos, uma vez que as resistências
obtidas são bastante susceptíveis à variação do
Este trabalho apresentou uma análise numérica teor de umidade, reduzindo em média 26,15%
de ensaios de arrancamento monotônico, que da resistência na condição saturada, para a
utilizou um solo coesivo tropical (argiloso tensão confinante de 25 kPa e 17,76% da
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resistência para a tensão de 100 kPa. Mestrado – Escola Politécnica da Universidade de


Através destes resultados, conclui-se que a São Paulo, Universidade de São Paulo. São Paulo,
Brasil.
definição de uma espessura ótima para a Sugimoto, M.; Alagiyawanna, A. M. N. (2003) Pullout
camada de areia adjacente ao geossintético, no behavior of geogrid by test and numerical analysis.
interior de um solo coesivo, apresenta, Journal of Geotechnical and Geoenvironmental
nitidamente, maior influência da tensão de Engineering © ASCE, Vol. 129, No. 4, p. 361-371.
confinamento do que da condição de umidade Teixeira, A. H.; Godoy, N. S (1996) Análise, projeto e
execução de fundações rasas. São Paulo; Pini.
em que o solo se encontra, uma vez que mesmo Vermeer, P. A.; Brinkgreve, R. B. J. (1995) Finite
com a inundação do solo diminuindo parte da Element code for Soil and Rock analysis. A. A.
resistência ao arrancamento máxima da Balkema, Rotterdam (Netherlands).
geogrelha, as espessuras ótimas da camada de Vermeer, P. A. (1990) The orientation of shear bands in
areia se mantiveram as mesmas para ambas as biaxial tests. Geotechnique 40 (2), p. 223-236
situações.
No geral, as análises presentes indicaram que
a modelagem numérica é uma ferramenta que
permite uma efetiva implementação das análises
convencionais do comportamento de tensão-
deformação. Além disso, o software Plaxis
permitiu considerar a influência dos elementos
transversais da geogrelha na análise, o que não é
possível em grande parte dos softwares de
elementos finitos disponíveis no mercado. Os
resultados numéricos apresentaram boa
concordância com resultados experimentais
comumente encontrados na literatura.

REFERÊNCIAS

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measuring geosynthetic pullout resistance in soil.
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Metodologia de construção e dimensionamento de Barreiras de


Sedimentos: revisão científica, normativa e laboratorial
Matheus Muller
Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos, Brasil, mrlmuller@gmail.com

Delma Vidal
Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos, Brasil, delma@ita.br

Emília Mendonça Andrade


Huesker Ltda, São José dos Campos, Brasil, emilia@huesker.com.br

RESUMO: O presente artigo apresenta uma revisão bibliográfica de material científico e manuais
técnicos existentes que tratam das questões relevantes para o projeto, instalação, manutenção e
especificidades a serem consideradas para a aplicação de Barreiras de Sedimentos, além de
discussões sobre os materiais que as compõem, a dinâmica de operação, o procedimento de
dimensionamento e os padrões normativos para sua especificação e utilização. São apresentadas as
vantagens da aplicação desta solução e as desvantagens de sua má instalação, ou não uso, em locais
onde a erosão superficial e a sedimentação do solo ocorrem por diversas razões, apresentando
parâmetros para sua locação adequada, com o objetivo de propor estudos mais relevantes para o seu
uso adequado no contexto das obras executadas no Brasil. Assim, como objetivo de longo prazo,
torna-se possível a obtenção de um melhor controle na deposição final de sedimentos, resultando na
proteção de corpos d'água e de sistemas de saneamento, por exemplo. Este estudo foi realizado com
a intenção de criar uma recomendação de uso e instalação para Barreiras de Sedimentos a serem
instaladas no Brasil, avaliando seu desempenho com o uso de uma variedade de geossintéticos para
uma variedade de granulometrias de solos brasileiros estudados. Para realizar desta etapa do estudo,
os padrões das normas ASTM existentes foram utilizados em ensaios de avaliação de desempenho
de barreiras de sedimentos com geossintético que apresenta características físicas e mecânicas de
acordo com os padrões propostos por esta norma. Os dados obtidos nessas análises foram então
organizados em tabelas comentadas, indicando qual o melhor uso e em qual granulometria o
geossintético possui o melhor desempenho. Espera-se, portanto, assegurar o uso correto dessas
barreiras temporárias em futuros trabalhos, fornecendo material de consulta e dimensionamento que
proporcionem uma diretriz para especificação por recomendação, compatível com o cotidiano das
obras em que esta solução se faz necessária.

PALAVRAS-CHAVE: Barreiras de Sedimentos, Erosão superficial, Granulometria dos solos


brasileiros, Barreiras temporárias, Silt Fences.

1 INTRODUÇÃO áreas de solo perturbado, permitindo que esse


evento influencie o meio ambiente, causando
Apesar da existência de diversas normas e da grandes danos a corpos d'água e regiões
literatura na área de controle de erosão próximas, por meio da erosão e consequente
superficial, ainda é comum observarem-se sedimentação.
falhas na execução deste tipo de projeto no A erosão do solo em sua superfície afeta várias
Brasil (Rosa et al 2015), culminando no regiões do país, do meio rural e urbano. O
problema do escoamento de sedimentos em processo erosivo tem seu evento delimitado
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pelas características da localidade, como sedimentos devem ser feitos de acordo com
intensidade de chuvas, ocupação do solo, estudos de engenharia, como cálculo de
características geotécnicas do solo, entre outros escoamento superficial e sedimentação próximo
(Vertematti 2015). à barreira, evitando assim falhas de aplicação e
O transporte de sedimentos por este fluxo em insufiência de barreiras (Richardson e
locais de perturbação do solo, provenientes Middlebroeks, 1991).
pricipalmente de canteiros de obras, é um O uso incorreto deste sistema ainda persiste
grande problema para as áreas onde a ocorrerá a no Brasil, e é comum encontrar obras com
sedimentação. Este processo causa poluição nos provisões, materiais e instalações incompatíveis
corpos d'água, assoreamento, entupimento e com a solução proposta da técnica. Por esse
redução de vazão nos sistemas de drenagem motivo, este artigo inicia uma discussão sobre o
pluvial, destruição ou interdição de estradas, assunto, com o objetivo de difundir o tema e
ruas, canais, prédios e outros, causando danos esclarecer a proposta da técnica de barreiras de
de diversas formas. (Maryland 2011). sedimentos.
O uso de geossintéticos para fins de controle
da erosão tem sido muito difundido, uma vez
que eles têm um bom desempenho nesta 2 DEFINIÇÃO E PRINCÍPIOS DO
aplicação quando empregados corretamente FUNCIONAMENTO DE BARREIRAS DE
(Pilarczky 2000). No Brasil, técnicas de SEDIMENTOS
cobertura contínua, como geomantas e
biomantas, que proporcionam condições para a Uma barreira de sedimentos consiste em um
revegetação e consequente porteção contra a geotêxtil preso a estacas verticais para evitar o
erosão são utilizadas, porém não são adequadas transporte de sedimentos por escoamento
para todos os cenários. Em áreas onde tais superficial, impedindo-os de atingir corpos de
técnicas não podem ser aplicadas, como em água, estradas e sistemas de saneamento
canteiros de obras ou locais de manutenção, (Koerner 2005). O geotêxtil deve ser ancorado
outra forma de proteção que previne o em uma trincheira preenchida com solo
transporte de sedimentos é necessária, como a compactado e suas estacas devem atingir
técnica de barreiras de sedimentos. profundidade satisfatória para o desempenho do
As barreiras de sedimentos do tipo “silt projeto. O geossintético deve estar com sua face
fences” funciona como uma barreira de voltada ao talude a montante e as estacas, atrás
temporária ou permanente usando geotêxtil, do geotêxtil, a jusante do talude (IEPA 2012).
projetada para interceptar e reduzir o fluxo de A ação da barreira de sedimentos começa
sedimentos, permitindo a passagem de água e por uma filtração de partículas em suspensão, o
retendo o material particulado transportado no que significa o acúmulo de sedimentos perto da
escoamento superficial (CALTRANS, 2003). É cerca. Isso ocorre no primeiro momento pela
fixado em estacas de metal ou madeira que são passagem do fluxo de água e parte dos
instaladas no chão, e caracteriza-se pela rápida sedimentos através do geossintético e,
instalação e remoção (EPA 2012). posteriormente, com o acúmulo dos sedimentos
Alguns cuidados devem ser tomados com o e conseqüente entupimento do geotêxtil. O
uso da barreiras de sedimentos, sabendo que é particulado pesado tende a ficar preso atrás do
necessário mantê-las e inspecioná-las sedimento já acumulado e o particulado fino
rotineiramente, garantindo sua integridade segue alcançando regiões mais altas (Koerner
física e funcional. Portanto, se as especificações 2005), como visto na Figura 1.
de instalação, manutenção e planejamento não
forem garantidas, as barreiras podem ter seu
desempenho comprometido (EPA 2012).
O projeto e a instalação de barreiras de
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Também é possível usar a norma ASTM D


5141 (2007) - Método de Ensaio Padrão para
Determinar a Eficiência de Filtração e a Taxa
de Fluxo do Componente de Filtro de um
Dispositivo de Retenção de Sedimentos, para
testar a eficiência de um geotêxtil para
aplicação em barreiras de sedimentos.
Além dos padrões norte-americanos
estabelecidos pelas normas ASTM, há uma
recomendação da AASHTO, a M288 (2015),
Figura 1. Demonstração do funcionamento de uma
barreira de sedimentos. Fonte: autor, adaptado de para o projeto de barreiras de sedimentos. Esta
Koerner 2005. recomendação AASHTO é compatível com os
padrões ASTM, sendo estes inclusive citados
CALTRANS (2003) comenta que, devido ao por esta.
desgaste e entupimento, a expectativa de vida
de uma barreira de sedimentos geralmente 4 DIMENSIONAMENTO E
compreende o tempo de 5 a 8 meses. Períodos INSTALAÇÃO
mais longos devem receber substituição de
geotêxtil ou instalação de uma nova barreira a Para a correta instalação da barreira, deve-se
jusante da existente. garantir certos aspectos, tais como:
Ressalta-se que o uso de barreiras de • O tamanho da barreira e sua área de ação;
sedimentos é restrito a aplicações de • A qualidade dos materiais que serão
escoamento superficial sem a ocorrência de empregados;
fluxos concentrados. Portanto, é necessário que • Como o geotêxtil será ancorado no solo;
a velocidade do fluxo não exceda um certo • A quantidade de barreiras a ser alocada.
limite, sendo influenciada pela inclinação do O processo de cálculo foi inicialmente
terreno (θ), comprimento do solo e rugosidade proposto por Richardson e Middlebroeks
da superfície do solo. Para garantir o (1991), avaliando a quantidade de sedimento
escoamento desejado, o comprimento do talude retido próximo à barreira em um terreno liso,
sob ação de cada barreira pode ser limitado pela livre de vegetação e sofrendo erosão superficial.
adição barreiras sucessivas em diferentes As etapas que compõem esse processo foram
alturas (Richardson e Middlebroeks, 1991). posteriormente atualizadas por Koerner (2005)
e são apresentadas a seguir.
3 NORMAS E RECOMENDAÇÕES
4.1 Extensão máxima do talude
Os materiais componentes de uma barreira de
sedimentos, como os postes de suporte e o Assumindo as condições estabelecidas no item
geotêxtil, devem ser projetados e especificados. anterior, de terreno liso e desprotegido sofrendo
Para facilitar este processo, o projetista pode erosão superficial, o comprimento máximo do
usar padrões e recomendações que garantam declive que pode ser atribuído a uma barreira de
sua operação adequada em casos convencionais. sedimentos é descrito por
Abordagens sobre características gerais
relativas a materiais e metodologias são Lmax = 36,2*(e-11,1 *θ) (1)
apresentadas na norma ASTM D 6461 (2016) -
Especificação Padrão para Materiais de onde Lmax é o comprimento do talude (m) e θ é
Barreiras de Sedimentos e ASTM D 6462-03 a declividade do terreno (adimensional).
(2008) - Prática Padrão para Instalação de Para encostas com comprimentos maiores do
Barreiras de Sedimentos. que os indicados na Equação 01, uma sequência
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de barreiras é recomendada, garantindo assim 4.4 Altura da barreira de sedimentos


comprimentos satisfatórios para cada uma das
barreiras, que devem ser calculados A altura da cerca é então calculada levando-se
individualmente. em consideração a vazão Q encontrada
anteriormente. Já que este valor representa
4.2 Escoamento superficial apenas um evento de precipitação, um fator de
segurança (FS) deve ser aplicado, normalmente
O escoamento superficial, contendo água e igual a três, representando o número de eventos
sedimentos, tem seu método de cálculo atrelado similares que a barreira deverá suportar. A
a cada localidade, geralmente utilizando o determinação da altura pode ser feita da
índice pluviométrico com período de retorno de seguinte forma:
10 anos. A vazão de escoamento superficial, Q
(m3/h) pode ser obtida por: V = Q*t = (H/2)*(H/ θ) (3)

H = (2* θ *Q*t)1/2 (4)


Q = C*I*A*10-3 (2)
onde: V = Volume total drenado (m³); Q =
onde C é um coeficiente de fluxo superficial vazão do escoamento superficial (m³/h); t =
(adimensional), I é o índice de precipitação Duração da precipitação (h), assume-se 1 hora
(mm/h) e A é a área (m²) devido ao valor de I escolhido para o cálculo de
O coeficiente de escoamento superficial é Q acima; H = Altura da barreira para suportar
igual a 0,5 para situações em que o terreno é um evento de tempestade (m); e θ = Inclinação
liso e sem vegetação. do terreno (adimensional).
Tipicamente, uma barreira de sedimentos é
projetada para suportar o acúmulo de 4.5 Distância entre postes
sedimentos por até 3 eventos de tempestades
severas, após os quais sedimentos devem ser O espaçamento entre os postes da barreira deve
removidos, deve haver substituição de cercas ser escolhido de acordo com as normas e
mais antigas, ou nova cerca instalada a jusante recomendações existentes. Richardson e
da cerca existente. Middlebroeks (1991) apresentam gráficos sobre
a escolha de postes, que é mostrado na Figura 2.
4.3 Aporte de sedimentos

A cerca deve ser operada de tal forma que o


acúmulode sedimentos seja retido perto da sua
base e a água "limpa" passe sobre ela.
A fim de obter uma estimativa dos
sedimentos transportados pela erosão, a
Equação Universal de Perda de Solo, equação
USLE, desenvolvida por Wischmeier e Smith
(1978), é amplamente utilizada, representando a
quantidade de sedimentos gerados pela erosão
em encostas.
Esta equação é comumente aplicada, embora Figura 2. Momento máximo pelo espaçamento entre as
tenha uma série de limitações, como não ser estacas pela altura da barreira de sedimentos. Fonte:
capaz de prever a erosão em áreas muito Koerner 2005
pequenas, taludes muito íngremes, correntes de
Deve-se notar que, de acordo com a norma
água intensas e curtas, entre outros.
ASTM D 6462-03 (2008), os postes devem
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atingir uma profundidade de pelo menos 0,45 m espaçamento entre postes para geotêxteis mais
no solo e ter 1,0 m livre do solo para fixação do resistentes.
geotêxtil. Os postes podem ser feitos de Além disso, o método proposto por Koerner
madeira ou metal, desde que atendam à (2005) possibilita um dimensionamento mais
padronização exigida. refinado para a especificação das estacas quanto
ao material e espaçamento, considerando o
4.6 Seleção do geotêxtil momento fletor atuando nos postes.

O geotêxtil deve ser escolhido de acordo com a 4.7 Métodos de fixação


resistência à tração, no sentido de menor
resistência, e um fator de redução pode ser Existem dois métodos comumente utilizados
incluído. A figura 3, apresentada por Koerner para a instalação de barreiras de sedimentos:
(2005), mostra a relação entre a resistência à um utiliza equipamento específico,
tração do geotêxtil e o espaçamento dos postes. correspondente a um trator ou similar com
Deve-se observar que a abertura aparente dos lâmina acoplada, denominado Método de Corte
poros dos geotêxteis não é um fator Estático, o outro é o método de trincheira,
determinante, levando em conta que o correspondente à escavação de uma vala com
entupimento deles ocorrerá. A resistência à uso de equipamento ou manualmente.
tração é mais relevante para barreiras de A compactação deve ser realizada em ambos
sedimentos. os lados da barreira de sedimentos, por
exemplo, sendo acionada pelas rodas de um
trator nas laterais de 2 a 4 vezes, gerando assim
uma compactação do solo similar ou maior
antes deste ser perturbado (EPA 2012).
A compactação reduz os vazios entre as
partículas do solo, reduzindo a infiltração. Sem
essa compactação, a infiltração pode saturar o
solo e o fluxo de água pode encontrar um
caminho preferencial sob a barreira, conforme
prescrito pela EPA (2012). Esta recomendação
também alerta que, para situações em que a
barreira está retendo grandes quantidades de
Figura 3. Resistência à tração do geotêxtil pelo sedimentos e água acumulados, a compactação
espaçamento entre estacas pela altura da barreira de
sedimentos. Fonte: Koerner 2005
do solo, a profundidade dos postes e a fixação
do geotêxtil são fundamentais para o seu
De acordo com a norma ASTM D 6462-03 funcionamento adequado.
(2008) o geotêxtil deve ter uma largura mínima
de 0,60 m acima do solo e 0,15 m de ancoragem 4.8 Quantidade adequada de barreiras
enterrada na trincheira.
Comparando o padrão ASTM e a Como afirmam Richardson e Middlebroeks
recomendação AASHTO com a metodologia (1991), a área de drenagem do talude
gráfica proposta por Koerner (2005), é possível correspondente a uma barreira de sedimentos
perceber que, para a resistência máxima do não deve ser maior que 1.000 m² para 33,4 m
geotêxtil típico para barreiras de sedimentos lineares de cerca. Além disso, a velocidade de
não reforçadas, ambas as técnicas apresentam escoamento superficial na área deve ser
resultados muito semelhantes. Mas, também, controlada.
diferentemente das normas e recomendações, Além do comprimento linear por área de
Koerner (2005) prevê o uso de maior drenagem, um aspecto muito importante para a
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instalação da barreira é a sua localização, sendo


recomendada a divisão do terreno em
segmentos, facilitando o manejo dos
sedimentos, definindo áreas para seu acúmulo
em diversas barreiras independentes (EPA
2012).
Também é necessário considerar a passagem
de água sobre a barreira em um evento crítico,
redimensionando a cerca, subdividindo-a e
criando áreas de drenagem menores, se este for
um problema recorrente (EPA, 2012).

4 ENSAIOS REALIZADOS COM SOLOS


BRASILEIROS
Figura 5. Curva granulométrica dos solos brasileiros
Para análise laboratorial, foram coletadas utilizados nos testes em comparação com outros solos
amostras de solo do Instituto de Tecnologia típicos brasileiros.
Aeronáutica (ITA), na cidade de São José dos
Campos, SP. Essas amostras, denominadas de Todos os ensaios foram realizados de acordo
solo vermelho e solo marrom, são mostradas na com norma ASTM D5141, no laboratório de
Figura 4. geossintéticos do ITA, usando o geotêxtil de
Para permitir a comparação do solo testado polipropileno tecido mostrado na Figura 6. O
com solos tipicamente brasileiros, a Figura 5 geotêxtil usado atende às características
ilustra curvas granulométricas de solos descritas na norma ASTM D6461. Suas
erodíveis, apresentadas por Angulo (1983) e os principais propriedades estão descritas na
solos testados. Também foram realizados Tabela 1.
ensaios com solo padrão estabelecido na norma
ASTM D5141-11, indicado como “ASTM LI” Tabela 1. Propriedades do geotêxtil.
na Figura 5. Este solo padrão foi preparado pela
mistura de diferentes granulometrias de grãos Geotêxtil Tecido de Polipropileno
de quartzo. Resistência à tração MD/CMD
25kN/m
(ISO 10319)
Deformação na resistência nominal
15%
(ISO 10319)
Abertura de filtração característica
450µm
(ISO 12956)
Permeabilidade (ISO 11058) 35.10-3 m/s

Os resultados dos testes de acordo com a


norma ASTM D5141 realizada nos solos são
mostrados na Tabela 2.
Figura 4. Solos brasileiros vermelho e marrom.
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Tabela 2. Resultados do ensaio. É importante ressaltar que os testes são


realizados com solos soltos, livres de raízes,
Ss – FE – Fluxo
sólidos eficiência (m³/m²/s)
folhas e grumos, o que deve, obviamente, levar
suspensos de filtração a diferenças significativas no desempenho da
(ppm) (%) barreira em campo. Este efeito pode ser
Solo ASTM claramente observado pela diferença
1.05 100 0.30
5141 significativa entre os testes no solo padrão e nos
Solo Marrom 0.38 100 0.25 solos brasileiros, devido ao comportamento dos
Solo Vermelho 0.49 100 0.19 grãos de quartzo, que não formam aglomerados
de partículas. Portanto, é altamente
Os solos testados foram retidos com relativo recomendável usar o solo local nos testes para
sucesso, quando comparados ao solo padrão, uma melhor seleção do geotêxtil para cada
mas à custa do maior tempo necessário para a situação específica. Assim, o ensaio deve ser
filtração, resultando em baixas taxas de fluxo. realizado apenas como ferramenta comparativa
Foi possível observar, na segunda metade do e qualitativa para avaliar a adequação do
teste, para os solos brasileiros, um significativo geotêxtil escolhido para o solo específico.
entupimento dos poros do geotêxtil. Este Não é adequado projetar a barreira de
fenômeno é mostrado na Figura 6. sedimentos com base apenas nas taxas de fluxo
O entupimento das porções inferiores do obtidas neste teste. As outras recomendações e
geotêxtil gera o acúmulo de sedimentos atrás do padrões mencionados neste artigo podem
filtro, o que força o fluxo de água e solo a fornecer as ferramentas para um projeto
correr sobre essa massa acumulada. Desta adequado. Nesse sentido, um dos objetivos
forma, impede a passagem de grãos que se deste artigo foi agregar informações
depositam antes de chegar ao geotêxtil. bibliográficas pertinentes sobre o uso de
barreiras de sedimentos em um único
documento, gerando facilidade na obtenção de
informações sobre o assunto e fornecendo
material relevante à pesquisa e ao trabalho
futuro.
Apesar da falta de padronização para o uso
de cercas de silte no país, seu uso correto
implica grande valor, representando grande
economia nas medidas relacionadas à
sedimentação, considerando que seu uso evita
Figura 6. Poros entupidos a montante do geotêxtil durante problemas causados pelo acúmulo de
o teste realizado no solo vermelho. sedimentos em locais indesejáveis. As normas e
recomendações internacionais mencionadas
5 CONCLUSÕES neste artigo podem ser aplicadas no Brasil,
enquanto estudos mais detalhados devem ser
As barreiras para controle de sedimentos têm realizados para adaptar as especificações das
sido largamente utilizadas no mundo, cercas à realidade brasileira, como clima, solos
entretanto, no Brasil não há um uso típicos, precipitação e disponibilidade de
padronizado dessa técnica, abrindo espaço para materiais.
uma infinidade de usos impróprios, gerando
diversos problemas.
Com relação aos testes realizados para este REFERÊNCIAS
estudo, eles mostraram razoável aplicabilidade
do método de ensaio e do geotêxtil escolhido AASHTO: American Association of State Highways and
para filtração dos solos brasileiros estudados. Transportation Officials. AASHTO M 288-05 (2005).
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Mobilização dos parâmetros de resistência e comportamento


volumétrico de um rejeito de minério de ferro reforçado com
fibras de polipropileno na condição não drenada
Juan Manuel Girao Sotomayor
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil,
girao.sotomayor@gmail.com

Michéle Dal Toé Casagrande


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, mdtcasagrande@unb.br

RESUMO: Avaliou-se a influência do uso de fibras de polipropileno para reforçar rejeitos de


minério de ferro. A influência sobre os parâmetros de resistencia e no comportamento volumétrico
foram avaliados sob a condição não drenada. Portanto, realizaram-se ensaios triaxiais consolidados
não drenados (CIU) sob tensões medias efetivas de 50, 100, 200 e 400 kPa em amostras não
reforçadas e reforçadas. As envoltórias de resistência, mostraram que uma adição de 0,5% de fibra
de polipropileno incrementa o ângulo de atrito de 35,0º a 41,7º, enquanto que, a variação no
intercepto coesivo é desprezível. No comportamento volumétrico, fibras incrementam a tendência
contrativa inicial da matriz devido que fornecem um confinamento adicional sobre os grãos de
rejeito incrementando assim a poropressão, mas esse efeito não é constante porque, após a
transferência de fase a tendência dilatante da matriz prevalece e as fibras passam a serem agentes
supressores desta tendencia devido que continuam-se esticando durante o cisalhamento. No que
respeita à estrutura inicial, o rejeito não reforçado perde totalmente a rigidez inicial com uma
deformação axial de 5% enquanto que reforçado em 12% mostrando a vantagem de utilizar fibra.
As melhorias alcançadas fazem da fibra um reforço interessante para zonas onde não se possa
colocar um reforço planar ou para manutenção de taludes afetados por deslizamentos localizados.

PALAVRAS-CHAVE: rejeito de minério de ferro, ensaio não drenado, comportamento


volumétrico, fibra de polipropileno, transferência de fase.

1 INTRODUÇÃO importante para definir os estados de tensão no


rejeito, em esse sentido, neste trabalho se avalia
O Ferro é um material amplamente utilizado a resistência ao cisalhamento e comportamento
como matéria prima na produção de aço, volumétrico sob condição não drenada que
fabricação de carros e na indústria da permite visualizar as mudanças de poropressão
construção, entre outros. O minério de ferro é para definir a linha de transformação de fase
retirado por médio de diferentes processos que separa a tendência da variação volumétrica
mecânicos e químicos nas plantas contrativa da tendência dilatante.
concentradoras para sua posterior venda às Fibras de polipropileno distribuídas
empresas siderúrgicas. A grande produção gera aleatoriamente foram utilizadas para reforçar o
grandes quantidades de material sem valor rejeito de minério de ferro, pesquisas anteriores
comercial que são depositados em locais demostraram que as fibras tem influência nos
contidos por barragens que algumas vezes são parâmetros de resistência e no comportamento
alteadas utilizando o mesmo rejeito de minério. volumétrico da matriz reforçada, portanto estes
A variação de poropressão é um fator aspectos são revisados comparando os
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resultados do rejeito de minério de ferro seca máxima de 1,746g/cm3 e um teor de


reforçado e não reforçado. umidade ótimo de 12,3%.

2.2 Fibras de polipropileno


2 CARATERISTICAS DOS MATERIAIS
Pequenos pacotes de fibras de polipropileno
2.1 Rejeito de Minério de Ferro lisas são desfiados para evitar que formem
pelotas durante a mistura com o rejeito.
Amostras amolgadas foram coletadas do Anagnostopoulos et al., (2013), mostrou que o
alteamento feito com o rejeito compactado à teor de fibra, adotado nesta pesquisa, de 0,5%
umidade ótima sobre uma barragem de material do peso seco do material é um teor ótimo para
de empréstimo localizada no Peru. reforço de solos. As caraterísticas das fibras se
Resultados de análises mineralógicas por mostram na Tabela 4. A Figura 1 mostra o
fluorescência de raios X, efetuadas em amostras rejeito de minerio de ferro e as dibras utilizadas.
secas na estufa e destorroadas são mostrados na
Tabela 1. As medições do potencial Tabela 4. Fibras de reforço
hidrogeniônico indicaram um pH em faixa de Tipo Polipropileno
Cor Transparente
8,61 – 8,84 mostrando a alcalinidade do rejeito,
Diâmetro (mm) 0,03
portanto, a resistência ao ataque álcali das fibras Comprimento (mm) 24
de polipropileno é ideal. Modulo de Elasticidade (Gpa) 5
O Sistema Único de Classificação de solos Densidade Relativa 0,92
(SUCS) considera o rejeito de minério de ferro
como uma areia siltosa (SM), sem plasticidade,
com uma densidade real dos grãos de 2,892.
Percentagens da análise granulométrica e
índices físicos do rejeito são apresentadas na
Tabela 2 e 3, respectivamente.

Tabela 1. Análise Mineralógico Figura 1. Análises MEV: Interação fibra-rejeito de ferro


SiO2 Fe2O3 Al2O3 SO3 Outro
% 84,04 13,10 1,81 1,04 0,01

Tabela 2. Análise Granulométrico 3 ESTUDO EXPERIMENTAL


Argila Silte Areia
RM (%) (%) Fina Media Grossa 3.1 Moldagem dos corpos de prova
(%) (%) (%)
Au1 0,90 21,58 54,70 21,06 1,76 O processo de moldagem foi igual para o rejeito
puro e reforçado. Para a pesagem das fibras e do
Tabela 3. Índices físicos
Índice Símbolo Valor
rejeito se utilizaram balanças de precisão de
Diâmetro efetivo (mm) D10 0,032 0,001 g e 0,01 g respectivamente.
Diâmetro médio (mm) D50 0,114 O processo de mistura consistiu em colocar
Coeficiente de uniformidade Cu 4,1 primeiro uma camada fina de rejeito desfiando
Coeficiente de curvatura Cc 1,3 manualmente as fibras, a seguir se colocou
Densidade real dos grãos Gs 2,892 outra camada de rejeito, finalmente se espalhava
Ìndice de vazios máximo e min 0,55 o teor de agua correspondente à umidade ótima
Ìndice de vazios mínimo e max 0,84
e mediante uma colher de aço se procedia a
misturar o conjunto. Visualmente se conseguiu
O resultado do ensaio dinâmico de Proctor uma distribuição uniforme das fibras.
normal, determinou a massa especifica aparente
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A moldagem foi feita utilizando um molde seu funcionamento um transdutor resistivo de


tripartido de aço de 3,93 cm de diâmetro interno deslocamento, similar ao que foi utilizado para
e 7,86 cm de altura efetiva. O molde foi medição do deslocamento axial.
subdividido em 5 camadas para assegurar a
densidade conseguida pelo método moist 3.3 Ensaio triaxial não drenado (CIU)
tamping. Análises de varredura de microscopia
eletrônica mostraram a interação fibra-rejeito Os ensaios triaxiais foram realizados usando um
após o ensaio (Fig. 2). equipamento para deformações controladas, em
tal sentido, foi estimada a velocidade de
cisalhamento utilizando as recomendações de
Head (1998) definindo-se uma taxa de 0,032
mm/min. A saturação foi monitorada em cada
incremento de tensão confinante mediante a
medição do parâmetro B, alcançando como
mínimo um valor de 0,95 para todos os
espécimenes. Todos os ensaios foram feitos sob
uma tensão confinante de 700 kPa.

4 RESULTADOS E ANÁLISES
Figura 2. Análises MEV: Interação fibra-rejeito de ferro
4.1 Comportamento tensão-deformação
3.2 Equipamento e Instrumentação
A Figura 3, mostra as curvas da variação da
Os ensaios triaxiais foram executados em tensão desviadora normalizada segundo a
uma prensa triaxial com capacidade de 10000 deformação axial. Observa-se que o rejeito de
kg. Para a aplicação da pressão confinante e da minério de ferro não reforçado alcança entre 3,0
contrapressão, utilizou-se um sistema de ar e 5,5% uma tensão desviadora normalizada de
comprimido controlado por um painel de pico que não se apresenta nas amostras
válvulas reguladoras de pressão ligadas à rede reforçadas as quais atingem uma tensão
de ar comprimido do laboratório que fornece desviadora normalizada máxima que permanece
uma pressão máxima na linha de 1000 kPa. quase constante a partir de 12% até a
A medição da força aplicada foi feita através deformação máxima de 20% considerada neste
de uma célula de carga de 5 kN de capacidade trabalho.
máxima, instalada no interior da câmara
triaxial. As medidas de poropressão na base do
corpo de prova foram efetuadas com um
transdutor de pressão, de 1030 kPa de
capacidade máxima.
O deslocamento axial foi monitorado com
um transdutor de deslocamento resistivo, tipo
LSCDT de 25,4 mm de faixa de deslocamento.
A variação volumétrica foi medida com um
transdutor de variação de volume do tipo
Imperial College, fabricado na PUC-Rio (De
Campos, 1985). O MVV utilizado na presente
pesquisa tem uma capacidade máxima de 100 Figura 3. Tensao desviadora normalizada
cm3, com resolução de 0,01cm3, e utiliza para
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As amostras reforçadas mostraram um confinamento. Das curvas da figura 3


comportamento plástico bem definido durante o claramente observa-se que a tendência
carregamento. Este comportamento produto da dominante no rejeito de minério de ferro não
interação fibra-matriz é desejável devido que o reforçado é dilatante.
material reforçado pode suportar grandes O rejeito reforçado, apresenta também a
deformações sem perder resistência, portanto as tendência inicial contrativa mas com um valor
fibras melhoram o comportamento tensão- máximo do excesso de poropressão normalizada
deformação do rejeito de minério de ferro sob a de 0,56 em um nível de deformação axial entre
condição não drenada. Faltando uma tensão de 0,50-1,14% mostrando que as fibras aumentam
pico no caso reforçado, a tensão desviadora a poropressão, por conseguinte as fibras
máxima, foi definida utilizando o critério De favorecem a tendência contrativa até certo
Campos e Carrillo (1995) que assume que o ponto devido que a tendência volumétrica é
material rompe quando a curva q (kPa) - (%) determinada pela matriz. Uma vez que a matriz
atinge uma inclinação constante ou nula, com a passa à tendência dilatante observou-se que as
variante que se normalizou a tensão desviadora. amostras reforçadas mostram uma maior
variação do excesso de poropressão
4.2 Variação do excesso de poropressão normalizada do que o caso não reforçado.
O efeito do acréscimo do excesso de
A Figura 4, mostra a variação do excesso de poropressão pela presença das fibras pode ser
poropressão normalizada nas amostras não explicado pelo fato de que as fibras trabalham a
reforçadas e reforçadas. O excesso de tração portanto com o incremento da tensão
poropressão normalizada alcança um valor desviadora as fibras se esticam, embora como as
máximo de 0,43 aproximadamente entre 0,20- condições são não drenadas e não existem
1,45% de deformação axial, este valor diminui mudanças de volume, as fibras geram um efeito
depois de forma considerável. de confinamento adicional ao interior da
amostra causando um efeito de compressão que
favorece a tendência contrativa, logo o excesso
de poropressão aumenta, mas como a matriz
não reforçada apresenta uma tendência dilatante
dominante o efeito da fibra é superado, e
passando ao lado dilatante o excesso de
poropressão diminui, tornando o efeito de
confinamento da fibra em um acréscimo para a
tensão efetiva media.

Figura 4. Variação do excesso de poropressão


normalizada

O aumento do excesso de poropressão


responde a uma variação de volume contrativa
do rejeito enquanto que a posterior dissipação
corresponde a uma variação do volume para
mais dilatante. Essa variação está associada ao
grau de adensamento que o rejeito possui sendo
mais visível em menores tensões efetivas de Figura 5. Variação da tensão efetiva média normalizada
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As curvas da Figura 5, mostram que o efeito de rejeito é dominante sobre a tendência


da fibra na tensão efetiva média é maior quando contrativa favorecida pelo estiramento das
a tensão efetiva de confinamento é menor. No fibras, não obstante, até uma deformação entre
rejeito de minério de ferro reforçado existem 3,0-12,0% a tendência dilatante também é
duas variáveis que determinam a tendência da suprimida. Na Figura 3, nota-se que no caso
mudança de volume: a tendência dilatante da reforçado a tensão desviadora não sofre uma
matriz de rejeito e a tendência compressiva da queda, o qual é explicado pelo fato que nesse
fibra. Na Figura 6(a) e 6(b) se apresenta a taxa nível de deformação axial as fibras esticadas
de variação do excesso de poropressão entram em contato com mais grãos de rejeito,
normalizada segundo a deformação axial para após atingir o valor de pico a queda da
amostras não reforçadas e reforçadas, poropressão aumenta a tensão efetiva média
respectivamente. gerando uma maior interação entre os grãos do
rejeito e as fibras esticadas, conseguindo
aumentar o confinamento adicional dentro da
matriz aumentando o efeito compressivo da
fibra e por conseguinte, suprimindo a tendência
dilatante do rejeito.

4.3 Linha de Transformação de fase

Quando um material granular submetido a


cisalhamento não drenado atinge um ângulo de
atrito mobilizado estacionário sob uma pressão
(a) de poros e uma tensão constantes, se pode
considerar que esse material atinge uma
condição similar à representada no estado
crítico no cisalhamento drenado que mostra o
estado de volume constante final (Poulos, 1981;
Castro et al., 1982; Negussey, 1988).
Uma areia contrativa alcança o estado
estacionário após um aumento contínuo de
poropressão, por outro lado, uma areia
parcialmente contrativa ou dilatante atinge o
estado estacionário após uma queda de
(b)
poropressão mostrando um comportamento
inicial contrativo seguido de um aumento de
Figura 6. Taxa da variação do excesso de poropressão poropressão.
normalizada (a) sem reforço (b) reforçado Vaid e Chern (1985) descobriram que a
transformação de fase e os estados estáveis são
No rejeito não reforçado da Figura 6(a), idênticos em termos do ângulo de atrito
observa-se que entre 0,5-1,0%, de deformação mobilizado. Luong (1980) observou que o
axial a tendência dilatória da matriz de rejeito é ângulo de atrito mobilizado na contração
dominante mas que esta tendência é suprimida máxima em um teste drenado é idêntico ao
entre 1,0-6,0% de deformação axial, enquanto ângulo de atrito mobilizado na transformação de
que, no rejeito reforçado da Figura 6(b), fase em um teste não drenado. Com base nestas
observa-se que a partir de uma deformação axial conclusões, se utilizaram os pontos p’-q
entre 1,5-3,0% a tendência dilatória da matriz correspondentes à máxima poropressão
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calculando os ângulos de atrito mobilizados arrancamento das fibras pelo menor


mediante sen ’=3M/(6+M) com M=q/p’. confinamento em estes níveis de tensão, de
A Figura 7 mostra a linha de transformação outro lado para todos os níveis de tensão, as
de fase obtida utilizando todos os ensaios não fibras que não são arrancadas se devem esticar
drenados do rejeito de minério de ferro não de forma plástica porque em caso rompam os
reforçado e reforçado se verificando que ângulos de atrito mobilizado diminuiriam de
independentemente do reforço os pontos maneira drástica até alcançar os valores da
coincidem numa reta que passa pelo origem e amostra sem reforço (Wood et al., 2015).
cujo ângulo de atrito ’LTF=34,8º.

(a)

Figura 7. Linha de transformação de fase

4.4 Mobilização dos parâmetros de resistencia

Nas Figuras 8(a) e 8(b) se apresentam as


curvas da mobilização do ângulo de atrito
independente de cada nível de tensão efetiva de
confinamento do rejeito de minério de ferro não
reforçado e reforçado respectivamente,
posteriormente se mostram os parâmetros (b)
obtidos pela envoltória de resistência de todas
Figura 8. Mobilização do ângulo de atrito
as tensões efetivas de confinamento. (a) sem reforço (b) reforçado
Em ambos os casos as curvas apresentam
ângulos de atrito mobilizado de pico entre 1 e Utilizou-se a envoltória de resistência de
3% de deformação axial, estes diferentes todas as tensões efetivas para definir os
valores de deformação mostram que o valor parâmetros de resistência do rejeito de minério
máximo do ângulo de atrito é dependente da de ferro. Para definir o pontos p’-q das
tensão efetiva de confinamento. envoltórias utilizou-se o critério da tensão
Depois da queda do valor de pico, para todas desviadora normalizada de pico e o critério de
as amostras o ângulo de atrito mobilizado tende De Campos e Carrillo (1995).
a diminuir até a deformação de 20% mas em A Figura 9 apresenta o diagrama p’- q com
nenhum caso o valor reforçado é menor do que as envoltórias sem reforço e reforçada,
sem reforço, esta redução é maior em amostras adicionando a linha de transformação de fase.
reforçadas com menor tensão efetiva de Observa-se que ambas as envoltórias não
confinamento, possivelmente deve-se ao drenadas do rejeito de minério de ferro sem
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reforço e reforçado se encontram por acima da Na Figura 10, observa-se que o ângulo de
linha de transferência de fase, o rejeito sem atrito mobilizado de pico sem reforço e
reforço se encontra muito perto enquanto que o reforçado se encontram entre 5 e 6% de
rejeito reforçado apresenta um ângulo maior, deformação axial com valores de 35,6º e 43,2º
por conseguinte segundo as envoltórias de respectivamente e diminuem até 34,1º e 41,0º
resistência, o rejeito de minério de ferro com ao 20% de deformação, portanto os ângulos de
uma adição de 0,5% de fibra de polipropileno atrito do rejeito sem reforço e reforçado
distribuída aleatoriamente incrementa o valor calculados pela envoltória de resistência total
do ângulo de atrito sem reforço de 35,0º a 41,7º com valores de 35,0º e 41,7º respectivamente,
e diminui o intercepto coesivo de 8 kPa a zero. são representativos do comportamento do
material.

Figura 9. Diagrama p’-q das tensões efetivas não


drenadas e linha de transformação de fase. Figura 11. Mobilização do intercepto coesivo

Para prestar maior atenção ao efeito da fibra De outro lado, a Figura 11 mostra que
na evolução dos parâmetros de resistência se inicialmente existem valores altos de intercepto
realizaram envoltórias de resistência a cada coesivo nas amostras sem reforço e reforçadas
0,5% de deformação. Para cada envoltória se que após atingir um pico se reduzem
encontrou o ângulo de atrito e o intercepto drasticamente até serem nulos. Os rejeitos sem
coesivo os resultados são apresentadas nas reforço e reforçado chegam a um intercepto
Figuras 10 e 11, respectivamente. coesivo nulo a partir de uma deformação de 5%
e 6% respectivamente.
O rejeito sem reforço depois da queda
apresenta um incremento do intercepto coesivo
mas que pode ser por um arranjo dos grãos após
a ruptura portanto é desprezível e seu valor
volta a ser nulo. Na mesma deformação axial
são coincidentes a perda do intercepto coesivo e
o ângulo de atrito de pico mobilizado para
ambas as amostras sem reforço e reforçado,
mostrando que para a estrutura granular do
rejeito de minério de ferro a adição de fibra
somente é significativa para o acréscimo do
ângulo de atrito, antes, durante e depois da
Figura 10. Mobilização do ângulo de atrito
ruptura. Neste caso, o intercepto coesivo do
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rejeito sem reforço calculado pela envoltória 4.6 Perda da rigidez inicial
total de resistência de 8 kPa não é
representativo para o material, A perda da rigidez pode mostrar se a fibra
consequentemente o intercepto coesivo é oferece um efeito favorável o desfavorável à
considerado nulo. É importante notar que o estrutura inicial da matriz. Os dados de
rejeito reforçado atinge um intercepto coesivo pesquisas anteriores são contraditórios, as fibras
de pico em uma maior deformação axial podem gerar maiores vazios favorecendo a
comparado com o caso não reforçado, isto perda rápida da matriz e em outros casos as
indica que as fibras ocuparam os espaços vazios fibras preenchem os espaços vazios da matriz
na matriz, gerando um maior contato entre os aumentando sua densidade. Outras pesquisas
grãos do rejeito densificando a matriz e por indicam que as fibras não têm nenhuma
conseguinte a queda do intercepto coesivo de influência sobre a rigidez da matriz reforçada
pico reforçado precisa de maior deformação (Heineck et al. 2005).
axial, enquanto que no caso sem reforço foi
0,5% no caso reforçado a queda iniciou em 5%.

4.5 Relação entre o ângulo de atrito


mobilizado e a variação do excesso de
poropressão

Na Figura 12(a) e (b), se mostra a variação do


ângulo de atrito mobilizado segundo o aumento
ou diminuição da taxa de variação do excesso
de poropressão, para o rejeito de minério de
ferro não reforçado e reforçado,
respectivamente. Note-se que, ângulos de
atrito mobilizados até a linha de transferência
de fase se encontram na parte da tendência à
mudança contrativa do volume sendo similar (a)
em ambos os casos. Após atingir a linha de
transformação de fase os ângulos de atrito
mobilizados aumentam até um valor de pico e
depois diminuem até um valor quase constante,
ambos dentro da parte da tendência à mudança
de volume dilatante do material tanto para o
caso reforçado como não reforçado. Observa-se
também que os valores de ângulo de atrito de
pico no caso reforçado são maiores que no caso
não reforçado em todos os níveis de tensão
efetiva.
No caso reforçado também existe um
pequeno aumento da tendência contrativa
comparada com o caso sem reforço, como se (b)
manifestou anteriormente, a presença da fibra Figura 12. Mobilização do ângulo de atrito segundo a
aporta um acréscimo no confinamento do rejeito taxa de variação do excesso de poropressão normalizada
incrementando o excesso de poropressão. (a) sem reforço (b) reforçado
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Na Figura 13 se apresenta a variação da este efeito favorável à rigidez inicial é mantido


rigidez da matriz de rejeito de minério de ferro sob densidades menores de rejeito.
segundo o aumento da deformação axial.
Observa-se claramente que o rejeito reforçado 5 CONCLUSÕES
tem uma menor perda de rigidez em
comparação ao rejeito não reforçado, enquanto A seguir se apresentam as conclusões obtidas
o rejeito sem reforço atinge uma perda total da com os dados deste trabalho.
rigidez inicial em 5% de deformação axial, o Sob condições não drenadas, amostras
rejeito reforçado consegue afastar esta perda até reforçadas mostraram um comportamento
os 12% de deformação axial. plástico bem definido favorável porque o rejeito
pode suportar grandes deformações sem perder
resistência;
O comportamento volumétrico das amostras
não reforçadas, apresenta inicialmente uma
tendência de mudança contrativa de volume
pelo incremento do excesso de poropressão,
embora, este excesso após de chegar a um valor
de pico diminui de forma considerável
apresentando uma tendência dominante de
mudança dilatante de volume. Este
comportamento esperado deve-se ao grau de
compactação do rejeito de minério de ferro de
(a) densidade relativa média a densa.
Em deformações iniciais, as fibras entre os
grãos de rejeito de ferro geram um efeito de
confinamento adicional que incrementa a
poropressão, portanto favorece a tendência da
contrativa, embora, a matriz de rejeito não
reforçado apresentou uma dominante tendência
dilatante, portanto o efeito da fibra é superado,
o excesso de poropressão diminui, tornando o
efeito de confinamento da fibra em um
acréscimo para a tensão efetiva media.
As curvas da mobilização do ângulo de atrito
mostram que para amostras não reforçadas e
(b) reforçadas se alcança um valor de pico diferente
mostrando-se dependente da tensão efetiva de
Figura 13. Variação da rigidez inicial consolidação, após alcançar o pico o ângulo de
(a) sem reforço (b) reforçado atrito mobilizado diminui mas em nenhum caso
o valor reforçado é menor do que sem reforço.
É importante lembrar que para o nível de As envoltórias de resistência, demostram que
densidade media-densa da matriz (Dr=65%), a o rejeito de minério de ferro com uma adição de
fibra em qualquer nível de tensão efetiva tem 0,5% de fibra de polipropileno incrementa o
uma excelente interação com os grãos de rejeito valor do ângulo de atrito de 35,0º a 41,7º
ocupando inclusive os espaços vazios da matriz, enquanto que a variação no intercepto coesivo é
é importante conhecer em trabalhos futuros se desprezível.
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A adição de fibra fornece ao rejeito de Symposium on Soils Under Cyclic and Transient
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rigidez, o rejeito não reforçado atinge uma Journal of the Geotechnical Division, American Society
perda total da rigidez inicial em 5% de of Civil Engineers, Vol.107, No. GT5, pp. 553-562.
deformação axial enquanto o rejeito reforçado Negussey, D., Wijewickreme, W.K.D., and Vaid, Y.P.,
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em 12% fato que indica a maior capacidade Materials. Canadian Geotechnical Journal. 25(1), 50-55.
para distribuir a tensão. Vaid, Y.P. and Chern, J.C. (1985). Cyclic and Monotonic
Finalmente os resultados mostram que o Undrained Response of Saturated Sands, Session No. 52,
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caraterísticas geotécnicas quando reforçados
Proceedings of the TC105 ISSMGE International
utilizando fibras discretas. Symposium On Geomechanics from Micro to Macro.
CRC Press, Balkema, Cambridge, September 1-3, 2014,
Vol. 1.
AGRADECIMENTOS

Os autores expressam seu agradecimento


para as instituições que deram suporte técnico e
econômico: Pontifícia Universidade Católica do
Rio de Janeiro (PUC-Rio) e o Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) pelos auxílios dados para
esta pesquisa.

REFERÊNCIAS

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Obtenção de Danos de Instalação em Geogrelhas a Partir de Ensaios em Campo

Biazotto, R. P.
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – EPUSP e Leite Biazotto Engenharia, São Paulo,
Brasil, biazotto@usp.br

Avesani, J. O. N.
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo - EPUSP, São Paulo, Brasil, avesani@usp.br

RESUMO: Este artigo apresenta uma análise de danos mecânicos de instalação em geogrelhas, de
diferentes resistências, por meio de ensaios realizados em campo. Foram empregadas geogrelhas
tecidas de poliéster (PET) com três diferentes resistências à tração de catálogo: 52, 73 e 93 kN/m. As
geogrelhas foram submetidas aos danos de instalação em dois diferentes tipos solos para avaliação
de sua influência: uma argila arenosa e uma brita graduada simples (BGS). A energia de compactação
igualmente foi avaliada nos danos, sendo empregados dois diferentes processos de compactação (rolo
tipo pé de carneiro e compactador manual tipo “sapo”) e diferentes espessuras de camada. As análises
foram pautadas na determinação da resistência a tração das amostras virgem e pós-dano (amostras
exumadas). Os resultados mostraram que há uma grande faixa de variação para o dano de instalação
a depender da energia de compactação, material de aterro e tipo de geogrelha.

PALAVRAS-CHAVE: Geogrelhas, Dano de Instalação, Fator de Redução da Resistência.

1 INTRODUÇÃO 1.1 Dano de Instalação


De maneira geral o processo de instalação dos
Para as obras onde os geossintéticos são geossintéticos envolve procedimentos grosseiros
aplicados na função de reforço é vital o como o lançamento e a compactação de solo, que
conhecimento de propriedades como resistência danificam o material causando alteração de suas
a tração ou rigidez do material. Pode-se listar um características. Para geossintéticos empregados
grande número de fatores que influenciam na função de reforço, a resistência à tração é sem
positiva e negativamente na resistência máxima dúvida uma das propriedades mais relevantes
que poderá ser mobilizada em um geossintético destes materiais. Portanto, a utilização de fatores
em sua condição de trabalho. Contudo, a prática adequados que levem em conta a redução nos
atual da engenharia propõe a adoção da seguinte valores característicos dessa propriedade é
equação: fundamental para a adequada elaboração de
projetos.
Tk Muitos dos fabricantes de geossintéticos
Ta = FR (1)
FL x FRDI x FRD expões em seus catálogos um valor único para
minoração da resistência, sendo que poucos
Ta: Resistência admissível, para cálculo apresentam fatores para tipos diferentes de solo
Tk: Resistência característica e nenhum faz referência à energia de
FRFL: Fator de redução da resistência por compactação empregada no processo, contudo
fluência resultados de trabalhos anteriores como Barbosa
FRDI: Fator de redução da resistência por dano e Santos (2014) e Santos (2011) mostram que
de instalação para determinados tipos de solo e processos de
FRD: Fator de redução da resistência por compactação a instalação dos geossintéticos não
degradação química e/ou biológica causa uma redução da resistência à tração destes
materiais, enquanto outros como Hufenus et. al.,
1
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2002 mostraram que o FRID pode variar em uma da camada compactada.


faixa de 1,0 a 1,5 para um mesmo material a
depender da energia de compactação e do tipo de
solo de instalação. Este estudo objetiva ilustrar o
dano de instalação do ponto de vistas dos
materiais de aterro e equipamentos de
compactação mais utilizados no Estado de São
Paulo.

2 MATERIAIS

2.1 Geogrelhas

Foram utilizadas as geogrelhas tecidas


fabricadas em poliéster de nome comercial
StrataGrid® SG200 (Geogrelha A), SG350
(Geogrelha B) e SG500 (Geogrelha C), cujas
resistências à tração na direção principal
informadas pelo fabricante são apresentadas na
Tabela 1. Figura 1 - Amostras sendo enterradas em campo (em
destaque a referência de nível)
Tabela 1 - Resistência das geogrelhas informada pelo
fabricante Depois de finalizada a disposição da terra
Resistência à Resistência à sobre as amostras, foi realizado o processo de
Tiras/Largura compactação em camada única, utilizando-se
Geogrelha Tração/Largura Tração/Tira
(kN/m) (m-1 ) compactador tipo sapo e rolo pé-de-carneiro. As
(N)
Geogrelha A 1,16 1,22 1,09 amostras foram cuidadosamente exumadas
Geogrelha B 1,33 1,54 1,14 (Figura 2), utilizando ferramentas manuais, e
Geogrelha C 1,20 1,27 1,14 foram acondicionadas em sacos plásticos
Geral 1,24 1,54 1,09 etiquetados.

3 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

Para avaliar o dano provocado pelo processo


de instalação das geogrelhas tecidas flexíveis
com resistência à tração nominal de 52, 73 e 93
kN/m foi simulada sua instalação em campo, as
amostras instaladas foram exumadas e sua
resistência à tração foi medida em laboratório.

3.1 Campo

Simulando o processo de instalação as


geogrelhas forma fixadas e aterradas em uma Figura 2 - Amostra sendo exumada
vala onde estacas metálicas, como a destacada na
Figura 1, foram utilizadas para controlar a altura De maneira análoga foram enterradas e

2
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exumadas outras amostras das geogrelhas, cuja instalação foi simulada em campo e das
variando-se a altura da camada de aterro de 10 a amostras de referência (coletadas dos mesmos
40 cm. Como material de aterro foi utilizado o rolos).
solo argiloso local e uma brita usinada bem
graduada. Determinou-se como a resistência da amostra
(T), a média aritmética das resistências dos
3.2 Laboratório corpos de prova que a compõe. Calculou-se a
redução percentual da resistência de cada uma
Para obter a resistência à tração das amostras das amostras em relação à amostra de referência
foi adotada a metodologia descrita na norma (Tref). Obteve-se os valores FRDI pela equação
ASTM D 6637 - Método A, ensaio single rib. (1), considerando-se que como a instalação e a
Portanto, as amostras exumadas de geogrelhas exumação das geogrelhas ocorreu em poucas
foram separadas em tiras e a partir de cada horas os efeitos de fluência e degradação não
amostra foram obtidos 6 corpos de prova, sendo atuaram sobre os corpos de prova de modo que é
descartadas as tiras das extremidades. válida a equação (2):

O ensaio de tração não confinada foi realizado 𝑇𝑘


𝐹𝑅𝐼𝐷 = (2)
𝑇
por equipamento da marca Instron, onde as
extremidades das geogrelhas foram fixadas por
meio de garras do tipo rolete. Foi adotada uma
4 RESULTADO E DISCUSSÕES
distância entre garras inicial de 200 ± 3 mm e
velocidade de deformação constante a 2%
Os valores para a o FRDI médios e extremos
(Figura 3).
obtidos são apresentados na Tabela 2.

Tabela 2 - FRDI obtidos nos ensaios realizados

FRDI
Geogrelha
Médio Máximo Mínimo
Geogrelha A 1,16 1,22 1,09
Geogrelha B 1,33 1,54 1,14
Geogrelha C 1,20 1,27 1,14
Geral 1,24 1,54 1,09

Observou-se uma grande amplitude em


relação aos fatores obtidos e que curiosamente a
geogrelha de menor resistência apresentou os
menores danos de instalação. Notou-se também
que a faixa de variação é semelhante à obtida no
Figura 3 - Montagem do corpo de prova no equipamento
estudo reportado por Hufenus et al (2002).
de tração com garras rolete.
As amostras analisadas apresentaram de
3.2 Redução da Resistência forma geral comportamento uniforme com
relação a inclinação da curva de tensão
Para determinar o fator de redução da deformação (Gráfico 1), está tendência foi
resistência por dano de instalação (FRDI) foram observada o que vem a confirmar uma esperada
comparadas a resistência à tração das amostras uniformidade do material.

3
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Gráfico 1 - Curva tensão deformação típica Inicialmente esperava-se que o dano de


instalação diminuísse com a altura da camada,
mas observou-se que em alguns casos, como o
Tensão (kgf)

apresentado no Gráfico 2, houve um aumento do


dano de instalação para duas das geogrelhas.
Como o solo, o compactador e o número de
passadas foram os mesmos e os ensaios foram
realizados nos mesmos dias pelos mesmos
operadores, pode-se afirmar que a energia de
Deformação (%) compactação diminuiu com o aumento da
camada.
Notou-se que a redução de resistência da
amostra se deu maneira uniforme na maioria das Gráfico 2 - Variação do FRDI com a altura da camada de
amostras, sendo que em poucos casos houveram compactação para um mesmo tipo de solo e compactador
corpos de prova com uma resistência muito
menor que a média, este fato pode ser observado
no Gráfico 1 e confirmado pelos dados
apresentados na Tabela 3, onde observou-se que
apenas 4 amostras apresentaram desvio padrão
superior a 10% da média.

Tabela 3 - Desvio padrão da resistência máxima dos


corpos de prova de cada uma das amostras

Desvio
Média _
Amostra Padrão x
_
(X) (δ) δ
7 1299 18 1%
10 1306 27 2%
3 1341 39 3%
15 3214 99 3%
8 971 40 4%
Nenhuma das amostras apresentou corpos de
6 964 41 4% prova com ruptura completa após a simulação de
13 2998 155 5% instalação em campo.
14 3158 178 6%
17 3138 196 6%
11 1142 75 7% 5 CONCLUSÕES
9 984 71 7%
Os dados revelam uma larga faixa de variação
12 3273 239 7% no que diz respeito a variação do FR DI,
4 1006 82 8% coincidente com o que outros autores já haviam
1 1211 187 15% apontado.
16 3028 480 16%
5 1108 180 16% A pequena variabilidade dos resultados
dentro das amostras e o fato de em nenhuma
2 1033 264 26%
4
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condição ter havido ruptura completa das tiras de Engenharia Civil, Universidade de Brasília,
indica que o ensaio tipo single rib fornece Brasília, DF, 214 p.
resultado adequados a este estudo.

A menor susceptibilidade ao dano de


instalação da geogrelha SG 200 em relação as
demais mais resistentes deverá ser investigado
mais a fundo, devendo ser repetido o estudo
incluindo-se geogrelhas de maior e menor
resistência, afim de confirmar esta
susceptibilidade e se é um caso particular ou
regra geral.

O aumento do dano de instalação com a


diminuição da energia de compactação
identificado em alguns pontos deste estudo pode
ter sido causado por uma situação específica e
deve ser verificado por estudo posterior. Por esse
motivo, indica-se que os próximos estudos sejam
feitos com mais de uma amostra por condição.

AGRADECIMENTOS

Os autores gostariam de expressar sua


profunda gratidão aos parceiros neste estudo:
Geosoluções (Strata Brasil); e ao Laboratório de
Tecnologia Têxtil - LTT do Instituto de Pesquisa
Tecnológicas - IPT.

REFERÊNCIAS

American Society for Testing and Materials. (2001)


D6637: Standard Test Method for Determining Tensile
Properties of Geogrids by the Single or Multi-Rib
Method. West Conshohocken - USA, 6 p.
Barbosa, F.A.S. e Santos, E. C. G.(2014). Fatores de
redução de resistência de geogrelha devido a danos de
instalação causados por resíduos de construção e
demolição reciclados (RCD-R), Congresso Brasileiro
de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica,
COBRAMSEG, ABMS, Goiânia-GO.
Hufenus, R.; Rüegger, R. e Flum, D. (2002),
Geosynthetics for reinforcement - resistance to
damage during installation, 7th International
Conference on Geosynthetics, Nice - França
Santos, E.C.G. (2011). Avaliação Experimental de Muros
Reforçados Executados com Resíduos de Construção e
Demolição Reciclados (RCD-R) e Solo Fino. Tese de
Doutorado, Publicação G.TD-069/11, Departamento

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Reforço de solo tropical de Brasília com uso de fibras Pet e


canudos plásticos reciclados
Lucas Gabriel Lopes Da Silva
Universidade Católica de Brasília, Brasília, Brasil, lukkasgabriel0@gmail.com

Raphael de Sousa Neves


Universidade Católica de Brasília, Brasília, Brasil, raphael1296@gmail.com

Luiz Fernando Jordão Graciano


Universidade Católica de Brasília, Brasília, Brasil, luizjordaodf@gmail.com

Leidiane Moraes Garcia


Universidade Católica de Brasília, Brasília, Brasil, leidiane.engenharia@gmail.com

Rideci De Jesus Da Costa Farias


Universidade Católica de Brasília, Brasília, Brasil, rideci.reforsolo@gmail.com

RESUMO: A engenharia civil possui extrema importância para a economia do mundo, os projetos
em torno desse campo assumem responsabilidade ética, econômica e social tanto para a
comunidade civil como também para industrial. Buscando atender responsabilidade ambiental e
técnica, o objetivo desse artigo será realizar a análise da viabilidade de melhoria do solo tropical de
Brasília, utilizando para esse fim a comparação entre os resultados de ensaios laboratoriais de solo
natural e solo cimento com os resíduos plásticos reciclados provenientes de dois materiais: Canudos
plásticos e garrafa Pet. De acordo com os autores Santos e Silva (2015) as fibras são importantes
para atuarem como melhoria, uma vez que os esforços são distribuídos entre a matriz do solo e as
fibras. Também disserta que eles estão sendo muito utilizados em tempos modernos por possuírem
uma gama de aplicabilidades tais como: Reforço de aterro, taludes e combates contra à erosão. É
interessante ressaltar que os resíduos plásticos também podem atuar como geossintéticos, porque as
fibras plásticas geralmente oferecem alta resistência à tração. A pesquisa tem o intuito de
demonstrar uma metodologia que melhore as características mecânicas do solo, aumentando a
resistência e reduzindo compressibilidade e permeabilidade. O Trabalho será balizado pelos
resultados dos ensaios geotécnicos de compactação, compressão axial de corpos de prova e ensaio
de índice de suporte Califórnia – California Bearing Ratio (CBR). Todos serão realizados com o
solo em sua condição natural (para servir como base de comparação) e depois nas porcentagens de
0,5% e 0,75% (em massa) de fibras de 2 cm de comprimento por 0,5 cm de largura de garrafa pet e
canudos plásticos de 1cm de comprimento, realizados e analisados separadamente. Pretende-se ao
fim, analisar se as fibras de garrafas Pet e os canudos plásticos aumentam as propriedades
mecânicas do solo tornando-o viável tecnicamente para aplicação do mesmo em obras que
necessitem o reforço do solo. Também é importante verificar se esses materiais se comportam de
forma semelhante, uma vez que serão analisadas porcentagens iguais de fibras de garrafa Pet e
canudos plásticos.

PALAVRAS-CHAVE: Fibras Pet, Canudos plásticos, reciclados

1 INTRODUÇÃO empreendimento que demanda gastos


Sabendo que a construção civil é um financeiros onerosos e a falta de disponibilidade
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dos recursos naturais, é de extrema importância O presente trabalho teve como objetivo geral
que pesquisas busquem novas alternativas estudar através da literatura existente e por meio
tecnológicas que conciliem o custo do de ensaios laboratoriais, as características do
empreendimento com materiais que possuam solo de Brasília.
boa performance com um custo baixo. O solo utilizado foi coletado em um
A técnica mais comum quando os aterro proveniente da Universidade Católica de
engenheiros se deparam com um solo Brasília, no Distrito Federal. A Universidade se
relativamente pobre, segundo o autor localiza em Águas claras. A Figura 1 informa o
Casagrande (2005) é remover o solo do local e local da retirada da amostra.
substituí-lo por outro com características
adequadas ou estabiliza-lo quimicamente
mudando suas características para constituir o
solo de fundações por exemplo.
Segundo o autor mencionado
anteriormente é possível a utilização de fibras
para melhorar o desempenho de problemas
causados pelas fissuras, como a perda de
capacidade de suporte de solo utilizado na
geotecnia e para combater fissuras de retração
em pisos de concreto por exemplo.
O autor Specht (2000) corrobora que o Figura 1: Local de retirada da amostra
uso de fibras aleatórias no solo permite
melhorar as características mecânicas e Inicialmente os resíduos serão
principalmente no controle a fissuração, classificados conforme o Artigo 3º da
aumento da capacidade de carga pós-ruptura e Resolução nº 307 do Conselho Nacional do
aumento da durabilidade e ductibilidade do Meio Ambiente (CONAMA) (2002), para
material. informar qual a classe o material reciclado se
Specht (2000) também disserta que o enquadra.
entendimento da interação da matriz solo-fibras Posteriormente, para caracterizar o tipo
é essencial para analisar o seu comportamento de solo, é necessário fazer ensaios de
mecânico e pode variar se o solo tiver caracterização em ensaios laboratoriais como:
granulometria diferente, índice de vazios e grau Limites de liquidez, seguindo a norma (NBR
de cimentação, espessura e rugosidade das 6459:1984); Limite de Plasticidade, seguindo a
fibras. norma (NBR 7180:1984) e granulometria,
Os resultados da incorporação de fibras balizados pela norma (NBR 7217:1987). A
de canudos plásticos e garrafa Pet aumentam a Figura 2 mostra o ensaio de caracterização
resistência do solo quando comparados com o Casagrande.
solo natural.
Dessa forma, o presente trabalho teve
como objetivo contribuir com os conhecimentos
a respeito da análise de comportamentoda
interação solo-fibras provenientes de dois tipos
diferentes de fibra (Garrafa Pet e canudos
plásticos) com as mesmas porcentagens 0,5% e
0,75% em relação a massa de solo.

2 METODOLOGIA
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Figura 4: Fibras de garrafa Pet.

Figura 2: Ensaio de caracterização Casagrande

Após a realização do estudo preliminar,


caracterização dos resíduos e do solo esse artigo
iniciará o processo de comprovação dos dados
levantados na consulta, via testes laboratoriais
de: Compactação utilizando energia normal,
seguindo a norma Brasileira (NBR 7182:1986),
Compressão simples utilizando energia normal,
segundo a norma Brasileira (NBR 12770:1992)
e CBR, segundo a norma Brasileira DNIT Figura 5: Corpo de prova com canudos plásticos para
172:2016. Os ensaios serão realizados em compressão simples.
triplicata de solo natural e com as porcentagens
de resíduos plásticos de garrafa Pet e canudos Depois dos ensaios laboratoriais, os
em 0,5% e 0,75% em massa total do solo.A resultados serão comparados com os dados da
Figura 3 mostra a mistura de solo com canudos literatura, para enfim saber a viabilidade técnica
plásticos aproximadamente 1cm, Figura 4 as da aplicação de resíduos plásticos para reforço
fibras de garrafa Pet com aproximadamente do solo em fundações superficiais, barragens e
2cm e Figura 5 mostra o corpo de prova de principalmente em pavimentos flexíveis.
compressão simples.
3 RESULTADOS

3.1 Resultados de laboratório

Inicialmente serão apresentados os resultados


referentes à caracterização do agregado e solo
natural. Segundo a norma do Conama, o
material empregado para essa pesquisa trata-se
de um material “classe B”. O solo foi
caracterizado como laterítico e é proveniente
do campus da Universidade Católica de
Figura 3: Mistura de solo com canudos plásticos Brasília. A Figura 6 mostra o resultado de
curva granulométrica do solo.
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Compactação canudo + Solo


Solo natural

Massa específica Seca


1,15
0,5%

(g/cm³)
1,05 canudo+
solo
0,75%
0,95
canudo +
20 23 26 29 32 35 38
Umidade (%) solo

Figura 6: Curva granulométrica do solo laterítico de Figura 8: Curvas de compactação solo e canudos
Brasília
De acordo com os resultados do ensaio Tabela 1: Umidade ótima e massa específica de canudos
de granulometria, verifica-se que se trata de Umidade Massa específica
um solo bem graduado, com predominância ótima(%) (g/cm³)
de silte e areia fina. A Figura 7 mostra o
Solo 29,60% 1,19
gráfico do limite de liquidez do solo. Solo+ 0,5%
canudos 30,50% 1,18
47,0 R² = 0,9915 Solo+0,75%
46,0 canudos 31% 1,155
45,0
44,0
Compactação solo+ Pet
43,0
Massa específica Seca

42,0 Solo
1,15
5 15 25 35 45 natural
(g/cm³)

0,5%
Figura 7: Reta do limite de liquidez 1,05 Pet+ solo
Realizando a diferença do valor de 0,75%pet
limite de liquidez e limite de plasticidade + solo
0,95
encontra-se o valor do índice de plasticidade
20 23 26 29 32 35 38 41
10,24%. De acordo com a classificação
SUCS, o solo é classificado como silte Umidade (%)
argiloso de mediana plasticidade. Figura 9: Curvas de compactação solo e garrafa pet
Os ensaios de compactação e CBR Tabela 2: Umidade ótima e massa específica de garrafa
foram realizados com energia normal. A pet.
Figura 8 e Tabela 1 mostram as umidades
ótimas e massa específica do solo e canudos Umidade Massa
e a Figura 9 e Tabela 2 informam as ótima específica
umidades ótimas de garrafa pet e massa
Solo 29,60% 1,192
específica.
Solo+ 0,5%
31,20% 1,17
Pet
Solo+0,75%
31,75% 1,148
Pet

A Tabela 3 apresenta resultados da


triplicata de resistência de compressão axial
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simples de solo, canudos e Pet e as deformações diminuiu consideravelmente, uma vez que as
na vertical e horizontal. fibras de garrafa pet são mais longas que as
fibras de canudos, facilitando, na hora da
Tabela 3: Resultados de compressão simples de solo, compactação, distribuir uniformemente as
canudos e Pet. tensões nas camadas, diminuindo os vazios e
Coesão Vertical Horiz
consequentemente a sua expansão.
(Kpa) (%) (%)
0,85%
Por outro lado todas as amostras
Solo 27,75 2%
Canudo + serviram com o propósito estabelecido
0,5% 104,7 1,13% 0,07% anteriormente, de servirem como reforço do
Canudo + solo natural.
0,75% 103,8 0,41% 1,79% O autor Specht (2000) também concluiu
PET+ 0,5% 74,8 0,12% 1,4% que a inclusão de fibras aleatórias de
PET + polipropileno (material que faz parte da
0,75% 51,935 0,28% 0,56%
constituição dos canudos plásticos), nas
porcentagens de 0,25 a 0,75%, aumenta a
Observa-se que as fibras de canudo e Pet
resistência à compressão não confinada do solo.
diminuem as deformações verticais e
Segundo esse autor também é
horizontais quando comparados com o solo
importante mencionar que esse tipo de material,
natural, porém a porcentagem de canudo em
quando incorporado no solo, apresenta uma
0,5% apresentou uma deformação vertical
maior capacidade de absorção de energia,
relativamente maior que o solo natural.
suportando um maior número de ciclos de carga
As misturas com fibras Pet apresentam
e descarga após a fissuração da matriz. Dessa
menores cargas de pico e consequentemente
forma é possível a viabilidade em pavimentação
menores coesões que as misturas solo e canudo,
que está sempre sujeito a carregamento do peso
contudo apresentam menores deformações
de veículos e descarregamentos.
verticiais e horizontais por possuirem fibras
Também foi observado nesse trabalho o
mais longas e distribuirem melhor os esforços
que Santos e Silva (2015) observaram, durante
mecânicos.
o rompimento de compressão simples a matriz
A Tabela 4 a seguir representa os
que tinha apenas solo apresentou mais fissuras
resultados do ensaio de CBR para solo natural,
do que em relação a matriz com fibras Pet, uma
e as porcentagens de canudos e Pet.
vez que a incorporação de fibras provoca uma
Tabela 4: Resultados de CBR de solo, canudos e Pet.
nova região de plastificação do material
compósito, prolongando a faixa de deformação
Expansão ISC
do mesmo.
Solo 0,44 7,63
Solo + 0,5% canudo 0,49 33,33 4CONCLUSÃO
Solo +0,75% canudo 0,48 44,93
Solo + 0,5% PET 0,16 34,78 Para a região da Universidade católica de
Solo + 0,75% PET 0,14 34,78 Brasília, localizada em Taguatinga sul,
observou-se a ocorrência de um solo silte
A expansão do solo, quando argiloso de mediana plasticidade e umidade
incorporados canudos plásticos, não foi ótima de 29,6% para a energia normal.
satisfatória, porque se mostrou maior do que o A análise feita após a incorporação de
solo natural e pode ser explicado porque a resíduos plásticos reciclados foi satisfatória,
energia normal de compactação pode deixar uma vez que os ensaios de caracterização
mais vazios no solo na interface solo e resíduos. mecânica, após a inserção dos resíduos do solo
Dessa forma, quando são adicionadas as aumentaram a sua coesão e diminuiram
porcentagens de garrafa Pet, a expansão deformações horizontais e verticais (para o
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ensaio de compressão simples) e aumentaram pet em sistemas de cobertura de aterro


capacidade de suporte (para o ensaio de CBR), sanitário,Departamento de engenharia civil e
ambiental, Universidade de Brasília.
porém para as porcentagens de canudos, as Specht, L. P. (2000).Comportamento de misturas solo-
expansões não foram satisfatórias quando cimento-fibra submetidos a carregamentos estáticos e
comparadas ao solo natural. dinâmicos visando a pavimentação,Programa de pós-
Assim, os resultados desta pesquisa graduação em engenharia civil da universidade
atestam a viabilidade técnica para aplicação do federal do Rio Grande do Sul.
solo melhorado com resíduos plásticos
reciclados em pavimentação, segundo a norma
do Dnit, porque as expansões são menores que
2 %.

AGRADECIMENTOS

Nossos agradecimentos à técnica do laboratório


de Geotecnia, Leidiane Garcia, da Universidade
Católica de Brasília pelos grandes ensinamentos
da prática e teoria dos ensaios e sem ela essa
pesquisa não teria cumprido o seu propósito.
Agradecemos também ao Cnpq e ao laboratório
da Universidade.

REFERÊNCIAS

Associação Brasileira de normas técnicas (1994). NBR


6459: Limite de Liquidez.
Associação Brasileira de normas técnicas (1994). NBR
7180: Limite de Plasticidade.
Associação Brasileira de normas técnicas (1987). NBR
7217:Granulometria.
Associação Brasileira de normas técnicas (1986). NBR
7182: Compactação.
Associação Brasileira de normas técnicas (1992). NBR
12770: Compressão Simples.
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Restauração de pavimentos flexíveis com o emprego de


geossintético
Bruno Andrade de Freitas
Universidade Estadual da Paraíba, Araruna, Brasil, brunoandraderc@hotmail.com

Raimundo Leidimar Bezerra


Universidade Estadual da Paraíba, Araruna, Brasil, leidimarbezerra@gmail.com

RESUMO: O presente estudo teve por objetivo verificar a eficiência da geogrelha HaTelit C na
restauração de pavimentos asfálticos por meio do ensaio de deformação permanente, bem como,
estudar a aderência entre as camadas asfálticas por meio do ensaio de cisalhamento direto Leutner.
A metodologia consistiu na moldagem de corpos de prova de CBUQ cilíndricos preparados com
mistura asfáltica compostos por duas camadas, onde a inferior representava revestimento antigo e a
superior uma camada nova de revestimento. Para realização dos ensaios foram moldados 10 CP’s
no teor de ligante ótimo, com 15 cm de altura e 10 cm de diâmetro. O Flow Number para a mistura
sem a geogrelha foi de 68 ciclos e para a mistura com a geogrelha foi 107 ciclos. Com relação a
aderência entre as camadas, na mistura com geogrelha houve uma redução da força cisalhante na
interface, se comparado com restauração sem a presença do geossintético.

PALAVRAS-CHAVE: Pavimento, Restauração, Geogrelha.

1 INTRODUÇÃO e transmitir esforços, sem apresentar problemas


estruturais e/ou funcionais. As camadas que
No Brasil, a maioria dos pavimentos utiliza compõem o pavimento devem estar submetidas
como revestimento uma mistura de agregados a esforços compatíveis com as suas
minerais de diferentes tamanhos, com ligantes características e capacidade estrutural, de modo
asfálticos que, de forma adequada e processada, a minimizar os defeitos que venham a ocorrer
garante ao serviço executado, requisitos de futuramente (FONTES, 2009).
segurança, resistência e durabilidade, de acordo Falhas nas rodovias devido a deficiências
com o clima e o tráfego previsto para o local. estruturais podem acontecer precocemente ou
Um dos tipos de revestimento mais empregado ao longo do tempo, por causa dos efeitos
no Brasil é o concreto asfáltico (CA) também combinados de tráfego dos veículos,
denominado concreto betuminoso usinado a características do pavimento e fatores
quente (CBUQ). Trata-se de um tipo de ambientais. Esses fatores combinados com
revestimento usinado a quente, resultante da deformações permanentes na base e no subleito,
mistura convenientemente proporcionada de devido às cargas cíclicas, podem levar à
agregado graúdo, miúdo, fíller (material de manifestação de patologias na estrutura do
enchimento) e cimento asfáltico de petróleo, pavimento. Segundo o DNIT (2006), a
ambos aquecidos em temperaturas previamente deformação permanente e o trincamento por
escolhidas, em função da característica fadiga do revestimento asfáltico são os defeitos
viscosidade-temperatura do ligante. mais frequentes em rodovias brasileiras.
A estrutura de um pavimento é dimensionada Uma das tecnologias disponíveis no meio
para um determinado período de vida útil, rodoviário para controlar ou mesmo reduzir a
durante o qual deve ter a capacidade de receber um mínimo a manifestação dessas patologias
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está na utilização de geossintéticos. De acordo 2.2 Objetivos Específicos


com a Asphalt Academy (2008), os
geossintéticos a serem utilizados em  Estudar a deformação permanente de
revestimentos asfálticos buscam evitar ou mistura asfáltica por meio do ensaio
reduzir a reflexão de trincas entre uma camada “creep” dinâmico;
nova (recapeamento) e uma camada antiga e  Obter o número “Flow Number” no
evitar o fenômeno de bombeamento, visando ensaio de “creep” dinâmico para
aumentar a vida útil da camada asfáltica em comparação do desempenho da mistura
relação à fadiga. com geossintético e sem geossintético;
As trincas são as principais responsáveis pela  Realizar o ensaio de Cisalhamento
deterioração prematura sobre os pavimentos Direto Leutner, fixando-se a taxa de
asfálticos restaurados. Para muitos, o simples pintura de ligação entre as camadas;
recapeamento do pavimento trincado é a melhor  Comparar a máxima força cisalhante
forma de recuperá-lo, mas isso não passa de um entre uma restauração com e sem o
equívoco, se o padrão de trincamento existente geossintético.
for severo. Em pouco tempo, as trincas do
antigo pavimento vão alcançar a superfície da
nova camada asfáltica. Na região de contato, 3 METODOLOGIA
onde existe a fissura na camada inferior, ocorre
um estado diferenciado de tensões. Se a Aqui são descritos os procedimentos utilizados
interface do revestimento trabalha à tração na durante a fase experimental da pesquisa, os
flexão, a fissura no topo da camada inferior materiais utilizados e as especificações para a
tende a se abrir em um ponto que apresentará obtenção das propriedades físicas dos
descontinuidade de distribuição de esforços e, agregados, dos ligantes asfálticos e do
consequentemente, ocorre a propagação da comportamento mecânico das misturas
trinca até a superfície, aumentando asfálticas. A metodologia seguida está mostrada
gradualmente a quantidade de trincas, no fluxograma da Figura 1.
intensidade em função da combinação de
fatores internos e externos (Balbo, 2006).
Visando uma solução para restauração de
pavimentos flexíveis, é apresentado nesta
pesquisa o emprego de geossintético como
reforço da camada asfáltica em pavimentos
flexíveis, verificando o incremento na vida útil
da camada reforçada.

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Avaliar o efeito estrutural do uso de


geossintéticos como reforço de pavimentos
flexíveis, por meio de ensaios em corpos de
prova sob aplicação de carregamento cíclico, e
ainda, estudar a aderência entre as camadas
asfálticas por meio de ensaio de cisalhamento. Figura 1. Fluxograma da pesquisa.
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3.1 Materiais Utilizados altamente durável e, portanto, com um alto


custo-benefício que, graças às propriedades
Neste sub-tópico são descritos os tipos de especiais do poliéster, é capaz de resistir a
materiais utilizados neste trabalho. Os critérios cargas dinâmicas a longo prazo.
para escolha dos materiais visaram atender,
também, as especificações e normas do DNIT, 3.2 Estudo das Propriedades Físicas dos
da ABNT e da AASHTO. Materiais

3.1.1 Agregados 3.2.1 Agregados

Os agregados graúdos e miúdos utilizados na Os ensaios para caracterização dos agregados


pesquisa para a composição das misturas estão listados na Tabela 1:
asfálticas foram obtidos a partir de pedra britada
Tabela 1. Ensaios de agregados realizados.
de origem granítica proveniente de uma
pedreira localizada próximo às margens da BR ENSAIOS METOTOLOGIA
101, localizada no estado de Pernambuco e
Granulometria por DNIT – ME 083/98
também do Rio Grande do Norte, apresentando
peneiramento
diâmetro máximo de 19 mm, comumente
utilizado na região para compor revestimentos Massa especifica dos DNIT – ME 081/98
asfálticos. Os agregados graúdos utilizados agregados graúdos
nesta pesquisa foram a brita 19,0 mm e a brita Massa específica dos DNIT – ME 084/95
12,5 mm, o agregado miúdo utilizado na agregados miúdos
pesquisa foi o Pó de Pedra.
Equivalente de areia DNIT – ME 054/97
3.1.2 CAP Abrasão “Los DNIT – ME 035/98
Angeles”
O CAP utilizado foi cedido por uma refinaria de
Índice de Forma DNIT – ME 086/94
petróleo da Petrobrás, situada no estado de
Pernambuco, sendo uma das principais
refinadoras atuantes no Brasil na produção de
ligantes asfálticos de petróleo. Foi utilizado o 3.2.2 Ligante Asfáltico
CAP 50/70.
Os ensaios para caracterização do ligante estão
3.1.3 Geogrelha listados na Tabela 2:
A geogrelha utilizada foi do Tipo HaTelit C, Tabela 2. Ensaios de ligante realizados
fornecida pela empresa Huesker. A geogrelha ENSAIOS METOTOLOGIA
foi cortada com diâmetros de 10 cm para serem
acrescentadas aos corpos de prova. A HaTelit é Penetração NBR 6576
uma marca registrada da HUESKER Synthetic Viscosidade ASTM D 4402
GmbH., é uma geogrelha flexível para reforço Brookfield
de camadas asfálticas durável e de alto
desempenho. A HaTelit C 40/17 consiste em
uma geogrelha de reforço produzida a partir de 3.3 Dosagem Superpave
fios de poliéster com um tecido ultra-leve
aderido, com malha de abertura 40 mm x 40 A metodologia de dosagem SUPERPAVE
mm. Como comprovado com seu histórico de consiste em estimar um teor de ligante asfáltico
40 anos, HaTelit C oferece uma solução provável de projeto através da fixação do
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volume de vazios e do conhecimento da de ciclos. O ensaio é realizado aos 60ºC. Os


granulometria dos agregados disponíveis. A corpos de prova (CPs) utilizados no ensaio
determinação do teor ótimo de ligante a ser devem ter 15 cm ± 0,25 cm de altura e 10 cm de
adicionado à mistura é importante, pois, CAP diâmetro. O chamado Flow Number (FN),
em falta ou excesso pode causar patologias no determinado nesse ensaio, é o número do ciclo
pavimento. Diferentemente da compactação em que a taxa de deformação plástica é mínima
Marshall que é realizada por golpes, a dosagem e a partir do qual o CP atinge a ruptura.
SUPERPAVE é realizada por amassamento O ensaio é finalizado quando a taxa mínima
(giros). de deformação plástica é obtida ou quando o
O procedimento SUPERPAVE de Dosagem ciclo de número 10.000 é atingido. A taxa de
da Mistura Asfáltica consiste nas seguintes deformação plástica mínima pode ser obtida
etapas: 1 – definição de três composições durante o ensaio pela visualização do seu menor
granulométricas dentro da faixa estabelecida valor no gráfico de ciclo versus taxa de
pelo DNIT; 2 – cálculo do valor teórico do teor deformação. Esse procedimento encontra-se
de asfalto inicial; 3 – definição do teor de ótimo descrito de forma mais detalhada no relatório
de asfalto baseado em critérios volumétricos. 465 da National Cooperative Highway
A premissa principal da dosagem Research Program (NCHRP) (Witczak et al.,
SUPERPAVE é que a quantidade de ligante 2002).
usada deve ser tal que a mistura atinja 4% de
vazios no número de giros do projeto. Caso isso 3.5 Ensaio de Cisalhamento Direto Leutner
não ocorra nas misturas experimentais feitas
inicialmente, é realizada uma estimativa do teor O ensaio de cisalhamento direto consiste na
de ligante que deverá atender esta exigência. aplicação de uma força de direção paralela na
Por este método, é facultado ao projetista interface das camadas e tem por objetivo avaliar
escolher qual das misturas testadas, entre as três a resistência e as deformações na união entre as
composições granulométricas, melhor atende os camadas.
critérios das propriedades volumétricas São vários os aparatos desenvolvidos para a
especificadas para o projeto. realização de ensaios de cisalhamento direto,
A partir do teor de ligante estimado são com modificações de dimensões e forma de
moldados os corpos de prova considerando aplicação do carregamento. Nesta pesquisa foi
outros três teores, além do teor estimado: teor realizado o ensaio de cisalhamento direto sem
estimado ± 0,5% e + 1%. O teor final de projeto aplicação da força normal, que fazem referência
é aquele na qual a mistura asfáltica atenda ao ao método Leutner.
critério de volume de vazios igual a quatro A rotina de ensaio é bastante simples,
pontos percentuais (4%). consistindo na aplicação de uma carga
tangencial na superfície de união entre as
3.4 Ensaio de Creep Dinâmico camadas, sob uma velocidade constante
(mm/minuto). O resultado é a carga máxima de
O ensaio de creep dinâmico, também conhecido ruptura e a determinação do módulo de reação
por uniaxial de carga repetida, é um ensaio de interface (k) (FONSECA, 2015).
simples de ser realizado e que apresenta
potencial de correlação com o desempenho de
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
misturas asfálticas em campo. A mistura
asfáltica é submetida a um carregamento cíclico
Para uma melhor organização da pesquisa e
de compressão com frequência de 0,1 s de carga
facilitar a compreensão da análise dos
e 0,9 s de descanso. As deformações
resultados, este tópico foi dividido em quatro
acumuladas são obtidas em função do número
etapas: propriedades físicas dos materiais;
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dosagem da mistura asfáltica; ensaios de creep


dinâmico e ensaio de cisalhamento direto Tabela 5. Resultados do ensaio de granulometria por
Leutner. peneiramento.

Peneira Porcentagem que passa


4.1 Propriedades Físicas dos Materiais (%)
# (mm) Brita Brita Pó de
4.1.1 Agregados 19 12,5 Pedra

A Tabela 3 apresenta os valores obtidos para ¾’’ 19,1 74,32 100 100
densidade real e absorção dos agregados. Estes ½’’ 12,7 8,74 95,12 100
resultados foram utilizados para as 3/8’’ 9,5 0,66 59,15 100
determinações das propriedades de estado
(volumetria) das misturas, tais como: densidade 4 4,8 0,33 5,5 99,09
máxima teórica (DMT); volume de vazios 10 2 0,29 0,84 86,05
(VV), relação betume vazios (RBV), etc.
40 0,42 0,24 0,69 42,14
Tabela 3. Resultados dos ensaios de massa específica e
80 0,18 0,18 0,41 17,04
absorção
200 0,075 0,12 0,18 1,92
Agregado Densidade Real Absorção (%)
(g/cm³)
Brita 19 2,53 0,5 A partir da composição granulométrica
Brita 12,5 2,73 0,4 apresentada na Tabela 5, é possível definir as
proporções de agregados graúdos e miúdos de
Pó-de-Pedra 2,43 -
acordo com as especificações da Faixa
granulométrica C estabelecida pelo DNIT.
A Tabela 4 apresenta um resumo dos
resultados obtidos nos ensaios de abrasão Los 4.1.2 Ligante Asfáltico
Angeles, equivalente pó-de-pedra e índice de
A Tabela 6 apresenta os resultados obtidos no
forma.
ensaio de Viscosidade Brookfield.
Tabela 4. Resultados dos ensaios de agregados.
Tabela 6. Resultados do ensaio de viscosidade.
ENSAIO Agregado Resultado Unid. Esp.
DNIT Temperatura (ºC) Viscosidade (cP)
Índice de Brita 19 0,88 - Maior
Forma que 135 502,5
Brita 12,5 0,74 -
0,50. 150 236,5
Abrasão Brita 19 36,87 % Menor
177 83
Los Brita 12,5 23,95 % que
Angeles 55%
Equivalente Pó-de- 56 % Maior Encontrada a viscosidade correspondente às
Pó-de- Pedra que
Pedra 55%
temperaturas 135ºC, 150ºC e 177ºC, é
necessário plotar o gráfico temperatura versus
De acordo com os resultados apresentados na log da viscosidade. A temperatura de
Tabela 4, todos os agregados utilizados atendem compactação da mistura é a que está entre as
às recomendações do DNIT e podem ser temperaturas correspondentes às viscosidades
utilizados para compor uma mistura asfáltica. de 150 e 190 cP (centi Poise). A temperatura de
O resultado para o ensaio de granulometria aquecimento do CAP é a que está entre 125 e
por peneiramento é apresentado na Tabela 5. 155 cP, os agregados devem ser aquecidos a
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uma temperatura de 10 a 15ºC superior a esta. O 50% de Pó de Pedra. Adotou-se, pela


CAP e agregados foram aquecidos e misturados experiência do projetista, uma quantidade de
na temperatura média, expressa na Tabela 7. ligante inicial de 5%, e a partir deste foram
moldados dois corpos de prova para cada teor
Tabela 7. Faixas de temperaturas. (teor estimado ± 0,5% e teor estimado ± 1,0%).
TEMPERATURA ºC
4.2.2 Determinação do Teor de Ligante de
MISTURA MÍN. MÁX. MÉDIA
Projeto
CAP 155,5 161,5 158,5
AGREGADOS 165,5 171,5 168,5 Para moldagem dos corpos de prova de CBUQ,
inicialmente pesou-se o material nas proporções
COMPACTAÇÃO 145 149 147
descritas anteriormente. Em seguida o CAP foi
aquecido em estufa durante duas horas na
Quanto ao ensaio de penetração, o CAP temperatura encontrada no ensaio de
ensaiado apresenta penetração média de 0,1 viscosidade Brookfield que foi de 158,5 . Os
décimos de milímetro, logo, o CAP utilizado é agregados também foram levados a estufa com
classificado como CAP 50/70. 168,5 durante duas horas. Decorrido o tempo
foi realizada a mistura do CAP com os
4.2 Dosagem da Mistura Asfáltica agregados, novamente a mistura foi colocada
em estufa (147ºC) por mais duas horas para
4.2.1 Escolha da Composição Granulométrica simular envelhecimento a curto prazo. Em
seguida as amostras foram retiradas da estufa e
A partir da análise granulométrica dos levadas para serem compactadas no
agregados, observou-se que a mistura se compactador giratório SUPERPAVE. A mistura
enquadra na Faixa C do DNIT. Foram foi compactada com 100 giros. O número de
formuladas três composições granulométricas giros de projeto igual a 100 caracteriza duas ou
diferentes (intermediária, inferior e superior). A mais pistas ou rodovias de acesso controlado,
critério do projetista a composição que melhor vias de cidade com tráfego médio a alto,
atende os critérios SUPERPAVE é a rodovias estaduais e federais.
composição intermediária. A Figura 2 apresenta Após moldados, os corpos de prova ficaram
a curva de Fuller para a mistura intermediária. em processo de cura por cerca de duas horas.
Em seguida, foram realizadas as medidas de
altura, diâmetro, massa seca e massa submersa
para obtenção dos parâmetros volumétricos.
Tabela 8. Parâmetros volumétricos dos CP's.

Teor Média Média dos Massa Massa


de das diâmetros seca (g) submersa
CAP alturas (mm) (g)
(mm)
4,5 % 65,63 100 1203,25 698,6
5,0% 65,05 100 1206,7 708,1
5,5% 65,50 100 1195,4 703,4
6,0% 64,17 100 1204,55 709,6
Figura 2. Curva de Fuller para mistura intermediária de
projeto.

Logo, a mistura de projeto será composta por Para determinar o teor de projeto é
10% de Brita 19 mm, 40% de Brita 12,5 mm e necessário determinar a densidade de cada
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mistura. A determinação da Gmm (densidade representando o pavimento original. Para


máxima medida) foi realizada segundo o simular um recapeamento como é feito na
método americano denominado Rice Test de prática, foi aplicada emulsão asfáltica para
acordo com a ASTM D 2041-00. representar a camada de pintura de ligação a
A Tabela 9 apresenta os resultados obtidos uma taxa de 0,5 l/m², a geogrelha também foi
com o Rice Test. aplicada no pavimento com emulsão asfáltica.
Após aplicada a emulsão foi necessário esperar
Tabela 9. Resultados obtidos com o Rice Test. um período de cerca de 4 horas. Decorrido esse
tempo, foi compactado mais 7 cm que seria a
Teor Gmm (g/cm³)
camada de recapeamento. Os corpos de prova
4,5% 2,530
finais para realização do ensaio são mostrados
5,0% 2,524 na Figura 4.
5,5% 2,500
6,0% 2,479

Com o valor da Gmm e dos dados da Tabela


8 foi possível, por meio de planilhas no Excel,
obter os parâmetros volumétricos da mistura.
Por fim, traçou-se o gráfico volume de vazios
versus teor de asfalto. O teor de ligante de
projeto é aquele correspondente a um volume
de vazios de 4%.
Figura 4. CP's final para realização do ensaio.

Os corpos de prova foram submetidos a uma


tensão de contato da ordem de 5 kPa e uma
tensão desviadora de 600 kPa para que o Flow
Number fosse atingido. O Flow Number
corresponde ao número de ciclos onde o corpo
de prova deixa de ter uma deformação elástica
para ter uma deformação permanente. O critério
de parada do ensaio foi quando se atingiu
10.000 ciclos.
Figura 3. Gráfico Teor de Ligante versus volume de
A Tabela 10 apresenta os resultados obtidos
vazios. no ensaio de Flow Number.

Logo, o teor de projeto é de Tabela 10. Número de ciclos médio.


aproximadamente T = 5,03%.
Tipo de CP 1 CP 2 Média
Restauração
4.3 Ensaio de Creep Dinâmico (Flow Number) Sem a 64 72 68
geogrelha
Com o teor de ligante ótimo determinado foram Com a 78 136 107
moldados 06 corpos de prova de 15 cm de geogrelha
altura e 100 mm de diâmetro: 3 CP’s sem a
geogrelha e 3 CP’s com a presença da geogrelha Com os dados da Tabela 10 é possível
para realização do ensaio Flow Number. observar que a presença da geogrelha melhora
Inicialmente os corpos de prova foram consideravelmente a resistência à deformação
moldados com uma altura de 7 cm permanente do pavimento, pois a mistura
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reforçada suporta uma quantidade maior de Baixas taxas de aplicação de emulsão podem
ciclos. resultar em perda de aderência e altas taxas,
podem promover a criação de uma película de
4.4 Ensaio de Cisalhamento Direto Leutner material betuminoso que pode gerar queda na
resistência ao cisalhamento. Devem existir
Para realização do ensaio de cisalhamento condições adequadas entre quantidade e tipo de
direto sem aplicação da força normal, foram emulsão asfáltica aplicada que possibilitam o
compactados no teor de projeto 04 CP’s (na emprego de geossintéticos de forma satisfatória.
literatura, não há especificado uma quantidade Chen e Huang (2010) analisaram amostras
mínima de CP para realização do ensaio, submetidas a ensaios de cisalhamento direto e
recomenda-se no mínimo 02 CP para se ter uma concluíram que o tipo de pintura de ligação, a
média aritmética), 02 com a presença da taxa de aplicação residual, o tempo e a
geogrelha e 02 sem a presença da geogrelha, temperatura de cura são fatores que influenciam
conforme está exposto na Figura 4. Os CP’s diretamente na aderência existente no contato
foram confeccionados em duas camadas sendo entre as camadas. Uma boa compactação da
que entre elas era aplicada a pintura de ligação camada superior, com o grau de compactação
(emulsão asfáltica) e o geossintético. necessário garante maior resistência ao
O ensaio foi realizado no equipamento UTM- cisalhamento na interface entre as camadas
25. A velocidade de aplicação da carga foi de (CHEN e HUANG, 2010).
50 mm/minuto.
A Tabela 11 apresenta os dados obtidos para
este ensaio. 5 CONCLUSÕES
Tabela 11. Resultados obtidos com a UTM.
Dos experimentos realizados e das análises
Tipo de Força Deformação efetuadas, podem ser tiradas as seguintes
restauração máxima (kN) (mm) conclusões:
CP 1- Sem 8,64 6,15
 a metodologia de dosagem SUPERPAVE é
geogrelha
CP 1- Com 0,013 29,03 a mais moderna e atual que está se
geogrelha difundido no Brasil, e todos os materiais
CP 2- Sem 8,12 6,01 utilizados na pesquisa apresentaram os
geogrelha parâmetros exigidos pela dosagem
CP 2- Com 0,012 27,73 SUPERPAVE, o que minimiza erros e
geogrelha
torna a mistura asfáltica elaborada cada vez
mais próxima da do que é feito na prática;
Com os resultados da Tabela 11 é possível
 os geossintéticos são materiais cujas
perceber que a inserção do geossintético entre
utilizações em obras diversas da construção
as camadas provocou uma brusca redução da
civil são muito recentes, o que se faz
força cisalhante máxima, se comparado com
necessário melhor compreender as
uma restauração sem o reforço. Os CP’s
propriedades desses materiais em suas
reforçados se deformaram rapidamente (em
utilizações na pavimentação rodoviária;
questão de segundos) e romperam-se no plano
 uma dificuldade com a aplicação da
de interface das camadas como era esperado,
geogrelha na moldagem dos corpos de
entretanto, a inclusão do geossintético na
prova se dá ao comprimento de ancoragem,
mistura implicou em queda da resistência lateral
pois, na prática a geogrelha é aplicada
do pavimento.
deixando-se um comprimento de
Essa brusca redução se deve principalmente
ancoragem de no mínimo 10 cm;
ao tipo de emulsão aplicada (convencional ou
modificada por polímero) e a taxa de aplicação.
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 com relação ao ensaio de creep dinâmico, a Balbo, J. T. Pavimentação Asfáltica. Oficina de textos,
560 p. Rio de Janeiro,2006.
mistura ensaiada com a presença da
CHEN, J.; HUANG, C. Effect os surface characateristics
geogrelha apresentou um número de ciclos on bonding properties of bituminous tack coat.
de carga médio cerca de 60% superior a Journal of the Transportation Research Board, USA,
mesma mistura sem o reforço. A inclusão n. 2180, p. 142– 149, 2010.
do geossintético proporcionou um aumento DNIT – DEPARTAMENTO NACIONAL DE
INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES, ME
da resistência à deformação permanente da
086/94. Agregados – Determinação do índice de
mistura asfáltica; forma. Rio de janeiro, 1994.
 pelo ensaio de cisalhamento direto Leutner DNIT – DEPARTAMENTO NACIONAL DE
foi possível perceber que a inclusão do INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES, ME
geossintético na interface entre as camadas 084/95. Agregado miúdo– Determinação da densidade
real. Rio de Janeiro, 1995.
da mistura asfáltica causou uma brusca DNIT – DEPARTAMENTO NACIONAL DE
redução da força cisalhante máxima, e INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES, ME
consequentemente, da resistência lateral do 054/97. Areia: equivalente de areia. Rio de Janeiro,
pavimento. Entretanto, nesta pesquisa 1997.
foram elaborados corpos de prova com DNIT – DEPARTAMENTO NACIONAL DE
INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES, ME
apenas uma taxa de emulsão asfáltica, é 083/98. Agregados – Análise Granulométrica . Rio de
possível que pinturas de ligação com taxas janeiro, 1998.
de emulsão asfáltica inferior ou superior a DNIT – DEPARTAMENTO NACIONAL DE
0,51 l/m² possam reduzir essa discrepância. INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES, ME
081/98. Agregados – Determinação da absorção e da
densidade de agregado graúdo. Rio de janeiro, 1998.
DNIT – DEPARTAMENTO NACIONAL DE
AGRADECIMENTOS INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES, ME
035/98. Agregados – Determinação da Abrasão Los
Angeles. Rio de janeiro, 1998.
Os autores agradecem ao professores e técnicos DNIT – DEPARTAMENTO NACIONAL DE
INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES. PRO
do laboratório de engenharia e pavimentos da 003/2003-PRO: Avaliação subjetiva da superfície de
Universidade Federal de Campina Grande pelo pavimentos flexíveis e semirígidos– Procedimento.
apoio na realização da pesquisa. Agradecem Rio de Janeiro, 2003.
também a empresa HUESKER pelo DNIT – DEPARTAMENTO NACIONAL DE
fornecimento da geogrelha. INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES,
031/2005-ES. Execução de Concreto Asfáltico a
Quente. Rio de Janeiro, 2005.
REFERÊNCIAS FONSECA, L. L. Avaliação em laboratório do
comportamento de camadas asfálticas reforçadas com
geossintéticos. Dissertação (Mestrado) – Universidade
ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS Federal de Minas Gerais, UFMG, 2015.
TÉCNICAS. NBR 6576: Ensaio de Penetração de FONTES, L. P. T. L. Optimização do Desempenho de
Materiais Betuminosos. Rio de Janeiro, 2003. Misturas Betuminosas com Betume Modificado com
ASPHAFT ACADEMY (2008). Asphalt reinforcement Borracha para Reabilitação de Pavimentos. Tese
for road construction, T3 first edition, ASPHALT (Doutorado). Universidade Federal de Santa Catarina.
ACADEMY, Pretoria, África do Sul, T3 first edition: 545 p, 2009.
p. 23 – 26. HUESKER. Disponível em: http://www.huesker.com.br,
ASTM – American Society for Testing Materials (2000) acesso em: 01/10/2016.
D2041. Standard Test Method for Theoretical WITCZAK, M. W., K. KALOUSH e T. PELLIEN.
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Bituminous Paving Mixtures. National Cooperative Highway Research Program
ASTM – American Society for Testing Materials (2002) (NCHRP), Relatório 465, Washington, D.C., EUA.
D4402. Standart Test Method for Viscosity 2002.
Determinations of Unfilled Asphalts Using the
Brookfield Thermosel Apparatus.
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Seismic analysis of a geosynthetic-reinforced soil retaining


wall in Peru
Cecilia Torres Quiroz, Klohn Cripper Berger, Lima, Perú, cetorres@klohn.com
Marko López Bendezú, Departamento de Ingeniería, Sección de Ingeniería Civil, Pontificia
Universidad Católica del Perú (PUCP), Perú, malopezb@pucp.edu.pe
Jorge Zegarra Pellanne, Departamento de Ingeniería, Sección de Ingeniería Civil, Pontificia
Universidad Católica del Perú (PUCP), Perú, jorge.zegarra@pucp.edu.pe
Celso Romanel, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Pontifícia Universidade Católica
do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Brasil, romanel@puc-rio.br

ABSTRACT: In Peru, the Geosynthetic Reinforced Soil (GRS) wall is the best cost-effective
solution for retaining structures as compared to other conventional alternatives. This solution
combines higher performance, flexibility, versatility, facing appearance and durability. In the
engineering practice, the analysis and design of GRS are done through limit-equilibrium methods,
under static conditions, or using pseudostatic methods, when earthquake loads are involved.
Physical models in laboratory or full-scale field tests can be performed to better understand the
seismic responses of GRS walls but they are generally uneconomical and impractical to evaluate the
seismic responses with different design parameters under various seismic loads. Hence, a more
practical approach would be the performance evaluation of a GRS wall under seismic conditions
considering numerical analysis. This paper describes the design procedure of 10m high GRS wall
situated in Arequipa, Peru, submitted to static and seismic load, including stability analysis. The
seismic analysis is carried out using the computer program FLAC 2D using design earthquakes
generated by adjusting the acceleration histories of local Peruvian accelerogram to the acceleration
spectrum determined by means of a specific hazard investigation. The cyclic behavior and the
parameters for the elastoplastic modeling of geosynthetic reinforcements were estimated based on
results of various load tests. Results are presented in term of wall displacements, permanent ground
settlement, tensile forces developed in the reinforcement, as well as stability analysis comparing
factors of safety computed before and after the earthquake event.

KEYWORDS: numerical analysis, geosynthetic-reinforced soil, retaining wall, earthquake


response.

1 INTRODUCTION reinforcement, which depends on its rigidity,


the tensile strength and its ability to deform. In
The Geosynthetic Reinforced Soil (GRS) this context AASHTO (American Association
walls are geotechnical structures used in the of State Highway and Transportation Officials)
stabilization of embankments. These structures classifies the reinforcements, according to the
involve during construction the compaction of material and extensibility, as inextensible (steel)
the filling material together with a or extensible (geosynthetics).
reinforcement element, to form at the end a The inclusion of an element with tensile
homogeneous structure with greater shear strength between soil layers allows the soil-
strength, allowing greater heights to be reached reinforcement system to improve its
with less inclined angles. performance with respect to shearing failure.
What defines a GRS is the type of This happens basically due to the friction forces
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developed in the soil-reinforcement contact. recommends 0.6 m or one-tenth of the height as


GRS wall structures have shown good a minimum.
performance in cases of earthquakes, as  Flat surface on the wall of reinforced soil.
described by several authors considering the  According to recommendations of FHWA
behavior of real or reduced scale models. (2000) and AASTHO the minimum
Burke et al. (2004) made the comparison reinforcement length is 0.7 times the height of
between the seismic response of a reinforced the wall (Lmin ≥ 0.7 H), where H is the total
soil wall and the results predicted by a finite height of the wall. It is also indicated that for
element analysis, concluding that the numerical seismic analysis this length could be greater,
model was able to correctly simulate the with recommendation that Lmin = 0.8 H.
dynamic behavior of the structure. Pamuk et al.  Degree of inclination of the wall from 0 to 5°
(2004) also found a good correlation between with respect to the vertical direction.
observed and predicted displacements in a  Seismic coefficient corresponds to 0.5 times
reinforced soil wall subjected to accelerations the maximum horizontal acceleration of the site.
generated by the Kokaelly earthquake, occurred
in Turkey in 1999. Figure 1 shows the layout of the GRS wall,
In the engineering practice, numerical where the spacing between layers is every 0.5m
analysis is not often considered for this type of and 1m and each color represents a kind of
structure, due to the extensive information reinforcement.
required to represent the dynamic behavior of
reinforced walls but, on the other hand, results
determined using conventional methodologies
can be very conservative.
In this article, for the design of geosynthetic
reinforced soil (GRS) walls, the computer
program MSEW v3.0 is used, which allows to
evaluate the internal and external stability of the
structure. The static and pseudo static global
stability analyses are carried out with Slide v6.0
program while the seismic behavior is evaluated
with FLAC 2D software.

2. DESIGN CONSIDERATIONS Figure 1. Schematic of GRS wall design with unequal


spacing and uniform length.
The GRS is designed with uniaxial geogrids
as reinforcements and flexible parament as 3 SITE CONDITIONS
facing of wall. This kind of wall was selected
for the present study because it is able to The construction site of the RSW is situated
withstand large deformations without losing its in Tambomayo at an altitude of 4850 msnm, in
service condition. The reinforcement presents the province of Castilla in Arequipa, southern
unequal spacing and uniform length (Koerner, Peru. The area has an irregular surface with
2012), which allows optimizing the amounts of steep slope changes and presents rocky outcrops
reinforcement to be used. In addition, the of volcanic origin corresponding to the
following design considerations were taken: Orcopampa formation and andesitic flows of
the Mismi volcanic complex of the Barroso
 The GRS wall will be formed from 1 m below Group. It was found, from perforations made
the natural terrain. The AASTHO standard during the geotechnical investigation,that the
rock below 15m varies between an andesitic
tuff and an andesite.
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The climate is cold with high relative in the present investigation, the effect of ground
humidity in the winter months accompanied by pressures on the 10m wall is much greater than
intense snowfall and presence of fog; in the effect of the overloads (which could
summer, there are sunny days and freezing simulate a live load of vehicle traffic or light
nights. The scant vegetation is restricted to temporary structures). Therefore, to simplify the
some cacti and parasitic plants, typical of the variables involved in the analysis, the overloads
Puna desert areas. The water from rains flows are not included in the model.
through the Tambomayo creek and other
tributaries, through the drainage and sub- Table 1. Geotechnical parameters
drainage systems associated with the project. ID
γ c' Φ' fc
Due to this reason, the influence of the water (kN/m3) (kPa) (°) (MPa)
within the analyses will not be taken into Reinforced
20.0 0 32° -
account. soil
Retained
For the selection of the seismic coefficient, it soil
19.0 0 32° -
was considered what is described in the FHWA Foundation
(2011) standard which recommends that the 19.0 2 35° -
soil
seismic coefficient be 50% of the maximum Bedrock 22.0 - - 25.0
horizontal acceleration. The study of seismic
hazard determined that the maximum
Table 2. Parameters of polyester fiber.
acceleration for a return time of 475 years is
UX-60 UX-90 UX-120
0.38g; therefore, the value considered for Properties
pseudo static analyses is 0.19g. The pseudo Size of the opening
mm 24 22 21
Physical

static method considers the application of a - MD ± 20


horizontal force, which acts at 2/3 of the height, Size of the opening
mm 28 28 28
according to the method of Mononobe-Okabe. - CD ± 20
Stress resistance,
kN/m 60 90 120
4 PARAMETERS FOR DESIGN Tult - MD min
Elongation - MD % 10 10 11
Mechanical

The characterization of five components has Tensile strength


kN/m 15 23 30
been established: the foundation soil, the 2% def. - MD min
reinforced soil, the retained soil, material for the Tensile strength 5%
kN/m 30 45 60
def. - MD min
facade (stones placed in baskets), and the
Long – Term design
reinforcing elements (uniaxial geogrids). The tension
kN/m 35 53 71
geotechnical investigation program carried out
in the Tambomayo site in 2013 allowed to
5 STABILITY ANALYSIS
characterize the materials. Table 1 presents the
geotechnical parameters adopted for the design
The design for admissible stress herein
of the GSW by internal and external stability
presented is based on the concepts and criteria
analysis considering a wall of 10m height.
set forth in AASHTO 2002 (FHWA-NHI-00-
Table 2 shows the physical and mechanical
043). With the support of the MSEW v3.0
properties of the high strength polyester fiber
computer program, the external and internal
coated with long-lasting polymer used as
stability analyses of the reinforced soil wall
reinforcement for the design of the reinforced
were performed, optimizing the placement of
wall.
reinforcements until reaching a final
The main nominal external load acting on
configuration of the structure. Then the global
the wall is the ground pressure exerted by the
stability analyses for the static and pseudo static
soil retained behind it and some overloads
conditions, using the SLIDE v6.0 program,
above the reinforced soil. For the case evaluated
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were performed. The configuration scheme is Table 4. Internal stability.


presented in Figure 1. Factor of Safety
# z (m) kind Tensile Pull out Sliding
(1) (2) (1) (2) (1) (2)
5.1 External Stability 15 9.4 I 9.5 5.5 5.6 2.2 33.1 25.4
14 8.4 I 3.6 2.7 6.6 3.6 12.3 9.5
13 7.4 I 2.2 1.8 7.6 4.6 7.5 5.8
The external stability analysis consists of 12 6.4 I 1.6 1.3 8.7 5.4 5.4 4.1
verifying that the structure does not fail by 11 5.4 I 1.7 1.4 13.3 8.0 4.2 3.2
external mechanisms. That is, do not fail due to 10 4.9 I 2.2 1.7 20.4 11.3 3.7 2.9
9 4.4 I 2.0 1.5 21.4 12.0 3.4 2.6
sliding at the base, turning due to excessive 8 3.9 I 1.8 1.4 22.4 12.7 3.1 2.4
eccentricity, failure of soil support capacity that 7 3.4 I 1.7 1.3 23.4 13.4 2.9 2.2
can cause a vertical settlement or rotational 6 2.9 I 1.6 1.2 24.4 14.1 2.6 2.0
5 2.4 II 2.2 1.8 25.5 14.8 2.5 1.9
displacement. 4 1.9 II 2.1 1.7 26.5 15.5 2.3 1.8
The efforts at the base of the reinforced soil 3 1.4 II 2.0 1.6 27.5 16.2 2.2 1.6
block are estimated using the Meyerhof method 2 0.9 II 1.9 1.5 28.1 16.7 2.0 1.5
1 0.4 III 1.8 1.5 21.7 13.7 1.9 1.5
(1951) or the effective area method, while the Condition: (1) Static (2) Pseudo static.
ultimate capacity is a function of the soil
parameters; the relationship between both
efforts gives the Factor of Safety (FoS) for
bearing capacity.
Table 3 shows the results of the external
stability for the static and pseudo static
conditions. It is observed that the computed
safety factors greatly exceed the minimum
safety factor value.

Table 3. External Stability.


Condition
Item Pseudo- Figure 2: Safety factors according to the height of the
Static
static wall for static and pseudo static conditions.
FoS sliding on the base 2.81 > 1.5 2.16 > 1.5
Ultimate capacity (kPa) 1440.2 1273.9 The values of factors of safety obtained from
Effort at the base (kPa) 220.8 249.6 the verification of the tensile strength that are
FoS Bearing capacity 6.5 > 2.5 5.1 > 2.5 closest to the minimum are mainly calculated at
FoS eccentricity (e/L) 0.0754< 1/6 0.124 < 1/6 the base of the wall or when there is a change in
stiffness of the reinforcement. In the case of
5.2 Internal Stability factors of safety obtained from the check for
resistance to pullout, they were always lower
In the same way, the results of the when closer to the top.
verification of internal stability are presented, From the results of safety factors in the case
that is to say, the resistance of the reinforcement of tensile strength, the minimum was given in
to traction, resistance to tearing and resistance layer 12, at 6.40 m from the foundation level for
to sliding between layers. the case of static condition, while in the case of
Table 4 and Figure 2 show the safety factors the pseudo static condition, it occurred in layer
obtained from the analysis of internal stability 6, at a value of 1.2m to 2.90m of the base,
against the tensile strength of the reinforcing where a change in stiffness of the reinforcement
element, the tear strength and eccentricity by occurs.
layers, and the resistance to sliding between The pullout resistance of the reinforcement
layers for the static and pseudo static elements describes the resistance at the
conditions. interface between reinforcement and soil. If this
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friction disappears or the relation between


stresses is less than one, it is said to have failed
by pullout.
For static conditions the minimum value
equal to 5.6 was given in layer 15, 9.4 m from
the foundation level, while for pseudo static
conditions, the minimum value obtained was
2.2 at the same level. It is also observed that
when the spacing of 0.5m to 1m between
reinforcing elements is increased, the factors of Figure 3: Global analysis in static condition.
safety are significantly reduced.
Likewise, the factors of safety obtained from
the verification of the resistance to sliding
between layers will always lower at the base of
the wall for both the static and the pseudo static
conditions. The minimum value obtained was
1.9 and 1.5, respectively, located 0.4 m from the
foundation soil surface.

5.3 Global Stability

The software used for the global stability


analysis by the limit equilibrium method was Figure 4: Global analysis in pseudo static condition.
SLIDE v6.0. The minimum factors of safety
required in accordance with the regulations are Dynamic modeling of earth structures
1.3, in a static condition, and 1.1, in a pseudo considers the gradual decrease of the shear
static condition. strength of the soil against a variable dynamic
Table 5 and Figures 3 and 4 present the load as a function of time (duration of the
results of the global stability analysis using the seismic event).
Spencer method of slices, considering a seismic The dynamic characterization of geo-
coefficient of 0.19, corresponding to a return materials can be carried out by means of
period of 475 years. dynamic tests or standard curves of reduction of
the shear modulus with cyclic shear strains.
Table 5. Factor of Safety of the Global stability analysis With respect to the reinforcement elements,
Condition Factor of Safety there are studies that have evaluated the cyclic
Static 1.679
behavior in an isolated manner, while very few
investigations have evaluated the complete
Pseudo static 1.113 reinforcement and soil interaction.
Figure 5 shows the finite difference mesh.
6 DYNAMIC MODEL To avoid loss of accuracy during the wave
propagation, the size of the elements was
Two-dimensional plane-strain analyses were limited to a maximum value given by
carried out using FLAC 2D software, Kuhlemeyer and Lysmer (1973). They
based on a Lagrangian calculation scheme that recommended, as an empirical suggestion, that
is well suited for modelling large distortions the size of the element for an efficient
and material collapse. A complete description transmission of motion does not exceed 1/8 to
of the numerical formulation can be obtained in 1/10 of the lowest expected wavelength in the
Cundall and Board (1988). soil layers:
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Table 7. Soil model parameters


ℎ = = ·
(1)
Parameter Rock Foundation Retained Reinforced Facing
E (Pa) 2.5·108 4.65·107 4·107 5·107 8·107
where λmin is the wavelength associated with the  0.22 0.30 0.30 0.35 0.35
highest frequency of the input signal fmax and vs γ (kN/m3) 24.04 18.64 19.13 19.62 21.58
is the shear wave velocity. Table 6 shows the ρ (kg/m3) 2450 1900 1950 2000 2200
% 5 Sig3* Not specified
values obtained.
c (kPa) - 10 2 2 5
Table 6. Size elements φ (°) - 34 32 32 36
hmáx (m) (*) Sig3 formulation of hysteretic damping.
Material vs (m/s) f (Hz) hmáx (m)
selected
structual 6.2 Reinforcement
250 - 500 15 1.6 – 3.3 0.25
fill
foundation In the case of reinforcement, as previously
450 - 750 15 3-5 0.25
soil mentioned, uniaxial polyethylene geogrids of
rock 750 - 1200 15 5-8 0.65 high strength were chosen. As indicated in the
FLAC manual, the geosynthetic reinforcement
layers can be represented as either cable, beam
or strip elements. Similar studies suggest that
assigning the cable type element has correctly
simulated the behavior of uniaxial geogrid.
Table 8 summarizes the parameters that
defines the mechanical behavior of the
reinforcement in the dynamic analyses.
Figure 5: Cross-section of 10m wall in FLAC 2D. Table 8. Properties of reinforcement geogrid.
Selected sizes were still subjected to the Test Uniaxial grid
Description
geometry and division between layers of the ASTM UX60 UX90 UX120
reinforcement, explaining why the values listed Thickness (mm) - 3 3 3
Unit mass
in Table 6 were much lower than the maximum - 0.45 0.55 0.65
(kg/m2/m)
hmax found with Eq. 1. Average stiffness kN/m/m 1100 1675 2200
Initial stiffness J2% kN/m/m 1000 1545 2000
6.1 Soil and geosynthetic Initial stiffness J5% kN/m/m 1200 1800 2400
Elasticity module N/m2 1.76·108 2.64·108 3.52·108
For the dynamic analysis it is necessary to Area / meter wide m2/m 0.00132 0.00132 0.00132
define other parameters (Table 7), in addition to
those mentioned before (cohesion, friction Figure 6 shows the initial stiffness, the 2%
angle and unit weight), such as elastic modulus and the 5% stiffness of deformation of the
and the Poisson’s ratio, in order to define the reinforcement proposed by Cai and Bathurst
soil constitutive model, in this case the Mohr- (1994) to determine the secant stiffness. In
Coulomb model. addition, if the stiffness value is multiplied by
The hysteretic damping assigned for the the coverage ratio of each element between
foundation soil was adjusted considering the thearea of the reinforcement, it gives the
FLAC sig3 model. For the retained and modulus of elasticity of the reinforcement,
reinforced soils, there is not much information according to the proposal suggested by Yu et at.
about specific values in the literature, and (2016).
damping is implicitly associated with the 𝐸 = 𝐽 ( %) ∗ (2)
elastoplastic constitutive model. For the rock
mass, a Rayleigh damping of 5% was assumed.
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where Er is modulus of elasticity of the and just the stress values were kept.
reinforcement, Jsec(ε%) is the secant stiffness at ε
% of strain, Rc is coverage ratio (Rc = Axr / Table 9: Parameters to describe the soil-reinforcement
thickness) and Axr is the section area of the interface.
Ks Kn
reinforcement element. Shear Axial c
Reference  (°)
stress stiffness (kPa)
(kN/m/m) (N/m)
Cai and Bathurst
9600 1000 35° -
(1995)
Skinner and
- - 31.5° -
Rowe (2005)
Huang, Bathurst
1000 1000 44° -
et al. (2009)
Rowe and
- - 29° -
Skinner (2001)
Present study 10000 1000 26° 10

6.4 Input ground motions


Figure 6: Curve obtained from loading-unloading tests in
a uniaxial geogrid (Cai and Bathurst, 1994).
The advantage of using FLAC in seismic
analysis is the simplicity of applying seismic
6.3 Soil-reinforcement interface loading at the bottom boundary of the mesh, i.e.
at the bedrock level, through input
Defining the geogrid as a cable accelerograms, such as the one shown in Figure
reinforcement element allows resistance values 7.
to be entered between reinforcement and soil,
due to the contact of the lateral area of the
reinforcement with the soil. The values of shear
stiffness and normal stiffness to tearing were
taken from the literature, just as it is also
feasible to define a friction angle of the
interface. Rowe and Skinner (2001)
recommended that in the case of interfaces to
take 80% of the friction angle of the weakest
a)
material.
The characterization of the reinforcement to
perform the numerical modeling was based on a
pullout test between a granular soil with = 35°,
 = 19kN/m3 and uniaxial geogrid
reinforcement TUL = 125kN/m.
Table 9 presents the values defined for the
interface by other authors and in the present
study. b)
Figure 7: Synthetic accelerometer:a) Tr = 100 years;
b) Tr = 475 years.
6.3 Initial and boundary conditions
6.4 Dynamic analysis
The initial effective stress field in the
domain, before the seismic excitation, was
To continue with dynamic analysis in FLAC
obtained in all elements by applying the gravity
2D, the dynamic option is activated and the
loading. After this first step, both nodal
mechanical calculation is assigned for large
displacements and strains were set equal to zero
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deformations. In some cases it is important to


update the grid of the model during execution
(rezoning) to prevent the execution stopping in
the middle of the analysis. For the present
study, it was verified, in a preliminary analysis,
that a zone of excessive deformation could
cause the interruption of the analysis, and a
reinforcement element was included to avoid
this occurrence at the foot of the wall. In
engineering practice this corresponds to an Figure 8: Contours of horizontal displacement at end of
improvement of the first layers of the analysis with Tr = 100 years.
foundation soil.

6.4.1 Displacement fields

The computed permanent horizontal


displacements are less than 35cm and 75cm on
the crest of the GRS, 20cm and 35cm at the
base of the wall, for earthquakes of 100 and 475
years of return period, respectively. The relative
horizontal displacement of the facade of the
reinforced soil wall with respect to the base was
Figure 9: Contours of horizontal displacement at end of
15 cm and 40 cm, respectively. According to analysis with Tr = 475 years.
Figures 8 and 9, these values correspond to 1.5
and 3% of the total height of the wall for each
return period.
Likewise, it is observed that the wall has a
slight forward movement, which causes a
decrease in stress in the rear part of the
reinforced soil block. It is important to note that
the most critical area in a dynamic analysis in a
Figure 10: Contours of vertical displacements a) Tr=100
RSW. They are strains that occur at the base of years; b) 475 years.
the wall, since these are the ones that will cause
the wall to tend to fail by turning.
On the other hand, Figure 10 shows the 6.4.2 Relative displacements
permanent vertical displacements obtained for
the dynamic analyses subjected to synthetic FLAC 2D software, through the FISH
earthquakes with return periods of 100 and 475 programming language, allows defining
years. These values are 7.5cm and 25cm, additional variables. This is how the calculation
respectively. The maximum displacements are of relative displacements between layers or
displayed behind the reinforced soil zone, vertical points is implemented. The node of the
reaching values of 12.5cm and 30.5 cm mesh in which the geogrids will be fixed is
respectively (settlement of the RSW platform). identified, considering the first layer as (i, jc1),
the second as (i, jc2), and so on. Equation 3
computes the relative displacements as shown
in Figure 11.

Xrel1=XDISP(i,jc2) - XDISP(i,jc1) (3)


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Figure 12 shows the relative displacements


due to seismic events with return period of 100 The maximum axial forces in the
years (maximum of 3.5cm between the reinforcement elements were all below the
reinforcement layers) and 475 years (maximum value of maximum admitted tension, as can be
value of 8cm). seen in Figure 13. In the case of layer 1 (0.4 m
from the base), the axial force was lower than
50 kN, which is less than 50% of the ultimate
tension stress supported by the reinforcement
(120 kN). In layer 3 (1.4 m from the base) and
in layer 13 (6.9m from the base) the
corresponding values were less than 30 kN and
28 kN, namely 35% and 50% lower than the
ultimate tension stress of 90 kN and 60 kN,
respectively. From the computed values, it is
observed that the wall of reinforced soil will not
fail due to sliding of the face of the wall.

Figure 11: Configuration of relative displacements.

Figure 13: Axial forces (N) along each reinforcement at


the end of the analysis for a synthetic earthquake with
return periods of 100 and 475 years.

In the present study, the reinforcements were


denominated as cable 1, cable 2, and so on up to
cable 16, located at 0.4, 0.9, and so on up to 9.4
times the height of the GRS wall. Then, it was
Figure 12: Relative displacements between layers on the
front of the GRS to a) Tr = 100; b) 475 years.
identified at what distance from the
reinforcement the maximum tension occurred,
6.4.2. Reinforcement load distribution the points were connected and the possible
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failure surface was obtained for dynamic was also confirmed during the present dynamic
analyses, as shown in Figure 14, for dynamic analysis, with the block having the tendency to
analyses considering earthquakes with 100 and make a slight forward movement, which causes
475 return periods. a decrease in stresses in the rear part of the
reinforced block base. Hence, it is possible to
conclude that the most critical area in a
dynamic analysis of a GSW is in the foundation
soil at the base of the wall, where the
occurrence of excessive deformations
(horizontal or vertical) may cause the failure of
the GSW by flipping. Although in a GSW
design the reinforcement behavior is main
concern (slip failure, rupture or tearing), this did
not occur in any of the cases analyzed in the
present research.
Figure 14: Location of possible failure surfaces linking In this work it was also observed that the
points of maximum axial forces in the geogrids. transmission of loads between reinforcement
layers actually occurred, which allowed a
7 CONCLUSIONS reduction of the lateral stresses under static
condition that affected the computed
The GRS walls are designed following displacements, a similar result reported by
international standards. In Peru, there are only a Rowe and Skinner (2001).
few recommendations for these structures The maximum stresses in the reinforcement
within the Manual of The Ministry of Transport elements reached 50% of ultimate value for the
and Communications (MTC). UX-90 and UX-12 geogrids and 70% in the
The limit equilibrium method used for case of UX-60 geogrid.
pseudo static analyses can be excessively Finally, it may be concluded that the most
conservative and does not provide information important factors in the reduction of permanent
on deformations; therefore numerical analysis is deformations in a GSW wall subjected to
justified in cases of high risk seismic events. seismic loading are the length and shear
The factors of safety, either for the static strength of the reinforcement and the movement
condition with a minimum value of 1.3 or for in the base of the wall. If these three factors are
the pseudo static analysis with 1.1, have carefully taken into account, failure by turning
complied to the standard and it is possible to of the reinforced block may be prevented.
state that the GRS is stable.
The practice of increasing the length of the REFERENCES
reinforcement, from 0.7 to 0.8 times the height
of the wall, when it is designed for a highly Cai, Z.; Bathurst, R.J. (1995). Seismic response analysis
of geosynthetic reinforced soil segmental retaining
seismic zone, has no technical justification, walls by finite element method. Computers and
raising the costs of the geotechnical structure. Geotechnics 17, Elsevier, UK, p. 526-546.
For our study a reinforcement length equal to Cundall, P.; Board, M. (1988). A microcomputer program
0.7 times the height was considered, obtaining for modelling large-strain plasticity problems.
satisfactory results. Proceedings of the 6th International Conference on
Numerical Methods in Geomechanics. Innsbruck,
Pamuk et al. (2004) and E-Emma et al. Austria, p. 2101-2108.
(2004), when comparing deformations between Ehrlich, M,; Silva, L.F.M. (1992). Sistema de Contenção
numerical and physical models, found that the de solos reforçados. Conferência Brasileira sobre
GSW behaves mainly as a block due to the soil- Estabilidade de Encosta, COBRAE, ABMS, Rio de
reinforcement effects. The block type behavior Janeiro, v.1, p.35-45
El-Emam, M.M.; Bathurst, R.J; Hatami, K. (2004).
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Numerical modeling of reinforced soil retaining walls


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Sinergismo de Degradação em Geotêxteis: Ensaios Laboratoriais


sob Fluência à Tração, Temperatura e Incidência de Radiação
Ultravioleta
Denise de Carvalho Urashima
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Varginha, Brasil, urashima@cefetmg.br

Plínio Marcos Lemos Silva


Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Varginha, Brasil,
pliniomarcosls@bol.com.br

Mag Geisielly Alves Guimarães


Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Varginha, Brasil, mag@cefetmg.br

Carlos Alberto Carvalho Castro


Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Varginha, Brasil,
carloscastro@cefetmg.br

RESUMO: Geotêxteis são produtos poliméricos empregados na engenharia civil e sua eficácia está
ligada entre outros fatores a sua capacidade de manter propriedades funcionais durante o tempo de
vida de serviço. O artigo traz resultados sobre o comportamento de geotêxteis tecidos de
polipropileno em ensaios de degradação acelerada em laboratório por incidência de radiação
ultravioleta (UV-A), temperatura e fluência. Amostras dos geotêxteis tecido de polipropileno foram
expostas a 360 MJ/m2 de radiação UV-A e em dois níveis de temperatura (30 e 70ºC), as perdas de
resistência à tração foram de 4,20% para 30ºC e 6,4% para 70ºC. Após ensaios de fluência com 15%
da carga de resistência à tração média, em condições térmicas idênticas as supracitadas, para análise
de sinergia, as perdas foram de 5,8% e 17,9%, respectivamente. Os resultados dos ensaios
demostram a relevância da temperatura na aceleração da degradação mecânica por fluência.

PALAVRAS-CHAVE: Degradação. fluência, sinergia, vida de serviço.

1 INTRODUÇÃO estudar e prever a durabilidade dos mesmos em


situações características (ISO TS 13434, 2008).
Os geotêxteis são materiais produzidos a partir A durabilidade dos geotêxteis, assim como
de matriz polimérica, possuindo uma larga quaisquer outros tipos de geossintéticos,
aplicação em projetos geotécnicos e de proteção depende de vários fatores, mas, principalmente,
ambiental (ISO 10318, 2015). do tipo polimérico, da função específica a ser
A vida útil dos geotêxteis pode variar muito, desempenhada, bem como do meio ambiente a
visto que estes materiais podem exercer que estes materiais serão expostos ao longo do
distintas funções dentro da engenharia civil. tempo. Estudos laboratoriais ou de campo têm
Dado a relevância das consequências que a sido realizados nos últimos anos, porém este
ocorrência de falhas pode gerar, é importante assunto ainda necessita de estudos
complementares, tendo em vista a
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heterogeneidade do comportamento das cadeias sobre a durabilidade de geotêxteis tecido de


poliméricas frente aos diversos agentes de polipropileno.
degradação e como se dá o seu envelhecimento Por conseguinte, os referidos resultados se
ao longo do tempo (SARSBY, 2007; ASTM D deram por meio da submissão do geotêxtil em
5819, 2018 e ISO TS 13434, 2008). estudo sob ensaios de fluência, considerando
É um consenso na literatura que certos dois distintos níveis de temperaturas e um nível
comprimentos de onda dentro do espectro da de radiação UV-A, avaliando os dados obtidos
energia de radiação (particularmente a radiação por meio de ferramentas estatísticas, as quais
ultravioleta-UV presente no espectro solar) são foram empregadas para compreender as
nocivos aos materiais poliméricos. Assim, no distintas relações estresse-resposta.
emprego dos geotêxteis em funções onde há a As análises das variáveis respostas, obtidas
possibilidade de exposição a componente UV, é dos ensaios de resistência à tração antes e após
necessário considerar a probabilidade do o sinergismo de degradação foram possíveis
acontecimento de degradação, pois a radiação devido ao equipamento projetado e construído.
estimula a foto-oxidação, o que promove a cisão Com isso, favoreceu os ensaios acelerados de
das cadeias moleculares e o desencadeamento fluência à tração, por temperatura e incidência
de reações por radicais livres. Se tal processo de UV-A verificando a sua eficácia para a
ocorre, as cadeias moleculares degradam, predição da vida de serviço dos geotêxteis e
resultando numa redução substancial da produtos correlatos. Isso colaborou para ensaios
resistência mecânica (SUITS e HSUAN, 2003). mais curtos do que em campo, contribuindo
A fluência à tração é um fator importante a para o estado da arte em relação à durabilidade
ser ponderado na concepção e desempenho de dos geossintéticos.
algumas estruturas, tais como estruturas de
contenção, aterros sobre solo mole, reforços de
fundação, sistemas de desaguamento e retenção 2 CONCEITUAÇÕES
de rejeitos, aplicação em obras costeiras, tais
como proteção de margens e quebra-mar, 2.1 Ensaios de Tração
construção de ilhas artificiais sendo estas
estruturas de proteção, entre outras aplicações, A resistência à tração de um geotêxtil se refere à
onde os geotêxteis são submetidos a tensões de carga máxima suportada pelo mesmo, em uma
tração elevadas por longos períodos de tempo velocidade constante, até o rompimento de suas
(GREENWOOD, SCHROEDER e VOSKAMP, tramas.
2012; GUIMARÃES et al., 2017; HSIEN, Basicamente existem normatizados dois
WANG e CHIU, 2006; LAWSON, 2008; tipos de ensaios de resistência à tração para
SARSBY, 2007; SHUKLA e YIN, 2006). determinar a resistência à tração de geotêxteis e
Assim sendo, considerando a importância da correlatos: faixa larga (largura de 200 mm) e
análise do desempenho dos geotêxteis ao longo faixa estreita (largura de 50 mm). Ressalta-se
de sua vida de serviço, bem como as que, dependendo da norma empregada, numa
dificuldades encontradas para realizar esta mesma largura a distância entre garras pode
previsão, o presente artigo apresenta resultados variar e, portanto a velocidade de ensaio
laboratoriais da avaliação ensaios de degradação também, para que possa haver compatibilidade
por incidência de radiação ultravioleta UV-A e de resultados (ISO 10319, 2015; ASTM 5035,
ensaios de fluência à tração, com carga 2011; ISO EN 13934-1, 2013)
equivalente a 15% da carga à tração média do
material intacto, acelerado por temperatura e
incidência de UV-A, simultaneamente para
análise da sinergia dos efeitos destes fatores
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2.2 Ensaios de Fluência à Tração Não 2.3 Degradação de Geossintéticos


Confinada
A degradação de um geossintético resulta de
Fluência é um termo referente ao mudanças fundamentais do polímero
comportamento elasto-viscoplástico de corpos constituinte de sua matriz, podendo
quando esses são submetidos a carregamento comprometer a sua vida de serviço. Vários são
constante por longos períodos. Quanto maior a os agentes degradantes, tais como intempéries,
carga aplicada menor o tempo até a ruptura do substâncias químicas, esforços mecânicos, entre
mesmo. Porém, alguns fatores podem ter outros, que tem como consequência o
influência sobre esse processo, tais como o tipo envelhecimento prematuro destes materiais
de material constituinte do corpo, a temperatura, (ISO TS 13434, 2008).
umidade e a incidência de radiação ultravioleta Este artigo tem como foco principal
(COSTA, 1999; DEN HOEDT, 1986; apresentar a degradação por ação isolada e
FRANÇA, BUENO e ZORNBERG, 2011; conjunta da radiação ultravioleta (UV-A) e
SAWICKI e KAZIMIEROWICZ- temperatura, uns dos principais agentes de
FRANKOWSKA, 1998). degradação por intempéries, e da ação do
Quando colocado sobre fluência, os esforço mecânico por fluência à tração.
geotêxteis evidenciam até três fases distintas A energia da radiação ultravioleta induz a
denominadas de fluência primária, secundária e rupturas de ligações químicas em materiais
terciária. Em função do tipo de polímero poliméricos, com ocorrência de reações
empregado na fabricação do geotêxtil, é oxidativas autocatalíticas denominadas de
possível que uma dessas fases não fique fotodegradação (ou foto-oxidação), que são
evidente e ocorra a predominância de outro caracterizadas por quebras de ligações
estágio (COSTA, 1999). covalentes, na cadeia principal ou lateral,
Ensaios de fluência à tração podem ser originando espécies altamente reativas
realizados segundo as normas NBR 15226 denominadas de radicais livres (KOERNER,
(2005) e ASTM D 5262 (2012), que HSUAN e KOERNER., 1998; SUITS e
especificam níveis de cargas, intervalos de HSUAN, 2003).
tempo para verificação de deformações sob O efeito da temperatura, por exemplo, pode
fluência, dentre outras informações. afetar o comportamento mecânico dos
A realização de ensaios de fluência à tração geotêxteis ou correlatos empregados como
em laboratório é de grande relevância técnica, reforço de solos, visto que a temperatura do
tendo em vista a avaliação do comportamento solo só passa a ser constante para grandes
destes materiais sob carregamentos em termos profundidades (mais de 10 m), o seu valor em
de resistência à tração e deformações, além da profundidades menores é então igual à
obtenção de fatores de redução parciais a serem temperatura atmosférica média (SEGRESTIN e
aplicados em projeto (FRANÇA, BUENO E JAILLOUX, 1988). E no caso de solos
ZORNBERG, 2011). reforçados que empregam faceamento a
Também, a partir da definição do tempo de variação de temperatura é ainda maior, pois
vida de serviço, é possível realizar uma previsão além de combinar o efeito da radiação solar na
de qual seria a carga que ocasionaria uma profundidade, ainda existe um acréscimo de
ruptura sob fluência de geossintéticos em temperatura nas proximidades do faceamento
aplicações em obras geotécnicas e ambientais do muro de contenção onde as cargas no reforço
(COSTANZI et al., 2003). são altas e sofrem maior efeito da fluência,
durante toda a vida de serviço (MURRAY,
FARRRAR, 1988).
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Cargas mais elevadas em última análise quando comparados resultados de ensaios à


podem conduzir à ruptura por fluência à tração tração de geotêxteis de amostras intactas.
(GREENWOOD, SCHROEDER e VOSKAMP, Para realização dos ensaios de tração do
2012). Quanto maior a carga aplicada, mais material em estudo foi empregado uma
curto o tempo de ruptura. Assim, a carga de Máquina Universal para Ensaio de Tração e
concepção também irá limitar o tempo de vida Compressão a Figura 2 demonstra a fixação de
de serviço do geotêxtil. Ressalta-se ainda que a uma amostra de geotêxtil, na Máquina
fluência à tração é mais acentuada em Universal.
polietileno (PE) e polipropileno (PP) do que em
poliéster (Tereftalato de polietileno (PET)).
Como os polímeros são materiais visco
elásticos, taxas de deformação e temperatura
são importantes fatores a serem considerados
nos ensaios para análise da vida de serviço de
materiais constituídos por matriz polimérica
(CARNEIRO, 2009 e FRANÇA, 2012).

3 METODOLOGIA

3.1 Considerações Iniciais

O desenvolvimento da pesquisa reuniu projeto e


execução dos pórticos de fluência com
possibilidade de realizar ensaios acelerados com
distintos níveis de tempertura, bem como
possibilidade de incidência de distintos níveis
de radiação UV-A. Figura 1. Fluxograma da pesquisa.
Posteriormente a execução dos pórticos de
fluência, foram realizados ensaios para
caracterização mecânica por resistência à tração
(ASTM D 5035, 2011) do geotêxteil tecido de
polipropileno intacto empregado na pesquisa. A
referida norma preconiza o emprego de corpos
de prova com 50 mm de largura e fixados a uma
distância entre garras, superior e inferior, de 75
mm e tracionados com uma velocidade de
300mm/min.
A sequência metodologica empregada no
desenvolvimento da pesquisa é ilustrada na
Figura 1.
Os ensaios de resistência à tração também
foram realizados conforme preconiza a norma
ASTM 5035 (2011) no sentido de avaliar a
degradação sofrida pelo geotêxtil submetidos
aos ensaios de fluência em laboratório e campo,
Figura 2. Fixação de amostra na Máquina Universal.
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3.2 Ensaio de Sinergia de Degradação por


Radiação UV-A, Temperatura e Fluência à
Tração.

Todas as situações simuladas foram feitas em


duplicidade, a fim de ter réplica dos resultados,
viabilizando a análise dos erros estatísticos
envolvidos no experimento.
Foram simuladas em laboratório as seguintes
situações de degradação:
 Incidência de radiação UVA (irradiância
de UVA para 0,230 W/m2/n.m) +
aquecimento à temperatura média de
30ºC. Figura 3. Pórtico de simulação de degradação, com as
 Incidência de radiação UVA (irradiância portas frontais abertas.
de UVA para 0,230 W/m2/n.m) +
aquecimento à temperatura média de 3.3 Análise Estatística
70ºC.
Ressalta-se que nesta primeira etapa as Depois de transcorridos os testes, os resultados
amostras não foram submetidas à fluência. de resistência à tração foram analisados e
Posteriormente, para realização dos ensaios comparados com os parâmetros do material
de fluência, as amostras foram submetidas as intacto a partir da ponderação estatística por
seguintes situações: intervalos de confiança (IC).
 Fluência à tração (com 15% de carga) + Em termos conceituais, o IC é um dos
incidência de radiação UVA (irradiância elementos mais importantes da inferência
de UVA para 0,230 W/m2/n.m) à estatística, pois é a partir deste em conjunto
temperatura média de 30ºC; com um estudo amostral que se torna possível
 Fluência à tração (com 15% de carga) + estimar, com uma confiança elevada, qual é a
incidência de radiação UVA (irradiância faixa de valores que tem certa probabilidade de
de UVA para 0,230 W/m2/n.m) + conter no seu interior o verdadeiro valor do
aquecimento à temperatura média de parâmetro populacional em análise
70ºC. (MONTGOMERY, 2008).
Os ensaios foram realizados durante trinta e Para tanto, é necessário associar ao IC um
cinco dias. Neste período, a radiação nível de confiança, que é a probabilidade 1 - 
ultravioleta UV incidida total sobre cada uma que o intervalo de confiança realmente contém
das amostras em todas as situações simuladas o parâmetro populacional, supondo que o
foi de 360 MJ/m2 de radiação UVA. processo de estimação seja repetido um grande
A Figura 3 apresenta o pórtico empregado na número de vezes. Segundo Triola (2008), o
pesquisa, aberto, visto que o mesmo foi nível de confiança mais comum de escolha é de
revestido com madeira nas laterais e topo para 95% (com  = 0,05).
manter a temperatura e prover somente as Os intervalos de confiança foram obtidos a
amostras com radiação UVA. partir da distribuição t de Student, pois os
Ressalta-se ainda que os pórticos possuíam geotêxteis em estudo se comportam segundo
portas frontais para que as medições e distribuição Norma, por se utilizar amostragens
acompanhamento do comportamento das n < 30 e por não se ter conhecimento acerda do
amostras durante os ensaios. desvio padrão populacional (TRIOLA, 2008).
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4 RESULTADOS

4.1 Caracterização Mecânica do Geotêxtil


Intacto

A Figura 4 mostra resultados do ensaio de


resistência à tração do geotêxtil intacto tanto no
sentido transversal quanto longitudinal de Figura 5: Intervalo de confiança, com nível de confiança
fabricação, em termos de intervalo de de 95%, das resistências à tração para amostras degradas
por UV-A e temperaturas em relação a amostra intacta.
confiança.
A partir da Figura 5, verifica-se que os
resultados em termos de percentuais de perda,
em relação ao geotêxtil intacto, foram de 4,2%
para a condição de 360 MJ/m2 de radiação UV-
A à temperatura de 30ºC. Já para a temperatura
de 70ºC, o percentual de perda total atingido foi
Figura 4: Intervalo de confiança, com nível de confiança de 6,4%.
de 95%, para resistência tração no sentido longitudinal e
transversal.
4.2 Ensaios de Degradação sob Efeito de
Analisando o resultado, no sentido Incidência de UV-A, Temperatura e Fluência.
longitudinal a amostra apresentou uma menor
variabilidade dos resultados de resistência à A Figura 6 apresenta resultados de resistência à
tração, quando comparado com o sentido tração das amostras quanto submetidas às
transversal. Os cortes das amostras para os seguintes condições de ensaio em termos de
ensaios foram realizados no sentido longitudinal intervalo de confinça:
de fabricação. (1) 360 MJ/m2 de radiação UV-A +
aquecimento à temperatura média de
4.2 Ensaios de Degradação sob Efeito de 30ºC + fluência com 15% da carga;
Incidência de UV-A e Temperatura. (2) 360 MJ/m2 de radiação UV-A +
aquecimento à temperatura média de
A Figura 5 apresenta resultados de resistência à 70ºC + fluência com 15% da carga.
tração das amostras quanto submetidas às
seguintes condições de ensaio em termos de
intervalo de confinça:
(1) 360 MJ/m2 de radiação UV-A +
aquecimento à temperatura média de
30ºC;
(2) 360 MJ/m2 de radiação UV-A +
aquecimento à temperatura média de
70ºC.
Figura 6: Intervalo de confiança, com nível de confiança
de 95%, das resistências à tração para amostras degradas
por UV-A, temperaturas e fluência relação a amostra
intacta.

Nos ensaios de fluência com 15% da carga,


considerando as condições térmicas e de
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incidência de radiação UV-A supracitadas, para destes materiais nas distintas aplicações de
análise de sinergia, as perdas foram de 5,8% engenharia.
(temperatura de 30ºC) e de 17,9% (temperatura Por último, a pesquisa realizada vem para
de 70ºC). contribuir no estado da arte em relação à
durabilidade dos geossintéticos, uma vez que
este assunto tem sido cada vez mais reportada
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS por projetistas e pesquisadores.
Na análise da Figura 5, observou-se degradação
do geotêxtil quando submetido somente a AGRADECIMENTOS
radiação UV-A + temperatura (30 ºC e 70ºC)
com o resultado médio das ambas as réplicas, Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento
por meio do deslocameno do intervalo de Científico e Tecnológico (CNPq). A Fundação
confiança para a esquerda. de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais
Analisando-se os intervalos de confiança (FAPEMIG). A empresa HUESKER Ltda, pelo
(IC) obtidos para cada uma das condições de fornecimento de materiais para o
ensaio (Figuras 5 e 6), verifica-se que todos se desenvolvimento da pesquisa. Ao Centro
deslocaram para a esquerda do intervalo Federal de Educação Tecnológica de Minas
referente ao geotêxtil intacto (58,0 < 59,4 < Gerais (CEFET-MG) ao apoio para realização
60,8 kN/m), sendo maior o afastamento da pesquisa.
observado para ensaio de fluência à carga de
15% + radiação UV + temperatura (70ºC).
É importante atentar que, mesmo para a REFERÊNCIAS
condição de ensaio em que parte do IC ficou
dentro da faixa compreendida aos valores de ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
referência do geotêxtil intacto, o valor médio TÉCNICAS. NBR 15226. (2005). Geossintéticos –
está deslocado à esquerda do IC para o geotêxtil Determinação do comportamento em deformação e na
de referência. Portanto, afirma-se com 95% de ruptura, por fluência sob tração não confinada. Rio de
Janeiro.
confiança que o geotêxtil tecido de ASTM D 5035 (2011). Standard Test Method for
polipropileno sofreu degradação acelerada Breaking Force and Elongation of Textile Fabrics
quando submetido a fluência, radiação UV e (Strip Method), American Society for Testing and
temperatura. Materials, West Conshohocken, Pennsylvania, USA.
Os resultados apontam para a influência ASTM D 5262 (2012). Standard Test Method for
Evaluating the Unconfined Tension Creep and Creep
significativa da temperatura como fator de Rupture Behavior of Geosynthetics, American Society
aceleração dos processos de degradação em for Testing and Materials, West Conshohocken,
situações em que os geotêxteis fiquem expostos Pennsylvania, USA
à temperaturas elevadas, visto que para ASTM D 5819 (2018). Standard Guide for Selecting Test
temperatura de 70ºC o valor médio de perda de Methods for Experimental Evaluation of Geosynthetic
Durability, American Society for Testing and
resistência foi de 17,9% com a ação da fluência. Materials, West Conshohocken, Pennsylvania, USA.
Os pórticos desenvolvidos na pesquisa Carneiro, J.R.C. (2009). Durabilidade de Materiais
mostram-se promissores para avaliar o Geossintéticos em Estruturas de Carácter Ambiental -
desempenho de submetidos à fluência à tração A Importância da Incorporação de Aditivos
Químicos. Tese de Doutorado, Faculdade de
não confinada como temperaturas elevadas e
Engenharia, FEUP, Universidade do Porto, Portugal,
incidência de radiação ultravioleta (UVA) 602 p. (in Portuguese).
simultaneamente ou de forma isolada em COSTA, C. M. L. (1999). Fluência de Geotêxteis.
situações controladas em laboratório, os quais Dissertação de Mestrado – Universidade de São Paulo
são fatores que podem ocasionar a degradação (USP). São Carlos, 97 p.
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Sistemas Fechado de Geotêxteis Empregados em Desaguamento


de Resíduos: Análise da Durabilidade
Denise de Carvalho Urashima
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Varginha, Brasil, urashima@cefetmg.br

Viviane Amaral Moreira


Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, vivianeam90@gmail.com

Romero César Gomes


Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, romero@em.ufop.br

Anthony Bahia Scalioni


Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Varginha, Brasil,
scalioni.anthony@gmail.com

Mag Geisielly Alves Guimarães


Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Varginha, Brasil, mag@cefetmg.br

RESUMO: O bom desempenho, aliado ao custo, tem destacado o desaguamento de resíduos através
de sistemas fechados de geotêxtil (SFG). A exposição destes sistemas a intempéries pode afetar sua
durabilidade. O artigo avaliou a durabilidade de SFG de geotêxteis tecidos de polipropileno com
dois distintos níveis de anti-UV (GT-1 e GT-2), durante quatro tempos de exposição em campo (64,
127, 189 e 257 dias). Foi implantado um estudo piloto de SFG e um pórtico de exposição, avaliando
a influência da sinergia do contato do resíduo com o geotêxtil sobre sua durabilidade. Os resultados
de perdas de resistência à tração, nos respectivos tempos supracitados, foram; GT1 - SFG: 8, 18, 20
e 23%, e no pórtico 12, 18, 25 e 27%; GT2 – SFG: 10, 18, 18 e 23%, no pórtico 9, 22, 28, 31%. Os
resultados indicaram que a forma de incidência da radiação foi predominante sobre a sinergia do
resíduo.

PALAVRAS-CHAVE: Desaguamento, durabilidade, intempéries, resíduo, exposição.

1 INTRODUÇÃO nos decantadores e filtros (FONTANA E


CORDEIRO, 2005; REALI, 1999).
Sistemas de tratamento de água de Os resíduos acumulados nos decantadores
abastecimento são similares a qualquer outro são definidos como lodos, existindo
processo industrial, onde a matéria-prima ao regulamentações específicas que restringem o
perpassar por diversos procedimentos gera um lançamento destes de forma inadequada, devido
produto final. Entretanto, em algumas etapas do aos inúmeros impactos que estes podem
processo, pode ocorrer a geração de resíduos ocasionar no ambiente. No Brasil, é crescente a
com características que dependem de diversos busca de alternativas tecnológicas que visem a
fatores. Normalmente, numa Estação de disposição adequada destes, entre estas estão: o
Tratamento de Água (ETA), estes têm origem desague natural em lagoas e leitos de secagem,
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o adensamento mecânico em centrifugas, entre reciclados para outros usos.


outros. A durabilidade dos sistemas geotêxteis
Em função do grande volume de líquido em depende de vários fatores, principalmente do
sua constituição, o lodo de ETA pode ser tipo de polímero, da função específica a ser
submetido a técnicas de desaguamento, visando desempenhada e do meio ao quais estes
diminuir seu volume para posterior disposição materiais ficarão expostos ao longo do tempo.
adequada. Nas últimas décadas este método de Assim o sistema deve ter sua vida útil avaliada
desaguamento por meio de geotêxteis tem-se para evitar a ocorrência de falhas,
apresentado como tecnologia promissora, principalmente por redução da resistência
permitindo o encapsulamento, isolamento, mecânica (LOPES e LOPES, 2010; ISO TS
desidratação e descarte de lodo (GUIMARÃES 13434, 2008).
e URASHIMA, 2013; GUANAES, 2009). Estudos laboratoriais e de campo têm sido
Sistemas fechados de geotêxteis são realizados nos últimos anos, porém, pesquisas
confeccionados costurando um ou mais complementares ainda são necessárias, tendo
geotêxteis para formar recipientes flexíveis que em vista a heterogeneidade do comportamento
podem reter materiais saturados. Em função das das cadeias poliméricas frente aos diversos
dimensões, segundo GRI-GT15 (2009) recebem fatores de degradação e como se dá o seu
designações diferentes: bolsa, contêiner ou envelhecimento ao longo do tempo (ASTM D
tubos. 5819, 2005; SARSBY, 2007).
Lawson (2008) atribui aos sistemas fechados Assim sendo, o artigo avalia a durabilidade
de geotêxteis basicamente três áreas principais de sistemas fechados de geotêxteis tecidos de
de aplicação: hidráulicas/marítimas, fundações polipropileno frente a fatores de degradação de
e ambientais. Em aplicações hidráulicas e intemperismo e a influência do lodo
marítimas, a contenção geotêxtil impede a condicionado nestes sistemas no processo de
erosão e o colapso costeiro ou de margens. Nas degradação.
aplicações de fundação, os sistemas de geotêxtil
melhoram a capacidade de suporte de colunas
de pedra e areia em solos de fundação de baixa 2 CONCEITUAÇÕES
resistência ao cisalhamento. Em aplicações
ambientais, os sistemas de geotêxtil permitem a 2.1 Durabilidade de Geossintéticos
desidratação (ou desaguamento) controlada de
resíduos com alto teor de líquido em relação ao Para garantir que os geossintéticos funcionem
teor de sólidos, permitindo tanto o durante o período de tempo definido é
encapsulamento destes, como a possibilidade de necessário prever a que condições o material
reuso do percolado proveniente do estará exposto e a forma com que as interações
desaguamento. afetarão suas propriedades (LOPES e LOPES,
A última aplicação citada por Lawson (2008) 2010). A maioria das aplicações envolvem
é parte do objeto desta pesquisa, ou seja, o transporte e estoque do material, construção em
desaguamento de resíduos de ETA. Este ambientes relativamente severos e necessitam
processo consiste em bombear uma pasta de de uma longa vida de serviço, onde resistência e
alto teor de líquido dentro de um sistema propriedades de durabilidade são fundamentais
fechado de geotêxtil promovendo a separação (SARSBY, 2007).
das fases sólida e líquida, para tanto, muitas Ao longo do tempo, devido a uma
vezes se faz necessário o emprego de combinação de condições ambientais, os
condicionantes químicos. No final da geossintéticos podem vir a sofrer
desidratação, os sólidos contidos podem ser envelhecimento, ou seja, ter suas propriedades
deixados no local, transportados, ou podem ser físicas, químicas e mecânicas alteradas. O termo
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envelhecimento inclui tanto a degradação também ocorrer por oxidação e por luz
polimérica como a redução de desempenho do ultravioleta (SARSBY, 2007). É pouco
material. Sendo assim, a resistência de um provável que qualquer um destes mecanismos
geossintético ao envelhecimento é referida de degradação atue de maneira isolada, o que
como durabilidade (ISO TS 13434, 2008; torna essa situação extremamente difícil de ser
SHUKLA e YIN 2006; ASTM D 5819, 2005). modelada (LOPES e LOPES, 2010).
Diversas condições influenciam na O envelhecimento de geossintéticos expostos
durabilidade do geossintético, como a estrutura é principalmente iniciado pelo componente
física, a natureza do polímero constituinte, o ultravioleta (UV) da radiação solar, calor e
processo de manufatura, o ambiente físico e oxigênio, com contribuições de outros fatores
químico que o rodeia, as condições de climáticos, como umidade, chuva, óxidos de
armazenamento e instalação e as diferentes nitrogênio e enxofre, ozônio, poluentes
cargas suportadas pelo material (LOPES e atmosféricos e líquidos confinados (ISO TS
LOPES, 2010; SHUKLA e YIN, 2006). 13434, 2008).
Entretanto, pode-se destacar o tipo de polímero Na maioria dos casos, a radiação UV,
e a presença de aditivos como os fatores mais estimada entre 5 a 10 % da radiação global
sensíveis à essa propriedade (GREENWOOD, (GREENWOOD, SCHROEDER e VOSKAMP,
SCHROEDER e VOSKAMP, 2012). 2012), irá produzir alterações que, direta ou
Nas obras em que os geossintéticos ficam indiretamente, levarão à ruptura da cadeia
expostos durante a vida de serviço, os mesmos principal do polímero, podendo conduzi-lo à
ficam sujeitos a ação de elementos climáticos recombinação com outros elementos como o
(radiação solar, ciclos de calor, ozônio, oxigênio no ar, ou a iniciar reações em cadeia
umidade, chuva, entre outros), que são os mais complexas, reduzindo a eficácia do
principais desencadeadores de processos de material (ISO TS 13434, 2008).
degradação e consequente envelhecimento dos De acordo com Sarsby (2007), esse tipo de
polímeros, requerendo maior atenção quanto à mecanismo de degradação é bem compreendido
sua durabilidade (ISO TS 13434, 2008; e é resultado da entrada de luz com
SHUKLA e YIN, 2006). comprimento de onda mais sensível ao
Tradicionalmente, para avaliar os impactos polímero. Tal fenômeno causa liberação de seus
das mudanças causadas pela degradação, baseia- radicais livres e provoca rompimento na
se em resultados de ensaios de propriedades estrutura principal do polímero. O tipo de
mecânicas (resistência à tração e alongamento, polímero está relacionado aos efeitos causados
por exemplo), que são financeiramente mais pela radiação, como exemplificado na Figura 1.
viáveis se comparados às análises Outra influência nos processos de
microestruturais (SARSBY, 2007; SHUKLA e degradação e de igual relevância é a
YIN, 2006). temperatura. A radiação visível e infravermelha
de todos os comprimentos de onda aquece o
2. 2 Degradação por Intempéries geossintético sobre o qual incide e grande parte
da degradação causada pela radiação se dá
Devido às circunstâncias a que estão expostos, simplesmente pelo aumento da temperatura do
todo material, incluindo os polímeros, se material (GREENWOOD, SCHROEDER e
degradarão ao longo do tempo. Vários são os VOSKAMP, 2012). Este aumento faz com que
mecanismos e eles podem atuar isoladamente o material se expanda e suas cadeias se
ou sinergicamente. A degradação pode se dar deformem, aumentando a mobilidade do
por hidrólise a partir do contato com água; de polímero, acelerando a degradação (SARSBY,
forma química se houver contato com solventes; 2007).
em contato com agentes biológicos; pode
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minerais (ISO TS 13434, 2008).


Com relação aos estabilizadores UV, o mais
familiar é o negro de fumo (carbon black), que
absorve uma parte dessa energia e bloqueia o
acesso ao polímero. Além desse, também se usa
outros aditivos, como as HALS (hindered amine
light stabilisers – aminas estericamente
bloqueadas), que diferente do negro de fumo,
não trabalham a partir da absorção dos raios
ultravioletas, mas desativam os radicais reativos
que de outro modo teriam oxidação acelerada
Figura 1. Radiação solar e comprimentos de onda da (GREENWOOD, SCHROEDER e VOSKAMP,
radiação ultravioleta nocivos à materiais poliméricos 2012).
(Adaptado de SARSBY, 2007).
Entretanto, a quantidade dos aditivos
Diante deste contexto, destaca-se que estabilizadores deve apresentar um equilíbrio de
principalmente nas duas últimas décadas, forma que não interfira no crescimento e
estudos laboratoriais e/ou de campo têm sido resistência da estrutura do polímero (SARSBY,
realizados para melhor compreensão dos 2007).
aspectos relativos à durabilidade dos
geossintéticos nas diversas solicitações de 2.4 Técnicas de Desaguamento
campo. Além disso, para a análise dos
Um dos problemas mais sérios no correto
resultados de degradação por intemperismo
manejo de resíduos gerados em ETAs é a
climático, é importante o conhecimento dos
redução do volume de lodo produzido ou a
principais parâmetros meteorológicos durante o
diminuição dos volumes a serem dispostos. Em
período de ensaios de degradação por
função da quantidade excessiva de água, a
intemperismo climático, como: radiação solar
remoção desta é imprescindível (ANDREOLI,
total e a fração correspondente à incidência de
2001).
ultravioleta (MJ/m2), temperatura média (ºC),
No Brasil e nos Estados Unidos os lodos são
umidade relativa do ar média (%) e precipitação
comumente tratados por técnicas convencionais
acumulada (mm).
de separação dos sólido-líquidos
2.3 Estabilizadores de Polímeros (GUIMARÃES; URASHIMA e VIDAL, 2014).
Vários são os métodos que podem ser utilizados
O polipropileno, polímero empregado na nessa tarefa e Reali et al. (1999) os divide em:
fabricação do geotêxteis utilizados na pesquisa, naturais ou mecânicos.
destaca-se na fabricação destes materiais por Nas últimas décadas o método de
seu baixo custo, além de possuir excelente desaguamento por meio de sistemas fechados de
resistência química e de pH, devido à sua geotêxteis (SFG) tem-se apresentado como
estrutura semicristalina. Para que o mesmo tecnologia promissora, permitindo o
adquira resistência à luz ultravioleta (UV), encapsulamento, isolamento, desidratação e
durante seu processamento devem ser descarte de lodo.
adicionados aditivos e estabilizantes, como o O mecanismo de SFG consiste no
negro de fumo (SHUKLA e YIN, 2006). bombeamento do resíduo dentro de tubos
Os mais comuns são antioxidantes, têxteis a velocidades controladas com o
eliminadores de ácidos, desativadores de íons objetivo de reter a porção sólida do resíduo
metálicos, estabilizadores de UV, lubrificantes, permitindo a passagem da parte fluida (filtrado),
plastificantes, agentes de enchimento e esmaltes resistindo também à elevadas pressões a que
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podem estar submetidos (GUIMARÃES; Após estas etapas preliminares foi


URASHIMA e VIDAL, 2014; GUANAES, implantada uma estação piloto de disposição e
2009). desaguamento de resíduos de ETA, na SAAE
A viabilidade deste sistema ao se utilizar em Elói Mendes, de forma a possibilitar a
geotêxteis se deve ao ótimo desempenho de posterior exumação e análise destes sistemas em
suas propriedades enquanto filtro, pois quatro tempos distintos, permitindo estimar os
permitem a retenção das partículas sólidas ao efeitos ao longo do tempo dos fatores de
mesmo tempo em que admitem a livre degradação, tais como intemperismo, ataque
passagem do fluido presente, propiciando o químico, hidrólise, choque térmico, entre
desaguamento do resíduo e a consequente outros, sob os sistemas fechados de
redução de volume (GUANÃES, 2009). desaguamento. A Figura 2 apresenta um
As propriedades mecânicas e hidráulicas dos fluxograma com a sumarização das principais
geotêxteis tornam possível a desidratação etapas metodologicas.
mesmo para lamas finas, com alta resistência
específica à filtração. Nestes casos, muitas
vezes é necessário condicionar o lodo
quimicamente antes de realizar o desaguamento.
Uma maneira rápida e econômica de uma
análise preliminar sobre o condicionante e
dosagem a ser empregado seria pelo método do
cone (GUIMARÃES; URASHIMA e VIDAL,
2014; LAWSON, 2008).
Sendo assim, a técnica de desaguamento de
resíduos ou rejeitos com alto teor de líquido em
relação ao teor de sólidos com emprego de
geotêxteis tem se apresentado nos últimos anos
como uma solução eficiente e viável do ponto
de vista técnico e econômico na redução de
volume e disposição final do material
desaguado (LAWSON, 2008).

3 METODOLOGIA

O desenvolvimento da pesquisa reuniu ensaios Figura 2. Etapas metodologicas da pesquisa.


de campo e ensaios laboratoriais. Inicialmente
foram realizados ensaios de caracterização 3.1 Materiais Empregados
física (massa por unidade de área, NBR ISO
9862:2013 e espessura NBR ISO 9863-1:2013) Foram avaliados dois geotêxteis tecidos de
mecânica (resistência à tração, ASTM D 5035: monofilamento com matriz polimérica de
2011) dos geotêxteis utilizados na confecção polipropileno (GT1, GT2). G1 e G2 diferem,
dos sistemas fechados. Em seguida, realizou-se principalmente, em relação ao nível de antiUV
a verificação do tipo, da concentração e do tipo HALS constituintes de sua estrutura.
dosagem mais adequada do aditivo polimérico Para a realização dos ensaios de
para o condicionamento químico do resíduo da desaguamento em SFG utilizou-se resíduo
ETA em estudo, por meio de ensaio de cone (lodo) da Estação de Tratamento de Água
(LAWSON, 2008). (ETA) do Sistema Autônomo de Água e Esgoto
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(SAAE) da cidade Elói Mendes (Minas Gerais –


Brasil). O resíduo era proveniente das descargas
dos decantadores e limpeza dos filtros, que são
realizadas diariamente. A ETA trabalha com
processo de potabilização de ciclo completo e o
sulfato de alumínio é usado como condicionante
químico.

3.2 Ensaio de Exposição de Campo


Figura 3. Amostra de um SFG em processo de
Os ensaios de intemperismo climáticos em desaguamento sendo preparada para exposição em
campo foram realizados nas dependências do campo.
SAAE de Elói Mendes, onde também foram
realizados os ensaios de desaguamento. A
região tem latitude de -21,6093º, longitude de -
45,5679º e está a 896,00 metros acima do nível
do mar.
Os ensaios de degradação por intemperismo
climático em campo foram realizados segundo
prescrições das normas ISO 877-1 (2009) e ISO
877-2 (2009), com ensaios de exposição do tipo
aberta. Os pórticos possuem inclinação de 22º
em relação à horizontal, correspondente ao Figura 4. Ensaio de exposição em campo.
valor próximo à latitude do local de exposição e
orientação para o Norte, ou seja, face ao As amostras foram expostas no dia 30 de
Equador, de forma a garantir que as amostras maio de 2016 e a cada dois meses ocorria a
estarão recebendo a maior incidência de retirada de um conjunto de 4 amostras
radiação solar (ISO 877-1, 2009, ISO 877-2; (exposição em pórtico e bolsas dos tipos GT1 e
2009). O pórtico para exposição foi constituído GT2) para análise da degradação, feita por meio
por tela metálica galvanizada com malha de da comparação de ensaios de tração das
3cm x 3cm. amostras instaladas em campo e seus
Além das amostras fixadas nos pórticos, respectivos valores das amostras intactas.
foram colocados em exposição os sistemas Nos tempos de exposição monitorou-se a
fechados de geotêxteis, do tipo bolsas com medida diária das flutuações de temperatura na
mangote para o preenchimento com lodo superfície dos geotêxteis e os principais
(Figura 3), também voltadas para o Norte, sobre elementos meteorológicos do período: radiação
paletes de madeira para permitir o solar total (MJ/m2), temperatura média (ºC),
desaguamento, além de evitar o contato direto umidade relativa do ar média (%) e precipitação
com o solo. A Figura 4 ilustra todas as amostras acumulada (mm), por meio de estação
em exposição. meterologica. As leituras na superfície dos
Os geotêxteis foram avaliados em quatro geotêxteis foram feitas no início da manhã,
períodos distintos, dando-se início ao ensaio de início de tarde e início de noite, com o auxílio
desaguamento com as bolsas, à instalação dos de um termômetro de infravermelho.
pórticos e exposição das amostras. A cada dois meses um conjunto de amostras
foi retirado, contendo amostras expostas no
pórtico e bolsas com diferentes níveis de anti
UV. Prepararam-se os corpos de prova das
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amostras de cada retirada e analisou-se a 4.2 Condicionamento Químico do Lodo


resistências à tração para inferência sobre a
degradação. Por meio de ensaios de cone, os resultados
obtidos nestes ensaios, com cinco
condicionantes (C-494, A-100, A-110, A-130,
4 RESULTADOS A-150) em diferentes concentrações e dosagens,
demostrou que o aditivo polimérico que
4.1 Caracterização dos Geotêxteis apresentou melhor desempenho, com menor
turbidez e alto volume de percolado, foi o A-
As Tabelas 1 e 2 apresentam resultados da 130 a 0,2% e dosagem de 40mL/L. Entretanto,
caracterização física e mecânica dos geotêxteis visando um melhor custo benefício, foi
tecido de polipropileno utilizado no estudo, escolhido fazer uso do mesmo, porém à 0,1% e
ressaltando que os geotêxteis GT1 e GT2 com dosagem de 20mL/L de lodo.
possuem constituição similar, diferenciando-se
por apresentarem níveis diferentes de antiUV, 4.3 Degradação de Campo
ou seja, GT1 com nível N1 de antiUV e GT2
nível N2 de antiUV do tipo HALS, sendo N1 > As datas de cada retirada bem como a
N2. quantidade de dias de acordo com as estações
do ano são elucidadas na Tabela 3. A Tabela 4
Tabela 1. Caracteriticas físicas dos geotêxteis. apresenta os dados de radiação ultravioleta
Tipo Espessura nominal Massa por unidade de estimada em função da radiação global e de
(mm) área (g/m2)
1 dados de precipitação para os períodos de
GT1 0,90 2671
(2,30%) 2
(1,10%)2 exposição em campo.
1
GT2 0,88 2621
2
(2,80%) (1,17%)2 Tabela 3. Intervalos de exposição da pesquisa.
1 2
Valor médio, Coeficiente de variação. Exposição Período Estações
Out. Inv. Prim. Ver.
Tabela 2. Características mecânicas dos geotêxteis.
I 30/06/16 22 42
Resistência à tração Resistência à tração
64 dias a
longitudinal transversal
31/08/16
Tipo (kN/m) (kN/m) II 30/06/16 22 93 12
1 1 127 dias a
GT1 58,70 71,60
(2,8%)2 (3,8%)2 01/08/16
GT2 57,201 56,001 III 30/06/16 22 93 74
2
(2,9%) (2,9%)2 189 dias a
1 2 04/12/16
Valor médio, Coeficiente de variação.
IV 30/06/16 22 93 90 52
Verificou-se que resultados obtidos nos 257 dias a
10/02/17
ensaios de resistência à tração (kN/m), no
sentido longitudinal de fabricação apresentaram
Tabela 4 – Dados metereológicos dos períodos de
menores valores de coeficientes de variação em exposição.
comparação aos valores no sentido transversal
para o GT1, enquanto que para o GT2 o Intervalo Radiação UV Precipitacão
Exposição Acumulada (MJ/m²) Acumulada (mm)
coeficiente de variação foi o mesmo, como
mostra a Tabela 2. Sendo assim, para a I 53,37 121,00
realização dos ensaios propostos, adotou-se o II 130,19 133,00
corte das amostras no sentido longitudinal de III 218,95 921,00
fabricação. IV 317,56 985,00
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As Tabelas 5 e 6 apresentam as temperaturas


médias aferidas nas amostras expostas nos
pórticos e bolsas, respectivamente, ambas em
relação as temperatuas medidas pela estação
meteorológica.

Tabela 5 - Temperaturas médias aferidas nas amostras


expostas no pórtico e pela estação meteorológica.
Estação
Exposição tipo
Meteorol.
pórtico
(EM)
Períodos
Temp. Temp. % em relação
média (ºC) média (ºC) à EM
Figura 5. Resistências à tração após exposição em
manhã 10,57 2,50 24% pórtico. aos respectivos índices de radiação UV em
campo.
I tarde 21,78 46,77 215%

noite 23,22 14,25 61%


Tabela 6 - Temperaturas médias aferidas nas bolsas
manhã 12,32 5,76 47% expostas e pela estação meteorológica.
Estação
Exposição tipo
II tarde 23,01 46,49 202% Meteorol.
bolsa
Períodos (EM)
noite 24,90 15,94 64% Temp. Temp. % em relação
média (ºC) média (ºC) à EM
manhã 16,66 13,31 80%
manhã 10,57 2,22 21%
III tarde 24,18 48,20 199%
I tarde 21,78 48,10 221%
noite 25,54 18,54 73%
noite 23,22 14,78 64%
manhã 17,60 16,92 96%
IV tarde 25,09 44,81 179% manhã 12,32 5,74 47%

noite 25,45 24,40 96% II tarde 23,01 48,76 212%

noite 24,90 16,77 67%


4.4 Degradação após Exposição em Campo manhã 16,66 13,94 84%

A Figura 5 mostra a contínua redução da III tarde 24,18 52,00 215%


resistência mecânica das amostras do tipo noite 25,54 19,69 77%
pórtico dos dois geotêxteis contemplados na
pesquisa: GT1 e GT2, de acordo com o nível de manhã 17,60 18,63 106%
radiação UV recebido por elas. IV tarde 25,09 48,45 193%
A Figura 6 mostra a contínua redução da noite 25,45 27,20 107%
resistência mecânica das bolsas após ensaios de
desaguamento e exposição climática, tanto GT1
quanto GT2, de acordo com o nível de radiação
UV recebido por elas.
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mais significativos do que o efeito da sinergia


do resíduo de ETA, visto que a inclinação do
pórtico garante a maior incidência de radiação
na amostra.
Diante do que foi visto, é possível verificar a
importância dos estudos com respeito a
degradação dos geossintéticos, visto que seu
envelhecimento pode acarretar perdas
mecânicas e gerar efeitos negativo à integridade
do mecanismo em que é usado. Portanto, para
uma aplicação satisfatória, é de suma
Figura 6. Resistências à tração após exposição das bolsas importância conhecer composição química do
aos respectivos índices de radiação UV em campo. material a ser empregado e suas propriedade
físicas, bem como o local onde ele será
De modo geral, os resultados de perdas de empregado e por quanto tempo ficará exposto a
resistência à tração, nos tempos referenciados intempéries, devido aos efeitos sinergéticos que
na Tabela 3, foram; GT1 - SFG: 8, 18, 20 e podem ocorrer. Sendo assim, o trabalho
23%, e no pórtico 12, 18, 25 e 27%; GT2 – contribui para o estado da arte em relação à
SFG: 10, 18, 18 e 23%, no pórtico 9, 22, 28, durabilidade dos sistemas em estudo, uma vez
31%. que esse assunto é uma preocupação reportada
constantemente por projetistas e pesquisadores.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
AGRADECIMENTOS
Na pesqusia avaliou-se o desempenho de dois
tipos de geotêxteis, que diferem entre si devido A empresa HUESKER Ltda, pela fabricação e o
ao nível de anti UV, após contato com lodo de fornecimento de materiais específicos para o
ETA durante desaguamento, utilizando-se de desenvolvimento da pesquisa. A Universidade
bolsas geotêxteis para prototipagem de uma Federal de Ouro Preto e ao Centro Federal de
estação de tratamento de resíduos. Para tanto Educação Tecnológica de Minas Gerais ao
monitorou-se a variáveis climáticas durante apoio laboratorial para realização da pesquisa.
quatro tempos distintos de exposição tanto das A Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas
bolsas como de amostras dispostas em pórticos. Gerais (FAPEMIG).
Após ensaios de resistência à tração das
amostras expostas foi possível fazer um
comparativo de sua resistência mecânica em REFERÊNCIAS
relação ao seu valor nominal, permitindo inferir
sobre a degradação ocorrida nas amostras. AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND
Verificou-se que o geotêxtil GT1, com MATERIALS. ASTM D 5035 (2011) Standard Test
Method for Breaking Force and Elongation of Textile
maior nível de antiUV, apresentou menor perda
Fabrics (Strip Method), ASTM International,
de resistência do que o GT2, tanto nas bolsas, Pennsylvania.
quanto nos pórticos. Além disso, observou-se ______. ASTM D 5819 (2005) Standard Guide for
que não houve um percentual de perda maior Selecting Test Methods for Experimental Evaluation
nas bolsas devido as possíveis interações entre o of Geosynthetic Durability. ASTM International,
Pennsylvania, 2005.
lodo e o material polimérico, permitindo-se
Andreoli, C.V. (coord.) (2001) Resíduos Sólidos do
cogitar que dentro do período avaliado, o Saneamento: Processamento, Reciclagem e
envelhecimento por meio das flutuações Disposição Final, Rima/ABES/PROSAB, Rio de
térmicas e incidência de radiação solar foram Janeiro, Rio de Janeiro, BR, 282 p
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Sistemas Fechados de Geotêxtil Empregados no Desaguamento de


Resíduos de Estação de Tratamento de Água: Estudo de Caso
Beatriz Mydori Carvalho Urashima
Universidade Federal de Lavras, Lavras, Brasil, urashimabeatriz@gmail.com

Denise de Carvalho Urashima


Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Varginha, Brasil, urashima@cefetmg.br

Saulo Rocha Ferreira


Universidade Federal de Lavras, Lavras, Brasil, ferreira.sr@hotmail.com

Valentina Mendes Álvares


Universidade Federal de Lavras, Lavras, Brasil, valentinamendes93@gmail.com

Marina Botelho Barbosa Lima


Universidade Federal de Lavras, Lavras, Brasil, marinabblima@gmail.com

João Pedro Goulart Cintra


Universidade Federal de Lavras, Lavras, Brasil, joaogoulart125@hotmail.com

RESUMO: O artigo avalia o condicionamento químico de lodo gerado na potabilização de água, por
meio da análise de dois polímeros aniônicos e dois catiônicos, com uma concentração e duas
dosagens distintas, para viabilizar o desaguamento do lodo em dois protótipos de sistemas fechados
de geotêxteis de 50 cm x 50 cm e capacidade aproximada de 35 litros cada, preenchidos com uma
pressão de 5 kPa, cada um com 75 litros retirados de uma amostra única. O polímero que obteve o
melhor desempenho foi o catiônico C496. Os resultados obtidos foram promissores: teor de sólidos
médio inicial - 0,6% e após dez dias - 10,1% e aproximadamente 90% do volume inicial de lodo foi
convertido em percolado, sendo necessários trabalhos futuros que realizem análises para a
orientação de seu reaproveitamento. A relevância do artigo se dá aos impactos ambientais que o
descarte indevido desse tipo de resíduo pode gerar.

PALAVRAS-CHAVE: Desaguamento, geotêxtil, lodo, resíduo.

1 INTRODUÇÃO federais e estaduais que restringem o


lançamento desses, no Brasil, poucas estações
Os resíduos gerados no processo de de tratamento têm apresentado soluções para
potabilização da água são produzidos em grande minimizar a quantidade destes resíduos, seu
quantidade e quando dispostos no meio tratamento e correta disposição.
ambiente causam prejuízos, tais como: a Uma solução viável e eficiente do ponto de
contaminação do solo e dos mananciais vista técnico e econômico é o uso de geotêxteis
urbanos, o assoreamento dos cursos d’água e o no desaguamento de resíduos gerados na
agravamento da escassez de recursos hídricos potabilização da água (CANTRÉ, 2006;
para abastecimento (ANDROLI et al., 2001). CANTRÉ e SAATHOFF, 2011; MOO-
Entretanto, apesar da existência de leis YOUNG e TUCKER, 2002;
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MUTHUKUMARAN e ILAMPARUTHI, Foram empregados corpos de prova do


2006). Esse sistema possibilita a redução de geotêxtil avaliado na pesquisa, o qual era
volume e aceleração da disposição final do específico, principalmente, para função de
material desaguado. Assim sendo, sistemas filtração, com 30 cm de diâmetro, mostrados
fechados de geotêxtil vêm sendo empregados pela Figura 1, bem como uma amostra única de
nos últimos anos com resultados promissores no lodo, de forma a mitigar a variabilidade inerente
sentido de desaguar ou desidratar resíduos que do resíduo em estudo.
possuem elevado percentual de líquido em Para o ensaio de cone, montou-se o esquema
relação ao percentual de sólidos, por exemplo, demonstrado na Figura 2. O gotejamento do
lodos de Estação de Tratamento de Água – ETA lodo sobre o filtro em forma de cone foi
(LAWSON, 2008; YEE e LAWSON, 2012). observado, tomando como base a literatura
Contudo, o lodo é constituído de partículas (GUIMARÃES, URASHIMA e VIDAL, 2014;
carregadas eletricamente que tendem a se LAWSON, 2008), dez minutos de ensaio, sendo
repelir, podendo gerar a colmatação do meio observados: a turbidez do percolado final, seu
filtrante ou ainda um filtrado de má qualidade volume, assim como o teor de água do resíduo
(GUANAES, 2009). restante sobre o geotêxtil.
Assim sendo, é necessário condicionar o
lodo quimicamente, de tal forma a permitir a
formação destes flocos de partículas sólidas e
possibilitando a concepção de um percolado de
qualidade, possível de ser reutilizado. Por
conseguinte, tem-se a redução do impacto no
meio ambiente (GUIMARÃES, URASHIMA,
VIDAL, 2014).

2 METODOLOGIA

Para o desenvolvimento desta pesquisa foram Figura 1. Corpos de prova de geotêxtil com diâmetro de
contemplados ensaios de laboratório e de 30 cm cada.
campo, ou seja, ensaio de cone para avaliação
do condicionante químico do lodo gerado na
Estação de Tratamento de Água – ETA da
Universidade Federal de Lavras – UFLA, bem
como o desaguamento do lodo em campo, por
meio de protótipos de sistemas fechados de
geotêxtil, numa adaptação da Norma ASTM D
78870 (2013).
O primeiro ensaio realizado foi o
condicionamento químico do lodo amostral, por
meio do ensaio de cone. Para tal, foram testados
os polímeros do tipo A110, A150, C492 e
C496, sendo os dois primeiros aniônicos e os
dois últimos catiônicos, na concentração de 2%
e dosagens de 20mL/L e 30mL/L. Sendo Figura 2. Sistema do ensaio de cone da pesquisa.
empregado, para cada ensaio de cone, 500 mL
de lodo. A observação do comportamento do lodo
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com o condicionante químico, por meio do capacidade aproximada de trinta e cinco litros
ensaio de cone, foi de fundamental importância cada, conforme ilustra a Figura 4, foram
na determinação do condicionante adequado e preenchidas com setenta e cinco litros do lodo
dosagem do mesmo, dentro dos condicionantes da amostra única, já condicionado
disponíveis para a pesquisa. quimicamente com o polímero escolhido por
Posteriormente, calculou-se os teores de água meio das análises do ensaio de cone.
(W) e de sólido (ρ) em percentuais para avaliar Esta etapa foi realizada manualmente, com
a eficiência de cada polímero, utilizando-se das uma pressão de queda de cerca de 5 kPa, tal
Equações 1 e 2, respectivamente. como demonstrado pela Figura 5. A
metodologia empregada foi uma adaptação da
w (%) = Mw x 100 (1) ASTM D 7880 (2013), na qual é empregada
Ms uma altura de queda que equivale
aproximadamente 7,5 kPa. Tal fato se deu
ρ (%) = Ms x 100 (2) devido à conformação do condicionamento
Mt químico do lodo, frente aos aditivos poliméricos
disponíveis para a pesquisa apresentada.
Sendo Mt, a massa do geotêxtil mais lodo
antes da realização do ensaio, Ms a massa após
vinte e quatro horas em estufa com temperatura
entre 105±5ºC e Mw, a massa de água, ou seja a
diferença Mt – Ms.
Em seguida, um reservatório de cerca de
duzentos litros, mostrado na Figura 3, foi
preenchido com o lodo retirado da ETA da
UFLA no dia 24 de julho de 2017, com o
objetivo de obter uma amostra única
representativa do mesmo.

Figura 4. Protótipos de sistemas fechados de geotêxtil


para desaguamento.

O desaguamento foi observado durante um


tempo total de dez dias, ou seja, após trinta
minutos do início do ensaio, três e dez dias,
foram coletadas três amostras do lodo em cada
tempo, de cada bolsa, para calcular o teor de
sólidos e o teor de água. Além disso, analisou-
se o volume, a turbidez, entre outros aspectos
do percolado formado.
Figura 3. Reservatório utilizado para coleta de amostra Ressalta-se que foram empregados dois
única na ETA da UFLA. protótipos, denominados de réplica 1 e 2,
realizando uma repetição autêntica de todas as
Dois protótipos de sistemas fechados de etapas, de forma a avaliar existência de erros
geotêxteis, com dimensões de 50cm x 50cm e sistemáticos, para que somente os erros
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aleatórios (flutuações), inerentes aos dosagem de 20 mL/L.


procedimentos experimentais fossem
admitidos, viabilizando que estes fossem Tabela 1. Resultado ensaio de cone: polímero C496,
tratados e avaliados por ferramentas estatísticas concentração 2% e dosagem 20 mL/L.
Polímero C496 Dosagem
(BARROS NETO, SCARMINIO e BRUNS,
2001). Concentração 2% 20 mL/L Média
Réplica 1 2

Vol. percolado (mL) 385,00 400,00 392,50


2,70%*
Massa total (g) 102,05 104,66 -
Massa seca (g) 5,03 5,23 -
Massa de água (g) 97,02 99,43 -
Teor de água 1.928,83 1.901,15 1.914,99
calculado (%) 1,02%*
Teor de sólidos 4,93 5,00 4,96
calculado (%) 0,97%*
*
Coeficiente de variação.

Tabela 2. Resultado ensaio de cone: polímero C496,


concentração 2% e dosagem 30 mL/L.
Polímero C496 Dosagem

Figura 5. Processo manual de preenchimento das bolsas. Concentração 2% 30 mL/L Média


Réplica 1 2
Assim sendo, por meio desta simulação de
desaguamento em escala reduzida, foi possível Volume percolado 420,00
410,00 430,00
investigar a viabilidade da utilização de (mL) 3,37%*
sistemas fechados de geotêxtil na ETA da Massa total (g) 91,47 103,76 -
UFLA.
Massa seca (g) 3,07 6,28 -

Massa de água (g) 88,40 97,48 -


3 RESULTADOS
Teor de água 2.215,86
2.879,48 1.552,23
A Tabela 1 apresenta os resultados obtidos calculado (%) 42,35%*
no ensaio de cone com a utilização do polímero Teor de sólidos 4,71
catiônico C496 na concentração de 2% e 3,36 6,05
calculado (%) 40,38%*
dosagem de 20 mL/L. *
Coeficiente de variação.
Ressalta-se ainda que, a amostra única de
lodo, empregada em todos os ensaios realizados
durante esta pesquisa, possuía teor de sólidos de A Tabela 4 apresenta os resultados obtidos
0,62%. no ensaio de cone com a utilização do polímero
A Tabela 2 apresenta os resultados obtidos C492 na concentração de 2% e dosagem de 30
no ensaio de cone com a utilização do polímero mL/L.
catiônico C496 na concentração de 2% e Para o polímero aniônico A150, não são
dosagem de 30 mL/L. apresentados valores para a dosagem de 20
A Tabela 3 apresenta os resultados obtidos mL/L em uma concentração de 2%, devido a
no ensaio de cone com a utilização do polímero não ocorrência de mudanças visuais
catiônico C492 na concentração de 2% e significativas. Para a concentração de 2% e
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dosagem de 30 mL/L deste polímero aniônico, sólidos do lodo com ao longo do tempo de
os resultados estão apresentados na Tabela 5. ensaio.
Os resultados relativos a concentração de 2%
nas dosagens de 20 mL/L e 30mL/L para o Tabela 4. Resultado ensaio de cone: polímero C492,
polímero aniônico A110 não são apresentados concentração 2% e dosagem 30 mL/L.
Polímero C492 Dosagem
devido a floculação insuficiente analisada
Concentração 2% 30 mL/L Média
visualmente. Réplica 1 2
A partir da análise das Tabelas 1 a 5, infere-
se o polímero que resultou no maior volume de Vol. percolado (mL) 405,00 425,00 415,00
3,41%*
percolado, com menor teor de água e maior teor Massa total (g) 96,43 94,25 -
de sólidos no lodo desaguado, ou seja, o mais
Massa seca (g) 3,49 5,00 -
eficaz no processo de floculação do lodo da
ETA da UFLA, foi o polímero catiônico C496. Massa de água (g) 92,94 92,25 -
Ressaltando-se ainda que todos os parâmetros Teor de água 2.663,04 1.845,00 2.254,02
(volume percolado, teor de água e teor de calculado (%) 25,66%*
sólidos), apresentaram coeficiente de variação Teor de sólidos 3,62 5,31 4,47
calculado (%) 26,73%*
menores para a dosagem de 20 mL/L. *
Coeficiente de variação.
Assim sendo, realizou-se ensaios nos
protótipos de sistemas fechados de geotêxtil Tabela 5. Resultado ensaio de cone: polímero A150,
utilizando-se o polímero C496 na concentração concentração 2% e dosagem 30 mL/L.
de 2% e dosagem de 20 mL/L. A Tabela 6 Polímero A150 Dosagem
apresenta as médias dos resultados obtidos para Concentração 2% 30 mL/L Média
cada protótipo nos tempos durante o Réplica 1 2
desaguamento. Vol. percolado (mL) 365,00 360,00 362,50
0,98%*
Tabela 3. Resultado ensaio de cone: polímero C492, Massa total (g) 147,19 128,06 -
concentração 2% e dosagem 20 mL/L.
Massa seca (g) 3,83 4,94 -
Polímero C492 Dosagem
Concentração 2% 20 mL/L Média Massa de água (g) 143.36 123,12 -
Réplica 1 2 Teor de água 3.117,70
3.743,08 2.492,31
392,50 calculado (%) 28,37%*
Vol. percolado (mL) 395,00 390,00
0,9%* Teor de sólidos 2,60 3,86 3,23
Massa total (g) 105,59 92,93 - calculado (%) 27,58%*
*
Coeficiente de variação.
Massa seca (g) 4,77 3,59 -
Massa de água (g) 100,82 89,34 - Tabela 6. Média dos resultados obtidos durante o
desaguamento.
Teor de água 2.113,63 2.488,58 2.301,11
calculado (%) 11,52%* Protótipo 30 min 3 dias 10 dias
Teor de sólidos 4,52 3,86 4,19 Teor de
calculado (%) 11,14%* 3.489,7 1.381,82 991,67
*
água (%)
Coeficiente de variação. 1 Teor de
sólidos 2,75 6,89 9,93
A Figura 6 mostra a diferença de (%)
consistência do lodo depois de três e dez dias de Teor de
desaguamento com o polímero C496. 4.581,6 1.696,25 911,23
água (%)
O gráfico apresentado na Figura 7 demonstra 2 Teor de
a redução do teor de água do lodo com o
sólidos 2,42 5,74 10,33
desenvolvimento do ensaio. Já o gráfico da (%)
Figura 8 demonstra o aumento do teor de
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A Tabela 7 mostra os valores médios, não de forma determinística, ressaltando o


obtidos durante o desaguemento, dos protótipos emprego de repetição autêntica do processo
1 e 2, assim como os coeficientes de variação experimental.
(C.V.) e os intervalos de confiança (I.C.)
obtidos para os teores de sólidos obtidos nos
tempos avaliados, considerando 95% de
confiança.

Tabela 7. Médias, coeficientes de variação e intervalos de


confiança do desaguamento.
30 min 3 dias 10 dias
Teor de 4.035,7 1.539 951,5
Media água
(%) Teor de 2,6 6,3 10,1
sólidos
Teor de 19,1 14,5 6,0
C.V. água Figura 7. Gráfico representativo dos valores médios de
(%) Teor de 9,0 12,9 2,8 teor de água.
sólidos
I.C. Teor de 2,6±2,1 6,3±7,3 10,1±2,5
(%) sólidos

B
Figura 8. Gráfico representativo dos valores médios de
teor de sólidos.

A água percolada dos protótipos apresentou


aspecto translúcido tal como mostrado na
Figura 9, a qual compara o lodo inicial e o
Figura 6. Diferença de consistências de três (A) e dez dias percolado formado após o desaguamento.
(B) após o inicio do desaguamento.

Por meio da Figura 7, verifica-se que a


quantidade de água presente nos protótipos
reduziu de maneira significativa em um
pequeno intervalo de tempo (trinta minutos
iniciais).
Em termos de teor de sólidos (Figura 8), há
pequenas variações nos valores obtidos entre
cada protótipo, devido às flutuações inerentes
no processo do desaguamento. Por este motivo Figura 9. Comparação entre o lodo inicial e o percolado.
os dados foram tratados de forma estatística e formado após o desaguamento.
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4 COMENTÁRIOS FINAIS
REFERÊNCIAS
Os resíduos gerados no processo de
potabilização da água são produzidos em grande Andreoli, C.V. (coord.) (2001) Resíduos Sólidos do
quantidade e quando dispostos de forma Saneamento: Processamento, Reciclagem e
Disposição Final, Rima/ABES/PROSAB, Rio de
inadequada no meio ambiente provocam Janeiro, Rio de Janeiro, BR, 282 p.
grandes impactos, como assoreamento de cursos ASTM D 7880 (2013). Standard Test Method for
d’água. Determining Flow Rate of Water and Suspended
Os resultados demonstraram que o polímero Solids Retention from a Closed Geosynthetic Bag,
catiônico C496, entre os analisados, foi o que American Society for Testing and Materials, West
Conshohocken, Pennsylvania, USA.
apresentou maior eficiência como floculante. Barros Neto, B. B., Scarminio, I. S., Bruns, R. E. (2001).
Por conseguinte, com a utilização do mesmo, o Como fazer experimentos. Editora da UNICAMP,
sistema fechado de geotêxtil apresentou Campinas, São Paulo, BR.
prósperos resultados devido a boa redução do Cantré, S. (2006). On The Estimation of the dewatering
teor de líquido pela percolação da água contida time in Geosynthetic Tube Dewatering Projects.
University of Rostock, Justus-von-Liebig-Weg 6,
no resíduo e aumento do teor de sólidos. Rostock.
Consequentemente, conduz-se a uma situação Cantré, S. e Saathoff, F. (2011). Design parameters for
de um volume bem reduzido de resíduo a ser geosynthetic dewatering tubes derived from pressure
disposto, bem como a formação de um filtration tests. Geosynthetics International, Vol. 18,
n. 3, p. 90–103.
percolado promissor para reutilização. Ressalta-
Guanaes, E.A. (2009). Análise Laboratorial do
se que o intervalo de confiança empregado para Desaguamento do Lodo Residual de Estação de
análise dos valores dos teores de sólidos torna- Tratamento de Água por Meio de Geossintéticos,
se mais relevante ao longo do tempo, onde as Dissertação de Mestrado, Centro Federal de Educação
variabilidades inerentes ao processo vão sendo Tecnológica de Minas Gerais, 129 p.
Guimaraes, M.G.A.; Urashima, D.C. (2013). Dewatering
estabilizadas.
Sludge in Geotextile Closed Systems: Brazilian
Considerando-se a pertinência e a Experiences, Soils & Rocks, Vol. 36, p. 251-263.
contribuição do tema proposto, sugere-se um Guimarães, M.G.A., Urashima, D.C., Vidal, D.M. (2014).
futuro estudo do lodo seco da ETA da UFLA, Dewatering of sludge from a water treatment plant in
realizando sua caracterização, com o objetivo geotextile closed systems. Geosynthetics
International, Vol. 21, n. 5, p. 310-320.
de propor uma reutilização do mesmo, como,
Lawson, C.R. (2008). Geotextile containment for
por exemplo, na agricultura em cultivos que hydraulic and environmental engineering,
necessitam de concentrações específicas de Geosynthetics International, Vol. 15, p. 384-427.
metais, tais como o alumínio. Também se Moo-Young, H.K., Tucker, W. R. (2002). Evaluation of
recomenda o estudo do percolado para sua vacum filtration testing for geotextile tubes.
Geotextiles and Geomembranes, Vol. 20, n. 3, p. 191-
reutilização. 212.
Muthukumaran, A.E., Ilamparuthi, K. (2006). Laboratory
studies on geotextile filters as used in geotextile tube
AGRADECIMENTOS dewatering. Geotextiles and Geomembranes, Vol. 24,
n. 4, p. 210-219.
Yee, T.W., Lawson, C.R. (2012). Modelling the
A empresa HUESKER Ltda, pelo fornecimento geotextile tube dewatering process. Geosynthetics
de materiais para o desenvolvimento da International, Vol. 19, n. 5, p. 339-353.
pesquisa. A Universidade Federal de Lavras
pelo suporte. Ao Centro Federal de Educação
Tecnológica de Minas Gerais ao apoio
laboratorial para realização da pesquisa.
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Soil Survey: Metodologia Inovadora, no Brasil, adotada pela


CTR-Rio, para Controle de Qualidade da Instalação de
Geomembranas
Priscila Mendes Zidan
Evolui Consultoria Ambiental, Rio de Janeiro, Brasil, priscilazidan@evolui.eco.br

Luiz Paulo Achcar Frigo


Evolui Consultoria Ambiental, Rio de Janeiro, Brasil, luizfrigo@evolui.eco.br

RESUMO: A metodologia de Soil Survey, utilizada para a inspeção de geomembranas, mostra-se


muito adequada para minimizar os riscos de iniciar a disposição de resíduos em uma camada de
impermeabilização danificada. Estudos Canadenses indicam que a densidade de danos por hectare
de geomembranas instalada está em média entre 4-22 furos. O Controle de Qualidade utilizado nos
aterros brasileiros não inclui, porém, esta metodologia ou similar. Tal fato pode não apresentar
consequências perceptíveis no momento, mas que sejam verificadas a longo prazo. O Aterro
Sanitário da CTR-Rio, adotou esta metodologia de monitoramento e os resultados encontrados, após
4 anos de operação, indicaram densidades de furos variando entre 0,5 e 8 danos/hectare, para cerca
de 310.000 m2 de área inspecionada. Todos os danos identificados puderam ser reparados antes no
início da disposição dos resíduos.

PALAVRAS-CHAVE: Danos na geomembrana, controle de qualidade, inspeção,


impermeabilização, aterro sanitário.

1 INTRODUÇÃO a verificação de sua integridade após a


instalação e antes da disposição dos resíduos
A partir do estabelecimento da Política torna-se fundamental.
Nacional de Resíduos Sólidos (1), no Brasil, em
agosto de 2010, foi definido o prazo para o Atualmente, no Brasil, o método de Controle
encerramento de todos os lixões no país. Apesar de Qualidade da instalação da geomembrana
de esta meta ter sido recentemente prorrogada mais utilizado é a inspeção da solda (costura).
(2)
, um número expressivo de lixões foi
encerrado, dando lugar a implantação de aterros Este método, porém, inspeciona apenas um
sanitários licenciados. pequeno percentual em área da geomembrana
instalada, não identificando possíveis danos
Apesar de a normatização que estabelece os causados por outras origens que não a solda.
padrões para licenciamento de aterros (3, 4) não
definir a implantação de geomembrana em sua Além disso, esse teste não inspeciona a
base, este requisito tornou-se exigência mínima geomembrana após a implantação do solo de
pelos órgãos ambientais. cobertura, etapa onde ocorre a maioria dos
danos, devido a utilização que equipamentos
Considerando que a geomembrana é pesados na construção do liner e aplicação
utilizada como o principal agente efetiva de carga sobre a geomembra.
impermeabilizante que irá impedir a
contaminação do solo e das águas subterrâneas, O Resultado de estudos estatísticos
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desenvolvidos no Canadá (5), a partir do dados


de monitoramento dos vazamentos em No Brasil, a metodologia do Soil Survey já
geomembranas, em 89 projetos ao longo de 10 foi incluída como controle de qualidade da
anos (2.652.000 m2 de área), identificou que: implantação do aterro sanitário da CTR-Rio, em
Seropédica.
• A densidade de danos encontrados nas
geomembranas instaladas varia, em média entre A adoção de tal prática representa uma
4 e 22 danos por hectare. Esta variação depende segurança relevante para o órgão ambiental,
do nível de controle de qualidade adotado na para o empreendedor responsável pela operação
instalação da geomembrana. do aterro, para as indústrias que dispõem seus
resíduos nos aterros.do artigo.
• 73% dos danos causados ocorreram durante a
aplicação do solo de cobertura sobre a
geomembrana; 24% ocorreu durante a 2 METODOLOGIA
instalação da geomembrana e somente 2% dos
danos ocorreram após a fase de implantação. O aterro sanitário estudado possui quatro
camadas de impermeabilização: 0,50 m de
• Ao contrário do que o consenso atual argila compactada, geocomposto bentônico
reconhece, a maior parte dos danos não ocorre (GCL), manta de 1,5 mm de PEAD (Polietileno
devido a procedimentos inadequados de solda de Alta Densidade) e, outra manta, do mesmo
material, com 2 mm de espessura. O
espaçamento entre as mantas é feito pela
A norma ASTM D7007 (Standard Practices aplicação de uma camada drenante, constituída
for Electrical Methods for Locating Leaks in por 20 cm de areia e tubos de PEAD perfurado,
Geomembranes Covered with Water or Earthen os chamados drenos testemunhos e 15 cm de
Materials) (6), estabelece metodologia adequada argila (logo abaixo da manta de 2 mm). A
e muito difundida fora do Brasil, para controle primeira camada de geomembrana, a de 2 mm
de qualidade da geomembrana após a aplicação de espessura, é ainda recoberta por uma camada
da camada de cobertura: o Soil Survey e o de 0,50 m de solo compactado, a qual é
Water Survey (pesquisa em geomembranas chamada de selo mecânico.
cobertas por solo e água, respectivamente).
No caso de qualquer vazamento de chorume
Tratam-se dos métodos elétricos para a pela primeira geomembrana (a mais próxima da
inspeção de geomembranas cobertas (com solo camada de resíduos), o chorume irá escoar pela
ou água, por exemplo). O princípio deste camada drenante, sendo coletado através do
método é a aplicação de uma diferença de dreno testemunho (tubos de PEAD).
potencial através do material plástico para
identificar se há alguma passagem de corrente, Na camada de 15 cm de argila, estão
o que caracterizará que existe dano. Com o uso implantados eletrodos que são utilizados para o
do método, consegue-se localizá-lo e promover monitoramento de vazamentos na geomembrana
o reparo antes da aplicação dos resíduos (9). após o início da disposição dos resíduos. Estes
eletrodos, porém, não são utilizados para a
Os métodos elétricos para inspeção de realização da metodologia do Soil Survey.
geomembranas são requisito obrigatório para
aterros sanitários em alguns locais nos estados O presente estudo avaliou os resultados das
dos Estados Unidos, como é o caso de dos inspeções por Soil Survey, desenvolvidas na
Estados de Nova Jersey e Texas (8). primeira camada de geomembrana, ou seja, na
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de 2,0 mm de espessura e que fica logo abaixo implantação da manta, em pontos pré-definidos
do selo mecânico e representa a primeira pelo localizados na geomembrana.
barreira de impermeabilização que poderá ter
contato com o lixo e chorume da célula. Durante a inspeção, utiliza-se uma fonte de
tensão ligada a dois eletrodos. O eletrodo fonte
Em virtude da complexidade do é instalado no solo sobre a geomembrana e o
planejamento associados às atividades de eletrodo de retorno será instalado no solo
operação e implantação do Aterro Sanitário da abaixo da geomembrana. A fonte de tensão irá
CTR-Rio, as células de resíduos foram gerar, através do eletrodo fonte, um campo
nomeadas conforme uma codificação específica, elétrico no solo de cobertura. Caso haja furo na
a qual chamaremos genericamente por células geomembrana haverá fuga de corrente elétrica
de A à G. no sentido do eletrodo de retorno localizado sob
a geomembrana.
As áreas referentes à cada uma das células
implantadas e testadas pela metodologia do Soil O monitoramento de toda a área é realizado a
Survey, seguem apresentadas na fig. 1 abaixo. partir da definição de uma malha, através da
qual são feitas as medições de campo. O
Os resultados do presente estudo referem-se espaçamento da malha utilizado foi de 3 m e as
às pesquisas realizadas em aproximadamente 31 medições foram feitas a cada 1,5 m. Os dados
hectares de células implantadas. de campo foram coletados nos medidores
portáveis e, depois transferidos para o software
que realiza a interpolação dos dados e permite
sua avaliação para a localização dos danos.

Figura 1. Identificação e dimensão das células


implantadas que foram submetidas ao monitoramento do
Soil Survey.
Figura 2. Diagrama esquemático que traduz o
A metodologia do Soil Survey consiste na embasamento do método do Soil Survey.
aplicação de uma tensão elétrica através da
geomembrana. Esse tensão elétrica irá produzir
um campo elétrico uniformemente distribuído
quando não existem furos na geomembrana.
Caso existam furos, esses são detectados e
localizados através da identificação de
anomalias no campo elétrico, causado pela fuga
de corrente através desses furos. Essas
anomalias do campo elétrico são identificadas
através das medições realizadas em toda área de
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Figura 3. Técnico realizando as medições em campo,


Figura 5. Classificação e percentual de ocorrência dos
referentes ao Soil Survey.
principais danos encontrados na geomembrana das áreas
inspecionadas pelo Soil Survey.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES Em relação aos tipos de danos encontrados,


os cortes e punções são os que se apresentam
A partir dos resultados obtidos no em maior frequência, sendo seguidos por cortes
monitoramento das células em estudo, irregulares, depois falha na solda da emenda e,
calcularam-se as densidades de danos por por fim, danos por máquinas.
hectares em cada caso. Estabeleceu-se, também,
uma classificação para os danos encontrados, A comparação dos tipos de danos
comparando os mesmos com resultados já encontrados na CTR-Rio e os disponíveis na
divulgados em literatura. Os dados consolidados literatura, segue apresentada na Fig. 6, a seguir
seguem apresentados nos gráficos a seguir:

Figura 6. Frequência de ocorrência dos diferentes tipos de


danos encontrados nas pesquisas de Soil Survey da CTR-
Rio, comparados com aquela identificada na literatura(5)

Nota-se, a partir dos dados acima que, existe


Figura 4. Densidade de danos encontrados em cada uma grande similaridade em relação `a frequência de
das células inspecionadas pelo Soil Survey no CTR-Rio. danos por punção e corte linear na CTR-Rio e
nos demais projetos estudados (5). Já os cortes
De acordo com a Fig. 4, a densidade de irregulares foram mais frequentes na CTR-Rio e
danos foi menor nas áreas A a E, tendo estes as falhas de solda, em muito menor frequência
resultados ficado abaixo da média de danos por dos que as encontradas nos projetos estudados
hectare encontrados nos estudos disponíveis na anteriormente.
literatura (5). Já os resultados do monitoramento
das área F e G, apesar de maiores do que as As fig. 7 e 8, a seguir, apresentam imagens
anteriores, ficaram dentro da média dos projetos de danos que foram identificados ao longo do
estudados (5). monitoramento de Soil Survey, nas células da
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CTR-Rio. A Fig. 7 representa um dano por refere aos tipos de danos. Identificaram-se,
punção de rocha e na Fig. 8, tem-se um dano em porém, melhores resultados médios em relação
solda de emenda entre as geomembranas. `a densidade de danos por hectare, em relação
aos projetos estudados na literatura. Tal fato
deve estar associado ao controle de qualidade
que vem sendo adotado nas atividades de
implantação da geomembrana neste aterro.

Em virtude da realização do monitoramento


do Soil Survey, na primeira camada, a CTR-Rio
teve a oportunidade de reparar 53 danos no
total, distribuídos em torno de 31 hectares, e
evitar futuros vazamentos para a camada
drenante e posteriores camadas de
impermeabilização.

Os dados obtidos demonstram que são reais


Figura 7. Dano causado `a geomembrana durante a e, inerentes `as atividades de implantação, as
instalação.
possibilidades de ocorrência de danos nas
geomembranas de PEAD usadas para a
impermeabilização de aterros. Por este motivo é
que este tipo de monitoramento deveria ser
adotado, pelos aterros brasileiros, `a exemplo da
CTR Rio, como modelo de inspeção para o
controle de qualidade da instalação.

Tal prática, já bastante difundida fora do


Brasil, representa uma inovação no país com
relação ao controle de qualidade de
geomembranas e ação de minimização de riscos
ambientais, inerente às atividades de disposição
final de resíduos..

Figura 8. Falha identificada na solda da emenda entre as


geomembranas.
REFERÊNCIAS

Lei 12.305/2012: Politica Nacional de Resíduos Sólidos


4 CONCLUSÕES Lei 425/2014.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
O controle de qualidade realizado através do TÉCNICAS: NBR 13896 (1987): Aterros de resíduos
método do Soil Survey, se mostrou eficiente em não perigosos - critérios para projeto, implantação e
operação. Rio de Janeiro, Brasil.
identificar danos causados na geomembrana
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
durante sua instalação e cobertura. TÉCNICAS NBR 8419 (1984): Apresentação de
projetos de aterros sanitários de resíduos sólidos
Os resultados do monitoramento da primeira urbanos - procedimento. Rio de Janeiro, Brasil.
camada de geomembrana do aterro sanitário da Forget et al (2005). Lessons Learned from 10 years of
leak detection surveys on geomembranes. Quebec,
CTR-Rio encontram-se compatíveis com os Canada.
padrões disponíveis na literatura, no que se
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ASTM D7007-09 (2009) – Standard Practice for


Electrical Methods for Locating Leaks in
Geomembranes Covered with Water or Earth
Materials
ASTM D6747-02 (2002) - Standard Practices for
Electrical Methods for Locating Leaks in
Geomembranes Covered with Water or Earthen
Materials.
Thiel, R.; Darilek, G.T.; Laine, D.L. (2003) Cutting
Holes for testing vs. testing for holes. GFR Magazine,
June/July 2003.
Laine, D.L.; Darilek, G.T. (1993). Locating Leaks in
Geomembrane Liners of Landfills Covered with a
Protective Soil. Geosynthetics 93 – Vancouver,
Canada – 1403-1412.
Relatórios de Soil Survey, disponibilizados pela CTR-
Rio.
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Soluções em geossintéticos na comunidade Filipeia, João Pessoa,


Paraíba
Camila de Andrade Oliveira
UFPB, João Pessoa, Brasil, camisandrade95@hotmail.com

Hanna Barreto de Araújo Falcão


UFPB, João Pessoa, Brasil, hanna.barreto@hotmail.com

Jorge Luiz de Souza Junior


UFPB, João Pessoa, Brasil, jr29souza@gmail.com

Leonardo Ferreira da Silva


UFPB, João Pessoa, Brasil, leonardo.fesilva21@gmail.com

Fábio Lopes Soares


UFPB, João Pessoa, Brasil, flseng@uol.com.br

Aline Flávia Nunes Remígio Antunes


UFPB, João Pessoa, Brasil, eng.remigio@gmail.com

RESUMO: A expansão dos limites urbanos e os fatores socioeconômicos relacionados vêm, de


modo crescente, contribuindo para o surgimento de áreas de risco de deslizamento de solo. Essas,
por sua vez, são resultado da ocupação de áreas em encostas e taludes que muitas vezes estão
suscetíveis a um processo evolutivo de erosão superficial. Tal cenário solicita a aplicação de
técnicas de engenharia para a preservação do solo, algumas podendo ser bastante onerosas. Nesse
sentido, os geossintéticos surgem como alternativa viável substituindo materiais tradicionais devido
ao custo benefício obtido a longo prazo, a fácil instalação e ao baixo impacto gerado às áreas
adjacentes. No presente trabalho são propostas soluções com o uso de geossintéticos aplicadas a
uma comunidade localizada em uma área de risco da cidade de João Pessoa, Paraíba, de forma a
obter-se o controle dos processos erosivos observados.

PALAVRAS-CHAVE: Risco, Erosão, Soluções, Geossintéticos.

1 INTRODUÇÃO condicionantes da erosão caracteriza um tipo


específico, sendo o mais comum no meio
A urbanização desordenada associada às urbano, a erosão hídrica. Essa, por sua vez,
mudanças climáticas observadas ao longo das pode ser intensificada ou retardada dependendo
últimas décadas tem contribuído para o das características geológicas e
desencadeamento de processos erosivos no geomorfológicas do solo, do grau de
meio urbano (Ojima et al., 2011). A erosão modificação promovido pela ação antrópica,
constitui um processo de desgaste de solos ou clima, vegetação, propriedades físicas e
rochas por fatores naturais, como o ar, a água químicas do solo e do uso e ocupação do
das chuvas, gelo, neve, animais e vegetação, ou mesmo.
por fatores antrópicos, relativos à ação do As áreas suscetíveis a processos de
homem no meio. Cada um dos agentes deslizamentos e inundações compõem um
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cenário cada vez mais comum nas capitais resultando em novas aplicações e materiais
brasileiras, resultando no surgimento de áreas desenvolvidos para fins específicos.
de risco. Segundo o Ministério das Cidades do
Brasil, áreas de risco são “áreas passíveis de
serem atingidas por processos naturais e/ou 2 METODOLOGIA
induzidos, que causem efeito adverso”.
Geralmente, essas áreas são ocupadas pela Este trabalho foi desenvolvido a partir de uma
população economicamente e socialmente revisão bibliográfica acerca do tema proposto,
vulnerável, estando sujeita a danos à integridade tendo sido realizada uma análise de conteúdo
física e/ou perdas materiais. qualitativa, em que foram identificadas as
Diante desse panorama, verifica-se a principais abordagens e aplicações de
urgência na aplicação de soluções de geossintéticos no controle de processos erosivos
engenharia que venham a mitigar os riscos e contenção de deslizamentos. As soluções
inerentes a essa situação. A engenharia, nesse propostas foram aplicadas a comunidade
sentido, torna-se fundamental não apenas à Filipeia que constitui uma área de risco de
aplicação de técnicas e execução de obras de deslizamento de solo localizada na cidade de
contenção, mas, principalmente, no João Pessoa, Paraíba.
desenvolvimento de soluções sustentáveis. “A Foram realizadas visitas a comunidade,
garantia da sustentabilidade em um projeto de inicialmente com o intuito de reconhecer a área
produto envolve o equilíbrio entre três e mapear os pontos críticos da região. A partir
dimensões: econômica, social e ambiental” do mapeamento foi possível identificar duas
(Ferroli & Librelotto, 2016, pg. 178). Dessa regiões críticas, para as quais foram propostas
forma, a sustentabilidade em projetos e obras de soluções compatíveis às suas respectivas
engenharia traduz-se na aplicação de técnicas características.
que procurem se integrar ao meio sem
modificá-lo negativamente, por meio do 2.1 Área de Estudo
desenvolvimento de soluções aplicáveis em
curto prazo, de baixo custo e eficientes ao longo A comunidade Filipeia, localizada no bairro do
da sua vida útil. É nesse contexto, que o Tambiá, na cidade de João Pessoa, Paraíba,
presente trabalho tem por objetivo apresentar desenvolveu-se ao longo das últimas décadas às
propostas de soluções aplicadas a áreas de risco margens da reserva do Parque Natural Lauro
com o uso de geossintéticos. Pires Xavier, criado em 2002, e que constitui
Segundo Farias (2005), as primeiras uma Unidade de Conservação. Segundo
utilizações de geossintéticos no controle de diagnóstico realizado pela Defesa Civil de João
erosão datam do final da década de 60 e início Pessoa nos anos de 2012 e 2013, o qual foi
da década de 70. Apesar de a sua utilização ter disponibilizado pela mesma aos autores, a área
sido iniciada ainda no século XX, nos dias onde atualmente encontra-se a comunidade,
atuais ainda são poucas as obras no Brasil que teve sua ocupação iniciada no fim da década de
utilizam geossintéticos. Os geossintéticos são 90. A propriedade do terreno onde a
materiais poliméricos industrializados, comunidade está instalada é pública, sendo a
utilizados em obras de diversa natureza, sendo ocupação caracterizada como invasão de
principalmente aplicados em obras geotécnicas, propriedade pública. Ainda segundo o
que desempenham funções de reforço, diagnóstico da Defesa Civil, no ano de 2013
impermeabilização, filtração, drenagem, haviam 41 domicílios na comunidade em uma
separação, controle de erosão superficial, entre área de aproximadamente 0,756 hectares.
outras. Trata-se de um produto relativamente
novo que tem sido amplamente estudado em
pesquisas realizadas no Brasil e no mundo,
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3 RESULTADOS SITUAÇÃO 01: Residências posicionadas


sobre a crista do talude
A partir de visitas realizadas na comunidade, foi
elaborado o mapa de risco apresentado na A solução utilizando um sistema de
Figura 1. No mapeamento da região, foram barramentos é proposta para o talude da
observadas residências instaladas em quatro situação 01. Esse sistema de contenção é
situações em relação ao talude que margeia a proposto por Farias (2005). Nessa solução, é
comunidade, caracterizadas de acordo com o sugerida a utilização de geossintéticos
grau de risco encontrado. auxiliando um sistema de contenção, em que
são utilizadas hastes metálicas ou de madeira
fincadas no solo e uma cerca composta por tela
metálica e geotêxtil tecido fixada as hastes.
Esse sistema regula a movimentação do talude,
contendo o solo carreado, gerando uma nova
geometria do mesmo.
Tal solução é justificada pela existência do
Parque Natural Lauro Pires Xavier, sendo,
portanto, o talude recoberto pela vegetação,
impossibilitando o retaludamento completo da
região, visto que seria necessária a retirada da
vegetação do parque que constitui uma área de
preservação ambiental. Além disso, verifica-se
que o parque possui um relevo bastante
acentuado que dificulta a aplicação de soluções
em toda a face do talude.
A execução desse sistema de barramento
requer um diagnóstico inicial para verificar a
produção de sedimentos na região. Farias
Figura 1. Mapa de risco da comunidade Filipeia (2005) sugere que tal verificação seja realizada
durante um período chuvoso. A quantidade de
As soluções propostas contemplam as sedimentos produzidos justificará ou não a
regiões de maior risco, onde são encontradas implantação do sistema de barramentos.
residências instaladas diretamente sobre o Para o dimensionamento do sistema de
talude. Na primeira situação, aproximadamente, barramentos, é necessária a determinação dos
18 residências estão posicionadas sobre a crista parâmetros de estabilidade dos taludes, o
do talude, identificadas pela cor vermelha no dimensionamento das hastes (tipo e material) e
mapa, estando sujeitas a um risco alto de da profundidade em que serão instaladas, a
deslizamento de solo. Na segunda situação, 02 escolha da tela metálica e do geotêxtil a ser
residências estão instaladas numa posição utilizado e a distância entre os barramentos. A
intermediária em relação ao talude que margeia instalação do sistema requer a limpeza da área e
a comunidade, estando sujeitas a deslizamentos da retirada de qualquer material que possa
à montante e à jusante das edificações, comprometer o geotêxtil, devendo ser realizada
identificadas pela cor roxa no mapa, indicando sem a ocorrência de chuvas.
um risco muito alto. A utilização de geossintéticos demanda a
realização de ensaios que permitam caracterizar
parâmetros necessários à sua aplicação. No
sistema de barramento proposto, devem ser
verificados parâmetros físicos (gramatura,
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espessura e porosidade), mecânicos (resistência


à tração) e hidráulicos (permissividade,
transmissividade e abertura de filtração)
(Vertematti, 2004).
Vale ressaltar que a aplicação dessa solução
requer a remoção das residências instaladas. Por
meio de imagens de satélite obtidas pelo Google
Maps, verifica-se o impacto da ocupação no
solo que compõe o talude. Na Figura 2 é
possível observar a diferença na coloração do
solo exposto ao lançamento de águas servidas
pelas residências instaladas sobre o talude.

Figura 3. Parte inferior das residências posicionadas


sobre a crista do talude

SITUAÇÃO 02: Residências instaladas em


posição intermediária em relação ao talude

Como mencionado, na situação 02 são


encontradas residências instaladas em altura
Figura 2. Diferença na coloração do solo devido ao
lançamento de águas servidas e lixo
intermediária do talude. Como pode ser visto na
Figura 4, as edificações encontram-se bem
As águas servidas quando em contato com o próximas à face da encosta que apresenta
solo provocam a contaminação do mesmo e do ranhuras, as quais são indícios de corte do
lençol freático e contribuem para a saturação do talude.
solo, reduzindo a estabilidade do talude. Além
do lançamento de águas servidas, há o depósito
de lixo e entulho sobre a face do talude. Tais
ações contribuem para a ocorrência de
processos de erosão do solo, que tem suas
partículas diariamente carreadas pelas águas
servidas lançadas, além de serem carreadas pela
água da chuva que atingem a região. Além do
impacto sobre o solo da região, há o impacto
direto sobre a vegetação do Parque Natural.
Da Figura 3 observa-se que as residências
posicionadas sobre a crista do talude não se
encontram completamente em balanço, ficando
em parte apoiada sobre o talude. Com a
remoção dessas residências, em parte do topo Figura 4. Talude à montante das residências instaladas
do talude poderia ser construída uma calçada e em posição intermediária em relação ao talude que
uma mureta de proteção. O sistema de margeia a comunidade
barramento proposto seria aplicado à região em
que atualmente estão situadas as residências. A solução proposta ao talude da situação 02
Após a remoção dessas, o sistema de envolve a utilização de geocélulas atuando
barramento proposto auxiliaria no crescimento como reforço do talude à montante das
da vegetação. residências e um sistema de barramentos
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aplicados ao talude inferior ao tabuleiro 4 CONCLUSÃO


ocupado atualmente por duas residências em
risco muito alto. Diante do exposto, foi possível validar a
Devido ao nível de intervenção realizado na utilização de geossintéticos como alternativa ao
segunda situação, a reconstituição do talude por emprego de técnicas tradicionais. A aplicação
aterramento seria bastante onerosa podendo não destes materiais em áreas de risco justifica-se
ser suficiente para a contenção da pela urgência da execução de soluções nessas
movimentação já iniciada. Dessa forma, a áreas, tendo em vista a vulnerabilidade dessas à
solução proposta contempla ainda a criação de ocorrência de desastres que por sua vez
uma área verde, transformando a plataforma constituem uma ameaça latente à vida dos que
ocupada atualmente pelas residências, em um residem na região.
espaço para convivência dos moradores da Além disso, o emprego desses materiais
região e cultivo de ervas e plantas medicinais de apresenta vantagens competitivas aos métodos
pequeno porte numa horta comunitária, tradicionais, pois são de fácil aplicação,
contribuindo para a qualidade de vida da exigindo pouca mão de obra, tempo de
comunidade. A construção de uma mureta para aplicação e custos menores em comparação a
proteção dos moradores é requisito para procedimentos tradicionais que requerem mais
garantia da segurança na área. Na Figura 5 é tempo, mais materiais e consequentemente
apresentada uma modelagem da solução acarretam maiores custos, como é o caso do
proposta. retaludamento e construção de muro de arrimo
em concreto que requer além de um período de
execução da obra maior, um tempo de cura para
desforma do material.

REFERÊNCIAS

CONDEPE/FIDEM - Fundação de Desenvolvimento


Municipal (2004). Manual de Ocupação dos Morros
da Região Metropolitana do Recife, Recife, 335 p.
Disponível em:
<http://www2.condepefidem.pe.gov.br/web/condepe-
fidem/biblioteca-virtual-download1> Acesso em
Figura 5. Modelagem da solução proposta para a situação fevereiro de 2018.
02. Defesa Civil de João Pessoa/PB (2012-2013).
Diagnóstico das Comunidades em Áreas de Risco.
Disponibilizado pela Defesa Civil de João Pessoa/PB.
A aplicação das soluções propostas requer Farias, R.J.C. (2005). Utilização de Geossintéticos em
ainda a execução de obras e serviços de Sistemas de Controle de Erosões, Tese de Doutorado,
saneamento básico na região, que atualmente Programa de Pós-Graduação em Geotecnia,
não dispõe de um sistema de drenagem de Departamento de Engenharia Civil e Ambiental,
águas pluviais. As residências que atualmente Universidade de Brasília, 188 p.
Ferroli, P.C.M.; Librelotto, L.I. (2016). Portal Virtuhab–
localizam-se sobre o talude não são atendidas Sustentabilidade em projetos de engenharia,
com serviço de coleta de esgoto, sendo esse arquitetura e design, DAPesquisa, Vol. 11, p. 176-
despejado numa fossa comunitária. Estudos 190.
complementares tornam-se necessários visando- Marandola Jr. (Org.); Álvaro de Oliveira D’Antona
se a identificação de vazamentos que possam (Org.); Ricardo Ojima (Org.) (2011). População,
ambiente e desenvolvimento: mudanças climáticas e
estar contribuindo para a contaminação do solo urbanização no Centro-Oeste, Campinas: Núcleo de
e a desativação da fossa. Estudos de População-Nepo/Unicamp, Brasília:
UNFPA, 192 p.
Ministério das Cidades – Capacitação em Mapeamento e
Gerenciamento de Risco (2004) Disponível em:
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<http://www.defesacivil.mg.gov.br/images/document
os/Defesa%20Civil/manuais/mapeamento/mapeament
o-grafica.pdf> Acesso em fevereiro de 2018.
Vertematti, J.C. (Coord.), (2015) Manual Brasileiro de
Geossintéticos, 2 ed., Blucher, São Paulo, Brasil.
 

TEMA:  
GEOTECNIA AMBIENTAL 
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A Influência das Raízes na Resistência ao Cisalhamento de um


Solo Arenoso de Origem Aluvionar no Estado do Rio Grande do
Sul
Tiane Maria Jaskulski
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil, tianejas@gmail.com

Jéssica Anversa Venturini.


Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil, jessicaanversa@hotmail.com

Rinaldo José Barbosa Pinheiro


Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil, rinaldo@ufsm.br

RESUMO: O objetivo do trabalho é estudar a influência das raízes na resistência ao cisalhamento


de um solo arenoso de origem aluvionar, localizado no Rio Grande do Sul. Para atingir o objetivo
protosto foram realizados ensaios de cisalhamento direto na condição de umidade natural com
amostras indeformadas e reconstituídas em laboratório sem raízes e com adição de três diferentes
densidades de raízes: RAR (Razão de Área de Raízes) 0,5%, RAR 1,0% e RAR 1,5%, as raízes
utilizadas são provenientes da gramínea esmeralda (Zoysia japonica Steud). Os corpos de prova
reconstituídos foram recriados respeitando os mesmos índices físicos das amostras indeformadas e a
adição das raízes ocorreu de forma manual e aleatória. As amostras indeformadas tiveram um
ângulo de atrito de 30,66°, as reconstituídas sem raízes de 27,72°, já as reconstituídas com raízes
tiveram valores de 40,36° para as taxas de RAR 0,5% e 1,0% e de 42,20° para RAR 1,5%.

PALAVRAS-CHAVE: Ângulo de atrito interno, Ensaio de cisalhamento direto, Raízes, Engenharia


Natural.

1 INTRODUÇÃO Nas intervenções utilizando a Engenharia


Natural a vegetação tem sido utilizada como
Com o avanço das ações antrópicas e o uma ferramenta para auxiliar a recuperação do
consequentemente crescimento desorganizado e solo, controlar a erosão e estabilizar encostas.
com falta de planejamento das áreas urbanas é Proporcionando desse modo, a solução de
comumente realizado o desmatamento de áreas problemas estruturais de estabilização
de proteção ambiental, que possuem diversas geotécnica e hidráulica (SCHIECHTL, 1992;
finalidades, entre elas a estabilidade geológica, SOUSA; SUTILI, 2017).
proteção do solo e conservação das margens dos O aumento da resistência ao cisalhamento do
recursos hídricos. Desse modo, é acelerado os solo é um dos quesitos positivos que as fibras
fenômenos de deslizamentos de encostas e das raízes de vegetações proporcionam. Que
processos erosivos relacionados à retirada da ocorre pela transferência das tensões
cobertura vegetal. Tais fenômenos podem ser cisalhantes, que se desenvolvem na matriz do
evitados ou minimizados realizando-se obras solo, para as fibras, por meio do atrito na
para estabilização das áreas afetadas. Uma das interface ao longo da extensão das fibras que
intervenções que pode ser utilizada é a da estão fixas. Quando o cisalhamento ocorre, a
Engenharia Natural ou Bioengenharia. fibra é deformada causando um alongamento e
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mobilizando a resistência da mesma (GRAY; a processos erosivos, além de receberem


SOTIR, 1996). Desse modo, as raízes das maiores volumes de água precipitada sobre a
vegetações empregadas nas técnicas de superfície do solo (GERSCOVICH, 2016).
Engenharia Natural são selecionadas e A vegetação utilizada em técnicas de
utilizadas para a estabilização dos solos a partir Engenharia Natural exerce papel importante na
dos seus benefícios mecânicos e hidrológicos. estabilidade dos solos ao influenciar em seus
Ainda são poucas as informações aspectos hidrológicos e mecânicos. Tomando
quantitativas que determinem as propriedades como foco principal os aspectos mecânicos, a
técnicas das raízes das vegetações utilizadas nas vegetação gera efeitos na estabilidade de taludes
intervenções de Engenharia Natural, e encostas naturais, como: redução da
principalmente em nível nacional, impedindo susceptibilidade do solo a erosão, alteração da
que as plantas sejam incluídas de maneira mais poropressão, aumento da resistência ao
analítica nos projetos. Desse modo, geralmente cisalhamento do solo, transferência de tensões
o incremento da resistência ao cisalhamento dos resultantes da ação do vento ao talude, suporte
solos proporcionado pelas raízes não são através da ancoragem das raízes em substratos
consideradas nos projetos de Engenharia mais resistentes e sobrecarga nos taludes
Natural, acabando que as vegetações são (GRAY; LEISER, 1982; GREENWAY,1987).
empregadas apenas para os usos com fins Apesar das influências negativas que a
ecológicos, paisagísticos e estéticos (MAFFRA, vegetação pode exercer sobre a estabilidade das
2018). encostas, existem poucos casos publicados em
Desse modo, nota-se que existe, que o efeito negativo da vegetação prevaleça
especialmente para aplicações em obras de sobre seus efeitos positivos (GREENWAY,
Engenharia Natural, a demanda por informações 1987). Em contrapartida, diversos estudos
quantitativas da contribuição das raízes sobre a comprovam o potencial positivo da vegetação
influência da resistência ao cisalhamento do no reforço do solo através de seu sistema
solo (intercepto de coesão e ângulo de atrito radicular (ABE; ZIEMER, 1991; GRAY;
interno). O presente trabalho busca, nesse LEISER, 1982; GOLDSMITH, 2006;
sentido, contribuir em gerar informações que LAWRANCE et al., 1996; SILVA;
melhorem o entendimento desses parâmetros MIELNICZUC, 1997).
analisando as raízes da gramínea esmeralda A vegetação pode contribuir para a
(Zoysia japonica Steud). estabilização de taludes fornecendo reforço
extra pelo seu sistema de raízes e modificando o
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA regime de saturação do solo. As raízes podem
formar uma espécie de ancoragem através do
2.1 Influência da Vegetação na Estabilização solo, podendo ultrapassar camadas mais fracas e
dos Solos criar fixação em solos mais resistentes ou
mesmo em fraturas do embasamento rochoso
A cobertura da vegetação pode produzir efeitos abaixo. As raízes podem também contribuir
favoráveis ou desfavoráveis na estabilização dos para o aumento do imbricamento,
solos, principalmente em encostas. De uma principalmente com raízes mais longas
forma geral, a vegetação protege o solo de (ZIEMER, 1981).
vários efeitos climáticos e as raízes podem Portanto, a vegetação proporciona várias
reforçar o solo, aumentando a resistência do funções técnicas, que podem ser hidrológicas e
sistema solo-raiz. Portanto, há um consenso de mecânicas, além de funções adicionais que
que o desmatamento promove condições podem ser de natureza ecológico-ambientais,
desfavoráveis para a estabilidade dos solos. estéticas e socioeconômicas. A função global
Superfícies desmatadas podem ficar vulneráveis das plantas é o resultado do equilíbrio entre
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diversas funções e efeitos benéficos e adversos. produz um conjunto que é muito mais forte do
A natureza do equilíbrio e, por conseguinte as que qualquer um isoladamente. Este processo é
funções de engenharia que cada planta análogo a sistemas artificiais de reforço do solo,
individualmente desempenha irão depender da onde uma massa de solo é estabilizada pela
sua estrutura e arquitetura. Muitas destas inclusão de materiais metálicos, sintéticos ou
propriedades são sazonais e mudam com a fase naturais (COPPIN, RICHARDS, 2007;
de crescimento, sendo ainda dependentes do MICHEL, 2013; MUNTOHAR 2012; ROCHA
tipo de espécie (SOUSA, 2015). 2014).
Coppin e Richards (2007) destacam que a
2.2 Resistência ao Cisalhamento do Sistema magnitude do reforço gerado no solo depende
Solo-Raiz de diversas condições relacionadas às raízes,
são elas: densidade, resistência à tração,
A resistência ao cisalhamento de um solo pode elasticidade, comprimento, diâmetro,
ser definida como a máxima tensão de rugosidade, alinhamento (angulação) e
cisalhamento que um solo pode resistir antes da orientação. Evidentemente há uma grande
ruptura ou a tensão de cisalhamento do solo no variabilidade destas condições em situações
plano em que estiver ocorrendo à ruptura reais e a quantificação do reforço gerado pelas
(LAMBE; WHITMAN, 1969). raízes depende de algumas condições de
A ruptura por cisalhamento ocorre quando as contorno. Além disso, a Razão de Área de
tensões entre as partículas são tais que deslizam Raízes (RAR) é de extrema importância, pois
ou rolam umas sobre as outras. Portanto, pode- estabelece que a máxima contribuição das raízes
se dizer que a resistência ao cisalhamento à resistência do solo depende da resistência a
depende da interação entre as partículas, e esta tração das raízes e da fração da seção
interação pode ser dividida em duas categorias: transversal do solo, ao longo da superfície
a resistência por atrito e a resistência por potencial de ruptura, ocupada por raízes
coesão, devido ao intercepto coesivo. A coesão (GREENWAY, 1987).
e o atrito são conhecidos como os parâmetros de
resistência ao cisalhamento de solos. Além 3 MATERIAL E MÉTODOS
disso, a resistência ao cisalhamento depende do
imbricamento que se refere à resistência A metodologia do trabalho consiste em realizar
adicional causada pelas diferenças nos arranjos ensaios de caracterização do solo e ensaios de
entre as partículas (GERSCOVICH, 2016). cisalhamento direto para amostras
Conforme Fiori e Carmignani (2009), para indeformadas, reconstituidas sem raízes e com
avaliar a contribuição das raízes na resistência adição de três diferentes taxas de raízes: RAR
ao cisalhamento do solo é necessário considerar 0,5%, 1,0% e 1,5%.
a interação solo-raiz. Nesse tipo de sistema, as As amostras indeformadas e deformadas de
raízes podem ser tratadas como elementos solo utilizadas nos ensaios são provenientes do
flexíveis e elásticos, que, ancorados no solo, distrito de Vale Vêneto, em São João do
ocasionam o aumento da sua resistência. Polêsine, Rio Grande do Sul, localizado nas
As raízes se ancoram ao solo para dar coordenadas: 29°39’08,51”S e 53°31’40,14”W.
suporte à parte aérea da planta e possibilitam ao O local constitui-se de uma área destinada para
solo ter sua matriz reforçada. Os solos são a realização de experimentos do Laboratório de
considerados fortes sob compressão, porém Engenharia Natural da Universidade Federal de
fracos sob tração e, inversamente, as raízes das Santa Maria (UFSM).
plantas são fracas à compressão, mas fortes à Para realizar a caracterização do solo em
tração. Portanto, quando o solo e raízes são estudo foram realizados ensaios de análise física
combinados, a matriz solo-raiz resultante que teve como base os ensaios clássicos da
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Mecânica dos Solos: análise granulométrica solos (intercepto de coesão e ângulo de atrito
(NBR 7181/16); limites de liquidez (NBR interno) foram obtidos pelo critério de Mohr –
6459/16), limite de plasticidade (NBR 7180/16) Coulomb considerando uma envoltória de
e peso específico real dos grãos (NBR 6458/16). ruptura linear.
Possibilitando a classificação do solo conforme As amostras indeformadas foram moldadas
a SUCS (Sistema Unificado de Classificação no local de coleta diretamente nos anéis
dos Solos) e a TRB (Transportation Research metálicos utilizados no ensaio de cisalhamento
Board). Além disso, o solo recebeu a direto e logo após parafinadas para que
classificação através da metodologia MCT conservassem a umidade do solo. Foram
(Miniatura, Compactado e Tropical). A necessárias duas coletas de amostras
preparação das amostras para os ensaios de indeformadas, a primeira ocorreu em agosto de
caracterização foi realizada conforme descrito 2016 e a segunda em outubro de 2017. Foi
na norma NBR 6457/16. necessária a segunda coleta de amostras
Os ensaios para a classificação MCT foram indeformadas, pois a primeira não supriu a
realizados atendendo as seguintes normas do necessidade total de amostras.
Departamento Nacional de Estradas de Os corpos de prova reconstituídos em
Rodagem: DNER-ME 256/94, DNER-CLA laboratório foram recriados a partir das mesmas
259/96, método de ensaio DNER-ME 258/94 características dos corpos de provas
Para a execução do ensaio de cisalhamento indeformados. Para isso foi realizado uma
direto foram seguidos os procedimentos da análise em todas as amostras indeformadas
normativa americana ASTM (American Society coletadas na primeira fase, correspondente a 54
for Testing and Materials) D3080/11. O ensaio amostras, verificando a umidade, peso
de cisalhamento direto utilizou uma caixa específico real dos grãos, peso específico
bipartida, com corpos de provas na dimensão de natural, peso específico aparente seco, índice de
5x5x2 cm, que foi colocada na prensa de vazios, saturação e porosidade do solo. Após a
cisalhamento onde a metade superior do corpo determinação de todos os índices físicos
de prova deslizava em relação à inferior, mencionados foi realizado uma análise e média
mantendo-se um certo espaçamento entre as desses valores. Essa média foi utilizada para a
metades superior e inferior da caixa. Na parte confecção dos corpos de prova reconstituídos
superior e inferior da amostra de solo eram em laboratório, foi considerado aceitável um
colocadas placas metálicas ranhuradas no desvio de 2% acima ou abaixo do valor
sentido perpendicular ao deslocamento, afim de encontrado na média para o peso específico
evitar o deslizamento da amostra e após as natural.
pedras porosas. Para moldar as amostras reconstituídas
A condição das amostras utilizadas nos inicialmente era colocado a amostra de solo na
ensaios foram a natural nas tensões normais de umidade natural, para isso o solo era
9 kPa, 15 kPa, 25 kPa, 50 kPa, 80 kPa, 100 kPa devidamente umedecido misturado com o
e 200 kPa. Para cada tensão foram realizadas auxílio de uma espátula e ensacado por no
três repetições do ensaio de cisalhamento direto, mínimo 24 horas, para a homogeneização do
a fim de obter os resultados através de uma teor de umidade. Após com o auxílio de uma
média, com maior precisão. balança era pesado a quantidade de solo
Na fase de cisalhamento, o corpo de prova correspondente à média de solo existente em
foi cisalhado com velocidade constante de 0,034 cada anel de cisalhamento (92,12 g). Para as
mm/min até atingir o deslocamento horizontal amostras reconstituídas com raízes nessa etapa
de 1,0 cm. Quando este deslocamento era também eram adicionadas as raízes e misturadas
alcançado, a máquina era desligada. Os de forma manual e aleatoriamente com o solo.
parâmetros de resistência ao cisalhamento de Posteriormente os corpos de prova foram
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compactados manualmente com auxílio de um de 9% a 12% o que caracteriza o material como


soquete de madeira, garantindo dessa maneira medianamente plástico (Tabela 1).
que os corpos de prova reconstituídos em
laboratório possuíssem as mesmas Tabela 1. Resultados dos ensaios de peso específico real
características físicas das amostras dos grãos e limite de consistência.
Identificação  LL LP IP
indeformadadas. Para realizar a compactação
(kN/m3) (%) (%) (%)
nos corpos de prova era preenchido com solo o Ensaio 1 26,12 25 16 9
anel metálico e após compactado, em seguida Ensaio 2 26,11 28 17 11
eram realizadas ranhuras na amostra de modo a Ensaio 3 25,63 29 16 12
haver a agregação das duas camadas e finalizada Média 26,06 27 17 11
a compactação.
Para as amostras reconstituídas com raízes Analisando os resultados dos ensaios
foram empregadas as raízes da gramínea granulométricos com e sem o uso de
esmeralda (Zoysia japonica Steud) com defloculante (hexametafosfato de sódio) é
comprimento médio de 2 cm, igual à altura do possível afirmar que o solo não apresenta
corpo de prova e diâmetro médio de 0,5 mm nas partículas do tamanho pedregulho e areia
porcentagens de RAR de 0,5%, 1,0% e 1,5% grossa, predominando a fração de areia
que correspondem respectivamente a 64, 127 e composta por areia média e areia fina,
191 raízes. Para preparar cada corpo de prova correspondente à 67% com o uso do
reconstituído com raízes eram contadas a defloculante e 74% sem utiliza-lo. É possível
quantidade de raízes necessárias e misturadas verificar que os ensaios com o uso de
manualmente e aleatoriamente. A escolha pela defloculante houve maior fração de argila, que
gramínea esmeralda deu-se por essa espécie ser teve como resultado um valor médio de 16%,
amplamente utilizada para revegetação de em contrapartida sem o uso de defloculante a
taludes em obras de engenharia e de modo a média para argila é de 1% da fração total do
propiciar fácil acesso para a retirada das raízes, solo. A diferença no teor de argila com e sem
uma vez que foi mantido em laboratório uma defloculante ocorre devido à formação de
leiva da gramínea. grumos (partículas menores aderidas) nos
ensaios realizados sem o uso de agente
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO defloculante. A curva granulométrica é
apresentada na Figura 1.
4.1 Ensaios de Caracterização Baseado nos parâmetros da classificação
SUCS o solo possui a classificação SC – areia
Os ensaios de caracterização física e argilosa e conforme a TRB o solo é descrito
determinação dos índices físicos que foram como A-4 – solo siltoso com pequena
realizados de acordo com as normas da ABNT e quantidade de material grosso e de argila.
compreendem os ensaios de peso específico real
dos grãos, limites de liquidez (LL), limites de
plasticidade (LP) e análise granulométrica com
e sem o uso do agente defloculante
(hexametafosfato de sódio). Para cada ensaio
foi realizado três repetições.
O peso específico real dos grãos ()
apresentou pouca variabilidade tendo como
resultado médio de 26,06 kN/m³, valor
consistente com a mineralogia de solos
arenosos. O Índice de Plasticidade (IP) variou
Figura 1. Curva granulométrica sem e com defloculante.
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Os ensaios denominados Mini-MCV e o natural (), peso especifico aparente seco (d),
Ensaio de Perda de Massa Por Imersão são os teor de umidade (w), indice de vazios (e) e grau
principais ensaios para a caracterização de solos de saturação (S), correspondentes a 54 amostras
tropicais adotados pela Classificação MCT para coletadas na primeira etapa. A partir desses
solos tropicais. parâmetros foram moldados os corpos de provas
A Tabela 2 apresenta os índices de reconstituídos em laboratório.
classificação obtidos nos ensaios de Mini-MCV
e Perda de Massa por Imersão, bem como a Tabela 3. Índices físicos das amostras indeformadas,
classificação MCT do solo e a Figura 2 utilizados para moldar os corpos de prova reconstituídos.
apresenta o ábaco de classificação MCT com a Valores  d w e S
(kN/m3) (kN/m3) (%) (%)
indicação do solo em estudo. Analisando-se os Média 16,87 14,36 17,25 0,82 57,34
resultados a amostra do solo é classificado Mínimo 14,75 10,89 12,77 0,43 41,80
como LA – areia laterítica, porém muito Máximo 21,45 18,24 23,02 1,08 75,21
próximo dos limites dos grupos NA’ (solo D. Pad. 0,13 0,12 2,33 0,13 9,15
arenoso não lateríticos) e LA’ (solo arenoso C.V. (%) 7,28 8,39 13,15 16,62 45,86
laterítico).
O teor de umidade médio do solo
Tabela 2. Índices para a classificação MCT. proveniente das amostras indeformadas foi de
c’ d’ Pi e’ Classificação 17,25%, o peso específico natural foi de 16,87
(%) MCT kN/m³. Para moldar os corpos de prova com as
0,51 25,00 108,93 1,24 LA amostras reconstituídas foi considerado aceito a
variação de 2% no valor do peso específico
natural. O índice de vazios que tem por
finalidade indicar a variação volumétrica do
solo ao longo do tempo foi de 0,82, enquanto
que a porosidade que indica a relação entre o
volume dos vazios e o volume total da amostra
foi de 44,29%. Sendo classificados
respectivamente como alto e média conforme a
Associação Internacional de Geologia de
Engenharia - IAEG (1979). O grau de saturação
Figura 2. Ábaco da classificação MCT.
que tem por objetivo indicar a porcentagem do
volume total de vazios contem água na amostra,
4.1 Ensaios de Cisalhamento Direto
para o solo em estudo teve um valor
correspondente de 57,34%, sendo classificado
A resistência ao cisalhamento do solo estudado
como muito úmido (IAEG, 1979).
foi avaliada em laboratório através de ensaios
Foram realizados ensaios de cisalhamento
de cisalhamento direto convencionais, em
direto para as tensões normais de 9, 15, 25, 50,
amostras indeformadas, reconstituídas em
80, 100 e 200 kPa, com três repetições para
laboratório sem e com adição de raízes na
cada tensão. Desse modo, um total de 21
condição de umidade natural. Tanto a
ensaios foram realizados para cada tipo de
moldagem dos corpos de prova quanto a
amostra: amostras indeformadas, reconstituídas
preparação das amostras para os ensaios de
e reconstituídas com adição de raízes (RAR
cisalhamento direto seguiram os procedimentos
0,5%, 1,0% e 1,5%) totalizando, portanto, 105
descrito na metodologia. A Tabela 3 apresenta
ensaios de cisalhamento direto para a condição
os valores médios, mínimos, máximos, desvio
de umidade natural. A Tabela 4 apresenta os
padrão (D. Pad.) e o coeficiente de variação
índices físicos médios das amostras ensaiadas
(C.V.) dos índices físicos: peso específico
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para a condições de umidade natural, bem como (τ), a porcentagem do aumento ou diminuição
os valores mínimos, máximos, desvio padrão das tensões cisalhantes máximas encontradas da
(D. Pad.) e coeficiente de variação (C.V.). tensão cisalhante, seja a partir das amostras
É possível evidenciar que a média da indeformadas ou reconstituídas e a porcentagem
umidade inicial das amostras reconstituídas foi de RAR na superfície de ruptura.
representativa das amostras indeformadas da Realizando a análise entre as amostras
primeira amostragem (Tabela 3). A média da indeformadas e reconstituídas sem raízes é
umidade das amostras indeformadas da segunda possível verificar que as tensões cisalhantes
amostragem foi superior a primeira, pois no médias não sofreram grandes variações. O
momento da coleta o solo estava mais úmido. ensaio na tensão normal de 80 kPa obteve o
Devido a isso, o grau de saturação também foi melhor índice, o resultado médio da tensão
maior. Lembrando que as médias dos índices cisalhante máxima das amostras reconstituídas
físicos das amostras provenientes da 1º variou apenas 0,1% da amostra indeformada. O
amostragem foram utilizadas para a moldagem ângulo de atrito interno do solo foi diferente,
dos corpos de prova reconstituídos em entretanto bastante próximo, sendo de 30,54º
laboratório. para a amostra indeformada e de 27,92º para
Percebe-se que os valores do peso específico amostra reconstituída sem raízes em laboratório.
natural do solo para as amostras reconstituídas Analisando a tensão de 80 kPa para a
ficaram dentro da faixa de variação de 2% amostra com RAR 0,5% houve um acréscimo
estabelecidos. De modo geral, é possível afirmar de 78% comparado com as amostras sem raízes,
que os índices físicos das amostras sendo que na superfície de ruptura havia o
reconstituídas em laboratório foram bastante corresponde de RAR 0,13%, para a amostra de
representativos das amostras indeformadas. Pela RAR 1,0% houve o acréscimo de 88% na
análise estatística exposta pode-se observar os tensão cisalhante máxima e a RAR na superfície
pequenos valores de desvio padrão e de de ruptura foi de 0,23%. Já para a amostra de
coeficiente de variação em todas as análises RAR 1,5%, analisando ainda a tensão normal de
estatísticas das amostras reconstituídas 80 kPa, houve um acréscimo de 100% na
(C.V.<4%), o que representa a pequena variação resistência do solo com adição das raízes, sendo
dos valores. que na área de ruptura do corpo de prova havia
Nos ensaios de cisalhamento direto com a o RAR corresponde de 0,42%. Neste caso, é
presença de raízes de forma manual, após a evidenciado o incremento da resistência de pico
ruptura do corpo de prova quantificava-se a que as raízes proporcionam, sendo crescente
quantidade de raízes na superfície de ruptura do com a quantidade de raízes na superfície de
corpo de prova. A Figura 3 mostra um corpo de ruptura.
prova com a taxa mais alta de raízes (1,5%) Praticamente todas as amostras
após o ensaio de cisalhamento direto. reconstituídas na condição natural com adição
de raízes tiveram um aumento significativo na
resistência ao cisalhamento, para as tensões
normais de 9, 15, 50, 80, 100 e 200 kPa a tensão
cisalhante teve um incremento variando de 27 a
100%. Por mais que as raízes foram adicionadas
nos corpos de prova de modo aleatório, elas
formaram uma malha dentro do corpo de prova
e as raízes que não estavam na superfície de
Figura 3. Corpo de prova com raízes após a ruptura.
ruptura certamente influenciaram no acréscimo
da tensão cisalhante. Em torno de 30% das
Na Tabela 4, também está apresentado os
raízes inseridas nos corpos de prova estavam na
valores médios da tensão cisalhante máxima
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superfície de ruptura. Além disso, as raízes da gramínea esmeralda se


As amostras com raízes com RAR 0,5% e encontram concentradas nas primeiras camadas
RAR 1,5% na tensão normal de 25 kPa não de profunidade do solo, mas como se tratou de
obtiveram ganho na resistência se comparado um estudo experimental em laboratório também
com as amostras indeformadas. Se realizar o considerou-se a realização de ensaios de
comparativo com a amostra reconstituída houve cisalhamento direto para altas tensões.
um incremento, sendo de 3,6% na amostra com
RAR 0,5%, 27,8% para RAR 1,0% e de 13,4%
com RAR 1,5%. Desse modo, percebe-se que as
amostras reconstituídas seguiram um padrão
diferente da amostra indeformada para a tensão
normal de 25 kPa. Mesmo assim é possível
evidenciar a partir da amostra reconstituída sem
raízes que as amostras reconstituídas com raízes
proporcionaram incremento nos parâmetros de
resistência do solo. A média da tensão de pico
para as amostras com RAR 1,0% (RAR na
superfície de ruptura = 0,29%) foi maior do que
o obtido com as amostras com RAR 1,5%
(RAR na superfície de ruptura = 0,43%) o que
Figura 4. Envoltórias de ruptura.
pode ter sido ocasionado pela inclinação das
raízes.
5 CONCLUSÃO
A Figura 4 apresenta as envoltórias de
resistência do solo para as amostras na condição
O solo estudado proveniente do distrito de Vale
natural para as amostras indeformadas,
Vêneto, em São João do Polêsine, Rio Grande
reconstituída e reconstituídas com adição de
do Sul foi classificado a partir dos parâmetros
raízes. É possível verificar que as amostras
de classificação SUCS como SC – areia argilosa
reconstituídas sem raízes tiveram a envoltória
e segundo a TRB o solo é classificado como A-
um pouco inferior quando comparadas com as
4 – solo siltoso com pequena quantidade de
amostras indeformadas. Por não se tratar de
material grosso e de argila. Baseado na
uma diferença muito significativa é possível
classificação MCT obtido do ensaio Mini-MCV
realizar comparações nos seus parâmetros de
o solo é classificado como LA – areia laterítica.
resistência.
Nos ensaios de cisalhamento direto na
Além disso, fica evidente o incremento da
condição de umidade natural, para as tensões de
resistência ao cisalhamento na adição de raízes
9 kPa a 200 kPa, a resistência do solo foi
nos corpos de prova, sendo mais expressivo
proveniente do ângulo de atrito interno já que a
para as amostras com RAR 1,5%. É possível
coesão foi nula. É possível afirmar que a
verificar também que o incremento da
interação solo-raiz proporciona incremento na
resistência ao cisalhamento provocado a partir
resistência do solo. Em geral, esse incremento
das amostras com adição de raízes, as amostras
foi proporcional com o incremento de raízes nas
contendo RAR 0,5% e RAR 1,0% não tiveram
amostras, sendo influenciado também pela
significativos discrepâncias das suas tensões
quantidade de raízes presentes na superfície de
cisalhantes.
ruptura das amostras.
É importante salientar que as raízes inseridas
nos corpos de prova foi realizada de forma
manual e aleatória. Portando a inclinação das
raízes não foi considerada a análise dos dados.
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Tabela 4. Resultados médios dos ensaios de cisalhamento direto e seus respectivos índices físicos.

Ensaio de cisalhamento direto Índices físicos


%
RAR
≠ ≠ raízes
Amostras sup. Valores
IND REC sup.
rup.
rup.
9 5,95 - - - Média 20,54 17,17 14,26 0,83 65,56
15 7,32 - - - Mínimo 12,81 15,01 12,55 0,70 45,87
25 14,55 - - - Máximo 24,46 17,85 15,30 1,08 78,11
IND. 50 24,22 - - - - D. Pad. 3,90 0,06 0,07 0,09 10,05
80 38,31 - - - C.V. 19,00 3,50 4,63 10,53 15,33
100 57,96 - - -
200 124,38 - - -
30,66°
9 6,90 15,9 - - Média 17,36 17,11 14,58 0,79 58,61
15 8,99 22,8 - - Mínimo 16,74 16,73 14,22 0,74 55,94
25 12,68 -12,8 - - Máximo 17,80 17,19 15,00 0,83 62,40
REC. 50 20,66 -14,7 - - - D. Pad. 0,34 0,02 0,02 0,02 1,85
80 38,28 -0,1 - - C.V. 1,96 1,22 1,28 2,87 3,15
100 55,21 -4,7 - -
200 106,53 -14,3 - -
27,72°
9 9,71 63,2 40,8 0,13 Média 17,25 17,09 14,57 0,79 58,15
15 11,54 57,6 28,4 0,17 Mínimo 16,84 16,94 14,42 0,76 56,31
25 13,14 -9,7 3,6 0,13 Máximo 17,65 17,11 14,81 0,81 60,75
REC.
50 43,28 78,7 109,5 0,13 28,20 D. Pad. 0,24 0,02 0,01 0,02 1,15
RAR 0,5%
80 68,35 78,4 78,6 0,13 C.V. 1,38 0,90 0,92 2,03 1,99
100 84,14 45,2 52,4 0,15
200 169,66 36,4 59,3 0,15
40,36°
9 9,61 61,5 39,3 0,29 Média 17,31 17,02 14,50 0,80 57,76
15 11,47 56,7 27,6 0,23 Mínimo 16,91 16,75 14,22 0,76 55,63
25 16,21 11,5 27,8 0,29 Máximo 17,54 17,16 14,81 0,83 59,39
REC.
50 40,08 65,5 94,0 0,25 25,72 D. Pad. 0,16 0,01 0,01 0,01 0,79
RAR 1,0%
80 72,28 88,7 88,8 0,23 C.V. 0,91 0,66 0,74 1,65 1,36
100 88,95 53,5 61,1 0,26
200 167,56 34,7 57,3 0,25
40,36°
9 10,72 80,2 55,5 0,51 Média 17,26 17,04 14,54 0,79 57,93
15 11,67 59,4 29,8 0,42 Mínimo 16,93 16,64 14,22 0,78 55,34
25 14,38 -1,1 13,4 0,43 Máximo 17,48 17,13 14,61 0,83 59,21
REC.
50 41,84 72,7 102,5 0,46 29,29 D. Pad. 0,19 0,01 0,01 0,01 0,98
RAR 1,5%
80 76,66 100,1 100,3 0,42 C.V. 1,10 0,72 0,80 1,84 1,70
100 96,60 66,7 75,0 0,42
200 178,68 43,7 67,7 0,42
42,20°
Obs.: IND: indeformada; REC: reconstituída; = tensão normal (kPa); = Tensão cisalhante (kPa); = ângulo de
atrito interno do solo (graus); ≠ IND: diferença da amostra indeformada (%); ≠ REC: diferença da amostra reconstituída
(%); w: teor de umidade (%); : peso específico natural (kN/m³); : peso específico aparente seco (kN/m³); : índice
de vazios; : grau de saturação (%); D. Pad.: desvio padrão; C.V.: coeficiente de variação (%).
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Amostragem de Solos Contaminados e Resíduos Sólidos:


Comparativo de Normativas
Christiane Jacinto
Universidade Federal do ABC, Santo André, São Paulo, c.jacinto@ufabc.edu.br

Giulliana Mondelli
Universidade Federal do ABC, Santo André, São Paulo, g.mondelli@ufabc.edu.br

RESUMO: Cada vez mais projetos de infraestrutura que envolvem o conceito de recuperação de
áreas degradadas, brownfields e áreas contaminadas exigem a caracterização geoambiental de solos
contaminados e resíduos sólidos. Baseado em uma breve revisão da literatura, são apresentadas
principais normas e pesquisas existentes sobre diretrizes e métodos para amostragem e
caracterização desses geomateriais. Os métodos incluíram a consulta em bases de pesquisa e de
normas técnicas. Analisou-se algumas normas referentes aos resíduos sólidos e também
relacionadas a solos naturais e/ou a solos contaminados. Ao comparar métodos de amostragem de
resíduos sólidos evidenciou-se a necessidade de criar-se um plano de amostragem inicial, buscando
todas as informações necessárias para a realização da coleta conforme o seu objetivo. A
normatização sobre solos no Brasil é bastante abrangente, indicando diversos métodos específicos.
Propõe-se que as normas brasileiras referentes à mecânica dos solos, resíduos sólidos e
gerenciamento de áreas contaminadas se conversem, indicando procedimentos unificados.

PALAVRAS-CHAVE: Caracterização Geoambiental, Recuperação de Áreas Degradadas, Normas


Técnicas, Geomateriais.

1 INTRODUÇÃO 2017), no país é gerado anualmente cerca de


78,3 milhões de toneladas de RSU.
Nos últimos anos aconteceram diversos avanços O local onde há contaminação causada pela
legais no Brasil relacionados à área ambiental, disposição, regular ou irregular, de resíduos é
como a criação das resoluções 1-A/1986, denominado como área contaminada (PNRS,
06/1991, 23/1996, 313/2002, 358/2005 do Lei 12.305 de 2010). Nem todas as áreas
Conselho Nacional de Meio Ambiente contaminadas representam um risco para o meio
(CONAMA) e a regulamentação de alguns itens ambiente ou à saúde humana (Mantovani et al.,
da Política Nacional de Meio Ambiente (1981). 2016), porém, visto a grande quantidade de
Em 2010 também houve um avanço marcante a resíduos gerados no planeta, é necessária a
partir da regulamentação da Política Nacional preocupação com áreas relacionadas à
de Resíduos Sólidos (PNRS, Lei 12.305 de disposição de resíduos visando um
2010). monitoramento para verificar a existência de
Segundo o Banco Mundial (2012), a geração contaminação e, caso a mesma exista, em qual
mundial de resíduos sólidos urbanos (RSU) é de nível se encontra.
aproximadamente 1,3 bilhões de toneladas por O conhecimento do comportamento
ano. De acordo com o Panorama dos Resíduos geotécnico dos resíduos é um fator que pode
Sólidos Urbanos, elaborado no Brasil pela minimizar o impacto de contaminação devido à
Associação Brasileira de Empresas de Limpeza disposição dos mesmos, porém, segundo Abreu
Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE, (2015), ainda não existem procedimentos de
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ensaio específicos para obter este palavras relacionadas ao que se pretendia


conhecimento. Atualmente, existem poucas pesquisar.
normas e estudos relacionados a esta temática,
porém a tendência é que as pesquisas nessa área Base de
Palavra-chave pesquisada
pesquisa
ampliem cada dia mais.
solid waste
Uma vez realizada a disposição dos resíduos,
GedWeb waste sampling
os contaminantes gerados por eles podem
soil sampling
atingir principalmente o solo e, segundo Boscov
(2008), eles podem atravessar camadas "waste sampling"
superficiais não saturadas do subsolo e atingir "waste sampling" and characterization
Scopus
águas subterrâneas. Um dos objetivos da PNRS "soil sampling"
(2010) é identificar e indicar medidas "soil sampling" and characterization
saneadoras para os passivos ambientais que "waste sampling"
podem ser originados de áreas contaminadas Web of "waste sampling" and characterization
pelos resíduos, incluindo a contaminação por Science "soil sampling"
lixões e aterros controlados. "soil sampling" and characterization
Antes de encontrar medidas mitigadoras é solid sampling
necessário identificar a contaminação e, para Scielo
solid waste and characterization
encontrar a mesma, é preciso investigar
detalhadamente o solo. Existem diversas Tabela 1: Bases de pesquisa e palavras-chave utilizadas
técnicas que permitem o reconhecimento dos na revisão bibliográfica
perfis dos solos e também suas características
geotécnicas, como por exemplo, sondagens à Após encontrar trabalhos relacionados ao
trato, sondagens à percussão SPT e sondagens tema nas bases de pesquisa Scopus e Web of
rotativas e de piezocone. Science, uma vez que as mesmas não
Visto a necessidade da realização de análises apresentavam o trabalho completo, optou-se por
geotécnicas para solos contaminados e resíduos, procurar este arquivo dos mesmos na base de
a partir de uma breve revisão bibliográfica pesquisa Science Direct.
pretende-se apresentar as principais normas e
pesquisas existentes para amostrar os mesmos e
realizar a comparação destes métodos. 3 RESULTADOS

A partir da pesquisa realizada, verificaram-se


2 METODOLOGIA diversas normas e pesquisas relacionadas à
amostragem de resíduos sólidos e de solos.
Por se tratar de revisão bibliográfica, a
metodologia consistiu principalmente da
consulta em bases de pesquisa, como Scopus, 3.1 Amostragem de Resíduos Sólidos
Web of Science e Scielo, e também consulta em
base de normas técnicas, como GedWeb. Existe um conjunto de normas brasileiras
Conforme indicado na Tabela 1, foram relacionadas aos resíduos sólidos que foram
utilizadas palavras-chave relacionadas ao tema homologadas pela ABNT em 1987 e sua 2º
de amostragem de solos e resíduos sólidos e, edição foi publicada e está em vigor desde
quando julgou-se necessário, houve a utilização 2004:
das palavras entre aspas, para localizar - NBR 10004: Resíduos Sólidos - Classificação,
exatamente aquele termo, e também a utilização - NBR 10005: Procedimento para obtenção de
da palavra “and”, buscando acrescentar algumas extrato lixiviado de resíduos sólidos,
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- NBR 10006: Procedimento para obtenção de amostragem e classificação. Segundo apresenta


extrato solubilizado de resíduos sólidos, CAREDEME (2017), as normas aprovadas
- NBR 10007: Amostragem de Resíduos estão listadas abaixo:
sólidos. - NF EN 14899: Caracterização de resíduos -
A norma NBR 10007 (2004) tem como Eliminação de resíduos - Procedimento-quadro
objetivo fixar condições exigíveis para para o desenvolvimento e implementação de um
amostragem de resíduos. A mesma apresenta plano de amostragem;
diversas exigências e procedimentos, conforme - NF X30-413: Resíduos domésticos e
indicado na Figura 1, incluindo para assimilados - Criação de uma amostra de
amostragens em diferentes tipos de resíduos domésticos e similares contidos num
acondicionamento, como por exemplo, montes lixo;
ou pilhas de resíduos; tambores e recipientes - NF X30-445: Resíduos domésticos e similares
similares; caminhão-tanque; lagoas de resíduos; - Composto por uma amostra de resíduos
entre outros. domésticos e similares a granel;
- NF X30-437: Resíduos domésticos e similares
- Constituição e caracterização, na entrada do
centro de triagem, de uma amostra sobre um
lote de lixo doméstico e resíduos similares
coletados seletivamente;
- NF X30-408: Resíduos domésticos e
assimilados - Caracterização de uma amostra de
resíduos domésticos e similares - Análise sobre
produto bruto.
Na Figura 2 é possível verificar um esquema
indicando o tema principal de cada uma das
normas francesas citadas anteriormente.

Figura 2: Esquema de procedimentos indicados pelas


normas francesas.

Figura 1: Esquema de procedimentos indicados na norma Dvorsak et al. (2017) realizaram amostragem
NBR 10007. e análise de resíduos sólidos municipais da
região dos Balcãs, considerando como base um
A França utiliza um conjunto de normas para conjunto de normas européias relacionadas ao
a caracterização dos resíduos, incluindo sua tema.
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Dvorsak et al. (2017) afirmam que a norma A norma mexicana NMX-AA-091-1987


CEN / TR 15310-1 indica três etapas: definição apresenta os termos mais utilizados no campo
do Plano de Amostragem; coletar uma amostra de prevenção e controle da poluição do solo,
de campo de acordo com o Plano de causado por resíduos sólidos. Já a norma NMX-
Amostragem criado e transportar a amostra para AA-15-1985 estabelece o método de
o laboratório. A norma EN 14899: 2006, quarteamento para resíduos sólidos municipais
segundo Dvorsak et al. (2017), indica que o e obtenção de amostras para análise em
plano de amostragem é um procedimento laboratório, de acordo com o que está descrito
predeterminado para a seleção, retirada, na Figura 4.
preservação, transporte e preparação das
porções a serem removidas de uma população
como amostra. A partir de procedimentos
indicados nas normas, os pesquisadores
dividiram a pesquisa em algumas etapas,
conforme indicado na Figura 3.

Figura 4: Esquema de procedimentos indicados na norma


mexicana NMX-AA-15-1985.

3.2 Amostragem de Solos Contaminados

É possível verificar que as normas mexicanas


Figura 3: Esquema de procedimentos realizados por
Dvorsak et al. (2017).
citadas no tópico anterior não tratam apenas
sobre resíduos sólidos, mas também sobre solos
O México também apresenta um conjunto de contaminados, de forma que os dois temas são
normas referente aos resíduos sólidos: referenciados nessas normas.
- NMX-AA-091-1987: Proteção ao ambiente – A normatização sobre solos no Brasil é
Contaminação do solo – Resíduos Sólidos – bastante abrangente, indicando diversos
Terminologia; métodos específicos que são possíveis de notar
- NMX-AA-015-1985: Proteção ao ambiente – até mesmo no título das normas, conforme
Contaminação do solo – Resíduos Sólidos segue abaixo:
Municipais - Amostragem - Método de - NBR 16435: Controle da qualidade na
Quarteamento Ambiental; amostragem para fins de investigação de áreas
- NMX-AA-61-1985: Proteção ao ambiente – contaminadas – Procedimento;
Contaminação do solo – Resíduos Sólidos
Municipais – Determinação da geração;
- NMX-AA-22-1985: Proteção ao ambiente –
Contaminação do solo – Resíduos Sólidos
Municipais – Seleção e quantificação de
subprodutos.
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- NBR15935: Investigações ambientais — amostragem, apenas informaram como realizar


Aplicação de métodos geofísicos; a amostragem.
- NBR16434: Amostragem de resíduos sólidos, Visto que a contaminação do solo pode estar
solos e sedimentos - Análise de compostos relacionada com os resíduos sólidos, o fato de
orgânicos voláteis (COV) – Procedimento; as normas mexicanas citadas relacionarem solos
- NBR6457: Amostras de solo — preparação e resíduos sólidos em conjunto mostra-se
para ensaios de compactação e ensaios de completamente de acordo com o propósito
caracterização; requerido.
- NBR9604: Abertura de poços em trincheira de Percebe-se que as normas brasileiras sobre os
inspeção em solo, com retirada de amostras solos estão bastante avançadas quando
deformadas e indeformadas - Procedimetno comparadas com as normas sobre resíduos
- Entre outras. sólidos, uma vez que as mesmas incluem
técnicas que permitem uma pesquisa mais
específica, indicando inclusive métodos de
4 DISCUSSÃO caracterização que não são citados em normas
de resíduos sólidos ou mesmo para solos
Percebe-se a importância das normas técnicas, contaminados. Comparado também às normas
pois as mesmas são responsáveis por unificar e estrangeiras de resíduos sólidos, verificou-se
direcionar os procedimentos referentes a que as normas europeias e francesas também
diversos assuntos. No caso, foi verificada a permitem uma pesquisa um pouco mais
questão referente aos solos contaminados e avançada sobre os resíduos, no que tange a
resíduos sólidos em conjunto. caracterização dos mesmos.
Ao analisar algumas normas de resíduos Desta forma, nota-se que tanto no Brasil
sólidos existentes e citadas neste artigo, notou- quanto nos outros países existe a necessidade de
se que as normas europeias e francesas possuem criação de normas mais detalhadas para a
uma análise muito mais detalhada e específica, análise de resíduos sólidos, em busca de dados
comparado aos procedimentos de análise do mais precisos e avançados sobre os mesmos.
Brasil, por exemplo, pois inclui também
normatizações referentes à caracterização dos
resíduos. Apesar disso, as normas brasileiras,
mexicanas e francesas detalharam todos os
equipamentos necessários para amostragem,
informação esta que não foi verificada em
relação às normas europeias. Porém, é
importante salientar que o acesso aos
procedimentos das normas europeias aconteceu
apenas a partir do trabalho de Dvorsak et al.
(2017), pois o acesso dessas normas na íntegra é
extremamente restrito.
As normas brasileiras, francesas e europeias
defendem a necessidade de criar-se um plano de
amostragem antes de colocar em prática a
coleta, preservação e transporte das amostras de
resíduos para análise em laboratório. Em
contrapartida, as normas mexicanas não citaram Figura 5: Esquema de procedimentos propostos de forma
procedimentos relacionados ao planejamento da unificada para a mecânica dos solos, resíduos sólidos e
gerenciamento de áreas contaminadas.
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Propõe-se que as normas brasileiras REFERÊNCIAS


referentes à mecânica dos solos, resíduos
sólidos e gerenciamento de áreas contaminadas ABRELPE. Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil.
se conversem a fim de indicar procedimentos 2017. Disponível em:<http://www.abrelpe.org.br/
Panorama/panorama2016.pdf.> Acesso em: abr. 2018.
unificados que considerem as etapas indicadas Abreu, A. E. D. de. Investigação geofísica e resistência
na figura 5. ao cisalhamento de resíduos sólidos urbanos de
Uma vez que os procedimentos estejam diferentes idades. Tese de Doutorado. Universidade
unificados, será possível a prevenção e controle de São Paulo, São Carlos, 2015, 230p.
Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT. NBR
da contaminação do solo e também o controle
10004: Resíduos Sólidos - Classificação. Rio de
de qualidade na amostragem para investigação Janeiro: ABNT, 2004.
em áreas contaminadas, além de possibilitar a Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT. NBR
análise dos resíduos sólidos com maior 10005: Procedimento para obtenção de extrato
detalhamento. lixiviado de resíduos sólidos. Rio de Janeiro: ABNT,
2004.
Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT. NBR
10006: Procedimento para obtenção de extrato
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS solubilizado de resíduos sólidos. Rio de Janeiro:
ABNT, 2004.
A comparação dos métodos de amostragem de Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT. NBR
resíduos sólidos deixou evidente a necessidade 10007: Amostragem de Resíduos Sólidos. Rio de
Janeiro: ABNT, 2004.
de criar-se um plano de amostragem antes de Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT. NBR
iniciar as coletas, a fim de buscar todas as 16435: Controle da qualidade na amostragem para
informações necessárias para que a coleta seja fins de investigação de áreas contaminadas –
realizada de acordo com o que se deseja Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2015.
analisar. Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT.
NBR15935: Investigações ambientais — Aplicação de
Faz-se necessária a realização de mais métodos geofísicos. Rio de Janeiro: ABNT, 2011.
pesquisas referente aos métodos de Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.
caracterização de resíduos sólidos e posterior NBR16434: Amostragem de resíduos sólidos, solos e
criação de normas técnicas que especifiquem sedimentos - Análise de compostos orgânicos voláteis
esses métodos. (COV) – Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2015.
Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.
Propõe-se que as normas brasileiras NBR6457: Amostras de solo — preparação para ensaios
referentes à mecânica dos solos, resíduos de compactação e ensaios de caracterização.
sólidos e gerenciamento de áreas contaminadas Rio de Janeiro: ABNT, 2016.
se conversem a fim de propor procedimentos Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.
NBR6459: Solo - determinação do limite de liquidez.
unificados.
Rio de Janeiro: ABNT, 1984.
Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.
NBR7180: Solo — determinação do limite de
AGRADECIMENTOS plasticidade. Rio de Janeiro: ABNT, 1984.
Boscov, M.E.G. Geotecnia Ambiental. São Paulo:
Ao Programa de Pós-Graduação em Ciência e Oficina de Textos, 2008.
Brasil. Lei Federal 12.305, de 2 de agosto de 2010:
Tecnologia Ambiental da UFABC, pela Política Nacional dos Resíduos Sólidos. Brasília, DF,
oportunidade de financiamento para comparecer 2010. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/
ao congresso. A CAPES, pela bolsa fornecida conama/legiabre.cfm?codlegi=636>. Acesso em: abr.
para subsídio de minhas pesquisas. 2018.
Brasil. Lei Federal no 6.938, de 31 de agosto de 1981.
Política Nacional de Meio Ambiente. Brasília, DF,
1981. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/leis_2001/l10257.htm>. Acesso em:
abr. 2018.
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Carademe. Normes relatives à la caractérisation de


déchets (échantillonnage et tri). Disponível em:
<http://www.sinoe.org/contrib/ademe/carademe/pages
/ressources_normes.php> Acesso em: abr. 2018.
Dvorsak, Slavko et al. Sampling and Analysis Of Solid
Municipal Waste In Balkan Region: The First Results
And Their Significance. Disponível em: <www.iswa.
org/uploads/tx_iswaknowledgebase/Moustakas.pdf>
Acesso em: abr. 2018.
Mantovani et al. Ciência e Tecnologia Ambiental:
Conceitos e perpectivas. Santo André: Editora
UFABC, 2016. 390 p.
World Bank. What a waste: A Global Review of Solid
Waste Management. 2012. Disponível em:
<https://siteresources.worldbank.org/INTURBANDE
VELOPMENT/Resources/336387-1334852610766/
What_a_Waste2012_Final.pdf>. Acesso em: abr.
2018.
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Análise da importância da granulometria do material fresado na


estabilização do solo.
Tiago Onuczak Poncio
Frederico Westphalen, Brasil, tiagoponcio01@gmail.com

Roberta Centofante
Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, Frederico Westphalen, Brasil,
robertac@uri.edu.br

Rodrigo André Klamt


Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, Frederico Westphalen, Brasil,
klamt@uri.edu.br

Thaís Aquino dos Santos


Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, Frederico Westphalen, Brasil,
thaiis_as@hotmail.com

RESUMO: A grande preocupação com o meio ambiente, tanto em relação à exploração de matéria
prima quanto à destinação correta dos rejeitos de materiais, estimula o desenvolvimento de novas
pesquisas para amenizar os impactos provocados no planeta. Propôs-se, para o presente trabalho, a
utilização de material fresado, proveniente da remoção da camada de revestimento do pavimento já
deteriorado, para estabilizar um solo e tornar possível a sua aplicação em camada da sub-base. O
objetivo principal é reduzir a utilização de materiais provenientes das jazidas e ao mesmo tempo
reaproveitar corretamente um material de descarte. Para o desenvolvimento da pesquisa foram
executados ensaios de caracterização do fresado e do solo, compactação, expansão e CBR, os quais
indicaram que, entre as diferentes proporções de misturas e materiais puros, a que apresenta melhor
desempenho é a composição de 70% de material fresado e 30% de solo passante na #4, com
granulometria previamente definida.

PALAVRAS-CHAVE: Estabilização granulométrica, material fresado, pavimentação.

1 INTRODUÇÃO com lajões justapostos que suportavam uma


carga muito grande. Essa carga geralmente era
Grande parte da população não sabe a real aplicada pelo peso dos trenós que levavam
importância que o modal rodoviário tem para o material para construção das grandes pirâmides.
desenvolvimento e a economia dos países. É Isso indica que a história da pavimentação é
através das rodovias que diversas cargas de descrita desde as primeiras conquistas
grãos e muitas pessoas são transportadas, territoriais até os dias atuais com a criação dos
principalmente do interior do país para o litoral. grandes centros urbanos (BERNUCCI et al.,
Segundo Saunier (1936, apud BERNUCCI et 2006).
al., 2006), as primeiras estradas pavimentadas As estradas são definidas como estruturas de
surgiram no Egito por volta de 2600 – 2400 a.C. múltiplas camadas, construídas para
e tinham por características serem construídas proporcionar melhor acessibilidade dos veículos
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automotores entre os diferentes lugares. Uma Além de proporcionar a diminuição da


análise da Confederação Nacional do agressão ao meio ambiente através da
Transporte – CNT (2017) aponta que o Brasil reciclagem do material asfáltico, pode, ainda,
possui 1.720.753 km de rodovias, sendo que ajudar na economia, uma vez que, com a
12,3% são pavimentadas, 9,1% estudadas e aplicação do fresado associado ao solo, é
projetadas, 78,6% não estão pavimentadas e a possível aumentar a resistência da estrutura
cada ano é pavimentado aproximadamente 1,5% como um todo. Possibilita, também, a redução
da extensão que ainda falta pavimentar. da camada de revestimento, que é o que torna a
É muito importante encontrar mecanismos construção desta obra de engenharia mais cara.
que permitam um aumento na vida útil do O material fresado está disponível em muitas
pavimento, sem que este sofra alterações da sua obras de manutenção de pavimento asfáltico
característica original ou previamente projetada, deteriorado, tornando-se necessária a destinação
como fissuras causadas pela sobrecarga na correta para que os elementos químicos
estrutura da estrada, como citam Medina e contidos na mistura não agridam o meio
Motta (2005). Há uma grande necessidade de ambiente.
reformular a composição das camadas para Para que a mistura tenha bom desempenho, é
assim evitar a manutenção e o desgaste em um preciso que seja realizada a seleção dos
curto período de tempo, sendo que cada vez materiais. No caso do mateial fresado, é
mais as rodovias devem resistir aos esforços de necessário definir a granulometria, pois a
compressão, pois as tecnologias permitem aos mesma permite melhor compactação e
veículos uma constante evolução, fazendo com distribuição dos grãos, gerando assim, maior
que suportem uma maior carga, causando maior rigidez e estabilização do solo. Sem essa
pressão na pavimentação. O Artigo 3º da definição granulométrica, a mistura apresenta
Resolução nº211 do Conselho Nacional de maior índice de vazios, possibilitando a
Trânsito (CONTRAN) autoriza o tráfego de percolação dos grãos após a compactação final.
bitrens e rodotrens com um Peso Bruto Total Neste contexto, o presente artigo traz a análise
Combinado (PBTC) de até 74 toneladas pelas da estabilização de um solo residual basáltico,
rodovias, desde que não seja em dias de oriundo da cidade de Frederico Westphalen/RS,
feriados prolongados e durante todos os dias do com material fresado para fins de aplicação em
ano das 6:00 horas às 18:00 horas. Assim, camada de sub-base de pavimentos flexíveis.
justifica-se a busca pelo aperfeiçoamento de
melhores práticas para a construção de novas 2 MATERIAIS E MÉTODOS
estruturas que suportem a demanda que o
cenário rodoviário exige. Para o desenvolvimento do trabalho foi
Segundo Bonfim (2011), uma das formas de utilizado solo oriundo da jazida localizada na
manutenção é efetuar a remoção da camada Linha Dal Canton, às margens da BR – 158,
superficial do pavimento, podendo, assim, ser com as coordenadas S27º24’08,5” e
considerada uma etapa preliminar da reciclagem W53º24’23,4”, onde a Prefeitura Municipal de
deste material, sendo que este pode ser Frederico Westphalen/RS também extrai
incorporado ao solo como material agregado em material para obras e reparos. O material
forma granular nas camadas de base e sub-base fresado utilizado é proveniente da fresagem da
de pavimentos. A norma rodoviária do DER/PR BR – 386, trecho próximo a Sarandi e foi
ES-P 31/05 (2005) e Bonfim (2007) apontam adquirido diretamente no britador da filial da
que a fresagem é o processo de raspagem de empresa CONSTRUBRÁS, localizada no
uma certa camada de superfície asfáltica município de Constantina/RS.
danificada através de um sistema mecânico, Após a aquisição e devida estocagem dos
utilizando uma máquina fresadora. materiais, realizou-se a secagem prévia e
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caracterização do solo e do material fresado. material.


Definiram-se as proporções de materiais a
serem utilizadas nas misturas e, posteriormente, 2.2 Ensaios de Compactação
foram efetuados os ensaios de compactação e
CBR. Para a construção da curva de compactação
foram utilizadas as normas NBR 7181 (ABNT,
2.1 Ensaios de Caracterização 2016) e NBR 6508 (ABNT, 2016). Efetuou-se o
ensaio para solo natural, para as misturas de
A caracterização do solo quanto à granulometria solo e material fresado sem seleção prévia de
se deu pelos ensaios de peneiramento e granulometria nas proporções de 30% de solo e
sedimentação seguindo os passos da NBR 7181 70% de material fresado, 50% de cada material
(ABNT, 2016) – Solo – Análise e 70% de material fresado e 30% de solo, todas
Granulométrica. Os limite de liquidez foi realizadas com energia intermediária de
obtidos através do ensaio de Casagrande. O compactação, conforme prevê a norma.
limites de liquidez (LL), limite de plasticidade Executou-se, também, o ensaio com
(LP) e o índice de plasticidade (IP), são granulometria definida, porém, na proporção de
normatizados pela NBR 6459 (ABNT, 2016) e 70% de material fresado e 30% de solo nas três
NBR 7180 (ABNT, 2016). Obteve-se os valores energias: normal, intermediária e modificada. O
de dois ensaios e calculou-se a média para os os valor obtido no ensaio indica o teor ótimo de
limites físicos. umidade contido na mistura, servindo de
Realizou-se, ainda, dois ensaios com o moldagem dos corpos de prova para realização
picnômetro para a definição do peso específico dos ensaios de expansão e CBR. Para a
real dos grãos, obedecendo as especificações da execução deste último foi definida a dosagem
NBR 6508 (ABNT, 2016). da mistura para que a mesma atenda as
Já para o material fresado, além do ensaio de especificações e se enquadre na curva C do
granulometria por peneiramento manual, DNIT, como mostrado na Figura 1, onde o
realizou-se o ensaio do Rotarex regulamentado material fresado foi dividido nas proporções de
pela Norma Rodoviária do DNER – ME 053/94 40% da mistura total de 3/4”, 20% de fresado
– Misturas betuminosas – Porcentagem de 3,/8” e 10% de material reaproveitável tamanho
betume – Métodos de Ensaio para definir o 4”.
índice de mistura betuminosa contida no

Figura 1 - Curva granulométrica na faixa C do DNIT


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2.3 Ensaios de Índice de Suporte Califórnia – solo com material fresado, sem peneiramento
ISC prévio do fresado, foram moldados com energia
intermediária. As misturas de solo e material
Também conhecido como CBR (California fresado previamente selecionados, foram
Bearing Ratio), o Índice de Suporte Califórnia moldados com energias normal, intermediária e
(ISC) é normatizado pela NBR 9895 (ABNT, modificada.
2016) – Solo – Índice de Suporte Califórnia –
Método de ensaio – e tem como finalidade 3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS
medir a resistência à penetração que as misturas RESULTADOS
suportam. Um dos processos de execução do
ensaio permite a obtenção da leitura da 3.1 Ensaios de Caracterização
expansão. Após a moldagem dos CP’s,
conforme a norma, deve-se colocar num tanque Após efetuado o processo de peneiramento
com água que permita que o molde e a mistura manual do solo e do material fresado, plotou-se
fiquem totalmente submersos. Acopla-se o dois gráficos que apresentam as porcentagens
expansômetro no molde e, após 96 horas, de granulometria constituintes em cada
efetua-se a leitura da expansão final. Em material. Obteve-se a composição do solo
seguida, retira-se o molde da água, deixa-se em composta por areia, silte e argila, como pode ser
descanso por 15 minutos e leva-se para a prensa observado na Figura 2 e a granulometria do
para realizar a medição da resistência à material fresado apresentado na Figura 3.
compressão. O solo in natura e as misturas de

Figura 2 - Curva granulométrica do Solo


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Figura 3 - Curva granulométrica do material fresado

Para os limites físicos obteve-se os valores de o TPM 7030 composto por 70% de material
42% para o LL e 24% para LP e o IP resultou da fresado e 30% de solo, compactado na energia
subtração do Limite de Liquidez pelo Limite de modificada, moldados com material fresado
plasticidade, obtendo-se assim, o valor de 18%. previamente selecionado passante nas peneiras
#4, 3/8” e 3/4”, apresentando pouca variação
3.2 Ensaio de Compactação nos teores de umidade (PESSOTTO, 2017).
Os resultados de Pires (2014) podem ser
No ensaio de compactação, observa-se que, comparados com os empregados neste trabalho,
quanto maior a quantidade de material pétreo, visto que o autor obteve resultados da
menor o valor da umidade ótima da mistura. compactação da mistura de 30% de agregado
Para melhor identificação dos corpos de prova, virgem e 70% de fresado entre 6,96% e 9,52%
os mesmos foram nomeados, sendo TP Solo de umidade ótima, sendo que a mistura não
composto somente por solo, TP30-70 continha solo expansivo. Da mesma maneira,
constituído por 30% de solo e 70% de material Mallmann (2012) obteve como 8% a umidade
fresado, TP50-50 composto por 50% de cada ótima na compactação do material fresado, sem
material, TP70-30 correspondente à mistura adição de solo. Os resultados apresentados na
com 70% de material fresado e 30% de solo, Tabela 1 apontam que a combinação de 30% de
ambos sem seleção prévia do material fresado. solo com 70% de material fresado aumentam
Os corpos de prova TPN 7030 composto por um pouco o teor de umidade ótima, ficando
70% de material fresado e 30% de solo, próximo a 13%, uma vez que o solo absorve
compactado na energia normal, TPI 7030 maior quantidade de água na hora da mistura e
composto por 70% de material fresado e 30% homogeneização.
de solo, compactado na energia intermediária e
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Tabela 1. Resultados dos ensaios de compactação. Sistema Unificado de Classificação do Solo


Massa Teor de Umidade ótima (SUCS), o solo descrito e utilizado na pesquisa
específica
pertence ao grupo CL, tendo valores do ISC de
Mistura aparente Energia Energia Energia
seca Normal Interm. Mod.
15% a menos de 2%, justificando o
máxima comportamento do solo tendo com o valor de
TP Solo 1666 kg/m³ - 22,80% - ISC 13,53%. Observando os resultados obtidos
TP30-70 1752 kg/m³ - 19,80% - com o solo na energia intermediária, nota-se um
TP50-50 1964 kg/m³ - 15,90% - aumento considerável no ISC quando misturado
TP70-30 2027 kg/m³ - 12,70% -
ao material fresado e uma diminuição de sua
TPD 7030 1768 kg/m³ 14,00% - -
TPD 7030 1849 kg/m³ - 12,80% - expansão.
TPD 7030 2157 kg/m³ - - 10,50% A normativa DNER ES 301/97 – Pavimentos
flexíveis – Sub-base estabilizada
Para fins de referência e comparação, o solo granulometricamente - Especificação de serviço
foi ensaiado apenas na energia intermediária, define como condição para utilização de
que é mais assemelhada à energia empregada material para sub-base, ISC maior ou igual a
em campo. Pode-se observar um aumento de 20% e expansão menor ou igual a 1%. Sendo
massa específica e uma diminuição do teor de assim, para que os requisitos mínimos exigidos
umidade ótima conforme o aumento da energia pelos órgãos regulamentadores sejam atendidos,
de compactação, da normal para a modificada. somente as misturas com material fresado
previamente selecionado podem ser
3.3 Ensaio de Índice de Suporte Califórnia – empregados, gerando maior resistência. As
ICS misturas TP5050 e TP7030 apresentaram
resultados demasiadamente inferiores ao
Os resultados de expansão e ISC apresentaram mínimo exigido para a resistência à penetração,
variações quando comparados os corpos de enquanto as umidades ótimas foram superiores
prova sem prévia definição granulométrica e os as máximas adotadas.
compostos por material granulometricamente
definido, como mostra a Tabela 2. 4 CONCLUSÕES

Tabela 2. Resultados dos ensaios de ISC. A pesquisa realizada com material fresado sem
Material Parêmetros
Energia Energia Energia peneiramento e seleção prévia, apontou que a
Normal Interm. Modif. mistura se torna deficiente, pois a mesma acaba
I.S.C. - 18% - ficando com vazios na estrutura interna, o que
Solo
Expansão - 0,8% - dificulta a análise e não resulta em conclusões
Mistura I.S.C. - 19% -
tão favoráveis quanto o esperado. Desta forma,
TP30-70 Expansão - 1,3% -
durante a compactação do material, por
Mistura I.S.C. - 2% -
TP50-50
existirem fragmentos muito grandes, os grãos
Expansão - 2,7% -
Mistura I.S.C. - 3% -
finos são impedidos de percolar pelos vazios,
TP70-30 Expansão - 2,0% - permitindo que a estrutura continue em
Mistura I.S.C. 20% - - atividade após o término dos golpes que o
TPN 7030 Expansão 0,24% - - ensaio prevê. O ensaio de expansibilidade, com
Mistura TPI I.S.C. - 33% - esses vazios, permite que o solo trabalhe mais,
7030 Expansão - 0,61% - provocando maior movimentação das partículas
Mistura I.S.C. - - 21% e maior absorção de umidade, alterando, assim,
TPM 7030 Expansão - - 0,96% o resultado da expansibilidade. No ensaio de
resistência à penetração, não foi possível obter
Segundo o DNIT (2006) e a classificação do uma continuidade do ensaio, visto que a parte
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composta por ar não provoca força de reação, Formação Básica para Engenheiros. Rio de Janeiro:
apresentando diminuição na resistência. Já, para PETROBRAS: ADEDA, 2006.
BONFIM, Valmir. Fresagem de Pavimentos Asfálticos. 3
as misturas com material fresado previamente Ed., São Paulo, Exceção Editorial, 2011.
selecionado, os resultados foram positivos. Com CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRANSPORTES
a estrutura granular bem distribuída e baixo – CNT. Pesquisa CNT de Rodovias 2016, Relatório
índice de vazios, a trabalhabilidade da mistura Geral, 2017.
após a compactação fica baixa quando DEPARTAMENTO DE ESTRADAS E RODAGEM DO
ESTADO DO PARANÁ. DER/PR ES-P 31/05:
comparada com a mistura de solo com fresado Pavimentação: Fresagem à Frio. Paraná, 2005, 6p.
não selecionado. Assim, a expansibilidade DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS E
diminui, pois os grãos ficam mais compactados RODAGEM. DNER-ES 301/97: Pavimentação – sub-
e impossibilitados de se expandir. No ensaio de base estabilizada granulometricamente. Rio de
resistência à penetração, as leituras tornaram-se Janeiro, 1997, 7 p.
DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS E
praticamente lineares, apresentando boa RODAGEM. DNER-ME 053/94: Misturas
resistência e possibilidade de utilização na betuminosas – porcentagem de betume. 5p.
pavimentação. Comparando os resultados do DEPARTAMENTO NACIONAL DE
ensaio de resistência à penetração, o corpo de INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES.
DIRETORIA DE PLANEJAMENTO E PESQUISA.
prova com material fresado graduado atingiu
COORDENAÇÃO GERAL DE ESTUDOS E
33% de resistência, enquanto o material não PESQUISA. INSTITUTO DE PESQUISAS
graduado proporcionou 3% de resistência, RODOVIARIAS. Manual de Pavimentação. 3. ed. Rio
havendo um aumento de 90,9% na resistência. de Janeiro, 2006.
De todos os corpos de prova estudados, somente MALLMANN, Keli. Estudo da Mistura de Material
Fresado e Solo para a Utilização em Pavimentação,
o TPN, TPI e TPM, que são as definidas
2012, 59p. Trabalho de Conclusão (Curso de
granulometricamente, podem ter suas misturas Engenharia Civil) – UFSM, Santa Maria, 2012.
aplicadas na camada da sub-base. MEDINA, J. MOTTA, Laura M. G. Mecânica dos
Desta forma, a utilização do material fresado Pavimentos. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 574 p.
para estabilização do solo é de grande 2005.
MINISTÉRIO DAS CIDADES, CONSELHO
relevância, visto que, além de evitar a
NACIONAL DE TRÂNSITO, CONTRAN.
exploração de novos recursos naturais, contribui Resolução nº 211 de novembro de 2006 Requisitos
para a destinação correta de rejeitos da necessários à circulação de Combinações de Veículos
pavimentação, evitando a poluição do meio de Carga – CVC. Disponível em: <
ambiente tanto visualmente quanto fisicamente. http://www.abtlp.org.br/index.php/legislacao/legislaca
o-federal/resolucoes-do-conselho-nacional-de-
transito-contran/>. Acesso em: 10 abr. 2017.
REFERÊNCIAS PESSOTTO, Laura. Estudo do Efeito da Granulometria
do Material Fresado para Estabilização de um Solo
______.NBR 6459: Determinação do limite de liquidez – para Aplicação em Sub-base de Pavimentos, 2017,
Método de ensaio. Rio de Janeiro, 2016. 6p. 52p. Trabalho de Conclusão (Curso de Engenharia
______.NBR 6508: Grãos de solo que passam na peneira Civil) – URI, Frederico Westphalen, 2017.
de 4,8 mm - Determinação da massa específica. Rio PIRES, Gustavo Menegusso, Estudo da Estabilização
de Janeiro, 2016. 8p. Granulométrica e Química de Material Fresado com
______. NBR 7180: Solo – Determinação do limite de Adição de Cimento Portland e Cinza de Casca de
Plasticidade – Método de ensaio. Rio de Janeiro, Arroz para Aplicação em Camadas do Pavimento,
2016. 3p. 2014, 162p. Dissertação (Mestrado em Engenharia
______. NBR 7181: Solo - Análise Granulométrica. Civil) – UFSM, Santa Maria, 2014.
Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de
Janeiro, RJ, 2016.
______. NBR 7182: Solo – Ensaio de compactação –
Método de ensaio. Rio de Janeiro, 2016. 10p.
______. NBR 9895: Solo – Índice de Suporte Califórnia
– Método de ensaio. Rio de Janeiro, 2016. 14p.
BERNUCCI, L. B. [ET AL.]. Pavimentação Asfáltica:
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Análise da quebra de grãos de misturas de resíduos de construção e


demolição com solo da Formação Geológica de Guabirotuba
durante a compactação.
Eclesielter Batista Moreira
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Rio Grande do Sul,
eclesielter_ebm@hotmail.com

Jair Arrieta Baldovino


Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Paraná, yaderbal@hotmail.com

João Luiz Rissardi


Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Paraná, rissardi@alunos.utfpr.edu.br

Juliana Lundgren Rose


Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Paraná, julrose@gmail.com

Ronaldo Luis dos Santos Izzo


Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Paraná, izzo@utfpr.edu.br

RESUMO: O objetivo desta pesquisa é analisar a quebra de grãos em quatro teores de RCD
adicionado ao solo após o processo de compactação. Para isto foi realizado a coleta de RCD e
adicionado ao solo em quatro teores diferentes, sendo a mistura 1 com 30% de areia e 10% de pedrisco
de RCD, a mistura 2 com 20% de areia e 20% de pedrisco de RCD, a mistura 3 com 30% de areia e
20% de pedrisco de RCD e a mistura 4 com 30% de areia e 30% de pedrisco de RCD, todos em
relação ao peso de solo seco do solo. Foi realizado o ensaio de granulometria do das misturas solo-
RCD antes e após a compactação na energia Proctor normal. Com os resultados dos ensaios pode-se
analisar que o índice de quebra de grãos (IDp) diminui com o aumento de teor de resíduo nas misturas,
haja vista que o agregado reciclado resiste mais ao processo de quebra, e, como as misturas 1 e 2 tem
o mesmo teor de RCD (40%) adicionado ao solo, sendo que a mistura 1 tem 30% de areia de resíduo
e 10% de pedrisco de resíduo e a mistura 2 tem 20% de areia de resíduo e 20% de pedrisco de resíduo
e os Índices de quebra dos grãos foram diminuindo.

PALAVRAS-CHAVE: Solo-RCD, Índice de quebra de grãos, Compactação.

1 INTRODUÇÃO agregados reciclados é o aspecto econômico,


pois estes materiais normalmente são vendidos
A utilização de Resíduos de Construção e por preços inferiores aos dos granulares
Demolição (RCD) se apresenta como uma tradicionalmente empregados em pavimentação,
alternativa interessante aos materiais além de promover a diminuição do impacto
convencionalmente utilizados, para promover ambiental. Pesquisas sobre reciclagem de RCD
um aumento na oferta de vias pavimentadas nos são realizadas em outros países há tempos. A
grandes centros urbanos ou mesmo nas cidades primeira abordagem à reciclagem de pavimentos
de médio porte brasileiras, caracterizadas surgiu após a 2ª Guerra Mundial, pela
principalmente pelo baixo volume de tráfego necessidade de recuperar infraestruturas,
(Moreira et al., 2017). O principal atrativo dos aplicado no Reino Unido um processo de
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reaproveitamento chamado “Retread Process”, da formação Guabirotuba, o qual é composto por


ou processo de recauchutagem; que 35,5% de argila (< 0,002 mm), 39,5% de silte
posteriormente na década de 1970 é largamente (0,002 a 0,075 mm) e 25% de areia fina (0,074 a
atualizado na cultura norte americana (Baptista, 0,42 mm).
2006). A Figura 1 mostra a curva granulométrica do
Várias pesquisas têm demonstrado que o solo. A umidade higroscópica encontrada do
processo de quebra se dá no momento da solo in situ é próxima a 40%.
compactação. Como resultado desta quebra,
pode haver a diminuição do módulo de
resiliência e aumento da deformação permanente
do pavimento (Zeghal, 2009), no entanto
Cinconegui (2004) discorreu sobre o assunto, e a
maior quebra de grãos está associada ao processo
de compactação e não durante à vida útil do
pavimento. Park (2003), em seu estudo, mostra
que há diferença da quebra dos grãos
dependendo do método de compactação, haja
visto que quando o processo de compactação é
por impacto o grão apresenta uma forma
angulosa, gerando uma textura superficial
Figura 1. Curva granulométrica do solo
rugosa, e, por conseguinte, incrementa a coesão A Tabela 1 apresenta as propriedades físicas
ou intercepto coesivo, e quando a compactação é do solo estudado.
dinâmica, a estrutura dos grãos fica mais
dispersos. As quebras dos grãos podem ocorrer Tabela 1. Propriedades físicas do solo
mesmo sob baixas tensões, dependendo das Valores
características do grão de RCD. Há vários Propriedades Físicas
Médios
ensaios propostos para quantificar essa quebra de Massa especifica real dos grãos, Gs 2,71 g/cm³
grãos, como, por exemplo, os de Lee e Areia média 7,5 %
Farhoodmand (1967 apud Goméz, 2011) que Areia fina 25,9%
desenvolveram uma técnica para medir a quebra Silte 57,6%
de grãos enquanto pesquisavam sobre materiais 9%
Argila
granulares como filtro de barragens. 53,1%
Limite de liquidez, LL
Dessa forma, esse estudo tem como objetivo 21,3%
Índice de plasticidade, IP
estudar o efeito da incorporação do RCD no
Índice de Quebra de Grãos em solos argilosos. 2.1.2 RCD
2 MATERIAIS E MÉTODOS O resíduo de construção civil utilizado foi
coletado na usina de reciclagem da cidade de
2.1 Materiais Almirante Tamandaré, Região metropolitana de
Curitiba. O tipo de resíduo escolhido é misto, ou
2.1.1 Solo seja, composto por resíduos cinzas (concreto,
argamassas, etc.), vermelhos (cerâmicos) e
O solo utilizado para o estudo foi coletado em brancos (cal, gesso, etc.). Foram escolhidas duas
uma obra próximo à cidade de Curitiba, no granulometrias de RCD: areia (material ≤
município de Fazenda Rio Grande (PR), em um 4,8mm) e pedrisco (material ≤ 19,1mm); sendo
local de construção de casas populares com realizada a granulometria do RCD, representada
localização geográfica 25°41'03.9"S e na Figura 2.
49°18'32.5"W. Foi escolhido a terceira camada
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100 Tabela 3. Dosagem dos Insumos.


90 Areia (RCD) Porcentagem de cada Insumo
Mistura
80 Pedrisco (RCD) Solo Areia Pedrisco
70 Solo 100% 0% 0%
Passante (%)

60 M1 60% 30% 10%


50 M2 60% 20% 20%
40 M3 50% 30% 20%
30 M4 40% 30% 30%
20
10
2.2.2 Ensaios de Compactação
0
0,001 0,01 0,1 1 10 100
Diâmetro (mm) Foram feitos ensaios de compactação do solo nas
três energias (normal, intermediária e
Figura 2. Curva Granulométrica do RCD modificada), conforme a norma DNIT –
164/2012 - ME. A Figura 3 mostra as curvas de
A Tabela 2 apresenta as propriedades físicas compactação da argila estudada. A partir de
das misturas solo-RCD estudadas. esses dados e tendo em consideração a natureza
de que o presente trabalho e só uma fração de
Tabela 2. Propriedades físicas das misturas solo-RCD
uma pesquisa complexa, a argila é estudada e
Propriedades Físicas M1 M2 M3 M4
apresentada com as propriedades na
Massa especifica real dos 2,73 2,75 2,78 2,78
grãos, Gs g/cm³ g/cm³ g/cm³ g/cm³
compactação normal.
Areia grossa 8,4% 24,3% 29,1% 31,1%
Areia média 16,2% 18,1% 19,5% 17,6%
16,0
Areia fina 25% 18,2% 22,1% 17,1%
Silte 44,9% 31,1% 24,1% 29,1%
Argila 5,4% 8,3% 5,3% 5,1% 15,0
γdmáx (kN/m³)

Limite de liquidez, LL 43,8% 50,2% 44,6% 47,1%


Índice de plasticidade, IP 16% 21,4% 9,3% 3,1%
14,0

2.1.3 Água
13,0
A água empregada tanto para os ensaios de
caracterização do solo, quanto de Proctor
Normal foi destilada conforme as especificações 12,0
das normas. 0 20 40
Umidade (%)
2.2 Métodos
S=100% S=90%
S=80% Proctor Modificado
2.2.1 Dosagem das misturas
Proctor Intermediário Proctor Normal

Foi realizado uma estabilização granulométrica


Figura 3. Curvas de compactação da argila
para determinar o teor ótimo da mistura do solo
com RCD e tendo em consideração diferentes
Assim, também foram realizados ensaios de
pesquisas sobre reforço de solos com RCD,
compactação com cada mistura usado na energia
definiu-se para o presente estudo 4 teores de
normal. A Tabela 4 apresenta a variação do peso
RCC. Para facilitar o estudo adotou-se as
específico seco máximo e a umidade ótima para
nomenclaturas: Solo, M1, M2, M3 e M4; de
diferentes misturas de RCC:
acordo com a Tabela 3:
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100
Tabela 4. Propriedades de compactação da argila
com diferentes misturas.
Peso especifico Umidade 90
Mistura seco máximo, ótima,
γdmáx (kN/m3) Wot (%)
0 1,358 32,5 80
M1 1,521 25,2

% Passante
M2 1,512 24,0 70
M3 1,581 21,3
M4 1,613 20,2 60

2.2.3 Índice de Quebra de Grãos 50

O método empregado foi o método preconizado


40
pelo Departamento Nacional de Estrada de
Rodagem DNER - ME 398, (DNER, 1999).
Esse método fornece o índice de degradação 30
0,01 0,10 1,00 10,00 100,00
IDp que tem como objetivo analisar o
comportamento do material em função do Diâmetro (mm)
desgaste sofrido durante o processo de Mistura 1 - antes da compactação
compactação. Ensaios de granulometria foram Mistura 1 - após a compactação
feitos sobre as misturas antes e após os ensaios Mistura 2 - antes da compactação
Mistura 2 - após a compactação
de compactação. Mistura 3 - antes da compactação
O cálculo do Índice de Degradação (IDp) é Mistura 3 - após a compactação
calculado pela fórmula (1). Mistura 4 - antes da compactação
Mistura 4 - após a compactação
IDP = ∑D / 6 (1)
Figura 4. Curva granulométrica dos grãos antes e após a
Onde D é a subtração da porcentagem inicial compactação na energia Proctor Normal
pela final de cada peneira.
Observa-se que houve mudança nas curvas
3 RESULTADOS granulométricas das misturas que foram
deslocadas para cima e para a esquerda, em
3.1 Influência do teor de RCD no IDP. relação às curvas originais, logo, com grãos mais
finos. Para quantificar o observado na Figura 4,
A avaliação da quebra dos grãos das misturas foram calculados os Índices de quebra dos grãos
solo-RCD foi realizada no ensaio de (IDp) após a compactação (Tabela 5).
compactação nas 3 energias de compactação. Os
resultados e as análises são apresentados a Tabela 5. Índice de quebra dos grãos para cada mistura na
energia Proctor Normal
seguir. A Figura 4 apresenta a curva
granulométrica das misturas 1 a 4 antes e após a Misturas IDp (%)
energia de compactação Proctor Normal. 1 4,4
2 4,0
3 2,7
4 1,3

Nota-se que o índice de quebra diminui com o


aumento de teor de resíduo nas misturas, haja
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vista que o agregado reciclado resiste mais ao AGRADECIMENTOS


processo de quebra, e, como as misturas 1 e 2
tem o mesmo teor de RCD (40%) adicionado ao Os autores querem agradecer o apoio do
solo, sendo que a mistura 1 tem 30% de areia de Programa de Pós-Graduação em Engenharia
resíduo e 10% de pedrisco de resíduo e a mistura Civil (PPGEC) da Universidade Tecnológica
2 tem 20% de areia de resíduo e 20% de pedrisco Federal do Paraná (Curitiba, Brasil). Também
de resíduo e os Índices de quebra dos grãos querem agradecer à instituiçãos de fomento de
foram diminuindo. Pode-se concluir que o pesquisa brasileira, CAPES, pelo apoio
aumento do agregado reciclado aumenta a financiero.
resistência à quebra de grãos, e quanto maior o
agregado menor será o Índice de quebra dos REFERÊNCIAS
grãos, já que houve uma diferença no índice
entre as misturas 1 e 2. Baptista, A. Misturas Betuminosas Recicladas a Quente
em Central: contribuição para o seu estudo e aplicação.
Dissertação (Doutorado) - FCTU de Coimbra, grau de
4 CONCLUSÕES Doutor em Engenharia Civil, Coimbra, 2006.
Cardoso, R.; Silva, R. V.; De Brito, J.; Dhir, R. Use of
Quanto maior a incorporação de RCD ao solo, recycled aggregates from construction and demolition
maior será a massa específica, maior será o waste in geotechnical applications: A literature review.
empacotamento do solo proporcionando uma Waste Management. vol. 49, p. 131 – 145, 2016.
Cinconegui, G. F. Caracterização Mecanística de
maior interação do esqueleto sólido do solo. As Agregados Reciclados de Resíduos de Construção e
curvas granulométricas das misturas sofreram Demolição dos Municípios do Rio de Janeiro e de Belo
mudanças significativas após a compactação. Os Horizonte para uso em Pavimentação. 2004. Tese de
índices de quebra dos grãos calculados variaram Doutorado. Tese de Doutorado–Rio de Janeiro:
em função do teor de RCD no solo e da energia UFRJ/COPPE.
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte.
de compactação utilizada DNIT 164/2012 – ME - Compactação utilizando
A mistura 4 proporcionou o menor IDP dentre amostras não trabalhadas. 2013.
as misturas estudadas, isso pode ser explicado, Departamento Nacional de Estradas De Rodagem - DNER
pois o índice de quebra diminui com o aumento – ME – 398/99. Agregados – Índice de degradação
de teor de resíduo nas misturas, haja vista que o após Proctor (IDp). 1994.
Gómez, A.M.J. Estudo experimental de um resíduo de
agregado reciclado resiste mais ao processo de construção e demolição (RCD) para utilização em
quebra. E o aumento da granulometria do RCD pavimentação. 2011. 123 f. Dissertação (Mestrado em
incorporado diminui ainda mais o IDP, haja vista Geotecnia) – Coordenação dos Programas de Pós-
que os grãos maiores possuem menos fraturas na graduação de Engenharia, Universidade de Brasília
estrutura cimentada, resistindo mais à energia de (UnB). Brasília, 2011.
Moreira, E. B. Baldovino, J. A. Izzo, R. L. S. Perretto, F.
compactação empregada. Teixeira, W. (2017). Estudo do efeito da adição de
Com índice de quebra das misturas da resíduos de construção e demolição em solo argiloso
presente pesquisa, pode-se dizer que as misturas para pavimentação de baixo tráfego. XI Simpósio de
3 e 4 podem ser usadas como camadas de base e Práticas de Engenharia Geotécnica da Região Sul,
sub-base de obras de pavimentação, ou ainda, em Bento Gonçalves, PR.
Park, T. Application of construction and building debris as
obras em que necessite obter uma resistência do base and subbase materials in rigid pavement. Journal
solo à compactação sem que haja tanta quebra de of Transportation Engineering, v. 129, n. 5, p. 558-563,
partículas, como por exemplo, camada de 2003.
regularização de fundação, haja vista que Zeghal, Morched. The impact of grain crushing on road
formam uma matriz de esqueleto sólido com o performance. Geotechnical and Geological Engineering,
v. 27, n. 4, p. 549, 2009.
solo diminuindo o IDp dessas camadas durante o
processo de compactação.
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Análise da Resistência ao Cisalhamento de Misturas de Solo


Argiloso com Resíduos Fibrosos da Casca do Coco (Coco
nuciferas)
Antônio Italcy de Oliveira Júnior
UFPE, Recife, Brasil, antonioitalcy@hotmail.com

José Fernando Thomé Jucá


UFPE, Recife, Brasil, jucah@ufpe.br

Janilson Alves Ferreira


UFPE, Recife, Brasil, janilsonengmat@gmail.com

RESUMO: A prática de misturar solos com elementos fibrosos visando aplicações geotécnicas tem
apresentado melhorias nas propriedades geomecânicas dos materiais resultantes. O objetivo deste
trabalho é analisar o comportamento da resistência ao cisalhamento de misturas de um solo argiloso
com resíduos fibrosos oriundos da casca do coco. A pesquisa foi desenvolvida utilizando um solo
argiloso proveniente da formação Barreiras situada na região metropolitana do Recife, misturado
com 0, 0,5, 1 e 2% de fibras de coco já beneficiadas. Foram realizados ensaios de cisalhamento
direto com e sem inundação utilizando tensões normais de 50, 100 e 200 kPa e análise de
microscopia eletrônica de varredura (MEV). Os ensaios e as micrografias revelaram que a
resistência ao cisalhamento e a adesão do solo a superfície da fibra foram melhoradas para o
conteúdo de até 1% de fibra de coco.

PALAVRAS-CHAVE: Compósitos, Solo Argiloso, Fibra de Coco, Propriedades Mecânicas.

1 INTRODUÇÃO ter uma ideia, Bitencourt e Pedrotti (2008)


relatam que os aumentos da produção de água
No Brasil, os resíduos provenientes da produção de coco tem gerado em torno de 6,7 milhões de
do coco verde têm chamado atenção devido a toneladas de casca/ano. A casca é constituída
quantidade de material descartado. Isso porque por um material volumoso e fibroso de difícil
da fruta aproveita-se para consumo humano degradação, que na maioria da vezes é
apenas a água e a polpa de coloração branca, destinado de forma inadequada causando
ambas situadas no interior do coco. O Brasil poluição ambiental e sendo foco de proliferação
está entre os principais produtores e de doenças. Embora existam algumas
consumidores mundiais deste fruto. A região aplicações para os resíduos fibrosos
Nordeste se destaca a nível nacional sendo provenientes da casca do coco verde após
responsável por cerca de 75% da produção beneficiamento, ainda é comum encontra-los
brasileira (FERREIRA NETO et al., 2002), logo sendo dispostos em lixões, aterros controlados e
trata-se de um material em abundância nesta aterros sanitários.
região. Os materiais reforçados com fibras são
O peso médio do coco é cerca de 1,5 kg, denominados de compósitos. Na geotecnia estes
deste 20 % correspondem ao conjunto polpa materiais vem sendo utilizado para diversas
mais água e os 80 % restante correspondem a finalidades. Em particular, os compósitos
casca (SILVEIRA e ARAGÃO, 2016). Para se constituídos por matrizes de solos argilosos
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compactados e reforçados com fibras são com aproximadamente 62% das partículas
utilizados para obtenção de materiais com passando na peneira 200 (<0,074 mm),
melhores características para construção, por densidade real dos grãos de 2,621 g/cm³ e
exemplo, de camadas de base e cobertura de atividade equivalente a 0,45, sendo considerado
aterros de resíduos sólidos urbanos e barreiras como uma argila inativa. Na Figura 1 é
de contaminantes (MILLER e RIFAI, 2004; apresentado a curva de distribuição
MUKHERJEE e MISHRA, 2017). granulométrica com e sem defloculante do solo
A obtenção de fibras a partir do utilizado. O material pode ser classificado como
beneficiamento das cascas do coco é uma CL no Sistema Unificado e como A7-5 no
prática de baixo custo e sua inclusão como sistema de classificação do Highway Research
reforço de solos pode contribuir para a Board.
valorização deste resíduo. Além de a
utilizaçãoda fibra gerar emprego e renda, a
partir da criação de unidades de beneficiamento,
ela também diminui o volume do material a ser
descartado. Esta prática pode contribuir para o
aumento da vida útil dos aterros sanitários que é
um dos grandes desafios da geotecnia ambiental
na atualidade.
O reforço de solos compactados utilizando
fibras tem demonstrado eficiência, sobretudo,
no comportamento mecânico dos materiais
resultantes. Diversos autores relatam que a Figura 1. Distribuição Granulométrica com e sem
inclusão da fibra em matrizes de solos, defloculante do solo utilizado.
sobretudo os de granulometria fina, tem
proporcionado aumento de resistência e redução Este material foi obtido a partir de coletas de
da queda pós-pico, além de conferir maior amostras deformadas em uma jazida
ductilidade e tenacidade (CONSOLI et al., proveniente da formação Barreiras situada na
2007; MALIAKAL & THIYYAKKANDI, Região Metropolitana do Recife – RMR, mais
2013; MOHAMED, 2013). precisamente no município de Jaboatão dos
Portanto, é possível que a inclusão dos Guararapes.
resíduos oriundos da casca do coco possam Os resíduos da casca do coco foram obtidos
melhorar o comportamento mecânico de solos já beneficiados por uma comunidade situada no
finos compactados. Nesse contexto, o objetivo estado do Ceará que recebe orientações da
deste trabalho é analisar a influência da adição Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
de resíduos fibrosos oriundos da casca do coco (Embrapa). Foi realizada a caracterização da
no comportamento e parâmetros de resistência composição gravimétrica do material fibroso
ao cisalhamento de um solo argiloso utilizando três amostras selecionadas de modo
compactado. aleatório de um fardo do material. Cada amostra
pesava 15 g, totalizando 45 g caracterizadas de
2 MATERIAIS E MÉTODOS um fardo com 450 g. Com auxílio de um
escalímetro, as fibras foram classificadas em
2.1 Materiais utilizados diferentes tamanhos da seguinte forma: pó, 1 ≤
L < 5 cm, 5 ≤ L < 10 cm e L ≥ 10 cm. Após a
Para o desenvolvimento da pesquisa foi classificação foi utilizada uma balança de
utilizado um solo de textura fina de alta precisão da ordem 0,001 g para pesar cada
plasticididade (LL= 49,34% e IP= 17,92%), tamanho e em seguida calculou-se o percentual
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de cada fração. Aproximadamente, 81% das de prova.


fibras apresentaram tamanhos entre 1 e 5 cm e
16% foi classificado como pó, conforme Tabela 1. Parâmetros de Compactação das misturas.
apresentado na Figura 2, em torno de 97% do Densidade
Teor de Fibra (%) Umidade Ótima (%) Seca
material é considerado como pó mais fibras (g/cm³)
curtas de até 5 cm. 0 19,2 1,68
0,5 19,4 1,66
1 19,6 1,644
2 20,5 1,584

2.3. Ensaios de Resistência ao Cisalhamento

Os parâmetros de resistência ao cisalhamento


para os diferentes teores de fibra analisados
foram obtidos através do ensaio de
cisalhamento direto, conforme descrito na
Figura 2. Composição gravimétrica do resíduo fibroso norma ASTM D3080 (ASTM, 2004). O ensaio
utilizado na pesquisa. teve o intuito de determinar a influência da
adição de fibra de coco na coesão (c) e no
2.2. Preparação das misturas ângulo de atrito (φ) em relação ao solo puro
analisado.
Foram estudadas misturas com teores de 0, 0,5, As amostras ensaiadas foram retiradas dos
1 e 2% de fibra de coco em relação ao peso seco corpos de prova com auxílio de espátulas e
de solo. Os teores foram selecionados visando utilizando um receptáculo quadrado, conforme
avaliar o efeito de percentuais dobrados de apresentado na Figura 3.
massa de fibra nas misturas. Além disso estes
teores foram definidos baseados nas
experiências de diversos trabalhos em relação
ao reforço de solos com fibras (PRABAKAR e
SRIDHAR, 2002; LEOCÁDIO, 2005;
MOHAMED, 2013; BOLAÑOS, 2013).
As misturas foram realizadas em uma
bandeja metálica e revolvidas utilizando uma
espátula com o intuito de homogeneizar o
material. Em seguida, foram moldados corpos Figura 3. Moldagem das amostras para o ensaio de
de prova cilíndricos com área de 78,54 cm² e cisalhamento direto.
altura de 12,7 cm. Os corpos de prova foram
moldados a partir da compactação do material Em seguida, a amostras foram transferidas
na umidade ótima das respectivas misturas do recpetáculo para a caixa de cisalhamento e
obtidas previamente através do ensaio de posteriormente foram colocadas no
compactação. equipamento para realização do ensaio. O
O ensaio de compactação foi realizado equipamento utilizado foi o mesmo descrito por
seguindo a norma NBR 7182 (ABNT,1986) Correa, Jucá e Motta (2015), que consiste em
utilizando-se a energia de compactação Proctor uma prensa de cisalhamento direto com sistema
Normal e com reuso de material. Na Tabela 1 são de aplicação de tensão normal constituído de
apresentados os parâmetros de compactação de pesos em pendural. As leituras dos
cada mistura utilizada na prepração dos corpos deslocamentos verticais e horizontais foram
realizadas utilizando extensômetros com
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sensibilidade de 0,01 mm e a força horizontal como a mesma influenciou no desempenho


foi lida através de um anel dinamométrico de mecânico do solo reforçado.
constante de 0,16 kgf div-1 e capacidade de 500 A amostra utilizada foi submetida a vácuo da
kgf. metalização de 10-5 bar no departamento de
Os ensaios foram conduzidos em condições Química Fundamental da UFPE e
não inundadas e inundadas da caixa de posteriormente foram analisadas em um
cisalhamento. Este procedimento teve o intuito microscópio eletrônico de varredura,
de avaliar a influência da adição do material pertencente ao Laboratório do Departamento de
fibroso no comportamento da resistência ao Engenharia Mecânica da UFPE.
cisalhamento em condições diferentes do teor
de umidade do material. Na condição não 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
inundada as etapas de confecção dos corpos de
provas, moldagens e cisalhamento direto das Nas Figuras 4 e 5 são apresentadas as curvas
amostras foram realizadas ambas no mesmo dia, resultantes do ensaio de cisalhamento direto
tendo em vista que com o passar do tempo as para as tensões normais de 50 e 200 kPa na
amostras perdem umidade para o meio. Na condição não inundada, respectivamente, e nas
condição inundada, as amostras ao serem Figuras 6 e 7 são apresentadas as curvas obtidas
inseridas no equipamento de cisalhamento para as mesmas tensões normais na condição
direto foi adicionado água de modo a preencher inundada.
completamente o suporte da caixa de
cisalhamento e somente após 24 horas foram
cisalhadas.
Em ambas as condições foram aplicadas
tensões normais de 50, 100 e 200 kPa. As
mesmas foram mantidas até a estabilização dos
deslocamentos verticais. Com o intuito de
padronizar os ensaios adotou-se um tempo de
45 minutos de adensamento.
O cisalhamento dos corpos de prova para
cada tensão normal aplicada foi realizado com
velocidade constante de 0,483 mm/min. Como
critério de ruptura foram adotados os valores de
pico da tensão cisalhante ou valores máximos,
quando a curva tensão-deslocamento horizontal
não indicou valores de pico bem definidos.

2.4. Análises Microscópicas

Foram realizadas análises de microscopia


eletrônica de varredura nas superfícies da fibras
contidas no plano de ruptura cisalhado do corpo Figura 4. Curvas tensão cisalhante versus deslocamento
de prova ensaido que apresentaram melhor horizontal (a) e deslocamento vertical versus
deslocamento horizontal (b) para tensão normal de 50
desempenho mecânico. Esta análise teve o kPa na condição não inundada.
intuito de avaliar a interação microestrutural
entre a matriz e o reforço com intuito de
compreender melhor a interface entre as
diferentes fases da misturar e como entender
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Figura 5. Curvas tensão cisalhante versus deslocamento


horizontal (a) e deslocamento vertical versus Figura 7. Curvas tensão cisalhante versus deslocamento
deslocamento horizontal (b) para tensão normal de 200 horizontal (a) e deslocamento vertical versus
kPa na condição não inundada. deslocamento horizontal (b) para tensão normal de 200
kPa na condição inundada.

Analisando os gráficos correspondentes aos


ensaios nas condições com e sem inudação,
nota-se que a inclusão dos resíduos fibrosos da
casca do coco verde na matriz de solo argiloso
compactado aumentou a resistência de pico em
ambos os percentuais estudados e em todos os
níveis de tensões normais adotados (Figuras 4a,
5a, 6a e 7a). No entanto, este aumento de
resistência de pico dos materiais reforçados é
mais evidente nos níveis mais elevados de
tensão normal (σN =200 kPa), conforme
observado nas Figura 5a e 7a, respectivamente.
Ao comparar o solo puro e reforçado com
diferentes percentuais de fibras, verifica-se que
para níveis de deformação horizontal de até 1
mm, tanto na condição inundada quanto na
condição não inundada, o compotamento da
tensão cisalhante versus deformação horizontal
é semelhante para todos os níveis de tensão
Figura 6. Curvas tensão cisalhante versus deslocamento normal. Isso sugere que idenpendente da
horizontal (a) e deslocamento vertical versus
deslocamento horizontal (b) para tensão normal de 50
condição de inundação do ensaio a fibra
kPa na condição inundada. necessita que a matriz atinja certos níveis de
deformação para que a mesma possa transmitir
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o carregamento até o reforço, fazendo com que deslocamento vertical observado no solo puro e
o conjunto matriz-reforço contribuam nas demais misturas. Este comportamento deve
simultaneamente para a resistência ao estar associado à tensão de sobre adensamento
cisalhamento do compósito solo-fibra. da matriz de solo argiloso compactado. É
Ainda analisando as curvas tensão cisalhante provavel que a inclusão do material fibroso
versus deslocamento horizontal em ambas as reduza a tensão de sobre adensamento da
condições de inundação, pode ser observado mesma.
também que houve redução na queda de Para a tensão normal de 200 kPa, observa-se
resistência pós-pico com o aumento da tensão que o solo puro e a mistura com 0,5 % de fibra
normal aplicada, principalmente para o material apresentaram uma etapa de compressão inicial e
reforçado com 0,5 e 1 % de material fibroso. É em seguida houve expansão até convergir para
possível observar que o solo puro apresenta um valor nulo de deslocamento vertical na
comportamento frágil na ruptura para níveis de condição não inundada (Figura 5b). Isso sugere
tensão normal baixos (Figura 4a e 6a), sendo que a tensão de sobreadensamento do material
este comportamento reduzido à medida que se nesta condição seja próxima de 200 kPa. Já as
aumenta os níveis de tensão normal aplicada misturas com 1 e 2% de material fibroso
(Figuras 5a e 7a). As amostras reforçadas apresentaram uma etapa de compressão e
apresentaram comportamento menos frágil na apenas no final da curva houve uma expansão
ruptura, isso porque a inclusão da fibra com uma taxa de dilatância pequena. Este
aumentou a ductibilidade e a tenacidade do comportamento também indica que
material, sobretudo, para os percentuais de 0,5 e possivelmente o aumento do teor de fibra reduz
1% onde se observa que a área abaixo da curva a tensão de sobre adensamento da matriz.
tensão cisalhante versus deformação horizontal Na condição inundada observa-se que na
é maior em relação ao o material reforçado com tensão normal de 200 kPa todas as misturas
2% de material fibroso e o solo sem reforço. também apresentaram uma etapa de compressão
Os gráficos de deslocamento horizontal inicial, porém em seguida houve expansão até
versus deslocamento vertical indicam um convergir para um valor de deslocamento
comportamento típico de um material argiloso vertical abaixo de zero (Figura 7b). Isso pode
sobre adensado, o que era de se esperar tendo indicar que a tensão de sobre adensamento do
em vista que trata-se de um material fino solo puro e das misturas é menor que 200 kPa.
compactado. Para os níveis de tensão normal de Nesse sentido, nota-se que a inundação também
50 kPa verifica-se que o solo puro e as misturas, proporcinou redução da tensão de
após uma etapa de compressão inicial, ocorre sobreadensamento, quando se compara com os
uma expansão onde a máxima taxa de dilatância resultados obtidos na condição não inundada.
acontece a um deslocamento horizontal Em ambos os resultados verificados nas
próximo ao pico de resistência e em seguida a curvas tensão cisalhante versus deslocamento
taxa de dilatância diminui convergindo para um horizontal e deslocamento vertical versus
valor final quase que constante (Figuras 4b e deslocamento horizontal corroboram com os
6b). obtidos por Bolaños (2013) que avaliou a
No entanto, a medida que se aumenta o teor influência da inclusão de até 1,5% de fibra de
de fibra esta taxa de dilatância que converge coco em um solo argiloso compactado,
para um valor quase constante apresenta classificado como CL pelo sistema unificado,
redução menos significativa em comparação ao oriundo do Rio de Janeiro e Leocádio (2005)
solo puro. Por esta razão na mistura com 2% de que avaliou a adição de 0,5% de fibras de sisal
material fibroso praticamente não há redução da em um solo argiloso compactado, também
taxa de dilatancia, embora no final da curva a classificado como CL pelo sistema unificado,
expansão se aproxime do valor constante de proveniente de Minas Gerais.
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A partir dos resultados e curvas obtidas, Quando se compara o solo puro e o solo
conforme apresentadas anteriormente, foi reforçado com os diferentes percentuais de
possível realizar uma análise da inflência da material fibroso na condição não inundada
adição de material fibroso nos parâmetros de verifica-se que o ângulo de atrito apresentou
resistência ao cisalhamento do solo. Utilizando pequena alteração, mas o intercepto de coesão
o critério linear de Mohr-Coulomb como apresentou aumentos mais significativos sendo
critério de ruptura foram obtidas as envoltórias que estes ganhos foram maiores nas misturas
de resistência para a condição não inundada com 0,5 e 1% de material fibroso (Figura 8).
(Figura 8) e para a condição inundada (Figura Na condição inundada é mais evidente que o
9). ângulo de atrito com a adição do material
fibroso permaneceu praticamente inalterado.
Além disso, verificou-se que houveram
aumentos nos valores de intercepto de coessão
mais significativos para as misturas com 0,5 e
1% de material fibroso. No entanto para a
mistura com teor de 2% de reforço praticamente
não houve aumento no intercepto de coesão em
relação ao solo puro (Figura 9). Este
comportamento indica que apesar da inundação,
a fibra ainda pode influenciar positivamente os
parâmetros de resistência ao cisalhamento da
Figura 8. Envoltória de Resistência do Solo Puro e das matriz a depender da proporção de reforço
Misturas na Condição Não Inundada. utilizado.
Na Tabela 2 são sistematizados os
parâmetros de resistência ao cisalhamento
intercepto de coesão (c), ângulo de atrito () e
coeficiente de determinação (R²) das respectivas
regressões lineares obtidas nas envoltórias para
os diferentes percentuais de reforço e em ambas
as condições de realização do ensaio.

Tabela 2. Parâmetros de Resistência ao Cisalhamento


obtidos das Envoltórias.
Condição Não Inundada
Teor de Fibra (%)
Figura 9. Envoltória de Resistência do Solo Puro e das c (kPa)  () R²
Misturas na Condição Inundada.
0 60,4 30,5 0,9729
De modo geral, percebe-se que em ambas as 0,5 76,4 31,3 0,9879
condições de inundação do ensaio, as 1 81,2 32,7 0,9934
envoltórias de resistência indicam que a 2 71,3 30,1 0,9989
inclusão do material fibroso proporcionou
Condição Inundada
aumento nos parâmetros de resistência ao Teor de Fibra (%)
c (kPa)  () R²
cisalhamento, sendo verificado maior efeito no
valor do intercepto de coesão. Este mesmo 0 25,9 32,7 0,9989
comportamento também foi verificado em 0,5 36,7 32,9 0,9981
diversos trabalhos analisando diferentes solos e 1 41,3 34,6 0,9977
fibras (CONSOLI et al., 2007; MALIAKAL e 2 29,3 32,7 0,9989
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verde, distribuídos aleatoriamente e


Os valores máximos nos parâmetros independente da condição de realização do
intercepto de coesão e ângulo de atrito foram ensaio pode ser considerado como proporção
obtidos reforçando a matriz com 1% de material ótima para melhorar o desempenho mecânico da
fibroso, em ambas as condições de realização matriz de solo argiloso compactado originária
do ensaio. Na condição não inundada esta da Região Metropolitana do Recife.
mistura apresentou valores de 81,2 kPa de De acordo com Donato et al. (2004), o
intercepto de coesão e 32,7° de ângulo de atrito, aumento da resistência ao cisalhamento em
representando aumentos com cerca de 34,4% no solos reforçados é mais significativo em
intercepto de coesão e 7,5% no ângulo de atrito materiais argilosos, pois há maior probabilidade
em relação ao solo não reforçado. Já na de adesão matriz-reforço devido a maior
condição inundada o intercepto de coesão e o quantidade de pontos de contato entre a fibra e
ângulo de atrito foram de 41,3 kPa e 34,6°, as partículas do solo. Nesse sentido,
respectivamente, representando aumentos de provavelmente nas misturas com 0,5 e 1% de
59,5% no intercepto de coesão e 5,8% no material fibroso houveram maiores contatos
ângulo de atrito em relação ao solo sem reforço. fibra-partículas de argila. Por outro lado, na
A mistura com 0,5% de reforço apresentou mistura com 2% de material fibroso pode ter
valores intermédiários de intercepto de coesão e ocorrido maiores contatos fibra-fibra, em que há
ângulo de atrito, em ambas as condições uma maior probabilidade de deslizamento
analisadas. Já a mistura com teor de fibra de 2% devido a falta de adesão entre a matriz e o
na condição não inundada embora tenha reforço. Isso explicaria o motivo pelo qual as
apresentado aumento no valor de intercepto de misturas com 0,5 e 1% de material fibroso
coesão, houve uma pequena redução no valor apresentaram melhores desempenhos mecânicos
do ângulo de atrito quando comparado com o do que a mistura com 2% de reforço.
solo puro e na condição inundada verificou-se Na Figura 10 pode ser visualizada uma
um pequeno aumento no valor do intercepto de micrografia com ampliação de 50 vezes do solo
coesão, porém o valor do ângulo de atrito reforçado com teor de 1% de material fibroso
permaneceu o mesmo do solo puro. realizada no plano de ruptura do amostra após
Ao comparar estes resultados com outros ensaio de cisalhamento. Nela é possível
trabalhos que utilizaram fibras para reforçar observar que as partículas de argila se
matrizes de solos argilosos compactados, aglomeraram ao redor da fibra, proporcionam
classificados como CL pelo sistema Unificado, um embutimento da mesma na matriz. Este
percebe-se que os mesmos estão de acordo com comportamento favoreceu a transmissão das
a tendência observada de mistura ótima nas solicitações mecânicas da matriz para a fibra,
demais experiências. Por exemplo, trabalhos resultando em um melhoramento da resistência
como o de Prabakar e Sridhar (2002) avaliando ao cisalhamento do conjunto solo-fibra.
uma matriz argilosa oriunda de Bhopal na Índia, Na Figura 11 é apresentado uma micrografia
reforçado com fibras de sisal obtiveram eletrônica de varredura da superfície do material
melhores parâmetros de resistência ao fibroso proveniente do solo reforçado (Teor de
cisalhamento utilizando até 0,75% de material 1%) após ensaio de cisalhamento, ampliada em
fibroso. Já Bolaños (2013) obteve parâmetros 500 vezes. Verifica-se que há partículas de
de resistência ao cisalhamento satifatórios argila aderidas na superfície do material fibroso,
utilizando os teores de 1% de fibra de coco em demonstrando que existe compatibilidade entre
uma matriz proveniente do Rio de Janeiro. a matriz e o reforço.
Portanto, com base nesses resultados é De acordo com Rosário et al. (2011) as
possível evidenciar que a inclusão de 1% dos fibras vegetais apresentam energia superficial
resíduos fibrosos oriundos da casca do coco predominantemente polar, caso a matriz do
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compósito possua energia apolar haverá pouca bordas favorecendo a ocorrência de interações
adesão a superfície da fibra, por outro lado, caso eletrostáticas (MARIANI, VILLALBA e
a matriz do compósito possua energia ANAISSI, 2013). Nesse sentido, a distribuição
superficial polar, haverá adesão devido atração de cargas nas partículas de argila e a energia
eletróstatica entre os materiais. superficial polar da fibra devem ter favorecido a
adesão eletrostática entre matriz e o reforço das
misturas com 1%. Além disso, a compactação
da mistura deve ter favorecido a adesão
mecânica da matriz ao reforço, visto que as
partículas de argila podem ter penetrado nos
microporos da superfície do material fibroso
contribuindo para o embutimento do reforço na
matriz como observado na Figura 10.

4 CONCLUSÕES

Foi possível concluir que os resíduos fibrosos


da casca do coco verde influenciaram
positivamente no comportamento mecânico do
solo a depender da proporção. O material
Figura 10. Micrografia Eletrônica de Varredura do Solo fibroso favoreceu aumento na resistência de
Reforçado com Fibra (Teor de 1%) com uma Ampliação pico, redução da queda pós pico, aumento na
de 50 vezes. ductibilidade e na tenacidade do solo argiloso
compactado, sendo estes efeitos mais
significativos para as misturas com teores de 0,5
e 1% de material fibroso.
No que se refere aos parâmetros de
resistência ao cisalhamento, conclui-se que a
inclusão da fibra teve maior influencia nos
valores de intercepto de coesão e menos
influencia nos valores de ângulo de atrito,
independente da condição de realização do
ensaio. A mistura ótima que apresentou os
maiores valores de intercepto de coesão e
ângulo de atrito foi a mistura com 1% de
material fibroso.
Quanto as análises microscópicas entende-se
que houve compatibilidade entre a matriz de
Figura 11. Micrografia Eletrônica de Varredura da
Superfície da Fibra para Mistura com 1 % de Reforço solo argiloso e os resíduos fibrosos da casca do
Amplianda em 500 vezes. coco. As partículas de argila na mistura ótima
se aglomeraram em torno da fibra gerando um
Os solos argilosos são formados por diversos encapsulamento do reforço, justificando o
minerais cujo tipo e quantidade influenciam na melhor desempenho mecânico da mistura. As
natureza eletrica do material. Em sua maiora as micrografias sugerem que ocorreu adesão do
partículas de argilas são constituídas por solo argiloso a superfície da fibra,
lamelas delgadas que podem ser carregadas provavelmente devido a afinidade eletrostática
negativamente na superfície e positivamente nas solo-fibra e a adesão mecânica favorecida pelo
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Análise da Variabilidade do Comportamento Geotécnico de


Mistura de Solo Residual Silto Argiloso e Resíduo da Construção
Civil Frente ao Solo Residual Silto Argiloso In Natura
Tiago Luiz Costa da Silva
Universidade do Extremo Sul Catarinense/UNESC, Criciúma, Brasil, tiagoluizcosta@hotmail.com

Christiane Ribeiro da Silva


Universidade do Extremo Sul Catarinense/UNESC, Criciúma, Brasil, chribeiro.s@gmail.com

Flávia Cauduro
Universidade do Extremo Sul Catarinense/UNESC, Criciúma, Brasil, engflaviacauduro@gmail.com

RESUMO: No setor da construção civil a oportunidade de aplicação do sistema de produção mais


limpa se mostra relevante, uma vez que possui enfoque na etapa organizacional de reciclagem dos
resíduos e, também, no reaproveitamento destes. Com base nesse contexto, este estudo foi
desenvolvido para avaliar a variabilidade no comportamento das características geotécnicas de uma
mistura composta por solo residual (SR) silto argiloso da Formação Palermo e resíduos da
construção civil (RCC). Para atender o objetivo proposto, foram realizados ensaios de
caracterização geotécnica em uma mistura de composição 75% SR adicionada de 25% RCC. A
proposta apresenta a utilização do RCC como substituto parcial em seu estado natural, já que o
material utilizado neste projeto é entregue com granulometria menor ou igual a fração areia. O
programa experimental englobou a realização de ensaios de distribuição granulométrica, índices
físicos e de consistência, compactação, Índice de Suporte Califórnia, expansão e permeabilidade. O
estudo indicou a baixa variabilidade nos resultados quando comparada a mistura com o solo in
natura, com ressalva para o coeficiente de permeabilidade, que se mostrou menor na mistura. Este
fator surge como uma possibilidade de elucidar a capacidade de aplicação do RCC em solos.

PALAVRAS-CHAVE: Resíduo, Reaproveitamento, Solos, Características, Geotécnica.

1 INTRODUÇÃO soluções sustentáveis ao investigar o


comportamento geotécnico de resíduos frente às
A aceleração da industrialização e o necessidades atuais, bem como comprovações
consequente crescimento urbano e populacional quanto à viabilidade para reutilização de tais
são fatores determinantes na geração de materiais (BOSCOV, 2012; MARTINS, 2005;
resíduos ao longo das últimas décadas. Devido SILVA, 2011; RAVAZZOLI, 2013).
ao seu impacto junto ao meio ambiente, a De encontro a essa necessidade de materiais
geração de resíduos, incluindo resíduos da alternativos, é observado no setor da construção
construção civil (RCC), é fato de preocupação civil a oportunidade de aplicação do sistema de
mundial. Relacionar questões de geração de produção mais limpa (P+L). O sistema se
resíduos com recuperação de áreas degradadas mostra relevante, uma vez que possui enfoque
determinando novas aplicações sustentáveis é na etapa organizacional de reciclagem dos
uma das motivações de pesquisas na área de resíduos e reaproveitamento (OLIVEIRA
geotecnia ambiental. Pensando nisso, esta área NETO et al., 2015).
da engenharia, a partir de pesquisas, busca A construção civil gera significativa
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quantidade de resíduos, denominados resíduos autorização pela Agência Nacional de


sólidos da construção civil (RCC) ou resíduos Mineração (ANM), autarquia federal ligada
da construção e demolição (RCD). As “[...] diretamente ao Ministério de Minas e Energia.
diretrizes, critérios e procedimentos para a Como os bens minerais, jazidas e depósitos,
gestão dos resíduos da construção civil” são pertencem à União, a permissão de lavra ocorre
estabelecidos na CONAMA n° 307 de 2002, por concessões e, com isso, impostos são
assim como CONAMA 448 de 2012, indicando cobrados em contrapartida, devido ao
que não se pode descartar tal material de forma aproveitamento econômico gerado pela jazida.
aleatória, irregular, ou mesmo em aterros Considerando o contexto acima descrito, o
sanitários antes da devida segregação, objetivo principal deste projeto é analisar a
transbordo e triagem a usinas especializadas variabilidade do comportamento geotécnico de
(BRASIL, 2002, p.1; BRASIL, 2012; uma mistura de solo residual silto argiloso e
BOSCOV, 2012). resíduo da construção civil com o solo residual
Com base no enquadramento referente a silto argiloso in natura. A proposta busca obter
classificação de resíduos sólidos pela ABNT material adequado para aplicação como barreira
NBR 10004:2004, Resíduos Sólidos Industriais, impermeabilizante, cobertura seca ou barreira
que considera o RCC como um material inerte, hidráulica, atendendo critérios de recuperação
surge a motivação de aplicar tal material como de áreas degradadas da mineração de carvão,
substituto parcial de solo em áreas degradadas indo de encontro com as necessidades impostas
pela mineração de carvão. Isto, pois é pela legislação ao propor uma técnica de
conhecido, na população do município de reaproveitamento de resíduos sólidos.
Criciúma, Estado de Santa Catarina, o impacto
ambiental decorrente das atividades de
mineração de carvão (MENEZES; 2 MATERIAIS E MÉTODOS
WATERKEMPER, 2009; BOSCOV, 2012).
A extração de carvão esteve diretamente O material empregado na pesquisa consiste de
ligada, durante longo tempo, à matriz energética solo silto argiloso e resíduo da construção civil.
do Estado, o que gerou grande benefício Ambos os materiais foram encaminhados para o
econômico para a região. No entanto, junto aos Laboratório de Mecânica dos Solos da
benefícios, vieram os passivos ambientais. Universidade do Extremo Sul Catarinense
Atualmente muitos estudos em cima da (UNESC) para realização da sequência de
minimização de tais impactos estão em ensaios propostapara definição do roteiro de
desenvolvimento. A extração mineral de carvão ensaios a ser realizado.
ainda é uma atividade econômica de grande Quanto ao solo, este se trata de um solo
importância para a região, porém, atualmente, residual proveniente da Formação Geológica
segue parâmetros e diretrizes estabelecidas na Palermo, localizado na região sul do município
legislação ambiental (BRASIL, 2017). de Criciúma/SC. O material é constituído por
No entanto, a aplicação de argila para fins um solo silto-argiloso, de coloração amarelada
de recuperação vem sendo cada vez mais proveniente dos horizontes B e C. O ponto de
discutida já que se trata de um recurso natural coleta, localizado no pátio do Iparque, Instituto
não renovável. A procura por materiais e Tecnológico da UNESC, possui coordenadas
técnicas alternativas em substituição parcial de UTM (SIRGAS 2000 22J) E: 685.500 m e N:
recursos naturais, além de redução de custos 6.820.745 m.
relacionados à extração, tem em vista a redução Além do solo, também foi aplicado resíduo
da disponibilidade do bem mineral e os da construção civil no estudo, conforme citado
impactos ambientais gerados. No Brasil, as anteriormente. O RCC é proveniente de usina
atividades de mineração são realizadas de reciclagem de resíduos da construção civil
mediante licenciamento ambiental, além da em Criciúma. O material, classificado como
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classe “A”, é entregue, após segregação, apresenta as normas técnicas seguidas para
cominuição e peneiramento, em granulometria execução dos ensaios previstos no fluxograma.
menor ou igual a areia. Tabela 1. Normas técnicas.
De posse de ambos os materiais no Norma (ABNT) Descrição
6457:2016 Amostras de solo –
Laboratório de Mecânica dos Solos da UNESC,
Preparação para ensaio de
os procedimentos forma inciados com a compactação e ensaio de
determinação das curvas granulométricas para caracterização
os materiais separadamente. A elaboração das 7181:2016 Solo – Análise
curvas tiveram como objetivo verificar a granulométrica
existência de porcentagem fina de material que 6459:2016 Solo - Determinação limite
de liquidez
poderia influenciar na permeabilidade da 7180:2016 Solo - Determinação limite
composição. De pose das curvas de plasticidade
granulométricas foi estabelecida a proposta de 7182:2016 Solo - Ensaio de
composição de 75% de SR com 25% de RCC compactação
(75/25). 9895:2016 Solo - Índice de suporte
O fluxograma de processos realizados está Califórnia
14545:2000 Solo - Determinação do
apresentado na Figura 1. Os ensaios foram coeficiente de
realizados em duplicatas, e contemplaram permeabilidade de solo
determinação de índices físicos e de argiloso com carga
consistência, compactação, ISC, expansão e variável
permeabilidade com carga variável, já que se
trata de material de granulometria
predominantemente fina. Quanto aos ensaios de 3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS
permeabilidade, vale ressaltar que estes foram RESULTADOS
realizados, também, no Laboratório de
Desenvolvimento e Caracterização de Materiais 3.1 Granulometria simples, índices físicos e
do FIESC/SENAI. de consistência e classificação dos solos

Os resultados referentes aos ensaios de


granulometria simples conforme ABNT NBR
7181:2016 estão apresentados na Figura 2. Nas
curvas fica evidenciada a predominância de
material fino tanto para a mistura quanto para o
solo in natura, em composição de finos (silte e
argila) de 65,43% e 97,22%, respectivamente.
Já para o RCC, este apresenta a fração areia
grossa como material predominante, em
correspondendo a 56,46%.

Figura 1. Fluxograma de processos.

Os ensaios de caracterização descritos foram


executados de acordo com suas normas
específicas previstas pela Associação Brasileira
de Normas Técnicas (ABNT). A Tabela 1
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Figura 2. Curvas de determinação granulométrica. 3.2 Compactação, ISC e expansão


Com relação aos índices de consistência, Os limites de Atterberg, estão correlacionados
estes estão apresentados na Tabela 2, com a umidade da amostra, parâmetro relevante
juntamente com a classificação pelo sistema no processo de compactação. O ensaio de
Highway Research Board (HRB). compactação utilizou a energia do Proctor
Intermediário. A Tabela 3 apresenta um quadro
Tabela 2. Quadro comparativo dos resultados para
índices de consistência e classificação dos solos
resumo para melhor leitura dos resultados
Parâmetro SR 75/25 principais para a compactação, peso específico
LL (%) 62,50 48,00 seco e umidade ótima, e para ISC e expansão,
LP (%) 45,00 29,67 para ambas as composições.
IP (%) 17,50 18,33
Classificação A-7-5 A-7-6 Tabela 3: Quadro comparativo dos resultados de
HRB compactação, ISC e expansão para ambas as amostras
Parâmetro SR 75/25
Na tabela é possível observar um aumento de Peso específico 1,451 1,547
0,83% referente ao indice de plasticidade na seco (g/cm³)
Umidade ótima 25,35 22,53
mistura frente ao solo in natura. Isto representa (%)
que a adição de 25% do RCC apesar de alterar ISC (%) 5,15 4,83
parcialmente a fração areia não produz uma Expansão (%) 5,52 3,97
alteração significativa na plasticidade,
conservando característica de solo argiloso ou Na tabela é possível observar que houve
sito-argiloso. A situação mostra-se positiva na aumento no valor do peso específico seco na
amostra por não alterar a trabalhabilidade da mistura e redução na umidade ótima. Tal
mistura. situação está diretamente relacionada com o
O aumento de 0,83% na plasticidade não aumento da fração constituinte de areia,
representa uma alteração significativa quando proveniente da adição do RCC.
considerada a possibilidade de aplicação na O aumento da densidade e a redução da
recuperação ambiental. Tal condição tende a umidade ótima pode ser atribuída a mesma
apresentar leve influência na coesão ou na condição identificada por Mentges et al. (2007),
homogeneização da camada, não que indica ocorrência de variabilidade nos
comprometendo a camada. A análise, por fim, parâmetros de compactação decorrente de
demonstrou que a mistura apresenta um adição de material na fração areia em solos
comportamento razoavelmente semelhante ao argilosos da Formação Palermo. Ainda, o autor
solo in natura. No entanto, vale ressaltar a cita que a argila apresenta maior reatividade
necessidade de atenção quanto as condições de devido a maior capacidade de troca de cátions.
possível ressecamento da camada e/ou Tal reatividade proporciona maior interação
problemas de retração e fissura ao longo da com a água, reduzindo, com isso, seu efeito
execução das obras. lubrificante entre partículas minerais e
Considerando o sistema de classificação resultando em maior coesão e menor
HRB, a mistura apresentou classificação A7-6, susceptibilidade quando considerada a
enquanto o solo apresentou A-7-5, indicando compactação da amostra.
que ambas as amostras possuem, de fato, Por fim, os dados de compactação indicam
características bastante semelhantes. Este que a adição controlada de RCC impactam no
resultado permite ampliar as porcentagens de aumento da fração de areia e tende a
misturas, promovendo a realização de novos proporcionar certa facilidade de compactação
estudos acerca da aplicação de RCC em solos. da camada quando comparada ao solo in
natura.
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A expansão do solo puro se mostrou superior industrial e populacional quanto ao


quando comparado com a a mistura, enquanto reaproveitamento de resíduos sólidos. Isto, pois
que o ISC se mostrou inferior. A redução do busca o reparoveitamento de RCC como
valor do ISC mostra-se pouco expressiva em substituto parcial para utilização em áreas
apenas 0,32%, não resultando em alteração degradadas pela mineração de carvão.
efetiva na capacidade suporte para implantação Os resultados obtidos demonstraram
do uso futuros variados possíveis nos projeto viabilidade da aplicação de RCC na composição
das recuperações de áreas degradadas, fato com solo residual proveniente da Formação
considerado positivo para este estudo. Geológica Palermo. A utilização do RCC como
substituto parcial mostrou influência positiva na
3.4 Permeabilidade permeabilidadade quando aplicada na
proporção 75/25, objetivo central da pesquisa.
A compreensão dos resultados de Quanto as demais características mecânicas,
permeabilidade para a condição do solo natural não foram registradas alterações significativas
da Formação Palermo frente a permeabilidade ao comparar os resultados da mistura com o
obtida com a nova composição é considerada solo in natura.
como ponto chave para esta pesquisa. A Tabela Com relação a permeabilidade, o coeficiente
4 apresenta os resultados obtidos para o se mostrou praticamente estável quando
coeficiente de permeabilidade para ambos os avaliado na condição mistura do que solo in
materiais. natura, visto que reduziu mas não alterou a
ordem de grandeza da permeabilidade. Tal
Tabela 4: Quadro comparativo dos resultados de situação está, possivelmente, relacionada a
permeabilidade consequências da composição do RCC. Tal
Parâmetro SR 75/25
material, apesar de possuir granulometria
Coeficiente de 2,16x10-6 1,68x10-6
permeabilidade predominante na fração areia, apresenta, em sua
(cm/s) composição, quantidades significativas de
massa cimentícia e partículas oriundas de
Com base na tabela, é possível observar que blocos cerâmicos. Estes materiais, quando
o coeficiente de permeabilidade correspondente expostos em condições de compactação, não
ao ensaio realizado no solo residual puro foi possuem resistência, ou seja, podem se
maior do que o da mistura. Ambos os fragmentar com os golpes ao longo da
coeficientes, por si só, já caracterizam uma compactação, fazendo com que sua
condição de permeabilidade muito baixa para os granulometria diminua, ocasionando alteração
materiais, fato decorrente da predominância de em suas propriedades mecânicas e,
finos nas composições. consequentemente, hidráulicas.
Com os resultados acima, a incorporação de A pesquisa vem de encontro, ainda, com as
um incremento de 25% de RCC no solo se necessidades impostas pela legislação ao propor
mostrou benéfica. Isto, pois atendeu o principal uma técnica de reaproveitamento de resíduos
objetivo da pesquisa, surgindo como uma sólidos. O presente artigo é parte integrante de
alternativa ao uso até então exclusivo do um estudo motivado pelo reaproveitamento de
material argiloso como barreira hidráulica para RCC em áreas degradadas da mineração de
a elaboração de cobertura seca. carvão. Por fim, os resultados obtidos na
caracterização do material abordam uma
aplicação inovadora com alto potencial de
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS utilização, uma vez que se destina a áreas
degradadas por mineração de carvão,
A pesquisa vem de encontro com as necessidade ambiental da região alvo do estudo.
necessidades impostas pelo crescimento urbano, São recomendações adicionais a caracterização
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química do resíduo classe A, enquadramento Rio de Janeiro: ABNT, 2016.


em normas como NBR 10004/2004, CONAMA Boscov, M.E. Geotecnia ambiental. São Paulo: Oficina
de Textos, 2012.
420/2009; 460/2013; 369/2008, potencial BRASIL. Ministério do Meio Ambiente, Conselho
inibição ao desenvolvimento vegetacional e Nacional do Meio Ambiente, CONAMA. Resolução
posterior reações devido ao umedecimento em CONAMA n° 307 de 05 de julho de 2002. Estabelece
campo da massa comentícia, assim como diretrizes, critérios e procedimentos para gestão dos
normas específicas a regulamentação ambiental resíduos da construção civil. Publicado no D.O.U N°
136, Poder Executivo, Brasília, de 17/07/2002.
inerentes aos objetivos da recuperação. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/
conama/legiabre.cfm?codlegi=307>. Acesso em: 07
AGRADECIMENTOS set. 2017.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente, Conselho
Ao Curso de Engenharia Civil e Laboratório de Nacional do Meio Ambiente, CONAMA. Resolução
CONAMA n° 448 de 18 de janeiro de 2012. Altera os
Mecânica dos Solos da Universidade do arts. 2º, 4º, 5º, 6º, 8º, 9º, 10 e 11 da Resolução nº 307,
Extremo Sul Catarinense – UNESC pelo apoio de 5 de julho de 2002, do Conselho Nacional do Meio
no desenvolvimento desta pesquisa Ambiente- CONAMA. Publicado no D.O.U 14, Poder
possibilitando o uso das instalações e Executivo, Brasília, de 19/01/2012. Disponível em: <
equipamentos. http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?co
dlegi=672.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente, Conselho
Nacional do Meio Ambiente, CONAMA. Resolução
REFERÊNCIAS CONAMA n° 420 de 28 de dezembro de 2009.
Dispõem sobre os critérios e valores orientadores de
Associação Brasileira de Normas Técnicas. Amostra de qualidade do solo quanto a presença de substância
solo – Preparação para ensaios de compactação e química e estabelece a diretrizes para o
ensaios de caracterização: NBR 6457. Rio de Janeiro: gerenciamento ambiental de áreas contaminadas por
ABNT, 2016. essas substâncias em decorrência de atividades
Associação Brasileira de Normas Técnicas. Análise antrópicas. Publicado no D.O.U 249, Poder
granulométrica método de ensaio: NBR 7181. Rio de Executivo, Brasília, de 30/12/2009. Disponível em:
Janeiro: ABNT, 2016. <http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?c
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Determinação do Limite de Liquidez: NBR 6459. Rio Brasil. Histórico da Ação Civil Pública. Portal Ação
de Janeiro: ABNT, 2016. Civil Pública do Carvão. Justiça Federal 4ª Região.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. Disponível em <https://www.jfsc.jus.br/
Determinação do Limite de Plasticidade: NBR 7180. acpdocarvao/portal/conteudo_portal/conteudo.php?ca
Rio de Janeiro: ABNT, 2016. t=111>. Acesso em 13 de dezembro de 2017.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. Ensaio de Martins, R. Florística, estrutura fitossociológica e
Compactação: NBR 7182. Rio de Janeiro: ABNT, interações interespecíficas de um remanescente de
2016. floresta ombrófila densa como subsídio para a
Associação Brasileira de Normas Técnicas. Índice de recuperação de áreas degradadas pela mineração de
Suporte Califórnia: NBR 9895. Rio de Janeiro: carvão. Siderópolis,SC. Florianópolis: UFSC, 2005.
ABNT, 2016. Menezes, C.T.B; Waterkemper, K. Evolução dos
Associação Brasileira de Normas Técnicas. processos de degradação ambiental resultante da
Procedimento para Obtenção de Extrato Lixiviado de mineração de carvão em Santa Catarina de 1930 –
Resíduos Sólidos: NBR 10005. Rio de Janeiro: 1973. In: MILIOLI, Geraldo; SANTOS, Robson,
ABNT, 2004. CITADINI-ZANETTE, Vanilde. Mineração de
Associação Brasileira de Normas Técnicas. Carvão Meio Ambiente e Desenvolvimento
Procedimento para Obtenção de Extrato Solubilizado Sustentável no Sul de Santa Catarina, uma abordagem
de Resíduos Sólidos: NBR 10006. Rio de Janeiro: interdisciplinar. Curitiba, PR: Juruá Editora, 2009.
ABNT, 2004. Ravazzoli, C. A problemática Ambiental do Carvão em
Associação Brasileira de Normas Técnicas. Resíduos Santa Catarina: Sua evolução até os termos de
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ABNT, 2004. 2005 e 2010. e-revista. V. 6, N. 1, p. 179-201,
Associação Brasileira de Normas Técnicas. Solo: Índice semestral, 2013.
de suporte Califórnia método de ensaio: NBR 9895. Silva, T.L.C. Avaliação de risco à saúde humana
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considerando os metais presentes em corpos d'águas


situadas nas proximidades do rio Sangão,
Forquilhinha. Criciúma-SC: UNESC, 2011.
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Análise de Compatibilidade entre Solução Contaminante de


Cloreto de Sódio e Misturas de Solo Tropical Quimicamente
Estabilizadas com Fosfogesso e Bentonita
Yago Isaias da Silva Borges
Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, byagoisaias@yahoo.com.br

Bismarck Chaussê de Oliveira


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, bismarckchausse@gmail.com

Márcia Maria dos Anjos Mascarenha


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, marciamascarenha@gmail.com

RESUMO: O objetivo deste trabalho é analisar a compatibilidade entre misturas de um solo tropical
(quimicamente estabilizadas com 10% de fosfogesso e 6% de bentonita) e uma solução de cloreto
de sódio, tendo em vista o uso em barreiras hidráulica. Para tanto, as amostras foram submetidas a
ensaios de caracterização geotécnica e classificação MCT expedita. A compatibilidade foi avaliada
por meios indiretos, baseados em ensaios de limites de Atterberg e expansão livre modificados. Os
resultados confirmaram o caráter laterítico do solo, indicaram que o fosfogesso provocou
agregações de partículas nas misturas e que a bentonita aumentou a plasticidade das amostras. Os
ensaios de compatibilidade apontaram que amostras estudadas são compatíveis com a solução de
NaCl utilizada.

PALAVRAS-CHAVE: Compatibilidade, Estabilização Química, Solo Tropical, Fosfogesso,


Bentonita, Cloreto de Sódio.

1 INTRODUÇÃO NOGAMI, 2009).


Tais características podem inviabilizar a
A estabilização química é uma importante utilização destes solos em obras geotécnicas que
técnica no que diz respeito à melhoria de exijam, dentre outros aspectos, camadas pouco
propriedades hidromecânicas e físico-químicas permeáveis, como os sistemas de retenção de
de solos. Por meio da adição de outros contaminantes (aterros sanitários, barragem de
materiais, muitos solos considerados rejeitos, etc.). Nestes casos, além de reter os
inapropriados para determinadas obras líquidos percolantes, as camadas de solo devem
geotécnicas se tornam passíveis de serem ainda ser capazes de retardar o avanço de
aproveitados. contaminantes, o que é outro ponto que dificulta
Esse é o caso, por exemplo, de grande o uso de solos tropicais neste tipo de obra.
parcela dos solos tropicais encontrados no Nesse contexto, a estabilização química pode
Brasil e em diversas outras partes do globo. ser uma técnica eficiente, agregando aos solos
Devido aos processos de formação a que foram tropicais característcas que, naturalmente, eles
sujeitos, esses solos apresentam, tipicamente, não possuem, como baixa permeabilidade e
predominância de argilo minerais pouco ativos capacidade de retenção de contaminantes.
e presença marcante de óxidos e hidróxidos de No entanto, ao incorporar ao solo materiais
ferro e alumínio, o que resulta em macro e com propriedades distintas, deve-se ter a cautela
micro-estruturas porosas (VILLIBOR; de que, ao melhorar alguns aspectos, como a
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permeabilidade, por exemplo, não se está deste resíduo a solos tropicais propiciou
piorando outros. Em se tratando de sistemas de parâmetros hidromecânicos aceitáveis, tendo
retenção de contaminantes, isto é ainda mais em vista a utilização em sistemas de retenção de
grave, haja vista a quantidade de substâncias contaminantes.
com as quais os solos quimicamente A bentonita é um tipo de argila natural
estabilizados estarão em contato. formada pelo processo de intemperização de
Portanto, conhecer o quão nocivas estas cinzas vulcânicas, constituída basicamente pelo
substâncias serão para a camada de solo, em argilomineral montmorilonita, e que tem como
curto e longo prazo, é fundamental para que a principais características a granulometria
obra atinja os objetivos esperados. A este tipo extremamente fina, grande superfície específica
de estudo denomina-se análise de (800 m2/g), alta deficiência de carga (0,5 – 1,2
compatibilidade (EBEREMU, 2013; por cela unitária) e elevada capacidade de troca
EBEREMU; AMADI; OSINUBI, 2013). catiônica (80 – 150 meq/100g) (AMADI, 2013).
Assim, o objetivo deste trabalho é avaliar Outra característica dessas argilas é o alto poder
como uma solução de cloreto de sódio (NaCl), de expansão, que pode chegar a vinte vezes seu
tipicamente encontrada em sistemas de retenção volume inicial (MORANDINI, 2014).
de contaminantes (especialmente aterros Estas características têm feito da bentonita
sanitários) afeta as propriedades geotécnicas um material largamente empregado em camadas
(plasticidade e expansão) de amostras de um de impermeabilização de aterros. Resultados
solo tropical quimicamente estabilizado com satisfatórios concernentes ao uso deste material
adição de bentonita e fosfogesso. juntamente com solos tropicais podem ser
observados nos trabalhos de Morandini e Leite
(2012, 2015), Amadi (2013), Morandini (2014)
2 REFERENCIAL TEÓRICO e Ribeiro, Santos e Mascarenha (2017).

2.1 Uso de Fosfogesso e Bentonita para 2.2 Métodos de Análise de Compatibilidade


Estabilização Química de Solos Tropicais
Shackelford (19941, apud MORANDINI, 2014)
O fosfogesso é um resíduo da indústria de afirma que a compatibilidade química entre o
fertilizantes fosfatados, também conhecido solo e substâncias deletérias pode ser avaliada
como gesso químico ou gesso agrícola de duas maneiras: diretamente – percolando a
(MATOS, 2011). De acordo com Rashad substância pelo solo e comparando os resultados
(2017), o fosfogesso é similar ao gesso natural com ensaios realizados com água – e
(ambos são compostos de sulfato de cálcio di- indiretamente, aplicando-se a substância ao solo
hidratado, CaSO4.2H2O), diferindo pela e verificando como algumas de suas
presença de impurezas como fosfatos e propriedades, tais como plasticidade e
fluoretos hidrossolúveis em sua estrutura expansão, se alteram quando comparadas a
cristalina. Apenas em uma unidade fabril resultados obtidos com uso de água.
localizada no município de Catalão – GO, a Morandini (2014) sugere que, sempre que
produção deste material é de cerca de 720 mil possível, métodos diretos de análise de
toneladas por ano (Rezende et al., 2016), sendo compatibilidade sejam empregados para
que produção mundial está próxima a 160 validação ou não de resultados obtidos em
milhões de toneladas por ano (RASHAD, métodos indiretos. Essa validação geralmente é
2017).
Matos (2011), Alves (2015) Ribeiro, 1 SHACKELFORD, C. D. Waste-soil interactions that
Mascarenha e Santos (2017) apresentaram alter hydraulic conductivity. Hydraulic conductivity and
dados indicando que a adição de cerca de 10% waste contaminant transport in soil. ASTM STP1142.
Philadelphia, p. 111-166, 1994.
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feita calculando a condutividade hidráulica com Leite (2015) justificam o uso do ponto meso
diferentes substâncias químicas e comparando- plástico em substituição ao índice de
se com resultados obtidos em ensaios realizados plasticidade (IP) alegando que o IP representa
com água (MORANDINI, 2014). uma faixa de umidade (IP = WL - WP), de modo
De acordo com Morandini (2014), os que dois solos podem ter o mesmo valor de IP,
principais métodos de análise indireta de mas com WL e WP diferentes.
compatibilidade são os limites de Atterberg e os Os ensaios de expansão livre são testes
ensaios de expansão livre modificados. "O desenvolvidos para avaliar o potencial de
termo “modificado” se refere ao fato de outras expansão de solos (SIVAPULLAIAH;
soluções além de água serem utilizadas nos SITHARAM; RAO, 1987), que, na medida
ensaios” (MORANDINI; LEITE, 2012, p. 274). certa, é uma propriedade importante para
Farnezi e Leite (2007) apresentam um garantir baixas permeabilidades (AMADI,
modelo de análise indireta de compatibilidade 2013). Sivapullaiah, Sitharam e Rao (1987)
baseado em ensaios de limites de Atterberg propuseram um índice para cálculo deste
modificados, denominado índice de potencial, dado pela equação (3):
incompatibilidade plástico (ICP), dado pela
equação (1):
IE = V − Vs (3)
Vs
IPw - IPs
ICP (%) = x100 (1)
IPw Na equação (3), IE é o Índice de Expansão
Livre Modificado; V é o volume do solo depois
Na equação (1), IPw é o índice de da expansão e Vs é o volume dos grãos.
plasticidade com água e IPs é o índice de
plasticidade com a solução química empregada.
Assim, de acordo com a equação (1), quanto 3 MATERIAIS E MÉTODOS
maior o valor de ICP, maior a incompatibilidade
do fluido percolado com o solo, quando 3.1 Materiais
comparado com a percolação de água
(FARNEZI; LEITE, 2007). Neste trabalho, foram analisadas misturas de
Procedimentos semelhantes aos empregados um solo tipicamente tropical quimicamente
por Farnezi e Leite (2007), para estimativa de estabilizado com: (a) adição de fosfogesso; (b)
compatibilidade indireta, podem ser verificados adição de bentonita e (c) adição de fosfogesso e
em Morandini (2014) e Morandini e Leite bentonita.
(2015). Estes autores avaliaram a O solo foi coletado na cidade de Aparecida
compatibilidade em termos de razão de de Goiânia, a uma profundidade de 0,4 m, e
compatibilidade (RC), dada pela equação 2: pertence à mesma jazida onde foram coletados
os solos estudados por Matos (2011), Rezende
MPs
Rc = (2) et al. (2016) e Ribeiro, Mascarenha e Santos
MPw (2017).
O fosfogesso utilizado é do tipo di-hidratado,
Na equação (2) MPs é o ponto meso plástico e foi coletado em uma unidade fabril localizada
com a solução e MPw é o ponto meso plástico no município de Catalão – GO. Utilizou-se um
com água. teor de 10% desse material, já que, conforme
O ponto meso plástico é a média aritmética demonstrado por Matos (2011), teores acima
entre o limite de liquidez (wL) e o limite de deste não são indicados, por piorar propriedades
plasticidade (wP), portanto, um teor de umidade hidromecânicas dos solos. A umidade deste
médio (MORANDINI, 2014). Morandini e material foi determinada a 70˚C.
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A bentonita é do tipo sódica, sendo utilizado de acordo com a metodogia MCT expedita
um teor de 6% deste material nas misturas. A (DERSA, 2006), para determinação do caráter
umidade deste material foi determinada a 130 laterítico das misturas.
˚C.
A Tabela 1 apresenta as amostras estudadas, 3.2.2 Ensaios de Compatibilidade Indireta
com as respectivas composições de cada
material, em massa seca. Dois métodos indiretos foram empregados para
verificação da compatibilidade entre as misturas
Tabela 1. Composição percentual das amostras. e a solução de NaCl: limites de Atterberg
Amostra Solo Fosfogesso Bentonita modificados e ensaios de expansão livre
(%) (%) (%)
modificados.
S 100 - -
F - 100 - Os limites de Atterberg modificados foram
SF 90 10 - realizados seguindo os procedimentos dos
SB6 94 - 6 ensaios convencionais – wL de acordo com a
SFB6 84 10 6 NBR 6459 (ABNT, 2016c), e wP, de acordo
com a NBR 7180 (ABNT, 2016d) – salvo pelo
Conforme apresentado na Tabela 1, a fato de a água utilizada nos ensaios ter sido
simbologia adotada para a nomenclatura das substituída pela solução de NaCl. Os resultados
amostras é: S = amostra contendo 100% de foram analisados com base nos índices
solo; SF = amostra contendo 90% de solo + fornecidos pelas equações (1) e (2).
10% de fosfogesso; SB6 = amostra contendo Os ensaios de expansão livre modificados
94% de solo + 6% de bentonita; SFB6 = foram realizados de acordo com o método
amostra contendo 84% de solo + 10% de proposto por Sivapullaiah, Sitharam e Rao
fosfogesso + 6% de bentonita. (1987): 10 g das misturas, secas em estufa,
As amostras foram preparadas de acordo foram acrescentados em duas provetas
com a NBR 6457 (ABNT, 2016a). graduadas, ambas com 100 ml, sendo que uma
A solução de NaCl, utilizada nos ensaios de continha água destilada e a outra a solução de
compatibilidade, foi preparada na concentração NaCl. A suspensão foi, então, agitada e, em
de 5g/l. seguida, colocada em repouso por 24h. O índice
de expansão livre modificado foi obtido de
3.2 Métodos acordo com a equação (3). Para fins de análise,
verificou-se a razão entre os valores de IE
3.2.1 Caracterização das Amostras obtidos com água e com a solução de NaCl.
Na Tabela 2 constam os ensaios utilizados para
caracterização geotécnica das amostras. 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Tabela 2. Caracterização geotécnica: ensaios.
Ensaio Referência 4.1 Caracterização das Amostras
Análise granulométrica NBR 7181 (ABNT, 2016b)
Limite de liquidez NBR 6459 (ABNT, 2016c) Na Figura 1 são apresentadas as curvas
Limite de plasticidade NBR 7180 (ABNT, 2016d) granulométricas das amostras estudadas. Na
Massa específica dos NBR 6458 (ABNT, 2016e) Tabela 3, por sua vez, são apresentadas as
grãos (ρs)
Nota: Análise granulométrica realizada com e sem adição
composições granulométricas (pedregulho,
de defloculante. areia, silte e argila), em percentuais, de acordo
com as dimensões da NBR 6502 (ABNT,
Além da caracterização geotécnica, foram 1995).
realizados ensaios de pastilhas e de penetração,
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Embora as curvas granulométricas da


bentonita não sejam apresentadas neste
trabalho, sabe-se que este material é composto,
quase em sua totalidade, por partículas com
dimensões de argila (MORANDINI, 2014;
MORANDINI; LEITE, 2012; 2015; AMADI;
EBEREMU, 2012). Para efeitos de
simplificação, considerou-se toda a quantidade
de bentonita utilizada nas amostras como
pertecendo à fração argila.
Figura 1 - Curvas granulométricas. De acordo com o gráfico da Figura 2, as
amostras contendo fosfogesso, nos ensaios sem
Tabela 3 – Composição granulométrica uso de defloculante, apresentaram as piores
Amostras correlações entre a porcentagem real e a
S F SF SB6 SFB6 porcentagem teórica, confirmando a formação
Fração (%)
Sem defloculante de agregações entre partículas. Por outro lado,
Pedregulho 0 0 0 0 0
Areia 62 40 57 55 54
as estimativas para o teor de argila da bentonita
Silte 30 60 43 32 46 mostraram-se satisfatórias.
Argila 8 0 0 13 0 Na Tabela 4 são apresentados os resultados
Fração (%) Com defloculante de wL, wP, IP, índice de atividade da fração
Pedregulho 0 0 0 0 0 argila (IA) e ρs.
Areia 57 36 51 52 42
Silte 30 56 35 31 45
Tabela 4 – Valores de WL, WP, IP e ρs.
Argila 13 8 14 17 13
Item Amostras
analisado S F SF SB6 SFB6
De acordo com os curvas granulométricas wL (%) 37 - 36 54 43
apresentadas na Figura 1 e os dados da Tabela wP (%) 27 - 26 28 26
3, verifica-se que a adição de fosfogesso IP (%) 10 NP 10 26 17
provocou aglomeração de grãos nas misturas. IA 0,77 - 0,71 1,53 1,31
Isto pode ser demonstrado pelo gráfico da ρs (g/cm3) 2,68 2,36 2,62 2,67 2,61
Figura 2, onde é apresentada a relação entre a Nota: NP = Não plástico. Valores de IA calculados para
porcentagem teórica de argila (fração esperada os ensaios com defloculante.
para as misturas, em função da fração individual
de cada material) e a porcentagem real obtida Conforme apresentado na Tabela 4, as
nos ensaios. amostras S e SF apresentaram WL, WP e IA
semelhantes, e IP iguais, indicando que a adição
de fosfogesso praticamente não alterou os
limites de consistência do solo. Considerando
que estes limites estão relacionados às ligações
químicas entre as moléculas de água e as
partículas de solo, sobretudo no âmbito dos
argilominerais, é de se esperar que, uma vez
mantido constante o teor de argila nestas
amostras (Tabela 3), também seriam mantidos
constantes os limites de consistência.
Os resultados obtidos para as amostra SB6
Figura 2 – Porcentagem teórica x porcentagem real de demonstraram que a adição de bentonita
argila. provocou um aumento de 160% no IP, e de
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quase 100% no IA (Tabela 4); para a amostra A simbologia empregada na Tabela 5 para a
SFB6, esses valores foram de 70% para ambos classificação MCT é a mesma adotada por
os índices. Villibor e Nogami (2009) e Dersa (2006): LA’:
Esses resultados podem ser justificados pelo Solo arenoso laterítico; LG’: Solo argiloso
fato de que a adição de bentonita – que possui laterítico.
como componente primário a montmorilonita, Os resultados dos ensaios de pastilha (Tabela
argilomineral de elevadas superfície específica e 5) demonstraram o caráter laterítico do solo, o
cargas elétricas negativas – aumenta a afinidade que está de acordo com o demonstrado por
do solo por moléculas de água e por íons outros autores (MATOS, 2011; REZENDE et
hidratados, que são adsorvidos e mantidos al., 2016; RIBEIRO; SANTOS;
imóveis em seus poros (SHACKELFORD et MASCARENHA, 2017) que analisaram solos
al., 2000). da mesma jazida. A classificação LA’ é
Os valores de massa específica dos grãos coerente com as análises granulométricas, que
apresentados na Tabela 4 indicaram que a mostraram tratar-se de um material rico em
adição de 6% de bentonita não alterou a massa areia (Tabela 3).
específica dos grãos do solo, uma vez que As amostras SB6 e SFB6 foram classificadas
diferença registrada entre as amostras S e SB6 como LG’, sobretudo devido à presença da
se encontra dentro da margem de erro aceitável bentonita, que ao reter mais água nos processos
prevista para o ensaio (ABNT, 2016e). de hidratação, expande. No processo inverso, de
As amostras contendo fosfogesso (SF e secagem, a perda de água é acompanhada pela
SFB6), no entanto, apresentaram valores de contração observada nas pastilhas.
massa específica dos grãos inferiores ao da
amostra S. Para o caso da amostra SF, este valor 4.2 Ensaios de Compatibilidade Indireta
está abaixo do esperado, considerando uma
média ponderada para esta mistura. Uma Na Tabela 6 são apresentados os resultados dos
provável explicação para este fenômeno é o fato limites de Atterberg realizados com a solução
de haver formação de agregações de partículas de NaCl.
menores ao redor dos grãos de fosfogesso,
conforme mostrado na Tabela 3 e nas Figuras 1 Tabela 6 – Limites de Atterberg modificados.
e 2. Desse modo, o volume ocupado pelas Item Amostras
analisado S SF SB6 SFB6
partículas agregadas é, na verdade, maior do
WL (%) 38 39 50 43
que o volume ocupado pelas mesmas partículas WP (%) 26 26 26 26
dispersas. Consequentemente, os valores de IPs (%) 12 13 24 17
massa específica diminuem. Amadi (2013) ICP (%) -20 -30 8 0
propõe explicação análoga, em relação à RC 1,00 1,05 0,93 1,00
bentonita.
Na Tabela 5 são apresentados os resultados Os valores negativos dos ICP das amostras S
dos ensaios de pastilha e a classificação MCT e SF, registrados na Tabela 6, indicam que a
expedita das amostras. que a faixa de umidade em que estas amostras
podem se encontrar no estado plástico, ou seja,
Tabela 5 – Resultados dos ensaios de pastilha e o índice de plasticidade, aumentou. Entretanto,
classificação MCT expedita. esta diferença de IP foi pequena, e pode ser
Item Amostras atribuída, inclusive, à própria variabilidade dos
analisado S SF SB6 SFB6
ensaios, em se tratando de solos tropicais.
Contração 0,7 1,3 1,8 1,8
(mm) Quando analisados os índices inversos, ou
Penetração 0 0 0 0 seja, a RC, baseados nos valores médios dos
(mm) limites de consistência (MP), verifica-se que a
Classificação LA’ LA’– LG’ LG’ LG’
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compatibilidade com água e NaCl foi, teores de bentonita.


praticamente, a mesma.
Os baixos valores de RC, e os valores de ICP
próximos da unidade, para as demais amostras, AGRADECIMENTOS
indicam que, de fato, a solução de NaCl, na
concentração utilizada nestes ensaios, não Este trabalho é parte de um projeto de pesquisa
provocou alterações significativas nos limites financiado pelo Conselho Nacional de
de consistência do solo. Desenvolvimento Científico e Tecnológico -
Tal afirmação pode ser fortalecida pelos CNPq, pela empresa AngloAmerican e pela
dados referentes aos ensaios de expansão livre Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
modificados apresentados na Tabela 7, onde Nível Superior (Capes), a quem os autores
pode ser verificado que os IE com NaCl e com agradecem.
água encontram-se próximos à unidade.

Tabela 7 – Ensaios de expansão livre modificados. REFERÊNCIAS


Amostras
IE
S SF SB6 SFB6 ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR
Água 2,36 2,10 2,97 3,03 6457: Amostras de solo - Preparação para ensaios de
Solução de NaCl 2,34 2,09 3,18 2,91 compactação e ensaios de caracterização. Rio de
IENaCl/IEágua 0,99 1,00 1,07 0,96 Janeiro, 2016a, 8 p.
Nota: IENaCl/IEágua = Razão entre IE com NaCl e com água ABNT_______. NBR 7181: Solo – Análise
granulométrica. Rio de Janeiro, 2016b, 12 p.
ABNT_______. NBR 6459: Solo - Determinação do
5 CONCLUSÃO limite de liquidez. Rio de Janeiro, 2016c, 5 p.
ABNT_______. NBR 7180: Solo - Determinação do
limite de plasticidade. Rio de Janeiro, 2016d, 3 p.
Os ensaios de pastilha permitiram concluir que ABNT_______. NBR 6458: Grãos de pedregulho retidos
o solo analisado neste trabalho é, de fato, um na peneira de abertura 4,8 mm - Determinação da
solo tropical laterítico. As análises massa específica, da massa específica aparente e da
granulométricas demonstraram que as adições absorção de água. Rio de Janeiro, 2016e, 10 p.
de fosfogesso e bentonita produziram ABNT_______. NBR 6502: Rochas e Solos –
Terminologia. Rio de Janeiro, 1995, 18 p.
agregações de partículas nas misturas. Isto pode ALVES, K. C. S. K. Estudo do fosfogesso tratado
estar relacionado à redução de massa específica termicamente e de suas misturas com solo tropical.
dos grãos nas amostras contendo estes 2015. 125 f. Dissertação (mestrado em geotecnia,
materiais. estruturas e construção civil) – Escola de engenharia
Em relacão aos limites de consistência, foi civil, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2015.
DERSA: Desenvolvimento Rodoviário S.A. Diretrizes
verificado que a adição de fosfogesso não para identificação expedita de solos lateríticos –
provocou alterações significativas, ao passo que “Método da pastilha”. São Paulo, 2006, 24p.
a adição de bentonita aumentou Amadi, A. A. Swelling characteristics of compacted
significativamente os índices de plasticidade lateritic soil-bentonite mixtures subjected to municipal
das amostras. waste leachate contamination. Environmental Earth
Sciences, vol. 70, p. 2437-2442, 2013.
Os ensaios de compatibilidade indireta Eberemu, A. O. Evaluation of bagasse ash treated lateritic
apresentaram índices que indicam que as soil as potential barrier material in waste containment
amostras estudadas são compatíveis com a application. Acta Geotechnica, vol. 8, p. 407-421,
solução de NaCl, na concentração utilizada 2013.
nesta pesquisa. Contudo, recomenda-se que Eberemu, A. O.; Amadi, A. A.; Osinubi, K. J. The use of
compacted tropical treated with rice husk as a suitable
ensaios de compatibilidade direta sejam hydraulic barrier material in waste containment
realizados, e que outras concentrações da applications. Waste Biomass Valor, Vol. 4, p. 309-
solução sejam avaliadas, bem como outros 323, 2013.
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f. Dissertação (Mestrado em Geotecnia) – Faculdade
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Morandini, T. L. C. Solos tropicais e bentonita: análise
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Análise de metodologias de estudo da susceptibilidade à


liquefação de solos e rejeitos de mineração
Vanessa Luiza Thums
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, vanessalt91@gmail.com

Karla Cristina Araújo Pimentel Maia


Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, karla.pimentel@etg.ufmg.br

Thiago Coutinho de Souza


Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, thiagocoutin@hotmail.com

RESUMO: A liquefação é um fenômeno que pode correr em solos granulares sem coesão, saturados
e com comportamento contráctil quando submetidos à carregamentos suficientemente rápidos,
gerando um acréscimo de poropressões e a consequente redução das tensões efetivas e da
resistência ao cisalhamento do solo. A fim de estudar este fenômeno em barragens de mineração,
foram identificados na literatura três métodos de análise de susceptibilidade à liquefação de solos:
Ishihara (1985), Olson (2001) e Robertson (2010). Esses métodos foram avaliados utilizando-se
ensaios provenientes das Barragens de Fundão e de Germano (Morgenstern et al., 2016), que se
rompeu em Mariana, Minas Gerais, em 5 de novembro de 2015. Os resultados analisados foram
comparados a estudos de outros autores que também avaliaram estes métodos. Com isso, foi
possível concluir pela aplicabilidade dos métodos como indicativos da susceptibilidade do rejeito à
liquefação e na identificação de possíveis áreas no depósito de rejeitos susceptíveis ao fenômeno
embora, a partir da análise dos dados disponíveis, tenham sido também identificadas algumas
limitações desses métodos.

PALAVRAS-CHAVE: barragem de rejeitos, liquefação, mineração, susceptibilidade

1 INTRODUÇÃO que, para a ocorrência efetiva, depende de


outros fatores como a intensidade e o tipo de
A liquefação é um dos fenômenos mais carregamento. O critério geológico avalia o
controversos e interessantes da Engenharia tempo de depósito do material e a profundidade
Geotécnica, tendo impulsionado nos últimos do nível de água, o critério de composição do
anos vários debates devido à sua complexidade material avalia o formato das partículas e a
e importância (Teixeira, 2015). A ocorrência de distribuição granulométrica, e o critério de
liquefação está normalmente relacionada a solos estado avalia o estado de tensões do solo de
granulares saturados que, ao serem sujeitos a acordo com seu índice de vazios.
carregamentos rápidos, sob condições não O critério de estado é explicado pelo estado
drenadas (sem dissipação da poropressão), permanente que ocorre quando o solo flui
perdem a resistência e rigidez, levando ao fluxo continuamente sob tensão cisalhante, volume e
de massa do solo. velocidade constante, que é explicado por
Kramer (1996) apresenta três critérios para Kramer (1996) conforme apresentado a seguir.
estimar a susceptibilidade à ocorrência de A partir de ensaios triaxiais, Casagrande
liquefação. Estes critérios somente avaliam se (1940) constatou que há uma linha de índice de
alguns depósitos tem susceptibilidade à vazios que delimita o comportamento do solo
ocorrência do fenômeno da liquefação, visto em ser contráctil ou dilatante. Castro (1969)
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identificou uma linha de estado permanente, granulométrica que se enquadram os rejeitos de


SSL, em que o solo sofre deformação a volume granulometria fina com susceptibilidade à
e tensões constantes. A partir dessa ideia, Been liquefação.
e Jefferies (1985) introduziram o conceito de
parâmetro de estado, definido por ψ = e0 – ess,
onde ess é o índice de vazios na condição de
estado permanente sob a tensão de
confinamento efetiva de interesse, e e0 é o
índice de vazios inicial. Quando ψ é positivo, o
solo é contrativo e pode ser susceptível à
liquefação e, ψ negativo, indica solo expansivo
e não é susceptível à liquefação (Figura 1).

Figura 2: a) Faixas de curvas granulométricas que


definem os limites de solos susceptíveis ou não
susceptíveis à liquefação (depois de Tsuchida, 1970). b)
Intervalo de diâmetros dos grãos para rejeitos com baixa
Figura 1: Definição do parâmetro de estado ψ (Guillén, resistência para liquefação (depois de Ishihara, 1985)
2008 apud Been e Jefferies, 1985). (modificado de Terzaghi et al., 1996).

Been e Jefferies (1985) afirmaram, após 2.2 Método de Olson (2001)


intensos estudos em ensaios triaxiais drenados e
não drenados, que as linhas de estado O método permite avaliar as três etapas do
permanente e de estado crítico são coincidentes, fenômeno da liquefação: susceptibilidade,
independente das trajetórias de tensões. gatilho e estabilidade pós-gatilho, porém, será
descrito somente a susceptibilidade à
liquefação, tema do presente trabalho.
2 MÉTODOS DE ANÁLISE DA A análise da susceptibilidade de ocorrência
SUSCEPTIBILIDADE da liquefação consiste na caracterização do
comportamento do solo mediante cisalhamento
2.1 Método de Ishihara (1985) – contrátil ou dilatante – através das correlações
entre tensões verticais efetivas de pré-ruptura,
Tsuchida (1970) propôs faixas granulométricas 𝜎 ′ 𝑣0 , e resistências à penetração normalizadas,
em que um determinado material apresenta estabelecidas a partir de resultados de retro-
maior ou menor susceptibilidade à liquefação. análises de 33 casos históricos (Olson, 2001).
Foram analisadas curvas granulométricas de Para o cálculo das resistências à penetração
amostras de rejeitos e, ao comparar com a normalizadas, N1(60) e qc1, os valores dos
granulometria de solos, observou-se que a curva números de golpes medidos no ensaio de SPT
para os rejeitos não atendia os limites impostos (NSPT) e da resistência de ponta do cone do
por Tsuchida. Assim, Ishihara estabeleceu ensaio de CPT (qc), são corrigidos em relação à
novos contornos para solos pouco a não energia de cravação e ao nível de tensões,
plásticos, como rejeitos, com baixa resistência à respectivamente, conforme Olson (2001) e Seed
liquefação, tal como apresenta a Figura 2 (b), et al. (1985) estabeleceram em seus estudos.
em que a área rachurada indica a faixa
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Olson (2001) correlacionou sua base de As linhas de contornos de Fear & Robertson
dados com o contorno proposto por Fear & (1995) foram propostas para tensões efetivas
Robertson (1995), a qual delimita zonas inferiores a 350 kPa. Apesar de Olson (2001)
susceptíveis (comportamento contráctil) e não afirmar que é razoável a extrapolação deste
susceptíveis (comportamento dilatante) à valor, avaliações com tensões muito elevadas,
liquefação para ambos os ensaios de campo. não garantem a susceptibillidade à liquefação
A linha de contorno proposta para os ensaios encontrada, visto que, a profundidade influência
SPT é apresentada na Figura 3, enquanto que a mais que a resistência do solo em si.
linha de contorno proposta para os ensaios
CPTu é apresentada na Figura 4. 2.3 Método de Robertson (2010)

Para identificar o comportamento do solo


baseado em valores obtidos por parâmetros do
ensaio CPT, Robertson (1990) desenvolveu um
ábaco denominado CPT SBT ou SBT (“Soil
Behavior Type”), com valores corrigidos da
resistência de ponta (Qtn) e atrito lateral (Fr)
pela tensão vertical efetiva inicial ou de pré-
ruptura e a tensão vertical total.
Robertson e Wride (1998) sugeriram um
fator de correção para corrigir a resistência de
ponta normalizada em areias siltosas para ser
equivalente com valores de resistência de ponta
normalizada em areias puras, Qtn,cs.
A partir do conceito de linha de estado
crítica, Been e Jefferies (1985) desenvolveram o
parâmetro de estado (ψ) e aplicaram para
Figura 3: Envoltória das relações entre 𝜎 ′ 𝑣0 e (𝑁1 )60 ensaios de CPT para avaliar o potencial à
para solos dilatantes ou contráteis (modificado de Olson, liquefação. Been e Jefferies (2006) e Shuttle e
2001).
Cunning (2007) sugerem que solos com
parâmetro de estado ψ > -0,05 tem
comportamento contráctil e sob condições não
drenadas pode ter perda de resistência. Assim,
foi possível identificar no ábaco CPT SBT uma
linha que representa o parâmetro de estado de -
0,05, baseada nos parâmetros Qtn,cs e Fr, para
analisar a susceptibilidade à liquefação do solo,
conforme apresenta Figura 5.
Os contornos de valores constantes de Qtn,cs é
similar aos contornos dos valores de parâmetro
de estado, visto que, os valores de Qtn,cs entre 50
e 75 representa o limite de comportamento
contráctil e dilatante para um intervalo de solos,
conforme apresenta a Figura 6. Robertson
(2010) indica que os contornos de Qtn,cs
representam os contornos dos parâmetros de
Figura estado, logo, solos com valores constantes de
4Figura 4: Envoltória das relações 𝜎 ′ 𝑣0 e 𝑞𝑐1 para solos
contráteis e dilatantes (modificado de Olson, 2001).
Qtn,cs têm parâmetros de estado similares e,
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consequentemente, uma resposta similar ao dilatantes é válido, visto que todos os casos
sofrer carregamentos, e portanto, um apresentaram solos com comportamento
comportamento similar ao fenômeno da contráctil, ou seja, abaixo do contorno de Qtn,cs
liquefação. = 70. Além disso, o contorno é adequado para
os valores de CPT para areias puras a siltes e
para argilas. Este método é considerado
conservativo para avaliar se um solo é
susceptível ao cisalhamento sob condições não
drenadas, logo, susceptível à liquefação.

Figura 5: Contornos para o mesmo parâmetro de estado


para ensaios de CPT (adaptado de Robertson, 2009).

Figura 7: Dados de intervalos de valores de CPT


normalizados de casos históricos de ruptura por
liquefação (adaptado de Robertson, 2010).

Robertson (2009) apresentou uma projeção


de quatro grupos de comportamentos para
avaliar o potencial de liquefação e perda de
resistência em diferentes tipos de solos,
conforme apresenta a Figura 8. O
comportamento dos solos em cada região é:
Zona A1: solos drenados com comportamento
dilatante; Zona A2: solos drenados com
comportamento contráctil; Zona B: solos não
drenados com tendência dilatante (apresenta
Figura 6: Contornos equivalentes para valores de excesso de poropressões negativas); Zona C:
resistência de ponta normalizada para areais puras, Qtn,cs, solos não drenados com tendência contráctil
baseada nas correções sugeridas por Robertson e Wride
(1998) (adaptado de Robertson, 2010).
(apresenta excesso de poropressões positivas).

O ábaco CPT SBT da Figura 7 apresenta


dados compilados de valores normalizados de
CPT de casos históricos de rupturas por
liquefação. Os valores medidos de CPT de cada
caso histórico é representado pelos pontos
circulares, indicando que o contorno de Qtn,cs =
70 avaliado para limitar solos contrácteis e
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pontos analisados e no Dique da Baia 3 e;


comparação da avaliação dos métodos com
outros autores a fim de apoiar as conclusões
obtidas.

3.1 Barragem de Fundão, Minas Gerais

Para melhor entedimento do complexo da mina


em que a Barragem de Fundão estava inserida e,
a fim de localizar os elementos que compõem a
barragem, a Figura 10 apresenta uma imagem
de satélite da Barragem antes de sua ruptura, dia
5 de novembro de 2015.
Figura 8: Grupos de comportamentos de solos baseados
nos valores de CPT (adaptado de Robertson, 2010).

3 METODOLOGIA

O presente estudo visou avaliar alguns métodos


de análise de susceptibilidade à liquefação a
partir da aplicação dos mesmos em um mesmo
material. Os métodos foram obtidos por revisão
Figura 10: Identificação de componentes da Estrutura da
bibliográfica. Barragem de Fundão (Fonte: Google Earth).
A Figura 9 apresenta um resumo em forma
de fluxograma da aplicação dos métodos Para as análises das metodologias de estudo
selecionados. da susceptibilidade à liquefação, buscou-se na
literatura resultados de ensaios de campo e de
laboratório para o rejeito depositado na
Barragem de Fundão e para isso, foi utilizado o
relatório do comitê de especialistas que
elaborou a análise da ruptura da barragem
(Morgenstern et al., 2016). A Tabela 1
apresenta o quantititativo de ensaios que foram
analisados para este presente trabalho. A seguir
estes resultados são aplicados para os métodos
de Ishihara (1985), Olson (2001) e Robertson
(2010).
Figura 9: Fluxograma da metodologia a ser aplicada neste
trabalho. Tabela 1: Número de ensaios por tipo do relatório de
especialistas (Morgenstern et al., 2016)
A metodologia deste trabalho e a discussão Ensaios SPT 32 sondagens em 4
dos resultados será realizada de acordo com as campanhas de investigações
Ensaios CPT 76 sondagens em 7
seguintes etapas: aplicação de cada método de campanhas de investigações
susceptibilidade à liquefação com os dados de Ensaios de granulometria e 4 amostras
ensaios da Barragem de Fundão; discussão sedimentação
individual do resultado de cada método Peso específico dos grãos 4 amostras
aplicado; discussão dos resultados de todos os
métodos aplicados em duas vertentes: todos os
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4 RESULTADOS E DISCUSSÕES 4.2 Método de Olson (2001)

4.1 Método de Ishihara (1985) Para o método de Olson, primeiramente,


aplicou-se o ensaio de resistência à penetração
Com base nos resultados dos ensaios de do tipo SPT. Plotou-se os pares de valores do
caracterização, é possível observar que os número de golpes corrigido com as tensões
rejeitos de lama da Barragem possuem alto teor verticais efetivas de pré-ruptura juntamente com
de finos, % passante na peneira número 200, ou a envoltória de Fear & Robertson. A Figura 12
seja, diâmetros dos grãos entre 0,001 e 0,075 apresenta a envoltória com os pontos da
mm, e índice de plasticidade muito baixo ou campanha de investigação realizada no Dique
nulo, o que indica que os finos passantes não da Baia 3 na Barragem de Germano.
apresentam plasticidade. Logo, esse rejeito pode Outra análise possível por meio deste gráfico
ser classificado como material com é a interpretação das camadas susceptíveis à
comportamento granular não coesivo, tornando liquefação ao longo dos perfis investigados,
relevante sua análise de susceptibilidade à conforme apresenta Figura 13. As camadas
liquefação. A Figura 11 apresenta as curvas consideradas neste trabalho para avaliar uma
granulométricas do rejeito juntamente com os estatigrafia do solo quanto à susceptibilidade à
limites propostos por Ishihara (1985). liquefação são apresentadas na Tabela 2.

Curvas granulométricas de todos os furos Tabela 2: Camadas consideradas na avaliação dos perfis
100% para susceptibilidade à liquefação.
90% Camada Comportamento do solo
80% Camada A Susceptível à liquefação, porém
70%
% Passante

apresentou pontos com comportamento


60%
50% dilatante
40% Camada B Totalmente susceptível à liquefação
30% (contráctil)
20% Camada C Totalmente não susceptível à liquefação
10% (dilatante)
0%
0,001 0,01 0,1 1 10 100
Diâmetro dos grãos (mm)
Limites pontenciais de liquefação para rejeitos finos
Limites potenciais de liquefação para solos finos
Furo 10149
Furo 10150
Furo 10151
Furo 10152

Figura 11: Compilação de todas as curvas


granulométricas obtidas pelos ensaios.

A partir dos gráficos, é possível observar que


as curvas se apresentaram apenas parcialmente
dentro do intervalo definido por Ishihara (1985)
para indicação da susceptibilidade à liquefação
de rejeitos finos, o que não forneceria um
Figura 12: Valores de (N1)60 e σ’v0 obtidos para os perfis
resultado conclusivo, por meio desta avaliação, investigados na região do Dique da Baia 3, e a relação de
sendo necessária a investigação mais susceptibilidade à liquefação recomendada por Olson
aprofundada por outros métodos de análise. (2001).
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de análise pelo ábaco CPT SBT com as linhas


de parâmetros de estado (Figura 6) e pela zona
Camada A de comportamento (Figura 7) que os pontos
foram plotados, variando para os parâmetros de
estado de 0,00 a -0,20 e para as zonas de
comportamento entre 4 grupos (Figura 8).
A classificação entre comportamento
dilatante e contráctil dos pontos, foi realizada
Camada B de acordo com o seguinte critério: quando havia
somente alguns pontos acima do contorno de
Qtn,cs e quase a totalidade dos pontos abaixo do
contorno, os primeiros foram desconsiderados
para uma análise mais conservadora. Além
disso, na interpretação do parâmetro de estado e
Figura 13: Valores de (N1)60 e elevações ao longo dos grupo de comportamento, considerou-se a
perfis investigados na região do Dique Baia 3, com a região com maior concentração de pontos
divisão do perfil nas camadas indicadas plotados.
De forma geral, os ensaios apresentaram
Para os ensaios CPT, os pares de valores da rejeito com comportamento contráctil, variando
resistência de ponta normalizada e das tensões de comportamento drenado a não drenado.
verticais efetivas de pré-ruptura dos resultados
dos ensaios de CPT/CPTu já foram 4.4 Avaliação dos resultados e comparação
apresentados nos gráficos recomendados por com outros estudos realizados
Olson (2003) no relatório de Morgenstern et al.
(2016). Para a análise da susceptibilidade da De forma geral, os rejeitos depositados nas
liquefação, o método de Olson (2003) não teve Barragens de Fundão e Germano apresentaram
nenhuma alteração do da versão de 2001. comportamento contráctil pela interpretação da
Portanto, foi realizada uma interpretação dos susceptibilidade à liquefação, com regiões mais
gráficos, que teve como resultado, rejeitos com susceptíveis que outras, de acordo com os
comportamento contráctil em diversas regiões, métodos de Olson (2001) para ensaios SPT,
com a presença das Camadas A e B conforme Olson (2003) para ensaios CPT/CPTu e
analisado para os ensaios de SPT. Robertson (2010) para ensaios CPT/CPTu.
Conforme análise dos ensaios SPT, esta O dique da Baia 3 se encontra na Barragem
análise é importante para a definição da de Germano e é a única região que teve análise
estatigrafia da seção transversal típica da pelos 3 métodos utilizados neste trabalho. Pelo
estrutura em estudo, com a definição dos método de Ishihara, as amostras coletadas não
materiais susceptíveis e não susceptíveis à apresentaram susceptibilidade à liquefação, já
liquefação para a análise do gatilho, que é a pelos métodos de análise de Olson (2001) para
etapa subsequente de análise do método de ensaios SPT, Olson (2003) para ensaios CPT e
Olson (2001). Robertson (2009 e 2010) os solos apresentaram
comportamento contráctil, em condições
4.3 Método de Robertson (2010) drenadas e não drenadas.
No estudo realizado por Ferreira (2016) no
Para o método de Robertson (2010) os pontos Dique da Baia 3, os resultados da análise de
dos parâmetros normalizados dos ensaios susceptibilidade à liquefação indicaram
CPT/CPTu já estavam plotados nos gráficos de comportamento contrativo dos rejeitos locais,
acordo com cada sondagem. Logo, foi realizada indicando resultados condizentes com o
uma interpretação dos gráficos. Morgenstern et presente trabalho.
al. (2016) também fez uma análise com critério
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Ao avaliar os resultados obtidos pela análise não drenado. Rodrigues et al. (2014) avaliou o
do método de Olson (2001) por Silva (2010), comportamento do solo em relação à
Freire Neto (2009) e Ferreira (2016), tem-se susceptibilidade à liquefação e apresentou
que em todos os casos, na etapa da análise de concordância nos resultados, para um solo
susceptibilidade à liquefação, todos os arenoso e um solo lodoso. Além do relatório de
resultados apresentaram comportamento Morgenstern et al., 2016, não foi identificado na
contráctil, porém na análise do gatilho com literatura outra avaliação do método de
identificação das regiões susceptíveis à Robertson (2010) quanto à susceptibilidade à
liquefação, não houve gatilho e, portanto, não liquefação de rejeitos de minério de ferro.
foi prevista ruptura por liquefação. Todas as De acordo com Morgenstern et al. (2016), os
análises foram realizadas por rejeitos de rejeitos da Barragem de Fundão são areias e
minério de ferro na região do quadrilátero de lamas, sendo o segundo mais mole e
Minas Gerais. compressível. Durante o processo de deposição
Na metodologia de Olson (2001), mesmo dos rejeitos, a parcela arenosa deveria estar
que se conste que o solo apresenta fisicamente separada da parcela de lama, porém
comportamento susceptível à liquefação, não se há zonas de camadas intermediárias e misturas.
caracteriza, necessariamente, a manifestação de Comparando os comentários de Morgenstern et
gatilhos do processo, sendo, portanto, al. (2016) com os resultados obtidos neste
necessária a análise do gatilho da liquefação e trabalho, foi possível inferir que ao longo da
da estabilidade pós-ruptura para avaliar o profundidade de rejeitos contrácteis, havia a
potencial de liquefação. presença de camadas de lama que, ao serem
Em relação ao estudo do método de Ishihara comprimidas apresentavam extrusão lateral,
(1985), as análises realizadas por Pereira tornando as areias sobrejacentes mais fofas, ou
(2005), Silva (2010) e Freire Neto (2009) seja, susceptíveis à liquefação.
apresentaram um intervalo de curvas
granulométricas dentro dos limites de potencial
de liquefação. Apesar de Pereira (2005) ter 5. CONCLUSÃO
avaliado a susceptibilidade à liquefação dentro
de limites de solos, não levando em Este trabalho analisou a aplicação de métodos
consideração os contornos delimitados para de avaliação da susceptibilidade à liquefação de
rejeitos com baixa resistência à liquefação, as solos e rejeitos, por meio da análise do
curvas granulométricas do seu estudo também comportamento do material ser contráctil ou
se encontravam dentro deste limite. No caso da dilatante. Os métodos foram aplicados para
avaliação para os ensaios avaliados neste amostras de rejeito da Barragem de Fundão,
trabalho, o resultado foi não conclusivo em tendo como uma das causas prováveis a
relação à susceptibilidade à liquefação, ocorrência de liquefação. Os métodos
provavelmente devido ao número de amostras analisados foram o de Ishihara (1985), Olson
analisadas ter sido insuficiente, e não (2001) e Robertson (2010).
representativo dos rejeitos em estudo. As análises desenvolvidas para os resultados
Quanto ao método de Robertson (2010), dos ensaios do rejeito da Barragem de Fundão
Nejaim (2015) avaliou a confiabilidade do apresentaram comportamento contráctil, ou
ábaco CPT SBT para analisar o comportamento seja, susceptível à liquefação, com exceção do
de um solo com características conhecidas, e resultado avaliado pelo método de Ishihara que
obteve o resultado esperado para este solo não apresentou resultados conclusivos sobre a
caracterizado como uma argila plástica com susceptibilidade à liquefação.
comportamento compressivo e não drenado e Os rejeitos do estudo de caso se encaixam
para uma argila siltosa ou um silte argiloso, nos critérios de susceptibilidade dos materiais à
pouco plástico, com comportamento dilatante e liquefação. A barragem é de contenção de
rejeitos, alteada por montante, o que a torna
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mais susceptível à liquefação conforme critério do material. A partir deste estudo, não foi
geológico. A distribuição granulométrica do conclusiva a aplicação desse método, visto que,
rejeito obtida a partir dos ensaios de apresentou um comportamento não susceptível
granulometria e sedimentação, indica que o à liquefação do rejeito analisado. Entretanto, a
rejeito é mal graduado, com tamanho de falta de amostras representativas, podem ter
partículas uniformes, o que implica em maior influenciado neste resultado.
variação volumétrica e, assim, maiores valores O método de Robertson (2010) não tem
de poropressão, tornando-os mais susceptível à ainda muitos casos de avaliação na literatura,
liquefação. portanto, são necessários mais estudos para
Pelo critério do estado do material, foi verificar se sua análise é confiável e passível de
possível avaliar o parâmetro de estado (ψ) do uso para análise de liquefação em projetos de
rejeito, pelo método de Robertson (2010), que barragens de rejeitos, principalmente para
indicou, considerando os resultados de ensaios rejeitos provenientes do beneficiamento do
CPT/CPTu, que os rejeitos têm valores de minério de ferro.
parâmetros de estado superiores à -0,05, Pode-se concluir que, embora os métodos de
indicando um comportamento contráctil, logo, análise da susceptibilidade à liquefaçao
susceptível à liquefação. Além disso, a estudados no presente trabalho apresentem
barragem deve constar um sistema de drenagem limitações, os mesmos fornecem uma indicação
eficiente para impedir a condição saturada dos de possíveis áreas susceptíveis, no depósito de
rejeitos, e conforme estudado, a Barragem de rejeitos, que deverão ser analisadas em fases
Fundão apresentou diversos problemas de posteriores do estudo da estabilidade da
drenagem e surgência desde sua implantação, estrutura à liquefação.
propiciando um ambiente favorável à
ocorrência da liquefação.
De acordo com os métodos de Olson (2001) REFERÊNCIAS
para ensaios SPT, Olson (2003) para ensaios
CPT/CPTu e Robertson (2010) para ensaios FERREIRA, D. S. Análise do comportamento geotécnico
CPT/CPTu, de forma geral, os rejeitos de aterro experimental executado sobre um depósito
de rejeitos finos. 2016. 145 p. Dissertação
depositados nas Barragens apresentaram (Mestrado), Escola de Minas, Universidade Federal
comportamento contráctil pela interpretação da de Ouro Preto, Ouro Preto. 2016.
susceptibilidade à liquefação.
A partir da comparação dos resultados FREIRE NETO, J. P. Estudo da Liquefação Estática em
encontrados e com as análises realizadas por Rejeitos e Aplicação de Metodologia de Análise de
Estabilidade. 2009. 184 p. Dissertação (Mestrado),
outros autores na literatura, foi possível NUGEO, Escola de Minas, Universidade Federal de
identificar o comportamento do solo em Ouro Preto, Ouro Preto. 2009.
camadas mais representativas para análise dos
ISHIHARA K.; TRONCOSO, J.; KAWASE, Y.;
ensaios de CPT na metodologia de Olson TAKAHASHI, Y. Cyclic strength characteristics of
(2001), quando comparada aos ensaios SPT. tailings materials. Soils and Foundations. Vol. 20,
Isso ocorre devido ao ensaio de SPT ser mais No. 4, 1980, p. 127-142.
rústico e caracterizando o perfil de forma mais KRAMER, S.L. Geotechnical Earthquake Engineering,
espaçada. Prentice Hall, 1996.
O método de Ishihara (1985) é muitas vezes
usado como um método preliminar para avaliar LOPES, M. C. O. Disposição hidráulica de rejeitos
arenosos e influência nos parâmetros de resistência.
a susceptibilidade à liquefação de solos ou 2000. 158 p. Dissertação (Mestrado) –
rejeitos e, caso seja confirmada a Departamento de Engenharia Civil e Ambiental,
susceptibilidade, a análise da liquefação é Universidade Federal de Brasília, Brasília, DF.
realizada por outro método mais avançado que 2000.
calcula a resistência ao cisalhamento liquefeita
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do depósito de Sarapuí II através de ensaios de
piezocone com ênfase na camada do Pleistoceno.
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Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 2015.

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Análise de compressibilidade dos resíduos sólidos urbanos do


Aterro de Nova Iguaçu - RJ
Ana Ghislane Henriques Pereira van Elk
UERJ, Rio de Janeiro, Brasil, anavanelk@gmail.com

Annik Frasso Corrêa Klink


UERJ, Rio de Janeiro, Brasil, annikfc@hotmail.com

Andreia Lima Gontijo


UERJ, Rio de Janeiro, Brasil, smandersonsm@gmail.com

Mariana Garcia Lima Bezerra de Araujo


UERJ, Rio de Janeiro, Brasil, marianaglaraujo@gmail.com

Nathália Bernardo do Amaral


UERJ, Rio de Janeiro, Brasil, nbnathalia23@gmail.com

RESUMO: O presente artigo apresenta um estudo da compressibilidade de uma área situada no aterro
sanitário Central de Tratamento de Resíduos (CTR) de Nova Iguaçu. Este estudo consistiu de 3 etapas,
a primeira foi a seleção do local para realizar o experimento, a segunda etapa consistiu da realização
de um ensaio de reconhecimento da área através de método geofísico de eletrorresistividade e a
terceira etapa de um ensaio de carga e instalação de 18 marcos superficiais.

PALAVRAS-CHAVE: Compressibilidade, Recalques, Resíduos Sólidos Urbanos, Aterros


Sanitários, Deslocamentos Horizontais.

1 INTRODUÇÃO custo e a sua capacidade de conseguir um


controle eficiente e seguro sobre os resíduos,
O maior desafio da gestão de resíduos sólidos Pereira (2000).
urbanos atualmente é a disposição final, pois Hoje em dia há uma grande dificuldade de
aproximadamente 59% dos municípios encontrar áreas para aterros sanitários,
brasileiros vazam seus resíduos em lixões principalmente nos grandes centros urbanos e em
(MMA 2014), locais inadequados, clandestinos, municípios com áreas de proteção ambiental.
sem recobrimento e controle de resíduos, Dentro dessa perspectiva os aterros são cada vez
impermeabilização, drenagem de lixiviados e mais altos, podendo atingir até 100 metros de
gases. Estes vazadouros a céu aberto altura, evidenciando a necessidade de investigar
contaminam o solo, água e o ar pelas emissões a compressibilidade tanto da massa de resíduos,
de gases de efeito estufa. como da fundação, com vistas a preservar a
Embora o futuro aponte para a minimização estabilidade dos taludes e garantir a segurança do
desse tipo de disposição, os aterros sanitários empreendimento. (Pereira 2000).
constituem uma das formas de disposição de O estudo do comportamento geomecânico
resíduos mais empregadas em todo o mundo, dos resíduos é que suas características mudam
principalmente devido ao seu relativo baixo com o tempo, devido fundamentalmente aos
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processos de degradação biológica dos materiais geração de energia limpa a partir dos resíduos
que os constituem e que estas variações são sólidos e venda de crédito de carbono aprovado
distintas em função da sua composição, da forma através do Mecanismo de Desenvolvimento
de disposição no aterro, da climatologia ou Limpo (MDL), no âmbito do Protocolo de
variações de temperatura e disponibilidade de Quioto.
umidade. Com uma área de 120 hectares o aterro é
Esta evolução pode dar-se em dois sentidos: por composto por 4 vales, na época da realização
um lado, os processos de consolidação podem desta pesquisa o aterro encontrava-se com os
ser causadores de um incremento da resistência Vales I e III finalizados e o Vale IV em operação.
do material e por outro a degradação bioquímica O aterro recebe entre 3.500 a 6.000 toneladas
do material orgânico pode resultar em um diárias de resíduos sólidos. A área em estudo está
aumento do índice de vazios gerando recalques localizada no Vale III. Esta área recebeu resíduos
adicionais e um enfraquecimento do maciço, do tipo domiciliar e industriais classe II,
Pereira (2000). incluindo lodos de estações de tratamento,
O comportamento compressivo dos resíduos durante o período de novembro de 2006 a
é um assunto que intervêm múltiplos fatores que fevereiro de 2014. A cota de fundação do Vale
estão relacionados entre si e que o grau de III é de 31m.
conhecimento ainda é muito incipiente. Por isso, O aterro localiza-se no distrito de Vila Cava,
é importante o desenvolvimento de linhas de a cerca de 10km do centro urbano da cidade de
pesquisa sobre este tema já que à medida que a Nova Iguaçu, com acesso pela Rodovia
produção de resíduos e a população aumentam se Presidente Dutra, no Sentido Rio-São Paulo,
faz necessário conhecer o comportamento destes através da Estrada de Adrianópolis (RJ-113) na
materiais para poder garantir a estabilidade altura do viaduto da Posse. A área faz divisa com
interna do aterro sanitário, cujas rupturas podem a Subestação de 500 kV de Adrianópolis, de
ter graves consequências em seu entorno e Furnas Centrais Elétricas S A.
avaliar a reutilização de áreas de aterros cujas
atividades de recepção de resíduos foram
concluídas, para uso recreativo ou para a
construção de outras estruturas com maiores
requerimentos de estabilidade e
deformabilidade, van Elk (2014).
Neste sentido o objetivo deste trabalho é
analisar o comportamento compressivo dos
resíduos sólidos urbanos a curto prazo e longo
prazo através de realização de um ensaio de
carga e medidas de recalques na área selecionada
do aterro sanitário Central de Tratamento de
Resíduos (CTR) de Nova Iguaçu.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Área em Estudo


A Central de Tratamento de Resíduos Nova
Iguaçu (CTR-NI), figura 1, teve sua operação Figura 1 – CTR Nova Iguaçu
iniciada em 13 de fevereiro de 2003, sendo o
primeiro aterro sanitário licenciado no Estado do A área de implantação situa-se próximo aos
Rio de Janeiro e o primeiro do Brasil a ter um centros geradores de lixo, oferecendo economia
projeto de mitigação de gases de efeito estufa e nos custos de transporte, não dispõe de
concentrações urbanas em suas proximidades e
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apresenta características topográficas e recobertas, são instalados os sistemas de


paisagísticas favoráveis à operação do aterro. Os drenagem de percolados e gases.
morros que circundam a área constituem uma
proteção natural no que diz respeito à dispersão 2.2 Ensaio de Reconhecimento
de odores, ao arraste de lixo pelo vento e à
agressão à estética. Com o objetivo de investigar o local da maior
O terreno possui grandes áreas planas e concentração de lixiviado no aterro e auxiliar no
dispõe de áreas de grandes disponibilidades estudo de sua permeabilidade foi executado um
naturais de solos argilosos que podem ser ensaio geofísico de eletrorresistividade. Este
empregados como área de empréstimo para a ensaio foi executado em todo o aterro em 2015,
cobertura diária dos resíduos. encomendado pela empresa que administra este
Os dados das estações pluviométricas e empreendimento, porém aqui se apresenta
climatológicas disponíveis da região indicam apenas os resultados do Vale III, área onde este
que a distribuição sazonal da média de projeto foi desenvolvido.
precipitação pluviométrica apresenta o valor O método de eletrorresistividade é um dos
máximo no verão, com 208 mm, e o mínimo no recursos da geofísica para prospecção de subsolo
inverno, com 63 mm. O valor médio anual é de em que determina a localização de seus
1.595 mm e a variação sazonal mensal mostra diferentes componentes apresentando a
que janeiro é o mês mais chuvoso, com 229 mm, vantagem de não ser invasivo. Trata-se de uma
e julho o mais seco, com 51,4 mm de técnica de investigação horizontal, para várias
precipitação. profundidades aproximadamente constantes, a
Os resíduos recebidos no aterro são lançados partir de medidas tomadas de forma indireta na
em células de até 5,0m de altura, espalhados em superfície do terreno.
camadas inclinadas de espessura máxima de O ensaio foi realizado ao longo de perfis
0,30m, com talude máximo de 1V:2H, e paralelos com distância de 25 m entre eles. O
compactadas pela passagem de 6 passadas de arranjo eletródico de seções utilizado neste
trator de esteiras do tipo D6 e/ou similar. trabalho foi o dipolo-dipolo e, neste arranjo, os
Ao final de cada ciclo de 24h, os resíduos são eletrodos A e B de envio de corrente e os
recobertos com uma camada de solo de eletrodos M e N de potencial ou de recepção são
espessura mínima de 0,30m, a fim de evitar alinhados sobre um mesmo perfil. O arranjo é
percolações oriundas de precipitações definido pelos espaçamentos L = AB = MN,
pluviométricas e, principalmente evitar a conforme mostra a Figura 2 abaixo.
proliferação de insetos, aves e roedores. Os solos
da camada de recobrimento são espalhados com
tratores de esteira e motoniveladoras, sendo
posteriormente compactados pelo trânsito de
equipamentos de terraplenagem.
O material para a execução das camadas de
cobertura são obtidos das escavações
obrigatórias dos retaludamentos dos taludes das
encostas do aterro e, excepcionalmente
mediante escavação de solo em áreas de
empréstimo.
A declividade longitudinal dessas camadas
tem inclinação de 2%, no sentido montante /
jusante, a fim de assegurar o escoamento dos Figura 2 - Exemplo de arranjo utilizando da técnica
percolados para fora da área de implantação do Dipolo-Dipolo (Intergeo)
aterro. À medida que as células forem sendo
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Os equipamentos utilizados foram dois os locais onde há um acúmulo de lixiviado. Já os


conjuntos de equipamentos portáteis compostos locais representados com cores mais quentes,
por dois módulos, um de transmissão de corrente qualificados de alta resistividade, predominam
alimentado por baterias e outro de recepção, os locais onde predominam os resíduos sólidos.
designado eletrorresistivímetro, da marca
ABEM – AC. Como acessórios utilizaram-se
fios de conexão, cabos e eletrodos metálicos para
o envio de corrente e leitura das diferenças de
potencial.

2.3 Ensaio de Carga e Monitoramento ou


Plano de Trabalho

A primeira etapa deste trabalho consistiu da


seleção da área para o desenvolvimento do
estudo da compressibilidade dos resíduos.
A segunda etapa consistiu da instalação dos
marcos superficiais destinados à campanha de
auscultação. Foram instalados 18 marcos
superficiais. Logo após sua instalação foi tomada
à medida inicial de referência e executado o
ensaio de carga. Este consistiu de um talude de
terra, construído em camadas, dispostas e
espalhadas por uma máquina niveladora, sem
compactação. O ensaio de carga tinh as seguintes
dimensões: 20 m de comprimento, 10 m de
largura e 2 m de altura. A distribuição dos
marcos e as dimensões do ensaio de carga estão
detalhadas na Figura 3. Na Figura 4 mostra a
execução do ensaio de carga. O talude e terra Figura 3: Planta do ensaio de carga e localização dos
representa uma sobrecarga de 32 kN/m2. marcos superficiais
As medidas de recalques foram realizadas
quinzenalmente no primeiro mês de instalação
dos marcos superficiais e em seguida,
mensalmente. As medidas foram efetuadas com
o auxílio de um topógrafo.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Ensaio Geofísico

Através das figuras 5 observam-se os valores de


resistividade elétrica para os diferentes
componentes do subsolo. A linha 3 da figura 5 Figura 4 - Confecção do ensaio de carga.
mostra a área estudada, próxima ao ensaio de
carga. Por intermédio delas é possível identificar
o acúmulo de lixiviado no aterro. Os locais
representados com cores frias são considerados
de baixa resistividade elétrica que representam
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resíduos como consequência do aumento da


tensão ocasionado pela compactação e por
sobrecargas de resíduos. Este recalque ocorre
em um tempo relativamente maior que o
recalque imediato, da ordem de 30 dias. A
compressão secundária deve-se a fatores como
fluência (creep) e decomposição biológica.
De acordo com Wall & Zeiss (1995) o
recalque imediato é análogo a compressão
elástica que ocorre nos solos, de modo que se
pode calcular o módulo de Elasticidade. Com
o valor do recalque imediato se pode calcular o
módulo de deformação adotando a hipótese de
placa flexível situada sobre um semi espaço de
Bousinesq, de acordo com a expressão da
equação 1:

K .q.b(1 −  2 ) (2)
E=
Figura 5:Esquema da Eletrorresistividade S

Onde: E= modulo de deformação (kN/m2), K=


3.1 Ensaio de carga e monitoramento coeficiente de Schleicher = (20/10=2),
q=variação da carga (32 kN/m2), b = lado do
A seguir são apresentados os gráficos de retângulo (10m), ν = coeficiente de Poisson
recalques verticais e deslocamentos horizontais (0,3), Si = recalque inicial (0,50m).
na área em estudo, Figuras 6, 7, 8 e 9. O módulo de elasticidade obtido foi de 1.165
Os marcos superficiais são divididos em dois kN/m2. Este valor está coerente com os valores
conjuntos: o primeiro é denominado lado norte apontados por Charles (1984) que indica valores
(parte de cima da figura 3) do talude de carga e , do módulo de elasticidade entre 1.000 e 2.000
e o segundo lado sul (parte de baixo da figura 3). kN/m2, Campi (2011) indica valores entre 1000
O recalque imediato nos lados norte e sul do e 4.000 kN/m2 e van Elk et. al (2014) indica
ensaio de carga foi de aproximadamente 50 valor de 1.864 kN/m2.
mm. Este recalque foi medido uma semana
após a instalação da carga. Após 11 meses de
medições os recalques verticais foram de
aproximadamente 260 mm no lado norte e 360
mm no lado sul. Os recalques são mais
pronunciados nos marcos próximos a carga.
Segundo Sowers (1973), a compressibilidade
dos resíduos sólidos pode ser dividida em
inicial, primária e secundária. A compressão
inicial deve-se à expulsão de gás no interior do
maciço de resíduos e a compressão dos
resíduos, ocorre imediatamente após a Figura 6 – Resultados de recalques verticais lado Norte
colocação da sobrecarga. A compressão
primária, segundo Ivanova et al. (2008), é
devida ao esmagamento, distorção,
reorientação e quebra das partículas de
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Simões et al. (2009), Caldas (2017) e Oliveira


(2018) também apresentam valores de
deslocamentos horizontais de baixa magnitude.

4 CONCLUSÃO

O presente trabalho trata do estudo da


compressibilidade de resíduos sólidos urbanos
da CTR de Nova Iguaçu, que faz parte de um
projeto de pesquisa desenvolvido pelo
Departamento de Engenharia Sanitária e do
Meio Ambiente da Universidade do Estado do
Figura 7 – Resultados de recalques verticais lado Sul Rio de Janeiro.
O ensaio geofísico realizado tem o objetivo de
detectar anomalias de baixa resistividade,
demonstrada através de cores frias,
caracterizando os lixiviados, e anomalias de alta
resistividade, representadas pelas cores quentes,
identificando os resíduos sólidos. Através deste
ensaio foi possível observar que a presença de
lixiviado não compromete a estabilidade do
talude de resíduos.
Através do monitoramento observa-se que os
Figura 8 - Recalques horizontais lado Norte. recalques são bastante significativos, sendo os
maiores recalques próximos ao ensaio de carga.
Os recalques horizontais apresentaram valores
muito baixos, podendo ser considerados
praticamente nulos.

REFERÊNCIAS
Caldas, Á. S. (2017). Produção de Metano em Aterros
Sanitários: Influência de diferentes métodos
operacionais na geração de metano no Aterro
Sanitário Metropolitano Centro, Salvador – Ba. . Tese
(Doutorado) – Centro Interdisciplinar de Energia e
Figura 9 - Recalques horizontais lado Sul. Ambiente, Universidade Federal da Bahia, Salvador.
254 p.
Os deslocamentos horizontais apresentaram Charles, J.A. (1984). Settlement of fill from: ground
movements and their effects on structures. Attewell,
valores máximos de 14mm dos marcos P.B. and Taylor, R. K. (eds), Surrey Univ. Press, New
superficiais situados no lado norte e 8 mm dos York.
marcos do lado sul. Estes valores são de baixa Campi, T.M.O. (2011). Evaluation of MSW shear strength
magnitude e podem ser considerados nulos. No parameters and elastic modulus by means of static
Brasil é comum medir os deslocamentos load tests in a sanitary landfill. M.Sc. Thesis,
Department of Civil Engineering, University of São
horizontais em aterros através de marcos
Paulo, Brazil (in Portuguese).
superficiais, no entanto o mais indicado são Ivanova, L, K; Richards, D. J.; Smallman D. J. (2008). The
medidas obtidas através de inclinômetros.Para long-term settlement of landfill waste. Proceedings of
avaliar a estabilidade do aterro o ideal é associar the Institution of Civil Engineers Waste and
as medidas obtidas com inclinômetros e medidas Resource Management, 161, Issue WR3, p. 121-13
de poro-pressões. Autores como Pereira (2000),
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MMA. (2014) Ministério do Meio Ambiente. Política de


Resíduos Sólidos apresenta resultados em 4 anos.
http://www.mma.gov.br/informma/item/10272-
pol%C3%ADtica-de-res%C3%ADduos-
s%C3%B3lidos-apresenta-resultados-em-4-anos.

Oliveira, G.S.S. (2018). Análise dos deslocamentos


horizontais e verticais do vazadouro de Marambaia,
Nova Iguaçu-RJ. Trabalho de Conclusão de Carreira
(TCC). Departamento de Fundações e Estruturas. 84p.
Pereira, A.G.H. (2000). Compresibilidad de los residuos
sólidos urbanos. 2000. Tese (Doutorado) -
Universidad de Oviedo, Espanha. 300 p.
Simões, G.F. e Catapreta, C.A.A. (2009). Settlement
Monitoring at Belo Horizonte Sanitary Landfill, Brazil.
Proceedings Twelfth International Waste Management
and Landfill Symposium. Sta Margherita di Pula,
Sardinia, Italy.
Sowers, G. F. (1973). Settlement of waste disposal fills. In:
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Foundation Engineering, [s.n.], Moscow, vol.2. p.
207–210.
Van Elk, A.G.H.P., Estudo da Compressibilidade dos
Resíduos Sólidos Urbanos. Projeto de pesquisa APQ 1
E 111436-2014 FAPERJ.
Van Elk, A.G.H.P., Mañas, L.S. & Boscov, M.E. (2014).
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Wall, d. K. & Zeiss, C. (1995). Municipal landfill
biodegradation and settlement. Journal of
Environmental Engineering, v. 121, n. 3. p 214 – 224.
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Análise dos Deslocamentos Verticais e Horizontais do


Vazadouro de Marambaia, Nova Iguaçu – RJ
Ana Ghislane Henriques Pereira van Elk
UERJ, Rio de Janeiro, Brasil, anavanelk@gmail.com

Gabrielle Sthefanine Silva Azevedo


UERJ, Rio de Janeiro, Brasil, azevedogabrieless@gmail.com

Leandro Rangel Corrêa


UERJ, Rio de Janeiro, Brasil, País, leandrorc@id.uff.br

Elisabeth Ritter
UERJ, Rio de Janeiro, Brasil, ritter@uerj.br

RESUMO: Este trabalho tem como objetivo realizar um estudo da compressibilidade dos resíduos
sólidos urbanos por meio dos deslocamentos verticais e horizontais registrados no vazadouro de
Marambaia, localizado no município de Nova Iguaçu – RJ. Para isto, foram analisados dados de
monitoramento de 6 marcos superficiais instalados na região, durante um período de 8 anos. Com
estes dados, efetuou-se a calibração de três modelos de previsão de recalques a longo prazo, o
modelo de Sowers (1973), Ling et al. (1998) e Marques (2001). A partir desta calibração realizou-se
uma projeção dos recalques para um período de 30 anos após o início das medições. Com os
resultados, conclui-se que os deslocamentos verticais e horizontais apresentaram baixa magnitude,
não indicando riscos de ruptura e os modelos, embora conceituamente diferentes, apresentaram
curvas de recalques a longo prazo bastante aproximadas.

PALAVRAS-CHAVE: RSU, Recalque, Deslocamento Horizontal, Vazadouro, Modelos, Previsão.

1 INTRODUÇÃO 41,6% são destinadas a lixões e aterros


controlados, totalizando 3.326 municípios que
Áreas contaminadas por resíduos sólidos são adotam esta forma inadequada de disposição
comumente encontradas no entorno das cidades final.
brasileiras, como consequência da falta de Muitas vezes estes lixões situam-se em áreas
planejamento do processo de urbanização e de proteção ambiental, próximas a nascentes de
inexistência de sistemas efetivos de gestão de águas e manguezais. Os lixões causam forte
resíduos sólidos. Nas grandes cidades, a partir impacto ambiental, poluem o solo, contaminam
dos anos 90, muitos dos lixões foram águas superficiais e subterrâneas com a
remediados e convertidos em aterros infiltração dos lixiviados, poluem o ar com
controlados, com o objetivo de continuar gases de efeito estufa, provocam perigos de
recebendo os resíduos daqueles municípios. A explosão, proliferação de vetores que
prática de descartar resíduos em lixões e aterros disseminam doenças, emitem fortes odores,
controlados está presente em todas as regiões do além de desvalorizar terrenos em áreas do seu
Brasil, de acordo com a ABRELPE 2016, dos entorno. Muitos desses aterros controlados e
71,3 milhões de toneladas geradas e coletadas,
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lixões não são sequer monitorados e seu estado O recalque primário é expresso pela equação
de degradação é incerto. 2.
Esta degradação que transforma os resíduos
em gases e lixiviados resulta em recalques. Os (2)
recalques podem ser devidos a processos
mecânicos e por biodegradação da matéria
orgânica, podendo significar perigos para novas Onde: = índice de compressão primária
construções ou qualquer obra de infraestrutura modificado; = altura inicial da camada de
construídas nestes terrenos depois de encerrados resíduos antes do recalque; = tensão efetiva
as atividades de operação. Muitos desses vertical final; e = tensão efetiva vertical
antigos vazadouros estão situados em áreas que inicial.
se valorizaram e que podem ser utilizadas para O recalque secundário é dado pela equação
outros fins. Exemplos de construções em tais 3.
situações são apontados por Pereira (2000) e
Ivanova (2008). (3)
Neste artigo são apresentados e discutidos
dados de movimentos horizontais e verticais do
vazadouro de Marambaia, no período de Onde: = índice de compressão secundário
fevereiro de 2008 até setembro de 2015, modificado; = altura inicial da camada de
totalizando um intervalo de tempo de 2.771 resíduos antes do recalque; = tempo inicial
dias. Para a análise da compressibilidade, do processo de recalque secundário; e =
utilizou-se dados de monitoramento de tempo final do processo de recalque secundário.
recalques obtidos por meio de marcos
superficiais. Estes dados foram analisados à luz 2.2 Modelo hiperbólico de Ling et al. (1998)
dos seguintes modelos de compressibilidade:
Sowers (1973), Ling et al. (1998) e Marques Ling et al. (1998), propôs a utilização de
(2001). uma função hiperbólica para a estimativa de
recalques em aterros de resíduos sólidos
urbanos. Este modelo incorpora em uma única
2 MODELOS DE PREVISÃO DE equação os recalques primários e secundários,
RECALQUES sendo o tempo inicial, o tempo correspondente
ao início das medidas de recalque. O modelo é
2.1 Modelo de Sowers (1973) descrito pela equação 4:

Sowers (1973) foi o primeiro a desenvolver (4)


um modelo de previsão de recalque baseado nos
conceitos da mecânica dos solos. O autor
considera que as deformações ocorrem devido a
recalque primário (adensamento) e um recalque Onde: diferença entre o instante
secundário dependente do tempo. Segundo o considerado e o início das medidas;
autor a magnitude dos recalques é expresso pela diferença entre o recalque no tempo
equação 1: considerado e o recalque inicial taxa ou
velocidade inicial de recalques; recalque
(1) final.

Sendo o recalque total dos resíduos, Os parâmetros e devem ser


o recalque primário e  o recalque determinados pela transformação da equação 4
secundário. através de relações versus e realizando
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uma análise de regressão linear, conforme está O antigo “Lixão de Marambaia” localiza-se
descrito a equação 5, em que os inversos do no município de Nova Iguaçu, que integra a
intercepto e da inclinação fornecem os Baixada Fluminense e faz parte da Região
parâmetros e . Metropolitana do Rio de Janeiro, com área de
aproximadamente 245.000m². O vazadouro era
o destino final dos resíduos sólidos urbanos do
(5) município de Nova Iguaçu por um período de
aproximadamente 16 anos, entre maio de 1987
até fevereiro de 2003, chegando a atender uma
demanda diária de até 1.000 toneladas de
resíduos. Durante a maior parte deste tempo o
2.3 Modelo de Biodegradação de Marques vazadouro era operado de forma bastante
(2001) precária e informal, e não se verificavam
condições adequadas de atendimento aos
O modelo de Marques (2001) leva em requisitos mínimos de ordem sanitária e
consideração o comportamento reológico dos ambiental.
RSU e é utilizado para o cálculo da compressão Observando a situação precária em que se
mecânica e compressão devido a processos de encontrava o vazadouro, a Prefeitura Municipal
creep e biodegradação. O modelo apresenta-se de Nova Iguaçu (PMNI) decidiu encerrar as
conforme descrito na equação 6. operações naquele local. Em 1999 foi lançado
um processo licitatório por concorrência pública
a fim de selecionar uma empresa capacitada
para a implantação das obras, fornecimentos e
(6) serviços para instalação e manutenção de uma
central de tratamento de resíduos CTR.
Ficou assim estabelecido através do Termo
Onde: recalque final; H = altura inicial do de Ajustamento de Conduta (TAC), firmado
maciço; índice de compressão primária; entre o Ministério Público do Estado do Rio de
tensão vertical efetiva inicial ao meio da Janeiro, a PMNI e a antiga Fundação Estadual
camada sob análise; incremento de tensão de Engenharia do Meio Ambiente (FEEMA),
vertical ao meio da camada sob análise; hoje Instituto Estadual do Ambiente (INEA)
índice de compressão mecânica secundária; que o lixão de Marambaia permaneceria em
taxa de compressão mecânica secundária; funcionamento até o início das operações do
compressão total devido à degradação de novo CTR de Nova Iguaçu, que ocorreu em
resíduos; taxa de compressão biológica fevereiro de 2003 com o início das operações
secundária; tempo a partir da aplicação do no Aterro Sanitário de Adrianópolis.
carregamento; tempo a partir da Paralelamente, o projeto previu ainda que fosse
disposição dos resíduos. feita a recuperação ambiental da área
degradada.
3 METODOLOGIA O processo de recuperação ambiental de
toda a área que antes compreendia o Lixão de
3.1 A área de estudo Marambaia iniciou-se em 2001. A área
degradada foi cercada e isolada, sistemas de
Na composição deste item serão utilizadas drenagem de águas pluviais e de gases e
informações do relatório técnico Resol (2003) e captação do lixiviado, foram implantados, além
dos trabalhos dos autores Mattos (2005), Mota da impermeabilização e cobertura final de todas
(2005), Silva (2016) e Corrêa (2017). as áreas aterradas. Este processo se encerrou em
setembro de 2004, onde apenas os sistemas de
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monitoramento de recursos hídricos e de compressão secundário modificado,


geotécnico foram mantidos até 2015, e é a partir fosse a incógnita desejada, obtida através do
deste monitoramento geotécnico que as análises método dos mínimos quadrados. A altura,
de recalque desse trabalho serão apresentadas. foi considerada a altura inicial do aterro
A região do aterro em Vila de Cava atualmente registrada no inicio das medições, o tempo
encontra-se valorizada, principalmente pela inicial do processo de recalque secundário foi
presença de fazendas e sítios voltados para adotado como 1 dia para validar
atividade de entretenimento e lazer. matematicamente a equação, foi considerado
o intervalo de tempo em dias decorrido entre a
3.2 Monitoramento Vertical primeira e a última leitura topográfica de cada
marco superficial e o recalque final
Ao todo, instalaram-se 20 marcos superficiais correspondente as leituras finais de recalques
numerados de MS-01 a MS-20 distribuídos por medidas.
toda a área do aterro. O monitoramento foi Posteriormente utilizou-se a ferramenta
realizado durante o período de fevereiro de Solver do Excel a fim de ajustar a curva de
2008 a setembro de 2015, totalizando assim calibração à curva de monitoramento, de forma
2.772 dias. Contudo, neste trabalho serão que o desvio entre elas fosse o menor possível,
apresentados dados de seis marcos superficiais, para isso estabeleceu-se os parâmetros e
MS 01, MS03, MS04, MS11, MS15 e MS16, como variáveis de decisão, e a equação (3)
com dados referentes a 5 e 7,5 anos de como objetivo, e a restrição de desvio para
medições. valores mínimos. Desta forma os valores
obtidos através da ferramenta Solver para
3.3 Monitoramento Horizontal
foram entre 0,0011 a 0,002 e entre 35 e 128
dias.
O monitoramento dos deslocamentos
O modelo empírico de Ling et al.(1998)
horizontais superficiais procedeu-se de forma
dado pela equação (4) foi calibrado a partir de
semelhante, a partir da leitura das coordenadas
uma análise de regressão linear onde os
dos marcos superficiais intalados no maciço e
determinando o deslocamento a cada período. parâmetros de entrada foram e , que
As medições ocorreram entre 01 de fevereiro de correspondem ao tempo e recalque lidos em
2008 a 11 de junho de 2011, totalizando assim cada marco superficial.
1.243 dias. Plotando-se curvas de dispersão t/s por t, e
gerando assim as equações da reta que melhor
3.4 Calibração dos modelos se ajustaram a estas curvas, foi possível obter os
valores de velocidade inicial, , e recalque
A calibração de cada modelo foi feita final para cada MS. Com esses valores
empregando, como dados de entrada, os valores utilizou-se a ferramenta solver do Excel
obtidos no monitoramento a fim de obter os considerando a equação (3) como a célula de
parâmetros de compressibilidade necessários à objetivo, as variáveis e foram as células
aplicação de cada equação. de decisão, e a restrição era de desvio máximo
Para a previsão de recalques empregando o próximo a zero. Com isso, os valores de
modelo de Sowers (1973), foram obtidos variaram entre 0,049 e 0,3, e em
desconsiderados os recalques primários, pois as 100 a 582 dias.
medições começaram 5 anos após encerramento O modelo reológico de Marques (2001),
das atividades no vazadouro. expresso pela equação (6), considerou-se como
A calibração deste modelo deu-se em duas zero a primeira parcela da equação, uma vez
etapas. A primeira etapa consistiu em que a compressão mecânica primária ocorreu
reorganizar a equação (3) de forma que o índice antes do inicio das medições. Sendo assim, os
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parâmetros desejados foram os coeficientes de calculou-se os recalques finais, para cada


compressão mecânica secundária, ; taxa de MS.
compressão mecânica secundária ; compressão Posteriormente, lançando mão da ferramenta
total devido a degradação de resíduos, ea Solver do Excel, buscou-se minimizar os
taxa de compressão biológica secundária . Na desvios das curvas de recalque devido ao
primeira etapa da calibração, adotou-se para monitoramento e ao modelo, para tanto, fixou-
estas variáveis os valores sugeridos por se a equação (6) como célula objetivo e as
Marques (2001), logo b = 2,90E-04 Kpa-1, c = variáveis b, c, e d, como variáveis de
9,70E-04 dia-1, Edg = 1,30E-01 e d = 9,50E-04 decisão. Aplicando a restrição de desvio
dia-1. Com esses dados iniciais, os tempos a mínimo chegou-se aos valores de b variando
partir da aplicação do carregamento, , neste entre 5,12E-05 e 1,96E-04 Kpa-1, c entre 5,11E-
caso adotado como o tempo ocorrido durante 05 e 2,69E-04 dia-1, entre 6,44E-04 e
as medições; e o tempo foi considerado o 1,63E-04 e d = 9,48E-04 dia-1.
tempo total desde o encerramento das operações Efetuadas as calibrações, foram calculados os
no aterro até o início das medições, o peso recalques no aterro segundo cada modelo. Os
específico dos RSU foi adotado como 5 kN/m³, resultados de calibração estão apresentados nas
considerando que os resíduos não foram figuras de 1 a 6.
compactados, Pereira (2000), e H a altura inicial
do maciço dada em mm. Com estes dados

tempo (dias) tempo (dias)


0 1000 2000 3000
0 1000 2000 3000
0
recalque (mm)

0
recalque (mm)

50

50 100
150
100 200
Sowers Ling
Sowers Ling Marques MS - 4
Figura 1 - Calibração dos Modelos – MS 1 Figura 3 - Calibração dos Modelos – MS 4

tempo (dias) tempo (dias)


0 1000 2000 3000 0 1000 2000 3000
0 0
recalque (mm)
recalque (mm)

50
100
50
150
200
100 250
Sowers Ling Sowers Ling
Marques MS -3 Marques MS - 11
Figura 2 - Calibração dos Modelos – MS 3 Figura 4 - Calibração dos Modelos – MS 11
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tempo (dias) tempo (dias)


0 500 1000 1500 2000 0 500 1000 1500 2000
0 0
recalque (mm)

recalque (mm)
50 50

100 100

150 150
Sowers Ling Sowers Ling
Marques MS - 15 Marques MS - 16
Figura 5 - Calibração dos Modelos – MS 15 Figura 6 - Calibração dos Modelos – MS 16

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO atividades do aterro. Baixas magnitudes de


deformação também foram encontradas em van
Os recalques monitorados no aterro podem ser Elk et al. (2014) que realizou uma extensa
observados na figura 7 e na tabela 1. Nota-se campanha de monitoramento com medidas de
que os valores de recalques apresentaram baixa recalques superficiais e profundos durante 600
magnitude, variando entre 78mm a 204 mm, o dias em uma área do aterro controlado de
que representa uma deformação entre 0,22% a Valdemingómez em Madri (Espanha). A
0,41%. A baixa magnitude dos recalques deve- campanha de auscultação indicou que os
se ao fato das medições terem se inciado 5 anos valores de deformação especifica, obtidos com
após o encerramento das atividades no aterro os marcos superficiais, foram de 3,9 e 3,2%.
controlado, período em que os maiores Gomes & Caetano (2010) indicam um valor
recalques provavelmente já haviam ocorrido, de 5% de deformação com relação à altura
Corrêa (2017). Principalmente, considerando os inicial do aterro. Os autores monitoraram
altos valores de umidade e temperatura, típicos durante um período de dois anos um aterro
do clima da região onde se encontra o sanitário de pequeno porte localizado em
vazadouro e a composição dos resíduos Presidente Lucena, Rio Grande do Sul.
brasileiros em que predomina a matéria Na figura 8 são apresentados resultados de
orgânica. deslocamentos horizontais obtido com os
marcos superficiais. Observando os gráficos da
figura 8, conclui-se que os marcos analisados
tempo (dias)
não apresentaram deslocamentos horizontais
0 500 1000 1500 2000 2500 3000
significativos, os valores máximos foram de 7
0
recalque (mm)

50
mm, o que pode ser interpretado como
100
deslocamentos horizontais nulos e/ou resultados
150 da própria calibração do instrumento.
200 Pereira (2000) avaliou os deslocamentos
250 horizontais de um aterro em Madrid utilizando
MS - 1 MS - 3 MS - 4 inclinômetro. Foram obtidos os deslocamentos
MS - 11 MS - 15 MS - 16 nas direções paralela e perpendicular ao eixo do
Figura 7 - Recalques Verticais Monitorados maciço e chegou a conclusão de que os
deslocamentos eram muito pequenos e tendiam
De acordo com Sowers (1968) e Edil (1990), a zero conforme aumentava a profundidade. nh
a maior parte dos recalques ocorrem no
primeiro ou segundo ano após encerramento das
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direção perpendicular ao eixo do maciço.


deslocamento horizontal (cm)
Autores como Coducto e Huitric (1990) e
0 3 6 9
Simões et. al. (2009) também observam que os
0
deslocamentos horizontais são maiores na
tempo (dias)

500 direção perpendicular ao eixo do maciço, e que


a velocidade de movimentação vertical é
1000 superior a horizontal.
Caldas (2017), analisando os deslocamentos
1500 horizontais do Aterro Sanitário Metropolitano
MS - 1 MS - 3 MS - 4 Centro, localizado na Bahia, observou que entre
MS - 11 MS - 15 MS - 16 os marcos superficiais analisados, os que
Figura 8 - Deslocamenos Horizontais Monitorados
possuíam resíduos mais recentes apontaram um
maior deslocamento horizontal no sentido que
proporcionava mais instabilidade ao maciço,
Concluindo assim que as velocidades de porém com o tempo esses deslocamentos
recalques verticais e deslocamentos horizontais tendiam a se estabilizar.
são independentes entre si. Outra observação
feita por Pereira (2000) foi de que os
deslocamentos são mais significativos na

Tabela 1 - Dados de Monitoramento Vertical

MS Período de leituras Duração (dias) H0 (m) Recalque (mm) Deformação (%)


1 01/02/2008 a 04/09/2015 2772 35,876 92 0,26
3 01/02/2008 a 04/09/2015 2772 35,854 78 0,22
4 01/02/2008 a 04/09/2015 2772 35,439 143 0,40
11 01/02/2008 a 04/09/2015 2772 49,783 204 0,41
15 01/02/2008 a 12/12/2012 1776 50,324 111 0,22
16 01/02/2008 a 12/12/2012 1776 50,193 138 0,27

4.1 Previsão de Recalques dependem do tempo, como é o caso dos


modelos de Sowers (1973) e Ling et al. (1998).
Com base nos parametros obtidos através da Estes modelos podem apresentar bons
calibração dos modelos, foi feita uma previsão resultados quando são calibrados com dados de
de recalques para 30 anos após o início das campo. Embora a representação em termos de
medições. As curvas de recalques a longo prazo funções sejam uma simplificação do que ocorre
obtidas com os modelos de previsão estão no campo, pois os recalques por biodegradação,
apresentadas nas figuras de 9 a 14 e na tabela 2. que tem um papel importante na
Uma primeira observação é que, embora os compressibilidade dos resíduos, dependem de
modelos sejam conceituamente diferentes, as varios fatores como, umidade, temperatura, pH,
curvas de previsão de recalques estão bastante composição, idade dos resíduos e forma de
aproximadas. operação do aterro, o que torna dificil incluir
De acordo com McDougall (2008) a todas estas variáveis em uma única equação. O
complexidade de fatores que controlam os modelo de Marques (2001) é mais elaborado do
mecanismos de compressão secundária e a que os modelos de Sowers (1973) e Ling et al.
dificuldade de obter medidas de campo, (1998), na sua equação de recalques a longo
encorajam o interesse por modelos baseados em prazo, incorpora os processos que ocorrem no
funções logaritmica e exponencial, que aterro, como fluência e biodegradação. No
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entanto, os resultados de recalques previstos


tempo (dias)
com este modelo são muito aproximados aos
obtidos com os modelos de Sowers (1973) e 0 4000 8000 12000
0
Ling et al. (1998).

recalque (mm)
50
Há modelos mais abrangentes e mais bem
100
fundamentados, como o modelo proposto por
150
Babu et al. (2010), que incorpora a compressão
200
devido a sobrecargas, fluência (creep) e
250
biodegradação. Este modelo é baseado nos
Sowers Ling Marques
princípios da mecânica dos solos do estado
crítico e na taxa de biodegradação; pode prever Figura 11 - Previsão de Recalque: MS 4
os recalques em aterros, através de métodos
numéricos. O modelo de McDougall (2008) é
uma combinação de três modelos que descrevem tempo (dias)
o comportamento mecânico, a biodegradação e a 0 4000 8000 12000
0
hidráulica de um aterro sanitário. Bem como os recalque (mm) 50
modelos que foram ampliados recentemente, o 100
modelo de Machado et al. (2008) e o modelo 150
Moduelo, Lobo et al. (2008). Porém, nem todos 200
estes modelos tem a análise de recalques como 250
seus principais objetivos, além de ser mais 300
complexo seu emprego. Sowers Ling Marques

Figura 12 - Previsão de Recalque: MS 11

tempo (dias) tempo (dias)


0 4000 8000 12000 0 4000 8000 12000
0 0
recalque (mm)

recalque (mm)

50 50
100
100
150
150
200
Sowers Ling Marques Sowers Ling Marques

Figura 9 - Previsão de Recalque: MS 1 Figura 13 - Previsão de Recalque: MS 15

tempo (dias) tempo (dias)


0 4000 8000 12000 0 4000 8000 12000
0 0
recalque (mm)

50
recalque (mm)

100
50
150
200
100 250
Sowers Ling Marques Sowers Ling Marques

Figura 10 - Previsão de Recalque: MS 3 Figura 14 - Previsão de Recalque: MS 16


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Tabela 2 - Resultados das Previsões


Sowers (19730) Ling (1998) Marques (2003)
Recalque Deformação Recalque Deformação Recalque Deformação
MS
(mm) (%) (mm) (%) (mm) (%)
1 103,45 0,28 114,20 0,31 108,34 0,30
3 91,03 0,25 90,39 0,25 87,69 0,24
4 190,42 0,53 192,85 0,54 166,53 0,46
11 243,49 0,48 227,72 0,45 249,38 0,50
15 167,56 0,33 184,21 0,36 180,84 0,35
16 186,20 0,37 176,27 0,35 204,94 0,40

5 CONCLUSÃO verticais e horizontais são independentes entre


si.
O presente trabalho versa sobre um estudo da No que tange a previsão de recalques a longo
compressibilidade do vazadouro de Marambaia prazo conclui-se que os modelos de Sowers
através de dados de recalques verticais e (1973), Ling et al. (1973) e Marques (2001) se
horizontais durante um período de 8 anos. A ajustaram muito bem às curvas de medições e
partir dos dados de monitoramento obteve-se os apresentaram resultados bastantes aproximados,
parâmetros necessários para a calibração dos embora sejam conceitualmente diferentes. Os
modelos de previsão de recalque de Sowers resultados de previsão para trinta anos
(1973), o modelo hiperbólico de Ling et al. mostraram uma variação de recalques da ordem
(1998), e o modelo de Marques (2001). Com de 90 a 250 mm, mostrando que os resíduos
base nesta calibração estimou-se os recalques continuarão se deformando ao longo dos anos.
em um horizonte de 30 anos, após o início das A grande importância deste artigo é analisar
medições. recalques em um antigo lixão, pois estas áreas
Verificou-se a partir do monitoramento dos são muito comuns no Brasil e, em geral não são
MS que os recalques sofridos pelo maciço monitoradas.
apresentaram baixa magnitude, variando entre
78 mm a 204 mm, representando deformações AGRADECIMENTOS
entre 0,20% a 0,41%. É necessário ressaltar que
o aterro esteve em operação por Os autores agradecem a obtenção dos dados ao
aproximadamente 16 anos, entre maio de 1987 Diogo Barbosa Arantes, gerente operacional e
a fevereiro de 2003, contudo as medições só Caio Dias Martini Alves, supervisor de projetos
aconteceram cinco anos após o encerramento e operações da Central de Tratamento de
das atividades, a partir de fevereiro de 2008. Resíduos de Nova Iguaçu, empresa HAZTEC
Portanto, é possível que a grande proporção de Teconologia e Planejamento Ambiental SA.
recalques já houvesse ocorrido. Principlamente
considerando as condições climáticas do Rio de REFERÊNCIAS
Janeiro e o alto percentual de matéria orgânica
na composição dos resíduos sólidos urbanos ABRELPE. Associação Brasileira de Empresas de
que favorem a decomposição da matéria Limpeza Pública, Panorama de Resíduos Sólidos
2016. Disponível em: www.abrelpe.org.br
orgânica. Babu, G. L. Sivakumar; Reddy, K. R.; Chouskey, S. K.;
Com respeito aos deslocamentos horizontais, Kulkarni, H. S. (2010). Prediction of long-term
os resultados obtidos através do monitoramento municipal solid waste landfill settlement using
mostram que os valores foram muito pequenos, constitutive model. Practice Periodical of Hazardous,
aproximadamente 7,5 mm. Onde se pode Toxic, And Radioactive Waste Management. ASCE
139 p. 139-150.
concluir que as velocidades de recalques
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Caldas, Á. S. (2017). Produção de Metano em Aterros em Engenharia Ambiental) – Universidade do Estado


Sanitários: Influência de diferentes métodos do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 110 p.
operacionais na geração de metano no Aterro Pereira, A.G.H. (2000). Compresibilidad de los residuos
Sanitário Metropolitano Centro, Salvador – BA. Tese sólidos urbanos. 2000. Tese (Doutorado) -
(Doutorado) – Centro Interdisciplinar de Energia e Universidad de Oviedo, Espanha. 300 p.
Ambiente, Universidade Federal da Bahia, Salvador. Resol Engenharia LTDA. (2003). Projeto executivo de
254 p. encerramento e recuperação ambiental do vazadouro
Coduto, D. P. e Huitric, R. (1990). Monitoring landfill de marambaia – Nova Iguaçu/RJ: Relatório final.
movements using precise instruments. Geotechnics of Nova Iguaçu, Março 2003, 49 p. Relatório técnico.
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Análise Geotécnica Comparativa da Aplicação de Misturas de


Solo-RCD dos Estados do Rio Grande do Norte e Mato Grosso
em Camadas de Pavimentos Urbanos
Janaina Galvíncio de Azevedo
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, Natal - RN, Brasil,
janainazevedo.eng@outlook.com

Chaiany Barbosa dos Santos


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, Natal - RN, Brasil,
chaianybarbosa@outlook.com

Enio Fernandes Amorim


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, Natal - RN, Brasil,
enio.amorim@ifrn.edu.br

RESUMO: Consubstanciada na problemática ambiental do elevado consumo de matérias-primas e


da geração significativa de resíduos pelo setor da Construção Civil, a presente pesquisa visa analisar
e comparar tecnicamente o potencial de utilização, em camadas de pavimentos urbanos, de misturas
de solo com Resíduos de Construção e Demolição (RCD’s) oriundas dos estados do Mato Grosso e
Rio Grande do Norte. Para isso, foram executados os ensaios de geotecnia aplicados à pavimentação
para caracterização dos materiais adotados e verificação do desempenho funcional e comportamento
mecânico das misturas, as quais foram compostas por 15%, 25% e 35% de RCD, para as
combinações provenientes do Mato Grosso, em relação à massa total, e 15%, 30% e 45%, para as
composições do Rio Grande do Norte. Os resultados obtidos indicam a viabilidade e o potencial de
aplicação das misturas do Mato Grosso em camadas de base e do Rio Grande do Norte, em sub-base
de pavimentos flexíveis.

PALAVRAS-CHAVE: Materiais Alternativos, Misturas de Solo-RCD, Obras de Pavimentação,


Agregados Reciclados.

1 INTRODUÇÃO se a existência de diversas pesquisas realizadas


dentro do território nacional e no mundo que
Apesar da economia brasileira apresentar-se indicam a viabilidade da aplicação de Resíduos
desfavorável atualmente, o constante aumento de Construção e Demolição de Obras (RCD’s)
populacional tem implicado em uma forte beneficiados em obras viárias, onde integra-se a
demanda por obras no Brasil, especialmente sua utilização como alternativa ambientalmente
residenciais e de desenvolvimento urbano, correta, dependendo da aplicação escolhida.
estimulando, assim, a indústria da construção Tendo em vista a problemática e as suas
civil, a qual consome matérias-primas naturais alternativas, o presente estudo analisa a
em larga escala e gera volumes significativos de viabilidade técnica do uso de agregados
resíduos. Com isso, torna-se cada vez mais reciclados provenientes de Campo Verde/MT e
necessário estudar e desenvolver soluções que Nísia Floresta/RN, em misturas de solo-RCD,
visem a mitigação dos impactos ambientais para a aplicação em camadas de pavimentos
ocasionados pelo setor. Nesse sentido, constata- flexíveis. É oportuno destacar que o uso dos
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resíduos oriundos de obras civis neste estudo, 3 MATERIAIS UTILIZADOS


embora tenham sidos coletados em locais
diferentes, os mesmos tiveram um caráter de 3.1 Solos
resolver um passivo ambiental quanto a sua
deposição, além de proporcionar uma economia O solo utilizado na composição das misturas de
na matária-prima oriunda das jazidas de solo, solo-RCD oriundas do estado do Mato Grosso
caso viessem a ser empregados sem nenhuma (Figura 1) apresenta formação associada a
mistura. cascalho laterítico, solo rico em hidróxidos de
ferro e alumínio, e foi obtido em uma jazida
localizada a cerca de 7 km do centro urbano do
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA município de Campo Verde, situado a uma
latitude de 15º32'48" sul e a uma longitude de
Segundo Cabral et al. (2009), como em todo 55º10'08" oeste.
processo industrial, o uso dos insumos da
indústria da construção civil gera resíduos em
grande escala, que necessitam ser gerenciados.
Onde, no Brasil estima-se que em média 65%
do material descartado é de origem mineral,
13% madeira, 8% plásticos e 14% outros
materiais.
Souza et al. (2014) afirmam que em grandes
centros os resíduos podem se tornar uma
excelente alternativa, devido à falta de recurso
natural, com isso a introdução dos agregados
Figura 1. Perfil da jazida do solo do Mato Grosso.
em algumas construções pode se tornar atraente,
tanto economicamente, além de fatores
Quanto às amostras de solo estudadas
ambientais que dependendo do uso podem
provenientes do estado do Rio Grande do Norte
qualificar o empreendimento em parâmetros
(Figura 2), foram coletadas em jazida localizada
ambientais, concedendo a mesma alguns
no município de Nísia Floresta, a qual foi
certificados.
escolhida pelo possível potencial de aplicação
Acredita-se que o emprego de agregados
do seu solo em obras de pavimentação, tendo
reciclados de concreto na construção de
em vista a presença do material dessa jazida na
camadas de sub-bases e bases de pavimentos
composição da camada de sub-base de um
pode ser uma alternativa interessante sob
trecho de duplicação da rodovia BR – 101/RN.
aspectos técnicos, ambientais, econômicos e
sociais (GRUBBA, 2009).
De acordo com Fernandes (2004), a
reciclagem de revestimentos asfálticos está em
crescimento e a viabilidade do uso de RCD é de
sumo interesse, principalmente pela mitigação
de exploração dos recursos naturais, que por sua
vez, passa a despertar o interesse de
desenvolvimento de novas técnicas de
reciclagem. Destaca-se também a utilização
crescente deste resíduo em locais com ausência Figura 2. Perfil da jazida do solo do Rio Grande do
de agregados pétreos ou mesmo em áreas Norte.
urbanas que possuam pedreiras.
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3.2 Resíduos de Construção e Demolição de localizada no município de São José de Mipibu,


Obras (RCD’s) a qual recolhe RCD’s gerados em obras de
Natal – RN e municípios adjacentes e beneficia-
Os RCD’s obtidos no estado de Mato Grosso os através de processos de triagem manual,
foram coletados em lixão a céu aberto e em britagem e divisão do material resultante em
outros locais de descarte do município de frações semelhantes às de agregados naturais
Cuiabá - MT (Figura 3). Após a coleta do normatizadas. Para efeito de estudo, utilizou-se
entulho contendo restos de concretos armados, brita reciclada do tipo 1, a qual apresenta como
fragmentos de alvenarias e pisos cerâmicos, componentes restos de concreto, de alvenaria e
realizou-se um processo de redução de tamanho de pisos cerâmicos, além de pequenas porções
das frações de RCD e posterior britagem e de materiais indesejáveis.
separação do material, a fim de se obter
agregados com dimensões imediatamente 3.3 Misturas de Solo-RCD
menores que 25 mm, enquadrando-os assim na
classificação comercial da Brita 2 (Figura 4). Para efeito desta pesquisa foram adotadas
composições do cascalho laterítico com o RCD,
oriundos do Mato Grosso, nas porcentagens de
15%, 25% e 35%, em massa, de agregado
reciclado em relação à porcentagem total das
misturas. Em relação à composição dos
agregados de RCD obtidos, empregou-se 50%
de restos de concretos, 35% de materiais
provenientes de alvenarias e 15% de restos de
piso, em massa, baseando-se na média da
composição desses resíduos oriundos de
algumas obras dos municípios de Cuiabá - MT e
Campo Verde - MT.
Para as misturas de solo-RCD provenientes
Figura 3. Triagem realizada em campo para os RCD’s do Rio Grande do Norte (Figura 5), utilizou-se
coletados no Mato Grosso. frações de brita 1 reciclada nas proporções de
15%, 30% e 45%, em massa, em relação ao
total das misturas.

Figura 4. Detalhe dos resíduos de concreto fracionados do


Mato Grosso.

O agregado reciclado obtido no Rio Grande Figura 5. Detalhe de mistura de solo-RCD oriunda do Rio
do Norte foi coletado em empresa recicladora Grande do Norte.
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4 MÉTODO DE TRABALHO baseando-se nas metodologias descritas pelas


seguintes normas: NBR 7181 (ABNT, 2016)
4.1 Caracterização dos Solos Estudados para análise granulométrica do agregado
Para efeitos de caracterização dos solos do reciclado do Rio Grande do Norte e NBR NM
Mato Grosso e do Rio Grande do Norte 248 (ABNT, 2003), para o agregado do Mato
empregados neste estudo, executou-se ensaios Grosso; NBR 6458 (ABNT, 2016) para
usuais de geotecnia aplicados à pavimentação, determinação da massa específica, massa
os quais possibilitam determinar propriedades específica aparente e absorção de água dos
físicas dos materiais estudados, seus grãos de pedregulho retidos na peneira de 4,8
comportamentos e resistências mecânicas. mm da fração de RCD do Rio Grande do Norte,
Desse modo, preparou-se amostras dos solos e NBR NM 53 (ABNT, 2009) para a fração do
embasando-se na norma NBR 6457 (ABNT, Mato Grosso; NBR NM 51 (ABNT, 2001) para
2016) e seguiu-se com a execução dos ensaios o ensaio de abrasão Los Angeles; ME 086
de caracterização, os quais foram baseados nos (DNIT, 1994) para determinação do índice de
seguintes métodos: NBR 7181 (ABNT, 2016) forma dos grãos.
para análise granulométrica; NBR 6459
(ABNT, 2016) para determinação do limite de 4.3 Caracterização das Misturas de Solo-RCD
liquidez; NBR 7180 (ABNT, 2016) para
determinação do limite de plasticidade; NBR A fim de analisar o comportamento das
6508 (ABNT, 1984) para determinação da misturas de solo-RCD para fins de utilização
massa específica dos grãos de solos que passam em obras de pavimentação, realizou-se o ensaio
na peneira de 4,8 mm; ME 054 (DNIT, 1997) de compactação, sem reuso de material e nas
para determinar o equivalente de areia do solo energias intermediária e modificada, com base
do Mato Grosso; NBR 7182 (ABNT, 2016) nos procedimentos estabelecidos pela norma
para os ensaios de compactação e NBR 9895 NBR 7182 (ABNT, 2016), e de Índice de
(ABNT, 2016) para os ensaios de Índice de Suporte Califórnia (CBR), seguindo o
Suporte Califórnia (CBR). Para os ensaios de procedimento descrito na norma NBR 9895
compactação dos solos, adotou-se o método de (ABNT, 2016). Além desses ensaios, executou-
execução sem reuso de material e com aplicação se análise granulométrica das misturas oriundas
de energias de Proctor intermediário e do Rio Grande do Norte e do Mato Grosso
modificado. seguindo a NBR 7181 (ABNT, 2016). Nesses
ensaios, foram analisadas as composições de
4.2 Caracterização dos Agregados de RCD solo-RCD do Mato Grosso nas proporções de
15%, 25% e 35%, em massa, de agregado
Realizou-se inicialmente, apenas para os reciclado em relação à porcentagem total das
agregados reciclados do Rio Grande do Norte, a misturas, e do Rio Grande do Norte nas
separação manual de seus componentes a fim de porcentagens de 15%, 30% e 45%. Vale
determinar as porcentagens de cada material ressaltar que embora os solos, os RCDs e as
presente na composição, tendo em vista que porcentagens das misturas estudadas tenham
esses agregados, diferentemente dos que foram sido distintas, os parâmetros metodológicos
produzidos no Mato Grosso, foram coletados para efeito de análises foram adotados de forma
prontos para aplicação e não apresentavam semelhante.
controle exato quanto às porções que
constituíam as amostras.
Posteriormente, foram executados ensaios 5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
usuais para caracterização dos agregados a
serem empregados nas misturas com os solos 5.1 Caracterização dos Solos Estudados
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Os resultados dos ensaios de caracterização dos Transportation Research Board (TRB), o


solos encontram-se expostos na Tabela 1. primeiro solo pertence à classificação A-1-a e o
segundo, à A-2-4. Com isso, constata-se que
Tabela 1. Resultados da caracterização dos solos. ambos os materiais apresentam comportamentos
γS WL EA desejáveis para aplicação em pavimentos.
Material WP (%) IP (%)
(KN/m³) (%) (%)
Solo (MT) 28,6 39 30 9 36
Solo (RN) 26,7 27 22 5 - 5.2 Caracterização dos Agregados de RCD

O peso específico (γs) para composições de A partir da separação manual dos componentes
grãos de quartzo (areia), de acordo com Pinto do agregado reciclado do Rio Grande do Norte,
(2006), tem ordem de grandeza média de 26,5 obteve-se o percentual dos materiais
kN/m³, verificando-se, assim, a proximidade constituintes e pôde-se fazer uma comparação
com o valor obtido para o solo do Rio Grande com a composição do RCD do Mato Grosso,
do Norte. O resultado obtido para o solo do conforme Figura 6.
Mato Grosso, cascalho laterítico, é justificado,
segundo os valores encontrados para os limites
de consistência, pelas características
semelhantes à de um solo da baixada cuiabana -
MT, o qual apresenta, com base em Junior &
Conciani (2005), quantidade acentuada de
óxidos de ferro e alumínio.
O solo do Rio Grande do Norte apresenta,
segundo os resultados dos índices de
consistência obtidos, pouca e inferior
plasticidade em relação ao solo do Mato
Grosso, garantindo, dessa forma, a ocorrência Figura 6. Composição percentual dos agregados
de menores deformações do pavimento. reciclados do Mato Grosso e Rio Grande do Norte.
A norma DNIT 141/2010 – ES especifica
que os materiais a serem empregados em Em relação aos resultados dos ensaios de
camadas de base de pavimentos flexíveis devem caracterização dos agregados (Tabela 2),
apresentar, dentre outras condições, limite de verifica-se uma redução do peso específico dos
liquidez inferior a 25% e índice de plasticidade grãos (γs) do RCD do Mato Grosso em relação
menor ou igual a 6% e, quando esses limites ao oriundo do Rio Grande do Norte. Isso se
forem ultrapassados, o Equivalente de Areia explica pelo fato de o primeiro apresentar mais
deve ser maior que 30%. Verifica-se, então, que materiais cerâmicos em sua composição,
os solos estudados, nesses quesitos, podem conforme pode-se visualizar na Figura 6.
compor uma base estabilizada
granulometricamente. Tabela 2. Resultados da caracterização dos RCD’s.
Analisando-se os resultados das análises Abrasão
Índice
granulométricas e dos limites de Atterberg dos γS Absorção Los
Material de
solos estudados, verifica-se que o cascalho (KN/m³) (%) Angeles
forma
(%)
laterítico adotado na pesquisa classifica-se,
segundo o Sistema Unificado de Classificação RCD (MT) 23,0 8,23 0,81 39
RCD (RN) 25,3 9,03 0,83 53
dos Solos (SUCs), como um pedregulho bem
graduado com presença de argila (GW-GC) e o
No tocante ao ensaio de absorção, pode-se
solo oriundo de Nísia Floresta – RN, como
afirmar que os valores relativamente alto
areia-argilosa (SC). Pelo método do
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obtidos (Tabela 2) são justificados pela base de pavimentos, visto que apresentaram
presença, em ambos agregados reciclados, de desgaste inferior a 55%, sendo o RCD do Rio
significativo percentual de materiais oriundos Grande do Norte o que obteve maior
de alvenaria e piso na composição, os quais deterioração no ensaio.
contém alta porosidade em suas constituições. Analisando-se as curvas granulométricas
Quanto ao índice de forma pelo método do obtidas (Figura 7), verifica-se que o agregado
crivo, observa-se que os agregados oriundo do Mato Grosso apresenta curva,
apresentaram resultados próximos a 1,0, o qual representada por “MT – 100% RCD + 0%
indica ótima cubicidade do material, além de Solo”, que indica graduação contínua aberta
diferença de valores irrelevantes. Com isso, mas com insuficiência de materiais finos, a qual
pode-se afirmar que os RCD’s adotados têm pode ser justificada pela produção do RCD a
forma das partículas que atende os parâmetros partir apenas de uma britagem primária. Já a
para utilização em obras viárias. curva formada para o RCD do Rio Grande do
Os resultados obtidos através do ensaio de Norte, identificada como “RN – 100% RCD +
Abrasão Los Angeles indicam que ambos 0% Solo”, indica graduação uniforme do
agregados estudados atendem à Especificação agregado, o que condiz com a graduação da
de Serviço ES 141 (DNIT, 2010) e, portanto, fração específica adotada (brita 1).
podem ser utilizados em camadas de base e sub-

Figura 7. Curvas granulométricas das misturas de solo-RCD estudadas.

5.3 Caracterização das Misturas de Solo-RCD Grande do Norte, bem como maior
granulometria a medida que a proporção de
Analisando-se a Figura 7, a qual apresenta as RCD, em relação ao total das misturas,
curvas granulométricas de todas as composições aumenta. Dessa forma, pode-se afirmar que as
estudadas, verifica-se que as composições do misturas do Mato Grosso apresentaram maior
Mato Grosso apresentam graduação estabilidade granulométrica.
significativamente maior em relação as do Rio
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No tocante ao enquadramento dos materiais oriundas do Rio Grande do Norte, constatou-se


nas faixas de trabalho descritas na norma ES que as composições com 30% e 45% de RCD,
141 (DNIT, 2010) para aplicação em camada de em relação à massa total, possibilitaram o
base, verifica-se que as três misturas enquadramento na faixa de trabalho “D” (Figura
desenvolvidas no Mato Grosso se enquadram na 9), a qual, bem como a faixa “C”, suporta um
faixa “C”, conforme pode-se visualizar na número de repetições do eixo padrão (N) maior
Figura 8, a qual permite a utilização dessas que 5x106. Entretanto, salienta-se que o uso de
composições em aplicações cuja intensidade de RCD não é recomendado para esse nível de
tráfego apresente um valor de “N” maior que tráfego de acordo com a NBR 15115 (ABNT,
5x106. Em se tratando, contudo, das misturas 2004).

Figura 8. Curvas granulométricas de composições do Figura 9. Curvas granulométricas de misturas de solo-


Mato Grosso e faixa “C” - ES 141 (DNIT, 2010). RCD estudadas e faixa “D” - ES 141 (DNIT, 2010).

A partir dos ensaios de compactação e CBR secos máximos e as curvas de compactação, as


executados com as misturas estudadas, obteve- quais encontram-se expostas nas Figuras de 10
se os resultados e os índices físicos (Tabela 3) a 13.
para a condição dos pesos específicos aparentes

Figura 10. Curvas de compactação das misturas de solo- Figura 11. Curvas de compactação das misturas de solo-
RCD do Mato Grosso - Energia Intermediária. RCD do Rio Grande do Norte - Energia Intermediária.
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Figura 12. Curvas de compactação das misturas de solo- Figura 13. Curvas de compactação das misturas de solo-
RCD do Mato Grosso - Energia Modificada. RCD do Rio Grande do Norte - Energia Modificada.

Tabela 3. Resultados dos ensaios de compactação e CBR para as misturas, e índices físicos obtidos.
CBR -
Energia de γdmáx. Wótima γ Expansão
Misturas
compact.
e n (%) S (%) (%)
Imerso
(KN/m³) (%) (KN/m³)
(%)
RN - 0% RCD + 100% Solo Intermed. 19,90 10,75 0,34 25,47 22,04 84,00 0,00 57
MT - 0% RCD + 100% Solo Intermed. 18,30 14,24 0,56 36,01 20,91 72,36 0,30 80,1
RN - 0% RCD + 100% Solo Modific. 20,18 9,80 0,32 24,42 22,16 80,99 0,00 55
MT - 0% RCD + 100% Solo Modific. 18,70 12,53 0,53 34,62 21,04 67,69 0,20 85,6
RN - 15% RCD + 85% Solo Intermed. 19,69 10,00 0,34 25,64 21,66 76,79 - -
MT - 15% RCD + 85% Solo Intermed. 17,40 16,85 0,60 37,41 20,33 78,37 0,02 81,6
RN - 15% RCD + 85% Solo Modific. 20,14 9,20 0,31 23,94 21,99 77,39 0,00 43
MT - 15% RCD + 85% Solo Modific. 18,10 14,64 0,54 34,89 20,75 75,94 0,02 87,9
RN - 30% RCD + 70% Solo Intermed. 20,36 8,23 0,29 22,50 22,04 74,48 0,00 45
MT - 25% RCD + 75% Solo Intermed. 17,40 18,38 0,57 36,26 20,60 88,19 0,02 82,7
RN - 30% RCD + 70% Solo Modific. 20,05 8,48 0,31 23,68 21,75 71,81 0,00 59
MT - 25% RCD + 75% Solo Modific. 18,30 15,34 0,49 32,97 21,11 85,15 0,02 88,5
RN - 45% RCD + 55% Solo Intermed. 19,18 10,53 0,36 26,37 21,20 76,58 0,00 53
MT - 35% RCD + 65% Solo Intermed. 17,50 19,12 0,53 34,70 20,85 96,42 0,02 82,9
RN - 45% RCD + 55% Solo Modific. 19,96 6,46 0,31 23,38 21,25 55,15 0,00 41
MT - 35% RCD + 65% Solo Modific. 18,40 16,22 0,46 31,34 21,38 95,22 0,02 89,1

A análise das curvas de compactação obtidas nota-se que a adição de agregados reciclados,
em conjunto com os dados expostos na Tabela em ambas energias, levou a uma elevação da
3, permite verificar que as composições de solo- umidade ótima, comparando-se ao solo puro.
RCD do Rio Grande do Norte apresentaram Este fato pode estar associado com a absorção,
valores pouco superiores de pesos específicos por parte das frações de RCD, de quantidade
secos máximos e redução significativa da significativa da água empregada no ensaio.
umidade ótima, em ambas energias aplicadas, Verifica-se que as misturas do Rio Grande
em relação às misturas do Mato Grosso, tendo do Norte com a mesma composição, ao
em vista a maior porcentagem de RCD nas aumentar a energia de compactação, sofrem
composições. Segundo análise das curvas de redução da umidade ótima e aumento do peso
compactação das misturas do Mato Grosso de específico seco máximo. Contudo, constatou-se
solo-RCD e do solo puro (Figuras 10 e 12), que esse fato ocorreu de forma inversa na
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mistura com 30% de RCD e 70% de solo. A fim Comparando-se os valores de CBR obtidos
de explicar essa alteração, pode-se considerar para as composições do Mato Grosso e do Rio
duas hipóteses: o material já apresentar-se na Grande do Norte, pode-se afirmar que as
condição ótima de compactação ou a ocorrência primeiras apresentaram capacidade de carga
da quebra dos grãos pela aplicação da energia significativamente superior, devendo-se este
modificada. fato, dentre outras justificativas, à adoção de
Em relação aos valores de CBR e expansão agregados enquadrados como brita 2, os quais
obtidos, pode-se afirmar que todas as apresentam granulometria maior em relação aos
composições estudadas apresentaram resultados empregados nas outras misturas.
que condizem com as especificações das Por fim, em relação à viabilidade do
normas ES 139 (DNIT, 2010) e ES 141 (DNIT, emprego das misturas estudadas em obras de
2010), possibilitando, assim, a aplicação das pavimentação, pode-se afirmar que as misturas
misturas de solo-RCD estudadas em obras de do Mato Grosso se apresentaram adequadas
pavimentação. Contudo, constatou-se que as para aplicação em camadas de base de
composições do Mato Grosso obtiveram, em pavimentos, tendo em vista o atendimento de
relação as do Rio Grande do Norte, valores de todos os parâmetros prescritos pela norma de
CBR significativamente mais altos e que o especificação de serviço ES 141 (DNIT, 2010).
aumento da porcentagem de RCD e da energia Já as composições do Rio Grande do Norte,
aplicada naquelas elevou os valores de CBR, apesar de atenderem os demais parâmetros
proporcionando um ganho de desempenho. requeridos, não atingiram os valores mínimos
Por fim, os valores dos índices físicos de CBR determinados para emprego desses
obtidos, presentes na Tabela 3, calculados para materiais em camadas de base, visto que a
a condição de compacidade seca máxima das capacidade de suporte mínima deve ser de 60%.
misturas estudadas, apresentaram-se Dessa forma, conclui-se que as misturas do
satisfatórios de acordo com as determinações da Mato Grosso apresentam viabilidade para
literatura geotécnica. aplicação na construção de camadas de base de
pavimentos projetados para uma intensidade de
tráfego cujo valor de “N” seja inferior a 5x106,
6 CONCLUSÕES tendo em vista a não recomendação, com base
na NBR 15115 (ABNT, 2004), do uso de
De forma geral, observou-se que o acréscimo de agregados reciclados para tráfegos muito
agregados oriundos de RCD aos solos estudados intensos, apesar de apresentarem-se
proporcionou uma melhor estabilização granulometricamente viáveis. E para as misturas
granulométrica, promovendo, com isso, um de solo-RCD oriundas do Rio Grande do Norte,
ganho de capacidade de carga, tendo em vista o pode-se inferir que estas apresentaram-se
aumento na dimensão das partículas. Contudo, viáveis para aplicação em camadas de sub-base
verifica-se que, quanto aos resultados dos de pavimentos, com restrições de intensidade de
ensaios de CBR, as misturas do Rio Grande do tráfego, de forma análoga às composições do
Norte não obtiveram acréscimo expressivo de Mato Grosso. Vale ressaltar a importância da
capacidade de carga com a adição dos execução do ensaio de deformação permanente
agregados, fato que pode ser explicado pela e módulo de resiliência, onde, este último,
possível ocorrência de quebra dos grãos de executou-se nas amostras provenientes do MT.
RCD com a implementação da energia de Para efeitos de comparação no artigo, não citou-
compactação e o efeito da sucção no interior se os resultados, mas em posterior abordagem,
dos agregados, já que estes foram trabalhados os resultados podem-se agregar a esse contexto.
na condição seca.
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Análises estatísticas dos parâmetros de resistência ao cisalhamento


e peso específico de Resíduos Sólidos Urbanos presentes na
literatura
Leonardo Vinícius Paixão Daciolo
Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, São Paulo, leonardodaciolo@hotmail.com

Natália de Souza Correia


Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, São Paulo, ncorreia@ufscar.com

André Luis Christoforo


Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, São Paulo, alchristoforo@ufscar.com

RESUMO: A utilização de parâmetros de resistência de resíduos sólidos urbanos (RSUs)


disponibilizados na literatura surge como alternativa para as análises de estabilidade de taludes de
aterros sanitários. Sabe-se que a determinação dos principais parâmetros dos RSUs (peso específico,
ângulo de atrito e coesão) é de difícil obtenção, seja em labotarório ou em campo. De forma geral, a
obtenção destes dados se dá majoritariamente mediante consulta à dados disponibilizados na
literatura, os quais apresentam esparsa e elevada variabilidade nos resultados. Neste sentido, esta
pesquisa objetivou uma síntese com avaliação estatística dos dados de parâmetros de resistência ao
cisalhamento e peso específico dos RSUs presentes em 12 trabalhos disponibilizados na literatura,
totalizando 171 pares de coesão e ângulo de atrito e 76 valores de peso específico, de forma a fomentar
resultados para uso em projetos geotécnicos. Os dados foram reunidos e analisados segundo
dispersões e aderências à modelos estatísticos de distribuição de frequências (Normal, LogNormal,
Exponencial e Weibull). Os resultados mostraram maior aderência do parâmetro coesão dos RSUs ao
modelo de distribuição LogNormal, enquanto os parâmetros ângulo de atrito e peso específico
aparente apresentaram resultados compatíveis com a distribuição estatística Normal. Os resultados
obtidos apresentam-se em intervalos de 95% de confiança, os quais podem ser utilizados em projeto
de análises estabilidade de aterros sanitários, bem como em análises com abordagens probabilísticas.

PALAVRAS-CHAVE: Resíduos Sólidos Urbanos, Aterros Sanitários, Resistência ao cisalhamento


de RSU, Distribuição Estatística, Análises Probabilísticas.

1 INTRODUÇÃO No aterro sanitário, os métodos usuais de


verificação de estabilidade global demandam o
Como forma de disposição final para os conhecimento dos parâmetros de resistência ao
resíduos sólidos urbanos (RSUs), os aterros cisalhamento e peso específico dos RSUs. Esta
sanitários destacam-se devido sua tradição e obra geotécnica possui como principal estrutura
alternativa ambientalmente adequada para o os próprios RSUs lançados ou compactados, cuja
destino destes materiais. Contudo, a ausência de interação física deve equilibrar e resistir às ações
processos de destinação finais para algumas a eles impostas. Entretanto, muitas variáveis
parcelas dos RSUs (como a reciclagem, afetam o comportamento hidromecânico dos
compostagem e logística reversa) faz com que RSUs, os quais estão sujeitos à ações temporais,
grande parte dos RSUs destine-se diretamente físicas e biológicas (biodegradação), alteração
para o aterro sanitário, sobrecarregando o local no teor de umidade, geração de poropressões
com diferentes tipos de resíduos e rejeitos. proveniente dos lixiviados e gases existentes no
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interior do aterro sanitário, além da dos parâmetros presentes em 12 trabalhos


heterogeneidade dos RSUs e variabilidade disponibilizados na literatura, cujo conteúdo
espacial ao longo do maciço (ZHAN et al., 2008; abrange também outros trabalhos existentes, de
JAHANFAR et al., 2017). forma a obter intervalos confiáveis para uso
Neste sentido, diversas pesquisas de campo e destes dados em projetos geotécnicos. Os dados
laboratório têm sido conduzidas para a foram reunidos e analisados segundo dispersões
compreensão e estimativa dos principais e aderências à modelos estatísticos de
parâmetros geotécnidos dos resíduos sólidos distribuição de frequências.
urbanos (CARVALHO, 1999; OLIVEIRA,
2002; DIXON; JONES, 2005; RIBEIRO, 2007; 2 METODOLOGIA
CARDIM, 2008; BORGATTO, 2010;
BAREITHER et al., 2012; ABREU; VILAR, O levantamento bibliográfico desta pesquisa
2017; JAHANFAR et al., 2017). foi realizado com bases em artigos científicos de
Sabe-se que, a determinação dos principais diferentes datas de publicação e localidades.
parâmetros mecânicos dos RSUs é de difícil Foram consultados 12 trabalhos publicados, cujo
realização, seja em labotarório ou em campo, conteúdo abrange também outros trabalhos
principalmente na fase de projeto, onde ainda existentes na literatura, totalizando 76 valores de
não existe a estrutura. Assim, a utilização de peso específico (γ), 171 pares de coesão (c) e
parâmetros dos RSUs disponibilizados na atrito (ϕ) dos RSUs. Os dados obtidos nestas
literatura surge como alternativa para as análises pesquisas são provenientes de ensaios de
de estabilidade de taludes de aterros sanitários. laboratório (pequeno e grande porte), ensaios de
Petrovic et al. (2016) enfatizam que a campo, retroanálises e estimativas empíricas dos
ausência de padronização dos métodos, amostras parâmetros de resistência dos RSUs. O número
e diferentes composições dos RSUs conduzem a de determinações levantadas em cada artigo base
uma grande variabilidade nos resultados é apresentado na Tabela 1.
observados nas pesquisas. Estas dificuldades
refletem na segurança, na viabilidade técnica e Tabela 1. Número de determinações (N) de coesão, ângulo
econômica de muitas obras. de atrito e peso específico dos RSUs, por pesquisa.
Neste contexto, análises probabilísticas de Autores N (ϕ,c) N ()
estabilidade de taludes surgem como uma Abreu e Vilar (2017) 2 2
abordagem ampla e racional, de maneira a Jahanfar et al. (2017) 4 4
englobar a dispersão e variabilidade dos Petrovic et al. (2016) 71 1
parâmetros na verificação da estrutura. Estas Sivakumar Babu et al. (2015) 8 8
análises consideram os parâmetros estatísticos Bareither et al. (2012) 16 15
das propriedades dos materiais, de modo a Borgatto (2010) 5 16
determinar o índice de confiabilidade da Cardim (2008) 13 2
estrutura. Em aterros sanitários, devido à Ribeiro (2007) 7 9
variabilidade dos RSUs, esta abordagem Martins (2006) 6 ---
apresenta-se como uma viável alternativa à Dixon e Jones (2005) 15 7
metodologia convencional determinística
Oliveira (2002) 10 ---
(PETROVIC et al., 2016; JAHANFAR et al.,
Carvalho (1999) 14 12
2017).
Total 171 76
Assim, diante da necessidade de concentração
dos dados de resistência ao cisalhamento e peso
específico dos RSUs esparsos na literatura, bem Nesta pesquisa, tal como na pesquisa de
como da compreensão do comportamento Petrovic et al. (2016), os autores verificaram
estatístico destes valores, o presente trabalho dificuldades no levantamento destes dados, pois
apresenta uma síntese com avaliação estatística os trabalhos da literatura muitas vezes não
apresentam a descrição de aspectos de
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caracterização e metodologia dos ensaios. Neste 3 RESULTADOS


sentido, foi adotada a utilização de dados sem
subclassificação prévia, de forma que as análises Com base no levantamento realizado e na
apresentadas abrangem dados de RSUs nos aplicação das análises estatísticas dos dados, são
estados fresco e degradado, para diferentes apresentados os resultados das distribuições dos
composições gravimétricas. Além disso, para parâmetros mecânicos dos RSUs.
dados da literatura apresentados em forma de
intervalos, considerou-se a média do intervalo 3.1 Peso Específico
como sendo seu parâmetro característico.
Alguns dos estudos analisados nas referências Os resultados obtidos para os 76 valores de
da Tabela 1 apresentaram parâmetros nulos para peso específico dos RSUs são apresentados na
a coesão e/ou ângulo de atrito, os quais foram Tabela 2. Observa-se que a melhor distribuição
descartados destas análises. Entende-se que a encontrada para o peso específico, ao nível de
nulidade dos parâmetros de resistência dos RSUs 95%, foi a distribuição Normal, com 99% de
implica na ausência desta variável para a correlação. A distribuição Weibull também
resistência do maciço, uma prática conservadora apresentou boa aderência (98,8%), seguida da
nos projetos. Os números de determinações distribuição LogNormal (96%). Não houve
apresentados na Tabela 1 indicam a quantidade aderência significativa para a distribuição
amostral efetiva utilizada nas análises. Exponencial.
Assim, a partir dos levantamos bibliográficos
foram construídas as distribuições estatísticas Tabela 2. Resultados dos testes de aderência para o peso
dos dados: Normal, LogNormal, Weibull e específico do RSU (95% de confiabilidade).
Exponencial. As respectivas funções de Peso Específico dos RSUs (γ) [ kN/m³]
densidade de probabilidade (f) sobre a variável Estatística Normal LogNor. Weib. Expon.
aleatória (x) são expressas nas equações 1, 2, 3 e Média
9,30 9,36 9,30 6,38
(μ)
4: Desvio
3,13 3,61 3,10 6,38
Padrão (σ)
1 𝑥−𝜇 2
1 Coefic. de
. 𝑒 −2 ( )
𝑓(𝑥) = √2𝜋𝜎2
𝜎 , 𝑥 ∈ (−∞, ∞) (1) Variação
34% 39% 33% 100%
Mediana
9,30 8,73 9,27 4,42
1 log(𝑥)−𝜇 2 (μ̃)
1 − ( )
𝑓(𝑥) = {𝑥𝜎√2𝜋 . 𝑒 2 𝜎2 , se 𝑥 > 0 (2) IQR* 4,22 4,43 4,34 7,01
0 em caso contrário Amostra
76 76 76 76
(N)
𝑥 𝛿 AD** 0,712 1,165 0,721 31,717
𝛿 −( )
𝑓 (𝑥 ) = 𝑥 𝛿−1 𝑒 𝛼 ,𝑥 > 0 (3) Correlação 0,990 0,963 0,988 ---
𝛼𝛿
*Amplitude Interquartílica. **Estatística de Anderson-Darling
−𝜆𝑥
𝑓(𝑥) = {𝜆𝑒 , se 𝑥 > 0 (4) A distribuição Normal apresentou o valor de
0, se 𝑥 ≤ 0
9,30 kN/m³ para a média amostral, com
Na equação Normal (1), σ e μ consistem no respectivo desvio padrão de 3,13 kN/m³. Neste
desvio padrão e média populacional, cenário, o intervalo de confiança para a média do
respectivamente. Na equação LogNormal (2), σ peso específico (ao nível de 95%) é de [8,60;
é desvio padrão e μ a média populacional do 10,0] kN/m³, cuja baixa amplitude evidencia
logaritmo da função densidade de probabilidade. confiabilidade da amostra, fato observado pelo
Na equação (3) de Weibull, δ e α são os IQR (4,22) e desvio padrão. A distribuição
parâmetros de forma e escala, respectivamente. normal do peso específico pode ser visualizada
Na equação Exponencial (4), λ é o parâmetro de na Figura 1.
taxa de distribuição da função Exponencial.
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99.9 de [10,0; 14,0] kN/m³ com desvio padrão de 1


Table of Statistics
a)
99 MeankN/m³. 9.29717 Zekkos et al. (2006) construíram
StDevmodelos 3.12933 a determinação de peso específico
para
95
90 dos RSUs,
Median cuja variação para profundidades até
9.29717
IQR 60 m está aproximadamente situada no intervalo
Percentual

80 4.22140
Percentual

70 Failure
entre [5,0; 17,0] 76 kN/m³.
60
50 Censor O peso específico0 é afetado pelo estado de
40
30 AD* 0.712
20
compactação da amostra, pelos componentes
Correlation 0.990
10 presentes no RSU e pela condição de umidade
5 presente nas amostras, podendo apresentar
1
dispersões da ordem de 3 kN/m³ quando secos e
pouco compactos à 17 kN/m³ quando saturados
0.1 e muito compactos (BAREITHER et al. 2012;
0 5 10 15 20
DIXON; JONES, 2005).
γ (kN/m³)
(kN/m^3)
Estatísticas 3.2 Ângulo de Atrito
Média: 9,30 IQR: 4,22
Desvio Padrão: N: 76 Na Tabela 3, são exibidos os resultados dos
3,13 AD*: 0,712 testes de aderência realizados para o ângulo de
Mediana: 9,30 Correlação: 0,990 atrito. De imediato, observa-se que a melhor
aderência para estes dados se deu também pela
25 distribuição Normal (99,6%), seguida pelas
b)
distribuições Weibull (97,6%) e LogNormal
20 (91,9%). Não houve aderência significativa para
Frequência Absoluta

a distribuição Exponencial.
15 Tabela 3. Resultados dos testes de aderência para o ângulo
de atrito do RSU (95% de confiabilidade).
10 Ângulo de Atrito dos RSUs ( ϕ) [º]
Estatística Normal LogNor. Weib. Expon.
Média
27,43 27,70 27,30 18,55
5 (μ)
Desvio
9,82 12,74 10,91 18,55
Padrão (σ)
0 Coefic. de
3 5 7 9 11 13 15 17 36% 46% 40% 100%
Variação
Classes Superiores do Peso Específico Mediana
(kN/m³) 27,43 25,17 27,13 12,86
(μ̃)
Figura 1. Comportamento estatístico do peso específico IQR* 13,24 15,08 15,30 20,38
dos RSUs. (a) Ajuste à distribuição Normal. (b) Amostra
Distribuição de frequências. Fonte: Próprio Autor (2018). 171 171 171 171
(N)
AD** 0,600 4,049 1,168 67,873
Os dados localizaram-se no intervalo [2,1; Correlação 0,996 0,919 0,976 ---
18,2] kN/m³, apresentando amplitude de 16,1 *Amplitude Interquartílica. **Estatística de Anderson-Darling
kN/m³. Considerando a propriedade de
distribuições normais, inferiu-se que 68% dos As estatísticas referentes à distribuição
valores da amostra localizam-se no intervalo Normal são: média amostral de 27,43° e desvio
[6,17; 12,43] kN/m³. Este intervalo compreende padrão da amostra de 9,82°. O intervalo de
valores comumentes encontrados na literatura. confiança (ao nível de 95%) para a média da
Jahanfar et al. (2017) encontraram um intervalo população é de [25,96; 28,90]°, indicando
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grande proximidade do estimador para o A dispersão dos dados se deve essencialmente


parâmetro populacional, sobretudo, devido ao à composição e ao estado de decomposição dos
número de elementos da amostra (171). RSUs, uma vez que os diferentes materiais
Considerando a propriedade de distribuições constituintes possuem resistência de interface
normais, observamos que 68% dos dados variada. Observa-se no trabalho de Jahanfar et al.
amostrais se enquadram no intervalo [17,61; (2017) que RSUs com porcentagem
37,25]°. A amplitude total da amostra foi de predominante de matéria orgânica tendem a
52,30°, relativa ao intervalo [2,70; 55,0]°. A apresentar ângulos de atrito menores, da mesma
distribuição normal é apresentada na Figura 2. forma que RSUs em estado fresco (uma vez que
a predominância de materiais biodegradáveis é
99.9 maior), como evidencia Petrovic et al. (2016).
a) Table of Statistics
99 Mean Com relação à magnitude dos valores
27.4322
StDev presentes9.82147na literatura, observamos uma
95
90 Median proximidade
27.4322 perante às recomendações e valores
80 IQR encontrados13.2490 pelos autores. Petrovic et al. (2016)
Percentual
Percent

70 Failureconstruíram 171 um
60 modelo de distribuição
50 Censor 0
40 bivariado, cuja média para o ângulo de atrito foi
30 AD* 0.600
20 de 28,95°
Correlation
e respectivo desvio padrão de 9,79°.
0.996
10 Jahanfar et al. (2017) encontraram média de
5
22,20° e desvio padrão da ordem de 1° para RSU
1 com predominância de matéria orgânica e 34°
0.1
com desvio padrão de 2° para RSUs com
-10 0 10 20 30 40 50 60 70 predominância fibrosa. Esta discrepância é
ϕØ (º)(°) função do tamanho amostral e tipo de
levantamento realizado. No primeiro trabalho, os
Estatísticas autores realizaram um levantamento de
Média: 27,43 IQR: 13,24 diferentes tipos de RSUs, em estados frescos e
Desvio Padrão: N: 171 degradados, com composições e características
9,82 AD*: 0,6 distintas. Já no segundo, os autores levantaram
Mediana: 27,43 Correlação: 0,996
uma quantidade menor de dados, filtrando os
40 dados em classes predominantemente fibrosas e
b) orgânicas.
35

3.2 Coesão
Frequência Absoluta

30

25
Com relação ao comportamento estatístico dos
20 dados levantados acerca da coesão dos RSUs, a
15
Tabela 4 ilustra as distribuições encontradas para
cada metodologia de análise de dados.
10 Diferentemente dos demais parâmetros, a coesão
5 demonstrou maior aderência à distribuição
LogNormal (99,3%), precedida pelas
0
6 11 17 23 29 35 40 46 52
distribuições Weibull (98%), Normal (91%) e
Exponencial (10,4%), sendo esta última,
Classes Superiores do Ângulo de Atrito desconsiderada devido ao baixo valor
( ) característico de ajuste de dados.
Figura 2. Comportamento estatístico do ângulo de atrito
dos RSUs. (a) Ajuste à distribuição Normal. (b)
Distribuição de frequências. Fonte: Próprio Autor (2018).
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Tabela 4. Resultados dos testes de aderência para a coesão


do RSU (95% de confiabilidade). a) 99.9
Coesão dos RSUs (c) [kPa] Table of Statist
99 Loc 2.7
Estatística Normal LogNor. Weib. Expon.
Scale 0.76
Média 95
19,72 20,17 18,87 17,83 90 Mean 20
(μ)

Percentual
80 StDev 18
Desvio 70 Median 15
14,12 18,07 11,57 17,84
Padrão (σ) 60
50 IQR 16
Coefic. de 40
Failure
72% 90% 61% 100% 30
Variação 20 Censor
Mediana 10 AD*
19,73 15,07 16,98 12,36
(μ̃) 5
Correlation
IQR* 19,05 16,26 15,63 19,59 1
Amostra
171 171 171 171 0.1
(N)
1 10 100
AD** 7,408 0,670 2,506 7,408
Correlação 0,910 0,993 0,980 10,400 c (kPa)
*Amplitude Interquartílica. **Estatística de Anderson-Darling Estatísticas
Média: 20,17 IQR: 16,26
Para a distribuição LogNormal, obteve-se Desvio Padrão: N: 171
como média amostral o valor de 20,17 kPa e 18,07 AD*: 0,670
Mediana: 15,07 Correlação: 0,993
desvio padrão da amostra de 18,07 kPa, valores
relativamente próximos aos da distribuição
normal, cuja média foi de 19,72 kPa e desvio 70
b)
padrão de 14,12 kPa.
60
Ainda sobre o comportamento da distribuição
LogNormal, observa-se um expressivo valor no
Frequência Absoluta

50
desvio padrão da amostra, evidenciado na
amplitude dos dados (correspondente a 79,07 40
kPa), descritos no intervalo [0,93; 80,0] kPa. Na
Figura 3 é apresentada a distribuição LogNormal 30
referente à coesão dos RSUs. Considerando a
distribuição LogNormal, o intervalo de variação 20
da média da amostra situa-se entre [18,82; 21,62]
kPa. 10
Elevada variabilidade também foi observada
por Petrovic et al. (2016), cujo coeficiente de 0
5 14 23 32 40 49 58 67 76
variação foi de 86%. Nesta pesquisa, observou-
Classes Superiores da Coesão (kPa)
se o coeficiente de variação de 90%, fato
confirmado pela amplitude do intervalo da Figura 3. Comportamento estatístico da coesão dos RSUs.
amostra. Petrovic et al. (2016) obtiveram média (a) Ajuste à distribuição LogNormal. (b) Distribuição de
de 27,76 kPa e desvio padrão de 23,78 kPa, frequências. Fonte: Próprio Autor (2018).
valores ligeiramente superiores aos dados
encontrados no presente trabalho. Os resultados Das variáveis analisadas, a coesão
de Jahanfar et al. (2017) para a média da coesão demonstrou maior sensibilidade em sua
foram 19,2 kPa (orgânico) e 14 kPa (fibroso), distribuição de valores. A elevada amplitude da
com respectivos desvios padrões de 1 e 2 kPa. A amostra demonstra a grande influência da
discrepância dos valores é resultado dos composição dos RSUs neste parâmetro de
tamanhos amostrais e categorizações utilizadas resistência. Observa-se nos trabalhos de Petrovic
nas pesquisas. et al. (2016) e Jahanfar et al. (2017) que RSUs
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em estado fresco tendem a apresentar maior Civil da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio
valor para a coesão do que em estágios de de Janeiro, 2010.
CARDIM, R. D. (2008). Estudo da Resistência de
degradação avançada, principalmente em RSUs Resíduos Sólidos Urbanos por Meio de Ensaios de
predominantemente orgânicos. Cisalhamento Direto de Grandes Dimensões. 2008.
107 f. Dissetação (Mestrado em Geotecnia) -
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da
Universidade de Brasília, Brasília, 2008.
CARVALHO, M. F. (1999). Comportamento mecânico de
Com o objetivo de reunir dados de parâmetros resíduos sólidos urbanos.. 330 f. Tese (Doutorado em
mecânicos dos RSUs e analisar a variabilidade Geotecnia) - Escola de Engenharia de São Carlos da
destes, este trabalho reuniu 171 pares de coesão Universidade de São Paulo, São Carlos, 1999.
e ângulo de atrito e 76 valores para o peso DIXON, N.; JONES, D. R. V. (2005) Engineering
específico, presentes em 12 trabalhos da properties of municipal solid waste. Geotextiles and
Geomembranes, v. 23, n. 3, p. 205–233.
literatura. Após as análises estatísticas destes JAHANFAR, A.; GHARABAGHI, B.; MCBEAN, E.;
parâmetros, observou-se que: DUBEY, B. (2017). Municipal Solid Waste Slope
 O peso específico do RSU apresentou Stability Modeling: A Probabilistic Approach. Journal
melhor aderência à distribuição Normal, of Geotechnical and Geoenvironmental Engineering,
com média de 9,30 kN/m³ e desvio v. 143, n. 8, p. 1-10.
MARTINS, H. L. (2006). Avaliação da Resistência de
padrão de 3,13 kN/m³; Resíduos Sólidos Urbanos por Meio de Ensaios de
 O ângulo de atrito apresentou melhor Cisalhamento Direto em Equipamento de Grandes
aderência à distribuição Normal, com Dimensões. 131 f. Dissertação - Programa de Pós-
média de 27,43° e desvio padrão de graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos
Hídricos da Universidade Federal de Minas Gerais,
9,82°; Belo Horizonte, 2006.
 A coesão apresentou melhor adência à OLIVEIRA, D. A. F. (2002). Estabilidade de taludes de
distribuição LogNormal, com média de maciços de resíduos sólidos urbanos. 173 f.
20,17 kPa e desvio padrão de 18,07 kPa; Dissertação (Mestrado em Geotecnia) - Departamento
de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de
 Os parâmetros mecânicos dos RSUs são
Brasília, Brasília, 2002.
diretamente sensíveis às metodologias de PETROVIC, I.; HIP, I.; FREDLUND, M. D. (2016)
análise e composição, sobretudo com Application of continuous normal–lognormal bivariate
relação ao seu estágio de degradação. density functions in a sensitivity analysis of municipal
Os valores e intervalos de parâmetros de solid waste landfill. Waste Management, v. 55, p. 141–
153.
RSUs encontrados nesta pesquisa são
RIBEIRO, A. G. C. (2007). Determinação de Parâmetros
estimativas para a realização de projetos, de Resistência de Resíduos Sólidos Urbanos por Meio
principalmente para análises probabilísticas de de Retro-análises de Testes em Laboratório. 117 f.
estabilidade. Dissertação - Universidade Federal de Viçosa, Viçosa,
2007.
SIVAKUMAR BABU, G. L.; LAKSHMIKANTHAN, P.;
SANTHOSH, L. G. (2015). Shear strength
REFERÊNCIAS characteristics of mechanically biologically treated
municipal solid waste (MBT-MSW) from Bangalore.
ABREU, A. E. S.; VILAR, O. M. (2017). Influence of Waste Management, v. 39, p. 63–70.
composition and degradation on the shear strength of ZEKKOS, D. et al. (2006). Unit Weight of Municipal
municipal solid waste. Waste Management, p. 12. Solid Waste. Journal of Geotechnical and
BAREITHER, C. A.; BENSON, C. H.; EDIL, T. B. Geoenvironmental Engineering, v. 132, n. 10, p. 1250-
(2012). Effects of Waste Composition and 1261.
Decomposition on the Shear Strength of Municipal ZHAN, T. L. T.; CHEN, Y. M.; LING, W. (2008). A.
Solid Waste. Journal of Geotechnical and Shear strength characterization of municipal solid
Geoenvironmental Engineering, v. 138, n. 10, p. 1161– waste at the Suzhou landfill, China. Engineering
1174. Geology, v. 97, n. 3–4, p. 97–111.
BORGATTO, A. V. A. (2010). Estudo das Propriedades
Geomecânicas de Resíduos Sólidos Urbanos Pré-
Tratados. 306 f. Tese (Doutorado em Engenharia
Civil) - Programa de Pós-graduação em Engenharia
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Aplicação de Materiais Naturais e Resíduos Oriundos da


Mineração em Obras de Pavimentação
Francisco das Chagas da Costa Filho
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, Natal, Brasil, filhoshalom@hotmail.com

Enio Fernandes Amorim


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte - IFRN, Natal, Brasil,
enio.amorim@ifrn.edu.br

Mauriceia Medeiros
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, Natal, Brasil, mauriceia21@hotmail.com

Maria del Pilar Durante Ingunza


Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, Natal, Brasil,
pilarduranteingunza@gmail.com

RESUMO: Diante da necessidade de extração de matéria prima para compor as camadas usuais de
um pavimento, o presente estudo caracterizou materiais convencionais comumente utilizados em
rodovias do Estado do Rio Grande do Norte, e as frações do resíduo do beneficiamento da scheelita
da Mina Brejuí, com o intuito de analisar a viabilidade da utilização das frações como agregados
artificiais em obras de pavimentação asfáltica. Para isto, foram executados ensaios de caracterização
física, térmica, química e mineralógica, dos agregados naturais e dos artificiais propostos pela
pesquisa, para analisar suas características, semelhanças e suas possíveis influências nas
propriedades do pavimento asfáltico. Diante dos resultados obtidos neste trabalho, pode-se concluir
com os ensaios realizados, que a fração grossa in natura do resíduo do beneficiamento da scheelita
apresentou-se viável para ser utilizada como agregado miúdo artificial em concretos asfálticos.

PALAVRAS-CHAVE: Resíduo de mineração, Pavimentos, Scheelita, Concreto Asfáltico, Mina


Brejuí, Mineração Tomaz Salustino.

1 INTRODUÇÃO extraído para suprir a necessidade de matérias-


primas de diversos setores da economia pela
A indústria da construção civil é uma das indústria da mineração, tem-se a geração de
grandes responsáveis pela excasses de matérias resíduos devido ao processo de extração e
primas naturais, devido o consumo destes beneficiamento do minério. Os impactos dessas
materiais estar diretamente atrelado ao atividades se tornam mais relevantes quando
desenvolvimento das atividades construtivas. não existe uma destinação adequada para os
Uma das práticas construtivas que demanda resíduos, podendo gerar contaminação do solo,
altos volumes de insumos é a construção e da água e do ar, destruição da paisagem, entre
manuntenção de rodovias. De acordo com outros.
Souza, Sousa e Kato (2015), 75% do volume e A utilização desses resíduos, permite a
até 96% do peso de uma mistura betuminosa é prática da sustentabilidade, visto que além de
ocupado por agregado mineral. poder produzir materiais de boa qualidade,
Além do grande volume de recursos naturais permite a diminuição da extração de matéria-
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prima da natureza e propõe uma destinação destes nas normas técnicas virgentes. Para isto,
correta para diversos resíduos produzidos pelos realizou-se a caracterização térmica, física,
setores da economia, minimizando os impactos química e mineralógica de todos os agregados
ambientais ocasionados pela má gestão utilizados nesta pesquisa.
existente. Vale salientar, que o presente estudo trata da
A mineração no Brasil teve diversas fases de caracterização dos materiais; e para
exploração, e um exemplo muito importante efetivamente afirmar o potencial de
para o desenvolvimento do setor foi o aproveitamento na composição de concretos
beneficiamento da scheelita (CaWO4) no Seridó asfálticos, se faz necessário a aplicação destes
brasileiro, no Rio Grande do Norte e Paraíba, materiais em corpos de prova, com posterior
potencializada em decorrência da segunda realização de ensaios mecânicos, e se possível,
guerra mundial, para posterior obtenção do a execução de um treçho experimental.
metal de transição tungstênio (W), e Todas as análises foram regidas pelas
abastecimento da indústria bélica. recomendações da Associação Brasileira de
A exportação de scheelita beneficiada no Normas Técnica - ABNT, pelo Departamento
nordeste do Brasil foi amplamente representada Nacional de Infra-estrutura e Transportes
pela Mineração Tomaz Salustino S/A (Mina Terrestres - DNIT e pelo Departamento
Brejui), e devido ao processo de exploração e Nacional de Transporte de Rodagem - DNER,
beneficiamento, estima-se que há um acumulo com exceção da caracterização química e
de cerca de 7 milhões de toneladas de resíduos, mineralógica que foram executadas com as
sendo de 4,5 milhões de toneladas representadas recomendações do fabricante do equipamento.
pela fração grossa e 2,5 milhões de toneladas Para a realização da fluorescência de Raio -
pela fração fina, depositadas no entorno das X (FRX), foi utilizado o instrumento EDX -
instalações da Mineradora (GERAB, 2014). 720/800HS, atmosfera: vácuo, colimador de 10
Em vista desta produção de resíduo e pelo (mm) e sem rotação. Para a difração de Raio-X
acúmulo já gerado, além da grande necessidade (DRX) foi utilizado o difratômetro BRUKER,
de agregados para os processos construtivos, modelo D2 PHASER. Os espectros foram
este estudo avaliou o potencial de obtidos sob as seguintes condições: varredura
aproveitamento do resíduo fino e grosso (2theta): 3° a 70°; Passo angular: 0,02º.
oriundos do beneficiamento da scheelita da
empresa Mineração Tomaz Salustino S/A na
composição de concretos asfálticos, como 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
agregados artificiais, de modo a minimizar, os
impactos decorrentes da má gestão dos Em vista de analisar a configuração
resíduos, promovendo a preservação da flora, granulométrica dos agregados miúdos, plotou-se
fauna, dos corpos d'água, do lençol freático e do a curva granulométrica da areia em conjunto
solo. com a da fração grossa do resíduo; com isso,
pode-se observar que a distribuição em termos
de frações granulométricas são semelhantes,
2 METODOLOGIA DA PESQUISA dimensões máximas características iguais (2,4
mm) e classificação pelo módulo de finura - MF
Para analisar a viabilidade da substituição dos iguais (areia média), diferenciando-se somente
agregados naturais por resíduos oriundos da os seus constituintes minerais, formatos dos
Mina Brejuí, se fez necesserário primeiramente grãos e massa específica, que resultou em 2,62
a caracterização das frações dos resíduos e g/cm³ e 2,98 g/cm³ para o resíduo. A Figura 1
posterior comparação com agregados naturais mostra as curvas granulométricas da areia e da
comumente utilizados, além do enquadramento fração grossa do resíduo sobrepostas.
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100
100
90 90
80 80
70
% Passante

70
60

% Passante
60
50
40 50
30 40
20 30
10
20
0
0,01 0,10 1,00 10,00 10
Abertura das Peneiras (mm) 0
0,01 0,10 1,00 10,00
Areia Fração grossa do resíduo Abertura das Peneiras (mm)
Figura 1. Análise granulométrica das areias natural e Figura 2. Análise granulométrica da fração fina do
artificial resíduo

Paiva (2013), observou os seguintes É importante enfatizar que para a realização


resultados através da análise granulométrica e do ensaio em questão, o material foi
análise de massa específica da areia natural destorroado com almofariz, e mesmo assim
utilizada em sua pesquisa: dimensão máxima apresentou tais placas.
característica de 2,4 mm, módulo de finura de Com relação as massas específicas, as
2,11 mm e 2,63 g/cm³ de massa. Com relação a frações grossa e fina obtiveram valores médios
fração grossa do resíduo da scheelita, o mesmo de 2,98 g/cm³ e 2,90 g/cm³ respectivamente; tais
observou diâmetro máximo característico de 1,2 valores são maiores que a massa específica do
mm e módulo de finura de 1,83, classificando-o agregado miúdo natural e fíler convencional
como areia fina. utilizado nesta pesquisa (respectivamente 2,62
Toffolo (2014) trabalhou com resíduo de g/cm³ e 2,82 g/cm³). Isto, provavelmente é
minério de ferro e o mesmo observou que a devido aos minerais constituintes nas frações
dimensão máxima característica do resíduo foi dos resíduos, visto que com a cominuição da
de 2,4 mm e a massa específica de 3,55 g/cm³. rocha no beneficiamento, ocorre a geração de
Fontes et al. (2014) também trabalhou com o resíduos com diversos constituintes. Observou-
resíduo do minério de ferro e observou que a se que em ambas as frações existiam metais
sua dimensão máxima foi de 2,4 mm, módulo pesados como demonstra nos resultados da
de finura de 0,61 mm e massa específica um caracterização química do material.
pouco mais alto quando comparada ao Paiva (2013) e Gerab (2014) realizaram
observado por Toffolo (2014), 3,88 g/cm³, ensaios de massas específicas na fração grossa
sendo esta massa 31,7% maior que a massa do resíduo do beneficiamento da scheelita,
específica da areia natural utilizada na pesquisa, resultando nos seguintes valores
que foi de 2,65 g/cm³. consecutivamente: 2,89 g/cm³ e 2,84 g/cm³.
Com relação a fração fina do resíduo, a Com relação a caracterização físicas dos
Figura 2 mostra a sua configuração agregados grossos, a Tabela 1 apresenta os
granulométrica, e, por meio desta, observou-se resultados das análises. O pó de pedra
que a sua dimensão máxima característica foi de classificou-se como um material grosso, pois
4,8 mm e módulo de finura igual a 1,0, seu MF > 3,0 (4,6), com dimensão máxima
classificando-se como areia artificial fina (MF < característica de 9,5 mm e massa específica de
2,0). Apesar do módulo de finura ser baixo, a 2,78 g/cm³.
dimensão máxima característica atingiu o valor A brita 0 apresentou-se com dimensão
máximo devido as placas lamelares formadas máxima característica igual a 9,5 mm, e com
com o passar do tempo, após deposição do massa específica do agregado seco, massa
resíduo húmido nas bacias de rejeito. específica do agregado na condição saturada
superfície seca, massa específica aparente e
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absorção respectivamente: 2,58 g/cm³, 2,64 de forma, a qual resultou em 0,91,


g/cm³, 2,75 g/cm³ e 2,29%. classificando-a cúbica, visto que de acordo com
Bernucci et al. (2006), quanto mais próximo de
Tabela 1: Caracterização dos Agregados 1, mas cúbica será a partícula, e quanto mais
Parâmetros Pó de pedra Brita 0 Brita 1
DMC 9,5 mm 9,5 mm 25 mm próximo de 0 mais lamelar será; sendo 0,5 o
% de finos 1,02% - - índice mínimo aceitável para utilização do
Massa especifica 2,78 g/cm³ 2,58 g/cm³ 2,61 g/cm³ agregado em misturas asfáltica.
Absorção - 2,29% 2,15%
Abrasão Los - - 62,51% O fíler convencional, o cimento Portland CP
Angeles IV, obedeceu aos requisitos do DNIT para se
Índice de Forma - - 0,91 classificar como material de enchimento, visto
que possuía a quantidade de finos recomendada
A brita 1 apresentou-se com dimensão pela DNER-EM 367/97 - Materiais de
máxima característica igual a 25 mm, massa enchimento para misturas betuminosas (DNER,
específica do agregado seco, massa específica 1997a), pois apresentou mais de 65% de
do agregado na condição saturado superfície material passante pela peneira de 0,075 mm de
seca, massa específica aparente e absorção malha quadrada. Com as análises de
respectivamente de: 2,61 g/cm³, 2,67 g/cm³, granulometria, observou-se que a porcentagem
2,77 g/cm³ e 2,15%. de finos passante na peneira de 0,075 mm foi de
Lourenço e Cavalcante (2014) realizaram 98,85%, a dimensão máxima característica
ensaios de absorção em agregados artificiais de 0,075 mm e o MF = 0,012, classificando-se
concreto para aplica-los em pavimentação, na como um material fino. Além disso, calculou-se
qual obteve-se valores de 8,69% e 10,07%, a massa específica que resultou em 2,82 g/cm³,
valores estes, superiores ao observado nesta um pouco inferior ao apresentado na fração fina
pesquisa (2,15%). do resíduo, 2,90 g/cm³.
Também foi realizado o ensaio de abrasão Analisando as características mineralógicas
Los Angeles com a brita 1, e observou-se que da fração grossa através da difração de Raio-X
sua perda por abrasão foi de 62,51%, valor este, (Figura 3), percebeu-se que o resíduo se
superior ao recomendado pela norma 031/06 do apresentou com picos discretos, com a presença
DNIT (2006) (abrasão ≤ 50%); porém, no de calcita e do quartzo, minerais representativos
mesmo documento, é relatado que são aceitos na composição de areais naturais. Além disso,
excepcionalmente materiais que tenham tenho observou-se a existência da enstatita férrica, a
tido resultados de abrasão Los Angeles qual deve ter contribuído para o valor da massa
superiores a 50% e tenham demonstrado específica apresentada por esta fração do
desempenho satisfatório ao serem aplicados em resíduo.
pavimentação; fato este comprovado em A difração de Raios-X da fração fina,
rodovias da região do Rio Grande do Norte com também apresentou como principais
o agregado utilizado nesta pesquisa em trechos constituintes a calcita e o quartzo. Além desses,
localizados em periferias próximas a cidade de a fração fina possui em seus constituintes
Natal-RN. minerais o grossular ferrian, que tem em sua
Bernucci et al. (2006) diz que a forma da composição o ferro. Também observou-se
partícula do agregado, possui influência pequenas ranhuras na base do gráfico (Figura
significativa em propriedades como a 4), e acredita-se que esse fato, seja característico
resistência ao cisalhamento e trabalhabilidade de materiais amorfos.
de misturas asfálticas, além de mudar a energia
de compactação necessária para alcançar uma
determinada densidade. Em vista disso,
classificou-se a brita 1 de acordo com seu índice
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Figura 3: Difratograma da fração grossa do resíduo do Figura 5: Difratograma da areia natural

Figura 4: Difração de Raio-X: fração fina do resíduo Figura 6: Difratograma do pó de pedra

Ainda analisando as características As análises químicas das frações dos


mineralógicas dos materiais, percebeu-se que a resíduos através da fluorescência de Raio-X
areia natural (Figura 5) é composta basicamente (Tabela 2), mostraram uma variabilidade na
de quartzo e minerais do grupo dos feldspatos, a composição dos óxidos constituintes. Ambas
ortoclásio - k(AlSi3O8), anortita - Ca(AlSi3O8) possuem como principais representantes de
e albita - Na(AlSi3O8). Ambas as areias, óxidos, o CaO, SiO2 e Fe2O3, e a presença do
natural e artificial, possuem o quartzo em sua ferro na constituição das frações enfatiza mais
composição, corroborando com os dados da ainda a hipótese de que as massas especificas
caracterização química (Tabela 2), e com a reais estão elevadas devido à presença de metais
constituição rochosa da região; no caso do na composição.
resíduo, o calcário cristalino. O alto teor de CaO e a presença de MgO
Assim como a areia natural, o pó de pedra observados na composição das frações do
apresentou o quartzo, a ortoclásio e a anortita resíduo podem gerar problemas em misturas
em sua composição. Devido ser oriunda de uma asfálticas devido a capacidade de expansão
rocha granítica, observou-se também a ocasionado por esses óxidos. Tal situação foi
cordierite, que possui o magnésio na sua mencionada por Freitas e Motta (2008), ao
composição química (Mg2Si5Al4O18), como trabalhar com escória de aciaria, onde as autoras
pode ser observada na Figura 6. afirmaram que umas das principais
preocupações no uso de escória de aciaria em
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pavimentos é o seu potencial expansivo, que e verificou em sua composição os seguintes


comumente é causado pela existência de CaO e óxidos: CaO (50,27%) e SiO2 (25,9), Fe2O3
MgO. (7,47%), além da presença de Al2O3 (9,57%),
K2O (1,77%), TiO2 (0,62%), WO3 (0,11%)
Tabela 2: Caracterização Química por FRX entre outros elementos (4,33%). Estes
Agregados Artificiais resultados de Godeiro et al. (2010) corroboram
Fração Grossa Fração Fina com os valores alcançados por esta pesquisa.
Óxidos % Óxidos %
CaO 50.82 CaO 47.46
Gerab (2014) também realizou ensaios com
SiO2 21.17 SiO2 19.12 o resíduo do beneficiamento da scheelita da
Fe2O3 11.79 Fe2O3 18.94 Mina Brejuí, porém a porcentagem de SiO2
Al2O3 8.26 Al2O3 5.70 (30,97%) foi maior que a de CaO (28,99%), e
MgO 3.07 MgO 2.36 Fe2O3 atingiu valor relativamente baixo
SrO 1.67 SrO 1.67
K 2O 1.05 SO3 1.09
(3,53%), fato este que pode ser explicado pela
MnO 0.70 MnO 0.98 diversidade de minerais que são retirados
SO3 0.49 WO3 0.91 durante o desmonte no meio natural. Paiva
TiO2 0.44 K2O 0.81 (2013), já observou valores mais altos, como
WO3 0.28 TiO2 0.54 CaO (40,33%), SiO2 (30,91%) e Fe2O3
ZrO2 0.20 ZrO2 0.35
ZnO 0.06 ZnO 0.08
(11,59%); assim como Machado (2012), CaO
(41,34%), SiO2 (19,05) e Fe2O3 (4,46%).
Tabela 3: Caracterização Química por FRX Fernandes (2011) também obteve como
Agregados Naturais principais óxidos o CaO (51,4%), SiO2
Areia Natural Pó de Pedra (21,53%) e o Fe2O3 (12,96%), representando
Óxidos % Óxidos % aproximadamente 86% do total.
SiO2 45.09 SiO2 43.77 Analisando o formato do grão da fração
Al2O3 15.73 Fe2O3 23.10 grossa, através da microscopia eletrônica de
Fe2O3 14.45 Al2O3 14.37
CaO 6.91 CaO 6.58 varredura (Figuras 7 e 8), percebeu-se que os
ZrO2 5.47 K2O 3.82 grãos apresentaram formatos diversos, porém
K 2O 4.35 MgO 3.30 com arestas bem definidas e com superfície
SrO 2.60 TiO2 1.97 aparentemente porosa quando comparadas com
Na2O 2.36 ZrO2 1.19 as superfícies dos grãos da areia natural
TiO2 1.38 SrO 0.91
MgO 1.04 P2O5 0.45 (Figuras 9 e 10). Paiva (2013) realizou ensaios
SO3 0.36 MnO 0.26 de MEV e verificou que o resíduo do
MnO 0.22 SO3 0.18 beneficiamento da scheelita tem grãos com
ZnO 0.04 Cr2O3 0.05 formação laminar e em formato de cubos.
ZnO 0.05
A forma do grão da areia natural (Figura 9
e 10), apresentou-se com grãos sem formato
Através da Fluorescência de Raio-X dos regular, possuindo partículas aproximadas a um
agregados naturais (Tabela 3), percebeu-se que formato cúbico com arestas bem definidas, e
ambas as frações, areia e pó de pedra, possuem algumas partículas mais lamelares. Além disso,
como óxidos principais o SiO2, Al2O3, Fe2O3 e são perceptíveis alguns poros na superfície de
CaO, porém em concentração diferenciadas, alguns grãos. Os grãos da fração fina (Figura 11
sendo os dois, ricos em SiO2 (45,09% à 48,20% e 12) também apresentaram formatos diversos;
para areia e 42,15% a 43,77% para o pó de algumas partículas alongadas e outras cúbicas
pedra). (esta última característica, melhora o
Godeiro et al. (2010) realizou ensaio de intertravamento das partículas) com arestas bem
fluorescência de Raio-X em amostra de resíduo definidas, sem indícios efetivos de poros, fato
do beneficiamento da scheelita da Mina Brejuí, este, que não maximiza o consumo do ligante.
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Figura 7 - MEV da fração grossa do resíduo x120; Figura 10 - MEV da areia natura x1.0k

Figura 8 - MEV da fração grossa do resíduo x1.0k Figura 11 - MEV da fração fina do resíduo x120

Figura 9 - MEV da areia natura x120 Figura 12 - MEV da fração fina do resíduo x500
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Ainda analisando as Figuras 11 e 12, se que a perda ocasionada pela elevação de


observou-se pontos claros nas imagens, e temperatura é insignificante. Na temperatura
acredita-se que esta característica peculiar seja máxima de trabalho (177 ºC) a perda foi de
devido a maior presença do tungstênio nesta 0,195 mg e 0,560 mg consecutivamente para a
fração, visto que não foram observados nas fração grossa e fina do resíduo.
imagens de MEV realizadas para a fração
grossa do resíduo. Fazendo a mesma análise
para o pó de pedra (Figura 13 e 14), percebeu-se
formatos diversos, sem muita regularidade.
Observou-se grãos de cor mais clara e formato
mais esférico, diferenciando-se dos demais, o
que poderia ser associado a maior presença de
ferro nesta amostra.

Figura 15 - Análise térmica da fração grossa do resíduo

Figura 16 - Análise térmica da fração fina do resíduo

Verificou-se também a perda de massa a 300


Figura 13 - MEV do pó de pedra x120 ºC para estudar o comportamento das frações do
resíduo, se caso continuasse a elevação da
temperatura, e percebeu-se que as perdas de
massas foram 0,157 mg e 0,635 mg
consecutivamente para a fração grossa e fina, o
que leva a concluir que possivelmente a fração
grossa tenha adsorvido a atmosfera do ensaio,
visto que a sua perda de 0 a 300 ºC foi menor
do que de 0 a 177 ºC, como pode ser observado
na Figura 13.
Analisando as características térmicas dos
agregados naturais (Figura 17 e 18), percebeu-
se também que a perda de massa da areia e do
pó de pedra foram insignificantes. Na
temperatura máxima de trabalho (177º C) para
Figura 14 - MEV do pó de pedra x1.0k concretos asfálticos, a areia teve perda de 0,073
mg e extrapolando a temperatura para 300º C
Com relação as características térmicas das para verificar o comportamento do material,
frações do resíduo do beneficiamento da percebeu-se que a perda aumentou para 0,086
scheelita, através das Figuras 15 e 16, percebeu- mg.
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resíduo não possuí os 65% passante na peneira


de 0,075 mm para se classificar como material
de enchimento de misturas asfálticas de acordo
com a norma DNER - EM 367/97 (DNER,
1997a).
Contudo, enfatiza-se que apesar dos
resultados positivos observados nesta pesquisa,
ainda são necessários estudos para avaliar a
Figura 17 - Análise térmica da areia natural influência deste material na resistência
mecânica do CBUQ;

AGRADECIMENTOS

A Universidade Federal do Rio Grande do


Norte - UFRN e ao Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande
do Norte - IFRN, Campus Natal Central, pelos
Figura 18- Análise térmica do pó de pedra materiais e laboratórios fornecidos para a
realização dos ensaios.
O pó de pedra teve um comportamento A Mineração Tomaz Salustino S/A e ao
diferenciado no âmbito de suas propriedades Britador Caicó, pelo fornecimento dos materiais
térmicas, quando comparado com os outros para a realização desta pesquisa.
materiais utilizados nesta pesquisa, visto que a Aos técnicos em estradas: Deborah Paiva,
perda de massa originada pela elevação da João Souza Júnior, Abraão Menezes e Rafael
temperatura se deu somente no início do ensaio, Medeiros pela contribuição na execução desta
possivelmente relacionado a umidade do pesquisa.
material, demonstrando que seus constituintes
minerais são mais resistentes a elevação de
temperatura do que os outros já analisados. REFERÊNCIAS
Como pode ser visto na Figura 18 a perda de
massa referente a análise térmica do pó de pedra ABNT (1987). NBR 9776/1987: Agregados -
foi de 0,004 mg. determinação da massa específica de agregados
miúdos por meio do frasco Chapman. Rio de Janeiro.
ABNT (2003). NBR NM 248/2003: Agregados -
determinação da composição granulométrica. Rio de
4 CONCLUSÕES Janeiro.
ABNT (2000). NM 23/2000: cimento Portland e outros
Diante dos resultados obtidos neste trabalho, materiais em pó - determinação da massa específica.
Rio de Janeiro.
pode-se concluir que para os ensaios realizados, ABNT (2001). NM 51/2001: Agregado graúdo - ensaio
a fração grossa do resíduo do beneficiamento da de abrasão Los Angeles. Rio de Janeiro.
scheelita in natura apresentou-se viável para ser ABNT (2003). NM 53/2003: Agregado graúdo -
utilizada como agregado miúdo artificial em determinação de massa específica, massa específica
concreto betuminoso usinado a quente. aparente e absorção de água. Rio de Janeiro.
BERNUCCI, L. B.; MOTTA, L. M. G.; CERATTI, J. A.
Para a fração fina do resíduo, foi verificado a P. e SOARES, J. B. (2006). Pavimentação Asfáltica:
viabilidade para a aplicação como fíler artificial, formação básica para engenheiros. Rio de Janeiro:
porém depois da realização de processos para PETROBRAS: ABEDA.
melhoramento de qualidade através de DNER; MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES – MT
(1994). DNER - ME 086/94. Agregado - determinação
peneiramento, pois esta fração in natura do
do índice de forma. Rio de Janeiro.
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DNER; MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES – M E&S - Engineering and Science, v. 2, ed. 4. ISSN:
(1997). DNER-ME 367/97: Material de enchimento 2358-5390.
para misturas betuminosas. Rio de Janeiro. TOFFOLO, R. V. M.; SANT’ANA FILHO, J. N.;
DNER; MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES – MT BATISTA, J. O. S.; SILVA, S. N.; CURY, A. A. e
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Aplicação De Telhados Verdes Em Coberturas Pré-Existentes:


Casos De Obra
Italo Andrade Vasconcelos
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal-RN, Brasil, italo.chat@gmail.com

Eduardo Euler Batista de Araújo


Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal-RN, Brasil, eduardoeiler@gmail.com

Fagner Alexandre Nunes


Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal-RN, Brasil, fagneranfranca@gmail.com

Ada Cristina Scudelari


Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal-RN, Brasil, ada@ct.ufrn.br

RESUMO: O telhado verde surge como uma forte alternativa para mitigar alguns dos problemas
advindos do crescimento urbano, tendo como principal vantagem de poder ser utilizados em
coberturas pré-existentes. Entretanto, os escassos estudos de obras em que as coberturas originais
foram modificadas para o recebimento da cobertura vegetal, assim como o pouco conhecimento sobre
o seu processo construtivo e o sistema de construção utilizado motivaram o presente artigo, que tem
como principal objetivo apresentar uma revisão da literatura evidenciando a existência de obras nas
quais a opção de alterar a cobertura existente para uma que utilizasse o telhado verde. Para este artigo
foram pesquisadas quatro construções, duas localizadas no Brasil e duas internacionais. Mediante
este estudo, foi possível constatar que a adaptação dos telhados convencionais é possível e vem,
mesmo que de forma lenta, mostrando sua aplicabilidade.

PALAVRAS-CHAVE: Telhados verdes, Adaptação, Estudo de caso.

1 INTRODUÇÃO alternativa para amenizar os problemas térmicos


e hidrológicos advindos da rápida urbanização,
O aumento da população brasileira, sendo da buscando devolver a infiltração e a umidade que
ordem de quatro vezes a população existente no existia antes das construções, além da beleza
ano de 1950 (IBGE, 2017), vem acarretando em arquitetônica proporcionada por esse
uma intensa necessidade de desenvolvimento procedimento construtivo.
urbano como, por exemplo, o aumento de Com relação aos problemas na drenagem
moradias e vias pavimentadas. Porem, estas urbana os telhados verdes fazem com que uma
obras acarretaram em mudanças na temperatura, parcela da água precipitada seja mantida nos
por meio das ilhas de calor, e na drenagem poros do solo através das forças capilares ate que
urbana, tendo em vista que o solo anteriormente a mesma seja evaporada ou transpirada pela
permitia uma certa infiltração da água pluvial vegetação, diminuindo a parcela da água que iria
que foi perdida, ocasionando em alagamento nas ser escoada (Sims et al., 2016). Diminuindo
cidades, pois os sistemas para a drenagem urbana assim, a vazão de água escoada.
não são adequados para a nova vazão de água Estudos recentes, mostram que a depender do
escoada. substrato a cobertura vegetal pode atuar como
A cobertura vegetal, como também pode ser um filtro retendo metais pesados que poderiam
conhecido os telhados verdes, vem como uma ser prejudiciais a saúde humana, melhorando a
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qualidade da água escoada e não poluindo os opção de alterar a cobertura para uma que
córregos e os depósitos dessa água pluvial utilizasse o telhado verde foi empregada e que
(Castro, 2011 e Emilson, 2008). ainda se encontram em funcionamento. Com
O bom funcionamento da cobertura vegetal isso, tendo em vista a importância de se conhecer
na redução das ilhas de calor é devido a essa nova técnica construtiva, espera-se auxiliar
vegetação que exerce uma função de barreira na execução de novos projetos com essa
evitando que a radiação que é incidida na abordagem de alteração da cobertura original.
superfície da Terra atinja diretamente os Para este artigo foram pesquisadas quatro
edifícios. A radiação é absorvida pela vegetação construções, duas localizadas no Brasil
e é utilizada na fotossíntese, reduzindo a (Tubarão-SC e Granja Viana-SP) e duas
quantidade que seria incidida diretamente na internacionais (Universidade de Genova, na
estrutura, ocasionando um aumento de Itália, e no Estado de Michigan, nos Estados
temperatura (Paula, 2004). Consequentemente, Unidos).
com a redução da temperatura nas grandes
cidades ocorre uma redução nos gastos de 2 TELHADOS VERDES
energia elétrica e no custo do fornecimento de
água. Os telhados verdes são sistemas construtivos
Os telhados verdes possuem diversas com pouco uso em grande parte do Brasil, por
vantagens dentre elas é possível destacar a questões tanto culturais como devido a falta de
possibilidade de implementação em coberturas informação dos seus benefícios e a falta de mão
pré-existentes, não precisando de uma nova de obra especializada. Porém tem-se mostrado
construção civil para sua implementação, porem como uma ótima ferramenta para o controle
a capacidade de suporte da estrutura existente é térmico, acústico e com influencia direta na
um agravante da sua implementação, pois a drenagem urbana.
cobertura vegetal irá implicar em um aumento na
carga exercida na superestrutura, podendo assim 2.1 Histórico
ultrapassar a sua carga máxima suportada. Além
do fato do pouco conhecimento sobre esta Existe relatos do uso de cobertura vegetal em
técnica construtiva. 500 a.C. nos Jardins Suspensos da Babilônia,
Os autores Ohnuma et al. (2015) fizeram um correspondente ao atual estado do Iraque, como
levantamento dos artigos nacionais e ilustrado na Figura 1 (Krebs, 2005).
internacionais sobre telhados verdes publicados
em mais de 70 revistas cientificas entre os anos
de 2001 á 2014 e concluíram que a evolução das
pesquisas com telhados verdes é impressionante,
principalmente no ano de 2010 aonde chegou a
marca de 60% do total das pesquisas dentre este
intervalo, porem o a América do Sul era um dos
continentes que menos pesquisava sobre o tema,
perdendo apenas para a Oceania.
O pouco conhecimento dos telhados verdes se
restringe ainda mais quando se busca saber sobre Figura 1 – Jardim Suspenso da Babilônia.
obras, na literatura, que utilizaram a adaptação Fonte: Portal São Francisco, 2017.
de coberturas existentes para a cobertura vegetal,
Os telhados verdes mais antigos que se tem
principalmente no Brasil. Mediante tal fato, o
registros está localizado na Escandinávia, sendo
presente artigo tem como principal objetivo
este tipo de construção unanime naquela região
apresentar uma revisão da literatura
desde a idade média ate o final do século XVIII
evidenciando a existência de obras nas quais a
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(Minke, 2004). podendo ser executado tanto em telhados planos


A utilização dos telhados verdes como como inclinados, com vegetação de pequeno
instrumento arquitetônico foi oriundo da porte e requer menor manutenção quando
Alemanha nos anos 1880. Sendo este país líder comparado com os telhados intensivos (Britto,
na utilização de telhado verde. Além de ter 2001).
estudos mais avançados na construção de A Tabela 1 evidencia as características de
telhados modernos (Dimitrijevic et al., 2016). cada tipo de telhado, permitindo uma fácil
Em 1920, o arquiteto Le Corbusier diferenciação entre os dois tipos (Adaptado de
implementou o conceito de terraço Jardim, Dimitrijevic, 2016).
impulsionando a arquitetura da época. A ideia
proposta era transformar as coberturas em Tabela 1 – Características do tipo de telhado verde.
terraços habitáveis com finalidade de lazer, Extensivo Intensivo
Espessura do
aproveitando assim, um espaço que não seria 10 - 15 10 – 200
solo (cm)
utilizado (Louzada, 2016 apud Ferraz, 2012). Altura da
Porem esse procedimento construtivo só foi 5 – 30 30 – 90
vegetação (cm)
implementado no Brasil no ano de 1943 na Irrigação Não Regular
cidade do Rio de Janeiro (Figura 2), projetado Maior
por Roberto Burle Marx e contou com o famoso Comunidades de variedade e
Pequeno porte
plantas larga gama de
arquiteto Oscar Niemayer como estagiário espécie
(Krebs, 2005). Parques,
Camada de
Jardins, permite
Utilização proteção sem
o trafego de
acessibilidade
pessoas.
Baixa ou
Inclinação do
Até 30 graus nenhuma
telhado
inclinação

2.3 Estrutura da cobertura vegetal

A composição dos telhados verdes consiste,


basicamente, de quatro camadas fundamentais:
Vegetação, solo, filtro, material drenante e
Figura 2 – Jardim suspenso no Rio de Janeiro.
Fonte: Krebs (2005).
camada impermeabilizante (Feitosa e Wilkinson,
2016).
2.2 Classificação
2.3.1 Vegetação
Os telhados verdes são comumente divididos em
dois grandes grupos, intensivos e extensivos, os A vegetação é um item importante para a
quais levam em consideração o tipo de vegetação composição dos telhados verdes pois ela quem
utilizado, a espessura do substrato e a terá o maior contato com o meio, sendo capaz de
necessidade de manutenção. suportar as adversidades climáticas a qual seja
A cobertura vegetal intensiva refere-se submetida.
aquelas em que o substrato tem espessura de A vegetação tem que ser bastante resistente
aproximadamente 20 cm e pode ser composto em climas secos, deve possuir raízes leves e com
por vegetação de pequeno a grande porte (Britto, ótima cobertura lateral, mediante isto, Farrell et
2001). al. (2012) estudou diversos tipos de vegetação e
O telhado extensivo, por sua vez, possui uma a que obteve melhores respostas as diversidades
menor camada de substrato (cerca de 10 cm), climáticas e uma boa absorção de água foi a
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vegetação do gênero Sedum. Conforme Butler um material drenante de pequena espessura,


(2012) estas características se deve a elevada comumente conhecido como geocomposto, esse
suculência das folhas e sua alta capacidade de material tem a capacidade de ser leve e flexível,
adaptação fisiológica. características importantes para a adaptação de
telhados existentes.
2.3.2 Solo

O substrato deve ser projetado de maneira que


possa fornecer a vegetação água e nutrientes
necessários para sua vida útil.
Para um substrato ser considerado ideal para
o uso em telhados verdes, ele deve conter uma
boa aeração e uma baixa densidade aparente,
para que possa garantir a livre drenagem da água Figura 3 – Drenagem em cobertura vegetal.
infiltrada e que seja leve para não sobrecarregar Fonte: Conservation Technology, 2008.
de forma inadequada a superestrutura (Farrell et
al., 2012). Para a adaptação do telhado existente 2.3.5 Camada impermeabilizante
é fundamental que escolha o solo adequado e que
não implique na estrutura antiga um peso que A camada impermeabilizante serve para proteger
possa danificá-la. a estrutura que fornece o suporte ao telhado
verde da água que venha a infiltrar nas camadas
2.3.3 Filtro da cobertura vegetal.
A cobertura vegetal, seja ela em uma estrutura
O material que exerce a função de filtro nos nova ou adaptada, está em sua grande maioria
telhados verdes, ou seja, que retém grande parte localizada sobre uma laje de concreto, que, por
das partículas solidas e permite a passam de água sua vez, deve evitar o contato frequente com a
com pequenas partículas de sólidos de modo que água e a humidade proveniente da cobertura
a estrutura se mantenha estável é atribuído ao vegetal, deste modo, é comum a utilização da
geotêxtil, seja ele tecido ou não tecido geomembrana após a camada de drenagem para
(Wilkinson e Feitosa, 2015; Carter e Rasmussen, que evite este contato intimo do fluido com a laje
2007; Seidl et al., 2013). da superestrutura.

2.3.4 Material drenante


3 CASOS DE ADEQUAÇÃO DOS
Existem diversos tipos de configurações para a TELHADOS CONVENCIONAIS.
drenagem em telhados verdes, podendo ser
realizada de material granular (brita, areia ou Nesta seção será abordado quatro casos em que
argila expandida) ou de materiais poliméricos três deles foi uma adequação de uma cobertura
como o geotêxtil, geomanta, georrede e anteriormente existente para uma cobertura
geoespaçadores. vegetal, e um deles consistiu em um projeto de
Conforme a Conservation Technology (2008) adequação da cobertura vegetal, sem sua
a drenagem em telhados verdes é dividida em implementação ate o presente dia.
três tipos (Figura 3): Drenagem em placas, que Das quatro construções duas delas situam-se
são geoespassadores onde é permitida a no Brasil (Tubarão-SC e em Granja Viana-SP) e
drenagem apenas na parte inferior. Drenagem duas internacionais (Universidade de Genova, na
tipo granular onde a drenagem ocorre por uma Itália, e no Estado de Michigan, nos Estados
camada leve, inorgânica e granular. O tapete de Unidos). Sendo a obra localizada em Santa
drenagem que consiste na união do geotêxtil com
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Catarina consiste apenas de um projeto de raiz, camada para proteção mecânica, camada
adequação. drenante, filtro, substrato e a vegetação do tipo
grama esmeralda. As divisões podem ser
3.1 Colégio Dehon (Duarte, 2017) observadas conforme ilustrada na Figura 5
(Duarte, 2017).
O colégio está situado na cidade de Tubarão no
Estado de Santa Catarina e foi fundado no ano de
1947 pelos padres dehonianos, dando assim,
origem ao nome do colégio. Buscando uma
edificação sustentável a Universidade do Sul de
Santa Catarina elaborou um projeto, para a
adequação e melhoria da estrutura existente.
Mediante tal fato, foi proposto a adequação da
cobertura cerâmica do bloco das salas de aulas
(Figura 4) para o uso do telhado verde.

Figura 5 – Divisão da cobertura vegetal.


Fonte: Duarte, 2017.

Para a impermeabilização foi projetada a


utilização de uma manta asfáltica, ela deve ser
aplicada em toda a cobertura de modo que ela
preencha toda a superfície e suba nas beiradas até
uma altura de 40 cm. Esta camada é
imprescindível para a vida útil da estrutura, de
modo que não é aceito nenhum tipo de
Figura 4 – Cobertura das salas de aulas. infiltração.
Fonte: Duarte, 2017.
A camada antirraiz foi projetada para ser de
A cobertura que viria a ser modificada PVC e tem a função primordial de proteger a
compreende uma área de aproximadamente camada impermeabilizante das supostas raízes
1688,76 m2 a qual foi projetada para ser um que venha a passar por todas as camadas
grande jardim com plantas de pequeno porte, de sobrejacentes.
modo que venha permitir uma interação A camada de proteção mecânica possui
interpessoal e melhorando o bem-estar dos formato de copos plásticos com reentrâncias na
estudantes (Duarte, 2017). superfície superior para uma melhor captação de
Inicialmente foi feita uma avaliação da água, aumentando assim a capacidade de
capacidade de suporte da estrutura existente, retenção dos telhados verdes (Duarte, 2017).
buscando verificar se a estrutura existente seria A drenagem é feita com uma camada de 7 cm
capaz de suportar o peso da cobertura vegetal, de espessura de argila expandida, que tem como
em seguida, foi proposta a retirada de toda a função primordial drenar o excesso de água que
estrutura do telhado cerâmico, tendo o telhado passou pelo filtro de geotêxtil feito de poliéster.
verde executado sobre a laje de suporte da O substrato tem a espessura de 10 cm,
cobertura. constituinte de um solo adubado, que não
No projeto, foi utilizado um sistema contenha muitos nutrientes devido ao fato que o
construtivo continuo, que consiste em aplicar os crescimento rápido da vegetação não é algo
elementos do telhado verde sobre a base aconselhável para o tipo de cobertura existente.
impermeabilizada. A estrutura possui a laje A vegetação está projetada para receber a
existente, camada impermeável, membrana anti- grama esmeralda (Zoyzia Japonica) com uma
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altura máxima de 10 cm, o tipo de telhado


projetado é o extensivo, não necessitando de uma Os dados do projeto não foram
manutenção regular e devido ao fato da estrutura disponibilizados pelo empreendedor por se tratar
não suportar o peso de solo além do projetado. de uma tecnologia própria, porem é possível
Na Figura 6 é possível observar o projeto da observar, de forma superficial, o procedimento
estrutura elaborado por Duarte (2017). executivo na Figura 8 e Figura 9 (Figueiredo,
2012). A vegetação é do tipo rasteira e o telhado
verde é do tipo extensivo, não permitindo a
locomoção intensa de pessoas.

Figura 6 – Projeto da cobertura do Colégio Dehon.


Fonte: Duarte, 2017.

3.2 Casa container (Figueiredo, 2012)

A casa container esta localizada no distrito de Figura 8 – Container antes da reforma.


Granja Viana-SP e consiste de um projeto Fonte: Figueiredo, 2012.
paisagístico proposto pelo arquiteto Danilo
Corbas. A obra teve inicio no ano de 2009 com
o termino da execução no ano de 2010.
A casa é composta por três containers com
12m de comprimento; 2,60 de altura e 2,44 de
largura. A região a qual foi implantada a
cobertura vegetal corresponde ao jardim da
residência (Figura 7), conferindo um conforto
térmico e acústico para o primeiro andar
(Figueiredo, 2012).

Figura 9 – Casa container com a obra finalizada.


Fonte: Figueiredo, 2012.

3.3 Edifício do serviço publico (Lindow e


Michener, 2007)

O empreendimento está localizado na cidade de


Battle Creek no estão de Michigan nos Estados
Unidos, a obra foi construída no ano de 1986,
Figura 7 – Containers utilizados. porem foi julgada no fim da sua vida útil,
Fonte: Figueiredo, 2012.
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levando a elaboração do projeto no ano de 2004 auxiliar na condução da água pluvial para os
com inicio da execução no ano de 2005. drenos, como pode ser observado na Figura 12.
A cobertura possuía uma área de 1760 m2 e o
custo total para a revitalização da cobertura foi
estimado em 560 mil dólares.
A cobertura inicial (Figura 10) mostrou ser
uma ótima candidata para receber o telhado
verde, tendo em vista que a laje de concreto
armado teria capacidade suficiente para suportar
e transferir o excesso de sobrecarga advinda da
cobertura vegetal, pois esse é um fator
primordial para fazer uma adequação de um Figura 11 – Estrutura da cobertura utilizada.
telhado convencional. Fonte: Adaptado de Lindow e Michener, 2007.
Entretanto, em uma análise da estrutura, foi
detectado uma secção metálica de 42m x 10m,
correspondente a 25% da área total da cobertura,
que não iria suportar a sobrecarga do telhado
verde. Após varias estratégias, foi decidido
substituir essa seção por uma com maior
resistência e espessura e que fosse capaz de
suportar os 488 kg/m2 provenientes da cobertura
vegetal.

Figura 12 – Projeto da cobertura modificada.


Fonte: Adaptado de Lindow e Michener, 2007.

O filtro utilizado foi o geotêxtil não tecido,


seguidos de uma camada de brita para o auxilio
da drenagem.
A camada antirraiz é constituída de
polietileno de alta densidade (PEAD), de modo a
auxiliar na impermeabilização e servir como
barreira para as raízes.
Figura 10 – Cobertura antiga.
O etileno-polipropileno-dieno foi utilizado
Fonte: Adaptado de Lindow e Michener, 2007. como polímero para a impermeabilização da
cobertura que viria a ser modificada, está
A nova cobertura desenvolvida é dividida em membrana foi escolhida devido ao fato de ter um
seis camadas, como pode ser observado na período de vida útil de 30 anos conforme o
Figura 11. fabricante (Lindow e Michener, 2007).
A vegetação é foi constituía de pequeno porte Após 1 ano de construção, o resultado final da
do gênero Sedum, sendo trazidas em rolos e obra pode ser observado na Figura 13.
lançada no telhado, conforme o projeto.
A cobertura vegetal possuía partes intensivas 3.4 Universidade de Genova (Palla et al., 2010)
que eram contidas com seixos e parte extensivas
que eram contornadas por britas de modo a A cobertura do laboratório de Engenharia
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Ambiental da Universidade de Genova, que está logo após o substrato.


localizada no sudoeste da Itália, foi revitalizada Na Figura 14 é possível observar a obra
no ano de 2007. Foi proposta uma nova finalizada.
cobertura, tendo em vista que a cobertura antiga
foi concebida no ano de 1969.

Figura 14 – Cobertura atual da Universidade de Genova


Fonte: Palla et al., 2010

Figura 13 – Cobertura nos dias atuais. AGRADECIMENTOS


Fonte: Lindow e Michener, 2007.
Agradeço aos meus orientadores, Professor
A cobertura é dividida em: vegetação, substrato, Fagner Alexandre Nunes e Ada Cristina
camada filtrante, camada drenante e uma Scudelari.
superfície para proteção. Aos meus colegas de trabalho e a todos que
A vegetação é feita do tipo Sedum, sendo ajudaram direta e indiretamente nessa pesquisa.
rasteira e possui uma área de extensão de 350m2
Foi realizado um estudo experimental para
obtenção da melhor configuração de substrato ( REFERÊNCIAS
20 cm) para as condições locais. A melhor
configuração para o substrato foi de 16% de Britto C.C.; Análisis de la Viabilidad y Comportamiento
matéria orgânica e 84% de material vulcânico, Energético de la Cubierta Plana Ecológica. 2001. Tese
tendo dois tipos de configurações de materiais (Doutorado em Construção e Tecnologia
vulcânicos constados como ótimos, logo, foi Arquitetônicas) - Departamento de Construção e
Tecnologia Arquitetônicas. Escola Técnica Superior de
executado metade do telhado com 70% de Arquitetura. Universidade Politécnica de Madrid.
pedregulho e 30% de pedra-pomes e na outra Madrid, Espanha.
metade o material vulcânico consistiu de 70 % Butler, C., 2012. Ecology and Physiology of Green
de pedregulho, 20% de pedra-pomes e 10 % de Roof Plant Communities. Tufts University, Medford,
material zeólito. MA
Carter, Timothy L.; RASMUSSEN, Todd C.
A camada de filtro foi elaborada de geotêxtil HYDROLOGIC BEHAVIOR OF VEGETATED
com gramatura de 100 g/m2, ficando na interface ROOFS1. Jawra Journal Of The American Water
entre o substrato e a camada de drenagem. A Resources Association, [s.l.], v. 42, n. 5, p.1261-
camada de proteção foi elaborada com geotêxtil 1274, 8 jun. 2007. Wiley-Blackwell.
de gramatura de 300 g/m2 e está localizado entre Castro, Andrea Souza. Uso de pavimentos permeáveis e
coberturas verdes no controle qualiquantitativo
a estrutura do telhado e a laje, sua função é do escoamento superficial urbano. 2011. 161 f.
diminuir peso da estrutura da cobertura vegetal. Tese (Doutorado) - Curso de Recursos Hídricos e
A camada de drenagem é constituída de Saneamento Ambiental, Ufrgs, Porto Alegre, 2011.
pedregulho de espessura de 20 cm e está situada Conservation technology (Sl). GREEN ROOF
SYSTEMS. 2008. Disponível em:
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
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Avaliação da Densidade Real das Partículas de Materiais


Geotécnicos Expostos a Ataque Ácido
Rafael de Souza Tímbola
Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Brasil, rafaeltimbola@hotmail.com

Suéllen Tonatto Ferrazzo


Universidade Federal da Fronteira Sul, Erechim, Brasil, suellenferrazzo@hotmail.com

Lucimara Bragagnolo
Universidade Federal da Fronteira Sul, Erechim, Brasil, lucimarabragagnolo@hotmail.com

Elvis Prestes
Universidade Federal da Fronteira Sul, Erechim, Brasil, prestes.elvis@gmail.com

Eduardo Pavan Korf


Universidade Federal da Fronteira Sul, Erechim, Brasil, eduardo.korf@uffs.edu.br

Pedro Domingos Marques Prietto


Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Brasil, pdmp@upf.br

Gean Delise Leal Pasquali Vargas


Universidade Federal da Fronteira Sul, Erechim, Brasil, geandelise@uffs.edu.br

RESUMO: A exposição de materiais geotécnicos à lixiviados ácidos pode afetar sua estrutura e
comprometer sua funcionalidade. Na literatura, existem relatos de alterações físico-químicas de
diferentes geomateriais quando expostos à ação de contaminantes, porém, necessita-se de estudos
sobre as alterações resultantes do ataque ácido nas propriedades das partículas destes materiais em
estado puro. Assim, este trabalho buscou avaliar as alterações na densidade de partículas de solo
residual de basalto, areia fina quartzona uniforme, caulim e bentonita, expostos a ataque ácido.
Realizou-se ensaios em batelada, para cada material, nas concentrações de H2SO4 de 0,00, 0,01 e
1,00 mol/L. Após, determinou-se a densidade real das partículas de cada amostra. Verificou-se que
o ataque ácido causou alterações nas densidades, da maior para a menor variação, da bentonita, do
solo de basalto e do caulim , sendo que nos dois primeiros materiais, a concentração de 1,00 mol/L
provocou incrementos de 10,68 e 10,18 %, respectivamente.

PALAVRAS-CHAVE: solo, ácido sulfúrico, alterações físicas, densidade real das partículas.

1 INTRODUÇÃO alterações estruturais e da floculação de


partículas, reduzindo o poder reativo do solo.
A estrutura dos solos pode ser afetada pela Ao longo do tempo, estas consequências podem
percolação de águas ácidas provenientes da comprometer a estrutura e a funcionalidade de
lixiviação de resíduos industriais e de materiais geotécnicos em sistemas de
mineração. Tal fato pode resultar no aumento da revestimentos de aterros de disposição de
condutividade hidráulica em função de resíduos e conduzir à contaminação do solo e
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das águas subterrâneas (Hueckel; Kaczmarek; materiais, em seu estado puro. Dentre as
Carmuscio, 1997; Knop et al., 2008; propriedades físicas dos solos importantes ao
Agbenyeku; Muzenda; Msibi, 2016b). Por conta entendimento da ação do ataque ácido, pode-se
disso, torna-se importante compreender o destacar a densidade das partículas. A referida
comportamento de geomateriais quando propriedade é importante para a determinação
expostos à ambientes agressivos como o contato da porosidade e razão de vazios (Schjonning et
com soluções ácidas, orgânicas ou de sulfatos al., 2017) e exerce influência sob a capacidade
(Verástegui-Flores e Di Emidio, 2014). de transporte de substâncias químicas no solo
Dentre os principais geomateriais (Mesquita e Moraes, 2004).
disponíveis para utilização em sistemas de Este trabalho busca, portanto, avaliar as
revestimento de aterros, podem-se destacar: alterações na densidade das partículas de
solos residuais argilosos, areias, caulim e diferentes materiais geotécnicos expostos ao
bentonita. Estes materiais são relativamente ataque ácido.
abundantes na região de estudo e apresentam
boas propriedades hidráulicas e geotécnicas
quando compactados, com exceção da areia, 2 METODOLOGIA
que para a aplicação pretendida, somente pode
ser utilizada em misturas com materiais 2.1 Materias
argilosos. Os solos argilosos compactados, além
da baixa condutividade hidráulica, apresentam Os materiais abordados neste estudo e as
potencial de atenuação de contaminantes devido respectivas denominações adotadas foram: areia
à alta capacidade de adsorção (Agbenyeku; fina de Osório (AFO), solo residual de basalto
Muzenda; Msibi, 2016a). (SRB), caulim (CAU) e bentonita (BEN). A
A bentonita é uma argila muito utilizada em areia foi coletada em uma jazida localizada no
associação com outros solos, em revestimentos município de Osório, estado do Rio Grande do
de fundo de aterros devido à baixa Sul (RS), Brasil e conforme a NBR 6502
condutividade hidráulica, capacidade de (ABNT, 1995) e o Sistema Unificado de
expansão ao adsorver moléculas de água e pela Classificação de Solos (SUCS) - D 2487/1993,
capacidade de troca catiônica (Koch, 2002; é caracterizada como uma areia fina, limpa e de
Morandini e Leite, 2015; Ghadr e Assadi- granulometria uniforme.
Langroudi, 2018). Já o caulim é um mineral O solo argiloso foi coletado no Campo
presente em muitas argilas naturais, sendo Experimental do Centro Tecnológico de
utilizado como um material geotécnico devido à Engenharia Civil, Ambiental e Arquitetura
características como: mineralogia consistente e (CETEC) da Universidade de Passo Fundo
uniforme, baixa reatividade química, (UPF), localizado no município de Passo Fundo
capacidade de troca de cátions e baixa - RS. O solo deste local é do tipo residual
condutividade hidráulica (Kau; Smith; Binning, homogêneo, proveniente da decomposição de
1998; Yukselen-Aksoy e Reddy, 2013). rochas basálticas (ígneas) e de arenitos
Na literatura, são relatados muitos estudos (sedimentares) (RUVER, 2011). De acordo com
acerca das alterações físico-químicas e de Streck et al. (2008), a classificação pedológica
comportamento hidráulico de diferentes da unidade de Passo Fundo é de um Latossolo
misturas de materiais geotécnicos quando Vermelho Distrófico Húmico. Já o SUCS - D
expostos à ação dos mais diversos tipos de 2487/1993, considerando o elevado teor de
contaminantes. Entretanto, ainda existem argila e os limites de consistência deste solo, o
questões a serem resolvidas, especialmente classifica como CL (argila de baixa a alta
relacionadas as alterações resultantes do ataque liquidez).
ácido nas propriedades das partículas destes
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O caulim foi adquirido de uma fornecedora solução ácida foram colocados em um agitador
de produtos minerais localizada no município horizontal, em agitação contínua por 24 horas,
de Pântano Grande - RS. O caulim é sob 215 rotações por minuto e temperatura de
comercialmente conhecido como “caulim rosa” 22 ± 5°C (ASTM D4646 – 03). Ao fim do
e segundo o SUCS - D 2487/1993, é processo de agitação, as amostras foram
classificado como ML (silte inorgânico de baixa decantadas e centrifugadas para separação das
plasticidade). fases sólida e líquida. A centrifugação das
Nesta pesquisa, utilizou-se a bentonita sódica amostras foi realizada em 3000 rpm/min,
de coloração branca, obtida de um fornecedor durante 10 min (Nascentes, 2006). O material
de minérios de Soledade, no estado da Paraíba sólido resultante foi acondicionado em cápsulas
(PB), Brasil. Segundo a NBR 6502 (ABNT, de porcelana e seco em estufa, à temperatura
1995), a bentonita é uma argila com alto teor constante de 40 a 50 ºC, até constância de
mineral de montmorilonita e caracteriza-se por massa.
sua elevada expansibilidade ao ser umedecida. Após, determinou-se a densidade das
Pelo SUCS - D 2487/1993, a bentonita partículas dos materiais ensaiados, seguindo a
classifica-se como CH (argila inorgânica de alta metodologia da norma técnica DNER-ME
plasticidade). 093/94 (DNER, 1994), e avaliou-se os
resultados por meio da aplicação de estatística
2.2 Métodos descritiva.

As amostras dos materiais foram preparadas


conforme a NBR 6457 (ABNT, 2016). Para 3 RESULTADOS
simular o ataque ácido aos materiais foram
realizados ensaios de batelada adaptados da A Tabela 1 apresenta os resultados da densidade
metodologia de ensaios de batelada da Norma real das partículas da areia, sob diferentes
D4646 – 03 (ASTM, 2008) e da metodologia de tratamentos. Pode-se observar que este material
ensaios de dissolução realizados por Cama et al. não sofreu alteração, quando em contato com a
(2002) e Bibi et al. (2014). Como variáveis, solução ácida. Seguindo da menor concentração
foram estudadas diferentes concentrações de (0,00 mol/L), intermediária (0,01 mol/L) e
ácido sulfúrico em solução, sendo elas 0,00 maior concentração (1,00 mol/L) a densidade
mol/L (pH da água destilada), 0,01 mol/L (pH relativa resultante foi de 2,55, 2,54 e 2,54,
2) e 1,00 mol/L (pH 0), e diferentes materiais: respectivamente. O coeficiente de variação dos
AFO, SRB, CAU e BEN. O Software Minitab®, tratamentos, entre os extremos ácidos,variou
Versão 18, foi utilizado para planejar os entre 1,77 % e 3,31 % . Provavelmente, o
ensaios, adotando-se como base inicial um quartzo, maior parcela da composição do
projeto fatorial com duas variáveis (tipo de material, foi atacado pelo contaminante ácido,
material e concentração do ácido), com quatro com faixa de pH adotada neste estudo, ao ponto
níveis para os materiais e três níveis para as de provocar variação de massa e/ou volume das
concentrações de ácido, totalizando 36 ensaios amostras. Este comportamento é esperado, uma
resultantes das 12 combinações em triplicata. vez que, segundo Knauss e Wolery (1988), as
O ensaio de batelada iniciou pela inserção taxas de dissolução do quartzo são mais
das amostras de cada material em um balão de acentuadas a partir do pH 8,00.
Erlenmeyer de 2000 mL na proporção de 1 parte
do solo para 20 de solução (EMBRAPA, 1997;
ASTM D4646 – 03), ficando imersas na solução
diluída de ácido sulfúrico, expostas ao ataque
ácido. Os Erlenmeyers com as amostras em
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Tabela 1. Densidade real das partículas de AFO sob Tabela 2. Densidade real das partículas de SRB sob
diferentes tratamentos de ataque ácido. diferentes tratamentos de ataque ácido.
Medidas de Medidas de
Tratament dispersão Tratament dispersão
Ensaio D20 Ensaio D20
o D.P C.V. o D.P C.V.
Média Média
. (%) . (%)
2,5 2,5
1 1
1 9
2,6 0,0 2,5 0,0
0,00 mol/L 2 2,55 1,77 0,00 mol/L 2 2,56 1,03
0 5 5 3
2,5 2,5
3 3
5 4
2,5 2,5
1 1
8 7
0,01 2,4 0,0 0,01 2,6 0,0
2 2,54 3,31 2 2,57 2,14
mol/L 4 8 mol/L 3 6
2,5 2,5
3 3
9 2
2,5 Medidas de
1
3 Tratament dispersão
Ensaio D20
2,4 0,0 o D.P C.V.
1,00 mol/L 2 2,54 2,38 Média
8 6 . (%)
2,6 2,9
3 1
0 1
*
D20: Densidade do material a 20 °C; DP: Desvio Padrão; 2,8 0,0
1,00 mol/L 2 2,85 2,00
CV: Coeficiente de Variação. 0 6
2,8
3
Pode-se observar na Tabela 2 que a 3
*
D20: Densidade do material a 20 °C; DP: Desvio Padrão;
densidade das amostras de solo residual de CV: Coeficiente de Variação.
basalto variou conforme o tratamento, onde
houve incremento no valor da densidade da A Tabela 3 apresenta os resultados de
amostra ‘branco’ (tratamento de 0,00 mol/L) em densidade real das partículas de caulim, bem
relação as dos demais tratamentos. A diferença como as medidas de disperção, onde é possível
no acréscimo de densidade entre a menor notar um incremento no valor da densidade
concentração (0,00 mol/L) e o extremo ácido conforme o acréscimo de ácido. A diferença de
(1,00 mol/L) foi de 10,18 %, demonstrando que acréscimo no valor da densidade entre o
este material tende a ser atacado pela solução ‘branco’ e o extremo ácido é de 1,60 %. Mesmo
ácida mais concentrada, visto que para aumentar menor em relação ao acréscimo observado no
a densidade, o material provavelmente tenha solo residual de basalto, essa variação foi
perdido massa. Já para a concentração percebida também com a concentração
intermediária (0,01 mol/L), o acréscimo na intermediária (0,01 mol/L) que foi de 0,40 %. O
densidade foi pouco expressivo (0,39 %), coeficiente de variação dos tratamentos variou
indicando que o somente o extremo ácido ataca entre 0,47 % e 3,00 % para o tratamento de
as partículas ao ponto de variar sua densidade. concentração ácida inferior e superior,
O coeficiente de variação dos tratamentos respectivamente. Segundo Brady e Walther
extremos variou entre 1,03 a 2,00 % (1989), a dissolução de um grande número de
silicatos, material predominante na amostra de
caulim, permite a estimativa das taxas de
dissolução entre o pH 5 e 12. Provavelmente, a
faixa ácida adotada nesta pesquisa, não acarreta
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na dissolução ou modificação estrutural Tabela 4. Densidade real das partículas de BEN sob
expressiva nas amostras de caulim. diferentes tratamentos de ataque ácido.
Medidas de
Tratament dispersão
Tabela 3. Densidade real das partículas de CAU sob Ensaio D20
o D.P C.V.
diferentes tratamentos de ataque ácido. Média
. (%)
Medidas de
2,5
Tratament dispersão 1
Ensaio D20 3
o D.P C.V.
Média 2,5 0,0
. (%) 0,00 mol/L 2 2,51 1,88
5 5
2,4 2,4
1 3
5 6
2,4 0,0 2,4
0,00 mol/L 2 2,46 0,47 1
5 1 8
2,4 0,01 2,4 0,0
3 2 2,48 0,00
7 mol/L 8 0
2,4 2,4
1 3
6 8
0,01 2,4 0,0 2,7
2 2,47 1,30 1
mol/L 5 3 3
2,5 2,9 0,0
3 1,00 mol/L 2 2,81 3,31
1 1 9
2,4 2,7
1 3
6 8
2,5 0,0 *
1,00 mol/L 2 2,50 3,00 D20: Densidade do material a 20 °C; DP: Desvio Padrão;
9 8
CV: Coeficiente de Variação.
2,4
3
6
*
D20: Densidade do material a 20 °C; DP: Desvio Padrão; Considerando que a densidade das partículas
CV: Coeficiente de Variação. do solo está relacionada com a composição
mineralógica e da matéria orgânica, ela é
A densidade das partículas de bentonita também portanto, uma propriedade intrínseca à
sofreram incremento quando comparado as composição das partículas do solo (Reichert e
concentrações extremas dos tratamento, Reinert, 2006; Ruhlmann, Korschens e Graefe,
conforme resultados apresentados na Tabela 4. 2006). Sendo assim, acredita-se que as
A diferença no acréscimo de densidade entre a alterações observadas nas densidades das
concentração 0,00 mol/L e o extremo ácido partículas dos materiais geotécnicos deste
(1,00 mol/L) foi de 10,68 %, indicando que o estudo, principalmente na bentonita e no solo de
material tende a ser mais atacado pela solução basalto, representam um indicativo de
ácida, se comparado a areia e o caulim. Já para mudanças nas suas composições químicas e
a concentração intermediária (0,01 mol/L), a mineralógicas oriundas do ataque ácido.
densidade diminuiu pouco, na ordem de 1,19
%. Ainda, vericou-se que o coeficiente de
variação dos tratamentos variou entre 1,88 % a 4 CONCLUSÕES
3,31 %.
A densidade das amostras de areia não sofreu
alteração quando em contato com diferentes
concentrações de solução ácida, onde da menor
a maior concentração, a densidade relativa
resultante foi de 2,55, 2,54 e 2,54,
respectivamente. Acredita-se que este resultado
deve-se em função do quartzo não ser atacado
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Avaliação da Erodibilidade do Solo de Característica Não


Laterítica Sob o Enfoque Geotécnico nas Margens da TO-222 no
Município de Araguaína - TO.
Glacielle Fernandes Medeiros
UNITPAC, Araguaína – TO, Brasil, medeiros.agrimensura@gmail.com

Renata de Morais Farias


UNITPAC, Araguaína – TO, Brasil, renatafariasmorais@gmail.com

Palloma Borges Soares


UNITPAC, Araguaína - TO, Brasil, pallomaborges24@gmail.com

Ana Sofia Oliveira Japiassu


UNITPAC, Araguaína – TO, Brasil, asojapiassu@gmail.com

Andressa Fiuza de Souza


UNITPAC, Araguaína – TO, Brasil, andressafiuza@outlook.com

Igor Guimarães Matias


UNITPAC, Araguaína – TO, Brasil, igorgmatias@outlook.com

RESUMO: A erodibilidade do solo compreende-se na integração de um conjunto de processos que


estabelecem o transporte de partículas, a infiltração de água e a resistência do solo à desagregação.
Neste sentido, o presente estudo tem como finalidade a análise da erodibilidade e da suscetibilidade
à erosão do solo localizado nas proximidades da rodovia TO-222 na região de Araguaína – TO,
sendo que para sua escolha levou-se em consideração a ausência de cobertura vegetal e a alta
inclinação do talude. Desta forma, a metodologia utilizada consiste na realização de revisão
bibliográfica e ensaios geotécnicos indiretos, que são os ensaios de granulométria, massa específica,
limite de liquidez e limite de plasticidade para caracterizar o solo local, além de ensaio de Pastilha
com a finalidade de classificar os solos tropicais. E ensaios geotécnicos diretos, que são os ensaios
de Desagregação, Inderbitzen e Crumb Test para identificar o grau de erodibilidade.

PALAVRAS-CHAVE: Erodibilidade, Erosão, Ensaios geotécnicos.

1 INTRODUÇÃO perda de solos férteis. Esta perda de solo


também é provocada por fatores topográficos,
É fato que o crescente desenvolvimento da de cobertura vegetal, estruturais mineralógicos e
sociedade e a interferência humana no meio hidrológicos.
físico, pode ocasionar ou agravar os processos Nesse sentido, o presente estudo tem como
erosivos, resultando em uma sucessão de finalidade analisar e determinar a
impactos ambientais, sociais e econômicos, suscetibilidade erosiva do solo, que está
dentre os quais estão: assoreamento de cursos localizado em uma área no quilômetro 134 da
de água, deslizamentos em áreas de risco e rodovia TO-222 na região de Araguaína – TO, a
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partir da aplicação de um conjunto de em formato de anfiteatro é ocasiona pela perda


procedimentos e ensaios geotécnicos diretos e de linearidade, tornando-se mais concentrada, o
indiretos. Por meio dos resultados obtidos, foi que gera a queda de blocos decorrentes de
possível caracterizar o solo e definir a sua instabilizações de taludes (CARVALHO et al.,
resistência frente aos processos erosivos. 2006).
Nesse contexto, um dos parâmetros que
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA afetam a suscetibilidade de um solo aos
processos erosivos é a erodibilidade, que se
Segundo Carvalho et al. (2006) a erosão é um compreende na integração de um conjunto de
processo natural na formação da paisagem, processos que estabelecem o transporte de
sendo responsável pelo desprendimento e partículas, a infiltração de água e a resistência
carreamento das partículas dos solos, por meio do solo à desagregação, estes processos são
da ação das águas, dos ventos e do gelo, influenciados pelas propriedades do solo, como
características do relevo e atividade biológica. a distribuição do tamanho das suas partículas, o
Vitte e Mello (2007) salientam que a erosão conteúdo de matéria orgânica, a estabilidade
é classificada como normal, no momento em estrutural e a natureza dos minerais de argila
que se verifica o equilíbrio entre os processos (BASTOS, 2004).
de formação do solo e seu desgaste. Quando A erodibilidade de um solo pode ser
ocorre a ruptura deste equilíbrio por meio da analisada por meio da correlação com os
intervenção do homem, os processos erosivos ensaios indiretos de índices físicos, que
ocorrem de forma mais acentuada, dando exercem uma função significativa no estudo das
origem a uma erosão classificada como propriedades dos solos. Molinero Júnior et al.
acelerada ou antrópica, que impossibilita a (2011) relatam em seu trabalho a avaliação da
recuperação natural do solo. erodibilidade seguindo como referência os
Carvalho et al. (2006) relaciona a erosão em limites de consistência dos solos, por
quatro grupos, conforme os agentes erosivos: intermédio da divisão da carta de plasticidade
erosão hídrica, eólica, glacial e organogênica, em três zonas de erodibilidade (Figura 1), sendo
sendo que no Brasil, devido ao clima tropical, a elas: baixa, média e alta.
erosão hídrica é conhecida como o tipo mais
comum de erosão, pois é decorrente da ação
dinâmica da água (chuva, rios ou ondas). Esta
pode ser ocasionada tanto pelo impacto das
gotas de chuva quanto pelo escoamento
superficial, causando desprendimento e
transporte das partículas de solo.
A erosão hídrica é classificada em três tipos
principais: linear, laminar e anfiteatro. A erosão
linear está associada a concentração dos filetes
de água ao longo de direções preferenciais, Figura Figura
1: 1. Carta
Carta dede plasticidade
plasticidade (Molinero
(Molinero Junior
Junior et al.,
et al., 2011).
originando pequenas incisões dos tipos sulcos, 2011).
ravinas e canais mais profundos, constituindo as
voçorocas. Na erosão laminar ocorre o Gray e Leiser (1989) apud Chuquipiondo
desprendimento das camadas superficiais (2007) fundamentados no Sistema Unificado de
devido ao escoamento difuso da água, sendo Classificação dos Solos (SUCS) sugerem que os
geralmente menos perceptível, pois o solos apresentam resistência frente aos
carreamento das partículas de solo ocorre de processos erosivos e que seguem a seguinte
maneira uniforme (ALMEIDA, 2013). A erosão hierarquia para medida da erodibilidade
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(sentido mais erodível para menos erodível): 4 METODOLOGIA


ML (silte de baixa plasticidade) > SM (areia
siltosa) > SC (areia argilosa) > MH (silte de alta 4.1 Atividades In Loco
plasticidade) > OL (solo orgânica de
plasticidade baixa) > CL (argila de baixa Partindo-se de uma revisão bibliográfica e com
plasticidade) > CH (argila de alta plasticidade) o entendimento necessário dos conceitos e
> GM (pedregulho siltoso) > GP (pedregulho metodologias existentes, realizou-se as
mal graduado) > GW (pedregulho bem atividades in loco, sendo elas a coleta de
graduado). Estes autores ainda reiteram que a amostras retiradas de sua origem estrutural
erodibilidade é elevada em areias finas e siltes (deformadas) e amostras que dispõem das suas
uniformes e baixa em solos bem graduados. estruturas de campo (indeformadas). O ponto de
Além disso, afirmam que normalmente, quanto coleta das amostras teve suas coordenadas
maior o teor de umidade e menor o índice de rastreadas com a utilização de um GPS (Global
vazios, maior será sua resistência frente aos Positioning System).
processos erosivos. As amostras coletadas foram devidamente
Deve-se ainda considerar a textura do solo, já armazenadas, e posteriormente submetidas aos
que a mesma é uma propriedade básica e ensaios geotécnicos indiretos que são os ensaios
estabelece a proporção dos tamanhos de de granulometria, massa específica, limite de
partículas presentes em determinada massa de liquidez e limite de plasticidade para
solo (REINERT; REICHERT, 2006). caracterizar o solo local, além de ensaio de
Pastilha com a finalidade de classificar os solos
3 ÁREA DE ESTUDO tropicais. As mesmas foram ainda avaliadas
quanto a erodibilidade, por meio de ensaios
A área em estudo está localizada nas geotécnicos diretos, que são os ensaios de
proximidades da rodovia TO-222 na região de Crumb Test, Desagregação e Inderbitzen.
Araguaína – TO (Figura 2) com coordenadas
UTM, Fuso 22, 0784684E / 9205430N, e para 4.2 Ensaios Laboratoriais
sua escolha levou-se em consideração a
ausência de cobertura vegetal e a alta inclinação Dentro dos ensaios de avaliação da
do talude, que por sua vez favorece a presença erodibilidade de forma indireta foram realizados
de processos erosivos no período de chuva entre os ensaios de caracterização geotécnica. Sendo
os meses de novembro a maio. que os procedimentos para a execução destes,
foram segundo os parâmetros da NBR 6457
(ABNT,1986), NBR 7181 (ABNT, 1984), NBR
6508 (ABNT, 1984), NBR 6459 (ABNT, 1984)
e NBR 7180 (ABNT, 1984).
Visando classificar os solos tropicais
executou-se o ensaio de Identificação Expedita
do Solo Laterítico – “Método da Pastilha”,
baseando-se nas diretrizes especificadas por
Dersa Desenvolvimento Rodoviário S. A. do
Estado de São Paulo (2006) e em Fortes et al.
(2002).
Já quanto a análise do grau de erodibilidade
Figura 2. Área de Estudo. do solo, realizaram-se os ensaios de crumb test,
desagregação e inderbitzen. O ensaio de crumb
test teve sua execução conforme a NBR 13601
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(ABNT, 1996), já o ensaio de desagregação foi 5 RESULTADOS E DISCUSÕES


executado de acordo com a metodologia
proposta por Santos (1997), em que as amostras Conforme descrito na Metodologia, foram
indeformadas são moldadas em cubos com realizados ensaios de caracterização nas
aproximadamente 60 mm de arestas e amostras de solo, sendo determinados os
submetidas a imersão total e parcial. seguintes valores para os índices físicos:
Com intuito de realizar o ensaio de umidade higroscópica (w) = 1,23%; limite de
inderbitzen foi desenvolvido um equipamento liquidez ( ) = 37,8%; limite de plasticidade
adaptado da metodologia de Aguiar (2009), e ( ) = 29,3%; índice de plasticidade (IP) =
para a efetivação deste utilizou-se a rampa em 8,6% e massa específica dos grãos (ϒs) =
duas inclinações: a primeira na inclinação 2,75%. Por meio destes resultados constatou-se
padrão de 10° e a segunda na inclinação do que o solo apresenta média suscetibilidade a
terreno de 78°. Sendo a inclinação do terreno erosão, conforme a metodologia de Molinero
calculada por meio de trigonometria, utilizando Júnior et al. (2011).
as coordenadas do ponto de maior cota e do Os ensaios de análise granulométrica
ponto de menor cota do talude. executados com uso de defloculante e sem uso
O ensaio foi realizado conforme a de defloculante proporcionou a obtenção das
metodologia proposta por Fácio (1991), curvas granulométricas, Figura 3, e dos valores
modificada por Almeida (2013), em que as percentuais para cada fração de solo conforme
amostras foram moldadas por amostradores de descrito na Tabela 1.
dimensões de aproximadamente 10 cm de lado
e 5 cm de altura. Posteriormente, para cada
inclinação foi utilizada uma amostra no seu
estado de umidade natural e outra no estado
saturado por gotejamento de 20 ml de água,
sendo que as mesmas durante a execução do
ensaio foram submetidas a uma vazão constante
de 50 ml/s.
Ao término do ensaio realizou-se cálculos
para estimar a massa total de solo erodida, por
meio da comparação entre os resultados do
Figura 3. Curva granulométrica com e sem defloculante.
ensaio de inderbitzen e a curva granulométrica,
segundo a Equação 1, proposta por Almeida, Tabela 1. Porcentagem de cada fração granulométrica
Rocha e Gitirana Jr. (2013): com e sem defloculante.
Porcentagem (% )
100 M R200 Fração Faixa (mm)
Com Defloculante
Sem
MT = (1) Defloculante
100 - PP200
Argila < 0,002 14,93 0
Silte 0,002 – 0,06 34,88 47,39
Onde: Areia Fina 0,06 – 0,20 23,04 25,64
MT - massa total erodida; Areia Média 0,20 – 0,60 19,26 15,12
MR200 - massa lavada retida na peneira n° 200 Areia Grossa 0,60 – 2,0 4,34 5,02
(0,075 mm); Pedregulho 2,0 - 60 3,56 6,83
PP200 - porcentagem passante na peneira n° 200 100 100
(0,075 mm).
Utilizou-se a curva com defloculante aliada
aos índices físicos para a determinação da
classificação do solo em um silte de baixa
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compressibilidade (ML) de acordo com o


Sistema Unificado de Classificação dos Solos
(SUCS). Cabe ressaltar que a curva
granulométrica com defloculante foi adotada
por ser prevista na NBR 7181 (ABNT, 1984) a
caracterização somente com o uso de
defloculante. A partir deste resultado, o solo em
análise é classificado como de alta Figura 5. Ensaio de Crumb Test.
erodibilidade, segundo Gray e Leiser (1989)
apud Chuquipiondo (2007). O ensaio de desagregação por imersão total
Baseado na realização do ensaio de foi realizado na umidade natural (Wnat) e com a
Identificação Expedita do Solo Laterítico a saturação por capilaridade no intervalo de 24
amostra de solo por apresentar penetração do horas (Wsat) antes da execução do ensaio. Na
penetrômetro igual a 4,98 mm e contração amostra submetida à imersão total com umidade
diametral média de 0,69 mm foi classificada natural (Figura 6a) observa-se uma dispersão do
segunda a Carta de Classificação (Figura 4) solo, onde as paredes da amostra se tornam
como um solo siltoso não laterítico ou misturas difusas e ocorre a formação de uma "nuvem"
de areias quartzosas com finos de coloidal. Já na amostra submetida ao ensaio
comportamento não laterítico (NS’- NA’). com pré-saturação (Figura 6b) constatou-se a
ocorrência de abatimento, uma vez que o solo
se desintegra formando uma pilha de material
desestruturado.
Realizou-se também o ensaio de
desagregação com a imersão parcial da amostra
(Figura 6c), em que o solo apresentou
fraturamento, ou seja, a amostra se quebrou em
fragmentos mantendo sua forma original nas
faces externas.

Figura 4. Identificação Expedita dos Solos das duas


amostras estudadas.

Por meio do ensaio de Crumb Test foi (a) (b) (c)


Figura
Figura 1. Ensaio de
6. Ensaio de desagregação.
desagregação.
possível classificar o solo quanto a sua
dispersibilidade. Observou-se que as amostras
se desintegraram no fundo do recipiente, mas o Com base nos resultados verificou-se que no
líquido não apresentou sinais de turvação, ensaio de imersão total com a amostra na
conforme Figura 5, logo o solo pode ser umidade natural e com pré-saturação, ocorreu
classificado como de Grau 1 – Comportamento alta perda de material. Contudo, a mostra com
não-dispersivo, segundo a análise umidade natural apresentou uma maior perda de
correspondente à NBR 13601 (ABNT, 1996). massa de solo, evidenciando que mesmo que o
solo tenha uma alta suscetibilidade a erosão, o
solo com pré-saturação é mais resistente que o
solo com umidade natural. Dessa forma o solo
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submetido a imersão total sem pré-saturação Mediante as curvas obtidas pelo ensaio de
apresentou alta erodibilidade e o solo com pré- inderbitzen foi possível verificar que para as
saturação teve de média a alta erodibilidade. duas inclinações ocorreu um aumento
Quanto ao ensaio de imersão parcial o solo progressivo da perda de massa, justificado pelo
foi classificado como de média a alta fato do solo em análise ser classificado como
erodibilidade, apresentando comportamento não-laterítico. Além disso, observou-se que no
semelhante ao ensaio de imersão total com pré- ensaio realizado para a inclinação natural do
saturação, pois nas duas amostras a expulsão terreno (78°) ocorreu uma maior perda de
das bolhas de ar presentes no solo ocorre de material, uma vez que o solo se encontra em um
forma lenta. talude com alta inclinação e sem presença de
A partir da realização do ensaio de vegetação.
inderbtizen nas amostras com umidade natural Constatou-se também que no solo ensaiado
(Figura 7) e com pré-saturação por gotejamento com umidade natural ocorre uma maior perda
(Figura 8), foi possível obter as curvas da massa de massa por erosão laminar quando comparado
erodida retida que é o material retido na peneira com a amostra ensaiada com pré-saturação,
n° 200 (0,075 mm) e da massa total erodida, assim como observado no ensaio de
calculada por meio da Equação 1. desagregação. Dessa maneira, o solo em estudo
apresentou de média a alta suscetibilidade a
erosão.

5 CONCLUSÃO

A realização deste estudo permitiu constatar


uma correlação entre os ensaios de
desagregação e inderbitzen, uma vez que nas
amostras ensaiadas na umidade natural
observou-se uma alta erodibilidade do solo e
nas amostras submetidas a uma pré-saturação
uma menor tendência a erodibilidade. Isso se
justifica pelo fato que nas amostras com pré-
Figura 7. Massa erodida acumulada no ensaio de saturação as bolhas de ar presentes no solo são
inderbitzen para a amostra com umidade natural.
expulsas de forma lenta, conferindo ao mesmo
uma maior resistência aos processos erosivos
quando comparado as amostras ensaiadas na
umidade natural onde essa expulsão ocorre de
forma brusca.
Com base nos resultados encontrados é
possível verificar que os índices físicos
apresentaram uma pré-classificação da
suscetibilidade a erosão do solo quando
comparado com os resultados dos ensaios
específicos de erodibilidade, uma vez que tanto
na análise isolada dos índices físicos quanto nos
ensaios de avaliação direta o solo apresentou de
média a alta erodibilidade.
Figura 8. Massa erodida acumulada no ensaio de Tendo em vista os resultados encontrados e
inderbitzen para a amostra com pré-saturação. os fatores como a alta inclinação do talude e a
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falta de vegetação da área de estudo, sugere-se Engenharia Civil, Departamento de Engenharia Civil,
que para aumentar a resistência desse solo Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 303 p.
Carvalho, J. C.; Sales, M. M.; Souza, N. M.; Melo, M. T.
frente aos processos erosivos seja executado S. (2006). Processos Erosivos no Centro-Oeste
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Erodibilidade de Solos Residuais Não Saturados.
Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
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Avaliação da Erodibilidade do Solo, por Métodos Indiretos no


Campo de Instrução de Santa Maria – RS
Leila Posser Fernandes 1
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil, leilapfernandes@hotmail.com

Rinaldo José Barbosa Pinheiro 2


Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil, rinaldo@ufsm.br

Andréa Valli Nummer 3


Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil, a.nummer@gmail.com

RESUMO: O objetivo deste estudo é avaliar por métodos indiretos a erodibilidade de um perfil de
solo típico do Campo de Instrução de Santa Maria – RS. A metodologia aplicada consistiu em duas
etapas: coleta das amostras (deformadas e indeformadas) e realização dos ensaios (físico, químico e
da avaliação indireta da erodibilidade). Os resultados da caracterização física e química dos
horizontes estudados demonstraram coerência com o material estudado e com o que foi observado
em campo. Na avaliação indireta da erodibilidade o ensaio de desagregação evidenciou maior
susceptibilidade à erosão para os horizontes B e C, independente da condição de umidade. Os
resultados do ensaio de cone de laboratório não foram satisfatórios com os resultados observados
em campo. A metodologia MCT apresentou uma boa relação de correspondência entre os resultados
dos ensaios e o comportamento do solo estudado, principalmente para a condição de umidade seca
ao ar, comprovando sua aplicabilidade a estes materiais.

PALAVRAS-CHAVE: Erodibilidade, Métodos Indiretos, Suceptibilidade à Erosão.

1 INTRODUÇÃO acometendo assim, a qualidade da água


utilizada para abastecimento público. A
O grave impacto ambiental causado pelo consequência de todos esses impactos, tanto
aumento dos processos erosivos em solos e rural como urbano, tem despertado nos últimos
rochas tem alertado o meio científico para a anos uma intensa investigação e debate sobre os
importância de conhecer, diagnosticar e parâmetros e mecanismos responsáveis pela
compreender a sua ação de desenvolvimento e erosão, pois sua compreensão é fundamental
evolução. para a elaboração de projetos de controle e
Os processos erosivos acarretam danos contenção.
negativos tanto no meio rural como no meio Para a Engenharia Civil é de grande
urbano. No meio rural os principais impactos importância que se conheça as características do
detectados é a ocorrência de perda de solo solo, assim como as patologias aos quais este
agricultável, assoreamento dos recursos hídricos pode sofrer em decorrência de fatores naturais
e perda de nutrientes do solo. No entanto, o ou antrópicos. “Nenhum outro processo é tão
meio urbano é o mais condenado, pois sofre destrutivo para o solo quanto o erosivo”
com problemas como deslizamentos, enchentes, (RIBEIRO, 2006).
assoreamento de rios e segundo Menezes & Para Bastos (1999), do ponto de vista da
Pejon (2010) há um aumento de sedimentos Geologia de Engenharia e da Geotecnia, a
transportados para os reservatórios e rios, identificação, avaliação e compreensão dos
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parâmetros e mecanismos que determinam os químicas do solo.


processos erosivos, são fundamentais para Devido a sua grande complexidade, muitos
elaboração de projetos de contenção e controle estudos são realizados com a finalidade de
da erosão. conhecer e compreender todo esse processo.
As principais causas, dos processos de No município de Santa Maria, estado do Rio
erosão acelerada são o desmatamento e Grande do Sul, está situado um dos maiores
posterior uso do solo para atividades agrícolas e contingentes militares do país: o Campo de
pastoris (GUERRA & MENDONÇA, 2004). A Instrução de Santa Maria (CISM). O CISM é
construção civil, o crescimento das cidades, a uma área do Exército Brasileiro destinada à
mineração e outras atividades de cunho instrução militar com o uso de blindados e
econômico, também contribuem de forma direta viaturas sobre rodas. Por estar localizado numa
para o surgimento e agravante de situações de área de fragilidade ambiental e por não possuir
erosão acelerada e que quase sempre são programas de preservação e conservação do
irreversíveis. solo, essa área apresenta inúmeros impactos,
De maneira geral, a erosão é definida como como desenvolvimento de processos erosivos,
sendo um processo natural de desagregação de destruição da cobertura vegetal, compactação
partículas de solo ou rocha, seguido do seu do solo, formação de campos de areias.
transporte e deposição, causada pelos agentes Neste contexto, o objetivo deste estudo é
erosivos. Esse processo pode ser acelerado pela avaliar por métodos indiretos a erodibilidade de
ação antrópica ou simplesmente ocorrer de um perfil de solo típico do Campo de Instrução
maneira natural. Os principais fatores que de Santa Maria – RS, possibilitando a previsão
interferem no processo erosivo podem ser da suscetibilidade à erosão dos solos, auxiliando
agrupados em climáticos, topográficos, na gestão e planejamento da área de maneira
vegetação e solo. Para Camapum de Carvalho mais adequada.
et al., (2006), o processo erosivo depende tanto
de fatores externos como o potencial de
erosividade da chuva e o escoamento 2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE
superficial, quanto de fatores internos ESTUDO
relacionados à desagregação e à erodibilidade
do solo. A área de estudo está inserida dentro do Campo
Em relação ao solo, um dos fatores de Instrução de Santa Maria (CISM). Área
condicionantes da erosão é a erodibilidade, ou militar do Exército Brasileiro está situada na
seja, a propriedade do solo que retrata a maior região central do Rio Grande do Sul, na porção
ou menor facilidade com que as partículas de sudoeste da cidade de Santa Maria.
solo ou rocha são destacadas e transportadas Geograficamente, a área fica localizada entre as
pela ação de um agente erosivo (Bastos, 1999). coordenadas 53° 48´12’’; 53° 53’ 23’’ de
Levando em consideração a sua grande longitude oeste e 29° 42’ 31’’; 29° 47’ 39’’ de
complexidade, muitos estudos são feitos com a latitude sul, conforme Figura 1.
finalidade de conhecer e compreender como a
erodibiliddade prejudica os diferentes tipos de
solos.
Para Santos e Merschmann (2001), este
fenômeno está diretamente ligado à capacidade
de desagregação e transporte das partículas,
sendo que a maior ou menor capacidade de
desagregação depende, quase que
exclusivamente, das propriedades físicas e
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Os principais processos erosivos em


desenvolvimento encontrados na área são sulcos
e ravinas, atrelados as condições de fragilidade
natural da área ao escoamento superficial. Esses
processos concentram-se junto às estradas de
terra, cujo traçado, em alguns casos, encontra-se
perpendicular às curvas de nível do terreno.
Também se observa a ação acelerada da erosão
junto aos cortes laterais das estradas, por não
possuírem um sistema de drenagem adequado
(PITTELKOW, 2013).
Tendo em vista a grande extensão territorial
Figura 1 - Mapa de localização da área de estudo do CISM, foi delimitada como área de estudo e
(SANT’ANA, 2012) de coleta das amostras, uma jazida de material
de empréstimo, situada em uma área de terraço
Toda a área do CISM é composta de 5.866,9 fluvial, por ser uma das áreas mais impactadas.
hectares, sendo parte desta destinada ao A jazida está sobre uma área de terraço
treinamento de militares com blindados e outra fluvial, depositado sobre arenitos da Formação
parte arrendada para particulares que a utilizam Caturrita, onde se desenvolveu um perfil de
para agricultura e pecuária. Segundo a autora Argissolo. O perfil de solo localizado na jazida
Sant’Ana (2012) o CISM é uma das poucas de empréstimo, está ilustrado na Figura 2.
Organizações Militares (OM) destinada a
treinamento de militares com blindados no
Brasil. Por esse motivo, OMs e militares do
Brasil inteiro e algumas vezes do exterior
utilizam o CISM como área de treinamentos.
Conforme Pittelkow (2013) os aspectos
físicos da área, identificam-se duas unidades
geológicas distintas. Na base ocorre a Formação
Santa Maria, uma transição entre membro
Alemoa, predominante, e membro Passo das
Tropas. Sobre estas ocorrem os arenitos da
Formação Caturrita, em relevos mais elevados,
coberta por depósitos de terraços aluviais. Para
a autora, associado à geologia tem-se a presença
de Argissolos, classificados como Argissolo
Vermelho Distrófico Arênico (Unidade de
Mapeamento São Pedro) e Argissolo Bruno
Acinzentado (Unidade de Mapeamento Santa
Maria). Figura 2 - Perfil do terraço fluvial localizado no CISM.
Quanto ao clima, a região de Santa Maria é
classificada como clima subtropical úmido, com A imagem mostra um perfil de solo
chuvas bem distribuídas, apresentando invernos desenvolvido sobre depósito de planície aluvial
frios e verões bastante quentes, com médias com 4 metros de altura. O horizonte A, atinge
anuais de precipitação normal de 1712,4 mm cerca de 1 metro de profundidade, nesse ponto é
(HELDWEIN et al., 2009). caracterizado por uma coloração mais escura, de
tom amarronzado. Nesse trecho se apresenta
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algumas alcovas, além de ser um horizonte ensaios de caracterização física e química do


vulnerável à desagregação. Logo abaixo, ocorre solo. As amostras indeformadas foram
o horizonte B, argiloso e sem alteração, com até moldadas em anéis de PVC para utilizar nos
2 metros de profundidade. A coloração deste ensaios de desagregação, metodologia MCT e
horizonte tende para tons de marrom- cone de laboratório.
avermelhado. Em seguida, ocorre o horizonte C
ou material de alteração. 3.2 Ensaios para a caracterização geotécnica e
Ao lado da jazida se encontra uma estrada de química
terra, que conforme os militares que utilizam o
Campo de Instrução, os processos erosivos que Para a realização dos ensaios clássicos de
estão ocorrendo junto à estrada de terra são um caracterização geotécnica: análise
sério problema, pois fazem com que novas rotas granulométrica, limites de Atterberg e
se estabeleçam como alternativa para o tráfego densidade dos grãos, foi seguido a norma
de blindados o que origina novas áreas ABNT NBR 6457/86 (Amostra de solo –
impactadas, conforme mostra a Figura 3. Preparação para ensaios de compactação e
ensaios de caracterização).
A analise granulométrica por peneiramento e
sedimentação dos solos foi realizada de acordo
com a norma ABNT NBR 7181/84 (Solo –
Análise granulométrica), onde seus resultados
foram classificados através da escala
granulométrica da ABNT NBR 6502/95
(Rochas e Solos). Os ensaios de limite de
Atterberg (limite de liquidez e plasticidade), são
realizados seguindo as especificações das
normas ABNT NBR 6459/84 (Solo –
Determinação do limite de liquidez) e NBR
Figura 3 - Estrada de terra situada próxima à jazida em 7180/84 (Solo - Determinação do limite de
estudo. plasticidade). Para a determinação da massa
específica real dos grãos é utilizado o método
do picnômetro, como especifica a norma ABNT
3 MATERIAIS E MÉTODOS NBR 6508/84 (Grãos de solo que passam pela
peneira de 4,8mm – Determinação da massa
A metodologia desenvolvida neste estudo se específica).
constituiu basicamente de duas etapas: coleta A análise química foi realizada pelo
das amostras e realização dos ensaios. Laboratório de Análise de Solo, do Centro de
Ciências Rurais da Universidade Federal de
3.1 Coleta das amostras deformadas e Santa Maria. Nesta análise foram determinadas
indeformadas para cada horizonte a textura, percentagem de
argila, pH, porcentagem de matéria orgânica,
Primeiramente delimitou-se a área de estudo porcentagem de saturação em alumínio e bases,
e coleta das amostras como sendo uma jazida verificação da capacidade de troca catiônica
junto a uma estrada de terra com avançados (CTC), quantidade de alumínio mais hidrogênio
processos erosivos. Nesta jazida definiu-se os e quantidade de fósforo, potássio, alumínio,
horizontes pedológicos estudados: horizonte A, cálcio, magnésio, cobre, zinco, ferro e
horizonte B e horizonte C, local de coleta das manganês.
amostras deformadas e indeformadas. Utilizou-
se as amostras deformadas para a realização dos
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3.3 Ensaios para a avaliação indireta da de erodibilidade específica (s) (NOGAMI &
erodibilidade VILLIBOR, 1979). Através da divisão do
parâmetro “pi” por “s”, é possível classificar os
A avaliação indireta da erodibilidade foi realizada solos em relação ao grau de erodibilidade, sendo
através do ensaio de desagregação, conforme considerados solos erodíveis quando esta relação
Bastos (1999), dos ensaios baseados no critério de for superior ao valor 52. Para a determinação
erodibilidade da metodologia MCT (Nogami e destes parâmetros foi utilizado amostras
Villibor, 1979) e do ensaio de cone de laboratório indeformadas, confinadas em anéis cilíndricos
segundo a metodologia de Alcântara (1997). Em de PVC, nas condições de unidade natural, seca
laboratório os ensaios foram executados com ao ar e pré umedecidas.
amostras nas condições de umidade natural, O ensaio de infiltrabilidade tem como
seca ao ar (72 horas) e pré úmida (24 horas). objetivo a quantificação da velocidade de
O ensaio de desagregação ou slaking test, ascensão capilar em amostras de solo. O
analisa visualmente e qualitativamente a equipamento consiste em um plano de madeira
desagregação de uma amostra de solo onde é acoplada uma régua graduada e um tubo
indeformada, não confinada, quando submetida capilar de vidro com 6 mm de diâmetro. Este
à ascensão do nível de água, até estar totalmente tubo capilar está ligado a um reservatório com
submersa, totalizando 24 horas de ensaio. Para a topo livre, sobre ao qual se encontra uma pedra
realização deste ensaio, é adotada a metodologia porosa. O tubo capilar é preenchido com água
proposta por Bastos (1999), onde utilizaram-se até que a mesma transborde no topo do
amostras indeformada de solo, nas condições de reservatório, após é colocado o papel filtro e
umidade natural e seca ao ar. Estas amostras sobre o papel filtro a amostra. Para medir a
foram retiradas de seus anéis e postas sobre um quantidade e a velocidade de infiltração são
papel filtro e uma pedra porosa, permanecendo realizadas as leituras dos valores, obedecendo a
sob quatro condições de submersão: com o uma escala de tempo. Com os dados referentes
nível d’água na base da amostra - 30 minutos; ao deslocamento do menisco e o tempo é
com o nível d’água a 1/3 da amostra – 15 elaborado um gráfico, onde seu trecho inicial
minutos; com o nível d’água a 2/3 da amostra – retilíneo fornece o coeficiente de sorção “s”.
15 minutos; e com a amostra totalmente O ensaio de perda de massa por imersão,
submersa – 24 horas. Por ser um ensaio também chamado de erodibilidade específica,
qualitativo, em cada etapa é registrado o tem como objetivo avaliar quantitativamente o
comportamento da amostra com fotografias e potencial de desagregação de uma amostra
descrição da sua condição. Para isso, leva-se em indeformada de solo, quando submersa em
consideração o abatimento e inchamento da água.
amostra; raio de influência das partículas de Para a realização deste ensaio foram utilizadas
solo desagregadas; velocidade de desagregação; amostras de solo indeformadas, na condição de
formação de fissuras no topo e rupturas nas umidade natural, seca ao ar e pré-umedecidas
bordas da amostra. (amostras oriundas do ensaio de infiltrabilidade),
A avaliação da erodibilidade pelo critério da estando confinadas em anéis cilíndricos de PVC.
metodologia MCT tiveram como principal As amostras tiveram suas alturas reduzidas para
objetivo classificar e quantificar os solos em 2,5 cm em laboratório, sendo colocado um papel
relação ao grau de erodibilidade; ou seja, prever filtro e uma pedra porosa na parte interna no anel.
o comportamento dos solos frente à erosão, O sistema é formado por um berço metálico que
sendo baseada em dois parâmetros: o suporta a amostra confinada, sendo esta
coeficiente de sorção (pi), obtido no ensaio de colocada na horizontal sobre o berço. Abaixo do
infiltrabilidade, e o coeficiente de perda de berço é colocada uma cápsula para recolher o
massa por imersão modificada, obtida no ensaio possível material desagregado do anel, durante
o período de 20 horas em que este sistema
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estiver imerso em água. Com o término do nas frações, estes horizontes são
ensaio, a água é esgotada, do sistema berço- predominantemente areias argilosas.
amostra. O solo desprendido e o solo Adotando-se o Sistema Unificado de
remanescente do anel são recolhidos, levados à Classificação de Solos, os horizontes A e B são
estufa, e posteriormente, pesados para a classificados como areia argilosa (SC) e o
determinação do parâmetro “pi”. horizonte C como argila pouco plástica arenosa
O ensaio de cone tem por objetivo avaliar a (CL). Utilizando a classificação de Highway
resistência a penetração de um pequeno cone Research Board estes horizontes se enquadram
em queda livre. São utilizadas amostras como solos siltosos e argilas siltosas de baixa
indeformadas, coletadas em anéis de PVC, nas compressibilidade.
condições de umidade natural e pré umedecida Com os ensaios de caracterização química
sendo esta obtida por aspersão capilar por uma podemos observar que em todo perfil
hora. O ensaio consiste na liberação de um cone geotécnico, a saturação por bases (%V) é baixa
de 300g, a uma altura de 50 mm do corpo de (< 35%), sendo o solo classificado como
prova, sendo que este cone possui uma abertura distrófico, ou seja, pouco ou muito pouco fértil
de 30º e altura de 35 mm. Os valores da e sem reserva de nutrientes para os vegetais. A
penetração natural (Pnat) e pré-umedecida saturação por alumínio (%Al), para os
(Psat) são obtidos por meio da média dos horizontes A e C é superior a 50%,
valores coletados. Levando em consideração caracterizando uma quantidade de alumínio
que se exclui os valores que apresentam possivelmente tóxico para as plantas, tratando
dispersão em relação à média acima de 5% para de um solo álico. A capacidade de troca
os quais é exigido um mínimo de seis medidas catiônica (CTC) em todo o perfil é inferior a
válidas. 2,0% apresentando pouca matéria orgânica. Os
valores de matéria orgânica, obtidos a partir do
carbono orgânico foram baixos (MO < 3,5%),
4 RESULTADO E DISCUSÕES sendo assim, o solo é classificado como
erodível. Os valores de pH encontrados para o
4.1 Ensaios de caracterização geotécnica e perfil apresentam pouca variação, entre 4,7 e
química 5,0, caracterizando como ácido. Portanto,
pedologicamente este perfil de solo é
Para os resultados da caracterização física, o classificado como um argissolo vermelho,
peso especifico apresentou valores entre 25,72 distrófico, álico com argila de atividade baixa.
kN/m3 e 27,46 kN/m3, resultados característicos
da mineralogia destes solos. Na análise 4.2 Ensaios para a avaliação indireta da
granulométrica, nota-se que todo o perfil de erodibilidade
solo não apresenta partículas do tamanho
pedregulho, predominando a fração areia entre Na avaliação indireta da erodibilidade, com o
57 e 68%. As percentagens mais elevadas da ensaio de desagregação notamos que o
fração areia ocorrem no horizonte A, e as mais horizonte A mostrou-se mais resistente frente a
baixas no horizonte C (fração fina de 43%). inundação, tanto para umidade natural como
Pedologicamente este perfil de solo foi quanto seco ao ar. Sua estrutura, não confinada,
classificado como argissolo. O horizonte C se permaneceu quase que intacta após o término
desenvolveu por alteração de um provável do ensaio (24 horas). O mesmo não foi
terraço fluvial, com uma fração argila de 31% e verificado para os horizotes B e C, este
média plasticidade. Os horizontes A e B demostraram alto poder de desagregação, não
apresentam uma baixa plasticidade. resistindo a inundação completa. Observa-se
Texturalmente apesar de alguma diferenciação que as condições nas quais se encontram as
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amostras, natural ou seca ao ar, não foram um horizonte B e C, classificando esses solos como
fator de influência no teste para as amostras do erodíveis.
horizonte B, pois em ambas as condições, as No horizonte B a perda por imersão
amostras apresentaram uma completa demonstrou-se elevada para as três condições de
desagregação, formando uma pilha de material umidade inicial. Assim, a relação pi/s foi
desestruturado, comforme Figura 4. superior a 52 nas três condições de umidade,
caracterizando o solo do horizonte B como
erodível independente da condição inicial das
amostras.
No horizonte C o coeficiente de sorção foi
maior quando comparado com os outros
horizontes, no entanto a perda por imersão é
elevada na condição seca ao ar e pré-umedecida,
representando uma relação pi/s superior a 52
para essas condições de umidade.
A Figura 5 apresenta a aplicação do critério
de erodibilidade pela metodologia MCT para os
horizontes estudados. Os resultados
apresentados destacam a maior susceptibilidade
a erosão dos horizontes B e C para as amostras
secas ao ar e pré-umedecidas.

Figura 4 - Comportamento inicial e final das


amostras quando submetidas à inundação

Deve-se ressaltar que esse ensaio não


verifica uma relação com níveis intermediários
e baixos de erodibilidade, visto que somente
solos de alta erodibilidade irão desagregar
completamente durante o ensaio (BASTOS, Figura 5 - Aplicação do critério de erodibilidade pela
1999). metodologia MCT para os horizontes estudados.
Os resultados dos ensaios do critério da
metodologia MCT para a condição da amostra Nota-se que o horizonte A apresentou-se
secas ao ar o coeficiente de sorção (s) foi mais como não erodível nas três distintas condições
elevado quando comparado com amostras na de umidade, já o horizonte B apresentou-se
umidade natural. A perda de massa por imersão erodível para qualquer condição de umidade.
(pi) foi mais elevada para as amostras secas ao No horizonte C, somente a condição natural
ar quando comparadas com a umidade natural, apresentou-se como não erodível, a condição
exceto para o horizonte A (valores de pi médios seca ao ar e pré-umedecida, a relação pi/s foram
são inferiores a 3%). Para as amostras pré- superiores a 52%, caracterizando um solo
umedecidas, devido a sorção baixa a relação erodível (Figura 6). As relações pi/s para
pi/s foi superior a 52, principalmente para o
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condição pré-umedecidas foram extremamente Observa-se que ocorre aumento nos valores
elevadas. de penetração nas amostras saturadas, para os
solos do horizonte A, B e C. Segundo Bastos
(1999) a resistência oferecida à penetração do
cone de laboratório esta fortemente relacionada
à coesão superficial dos solos. Ainda segundo o
autor, a variação desta penetração com o
umedecimento representa a perda desta coesão
com a variação da sucção matricial e com o
processo de desagregação do solo com a água.
Esta relação entre o aumento na penetração do
cone, perda de coesão e desagregação do solo
com a inundação é evidente para os solos de
todos os horizontes.
Neste caso, conforme Figura 8 e 9, se
Figura 6 - Relação pi/s em função da umidade das analisar o DP, os horizontes A e C são
amostras. classificados como de alta erodibilidade e o
horizonte B como de baixa a nenhuma
A metodologia MCT apresentou uma boa erodibilidade. No entanto, se considerar o DPA,
relação e correspondência entre os resultados os horizontes A, B e C são classificados como
dos ensaios e o comportamento dos solos nos de alta erodibilidade, segundo classificação de
locais estudados, observados no ensaio de (ALCÂNTARA, 1997).
desagregação, comprovando sua aplicabilidade
a estes materiais.
Os resultados referentes aos ensaios de cone
de laboratório estão expressos em função das
profundidades de penetração do cone, medida
em amostras na condição de umidade natural
(Pnat) e saturada (Psat). Assim, foram obtidos
os parâmetros de variação de penetração DP e
DPA, definidos por Alcântara (1997) (Figura 7).

Figura 11 - Resultados dos DP (%) obtidos nos ensaios de


cone de laboratório realizados nos solos dos horizontes
estudados.

Figura 7 - Valores de penetração do cone de laboratório


obtidos para os horizontes estudados em diferentes
condições de umidade das amostras.
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mais potencialmente erodíveis pelos dados dos


ensaios de laboratório. Ou seja, o horizonte A é
mais resistente, provavelmente por possuir
inúmeras raízes que fazem com que as amostras
não desagreguem tanto quando imersas em água e
resistem mais as tensões hidráulicas.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos a Universidade Federal de Santa


Maria pela oportunidade de ensino e a Fundação
de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul
Figura 12 - Resultados dos DPA (%) obtidos nos ensaios (FAPERGS) pelo apoio financeiro durante a
de cone de laboratório realizados nos solos dos horizontes realização desta pesquisa.
estudados.

REFERÊNCIAS
5 CONCLUSÕES
Alcântara, M. A. T. (1997). Aspectos geotécnicos da
O Campo de Instrução de Santa Maria, utilizado erodibilidade de solos, Dissertação de Mestrado,
para treinamentos militares, é uma área com Programa de Pós-Graduação em Geotecnia,
evidente fragilidade ambiental, pois os solos são Departamento de Engenharia Civil, Escola de
caracterizados como frágeis e de Engenharia de São Carlos.
ASSOCIACAO BRASILEIRA DE NORMAS
susceptibilidade aos processos erosivos. TECNICAS. NBR 6457: Amostras de solo –
Na avaliação indireta da erodibilidade dos Preparação para ensaios de compactação e ensaios de
solos, no ensaio de desagregação os solos foram caracterização. Rio de Janeiro, 1986.9p. Origem: MB-
classificados conforme a realidade encontrada 27.
em campo, o horizonte A mostrou-se mais ASSOCIACAO BRASILEIRA DE NORMAS
TECNICAS. NBR 6459: Solo – Determinação do
resistente frente à umidade, enquanto os limite de liquidez. Rio de Janeiro, 1984. 6p. Origem:
horizontes B e C apresentaram uma completa MB-30. SEMINÁRIO DE ENGENHARIA
desagregação. GEOTECNIA DO RIO GRANDE DO SUL GEORS
A Metodologia MCT também apresentou 2017.
uma boa relação de correspondência entre os ASSOCIACAO BRASILEIRA DE NORMAS
TECNICAS. NBR 6502: Rochas e solos. Rio de
resultados dos ensaios e o comportamento dos Janeiro, 1995. 18p. Origem: TB-3.
solos nos locais estudados, comprovando sua ASSOCIACAO BRASILEIRA DE NORMAS
aplicabilidade a estes solos para as condições de TECNICAS. NBR 6508: Grãos de solos que passam
umidade seca ao ar e pré-umedecidas. na peneira de 4.8 mm – Determinação da massa
O ensaio de cone de laboratório não especifica. Rio de Janeiro, 1984. 8p. Origem: MB-28.
ASSOCIACAO BRASILEIRA DE NORMAS
conseguiu classificar os solos do perfil de TECNICAS. NBR 7181: Solo – Análise
maneira confiável, ou seja, os resultados granulométrica. Rio de Janeiro, 1984. 13p.
encontrados não correspondem ao observado à Origem:MB-32.
campo. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
Portanto, os ensaios indiretos de avaliação da TÉCNICAS. NBR 7180: solo determinação do limite
de plasticidade: NBR 7180. Rio de Janeiro, 1984. 6p.
erodibilidade (ensaio de desagregação e ensaios Bastos, C. A. B. (1999). Estudo geotécnico sobre a
da metodologia MCT), mostraram satisfatórios, erodibilidade de solos residuais não saturados, Tese
pois representar a realidade encontrada em de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em
campo. Os solos dos horizontes B e C foram os Engenharia Civil, Escola de Engenharia, Universidade
Federal do Rio Grande do Sul.
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Camapum De Carvalho, J.; Sales, M.M.; Souza, N.M.;


Melo. M.T.S.(2006). Processos erosivos no centro-
oeste brasileiro. Brasília: Universidade de Brasília:
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Menezes, M.B.M; Pejon, O.J. (2010) Análise da
influência do teor de umidade na absorção d’água e
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Pittelkow, G. C. (2013) Erosão em estrada de terra no
Campo de Instrução de Santa Maria (CISM),
Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-
Graduação em Geografia, Universidade Federal de
Santa Maria
Ribeiro, L. S. (2006) Análise qualitativa e quantitativa de
erosão laminar no município de Campo dos
Goyatazes/RJ através de técnicas de
geoprocessamento, Dissertação de Mestrado,
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy
Ribeiro. Campo dos Goyatazes
Santos, C.A, Mershmann, M.A.C. (2001) Ensaio de
erodibilidade como parâmetro no estudo de ravinas e
voçorocas, na região de Santo Antônio do Leite,
Distrito de Ouro Preto – MG. VI Simpósio Nacional
de Controle de Erosão: Presidente Prudente/SP.
Sant’ana, K.D.A. (2012) Diagnostico ambiental do meio
físico do Campo de Instrução de Santa Maria
(CISM), Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-
Graduação em Geografia, Universidade Federal de
Santa Maria, 125 p
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Avaliação da Resistencia à Compressão Não-confinada e


Cisalhamento de Dois Tipos de Solos com Adição de Fibras de
Papel Kraft
Daphne Rossana León Mogrovejo
Universidad Católica San Pablo, Arequipa, Perú, drleon@ucsp.edu.pe

Paulo José Rocha de Albuquerque


Universidade Estadual de Campinas, Campinas, Brasil, pjra@g.unicamp.br

RESUMO: O objetivo deste trabalho é verificar a hipótese de que as fibras dispersas de papel kraft,
provenientes do processo de reciclagem de embalagens de cimento, podem ser utilizadas como
estabilizantes para melhorar as propriedades mecânicas de um solo argiloso e outro arenoso. Após
realizar ensaios de caracterização física, compactação, compressão não-confinada e cisalhamento
direto a partir de amostras deformadas, foram realizadas análises comparativas dos solos sem fibra
e quando estabilizados com 5%, 10% e 15% de fibras dispersas em relação ao peso de solo seco,
com três repetições de cada ensaio para as análises estatísticas. Constatou-se uma melhoria no
desempenho das misturas quanto à resistência ao cisalhamento em ambos os solos, sendo observado
o melhor desempenho no solo argiloso.

PALAVRAS-CHAVE: Solo, Embalagens de Cimento, Reciclagem, Contaminação, Avaliação.

1 INTRODUÇÃO contemporâneos, enfrentados pela gestão


ambiental, pode-se destacar o impacto da
A reciclagem de resíduos sólidos vem sendo geração de resíduos sólidos dos vários
crescentemente debatida e impulsionada processos de produção e seu potencial para
enquanto alternativa de ação à disposição da reciclagem, provocado pela Indústria da
sociedade diante da crise ambiental Construção Civil (BLUMENSCHEIN, 2001).
reconhecida, devido a razões de natureza Embora seja possível e prioritário reduzir a
ambiental, pedagógica e cultural, especialmente quantidade de resíduos durante a produção e até
em relação à crescente poluição ambiental que pós-consumo, eles sempre serão gerados. A
atinge o solo, o ar, os rios e os mares; o construção civil é certamente o maior gerador
eventual esgotamento das matérias-primas; e o de resíduos de toda a sociedade e seu impacto
interesse social em se envolver a população em ambiental está associado ao uso intensivo de
um esforço coletivo na salvaguarda dos matérias-primas naturais não renováveis, além
interesses ambientais (CALDERONI, 2003). de um grande volume de resíduos gerados e não
A transformação de um resíduo em um aproveitados totalmente.
produto comercial efetivamente utilizado pela A importância do aproveitamento de
sociedade oferece grandes oportunidades para resíduos deve-se basicamente a dois fatores: a
aumentar a sustentabilidade social e ambiental, possibilidade de desenvolvimento de materiais
mas oferece também significativos riscos de baixo custo a partir de subprodutos
ambientais, técnicos e financeiros e para a industriais, disponíveis localmente, através da
saúde dos trabalhadores (JOHN e ÂNGULO, investigação de suas potencialidades; e, a
2003). interface direta do setor da construção com a
Dentre os mais sérios problemas cadeia produtiva fornecedora de insumos e
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diretamente através do potencial uso de projeto com as restrições do solo, substituir o


materiais e processos que causem mínimo solo por um outro de características adequadas
impacto na cadeia produtiva. A Indústria da ao projeto, ou alterar as propriedades do solo
Construção Civil apresenta viabilidade para existente para obter a qualidade necessária.
incorporar resíduos industriais nos materiais de Como uma possível solução, pode-se utilizar
construção e reduzir custos dos produtos de a técnica da estabilização de solos, que tem
construção (ROCHA E CHERIAF, 2003). como finalidade melhorar as propriedades
O volume de entulho de construção e mecânicas e hidráulicas dos solos. Mas, devido
demolição gerado é até duas vezes maior que o à grande variedade de solos, cada método de
volume de lixo sólido urbano. Dentre os estabilização somente é aplicável para um
materiais orgânicos dos resíduos da construção limitado número de solos, pelo que deve se ter
encontram-se os sacos de cimento feitos de certeza das propriedades para melhorar e
papel kraft natural multifoliado, os quais, executar o método de estabilização mais ótimo
geralmente, não são reaproveitados ou e eficiente. Desta forma, os mecanismos de
reciclados após o seu uso nas obras por estar compactação podem ser mecânicos, físicos e
contaminados com cimento, gerando assim um químicos, ou a técnica de estabilização com o
enorme volume desse resíduo (BUSON, 2009). uso de fibras (naturais ou artificiais).
As especificações técnicas de produção dos O estudo com a inclusão de fibras tem seus
sacos de cimento exigem uma celulose sulfato inícios na pesquisa feita por Buson (2009), onde
de fibra longa e de alta resistência, que é desenvolve e analisa o desempenho técnico de
geralmente empregada pura e garante à sua blocos de terra compactada – BTCs – com a
fibra excelentes propriedades físicas e incorporação de fibras de polpa de celulose
mecânicas. Então, estes materiais poderiam ser provenientes da reciclagem de sacos de cimento
úteis do ponto de vista geotécnico, pois muitas (fibras dispersas de papel kraft) e uma fração de
vezes o solo de um determinado local não cimento, para elementos de vedação vertical de
apresenta condições adequadas para a aplicação edificações e habitações de interesse social; o
em construções. novo compósito foi denominado por ele como
A produção mundial de cimento é de cerca Kraftterra, e obteve bons resultados.
de 5 bilhões de toneladas, que pode ser Estas evidências motivaram o
fornecido a granel ou em sacos de papel kraft desenvolvimento desta pesquisa, que visa
multifoliado. Na maioria de regiões o consumo proporcionar à sociedade uma alternativa para
de cimento ensacado é maior que o de cimento reduzir o impacto ambiental com a eliminação
a granel, o que mostra que sua reciclagem é desse resíduo da natureza, abordando aspectos
relevante e necessária, sendo de vital de estabilização para melhorar as características
importância selecionar o tipo adequado de e propriedades geotécnicas, como resistência ao
reciclagem para o aproveitamento deste resíduo, cisalhamento direto e à compressão simples,
pois a reciclagem de resíduos pode causar unicamente com a adição das fibras dispersas
impactos ao meio ambiente ainda piores que o de papel kraft aos solos em diferentes dosagens.
próprio resíduo antes de ser reciclado.
Na prática da engenharia geotécnica, muitas
vezes, o solo de um determinado local não 2 METODOLOGIA
apresenta condições adequadas para sua
aplicação na construção, podendo ser pouco A pesquisa foi direcionada à caracterização da
resistente, muito compressível ou apresentar mistura dos solos com as fibras dispersas de
características que deixam a desejar do ponto de papel kraft para fins de estabilização,
vista econômico; nestes casos o engenheiro comparando o comportamento das misturas
geotécnico deverá tomar uma das seguintes com os solos sem fibra; para tanto, foram
decisões: aceitar o material e desenvolver o adicionadas diferentes porcentagens de fibras
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dispersas até encontrar a proporção ótima para consistência de polpa de celulose e obtendo
cada solo estudado. assim a dispersão das fibras do papel kraft
natural multifoliado; deve-se notar que por cada
2.1 Características dos Solos embalagem de cimento foram necessários
aproximadamente 3,25 litros de água no
Para o desenvolvimento desta pesquisa, optou- processo de produção da polpa de celulose, o
se por utilizar dois tipos de solos provenientes que torna visível o elevado consumo de água e
da região Metropolitana de Campinas – São devido a questões ambientais a água foi
Paulo, um deles coletado na parte sul da cidade reutilizada tantas vezes quanto possível; 3)
de Paulínia/SP e outro da parte Norte de Remoção do excesso de água, para a qual o
Campinas/SP, aqui denominados solo 1 material foi colocado em um saco de algodão e
(arenoso) e solo 2 (argiloso), respectivamente. fazendo torção manual o excesso de água foi
Foram realizados ensaios de granulometria removido; 4) Dispersão das fibras de papel
conjunta normatizados pela NBR 7181 (ABNT, kraft, necessária para facilitar a incorporação
2016); ensaios de limite líquido, de acordo com destas ao solo e obter misturas mais
a norma NBR 6459 (ABNT, 2016); e ensaios de homogêneas; para isso, foi utilizada uma
limite plástico de acordo com a norma NBR argamassadeira pequena de movimento
7180 (ABNT, 2016). planetário, onde a polpa de celulose sem o
excesso de água foi agitada até as fibras ficarem
2.2 Reciclagem das Embalagens de Cimento soltas e serem facilmente visualizadas,
e Obtenção das Fibras Dispersas de Papel Kraft demorando de 2 a 4 minutos, dependendo da
quantidade de fibra a ser dispersa.
A coleta das embalagens de cimento foi Na Figura 1 ilustra-se o processo de
realizada em diversas obras nas imediações. transformação das embalagens de cimento em
Conforme o procedimento proposto por fibras dispersas de papel kraft.
Buson (2009), mas com algumas modificações
feitas para esta pesquisa, foram realizados os 2.3 Mistura dos Solos com as Fibras
seguintes procedimentos para a reciclagem das Dispersas de Papel Kraft
embalagens de cimento, bem como a obtenção
da celulose das mesmas e das fibras dispersas O processo de mistura dos solos com as fibras
em laboratório: 1) Limpeza das embalagens de dispersas de papel kraft foi realizado com uma
cimento, que normalmente são descartadas com argamassadeira grande de movimento
algum resto de cimento no fundo das planetário.
embalagens, sendo esta limpeza mais cuidadosa Para uma boa mistura do solo com as fibras,
nas embalagens que foram expostas à umidade deve-se seguir uma sequência eficiente para a
excessiva ou tiveram contato com a água ordem de colocação dos materiais (Buson,
hidratando os restos de cimento e formando 2009), uma vez que este procedimento pode
pedriscos ou até grandes placas rígidas no seu influenciar na eficiência e homogeneidade da
interior que poderiam provocar danos ao mistura; a ordem de colocação foi a seguinte: 1)
equipamento de reciclagem; 2) Transformação Colocaram-se as fibras dispersas na
das embalagens de cimento em polpa de argamassadeira grande e iniciou-se o processo
celulose, cujo procedimento tem as seguintes de rotação; 2) Em seguida, acrescentou-se uma
etapas: a) Fragmentação do papel em pedaços pequena quantidade de solo para cobrir
menores que 5 centímetros, b) Imersão do papel uniformemente as fibras com uma fina camada,
fragmentado em água por algumas horas para evitando que as mesmas se aglomerem; 3)
amolecer as fibras; c) Trituração do papel Acrescentou-se aos poucos, mantendo o
molhado no liquidificador industrial até a total misturador ligado, o solo restante à mistura
separação das fibras do papel, chegando à alternando com a água necessária para se
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chegar à umidade ótima de compactação e para 2.5 Preparação de Amostras e Programa de


evitar a produção de poeira, que dificulta a Ensaios
incorporação das fibras ao solo e a
homogeneização da mistura; 4) Com a mistura Definidas as porcentagens de fibra, procedeu-se
homogênea, retirou-se do equipamento e à mistura e preparação das amostras.
iniciou-se o preparo das amostras para os Realizaram-se três repetições por cada ensaio
ensaios respectivos. tendo em vista as variabilidades inerentes ao
processo de execução (análise estatística).
Foram realizados os seguintes ensaios para
os solos sem fibra e os solos com as
porcentagens definidas de fibra.

2.5.1 Ensaios de Compactação


a) b)

Estes ensaios foram realizados utilizando a


energia de compactação correspondente ao
proctor normal, segundo a metodologia descrita
na norma NBR 7182 (ABNT, 1988), para fins
de determinação do peso específico aparente
c) d) seco máximo (γdmáx) e da umidade ótima (wót)
nas misturas.
Figura 1. Processo de obtenção das fibras dispersas de
papel kraft: a) kraft fragmentado e molhado.; b) polpa de
celulose; c) polpa sem excesso de água (após a torção); 2.5.2 Ensaios de Cisalhamento Direto
d) fibras dispersas.
Os corpos-de-prova utilizados nos ensaios de
2.4 Proporções cisalhamento direto foram moldados nos
parâmetros ótimos (wót e γdmáx), compactando
As variáveis da mistura (tipo de solo e dinamicamente no molde do ensaio de
percentuais de fibra) foram introduzidas para compactação proctor com energia normal. A
que fossem definidas as proporções ideais ou partir da amostra compactada se talharam os
mais adequadas para cada tipo de solo avaliado, corpos-de-prova com ajuda de um anel metálico
com o objetivo de realizar estabilizações com a padronizado.
mistura solo - fibras dispersas de papel kraft. Os ensaios foram executados seguindo a
Tratando-se do estudo de uma nova metodologia proposta pela Norma ASTM
metodologia, sem caracterização definida ou D3080/D3080M-11 (2011), fazendo e a ruptura
normas específicas, optou-se pela análise imediatamente após o talhado e utilizando
comparativa entre o desempenho da mistura tensões normais de 50, 100 e 200 kPa.
solo - fibras e o solo sem fibra.
Assim, com base no trabalho de Buson 2.5.3 Ensaios de Resistência à Compressão
(2009), onde se indica que o melhor Não-confinada
comportamento dos blocos de terra compactada
foi quando se adicionou 6% de cimento e 6% de Os corpos-de-prova utilizados nos ensaios de
fibras dispersas de papel kraft, decidiu-se testar compressão não-confinada foram moldados nos
as porcentagens de 5%, 10% e 15% de fibras parâmetros ótimos da energia de compactação,
dispersas, em relação ao peso de solo seco, utilizando um molde reduzido de 5 cm de
restringindo a pesquisa somente ao emprego de diâmetro e 10 cm de altura, mantendo-se a
fibras dispersas. relação 2:1 (altura:diâmetro).
Os ensaios foram executados seguindo a
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metodologia proposta pela norma NBR 12770 pavimento é regular a mau e apresenta grandes
(ABNT, 1992), e realizando a ruptura variações de volume entre os estados seco e
imediatamente após a moldagem. úmido, e pela metodologia MCT é um solo não-
laterítico argiloso que apresenta características
das argilas tradicionais muito plásticas e
3 RESULTADOS E ANÁLISES expansivas quando compactado nos parâmetros
ótimos de compactação. Quanto ao solo 2, de
3.1 Características dos Solos acordo com a USCS trata-se de um silte
inorgânico de mediana compressibilidade com
A partir dos ensaios de granulometria conjunta, areia, pela AASHTO é um solo argiloso, com
o solo 1 apresenta uma textura composta por comportamento próximo ao solo 1, mas com
areia em sua maior parte (52%), mas também elevado limite de liquidez, e pela metodologia
com proporções de argila (33%) e silte (15%) e MCT é um solo laterítico argiloso que apresenta
uma coloração marrom-clara; e, o solo 2 resistência à erosão hidráulica quando
apresenta uma textura composta por argila em compactados apropriadamente, mas possui
sua maior parte (37%), mas também com colapsibilidade em estado natural por imersão
proporções de silte (32%) e areia (31%) e uma em água e alta permeabilidade quando
coloração vermelha. apresentam agregados bem desenvolvidos.
Nos ensaios de limite de liquidez, foram
obtidos os valores de 35% para o solo 1 e 46% 3.2 Ensaios de Compactação
para o solo 2; nos ensaios de limite de
plasticidade foram obtidos os valores de 21% Nas tabelas 2 e 3, encontram-se os valores do
para o solo 1 e 32% para o solo 2; que resultou peso específico aparente seco máximo (γdmáx) e
em um índice de plasticidade (IP) de 14% para do teor de umidade ótima (wót) determinados
ambos os solos. para os solos (ensaios realizados com três
A partir dos resultados obtidos, foi possível repetições), bem como para as respectivas
classificar os solos de acordo com o Sistema misturas, sendo que somente se mostram os
Unificado de Classificação dos Solos – USCS, valores médios, desvios e coeficientes de
de acordo com o sistema de classificação da variação.
AASHTO (American Association of State
Highway and Transportation Officials) e Tabela 2. Parâmetros ótimos de compactação do solo 1
também pela metodologia de classificação de Porcentagem de fibras dispersas
Parâmetros de papel kraft
solos MCT, utilizando o método de ensaio da
0% 5% 10% 15%
norma ME 258 (DNER, 1994), como pode se X 17,6 16,8 16,2 15,4
ver na Tabela 1 a seguir. γdmáx Sd 0,059 0,072 0,195 0,050
(kN/m3) CV(% 0,33 0,43 1,20 0,33
Tabela 1. Identificação dos solos pelas classificações )
USCS, AASHTO e MCT. X 16,5 17,9 19,0 21,4
Solo USCS AASHTO MCT Sd 0,395 0,257 0,710 0,893
wót (%)
Solo 1 SC A-6 (4) NG’ CV(% 2,4 1,4 3,8 4,2
Solo 2 ML A-7-5 (10) LG’ )
Onde: X = média; Sd = desvio padrão; CV(%) =
De acordo com os resultados apresentados coeficiente de variação
na Tabela 1, o solo 1 pela USCS trata-se de
uma areia argilosa com representação da fração O solo 1 apresentou valores médios de
fina acima da linha A (CL - argila inorgânica de γdmáx=17.6 kN/m3 y wót=16.5%, entanto que o
mediana plasticidade), pela AASHTO é um solo solo 2 γdmáx=16.1 kN/m3 y wót=24,9%. A adição
argiloso, cujo comportamento como camada de de 5%, 10% e 15% de fibras dispersas de papel
kraft conduziu a menores valores de peso
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específico seco máximo da ordem de 5%, 8% e de solo e suas respectivas misturas e nas Tabela
13%, respectivamente, no solo 1, e da ordem de 4 e 5 se apresentam os valores numéricos dos
4%, 8% e 11% no solo 2. Verificaram-se ângulos de atrito e de interceptos de coesão.
também aumentos no teor de umidade ótima da
ordem de 8%, 15% e 30% no solo 1 e de 5%,
10% e 16% no solo 2, quando adicionados 5%,
10% e 15% de fibras, respectivamente.

Tabela 3. Parâmetros ótimos de compactação do solo 2


Porcentagem de fibras dispersas
Parâmetros de papel kraft
0% 5% 10% 15%
X 16,1 15,5 14,8 14,4
γdmáx Sd 0,086 0,012 0,006 0,049
(kN/m3) CV(% 0,54 0,07 0,04 0,34
)
X 24,9 26,2 28,1 29,0
Sd 0,315 0,126 0,312 0,486
wót (%)
CV(% 1,3 0,5 1,1 1,7
) Figura 2. Envoltórias médias de resistência
Onde: X = média; Sd = desvio padrão; CV(%) = correspondentes ao solo 1 e suas misturas.
coeficiente de variação

Os valores dos desvios padrão e


coeficientes de variação (grau de variabilidade
dos dados em relação à média), são baixos para
todos os ensaios realizados, sendo que esta
variação não é significativa. O teste de Dunnett,
ao nível de significância de 5%, mostrou que a
adição de fibras dispersas de papel kraft,
independentemente da porcentagem, diminuiu
significativamente o valor do peso específico
aparente seco máximo e aumentou
significativamente o valor de umidade ótima em
ambos os solos; os maiores valores de umidade
ótima foram alcançados pela aplicação de 15% Figura 3. Envoltórias médias de resistência
de fibras, seguido de 10% e 5%. correspondentes ao solo 2 e suas misturas.

3.3 Ensaios de Cisalhamento Direto Como se pode observar, a adição de 5%,


10% e 15% de fibras dispersas conduziu a
Das repetições realizadas nos ensaios, optou-se maiores valores de ângulo de atrito da ordem de
por determinar a média das tensões cisalhantes 0%, 3% e 10%, respectivamente, no solo 1
máximas para cada tensão normal aplicada, (Figura 2), e da ordem de 48%, 24% e 24% no
obtendo as envoltórias médias de resistência solo 2 (Figura 3). Verificaram-se também
plotadas para a obtenção dos parâmetros de diminuição dos valores da coesão da ordem de
resistência (ângulo de atrito (ϕ) e intercepto de 18%, 11% e 33% no solo 1, quando adicionados
coesão (c)). Cabe ressaltar que o critério para 5%, 10% e 15% de fibras, respectivamente; o
definir as envoltórias foi de Mohr-Coulomb. solo 2 apresentou aumento de coesão da ordem
Nas Figuras 2 e 3 se apresentam as de 3% quando adicionados 5% de fibras e
envoltórias médias de resistência para cada tipo diminuição de coesão da ordem de 12% e 16%
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quando adicionados 10% e 15% de fibras, diminuição significativa no tratamento com


respectivamente. 15% de fibras.
Por meio deste ensaio é possível analisar as
Tabela 4. Ângulo de atrito interno e coesão para o solo 1 curvas da Tensão cisalhante vs. Deformação
Porcentagem de fibras dispersas específica horizontal; sendo que, para ambos os
Parâmetros de papel kraft
solos se observou que a deformação cisalhante
0% 5% 10% 15%
X 29 29 30 32 específica horizontal aumenta conforme eleva-
Sd 1,60 0,44 1,01 0,67 se a porcentagem de fibras. A adição de 5% de
ϕ (°)
CV(% fibra aos solos não apresentou grandes
) 5,6 1,5 3,3 2,1 variações nas deformações; mas a adição de
X 90 73 80 59 10% e 15% acrescentam as deformações, quase
c Sd 4,16 1,99 2,7 0,85
ao dobro. Além disso, também é possível
(kPa ) CV(%
) 4,6 2,7 3,4 1,4 analisar as curvas de Variação volumétrica vs.
Onde: X = média; Sd = desvio padrão; CV(%) = Deformação específica horizontal, nas quais foi
coeficiente de variação possível observar que a variação volumétrica
também aumenta conforme aumenta a
Tabela 5. Ângulo de atrito interno e coesão para o solo 2 porcentagem de fibras.
Porcentagem de fibras dispersas
Parâmetros de papel kraft
3.4 Ensaios de Resistência à Compressão
0% 5% 10% 15%
X 25 37 31 31 Não-confinada
Sd 0,39 0,81 1,29 1,69
ϕ (°)
CV(% A partir da realização dos ensaios, obtiveram-se
) 1,5 2,2 4,2 5,4 as curvas tensão vertical vs. deformação
X 74 76 66 62 específica para cada tipo de solo e suas
c Sd 1,70 7,89 2,10 3,18 respectivas misturas, e logo após, a partir dessas
(kPa ) CV(%
) 2,3 10,3 3,2 5,1
curvas, determinaram-se os valores
Onde: X = média; Sd = desvio padrão; CV(%) = correspondentes à resistência à compressão
coeficiente de variação não-confinada, que se apresentam nas Tabelas 6
e7
O teste de Dunnett, ao nível de significância
de 5%, indicou que não houve diferença Tabela 6. Resistência à compressão não-confinada (qu)
significativa entre os valores de ângulo de atrito para o solo 1
Porcentagem de fibras dispersas
quando adicionados 5% e 10% de fibras no solo Parâmetros de papel kraft
1, mas indicou que a adição de 15% de fibras 0% 5% 10% 15%
aumentou significativamente este valor no X 208 216 243 221
mesmo solo; no solo 2, o teste de Dunnett qu Sd 9,64 1,33 10,09 11,87
mostrou que a adição de fibras dispersas, (kPa) CV(% 4,6 0,6 4,1 5,4
independentemente da porcentagem, aumentou )
Onde: X = média; Sd = desvio padrão; CV(%) =
significativamente o valor do ângulo de atrito, coeficiente de variação
sendo os maiores valores alcançados pela
adição de 5%, seguido das adições de 10% e Tabela 7. Resistência à compressão não-confinada (qu)
15%, iguais entre si. No que se refere à coesão, para o solo 2
a análise estatística indicou que houve Porcentagem de fibras dispersas
diminuição significativa dos valores de coesão Parâmetros de papel kraft
no solo 1; no solo 2, não houve diferença 0% 5% 10% 15%
X 240 225 217 213
significativa entre os valores de coesão nos qu Sd 8,13 10,92 20,30 5,50
tratamentos com 5% e 10%, mas houve (kPa) CV(% 3,4 4,9 9,3 2,6
)
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Onde: X = média; Sd = desvio padrão; CV(%) = deformações consideráveis das amostras,


coeficiente de variação desfavorecendo a possível aplicação da mistura
como estabilizante de solo.
A adição de 5%, 10% e 15% de fibras Com relação ao solo 2, as análises
dispersas conduziu a maiores valores de estatísticas mostraram que a adição de 5% de
resistência à compressão não-confinada da fibras dispersas contribuiu a uma melhoria
ordem de 3%, 17% e 6%, respectivamente, no significativa nos valores de ângulo de atrito,
solo 1; e no solo 2 se apresentaram menores quando comparado com o solo sem fibra. As
valores, da ordem de 6%, 10% e 11% quando análises mostraram também que quando
adicionados 5%, 10% e 15% de fibras, adicionado 5% de fibras neste solo, não houve
respectivamente. diferenças significativas nos valores de
O teste de Dunnett, ao nível de significância resistência à compressão não-confinada;
de 5%, indicou que no solo 1 não houve ademais, apresentou variações pouco
diferença significativa entre os valores de significativas nos parâmetros de compactação.
resistência à compressão não-confinada quando Esta proporção de fibras (5%) de fibras não
adicionados 5% e 15% de fibras, mas o valor alterou a deformação dos corpos de provas dos
aumentou significativamente com a adição de ensaios de cisalhamento direto e compressão
10% de fibras; no solo 2, o teste de Dunnett não confinada, sendo que o inverso foi
mostrou que a adição de fibras dispersas, verificado nas adições de 10% e 15%. Todas
independentemente da porcentagem, não essas observações indicam que houve melhoria
apresentou diferenças significativas nos valores na mistura sem grandes prejuízos nas
de resistência à compressão não-confinada deformações, afirmação que permite otimizar o
Analisando as curvas tensão vertical vs. teor adequado de fibra.
deformação específica, no solo 1, a deformação Portanto, conforme as análises estatísticas
específica aumentou conforme o incremento de realizadas por meio do teste de Dunnett e as
fibra, apresentando-se as maiores deformações observações detalhadas dos ensaios, optou-se
na mistura com 15% de fibras. No solo 2 a por fazer a otimização dos resultados apenas
deformação específica sem fibra e com 5% de para o ensaio de cisalhamento por ser o
fibra não apresentou alteração em seu principal interesse desta pesquisa, e apenas para
comportamento, tal fato não foi observado para o solo 2 (argiloso) por apresentar melhorias
as misturas com 10% e 15% de fibra, notando significativas quanto ao ângulo de atrito.
um aumento das deformações. Assim, para determinar o teor de fibra ideal
que forneceria o máximo ângulo de atrito,
realizaram-se algoritmos no software Matlab
4 ANÁLISE GLOBAL DOS 7.0, a partir do método de diferenças divididas
RESULTADOS para determinar o polinômio de interpolação
(BURDEN E FAIRES, 2010) que permite
Quanto ao solo 1 (arenoso) as análises otimizar o teor de fibra. A partir destas análises,
estatísticas mostraram que não houve diferença verificou-se que o teor ótimo de fibra seria de
significativa nos parâmetros obtidos nos ensaios 4,7% e o ângulo de atrito máximo atingido seria
de cisalhamento direto (, c), nem nos valores de 37°.
de qu (compressão não-confinada). As análises
também indicaram que a adição de 5% de fibras
apresentou variações pouco significativas nos 5 CONCLUSÕES
parâmetros de compactação. Verificou-se um
ganho de resistência à compressão não- O uso das fibras dispersas de papel kraft está
confinada com 10% de fibras; no entanto, com diretamente ligado com a preocupação
o incremento de 10% e 15%, verificou-se ambiental do tema proposto. Entretanto, a
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contribuição deste trabalho não é unicamente a plasticidade - método de ensaio. Rio de Janeiro.
possibilidade de utilizar este material tão Associação Brasileira De Normas Técnicas – ABNT:
NBR 7181 (2016). Solo – análise granulométrica,
abundante na sociedade como estabilizante, método de ensaio. Rio de Janeiro.
tendo em consideração que esse uso também Associação Brasileira De Normas Técnicas – ABNT:
contribui significativamente na melhoria das NBR 7182 (1988). Solo – ensaio de Compactação.
propriedades físicas e mecânicas do solo Rio de Janeiro.
argiloso. Associação Brasileira De Normas Técnicas – ABNT:
NBR 12770 (2000). Solo coesivo – determinação da
Verificou-se que a transformação do papel resistência à compressão não confinada. Rio de
Kraft em polpa de celulose consume pouca Janeiro.
energia, sendo necessário apenas o uso de água Blumenschein, R. N. (2001). Gerenciamento de resíduos
para a realização do processo de reciclagem. sólidos oriundos da IC. Encontro Nacional Da
Este fator justifica ainda mais o estudo das Ecoeco, 4, Belém (PA), Pará, 17p.
Burden, R. L.; Faires, J. D. (2010). Numerical Analysis,
misturas com estas fibras. 9th edition, Books/Cole, Boston, USA, cap. 3
O solo argiloso respondeu melhor ao Buson, Márcio Albuquerque (2009). KRAFTERRA:
tratamento com as fibras dispersas do que o Desenvolvimento e análise preliminar do desempenho
solo arenoso, no que se refere à resistência ao técnico de componentes de terra com a incorporação
cisalhamento; sendo que, independentemente de fibras de papel Kraft provenientes da reciclagem
de sacos de cimento para vedação vertical. Tese
dos percentuais de fibras utilizados, os valores
(Doutorado) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo,
de ângulo de atrito se elevaram Universidade de Brasília, 135p.
significativamente, sendo o melhor resultado Calderoni, S. (2003). Os Bilhões Perdidos no Lixo, 4ª
apresentado quando adicionado 5% de fibras, ed., Humanitas Editora, FFLCH/USP. São Paulo,
com um aumento da ordem de 48%. A coesão 346p.
DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE
sofreu diminuições significativas com 10% e
RODAGEM – DNER-ME 258/94 (1994). Solos
15% de fibras. compactados em equipamento miniatura Mini-MCV.
O possível teor ótimo de fibra para o solo Rio de Janeiro.
argiloso melhorar as suas propriedades DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE
geotécnicas significativamente é de 4,7%. RODAGEM – DNER-CLA 259/94 (1996).
Considera-se, portanto, a mistura solo - Classificação de solos tropicais para finalidade
rodoviárias utilizando corpos-de-prova compactados
fibras dispersas de papel kraft como sendo mais em equipamento miniatura. Rio de Janeiro.
uma alternativa para a estabilização de solos, John, V. M.; Ângulo, S. C. (2003). Metodologia para
desde que sejam feitas as análises respectivas desenvolvimento de reciclagem de resíduos.
das propriedades físicas e mecânicas dos solos; Coletânea Habitare, Volume 4 – Utilização de
e também como uma alternativa para a redução Resíduos na Construção Habitacional, pp. 8-71.
Rocha, J. C.; Cheriaf, M. (2003). Aproveitamento de
do impacto ambiental causado pelo descarte resíduos na construção. Coleção Habitare, Volume 4
desordenado das embalagens de cimento nas – Utilização de Resíduos na Construção Habitacional,
obras. ANTAC. Porto Alegre, pp. 72-93.

REFERÊNCIAS

American Society For Testing And Materials – ASTM


International (2011): D3080/D3080M-11 – Standard
Test Method for Direct Shear Test of Soils Under
Consolidated Drained Conditions.
Associação Brasileira De Normas Técnicas – ABNT:
NBR 6459 (2016). Solo – determinação de limite de
liquidez - método de ensaio. Rio de Janeiro.
Associação Brasileira De Normas Técnicas – ABNT:
NBR 7180 (2016). Solo – determinação de limite de
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Avaliação do Comportamento de Misturas Alternativas de Solo,


Cimento e Pó de Pedra para Aplicação em Pavimentação.
Leandro Canezin Guideli
Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Brasil, leandro.guideli@gmail.com

Caio Vinicius Ronha Peres


Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Brasil, caiovrperes@gmail.com

Jesner Sereni Ildefonso


Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Brasil, jsildefonso@uem.br

Juliana Azoia Lukiantchuki


Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Brasil, jazoia@yahoo.com.br

RESUMO: O aumento dos custos dos materiais de construção, aliado à redução da disponibilidade
de materiais naturais, novas exigências e limitações impostas na construção de pavimentos
rodoviários, tornam fundamental a busca por novos materiais que possam ser desenvolvidos de
forma a se conseguir bom desempenho, custo relativamente baixo e adequabilidade do ponto de
vista ambiental. Neste sentido, na região Noroeste do Paraná, mais especificamente na região da
cidade de Mandaguaçu, o resíduo do pó de pedra caracteriza-se como um subproduto originado do
processo de britagem de rochas em pedreiras e que pode atender tais requisitos. Assim, este trabalho
apresenta um estudo da incorporação do pó de pedra em matrizes de solo e cimento utilizando um
solo arenoso residual típico da região, coletado na cidade de Mandaguaçu (PR). Para isso foram
realizados ensaios de caracterização física e ensaios de dosagem físico-química. Adicionalmente,
corpos de prova foram confeccionados para avaliação da resistência à compressão simples e
resistência à compressão diametral. Os resultados indicaram que a utilização do teor de 4% de
cimento na matriz solo e pó de pedra já apresentam resultados satisfatórios para os parâmetros
avaliados.

PALAVRAS-CHAVE: Pó de pedra, Resíduo, Solo-Cimento, Resistência Mecânica, Resistência à


compressão simples, Resistência à tração, Pavimentação.

1 INTRODUÇÃO minimização dos impactos ambientais que


ocorre por meio do seu emprego.
As soluções construtivas baseada na utilização Neste contexto, destaca-se o resíduo
de materiais alternativos têm motivado grandes classificado como pó de pedra, que se
pesquisas (Grando et al. 2016; Dallacort et al. caracteriza como um material fino, subproduto
2002; Costa, 2017) em todo o mundo. Tais da britagem de rochas. Estima-se que este
materiais devem apresentar bom desempenho subproduto represente entre 15% a 20%, em
como requisito básico, garantindo a qualidade massa, dos produtos de britagem das
adequada ao seu uso, assim como viabilidade rochas. Destaca-se que na região Norte do
econômica ao seu emprego. O interesse se torna Paraná, este subproduto apresenta um valor
mais acentuado quando esses materiais são comercial reduzido, sendo muitas vezes
classificados como resíduos, sobretudo devido à estocado em pátios de pedreiras, podendo se
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tornar um agente de degradação ambiental do Paraná. A escolha por este solo foi realizada
(Guideli, 2017). justamente por ser um solo laterítico arenoso,
Grando et al. (2016) estudaram a que apresenta caracteristicas positivas ao seu
incorporação de resíduo de pó de pedra em emprego em camadas de base de
misturas de solo-cimento mediante ensaios de pavimentos. Destaca-se ainda que este solo tem
resistência à compressão simples. Os resultados sido utilizado (Costa, 2017; Silva, 2016) em
indicaram que os valores de resistência trabalhos de pesquisa da Universidade Estadual
aumentam tanto com o aumento do teor de de Maringá (UEM/PR).
cimento como com o aumento do teor de pó de O resíduo denominado pó de pedra foi
pedra. Desta forma, os autores apontam que, fornecido pela Mineradora Extracon, localizada
além da viabilidade técnica, esta solução se na cidade de Maringá (PR). Como esse
apresenta financeiramente viável, uma vez que subproduto de britagem é gerado na região da
reduz os custos associados ao emprego do cidade de Maringá, e considerando as
cimento. Dallacort et al. (2002) apresentam a características geológicas, o material apresenta
finura do pó de pedra como uma possível causa composições química e mineralógica,
para a melhora da resistência, uma vez ela essencialmente basálticas. O material coletado
possibilita o preenchimento dos vazios entre as foi preparado para a pesquisa utilizando-se
partículas maiores do cimento e, somente a fração passante na peneira de # 10
consequentemente, aumenta a compacidade e a (abertura 2.0 mm).
resistência da mistura. O cimento Portland utilizado foi o CP II Z-
Costa (2017) analisou a viabilidade do 32, cujas propriedades são apresentadas na
emprego do pó de pedra da região de Maringá Tabela 1.
(PR) em camadas de base de pavimentos. O Em relação às misturas, foi estabelecido o
resíduo, proveniente de rochas basálticas, foi uso de misturas de solo e pó de pedra nas
misturado com latossolo argiloso de Maringá mesmas proporções, variando-se apenas o teor
(PR) e com latossolo arenoso evoluído de cimento, o quais foram definidos com base
proveniente do arenito Caiuá, além de cimento no Ensaio de Dosagem Físico-Química
(CPII-E-32), em diferentes proporções. Os proposto por Chadda (1971) apud Basso et al.
resultados indicaram a viabilidade do emprego (2003).
do pó de pedra em camadas de pavimentos.
Considerando a importância da destinação Tabela 1. Propriedades do cimento CP II Z-32
adequada deste tipo de resíduo, este trabalho (Dados: Votorantim).
Propriedades físicas
apresenta os resultados de resistência à
Blaine (cm2/g) ≥ 2600
compressão simples e à compressão diametral Tempo de início de pega (h:min) ≥1
de misturas de solo, cimento e pó de pedra, Tempo de fim de pega (h:min) ≤ 10
visando analisar a viabilidade do emprego deste Finura na peneira # 200 (%) ≤ 12
material em obras de pavimentação. Expansibilidade a quente (mm) ≤5
Resistência à compressão 7 dias (MPa) ≥ 20
Resistência à compressão 28 dias (MPa) ≥ 32
2 MATERIAIS E MÉTODOS Propriedades químicas
Teor de pozolana Entre 6 e 14
2.1 Materiais Perda ao fogo (%) ≤ 6.5
Resíduo insolúvel (%) ≤ 16
Este trabalho de pesquisa foi desenvolvido por Trióxido de enxofre – SO3 (%) ≤4
Óxido de Magnésio - MgO (%) ≤ 6.5
meio do estudo de misturas de solo, pó de pedra
e cimento Portland. O solo utilizado é
2.2 Dosagem Físico-Química
classificado como solo arenoso evoluído,
coletado na cidade de Mandaguaçu, no Noroeste
Este método de dosagem físico-química em
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misturas de solo-cimento foi empregado para se mecânica da solução com a utilização da


definir a porcentagem mínima necessária para baqueta de vidro, garantindo homogeneização e
se estabilizar as amostras do solo arenoso e da padronização das leituras. Assim, todas as
mistura solo-pó de pedra na proporção de 50% leituras devem ser tomadas exatamente 30
para cada material. minutos após a sua agitação, durante os 7 dias.
Esses ensaios foram realizados no início da Após a estabilização dos valores dos
pesquisa, pois o objetivo foi estabelecer as volumes ocupados pelos sedimentos, o
porcentagens de cimento que seriam utilizadas procedimento pode ser interrompido.
neste estudo. A Figura 2 apresenta os resultados do ensaio
Para esse ensaio foram utilizadas provetas de dosagem físico-química. Analisando os
graduadas com capacidade de 250 ml (Figura resultados, observa-se que as maiores variações
1). Para cada uma das amostras foram utilizadas volumétricas ocorreram para a amostra de solo
7 provetas com os teores de cimento de 0%, na condição natural. Este comportamento ocorre
2%, 4%, 6%, 8%, 10% e 12%, em termos de porque a adição do pó de pedra, que é um
massa seca. material proveniente de rocha basáltica, diminui
proporcionalmente a porcentagem de
argilominerais presentes no solo. Desta forma,
como o método avalia as variações volumétricas
devido às reações que ocorrem entre os
argilominerais e o cimento, a mistura apresenta
tendência à ocorrência de menores variações
volumétricas.
Os resultados indicaram que, para o solo
natural, o teor mínimo de cimento requerido é
de 6%, com variação volumétrica máxima de
Figura 1. Ensaio de Dosagem Físico-Quimica em 183.33%, enquanto que para a mistura
andamento. observou-se que a variação volumétrica máxima
foi de 133.33% para os teores de 4% e 6%.
O ensaio foi realizado de acordo com o Esses resultados indicaram ainda que a adição
proposto por Basso et al. (2003). Para isso, de pó de pedra apresenta indícios de melhoria
foram utilizados 20 g, em massa seca, de solo na estabilização das misturas, reduzindo a
ou solo-pó de pedra. Essa amostra foi colocada porcentagem mínima de cimento de 6% para
dentro da proveta, com o teor de cimento 4%.
correspondente e 50 ml de água destilada.
Posteriormente, foi feita a agitação com uma
baqueta de vidro até a completa
homogeneização. Em seguida, completou-se a
proveta com água destilada até a graduação de
100 ml.
Durante 7 dias foram realizadas as leituras,
sempre no mesmo horário em que ocorreu a
preparação no primeiro dia, nas quais foram
anotados os volumes ocupados pela parcela
sedimentada da amostra, para cada uma das
amostras e porcentagens de cimento estipuladas.
O procedimento determina que, 30 minutos Figura 2. Resultado do ensaio de dosagem físico-química.
antes da leitura, deve-se realizar a agitação
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Por meio desses resultados foram


estabelecidas as porcentagens das misturas a
serem analisadas. Considerando que 4%
representa o teor mínimo de cimento, foi
proposta a avaliação de mais duas matrizes com
6% e 8%, além da mistura sem cimento. Na
Tabela 2 são apresentadas as proporções de
materiais das misturas avaliadas no presente
trabalho.

Tabela 2. Misturas adotadas a partir da dosagem físico-


química.
Mistura Solo (%) Pó de pedra (%) Cimento (%)
S_P_00 50 50 0
S_P_04 48 48 4 Figura 3. Molde e corpo de prova.
S_P_06 47 47 6
S_P_08 46 46 8
2.5 Ensaios de resistência
2.3 Ensaios de Caracterização Geotécnica 2.5.1 Resistência à compressão simples
A caracterização geotécnica foi realizada de Os ensaios de resistência à compressão simples
acordo com as normas da ABNT, sendo os (RCS) foram realizados de acordo com a NBR
ensaios: massa específica dos sólidos (NBR 12025 (2012), seguindo a recomendação de um
6458, 2017); limite de liquidez (NBR 6459, período de 4 h de imersão total dos corpos de
2016); limite de plasticidade (NBR 7180, prova com cimento, antes da ruptura. Não foi
2016); análise granulométrica (NBR 7181, realizado o controle de saturação após o período
2016) e ensaio de compactação (NBR 7182, de imersão. Entretanto, como o período de
2016). imersão é pequeno e o cimento diminui a
permeabilidade da mistura, considera-se que a
2.4 Moldagem e cura dos corpos de prova variação do grau de saturação não é
significativa. Desta forma, os corpos de prova
A moldagem dos corpos de prova (CP) foi apresentam um comportamento de resistência
realizada através de compactação dinâmica, em de solo não saturado e portanto os valores de
três camadas, com 50 mm de diâmetro e resistência apresentam influência da sucção. Os
100 mm de altura. Para isso, utilizou-se um ensaios foram realizados utilizando-se uma
cilindro do tipo bipartido (Figura 3) célula de carga com capacidade de 20 kN, dois
Após a moldagem foi realizado controle da transdutores de deslocamento (LVDT) e uma
massa para avaliar o grau de compactação dos rótula para auxiliar na distribuição de tensões. A
corpos de prova. Posteriormente, os corpos de aquisição dos dados foi realizada por meio do
prova foram devidamente embalados, sistema Spider 8 da HBM e do software Catman
identificados e colocados em camara úmida Easy. Na Figura 4 é possível verificar o
durante o período de cura de 7 dias. esquema de realização dos ensaios.
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3 RESULTADOS

3.1 Ensaios de Caracterização

A seguir serão apresentados os resultados dos


ensaios de caracterização do solo, do pó de
pedra e das misturas. Em relação à massa
específica dos sólidos (s), os resultados
indicaram que o pó de pedra apresenta massa
específica superior à do solo. Este resultado
Figura 4. Ensaio de resistência à compressão simples em pode ser associado à mineralogia do pó de
andamento. pedra, que possivelmente apresenta minerais de
óxidos de ferro na sua constituição. A Tabela 3
Os ensaios foram conduzidos com a apresenta os resultados dos materiais
aplicação manual da carga em velocidade analisados.
aproximada de 1 mm/minuto. A carga foi
aplicada até se observar a ruptura do corpo de Tabela 3. Massa específica dos sólidos.
prova. Adotou-se como RCS o valor da máxima Amostra s (g/cm3)
Solo 2.71
força registrada, dividido pela área da seção
Pó de pedra 3.04
transversal do corpo de prova. Solo – Pó de pedra (50%) 2.87

2.5.2 Resistência à tração (RT) As curvas da distribuição granulométrica são


apresentadas na Figura 6, onde é possível
Os ensaios de resistência à tração foram observar que, apesar do solo ser composto
realizados por meio de compressão diametral predominantemente por areia fina e média,
(Figura 5), com base na NBR 7222 (2011). O também apresenta porcentagem de argila
controle da carga aplicada foi realizado por uma significativa, da ordem de 27%. No caso do pó
célula de carga com capacidade de 20 kN. A de pedra, observa-se a ausência de fração
velocidade de aplicação da carga foi de granulométrica argilosa, com predominância de
(0.05  0.02) MPa/s, até se observar a ruptura areia fina (47.5%), seguida de areia grossa
do corpo de prova. (33%). Assim, a mistura analisada apresentou
característica arenosa, com predominância de
fração fina. O teor de argila foi de
aproximadamente 10%.

Figura 5. Ensaio de resistência à compressão diametral


em andamento. Figura 6. Curva de distribuição granulométrica.
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A Figura 7 apresenta a distribuição Tabela 5. Classificação SUCS e TRB.


granulométrica do cimento CP II Z-32, Amostra SUCS TRB
Solo SC A-2-6
realizada com o uso de um granulômetro a Pó de pedra SM A-2-4
laser. Observa-se que o tamanho dos grãos fica Solo – Pó de pedra (50%) SC A-2-6
entre 1 a 40 m, sendo que ocorre a
predominância de grãos em 15 m. Desta A classificação SUCS indicou que o solo e a
forma, comparativamente, a adição de cimento mistura apresentam comportamento de areia
introduz finos à matriz de solo e pó de pedra, argilosa, enquanto o pó de pedra apresentou a
proporcionando melhor entrosamento entre os classificação do tipo areia siltosa. A
grãos. classificação TRB indicou que o solo e a
mistura apresentam indicação de
comportamento entre regular a mau para o
emprego em subleito. O pó de pedra apresentou
comportamento entre excelente e
bom. Entretanto Villibor et al. (2009) destacam
que, para solos lateríticos, tais sistemas de
classificação não levam em conta o real
potencial que o material pode
apresentar. Portanto, o potencial do emprego do
material não pode ser avaliado exclusivamente
pelos sistemas clássicos de classificação.
Figura 7. Curva de distribuição granulométrica (cimento
CP II Z-32). 3.2 Ensaios de Compactação
Os ensaios de limites de consistência
Foram realizados ensaios de compactação para
indicaram que o pó de pedra não apresenta
as misturas de solo e pó de pedra considerando
comportamento plástico. Os resultados para as
as características apresentadas na Tabela 2. A
demais amostras são apresentados na Tabela 4.
Figura 7 apresenta as curvas de compactação
Desta forma, observa-se que, mesmo o pó de
para as diferentes misturas.
pedra não apresentando limites de consistência,
a mistura do solo com o pó de pedra apresentou
indícios de plasticidade.

Tabela 4. Limites de consistência.


Amostra LP (%) LL (%) IP (%)
Solo 26 16 10
Pó de pedra NP* NP* NP*
Solo – Pó de pedra (50%) 23 15 8
Nota: NP*: não-plástico; LL: limite de liquidez; LP:
limite de plasticidade.

Os resultados de caracterização permitiram


classificar o solo, o pó de pedra e a mistura com
base na Classificação Unificada dos Solos
(SUCS) e com base na Classificação TRB,
proposta para utilização em rodovias (Tabela 5).
Figura 7. Curvas de compactação.
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quanto maior o teor de cimento, menores são os


A Tabela 6 apresenta o resumo dos valores de deformação, evidenciando a
resultados para as diferentes misturas. De ocorrência de ruptura brusca. A matriz de solo e
maneira geral observa-se que a adição de pó de pedra foi aquela que apresentou as
cimento não apresentou influência significativa maiores deformações, conforme observa-se na
nos parâmetros de compactação das Figura 8.
misturas. Os resultados indicam que para a
condição do teor de umidade ótimo o grau de
saturação é aproximadamente 74%. O índice de
vazios e o grau de saturação, para a condição do
teor de umidade ótimo, variaram entre 0,43 a
0,46 e 73% a 76%, respectivamente. A variação
desses índices físicos não apresentou relação
claramente definida com o teor de cimento da
mistura.
As misturas com 6% e 8% apresentaram
valores de massa específica seca máxima muito
próximos. O menor valor observado foi para a
mistura com 4%. Entretanto, observa-se que a
diferença percentual entre o valor máximo e
mínimo foi de apenas 1.8%.
Em relação ao teor de umidade ótimo,
observa-se que as misturas com 0% e 4% de
cimento apresentaram valores similares. A
medida que se aumentou o teor de cimento, os
valores diminuiram. A comparação entre os
valores máximo e mínimo indicou uma
diferença percentual de aproximadamente 6%.
Tabela 6. Resumo dos resultados de compactação.
Mistura wot. (%) dmáx. (g/cm3)
S_P_00 11.60 1.993
S_P_04 11.70 1.969
S_P_06 11.30 2.008
S_P_08 11.05 2.005
Nota: wot.: teor de umidade ótimo e dmáx.: massa
específica seca máxima.

3.3 Resistência à compressão simples (RCS)


Nota: escala diferente de deformação para as misturas
com cimento e sem cimento.
Os resultados de resistência à compressão Figura 8. Curvas tensão versus deformação.
simples foram determinados por meio da curva
tensão versus deformação. A Figura 8 apresenta Na Tabela 7 são encontrados os coeficientes
curvas típicas para as amostras analisadas. de variação, os quais indicam que os resultados
Observa-se que a adição de cimento na apresentaram uma variação estatística bastante
matriz solo e pó de pedra aumenta a rigidez do razoável, podendo considerar os valores médios
material e, consequentemente, as deformações representativos das condições ensaiadas. Na
que o material suporta diminuem. Desta forma, Figura 9 são apresentados os valores médios de
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resistência à compressão simples, os quais


indicam ganho expressivo de resistência em
função da adição de cimento na matriz de solo e
pó de pedra.
Os valores de RCS foram normalizados em
relação ao valor da RCS para a mistura S_P_00,
possibilitando avaliar a influência da adição de
cimento na matriz.

Tabela 7. Resistência à compressão simples.


Mistura RCS (MPa) cv (%) Figura 10. Valores de RCS normalizados.
S_P_00 0.085 3.19
S_P_04 2.098 8.93
Os resultados mostram, ainda, que a mistura
S_P_06 3.209 9.33
S_P_08 4.269 8.63 S_P_004 apresentou aproximadamente 2.1 MPa
Nota: cv: coeficiente de variação.
de resistência, que é o valor mínimo
recomendado pela NBR 12025 (2012). Destaca-
se que o método de dosagem físico-química
indicou que 4% é o mínimo teor de cimento
necessário para a estabilização da mistura. Tais
resultados evidenciam que o método físico-
químico pode ser utilizado como uma
importante ferramenta na avaliação do teor de
cimento no processo de estabilização de
misturas de solo-cimento.

3.4 Resistência à tração (RT)

Figura 9. RCS em função do teor de cimento.


Os valores médios de resistência à compressão
diametral são apresentados na Tabela 8 e na
A Figura 10 apresenta os valores de RCS, Figura 11. Os coeficientes de variação
normalizados. Os resultados indicam que a apresentaram valores razoáveis e, portanto,
adição de 4% de cimento proporcionou aumento considerou-se que os valores médios são
de aproximadamente 25% na RCS. Para as representativos das amostras ensaiadas.
misturas com 6% e 8%, observou-se acréscimo
Tabela 8. Resistência à compressão diametral.
de 38% e 51%, respectivamente. Os resultados
Mistura RT (MPa) cv (%)
mostram que o comportamento da RCS é linear S_P_00 0.006 9.32
e diretamente proporcional à porcentagem de S_P_04 0.169 13.46
cimento. S_P_06 0.329 6.95
S_P_08 0.338 10.63
Nota: cv: coeficiente de variação.
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Tabela 9. Valores médios das condições de moldagem


dos corpos de prova.
Mistura w (%) e Sr (%)
S_P_00 - 0,68% 0,46 67,5%
S_P_04 - 0,76% 0,46 68,5%
S_P_06 0,03% 0,43 75,4%
S_P_08 - 0,14% 0,42 75,0%
Nota: w : desvio de umidade em relação ao teor ótimo,
e: índice de vazios e Sr: grau de saturação.

A comparação entre os valores de RCS e RT


indicam que a resistência à compressão simples
Figura 11. RT em função do teor de cimento. é cerca de 10 a 13.5 vezes maior do que a
resistência á tração. E, comparativamente,
Observou-se que o ganho de resistência
percebe-se que a utilização entre 4% a 6% de
devido à adição de cimento foi mais expressivo
cimento possibilita os melhores resultados, pois
para teores até 6%. Este comportamento pode
acima desses teores o ganho de resistência à
ser melhor evidenciado na Figura 12, que
compressão diametral é insignificante.
apresenta os valores de resistência à tração
normalizados. A adição de 4% de cimento
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
proporcionou ganho de resistência de 27%,
enquanto que, para 6%, o acréscimo foi de
Este trabalho apresentou resultados do
52%. Os resultados indicaram que a adição de
comportamento de resistência de misturas de
8% de cimento não apresentou ganhos
solo e pó de pedra estabilizadas por meio da
significativos, apresentando valores
adição de cimento Portland. Em relação aos
semelhantes àqueles observados para as
principais resultados observados, destaca-se:
misturas com 6% de cimento.
1. O ensaio de dosagem físico-química se
Os resultados de resistência foram
apresentou como uma ferramenta muito útil na
comparados com as condições de moldagem
determinação dos teores de cimento a serem
dos corpos de prova. Observou-se que o desvio
adicionados à mistura de solo e pó de pedra;
da umidade ótima, o índice de vazios e o grau
2. Os resultados da dosagem físico-química
de saturação apresentaram condições
indicaram que, para o solo puro, o teor de
relativamente próximas entre sí, conforme
cimento mínimo é de 6%, enquanto que, para a
apresentado na Tabela 9. As misturas com 6% e
mistura solo e pó de pedra, o teor mímino foi de
8% apresentaram um grau de saturação um
4% a 6% de cimento. Assim, constatou-se que a
pouco superior as demais, podendo influenciar
adição de pó de pedra pode possibilitar a
nos valores de sucção e consequentemente na
establização do solo com menor consumo de
resistência à tração.
cimento;
3. Os resultados de resistência à compressão
simples indicaram que a adição de cimento na
mistura promove aumento linear da resistência.
Adicionalmente, observou-se que, para 4% de
cimento, foi atingido o valor de 2.1 MPa
sugerido pela norma. Os resultados ratificam o
teor de 4% observado na dosagem físico-
química;
4. Os resultados de resistência à compressão
diametral indicaram que a adição de até 6% de
Figura 12. Valores de RT normalizados. cimento na mistura promove ganhos
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significativos de resistência. A partir de 6% de Solos Típicos do Noroeste do Paraná, IV Encontro


cimento o aumento de resistência indica a Tecnológico da Engenharia Civil e Arquitetura,
ENTECA, Maringá.
estabilização dos valores e, consequentemente, Chadda, L. R. (1971). A rapid method of assessing the
a adição de cimento pode não se tornar cement requirement for the stabilization of soils,
vantajosa; Indian Concrete Journal, v. 45, p. 298-314.
5. Por fim, estabeleceu-se que a continuidade Costa, V. S. M. (2017) Avaliação da Viabilidade de
desta pesquisa será realizada utilizando-se Utilização de Pó de Pedra em Misturas com Solo-
Cimento para Aplicação em Base e Sub-base de
misturas de solo, pó-de-pedra e 6% de cimento, Pavimentos, Dissertação de Mestrado, Programa de
que são valores que atendem o teor mínimo de Pós Graduação em Engenharia Urbana (PEU),
cimento para o solo e para a mistura do solo e Departamento de Engenharia Civil, Universidade
pó de pedra, conforme indicado pela dosagem Estadual de Maringá, Maringá 89 p.
físico-química. Dallacort, R., et al. (2002). Resistência à compressão do
solo-cimento com substituição parcial do cimento
Destaca-se que os resultados apresentados Portland por resíduo cerâmico moído, Revista
neste artigo são preliminares e que a Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental,
continuidade deste trabalho será realizada com Campina Grande, v.6, n.3, p.511-518.
o uso de ensaios complementares. Guideli, L. C. (2017) Avaliação do comportamento de
misturas de solo-cimento e pó de pedra para fins de
base e sub-base de pavimentos, Trabalho de
AGRADECIMENTOS Conclusão de Curso, Departamento de Engenharia
Civil, Universidade Estadual de Maringá (UEM/PR),
Os autores gostariam de expressar o seu 89 p.
agradecimento ao revisor deste artigo, que Grando, L,; Nienov, F. A,; Zampieri, L. Q,; Luvizão, G.S
(2016). Determinação da influência da incorporação
contribuiu significativamente para o
do pó de pedra em misturas de solo-cimento,
aprimoramento do trabalho. COBRAMSEG, ABMS, Belo Horizonte, 6p.
Silva, T. B. (2016) Avaliação da resistência à
compressão simples de misturas de solo e resíduos de
REFERÊNCIAS construção e demolição (RCD) reforçadas com fibra
de polipropileno para fins de pavimentação, Trabalho
de Conclusão de Curso, Departamento de Engenharia
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
Civil, Universidade Estadual de Maringá (UEM/PR),
TÉCNICAS. NBR 12024: Solo-Cimento – Moldagem
60 p.
e cura de corpos-de-prova cilíndricos. Rio de Janeiro,
Villibor, D. F., et al (2009) Pavimentos de baixo custo
2012.
para vias urbanas – Bases alternativas com solos
______. NBR 12025: Solo-Cimento – Ensaio de
lateríticos – Gestão de manutenção de cias urbanas,
compressão simples de corpos- de-prova cilíndricos.
2 ed., Editora Arte & Ciência, São Paulo (SP), 193 p.
Rio de Janeiro, 2012.
______. NBR 6459: Solo – Determinação do limite de
liquidez. Rio de Janeiro, 2016.
______. NBR 6458: Solo passante na Peneira de 4,8 mm
– Determinação da Massa Específica. Rio de Janeiro,
2017.
______. NBR 7180: Solo – Determinação do limite de
plasticidade. Rio de Janeiro, 2016.
______. NBR 7181: Solo – Análise Granulométrica. Rio
de Janeiro, 2016.
______. NBR 7182: Solo – Ensaio de compactação. Rio
de Janeiro, 2016.
______. NBR 7222: Concreto e argamassa –
Determinação da resistência à tração por compressão
diametral de corpos de prova cilíndricos. Rio de
Janeiro, 2011.
Basso, F. V,; Ferraz, R. L,; Belincanta, A,; Ramos, F. S.
(2003). Aplicação do Método Físico-Químico aos
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Avaliação do Comportamento do Solo Laterítico de Brasília


Misturado com a Fração de Vermiculita Expandida no
Preenchimento de Cavas em Regiões Urbanas
Sonny Albert Amorim da Silva
Centro Universitário de Brasília, Brasília, Brasil, engsonnyalbert@gmail.com

Victoria Maria Callai de Melo


Centro Universitário de Brasília, Brasília, Brasil, victoriacallai@gmail.com

Neusa Maria Bezerra Mota


Centro Universitário de Brasília, Brasília, Brasil, neusa.mota@ceub.edu.br

RESUMO: As cavas urbanas são cada vez mais frequentes, em geral, devido à implantação de
empreendimentos comerciais e residenciais com mais de um subsolo, por exemplo. Em termos
geotécnicos o reaterro dessas cavas, com o solo do próprio local, em especial na região do Distrito
Federal, solos lateríticos, podem representar esforços solicitantes adicionais às estruturas e
fundações e levar a um comprometimento do desempenho técnico e funcional dessas obras. Nesse
sentido, este trabalho apresenta uma alternativa para preenchimento de cavas urbanas, com mistura
de material com menor peso específico comparado ao solo natural, a partir da mistura de solo e
vermiculita expandida. Foram realizados ensaios de caracterização dos materiais, classificação
MCT, compactação Proctor Normal, cisalhamento direto e expansibilidade das amostras. As
misturas ensaiadas foram para os teores de 6%, 12,5%, 19% e, 25% de vermiculita expandida em
relação à massa de solo seco. Dos resultados obtidos na pesquisa foi possível determinar que a
mistura de solo-vermiculita expandida como material alternativo na recomposição de cavas urbanas
proporcionou redução de 20% do ângulo de atrito e dobrou a coesão nos ensaios realizados na pior
condição no estado saturado e, gerou reduções significativas no peso específico seco máximo dos
materiais, aproximadamente, 29% para o solo laterítico com adição de 25% de vermiculita
expandida, permitindo realizar preenchimento de cavas urbanas com material mais leve
possibilitando a redução do custo final das estruturas.

PALAVRAS-CHAVE: Preenchimento de cavas, Recomposição de cavas, Vermiculita expandida,


Redução do peso específico.

1 INTRODUÇÃO solo natural, porém esta pode apresentar um


peso específico expressivo dependendo do tipo
A engenharia geotécnica presa pelo de obra, fazendo-se necessário realizar estudos
melhoramento do solo, sendo este um dos para reduzir o seu peso específico.
motivos para a o estudo de diversas propostas Alguns estudos foram realizados com adição
que possibilitem o aumento da resistência de cimento e cal hidratado, em que
mecânica do solo e redução do seu peso apresentaram mudanças nas densidades do
específico, proporcionando eficiência e composto de acordo com a porcentagem de
economia. Uma alternativa que se na adição do material a mistura. A densidade do
compactação e recomposição de cavas é com material a ser empregado na obra poderá
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influenciar nos custos finais da obra, devido a podem ser classificados em grupos e subgrupos
requerer estruturas mais robustas e armadas, conforme o seu ponto de vista na engenharia.
sendo assim é essencial o desenvolvimento de O ensaio Miniatura Compactada Tropical
estudos com matériais menos densos. (MCT) é uma metodologia de ensaio rápido que
Um material interessante como opção para a fixa o processo para descrição e identificação
recomposição de cavas é a vermiculita expedida de solos, com base na determinação
expandida, que apresenta densidade visual-táctil (Nogami, 1991). No qual foi
relativamente baixa perante outros materiais, utilizado para verificar o tipo de consistência do
como o cimento, a cal e a borracha, por solo, como também, a resistência no estado
exemplo. seco, observando se existe ou não
A vermiculita é produzida em escala em expansão/contração. O solo utilizado na
algumas regiões no mundo, como África do Sul, pesquisa apresentou uma classificação como
Estados Unidos, China e Brasil. Sua Argiloso Laterítico (LG’).
comercialização pode se dar tanto na forma
expandida ou concentrada, dependendo da
finalidade de destino. Na engenharia geotécnica,
a vermiculita é utilizada após o processo de
transformação da matéria, resultando em
vermiculita expandida.
Tendo em vista o cenário descrito
anteriormente, estabeleceu-se na presente
pesquisa uma metodologia laboratorial com Figura 1. Amostra de solo.
adição de vermiculita expandida para
recomposição de cavas em áreas urbanas. As 2.2 Vermiculita Expandida
avaliações incluíram ensaios de caracterização
física, determinação dos teores de vermiculita A vermiculita expandida é um minerio que
expandida na mistura com a massa de solo seco, provém do processo de extração de rocha, por
compactação Proctor Normal, resistência ao exemplo, do feldspato, granito e sienito. Após o
cisalhamento direto e expansibilidade para o processo de extração da vermiculita, o material
solo com e sem adição de vermiculita é lavrado e passado por um processo de
expandida. transformação da matéria a altas temperaturas
entre 800 a 1100 °C, passando de uma estrutura
lamelar para flocos denominado de vermiculita
2 MATERIAIS expandida (Figura 2) e, posteriormente, é
realizado o processo de trituração dos flocos.
2.1 Solos Lateríticos de Brasília A vermiculita possui uma densidade de 640 a
960 Kg/m³ antes de ser levada a altas
O solo laterítico de Brasília (Figura 1) apresenta temperaturas, depois de submetida, pode obter
uma cor característica vermelha, amarela, densidade de 56 a 192 Kg/m³, podendo ter
marrom ou laranja dependendo do seu processo expansão de 90% do volume (Vieira, 2013).
de formação e grau de intemperização.
Segundo Lima (2003), os solos de Brasília
apresentam características de solo poroso com
espessuras que podem chegar até 10 m,
apresentando comportamento geotécnico
bastante distinto em relação a outras regiões.
Solos diferentes com propriedades similares
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comportamento do mesmo, por exemplo, peso


específico e umidade ótima. Os teores foram
determinados em relação à massa total da
mistura.
As porcentagens citadas acima foram
escolhidas devido a tentar reduzir o peso
específico do solo-vermiculita até um limite que
Figura 2. Vermiculita expandida. não prejudique após a compactação do mesmo.
3 METODOLOGIA Assim, foi determinado um limite de 25% de
vermiculita a ser ensaiado, posteriormente,
3.1 Caracterização do Solo foram escolhidos os teores intermediários entre
0% e 25% de vermiculita para analisar o
3.1.1 Caracterização Física do Solo comportamento dos mesmos, como também,
pela carência de estudos semelhantes com a
Para determinar as características físicas do vermiculita expandida.
solo, foram realizados os ensaios de Porém foi encontrado apenas um estudo com
granulometria, massa específica real dos grãos, adições de 0%, 0,57%, 1,14%, 1,71%, 2,28% e
massa específica aparente, limites de Atterberg 2,85% em peso. A Tabela 1 apresenta os
e de compactação conforme as normas ABNT. símbolos utilizados na identificação do solo e
das adições de vermiculita expandida.
3.1.2 Ensaios de Compactação
Tabela 1. Símbolos dos materiais utilizados na pesquisa.
Para determinar as condições de compactação Material Vermiculita Símbolo
dos corpos de prova, que visam avaliar as (%)
Solo natural 0 SN
propriedades mecânicas do solo com e sem a
Mistura de Solo 6 S+6%V
adição de vermiculita expandida, foi realizado o Mistura de Solo 12,5 S+12,5%V
ensaio de compactação com o emprego da Mistura de Solo 19 S+19%V
energia normal segundo a norma NBR 7182/16. Mistura de Solo 25 S+25%V
Mistura de solo 30 S+30%V
Vermiculita 100 100%V
3.2 Caracterização da Vermiculita
expandida
Expandida
3.4 Ensaios de Cisalhamento Direto
3.2.1 Caracterização Física da Vermiculita
Expandida
Através do ensaio de cisalhamento direto se
obtém a coesão e ângulo de atrito interno das
Foi realizado granulometria e massa específica
partículas, auxiliando na análise de problemas,
real dos grãos, segundo as normas NBR
por exemplo, capacidade de carga, estabilidade
7181/84 e 6508/84, respectivamente.
de taludes e pressão lateral em estruturas de
contenção de terra. Os ensaios foram realizados
3.3 Mistura Solo – Vermiculita Expandida
segundo a ASTM D 3080/98 na umidade ótima
de compactação Proctor Normal.
Após a determinação da umidade ótima do solo
As tensões normais para se obter as
natural, foram realizadas misturas de solo-
envoltórias de Mohr-Coulomb foram de 50 kPa,
vermiculita expandida com distintos teores de
100 kPa e 200 kPa a uma velocidade de 0,030
vermiculita (6%, 12,5%, 19%, 25%, 30%) e
mm/min com deslocamento estabelecido de 7
uma curva de 100% de vermiculita expandida
mm. O anel metálico para moldagem tem 5,08
sem adição de solo para analisar o
cm de lado e 2 cm de altura. Os ensaios
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duraram aproximadamente 4 horas e meia para


cada ponto. Totalizando 21 pontos de A análise granulométrica do solo foi realizada
cisalhamento direto. conforme a NBR 7181/84 para as curvas com e
sem adição de defloculante (Figura 5), pode-se
observar que existe uma diferença na
distribuição granulométrica para o solo com e
sem defloculante. A Tabela 2 apresenta os
resultados da composição granulométrica das
amostras de solo com e sem defloculante.

Figura 3. Moldagem de um corpo de prova para


realização do ensaio de cisalhamento direto: a)
Centralização do anel para moldagem; b) Corte do corpo
de prova na base; c) Corpo de prova após moldagem
parte superior; d) Corpo de prova após moldagem parte
inferior.
Figura 5. Curvas granulométricas do solo puro com e sem
3.5 Ensaio de Expansão defloculante.

O ensaio de expansão foi realizado conforme a Tabela 2. Análise granulométrica do solo com e sem
NBR 9895/87, para amostra com e sem adição defloculante.
de vermiculita expandida. Os resultados obtidos Granulometria (mm) Amostra com Amostra sem
são de acordo com os métodos de defloculante defloculante
(%) (%)
dimensionamento de pavimentos flexíveis. Argila (< 0,002) 67,3 0,1
A expansibilidade das amostras foi após a Silte (0,06 – 0,002) 17,3 8
compactação na umidade ótima, referente a Areia (2,0 – 0,06) 4,4 80,8
cada teor (Tabela 1). Cada corpo de prova foi Pedregulho (> 2,0) 11,1 11,1
posicionado em uma base perfurada para
determinar a expansão do material, em que os Foi possível verificar que a solução de
corpos de provas foram submetidos à saturação defloculante influencia diretamente sobre as
por 96 horas (Figura 4). partículas dos grãos, facilitando na
desagregação das partículas ao realizar o ensaio
de sedimentação. Logo, o ensaio sem
defloculante apresentam grãos agrupados e a
sedimentação ocorre mais rápida conforme
citado por Silva et al., (2016).
A Tabela 3 mostra os limites de consistência
de Atterberg. O solo estudado apresentou uma
massa específica real dos grãos (Gs) no valor de
2,6796 g/cm³.
Figura 4. Corpos de prova submersos por 96 horas.
Tabela 3. Limites de Atterberg.
Limite de Liquidez Limite de Índice de
(%) Plasticidade Plasticidade
4 RESULTADOS (%) (%)
55 34 11
4.1 Ensaios de Caracterização do Solo
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4.2 Ensaios de Caracterização da conforme o aumento do teor de vermiculita.


Vermiculita Expandida
Tabela 4. Massa específica real dos grãos dos materiais.
A vermiculita expandida foi empregada como Método Material GS (g/cm³)
NBR 6508/84 SN 2,6724
agregado na mistura de solos, assim o ensaio de
NBR 6508/84 Vermiculita 2,2757
granulometria a análise foi realizada somente Chrusciak, 2013 S+6%V 2,6486
pelo peneiramento fino segundo a NBR Chrusciak, 2013 S+12,5%V 2,6228
7181/84, a Figura 6 ilustra a curva obtida no Chrusciak, 2013 S+19%V 2,5970
ensaio. Observa-se que o diâmetro das Chrusciak, 2013 S+25%V 2,5732
partículas fica entre o intervalo de 0,07 e 1,0
mm. 4.3 Compactação dos Corpos de Prova
O ensaio de gravidade específica real dos
grãos foi realizado conforme a NBR 6508/84 Após a caracterização dos materiais, foram
apresentando Gs de 2,2757 g/cm³. plotadas as curvas de compactação do solo com
e sem adição de vermiculita expandida na
energia de compactação Proctor Normal (Figura
7).

Figura 6. Curva granulométrica da vermiculita expandida.

Através dos resultados das massas específica


real dos grãos do solo e vermiculita expandida,
foi utilizada uma média ponderada entre os
teores e o valor de Gsmistura, conforme a
equação a seguir (Chrusciak, 2013).

(1) Figura 7. Curvas de compactação com e sem adição de


Onde: vermiculita.

Ao realizar a compactação do solo com


Gsmist: massa específica real dos grãos da
adição de vermiculita pode-se notar reduções no
mistura;
peso específico seco máximo, como também,
Gssolo: massa específica real dos grãos de solo;
perda na umidade ótima ao compactar uma
Gsver: massa específica real dos grãos de
nova curva.
vermiculita expandida;
As curvas de solo-vermiculita apresentam
%solo: teor de solo da mistura;
um comportamento de solos granulares à
%ver: teor de vermiculita expandida na mistura.
medida que aumenta o teor de vermiculita. No
entanto, as curvas de compactação S+25%V,
Os resultados dos Gs e de suas respectivas
S+30%V e 100%V tendem a reduzir ainda mais
misturas estão apresentadas na Tabela 4.
o peso específico seco máximo, porém precisam
Observa-se que o Gs do solo com adição de
de mais água na mistura, em relação ao teor de
vermiculita expandida, apresenta redução
S+19%V. Assim tomam a tendência da curva de
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100%V.
A seguir são apresentados os corpos de A Tabela 6 exibe os resultados do peso
provas com e sem adição de vermiculita específico aparente seco (Үd) e umidade (W)
expandida, compactados com a energia Proctor dos corpos de prova segundo a NBR 10838/88
Normal na umidade ótima de acordo com as com emprego da balança hidrostática, observa-
curvas de compactação (Figura 8). Pode-se se que os pesos alteram conforme a adição de
observar que os teores trabalhados solo- vermiculita expandida no qual reduzem cada
vermiculita expandida visualmente não vez mais ao adicionar a vermiculita.
apresentam trincas e fissuras.
Tabela 6. Pesos específicos aparentes secos e umidades
de compactação com e sem adição de vermiculita.
Material ϒd (kN/m³) W (%)
SN 13,10 32,00
S+6%V 11,58 29,10
S+12,5%V 10,32 29,30
S+19%V 9,70 30,10
S+25%V 8,90 28,90

O ensaio do peso específico aparente seco


com o emprego da balança hidrostática foi
realizado para validar os valores obtidos do
peso específico seco máximo, pois são
provenientes do mesmo ensaio de compactação
dinâmica, onde foram observadas ao confrontar
as duas tendências que são similares devido à
redução dos espaços vazios induzidos pela
compactação dinâmica. Logo, foi observado que
as variações foram pequenas, no entanto, o solo
com adição de 25% de vermiculita foi o
Figura 8. Amostras com e sem adição de vermiculita
expandida: a) SN; b) S+6%V; c) S+12,5%V; d)
composto que obteve a maior variação entre as
S+19%V; e) S+25%V. densidades.
Ao confrontar os resultados da pesquisa com
Na Tabela 5 são apresentados os valores de alguns resultados alcançados (Guérios, 2013;
umidades ótimas (Wótima) e pesos específicos Cunha, 2014; Silva et al., 2016; Vieira, 2013),
secos máximos (ϒdmáx). As misturas apresentam ao acrescentar a vermiculita expandida na
uma tendência de reduzir as densidades mistura de solos, o composto solo-vermiculita
conforme a adição de vermiculita expandida na foi a mistura que mais obteve redução na
mistura. densidade dos materiais, como também, sem a
presença de trincas e fissuras para os teores
Tabela 5. Peso específico seco máximo e umidade ótima trabalhados. Assim a mistura apresentou com
dos materiais. êxito redução de 29% do peso entre o SN e o
Material ϒdmáx Wótima (%)
S+25%V.
(kN/m³)
SN 12,68 33,3
S+6%V 11,08 30,3 4.3 Avaliação de Rresistência ao
S+12,5%V 10,97 28,7 Cisalhamento Direto
S+19%V 9,49 27,9
S+25%V 9,02 29,2 A seguir serão apresentados os resultados dos
S+30%V 8,56 30,7
ensaios de resistência ao cisalhamento direto
100%V 4,8 41,2
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através das curvas e das envoltórias de Mohr-


Coloumb dos corpos de prova para o solo com e
sem adição de vermiculita expandida.
As Figuras 10 a 14 são, respectivamente, as
curvas de resistência ao cisalhamento direto
inundado das amostras de SN, S+6%V,
S+12,5%V, S+19%V e S+25%V.

Figura 12. Curvas de resistência ao cisalhamento


(S+19%V).

Figura 9. Curvas de resistência ao cisalhamento


(SN).

Figura 13. Curvas de resistência ao cisalhamento


(S+25%V).

Observa-se que as curvas SN, S+6%V,


S+12,5%V e S+19%V apresentaram tensões
cisalhantes de ruptura pico e as curvas S+25%V
não apresentaram nitidamente tais tensões.
A Figura 15 mostra as envoltórias de Mohr-
Figura 10. Curvas de resistência ao cisalhamento Coulomb para o solo com e sem adição de
(S+6%V). vermiculita e a Tabela 7 apresenta os
parâmetros obtidos das respectivas envoltórias.

Figura 11. Curvas de resistência ao cisalhamento


(S+12,5%V).

Figura 14. . Envoltórias de Mohr-Coulomb para o solo


com e sem adição de vermiculita.
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Os dados a seguir servem como registro dos


Tabela 7. Parâmetros obtidos de resistência ao ensaios realizados, auxiliando as análises dos
cisalhamento direto inundado.
resultados. A Tabela 8 apresenta o índice de
Material φ' (°) c' (kPa)
SN 19,10 5,00
vazios, o grau de saturação e a porosidade das
S+6%V 15,50 11,00 amostras antes de realizar a saturação e o ensaio
S+12,5%V 20,50 0 de cisalhamento direto.
S+19%V 8,40 4,00
S+25%V 15,40 11,00 Tabela 8. Índice de vazios (e), grau de saturação (Sr) e
porosidade (n).
Ao comparar tais resultados pode-se notar Material σn e Sr n
que ao inserir a vermiculita, existe uma variação (kPa)
SN 50 0,66 126,75 0,4
na coesão e no ângulo de atrito sem possuir um
SN 100 0,84 101,84 0,46
padrão no qual ao inserir 6% de vermiculita, o
SN 200 1,22 70,29 0,55
composto reduz o ângulo de atrito, porém
S+6%V 50 0,69 116,73 0,41
aumenta a coesão.
S+6%V 100 0,5 164,53 0,33
Agora, ao inserir 12,5% de vermiculita o
S+6%V 200 1,1 72,81 0,52
comportamento é outro, em que apresenta
S+12,5%V 50 0,87 88,35 0,46
aumento no ângulo de atrito e a coesão
S+12,5%V 100 1,02 71,88 0,51
apresenta-se negativa. O resultado negativo da
S+12,5%V 200 1,21 62,98 0,55
coesão pode ser devido aos valores obtidos para
S+19%V 50 0,94 79,64 0,48
as tensões cisalhantes, realizando a mudança da
S+19%V 100 1,42 52,8 0,59
inclinação da reta, assim ao interceptar o eixo
S+19%V 200 1,04 71,82 0,51
da ordenada, a coesão obtém valor negativo.
S+25%V 50 1,05 69,56 0,51
Portanto, devem-se realizar novamente as
S+25%V 100 1,15 63,43 0,53
curvas de cisalhamento direto para o composto
S+25%V 200 1,6 46,73 0,62
S+12,5%V para nova análise.
Observa-se que o teor de 19% de vermiculita
foi à mistura que apresentou os menores valores Percebe-se que o índice de vazios (e) é
de ângulo de atrito interno e coesão. E para a variado e mantém uma tendência em aumentar
adição de 25% de vermiculita, a mistura conforme a adição de vermiculita no solo, do
apresenta o mesmo comportamento que o solo mesmo modo, pelo aumento da tensão normal,
com adição de 6%, apresentando valores bem aplicada.
próximos, ou seja, ao inserir 6% ou 25% de O grau de saturação (Sr) apresenta uma
vermiculita, os compostos podem adquirir as redução linear conforme a adição de
mesmas resistências ao serem cisalhados. vermiculita, pois o solo-vermiculita precisa de
Ao analisar a coesão dos materiais, pode-se menos adição de água em relação ao solo puro
verificar que houve aumento significativo de 6 para se obter o ponto ótimo e a porosidade (n)
kPa para as amostras de S+6%V e S+25%V em aumenta segundo o índice de vazios presente
relação ao solo puro. Viecili (2003) explica que em cada amostra, tais valores podem influenciar
o aumento da coesão é independente da tensão diretamente na resistência ao cisalhamento
efetiva atuante, pois é conhecida como sucção direto.
(coesão aparente), em que se aumenta a Verifica-se que o ângulo de atrito do solo-
resistência proporcionalmente à diminuição do vermiculita para qualquer adição reduziu em
teor de umidade do corpo de prova. relação ao solo puro, os parâmetros de e, Sr e n
são menores para o solo em estado natural, pois
4.4 Índice de Vazios, Grau de Saturação e tais parâmetros podem afetar nos resultados
Porosidade facilitando a percolação da água entre os poros
das amostras (solo-vermiculita).
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Viecili (2003) relata que, se a amostra estiver Em relação à diferença de expansão do solo
com alguma descontinuidade e/ou possuir natural com adição de 25% de vermiculita
excesso de vazios, estes poderão provocar expandida, o material expande
fragilidade na amostra acarretando uma redução aproximadamente 0,73%, pois o aumento de
na resistência ao cisalhamento direto, por expansão dos corpos de prova com adição de
exemplo, a redução do ângulo de atrito. vermiculita está relacionado com a propriedade
Lambe & Whitman (1979) apud Silva & de absorver e expandir ao entrar em contato
Carvalho (2007) relatam que à medida que com a água, como foi observado no subitem
aumenta a porcentagem de água no solo, ela 5.2.4.
trabalha como lubrificante entre os grãos do Segundo o manual do DNIT (2006),
solo reduzindo o ângulo de atrito entre elas. estruturas de aterros podem apresentar até 4 %
Chrusciak (2013) relata que regiões menos de expansão. Então, o solo com adição de 25%
compactadas podem influenciar diretamente nos de vermiculita expandida está na faixa
resultados de resistência ao cisalhamento direto. admissível para a recomposição.
Werlang e Piccolo (2013) documentaram que a
aproximação e o entrosamento entre as
partículas influenciam diretamente na 5 CONCLUSÕES
resistência ao cisalhamento, como também, na
redução do índice de vazios. Através dos resultados obtidos na presente
pesquisa é possível concluir que:
4.5 Avaliação da Expansão Para as condições de compactação da energia
Proctor Normal, todos os teores designados
Foram realizados ensaios de expansão apenas podem ser moldados (6%, 12,5%, 19%, 25% e
para os corpos de provas obtidos no ponto 30%) e, visualmente, não apresentam trincas e
ótimo de cada teor. A Erro! Fonte de fissuras.
referência não encontrada. exibe o Ao se realizar a compactação com adição de
comportamento do solo com e sem adição de vermiculita expandida, houve redução
vermiculita no ensaio de expansão no qual as significativa do peso específico seco máximo de
amostras permaneceram imersas no tanque com 29%, para o solo com adição de 25% de
água por 96 horas. vermiculita expandida em peso com relação ao
solo em estado natural.
Ao comparar as reduções de peso específico
seco máximo com valores obtidos pelos autores
citados, mesmo que as porcentagens não sejam
próximas, o composto solo-vermiculita
proporcionou reduções extraordinárias como
material alternativo para preenchimento de
cavas.
Ao realizar o ensaio de expansão no tanque
Figura 15. Ensaio de expansibilidade das amostras.
d’água, o solo-vermiculita apresentou
Ao analisar as colunas verticais pode-se expansibilidade de 0,73% maior que o solo em
observar que o solo com adição de 25% de estado natural. Portanto, se houver presença de
vermiculita foi o que apresentou maior lençol freático ou umidade próxima de regiões
porcentagem de expansão em contato com a reaterradas, sugere-se realizar um sistema de
água, ou seja, à medida que adicione drenagem para reduzir as chances de expansão.
vermiculita, a porcentagem de expansibilidade Pois o líquido poderá influenciar
aumentaria de forma linear. desfavoravelmente na durabilidade das
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misturas. Brasília-DF, 2013.


O solo-vermiculita expandida apresentou Cunha, V. M. Avaliação experimental da mistura solo-
cimento para aplicação em camadas de base de
uma redução de até 20% no ângulo de atrito pavimentação. Monografia, Faculdade de Tecnologia
interno das partículas, e dobrou o valor na e Ciências Sociais aplicadas, Centro Universitário de
coesão nos ensaios inundados para o teor de Brasília. Brasília – DF, 2014.
25% de vermiculita expandida em peso com Das, B. M. Fundamentos de Engenharia Geotécnica. 6
relação ao solo em estado natural. ed. São Paulo: Thomson Learning, 2015.
DNIT – Departamento Nacional de Infraestrutura de
Por fim, conclui-se que a mistura de solo- Transporte. Manual de Pavimentação. 3 ed. Rio de
vermiculita, com o solo laterítico e proporções Janeiro: DNIT, 2006.
estudados neste trabalho, apresenta efeitos Guérios, E. M. Estudo do melhoramento de solo com
benéficos, gerando camadas mais leves como adição de cal hidratada para uso em pavimento
material de preenchimento de cavas urbanas, urbano. Trabalho de conclusão de curso em
engenharia de produção civil, Universidade
sendo recomendado na proporção de 25% de Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 2013.
vermiculita expandida em peso com relação ao Lima, M. C. Degradação físico-química e mineralógica
solo em estado natural. de maciços junto às voçorocas. Tese de Mestrado,
Publicação G. TD-17A/03, Departamento de
Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de
Brasília, Brasília, DF, 2003.
REFERÊNCIAS Nogami. J. S. Método Expedito de Identificação do
Grupo MCT de Solos Tropicais, utilizando-se anéis
ABNT- Associação Brasileira de Normas Técnicas. de PVC rígido. Anais da 25º Reunião Anual da ABPV
_NBR 6458: Grãos e pedregulho retidos na peneira de – SÃO PAULO, vol 1, 591/604, ABPV, Rio de
4,8 mm - Determinação da massa específica, da massa Janeiro, 1991.
específica aparente e da absorção de água. Rio de Silva, A. J. N; Carvalho, F. G. Coesão e resistência ao
Janeiro, 1984. cisalhamento relacionadas a atributos físicos e
_NBR 6459: Solo – Determinação do limite de liquidez. químicos de um latossolo amarelo de tabuleiro
Rio de Janeiro, 1984. costeiro. R. Bras. Ci. Solo, 31:853-862, p. 853-862,
_NBR 6508: Solo – Grãos de solos que passam na 2007.
peneira 4,8 mm – Determinação da Massa Específica. Silva, S. A. A.; Villanova, C. E. D.; Ante, J. R. O.
Rio de Janeiro, 1984. Avaliação do comportamento mecânico do solo
_NBR 7180: Solo – Determinação do limite de laterítico de Brasília misturado com a fração fina de
plasticidade. Rio de Janeiro, 1984. pneu de borracha. Projeto de Iniciação Científica,
_NBR 7181: Solo - Análise Granulométrica. Rio de Departamento de Engenharia Civil, Centro
Janeiro, 1984. Universitário de Brasília, Brasília, DF, 2016.
_NBR 7182: Solo - Ensaio de compactação. Rio de Viecili, C. Determinação dos parâmetros de resistência do
Janeiro, 1986. solo de Ijuí a partir do ensaio de cisalhamento direto.
_NBR 9895: Solo - Índice de Suporte Califórnia. Rio de Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade
Janeiro, 1987. Regional do Noroeste, Rio Grande do Sul, 2003.
_NBR 10838: Solo – Determinação da massa específica Vieira, K. S. Propriedades geomecânicas de um solo
aparente de amostras indeformadas, com o emprego compactado com vermiculita para fins de cobertura
da balança hidrostática. Rio de Janeiro, 1988. em aterro de resíduos de resíduos. Dissertação de
ASTM – American Society for Testing Materials. Mestrado, Faculdade de Engenharia, Universidade
_ASTM D 3080-98: Standard test Method for Direct Estadual Paulista, Bauru, 2013.
Shear Test of Soil Under Consolidated Drained Werlang, M. K.; Piccolo. A. Propriedades mecânicas de
Condition. resistência ao cisalhamento, compressibilidade,
Carvalho, J. C. Livro comemorativo dos vinte anos do permeabilidade e a conformação do relevo no
programa de pós-graduação em geotecnia da sudoeste do município de São Pedro do Sul – RS.
universidade de Brasília. Programa de Pós-Graduação Revista do Centro de Ciências Naturais e Exatas,
em Geotecnia, Coordenação de Engenharia Civil, UFSM. Santa Maria – RS, 2013.
Universidade de Brasília, DF, 1 vol, p. 136, 2009.
Chrusciak, M. R. Análise da Melhoria de Solos
Utilizando Frangmentos de Borracha. Dissertação de
Mestrado, Publicação G.DM-221/13, Departamento
de Engenharia Civil. Universidade de Brasília,
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Avaliação do Comportamento Mecânico de Solo Típico de


Manaus/AM Aditivado com Resíduos Poliméricos
Brendo Wesley Souza de Azevedo
Universidade Federal do Amazonas, Grupo de Pesquisa em Geotecnia (GEOTEC), Manaus, Brasil,
brendofisica@hotmail.com

Juliano Rodrigues Spínola


Universidade Federal do Amazonas, Grupo de Pesquisa em Geotecnia (GEOTEC), Manaus, Brasil,
julianospinola10@gmail.com

Cláudia Ávila Barbosa


Universidade Federal do Amazonas, Grupo de Pesquisa em Geotecnia (GEOTEC), Manaus, Brasil,
claudiaavila.eng@gmail.com

Consuelo Alves da Frota


Universidade Federal do Amazonas, Grupo de Pesquisa em Geotecnia (GEOTEC), Manaus, Brasil,
cafrota@ufam.edu.br

RESUMO: O desevolvimento urbano, segundo uma diretriz efetiva, que busque minimizar de forma
correta os impactos ambientais, torna-se constantemente necessário, tal como a busca de soluções
ao descarte de resíduos. Dentro desse contexto, a Engenharia Civil recorre cada vez mais ao
aproveitamento de materiais descartáveis para minorar a exploração dos recursos naturais. Em
especial, no caso da Geotecnia, por exemplo, o melhoramento do solo como material de construção,
a fim de que este resista às solicitações estimadas. Impulsionado pela problemática da grande
geração de resíduos plásticos, o presente estudo aborda o comportamento mecânico de um solo
típico de Manaus-AM aditivado com subprodutos oriundos da reciclagem de rejeitos plásticos,
provenientes das indústrias do Distrito Industrial de Manaus. O solo natural e a composição solo +
2% resíduo polimérico, avaliaram-se quanto ao comportamento mecânico pelos ensaios de
Resistência à Compressão Simples (RCS) e Resistência à Tração (RT) por Compressão Diametral,
nas idades de 3 e 7 dias de cura. Constatou-se, notadamente, para a formulação alternativa, relativo
ao solo natural, um aumento significativo igual a 126,3% da resistência à compressão simples, bem
como um ganho de 41% da resistência à tração. Portanto, comprovando-se uma alternativa técnica-
ambiental à construção de subcamdas de pavimentos regionais.

PALAVRAS-CHAVE: estabilização; resíduo polimérico; resistência à compressão simples;


resistência à tração.

1 INTRODUÇÃO como o consumo de produtos industrializados,


apontam o potencial de transformação do
A evolução das cidades, com o concomitante ambiente. Sendo assim, os costumes e hábitos
desenvolvimento das áreas urbanas, tem relacionados a produção de resíduos, devido ao
contribuído substancialmente para o exacerbado consumo, são grandes responsáveis
crescimento dos impactos ambientais. No por alterações ambientais (MUCELIN;
espaço urbano, determinados aspectos culturais, BELLIN, 2008 apud IZZO; NAGALLI, 2013).
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Por conseguinte, surge o paradigma do 2 MATERIAIS E MÉTODOS


desenvolvimento sustentável e a gestão
ambiental que oportuniza a procura de 2.1 Materiais
alternativas viáveis para utilização de sobras e
resíduos da produção industrial de forma a 2.1.1 Solo
amenizar os passivos ambientais (MEIRELES,
2016). Coletou-se o solo na Av. Grande Circular,
Neste contexto, sendo o solo um dos localizada no bairro Tarumã, em Manaus, e nas
elementos fundamentais para o desempenho das coordenadas geográficas 3° 3'2.95"S e 60°
técnicas utilizadas em Engenharia Civil, 4'1.15"O. Armazenou-se esse material em sacos
contempla-se dentro do campo da Geotecnia, a de 50kg, sendo guardados no depósito de
possibilidade da transformação de resíduos materiais do Grupo de Pesquisa em Geotecnia
ambientais em material de construção. Destaca- (GEOTEC/UFAM). As amostras para ensaios,
se, em particular, o tratamento de solos com após secagem prévia, foram preparadas de
baixa capacidade de suporte mediante técnicas acordo com as recomendações da NBR
de estabilização, que apresenta-se como 6457/16.
alternativa para utilização de subprodutos, tendo
em vista a potencial contribuição para o 2.1.2 Resíduo Polimérico
aprimoramento das propriedades mecânicas
desses materiais naturais. Subproduto da reciclagem de rejeitos
Em Manaus – AM, segundo dados da plásticos procedente das indústrias do Distrito
Superintendência da Zona Franca de Manaus, Industrial de Manaus, o resíduo polimérico foi
foram geradas 819 mil toneladas de resíduos no doado ao Grupo GEOTEC pela recicladora
ano de 2013, dos quais, aproximadamente, 94 Coplast Resíduos Plásticos, instalada na cidade
mil toneladas eram de materiais plásticos de Manaus/AM, Avenida dos Oitis, Distrito
(SUFRAMA, 2014 apud MEIRELES, 2016). Industrial. O material é composto pelo polímero
Nesta conjuntura, salienta-se o trabalho policloreto de vinila (PVC), sendo obtido logo
executado por recicladoras, regularmente após o ciclo de operações referentes ao
fiscalizadas pelo Instituto de Proteção tratamento de resíduos sólidos da empresa.
Ambiental do Amazonas (IPAAM), que Acondicionaram-se as amostras em saco
gerenciam e tratam os referidos subprodutos plástico para o envio ao Laboratório de Solos do
originários do Distrito Industrial de Manaus. GEOTEC. Caracterizou-se o material como
Com base no exposto, o estudo em pauta totalmente passante na peneira de abertura
investigou o efeito da inserção de um 0,60mm, correspondente a faixa granulométrica
estabilizante não-convencional, proveniente do de silte (NBR 6502/1995), para realização dos
Distrito Industrial de Manaus, em solo típico da ensaios de compactação e comportamento
região, comumente utilizado em bases de mecânico.
pavimentos. Tal material é constituído por
resíduos poliméricos micronizados resultantes
da reciclagem de plásticos, predominantemente
formado de policloreto de vinila (PVC).
Analisar-se-á o comportamento mecânico
quanto à compressão simples e a tração por
compressão diametral.
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compressão diametral (Figura 2c) na Prensa


Universal de Ensaio (UTM/IPC Global).

Figura 1: Materiais: solo natural (à esquerda) e resíduo


polimérico (à direita).

2.2 Caracterização Geotécnica

Realizaram-se os ensaios de consistência, a


fim de se determinar a plasticidade do solo e da
composição solo-2%resíduo. O limite de
liquidez seguiu as prescrições da NBR
6459/2016 e o limite de plasticidade
acompanhou a norma NBR 7180/2016.
Observa-se que a porcentagem de resíduo
Figura 2: a) Corpos de prova na estufa a 60 ºC após
adicionada baseou-se no total de massa seca do moldagem, solo natural (à esquerda) e composição solo-
solo. Consoante a análise granulométrica, 2% de resíduo (à direita); b) Ensaio de resistência à
conduziu-se de acordo com a NBR 7181/2016. compressão simples; c) Ensaio de resistência à tração por
O ensaio de compactação, por sua vez, realizou- compressão diametral.
se na energia de compactação do Proctor
modificado, em conformidade com a NBR
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
7182/16.
3.1 Caracterização Geotécnica
2.3 Comportamento Mecânico
Na Figura 3 tem-se a curva de distribuição
Fundamentado nos parâmetros de
granulométrica, que mostra o solo natural com
compactação, produziram-se as amostras
43% de silte, 28% de argila, 27,28% de areia e
cilíndricas com o solo natural e a formulação
1,5% de pedregulho, estabelecendo-se, portanto,
alternativa. Confeccionaram-se três corpos de
sua nomenclatura como silte argilo-arenoso.
prova para cada composição e tempo de cura,
Para o peso específico dos grãos, estimou-se o
totalizando vinte e quatro CP's.
valor de 2,85 kN/m³ com base no trabalho de
Após a moldagem as amostras permaneciam
LIMA (2017). Conforme DAS (2014), esse
na estufa durante 24h, sob temperatura de 60 ºC
índice físico para solos argilosos e siltosos pode
(Figura 2a). Após esse periodo mantinham-se a
variar entre 2,6 e 2,9 kN/m³. Alusivo aos
temperatura ambiente por 3 e 7 dias. Terminado
Limites de Atterberg, estes apontaram 31% e
esse processo, executavam-se os testes
25% concernentes ao limite de liquidez e de
mecânicos de resistência à compressão simples
plasticidade, respectivamente. Por conseguinte,
(Figura 2b) e resistência à tração por
obteve-se para o índice de plasticidade (IP) o
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valor igual a 6%. A cabo dessas informações, o Na Figura 5 apresentam-se os resultados


solo enquadrou-se como A-4 e ML, pelas concernentes aos ensaios de compactação do
orientações da AASHTO e especificações do solo natural e mistura solo-2%resíduo.
Sistema Unificado de Classificação de Solos Certifica-se um diminuto aumento no valor da
(SUCS), respectivamente (DAS, 2014). umidade ótima igual a 7,29%, passando de
13,45 para 14,43% após a adição do
estabilizante. Por outro lado, assinala-se que a
massa específica aparente seca máxima da
composição, relativa ao solo “in natura”,
manteve-se praticamente a mesma.

Figura 3: Curva granulométrica do solo natural.

Com relação aos limites de consistência para


a composição solo-2%resíduo, a partir da
Tabela 1 e Figura 4, confirmam-se pequenas
variações ocasionadas no solo natural pela
adição do polímero. Nota-se, à vista disso,
discreto aumento no limite de liquidez e Figura 5: Curvas de compactação do solo natural e
plasticidade, portanto, no índice de plasticidade, formulação alternativa.
significando dizer que a plasticidade do solo
permaneceu praticamente inalterada. 3.2 Comportamento Mecânico

Tabela 1. Parâmetros de Consistência. 3.2.1 Resistência à Compressão Simples


Composição LL (%) LP (%) IP (%)
Executou-se o experimento às idades de 3 e
Solo Natural 31 25 6 7 dias a partir da confecção dos corpos de
prova, mantendo-os em estufa a 60°C durante
Solo-2%Resíduo 34 26 8
24h para cura. Na sequência os CP’s foram
deixados ao ambiente por 3 e 7 dias. A Tabela 2
expõe os valores médios da resistência à
compressão simples do solo natural e
formulação solo-2%resíduo. Calculou-se a RCS
com base na NBR 12770/1992, pela equação 1.

RCS = (1)

F – Carga de ruptura;

A – Área média da seção transversal do corpo


Figura 4: Curva de fluidez do solo natural e composição. de prova.
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Tabela 2. Valores da Resistência à Compressão Simples formulação alternativa, evidencia-se na Figura


(médias). 7, linhas de deformação mais suaves.
Composição RCS (MPa)
3 dias 7 dias
Solo Natural 0,422 0,782

Solo-2%Resíduo 0,955 0,943

Solo Natural (PATRICIO, - 0,350


2015)

Solo-2,2%Polímero - 1,200
(PATRICIO, 2015)

Solo Natural (MACHADO - 0,260


et al., 2016)

Solo-2%Polímero - 0,300
(MACHADO et al., 2016)
Figura 6: Corpos de prova após ruptura, ensaio de
resistência à compressão simples. a) Solo Natural; b)
À luz da Tabela 2, constata-se que o Composição solo-2%resíduo.
desempenho mecânico do solo natural variou de
0,36 MPa entre 3 e 7 dias de cura, enquanto Levando-se em consideração o tempo do
para a mistura, os valores se mantiveram experimento até a ruptura, as amostras de solo
relativamente estáveis na ordem de 0,90 MPa. natural correspondentes a 3 dias, suportaram,
Confrontando-se tais resultados, entre o solo em média, menores cargas de compressão,
natural e solo-2%resíduo, registra-se uma respeitante às de 7 dias, perdurando por mais
variação de 0,533 e 0,161 MPa, alusivo às tempo sob maiores cargas. Pode ser visualizado,
amostras curadas por 3 e 7 dias, na média do comportamento, pelos gráficos da
respectivamente. Figura 7. Por outro lado, a adição do resíduo
Na literatura, encontram-se trabalhos como o elevou o tempo de ensaio, haja vista o aumento
de PATRICIO (2015), que estudou 4 solos sob de resistência, caracterizando maior capacidade
efeito da incorporação de um polímero acrílico de carga, permitindo, desse modo, os corpos de
industrial, em diferentes concentrações, para 7 e prova suportarem maior deformabilidade. Em
28 dias de cura. Entre os resultados, destaca-se suma, pertinente aos resultados, tem-se: a)
os alcançados para o silte altamente plástico e a incremento de resistência de cerca de 85%
areia fina com silte não plástico, cujo valor atinente à idade de 3 e 7 dias dos CP’s do solo
consta na Tabela 2, estabilizados com 2,2% do natural; b) aumento de 126,3% nos valores da
aditivo, cuja resistência à compressão simples RCS quando do acréscimo do estabilizante,
atingiu valores da ordem de 0,50 e 1,20 MPa, referente à ruptura de 3 dias do solo natural; c)
respectivamente, para 7 dias de cura. Os valores ganho de resistência, na proporção de 20,6%,
apontados por MACHADO et al. (2016), por concernente ao solo natural e composição
sua vez, são da ordem de 0,26 MPa para o solo alternativa, para 3 e 7 dias; d) uma tendência de
natural e 0,30 MPa para a mistura com 2% de estabilização dos valores da RCS, na ordem de
polímero. 0,90 MPa, das misturas com o subproduto, para
Sublinha-se que, para o teste de RCS, em ambas as idades.
ambas as idades, os corpo de prova da Em se tratando de resistência à compressão
composição solo-2%resíduo, mostraram, após simples do solo, sabe-se que tal parâmetro é
rompimento, comportamento similar, ou seja, decorrente da ação coesiva entre as partículas,
uma ruptura brusca (Figura 6a). Consoante a
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significando dizer que o resíduo polimérico Tabela 3. Resistência à tração por compressão diametral
aderiu às partículas do solo, implicando em uma (médias).
Composição RT (MPa)
microestrutura de comportamento coesivo
3 dias 7 dias
(INGLES e METCALF, 1972).
Solo Natural 0,083 0,086

Solo-2%Resíduo 0,117 0,117

Solo Natural (PATRICIO, - 0,110


2015)

Solo-2,2%Polímero - 0,180
(PATRICIO, 2015)

Solo Natural (MACHADO - 0,050


et al., 2016)

Solo-2%Polímero - 0,062
(MACHADO et al., 2016)

Registra-se, pela Tabela 3, que o


desempenho mecânico do solo natural não
apresentou variação expressiva, permanecendo
na ordem de 0,080 MPa. Comportamento
semelhante demonstrou a composição
Figura 7: Força Axial x Tempo e Deformação x Tempo alternativa, com resultados em torno de 0,110
para as composições e solo natural, ensaio de resistência à MPa. De outra parte, comparando-se os valores
compressão simples.
determinados para as amostras do solo natural
frente à composição solo-2%resíduo, curadas
3.2.2 Resistência à Tração por Compressão
por 3 e 7 dias, expressam variação de 0,034 e
Diametral
0,031 MPa, respectivamente.
Analisando-se os resultados presentes na
Realizou-se o ensaio de RT, às idades de 3 e
Tabela 3, observa-se variação de 0,070 MPa nos
7 dias, mantendo-se os corpos de prova em
resultados apresentados por PATRICIO (2015),
estufa a 60°C, durante 24h para secagem rápida.
alcançando acréscimo de 63,6% da RT, após
Encontram-se organizados na Tabela 3, os
incorporação do aditivo ao solo estudado, e
valores médios da resistência à tração
0,012 MPa nos valores do mesmo parâmetro
concernentes as amostras pesquisadas,
relativos à formulação alternativa pesquisada
calculados à luz da norma DNER – ME 138/94,
por MACHADO et al. (2016), representando
pela expressão 2.
aumento de 24%, após 7 dias de cura. Quando
confrontados com os resultados do presente
RT = (2) estudo, constata-se que apenas PATRICIO
(2015) conseguiu resultados mais expressivos,
superando o aumento de 36% em relação à
F – Carga de ruptura;
mistura com o resíduo polimérico estudado
após 7 dias de cura. Nesse sentido, as diferenças
D – Diâmetro do corpo de prova;
entre os resultados pode ser atribuída ao tipo de
solo pesquisado, bem como os materiais
H – Altura do corpo de prova.
utilizados para estabilização.
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Figura 8: Rompimento de corpo de prova submetido ao


ensaio de Resistência à Tração por compressão diametral.
Figura 9: Força axial x Tempo e Deformação x Tempo,
Durante a execução do experimento por ensaio de resistência à tração por compressão diametral.
compressão diametral, percebe-se um
comportamento de ruptura similar do conjunto
dos corpos de prova testados, para ambas as 4 CONCLUSÃO
idades. Entretanto, o tempo de ensaio até o
estágio de ruptura variou entre 6 e 9s. Sob outra A avaliação do acréscimo de 2% de resíduo
perspectiva, as amostras da composição polimérico micronizado, como estabilizante, ao
correspondente a 7 dias, suportam as maiores solo siltoso típico da camada superficial de
solicitações em um tempo médio superior às Manaus (AM), mostrou-se satisfatória. Houve
demais formulações, conforme revelam as melhora na resistência da mistura atinente ao
curvas médias da Figura 9. Ressalta-se que a solo “in natura”, notadamente, o aumento de
mistura solo-2%resíduo, para as idade de 3 e 7 126,3% da RCS para 3 dias de cura, bem como
dias, apresentaram desempenho análogo, os ganhos da RT que atingiram até 41%,
quando se analisa comportamento tensão e respeitante às idades de cura consideradas neste
deformação. Em síntese, assinala-se: a) discreto estudo. Isto posto, constatou-se a eficácia do
incremento da RT de cerca de 3,6%, respeitante uso desse subproduto como melhorador do
à idade de 3 e 7 dias para os CP’s do solo desempenho mecânico de solo típico de
natural; b) aumento de 41% nos valores de Manaus-AM, além de uma alternativa viável
resistência pelo acréscimo do estabilizante com para o descarte deste passivo ambiental.
rompimento aos 3 dias, frente ao solo natural; c)
ganho de RT da formulação alternativa, na
proporção de 36%, relativo ao solo natural, AGRADECIMENTOS
equivalente à 7 dias de cura; d) assim como no
teste de compressão simples, quando se Os autores agradecem à Engª Joelma Barros e à
confrontam os resultados referentes à adição do Coplast-AM Resíduos Plásticos pela doação do
resíduo para ambas as idades, percebe-se uma resíduo polimérico.
tendência de estabilização dos valores da RT na
ordem de 0,110 MPa.
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REFERÊNCIAS Geotécnico de Solos Provenientes de Áreas de


Floresta no Amazonas Misturados com Cimento
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ABNT – Associação Brasileira De Normas Técnicas. 2015.
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Liquidez, (2016). de Polímeros para Uso em Pavimentos Rodoviários.
ABNT – Associação Brasileira De Normas Técnicas. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-
NBR 6502-1984, Rochas e Solos, (1995). Graduação em Engenharia Civil e Ambiental –
ABNT – Associação Brasileira De Normas Técnicas. Universidade de Campina Grande, Campina Grande,
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ABNT – Associação Brasileira De Normas Técnicas.
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plasticidade, (2016).
ABNT – Associação Brasileira De Normas Técnicas.
NBR 7181-2016, Solo: Análise granulométrica,
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Izzo, R. L. S.; Nagalli, A. O desafio da Geotecnia frente
às questões ambientais. Criciúma: Geosul, 2013.
Disponível em: https://< www.abms.com.br >. Acesso
em: 13.fevereiro.2018.
Lima, C. A. P. Comportamento Mecânico com Resíduos
Industriais, sob Flexão a Quatro Pontos, para
Construção de Pavimentos Flexíveis. Dissertação de
Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Ciência e
Engenharia de Materiais – Universidade Federal do
Amazonas, Manaus, Amazonas, 2014.
Machado, L. F. M.; Cavalcante, E. H; Albuquerque, F. S;
Sales, A. T. C. Adição de uma associação polimérica
a um solo argilo-arenoso com vistas à estabilização
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(Rio de Janeiro), vol. 22 nº 3 – Rio de Janeiro, Aug
10, 2017
Meireles, V. K. A. Gestão e Tratamento dos Resíduos
Plásticos produzidos pelo Polo Industrial de Manaus:
Tecnologias e Sustentabilidade. Dissertação de
Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Ciências
do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia –
Universidade Federal do Amazonas, Manaus,
Amazonas, 2016.
Nogueira, L. D. et al. Avaliação do Comportamento
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Avaliação do Comportamento Mecânico do Solo Laterítico de


Brasília Misturado com a Fração de Vermiculita Expandida e
Cimento no Preenchimento de Cavas de Infraestruturas em
Regiões Urbanas
Sonny Albert Amorim da Silva
Centro Universitário de Brasília, Brasília, Brasil, engsonnyalbert@gmail.com

Vanilson Santos Gustavo


Centro Universitário de Brasília, Brasília, Brasil, vanilson.gustavo@gmail.com

Wallace Leonel Silva Peres


Centro Universitário de Brasília, Brasília, Brasil, wallacelsp@gmail.com

Jairo Furtado Nogueira


Centro Universitário de Brasília, Brasília, Brasil, jairo.nogueira@ceub.edu.br

RESUMO: A presente pesquisa trata-se de um estudo complementar, no qual abrange o


melhoramento de solo e vermiculita com adição de cimento Portland para adquirir melhoramento na
resistência mecânica e, ao mesmo tempo, proporcionar redução em sua densidade. Visando
conquistar eficiência e economia no preenchimento de cavas em regiões urbanas. Desse modo, a
metodologia da pesquisa foi divida da seguinte maneira: ensaio de compactação Proctor, ensaio de
massa específica aparente com emprego da balança hidrostática, ensaio de resistência ao
cisalhamento direto e expansibilidade das amostras conforme a metodologia de ensaio Índice de
Suporte Califórnia. Os ensaios que avaliaram as mudanças das propriedades mecânicas foram
realizados sob corpos de prova compactados na energia de compactação Proctor normal. Os ensaios
foram realizados para o solo com adição de 2% de cimento e solo com adição 2% de cimento e 25%
de vermiculita expandida em relação à massa de solo seco. Dos resultados obtidos na pesquisa foi
possível determinar que o melhoramento de solo com adição de vermiculita expandida e cimento
Portlad, a composição gerou reduções significativas no peso especifico seco máximo e aparente de
aproximadamente 30% em relação ao solo em estado natural. E obteve aumento de 67% no ângulo
de atrito interno das partículas e coesão, adquirindo 67% para a coesão e 24% para o ângulo de
atrito. Assim, possibilitando a recomposição de aterros mais leves e resistentes em regiões urbanas.

PALAVRAS-CHAVE: Melhoramento de Solos, Vermiculita Expandida, Cimento Portland,


Redução do Peso Específico, Aumento de Resistência do Solo.

1 INTRODUÇÃO adquirir desempenhos satisfatórios capazes de


gerar resultados melhores e possíveis reduções
A engenharia civil se renova a cada dia com nos custos da obra. As cavas urbanas são cada
desenvolvendo de novas tecnologias, tais vez mais frequentes devido à velocidade da
recursos são necessários para modificar e urbanização, ou melhor, aproveitamento das
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áreas de um empreendimento, proporcionando a


criação, por exemplo, de muros de contenção 2 MATERIAIS
após a escavação de um subsolo.
Ao realizar a recomposição dessas estruturas 2.1 Solo Laterítico de Brasília
com solo natural ou com adição de outro
material podem reproduzir esforços solicitantes O solo utilizado na pesquisa foi coletado na
internos e externos nas estruturas e fundações Chácara do Professor (SINPRO), localizada no
que, provavelmente, influenciam na Núcleo Rural Alexandre Gusmão em
performance da obra. Brazlândia, Brasília – DF.
O papel do engenheiro civil em termos O material foi devidamente ensacado,
geotécnicos é encontrar soluções para reforço de referenciado e transportado ao laboratório de
solos, por meio de melhoramento do material a geotecnia, materiais e topografia no Bloco 11
ser utilizada, em obras que necessitam de do campus Asa Norte do UniCEUB. A Figura 1
reforço, resistência mais elevadas e se possível apresenta o local onde o solo foi extraído e na
realizar reduções satisfatórias no peso da Figura 2 onde foi realizado o armazenamento a
estrutura conforme o tipo de projeto. fim de evitar a contaminação do mesmo.
Logo, essa pesquisa tem como objetivo
verificar o comportamento do solo Argiloso
Laterítico de uma região de Brasília adicionado
com vermiculita expandida e melhorado com
cimento Portland.
No qual a porção de cimento influenciaria na
resistência e, a vermiculita expandida,
proporcionaria a redução no peso do composto
devido a sua densidade ser relativamente baixa.
Com o intuito de criar novas alternativas Figura 1. Porção de solo utilizado na pesquisa.
para a recomposição de aterros com materiais
alternativos, foi estabelecida uma metodologia
laboratorial, para que o composto (solo-
vermiculita-cimento) possa ser utilizado como
material de preenchimento em muros de
contenção, por exemplo.
A engenharia geotécnica presa pelo
melhoramento do solo, sendo este um dos
motivos para a o estudo de diversas propostas
que possibilitem o aumento da resistência
mecânica do solo e redução do seu peso
específico, proporcionando eficiência e
economia. Uma alternativa na recomposição de
cavas é com solo natural, porém esta pode
apresentar um peso específico expressivo Figura 2. Armazenamento de solo para a pesquisa.
dependendo do tipo de obra, fazendo-se
necessário realizar estudos para reduzir o seu Silva (2017) realizou ensaio de Miniatura
peso específico. Compactada Tropical (MCT) para o mesmo
solo utilizado na presente pesquisa, onde o
material apresentou classificação de Argiloso
Laterítico (LG’).
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2.2 Vermiculita Expandida possui propriedades aglomerantes, que após a


adição de água endurece e, posteriormente,
A vermiculita expandida utilizada na pesquisa permanece estável mesmo com a presença da
atual é adquirida no comércio conforme a água e por isso é considerado um aglomerante
Figura 3. Logo, na Figura 4 apresenta-se uma hidráulico (Figura 5).
porção de vermiculita.
Segundo Vieira (2013), a vermiculita
apresenta densidade entre 640 a 960 Kg/m³
antes de passar pelo processo de transformação
da matéria a elevadas temperaturas, após o
processo, a vermiculita é titulado como
vermiculita expandida apresentando densidade
entre 56 a 192 Kg/m³.

Figura 5. Porção de cimento Portland utilizado na


pesquisa.

3 METODOLOGIA

3.1 Ensaios de Compactação

Para determinar as condições de compactação


dos corpos de prova para o solo-cimento e solo-
vermiculita-cimento, foi realizado o ensaio de
compactação com o emprego da energia normal
Figura 3. Embalagem de aquisição da vermiculita segundo a norma NBR 7182/16.
expandida.

3.2 Mistura dos materiais

Silva (2017) realizou ensaios de solo natural


(SN) e solo com adições de vermiculita
expandida (S+25%V), pois o material reduz
cerca de 30% do peso específico seco máximo
ao estado natural.
Figura 4. Vermiculita expandida (Silva, 2017).
O presente estudo discorre sobre a adição de
2% de cimento Portland à composição de solo e
2.3 Cimento Portland vermiculita expandida. Isto é, solo-cimento
(SC) e solo-vermiculita-cimento (SVC). Em
O cimento Portland utilizado na pesquisa foi o vista disso, a Tabela 1 apresenta os teores
CP II Z 32 composto com adição de material definidos em relação à massa total da mistura.
pozolânico, o material apresenta menor
permeabilidade, ótimo para obras subterrâneas Tabela 1. Símbolos dos materiais utilizados na pesquisa.
Material Solo Vermiculita Cimento
com presença de água. (%) (%) (%)
Segundo Bauer (2012) e Ambrozewicz
(2012), o cimento Portland é um pó fino que Solo-cimento 98 0 2
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Solo- 73 25 2 4.1 Compactação dos Corpos de Prova


vermiculita-
cimento Na Figura 6 apresentam-se as curvas de
compactação de SC e SVC em companhia das
3.3 Ensaio de Massa Específica Aparente curvas realizadas por Silva (2017) e a Tabela 2
apresenta seus respectivos valores de umidades
Os ensaios foram realizados de acordo com a ótimas (Wótima) e pesos específicos secos
NBR 10838/88 utilizando a balança máximos (ϒdmáx).
hidrostática, que determina a massa aparente Ao verificar os resultados adquiridos por
natural do solo levando em consideração as Silva (2017) e pela presente pesquisa, observa-
partes sólidas e não sólidas. se que a mistura SC obteve 6,4% de redução no
peso específico seco máximo e o SVC adquiriu
3.4 Ensaios de Cisalhamento Direto 31%, em relação ao solo em estado natural.

Os parâmetros de resistência ao cisalhamento


para o solo com e sem adição de vermiculita
expandida e cimento Portland, os corpos de
prova foram compactados de acordo à norma
NBR 7182/16, posteriormente, deixou-se curar
por 24 horas, logo após, realizou-se a
moldagem e saturação pelo período de 20 horas
e, por fim, realizado o ensaio de cisalhamento
direto segundo a ASTM D 3080/98 na umidade
ótima de compactação Proctor Normal.
Para se determinar as envoltórias de Mohr-
Coulomb foram utilizadas as tensões normais
de 50 kPa, 100 kPa e 200 kPa com velocidade
Figura 6. Curvas de compactação com e sem adição de
de 0,030 mm/min e com deslocamento definido
vermiculita.
para 7 mm. Na moldagem dos corpos de prova
foi utilizado um anel metálico de 5,08 cm de Tabela 2. Peso específico seco máximo e umidade ótima
lado e 2 cm de altura. dos materiais.
Autor Material ϒdmáx Wótima (%)
3.5 Ensaio de Expansão (kN/m³)
Silva, 2017 SN 12,68 33,3
O ensaio de expansão para o SC e SVC foram Silva, 2017 S+25%V 9,02 29,2
realizados conforme a NBR 9895/16 utilizado SC 11,87 29,3
para o dimensionamento de pavimentos SVC 8,74 31,6
flexíveis.
Os corpos de prova foram submetidos à E na Tabela 3 apresenta os resultados do
expansibilidade após a compactação na peso específico aparente seco (Үd) e umidade
umidade ótima, referente a cada teor (Tabela 1). (W) dos corpos de prova segundo a NBR
Cada corpo de prova foi posicionado em uma 10838/88 com emprego da balança hidrostática.
base perfurada e permaneceu em saturação por Verifica-se que SC reduziu cerca de 10% na
96 horas. densidade e SVC reduziu aproximandamente
33% em relação ao solo natural.
4 RESULTADOS
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Tabela 3. Pesos específicos aparentes secos e umidades


de compactação com e sem adição de vermiculita.
Material ϒd (kN/m³) W (%)
SN 13,10 32,00
S+25%V 8,90 28,90
SC 11,63 29,28
SVC 8,72 30,41

4.3 Avaliação de Resistência ao


Cisalhamento Direto

A seguir serão apresentados os resultados dos


ensaios de resistência ao cisalhamento direto Figura 9. Curvas de resistência ao cisalhamento (SC).
através das curvas e das envoltórias de Mohr-
Coloumb dos corpos de prova para o solo com e
sem adição de vermiculita expandida e cimento.
As Figuras 7 a 10 são, respectivamente, as
curvas de resistência ao cisalhamento direto
saturado para as amostras de SN, S+25%V, SC
e SVC.

Figura 10. Curvas de resistência ao cisalhamento (SVC).

Observa-se que as curvas SC e SVC não


apresentaram tensões cisalhantes de ruptura,
foram utilizadas as tensões máximas
cisalhantes, pode-se dizer que a presença do
Figura 7. Curvas de resistência ao cisalhamento – SN cimento contribuiu na aglomeração das
(Silva, 2017).
particulas e assim favorecendo na resistência ao
cisalhamento. E as curvas apresentadas por
Silva (2017) apresentaram os picos, porém, não
claramente.
A Figura 11 mostra as envoltórias de Mohr-
Coulomb para o solo com e sem adição de
vermiculita e cimento e, a Tabela 4 apresenta os
parâmetros de coesão e ângulo de atrito das
respectivas envoltórias.

Figura 8. Curvas de resistência ao cisalhamento -


S+25%V (Silva, 2017).
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4.5 Avaliação da Expansão

Foram realizados ensaios de expansão apenas


para os corpos de provas obtidos no ponto
ótimo de cada teor. O solo com adição de 2% de
cimento obteve 0,189% de expansibilidade,
enquanto, o solo-vermiculita-cimento não
adquiriu expansibilidade (Tabela 6).

Tabela 5. Resultado de expansão segundo a NBR


Figura 11. Envoltórias de Mohr-Coulomb. 9895/16.
Autor Material Expansão (%)
Tabela 4. Parâmetros obtidos de resistência ao
cisalhamento direto saturado. Silva, 2017 SN 0,09
Material φ' (°) c' (kPa) Silva, 2017 S+25%V 0,82
SN 19,10 5,00 SC 0,189
S+25%V 15,40 11,00 SVC 0
SC 16,40 24
SVC 20,40 40 Ao confrontar os resultados adquiridos por
Silva (2017) com a presente pesquisa, pode-se
Ao comparar tais resultados apresentados dizer que os corpos de prova ficaram mais
acima, pode-se notar que ao inserir o cimento impermeaveis com a adição do cimento.
na mistura tanto o ângulo de atrito quanto a Segundo Ambrozewicz (2012) a finura do
coesão apresentaram bons resultados. cimento influencia a reação com a água, desse
Visto que o melhoramento na coesão do modo e quanto mais fino for o cimento mais
composto foi pertinente à atração físico-química rápido o material reagirá na mistura e assim
ou cimentação entre as partículas de solo, da diminuirá a permeabilidade do corpo de prova.
vermiculita e principalmente, pela presença do Pois o cimento CP II Z 32 utilizado no
cimento. O SVC aumentou 67% na coesão e estudo possui porcentagem de pozolana,
24% no ângulo de atrito interno das partículas composto que possui sílica reativa e que em
em relação ao S+25%V. contato com a cal atua como ligante hidráulico
Segundo Bauer (2012) e Ambrozewicz reduzindo a permeabilidade nas amostras.
(2012), o cimento é um aglomerante com Os resultados de SVC são satisfatórios
propriedade ativa, ligante no qual possibilita um devido a estarem dentro das faixas estabelecidas
melhoramento na coesão, isto é, contribui na segundo o manual do DNIT (2006), onde as
resistência ao cisalhamento dos materiais. estruturas de aterros podem adquirir até 4% de
Segundo Senff et al., (2005) e Crispim expansão.
(2015), a mistura de água e cimento passa pelo
processo de reação química (hidratação), onde
os principais produtos (fases) de hidratação 5 CONCLUSÕES
(silicato de cálcio hidratado e aluminatos
hidratados de cálcio constituem os principais Através dos resultados obtidos na presente
componentes da cimentação. pesquisa é possível concluir que:
Nessas fases de hidratação confere  Para as condições de compactação da
características importantes na pasta de cimento energia Proctor Normal, os teores de SC
no qual os silicatos e aluminatos de cálcio e SVC podem ser moldados e não
ligam-se às partículas de solo produzindo apresentam trincas e fissuras
acréscimo de resistência à mistura. superficialmente.
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 Ao realizar a compactação de solo- Shear Test of Soil Under Consolidated Drained


Condition.
vermiculita-cimento (SVC), o composto
Ambrozewicz, P. H. L. Materiais de construção. 1 ed.
obteve reduções significativas no peso São Paulo: PINI, 2012.
específico seco máximo e aparente, Bauer, F. Materiais de construção: Novos Materiais para
cerca de 30% em relação ao solo em Construção Civil. 5 ed. revisada. Rio de Janeiro:
estado natural. LTC, 2012.
Chrusciak, M. R. Análise da Melhoria de Solos
 Ao realizar o ensaio de expansibilidade, Utilizando Frangmentos de Borracha. Dissertação de
o SVC não apresentou porcentagens de Mestrado, Publicação G.DM-221/13, Departamento
expansão, tais resultados são positivos de Engenharia Civil. Universidade de Brasília,
para regiões onde exista a presença de Brasília-DF, 2013.
água. Visto que a presença da água Cunha, V. M. Avaliação experimental da mistura solo-
cimento para aplicação em camadas de base de
interfere na durabilidade da estrutura. pavimentação. Monografia, Faculdade de Tecnologia
 O SVC aumento 67% em relação a e Ciências Sociais aplicadas, Centro Universitário de
coesão e 24% no ângulo de atrito com Brasília. Brasília – DF, 2014.
relação ao solo em estado natural. Das, B. M. Fundamentos de Engenharia Geotécnica. 6
Então, conclui-se que a mistura de solo- ed. São Paulo: Thomson Learning, 2015.
DNIT – Departamento Nacional de Infraestrutura de
vermiculita-cimento apresentaram resultados Transporte. Manual de Pavimentação. 3 ed. Rio de
satisfatórios, gerando camadas mais leves e Janeiro: DNIT, 2006.
resistêntes como material de recomposição para Guérios, E. M. Estudo do melhoramento de solo com
aterros. adição de cal hidratada para uso em pavimento
urbano. Trabalho de conclusão de curso em
Sendo recomendado na proporção de 73% de
engenharia de produção civil, Universidade
solo, 25% de vermiculita expandida e 2% de Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 2013.
cimento Portland com relação ao solo em estado Silva, A. J. N; Carvalho, F. G. Coesão e resistência ao
natural e em peso. cisalhamento relacionadas a atributos físicos e
químicos de um latossolo amarelo de tabuleiro
costeiro. R. Bras. Ci. Solo, 31:853-862, p. 853-862,
2007.
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plasticidade. Rio de Janeiro, 1984.
_NBR 7181: Solo - Análise Granulométrica. Rio de
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Janeiro, 2016.
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Avaliação do Efeito da Camada de Cobertura na Estabilidade em


Aterros de Resíduos Sólidos Urbanos
Alison de Souza Norberto
Universidade Federal de Pernambuco, Centro Acadêmico do Agreste, Caruaru, Brasil,
alison_norberto@hotmail.com

Rafaella de Moura Medeiros


Universidade Federal de Pernambuco, Centro Acadêmico do Agreste, Caruaru, Brasil,
rafaellamouraa1@gmail.com

Maria Odete Holanda Mariano


Universidade Federal de Pernambuco, Centro Acadêmico do Agreste, Caruaru, Brasil,
odete.mariano@gmail.com

RESUMO: O presente trabalho realizará a avaliação do efeito de camadas de cobertura na


estabilidade de aterro de resíduos sólidos urbanos. Onde serão utilizadas nesta pesquisa dados
camadas de coberturas desenvolvidas por Almeida (2017), fazendo uso dos parâmetros e
características reportados pelo autor. Os aterros sanitários avaliados serão o de Bandeirantes-SP
(ITP, 1991) e o aterro sanitário da zona norte de Porto Alegre (Strauss, 1998). Com estas definições
serão feitas análises as análises utilizando software SLOPE/W (do GeoStudio Internacional 2018),
em sua versão para estudante. Inicialmente serão avaliados taludes sem a presença da camada de
cobertura, e sequencialmente serão avaliados os mesmos taludes com o acréscimo da camada de
cobertura na análise de estabilidade.

PALAVRAS-CHAVE: Camadas de Coberturas, Estabilidade de taludes, Aterros sanitários.

1 INTRODUÇÃO gestão de um aterro sanitário é a


impermeabilização, das quais recentemente tem
A geração de resíduos sólidos está diretamente se destacado a camada de cobertura, que possui
ligada ao crescimento populacional e ao poder a função de isolar os resíduos do meio externo,
aquisitivo da população, pode-se afirmar então, controlar a entrada de água e ar para dentro do
que quando o PIB aumenta a geração de aterro, minimizar a erosão, controlar a emissão
resíduos consequentemente aumenta, o mesmo de gases e odores para a atmosfera
ocorre quando a reação oposta acontece. Diante (CATAPRETA, 2008; MARIANO, 2008).
disso, a disposição correta dos resíduos é um Usualmente no Brasil a impermeabilização
problema que se apresenta nos países que são da cobertura dos aterros sanitários tem sido
subdesenvolvidos ou encontram-se em realizada com a execução de camadas de solo
desenvolvimento, devido principalmente ao compactado na umidade ótima,
custo de implantação e manutenção dos aterros preferencialmente, os solos argilosos. Podendo
sanitários. apresentar variações como: as camadas
Assim a necessidade de estabelecer critérios metanotróficas; as camadas intercaladas com
de segurança e riscos ambientais relacionados à solo natural argiloso e geossintéticos; as
operação dos aterros sanitários é de extrema camadas evaporativas (LOPES, 2011).
importância. Um dos aspectos importantes na Devido à heterogeneidade da massa do
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resíduo sólido, as propriedades do talude do O Aterro Sanitário Bandeirantes, localizado no


aterro diferem das de um talude de solo município de São Paulo, Rodovia dos
convencional, diferindo ainda durante o tempo Bandeirantes km 26 ocupava no ano de 1991
através do processo de decomposição. Segundo uma área de 817.333 m², operando com
Borgatto (2006), os escorregamentos em taludes aproximadamente 5.500 toneladas de resíduos
são reflexos da redução da resistência interna do diariamente. Os resíduos eram dispostos em
material do talude. Sabe-se que a estabilidade diferentes flancos denominados Aterro
de taludes pode ser assegurada através da Sanitário.
determinação dos parâmetros de resistência, O histórico caso do escorregamento deste
coesão e ângulo de atrito interno dos RSU, a aterro ocorreu em 24/06/1991 mobilizando
geometria adequada e as condições da fundação aproximadamente 65.000 m³ de resíduos e
do aterro. atingindo uma área de 45.000 m² (Figura 1). O
Com este respaldo, tem-se a necessidade de material mobilizado galgou a barragem de terra
estudos que venham a abranger os diversos que estava em execução ficando o maior
aspectos sobre aterros de resíduos sólidos volume acumulado entre esta e o aterro da
urbanos. Existem diversos estudos nas Rodovia dos Bandeirantes, atingindo uma altura
literaturas tratando desde os efeitos ambientais e de cerca de 15 m sobre o bueiro da rodovia.
comportamentais em aterros de RSU. Um
aspecto geotécnico de amplo estudo é sobre a
estabilidade de taludes, onde várias
considerações já foram feitas sobre este estudo.
No entanto, até então não foram realizadas
avaliações na estabilidade de taludes de RSU
que considerassem o possível efeito de reforço
que as camadas de coberturas podem agregar ao
mesmo.
Com este cenário, o presente trabalho
realizará a avaliação do efeito de camadas de
cobertura na estabilidade de aterro de resíduos Figura 1. Escorregamento do aterro de Bandeirantes em
sólidos urbanos. Serão utilizados para análises 1991, (ITP, 1991).
dois aterros sanitários apresentados em outras
pesquisas ((ITP, 1991) e (STRAUSS, 1998)) e Neste trabalho será realizada a retro-análise
uma camada de cobertura (ALMEIDA, 2017). do FS na ruptura deste aterro e posteriormente o
efeito no FS do aterro com camada de cobertura
de Almeida (2017).
2 METODOLOGIGA
2.1.2 Aterro sanitário da zona norte de Porto
2.1 Áreas de Estudo Alegre – (STRAUSS, 1998)

Foram utilizados neste trabalho dados de aterros Este aterro sanitário foi fruto da remediação de
sanitários reportados pelas seguintes literaturas: um antigo lixão, promovido pelo Departamento
ITP (1991) e Strauss (1998), os aspectos e municipal de limpeza urbana de Porto Alegre.
características importantes relativos aos aterros Sua célula possui uma altura de
serão descritos nos itens seguintes. aproximadmente 26 m. Um dos principais
incovenientes da execução do projeto foi por a
2.1.1 Aterro sanitário de Bandeirantes – (ITP, área se localizar em uma zona de solos
1991) altamente compreensiveis, argilas moles.
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A área do aterro encontra-se numa região


baixa, denominada várzea do Rio Gravataí. Está
localizada na unidade de mapeamento Vacacaí,
cujos solos predominantes são classificados
como Planossolos.

Figura 4. Geometria do aterro sanitário da zona norte de


Porto Alegre.

Com as geometrias estabelecidas o


procedimento seguinte é a determinação dos
parâmetros de resistência das camadas do item
seguinte.

2.3 Parâmetros de resistência


Figura 2. Vista aérea do aterro sanitário da zona norte de
Porto Alegre, (Strauss, 1998).
Para executar a avaliação da estabilidade no
GeoSlope são necessários os parâmetros: peso
Diferente do ocorrido no aterro de
específico, ângulo de atrito e coesão. Os valores
Bandeirantes, este aterro não veio a romper.
relativos aos aterros avaliados estão
Também será feita avaliação da estabilidade
apresentandos nas Tabelas 1 e 2.
deste aterro nas situações sem e com camada de
cobertura, para assim ter uma avaliação do Tabela 1. Parâmetros de resistência das camadas de
comportamento da camada em situações resíduos do aterro de Bandeirantes (ITP, 1991).
distintas. Camadas  c 
(kN/m3) (kPa) ()
2.2 Geometrias dos taludes avaliados Camada de
10 15 30
Resíduos
Para entrada incial das avaliações foi necessária Camada de Solo 16 10 20
a implementação incial das geometrias dos
taludes no software GeoSlope/W, em sua versão
Tabela 2. Parâmetros de resistência das camadas de
estudante. resíduos do aterro da zona norte de Porto Alegre
As Figuras 3 e 4 representam a disposição do (STRAUSS, 1998).
aterro de Bandeirantes e do aterro de Porto Camada de  c 
Alegre, respectivamente, nas quais são resíduos (kN/m3) (kPa) ()
identificadas a camada de resíduos e a camada
RSU Novos 7,5 0 35
de solo.
RSU Antigos 7,5 0 31

2.4 Linha piezométrica

A linha piezométrica que é a resultante da água


de chuva percolada pela camada de cobertura e
do chorume produzido pelo processo de
decomposição de materia orgância, não foi
apresentada em ambas as pesquisas. Como está
Figura 3. Geometria do aterro sanitário de Bandeirantes. análise não está avaliando o efeito da mesma,
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será considerada uma condição de perfeita 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES


drenagem, sendo a linha piezométrica igual a
zero. 3.1 Avaliação do FS sem a camada de
cobertura
2.5 Camada de cobertura
Como o objetivo deste trabalho é avaliar a
Para adoção dos parâmetros de resistência das influência da camada de cobertura na
camadas de corbertura foram utilizados os estabilidade de talude, foram inicialmente
parâmetros apresentados por Almeida (2017) realizadas modelagens de estabilidade dos
(Tabela 3). Esta camada é fruto da mistura de aterros com suas configurações sem a presença
material granular (areias) com composto da camada de cobertura. Os resultados destas
oxidativo, sendo assim chamada de camada avaliações estão apresentados nas Figuras 5 e 6.
oxidativa.

Tabela 3. Características das camadas de cobertura


utilizadas.
Camada de h  c 
Cobertura (m) (kN/m3) (kPa) ()
Almeida
0,60 13,0 12,0 36,5
(2017)

2.6 Análise de estabilidade

As análises referentes à estabilidade dos taludes


dos aterros de resíduos sólidos avaliados serão
realizadas através do software SLOPE/W, da
GeoSlope Internacional (2018), em sua versão Figura 5. Avaliação da estabilidade do aterro de
de estudante. Bandeirantes sem a presença de camada de cobertura.
Para a obtenção dos valores de FS (Fator de
Segurança), foi utlizado o método que divide as
superficies dos taludes em fatias, presente no
software. O método utilizado foi o Janbu
Simplificado (1968), onde a resultante das
forças é horizontal e considera os efeitos das
forças tangenciais presentes. Segundo Santos et
al. (2017) este método tende a apresentar FS
inferiores comparados aos demais apresentados
pelo software, sendo assim dá a este método um
critério mais rigoroso de avaliação.
Serão feitas inicialmente as análises com Figura 6. Avaliação da estabilidade do aterro de Porto
ambas as geometrias sem as camadas de Alegre sem a presença de camada de cobertura.
cobertura, e na sequência as avaliações com
apresença da camada de cobertura.
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3.2 Avaliação do FS com a camada de Tabela 4. Resultado comparativo dos resultados do FS


cobertura para ambos os aterros nas duas condições.
FS (SEM FS (COM
Aterro
camada de camada de
O procedimento seguinte consistiu em avaliar o Sanitário
cobertura) cobertura)
efeito da presença da camada de cobertura nos Bandeirantes 1,578 1,555
aterros sanitários avaliados no item 3.1. Os
resultados destas modelagens estão Porto Alegre 1,396 1,747
apresentados nas Figuras 7 e 8.
De acordo com os resultados apresentados na
Tabela 4, podemos perceber que para o Aterro
Sanitário de Bandeirantes a situação do aterro
sem a camda de cobertura apresenta um FS de
1,578, já com a inserção dos 60 cm de camada
de cobertura o FS do aterro descrece na ordem
de 0,023. Tal fato pode ser explicado ao se
aanlisar as propriedades do material da camada
que é muito parecido com o presente entre no
talude em termos de características geotécnicas,
fazendo com que a parcela de solo adicionado
não representasse significativo ganho de
estabilidade e sim se comportasse como mais
uma camada disposta no corpo do aterro.
Figura 7. Avaliação da estabilidade do aterro de Já para o aterro sanitário da zona norte de
Bandeirantes com a presença de camada de cobertura.
Porte Alegre podemos verificar um ganho de
0,351 no FS, onde o mesmo foi de 1,396 para
1,747. Ao se analisar as propriedades da massa
de resíduo e da camada de cobertura vemos que
o peso especifico da camada é superior ao da
massa de resíduos, o que tende a gerar uma
camada que tende a funcionar “empacotando”
toda a massa, bem como a camada de cobertura
apresenta características coesivas, o que não
acontece com a massa de resíduo, c = 0, assim a
mesma acrescenta uma parcela de estabilidade
ao cisalhamento da massa.
Figura 8. Avaliação da estabilidade do aterro de Porto
Alegre com a presença de camada de cobertura.
4 CONCLUSÕES
3.3 Comparativo dos resultados
Com os resultados apresentados no presente
De acordo com as modelagens das situações trabalho, pode-se concluir que a camada de
apresentadas nos itens 3.1 e 3.2 do presente cobertura tende a apresentar um aumento no
trabalho, são apresentados na Tabela 4 os fator de sergurança. Para que se haja uma maior
resultados encontrados dos fatores de segurança certeza sobre a verdadeira atuação da mesma na
para as situações com e sem a camada de massa de resíduos é necessário à intensificação
cobertura. de estudos e análises, levando em conta
pricipalmente as propridades, como, peso
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específico, coesão e ângulo de atrito, bem como


a espessura da camada a ser colocada.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, A. J. G. A. Avaliação do Desempenho das


Camadas de Cobertura de Aterro Sanitário Para a
Redução de Emissões de Gases de Efeito Estufa.
Dissertação de Mestrado – UFPE, Universidade
Federal de Pernambuco, Caruaru, 2017.
BORGATTO, ANDRÉ VINÍCIUS AZEVEDO. Estudo
do Efeito Fibra e da Morfologia na Estabilidade de
Aterros Sanitários de Resíduos Sólidos Urbanos.
Dissertação – Universidade Federal do Rio de Janeiro,
COPPE/UFRJ, 2006.
CATAPRETA, C. A. A. Comportamento de um aterro
sanitário experimental: avaliação da influência do
projeto, construção e operação. Tese de Doutorado
em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos.
Universidade Federal de Minas Gerais/UFMG. Escola
de Engenharia. 2008.
LOPES, R. L. Infiltração de água e emissão de metano
em camadas de cobertura de Aterros de Resíduos
Sólidos. Tese de Doutorado. Universidade Federal de
Pernambuco. CTG. Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Civil, Recife. 2011.
INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS – IPT.
Relatório nº. 29.956, Levantamento e análise das
causas do escorregamento de massa de lixo no Aterro
Bandeirantes – AS-1. Perus, São Paulo, 1991.
MARIANO, M. O. H. Avaliação da retenção de gases em
camadas de cobertura de aterro de resíduos sólido.
Tese de Doutorado. Universidade Federal de
Pernambuco. CTG. Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Civil, Recife. 2008.
SANTOS, Y. R. P. ; SILVA, J. A. ; NORBERTO, A. S. ;
COUTINHO, A. P. ; BELLO, M. I. M. C. V. .
Avaliação da Estabilidade dos Taludes das Margens
do Riacho Camaragibe em Pernambuco. In: Simpósio
da Prática de Engenharia Geotécnica na Região
Centro-Oeste, Goiânia - GO. IV GEOCENTRO,. p.
332-339, 2017.
STRAUSS, M. Análise de estabilidade de talude do
aterro sanitário da zona norte de Porto Alegre.
Dissertação de Mesytrado. Universidade Federal de
Rio Grande do Sul. Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Civil. Porto Alegre, 1998.
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Avaliação do Perigo de Contaminação do Solo em Função do


Sistema de Disposição Final de Resíduos Sólidos em Valas
Utilizando Ferramenta SIG.
Grasiele Simplicio Murari Rodrigues
Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Engenharia, Bauru, Brasil,
grasielemurari@yahoo.com.br

Anna Silvia Palcheco Peixoto


Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Engenharia, Bauru, Brasil,
anna.peixoto@unesp.br

RESUMO: A ocorrência de contaminação por disposição inadequada de resíduos acarreta danos


ambientais de difícil reversão e também riscos à saúde pública. Embora existam municípios
brasileiros que destinem seus resíduos em aterros sanitários, outros realizam a disposição final em
valas ou em lixões. No estado de São Paulo é permitido para municípios de pequeno porte, aterros
em valas em conformidade com norma técnica brasileira. Deste modo, na maioria dos casos, não há
obrigatoriedade de execução de alguns sistemas de proteção ambiental como a impermeabilização
do solo, a drenagem de chorume e a drenagem de gases. Tendo em vista a grande preocupação
existente com relação aos riscos ambientais que a adoção deste sistema proporciona, o objetivo
desse trabalho foi avaliar o perigo de contaminação de solo em função do sistema de disposição
final em valas e identificar áreas sensíveis ao mesmo na Bacia Hidrográfica do Tietê Batalha.

PALAVRAS-CHAVE: Contaminação do Solo por Resíduos, Sistema de Disposição Final de


Resíduos Sólidos em Valas, Áreas Sensíveis aos Aterros em Valas.

1 INTRODUÇÃO outras, o coeficiente de permeabilidade.


Também define os requisitos mínimos para
Desde o início da urbanização a produção de localização, projeto, implantação, operação e
resíduos aumenta continuamente devido ao encerramento de Aterros Sanitários de Pequeno
estilo de vida e atividades dessas aglomerações, Porte (ASPP), para a disposição final de RSU.
o que gera a necessidade de manejo adequado Também estabelece que os ASPP podem ser
para garantir a não contaminação do ambiente e adotados para disposição de até 20 toneladas
a qualidade de vida da comunidade. por dia, e podem ser executados em valas,
No entanto, grande parte dos municípios trincheiras, encosta ou acima da cota do terreno.
brasileiros possuem áreas que serviram ou No entanto, no Estado de São Paulo o órgão
servem de depósito inadequado de resíduos ambiental estadual determina um limite de até
sólidos urbanos tornando um passivo ambiental. 10 toneladas de resíduos por dia.
No Brasil, os municípios considerados de Iwai (2012) considerou esta tecnologia
pequeno porte podem adotar sistemas como uma solução não sustentável ao longo do
simplificados. A ABNT - NBR 15849 (2010) tempo, alegando que são conhecidos os
estabelece condições para a simplificação das questionamentos quanto à possível criação de
instalações de pequeno porte e define critérios passivos ambientais nas áreas de disposição, da
para a dispensa da impermeabilização necessidade da preservação da qualidade das
complementar, tendo como variáveis entre águas e do solo, e ainda, da existência de
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tecnologias atualmente consideradas mais orgânicos xenobióticos. Esses poluentes


limpas, como os processos de incineração, vazaram de aterros sanitários e resultou em
associados à recuperação energética. contaminação de águas subterrâneas, que foram
Teixeira (2002) realizou estudo na área do avaliadas possuindo qualidade "muito ruim".
aterro municipal de Nova Odessa-SP, e em Deste modo, considerou-se necessário
laboratório a fim de avaliar o potencial estudar melhor as consequências dos sistemas
poluidor/contaminador de aterros em valas. Esta de destinação final dos resíduos sólidos para
avaliação foi realizada através de células auxiliar tomadas de decisões e facilitar o
experimentais, construídas como padrão, mas conhecimento dos fatores de riscos.
adaptadas para permitir a coleta do chorume O objetivo foi avaliar o perigo de ocorrência
produzido. Ele concluiu que o sistema de aterro de contaminação do solo e das águas
em vala apresentou real possibilidade de superficiais e subterrâneas proveniente do aterro
contaminação/poluição do solo e, em valas utilizando a ferramenta SIG a fim de
eventualmente, de águas subterrâneas, sendo mapear os fatores e processos ambientais e
necessária a adoção de um sistema eficiente de antrópicos que indicam as áreas mais sensíveis
impermeabilização de fundo e das laterais, ao sistema estudado. E assim, nortear os
quando inclinadas. processos de ordenamento e planejamento do
Montero (2012) concluiu em seu estudo de Manejo de Resíduos Sólidos em municípios de
Vulnerabilidade e Perigo de Contaminação dos pequeno porte.
Aquíferos, através da correlação das
vulnerabilidades identificadas com as fontes
potenciais de contaminação, que independente 3 METODOLOGIA
da localização, as áreas de disposição de RSU
apresentam Alto perigo de contaminação. 3.1 Escolha da Área de Estudo
De acordo com Silveira (2008), os aterros em
valas ou aterros manuais são projetos de Para realização desse estudo adotou-se a área de
engenharia que compreendem procedimentos abrangência da Bacia Hidrográfica do Tietê
que minimizam os impactos a níveis aceitáveis. Batalha, definida como Unidade de
Fiúza, Fontes e Cruz (2002) entendem que os Gerenciamento de Recursos Hídricos - UGRHI
aterros sanitários simplificados são necessários 16 dentre as 22 do Estado, Figura 1.
para atender aos municípios de pequeno porte,
por possuírem simplicidade construtiva e
operacional, e baixos custos de implantação e
operação.
Apesar de ser considerada a solução mais
viável para os municípios brasileiros, trata-se de
atividade com potencial poluidor como pode ser
observado pelos resultados de um estudo
realizado por Han (2016) em águas subterrâneas
das proximidades de aterros localizados na
China que indicaram que 96 tipos de poluentes
foram detectados e 22 tipos de poluentes foram Figura 1: UGRHI-16 no Estado de São Paulo.
classificados perigosos, levando em Fonte: (CBH TB, 2008)
consideração matéria orgânica, sais inorgânicos,
metais pesados (ferro, manganês, mercúrio, Entre os 36 municípios que compõem a área
cadmio, cromo hexavalente e chumbo), estudada, foram constatados 27 municípios, que
poluentes bacteriológicos e compostos se enquadram como município de pequeno
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porte, ou seja, que geram até 10 toneladas de O Mapa Pedológico do IAC (2018) foi
resíduos sólidos diariamente. acessado pelo visualizador da Infraestrutura de
Dos 27 municípios de pequeno porte, possui Dados Espaciais do Estado de São Paulo (IDE-
aterro com sistema de valas atualmente 17. SP), ferramenta digital que possui
Foram selecionados estes 17 municípios para funcionalidade de pesquisa online para
caracterização dos fatores ou processos localidades. Deste modo, foram realizadas as
ambientais e antrópicos a fim de conhecer a buscas para cada município, através do
fragilidade de cada um quanto à adoção do endereço eletrônico: http://www.idesp.sp.gov.
sistema de disposição final de resíduos em br/visualizador/?name=SOLOS_ESTADO_SA
valas. O_PAULO&descricao=&url=http://www.ide.e
Através das coordenadas geográficas obtidas mplasa.sp.gov.br/geoserver/IAC/wms?&uuid=7
em consulta aos Índices da Qualidade de 07d0ada-4f89-42a8-9a2d-79dfab8718aa&box _
Aterros de Resíduos (IQR) de cada município, 0=-53.4&box_1=-25. 6&box_2=-44&box_3=-
disponíveis no endereço eletrônico http://licenci 19.46.
amento.cetesb.sp.gov.br/mapaugrhis/mapa.php Em seguida, elaborou-se uma planilha que
da CETESB (2018) e com o mapa da UGRHI classifica os tipos de solo da área estudada e
16, obtido do Instituto Geográfico e assim se identificou as suas características
Cartográfico do Estado de São Paulo (IGC, quanto à permeabilidade e coesão.
2011), onde os municípios encontravam-se Além disso, também foi utilizado o Mapa
delimitados. Assim, pelo SIG QGIS 2.18.14 Pedológico, (IF,2008) que disponibiliza em seu
foram destacados os 17 municípios com ASPP site (http://iflorestal.sp.gov.br/2017/09 /26/map
em valas em operação, Figura 2. a-pedologico-do-estado-de-sao-paulo-revisado-
e-ampliado/), arquivo em shapefile, que
permitiu a espacialização dos ASPP em valas
dos municípios estudados. Assim, os tipos de
solo da região estudada também foram
analisados neste mapa.
Deste modo, foi possível diagnosticar os
municípios que possuem características
pedológicas sensíveis ao sistema de disposição
final de resíduos sólidos em valas.

3.2.2 Geologia e Geomorfologia

Através do Mapa Geológico do Estado de São


Figura 2: Municípios da UGRHI-16 (SP) com ASPP Paulo do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do
Estado de São Paulo (IPT,1981) se identificou
3.2 Fatores ou Processos Ambientais as formações predominantes nos municípios
estudados e assim, elaborou-se planilha com as
3.2.1 Tipo de Solo formações geológicas de cada um. Quanto à
geomorfologia, os aterros foram espacializados
Para avaliar a fragilidade com relação aos tipos no Mapa Geomorfológico da Bacia hidrográfica
de solo da região onde estão instalados os ASPP do Tietê Batalha do Plano de Bacia
em valas, confrontou-se os mapas pedológicos Hidrográfica da UGRHI 16 - Tietê Batalha, do
do estado de São Paulo do Instituto Comitê de Bacia Hidrográfica do Tietê -
Agronômico de Campinas (IAC) e do Instituto Batalha (CBH TB, 2008).
Florestal (IF).
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3.2.3 Hidrografia do solo, caracterizado através do Mapa de Uso e


Ocupação do Solo do Plano de Bacia
Para análise da presença de corpos hídricos que Hidrográfica da UGRHI 16 - Tietê Batalha,
podem sofrer impactos com a presença de (CBH TB, 2008), no qual os aterros foram
aterros sanitários de pequeno porte em valas, foi espacializados permitindo identificar as
utilizado o arquivo shapefile da Rede de ocupações de seus entornos.
Drenagem do Estado de São Paulo, da
Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São 3.4 Avaliação de Perigo
Paulo (SMA, 2018).
Este arquivo foi aberto no QGIS, sistema de Após avaliação da influência de cada um dos
informações geográficas, e sobreposto à fatores considerados para este estudo, e se
delimitação dos municípios da Bacia baseando no trabalho de Nascimento (2012),
Hidrográfica em estudo. Foram criados pontos cuja metodologia adotada foi de Análise Multi-
para a localização dos aterros em valas Critério de Decisão e na avaliação realizada,
existentes em operação e desenhados círculos aplicou-se notas de 0 a 10 para cada localidade.
no entorno destas áreas sob um raio de 200 As notas foram divididas em intervalos
metros, que é a distância mínima que os aterros definindo os níveis de perigo, sendo de 0 a 2
podem possuir em relação aos cursos hídricos, “muito baixo”, 2 a 4 “baixo”, 4 a 6 “médio”, 6 a
de acordo com a ABNT - NBR 15849 (2010). 8 “alto” e 8 a 10 “muito alto”.
Para os fatores Geologia, Pedologia e Uso e
3.2.4 Águas Subterrâneas Ocupação do Solo aplicou-se peso 2 e para os
demais peso 1, desta forma, as notas foram
Por possuir informações quanto à profundidade calculadas através de média ponderada para
do lençol freático e a permeabilidade do solo cada município considerado por este estudo.
nas áreas dos aterros instalados no estado de Os fatores escolhidos para aplicação do peso
São Paulo, os IQR dos municípios avaliados 2, referem-se aos itens de caráter mais
foram acessados através do Mapa de UGRHIs significativo, já que as características
da CETESB (2018), o que permitiu tabelar geológicas e pedológicas são as que mais
essas características para cada município influenciam para o risco de contaminação do
considerando a área onde o aterro em valas solo. A atribuição deste peso para o fator uso e
encontra-se operante. ocupação do solo, justifica-se pela importância
quanto ao risco à saúde pública.
3.2.5 Áreas de Proteção Ambiental

As Áreas de Proteção Ambiental (APA) foram 4 RESULTADOS E ANÁLISES


identificadas pelo mapeamento existente das
APAs do Brasil, disponibilizado pelo Ministério 4.1 Fatores ou Processos Ambientais
do Meio Ambiente (MMA) através do link
http://mapas.mma.gov.br/i3geo/datadownload.h 4.1.1 Tipo de Solo
tm.
Através deste mapa foram identificadas as Para compreender melhor as características dos
APAs próximas ou até mesmo sobrepostas às solos identificados nos aterros, utilizou-se a
áreas de descarte de lixo. descrição das pedologias dada pelo IAC (2018),
em sua publicação Solos do Estado de São
3.3 Fatores ou Processos Antrópicos Paulo.
Primeiro foram determinados os tipos de
Considerou-se nesta avaliação o uso e ocupação solos das áreas estudadas considerando as
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legendas apresentadas no Mapa Pedológico do possuem permeabilidade de boa a moderada,


IF (2018) e o georrreferenciamento dos locais friabilidade e moderada retenção de água.
dos aterros em valas. Portanto, devido à presença de solos da
Após espacialização dos ASPP em valas no Ordem dos Latossolos com textura média, os
Mapa Pedológico do estado de São Paulo do IF, quais possuem elevada permeabilidade, os
obteve-se a tabela de pedologia com os tipos de municípios que apresentaram maior fragilidade
solos presentes nas áreas dos aterros dos nas áreas de seus aterros com sistema de
municípios estudados, cujas coordenadas disposição final em valas foram: Adolfo, Irapuã,
geográficas foram encontradas nos IQR de cada Presidente Alves, Reginópolis e Sales.
município. Guarantã não foi caracterizado como área
As características dos solos identificadas sensível, pois sua pedologia indicou Latossolo
foram confrontadas no Mapa Pedológico do com textura argilosa, cuja permeabilidade é
IAC através do visualizador on line IDE, sendo considerada de boa a moderada.
possível constatar que as características dos Com relação aos municípios de Cafelândia,
solos se correspondem para estas áreas. Guaiçara e Sabino, identificou-se que apesar de
possuírem seus ASPP em valas instalados em
Tabela 1. Pedologia. regiões com Argissolos, cuja permeabilidade é
Municípios Pedologia menor nos horizontes subsuperficiais, estes
Ordem Textura municípios também são dotados de áreas cuja
Adolfo, Irapuã, Presidente Latossolos Média
Alves, Reginópolis, Sales (LV21) ordem pedológica é Latossolo.
Ainda sobre o município de Sabino,
Guarantã Latossolos Média ou
(LV22) Argilosa verificou-se que a textura do solo na área do
aterro foi classificada como Média/ Argilosa e
Balbinos, Borborema, Santa Argissolos Arenosa/
Ernestina, Cafelândia, Ibirá, (PVA1) Média Arenosa/ Média, pois se trata de uma associação
Dobrada, Elisiário,Potirendaba de solos. Portanto, não foi possível concluir se a
Guaiçara, Marapoama e Argissolos Arenosa/ área do aterro em operação possui alta ou baixa
Sabino (PVA4) Média permeabilidade.
Média/ Na Figura 3 está o mapa com a localização
Argilosa dos ASPP posicionados no Mapa Pedológico da
Fonte: IF (2018)
região da Bacia Hidrográfica estudada.
Os solos do tipo PVA1 e PVA 4, que
correspondem aos Argissolos Vermelhos e
Vermelho-Amarelos de textura arenosa/média,
possuem baixa coesão em superfície e menor
permeabilidade nos horizontes subsuperficiais.
O tipo PV4 compreende a Associação de
Argissolo textura média/argilosa e Argissolo
textura arenosa/média. Nos casos de texturas
argilosas, os argissolos podem ter limitações
ligeiras relacionadas a pouca profundidade.
Já os solos LV21 se tratam de Latossolos
Vermelhos e Vermelho-Amarelos de textura
média. São solos com alta permeabilidade,
baixa coesão e retenção de água. O tipo LV22 Figura 3: Mapa Pedológico dos Municípios da UGRHI 16
se refere à Associação de Latossolo típico e com aterros em valas.
Latossolo argissólico, ambos com textura média
ou argilosa. Latossolos de textura argilosa
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4.1.2 Geologia e Geomorfologia Tabela 2. Geomorfologia


Municípios Geomorfologia
As características geológicas podem influenciar Adolfo, Borborema, Guaiçara, Colinas Amplas
quanto à infiltração de água se as formações Guarantã, Irapuã, Presidente
rochosas forem porosas ou possuírem falhas. Alves, Sabino e Sales.
Identificou-se que as áreas estudadas Sta Ernestina, Dobrada, Elisiário, Colinas Médias
encontram-se sobre a Formação Adamantina e Marapoama, Ibirá, Cafelândia,
Reginópolis e Potirendaba.
de acordo com Mendonça e Gutierre (2000),
essas formações possuem características Balbinos Morrotes Alongados e
Espigões
predominantemente arenosas. Fonte: CBH TB (2008)
Portanto, foi possível concluir que todos os
municípios estão sobre rochas compostas de Desta forma, com relação à geomorfologia,
arenitos, material que possui alto teor de entendeu-se que os 16 municípios com seus
infiltração, o que determina aspecto negativo aterros posicionados sobre colinas médias e
para implantação de aterros sanitários com valas amplas, possuem situação favorável ao tipo de
sem a utilização de sistemas de drenagem dos empreendimento estudado, pois nessas colinas a
chorumes gerados no local. drenagem é de baixa a média densidade.
Quanto à geomorfologia, a forma do terreno Exceto o município de Balbinos que se
influencia na topografia e no processo de encontra sobre Morrotes Alongados e Espigões,
escoamento, onde as áreas planas tendem à cuja drenagem é de média a alta densidade.
ocorrência de infiltração e lixiviação, enquanto
áreas íngremes podem induzir problemas 4.1.3 Hidrografia
relacionados à estabilidade de taludes.
Através do mapa geomorfológico do plano Através da distribuição espacial dos ASPP em
de bacia (CBH TB, 2008), as características dos valas na Rede de Drenagem do Estado de São
relevos nas áreas dos aterros foram examinadas. Paulo, e análise das distâncias dos corpos
Assim, apresenta-se a seguir o mapa hídricos com relação aos aterros, verificou-se
geomorfológico da área com os ASPP em valas, que nenhum dos aterros estudados adentrou a
Figura 4 e a tabela com as descrições. distância mínima estabelecida por norma.
Entretanto, os ASPP em valas dos
municípios de Sabino e Balbinos encontram-se
muito próximos do limite, o que merece atenção
para o planejamento das instalações futuras.

4.1.4 Águas Subterrâneas

Tabela 3. Profundidade x Permeabilidade


Município Prof. do lençol freático (P),
Permeabilidade do solo (k)
Adolfo, Dobrada, P> 3 m, k < 10-6 cm/s
Cafelândia, Elisiário,
Guarantã, Guaiçara e
Marapoama
Figura 4: Mapa Geomorfológico dos Municípios da Balbinos, Borborema, 1<= P <= 3 m, k <10-6 cm/s
UGRHI 16 com aterros em valas. Ibirá, Irapuã, P. Alves,
Reginópolis, Santa
Ernestina, Sabino, Sales
e Potirendaba
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De acordo com os IQR dos aterros desses 4.2 Fatores ou Processos Antrópicos
municípios, dados por meio de avaliação em
visita técnica da CETESB, que aponta se o 4.2.1 Uso e Ocupação do Solo
coeficiente de permeabilidade (P) do solo é
inferior ou superior a 10-6 cm/s, sendo acima Através da espacialização dos ASPP em valas
deste valor considerada inadequada. em estudo junto ao Mapa de Uso e Ocupação do
Também foram apontados na Tabela 3, os Solo da Bacia Hidrográfica do CBH TB (2008),
municípios cujos aterros estão sobre uma foi possível identicar os tipos de usos da terra
profundidade entre 1 e 3 metros de distância do ao redor dos aterros em operação, Figura 6.
lençol subterrâneo, sendo considerada
inadequada quando inferior a 1 metro.
A partir dos dados avaliados, foi possível
concluir que os ASPP em valas dos municípios
estudados não estão em desconformidade com a
norma técnica brasileira ABNT - NBR 15849
(2010).

4.1.5 Áreas de proteção ambiental.

De acordo com a espacialização dos aterros


sanitários de pequeno porte operantes na bacia
hidrográfica do Tietê Batalha sobre o Mapa de
Unidades de Conservação (UC) do MMA
(2018), existem 3 aterros inseridos na área da
APA Rio Batalha criada em 2001 e gerida pela Figura 6: Mapa de Uso e Ocupação do Solo dos
Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Municípios da UGRHI 16 com aterros em valas.
Paulo.
Constatou-se que os canaviais e as pastagens
são as ocupações predominantes na área da
bacia. A Tabela 4 mostra as ocupações das
regiões dos aterros em questão.

Tabela 4. Uso e Ocupação do Solo


Município Uso e ocupação
Adolfo Pastagem e Culturas
Balbinos, Cafelândia, Pastagem
Guaiçara, Sabino,
Guarantã, Reginópolis
Borborema, Irapuã Cana, Pastagem e
Culturas Perenes
Figura 5: Mapa das Unidades de Conservação dos Dobrada e Sta Ernestina Cana
Municípios da UGRHI 16 com aterros em valas.
Elisiário, Ibirá, Cana e Pastagem
Marapoama, Potirendaba
Os municípios que possuem seus ASPP
nestas condições são Balbinos, Reginópolis e P. Alves Pastagem,
Reflorestamento e Mata
Presidente Alves.
Sales Pastagem, Mata e Cana
Fonte: CBH TB (2008)
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Os ASPP, devido à ausência de drenagem de de aterros em valas, e o maior valor para as


chorume em sua concepção, podem causar a situações desfavoráveis, de maior perigo.
propagação de sua contaminação através dos Com as notas aplicadas de acordo com a
tipos de usos do solo. As plantações podem Tabela 5 e os pesos descritos pela metodologia,
captar por suas raízes os elementos presentes no foram calculados os níveis de perigo de cada
chorume que escoa pelo solo ou infiltra nele, localidade com relação ao sistema de aterros de
podendo atingir as águas subterrâneas em algum resíduos em valas. Assim, foi possível gerar um
momento de seu percurso no subsolo ao deparar mapa de perigo para a área estudada.
com rupturas na rocha, que podem existir
mesmo nos casos de baixa permeabilidade.
A pastagem, por possuir vegetação de raízes
rasas, tende a não ser tão facilmente atingida.
Entretanto, se a poluição afetar as águas
superficiais, o gado pode ser contaminado ao
ingerí-las e carrear riscos à saúde humana.

4.3 Avaliação de Perigo

De acordo com a metodologia descrita, as notas


foram aplicadas aos 7 fatores analisados, onde
os fatores foram definidos na tabela da seguinte
forma: F1 (Geologia), F2 (Pedologia), F3
(Geomorfologia), F4 (Hidrografia), F5 (Águas Figura 7: Mapa de Perigo dos Municípios da UGRHI 16
Subterrâneas), F6 (APA) e F7 (Uso do Solo). com aterros em valas.

Tabela 5. Avaliação de Perigo por Fatores As avaliações que permitiram gerar este
Município F1 F2 F3 F4 F5 F6 F7 mapa foram realizadas para as áreas dos ASPP
Adolfo 10 10 0 0 0 0 9 em valas dos municípios representados. No caso
Balbinos 10 2 10 0 7 10 3
do Uso e Ocupação do Solo também se
Borborema 10 2 0 0 7 0 9
Cafelândia 10 2 0 0 0 0 3 considerou o entorno destas áreas.
Dobrada 10 2 0 0 0 0 9 O mapa de perigo apresentado mostra os
Elisiário 10 2 0 0 0 0 9 municípios da Bacia Hidrográfica do Tietê -
Guaiçara 10 2 0 0 0 0 3 Batalha que possuem aterros sanitários em valas
Guarantã 10 2 0 0 0 0 3
em operação com os níveis de perigo
Ibirá 10 2 0 0 7 0 9
Irapuã 10 10 0 0 7 0 9 representados como “Muito Baixo”, “Baixo”,
Marapoama 10 2 0 0 0 0 9 “Médio”, “Alto” e “Muito Alto” relacionados
Potirendaba 10 2 0 0 7 0 9 ao perigo de contaminação de solo e prejuízos à
P. Alves 10 10 0 0 7 10 9 saúde pública.
Reginópolis 10 10 0 0 7 10 3
Sabino 10 0 0 0 7 0 9
Para reconhecer esses resultados e classificá-
Sales 10 10 0 0 7 0 9 los, foi necessário entender a influência de cada
S. Ernestina 10 2 0 0 7 0 9 fator sobre o perigo de contaminação das áreas
estudadas.
Buscando classificar o nível de perigo, a Para o fator 1 (F1), que se trata dos aspectos
escala das notas aplicadas, de 1 a 10, considerou geológicos locais, todos os municípios
o menor valor para as situações de menor apresentaram mesmo resultado, já que a
perigo, ou seja, mais favoráveis à implantação Formação Adamantina cobre toda área
estudada. De acordo com Mendonça e Gutierre
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(2000), essas formações possuem características mínima estabelecida pela CETESB, resultando
predominantemente arenosas. Por esse motivo, em nota 0 para todos.
a esse fator foi dada nota de maior sensibilidade As águas subterrâneas, fator 5 (F5), foram
ao perigo de contaminação. Pois, de acordo com analisadas com base nas informações dos IQRs
a Embrapa (2003), as areias retêm pouca água, dos aterros (CETESB, 2016), cujas
devido ao seu grande espaço poroso que permite profundidades foram pontuadas com nota 0 para
a drenagem livre da água dos solos. as distâncias maiores que 3 metros e nota 7 para
Portanto, a análise realizada sobre as os casos que apresentaram profundidade igual
características gerais do tipo de formação ou menor a 1 metro.
geológica, identificada para a região estudada Através da avaliação do fator 6 (F6), APA,
através do Mapa Geológico do Estado de São pontuou-se com nota Alta de perigo os
Paulo do IPT, pôde indicar um Alto potencial municípios com os aterros localizados dentro de
poluidor do sistema de disposição de resíduos uma Área de Proteção Ambiental, cuja
sólidos sem impermeabilização da base. atividade não é permitida conforme a lei que a
No entanto, indica-se para uma melhor instituiu.
conclusão sobre uma determinada área, que O fator 7 (F7), Uso e Ocupação do Solo,
análises de solo sejam realizadas a fim de pautar recebeu pontuação de acordo com o perigo
adequadamente a escolha do sistema a ser identificado para o tipo de uso, considerando
adotado e as medidas de proteção ambiental a que a contaminação pode afetar a saúde pública.
serem contempladas nos projetos de aterros Portanto, foi aplicada nota de Baixo perigo
sanitários. apenas para as pastagens, que por possuir raízes
Quanto ao fator 2 (F2), referente aos rasas não são facilmente atingidas por
aspectos pedológicos, foram identificados contaminação causada pelo sistema estudado.
latossolos e argissolos, aplicando-se nota baixa Contudo, a Avaliação de Perigo apontou
de perigo para os argissolos identificados que de maior parte da região estudada com Médio
acordo com o IAC (2018) possuem baixa Perigo de Contaminação em função dos ASPP
coesão em superfície e menor permeabilidade em valas considerando os aspectos avaliados
nos horizontes subsuperficiais e nota alta de neste trabalho.
perigo para os latossolos presentes, apontados
pelo IAC (2018) de permeabilidade alta, baixa 5 Considerações Finais
coesão e retenção de água.
Porém, da mesma forma apontada ao fator 1, Os resultados apontaram o nível de perigo para
indica-se a análise do tipo de solo através de as áreas com aterros em valas, que de acordo
amostragem local para maior precisão da com as características locais possuem maior ou
avaliação da área a ser escolhida para implantar menor perigo de ocasionar contaminação do
o aterro sanitário de resíduos sólidos. solo, de águas superficiais e subterrâneas.
Com relação à geomorfologia, fator 3 (F3), Em uma análise geral, dos 17 municípios
exceto Balbinos, os municípios possuem seus analisados, 4 deles se encontram em uma
aterros posicionados sobre colinas médias e situação de alto perigo de contaminação do
amplas, situação favorável, pois nessas colinas a solo: Irapuã, Presidente Alves, Reginópolis e
drenagem é de baixa a média densidade. Sales. Nestes municípios os ASPP em valas
Portanto, aplicou-se nota de Alto perigo para estão instalados em áreas com permeabilidade
Balbinos e de Baixo perigo para as demais. alta em seus solos, baixa profundidade do
O fator 4, que refere-se à hidrografia não lençol freático e alguns dentro de APA.
apresentou nenhum perigo considerando a As áreas dos ASPP em valas dos municípios
distância dos aterros dos cursos d’água de Adolfo, Balbinos, Borborema, Dobrada,
próximos, que estão obedecendo a distência Elisiário, Ibirá, Marapoama, Potirendaba,
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Sabino e Santa Ernestina apresentaram um nível in China. Science of The Total Environment, v. 569, p.
de perigo médio, onde se verificou que os tipos 1255-1264.
Intituto Agronômico de Campinas (2018) Solos do
de solos são favoráveis, mas a ocupação do Estado de São Paulo. Disponível em http://www.iac.
entorno dessas áreas possuem presença de sp.gov.br/solossp/. Acesso em 10/04/2018.
agricultura, áreas de matas ou reflorestamentos. Intituto Agronômico de Campinas (2018) Mapa
Nos municípios de Cafelândia, Guaiçara e Pedológico do Estado de São Paulo. Disponível em:
Guarantã os níveis de perigo constatados foram http://www.idesp.sp.gov.br/visualizador/?name=SOL
OS_ESTADO_SAO_PAULO&descricao=&url=http:/
baixos, onde se observou entre outras /www.ide.emplasa.sp.gov.br/geoserver/IAC/wms?&uu
características, baixa permeabilidade nos seus id=707d0ada-4f89-42a8-9a2d-79dfab8718aa &box_0
tipos de solo devido à presença de argila, bem =-53.4&box_1=-25.6&box_2=-44&box_3=-19.46.
como o tipo de ocupação do solo no entorno das Acesso em 06/04/2018.
áreas de seus aterros é a pastagem. Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São
Paulo (1981). Mapa Geológico do Estado de São
Assim, esta análise poderá auxiliar às Paulo. Impresso Cia. Editora Gráfica Barbero.
tomadas de decisão da administração pública de Instituto Florestal (2018). Mapa Pedológico do Estado de
cada municipalidade, bem como do CBH TB e São Paulo. Disponível em: http://iflorestal.sp.go
órgãos licenciadores. v.br/2017/09/26/mapa-pedologico-do-estado-de -sao-
paulo-revisado-e-ampliado/. Acesso em 15/04/2018.
Instituto Geográfico e Cartográfico do Estado de São
Paulo (2011). Mapa de Limite de UGRHI. Disponível
REFERÊNCIAS em: http://www.igc.sp.gov.br/contato/index.aspx.
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Câmara dos Deputados, Centro de Documentação e Doutorado. São Paulo.
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de aterro em valas. São Paulo. de Bauru, Universidade Estadual Paulista. Dissertação
Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (2010). de Mestrado. Bauru.
Manual ambiental. Procedimentos para implantação Nascimento, V. F. (2012). Proposta para Indicações de
de aterro em valas. São Paulo. Áreas para a Implantação de Aterro Sanitário no
Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (2018). Município de Bauru-SP, Utilizando Análise Multi-
Índices da Qualidade de Aterros de Resíduos. Critério de Decisão e Técnicas de Geoprocessamento.
Disponível em: http://licenciamento.cetesb. Faculdade de Engenharia de Bauru, Universidade
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Sistemas de Produção, 3. ISSN 1678-8710 Versão Silveira, L. R. (2008). Desafios do manejo de resíduos
Eletrônica. sólidos: a gestão de seis aterros sanitários
Fiúza, J. M. S. et al. (2002). Nova tendência de simplificados no Estado da Bahia. Salvador 2008. 166
disposição final de resíduos sólidos no estado da p. Escola Politécnica - Universidade Federal da Bahia,
Bahia: aterro sanitário simplificado. In: VI Simpósio Salvador – BA
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Avaliação do Uso de Resíduos de Construção e Demolição


Reciclados (RCD-R) Produzidos em Aparecida de Goiânia-GO
em Estruturas de Solo Reforçado (ESR) com Geossintéticos e em
Pavimentação
Mateus Porto Fleury
Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia, Brasil, engcivilmateusfleury@gmail.com

Eder Carlos Guedes dos Santos


Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia, Brasil, edersantos@ufg.br

RESUMO: Apesar da viabilidade da aplicação dos resíduos de construção e demolição reciclados


(RCD-R) em obras geotécnicas relatada em estudos mais recentes, observa-se a falta de uma
caracterização tecnológica sistemática das propriedades desses materiais, dado que
aproximadamente 23% das usinas brasileiras não realizam ou nunca realizaram ensaios técnicos em
seus produtos. Diante disso, este artigo objetiva caracterizar um produto RCD-R, fabricado por uma
usina de reciclagem, e analisar a viabilidade da sua aplicação em estruturas de solo reforçado (ESR)
com geossinéticos e em pavimentação. Neste sentido, amostras de RCD-R foram coletadas (com
intervalos fixos de tempo) e caracterizadas geotecnicamente. Os ensaios laboratoriais executados
consistiram nos usualmente empregados para a caracterização de solos e na análise de composição
gravimétrica. A análise dos resultados revelou que o RCD-R ensaiado apresentou características
geotecnicas bastante semelhantes às observadas para solos. Quanto à aplicação do material,
verificou-se que o RCD-R mostrou propriedades em conformidade para aplicação nas obras de
interesse.

PALAVRAS-CHAVE: Resíduo de Construção e Demolição Reciclado, Caracterização Geotécnica,


Aplicação, Estruturas de Solo Reforçado, Pavimentação.

1 INTRODUÇÃO somente em escala nacional, mas também


mundial, estratégias para a reciclagem dos RCD
O crescimento observado pela indústria da começaram a ser introduzidas em diversos
construção civil (ICC) nos últimos anos, países, como, por exemplo, Turquia (ESIN;
ocasionado pelos incentivos governamentais à COSGUN, 2007), Itália (BLENGINI;
construção, ocorreu sem significativas GARBARINO, 2010), Portugal (COELHO;
mudanças tecnológicas nos métodos BRITO, 2013a; 2013b) e Espanha
construtivos. Assim, este crescimento levou ao (RODRÍGUEZ et al., 2014). Neste contexto, a
aumento do volume gerado de resíduos de implantação de usinas de reciclagem pode ser
construção e demolição (RCD). Apesar da sua vista como uma importante ação para a gestão
geração ser inevitável, quando essa ocorre sem dos RCD em diversas cidades brasileiras.
uma gestão eficiente, uma série de impactos são Estudos mais recentes buscaram analisar a
observados, destacando-se: i) ocupação de vias viabilidade da aplicação de resíduos de
e logradouros públicos, ii) obstrução dos construção e demolição reciclados (RCD-R) em
sistemas de drenagem e iii) degradação da obras geotécnicas. No geral, verificou-se a
paisagem urbana (SCHNEIDER, 2002). conformidade da aplicação do RCD-R como
Diante desse cenário, que não ocorre material de preenchimento em estruturas de solo
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reforçado (SANTOS; VILAR, 2008; SANTOS;


PALMEIRA; BATHURST, 2010; 2013; 2014;
VIEIRA; PEREIRA, 2016; ARAÚJO NETO,
2017) e camadas de pavimentos (COSTA;
CASTRO; REZENDE, 2010; DELONGUI et
al., 2010; LEITE et al., 2011; HERRADOR et
al., 2012; SOUZA, 2015; OSSA; GARCIÁ;
BOTERO, 2016; ALMEIDA, 2017;
BARBOSA, 2017) e para melhoramento de solo
(ARAÚJO JÚNIOR; GUSMÃO; SUKAR,
2010; FARIAS; FUCALE; GUSMÃO, 2010;
DIAS, 2014; SANTOS NETO, 2015; Figura 1. Relação das usinas de reciclagem brasileiras
com a realização de ensaios técnicos em seus produtos. –
MEDEIROS JÚNIOR, GUSMÃO; FUCALE, modificada pelo autor (ABRECON, 2015).
2010; MACEDO, 2016). A Tabela 1 apresenta
algumas características geotécnicas de RCD-R 2015). Diante dessa situação, deve-se ressaltar
obtidas na literatura. No entanto, apesar da que a execução de ensaios torna-se importante
viabilidade da aplicação dos RCD-R observada para i) verificar a qualidade do produto
na literatura, depara-se com a falta de uma beneficiado, ii) atender às exigências dos
caracterização tecnológica sistemática das consumidores e iii) informar as propriedades
propriedades desses materiais. Dados da dos materiais beneficiados, possibilitando a sua
Associação Brasileira para Reciclagem de aplicação de forma mais eficiente e segura.
Resíduos da Construção Civil e Demolição Em Aparecida de Goiânia-GO, encontra-se a
(ABRECON) revelam que 23% das usinas única usina do estado de Goiás, a qual possui
brasileiras não realizam ou nunca realizaram capacidade de produção para satisfazer a
ensaios técnicos em seus produtos (ABRECON, demanda de agregados reciclados em Goiânia-

Tabela 1 – Características geotécnicas de RCD-R obtidas literatura.


γ SUCS / TRB CNU / Cc d_máx(6) wótima(7) ISC(8)
Referência (1) (2) (3) (4) IP(5)
(kN/m³) (kN/m³) (%) (%)
Motta (2005) - - - - 18,30(d) 11,0 75
Santos (2007) 28,19 - - NP(a) 18,44(b) 14,9 60
Santos, Vilar, 27,30 NP(a) 18,20 16,2
- - -
Palmeira (2010) 27,40 7 16,90 18,0
Santos (2011) 27,30 - - NP(a) 19,30(b) 13,7 -
Dias (2014) - SC / A-4 - - 17,60(b) 18,0 -
Souza (2015) 24,40 - 37,00 / 3,00 NP(a) 18,10(c) 11,0 163
SW / A-1-b 11,54 / 1,23 - -
Santos Neto (2015) 26,04 NP(a) -
SP / A-1-a 4,19 / 0,74 13,39(b) 19,7
Macedo (2016) 26,20 SP / A-1-a 3,82 / 0,81 NP(a) 19,10(b) 13,4 -
Barbosa (2017) 26,41 SM / A-1-b 38,86 / 1,73 18,55(b) 12,6 25
Araújo Neto (2017) 26,45 SW / - - NP(a) 17,61(b) 15,5 -
SF / A-2-4 126,43 / 7,48 16,90(b) 14,8 13
Almeida (2017) - NP(a)
GP / A-1-a 14,12 / 3,95 19,60(b) 12,3 60
Notas:
(1) (7)
Sistema Unificado de Classificação de Solos Umidade ótima
(2)
Sistema Rodoviário de Classificação – Transportation Research (8)
Índice de Suporte Califórnia
Board (TRB)
(3) (a)
Coeficiente de não uniformidade Não plástico
(4) (b)
Coeficiente de curvatura Energia Proctor Normal
(5) (c)
Índice de plasticidade Energia Proctor Modificada
(6) (d)
Peso específico seco máximo Energia não informada
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GO e região metropolitana (FLEURY Tabela 2 – Plano de coleta realizado e massas secas das
SIQUEIRA NETO; SANTOS, 2017). No amostras coletadas.
Data da Massa seca
estado, verifica-se que a duplicação de vias e a Amostra
amostragem (kg)
construção de aterros (para pontes e viadutos) RCD-R 01 01/11/2016 92,09
constituem as principais atividades realizadas RCD-R 02 16/11/2016 66,92
pelo governo nos últimos anos. Em virtude RCD-R 03 29/11/2016 101,38
disso e da proximidade da usina de reciclagem
com as cidades circunvizinhas, torna-se
interessante investigar a utilização do material
beneficiado para a aplicação em obras
geotécnicas.
Nesse contexto, este artigo busca caracterizar
um produto RCD-R fabricado pela usina de
reciclagem, assim como, analisar a sua
aplicação como material de preenchimento em
estuturas de solo reforçado (ESR) e em camadas
de pavimentação.

2 METODOLOGIA Figura 2. Localização dos pontos de coleta na pilha de


RCD-R.

2.1 Coleta das Amostras


(LabGEO) da Universidade Federal de Goiás
(UFG), seguindo as recomendações das normas
Para a realização deste trabalho, foram
brasileiras vigentes, com exceção do ensaio de
coletadas 3 (três) amostras de RCD-R
composição gravimétrica. Este último foi
denominado ‘brita graduada simples’ (BGS) da
realizado conforme a metodologia proposta por
usina de reciclagem em Aparecida de Goiânia-
Santos (2007), tomando-se 10 kg de RCD-R,
GO. As amostras foram coletadas em intervalos
sendo estes peneirados e lavados na peneira de
quinzenais, seguindo as recomendações
abertura 4,76 mm. Em seguida, o material retido
preconizadas pela norma brasileira (NBR)
foi seco em estufa por 24 horas e,
10007 – Amostragem de Resíduos Sólidos
posteriormente, procedeu-se com a separação
(ABNT, 2004) – e NBR Norma Mercosul (NM)
visual dos diferentes componentes. Atribui-se
26– Agregados – Amostragem (ABNT, 2009).
como solo todo o material passante na peneira
Com intuito de obter uma amostra
de abertura 4,76 mm durante o peneiramento e
representativa da pilha de RCD-R, a camada
lavagem.
mais superficial de 100 mm de material foi
Para a avaliação dos RCD-R como materiais
removida, para que as coletas ocorressem em
em camada de pavimentos, tomou-se como base
um ponto mais interior da pilha, e em diferentes
a norma NBR 15116 – Agregados reciclados de
ponto, conforme ilustrado na Figura 2. A Tabela
resíduos sólidos da construção civil – utilização
2 apresenta as datas de coleta e as massas secas
em pavimentação e reparo de concreto sem
das amostras coletadas.
função estrutural (ABNT, 2004), DNIT 141 –
Pavimentação - Base estabilizada
2.2 Caracterização e Aplicação do RCD-R
granulometricamente (DNIT, 2010) e a ASTM
D1241-00 – “Standard specification for
Os procedimentos dos ensaios de caracterização
materials for soil-aggregate subbase, base, and
estão apresentados na Tabela 3. Os ensaios
surface courses” (ASTM, 2000).
foram realizados, no Laboratório de Geotecnia
Para a análise dos RCD-R em estruturas de
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Tabela 3 – Procedimentos técnicos adotados.


Procedimentos Técnicos (normas)
NBR 6508: Grãos de solo que passam na peneira de 4,8 mm – Determinação da massa específica (ABNT, 2016a) a b
NBR 7181: Solo: análise granulométrica (ABNT, 2016b) c
NBR 6459: Solo: determinação do limite de liquidez (ABNT, 2016c) a
NBR 7180: Solo: determinação do limite de plasticidade (ABNT, 2016d) a
NBR 7182: Solo: ensaio de compactação (ABNT, 2016e) a d
NBR 9895: Solo: índice de suporte Califórnia – Método de Ensaio (ABNT, 2016f) a d e
Notas:
a
Preparação de amostra com secagem prévia ao ar
b
Os resultados serão expressos em peso específico dos grãos (kN/m³)
c
Sedimentação, peneiramento fino e grosso
d
Sem realização do ensaio de expansão
e
Energia Proctor normal em cilindro grande com reuso de material

solo reforçado (ESR) com geossintéticos, Tabela 4 – Composição gravimétrica das amostrass
tomou-se como referências as recomendações ensaiadas (em porcentagem).
Amostras
da BS 8006 (BSI, 2010), FHWA (2010); Constituinte
RCD-R 01 RCD-R 02 RCD-R03
EBGEO (20111 apud VIEIRA; PEREIRA, Solo 47,38 57,85 51,47
2015) e NCMA (2010). Concreto 40,42 18,44 30,58
Argamassa 8,39 17,24 12,97
Cerâmica 1,51 2,83 2,72
Cerâmica 0,18 1,39 0,48
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES polida
Rocha 1,50 1,11 1,15
3.1 Caracterização Geotécnica dos RCD-R alterada
Outros(1) 0,63 1,14 0,64
Neste subitem são apresentados os resultados da Nota: (1) Inclui: carvão, fibrocimento, gesso, madeira,
material asfáltico, metal, papel, plástico e vidro.
caracterização geotécnica das três amostras de
RCD-R coletadas.
alterada, cerâmica polida, metais, tecido,
papelão, etc.), pode-se classificar os RCD-R
3.1.1 Composição Gravimétrica
analisados como Classe A (CONAMA, 2012).
Evidencia-se ainda, a presença em média de
Os resultados obtidos pelo ensaio de análise
29,81% de concreto, com CV = 36,94%, na
gravimétrica (Tabela 4) revelaram a
composição das amostras, material que confere
predominância de quatro materiais constituintes
ao resíduo reciclado melhor comportamento
em todas as amostras: i) solo, ii) concreto, iii)
mecânico, podendo ser considerado como um
argamassa e iv) cerâmica vermelha (tijolos).
material valioso para as usinas de reciclagem.
Resultados semelhantes foram obtidos por
Santos (2007, 2011), Oliveira et al. (2011),
3.1.2 Distribuição Granulométrica
Herrador et al. (2012) e Mália et al. (2013).
Constatou-se que os quatro materiais citados
A análise da distribuição granulométrica das
compõem, em média, 97,27% da massa das
amostras mostrou não ser afetada quando se
amostras, com coeficiente de variabilidade (CV)
utiliza defloculante hexametafosfato de sódio.
igual a 0,81%. Com menos de 5% do material
Esse comportamento decorre da pouca
sendo composto por outros materiais (rocha
quantidade de partículas finas (silte e argila)
encontradas na composição das amostras
1 EBGEO (2011) Recommendations for Design and (Tabela 5). A distribuição granulométrica sem
Analysis of Earth Structures Using Geosynthetic defloculante (SD) das três amostras ensaiadas e
Reinforcements – EBGEO. German Geotechnical
Society: Ernst & Sohn GmbH & Co. KG. da amostra RCD-R 02 com defloculante (CD)
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Tabela 5 – Frações granulométricas segundo a NBR 6502 RCD-R 01 e RCD-R 03 como A-1-a
(ABNT, 1995) – em porcentagem. (pedregulho bem graduado) e a amostra RCD-R
Amostras
Frações
RCD-R 01 RCD-R 02 RCD-R 03
02 como A-1-b (areia bem graduada).
Matacão - - - Desse modo, observa-se que as amostras
Pedra-de- apresentam granulometria que varia entre
1,0 1,0 2,5
mão pedregulho e areia com distribuição bem ou mal
Pedregulho 63,0 52,5 59,0 graduada.
Areia 28,0 36,6 30,5
Silte 8,0 10,0 8,0
Argila - - - 3.1.3 Peso específico dos grãos

Os valores de peso específico dos sólidos


passante na peneira 4,76 mm foram de 26,77
kN/m³, 26,76 kN/m³ e 26,99 kN/m³ para as
amostras RCD-R 01, 02 e 03, respectivamente.
O valor médio encontrado foi igual a 26,84
kN/m³ com pequena variação (CV = 0,49%).
Este resultado encontra-se de acordo com
estudos realizados pela literatura (Tabela 1) e
dentro do intervalo do peso específico do solo
da região de Goiânia-GO (LUIZ, 2012).

Portanto, pode-se afirmar que as partículas do
RCD-R menores que 4,76 mm tendem a
apresentar valores de peso específico
Figura 3. Distribuição granulométrica das amostras.
semelhantes ao solo da região a qual lhes deram
origem.
estão apresentadas na Figura 3.
É possível observar que há uma pequena
3.1.4 Limites de Atterberg
variabilidade das curvas granulométricas, o que
remete a um processo de produção padronizado
A análise dos resultados dos limites de
realizado pela empresa fornecedora. Apesar
Atterberg (plasticidade e liquidez) revelou que
desta pequena variabilidade, constata-se que a
as amostras não apresentaram limite de
melhor maneira de apresentar as curvas
plasticidade, e logo foram consideradas como
granulométricas é por meio de uma faixa
não plásticas (NP). Essa característica difere do
granulométrica. Neste caso, as amostras RCD-R
solo da região metropolitana de Goiânia-GO, os
02 SD e RCD-R 01 SD retratam os limites
quais apresentam limite de plasticidade e
máximos e mínimos, respectivamente, da faixa
comportamento laterítico.
granulométrica proposta.
Quanto a sua classificação, segundo a NBR
3.1.5 Compactação
6502 – Rochas e solos (ABNT, 1995) –, as três
amostras são consideradas como pedregulho
O ensaio de compactação com energia Proctor
areno-siltoso. Segundo o Sistema Unificado de
Normal revelou um peso específico seco
Classificação de Solos (SUCS), a amostra
máximo (γd_máx) médio de 18,47 kN/m³, com
RCD-R 01 é classificada como pedregulho bem
CV = 2,43%, e umidade ótima (wótima) média de
graduado com silte (GW-GM), enquanto as
14,17%, com CV = 10,80%. As curvas de
demais amostras são classificadas como areia
compactação das três amostras de RCD-R estão
mal graduada com silte (SP-SM). Já o sistema
apresentadas na Figura 5.
de classificação rodoviário (Transportation
As divergências encontradas nos valores de
Research Board – TRB) classifica as amostras
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20.0 60

19.5 50

19.0 S = 100% 40
γd (kN/m³)

ISC (%)
18.5 30

18.0 20

17.5 10

17.0 0
8 10 12 14 16 18 8 10 12 14 16 18
w (%) w (%)

Figura 6. Índice de suporte califórina – ISC.

Figura 5. Pontos e curvas de compactação.


granulométrica e ao seu ISC. Por apresentarem
comportamento não plástico, o RCD-R em
d_máx e wótima decorrem devido à composição do
estudo está de acordo com as normas nacionais
material. Considerando que a amostra RCD-R
e internacionais analisadas para aplicação em
01 apresenta menor teor de materiais cerâmicos,
obras de pavimentação e em estruturas de solo
a sua umidade ótima tende a diminuir, e, devido
reforçado.
ao seu elevado teor de concreto, o peso
Quanto à distribuição granulométrica,
específico seco máximo tende a aumentar. Estas
verificou-se que a faixa granulométrica obtida
análises estão de acordo com os estudos de
está dentro de uma das gradações preconizadas
Brito, Pereira e Correia (2005), Silva, Brito e
pela NBR 15116 (ABNT, 2004), DNIT 141
Dhir (2014) e Cardoso et al. (2016).
(DNIT, 2010) e ASTM D1241-00 (ASTM,
2000) para obras de pavimentação (Figura 7).
3.1.5 Índice de Suporte Califórnia (ISC)
A análise do atendimento da distribuição
granulométrica dos RCD-R para obras de
Os resultados do ensaio de índice de suporte
Califórina (ISC) revelaram um valor médio
igual a 26%, com CV = 44,35%. É possível
observar que os valores máximos de ISC
encontram-se, em média, 7,45% abaixo da
umidade ótima de cada amostra, revelando um
comportamento peculiar do material em estudo.
Os corpos de prova compactados com maiores
umidades nas amostras RCD-R 01 e 02
escorregaram do cilindro após a pesagem,
impossibilitando a realização do ensaio de
penetração. A Figura 6 apresenta o resultado do
ensaio de ISC.

3.2 Aplicação Geotécnica

As principais características que validam a Figura 7. Faixa granulométrica das amostras de RCD-R e
aplicação do RCD-R nas obras geotécnicas de gradações de materiais para aplicação em obras de
interesse no estudo estão relacionadas ao seu pavimentação – modificada pelo autor (ABNT, 2004;
índice de plasticidade, à sua distribuição DNIT, 2010; ASTM, 2000).
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estrutura de solo reforçado mostrou que a faixa 4 CONCLUSÕES


granulométrica obtida atende as gradações
preconizadas pela BS 8006 (2010) e FHWA Neste estudo, um agregado reciclado produzido
(2010), porém apresenta um pequeno trecho por uma usina de reciclagem localizada em
fora da gradação preconizada pela NCMA Aparecida de Goiânia-GO foi coletado para
(2010), conforme apresentado na Figura 8. caracterização geotécnica e posterior análise de
Além disso, verificou-se que as amostras sua aplicação em obras geotécnicas. Com este
também atendem à normativa EBGEO (20111 estudo, conclui-se que:
apud VIEIRA; PEREIRA, 2015) que legitima a  O RCD-R ensaiado apresentou pequena
sua aplicação em estruturas de solo reforçado de variabilidade de suas características
agregados classificados pelo SUCS como SP e geotécnicas, o que remete a um processo
GW. de produção padronizado realizado pela
empresa recicladora;
 No geral, o agregado reciclado em
estudo apresentou comportamento não
plástico e granulometria entre areia e
pedregulho, variando de bem a mal
graduada;
 Suas características estão em
conformidade com duas normativas para
a aplicação em estruturas de solo
reforçada com geossintéticos;
 A partir dos ensaios realizados de
caracterização mecânica, que limitou-se
à energia de Proctor normal,
comprovou-se a viabilidade de aplicação
do RCD-R ensaiado como material para
camada de reforço de subleito em
Figura 8. Faixa granulométrica das amostras de RCD-R e
gradação de materiais para aplicação em estruturas de pavimentação.
solo reforçado – modificada pelo autor (BS 8006, 2010;
NCMA, 2010; FHWA, 2010).
AGRADECIMENTOS
Os valores de ISC são avaliados na aplicação
em obras de pavimentação no Brasil. Com o Os autores gostariam de agradecer ao CNPq,
ISC médio encontrado igual a 26%, o RCD-R pela bolsa de mestrado concedida ao primeiro
estudado atendeu aos valores preconizados pela autor; ao Laboratório de Geotecnia (LabGEO)
NBR 15116 (ABNT, 2004) para aplicação como da Universidade Federal de Goiás (UFG); e ao
material de reforço de subleito (ISC ≥ 12). A Programa de Pós-Graduação em Geotecnia,
normativa DNIT 141 (DNIT, 2010) ressalta que Estruturas e Construção Civil (PPG – GECON),
o ISC deve ser superior a 60% da energia pelo apoio fornecido. Os autores também
Proctor modificada para a aplicação como base agradecem a parceria da empresa Renove
de pavimentos. Diante disso, como o ensaio foi Gestão e Solução em Resíduos Ltda (RNV
realizado com energia Proctor normal, não foi Resíduos) por todo o apoio dado para a
possível fazer esta análise. realização do estudo.
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REFERÊNCIAS (2016f) NBR 9895: Solo índice de suporte Califórnia


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Bibliometric Analysis of Iron Nanoparticle Toxicity in Soil


Remediation
Guilherme Victor Vanzetto
University of Passo Fundo, Passo Fundo, Brazil, guilhermevanzetto@gmail.com

Pietra Taize Bueno


University of Passo Fundo, Passo Fundo, Brazil, pietrataize@hotmail.com

Antônio Thomé
University of Passo Fundo, Passo Fundo, Brazil, thome@upf.br

RESUMO: This work consists of a bibliometric study of all publications related to the toxicity of
iron nanoparticles in soil remediation available in the Scopus (Elsevier) and Web of Science
(Thomson Reuters) databases. The temporal distribution of the publications, authors, institutions,
countries, and journals that contributed the most was presented. Research has shown that the
toxicity of iron nanoparticles in soil remediation is an extremely new and growing subject. The Web
of Science database was 66.2% more efficient in the survey. The main authors with more
publications were Yehia Sayed El-Temsah, Carmen Fajardo, and Eniko Kadar. The United States
and China are the leading countries in the ranking of publications on the subject. Bibliometrics
enabled an overview of the publications, allowing the direction of new research for scientific
contribution.

PALAVRAS-CHAVE: indicators, nzvi, scopus, web of science.

1 INTRODUÇÃO studies to observe the actual behavior reactive


with the contaminants in situ (THOMÉ, 2015).
Contamination of soils is a well-publicized The use of iron nanoparticles zero valent
issue in the academic world, and a large number (nZVI) is one of the most used remediation
of contaminated areas has been raising the technologies of today, due to its characteristics,
concern of environmental agencies both abroad such as, low solubility and biodegradability,
and in Brazil (HU et al., 2006; THOMÉ et al., low toxicity of iron (Fe), and lower production
2015). There are many technologies available cost with respect the other nanoparticles
for the remediation of soils and the main use of (KHARISOV et al., 2012; YAN et al., 2013).
materials at the nanometer scale (REDDY, However, the potential environmental risks of
2013; USEPA 2012). nZVI application are largely unknown,
Although such techniques are applied to traditional approaches environmental risk
improve quality of life and environment, assessment are not yet complete, which is a
transforming harmful contaminants in less highly desired area of study (KHARISOV et al.,
aggressive substances, the use of nanoparticles 2012; TOSCO et al., 2014).
for soil remediation has raised questions and Accordingly, the present work is a study
concerns about toxicity (THOMÉ et al., 2015). bibliometrical to publications related to toxicity
The reactions that occur with the nanoparticles of iron nanoparticles in soil remediation
are influenced by many factors of the character available in the database Scopus (Elsevier) and
study site, making it necessary to carry out Web of Science (Thomson Reuters), with
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production rates according to the following toxicology, toxicological, Ecotoxicological,


categories: temporal distribution of ecotoxicity, among others. To find variations of
publications, authors, institutions, countries and words in the Scopus database we use the
journals that contribute most to the theme. wildcard (*), for example, toxic* can find all the
above terms because the radical of the word is
preserved occurring changes in affixes.
2 METHODOLOGY The same not apply to the word nano iron
that can be written without spaces nano iron
This study is a quantitative and descriptive with hyphen nano-iron or the abbreviation of
temporal bibliometric research, in order to the term nanoscale zero-valent iron (nZVI). In
increase knowledge of the publications related this case you must use one or the other in the
to the toxic age of iron nanoparticles in soil search, so was used the Boolean operator (or),
remediation available in the database Scopus this operator allows at least one of the terms
and Web of Science (WoS). appear, for the words soil and remediation so
Bibliometry allows researchers to select and was used if the operator (and), which allows
review the publications that exist on their theme both terms appear somewhere in the work. After
and characterized by the development and performing the search in the database we
production rates, enabling the course of new proceeded to the analysis of results and the
research more accurately, reducing the margin development of indicators, a number of
of error in decision-making (MACEDO et al., publications per year, authors, institutions,
2010; TRENTIM et al., 2017). countries, and magazines with more
The choice of database occurred due to the publications.
relevance, Scopus is the largest abstract
database and literature citations, journals, books 2.2 Web of Science (Thompson Reuters)
and academic papers peer-reviewed. Already
the Web of Science is a bibliographic reference The procedures for the database Web of Science
database that contains information about the were similar of database Scopus, both platforms
scientific production since 1945 (SCOPUS, use the wildcard (*) to find variations of words,
2015; WEB OF SCIENCE, 2017). The this way, words and Boolean operators used in
methodological procedures adopted for the the search were the same. However, the search
study were adapted for each database in order to words in the WoS database It occurs in threads,
meet our goal. which includes title, abstract, keywords and
keywords plus, being this the database
2.1 Scopus (Elsevier) differential.

For the database Scopus, the procedures


adopted followed the methodology found in 3 RESULTS
other bibliometric studies with some
adjustments (MACEDO et al., 2010; TRENTIN The following are presented the general
et al., 2017). The procedure consisting of characteristics of publications related to the
accomplish a documents search in the database theme according to the following categories:
containing the nano iron words, toxicity, soil, time distribution of publications, authors,
and remediation, at the title, summary, or the countries, institutions and scientific journals
work keywords. that contribute the most to the theme.
However some words like the at used in this
study may have several variations, the toxic 3.1 Temporal Distribution of Scientific
word derives several terms as, toxicity, Production
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with 5.2% and the researcher Eniko Kadar, with


The first stage of bibliometric research 3.8%. Still, 8 of the main authors stand out with
presented a total of 278 publications, 20% (56) two publications each, 20.8%, and another 49
found in the Scopus database and 80% (222) in major authors represent 63.7% of the
the Web of Science database. The temporal publications.
distribution of these publications encompassed
18 years, the Scopus database presented papers 3.3 Countries
from 1999 to 2017 and WoS from 2002 to
2017. However, some works found in this step An analysis was made of the countries with the
presented the terms used in the search for the highest number of publications with the United
keywords but did not match the theme. States the most prominent country presenting
In this sense, it was necessary to carry out a 18.2% of articles related to the toxicity of iron
second stage in which the work with no nanoparticles in soil remediation. Then China
connection to the proposed theme was with 14.3% of publications and tied with 9% of
excluded, so that of the 56 works found in the publications appear the Czech Republic and
Scopus database 46.4% (26) publications were Spain. Other countries with a high number of
selected, already for the database WoS among related work are England, 7.8%, Taiwan, 6.5%,
the 222 publications 34.6% (77) publications Norway, 6.5%, India, 5.2%, Denmark, 4%,
were related to toxicity of iron nanoparticles in Italy, 2.6 %, South Korea, 2.6% and Australia,
soil remediation. In this way, the temporal 2.6%. Another 9 countries have only one article
distribution changed to 11 years. presenting 1.3% of the publications related to
It should be noted that the 26 publications the theme.
found in the Scopus database were also indexed
in the WoS database, so we can say that the 3.4 Institutions
bibliometric search presented a total of 77
publications related to the topic. When Fifty-five research institutions related to the
comparing the databases used for keyword subject were identified, among them,
searches, we noticed that the Web of Science Complutense University of Madrid stands out
was more efficient in representing the results, with 7.8% of the publications. National Taiwan
presenting 66.2% (51) articles more than the University with 6.5% and South China Normal
Scopus database. University with 3.9% of publications. Another
11 institutions were identified and represent
3.2 Authors 28.6% of the publications, while 41 institutions
were registered, accounting for 53.2% of the
Based are on 77 publications found, it was works found.
possible to identify the authors with more
publications on the toxicity of iron 3.5 Magazines
nanoparticles in soil remediation. In total are
found 282 authors, 2.1% with 6 publications, In order to assist researchers with an interest in
0.7% with 5 publications, 0.3% with 4 the subject, an analysis of the main scientific
publications, 3.2% with three publications other journals that published on the topic was carried
11% appear with 2 publications and 82.7% of out. The scientific journal Chemosphere
authors have a publication on the topic. (Elsevier) stands out with 16.8% of the
Considering only the main author of the publications, followed by 10.4 % of
works, the researcher Yehia Sayed El-Temsah publications to Science of the Total
stands out with 6.5% of the publications, Environment and Environmental Science &
followed by the researcher Carmem Fajardo,
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Technology with 7.8% of publications on the When comparing the periods of 2006/2011 and
subject. 2012/2015, the average annual rate of published
The journals, Environmental Pollution, articles is equal to 2 (publications/year). For the
Nanotoxicology, Environmental Science and second period, the rate increases to 8.75
Pollution Research, Plos One and Water (publications/year), a 22.8% increase in the
Research present 19.5% of the publications number of publications/year, indicating that
found. Journal of Hazardous Materials, there is a growing trend of publications on the
Chemical Engineering Journal, RSC Advances, subject.
Environmental Toxicology and Ecotoxicology The "boom" that occurs in the number of
and Environmental Safety present 13% of the publications in 2016 reaching 33.7% (26) of the
publications. Another 22 journals, no less total corroborates this trend. In the periods
important, are less expressive in the number of 2006/2011 and 2012/2015, the number of
publications with only 1 article on the subject, publications was, respectively, 15.6% and
and 3 papers published in congresses that were 45.4%. It is worth noting the high number of
indexed in the Web of Science database. bibliographical reviews related to the topic in
2016 and the dissemination of research in
several indicator organisms. Also, if we take
4 DISCUSSION into account the period of 2017, we can say that
this year the number of publications will be
The first works addressing the topic present the higher than in 2015. These data reinforce the
potential impact of the use of iron nanoparticles trend that the toxicity of iron nanoparticles in
in soil remediation are works that question the soil remediation is a subject of relevant
perspectives of the technology and call attention scientific interest.
to future research. After a period of two years Among the main authors, is the Norwegian
without publications, in 2009, the publications researcher, Ph.D. in Molecular Biology, Yehia
return and present other characteristics, starting Sayed El-Temsah. Linked to the Norwegian
to investigate the toxicity of nanoparticles in Institute of Bioeconomics Research in the
several indicator organisms, such as epithelial Department of Environment and Climate. El-
cells, bronchial cells, and soil Temsah has 5 publications on the subject and
microorganisms. has "h-index" 7 according to ResearchGate.
In the period from 2006 to 2011, there is a Secondly, with 4 publications we have the
stable behavior of publications until the year researcher linked to the Department of
2012 where the 12 publications of the year are Biochemistry and Molecular Biology of the
exactly the sum of publications in the previous Universidad Complutense de Madrid in Spain
period. From 2012 to 2015 the number of Ph.D. Carmen Fajardo, "h-index" 10 by
publications decreases, however, the research ResearchGate.
application profile expands, the indicator Next is the researcher specializing in
organisms studied increase, bringing more ecotoxicology of legacy pollutants and
knowledge about the toxicological potential of emerging contaminants, "h-index" 14 by
the iron nanoparticles, in this period the ResearchGate and Ph.D. In Environmental
researchers proceed to investigate the toxicity in Toxicology, Eniko Kadar, linked to the Faculty
germination soil microbial structure and of Sciences Engineering and Medicine at the
function, soil bacteria activity, cyanobacteria University of Manchester in the United
metabolism, lung cells of mice, population rates Kingdom.
of phytoplankton, zooplankton, microalgae, Some countries with a strong tradition in
earthworms and fish larvae. research have stood out in the indicators, in the
case of the United States and China (NASSI-
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CALÒ, 2015). The countries linked to the ACS Publications, this journal is an
aforementioned researchers also performed authoritative source of information for
well. However, several Latin American practitioners in a wide range of environmental
countries do not appear in the indicators, disciplines.
showing a promising path for the development
of research and publications.
Complutense University Madrid, linked to 5 CONCLUSIONS
Ph.D. researcher Carmem Fajardo, was the
institution with the greatest contribution to the This descriptive quantitative bibliometric
theme. Founded in 1949 in the University City research has broadened the knowledge about
of Madrid, this public university has publications related to iron nanoparticle toxicity
approximately 80,000 students and is one of the in soil remediation available in the Scopus and
most prestigious in Europe (UCM, 2017). The Web of Science database. It enabled the
National Taiwan University appears soon after, visualization of a panorama of publications,
in the indicators, this university was founded in authors, countries, institutions, and journals in
1928, currently has 33,000 students and several indicators that allow the researcher to select and
undergraduate and postgraduate courses analyze the existing publications, directing their
becoming Taiwan's most influential institution research for a better scientific contribution.
(NTU, 2017). The research demonstrated that the toxicity of
Founded in 1933 the South China Normal iron nanoparticles in soil remediation is an
University also stood out in the indicators, with extremely new and growing subject, according
approximately 33 thousand students and several to the high number of publications in 2016.
graduate programs, the institution has about According to the data analyzed, the Web of
1500 international students (SCNU, 2017). Science database was more efficient in
These characteristics make this research centers representing 66.2% (51) more articles than the
great references of the area allowing the Scopus database. The main authors with the
exchange of researchers, joint project most publications were Yehia Sayed El-
development providing an international Temsah, Carmen Fajardo, and Eniko Kadar,
experience on the toxicity of iron nanoparticles with 5, 4 and 3 articles published,
in soil remediation. respectively.
Taking into account the dissemination and The United States and China are the leading
visibility of the researches on the subject some countries in the ranking of publications on the
magazines stood out. This is the case of the subject. Other countries were quoted according
Chemosphere (Elsevier), an international and to their contributions, but the absence of Latin
multidisciplinary journal with a wide and American countries in the indicators stands out.
impactful dissemination of information, this This issue reveals a promising area for the
journal has impact factor 4.2 and has an development of research and publications
exclusive section on environmental toxicology involving the toxicity of iron nanoparticles in
and risk assessment covering all aspects of the remediation of soils of these regions.
toxicology. With regard to the institutions, large research
Following the Science of the Total centers have stood out enabling the exchange of
Environment, an international journal for the researchers, development of projects together
publication of original research on the and the possibility of an international
environment as a whole, this journal is indexed experience. Regarding the publications, it is
by Elsevier and has impact factor 4.9. evident that the theme is of relevant scientific
Environmental Science & Technology, which interest because they are published in journals
features 6.1 impact factor and is indexed by with high impact factors, in this sense the
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Chemosphere, Science of the Total TOSCO, T.; PAPINI, M. P.; VIGGI, C. C., SETHI, R.
Environment and Environmental Science & of (2014) Nanoscale zerovalent iron particles for
groundwater remediation: a review. Journal of
articles published in the subject. Cleaner Production. Vol. 77, p. 1-12.
Finally, the aim of the study was to broaden TRENTIN, A. W. da S.; BRAUM, A. B.; THOMÉ, A.
readers' knowledge of publications related to the (2017) Características das publicações sobre
subject, enabling researchers to focus their remediação sustentável no período de 1980-2016. IX
research to fill the gaps in the subject and thus Seminário de Engenharia Geotécnica do Rio Grande
do Sul. Caxias do Sul.
contribute more effectively to science. It is U.S. Environmental Protection Agency - USEPA. (2012)
suggested that research related to the topic be Emerging Contaminants - Nanomaterials Fact Sheet.
addressed at the national level and that new Solid Waste and Emergency Response. EPA 505-F-
bibliometric studies be carried out involving 11-009.
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Camadas de cobertura oxidativas aplicadas a aterros sanitários


Riadny Patrícia de Souza Ferreira
Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, riadnypsouzaf@gmail.com

Guilherme José Correia Gomes


Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, guilhermejcgomes@hotmail.com

José Fernando Thomé Jucá


Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, jftjucah@ufpe.br

RESUMO: Em aterros sanitários, o acúmulo de resíduos biodegradáveis e as emissões fugitivas


através das camadas de cobertura são responsáveis pelo lançamento de metano (CH4) e gás carbônico
(CO2) na atmosfera. As misturas de solo com composto orgânico estabilizado em camadas de
cobertura reduzem essas emissões através da oxidação do CH4, 21 vezes mais danoso que o CO2,
pelos microrganismos oriundos do material orgânico. Ensaios de laboratório foram realizados para
verificar o desempenho dessa mistura para atender aos critérios para fluxo de líquido e gases em
aterros sanitários. Na mistura, notou-se aumento de retenção de água e consequente possível redução
de fissuras perante ciclos de umedecimento e secagem. Na análise de bactérias metanotróficas, os
resultados apresentaram compatibilidade com a presença de microrganismos oxidativos, assegurando
a barreira biológica ao gás. Assim, o estudo mostra-se uma alternativa viável para muitas regiões
reduzindo o uso de materiais convencionais e auxiliando o fechamento dos lixões.

PALAVRAS-CHAVE: Emissões, Metano, Camadas de cobertura, Material Orgânico, Oxidação.

1 INTRODUÇÃO Logo, o que se busca, em geral, são políticas


de redução de emissões de gases do efeito estufa
Mais da metade dos resíduos sólidos urbanos através de “tecnologias de baixo carbono”, que
(RSU) no Brasil possui destinação em aterros norteiam grandes iniciativas de financiamentos
sanitários e ainda quase metade é destinada a internacionais a exemplo das iniciativas do
locais impróprios, a exemplo de lixões. No Banco Mundial (ESMAP, 2010). Dessa forma,
nordeste brasileiro, cerca de 90% dos municípios muito tem se falado no termo “Economia de
ainda depositam seus resíduos sólidos urbanos baixo carbono”, que engloba a baixa emissão de
em lixões. Em todos os casos, a fração orgânica gases do efeito estufa por meio dessas
desses resíduos se degrada gerando biogás, que é tecnologias somada a políticas de controle.
composto principalmente de dióxido de carbono No entanto, no estágio atual, existem muitas
(CO2) e metano (CH4), gases do efeito estufa incertezas sobre metas, políticas e
(GEE). responsabilidades quanto a mitigação. Questões
Em um aterro sanitário, o potencial de comumente debatidas, e de fundamental
geração desse biogás pode chegar a 240 m³ por interesse para países como o Brasil, são a
tonelada de RSU, tendo em sua composição efetividade na mitigação de emissões dos gases
diversos gases (O2, CO2, CH4, H2S, SOx, NOx, de efeito estufa. A necessidade desta mitigação
etc), que dependem das fases de decomposição no Brasil foi levantada em diagnóstico realizado
dos resíduos e de inúmeros fatores intervenientes pela CETESB, em parceria com o Banco
no processo de degradação como composição Mundial. Nestes estudos, foram constatados que
dos resíduos, clima, formas de operação e outros o setor de resíduos responde pela menor parcela
(MACIEL, 2003). de emissões no Brasil, com 68,4 milhões de
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toneladas de CO2 em 2014, crescendo desde 3 MATERIAIS E MÉTODOS


1990.
Nesse sentido, este trabalho busca a redução 3.1 Coleta dos materiais
de emissões dos gases de efeito estufa através de
camadas de cobertura, as quais constituem uma 3.1.1 Composto orgânico
barreira física à passagem de fluidos do meio
externo para a massa de resíduos e também no O composto orgânico coletado foi
sentido contrário, além de isolar os resíduos resultante da compostagem de resíduos de poda
sólidos do ambiente. de árvores e jardinagem do Jardim Botânico do
Pode-se dividir as formas de camadas de Recife- PE. A coleta foi feita manualmente com
cobertura em basicamente duas: camada de o auxílio de pás e, para a armazenagem,
cobertura convencional e camada de cobertura utilizaram-se sacos plásticos, conforme a Figura
alternativa. A primeira é constituída 1 abaixo.
principalmente por material argiloso e
geossintéticos, e na segunda há a incorporação
de outros materiais como produtos compostados,
resíduos da construção civil e resíduos de
estações de tratamento de água.
Concentrando os estudos nas camadas de
cobertura alternativas com a adição de material
compostado para utilizá-las nos encerramentos
de lixões, esta solução possibilita que parte do
metano que seria emitido para a atmosfera seja
convertido em água, CO2 e biomassa pela Figura 1. Coleta do composto orgânico.
atividade microbiológica ali desenvolvida, de Inicialmente, foram realizadas as medições
forma a lançar menos poluentes para atmosfera, de temperatura ambiente e umidade relativa do
classificando a camada como oxidativa. ar. Logo após, foi conectado um sensor termopar
Além da verificação da real capacidade de a um termômetro digital e foi possível medir a
degradação do metano, para melhorar o temperatura interna central da leira de
desempenho dessas camadas, é necessário compostagem a ser coletada. Os valores obtidos
conhecer os materiais que as compõem, estão informados na Tabela 1 abaixo.
analisando as características geotécnicas e os
condicionantes climáticos das regiões onde serão Tabela 1. Dados coletados em campo.
implantados os depósitos de resíduos sólidos Parâmetro Valor
urbanos com essa cobertura final. Temperatura ambiente 41°C
Umidade relativa do ar 48%
2 OBJETIVO Temperatura interna da
38°C
leira de compostagem
Contribuir para o desenvolvimento de camadas
de cobertura alternativas em depósitos de 3.1.2 Solo siltoso da jazida do aterro sanitário da
resíduos sólidos urbanos. Para isso, foram feitas Muribeca-PE
análises do comportamento geotécnico e
biológico em laboratório de uma mistura de solo Esse material foi coletado de uma jazida
com composto orgânico nas proporções utilizada no Aterro Sanitário da Muribeca, em
volumétricas de 1:1. Jaboatão das Guararapes-PE, conforme a Figura
2.
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Fonte: Costa, 2015. resultados do ensaio mais próximos da real


dimensão dos grãos.

Figura 2. Jazida de solo no Aterro Sanitário da Muribeca.

Esse solo é classificado como um Silte Figura 3. Curvas granulométricas dos materiais.
Arenoso de baixa compressibilidade (ML) de
acordo com o Sistema Unificado de
Classificação de Solos. Por estar localizado na Tabela 2. Resultados da caracterização dos materiais.
parte sul da Região Metropolitana do Recife-PE, Solo Composto Mistura
Puro Orgânico 1:1
onde há a predominância da Formação Barreiras,
Argila 20 8 18
esse solo se encontra no local em elementos Silte 40 20 24
morfológicos em tabuleiro, como visto % de Areia Fina 16 16 29
anteriormente. solo Areia Média 15 24 15
Areia Grossa 9 20 9
3.2 Caracterização dos materiais Pedregulho 0 12 5
LL 44 - 44
LP 30 - 34
Os ensaios de Análise granulométrica - NBR IP 14 - 10
7181 (ABNT, 2017), Limite de Liquidez - NBR  real dos grãos (g/cm³) 2,72 2,18 2,54
6459 (ABNT, 2017), Limite de Plasticidade -
NBR 7180 (ABNT, 2016), Peso específico dos Observa-se que ao ser colocada uma
grãos pelo método do picnômetro - NBR 6508 parcela de 50% em volume de composto
(ABNT, 1984), Proctor Normal - NBR 7182 orgânico, o teor de argila sofre pequenas
(ABNT, 2016), Compressão Triaxial - ASTM alterações enquanto que o teor de silte reduz para
D4767, Permeabilidade a água – ASTM D5084, 24%. Essa redução de silte, material não coesivo,
Permeabilidade ao ar com adaptações ao sistema ocorreu junto a um aumento de resíduos vegetais
do permeâmetro de parede flexível Tri-flex 2 - tais como galhos e raízes, que ficaram retidos nas
Soil Test – ELE realizado por Maciel (2003), peneiras mais graduadas de modo que foram
Curva característica pelo método do papel filtro representados como materiais de granulometria
- ASTM D5298 e Microbiologia foram semelhante a areias e pedregulhos, conforme a
realizados no solo puro, composto orgânico e na Figura 3.
mistura 1:1. Nota-se também que há uma queda nos
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO valores de índice de plasticidade e densidade real
dos grãos já que o composto orgânico não possui
4.1 Análise da caracterização características coesivas, conforme Figura 4, e é
composto de resíduos de vegetação, que são
Os resultados de granulometria foram normalmente de baixo peso específico.
analisados com uso do defloculante, uma vez que
essa substância atua neutralizando as cargas
elétricas das partículas finas tornando os
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água dos solos com a adição de composto


orgânico mostra-se benéfica para manter a
camada de cobertura na umidade adotada em
projeto. Dessa forma, evita-se o aparecimento de
fissuras e caminhos preferenciais de entrada de
líquidos e saída de gases por essa camada.

Figura 4. Resíduos de vegetação do composto orgânico Tabela 3. Parâmetros da compactação em laboratório


Umidade Peso específico seco
Material ótima (%) (kN/m3)
4.2 Compactação em laboratório Solo Puro 20 16,60
Composto
63 7,49
orgânico
O ensaio de compactação em laboratório
Mistura 1:1 26 13,96
correlaciona a umidade do solo à sua densidade
seca, podendo-se analisar o comportamento do
material para uma determinada energia de 4.3 Compressão triaxial
compactação e obter parâmetros como a
densidade seca máxima e a respectiva umidade Os ensaios triaxiais do tipo adensado e não
ótima, de acordo com a Figura 5 a seguir. drenado (CU) foram realizados em termos de
tensões totais por conta dos carregamentos
instantâneos resistidos pela camada de cobertura
em condições não drenadas tais como tensões
geradas pelo peso de caminhões, compactadores
e outras ações externas. Os valores de coesão e
ângulo de atrito são informados na Tabela 4 a
partir das envoltórias a seguir.

Figura 5. Resultados do ensaio Proctor Normal

Nota-se que, na mistura do composto


orgânico com o solo puro, há um deslocamento
da curva de compactação no sentido de aumento
da umidade e, para baixo, no sentido de
decréscimo do peso específico aparente seco. Os
resultados são mostrados na Tabela 3.
O acréscimo de umidade na mistura com a
adição de composto orgânico se dá porque ele,
apesar de ter uma granulometria semelhante a
uma areia siltosa, retém grande quantidade de Figura 6. Envoltória do solo puro
água em sua composição química. Já o
decréscimo do peso específico aparente seco
com a adição de composto orgânico é devido a
menor densidade real dos grãos dele em relação
aos materiais apresentados, conforme a Tabela 2.
O aumento da capacidade de retenção de
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chuvosos.

Figura 8. Permeabilidade vertical ao ar para um mesmo


corpo de prova da mistura 1:1

Como é possível observar pelo gráfico da


Figura 7. Envoltória da mistura 1:1 Figura 8, o coeficiente de permeabilidade é
praticamente nulo para altos teores de umidade.
Tabela 4. Parâmetros do ensaio triaxial Isso ocorre porque o solo muito úmido dificulta
Coesão Ângulo de atrito a passagem do ar injetado pelo equipamento.
Material Para tanto, a mistura 1:1, que tem 26 % de
(kPa) (°)
Solo Puro 72,7 23,0 umidade ótima, apresentou valores de
Mistura 1:1 60,0 21,8 permeabilidade na mesma grandeza de 10-9 e
10-8 m/s.
Nota-se que, ao ser adicionada uma Estes valores mostram-se importantes para
quantidade de composto orgânico, há uma queda a retenção de gases pela camada de cobertura
no valor da coesão devido as suas propriedades permitindo um maior tempo para oxidação do
não plásticas e uma pequena variação no ângulo gás metano devido à presença do material
de atrito. orgânico e evitando emissões difusas para a
No entanto, para uma camada de atmosfera.
cobertura, esses valores mostram-se promissores O ensaio de permeabilidade vertical à água
já que a carga externa crítica a ser suportada por forneceu um valor de 2,77x10-9 m/s para o
ela será o peso de maquinário operante ao longo coeficiente de permeabilidade da mistura 1:1.
da vida útil do aterro sanitário e outras cargas De acordo com a USEPA (2003), para
externas quando do encerramento do mesmo. camadas de cobertura em aterros sanitários é
Além disso, os valores mostram-se importantes indicado que os valores de permeabilidade à
para o aumento do fator de segurança na água sejam inferiores a ordem de grandeza de 10-
7
estabilidade de taludes de um aterro de resíduos m/s para garantir assim que não haja muita
sólidos urbanos. percolação de água proveniente das chuvas.

4.4 Permeabilidades verticais em laboratório 4.5 Curvas de retenção de água

O ensaio de permeabilidade vertical ao ar As curvas de retenção de água plotadas a


foi realizado para um mesmo corpo de prova da seguir relacionam a umidade gravimétrica dos
mistura 1:1, moldado na umidade ótima, sob um materiais com a sucção matricial.
processo de secagem para a determinação das O método adotado para realização dos
permeabilidades a diferentes umidades. ensaios foi o do papel filtro, descrito por
O intuito de fazer este processo é de Marinho (1995).
caracterizar o comportamento do solo e a sua
eficiência em reter os gases gerados em um
aterro sanitário durante períodos de seca e
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Figura 10. Microrganismos metanotróficos na mistura 1:1

O valor de contagem de colônias de


bactérias em unidades formadoras de colônias
Figura 9. Curvas de retenção de água (UFC)/g foi de 2,37x107 para a mistura 1:1.
Logo, esse resultado obtido consolida o
Tendo em vista a relação entre a variação potencial oxidativo das camadas de cobertura
de umidade gravimétrica e o logaritmo da com emprego de misturas de solo e composto
variação de sucção (C = Δw/Δlogψ), orgânico em depósitos de resíduos sólidos
observaram-se valores para o solo puro de urbanos.
4,58 % entre 1 kPa e 2000 kPa e 21,13 % entre
2000 kPa e 10000 kPa. A mistura 1:1 apresentou 4 CONCLUSÕES
valores de 7,90 % entre 1 kPa e 3000 kPa e
26,67 % entre 3000 kPa e 10000 kPa. Notou-se que o acréscimo de composto
Através das curvas e dos valores de orgânico aos solos interferiu no aumento de
capacidade de retenção extraídos, é possível materiais grossos na granulometria do solo puro
notar que a adição de composto orgânico ao solo e reduziu a plasticidade.
puro provocou aumento na capacidade de Esse acréscimo causou também
retenção. Isso complementa que a adição de diminuições nas densidades aparentes secas dos
composto orgânico, em certas quantidades, pode materiais e aumentos nas umidades ótimas pela
ajudar na retenção de água na camada de curva proctor normal e capacidades de retenção
cobertura reduzindo o número de fissuras ou pela curva de retenção de água. Isso se dá porque
caminhos preferenciais de infiltração de água e o composto orgânico possui uma composição de
fuga de gases perante mudanças climáticas do materiais leves e fibras (resíduos de podas de
ambiente. árvores e jardinagens) e maior teor de umidade,
o que pode minimizar as fissuras das camadas de
4.6 Ensaio de microbiologia cobertura perante ciclos de umedecimento e
secagem do ambiente.
O objetivo desse ensaio foi a contagem de A resistência ao cisalhamento das camadas
bactérias metanotróficas seguindo a metodologia com adição de composto orgânico foi reduzida
de Svenning et al. (2003). A enumeração foi feita principalmente pela queda dos valores de
pelo número mais provável (NMP). O coesão, mas não de forma significativa,
crescimento e a sobrevivência dos isolados conforme ensaio triaxial realizado.
foram medidos ao registrar contagens pelo A mistura também apresentou
preparo do meio de cultura MS (Murashige e permeabilidade à água entre 10 e 10-9 m/s,
-8
Skoog) e registrados como unidades formadoras estando de acordo com os padrões indicados pela
de colônias (UFC)/g. USEPA (2003) para camadas de cobertura em
Os resultados atestaram crescimento aterros sanitários, garantindo assim que não haja
positivo de microrganismos metanotróficos na percolação em excesso de água proveniente das
mistura 1:1, conforme a Figura 10. chuvas.
Por fim, foi possível verificar a presença
de atividade microbiana no solo com a adição de
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composto orgânico de forma a consolidar a Porous Materials Using a Flexible Wall Permeameter.
aplicação de misturas de solo com material American Society for Testing and Materials. Volume
04.08. Soil and Rock: D420 – D5876. 2010.
compostado em camadas de cobertura visando o
potencial de redução de emissões de gases, ASTM D5298-10 Standard Test Method for Measurement
principalmente o gás metano. of Soil Potential (Suction) Using Filter Paper.
Daí, o estudo se mostra promissor para American Society for Testing and Materials. Volume
atender ao fechamento dos lixões, tornando-se 04.08. Soil and Rock: D420 – D5876. 2010.
uma alternativa viável para muitas regiões COSTA, M. D. Estudos de camadas de cobertura de
reduzindo o uso de materiais convencionais de aterros sanitários em colunas de solos. Tese de
cobertura final com o uso de composto orgânico Doutorado. Programa de Pós-graduação em
estabilizado. Engenharia Civil da Universidade Federal de
Pernambuco, Recife, 2015. 145p.
AGRADECIMENTOS MACIEL, F. J. Estudo da geração, percolação e emissão
de gases no aterro de resíduos sólidos da Muribeca/PE.
Aos funcionários do Laboratório de Solos e Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de
Instrumentação (LSI) pela execução dos ensaios. Pernambuco. Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Civil, Recife. 2003. 173 p.
REFERÊNCIAS MARINHO, F. A. M. A técnica do papel filtro para
medição de sucção. Encontro Sobre Solos Não
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR Saturados. Rio Grande do Sul. 1995.
6508:1984. Grãos de Solos que Passam na Peneira de
4,8mm – Determinação da Massa Específica dos grãos. SVENNING, M. M.; WARTIAINEN, I.; HESTNES, A.
Rio de Janeiro – RJ. 1984. G.; BINNERUP, S. J. Isolation pf methane oxidising
bactéria from soil by use of a soil substrate membrane
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR system. FEMS Microbiology Ecology, v.44, p.347-
6459:2017. Solo – Determinação do Limite de 354, 2003.
Liquidez. Rio de Janeiro – RJ. 2017.
USEPA – United States Enviromental Protection Agency.
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR Evapotranspiration landfill cover system. Fact sheet,
6457:1986. Amostra de Solo – Preparação para 2003.
Ensaios de Compactação e Ensaios de Caracterização.
Rio de Janeiro – RJ. 1986. WORLD BANK. Estudo de baixo carbono para o Brasil.
Relatório de Síntese Técnica sobre uso e mudança do
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR uso da terra e florestas. Energy Sector Management
7181:2017. Análise granulométrica para solos, com Assistance Program (ESMAP), The World Bank,
determinação de diâmetro correspondente a cada Washington, DC, USA, 253 páginas.
fração de material de acordo com a norma. 2017.

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR


7180:2016. Solo – Determinação do Limite de
Plasticidade. Rio de Janeiro – RJ. 2016.

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR


7182:2016. Solo – Ensaio de Compactação utilizando
energia de compactação normal. Rio de Janeiro – RJ.
2016.

ASTM D4767-11. Standard Test Method for Consolidated


Undrained Triaxial Compression Test on Cohesive.
American Society for Testing and Materials. Volume
04.08. Soil and Rock: D420 – D5876. 2010.

ASTM, D5084-10. Standard Test Methods for


Measurement of Hydraulic Conductivity os Saturated
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Caracterização de Resíduos Químicos nos Sedimentos da
Barragem de Abastecimento de Água no Ribeirão São João no
Município de Porto Nacional, Tocantins.
Marcus Vinicius Vieira Viana Souza
ITPAC, Porto Nacional, Brasil, marcussouza.eng@gmail.com

Ana Caroliny Vanderley Carvalho


ITPAC, Porto Nacional, Brasil, anacarolinyvanderley@gmail.com

Alan Henrique Carneiro Brito


ITPAC, Porto Nacional, Brasil, allanhennrique@hotmail.com

Ângelo Ricardo Balduíno


IFTO, Porto Nacional, Brasil, angelo@ifto.edu.br

RESUMO: Os sedimentos são partículas derivadas de rochas ou materiais biológicos, que são
transportados pela água ou pelo vento, sendo um dos principais responsáveis pela modificação do
meio terrestre, envolvem processos de erosão, transporte e deposição de partículas. Esses processos
são características naturais do sistema hidrossedimentológico, mas com ação do homem, o mesmo
intensificou-se, tornando grande problema que afeta desde a qualidade da água para o consumo
humano à vida aquática. Nesse sentido, a preocupação com produção de sedimento devido à
intensificação do uso de agroquímicos na agricultura, faz-se necessário para minimizar efeitos
negativos. Diante disso, na região de estudo o uso de glifosato é muito difundido como um
agroquímico, por possuir grande eficiência no controle de pragas e doenças, onde há evidencias dos
seus efeitos degradativos ao meio ambiente. Este trabalho teve como objetivo detectar e quantificar
a presença do agroquímico glifosato presente no sedimento de fundo da barragem de abastecimento
de água do Ribeirão São João, principal fonte de abastecimento do município de Porto Nacional -
TO. Por meio de batimetria estabeleceu-se um ponto de coleta, localizado próximo ao leito da
barragem. A coleta da amostra foi durante o período de menor precipitação no mês de abril de 2017.
A poluição do sedimento foi comparada com os limites permissíveis estabelecidos pela Resolução
CONAMA nº 357/2005 e pela portaria n° 2914 do Ministério da Saúde de 2012, onde se averiguou
que os usos de defensivos agrícolas, principalmente no cultivo da soja, nas extremidades da bacia,
estão contribuindo para a poluição do sedimento de fundo da barragem, consequentemente
alterando a qualidade de água da bacia.

PALAVRAS-CHAVE: Sedimento, Glifosato, Agroquímico.

1 INTRODUÇÃO se recompor de forma natural, muita fontes de


água se esgotaram pelo uso indevido.
A água é um recurso natural essencial para a A atividade agrícola aparece como umas das
origem e preservação da vida, apesar de ser um grandes responsáveis pela degradação intensa
recurso renovável, nos últimos anos tem-se das águas. Justamente por que a vegetação
notado uma preocupação intensa em relação à original é substituída por grandes lavouras e
sua escassez. Esta tem perdido a capacidade de pelo uso de agroquímicos. Sem a vegetação
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original os agroquímicos são adsorvidos pelo 2 SEDIMENTO
solo, e quando há precipitação são levados
diretamente para o corpo hídrico. Carvalho (1994) descreve sedimentos como
Os sedimentos são considerados um dos partículas derivada da rocha ou de materiais
maiores poluentes dos recursos hídricos, devido biológicos por processos físicos ou químicos,
sua alta capacidade de abrigar contaminantes, que são transportados pela água ou pelo vento
desse modo, o estudo e compreensão dos do lugar de origem aos rios e aos locais de
processos que o envolvem são indispensáveis deposição. O autor relata que os processos
para análise da qualidade da água que está responsáveis pela sedimentação são complexos,
diretamente relacionada à qualidade do abrangendo erosão, deslocamentos das
sedimento. partículas por enxurradas ou outros meios até os
Para auxiliar as ações de conservação da rios, transporte de sedimentos nos cursos
qualidade das águas diante da contaminação e d’água, deposição de sedimentos na calha dos
degradação dos recursos hídricos, são rios, lagos e reservatórios e sua compactação.
estabelecidos padrões de qualidade da água que Na atualidade, a erosão, o transporte e a
são baseados em um conjunto de limites e sedimentação podem causar sérios problemas
parâmetros estabelecidos com base em critérios de engenharia e ambientais.
científicos que avaliam o risco para a saúde Crispim et al. (2015) afirma que sedimentos
humana e riscos ambientais. fluviais são aqueles que após erodirem, atingem
Na região da área de estudo o glifosato é o os cursos d’água. Segundo Pereira (2010) a
agroquímico mais utilizado, pois além de associação de eventos naturais e antrópicos,
combater pragas, vetores de doenças ele associados a diversas variáveis permitem que
também auxilia no crescimento das plantas. aconteça tal produção, podendo ter maior ou
Mas, é evidente que seu uso causa efeitos menor produção por área, que são expressas em
desagradáveis ao meio ambiente. metros cúbicos ou toneladas, quando referida à
Anos atrás os corpos hídricos eram área da bacia, ou podem ser expressas como
considerados imunes à ação de agrotóxicos, produção especifica, em m³/km²/ano ou
pois se acreditava que ele se degradaria em t/km²/ano.
partículas inofensivas, ou que agiriam somente
no ambiente em que foram utilizados. 2.1 Importância dos Sedimentos
Entretanto estudos recentes comprovaram que
os agroquímicos acabam atingindo também de Os problemas causados pela deposição de
forma letal espécies não alvas. sedimentos são vários. A perda da capacidade
A bacia hidrográfica do Ribeirão São João dos reservatórios acarretada pelo acumulo de
abrange o município de Porto Nacional – TO, sedimento gera diversos prejuízos, como
sendo sua única fonte de abastecimento urbano problemas com abrasão das turbinas, dragagem
por meio de captação superficial. Atualmente, de material, instabilidade no fluxo e falhas
com o crescimento populacional e aumento da mecânicas são problemas comuns percebidos
produção agrícola na região, principalmente da em represas de abastecimento.
soja e milho, surge à dúvida se as condições da O transporte dos sedimentos afeta
água do Ribeirão São João ainda se apresentam diretamente a qualidade da água, classificado
propícias para uso, principalmente para a como um dos maiores poluentes, também
captação e abastecimento da população do servem como catalizadores, carregadores e
município. Deste modo o presente trabalho tem como agentes fixadores para outros agentes
como objetivo determinar as concentrações do poluidores. Dessa forma as partículas de
agroquímico glifosato presentes nos sedimentos sedimento agem como potencializador de
da barragem de abastecimento da bacia produtos causados por pesticidas, agroquímicos,
hidrográfica do ribeirão São João. resíduos tóxicos, nutrientes, bactérias
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patogênicas, etc. De tal forma que degrada a humana, que podem atuar combinados ou
qualidade da água para consumo humano, isoladamente. Além disso, outro fator associado
recreação, consumo industrial e a vida aquática a práticas agropecuárias é o uso indiscriminado
(CARVALHO et al., 2000). de fertilizantes, alterando a composição química
Branco (1998) afirma que devido ao avanço do solo, onde o uso contínuo de agroquímicos
da agricultura e ao consequente aumento da ocasiona o seu acumulo, gerando sedimentos
utilização do solo, com a retirada da cobertura que são carregados pela chuva para os córregos,
vegetal e subsequente exposição deste as rios e lagos (GROSSI, 2006).
intempéries, acarretam a produção de
sedimentos, afetando a operação de 2.3 Transporte de Sedimento
reservatórios, barragens e canais, favorecem a
poluição física e química da água. Os processos hidrossedimentológicos estão
Segundo Jesus et al. (2004) os sedimentos intimamente ligados ao ciclo ecológico e
têm sido considerados como um compartimento compreendem as etapas de deslocamento,
de acumulação de espécies poluentes a partir da transporte e deposição de partículas sólidas,
coluna d’água, possibilitando o uso dos mesmos onde os materiais resultantes do processo de
como um bom indicador de poluição ambiental, erosão acabam sendo transportados
devido as altas capacidades de sorção e principalmente pela ação das águas de
acumulação associados, em que as escoamento superficial, sendo influenciadas
concentrações tomam várias ordens de grandeza pelo relevo topográfico (SILVA; SCHULZ e
maiores do que nas águas correspondentes, CAMARGO, 2007).
permitindo a determinação das principais fontes Orita e Costa (2016) concordam que o
de poluição da bacia. transporte de sedimentos pela água é controlado
De acordo com Branco (1998) o estudo e pela relação entre a capacidade de carregamento
compreensão dos fatores que integram o do escoamento e a força necessária para
processo de erosão do solo são de grande deslocar as partículas solida disponíveis em seu
importância, pois permitem a utilização dos curso. Dessa forma, os escoamentos velozes e
recursos hídricos disponíveis, minimizando os turbulentos possuem grande capacidade de
efeitos negativos decorrentes da produção, deslocar sedimentos finos e grossos, e quando a
transporte e deposição de sedimentos. velocidade diminui, o transporte se torna mais
seletivo, demonstrando que os processos de
2.2 Produção de Sedimento erosão, transporte e deposição de sedimentos
são dependentes da granulometria do material.
A produção de sedimento de uma bacia Segundo Carvalho (1994) o processo de
hidrográfica é a forma de saída de um processo deposição ocorre quando a força do escoamento
de erosão, sendo difícil de ser calculado, pois é se reduz até a condição de não poder continuar a
resultado de uma complexa interação de vários deslocar a partícula, sendo tal processo de
processos hidro geológicos. Seus estudos são transporte influenciado pelas condições
importantes para o planejamento de vários topográficas, onde o deposito de sedimentos
processos de conservação do solo e água, geralmente se dá em locais mais baixos.
análise de sedimentação em reservatório, estudo
de mudanças na morfologia de rios e deposição 2.4 Erosão
em fundos de rios, e planejamento de projetos
agrícolas (SINGH et al. 2008). Segundo Magalhães (2001) a erosão é resultado
Segundo Carvalho (1994) os principais do impacto sobre propriedades físicas dos solos,
agentes dinâmicos externos do processo de sendo um processo mecânico que age em
sedimentação são a água, o vento, a gravidade, superfície e profundidade, tornando-se críticas
o gelo e os agentes biológicos, como a ação pela ação catalizadora do homem.
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A consequente perda de solo devido à erosão Estado, na mesorregião oriental, possui altitude
em bacias hidrográficas está intimamente média de 212 metros acima do nível do mar,
relacionada com o uso e manejo do solo, o uma superfície de 4.449,9 Km². A barragem
regime de precipitação, tipo do solo, topografia localiza-se na latitude sul 10°43’04,52” e
e etc, sendo os sedimentos uma consequência longitude oeste 48°22’19,77”.
do processo de erosão que podem ocorrem de
diversas formas de ação e de origem, como em
lavouras, matas e pastagens (MINELLA;
MERTEM e VIERO, 2008).
Dentre as formas de erosão, hídrica é a mais
importante forma, seu processo compreende a
três fatores físicos distintos, a desagregação,
transporte e deposição.

3 DINÂMICA DOS AGROQUÍMICOS NO


SEDIMENTO

Os sedimentos de fundo de rio são de grande


importância no processo de caracterização da
poluição dos rios e lagos. A qualidade da água
superficial está totalmente relacionada à
qualidade do sedimento sobre o qual ela
atravessa devido aos processos de equilíbrio que
se estabelecem entre água e sedimento. Além Figura 1. Mapa de localização da Bacia Hidrografica do
disso, os sedimentos são considerados o Ribeirão São João.
depósito final de muitas classes de
contaminantes derivadas da atividade humana Porto Nacional está a 63 km de Palmas,
no ambiente. É essa capacidade de acumular capital do estado e tem uma população estimada
contaminantes que vem preocupando os de 52.510 habitantes (IBGE, 2016). De acordo
pesquisadores, justamente por que os com o Ministério da Agricultura e Reforma
agrotóxicos ficam retidos nessa camada de Agrária (1992), a vegetação predominante é o
sedimentos, comprometendo a qualidade da cerrado, o clima é tipicamente tropical, com
água (POSSAVATZ et al. 2014). média anual de temperatura de 26,1ºC e média
pluviométrica anual de 1.667,9 mm. O período
de concentração das precipitações ocorre entre
4 METODOLOGIA os meses de outubro a abril, correspondendo a
cerca de 80% da pluviosidade anual, enquanto o
4.1 Área de estudo período seco corresponde aos meses de maio a
setembro (PREFEITURA MUNICIPAL DE
A bacia hidrográfica do Ribeirão São João com PORTO NACIONAL, 2007).
área de 82 km² está localizada no Estado do O Ribeirão São João possui sua nascente na
Tocantins, a sudeste do município de Porto zona rural, na Fazenda Pilão, seguindo para o
Nacional (Figura 01) com sua foz dentro da área município de Porto Nacional, atravessando
urbana, sendo contribuinte direto do Rio várias propriedades rurais e alguns bairros
Tocantins. A economia do município de Porto representativos, tais como: Jardim Querido,
Nacional é a quarta maior do Estado de Jardim Umuarama, Santa Helena e Vila Nova,
Tocantins, situado no centro geográfico deste com sua foz no Rio Tocantins.
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4.2 População e amostra da água campo. A planilha obtida foi inserida no
software Surfer 11 e, utilizando-se o método
Para o estudo na bacia hidrográfica do Ribeirão Kriging de gradeamento, realizando a
São João foi delimitado e identificado à unidade interpolação dos pontos e gerando curvas de
amostral. Sendo caracterizado o regime nível da área em análise. As sondagens foram
climático para melhor compreensão das realizadas no último trimestre de 2016.
características da gênese e da dinâmica
climática pelas variações pluviométricas. 4.4 Metodologia de Campo
A escolha do ponto definida a partir de uma
boa interação relacionada à preservação e Foi definido um ponto como mostra na figura 2,
conservação de floresta ripária permitindo que a com base nas informações obtidas pelo GPS e
batimetria determinasse o ponto para a coleta do através do reconhecimento da área, para
sedimento. Para a análise do resíduo amostragem de sedimentos na barragem de
agroquímico glifosato no sedimento, após a abastecimento de Porto Nacional - TO.
amostragem foram detectados por
cromatografia líquida com derivatização pós-
coluna com o reagente orto-ftaldialdeído (OPA-
MERC) e detecção por fluorescência. As
amostras foram coletadas na unidade amostral
na barragem de abastecimento do município de
Porto Nacional no período chuvoso, onde
acontece o maior carreamento de sedimentos no
corpo hídrico.
Foram utilizada imagem de satélite para a
melhor compreensão dos processos que
ocorrem no entorno da bacia hidrográfica em
estudo para quantificação e qualificação da
Figura 2. Ponto de coleta da amostra.
unidade amostral.
A Figura 3 mostra o local onde foram coletadas
4.3 Caracterização física da barragem de
as amostras.
abastecimento

O levantamento batimétrico foi realizado a


montante da barragem através de método
acústico, utilizando o Perfilador Acústico
Doppler, modelo ADCP Sontek Riversurveyor
M9, que emite ondas acústicas de frequência
entre 300 e 3.000 Hz e através da frequência de
resposta do material do leito, determina a
distância entre a fonte e o receptor. O aparelho
foi acoplado a uma embarcação motorizada, que Figura 3. Ponto de coleta represa da Odebrecht/Saneatins.
percorreu toda a área do lago, coletando pares
de coordenadas e a respectiva profundidade do 4.4.1 Coletas das amostras
ponto.
Os dados obtidos em campo foram A coleta das amostras de sedimento de fundo
processados em software próprio do aparelho, foi realizada no mês abril após o período de
denominado Riversurveyorlive, gerando chuva, utilizando o amostrador tipo Pertesen
planilha com as informações coletadas em (figura 4), no qual o mesmo consiste em duas
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caçambas que se fecham juntas ao tocar o leito, b) Sedimentação:
devido a um dispositivo de barra, para coletar I. O material foi passado na peneira de 2,0 mm,
uma camada superior do material. cerca de 120 g, para a sedimentação e o
peneiramento fino;
II. O material foi transferido para um béquer,
junto com defloculante (solução de
hexametafosfato de sódio) e então agitado até
que todo o material ficou imerso. Logo após o
material ficou de repouso 12 horas;
III. O material foi transferido para o copo de
dispersão. Foi adicionada água destilada até que
o nível ficou 5 cm abaixo das bordas do copo,
então foi submetida à ação do aparelho
dispersor durante 15 minutos;
IV. A mistura foi transferida para uma proveta
graduada, completando com água destilada até
1000 ml, então foi realizado o agitamento da
mistura solo/água;
V. Foram efetuadas leituras do densímetro
Figura 4. Amostrador tipo Pertesen.
(figura 10) nos instantes de 30s, 1 e 2minutos,
4, 8, 15 e 30min, 1, 2, 4, 8 e 24h.
As amostras de material do fundo coletadas
VI. Depois de realizada a última leitura,
contendo sedimento um pouco molhado foram
colocou-se o material da proveta na peneira de
acondicionado normalmente em sacas plásticas
0,075mm, então foi feita uma lavagem da
e enviado ao laboratório ITPAC (Instituto
amostra na peneira com água potável à baixa
Tocantinense Antônio Carlos) para realização
pressão removendo todo o material das laterais.
da análise do sedimento.

4.5 Metodologias de Laboratório

4.5.1 Execução dos ensaios

a) Preparação da amostra - (NBR 6457/2016):


A amostra foi preparada para os ensaios de
caracterização com o método de secagem prévia
do material da amostra, como mostra a figura 5.

Figura 6. Amostra no densímetro.

c) Peneiramento Fino
O material retido na peneira de 0,075mm foi
colocado na estufa, à temperatura de 105º C a
110º C, durante 24h, após sair da estufa (figura
Figura 5. Amostra sendo preparada com secagem prévia. 11) o material foi lavado ao agitador mecânico
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para passar nas peneiras de 1,2, 0,6, 0,42, 0,25, onde é efetuada a separação. A análise é
0,15, 0,075mm. Os resultados foram anotados feita em função ao tempo que a substancia
com resolução de 0,01g as massas retidas passa pelo cromatograma. O que possibilita
acumuladas em cada peneira. a análise da quantidade é que as substâncias
se apresentam no aparelho como picos com
4.5.2 Ánalise laboratorial do Agroquímico área proporcional à sua massa.
 O detector quantifica e indica o que sai da
Para a análise do agroquímico glifosato será coluna;
detectado por CG/EM (Cromatógrafo a gás com  Eletrônica de tratamentos purifica os ruídos
detector de massa) com uso de colunas capilares para melhor análise;
contendo diversas fases estacionárias e o uso de  Registro de sinal: Analisa e avalia os dados
detectores seletivos, seguindo as normas obtidos no processo.
segundo Standard Methods (APHA, 2005).
Tendo em vista que atualmente a Os resultados obtidos na análise laboratorial do
Cromatografia gasosa é a técnica mais utilizada agroquímico serão apresentados adiante.
para a caracterização de agrotóxicos. A
limitação dessa técnica é que ele precisa que a
amostra seja termicamente estável e volatizável. 5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
O sedimento coletado será analisado pelos
equipamentos, que deverá identificar e 5.1 Impactos Ambientais
quantificar a presença do glifosato no sedimento
da Bacia Hidrográfica. Os equipamentos Para garantir a proteção ambiental é necessário
básicos utilizados foram: manter no mínimo os parâmetros de qualidade
de água dentro de limites preestabelecidos. O
 Reservatório de Gás de Arraste. Os gases Brasil tem como alicerce a resolução n° 357 do
mais utilizados são H2, He e N2, que ficam CONAMA (Conselho Nacional do Meio
contidos em cilindros sob pressão, a vazão Ambiente) a qual dispõe sobre os limites
do gás de arraste, que deve ser controlada, é máximos permissíveis de poluentes em águas
constante durante a análise. superficiais, considerando o enquadramento dos
 Sistema de Introdução de Amostra. Na cursos de água e seus diferentes usos (Brasil,
Cromatografia Gasosa, o injetor (ou 2005), e a portaria n° 2914 do Ministério da
vaporizador) é o local onde é feita a Saúde que dispõem os parâmetros de qualidade
introdução da amostra. Quando há presença de água para o Consumo humano (Brasil,
de amostras sólidas, essas podem ser 2012), utilizando legislações internacionais
dissolvidas em um solvente adequado. Para como um parâmetro a ser analisado, como por
que a mostra se volatilize por completo, o exemplo, da Agencia de Proteção Ambiental
injetor deve estar na temperatura do ponto dos Estados Unidos (USEPA, 1995,) e da União
de ebulição da amostra, assim a amostra é Europeia (CEE, 1980).
carregada para a coluna, quando a
temperatura é maior que o ponto de ebulição 5.2 Perfil Hidrográfico
a amostra poderá se decompor. A amostra
deve entrar na coluna na forma de um Segundo Krueger (1996), o objetivo principal
segmento estreito, para evitar alargamento da batimetria é medir a profundidade de um
dos picos; corpo hídrico relacionada à posição de uma
 Coluna Cromatográfica e Controle de embarcação na superfície da água, tornando
Temperatura da Coluna. Após passar pelo possível visualizar a topografia submersa
sistema de introdução da amostra, a amostra através de representação de linhas isobáticas.
é introduzida na coluna cromatográfica, Na figura 7 é exibida a realização da batimetria.
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com baixa granulometria, prevalecendo à fração
de argila e silte com aproximadamente de 93%
do total, sendo a porcentagem de areia,
classificadas em fina, média e grossa, ficou
abaixo dos 7%.

Figura 7. Medição de profundidade por meio de


batimetria utilizando o equipamento Doppler ADCP M9.

A realização deste ensaio é fundamental para


escolha do ponto de coleta do sedimento de
fundo, conforme mostra a tabela 1 e figura 8, foi
possível determinar a maior profundidade,
vazão e velocidade da água. A escolha do ponto
Figura 9. Curva de distribuição.
foi realizada de acordo com o fluxo da água, e
onde há o maior recalque da barragem por ser
Como há um alto teor de finos, conforme a
onde há a maior acumulação de sedimento.
figura 9 é de se esperar que o composto
Tabela 1. Valores obtidos do ensaio de batimetria. agroquímico de interesse, o glifosato, esteja
Vel. Vazão Prof. Vel. presentes nos sedimentos devido à capacidade
Largura Área
Média Total Máx. Máx. do mesmo em reter poluentes. Segundo Jesus et
(m) (m²)
(m/s) (m³/s) (m) (m/s) al. (2004), os sedimentos têm sido considerados
127,29 488,35 0,002 1,169 7,847 0,987 como um compartimento de acumulação de
espécies poluentes, em que os solos com alto
teor de argila e silte são ricos em sítios de
ligação, possibilitando o uso dos mesmos como
um bom indicador de poluição ambiental.

5.4 Comportamento Hidrossendimentológico

5.4.1 Precipitação

Segundo Queiroz et. al (2011), uma das


principais causas de contaminação de um corpo
hídrico está relacionada a precipitação, ao
escoamento superficial e a percolação, pois
através da percolação as moléculas do
Figura 8. Representação da topografia do local através agroquímico podem ser dirigidas para camadas
dos dados do ensaio utilizando o programa Surfer 11. profundas do solo, podendo assim contaminar e
atingir as águas subterrâneas. Já o escoamento
5.3 Caracterização do Sendimento superficial faz com que haja o transporte do
agroquímico adsorvido às partículas do solo
A amostra de sedimento coletada no presente com erosão ou em solução. Essa afirmação é
estudo apresenta uma grande quantidade de solo um fator importante a ser considerado, pois a
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coleta foi realizada durante um período de baixa A substância ativa do glifosato não
precipitação e não aplicação do agroquímico, apresentou na amostra valores superiores aos
sendo direcionado para a aplicação no mês de limites estabelecidos pela resolução do
maio para a colheita, conforme a tabela 1. CONAMA (2005) representado na figura 10. O
ensaio de cromatografia acusou que no
Tabela 1. Valores de precipitação entre aplicação do sedimento de fundo do ribeirão São João
agroquímico e a coleta do sedimento. contém cerca de 10 μg/Kg, esse valor
Nov Dez Jan Fev Mar Abr
2016 2016 2017 2017 2017 2017
transformado para μg/l é de 0,01.
(mm) (mm) (mm) (mm) (mm) (mm)
186,2 286,8 174,3 164,5 153,5 86,8

A coleta foi efetuada após o maior período de


intensidade de precipitação, ou seja, ocorreu no
mês abril de 2017, sendo que a aplicação do
agroquímico para o plantio aconteceu em
meados de outubro para novembro do ano Figura 10. Quantidades limites permissíveis do Glifosato
anterior.
Como a coleta foi realizada durante o período
5.4.2 Descarga líquida não chuvoso e cerca de 5 meses após a
aplicação do glifosato na lavoura, Queiroz et al.
Segundo Christofoletti (1980), o conhecimento (2011), afirma que a substância fica presente
das características fluviais é importante para o cerca de 60 dias após dispersão em águas
estudo sedimentológico, sendo a quantidade de superficiais onde o herbicida pode ser adsorvido
sedimento transportado diretamente relacionado no sedimento, sendo então um fator de
à quantidade do fluxo fluvial. contaminação a longo prazo, portanto não sendo
O valor obtido no monitoramento da descarga esperado a detecção de qualquer quantidade do
liquida para o local em estudo foi de 1,169 m³/s, agroquímico.
utilizando o Perfilador Acústico Doppler. A
escolha do ponto foi realizada de acordo com o
fluxo da água no leito da bacia. 6 CONCLUSÃO

5.5 Quantidades permissíveis de Glifosato Os resultados obtidos no período em estudo no


que se refere à presença do agroquímico
Segundo a resolução CONAMA 357/2005 o glifosato no sedimento de fundo da barragem de
limite da substancia orgânica glifosato em águas abastecimento do ribeirão São João, permitem
doces é de 65 μg/L, já o Ministério da Saúde concluir que:
(Brasil 2012) afirma que para o mesmo a fim a No município de Porto Nacional foi
quantidade limite é de 500 μg/L. Entretanto os constatado que o abastecimento populacional
parâmetros internacionais como a Agencia de representa a maior demanda hídrica, seguido em
proteção dos Estados Unidos (USEPA) define o ordem de consumo, a irrigação, indústria e
limite como 700 μg/L como o valor máximo da dessedentação de animais.
substância glifosato em águas potáveis, já para O estudo do comportamento
União Européia (CEE, 1980), o valor hidrossedimentalógico apresentou dados sobre a
estabelecido é de 0,1 μg/L para qualquer precipitação, escolhendo-se o período de baixo
agrotóxico. Atualmente na União Européia vem índice pluviométrico e a descarga liquida, que
sendo discutido a proibição da comercialização determinou o fluxo da água, fatores importantes
do herbicida em todos os seus Estados- a serem considerados para a coleta da amostra
membros. de sedimento.
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O levantamento batimétrico da bacia em sedimentos de fundo no Rio piranhas em uma seção
estudo permitiu medir a profundidade do corpo de controle próximo à sede do município de pombal-
pb. 2015. HOLOS, Ano 31, vol. 3.
hídrico, sua vazão, velocidade e a acumulação GEOTECH. SonTek Acoustic Doppler Water Velocity
do sedimento, dados fundamentais para escolha Measurement. Disponível em:
do ponto de coleta do mesmo. <http://www.geotechenv.com/sontek_doppler_measur
Os resultados obtidos no período em estudo ement.html>. Acesso em: 05 de nov. 2016.
no que se refere à detecção do agroquímico GROSSI, C. H. Diagnóstico e monitoramento ambiental
da microbacia hidrográfica do Rio Queima-Pé, MT.
glifosato não apresentou na amostra valores Tese (Doutorado em Agronomia) – Faculdade de
superiores aos limites estabelecidos pela Ciências Agronômicas, Universidade Estadual
resolução 357 do CONAMA (2005). Os Paulista, Botucatu, 2006.
resultados indicam que como a coleta foi JESUS, H. C. et al. Distribuição de metais pesados em
realizada cerca de cinco meses após a aplicação sedimentos do sistema estuarino da ilha de Vitória-ES.
Revista Química Nova, São Paulo – SP, v. 27 , n.3,p.
do glifosato na lavoura, e foi detectado na 378 – 386, 2004.
amostra, o mesmo é um fator de contaminação KRUEGER, C. P. Investigações sobre aplicações de alta
em longo prazo, e medidas preventivas e de precisão do GPS no Âmbito Marinho. Curitiba, 1996.
preservação deve ser adotado no gerenciamento 267 f. Tese (Doutorado em Geodésia). Setor de
Tecnologia. Universidade Federal do Paraná.
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em diferentes escalas espaço temporais no Bioma
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Maria, Santa Maria, 1998.
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CRISPIM, D. L. et el. Transporte e caracterização de
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Caracterização dos Passivos Ambientais Rodoviários Geotécnicos


Encontrados ao Longo da Faixa de Domínio da BR-116 de
Acordo com a Localização Geográfica
Amanda Christine Gallucci Silva
Universildade Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, amandagallucci82@gmail.com

Jhonatan Tilio Zonta


Universildade Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, jhonatanzonta@hotmail.com

Cristhyano Cavali da Luz


Universildade Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, crisccluz@hotmail.com

Larissa de Brum Passini


Universildade Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, larissapassini@hotmail.com

RESUMO: Com o intuito de regularizar todos os passivos ambientais locados nos trechos não
concessionados da BR-116, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) e a
Universidade Federal do Paraná (UFPR) firmaram um acordo. A partir disto, surgiu o Programa de
Rodovias Federais Ambientalmente Sustentáveis (PROFAS) e, ao longo do Programa, foram
levantados todos os passivos ambientais dos seis estados nos quais estão inseridos os trechos não
concessionados da rodovia (Ceará, Paraíba, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais e Rio Grande do
Sul). A identificação e caracterização dos passivos ambientais ocorreram com base em uma
metodologia proposta por Blasi (2014), onde a mesma foi ajustada e pôde-se perceber que entre os
passivos ambientais mais usuais destacam-se os que envolvem problemas geotécnicos, como
erosões ou problemas de estabilidade de taludes e encostas. Também foram observadas correlações
entre as condições geo-climáticas das regiões em que a rodovia está inserida com os passivos mais
recorrentes. Portanto, o presente estudo visa apresentar e contextualizar os passivos ambientais
rodoviários evidenciados ao longo da faixa de domínio da BR-116, dando ênfase aos problemas
envolvendo a área Geotécnica.

PALAVRAS-CHAVE: Passivos Ambientais, Condições Geo-climáticas, Problemas geotécnicos.

1 INTRODUÇÃO transações anteriores ou presentes, que


provocaram ou provocam danos ao meio
O termo “passivos ambientais” geralmente está ambiente ou a terceiros, de forma voluntária ou
associado à esfera judicial, por frequentemente involuntária, os quais deverão ser remediados
envolver multas, penalidades ou violações a leis e/ou indenizados (GALDINO et al., 2002).
ambientais. De acordo com Sánchez (2011), Nesse contexto, direcionando os olhares para
passivos ambientais são o acumulo de danos o setor rodoviário, passivo ambiental deve ser
que devem ser reparados, a fim de que seja considerado mediante as situações de débitos
mantida a qualidade ambiental de um provenientes da construção, restauração ou
determinado local. manutenção da rodovia, capaz de prejudicar o
É possível definir passivo ambiental como meio que está inserido, o patrimônio público ou
uma obrigação adquirida em decorrência de ao usuário. (DNIT, 2006).
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O alto desenvolvimento da malha rodoviária Termo de Execução Descentralizada com o


nacional, a partir da década de 70, motivado objetivo de estabelecer um Projeto Piloto para a
pela indústria automobilística e o Plano de regularização ambiental de, aproximadamente,
Metas do governo Juscelino Kubitscheck, 2.300 km da rodovia federal BR-116, nos
resultou num legado de passivos ambientais segmentos não concessionados pelo Governo
encontrados até o dia de hoje sem recuperação Federal.
(COSTA, 2010). Entretanto, a abordagem de O programa envolve práticas de
conceitos sobre responsabilidade gerenciamento e supervisão ambiental e
socioambiental vinha crescendo num contexto execução de ações de comunicação ambiental,
internacional desde antes, e paralelamente, as por meio da elaboração de Relatórios de
legislações regulamentando questões que Controle Ambiental (RCAs) trimestrais de
envolvem impactos ambientais e obras de andamento de obras, semestrais de Gestão
infraestrutura viária. ambiental e também de encerramento de
Grande parte das rodovias brasileiras foi atividades.
implantada anteriormente à Lei Federal nº 6.938 Além disso, o PROFAS também envolve a
de 1981 que estabelece a necessidade de execução de três programas ambientais: o
licenciamento ambiental para empreendimentos Programa Ambiental da Construção (PAC), O
potencialmente poluidores. Por conta disso, o Programa de Prevenção, Controle e
Decreto nº 4340/2002 estabeleceu a Monitoramento de Processos Erosivos
obrigatoriedade da regularização ambiental da (PPMCPE) e o Programa de Recuperação de
malha rodoviária federal implantados Áreas Degradadas (PRAD).
anteriormente a 2002.
Como consequência do Decreto, atualmente,
o país necessita adequar mais de 56.000 km de 2 CARACTERIZAÇÃO DAS REGIÕES
sua malha rodoviária (BRASIL, 2004). Nesse
contexto, por meio da Portaria Interministerial A fim de agrupar as semelhanças geoclimática,
dos Ministérios do Meio Ambiente e dos a caracterização para o estudo em questão foi
Transportes (nº 423/2011), foi instituído o separada em três regiões: Nordeste, incluindo os
Programa de Rodovias Federais estados do Ceará, Paraíba, Pernambuco e Bahia,
Ambientalmente Sustentáveis (PROFAS), que Sudeste para Minas Gerais e Sul para o Rio
tem por finalidade promover a elaboração e Grande do Sul (Figura 1).
execução dos projetos e atividades necessários à
regularização ambiental das rodovias federais 2.1 Região Nordeste
pavimentadas que ainda não possuam licença
ambiental. Boa parte dos trechos da BR-116 estão
O Programa de Rodovias Federais localizados no Nordeste. A região é
Ambientalmente Sustentáveis (PROFAS) visa a caracterizada por apresentar chuvas de médias
regularização ambiental das rodovias federais de 800 mm anuais e médias térmicas elevadas,
pavimentadas sem licença ambiental e, para variando de 23º a 27º C com zonas com balanço
tanto, concilia as atividades de manutenção, hídrico anual negativo (CAITANO, 2011).
melhoramento e ampliação da capacidade Na região existem duas estações distintas: a
rodoviária realizadas pelo Departamento estação de chuva e a estação seca. Esta área é
Nacional de Infraestrutura de Transportes caracterizada principalmente pela irregularidade
(DNIT) com as atividades de regularização espaço-temporal e pela escassez pluviométrica
ambiental acordadas com o Ibama. em períodos bem definidos do ano, tendo seu
Para tanto, o DNIT firmou com a efeito potencializado pelas elevadas taxas de
Universidade Federal do Paraná (UFPR) um evaporação/evapotranspiração. Além das
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vulnerabilidades impostas pela irregularidade de argila dos horizontes superiores, fazendo


pluviométrica do semiárido, parte significativa com que estes solos sejam susceptíveis a erosão
dos solos apresenta-se degradadas ou em hídrica. São solos que apresentam horizonte B
processo de desertificação. textural, com argila de atividade baixa.
Geralmente são profundos, no entanto, na
região Semiárida podem ser rasos e pouco
profundos.
Os planossolos são constituídos por minerais
hidromórficos ou não, com mudança textural
abrupta. O horizonte A desse tipo de solo tem
textura arenosa ou média está sobre um
horizonte B de textura argilosa (EMBRAPA,
2005).
Os luvissolos são rasos, não hidromórficos,
com argila de atividade alta. São solos que
apresentam uma tendência muito forte a erosão
e ocorrência de forte pedregosidade na
superfície, característica desses solos.
Os latossolos tem coloração avermelhada,
alaranjada ou amarelada, muito profundos,
friáveis, porosos, de textura variável, com argila
de atividade baixa. São solos fortemente
intemperizados. Neles os minerais primários
pouco resistentes ao intemperismo, bem como a
fração silte, estão ausentes ou existem em
pequenas proporções e os teores de óxidos de
ferro e alumínio são elevados. (EMBRAPA,
2005).
Já os cambissolos são caracterizados por
Figura 1. Regiões em que a BR-116 está inserida. serem solos pouco desenvolvidos, sendo que, na
Região Semiárida, esses processos ainda não
A BR-116 está inserida na porção leste do destruíram as principais reservas minerais
estado do Ceará, sendo que o solo da região oriundas do material de origem. (EMBRAPA,
pode ser classificado, de acordo com o Embrapa 2005).
(2006), como argissolos, planossolos, luvissolos Por fim, os neossolos são caracterizados por
e neossolos (Figura 2). O trecho da BR-116 serem constituídos por material mineral ou por
inserido no estado da Paraíba é muito curto, material orgânico pouco espesso com pequena
apenas 13 quilômetros e o tipo do solo presente expressão dos processos pedogenéticos
na região é o Luviossolo. Em Pernambuco, (EMBRAPA, 2005).
encontram-se argissolos e neossolos. Já o estado O subsolo da região é formado
da Bahia é o estado que representa a maior dominantemente por rochas pré-cambrianas que
heterogeneidade dos solos, podendo encontrar: registram uma história prolongada de colisões
argissolos, planossolos, luvissolos, latossolos, entre continentes, vulcões, terremotos e outros
cambissolos e neossolos. cataclismos. As rochas mais presentes na região
Os argilossolos são bem desenvolvidos e em que a BR-116 foi inserida são os
apresentam um gradiente de textura em granulonitos, em maior proporção, e os gnaisses
profundidade, como conseqüência de acúmulo e migmatitos. (CPRM, 2014).
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A rodovia também atravessa o Domínio das


Coberturas Cenozoicas Detrito-Lateríticas,
sendo que, esses depósitos apresentam aspecto
textural e estrutural anisotrópico concrecional
enodular e são provenientes de processos de
lateritização em rochas de composições
diversas. Essas rochas possuem grau de
resistência variável e podem se apresentar
compactas e coesas e, portanto, resistentes ao
corte e à penetração, como podem ser moles e
friáveis. Em geral, possuem baixa erosividade
natural e boa estabilidade em talude de corte e
apresentam espessura, grau de consolidação e
dureza bastante variável de local para local
(CPRM, 2014).
O Complexo dos Granitoides Intensamente
Indeformados apresenta resistência das rochas
ao intemperismo de baixa a alta, tanto
horizontal quanto verticalmente: a alteração
dessas rochas costuma produzir blocos e
matacões em horizontes de solos, mesmo
naqueles profundos e evoluídos, sendo
suscetíveis de se movimentarem em taludes de
corte. Suas descontinuidades estruturais são
tanto na lateral quanto na vertical: as rochas
granitoides alteram-se de forma heterogênea Figura 2. Caracterização dos solos da BR-116
para solos argilo-síltico-arenosos e a
profundidade do embasamento é muito irregular Em Minas Gerais a rodovia também
(CPRM, 2014). atravessa o Domínio das Coberturas cenozoicas
detritolateríticas. Além disso, está inserida
2.2. Região Sudeste também no Domínio das Coberturas
Sedimentares e Vulcanos-sedimentares
A BR-116 foi implantada na região leste do mesozoicas e paleozoicas pouco a
estado de Minas Gerais, região na qual moderadamente consolidadas, associadas a
predomina o clima subtropical de inverno seco grandes e profundas bacias sedimentares do tipo
e verão quente, com temperaturas variando de sinéclise, que se caracteriza por apresentar
18ºC a 22ºC. A região é afetada por características geomecânicas e hidráulicas
precipitações de origem orográfica, bastante diferentes, facilitando as
precipitações de origem ciclônica, tanto frentes desestabilizações e os processos erosivos em
frias de origem polar (sistema atmosférico taludes de corte.
frontal), com chuvas de longa duração e de No estado também é evidenciado o Domínio
baixa a média intensidade (MELLO, 2007). das Sequências Vulcanos-sedimentares tipo
O estado apresenta vasta abrangência Greenstone Belt, Arqueano até o
territorial, e é cortado por extensas cadeias de Mesoproterozoico o qual é formado,
montanhas. Os solos encontrados no estado são predominantemente, por litologias sedimentares
classificados como latossolos e argissolos e vulcânicas e sustentam relevos dos tipos
(Figura 2). terrenos acidentados, colinosos e tabuleiros e,
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assim como o Domínio das Sequências com a ocorrência de geada e precipitação


Sedimentares Proterozoicas Dobradas, eventual de neve. As temperaturas médias
metamorfizadas de baixo a médio grau, variam entre 15 e 18º C, com mínimas de até
apresentam intenso fraturamento e dobramento 10ºC e máximas de 40º C. Dentre as três regiões
presentes nos maciços e à variabilidade no estudadas pelas quais a BR-116 atravessa, é a
padrão de mergulhos dos estratos. Deste modo, maior média pluviométrica, 1650 mm
apresentam alto potencial para ocorrência de (PESSOA, 2017).
desplacamento e queda de blocos em taludes de O estado do Rio Grande do Sul é marcado
corte. por uma sucessão de eventos colisionais entre
É possível encontrar o Domínio dos os continentes, assoalhos oceânicos, arcos de
Complexos Granitoides Intensamente ilhas, vulcões e bacias sedimentares no decorrer
Deformados: Ortognaisses, que é caracterizado da sua evolução geológica, desta forma,
por possuir predominância para terrenos diversas são as idades de formação das rochas e
acidentados, com padrão geológico de intenso os ambientes de origem, como por exemplo:
fraturamento aliado à tipologia do relevo, de geleiras, rios, desertos, desembocaduras de rios
vertentes íngremes e declividades elevadas, e vulcões (CPRM, 2010).
conferindo à região grande incidência de Este estado caracteriza-se por uma geografia
eventos de deslizamentos de terra. física muito diversificada, composta desde
Também apresenta-se o Domínio dos extensas planícies litorâneas com elaboração de
Complexos Granito-Gnaisse Migmatítico e imensos corpos lagunares até planaltos com
Granulitos, com abrangência significativa no mais de 1.000 m de altitude, submetido a um
estado de tipos de relevo, destacando-se clima subtropical úmido e atuação moderada do
terrenos acidentados. As rochas constituintes intemperismo químico, devido às baixas
desse domínio são dotadas de heterogeneidade temperaturas.
geomecânica e hidráulica, tanto lateral como Os quatro domínios geomorfológicos
vertical, devido às descontinuidades estruturais principais do Rio Grande do Sul, segundo a
presentes, como: fraturas, falhas, dobras e CPRM (2010) são: (i) planícies costeiras,
bandamentos. Esse fato reflete na resistência ao constituídas por depósitos marinhos, eólicos e
intemperismo, a qual é variável também, fluviolagunares de idade quaternária; (ii)
resultando na existência de blocos e/ou planaltos embasados pela sequência vulcânica e
matacões imersos no solo. Também propiciam o vulcanossedimentar de idade mesozoica da
desplacamento de lascas em taludes de corte e a Bacia do Paraná; (iii) planaltos e serras baixas
ocorrência de movimentos de massa e quedas das rochas cristalinas pré-cambrianas do Escudo
de blocos. Sul-Rio-Grandense; e (iv) depressões
interplanálticas embasadas pela sequência
2.3. Região Sul sedimentar de idades paleozoica e mesozoica da
Bacia do Paraná.
O clima no estado do Rio Grande do Sul é A heterogeneidade dos tipos de solos da
temperado do tipo subtropical, classificado região está relacionada a várias combinações
como mesotérmico úmido. Devido à sua dos fatores ambientais como material de
posição geográfica, apresenta grandes origem, clima, relevo, organismos vivos e o
diferenças em relação aos outros estados. A tempo de atuação destes fatores. Assim sendo,
latitude reforça as influências das massas de ar ao longo do trecho da BR-116 solos (Figura 2),
oriundas da região polar e da área tropical os podem ser classificados em neossolos,
continental e Atlântica. As temperaturas latossolos, cambissolos, nitossolos, argissolos e
apresentam grande variação sazonal, com planossolos (EMBRAPA, 2005).
verões quentes e invernos bastante rigorosos,
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Segundo a CPRM (2010), os nitossolos são Contudo, com o conhecimento de que


constituídos de material mineral em avançado dentro dos grupos é possível separar os passivos
estágio de intemperismo, comumente em subgrupos, devido à aproximação das suas
profundos, com cores variando de vermelho a características comuns, e visando a facilidade
brumado e quanto ao seu perfil apresentam os em agrupar as semelhanças para auxiliar na
horizontes A, B e C. determinação de métodos de recuperação, tal
atividade foi executada.
Os processos erosivos foram subdividos
3 METODOLOGIA DE TRABALHO com base no Manual de Geotecnia proposto
pelo DER de São Paulo (DER, 1991) em: (i)
Com o intuito de alimentar os Relatórios de Erosão em corte, (ii) Erosão em aterro associada
Controle Ambiental (RCAs) desenvolvidos pela ao sistema de drenagem, (iii) Erosão em aterro
UFPR ao DNIT, realizou-se o levantamento dos não associada ao sistema de drenagem e (iv)
passivos ambientais encontrados ao longo de Erosão longitudinal ou em plataforma.
toda a faixa de domínio da BR-116. Já a subdivisão dos movimentos de massa
O levantamento dos passivos foi realizado foi baseada na classificação de movimentos de
por meio de inspeção em campo, utilizando a massa proposta por Augusto Filho (1992) da
ficha de cadastramento de passivos ambientais seguinte maneira: (i) Corrida, (ii)
estabelecida por Blasi (2014). A ficha de Escorregamento, (iii) Queda de blocos, e (iv)
cadastramento engloba alguns dados básicos de Rastejo. Não sendo observada à situação de
localização geográfica, descrição do meio em rastejo e corrida na faixa de domínio da BR-
que o passivo está inserido, tanto a respeito das 116, nos trechos avaliados.
características geomorfológias do local, quanto
das características do segmento rodoviário,
cadastramento de fotos de identificação e 4 RESULTADOS OBTIDOS
descrição da característica dos passivos.
Foram cadastrados ao total de 332 passivos Dos 332 passivos ambientais levantados, apenas
ambientais ao longo dos trechos não 5 passivos foram referentes ao estado Rio
concessionados da BR-116, ou seja, abrangendo Grande do Sul, porém, como eles eram bem
os seguintes estados: Rio Grande do Sul, Minas característicos, eles não foram desconsiderados
Gerais, Bahia, Pernambuco e Paraíba. Do total dos estudos. Portanto, a maioria expressiva dos
de passivos cadastrados, 60% foram referentes a passivos ambientais que necessitam ser
problemas geotécnicos como, por exemplo, recuperados, no contexto dos trechos não
movimentos de massa e erosão. O restante, são concessionados da BR-116 encontram-se na
consequência de problemas de gestão de região Nordeste e Sudeste.
resíduos, ocupação irregular e supressão da
camada vegetal. Ressalta-se que, devido à 4.1 Região Nordeste
grande quantidade e difícil mensuração, não foi
cadastrado em campo o total de acessos Considerando um universo de 247 passivos
irregulares ao longo dos trechos, sendo que, tal ambientais cadastrados na região Nordeste,
mensuração será realizada a posteriori em mais da metade dos passivos representam um
escritório, porém não interfere no estudo em problema de gerenciamento de resíduos sólidos
questão. e não problemas geotécnicos. Porém, quanto
Como metodologia do presente estudo, aos problemas geotécnicos, a distribuição de
separaram-se os problemas em dois grupos suas feições podem ser observadas na Figura 3.
principais: problemas com processos erosivos e
com movimento de massa.
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Figura 4. Erosão em plataforma, BR-116 CE - Km 117,7.

Outro tipo de passivo ambiental encontrado


na região é a queda de blocos, com 3% (Figura
5), devido à idade relativamente nova das
rochas locais, onde se encontra pequenas
profundidades características da rocha sã com
regiões de fraturamento.

Figura 3. Distribuição dos passivos ambientais


geotécnicos na região Nordeste.

É possível constatar que, a maior parte dos


passivos envolvendo geotecnia na região
Nordeste se manifesta como Erosão
longitudinal ou em plataforma, com 44%
(Figura 4). Esse tipo de processo erosivo ocorre
acompanhando o sentido longitudinal da
rodovia e são característicos de regiões planas,
em que a alta temperatura e a baixa precipitação
fazem com que a evapotranspiração seja maior
que a transpiração e não permita que se
desenvolva uma vegetação suficiente para fazer Figura 5. Queda de bloco, BR-116 CE - Km 267,7.
a proteção da faixa de domínio.
Descendo pela região Nordeste em direção a Por fim, compõem os passivos ambientais
Sudeste, é possível constatar mudanças nos geotécnicos encontrados na região Nordeste, os
passivos encontrados, se assemelhando aos casos de Escorregamento, com 6%.
característicos das inspeções realizadas em
Minas Gerais, como por exemplo, as Erosões 4.2 Região Sudeste
em taludes de corte, com 28%.
Também se observa a ocorrência de Erosão Os passivos encontrados em Minas Gerais
em aterro associada ao sistema de drenagem, tiveram suas feições distribuídas de acordo com
com 16% e Erosão em aterro não associada ao o infográfico apresentado na Figura 6. Percebe-
sistema de drenagem, com 3%. se que a grande parte dos problemas está
relacionada a processos erosivos. Entretanto, os
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problemas com erosão possuem uma aparência Há também a forte presença dos luviossolos,
diferente aos encontrados no Nordeste, devido à caracterizados por serem solos intemperizados e
região ser expressivamente montanhosa, e os argilossolos, caracterizados pela alta erosão
devido a característica dos solos. hidráulica.
Constata-se que, a maior parte dos passivos
envolvendo geotecnia na região se manifesta
como Erosão em corte, com 82%. Seguido de
Erosão em aterro associada ao sistema de
drenagem, com 4% e Erosão em aterro não
associada ao sistema de drenagem, com 2%.

Figura 7. Erosão em corte, BR-116 MG - Km 260,7.

Os processos erosivos em Minas Gerais


foram evidenciados em quase todos os taludes
de cortes no offset da rodovia, das mais diversas
maneiras, como: em sulcos, em ravinas ou em
voçorocas. Sendo que, a grande quantidade é
devida à falta de proteção dos taludes e à
inexistência ou ineficiência do sistema de
drenagem.
Quanto à Erosão em talude de aterro
associada ao sistema de drenagem, esse tipo de
feição é característica de um
subdimensionamento do sistema de drenagem
(Figura 8), como bueiros de greide, tendo em
vista que a região é caracterizada por ter chuvas
de baixa incidência, porém de longas durações.
Observa também, a presença de
Figura 6. Distribuição dos passivos ambientais Escorregamentos, com 8%. Na região Suldeste,
geotécnicos na região Sudeste.
eles ocorrem quase de forma total devido à
Parte dos solos dessa região compõe o evolução dos processos erosivos. Esses
Domínio das Coberturas cenozoicas processos fazem com que ocorra o
detritolateríticas, solos muito intemperizados desconfinamento lateral do talude de corte,
que sofreram com o processo de laterização, aumentando a sua instabilidade, propiciando
deste modo, consequentemente, apresentam esse tipo de movimento de massa.
uma boa resistência, aguentando grandes Além dos escorregamentos, também foi
inclinações de taludes, e baixa suceptibilidade observado Queda de blocos, com 4%. A feição
aos processos erosivos. Porém, os solos pode ser explicada devido à presença do
presentes abaixo destes apresenta-se muito Domínio dos Complexos Granito-Gnaisse
suceptíveis aos processos erosivos (Figura 7). Migmatítico e Granulito, que são caracterizados
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por apresentar rochas bastante fraturadas e a


presença de matacões e a presença do Domínio A média de chuva elevada relacionada com a
das Sequências Vulcanos-sedimentares. quantidade de encostas com grandes altitudes e
com solos como os neossolos, que possuem
pouco processo pedogênico, faz com que a
caracterização dos deslizamentos se dê na forma
de Escoamentos (Figura 10). Esse tipo de
processo ocorre de forma natural, mas pode ser
agravado pela ação antrópica.

Figura 8. Erosão em talude de aterro associada ao sistema


de drenagem, BR-116 MG - Km 632,16.

4.3 Região Sul

Na região Sul, é possível observar pouca


distribuição na feição dos passivos ambientais
Figura 10. Escoamento, BR-116 RS - Km 190,0.
geotécnicos (Figura 9), sendo Escorregamentos,
com 67%, e Erosão em aterro não associado ao
sistema de drenagem, com 33%. 5 CONCLUSÕES

O desenvolvimento sustentável, atualmente,


está intriseco em todas as mobilizações
Sul realizadas no ramo da construção civil,
inclusive no ramo rodoviário.
Programas como o PROFAS auxiliam para a
adequação às novas legislações ambientais e
garantam a segurança do usuário, do meio
33%
ambiente em que a rodovia está inserida e até a
preservação do patrimônio público.
67% Por meio do cadastramento dos passivos
ambientais presentes na faixa de domínio da
BR-116, é possível evidenciar dois pontos que
merecem ser destacados:
O primeiro é referente ao déficit na gestão
Erosão em aterro não associada ao das rodovias não concessionadas, e, como
sist. de drenagem consequência, a necessidade em se investir parte
Escoamento da arrecadação pública em prol das questões
socioambientais.
Figura 9. Distribuição dos passivos ambientais
O segundo é a interferência da
geotécnicos na região Sul. heterogeneidade regional do Brasil nas obras de
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engenharia, em consequência, a tendência da BLASI, G. F. (2014). Proposta de procedimentos para a


ocorrência de determinados passivos elaboração de relatórios de controle ambiental
visando a regularização ambiental de rodovias
geotécnicos, de acordo com a região em que a federais em operação. Dissertação de mestrado,
rodovia está inserida. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil,
A correlação dos passivos ambientais mais Universidade Federal de Santa Catarina, 305
recorrentes de acordo com as diferenças p.BRASIL. (2004). Portaria interministerial nº
regionais, tanto geológicas e morfológicas, 273/2004. Brasília.BRASIL. (2002). Decreto nº
4.340/2002. Brasília.
quanto climáticas, permitem que seja possível CAITANO, R. F. (2011). Estimativa da aridez no Estado
determinar os métodos mais recomendados de do Ceará usando Sistemas de Informação Geográfica.
recuperação dos passivos existentes e as Anais XV Simpósio Brasileiro de Sensoriamento
técnicas de proteção mais recomendadas para Remoto – SBSR. Curitiba, 9 p.
que seja evitado o surgimento de novos CARVALHO, P. (1991). Manual de Geotecnia–Taludes
de Rodovias. São Paulo: Instituto de Pesquisas
problemas. Tecnológicas (IPT)–Departamento de Estradas e
Deste modo, próxima etapa deste trabalho, Rodagem (DER).
será a unidade de análise em questão, CPRM - Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais.
abordando as técnicas de recuperação mais (2014). Geodiversidade do estado do Ceará.
aplicáveis as diferentes situações encontradas. Fortaleza, 216 p.
CPRM - Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais.
Vale ressaltar que muitos problemas (2010). Geodiversidade do estado do Rio Grande do
referentes ao dimensionamento de projetos de Sul. Porto Alegre, 212 p.
infraestrutura ocorrem devido ao fato de não ser CPRM - Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais.
considerado as peculiaridades regionais. Assim, (2010). Geodiversidade do estado de Minas Gerais.
Belo Horizonte, 136 p.
será possível analisar as tecnicas citadas em
DE MELLO, C. R. et al. (2007). Erosividade mensal e
literatura e as empregadas no país por meio de anual da chuva no Estado de Minas Gerais. Pesquisa
estudos de caso, comparando a tecnologia Agropecuária Brasileira, v. 42, n. 4, p. 537-545.
aplicada, os procedimentos necessários, a DNIT - Departamento Nacional de Infraestrutura de
relação custo-benefício e aplicabilidade. Transportes. (2006). Manual para Atividades
Ambientais Rodoviárias. Rio de Janeiro, IPR, Publ.
730.
EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa
AGRADECIMENTOS Agropecuária. (2006). Sistema Brasileiro de
Classificação de Solos. 2ª Ed. Brasília, 306 p.
Agradecemos ao Instituto Tecnológico de GALDINO, C. A.B. et al. (2002). Passivo ambiental das
organizações: uma abordagem teórica sobre avaliação
Transportes e Infraestrutura (ITTI) por nos
de custos e danos ambientais no setor de exploração
disponibilizar os dados e nos proporcinar a de petróleo. XXII Encontro Nacional de Engenharia
oportunidade de desenvolver a pesquisa e ao de Produção. Curitiba, v. 23.
Programa de Pós-Graduação em Engenharia de IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Construção Civil (PPGECC) da Universidade Recursos Naturais Renováveis. (2008). Estudo de
impacto ambiental. v. 4.
Federal do Paraná (UFPR). PESSOA, M. L. (2017). Clima do RS. Atlas FEE. Porto
Alegre. Disponível em: < http://atlas.fee.tche.br/rio-
grande-do-sul/socioambiental/clima/ >. Acesso em: 20
REFERÊNCIAS de abril de 2018.
SÁNCHEZ, L. E. (2015). Avaliação de impacto
AUGUSTO FILHO, O. (1992). Caracterização ambiental. Oficina de Textos, 495 p.
geológico-geotécnica voltada à estabilização de
encostas: uma proposta metodológica. In: Conferência
Brasileira sobre Instabilidade de Encostas. Anais.
ABMS/ABGE. Rio de Janeiro, v. 2. p. 721-733.
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Caracterização geotécnica de resíduos de construção e demolição


reciclados (RCD-R) produzidos por uma usina de reciclagem em
Aparecida de Goiânia-GO
Marcela Leão Domiciano
Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, marcelaleaodomiciano@gmail.com

Eder Carlos Guedes dos Santos


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, edersantos@ufg.br

RESUMO: Os resíduos de construção e demolição reciclados (RCD-R) vem sendo empregados na


Engenharia Civil, visto que existem semelhanças no comportamento destes quando comparados aos
materiais usualmente utilizados em vários tipos de obras. Diante disso, este trabalho tem como
objetivo estudar a aplicabilidade geotécnica e a variabilidade de três tipos de RCD-R produzidos
numa usina de reciclagem, sendo eles: i) brita reciclada 0, ii) brita reciclada 1 e iii) brita graduada
com solo (BGS) fino. Empregando-se os métodos normalmente empregados para a caracterização
de solos, os resultados obtidos revelaram que existe uma certa variabilidade das propriedades
geotécnicas nos materiais produzidos pela usina. Contudo, pode-se concluir que tal constatação não
comprometeria o uso dos materiais investigados em diversos tipos de obras. Vale ressaltar também
que, o uso de RCD-R traria consigo uma série de outros benefícios econômicos, sociais e
ambientais.

PALAVRAS-CHAVE: Propriedades Geotécnicas, Resíduos de Construção e Demolição,


Reciclagem, Variabilidade, Agregados Reciclados.

1 INTRODUÇÃO nas proximidades do local em que os resíduos


são depositados.
A Indústria da Construção Civil (ICC) é Uma alternativa possível para tratar desta
considerada uma atividade essencial para a questão consiste na reciclagem desses resíduos.
economia, uma vez que gera riquezas e Vale ressaltar que, devido à diversidade de
empregos. No entanto, ela pode ser considerada RCD gerados pela ICC, após a sua reciclagem
também uma das principais causadoras de em usinas de beneficiamento, são produzidos
impactos ambientais (PINTO, 1999), desde a materiais com diversas granulometrias. Com
modificação da paisagem natural até a produção isso, a aplicação de resíduos de construção e
de resíduos, os chamados resíduos de demolição reciclados (RCD-R) na ICC mostra-
construção e demolição (RCD). se bastante abrangente, com possibilidade de
Atualmente, existe um grande volume de utilização como agregados para concreto não
RCD gerado nas grandes cidades, e devido à estrutural (RAO et al., 2007), material utilizado
falta de locais apropriados para o seu descarte, em base e sub-base de pavimentos (LEITE et
impactos ambientais podem ser causados pela al., 2011; HERRADOR et al., 2012;
deposição inadequada deste material (PINTO, CARDOSO et al., 2016; OSSA et al., 2016) e
1986; BANIAS et al., 2010). Estes danos, material de preenchimento em estruturas de solo
provocados pela falta de destinação adequada reforçado (SANTOS, 2011).
dos RCD, podem prejudicar tanto o meio Diante deste cenário, o objetivo deste
ambiente quanto a população que se encontra trabalho é estudar e avaliar a aplicabilidade
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geotécnica e a variabilidade de 3 (três) tipos de


RCD-R produzidos numa usina de reciclagem
localizada na Região Metropolitana de Goiânia-
GO.

2 RCD NO BRASIL

Os RCD representam a porção predominante


dos resíduos gerados em áreas urbanas
brasileiras, correspondendo entre 50% a 70% do
total de resíduos sólidos urbanos (IPEA, 2012).
Segundo a Associação Brasileira de
Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Figura 1. Levantamento de usinas de reciclagem de RCD
no país ao longo dos anos (ABRECON, 2015).
Especiais (ABRELPE, 2016), os municípios
brasileiros coletaram aproximadamente 45,1
duada com solo (BGS) fino. Segundo a usina, o
milhões de toneladas de RCD em 2016, o que
material denominado BGS-fino é composto por
representa uma diminuição de 0,08% referente à
brita 1, brita 0 e areia, na proporção de 33%
2015. Porém, sabe-se que a quantidade total de
cada.
RCD é maior do que a quantidade coletada, pois
Com o intuito de verificar uma eventual
as coletas acontecem apenas quando os resíduos
variabilidade dos materiais produzidos pela
são lançados ou abandonados em logradouros
usina de reciclagem, foram coletadas, no
públicos.
intervalo de 21 dias, 3 (três) amostras de cada
Miranda et al. (2009) verificaram que Brasil
RCD-R. E, para a determinação das
possuía 16 usinas de reciclagem em
propriedades físicas e mecânicas, foram
funcionamento até 2002, com estimativa de
realizados ensaios usualmente realizados em
crescimento em 3 novas unidades por ano.
laboratório de solos, de acordo com as
Porém, os autores concluíram que, com a
recomendações vigentes da Associação
resolução 307/2002 do CONAMA, houve uma
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
evolução neste contexto, com 48 usinas em
Além desses ensaios, foi realizada também a
funcionamento até o ano de 2009.
análise da composição gravimétrica do BGS
Segundo pesquisa da Associação Brasileira
fino, de acordo com a metodologia de Santos
para Reciclagem de Resíduos de Construção
(2007) de modo a verificar os seus diferentes
Civil e Demolição (ABRECON, 2015), entre os
materiais componentes. Diante disso, separou-
anos de 2009 e 2013, o número de novas usinas
se aproximadamente 10 kg de cada amostra.
cresceu na média de 10,6 por ano. E de 2013 a
Desta porção, a parte passante na peneira de 4,8
2015, os dados mostram-se estabilizados,
mm foi classificada como ‘solo’, e a parte retida
conforme Figura 1.
nesta mesma peneira foi lavada e, em seguida,
mantida em estufa por um período mínimo de
12 horas. Após esse procedimento, por meio de
3 METODOLOGIA
identificação visual, separou-se os diferentes
materiais componentes.
Para a realização deste trabalho foram
avaliados 3 (três) materiais produzidos por uma
usina de reciclagem de RCD, localizada em
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Aparecida de Goiânia-GO, sendo eles: i) brita
reciclada 0, ii) brita reciclada 1 e iii) brita gra-
4.1 Massa Específica
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Para cada material coletado foram realizados Devido a heterogeneidade inerente no RCD-R,
dois ensaios de massa específica, conforme as amostras foram dispostas em faixas
recomendações da NBR 6458 (ABNT, 2016), granulométricas para melhor apresentação de
considerando: i) os grãos passantes na peneira suas granulometrias, conforme apresentado nas
de abertura 4,8 mm e ii) os grãos retidos nesta Figuras 2 a 4.
mesma peneira. Optou-se por realizar ambos os
procedimentos, dado que foi verificado que a
parcela retida na peneira 4,76 mm acumulada
representou, de forma mais expressiva, a maior
porcentagem de grãos dos materiais coletados.
A Tabela 1 apresenta os resultados obtidos de
massa específica.

Tabela 1. Massa específica dos grãos.


Massa específica - ρ (g/cm³)
Amostra Passante Retida
(#4,8 mm) (#4,8mm) Figura 2. Faixa de curva granulométrica – BGS-fino.
BGS-fino #1 2,634 2,684
BGS-fino #2 2,490 2,691
BGS-fino #3 2,540 2,651
Valor Médio 2,555 2,675
CV (%) 2,340 0,65
Brita 0 #1 2,105 2,666
Brita 0 #2 2,158 2,649
Brita 0 #3 2,122 2,671
Valor Médio 2,128 2,662
CV (%) 1,04 0,35
Brita 1 #1 2,592 2,661 Figura 3. Faixa de curva granulométrica – Brita 0.
Brita 1 #2 2,591 2,651
Brita 1 #3 2,603 2,636
Valor Médio 2.595 2,649
CV (%) 0,21 0,39

A partir dos resultados obtidos, constatou-se


que os valores das massas específicas
apresentaram baixa variabilidade, sendo 2,34%
e 0,21% a maior e a menor variabilidades,
respectivamente.
Figura 4. Faixa de curva granulométrica – Brita 1.
4.2 Granulometria
Para análise das curvas granulométricas,
Por meio dos ensaios de análise conforme determinado pela NBR 6502 (ABNT,
granulométrica (sedimentação e peneiramento) 1995), identificou-se as frações granulométricas
foi possível obter as curvas de distribuição das amostras em: i) pedra-de-mão, ii)
granulométricas de cada RCD-R, conforme pedregulho, iii) areia grossa, iv) areia média, v)
determinado pela NBR 7181 (ABNT, 2016c). areia fina, vi) silte e vii) argila (Tabela 2). Além
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disso, identificou-se o coeficiente de variação aproximadamente: 60% dos grãos do BGS-fino,


de cada fração entre as amostras, conforme as 80% da Brita 0, e, 90% da Brita 1.
Tabelas 3 a 5. Contatou-se que existe uma variabilidade das
curvas granulométricas dos materiais
Tabela 2. Faixas granulométricas. produzidos pela usina de reciclagem, porém o
Fração Limites Granulométricos BGS-fino atende às recomendações das normas
Matacão 200 mm a 1 m
British Standard (BS 8006-1), Federal
Pedra de mão 60 mm a 200 mm
Pedregulho 2 mm a 60 mm Highway Administration (FHWA 2001) e
Areia Grossa 0,6 mm a 2 mm National Concrete Masonary Association
Areia Média 0,2 mm a 0,6 mm (NCMA 2010) para execução de estruturas de
Areia Fina 0,06 mm a 0,2 mm solos reforçados.
Silte 0,002 mm a 0,06 mm
Argila Menor que 0,002 mm
Os grãos da brita 1, com tamanhos entre 1
mm e 9 mm, encontram-se fora das
Tabela 3. Coeficientes de variação - BGS-fino. recomendações das normas, e, os grãos da brita
BGS- BGS- BGS- 0, entre 1 mm e 3 mm, também se encontram
Fração CV
fino #1 fino #2 fino #3 fora das recomendações normativas citadas. As
Matacão - - - - faixas de curvas das mencionadas normas e dos
Pedra de mão - - - - materiais estudados são apresentadas na Figura
Pedregulho 70% 55% 55% 11,8%
Areia Grossa 9% 20,1% 20% 31,8% 5.
Areia Média 13% 17% 14% 11,6%
Areia Fina 4,2% 4% 3,2% 11,4%
Silte 3,5% 2,7% 7% 42,4%
Argila 0,5% 1,2% 0,8% 34,4%

Tabela 4. Coeficientes de variação - Brita 0.


Brita 0 Brita 0 Brita 0
Fração CV
#1 #2 #3
Matacão - - - -
Pedra de mão - - - -
Pedregulho 89% 93% 74% 9,6%
Areia Grossa 1,6% 1% 7,5% 87,2%
Areia Média 3,5% 2,2% 10,5% 67,5%
Areia Fina 2% 1% 3,5% 47,4%
Silte 3,6% 2,7% 3,6% 12,9%
Argila 0,3% 0,2% 0,9% 66,2% Figura 5. Faixas de curvas das normas e dos materiais
estudados.
Tabela 5. Coeficientes de variação - Brita 1.
Brita 1 Brita 1 Brita 1 Considerando as dimensões determinadas
Fração CV
#1 #2 #3
pela NBR 7211 (ABNT, 2009), sabe-se que a
Matacão - - - -
Pedra de mão - - - - brita 0 possui as dimensões entre 4,8 mm e 9
Pedregulho 96,5% 93,7% 94,6% 1,2% mm; enquanto que a brita 1, entre 9 mm e 19
Areia Grossa 0,7% 1,4% 1,2% 26,8% mm. A brita 0 reciclada apresentou 80% dos
Areia Média 1,4% 2,6% 2,2% 4,1% grãos com tamanhos entre 4,8 mm e 9 mm; e a
Areia Fina 0,1% 0,8% 0,7% 57,9%
brita 1 reciclada apresentou 90% dos grãos com
Silte 1,2% 1,4% 1,2% 7,4%
Argila 0,1% 0,1% 0,1% 0% tamanhos entre 9 mm e 19 mm. Isso implica
que o procedimento adotado na produção das
Diante do exposto, constatou-se que a fração britas recicladas garante uma distribuição
‘pedregulho’ (2,0 mm a 60 mm) foi granulométrica bastante similar a de agregados
predominante em todas as amostras, sendo naturais.
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Tanto as características apresentadas pelo 4.4 Compactação


BGS-fino para material de preenchimento,
quanto as dimensões dos grãos das britas O ensaio de compactação foi realizado nas
recicladas podem ser atraentes para o setor de amostras de BGS-fino com energia Proctor
construção, dada a padronização e a Normal e sem reuso de material, conforme NBR
repetibilidade fornecida pela usina. 7182 (ABNT, 2016d). Não foi possível realizar
De acordo com o Sistema Unificado de compactação nas amostras de Brita 0 e de Brita
Classificação de Solo (SUCS), foi possível 1, por apresentarem pouca quantidade de
classificar as amostras somente com as curvas material fino, conforme constatado a partir das
granulométricas sem a necessidade de curvas granulométricas, o que impossibilitou a
complementação com os limites de Atterberg, moldagem dos corpos de prova.
conforme Tabela 6. Após cada compactação, o corpo de prova
foi inserido na base da prensa hidráulica e
Tabela 6 - Classificação das amostras (SUCS). submetido à penetração para a verificação do
BGS-fino Brita 0 Brita 1 Índice de Suporte Califórnia (ISC). A Figura 7
GW-GM GW apresenta as curvas de compactação para as
GW
(pedregulho (pedregulho e
(pedregulho e amostras de BGS-fino (#1, #2 e #3). A Tabela 7
arenoso/ areia com
areia com apresenta os valores de CBR das amostras, e a
pedregulho poucos finos)
poucos finos) Tabela 8, as densidades secas máximas e
siltoso)
umidades ótimas das mesmas.
4.3 Limites de Atterberg

Todas as amostras caraterizadas


apresentaram comportamento não-plástico e
não-líquido, conforme determinado pela NBR
6459 (ABNT, 2016a) e pela NBR 7180 (ABNT,
2016b). Tal fato pode ser justificado pelas
curvas granulométricas, que demonstram a
baixa existência de partículas de material fino
(diâmetro < 0,002 mm) que, na maioria dos
casos, são as responsáveis por conferir
plasticidade aos RCD-R. A Figura 6 retrata o
comportamento não plástico do material, que
Figura 7. Curva de compactação - BGS-fino #1.
mesmo úmido, despedaçava-se durante as
tentativas de execução dos ensaios. Tabela 7. CBR das amostras.
Amostra CBR (%)
BGS-fino #1 68,5
BGS-fino #2 37,8
BGS-fino #3 37,0
Média 47,77
CV (%) 30,7

Conforme determinado pela NBR 15116


(ABNT, 2004), para CBR maior que 12%, com
energia de compactação Proctor normal, e
expansibilidade menor que 1%, o material pode
Figura 6. Material submetido aos ensaios de LL e LP.
ser utilizado para execução de reforço de
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subleito em obras de pavimentação. Portanto,


todos os RCD-R podem ser utilizados para tal
finalidade.

Tabela 8. Massa específica seca máxima e umidade ótima


das amostras.
Amostra ρdmáx (g/cm³) wótima. (%)
BGS-fino #1 1,710 16,8
BGS-fino #2 1,692 19,45
BGS-fino #3 1,658 19,25
Média 1,687 18,5
CV (%) 1,31 5,72

Figura 9. Composição gravimétrica - BGS-fino #1.


4.5 Análise da composição gravimétrica

Para a análise da composição gravimétrica,


apenas o BGS-fino foi submetido ao ensaio,
uma vez que os demais RCD-R (Brita 0 e Brita
1) são oriundos da britagem de peças de
concreto.
A Figura 8 apresenta a porção retida na
peneira de 4,8 mm do BGS-fino #1 antes da
identificação visual. As Figuras 9 a 11
apresentam os gráficos contendo a composição
gravimétrica de cada amostra ensaiada.

Figura 10. Composição gravimétrica - BGS-fino #2.

Figura 8. Material retido na peneira 4,8 mm - BGS-fino


#1.

A análise gravimétrica revelou que as Figura 11. Composição gravimétrica - BGS-fino #3.
aproximadamente 98% dos materiais
componentes das amostras de BGS-fino são
materiais inertes (solo, concreto, materiais 5 CONCLUSÕES
cerâmicos e brita natural), apresentando não
mais que 2% de outros materiais (metal, Diante dos resultados obtidos pelos ensaios
madeira, papel, plástico e etc.). de caracterização, é possível concluir que todas
as amostras de RCD-R apresentaram uma
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pequena variabilidade nas curvas de ABNT – _______. NBR 7180: Solo - Determinação do
distribuição granulométrica, o que pode ser limite de plasticidade. 3p. Rio de Janeiro. 2016b.
ABNT – _______. NBR 7181: Solo - Análise
explicado pelo processo de padronização granulométrica. 13p. Rio de Janeiro. 2016c.
existente na produção da usina de reciclagem ABNT – _______. NBR 7182: Solo - Ensaio de
em estudo. compactação. 9p. Rio de Janeiro. 2016d.
Observou-se baixos valores de coeficientes ABNT – _______. NBR 9895: Solo - Índice de Suporte
de variação em todos os ensaios de Califórnia. 14p. Rio de Janeiro. 2004.
ABNT – _______.NBR 15116: Agregados reciclados de
caracterização física, além de propriedades e resíduos sólidos da construção civil – Utilização em
comportamento mecânico que justificam a pavimentação e preparo de concreto sem função
realização de investigações para a sua utilização estrutural – Requisitos. 17p. Rio de Janeiro. 2004.
na engenharia geotécnica. BANIAS, G., ACHILLAS, Ch., VLACHOKOSTAS, Ch.,
Portanto, conclui-se que o uso do RCD-R MOUSSIOPOULOS, N., TARSENIS, S., 2010.
Assessing multiple criteria for the optimal location of
apresenta-se bastante promissor, uma vez que a construction and demolition waste management
trata-se de uma estratégia para reduzir a facility. Journal of Cleaner Production.
exploração matéria prima natural e minimizar CARDOSO, R., SILVA, R. V., BRITO, J., DHIR, R..
os impactos gerados pelos RCD que são Use of recycled aggregates from construction and
demolition waste in geotechnical applications: A
dispostos inadequadamente.
literature review. Waste Management. Lisboa, p. 131-
145. 2016.
CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE
AGRADECIMENTOS (CONAMA). Resolução nº 307. Brasília, 2002.
HERRADOR, R., PEREZ, P., GARACH, L.,
ORDONEZ, J.. Use of Recycled Construction and
Os autores gostariam de agradecer ao
Demolition Waste Aggregate for Road Course
Laboratório de Geotecnia (LabGEO) da Surfacing. Journal of Transportation Engineering. p.
Universidade Federal de Goiás (UFG), pelo 182-190. fev. 2012.
suporte dado para a realização dos ensaios; e ao IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.
Programa de Pós-Graduação em Geotecnia, Diagnós-tico dos Resíduos Sólidos da Construção
Civil. Relatório de Pesquisa. Brasília, 2012.
Estruturas e Construção Civil (PPG – GECON).
LEITE, F. C., MOTTA, R. S., CASCONSELOS, K. L.,
Os autores também agradecem a parceria da BERNUCCI, L.. Laboratory evaluation of recycled
empresa Renove Gestão e Solução em Resíduos construction and demolition waste for pavements.
Ltda. (RNV Resíduos) por todo o apoio dado Construction And Building Materials. São Paulo, p.
para a realização do estudo. 2972-2979. jan. 2011.
MIRANDA, L. F. R., ANGULO, S. C., ÉLCIO, D. C. A
reciclagem de resíduos de construção e demolição no
Brasil: 1896-2008. Revista Ambiente Construído.
REFERÊNCIAS Porto Alegre. 2009.
OSSA, A.; GARCIÁ, J. L.; BOTERO, E.. Use of recycled
Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da construction and demolition waste (CDW) aggregates:
Construção Civil e Demolição – ABRECON. (2015) A sustainable alternative for pavement construction
Relatório de Pesquisa Setorial 2014-2015. Agência industry. Journal Of Cleaner Production. México, p.
Sancho Comunicação. São Paulo. 379-386. 18 jun. 2016.
Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e PINTO, T. P. Utilização de resíduos de construção -
Resíduos Especiais – ABRELPE. (2016) Panorama estudo do uso em argamassas. 148 p. Dissertação
dos Resíduos Sólidos no Brasil 2016. Grappa Editora (Mestrado) - Escola de Engenharia de São Carlos,
e Comunicações: São Paulo. Departamento de Arquitetura e Planejamento,
ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS Universidade de São Paulo. São Carlos. 1986.
TÉCNICAS (ABNT). 6458: Grãos de solos que PINTO. T.P. Metodologia para a gestão diferenciada de
passam na peneira de 4,8 mm: determinação da massa resíduos sólidos da construção urbana. 189 p. Tese de
específica. Versão Corrigida (2017). 14p. Rio de doutorado – Escola Politécnica da Universidade de
Janeiro. 2016. São Paulo, São Paulo, 1999.
ABNT – _______. NBR 6459: Solo - Determinação do RAO, A., JHA K. N., MISRA S. Use of aggregates from
limite de liquidez. 6p. Rio de Janeiro.2016a. recycled construction and demolition waste in
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concrete. 2007. Resources, Conservation and


Recycling.
SANTOS, E. C. G.. Avaliação Experimental de Muros
Reforçados Executados com Resíduos de Construção
Demolição Reciclados (RCD-R) e Solo Fino. 2011.
216 f. Tese de Doutorado. Universidade de Brasília,
Brasília, 2011.
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Carga Elétrica Superficial Variável e Adsorção de Chumbo no


Resíduo Casca de Arroz
Diego Diez Garcia
Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos, Brasil, diegodzgarcia@gmail.com

Paulo Scarano Hemsi


Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos, Brasil, paulosh@ita.com.br

RESUMO: O resíduo agroindustrial casca de arroz foi testado no laboratório quanto ao ponto de
carga nula (PZC) e à adsorção do metal pesado chumbo (Pb) em diferentes valores de pH. Os
métodos empregados consistiram de três metodologias para o PZC, com destaque à titulação
potenciométrica, e da realização de ensaios em batelada para a adsorção de chumbo. Os valores de
PZC resultaram entre pH 4,1 – 4,5 pelo método da comparação dos valores de pH em água e
solução concentrada de KCl, 5,2 pelo método da mudança do pH, e entre 4 e 4,9 pelo método da
titulação potenciométrica. Assim, o valor do PZC do material foi estimado como entre pH 4 e 5.
Nos experimentos de adsorção de chumbo à casca de arroz, a maior taxa de adsorção foi verificada
na suspensão com pH 5 (95 %). As suspensões com valores de pH de 3 e 7 removeram
porcentagens inferiores de chumbo, o que permitiu concluir que o ponto ótimo da adsorção do
chumbo se deu a valor de pH próximo do PZC determinado. O estudo permitiu ampliar o
conhecimento sobre o resíduo casca de arroz e sua potencial aplicação em barreiras reativas
permeáveis para remediação in-situ de áreas contaminadas por metais.

PALAVRAS-CHAVE: Adsorção, barreiras reativas permeáveis, casca de arroz, chumbo, ponto de


carga nula.

1 INTRODUÇÃO

A utilização de resíduos agrícolas, como a casca


de arroz, para a remoção de metais pesados das
águas subterrâneas através da adsorção
representa uma possível remediação in-situ de
baixo custo e que pode ser efetiva. Uma barreira
reativa permeável (BRP) consiste da
implantação de materiais reativos em sub-
superfície, a fim de interceptar a pluma de Figura 1. Esquema conceitual de barreira reativa
contaminação nas águas subterrâneas e permeável (adaptado de U.S. EPA, 1998).
proporcionar a ocorrência de reações físicas,
químicas ou biológicas, levando à diminuição As BRPs adsortivas para metais pesados
das concentrações dos contaminantes à jusante podem conter carvão ativado, turfa, óxidos ou
da BRP, e aproximando os valores das metas de hidróxidos de ferro, fosfato (apatita), minerais
remediação (Figura 1) (modificado de U.S. calcários, entre outros (ITRC, 2005). A
EPA, 1998). utilização de resíduos agrícolas
(lignocelulósicos), ou bio-adsorventes em geral,
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como bagaço de cana de açúcar, algas, lascas de


madeira ou casca de arroz pode constituir
alternativa de menor custo. Tais resíduos
apresentam significativa capacidade de
adsorção nos grupos funcionais hidroxila e
carboxila. (a)
Este artigo visa apresentar resultados de um
estudo realizado no laboratório empregando a
casca de arroz, que incluiu ensaios para o ponto
de carga nula e de equilíbrio em batelada para
avaliar a adsorção de chumbo (Pb2+) a
diferentes valores de pH.
(b)

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Figura 2. Representação molecular de (a) celulose, e (b)


lignina (Rangabhashiyam et al., 2014).
2.1. Casca de Arroz
2.2. Carga Elétrica Superficial
A casca de arroz corresponde a cerca de 20 %
da massa total do grão (Vieira et al., 2012). No A carga elétrica distribuída na superfície das
Brasil, a produção anual de arroz é da ordem de partículas minerais ou orgânicas pode ter um
11 milhões de toneladas. Em geral, ~ 90 % (em caráter predominantemente permanente, ou
massa) dos grãos variam entre 0,85 e 1,7 mm. A predominantemente variável de acordo com o
gravidade específica é de aproximadamente 1,6 pH e com a composição química da solução que
e a superfície específica da ordem de 1,4 m²/g ocupa os vazios (Langmuir, 1997). A variação
para 0,85 mm. O material fibroso apresenta uma da carga elétrica superficial se deve ao
composição química de aproximadamente (em comportamento de grupos funcionais presentes
massa) 35 % cellulose, 25 % hemicelulose, 20 na superfície, dentre os quais hidroxilas e
% lignina, 17 % cinzas e 3 % proteínas carboxilas expostas.
(Nakbanpote et al., 2007, Krishnani et al., 2008, A carga elétrica superficial total da partícula
Vieira et al., 2012). (σp) resulta de uma soma de componentes,
As cinzas são compostas por como a seguir (Sposito, 1989):
aproximadamente 96 % SiO2, 2 % K2O, 0,5 %
MgO, 0,2 % Fe2O3, 0,4 % Al2O3, 0,4 % CaO e (1)
MnO2 (Nakbanpote et al., 2007). A celulose,
(C5H8O4)n, é uma estrutura cristalina de baixa Onde σ0 é a carga elétrica superficial
solubilidade mas propensa à hidrólise química e permanente, σH a carga elétrica devido à
enzimática. A lignina (C9H10O3(OCH3))n, por adsorção de prótons de hidrogênio, e Δq é a
sua vez, é mais complexa (polímero mais carga elétrica devido à adsorção de outros íons
ramificado) e recalcitrante à degradação (Figura em geral, de adsorção específica.
2) (Malik et al., 2017). A parcela de carga permanente se deve a
imperfeições presentes na estrutura cristalina e
às substituições isomórficas. Na matéria
orgânica, a carga permanente pode ser
considerada desprezível (Sposito, 1989).
A carga elétrica devido à adsorção de
prótons de hidrogênio (σH) corresponde à
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protonação (-OH2+) ou desprotonação (-O-) dos pontes de hidrogênio com elétrons sendo
grupos funcionais superficiais expostos na compartilhados ou transferidos com os grupos
presença do ion determinador do potencial superficiais. As ligações são mais fortes que na
elétrico H+ em solução. Na matéria orgânica, adsorção física, sendo dificilmente reversíveis e
essa parcela pode ser muito elevada (-900 a pouco dependentes da atração eletroestática de
+100 molc/kg, Sposito, 1989). Por fim, a carga Coulomb. Metais pesados geralmente sofrem
elétrica devido à adsorção específica de outros adsorção química no material orgânico (Drever,
íons (Δq) engloba os complexos de esfera 1997).
interna e os complexos de esfera externa no A casca de arroz em seu estado natural já foi
interior da camada de Stern. A carga total da previamente testada no Brasil para adsorção de
partícula deve ser balanceada, ou neutralizada, chumbo. Vieira et al. (2012) utilizaram casca de
pelo total de carga elétrica dos íons trocáveis arroz natural (0,85 mm) como um adsorvente
presentes na camada (nuvem) difusa. para Pb2+ e Cu2+ (concentrações iniciais de 100
mg/L) em testes de equilíbrio em batelada a 24
2.3. Ponto de carga nula (PZC) °C e soluções metálicas com valor de pH inicial
de 4,5. A adsorção ocorreu com uma proporção
Nas superfícies com carga elétrica devido à em massa de sólido:solução de 1:100. A
adsorção de prótons de hidrogênio (σH) duração dos testes foi de 20 horas. Nos ensaios,
significativa, a carga elétrica superficial varia o pH foi controlado e mantido fixo a 4,5. A
com o pH da solução. A variação da carga porcentagem final de remoção do chumbo em
elétrica faz com que a capacidade de troca solução foi de 61 %.
iônica seja variável. A valores de pH da solução Tarley e Arruda (2004) estudaram casca de
mais elevados, a resultante de carga elétrica arroz em seu estado natural (0,344 – 0,60 mm)
superficial será negativa, favorecendo a como um adsorvente para Pb2+ e Cd2+ (100
capacidade de troca catiônia. Por outro lado, a mg/L) em ensaios de coluna (30 cm x 3,4 cm, 2
valores de pH da solução mais baixos, a g de casca, vazão de 4 mL/min) a 24 °C. O
resultante de carga será positiva, favorecendo a ensaio de coluna foi realizado utilizando
capacidade de troca aniônica (Langmuir, 1997). soluções de entrada contendo diferentes metais
O ponto de carga nula da superfície é definido e diferentes valores de pH (de 2 a 6). A maior
como o valor de pH da solução para o qual as porcentagem de remoção de Pb2+ foi obtida na
densidades de cargas negativas e positivas se coluna com solução de entrada com pH = 4.
igualam, de tal modo que a superfície apresenta Neste caso, o valor de pH medido na saída da
uma resultante de carga elétrica nula. coluna foi igual a 5,2.

2.4. Adsorção de Chumbo


3 MATERIAIS E MÉTODOS
Os processos adsortivos podem englobar
diferentes mecanismos. A adsorção física Uma amostra de casca de arroz moída foi obtida
envolve a atração de íons em solução para a de uma usina de processamento de arroz
camada difusa ao redor do adsovente, por forças próxima a São José dos Campos, Brasil, os
de Coulomb e atração de Van der Waals. As grãos foram separados por peneiramento
conexões são fracas e reversíveis. Trocas (granulometria entre 0,425 e 1,40 mm), lavados
iônicas na camada difusa são devido à adsorção na peneira número 200 com água deionizada e
física. secos em estufa a 70 °C por 12 horas.
A adsorção química envolve a maior
proximidade do adsorbato em relação à 3.1. Ponto de Carga Nula (PZC)
superfície do adsorvente, e a formação de
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Para a determinação do valor de PZC da casca 0,05 M NaOH). Após o ajuste do pHi, 4 g de
de arroz foram utilizadas três metodologias casca de arroz foram adicionadas a cada frasco
descritas na literatura. (razão sólido:solução 1:100), e a suspensão foi
agitada por 24 horas em um equipamento
3.1.1. Medição do pH em água e em solução de agitador automático até a medição dos valores
KCl de pH final (pHf). O valor de PZC foi, então,
obtido através da plotagem do gráfico (pHi –
A carga elétrica superficial e o PZC das pHf) versus pHi, sendo que o PZC corresponde
superfícies de um material podem ser estimados ao valor de pHi para o qual não há mudança do
de forma simples a partir da comparação dos pH após a introdução do sólido, ou seja, (pHi –
valores de pH obtidos em suspensões do pHf) = 0.
material em água pura e em solução
concentrada de KCl. Para o PZC, a literatura 3.1.3. Titulação potenciométrica
apresenta a correlação abaixo (Pansu et al.,
2007), geralmente atribuída a Mekaru e Uehara A titulação potenciométrica de cargas elétricas
(1972): requer equilibrar amostras do sólido em
soluções eletrolíticas de íons indiferentes, a
(2) diferentes valores iniciais de pH. O teste é
realizado em geral em três séries de suspensões,
Onde pHKCl é o pH em equilíbrio na cada série para um valor de concentração iônica
suspensão em solução 1 M de KCl, e pHH2O é o inicial (NaCl ou CaCl2), com diferentes valores
pH em equilíbrio na suspensão em água pura. de pH inicial dentro de cada série.
Os ensaios foram realizados em triplicata, A partir das séries de suspensões, são obtidos
em frascos de vidro com 400 mL de líquido pHb (valor do pH da solução antes do equilíbrio
(solução 1 M KCl ou água deionizada) e razões com o sólido), pHs (valor do pH final da
sólido:líquido de 1:10 e 1:20, ou seja, 40 g ou suspensão, e o coeficiente de atividade do íon
20 g de casca de arroz em base seca. As H+ (γ), calculado a partir da força iônica da
suspensões foram agitadas e deixadas em solução. Utilizando os valores de pHb, pHs e do
repouso por 3 horas. Os valores de pH inicial, coeficiente de atividade do íon H+, calcula-se o
antes da adição da casca de arroz, e de pH final, valor da carga elétrica superficial devido à
após o equilíbrio, foram medidos com eletrodo adsorção de prótons de hidrogênio (σH):
de pH de Ag/AgCl.

3.1.2. Método da mudança do pH


(3)
O método da mudança do pH, ou da adição de
Onde F é um fator multiplicativo para a
sólidos (Balistrieri et al., 1981), consiste no
conversão das unidades.
ajuste inicial do pH em uma série de frascos
A partir do cálculo, é feita a plotagem da
contendo uma mesma solução salina, da
curva de titulação (σH versus pHS) para cada
colocação de uma certa quantidade do sólido
concentração de eletrólito. As curvas de
em cada frasco e da obtenção do valor de pH
titulação são plotadas em um mesmo gráfico, e
final das suspensões após 24 horas.
o ponto de intersecção das curvas define o PZC,
Os ensaios foram realizados em duplicata,
mais especificamente o PZSE, ponto de zero
em frascos com 400 mL de uma solução 0,1 M
efeito salino (Sposito, 1989).
NaCl. Os valores de pH inicial (pHi) foram
As soluções foram preparadas em três séries
ajustados para 2, 4, 6, 8 e 10 em cada frasco (a
de frascos de 400 mL contendo soluções salinas
partir da adição fracionada de 0,1 M HCl ou
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de 0,005, 0,05 e 0,5 M de NaCl. Em cada série, 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO


os valores de pH foram ajustados com HCl
(0,005 M) ou NaOH (0,005 M), nos volumes de 4.1. Pontos de Carga Nula
de 15, 50, 100, 200 e 300 mL. A razão sólido:
líquido utilizada foi de 1:10 (em massa), e Os valores de pH das suspensões de casca de
foram realizadas medições de pHb e de pHs após arroz em água deionizada e em solução 1 M
4 horas da adição da casca. Os frascos foram KCl encontram-se mostrados na Tabela 1.
mantidos em equipamento agitador automático.
Os experimentos foram preparados em Tabela 1. Valores médios de pH obtidos em função do
triplicata. líquido e da razão utilizada.
Razão
sólido:líquido Líquido pH
3.2. Adsorção de chumbo (massa)
01:10 6.9
Ensaios de equilíbrio em batelada foram Água DI
01:20 7.0
realizados em uma série de frascos contendo 01:10 5.5
Solução 1
solução de nitrato de chumbo em água M KCl
01:20 5.8
deionizada na concentração inicial 100 mg
Pb2+/L e diferentes valores de pH inicial (pH 3, A partir da aplicação da Equação 2, foi
5 ou 7). Os experimentos foram preparados em possível estimar dois valores de PZC, 4,1 (razão
duplicata. O ajuste do pH se deu pela adição de 1:10) e 4,5 (razão 1:20).
soluções de 0,1 M HCl ou 0,05 M NaOH. A realização dos ensaios do método da
Os experimentos foram realizados em mudança do pH forneceu os resultados
frascos de 500 mL, e a proporção (em massa) apresentados na Figura 3, a partir das médias
sólido:solução utilizada foi 1:20, ou seja, foram calculadas das repetições. Com base nos
adicionadas 25 g de casca de arroz por frasco. resultados obtidos pelo método da mudança do
Os valores de pH foram mantidos constantes pH, foi possível estimar que o PZC da casca de
durante o ensaio. A duração dos testes foi de arroz testada seja da ordem de 5,2.
120 minutos.
Os frascos permaneceram em agitador
automático e amostras das soluções foram
coletadas nos tempos de 1, 15, 30, 60, 90 e 120
minutos para medição de pH e da concentração
de Pb total em solução. A concentração de
chumbo foi determinada utilizando o
Espectrômetro de Absorção Atômica Agilent
240FS AA e o valor de pH utilizando o
pHmetro Hanna Ag/AgCl com eletrodo de
vidro. Uma amostra inicial de solução foi
coletada após o ajuste do pH na solução de
chumbo e antes da adição da casca de arroz.
Essa determinação de Pb permite quantificar a
remoção de Pb por precipitação química (antes
da colocação da casca de arroz). Figura 3. Gráfico obtido através de Método de adição de
sólidos.

A Figura 4 apresenta o gráfico da titulação


potenciométrica realizada na casca de arroz,
mostrando as três curvas de titulação obtidas e o
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ajuste de funções logarítmicas a cada curva pH, mas antes da adição da casca de arroz) para
(Hemsi et al., 2002). A partir da análise dos avaliar a possibilidade de precipitação química
resultados obtidos, verifica-se que as curvas de do chumbo. No ensaio 7F, a concentração de
titulação tenderam a apresentar o ponto de chumbo medida no tempo zero foi de apenas 61
intercecção em um valor de pH localizado entre mg/L, indicando a ocorrência de precipitação
4 e 4,9, o qual seria correspondente ao valor de química (remoção de 39 % do chumbo na
PZSE. ausência da casca de arroz).
Para o tempo de 1 min, as concentrações
médias de Pb nos testes foram de 90 mg/L no
ensaio 3F, 63 mg/L no ensaio 5F e 18 mg/L no
ensaio 7F. Aos 120 min, a remoção de chumbo
nos ensaios 3F e 7F atingiu 67 % e 72 %,
respectivamente, enquanto que no ensaio 5F
atingiu-se a remoção de 95 %.

(a)

Figura 4. Curvas de titulação obtidas no ensaio de


titulação potenciométrica da casca de arroz.

Analisando de forma conjunta os resultados


de PZC obtidos no trabalho, é possível delimitar
a faixa entre pH 4 e 5 como sendo o PZC da
casca de arroz testada. Ressalta-se que a
titulação potenciométrica pode ser considerada (b)
mais confiável do que as estimativas obtidas
Figura 5. Resultados dos ensaios de equilíbrio em
nos outros métodos utilizados. batelada para remoção de chumbo (a) concentração em
solução versus tempo, e (b) pH versus tempo.
4.2. Adsorção de chumbo
As concentrações de chumbo removidas são
A Figura 5 apresenta os resultados médios dos apresentadas na Figura 6, sendo que na Figura
ensaios de adsorção de chumbo na casca de 6a é mostrada a remoção de chumbo apenas por
arroz. Na figura, a nomenclatura 3F, 5F e 7F adsorção, enquanto que na Figura 6b mostra-se
identifica os ensaios realizados nos valores de a quantidade removida total no pH 7, isto é,
pH de 3, 5 e 7, respectivamente. As amostras ao englobando precipitação e adsorção nesse pH.
“tempo zero” foram coletadas (após ajuste do
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pelo método da mudança do pH, e entre 4 e 4,9


pelo método da titulação potenciométrica.
Assim, o valor do PZC do material foi estimado
como entre pH 4 e 5, com maior confiabilidade
nos resultados da titulação potenciométrica.
Nos experimentos de adsorção de Pb2+, a maior
taxa de adsorção ocorreu na suspensão com pH
5 (95 %), sendo que as suspensões com valores
de pH de 3 e 7 removeram porcentagens
menores do chumbo inicialmente colocado em
solução. Foi verificado que o ponto ótimo da
adsorção do chumbo se deu a valor de pH
próximo do PZC determinado nos ensaios.
Esses resultados podem ser explicados tendo
em vista que a adsorção do chumbo se dá de
forma específica, menos dependente da força de
Coulomb, e mais dependente da atração de Van
(a)
der Waals e do estabelecimento de
complexação superficial.

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Para o resíduo orgânico casca de arroz, o PZC EUA.
(ponto de carga nula) foi determinado a partir Malik, D.S., Jain, C.K., e Yadav, A.K. (2017). Removal
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4,5 pelo método da comparação dos valores de 2113-2136.
pH em água e solução concentrada de KCl, 5,2
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Comportamento Geotécnico de Misturas de Areia Argilosa


Laterítica com Lodo da Estação de Tratamento de Água do
Município de Cubatão
Edy Lenin Tejeda Montalvan
Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil, edytemon@usp.br

Maria Eugenia Gimenez Boscov


Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil, meboscov@usp.br

RESUMO: Uma das opções promissoras para a destinação final do lodo de estação de tratamento de
água (ETA) é sua utilização em misturas com solos naturais em obras geotécnicas. Nessa
perspectiva, foram estudados os principais parâmetros geotécnicos de misturas de uma areia
laterítica com um lodo de ETA em proporções solo:lodo 3:1, 4:1, e 5:1 em massa úmida.
Realizaram-se ensaios de caracterização geotécnica, compactação, permeabilidade,
compressibilidade e resistência ao cisalhamento do solo e das misturas solo:lodo. A adição de lodo
não alterou significativamente as propriedades índices do solo, e as propriedades geotécnicas das
misturas mostraram-se aceitáveis para materiais de aterros compactados. Destaca-se a influência da
secagem prévia nos parâmetros de compactação das misturas, comprovada também para misturas de
lodo de ETA com argila laterítica. Os resultados mostram a possibilidade de reaproveitamento do
lodo de ETA em misturas com solo em obras geotécnicas, devendo ainda ser realizada avaliação
ambiental.

PALAVRAS-CHAVE: Lodo de ETA, Misturas Solo-Lodo, Solos Lateríticos, Compactação,


Compressibilidade, Resistência ao cisallhamento.

1 INTRODUÇÃO tipicamente dispostos em cursos de água sem


nenhum tratamento (PORTAL TRATAMENTO
O lodo de estação de tratamento de água (ETA) DE ÁGUA, 2018), embora a Resolução
é o resíduo gerado no processo de tratamento de CONAMA 430 (2011) estabeleça condições e
água bruta visando a produção de água potável. padrões de lançamento de efluentes em corpos
O lodo de ETA, em geral, é composto de água, d’água que devem ser verificados em cada caso.
sólidos suspensos e produtos químicos Diversas pesquisas têm sido realizadas
adicionados no processo de tratamento (cal, visando a disposição final benéfica do lodo de
cloro, cloreto férrico e/ou sulfato de alumínio, ETA ou seu reaproveitamento em diferentes
flúor, polímeros e outros). Os principais sólidos processos industriais, como: compostagem
presentes no lodo são substâncias inorgânicas (SILVA; FERNANDES, 1998), material de
(partículas de solo, cálcio, magnésio, ferro, cobertura em aterros sanitários (RODRÍGUEZ
manganês, hidróxidos de alumínio etc.) e et al., 2011), disposição em estações de
orgânicas (algas, bactérias, vírus, e partículas de tratamento de esgoto (DI BERNARDO;
resíduos orgânicos). Apesar do baixo teor de CARVALHO; SCALIZE, 1999), fabricação de
sólidos, os lodos de ETAs são considerados elementos cerâmicos (MONTEIRO et al., 2008;
resíduos sólidos de acordo com a NBR 10004 MORITA et al., 2002), uso como filler na
(ABNT, 2004). fabricação de concreto asfáltico (DA SILVA,
No Brasil, os lodos de ETA têm sido 2008; MARTINEZ, 2014), recuperação de áreas
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degradadas (MOREIRA et al., 2009), uso na com lodo de ETA utilizando, principalmente, o
agricultura e silvicultura (MACHADO et al., solo arenoso laterítico da região de Botucatu.
2004), entre outros. Adicionalmente, utilizou-se um segundo
Uma alternativa promissora de disposição solo, uma argila laterítica coletada na região de
e/ou reaproveitamento do lodo de ETA é a sua Campinas, com o objetivo de comparar os
utilização em misturas com solos naturais para parâmetros de compactação das misturas e o
obras de terra. Solos de propriedades efeito da secagem.
geotécnicas adequadas misturados com lodo de
ETA em baixa quantidade, para não alterar 2.2 Metodologia
significativamente as propriedades do solo,
podem apresentar comportamento satisfatório A caracterização geotécnica dos solos, do lodo e
como material de construção em diversas obras de misturas solo:lodo foi realizada mediante os
geotécnicas. ensaios de granulometria, massa específica dos
Este artigo tem como objetivo apresentar o gãos e limites de Atterberg.
comportamento geotécnico de misturas de uma A caracterização química e mineralógica da
areia laterítica da Região de Botucatu com lodo areia de Botucatu e do lodo da ETA Cubatão foi
da ETA do Município de Cubatão, São Paulo, previamente realizada por Zanón (2014), e
em distintas proporções. O estudo compreendeu Montalvan e Boscov (2016). A argila de
a realização de ensaios de caracterização Campinas foi caracterizada por Boscov et al.
geotécnica, compactação, compressibilidade, (2010) e Gabas et al. (2016).
permeabilidade, e resistência ao cisalhamento. Foram preparadas misturas solo:lodo, com a
Com isso, definiram-se os teores de lodo que areia de Botucatu, nas proporções 5:1, 4:1 e 3:1
podem ser adicionados sem a ocorrência de (proporção solo:lodo em massa úmida). As
perda significativa da qualidade geotécnica do misturas foram submetidas a ensaios de
solo natural compactado. Considerando que compactação com energia Proctor normal em
Montalvan e Boscov (2016) reportaram distintas umidades iniciais, obtidas por secagem
significativa influência da secagem prévia nos ao ar e à sombra.
parâmetros de compactação de uma mistura Adicionalmente, foram preparadas misturas
areia:lodo, neste trabalho também foi solo:lodo utilizando a argila de Campinas, na
investigada essa influência para outras misturas proporção 4:1 (massa úmida). Foram realizados
areia:lodo e para uma mistura de uma argila ensaios de compactação Proctor normal para
laterítica com o mesmo lodo. avaliar o efeito da secagem prévia nos
parâmetros de compactação.
2 MATERIAIS E MÉTODOS Todas as misturas foram preparadas com os
solos nas suas respectivas umidades
2.1 Materiais higroscópicas, ~1% para a areia e ~3% para a
argila. Foram utilizados dois lotes de lodo, o
O lodo empregado foi coletado na ETA do primeiro com teor de umidade ~350% foi usado
município de Cubatão. A ETA tem uma nas misturas com a areia de Botucatu. O
capacidade de produção de água potável de segundo lote com teor de umidade ~270% foi
4500 L/s, utiliza o cloreto férrico como agente usado nas misturas com a argila de Campinas.
coagulante, e emprega centrífugas como método Ensaios de adensamento unidimensional,
de desaguamento do lodo, produzindo lodo com permeabilidade em permeâmetro de parede
teor de umidade de aproximadamente 300% flexível e compressão triaxial do tipo adensado
(25% de teor de sólidos). não drenado foram realizados apenas com a
O foco desta pesquisa é o estudo do areia Botucatu e suas misturas com lodo nas
comportamento geotécnico de misturas de solo mesmas proporções utilizadas nos ensaios de
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compactação. com e sem uso de hexametafosfato de sódio


Os ensaios de caracterização, compactação e (defloculante) no ensaio de sedimentação.
adensamento foram realizados segundo as Na Tabela 1 são apresentados os valores de
normas da Associação Brasileira de Normas massa específica dos grãos, limites de Atterberg
Técnicas (ABNT). Os ensaios de e classificação dos materiais segundo o Sistema
permeabilidade em permeâmetro de parede Unificado de Classificação de Solos (SUCS). A
flexível e compressão triaxial foram executados areia de Botucatu, a argila de Campinas e o lodo
segundo as orientações das normas da American de ETA foram classificados como Areia
Society for Testing Materials (ASTM). Argilosa (SC), Argila de Baixa
Compressibilidade (CL) e Silte de Alta
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES Compressibilidade (MH), respectivamente. As
misturas do solo Botucatu com o lodo
3.1 Caracterização Geotécnica apresentaram a mesma classificação de areia
argilosa SC.
Na Figura 1 são apresentadas as curvas
granulométricas dos solos, do lodo e das Tabela 1. Caracterização Geotécnica dos Materiais.
misturas solo:lodo. Não se observa diferença Massa
Classi-
significativa entre a distribuição granulométrica específica LL IP
Solo
dos grãos (%) (%)
ficação
da areia de Botucatu e suas misturas com lodo. g/cm³) SUCS
Esse comportamento era o esperado devido à Solo Botucatu (B) 2,69 31 14 SC
porcentagem de lodo (massa seca) acrescentada Solo Campinas (C) 2,98 45 20 CL
ser muito baixa, variando de 4,5% para a Lodo Cubatão
2,90 239 158 MH
úmido w~350%
mistura 5:1 até 7,5% para a mistura 3:1. Lodo Cubatão seco
- - NP -
A curva granulométrica do lodo mostra uma w~14%
alta porcentagem de finos (<0,075 mm), ~95%, Solo B + Lodo (5:1) 2,686 32 14 SC
Solo B + Lodo (4:1) 2.701 32 15 SC
e ~69% da massa seca com diâmetro <0,002 Solo B + Lodo (3:1) 2.706 33 16 SC
mm. Para a argila de Campinas, esses valores
são também elevados, ~78% e 52%, O lodo apresentou valores de limite de
respectivamente. liquidez (LL) e índice de plasticidade (IP) muito
superiores àqueles apresentados pelos solos.
100
Diversos autores têm reportado que o lodo de
90
ETA apresenta valores elevados dos limites de
80
Atterberg. Watanabe et al. (2011) determinaram
Porcentagem que passa (%)

70
valores de LL variando de 83 a 511%, e de IP
60
de 23 a 325%.
50
Lodo
No entanto, o lodo de ETA apresenta valores
40
Lodo (sem defloculante) de LL e IP elevados apenas quando úmido;
30 Areia Botucatu
Mistura 3:1 (Botucatu) quando seco, apresenta-se como não plástico
20 Mistura 4:1(Botucatu)
Mistura 5:1 (Botucatu)
(HSIEH; RAGHU, 1997; BASIM, 1999;
10
Argila Campinas RODRIGUEZ et al., 2011; WATANABE et al.,
0
0.0001 0.001 0.01 0.1 1 10 100 2011). Esse comportamento também foi
Diâmetro dos grãos (mm)
encontrado no lodo da ETA Cubatão (Tabela 1).
Figura 1. Curvas Granulométricas dos Materiais. Na Figura 2 pode-se ver o lodo em estado
úmido (teor de umidade w~350%), com
O forte efeito do coagulante (cloreto férrico) consistência plástica, e no estado seco (secagem
no lodo é claramente observado na pela ao ar, w~14%), com aparência granular e
comparação das curvas granulométricas obtidas comportamento não plástico.
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2.05

1.95

Massa específica aparente seca (g/cm³)


1.85

1.75

1.65

1.55

1.45
Areia Botucatu (wi=8,6%) M4:1 sem secagem (wi=19,2%)
Areia Botucatu (wi=1,0%) M4:1 (wi=14,5 %)
1.35 Areia Botucatu (wi=0,9%) M4:1 (wi=10,8 %)
M3:1 sem secagem (wi=24,5%) M4:1 (wi=8,0%)
M3:1 (wi=16,9%) M5:1 sem secagem (wi=15,3%)
1.25 M3:1 (wi=13,5%) M5:1 (wi=12,3%)
M3:1 (wi=9,7%) M5:1 (wi=7,6%)
1.15
8 10 12 14 16 18 20 22 24 26
Teor de umidade (%)

Figura 3. Curvas de Compactação da Areia Botucatu e


Figura 2. Lodo da ETA Cubatão (úmido e seco). Respectivas Misturas Solo:lodo.

Uma explicação para o fato de os lodos 1.65

altamente plásticos na umidade in natura se 1.60

tornarem não plásticos após secagem, é a perda


Massa específica aparente seca (g/cm³)

1.55
da camada dupla e a consequente cimentação
1.50
das partículas, provocando a formação de
concreções, fortemente ligadas, de 1.45

comportamento granular (BASIM, 1999). 1.40

Ademais, deve-se considerar o efeito 1.35

cimentante dos produtos químicos presentes no 1.30 Secagem previa até w higroscópica ~3%

lodo. No caso estudado, o coagulante cloreto 1.25


Secagem prévia até w=21%
Sem secagem prévia w~25
férrico resulta em elevada concentração de ferro
1.20
no lodo (MONTALVAN; BOSCOV, 2016). 18 20 22 24 26 28 30 32 34

Teor de umidade (%)

3.2 Parâmetros de Compactação Figura 4. Curvas de Compactação da Argila de Campinas.

As curvas de compactação da areia de Botucatu, 1.70

da argila de Campinas e das correspondentes


misturas solo:lodo encontram-se nas Figuras 3 a
Massa específica aparente seca (g/cm³)

1.60

5. A argila mostrou aumento da massa


específica aparente seca máxima devido à 1.50

secagem prévia, comportamento típico laterítico


(BERNUCCI, 1995).
1.40
Por outro lado, a areia laterítica apresentou
semelhantes curvas de compactação para Argila Campinas
M4:1 sem secagem (wi=20,0%)
diferentes níveis de secagem prévia. Contudo, 1.30
M4:1 (wi=18,5%)
M4:1 (wi=11,5%)
as misturas com lodo foram influenciadas pela M4:1 (wi=5,0%)

secagem prévia, com aumento da massa 1.20


18.0 20.0 22.0 24.0 26.0 28.0 30.0 32.0 34.0 36.0
específica aparente seca máxima e diminuição Teor de umidade (%)

do teor de umidade ótimo (Figura 3), indicando


Figura 5. Curvas de Compactação das Argila de
que o lodo adicionado é responsável por tal Campinas e Respectivas Misturas Solo:Lodo.
comportamento.
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As curvas de compactação das misturas com lodo compactados nas mesmas condições
solo:lodo com a argila de Campinas também dos ensaios de adensamento. Os resultados são
apresentaram alteração significativa com a apresentados na Tabela 2.
secagem. Neste caso, uma parcela da influência Os ensaios foram executados com pressões
é devida à argila laterítica e outra ao lodo. de confinamento baixas, 30 e 60 kPa, e
gradientes hidráulicos (i) entre 5 e 10,
3.3 Adensamento unidimensional recomendados pela ASTM.
A condutividade hidráulica (k) da areia
Os ensaios de adensamento unidimensional laterítica variou entre 4x10-7 e 7x10-6 m/s,
foram realizados em corpos de prova valores, em geral, comuns para uma areia
compactados: a areia de Botucatu, na umidade argilosa adensada sob baixa tensão.
ótima (12,8%), e as misturas, nas suas
respectivas umidades de preparação (amostras Tabela 2. Condutividade Hidraúlica (k) da Areia Botucatu
sem secagem prévia na Figura 3). e suas Misturas com Lodo em Diferentes Proporções (em
A Figura 6 mostra as curvas de adensamento m/s).
unidimensional e os índices de compressão (Cc) Pressão Areia
i M5:1 M4:1 M3:1
Confinante Botucatu
da areia e de suas misturas com lodo. Pode-se 30 kPa 5 1x10-6 1x10-6 4x10-7 7x10-9
observar que a compressibilidade aumenta com 30 kPa 10 7x10-6 2x10-6 3x10-6 -
a proporção de lodo, o que é coerente com o 60 kPa 5 4x10-7 9x10-7 8x10-8 -
fato de que, quanto maior a proporção de lodo,
60 kPa 10 4x10-7 1x10-7 1x10-7 -
maior é o teor de umidade da mistura e menor a
massa específica aparente seca.
A mistura 5:1 apresentou valores de
Interessante observar que tanto o solo quanto
condutividade hidráulica próximos aos da areia
as misturas apresentaram o mesmo valor de
(2 a 4 vezes menores), variando entre 1x10-7 e
índice de recompressão (Cr= 0,02).
2x10-6 m/s. A mistura 4:1 apresentou valores
ligeiramente menores do que aqueles da areia,
0.74 Areia Botucatu (Cc=0,07) com variação de 2 a 20 vezes (8x10-8 a 3x10-6
M3:1 (Cc=0,19) m/s.
M4:1 (Cc=0,13)
0.64 M5:1 (Cc=0,14)
A mistura 3:1 apresentou condutividade
hidráulica com valor de 7,0x10-9 m/s quando
Índice de vazios

0.54
ensaiada com pressão confinante de 30 kPa e
gradiente hidráulico de 5.
0.44
A condutividade hidráulica determinada para
a areia e misturas com lodo nas proporções 5:1
0.34
e 4:1 é superior ao valor mínimo requerido para
camada de impermeabilização de fundo (bottom
liner) de aterros sanitários, 1x10-9 m/s (ABNT-
0.24
1 10 100 1000 10000 NBR 13896/1997). A mistura 3:1 apresentou
Tensão vertical efetiva (kPa) condutividade hidráulica de 7x10-9 m/s para a
Figura 6. Curvas de Adensamento da Areia Botucatu e tensão confinante de 30 kPa; esse valor pode
das Correspondentes Misturas Solo:lodo. talvez ser reduzido ao limite desejável sob as
tensões confinantes a que os revestimentos de
3.4 Permeabilidade fundo estão submetidos em campo.
Os requerimentos de permeabilidade para
Os ensaios de permeabilidade em permeâmetro uso como material de cobertura diária ou final
de parede flexível foram realizados em corpos em aterros sanitários são menos exigentes. Para
de prova da areia de Botucatu e de suas misturas tal aplicação, todas as misturas apresentam
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possibilidade de uso. adequado encostamento do pistão de carga axial


Durante o ensaio de permeabilidade da no início da fase de cisalhamento. Foi usada
mistura 3:1 (mistura com maior teor de lodo), a uma razão entre a tensão principal menor e a
condutividade hidráulica foi diminuindo até tensão principal maior igual a 0,8.
quase cessar a percolação. Depois de 47 dias de Os resultados são apresentados por meio dos
ensaio, o volume total percolado era de apenas diagramas de trajetória de tensões efetivas nas
0,7 volumes de vazios do corpo de prova. mostrados nas Figuras 8 a 11.
Decidiu-se interromper o ensaio, verificando-se Os parâmetros de resistência, coesão efetiva
a colmatação do papel filtro colocado entre a e ângulo de atrito efetivo, foram obtidos a partir
amostra e a pedra porosa. O corpo de prova dos diagramas de trajetória de tensões. Os
havia-se tornado preto, indicando a ocorrência resultados são apresentados na Tabela 3.
de reação química entre o lodo, o solo e a água
de percolação.
Na Figura 7 são apresentados, a título de 500
Areia Botucatu
Adensamento anisotrópico
comparação, os corpos de prova das misturas
Envoltória de resistência
5:1 e 3:1 após o ensaio de permeabilidade, q=(σ1 - σ3)/2 (kPa) 400 σ3c=50 kPa
mostrando a mudança de cor na mistura 3:1. σ3c=100 kPa
σ3c=200 kPa
300
β=29
200

100

d=18,5
0
0 100 200 300 400 500
p''=(σ1 + σ3)/2 (kPa)

Figura 8. Trajetória de Tensões Efetivas de Ensaio de


Compressão Triaxial do Tipo Adensado Não Drenado
com a Areia Botucatu.
Mistura 3:1 Mistura 3:1 Mistura 5:1

Figura 7. Corpos-de-prova dos ensaios de 350


permeabilidade. Adensamento anisotrópico Mistura 5:1
300 Envoltória de resistência
σc=50 kPa
q=(σ1 - σ3)/2 (kPa)

σc=100 kPa
3.4 Compressão Triaxial 250 σc=200 kPa

200
Os corpos de prova utilizados nos ensaios de
compressão triaxial foram compactados com as β= 29
150
mesmas especificações daqueles utilizados nos
ensaios de adensamento e permeabilidade. 100
Ensaios de compressão triaxial do tipo 50
adensado não drenado com medida de pressão d= 14
neutra foram executados. Com cada amostra 0
0 100 200 300
(solo e misturas) foram realizados três ensaios,
p'=(σ1 + σ3)/2 (kPa)
com tensões confinantes de 50, 100, e 200 kPa.
O adensamento foi do tipo anisotrópico, com Figura 9. Trajetória de Tensões Efetivas de Ensaio de
Compressão Triaxial do Tipo Adensado Não Drenado
o objetivo de se aproximar às condições que
com a Mistura 5:1.
ocorrem em campo, além disso, para ter um
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respectivamente.
A mistura 3:1 apresentou o maior ângulo de
350 atrito, com um valor de 37º, e o menor valor de
Adensamento anisotrópico Mistura 4:1
coesão efetiva, 10 kPa. A mistura 4:1
300 Envoltória de resistência
apresentou ângulo de atrito efetivo e coesão
σ3c=50 kPa
250
σ3c=100 kPa
efetiva com valores intermediários
q=(σ1 - σ3)/2 (kPa)

σ3c=200 kPa respectivamente de 35º e 15 kPa.


200
Esses resultados indicam que, quanto maior a
β= 30 quantidade de lodo acrescentado à areia de
150
Botucatu, maior é o ângulo de atrito efetivo e
100
menor a coesão efetiva.
50 Alguns autores têm determinado os
d= 12,5 parâmetros de resistência ao cisalhamento de
0 distintos lodos de ETA (WANG et al., 1992;
0 50 100 150 200 250 300 350
p'=(σ1 + σ3)/2 (kPa) ROQUE; CARVALHO, 2006; O’KELLY,
2008; O’KELLY; QUILLE, 2010). Os valores
Figura 10. Trajetória de Tensões Efetivas de Ensaio de para o ângulo de atrito efetivo têm variado entre
Compressão Triaxial do Tipo Adensado Não Drenado
com a Mistura 4:1.
39 a 44º com valor médio de 42º, e para a
coesão efetiva, entre 0 a 77 kPa com valor
350 médio de 11,2 kPa.
Adensamento anisotrópico Mistura 3:1 Baseados nos valores dos parâmetros de
300 Envoltória de resitência resistência reportados na literatura, pode-se
σ3c=50 kPa
dizer que o lodo de ETA, em geral, apresenta
q=(σ1 - σ3)/2 (kPa)

250
σ3c=100 kPa
elevado ângulo de atrito efetivo e baixa coesão
σ3c=200 kPa
200 efetiva. Esses valores podem explicar os
β= 31 resultados obtidos para as misturas da areia de
150
Botucatu com lodo da ETA Cubatão: com o
100 aumento do teor de lodo nas misturas, o ângulo
50 de atrito tende a incrementar a valores próximos
d= 8,0 de 40º e a coesão a decrescer a valores
0 próximos de 0 (zero).
0 50 100 150 200 250 300 350
Ao comparar os parâmetros de resistência
p'=(σ1 + σ3)/2 (kPa)
das misturas em estudo com aqueles dos solos
Figura 11. Trajetória de Tensões Efetivas de Ensaio de residuais utilizados na construção de diversos
Compressão Triaxial do Tipo Adensado Não Drenado
com a Mistura 3:1.
aterros de barragens (CRUZ, 1967), nota-se que
os valores obtidos para as misturas são, em
geral, maiores. Isso possibilita, em termos de
Tabela 3. Parâmetros de Resistência ao Cisalhamento em
Termos de Tensões Efetivas. resistência, o uso das misturas da areia de
Areia Botucatu com lodo da ETA Cubatão como
Parâmetro M5:1 M4:1 M3:1
Botucatu material de construção em aterros.
c’ (kPa) 22 17 15 10
’ (º) 34 34 35 37 4 CONCLUSÕES

De acordo com o SUCS, o lodo da ETA do


A areia e a mistura 5:1 apresentaram o menor Município de Cubatão, a areia de Botucatu e a
valor de ângulo de atrito efetivo, 34º, e os argila de Campinas são classificados como MH,
maiores valores de coesão efetiva, 22 e 17 kPa, SC, e CL, respectivamente. As misturas têm a
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mesma classificação do solo utilizado. diária de aterros sanitários e em alguns casos até
O acréscimo de lodo ao solo não altera em camadas de cobertura final ou de
significativamente suas propriedades índice: revestimento de fundo.
granulometria, limites de Atterberg e massa A mistura 3:1 apresenta condutividade
específica dos grãos (Tabela 1). hidráulica aceitável para uso como material de
As misturas 3:1, 4:1 e 5:1, compactadas com revestimento de fundo (camada de
energia Proctor normal na respectiva umidade impermeabilização) em aterros sanitários,
de mistura (sem secagem prévia), apresentam porém, as misturas 4:1 e 5:1 não apresentam
menor massa específica seca que a areia de valores aceitáveis para serem utilizados nesse
Botucatu compactada na umidade ótima. tipo de aplicação.
A secagem prévia (ao ar) das misturas influi
nos parâmetros de compactação: a massa AGRADECIMENTOS
específica seca máxima aumenta e o teor de
umidade ótimo diminui com a redução do teor Os autores agradecem à FAPESP - Fundação de
de umidade inicial no ensaio de compactação. Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
As misturas compactadas na umidade de pelo apoio financeiro (processos 2013/50448-8
mistura são mais compressíveis que a areia de e 2017/24056-6).
Botucatu compactada no teor de umidade
ótimo. O índice de compressão da areia é 0,07 e REFERÊNCIAS
das misturas varia de 0,13 a 0,19. No entanto, o
índice de recompressão é praticamente igual ABNT – Associação Brasileira De Normas Técnicas.
para a areia (0,02) e as misturas (0,02 a 0,03). (1997). NBR 13896: Solo – Aterros de resíduos não
perigosos – Critérios para projeto, implantação e
Os valores de condutividade hidráulica das operação. Rio de Janeiro, 12p.
misturas 4:1 e 5:1 são ligeiramente menores que ABNT – Associação Brasileira De Normas Técnicas.
a da areia para as condições de pressão (2004). NBR 10004: Resíduos sólidos –
confinante e gradiente hidráulico estudadas. A Classificação. Rio de Janeiro, 71p.
mistura 3:1 tem condutividade hidráulica mais Basim, S. C. (1999). Physical and Geotechnical
Characterization of Water Treatment Plant Residuals.
baixa, da ordem de 10-9 m/s para tensão Doctoral Thesis, New Jersey Institute of Technology,
confinante de 30 kPa, podendo atingir valores New Jersey, US, 104p.
mais baixos sob as tensões confinantes a que Bernucci, L. L. B. (1995). Considerações sobre o
estão sujeitos revestimentos de fundo de aterros dimensionamento de pavimentos utilizando solos
sanitários. Ademais, essa mistura pode com o lateríticos para rodovias de baixo volume de trafego.
Tese de Doutora, Escola Politécnica, Universidade de
tempo colmatar meios porosos adjacentes São Paulo, São Paulo, 237p.
impedindo a percolação d’água. Boscov, M. E. G.; Hemsi, P. S.; Tsugawa, J. K. (2010).
A areia de Botucatu apresenta valores de Aluminum Solubilization and Cation Exchange in a
coesão efetiva de 22 kPa e ângulo de atrito Lateritic Clay Under Acidic Conditions. 6th ICEG –
efetivo de 34°. Para as misturas 5:1, 4:1 e 3:1, a International Congress on Environmental
Geotechnics, Proceedings, v. 2. p. 1368-1373, New
coesão efetiva diminui com o aumento do teor Delhi, India.
de lodo (variando de 10 a 17 kPa). O ângulo de Cruz, P. T. (1967). Propriedades de engenharia de solos
atrito efetivo, pelo contrário, aumenta (variando residuais compactados da região Centro-Sul do Brasil.
de 34° a 37°). THEMAG, DLP, EPUSP.
Da Silva, J. F. A. (2008). Comportamento De Concreto
As características e parâmetros de resistência
Asfáltico Tendo Lodo Da ETA Da Cidade De Manaus
e compressibilidade das misturas solo-lodo nas Como Fíler. Dissertação de Mestrado – Engenharia
proporções 3:1, 4:1 e 5:1, compactadas nas Civil, Universidade Federal do Amazonas, Manaus,
correspondentes umidades de mistura, 180 p.
apresentam valores aceitáveis para solos Di Bernardo, L.; Carvalho, E. De; Scalize, P. (1999).
Disposição de resíduos líquidos de ETAs em ETEs.
utilizados em aterros, em camadas de cobertura
Noções Gerais de Tratamento e Disposição Final de
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Comportamento Mecânico de um Solo Siltoso com Cal de


Carbureto
Jonatha Jalbem Monte de Matos
Universidade Federal do Amazonas, Grupo de Geotecnia (GEOTEC), Manaus, Brasil,
jalbemmonte@hotmail.com

Andréa Vanessa Carvalho Leal Corrêa


Universidade Federal do Amazonas, Grupo de Geotecnia (GEOTEC), Manaus, Brasil,
vanessa.carvalholeal@gmail.com

Lucas Fernandes Santos


Universidade Ferdeal do Amazonas, Grupo de Geotecnia (GEOTEC), Manaus, Brasil,
lucassantosplp@gmail.com

Cláudia Ávila Barbosa


Universidade Federal do Amazonas, Grupo de Geotecnia (GEOTEC), Manaus, Brasil,
claudiaavila.eng@gmail.com

Consuelo Alves da Frota


Universidade Ferdeal do Amazonas, Grupo de Geotecnia (GEOTEC), Manaus, Brasil,
cafrota@ufam.edu.br

RESUMO: O presente trabalho teve como objetivo verificar o comportamento mecânico de um solo
do tipo silte argiloso estabilizado com cal de carbureto, para diferentes procedimentos de cura, com
a finalidade de ser uma alternativa para a construção de pavimentos regionais e para o descarte
desse subproduto da fabricação do gás acetileno. Caracterizou-se o solo “in natura” e a composição
solo-4% de cal de carbureto, segundo parâmetros físicos e mecânicos. Os corpos de prova (CPs)
moldados segundo os parâmetros de compactação submeteram-se a 3 processos diferentes de cura:
dois com cura reduzida em estufa, sendo a diferença a proteção dos CPs para conservar a umidade,
e o terceiro durante um período de 7 dias. Verificou-se um bom desempenho das amostras com
relação à resistência à tração (RT) e as diferentes metodologias de cura, destacando-se os resultados
com a presença da cal de carbureto em cura normal de 7 dias.

PALAVRAS-CHAVE: Silte siltoso, Cal de carbureto, Resistência à tração.

1 INTRODUÇÃO afloramentos, em geral, situam-se muito


distantes da região urbanizada, além da
A formação geológica e a climatologia do ocorrência, em predominância, de uma espessa
Município de Manaus levam a busca por camada superficial de solo fino no subsolo de
materiais alternativos, que sejam tecnicamente e Manaus (BENTO & FROTA, 1998).
economicamente viáveis para pavimentação Corroboram com essa realidade, o alto índice
rodoviária. Haja vista que, materiais pétreos pluviométrico em um período de seis meses ao
superficiais, tradicionalmente utilizados nessas ano, a dificultar sobremaneira a execução de
estruturas não estão facilmente disponíveis. Os obras geotécnicas locais. Esses fatores
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ocasionam o aumento dos custos das obras de formação Alter do Chão (período Cretáceo
pavimentação. Superior). Também fazem parte da região,
Em outra vertente, vem sendo realizado na Depósitos de terraços aluvionares (Pleistoceno)
Engenharia uma constante busca para redução e Aluviões holocênicos (D’ANTONA et al,
de custos e dos impactos ambientais. 2007). Ressalta-se, no local, a presença de uma
Exemplifica-se o aproveitamento de resíduos crosta laterítica bem desenvolvida. Coletou-se
por meio da estabilização química de solos, esse material natural na Av. Grande Circular,
muitas vezes, uma das opções mais viáveis de situada no bairro Tarumã.
acordo com as necessidades locais. Esse tipo de
solução melhora as propriedades do solo a partir
da inserção de um ou mais aditivos, caso da cal
de carbureto, objeto do estudo em apreço.

A cal de carbureto já tem sido fonte de


pesquisas na área geotécnica, como observa
Consoli et al. (2001) ao investigar uma mistura
de solo arenoso compactado com cal de
carbureto observa uma melhora significativa
nas propriedades de resistência e rigidez,
mesmo com a característica não plática do solo
Figura 1: Perfil esquemático das camadas identificadas
utilizado. Simas et al. (2013) também em campo (Santos, L.F, 2017).
apresentan a cal de carbureto como uma boa
alternativa para a construção de pavimentos A cal de carbureto, constiui-se um
quando adicionada aos solo argiloso em subproduto da fabricação de gás acetileno. Foi
Manaus, o trabalho desenvolvido apresentou doada por um empresa do setor de construção e
uma diminuição no índice de plasticidade e pavimentação, instalada na cidade de
acréscimo na Resistência à Compressão Manaus/AM.
Simples.
Para HERRIN e MITCHELL (1961), 2.3 Ensaios de caracterização
aparentemente, não há um teor ótimo de cal
para alcançar a resistência máxima de um solo 2.3.1 Granulometria e limites de Atteberg
estabilizado.
Nesse contexto, estudou-se a inserção desse Determinou-se a granulomerra pela técnica de
aditivo em um solo característico da região de difração a laser no equipamento Mastersizer
Manaus. Teve-se como propósito o seu 2000 da Malvern. Aplicou-se 15 segundos de
emprego na construção de pavimentos locais, ultra-som, com deslocamento ultrassônico de
bem como uma destinação para o resíduo 12,5, em uma solução de água, solo, e três gotas
produzido pelas fábricas do gás acetileno. de hexametafosfato de sódio.
Os ensaios de Limite de Liquidez e Limite de
2 MATERIAIS E MÉTODOS Plasticidade realizaram-se conforme a NBR
6459/2016 e 7180/2016, respectivamente, para
2.1 Materiais o solo natural e mistura solo-4% de cal de
carbureto.
O solo participante desse estudo corresponde à
zona mosqueada, abreviado como M-02 2.3.2 Compactação
confome apresentado na Figura 1, do perfil
geológico da cidade de Manaus - AM, onde A compactação, similar aos ensaios de LL e LP,
predominam tais materiais inconsolidados da executaram-se para o solo “in natura” e
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composição, segundo a NBR 7182/2016 para F: Força de ruptura kN


energia modificada. O resultado do experimento d: Raio característico do cilindro, m²
obtem-se a curva de compactação que permite h: Altura do cilindro, m.
extrair os valores de massa específica aparente
seca máxima e teor de umidade ótima. Dados Na Figura 2 observam-se frisos metálicos na
necessários a moldagem, acompanhamento da parte superior e inferior, e a centralização do
densificação e da cura dos CPs. corpo de prova para receber a carga, nesse caso,
aplicado pelo pistão.
2.3.3 Moldagem dos corpos de prova e cura

Inicialmente, confeccionaram-se os corpos de


prova baseados nos parâmetros de compactação
massa específica aparente seca máxima (dmáx)
e umidade ótima (wot), na energia modificada.
Referente a cura, procedeu-se de três
maneiras. A primeira, chamada de cura rápida,
inseriram-se na estufa as amostras durante 24
horas a uma temperatura de 60°C sem proteção,
permitindo, assim, a perda de umidade. No
segundo caso, fez-se uma proteção plástica e
com papel alumínio, com intuito de conservar a
umidade. A terceira correspondeu ao processo
natural de cura durante 7 dias. Romperam-se Figura 2: Ensaio de tração por compressão diametral.
tais corpos de prova a 25ºC.
Determinaram-se para todos os corpos de 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
prova o peso, as umidades de moldagem e as
medidas do diâmetro e altura do cilindro, antes 3.1 Granulometria
e após a cura, e depois da ruptura. Há
necessidade desse controle para verificar, se A Figura 3 mostra os resultados da análise
houve no processo de cura e manuseio, perdas granulométrica do solo (amostra M-02), pelo
excessivas de umidade e aumento ou retração granulômetro a laser. Nota-se que há uma
do volume. predominância do silte (63,78%), seguidos da
fração areia (26,40%) e argila (9,82%). A partir
2.3.4 Ensaios de Resistência à tração desses dados classifica-se o solo como silte
areno-argiloso.
O ensaio de resistência à tração indireta
(compressão diametral), com amostras
cilíndricas, acompanhou a norma o DNER –
ME 181 (1994). Para o cálculo da resistência,
assume-se que o material se comporta de
maneira elástica, e que a ruptura se dá
unicamente por meio das tensões de tração
geradas uniformemente. Determinou-se a
resistência à tração pela equação 01.
4𝐹
𝑅𝑡 = (1)
𝜋𝑑ℎ

Rt: Tensão de tração, kN/m².


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47,50

47,00

46,50

46,00

Umidade (%)
45,50

45,00
y = -0,1448x + 49,106
44,50 R² = 0,9954

44,00

43,50
10 15 20 25 30 35 40
Figura 3: Curva granumétrica do solo. (Santos, L.F,
N⁰ de golpes
2017).
Figura 4: Limite de Liquidez, solo.
Determinaram-se, igualmente, por meio da
curva de distribuição granulométrica, os
49,00
coeficientes de curvatura (Cc) e uniformidade
(Cu), representados na Tabela 01. A ideia do 48,50

formato da curva permite detectar a 48,00


descontinuidade no conjunto. Conforme DAS
(2014), por assumir um valor menor que 1, 47,50
Umidade (%)

considera-se o solo como tendo uma má 47,00


graduação. Com relação ao Cu, quanto mais
próximo de 1, mais uniforme é o material. Por 46,50

mostrar um valor igual a 6, classificaram-se 46,00 y = -0,1445x + 50,547


ambos os solos como possuindo uma R² = 0,9936
45,50
uniformidade média.
45,00
Tabela 1: Percentual granulométrico e Coeficientes de 14,00 19,00 24,00 29,00 34,00
distribuição granulométrica do solo (amostra M-02). N⁰ de golpes

Argila Silte Are(ia Cu Cc


Amostra Figura 5: Limite de Liquidez, solo-4% de cal de
(%) (%) (%)
carbureto.
M-02 9,82 63,78 26,4 6,15 0,9714
O conjunto dos resultados da granulometria e
dos limites de consistência, classificaram-se o
3.2 Limites de Consistência solo e a composição solo-4% de cal de
carbureto, quanto a AASHTO como A-7-5 e de
Os respectivos valores de LL, LP e IP acordo com o SUCS como ML. Destaca-se que
determinados tanto para o solo natural como a adição da cal de carbureto ao solo indicou
para a mistura solo-4% de cal de carbureto, discretas alterações nos valores dos limites de
encontram-se dispostos na Tabela 02, e nas liquidez e plasticidade, por conseguinte, o IP se
figuras 4 e 5. manteve em torno de um mesmo resultado.

Tabela 2: Limites de Consistência. 3.3 Compactação


Amostra LL LP IP
Solo (M-02) 45 35 12 As Figuras 6 e 7 mostram os resultados dos
Solo-4% cal de ensaios de compactação, conforme a NBR
47 31 16
carbureto 7182/16. Percebe-se ligeiro aumento na massa
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específica seca máxima após a adição da cal de em média, 340 ml. No caso dos procedimento
carbureto, sendo máx = 1,634g/cm3 para o solo alusivos aos processos de cura 02 e 03,
natural e máx = 1,6881g/cm3 com a adição da constataram-se perdas insignificante da ordem
cal de carbureto. de 6 ml, em média, para cada CP. De maneira
geral, não percebeu-se variações excessivas dos
volumes (retração). Mas, destaca-se,
novamente, a resposta diferenciada do primeiro
Massa especifica aparente seca (g/cm³)

procedimento de cura, apresentando variações


1,61
de 10 cm³ e 30 cm³ para a mistura solo-4% de
cal e solo natural, respectivmente.

1,57 3.5 Comportamento mecânico

y = -0,0028x2 + 0,1194x + 0,3343 Todos os corpos de prova das composições


1,53
R² = 0,9964 submetidos ao processo de cura 01 e 02 não
16 18,5 21 23,5 26 romperam e atingiram a capacidade máxima da
Umidade (%)
máquina. Logo, os valores presentes na Tabela
3 dizem respeito ao momento de parada total do
Figura 6: Curva de compactação do solo. atuador de aplicação da força. Uma melhor
representação dessa situação pode ser vista na
Figura 8 gerada pelo programa do equipamento
Massa especifica aparente seca (g/cm³)

1,69
alusivo as misturas, ao ser comparada com o
resultado para o solo natural (Figura 9). Nesse
1,64
caso (Figura 8), tem-se a fase de aplicação da
força atingindo 11,3 kN que se estende de 0 a
107 segundos e uma fase de estabilização de
1,59 107 a 260 segundos, até a parada total do
atuador. Na Figura 9, observa-se uma ruptura
y = -0,0061x2 + 0,2462x - 0,8151
brusca com a tensão máxima igual a 0,27 MPa.
R² = 0,9883
1,54
16,00 17,00 18,00 19,00 20,00 21,00 22,00 23,00 24,00 25,00 26,00

Umidade (%)
Tabela 3: Valores da Resistência à Tração.
RT
Amostra
(MPa)
Figura 7: Curva de compactação da composição solo-4% Processo de cura 01 solo 0,27
de cal de carbureto. (24hs estufa, sem
proteção) solo+4% de cal 1,32
3.4 Variação de volume e perdas de umidade Processo de cura 02 solo 0,37
(24hs estufa, com
proteção) solo+4% de cal 0,88
Consoante ao processo de cura, observou-se
Processo de cura 03, solo 0,39
perdas excessivas de umidade para o primeiro (7 dias) solo+4% de cal 0,80
procedimento de cura (01). Era esperado esse
comportamento, posto que os CPs estavam
expostos por 24 horas ao ambiente da estufa à
60°C. No entanto, as amostras moldadas com
cal de carbureto mostraram reter mais água
relativas ao solo natural, possivelmente pela
hidratação da cal. Verificaram-se a perda para
as composições em torno de 250 ml de água
para cada CP, e, concernente ao solo natural,
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Neste caso, evidencia-se a necessidade de


proteger os corpos de prova contra a perda de
umidade no processo de cura acelerada,
porquanto esta pode ser responsável pelo
aumento artificial da resistência.
É importante lembrar que os CPs das
misturas, submetidos ao processo de cura 01 e
02, não romperam, sendo possível considerar
que as resistências podem ser maiores aquelas
Figura 8: Compressão diametral, CPs com 4% de cal, não
romperam.
explicitadas na Tabela 03. Além disso,
diferentemente da formulação solo-cimento, a
cal demanda um período maior de cura para que
haja reações químicas responsáveis pelo
aumento da resistência (Boscov, 1978).
Com as análises realizadas pode-se afirmar
que a utilização de cal de carbureto, como
aditivo ao solo silte argiloso regional,
proporciona eficácea em sua interação, visto os
relevantes ganhos de resistência. Porém, há
necessidade de ampliar estudos referentes ao
Figura 9: Ensaio de compressão diametral, CPs com solo tempo de cura em virtude dos distintos
natural, ruptura brusca. resultados para diferentes processos de cura,
bem como a realização de outros tipos de
ensaios mecânicos.
4 CONCLUSÕES

A adição cal de carbureto manteve os índices de


REFERÊNCIAS
consistência quase inalterados e exibiu um
aumento da massa específica aparente seca ABNT – Associação Brasileira De Normas Técnicas.
máxima. ______. NBR 6459-16, Solo: Determinação do Limite de
Em todos os cenários de cura e tendo a Liquidez, (1984).
presença da cal de carbureto, houve aumento na ______. NBR 7180-16, Solo: Determinação do limite de
RT (comparando com a cura do solo natural Plasticidade, (1984).
______. NBR 7182-16, Solo: Ensaio de Compactação,
para os processos 2 e 3) bastante significativo, (1986).
passando de um ganho de 200%. Bento, A.H.; Frota, C.A. (1998). Mapeamento geotécnico
Notou-se, no entanto, a diferença de da área urbana de Manaus, AM. Anais... III Simpósio
resultados para distintos procedimentos de cura. Brasileiro de Cartografia Geotécnica. Florianópolis,
O processo 01 de cura do solo natural em SC.
Boscov, M.E.G. Estudo comparativo do comprtamente de
relação aos dois outros apresentou solo saprolítico e de um solo lateríticos estabilizado
discordâncias de 30% na RT, tendo ainda perda com cal 1987. 157 f. Dissertação de (Mestrado) USP,
excessiva de água. Este fato, contribuiu para a São Paulo, 1987.
fragilidade das amostras, enquanto nas Consoli, N.C.; Prietto, P.D.M.; Carraro, J.A.H.; Heineck,
situações 02 e 03 a resistência manteve K.S. (2001). Behavior of compacted soil-fly ash-
carbide lime mixtures, Journal of Geotechnical and
aproximadamente no mesmo valor. Em Geoenvironmental Engineering. Vol. 127, Nº 9,
contrapartida, quando submetida à cura p.774-782.
acelerada sem proteção (01), a composição Costa, M.L. (1991). Aspectos geológicos dos lateritos da
solo-4% de cal de carbureto teve efeito inverso, Amazônia. Revista Brasileira de Geociências. 21(2):
houve incremento de quase 35% de resistência 146-160.
D’Antona, R.J.G., Reis, N.J., Maia, M.A.M., Rosa, S.F.,
em confronto aos outros procedimentos de cura. Nava, D.B. (2007). Projeto Materiais de Construção
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da Área Manacapuru – Iranduba – Manaus – Careiro


(Domínio Baixo Solimões). CPRM – Serviço
Geológico do Brasil, Superintendência Regional de
Manaus. Manaus, 161p.
DNER-ME 181/1994. Solo estabilizado com cinzas
volantes e cal hidratada – determinação da resistência
à tração por compressão diametral Publicação IPR –
179. Ministério dos transportes. Departamento
nacional de infra-estrutura de transportes, Instituto de
pesquisas rodoviárias.
Gonçales, S.C.B.; Miranda, J.S.N. (2014). Caracterização
da Qualidade das Águas Subterrâneas do Aquífero
Alter do Chão, Estudos de Caso das Estaҫões da Rede
de Monitoramento de Águas Subterrâneas (RIMAS –
CPRM) no Município de Manaus-Am. In: XVIII
CONGRESSO BRASILEIRO DE ÁGUAS
SUBTERRÂNEAS. 2014, Belo Horizonte:
Anais...Minas Gerais: ABRH.
Herrin, M.; Mitchell, H. Lime-soil Mixtures. Highway
Research Board Bulletin, Washington, D.C., v.304,
p.99-121, 1961.
Santos, L.F.; Estudo Geotécnico De Solos Típicos Da
Região De Manaus E De Misturas Solo-Cal De
Carbureto. 2017, Manaus-AM.
Simas, L.P.; Valença, P.M.A.; Ferreira, M.R.P.; Frota,
C.A. (2013). Uso de passivos ambientais para a
pavimentação de vias urbanas em Manaus-AM.
Revista Ciência & Engenharia (Science &
Engineering Journal). Vol. 22, Nº 1, p.13-20.
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Composição Gravimétrica dos Resíduos Domiciliares da Região


Administrativa Leste do Município de Teresina/PI
Anderson do Nascimento Sousa
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife, Brasil, anderson.nnasc@outlook.com

José Fernando Thomé Jucá


Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife, Brasil, jucah@ufpe.br

João Francisco Oliveira Nery


Centro Universitário UNINOVAFAPI, Teresina, Brasil, joaodolixo8@hotmail.com

Domingos Brasil da Silva Junior


Faculdade do Piauí (FAPI), Teresina, Brasil, Domingos.flp20@hotmail.com

Jerônimo da Silva Sales


Faculdade do Piauí (FAPI), Teresina, Brasil, jeronimo111@outlook.com

João Paulo Ferreira de Oliveira


Faculdade do Piauí (FAPI), Teresina, Brasil, joaopaulo.jp17@hotmail.com

RESUMO: Os resíduos sólidos domiciliares possuem características e composições bem


diversificadas, variando em função de padrões de consumo, características socioeconômicas e
aspectos culturais. Nesse sentido, faz-se necessário conhecer os componentes desses resíduos por
meio da composição gravimétrica. Esse estudo teve como objetivo determinar a composição
gravimétrica dos resíduos domiciliares gerados na região administrativa Leste da cidade de
Teresina/PI, utilizando uma classificação detalhada que permita aos agentes envolvidos um panorama
das possibilidades de aproveitamento dos resíduos, bem como avaliar a variação dessa composição
nas subzonas que compõe essa região. Assim, determinou-se um percentual de orgânicos (34,24%) e
recicláveis (38,66%), indicando a viabilidade tanto para processos de aproveitamento biológico,
como para recuperação de materiais recicláveis nessa área da cidade.

PALAVRAS-CHAVE: Resíduos Sólidos Domiciliares, Composição Gravimétrica, Aproveitamento


de Resíduos, Reciclagem.

1 INTRODUÇÃO residências urbanas. Na PNRS, os resíduos não


perigosos, também podem ser equiparados aos
Letcher e Vallero (2011) apontam que os RSD pelo poder público municipal em razão de
resíduos sólidos domiciliares (RSD) são os mais sua natureza, composição ou volume.
próximos da sociedade, mas, apesar das Monteiro et al. (2001) aborda que as
melhores taxas de coleta, ainda representam um características dos resíduos sólidos urbanos
desafio para autoridades municipais de todo o (RSU) podem variar em função de aspectos
mundo. sociais, econômicos, culturais, geográficos e
Na Política Nacional de Resíduos Sólidos climáticos, ou seja, os mesmos fatores que
(PNRS), são classificados como RSD os também diferenciam as comunidades entre si e
originários de atividades domésticas em as próprias cidades.
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Partido do pressuposto que a geração e de reutilização, reciclagem ou aproveitamento


composição dos resíduos dependem de fatores energético.
culturais (nível e hábito de consumo), renda, A composição gravimétrica média brasileira é
clima e características populacionais, esses apresentada na tabela 1, resultado reportado por
aspectos são altamente variáveis. Assim, dentro IPEA (2012) a partir da média simples da
dos municípios podem ocorrer diferenciações composição gravimétrica de 93 municípios
entre as regiões administrativas, e até mesmo nos brasileiros, pesquisados entre 1995 e 2008.
próprios bairros.
Diante do exposto, Soares (2011) defende Tabela 1. Composição gravimétrica média brasileira
que, além dos fatores já reportados, as segundo IPEA (2012)
Materiais Participação %
características dos RSU se modificam ao
Matéria orgânica 51,4
decorrer dos anos. Logo, são necessários Metais 2,9
programas periódicos de caracterização dos Papel, papelão e tetrapak 13,1
resíduos gerados, a fim de ajustar e otimizar o Plástico 13,5
gerenciamento dos resíduos sólidos a essas Vidro 2,4
Material reciclável 31,9
transformações.
Outros 16,7
A autora supracitada revela que esses
programas de caracterização devem envolver
A cidade de Teresina, é a capital do estado do
investigações das características biológicas,
Piauí, situado geograficamente no Meio-Norte
químicas e físicas, sendo que esse último grupo
ou Nordeste ocidental do Brasil, tendo como
é essencial em toda e qualquer caracterização de
limites o Oceano Atlântico ao norte, os estados
resíduos, uma vez que orienta a investigação das
do Ceará e de Pernambuco à leste, Bahia e
demais características e influencia em diversos
Tocantins ao Sul e o estado do Maranhão a oeste.
aspetos da gestão dos RSU.
De acordo com dados de 2018 do Instituto
Um dos principais aspectos que devem ser
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no
investigados, diz respeito a composição
censo demográfico de 2010, Teresina possuía
gravimétrica, ou seja, na determinação do
uma população de 814.230 habitantes, em uma
percentual em massa de cada um dos
área de 1.392 km² correspondente à 0,55% do
componentes em relação ao peso total de uma
estado do Piauí, sendo 83% composta por zona
determinada amostra analisada.
rural e 17% urbana. A população estimada para
Para Juca et al. (2014a), a composição
o ano de 2017 foi de 850.198 habitantes,
gravimétrica tem uma importância fundamental
indicando assim, uma taxa de crescimento em
no manejo dos RSU, pois permite o
relação ao ano de 2010 de 0,43%.
conhecimento dos materiais que compõe a massa
De acordo com SEMPLAN (2016), a capital
de resíduo, permitindo assim o dimensionamento
piauiense possui um mosaico urbano complexo,
do sistema de coleta, seleção da melhor técnica
resultado de sua ocupação gradativa, em que
de tratamento e dimensionamento de aterros
cada região vivenciou diferentes circunstâncias e
sanitários.
momentos políticos. Assim, o perfil dos
Reforçando a importância da composição
aglomerados urbanos de Teresina foi definido
gravimétrica, Juca et al. (2014b), indica que
com o tempo, assim esses aglomerados
através desse tipo de estudo é possível a
necessitam de abordagens diferenciadas.
identificação do potencial de valorização dos
Nesse sentido, por motivos administrativos, a
resíduos, a partir da determinação das frações
área urbana de Teresina foi dividida em quatro
recicláveis (passíveis de comercialização),
regiões administrativas (Centro/Norte, Sul, Leste
matéria orgânica (passível de utilização para
e Sudeste), cada uma delas ficando sob a
produção de compostos orgânicos e indicador de
responsabilidade político-administrativa de uma
potencial de aproveitamento energético), bem
Superintendência de Desenvolvimento Urbano
como outras frações passíveis de alguma forma (SDU), criadas através da Lei Nº 2.960 e 2.965,
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de 26 de dezembro de 2000, com a finalidade de infraestrutura socioeconômica e cultural da


colocar os serviços prestados mais próximos da cidade de Teresina, revela que, em função das
população teresinense. diferentes épocas de ocupação, é possível
Em função do complexo mosaico urbano da delimitar os mais diversos perfis
capital piauiense, a Secretaria Municipal de socioeconômicos nessa região. No entanto é
Planejamento e Coordenação (SEMPLAN), possível delimitar três regiões de características
aponta necessidade de dividir as regiões socioeconômicas e infraestrutura urbana
administrativas da cidade de Teresina de modo a relativamente uniformes, por meio das Subzonas
se obter delimitações geográficas que guardam Leste I, Leste II e Leste II.
entre si menores distâncias e maiores Nesse contexto, a área mais nobre da região
semelhanças e que, por essas razões, merecem administrativa leste é a Subzona Leste I (região
intervenções diferenciadas do poder público, do bairro de Fatima e Jóquei), que deu origem a
dividindo as regiões administrativas de Teresina, essa região administrativa e concentra boa parte
em 10 Subzonas, da seguinte forma: Leste (Leste da renda e infraestrutura urbana da cidade de
I, Leste II e Leste III), Sul (Sul I e Sul II), Teresina.
Centro/Norte (Norte I, Norte II e Centro) e Em seguida, apesar de ser a área mais recente
Sudeste (Sudeste I e Sudeste II). da região administrativa Leste, a Subzona Leste
Dentre essas regiões administrativas, optou- III (região do bairro São Joao, Noivos e Recanto
se por estudar a região administrativa leste das Palmeiras), teve seu desenvolvimento
devido a sua importância no contexto socioeconômico impulsionado pela instalação do
socioeconômico da cidade, possuindo três Teresina Shopping, Faculdade CEUT e do
regiões de características bem distintas nas quais Centro de Eventos Atlantic City.
é possível de delimitar de forma bem clara as Por fim, a região com menor
variações de poder aquisitivo. desenvolvimento socioeconômico da região
O trabalho teve por objetivo determinar a administrativa Leste é a Subzona Leste II (região
composição gravimétrica dos resíduos do Planalto Uruguai e Piçarreira), localizada no
domiciliares gerados na região administrativa vetor de expansão leste da cidade de Teresina,
Leste da cidade de Teresina/PI, utilizando uma cujo desenvolvimento, a princípio, esteve
classificação detalhada dos resíduos, que permita associado a invasões, realidade que vem sendo
aos agentes envolvidos um panorama das substituída por meio da ocupação de pessoas de
possibilidades de aproveitamento dos resíduos, melhor poder aquisitivo.
bem como avaliar a variação dessa composição
nas subzonas que compõe essa região. 2.2 Procedimentos

O estudo é voltado para analisar a composição


2 METODOLOGIA gravimétrica dos RSD gerados na região
administrativa Leste da cidade de Teresina/PI,
2.1 Área de estudo por meio da amostragem dos caminhões de
coleta das rotas que a atendem.
A região administrativa Leste foi escolhida em Para que toda a região administrativa Leste e
função da sua posição de destaque no cenário suas subzonas fossem representadas
socioeconômico da cidade de Teresina. amostraram-se os setores de coleta dos bairros
SEMPLAN (2016) relata que essa região da tradicionais e dos mais recentes das três
cidade possui a melhor infraestrutura da área subzonas dessa região administrativa. Os setores
urbana, com uma atividade empresarial bastante de coleta selecionados por subzona para a
ativa, sendo o domicílio das pessoas de melhor pesquisa são indicados na tabela 2.
poder aquisitivo da capital.
O autor supracitado, no diagnóstico da
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Tabela 2. Setores de coleta convencional selecionadas (v) segregação das frações dos resíduos e
Setor de acondicionamento, sem compactação, em
Subzona Frequência Turno
coleta
recipientes identificados e correspondentes
04-16 S-Q-S Noturno
Leste I aos respectivos componentes;
04-30 S-Q-S Noturno
01-35 T-Q-S Diurno (vi) pesagem dos resíduos com o auxílio de uma
Leste II 01-41 T-Q-S Diurno balança mecânica (Marca Micheletti,
04-06 S-Q-S Noturno modelo MIC-2/B) com capacidade máxima
04-18 S-Q-S Noturno de 300 kg e sensibilidade de 0,100 kg;
Leste III
04-20 S-Q-S Noturno
(vii) registro das pesagens nas fichas, para serem
plotados posteriormente em planilhas,
A análise gravimétrica desses setores ocorreu
utilizando o software Microsoft Excel 2016.
no Aterro controlado da Cidade de Teresina/PI,
Em relação a classificação utilizada na
localizado no bairro Santo Antônio, durante o
gravimetria, seguiu-se uma adaptação da
mês de dezembro de 2017, nos períodos manhã
metodologia já adotada por Juca et al. (2014b) e
e tarde, a partir da amostragem dos caminhões de
Silva (2015). Esses autores se basearam na
coleta, que foram direcionados para uma área
classificação utilizada na Comunidade
previamente impermeabilizada na frente de
Econômica Europeia - CEE.
operação, após a pesagem na balança.
Por fim, os resíduos foram classificados em
Feito o processo de amostragem, os resíduos
10 classes e 32 subcategorias de frações dos
eram encaminhados em tambores de 200 litros
resíduos, conforme indicado na tabela 3.
para um galpão cedido pela Associação do
Comércio Agropecuário do Piauí (ACAPI), no Tabela 3. Classes e Subcategorias de Resíduos
próprio aterro, onde ocorreu a separação e Classes Subcategoria
pesagem das frações delimitadas no estudo. (1) resíduos alimentares
Matéria (2) resíduos de jardim
O procedimento de amostragem foi realizado orgânica (3) madeira
conforme a norma ABNT NBR 10.007: 2004, (4) dejetos animais
(5) papel
seguindo uma adaptação da metodologia adotada Papel/Cartão (6) papelão
nos trabalhos de Mariano et al. (2007), já (7) jornal/revista/panfletos
(8) PET
utilizada em vários trabalhos similares, como (9) PEAD
Alcântara (2007), Maciel (2009), Firmo (2014), (10) PVC
Plásticos (11) PEBD
Juca et al. (2014b) e Silva (2015). (12) PP
A metodologia utilizada no processo de (13) PS
(14) outros plásticos
amostragem pode ser descrita da seguinte forma: (15) resíduos de embalagens de vidro
Vidro
(i) descarga dos RSU pelo caminhão (16) outros resíduos de vidro
(17) resíduos compósitos
compactador em uma área pré-determinada Compósitos (18) tetra Pak®
na frente de operação, protegida com lona; (19) aparelhos/componentes eletroeletrônicos
Resíduos
(ii) rompimento dos sacos e homogeneização têxteis
(20) resíduos têxteis
prévia com o auxílio da escavadeira Sanitários (21) sanitários
hidráulica; (22) cobre
Metais (23) ferro
(iii) separação dos resíduos em quatro pilhas, (24) alumínio
com eliminação de duas diametralmente (25) pilhas/acumuladores
(26) tubos florescentes/lâmpadas de baixo
opostas, fazendo mistura e homogeneização Resíduos
consumo
Perigosos
das duas restantes, e repetindo-se esse (27) contaminantes
(28) outros resíduos perigosos
procedimento duas vezes; (29) isopor,
(iv) rompimento dos sacos, nova Outros (30) minerais,
Resíduos (31) couro/borracha
homogeneização, coleta e amostragem de 2 (32) restos
tambores de 200 litros dos resíduos,
utilizando 5 pontos da pilha final, 4 na base
e 1 no topo;
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2.3 Análise do Potencial de Aproveitamento forma: Matéria Orgânica (34,24%), Papel/Cartão


(13,93%), Plástico (14,69%), Vidro (5,98%),
A PNRS prevê como destinação final Compósitos (2,45%), Têxteis (3,18%),
ambientalmente adequada aquela que contempla Sanitários (8,53%), Metais (2,49%), Resíduos
a reutilização, a reciclagem, a compostagem, a Perigosos (0,28%) e Outros Resíduos (14,24%).
recuperação e o aproveitamento energético dos Na figura 1 são apresentados os resultados da
resíduos. composição gravimétrica da região
Nesse sentido, Jucá et al. (2014b) propõe um administrativa Leste e de suas subzonas. É
agrupamento das classes previstas na possível observar que houve variações
composição gravimétrica em três grandes grupos significativas na maioria das subcategorias
de resíduos: avaliadas, no entanto, tomando como exemplo a
(i) Putrescíveis: passíveis de processos fração dos resíduos alimentares, a variação
biológicos e, possuem potencial de observada ocorreu dentro do previsto, uma vez
biodigestão; que a região de melhor padrão de vida (Leste I)
(ii) Recicláveis: passíveis de triagem e apresentou os menores percentuais, e a região de
reciclagem, e que possuem potencial de menor padrão de vida (Leste II) mostrou o maior
comercialização para as indústrias, para percentual.
serem beneficiados e novamente Em relação as subcategorias, também
transformados em produtos apresentadas na figura 1, podem ser identificadas
comercializáveis; como representativas dessa região administrativa
(iii) Rejeitos: não possuem tecnologia viável as seguintes frações: resíduos alimentares
para seu aproveitamento. (23,85%), restos (8,95%), resíduos de jardim
(8,80%), sanitários (8,53%), resíduos de
Em atenção a proposta do autor supracitado, embalagens de vidro (5,70%), papelão (6,31%),
o presente estudo apresenta uma adaptação PEBD (4,61%) e outros plásticos (4,16%).
metodológica, agrupando as 32 subcategorias da Dentro das subzonas, também houve uma
seguinte forma: variação significativa entre a composição
(i) Orgânicos: resíduos alimentares, resíduos gravimétrica dos setores de coleta selecionados,
de jardim, madeira e dejetos animais; seguindo o mesmo comportamento observado
(ii) Recicláveis: PET, PEAD, PVC, PEBD, PP, entre as subzonas, mas em uma amplitude mais
OS, outros plásticos, papel, papelão, acentuada. Tomando como exemplo a Subzona
jornal/revista/panfletos, isopor, Tetra Pak®, Leste II, o setor 04-20 de melhor padrão de vida
resíduos de embalagens de vidro, cobre, (região do Bairro dos Noivos) apresentou
ferro, alumínio e aparelhos/componentes menores percentuais de resíduos alimentares que
eletroeletrônicos; o setor 04-18, o qual apresenta um padrão de
(iii) Rejeitos: outros resíduos de vidro, resíduos vida mais moderado.
compósitos, pilhas/acumuladores, tubos Por meio do agrupamento por classes
florescentes/lâmpadas de baixo consumo, principais de resíduos é possível identificar, em
contaminantes, outros resíduos perigosos, comparação com a composição gravimétrica
resíduos têxteis, sanitários, minerais, média nacional de IPEA (2012), que os
couro/borracha e restos. resultados obtidos para a região administrativa
Leste apresentam um baixo percentual de
matéria orgânica. Já nas frações recicláveis, os
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO resultados encontrados foram iguais ou
superiores à média nacional reportada pelo autor.
A composição gravimétrica da região
administrativa Leste de Teresina, segundo as
classes principais, é delimitada da seguinte
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Figura 1. Composição da Região Administrativa Leste e suas Subzona

Os resultados do agrupamento em orgânicos, encontrados nas três subzonas ficaram na faixa


recicláveis e rejeitos da região administrativa de 38%, um valor significativo de recicláveis, os
leste, com detalhamento das subzonas e setores quais, atualmente, estão sendo destinados ao
de coleta selecionados, são apresentados na aterro controlado da cidade. Em um aspecto mais
figura 2. específico, mereceram destaque os setores de
O agrupamento das frações de resíduos coleta 04-16 (41,97%), 04-18 (40,20%) e 04-30
domiciliares de acordo com o aspecto gerencial (39,51%), por abrigarem boa parte da população
para a região administrativa Leste foi de de melhor poder aquisitivo da cidade.
34,24% de orgânicos e 38,66% de recicláveis. Em contrapartida, no percentual de orgânicos
Assim, foi possível identificar que essa região observou-se uma variação significativa dos
possui uma alta aptidão para a implantação de percentuais encontrados, com uma gradação da
sistemas de coleta seletiva, triagem e Subzona Leste I (30,29%) a Subzona Leste II
recuperação de materiais recicláveis. (39,81%), evidenciando os dois extremos em
Em relação ao percentual de recicláveis entre função do padrão de vida dessas áreas.
as subzonas, observou-se que os valores
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A variação do percentual de orgânicos observados nos setores 01-41 (40,52%) e 04-06


também foi observada em nível de setores de (40,18%), aquele é um dos setores de menor
coleta, seguindo uma correlação negativa com o poder aquisitivo da região administrativa leste, e
padrão de vida na maioria dos casos. No entanto, este é uma das áreas de melhor poder aquisitivo
ao avaliarmos os dois valores máximos, da própria cidade de Teresina.

Figura 2. Potencial de Aproveitamento dos Resíduos da Região Administrativa Leste

Em relação as análises gravimétricas (iii) presença anômala de resíduos infectantes e


realizadas na região administrativa Leste da medicamentos, oriundos principalmente de
cidade de Teresina, cabem algumas observações: procedimentos homecare. Nesse caso, em
(i) durante a realização dos ensaios foi Teresina não existem postos de recebimento
observada uma presença significativa de desses materiais, sendo recomendada a
resíduos de jardim (folhas e podas de criação dos mesmos, que podem ser
arvores), tanto misturados com o resíduo associados a farmácias e postos de saúde;
domiciliar típico, como em embalagens (iv) presença anômala de resíduos perigosos,
específicas (em volume), sendo que, mesmo que em pequena quantidade, uma
pequenas quantidades desse tipo de resíduo vez que, em todas as rotas analisadas houve
são toleráveis no RSD, mas nos casos de lâmpadas, pilhas ou baterias de celulares.
embalagens (como poda de árvores), No caso das pilhas e baterias já existem
deveriam ser direcionados para a coleta postos de recebimento, mas no caso das
específica, fornecida pela prefeitura; lâmpadas precisam ser implantados;
(ii) na maioria dos setores de coleta analisados, (v) Em alguns setores, associados a serviços
houve também presença significativa de automobilísticos, verificou-se a presença de
dejetos animais domésticos (em alguns embalagens e materiais contaminadas com
casos acompanhados com o material da óleos, graxas e solventes. Nesse caso,
“caixa de areia”). Especialistas deveria haver uma fiscalização mais efetiva,
recomendam seguir a mesma destinação dos pois a responsabilidade é dos
dejetos humanos; estabelecimentos prestadores dos serviços.
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4 CONCLUSÕES recicláveis e orgânicos, além de adequação da


destinação final para um Aterro Sanitário que
Nesse estudo, determinou-se que a composição pode contemplar até células voltadas para o
gravimétrica (em base úmida) dos resíduos aproveitamento energético.
sólidos domiciliares da região administrativa A determinação da composição gravimétrica
Leste da cidade de Teresina/PI é representada é uma tarefa fundamental para o planejamento
pelas classes principais Matéria Orgânica das ações voltadas ao gerenciamento dos
(34,24%), Papel/Cartão (13,93%), Plástico resíduos sólidos urbanos de uma cidade. Dessa
(14,69%), Vidro (5,98%), Compósitos (2,45%), maneira seria importante, até para fins
Têxteis (3,18%), Sanitários (8,53%), Metais comparativos, a extrapolação desse estudo para
(2,49%), Resíduos Perigosos (0,28%) e Outros as demais regiões administrativas da cidade de
Resíduos (14,24%). Teresina.
Em relação as subcategorias estudadas,
verificou-se a representatividade das seguintes
frações: resíduos alimentares (23,85%), restos AGRADECIMENTOS
(8,95%), resíduos de jardim (8,80%), sanitários
(8,53%), resíduos de embalagens de vidro Agradecemos à Secretaria Municipal de
(5,70%), papelão (6,31%), PEBD (4,61%) e Desenvolvimento Urbano e Habitação
outros plásticos (4,16%). (SEMDUH) pela autorização para realização da
As composições gravimétricas das subzonas pesquisa no Aterro Controlado de Teresina; à
dessa região administrativa apresentaram empresa Litucera pelo apoio operacional e à
variações significativas na maioria das Associação do Comércio Agropecuário do Piauí
subcategorias analisadas, mesmo (ACAPI) por disponibilizar de sua infraestrutura
comportamento apresentado nos setores de para a realização dos ensaios.
coleta selecionados. Esta situação já era
esperada, uma vez que na delimitação desses
setores, buscou-se selecionar as diversas REFERÊNCIAS
realidades socioeconômicas presentes em cada
subzona, de forma a obter um valor mais ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. (2004). NBR 10007: Amostragem de
representativo dessa região administrativa de resíduos sólidos. Rio de Janeiro. 21 p.
Teresina. Alcântara, Perboyre Barbosa. (2007). Avaliação da
Foram identificadas as subcategorias de influência da composição dos resíduos sólidos urbanos
resíduos perigosos na maioria dos setores no comportamento de aterros simulados. 2007. 366 f.
analisados. Tal fato indica a necessidade de Tese (Doutorado) - Curso de Engenharia Civil,
Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil,
disponibilização, e também da conscientização Universidade Federal de Pernambuco, Recife.
da população dessas áreas para o descarte correto Disponível em:
desses materiais. <https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/5397>.
Em relação ao potencial de aproveitamento, a Acesso em: 03 jan 2018.
região administrativa Leste apresentou a BRASIL. Lei 12.305, de 2 de agosto de 2010. (2010)
Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos.
seguinte composição: Orgânicos (34,24%) e Brasília, DF. Disponível em: <
Recicláveis (38,66%). Logo, essa região tem http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
viabilidade tanto para processos de 2010/2010/lei/l12305.htm >. Acesso em: 03 jan 2018.
aproveitamento biológico como para DIÁRIO DA REPÚBLICA PORTUGUESA. Portaria nº
recuperação de materiais recicláveis. 851/2009. (2009). Norma portuguesa que estabeleci a
padronização da caracterização gravimétrica dos
No entanto, para que pelo menos um resíduos sólidos. 1º Série, nº 152, 7 de agosto de 2009.
percentual desse potencial seja aproveitado é p. 5143-5146. Disponível em: <
necessária a adequação do manejo dos resíduos https://dre.pt/application/file/493840>. Acesso em: 10
sólidos em Teresina, criando-se rotas de jan. 2018.
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content/uploads/2016/12/Diagnóstico-Sócio-
Econômico-e-Cultural-da-Cidade-de-Teresina-
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Compresibilidad de residuos sólidos urbanos en rellenos


controlados
Ana Ghislane Henriques Pereira van Elk
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, anavanelk@gmail.com

Maria Eugenia Gimenez Boscov


Departamento de Ingeniería Estructural y Geotécnica, Universidad del Estado de São Paulo, Brasil,
meboscov@usp.br

Luis Sopeña Mañas


Centro de Experimentación de Obras Públicas, Madrid, España, lsopena@cedex.es

Ricardo Coelho de Abreu


Solo Environmental Consultants, LLC, Baton Rouge, USA , ricardo@soloenv.com

RESUMEN: El presente artículo trata de un estudio comparativo de la compresibilidad de dos


rellenos sanitarios controlados en España y en Brasil, el vertedero Valdemingómez, situado en
Madrid y el vertedero Bandeirantes, en São Paulo. La campaña de ensayos del Valdemingómez
consistió de aplicación de carga externa (64 kN/m2) por un terraplén experimental con 4 m de altura,
20 m de ancho y 40 m de longitud y instalación de 18 referencias topográficas, 1 punto fijo y 2 líneas
continuas de asientos. El relleno Bandeirantes empezó a operar en 1979 y fue clausurado en 2009 con
cerca de treinta millones de toneladas de basura enterradas a un espesor superior de 100m. Se analizó
su compresibilidad a través de 10 referencias topográficas a lo largo de 14 años. Ambos rellenos
muestran alto porcentual de deformación, posiblemente relacionada a residuos frescos y con alto
porcentaje de materia orgánica, sujetos a descomposición y degradación.

Palabras clave: Compresibilidad; relleno sanitario; residuos sólidos urbanos; relleno controlado;
comportamiento mecánico; investigación de campo; asiento.

1 INTRODUCCIÓN un aumento de la vida útil de los rellenos.


La última evolución, ocurrida a partir de la
Durante mucho tiempo la práctica más usual de década del 90, fue la implantación de rellenos
deposición de residuos sólidos urbanos (RSU) en sanitarios, siguiendo las mismas directrices y
América Latina fue el botadero, pues la utilizando técnicas similares a la de países
preocupación de la sociedad era quitar la basura desarrollados. No obstante, esta práctica aún no
de calles y aceras y ubicarla en sitios más es mayoritaria y la gran mayoría de los lugares
distantes, sin la preocupación con el impacto de evacuación de los RSU continúan en
causado en el ambiente. En términos de salud condiciones de botaderos y rellenos controlados,
pública, sin embargo, esta práctica representó un donde no hay tratamiento de lixiviados, drenaje
avance con relación a la basura tirada y de gases, previa selección de materiales vertidos,
acumulada en áreas urbanas. En las últimas compactación de residuos, impermeabilización
décadas, este tipo de botadero fue transformado adecuada del área, monitoreo geotécnico y
en los llamados rellenos controlados, por tener ambiental, es decir, con funcionamiento
cobertura diaria de residuos, cercamiento del ambientalmente inferior a lo esperado para
área, eventual drenaje de lixiviado y rellenos sanitarios.
compactación de residuos. Esta mejora posibilitó En Brasil, 31,8% de las ciudades lanza sus
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desechos en rellenos controlados, 27,9% vierten segregación entre los residuos secos y húmedos,
en botaderos y 40,2% de las ciudades poseen y que nuevos rellenos sanitarios reciban
rellenos sanitarios (ABRELPE 2016). Por solamente rechazos, es decir, materiales que no
tratarse de un país continental, hay una enorme puedan ser reciclados o reaprovechados.
disparidad en términos regionales. Mientras Más allá de las nuevas directrices instituidas
regiones como el sur y sureste demuestran un por la PNRS, la gran contribución para avanzar
avance en la destinación final adecuada de los en la tecnología de rellenos sanitarios fue
residuos, el escenario es todavía desolador en conseguida por la venta de créditos de carbón,
regiones menos desarrolladas del Brasil, como el obtenidos por el Mecanismo de Desarrollo
norte y noreste, que registraron los índices más Limpio (MDL), definido en el Protocolo de
grandes de destinación de residuos en botaderos, Kioto. Esta tendencia de evolución en el manejo
de 54,7% y 47%, respectivamente. Para cambiar de RSU es también observada en los demás
este paradigma es necesario transformación países de América Latina, en mayor o menor
cultural, social y económica de la sociedad. proporción. No obstante, los rellenos sanitarios
En general, todos los materiales recogidos en con la recuperación de biogás para generar
áreas urbanas son vertidos en rellenos energía, rellenos airados y biorreactores llevarán
controlados y botaderos. Sin embargo, esta mucho tiempo para ser puestos en ejecución en
práctica está cambiando con la implantación de todo el continente. De momento, la realidad es
leyes y regulaciones. Inicialmente, apenas los que el sistema está aún apoyado en rellenos
residuos peligrosos eran destinados a células controlados y botaderos, que podrán ser
exclusivas. En Brasil, durante las dos últimas trasformados en rellenos sanitarios con calidad
décadas, otros residuos pasaron también a tener ambiental.
destinación especial: residuos peligrosos, El presente artículo trata de un estudio
residuos de servicios de salud, pilas y baterías, comparativo de la compresibilidad de dos
neumáticos, residuos de puertos y aeropuertos, rellenos sanitarios controlados en España y en
construcción civil, residuos industriales, Brasil, el vertedero Valdemingómez, situado en
residuos voluminosos y más recientemente Madrid y el vertedero Bandeirantes, en São
residuos electro-electrónicos (REE). Aunque Paulo.
este tipo de segregación atienda a resoluciones
de nivel federal, no es en todo país que se separa 2 ESTUDIO DE CASO: RELLENO
los desechos; esta segregación sigue más VALDEMINGÓMEZ
restricta a los grandes centros urbanos, donde las
agencias de control ambiental son más 2.1 Caracterización del área del relleno
eficientes. Los residuos depositados en rellenos
controlados se componen aproximadamente de El relleno Valdemingómez, situado en Madrid
50% de materia orgánica putrescible (Abrelpe, con área de 100 ha, empezó a funcionar en el
2013ª), además de varios tipos de materiales con final de los años 70 y desde 1989 ha sido el único
poco reciclaje (3% del total generado en el Brasil depósito de residuos sólidos urbanos (RSU) de la
se reciclan, según o jornal O Globo). ciudad de Madrid, recibiendo cerca de 3.000 ton
La Política Nacional de Residuos Sólidos diarias. Este relleno fue clausurado en año 2000,
(PNRS), 12.305 regulada por Ley Federal de luego ejecutado un proceso de desgasificación y
2010, previa el final de la disposición inadecuada reconvertido en parque forestal. Al lado del
(en botaderos y rellenos controlados) en 2014, lo antiguo relleno controlado se ha construido el
que todavía no ha sido logrado. Los sitios Complejo Medioambiental de Valdemingómez,
inadecuados clausurados tendrán que ser incluyendo una planta de tratamiento de RSU,
recuperados en un horizonte de veinte años. La una planta de tratamiento de residuos de
PNRS 2010 también establece el reciclaje de hormigón, además de otras instalaciones y
residuos, el compostaje de la materia orgánica, la empresas dedicadas a la recuperación de
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residuos.
El sitio se encuentra ubicado sobre materiales
de baja permeabilidad, las margas yesíferas, en
alternativas que comprenden desde arcillas
consolidadas poco calcáreas a yesos masivos, y
corresponden a depósitos terciarios
continentales. Se encuentran en estratos
horizontales de espesores variables.
Los experimentos en cuestión se realizaron
entre los años 1998 y 2000 en un área de
aproximadamente 2 ha con residuos compuestos
de 59% de materia orgánica, edad máxima de 4
años, extendidos con tractor en capas de 2 m de
altura, cubiertas a diario con 30 cm de suelos y
cenizas volantes. La densidad del material y
humedad fueron obtenidas a través de ensayos in
situ. La densidad encontrada fue de 5,0 kN/m 3 y
la humedad de 0 a 25 m varió de forma no lineal
de 13 a 70%, Pereira (2000).

2.2 Instrumentación de Campo

La campaña de ensayos consistió de aplicación


de carga externa (64 kN/m2) a través de la
construcción de un terraplén experimental con 4
m de altura, 20 m de ancho y 40 m de longitud;
instalación de 18 referencias topográficas, 1 Figura 1. Planta de disposición de la instrumentación de
campo, van Elk et al. (2014)
punto fijo para poder dar cotas absolutas a las
distintas referencias topográficas de nivelación y
Los gráficos de las Figuras 4 y 5 muestran los
2 líneas continuas de asientos. Todos los equipos
valores de asientos obtenidos a lo largo de los
tenían la finalidad de obtener información acerca
puntos de las líneas 1 y 2 en todo el período de
de los asientos con relación al tiempo y la carga
medidas. A través de los gráficos se observa que
externa. La Figura 1 enseña en planta el área de
hay gran coherencia entre los resultados
prueba del vertedero con el terraplén y la debida
obtenidos con las dos líneas continuas de asiento.
instrumentación.
El asiento inicial en el centro del terraplén (punto
Las Figuras 2 y 3 muestran los asientos con
12), siete días después de su construcción, fue de
relación al tiempo obtenidos con las referencias
aproximadamente 50 cm.
topográficas del lado norte y lado sur del
En los extremos, el asiento fue
terraplén.
considerablemente menor, alrededor de 15 cm.
Los asientos máximos medidos después de 19
El asiento a largo plazo fue de aproximadamente
meses de observación fueron de 1,24 m y de 1,39
2,0 m en el centro y 1,4m en las extremidades del
m en los lados norte y sur. La diferencia entre los
terraplén.
puntos norte y sur está relacionada con la gran
Con el valor de asiento inmediato es posible
heterogeneidad del material, que en zonas
calcular el módulo de deformación en la
relativamente próximas puede presentar distintas
hipótesis de placa flexible situada sobre un semi
deformaciones.
espacio de acuerdo con la expresión de
Bousinesq:
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(1)
donde:

E = módulo de deformación (kN/m2), K =


coeficiente de Schleicher (n = 40/20 =2), q =
variación de la carga (64
kN/m2), b = lado del
rectángulo (20 m), ν = coeficiente de
Poisson (0,3), Si = asiento inicial (0,50 m).

Figura 4. Control de asiento del terraplén de carga –


Línea 1

Figura 2. Movimientos verticales, lado Norte

Figura 5. Control de asiento del terraplén de carga –


Línea 2

Figura 3. Movimientos verticales, lado Sur

El módulo de elasticidad así obtenido es de


1864 kN/m2. Este valor está coherente con los
valores apuntados por Charles (1984), que indica
módulo de deformación para residuos Figura 6. Variación de velocidad con el tiempo
domésticos variando de 1000 kN/m2 a 2000
kN/m2, y por Campi (2011), entre 1000 y 4000 La amplitud de variación es bastante
kN/m2. considerable. En promedio, para las dos líneas
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continuas de asiento, la velocidad pasa de


aproximadamente 64 mm/día a 3,6 mm/día al En la ocasión fueron seleccionadas para análisis
final de las mediciones. de la compresibilidad del relleno Bandeirantes
una serie de datos de diez referencias
3 ESTUDIO DE CASO: RELLENO topográficas con largo periodo de observación.
BANDEIRANTES Las referencias topográficas habían sido
instaladas en el Sub-relleno 2, que tenía
3.1 Caracterización del área del relleno características de relleno controlado. La Figura 7
muestra las curvas de asiento con relación al
El relleno Bandeirantes, situado en São Paulo tiempo para cada referencia topográfica.
con área de 150 ha, empezó a operar en 1979 con
la construcción de dos sub-rellenos (1 y 2) que
tenían la finalidad de recibir 1.800 ton/día
durante un periodo de cinco años. Sin embargo,
con la construcción de más tres sub-rellenos con
características y criterios técnicos similares a
rellenos sanitarios, el relleno Bandeirantes operó
hasta 2009. Fue clausurado con cerca de treinta
millones de toneladas de basura enterradas a un
espesor superior a 100 m.
Durante toda la operación del relleno los
residuos eran extendidos, compactados y
cubiertos a diario con 20 cm de suelo, en capas
de 5 m de altura cubiertas por 60 cm de suelo,
formando un terraplén de 1V:4H. La cobertura
final del relleno tenía 100 cm de suelo. En la
actualidad, el relleno clausurado Bandeirantes Figura 7. Asientos medidos a través de las referencias
obtiene créditos de carbón con el topográficas del Relleno Bandeirantes, Sub-relleno 2
(Abreu, 2000)
aprovechamiento energético del biogás utilizado
para iluminar 1.000 agencias del banco Itaú en la
ciudad de Sao Paulo. A través de la Figura 7 se observa que hay
El sitio se encuentra ubicado en una región coherencia entre los valores obtenidos con los
formada por suelos residuales alterados de roca puntos de referencia, pues los valores de asiento
magmáticas del embasamiento cristalino mayores ocurren en los primeros años y todas las
(pegmatitas y granitos) y metamórficas curvas de asiento con relación al tiempo siguen
(esquistos, anfibolitas y roca cálcicas- una tendencia de estabilización. Los puntos de
silicatadas). Esos suelos limosos y micáceos que referencias topográficas MS 20 y MS 21
son en general de baja compresibilidad, pueden presentan, en términos absolutos, valores de
ser expansivos, bajo la presencia de agua y al asientos aproximadamente de 7,8 y 7,3 m
estar no confinados. respectivamente. Los demás puntos alcanzan
Los residuos eran compuestos por cerca de valores del orden de 3,5 m. De forma general los
60% de materia orgánica, con densidad de 10 valores de asiento en el Sub-relleno 2 son
kN/m3 (Benvenuto & Cunha, 1991; Kaimoto & bastante significativos.
Cepollina, 1996; Abreu, 2000) y humedad El área investigada comenzó a recibir
variando de 45% a 110% entre 2,5 y 25 m de residuos en 1981, sin embargo, el monitoreo in
profundidad (LIMPURB, 1997). situ empezó apenas en 1991, después de
aproximadamente 2 años de su clausura. Las
3.2 Instrumentación de campo informaciones de asientos anteriores a la
instalación de los puntos de referencia
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topográficas fueron obtenidas por medio del De esta forma, con base en el ajuste del
modelo Meruelo (Palma, 1995) ajustado a la modelo Meruelo a los datos del monitoreo in situ
serie histórica de datos, conforme desarrollado y obteniéndose los coeficientes α y kh, fue
en la tesis de Abreu (2000). La ecuación que posible retroceder en la curva ajustada de los
define el modelo se expresa por: asientos con relación al tiempo para los instantes
anteriores a la instalación y predecir los asientos
sufridos antes de la instalación de los equipos de
(2)
investigación. El espesor de las columnas de
basura al término de la construcción fue
donde:
estimado con base en las informaciones de la
empresa administradora del relleno, la topografía
Ss = asiento (mm), α = coeficiente de pérdida de
original y las cantidades de residuos recibidas en
masa transformada en asientos, H = espesor del
el área, conjuntamente con los valores estimados
relleno (mm), COD = contenido de materia
de asientos anteriores a la instalación de las
orgánica biodegradable de los residuos sólidos,
referencias topográficas.
Tc = tiempo de construcción (días-1), t = tiempo
Por consiguiente, fueron obtenidos para las
al cual se quiere predecir los asientos (días).
diez referencias topográficas la cota de fondo, las
Observe que cuando t =Tc la ecuación no se
fechas del inicio de construcción y clausura del
anula, pues el modelo presume que la
área investigada, cota y fecha de instalación de
degradación de los residuos se inicia en el
los equipos topográficos. En la Tabla 1 se
momento que empieza la operación del relleno y
muestran estos valores, así como los asientos
no al término de la deposición de los residuos.
medidos y los asientos totales estimados por el
Siguiendo esta premisa, es posible obtener los
modelo Meruelo.
valores de asientos sufridos antes de la
Por ejemplo, el punto de referencia RT-8 se
instalación de los puntos de referencia
ubica sobre una columna de residuos que fue
topográfica de acuerdo con las siguientes
construida durante 486 días, cuando alcanzó la
ecuaciones:
altura estimada de 14,0 m. Con el área cerrada
después de 1154 días, fue instalado el punto de
referencia y en este momento la altura medida da
columna era de 9,3 m, o sea, ya habían ocurrido
asientos de 4,7 m. Asientos de 2,7 m fueron
(3) medidos en 3.373 días, totalizando 7,4 m desde
el encerramiento de la celda hasta la última
donde: medida realizada. De acuerdo con el modelo
Meruelo el asiento total final en este punto es de
7,85 m. En la Tabla 2 están presentados valores
(4) de deformación específica y velocidad de
asiento.
El tiempo llevado hasta la última lectura de
las referencias topográficas varió entre 4.527 y
(5) 7.234 días, suficiente para ocurrir la mayor parte
de los asientos. Así los asientos en esta fecha
S0-i = asiento ocurrido entre el instante inicial y tienen la misma orden de magnitud que el de los
el instante de instalación de la referencia asientos finales estimados por el modelo
topográfica, Hi = espesor del relleno en la fecha Meruelo. En las referencias MS-12, MS-20 y
de instalación de la referencia topográfica, t i = MS-21 las medidas fueran ligeramente
tiempo en el instante de instalación de la superiores a los valores finales estimados a
referencia topográfica. través del modelo.
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celdas tengan parte de responsabilidad en la


Tabla 1. Características de diez referencias topográficas dispersión encontrada.
analizadas del Relleno Bandeirantes, Sub-relleno 2
(Abreu, 2000). Tabla 2. Valores de porcentajes de asiento con el tiempo
(Abreu, 2000).
Referencia Tc Ti Te Tm Ei Ec Am Af
Topográfica Referencia E0 T ATr Af Afr
(dias) (dias) (dias) (dias) (m) (m) (m) (m) AT (m)
topográfica (m) (días) (%) (m) (%)
RT-8 486 1640 1154 3373 9,3 14,0 2,711 7,85 RT-8 14,0 4527 7,41 52,9 7,85 56,1
RT-10 50,0 7071 10,07 20,1 10,81 21,6
RT-10 2629 3783 1154 5917 43,5 50,0 3,566 10,81
RT-11 25,0 6200 10,13 40,5 10,26 41,0
RT-11 1025 2179 1154 5046 18,0 25,0 3,127 10,26 RT-12 40,8 6998 10,02 24,6 9,96 24,4
RT-12 2229 3180 951 6047 34,3 40,8 3,523 9,96
RT-13 33,4 6461 9,46 28,3 9,46 28,3
RT-14 32,1 6508 7,11 22,1 7,55 23,5
RT-13 1692 2643 951 5510 27,3 33,4 3,361 9,46 RT-16 42,5 5619 7,27 17,1 8,19 19,3
RT-14 1734 2690 956 5552 28,4 32,1 3,408 7,55 RT-17 31 5694 7,49 24,2 7,83 25,3
RT-20 70,9 7234 15,07 21,3 14,87 21
RT-16 2414 3150 736 4883 38,5 42,5 3,269 8,19
RT-21 56,5 6694 14,34 25,4 14,18 25,1
RT-17 1355 2091 736 4958 27,2 31,0 3,69 7,83

RT-20 3325 3846 521 6713 63,6 70,9 7,773 14,87 Ec = Espesor de la columna en la fecha de
RT-21 2780 3306 526 6168 49,5 56,5 7,339 14,18 encerramiento estimado por el modelo Meruelo
(Palma, 1995), ajustado para los puntos de
referencia con r2 entre 0,99 y 1,00
Tc = Tiempo de construcción de la columna de T = Tiempo descorrido entre el encerramiento de
RSU. la columna y la última lectura de la referencia
Ti = Tiempo descorrido hasta la instalación de la topográfica
referencia topográfica AT = Asiento de la columna en la fecha de la
Te = Tiempo transcurrido entre el encerramiento última lectura de la referencia topográfica
de la columna y la instalación del punto de ATr = Asiento AT relativo al espesor inicial de la
referencia columna
Tm = Tiempo transcurrido entre la instalación Af = Asiento final estimado a través del modelo
del punto de referencia y la última medida Meruelo (Palma, 1995)
Ei = Espesor de la columna en la fecha de Afr = Asiento Af relativo al espesor inicial de la
instalación del punto de referencia columna.
Ec = Espesor de la columna en la fecha de
encerramiento estimado por el modelo Meruelo 4 ANÁLISIS DE RESULTADOS DE
(Palma, 1995), ajustado para los puntos de AUSCULTACIÓN DE LOS RELLENOS
referencia con r2 entre 0,99 y 1,00 BANDEIRANTES Y VALDEMINGÓMEZ
Am = Asiento medido entre las fechas de
instalación de la referencia topográfica y la Ambos rellenos controlados, Valdemingómez y
última lectura Bandeirantes, presentan algunas características
Af = Asiento final estimado a través del modelo similares, como composición de residuos de
Meruelo (Palma, 1995). 60% de materia orgánica putrescible, altos
El rango de deformación específica contenidos de humedad y ausencia de
encontrado en el vertedero Bandeirantes varió recolección selectiva de residuos.
entre 19% y 28%, valores comparables con los El relleno Bandeirantes compactaba sus
observados en otros rellenos brasileños, con residuos, por esta razón presenta densidad de
excepción de las referencias MS-8 y MS-11. Es cerca de 10 kN/m3, mientras que el relleno
posible que los variados espesores, controlado de Valdemingómez solamente
heterogeneidad del material y edades de las extendía los residuos con tractor presentando
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densidad de 5 kN/m3. 117 cm para las líneas continuas de sección 1 y


El análisis de la compresibilidad en los 2 respectivamente. En los extremos, los asientos
rellenos es complementar; en el relleno fueron aproximadamente de 105 cm y 103 cm.
Valdemingómez fue posible medir los asientos Los asientos ocurridos en las extremidades de las
inmediatos, primarios y secundarios, mientras líneas continuas de asiento presentan valores
que en el Bandeirantes fueran medidos aproximados a los valores de asiento medidos
solamente asientos secundarios. con los puntos de referencia.
En el relleno Valdemingómez fue construido Los referidos valores de asiento se deben a los
un terraplén de carga de 64 KN/m2. Bajo el procesos de fluencia (creep), degradación
terraplén fueron instaladas dos líneas continuas química y descomposición biológica. No se
de asiento, y en los lados norte y sur, 18 puede separar las parcelas resultantes de estos
referencias topográficas. Los asientos procesos, sin embargo se puede hacer algunas
inmediatos fueron considerados los asientos consideraciones. Como es un proceso mecánico,
medidos 7 días después de aplicación de la carga el asiento debido a fluencia es consecuencia de
del terraplén y los asientos primarios medidos en la carga del peso propio y de la carga del
30 días, tiendo como base el modelo de Sowers terraplén. La suma de estas dos cargas, con el
(1973). tiempo, acelera el proceso de acomodación del
Así, el asiento inicial en el centro del terreno. Particularmente, en este caso en que el
terraplén, siete días después de su construcción, terreno (relleno) es profundo (altura 33 m) y fue
fue aproximadamente 50 cm. En los extremos, el sometido a una carga estática, es natural que el
asiento fue considerablemente menor, alrededor asiento a largo plazo tenga un valor considerable.
de 15 cm. La gran magnitud del asiento Otro factor que influyó en la magnitud del
inmediato es confirmada por varios autores asiento físico a largo plazo fue el hecho de los
como Konig & Jessberger (1997), Jessberger & residuos no sufrir un proceso de compactación.
Kockel (1997), Boutwell & Fiori (1995). Con relación a la cantidad de asiento resultante
Casanova (1989) comenta que una característica de la descomposición y degradación se puede
fundamental del proceso de precarga para este señalar que se trata de residuos frescos con alto
tipo de material es que los asientos que producen contenido de humedad y materiales con tales
son muy rápidos y que el terreno se comporta de características son propensos a sufrir procesos
forma lineal con el nivel de cargas impuestas. El acelerados de descomposición de la materia
valor del asiento inicial ocurrido puede ser orgánica. Los asientos debidos a los procesos de
debido a la composición de los residuos, a la fluencia y descomposición de la materia
forma como fueron vertidos y a la magnitud de orgánica corresponden aproximadamente a 55%
la carga aplicada. del asiento total ocurrido en la zona investigada
El asiento primario en el centro del terraplén del vertedero Valdemingómez. El
fue de 93 cm en promedio para dos líneas porcentaje de la suma de los asientos inmediato,
continuas de asiento. Los asientos inmediatos y primario y secundario durante los 19 meses de
primarios para las referencias topográficas medidas fue de 6,3%, considerando la altura del
fueron de aproximadamente 9,2 cm y 36,5 cm. vertedero de aproximadamente de 33 m.
Cuando se comparan los valores de asientos Los movimientos verticales registrados
inmediatos y primarios obtenidos a través de los durante el período de auscultación indican que el
puntos de referencia y de las líneas continuas se asiento a largo plazo en los puntos de referencia
observa que la influencia de la carga es mucho fue en promedio 89,2 cm. Estos valores
menor en la zona donde se sitúan los puntos de corresponden a una deformación con relación al
referencia. espesor del relleno de 2,7%.
Los asientos ocurridos debidos a los procesos El relleno Bandeirantes, por estar construido
de compresión secundaria en el centro del en un valle, presenta diferentes alturas de
terraplén fueron de aproximadamente 115 cm y columnas de basuras que varían,
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aproximadamente entre 14 m a 71 m. El rango de Ambos rellenos, Bandeirantes y


deformación específica del relleno Bandeirantes Valdemingómez muestran alto porcentual de
varió entre 19,3 y 56,1%, sin embargo, para 8 de deformación que puede estar relacionado con
los diez puntos de referencia topográfica, el rellenos de residuos frescos, con alto porcentaje
rango fue de 19,3% hasta 28,3%. de materia orgánica, sujetos a sufrir procesos de
Las dos referencias de valores más grandes, descomposición y degradación.
41,0% y 51,6¨%, señalan la ausencia de Los valores de deformación encontrados en el
selección previa de materiales dispuestos y de Bandeirantes son bastante significativos y
control operacional en el relleno, cuando aún era muestran que los asientos a largo plazo pueden
operado como relleno controlado (Sub-rellenos 1 alcanzar grandes magnitudes, principalmente en
y 2), lo que resultó en áreas con presencia de regiones de clima tropical como es el caso de
materiales más compresibles. De forma general, Brasil. La magnitud de estos asientos, una vez
los valores son bastante significativos, completados, puede ser mayor que los debidos a
principalmente cuando comparados con los sobrecarga. Como fue verificado en el relleno
asientos secundarios medidos en el vertedero Valdemingómez, a través de los resultados de las
Valdemingómez. líneas continuas de asiento y los puntos de
Aunque los rellenos tengan algunas referencia, los asientos a corto plazo debido al
características similares, como comentado incremento de carga fueron muy localizados
arriba, el tiempo de auscultación en el relleno geométricamente alrededor de la carga.
Bandeirantes es considerablemente mayor de La aplicación de la carga en el vertedero
que en el Valdemingómez y el clima tropical de Valdemingómez resulta en una curva de
Brasil favorece la ocurrencia de procesos de variación de velocidad con el tiempo con dos
descomposición más rápidos que en España, con ramas: la primera en la que la velocidad de
clima temperado. asiento es muy alta y la segunda que tiende a
La velocidad de asiento en el relleno alcanzar un valor constante. Estas dos “ramas”
Valdemingómez, con valor de 3,6 mm/día, son características de los procesos de
parece estar estabilizada después de 300 días, compresión primaria, relacionados con
revelando el final del proceso de descomposición incrementos de carga, y de compresión
acelerada y el inicio del proceso de fluencia. De secundaria, relacionados con la degradación y
la misma forma que el Valdemingómez, el descomposición de los residuos. Se puede decir
relleno Bandeirantes estaba ciertamente en la que los primeros son independientes del tiempo,
fase de fluencia, pues el tiempo de disposición mientras que los segundos varían temporalmente
era superior a 4.000 días para todas las con fenómenos viscosos y a medida que se
referencias. produce la descomposición de los RSU y están,
por tanto, relacionados con la génesis de gases y
5 CONCLUSIONES lixiviados que escapan o son extraídos del
vertedero favoreciendo su consolidación y
Los resultados de la campaña de auscultación de reducción del volumen. La velocidad de asiento
los dos rellenos controlados, Bandeirantes en del relleno Bandeirantes es la velocidad
São Paulo, Brasil, y Valdemingómez en Madrid, promedio final del periodo de auscultación, por
España, aportan datos de asientos a corto y largo lo tanto muestra valores aproximados de la
plazo. De forma general es muy difícil comparar velocidad promedio final del relleno
resultados de rellenos distintos, pues ya existe Valdemingómez. Es muy probable que los
una gran dispersión entre resultados de un residuos se encontraran en una fase de
mismo relleno. La heterogeneidad de los maduración, con la descomposición de la
constituyentes, los varios espesores y la edad son materia orgánica más persistente y el proceso de
factores determinantes en la dispersión de los fluencia.
resultados.
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Determinação de parâmetros característicos de um solo tropical da


Baixada Fluminense no estado do Rio de Janeiro
Viktor Labuto Fragoso Sereno Ramos
UFF, Niterói, Brasil, viktorlabuto@hotmail.com

Claudio Fernando Mahler


UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil, cfmahler@gmail.com

Fernando Benedicto Mainier


UFF, Niterói, Brasil, mainier@vm.uff.br

RESUMO: Neste estudo, foram investigadas as diferenças existentes entre dois solos tropicais da
Baixada Fluminense. O solo original foi caracterizado, incluindo a determinação de índices físicos,
peso unitário, plasticidade, tamanho de grão, densidade real dos grãos, umidade higroscópica e a
curva granulométrica das amostras. Já o solo onde houve o depósito de resíduos também foi
estudado, sendo realizado ensaio de determinação de índices físicos, peso unitário, plasticidade,
tamanho de grão, densidade real dos grãos, umidade higroscópica e curva granulométrica das
amostras. O principal objetivo durante os ensaios era verificar a perda da plasticidade do solo após
o depósito de resíduos. Também foram executados ensaios de adensamento edométrico para a
determinação de parâmetros como a densidade natural do solo, índice de vazios e coeficiente de
adensamento. Outrossim, a composição gravimétrica dos resíduos também foi realizada. Os
resultados foram comparados e apresentaram boa correlação. Houve pouca perda de plasticidade no
solo, apesar da presença de resíduos nos últimos anos.

PALAVRAS-CHAVE: adensamento, caracterização, resíduo, plasticidade, solo, grão.

1 INTRODUÇÃO plasticidade é um dos parâmetros indispensável


para a determinação de parâmetros geotécnicos
Durante os últimos anos, segundo Andersen dos solos. Ela é de especial importância em
(2015), projetos de fundações de estruturas vem solos coesivos, onde segundo Pinto (2006),
requerendo cada vez mais informações sobre o pode ser definida como a maior ou menor
solo estudado. Assim, em obras de engenharia é capacidade do solo ser moldado sob
preciso fazer uma avaliação criteriosa, determinadas condições de umidade, sem que
considerando-se novos patrões físico-químicos ocorra variação de volume. A plasticidade do
que poderão influenciar na correta solo é mensurada por meio do Índice de
caracterização do solo e consequentemente na Plasticidade (IP). Essa propriedade dita o
estabilidade do talude. comportamento do solo nas mais diversas
A pesquisa buscou estudar o comportamento aplicações. Segundo Caputo (2015) seu valor é
de solos tropicais contaminados por resíduos influenciado pela granulometria, umidade,
sólidos urbanos (RSU), em especial, sua geometria das partículas e pelas composições
correlação com a plasticidade do solo. A região químicas e mineralógicas do solo. Desta forma,
estudada é próxima à cidade do Rio de Janeiro. a composição química do RSU (resíduos
O principal problema seria a perda da sólidos urbanos) passa a ser mais um item
plasticidade do solo na presença de materiais agregador na definição do seu valor físico.
quimicamente ativos, ao longo dos anos. A
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O presente trabalho visa assim, analisar a


capacidade do solo de aliviar a perda de O ensaio de compressão edométrica (NBR
plasticidade devido à contaminação superficial 12007/1990), comumente denominado “ensaio
por resíduos sólidos urbanos (RSU). de adensamento convencional”, é o tipo mais
Especificamente, o artigo pretende antigo e mais conhecido para determinação dos
demonstrar através de ensaios laboratoriais, as parâmetros de compressibilidade dos solos. O
características geotécnicas do solo ensaio consiste na compressão axial de um
contaminado. corpo de prova, confinado lateralmente, pela
Ademais, métodos, materiais e ensaios aplicação de pressões verticais, com duração e
laboratoriais que poderiam auxiliar na razão de carregamento pré-definidos,
determinação dos parâmetros geotécnicos são normalmente com duração de 24 horas (até a
descritos. deformação estabilizar).
Os resultados obtidos nesse solo auxiliam no O estudo procurou determinar os parâmetros
aumento do banco de dados de solos tropicais de compressibilidade dos resultados de
contaminados, em especial para os parâmetros amostras do solo em questão. Os parâmetros
geotécnicos. determinados foram: valores do coeficiente de
De forma adicional, os ensaios realizados adensamento Cv para cada estágio e a curva do
também possibilitam a comparação entre solos índice de vazios versus tensão efetiva (escala
tropicais contaminados em lixões a céu aberto. logarítmica). Foram realizados os seguintes
estágios: 0,031; 0,062; 0,125; 0,250; 0,500;
1,000; 2,000 e 4,000 (kg/cm2), e três estágios
2 MATERIAIS E MÉTODOS de descarregamento 2,000; 1,000; 0,500
(kg/cm2). Cada estágio de carregamento teve
2.1 Localização duração de 24 horas. A figura 1 e 2 exibem o
ensaio.
O campo experimental de estudo se encontra
na Região de São João do Meriti. Está situado
na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. O
terreno está localizado a 1,0 km do Rio Pavuna
e a 25 km da cidade do Rio de Janeiro.

2.2 Caracterização Física do Solo

O ensaio é iniciado com uma análise tato


visual, a fim de pré-identificar o solo que será
trabalhado. O trabalho se utilizou das normas
vigente da ABNT, sendo elas a NBR 7181/84
(análise granulométrica), a NBR 6457/86
(preparo da amostra), a NBR 6508/95
(determinação da massa específica dos grãos Figura 1. Ensaio de adensamento em andamento (fonte
autor)
inferior a 4,8 mm), a NBR 6502/95
(classificação dos solos), a NBR 6459/1986
(liquidez) e a NBR7180/1984 (plasticidade) a
fim de obter dados que permita auxiliar a sua
caracterização e utilização do solo de maneira
apropriada por meio de curvas.

2.3 Adensamento Edométrico


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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Caracterização Física do Solo

O solo pode ser caracterizado como um solo


Areia Argilo-Siltosa (SC) bem graduada. A
curva granulométrica é oferecida a seguir
(Figuras 3):

Figura 2. Amostra do solo – Estado saturado (fonte autor)

2.4 Composição gravimétrica do RSU


(Resíduos sólidos urbanos)

Para a gravimetria foram utilizados 2 (duas)


toneladas de solo com resíduos sólidos urbanos
(RSU) em 4 (quatro) ensaios realizados
separadamente. Foi utilizado veículo particular
para a coleta da amostra totalizando um total de
8 (oito) viagens. Utilizou-se de uma balança
com precisão de 1 kg.
Os resíduos foram divididos em categorias. O Figura 3. Curva Granulométrica (fonte autor)
solo foi encaminhado para o ensaio de
caracterização do solo. Os ensaios de limite de Atterberg foram
Em seguida a separação, cada grupo de realizados nos dois solos e são apresentados a
resíduo foi acomodado em sacos específicos seguir ( Figuras 4 e 5).
para posterior pesagem. Então, de uma maneira
geral, procurou-se após esta separação inicial,
proceder ao peneiramento da amostra de solo +
RSU de forma a buscar resíduos não visíveis.
Utilizou-se nesta etapa a peneira de 9,50 mm.
Os resíduos obtidos por este peneiramento
foram acrescentados nas suas respectivas
categorias.
A seguir, os resíduos foram pesados e os
resultados compilados em planilhas. Por fim,
foram selecionadas amostragem de cada uma
das categorias de resíduos para a caracterização Figura 4. Limite de Atterberg para solo não contaminado
gravimétrica a seco. (fonte autor)
Após a seleção, os resíduos foram deixados
em estufa à 60 graus até secar (em torno de 24
horas).
Então, as amostras de resíduos foram retiradas
e novamente pesadas para a caracterização
gravimétrica a seco.
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do solo por resíduos sólidos urbanos (RSU)


superficialmente.

3.2 Adensamento Edométrico

A Tabela 1 representa os resultados da


umidade inicial e final para o ensaio de
adensamento edométrico.

Tabela 1. Umidade inicial das amostras no adensamento


Figura 5. Limite de Atterberg para solo contaminado Solo winicial (%) wfinal (%)
(fonte autor)
Ensaio 1 16,68 27,98
O triângulo de Feret é apresentado a seguir Satur.
Ensaio 2 16,68 27,50
(Figura 6): Satur.

As Figuras 8 e 9 apresentam as curvas índice


de vazios vs tensão vertical. O valor do
coeficiente de adensamento (Figura 10) variou
no primeiro ensaio entre 25,24 e 48,42 x 10-3
cm²/s com um valor médio de 40,37 x 10-3 cm²/s
e desvio padrão de 7,11 x 10-3 cm²/s e no
segundo ensaio (Figura 11) entre 23,16 e 48,42
x 10-3 cm²/s com um valor médio de 40,95 x 10-3
cm²/s e desvio padrão de 7,62 x 10-3 cm²/s. A
variação do índice de vazios no primeiro ensaio
foi de 0,353 e no segundo ensaio de 0,327. O
valor médio do coeficiente de adensamento
Figura 6. Triângulo de Feret (Feret, 1968) após os dois ensaios foi de 40,66 x 10-3 cm²/s e
desvio padrão de 7,37 x 10-3 cm²/s.
O Sistema Unificado de Classificação dos
solos é apresentado a seguir (Figura 7):

Figura 7. Sistema Unificado de Classificação dos solos


(Casagrande, 1942) Figura 8. Ensaios em condições saturadas índice de
vazios de acordo com a tensão efetiva aplicada Ponto 1
Como é possível verificar a perda de (06/09/2017) (fonte autor)
plasticidade foi pequena devida à contaminação
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sólido urbano (RSU) presente no solo e desvio


padrão. Também define a quantidade de solo
presente no solo contaminado. Dentre os
resíduos sólidos urbanos (RSU) encontrados
apenas a matéria orgânica obteve redução no
peso após exposição a estufa. A redução não foi
significativa.

Tabela 2. Tabela informativa com percentuais médios de


cada material e desvio padrão (gravimetria umidade
natural) (fonte autor)
Material Percentual Desvio
(%) Padrão
Figura 9. Ensaios em condições saturadas índice de (%)
vazios de acordo com a tensão efetiva aplicada Ponto Solo 67 14
(07/09/2017) (fonte autor) RCC 28 4
Vidro <1 <1
Matéria 2 1
Org.
Metal <1 <1
Plástico 2 3

Tabela 3. Tabela informativa com percentuais médios de


cada material e desvio padrão (gravimetria a seco) (fonte
autor)
Material Percentual Desvio
(%) Padrão
(%)
Solo 65 14
RCC 30 4
Figura 10. Condição Saturada, coeficiente de Vidro <1 <1
adensamento, de acordo com a tensão efetiva aplicada Matéria 2 1
Ponto 1 (06/09/2017) (fonte autor) Org.
Metal <1 <1
Plástico 2 3

Como é possível verificar, a maior parte dos


resíduos pertence a classe resíduos da
construção civil (RCC).

4 CONCLUSÕES

Figura 11. Condição Saturada, coeficiente de Os resultados obtidos foram muito


adensamento, de acordo com a tensão efetiva aplicada
satisfatórios. É possível afirmar que os resíduos
Ponto 1 (07/09/2017) (fonte autor)
sólidos urbanos não alteraram ou alteraram
3.3 Composição Gravimétrica do RSU muito pouco significativamente as propriedades
(Resíduos Sólidos Urbanos) do solo. Foi possível verificar que o limite de
liquidez (LL) teve uma redução de apenas 3%.
A Tabela 2 e 3, a seguir mostra os valores Já o limite de plasticidade (LP) foi levemente
finais com percentuais médios de cada resíduo inferior em 1%. Assim, o valor do índice de
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plasticidade final foi meramente 2% inferior. 6 REFERÊNCIAS


De maneira geral, a presença de apenas 2% de
matéria orgânica, permitiu que as propriedades Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6457:
físicas do solo fossem mantidas. Os resíduos da 1986. Amostra de Solo preparação para ensaios de
compactação e ensaio, Rio de Janeiro.
construçao civil (RCC) apresentam pequeno Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR
grau de variação físico-química ao longo do 6459:1986. Limite de Liquidez, Rio de Janeiro.
tempo. Os resultados estiveram dentro do Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR
esperado. 6502:1995. Rochas e Solos, Rio de Janeiro.
Houve também pouca variação nos Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6508:
1995. Massa específica dos sólidos, Rio de Janeiro.
coeficientes de adensamento do solo, assim Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR
como da variação dos índices de vazios do solo, 7180:1984. Limite de Plasticidade, Rio de Janeiro.
o que especifica uma homogeneidade da área Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR
estudada. 7181:1984. Solo – Análise Granulométrica, Rio de
Para este solo tropical os resultados foram Janeiro.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR
positivos. Novos estudos devem ser feitos a fim 12007:1990. Solo – Adensamento Edométrico, Rio de
de comparar outros solos tropicais. Também, é Janeiro.
de grande interesse, pesquisas que especificam Andersen, K.H. (2015) Cyclic soil parameters for
a variação da plasticidade no solo contaminado offshore foundation design, Third ISSMGE
com resíduos de outras naturezas. McClelland Lecture Frontiers in Offshore
Geotechnics III, Oslo, v.1
A Figura 12, a seguir plota o resultado obtido Caputo, H. P; Caputo, A. N. (2015) Mecânica dos solos e
com outras diferenças de plasticidade suas aplicações – Fundamentos. Vol. 1. 7. ed. Rio de
encontradas na literatura. Janeiro: Livros Técnicos e Científicos – LTC, 256p.
Pinto, C. S. (2006) Curso básico de mecânica dos solos
em 16 aulas. 3. ed. São Paulo: Oficina de textos,
367p.
Ponce, E.S.; Mendonça, R. M. G. (2015) Comportamento
do solo do aterro sanitário de Palmas – TO, 15º
Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e
Ambiental, Bento Gonçalves, 1-9 p.

Figura 12. Diferentes plasticidades de solos


contaminados (fonte autor)

5 AGRADECIMENTOS

Os autores desejam agradecer ao Conselho


Nacional de Pesquisa (CNPq) e a Fundação
Volkswagen pelo apoio constante.
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Efeito da adição de resíduo de alumínio nos parâmetros de


resistência ao cisalhamento de solo típico de Manaus/AM
Bruno Barbosa Frota
Universidade Federal do Amazonas/GEOTEC, Manaus, Brasil, brunobfrota@gmail.com.

Paulo Sérgio da Silva


Universidade Federal do Amazonas/GEOTEC, Manaus, Brasil, p.silvaa1409@gmail.com.

Matheus Pena da Silve e Silva


Universidade Federal do Amazonas/GEOTEC, Manaus, Brasil, matheuspenass@hotmail.com.

Consuelo Alves da Frota


Universidade Federal do Amazonas/GEOTEC, Manaus, Brasil, cafrota@ufam.edu.br.

RESUMO: Analisou-se o acréscimo de resíduo de alumínio moído ao solo argiloso típico da cidade
de Manaus-AM, visando melhorar suas propriedades geotécnicas. O material natural foi
caracterizado fisicamente quanto à massa específica dos grãos, granulometria, limite de liquidez,
limite de plasticidade, e compactação na energia intermediária. O resíduo de alumínio foi moído de
modo a possuir textura semelhante a das areias, sendo caracterizado quanto a granulometria. As
misturas pesquisadas foram: 95% de solo natural + 5% de resíduo e 90% de solo natural + 10% de
resíduo. As composições foram caracterizadas quanto aos índices de consistência e pelo ensaio de
proctor na energia intermediária. As composições e o solo in natura foram avaliados quando ao seu
comportamento mecânico pelo ensaio de resistência ao cisalhamento. Os resultados indicaram uma
pequena redução da coesão e um aumento significativo do ângulo de atrito, conforme a maior
participação do resíduo na mistura.

PALAVRAS-CHAVE: Solo, Resíduo de Alumínio, Resistência ao Cisalhamento.

1 INTRODUÇÃO encontra-se distante (FROTA et al., 2006).


Comumente se utiliza na engenharia
Superficialmente o solo que compõe a área geotécnica estratégias para adequar as
urbana de Manaus é constituído, em sua maior propriedades do solo ao exigido pelas normas
parte por solos argilosos. Sabe-se que na técnicas, processo este denominado de
Engenharia Civil esse tipo de solo possui baixa estabilização dos solos.
estabilidade e difícil trabalhabilidade na Em face da crescente preocupação mundial
construção de pavimentos, em decorrência da alusivo ao aproveitamento de resíduos e
sua elevada plasticidade, tornando inadequados diminuição da extração de recursos naturais,
o seu emprego (FROTA, 2000). neste trabalho abordou-se a adição de limalha
A capital amazonense bem como outros de alumínio (resíduo) ao solo argiloso típico da
municípios da região se caracterizam pela cidade de Manaus/AM, afim de melhorar suas
escassez de material pétreo, tal característica propriedades geotécnicas, bem como propor
aumenta os custos das obras de engenharia, uma nova alternativa de destinação deste
especialmente para a pavimentação, uma vez passivo ambiental.
que o afloramento de material rochoso
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2 OBJETIVOS

O objetivo geral é analisar o comportamento


geotécnico do solo argiloso típico de Manaus,
quando estabilizado com resíduo de alumínio,
nas seguintes composições 95% de solo e 5% de
resíduo de alumínio e 90% de solo e 10% de
resíduo de alumínio.
Os objetivos específicos são caracterizar
fisicamente os participantes das misturas;
determinar os parâmetros de compactação das
composições indicadas; analisar o efeito do
resíduo de alumínio no comportamento
mecânico, segundo o ensaio de cisalhamento
direto; e propor uma nova alternativa a
Figura 1. Solo Natural.
destinação do resíduo de alumínio.
A preparação das amostras seguiu as
3 MATERIAIS E MÉTODOS recomendações da Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT) pela norma NBR
3.1 Solo 6457/2016, intitulada “Amostras de solo -
Preparação para ensaios de compactação e
O solo argiloso natural (Figura 1) utilizado na ensaios de caracterização”. Realizou-se os
nas composições de misturas, foi retirado da seguintes ensaios de caracterização física:
camada superficial, fruto de escavação para limites de liquidez (NBR 6459/2017) e
reparo de tubulaçao de abastecimento de água, plasticidade (NBR 7180/2016), granulometria
na Faculade de Tecnologia (FT) localizada no (NBR 7181/2017), massa específica dos grãos
setor norte do Campus Senador Arthur Virgílio (NBR 6508/1988) e proctor na energia
Filho da Universidade Federal do Amazonas intermediária ((NBR 7182/2016).
(UFAM), no bairro do Coroado, Zona Leste da
cidade de Manaus com coordenadas de latitude 3.2 Resíduo de alumínio
3° 5'17.47"S e longitude 59°57'50.42"O.
Ressalta-se que este solo foi verificado quanto a O resíduo de alumínio (Figura 2), utilizado na
análise visual e táctil, afim de checar mistura com o Solo natural foi doado pela
predominância de fraçaõ de argila. empresa COMETAIS Indústria e Comércio de
Metais LTDA.
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Figura 2. Resíduo de Alumínio anteriormente ao processo Figura 4. Resíduo de Alumínio móido e peneirado.
de abrasão Los Angeles.
Realizou-se então granulometria, do resíduo
A fim de reduzir a graulometria do material selecionado. As composições (95% de solo
de modo que resultasse em uma textura de natural + 5% de resíduo e 90% de solo natural +
areia, uma vez que se trata do material usual 10% de resíduo), também foram caracterizadas
para estabilização dos solos regionais, realizou- segundo os mesmos ensaios realizados para o
se a seguinte metodologia: o material foi moído solo natural.
no moinho do Abrasão Los Angeles (Figura 3),
da marca Pavitest, sendo submetido a 1000 3.3 Composições
revoluções, a uma taxa de 30 a 33 rpm, o
processo de moagem foi feito com 2,5 kg de As composições (95% de solo natural + 5% de
resíduo de alumínio, juntamente com 12 esferas resíduo e 90% de solo natural + 10% de
de aço de 50 mm de diâmetro. A fim de garantir resíduo), também foram caracterizadas segundo
a textura desejada, utilizou-se apenas o material os ensaios de limite de Atterberg e
moído que passasse na peneira de 4,8 mm. A compactação, conforme normas descritas
Figura 4 ilustra resíduo moído e peneirado. antriormente.

3.2 Moldagem e Ensaio de Cisalhamento


Direto

Com os parâmetros obtidos no ensaio de


Proctor, realizado na energia intermediária,
realizou-se a moldagem dos corpos de prova
com controle do grau de compactação,
admitindo-se uma variação de 98 a 100%, a
serem submetidos ao ensaio de cisalhamento
direto. Esse controle foi realizado por meio do
cálculo da massa do corpo de prova de acordo
Figura 3. Equipamento Abrasão Los Angeles. com os parâmetros massa específica aparente
seca máxima e umidade ótima, conforme
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Equação 1. O molde utilizado para compactação


pode ser visto na Figura 5.

(1)
Onde:
M é a massa a ser compactada [g];
GC é o grau de compactação adotado, neste
caso, 100%;
γdmáx é a massa específica aparente seca
máxima [g/cm³];
wot é a umidade ótima, de acordo com a
composição; Figura 6. Equipamento de Cisalhamento Direto.
Vmolde é volume para o qual o corpo deve ser
compactado [cm³].

Figura 5. Molde para compactação de corpos de prova. Figura 7. Corpo de prova cisalhado.

O ensaio de cisalhamento direto a


deformação controlada, foi realizado segundo as 4 RESULTADOS
recomendações da American Society For
Testing And Materials (ASTM, D 3080-2004). Referente à massa específica dos grãos, o solo
As tensões normais aplicadas foram: 50 kPa, natural apresentou um valor de 2,67 g/cm³. Na
100 kPa, 150kPa e 100 kPa. Sendo a taxa de Figura 8 e na Tabela 1 encontram-se os
deformação de 1 mm/min. Segundo o critério resultados referentes a textura tanto do solo
Mohr-Coloumb, determinou-se os parâmetros natural quanto do resíduo de alumínio utilizado
de coesão (c) e ângulo de atrito interno (φ). nas composições. Estes resultados apontam a
Observa-se na Figura 6 a prensa do ensaio de predominância da argila no solo (84%), e de
cisalhamento direto e corpo de prova já fração granular, correspondente ao de uma
cisalhado, após realização do ensaio na Figura areia, no resíduo de alumínio (100%). Os
7. índices de consistência, apresentados na Tabela
2 indicam a diminuição do limite de liquidez e
do limite de plasticidade, como consequência a
redução do índice de plasticidade, frente ao
aumento da proporção do resíduo no solo in
natura.
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Silva et al. (2014) e Mendes et al. (2016), essa


incongruência por ser justificada pela forma
como foram preconizados inicialmente os
ensaios de LL e LP, ou seja, para solos de zona
temperada cuja formação diverge dos solos
tropicais. Ao analisar a curva granulométrica do
resíduo de alumínio, obtem-se um coeficiente
de uniformidade (Cu) igual a 2,14 e o
coeficiente de curvatura (Cc) igual a 0,95,
resultando de acordo com o SUCS um material
do tipo SP (Areia mal graduada), corroborando
com a análise das frações de areia, a qual aponta
68% de areia grossa, 31% areia média e 1% de
areia fina, conforme escala da ASTM para
Figura 8. Curvas Granulométricas dos materiais. análise de frações.
O ensaio de compactação resultou nas curvas
Tabela 1. Resultados da granulometria (%). apresentadas na Figura 9. Nota-se que com a
adição do material alternativo há um aumento
Cascalho Areia Silte Argila da massa específica aparente seca máxima e
Descrição diminuição da umidade ótima, gerando um
4,75 – 0,075 - <0,005
> 4,75 mm efeito benéfico para a prática no campo.
0,075 mm 0,005 mm mm
Solo
0,00 10 6 84
natural
Resíduo 0,00 100 0 0

Tabela 2. Índices de Consistência.

Composição LL LP IP
Solo Natural 94 53 41
Solo Natural + 5% Resíduo 80 48 32
Solo Natural + 10%
75 45 30
Resíduo

A classificação do solo natural e das


composições foi realizada conforme o Sistema
Unificado de Classificação de Solos (SUCS) e
as orientações da AASHTO, e resultaram em:
a) MH e A-7-5 para o solo natural, b) MH e A-
7-5 para solo + 5% de resíduo de alumínio e c) Figura 9. Curvas de Compactação.
MH e A-7-5 para solo-10% de resíduo de
alumínio (DAS, 2012). Nota-e que a adição do Os parâmetros obtidos na Figura 9 nortearam a
resíduo não modifica a classificação do solo em confecção dos corpos de provas para o ensaio
ambas as composições. A partir desta análise, de cisalhamento direto, os quais apresentaram
percebe-se uma discordância entre o resultado grau de compactação variando em torno de
obtido na granulometria (solo argiloso) e o 99%. Os ensaios na prensa de cisalhamento
classificado de conforme o SUCS (MH – silte direto forneceram as curvas tensão cisalhante x
de alta plasticidade), tal aspecto também foi deformação, bem como os valores de tensão
notado em pesquisas anteriores realizadas por normal e tensão cisalhante na ruptura. Tais
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dados permitiram a aplicação do critério Mohr- retirado do campus da UFAM. Os resultados do


Coulomb (Figura 10), por meio do qual obteve- ensaio de cisalhamento direto apontaram para o
se a coesão e o ângulo de atrito (Tabela 3) para solo natural e as composições de 10% e 50%, os
cada composição. A análise dos resultados respectivos valores de coesão, 89 kPa, 147 kPa
mostra que a adição do resíduo causa aumento e 89,5 kPa, e para o ângulo de atrito, 34,4°,
no ângulo de atrito e diminuição da coesão da 32,9° e 36,2°. Nota-se que a coesão do solo
composição. Em termos percentuais, a natural estudado por Silva et al. (2014) é
diminuição da coesão em relação ao solo semelhante a do material in natura analisado
natural foi de 5,17%, para a proporção solo-5% nesta pesquisa, relativo ao ângulo de atrito há
resíduo, e de 9,77% para composição com 10% uma diferença de 7,59%. Alusivo à
de resíduo. Atinente ao ângulo de atrito, as porcentagem de 10% de material alternativo,
variações foram em torno de 24,41% (solo-5% observa-se que há um grande aumento na
resíduo), e 44,85% (solo-10% resíduo). Apesar coesão com a utilização do resíduo cerâmico e
da diminuição da coesão com a adição de um pequeno aumento do ângulo de atrito,
material alternativo, o aumento do ângulo de diferentemente do obtido na pesquisa em pauta,
atrito proporcionou o aumento da resistência ao no qual se obteve uma pequena redução da
cisalhamento, conforme ilustrado na Figura 10. coesão e um grande aumento do ângulo de
atrito. Porém, ao analisar de forma mais
minuciosa os resultados, nota-se que a partir da
tensão de 150 kPa, a resistência ao cisalhamento
apresenta-se maior ao utilizar-se o resíduo de
alumínio para estabilização do solo de Manaus.

5 CONCLUSÃO

A adição de resíduo de alumínio proporcionou o


aumento da massa específica aparente seca
máxima e redução da umidade ótima,
constatando-se um efeito positivo para prática
no campo. Alusivo ao comportamento mecânico
Figura 10. Critério de Mohr-Coulomb das composições.
segundo o ensaio de cisalhamento direto,
Tabela 3. Coesão e Ângulo de Atrito (ϕ). obsevou-se uma pequena redução da coesão e
um grande aumento ângulo de atrito,
Composição Coesão ϕ
principalmente para a composição com 10% de
(kPa) (º) resíduo de alumínio. Indica-se, portanto, que o
Solo Natural 87 31,79 material estudado é uma alternativa para
melhorar as propriedades do solo.
Solo Natural + 5%
82,5 39,55
resíduo
Solo Natural + AGRADECIMENTOS
78,5 48,74
10% resíduo
À empresa COMETAIS Indústria e Comércio
de Metais LTDA por ter doado o resíduo de
Silva et al. (2014) estudaram o efeito da alumínio para realização desta pesquisa.
adição de resíduo cerâmico (10% e 50%) ao
solo argiloso da cidade de Manaus, também
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REFERÊNCIAS

ABNT – Associação brasileira de normas técnicas. NBR


6459-17, Solo: Determinação do limite de liquidez,
(2017).
_____. NBR 6508-88, Solo: Massa específica real dos
grãos, (1988).
_____. NBR 7180-16, Solo: Determinação do limite de
Plasticidade, (2016).
_____. NBR 7181-17, Solo: Análise granulométrica,
(2017).
_____. NBR 7182-16, Solo: ensaio de compactação,
(2016).
_____. NBR 6457-16, Amostras de solo: preparação para
ensaios de compactação e ensaios de caracterização,
(2016).
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3080-11: Standard test method for direct shear test of
soils under consolidated drained conditions. USA,
2011.
Das, B. M. (2012). Fundamentos de Engenharia
Geotécnica. 6ª Edição. Tradução All Tasks – São
Paulo: Thomson Learning.
Frota, C. A. (2000). Lime stabilization of Manaus soils.
In: 5th International Symposium on Environmental
Geotechnology and Global Development, Belo
Horizonte : UFMG, v. 1.
Frota, C. A.; Melo, D. M.; Nunes, F. R. G. (2006).
Análise do Comportamento Mecânico de Misturas
Asfálticas com Resíduo Processado da Construção
Civil. In: V Jornadas Luso-Brasileiras de Pavimentos:
Políticas e Tecnologias, Recife, v. 048.
Mendes, A. S.; Fernandes, R. M.; Silva, M. P. S.; Lima,
R. H.C; Frota, C. A. (2016). Efeito da adição de
resíduo de poliéster reforçado com fibra de vidro nos
parâmetros de resistência ao cisalhamento. In: XVIII
Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e
Engenharia Geotécnica. Belo Horizonte, p. 19-22.
Silva, M. P. S.; SILVA, A. C. L.; FROTA, C. A. (2014).
Efeito nos parâmetros de resistência ao cisalhamento
pela adição de resíduo cerâmico em solo típico de
Manaus/AM. In: 43a RAPv Reunião Anual de
Pavimentação e 17° ENACOR Encontro Nacional de
Conservação Rodoviária, Maceió.
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Efeito da contaminação por combustíveis nos parâmetros de


compactação de solos tropicais – Uma análise comparativa dos
resultados com a Microscopia Eletrônica de Varredura
José Wilson Batista da Silva
Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, Brasil, josewilsonbatistadasilva@gmail.com

Natália de Souza Correia


Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, Brasil, ncorreia@ufscar.br

RESUMO: O constante crescimento dos acidentes ambientais, tais como derramamento de óleos ou
combustíveis, tem resultado no questionamento de qual destino dar ao solo contaminado, e qual o
potencial de danos causados em uma obra após uma eventual contaminação no solo. Politicas de
reaproveitamento de solos contaminados destacam-se atualmente no sentido de possibilitar o reuso
de solos contaminados com óleos ou combustíveis em usinas de produção de asfalto, camadas de
sub-base, e até na aplicação como camadas de cobertura diária de aterros sanitários. No entanto, a
aplicação destes materias fica condiconada a um conhecimento detalhado da novas propriedades
geotécnicas destes solos após a contaminação. Neste sentido, esta pesquisa busca compreender os
efeitos da contaminação por hidrocarbonetos nos parâmetros de compactação de um solo areno-
argiloso e um solo argilo-arenoso, por meio de ensaios Proctor Normal. Os solos foram
contaminados isolodamente com etanol, gasolina e óleo diesel, nos teores de 4, 8, 12 e 16% com
relação a massa seca de solo, e os resultados foram confrontados com análises de microscopia
eletrônica de varredura (MEV). Os resultados demonstram que os parâmetros de compactação dos
solos sofreram significativas alterações nos valores de massa específica seca máxima e nos teores
ótimos de umidade após a contaminação. Verificou-se ainda o efeito de lubrificação das partículas
causado pela parcela oleosa dos contaminantes (gasolina e óleo diesel), uma vez que os valores de
massa específica seca máxima se elevaram para os teores iniciais de contaminação destes
combustíveis. Os resultados visualizados através do MEV demonstram alterações na estrutura dos
solos e corroboram com os resultados das alterações nos parâmetros de compatação.

PALAVRAS-CHAVE: Solos contaminados, Hidrocarbonetos, Combustíveis, Compactação,


Microscopia eletrônica.

1 INTRODUÇÃO Companhia Ambiental do Estado de São Paulo


divulgou o relatório de áreas contaminadas no
A alta demanda por combustíveis nos últimos estado, mostrando que, em 2017, são 5.942
anos transformou a cadeia de transportes e áreas, sendo 72% dos caso devidos à postos de
armazenamento deste produtos em todo o combustíveis (CETESB, 2017). Estes dados
território nacional. Como consequência, o podem ser um indicativo do que ocorre, de
número de acidentes envolvendo o transporte e forma geral, em todo o país.
principalmente a armazenagem destes produtos Diversas são as alternativas de
têm aumentado. Neste incidentes, um dos biorremediação e reuso de solos contaminados.
elementos do meio ambiente mais afetados é o No entanto, políticas de reaproveitamento de
solo. Assim, em função da intensa quantidade solos contaminados, tais como a Petroleum-
de áreas afetadas por contaminação no Brasil, a contaminated Soil Guidance Policy (New York
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State Regulations and Enforcement, 2010), e a Tabela 1 – Estudos dos parâmetros de compactação
Use of alternative daily cover at landfills (peso específico máximo) do solo pós-contaminação.
(IDEM - Indiana Department of Environmental γd
Referência Solo Contaminante
Management, 2013) direcionam para o reuso de máximo
solos contaminados com óleos ou combustíveis Ijimdiya Arenoso Óleo de
(2013) laterítico Motor
na construção civil, tais como camadas de sub-
Kermani e Silte
base de pavimentos, usinas de produção de Petróleo
Ebadi areno- Aumento
asfalto, camadas de aterros sanitários, pátios de bruto
(2012) argiloso
e áreas industriais de depósitos de resíduos. Rahman et Arenoso Óleo de
Embora válidas as orientações de reuso do al. (2011) residual motores
solo contaminado, é necessário ainda o Rahman et Solo Óleo de
entendimento do comportamento geotécnico al. (2011) Granítico motores
pós-contaminação destes solos, o qual pode ser Solo
realizado mediante caracterização e Nasehi et al. Argiloso,
Gasolina Redução
investigação das alterações nas propriedades. (2016) Siltoso e
Neste sentido, diversos estudos vêm sendo Arenoso
realizados com próposito de avaliar o George et Óleo de
Arenoso
al. (2015) motores
comportamento geotécnico de solos
Fonte: Autores (2018).
contaminados com óleos e derivados de
petróleo (Rahman et al., 2011; Kermani e
Ebadi, 2012; Nazir, 2012; Ijimdiya, 2013; Ota, Diante deste contexto e do potencial reuso
2013; Rasheed et al., 2014; Daka, 2015, dos solos contaminados na engenharia, o
Estabragh et al., 2016, Nasehi et al., 2016, presente trabalho consiste em avaliar o efeito da
Daciolo et al., 2017; Silva et al., 2017; Karkush contaminação por hidrocarbonetos nos
e Taher, 2017; Karkush e Kareem, 2017). parâmetros de compactação de um solo areno-
De acordo com Kermani e Ebadi (2012), os argiloso e um solo argilo-arenoso, por meio de
profissionais da área de geotecnia devem ensaios Proctor Normal. Os solos foram
considerar as alterações geotécnicas sofridas no contaminados isolodamente com etanol,
solo devido a contaminação, uma vez que a gasolina ou óleo diesel, nos teores de 4, 8, 12 e
capacidade de carga, a resitência ao 16% com relação a massa seca de solo, e os
cisalhamento e a compressibilidade do solo são resultados foram confrontados com análises de
fatores que merecem atenção. Khamehchiyan et microscopia eletrônica de varredura (MEV).
al. (2007) e Daka (2015) enfatizam o estudo das
alterações nas propriedades de resistência 2 MATERIAIS E MÉTODOS
mecânica do solo após a contaminação.
Com relação aos estudos de propriedades 2.1 Solo
mecânicas de solos contaminados com óleos
derivados do petróleo, a literatura demonstra O solo areno-argiloso foi extraído no campus
que não existe uma uniformidade no sede da Universidade Federal de São Carlos
comportamento pós-contaminação dos solos, (UFSCar) e o solo argilo-arenoso foi extraído
independente do contaminante (Tabela 1). das margens da SP215 Km 152+600m entre São
Verificam-se, desde registros onde pequenas Carlos e Ribeirão Bonito-SP. De acordo com a
concentrações de óleos combustíveis ou classificação SUCS, o areno-argiloso é SC e o
petróleo bruto foram suficientes para reduzir argilo-arenoso MH. Após coletados, estes foram
drasticamente a resitência do solo, quanto preparados tal como prescrito na NBR 6457
melhoras no comportamento mecânico após a (ABNT, 2016). As propriedades geotécnicas
contaminação. dos solos na condição natural são apresentados
na Tabela 2.
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Tabela 2 – Propriedades geotécnicas dos solos estudados 2.3 Contaminação solo-combustível


na condição natural.
Areno- Argilo- Os solos foram manualmente misturados
Propriedades
argiloso arenoso
com cada um dos contaminantes, em teores de
Fração areia (%) 70 30 4, 8, 12 e 16% relativos a massa seca do solo,
Fração silte (%) 2,7 28 até que as amostras apresentassem aspecto
Fração argila (%) 27,5 42
homogêneo. As amostras foram ensacadas,
Peso específico dos sólidos (kN/m³) 28,4 29,6 vedadas e deixadas em descanso durante 24
Limite de liquidez (%) 33,40 58
horas. De acordo com os estudos de Khosravi et
Limite de plasticidade (%) 21,50 33
al. (2013), a perda de óleo por evaporação neste
Índice de plasticidade (%) 11,90 25
processo é inferior a 3% da massa de óleo
Peso específico seco máx. (kN/m³) 17,7 15,52
imposta no solo, sendo, portanto, não
Teor de umidade ótimo (%) 14,8 28,0
considerada significativa.
pH em água 4,95 5,16
pH em KCl 4,38 3,97
2.3 Ensaios de compactação e MEV
Fonte: Autores (2018).

As alterações nos parâmetros de


2.2 Contaminantes
compactação dos solos após a contaminação
foram avaliadas por meio de ensaios Mini-
2.2.1 Etanol
Proctor (DER/SP M-191/88). Já para as
verificações de alterações na estrutura dos solos
O etanol é um composto orgânico,
foram realizadas análises MEV. As análises
encontrado no estado líquido e gasoso, que
MEV foram realizadas no microscópio
quando empregado como combustível sofre a
eletrônico Inpect S50 do Laboratório de
adição de até 27% de gasolina na sua fórmula.
Caracterização Estrutural (LCE-UFSCar), com
A densidade do etanol usado nesta pesquisa é de
aumento de 250x a 12000x. Para tanto, as
0,799 g/cm³ a 20ºC, e pH de 6,55.
amostras foram compactadas nos teores ótimos
de compactação para cada teor de contaminante.
2.2.2 Gasolina
3 RESULTADOS
A gasolina é constituída de hidrocarbonetos e
pequena quantidade de produtos oxigenados,
3.1 Solo Areno-argiloso
sendo encontrada em forma de líquido
amarelado viscoso, límpido e imiscível em
Os resultados de curva de compactação
água. A gasolina usada nesta pesquisa é comum
encontrados para o solo areno-argiloso são
“tipo C”, com densidade de 0,699 g/cm³ a 20ºC,
apresentados na Figura 1 para etanol, gasolina e
e pH de 8,03.
óleo diesel. Verifica-se na Figura 1 que a
contaminação alterou os valores de massa
2.2.3 Óleo Diesel
específica aparente seca máxima e os teores
ótimos de umidade para todos os casos. Houve
O óleo diesel (S500) é um combustível
uma tendência de aumento da massa específica
fóssil, formado por hidrocarbonetos e pequena
aparente seca máxima, em relação ao solo
quantidade de nitrogênio, oxigênio e enxofre.
natural, nos casos onde o solo foi contaminado
Possui aspecto líquido límpido avermelhado
com gasolina (Figura 1b) e óleo diesel (Figura
(isento de materiais em suspensão), pouco
1c). Isto ocorreu provavelmente devido a
volátil e imiscível em água. A densidade do
lubrificação das partículas, que ocasionou maior
óleo desta pesquisa é de 0,834 g/cm³ a 20ºC,
entrada de massa de sólidos. Já o etanol (Figura
viscosidade 7,64 (mm²/s) a 40ºC, e pH de 5,62.
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1a), que contém grande quantidade de água os primeiros teores de contaminação (2% e 4%),
(29%) em sua formulação, mostrou que a seguido de diminuição, tal como observado
alteração no teor de umidade do solo foi mais nesta pesquisa.
significativa do que na massa específica seca Os resultado obtidos foram então
máxima. confrontados com as imagens de MEV com o
intuito de enterder as mudanças ocorridas na
1,90
Solo Natural estrutura do solo compactado. A Figura 2
1,85 4%
8% apresenta imagens de MEV para solo areno-
Massa específica seca (g/cm³)

1,80 12%
16% argiloso natural com aumentos de 250 e 500x.
1,75
1,70
100% Nas imagens deste solo natural podemos notar
1,65 90%
vazios no solo, bem como grãos de quartzos
1,60 (apontados pelas setas) bem definidos e
80%
1,55 visivéis, separados das partículas finas.
1,50
SoloSolo
Areno-argiloso 70%
Laterítico
1,45 Etanol
Etanol Solo Areno-argiloso
1,40 Natural
5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25
Teor de umidade (%)
(a)
1,90
Solo Natural
1,85 4%
Massa específica seca (g/cm³)

8%
1,80 12%
16%
1,75
100%
1,70

1,65 90%

1,60
80%
1,55 SoloAreno-argiloso
Solo Areno-argiloso
Gasolina 70%
1,50
5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25
Teor de umidade (%)
(b) (a)
1,90 Solo Areno-argiloso
Solo Natural
1,85 4% Natural
Massa específica seca (g/cm³)

8%
1,80 12%
16%
1,75
100%
1,70
90%
1,65

1,60 80%
70%
1,55 Solo Laterítico
Areno-argiloso
Diesel
Diesel
1,50
5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25
Teor de umidade (%)
(c)
Figura 1 – Curvas de compactação do solo areno-
argiloso: (a) etanol; (b) gasolina; (c) diesel.
(b)
Na pesquisa de Ijimdiya (2013), onde foi Figura 2 – Imagens de MEV para solo areno-argiloso
utilizado um solo arenoso contaminado com natural: (a) 250x; (b) 500x.
óleo de motores, verificou-se que houve
aumento nos parâmetros de compactação para
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Para o solo areno-argiloso contaminado, Solo Areno-argiloso


optou-se por apresentar as amostras com 4% e 16% - Diesel

16% de óleo diesel, em comparação a amostra


natural. Esta escolha se justifica pelo fato de ter
sido este um dos contaminantes com maior
influência nos parâmetros de compactação e
com maior potencial de lubrificação das
partículas devido a sua composição oleosa.
Com 4% de diesel, o solo sofreu aumento da
massa específica seca máxima, enquanto para
16%, redução. A Figura 3 apresenta as imagens
para o solo areno-argiloso contaminado com 4%
de óleo diesel e a Figura 4 apresenta as imagens
com 16% de óleo diesel. (a)
Solo Areno-argiloso
Solo Areno-argiloso 16% - Diesel
4% - Diesel

(b)
(a)
Figura 5 – Imagens de MEV para solo areno-argiloso
Solo Areno-argiloso com 16% Diesel: (a) 250x; (b) 500x.
4% - Diesel

Ao analisarmos as imagens de MEV do solo


areno-argiloso, podemos compreender os
resultados obtidos nos ensaios de compactação
(Figura 1c). As partículas do solo ficam
“coladas” umas às outras devido ao baixo teor
de óleo (Figura 4). De acordo Ijimdiya (2013),
esta lubrificação faz com que a massa específica
seca máxima aumente. Já ao analisarmos as
imagens para o solo contaminado com 16% de
óleo diesel (Figura 5), notamos um aumento na
dispersão das partículas (reação de floculação) e
(b) o aparecimento de grandes vazios no solo. Isso
Figura 4 – Imagens de MEV para solo areno-argiloso evidencia a redução nos valores de massa
com 4% de óleo Diesel: (a) 250x; (b) 500x. específica seca máxima obtidos no ensaio de
compactação.
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3.2 Solo Argilo-arenoso apresentou redução nos valores de massa


específica seca máxima para todos os casos,
Os resultados de curva de compactação obtidos com excessão da contaminado com 4% de
para o solo argilo-arenoso são apresentados na Gasolina (Figura 6b). O etanol (Figura 6a)
Figura 6 para etanol, gasolina e óleo diesel. novamente levou a aumentos significativos nos
valores de umidade ótima do solo contaminado.
1,60 Na pesquisa de Nasehi et al. (2016), onde solos
1,55 argilosos e siltosos foram contaminados com
Massa específica seca (g/cm³)

1,50 gasolina, verificou-se redução massa específica,


1,45 tal como verificado nesta pesquisa.
1,40
As imagens MEV para o solo argilo-arenoso
1,35
são apresentadas em aumentos de 6000x a
Natural
4%
12000x. A Figura 7 apresenta as imagens na
1,30
8% condição natural, mostrando a estrutura lamelar
1,25 12% Solo Não Laterítico
Argilo-arenoso
16% Etanol
Etanol e partículas finas, tal como indicado nas setas.
1,20
16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40
Teor de umidade (%) Solo Argilo-arenoso
(a) Natural
1,60

1,55
Massa específica seca (g/cm³)

1,50

1,45

1,40

1,35
Solo Natural
1,30 4%
8%
1,25 12% Solo Não Laterítico
Agilo-arenoso
16% Gasolina
1,20
16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40
Teor de umidade (%)
(b)
1,60 (a)
1,55
Solo Argilo-arenoso
Massa específica seca (g/cm³)

1,50 Natural

1,45

1,40

1,35
Solo Natural
1,30 4%
8%
1,25 12% Solo Argilo-arenoso
Solo Não Laterítico
16% Diesel
Diesel
1,20
16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40
Teor de umidade (%)
(c)
Figura 6 – Curvas de compactação do solo argilo-
arenoso: (a) etanol; (b) gasolina; (c) diesel.

O solo argilo-arenoso teve comportamento (b)


diferente do observado no areno-argiloso. É Figura 7 – Imagens de MEV para solo argilo-arenoso
possível notar que, o solo argilo-arenoso Natural: (a) 6000x; (b) 12000x.
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No caso do solo argilo-arenoso contaminado, No entanto, quando observamos a Figura 9,


optou-se por apresentar as imagens MEV das referente ao solo argilo-arenoso contaminado
amostras contaminadas com teores de 4% e com 16% de gasolina, este comportamento de
16% de Gasolina, em comparação a amostra floculação não é observado. As partículas se
natural. A escolha é devido ao fato deste ter dispersaram, chegando ao ponto de deslizarem
sido o contaminante com maior influência no umas sobre as outras devido ao excesso de óleo
valor de massa específica seca máxima do solo. sobre elas. Os resultados corroboram com o
A Figura 8 mostra que o solo contaminado observado nos ensaios mecânicos para o teor de
com 4% de Gasolina, o qual apresentou 16% de gasolina, o qual mostrou redução na
aumentos na massa específica máxima, está massa específica seca máxima do solo.
moderadamente floculado. É possível ver as a
estrutura se aproximando de um comportamento Solo Argilo-arenoso
mais granular, bem como notar vazios. Tal 16% - Gasolina

como na pesquisa de Nasehi et al. (2016), a


presença da gasolina (9%) floculou o solo fino.

Solo Argilo-arenoso
4% - Gasolina

(a)

(a)
Solo Argilo-arenoso
4% - Gasolina

Solo Argilo-arenoso
16% - Gasolina

(b)
Figura 9 – Imagens de MEV para solo argilo-arenoso
16% Gasolina: (a) 6000x; (b) 12000x.

Assim como no caso do solo areno-argiloso,


(b) as imagens MEV confirmaram os resultados dos
Figura 9 – Imagens de MEV para solo argilo-arenoso 4% ensaios mecânicos do solo argilo-arenoso.
Gasolina: (a) 6000x; (b) 12000x.
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4 CONCLUSÕES AGRADECIMENTOS

Este trabalho avaliou o efeito da Os autores agradecem ao LabGEO/UFSCar pelo


contaminação por combustíveis nas apoio institucional e a bolsa de iniciação
propriedades de compactação de dois solos científica condecida pela Fundação de Amparo
tropicais. Foram realizadas investigações à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP,
adicionais por imagens MEV, as quais foram de sob processo 2016/18522-1.
fundamental importância nesta investigação.
Desta pesquisa, foi possível concluir que:
 os parâmetros de compactação sofreram REFERÊNCIAS
significativas alterações, tanto nos
valores de massa específica seca ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA de NORMAS
TÉCNICAS. NBR 6508 – Solo: Determinação da
máxima, quanto nos teores ótimos de
massa específica dos solos. Rio de Janeiro, 1984. 8p.
umidade após a contaminação dos solos; ____ . NBR 6459 – Solo: Determinação do Limite de
 Uma tendência de aumento da massa Liquidez. Rio de Janeiro, 2016, versão corrigida:
específica aparente seca máxima foi 2017. 6p.
verificada no solo areno-argiloso para ____ . NBR 7180 - Solo: Determinação do Limite de
Plasticidade. Rio de Janeiro, 2016. 3p.
baixos teores de contaminação ____ . NBR 7181 - Solo: Análise Granulométrica por
(especialmente 4% e 8% de diesel e Peneiramento. Rio de Janeiro, 2016. 13p.
gasolina). Este fato foi atribuído a maior ____ . NBR 7182 - Solo: Ensaio de compactação. Rio de
lubrificação das partículas da amostra Janeiro, 2016. 10p.
compactada, e pôde ser comprovado nas CETESB (2017). Texto explicativo. Relação de áreas
contaminadas e reabilitadas do Estado de São Paulo,
análises de imagens MEV; CETESB. 14p, 2017.
 Uma tendência de redução na massa DACIOLO, L. V. P.; CORREIA, N. S.; PORTELINHA,
específica aparente seca máxima foi F. H. M. (2017). Efeito da contaminação de óleo
obervada no solo argilo-arenoso, com diesel nos parâmetros de compressibilidade de um
execeção do teor 4% de gasolina. Este solo laterítico. I Simpósio Nacional de Gestão e
Engenharia Urbana, São Carlos, SP.
comportamento foi observado nas DAKA, M. R. Geotechnical Properties of Oil
imagens MEV, que mostraram uma Contaminated Soil. Thesis (Master of Philosophy).
moderada floculação das partículas para Universidade de Manchester, 2015.
este teor de contaminação; DEPARTAMENTO DE ESTRADAS E RODAGEM. M-
191/88. Ensaio de Compactação de Solos com
 A umidade ótima mostrou-se mais Equipamento Miniatura. São Paulo, 1988.
sucetível a alterações quando os dois ESTABRAGH, A. R.; BEYTOLAHPOUR, I.; MORADI,
solos foram contaminados com etanol. M, JAVADI, A. A. (2016). Mechanical behaviour of
clay soil contaminated with glycerol and ethanol.
Em geral, tal como visto nos demais European Journal of Environmental and Civil
Engineering, 20, issue 5.
trabalhos da literatura, existe um intervalo de GEORGE, S.; EA, S.; SABU, B.; NP, K, GEORGE, M.
teores de contaminação onde pode haver (2015). Study on Geotechnical Properties od Diesel
incrementos reais nos parâmetros mecânicos do Oil Contaminated Soil. International Journal of Civil
solo contaminado. Este estudo é de extrema and Structural Engineering Research, 2, Issue 2, p.
importância quando da necessidade de reuso do 113-117.
IJIMDIYA, T. S. (2013). The Effects of Oil
solo contaminado em obras geotécnicas, uma Contamination on the Consolidation Properties of
vez que reduções na resistência e Lateritic Soil. Development and Applications of
compressibilidade do solo contaminado seriam Oceanic Engineering (DAOE), vol. 2 Issue 2, p. 53-
esperadas. No entanto, os autores recomendam 59.
que cada caso seja analisado nas condições de INDIANA DEPARTMENT OF ENVIRONMENTAL
MANAGEMENT – IDEM. (2013). Use of Alternative
contaminação em campo. Daily Cover at Landfills.
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plasticidade de solos finos tropicais. I Simpósio
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Efeito do encapsulamento com cal na plasticidade e resistência à


compressão uniaxial de um solo areno-argiloso contaminado com
óleo diesel

Igor Santos Mendes


Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, Brasil, igor_santosmendes@hotmail.com

Natália de Souza Correia


Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, Brasil, ncorreia@ufscar.br

Fernando Henrique Martins Portelinha


Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, Brasil, fportelinha@ufscar.br

RESUMO: A demanda por combustíveis cresce constantemente, assim como consequentes


derramamentos, vazamentos e inadequada disposição de resíduos petroquímicos, causando um
grave problema ambiental, a contaminação do solo. Ao mesmo tempo, crescem também as opções
reaproveitamento de solos contaminados, tanto pelo apelo ambiental, quanto econômico. Entre as
opções, estão as camadas de sub-base de pavimentos ou camadas de cobertura diária de aterros
sanitários. Nesses casos, o solo contaminado deve ter as propriedades de engenharia conhecidas e
muitas vezes melhoradas, uma vez que a contaminação usualmente resulta na diminuição da
resistência e no aumento da deformabilidade. Como alternativa para a melhoria destes solos,
viabiliza-se a técnica de encapsulamento do contaminante por agentes estabilizadores químicos.
Neste contexto, esta pesquisa apresenta o estudo de um solo areno-argiloso laterítico, o qual foi
artificialmente contaminado com 8% de óleo diesel, e posteriormente estabilizado diferentes teores
de cal (2 a 8%). Para a investigação das alterações na plasticidade das misturas, foram realizados
ensaios de limites de Atterberg, os quais indicaram que o encapsulamento garantiu reduções
significativas nos índices de plasticidade do solo contaminado para teores a partir de 4% de cal. Já
para o estudo do comportamento mecânico, foram realizados ensaios de resistência à compressão
não confinada para 7 e 28 dias de cura, sendo mais significativa para 2% de cal, superando os
resultados do solo natural. As análises foram confrontadas com imagens de microscopia de
varredura eletrônica (MEV). Com os resultados, foi possível verificar que, para os parâmetros
analisados, o solo contaminado com óleo diesel pode ser recuperado a ponto de ser viabilizado para
reuso obras de engenharia com baixos teores de cal (2%). As análises MEV evidenciaram a
estrutura dos solos e colaboraram com os resultados encontrados nos ensaios mecânicos.

PALAVRAS-CHAVE: Solo contaminado, Diesel, Encapsulamento, Cal, Plasticidade, Resistência à


compressão.

1 INTRODUÇÃO Paulo, a origem de áreas contaminadas (5942


casos em 2017), está relacionada com acidentes
A existência de uma área contaminada pode ou vazamentos na produção, transporte e
gerar inúmeros problemas socioambientais, armazenamento de matérias primas e produtos
dentre eles a restrição ao uso do solo. De acordo petroquímicos, sendo 72% dos casos devidos a
com a Companhia Ambiental do Estado de São postos de combustíveis (CETESB, 2017).
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Apesar de encontrarmos inúmeras soluções baixos teores de cimento com elevados teores
para controle e remediação destas áreas, existem de óleo diesel. Análises de imagens mostraram
opções de reaproveitamento do solo o efeito benéfico do cimento sobre o solo
contaminado com derivados de petróleo, tais em contaminado com diesel.
camada de sub-base de pavimentos, como Assim, o uso da técnica de encapsulamento
estudado por Araújo et al. (2016), Cavalcante de solos contaminados por derivados de
(2010), Oluremi et al. (2017), Onofre et al petróleo surge como uma alternativa ambiental,
(2009) e Tuncan et al. (2000); camada de técnica e econômica para a reutilização desse
cobertura diária de aterros sanitários, pátios de material. No entanto, são necessárias avaliações
estacionamento, entre outros (New York State do comportamento mecânico para cada situação
Regulations and Enforcement, 2010; Indiana de solo contaminado e agente estabilizante.
Dep. of Environmental Management, 2013). No Esta pesquisa apresenta o efeito do
entanto, Euchun e Braja, (2001) e Kermani e encapsulamento com diferentes teores de cal na
Ebadi (2012) enfatizam que a capacidade de resistência e plasticidade de um solo areno-
carga destes solos pós-contaminação pode ser argiloso contaminado com óleo diesel. Foram
drasticamente reduzida, inviabilizando o reuso. realizadas análises de laboratório através
Como alternativa para a melhoria destes ensaios de limites de Atterberg, compactação
solos, viabiliza-se a técnica de encapsulamento Proctor Normal, resistência à compressão
do contaminante por agentes estabilizadores uniaxial não confinada e análises de
químicos (cal ou cimento), como avaliado por microscopia eletrônica de varredura (MEV).
Cordeiro (2007) e Ochepo e Joseph (2014),
conferindo reações pozolânicas e produzindo
um resíduo final mecanicamente estável 2 MATERIAIS E MÉTODOS
(Pamukcu et al., 1989). Oliveira et al. (2003)
destaca que a técnica do encapsulamento é 2.1 Solo
considerada uma forma segura de tratamento
para uma variedade de contaminantes, incluindo O solo areno-argiloso laterítico utilizado nessa
os resíduos oriundos do petróleo. Li et al. pesquisa foi extraído no campus sede da
(2015) também relatam a viabilidade do uso de Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)
cal para estabilizar solos contaminados. em São Carlos - SP. Este solo apresenta
Al-Rawas et al. (2005) avaliaram solos granulometria de 70% de areia, 27,5% de argila
arenosos contaminados com petróleo cru e e 2,7 de silte, além de peso específico dos
estabilizados com cimento indicando aumentos sólidos de 28,4 kN/m³, limite de liquidez de
expressivos na resistência à compressão dos 28,5% e IP 13%, respectivamente de acordo
solos com aumento dos tempos de cura. No com NBR 7181 (ABNT, 2016), NBR 6458
Brasil, o estudo de Barros et al. (2013) (ABNT, 2017), NBR 6459 (ABNT, 2016), e
demonstrou que um solo contaminado em área NBR 7180 (ABNT, 2016). De acordo com a
de refinaria, quando estabilizado com 5% de classificação SUCS, este solo é um SC (ASTM
cal, mostrou significativo aumento na D-2487, 2011).
resistência à compressão não confinada.
Recentemente, Chen et al. (2017) avaliaram 2.2 Óleo contaminante e agente estabilizante
o emprego de cimento como agente
estabilizante de um solo argiloso de alta O óleo diesel tipo S500 foi utilizado como
plasticidade contaminado com óleo diesel. contaminante do solo nesta pesquisa. O diesel é
Verificou-se neste estudo aumento da um combustível fóssil, formado por
resistência à compressão uniaxial do solo com o hidrocarbonetos e pequena quantidade de
tempo de cura, sendo menos expressivo para nitrogênio, oxigênio e enxofre, possui aspecto
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líquido límpido avermelhado, pouco volátil e realizados ensaios de limites liquidez e


imiscível em água. A densidade do diesel é de plasticidade, respectivamente, de acordo com
0,834 g/cm³ a 20ºC, com viscosidade 7,64 NBR:7180 (ABNT, 2016) e NBR:6459 (ABNT,
(mm²/s) a 40ºC e pH de 5,62. 2016).
A cal hidrata é comercial do tipo CH-III foi De forma a verificar alterações nos
utilizada como agente estabilizante químico. parâmetros de compactação devido a presença
do óleo e cal nestas misturas, foram realizados
2.3 Preparação das amostras ensaios de compactação na energia Proctor
Normal, de acordo com a NBR:7182 (ABNT,
O solo foi manualmente misturados com 8% de 1986). Com os resultados dos teores ótimos de
óleo diesel relativo a massa seca do solo, até compactação para cada situação, procedeu-se a
que a amostra apresentasse aspecto homogêneo. moldagem dos corpos-de-prova para a
As amostras foram ensacadas, vedadas e realização dos ensaios de resistência à
deixadas em descanso durante 24 horas. compressão, com grau de compactação de 95 a
Posteriormente, adicionou-se os teores de cal, 97%.
sendo cada um desses teores em relação à massa Os ensaios de resistência à compressão
seca do solo. As análises com tempo de cura uniaxial não confinada foram conduzidos de
consideram a contagem do tempo a partir da acordo com NBR:12025 (ABNT, 2012). Foram
moldagem dos corpos-de-prova. A Figura 1 analisadas as situações de 7 e 28 dias de cura
apresenta um exemplo de mistura de solo areno- após a moldagem dos corpos-de-prova, os quais
argiloso contaminado com diesel e estabilizado tinham 129 mm de altura por 100 mm de
com cal. diâmetro, sendo duas unidades para cada teor de
cal. A Figura 2 apresenta um corpo-de-prova
submetido ao ensaio de resistência à
compressão uniaxial não confinada.

Figura 1. Solo contaminado com diesel e estabilizado


com cal utilizado nesta pesquisa.

Nesta pesquisa, o solo natural será


referenciado como SN, solo contaminado como
SC e quando contaminados e estabilizados Figura 2. Corpo-de-prova rompido após a realização do
como SC+2cal, SC+4cal, SC+6cal e SC+8cal. ensaio de compressão uniaxial não confinada.

2.4 Ensaios Análises de microscopia eletrônica de


varredura (MEV) foram realizadas a fim de
Para identificar alterações na plasticidade do observar a estrutura do solo após a
solo devido ao efeito do óleo e da cal, foram contaminação e o encapsulamento. Para tanto,
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amostras foram compactadas nos teores ótimos medianamente plásticos (IP < 15). É também
de compactação (grau de compactação entre 95 importante enfatizar que a técnica de
e 97%), na condição de 28 dias de cura. As encapsulamento com cal levou o solo areno-
análises MEV foram realizadas no microscópio argiloso contaminado com óleo diesel a valores
eletrônico Inpect S50 do Laboratório de de IP menores do que os do próprio solo natural
Caracterização Estrutural (LCE-UFSCar). (IP =13).

3.2 Análise dos parâmetros de compactação


3 RESULTADOS
Os resultados de curva de compactação
3.1 Análise da plasticidade encontrados para o solo natural, contaminado e
após estabilização química com a cal são
A Figura 3 apresenta as alterações nos limites apresentados na Figura 4.
de liquidez (LL), limites de plasticidade (LP) e
índices de plasticidade (IP) dos solos
Massa específica aparente seca (g/cm³)
1.95
SN
contaminados e encapsulados com diferentes 1.90 SC
teores de cal. A Figura 3 também apresenta os SC+2cal 100%
1.85 SC+4cal
resultados de plasticidade para o solo natural SC+6cal
SC+8cal 90%
(SN). Verifica-se nas análises da Figura 3 que, a 1.80
presença do óleo diesel aumentou o LL e LP do 1.75
solo areno-argiloso natural, mas não alterou o 80%
1.70
IP. Já a adição de cal como agente estabilizante
1.65
mostrou aumentos nos limites de plasticidade e 70%
redução significativa no IP das misturas, o que 1.60
pode ter ocorrido devido à floculação do solo 1.55
contaminado quando misturado com cal. 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
Teor de umidade (%)
Figura 4. Curvas de compactação do solo contaminado
35 com óleo diesel e encapsulado com diferentes teores de
Solo contaminado
cal.
30
Teor de Umidade (%)

LL
SN LP Analisando-se as curvas e os parâmetros
25
IP ótimos, observa uma significativa alteração no
comportamento do solo natural (SN) e
20 contaminado (SC) devido a presença do óleo no
solo. Após a estabilização com cal, as alterações
15 naa massa específica aparente seca máxima e
SN
nos teores ótimos de umidade não foram tão
10 significativas.
0 2 4 6 8 10
Os corpos-de-prova para a realização dos
Teor de cal (%)
ensaios de resistência à compressão uniaxial
Figura 3. Limites de Atterberg do solo contaminado com foram moldados nos teores ótimos de
óleo diesel e encapsulado com diferentes teores de cal.
compactação para cada situação, de acordo com
estes resultados (Figura 4). As curvas de
Ainda de acordo com a Figura 3, a mistura
saturação apresentadas são referentes ao solo
que apresentou aspecto mais plástico foi o solo
natural.
com 2% de cal (IP > 15), diferindo dos demais
teores, os quais mantiveram-se como
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3.3 Análise da resistência à compressão Na Figura 5, verifica-se que a contaminação


uniaxial causou uma significativa redução na resistência
à compressão uniaxial do solo contaminado em
Considerando o uso deste solo contaminado em comparação ao solo natural. No entanto, devido
obras de terra, é importante conhecer seus à utilização da cal, o solo contaminado (SC)
parâmetros de resistência mecânica, teve suas propriedades de resistência
principalmente após a estabilização química. melhoradas, o que foi verificado com todos os
Na Figura 5 são apresentados os resultados teores de cal. Ainda na Figura 5, verifica-se que
das curvas de resistência à compressão simples a resistência à compressão aumentou ainda mais
dos solos natural, contaminado, e para cada o com o tempo de cura, tal como esperado.
solo contaminado com diferentes teores de cal A Figura 6 apresenta as tensões máximas de
com 7 dias (Figura 5a) e 28 dias (Figura 5b). Os ruptura do solo contaminado com diferentes
resultados referem-se a curvas médias, obtidas teores de cal e tempos de cura.
para pelo menos dois corpos-de-prova, com
coeficiente de variação abaixo de 15%. 0.35
Tensão de ruptura à compressão (kPa)
0.30
0.35
SN 0.25
0.30 SC
SC+2cal 0.20 SN
0.25 SC+4cal
Tensão (MPa)

SC+6cal 0.15
0.20
SC+8cal
0.10 SN
0.15
SC 7 dias
0.05
0.10 SC 28 dias
0.00
0.05 0 2 4 6 8 10
Teor de cal (%)
0.00
0.0 1.0 2.0 3.0 4.0 5.0 Figura 6. Tensão de ruptura do solo contaminado com
óleo diesel e encapsulado com diferentes teores de cal.
Deformação específica (%)
(a)
Nota-se na Figura 6 que, para 2% de cal no
0.35
SN solo contaminado, foram obtidos os maiores
SC
0.30
SC+2cal
incrementos de resistência à compressão,
0.25
SC+4cal inclusive, sendo maior do que o solo
SC+6cal
encapsulado com 8% de cal (28 dias). Esse
Tensão (MPa)

SC+8cal
0.20 resultado deve-se, provavelmente, à interação
0.15 do baixo teor de cal com o óleo diesel, cuja
lubrificação prevaleceu causando um melhor
0.10 arranjo das partículas. Com relação aos solos
0.05 estabilizados, Jia et al. (2011) enfatizam que
quando o teor de diesel é baixo e o tempo de
0.00
0.0 1.0 2.0 3.0 4.0 5.0 cura do estabilizante é curto, a deterioração das
Deformação específica (%)) propriedades do solo permanece incompleta e,
(b) em contrapartida, o filme fino de diesel juntos
Figura 5. Curvas de resistência à compressão: (a) 7 dias as partículas de argila adjacentes age como uma
de cura; (b) 28 dias de cura. interface viscosa e faz com que o solo mude sua
estrutura, causando um ligeiro aumento na
resistência à compressão simples. Assim, o
efeito do encapsulamento, aliado ao efeito da
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lubrificação, também garantem ao solo Neste estudo, foi possível avaliar a estrutura
contaminado com óleo diesel melhores das partículas e os vazios para as diferentes
propriedades mecânicas. situações investigadas. As imagens MEV são
Ainda de acordo com a Figura 6, após 6% apresentadas em aumentos de 250x. A Figura 8
com cal, com reações pozolânicas mais apresenta os resultados para as situações em que
intensas, a tendência foi de aumento na o solo se encontra nas situações natural (Figura
resistência à compressão do solo contaminado 8a), contaminado com 8% de óleo diesel
estabilizado. A pesquisa de Chen et al. (2017) (Figura 8b), contaminado encapsulado com 2%
mostra comportamento similar para um solo de cal (Figura 8c), e com 8% de cal (Figura 8d).
fino também contaminado com 8% de diesel,
mas estabilizado com cimento. A Figura 7 Solo Areno-argiloso
Natural
apresenta uma comparação dos resultados de
Chen et al. (2017) com os desta pesquisa. Neste
caso, a presença do cimento mostrou aumentos
significativos na resistência do solo
contaminado para todo os teores. No entanto,
para 3% de cimento, os valores de máxima
resistência à compressão foram comparáveis
com 2% de cal, um estabilizante muito mais
barato.
(a)
1.40
Tensão de ruptura à compressão (kPa)

SC 28 dias - cal (esta pesquisa)


1.20 SC 28 dias - cimento (Chen et al. 2017) Solo contaminado
com 8% de diesel
1.00

0.80

0.60

0.40

0.20
Solo contaminado com 8% de óleo Diesel
0.00
0 2 4 6 8 10
Teor de estabilizante (%)
Figura 7. Comparação dos resultados de resistência (b)
máxima à compressão de solos finos contaminados com
8% de óleo diesel estabilizado com cal (esta pesquisa) e Solo contaminado
cimento (Chen et al., 2017). encapsulado com 2% de cal

3.3 Efeito do encapsulamento na estrutura do


solo contaminado

A fim de investigar como o solo contaminado


compactado se encontra após o encapsulamento
(28 dias) e os fatores que podem influenciar no
seu ganho de resistência, julgou-se importante
realizar a microscopia eletrônica de varredura
(c)
(MEV).
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Solo contaminado solo contaminado pós-estabilização com


encapsulado com 8% de cal análises de microscopia de varredura eletrônica.
Com base nos resultados, verificou-se que:
 A contaminação com óleo diesel no solo
afetou significativamente as propriedades de
compactação e os resultados de resistência à
compressão do solo natural;
 A estabilização do solo contaminado com
cal pouco alterou o teor ótimo de umidade;
no entanto, a massa específica seca aparente
(d) máxima diminuiu conforme aumento do
Figura 8 – Imagens de MEV: (a) SN; (b) SC; (c) teor de cal, o que se deve a densidade da cal
SC+2cal; (d) SC+8cal. ser menor do que a do solo;
 A resistência máxima à compressão dos
Na Figura 8a, notam-se os grãos de quartzos solos contaminados estabilizados com cal
bem definidos e visivéis, separados das foi melhorada em todos os teores, sendo
partículas finas, e os vazios no solo natural mais significativa com 28 dias de cura;
compactado. Já para o solo contaminado, não se
 Para 2% de cal no solo contaminado, foram
verificam os grãos bem definidos, mas as
obtidos os maiores incrementos de
partículas “coladas” umas às outras devido ao
resistência à compressão, inclusive, sendo
óleo. Contudo, verificam-se os vazios ainda
maior do que para o solo encapsulado com
presentes.
8% de cal (28 dias). Esse resultado deve-se,
Com relação as imagens do solo
provavelmente, à interação do baixo teor de
contaminado e encapsulado com 2% de cal
cal com o óleo diesel, cuja lubrificação
(Figura 8c), o qual apresentou a maior
prevaleceu causando um melhor arranjo das
resistência entre todos (28 dias), os vazios
partículas.
foram preenchidos, de modo que, junto às
Assim, apesar de a presença de contaminante
reações pozolânicas do estabilizante, se garantiu
no solo causar alterações nas propriedades de
uma maior resistência para essa mistura. Já a
engenharia mesmo, estas alterações puderam ser
Figura 8d apresenta o solo contaminado e
reestabelecidas com o encapsulamento do
encapsulado com 8% de cal mostrando a
contaminante, recuperando ou melhorando as
presença de muitas partículas finas envolvendo
propriedades mecânicas do solo contaminado.
os grãos do solo. Shah et. al. (2003) explicam
No entanto, os autores recomendam que cada
que o estabilizante envolve os grãos do solo,
caso seja analisado nas condições de
ligando-os e, então, aumentando sua resistência.
contaminação em campo.

4 CONCLUSÃO
AGRADECIMENTOS
Esta pesquisa avaliou o efeito do
Os autores agradecem ao LabGEO/UFSCar pelo
encapsulamento com cal na plasticidade e
apoio institucional dado a esta pesquisa e em
resistência à compressão uniaxial de um solo
especial ao técnico Sidnei Muzetti pelo apoio na
areno-argiloso contaminado com óleo diesel.
realização dos ensaios. Agradecimento
Foram realizadas análises de laboratório através
PIBIC/CNPq pela bolsa de Iniciação Científica
de ensaios de limites de Atterberg e resistência
concedida ao aluno para esta pesquisa.
à compressão uniaxial (7 e 28 dias de cura),
comparando o comportamento mecânico deste
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Efeito do Teor de Sólidos na Resistência ao Cisalhamento de um


Lodo de ETA Visando seu Uso em Cobertura Diária de Aterros
Sanitários
Angélica dos Santos Silva
Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos, Brasil, angelixbh@gmail.com

Paulo Scarano Hemsi


Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos, Brasil, paulosh@ita.com.br

RESUMO: O artigo apresenta os resultados de um estudo sobre o efeito do teor de sólidos de uma
amostra de lodo proveniente da Estação de Tratamento de Água (ETA) de Cubatão (São Paulo) na
resistência ao cisalhamento não-drenada do material, com o intuito de avaliar a viabilidade de
utilizar o resíduo em camadas de cobertura diária de aterros sanitários. Foram realizados no
laboratório ensaios de caracterização, compactação e compressão simples em amostras do lodo
recebidas da ETA parcialmente desaguadas em centrífuga. Os resultados dos ensaios de compressão
simples mostraram que a resistência não-drenada do lodo cresce exponencialmente com o teor de
sólidos. O valor de resistência não-drenada mínimo postulado para a aplicação do lodo em camadas
de cobertura diária de aterros sanitários, da ordem de 10 kPa, foi atingido para um teor de sólidos de
47 %, correspondente a um teor de umidade de 112 %. Dado que o lodo ensaiado apresenta teor de
umidade de 240 % após o desaguamento realizado na ETA, há a necessidade de uma significativa
secagem do material. A dificuldade operacional de realizar a secagem necessária em grande escala
justifica o estudo de misturas envolvendo o lodo e aditivos químicos capazes de melhorar a
resistência e trabalhabilidade do material.

PALAVRAS-CHAVE: Aterro sanitário, Cobertura, Lodo de ETA, Resistência não-drenada, Teor


de sólidos.

1 INTRODUÇÃO umidade) em que se encontra originalmente,


mesmo após alguma forma de desaguamento
Atualmente, a maior parte do lodo gerado nas que venha a ser realizado na ETA (por exemplo,
etapas de decantação e filtração nas Estações de na ETA de Cubatão-SP, o lodo é desaguado em
Tratamento de Água (ETAs) necessita ser centrífuga), o lodo possui uma consistência
disposta em aterros sanitários, conduzida à rede muito mole, baixa resistência ao cisalhamento e
de esgotos ou, ainda, de forma irregular, elevada compressibilidade. Sem a secagem
lançada diretamente no corpo hídrico. O resíduo adicional, acompanhada ou não da mistura com
sólido, classificado como não-inerte segundo a aditivos químicos, o lodo se apresenta inviável
NBR 10.004/2004, é composto por água, para a utilização em obras de terraplanagem.
produtos químicos e sólidos em suspensão. Este trabalho visa apresentar os resultados de
Apenas no estado de São Paulo, a capacidade ensaios de laboratório realizados em amostras
de produção de água potável da SABESP de lodos da ETA de Cubatão, São Paulo, com
(Companhia de Saneamento Básico do Estado ênfase na determinação da resistência não-
de São Paulo) atinge 111.000 L/s, gerando drenada (Su) do material em função do teor de
estimadas 190 toneladas em massa seca de lodo sólidos. Em seguida, discute-se o mínimo teor
de ETA por dia. de sólidos necessário para a possível aplicação
No baixo teor de sólidos (e elevado teor de do lodo em camada de cobertura diária de
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aterros sanitários. Novak e Calkins (1975) e


Wang et al. (1992) discutiram o valor da onde Pt é o peso total do lodo. O teor de sólidos
resistência não-drenada mínima necessária para relaciona-se diretamente com o teor de umidade
possibilitar o uso do lodo de ETA em obras de gravimétrico por meio de:
terraplenagem, o qual foi estimado como sendo
da ordem de 10 kPa. 1
ts = (3)
1+w
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A Mecânica dos Solos dos Estados Críticos
O efeito da secagem no comportamento de considera para uma argila a resistência não-
diferentes lodos de ETA vem sendo estudado ao drenada (Su) de aproximadamente 1,7 kPa no
longo dos anos. Watanabe et al. (2011) LL, enquanto que para o LP um valor 100 vezes
verificaram a alteração na distribuição maior (Atkinson, 2007). Alguns autores
granulométrica do lodo por efeito da secagem consideraram o valor de Su no LP
do material, associada à formação de torrões na superestimado. Por exemplo, Vardanega e
fração areia. Haigh (2014) sugerem para argilas a seguinte
Hsieh e Raghu (1997) estudaram o efeito da correlação obtida a partir de diversos ensaios de
secagem prévia nas curvas de compactação de laboratório:
um lodo de ETA. A compactação após secagem
prévia do material conduziu a um peso 𝑆𝑢 = CL (35𝐼𝐶 ) (4)
específico seco máximo mais elevado do que a
compactação realizada sem secagem prévia onde CL é a resistência não-drenada no LL. A
(isto é, a partir do ramo úmido). correlação tem validade na faixa -0,2 ≤ IC ≤
Novak e Calkins (1975) avaliaram, a partir 0,8. Verifica-se que próximo do LP a resistência
de ensaios de queda de cone (Fall Cone), a Su valeria cerca de 35 CL.
relação entre a resistência não-drenada de cinco
lodos de ETA e o teor de sólidos, englobando 3 MATERIAIS E MÉTODOS
lodos gerados com diferentes coagulantes.
Como no caso das argilas, a resistência ao O lodo utilizado nesse trabalho, fornecido pela
cisalhamento não-drenada de um lodo depende SABESP, foi proveniente da ETA de Cubatão,
da consistência do material (portanto, do teor de São Paulo, uma das maiores ETAs do estado,
sólidos), sendo o índice de consistência (IC) com capacidade de produção de 4.200 L/s,
definido como: gerando entre 60 e 70 toneladas por dia de lodo
em massa úmida. O tratamento da água bruta na
LL - w ETA, na ocasião da coleta das amostras,
IC = (1) empregava o cloreto férrico (FeCl3) como
LL - LP
coagulante. O lodo foi coletado da saída de uma
onde w é o teor de umidade gravimétrico (dado das centrífugas da ETA, em que atinge um teor
pelo quociente entre Pw, peso de água do lodo, e de sólidos da ordem de 25 a 30 % (w = 225 a
Ps, peso de sólidos), e LL e LP são, 300 %). As amostras foram transportadas ao
respectivamente, o limite de liquidez e o limite laboratório e armazenadas em câmara úmida.
de plasticidade. Quando o lodo se encontra no Ao longo do trabalho, duas amostras distintas
LL, o valor de IC é zero, e quando no LP, o do lodo foram utilizadas, uma de março de 2016
valor de IC é 1,0. e outra de setembro do mesmo ano.
O teor de sólidos (ts) do lodo é definido Os ensaios realizados englobaram
como: caracterização (limites de Atterberg,
sedimentação e massa específica dos grãos),
Ps compactação e ensaios rápidos de compressão
ts = 100% (2)
Pt simples. Os ensaios de LL e LP, granulometria
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e massa específica dos grãos seguiram as Os resultados de LL e LP para as amostras de


normas NBR 6459/1984, NBR 7180/1988, março e setembro, mostrados na Tabela 1,
NBR 7181/1988 e NBR 6508/1984, permitem observar aumento do LL e
respectivamente. O ensaio de compactação foi diminuição do LP na amostra de setembro em
realizado segundo a norma NBR 7182/1988, na relação à amostra anterior.
energia Proctor Normal, com reuso do material,
nas amostras de março e setembro. Tabela 1. Teor de umidade inicial, LL, LP e IP para
Para estudar o efeito da secagem prévia na amostras dos lodos de março e setembro.
compactação do material, para a amostra de Resultado
março, foram realizados ensaios sob duas (%)
condições: Parâmetro
Amostra de Amostra de
- Com secagem prévia ao ar até a umidade março setembro
higroscópica (w = 26 %, e ts = 79 %) e w (original) 221 240
posteriores adições sucessivas de água para LL 156 228
LP 85 75
compactação a partir do ramo seco, e IP 71 154
- Com secagem ao ar até a umidade de 100 %
(ts = 50 %) e compactação a partir do ramo O valor de IP da amostra de setembro
úmido. resultou mais que o dobro do valor da amostra
Já na compactação da amostra de setembro, de março, devido sobretudo ao aumento no LL.
os ensaios foram realizados de uma única Ademais, os teores de umidade originais foram
maneira, sem secagem, com primeiro ponto de superiores ao LL (Tabela 1), ou seja IC < 0,
compactação na umidade original da amostra denotando a consistência muito mole dos lodos
(225 %), e com os pontos seguintes obtidos por recebidos.
secagens ao ar. O aumento no IP da amostra de setembro
A resistência ao cisalhamento não-drenada pode relacionar-se a um maior teor de matéria
foi determinada por meio de ensaios rápidos de orgânica do manancial ou a uma diminuição na
compressão simples, de acordo com a NBR concentração de coagulantes empregada no
12770/1992. Esses ensaios foram realizados tratamento da água. Tal diminuição é
apenas na amostra de setembro. O material foi compatível com a informação recebida da
previamente compactado na energia Proctor SABESP de que nessa época do ano existe uma
Normal, e corpos-de-prova foram talhados em maior parcela da água captada de represa, ao
torno manual nas dimensões 3,5 cm de diâmetro invés do rio Cubatão, o que deve significar
por 7,5 cm de altura. A compressão simples foi diminuição da turbidez da água bruta, e menor
realizada a taxa de deslocamento constante, 0,6 concentração de coagulante.
mm/min nos corpos-de-prova mais úmidos e A análise granulométrica do lodo de
1,2 mm/min nos corpos-de-prova mais secos. setembro, por meio do ensaio de sedimentação
Os valores da força axial nos corpos-de-prova com emprego do densímetro, mostrou que,
foram medidos utilizando uma célula de carga quando foi utilizado defloculante
tipo S (Solotest) com capacidade de 100 kgf hexametafosfato de sódio, 70 % (em massa) das
com indicador digital, e os deslocamentos partículas do lodo resultaram mais finas que 2
verticais impostos foram medidos com relógio
m. A massa específica dos grãos foi
comparador digital (Mitutoyo) com curso de até
determinada como 2,8 g/cm3. Sem emprego do
13 mm.
defloculante, a curva granulométrica exibiu
predominância de agregados na fração silte (79
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
%) e 6 % na fração areia fina (Figura 1).
Resultados semelhantes foram obtidos por
4.1 Limites de Atterberg e Granulometria
Montalvan e Boscov (2016).
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100 16
90
Porcentagem que passa (%)

14
80

Peso Específico Seco (kN/m³)


70 12
60 10
50 8
40
30 Sem 6
defloculante
20 Com 4 A partir de w = 26 %
10 defloculante 2 A partir de w = 100 %
0
0
0.001 0.01 0.1
Diâmetro equivalente (mm) 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100110
Teor de Umidade (%)
Figura 1. Curvas granulométricas do lodo de setembro
com e sem o uso do defloculate hexametafosafato de Figura 2. Curvas de compactação para a amostra de
sódio. março de 2016 com e sem a secagem prévia total do
material.
4.2 Compactação
A compactação com energia Proctor Normal
do lodo de setembro foi realizada sem secagem
A compactação Proctor Normal do lodo de
prévia, a partir do teor de umidade de 225 %
março, nas condições descritas anteriormente,
(compactando os pontos seguintes por secagens
permitiu verificar o efeito da secagem prévia na
sucessivas ao ar). A curva de compactação
curva de compactação do lodo, de uma forma
obtida (Figura 3) apresentou igualmente massa
análoga ao reportado por Hsieh e Raghu (1997).
específica seca crescente com a diminuição do
Quando seco até a umidade higroscópica, na
teor de umidade até 50 %.
qual foi compactado o primeiro ponto
As curvas de compactação obtidas sem a
(compactando os pontos seguintes por adição de
secagem total dos lodos de março e setembro
água), o lodo apresentou peso específico seco
encontram-se comparadas nas Figuras 4 e 5. A
máximo de 13,9 kN/m³ e umidade ótima de 38
Figura 4 permite observar a concordância nos
%. Quando compactado com secagem até o teor
resultados de peso específico seco dos lodos
de umidade de 100 % (compactando os pontos
versus teor de umidade.
seguintes por secagens sucessivas ao ar), o
material forneceu curva de compactação
bastante diversa. A curva não apresentou o 16
Peso Específico Seco (kN/m³)

formato de sino, apresentando peso específico 14


seco crescente com a dimunuição do teor de 12
umidade. No teor de umidade de 20 %, o peso
10
específico seco foi de 13,1 kN/m³. Para w de 38
8
%, o peso específico seco foi da ordem de 11
kN/m3 (Figura 2). 6
4
2
0
0 50 100 150 200 250
Teor de Umidade (%)

Figura 3. Curva de compactação para a amostra de


setembro de 2016 sem nenhuma secagem prévia (a partir
do teor de umidade de 225 %).
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4.3 Curvas Tensão-Deformação


16
14 Pelo maior valor de IP, é possível esperar que
Peso Específico Seco (kN/m³)

Setembro 2016
12 os corpos-de-prova do lodo de setembro
Março 2016 possuam resistências inferiores aos do lodo de
10
8
março. Os ensaios de compressão simples
realizados em corpos-de-prova do lodo de
6 setembro talhados a partir da compactação a
4 diferentes teores de umidade permitiram obter
2 curvas tensão-deformação do material.
0 Os corpos-de-prova mais úmidos (w > 91 %)
0 50 100 150 200 250 apresentaram abaulamento progressivo sob
Teor de Umidade (%) compressão, sem pico de resistência na ruptura,
enquanto que os corpos-de-prova mais secos (w
Figura 4. Curvas de compactação sem a secagem total do
material para os lodos de março (w inicial de 100 %) e de 77 e 91 %) apresentaram plano de ruptura
setembro (w inicial de 225 %). bem definido e pico de resistência. Os corpos-
de-prova compactados a teores de umidade
Dado que os dois lodos testados apresentam mais altos exibiram comportamento semelhante
diferentes valores de LL e IP, a comparação dos ao esperado para argilas normalmente
valores de peso específico seco é apresentada adensadas, donde se conclui que acima do teor
em termos de índice de consistência (IC). de umidade de 91 %, a compactação não foi
Verificam-se, na Figura 5, as distintas faixas de capaz de induzir o sobre-adensamento no
IC testadas para cada lodo. Dentro da faixa de material. Tal condição corresponderia no campo
IC na qual há resultados para ambos os lodos ao chamado “solo borrachudo”.
(ao redor de IC = 1, variando entre 0,79 e 1,13), Para efeito de ilustração, as curvas tensão-
verifica-se que os pesos específicos secos são deformação do lodo para os teores de umidade
semelhantes para os dois lodos, variando entre de 77 e 225 % encontram-se na Figura 6. Tais
6,9 e 8,5 kN/m3. Logo, os resultados permitem teores de umidade correspondem a valores
observar que em estados de consistência próximos do LP (75 %) e do LL (228 %),
semelhantes os dois lodos testados apresentam respectivamente.
pesos específicos secos semelhantes.

16
14
Peso Específico Seco (kN/m³)

12
10
8
6
Setembro 2016
4
Março 2016
2
0
0 0.5 1 1.5 2 2.5
Índice de Consistência
Figura 6. Curvas tensão-deformação na compressão
Figura 5. Curvas de peso específico seco versus IC para simples em corpos-de-prova do lodo de setembro
os lodos de março e setembro. compactados próximo do LL e do LP.
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4.4 Resistência Não-Drenada


60

Resistência não-drenada (kPa)


Dado que foram realizados ensaios rápidos de 50 ETA Cubatão
compressão simples, a resistência não-drenada 40 Wang et al. (1992)
(Su) do lodo, em cada teor de umidade, pôde ser
30
obtida como igual à metade da tensão de
compressão máxima (ruptura) no ensaio 20
correspondente. Por exemplo, com base na 10
Figura 6, obtém-se Su de 1,1 kPa no teor de
umidade próximo ao LL, e de 34 kPa próximo 0
0 10 20 30 40 50 60 70
ao LP.
A Tabela 2 apresenta os valores de Teor de sólidos (%)
resistência não-drenada (Su) para os nove
ensaios de compressão simples realizados, Figura 7. Crescimento exponencial de Su com o teor de
sólidos para o lodo de setembro e para um lodo descrito
permitindo avaliar a influência do teor de por Wang et al. (1992).
sólidos na resistência do lodo.
Tabela 2. Resultados de Su em função dos teores de O crescimento de Su com o teor de sólidos
sólidos e de umidade a partir dos ensaios realizados no (Figura 7) foi aproximado por meio da função
lodo de setembro. exponencial a seguir (R² = 0,95):
ts w Su
Ensaio
(%) (%) (kPa)
𝑆𝑢 = 0,018 (𝑒 13,5 𝑡𝑠 ) (5)
1 56,5 77 34,1
2 52,3 91 21,9
3 45,9 118 13,0 onde ts deve ser inserido como decimal.
4 50,0 100 10,7 No contexto da aplicação do material em
5 39,7 152 4,30 cobertura de aterro, o teor de sólidos requerido
6 35,5 182 3,04 para que o lodo de setembro alcance uma
7 36,4 175 2,82 resistência de 10 kPa é de 47 % (Equação 5), o
8 30,8 225 1,13
que corresponde a um teor de umidade de 112
9 29,8 236 0,63
% (Equação 3). Dado que o lodo de setembro
apresenta teor de umidade de 240 % após o
É possível verificar que os valores de Su
desaguamento realizado na ETA
crescem exponencialmente com o teor de
(centrifugação), há a necessidade de uma
sólidos (ts), como mostrado na Figura 7.
significativa secagem do material.
Resultados semelhantes foram obtidos para um
Adicionalmente, pode-se ainda argumentar que
lodo, também de coagulante cloreto férrico,
em função do comportamento em compactação
proveniente da ETA de Pittsburg (EUA) (Wang
(Proctor Normal), seria desejável utilizar o lodo
et al., 1992).
de setembro com teor de umidade abaixo de 91
%. A secagem de um grande volume de lodo
demandaria a disponibilidade de um grande
espaço abrigado na ETA e um considerável
tempo de espera. Alternativamente, demandaria
um elevado dispêndio de energia elétrica. Em
ambas as situações, haveria complicação na
operação.

5 CONCLUSÕES

O trabalho buscou quantificar o efeito do teor


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ABNT NBR 12770/1992: Solo coesivo: determinação da
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setembro apresentou maior plasticidade que o ensaio. Rio de Janeiro, 1992.
lodo de março, o que pode ser atribuído ABNT NBR 8419/1992: Apresentação de projetos de
provavelmente à concentração de coagulante. aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos. Rio de
As curvas granulométricas apresentaram uma Janeiro, 1992.
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grande influencia da presença de defloculante, perigosos: critérios para projeto, implantação e
indicando que a secagem do material induz a operação. Rio de Janeiro, 1997.
formação de torrões. A secagem prévia do lodo ABNT NBR 10004/2004: Resíduos sólidos: classificação.
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admitido como sendo da ordem de 10 kPa, foi Sustainability, Energy, and the Geoenvironment,
atingido para um teor de sólidos de 47 %, Chicago, EUA.
correspondente a um teor de umidade de 112 %. Novak, J. T. e Calkins, D. C. (1975). Sludge dewatering
Dado que o lodo de setembro apresenta teor de and its physical properties. Journal of the American
Water Works Association, 67(1): 42-45.
umidade de 240 % após o desaguamento Vardanega, P. J. e Haigh, S. K. (2014). The undrained
realizado na ETA (centrifugação), há a strength-liquidity index relationship. Canadian
necessidade de uma significativa secagem do Geotechnical Journal, 51(9): 1073-1086.
material. A dificuldade operacional de realizar a Wang, M. C., Hull, J. Q., Jao, M., Dempsey, B. A. e
secagem necessária em grande escala justifica o Cornwell, D. A. (1992). Engineering behavior of
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químicos capazes de melhorar a resistência e Watanabe, Y., Komine, H., Yasuhara, K. e Murakami, S.
trabalhabilidade do material. (2011). Batch leaching test focusing on clod size of
drinking water sludge and applicability to long-term
AGRADECIMENTOS prediction using column leaching test. Em: Geo-
Frontiers Congress 2011, ASCE, Dallas, EUA.

O trabalho faz parte do Projeto SABESP-


FAPESP 2013/50448-8. Agradecemos à Profa.
Maria Eugenia G. Boscov, coordenadora do
projeto, ao Eng. Marcelo K. Miki da SABESP,
e ao Técnico Reinaldo José dos Santos do ITA.

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Efeito da incorporação dos resíduos grits na qualidade tecnológica


de tijolos solo-cimento
Júlia Fonseca Colombo Andrade
Ufla, Lavras, Brasil, julia-colombo@hotmail.com

André Geraldo Cornélio Ribeiro


Ufla, Lavras, Brasil, andreribeiro@deg.ufla.br

Rafael Farinassi Mendes


Ufla, Lavras, Brasil, rafael.mendes@deg.ufla.br

Lucas Cardoso Lima


Ufla, Lavras, Brasil, lucascardosolima@hotmail.com

Gustavo Dalia Foresti


Ufla, Lavras, Brasil, gdf@engagricola.ufla.br

RESUMO. O presente trabalho teve como objetivo caracterizar a mistura solo-cimento-grits como
material para a fabricação de tijolos do tipo solo-cimento, por meio da substituição parcial do
cimento por grits e avaliar os efeitos do tratamento térmico dos grits em relação à resistência
mecânica dos tijolos. O solo coletado foi avaliado em relação a sua granulometria e limites de
Atterberg, o grits foi caracterizado em relação a sua composição química. Os tijolos foram
confeccionados substituindo o cimento em 10, 20 e 30% em massa pelo grits, que foram calcinados
em 700°C, 800°C e 900°C, posteriormente foram avaliadas a resistência à compressão e a absorção
de água dos tijolos. Constatou-se que o resíduo grits é composto principalmente por óxido de
cálcio, os grits tratados a 900°C acarretaram em uma perda de resistência à compressão dos tijolos e
os demais tratamentos não se diferenciaram estatisticamente. Todavia nenhum tratamento alcançou
a resistência mínima exigida.
PALAVRAS-CHAVE: Resíduo industrial, Material cimentício, Kraft.

1 INTRODUÇÃO 2017).
Segundo o IBÁ (2015), 66% dos resíduos
O Brasil é o quarto maior produtor de celulose gerados no processo Kraft são destinados para
do mundo, produzindo 18,733 milhões de geração de energia elétrica para própria
toneladas de celulose por ano, segundo dados indústria, por meio de caldeiras que geram
de 2016 do Instituto Brasileiro de Árvores vapor. Na fase de recuperação dos compostos
(IBÁ). O principal processo de obtenção da químicos são gerados os dregs, grits, a lama de
celulose é o kraft (MAITAM, COSTA JR e cal e cinzas.
COSTA, 2012) que consiste no cozimento de Os grits são materiais insolúveis originados
cavacos de madeira em uma solução de sulfeto do processo de caustificação do licor verde,
de sódio (Na2S) e hidróxido de sódio (NaOH), sendo composto basicamente de calcita
com a finalidade de dissolver a lignina e liberar (CaCO3), portlandita (CaOH2) e pirssonite
as fibras com o mínimo de degradação da (Na2Ca(CO3)2. 2(H2O)), possuem pH superior a
celulose. A recuperação de compostos químicos 12 e não apresentam atividade pozolânica
é parte essencial, viabilizando economicamente (RIBEIRO, 2010; SIQUEIRA e HOLANDA,
e ambientalmente a planta industrial (PASSINI, 2015; RODRIGUES et al., 2016 ; MYMRIN et
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al., 2016). Os grits são classificados como grits foram conimuidos em um moinho de bolas
Classe II-A, resíduos não perigosos, não inertes tipo Bond MA 701/21 e depois desagregados
(ABNT, 2004). em graal e pistilo até passarem na peneira de
Diferentes alternativas para a disposição 75µm.
final dos grits foram testadas, incluindo O solo foi caracterizado por meio de análise
agricultura, pavimentação de estradas florestais, granulométrica, limites de consistência e
produção de clínquer de cimento e incorporação compactação e classificado por meio da norma
em tijolos de solo-cimento (MACHADO, HRB/AASHTO. De acordo com a classificação
PEREIRA e PIRES, 2003; ZAMBRANO, et do solo foi determinado o traço de cimento,
al.,2007; SIQUEIRA e HOLANDA, 2015; segundo recomendações da ABCP (2004).
TORRES, 2017). O ensaio de compactação Proctor Normal foi
O resíduo grits pode ser incorporado à tijolos realizado conforme a NBR 7182 (ABNT,1986)
solo-cimento como aditivos desde que para o solo e para cada tratamento.
alcancem a resistência à compressão e tenham Os tijolos foram confeccionados em uma
absorção de água inferior ao limite prensa hidráulica, nas proporções demostradas
normatizado. O tijolo de solo-cimento é na Tabela 1, sendo o cimento substituído em até
classificado pela NBR 8491 (ABNT,2012 a) 30% pelo grits.
como uma mistura homogênea, compactada e
endurecida de solo, cimento Portland e água, Tabela 1. Proporções dos materiais para cada tratamento.
podendo conter aditivos, caso o tijolo atenda as Tratamento Solo Cimento Grits
normas. A quantidade de cimento se relaciona T0 9 1 0
estreitamente com as características do solo, T1 9 0,9 0,1
T2 9 0,8 0,2
variando de 5 a 13% em massa, sendo o
T3 9 0,7 0,3
suficiente para estabilizar o solo e conferir as
propriedades de resistência desejadas para o
Os tratamentos foram ainda subdivididos de
composto.
acordo com a temperatura de calcinação dos
Dentro deste contexto, o presente trabalho grits, sendo confeccionados tijolos com os grits
tem como objetivo avaliar o efeito da tratados a 700, 800 e 900 °C. Foram
substituição parcial do cimento por grits, em confeccionados seis tijolos de cada tratamento,
estado natural e tratado termicamente em tijolos as massas dos tijolos foram estabelecidas por
solo-cimento. meio da Equação 1.
2 MATERIAL E MÉTODO M = V γmáx (1 + wot ) (1)
M- massa (g)
O solo utilizado no presente trabalho foi V- volume ( cm³)
coletado no município de Itumirim-MG,
coordenadas UTM, SAD 69, zona 23 K, γmáx- massa específica aparente seca máxima
0521.209, 7646.209, sendo posteriormente (g cm-3)
passado na peneira de 4,8 mm e então wot- umidade ótima (g g-1)
submetido a secagem ao ar até atingir umidade
Os tijolos foram curados por aspersão em
higroscópia. O cimento utilizado foi CP-II-F-
local coberto por sete dias, o ciclo de molhagem
32. O grits foi coletado em uma indústria de
ocorreu uma vez ao dia, após a cura os tijolos
papel e celulose e dividido igualmente em
permaneceram estocados por 28 dias.
quatro partes, sendo uma parte depositada em
As seguintes propriedades tecnológicas dos
recipientes para secagem em estufa por 24h e as
tijolos solo-cimento foram determinadas de
outras partes depositadas em cadinhos para
acordo com os procedimentos padronizados:
calcinação em muflas por 1h, em temperaturas
absorção de água, grau de compactação e
de 700°C, 800 °C e 900°C. Posteriormente os
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resistência à compressão simples. A Figura 1 apresenta a curva granulométrica do


Determinaram-se as composições químicas solo. Observa-se que o solo apresenta um
do solo, do cimento e do grits, expressas em percentual de 19,8 % das partículas inferiores a
termos de óxidos, pelo método de fluorescência 2 µm, que corresponde à fração argila, o teor de
de raio-X, utilizando equipamento da marca silte é de aproximadamente 10,2 % e a fração
Bruker, modelo S1 LE Titan. O software de areia, com partículas superiores a 60 µm,
utilizado foi o GeoChem, na configuração representa 70 % do tamanho dos grãos. Desta
Trace, por 60 segundos, incluindo dois feixes forma o solo atende as recomendações da NBR
de raios-X. As três amostras foram submetidas 10833 (ABNT, 2012b) para fabricação de
a análise em Triplicara por pXRF e a precisão tijolos solo-cimento que estabelece 100% do
do equipamento foi avaliada por meio da solo passando na peneira de 4,8 mm e de 10 a
verificação de materiais de referência padrão 50% na peneira de 0,075mm.
2710a e 2711a ,certificados pelo Instituto
Nacional de Padrões e Tecnologia (NIST), bem
como a verificação de uma amostra padrão do
equipamento (check sample - CS). A partir das
amostras certificadas pelo NIST e CS, a
recuperação do conteúdo do elemento obtido
pelo pXRF (% de recuperação = 100 x
Conteúdo obtido / Conteúdo certificado total)
foi calculada. As porcentagens de recuperação
das amostras são apresentadas na Tabela 2
apenas para os elementos que foram Figura1. Curva gravimétrica do solo
identificados em todas as amostras do presente
trabalho. A Tabela 3 apresenta a classificação do solo
Tabela2. Porcentagem de recuperação de conteúdo de pela HRB/AASHO e os limites de Atterberg.
elementos por espectrômetro de fluorescência de raio-X
portátil (pXRF) do Instituto Nacional de Padrões e Tabela 3. Parâmetros utilizados para classificação do solo
Tecnologia (NIST) e amostras certificadas pelo Características
equipamento pXRF (CS). LL (%) 16,4
Amostra Al Si K Ca Ti Mn Fe LP (%) 13,1
2710 a 82,72 59,31 57,17 34,22 78,07 69,86 76,13 IP (%) 3,3
2711 a 67,67 49,90 44,37 41,48 70,06 61,48 68,81 Passante na peneira de 75µm (%) 39,5
CS 103,04 98,20 96,60 - - 121,54 141,85 IG 0,908
Classificação HRB A-4

Os dados do experimento foram avaliados,


considerando o delineamento inteiramente O índice de plasticidade ficou entre 1 e 7%
casualizado, os resultados obtidos foram sendo considerado pouco plástico pela
submetidos à análise de variância empregando o classificação de Jenkins (CAPUTO, 2015). A
programa de análise estatística SISVAR, versão NBR 10833 (ABNT, 2012b) estabelece que o
5.3 (FERREIRA, 2011) e para diferenciação limite de liquidez seja inferior ou igual a 45% e
dos tratamentos, foi aplicado teste de Scott o índice de plasticidade não deve ser superior a
Knott a 5% de probabilidade. 18%, estando os valores encontrados de acordo
com a norma.
O solo foi classificado como A-4, solo
3 RESULTADO E DISCUSSÃO siltoso, sendo recomendado pela ABCP (2004)
10% em massa de cimento. Solos arenosos
3.1 Caracterização do solo requerem menores quantidades de cimento,
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entretanto a presença de argila na composição espécies de madeira e produtos químicos


do solo é necessária para dar à mistura solo- utilizados (PÖYKIÖ et al., 2015), desta forma,
cimento, quando umedecida e compactada, foram encontradas composições diferentes do
coesão para o manuseio. Segundo Segantini grits por diversos autores. Siqueira e Holanda
(2000) os solos arenosos são considerados os (2015) encontraram 68,66% de CaO, 1,04% de
mais adequados, pois a areia é um material K2O e não encontraram presença de MnO na
inerte e tem apenas a função de enchimento amostra de grits, Mymrin et al. (2016)
favorecendo a liberação de quantidades maiores encontraram 0,3 % de MgO e 3,5 % de SiO2.
de cimento para aglomerar os grãos menores. Ribeiro (2010) obteve 2,28% de Al2O3,
enquanto Wolff et al. (2016) encontraram
3.2 Composição química 55,4% de CaO e 0,5% de SiO2.

Os resultados das análises químicas por


fluorescência de raio-X estão representadas na 3.3 Ensaio de compactação
Tabela 4.
Na Figura 2 são apresentadas as curvas de
Tabela 4. Composição química das matérias-primas compactação dos tratamentos com diferentes
Componentes Solo (%) Cimento (%) Grits(%) concentrações de grits. Não foram realizados
SiO2 32,706 9,150 -
ensaios de compactação com os grits tratados
Al2O3 12, 415 1,484 0,453
CaO 0,241 45,946 64,254 termicamente, uma vez que Machado, Pereira e
Fe2O3 3,688 1,937 0,236 Pires, (2003) não encontraram variações
K2O 0,157 0,733 - significativas no par de valores de teor de
S 0,043 0,951 0,066 umidade ótima e massa específica nos grits
TiO2 0,636 0,125 0,098
tratados termicamente em relação ao grits sem
Zr 0,113 0,012 0,011
P2O5 - 0,730 1,234 tratamento térmico.
MnO - 0,024 0,009
MgO - 3,690 2,086

O solo é constituído principalmente por


SiO2 e Al2O3, estes elementos são associados
com estruturas de argilominerais, quartzo e
feldspatos.
O cimento apresentou como principais
componentes o CaO, SiO2, MgO e Al2O3, que
são provenientes do clínquer e das adições. Os
Figura2. Curva de compactação dos tratamentos
resultados mostraram que existem diferenças
entre as composições químicas dos resíduos
Na Figura 3 é apresentada a curva de
grits e o cimento Portland, assim a adição dos
compactação do solo.
grits na matéria prima de tijolos de solo-
cimento modifica sua composição química e
mineralógica. Todavia segundo Torres (2017)
as características físico-químicas do grits
demostram potencial para utiliza-lo na
incorporação ao clínquer na produção de
cimento Portland.
As características dos grits dependem das
condições de processo e atividades aplicadas
em cada fábrica específica, bem como sobre as Figura3. Curva de compactação do solo
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calcinado a 900°C se diferenciaram,


3.4 Propriedades tecnológicas dos tijolos apresentando uma resistência à compressão
menor.
As Figuras 4 a 6 mostram a influência da adição
dos resíduos nas propriedades tecnológicas dos
tijolos de solo-cimento. O tijolo de solo-
cimento com 0% em peso de resíduos (amostra
T0) foi utilizado como material de referência.

Figura 5. Valores médios de resistência à compressão

Machado et al. (2007) também obtiveram


valores de resistência a compressão em mistura
solo-grits, bem inferiores com o grits calcinado
Figura 4. Valores médios de absorção de água com o
respectivo desvio padrão.
à 900°C em solos arenosos, decaindo de 0,828
MPa a 800°C para 0,216 a 900°C em misturas
A NBR 8492 (ABNT,2012 c) estabelece de solo com 24% de grits compactadas na
20% como valor médio limite para a absorção energia intermediária e curadas a sete dias.
de água, verifica-se pela Figura 4 que todos os Todavia neste mesmo estudo, os autores
tratamentos se enquadram no requisito verificaram um aumento na resistência à
normativo. A absorção de água em tijolos solo- compressão com o tratamento térmico dos grits
cimento está relacionada com o volume de tanto em solos arenosos quanto argilosos, fato
poros, com a densificação e com as esse não observado no presente trabalho.
microestruturas da matriz cimentícia. Tanto a Os tijolos de todos os tratamentos obtiveram
porcentagem de grits em substituição ao um valor média de resistência à compressão
cimento quanto o tratamento térmico foram inferior a 2 MPa , demonstrando que fatores,
significativos para a absorção de água dos além da incorporação do resíduo interferiram no
tijolos, apresentando os maiores valores os ganho de resistência dos tijolos. Siqueira e
tijolos com adição do grits calcinado a 900°C. Holanda (2013) avaliaram a substituição do
Siqueira e Holanda (2013) verificaram uma cimento por grits em até 30% e obtiveram em
absorção de água nos tijolos de solo-cimento sete dias resultados satisfatórios para resistência
com 30% de grits acima do estabelecido pela à compressão em todos os tratamentos, aos 28
norma, indicando que em até 20% o resíduo dias os valores eram superiores a 5 MPa.
atuou como um filer, ou seja, reduzindo a Miranda et al. (2011) verificaram uma
porosidade aberta, e ainda, o cimento continuou resistência à compressão de 2,5 MPa em tijolos
existindo em quantidade favorável para a união com 25 e 50% de substituição do solo por grits
dos agregados. aos 13 dias de cura.
A Figura 5 apresenta os valores médios de Algumas hipóteses podem ser levantadas,
resistência à compressão. Pelo teste de Scott para explicar os baixos valores encontrados
Knott a 5% de probabilidade, não houve como: compactação inadequada (confecção) de
diferenciação estatística com o aumento da alguns tijolos, processo de cura com apenas um
proporção de grits. Em relação ao tratamento ciclo diário de molhagem e tipo de cimento
térmico, os tijolos confeccionados com grits empregado. A Figura 6 apresenta o grau de
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compactação médio dos tijolos de cada que tivesse mais compostos com ação
tratamento. cimentante.

4 CONCLUSÃO

A substituição parcial do cimento por grits, nos


percentuais estabelecidos nesta pesquisa, não
apresentou resultados satisfatórios, não
atendendo à NBR 8492 (ABNT,2012c) em
relação a resistência à compressão. Entretanto
fatores externos podem ter influenciado no
ganho de resistência, sendo que o tratamento
Figura 6. Grau de compactação dos tijolos de solo- controle também não obteve resultados
cimento
satisfatórios e outros autores obtiveram tijolos
O grau de compactação ideal situa-se entre com substituição de até 20% do cimento por
95% e 105% (BUENO e VILAR, 1999), os grits, com resultados que atendem à norma. A
tratamentos T0 e todos os tijolos com 30% de principal hipótese é uma cura inadequada,
grits obtiveram um grau de compactação interferindo no processo de hidratação do
inferior a 95%, indicando que a massa cimento.
especifica aparente seca foi significativamente
A substituição parcial do cimento por
menor que a obtida no ensaio de compactação,
resíduos grits na fabricação de tijolos solo-
sendo maior a presença de vazios no material e
cimento teve impactos significativos na
ocasionando menores valores de resistência.
absorção de água, sendo maior com 30% de
A presença de vazios, também pode ser
grits. O tratamento térmico do grits foi
ocasionada por um processo de cura
significante tanto na absorção de água, quanto
inadequado. Quando há perda da água para o
na resistência à compressão, onde o tratamento
meio e esta não é reposta, ocorrerá o
a 900°C obteve os menores valores de
comprometimento da formação do silicato de
resistência à compressão e os maiores de
cálcio hidratado (C-S-H), influenciando na
absorção de água. O tratamento térmico não se
maioria das propriedades físicas e mecânicas
mostrou eficiente, já que não interferiu
dos materiais cimentícios (PELISSER,GLEIZE
positivamente no ganho de resistência, diminui
e MIKOWSKI, 2009; STARK, 2011). No
a massa de grits e libera dióxido de carbono.
presente trabalho, o ciclo de molhagem dos
tijolos foi realizado uma vez ao dia, sendo
recomendado pelo menos três vezes ao dia, o
AGRADECIMENTOS
que provavelmente ajudou na formação de
poros comprometendo o ganho de resistência.
À FAPEMIG pelo financiamento parcial do
Siqueira e Holanda (2015) observaram que o
projeto de pesquisa ao qual se resultou nesse
resíduo grits atuou como um fíler, preenchendo
trabalho.
poros. Segundo Torres (2017) os grits mostram-
À Universidade Federal de Lavras (UFLA), por
se viáveis para produção de cimento Portland
toda a infraestrutura, em especial aos
composto com fíler (CP-II-F), sendo aceitável
Departamentos de Engenharia e Ciência do
uma substituição de 10%. Na produção dos
Solo.
tijolos utilizou-se o CP-II-F-32, para averiguar
a atuação do grits como fíler, seria mais
adequado a utilização de outro tipo de cimento,
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Emissão fugitiva de metano através do sistema de cobertura do


Aterro Sanitário Metropolitano Centro
Larissa Aparecida Góes Damasceno
Universidade Federal da Bahia, Salvador, Brasil, lagdamasceno@gmail.com

Miriam de Fátima Carvalho


Universidade Católica do Salvador, Salvador, Brasil, mfcmachado@gmail.com

Sandro Lemos Machado


Universidade Federal da Bahia, Salvador, Brasil, smachado@ufba.br

Iara Brandão de Oliveira


Universidade Federal da Bahia, Salvador, Brasil, oliveira@ufba.br

RESUMO: Neste trabalho avaliou-se a emissão de metano através do sistema de cobertura de uma
área do Aterro Sanitário Metropolitano Centro mediante ensaios de placa de fluxo estática,
realizados em zonas trincadas e não trincadas e com repetição em um período de maior ocorrência
de chuva. Também foram realizados ensaios de caracterização da cobertura, coleta de dados de
precipitação diária e sucção aplicada nos drenos de biogás. Por meio de uma análise estatística,
foram obtidos coeficientes de correlação entre emissão fugitiva e as variáveis independentes
associadas (precipitação, umidade e massa específica seca do solo, sucção média dos drenos da área,
sucção do dreno mais próximo ao ponto ensaiado e distância entre estes últimos) e determinados
modelos de estimativa das emissões. As correlações entre as variáveis não explicaram a mudança do
comportamento das emissões fugitivas, uma vez que poucas apresentaram valores com
significância. Modelos exponenciais explicaram a variação das emissões em áreas trincadas e não
trincadas, com R2 ajustado de 0,86 e 0,82, respectivamente, para isso foi necessário um número
elevado de variáveis independentes.

PALAVRAS-CHAVE: Aterros sanitários, sistemas de cobertura, emissões fugitivas de metano.

1 INTRODUÇÃO energia ou apenas disposição final dos resíduos


sólidos urbanos (RSU).
Um dos pontos mais relevantes da elaboração Ao longo do tempo e em contato com as
de um projeto de aterro sanitário é a seleção do mudanças do ambiente, o sistema de cobertura
sistema de cobertura adotado, que deve ser reduz a sua eficiência e amplia a possibilidade
concebido para diminuir a infiltração de água de fuga dos gases para a atmosfera, mesmo
pela superfície, o fluxo de biogás para a quando o aterro possui um sistema de captação
atmosfera e a proliferação de odores e vetores de biogás. Esta emissão é influenciada por
de doenças. Os critérios de projeto mudam parâmetros como tipo e qualidade do sistema de
conforme as características climáticas locais e cobertura, tipo de solo usado, densidade e teor
as geotécnicas do material utilizado, bem como de umidade do solo de cobertura, presença de
com a finalidade a que se destina o aterro no caminhos preferenciais de fluxo (fissuras na
que se refere à recuperação de gás e geração de camada), bem como técnica operacional do
aterro.
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As emissões fugitivas de biogás constituem para a determinação da emissão total de um


um problema de poluição atmosférica a níveis aterro.
local e global, visto que o biogás é composto O presente trabalho tem o objetivo de avaliar
primordialmente por gases de efeito estufa, a influência de algumas variáveis (como sucção
metano (CH4) (55 – 60% do volume aplicada aos drenos, massa específica e umidade
produzido), dióxido de carbono (CO2) (40 – do solo, precipitação) na emissão fugitiva de
45% do volume produzido). Em aterros metano e estimar o fluxo de metano emitido
sanitários brasileiros, a emissão de CH4 através pela camada de cobertura da área considerando
do sistema de cobertura varia entre 0 e 1332,0 a ocorrência de zonas trincadas.
g/m2.dia (GUEDES, 2007; MARIANO, 2008;
MACIEL, 2009; BORBA, 2015; ARAUJO,
2016). 2 METODOLOGIA
O reaproveitamento de biogás produzido nos
aterros sanitários é uma alternativa para a 2.1 Área de estudo
redução de emissões de gases de efeito estufa, a
geração e conservação de energia elétrica, O estudo foi desenvolvido entre novembro de
contribuindo para uma gestão sustentável dos 2016 e novembro de 2017, em uma área de
RSU. No entanto, sistemas de captação de 16991,94 m2 delimitada na Célula 6 Etapa IVEF
biogás não são completamente eficientes, do Aterro Sanitário Metropolitano Centro
capturando entre 50 e 90% do total de biogás (ASMC), que está localizado na rodovia BA-
produzido (MACIEL, JUCÁ, 2011, p. 974; 526, Região Metropolitana de Salvador (RMS).
VALENCIA et al., 2015, p. 7). O Aterro Sanitário Metropolitano Centro,
Em unidades de disposição que recuperam o maior unidade de disposição final de RSU do
biogás, o estudo das emissões fugitivas de estado da Bahia, possui um sistema de extração
biogás é uma importante ferramenta de gestão, de biogás desde 2003 que conta com o
pois permite avaliar a eficiência dos sistemas de aproveitamento energético do biogás desde
cobertura e de extração de biogás e otimizar seu 2011, quando foi instalada uma termoelétrica.
reaproveitamento. Dentre os métodos utilizados Esta usina, composta de 19 motogeradores de
para quantificar emissões gasosas em aterros 1.038 KW cada, vem trabalhando com
sanitários, destacam-se os ensaios de placa de capacidade abaixo do limite inferior de um
fluxo, em que câmaras fechadas ou semiabertas intervalo de confiança de 70% da produção
são cravadas no solo enquanto são feitas prevista do aterro calculada por Caldas (2011),
medidas da concentração dos gases confinados apresentando-se cerca de 38% inferior ao valor
ao longo do tempo. previsto. A baixa produtividade levou a usina a
Conforme Mariano e Jucá (2010, p. 223), a operar com 13 motogeradores e ao
utilização de placas de fluxo é um método desenvolvimento de pesquisas para avaliar as
preciso para a determinação do fluxo pontual e hipóteses que a justifiquem, tais quais a
não exige mão de obra especializada; possibilita existência de emissões fugitivas, alteração do
a determinação das características do solo de ambiente de decomposição no interior do aterro
cobertura no local do ensaio; permite a devido às práticas de operação, à aplicação de
avaliação simultânea de diversos gases; e sucção nos drenos de extração de gás e ao teor
possibilita a análise da influência da idade do de umidade da massa de resíduos.
resíduo, condições atmosféricas e pressões do A Figura 1 apresenta a delimitação da área
gás no contato entre o solo e o resíduo. Porém, de estudo, localização dos pontos onde foram
possui como maior desvantagem a necessidade coletadas amostras de solo, realizados ensaios
de realização de grande quantidade de ensaios de placa de fluxo e caminhamento com
georadar.
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Figura 1. Delimitação da área de estudo e localização dos pontos de coleta de solo, de realização de ensaios de placa de
fluxo e caminhamento com georadar.

Durante o período de realização da pesquisa, O levantamento foi realizado utilizando o


a área dispunha de 13 drenos de biogás ativos GPR apresentado na Figura 2 (modelo
(Figura 1) e seu sistema de cobertura era RAMAC, Mala Geoscience, Skolgatan, Suécia),
temporário, cuja composição normalmente que possui antena de frequência central de 1
adotada pelo aterro é de uma camada de solo GHz, com capacidade máxima de penetração de
compactado com espessura média de 60 cm e 1 m e resolução inferior a 0,13 m.
coeficiente de permeabilidade menor que 10-5
cm/s (MACHADO et al., 2009, p. 157).

2.2 Caracterização da camada de cobertura

Foi realizada uma investigação da subsuperfície


com a finalidade de estimar a espessura da
camada de cobertura. Para tal, foi adotado o
método geofísico radar de penetração de
subsolo (GPR – georadar). Figura 2. Georadar utilizado para estimar a espessura da
camada de cobertura.
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No total, foram levantados três perfis com LANDTEC, Washtenaw, Estados Unidos da
extensão variando entre 125 e 150 m (Figura 1). América), ambos ilustrados na Figura 3.
Foi realizada a caracterização geotécnica de
oito amostras de solo coletadas em diferentes
pontos, a fim de aumentar representatividade
dos resultados. A identificação das amostras e a
localização do ponto de coleta estão
apresentadas na Tabela 1 e na Figura 1,
respectivamente.

Tabela 1. Local de coleta das amostras de solo.


A 1 2 3 4 5 6 7 8
EP13 EP EP P P P P P
C
EP21 50 16 01 02 03 04 05
A: Amostra; C: Local de coleta.

Os ensaios foram realizados conforme


procedimentos padronizados (Tabela 2).

Tabela 2. Ensaios de caracterização do solo.


Ensaio Procedimento Figura 3. Ensaio de placa de fluxo: a) cravação; b)
Preparação de amostras NBR 6457 vedação; c) análise dos gases.
Análise granulométrica NBR 7181
Massa específica dos grãos NBR 6508 Os ensaios foram realizados em 28 pontos
Limite de liquidez NBR 6459
distribuídos em regiões com e sem a presença
Limite de plasticidade NBR 7180
de trincas, sendo repetidos em um período de
maior ocorrência de chuvas. A localização dos
Em cada ponto onde foram realizados
pontos, identificados como EP-número, está
ensaios de placa de fluxo, foram retiradas
apresentada na Figura 1.
amostras de solo para a determinação da massa
O fluxo mássico de metano emitido em cada
específica seca realizada através do método do
ensaio foi obtido através das equações (1)
cilindro de cravação, NBR 9813 (ABNT, 1987),
(CZEPIEL et al., 1996, p. 16713) e (2).
e determinação do teor de umidade, NBR 6457
(ABNT, 1986).
VI Δ C P
Jgás= . . ρgás . atm (1)
2.3 Ensaios de placa de fluxo AU Δ t 1013

A determinação de emissões fugitivas de ρgás (0° C).273,15


metano na área de estudo foi realizada através
ρgás= (2)
273,15+T i (°C)
de ensaios de placa de fluxo estática.
O procedimento consistiu na cravação e Onde: Jgás é a taxa de emissão mássica
vedação de uma placa na superfície da camada [M.L-2.T-1]; VI é o volume interno da placa [L3];
de cobertura, seguidas de aferições da AU é a área útil da placa [L2]; ΔC/Δt é a
temperatura e concentração dos gases variação da concentração do gás com o tempo
confinados na placa ao longo do tempo, até que [T-1]; Patm é a pressão atmosférica (mbar); e ρgás
houvesse estabilização nas leituras de é a densidade do gás [M.L-3] que foi corrigida
concentração gasosa. Para isso, foram utilizados em função de Ti que é a temperatura do gás no
uma placa de aço galvanizado e acrílico e um interior da placa (ºC). A concentração do
analisador de gás (modelo GEM5000,
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constituinte gasoso estudado foi obtida pelo ASMC, respectivamente, a fim de observar a
aparelho analisador de gás automático. ΔC/Δt influência da precipitação.
foi calculada por regressão linear a partir de 4 Baseados nos resultados foram propostos
leituras com um coeficiente de determinação modelos de estimativa de JCH4 (g/m2.dia). Para
(R2) maior ou igual a 0,90, conforme isso, foi realizada uma regressão múltipla com
recomendado por Czepiel et al. (1996, p. remoção da linearidade das variáveis
16713). independentes.

2.4 Análise estatística


3 RESULTADOS
A análise estatística dos resultados foi realizada
para avaliar a influência de algumas variáveis 3.1 Caracterização da camada de cobertura
sobre a emissão fugitiva de metano - JCH4
(g/m2.dia). Foram analisadas seis variáveis A espessura da camada de cobertura foi
independentes, representando caraterísticas do estimada a partir dos perfis obtidos pelo GPR, a
solo e dos ambientes interno e externo à camada parte de um deles está ilustrada na Figura 4.
de cobertura: teor de umidade - w (%) e massa
específica seca do solo - ρd (g/cm3), sucção
média dos drenos de biogás presentes na área de
estudo - Ψm (kPa), distância entre o dreno mais
próximo ao ponto de ensaio de placa de fluxo –
d (m), relação entre a sucção média do dreno de
biogás mais próximo ao ponto ensaiado e a Figura 4. Parte de perfil obtido por GPR.
distância entre eles - Ψd (kPa/m) e precipitação
acumulada dos 10 dias anteriores à realização A partir dos perfis obtidos, inferiu-se que a
de cada ensaio de placa de fluxo- P (mm). área possui uma camada de cobertura
Essa análise constituiu em: praticamente uniforme com espessura média de
a) Determinar os coeficientes de correlação 50 cm, atingindo 70 cm em alguns trechos.
de Pearson (rP) e de Spearman (rS) entre as Considerando que o aterro dispõe de um
variáveis e realizar testes bilaterais sobre estes sistema de recuperação de metano, a camada de
coeficientes para níveis de significância de 1 e cobertura adotada na área de estudo
5%, a fim de indicar quais variáveis melhor se provavelmente não é suficiente para mitigar as
ajustam a um modelo de regressão; emissões gasosas, uma vez que é composta
b) Determinar o coeficiente de determinação somente por uma camada de solo de pequena
ajustado (R2a) por meio de regressão linear espessura.
múltipla. A caracterização geotécnica está apresentada
A análise estatística das observações foi feita na Tabela 3 e na Figura 5.
em grupos:
a) Grupo 1: todas as observações realizadas, Tabela 3. Resultados da caracterização geotécnica.
para obter uma visualização preliminar dos Amostra IP ρS (g/cm3) SUCS
resultados; 1 6 2,728 SM/SC
b) Grupos 2 e 3: compostos por pontos que 2 10 2,728 SC
3 6 2,723 SM/SC
estavam sob pouca e muita influência de regiões 4 9 2,735 SC
trincadas, respectivamente; 5 8 2,724 SC
c) Grupos 4 e 5: divisão das observações 6 7 2,715 SM/SC
quanto a ocorrência de pouca e muita chuva no 7 6 2,721 SM/SC
8 7 2,722 SM/SC
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As emissões fugitivas de metano medidas


encontram-se na faixa de valores reportada na
literatura brasileira (MACIEL, 2009; GUEDES,
2007; MARIANO, 2008; BORBA, 2015;
ARAUJO, 2016) para camadas de cobertura
semelhantes a que foi investigada neste estudo.
No período seco, as emissões fugitivas de
metano variaram entre 0 e 283,48 g/m2.dia, com
média e desvio padrão de 37,71 e 64,59
g/m2.dia, respectivamente. A elevada dispersão
Figura 5. Curvas granulométricas das amostras.
apresentada nos valores se deve a picos de
emissão nos pontos que, na maioria, ocorreram
As amostras possuem predominância arenosa em áreas sob a influência de trincas.
e baixa plasticidade (IP ≤ 10%), que as No período chuvoso, as emissões variaram
classificam desde areia argilosa (SC) a areia entre 0 e 355,55 g/m2.dia, sendo a média e o
siltosa (SM), conforme o SUCS. Os valores de desvio padrão 59,66 e 101,73 g/m2.dia,
massa específica dos grãos são semelhantes respectivamente. Também foi observada uma
entre as amostras. Percebe-se que há pouca alta dispersão nos valores, ocasionada pelos
variabilidade nas características geotécnicas do picos de emissão nas áreas trincadas. Parte dos
solo coletado em pontos distintos na camada de pontos apresentou elevação da emissão neste
cobertura e, consequentemente, essas período, sobretudo os que estavam localizados
informações não são suficientes para indicar um nas áreas trincadas. Provavelmente, esse
comportamento diferenciado de áreas trincadas aumento foi provocado pelo acréscimo da
e não trincadas frente às emissões fugitivas de umidade média da camada de solo e,
metano. Por outro lado, presume-se a existência consequente, redução de sua permeabilidade ao
de emissões através do sistema de cobertura, metano, direcionando seu fluxo para caminhos
visto que este é formado por uma camada pouco preferenciais.
espessa de solo arenoso. Os pontos visivelmente localizados em áreas
No período seco, a umidade do solo em não trincadas (EP-03, EP-09, EP-11, EP-12 e
campo variou entre 1,55 e 11,19%, enquanto no EP-13) apresentaram emissões de metano
período chuvoso, variou entre 8,38 e 18,44%. variando entre 0 e 28,36 g/m2.dia. Borba (2015,
Houve pouca diferença nos resultados obtidos p. 93 e p. 97-98) e Araujo (2016, p. 114 e p.
em períodos considerados de pouca e de muita 119) encontraram valores superiores (oscilando
chuva, com a presença de valores repetidos em de 0,1 a 59,5 e de 8,2 a 64,6 g/m2.dia,
períodos distintos, provavelmente, devido à respectivamente) em investigações realizadas
ocorrência de chuva durante todo o ano de em zonas íntegras de camadas de cobertura com
estudo e também devido à baixa capacidade de 0,50 m de espessura composta por areia siltosa
retenção de umidade do solo. e areia silto argilosa; ambos justificaram a
emissão mesmo na ausência de trincas pelo tipo
3.2 Ensaios de placa de fluxo de solo utilizado, com teor de areia e
condutividade hidráulica que possibilitavam o
A Tabela 4 apresenta os resultados de todos os fluxo de metano através da camada. Entretanto,
ensaios de placa de fluxo realizados na área, esses são apenas alguns parâmetros que
bem como as variáveis independentes influenciam a variabilidade de emissões gasosas
consideradas para a realização do estudo em um aterro.
estatístico.
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Tabela 4. Resultados dos ensaios de placa de fluxo (y) e as variáveis independentes consideradas.
Período chuvoso Período seco
EP
y x1 x2 x3 x4 x5 x6 y x1 x2 x3 x4 x5 x6
01 271,85 10,96 1,66 -1,77 -0,01 78 36,35 159,92 10,18 1,72 -1,06 -0,07 25 36,35
02 54,34 11,7 1,72 -1,63 -0,12 39 21,28 0,00 8,51 1,55 -1,06 -0,14 25 21,28
03 15,41 14,83 1,6 -1,77 -0,07 78 2,30 0,00 11,19 1,66 -1,06 -0,58 25 2,30
05 5,34 10,62 1,74 -1,97 -0,10 57 38,91 0,00 10,39 1,74 -1,05 -0,08 12 38,91
06 5,33 11,15 1,78 -1,63 -0,08 39 29,57 0,00 6,70 1,76 -1,15 0,00 86 29,57
07 34,44 14,42 1,57 -1,63 -0,10 34 22,18 23,14 6,83 1,70 -1,15 0,00 86 22,18
08 13,30 10,77 1,74 -1,96 -0,03 121 26,30 0,00 8,22 1,63 -1,17 -0,03 14 26,30
09 12,30 11,75 1,74 -1,46 -0,20 73 3,91 28,36 6,88 1,69 -1,08 -0,23 6 3,91
10 109,93 10,34 1,78 -1,63 -0,05 34 12,98 12,82 5,53 1,65 -1,08 -0,03 6 12,98
11 0,00 15,06 1,75 -1,46 -0,01 73 21,56 12,63 1,55 1,74 -0,84 -0,04 6 21,56
12 5,13 11,24 1,82 -1,32 0,01 83 18,30 26,79 3,93 1,69 -0,84 -0,01 5 18,30
13 0,00 8,38 1,6 -1,32 0,01 83 14,79 0,00 5,97 1,67 -0,84 -0,01 5 14,79
14 131,35 14,83 1,67 -1,88 -0,10 124 12,21 41,52 2,15 1,58 -0,98 -0,10 1 12,21
16 0,00 10,71 1,76 -1,96 -0,02 121 20,21 7,87 3,40 1,70 -1,04 -0,01 0 20,21
17 177,77 17,67 1,73 -2,15 -0,28 48 19,43 70,88 7,05 1,76 -1,02 -0,03 0 19,43
18 0,00 11,9 1,82 -2,03 -0,09 43 20,37 31,76 6,59 1,77 -0,92 -0,06 28 20,37
19 0,00 11,9 1,67 -2,03 -0,09 43 21,34 5,15 6,51 1,71 -1,15 -0,06 5 21,34
20 0,00 11,9 1,83 -2,03 -0,08 43 22,26 5,18 6,59 1,68 -1,15 -0,05 5 22,26
21 321,12 9,14 1,73 -1,69 -0,21 87 19,27 20,34 4,13 1,69 -1,04 -0,03 0 19,27
22 355,55 13,52 1,66 -1,97 -0,10 57 36,45 22,40 10,92 1,71 -1,05 -0,08 12 36,45
26 5,32 18,44 1,46 -1,98 -0,10 45 21,25 283,48 3,93 1,47 -1,13 -0,01 8 21,25
27 3,39 15,09 1,56 -1,98 -0,11 45 20,70 159,66 3,98 1,58 -1,13 -0,01 8 20,70
28 0,00 6,21 1,46 -1,86 -0,17 10 20,01 88,42 3,86 1,47 -1,13 -0,01 7 20,01
29 0,00 6,21 1,46 -1,86 -0,18 10 18,99 44,46 3,89 1,45 -1,13 -0,01 7 18,99
50 89,70 10,97 1,59 -2,18 -0,03 13 18,45 7,84 7,22 1,58 -1,29 -0,01 29 18,45
51 39,53 8,64 1,62 -1,79 -0,02 39 18,34 3,27 7,19 1,60 -1,29 -0,01 29 18,34
52 16,04 9,9 1,6 -1,79 -0,02 39 18,25 0,00 6,80 1,68 -1,15 -0,01 9 18,25
53 3,35 9,03 1,51 -1,87 -0,03 34 18,18 0,00 6,17 1,68 -1,15 -0,01 9 18,18
y: emissão fugitiva de metano - JCH4 (g/m2.dia); x1: umidade do solo - w (%); x2: massa específica seca do solo - ρd
(g/cm3); x3: sucção média dos treze drenos de biogás da área - Ψm (kPa); x4: relação entre sucção do dreno mais próximo
ao ponto e distância entre eles - Ψd (kPa/m); x5: precipitação acumulada de 10 dias anteriores ao ensaio - P (mm); x6:
distância entre o ponto e o dreno mais próximo - d (m).

Nos demais pontos localizados na região 389,0 g/m2.dia, e Borba (2015, p. 93), de 181,4
trincada da área de estudo, a dispersão dos a 574,6 g/m2.dia, para as zonas trincadas da área
valores de emissão fugitiva foi superior, descrita anteriormente.
variando entre 0 e 355,55 g/m2.dia, sendo Como esperado, as maiores emissões
semelhante e inferior aos resultados ocorreram nos pontos localizados nas regiões
encontrados por Araújo (2016, p. 114), de 7,5 a trincadas, mas não necessariamente sobre uma
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trinca, indicando que esta exerce influência A análise de todas as observações (grupo 1)
sobre o fluxo gasoso na camada até certo limite mostrou que não houve correlação (rP e rS) entre
e que se tratando de um ambiente muito nenhuma das variáveis independentes com a
heterogêneo não é tão simples presumir o efeito dependente para os níveis de significância
de uma variável sobre outra isoladamente. considerados (1 e 5%).
Observa-se que houve quinze pontos, No grupo 2, apenas a variável Ψm (kPa)
distribuídos em regiões trincadas e não apresentou correlações (rP e rS) significantes
trincadas, que apresentaram valores nulos de com JCH4 (g/m2.dia), ambas com nível 5% de
emissão de metano em ensaios realizados nos significância.
períodos seco e chuvoso. Isso pontua a elevada No grupo 3, somente a variável d (m)
variabilidade espacial e temporal dos resultados, apresentou correlação significante (rP) com
que também pode ser percebida em ensaios JCH4 (g/m2.dia).
realizados em pontos próximos (ou não), no Nas observações realizadas no período seco
mesmo dia e que apresentaram valores distantes (grupo 4), apenas as variáveis ρd (g/cm3) e w
de emissão, como é o caso dos pontos EP-26 e (%) apresentaram correlações significantes com
EP-27, EP-01, EP-02 e EP-03, no período seco. JCH4 (g/m2.dia), rP e rS respectivamente, ambos
para um nível de significância 5%.
3.3 Análise estatística Já no período chuvoso (grupo 5), não houve
correlações significantes com a variável
Os coeficientes de correlação de Pearson e dependente.
Spearman entre as variáveis independentes e a É possível observar que os coeficientes de
dependente, bem como os respectivos níveis de correlação entre P (mm) e JCH4 (g/m2.dia) e w
significância estão apresentados na Tabela 5. (%) JCH4 (g/m2.dia) apresentaram sinais
negativo e positivo nos períodos seco e
Tabela 5. Correlações entre as variáveis independentes e chuvoso, respectivamente. No primeiro caso,
JCH4 (g/m2.dia) e respectivos níveis de significância. trata-se de uma relação já esperada, visto que a
G E x1 x2 x3 x4 x5 x6
redução de w (%) aumenta a permeabilidade do
rP 0,09 -0,06 -0,16 0,01 0,14 0,24
S 0,50 0,66 0,24 0,92 0,30 0,08 solo a gases e, consequentemente, as emissões
1 gasosas pela camada de cobertura. Entretanto,
rS -0,03 -0,07 0,05 -0,04 -0,03 -0,00
S 0,82 0,60 0,70 0,75 0,81 0,98 no período chuvoso, o aumento de w (%) não
rP -0,30 0,21 0,47* -0,24 -0,11 -0,23 foi acompanhado da redução de JCH4
S 0,17 0,34 0,03 0,28 0,62 0,30
2 (g/m2.dia), o que não contradisse à relação
rS -0,28 0,16 0,48* -0,03 -0,10 -0,12
S 0,21 0,47 0,03 0,89 0,66 0,60 inversa entre a permeabilidades do solo a água e
rP 0,21 0,07 -0,31 -0,24 0,43 0,54* ao gás, mas que reiterou a hipótese de
3
S 0,41 0,78 0,22 0,34 0,07 0,02 concentração de emissões elevadas na região de
rS 0,27 0,11 -0,41 -0,07 0,41 0,32 trincas neste período.
S 0,29 0,66 0,09 0,78 0,09 0,19
No geral, foram observadas poucas
rP -0,21 -0,42* -0,05 0,13 -0,13 0,14
S 0,29 0,03 0,81 0,50 0,52 0,47 correlações significantes com a variável
4 dependente, por outro lado, houve uma
rS -0,39* -0,09 0,25 0,03 -0,25 0,02
S 0,04 0,63 0,20 0,88 0,20 0,92 quantidade relevante de correlações
rP 0,11 0,11 -0,12 -0,20 0,18 0,32 significantes entre variáveis independentes.
S 0,57 0,59 0,55 0,32 0,39 0,10
5 Algumas dessas eram previsíveis devido à
rS 0,13 -0,03 0,05 -0,16 0,13 -0,03
S 0,52 0,87 0,81 0,41 0,51 0,87 relação física ou matemática entre elas, como
E: Estatística; G: Grupo de observação; S: Nível de por exemplo, P (mm) e w (%) e Ψd (kPa/m) e d
significância (teste bilateral); ** Correlação significante (m), não foi o caso de P (mm) e ρd (g/cm3), que
para 0,01; * Correlação significante para 0,05. não possuem algum tipo de relação e, no
entanto, apresentaram correlações significantes.
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Segundo Hair et al. (2005, p. 165), um modelo linear não poderia explicar
correlações significantes entre variáveis satisfatoriamente a variação da emissão fugitiva
independentes têm efeitos no modelo de de metano em função das variáveis
explicação da variável dependente, nas independentes estudadas. Isso foi verificado nos
estimativas nos coeficientes de regressão e nos resultados de regressão linear múltipla (Tabela
testes de significância estatística. 6).
A pequena quantidade de correlações
lineares com a variável dependente mostrou que

Tabela 6. Modelos de estimativa de JCH4 (g/m2.dia), resultado da regressão linear múltipla.


Grupo Modelo de estimativa da emissão fugitiva de CH4 R2a
1 y=−2,95. x1−119,23. x 2−25,66 . x3−67,45 . x4 +0,47. x 5+3,32. x6 +144,66 0,01
2 y = 0,53.x 1  36,17.x 2 +18,69.x 3  52,90.x 4  0,15.x 5 + 0,24.x 6 + 89,18 0,22
3 y=−22,82. x1+0,87. x2 −142,84 . x3−608,26 . x4 +1,45. x5 +9,90. x 6−178,55 0,45
4 y = 7,69.x 1 - 324,23.x 2  17,53.x 3  66,90.x 4 - 0,16.x 5 + 3,79.x 6  560,12 0,08
5 y = 0,10 .x 1 - 32,64.x 2  3,98 .x 3  476 ,67 .x 4  0,89.x 5 + 5,61 .x 6 - 89,75 0,04

Em todos os grupos, o modelo linear Apenas os grupos 2 e 3 apresentaram


múltiplo não apresentou uma relação de causa e modelos de estimativa com Ra2 superior a 0,50.
efeito entre as variáveis independentes e A remoção de variáveis, durante a realização
dependente, visto pelos baixos valores de R2a. dos testes, provocou redução do R2a e aumento
Assim, tornou-se necessário a realização de dos valores de constantes e coeficientes, então,
mudanças nos modelos de estimativa das preferiu-se manter as seis variáveis
emissões por meio da remoção da linearidade indepententes analisadas no estudo estatístico.
nas variáveis independentes. O resultado Os modelos resultantes conseguiram explicar as
apresentou um formato exponencial, equação emissões fugitivas de metano com R2a
(3). razoavelmente elevados. Entretanto, observou-
se que os resultados dos ensaios realizados em
c 1. x a1+c 2 . xb2 +c 3 .x c3+c4 . xd4+c5 . xe5+c6 . xf6+c n dois pontos (um do grupo 2 e outro do 3)
y=e (3)
causavam a redução dos valores de R2a. Com o
intuito de melhorar o ajuste dos modelos de
Onde: y é JCH4 (g/m2.dia); x1 é w (%); x2 é estimativa nestes grupos, foi feita uma nova
ρd (g/cm3); x3 é Ψm (kPa); x4 é Ψd (kPa/m); x5 é análise dos dados com a remoção dos pontos
P (mm); x6 é d (m); c1, c2, c3, c4, c5, c6 e cn são destoantes. Assim, foram obtidos novos
constantes; a, b, c, d, e e f são os coeficientes de modelos para a estimativa da emissão fugitiva
ajustes otimizados. de metano nos grupos 2 e 3 (Tabela 7).

Tabela 7. Modelos de estimativa de JCH4 (g/m2.dia).


Grupo Modelo (Ajuste inicial) R2a
−2,00 2,00 −1,38 1,48 1,89 2,00
2 −1,61. x 1 −1,26. x 2 +3,35. x 3 +7,91. x 4 + 2,56E-04 .x 5 +6,60E-04 . x6 + 2,47 0,71
y=e
1,16 −1,00 1,69 1,40 2,50 0,73
3 −9,11E-02. x1 −1,09. x 2 + 0,48. x 3 +7,67. x 4 + 9,03E-06. x 5 +0,24. x 6 −2,83 0,67
y=e
Grupo Modelo (Ajuste final) R2a
2 −1,48. x−1,50
1 −1,72. x1,50 −1,14
2 + 4,41. x3 +4,26. x 0,85 1,91 1,50
4 +2,53E-04 . x5 +3,51E-03 . x6 + 1,50 0,82
y=e
3 −8,67E-02. x1,18 1,50 1,25 1,29 2,50
1 + 0,87. x2 +0,89. x 3 +6,41. x 4 + 7,76E-06. x5 +7,84E-03 .x 1,56
6 +1,04 0,86
y=e

Considerando a heterogeneidade do ambiente variáveis que influenciam tanto a geração


em que o metano é produzido e a interação das quanto a emissão de metano em um aterro
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sanitário, infere-se que os modelos obtidos ___. (1988). NBR 7180: Solo - Determinação do limite
podem estimar a emissão fugitiva de metano na de plasticidade, Rio de Janeiro, 3 p.
BORBA, P. F. S. (2015). Avaliação das emissões de GEE
área de estudo de maneira satisfatória, dado o e BTEX em aterro sanitário de grande porte,
aumento dos valores de R2a (Tabela 7). Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Ambiental, Faculdade de
Engenharia, Universidade do Estado do Rio de
4 CONCLUSÃO Janeiro, 135 p.
CALDAS, A. S. (2011). Geração de metano devido à
digestão anaeróbia de resíduos sólidos urbanos -
O aumento da umidade do solo direcionou o estudo de caso do Aterro Sanitário Metropolitano
fluxo gasoso para os caminhos preferenciais da Centro, Salvador – BA, Dissertação de Mestrado,
camada de cobertura, elevando as emissões de Programa de Mestrado em Engenharia Ambiental
metano nas regiões trincadas da área de estudo Urbana, Escola Politécnica, Universidade Federal da
Bahia, 154 p.
durante o período chuvoso. CZEPIEL, P. M. et al. (1996). Landfill methane
Modelos lineares não explicaram a mudança emissions measured by enclosure and atmospheric
de comportamento das emissões. tracer methods. Journal Of Geophysical Research,
Modelos exponenciais com um elevado Vol. 101, n. 11, p. 16711-16719.
GUEDES, V. P. (2007). Estudo do fluxo através do solo
número de variáveis independentes explicaram
de cobertura de aterro de resíduos sólidos urbanos,
a variação das emissões em áreas trincadas e Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-
não trincadas, com R2a de 0,86 e 0,82, Graduação em Engenharia Civil,- Universidade
respectivamente. Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 125 p.
HAIR, J. F. J. (2005). Análise Multivariada de Dados, 5.
ed., Bookman, Porto Alegre, RS, 593 p.
MACHADO, S. L et al. (2009). Methane generation in
AGRADECIMENTOS tropical landfills: simplified methods and field results.
Waste Management, Vol. 29, n. 1, p. 153-161.
Os autores agradecem aos Laboratórios de MACIEL, F. J. (2009). Geração de biogás e energia em
Mecânica dos Solos da UCSAL e de Geotecnia aterro experimental de resíduos sólidos urbanos,
Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em
Ambiental da UFBA, a CAPES e a BATTRE.
Engenharia Civil, Centro de Tecnologia e
Geociências, Universidade Federal de Pernambuco,
333 p.
REFERÊNCIAS MACIEL, F.; JUCÁ, J. F. T. (2011). Evaluation of
landfill gas production and emissions in a MSW large-
ARAUJO, T. T. (2016). Estudo experimental de emissões scale experimental cell in Brazil, Waste Management,
fugitivas de biogás em camadas de cobertura de uma Vol. 31, n. 5, p. 966-977.
célula de aterro sanitário, Dissertação de Mestrado, MARIANO, M. O. H. (2008). Avaliação da retenção de
Programa de Pós-Graduação em Engenharia gases em camadas de cobertura de aterros de
Ambiental, Faculdade de Engenharia, Universidade resíduos sólidos, Tese de Doutorado, Programa de
do Estado do Rio de Janeiro, 149 p. Pós-Graduação em Engenharia Civil, Centro de
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS Tecnologia e Geociências, Universidade Federal de
TÉCNICAS. (1984). NBR 6508: Grãos que passam Pernambuco, 225 p.
na peneira de 4,8 mm - Determinação da massa MARIANO, M. O. H.; JUCÁ, J. F. T. (2010). Ensaios de
específica, Rio de Janeiro, 8 p. campo para determinação de emissões de biogás em
___. (1984). NBR 6459: Solo - Determinação do limite camadas de cobertura de aterros de resíduos sólidos,
de liquidez, Rio de Janeiro, 6 p. Revista Engenharia Sanitária e Ambiental, Vol. 15, n.
___. (1984). NBR 7181: Solo - Análise granulométrica. 3, p. 223-228.
Rio de Janeiro, 13 p. VALENCIA, R. G. et al. (2015). Detection of hotspots
___. (1986). NBR 6457: Amostras de solo - Preparação and rapid determination of methane emissions from
para ensaios de compactação e ensaios de landfills via a ground-surface method. Environmental
caracterização, Rio de Janeiro, 9 p. Monitoring And Assessment, Vol. 187, n. 1, p. 1-8.
___. (1987). NBR 9813: Solo – Determinação da massa
específica aparente in situ, com emprego do cilindro
de cravação, Rio de Janeiro, 5 p.
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Ensaios de Caracterização Geotécnica e Reológica de Rejeito


Granular e Lama Depositada em Barragem de Rejeitos de
Mineração de Carvão
Christiane Ribeiro da Silva
Universidade do Extremo Sul Catarinense/UNESC, Criciúma, Brasil, chribeiro.s@gmail.com

Jair Carlos Koppe


Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGS, Porto Alegre, Brasil, jkoppe@ufrgs.br

Flávia Cauduro
Universidade do Extremo Sul Catarinense/UNESC, Criciúma, Brasil, engflaviacauduro@gmail.com

RESUMO: A mineração, especialmente do carvão, foi o eixo central para o progresso da tecnologia
industrial. Atualmente, em torno de 40% da geração de energia mundial está relacionada com a
mineração de carvão. Os rejeitos da mineração de carvão, comumente chamados rejeitos piritosos
mesmo não apresentando alto teor de pirita, são constituídos de material ácido que causa efeitos
nocivos ao meio ambiente e, por isso, são depositados nas barragens de rejeitos. Apesar dos
benefícios relacionados com a disposição de rejeitos da mineração, as barragens apresentam
potenciais riscos já que acumulam grandes volumes de materiais. Neste contexto, a pesquisa vem de
encontro com as necessidades impostas pela legislação ao buscar dados sobre os materiais
depositados em uma barragem de rejeitos. Isto posto, o objetivo principal da pesquisa é a
determinação das características geotécnicas do rejeito granular armazenado na barragem e,
também, a determinação da viscosidade da lama (rejeito de granulometria fina) armazenada. O
presente artigo é parte integrante de um estudo motivado pela ausência de modelos específicos para
barragens de rejeitos que busca definir uma metodologia específica para simulações de rupturas de
uma barragem de rejeitos de carvão.

PALAVRAS-CHAVE: Barragem, Rejeitos, Carvão, Geotecnia, Reologia.

1 INTRODUÇÃO desejado”.
A mineração, especialmente do carvão, foi o
A mineração, ação ou efeito de minerar, em eixo central para o progresso da tecnologia
tempos modernos se trata de uma atividade cara industrial. O carvão, rocha sedimentar originada
e complexa em virtude das etapas necessárias a partir da decomposição de matéria orgânica,
até que ocorra a concentração do minério. Tal se trata de um combustível fóssil utilizado tanto
atividade, mesmo que possua a melhor e maior para gerar energia elétrica em usinas
rentabilidade possível, apresenta, ao longo de termoelétricas quanto como matéria-prima para
seus processos, a geração de resíduos, os quais produzir aço nas siderúrgicas. Atualmente, em
são classificados de estéreis ou rejeitos. De torno de 40% da geração de energia mundial
acordo com Boscov (2008, p. 13) “os estéreis está relacionada com a mineração de carvão. De
são gerados pelas atividades de lavra que acordo com Rubio (1988, p.16) “o
buscam alcançar o minério como, por exemplo, beneficiamento de carvão representa um
o decapeamento, enquanto que os rejeitos são exemplo clássico de relações interligadas entre
resíduos resultantes dos processos de processamento de um recurso mineral, energia e
beneficiamento para a concentração do minério impacto ambiental”.
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No processo de extração e beneficiamento do da onda de cheia, se relaciona com as vazões,


carvão são geradas quantidades elevadas de com a velocidade de escoamento e com a
estéreis e rejeitos em virtude das baixas relações viscosidade do material, além do tipo de
estéril-minério, já que o carvão no sul do Brasil material, rejeito de carvão no caso deste estudo.
é considerado de baixa qualidade. Os rejeitos da Tais fatos estão diretamente ligados com o
mineração de carvão, comumente chamados máximo espalhamento do material no caso de
rejeitos piritosos, mesmo não apresentando alto um rompimento.
teor de pirita, são constituídos de material ácido Considerando o contexto acima descrito, esta
que causa efeitos nocivos ao meio ambiente e, pesquisa vem de encontro com as necessidades
por isso, são depositados nas barragens de impostas pela legislação ao buscar dados
rejeitos. informativos sobre os materiais depositados na
Barragens de rejeito são estruturas barragem. Isto posto, o objetivo principal deste
construídas para disposição de de rejeitos nas trabalho é a determinação das características
bacias formadas à montante. As barragens geotécnicas do rejeito granular armazenado na
evitam que o material depositado escoe barragem e, também, a determinação da
diretamente para os cursos de águas viscosidade da lama (rejeito de granulometria
superficiais. Conforme Portaria n° 70.389 do fina) armazenado no mesmo local.
DNPM, “barragens de mineração são aquelas A pesquisa entende que, para a simulação
com atividades de direito minerário, construídas dos cenários de ruptura hipotética de uma
em cota superior às da topografia do terreno e barragem de rejeitos de mineração, dados a
utilizadas para contenção, acúmulo, decantação respeito da viscosidade do fluido serão
ou descarga de rejeitos, contendo, ou não, considerados como de extrema importância, já
captação de água associada”. Como barragem que o rejeito armazenado é considerado como
de mineração ativa fica entendido, de acordo um fluido não newtoniano. Atualmente as
com a mesma portaria, aquela que esteja em modelagens são facilitadas a partir de softwares
operação, ou seja, “recebendo rejeitos e/ou que retratam com alta precisão os dados físicos
sedimentos oriundos da atividade de reais.
mineração”. Vale ressaltar que órgão DNPM, Deste modo, o presente artigo é parte
Departamento Nacional de Produção Mineral, integrante de um estudo motivado pela ausência
foi extinto no final do ano de 2017, sendo de modelos específicos para barragens de
substituído pela Agência Nacional de rejeitos tanto no âmbito nacional quanto
Mineração (ANM). internacional, cujo objetivo principal como um
Mesmo que a probabilidade de ruptura de todo busca definir uma metodologia específica
uma barragem seja relativamente baixa, a para uma análise de ruptura de uma barragem
ocorrência de um rompimento pode causar um de rejeitos de carvão.
dano catastrófico e um tanto irreversível. Desta
forma, apesar dos benefícios relacionados com
a disposição de rejeitos da mineração, as 2 MATERIAIS E MÉTODOS
barragens apresentam potenciais riscos já que
acumulam grandes volumes de materiais. Barragens de rejeitos são consideradas grandes
Conforme Oliveira (2016), o risco das obras da engenharia geotécnica. Relacionando
barragens está relacionado ao armazenamento esse tipo de barragens com a ciência mecânica
de energia potencial. No caso de rompimento, a dos solos, é possível afirmar que nestas, os
energia potencial armazenada se transforma, rejeitos granulares são entendidos como o
devido ao movimento, em energia cinética. “solo” enquanto que a lama seria a “água”.
A energia cinética, também conhecida como Desta forma, existe uma perda de resistência
energia de movimento, possui influência direta mecânica ao longo da vida útil das barragens,
na propagação da onda de cheia. A propagação uma vez que os alteamentos são realizados com
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o próprio rejeito granular para aumento da Poliméricos (LaPol) da Universidade Federal do


capacidade do reservatório. Rio Grande do Sul (UFRGS) para realização do
A Figura 1 apresenta o fluxograma de ensaio de viscosidade. Para a determinação da
processos desenvolvido para o atendimento do viscosidade foi utilizado o reômetro Brookfield
objetivo proposto neste artigo. O LV DV-E. A utilização do equipamento do tipo
desenvolvimento da pesquisa contemplou a LV foi decorrente do aspecto “líquido” da
caracterização do material em termos amostra.
geotécnico e reológico. Vale salientar que os ensaios de
caracterização descritos foram executados de
acordo com suas normas específicas previstas
Definição da barragem em pela Associação Brasileira de Normas Técnicas
estudo
(ABNT), de acordo com a Tabela 1.
Coleta de amostras de rejeito Tabela 1: Normas Técnicas (ABNT)
granular
Norma Descrição
6457/2016 Amostras de solo – Preparação para
ensaio de compactação e ensaio de
Coleta de amostras de lama caracterização
7181/2016 Análise Granulométrica
6459/2016 Limite de Liquidez
Determinação das características
físicas e mecânicas do rejeito 7180/2016 Limite de Plasticidade
granular 7182/2016 Ensaio de Compactação

Determinação da reologia da 3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS


lama RESULTADOS

Figura 1. Fluxograma de processos. 3.1 Ensaios de caracterização geotécnica do


rejeito granular
O material granular coletado na barragem foi
armazenado em sacos plásticos devidamente A caracterização geotécnica do rejeito granular
identificados. Foi encaminhado ao Laboratório foi iniciada com a amostragem, em quatro
de Mecânica dos Solos da Universidade do pontos, na praia de rejeitos da barragem,
Extremo Sul Catarinense (UNESC) para motivada pela diversificação de partículas
realização da sequência de ensaios proposta. observadas no local, conforme numeração
Inicialmente, em laboratório, o material foi apresentada na Figura 2. Os resultados serão
encaminhado à estufa, onde permaneceu por um apresentados conforme a localização dos pontos
período entre 24 e 48 horas, conforme a de coleta.
umidade presente, etapa de preparação das
amostras. De posse do material já seco, os
ensaios foram realizados.
Já com relação à caracterização reológica,
esta envolve a análise do rejeito produzido na
usina de beneficiamento e descartado na forma
de lama. Para esta pesquisa, a lama é composta
por rejeito de granulometria fina oriundo do
processo de beneficiamento de carvão e foi
coletada na saída da tubulação que desagua o
rejeito na barragem. O material, armazenado em
uma bombona plástica higienizada, foi
encaminhado ao Laboratório de Materiais
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devido aos movimentos que auxiliam no


transporte do material fino, uma vez que as
partículas maiores são mais pesadas e, por isso,
tendem a apresentar menor energia para
transporte.

Figura 3. Curvas de determinação granulométrica.

A Tabela 2 apresenta um quadro


Figura 2. Localização dos pontos de coleta de amostras comparativo com relação aos tamanhos das
de rejeito granular. partículas presente nos pontos de coleta 1 a 4 de
rejeitos granulares. A faixa de tamanho das
3.1.1 Granulometria simples, índices físicos e frações presentes segue o proposto na norma,
de consistência exceto para os finos, uma vez que estes foram
classificados como o passante na peneira de
Ao coletar quatro pontos, a expectativa era de número 200.
que existisse um decréscimo no tamanho das
partículas entre os pontos coletados, ou seja, o Tabela 2. Quadro comparativo referente às frações
constituintes correspondentes às porcentagens retidas
ponto 1 deve possuir maior granulometria e o 4, para as amostras 1 a 4.
menor. Referente a questões geológicas, uma Partículas % retida – rejeitos granulares
vez que o carvão, rocha sedimentar biogênica, é Fração Faixa de Ponto Ponto Ponto Ponto
formado a partir de sedimentos de origem tamanho 1 2 3 4
biológica responsáveis pela formação de Pedregulh 4.8mm a 1.03 4.20 0.84 0.27
depósitos de óleo, gás e carvão. Durante o o 7.6cm
Areia 2mm a 32.70 60.70 26.98 4.06
processamento mineral, o material extraído é grossa 4.8mm
beneficiado e passa por processos de Areia 0.42mm 49.74 20.41 38.00 6.65
cominuição, fazendo com que suas partículas média a 2mm
fiquem, ainda menores. Como, ao longo do Areia 0.05mm 10.27 4.60 9.69 5.58
processo, água é adicionada, existe, de certa fina a
0.075m
forma, um elemento facilitador para o
m
transporte das partículas, uma vez que a água Silte + menor 6.26 10.09 24.49 83.44
atua como lubrificante. Argila que
Os resultados referentes aos ensaios de (finos) 0.075m
granulometria simples conforme ABNT NBR m
7181:2016 estão apresentados na Figura 3. Nas
curvas fica evidenciada a variabilidade nos Conforme abordado anteriormente, fica
tamanhos das partículas ao longo dos pontos de evidenciada a presença de maior quantidade de
coleta. É possível observar que a presença de finos no ponto de coleta 4. Ainda, o quadro
partículas com de menor tamanho ocorrem, resumo permite observar que os valores com
como esperado, no ponto de coleta 4. Isto se dá relação aos finos tiveram variação crescente
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entre os pontos 1 e 4, ou seja, menor quantidade em um material denominado “areia mal


de finos está presente no ponto 1, equivalente a graduada siltosa” para a amostra 1 e em “areia
6.26%, enquanto a maior quantidade no ponto bem graduada siltosa” para a amostra 2.
4, 83.44% da massa total.
Ainda, ao observar o quadro resumo, é Tabela 3: Resultados para classificação SUCS dos
rejeitos granulares
possível perceber que a variação na presença de Parâmetro Ponto Ponto Ponto Ponto
finos é bastante alta ao comparar o ponto 4 com 1 2 3 4
os demais. Tal situação impacta diretamente na % passante 6.26 10.09 24.49 83.44
determinação dos índices de consistência, uma peneira n° 200
vez que os valores de finos obtidos nos pontos % retida 0 0 0 0
1, 2 e 3 são inferiores a 35%, ou seja, a peneira n° 4
D10 (%) 0.15 0.07 - NP
predominância é de material intermediário, D30 (%) 0.30 0.50 0.18 NP
dificultando, com isso, características D60 (%) 0.50 1.20 0.45 NP
relacionadas a plasticidade. LL (%) NP NP NP 40.11
Com base nos resultados descritos acima, LP (%) NP NP NP 25.05
comprovado pela fração de finos nos resultados IP (%) NP NP NP 15.06
apresentados, as amostras referentes aos pontos CC 1.20 2.98 - -
CNU 3.33 17.14 - -
de coleta 1, 2 e 3 se mostraram pouco coesas,
Classificação SP-SM SW- - -
não possibilitando a realização dos ensaios de SUCS SM
limite de liquidez (LL) e limite de plasticidade Com relação a classificação HRB, em
(LP). O material, considerado de composição virtude da ausência de LL, LP e,
predominantemente de partículas consequentemente, IP, além das porcentagens
intermediárias, não apresentou plasticidade passantes na peneira n° 200, inferior a 35% e na
suficiente para realização dos ensaios. peneira n° 10, superior a 50%, resultou em um
Com relação ao ponto de coleta 4, devido a mesmo tipo de material para as amostras dos
sua composição predominante de finos, com, pontos 1, 2 e 3, na classe A-2.
aproximadamente, 83% de material passante na Quanto ao material coletado no ponto 4,
peneira n° 200, os ensaios para determinação de como a porcentagem passante na peneira n° 200
LL e LP foram realizados e apresentaram é superior a 35%, este constitui o grupo de
valores de 40.11% e 25.05%, respectivamente. material de granulometria fina. Com base nos
dados de LL, 40.11% e IP, 15.06, o material foi
3.1.2 Classificação das amostras de rejeitos classificado com A-7-6.
granulares
Tabela 4: Resultados para classificação HRB dos rejeitos
Apesar das limitações impostas na coleta de granulares
alguns parâmetros das curvas de granulometria Parâmetro Ponto Ponto Ponto Ponto
e nos limites de consistência, as classificações 1 2 3 4
% passante 98.97 95.80 99.16 99.74
SUCS e HRB foram realizadas para as quatro peneira n° 10
amostras. Os resultados estão apresentados nas % passante 44.58 25.13 56.29 94.33
Tabelas 3 e 4, respectivamente. peneira n° 40
Com base na totalidade dos parâmetros % passante 6.26 10.09 24.49 83.44
necessários, somente as amostras coletadas nos peneira n° 200
pontos 1 e 2 foram classificadas. Ambas as LL (%) NP NP NP 40.11
LP (%) NP NP NP 25.05
amostras, devido a quantidade de material IP (%) NP NP NP 15.06
passante na peneira n° 200 entre 5 e 12%, Classificação A-2-4 A-2-4 A-2-4 A-7-6
apresentam classificação com nomes duplos, HRB
envolvendo as duas classes.
Deste modo, a classificação SUCS resultou
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3.1.3 Ensaio normal de compactação

O ensaio normal de compactação (Proctor


Normal) foi realizado conforme ABNT NBR
7182:2016. A Tabela 5 apresenta um quadro
resumo para melhor leitura dos resultados
principais, peso específico seco e umidade
ótima, para cada ponto. Na tabela é possível
verificar que, a medida que avançamos para o
ponto 4, o material necessita maior umidade.
Esta condição é justificada pela maior
quantidade de partículas finas presentes na
amostra coletada no ponto 4, decorrente do
transporte dos sedimentos mais leves. Com isso,
é notável uma tendência de comportamento Figura 3. Localização do ponto de deságue do rejeito fino
entre os pontos 1 e 2, uma vez que sua (lama), na barragem.
classificação, anteriormente apresentada,
pertence à mesma classe. Já com relação aos A Tabela 6, apresenta os resultados obtidos
pontos 3 e 4, a medida que aumenta a ao longo do ensaio. Foram realizadas três
quantidade de finos, existe uma necessidade de leituras após a estabilização dos dados, visando
aumento de umidade, fazendo com que os a confiabilidade dos resultados obtidos. Para a
valores referentes às densidades secas sejam realização do ensaio foi definida a velocidade
menores do que os obtidos para os pontos 1 e 2. de giro do spindle como 100 rpm e, também,
verificada a temperatura no local, de 25.2°C.
Tabela 5: Quadro comparativo dos resultados de
compactação para os quatro pontos de rejeito granular Tabela 6: Resultados do ensaio de caracterização
Parâmetro Ponto Ponto Ponto Ponto reológica para determinação da viscosidade da lama.
1 2 3 4 Ensaio Viscosidade Torque (%)
Peso específico 1.470 1.465 1.440 1.240 (cP)
seco (g/cm³) 1 7.20 11.80
Umidade 18.04 16.50 22.01 28.00 2 7.32 12.00
ótima (%) 3 7.14 11.90
Média 7.22 11.90
3.2 Ensaios de caracterização reológica da
lama Em termos de resultado final foi utilizada a
média dos dados obtidos. Desta forma, 7.22 cP
A caracterização reológica envolve a análise do foi considerada a viscosidade dinâmica final a
rejeito da usina de beneficiamento, descartado um torque de 11.9%, lembrando que 1 cP
na forma de lama. Neste caso, é composta por equivale a 1 mPa.s no SI. Sabendo que a
material de granulometria fina oriundo do viscosidade dinâmica da água, a 25°C, é de 0.89
beneficiamento de carvão e foi coletada na mPa.s, ao comparar os resultados é notável a
saída da tubulação que deságua o rejeito na diferença existente quanto ao escoamento entre
barragem, apresentado na Figura 3. a água e o rejeito, uma vez que o rejeito se
mostrou, aproximadamente, oito vezes mais
viscoso apesar de seu aspecto “líquido”.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa vem de encontro com as


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necessidades impostas pela legislação ao buscar definir uma metodologia específica para
dados iniciais e fundamentais com relação a simulações de rupturas de uma barragem de
caracterização geotécnica e reológica de rejeitos de carvão. Com isso, os resultados
materiais depositados em uma barragem de obtidos na caracterização do material servirão
rejeitos. Tais dados são úteis no caso de como base para a modelagem do mapa de
modelagem de cenário de ruptura da barragem inundação para tal barragem, conforme
já que, atualmente as modelagens são facilitadas legislação de segurança atualmente em vigor no
a partir de softwares que retratam com alta país.
precisão os dados físicos reais.
O desenvolvimento da pesquisa contemplou
a caracterização do material em termos AGRADECIMENTOS
geotécnico e reológico. Tais dados serão,
futuramente, utilizados na modelagem dos ● Curso de Engenharia Civil e Laboratório
cenários de ruptura da barragem, a partir da de Mecânica dos Solos da Universidade do
utilização de softwares específicos, seguindo a Extremo Sul Catarinense – UNESC;
legislação vigente. ● Laboratório de Pesquisa e Planejamento
Para o desenvolvimento do trabalho foram Mineiro da Universidade Federal do Rio
realizadas coletas de material granular em Grande do Sul – LPM/UFRGS;
quatro pontos da barragem de rejeitos em ● Laboratório de Polímeros da
estudo, além da coleta em um ponto da lama Universidade Federal do Rio Grande do Sul –
depositada diretamente na barragem via LaPol/UFRGS.
tubulação. O entendimento sobre o tipo de
material armazenado na barragem, tanto o REFERÊNCIAS
rejeito granular quanto a lama, é considerado
fundamental, uma vez que as barragens sofrem Agência Nacional de Mineração. Portaria nº 70.389, de
processos de alteamentos que estão diretamente 17 de maio de 2017. Cria o Cadastro Nacional de
Barragens de Mineração, o Sistema Integrado de
relacionados com sua capacidade de Gestão em Segurança de Barragens de Mineração e
armazenamento. estabelece a periodicidade de execução ou
Vale salientar, ainda, que o dado a respeito atualização, a qualificação dos responsáveis técnicos,
da viscosidade será utilizado para a modelagem, o conteúdo mínimo e o nível de detalhamento do
pois o conhecimento a respeito da velocidade de Plano de Segurança da Barragem, das Inspeções de
Segurança Regular e Especial, da Revisão Periódica
escoamento permite que as previsões sobre de Segurança de Barragem e do Plano de Ação de
zonas potencialmente afetadas pela ruptura da Emergência para Barragens de Mineração, conforme
barragem sejam aprimoradas no detalhamento art. 8°, 9°, 10, 11 e 12 da Lei n° 12.334 de 20 de
de questões ao longo do plano de segurança. setembro de 2010, que estabelece a Política Nacional
Tão importantes quanto os materiais de de Segurança de Barragens - PNSB. DNPM, 2017.
Disponível em: < http://www.anm.gov.br/portaria-
construção das barragens, estão os materiais de dnpm-n-70389-de-17-de-maio-de-2017-seguranca-de-
fundação e/ou a própria geologia quando barragens/view >. Acesso em 10 de janeiro de 2018.
favorável para se comportar como fundação. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Amostra de
Assim, está apresentada a conexão existente solo – Preparação para ensaios de compactação e
entre as barragens de rejeitos e a mecânica dos ensaios de caracterização: NBR 6457. Rio de Janeiro:
ABNT, 2016.
solos, promovendo e favorecendo um estudo Associação Brasileira de Normas Técnicas. Análise
dos solos e dos enrocamentos das barragens, granulométrica método de ensaio: NBR 7181. Rio de
dados fundamentais para a garantia de Janeiro: ABNT, 2016.
segurança das grandes obras. Associação Brasileira de Normas Técnicas.
O presente artigo é parte integrante de um Determinação do Limite de Liquidez: NBR 6459. Rio
de Janeiro: ABNT, 2016.
estudo motivado pela ausência de modelos Associação Brasileira de Normas Técnicas.
específicos para barragens de rejeitos que busca Determinação do Limite de Plasticidade: NBR 7180.
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Rio de Janeiro: ABNT, 2016.


Associação Brasileira de Normas Técnicas. Ensaio de
Compactação: NBR 7182. Rio de Janeiro: ABNT,
2016.
Boscov, M.E. Geotecnia ambiental. São Paulo: Oficina
de Textos, 2008.
Cruz, P.T. 100 Barragens Brasileiras – Casos históricos,
materiais de construção e projeto. 2 ed. São Paulo:
Oficina de Textos, 1996.
Oliveira, A.M. Mapeamento de áreas suscetíveis a
inundação por rompimento de barragem em ambiente
semiárido. Tese de doutorado. 2016, 143p.
Universidade de São Paulo. São Paulo, 2016.
Pinto, C.S. Curso básico de mecânica dos solos. São
Paulo: Oficina de texto, 2001.
Rubio, Jorge. Carvão mineral. Porto Alegre, Nova Linha
Artes Gráficas, 1988. V.1: Caracterização e
beneficiamento.
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Estabilização do Rejeito de Manganês de Licínio de Almeida-Ba


com Cimento para Utilização em Rodovias
Adriana Viana Neves
Faculdade de Tecnologia e Ciências, Vitória da Conquista - BA, Brasil,
neveseng.civil@hotmail.com

Hélio Marcos Fernandes Viana


Faculdade de Tecnologia e Ciências, Vitória da Conquista - BA, Brasil, hmfviana@bol.com.br

José Carvalho Borges Santos


Faculdade de Tecnologia e Ciências, Vitória da Conquista - BA, Brasil, borgescsantos@gmail.com

Rubem Xerxes Trindade Rodrigues


Faculdade de Tecnologia e Ciências, Vitória da Conquista - BA, Brasil, rubemxr@hotmail.com

João Paulo Freire Rocha


Faculdade de Tecnologia e Ciências, Vitória da Conquista - BA, Brasil, sucesso@live.com

RESUMO: Este trabalho avalia o desempenho de uma mistura elaborada com o rejeito de manganês
de Licínio de Almeida-BA e o cimento Portland. Sabe-se que o rejeito de manganês é um agente
danoso ao meio ambiente e tem impacto ambiental em rios e lagos. O cimento adicionado ao rejeito
foi um cimento Portland CP4-32 com teores de 2%, 4% e 6% em peso. Verificou-se a eficiência de
cada mistura a partir dos valores dos CBRs (California Bearing Ratio), para a energia intermediária.
Destaca-se que os corpos-de-prova das misturas rejeito de manganês-cimento foram submetidos a
dois tipos diferentes de cura: a cura imersa (4 dias imersos) e a cura mista (4 dias imersos e 3 dias
secos na sombra). Constatou-se que a mistura de rejeito-cimento com teor de cimento de 2%, em
peso, e cura mista apresentou um CBR de 95,10%, o que permite a sua utilização na construção de
base e sub-base de pavimentos e, também, pode evitar problemas ambientais causados pelo rejeito.

PALAVRAS-CHAVE: Meio Ambiente, Rejeito de Manganês, Estabilização, Pavimentação.

1 INTRODUÇÃO para a economia do País, mas gera uma


quantidade muito alta de rejeito, causando um
Encontrar matérias-primas de boa qualidade em forte impacto ao meio ambiente. Os compostos
jazidas, principalmente, quando se trata em do minério de manganês são utilizados desde a
atender as especificações para utilização em pré-história, pelo menos 17 mil anos atrás,
camada de base em rodovias, é trabalhoso e, quando o homem usava o dióxido de manganês
muitas vezes, a jazida com solo de qualidade para pinturas nas rochas. Também os
está distante do trecho de construção da Espartanos (Grécia Antiga) possuíam espadas
rodovia. Contudo sabe-se que é possível com liga de manganês, que eram as mais
estabilizar solos de baixa resistência e utilizá- resistentes espadas da época, (Medeiros, 2015).
los como base de pavimentos. A maior parte do consumo mundial de
A extração do minério de manganês é uma manganês é na indústria siderúrgica na
atividade que contribui de forma significativa produção de aço, que absorve cerca de 90% de
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toda produção mundial deste metal. Destaca-se textura argilo-areno-siltosa. No trabalho, foram
que as ligas metálicas obtidas com o manganês realizados ensaios CBR (California Bearing
tendem a apresentar maior resistência mecânica, Ratio) e resistência à compressão não
dureza, rigidez e resistência ao desgaste. O confirmada, com três teores do RBI Grade 81
manganês também é utilizado na fabricação de (2%, 4% e 6%) e três períodos de cura (1, 7 e 28
pilhas, baterias, em mandíbulas de altas dias). Concluiu-se que o solo obteve um
resistências para corte de trilhos, e etc. aumento significativo de resistência.
(Medeiros, 2015). Para Castro (2011), o Quanto à mistura solo-cal, dados de
descarte do rejeito de manganês de forma laboratório de Mendonça et al. (1998) mostram
incorreta se torna um fator muito agravante ao que para um tempo de cura 28 dias e para uma
meio ambiente contribuindo para a mistura solo-cal de 6% de teor de cal, em peso
contaminação das nascentes de rios e lagos. da cal na mistura solo-cal, resultou em CBR 8,2
Em 1962, foi implantada uma empresa vezes maior do que o valor do CBR inicial do
mineradora na cidade de Licínio de Almeida - solo natural não misturado com a cal.
BA cujo objetivo era a exploração do minério Já a mistura do solo-cimento também vem
de manganês, material este, amplamente sendo empregada no Brasil há muito tempo,
utilizado na composição das ligas metálicas, pois desde a década de 1960 esta mistura tem
que por sua vez, é essencial na fabricação do sido utilizada em obras de pavimentação em
aço. Vale ressaltar que as atividades de regiões com escassez de pedreira. Grande parte
mineração dessa localidade perduraram por da malha rodoviária do Estado de São Paulo foi
aproximadamente cinco décadas. construída com a mistura de solo-cimento. De
O rejeito do manganês é o resultado de uma acordo com Bernucci et al. (2008), denomina-se
sucessão de etapas de beneficiamento do solo-cimento, quando o percentual em massa de
minério de manganês, que compreende desde a cimento está acima de 5% na mistura com o
extração do material nas minas, transporte, solo. Destaca-se que para Balbo (2007), quando
britagem e, por fim, o peneiramento. a mistura solo-cimento apresentar teores de
Definir a proporção exata do rejeito por cimento, em peso da mistura, menores que 4%,
tonelada de minério beneficiado ainda é muito a mistura é designada de solo melhorado com
complexo, tendo em vista que fatores, a cimento.
exemplo da diversidade de técnicas empregadas Além do mais, o cimento Portland, quando
na extração e condições climáticas, podem misturado com o solo pode influenciar de forma
influenciar para mais ou para menos na geração benéfica na mistura para melhorar o solo nos
desse rejeito. Estima-se, todavia, com base nos seguintes aspectos: diminui expansão, melhora
dados obtidos da empresa mineradora instalada a plasticidade (reduzir IP), eleva o CBR, e
em Licínio de Almeida-BA, e verificando melhora a granulometria do solo para atender as
através do relatório de pesquisa do IPEA especificações da norma. A norma brasileira
(Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), que trata da dosagem solo-cimento é a NBR
que este resíduo representa cerca de 3% por 12253 (2012).
tonelada de minério beneficiado. Em termos Finalmente, este trabalho tem como objetivo
geotécnicos, conceitualmente o rejeito de avaliar, de forma qualitativa, quais as reais
manganês é considerado solo. influências, em termos de CBR, quando são
Atualmente, existem muitos estabilizantes adicionados ao rejeito de manganês de Licínio
para solos no mercado, pode-se destacar o RBI de Almeida-Ba, porcentagens de 2 %, 4% e 6%,
(Road Building International), o cimento em peso, de cimento na mistura. Considerando-
Portland e a cal. França (2003) estudou o se para os corpos-de-prova analisados a cura
comportamento de quatro tipos de solos da imersa de 4 dias e a cura mista de 7 dias (4 dias
Microrregião de Viçosa-MG, constituídos de de imersão e 3 dias secos na sombra). Destaca-
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se que todos os corpos-de-prova avaliados neste de manganês e transportado até a Cidade


trabalho foram compactados na energia Vitória da Conquista-BA, para o laboratório da
Intermediária de Proctor e o rejeito é EMURC (Empresa Municipal de Urbanização
classificado como sendo um solo A-4 pela TRB de Vitória da Conquista) para análises das
(Transportation Research Board). propriedades físicas do rejeito de manganês. A
figura 2 mostra o rejeito de manganês no
momento em que estava sendo secado em
2 MATERIAIS E MÉTODOS sombra, antes de ser submetido aos ensaios.

Neste tópico, tem-se uma análise detalhada do


rejeito de manganês do ponto de vista
geotécnico, e também alguns aspectos
relacionados à coleta do rejeito e os principais
procedimentos laboratoriais para avaliar as
misturas rejeito de manganês-cimento Porland.

2.1 A Coleta do Rejeito de Manganês

A amostra do rejeito de manganês utilizada Figura 2. Rejeito de manganês no momento em que


estava sendo secado em sombra (Fonte: Acervo dos
neste estudo foi coletada na cidade de Licínio autores, 2015).
de Almeida-BA, em um ponto de descarte,
localizado nas adjacências da empresa de 2.2 Classificações e Análise Minerológica do
mineração local. O registro do local de coleta Rejeito
foi feito em coordenadas geográficas com um
aparelho GPS, que indicou uma latitude Os ensaios para classificação do rejeito de
14º40’43.1’’S e longitude 42º30’53.8’’W. A manganês foram realizados na EMURC e no
figura 1 mostra a localização do ponto de laboratório de Geotécnica da UFV
amostragem. (Universidade Federal de Viçosa). O material
(rejeito de manganês) foi classificado como solo
A-4 pela classificação TRB, SP (sand poor)
pela classificação USCS (Unified Soil
Classification System), e NA’ (Não Laterítico
Arenoso), pela classificação MCT (Miniatura
Compactado Tropical). A amostra estudada
(rejeito de manganês) não apresentou LP
(Limite de Plasticidade) e nem LL (Limite de
Liquidez); assim sendo, o material não
apresentou IP (Índice de Plasticidade). O valor
obtido para a massa específica dos sólidos foi
Figura1. Localização do ponto de descarte do rejeito e S = 3,331 g/cm³. Assim, as normas técnicas
manganês na cidade de Licínio de Almeida - BA (Fonte: utilizadas nestes estudos foram
Google Earth, 2015). respectivamente: NBR 6457, NBR 6459, NBR
7180 e NBR 6508.
Iniciaram-se os procedimentos da A figura 3 ilustra a curva granulométrica do
amostragem com a limpeza parcial do local, rejeito de manganês obtida com base no ensaio
removendo 10 cm da superfície do solo. Em descrito na NBR 7181. A análise minerológica
seguida foi coletado cerca de 200 kg do rejeito do rejeito de manganês foi realizada a partir do
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ensaio de difração de raios X, com o 26,8% e massa específica seca máxima = 1,720
difratômetro de raios X do IFSC (Instituto de g/cm³. A figura 6 mostra a variação do CBR do
Física de São Carlos). Onde foi detectado, no rejeito de manganês na energia Intermediária de
rejeito de manganês, os seguintes minerais: Proctor. Pode-se observar que o CBR máximo
Gismodina, Muscovita, Caulinita e Quartzo. A do material foi igual a 64% para um teor de
Figura 4 ilustra o resultado do ensaio de umidade 26,8%. Destaca-se que o rejeito de
difração de raios X realizado no rejeito de manganês em seu estado natural apresentou
manganês. uma expansão de 0,1%, no ensaio CBR na
energia intermediária de Proctor.

Figura 3. Curva granulométrica do rejeito de manganês


(Fonte: Laboratório de Geotécnica da Universidade
Federal de Viçosa, 2015).
Figura 5. Curva de compactação do rejeito (Fonte:
Laboratório da EMURC, 2015).

Figura 4. Difratograma do rejeito de manganês da região


do município de Licínio de Almeida - BA (Fonte:
Laboratório do IFSC, 2016).

2.3 Proctor e CBR na Energia Intermediária

O ensaio de compactação e CBR, na energia


intermediária de Proctor, foram realizados no
laboratório de geotécnica da EMURC em
Vitória da Conquista - BA, com base nas
normas NBR 7182 e DNER-ME 049/94. A
figura 5 ilustra a curva de compactação na
energia intermediária de Proctor. Para o rejeito, Figura 6. CBR para do rejeito (Fonte: Laboratório da
obteve-se o teor de umidade ótima (Wot) = EMURC, 2015).
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2.4 Tipo de Cimento Portland Utilizado na 3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS


Estabilização do Rejeito RESULTADOS

O cimento Portland é altamente eficiente em Neste tópico, são apresentados e comentados os


argamassa, massas de assentamento e principais resultados obtidos com este trabalho.
revestimento, concreto armado, concreto para Os gráficos foram gerados a partir do programa
pavimentos e solo-cimento. O cimento utilizado Excel. Com base nos resultados, foi possível
nesse trabalho para estabilizar o rejeito foi o avaliar a qualidade do material quanto ao
cimento Portland CP4-32. Com características aspecto relacionado à construção de rodovia de
físico-químicas conforme NBR 5736 e acordo com as normas atuais do DNIT
adquirido no comércio de Vitória da Conquista- (DEPARTAMENTO NACIONAL DE
BA. INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES).

2.5 Principais Procedimentos Laboratoriais 3.1 Ensaios de Compactação com Misturas


Rejeito-Cimento Portland
Após a análise do material (rejeito de
manganês), sem adição de qualquer mistura A tabela 1 mostra os resultados dos ensaios de
estabilizante, deu-se início a análise das compactação na energia intermediária de
misturas de cimento com o rejeito de manganês. Proctor, realizados no laboratório da EMURC.
As misturas que foram realizadas seguiram uma Pode-se verificar que foram realizados 4
ordem de proporção com relação ao peso dos (quatro) ensaios de compactação sendo um
materiais, e os teores de cimento adicionado na ensaio com o rejeito sem mistura e 3 (três)
mistura foram de 2%, 4% e 6%. Também foram ensaios realizados com as misturas rejeito de
realizados os ensaios de compactação na manganês-cimento nas proporções de 2%, 4% e
energia intermediária de Proctor para as 6% de teor de cimento, em peso, na mistura.
misturas rejeito de manganês-cimento para os Além do mais, tem-se a umidade ótima e a
teores, em peso de cimento na mistura, de 2%, massa específica seca máxima obtida dos
4% e 6%. ensaios. Verifica-se que a maior massa
Em seguida, foram moldados 3 (três) corpos- específica foi obtida com a mistura de 2% de
de-prova nos teores 2%, 4% e 6% de cimento, teor de cimento, na qual também se obteve o
em peso, na mistura rejeito-cimento, os quais menor teor de umidade.
foram submetidos a cura imersa (4 dias
imersos) e em seguida foram rompidos para Tabela 1. Compactação de Proctor na energia
obter os resultados dos CBR(s). intermediária (Fonte: Laboratório da EMURC).
Finalmente, foram moldados mais 3 (três) TEOR DE UMIDADE MASSA ESPECÍFICA SECA
MATERIAL
corpos-de-prova nos teores de 2%, 4% e 6% de (REJEITO + TEOR DE
ÓTIMO MÁXIMA

% (g/cm³)
cimento, em peso, nas misturas rejeito-cimento, CIMENTO)

os quais foram submetidos a cura mista de 7 REJEITO (SOLO) 26,80 1,720

dias (4 dias submersos e 3 dias secos na


REJEITO + 2% 24,80 1,780
sombra) e , logo após, foram obtidos os
REJEITO + 4% 25,50 1,747
resultados dos CBR(s) da mistura.
REJEITO + 6% 26,60 1,705
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3.2 Comportamento das Misturas Rejeito de linear. Além disso, a massa específica seca
Manganês-Cimento Portland máxima foi igual a 1,780 g/cm³, localizada no
topo parábola cúbica.
A figura 7 mostra a variação da umidade ótima A figura 9 ilustra a trajetótia de variação do
das misturas rejeito de manganês-cimento para CBR das misturas rejeito de manganês-cimento
os teores de cimento, em peso, de 0%, 2%, 4% e para os teores de cimento, em peso, de 0%, 2%,
6%, a qual foi obtida nos ensaios de Proctor na 4% e 6% obtidos a partir dos ensaios de Proctor
energia intermediária. na energia intermediária, para uma cura imersa
Observa-se que a relação não linear de 4 dias em água.
apresentada na figura 7 foi obtida com apenas 4
pontos, que é um número pequeno de pontos
1,800
para obter tal relação. Provavelmente, se o

Massa específica seca máxima (g/cm3)


número de pontos fosse maior, talvez o valor do
R² (coeficiente de determinação) poderia ser
menor do que 1. 1,750

Pode-se observar na figura 7 que a partir do


teor de cimento de 2% a umidade ótima do solo
aumenta, na proporção que se aumenta o teor de 1,700

cimento (TC), até uma umidade máxima de máx = 0,0018.(TC)3 - 0,0221.(TC)2 + 0,0673.(TC) + 1,72
R² = 1
26,6%. Além do mais, percebe-se que a relação
entre a umidade ótima e o teor de cimento é um 1,650
0 1 2 3 4 5 6 7
polinômio tipo parábola cúbica, ou polinômio
Teor de cimento, TC, (%)
de 3º (terceiro) grau.
Figura 8. Variação da massa específica seca máxima
27,0 versus teor de cimento, para misturas rejeito de
manganês-cimento.
Teor de umidade ótimo (%)

26,5

26,0
Ademais, pode-se observar, na figura 9, que
25,5 a partir do teor de cimento de 2%, o CBR
25,0
aumenta, na proporção em que se aumenta o
teor de cimento (TC), até um valor máximo de
24,5 Wot= -0,0479.(TC)3 + 0,625.(TC)2 - 2,0583.(TC) + 26,8
R² = 1
CBR igual a 218,60%.
24,0 Destaca- se, na figura 9, que o CBR para o
0 1 2 3 4 5 6 7
teor de 2% de cimento foi igual a 76,3%, ainda
Teor de cimento, TC, (%)
um valor baixo para conferir a utilização deste
material como base de pavimento rodoviário,
Figura 7. Variação umidade ótima versus teor de cimento,
conforme recomenda o Manual de
para misturas rejeito de manganês-cimento.
Pavimentação do DNIT. Contudo, para o teor de
A figura 8 mostra a variação da massa 4%, em peso, o CBR foi para 118,5%,
específica seca máxima das misturas rejeito de tornando-se um excelente material para base de
manganês-cimento para os teores de cimento, pavimento. Ainda, o R² da relação mesmo
em peso, de 0%, 2%, 4% e 6% obtidos nos sendo menos que 1 pode ser considerado muito
ensaios de Proctor na energia intermediária. bom, pois está muito próximo de 1.
Pode-se verificar na figura 8 que a partir do A figura 10 representa a variação do CBR
teor de cimento de 2%, tem-se que à medida das misturas rejeito de manganês-cimento para
que se aumenta o teor de cimento (TC), a massa os teores de cimento, em peso, de 0%, 2%, 4% e
específica seca máxima se reduz de forma quase 6%, os quais foram obtidos a partir dos ensaios
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de Proctor na energia intermediária, para cura cimento (TC), até um CBR de 239,9%. Ainda,
mista de 7 dias (imersa de 4 dias e 3 dias secos verifica-se que a relação entre o CBR e o teor
na sombra). de cimento é um polinômio tipo do 3º grau (ou
Observa-se que a relação não linear parábola cúbica).
apresentada na figura 10 foi obtida com apenas Verifica-se, na figura 10, que o valor do
4 pontos, que é um número pequeno de pontos CBR para mistura com teor de cimento de 2% e
para obter tal relação. Provavelmente, se o cura mista foi igual a 95,1%, ou seja, um
número de pontos fosse maior, talvez o valor do excelente resultado, que qualifica este material
R² poderia ser menor do que 1. para ser utilizado com base de pavimento de
estradas. Deste modo, mesmo para um teor de
cimento baixo o resultado foi muito bom,
Cura imersa (4 dias) considerando-se a cura mista.
250
Finalmente, a tabela 2 indica os resultados da
200 expansão medidas nos ensaios CBR’s, na
energia intermediária de Proctor, para as
CBR (%)

150 misturas rejeito de manganês-cimento para os


teores de cimento, em peso, de 0% (rejeito
100
puro), 2%, 4% e 6%. Também, considerando-se
a cura dos corpos-de-prova, do tipo mista de 7
50
CBR = 5,4875.(TC)2 - 7,625.(TC) + 65,4
R² = 0,9973
dias (imersa de 4 dias e 3 dias secos na sombra)
0
e do tipo imersa de 4 dias. Percebe-se, através
0 1 2 3 4 5 6 7 da tabela 2, que o cimento Portland contribui
Teor de cimento, TC, (%) para uma total estabilização das misturas tanto
para cura mista como para a cura imersa, no que
Figura 9. Variação do CBR versus teor de cimento, das
misturas rejeito de manganês-cimento e para cura imersa
se refere à expansão.
de 4 dias.
Tabela 2. Expansão com a cura mista e a cura imersa.

Cura mista
(Imersa de 4 dias e 3 dias secos na sombra)
250

200
CBR (%)

150

100
5 CONCLUSÃO
50
CBR = 1,7458.(TC)3 - 10,525.(TC)2 + 29,617.(TC) + 64
R² = 1
As principais conclusões obtidas com este
0
trabalho são as que se seguem:
0 1 2 3 4 5 6 7 i) O material pesquisado (rejeito de
Teor de cimento, TC, (%)
manganês de Licínio de Almeida-BA) não
atende a especificação normativa do DNIT
Figura 10. Variação do CBR versus teor de cimento, das (Manual de Pavimentação) para ser utilizado
misturas rejeito de manganês-cimento e para cura mista.
como base de rodovias, pois o CBR apresentou
um valor abaixo do estabelecido pela norma.
Pode-se constatar através da figura 10 que a Contudo a depender do tipo de cura dos corpos-
partir do teor de cimento de 2% o CBR de-prova, a adição de cimento Portland, em
aumenta, na proporção que se aumenta o teor de
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peso, na proporção de 2%, 4% e 6%, nas REFERÊNCIAS


misturas com o rejeito de manganês elevou o
CBR a níveis superiores aos estabelecidos pela ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR
norma do DNIT para base de pavimento 12253. Solo-cimento-dosagem para emprego como
camada de pavimento- procedimento. 2012
rodoviário. ________. NBR 6457. Solo - Amostras de solo -
ii) Na pesquisa feita, atesta-se que esse preparação para ensaios de compactação e de
rejeito de manganês que no momento está caracterização. Rio de Janeiro. 1986.
degradando a natureza, pode ser reutilizado na ________. NBR 7182. Solo - ensaio de compactação.
construção de rodovias, trazendo dois Rio de Janeiro. 1986.
________. NBR 6508. Grãos do solo que passam na
benefícios básicos: o de proteger a natureza, peneira 4,8mm - determinação da massa especifica.
onde o meio ambiente está sendo poluído (rios e Rio de Janeiro. 1984.
lagos), e ao mesmo tempo evita explorar novas ________. NBR 6459. Solo - determinação do limite de
jazidas para base de rodovia, onde ocorre o liquidez. Rio de Janeiro. 1984.
impacto ambiental de derrubada vegetação e ________. NBR 7180. Solo - determinação do limite de
plasticidade. Rio de Janeiro. 1984.
escavações. ________. NBR 7181. Solo – Análise granulométrica.
iii) Observou-se, com este trabalho, que a Rio de Janeiro. 1984.
variação do CBR com o teor de cimento Balbo, J. T. (2007) Pavimentação Asfáltica: projeto,
Portland, para as misturas rejeito de manganês- materiais e restauração. 1. ed., Oficina de Textos,
São Paulo, SP, BRASIL, 558 p.
cimento, é um polinômio do segundo grau
Bernucci, L. B.; Mota, L. M. G.; Cerratti, J. A. P.; Soares,
quando a cura dos corpos-de-prova é imersa, e é J. B. (2008) Pavimentação asfáltica - Formação
um polinômio do terceiro grau quando a cura básica para engenheiros. ABEDA (Associação
dos corpos-de-prova é do tipo mista de 7 dias Brasileira das Empresas Distribuidoras de Asfaltos),
(imersa de 4 dias e 3 dias secos na sombra); Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 501p.
Castro, C. G. (2011) Estudo do aproveitamento de
Também, as relações polinomiais do CBR com
rejeitos do beneficiamento do Manganês pela
o teor de cimento, para as misturas rejeito de indústria cerâmica. Dissertação de Mestrado,
manganês-cimento podem ser consideradas Programa de Pós-Graduação em Engenharia de
excelentes, pois os valores dos R² foram de 1 Materiais Ouro Preto da REDEMAT (Rede Temática
(um) ou próximo de 1 (um). de Engenharia de Materiais), Universidade Federal de
Ouro Preto (UFPO), 108p.
iv) Finalmente, destaca-se que o valor do
DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE
CBR, para mistura com teor de cimento de 2% e RODAGEM - DNER-ME 049/94. Solos -
cura mista, foi igual a 95,1% e com expansão de determinação do índice de suporte Califórnia
0,00%, o que, seguramente, qualifica este utilizando amostras não trabalhadas. Rio de Janeiro,
material como excelente para ser utilizado com 1994.
DEPARTAMENTO NACIONAL DE
base de pavimento de estradas, mesmo para um INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES - DNIT -
baixo teor de cimento Portland utilizado. Manual de pavimentação. 3. ed. Rio de Janeiro. 2006.
França, F. C. (2003) Estabilização química de solos para
fins rodoviários: Estudo de caso com o produto “RBI
AGRADECIMENTOS GRADE 81”. Dissertação de Mestrado, Programa de
Pós-Graduação em Engenharia, Universidade Federal
de Viçosa (UFV), 104p.
Ao técnico de laboratório José Augusto do Medeiros, M. A. (2015) Manganês - Aplicações e
IFSC (Instituto de Física de São Carlos), ao envolvimento com a saúde. http
técnico de laboratório Francisco da EMURC www//quiprocura.net/wordpress/2015/11/16
(Empresa Municipal de Urbanização de Vitória manganês-aplicações-e-envolvimento-com-a-saúde.
Mendonça, A. A.; Lima, D. C.; Bueno, B. S.; Fontes, M.
da Conquista) e a todos(as) os(as) P. F. (1998) Caracterização tecnológica de misturas
funcionários(as) da Gerlab da FTC (Faculdade solo-cal: estudo de caso dirigido a dois solos de
de Tecnologia e Ciências) de Vitória da Viçosa - MG. COBRAMSEG, XI, Brasília, v. 2, p.
Conquista-BA. 1175-1182.
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Estabilização do solo com material não convencional: Um estudo


experimental.
Jaqueline dos Santos Santos
Universidade Federal do Pará, Belém-PA, Brasil, santos.js@yahoo.com

Beatriz Ferreira Pantoja


Universidade Federal do Pará, Belém-PA, Brasil, beatrizpantoja20@gmail.com

Victória Araújo Corrêa


Universidade Federal do Pará, Belém-PA, Brasil, victoriacorrea9@gmail.com

Gerson Jacques Miranda dos Anjos


Universidade Federal do Pará, Belém-PA, Brasil, mirandadosanjos@gmail.com

RESUMO: Este trabalho tem o propósito de analisar o uso, em diferentes proporções, da casca de
ovo calcinada como estabilizador químico de um solo argila-arenosa. Foi realizado um programa
experimental dividido da seguinte forma: inicialmente foi realizado o processo de beneficiamento
da casca de ovo branco através de calcinação a 800ºC por um período de 6 horas. Em paralelo, foi
realizada a caracterização do solo através dos ensaios de massa específica real dos grãos, análise
granulométrica, limites de Atterberg e ensaios de compactação e índice de suporte Califórnia. Já
para as misturas de solo e casca de ovo calcinada foram realizados os ensaios de limites de
Atterberg, compactação e índice de suporte Califórnia. Com os valores obtidos observou-se uma
diminuição do índice de plasticidade de 38,5% do solo puro para 13,2% da mistura solo+5% e um
aumento da densidade seca máxima com a mistura adicionada.

PALAVRAS-CHAVE: Estabilização, Casca do Ovo, Óxido de Cálcio, Melhoramento de Solos.

1 INTRODUÇÃO cal, é sabidamente impactante, pois, além de


utilizar matéria prima de fonte não renovável no
A estabilização de solos é a técnica mais seu processo de extração, gera-se uma alta
comum adotada para melhoria da capacidade de concentração de particulados em suspensão e
suporte e características de compressibilidade altos níveis de ruído; seus efluentes líquidos são
em solos fracos. Dentre os diversos tipos de carreados com águas pluviais e subterrâneas,
estabilização existentes, podemos citar a contaminadas por sólidos em suspensão
estabilização mecânica – granulométrica, por IBAMA (2001). Já na produção do cimento
compactação ou por vibração - e a estabilização propriamente dito, é gerado, na queima do
química feita a partir da adição de materiais clínquer, cerca de 5% da emissão global de
ligantes, como o cimento e/ou a cal. Em relação CO2. Tal cenário impulsiona a busca por
à estabilização química usual, a alta demanda materiais alternativos que apresentem o mínimo
da construção civil e o processo de obtenção de impacto ambiental na sua exploração,
não renovável de tais materiais industrializados associado ao baixo custo para a sua
contribuem para a exploração do meio ambiente implementação na prática.
e a escassez de suas matérias primas. O ovo de galinha é um dos produtos que se
Por exemplo, o setor de mineração do encontra na base alimentar da população, é
calcário, destinado à fabricação de cimento e extremamente usado nas residências e
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indústrias no mundo. Segundo o IBGE, em sua de estudo desta pesquisa e da cal utilizada,
pesquisa trimestral de pecuária, a produção de optou-se por tornar estes trabalhos referencial
ovos no primeiro trimestre de 2018 bate para a metodologia deste artigo. Este trabalho
recordes de produção de 1987. A produção busca analisar o uso, em diferentes proporções,
industrial em larga escala do ovo de galinha da casca de ovo branco calcinada como
gera imensas quantidades de resíduos sólidos a estabilizador químico de um solo, estas
serem descartados em lixões e locais sem a misturas foram comparadas a partir das
estrutura adequada. consistências que apresentavam e de sua
Um dos resíduos gerados é a casca de ovo, capacidade de suporte.
descarte que possui diversas propriedades que
possibilitam seu uso como fertilizantes, ração
animal, para absorção de metais pesados, 2 MATERIAIS E MÉTODOS
tratamento de papel, catalisadores para
produção de biodiesel, produção de proteína 2.1 Solo
hidrolisada ou concentrada, osso e implantes
dentários (Oliveira et al., 2013). Esta casca é O solo usado no estudo é considerado uma
composta por uma parte inorgânica e outra argilo-arenosa, de coloração amarela,
orgânica, os compostos CaCO3, MgCO3 e classificado como CH (argila de alta
Ca3(PO4)2 são os constituintes da sua parcela plasticidade) pelo Sistema Unificado de
inorgânica, onde o carbonato de cálcio Classificação de Solos (SUCS), proveniente do
representa 96% da totalidade da casca município de Porto Trombetas localizado no
(Medeiros e Alves, 2014). Sul do Estado do Pará. Neste trabalho será
Segundo Rodrigues e Ávila (2017), a partir nomeado como “Solo Referencia” ou apenas
da calcinação da casca de ovo branco se “R”. A amostra de solo é proveniente de jazida
consegue aproximadamente 50% de óxido de de aterro usada para abastecer empreendimetos
cálcio (CaO), essa substância é a matéria-prima da região. É composto por 85,28% de argila,
utilizada pela indústria na produção de cal. As 4,73% de silte e 9,99% de areia, seguindo a
cascas de ovos se mostram uma excelente fonte escala granulometrica de ABNT. Sua
desta substância e podem se tornar uma caracterização foi realizada através dos ensaios
matéria-prima alternativa para esse setor de massa específica real dos grãos, análise
industrial (Neves, 1998). Desta maneira, este granulométrica, limites de Atterberg, ensaios de
trabalho surge com o propósito de analisar a compactação e índice de suporte Califórnia. Os
aplicação da casca do ovo calcinada (COC) resultados de suas propriedades físicas estão
para estabilização de solo argiloso em dispostos na Tabela 1. Estes ensaios seguiram
diferentes proporções de COC, as misturas as diretrizes das normas do Derpartamento
solo-COC foram comparadas a partir das Nacional de Estratas de Rodagem (DNER).
consistências que apresentavam e das
capacidades de suporte. Tabela 1. Caracterização do solo referência.
Consoli et al. (2012), Ghobadi et al. (2014), δ LL LP hót
(%) (%) (g/cm³) (%)
Baldovino et al. (2017) e Negawo et al. (2017)
realizaram trabalhos que tinham como enfoque Solo R 2,648 77,7 39,2 1,275 34,40
o estudo do solo com adições de cal
industrializada, utilizando ensaios simples e 2.2 Casca do ovo calcinada (COC)
convencionais no meio geotécnico para
determinar a capacidade de suporte e outras As cascas de ovos coletadas para os
propriedades mecânicas dessas misturas em experimentos foram devidademente lavadas e
períodos de cura variados. Tendo em vista as secas em estufa por 24h à 100°C antes dos
similaridades entre os estudos citados e objeto procedimentos de beneficiamento. O principio
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do método empregado para o tratamento do DNER-ME 162/94. Para se obter o índice de


material primário provém dos trabalhos de suporte Califórnia optou-se pela metodologia de
Rodrigues e Ávila (2017) e Figueira (2014), ensaio do mini CBR devido a limitação de
entretanto devido a restrições algumas material existente.
adaptações foram necessárias. Basicamente se Cabe salientar que a importância da
inicia o processo com a moagem da casca, determinação do valor de suporte de um solo
procedimento normatizado por NBR 11376 advém da necessidade do dimensionamento das
(1990). camadas constituintes de um pavimento uma
De acordo com a pesquisa de Rodrigues e vez que muitos pesquisadores discutem sobre a
Ávila (2017) a decomposição termica do eficácia do método do CBR e apontam as suas
carbonato de cálcio ocorre em temperaturas diversas limitações. O ensaio de Mini-CBR se
superiores a 800°C (Figura 1), logo está foi a diferencia por utilizar corpos-de-prova de
temperatura de calcinação usada neste estudo. dimensões reduzidas, com 50 mm de diâmetro e
Efetua-se a calcinação por um período de 6 pistão de penetração de 16 mm de diâmetro. Os
horas em forno Mufla. Esses autores realizaram procedimentos do ensaio seguiram as diretrizes
a caracterização da casca do ovo através do das normas DNER-ME 228/94 e DNER-ME
ensaio de análise termogravimétrica e 254/97.
caracterização do COC de difração de Raios X
e florescência de Raios X. Estes estão dispostos
abaixo.

Figura 2: Processo de submersão do Mini-CBR.

Figura 1: Curva TG/DTG entre 25 °C e 1000 °C de casca


de ovo de galinha branca (Fonte: Rodrigues e Ávila
(2017)) 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

2.3 Ensaios Realizados nas Misturas 3.1 Limites de Atterberg

Nas misturas de solo e COC optou-se pelas A partir da leitura dos resultados na figura 2
proporções de substituição de 2%, 5% e 7%. observa-se a diminuição do limite de liquidez
Nestes procedeu-se os ensaios de limites de (LL) das amostras com adição em relação à
Atterberg, compactação e índice de suporte amostra referência, comportamento esperado
Califórnia. Os procedimentos para determinar uma vez que estudos com cal também indicam
os limites de Atterberg seguiram as diretrizes uma diminuição. Analisando o comportamento
das normas DNER-ME 082/94 e DNER-ME isolado do LL nas amostras com adição temos
122/94, respectivamente para o limite de um pequeno acréscimo de valores.
plasticidade e para o limite de liquidez. O
ensaio de compactação utilizou-se a norma
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3.2 Compactação do Solo e da Mistura Solo-


COC

Com base nas curvas da figura 3 é possivel


verificar pequena variação da relação umidade e
peso específico do solo para as diferentes
proporções de adição. A mistura solo R+5%
COC apresentou a curva com maior peso
especifico e menor umidade ótima dentre as
testadas.

Figura 3: Resultados dos ensaios de consistência


(Porcentagem de Adição X Umidade, %).

Os valores de limite de plasticidade (LP)


para as amostras com adição mostram relação
direta com os acréscimos de COC, fato que leva
a diminuição do índice de plasticidade (IP). As
porcentagens de 5% e 7% exibem variações de
LP e LL similares, logo, estes teores possuem
valores de IP próximos, necessitando estudos
posterioes para averiguar se esta tendência
continuará com maiores teores de adição.
É de praxe na literatura que alta
plasticidade é indicador do potencial de Figura 4: Curvas de compactação do solo e das misturas
expansividade dos solos, as argilas são (Umidade, % X Peso específico seco, g/cm3).
suscetíveis a grandes mudanças de volume se
seu IP é maior que 30% (Croft, 1999). A É possível visualizar na figura 3 uma
amostra referência apresenta IP = 38,5% tendência de aumento do peso específico do
indicando um comportamento altamente solo até com o aumento de adição, porém a
plástico, porém, de maneira geral, o mistura solo+7% de COC apresenta queda no
comportamento identificado nas amostras com valor. Para os valores de umidade ótima temos
adição revela um aumento da rigidez do um aumento da necessidade de água para os
material com o acréscimo de COC. solos com mistura, isto é justificado devido a
Esta redução do IP é devida às reações de maior demanda de água para viabilização das
troca de Íons e Floculação que ocorrem reações com o produto misturado. Entretanto, a
imediatamente após a mistura. A ligação entre mistura com 5% de adição não apresenta este
duas partículas de argila depende da carga e do comportamento, exibindo uma umidade ótima
tamanho dos íons na sua interface. Irá ocorrer inferior ao solo referência. Olarewaju et al.
então uma atração de maior magnititude com a (2011) encontraram que a adição do pó da casca
presença de íons Ca+2 e, portanto, uma de ovo modificava o comportamento no solo
floculação das partículas (Mitchell e Hooper, compactado de maneira similar ao encontrado
1961 apud Azevedo, 2010). neste trabalho.
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4 CONCLUSÕES

As conclusões feitas com o estudo experimental


foram:
 A casca do ovo calcinada melhora as
propriedades do solo argiloso em estudo
de maneira que o material possa ser usado
para fins de estabilização;
 O uso da COC no solo reduz o descarte
desse resíduo do material ao meio
Figura 5: Resultados dos ensaios de compactação (Eixo ambiente;
1: Umidade (%), Eixo 2: Peso específico seco, g/cm3).
 O teor ótimo de casca do ovo calcinado
3.3 Índice de suporte Califórnia ao solo foi de 5% em relação à massa do
solo;
Os ensaios de Mini-CBR foram realizados  A plasticidade do solo é reduzida
para misturas R+5% COC e para o solo R nas diretamente com o teor de COC
suas respectivas umidades ótimas. Optou-se adicionado.
pela realização do ensaio nestas amostras, pois Recomenda-se para futuras pesquisas o
a primeira apresentou parâmentros de estudo da inflência do intervalo de tempo da
compactação que melhoram seu desempenho mistura até a compactação, da influência da
em campo enquanto a segunda servirá como cura do corpo de prova e que sejam realizados
referência para os resultados da anterior. As ensaios que caracterizem melhor os compostos
cargas caracteríticas para os valores de formados nas reações após adição de COC no
penetração observados estão plotados na figura solo.
4. Os Índices de Suporte Califórnia calculados
para o solo referência e para a mistura foram,
respectivamente, 5% e 11,7%. O aumento de AGRADECIMENTOS
100% do índice de suporte do solo mostra um
ganho de eficiência para o uso do solo analisado Agradecemos ao Laboratório de Estudo de
em bases e sub-bases de pavimentos de Materiais de Construção Civil (LEMAC-
estradas, uma vez que o índice é um parâmetro UFPA), Laboratória de Misturas Asfálticas
de dimensionamento. (LEMA-UFPA), Laboratório de Solos-UFPA e
ao Laboratório de Engenharia Mecânica-
Fundição (UFPA) por disponibilizar os
equipamentos e materiais necessários para a
realização da pesquisa.

REFERÊNCIAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas. Moinho de


bolas, determinação do índice de trabalho: NBR
11376. Rio de Janeiro, 1990.
Azevedo, ALC. Estabilização de solos com adição de cal
[manuscrito]: um estudo a respeito da
reversibilidade das reações que acontecem após a
adição de cal, Dissertação de Mestrado Profissional,
Figura 6: Gráfico Carga (Kgf/cm2) X Penetração (mm)
Programa de Pós-Graduação em Geotecnia,
do ensaio de Mini-CBR.
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Estudio de una Barrera Impermeable Portante de Grava-Bentonita


como Material Sellante
Turcumán, María
Instituto de Materiales y Suelos, Facultad de Ingeniería – Universidad Nacional de San Juan.
San Juan, Argentina, mturcuman@ims.unsj.edu.ar

Yazzar, Sergio
Instituto de Materiales y Suelos, Facultad de Ingeniería – Universidad Nacional de San Juan.
San Juan, Argentina, syazzar@ims.unsj.edu.ar

Rojas, Nelly
Departamento de Ingeniería Civil, Facultad de Ingeniería – Universidad Nacional de San Juan.
San Juan, Argentina, nhrojas@unsj.edu.ar

Pablo Valenzuela
Departamento de Ingeniería Civil, Facultad de Ingeniería – Universidad Nacional de San Juan.
San Juan, Argentina, pablovalenzuela610@gmail.com

Emilia Flores
Instituto de Materiales y Suelos, Facultad de Ingeniería – Universidad Nacional de San Juan.
San Juan, Argentina, emigfrodriguez@gmail.com.ar

RESUMEN: La disposición final de residuos es un tema relevante en la actualidad, siendo uno de


los problemas más importante por resolver la contaminación de las aguas y los suelos, debido a la
percolación de los lixiviados. Las barreras impermeables más usadas son los geotextiles, los cuales
han dado buenos resultados, pero presentan dos dificultades: su elevado costo y su reducida vida
útil. Se propone desarrollar una barrera impermeable construible con materiales naturales y
metodologías regionales, gravas y bentonitas de la zona, que asegure su permanencia en el tiempo,
sea de menor costo que las tradicionales y posea características de resistencia mecánica. Este
paquete impermeable y portante, consiste en una mezcla adecuada de grava con bentonita, que
aproveche las propiedades individuales de cada uno. El objetivo de este trabajo es el diseño y
ejecución de pruebas experimentales de laboratorio para la determinación de la dosificación
adecuada y la permeabilidad de esta mezcla de grava-bentonita como material sellante.

PALABRAS-CLAVES: Barrera Impermeable Portante, Líquidos Contaminantes, Materiales


Naturales.

1 INTRODUCCIÓN Dentro de esta problemática lo más


relevante, en general, es la contaminación de las
Uno de los problemas más acuciantes en la aguas freáticas y los suelos debido a la
actualidad es la disposición final de todo tipo de percolación de los líquidos contaminantes a
residuos tales como los urbanos, cloacales, través del fondo de los reservorios en los que se
derivados de hidrocarburos, mineros, etc. depositan.
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Las barreras impermeables para evitar la mezcla de grava-bentonita como barrera


contaminación de los suelos naturales, aguas portante e impermeable como material sellante.
subterraneas, más difundidas hoy en día, se El desarrollo de esta tecnología optimizará
construyen con materiales plásticos y/o fundamentalmente el aspecto de la vida útil de
geotextiles. Estos elementos han dado en los depósitos y tiene en cuenta la posibilidad de
general buenos resultados pero presentan dos mejorar los costos, dos aspectos que se
problemas fundamentales: su elevado costo y su presentan como insuperables a la hora de
reducida vida útil. proponer soluciones como las tradicionales
El planteamiento, es desarrollar una barrera consistentes en láminas plásticas y/o
impermeable construible con materiales geotextiles.
naturales y metodologías regionales, gravas y
bentonitas de la zona, que aseguren su
permanencia en el tiempo, sea de menor costo 2 METODOLOGÍA
que las tradicionales y posea características de
resistencia mecánica. 2.1 Caracterización y Selección de la Grava y
La idea básica de este paquete impermeable Bentonita
y portante, consiste en una mezcla adecuada de
grava con bentonita, que aproveche las 2.1.1 Grava
propiedades individuales de cada uno de estos
materiales, considerando las siguientes Se han estudiado seis yacimientos de gravas
propiedades beneficiosas de cada uno de ellos: ubicados en el Valle de Tullum, que es la zona
la resistencia mecánica, gran porosidad y socioeconómica más importante de la Provincia
permeabilidad de las gravas, y la prácticamente de San Juan.
impermeabilidad de las bentonitas. Son yacimientos de uso frecuente y proveen
Las características de resistencia mecánica gravas de buena calidad, tanto para hormigones
deben darlas las gravas dentro del paquete, ya como para materiales granulares de bases y sub-
que se trata de un material granular grueso, bases de rutas provinciales y nacionales.
friccionante y que se estructura adecuadamente. Se trata de gravas compuestas por granos
Además, se trata de un material económico y sanos, resistentes, de forma subredondeada a
de fácil disponibilidad, ya que tanto los subangulosa, que proveen una muy buena
depósitos aluviales de cono o de planicie, los fricción y trabazón entre partículas.
coluvios pedemontanos y los detritos de faldeo, La grava seleccionada corresponde al
son generalmente una fuente importante de Yacimiento “P-S”, es un material granular del
yacimientos que brindan gravas de granos tipo “A-1-a (0)” en la Clasificación AASHTO y
sanos, resistentes, de muy buena fricción interna “GP” en el Sistema Unificado de Clasificación
y trabazón estructural. Sobrada experiencia de Suelos (SUCS); responde a una grava natural
regional hay sobre la muy buena capacidad del cono y playa aluvial del Río San Juan, es el
portante de pedraplenes conformados con este material más abundante de los estudiados y de
tipo de gravas. El aspecto de impermeabilidad extendida existencia en el ámbito regional.
del paquete queda conferido a la bentonita, que Se decidió analizar las mezclas grava-
debe llenar completamente los grandes vacíos bentonita empleando sólo una grava, para así
que deja la grava, constituyendo de esa manera eliminar una variable no significativa en el
la barrera estanca a los líquidos contaminantes. contexto del universo estudiado, ya que todas
El objetivo de este trabajo es el diseño y son de muy buena calidad y sin diferencias
ejecución de pruebas experimentales de considerables en cuanto a la estructuración y
laboratorio para la determinación de la porosidad que entregan.
dosificación adecuada y la permeabilidad de la
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Se realizaron ensayos físico sobre esta grava: grava de 15 cm de altura, contenidas en


peso específico s, peso unitario (densidad seca) recipientes de vidrio de 5 l de capacidad, que
d, porosidad n, densidad máxima y densidad permitían determinar si la bentonita alcanzaba
mínima). el fondo de este recipiente. Se observó el colado
de la bentonita seca a través de los poros de
distintas fracciones de la grava estudiada,
Tabla 1. Parámetros físicos de la grava entre 1½” a 3/8”. aplicándole sólo una vibración manual hasta
Grava Yacimiento “P-S” conseguir el peso unitario d mencionado.
n (%) 32,5 Se analizaron fracciones granulométricas de
γs (g/cm3) 2,625
γd (g/cm3) 1,793 gravas comprendidas entre los siguientes
γd máx (g/cm3) 1,869 tamices:
γd min (g/cm3) 1,713  2” a Nº 4;
 2” a 3/4”; y
 1 ½” a 3/8”
Resultando su porosidad final de gran El primero de estos cortes granulométricos
importancia para conformar la capa en obra, ya resultó muy amplio, dificultándose el flujo de la
que estos vacíos alojarán a la bentonita bentonita seca hacia el fondo del molde, además
expandida. se tornó sumamente difícil conseguir el peso
Para calcular la porosidad de la grava fue unitario d indicado anteriormente. El segundo
necesario determinar su peso unitario d, luego y tercer corte resultaron satisfactorios desde el
de vibrada simulando su estado final en obra. punto de vista del colado de la bentonita, del
Esto se lo consiguió colocando la grava en peso unitario y de la estructuración que
un molde cilíndrico y compactándola por medio visualmente se observó en la grava.
de una mesa vibratoria siguiendo un De esta manera se decidió trabajar en lo
procedimiento similar al de la determinación de sucesivo con la fracción granulométrica
la Densidad Relativa (DR). comprendida entre los tamaños # 1½” a # 3/8”,
Las gravas estudiadas se seleccionaron con el que cumplía satisfactoriamente las dos
objeto de emplear un material de uso común, condiciones anteriores y que requería moldes de
que no requiriese de algún tratamiento especial ensayo (hinchamiento, permeabilidad y valor
a los efectos de no incrementar su costo. Por soporte) de menores dimensiones para contener
ello las granulometrías de las gravas analizadas muestras representativas en relación con el
quedan comprendidas entre los tamaños # 3” a # tamaño máximo de la partícula.
N°4.
Para seleccionar la fracción granulométrica
de las gravas a utilizar en el desarrollo de este Tabla 2. Análisis granulométrico fracción 1½” a 3/8”.
trabajo, se tuvieron en cuenta dos aspectos: Muestra Yacimiento “P-S”
 Debía ser lo suficientemente estrecha para Tamices % Pasa
1 ½” 100
dejar los vacíos necesarios para el colado
1” 94,0
sin inconvenientes de la bentonita seca y su 3/4” 53,0
posterior expansión; y 1/2” 6,0
 Debía ser lo suficientemente amplia para 3/8” 2,0
asegurar la trabazón estructural, la N°4 0,0
N°10
resistencia mecánica y un menor consumo N°40
de bentonita hidratada. N°100
Para cumplir con estos objetivos se N°200
realizaron pruebas experimentales de colado de
la bentonita seca en probetas cilíndricas de
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2.1.2 Bentonita grava. Ambas bentonitas, denominadas IIM y R,


poseen características de actividad e
Se estudiaron dos bentonitas provenientes de la hinchamiento adecuados.
cordillera, de dos empresas mineras que se Los resultados de esta prueba experimental
dedican a su explotación con fines comerciales. pueden apreciarse en las siguientes tablas.
Las bentonitas estudiadas son de rechazos
mineros abundantes sin utilidad momentánea, lo
que asegura, al menos así pensamos, un menor Tabla 4. Valores de Hinchamiento Libre Bentonita IIM.
costo. Altura Muestra M-1 Muestra M-2
Seca (cm) 3,70 3,40
Se determinaron las características físicas
Inundada (cm) 10,30 9,90
(granulometría, plasticidad, hinchamiento libre, ΔH (cm) 6,60 6,50
peso unitario, etc.) de las bentonitas utilizadas. Hinchamiento (%) 178,38 191,18
Hinchamiento medio (%): 184,78

Tabla 3. Análisis granulométrico de las bentonitas.


Muestra Bentonita IIM Bentonita R Tabla 5. Valores de Hinchamiento Libre Bentonita R.
Tamices % Pasa % Pasa Altura Muestra M-1 Muestra M-2
N°4 100 Seca (cm) 3,50 3,30
N°10 95 100 Inundada (cm) 11,00 10,80
N°30 47 52 ΔH (cm) 7,50 7,50
N°40 42 46 Hinchamiento (%) 214,29 227,27
N°50 29 31 Hinchamiento medio (%): 220,78
N°80 24 26
N°100 11 15
N°200
LL (%) 117,1 114,1 2.2 Dosificación de la Mezcla Grava-
LP (%) 47,7 45,3 Bentonita.
IP (%) 69,4 68,8
S.U.C.S CH CH 2.2.1 Diseño de las Pruebas Experimentales.
AASHTO A-7-5 (20) A-7-5 (20)
Pu (g/cm3) 1,533 1,528
El diseño del ensayo que permita establecer la
proporción grava-bentonita quedó condicionado
por el método constructivo del paquete en obra,
Para apreciar si el proceso de hidratación de
por lo que la prueba experimental contempló los
las bentonitas estudiadas era efectivo y poseía
siguientes aspectos:
una magnitud tal que pudiese llenar los vacíos
de la grava, se diseñó una prueba experimental  Permitir la colocación de la grava, el vertido
consistente en llenar un recipiente de vidrio de la bentonita seca sobre ella y la posterior
(frasco), de 8 cm de diámetro por 18 cm de vibración de la mezcla.
altura, con una capa de bentonita seca de 3,5 cm  Permitir la observación visual de que la
altura a la que luego se inundaba bajo 15 cm de bentonita colada alcanzase el fondo del
columna de agua. recipiente.
Este proceso de hidratación y expansión duró  Permitir la observación visual del proceso de
aproximadamente entre 21 a 24 días, a pesar de hidratación de la bentonita, de su
lo cual la lectura final de expansión se realizó a hinchamiento dentro de los poros de la grava
los 35 días de iniciada la hidratación. y la medición de las alturas de los
La bentonita R acusó un hinchamiento de componentes finales del paquete.
221% y la bentonita IIM un hinchamiento de Se concluyó que en los mencionados
185%. Ambos valores aseguran una recipientes cilíndricos de vidrio, de 5 l de
colmatación eficaz de los poros de la capa de capacidad, podía perfectamente realizarse un
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proceso que cumpliese con los aspectos citados. también) los vacíos de grava, siendo
La prueba experimental diseñada consistió conveniente que el gel no aflore por la
en lo siguiente: superficie, dado los inconvenientes que esto
 Se coloca en el recipiente de vidrio un peso y traería aparejado, dejando sólo una revancha de
volumen conocidos de la grava a ensayar, de algunos centímetros.
tal forma que luego de compactada arroje
una altura final comprendida entre los 10 cm
a 15 cm y se estructure con el peso unitario
d mencionado en la Tabla.1 (d = 1,793
g/cm3).
 Se vierte una cantidad de bentonita seca
sobre la grava, distribuyéndola
uniformemente sobre su superficie, luego se
la vibra observando su penetración por los
poros de la grava y al finalizar se registra la
altura de grava que llenó. Figura 1. El peso Figura 2. Grava y bentonita hidratada.
de bentonita adicionado a la grava
corresponde a la dosificación que se prueba. Se estima como conveniente que la bentonita
ya hidratada no supere las ¾ partes de la altura
de la capa de grava, para así asegurar la
colmatación de vacíos y la impermeabilidad
deseada, pero que no llegue a superar aquella
altura por la posibilidad de desborde del gel
bentonítico con la suciedad y pérdida de
capacidad portante que esto acarrearía.
De esta forma esta prueba experimental
permite seleccionar en forma preliminar unas
tres dosificaciones que cumplan las premisas
Figura 1. Grava y bentonita en seco. establecidas, para luego sobre ellas realizar los
ensayos de permeabilidad y capacidad portante,
 Se llena el recipiente con agua y se comienza que en definitiva son los que definirán la
a registrar el proceso de hidratación y dosificación final, pero procediendo de esta
expansión de la bentonita por el interior de manera se puede reducir el número de estos
los poros de la grava, observando el llenado ensayos.
de los mismos. Figura 2.
 Se prueban distintas dosificaciones de grava- 2.2.2 Ejecución de las Pruebas
bentonita en seco que llenen distintas alturas Experimentales
de la capa de grava, comprendidas entre 1 cm
y aproximadamente la mitad de su altura. Las Se prepararon dosificaciones con ambas
mezclas preparadas de grava-bentonita en bentonitas IIM y R, de acuerdo al proceso de
seco, correspondieron a ambas bentonitas y moldeo indicado en el punto anterior, para una
para alturas comprendidas entre 1 cm a 6 cm. altura de grava de 10 cm, un peso unitario γd =
Desarrollada de esta manera la prueba 1,793 g/cm3 y alturas de bentonita seca
experimental permite observar el proceso de comprendida entre 1 cm a 6 cm. Estas alturas
hidratación y expansión de la bentonita, la que corresponden a las dosificaciones de bentonita,
avanza llenando ascendentemente (lateralmente referidas a un metro cuadrado de superficie de
grava, ver Tabla 6.
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Tabla 6. Dosificación de ambas bentonitas.


Altura Dosificación Dosificación
bentonita en Bentonita IIM Bentonita R
seco (cm) (kg/m2) (kg/m2)
1,00 4,65 4,67
2,00 9,30 9,34
3,00 13,95 14,01
4,00 18,60 18,68
5,00 23,25 23,35
6,00 27,90 28,02

Figura 3. Dosificación Grava-Bentonita “IIM” para


En las Tablas 7 y 8, se observan los alturas de 1 cm; 2 cm y 3 cm. Fin de la Hidratación.
resultados obtenidos al finalizar el proceso de
hidratación.

Tabla 7. Bentonita IIM.


Altura Altura Altura Hinchamiento
bentonita bentonita grava del
en seco hidratada luego de paquete
hidratación
(cm) (cm) (cm) (%)
1,00 5,50 10,00 0,00
2,00 8,00 11,00 10,00 Figura 4. Dosificación Grava-Bentonita “IIM” para
3,00 9,50 13,00 30,00 alturas de 4 cm; 5 cm y 6 cm. Fin de la Hidratación.
4,00 12,50 14,00 40,00
5,00 12,70 14,00 40,00
6,00 14,50 14,00 40,00

Tabla 8. Bentonita R.
Altura Altura Altura Hinchamiento
bentonita bentonita grava del
en seco hidratada luego de paquete
hidratación
(cm) (cm) (cm) (%)
1,00 3,50 10,00 0,00
Figura 5. Dosificación Grava-Bentonita “R” para alturas
2,00 4,50 10,00 0,00
de 1 cm; 2 cm y 3 cm. Fin de la Hidratación.
3,00 5,50 11,00 10,00
4,00 9,00 12,00 20,00
5,00 9,50 12,00 20,00
6,00 14,00 12,00 20,00

Las lecturas finales de bentonita hidratada y


grava, se las realizó a los 35 días de puestas
bajo agua, aunque los hinchamientos cesaron
entre los 21 y 28 días.
En las siguientes figuras se aprecian las
probetas con distintas dosificaciones y una vez
finalizado el proceso de hinchamiento.
Figura 6. Dosificación Grava-Bentonita “R” para alturas
de 4 cm; 5 cm y 6 cm. Fin de la Hidratación.
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2.3 Puebas Experimentales para la medida de El objetivo es tratar de ensayar


la Permeabilidad del Paquete Grava-Bentonita. simultaneamente dosificaciones distintas con
diferentes bentonitas, si fuese necesario, de tal
2.3.1 Diseño de las Pruebas Experimentales. forma de acelerar los tiempos de ensayo
teniendo en cuenta la demora de la hidratación
El diseño de esta prueba experimental para la de la bentonita y el tiempo que demanda la
medición de la permeabilidad del paquete prueba de permeabilidad.
grava-bentonita, debe permitir el moldeo de la Por esto se ha construido una batería de
probeta como quedó especificado permeámetros, Figura 9, conectados a un
anteriormente, posibilitando la observación del dispositivo de agua con carga constante, a
proceso de hidratación e hinchamiento de la gravedad hasta 5 m de altura y alternativamente
bentonita y servir de medida de la a un depósito a presión, por si fuese necesario
permeabilidad. Por esto se decidió por un realizar ensayos a presiones mayores a los 5 m
permeámetro del tipo de los usados para los de columna de agua.
suelos granulares gruesos, pero construido en un
material transparente (acrílico).
En la Figura 7 se muestran los esquemas de
dos permeámetros diseñados:
a) 15 cm diámetro y 20 cm de altura
b) 20 cm de diámetro por 25 cm de altura

Figura 9. Bateria de permeámetros.

2.3.2 Ejecución de las Pruebas Experimentales.

En los moldes descriptos se elabora una probeta


Figura 7. Diseño de dos permeámetros. en base a las condiciones fijadas.
Se arma la base y cuerpo del permeámetro
En la Figura 8 se aprecia la disposición del sellándolos entre sí para asegurar la
ensayo del paquete grava-bentonita. estanqueidad. Sobre la base del permeámetro se
dispone de una capa de arena que sirva de filtro
poroso al paquete grava bentonita.
Luego se coloca la grava acomodándola para
que estructure al peso unitario calculado.
A continuación, sobre la grava así dispuesta
se vierte uniformemente la cantidad de
bentonita seca que corresponde a la dosificación
que se ensaya.
Se vibra manualmente el conjunto molde-
grava-bentonita seca hasta que ésta última
alcance el fondo del recipiente. Luego se miden
las alturas de grava y bentonita seca alcanzadas.
Figura 8. Esquema del Ensayo Grava-Bentonita. Se cierra el permeámetro, se lo conecta al
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depósito de carga, tal como lo muestra la Figura extremando las precauciones en la elaboración
9. En una primera etapa, para hidratar la de las muestras, pero a pesar ello las probetas
bentonita debe cargarse el permeámetro con una volvieron a tubificar. Se descartó en la
pequeña altura de agua (0,25 m) sobre su tapa bentonita IIM las alturas de 1 cm y 2 cm y se
superior y con el drenaje inferior abierto. ensayaron probetas con 3 cm, 4 cm y 5 cm de
Se deja al permeámetro con esta baja carga altura de bentonita seca inicial.
de agua durante 7 días, a los efectos de que se El mismo fenómeno descripto en el párrafo
hidrate la bentonita sin una presión de filtración anterior ocurrió con las probetas moldeadas con
significativa. la bentonita R y que correspondieron a alturas
A partir de este momento se aplica la carga iniciales secas de 1 cm, 2 cm y 3 cm. En
de agua definitiva, que en este programa se consecuencia, con la bentonita R se elaboraron
estableció en dos escalones de carga, el primero y se ensayaron probetas con 4 cm, 5 cm y 6 cm
de 3 m y el segundo de 5 m. de altura de bentonita seca inicial.
Como se trataba de la primera vez que se En todas las probetas ensayadas, durante la
realizaba estos ensayos y en los permeámetros hidratación de la bentonita con la carga de 0,25
se decidió colocar una altura de grava de 12 cm, m de agua durante los 7 días, no se observó
se prepararon dosificaciones con ambas filtración alguna.
bentonitas IIM y R, de acuerdo al procedimiento A partir del 7º día se elevó la carga de agua a
de moldeo indicado anteriormente, con un peso los 3 m de altura y se comenzó a medir la
unitario de grava de d = 1,793 g/cm3 y alturas percolación durante los 70 días posteriores,
de bentonita seca comprendidas entre 1 cm a 6 obteniéndose el siguiente registro de volúmenes
cm. filtrados acumulados.
Las probetas elaboradas con ambas
bentonitas corresponden a las siguientes
dosificaciones de bentonita por metro cuadrado Tabla 10. Bentonita IIM.
de superficie tratada: Altura Volúmenes de agua filtrados a:
bentonita 7 días 14 días 21 días 70 días
en seco (cm3) (cm3) (cm3) (cm3)
(cm)
Tabla 9. Dosificación de ambas bentonitas. 3,0 100,0 140,0 150,0 150,0
Altura Dosificación Bentonita 4,0 50,0 70,0 70,0 70,0
bentonita IIM R 5,0 30,0 40,0 40,0 40,0
en seco
(cm) (kg/m2) (l/m2) (kg/m2) (l/m2)
3,0 13,95 9,10
Tabla 11. Bentonita R.
4,0 18,60 12,13 18,68 12,23
Altura Volúmenes de agua filtrados a:
5,0 23,25 15,17 23,35 15,28
bentonita 7 días 14 días 21 días 70 días
6,0 28,02 18,34
en seco (cm3) (cm3) (cm3) (cm3)
(cm)
4,0 50,0 70,0 80,0 80,0
Las probetas moldeadas con la Bentonita IIM 5,0 70,0 100,0 110,0 110,0
con alturas iniciales secas de 1 cm y 2 cm, 6,0 60,0 110,0 120,0 120,0
hidrataron normalmente con la carga de agua de
0,25 m durante los primeros 7 días sin que
percolase agua por ellas. Cuando a partir de ese Los valores de conductividad hidráulica del
momento se incrementó la carga de agua a 3 m paquete grava-bentonita, obtenidos para ambas
de altura, casi de inmediato se produjo una muestras son los indicados en las Tablas 12 y
rotura hidráulica en el paquete por tubificación 13.
de la bentonita. Se repitió el proceso
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Tabla 12. Bentonita IIM.


Altura Valores de Conductividad Hidráulica a:
bentonita 7 días 14 días 21 días 70 días
en seco k k k k
(cm) (m/s) (m/s) (m/s) (m/s)
3,0 9,3E-11 6,5E-11 4,7E-11 1,4E-11
4,0 6,2E-11 4,4E-11 2,9E-11 8,7E-12
5,0 4,7E-11 3,1E-11 2,1E-11 6,2E-12

Tabla 13. Bentonita R.


Altura Valores de Conductividad Hidráulica a:
bentonita 7 días 14 días 21 días 70 días
en seco k k k k Figura 11. Permeámetros paquete con bentonita R.
(cm) (m/s) (m/s) (m/s) (m/s)
4,0 6,2E-11 4,4E-11 3,3E-11 9,9E-12
5,0 6,1E-11 4,4E-11 3,2E-11 9,7E-12
6,0 6,3E-11 5,8E-11 4,2E-11 1,3E-11

En ambos ensayos de permeabilidad de las


bentonitas IIM y R, la filtración comenzó luego
de las 48 horas de instalada la carga de agua en
3 m. Figura 12. Batería de Permeámetros.
Transcurridos los 70 días de carga de agua a
3 m de altura, ésta se la elevó a 5 m, y se Las pequeñas filtraciones detectadas, que en
observó durante los 35 días subsiguientes, para todos los casos se detuvieron a los 21 días, se
ambas bentonitas, si se producía filtración. En las atribuye a que en estas pruebas la carga de
ningún caso se observó filtración alguna. agua se la aplicó cuando la bentonita no estaba
En las siguientes figuras se pueden observar completamente hidratada en toda su altura
los permeámetros con los paquetes grava- (hecho que se observó visualmente a través de
bentonita, una vez finalizados los ensayos. las paredes de acrílico del permeámetro). El
avance de estas pequeñas filtraciones hacia el
fondo del molde produjo la hidratación de la
bentonita en esta zona, la que al hincharse y
gelificar selló hidráulicamente el paquete
cumpliendo el cometido que se esperaba.
Se destaca que en el ensayo de permeabilidad
la muestra se encuentra en una condición muy
desfavorable con relación al paquete grava-
bentonita en obra, ya que en el permeámetro
aquella descansa sobre un filtro poroso de muy
Figura 10. Permeámetros paquete con bentonita IIM. elevada permeabilidad, en tanto en el campo
éste lo hará sobre el suelo natural cuya capa
superior estará compactada y por ende tendrá
de baja a muy baja permeabilidad.
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3 CONCLUSIONES Federico Fernández y Robert M. Quigley. Controlling the


destructive effects of clay–organics liquid interactions
by application of effective stresses. – University of
Podemos concluir que: Western Ontario – Canadá.
 Las pruebas y equipamientos diseñados Robert P. Chapuis. Sand Bentonite Liners. Field Control
permiten con facilidad el moldeo de la grava, Methods – Ecole Polytechnique de Montreal –
el posterior colado de la bentonita seca, el Canadá.
Paul H. Collier y Keith L. Murray. Design and
desarrollo y observación del proceso de
construction of a secure lanfill for the storage of
hidratación e hinchamiento y la filtración a hazardous and long file chemical wastes at New
través de la grava-bentonita. Plymouth. New Zealand.
 La bentonita IIM para alturas iniciales secas Reza M. Khanbilvardi y Shablir Ahmed. Leachate flow
de 1 cm al hidratarse alcanzó la mitad del through landfills. City University of New York –
USA.
paquete de grava, en tanto la bentonita R Mark Cadwallader. Landfill liner systems keep waste from
recién con alturas iniciales secas de 3 cm al water. Gundle Lining Systems – Houston – Texas –
expandir llegó al orden de la mitad de la USA.
altura de grava. Esto se lo atribuye a una Unidades Temáticas Ambientales. Dirección General de
heterogeneidad propia de esa bentonita. Medio Ambiente. MOPU.. MOPU. 1982 Madrid.
Evaluación del Impacto Ambiental – Procedimiento Ley
 La bentonita IIM para alturas iniciales secas Provincial N° 6571 SAyDS.
de 1 cm, 2 cm y 3 cm hidrató y expandió Dr. Armando Llop. Evaluación Económica de Impacto
cumpliendo con los requerimientos Ambiental de Proyectos Hídricos.. Director de
indicados. CELAA (Centro de Economía, Legislación y
Administración del Agua y del Ambiente). INA
 Los resultados de la conductividad hidráulica (Instituto Nacional del Agua y del Medio Ambiente).
de ambas bentonitas dan valores adecuados, Metodología de Evaluación de Impactos Ambientales de
que aseguran una buena protección Proyectos de Saneamientos: Aplicación al Caso de
ambiental. Palmira, Mendoza. Autores: Investigadores del
 Las pruebas experimentales diseñadas y CELAA y OSM-SE. Trabajo presentado al XXIV
Congreso Interamericano de Ingeniería Sanitaria y
realizadas permiten con facilidad la Ambiental. Bs. As.- Argentina.
detección y cuantificación de las variables en Peter Pooley. Environmental Manual. Environmental
juego del trabajo del paquete grava- procedures and metodology governing. Deputy
bentonita: tipo de grava y bentonita a Director General. Directorate General for
Development. Commission of the European
emplear, espesor de la capa de grava,
Communities.
cantidad de bentonita seca por metro Philip O’Leary y Patrick Walsh Solid Waste Landfills.
cuadrado a agregar, duración del proceso de Co-Directores del Solid and Hazardous Waste
hidratación e hinchamiento de la bentonita y Education Center, University of Wisconsin – Madison.
permeabilidad-filtración a través del paquete, Geotechnical Barrier Testing. UFA Ventures Inc.
Terzaghi, K. e Peck, R.B. (1987) Soil Mechanics in
considerando de esta forma que los
Engineering Practice, 2nd ed., McGraw Hill, New
resultados fueron satisfactorios. York, NY, USA, 685 p.

REFERÊNCIAS

Antonio Lloret Morancho y Eduardo Alonso Pérez


Análisis del flujo no saturado para el diseño de una
barrera multicapa, UPC – Barcelona – España.
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rellenos artificiales. – Laboratorio de Geotecnia –
CEDEX – España.
Peter A. Krenkel. Environmental Engineering -
Universidad de Nevada – USA.
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Estudo da Caracterização Geotécnica de Zeólita Natural para a


Utilização em Geotecnia Ambiental
Ligia Abreu Martins
UFES, Vitória, Brasil, ligiaabreumartins@gmail.com

Karla Maria Wingler Rebelo


UFES, Vitória, Brasil, kmwingler@gmail.com

Yago Guidini da Cunha


UFES, Vitória, Brasil, yagoguidinic@gmail.com

RESUMO: A crescente preocupação com a degradação ambiental atrelada a grandes desastres


ambientais e lançamentos frequentes de poluentes ao solo e lençóis freáticos tem ocasionada a
busca de materiais alternativos com a função de filtro para a recuperação de áreas afetadas com
metais pesado. Dentre este grupo de materiais pode-se citar as zeólitas utilizadas em inúmeras
pesquisas no âmbito de barreiras reativas e algumas de barreiras impermeáveis. Devido à grande
variedade desses minerais é de suma importância estudos de caráter laboratorial de caracterização
geotécnica de zeólitas naturais, pois tal material apresenta baixo custo e se mostraram altamente
eficazes na remediação de águas contaminadas. Este projeto de pesquisa consiste na caracterização
de uma zeólita natural do tipo clinoptilolita realizada conforme os ensaios previstos na Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). O material foi caracterizado como uma areia siltosa,
apresentou uma CTC de 65,17 meq/100g beneficiando assim a redução de impactos ambientais pela
“filtragem” dos metais pesados. Além disto, diferente do esperado para resultado de compactação
de solos constatou-se uma elevada umidade ótima e uma baixa massa específica.

PALAVRAS-CHAVE: Zeólita, Capacidade de Troca Catiônica, Caracterização, Clinoptilolita.

1 INTRODUÇÃO Conforme Čejka et. al. (2012) as zeólitas


representam um dos mais importantes grupos de
As zeólitas englobam um grande número de catalizadores heterogêneos industriais atuais,
minerais naturais e sintéticos que apresentam com aplicação em larga escala no refino do
características comuns (LUZ, 1995). Segundo petróleo e na petroquímica, ganhando um
Kulprathipanja (2010) são aluminossilicatos aumento potencial em catálise ambiental. As
cristalinos, constituídos por tetraedros de vantagens da utilização deste material estão
[AlO4]- e [SiO4] ligados entre si por meio do associadas a suas propriedades, dentre elas,
compartilhamento de um átomo de oxigênio. Correia (2007) ressalta três: a adsorção de
Como o alumínio apresenta valência menor gases; a adsorção/dessorção de água e troca
do que a do silício, a estrutura apresenta uma iônica. Sendo que, segundo o mesmo autor, o
carga negativa para cada átomo de alumínio. parâmetro mais importante relacionado à
Essa carga é balanceada por cátions alcalinos estrutura de um adsorvente é a sua porosidade,
ou alcalinos-terrosos, chamados de cátions de a qual afeta quase todas as propriedades físico-
compensação ou trocáveis, como o Na+, K+ e químicas dos adsorventes, entre elas a
Ca2+, que estão livres para se moverem nos resistência mecânica, a difusividade e a troca
canais da rede e podem ser trocados por outros catiônica.
em solução (MING & DIXON, 1987). No âmbito da Geotecnia ambiental, a
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capacidade de troca catiônica (CTC) das países na remediação de plumas de


zeólitas é um fator determinante para sua contaminantes no lençol freático subterrâneo.
utilização. Segundo Santos (1928) a troca Para estas obras, Misaelides (2011) afirma
iônica ocorre devido aos íons na superfície, que o uso de zeólitas e suas modificações
entre as camadas e dentro dos canais do retículo oferece como vantagens baixo custo,
cristalino que podem ser trocados por reação disponibilidade em várias partes do mundo,
química por outros íons em solução aquosa sem boas propriedades mecânicas e térmicas e a
que isso venha trazer modificações de sua combinação de alta capacidade de sorção com a
estrutura cristalina. habilidade de ajustar modestamente o pH do
Conforme apresentado em Bailey et al. solo ou do sistema aquoso.
(1999) nas zeólitas, os cátions nos canais são No contexto de aterros sanitários, existem
livres para trocar com cátions em solução, tais poucas informações disponíveis acerca da
como cádmio, chumbo, cobre, zinco e utilização de zeólita como camadas
manganês. Ainda neste quesito, Curkovic et al. impermeabilizantes. Nesta área, pode-se citar
(1997) ressalta que o fato dos íons trocáveis pesquisas como Kaya & Durukan (2003) e
(sódio, potássio e cálcio) serem atóxicos, os Tucan et al. (2003) que estudaram o
torna adequados para a remoção de metais comportamento hidráulico de misturas
pesados indesejáveis. bentonita-zeólita em proporções de 10% e 20%
Segundo Zamzow et al. (1990) embora para o primeiro e apenas 10% para o segundo,
existam mais de 40 tipos de zeólitas naturais ambos chegando a resultados satisfatórios.
conhecidas, somente sete destas: mordenita; Devido à grande variedade de minerais e
clinoptilolita; ferrierita; chabazita; erionita; analisando que no Brasil faz se uso de grande
filipsita e analcima, ocorrem em quantidade parte de zeólita artificial é de suma importância
suficientes para serem consideradas como uma estudos de caráter laboratorial de caracterização
fonte mineral viável. Destes sete tipos segundo geotécnica de zeólitas naturais, pois tal material
Çulfaz et al. (2004) as clinoptilolitas e as apresenta baixo custo e se mostraram altamente
modernitas apresentam maior valor industrial eficazes na remediação de águas contaminadas.
agregado devido ao grande número de depósitos
espalhados por diversas regiões do mundo.
Uma das principais aplicações das zeólitas 2 MATERIAIS E MÉTODOS
naturais está relacionada com a sua capacidade
de troca de íons, propriedade utilizada no 2.1 Materiais
processo de remoção e recuperação de metais
pesados contidos nos efluentes industriais. A zeólita utilizada é do tipo natural
(CORREIA, 2007). Outras utilizações das clinoptilolita e foi doada pela empresa “Celta
zeólitas naturais foram explicitadas em Zambon Brasil”. Por meio de análise de trabalhos
(2003) dentre elas, remoção de NH4+ de anteriores, solicitou-se 25 kg do material com
efluentes municipais e industriais, remoção de diâmetro de 0,0045 mm e 75 kg com diâmetro
metais pesados de efluentes industriais e entre 0,4 a 1 mm. As amostras são provenientes
remoção de radionuclídeos de plantas de da cidade de Cotia – SP, sendo que foram
energia nuclear. A autora enfatiza a utilização coletadas pela própria empresa, acondicionadas
da clinoptilolita em uma variedade de papéis no em sacos e transportadas até o laboratório de
controle dos efeitos do acidente de Chernobyl. mecânica dos solos da Universidade Federal do
Constantes pesquisas vêm sendo realizadas a Espírito Santo (UFES).
fim de se analisar materiais zeolíticos para a Para o estudo, foi realizada uma mistura
utilização em barreiras permeáveis reativas, que prévia de todo material recebido com as duas
se constitui, segundo Oliveira (2011), em uma granulometrias, após a mistura inicial o material
técnica que vem sendo utilizada em diversos foi separado por quarteador mecânico em
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quatro frações e caracterizado antes das adições Síntese dos Resultados Zeólita
dos percentuais. s (g/cm³) 2,49
Argila (%) 4,27
Silte (%) 18,31
2.2 Métodos Areia Fina (%) 0,68
Areia Média (%) 12,35
2.2.1 Caracterização física Areia Grossa (%) 64,39
Limites de Consistência LL(%) 51
A caracterização geotécnica da zeólita foi LP(%) -
IP(%) -
realizada conforme os ensaios previstos na Classificação Unificada SM
Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT): granulometria (NBR 7181/16), massa
específica dos grãos pelo método do picnômetro
(NBR 6458/16) por meio da aplicação de
vácuo, Limite de Liquidez (NBR 6459/16),
Limite de Plasticidade (NBR 7180/16) e ensaio
de compactação com energia do Proctor Normal
e com reuso (NBR 7182/16).

2.2.2 Caracterização química

A caracterização química foi realizada pelo


Instituto Brasileiro de Análises (IBRA),
localizada em Jardim Nova Veneza Sumaré – Figura 1. Curva granulométrica
SP. Para a análise foram separadas 200g de
cada material, acondicionados em sacos No que diz respeito aos Limites de Atterberg
plásticos e enviados ao laboratório da empresa. o material apresentou limite de plasticidade
Foram realizados os seguintes ensaios: pH em nulo e um alto valor de limite de liquidez de
CaCl2 e pelo método SMP, CTC, saturação de 51%.
bases H+Al, macronutrientes e os O ensaio de compactação do material foi
micronutrientes pelo extrator Mehlich. Os realizado com energia do Proctor Normal e com
resultados foram recebidos após sete dias do reúso de material. A tabela 2 apresenta os
recebimento das amostras. resultados dos parâmetros de compactação e a
Figura 2 apresenta o gráfico.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES Tabela 2. Parâmetros de Compactação


Parâmetros Zeólita
dmáx (g/cm³) 1,35
Dada a sua caracterização, a zeólita pura foi
wótima (%) 29,6
classificada pelo Sistema Unificado de
Classificação de Solos (SUCS) como uma areia
siltosa (SM) apresentando um percentual em
massa de 77,42% de areia, sendo deste total
64,39% de areia grossa.
A Tabela 1 expõe os resultados obtidos nos
ensaios de caracterização física. A curva
granulométrica da zeólita pura está apresentada
na Figura 1.

Tabela 1. Caracterização Física


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de bases na CTC de 85,2% de Ca, 6,3% de Mg


e 1,6% de K. Vale ressaltar que este percentual
está diretamente relacionado com o tipo dos
principais metais filtrados pela zeólita.
O material apresentou pH de 7,47, atendendo
então aos critérios estabelecidos para camadas
impermeabilizantes de aterros sanitários e não
prejudicial aos demais tipos de solos. Este fator,
segundo Morali (2006), tem um impacto
significativo sobre a remoção dos metais
pesados pela zeólita, uma vez que influencia a
especiação do metal, a integridade da zeólita,
Figura 2. Curva de Compactação.
além dos íons H+ serem considerados
É possível observar por meio dos resultados, competitivos na troca iônica. Além disto, Vaca-
que apesar da característica arenosa do material, mier et al. (2001) ressaltam em seu estudo que o
o mesmo apresentou uma elevada umidade pH da solução pode afetar a eficiência da
ótima e uma baixa massa específica. Tal remoção e a integridade da zeólita, pois análises
fenômeno pode ser justificado pelo inchamento de Raio-X demonstraram que os cristais da
do material devido a elevada adsorção de água cliptilolita são destruídos a pH superior a 10.
em suas partículas. Por meio da análise quantitativa química por
Referente à análise química, a zeólita espectrometria de fluorescência de raios X
apresentou uma CTC de 65,17 meq/100g. realizada pela Celta Brasil percebe-se que a
Comparando com Englert & Rubio (2005) e zeólita estudada é composta em 71,3% das suas
Oliveira (2011) que encontraram partículas de SiO2 e 12,7% de Al2O3. Os
respectivamente os valores de 74,00 e 57,8 demais óxidos de sua composição estão
meq/100g para zeólitas brasileiras de mesma apresentados na Tabela 3.
natureza, os valores estão dentro da margem
Tabela 3. Análise quantitativa por espectrometria de
esperada. Se comparado ao valor emitido em fluorescência de raio X da zeólita pura
laudo pela empresa Celta Brasil de CTC de 200 Ensaio Valor Obtido
meq/100g o resultado está inferior ao esperado. (%)
Esta divergência pode ser justificada pelo SiO2 71,30
tempo de contato das amostras com o cátion Al2O3 12,71
Fe2O3 1,64
saturado durante o ensaio realizado pela IBRA, TiO2 0,13
segundo Kitsopoulos (1999) o tempo para que CaO 2,73
haja uma efetiva saturação é de 12 dias. Como MgO 0,50
os resultados foram enviados pela IBRA em 7 Na2O <0,01
(sete) dias após o recebimento das amostras, é K2O 3,29
MnO <0,01
previsto que o ensaio não foi realizado com
P2O5 0,01
saturação total. CuO <0,01
Mesmo com valor inferior ao esperado, foi
comprovado que a zeólita analisada apresenta
uma elevada capacidade de troca catiônica, 4 CONCLUSÃO
beneficiando assim a redução de impactos
ambientais pela “filtragem” dos metais pesados Os resultados demonstram uma possivel
lançados ao ambiente. Assim como em zeólitas utilização da zeólita em camadas de solo
brasileiras estudadas pelos pesquisadores compactado (CCL) para base de aterro
citados acima, a amostra apresentou equilíbrio sanitário, visto que, a sua alta CTC gera
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redução de impactos ambientais pela Technology, v. 37, p. 93-105.


“filtragem” dos metais pesados acarretando Curkovic, L.; Cerjan-Stefanivoc, S.; Filipan, T. (1997).
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uma garantia maior em casos de percolação do Water Research, v.31, p. 1379-1382.
lixiviado. Ehrlich, M,; Silva, L.F.M. (1992). Sistema de Contenção
O pH apresentado pela amostra de zeólita é de solos reforçados, conferência Brasileira sobre
favoravel ao seu uso, pois está inferior ao Estabilidade de Encosta, COBRAE, ABMS, Rio de
critérios estabelecidos para camadas Janeiro, v.1, p.35-45
Englert, A.H.; Rubio, J. (2005). Characterization and
impermeabilizantes de aterros sanitários. environmental application of a Chilean natural
Contudo, recomenda-se que estudos zeolite. International Journal of Mineral Processing,
complementares sejam realizados para verificar v.75, p.21-29.
a permeabilidade do material, a saber, que esse Ingold, T.S. e Miller, K.S. (1983). Drained Axisymmetric
fator deve estar dentro dos padrões exigidos por Loading of Reinforced Clay, Journal of Geotechnical
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norma. Kaya, A.; Durukan, S. (2003). Utilization of bentonite-
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v.25 p. 83-91
AGRADECIMENTOS Kitsopoulos; Konstantinos, P. (1999) Cation-Exchange
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Agradecimento à empresa Celta Brasil que
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Estudo da Erodibilidade de Solos Modificados com Fibra de


Cana–de–açúcar por meio do Ensaio de Inderbitzen Adaptado
Adinele Gomes Guimarães
Universidade Federal de Itajubá, Itajubá, Brasil, adinele@unifei.edu.br

Ana Carolina Moreas Rangel


Universidade Federal de Itajubá, Itajubá, Brasil, anacarolinamrangel@gmail.com

Pamella Nobrega Neves


Universidade Federal de Itajubá, Itajubá, Brasil, pamellanobreganeves2@gmail.com

RESUMO: A erodibilidade está relacionada às propriedades físicas e químicas do solo, existem


diversos métodos e ensaios para a sua avaliação, podendo-se citar como exemplo o ensaio de
Inderbitzen. O presente trabalho tem como objetivo estudar a erodibilidade de dois solos de
diferente coloração (vermelho e amarelo) e sua influência no processo erosivo, avaliando os
possíveis efeitos ocasionados pela adição de fibra de cana-de-açúcar, por meio da realização do
ensaio de Inderbitzen, de modo adaptado. Os resultados obtidos, com total de 24 repetições,
mostrou uma maior quantidade de material carreado pelo escoamento para os solos modificados
com fibras. Contudo, foi possível observar que o solo amarelo sofreu, em média, uma perda maior
de material do que o solo vermelho durante a realização do ensaio, justificado pela distinção entre
os tipos de argilominerais presentes em cada tipo de solo.

PALAVRAS-CHAVE: Erodibilidade, Solos modificados, Fibras naturais, Ensaio Inderbitzen.

1 INTRODUÇÃO comportamento e características é primordial


para o entendimento do fenômeno da erosão.
A erosão acentuada do solo é um problema Dessa forma busca-se o conhecimento das
ambiental crítico que vem causando danos, características que são intrínsecas aos solos,
devido a sua capacidade destrutiva que traz dentre elas destaca-se a erodibilidade.
perdas para a sociedade, tanto no meio rural, A erodibilidade é um fator que está
quanto no meio urbano. Tais danos implicam, relacionado às propriedades físicas e químicas
muitas vezes, na necessidade de execução de do solo e pode variar de acordo com as
obras de terraplanagem ou de contenções, que características do local (BASTOS, 1999).
demandam um alto investimento para sua Devido à importância da compreensão desta
aplicação. propriedade, dentro das muitas pesquisas
Para a realização de um estudo sobre a propostas, surgiram diversos métodos e ensaios
erosão dos solos, é necessário tratar sobre os para a sua avaliação. Estes ensaios, visando à
parâmetros que influenciam e condicionam esse quantificação e mensuração do fator, tornaram-
fenômeno. Condições naturais como relevo e se imprescindíveis para o entendimento do
clima são altamente influenciadoras, porém, por processo erosivo e, os mais difundidos no meio
mais que sejam largamente estudadas, não há geotécnico, envolvem a sua avaliação direta
maneira de controlar os seus efeitos. As ações e/ou indiretamente.
antrópicas podem ser controladas e previamente A fim de se conhecer a fundo essas
planejadas, mas o estudo dos solos, de seu propriedades para análise da suscetibilidade dos
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solos à erosão, diferentes estudos sobre por agentes erosivos que podem ser naturais ou
metodologias e ensaios de laboratório vêm antrópicos. Entre os agentes naturais estão a
sendo desenvolvidos nas últimas décadas. água da chuva e de rios, o vento, o gelo (ao ser
Dentre os métodos de avaliação que surgiram congelada a água presente nas fendas do
nesse período pode-se citar como os mais material sofre dilatação, causando um
utilizados os ensaios de caracterização física, afastamento das partículas do mesmo) e, ainda,
ensaio de desagregação, metodologia MCT, as raízes de plantas e animais (erosão
ensaios de penetração de Cone e o ensaio de biológica). A erosão devasta as estruturas que
Inderbitzen (CAMPOS, 2014). constituem o solo, conduzindo material para as
Inderbitzen (1961 apud CAMPOS, 2014) partes menos elevadas dos relevos e, em sua
propôs em sua obra uma nova metodologia que maioria, acabam por alterar os corpos d'água
é hoje a mais difundida na área da geotecnia (GUERRA; CUNHA, 2006).
para estudo da erodibilidade dos solos. Esse Como exemplo dos fatores que condicionam
método foi abordado por diversos autores em a intensidade e os impactos da erosão é possível
seus estudos e, ainda que não haja uma norma citar a declividade do terreno, o comprimento e
para sua padronização, os resultados obtidos a forma das encostas, a erodibilidade do solo e
com a sua aplicação são considerados outras propriedades químicas e físicas do
satisfatórios para a avaliação comparativa da mesmo, a densidade e o tipo de cobertura
erodibilidade de solos. Além disso, esse ensaio vegetal, bem como o volume e a frequência das
possui metodologia simples e um baixo custo de chuvas e também o grau de interferência das
implantação, o que também contribui para a sua ações humanas (GUERRA; MENDONÇA,
realização. 2004; BERTONI; LOMBARDI NETO, 1999).
Perante este cenário, e considerando a Para Fonseca (2009) a erosão dos solos é um
relevância dos efeitos danosos provocados pela processo normal no desenvolvimento das
erosão dos solos, este presente trabalho tem paisagens. No que se diz respeito às ações da
como objetivo geral compreender, natureza, a precipitação é considerada a
adequadamente, a erodibilidade dos solos e sua principal ocasionadora da erosão. Ao impactar o
influência nos processos erosivos, avaliando solo, principalmente em grande proporção, as
ainda, os possíveis efeitos ocasionados pela gotas de chuva exercem forças de compressão e
adição de fibra de cana-de-açúcar em dois tipos cisalhamento contra as partículas e, dessa
de solos, por meio da realização do ensaio de forma, acarretam segundo Mota (1981), dois
Inderbitzen, de modo adaptado. diferentes fenômenos de erosão hídrica: a
O reforço de solos com a adição de desfragmentação das partículas e o
materiais, como as fibras naturais, vem sendo deslocamento das mesmas de um local a outro.
estudado como alternativa para aumentar sua Araújo e Campos (2013), em sua pesquisa,
resistência, minimizando os danos a sua submeteram três diferentes tipos de solos
estrutura (FEUERHARMEL, 2000). Este (denominados como solo verde, roxo e branco)
trabalho propõe verificar a influência da adição aos ensaios de caracterização, desagregação,
de fibra de cana-de-açúcar nos solos residuais penetração de cone, sucção e resistência à tração
quanto à erodibilidade. a fim de avaliar a susceptibilidade desses solos
à erosão. Como resultado eles puderam
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA observar que as características de sucção e
resistência à tração, apresentaram uma relação
2.1 Erosão do Solo direta com o processo erosivo nos solos, a
textura dos solos também demonstrou ter um
A erosão é a ação de retirada, dissolução e importante papel nessa avaliação. No triângulo
condução de fragmentos do solo e das rochas, de texturas proposto por estes autores, é
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possível observar uma tendência de processos erosivos dos solos, é necessário tratar
concentração dos solos mais suscetíveis à da erodibilidade, propriedade que condiciona os
erosão na região com maior porcentagem de mesmos. Bastos (1999) define essa propriedade
areia e silte e menor porcentagem de argila, como a facilidade com que as partículas de solo
sendo a região de situação oposta, onde se são conduzidas de um local para outro por
concentram os solos menos suscetíveis. determinado agente erosivo, sendo dependente
De acordo com Infanti Junior e Fornasari de fatores físicos, químicos, biológicos e
Filho (1998) os processos erosivos podem ser mecânicos, o que torna sua determinação
classificados em três diferentes tipos conforme altamente complexa. Muitas vezes, mesmo
os seus agentes causadores. São eles: erosão estando expostos às mesmas condições de
hídrica, ocasionada pela ação das chuvas; declividade, precipitações e cobertura vegetal,
erosão eólica, proveniente da ação combinada os solos reagem de maneiras diferentes ao
dos ventos e da gravidade; erosão de leitos processo erosivo. Isso ocorre devido a atributos
rochosos, desfragmentação de blocos rochosos intrínsecos às propriedades desses solos, em
pela força exercida devido à pressão em quedas outras palavras, à sua erodibilidade.
d'água e corredeiras, por exemplo. Neste O aparelho proposto inicialmente por
trabalho foi estudo apenas o efeito da erosão Inderbitzen simulava em um canal hidráulico o
hídrica sobre os solos, o qual pode ser estudado comportamento erosivo de uma amostra de solo
por meio do ensaio de Inderbitzen. quando submetida a um escoamento superficial
Para identificar a suscetibilidade dos sob condições similares às encontradas em
materiais a serem erodidos pelo fluxo campo. Esse ensaio permite a variação de
superficial durante o processo de erosão hídrica parâmetros que determinam o grau de erosão,
estuda-se a erodibilidade. Segundo Stephan são eles: declividade, vazão, tempo de duração
(2010), a erodibilidade dos solos é um do ensaio e umidade das amostras.
parâmetro que estima a perda de solo em uma (INDERBITZEN, 1961 apud TOMASI, 2015;
determinada área em função do tempo de CAMPOS, 2014).
escoamento, ela determina a resistência do solo O Instituto de Pesquisas Rodoviárias (IPR)
à erosão erosiva da chuva. foi o pioneiro em pesquisas sobre o ensaio de
Gray e Leiser (1989 apud ARAÚJO; Inderbitzen no Brasil. Após realizar algumas
CAMPOS, 2013) relaciona a classificação pelo experiências desenvolveu uma metodologia de
Sistema Unificado de Classificação dos solos, trabalho onde é destacada a importância de
que utiliza valores dos ensaios de fatores como a plasticidade, a granulometria e o
Granulometria Conjunta e de Limites de teor de matéria orgânica para a erodibilidade
Consistência, com a erodibilidade, no sentido (IPR, 1979 apud FÁCIO, 1991).
do mais para o menos erodível, na seguinte Buscando aprimorar os resultados obtidos
ordem: ML (silte de baixa plasticidade) > SM através desse ensaio, diversos autores
(areia siltosa) > SC (areia argilosa) > MH (silte apresentaram metodologias com novas
de alta plasticidade) > OL (solo orgânico de modificações. Ao estudar a erosão em solos do
plasticidade baixa) > CL (argila de baixa Distrito Federal, Fácio (1991), avaliou
plasticidade) > CH (argila de alta plasticidade) diferentes declividades, vazões de escoamento e
> GM (pedregulhoso siltoso) > SW (areia bem intervalos de tempo de ensaio. Chegando a uma
graduada) > GP (pedregulho pobremente situação ideal de ensaio para seu material de
graduado) > GW (pedregulho bem graduado). estudo com os seguintes parâmetros: inclinação
de 10º da rampa, vazão de 5x10-5 m3/s e um
2.2 Ensaio Inderbitzen intervalo de tempo de 20 minutos de ensaio.
Baseado nas propostas de Inderbitzen (1961
Para a realização de um estudo sobre os apud TOMASI, 2015; CAMPOS, 2014) e Fácio
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(1991), Ide (2009) desenvolveu, para o materiais, a fim de se obter propriedades da


Laboratório de Mecânica dos Solos da mistura que os materiais não são capazes de
Universidade Estadual Paulista (UNESP) na oferecer quando separados (FEUERHARMEL,
cidade de Bauru-SP, um aparelho de 2000).
Inderbitzen. Esse aparelho possui uma rampa Segundo Feuerharmel (2000), as fibras
com 500 mm de comprimento e 110 mm de podem ser classificadas de acordo com o
largura e, ainda, um sistema de ajuste de material do qual são compostas e de seu
inclinação que serviu como inspiração para o processo de fabricação, sendo agrupadas em
aparelho construído e utilizado nessa pesquisa. quatro grandes classes:
O equipamento de Inderbitzen adaptado por  Fibras Naturais: maioria de origem
Fragassi (2001) permite a variação da vegetal como bambu, coco e cana-de-
inclinação da rampa entre 0° e 60°. Foi açúcar;
implantada ainda, uma barreira com o intuito de  Fibras Poliméricas: fibras de
uniformizar o escoamento da água que cai sobre polipropileno, polietileno, poliéster e
a rampa através de uma saída superior. A vazão poliamida;
utilizada foi de 25 ml/s e o tempo de ensaio de  Fibras Minerais: fibras de carbono,
30 minutos. amianto e vidro;
 Fibras Metálicas: maioria feita de aço.
2.3 Solos Modificados com Fibras
Nas últimas décadas diversos autores
Amostras de solos, quando submetidas à abordaram em seus trabalhos a utilização de
carregamentos verticais, apresentam fibras naturais ou materiais orgânicos para
deformações verticais de compressão e reforço de diferentes tipos de solos.
deformações laterais que tendem a estender o Buson (2009) desenvolveu a análise de um
material (tração). De um modo geral, os solos novo compósito que denominou como
possuem uma boa resistência aos esforços de Kraftterra, que consiste na incorporação de
compressão e, por outro lado, uma baixa fibras da polpa de celulose proveniente da
resistência aos esforços de tração. Com o intuito reciclagem de sacos de cimento em amostras de
de aumentar a resistência, reduzindo, assim, as terra, para uso em vedações verticais de
deformações em sua estrutura, foram edificações. Utilizando também dos produtos da
desenvolvidas técnicas para reforço dos solos reciclagem de embalagens de cimento,
(SAYÃO; SIEIRA; SANTOS, 2009). Mongrovejo (2013), em sua pesquisa, adicionou
Na literatura é possível verificar que o diferentes teores de fibras dispersas de papel
emprego de fibras para reforço de solos é Kraft em amostras de solos argilosos e
utilizado há muito tempo pela humanidade, arenosos, buscando o aumento da resistência
desde a construção da Grande muralha da China dos mesmos.
e de estradas da civilização Inca no Peru. A Sales (2011) propôs a substituição da adição
utilização de mantas de algodão como reforço de fibras sintéticas ou vegetais por cabelo
de camadas asfálticas em pavimentos, em 1926, humano em solos, a fim de melhorar os
pelo Departamento de Estradas da Carolina do problemas de surgimento de trincas e
Sul, Estados Unidos, foi uma das pioneiras e degradação das estruturas de pavimentos.
muito se aproxima da utilização dos Outros autores utilizaram materiais orgânicos
geossintéticos nos dias de hoje para reforço de solos utilizados como base para
(CASAGRANDE, 2001). pavimentos rodoviários, Jaines e Arns (2016)
O reforço de solos com fibras enquadra-se na optaram por cinzas de casca de arroz,
tecnologia dos materiais compósitos que verificando uma melhoria da resistência do
consistem na combinação de dois ou mais solo.
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Bolaños (2013) adicionou fibras de coco Foram utilizadas para a realização dos ensaios
verde a amostras de solo argiloso, a fim de amostras deformadas de solo de coloração
analisar a influência em parâmetros de amarela e vermelha. Os dois solos foram
resistência ao cisalhamento do solo. Os coletados no município de Delfim Moreira –
resultados obtidos foram satisfatórios, MG, região que apresenta relevo levemente
sugerindo a utilização do solo argiloso ondulado a ondulado, nos pontos de
reforçado com a fibra de coco verde em coordenadas 23K 04684475m S e 7511706m E
camadas de aterro temporário submetidos a (solo vermelho) e 23K 0467057m S e
carregamentos estáticos. 7511674m E (solo amarelo). As coordenadas
Leocádio, Botaro e Ribeiro (2005) fizeram a foram obtidas em Datum SIRGAS 2000
inclusão aleatória de fibras de sisal, tratadas utilizando o GPS Garmim vista hcx.
com polímeros para reforço de solo laterítico, e Ambas as amostras são de solo residual
obtiveram resultados satisfatórios quanto ao maduro, sendo que o solo vermelho foi coletado
aumento da resistência desses solos. na profundidade de 90 a 180 cm e o solo
Existem diversos estudos sobre a adição de amarelo na profundidade de 70 a 170 cm. Após
fibras naturais como reforço de solos, contudo é a coleta, as amostras de solo foram
possível observar que há uma escassez de acondicionadas em sacos plásticos e
estudos que relacionam a adição dessas fibras transportadas até o laboratório de Geotecnia
com a erodibilidade dos solos e outros (LGTEC) da Universidade Federal de Itajubá
parâmetros associados à estabilidade. Essa (UNIFEI – campus Itajubá). No laboratório, as
escassez motivou o desenvolvimento dessa amostras foram homogeneizadas e armazenadas
pesquisa. até serem conduzidas para os ensaios.
A cana-de-açúcar ocupa, atualmente, um A cana de açúcar é um produto amplamento
lugar de destaque no cenário do agronegócio no cultivado na região do sul de Minas Gerais,
Brasil, sendo um de seus principais produtos. É gerando uma grande quantidade de subprodutos
destinada, principalmente, para a produção de que geralmente são utilizados como
açúcar, álcool e aguardente. A geração de combustíveis para cogeração de energia. Na
subprodutos, como o bagaço, ao final dos busca de um uso mais nobre para as fibras de
processos de produção também é de grande cana-de-açucar, este trabalho pretende verificar
proporção, o que revela a tamanha importância a sua utilização como reforço de solos
de meios de reaproveitamento desses resíduos, a compactados sob o ponto de vista da
fim de se minimizar prejuízos econômicos e erodibilidade. Desta forma, as fibras a serem
ambientais (SILVA, 2010). misturadas às amostras de solo como materiais
O bagaço da cana-de-açúcar é totalmente de reforço foram coletadas no Mercado
reaproveitável, podendo ser aplicado em Municipal da cidade de Itajubá-MG, onde é
diversas áreas como na forragem, na produção tratada como material de descarte de moenda de
de ração animal e na cogeração de energia garapa.
(COSTA; BOCCHI, 2012). O uso da fibra da Após a coleta, as fibras foram encaminhas
cana de açúcar para reforço de solos é uma para o laboratório de recepção de amostras do
alternativa de destino nobre para esse resíduo Centro de Estudos em Qualidade Ambiental
ainda pouco explorado na atualidade. (CEQUAM) da Universidade, onde foram
lavadas em água corrente e posteriormente
3 METODOLOGIA secas à temperatura de 75°C por 5 dias em
estufa de secagem e esterilização (Solab modelo
3.1 Materiais SL-100). Depois da secagem foi realizada a
remoção das cascas das fibras, passando-se o
material restante por moinho de facas (Logen
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científic modelo Lsw 5000).


O material resultante foi então peneirado até
que atingisse um comprimento médio de 1 cm,
sendo aceitas as fibras com tamanho entre 8 e
12mm. Este comprimento foi definido por ser o
mais utilizado entre as literaturas estudadas.

3.2 Equipamento de Inderbitzen Adaptado

A aparelhagem construída durante esse trabalho


para adaptação do ensaio de Inderbitzen foi feita
de modo que um ajuste lateral permitisse a
variação da inclinação da rampa entre 0° e 60°
(Figuras 1). Duas barras ajustadas lateralmente
por parafusos garantem a fixação da rampa em
uma inclinação constante durante o ensaio.
A rampa foi confeccionada com placas de
vidro, de espessura de 4 mm, que por ser um
material de baixa rugosidade garante a
uniformidade do fluxo (Figura 2). A rampa foi
apoiada sobre uma estrutura de metal que
sustenta e protege o equipamento. A largura da
rampa, igual ao diâmetro externo do corpo de
prova, é de 10,50 cm, de modo a assegurar que
o fluxo de água escoe todo sobre a amostra. O
Figura 2. Vista frontal do equipamento de Inderbitzen
comprimento total da rampa é de 95 cm, sendo adaptado .
que, a água escoa por um trecho de 64,50 cm
antes de atingir o corpo de prova. Há um
afunilamento nos 10 cm finais da rampa para A água chega até a rampa através de um cano
evitar que o material escoado respingue para de PVC de 20 mm de diâmetro perfurado em
fora do recipiente de armazenamento. A altura sua longitude para garantir a distribuição
das paredes laterais que impedem a perda de uniforme do fluxo de água pela largura da
material durante o escoamento é de 8 cm. rampa. O escoamento é alimentado por um
reservatório com capacidade de 45 L que foi
projetado de modo a manter um nível d’água
constante, não interferindo na vazão do ensaio.
O reservatório possui um ladrão d’água, uma
entrada e uma saída que abastece diretamente a
rampa, esses dispositivos, quando ajustados,
garantem o abastecimento com nível d’água
constante.
O corpo de prova, que tem diâmetro interno
de 10 cm, está fixado por parafusos na parte
inferior da rampa, nivelado à mesma para
garantir que a água escoe por toda a superfície
Figura 1. Vista lateral do equipamento de Inderbitzen da amostra.
adaptado .
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3.3 Procedimento do Ensaio mm, submetidas ao agitador durante 15


minutos. Ao final o material retido em cada
Os corpos de prova foram moldados em uma das peneiras foi pesado em balança de
cilindro metálico com diâmetro de 100 mm e precisão.
altura de 60,7 mm. As amostras de solos foram O procedimento foi repetido 3 vezes para
preparadas com o teor de umidade ótimo para cada um dos dois tipos de solo, com e sem
compactação, considerando a energia de Proctor reforço de fibras, em cada uma das inclinações,
normal, 594 kJ/m³, em uma só camada, sendo o que resultou num total de 24 repetições do
aplicados 19 golpes. Utilizou-se corpos de ensaio.
prova de solo com teores de fibra de 0 e 1,5%,
para análise do comportamento de solos com e
sem reforço. As fibras utilizadas possuiam 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
comprimento médio de 1 cm.
Optou-se por realizar os ensaios nas 4.1 Ensaios de Caracterização dos Solos
inclinações de 15° e 30°. Antes de cada
repetição do ensaio foi feita a calibração para A Tabela 1 apresenta os valores obtidos nos
atingir a vazão estipulada de 5x10-5 m3/s, ensaios de caracterização física e compactação
fazendo-se uma medição do volume de água de ambos os solos estudados.
que escoava em determinado período de tempo. O valor desse índice de 12,2% para o solo
Durante esse ajuste, o corpo de prova era amarelo o caracteriza como um solo de
revestido com uma película plástica para evitar plasticidade média, e o valor de 24,9% para o
a perda de material da amostra, até que solo vermelho o classifica como um solo muito
houvesse uma constância na vazão e o fluxo plástico. Segundo os critérios adotados por
fosse uniforme. Cada ensaio teve duração de 20 Santos (2001), o solo amarelo possui média
minutos durante os quais, toda a água escoada, resistência à erosão, por apresentar Índice de
juntamente com a massa de solo que foi Plasticidade entre 6 e 15, e o solo vermelho
carregada, foi armazenada em um recipiente, possui alta resistência à erosão, por apresentar
com capacidade de 64 litros, localizado na índice de Plasticidade maior do que 15.
extremidade da rampa.
Ao final do ensaio o recipiente com o Tabela 1. Limites de consistência.
material foi deixado em repouso para a Solo Amarelo Vermelho
sedimentação do solo carreado. Após o período Limite de Liquidez
62,6 64,5
de sedimentação era retirado o maior volume de (%)
água possível e o material transferido para outro Limite de Plasticidade
50,4 39,6
(%)
recipiente com capacidade de 2,5 litros, sendo
Índice de Plasticidade
mantido em repouso para outra sedimentação. 12,2 24,9
(%)
Por fim, após a retirada do excesso de água Argila (%) 35,57 52,27
do material, o mesmo foi transferido para um Silte (%) 27,71 15,33
terceiro recipiente adequado para ser levado à Areia (%) 36,73 32,40
Argila floculada (%) 99,90 99,87
estufa, sendo retirado após 24 horas de secagem Densidade de
a 105ºC. Cada transferência foi realizada com a 2,50 2,53
partículas (g/cm3)
lavagem do recipiente, utilizando-se uma Teor de umidade
29 27
pisseta para evitar a perda de material. ótimo (%)
Depois de seco, o solo obtido foi destorroado Masa epspecífica seco
1,44 1,45
máximo (g/cm3)
manualmente e transferido para o conjunto de
peneiras de diâmetro: 0,045 mm, 0,075 mm,
Com os valores obtidos na granulometria é
0,15 mm, 0,30 mm, 0,60 mm, 1,18 mm e 2,0
possível fazer a classificação dos solos como
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pouco erodíveis a partir do triângulo de É possível observar que o solo amarelo


texturas, proposto por Araújo e Campos (2013). sofreu, de um modo geral, uma perda maior de
Os valores de densidade de partículas para material durante a realização do ensaio. Essa
solos mais comuns variam entre 2,65 e 2,90 diferença pode estar associada ao fato de o solo
g/cm³, valores abaixo dessa faixa, como os vermelho apresentar uma porcentagem maior de
apresentados pelos solos em estudo nesta argila na sua composição e, uma vez que a
pesquisa, podem indicar um elevado teor de amostra é compactada antes da realização do
matéria orgânica. ensaio, as partículas de argila apresentam maior
O Sistema Unificado de Classificação de coesão, garantindo maior resistência ao solo.
Solos (SUCS) leva em consideração a A variação da inclinação de 15° para 30°
granulometria do solo, sendo ambos os solos provocou um aumento expressivo na massa de
classificados como solos de granulação fina por material carreado em relação ao solo amarelo,
apresentarem porcentagem passante na peneira por outro lado, no vermelho não se observa o
#200 maior do que 50%. Também é mesmo comportamento.
considerado o limite e o índice de plasticidade, A adição de fibra nas amostras de solo gerou
e as porcentagens de areia e pedregulho de cada um acréscimo da massa de material perdido
solo. Dessa forma, o solo amarelo e o vermelho durante o escoamento, o que demonstra um
podem ser classificados no grupo MH – silte aumento na taxa de erosão. Tal situação pode
elástico arenoso. De acordo com o proposto por ser justificada pelo fato da inclusão de fibras
Gray e Leiser (1989 apud ARAÚJO; CAMPOS, gerarem um aumento no índice de vazios,
2013), ambos os solos teriam a mesma ordem situação estruturalmente distinta do solo
de erodibilidade. compactado sem fibra. Neste caso, a infiltração
é acelerada e quando a capacidade de infiltração
4.2 Ensaio de Erodibilidade do solo é excedida, o escoamento superficial
ocorre e provoca a erosão.
Como parâmetros para a realização do ensaio de Por um lado, a compactação reduz a
Inderbitzen foram utilizados duas inclinações capacidade de infiltração e retenção da água nos
diferentes na rampa, sendo elas 15° e 30°. espaços vazios, levando ao aumento de erosão
Variou-se ainda, o teor de fibra de cana-de- entre sulcos, por outro lado quando os vazios
açúcar adicionado ao solo em 0% e 1,5%. Para ficam intercomunicados surgem fendas nas
cada combinação desses parâmetros foram quais ocorre concentração de fluxo de água e
feitas três repetições do ensaio para uma melhor aumento da erosão.
análise dos resultados. Desta forma, a Tabela 2 A erodibilidade determina a resistência do
apresenta os valores da média das massas de solo à ação da chuva e é definido como a
material carreado entre as três repetições, bem quantidade de material removido por unidade de
como o valor do desvio padrão de cada média. área (STEPHAN, 2010). Tendo sido calculado
neste ensaio como a relação entre a massa total
Tabela 2. Valores da média das massas [g] de material de material carreado pela área da seção do corpo
total carreado das amostras de cada ensaio e seus desvios. de prova. A Tabela 3 apresenta os valores
Solo Amarelo Vermelho
médios obtidos para a erodibilidade dos solos
Teor de
Fibra (%) 0 1,5 0 1,5 de cada ensaio.
Inclinação
15º 50,36 ± 10,24 ± 1,94 ± 61,41 ± Tabela 3. Erodibilidade média para cada ensaio em
14,62 0,61 0,82 33,26 g/cm2.
30º 73,11 ± 108,15 1,79 ± 7,59 ± Solo Amarelo Vermelho
19,68 ± 54,5 0,22 2,96 Teor de
Fibra (%) 0 1,5 0 1,5
Inclinação
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por alterações químicas e biológicas interagir de


15º 0,159 0,032 0,005 0,135
melhor forma, aumentando assim a resistência
30º 0,237 0,273 0,005 0,029 do solo aos esforços externos.
São notáveis os efeitos sobre os resultados
Segundo os parâmetros físicos, em condições causados pela variação da inclinação da rampa
naturais, ambos os solos apresentariam a mesma no solo amarelo, havendo um acréscimo da
codição de erodibilidade. Todavia, nos ensaios perda de massa com o aumento da declividade
realizados durante esta pesquisa os solos de 15° para 30°, o que permite confirmar que os
passaram por um processo de compactação e, terrenos com relevo de maior inclinação são
segundo Martínez (2003), a poropressão mais propensos a sofrer efeitos mais intensos da
negativa que se desenvolve nos solos durante erosão. O volume e a velocidade de escoamento
esse processo gera um aumento da resistência da água sobre o terreno, que gera os processos
ao cisalhamento, e ainda, deformações erosivos, são diretamente dependentes da
permanentes que alteram as propriedades declividade da encosta.
originais do solo, causando, entre outros efeitos, As características físicas dos solos exercem
a redução da erodibilidade do mesmo. grande influência sobre a erodibilidade, mas
O solo vermelho apresenta uma porcentagem algumas de suas características em condições
maior de argila em sua composição segundo a naturais são alteradas ao serem submetidos ao
análise de textura, havendo, portanto, uma processo de compactação. Trabalhos futuros a
maior coesão entre suas partículas, serem realizados com este mesmo aparelho,
principalmente após a compactação, devido à utilizando de amostras indeformadas, podem
pressão exercida. Isso explica os menores gerar dados para uma análise comparativa entre
valores de erodibilidade apresentados para esse a erodibilidade em ambas condições.
solo em relação ao solo amarelo, que pode ser Apesar de obterem a mesma classificação
considerado mais erodível, contrariando as pelo Sistema Unificado de Classificação de
categorias de erodibilidade propostas por Gray e Solos (SUCS), pode ser observada a diferença
Leiser (1989 apud ARAÚJO; CAMPOS, 2013) de comportamento entre os dois tipos de solo
estabelecidas segundos o SUCS. utilizados. O solo amarelo mostrou-se mais
suscetível à erosão em relação ao vermelho, o
que pode ser explicado pelo fato do último
4 CONCLUSÃO apresentar uma porcentagem maior de grãos
finos em sua composição. A umidade das
A análise dos resultados obtidos no total das amostras também influi diretamente no grau de
24 repetições realizadas do ensaio mostra que, erodibilidade, causando alterações nos
na maioria dos casos, a adição da fibra nas resultados se não estiverem no valor exato
amostras não atingiu o aumento esperado da estimado, podendo ter sofrido pequenas
resistência entre as partículas havendo, na alterações ao serem expostas ao ambiente
realidade, uma maior quantidade de material externo.
carreado pelo escoamento. Este comportamento Para uma maior precisão dos resultados
pode estar associado ao fato de as fibras terem obtidos nesta pesquisa, alguns fatores poderiam
sido adicionadas às amostras durante a ter sido levados em consideração, como por
preparação do corpo de prova, minutos antes da exemplo, os fatores externos. Dados de chuva,
realização de cada ensaio, não havendo tempo cobertura vegetal e tipos de uso e ocupação do
suficiente para a interação entre as fibras e as solo são essenciais para a compreensão dos
partículas de solo. Ao serem mantidas em efeitos da erosão em determinado local.
contato por um período maior de tempo, as O desenvolvimento desta pesquisa foi
fibras e as partículas de solo, tenderiam a passar satisfatório, pois os resultados obtidos
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permitiram a análise e discussão entre os efeitos análise preliminar do desempenho técnico de


causados pelos parâmetros definidos como componentes de terra com a incorporação de fibras
de papel Kraft provenientes da reciclagem de sacos
inclinação da rampa e o teor de fibra das de cimento para vedação vertical. Tese (Doutorado
amostras. A aparelhagem construída para a em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade de
realização deste ensaio pode ser utilizada para Brasília. 2009. 135 p.
pesquisas futuras. Campos, C. J. M. de. (2014) Avaliação da erodibilidade
Desta maneira, sugere-se a continuidade dos pelo método Inderbitzen em solo não saturado da
região de BAURU-SP. Dissertação (Mestrado em
estudos nesta área abrangendo a análise da Engenharia Civil e Ambiental) - Universidade
erodibilidade em solos reforçados com fibras Estadual Paulista, Bauru, SP, 140 p.
naturais, apresentando como sugestões os Casagrande, M.D.T. (2001) Estudo do Comportamento
seguintes pontos: de um Solo Reforçado com fibras de polipropileno
visando o uso como base de fundações superficiais.
 Adição da fibra de cana-de-açúcar
2001. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) -
com um período de antecedência aos Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
ensaios, para que haja um tempo de Alegre, 94 p.
cura para as amostras; Costa, W. L. S. da; Bocchi, M. L. de M. (2012)
 Atenção a fatores externos que Aplicações do bagaço da cana-de-açúcar utilizadas na
atualidade. Ciência & Tecnologia. Jaboticabal, SP. v.
possam vir a ter influência sobre os 4. n. 1. 2012.
resultados; Fácio, J. A. (1991) Proposição de uma metodologia de
 Realização de ensaios nesta estudo da erodibilidade dos solos do Distrito Federal.
aparelhagem utilizando-se de Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) -
amostras indeformadas de solos. Universidade de Brasília, Brasília, DF, 107 p.
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Estudo da Erodibilidade de um Solo do Bairro do Gomeral,


Guaratinguetá – SP
Jessica Duarte de Souza
Centro Universitário Salesiano de São Paulo – UNISAL, Lorena, Brasil,
duarte.jessica@outlook.com.br

Mariana Ferreira Benessiuti Motta


Centro Universitário Salesiano de São Paulo – UNISAL, Lorena, Brasil,
marianabenessiuti@yahoo.com.br

George de Paula Bernardes (aposentado)


Universidade Estadual Paulista - FEG, Guaratinguetá, Brasil, gpb@feg.unesp.br

RESUMO: Problemas relacionados à erosão do solo, os quais prejudicam tanto áreas rurais quanto
áreas urbanas, de forma ambiental e socioeconômica, tem despertado estudos que possibilitem a
compreensão dos mecanismos e fatores que acarretam esses processos erosivos. Neste sentido, este
trabalho avaliou com base em um estudo de caso, a erodibilidade de um talude do bairro do
Gomeral, Guaratinguetá – SP, por meio da realização de ensaios de desagregação do solo, absorção
de água, perda de massa por imersão e compressão diametral, alem dos ensaios de caracterização.
Os resultados obtidos, principalmente nos ensaios de análise granulométrica, desagregação e
compressão diametral, mostram que o solo estudado possui uma alta capacidade de erodibilidade.
Portanto, conclui-se que a distribuição granulométrica e o alto teor de umidade encontrado no solo
estudado interferem consideravelmente no potencial de erodibilidade do mesmo.

PALAVRAS-CHAVE: Erosão, Erodibilidade, Desagregação, Absorção de Água, Perda de Massa por


Imersão, Compressão Diametral.

1 INTRODUÇÃO antrópicos. Quando classificado de acordo com


a velocidade de ocorrência, pode ser
Vários municípios do Brasil demonstram denominada como erosão geológica ou natural,
problemas de degradação do solo, que atingem que ocorre ao longo dos séculos, ou acelerada
áreas agrícolas, urbanas bem como áreas de ou antrópica, deflagrada pela ação humana
vegetação natural. Tal fato pode ser considerado (FÁCIO, 1991).
como sendo um dos principais problemas Devido à necessidade do homem por espaço,
ambientais dos dias atuais (LIMA, 2003). para implantação de seus projetos, tem-se dado
A erosão caracteriza-se como um conjunto grande importância ao estudo da erodibilidade
de processos onde os materiais da crosta do solo, que é basicamente, a propriedade que
terrestre são degradados, dissolvidos ou define a maior ou menor facilidade que o solo
degastados e transportados de um lugar para tem que ser destacado e transportado por meio
outro por meio dos agentes erosivos, tais como dos agentes erosivos.
gelo, água, organismos ou vento (BASTOS, Para Camapum et al. (2006), a erodibilidade
1999). de um solo é definida como sua capacidade de
O processo erosivo depende, principalmente, resistir aos agentes de erosão, sendo o solo mais
dos fatores climáticos, pedológicos e susceptível ou não, dependendo de sua natureza
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e a forma mais habitual de estudá-la é por meio


de suas características físicas, químicas e de
alguns condicionantes externos.
Inúmeros critérios são usados para se
executar a classificação dos processos erosivos,
tais como, natureza, grau de intensidade,
agentes físicos, químicos e biológicos e tempo
em que as erosões ocorrem.
Segundo Mortari (1994), independente do
agente causador, a erosão se efetua em três
fases: desagregação ou desprendimento das Figura 1. Área de Estudo, Google Maps 2018.
partículas de solo, transporte e sedimentação ou
deposição do material transportado. Para o estudo de caso foram coletadas
Normalmente, classifica-se a erosão em amostras deformadas e indeformadas para a
quatro grandes grupos: eólica, causada pelo realização de ensaios de caracterização e de
vento; glacial, causada pelo gelo; hídrica, avaliação da erodibilidade, respectivamente,
causada pela água e organogênica, causada com a finalidade de obter-se a capacidade de
pelos organismos (CAMAPUM et al., 2006). erodibilidade do solo estudado.
Dá-se destaque às erosões antrópicas de origem
hídrica, devido aos grandes danos que causam.
3 ENSAIOS PARA AVALIAÇÃO DA
ERODIBILIDADE
2 LOCAL DE ESTUDO
A erodibilidade pode ser avaliada de forma
A amostra de solo utilizada no estudo foi direta ou indireta, ou seja, respectivamente, por
coletada no bairro do Gomeral, no município de meio de ensaios específicos ou através da
Guaratinguetá – SP e próximo à área de estudo caracterização física, química e mineralógica.
se encontra um dos principais pontos turísticos Neste trabalho foram realizados os ensaios
do bairro, a Cachoeira da Onça, conforme de desagregação, absorção de água e perda de
Figura 1. massa por imersão e compressão diametral,
O clima da região estudada é predominante além da caracterização do solo, que serão
Tropical Úmido, com oscilações consequentes descritos nos subitens a seguir.
da variação da ocorrência de chuvas, devido às
várias formas de relevo (MILANEZI, 2006). 3.1 Ensaio de Desagregação
Por meio de dados do SISAM (Sistema de
Informações Ambientais), o município de De acordo com Ferreira (1981), o ensaio de
Guaratinguetá apresenta temperatura média desagregação começou a ser utilizado no ano de
anual de 19º C, com máxima de 22,5º C e 1958, pela Engenheira Anna Margarita de
mínima de 16º C e um índice pluviométrico por Fonseca, para o estudo de solos para fins de
volta de 1248 mm/ano (BENESSIUTI, 2011). fundações com a construção de Brasília.
O ensaio de desagregação é realizado,
basicamente, por meio da inserção de amostras
de solo indeformadas, conforme Figura 2, em
uma bandeja com água, podendo ser com
inundação total ou inundação parcial
(CAMAPUM et al., 2006).
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massa por imersão foram propostos por Nogami


e Villibor (1979), para se estudar o potencial de
erodibilidade dos solos. Estes determinam a
vulnerabilidade dos vários tipos de solo, quando
submetidos à ação dos processos erosivos, ao
serem submersos em água por um período de 24
horas (MENEZES, 2010).
Os ensaios de absorção de água e perda de
massa por imersão foram executados conforme
Mascarenha et al. (2015).
Para o ensaio de absorção de água, conforme
Figura 3, foram moldadas amostras cilíndricas
com 50 mm de diâmetro e 25 mm de altura, a
Figura 2. Amostra Indeformada, Moldada in loco, partir de um bloco indeformado de solo e a
Utilizada Para o Ensaio de Desagregação. amostra foi deixada secando ao ar por 9 dias.
Após este período colocou-se uma pedra porosa
Para a realização do ensaio de desagregação, em contato direto com a base da amostra e as
foi utilizada a metodologia descrita por Santos e amostras foram colocadas em contato com água,
Camapum (1998) apud Camapum et al. (2006). através da pedra porosa, para que fosse saturada
Foram moldadas quatro amostras, de solo em por capilaridade. Após intervalos de tempo, a
formato de cubos, com arestas de 70 mm, a amostra foi pesada para conhecimento do índice
partir de um bloco de solo indeformado in loco. de absorção de água (Iabs).
Duas amostras foram submetidas à imersão
parcial onde as amostras foram postas sobre
uma pedra porosa com o nível d’água sendo
mantido na altura do topo das mesmas por um
período de tempo de 30 minutos, após
aumentou-se o nível d’água para 1/3 da altura
do corpo de prova por 15 minutos,
posteriormente, aumentou-se o nível d’água
para 2/3 por mais 15 minutos e por fim, foi
realizada a imersão total das amostras, mantida Figura 3. Ensaio de Absorção de Água.
por 24 horas. As outras duas amostras foram
submetidas à imersão total, onde as amostras No ensaio de perda de massa por imersão,
indeformadas foram posicionadas sobre uma conforme Figura 4, moldaram-se as amostras
pedra porosa e submersas, totalmente, desde o cilíndricas com 40 mm de diâmetro e 80 mm de
início do ensaio, as amostras permaneceram altura, a partir de um bloco indeformado de
imersas totalmente em água por 24horas. solo. As amostras foram deixadas secando ao ar
Por meio deste ensaio, é possível avaliar qual por 9 dias, posteriormente foram posicionadas
será a influência da água no solo quando em um anteparo para que parte da amostra
submerso, verificando, a estabilidade do corpo ficasse para o lado de fora do molde e a base
de prova (MASCARENHA et al., 2015). amostra foi posta sobre o conjunto de pedra
porosa mais papel filtro. As amostras foram
3.2 Ensaio de Absorção de Água e Perda de imersas em água e após 24h, recolheu-se a
Massa por Imersão massa perdida e levou-se à estufa, para obter a
massa seca perdida (P) em relação a massa seca
Os ensaios de absorção de água e perda de inicial.
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Figura 4. Ensaio de Perda de Massa por Imersão.

Por meio do índice de absorção (Iabs) e da


perda de massa (P), é possível determinar o Figura 5. Ensaio de Compressão Diametral.
índice de erodibilidade (E), por meio da
Equação 1 de Pejon (1992) apud Menezes O ensaio de compressão diametral foi
(2010). realizado de acordo com a metodologia
apresentada por Santos (2005).
Iabs Foram moldadas quatro amostras cilíndricas
E52 = 52 (1) com, aproximadamente, 20 mm de altura e 50
P
mm de diâmetro, a partir de um bloco
indeformado de solo. Uma amostra foi mantida
3.3 Ensaio de Compressão Diametral
com sua umidade encontrada no campo, uma
amostra foi seca ao ar por 24 horas, uma
O ensaio de compressão diametral ou ensaio
amostra foi seca ao ar por 48 horas e uma
brasileiro, como é conhecido, foi desenvolvido
amostra foi umidificada com 32 gotas
pelo Professor Francisco Luiz Lobo Carneiro
(aproximadamente, 1 e 1/2 ml de água). Devido
em 1943, é um método de se medir a resistência
à relação entre a facilidade que o solo tem em
à tração de cilindro de concreto sendo adaptado
destacar suas partículas e sua variação de
para ensaios em solo (MASCARENHA et al.,
umidade, optou-se por realizar este ensaio para
2015).
diferentes teores de umidade, onde as amostras
De acordo com Araújo (2000), o ensaio de
cilíndricas foram carregadas ao longo de duas
compressão diametral consiste no carregamento,
placas rígidas paralelas, uma oposta à outra, no
em duas posições diametralmente opostas, de
sentido do seu diâmetro.
um corpo de prova, conforme Figura 5.
Por meio da força axial calculada, por meio
do valor registrado no anel de carga da prensa
(P), do diâmetro do cilindo (D) e da espessura
da amostra (H), é possível determinar a
resistência à tração do solo (σt), por meio da
Equação 2.

2P
t = (2)
 DH
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3.4 Ensaios de Caracterização do Solo porcentagem de finos. Para a análise sem o uso
de defloculante (def.) obteve-se um valor de 5
A caracterização do solo foi realizada por meio % de finos e para a análise com o uso de
dos ensaios de massa específica dos grãos, defloculante 11 % de finos.
segundo NBR 6508 (1984), análise
granulométrica, de acordo com a norma de Tabela 1. Composição Granulométrica do Solo Estudado.
ensaio NBR 7181 (2016), limite de liquidez Solo Argila Silte Areia Pedregulho
(%) (%) (%) (%)
(NBR 6459, 2016) e limite de plasticidade
Com 1 10 88 1
(NBR 7180, 2016).
Def.
Na determinação da curva granulométrica, a Sem 0 5 94 1
sedimentação foi realizada com e sem o uso de Def.
defloculante (Figura 6).
De acordo com Ramidan (2003), os solos
com maior capacidade de erosão são os que
apresentam predominância de silte, areia e
baixo teor de argila em sua composição. Vilar e
Prandi (1993) apud Santos (1997)
compartilham esta afirmação, pontuando que os
solos com maior potencial de erodibilidade são
os que apresentam um comportamento granular,
ou seja, partículas de areia ou silte e com pouca
argila. Portanto, por meio desta afirmação,
Figura 6. Ensaio de Análise Granulométrica por pode-se considerar o solo estudado com uma
Peneiramento e Sedimentação, Respectivamente. alta capacidade de erodibilidade.

4.1.3 Limites de Consistência


4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
O solo não apresentou plasticidade quando
4.1 Caracterização do Solo submetido aos diversos teores de umidade,
devido seu caráter arenoso, portanto foi
4.1.1 Massa Específica dos Grãos considerado não plástico (N.P.).
De acordo com este dado, pode-se afirmar
A massa específica dos grãos obtida, após a por meio dos critérios criados por Rego (1978)
média do resultado de quatro ensaios realizados, apud Araújo (2000) e Fácio (1991) que o solo
foi de 2,704 g/cm³. Esse valor é consistente apresenta uma baixíssima resistência à erosão,
quando comparado com o resultado da por ser classificado como não plástico e não
granulometria. possuir índice de plasticidade.

4.1.2 Análise Granulométrica 4.2 Ensaio de Desagregação

O solo selecionado é classificado como areia 4.2.1 Imersão Parcial


siltosa com baixo teor de argila, predominando
as frações de areia fina, conforme classificação Após 30 minutos com água no topo da pedra
da NBR 6502 (1995). porosa, a amostra permaneceu intacta, sem
Na Tabela 1, pode-se observar uma diferença nenhum sinal de desagregação por conta do
nos resultados da sedimentação com e sem o contato com a água, por meio da pedra porosa.
uso de defloculante ao que diz respeito a
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Após 15 min. com água a 1/3 da amostra


deu-se início à desagregação da amostra,
mesmo que suave. Foi possível notar tal
desagregação, mesmo não havendo nenhuma
grande modificação na amostra.
Após 15 min. com água a 2/3 da amostra foi
possível observar, além de uma desagregação
maior da amostra, modificações na estrutura da
mesma.
Após 24 horas de inundação, conforme
Figura 10. Ensaio de Desagregação por Imersão Total,
Figura 9, viu-se a desagregação quase total das
Amostras Após 24 Horas de Ensaio.
amostras, onde em uma das amostras, o
processo ocorreu mais severamente de baixo De acordo com Santos (1997) e Ramidan
para cima e na outra de cima para baixo. (2003), o ensaio de desagregação tem grande
representatividade, pois, por meio de
observações feitas em campo observou-se que
as amostra que sofrem maior desagregação de
solo durante o ensaio são realmente de áreas
mais erodidas em campo.

4.3 Ensaio de Absorção de Água e Perda de


Massa por Imersão

Figura 9. Ensaio de Desagregação por Imersão Parcial, 4.3.1 Absorção de Água


Amostras Após 24 Horas de Ensaio.
O gráfico da figura 11 representa a relação entre
4.2.2 Imersão Total a quantidade de água absorvida na área da
amostra pelo tempo em que esta absorção
Após inundação total, já era possível observar ocorreu. Portanto, foram absorvidos 19,8 g de
uma desagregação, mesmo que superficial nas água ou 1,51 cm³/cm² durante o período de
amostras. duração (24 horas) do ensaio.
Após 15 min. de inundação total notou-se
uma desagregação maior das amostras, onde a
estrutura das mesmas já havia sido bem
modificada.
Após 24 horas de inundação, conforme
Figura 10, viu-se a desagregação quase total em
uma das amostras e na outra observou-se que
sua estrutura permaneceu praticamente intacta.
Porém este fato ocorreu, provavelmente, devido
à presença de uma quantidade
consideravelmente grande de raízes encontradas
por toda a amostra. Figura 11. Volume de Água Absorvido Pela Amostra x
Raiz Quadrada do Tempo.

Menezes (2010) em seu estudo identificou


valores altos para o índice de absorção (Iabs),
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próximo do valor obtido neste trabalho, onde Tabela 2. Resultados do Ensaio de Compressão Diametral
este resultado é decorrente a alta condutividade D H Div σt Umidade
(mm) (mm) (kPa) (%)
hidráulica deste solo.
Umidific. 52,55 20,30 8 3,87 28
(1 e ½ ml)
4.3.2 Perda de Massa por Imersão Umidade 52,65 22,95 10 4,27 21
Natural
O valor médio da porcentagem de massa seca Seca por 52,70 23,45 21 8,77 7
24 horas
perdida em relação a massa seca inicial da
Seca por 52,55 24,35 47 18,97 3
amostra, foi de 16,94 %. Com isto, tem-se por 48 horas
meio da Equação 3, o valor do índice de
erodibilidade para o solo em questão.

Iabs 1,51
E52 = 52  52  4,64 (3)
P 16,94

Segundo Pejon (1992) apud Menezes (2010),


se E (índice de erodibilidade) < 1 o solo
apresenta alta erodibilidade, se E > 1 o solo é
considerado não erodível. Entretanto, este
índice não é considerado uma medida
quantitativa do potencial à erosão dos solos e
por isso que não é admitido maiores valores de
“E” para menor erodibilidade do solo.
Comparando os resultados obtidos neste Figura 12. Ensaio de Compressão Diametral, Ruptura da
trabalho com os resultados obtidos por Menezes Amostra Seca por 48 Horas.
(2010), nota-se que os dois apresentaram
comportamento igual, E > 1, resultado que é De acordo com Motta (2016), após analisar o
contraditório ao estado do solo em campo. solo residual jovem de Tinguá, observou-se que
Pejon (1992) apud Menezes (2010) atribui este com o acréscimo de sucção, ou seja, diminuição
fato a possível presença de matéria orgânica no do teor de umidade, a resistência a tração do
solo, que causa uma menor desagregação do solo saiu de 3 kPa para aproximadamente 21
solo por conta dos grumos de solo que são kPa, onde o processo de secagem das amostras
formados em sua composição. Neste trabalho, proporcionou um ganho de resistência nas
porém, foi verificado uma quantidade elevada mesmas.
de raízes na amostra, o que provavelmente Conforme observado nos resultados obtidos
influenciou neste resultado. após a realização do ensaio de compressão
diametral no solo estudado, pode-se notar que
4.4 Ensaio de Compressão Diametral quanto maior a umidade o solo, menor sua
resistência à tração, o que é ratificado por meio
Por meio do ensaio de compressão diametral, dos resultados obtidos em Motta (2016).
conforme Figura 12, realizado em quatro Comparando os dados obtidos neste trabalho
amostras com umidades distintas com o auxílio com os dados de Santos (2006), é possível notar
de uma prensa com força de 0,809 N por uma compatibilidade nos resultados onde, a
divisão (div.), foram obtidos os seguintes resistência à tração do solo é baixa, ou seja, seu
resultados apresentados na Tabela 2. potencial de erodibilidade é alto e este
parâmetro diminui conforme ocorre um
aumento do teor de umidade do solo.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS em campo. Para umidade natural do solo, nas


amostras coletadas no mês de junho de 2017, a
A erosão tem causado inúmeros problemas, resistência à tração do solo foi muito baixa e a
referentes à destruição e desapropriação de área da erosão vista em campo retifica estes
moradias além de significativos impactos dados.
ambientais, devido principalmente à falta de Por meio deste trabalho, foi possível
conhecimento do estado do solo local. contribuir tecnicamente para entender o
Por meio deste trabalho foi possível realizar processo erosivo que ocorre próximo a
um estudo de caso para avaliar a capacidade de cachoeira da onça, do bairro do Gomeral,
erodibilidade de um solo específico do bairro do Guaratinguetá – SP.
Gomeral, no município de Guaratinguetá – SP.
Os ensaios para caracterização do solo
apresentaram resultados, onde por meio da AGRADECIMENTOS
granulometria foi possível classificar o solo
estudado conforme a ABNT e a SUCS, como Agradecemos o UNISAL – Campus Lorena e a
areia siltosa com baixo teor de argila, o que, de UNESP – Campus Guaratinguetá por todo
acordo com Vilar e Prandi (1993) apud Santos apoio dado na realização dos ensaios de
(1997) e Ramidan (2003) explica a alta laboratório.
capacidade de erodibilidade do solo. A falta de
plasticidade reafirmou, de acordo com Rego
(1978) apud Araújo (2000) e Fácio (1991), a REFERÊNCIAS
baixa resistência à erosão.
Por meio do ensaio de desagregação, ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.
concluiu-se, mesmo que qualitativamente, que o NBR 7181/2016 – Solo – Análise Granulométrica.
Rio de Janeiro.
solo estudado possui uma alta capacidade de ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.
erodibilidade, sendo interferida somente pela NBR 6459/2016 – Solo – Determinação do Limite de
quantidade de raízes encontradas em uma das Liquidez. Rio de Janeiro.
amostras na imersão total, demonstrando dados ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.
coniventes com a estrutura de solo vista em NBR 7180/2016 – Solo – Determinação do Limite de
Plasticidade. Rio de Janeiro.
campo. ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.
Para os ensaios de absorção de água e perda NBR 6508/1984 – Solo – Determinação da Massa
de massa por imersão, os resultados Específica. Rio de Janeiro.
apresentaram um alto índice de absorção de ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.
água e um índice de erodibilidade maior que 1, NBR 6502/1995 – Rochas e solos. Rio de Janeiro.
ARAÚJO, R. C. (2000). Pontíficia Universidade Católica
que é adotado para solos não erodíveis, sendo do Rio de Janeiro. Departamento de Engenharia Civil.
pertinente às informações obtidas por meio de Estudo da erodibilidade de solos da formação de
visitas a campo. Este fato pode ser explicado barreiras – RJ. Dissertação (Mestrado em Engenharia
por meio da grande quantidade de raízes Civil)-Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro, 169 p.
encontradas na amostra, principalmente nos
BASTOS, C.A.B. (1999). Estudo Geotécnico sobre a
ensaios de perda de massa por imersão, onde as erodibilidade de solos residuais no saturados. Tese
mesmas podem ter funcionado como um reforço de Doutorado em Engenharia, UFRGS. 269 p.
natural, agindo contra o desprendimento das BENESSIUTI, M. F. 2011. Estudo dos mecanismos de
partículas de solo. instabilidade em solos residuais de biotita-gnaisse da
bacia do ribeirão Guaratinguetá. 2011. Dissertação
No ensaio de compressão diametral foi
(mestrado) - Universidade Estadual Paulista,
possível concluir que, quanto maior o teor de Faculdade de Engenharia, 115 p.
umidade do solo, menor sua resistência à tração CAMAPUM, J. C.; Sales, M. M.; Souza, N. M.; Melo, M.
e consequentemente maior a erosão encontrada T. S. (2006). Processos Erosivos no Centro-Oeste
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FINATEC, 464 p. e Análise do Processo Evolutivo das Erosões no
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Dissertação (Mestrado em Geotecnia) - Universidade Engenharia Civil, Universidade de Brasília, Brasília,
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MOTTA, M. F. B. (2016). Caracterização físico-
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Mariana Ferreira Benessiuti Motta; orientadores:
Tácio Mauro Pereira de Campos, George de Paula
Bernardes, António Joaquim Pereira Viana da
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RAMIDAN, M. A. S. (2003) Estudo de um Processo de
Voçorocamento próximo a UHE de Itumbiara – GO.
Dissertação (mestrado) – Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro, Marco Antônio S.
Ramidan; orientadores: Tácio Mauro P. Campos;
coorientador: Franklin S. Antunes – Rio de Janeiro:
PUC, Departamento de Engenharia Civil, 242 p.
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Estudo da Infiltração em Camadas de Cobertura compostas com


Resíduos da Construção Civil
Lourdes Lina Padilla Martinez
Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) - PPGECEA, Feira de Santana-BA, Brasil,
lulimartp@gmail.com

Maria do Socorro Costa São Mateus


Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) - PPGECEA, Feira de Santana-BA, Brasil,
somateus@gmail.com

RESUMO: A possibilidade de utilizar o resíduo de construção civil (RCC), para construir camadas
de cobertura final de aterros sanitários oferece um ganho ambiental importante, devido à
transformação de um “resíduo em matéria prima”. Neste contexto, estudou-se um RCC gerado em
Feira de Santana-BA, subproduto de reformas e demolições com granulometria abaixo de 38mm,
porção que não possui aplicação para o Laboratorio de Materiais de construção da UEFS. Foram
realizados ensaios de caracterização, compactação Proctor Normal, permeabilidade, capacidade de
campo e curva de retenção de umidade. Para a infiltração de água, o RCC foi compactado em
colunas de garrafas PET, seguindo o indicado em Sousa (2012), e a frente de umedecimento foi
medida em função do tempo. A taxa de infiltração foi determinada, ajustando os dados medidos aos
modelos de infiltração de Green Ampt (1911), Kostiakov (1932), Horton (1940) e Philip (1955 e
1957b) e, comparada com os valores medidos nas colunas. Concluiu-se que a infiltração de água no
RCC foi melhor representada pelos modelos de Green Ampt (1911), Kostiakov (1932) e Philip
(1955 e 1957b).

PALAVRAS-CHAVE: Infiltração, Camada de Cobertura, Aterro Sanitário, Resíduo de Construção


Civil.

1 INTRODUÇÃO cobertura final em aterros de pequeno e médio


portes.
No âmbito mundial, o desenvolvimento Um dos principais objetivos de um sistema
populacional e tecnológico tem como uma de de cobertura final de aterro sanitário é controlar
suas consequências, o aumento na geração de ou impedir a infiltração de água de chuva, com
resíduos sólidos. Na América latina, a o propósito de reduzir a quantidade de liquidos
disposição desses resíduos no solo é ainda um lixiviados que poluem e têm efeitos prejudiciais
problema, sendo os aterros sanitários a forma de para o ambiente.
disposição final adequada mais utilizada até o Os objetivos adicionais das camadas de
momento. cobertura incluem controlar a liberação do
Os resíduos de construção civil (RCC) biogás do aterro e evitar o transporte dos
representam uma quantidade significativa dos resíduos leves pela ação do vento. Além disto, a
resíduos sólidos urbanos (RSU), e a sua geração cobertura final deve permanecer estável sob
está diretamente relacionada com o condições estáticas e sísmicas, minimizar a
desenvolvimento das cidades. O impacto deles manutenção a longo prazo, permitir a
leva à necessidade de reutilização. As reutilização do local do aterro e proporcionar
características geotécnicas do RCC oferecem a uma aparência estética.
possibilidade de uso como camadas de As camadas de cobertura final estão
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geralmente divididas, de acordo com o seu estudada neste trabalho corresponde ao resíduo
comportamento e reação frente à infiltração, em do RCC, com granulometría inferior a 38 mm,
convencionais e alternativas (AMORIM et al., contendo 46,9% de argamassa, 30,32% de
2008). cerâmica, 12,41% de rochas, 9,79% de concreto
Tradicionalmente, solos argilosos são (RIBEIRO, 2015). A fração retida na peneira de
utilizados para a confecção das camadas 38 mm tem em sua composição gravimetrica
convencionais de cobertura final de aterros 52,7% de argamassa, 25,6% de cerâmica,
sanitários, em climas úmidos e com elevadas 20,3% de concreto, 0,6% de rcocha (AMORIM,
precipitações pluviométricas. No entanto, em 2011).
climas áridos, as trincas causadas pelo O RCC foi espalhado em uma lona, para
ressecamento e retração desse tipo de solo secagem à sombra e homogeneização. Em
prejudicam o desempenho da cobertura seguida, foi quarteado de acordo com a NBR
(ZORNBERG et al., 2003). 6457 (ABNT, 1986).
As camadas alternativas são uma opção para Foram realizados ensaios de caracterização
o sistema de cobertura de aterros e dependem, geotécnica, para determinação das propriedades
diretamente, da quantificação dos processos físicas e hidráulicas do RCC, utilizando as
atmosféricos na superfície do terreno, que normas brasileiras aplicadas aos solos,
realizam o balanço hídrico. As coberturas conforme apresentadas na Tabela 1.
finais evapotranspirativas, também
denominadas de monocamadas, representam um Tabela 1. Ensaios geotécnicos realizados com o RCC
tipo de cobertura alternativa e estão baseadas na Ensaios Norma/Método
Massa especifica dos sólidos DNER - ME 93/94
capacidade de armazenamento de água do
Análise granulométrica conjunta NBR – 7181
material utilizado (solo ou resíduo), até que (ABNT, 1984)
naturalmente exista evaporação e/ou Compactação com energia NBR – 7182
transpiração. Proctor Normal (ABNT, 1986)
A EPA (2011) estabelece parâmetros para a Permeabilidade a carga constante NBR – 13292
(ABNT, 2000)
confecção de camadas evapotranspirativas,
Capacidade de Campo (para Método utilizado
onde recomenda não exceder 80% do valor da determinar a taxa de drenagem do por Lins (2003)
massa especifica seca obtida no ensaio de RCC)
compactação. Curva de retenção de umidade Sistema de medida
Nesse contexto, este artigo apresenta o de sucção
multifásica
estudo de laboratório da infiltração de água em
resíduos de construção civil (RCC), visando sua
utilização como camada evapotranspirativa. Após o quarteamento o RCC utilizado em
Para tanto, foram realizados ensaios cada ensaio foi preparado de acordo ao
geotécnicos e de infiltração, aplicando os estabelecido nas normas de cada ensaio, sem
modelos de infiltração empíricos de Kostiakov trituração e realizando apenas a destorroamento.
(1932) e Horton (1940) e, os modelos físicos de A massa especifica dos sólidos e o ensaio de
Green Ampt (1911) e Philip (1955 e 1957b). granulometria foram realizados para: o RCC
antes de ser submetido ao ensaio de
2 MATERIAIS E MÉTODOS compactação e após este ensaio (o qual foi
realizado com e sem substituição), com o
Os resíduos de construção civil (RCC) objetivo de verificar a ocorrência de quebra de
estudados são provenientes de reformas e grãos. Foram realizados dois ensaios de
demolições da cidade de Feira de Santana– BA, compactação com amostras diferentes, uma
coletado anteriormente e encontra-se com substituição e a outra sem substituição
armazenado em baias do Laboratório de seguindo as recomendações indicadas na NBR
Materiais de Construção – UEFS. A fração 6457 (ABNT, 1986).
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Para a primeira amostra utilizada no ensaio umedecimento em função do tempo e coletou-


de compactação, o RCC foi passado na peneira se o volume de água na base de cada coluna.
no 4, sendo que a fração que passou (67,4%) foi Ao final do ensaio, as colunas foram
submetida ao ensaio. A fração retida na peneira desmontadas para coleta das amostras de RCC,
no 4 (32,6%) não foi substituída. Neste caso foi ao longo da profundidade e, determinação do
identificado como RCC (s/subst.). teor de umidade correspondente.
Uma segunda amostra de RCC foi preparada Para a confecção dos tubos de Mariotte,
para o ensaio de compactação. Neste caso, foram utilizados garrafões de água de 20L,
realizou-se a substituição. Os 32,6% que conectados a cada coluna de forma isolada e,
ficaram retidos na peneira no 4 foram para o controle do fluxo, foram colocados
substituídos, conforme a NBR 6457 (ABNT, registros. A Figura 1 apresenta o equipamento
1986). Esta segunda amostra foi denominada montado.
RCC (c/subst.).
Após os ambos ensaios, determinou-se a
massa especifica dos sólidos e a granulometria.
O ensaio de infiltração adotou o método
utilizado por De Oliveira (2015), que realizou
seus experimentos a partir dos arranjos
propostos por Libardi (2005).
Para o ensaio de infiltração deste trabalho, o
RCC utilizado foi o que passou na peneira no 4
(sem substituição), o RCC foi compactado em
três colunas (com 1,2m de altura),
confeccionadas com garrafas PET, de acordo
com Sousa (2012).
Ainda adotando o procedimento de Sousa
(2012), o RCC foi colocado em camadas de
4mm cada, realizando compactação estática,
por meio de um soquete de 4,5 kg, até
completar 1,0m de altura de RCC, equivalente à
espessura recomendada para uma camada de
cobertura final tipo evapotranspirativa.
Para o preenchimento das colunas, as
amostras de RCC foram umedecidas, pesadas e Figura 1. Equipamento montado, baseado em Sousa
colocadas em sacolas plásticas, para evitar a (2012)
perda de umidade e, para permitir que fosse
possível compactar as três colunas Para controlar a espessura da lâmina de água
simultaneamente. no topo, foram confeccionados anéis de garrafa
A quantidade de RCC por camada foi PET, que foram cravados no topo das colunas
calculada, considerando peso específico seco de RCC, preenchidos com uma camada de 1 cm
(γd) igual a 14,71 kN/m3, correspondente a de pedrisco, visando distribuição uniforme da
80% do valor máximo obtido no ensaio de lâmina de água. A altura da lâmina de água foi
compactação (EPA, 2011), e uma umidade de de 4,0cm para a coluna G-1 e 3,0cm para as
7%. colunas G-2 e G-3. Para evitar fluxo lateral, as
Para alimentar as colunas, durante o ensaio paredes internas das colunas foram revestidas
de infiltração, utilizou-se garrafa de Mariotte, com uma camada fina de vaselina.
garantindo lâmina constante de 3cm de água no O registro de dados (tempo x avanço da
topo. Mediu-se o avanço da frente de frente de umedecimento) foi realizado até o
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escoamento de água na base, que ocorreu após Tabela 2. Resultados da caracterização geotécnica do
cerca de 15 minutos do início da infiltração, RCC
Ensaios RCC RCC RCC
momento em que se mediu o volume de água (s/ (c/ subst)
percolada. Neste momento, interrompeu-se a subst)
alimentação de água no topo das colunas. Peso especifico 25,4 25,70 25,88
Quando as colunas foram desmontadas, ao dos sólidos
final do ensaio, coletou-se 13 amostras, para a (kN/m3)
determinação do teor de umidade nas mesmas Classificação Areia Areia Areia
granulométrica pedregulhos com pedregulhos
profundidades de medição do avanço da frente - análise a c/vestígios pouca a c/vestígios
de umedecimento, em função do tempo. granulométrica de argila argila e de argila e
Na Figura 2 está a sequência do ensaio, com conjunta vestígio silte
a abertura do registro, e o avanço da frente de s de silte
umedecimento. Compactação ωot = ωot = 11,30
com energia 10,70 γdmáx= 18,38
Proctor γdmáx= kN/m3
Normal 18,24
kN/m3
Permeabilidade 1,67x10-2 - -
a carga Compactado
constante sem
(cm*s-1) substituição
Capacidade de 5,37 - -
campo - taxa (wcc = 10%)
de drenagem Compactado
CC (g/dia) sem
substituição
RCC = Resíduo de construção civil para caracterização
Figura 2. Sequência do ensaio de infiltração no RCC geotécnica
RCC (s/ subst): RCC sem substituição; ou seja, compactação
com 100% do material que passa na peneira no4. Resultado após
O avanço da frente de umedecimento foi ensaio de compactação.
medido em duas posições diametralmente RCC (c/ subst.): RCC que recebeu a substituição dos 32,6% que
ficaram retidos na peneira no 4 conforme NBR 6457 (ABNT,
opostas em cada coluna, denominadas F.1 e F.2, 1986). Resultado apos ensaio de compactação.
e calculada a média. Neste trabalho estão
apresentados os avanços da F.1. O peso especifico dos sólidos obtidos nas
Para este trabalho foi realizado o ajuste dos três amostras não apresentaram alterações
dados experimentais obtidos a os modelos significativas, obtendo-se uma média de 25,81
empíricos de infiltração, Kostiakov (1932), kN/m3 com um coeficiente de variação de
Horton (1940) e físicos, Green Ampt (1911) e 0,37%. Os valores obtidos são característicos de
Philip (1955 e 1957b). material com predominância de fração grossa.
Inicialmente os dados foram ajustados aos A classificação granulométrica mostrou que
modelos empíricos, gerando-se perfis de taxa de a compactação promoveu a quebra de grãos de
infiltração para cada modelo. pedregulho, no entanto não houve alteração
Para o ajuste dos dados experimentais aos substancial na classificação do RCC.
modelos físicos de infiltração, neste trabalho foi O ensaio de compactação com energia
realizada a troca de variáveis e regressão linear. Proctor normal apresentou valores próximos,
com e sem substituição de material.
3 RESULTADOS OBTIDOS O valor obtido no ensaio de permeabilidade
corresponde a um material com predominancia
Os resultados da caracterização do RCC são da fração grossa.
apresentados na tabela 2.
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O ensaio de capacidade de campo apresentou Figura 4. Taxa de infiltração medida na F. 1 da coluna


uma perda de umidade correspondente a 15,44 G–2 e ajuste pelos modelos de Kostiakov (1932), Horton
(1940), Green Ampt (1911) e Philip (1955 e 1957b)
g/dia nos primeiros 8 dias e de. 5,37 g/dia nos
119 dias restantes A umidade volumétrica para
a capacidade de campo foi 36,51% e a umidade
gravimétrica foi de 24,29%.
Estes valores ficaram próximos, quando
comparados com os resultados, obtidos a partir
da curva de retenção de umidade (CRU), para o
intervalo de sucção entre 0 a 37 kPa: umidade
volumétrica encontrada para a capacidade de
campo foi igual a 34,96% e a umidade
gravimétrica foi de 22,52%.
Para o ensaio de infiltração, o
comportamento da frente de umedecimento foi
similar em todas as colunas conforme
apresentado nas Figuras 3, 4 e 5, com o ajuste Figura 5. Taxa de infiltração medida na F. 1 da coluna
de cada modelo de infiltração estudado. G–3 e ajuste pelos modelos de Kostiakov (1932), Horton
(1940), Green Ampt (1911) e Philip (1955 e 1957b)

Dentre os dois modelos empiricos testados,


o modelo de Kostiakov (1932) apresenta um
melhor ajuste, representando de forma coerente
todo o processo de infiltração.
No caso dos modelos físicos, Green Ampt
(1911) e Philip (1955 e 1957b) descreveram
todo o processo de infiltração, ficando muito
próximos entre eles.
O ajuste desses modelos ainda será
verificado, com os dados que serão obtidos do
Figura 3. Taxa de infiltração medida na F. 1 da coluna ensaio para determinação da curva de retenção
G–1 e ajuste pelos modelos de Kostiakov (1932), Horton
de umidade do RCC. Também foram obtidos os
(1940), Green Ampt (1911) e Philip (1955 e 1957b)
perfis do teor de umidade ao longo das colunas.
O tempo necessário para a frente de
umedecimentopercorrer 1m nas colunas foi
variavel, sendo 37 min, 29 min e 47 min
respetivamente.

4 CONCLUSÕES

De formal geral o RCC é um material bastante


heterogêneo, contendo principalmente restos de
concreto, cerâmica e argamassa.
O processo de infiltração nas colunas de
RCC estudadas, foi bem representado pelo
modelo empirico de Kostiakov (1932) e pelos
modelos físicos de Green Ampt (1911) e Philip
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(1955 e 1957b), sendo este ultimo o que melhor Damasceno, L. A. G. Estudo das propriedades
representa a infiltração em tempos curtos. hidráulicas do RCD (resíduos de construção e
demolição) para aplicação em coberturas de aterros
O RCC estudado, testado com 80% de grau de RSU (resíduos sólidos urbanos). Relatório de
de compactação na energia Proctor normal, Iniciação científica - FAPESB/ UEFS. Feira de
apresentou elevada infiltração para lâminas de Santana, 2013.
água correspondentes a 30mm e 40mm. É De Oliveira, V. B., Avaliação da Infiltração da água no
necessario avaliar a infiltração para precipitação solo utilizando modelos determinísticos. Dissertação
(Mestrado em Ciências) Universidade de São Paulo,
pluviometrica menor e que represente regioes Piracicaba. 67 p. 2015.
semi-aridas, para as quais aas coberturas Departamento Nacional De Estradas De Rodagem –
evapotranspirativas são indicadas. DNER ME – 93/94 “Solos – Determinação da
Para confirmar a possibilidade de uso do Densidade Real – Método de ensaio”.
RCC na confeção de camadas Enviromental Protection Agency EPA, Fact Sheet on
Evapotranspiration Cover Systems for Waste
evapotranspirativas, para aterros d epequeno Containment, February, 2011.
porte, está em andamento a verificação da Libardi, P. L., Dinâmica da Água no Solo Vol. 61.
capacidade de armazenamento e o balanco Edusp, 2005.
hidrico para complementar os resultados Lins, E. A. M. A utilização da capacidade de campo na
apresentados neste artigo. O RCC, em estimativa do percolado gerado no aterro da
Muribeca. Dissertação (mestrado) - Universidade
principio, apresenta-se como uma alternativa ao
Federal de Pernambuco -Programa de Pós-Graduação
uso do solo, pasando de “resíduo a matéria- em Engenharia Civil. Recife, 2003.
prima alternativa”. Ribeiro, R. C. Estudo da capacidade de campo do RCD
(resíduo de construção e demolição) para utilização
em camada de cobertura de aterro de RSU. Relatório
de Iniciação científica - PROBIC/ UEFS. Feira de
REFERÊNCIAS
Santana, 2014
São Mateus, M.S. C., Proposta de Modelo para
Amorim, N.R.; Azevedo, R.F.; Ferreira, O.; Ribeiro, Avaliação do Balanço Hídrico de Aterros de
A.G.C. Experimento para a determinação do Resíduos Sólidos Urbanos: Estudo de Caso do Aterro
desempenho de sistemas de cobertura no campo. Metropolitano Centro de Salvador-BA. Tese
Geoestrutural Consultoria e Projetos Ltda. Belo (Doutorado em ciências em Engenharia Civil)
Horizonte. Minas Gerais, 2008. COPPE- UFRJ, Rio de Janeiro. 312 p. 2008.
Associação Brasileira De Normas Técnicas - ABNT. Sousa, R. P; Estudos dos fluxos de óleo diesel e água em
NBR 6508: Grãos de solos que passam na peneira de solos não saturados: desenvolvimento experimental e
4,8 mm: Determinação da massa específica. Rio de modelagem matemática. Tese de doutorado
Janeiro, 1984. apresentada ao Programa de Pós- Graduação em
______________. NBR. 6457, Amostras de solo- Engenharia Industrial da Universidade Federal da
Preparação para ensaios de compactação e ensaios Bahia. 2012.
de caracterização. Rio de Janeiro, 1986. Zornberg, J. G.; Lafountain, L.; Caldwell, J. A. Analysis
______________. NBR 7181: Solo – Análise and design of evapotranspirative cover for hazardous
granulométrica. Rio de Janeiro, 1984. waste landfill. Journal of Geotechnical and
______________. NBR 7182: Solo - Ensaio de Geoenvironmental Engineering, v. 129, n. 5, p. 427-
compactação. Rio de Janeiro, 1986. 438, 2003.
______________. NBR - 13292: Solo - Determinação do Zornberg J. G.; Mccartney J. S. Evapotranspirative
coeficiente de permeabilidade de solos granulares à Cover Systems for Waste containment. In: DELLEUR
carga constante - Método de ensaio. Rio de Janeiro, J. W. The Handbook of groundwater Engineering 2da
1995. Edição. CRC Press. 34-1 – 34-31 P. 2006. eBook
______________. NBR 15114 - Resíduos sólidos da ISBN: 978-1-4200-0600-1 DOI:
construção civil e resíduos inertes. Áreas de 10.1201/9781420006001.ch34
reciclagem. Diretrizes para projeto, implantação e
operação. Rio de Janeiro, 2004d.
Cecílio, R. A. Modelagem da infiltração da água no solo
fundamentada na equação de Green-Ampt-Mein-
Larson. Tese (Doutorado) Universidade federal de
Viçosa, Minas Gerais. 151 p. 2005.
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Estudo Da Resistência Mecânica De Tijolos Solo-Cal


Incorporados Com Resíduos Industriais
Wily Santos Machado
Universidade Federal de Campina Grande, Pombal, Brasil, wilysantos1997.ws@gmail.com

Jonatas Kennedy Silva de Medeiros


Universidade Federal de Campina Grande, Pombal, Brasil, jonataskennedy@hotmail.com

Damares de Sá Ramalho Neta


Universidade Federal de Campina Grande, Pombal, Brasil, damaresramalhon@gmail.com

Palloma Karolayne Santos Oliveira


Universidade Federal de Campina Grande, Pombal, Brasil, pkarolayne_@hotmail.com

Nayla Kelly Antunes de Oliveira


Universidade Federal de Campina Grande, Pombal, Brasil, nayla-oliveiira@hotmail.com

Raquel Ferreira do Nascimento


Universidade Federal de Campina Grande, Pombal, Brasil, raquelfn96@hotmail.com

Suélen Silva Figueiredo


Universidade Federal de Campina Grande, Pombal, Brasil, suelen.figueiredo@ufcg.edu.br

Larissa Santana Batista


Universidade Federal de Campina Grande, Pombal, Brasil, larisantanabatista@gmail.com

RESUMO: A mineração desempenha um importante papel no setor econômico brasileiro,


entretanto, em seus processos de beneficiamento de minerais geram uma enorme quantidade de
resíduos, provocando graves impactos ambienais. Nesta pesquisa avaliou-se a resistência mecânica
e absorção de água em tijolos solo-cal integrados com resíduos da fabricação da cerâmica vermelha,
beneficiamento de caulim e rochas ornamentais. Os materiais foram caracterizados através de
análise granulométrica, química e térmica. Posteriormente foram moldados os corpos de prova para
os ensaios mecânicos variando de acordo com o tipo e a quantidade de resíduos, substituindo
parcialmente a cal. Em seguida realizou-se ensaios de absorção de água e compressão simples. Por
fim, avaliou-se que o tijolo solo-cal com incorporação de 15% de resíduo apresentou os melhores
resultados, tendo um destaque para a elevação da sua resistência mecânica, resultando assim em um
ponto positivo de sustentabilidade, devido a substituição parcial da cal e o aproveitamento do
resíduo.

PALAVRAS-CHAVE: Solo, Cal, Resíduo.


O Brasil está inserido em um contexto de forte
atividade de extração e beneficiamento de
1 INTRODUÇÃO minerais, gerando muitos resíduos durante estes
processos, principalmente no que se diz respeito
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às rochas ornamentais, cerâmica vermelha e utilização de aterros e provocando uma série de


caulim, os quais, em sua grande maioria, são danos ao meio ambiente e à saúde da população
depositados sem controle, ocasionando residente nas regiões circunvizinhas aos
acidentes e graves impactos ambientais. “depósitos” de resíduos. (SILVA et al., 2016)
A produção mundial de rochas ornamentais Diante do volume significativo de resíduo
passou de 1,5 milhão de t/ano, na década de 20 gerado anualmente pelas indústrias, estabelecer
do século passado, para 130 milhões de uma destinação adequada tem-se tornado um
toneladas em 2013, correspondentes a cerca de grande desafio. Desta forma está crescendo o
48 milhões de metros cúbicos ou 1,42 bilhões número de pesquisas nesta temática, com o
de metros quadrados equivalentes às chapas objetivo de estudar novas aplicabilidades para
com dois centímetros de espessura (SANTOS, rejeitos na fabricação de materiais de
2016). construção alternativos.
Segundo Campos et al., (2014) ao considerar Portanto, estes resíduos industriais podem
todo o processo de transformação que as rochas causar danos irreversíveis ao meio ambiente,
ornamentais passam, as perdas de matéria prima sendo assim os tijolos ecológicos ganham
podem chegar a 80%. espaço nessa temática por não agredirem o
Vale ressaltar que, os resíduos de rochas ambiente em seu processo de fabricação. Além
ornamentais podem causar impactos sobre o disso, ainda permitem a incorporação à sua
meio ambiente (água, ar e solo) e diretamente matriz de resíduos, que podem melhorar suas
ao ser humano como a silicose. (MELLO, propriedades.
2004). Tendo em vista esta problemática, esta
Segundo a Anicer – Associação Nacional da pesquisa consiste em avaliar a resistência
Indústria Cerâmica (2018), a cerâmica vermelha mecânica e absorção de água em tijolos solo-cal
representa cerca de 90% das alvenarias e incorporados com resíduos industriais, bem
coberturas construídas no Brasil, sendo seu como a caracterização dos mesmos.
setor cerca de 4,8% da indústria da construção
civil, atingindo um faturamento anual de R$ 18
bilhões. 2 METODOLOGIA
Embora a indústria da cerâmica vermelha
tenha avançado significativamente, as perdas 2.1 Materiais
em seu processo produtivo ainda são os seus
maiores entraves. Segundo Garcia et al., (2015) Os materiais utilizados nesta pesquisa foram:
estima-se que as perdas nos produtos acabados solo argiloso, cal calcítica hidratada, resíduo de
se encontram na faixa de 3% a 5%, rochas ornamentais (RO), resíduo cerâmico
representando cerca de 1,3 milhões de toneladas (RCV) decorrente de quebra das peças e falhas
ao ano de cacos cerâmicos. Vale salientar que de processamento, resíduos de caulim (RC),
este índice de perda do setor da cerâmica tanto a fração grossa (RCG) como a fração fina
vermelha, depende da matéria prima utilizada, (RCF).
do nível de tecnologia empregado em cada O solo utilizado foi seco ao ar, destorroado e
região, da qualidade da mão de obra, entre passado na peneira em peneira ABNT nº 4
outros, podendo chegar até 30%. (4,8mm). O RO foi beneficiado em um moinho
Por outro lado, a extração e o beneficiamento de bolas, enquanto que os RCV, RCG e RCF
do caulim produzem uma enorme quantidade de foram beneficiados em um moinho de galga.
resíduos, estimada em torno de 80 a 90% do Foram passados em peneira ABNT nº 200
volume bruto explorado. Esses resíduos são, em (0,074mm), para a obtenção de uma
geral, descartados indiscriminadamente em granulometria equivalente a cal.
campo aberto, desprezando-se as exigências de
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2.2 Caracterização Física sem adição de resíduo.


Todos os corpos de prova foram
Para efetuar a caracterização física da fração moldados de acordo com a norma ABNT NBR
fina das matérias primas, realizou-se a análise 12024/12. Após a moldagem os mesmos foram
granulométrica por difração a laser em um submetidos ao processo de cura úmida com
equipamento modelo 1064 da CILAS, já para a períodos de cura de 28, 60 e 90 dias. Por fim,
caracterização física do solo, fez-se também a foram realizados ensaios de absorção de água e
análise granulométrica por peneiramento de resistência a compressão simples.
acordo com a norma ABNT NBR 7118/88.
Os limites de Atterberg do solo, foram
determinados de acordo com as metodologias 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
propostas pelas normas ABNT NBR 6459/88 e
NBR 7180/88. 3.1 Caracterização física

2.3 Caracterização Química Mineralógica Para verificar a viabilidade de utilizalção deste


solo em tijolos solo-cal, realizou-se o ensaio de
Para a determinação da composição química peneiramento, obtendo como resultado 36,74%
dos materiais, utilizou-se a espectrometria de de massa acumulada passante na peneira ABNT
fluorescência de raios X, em equipamento EDX Nº 200 e 100% na peneira ABNT Nº 4. Logo,
700 da marca Shimadzu. estes resultados estão de acordo com a norma
Para a identificação das fases ABNT NBR 10833/13, que estabelece uma
mineralógicas dos materiais, o equipamento porcentagem passante na peneira ABNT Nº 4 de
utilizado foi o Difratômetro SHIMADZU XRD- 100% e na peneira ABNT Nº 200 de 10% a
6000. 50%.
A seguir estão apresentadas as curvas de
2.4 Análise Térmica Diferencial e distribuição granulométrica por difração a laser
Termogravimétrica da fração fina das matérias primas: solo, cal,
RO, RCV, RCF e RCG.
No ensaio térmico, foi utilizado um De acordo com a Figura 1 observa-se que o
equipamento da BP Engenharia, com razão de solo apresenta comportamento monomodal,
aquecimento de 12,5°C/min. A temperatura com diâmetro médio de 32,70μm.
máxima nas análises foi de 1000°C e o padrão
utilizado na análise termodiferencial (ATD) foi
o óxido de alumínio (Al2O3) calcinado.

2.5 Moldagem dos Corpos de Prova e Ensaios


Mecânicos

O traço utilizado para a confecção dos corpos


de prova foi de 1:10 (cal + resíduo:solo), sendo
o fator de água/aglomerante de 1,98 ± 2%,
variando de acordo com o tipo e a quantidade
de resíduo incorporado. Foram moldados corpos Figura 1. Distribuição de tamanho de partículas do solo.
de prova com incorporação de 15%, 30% e 50%
de RO, RCV e RC (50% RCF + 50% RCG), Analisando a Figura 2 observa-se que a curva
substituindo a parte do aglomerante (cal). da cal apresenta comportamento na faixa
Confeccionou-se corpos de prova de referência, monomodal, com diâmetro médio de 8,98μm,
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concentrando as partículas em torno dos 2-60


µm.

Figura 4. Distribuição de tamanho de partículas do


resíduo de caulim fino.
Figura 2. Distribuição de tamanho de partículas da cal
Carbomil. De acordo com a Figura 5 e 6 observa-se que
a curva do RO apresenta comportamento na
Observando as Figuras 3 e 4 percebe-se que faixa monomodal, assim como a curva do RCV,
as curvas apresentam comportamento na faixa sendo semelhante ao comportamento da curva
monomodal, o RCG com diâmetro médio de da cal, o que se tornam favoráveis à substituição
35,36μm e o RCF com diâmetro médio de parcial da cal.
31,71μm. As duas curvas apresentaram uma
grande concentração das partículas em torno
dos 50-60 µm. Apesar dos resíduos do caulim
apresentarem um diâmetro médio e
concentração das partículas um pouco diferentes
da cal, não podemos descartá-lo como uma
substituição favorável, pois o mesmo ainda será
calcinado e assim favorecerá as ligações
químicas dos mesmos independente dos
tamanhos das suas partículas.

Figura 5. Distribuição de tamanho de partículas do


resíduo de rochas ornamentais.

Figura 3. Distribuição de tamanho de partículas do


resíduo de caulim grosso.

Figura 6. Distribuição de tamanho de partículas do


resíduo de cerâmico.
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3.2 Limites de Atterberg, e Classificação do Na2O Ausente Ausente 2,58


Solo Outros Óxidos 0,36 0,04 0,84

Perda ao Fogo 12,04 25,33 0,73


A partir dos valores contidos na Tabela 1,
verifica-se um potencial favorável deste solo na
confecção de tijolos solo-cimento, pois o Na composição química da cal verifica-se
mesmo apresenta um limite de liquidez inferior um elevado teor de óxido de cálcio (CaO) de
a 45% e um índice de plasticidade inferior a 69,79% e baixo teor de óxido de magnésio
18%, sendo estes valores limites estabelecidos (MgO) de 1,81%. De acordo com essa
pela norma ABNT NBR 10833/13. composição, a cal utilizada nessa pesquisa
classifica-se como cal calcítica. No qual é
Tabela 1. Limites de Atterberg indicada como aglomerante mineral.
Material LL(%) LP(%) IP(%) Nos resultados apresentados para a
composição química do RO verificou-se
Solo 26,6 18,5 8,1
elevado teor de dióxido de silício (SiO2) de
49,03%. Além disto, apresenta teor de SO3 de
Conforme os resultados da análise 0,37% e uma perda ao fogo de 0,73%.
granulométrica e limites de Atterberg o solo foi Na tabela 3 analisa-se que a composição
classificado como SC: areia argilosa e mistura química do RCV tem elevado teor de dióxido
de areia e argila mal graduada, de acordo com a de silício (SiO2) de 51,24% e uma perda ao fogo
Classificação Unificada dos Solos (The Unified de 1.44%. O RCF tem elevado teor de dióxido
Soil Classification System – USCS). de silício (SiO2) de 45,29% e baixo teor de
óxido de ferro (Fe2O3) de 0,34%, assim como o
3.3 Análise Química RCG que apresenta elevado teor de dióxido de
silício (SiO2) de 46,90% e baixo teor de óxido
Na análise química pode-se observar, conforme de ferro (Fe2O3) de 0,43%.
a Tabela 2, que o solo apresenta elevados teores Tendo em vista que esses óxidos
de sílica e alumina correspondendo a 45,19% e representam mais de 50% da composição
31,24% respectivamente, provenientes da fração química do resíduo e apresentam teor de SO3 de
argilosa, feldspato e sílica livre. Observa-se inferior a 5%, de acordo com a norma ABNT
também a presença do óxido de ferro NBR 12653/15 e ASTM C 618/08, esses
correspondendo a 5,88%, esse óxido é o materiais possuem requisitos químicos
responsável por conferir cor avermelhada ao favoráveis à atividade pozolânica, promovendo
solo. uma maior união entre as partículas, com isso
possivelmente poderá atingir elevadas
Tabela 2. Composição química dos materiais estudados
Componentes Solo Cal RO
resistências mecânicas.
(%) .
1,57 49,03 Tabela 3. Composição química dos materiais estudados
SiO2 45,19
Componentes RCV RCF RCG
Al2O3 31,24 0,87 18,38 (%)
0,32 3,38 SiO2 51,24 45,29 46,90
K2O 3,71
1,81 4,08 Al2O3 26,09 38,82 38,05
MgO 0,73
0,27 12,38 K2O 3,76 0,69 1,23
Fe2O3 5,88
69,79 6,28 MgO 3,17 0,95 0,88
CaO 0,32
Ausente 0,37 Fe2O3 9,67 0,34 0,43
SO3 0,09
Ausente 1,95 CaO 1,72 Ausente Ausente
TiO2 0,44
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SO3 Ausente Ausente Ausente De acordo com a Figura 9 e 10 referentes aos


TiO2 0,97 Ausente 0,09 difratogramas do RO e RCV, respectivamente,
percebe-se a presença das seguintes fases
Na2O 0,97 Ausente Ausente
mineralógicas: mica, feldspato potássio,
Outros Óxidos 0,97 0,17 0,09 feldspato sódico e quartzo. Verifica-se também
Perda ao Fogo 1,44 13,74 12,33 a presença de óxido de ferro (Fe2O3)
proveniente da granalha de ferro na serragem
3.4 Difração de Raios X das rochas. Logo, os resultados do solo, cal e
RO, estão de acordo com a composição química
A seguir encontram-se os difratogramas do solo, apresentada na Tabela 2.
da cal, do RO, do RCV, do RCF e do RCG.
Observando a Figura 7 verifica-se que o
solo apresentou as seguintes fases
mineralógicas: caulinita, quartzo, calcita e
menor quantidade de mica.

Figura 9. Difração de raios X de rochas ornamentais.

Figura 7. Difração de raios X do solo.

Analisando a Figura 8 verifica-se que a cal


apresentou as seguintes fases mineralógicas:
portlandita e calcita.

Figura 10. Difração de raios X do resíduo cerâmico.

Analisando a Figura 11 e 12 referentes aos


difratogramas do RCF e do RCG,
respectivamente, verifica-se a presença das
seguintes fases mineralógicas: mica, caulinita e
quartzo. Logo, os resultados do RCV, RCF e
RCG, estão de acordo com a composição
química apresentada no Tabela 3.
Figura 8. Difração de raios X da cal.
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Figura 13. Análise termogravimétrica e termodiferencial


do solo
Figura 11. Difração de raios X do resíduo de caulim fino.
Conforme a Figura 14, percebe-se que a
amostra da cal apresentou pico endotérmico de
grande intensidade a 564,64ºC correspondente a
presença do hidróxido de cálcio e de pequena
intensidade a 786,63ºC correspondente a
presença do carbonato de cálcio. Nesta curva
observa-se que houve perda de massa total de
26% correspondendo as perdas de massa do
hidróxido de cálcio e da calcita.

Figura 12. Difração de raios X do resíduo de caulim


grosso.

3.5 Análise Térmica diferencial e


Termogravimétrica

Nas Figuras 13, 14, 15, 16, 17 e 18 encontram-


se as curvas das análises termodiferenciais e
termogravimétricas do solo, da cal, do RO, do
RCV, do RCF e do RCG estudados. Estas Figura 14. Análise termogravimétrica e termodiferencial
análises serviram para confirmar as análises da cal
químicas realizadas anteriormente, através dos
picos de temperatura e ainda também expressam A partir da Figura 15, observa-se que a
a perda de massa de cada material quando amostra do RO apresentou pico endotérmico a
elevado a 1000°C. 100ºC caracterizando a presença de água livre e
De acordo a Figura 13, verifica-se que a pico endotérmico presente entre 660°C e 760°C
amostra do solo apresentou pico endotérmico a corresponde provavelmente à perda de
100,89ºC caracterizando a presença de água hidroxilas da mica. Tem-se uma perda de massa
livre e adsorvida. Observou-se uma perda de de 0,99% e posteriormente observa-se que ouve
massa total de 13% correspondendo a perda de um pequeno ganho de massa de 0,08%,
água livre e adsorvida e a perda de massa da provavelmente devido às reações ocorridas
caulinita. entre o material e o ar circundante.
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provavelmente a perda das hidroxilas presente


na caulinita; e pico exotérmico na temperatura
de 988ºC e 990ºC, respectivamente,
correspondente possivelmente a formação da
mulita. Para as análises termogravimétricas
percebem-se também comportamento
semelhante nas duas amostras, o RCF
apresentou uma perda de massa de 14,7% e o
RCG uma perda de 13%, correspondente à
perda de água livre e decomposição de algum
elemento presente nos materiais em pequena
Figura 15. Análise termogravimétrica e termodiferencial quantidade.
do resíduo de rochas ornamentais

Analisando a Figura 16, verifica-se através


da curva da análise termodiferencial do RCV
que a amostra apresentou pico endotérmico a
60ºC caracterizando a presença de água livre,
pico endotérmico presente em 285°C
corresponde provavelmente ao hidróxido de
alumínio, e pico endotérmico na temperatura de
660ºC correspondente possivelmente a quebra
da estrutura cristalina da mica residual. Para
análise termogravimétrica observa-se uma perda
Figura 17. Análise termogravimétrica e termodiferencial
de massa de 2,56% correspondente à perda de
do resíduo de caulim fino
água livre e decomposição de algum elemento
presente no material em pequena quantidade.

Figura 16. Análise termogravimétrica e termodiferencial Figura 18. Análise termogravimétrica e termodiferencial
do resíduo cerâmico do resíduo de caulim grosso

Através das curvas das análises 3.6 Ensaios Mecânicos


termodiferenciais do RCF e RCG presentes nas
figuras 17 e 18, verifica-se que as amostras A seguir os resultados obtidos para a resistência
apresentaram picos semelhantes: pico a compressão simples e absorção de água dos
endotérmico a 83ºC e 85ºC caracterizando a tijolos solo-cal incorporados com os resíduos:
presença de água livre; pico endotérmico RO, RCV, RCF e RCG.
presente em 495°C e 500ºC corresponde Analisando a Figura 19, 20 e 21, pode-se
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verificar que a resistência a compressão simples incorporado ao tijolo solo-cal, pois foi a que
(RCS) dos corpos de prova de tijolos solo-cal apresentou de uma forma geral os melhores
incorporados com RO, RCV e RC, atingiram resultados de resistência a compressão simples.
valores superiores ao exigido pela norma ABNT Dentre os três resíduos estudados, o resíduo do
NBR 8491/12, que é de 2,0Mpa. De maneira caulim apresentou os melhores resultados para
geral, a RCS foi decrescendo em relação à RCS, atingindo valores superiores a 7Mpa. Este
incorporação de resíduo e crescendo em relação resultado pode ser atribuido a capacidade do RC
à idade de cura. desenvolver uma elevada atividade pozolânica.

Figura 19. Resistência à compressão simples dos corpos


de prova solo-cal incorporados com resíduo de rochas Figura 22. Resistência à compressão simples dos corpos
ornamentais de prova solo-cal incorporados com 15% resíduo

Na Figura 23 verifica-se que os valores de


absorção de água dos corpos de prova foram
decrescendo em relação ao tempo de cura e
crescendo, de maneira geral, em relação à
incorporação de resíduo. No entanto, observa-se
que apenas a incorporação de 15% de RO, aos
90 dias de cura, apresentou absorção de água
inferior a 20%, que é o valor máximo
estabelecido pela ABNT NBR 8491/12.
Incorporações de 30% de RCV aos 90 dias de
Figura 20. Resistência à compressão simples dos corpos cura e 50% de RCV aos 28, 60 e 90 dias de
de prova solo-cal incorporados com resíduo cerâmico cura, apresentaram absorção de água superior a
20%, assim como as incorporações de 30% de
RC aos 28 e 60 dias de cura e 50% de RC aos
28, 60 e 90 dias de cura.

Figura 21. Resistência à compressão simples dos corpos


de prova solo-cal incorporados com resíduo de caulim

A Figura 22 apresenta uma comparação Figura 23. Absorção de água dos corpos de prova solo-cal
entre a composição de 15% de cada resíduo incorporados com resíduo de rochas ornamentais
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especificações, apenas para a composição com


incorporação de 15% de RCV aos 90 e 60 dias
de cura. Por fim, a absorção dos corpos de
prova incorporados com RC esteve dentro das
especificações, para a composição com
incorporação de 15% de RC em todas as idades
de cura e para a composição com incorporação
de 30% de RC aos 90 dias de cura.
Portanto, confirmou-se a relação
inversamente proporcional entre resistência e
absorção, visto que a diminuição da porosidade
Figura 24 Absorção de água dos corpos de prova solo-cal promove o preenchimento dos vazios e o
incorporados com resíduo cerâmico
aumento da resistência.

REFERÊNCIAS

Associação Nacional da Indústria Cerâmica [ANICER].


(2018). Informações técnicas – homepage.
Recuperado de http:// portal.anicer.com.br/setor.
CAMPOS, A. R. et al. Resíduos: tratamento e aplicações
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e CASTRO, N. F. Tecnologia de rochas ornamentais:
pesquisa, lavra e beneficiamento. Rio de Janeiro:
CETEM (Centro de Tecnologia Mineral) e MCTI
Figura 25. Absorção de água dos corpos de prova solo- (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação), 2014.
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GARGIA, E.; CABRAL JUNIOR, M. CHOTOLI, F. F.
Avaliação da atividade pozolânica dos resíduos de
4 CONCLUSÕES cerâmica vermelha produzidos nos principais polos
ceramistas do Estado de S. Paulo. In: Cerâmica,
2015.
A produção de tijolos solo-cal com a MELLO, I.S.C. A cadeia produtiva de rochas
incorporação de resíduos industriais, promove a ornamentais e para revestimento no Estado de São
sustentabilidade, pois anualmente toneladas de Paulo. São Paulo: Instituto de Pesquisas Tecnológicas
resíduos são despejadas no meio ambiente. de São Paulo S.A, 2004. p.129-152.
SANTOS, Jeferson dos. Caracterização de resíduos de
De acordo com os resultados obtidos, rochas ornamentais: aplicação de conceitos
conclui-se que o RO, RCV, o RC, a cal e o solo mecanoquímicos. 2016. 114 f. Dissertação (Mestrado)
apresentaram distribuição de tamanho das - Curso de Química, Universidade Estadual de
partículas e composição mineralógica adequada Campinas, Campinas, 2016. Disponível em:
à utilização em solo-cal. Em relação a RCS Os <http://repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/32
1843/1/Santos_Jefersondos_M.pdf>. Acesso em: 16
corpos de prova incorporados com 15% de abr. 2018.
resíduo apresentaram melhor desempenho SILVA, Rafael Vieira da et al. Resíduo de Caulim -
mecânico aos 90 dias de cura. Avaliação das Propriedades Química e
A absorção dos corpos de prova Mineralógicas. In: Congresso Nacional de Pesquisa e
incorporados com RO esteve dentro das Ensino em Ciências, 1., 2016, Campina
Grande. Anais... . Campina Grande: Realize, 2016.
especificações, apenas para a composição com Disponível em:
incorporação de 15% de RO aos 90 dias de <http://www.editorarealize.com.br/revistas/conapesc/t
cura. Já a absorção dos corpos de prova rabalhos/TRABALHO_EV058_MD1_SA82_ID1631
incorporados com RCV esteve dentro das _17052016232432.pdf>. Acesso em: 19 abr. 2018.
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Estudo da Sorção de Fósforo como Subsídio para a Disposição


Final de Efluente Doméstico Tratado no Solo
Hana Carolina Gomes e Souza
Universidade Federal do Tocantins, Palmas, Brasil, hanacarolinah@mail.uft.edu.br

Rose Mary Gondim Mendonça


Universidade Federal do Tocantins, Palmas, Brasil, rosemary@uft.edu.br

RESUMO: O presente estudo apresenta o comportamento de sorção do fósforo em solo tropical de


Palmas-TO, com fins de disposição final de esgoto tratado. Para tanto foi analisado latossolo
vermelho-amarelo representativo deste município que foi ensaiado de acordo com a metodologia
ASTM D 4646-03 e EPA (1992) que permitiram a obtenção da concentração de equilíbrio e a
sorção, tendo como foco que a maioria dos efluentes tratados secundariamente apresenta
concentração de fósforo da ordem de 10 mg/L. A isoterma de melhor ajuste foi tanto de Langmuir
como de Freundlich com correlação muito forte igual a 1,0. Considerando os valores da Isoterma de
Langmuir esse solo tem um coeficiente de distribuição de 458 mL/g, fator de retardamento de 1249
e suportaria uma disposição de 825 m3 de efluente por m3 de solo para atingir a capacidade limite de
sorção para a condição de equilíbrio de 10 mg/L.

PALAVRAS-CHAVE: Adsorção, Isotermas, Esgoto Tratado.

1 INTRODUÇÃO Nacional de Informações em Saneamento


(SNIS, 2016) apenas 45% do volume de esgoto
As ações de natureza sanitária no país gerado no Brasil passa por algum tratamento,
desenvolveram-se de acordo com a evolução da enquanto que os outros 55% são despejados
civilização e sobre influência de aspectos diretamente na natureza o que corresponde a cerca
econômicos, sociais, políticos e culturais. No 5,2 bilhões de metros cúbicos por ano, o que perfaz
que se refere ao saneamento no Brasil, podemos um índice abaixo do esperando do volume total
considerá-lo como uma das formas mais de esgoto doméstico gerado.
eficazes de promoção da saúde pública, Conforme os percentuais apresentados, no
entretanto, ainda é “precário” apesar dos Brasil, grande parte dos esgotos domésticos não
avanços significativos no setor e pela crescente é submetido a nenhum tipo de tratamento, e sua
demanda no atendimento a população por estes disposição nos corpos d’água e no solo é feita
serviços, pois grande parte ainda não possui de forma “in natura”, o que acarreta uma série
acesso ao mínimo do básico. de complicações ambientais. A utilização das
Aproximadamente 65% da população urbana fossas negras na grande maioria das casas
no país possui acesso ao saneamento básico localizadas nos centros urbanos e na zona rural,
(ABES, 2017). Apesar dos esforços nos últimos onde não existe qualquer sistema de
anos, existe ainda uma enorme desigualdade na saneamento, se traduz na disposição inadequada
oferta deste serviço no Brasil, como o que desses efluentes que com o tempo penetram no
acontece na região norte onde apenas 22,6% da solo, poluindo-o. Em algumas regiões com
população urbana tem acesso a serviços níveis freáticos superficiais, muitas das vezes
adequados de saneamento, enquanto que na são depositados quase que diretamente no
região sudeste esse percentual chega a 88,6% . aquífero, prática que acaba por ocasionar a
Segundo os dados apresentados pelo Sistema poluição das águas subterrâneas. Segundo
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Hirata e Ferreira (2001), os sistemas de funções atuar como um filtro, depurando os


saneamento “in situ” (fossas negras e sépticas) resíduos nele lançados, no entanto, a sua
são importantes fontes de contaminação das capacidade de depuração e imobilização de
águas subterrâneas, no qual mesmo quando bem poluentes pode ser alterada em função do efeito
construídas e operadas, acabam por gerar cumulativo da deposição dos diversos
elevadas cargas de nitrato capazes de elementos ainda presentes no efluente tratado,
contaminar os aquíferos, além de ser um tal como é observado nos locais de disposição
sistema de baixa remoção de organismos do efluente “in natura”. De acordo com Campos
patogênicos, o que de fato é considerado (1999) esta remoção se deve ao contato com a
bastante grave tendo em vista áreas densamente matriz do solo e à sua capacidade limite de
ocupadas, onde o abastecimento de água é sorção (capacidade do solo de reter moléculas).
realizado por poços. A migração destes compostos no solo sofre
Um outro ponto a ser considerado é com influência de vários fatores que podem
relação aos efluentes coletados e tratados. Pois determinar sua maior ou menor susceptibilidade
existe uma necessidade de se controlar as ao transporte de substâncias poluentes
descargas dos poluentes nos rios e (CASARINI et al., 2001).
consequentemente disponibilizar um melhor Embora os estudos do comportamento e
tratamento de esgoto. Para a remoção da carga atenuação de nutrientes já datem alguns anos
poluidora do efluente, uma estação de (ROBERTSON et al., 1991; WILHELM et al.,
tratamento abrange processos físicos, químicos 1994; HIRATA et al., 1996; RUDOLPH et al.,
e biológicos para que se possa atingir um 1997), trabalhos específicos a respeito da
tratamento eficiente e adequado. Em geral, as contaminação de aquíferos por esgoto
estações de tratamento de esgoto no Brasil, são doméstico, com programa de monitoramento
concebidas visando à disposição do efluente frequente, são raros no país (VARNIER e
final em corpos hídricos naturais, tornando a HIRATA, 2002).
escolha dos processos e parâmetros Nos Estados Unidos, existe legislação e
direcionados à capacidade de diluição e evidências de eutrofização de lagos
assimilação do corpo receptor (AMBRÓSIO, contaminados por aporte de água subterrânea
2015). com elevados níveis de fósforo em virtude da
Segundo Leite (2004) os padrões de migração do mesmo pela zona vadosa do solo
lançamento de efluentes existentes ainda se em regiões que receberam lançamento de
mostram ineficazes para alguns corpos hídricos esgoto (MEINIKMANN et al., 2015).
e, portanto, muitas vezes não possuem Em virtude do decréscimo da qualidade das
capacidade de transporte e diluição suficientes águas superficiais e do poder de autodepuração
para mitigar o impacto do lançamento das águas dos corpos hídricos receptores, tem sido forçado
residuárias. Isto leva ao acúmulo de cargas uma mudança na concepção da disposição dos
poluidoras que afetam as comunidades efluentes finais da estação de tratamento de
aquáticas diretamente, através de substâncias esgoto (ETE) dos corpos hídricos empregando o
tóxicas, ou indiretamente, alterando condições solo também como receptáculo. Contudo, esta
físico-químicas mínimas necessárias para as disposição deve ser discutida e regulamentada,
funções vitais dos seres vivos. E eventualmente, pois não existem padrões para lançamento de
um maior custo do tratamento da água a jusante. efluente de ETE no solo, bem como a
Sendo assim, um dos grandes desafios é buscar capacidade de suporte do sistema solo e seus
alternativas de tratamento que melhorem e limites de depuração são pouco conhecidos no
sejam eficientes, como é o caso do tratamento Brasil. Sendo assim, este trabalho visa verificar
terciário dos efluentes com a disposição no a capacidade suporte de solo tocantinense
solo. quanto a retenção de fósforo como subsídio a
O solo tem como uma das suas principais projeto de disposição final de efluente.
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2 MATERIAL E MÉTODOS remanescente foi acondicionada em potes de


polietileno, e analisada quanto à concentração
2.1 Coleta e Caracterização imediatamente e/ou refrigerada à
0
aproximadamente 4 C. Nos cálculos
A amostra composta de solo foi coletada com nessessários foi feita a correção do peso seco
auxílio de trado cavadeira (LEMOS E considerando a umidade higroscópica conforme
SANTOS, 1996), no município de Palmas, e se metodologia. Optou-se por realizar três
enquadra na classe Latossolos Vermelho- repetições.
Amarelo conforme descrito por Santos (2000), A concentração de soluto remanescente, ou
sendo a principal classe do município e a seja, do fósforo em solução foi obtida por meio
segunda mais abundate do Estado (EMBRAPA, da determinação colorimétrica pelo método do
1999). fosfomolibidato de amônio (EMBRAPA, 1997).
Posterior à coleta, foi encaminhada para A percentagem de soluto sorvido foi obtida pela
laboratório e preparada (ABNT NBR equação 1:
6457/1986) para determinação das propriedades
físicas (granulométrica, massa específica dos ( ) (1)
grãos e índices de consistência), químicas
(micronutrientes, teor de matéria orgânica, pH e
capacidade de troca catiônica) e mineralógicas Onde: D (%) – Diferença percentual entre a
(difração de raios-X – DRX) conforme métodos concentração inicial e de equilíbrio, %; C0 -
da Associção Brasileira de Normas Técnicas e concentração inicial de fósforo, mg/L; Ce -
EMBRAPA (1997). concentração de equilíbrio do soluto depois de
24 horas em contato com o solo, mg/L.
2.2 Ensaios de Sorção Enquanto que a sorção, massa de soluto
sorvida por grama de solo, foi determinada pela
Após a caracterização citada procedeu-se os equação 2:
ensaios de sorção segundo os métodos ASTM
D 4646 – 03 e EPA (1992). De posse dos ( ) (2)
resultados foram construídas isotermas de
sorção, bem como procedeu-se a comparação Onde: C0 - concentração inicial de fósforo,
entre os métodos como subsídio para a mg/L; Ce - concentração de equilíbrio do soluto
disposição do efluente final no solo. depois de 24 horas em contato com o solo,
mg/L; V - volume de solução usada, L; Ms -
2.2.1 ASTM massa de solo expressada na base de massa seca
em estufa, g; S - massa de fósforo adsorvida por
Uma suspensão foi preparada em erlenmeyer de massa de solo, mg/g.
125 ml, na razão solo : solução de 1:20 com Os resultados dos ensaios foram
aproximadamente 5g massa de solo seco ao ar apresentados com relação a média para o pH
com 100 mL de solução de CaCl2 0,01M final, condutividade elétrica final, percentual de
contendo 10 mg/L de fósforo na forma de soluto sorvido e sorção.
KH2PO4.
Em seguida foi colocada sob agitação de 29 2.2.2 EPA
rotações por minutos à 220C por 24 horas. Após
este período o pH e a condutividade elétrica da Nessa análise seguiram-se as etapas:
suspensão foram medidos, e posteriormente determinação da razão solo: solução, tempo de
efetuada a separação das fases por equilíbrio e sorção com diferentes
centrifugação a 3500 rpm por 5 minutos. O solo concentrações, e seus resultados foram
foi descartado e a solução de soluto submetidos à análise de variância, e
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comparação de médias a 5% de probabilidade mantendo a relação solo : solução e tempo de


pelo teste de Scott e Knott (1974) empregando equilíbrio obtidos. Utilizou soluções iniciais de
o programa Assistat 5.6 de 2014 para os CaCl2 0,01 M com concentrações de 5, 10, 25,
parâmetros pH e condutividade elétrica final, 50, 100, 200 e 1000 mg/L de fósforo sob a
percentual de soluto sorvido e sorção. Esta forma de KH2PO4 em triplicata. Os parâmetros
análise também foi utilizada na comparação de controle, a centrifugação e
entre as metodologias. acondicionamento, quantificação do fósforo
Para avaliar a razão solo : solução utilizou- remanescente na condição de equilíbrio, o
se aproximadamente 10, 4, 2 e 1 gramas de solo cálculo do percentual de soluto sorvido e da
dispostos, em triplicata, em tubos falcon de 50 sorção foram repetidos conforme anteriormente.
mL e misturados com 40 mL de solução de
CaCl2 0,01 M com concentração de 10.000 2.2.3 Isotermas de sorção
mg/L de fósforo na forma de KH2PO4. Sendo
colocada sob agitação nas mesmas condições de A partir da Sorção (S) pela partícula sólida e da
tempo, temperatura e rotações do ensaio concentração de equilíbrio equivalente (Ce) foi
anterior. Cessada o tempo, foi registrado o pH e possível construir as isotermas de sorção
a condutividade elétrica da suspensão, segundo três modelos: Linear, Freundlich e
passando-se então para a separação das fases, Langmuir linearizados e obter seus parâmetros.
armazenamento e análise da concentração do Esses modelos foram escolhidos por serem os
fósforo remanescente tal como realizado na mais empregados neste tipo de análise
metodologia ASTM. Posteriormente (FETTER, 1993).
determinou-se a diferença percentual entre a
concentração inicial e final conforme a equação 2.3 Comparação entre os métodos como
(1). subsídio para disposição de efluente no solo
Para avaliar o tempo de equilíbrio
repetiram-se os procedimentos da análise da A avaliação das características do solo e da sua
razão solo : solução empregando àquela que a capacidade de sorção de fósforo permite inferir
quantidade sorvida ficou entre 10 e 30% (EPA, a capacidade de suporte do mesmo em adsorver
1992) mantendo a rotação de agitação, a este nutriente e retardar a sua chegada ao corpo
temperatura e a concentração da solução hídrico subterrâneo.
colocada em contato com o solo e variando Essa análise foi realizada com concentração
somente o tempo de ensaio. Como o ensaio de fósforo de 10 mg/L que é o valor de saída de
anterior foi realizado com o tempo de 24 horas, efluentes tratados segundo Santos (2006) e
elegeram-se os tempos de 12, 48 e 72 horas de Campos et al. (1996). Considerando a sorção
acordo com EPA (1992). As condições de após o contato com essa solução segundo a
controle de pH e condutividade, centrifugação, metodologia ASTM e EPA, bem como a partir
acondicionamento e análise foram iguais aos da dos dados da isoterma de sorção considerando a
razão solo : solução. Os ensaios ocorreram em concentração de equilíbrio de 10 mg/L.
baterias para cada tempo em triplicatas, sendo Nesta análise, foi obtido o coeficiente de
calculado o percentual de soluto sorvido distribuição, o fator de retardamento e o volume
(equação 1). Foi escolhido para a etapa de efluente em metros cúbicos com
seguinte, o tempo mínimo de equilíbrio em que concentração 10 mg/L em que esse solo poderia
as mudanças na concentração do soluto na receber. Esses valores seriam o limite pelo qual
solução estivessem iguais ou menores que 5% esse solo não adsorveria mais essa substância
no intervalo de 24 horas conforme preconizado com essa concentração de equilíbrio nas
por EPA (1992). condições ensaiadas.
Os ensaios de sorção com diferentes O coeficiente de distribuição foi medido em
concentrações foram realizados nesta etapa laboratório a partir do ensaio de sorção (ASTM
e EPA). Segundo Boscov (2008) é um recurso
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para se estimar o comportamento de um sólido e considerações a cerca do tema, bem como


a sorver substâncias dissolvidas em equilírio uma reflexão sobre a importância deste
com solução de concentração definida (EPA, parâmetro na migração de contaminantes e para
1999). a definição da capacidade suporte do solo como
Este coeficiente também pode ser obtido alternativas de disposição. Pretende-se iniciar
para várias concentrações de equilíbrio por uma discussão e subsidiar com metodologia
meio das isotermas de Linear, Freundlich e para a tomada de medidas mais específicas
Langumuir conforme equações 4, 5 e 6 quanto à concentração do nutriente fósforo a ser
(EPA,1992). disposto, como feito nos Estados Unidos há
décadas atrás.
(3)

3 RESULTADOS
(4)
3.1 Caracteristica físicas, químicas e
(5) mineralógicas

Onde: Kd – coeficiente de distribuição, O solo tem característica grossa sendo


mL/g; S – quantidade de soluto adsorvida por composto predominantemente por pedregulho,
massa unitária de solo, mg/g; Ce – concentração em uma matriz composta por areia seguida de
de equilíbrio na solução, mg/L;  - constante de silte conforme Tabela 1.
adsorção relacionada com a energia de ligação,
mg/L;  - quantidade máxima de soluto Tabela 1. Características físicas e químicas do solo.
Índice Método Resultado
adsorvida pelo solo, mg/g; K – proporcional à
Físico
capacidade de adsorção máxima do solo; N – Argila: 24,7
declividade da curva que reflete a intensidade ABNT Silte: 7,9
de adsorção com o aumento da concentração de Granulometria (%) NBR Areia: 25,5
7181:1984 Pedregulho:
equilíbrio 41,9
O fator de retardamento (Rd) é a capacidade Massa específica dos grãos DNER-ME
de retenção (EPA, 1992), pode ser entendido 2,73
(g/cm³) 093/94
como a defasagem existente entre a velocidade Limites de consistência (%) ABNT
de avanço do soluto e a velocidade da frente da Limite de liquidez (LL) NBR LL: 39,46
Limite de plasticidade (LP) 6459:1984 / LP: 17,9
solução percolante. O fator Rd pode ser Índice de consistência (IP) 7180:1988 IP: 21,56
determinado por meio da equação. Químico
pH (CaCl2) 5,0
(7) Teor de matéria orgânica
1,20%
(%)
Ca: 0,40
Onde: Rd – fator de retardamento, EMBRAPA Mg:0,20
Macronutrientes (1997)
adimensional; Kd - coeficiente de partição ou (cmolc/dm3)
Al: 0,00
H: 1,90
distribuição, mL/g; d – massa específica K: 0,04
aparente seca do solo, g/cm3, adotada como Macronutrientes (mg/dm³) P: 0,50
1,39 g/cm3; n – porosidade adimensional CTC (cmolc/L) 2,54
adotada como 0,51.
A partir do Kd e da massa específica do solo A massa específica dos grãos da fração terra
calculou-se o volume de efluente necessário fina, 2,73 g/cm3, indica valor acima do esperado
para que o solo ficasse saturado com o soluto de para o mineral caulinita e gibbsita,
interesse. provavelmente pela ocorrência também de
A metodolologia proposta permite avaliações minerais mais densos como quartzo e óxido de
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ferro. Analisando essa mesma fração quanto ao 3.2.2 EPA


limite de liquidez e índice de plasticidade, esse
solo apresenta valores compatíveis com o A Figura 1 ilustra os resultados do percentual
argilomineral caulinita (DAS, 2011) de soluto adsorvido para as diferentes razões
caracterizado por uma argila de baixa solo:solução onde pode ser observado que as
plasticidade (CL) segundo Sistema Unificado razões 1:20 e 1:10 atenderiam os limites
de Classificação de Solos. Com relação à parte preconizados por EPA (1992). Sendo assim,
química do solo destaca-se que seu pH é optou-se por selecionar a razão que apresentava
classificado como de acidez médias (KIEHL, valores mais próximos do limite inferior de
1979) compatíveis para solo dos cerrados 10%, pois tal premissa favorece a dosagem
(LOPES E COX, 1977). O teor de matéria deste soluto em testes com concentrações mais
orgânico é médio (KIEHL, 1979) e associável à baixas.
falta de cobertura vegetal comum ao local. O
valor da CTC pode ser enquadrado como baixa
segundo Lopes (1998) refletindo uma fração
argila com pequena capacidade de reter cátions.
Quanto ao teor de fósforo disponível os valores
encontrados nos solos são baixos conforme
classificação de Lopes (1998).
A análise mineralógica obtida pela difração
de raios-X, pelo método do pó da fração terra
fina, apresentou quartzo, caulinita, gibsita e
goethita. Esta mineralogia colabora com os
valores de massa específica dos grãos, índices Figura 1. Percentual de soluto adsorvido versus razão
de consistência e capacidade de troca catiônica solo:solução.
observados nas amostras.
Observou-se que quanto maior a quantidade
3.2 Avaliação da Sorção do solo na relação maior o pH, maior a sorção e
consequentemente menos íons em solução
3.2.1 Resultado ASTM resultando em uma menor condutividade
elétrica. A elevação do pH associada a maior
Após o contato de 24 horas da solução com o sorção indica que esta reação liberou hidroxilas
solo observou-se que 95,4 da massa de fósforo por parte do solo. Segundo Sposito (1989) o
foi sorvida, com sorção de 0,196 mg/g (gramas fósforo é adsorvido à fase sólida do solo pelo
de fósforo por grama de solo) e um coeficiente mecanismo de adsorção específica, o qual é
de distribuição de 457,7 mL/g. Destaca-se que o definido como um processo em que ele é,
pH da suspensão se manteve constante durante quimicamente retido, na superfície e ocorrendo
o ensaio com pequena variação positiva da a troca de ligante OH- ou OH2+ das superfícies
condutividade elétrica. Os valores de sorção dos argilominerais ou óxidos, onde nestas
encontrados correlacionam com o determinado reações o pH pode se manter ou se elevar em
por Moreira et al. (2006) para latossolo, função da carga de superfície deste mineral e a
contudo são baixos quando comparados com os valência do íon de fósforo em solução.
valores obtidos por Côrrea et al. (2011) e Pinto Destaca-se que o pH na condição final de
(2012) para a mesma classe de solo, ensaio variou de 5,9 a 5,2 da maior razão (1:4)
provavelmente em virtude da baixa para a menor (1:40), comportamento inverso se
concentração da solução de contato utilizada 10 observou para a condutividade elétrica de 4,4 a
mg/L. 5,0 mS/cm.
Para a característica do soluto sorvido no
teste de média para os tratamentos de 12 e 24
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horas foram encontrados os valores de 11 e 13 Para a característica pH e condutividade


% respectivamente, e estes apresentaram elétrica final no teste de média todos os
diferença significativa com relação aos tempos tratamentos apresentaram diferença
de 48 e 72 horas com valores médios de significativa. Os valores mais elevados de pH
aproximadamente 19% conforme Tabela 2. ocorreram à baixa concentração diminuindo
Considerando o teste de média e o preconizado para concentrações mais altas, mais ainda com
por o EPA (1992) que o tempo mínimo valores superiores ao pH do solo em CaCl2 que
necessário para que a taxa de redução do soluto é 5,0. O comportamento inverso foi observado
da solução seja igual ou inferior a 5% no para a condutividade elétrica em virtude da
intervalo de 24 horas, optou-se pela escolha do maior quantidade de sais dissolvidos na
tempo de 48 horas para a realização desse condição de maior concentração.
ensaio com diferentes concentrações. Conforme observado na etapa anterior, o
percentual de soluto sorvido é inversamente
Tabela 2. Teste de média para o tratamento tempo de proporcional a sorção, ou seja, quanto maior o
equilíbrio a 5% de probabilidade pelo teste de Scott e percentual de soluto sorvido, menor a
Knott (1974).
Tempo pH final CE final Soluto sorvido
concentração de equilíbrio e consequentemente
(h) (mS/cm) (%) menor a sorção obtida. Sendo obtidos valores
12 5,40 c 4,09 d 11,3983 c de sorção variando de 0,515 a 2,989 mg/g para
24 5,34 d 4,98 a 13,2973 b concentrações de equilíbrio variando de 0,25 a
48 5,47 b 4,49 b 19,2623 a 989,53 mg/L de fósforo.
72 5,54 a 4,26 c 19,1333 a
3.2.3 Isotermas de Sorção
Com relação ao pH observou-se diferença
significativa com uma variação de 5,5 a 5,3 Os dados de sorção obtidos apresentaram
para os diferentes tempos de equilíbrio, o correlação muito forte para os ajustes de
mesmo ocorrendo para a condutivide elétrica de Freundlich e Langmuir e uma correlação forte
4,1 a 5,0 mS/cm para os diferentes tempos para o ajuste linear (FRANZBLAU, 1958)
analisados. Esse comportamento pode ser conforme dados apresntados na Tabela 3.
associado à sorção e é semelhante ao observado
metodologia ASTM. Tabela 3. Parâmetros de sorção do fósforo segundo o
ajuste Linear, Freundlich e Langumir.
Os dados de teste de média de Scott e Knott
(1974) para as diferentes concentrações Faixa Conc. Ensaiada (mg/L) 25-1000
estudadas a 5% de probabilidade encontram-se Kd (L/g) 0,0022
Linear
na Tabela 3, nele os valores dos ensaios com 5 e R 0,89
10 mg/L não são apresentados pois a K (mL/g) 0,6439
concentração do fósforo remanescente na Freundlich N 0,2299
solução foi muito baixa impedindo a sua R 1,00
dosagem.
 (L/mg) 0,0346
Tabela 3. Teste de média diferentes concentrações a 5% Langmuir  (mg/g) 3,0920
de probabilidade pelo teste de Scott e Knott (1974). R 1,00
Conc. pH CE final Soluto Sorção
(mg/L) final (mS/cm) sorvido(%) (mg/g)
A Capacidade Máxima de Adsorção do
1000 5,42 e 4,40 e 14,2583 e 2,989 e Fósforo (CMAP), parâmetro β da equação de
2000 5,94 d 2,67 d 44,0003 d 1,835 d
Langmuir segundo Pinto (2012), é 3.092
100 6,20 c 2,27 c 67,9767 c 1,464 c
50 6,57 b 2,05 b 82,3300 b 0,866 b mg/Kg, e conforme classificação de Juo e Fox
25 6,85 a 1,97 a 99,0220 a 0,515 a (1977) para solos tropicais se enquadrada como
sorção muito alta.
Fator a se destacar é que a CMAP representa
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a capacidade do solo de se ligar ao fósforo por realizados com 10 mg/L.


reações de sorção, ou seja, adsorção, fixação ou
precipitação (VALLADARES et al., 2003), e é Tabela 5. Coeficiente de distribuição, fator de
comumente correlacionada à atributos do solo retardamento e volume em m3 para atingir a capacidade
limite de sorção.
como: teor de matéria orgânica, teor de argila, Concentração Kd Rd Metros
pH, capacidade de troca catiônica, fósforo interesse (10 mg/L) (mL/g) cúbicos
disponível, mineralogia entre outros. Destaca-se ASTM 458 1249 636
aqui que a mineralogia do solo estudado contém EPA 56 153 77
os principais minerais de argila responsáveis Linear 2 7 3
Freundlich 25 69 35
pela sorção de fósforo em latossolos do Cerrado
Langmuir 591 1611 825
(KER, 1997). Outros pontos favoráveis são o
percentual de argila e de matéria orgânica
Nota-se que a dispersão dos valores de
presentes neste solo.
coeficiente de distruibuição é muito grande
mesmo comparando as isotermas com ajustes
3.3 Comparações entre os métodos como
muito bom. Assim, o coeficiente de
subsídio para disposição de efluente no solo
distruibuição para o fósforo variou
aproximadamente 2,5 ordem de grandeza entre
Visando comparar as técnicas ASTM e EPA
o método de ajuse linear e o método de ajuste
pelo teste de média, optou-se por repetir o
pela isoterma de Langmuir. Como o fator de
ensaio EPA com tempo de equilíbrio de 24
retardamento e o volume em litros calculado
horas, razão solo: solução de 1:20 e
para saturar o solo são obtidos por relação
concentração de 10 mg/L e o resultado
direta deste parâmetro os valores também
encontra-se sumarizados na Tabela 4. Para a
variam na mesma ordem de grandeza.
concentração de equilíbrio observa-se que o
O valor obtido para o coeficiente de
tratamento EPA apresentou valores mais
distribuição pela isoterma de Langmuir pela
elevados do que o ASTM, este resultado se
metodologia EPA converge para os dados
reflete de forma inversa no percentual de soluto
obtidos pelo método ASTM mais simples e
sorvido e na sorção. Esse resultado diferente
rápido.
entre ASTM e EPA pode ser influenciado pela
A obtenção da sorção pelo método do ensaio
quantidade de solo e solução superior para a
de equilíbrio em lote tem a vantagem de ser
metodologia ASTM (5 g de solo : 100 mL de
rápido quando comparado com o ensaio de
solução) quando comparado com EPA (2 g de
coluna, mas tem por desvantagem trabalhar com
solo : 40 mL de solução).
o solo desestruturado. Mas em estudo anterior
Tabela 4. Teste de média dos tratamentos ASTM e EPA a
de Mendonça (2000) empregando ensaios de
5% de probabilidade pelo teste de Scott e Knott (1974). equilíbrio em lote para o cloro, sódio e fosfato
Método Conc. Percentual Sorção obteve o coeficiente de distribuição e fator de
Equill. de soluto (mg/g) retardamento menor do que o observado no
(mg/L) sorvido (%) ensaio de coluna, ou seja, a sua adoção seria
conservadora em análises ambientais. Destaca-
ASTM 0,478b 95,449a 0,196a se ainda neste estudo, é que a isoterma com
EPA 2,749a 73,811b 0,152b
melhor ajuste foi a que forneceu o Kd e o Rd
mais próximo do resultado do ensaio de coluna.
A Tabela 5 apresenta o coeficiente de Sendo assim, assume-se que se os valores
distribuição, o fator de retardamento e o volume determinados a partir da isoterma de Langmuir
em litros de efluente tratado necessário para forem válidos em maior escala, para saturar um
atingir a capacidade limite de sorção em um metro cúbico desse solo seria necessário passar
metro cúbico de solo considerando os aproximadamente 636 m3 de efluente, valor
parâmetros obtidos das isotermas e os ensaios extremamente elevado quando comparado aos 3
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m3 da isoterma linear. REFERÊNCIAS


Nota-se também que os valores apresentados
tornam o estudo de coluna com esse solo Ambrósio, L. D. (2015) Avaliação das caracteristicas do
solo e da sua capacidade de adsorção de fósforo
extremamene longo, pois seriam necessários como subsídio para a disposição final de efluentes.
1249 volumes de vazios para atingir a relação Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em
C/C0 igual a 0,5, em virtude da capacidade de Engenharia Ambiental), Universidade Federal do
sorção alta e das taxas de aplicação de esgoto Tocantins, Palmas, TO, 70 p.
no solo que devem ser respeitadas. Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e
Ambiental - ABES (2017). Aos 10 anos da Lei do
Saneamento Básico, Brasil ainda apresenta condições
lamentáveis, mostra estudo da ABES. Disponivel :
4 CONCLUSÕES http://abes-dn.org.br/?p=7010, capturado em:
22/6/2018.
O solo apresenta uma capacidade máxima de Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT
(1986). Amostras de Solo – Preparação para ensaios
sorção, obtida pela isoterma de Langmuir de compactação e ensaios de caracterização. NBR
segundo a metodologia EPA, de 3.092 mg/Kg 6457, 9p.
sendo enquadrado como de sorção alta acima Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT
dos valores indicados por Pinto (2012) para (1984). Solo – Determinação de Limite de
solos do cerrado. Plasticidade. NBR 7180, 3p.
Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT
Obteve-se correlação muito forte para os (1984). Solo – Análise granulométrica. NBR 7181,
ajustes de Freundlich e Langmuir e uma 13p.
correlação forte para o ajuste linear. Assim, Association Standard Test Method – ASTM (2003)
qualquer ajuste poderia ser empregado para International. Standard Test Method for 24-h Batch-
determinar o coeficiende de distribuição Type Measurement of Contaminant Sorption by Soils
and Sediments. D4646 – 03, 4p.
referente à sorção máxima 10 mg/L de fósforo. Boscov, M. E. (2008) Geotecnia Ambiental. São Paulo,
Mas ao se comparar os valores de Kd obtidos Oficina de Texto.
nota-se uma ampla variabilidade que se reflete Campos, J.R. (1999). Projeto PROSAB: Tratamento de
no fator de retardamento e no volume limite de esgotos sanitários por processo anaeróbio e
efluente que esse solo poderia receber. disposição controlada no solo. Rio de Janeiro, ABES,
464 p.
Indica-se o uso dos valores obtidos pela Campos, J.R.; Reali, M.A.P.; Dombroski, S.A.G.;
isoterma de Langmuir por permitir a obtenção Marchetto, M.; Lima, M.R.A. (1996). Tratamento
da capacidade máxima de adsorção de fósforo físico-químico por flotação de efluentes de reatores
correlacionável a publicações, bem como por anaeróbios. XXV Congreso Interamericano Ingeniería
esse valor ser conservativo e inferior ao obtido Sanitaria y Ambiental, ABES, México.
Corrêa, R. M.; Nascimento, C. W. A.; Rocha, A. T.
normalmente em ensaio de coluna. (2011) Adsorção de fósforo em solos do Estado de
Pernambuco e suas relações com parâmentros físicos
e químicos. Acta Scientiarum. Agronomy, v. 33, n. 1,
AGRADECIMENTOS p. 153-159.
Casarini, D.C.P.; Dias, C.L.; Alonso, C.D. (2001).
Relatório de estabelecimento de valores orientadores
Esta pesquisa conta com apoio financeiro do para solos e águas subterrâneas no estado de São
edital Universal 2016/1 do Conselho Nacional Paulo. São Paulo, CETESB, 73p..
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – Das, B. M. (2007). Fundamentos de Engenharia
CNPq. E foi desenvolvido na Universidade Geotécnica. 6ª. ed., São Paulo, Thomson Learning,
Federal do Tocantins em parceria com os 562 p.
Departamento .Nacional de Estradas de Rodagem. (1994)
laboratórios: LASPER - Laboratório de Solos - Determinação da Densidade Real. DNER-ME
Sistemas de Produção de Energia a partir de 093/94, 4p.
Fontes a Renováveis e LEDBIO - Laboratório Environmental Protection Agency - EPA (1992). Batch –
de Ensaio e Desenvolvimento em Biomassa e Type Procedures For Estimating Soil Adsorption of
Biocombustíveis. Chemicals. EPA530/SW-87-006-F, United States,
100p.
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Estudo de Estabilização Granulométrica Utilizando Rejeito de


Mineração
Klaus Henrique de Paula Rodrigues
UFOP, Ouro Preto, Brasil, klaushenrique@hotmail.com

Gilberto Fernandes
UFOP, Ouro Preto, Brasil, gilberto@em.ufop.br

RESUMO:

A execução de pavimentos necessita, cada vez mais, do aproveitamento dos materiais existentes ao
longo da rodovia. Dentro desse contexto, se insere a estabilização dos solos, a qual pode ser
realizada por estabilizantes químicos, por compactação ou por estabilização granulométrica. Neste
trabalho, foram realizadas misturas de rejeito de espirais de mineração, resultante do processo de
beneficiamento de minério de ferro, com dois tipos de solos regionais. As misturas do tipo solo-
rejeito investigadas no presente estudo foram constituídas por percentagens de 0%, 10%, 20% e
30% de rejeito, em termos de massa seca total da mistura. Foram realizados ensaios de
caracterização e de resistência nos materiais e suas misturas, além da classificação segundo os
sistemas SUCS, AASHTO e MCT. Os resultados mostraram um aumento da massa específica
aparente seca máxima, do RCS, do índice CBR, do Módulo de Resiliência e do índice Mini-CBR do
material com a gradual adição do rejeito.

PALAVRAS-CHAVE: Pavimentação, Estabilização Granulométrica, Solos, Rejeito de mineração,


Bases e sub-bases.

1 INTRODUÇÃO
Tabela 1: Malha rodoviária brasileira (DNIT, 2013).
Com uma rede rodoviária de aproximadamente Superfície Extensão (km) Porcentagem
1,7 milhões de quilômetros, as estradas são as Pavimentada 202.988,10 12,00%
principais transportadoras de carga e de Não Pavimentada 1.358.913,70 80,40%
passageiros no tráfego brasileiro. Na Tabela 1, Planejada 129.262,00 7,60%
encontram-se, para o ano de 2013, os dados do
Total 1.691.163,80 100,00%
Plano Nacional de Viação (DNIT, 2013)
referentes às respectivas extensões da rede
pavimentada, não-pavimentada e planejada no Na Tabela 2, pode ser observada, mais
país. É possível constatar que, até o ano de detalhadamente em cada uma das jurisdições
2013, apenas 12% da malha rodoviária nacional (federal, estadual e municipal), a distribuição da
(202.988,10 km) correspondiam a rodovias malha rodoviária não-pavimentada no Brasil.
pavimentadas, evidenciando a grande extensão
da malha rodoviária não-pavimentada ainda
existente e, consequentemente, realçando a
enorme demanda nacional por obras de
pavimentação destinadas ao revestimento
superficial dessas vias.
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Tabela 2: Malha rodoviária não-pavimentada brasileira Segundo Bernucci et al. (2008), no âmbito da
(DNIT, 2013). Engenharia rodoviária, o pavimento
Rede não-
Jurisdição pavimentada Porcentagem
corresponde a uma estrutura de múltiplas
(km) camadas de espessuras finitas, construída sobre
Rodovias federais 12.661,70 0,93% a superfície final de terraplenagem, destinada
Rodovias estaduais 111.333,70 8,19% técnica e economicamente a resistir aos esforços
Rodovias municipais 1.234.918,30 90,88% oriundos do tráfego de veículos e do clima,
Total 1.358.913,70 100% além da função de propiciar, aos usuários, a
melhoria nas condições de rolamento dos
Considerando-se exclusivamente a rede veículos, com conforto, economia e segurança.
rodoviária não-pavimentada, verifica-se que ela A Figura 1 (Haas e Hudson, 1978) ilustra a
responde por cerca de 80% de toda a malha distribuição das tensões verticais e horizontais,
rodoviária brasileira, sendo que 91% de sua sob o centro de uma carga por roda, em uma
extensão estão concentradas nos municípios, o estrutura de pavimento flexível. Verifica-se que
que demonstra a importância socioeconômica a camada de revestimento, por ser constituída
da mesma no âmbito das municipalidades e, por uma mistura de agregados mais ligante
sobretudo, a necessidade de implementação da asfáltico (mistura asfáltica compactada), oferece
pavimentação de baixo custo visando, em bases resistência tanto à tração, quanto à compressão.
técnico-econômicas aceitáveis, a garantia das
boas condições de uso dessas rodovias por parte
significativa da população que depende das
mesmas para o exercício de suas atividades
cotidianas.
As atividades de mineração geram uma
quantidade significativa de estéreis e rejeitos,
subprodutos inerentes ao processo de lavra e
beneficiamento do minério, respectivamente,
Figura 1: Exemplo de distribuição de tensões em uma
sendo que a disposição destes materiais afeta de
estrutura de pavimento flexível (Haas e Hudson, 1978).
forma qualitativa e quantitativa o meio
ambiente. A quantidade de estéreis e rejeitos Segundo Rodrigues e Pitanga (2014), a
gerados em uma mineração está relacionada ao função de resistir aos esforços de tração é
método de lavra empregado, seja a céu aberto atribuída à presença do ligante, que atua
ou subterrâneo, e ao teor do mineral de minério aglutinando os agregados e conferindo à mistura
presente na rocha de interesse. um ganho de resistência associado,
O presente programa de pesquisa se principalmente, à parcela coesiva. As camadas
enquadra no âmbito da Engenharia Geotécnica e subjacentes de base, sub-base e subleito não
teve como objetivo principal avaliar o potencial oferecem resistência à tração, trabalhando
de aproveitamento do rejeito de mineração em essencialmente à compressão, exceto quando os
substituição parcial a agregados minerais materiais componentes dessas camadas forem
convencionalmente empregados em bases e/ou tratados quimicamente, o que confere aos
sub-bases estabilizadas granulometricamente. mesmos, capacidade de resistir a esforços de
tração pela ação cimentante do aditivo químico.

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.2 Solos

2.1 Pavimento A construção de um pavimento exige o


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conhecimento não só dos materiais constituintes propriamente dito e que deve, então, ser
de suas camadas, mas também dos materiais separado do mesmo para o processo de lavra e
constituintes do subleito e daqueles que possam beneficiamento industrial.
interferir na construção dos drenos, Rejeitos são os resíduos remanescentes do
acostamentos, cortes e aterros (SENÇO, 2007). processo de beneficiamento e concentração de
Entre estes materiais destaca-se o solo, que minérios em instalações industriais, cuja
interfere em todos os estudos de um pavimento, característica granulométrica principal é função
pois mesmo não sendo eventualmente utilizado do tipo de minério bruto (ferro, bauxita, ouro,
nas camadas previstas, será sempre o suporte da etc.) e do processo industrial de beneficiamento,
estrutura. podendo abranger uma ampla faixa de
materiais, desde arenosos não plásticos até solos
2.3 Classificação dos Solos de granulometria muito fina (GOMES, 2002).
Em face dos processos de beneficiamento, estes
Segundo Das (2007) solos diferentes com rejeitos podem ser ativos (contaminados) ou
propriedades similares podem ser classificados inertes (não contaminados).
em grupos e subgrupos de acordo com seu
comportamento do ponto de vista da 2.5 Estabilização de Solos
engenharia. Os sistemas de classificação
fornecem uma linguagem comum para se A estabilização de um solo consiste em dotá-lo
expressar concisamente, sem descrições de condições de resistir a deformações e ruptura
detalhadas, as características gerais dos solos, durante o período em que estiver exercendo
que são infinitamente variadas. funções que exigem essas características, num
As classificações mais difundidas são: USCS pavimento ou outra obra qualquer (SENÇO,
(Unified Soil Classification System), TRB 2001).
(Transportation Research Board) utilizada pela
AASHTO (American Association of State 2.6 Estabilização Granulométrica
Highway) e para solos de países de clima
tropical a MCT (Miniatura, Compactado, A estabilização granulométrica ou mecânica
Tropical). consiste na combinação e manipulação de solos,
em proporção adequada, de forma a obter um
2.4 Rejeitos de Mineração produto final de estabilidade maior que os solos
de origem, e adequado para a aplicação em cada
Rejeitos gerados pelos mais diversos tipos de caso particular (VILLIBOR, 1982).
atividade industrial-mineral têm sido estudados De acordo com Senço (2001), nessa
para serem utilizados como materiais de modalidade de estabilização, em linhas gerais, a
construção de sistemas estruturais viários distribuição das porções de tamanhos diferentes
(Gomes, 2003). Além da mitigação dos efeitos deve ser tal que os vazios dos grãos maiores
causados ao meio ambiente, busca-se nesses sejam preenchidos pelos grãos de tamanhos
estudos a construção de pavimentos de baixo intermediários, e os vazios desses, sejam
custo utilizando solos da faixa de domínio da preenchidos pelos grãos de pequeno tamanho. O
obra, com desempenho estrutural satisfatório. conjunto resultante, de estrutura densa, deve
Os resíduos de mineração são subprodutos representar um produto de massa específica
gerados pela atividade mineradora, aparente superior àquela que seria apresentada
compreendendo os estéreis e os rejeitos. O pelo material original não estabilizado, o que
estéril é o material (solo ou rocha) não lhe confere maiores resistência e rigidez e
mineralizado (material sem valor econômico menor permeabilidade, desejável para aterros
direto) que ocorre associado ao minério destinados a camadas de pavimentos, além de
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exigir, em caso do uso de algum aglomerante, escolha de solos nessa região visou o emprego
como cimento, asfalto, cal e outros, o mínimo dos mesmos com o menor custo de transporte
consumo desse aglomerante. do rejeito. Esses materiais foram misturados em
Ainda segundo Senço (2001), entre as proporções adequadas para proporcionar o
características que um solo estabilizado deve melhor comportamento geotécnico possível
apresentar, ressaltam-se a resistência ao referente à metodologia do CBR, sendo
cisalhamento e a resistência à deformação. A verificada, portanto, a combinação que
condição de resistência ao cisalhamento deve apresentasse os melhores resultados.
fazer com que o solo, quando sujeito às tensões
oriundas da passagem dos veículos, resista, sem 3.2 Métodos
se romper, a deformações além de certos limites
considerados ainda compatíveis com as A eficiência do comportamento mecânico foi
necessidades do tráfego. avaliada por meios dos ensaios do índice CBR
Quando se iniciou o estudo de estabilização (California Bearing Ratio), do índice Mini-CBR
de solos para estradas, considerava-se que o e da resistência à compressão simples. Os
conhecimento dos critérios de granulometria e ensaios geotécnicos, em particular, foram
índices plásticos seriam suficientes devido a realizados no Laboratório de Engenharia Civil
uma relação direta entre granulometria e da UFSJ/CAP, apresentando-se, na tabela 3, a
estabilidade, e entre índices plásticos (LL e IP) lista destes ensaios e suas respectivas normas.
e a permanência relativa desta estabilidade em
função da perda e absorção de água. Portanto, Tabela 3: Ensaios geotécnicos realizados sobre os
nas especificações correntes, os valores materiais envolvidos na pesquisa e correspondentes
normas.
máximos de LL e IP são fixados para uma
determinada finalidade (VILLIBOR,1982). Ensaio geotécnico Norma
A fixação de valores rígidos para LL e IP Amostragem e preparação
ABNT NBR 6457-86
de solos
parece realmente pouco defensável, pois a
influência desses valores sobre o Análise granulométrica ABNT NBR 7181-84
comportamento dos solos depende da Massa específica dos
ABNT NBR 6508-84
quantidade de material que passa na peneira 40 sólidos
Massa específica unitária
(0,42 mm) e também das condições climáticas do rejeito
ABNT NBR NM-45-06
que vão prevalecer, não compreendendo que
Limite de liquidez ABNT NBR 6459-84
sejam os mesmos valores de LL e IP a adotar
tanto em uma região chuvosa como seca Limite de plasticidade ABNT NBR 7180-84
(VILLIBOR,1982). Compactação ABNT NBR 7182-86
Compactação em
DNER 228/94-ME
equipamento miniatura
3 MATERIAIS E MÉTODOS Resistência à Compressão
DNER 201/94-ME
Simples
3.1 Materiais Índice de Suporte
DNIT 172/16-ME
Califórnia - CBR
Este programa de pesquisa contemplou o Mini-CBR DNER 254/97-ME
emprego de dois solos provenientes da região de Perda de massa por
DNER 256/94-ME
Rio Piracicaba, aqui designados de “solo imersão
amarelo” e de “solo vermelho”. Como material Mini-MCV DNER 258/94-ME
alternativo, foi empregado um rejeito seco de Classificação de solos
DNER 259/96-CLA
mineração, o qual foi fornecido por uma tropicais
empresa do setor mineral de Minas Gerais. A
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4 RESULTADOS

4.1 Análise Granulométrica

Os solos, designados amarelo e vermelho, o


rejeito e suas misturas AR 90/10 (90% de solo
amarelo e 10% de rejeito), AR 80/20 (80% de
solo amarelo e 20% de rejeito), AR 70/30 (70%
de solo amarelo e 30% de rejeito), VR 90/10
(90% de solo vermelho e 10% de rejeito), VR
80/20 (80% de solo vermelho e 20% de rejeito)
e VR 70/30 (70% de solo amarelo e 30% de
rejeito) apresentaram as curvas que são Figura 4: Curva granulométrica AR 70/30.
apresentadas nas figuras 2 a 7.
Pode-se perceber que a curva granulométrica do
solo amarelo e do rejeito são semelhantes
principalmente nos trechos correspondentes aos
ensaios de peneiramento fino.

Figura 2: Curva granulométrica AR 90/10.

Figura 5: Curva granulométrica VR 90/10.

Figura 3: Curva granulométrica AR 80/20.

Figura 6: Curva granulométrica VR 80/20


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O rejeito obteve a maior massa específica


dos grãos devido ao seu alto teor de ferro (20%)
verificado pelo ensaio de separação magnética
fornecido pela empresa.

4.4 Limites de Atterberg

Os limites de consistência (LL e LP) e o Índice


de Plasticidade (IP) dos materiais individuais
pesquisados podem ser visualizados por meio
da tabela 5.

Tabela 5: Limites de consistência dos materiais


individuais pesquisados.
Figura 7: Curva granulométrica VR 70/30.
Material LL (%) LP (%) IP (%)
Rejeito NL NP -
Uma mudança de granulometria mais
acentuada foi observada no solo vermelho, que Solo Amarelo 51 31 20
por meio de das curvas granulométricas das Solo Vermelho 59 31 28
misturas com rejeito, percebe-se que houve
variações nos tamanhos dos grãos, tornando as
curvas mais bem graduadas e menos uniformes. Pode-se observar que o LP dos solos amarelo
e vermelho são iguais, o LL do solo vermelho é
4.2 Ensaio Químico do Rejeito 8% maior do que o LL do solo amarelo,
diferença essa que é traduzida no IP dos solos, o
O rejeito foi ensaiado pela própria mineradora, que significa que o solo vermelho possui um
a qual forneceu que o mesmo possuía cerca de intervalo maior de umidade para o seu
70% de sílica e 20% de ferro. comportamento plástico.
Esses dados corroboram com a ausência
quase total da expansão nos ensaios CBR e 4.5 MCT
Mini-CBR, já que a sílica praticamente não
altera suas dimensões quando umedecida. A figura 8 mostra a classificação MCT dos
solos e do rejeito usados na presente pesquisa,
4.3 Massa Específica dos Materiais sendo que a letra R representa o rejeito, a letra
A representa o solo amarelo e a letra V
Os resultados da massa específica dos sólidos representa o solo vermelho.
dos solos e do rejeito (ρs) são apresentados na
Tabela 4, bem como a massa específica unitária
(ρun) do rejeito.

Tabela 4: Massas específicas dos sólidos e unitária dos


materiais individuais pesquisados.
Material ρs (g/cm³) ρun (g/cm³)
Rejeito 3,04 1,46
Solo Amarelo 2,64 -
Solo Vermelho 2,81 -
Figura 8: Ábaco do sistema MCT indicando a
classificação dos solos e rejeito empregados na pesquisa.
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Através da, pode-se perceber que o solo


amarelo (A) corresponde a um solo arenoso não
laterítico e o solo vermelho (V) corresponde a
um solo argiloso laterítico. O rejeito foi
classificado como NA, areia não laterítica.

4.6 Classificação dos Solos e Rejeito

Através de todos os dados de granulometria,


LL, LP, IP, Cc e Cu, os solos e rejeito podem
ser classificados nos sistemas de classificação
dos solos SUCS, AASHTO e MCT, como pode Figura 9: Massa específica aparente seca máxima do solo
ser visto na tabela 5. amarelo, rejeito e suas misturas.

Tabela 5: Classificação dos solos e rejeito.


Rejeito Amarelo Vermelho
%P #200 12,80 19,20 51,20
%P #40 84,00 86,00 92,00
%P #10 100,00 99,60 99,60
%P #4 100,00 100,00 100,00
LL (%) NL 51,00 59,00
LP (%) NP 31,00 31,00
IP (%) - 20,00 28,00
Cu 3,29 100,00 8,33
Cc 1,05 25,00 3,85 Figura 10: Teor de umidade ótimo do solo amarelo,
AASHTO A-2-4(0) A-2-7(0) A-7-5(9) rejeito e suas misturas.

SUCS SW SC CH Vê-se que o ganho de massa específica


MCT NA NA’ LG’ aparente seca máxima foi maior quanto maior o
teor de rejeito na mistura, tanto na energia
intermediária quanto na energia modificada.
Pode-se concluir que o rejeito corresponde a
Outra tendência é a do teor de umidade ótimo
uma areia bem graduada, o solo amarelo a uma
diminuir com o aumento do teor de rejeito na
areia argilosa e o solo vermelho a uma argila de
mistura.
alta plasticidade, nomenclaturas estas que são
As figuras 11 e 12 mostram os resultados da
referentes ao SUCS.
compactação das misturas solo vermelho-rejeito
em relação ao solo puro nas energias Proctor
4.7 Compactação
intermediária e Proctor modificada.
Nas figuras 9 e 10, são mostrados os respectivos
parâmetros ótimos de compactação dos
materiais pesquisados de todas as misturas solo
amarelo-rejeito em relação ao solo puro.
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misturas com rejeito, enquanto que a figura 14


mostra os mesmos resultados para o solo
vermelho e suas misturas.

Figura 11: Massa específica aparente seca máxima do


solo vermelho, rejeito e suas misturas.

Figura 13: RCS do solo amarelo e suas misturas com


rejeito.

Figura 12: Teor de umidade ótimo do solo vermelho,


rejeito e suas misturas.

A tendência, de aumento da massa específica Figura 14: RCS do solo vermelho e suas misturas com
aparente seca máxima aumentar quando se rejeito.
aumenta o teor de rejeito, também foi observada
nas misturas solo vermelho-rejeito, mas o Percebe-se que a tendência geral é a
crescimento se deu de uma forma menos diminuição do valor de RCS para ambos os
acentuada que nas misturas solo amarelo- solos quando o teor de rejeito é aumentado, mas
rejeito. Houve também a tendência de houve exceções como nos casos das misturas
diminuição do teor de umidade ótimo, já que há com 20% e 30% de rejeito no solo amarelo na
aumento de porcentagem de um material com energia modificada e no caso da mistura com
teor de umidade mais baixo que o solo. 30% de rejeito no solo vermelho para a energia
intermediária.
4.8 Resistência à Compressão Simples Em relação ao solo vermelho, observa-se que
houve ganho de RCS no caso da mistura com
A figura 13 mostra os resultados da resistência à 20% de rejeito. O RCS referente ao teor de
compressão simples (RCS) dos corpos de prova umidade ótimo nessa mistura teve um ganho de
compactados nas energias Proctor intermediária 14,50%, mostrando que para essa dosagem de
e Proctor modificada para o solo amarelo e suas mistura houve melhora do parâmetro de
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resistência analisado.

4.9 CBR

Os corpos de prova confeccionados para


realização do ensaio de CBR foram produzidos
no teor de umidade ótimo da energia Proctor
modificada de compactação.
Através dos dados de CBR, foi possível
construir as figuras 15, 16 e 17que mostram os
valores do índice de resistência CBR e; da Figura 17: Teor de umidade ótimo do solo amarelo,
expansão CBR, para os corpos de prova rejeito e suas misturas.
confeccionados nas umidades de compactação
próximas aos respectivos teores de umidade Percebe-se que o solo amarelo na condição
ótimo dos materiais pesquisados. pura possui um valor de CBR abaixo do
recomendado para ser utilizado em uma sub-
base (CBR>20%), mesmo que a expansão esteja
adequada.
Pode-se ainda afirmar que as substituições de
10%, 20% e 30% de rejeito são benéficas para a
resistência do solo segundo o ensaio CBR, pois
os resultados mostram acréscimos de 458,33%,
641,67% e 200%, respectivamente, resultados
estes que confirmam o potencial de resistência
que o rejeito de espirais de mineração possui em
conjunto com o solo natural em estudo. Esse
acréscimo não pode ser explicado por uma
Figura 15: CBR do solo amarelo, rejeito e suas misturas. estabilização granulométrica já que as curvas
das misturas de solo amarelo com rejeito são
aproximadamente iguais. Esse ganho de
resistência pode ser atribuído a substituição dos
grãos do solo, que são de baixa resistência, por
grãos de rejeito que possuem alta resistência.
Os valores de CBR e de expansão das
misturas com 10% e 20% de rejeito são tais que,
pelo Manual de Pavimentação do DNIT (DNIT,
2006), essas podem ser utilizadas como sub-
base de rodovias, fornecendo valores muito
superiores aos mínimos exigidos para essa
camada que são de 20% de CBR e de até 1% de
Figura 16: Expansão do solo amarelo, rejeito e suas expansão, considerando apenas os parâmetros
misturas. de CBR.
O solo vermelho e suas misturas podem ser
analisadas por meio das figuras 18, 19 e 20.
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classificação dos solos da AASHTO não


caracteriza todos os solos perfeitamente,
principalmente os provenientes de locais de
clima tropical, nos quais há intenso processo de
laterização, como é o caso do solo em questão.
Pode-se perceber que esse solo se encontra na
exceção referente a IG igual a zero da norma
DNIT 139/10-ES, pois sendo um solo laterítico,
o IG pode ser maior do que zero.
Houve um acréscimo na resistência das
misturas com 10% e 20% de substituição de
rejeito, sendo 29,03% o acréscimo do índice
Figura 18: CBR do solo vermelho, rejeito e suas misturas.
CBR da mistura com 10% de rejeito e de
77,42% o acréscimo do índice CBR da mistura
com 20% de rejeito, sendo esta última a melhor
das opções de mistura nesse quesito, chegando
quase a 60%, valor este que seria o mínimo para
a aceitação como material para confecção de
camadas de base para tráfego leve.
Já a mistura com 30% de rejeito mostrou-se
inadequada, pois o resultado do CBR foi
59,68% menor que o do solo original sem
mistura, o que vai de encontro ao previsto, pois
Figura 19: Expansão do solo vermelho, rejeito e suas a tendência era de aumento no valor do índice
misturas. de CBR, pois a quantidade de rejeito também
aumentou.

4.10 Mini-CBR

O ensaio de Mini-CBR fornece os resultados de


resistência e expansão dos corpos de prova.
As figuras 21, 22 e 23, mostram os resultados
do ensaio de Mini-CBR para o solo amarelo e
suas misturas com rejeito.

Figura 20: Teor de umidade ótimo do solo vermelho,


rejeito e suas misturas.

Percebe-se que o solo original na condição


pura já apresenta valores de CBR e expansão,
adequados tecnicamente para compor uma
camada de sub-base (CBR > 20% e expansão <
1%).
Isso se deve principalmente ao
comportamento laterítico do solo. Por meio Figura 21: Massa específica aparente seca máxima do
desse resultado, pode-se perceber que a solo amarelo e de suas misturas com rejeito.
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vermelho e suas misturas com rejeito.

Figura 22: Valores de Mini-CBR para o solo amarelo e


suas misturas com rejeito.
Figura 24: Massa específica aparente seca máxima do
solo vermelho e de suas misturas com rejeito.

Figura 23: Valores de expansão Mini-CBR para o solo


amarelo e suas misturas com rejeito.

Pode-se ver que as variações do Mini-CBR


foram de 25,87%, 29,80% e 1,06% para as Figura 25: Valores de Mini-CBR para o solo vermelho e
misturas de 10%, 20% e 30% de rejeito, suas misturas com rejeito.
respectivamente. Essas variações concordam
com o ensaio CBR no sentido de que a mistura
que obteve o maior acréscimo de Mini-CBR foi
a com 20% de rejeito em substituição ao solo,
ainda que o incremento do parâmetro tenha sido
muito inferior ao incremento obtido no ensaio
de CBR, o que pode ser explicado devido a
diferença de energia de compactação aplicada
em cada tipo de ensaio.
Em relação à expansão pode-se observar que
houve uma variação de -40,54%, 8,11% e
21,62% para as misturas de 10%, 20% e 30% Figura 26: Valores de expansão Mini-CBR para o solo
respectivamente. Percebe-se também que apesar vermelho e suas misturas com rejeito.
das variações todas as misturas possuem o valor
Percebe-se que o aumento no teor de rejeito,
de expansão baixo.
acarretou em incrementos nos valores de Mini-
As figuras 24, 25 e 26, mostram os
CBR em relação ao solo vermelho, na sua
resultados do ensaio de Mini-CBR para o solo
condição pura. As variações de Mini-CBR
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foram de 8,05%, 20,19% e 19,83% para as misturas com rejeito, percebe-se que houve
misturas de 10%, 20% e 30% de rejeito, variações nos tamanhos dos grãos, tornando as
respectivamente, em relação ao solo na curvas mais bem graduadas e menos uniformes.
condição original. Além disso percebe-se o alto valor de CBR
atingido pela mistura de solo vermelho com
20% de rejeito que foi de 55%, apenas 5% a
5 CONCLUSÃO menos que o recomendado para compor
camadas de base.
A mistura de solos naturais com rejeito de Em relação à expansão, no ensaio CBR,
mineração a fim de estabilizar o solo foi o observa-se que no caso do solo amarelo houve
objetivo principal deste presente trabalho. A aumento de expansão em relação ao solo na
avaliação da estabilização foi realizada por condição original com o aumento do teor de
meio de ensaios mecânicos e de estabilidade rejeito; já no caso do solo vermelho, houve
dimensional, esses ensaios foram: CBR com diminuição da expansão também em relação ao
imersão do corpo de prova por 96 horas, RCS e solo na condição original.
Mini-CBR com imersão de no mínimo 20 Portanto, a partir do ensaio CBR com a
horas. expansão pode-se afirmar que o solo amarelo
A adição do rejeito nos solos provou-se ser originalmente não poderia ser utilizado como
válida do ponto de vista técnico e ambiental, base ou sub-base de pavimentos, mas com a
considerando que o rejeito seria utilizado como substituição parcial de rejeito nas porcentagens
material de construção e não como um material de 10% e 20%, que forneceram 33,50% e
a ser depositado no meio físico. 44,50% de CBR e 0,25% e 0,13% de expansão,
Em relação à massa específica aparente seca passou a ser possível ser utilizado como sub-
máxima, houve maiores ganhos quanto maiores base.
os teores de rejeito na mistura para os dois solos No caso do solo vermelho, por meio dos
estudados. ensaios de CBR e expansão, o mesmo, já
Os valores de resistência à compressão poderia ser utilizado como sub-base com
simples, no geral, apresentaram queda para os valores de 31% de CBR e de 0,51% de
dois solos, quando o rejeito foi adicionado. Essa expansão.
tendência, não foi observada para as misturas de Em relação aos ensaios em miniatura, para o
solo amarelo com rejeito nas porcentagens de Mini-CBR, os solos também obtiveram ganhos
20% e 30%, na energia modificada; e para o com a adição do rejeito, mas menos expressivos
solo vermelho com porcentagens de rejeito de do que o ensaio de CBR padrão.
20% na energia intermediária. Conclui-se, portanto, que as misturas que
Os ensaios de CBR obtiveram incrementos apresentaram melhor comportamento mecânico
de valores quando da adição de rejeito para os face aos ensaios realizados foram as que
dois solos, exceto a misturas com 30% de continham 20% de rejeito para os dois tipos de
rejeito para o solo vermelho. Pode-se perceber solos, ou seja, a mistura AR 80/20 e a mistura
que o solo amarelo teve um ganho de 641,67% VR 80/20.
na mistura com 20% de rejeito, mas por meio da
granulometria da mistura em relação ao solo,
não houve estabilização granulométrica, já que AGRADECIMENTOS
a curva da mistura é praticamente coincidente
com a curva granulométrica do solo original. Agradeço à Deus, e à minha família, por sempre
Uma mudança de granulometria mais estarem ao meu lado; ao meu orientador,
acentuada foi observada no solo vermelho, que Gilberto Fernandes, por me conduzir nesse
por meio de das curvas granulométricas das trabalho; à UFOP e ao NUGEO, pela
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oportunidade de aprendizado. DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE


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Janeiro, 1994.
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DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE Alto Paraopeba-MG. XII Congresso de Produção
RODAGEM. DNER-ME 201/94: Solo-cimento – Científica e Acadêmica. Ouro Branco, 2014.
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DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE SENÇO, Wlastermiler de. Manual de Técnicas de
RODAGEM. DNER-ME 228/94: Solos – Pavimentação. vol. 2. 2. ed. São Paulo: Pini, 2001.
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DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE
RODAGEM. DNER-ME 254/97: Solos compactados
em equipamento miniatura - Mini-CBR e expansão.
Rio de Janeiro, 1997.
DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE
RODAGEM. DNER-ME 256/94: Solos compactados
com equipamento miniatura – Determinação da perda
de massa por imersão. Rio de Janeiro, 1994.
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Estudo de misturas de solo com adição de lodo de estação de


tratamento de água para uso em aterro sanitário
Eduarda Fração Santos
UFSM, Santa Maria, Brasil, eduardafracaosantos@gmail.com

Juliana Scapin
UFSM, Santa Maria, Brasil, juliana.scapin@ufsm.br

Rinaldo José Barbosa Pinheiro


UFSM, Santa Maria, Brasil, rinaldo@ufsm.br

RESUMO: Nesta pesquisa foram analisadas misturas do solo empregado como camada de
cobertura no aterro sanitário da Companhia Riograndense de Valorização de Resíduos (CRVR),
com adição do lodo proveniente dos tanques de decantação da estação de tratamento de água da
Companhia Riograndense de Saneamento (CORSAN), com objetivo de verificar seu uso como
material de cobertura e ou como camada de base para aterros sanitários. Foram estudadas misturas
de solo com adição de LETA em porcentagens de 0 ;15 e 35, denominadas de SL0, SL15 e SL35.
Cada mistura foi classificada segundo o Sistema Unificado de Classificação de Solos (SUCS),
passou por ensaios de compactação com energia proctor normal e ensaios de permeabilidade.
Finalmente com as médias dos coeficientes de permeabilidade médios a 20ºC, conclui-se que adição
do LETA provocou aumento da permeabilidade.

PALAVRAS-CHAVE: Uso do lodo, Mistura de solo, Avaliação Geotécnica, Aterro sanitário,


Resíduos sólidos, Permeabilidade.

1 INTRODUÇÃO Assim, o LETA é um resíduo com alto teor


de umidade, sendo necessário o uso de
Os aterros sanitários são áreas construidas processos de secagem a fim de se atingir um
que visam dar destinação final correta aos teor de sólidos mínimo de 20% que possibilite
resíduos sólidos urbanos. Essas obras utilizam sua disposição em aterros sanitários. Essa forma
grandes volumes de solo e possuem uma vida de disposição, apesar de segura, implica em
útil atrelada não somente a estabilidade da custos com transporte até o local, custos com
massa de resíduos como também ao impacto operação e reduz a vida útil dos aterros
ambiental provocado pela emissão de poluentes sanitários (TARTARI, 2008).
(BOSCOV, 2008). Logo, o uso do LETA como material de
Dentre os diversos resíduos sólidos urbanos cobertura e ou revestimento de base para aterros
que teem os aterros sanitários como seu destino sanitários e em demais obras geotecnicas é uma
final está o lodo proveniente de estações de alternativa de reciclgem desse material, visando
tratamento de água (LETA). seu melhor aprovetamento, redução de custos e
Esse material é produto do processo de preservação de jazidas de solo.
tratamento da água bruta, logo sua composição Contudo, são necessárias mais pesquisas no
é semelhante a da água captada com a presença campo para a utilização do lodo em obras
de hidróxidos de ferro e ou alumínio. Esses geotecnicas, tanto pelo potencial de substituir
elementos são oriundos dos produtos químicos argila natural, poupando os custos e a
utilizados como auxiliares no processo de degradação ambiental resultantes da exploração
coagulação. (RICHTER, 2001). de jazidas, como para evitar o problema de
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disposição em aterros de um material altamente normal, além dos ensaios de permeabilidade


compressível e com baixa resistência ao com carga variável. Cada ensaio foi realizado
cisalhamento (BOSCOV, 2008, p.30). seguindo os procedimentos descritos nas suas
respectivas normas técnicas listadas na Tabela
2 MATERIAIS E MÉTODOS 2.

O solo empregado nesta pesquisa foi Tabela 2. Normas Técnicas para ensaios de laboratório
recolhido no aterro sanitário gerenciado pela Ensaio Norma técnica
Companhia Riograndense de Valorização de Preparação de amostras de solo NBR 6457:2016
Resíduos (CRVR), localizado na Estrada Geral
da Caturrita, Distrito da Boca do Monte, no Limite de liquidez NBR 6459:2016
município de Santa Maria. Já o lodo utilizado Limite de plasticidade NBR 7180:2016
foi coletado dos tanques de decantação na
estação de tratamento de água da Companhia Análise granulométrica de solos NBR 7181:2016
Riograndense de Saneamento (CORSAN), Massa específica real dos grãos NBR 6458:2017
locaizada na Rua Elízio Dorneles, Chácara das
Flores, no município de Santa Maria. Compactação de solos NBR 7182:2016
Ambos os materias foram preparados para os Solos compactados em equipamento
ensaios de laboratório e foram utilizados para DNER-ME258-94
miniatura –Mini-MCV
elaboração de misturas do solo com o lodo de Determinação do coeficiente de
estação de tratamento de água (LETA), permeabilidade de solos argilosos a NBR 14545:2000
variando-se os teores de LETA conforme carga variável
mostrado na Tabela 1.
Cada mistura foi composta considerando o 2.1.1 Coeficiente de Permeabilidade
peso de material seco, ou seja, foi necessário
aplicar um fator de correção de acordo com a Em aterros sanitários, a permeabilidade é
umidade hidroscópica de cada material para a uma propriedade muito importante, pois é
pesagem das parcelas de cada mistura. preciso controlar a migração de percolado
através da execução de camadas impermeáveis.
Tabela 1. Identificação e composição das amostras
Essas camadas podem ser executadas com solos
compactados que atinjam coeficientes de
% de cada material
Identificação das Amostras permeabilidade satisfatórios (BOSCOV, 2008).
LETA Solo
A determinação do coeficiente de
SL0 0 100
permeabilidade de um solo pode ser feita de
SL15 15 85 maneira indireta, através de relações com a sua
SL35 35 65 granulometria, ou de maneira direta, em
laboratório.
Obs.: SL15= nome da amostra ou mistura, onde S= Solo;
L= LETA; 15= porcentagem de LETA na mistura.
Os coeficientes de permeabilidade das
amostras estudadas nesta pesquisa foram
determinados através de ensaios de
2.1 Avaliação Geotécnica permeabilidade com carga variável. Para isso,
foram utilizados corpos de prova deformados,
A avaliação geotécnica consistiu na compactados em moldes metálicos com
realização dos ensaios de caracterização dimensões convencionais, utilizando cerca de
geotécnica, sendo esses os limites de Atterberg, cinco quilos de material, e com dimensões em
análise granulométrica por peneiramento e miniatura que utilizaram cerca de quinhentos
sedimentação, massa específica real dos grãos, gramas de material.
ensaios de compactação com energia proctor
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2.1.2 Características geotécnicas das coberturas 3 RESULTADOS E ANÁLISES


de aterros
3.1 Ensaios de Caracterização Geotécnica
As normas brasileiras atuais não apresentam
especificações técnicas referentes às A Tabela 4 a seguir apresenta os resultados
características geotécnicas das coberturas de um encontrados para o limite de liquidez (LL),
aterro sanitário. Contudo, a NBR 13896 em limite de plasticidade (LP), índice de
vigor recomenda a execução de aterros em áreas plasticidade (IP) e a massa específica real dos
onde o subsolo tenha coeficiente de grãos (γs) das amostras estudadas e do lodo de
permeabilidade inferior a 5x10-5 cm/s, apesar de estação de tratamento de água (LETA) utilizado.
considerar desejável a existência de jazidas de
solos com permeabilidade inferior a 1x10-6 cm/s Tabela 4. Massa específica real dos grãos e limites de
consistência
no local (ABNT, 1997).
Porém, segundo os critérios de QASIM E Amostra
γs LL LP IP
(g/cm³) (%) (%) (%)
CHIANG (1994), DANIEL (1993) e ROCCA
(1993), pesquisadores da área, solos adequados SL0 2,835 40 26 14
SL15 2,744 55 38 17
à impermeabilização de aterros sanitários devem SL35 2,637 70 58 12
possuir um coeficiente de permeabilidade LETA 2,474 - - -
inferior a 1x10-7 cm/s. Além disso, esses
também recomendam que os materias As amostras estudadas foram classificadas
empregados para esse fim tenham determinadas segundo o Sistema Unificado de Classificação
características, como mostrado na Tabela 3. de Solos (SUCS). Para isso, realizou-se a
análise granulométrica através de peneiramento
Tabela 3. Caracteríticas de solos adequados à e sedimentação com e sem defloculante
impermeabilizaçã de aterros sanitários
QUASIM NBR
(hexametafosfato de sódio). Verificou-se que
ROCCA as amostras SL15 e SL35, que possuem adição
DANIEL E 13896
et al de LETA, sedimentaram rapidamente na análise
(1993) CHIANG (ABNT,
(1993)
(1994) 1997) sem defloculante. Acredita-se que isso ocorreu,
Coeficiente pois, no processo de tratamento d’agua são
≤ 10-7 ≤ 10-7 ≤ 10-7 <5x10-5 utilizados sais de alumínio como coagulantes,
hidráulico (K)
esse aditivo químico está presente no lodo,
CL, acelerando o processo natural de coagulação das
Classificação
CH,SC x x x partículas das misturas. Com o uso do
SUCS
ou OH
defloculante, esse efeito foi minimizado.
Teor retido na
x ˂30% ˂50% x Os resultados da análise granulométrica
#4 encontram-se expressos na Tabela 5. Os limites
Teor de utilizados para definir as frações constituintes
passante na ˃30% ˃20% ˃30% x das misturas foram retirados da NBR 6502
#200 (ABNT, 1995).
LL ˃30% x x x
De 7% a
IP ≥15% ˃7% x
15%

Fonte: PRIM, 2011. Adaptado


Obs.: x=Característica não abordada
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Tabela 5. Análise Granulométrica e Classificação das 33% de argila e LL 70%.


amostras 3.2 Ensaios de compactação proctor normal
Amostra SL0 SL15 SL35

Pedregulho 0 0 0
Foram realizados ensaios de compactação
Frações Granulométricas

para cada uma das amostras estudadas nesta


Areia
Grossa
2 11 18 pesquisa. Os ensaios foram realizados utilizando
equipamento convencional e equipamento
Areia Média 7 14 13
(%)

miniatura com energia proctor normal. Para os


Areia Fina 25 8 4 ensaios utilizando equipamento convencional,
Silte 40 34 32 realizaram-se duas compactações obtendo
valores semelhantes para o teor de umidade
Argila 26 33 33
ótima (hot) e massa específica aparente seca
SUCS CL CH-MH CH-MH máxima (γmax), a média aritmética dos
resultados foi adotada como resultado final
A amostra SL0 apresentou uma pequena (Tabela 6).
quantidade de areia grossa, enquanto as
amostras SL15 e S35 apresentaram 11% e 18% Tabela 6. Compactações proctor normal com
de areia grossa, respectivamente. As frações de equipamento convencional
areia média também foram maiores nas γmax hot γmax
amostras com adição de LETA, a amostra SL15
Amostra hot (%) Médio Média
(kg/m³)
(%) (kg/m³)
apresentou 14%, a SL35 13% e a amostra SL0
SL0 21,5 1620,0 21,0 1625,0
apenas 7%. A partir dessa análise podemos
concluir que a adição de LETA contribuiu para SL0 20,3 1630,0 - -
um aumento nas frações de areia grossa e SL15 26,6 1455,0 27,2 1450,0
média. SL15 27,8 1445,0 - -
A amostra SL0 apresentou maior presença de
areia fina, enquanto as amostras SL15 e SL35 SL35 35,9 1265,0 35,8 1270,0
apresentaram 8% e 4% de areia fina, SL35 35,6 1275,0 - -
respectivamente. Acredita-se que isso ocorreu
devido à propriedade coagulante dos produtos Com os valores finais obtidos nos ensaios de
presentes no LETA. compactação convencional, foram realizados os
Já a fração de argila foi de 33% para as ensaios de compactação com equipamento
amostras SL15 e SL35, enquanto a amostra SL0 miniatura obtendo os parâmetros mostrados na
apresentou 26%. Também não ocorreram Tabela 7 abaixo.
grandes variações nas porcentagens de silte, a
amostra SL0 apresentou 40%, a SL15 Tabela 7. Compactação Mini-MCV - Proctor normal
apresentou 34% e a SL35 obteve 32%. Amostra hot (%) γmax (kg/m³)
Segundo o sistema unificado de classificação
SL0 18,5 1740,0
de solos, a amostra SL0 recebeu a nomenclatura SL15 25,6 1550,0
CL, silte de baixa compressibilidade, pois SL35 33,4 1342,0
apresentou a fração silte predominante (40%) e
LL abaixo de 50%.
A amostra SL15, segundo o SUCS, foi Analisando os resultados, verificamos que a
classificada como CH-MH, silte argiloso de alta adição do LETA provocou uma diminuição nos
compressibilidade, pois as frações de argila e valores da massa específica aparente seca
silte foram predominantes (34% de silte e 33% máxima das amostras e um aumento em seus
de argila) e seu LL superior a 50%, assim como teores de umidade ótima (Figura 1).
a amostra SL35 que apresentou 32% de silte,
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Figura 1. Curvas de Compactação

Contudo, a partir das análises foi possível


Durante a realização dos ensaios foi verificar que o acréscimo do LETA causou
verificada a influencia do teor de umidade do aumento nos teores de umidade ótima
LETA utilizado para compor as misturas no seu encontrados e diminuição nas massas
comportamento mecânico e na sua específicas aparentes secas máximas.
trabalhabilidade.
Para a execução dos ensaios de compactação 3.3 Ensaios de Permeabilidade
Mini-MCV foi necessário utilizar fração
passante na peneira 2mm. Para esse processo, a Os ensaios de permeabilidade com carga
umidade do LETA deveria ser adequada a fim variável foram executados de duas formas, uma
de ser possível utilizar o almofariz cerâmico e com corpos de prova compactados na umidade
realizar o peneiramento. Uma vez que lodos ótima em cilindros metálicos grandes e outra
mais úmidos tinham aspecto semi-sólido e lodos com corpos de prova compactados na umidade
mais secos tinham um aspecto granular, foi ótima com equipamento em miniatura.
preciso estabelecer teores que garantissem uma Optou-se por usar os coeficientes de
boa trabalhabilidade que variaram de acordo permeabilidade obtidos com corpos de prova
com o tempo de secagem e temperatura compactados que apresentaram melhor grau de
ambiente. compactação. Foi calculado um coeficiente de
Logo, acredita-se que as diferenças permeabilidade médio com os valores obtidos
encontradas nos resultados com equipamento para corpos de prova convencionais e em
convencional e Mini-MCV ocorreram devido ao miniatura. Os resultados obtidos são mostrados
uso do LETA com diferentes umidades na Tabela 8.
hidroscópicas. Através da análise dos resultados, foi
Além disso, foi necessário utilizar solo possível verificar que a adição do LETA
coletado em diferentes visitas, fato que pode ter provocou um aumento da permeabilidade das
alterado as características das amostras misturas. Acredita-se que isso ocorreu devido
utilizadas. Também não são descartadas as principalmente à diminuição das massas
possibilidades de falhas nas operações dos específicas, aumento das frações de areia média
ensaios. e grossa na análise granulométricas.
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Tabela 8. Médias dos coeficientes de permeabilidade médios das amostras


Parâmetros da compactação Ensaios de Permeabilidade
Amostra Compactação K Médio a
hot
ᵞmax (kg/m³) h ᵞ K a 20ºC
20ºC
(%) (%) (kg/m³) (cm/s)
(cm/s)
Proctor Normal 21,00 1625,0 20,50 1594,3 3,509x10-8 3,843x10-8
SL0
Proctor Normal
18,5 1738,0 18,71 1738,3 4,177x10-8
Mini-MCV

Proctor Normal 27,20 1450,0 26,20 1371,4 5,315x10-8 4,026x10-8


SL15 Proctor Normal
25,60 1550,0 24,63 1547,2 2,737x10-8
Mini-MCV

Proctor Normal 35,80 1270,0 35,03 1251,5 3,741x10-7 2,053x10-7


SL35 Proctor Normal
33,40 1342,0 33,05 1347,9 3,65x10-8
Mini-MCV

4. CONCLUSÕES inferior a 1x10-6 cm/s.


Porém, segundo os critérios de QASIM E
Segundo Masaad (2016), alguns fatores que CHIANG (1994), DANIEL (1993) e ROCCA
influenciam a permeabilidade são: o tamanho (1993), a mistura SL35 não é adequada para uso
das partículas, o índice de vazios, o tipo de em aterros sanitários, pois possui coeficiente de
fluido, a composição mineralógica e a estrutura permeabilidade superior a 1x10-7 cm/s.
do solo. Quanto menor o índice de vazios, ou Pode-se concluir, portanto, que adição do
seja, quanto maior sua massa específica, maior lodo de estação de tratamento de água utilizado
será a dificuldade para que os líquidos percolem nesta pesquisa em solo siltoso, visando o uso em
através de um solo. aterros sanitários, é prejudicial à
Com os valores apresentados na Tabela 4, impermeabilidade.
podemos perceber que as misturas que É importante ainda salientar que as
apresentaram maiores massas específicas características do LETA dependem do tipo de
aparentes secas máximas nos ensaios de tratamento empregado, assim como das
compactação também apresentaram os menores características da água bruta e dos produtos
coeficientes de permeabilidade. Esse químicos empregados como coagulantes. Sendo,
comportamento ocorreu, portanto, conforme o portanto, necessário conhecer as propriedades
esperado. desse material.
Analisando os resultados obtidos, concluímos Ainda, para melhor compreensão do
que todas as misturas atenderam a NBR-13896 comportamento geotécnico dessas misturas, é
(ABNT, 1997), que recomenda a execução de necessário realizar ensaios para verificação de
aterros em áreas onde o subsolo tenha suas resistências mecânicas. Portanto,
coeficiente de permeabilidade inferior a 5x10-5 recomenda-se essa análise para futuros
cm/s, porém considera desejável a existência de trabalhos.
jazida de solo natural com permeabilidade
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REFERENCIAS:

específica aparente e da absorção de água.


ABNT – Associação Brasileira de Normas Rio de Janeiro, 2017a, 10 p.
Técnicas. NBR 8419: Apresentação de
projetos de aterros sanitários de resíduos ABNT – Associação Brasileira de Normas
sólidos urbanos. Rio de Janeiro, 1996, 7 p. Técnicas. NBR 6459: Solo: determinação do
limite de liquidez. Rio de Janeiro, 2017b, 5 p.
ABNT – Associação Brasileira de Normas
Técnicas. NBR 6502: Rochas e solos. Rio de BOSCOV, M. E. G. Geotecnia Ambiental. São
Janeiro. 1995.18p. Paulo: Oficina de Letras. 2008. 248p

ABNT – Associação Brasileira de Normas DANIEL, D. E. Geotechnical practice for


Técnicas. NBR 13896: Aterros de resíduos não waste disposal- London; New Yok: Chapman &
perigosos: Critérios para Projeto, Hall, 1993. 683p.
Implantação e Operação. Rio de Janeiro. 1997.
MASSAD, F. Mecânica dos Solos
ABNT – Associação Brasileira de Normas Experimental. São Paulo: Oficina de Textos,
Técnicas. NBR 14545: Solo: Determinação do 2016.287p.
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argilosos a carga variável. Rio de Janeiro, PRIM, E. C. C. Utilização de lodo de estações
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de cobertura de aterro sanitário. Tese
ABNT – Associação Brasileira de Normas (Doutorado), Universidade Federal de Santa
Técnicas. NBR 6457: Amostras de solo: Cataria, SC, Brasil, 2011, 279p.
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ensaios de caracterização. Rio de Janeiro, QASIM, S.R.; CHIANG, W. Sanitary Landfill
2016, 8 p. Leachate: generation, control and treatment.
Technomic Publishing Co., Inc, 1994.
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limite de plasticidade. Rio de Janeiro, 2016, 3 Industriais. 2. ed.rev. ampliada. São Paulo:
p. CETESB, 1993. p.135-184.

ABNT – Associação Brasileira de Normas RICHTER, C.A. Tratamento de Lodos de


Técnicas. NBR 7181: Solo: Análise Estação de Tratamento de Água. São Paulo:
granulométrica. Rio de Janeiro, 2016, 12 p. Blucher, 2001. 102 p.

ABNT – Associação Brasileira de Normas TARTARI, Rodrigo. Incorporação de Lodo


Técnicas. NBR 7182: Solo: Ensaio de Gerado na Estação de Tratamento de Água
compactação. Rio de Janeiro, 2016, 9 p. Tamanduá, como Aditivos em Massas para
Cerâmica Vermelha. 2008. 125 f. Dissertação
ABNT – Associação Brasileira de Normas (Mestrado em Engenharia Química) – Centro de
Técnicas. NBR 6458: Grãos de pedregulho Engenharias e Ciências Exatas, Universidade
retidos na peneira de abertura 4,8 mm - Estadual do Oeste do Paraná, Toledo, 2008.
Determinação da massa específica, da massa
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Estudo do Solo para Utilização em Camada de Base e Cobertura


de Aterro Sanitário na Cidade de Campina Grande – PB
Damares de Sá Ramalho Neta
Universidade Federal de Campina Grande, Pombal-PB, Brasil, damaresramalhon@gmail.com

Larissa Santana Batista


Universidade Federal de Campina Grande, Pombal-PB, Brasil, larisantanabatista@gmail.com

Nayla Kelly Antunes de Oliveira


Universidade Federal de Campina Grande, Pombal-PB, Brasil, nayla-oliveiira@hotmail.com

Palloma Karolayne Santos de Oliveira


Universidade Federal de Campina Grande, Pombal-PB, Brasil, pkarolayne_@hotmail.com

Jonatas Kennedy Silva de Medeiros


Universidade Federal de Campina Grande, Pombal-PB, Brasil, jonataskennedy@hotmail.com

Wily Santos Machado


Universidade Federal de Campina Grande, Pombal-PB, Brasil, wilysantos1997.ws@gmail.com

RESUMO: A etapa de impermeabilização de aterro sanitário desempenha uma série de funções,


desde evitar a contaminação do subsolo e lençóis freáticos, até impedir a proliferação de vetores e
minimizar as emissões dos gases. O solo argiloso é um recurso de grande aplicabilidade nesse
processo tendo em vista suas características geotécnicas. O objetivo deste artigo consiste em
diagnosticar a viabilidade da aplicação de um solo para utilização nas camadas de base e cobertura
de aterros sanitários, usando como parâmetro uma célula experimental localizada na cidade de
Campina Grande-PB. Na metodologia, realizou-se ensaios de caracterização física e hidráulica do
solo, conforme as normas vigentes da ABNT, fez-se ainda a confecção do lisímetro, assim como a
execução das camadas impermeabilizantes, e por fim verificou-se seu comportamento ao longo do
tempo. O solo ensaiado apresentou características de um solo predominatemente argiloso,
permeabilidade de 10 −6 cm/s e grau de compactação de aproximadamente 98%. Constatou-se uma
boa performance experimental, e que o solo selecionado atende aos parâmetros necessários para
utilização nesse âmbito, por tratar-se de um solo argiloso com baixa permeabilidade.

PALAVRAS-CHAVE: Impermeabilização, solo, caracterização, resíduos sólidos urbanos,


lisímetro.

1 INTRODUÇÃO Associação Brasileira de Empresas de Limpeza


Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE)
As proporções de produção e consumo de bens (2016) foram gerados um total anual de 78,3
tem-se agravado nas últimas décadas, gerando milhões de toneladas de resíduos sólidos
diariamente diversos tipos de resíduos, que urbanos (RSU) no país.
afetam diretamente questões econômicas, A disposição inadequada de RSU continua
sociais e ambientais. De acordo com a sendo trilhado por 3.331 municípios brasileiros,
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que enviaram mais de 29,7 milhões de toneladas duas fases: de impermeabilização de laterais e
de resíduos, correspondentes a 41,6% do fundos e impermebialização de cobertura.
coletado em 2016, para lixões ou aterros Antes de executá-la deve ser levado em
controlados, que não possuem o conjunto de consideração as particularidades do local
sistemas e medidas necessários para proteção do previsto para implantação do aterro sanitário,
meio ambiente contra danos e degradações tais como: as condições hidrológicas
(ABRELPE, 2016). (evaporação e precipitação), permeabilidade do
É necessário um gerenciamento sistemático subsolo e profundidade de lençol freático. Logo,
adequado de produção, manuseio e destino dos o tipo de material utilizado nesse processo deve
RSU, já que o mesmo se encontra apresentar propriedades que atendam os
intrinsecamente ligado às políticas públicas e à parâmetros adotados.
legislação brasileira. A lei nº 12.305/2010, por Segundo Junqueira (2000), praticamente
exemplo, institui a Política Nacional de todos os aterros sanitários existentes no Brasil
Resíduos Sólidos (PNRS), encarregando o têm como sistema impermeabilizante o uso de
Distrito Federal e os Municípios a gestão argila compactada, com espessuras variadas,
integrada dos resíduos sólidos gerados em seus desde compactação direta sobre o solo até
territórios. Assim, os destinos finais dos camadas de 2m.
resíduos devem estar dentro dos padrões e O solo argiloso é um recurso de grande
especificações das normas ambientais, aplicabilidade para essa função, tendo em vista
operacionais e técnicas. suas características geotécnicas,
A NBR 8419/92 define Aterro sanitário de desempenhando o papel de impermeabilizante,
resíduos sólidos urbanos como a técnica de garantindo a estanqueidade e durabilidade do
disposição, sem causar danos à saúde pública e aterro. É de suma importância a devida análise e
à sua segurança, minimizando os impactos caracterização do solo para identificar se o
ambientais, método este que utiliza princípios mesmo possui os critérios que proporcionem
de engenharia para confinar os resíduos sólidos uma boa performance e uma maior
à menor área possível e reduzi-los ao menor confiabilidade.
volume permissível, cobrindo-os com uma O objetivo deste artigo consiste em
camada de terra na conclusão de cada jornada diagnosticar, a partir de uma célula
de trabalho, ou a intervalos menores, se experimental (lísimetro) localizada na cidade de
necessário. Campina Grande-PB, a viabilidade da aplicação
A ABRELPE (2016) mostra que a disposição de um solo para utilização nas camadas de base
final dos RSU demonstrou piora na quantidade e cobertura de aterros sanitários.
enviada para aterros sanitários, caiu de 58,7%,
para 58,4% ou 41,7 milhões de toneladas
comparado ao índice do ano anterior. O aterro 2 METODOLOGIA
sanitário é um sistema de disposição final dos
RSU bastante indicado para o Brasil, tendo em 2.1 Composição do Lisímetro
vista grandes áreas que se tem disponíveis para
implantação do mesmo. A célula experimental foi construída em uma
Uma importante etapa na construção dos área da Universidade Federal de Campina
aterros sanitários é o processo de Grande (UFCG). O lisímetro tem seção
impermeabilização, desempenhando uma série transversal circular, com diâmetro de 2,00m e
de funções, desde evitar a contaminação do altura de 3,00m, com volume aproximado de
subsolo e lençóis freáticos, até impedir a 9m³, conforme desenho esquemático
proliferação de vetores e minimizar as emissões representado na Figura 1. Foi projetado visando
dos gases. Esta etapa se divide basicamente em facilitar a distribuição e a compactação dos
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resíduos no seu interior, uniformizar a Conjuntamente ao enchimento da célula,


distribuição das pressões laterais na parede realizou-se a instalação da instrumentação
interna do lisímetro e evitar caminhos geotécnica para análise dos recalques
preferenciais de percolação do lixiviado. superficiais e em profundidade. Intaslou-se oito
placas identificadas: as superficiais (A e B)
entre a massa de resíduos e a camada de
cobertura, e as em profundidade (1 a 6)
enumeradas de cima para baixo ao longo da
massa de resíduos, conforme mostrado na figura
1.
Concluída a parte inicial do projeto que
consiste na construção, instrumentação e
preenchimento do lisímetro, iniciou-se a fase de
monitoramento, durante o período de dois anos,
com o objetivo de analisar a degradação da
matéria orgânica, os recalques em diferentes
profundidades e, sobretudo, o comportamento
das camadas impermeabilizantes perante esses
processos ao longo do tempo.

2.2 Ensaios com o Solo

Inicialmente foi feita a escolha da jazida


localizada ao Sudoeste da cidade de Campina
Grande, seguido de uma análise prévia do solo
através de testes tátil e visual, o que sugeriu
tratar-se de um solo mais argiloso. Logo após,
realizou-se a coleta da amostra deformada, com
Figura 1. Desenho esquemático da célula experimental.
auxílio de pá, picareta e sacos de naylon.
Destinou-se a amostra para o laboratório de
Foram realizados ensaios de composição
solos da UFCG e fez-se a preparação da
gravimétrica, para investigação do percentual
amostra, com a secagem, destorroamento,
dos tipos de materiais constituintes, e de
quarteamento, pesagem e peneiramento do solo,
composição volumétrica dos resíduos sólidos,
e a partir de então a caracterização da amostra,
classificando-os individualmente cada
conformes as normas específicas da Associação
constituinte em volume. Com isso, tem-se uma
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), como
melhor caracterização do RSU e informações
indicado na Tabela 1.
sobre o possível comportamento. Os
procedimentos para a composição gravimétrica Tabela 1. Ensaios realizados no laboratório e Normas
foram realizados segundo a metodologia Réseau correspondentes.
Européen de Mesures pour la Caractérisation ENSAIO NORMA REFERENTE
des Ordures Ménagères (REMECOM) citada Preparação das NBR 6457/86 – Amostras de Solo –
por LIPOR (2000), e para a composição Amostras Preparação para ensaios de
compactação e ensaios de
volumétrica foram realizados segundo Catapreta caracterização
e Simões (2008) e Mariano et al. (2007).
Em seguida, fez-se os ensaios de Determinação NBR 6457/86 – Amostras de Solo –
caracterização do solo e efetuou-se a construção do Teor de Preparação para ensaios de
das camadas de base e cobertura do lisímero. Umidade com compactação e ensaios de
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Secagem em caracterização
Estufa

Determinação NBR 6508/84 – Grãos de solos que


da Massa passam na peneira de 4,8mm –
Específica dos Determinação da massa específica
grãos

Ensaio de NBR 7181/84 – Solo – Análise


Granulometria Granulométrica

Determinação NBR 7180/84 - Solo – Determinação


do Limite de do limite de plasticidade Figura 2. Camada de Base.
Plasticidade
Posteriormente à execução da camada de
Determinação NBR 6459/84 – Solo – Determinação base e cobertura do lisímetro, avaliou-se se a
do Limite de do limite de liquidez massa específica e a umidade obtidas “in situ”
Liquidez
estavam de acordo com o previsto no ensaio de
Ensaio de NBR 7182/86 – Solo – Ensaio de laboratório, por meio de um anel de aço de
Compactação compactação altura e diâmetro conhecidos.
Permeabilidade NBR14545/00 - Solo - Determinação A partir da determinação do Grau de
à carga do coeficiente de permeabilidade de Compactação (GC) foi dado o controle da
variável solos argilosos a carga variável
compactação do solo feita através da relação
entre a massa específica obtida no campo e a
massa específica máxima seca obtida em
Para a execução da camada de base do
laboratório (Equação 1).
lisímetro, verificou-se a umidade natural do
solo, pelo método do Speddy, de acordo com a
norma ME 052 (DNER, 1994), e com base nos
dados de laboratório, foi calculado a (1)
porcentagem de água necessária para que o solo
atingisse sua umidade ótima. Em seguida, Onde:
adicionou-se a água e homogenizou o solo até GC = grau de compactação;
formar uma massa.  s (campo) = massa específica obtida em
Com auxilio de um soquete manual, fez-se a campo;
compactação para a camada de base em  s (lab) = massa específica obtida em
camadas de sete centímetros de expessura,
laboratório;
obtendo-se a camada com altura média total de
20cm. Os mesmos procedimentos foram
adotados para a execução da camada de
3 RESULTADOS E DISCURSÕES
cobertura, que foi executada logo após a
instalação e preenchimento da célula.
3.1 Caracterização do RSU

A partir dos resultados da composição


gravimétrica mostrada na Figura 3, observa-se
que a maior parte dos resíduos coletados são
matéria orgânica putrescível, representando
66% do peso total, e que os plásticos
representam 11% do peso total dos resíduos.
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Este resultado é bem caracteristicos de paises


em desenvolvimento, com produção de RSU
sem muita presença de industrializados. Uma
alta porcentagem de materia orgânica remete a
degradação inicial mais rápida,
consequentemente a geração de lixiviado e
gases em maiores proporções.
Segundo Pereira et al., 2010, percentuais
maiores de matéria orgânica podem indicar um
menor desenvolvimento econômico da região, Figura 4. Composição Volumétrica dos Resíduos.
pois cidades mais desenvolvidas têm
percentuais menores de matéria orgânica. De O volume de plástico foi elevado se
acordo com Melo (2011), esse alto teor de comparado com a composição gravimétrica, por
matéria orgânica nos resíduos depositados pode tratar-se de um material leve. Os demais
indicar elevado percentual de deformação de resíduos depositados no interior do lisímetro
massa de resíduos resultando em grandes tais como, papel/papelão, compósitos, vidros,
recalques. metal, têxteis sanitários e outros, representam
cerca de 40% em termos de composição
volumétrica. Este valor pode ser considerado
relativamente alto, uma vez que estes materiais
são recicláveis, demonstrando a má gestão dos
resíduos na presente cidade.
Partindo dos resultados obtidos em ambas
composições, em termos de análise para efeitos
dos resíduos nas camadas impermeabilizantes,
nota-se que existe uma grande quantidade de
matéria orgânica, o que vai ocasionar uma
maior geração de chorume e gases, assim,
solicitando camadas mais eficientes nesses
quesitos.
Figura 3. Composição Gravimétrica dos Resíduos
3.2 Caracterização do Solo
Levando em consideração a composição
volumétrica mostrada na Figura 4, pode-se Analisando os dados coletados obtêm-se os
observar que os resíduos de maior resultados da caracterização do solo estudado, a
representatividade na composição volumétrica proporção granulométrica contém 10,37% de
dos resíduos foram a matéria orgânica com 38% pedregulho, 5,92% de areia grossa, 13,45% de
e em seguida os plástico, com 29% do volume areia média, 19,26% de areia fina, 23% de silte
total dos resíduos depositados. argila e 28% de argila. Nota-se que o solo
analisado possui um alto teor de finos, ou seja,
possui 51% de silte+argila (mais de 50%, em
peso, passando na peneira #200 – 0,075mm), o
que torna-se favorável para execução de aterro
sanitário, que demanda de uma maior
percentagem de finos, para uma melhor
compactação e impermeabilidade.
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A figura 5 representa a curva granulométrica Com base nas porcentagens granulométricas


do solo analisado. e Limites de Atterberg apresentados acima,
pode-se classificar o solo em estudo, pelo
sistema de classificação AASHTO (System was
developed by the American Association of State
Highway and Transportation Officials), como
A-6, grupo de solo do tipo argiloso, e ainda pelo
sistema de classificação Unificado de solos para
propósito de engenharia (ASTM D – 2487 – 69)
como CL, grupo de argilas siltosas inorgânicas
de plasticidade baixa a média. Dessa forma, o
solo é considerado apropriado para utilização
em camadas de base e cobertura de aterro
sanitário, por tratar-se de um solo fino e
Figura 5 – Curva granulométrica do solo. argiloso. Segundo Silva (2017) solos coesivos
são solos compostos por grãos finos, que,
Observando as porcentagens passantes na
quando compactados corretamente, possibilitam
peneira, o formato padrão apresentado
um baixo coeficiente de permeabilidade.
graficamente pela curva e os valores de
A figura 6 mostra a curva de compactação
coeficiente de curvatura (CC) e coeficiente de
para o solo estudado onde foi obtido a massa
não uniformidade (CU), de 1,92 e 1300,
específica aparente seca máxima e a umidade
respectivamente, tratando-se de um solo não
ótima, representando teor de umidade para que
uniforme e bem graduado, favorecendo o
obtenha-se a melhor compactação do solo.
entrosamento entre as partículas dos grãos por
possuir uma ampla gama de tamanhos, o que
geralmente ocasiona um solo que apresenta
menos espaços vazios e, consequentemente,
menor permeabilidade, sendo essas
características ideais para camadas
impermeabilizantes de aterros sanitários.
Tem-se que o Limite de Plasticidade
encontrado foi de 21,79%, e tem-se que o
Limite de Liquidez foi de 35,30%. Esses valores
representam os teores de umidades limites
superior e inferior no qual o solo exibe
comportamento plástico.
Os Limites de Atterberg e o Índice de Figura 6 – Curva de compactação do solo.
Platicidade são apresentados pela Tabela 3.
O solo apresentou para a camada de base
Tabela 2 - Limites de Atterberg
uma umidade ótima de laboratório de 17,5%,
Propriedades Resultados (%)
densidade máxima em laboratório de 1,83
Limite de liquidez 35,30 g/cm³, e para a camada de cobertura uma
Limite de plasticidade 21,79 umidade ótima de laboratório de 17,5%,
densidade máxima em laboratório de 1,83
Índice de pasticidade 13,51
g/cm³. Comportamento dentro do esperado para
solos argilosos. Ambas as camadas
apresentaram a umidade ótima em campo de
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18,0%. As desidades máximas em campo foram lisímetro, apresentando, então, recalques de


de 1,726 g/cm³ e 1,786, assim como grau de 52cm e 49cm, respectivamente.
compactação de 94% e 98%, respectivamente De acordo com Melo (2011), no centro do
para a camada de base e de cobertura. aterro há maior espessura de resíduos,
O grau de compactação (GC) de ocorrendo maiores recalques, de forma que o
aproximadamente 98%, representa um valor comportamento mecânico dos aterros sanitários
satisfatório levando-se em conta a compactação de RSU pode ser afetado se forem construídas
manual. Em campo, na utilização em aterros célula com alturas muito elevadas, o que
como sistema impermeabilizante, o controle da poderia ocasionar desmoronamento da massa de
compactação deve ser feito e aceito / rejeitado resíduos para o centro, comprometendo os
de acordo com as exigências do projeto nas taludes e a estabilidade do aterro.
especificações relacionadas à qualidade da Observa-se também, que na placa 6 não
compactação (LEITE, 2008). ocorreu recalque, como era esperado, pois a
A umidade higroscópica do solo pelo método placa está situada sobre a camada de base do
da estufa e speedy foi igual 3,7%. A massa lisímetro, não sofrendo deformações. Verificou-
específica dos grãos do solo estudado foi de se valores mais acentuados de recalques no
2,54 g/cm³, valores que se encontram dentro da inicio da pesquisa, até o 30° dia, provavelmente
faixa admissível de acordo com a literatura devido a fatores mecânicos, principalmente ao
(ABNT, 1984). peso próprio da massa de resíduo, além do peso
Quanto ao coeficiente de permeabilidade, da camada de cobertura e o preenchimento dos
determinado a partir do ensaio de vazios a partir da expulsão dos líquidos e gases.
permeabilidade com carga variável vertical, foi
de K= 2,4x10 −6 cm/s, considerado um valor
baixo, fornecendo ao solo características
impermeáveis e satisfazendo as condições de
execução de aterro sanitário. Segundo alguns
autores o coeficiente de permeabilidade
adequado para utilização de solos como camada
de cobertura em aterros de pertencer à faixa de
10 −5 a 10 −9 cm/s (MARIANO et al., 2007).
Figura 7 – Evolução dos recalques superficiais e em
profundidades ao longo do tempo.
3.1.2 Comportamento Mecânico do Lisímetro
Em células em escala real, Mariano (1999),
A figura 7 apresenta o gráfico traçado durante o Melo (2003) e Monteiro (2003) verificaram que
período de monitoramento, com base nas os recalques diminuem conforme a
leituras de recalque obtidas ao longo do tempo. profundidade vai aumentando. Segundo Melo
A partir dele, pode se observar que o recalque (2011), este fator ocorre porque os resíduos nas
máximo foi de 65cm apresentado pela placa 1, camadas profundas são mais influenciados pela
seguida de 56cm pela placa 2, localizadas a compactação devido ao peso próprio das
1770mm e 2000mm de profundidade, o que é camadas que estão acima e, a espessura da
perfeitamente justificável, uma vez que as camada vai diminuindo pela própria posição da
mesmas estão localizadas no centro do placa, além de que não se mede os recalques no
lisímetro, com maior concentração de massa de momento que os resíduos estão sendo
resíduos, não submetidos a ação de atrito dos depositados. Desta forma, os recalques
resíduos com as paredes dos lisímetro, que é o monitoramentos neste lisímetro tiveram um
que ocorre com as placas superficiais a e b,
localizadas mais próximas dos bordos do
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comportamento bastante típico de células em Paulo.


escala real. ABNT. (1984). NBR 7280 - Solos – Determinação do
Limite de Plasticidade. Associação Brasileira de
Os recalques apresentados refletem uma Normas Técnicas. São Paulo.
grande degradação, que está de acordo com a ABNT. (1986). NBR 6457 – Amostras de Solo –
análise gravimétrica, devido a marcante Preparação para ensaios de compactação e ensaios de
presença da matéria orgânica. Com isso, os caracterização. Associação Brasileira de Normas
recalques do lisímero tem a tendência de ocorrer Técnicas. São Paulo.
ABNT. (1986). NBR 7182 - Ensaio de Compactação.
mais rapidamente, o que representa a produção Associação Brasileira de Normas Técnicas. São
de lixiviados e gases com uma maior Paulo.
intensidade e, assim, demandando camadas de ABNT. (1986). NBR 7185 - Ensaio de Massa específica
base e cobertura com melhor desempenho. “in situ”. Associação Brasileira de Normas Técnicas.
São Paulo.
ABNT. (1992). NBR 8149 - Apresentação de Aterros
4 CONCLUSÕES Sanitários de Resíduos Sólidos Urbanos. Associação
Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro.
De acordo com a literatura técnica estudada, o ABNT. (2000). NBR 14545 - Ensaio de Permeabilidade.
solo selecionado atende aos parâmetros Associação Brasileira de Normas Técnicas. São
Paulo.
necessário para utilização em camada de base e
ABRELPE - Associação Brasileira das Empresas de
cobertura de aterros sanitários, tratando-se de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (2011).
um solo argiloso com baixa permeabilidade. A Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil. Dispinível
análise comportamental desse solo em camadas em: <
impermeabilizantes mostrou tratar-se de um http://www.abrelpe.org.br/panorama_envio.cfm?ano=
anexos2016>. Acesso em: 09 mai. 2018.
solo apropriado, apresentando eficácia em sua
BATISTA, L. S. (2012). Estudo de parâmetros
performance. Assim, o solo pode ser utilizado geotécnicos e suas interações em uma célula
para uma futura instalação de um aterro experimental de resíduos sólidos urbanos.
sanitário na cidade de Campina Grande-PB, Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de
tendo em vista suas boas características e a Campina Grande.
BRASIL, Lei N° 12.305 de 02 de agosto de 2010 -
disposição da jazida na localidade.
Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).
Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
AGRADECIMENTOS 2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em: 09 mai.
2018.
CATAPRETA, C. A. A., SIMÕES, G. F. (2008).
Agradecemos a Universidade Federal de
Evaluation of the Relation Between Precipitation and
Campina Grande (UFCG) por toda assistência e Leachate Flow in an Experimental Sanitary Landfill.
colaboração e a toda equipe pelo apoio para a In: XXXI Congresso Interamericano Aidis, pp. 12 -
concretização do estudo. 15, Santiago, Chile.
DNER ME (1994). ME-052/94. Solos e agregados
miúdos – determinação da umidade com emprego do
“Speedy”. Departamento nacional de estradas e
REFERÊNCIAS rodagens. 04p. Disponível em: <
http://www.ippuc.org.br/cd_caderno_de_encargos/vol
ume%2003_PDF/DNER-ME%20052-94.pdf>.
ABNT. (1984). NBR 6459 – Solo – Determinação do Acesso em: 09 mai. 2018.
limite de liquidez. Associação Brasileira de Normas JUNQUEIRA, F. F. (2000). Análise do Comportamento
Técnicas. São Paulo. de Resíduos Urbanos e Sistemas Dreno Filtrantes em
ABNT. (1984). NBR 6508 – Grãos de solos que passam Diferentes Escalas, com Referência ao Aterro do
na peneira de 4,8mm – Determinação da massa Jóquei Clube – DF. Tese de Doutorado, Universidade
específica. Associação Brasileira de Normas Técnicas. de Brasília.
São Paulo. LEITE, H.E.A.S (2008). Estudo do comportamento de
ABNT. (1984). NBR 7181 - Ensaio de Granulometria. aterros de RSU em um bioreator em escala
Associação Brasileira de Normas Técnicas. São experimental na cidade de Campina Grande -
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Paraíba. Dissertação de Mestrado. Universidade


Federal de Campina Grande.
LIPOR. (2000). Serviço Intermunicipalizado de Gestão
de Resíduos do Grande Porto. Caderno Técnico.
MARIANO, M.O.H. (1999). Estudo de Recalques no
Aterro da Muribeca. Dissertação de Mestrado.
Universidade Federal de Pernambuco.
MARIANO, M.O.H., MACIEL, F.J., FUCALE, S.P., et
al. (2007). Composição gravimétrica e volumétrica
dos RSU da célula piloto do aterro de resíduos
sólidos da Muribeca. In: 24º Congresso Brasileiro de
Engenharia Sanitária e Ambiental, pp. 2-7, Belo
Horizonte.
MELO, M. C. (2003). Uma análise de recalques
associada a biodegradação no aterro de Resíduos
Sólidos da Muribeca. Dissertação de Mestrado.
Universidade Federal do Pernambuco.
MELO, M. C. (2011). Influência da Matéria Orgânica
nos Recalques de Resíduos Sólidos Urbanos
Aterrados. 148p. Tese de Doutorado (Ciência e
Engenharia de Materiais). Universidade Federal de
Campina Grande, Campina Grande.
MONTEIRO, V.E.D. (2003). Análises Físicas, Químicas
e Biológicas no Estudo do Comportamento de Aterro
da Muribeca. Tese de Doutorado. Universidade
Federal do Pernambuco.
PEREIRA, F. T. G. et al. (2010). Reflexões sobre o
processo de urbanização e a necessidade de Gestão
Ambiental: O caso dos RSS de Saúde da cidade de
Campina Grande/Pb. Revista REUNIR.
PEREIRA, F. T. G., LEITE, H. E. A., GARCEZ, L.R., et
al. (2010). Composição Gravimétrica dos Resíduos
Sólidos Urbanos da Cidade de Campina Grande-PB.
In: SINRES-2º Simpósio Nordestino de Resíduos
Sólidos, pp 19-21, Campina Grande - PB.
SILVA, T. F. D. (2017). Estudo de mistura de solos para
impermeabilização eficiente de camada de base de
aterros sanitários. Dissertação de Mestrado.
Universidade Federal de Campina Grande. Disponível
em: < http://www.ppgeca.ufcg.edu.br/dissertacoes-
menu/dissertacoes-2017/send/17-dissertacoes-
2017/34-estudo-de-mistura-de-solos-para-
impermeabilizacao-eficiente-de-camada-de-base-de-
aterros-sanitarios>. Acesso em: 21 jul. 2018.
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Estudo Experimental da Erosão em Margens de Reservatório pela


Simulação de Diferentes Escoamentos Superficiais
Marlon Silva Schliewe
FURNAS Centrais Elétricas S.A., Goiânia, Brasil, marlonss@furnas.com.br

Ricardo Moreira Vilhena


FURNAS Centrais Elétricas S.A., Goiânia, Brasil, rvilhena@furnas.com.br

Márcia Maria dos Anjos Mascarenha


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, marciamascarenha@gmail.com

Joel Roberto Guimarães Vasco


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, joelvasco@ufg.br

Maurício Martines Sales


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, sales.mauricio@gmail.com

RESUMO: A erosão hídrica que afeta os solos em margens de reservatórios de usinas hidrelétricas
provoca maior aporte de sedimentos e redução do potencial de geração de energia elétrica. Para
contribuir com a abordagem desse problema, foram coletadas amostras indeformadas de solo na
margem direita do reservatório da usina hidrelétrica de Itumbiara, localizada ao sul do Estado de
Goiás, para um estudo de erodibilidade. Foram simulados em laboratório quatro escoamentos
superficiais distintos, com duas declividades de fundo (22,5° e 45,0°) e em cada uma dessas
declividades duas vazões diferentes (28 L/min e 50 L/min). Os resultados mostraram que a
velocidade de produção de sedimentos (g/s) tende a assumir o esboço aproximado de uma função
potência, e que a correlação com velocidade de atrito teórica do escoamento indica uma forma de
análise alternativa para avaliar a erodibilidade do solo.

PALAVRAS-CHAVE: Reservatórios, Sedimentos, Erodibilidade, Declividade, Vazão.

1 INTRODUÇÃO para concluir que a deposição de sedimentos no


reservatório do lago Grenada em um período de
A degradação das margens dos reservatórios 50 anos, em Mississippi nos Estados Unidos,
pela erosão hídrica promove danos ambientais, provocou uma redução de 3% na capacidade de
como a redução progressiva de áreas com armazenamento.
vegetação nativa, e impactos sócio-econômicos, A erosão hídrica do solo se estabalece pela
quando põe em risco áreas cultiváveis. Além interação entre dois conjuntos de variáveis, o
disso, gera prejuízos econômicos ao primeiro é o conjunto das propriedades do solo
empreendimento de geração pela redução do que definem sua erodibilidade, enquanto o
volume útil do reservatório, não só em função segundo é o conjunto das características do
da maior deposição de sedimentos, como escoamento que podem ser vistas como
também pela alteração topológica das margens. indicativos do seu potencial erosivo
Bennett, Rothon e Dunbar (2005) usaram (erosividade).
pesquisas geofísicas por perfilagem acústica Com base nessa relação entre erodibilidade
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do solo e erosividade do escoamento, não seria também as características do equipamento


incorreto deduzir que uma estratégia natural utilizado nos ensaios de erodibilidade e as
para a avaliação da erodibilidade do solo pode considerações sobre as análises dos
ser a variação experimental da erosividade do escoamentos simulados.
escoamento. Quanto mais sensível o solo se
mostrar diante as variações do escoamento, 2.1 Área de Estudo
mais erodível ele será.
Shen et al. (2015) usaram uma rampa de 10 Na área de extração das amostras há uma
metros de extensão, e de inclinação ajustável, ocorrência de erosão lacustre, com formação de
para avaliar a erodibilidade de um cambissolo praia fluvial, na margem direita do reservatório
cálcico, com 28,3% de areia, 58,1% de silte e da usina hidrelétrica de Itumbiara, próximo às
13,6% de argila. Foram simuladas chuvas em 3 coordenadas 18°23'02'' sul e 49°03'28'' oeste. A
declividades diferentes (10°, 15° e 20°). Os usina hidrelétrica de Itumbiara localiza-se ao sul
experimentos mostraram o quanto a produção do Estado de Goiás, divisa com Minas Gerais
de sedimentos se intensificou com o incremento (Figura 1), e seu reservatório tem cerca de 150
da declividade. km de extensão sobre o rio Paranaíba, 70 km
Haghighi et al. (2013) testaram diferentes sobre o rio Corumbá e 50 km sobre o rio
amostras de solos em ensaios do tipo pinhole Araguari. A Figura 2 indica a localização da
(furo de agulha), variando o escoamento interno área de estudo, com relação a barragem da
nas amostras pela alteração do gradiente usina.
hidráulico. Cada tipo de solo apresentou uma
taxa de variação diferente no gráfico da
produção de sedimentos em função do
incremento do gradiente hidráulico, sendo que
os solos mais erodíveis apresentaram variação
mais intensa.
Skafel e Bishop (1994), com base em
resultados de ensaios de erodibilidade pela ação
de ondas, feitos com amostras indeformadas em
um canal de ondas, correlacionaram as taxas de
erosão obtidas com a tensão cisalhante de
fundo, estimada pela velocidade de escoamento
das ondas sobre as amostras. Cada tipo de solo
testado apresentou diferentes variações na taxa
de erosão.
Figura 1. Localização de Itumbiara, Goiás. Fonte: Google
A proposta desse trabalho é avaliar a Earth © 2016 de Landsat US Dept of State Geographer.
variação da taxa de erosão a partir de distintas
configurações de escoamentos superficiais, em
função da variação da velocidade de atrito
média estimada para cada escoamento.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Nesta seção é apresentada uma descrição da


área de estudo e dos ensaios realizados para Figura 2. Indicação da área de Estudo.
caracterização do solo. São apresentadas
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Os tipos de rocha predominantes na área são niveladas, com o excesso do material


basalto e rochas metamórficas xistosas. Os determinou-se do grau de saturação inicial de
solos que ocorrem na área são argissolos ou cada amostra. A pesagem do molde com o solo
combinações de latossolo com argissolo, em permitiu ainda a determinação da massa
perfis profundos (de mais de 1m) e em perfis específica seca natural e do índice de vazios.
muito profundos (de mais de 2m).
Pela classificação climática de Köppen- 2.2 Ensaios de Caracterização do Solo
Geiger, o reservatório de Itumbiara está em uma
região do tipo Aw (zona tropical), com máxima Foram coletadas amostras deformadas da área
pluviosidade no verão e inverno seco (Peel, de estudo, na mesma profundidade de extração
Finlayson e McMahom, 2007). As temperaturas das amostras indeformadas, para caracterização
médias variam de 21° a 25° graus Celsius e a geotécnica.
pluviosidade média mensal varia de 10 mm no Foram determinados os valores de massa
período seco a 285 mm no período mais específica dos grãos segundo a NBR 6458
chuvoso (do Prado, 2013). (ABNT, 2016a), do limite de plasticidade
segundo a NBR 7180 (ABNT, 2016b), do limite
2.1.1 Coleta e Preparação das Amostras de liquidez segundo a NBR 6459 (ABNT,
2016c) e da distribuição granulométrica
As amostras foram obtidas pela cravação segundo a NBR 7181 (ABNT, 2016d).
cuidadosa de amostradores metálicos com Adicionalmente, também foi feito o ensaio de
dimensões de 10 cm × 10 cm e 5 cm de dispersão pela comparação sedimentométrica
profundidade. As extrações foram feitas na segundo a NBR 13602 (ABNT, 1996).
profundidade mais próxima possível da Para avaliar as propriedades típicas de solos
superfície que permitisse a obtenção de blocos tropicais foi utilizado o método expedito das
íntegros, como mostrado na Figura 3. pastilhas (Villibor e Nogami, 2009) que
consiste na moldagem de corpos de prova em
forma de pastilhas de 20 mm de diâmetro e 5
mm de espessura e posterior análise de seus
comportamentos ao secar e reabsorver água por
contato com uma pedra porosa úmida. A partir
dos valores de penetração de um molde
padronizado e dos valores de contração
diametral é possível confirmar ou não o
comportamento laterítico do solo.

2.3 Equipamento de Laboratório


Figura 3. Extração de amostras indeformadas.
Para a realização dos ensaios de erodibilidade,
Nos blocos extraídos foram conservados utilizou-se o equipamento desenvolvido por
excessos de material nas partes superior e Aguiar (2009) mostrado na Figura 4. O
inferior dos moldes e os mesmos foram assim equipamento consiste numa calha de acrílico,
embalados com filme plástico e papel de com declividade de fundo ajustável.
alumínio para prevenir a perda excessiva da As principais dimensões do equipamento são
umidade natural. mostradas na Figura 5. A calha principal tem 1
Na preparação, imediatamente antes do metro de extensão e 10 cm de largura, o
início do ensaio de erodibilidade, as faces receptáculo que recebe as amostras tem seção
superior e inferior dos moldes foram cortadas e quadrada de 10 cm por 10 cm e profundidade de
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5 cm. Na extremidade oposta à amostra há um uma peneira de 75 μm nos tempos de 1 minuto,


reservatório que recebe a vazão de entrada e 2 minutos e meio, 5 minutos, 7 minutos e meio,
uniformiza o escoamento. 10, 15, 20, 30, 40, 50 e 60 minutos.
Para o cálculo da velocidade média de atrito
em cada ensaio, algumas simplificações foram
feitas quanto ao regime de escoamento. O
escoamento em superfície livre foi considerado
como permanente, uniforme e incompressível.
Nessas condições, a velocidade de atrito média
estaria em função de uma tensão média de
cisalhamento entre o fluido e a seção da calha,
que equilibra o somatório de forças na direção
principal do escoamento.
A altura da lâmina d'água verificada durante
os ensaios foi muito pequena, nas quatro
configurações testadas, impossibilitando seu
monitoramento por medição direta ou por meio
de instrumentos. Portanto, para estimar essa
altura de lâmina d'água foi utilizada a fórmula
Figura 4. Ilustração do equipamento.
empírica de Manning que associa o coeficiente
de rugosidade de Chézy a um coeficiente n,
chamado de coeficiente de Manning. O valor do
coeficiente n de Manning para o acrílico ou
vidro encontrado na literatura e considerado no
cálculo foi de 0,012 (Brunner, 2016; Bilgil,
2012).
A Figura 6 mostra uma foto tirada durante
um experimento e tratada com um ajuste na
luminância para destacar a água, onde é
possível ver, pela comparação com a escala
Figura 5. Dimensões do equipamento.
gráfica, que altura da lâmina d'água é bem
menor que a largura da calha.
Foram testadas 5 amostras indeformadas nos
ensaios de erodibilidade, em quatro arranjos
diferentes de escoamento como mostrado na
Tabela 1. Foram testadas duas amostras no
cenário de provável menor erosividade.

Tabela 1. Arranjos testados com as respectivas amostras.


Escoamento Vazão Q Declividade Amostras
(L/min) (°)
arranjo 1 28 22,5 amostras 1 e 2
arranjo 2 28 45,0 amostra 3
arranjo 3 50 22,5 amostra 4
arranjo 4 50 45,0 amostra 5

Os ensaios foram conduzidos com a vazão


mantida constante por 60 minutos, e os Figura 6. Detalhe da altura de lâmina d'água durante um
sedimentos foram coletados com o auxílio de experimento.
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Com base nessa observação, admite-se a consistência e as principais faixas


hipótese de canal retangular largo, em que a granulométricas obtidas por peneiramento e
largura (b) é muito maior que a altura (y), ou sedimentação.
seja, b >> y. Nesses casos, o raio hidráulico Rh é
aproximadamente igual a altura normal y do Tabela 2. Resultados de Caracterização do solo.
escoamento. A simplificação de canal Propriedade Valor médio encontrado
ρs – Massa específica dos
retangular largo aplicada à equação de Manning 2,81
grãos (g/cm³)
permite calcular y pela Equação 1: wP – Limite de
31
plasticidade (%)
3 wL – Limite de liquidez
 nQ 5 (%)
49
y 1  (1) IP – Índice de plasticidade
 bS 2  18
 0  (%)
Percentual de areia com
29,91
dispersante (%)
onde, y é altura de lâmina d'água em metros, n é Percentual de silte com
o coeficiente de Manning, Q é a vazão em m³/s, 22,86
dispersante (%)
b é a largura da calha em metros e S0 é a Percentual de argila com
36,24
declividade de fundo. dispersante (%)
A tensão cisalhante média τ0 (em kN/m²) Percentual de areia sem
30,38
dispersante (%)
pode ser obtida pela Equação 2: Percentual de silte sem
41,30
dispersante (%)
 0   Rh sen  (2) Percentual de argila sem
23,39
dispersante (%)
onde γ é o peso específico da água em kN/m³,
Rh é o raio hidráulico em metros e θ é o ângulo As distribuições granulométricas, com as
entre o canal e horizontal. Por sua vez, a diferenças máximas e mínimas com relação a
velocidade de atrito u* (em m/s) é dada pela média, é apresentada na Figura 7.
Equação 3:

0
u*  (3)

onde ρ é a massa específica da água em kg/m³.

3 RESULTADOS

Nessa seção são apresentados os resultados de


caracterização do solo quanto as suas
propriedades físicas, o cálculo das propriedades
Figura 7. Curvas de distribuição granulométrica do solo.
dos escoamentos simulados e a análise dos
resultados obtidos nos ensaios de erodibilidade.
O solo é um silte de baixa plasticidade (ML),
pelo sistema unificado de classificação (SUCS),
3.1 Caracterização das Amostras
e classificado como laterítico arenoso pelo o
método expedito da pastilha para classificação
A Tabela 2 resume os valores obtidos para
de solos tropicais.
massa específica dos grãos, limites de
A Tabela 3 apresenta as propriedades das
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amostras indeformadas, submetidas aos ensaios


de erodibilidade, onde e0 é o índice de vazios
inicial, ρd a massa específica seca e Sr o grau de
saturação inicial.

Tabela 3. Caracterização das amostras indeformadas.


Amostra e0 ρd Sr
(g/cm³) (%)
amostra 1 1,673 1,050 34,11
amostra 2 1,613 1,074 33,11
amostra 3 1,667 1,052 31,40
amostra 4 1,537 1,106 32,12
amostra 5 1,683 1,046 29,67
Figura 8. Curvas de produção de sedimentos em função
3.2 Dados dos Escoamentos Simulados do tempo.

Foram simulados quatro arranjos diferentes de


escoamento mostrados na Tabela 2, onde são
listadas também as respectivas amostras de solo
que foram ensaiadas em cada arranjo.

Na Tabela 4 estão os valores de altura média


y de lâmina d'água, tensão cisalhante média τ0 e
velocidade de atrito u*; calculados pelas
equações (1), (2) e (3) respectivamente, para
cada escoamento.

Tabela 4. Valores calculados para os escoamentos. Figura 9. Percentuais de perda de massa e de volume.
Escoamento Altura y Tensão Vel. atrito
cisalhante τ0 u* 3.4 Análise das Curvas de Produção de
(mm) (kN/m²) (cm/s)
arranjo 1 3,66 0,013 11,84
Sedimentos
arranjo 2 5,19 0,018 14,09
arranjo 3 2,81 0,019 14,10 Visando a análise numérica das curvas de
arranjo 4 4,11 0,027 16,78 produção de sedimentos de cada ensaio de
erodibilidade, foram realizadas regressões não
3.3 Resultados dos Ensaios de Erodibilidade lineares com inferência de um intervalo de
confiança com base no método proposto por
Nesta seção serão apresentados os dados dos Bates e Watts (2008).
ensaios de erodibilidade, separados conforme os Para os cinco ensaios realizados a função que
diferentes valores de velocidade de atrito. A apresentou melhor ajuste aos dados
Figura 8 apresenta as curvas de produção de experimentais foi uma função potência com a
sedimentos em função do tempo. seguinte forma:
Na Figura 9 são apresentados os percentuais
de perda de massa e de volume em função da y (t )  at b (4)
velocidade de atrito calculada.
onde y(t) é a massa de sendimentos produzidos
em função do tempo. A primeira derivada da
Equação 4 é apresentada na Equação 5.
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dy
 bat b 1 (5)
dt

Considerando-se as funções obtidas pelo


processo de regressão como funções de
velocidade de produção de sedimentos, como
realmente são, pode-se afirmar que a Equação 5
fornerce a variação instantânea dessa
velocidade. A partir do incremento de tempo na
Equação 5 torna-se possível uma avaliação
cinética simplificada do processo erosivo
simulado, podendo-se determinar, por exemplo, Figura 11. Ensaio 2 (Q = 28 L/min e θ = 22,5°).
o tempo decorrido para que essa taxa de
variação atinja um valor mínimo, o que
poderíamos defini-lo como o tempo de
estabilização do processo erosivo, para cada
escoamento simulado.
As Figuras de 10 a 14 mostram as curvas
ajustadas para cada ensaio, incluindo os limites
inferior e superior para um intervalo de
confiança de 95%.

Figura 12. Ensaio 3 (Q = 28 L/min e θ = 45°).

Figura 10. Ensaio 1 (Q = 28 L/min e θ = 22,5°).

Figura 13. Ensaio 3 (Q = 50 L/min e θ = 22,5°).


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As Figuras 15 e 16 são modelos


tridimensionais do topo de uma das amostras
obtidos com o auxílio de um scanner laser, um
antes do ensaio e outro ao final de ensaio, e
mostram, ainda que qualitativamente o quão
intensas são essas alterações, mesmo diante do
menor valor calculado para velocidade de atrito.
Convém ressaltar também que o modelo
matemático definido pelo processo de regressão
não pode ser extrapolado para todo e qualquer
ensaio de erodibilidade, pois está fortemente
associado ao tipo de equipamento usado, às
Figura 14. Ensaio 3 (Q = 50 L/min e θ = 45°). variações que o mesmo permite e suas
limitações, ao tipo de amostra testada, tipo de
solo e ao processo de preparação adotado.
4 DISCUSSÕES

Com base na premissa de que a erosão hídrica


do solo se estabelece pela interação de dois
conjuntos de variáveis, que são as propriedades
do amostra (erodibilidade) e características do
escoamento (erosividade), o que se buscou
nesse trabalho foi trabalhar como o mesmo tipo
de solo, em condições iguais de amostragem e
preparação, de maneira que nos ensaios fossem
melhor estudadas apenas as variações da
erosividade, ou seja, dos escoamentos.
A Tabela 3 mostra como as características Figura 15. Topo inicial do ensaio 1 (Q = 28 L/min e θ =
22,5°).
das amostras pouco variaram no que diz
respeito ao índice de vazios e ao grau de
saturação inicial. Uma mudança metodológica
capaz de uniformizar mais ainda as amostras, no
caso de amostras indeformadas, seria a pré-
saturação antes do ensaio, para atenuar o efeito
da sucção total inicial.
As Figuras 8 e 9 permitem uma avaliação da
erodibilidade do solo ensaio em termos de
produção total de sedimentos, enquanto que as
Figuras de 10 a 14, por sua vez, possibilitam
uma análise mais pormenorizada da
erodibilidade, em intervalos de tempo
específicos. Figura 16. Topo final do ensaio 1 (Q = 28 L/min e θ =
22,5°).
A rigor, todos os escoamentos testados
ocorrem em regime de turbulência, o que
exigiria o uso de métodos de estimativa
consideravelmente mais complexos. AGRADECIMENTOS

Esse trabalho é parte de uma pesquisa de


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mestrado apoiada pela empresa Eletrobras Channel Flows. Turkish J. Eng. Env. Sci, Volume 27
Furnas, a partir da sua unidade GST.E pp. 305-3013.
Brunner, G.W. (2016). River Analysis System Hydraulic
(Gerência de Serviços Tecnológicos) que Reference Manual. Computer Program
conduz projetos de pesquisa na área de erosão Documentation, US Army Corps of Engineers, 547 p.
em margens de reservatório sob a coordenação Do Prado, H. (2013). Pedologia Fácil - Aplicações em
da engenheira Dra. Marta Pereira da Luz. solos tropicais. 4a. ed. Piracicaba(São Paulo): s.n.,
Especiais agradecimentos aos técnicos da 284 p.
Haghighi, I.; Chevalier, C.; Duc, M.; Guédon, S.;
GST.E Diógenes Rodrigues Nunes e Luiz Philippe Reiffsteck, A. M. (2013). Improvement of
Antônio Silva na condução da coleta das Hole Erosion Test and Results on Reference Soils.
amostras, e também à toda a equipe de operação Journal of Geotechnical and Geoenvironmental
da usina hidrelétrica de Itumbiara, pelo apoio na Engineering, Vol. 139, doi:
infraestrutura e no acesso à área de estudo. 10.1061/(ASCE)GT.1943-5606.0000747.
Peel, M.C., Finlaysom, B.L. McMahon, T.A. (2007).
Ao LAHE.E (Laboratório de Hidráulica Updated world map of the Köppen-Geiger climate
Experimental) pelo gentil empréstimo do classification. Hydrology Earth System Sciences,
scanner laser. Volume 11, 11 Outubro, pp. 1633-1644.
Shen, H.; Zheng, F.; Wen, L.; Han, Y.; Hu, W. Impacts of
rainfall intensity and slope gradient on rill erosion
processes at loessial hillslope (2015). Soil & Tillage
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Skafel, M. G.; Bishop, C. T. (1994). Flume Experiments
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. on the Erosion of Till Shores by Waves. Coastal
(2016a) NBR 6458 - Grãos de pedregulho retidos na Engineering, Volume 23, pp. 329-348.
peneira de abertura 4,8 mm - Determinação da massa Villibor, D.F.; Nogami, J.S. (2009) Pavimentos
específica, da massa específica aparente e da absorção Econômicos. São Paulo(SP): Arte & Ciência, 291 p.
de água. Rio de Janeiro, 10p.
ABNT______. NBR 6459 (2016c) - Solo - Determinação
do limite de liquidez. Rio de Janeiro, 5 p.
ABNT______. NBR 7180 (2016b) - Solo —
Determinação do limite de plasticidade. Rio de
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granulométrica. Rio de Janeiro, 12 p.
ABNT______. NBR 13602 (1996) - Solo - Avaliação da
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Aguiar, V.G. (2009). Bacia Hidrográfica do Córrego
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Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) ‒
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Goiás, Goiânia(Goiás).
Bates, D.M.; Watts, D.G. (2008) Nonlinear Regression
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Estudo Pedológico em Área de Aterro Sanitário do Consórcio de


Municípios do Agreste e Mata Sul do Estado de Pernambuco
Raliny Mota de Souza Farias
Universidade Federal de Pernambuco-UFPE, Recife, Brasil, raliny.mota@gmail.com

Laís Roberta Galdino de Oliveira


Universidade Federal de Pernambuco-UFPE, Recife, Brasil, laisgaldino@gmail.com

Ericka Patrícia Lima de Brito


Universidade Federal de Pernambuco-UFPE, Recife, Brasil, erickaplb@gmail.com

Sílvio Romero de Melo Ferreira


Universidade Federal de Pernambuco-UFPE, Recife, Brasil, sr.mf@hotmail.com

José Fernando Tomé Jucá


Universidade Federal de Pernambuco-UFPE, Recife, Brasil, jucah@ufpe.br

RESUMO: A estrutura de um aterro de resíduos sólidos urbanos apresenta características e


comportamento semelhante aos maciços de solos, neste sentido o presente trabalho tem o objetivo
de estudar os solos dos municípios do COMAGSUL/PE para determinar as características, dentre as
áreas disponíveis, que tornaram possível a implantação do aterro sanitário da região. A metodologia
consistiu em realizar a caracterização pedológica da área em estudo, obtida a partir do Zoneamento
Agroecológico do Estado de Pernambuco (ZAPE), correlacionando-as com as propriedades
geotécnicas e aplicabilidade do material. Como resultado, a área de implantação do aterro
apresentou solos formados predominantemente por podzólicos e podzólicos vermelho-amarelo,
atendendo as condições de aplicabilidade à nível intermediário para camada de base, além de
latossolos e regossolos para empréstimos aplicáveis as camadas de cobertura e material drenante.

PALAVRAS-CHAVE: aterro sanitário, pedologia, COMAGSUL, ZAPE.

1 INTRODUÇÃO como aterro sanitário, esses processos devem


ser analisados durante todas as fases do
A elevada geração de resíduos sólidos urbanos empreendimento (instalação, funcionamento e
(RSU) representa um desafio para gestão das desativação).
cidades, e destinar adequadamente esse material Para atender a legislação atual e a
não incide em tarefa trivial aos seus necessidade de encaminhamento adequado ao
administradores. O aterro sanitário, por lixo das cidades, o Consórcio dos Municípios
exemplo, é uma obra complexa e do Agreste e da Mata Sul do estado de
interdisciplinar de engenharia, onde são Pernambuco (COMAGSUL/PE), que trabalha
atendidos os quesitos que possibilitam dar um nos âmbitos administrativo e financeiro de
destino apropriado aos resíduos. Neste contexto, cooperação técnico-científica, pedagógica, de
o papel da geotecnia consiste em realizar intercâmbio turístico e cultural e principalmente
estudos dos processos do meio físico e suas de preservação ao meio ambiente, incluindo
possíveis interações com o projeto. Em obras agricultura, gestão ambiental e política de
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resíduos sólidos, dentre outras ações, adotou fisiográficos e geomorfológicos. Para por fim
como medida de ótica sustentável a implantação correlacionar tais características com as
de um aterro sanitário que atendesse aos propriedades geotécnicas e aplicabilidade do
municípios da região, o que demandou não material no uso do solo em obras de aterro,
somente um estudo ambiental, como também sendo confeccionados mapas de aplicabilidade
um estudo geotécnico da área. (bom, ruim e regular) para camada de base,
As consequências da disposição dos resíduos camada de cobertura e material drenante,
estão relacionadas com estudos pedológicos do através da ferramenta ARCGIS PRO.
solo principalmente por dois motivos: a análise
da migração de contaminantes, e a garantia da
estabilidade dos maciços usados para disposição 2 DESENVOLVIMENTO
dos resíduos (TRESSOLDI & CONSONI,
1998). Entre os processos do meio físico que 2.1 Implantação de Aterro Sanitário
acarretam maior influência na estabilidade dos
aterros sanitários estão evidenciados a erosão De acordo com NBR 13896 (ABNT, 1997) que
pela água, o escorregamento, a deposição de fala sobre critérios para projeto, implantação e
sedimentos ou partículas, inundações, operação de aterros de resíduos não perigosos,
escoamento das águas em superfície e diversos critérios técnicos devem ser levados
movimentação da água em subsuperfície. em consideração, alguns deles são:
De acordo com a Lei nº 12.305/2010 que - Topografia: declividade superior a 1% e
institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos inferior a 30%;
(PNRS), na elaboração dos Planos Municipais - Geologia e tipos de solos existentes:
de Gestão Integrada dos Resíduos Sólidos coeficiente de permeabilidade inferior a 10-6
(PMGIRS), entre seus conteúdos mínimos está cm/s e uma zona não saturada com espessura
a necessidade de identificação de áreas superior a 3 metros;
favoráveis à disposição final ambientalmente - Recursos hídricos: distância mínima de 200
adequada de rejeitos (BUENO, 2013). m de qualquer coleção hídrica ou curso de
Avaliando todos os aspectos do água;
conhecimento de áreas naturais que serão objeto - Vegetação: plantas que auxiliem na redução
de intervenções é essencial, para garantir o da erosão, da formação de poeira e transporte
sucesso do empreendimento, minimizar custos de odores;
futuros com a correção de problemas - Acessos: fácil acesso e bom estado de
geotécnicos, que envolvam fatores geológicos e conservação das vias;
pedológicos. Dessa maneira, este trabalho teve - Tamanho disponível e vida útil: vida útil
o objetivo de estudar os solos dos municípios mínima de 10 anos;
do COMAGSUL/PE (Altinho, Agrestina, - Custos: viabilidade econômica do
Belém de Maria, Bonito e Lagoa dos Gatos) empreendimento;
para determinar as características, dentre as - Distância mínima a núcleos populacionais:
áreas disponíveis, que tornaram susceptível a distância superior a 500 m do limite da área
implantação do aterro sanitário, analisando os útil do aterro a núcleos populacionais.
riscos geotécnicos da disposição inadequada de O Plano Estadual de Resíduos Sólidos de
seus resíduos. Adotando como metodologia, a Pernambuco – PERS/PE (SEMAS, 2012) fala
caracterização pedológica da área em estudo, que ao analisar a disponibilidade de área para
obtida a partir do Zoneamento Agroecológico construção de aterros deve ser levado em
do Estado de Pernambuco (ZAPE), que também consideração os aspectos locacionais de alguns
forneceu informações acerca da localização e do municípios, decorrente da pouca
acesso, além dos aspectos socioeconômicos, disponibilidade de áreas com características
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técnicas e ambientais adequadas para


construção de aterros sanitários e a facilidade de
acesso viário. Tal realidade é bastante
recorrente em cidades com pequenas áreas
territoriais.
Com relação ao solo, que é o foco principal
desse trabalho, devem ser observadas as
condições geológicas (substrato rochoso),
geomorfológicas (relevo e dinâmica superficial)
e pedológica (cobertura do solo), destacando-se
a importância da caracterização do manto de Figura 1 - Estrutura de um dreno de lixiviado em um
aterro sanitário. Fonte: Corsini (2014).
intemperismo – profundidade e propriedades
geotécnicas, bem como disponibilidade de áreas
2.2 Caracterização dos Municípios do
de empréstimo para a cobertura diária dos
COMAGSUL/PE
resíduos.
No Brasil, de acordo com a CETESB (1997),
Os municípios desta pesquisa que visa
o solo de uma área para implantação de um
identificar uma ideal delimitação de solos para
aterro sanitário deve ter uma composição
construção de aterros sanitários estão inseridos
predominantemente argilosa, sendo o mais
no Estado de Pernambuco, onde quatro deles
impermeável e homogêneo possível, além de
estão localizados na Região de
não apresentar grandes quantidades de pedras,
Desenvolvimento do Agreste Central –
matacões e rochas aflorantes.
Agrestina, Altinho, Lagoa dos Gatos e Bonito –
Quanto à pedologia, não se recomenda a
e um na Região de Desenvolvimento da Mata
implantação de aterros sanitários em solos glei
Sul – Belém de Maria. A Figura 2 apresenta um
ou saprólito, devido a presença de lençol
trecho do mapa de Pernambuco, onde estão
freático muito elevado, capacidade adsortiva e a
localizados os cinco municípios.
sua condutividade hidráulica.
De acordo com Cuty (2005), a camada de
base e a camada de cobertura deve ter as
seguintes características:
- Camada de base: trabalhabilidade como
material de fundação, impermeável quando
compactado, resistência compactada e saturada,
baixa compressibilidade compactada e saturada,
e má característica de drenagem;
- Camada de cobertura: resistência às
condições climáticas (e consequentemente a
erosões), bem como ataques químicos, suporte
sobrecargas e recalques acentuados.
E nos sistemas drenantes recomenda-se a
utilização de solos com perfis rígidos Figura 2 - Localização dos municípios em trecho do mapa
provenientes de rocha ou regossolos. Os drenos de Pernambuco
de lixiviado, do tipo espinha de peixe, de
acordo com Corsini (2014), são escavadas em Em termos gerais, esses municípios
larguras predeterminadas em projeto, que apresentam uma média de aproximadamente
podem ser preenchidas com tubo drenante e 22.600,6 habitantes, sendo o menos populoso o
brita, ou somente brita, como mostra a Figura 1. município de Belém de Maria, com 11.777
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habitantes, e o mais populoso o município de elevada (meio predominantemente alcalino),


Bonito, com 38.278 habitantes (IBGE, 2014). consistência de média a dura e com resistência a
Apesar de possuírem um baixo grau de compressão simples. Para o selamento do aterro
desenvolvimento econômico, esses municípios é preferível usar material nativo argiloso,
apresentam uma economia fundamentada nos compactável, com permeabilidade, suscetível a
setores de serviços, indústrias e agropecuários. acabamento com formato abaulado (para reduzir
Dentre os municípios, destaca-se o potencial ravinamento ou formação de poças d’água na
turístico de Bonito, que atrai cerca de 200 mil superfície).
visitantes ao ano. Tais dados influênciam a Logo, o estudo pedológico do solo para
geração e o descarte dos resíduos sólidos da implantação de aterro sanitário deve envolver
região. características geotécnicas que correspondam a
três fases de uso do solo:
2.3 Condicionantes Geológicos, Geotecnicos - Camada de cobertura de aterro sanitário:
e Pedologicos necessita de material argiloso, com baixa
atividade (não expansivo), baixa
Para caracterizar uma área deve-se apresentar permeabilidade e baixa porosidade. Solo
um estudo geológico, geotécnico e pedológico evoluído não saturado.
do terreno envolvido no aterro sanitário, que - Camada de base de aterro sanitário: boa
contribua objetivamente para a avaliação dos capacidade de suporte, material argiloso com
riscos de poluição das águas e das condições de baixa atividade, permeabilidade e porosidade.
estabilidade dos maciços. Não sofrer reações de oxirredução na presença
Com o avanço do conhecimento técnico e a de água, portanto, solo não saturado.
escalada dos processos de degradação no meio - Material drenante para aterro sanitário:
ambiente, surge a necessidade de maiores deve apresentar boa capacidade de suporte,
informações referentes à integração destes formado por material granular, material
resíduos com o meio geotécnico e sua dinâmica. pedregulhoso de baixa compressibilidade, baixa
Sabe-se que para construção de aterros é plasticidade, formado por material poroso e
indicado relevos pouco acidentados e áreas na permeável.
faixa de afloramentos com formações muito Diante deste contexto é importante analisar
permeáveis, porém, contraindicado zonas de as características e propriedades das feições
instabilidade tectônica, unidades muito geológicas e do perfil pedológico dos solos dos
permeáveis e áreas de calcários com processo cinco municípios do COMAGSUL/PE para
de dissolução subterrânea. Recomenda-se que o melhor identificar a área de implantação do
depósito de resíduos seja constituído por rochas aterro sanitário.
estáveis, com o maior grau de Segundo a CPRM (2014) o estado de
impermeabilização possível, dificultando a Pernambuco tem seu subsolo formado,
migração dos vetores de contaminação e/ou predominantemente, por rochas pré-cambrianas
poluição. pertencentes ao Cráton do São Francisco e à
Se houver sedimentos ou porção de solo, Província Borborema, que ocupam cerca de
estes devem possuir permeabilidade na faixa de 90% de seu território, sendo recobertas, em
10-7 a 10-5 cm/seg, com predominância de menor proporção, por bacias sedimentares
solos silto-argilosos, presença de cimento paleomesozoicas interiores e bacias litorâneas
intersticial, com leitos ou camadas francamente mesocenozoicas.
argilosas. Os municípios pertencentes ao
A camada de solo deve ser a mais COMAGSUL/PE, estudados neste trabalho,
homogênea possível (isenta de blocos grandes), localizam-se na região da Província Borborema,
com capacidade de adsorção e de troca iônica composta basicamente por supracrustais e
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granitoides, entre outros, conforme destacado dos rios e riachos, ocorrem os Planossolos,
abaixo (Figura 3). medianamente profundos, imperfeitamente
drenados, com textura média/argilosa,
moderadamente ácidos de fertilidade natural
alta e problemas de sais. Ocorrem ainda
Afloramentos de rochas, conforme Figura 4.

Figura 3 - Localização das rochas mesoproterozoicas


(Cariris Velhos) no estado de Pernambuco.
Fonte: GOMES (2001, p. 161).

Quanto à formação pedológica de Figura 4 – Solos do município de Altinho-PE


Pernambuco, percebe-se muitas diferenças Fonte: ZAPE (2000).
ambientais ao longo de sua superfície, que se
modificam de acordo com o clima, relevo, 2.3.2 Agrestina
altitude, vegetação e geologia. Em
consequência, mudam os tipos de solos, assim Semelhante ao município de Altinho,
como as formas de uso e ocupação da terra. apresentam Superfícies suave onduladas a
Conforme Embrapa (2000), os solos que se onduladas, com ocorrência de Planossolos,
destacam nos cinco municípios escolhidos do medianamente profundos, fortemente drenados,
COMAGSUL são das 9 classes pedogenéticas ácidos a moderadamente ácidos e fertilidade
citadas, Planossolo, Latossolo, Podzólico, natural média (Figura 5)
Podzólico Vermelho-Amarelo, solos Aluviais,
Vertissolo, Regossolo, Gleissolo e Solos
Litólicos, e em menor quantidade das classes
Podzólico Amarelo, Solonetz Solodizado e
Cambissolo. A seguir destaca-se a pedologia em
cada município.

2.3.1 Altinho

Nas superfícies suaves onduladas a onduladas,


ocorrem os Planossolos, medianamente
profundos, fortemente drenados, ácidos a
moderadamente ácidos com fertilidade natural Figura 5 - Solos do município de Altinho-PE. Fonte:
média e ainda os Podzólicos, que são ZAPE (2000).
profundos, apresentam textura argilosa, e
fertilidade natural média a alta. Nas Elevacões Os Podzólicos presentes, também são
ocorrem os solos Litólicos, rasos, textura profundos, de textura argilosa, e fertilidade
argilosa e fertilidade natural média. Nos Vales natural média a alta. Nas Elevacões ocorrem os
solos Litólicos, rasos, de textura argilosa e
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fertilidade natural média, porém, não 2.3.5 Lagoa dos Gatos


apresentam vales.
Solos formados a partir da decomposição de
2.3.3 Belém de Maria rochas do embasamento cristalino, com
predominância de podzólico vermelho
Os solos são oriundos da decomposição de amarelado, de composição areno-argilosa,
rochas do embasamento cristalino, sendo, em semelhante ao município de Belém de Maria,
sua maioria, do tipo podzólico vermelho com elevada presença de latossolos. Em
amarelado, de composição areno-argilosa. Nos vertentes íngremes foram identificados os
topos planos predominam os latossolos, nas podzólicos e, também em fundos chatos dos
vertentes íngremes, os podzólicos e nos fundos vales estreitos observou-se a existência de
chatos dos vales estreitos, os gleissolos de gleissolos de várzea (Figura 8).
várzea, conforme observado na Figura 6.

Figura 8 - Solos do município de Lagoa dos Gatos-PE.


Figura 6 - Solos do município de Belém de Maria-PE. Fonte: ZAPE (2000).
Fonte: ZAPE (2000).

2.3.4 Bonito 3 METODOLOGIA


Os solos dessa unidade geoambiental são Como metodologia foi realizado um estudo
representados predominantemente por pedológico de aplicabilidade dos solos dos
Latossolos nos topos planos, sendo profudos e municípios do COMAGSUL/PE, Altinho,
bem drenados (Figura 7). Agrestina, Belém de Maria, Bonito e Lagoa dos
Gatos, incluído mapa de cores, para
determinação das características onde foi
implantado o aterro sanitário da região.
Utilizou-se como base pedológica o mapa
fornecido pelo Zoneamento Agroecologico do
Estado de Pernambuco (ZAPE). O ZAPE fatia a
área do Município em várias unidades de
mapeamento, cada unidade pode conter um
componente de solo, ou mais de um, onde cada
componente possui uma determinada fração em
porcentagem da quantidade existente nele.
De acordo com as características
Figura 7 - Solos do município de Bonito-PE. Fonte:
ZAPE (2000).
pedogenéticas dos solos, foi possível realizar a
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identificação de cada solo quanto ao seu grau de aterros sanitários foram gerados diferentes
susceptibilidade e aplicabilidade, dando a mapas, através da ferramenta ARCGIS PRO
unidade de solo um peso (1, 2 e 3) para compor (licença livre), com os cinco munícipios que
cada grau. A Equação 1 abaixo determina o compõem o COMAGSUL/PE, a partir da base
procedimento para obtenção do grau final do de dados ZAPE (2001).
solo.

(1) 4 RESULTADOS

Onde, GS - grau de susceptibilidade ou Inicialmente foram obtidos resultados da


aplicabilidade final; %soloi - porcentagem do susceptibilidade aos fenômenos geotécnicos,
componente de solo presente na unidade de onde encontrou-se o grau de susceptibilidade de
mapeamento e GSsoloi - grau do componente de cada tipo de solo, de acordo com seus
solo presente na unidade de mapeamento. componentes, para descobrir o nível de
Analisou-se cada tipo de classe pedológica susceptibilidade, em princípio à expansão dos
quanto à influência da susceptibilidade ao solos dos municípios do COMAGSUL,
colapso, expansão e propriedades erosivas em conforme observado na Figura 10.
aterros sanitários, onde:
ALTA (3) – Correspondeu a elevada
possibilidade de ocorrência do fenômeno.
Condição de risco.
MÉDIA (2) – Correspondeu a possibilidade
ou não de ocorrência do fenômeno.
BAIXA (1) – Correspondeu a pouca ou
nenhuma possibilidade de ocorrência do
fenômeno.
Ao final foi adotado o critério abaixo para
determinação do Grau de susceptibilidade Figura 10 – Mapa de cores representando o grau de
(Figura 9). susceptibilidade à expansão.

Observou-se que a maior parte dos solos dos


municípios estudados tem baixa
Figura 9 – Escala do grau de susceptibilidade
susceptibilidade a expandir-se, essa propriedade
confere boa característica para aplicabilidade
Com a análise das propriedades para em aterro sanitário principalmente em camadas
determinação do uso do solo em obras de cobertura. No município de Altinho-PE uma
geotécnicas considerou-se alguns requisitos área extensa tem susceptibilidade média, que de
básicos para que o material seja de boa acordo com os componentes do solo pode
qualidade. Identificou-se cada tipo de classe interferir ou não nas atividades do ativo. Um
pedológica quanto a sua aplicabilidade, como: pequeno setor apresentou vertissolo de alta
BOM (3) – Aplicável à obra susceptibilidade a expansão, esse setor deve ser
REGULAR (2) – Possibilidade ou não de desconsiderado em obras de aterro sanitário.
aplicabilidade na obra. Quanto ao nível de susceptibilidade ao
RUIM (1) – Não aplicável à obra. colapso a maior parte dos solos dos municípios
A partir do grau de susceptibilidade à estudados também apresentam baixa
fenômenos geotécnicos e aplicabilidade dos susceptibilidade à colapsar, favorecendo a
solos à etapas de implantação e operação de aplicabilidade em aterro sanitário,
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principalmente para os solos dos Municípios de pedogenéticos para encontrar o nível de


Altinho e Agrestina. Nos municípios de Bonito- aplicabilidade dos solos.
PE, Belém de Maria-PE e Lagoa dos Gatos-PE
uma área extensa tem susceptibilidade média, 4.1 Área de Implantação do Aterro e
esses setores devem ser evitados em camada de Aplicabilidade em Camada de Base
base de aterro sanitário (Figura 11).
Grande extensão dos municípios apresentou
nível regular à ruim para implantação de base
para aterro sanitário, conforme Figura 13.
Considerando a necessidade de um aterro
sanitário na região considerou-se apropriado a
implantação na área de nível regular localizada
na área superior do mapa, entre Altinho-PE e
Agrestina-PE por apresentar baixa
dispersividade, colapsividade e média
expansibilidade, pois o setor regular referente
Figura 11 - Mapa de cores representando o grau de aos municípios de Bonito-PE, Belém de Maria-
susceptibilidade ao colapso. PE e Lagoa dos Gatos-PE apresentam
susceptibilidade maior ao colapso que a área
Notou-se também que boa parte dos solos indicada.
dos municípios estudados tem susceptibilidade
a dispersar (erodir) suas partículas de solo, essa
propriedade confere risco para aplicabilidade
em aterro sanitário. Apenas uma área entre
Altinho e Agrestina manifesta baixa erosão, o
que favoreceu a implantação da obra neste
setor. Nos municípios de Bonito-PE, Belém de
Maria-PE e Lagoa dos Gatos-PE uma área
extensa tem susceptibilidade média e alta à
erosão, esses setores devem ser utilizados com
cautela em camada de cobertura de aterro Figura 13 – Mapa de cores para o grau de aplicabilidade
sanitário. dos solos à camada de base em aterro sanitário

4.2 Aplicabilidade em Camada de Cobertura

Os solos que abrangem a área do COMAGSUL


apresentaram níveis bem variado quanto à
aplicabilidade em camada de cobertura para
aterro sanitário (Figura 14). Considerando que a
área de implantação de aterro foi a localizada na
área superior do mapa, entre Altinho-PE e
Agrestina-PE, é possível direcionar toda a área
Figura 12 - Mapa de cores representando o grau de de latossolos referente aos municípios de
susceptibilidade à dispersão. Bonito-PE, Belém de Maria-PE e Lagoa dos
Gatos-PE para serem aplicados como camada
Após a análise dos fenômenos geotécnicos de cobertura do aterro, esse material pode ser
foi realizado o grau de susceptibilidade de cada removido e transportado para a área escolhida
tipo de solo, de acordo com seus componentes de acordo com a necessidade e operacionalidade
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do aterro sanitário. São considerados bons para A área (circulada em vermelho) indica os
aplicação por serem de baixa expansibilidade e setores considerados apropriados à implantação
consideravelmente profundos, garantindo uma do aterro, conforme Figura 16. A área
boa jazida de solos. implantada é formada predominantemente de
solos podzólicos e podzólicos vermelho-
amarelo, e confere as características necessárias
para aplicação da obra. Já o setor circulado em
azul é formado predominantemente de
latossolos variados, e pode ser utilizado para
coleta e transporte de material para compor as
camadas de cobertura do aterro. Por fim, a área
assinalada com um X na cor verde compreende
o setor indicado para fornecimento de materiais
capazes de compor a drenagem do aterro,
Figura 14 – Mapa de cores do grau de aplicabilidade dos caracterizado predominantemente por
solos à camada de cobertura de aterro sanitário
regossolos.
4.3 Material Drenante

As jazidas de aplicabilidade regulares para


materiais drenantes são mais isoladas nos
municípios do COMAGSUL, tais materiais
também podem ser coletados e transportados
para a área de implantação, por isso a parcela de
regossolo do município de Altinho-PE deve ser
a principal fonte de material de drenagem deste
aterro, em caso de necessidade a jazida do Figura 16 – Mapa esquemático das áreas de implantação
município de Lagoa dos Gatos-PE também pode do aterro sanitário, jazidas para camada de cobertura e
fornecer material drenante, conforme observado drenos.
na Figura 15.
Este estudo pode se tornar ferramenta
importante na manutenção e operacionalidade
do aterro sanitário existente, uma vez que indica
para quais áreas e quais solos devem ser
utilizados, assim como apresenta quais
materiais podem oferecer risco à expansão,
colapso e erosão na obra. Essas características
também são importantes para redução da
contaminação dos solos em algumas áreas de
destinação inadequada (lixões) distribuídos nos
Figura 15 - Mapa de cores do grau de aplicabilidade dos municípios analisados.
solos à material drenante para aterro sanitário.

De acordo com todos os estudos de 5 CONCLUSÕES


susceptibilidade desenvolvidos foi possível
identificar as características pedológicas que A identificação dos condicionantes geológicos,
favoreceram a implantação do aterro sanitário geotécnicos e pedogenéticos apresentaram
na região. características relevantes que contribuíram para
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a diferenciação dos solos da área estudada. Para REFERÊNCIAS


a implantação de aterros, esses condicionantes
apresentaram-se como importantes ferramentas ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR
de tomada de decisão. 13896 - Aterros de resíduos não perigosos - Critérios
para projeto, implantação e operação. Rio de
No referido estudo, realizou-se a Janeiro-RJ, 1997.
caracterização de cinco municípios do Bueno, D. C. F. Contribuição aos Estudos para Seleção
COMAGSUL/PE, onde foi possível observar de Áreas para Construção de Aterros Sanitários. IX
que, de maneira geral, eles apresentam um Fórum Ambiental da Alta Paulista, v. 9, n. 11, 2013.
baixo grau de desenvolvimento econômico, com CETESB – Companhia Ambiental do Estado de São
Paulo. Aterro sanitário. Apostilas ambientais. São
uma economia fundamentada nos setores de Paulo-SP, 1997.
serviços, indústrias e agropecuários. Portanto, a Corsini, R. Saneamento: Drenagem de aterros sanitários.
caracterização pedológica da área pode Infraestrutura Urbana: projetos, custos e construção.
proporcionar economia aos municípios, não só Edição 40, 2014. Disponível em: <
pela associação para destinação adequada dos http://infraestruturaurbana17.pini.com.br/solucoes-
tecnicas/40/drenagem-de-aterros-sanitarios-313543-
resíduos, como também para melhor uso do 1.aspx >. Acesso em: 17 de Setembro de 2017.
solo, tornando a operação do aterro CPRM - Serviço Geológico do Brasil. Geodiversidade do
enconomicamente viável à longo prazo. estado de Pernambuco / Organização Fernanda
Na correlação das características pedológicas Soares de Miranda Torres [e] Pedro Augusto dos
Santos Pfaltzgraff – Recife, 2014.
com as propriedades geotécnicas foi possível
Cuty, E. B. Escolha de uma área para disposição final
identificar que quanto à suscetibilidade ao dos resíduos sólidos urbanos e dimensionamento de
colapso e a expansão grande parte das classes um aterro sanitário para a cidade de Campos dos
pedológicas apresentaram pouca ou nenhuma Goytacazes/RJ. Trabalho de Conclusão de Curso da
possibilidade de ocorrência do fenômeno; já em Universidade Estadual do Norte Fluminense – UENF.
Campos dos Goytacazes - RJ, 2005.
termos de erodibilidade, observou-se variações
EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa
entre alta e baixa para os solos dos cinco Agropecuária. Levantamento de reconhecimento de
municípios estudados, porém, o município de baixa e média intensidade dos solos do Estado de
Agrestina apresentou para todas as Pernambuco/José Coelho de Araújo Filho.... [et al.].
classificações pouca ou nenhuma possibilidade Centro Nacional de Pesquisa de Solos - CNPS - UEP
Recife, 2000.
de ocorrência dos fenômenos de risco, o que
GOMES, H.A. Geologia e recursos minerais do estado
favoreceu a implantação do aterro. de Pernambuco. Convênio CPRM/Governo do Estado
A avaliação da aplicabilidade do material de Pernambuco/AD-DIPER. 198 p. 2 mapas. Escala
demonstrou que para a camada de base os solos 1:500.000. Projeto Mapeamento Geológico-
mais indicados eram os localizados na divisa Metalogenético Sistemático. Recife: CPRM, 2001.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
entre os municípios de Altinho e Agrestina, por Projeções e estimativas da população do Brasil e das
possuírem predominância de solos podzólicos e Unidades da Federação. 2014.
podzólicos vermelho-amarelo. Belém de Maria, SEMAS – Secretaria de Meio Ambiente e
Bonito e Lagoa dos Gatos apresentaram Sustentabilidade. Plano estadual de Resíduos sólidos
excelentes jazidas de latossolos para Urbanos de Pernambuco. Recife-PE, 2012.
Tressoldi, M. & Consoni, A.J. Disposição de Resíduos.
aplicabilidade em camadas e cobertura, e In: OLIVEIRA, A.M.S. & BRITO, S.N.A. (Eds.).
também foram encontrados setores isolados de Geologia de Engenharia. São Paulo: Associação
regossolos apropriados para utilização em Brasileira de Geologia de Engenharia (ABGE), 1998.
drenos. Cap. 21, p. 343 a 360.
Por fim, o estudo demonstrou-se relevante ZAPE - Zoneamento Agroecológico do Estado de
Pernambuco. Mapa de Reconhecimento de Baixa e
tanto para manutenção e operacão do aterro, Média Intensidade de Solos. EMBRAPA
quanto para controle de contaminação dos solos Pernambuco, 2001. Disponível em <
da região de acordo com suas propriedades http://www.uep.cnps.embrapa.br/zape/index.php?link
geotécnicas e pedológicas. =zapenet> Acesso em: Setembro de 2017.
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Estudos, Análises e Proposta de Recuperação para um Processo


Erosivo Localizado às Margens da DF 250 no Distrito Federal
Rideci Farias
UCB / Reforsolo Engenharia / UniCEUB / IesPlan, Brasília, Brasil, rideci.reforsolo@gmail.com

Haroldo Paranhos
UCB / Reforsolo Engenharia / UniCEUB / IesPlan, Brasília, Brasil, reforsolo@gmail.com

Luana Rangel Marques


UCB / Brasília, Brasil, luanar22.marques@gmail.com

Nelson Otávio da Motta Vieira


UFMS / Campo Grande, Brasil, motta4001@gmail.com

Yngrid Pereira Marques


UCB / Brasília, Brasil, yngrid_marques94@hotmail.com

RESUMO: A implantação de obras lineares, como rodoviárias, sem os devidos cuidados ao meio
físico podem ocasionar sérios e numerosos problemas erosivos. Na região central do Brasil, em
particular no Distrito Federal, há um caso em que a situação não é muito diferente, requerendo
intervenções urgentes com vistas à recuperação. Dentro desse contexto, este trabalho objetiva
apresentar os resultados de estudos geotécnicos executados em um processo erosivo localizado às
margens da DF 250, bem como a indicação de solução para recuperação. Subsidiado pelas
avaliações de campo e estudos geotécnicos realizados, parte-se para a proposição de uma solução
para recuperação do processo erosivo. O sistema de intervenção proposto se constitui na execução
de canal e escada hidráulica em gabiões com vistas a acompanhar possíveis acomodações no solo,
mas também reintegrar a obra ao meio ambiente com o surgimento da vegetação entre os espaços
vazios da estrutura.

PALAVRAS-CHAVE: Distrito Federal, DF 250, Processo Erosivo, Recuperação.

1 INTRODUÇÃO Na parte de campo foram executados trabalhos


de avaliação da área, sondagens a trado, ensaios
Este trabalho apresenta os resultados dos de infiltração e coleta de amostras de solos.
estudos geotécnicos executados in situ e em Para os ensaios de laboratório foram coletados
solos coletados na área de um processo erosivo solos nas profundidades de 0,3 a 1,5 metros e
localizado às margens da DF 250, no Distrito nos próprios taludes da erosão. Com vistas às
Federal, bem como a indicação de solução para análises de estabilidade são apresentados os
recuperação desse processo erosivo. Os serviços estudos com o objetivo de se verificar fatores
foram realizados em conjunto com as equipes de segurança para situações típicas ao longo do
técnicas da Reforsolo Engenharia Ltda. e da processo. Em seguida, subsidiado pelas
ARS Consult. avaliações de campo e estudos geotécnicos
Os estudos consistiram na execução de realizados, parte-se para a proposição de uma
trabalhos de campo, laboratório e de escritório. solução para recuperação do processo erosivo.
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A Tabela 1 apresenta um resumo dos serviços ocorre a formação da erosão superficial e em


realizados para o desenvolvimento deste sulcos; II - na segunda fase há o
trabalho. aprofundamento em seção “V” até atingir a
rocha decomposta; III- na terceira fase ocorre o
Tabela 1. Resumo dos ensaios realizados. desenvolvimento na rocha decomposta com
Serviço Quantidade escavações no sentido horizontal propiciando a
Sondagens a trado 15 formação de uma seção em forma de “U”; e, IV
Coleta de amostras deformada 10 - na quarta fase ao nível de base da rocha sã,
Coleta de amostras indeformadas 2 com alargamento de base e surgimento de
Limites de liquidez 10 novas erosões nos flancos.
Limite de plasticidade 10 Mortari (1994) propôs um “Modelo
Granulometria com sedimentação 10 Encaixado” para evolução das erosões no
Densidade real dos grãos 10 Distrito Federal como sendo fruto dos
Ensaios de permeabilidade in situ 5 condicionantes geológico-geotécnicos e
Ensaios de cisalhamento direto 2 estruturais da região, principalmente da
Estudo de estabilidade de taludes 6 orientação, mergulho das camadas dos
saprólitos e metassedimentos do domínio
geológico local.
2 MODELO EVOLUTIVO DE EROSÕES Pelo “Modelo Encaixado”, no início do
PARA A REGIÃO / CARACTERIZAÇÃO DO processo erosivo as voçorocas apresentam
PROCESSO EROSIVO geralmente a forma em “V” e evoluem em
profundidade, largura e extensão em função dos
No Distrito Federal a origem de vários condicionantes hídricos e características
problemas de degradação ambiental são geotécnicas do solo;
causadas por grandes voçorocas que geram o O processo evolui até atingir o substrato
assoreamento dos cursos d’água e reservatórios. rochoso, que na região do Distrito Federal é
Costa (1981) cita que uma erosão na cidade constituído em maioria de ardósia e
satélite do Gama escavou em 7 anos um volume metarritimitos que, face à tectônica atuante,
de solo e rocha alterada de aproximadamente apresentam seus estratos bastante inclinados,
660.000 m3, significando uma média de 95.000 com mergulho das camadas da ordem de 40º a
m3/ ano. 60º;
Segundo Camapum de Carvalho et al. O fluxo d’água ao atingir esse contato, tende
(1993), o aparecimento de erosões no Distrito a se “encaixar” e fluir seguindo
Federal está relacionado a dois agentes erosivos aproximadamente a sua orientação e tendendo a
principais: ação do homem e da água, os quais se aprofundar, acompanhando o próprio
geralmente ocorrem associados, embora em mergulho das camadas menos resistentes;
diferentes proporções e condicionados pela À medida que o encaixe se aprofunda, torna-
erodibilidade do solo. se mais evidenciado, e o material vai ficando
Há vários modelos que tentam traduzir os mais resistente, tendendo a estabilizar o fundo
processos evolutivos das erosões para as mais da erosão, com o desgaste da base passando a
diversas localidades. Costa (1981) realizou ser considerado um processo de erosão
estudos sobre as erosões na cidade satélite do geológica normal. Este tipo de comportamento
Gama (DF) e classificou dois tipos principais de dificulta o meandro do canal de fundo,
ocorrência, a erosão laminar e as voçorocas. impedindo a erosão lateral com alargamento da
Com as análises do processo de evolução das base (forma trapezoidal) até um perfil de
erosões, classificou o desenvolvimento da equilíbrio com posterior desenvolvimento de
erosão em quatro fases: I - na primeira fase vegetação.
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No Distrito Federal, ocorrem erosões


tipicamente em forma de “V” e a profundidade
está limitada à existência de saprólitos.
O desenvolvimento do processo erosivo em
questão está principalmente associado à
drenagem da área a montante que é direcionada
às margens da rodovia. Para evitar o avanço do
processo foram executadas diversas bacias com
pequenos barramentos em solo. Entretanto, esse
tipo de solução em muitas das vezes provoca o
rompimento desses barramentos vindo a
aumentar o processo erosivo.

3 LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE
EXECUÇÃO DOS ESTUDOS

As Figuras 1 e 2 retiradas do Google Earth


mostram visões macro e micro da área de
execução dos estudos.

Figura 2. Visão macro da área de execução dos estudos


(DF 250).

A área de inserção do processo erosivo se


caracteriza por ser de média declividade e os
solos predominantes são típicos no Distrito
Federal com latossolos vermelhos / amarelos.
As Figuras 3 a 9 vistas da área em questão.

Figura 3. Vista processo erosivo próximo às margens da


Figura 1. Visão macro da área de execução dos estudos rodovia.
(DF 250).
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Figura 4. Vista processo erosivo próximo às margens da Figura 7. Perfil de solo da erosão (Camada inferior).
rodovia.

Figura 5. Coleta de solo no talude para estudo em Figura 8. Vista do processo erosivo e coleta de solo para
laboratório. estudo em laboratório.

Figura 6. Perfil de solo da erosão (Existência de dois tipos Figura 9. Vista do processo erosivo e coleta de amostra
de solos). indeformada de solo para estudo em laboratório.
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4 RESULTADOS DOS ENSAIOS 55


Limite de Liquidez (Casagrande)

Equação para a Amostra 1


GEOTÉCNICOS 54

53
Amostra 1

Amostra 2
y = -6,616ln(x) + 70,13
R² = 0,986

52 Amostra 3

As amostras deformadas foram coletadas ao 51 Amostra 4

longo do vale da erosão e utilizadas nos ensaios 50 Amostra 5

Umidade (%)
49 Amostra 6

de caracterização. As indeformadas foram de 48 Amostra 7

dois horizontes representativos denominados de 47

46
Amostra 8

Amostra 9

solo superior e solo inferior e utilizadas nos 45 Amostra 10

ensaios de cisalhamento direto para a obtenção 44 Log. (Amostra 1)

43

dos parâmetros de resistência para análises de 1 10


Nº de golpes
100

estabilidades dos taludes da erosão e foram Figura 11. Limites de liquidez para as Amostras 1 a 10.
executados com o solo inundado para um
possível comportamento mecânico crítico. Cisalhamento - Saturado (Solo Superior)
100
Procedeu-se a dez ensaios de permeabilidade, in y = 0,4148x + 7,10
R² = 0,9983
situ, em cinco pontos diferentes nas 80

profundidades de 1,0m e 2,0m para cada ponto 60


a fim de determinar a taxa de infiltração da
t (kPa)

água no solo. Os ensaios foram executados de 40

acordo com normas ABNT ou procedimentos 20


usuais utilizados em laboratório geotécnico.
0
0 50 100 150 200 250
s (kPa)

4.1 Ensaios de Caracterização e Figura 12. Cisalhamento para a camada superior.


Cisalhamento
Cisalhamento Inundado (Solo Inferior)

As Figuras 10 a 13 mostram resultados dos 100


y = 0,4643x + 6,61
ensaios de granulometria, limite de liquidez e 80
R² = 0,9998

cisalhamento direto (executados de forma lenta,


60
para os solos superior e inferior coletados em
t (kPa)

talude da erosão). As Tabelas 2, 3 e 4 40


apresentam resumos dos resultados dos ensaios
20
geotécnicos para as amostra citadas. Em termos
táteis-visuais, as amostras coletadas apresentam 0
0 50 100 150 200
características de argila siltosa a pouco s (kPa)

siltosa/pouco arenosa vermelha/amarela. Figura 13. Cisalhamento para a camada inferior.


Granulometria - Amostras 1 a 10
100,0
Tabela 2. Resumo dos resultados dos ensaios geotécnicos
90,0 Amostra 1 efetuados e parâmetros determinados para o solo
80,0
Amostra 2
superior.
Amostra 3
70,0
Amostra 4
SOLO SUPERIOR
60,0
Amostra 5
Peso Específico Natural nat 12,11
% passa

50,0 Amostra 6
(kN/m3)
40,0 Amostra 7
7 (Condição
30,0
Amostra 8
Coesão Efetiva c' (kPa)
Amostra 9 Inundada)
20,0
Amostra 10
24 (Condição
10,0
Ângulo de atrito efetivo ' (graus)
0,0
Inundada)
0,001 0,010 0,100 1,000 10,000 100,000
Diâmetro das partículas (mm)

Figura 10. Granulometrias para as Amostras 1 a 10.


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Tabela 3. Resumo dos resultados dos ensaios geotécnicos 5 ANÁLISES DE ESTABILIDADES


efetuados e parâmetros determinados para o solo inferior.
SOLO INFERIOR Ao longo do processo erosivo há taludes com
nat variadas alturas e angulações. Alturas que
Peso Específico Natural 15,12
(kN/m3) variam, em alguns pontos, a mais de 10 (dez)
7 (Condição metros. Para verificação de estabilidade dos
Coesão Efetiva c' (kPa)
Inundada) taludes, foram analisados três casos nas alturas
27 (Condição de 7 (sete), 5 (cinco) e 3 (três) metros, fixando-
Ângulo de atrito efetivo ' (graus)
Inundada) se as angulações dos taludes em 60º. Ressalte-
se que existem taludes com angulações de até
Tabela 4. Resumo dos resultados dos ensaios geotécnicos
90º que combinado a outros fatores agravam
para as 10 amostras deformadas coletas.
Amostra LL LP ρ % % % ainda mais o avanço da erosão. Tais estudos
g/cm3 Areia Silte Argila foram subsidiados em seções aproximadas
1 48,8 33,5 2,67 22,7 37,0 38,8 existentes ao longo do processo erosivo, mais
2 50,2 35,5 2,69 28,3 32,6 39,0
especificamente na área próximo ao trevo, onde
3 49,2 37,2 2,74 25,0 37,0 38,1
4 49,1 35,1 2,68 40,2 21,6 38,1 o processo erosivo avança às proximidades das
5 50,0 36,6 2,67 19,2 37,6 43,2 margens da DF 250, conforme mostra a Figura
6 49,0 37,2 2,66 33,6 39,9 26,5 14. Os estudos foram desenvolvidos para as
7 48,1 37,6 2,64 34,7 38,3 27,1
condições atuais e possível saturação parcial do
8 47,2 37,2 2,64 18,3 40,3 41,3
9 48,0 36,7 2,67 16,1 45,3 38,7 solo que pode perfeitamente ocorrer no período
10 46,9 36,8 2,72 27,3 40,8 32,0 chuvoso.

4.2 Ensaios de Infiltração Área de taludes


próximos à rodovia
A campanha de ensaios de infiltração
compreendeu um total de dez ensaios, seguindo
a recomendação da ABGE - Boletim 04 - NBR
13969 - NBR 7229, bem como a identificação
táctil-visual dos solos.
Para os ensaios de infiltração “in situ” foram
definidos 5 (cinco) pontos ao longo da área
estudada. As localizações dos pontos foram
definidas na avaliação de campo e visaram
verificar os coeficientes de permeabilidade dos
estratos superficiais para a área compreendida
pelos pontos de sondagens a trado.
Os ensaios consistiram da execução nas
profundidades de 0,0m a 2,0 m. A cada ponto
foram executados dois ensaios de infiltração
(1,0m e 2,0 m) com vistas a verificar uma
média ao longo do perfil de solo em estudo. A
permeabilidade média dentre os dez ensaios foi
de 7,1 x 10 - 4 cm/s, taxa de infiltração de 22
minutos / metro, e taxa de aplicação de 0,28 m 3
/ m2 x dia. Figura 14. Área de estudo dos taludes.
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13
As análises foram efetuadas por meio do
programa SLOPE/W, distribuido pela
GeoStudio international, utilizando-se os 14 1.024
parâmetros de resistências obtidos nos ensaios 12

de cisalhamento direto na condição inundada 10


3
10
Solo Superior
4
9
Peso Específico = 12.11 kN/m3
visando um possível comportamento crítico do 8
Ângulo de Atrito = 24º
16

Altura (m)
Coesão = 7 kPa
1
solo. 6
Inicialmente foram realizadas análises sem 2 8

4 15
considerar a presença do lençol freático nos Solo Inferior
5 6
Peso Específico = 15.12 kN/m3 2
taludes. Posteriormente analisaram-se situações 2
Ângulo de Atrito = 27º
Coesão = 7 kPa
com a presença do nível d’água em casos 0
1
0 2 4 6 8
11

10 12 14
12

16 18
7
20 22 24
intermediários nos taludes o que seria uma Distância (m)
simulação de saturação "parcial" dos mesmos Figura 15. Caso 1 (Talude com 7,0m de altura e
com o período chuvoso. inclinação de 60º) – Resultado da análise de estabilidade
Nas Figuras 15 a 20 são apresentadas as sem N. A.
situações sem e com a influência do lençol 13

freático nas profundidades de 7 (sete), 5 (cinco)


e 3 (três) metros. 0.895
Em termos práticos considerou-se o fator de 14
12
segurança mínimo igual a 1,50 como o
3 4
necessário e suficiente para estabilidade nas 10 10
Solo Superior
9
Peso Específico = 12.11 kN/m3 16
situações estudadas, sujeitos à exposição de 8
Ângulo de Atrito = 24º
Altura (m)

17 Coesão = 7 kPa
18 1
longos períodos, que teve seus parâmetros 6
19
20
2 8
adequadamente determinados em laboratório de
4 15
acordo com procedimentos normalizados em Solo Inferior
5 6

2 Peso Específico = 15.12 kN/m3 2


geotecnia. Ângulo de Atrito = 27º
Coesão = 7 kPa
1 11 12 7
A Tabela 5 apresenta o resumo dos fatores 0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24

de segurança encontrados para cada seção Distância (m)


analisada. Figura 16. Caso 1 (Talude com 7,0m de altura e
inclinação de 60º) – Resultado da análise de estabilidade
Tabela 5. Resumo dos Fatores de segurança encontrados com N. A.
para cada seção analisada.
13
FATOR DE SEGURANÇA
OBTIDO (FS)
CASO Talude
Talude Natural 14
Parcialmente 12

Figura FS Figura FS 10
1.208
3 16
1 (Altura = 7,0 m) Figura 15 1,024 Figura 16 0,895 8 10 94
Altura (m)

Solo Superior
6 1 kN/m3
Peso Específico = 12.11
2 (Altura = 5,0 m) Figura 17 1,208 Figura 18 1,169 2
Ângulo de Atrito = 24º
Coesão = 7 kPa 8
4 15
5 6
Solo Inferior
Peso Específico = 15.12 kN/m3
3 (Altura = 3,0 m) Figura 19 1,740 Figura 20 1,667 2 Ângulo de Atrito = 27º 2
Coesão = 7 kPa
1 11 12 7
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24

Distância (m)
Figura 17. Caso 2 (Talude com 5,0m de altura e
inclinação de 60º) – Resultado da análise de estabilidade
sem N. A.
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13
6 COMENTÁRIOS / CONCLUSÕES
SOBRE A ESTABILIDADE DOS TALUDES
14
12 Diante das inspeções de campo, considerações
10 1.169 efetuadas e das análises realizadas, verifica-se
8
3
10 94
16
que os Fatores de Segurança obtidos indicam
Altura (m)

17 Solo Superior
certo grau de instabilidade dos taludes ao longo
6 1 kN/m3
18
Peso Específico = 12.11

2
Ângulo de Atrito = 24º
Coesão = 7 kPa
19
8
do processo erosivo.
4 15
Solo Inferior
5 6 As Figuras 15 e 16 mostram que para taludes
Peso Específico = 15.12 kN/m3
2
Ângulo de Atrito = 27º
Coesão = 7 kPa
2 de 7,0m de altura já ocorre a instabilidade
11 12
0
1 7
mesmo sem a ação do período chuvoso e
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24

Distância (m)
quando ocorre a saturação parcial o fator de
Figura 18. Caso 2 (Talude com 5,0m de altura e segurança fica abaixo de 1,0 indicando o
inclinação de 60º) – Resultado da análise de estabilidade possível rompimento do talude.
com N. A. Para os taludes de 5,0m de altura (Figuras 17
12 e 18), os fatores de segurança encontrados
(Condição atual = 1,208 e Saturação parcial =
1,169) indicam também valores não
13 satisfatórios para a estabilidade.
12

1.740 Os taludes de 3,0 m de altura (Figuras 19 e


10
20) indicam certo grau de estabilidade mesmo
15
8 com a saturação parcial do talude.
Altura (m)

6
3
Solo Superior
9 4
8 Ressalte-se que as angulações consideradas
4
Peso Específico = 12.11 kN/m3
Ângulo de Atrito = 24º 1
14
são para 60º e que há taludes com até 90º ao
2 Coesão = 7 kPa 5 6
Solo Inferior longo do processo erosivo e que conforme
2 Peso Específico = 15.12 kN/m3
Ângulo de Atrito = 27º
Coesão = 7 kPa 10
2
11
avaliações há a necessidade de intervenções
1 7
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 com vistas a se evitar o avanço do processo ora
Distância (m) em questão. Dessa forma, propões neste
Figura 19. Caso 3 (Talude com 3,0m de altura e trabalho uma das forma de contenção da erosão
inclinação de 60º) – Resultado da análise de estabilidade estudada.
sem N. A.
Informa-se que as análises efetuadas são
12 indicativas dos fatores de segurança
encontrados e que tais fatores podem não
refletir a realidade, pois há condicionantes que
12
13
podem influenciar no comportamento do
maciço do solo, como a existência de possíveis
10
15
descontinuidades e (ou) argilominerais.
8
1.667
Altura (m)

3 9 4
6 8
16 Solo Superior
17 kN/m3
Peso Específico = 12.11 18
4
2
Ângulo de Atrito = 24º 1
Coesão = 7 kPa
1920
5
14
6
7 PROPOSIÇÃO PARA RECUPERAÇÃO
2
Solo Inferior
Peso Específico = 15.12 kN/m3
DO PROCESSO EROSIVO
Ângulo de Atrito = 27º 2
1 Coesão = 7 kPa 10 11 7
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 O sistema de intervenção proposto para o
Distância (m)
processo erosivo em questão é composto pela
Figura 20. Caso 3 (Talude com 3,0m de altura e execução de escada hidráulica em gabiões com
inclinação de 60º) – Resultado da análise de estabilidade
sem N. A. vistas a acompanhar possíveis acomodações no
solo e também reintegrar a obra ao meio
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ambiente com o surgimento da vegetação entre objetivando a possível sistematização da mesma


os espaços vazios da estrutura. Trata-se de uma com barramentos transversais a fim de atender
armação metálica preenchida por pedras, a dois objetivos principais:
podendo ser construído na forma de caixa, saco a) minimização da velocidade das águas no
ou manta, de acordo com sua utilização como interior da erosão como forma de evitar
elemento de contenção. Esse tipo de solução já possíveis danos ao sistema;
foi executado no Distrito Federal e se mostrou b) retenção de sedimento no interior da
com desempenho bastante satisfatório. erosão como forma de possibilitar a
Ademais, aguarda-se a execução da solução acumulação de uma camada de solo e facilitar o
aqui proposta para as devidas avaliações. surgimento mais breve de vegetação e a
O Projeto é concebido de forma a atender os reintegração da área recuperada ao meio
seguintes aspectos principais: ambiente.
a) Condução das águas pluviais ou
superficiais pela calha principal da erosão;
b) Lançamento adequado das águas AGRADECIMENTOS
superficiais com a execução de dissipadores de
energia e a devida proteção no ponto final de A Reforsolo Engenharia Ltda., ARS Consult,
lançamento até a restituição; Universidade Católica de Brasília (UCB),
c) Preocupação com as águas sub- Centro Universitário de Brasília (UniCEUB),
superficiais que motivam os fenômenos de Instituto de Ensino Superior Planalto (IESPlan)
erosão interna (piping). Para isso, preocupou-se e à Universidade Federal do Mato Grosso do
com a condução adequada em função do Sul (UFMS) com contribuições importantes que
gradiente hidráulico que pode provocar erosão tornaram possível a realização deste trabalho.
interna nos taludes, mesmo com as obras de
retaludamento, e a adoção de um sistema de
drenagem profunda para as águas subterrâneas e REFERÊNCIAS
filtros na base dos taludes, evitando assim
erosão interna; CAMAPUM DE CARVALHO, J., BLANCO, S. B.,
d) Preocupação com possível ocorrência de MENESES, P. R. & SOUZA, N. M. Características
Geotécnicas de Erosões Situadas no Entorno das
ravinamentos e sulcos nos taludes e margens da Cidades Satélites de Ceilândia, Taguatinga e
erosão. Para isso, propõe-se a revegetação Samambaia no Distrito Federal, ABGE, Poços de
dessas áreas como forma de amenizar e/ou Calda, São Paulo, 151 – 158, 1993.
evitar tal processo; COSTA, W. D. Taludes Naturais: “Caso Histórico de
e) A existência de solos hidromórficos e o Erosão na Cidade do Gama, DF”. Curso de Extensão
Universitária - Obras de Terra e Fundações Especiais.
efeito da infiltração de água pelo gabião que ABMS e UnB, Brasília, p CI/01 - CI/46, 1981.
pode provocar o solapamento do contato entre Geo-slope international. (2012). Stability modeling with
este e o solo de suporte, o que pode SLOPE⁄W, an engineering methodology. 238 p.
comprometer parte da obra. Para isso, adotou-se MORTARI, D. Caracterização Geotécnica e Análise do
a colocação de geotêxtil entre o solo e a Processo Evolutivo das Erosões no Distrito Federal.
Dissertação de Mestrado, Publicação G.DM-010A/94,
estrutura em gabião como forma de impedir o Departamento de Engenharia Civil, Universidade de
carreamento de finos. Brasília, Brasília, DF, 200 p., 1994.
Para o dimensionamento do sistema, além
dos aspectos citados acima e da estabilidade,
deve-se também observar a área de contribuição
para uma vazão de escoamento.
Deve-se também proceder a estudos com
vistas ao volume de transporte de sedimentos
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Gestão de áreas contaminadas: um panorama do cenário mundial


Adeli Beatriz Braun
Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Brasil, adelibeatrizbraun@hotmail.com

Adan William da Silva Trentin


Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Brasil, adan_trentin@hotmail.com

Caroline Visentin
Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Brasil, caroline.visentin.rs@gmail.com

Antônio Thomé
Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Brasil, thome@upf.br

RESUMO: O registro crescente de áreas contaminadas atraiu universidades e centros de pesquisa,


que desenvolveram novas e adequadas tecnologias de investigação e de remediação. Neste sentido,
este estudo objetivou diagnosticar e caracterizar o cenário da gestão de áreas contaminadas no
contexto mundial. Para tanto, foi realizada uma vasta revisão bibliográfica, de forma sistemática,
por meio de buscas nas páginas da rede mundial de computadores e em bases de dados de
periódicos científicos. Foram também analisadas as políticas e regulamentos que envolvem o
contexto do gerenciamento de áreas contaminadas. Áreas contaminadas são um problema comum
em muitos países, sendo a sua remediação necessária para minimizar os riscos à saúde humana e ao
ambiente em geral. Portanto, durante as últimas décadas, a problemática das áreas contaminadas
vem sendo reconhecida em todo o mundo, mas que ainda apresenta diversos desafios, em especial
no que tange a inserção dos conceitos de sustentabilidade ao tema.

PALAVRAS-CHAVE: Registro, Gerenciamento, Remediação, Sustentabilidade, Perspectivas.

1 INTRODUÇÃO aniquilando a capacidade do meio ambiente de


absorver esses lançamentos, sem sofrer
A poluição do ambiente emergiu quando o impactos negativos e provocar algum efeito
homem iniciou suas atividades produtivas, adverso à saúde humana, resultando em
porém, as consequências agravaram-se com a inúmeras áreas contaminadas (Reddy; Adams,
revolução industrial, e o consequente aumento 2015).
na utilização de recursos naturais e a produção O tema relacionado às áreas contaminadas
de resíduos (Moraes et al., 2014). começou a ser discutido no final da década de
As questões ambientais por muito tempo não 70, tendo os primeiros casos de áreas
receberam a atenção devida. O ambiente tornou- contaminadas surgido em torno da década de
se o principal receptor dos resíduos gerados e 1980, com destaque para as descobertas nos
das descargas industriais com várias substâncias Estados Unidos e Europa (Beaulieu, 1998).
tóxicas e perigosas, sem nenhuma Conforme Reddy e Adams (2015), a
discriminação ou regulação (Van Liedekerke et legislação que aborda as questões ambientais,
al., 2014). em especial a degradação e a contaminação de
Esta disposição provocou um rápido aumento áreas e a sua consequente remediação, é ainda
de cargas poluentes no ar, água e solo, bastante recente no contexto mundial. Embora
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os regulamentos que existem sejam bem- normalmente presentes. Essas substâncias


intencionados, a sua efetividade ainda não está podem ser elementos químicos, compostos
totalmente concretizada, acelerando as práticas orgânicos, gases como o dióxido de carbono ou
de degradação do ar, solo, águas superficiais e metano, ou até mesmo nutrientes de plantas
subterrâneas. como nitrogênio e fósforo. A presença dessas
Contudo, durante as últimas décadas, as áreas substâncias em níveis elevados pode, ou não,
contaminadas tornaram-se mais reconhecidas ser prejudicial. No entanto, o termo áreas
como um problema em todo o mundo. O contaminadas é mais frequentemente usado para
reconhecimento desta problemática trouxe descrever a área onde há pelo menos uma
consigo expressivos resultados e avanços no suspeita de que a contaminação possa ser
que se refere à identificação e remediação prejudicial aos seres humanos, água, edifícios
destas áreas, visto que esta contaminação não ou ecossistemas (EUGRIS, 2013).
poderia mais ser corrigida somente por As fontes desta contaminação podem ser das
processos naturais (Reddy, Adams, 2015). mais diversas, em especial a disposição
Ao longo das últimas décadas, a tomada de inadequada de resíduos e efluentes. Desta
decisões no gerenciamento de áreas forma, há uma complexidade de contaminantes
contaminadas evoluiu de um processo bastante que podem estar presentes em uma área
simples e linear, para um procedimento contaminada, desde metais pesados,
complexo, envolvendo mais e mais aspectos radionuclídeos, solventes clorados,
relevantes para a correção e gerenciamento de hidrocarbonetos, pesticidas, até substâncias
áreas contaminadas. Mais recentemente, tem-se explosivas (Reddy, Adams, 2015).
demonstrado interesse em incluir a A presença destes contaminantes gera grandes
sustentabilidade como critério de tomada de preocupações, uma vez que, em função da
decisão (Pollard et al., 2004; Bardos, 2014). variedade e aspectos peculiares, este podem ser
Neste sentido, este estudo objetivou transportados e propagados por diferentes vias e
diagnosticar e caracterizar o cenário da gestão meios, alterando as características naturais e
de áreas contaminadas no contexto mundial. resultando em impactos e/ou riscos sobre os
Para tanto, foi realizada uma vasta revisão bens a proteger, tanto aos ecossistemas naturais
bibliográfica, de forma sistemática, por meio de quanto à saúde humana (Moraes et al., 2014).
buscas nas páginas da rede mundial de Um dos primeiros problemas associados às
computadores, diretamente em agências e áreas contaminadas e a ser reconhecido como de
organizações, e em bases de dados de grande importância, é a contaminação das águas
periódicos científicos. Também foram subterrâneas utilizadas para abastecimento
analisadas as políticas e regulamentos que público e domiciliar, além do comprometimento
envolvem o contexto do gerenciamento de áreas de aqüíferos ou reservas importantes de águas
contaminadas em diversos países e os principais subterrâneas (CETESB, 2001).
riscos associados. Contudo, Sánchez (1998) destaca quatro
principais problemas gerados pelas áreas
contaminadas, os quais se manifestam, em sua
2 ÁREAS CONTAMINADAS maioria, a longo prazo, provocando: riscos à
segurança das pessoas e das propriedades;
As definições formais do que constitui uma área riscos à saúde pública e dos ecossistemas;
contaminada foram desenvolvidas como parte limitações dos usos possíveis do solo e
do processo legislativo em muitos países consequentemente restrições ao
(Hodson, 2010). Segundo a EUGRIS (2013), desenvolvimento urbano e redução do valor
área contaminada é a área que contém imobiliário das propriedades.
substâncias em níveis que não estariam
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Diante disto, o mundo industrializado Nos Estados Unidos e na Ásia, os locais


começou a tomar conhecimento e se contaminados ainda são detectados diariamente
conscientizar dos problemas causados pelas (Brandon, 2013; Van Liedekerke et al., 2014).
áreas contaminadas, em especial, no final da Nos Estados Unidos, a Agência de Proteção
década de 70 e início da década de 80, após a Ambiental (US Environmental Protection
ocorrência de casos espetaculares, como por Agency – USEPA) identificou dezenas de
exemplo, o Love Canal, nos Estados Unidos; milhares de áreas que precisam de remediação,
Lekkerkerk, na Holanda; e Ville la Salle, no sendo encontrados nestas áreas, principalmente,
Canadá. A partir da repercussão destes eventos compostos orgânicos, metais pesados e
foram criadas políticas e legislações em vários radionuclídeos. Destas áreas, 1.782 são
países, províncias e estados voltadas à definidas como uma prioridade nacional e
problemática das áreas contaminadas (Beaulieu, requerem reparação urgente e este número tende
1998). a aumentar anualmente. A recuperação destas
áreas tem um custo estimado de 209 bilhões de
2.1 Contextualização e cenário mundial dólares. (Brandon, 2013; USEPA, 2012;
USEPA, 2016).
Durante as últimas décadas, a problemática das Na China aproximadamente 90% das águas
áreas contaminadas tornou-se mais reconhecida subterrâneas encontram-se contaminadas,
em todo o mundo. devido principalmente as atividades industriais,
Só na Europa, a Agência da União Européia sendo que alguns lugares do país são
(European Environment Agency – EEA), a conhecidos como “vilas da morte” em virtude
partir de investigações aprofundadas e registros das altas de câncer e mortalidade (Qiu, 2011;
até 2011, estima que existem mais de 2,5 Zheng; Cao, 2011).
milhões de locais potencialmente contaminados, Um levantamento realizado na Holanda no
dos quais cerca de 45% (1,17 milhões) foram ano de 2007 mostrou a existência de
identificados e confirmados. Destas áreas, em aproximadamente 6.500 a 7.500 áreas
torno de 14% (340 mil) necessitaram de potencialmente contaminadas no país (Versluijs
tratamento ou medidas corretivas urgentes, et al., 2007). A combinação de
sendo que, apenas cerca de 15% (58,3 mil) desenvolvimentos técnicos, renovação de
destas foram remediadas nos últimos anos políticas e inovação conceitual permitiu que a
(EEA, 2016). maioria dos locais contaminados na Holanda
Estas estimativas estão aumentando em tenham sido remediadas ou que tenha havido a
função do progresso nas investigações, confirmação de não contaminação, tal forma
monitoramentos e levantamento de dados. De que o número restante de áreas contaminadas
acordo com projeções com base na análise das que realmente necessitam de remediação
alterações observadas, o número total de locais urgente foram reduzidas para 1.500
contaminados com necessidade de correção (Uitvoeringsprogramma Bodemconvenant,
pode aumentar em mais de 50% até 2025. O 2013).
óleo mineral e os metais pesados são os O Governo do Canadá identificou mais de 21
principais contaminantes (60%) encontrados em mil áreas contaminadas, enquanto que no Reino
locais europeus contaminados, e o custo de Unido foram constatados que mais de 300 mil
gestão destas contaminações é estimado em 6 hectares de terra estão contaminados em virtude
bilhões de euros por ano (Panagos et al., 2013; de atividades industriais (Governement of
Van Liedekerke et al., 2014; EEA, 2016; Canada, 2014; Hou; Al-Tabbaa, 2014).
Huysegoms; Cappuyns, 2017). No Brasil, há apenas uma legislação que
orienta sobre o controle da qualidade da água
subterrânea e dos solos em função da sua
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contaminação, a qual corresponde à Resolução totalizando 270 e 328 áreas, respectivamente,


n° 420 de dezembro de 2009, emitida pelo distribuídas entre as atividades da indústria,
Conselho Nacional de Meio Ambiente aterros de resíduos, postos de combustíveis e
(CONAMA). Em relação aos Estados, existem viação (INEA, 2016).
algumas ações voltadas ao registro,
gerenciamento e reabilitação de áreas 2.2 Desafios e perspectivas
contaminadas, no Estado de São Paulo, através
da Companhia Ambiental do Estado de São Com o diagnóstico crescente destas áreas
Paulo (CETESB), e algumas iniciativas nos contaminadas e a sua influência negativa sobre
Estados de Minas Gerais, por meio da Fundação a saúde humana e o ambiente, o gerenciamento
Estadual do Meio Ambiente (FEAM) e do Rio das mesmas se faz necessário. A remediação
de Janeiro, através do Instituto Estadual do consiste em uma das etapas de gestão, a qual
Ambiente (INEA). obteve nas últimas décadas expressivos
A CETESB registra e divulga desde o ano de avanços. Entretanto, de acordo com Moraes et
2002 a lista de áreas reabilitadas, monitoradas e al., (2014) muitos erros foram cometidos neste
contaminadas do Estado de São Paulo, sendo contexto, implicando em consumo de recursos
que, em sua primeira publicação a lista trouxe financeiros e materiais que poderiam ter sido
um total de 255 áreas. Já no ano de 2015 foi evitados.
registrada a existência de 5.376 áreas Desta forma, a remediação de áreas
contaminadas no estado. Houve um acréscimo contaminadas não é automaticamente
considerável no número de áreas, resultantes sustentável, uma vez que, um processo de
principalmente da adoção de ações rotineiras de remediação por si só pode gerar impactos
fiscalização e de licenciamento (CETESB, negativos que até mesmo superam os aspectos
2015). positivos da sua aplicação (Moraes et al., 2014;
Dentre as atividades com maior influência na Favara; Gamlin, 2017).
contaminação destas áreas (5.376 áreas) estão De acordo com Bardos et al., (2002),
os postos de combustíveis (74%), seguidos da inúmeros fatores devem ser considerados na
indústria (17%), comércio (5%), resíduos (3%), escolha de uma solução eficaz para a
e, acidentes, agricultura e fontes desconhecidas remediação de áreas contaminadas. Estes
(1%) (CETESB, 2015). fatores incluem a gestão de risco, a adequação
A FEAM passou a manter um banco de dados, da técnica, a praticidade e viabilidade, a relação
com início no ano de 2007, sobre as áreas custo-benefício e os impactos ambientais,
suspeitas de contaminação e contaminadas sociais e econômicos mais amplos, os quais
cadastradas no Estado. No ano de 2007 foram levam para uma percepção de desenvolvimento
registradas 56 áreas contaminadas. Já no ano de sustentável. Na Figura 1 são expostos os fatores
2015 este número aumentou para 617 áreas considerados em projetos de remediação.
contaminadas ou reabilitadas no território do A inclusão de conceitos de sustentabilidade na
Estado. A atividade de postos de combustíveis tomada de decisões de remediação oferece uma
corresponde ao maior número de áreas oportunidade para integrar uma ampla gama de
contaminadas (73%), seguido da indústria considerações: controle de risco, regeneração de
metalúrgica (10,5%), transporte ferroviário áreas contaminadas, pegada de carbono, pegada
(7%) e indústria química (4,5%) (FEAM, 2015). de água, energia renovável, etc (Hou et al.,
O INEA, em 2013, lançou pela primeira vez o 2014b).
cadastro de áreas contaminadas no Estado do
Rio de Janeiro, contando com 160 áreas
contaminadas e reabilitadas. Já nos anos 2014 e
2015 foi realizada uma revisão deste cadastro,
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econômicos em todas as fases das atividades de


remediação, uma avaliação em longo prazo de
riscos, benefícios e de retorno destas áreas
através de seus usos futuros (Pollard et al.,
2004).
Contudo, conforme Hou et al. (2016), têm-se
ainda no cenário mundial, discrepâncias quanto
à consciência e a prática na adoção de medidas
Figura 1. Desenvolvimento sustentável na dinâmica dos corretivas sustentáveis. Enquanto países como
projetos de remediação os Estados Unidos e o Reino Unido, por
exemplo, já apresentam altas taxas de
As preocupações com a sustentabilidade conscientização e adoção da remediação
incluem as consequências ambientais, sociais e sustentável, países em desenvolvimento, além
econômicas das próprias atividades de de apresentarem menor sensibilização, também
gerenciamento de riscos e também as possuem baixas taxas de adoção da
oportunidades de benefícios maiores (Bardos, sustentabilidade na remediação de áreas
2014). contaminadas.
Além dos impactos primários, associados ao
estado da área contaminada, os impactos
secundários que estão associados à própria 3 CONCLUSÕES
remediação da área, como por exemplo, a
emissão de gases de efeito estufa por meio das Inúmeros países, províncias e estados criaram
máquinas utilizadas durante as operações de políticas voltadas para a problemática das áreas
remediação começaram a ser considerados nos contaminadas. Países como Canadá, Estados
projetos (Huysegoms; Cappuyns, 2017; Lesage Unidos e os pertencentes à Comunidade
et al., 2007). Europeia, são os que apresentam de forma bem
A preocupação com esses impactos estruturada e consolidada as políticas voltadas
secundários estimulou a consideração de para este tema.
princípios de sustentabilidade ao fazer uma Contudo, embora a contaminação de áreas
escolha entre alternativas de remediação de seja considerada uma questão séria e
áreas contaminadas, ou seja, uma ou mais preocupante pela maioria dos países, a
tecnologias de remediação. Inicialmente, este consciência política no que tange este problema
conceito surgiu na Europa, com o ainda é muito baixa e poucos possuem uma
desenvolvimento de metodologias. Nos Estados regulamentação consistente, o que promove
Unidos, os conceitos de remediação sustentável uma grande lacuna entre a consciência e a ação
foram reconhecidos uma década depois, com o efetiva.
desenvolvimento de políticas, orientações e A principal consequência da existência de
metodologias (Hou; Al-Tabbaa, 2014; ITRC, áreas contaminadas é a geração de danos ou
2011). riscos à saúde das pessoas e ecossistemas,
A remediação sustentável surge como uma ocasionados por processos que se manifestam,
nova mudança de paradigma. Traz em sua em sua maioria, a longo prazo. Em função da
essência o objetivo de não transferir gravidade dos impactos causados pelas áreas
simplesmente o problema para outro meio, contaminadas, o seu gerenciamento se faz
localização geográfica ou geração, ou enfocar necessário, em especial no que tange o uso atual
somente nos resultados de remoção. A ou planejado da área. No entanto, devido à
remediação sustentável proporciona, complexidade quanto às propriedades,
considerando os impactos ambientais, sociais e distribuição e comportamento dos
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contaminantes no solo, a recuperação destas São Paulo. Projeto CETESB-GTZ: cooperação


áreas ainda é uma tarefa difícil técnica Brasil–Alemanha. 2. Ed. São Paulo: Cetesb,
612 p.
Portanto, embora tenha ocorrido ao longo dos CETESB (2015) Relação de áreas contaminadas e
anos uma evolução na efetiva identificação das reabilitadas no Estado de São Paulo. Companhia
áreas contaminadas e a remediação destas se Ambiental do Estado de São Paulo. São Paulo,
tornou mais precisa, ainda são muitos os Cetesb.
obstáculos a serem superados neste contexto do EEA (2016). European Environmental Agency.
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Contudo, pode-se concluir que a remediação EUGRIS (2013) Remediation options. European
sustentável já reflete uma mudança no Groundwater and Contaminated Land Information
System. EUGRIS: portal for soil and water
panorama geral desta temática, com a management in Europe.
integração, além dos aspectos econômicos, de http://www.eugris.info/index.asp. Acesso em: 04 abr.
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Influência da Adição de Fibra de Coco (Coco nuciferas) na


Compressibilidade de um Solo Argiloso
Antônio Italcy de Oliveira Júnior
UFPE, Recife, Brasil, antonioitalcy@hotmail.com

José Fernando Thomé Jucá


UFPE, Recife, Brasil, jucah@ufpe.br

Janilson Alves Ferreira


UFPE, Recife, Brasil, janilsonengmat@gmail.com

RESUMO: O reforço de solos com fibras tem se mostrado bastante eficiente devido o melhoramento
no desempenho mecânico. No entanto, é necessário compreender seus efeitos na compressibilidade,
sobretudo em solos argilosos. A fibra de coco, devido sua abundância e baixo custo, vem sendo
utilizada como objeto de pesquisas para reforço de solos. Este trabalho objetiva compreender como
a adição de fibras de coco pode modificar a compressibilidade de um solo argiloso. Foi utilizado um
solo proveniente da formação Barreiras, situada na região metropolitana do Recife, misturado com 0,
0,5, 1 e 2% de fibras de coco já beneficiadas. Foram realizados ensaios em células edométricas em
condições não inundadas e inundadas. Verificou-se que a adição da fibra de coco aumentou a
compressibilidade e reduziu a tensão de sobre adensamento do solo argiloso em ambas as condições
de inundação do ensaio.

PALAVRAS-CHAVE: Misturas, Solo-Fibra, Compressibilidade.

1 INTRODUÇÃO do terreno. A mesma é influenciada pelo tipo e


estrutura do solo, nível de tensões e grau de
Uma técnica muito utilizada para melhoramento saturação.
de solos é o reforço da matriz com materiais Em aplicações geotécnicas a deformabilidade
fibrosos. Esta prática vem demonstrando do material é uma característica fundamental
eficiência devido seus reflexos na qualificação para previsão do comportamento,
mecânica do material resultante, principalmente dimensionamento e segurança de obras de terra.
na melhoria da resistência ao cisalhamento Portanto, ao realizar o reforço de um solo com
(CONSOLI et al., 2007; MALIAKAL & fibras é importante objetivar além da melhoria na
THIYYAKKANDI, 2013; MOHAMED, 2013). resistência ao cisalhamento do material, a
Os materiais resultantes de misturas utilizando redução ou a minima elevação da
matrizes reforçadas com fibras são denominados compressibilidade do novo material, tendo em
de compósitos. Os compósitos são materiais vista que nas aplicações geotécnicas os materiais
alternativos que surgem para atender demandas muito compressíveis podem gerar deformações
por novos materiais que apresentem desempenho excessivas ou até o comprometimento da
igual ou superior aos materiais convencionais. integrade de uma obra.
Ao se reforçar um solo, além de alterar as Embora a compressibilidade seja uma
propriedades mecânica da matriz outras caraterística importante, poucos estudos
características podem ser afetadas, como por abordam os efeitos da adição de fibras na
exemplo, a compressibilidade, devido a deformabilidade dos solos. Esta torna-se ainda
carregamentos verticais aplicados na superfície mais importante quando se trata de solos
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argilosos que apresentam compressebilidade grãos de 2,621 g/cm³ e atividade equivalente a


superior ao solos granulares. 0,45, sendo considerado como uma argila
Devido as tensões usuais da engenharia inativa. Na Figura 1 é apresentado a curva de
geotécnica, o que se avalia na prática são as distribuição granulométrica com e sem
deformações volumétricas do solo através da defloculante do solo utilizado. O material pode
variação do índice de vazios em relação a ser classificado como CL no Sistema Unificado
variação das tensões efetivas. Portanto, torna-se e como A7-5 no sistema de classificação do
fundamental compreender como a inclusão das Highway Research Board.
fibras podem alterar estas variações.
A fibra de coco, devido sua abundância e seu
baixo custo, vem sendo utilizada como objeto de
pesquisas para reforço de solos na engenharia
geotécnica. A região Nordeste do Brasil se
destaca a nível nacional na produção do fruto,
sendo responsável por cerca de 75% da produção
brasileira (FERREIRA NETO et al., 2002). O
peso médio do coco é cerca de 1,5 kg, deste 80%
correspondem a casca (SILVEIRA e ARAGÃO,
2016). A casca é constituída por um material
volumoso e fibroso de difícil degradação, que na
maioria da vezes é destinado de forma Figura 1. Distribuição Granulométrica com e sem
defloculante do solo utilizado.
inadequada, causando poluição ambiental e
sendo foco de proliferação de doenças. Utilizar
Os resíduos da casca do coco foram obtidos já
este material como reforço de solos pode
beneficiados por uma comunidade situada no
contribuir para minimização destes problemas.
estado do Ceará que recebe orientações da
Nesse sentido, evidencia-se que é importante
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
compreender como a adição destes resíduos
(Embrapa). Foi realizada a caracterização da
fibrosos da casca do coco podem afetar nos
composição gravimétrica do material fibroso
parâmetros de compressibilidade e no
utilizando três amostras selecionadas de modo
comportamento tensão versus índice de vazios
aleatório de um fardo do material. Cada amostra
de uma matriz de solo argiloso, sendo este o
pesava 15 g, totalizando 45 g caracterizadas de
objetivo deste trabalho.
um fardo com 450 g. Com auxílio de um
escalímetro, as fibras foram classificadas em
2 MATERIAIS E MÉTODOS
diferentes tamanhos da seguinte forma: pó, 1 ≤ L
< 5 cm, 5 ≤ L < 10 cm e L ≥ 10 cm. Após a
2.1 Materiais utilizados
classificação foi utilizada uma balança de
precisão da ordem 0,001 g para pesar cada
A pesquisa foi desenvolvida utilizando um
tamanho e em seguida calculou-se o percentual
material obtido a partir de coletas de amostras
de cada fração. Aproximadamente, 81% das
deformadas em uma jazida proveniente da
fibras apresentaram tamanhos entre 1 e 5 cm e
formação Barreiras situada na Região
16% foi classificado como pó, conforme
Metropolitana do Recife – RMR, mais
apresentado na Figura 2, em torno de 97% do
precisamente no município de Jaboatão dos
material é considerado como pó mais fibras
Guararapes.
curtas de até 5 cm.
Foi utilizado um solo de textura fina de alta
plasticididade (LL= 49,34% e IP= 17,92%), com
aproximadamente 62% das partículas passando
na peneira 200 (<0,074 mm), densidade real dos
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2.3 Ensaios de Compressibilidade

Os parâmetros de compressibilidade para os


diferentes teores de fibra utilizando uma célula
edométrica, seguindo os critérios e
procedimentos na NBR – 12007 (ABNT, 1990).
O ensaio teve o intuito de determinar a influência
da adição de fibra de coco no índice de
compressão (Cc) que é a inclinação do trecho da
Figura 2. Composição gravimétrica do resíduo fibroso reta decompressão virgem, índice de
utilizado na pesquisa. descompressão (Cs) que é a inclinação da reta do
trecho de descarregamento e na tensão de sobre
2.2 Preparação dos corpos de prova adensamento (σ’a).
As amostras ensaiadas foram retiradas dos
Foram estudadas misturas com teores de 0, 0,5, corpos de prova com auxílio de espátulas e
1 e 2% de fibra de coco em relação ao peso seco utilizando anéis metálicos de 40 cm² de área e
de solo. Os teores foram selecionados visando altura de 2 cm, conforme apresentado na Figura
avaliar o efeito de percentuais dobrados de 3.
massa de fibra nas misturas. Além disso, estes
teores foram definidos baseados nas
experiências de diversos trabalhos em relação ao
reforço de solos com fibras (PRABAKAR e
SRIDHAR, 2002; LEOCÁDIO, 2005;
MOHAMED, 2013; BOLAÑOS, 2013).
As misturas foram realizadas em uma bandeja
metálica e revolvidas utilizando uma espátula
com o intuito de homogeneizar o material. Em
seguida, foram moldados corpos de prova
cilíndricos com área de 78,54 cm² e altura de Figura 3. Moldagem das amostras para o ensaio de
12,7 cm. Os corpos de prova foram moldados a compressibilidade.
partir da compactação do material na umidade
ótima das respectivas misturas, obtidas Em seguida, a amostras foram inseridas em
previamente através do ensaio de compactação. células edométricas do tipo anel fixo com
O ensaio de compactação foi realizado drenagem no topo e na base das amostras e
seguindo a norma NBR 7182 (ABNT,1986) posteriormente foram conduzidas para as
utilizando-se a energia de compactação Proctor prensas de compressão unidimensional.
Normal e com reuso de material. Na Tabela 1 são O ensaio foi realizado nas condições não
apresentados os parâmetros de compactação de inundadas e inundadas. Em ambas condições, as
cada mistura utilizada na prepração dos corpos amostras foram carregadas em estágios de 10,
de prova. 20, 40, 80, 160, 320, 640 e 1280 kPa. Na
condição inundada, foi inserido água nas
Tabela 1. Parâmetros de Compactação das misturas. amostras pela base da célula imediatamente após
Densidade a aplicação do pré-carga de 10 kPa. Para as duas
Teor de Fibra (%) Umidade Ótima (%) Seca condições de realização do ensaio, os estágios de
(g/cm³) carregamentos foram mantidas por 24 horas.
0 19,2 1,68
0,5 19,4 1,66
Após aplicação dos carregamentos, foram feitos
1 19,6 1,644 leituras da variação de altura das amostras em
2 20,5 1,584 extensômetros com sensibilidade de 0,01 mm,
nos tempos de 6 s, 15 s, 30 s, 1 min, 2 min, 4 min,
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8 min, 15 min, 30 min, 1 h, 2h, 4h, 8 h e 24 h. proporcionando aumento no índice de vazios


Após o carregamento máximo ter sido inicial do solo e consequentemente aumentando
alcançado, procedeu-se o descarregamento em a compressibilidade do compósito.
estágios de 640, 160, 40 e 10 kPa. Observa-se que adição da fibra também
Os parâmetros de compressibilidade foram aumentou a variação volumétrica, quando se
obtidos através das curvas log da tensão aplicada compara os índices de vazios iniciais e finais das
versus índice de vazios e a tensão de sobre amostras. As curvas tensão vertical versus índice
adensamento foi obtida através do método de de vazios do solo puro e da mistura com teor de
Pacheco e Silva. 0,5% de fibra apresentam formatos parecidos
com queda de rigidez mais acentuada a partir da
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES tensão vertical de 300 e 200 kPa,
respectivamente. Já as curvas das misturas com
Na Figura 4 são apresentadas as curvas tensão 1 e 2% de fibra apresentam formatos diferentes
vertical versus índice de vazios obtidas para o das demais, com queda de rigidez mais
solo sem fibra e com os diferentes percentuais de acentuada a partir da tensão de 80 kPa. Isso
fibras para a condição não inundada. sugere que adição da fibra aumenta o trecho de
compressão virgem e reduz a tensão de sobre
adensamento.
Na Figura 5 são apresentadas as curvas tensão
vertical versus índice de vazios obtidas para o
solo sem e com diferentes percentuais de fibras
para a condição inundada.

Figura 4. Curva tensão vertical versus índice de vazios


para a condição não inundada.

Ao avaliar a reta de compressão virgem das


misturas para a condição não inundada verifica-
se que a adição da fibra na matriz de solo
argiloso aumentou a inclinação da reta de Figura 5. Curva tensão vertical versus índice de vazios
compressão virgem, sendo a maior inclinação para a condição inundada.
observada para a mistura com teor de 2% de
material fibroso em relação ao solo puro (teor de Observa-se também que para esta condição do
0%). Isso sugere que adição da fibra aumentou a ensaio a inclusão da fibra na matriz de solo
compressibilidade do material, observando-se argiloso aumentou a inclinação da reta de
um relação diretamente proporcional, isto é, compressão virgem, sendo mais pronunciado
quanto maior o teor de fibra maior a inclinação nesta condição que a mistura com 2% de fibra foi
da reta de compressão virgem. Morandini e a que apresentou a maior inclinação em
Schneider (2017), avaliando a influencia de comparação ao solo puro.
fibras de polipropileno em matrizes a base de É possível verificar ainda que o aumento da
solo laterítico e argila betonita, observou o variação volumétrica com adição da fibra,
mesmo comportamento. Estes resultados podem quando se compara os índices de vazios iniciais
estar relacionados ao fato de que a adição da e finais das amostras foi mais significativo nesta
fibra reduz a densidade do material, condição de inundação. Além disso, nota-se que
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com a inundação, as curvas tensão vertical Cc obtidos foram de 0,195, 0,218, 0,256 e 0,261,
versus índice de vazios do solo puro apresentou respectivamente para os teores de 0, 0,5, 1 e 2%.
queda de rigidez mais acentuada a partir da Portanto, evidencia-se que a mistura com 2%
tensão vertical de 100 kPa. Já as misturas com de fibra de coco foi a que apresentou maior
teores de 0,5, 1 e 2% de fibra apresentam quedas compressão primária, sendo observado
de rigidez mais acentuadas a partir da tensão aumentos no índice de compressão em termos
vertical de 20 kPa, respectivamente. Isso sugere percentuais da ordem de 33 e 34%,
que além da adição da fibra, a inundação também respectivamente, para as condições não inundada
contribui para aumentar o trecho de compressão e inundada em relação ao solo puro. Isto indica
virgem e redução da tensão de sobre que para inclusões de 2% de fibras de coco na
adensamento do compósito. matriz os recalques por compressão primária
Na Tabela 2 são apresentados os parâmetros aumentaria em mais de 30% em relação ao solo
de compressibilidade obtidos das curvas tensão puro, independente da condição de inundação.
vertical versus índice de vazios do solo puro e Quanto ao índice de descompressão (Cs),
das diferentes misturas na condição não todos os teores de misturas ensaiados
inundada e inundada. apresentaram valores maiores de Cs em
comparação ao solo puro, porém o teor de 1% foi
Tabela 2. Parâmetros de compressibilidade do solo puro o que apresentou maior índice de descompressão
e das misturas na condição não inundada e inundada. em ambas as condições de inundação do ensaio.
Condição Não Inundada Os valores de Cs obtidos na condição não
Teor de Fibra (%) inundada foram de 0,009 para o solo puro, 0,016
Cc Cs σ'a (kPa)
para a mistura com 0,5%, 0,032 para mistura
0 0,182 0,009 280 com 1% e 0,030 para mistura com 2% de fibra
0,5 0,196 0,016 250
de coco. Na condição inundada os valores de Cs
obtidos foram de 0,029, 0,033, 0,039 e 0,035
1 0,228 0,032 180
respectivamente para os teores de 0, 0,5, 1 e 2 %
2 0,241 0,031 130 de fibra de coco. Isso indica que a fibra aumenta
Condição Inundada o potencial de expansão do solo devido ao alívio
Teor de Fibra (%) de tensão.
Cc Cs σ'a (kPa)
Para a mistura com 1% de fibra de coco é
0 0,195 0,029 220 possível observar que índice de descompressão
aumentou em termos percentuais cerca de 250 e
0,5 0,218 0,033 180
36%, respectivamente, para as condições não
1 0,256 0,039 150
inundada e inundada em relação ao solo puro.
2 0,261 0,035 120 Isto indica que para inclusões de 1% de fibras de
coco na matriz aumenta o potencial de expansão
A inclusão da fibra de coco aumentou o por descompressão do solo em mais de 250% a
índice de compressão e o índice de depender da condição de inundação.
descompressão da matriz argiloso, e reduziu a Nesse sentido nota-se que o a mistura que
tensão de sobreadensamento confirmando o apresentou maior estabilidade nos parâmetros de
comportamento observado nas curvas de compressibilidade foi o solo reforçado com até
compressibilidade em ambas as condições. 0,5% de fibras de coco. Possivelmente, este
No que se refere ao índice de compressão (Cc) comportamento deve estar associado a maior
observa-se que houve aumentos à medida que o quantidade de solo presente nesta mistura, em
teor de fibra das misturas foi aumentado, sendo comparação aos demais teores analisados. Isto
obtidos valores da ordem de 0,182, 0,196, 0,228 faz com que o comportamento da fase matricial
e 0,241 respectivamente para os teores de 0, 0,5, da mistura prevaleça no que diz respeito a
1 e 2% de fibra de coco para condição não deformabilidade do conjunto (matriz-fibra).
inundada. Já na condição inundada os valores de
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Nas Figuras 6 e 7 são apresentados gráficos mistura com teor de 2% de fibra de coco foi a
plotados teor de fibra de coco versus os que apresentou menor tensão de sobre
parâmetros de compressebilidade obtidos. adensamento em ambas as condições do ensaio.
Verifica-se que tanto o índice de compressão, Para a condição não inundada observou-se os
quanto o índice de descompressão apresentaram respectivos valores de tensão de sobre
crescimento com o aumento do teor de fibra, de adensamento 280, 250, 180 e 130 kPa para as
modo, não linear. O aumento dos parâmetros de misturas com 0, 0,5, 1 e 2% de fibra de coco. Já
compressibilidade de solo mediante adição de na condição inundada as misturas com 0, 0,5, 1 e
fibras também foi verificado por Bueno et al. 2% de fibra de coco apresentaram,
(1996). A não linearidade observada nas Figuras respectivamente, os seguintes valores de tensão
6 e 7 estão de acordo com Shewbridge e Sitar de sobre adensamento 220, 180, 150 e 120 kPa.
(1989), que segundo os relatos dos autores os Nesse sentido, nota-se que a adição de 2% de
índices de compressão e descompressão crescem fibra de coco ocasionou uma redução de 150 kPa
com o aumento do teor de fibras, de forma não na tensão de sobre adensamento em relação ao
linear, semelhante ao observado por Nataraj et solo puro para a condição não inundada e 100
al. (1996). kPa na tensão de sobre adensamento em relação
ao solo puro para a condição inundada.

4 CONCLUSÕES

A adição da fibra aumentou a inclinação e o


trecho da reta de compressão virgem das curvas
tensão vertical versus índice de vazios,
indicando que a inclusão do material fibroso
proporcionou aumentos na compressibilidade e
redução da tensão de sobre adensamento do solo
argiloso em condições não inundada e inundada
da amostra.
Figura 6. Relação Teor de Fibra de Coco versus Índice de No que se refere aos parâmetros de
Compressão. compressibilidade, o índice de compressão foi
elevado a medida que se aumentou o teor de
fibra, sendo o maiores aumentos observados para
a mistura com 2% de fibra de coco. Esses
aumentos representaram cerca de até 30% a mais
de deformabilidade por compressão primária em
relação ao solo puro independente da condição
de inundação. Já o índice de descompressão
também foi elevado a medida que foi aumentado
o teor de fibra de coco, porém a mistura com teor
de 1% foi a que apresentou maiores aumentos.
Esses aumentos refletiram em ganhos no
potencial de expansão por alivio de tensão de até
Figura 7. Relação teor de fibra de coco versus índice de 250% para a condição não inundada e 36% para
descompressão.
a condição inundada
No que se refere a tensão de sobre A tensão de sobre adensamento obtida pelo
adensamento, verifica-se que pelo método de Método de Pacheco e Silva revelou que a
Pacheco e Silva a mesma foi reduzida a medida inclusão da fibra proporcionou reduções na
que o teor de fibra foi aumentado. Portanto, a mesma de até 150 kPa em condição não
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inundada e de 100 kPa para condição inundada. Morandini, T. L. C.; Schneider, V. C. (2017).
Compressibilidade em misturas de solo laterítico,
bentonita e fibras para uso em barreiras de fluxo. Holos
AGRADECIMENTOS Environment, v. 17, n. 1, p. 66-78.
Nataraj, M.S.; Addula, H.R.; Mcmanis, K.L. Strength and
Os autores agradecem a Coordenação de deformation characteristics of fiber reinforced soils.
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – (1996). International Symposium on Environment al
Capes pela concessão de bolsas de pós- Geotechnology 3., Pennsylvania: Technomic
Publiching Co., Inc, v.1, p.826-835.
graduação e ao Laboratório de Solos e Prabakar, J.; Sridhar, R. S. (2002). Effect of random
Instrumentação da Universidade Federal de inclusion of sisal fibre on strength behaviour of soil,
Pernambuco pelo apoio para realização dos Construction and Building Materials, v. 16; n.2; p.123-
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Influência da Adição de Resíduo de Polimento de Porcelanato


(RPP) nas Propriedades de Misturas Asfálticas Densas
Carlos Alexandre Scheffer
Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), Criciúma, Brasil,
carlosalexandres.1@hotmail.com

Luiz Renato Steiner


Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), Criciúma, Brasil, luizsteiner@unesc.net

Ingrid Milena Reyes Martinez Belchior


Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), Criciúma, Brasil, ingridbelchior@unesc.net

RESUMO: Junto à preocupação pela redução de resíduos industriais, propôs-se analisar a influência
do polimento de porcelanato (RPP) em misturas asfálticas densas. Foram formulados três traços de
concreto betuminoso usinado a quente: o primeiro composto apenas por agregados minerais, um
segundo com adição de 2% de cal hidratada e um terceiro com adição de 2% de RPP. Por meio da
metodologia Marshall foi determinado o teor ótimo de ligante para cada traço. Com os teores
ótimos de ligante para cada traço foram moldados corpos de prova para os ensaios de resistência a
tração por compressão diametral e o ensaio de desgaste por abrasão. Concluiu-se que o RPP teve
influência positiva, pois os resultados mostraram que a mistura com adição de RPP apresentou o
menor teor ótimo de ligante entre as misturas estudadas, mantendo uma alta resistência a tração e
um percentual de desgaste por abrasão semelhante as demais misturas.

PALAVRAS-CHAVE: Mistura asfáltica densa, Resíduo de polimento de placas de porcelanato,


Resistência à tração, Desgaste por abrasão.

1 INTRODUÇÃO modificadores de asfalto, que elevam a


resistência á fadiga e minimizam as
Segundo estudo realizado pela CNT deformações permanentes. Entre estes
(CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO modificadores, a cal hidratada incorporada á
TRANSPORTE, 2016), sobre as condições das mistura asfáltica vem sendo amplamente
rodovias brasileiras, mais de 60% apresentam utilizada” (NÚÑEZ et al., 2007 apud CASTRO,
algum tipo de problema e foram classificadas 2011).
como regular, ruim ou péssima no estado geral. Experiências de campo de órgãos estatais
Além de registrar que 48,3% das rodovias norte-americanos permitem estimar que a cal
pesquisadas possuem deficiências no hidratada adicionada a mistura aumenta a
pavimento. durabilidade do revestimento de 20% a 50%
Com a baixa qualidade das rodovias já (EULA, 2010).
existentes, aliada ao crescente aumento de A melhoria no desempenho de misturas com
tráfego rodoviário no país, surge o desafio de a adição de cal hidratada pode ser atribuída em
prolongar a vida útil dos pavimentos, reduzindo parte ao efeito fíler que a mesma exerce na
assim, custos com manutenção. mistura, onde segundo Bardini, et al. (2010) o
“Uma opção para promover o aumento da material fino preenche os vazios entre os
vida útil dos pavimentos é a adição de agregados graúdos, diminuindo os vazios do
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esqueleto mineral e influenciando na 2.1.1 Agregados Minerais


lubrificação de agregados maiores interferindo
diretamente em características como Para a caracterização dos agregados minerais
compactação e teor ótimo do ligante asfáltico. foram realizados os seguintes ensaios:
Bock (2012) afirma que a cal hidratada  Granulometria (DNER-ME 083/98);
modifica as propriedades superficiais do  Equivalente de areia (DNER-ME
agregado, permitindo o desenvolvimento de 054/97);
uma composição de superfície e rugosidade  Sanidade (DNER-ME 089/94);
mais favoráveis à adesividade ligante-agregado.  Abrasão “Los Angeles” (DNER-ME
A preocupação com a possibilidade de 035/98);
esgotamento dos recursos naturais e os efeitos  Índice de forma (NBR 7809);
que a extração dos agregados podem causar  Adesividade (DNER-ME 078/94);
sobre o meio ambiente, estimulam o estudo de  Densidade e Absorção (DNER-ME
materiais alternativos. Somado a este fato, o 081/98);
grande número de indústrias cerâmicas na  Densidade do material finamente
região sul do estado de Santa Catarina, e pulverizado (DNER-ME 085/94);
consequentemente o grande número de resíduos
 Densidade Real – Picnômetro (DNER-
e subprodutos gerados por estas, surge como
ME 093/94).
material alternativo o resíduo gerado durante o
 Granulometria a laser, medida com um
processo de polimento de placas de porcelanato
analisador de partículas modelo CILAS
(RPP).
1064.
A indústria do Sul de Santa Catarina, como
polo de produção cerâmica, no processo de
2.1.2. Cal Hidratada CH-01 e Resíduo de
produção dos revestimentos cerâmicos, gera,
Polimento de Porcelanato
como um dos principais resíduos, a lama do
processo de polimento. Segundo Jacoby e
Para a caracterização da Cal CH-01 e do RPP
Pelisser (2015) estima-se que as empresas
foram realizados os seguintes ensaios:
localizadas no sul do estado de Santa Catarina
 Análise granulométrica (DNER-ME
geram 1.000 toneladas por semana.
083/98);
Este trabalho tem como objetivo principal
verificar a possibilidade de incorporação de  Granulometria a laser, medida com um
resíduo de polimento de porcelanato como analisador de partículas modelo CILAS
material alternativo a cal hidratada e analisar a 1064;
sua influência nas propriedades de misturas  Densidade real (DNER-ME 093/94).
asfálticas de graduação densa.
2.1.3 Ligante Asfáltico

2 METODOLOGIA O ligante asfáltico foi caracterizado segundo


certificado de ensaios, fornecido pela empresa
A metodologia da pesquisa consistiu na fabricante.
caracterização dos materiais e moldagem de três
traços de concreto betuminoso usinado a quente 2.2 Dosagem das Misturas Asfálticas
(CBUQ) por meio da metodologia Marshall,
conforme DNER-ME 043/95. 2.2.1 Definição da Curva Granulométrica

2.1 Caracterização dos Materiais Visando a comparação de resultados, optou-se


por utilizar na pesquisa a faixa C da DNIT
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031/2006-ES, por ser a faixa mais usual na objetivo de determinar a perda por desgaste em
região sul do estado de Santa Catarina. misturas betuminosas. Este ensaio é indicado
para tipos de misturas asfálticas mais
2.2.2 Definição do Teor Ótimo de Ligante suscetíveis a desagregação, como por exemplo,
as do tipo CPA (Camada Porosa de Atrito).
Para a determinação do teor ótimo de ligante foi Segundo a norma DNER-ME 383/99, a
utilizada uma metodologia sugerida por porcentagem de desgaste por abrasão é
Bernucci et al. (2007), baseada em dois calculada de acordo com a equação (1):
parâmetros volumétricos, Volume de Vazios da
mistura asfáltica (Vv) e Relação Betume Vazios Desgaste por abrasão (%) = [(P - P´) / P] x 100 (1)
(RBV). Onde é traçado um gráfico (figura 1) do
teor de asfalto (eixo “x”) versus Vv (eixo “y1”)
e RBV (eixo “y2”). A este gráfico são Onde, P é o peso do corpo de prova antes do
adicionadas linhas de tendência para os valores ensaio e P´ é o peso do corpo de prova após o
médios encontrados para os dois parâmetros e ensaio.
os limites específicos das duas variáveis. A Neste estudo, a determinação do desgaste por
partir da interseção entre as linhas de tendência abrasão permitirá analisar se a adição de RPP
do Vv e do RBV com os seus respectivos tem alguma influência na coesão da mistura.
limites, são determinados quatro teores de CAP
(X1, X2, X3 e X4). O teor ótimo de ligante é
determinado tomando a média entre os dois 3 RESULTADOS
teores centrais.
3.1 CARACTERIZAÇÃO DOS MATERIAIS

3.1.1 Agregados minerais

Os ensaios de caracterização e a análise


granulométrica dos agregados minerais são
apresentados nas tabelas 1 e 2.

Tabela 1. Características dos agregados minerais.


Pó de
Ensaios Brita ¾ Pedrisco
Figura 1. Gráfico teor de asfalto versus Vv e RBV. Pedra
Densidade real 3,057 3,036 3,02
2.2.3 Resistência a tração por compressão
diametral Densidade 2,978 --- ---
aparente

Para a determinação da resistência a tração, Absorção 0,90% --- ---


foram moldados três corpos de prova no teor Sanidade 0,61% --- ---
ótimo de ligante de cada conjunto e submetidos Equivalente de --- --- 65%
ao ensaio de resistência a tração por compressão areia
diametral descrito pela norma DNIT 136/2010. Adesividade Satisfatório --- ---
Abrasão Los
13,62% ---
2.2.4 Desgaste por abrasão Angeles

O ensaio de desgaste por abrasão foi realizado


segundo a norma DNER-ME 383/99, com o
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Tabela 2. Granulometria dos agregados minerais Com base nos dados exibidos na tabela 3,
Peneira Porcentagem passante (%) pode-se observar que a amostra de Cal CH-01
Pó de tem em sua composição apenas partículas com
Malha mm Brita 3/4" Pedrisco
pedra tamanho inferior a 0,18 mm. Já a amostra de
3/4" 19,1 100 100 100 RPP teve 2,3% de material retido na peneira
1/2" 12,7 37,7 100 100 nº40 (0,42 mm), o que segundo a especificação
3/8" 9,5 12,8 100 100 de material DNER 367 faz com que o resíduo
N° 4 4,8 0,1 7,8 97,7 não possa ser enquadrado em sua totalidade
N° 10 2 0,1 0,6 65,3 como material de enchimento para misturas
N° 40 0,42 0,1 0,6 34,5 betuminosas. Essas partículas de maior
dimensão são oriundas de fragmentos do
N° 80 0,18 0,1 0,6 23,1
porcelanato e de materiais abrasivos utilizados
N° 200 0,075 0,1 0,5 12,5
no processo de polimento e retífica das placas.
A densidade real média destes agregados,
A forma das partículas dos agregados foi
obtidas através do método do picnômetro,
caracterizada segundo a norma ABNT NBR
foram de 2,449 g/cm³ para a amostra de Cal
8809, definindo a forma do agregado utilizado
CH-01 e de 2,550 g/cm³ para o RPP.
como 87% cúbica, 12% lamelar e 1% alongada.
Todos os agregados minerais atenderam aos
3.1.4 Análise granulométrica a laser.
parâmetros estabelecidos na especificação de
serviço do DNIT 031/2006. O ensaio de granulometria a laser realizado nos
agregados com material passante na peneira
3.1.2 Ligante asfáltico Nº200 determinou o diâmetro médio dessas
partículas e possibilitou a análise da
As propriedades do ligante asfáltico distribuição granulométrica das partículas com
enquadram-se dentro das especificações tamanho nominal inferior a 0,075 mm, como
vigentes no Brasil. podemos observar na tabela 4.

3.1.3 Cal Hidratada CH-01 e Resíduo de Tabela 4. Granulometria a laser dos agregados finos.
Polimento de Porcelanato DIÂMETRO (μm)
Ø%
Pó de pedra Cal CH-01 RPP
A tabela 3 apresenta a análise granulométrica
Ø a 10% 2,65 1,64 2,01
das amostras de Cal CH-01 e RPP.
Ø a 50% 21,07 11,19 9,15
Tabela 3. Análise granulométrica das amostras de Cal Ø a 90% 52,88 31,73 27,06
CH-01 e RPP. Ø médio 25,05 14,27 12,00
Peneira Porcentagem passante (%)
Malha mm Cal CH-01 RPP A tabela 4 demonstra que a amostra de RPP
3/4" 19,1 100 100 foi a que apresentou partículas de menor
1/2" 12,7 100 100 dimensão entre os agregados utilizados na
3/8" 9,5 100 100
pesquisa. Essa granulometria menor do RPP é
determinada pelas ferramentas abrasivas
N° 4 4,8 100 100
utilizadas no processo de polimento e retifica
N° 10 2 100 100
das peças cerâmicas.
N° 40 0,42 100 97,7
N° 80 0,18 100 96,3 3.2 Dosagem das misturas asfálticas
N° 200 0,075 98 94,6
3.2.1 Composição granulométrica
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se uma pequena alteração na curva


Buscando o enquadramento das misturas com e granulométrica da mistura a partir da peneira nº
sem adições na faixa C (DNIT 031/2006) foram 4, apresentando uma quantidade maior de
formuladas as três composições, sendo: agregados de menor dimensão nos traços com
A primeira composição, denominada como adições.
traço de referência, composto por 18% de brita
3/4, 37% de pedrisco e 45% de pó de pedra. 3.2.2 Parâmetros de dosagem.
Já o segundo conjunto com adição de 2% de
Cal CH-01, tem em sua composição 18% de Os resultados dos ensaios para a determinação
brita 3/4, 37% de pedrisco, 43% de pó de pedra dos teores ótimos de ligante das três
e 2% de Cal CH-01. composições estão detalhados nas tabelas 6, 7 e
O terceiro traço com adição de 2% de RPP 8.
(Resíduo de Polimento de Porcelanatos), é
Tabela 6. Resultado dosagem Marshall do traço de
composto por 18% de brita 3/4, 37% de referência.
pedrisco, 43% de pó de pedra e 2% de RPP.
Teor de Gmb RBV
A granulometria das composições pode ser Vv (%) VAM (%)
(%)
ligante (%) (g/cm³)
observada na tabela 5 e a figura 2 apresenta as
curvas granulométricas das misturas. 3,50 2,689 4,80 14,20 66,20
4,00 2,694 3,73 14,52 74,23
Tabela 5. Granulometria das composições. 4,50 2,687 3,10 15,20 79,70
Peneira Porcentagem passante (%) 5,00 2,692 2,00 15,50 87,00
Malha Mm REF Cal CH-01 RPP 5,50 2,692 1,10 15,91 93,07
3/4" 19,10 100,00 100,00 100,00
1/2" 12,70 88,78 88,78 88,78 Tabela 7. Resultado dosagem Marshall traço com adição
de Cal CH-01.
3/8" 9,50 84,30 84,30 84,30
Teor de Gmb RBV
N° 4 4,80 46,96 47,00 47,00 Vv (%) VAM (%)
ligante (%) (g/cm³) (%)
N° 10 2,00 29,62 30,31 30,31
3,50 2,656 4,94 14,19 65,22
N° 40 0,42 15,78 17,09 17,05
4,00 2,654 4,14 14,70 71,89
N° 80 0,18 10,62 12,16 12,08
4,50 2,673 2,57 14,54 82,33
N° 200 0,08 5,81 7,52 7,46
5,00 2,670 1,79 15,08 88,10
5,50 2,673 0,81 15,44 94,74

Tabela 8. Resultado dosagem Marshall traço com adição


de RPP.
Teor de Gmb RBV
Vv (%) VAM (%)
ligante (%) (g/cm³) (%)

3,50 2,669 4,48 13,78 67,48


4,00 2,683 3,10 13,78 77,52
4,50 2,693 1,84 13,90 86,77
5,00 2,679 1,47 14,80 90,07
Figura 2. Curvas granulométricas das misturas.
5,50 2,667 1,03 15,63 93,40
Na tabela 5 e figura 2 pode-se observar que
os traços com 2 % de RPP e 2% de CAL CH-01
tem granulometria muito semelhantes, já A partir dos parâmetros Vv e RBV
quando comparados ao traço de referência nota- apresentados nas tabelas 6, 7 e 8 foram
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determinados os teores ótimos de ligante de De posse dos dados exibidos na figura 4,


cada mistura, cujos valores estão resumidos na observa-se que todas as composições
figura 3. apresentaram uma estabilidade média bem
superior ao valor mínimo exigido pela
especificação DNIT 031/2006-ES, que é 500
Kgf. A mistura que obteve o melhor
desempenho foi a com adição de Cal CH-01
apresentando uma resistência ao cisalhamento
(estabilidade) de 1540 Kgf, seguida pela
composição com adição de RPP. Esse ganho de
resistência ao cisalhamento nas misturas com
adições pode ser relacionado ao aumento da
viscosidade da mistura, que segundo Bardini, et
al., (2010) está relacionada com a consistência
Figura 3. Resultado dos ensaios de determinação dos
teores ótimos de ligante. do mástique, que é a mistura de ligante e fíler.
O fíler ativa o asfalto, encorpando-o, e fazendo
Pode-se observar na figura 3, que as adições com que o mástique tenha maior viscosidade e
proporcionaram uma redução no teor ótimo de consequentemente, aumentando o ponto de
ligante e que a mistura com adição de RPP amolecimento, diminuindo a suscetibilidade
apresentou o menor teor ótimo de ligante entre térmica e aumentando a resistência aos esforços
as composições estudadas, apresentando uma de cisalhamento. A figura 5 demonstra os
redução de 6,98% quando comparado a de resultados de fluência obtidos durante a
referência e de 5,88% quando comparado a com execução do ensaio de estabilidade Marshall.
adição de Cal CH-01. Este comportamento pode
ser atribuído a maior quantidade de material
fino e consequentemente ao menor volume de
vazios contidos nas misturas com adições.

3.2.3 Estabilidade Marshall e Fluência.

Na figura 4 pode-se analisar os resultados do


ensaio de Estabilidade Marshall das
composições em seus respectivos teores ótimos.
Figura 5. Resultado dos ensaios de Fluência (mm).

Quanto a fluência, vale lembrar que a


especificação de serviço do DNIT 031/2006 não
determina limites para este parâmetro, portanto
para melhor avaliar estes dados foram buscados
os limites estabelecidos na norma DEINFRA-
SC-ES-P-05/16 que estabelece uma faixa de 2,0
a 4,0mm. Com relação aos dados apresentados
na figura 5, pode-se observar que as
Figura 4. Resultado dos ensaios de Estabilidade Marshall composições com adições de Cal CH-01 e RPP
(Kgf). apresentaram maiores deslocamentos verticais
até a ruptura do corpo de prova, este aumento
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está relacionado ao efeito lubrificante que o fíler na mistura que contém apenas agregados
exerce no mástique das misturas, afastando os pétreos caiu 25,91% quando comparado a
agregados de maior dimensão, dando mistura com adição de Cal CH-01. Essa queda
mobilidade a estes e permitindo que as misturas de resistência pode ser atribuída ao maior teor
asfálticas absorvam maiores deformações, de ligante e a menor quantidade de material
minimizando o aparecimento de fissuras. Já o passante a partir da peneira nº4, ou seja, a Cal
menor deslocamento da mistura com adição de CH-01 e o RPP promovem o efeito filer, que
RPP quando comparada a com adição de CAL conforme Bardini, et al., (2010) diminui os
CH-01 pode ser atribuída ao menor diâmetro vazios do esqueleto mineral, dando maior
das partículas do resíduo o que, segundo compacidade ao sistema. Também, segundo
Bardini et al. (2010), está ligado diretamente a Bock (2012), a Cal CH-01 modifica as
viscosidade do mástique, quanto menor a propriedades superficiais do agregado mineral,
partícula, maior a incorporação do mineral no aumentando à rugosidade e consequentemente a
ligante, deixando a mistura mais rígida. Como o aderência entre o ligante e o agregado, fazendo
RPP dentre as misturas aqui estudadas apresenta com que a mistura fique mais coesa e assim
o menor tamanho de partícula, disponibiliza aumentando sua resistência a tração. Desta
menos ligante livre no mástique e isto resulta forma podemos presumir que o RPP promove
em uma viscosidade mais elevada dando menos efeito semelhante sobre o esqueleto mineral
mobilidade ás partículas maiores da mistura uma vez que os resultados são muito
asfáltica. semelhantes, 4,55% menor, que a composição
com adição de Cal.
3.2.4 Resistência à Tração por Compressão
Diametral 3.2.5 Desgaste por abrasão

Os resultados encontrados no ensaio de De acordo com os resultados obtidos no ensaio


resistência a tração por compressão diametral de desgaste por abrasão, apresentados na figura
das composições estudadas estão apresentados 7, é possível observar que a mistura que
na figura 6. apresentou a menor porcentagem de desgaste
foi a mistura de referência, seguida pela
composição com adição de Cal CH-01. A maior
porcentagem de desgaste apresentada foi com
adição de RPP, isso se deve ao menor teor de
ligante, que é o grande responsável pela coesão
do esqueleto pétreo da mistura.

Figura 6. Resultados do ensaio de Resistência a Tração


(MPa).

Pode-se constatar que as três composições


estão de acordo com a especificação
DNIT031/2006-ES, e que a mistura que
apresentou maior resistência foi a composição
com adição de Cal CH-01, seguida de perto pela Figura 7. Resultados dos ensaios de desgaste por abrasão.
composição com adição de RPP. A resistência
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Em relação à fluência, as três misturas se


4 CONCLUSÕES comportaram dentro dos limites estabelecidos
pelo Deinfra-SC na ES-P05/16, onde
A adição de RPP exerce uma influência positiva novamente a mistura com adição de RPP
na mistura, visto que esta apresentou uma apresentou um comportamento intermediário ao
redução significativa do teor de ligante das composições com adição de Cal CH-01 e de
asfáltico, que foi de 6,98% com relação à referência. A incorporação de Cal CH-01 e RPP
mistura de referência, e de 5,88% em relação à permitem que as misturas asfálticas absorvam
composição com adição de Cal CH-01. Na maiores deformações, minimizando o
prática essa redução pode proporcionar uma aparecimento de fissuras.
grande economia, levando em consideração que De forma geral, a incorporação de RPP
o componente de maior custo nas misturas é apresentou melhorias significativas nas
geralmente o ligante asfáltico. propriedades da mistura asfáltica, demonstrando
Para o ensaio de resistência a tração, a dessa forma um grande potencial a ser estudado,
mistura que apresentou o melhor desempenho para que assim possa colaborar com a gestão
foi a com adição de Cal CH-01, seguida pela ambiental deste resíduo.
mistura com adição de RPP. Já a mistura de
referência apresentou uma resistência de
22,38% inferior ao obtido na composição com REFERÊNCIAS
adição de RPP. Mesmo com a redução no teor
de ligante asfáltico as misturas com adição de ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
RPP possui resistência a tração superior a de TÉCNICAS. NBR 7809: Agregado graúdo –
Determinação do índice de forma pelo método do
referência e bem semelhante a com adição de paquímetro. Rio de Janeiro, 2006.
Cal CH-01, o que demonstra que o resíduo BARDINI, V. S. S., KLINSKY, L. M. G., FERNANDES,
favorece a relação entre agregado e ligante. J.L., A importância do fíler para o bom desempenho
Com relação ao desgaste, a composição com de misturas asfálticas. Minerva Pesquisa e
incorporação de RPP apresentou a maior Tecnologia, São Paulo, v.7, n.1, p.71-78. Janeiro/abril
2010.
porcentagem de desgaste entre as misturas BERNUCCI L. B., MOTTA L. M. G., CERATTI, J. A.
estudadas. Levando em consideração a P. e SOARES J. B., Pavimentação Asfáltica.
tendência de se obter menores percentuais de Formação Básica para Engenheiros. Petrobras.
desgaste em misturas com teor mais elevado de ABEDA. Rio de Janeiro, 501p, 2007.
ligante e o pequeno acréscimo do percentual de BOCK, A. L., Efeitos da incorporação de cal hidratada
em concretos asfálticos elaborados com ligante
desgaste obtido pela mistura com adição de convencional e modificado. 2012. 143f. Dissertação
RPP, pode-se dizer que RPP tem uma influência de Mestrado para obtenção do título de Mestre em
positiva na mistura. geotecnia. Universidade Federal do Rio Grande do
Quanto à estabilidade, todas as composições Sul – UFRGS. Porto Alegre.
BOEIRA, F. D., Estudo laboratorial do desempenho de
apresentaram resultados superiores aos
misturas asfálticas com diferentes tipos de cal. 2011.
estabelecidos na norma DNIT 031/2006-ES. A 64f. Trabalho de conclusão de curso para o título de
mistura que obteve o melhor desempenho nesse Engenheiro Civil. Universidade Regional do Noroeste
requisito foi a com adição de Cal CH-01. A do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ. Ijuí.
composição com adição de RPP obteve um CASTRO, S. F. Misturas asfálticas com incorporação de
cal: Análise volumétrica e mecânica. 2011. 63f.
desempenho superior a mistura de referência,
Trabalho de Diplomação para o titulo de Engenheiro
em 4,45%. Comprovando que as adições de Civil. Universidade Federal do Rio Grande do Sul –
RPP e cal CH-01 têm efeitos benéficos UFRGS. Porto Alegre.
semelhantes quanto a propriedade de CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO TRANSPORTE.
estabilidade nas misturas asfálticas. Pesquisa Rodoviária 2016. 2017. Disponível em:
<http://pesquisarodovias.cnt.org.br/>. Acesso em:
março 2017.
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DEINFRA-SC - Departamento Estadual de Infraestrutura flexíveis – Concreto asfáltico – Especificação de


do estado de Santa Catarina. ES-P 05/16: serviço. Rio de Janeiro, 2010.
Pavimentação: camadas de misturas asfálticas DNIT- Departamento Nacional de Infraestrutura e
usinadas a quente. Departamento Estadual de Transportes. DNIT 136/2010 – ES. Pavimentação
Infraestrutura de Santa Catarina, Florianópolis, asfáltica – Misturas asfálticas – Determinação da
SC.2016. resistência à tração por compressão diametral –
DNER- Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. Método de ensaio. Rio de Janeiro, 2010.
DNER-EM 367/97: Material de enchimento para EULA- European Lime Association. Hydrated lime: a
misturas betuminosas. Departamento Nacional de proven additive for durable asphalt pavements.
Estradas de Rodagem. Rio de Janeiro, RJ. 1997. Critical literature review. Report to the European
DNER- Departamento Nacional de Estradas de Lime Association / Asphalt Task Force. 2010.
Rodagem.DNER-ME 035/98: Agregados – JACOBY Pablo Cardoso; PELISSER Fernando.
determinação da abrasão “Los Angeles”. Pozzolanic effect of porcelain polishing residue in
Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. Rio Portland cement. Journal of Cleaner Production, v.
de Janeiro, RJ. 1998. 100, p. 84-88, 2015.
DNER- Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. STEINER, L. R. Efeito do resíduo do polimento de
DNER-ME 043/95: Misturas betuminosas a quente – porcelanato como material cimentício suplementar.
ensaio Marshall. Departamento Nacional de Estradas 2014. 126f. Dissertação de Mestrado para obtenção
de Rodagem. Rio de Janeiro, RJ. 1995. do título de Mestre em Ciência e Engenharia de
DNER- Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. Materiais. Universidade do Extremo Sul Catarinense –
DNER-ME 054/97: Equivalente de areia. UNESC. Criciúma.
Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. Rio
de Janeiro, RJ. 1997.
DNER- Departamento Nacional de Estradas de Rodagem.
DNER-ME 078/94: Agregado Graúdo – adesividade
ao ligante betuminoso. Departamento Nacional de
Estradas de Rodagem. Rio de Janeiro, RJ. 1994.
DNER- Departamento Nacional de Estradas de Rodagem.
DNER-ME 081/98: Agregados – determinação da
absorção e da densidade de agregado graúdo.
Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. Rio
de Janeiro, RJ. 1998.
DNER- Departamento Nacional de Estradas de Rodagem.
DNER-ME 083/98: Agregados – Análise
granulométrica. Departamento Nacional de Estradas
de Rodagem. Rio de Janeiro, RJ. 1998.
DNER- Departamento Nacional de Estradas de Rodagem.
DNER-ME 085/94: Material finamente pulverizado –
determinação da massa específica real. Departamento
Nacional de Estradas de Rodagem. Rio de Janeiro, RJ.
1994.
DNER- Departamento Nacional de Estradas de Rodagem.
DNER-ME 089/94: Agregado – Avaliação da
durabilidade pelo emprego se soluções de sulfato de
sódio ou de magnésio. Departamento Nacional de
Estradas de Rodagem. Rio de Janeiro, RJ. 1994.
DNER- Departamento Nacional de Estradas de Rodagem.
DNER-ME 093/94: Solos – determinação da
densidade real. Departamento Nacional de Estradas de
Rodagem. Rio de Janeiro, RJ. 1994.
DNER- Departamento Nacional de Estradas de Rodagem.
DNER-ME 383/99: Desgaste por abrasão de misturas
betuminosas com asfalto polímero- ensaio Cantabro.
Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. Rio
de Janeiro, RJ. 1999.
DNIT- Departamento Nacional de Infraestrutura e
Transportes. DNIT 031/2006 – ES. Pavimentos
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Influência de Parâmetros Geoquímicos em Misturas de Solo com


Rejeitos de Mineração de Ferro com Finalidade de
Reaproveitamento em Obras Civis
Thaís Guimarães dos Santos
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, thaisguimaraess@hotmail.com

André Augusto Nóbrega Dantas


Instituto Federal de Goiás, Formosa, Goiás, Universidade de Brasília, Brasília, Brasil,
andrenobregadantas@yahoo.com.br

Luís Fernando Martins Ribeiro


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, lmartins@unb.br

RESUMO: A utilização de rejeitos de mineração para estabilizar os materiais normalmente


utilizados nas obras civis já é uma prática bastante comum. Os rejeitos são comumente utilizados
nas camadas de aterros rodoviários, na construção de casas onde substituem os materiais
convencionais, além da sua utilização como fíler na indústria cimenteira, dentre outras aplicações.
Diminuindo assim, a exploração das jazidas e preservando o meio ambiente. Nesse contexto, a
presente pesquisa visa avaliar a influência dos parâmetros geoquímicos em misturas de solo com
rejeitos de mineração de ferro com a finalidade de reaproveitamento de rejeitos de em obras civis. O
rejeito de ferro estudado é proveniente do Quadrilátero Ferrífero e o solo utilizado é oriundo do
Distrito Federal. As misturas estudadas foram feitas nas porcentagens 5%, 10% e 15% em massa de
rejeito. Os estudos abrangeram a caracterização física e geoquímica do material. Com os resultados
encontrados foram possíveis conhecer as características desses materiais quando estão em contato
com água como meio de dissolução, permitindo a avaliação da influência de tais aspectos no
comportamento das misturas e avaliar o potencial de uso desses materiais em obras civis.

PALAVRAS-CHAVE: Rejeito de Mineração de Ferro, Materiais Alternativos, Caracterização


Geoquímica, pH, Argila.

1 INTRODUÇÃO dos corpos d’água, além da própria poluição


visual. Os impactos ambientais advindos das
A preocupação com construções das unidades de armazenamento de
a sustentabilidade ambiental e o crescente rejeitos ocorrem desde a sua construção e
volume de rejeitos gerado em razão dos baixos podem perdurar, inclusive, até mesmo após a
teores de minérios atualmente lavrados tem sua desativação.
estimulado o aproveitamento de rejeitos de Uma forma alternativa para o
mineração. reaproveitamento destes rejeitos é na construção
Os rejeitos, frequentemente, são civil, área esta que necessita de uma grande
armazenamentos a céu aberto, onde irão compor quantidade de matéria-prima.
permanentemente barragens e pilhas de rejeito Os rejeitos na construção civil são
caso não sejam destinados a alguma utilização. normalmente utilizados nas camadas de aterros
Essas formas de armazenamento dão origem a rodoviários, na construção de casas onde
impactos ambientais negativos na fauna, flora e substituem os materiais convencionais, além da
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sua utilização como fíler na indústria  Fíler em misturas asfálticas (Andrade,


cimenteira, o que contribue significativamente 2014).
para a diminuição na exploração de novas  Na produção de elementos de concreto
jazidas, preservando assim, o meio ambiente. para pavimentação (Toffolo et al.,
Entretanto, a avaliação de reaproveitamento 2014).
de rejeitos de mineração é complexa. Os rejeitos  Como material estabilizador misturado a
apresentam grande variabilidade de um solo laterítico da região nordeste do
características decorrentes da própria Brasil na utilização em camadas de base
heterogeneidade natural geológica e de e sub-base de rodovias (Dantas, 2015)
especificações no tratamento dos minérios para  Incorporação no cimento, fabricação de
que esses atendam ao mercado consumidor. concretos, argamassas e cerâmicas e
Com isso, cada rejeito possui a sua utilização em obras de pavimentação
particularidade. (Andrade et al., 2016).
Os estudos sobre o reaproveitamento de  Como material alternativo para a
rejeitos, além de avaliar o comportamento infraestrutura rodoviária na camada de
mecânico dos novos materiais perante as base de pavimentos (Bastos, 2013).
possíveis solicitações a que esses poderão ser
submetidos, devem também investigar a Destacam-se ainda estudos realizados com o
interação dos rejeitos com o meio ambiente, já rejeito da pilha Monjolo, do Quadrilátero
que os rejeitos podem conter substâncias Ferrífero (MG), realizados pro Gratão et al.
potencialmente contaminantes ou indutoras de (2006) e Echeverri (2012).
mecanismos de geração de drenagem ácida Gratão et al. (2006) estudaram a reutilização
(Rodríguez & García-Cortés, 2006). do rejeito de ferro do empilhamento drenado do
É nesse contexto que se insere a presente Monjolo, do Quadrilátero Ferrífero, para uso em
pesquisa, que visa avaliar a potencialidade de obras rodoviárias por meio de misturas de
reaproveitamento de rejeitos de ferro em obras rejeito (25% e 50% em massa) com um
civis sob enfoque geoquímico. latossolo (HB9) do Distrito Federal. Os autores
verificaram que os resultados obtidos nos
2 APLICAÇÃO DE REJEITO DE ensaios de compressão não-confinada
MINERAÇÃO DE FERRO EM OBRAS CIVIS demonstram uma elevação nos valores de
resistência à compressão simples com o
O Brasil ocupa posição de destaque no cenário aumento do teor de rejeito misturado ao solo.
mundial no que se trata de reservas e produção Echeverri (2012) avaliou o uso de rejeito de
de minério de ferro. Como consequência dos mineração de ferro da pilha Monjolo no
grandes volumes produzidos, é também esse o Quadrilátero Ferrífero como filtro em obras de
bem mineral responsável pelo maior volume de terra, principalmente para barragens, em
rejeito de mineração gerado no país (IPEA, substituição a areia natural encontrada nos rios
2012). e dunas. A autora constatou que as propriedades
Com base da literatura científica, constatou- de resistência e durabilidade desse rejeito
se a existência de pesquisas referentes à podem ser consideradas como um bom material
caracterização de rejeitos de mineração visando para ser empregado em filtros de barragens.
seu reaproveitamento em obras civis. Entre os Verifica-se que os rejeitos dos processos de
possíveis usos dos rejeitos de ferro encontrados beneficiamento de ferro apresentam um
estão: importante potencial de uso em obras de
 Incorporados ao cimento para utilização pavimentação, baseados, principalmente, nas
em camadas de base e sub-base de suas características granulométricas.
rodovias (Xu, 2013). Apesar de inúmeros estudos na área, os
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rejeitos apresentam uma grande variabilidade de disponibilidade às plantas (Swift & McLaren,
propriedades. Isto ocorre em razão da 1991).
heterogeneidade geológica natural dos bens Além disso, o conhecimento das cargas dos
minerais e dos vários processos que os minérios meios porosos por meio do pH, levam ao
podem ser submetidos, que podem alterar conhecimento do ΔpH e PCZ, que refletem
inclusive a físico-química da superfície das também na estrutura dos solos.
partículas. Desta forma, não se encontram O ΔpH é a diferença entre o pH em KCl e o
esgotados os estudos a cerca de pH em água. Este valor permite estimar a
reaproveitamento de rejeitos. predomnância de cargas no meio poroso. Já o
ponto de carga zero (PCZ) corresponde ao pH
3 GEOQUÍMICA EM MEIOS POROSOS do solo no qual a quantidade de cargas
negativas e positivas é equivalente. O PCZ
Muitas são as técnicas utilizadas na aponta a ausência de íons adsorvidos movendo-
caracterização de rejeitos de mineração, a se livremente na camada difusa e, também,
depender da finalidade do conhecimento. Os representa a intensificação das forças entre as
estudos podem ser englobados em quatro partículas, responsáveis pelos feitos de
grupos de caracterizações: físicas, floculação (Baldotto & Velloso, 2014). O PCZ
mineralógicas, geotécnicas e química- pode ser encontrado pela equação (1):
geoquimicas.
Destaca-se a caracterização química- PCZ = 2 x (pH KCl ) - pH (1)
geoquímica, que contempla a composição
química elementar, pH, potencial oxidação- O PCZ exerce, portanto, função importante
redução, especiação, potencial de drenagem na formação de agregados e também na
ácida de minas, estudos hidrogeológicos, entre retenção de íons adsorvidos contra os efeitos da
outros, conforme Rodríguez & García (2006, lixiviação, principalmente nos solos de carga
apud Sosa, 2016). Portanto, o conhecimento variável (Sposito, 2008 apud Baldotto &
geoquímico fornece informações precisas sobre Velloso, 2014).
a interação dos rejeitos no meio ambiente, A medida da condutividade elétrica em meio
principalmente em contato com a água, aquoso é uma forma indireta de medir a
fornecendo fundamentos para previsão da presença de íons dissolvidos e ionizados na
estabilidade desses sólidos a longo prazo no água, como cloretos, sulfetos, carbonatos,
meio ambiente. fosfatos e também sódio, magnésio, cálcio,
Sob o aspecto ambiental, a disponibilidade e ferro e alumínio (Brandão & Lima, 2002). Desta
a mobilidade dos metais pesados são forma, a condutividade elétrica quantifica uma
controladas por processos químicos e grande quantidade de compostos nela contidos
bioquímicos, tais como precipitação-dissolução, na solução - uns positivos, outros negativos - e
adsorção-dessorção, complexação-dissociação e que, em solução, permitem a passagem da
oxidação-redução (He et al., 2005). Embora eletricidade.
nem todos os processos sejam igualmente A salinização dos solos pode causar perda da
importantes para todos os elementos, todos fertilidade e a susceptibilidade à erosão, além da
estes são afetados pelo pH do meio e pelos contaminação do lençol freático e aquiferos
processos biológicos. As reações de adsorção- (Dias & Blanco, 2010).
dessorção na fração coloidal do solo são
consideradas os processos mais importantes 4 MATERIAIS E MÉTODOS
responsáveis pela concentração de metais na
solução do solo e, consequentemente, pela 4.1 Solo
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O solo de estudo foi coletado no Campo amostras submetidas à adição de rejeitos, como
Experimental de Ensaios de Campo e também do estabelecimento de comparações
Fundações da Universidade de Brasília. A com o solo laterítico.
profundidade do material coletado foi de 1,0 a O resultado desse ensaio é reflexo da
1,5 metros. estrutura do solo, da porosidade e distribuição
de poros e da sucção e/ou capilaridade atuante
4.2 Rejeito de Ferro (Burgos, 2016).

O rejeito de ferro foi coletado na saída do 4.4 Caracterização Química e Caracterização


rejeitoduto da pilha de rejeito Monjolo, inserida Geoquímica
no Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais,
sendo procedente do processo de separação O conhecimento da composição química do
gravídica por espirais. solo e do rejeito foi realizado pela técnica de
Fluorescência de Raios X (FRX). Para isso, os
4.3 Caracterização Física materiais foram moídos e peneirados na peneira
de nº 200. O passante foi encaminhado para
Para as análises granulométricas, o solo e o análise.
rejeito de ferro foram ensaiados segundo a NBR Para a compreensão dos fenômenos
7181 “Solo – Análise Granulométrica” (ABNT, geoquímicos que ocorrem entre os rejeitos, solo e
2016). Buscou-se ainda submeter o material aos água como meio de dissolução, as amostras
ensaios de limite de liquidez e de plasticidade foram submetidas aos ensaios de pH em água
conforme as normas NBR 6459 “Solo - destilada e KCl, potencial de oxidação-redução
Determinação do limite de liquidez” (ABNT, e condutividade elétrica.
2016) e NBR 7180 “Solo - Determinação do Para os ensaios de pH em água,
limite de plasticidade” (ABNT, 2016). condutividade elétrica e potencial de
Para o conhecimento da massa específica dos oxirredução foram empregadas 4 g de
grãos foi utilizado um pentapicnômetro modelo resíduo/solo e 10 mL de água destilada, de
PENTAPYC 5200e da “Quantachrome forma a utilizar a proporção de 1 : 2,5
Instruments”. (massa/volume). Da mesma forma, a
O ensaio de compactação foi realizado determinação do pH em KCl, foi realizada
conforme a NBR 7182 “Solo Ensaio de pesando-se 4 g de rejeito/solo e foi adicionado
Compactaçao” (ABNT, 2016), sem reuso de 10 mL de uma solução de 1M KCl. Ambas as
material e na energia normal. Foram geradas as amostras ficaram em agitação por meia hora a
curvas de compactação do solo, 5% (M.5% Fe), baixa velocidade, num agitador Rotator Genie,
10% (M.10% Fe) e 15% (M.15% Fe) de rejeito marca Cientific Industries, seguido de 30 min
de ferro em massa. de repouso e separação do extrato líquido por
Conhecidas as umidades ótimas, as misturas centrifugação e filtragem. Após este processo as
foram compactadas dinamicamente na energia amostras foram encaminhadas para as medições
normal e prontamente ensaiadas conforme a de pH, condutividade elétrica e potencial de
NBR 12770 “Solo coesivo – Determinação da oxidação-redução. A seguir foi calculado o ΔpH
resistência à compressão não confinada” e o PCZ.
(ABNT, 1992). A velocidade de deformação foi Para o solo, foi realizado ainda ensaio de
de 1,27 mm/min. Os ensaios foram conduzidos capacidade de troca catiônica (CTC) pelo
até a ruptura dos corpos de prova. método de azul de metileno.
A escolha desse tipo de ensaio se deu Para o ensaio, o solo foi seco ao ar,
basicamente pela possibilidade de verificação destorroado, peneirado na peneira de nº 10 e o
simples do real ganho de resistência das material passante foi encaminhado para análise.
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O ensaio foi realizado no Laboratório Campo Ti 3,273 0,015


Análises Agrícolas Ambientais, unidade de Zr 0,425 0,002
Paracatu - MG. K 0,304 0,013
Cr 0,074 0,003
5 ANÁLISES DOS RESULTADOS
Mn 0,061 0,004
5.1 Caracterização do Solo s: desvio padrão

O solo utilizado, segundo Pastore (1996 apud O solo é predominantemente constituído por
Guimarães, 2002) é um solo residual laterítico, gibbsita (Al(OH)3) e quartzo (SiO2), que
que sofreu processo de intemperismo, sendo totalizam mais 70% da composição
constituído por uma argila arenosa vermelha. mineralógica do solo. Os outros 30% são
Na Figura 1 encontra-se a curva granulométrica distribuídos entre caulinta (Al2Si2O5(OH)4),
e Tabela 1 encontra-se a distribuição hematita (Fe2O3,), goethita (FeO(OH)), anatásio
granulométrica do solo estudado. (TiO2) e rutilo (TiO2) (Carvalho 1995, apud
Guimarães, 2002).
O pH do solo em água é 5,7, típico de solo
que passaram por processos de lixiviação
capazes de lixiviar quantidades significativas de
bases permutáveis como Ca, K, Mg e Na das
camadas superficiais dos solos (Ronquim,
2010). O pH em KCl é de 6,1.
Como os procesos de contaminação dos
solos não dependem exclussivamente da fonte
de containação, foi importante encontrar o ΔpH
PCZ do solo, apresentados na Tabela 3.

Tabela 3. Parâmetros do solo


Figura 1. Curva granulométrica do solo
pH água pH KCl Δ pH PCZ
Solo 5,7 6,1 0,4 6,5
Tabela 1. Distribuição granulométrica do solo
Condição do Areia Silte Argila Finos*
Como o PCZ está maior que o pH do solo,
ensaio (%) (%) (%) (%)
segundo Appel et al. (2003), há predomínio de
Com defloc. 34,5 11,3 54,3 70,9
Sem defloc. 89,5 10,0 0,4 12,5 cargas elétricas positivas (ΔpH > 0) e portanto,
(*) Material passante na peneira #200 o solo exibe a predominância de adsorção de
ânions, ou seja, baixa retenção de metais. Este
A classificação SUCS do solo é CL-ML. A fato apoia-se também no baixo valor de CTC
massa específica é 2,69 cm³/g. Na Tabela 2 a encontado, que foi de 92,83 mmolc/kg. O valor
seguir, a análise química do solo. é compatível com o de solos constituídos de
argilominerais cauliníticos e mineralogia
Tabela 2. Análise química do solo oxídica (óxidos de Fe e Al), estando de acordo
Solo com a mineralogia e química do solo (Foletto et
Elementos al., 2000).
% s
Químicos O baixo valor de CTC indica solos com
Al 41,579 0,120 argilas de baixa atividade. Argilominerais de
Fe 34,810 0,032 alta atividade podem chegar a apresentar CTC
Si 19,474 0,061 da ordem de 1500 mmolc/kg. Este resultado
reflete a baixa capacidade do solo de reter os
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metais oriundos das misturas de solo com compreensão mineralógica dos materiais.
rejeitos, consequentemente, tais metais serão Com o ensaio de compactação, verificou-se
mais dificilmente absorvidos pelas raízes de que em relação ao solo, as misturas com rejeito
plantas. de ferro apresentaram um incremento no peso
específico aparente seco, enquanto a umidade
5.2 Caracterização do rejeito ótima diminuiu, como pode ser constatado pela
Figura 3.
Na Figura 2 e Tabela 4, estão respectivamente a
curva e a distribuição granulométrica do rejeito
de ferro.

Figura 3. Curvas de compactação do solo e misturas

Os resultados obtidos nas compactações


Figura 2. Curvas granulométricas do rejeito de ferro
foram satisfatórios. Conforme Dantas (2015),
materiais com massas específicas aparentes
Tabela 4. Distribuição granulométrica do rejeito de ferro secas elevadas apresentam bons
Condição do Areia Silte Argila Finos* comportamentos quando sujeitos as
ensaio (%) (%) (%) (%) solicitações, com resistências elevadas e baixa
Com defloc. 93,2 5,8 1,0 19,6 compressibilidade, próprio para materiais de
Sem defloc. 85,2 13,8 1,1 19,2 pavimentação. A seguir, Tabela 5, os resultados
(*) Material passante na peneira #200 das compactações e resistências à compressão
uniaxial (RCS).
O rejeito de ferro é uma areia média a fina,
de massa específica de 3,49 cm³/g. O rejeito se Tabela 5. Resultados das compactações e RCS
comportou como um material não plástico. Umidade RCS
Apesar da presença de finos, o material não se Material γd
ótima (%) (kPa)
comporta como uma argila. Solo 24,0% 15,1 99
Em relação a sua distribuição M.5% Fe 22,9% 15,7 104
granulométrica, o rejeito de ferro não M. 10% Fe 22,6 % 16,0 130
apresentou alteração significativa na presença M. 15% Fe 21,0 % 16,1 135
ou ausência de defloculante. Este fato pode ser
explicado pelo fato do rejeito ser um material Todas as misturas apresentaram ganho de
modificado de forma que sua fração mais fina é resistência na compressão unixial do solo ao
granular, formada principalmente por partículas passo que também tiveram seus pesos
de óxido de ferro, não apresentando as específicos aparentes secos aumentados. O que
propriedades de um material argiloso. do ponto de vista técnico, sugere sua
Comprovando, juntamente com o resultado do potencialidade em melhorias de solo.
limite de liquidez a importância da
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Mesmo com esses resultados, se faz ambiental, o pH do rejeito de ferro de 7,5 limita
importante a avaliação química-geoquímica, a mobilidade dos metais presentes no rejeito de
principalmente dos rejeitos, de forma a melhor ferro.
analisar a interação dos rejeitos com o solo e o O baixo valor da CE reflete a baixa
meio ambiente. quantidade de sais dissolvidos presentes no
Na Tabela 6, encontra-se o resultado da FRX extrato analisado e, consequentemente, poucos
do rejeito de ferro. íons dissolvidos na solução.
O potencial de oxidação-redução é outro
Tabela 6. Análise química do rejeito de ferro fator considerado na mobilidade dos metais.
Rejeito de Ferro Este alto valor indica o predomínio de materiais
Elementos na forma oxidada e desta maneira mais estáveis.
% s
Químicos Esta informação é de muita relevância,
Fe 57,765 0,044
principalmente pela FRX ter revelado a
Si 38,736 0,077 presença de Fe e Mn no rejeito. Estes elementos
Al 2,832 0,045 são considerados excelentes carreadores de
Tm 0,347 0,074 metais traços e assim, em condições anóxicas
Mn 0,155 0,004
(redutores) tornam-se instáveis, provocando
uma disponibilização dos metais a eles
S 0,100 0,003
associados (Forstner & Wittman 1981, Tessier
Ca 0,065 0,003 et al. 1979)
s: desvio padrão O balanço de cargas no meio poroso
influencia a adsorção dos metais pesados no
Os elementos químicos identificados na FRX solo. Quando o valor de pH é negativo, ocorre
estão condizentes com a mineralogia do rejeito, a predominância de cargas negativas nos
que segundo Espósito (2000), é constituída coloides do rejeito, que aumenta a adsorção dos
apenas por quartzo (SiO2) e hematita (Fe2O3). cátions pelo próprio rejeito, reafirmando a baixa
Entre os metais identificados, destacam-se a mobilidade de metais do rejeito de ferro e a alta
presença de alguns que podem agir como capacidade de retenção de metais.
contaminantes ambientais, sendo eles o ferro,
manganês e alumínio. Porém, apenas a 6 CONCLUSÕES
quantificação desses elementos não é suficiente
para determinar a possível contaminação do Os princípios que governam a mobilidade e a
ambiente pelos rejeitos. São necessários estudos retenção de metais pesados nos solos são
geoquímicos muito mais específicos. extremamente complexos. O fluxo de metais
Na Tabela 7 encontram-se os resultados dos nos solos não depende apenas das propriedades
ensaios geoquímicos do rejeito de ferro. físico-químicas dos íons metálicos, mas
também das propriedades físicas e química-
Tabela 7. Parâmetros geoquímicos do rejeito de ferro geoquímicas de cada tipo de solo. Por isso,
pH pH conforme Dube et al. (2001), a complexidade
CE Eh ΔpH
KCl
da matriz de cada solo dificulta o entendimento
7,5 28,9 487,0 7,1 - 0,4
dos processos de interações de adsorção
CE – condutividade elétrica (S/cm)
Eh – potencial oxidação-redução (mV) particulares de cada metal, que por si dificulta o
procedimento de formulação efetiva dos
Segundo Sodré & Costa (2001), valores de modelos para previsão do transporte de metais
pH acima de seis favorecem a retenção de no solo, principalmente a longo prazo.
metais no meio poroso, o que diminui a Contudo, apesar de simples os ensaios
mobilidade de metais. Do ponto de vista geoquímicos explorados, verifica-se que além
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do ganho de resistência do solo quando Associação Brasileira de Normas Técnicas. (1992). NBR
adicionado rejeito de ferro, mesmo que em 12770 “Solo coesivo – Determinação da resistência à
compressão não confinada” Brasil.
porcentagens baixas, o rejeito apresenta baixa Bastos, L. A. C. (2013). Utilização de rejeito de barragem
tendência de mobilidade dos metais presentes. de minério de ferro como matéria prima para
Tal fato é apoiado nos conhecimentos químicos- infraestrutura rodoviária. Dissertação de mestrado,
geoquímicos, como cargas elétricas e potencial Núcleo de Geotecnia da Escola de Minas da
de oxidação-redução. Além disto, o solo Universidade Federal de Ouro Preto, Universidade de
Ouro Preto, Ouro Preto, MG, 97p.
estudado apresenta baixa capacidade de reter Baldotto, M.A & Velloso, A. C. (2014). Eletroquímica
cátions. de solos e de sua matéria orgânica aplicados ao
Para assegurar que o rejeito não confere risco manejo e conservação de ambientes tropicais.
toxicológico ao meio ambiente, aconselha-se Sociedade Brasileira de Química (SBQ).
Brandão, S. L. & Lima, S.C. (2002). pH e condutividade
realizar extrações sequenciais para elétrica em solução do solo, em áreas de pinus e
conhecimento da especiação química do rejeito, cerrado na chapada, em Uberlândia (MG). Caminhos
além de ensaios de lixiviação e solubilização de geografia - revista on line programa de pós-
para verificar o nível de periculosidade do graduação em geografia,3(6): 46-56p.
rejeito. Burgos, J. F. (2016). Influência da microestrutura no
comportamento mecânico dos solos tropicais naturais
e compactados. Dissertação de Mestrado, Publicação
AGRADECIMENTOS G.DM- 272/16, Departamento de Engenharia Civil e
Ambiental, Universidade de Brasília, Brasília, DF,
Aos professores e aos técnicos responsáveis do 149 p
Laboratório de Geotecnia, Laboratórios da Carvalho, M. N. (1995). Seminário da Disciplina
Geotecnia dos Solos Tropicais. Programa de Pós-
Central Analítica e Multiusuário do Instituto de Graduação em Geotecnia, Departamento de
Química, Laboratório de Geoquímica, todos da Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de
Universidade de Brasília. Brasília, Brasília, DF, 6p
Dantas, A. A. N. (2015). Caracterização Caracterização
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Dissertação de mestrado em Engenharia Civil.
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Forstner, U. & Wittmann, M. (1981). Metal Pollution in de minério de ferro. In: Anais do 56º Congresso
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Silva, S. N. Cury, A. A. Peixoto, R. A. F..
Viabilidade técnica de elementos de concreto para
pavimentação produzidos com rejeito de barragem
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INFLUÊNCIA DO RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL E


DEMOLIÇÃO NO GANHO DE RESISTÊNCIA A
ERODIBILIDADE DOS SOLOS TROPICAIS NO MUNICÍPIO
DE ARAGUAÍNA -TO
Glacielle Fernandes Medeiros
UNITPAC, Araguaína, Brasil, medeiros.agrimensura@gmail.com

Lucas Lima Coelho


UNITPAC, Araguaína, Brasil, lucaslimabss@gmail.com

Rayssa Rafaella de Souza da Cruz Oliveira


UNITPAC, Araguaína, Brasil, rayssa.rew@gmail.com

Stefany Lima Botelho


UNITPAC, Araguaína, Brasil, stefanyl.botelho@hotmail.com

Taysa de Morais Rocha


UNITPAC, Araguaína, Brasil, taysamr2015@gmail.com

RESUMO: Em virtude do aumento da geração de resíduos de construção e demolição (RCD), surge


a necessidade de reutilizá-lo. Dessa forma, esta pesquisa objetiva analisar e verificar a viabilidade
técnica da utilização de RCD, adicionado ao solo coletado na cidade de Araguaína-TO para ganho
de resistência a erodibilidade. Realizou-se ensaios com a finalizade de caracterizar o solo estudado e
a mistura RCD e solo na proporção 50% de cada material. Os ensaios de caracterização física
incluem os ensaios de granulometria, massa específica, método de pastilha. Quanto ao ensaio de
desagregação, a mistura mostrou-se mais resistente aos processos de inundação do que a amostra de
solo. Durante o ensaio de desagregação e Inderbitzen os resultado ocorram conforme o esperado, ou
seja, a mistura apresentaram-se mais resistente, devido principalmente às forças de coesão existentes
nestes tipos de amostra.

PALAVRAS-CHAVE: Resíduo de construção e demolição. Solo tropical. Resistência a


erodibilidade. Reutilização de resíduos.

1 INTRODUÇÃO reproduzidos por seres humanos (CUNHA,


2007).
A exploração descontrolada de recursos mineras Com o aumento da população, houve a
está levando ao esgotamento das jazidas, com necessidade de novas construções e
isso surge a preocupação de que os recursos modernização de algumas obras já existentes.
naturais não poderão ser recuperados, uma vez Dessa forma, cresceu a produção de resíduos
esgotados, visto que são produzidos por gerados com a demolição, além de resíduos
fenômenos naturais, como por exemplo as provenientes do desperdício de materiais.
rochas e minerais, e impossíveis de serem Segundo Silva (2006), metade dos resíduos
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gerados na construção civil são decorrentes de a influência do RCD no solo. Como Santos
perdas em obras. (2011) que o utilizou em muros reforçados e
Leite (2001) destaca que o fato da indústria certificou que o material obteve um excelente
da construção ser antiga e se fazer de métodos e desempenho estrutural.
materiais que teve poucos mudanças ao longo Com isso, essa pesquisa visa analisar o
do tempo, com isso, se torna tentador o uso de comportamento do solo com a adição de
novos materiais que tragam benefícios ao meio resíduos de construção e demolição para
ambiente confirmar sua viabilidade no aumento da
Na maioria das vezes, esses resíduos não tem resistência em solos tropicais.
o descarte apropriado, gerando entulhos que
resultam em alagamentos, assoreamento de rios
e córregos e vetores de doenças. 2 REFERENCIAL TEÓRICO
A construção civil causa um grande impacto
ambiental, pois além de apoderar-se dos A Norma Brasileira NBR 10004 (ABNT, 2004)
recursos naturais, todos os setores geram classifica os variados tipos de resíduos sólidos,
resíduos sólidos. Segundo Pinto (1986), o tendo em vista o manuseio e o destino destes, de
Brasil produz um índice médio de 0,9 t/m² de acordo com os riscos que podem gerar ao meio
entulho. Já Leite (2001) diz que cada habitante ambiente e a saúde pública. Os RCDs são
brasileiro produz 0,52 toneladas por ano, classificados na Classe II B como Inertes.
correspondendo uma massa total de 54% a 61% Entretanto, segundo Barros (2005), por mais
de resíduos sólidos urbanos. Para Jhon et al que a maioria das construções gera como
(2004) o Brasil produz cerca de 68,5 milhões de produtos resíduos inertes, deve-se estar atento,
t/ano de RCD. Com todos esses valores, pois há possibilidade de ocorrer casos em que a
entende-se a importância de encontrar soluções matéria prima utilizada na obra, modifique a
para o descarte adequado e reutilização desses classificação do entulho.
materiais. Lima (1999) estudou os agregados reciclados
Cunha (2007) destaca a necessidade do e apresentou algumas diferenças deles para os
aperfeiçoamento em toda a construção civil, convencionais. Uma das características
juntamente com a adesão de uma política encontrada pelo autor foi que os reciclados são
pública que instigue o reaproveitamento dos mais porosos e por isso absorvem mais água.
recursos naturais descartados, diminuindo assim Devido a isso, vários outros autores
o impacto que seria gerado. recomendam que ao utilizar o RCD em
Pensando nisso, vários autores têm realizado argamassas, os mesmo, devem estar saturados,
pesquisas para a utilização dos resíduos de evitando que absorvam a água de hidratação
construção e demolição na construção civil. necessária para a resistência (HANSEN, 1992;
Barros (2005) afirma que os RCD’s podem ser SCHULZ & HENDRICKS, 1992; I&T, 1995).
utilizados na fabricação de blocos de concreto, Em vista da porosidade, Lima (1999) afirma
de argamassas, concretos magros sem alvo que isso interferirá na massa específica que será
estrutural, camadas de pavimentos como base e maior que dos agregados naturais.
sub-base, argamassas, dentre outros. Quintanilha (2008) estudou o uso do RCD
Não é sempre que o solo local apresenta as em pavimentos flexíveis nas camadas de base e
características necessárias para a construção que sub-bases. Em sua pesquisa o material
se deseja. Com isso, há muito tempo o homem apresentou características e comportamento
busca adicionar materiais ao solo com o intuito variável, mesmo assim, atendeu as normas
de aumentar a resistência. brasileiras para essas camadas, além de
Em vista disso, alguns autores buscaram apresentar um aceitável comportamento
desenvolver pesquisas com o intuito de verificar estrutural.
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Visto que os solos tropicais são comumente Helena, se situa próximo a um córrego, e a má
encontrados em algumas regiões brasileiras, destinação do RCD vem causando danos
aumentaram-se os estudos com o seu uso, ambientais e a população do local, Figura 2.
buscando conhecer suas características e
melhorias das suas propriedades.
Villibor et al., (2009) afirma que os solos
tropicais apresentam comportamento e
propriedades específicas, em decorrência da
ação a quais as regiões tropicais úmidas, além
disso há os processos geológicos e/ou
pedológico. Sendo dividido em solos lateríticos
e os solos saprolíticos.
Ferreira e Thomé (2011), confirmaram a
viabilidade da utilização do RCD para o reforço
de solo tropical quando utilizado como base em
fundações superficiais, reduzindo os recalques e
melhorando a capacidade de suporte. Figura 1- Local da coleta das amostras de solo
Nota-se que os estudos com a utilização de (imagem obtida do Google Maps, 22/04/2018)
RCD tem crescido bastante nos últimos anos,
entretanto, há muitas pesquisas que necessitam
ser finalizadas para maior compreensão e
discussão de resultados apresentados. É notório
a necessidade da abordagem desse tema, em
vista disso, essa pesquisa busca amenizar essa
carência.

3 MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Atividades de Campo Figura 2- Local da coleta do RCD

Para fins do estudo foi coletado solo na cidade O RCD coletado foi levado ao laboratório de
de Araguaína-TO, tendo como jazida localizada Geotecnia da UNITPAC, onde foi submetido à
na avenida Alfredo Nasser no Loteamento Nova trituragem pela máquina onde é realizado o
Araguaína, conforme apresentado na Figura 1. ensaio de Abrasão Los Angeles, com o material
Realizada a etapa de coleta de amostras, obtido foi realizado o peneiramento para se
efetuou-se o transporte para o Laboratório de obter apenas os agregados passantes na peneira
Geotecnia da UNITPAC, onde foram de 4,8 mm. Todo material foi armazenado e
submetidos a procedimentos de destorroamento, identificado em sacos plásticos para futura
homogeneização e quarteamento e armazenados efetivação dos ensaios.
em sacos, devidamente identificados, no Além dos materiais coletados, solo e RCD,
depósito do laboratório. preparou-se uma mistura constituinte de 50% de
O resíduo de construção e demolição foi massa seca do solo e 50% de massa seca do
coletado em local de descarte da prefeitura, resíduo da construção e demolição.
onde não há uma boa disposição ou estrutura No final desta pesquisa, todo material de
para tal destinação, visto que tal local, presente resíduo de construção e demolição do lugar da
na rua Castro Alves, no setor Jardim Santa coleta já havia sido retirado do local.
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3.2 Ensaios Laboratoriais


100  M R200
MT = (1)
Realizou-se ensaios de caracterização do solo, 100 - PP200
nos quais pode-se identificar: granulometria,
limite de liquidez e plasticidade, massa Sendo que:
específica dos grãos e o ensaio de compactação. MT: massa total erodida;
Seguindo a NBR 6457 (ABNT, 2016) MR200: massa lavada retida na peneira n° 200
executou-se a preparação das amostras que (0,075 mm);
foram utilizados nos ensaios de caracterização e PP200: porcentagem passante na peneira n° 200
compactação. (0,075 mm), conforme curva granulométrica
Os ensaios de caracterização foram
executados seguindo a NBR 7181 (ABNT, 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
2016), NBR 6458 (ABNT, 2016), NBR 6459
(ABNT, 2016) e NBR 7180 (ABNT, 2016). 4.1 Caracterização dos materiais
Por se caracterizar como solo tropical, foram
realizados ensaios específicos, tal como, ensaio A caracterização dos materiais; solo e mistura
do método de pastilha, conforme a metodologia (solo/RCD) foram realizados como descrito na
proposta por Fortes, Merighi, Zuppoline Neto metodologia, possibilitaram a determinação dos
(2002) e Dersa Desenvolvimento Rodoviário S. índices físicos das amostras. Para determinação
A. do Estado de São Paulo (2006). do comportmento do solo foi efetuado o ensaio
O ensaio de compactação foi executado de de Identificação Expedita do Solo Tropical –
acordo com a norma NBR 7182 (ABNT, 2016), “Método da Pastilha” destinado aos solos
utilizando de Energia Proctor Normal. tropicais.
Realizou-se dois ensaios de erodibilidade, o Os valores das massas específicas dos grãos,
ensaio de desagregação, Santos (1997), e o limite de liquidez, limite de plasticidade e o
ensaio de Inderbitzen conforme Almeida (2014) índice de plasticidade obtidos nos ensaios de
e Medeiros (2014). caracterização do Solo e da Mistura (solo/RCD)
O ensaio de desagregação, foi realizado para estão apresentados nua Tabela 1.
constatar a estabilidade das amostras quando
submetida à imersão em água destilada.
Tabela 1- Índices físicos do Solo, RCD e Mistura
Utilizou-se corpos de prova de solo e mistura,
compactados inicialmente conforme a NBR Índices
Solo Mistura
7182 (ABNT, 2016). Sendo que, o corpo de Físicos
prova do solo e mistura foram compactado na WL (%) 25,14 20,19
WP (%) 15,01 NP
umidade ótima presumível, não sendo possível a
IP (%) 10,13 -
compactação do RCD puro, tendo em vista que γs
na seleção da amostra, optou-se pelo uso 29,1 27,6
(KN/m³)
somente de argamassa.
O ensaio de Indebitzen foi realizado para Observa-se que com a adição do RCD,
analisar a erodibilidade superficial das amostras. reduziu o limite de liquidez e impossibilitou o
Utilizou-se o aparelho adaptidado de Aguiar ensaio do limite de plasticidade,
(2009) com inclinação de 10º, vazão de 50 ml/s consequentemente, não possibilitou a obtenção
e o tempo mínimo de 20 minutos. A massa de do valor do índice da mistura, pois o material
solo perdida (MT), a cada intervalo de tempo não apresentou plasticidade suficiente para a
através da comparação com a curva execução dos ensaios. Na massa específica dos
granulométrica, de acordo com a Equação 1 grãos, obteve uma variação dentro do que se
propostas por Almeida et al. (2013). espera do ensaio do solo e da mistura.
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Os ensaios de granulometria foram realizados Tabela 2- Teores de grãos dos materiais com
com e sem hexametafosfato de sódio defloculante
(defloculante). Na curva granulométrica das
amostras com e sem defloculante de solo, Figura Pedregulho
Material Areia % Silte % Argila %
3 e 4, observou-se uma porcentagem maior de %
agregação de fração fina na amostra com Solo 6,28 54,78 12,28 26,66
defloculante. No entanto, o efeito do Mistura 0 75,12 9,96 14,91
defloculante é menos acentuado no na mistura
por conter o RCD que assemelha-se ao solo
arenoso. Tabela 3- Teores de grãos dos materiais sem
defloculante.

Pedregulho
Material Areia % Silte % Argila %
%

Solo 6,28 69,23 14,45 10,04


Mistura 0 84,21 15,79 0

Tabela 4- Classificação dos materiais com defloculante


Classificação Classificação diagrama
Figura 3- Curva granulométrica, Solo e Mistura com Material
SUSC triangular de Feret
defloculante
Solo SC Areia Argilosa
Mistura SC Areia Siltosa

Tabela 5- Classificação dos materiais sem defloculante


Classificação
Classificação
Material diagrama
SUSC triangular de Feret
Solo SM Areia Siltosa
Mistura SM Areia

Figura 4 - Curva granulométrica, Solo e Mistura sem


defloculante

A partir dos resultados dos índices físicos


demostrados na Tabela 1 e das curvas
granulométrica representadas na Figura 3 e 4,
foi utilizado como forma de classificação o
Sistema Unificado de Classificação de Solos
(SUSC) e o diagrama triangular de Feret, Figura
5. Sendo, mostradas os teores de material
presente no solo e mistura de acordo com as
tabelas 2 e 3, para as amostras com e sem
defloculante do solo e da mistura classificados
como o mostrado nas tabelas 4 e 5.

Figura 5- Diagrama triangular de Feret


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Como método de classificação MCT para o Figura 8. Já na imersão parcial, tanto a amostra
limite de atterberg, constatou-se, que o solo tem de solo como a mistura não apresentaram
consistência plástica e a mistura não plástica. A desmoronamento no final das 24h. No ensaio de
partir da contração e penetração média foi imersão total com pré saturação, observou-se
possível classificar a amostra de acordo com a que amostra de solo compactada teve maior
Carta de Classificação do Método das Pastilhas sucção por capilaridade durante o processo de
Figura 7, onde as amostras foram de areia saturação, em 1h a amostra estava úmida, sendo
laterítica quartzosa (LA) para o solo e areia que a mistura demorou quase 24h para
laterítica quartzosa e solo arenoso laterítico apresentar a mesma umidade, concluido a etapa
(LA-LA’) para a mistura. de saturação, as duas amostradas foram
submetidas a saturação total, no qual
continuaram intactas após as 24h de imersão.
Conclui-se que o RCD diminui a sucção do solo
e aumenta a estabilidade estrutural caso ocorra
uma inundação de forma rápida.

Figura 6- Amostra das pastilhas de solo e mistura

Figura 8- Amostras de solo e mistura no ensaio de


imersão total

O ensaio de Inderbitzen foi executado como


exposto na metodologia, observa-se na Figura 9
que após 15 minutos de escoamento superficial
Figura 7- Carta de Classificação do Método das do solo e da mistura, houve uma maior perda de
Pastilha. Fonte: Dersa (1994) massa da mistura que a amostra de solo devido a
presença do RCD na mistura, pois o mesmo é
um material não coesivo.
4.2 Ensaio de Erodibilidade

Para determinação da erodibilidade do solo e da


mistura, foram utilizados o ensaio de Inderbitzen
e o ensaio de desagregação, o qual foi realizado
com três amostras de solo e da mistura, sob
imersão total e parcial.
No ensaio de desagregação notou-se que a
amostra compactada de solo desmoronou
completamente após o prazo de 24h na imersão
total, entretanto, não ocorreu o mesmo com a Figura 9- Massa erodida acumulada das amostras no
ensaio de Inderbitzen
amostra da mistura que permaneceu sem ruptura
estrutural até o final do ensaio como mostra na
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A mistura nos primeiros 15 minutos de ensaio solo e sua capacidade de sofrer escoamento
mostrou-se mais resistentes aos processos superficial, dessa forma, o RCD aumentará a
erosivos. A perda de massa devido ao resistência a erodibilidade e a resistência do
escoamento superficial depende da vazão de grãos a perda de massa.
escoamento, e do tempo em que a amostra é
submetida a esse fluxo, sendo este, um dos
fatores que podem ter influenciado a mistura a REFERÊNCIAS
apresentar maiores perdas de massa na apos 15
minutos, já que o solo apresenta partículas de ABNT - NBR 10004 - Resíduos sólidos – Classificação.
dimensões menores que a mistura. Durante o Rio de Janeiro, 2004a. 71p.
ABNT - NBR 6457 - Amostras de Solo – Preparação
ensaio de desagregação, os resultados se para Ensaios de Compactação e Ensaios de
comportaram conforme o esperado, ou seja, a Caracterização. Rio de Janeiro, 2016. 9p.
mistura apresentou-se mais resistente, devido ABNT - NBR 6458 - Grãos de Solos que Passam na
principalmente os materiais cimenticios Peneira de 4,8mm - Determinação da massa
presentes no RCD. específica. Rio de Janeiro, 2016. 10p.
ABNT - NBR 6459 - Solo - determinação do li mite de
liquidez. São Paulo, 2016, 6p.
ABNT - NBR 7180 - Solo - determinação do limite de
4 CONCLUSÕES plasticidade. São Paulo, 2016. 3p.
ABNT - NBR 7181 - Solo-Análise granulométrica. Rio
Analisando os resultados, solo e a Mistura de Janeiro, 2016, 13p.
foram classificados como areia argilosa e areia ABNT - NBR 7182 - Solo - Ensaio de compactação. Rio
de Janeiro, 2016. 9p.
siltosa, respectivamente, e o RCD como uma
Affonso, F. J. A. Caracterização de agregados
areia. No ensaio de pastilha, o solo e a mistura reciclados de resíduos de construção e demolição
foram classificados como areia laterítica, o que para uso em camadas drenantes de aterros de
justifica o fato do material apresentar uma boa resíduos sólidos. XXIII. 161P 29,7cm (COPPE –
resistência mecânica que é característica do solo UFRJ,M.Sc, Engenharia Civil, 2005)
laterítico. Aguiar, de V. G. Bacia hidrográfica do córrego granada
– Aparecida de Goiânia – GO: os processos erosivos
Pode-se comprovar que a presença do RCD e a dinâmica espacial urbana. 2009. 97 f.
no solo, aumenta a resistência do mesmo Dissertação (Mestrado em Geotecnia) - Programa de
durante o ensaio de desagregação, logo, a Pós-Graduação em Geotecnia, Estruturas e
mistura demonstrou um maior desempenho para Construção Civil – PPG-GECON, Goiânia, 2009.
a sua utilização em em obras geotécnicas em se Almeida, F. T., Santos, G. M., Silva, R. A., gomes, C. C.
Caracterização física do solo utilizado em camada de
tratando de resistência do solo diante da perda
cobertura no aterro sanitário de Caucaia – Ceará.
de massa, durante processos de inundação, pois CONNEPI, Belém, v. IV, p. 1 - 6, 2009.
a mistura quando submetida a presença de água, Almeida, J. G. R. Erodibilidade de Solos Tropicais não
permaneceu intacta, mostrando ser um material Saturados nos Municípios de Senador Canedo e
não desagregável. No ensaios de Inderbtizen ao Bonfinópolis-GO. 2013. 127f. Dissertação (Mestrado
analisar a resistência ao escoamento superficial, em Geotécnica) – Programa de Pós-Graduação em
Geotecnia, Estruturas e Construção Civil,
notou-se que a mistura teve uma resistência Universidade Federal de Goiás, Goiânia/GO, 2013.
inicial maior que o solo o que é explicável pelo Barros, M. C. Avaliação De Um Resíduo Da Construção
fato da mistura ser composta com 50% de RCD, Civil Beneficiado Como Material Alternativo Para
podendo observar que no decorrer do ensaio a Sistema De Cobertura. Tese – Universidade Federal
perda de massa da mistura foi superior a do do Rio de Janeiro, COPPE. Rio de Janeiro, 2005.
97p.
solo. Os resultados permitem concluir que a
Barroso, I. M., 2008. Camadas de Cobertura de Aterro
presença do RCD diminuirá os problemas de de Resíduos Sólidos: Estudo Preliminar de Casos.
erosão por escoamento, pois, a presença o RCD Dissertação de Mestrado. Programa de pós-graduação
modificará a capacidade de infiltrabilidade do em Engenharia Ambiental da Universidade do Estado
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do Rio de Janeiro. UERJ. Rio de Janeiro, Brasil. concretos. São Carlos, 246p. Dissertação (Mestrado)
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de durabilidade de concretos produzidos com São Paulo.
agregados reciclados, considerando-se a Maciel, Felipe Jucá. Estudo da geração, percolação e
variabilidade da composição do RCD. 280p. Tese emissão de gases no aterro de resíduossólidos da
(Doutorado em Ciências da Engenharia Ambiental) - Muribeca. 2003. 159 f. Dissertação (Mestre) -
Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2003.
São Paulo, São Carlos, 2007. Oliveira, J. C. Indicadores de potencialidades e
Círiaco, M. C., Viabilidade do uso de solo tropical e desempenho de agregados reciclados de resíduos
resíduo de construção civil em sistema de cobertura sólidos da construção civil em pavimentos flexíveis.
aterro sanitário. 2014. Dissertação (Mestre) – 2007. 167 f. Tese (Doutorado em Geotecnia) -
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Influência Mecânica do Rejeito de Carvão Mineral Incorporado ao


Revestimento Asfáltico
Kelyn Rodrigues Moreno
Universidade do Extremo Sul Catarinense, Criciúma, Brasil, kelynmoreno@hotmail.com

Agenor De Noni Junior


Universidade do Extremo Sul Catarinense, Criciúma, Brasil, agenordenoni@gmail.com

Ingrid Milena Reyes Martinez Belchior


Universidade do Extremo Sul Catarinense, Criciúma, Brasil, ingridbelchior@unesc.net

Carlos Alexandre Scheffer


Universidade do Extremo Sul Catarinense, Criciúma, Brasil, carlosalexandres.1@hotmail.com

RESUMO: Os rejeitos gerados pela exploração do carvão mineral não têm uma aplicabilidade
rentável atualmente. Esta pesquisa propôs estudar a influência do rejeito de carvão mineral como
filler na mistura de revestimento asfáltico. O rejeito foi caracterizado através de ensaios de
fluorescência de raios-X e espectrometria de absorção atômica. O teor ótimo de ligante para uma
mistura convencional foi determinado pela metodologia Marshall, e com este teor de ligante foram
moldados corpos de prova com adição de rejeito de carvão mineral como filler para determinação da
resistência à tração por compressão diametral. Os resultados mostraram que 2% de rejeito de carvão
na massa asfáltica acresceu em aproximadamente 14% a resistência em comparação com a mistura
de referência. Deste modo, comprovou-se uma possível aplicação do rejeito de carvão mineral como
filler de misturas asfálticas, oferecendo assim uma alternativa para reduzir os impactos ambientais e
dar utilidade a este subproduto.

PALAVRAS-CHAVE: Rejeito de carvão mineral, mistura asfáltica, resistência à tração, revestimento


asfáltico.

1 INTRODUÇÃO estudos de materiais alternativos aplicados na


pavimentação.
A estrutura do pavimento asfáltico é composta Segundo Zilli (2002), no Estado de Santa
por quatro principais camadas: revestimento Catarina, na década de 60, com a mecanização
asfáltico, base, sub-base e subleito. Estas nas minas, e nas décadas de 70 e 80 com o
camadas têm por finalidade resistir aos esforços aumento da produção de carvão mineral, a
gerados pelo tráfego, preservando a segurança e grande quantidade de rejeito gerado trouxe
o conforto dos usuários. O revestimento asfáltico impacto negativo para o meio ambiente.
é do tipo flexível, e seu objetivo é transmitir os Sabe-se que o carvão mineral no Brasil possui
esforços verticais e horizontais de forma mais significativa quantidade de pirita e minerais de
atenuada às camadas inferiores, além de rochas sedimentares (Filho et al., 2013). O
impermeabilizar (Bernucci, 2006). carvão mineral explorado na região sul do
A possibilidade de esgotamento dos recursos Estado de Santa Catarina, é conhecido por ser de
naturais, além dos efeitos causados ao meio baixa qualidade (alto teor de impurezas), o que
ambiente com a extração dos agregados, traz resulta em grandes quantidades de rejeito
preocupação e amplia as perspectivas para novos durante sua extração. O rejeito de carvão mineral
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possui basicamente fração dura (quartzo), fração


mole (argila litificada) e pirita, que se encontra  Granulometria (DNER–ME 083/98);
em menor quantidade (Schneider, 2009).  Equivalente de Areia (DNER–ME 054/97);
Quando os rejeitos gerados pela extração de  Densidade e absorção (DNER–ME 081/98);
carvão mineral são dispostos de forma  Sanidade (DNER–ME 089/94);
inadequada causam graves problemas ao solo, ar  Adesividade (DNER–ME 078/94);
e água através dos lençóis freáticos e rios. Em  Densidade real e aparente (DNER–ME
Santa Catarina, o problema é ainda maior, pois a 084/95).
grande concentração de enxofre nas jazidas torna
o rejeito ainda com potencial e contaminação A Tabela 1 mostra os valores obtidos a partir
maior. dos ensaios de caracterização física do agregado
Esta pesquisa tem como objetivo verificar a mineral. A Tabela 2 apresenta a distribuição
influência da adição de rejeito de carvão mineral granulométrica do agregado mineral.
como filler na resistência à tração de misturas
asfálticas. Tabela 1. Caracterização do agregado mineral.
Brita Pó de
Ensaios Pedrisco Areia
3/4" Pedra
2 MATERIAIS E MÉTODOS Densidade
3,039 2,968 2,932 ---
real média
Com o fim de determinar a resistência à tração Densidade
por compressão diametral de misturas asfálticas aparente 2,971 --- --- ---
média
constituídas com adição de rejeito de carvão
Absorção
mineral, foram moldados corpos de prova 0,8 --- --- ---
média (%)
cilíndricos de concreto asfáltico usinado a Equivalente
quente, onde a granulometria estabelecida foi a --- --- --- 73
de areia (%)
Faixa “C” do Departamento Estadual de Sanidade
2,06 --- --- ---
Infraestrutura (DEINFRA), aplicando diferentes (%)
porcentagens (1%, 2% e 3%) de rejeito de carvão Adesividade Atende --- --- ---
em substituição ao agregado mineral.
Na preparação dos corpos de prova, aplicou-
se o método dosagem Marshall para misturas Tabela 2. Granulometria do agregado mineral.
asfálticas (DNER-ME 043/95). Foram moldados Peneiras Porcentagem Passante (%)
Brita Pó de
3 corpos de prova para cada porcentagem de mm ASTM
3/4"
Pedrisco
Pedra
rejeito de carvão mineral (1, 2 e 3%), utilizando 19,1 3/4" 100,00 100,00 100,00
o teor ótimo de ligante encontrado para a mistura 12,7 1/2" 43,62 43,62 43,62
asfáltica convencional, cujo valor foi de 4,1%. 9,5 3/8” 14,35 14,35 14,35
O ensaio para determinação da resistência à
4,8 #4 0,94 0,94 0,94
tração por compressão diametral, foi realizada de
2 #10 0,69 0,69 0,69
acordo com a norma DNIT 136/2010 – ME.
0,42 #40 0,67 0,67 0,67
0,18 #80 0,63 0,63 0,63
2.1 Materiais
0,075 #200 0,54 0,54 0,54

2.1.1 Agregados minerais


2.1.2 Ligante Asfáltico
Os agregados empregados na pesquisa são de
origem basáltica. Para a caracterização destes O ligante asfáltico utilizado na pesquisa foi do
agregados foram aplicados os procedimentos tipo CAP 50/70. As características do ligante
descritos nas seguintes normas: asfáltico são mostradas na Tabela 3, conforme
reportado pela empresa fabricante.
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Tabela 3. Características do ligante asfáltico CAP 50/70 Efetuaram-se os seguintes ensaios para
Método caracterização do rejeito de carvão mineral:
Resul
Características Unidade de
tados
Ensaio
Ponto de NBR  Granulometria (DNER–ME 083/98);
ºC 48,6  Abrasão Los Angeles (DNER-ME 035/98);
Amolecimento 6560
Penetração, 100g, NBR  Densidade e absorção (DNER–ME 081/98);
0,1mm 62
5s, 25ºC, 0,1mm 6576  Densidade real e aparente (DNER–ME
Viscosidade 084/95);
Saybolt Furol
135ºC ssf
NBR
171
 Adesividade (DNER–ME 078/94);
14950  Densidade do material finamente
150ºC ssf 90
177ºC ssf 35 pulverizado (DNER–ME 085/94);
Viscosidade  Índice de forma (DNER–ME 086/94);
Brookfield
135ºC – Spindie cP 330
 Fluorescência de Raios-X;
21, 20 rpm NBR  Composição química;
150oC – Spindie cP 15184 170  Análises de caracterização e classificação de
21, 50 rpm resíduos sólidos (ABNT NBR 10004:2004);
177o – Spindie cP 66
21, 100 rpm
NBR
O ensaio granulométrico foi realizado apenas
Ponto de Fulgor ºC 310 com o material passante na peneira de malha
11341
Índice de #40. Para obter material fino, foi necessário
adimensio moer o material granular em equipamentos
Susceptibilidade --- -1,0
nal
Térmica como: britador de mandíbula e gira jarros. A
Ductibilidade a NBR Tabela 4 apresenta a granulométrica do rejeito de
cm >100
25oC, 5cm/min 6293 carvão mineral.
Solubilidade em % (em NBR
99,9
Tricloroetileno massa) 14855 Tabela 4. Granulometria do rejeito de carvão mineral.
Massa específica NBR Peneiras
kg/m3 1,007 Porcentagem Passante (%)
a 25oC 6296
mm ASTM
19,1 3/4" 100,00
2.1.3 Rejeito de Carvão Mineral. 12,7 1/2" 100,00
9,5 3/8” 100,00
O rejeito de carvão mineral é da formação Barro
4,8 #4 100,00
Branco, localizada no município de Forquilhinha
2 #10 100,00
– SC. O mesmo é proveniente do beneficiamento
0,42 #40 100,00
do carvão e processado em jigue. A Figura 1
0,18 #80 67,36
mostra a aparência do rejeito de carvão mineral
0,075 #200 23,96
de granulometria graúda e miúda.
A Tabela 5 indica os resultados dos ensaios de
caracterização realizados no rejeito de carvão.
Os resultados indicaram que a absorção média
do rejeito de carvão (3,5%) ficou
consideravelmente acima do basalto (0,8%). Isto
pode indicar alta porosidade, deste modo, maior
capacidade do rejeito de carvão de absorver
ligante asfáltico (Moreno, 2017). Quanto ao
Figura 1. Rejeito de carvão mineral de granulometria Abrasão Los Angeles, a literatura instrui que o
graúda e miúda. índice de quebra do agregado não ultrapasse os
limites entre 40 e 44%. Neste caso, o material
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atendeu esta condição, pois apresentou um Na2O 0,29


desgaste por abrasão de 36,34%. P2O5 0,07
MgO <0,05
Tabela 5. Caracterização do rejeito de carvão mineral. MnO <0,05
Ensaios Graúdo Miúdo Fino Perda ao fogo 15,18
Densidade real
2,746 2,431 2,571
média
A fluorescência de raio-X (FRX) evidenciou
Densidade
aparente média
2,507 --- --- a presença de fases cristalinas e amorfas no
rejeito de carvão mineral (Figura 2). A fase
Absorção média
3,5 --- --- cristalina é constituída em sua maioria por
(%)
Abrasão Los quartzo, caulinita e moscovita.
36,34 --- --- Na análise de caracterização e classificação
Angeles (%)
de resíduos sólidos (ABNT NBR 10004:2004), o
Adesividade Atende --- ---
rejeito de carvão apresentou pH = 6,28. De
acordo com o ensaio de solubilização, o material
A Tabela 6 mostra os resultados da apresentou concentrações de manganês e sulfato
determinação do índice de forma do agregado. O acima do padrão. O rejeito de carvão mineral foi
ensaio indicou que 71% da amostra possui forma classificado como resíduo não perigoso – classe
lamelar. Para melhor acomodação dos grãos e IIA – não inerte. A Tabela 8 mostra os resultados
consequentemente maior resistência, o ideal é da classificação de resíduos sólidos do rejeito de
que a forma predominante seja cúbica. carvão mineral.

Tabela 6. Classificação da forma do rejeito de carvão


mineral.
Classificação da
Média das Relações (%)
forma
Cúbica 26
Lamelar 71
Alongada 2
Alongada-lamelar 2

A análise química realizada por


espectrometria de fluorescência de Raios-X e
espectrometria de absorção atômica revelou que
o material é composto por sílica, alumina e óxido Figura 2. Difratograma de raio-X do rejeito de carvão
mineral.
de ferro. A alta porosidade do rejeito de carvão
pode estar associada à fração argilomineral. A Tabela 8. Análise de classificação de resíduos sólidos do
Tabela 7 apresenta os resultados da análise rejeito de carvão mineral.
química do rejeito de carvão mineral. Corrosividade Não corrosivo

Tabela 7. Composição química do rejeito de carvão Reatividade Não reativo


mineral. Lixiviação Classe II
Elementos Teor (%)
Solubilização Classe IIA-Não inerte
SiO2 50,51
Al2O3 22,47
Fe2O3 8,05
K2O 2,07
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
TiO2 0,96
3.1 Preparação das Misturas Asfálticas
CaO 0,49
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Primeiramente, foi preparada uma composição 12,7 1/2" 70,7 70,7 70,7
granulométrica de referência apenas composta 9,5 3/8" 261,4 261,4 261,3
por agregados minerais, sem adição de rejeito de 4,8 #4 271,3 267,8 264,3
carvão mineral. A Tabela 9 e a Figura 3 2 #10 198,7 194,7 190,7
apresentam a composição granulométrica da
0,42 #40 65,3 67,7 70,3
mistura de referência que será utilizada na
0,18 #80 76,6 80,1 83,7
comparação com as misturas com adição de
rejeito de carvão. 0,075 #200 70,1 71,6 73,1
Posteriormente, foram preparadas três
misturas com adições 1, 2 e 3% de rejeito de
carvão passante na peneira No. 40. A Tabela 10
e a Figura 4 apresentam as composições em
massa e as curvas granulométricas das misturas
com adição de rejeito de carvão, onde CP-1, CP-
2 e CP-3 são as designações para as misturas com
1, 2 e 3% de rejeito de carvão mineral,
respectivamente.

Tabela 9. Composição granulométrica da mistura de


referência de acordo com DEINFRA.
Granulometria Faixa de Figura 4. Curvas granulométricas das misturas com
mm ASTM adição de rejeito de carvão mineral.
encontrada(%) Trabalho
19,1 3/4" 100,00 100,0-100,0
12,7 1/2" 98,85 91,8-100,0 3.2. Dosagem Marshall
9,5 3/8” 96,35 89,3-100,0
4,8 #4 69,55 64,6-74,6 A Tabela 11, mostra os resultados para dosagem
2 #10 40,49 35,5-45,5
Marshall da mistura de referência e com adição
0,42 #40 17,77 15,0-22,8
de rejeito de carvão.
0,18 #80 11,99 9,0-15,0
Tabela 11. Dosagem Marshall para as misturas.
0,075 #200 5,71 3,7-7,7
Teor de Betume 4,1 %
Misturas REF CP-1 CP-2 CP-3 Espec.
Densidade
2,665 2,693 2,683 2,672
Aparente (g/cm³)
Volume de
3,38 2,17 2,54 2,96 3-5
Vazios (V.V) %
Relação Betume
76,32 83,56 81,22 78,71 75-85
Vazios (RBV) %
Vazios Agregado
Mineral (VAM) 14,29 13,19 13,52 13,89
%
Volume de
10,9 11,02 10,98 10,93
Figura 3. Curva granulométrica da mistura de referência Betume (VB) %
de acordo com a faixa "C". Força de Ruptura Mín
1054 1207 1278 1166
- 75 golpes (Kgf) 500
Tabela 10. Composição em massa das misturas com adição
de rejeito de carvão mineral.
Verificou-se que, mesmo que o volume de
PENEIRA CP-1 CP-2 CP-3 vazios tenha aumentado com o incremento na
mm Malha porcentagem de rejeito de carvão mineral, o
19,1 3/4" 136,3 136,3 136,3 volume de vazios das misturas com rejeito de
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carvão mineral permaneceu menor que o volume determinado um limite de adição de rejeito de
de vazios da mistura de referência. carvão mineral de 2% com efeito fíller. Quando
tal limite foi ultrapassado, observou-se uma
3.3 Resistência à Tração queda na resistência a tração das misturas
atribuída à perda de contato dos grãos maiores
A Figura 5 apresenta os resultados de resistência por excesso de material fíller (Moreno, 2017).
à tração por compressão diametral das misturas
sem e com adição de rejeito de carvão mineral.
Observou-se que a resistência à tração aumentou 4 CONCLUSÃO
com a adição de rejeito de carvão mineral. No
entanto, seu valor máximo de resistência foi de A pesquisa permitiu concluir que a adição de
1,41 Mpa, correspondente a 2% de adição de rejeito de carvão mineral incrementou a
rejeito de carvão mineral. Adições de rejeito de resistência à tração de misturas asfálticas. Este
carvão mineral superiores a 2% causaram resultado foi atribuído ao efeito filler do rejeito
redução na resistência à tração. Tal resultado de carvão mineral na mistura que produziu uma
pode estar diretamente ligado a teoria de que redução no volume dos vazios.
ultrapassado o limite máximo de filler É relevante ressaltar que a adição de rejeito de
compromete a resistência da amostra. Os carvão mineral em forma de agregado fino só
resultados obtidos mostram que 2% de rejeito de resulta vantajoso até uma dosagem limite. No
carvão mineral como fíller na massa asfáltica é a caso do presente estudo, mantendo o teor de
proporção ótima para alcançar valores de ligante para a mistura em um valor constante de
resistência acima da norma (0,65 Mpa) e da 4,1%, foi estimado que a dosagem limite de
mistura de referência. rejeito de carvão mineral que incrementa a
resistência à tração é 2%. Desta maneira, tem
sido comprovada uma aplicabilidade do rejeito
de carvão mineral que pode facilitar tanto a
gestão ambiental do rejeito como também a
redução da demanda de materiais pétreos,
diminuindo assim o impacto ambiental na
produção de misturas asfálticas.

AGRADECIMENTOS

Agradecimentos dirigidos à FAPESC por


conceder bolsa de pesquisa para o
Figura 5. Influência do rejeito de carvão mineral na
desenvolvimento deste estudo, ao grupo de
resistência à tração. pesquisa Valorização do Carvão Mineral pelo
apoio nos experimentos, à equipe do Laboratório
Uma vez que o rejeito de carvão mineral foi de Mecânica dos Solos e Pavimentação do
adicionado em forma de agregado miúdo IPARQUE, pela ajuda e disposição dos
(passante da peneira No. 40), era esperado que a equipamentos, e aos professores e colegas que
adição de material fino na mistura levasse a uma direta ou indiretamente contribuíram para o
redução do índice de vazios e consequentemente enriquecimento deste estudo.
uma maior resistência a tração.
Ainda que o acréscimo de material fino na
mistura tenha melhorado o contato entre os grãos REFERÊNCIAS
ao aumentar a resistência à tração, foi
Associação Brasileira De Normas Técnicas. NBR
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Baldo, J. T. Pavimentação Asfáltica: materiais, projetos e Mining, Ouro Preto, p. 347-353, 2013.
restauração. São Paulo: Oficina de Textos, 2007. 558 Moreno, K.R., De Noni Jr, A.; Influência do rejeito de
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Bernucci L. B., Motta L. M. G., Ceratti J. A. P., Soares J. Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC,
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Nacional de Estradas de Rodagem. DNER-ME 043/95: Santos, Cassiano; Tubino, Rejane; Schneider, Ivo André.
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______. Ministério dos Transportes. Departamento
Nacional de Estradas de Rodagem. DNER-ME 083/98:
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massa específica real. Rio de Janeiro, 1994.
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Janeiro, 1994.
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na Região Carbonífera de Santa Catarina. 2009. 79 p.
Dissertação (Mestrado em Engenharia) Curso de Pós-
Graduação em Engenharia de Minas, Metalurgica e de
Materiais, Univ. Fed. Do Rio Grande do Sul, Porto
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Filho, J.R.A.; Schneider, I.A.H; Brum, I.A.S; Sampaio,
C.H.; Miltzarek, G.; Schneider, C. Caracterização de
um Depósito de Rejeitos para o Gerenciamento
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Mapeamento Geoambiental da Bacia Hidrográfica do Rio


Cubatão – Joinville/SC, Através do Modelo Shalstab
Diogo Marcelo Zimmermann
UFSC, Florianópolis, Brasil, engenheiro.diogomarcelo@gmail.com

Rafael Augusto dos Reis Higashi


UFSC, Florianópolis, Brasil, rrhigashi@gmail.com

RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo mapear as áreas suscetíveis a deslizamentos
translacionais da Bacia Hidrográfica do Rio Cubatão do Norte (localizada em Joinville-SC)
uma vez que esta, apresenta grande importância econômica e social para o citado município.
Para composição final deste trabalho, foi-se elaborado primeiramente o mapa geotécnico
preliminar (com o emprego da metodologia Davison Dias, 1995) que doutrina a interação entre as
bases cartográficas (pedologia, litologia, modelo digital de terreno), seguido da análise de
suscetibilidade a deslizamentos com a utilização de um modelo matemático desenvolvido através
da álgebra de mapas denominado modelo SHALSTAB em ambiente SIG. As bases cartográficas
utilizadas neste trabalho, foram obtidas através do Comitê da Bacia Hidrográfica do Cubatão do
Norte/Joinville-SC com escala de 1:50.000, sendo estas, realizadas pelo IBGE em 2004; o
ambiente SIG utilizado para as análises, foi o software ArcGis versão 10.3. Os dados referentes
aos aspectos físicos (Coesão, Ângulo de Atrito e Peso Específico) do solo, foram obtidos
através de pesquisa documental em trabalhos que apresentam solos similares aos abordados
nesse trabalho. Tal metodologia é devidamente aceita e citado por Davison Dias (1995). As
análises realizadas neste trabalho, apontaram que as áreas com maior suscetibilidade à movimentos
translacionais, apresentam relação direta para com a declividade do relevo, e estas, coincidiram com
áreas que apresentam cicatrizes de deslizamentos, preveamente mapeadas pela Defesa Civil do
Município de Joinville/SC, sendo que, algumas destas áreas, estão próximas a ocupação urbana.

PALAVRAS-CHAVE: Deslizamento Translacional, Encostas, Bacia Hidrográfica do Cubatão


Norte; Mapeamento Geoambiental; Gestão Territorial.

1 INTRODUÇÃO direta ou indiretamente o equilíbrio dinâmico


da área, em curto, médio ou longo prazo
O aumento recente do número de pessoas (Rosemberg & Amaro, 2005).
vivendo em áreas de risco de deslizamentos, Planejar o uso e ocupação do solo é uma das
enchentes e inundações tem sido uma das responsabilidades compartilhadas entre a
características negativas do processo de Federação, Estados e a Gestão Municipal,
urbanização e crescimento das cidades sendo que, a partir da Constituição Federal de
brasileiras (BRASIL, 2007). Em diversos 1988 “a política de desenvolvimento urbano,
municípios brasileiros, o planejamento não é executada pelo Poder Público municipal,
julgado como uma das etapas iniciais para conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem
futuras tomadas de decisão, ou quando por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento
considerado não é realizado de forma as funções sociais da cidade e garantir o bem-
condizente, levando a ocorrência de diversos estar de seus habitantes”.
problemas que consequentemente afetam
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O Plano Diretor é um instrumento básico da 2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE


política de desenvolvimento e de expansão ESTUDO
urbana, sendo que, a primeira etapa para a
elaboração de um Plano Diretor é a realização A Bacia Hidrográfica do Rio Cubatão Norte
de um diagnóstico da situação atual, tem elevada importância social e econômica
envolvendo a caracterização dos aspectos dos para o município de Joinville/SC, uma vez
meios físico, biótico e antrópico que que ela é a principal estação de captação e
compõem o quadro local e regional. O tratamento de água do município, responsável
mapeamento geotécnico é uma das por 70% do abastecimento de Joinville, além de
ferramentas para a composição deste quadro drenar uma área de 492 km², o equivalente a
diagnóstico (de Abreu, 2007). 43% de todo o território joinvilense,
A falta de conhecimento espacial pode conforme o CCJ.
prejudicar a veracidade do planejamento Esta bacia, localiza-se entre os municípios de
urbano, contumaz expondo em riscos a Garuva e Joinville constituindo o principal
população que reside em áreas indesejáveis. manancial contribuinte do complexo hídrico
Recentemente a Bacia Hidrográfica do Rio da Baía da Babitonga, Figura 1.
Cubatão vem sofrendo com ações antrópicas
de ocupação segundo o Comitê de
Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do
Cubatão e Cachoeira (CCJ).
Este trabalho tem como objetivo mapear as
áreas suscetíveis a deslizamentos
translacionais da bacia Hidrográfica do Rio
Cubatão (Joinville-SC), com o propósito de
reconhecer as áreas propicias a serem
habitadas e/ou ameaçadas por deslizamentos.
Conhecer as áreas suscetíveis à deslizamento
é de elevada importância, uma vez que, estas
podem causar prejuízos econômicos para
órgãos público e privados, além de ser uma
ferramenta informacional de extremo valor
para o processo de planejamento urbano.
A Bacia Hidrográfica do Rio Cubatão
(Joinville/SC) apresenta uma série de
cicatrizes de deslizamentos mapeadas
previamente pela Defesa Civil de
Joinville/SC, sendo assim, este trabalho
buscou comparar as áreas suscetíveis a
escorregamento translacional com os pontos
de deslizamentos já aludidos, buscando
responder de forma transversal a seguinte Figura 1 - Localização da Área de Estudo
questão: “os pontos de deslizamentos
previamente mapeados pela Defesa Civil As áreas com menor ação antrópica localizam-
estão localizados em áreas suscetíveis a se no médio e alto curso do Rio Cubatão, já as
escorregamento translacional?” áreas com maior uso e ocupação, concentram-se
nas sub-bacias localizadas no quadrante leste da
Bacia Hidrográfica, próximo ou incluso à Zona
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Industrial. Tal bacia, é dividida em 18 sub-


bacias que apresentam uso, ocupação e
paisagem muito distintas (RIBEIRO;
OLIVEIRA, 2014).
Em relação ao relevo, pode-se afirmar que as
maiores inclinações encontram-se na transição
entre a planície e o planalto, havendo locais em
que a inclinação ultrapassa 40° e as altitudes são
eminentemente variadas, uma vez que, esta
bacia encontra-se na transição entre a planície
costeira e o planalto norte de Santa Catarina.
Figura 3 - Mapa Geológico da Área de Estudo
As elevações contidas nesta bacia podem atingir
cotas superiores a 1250 metros (Figura 2),
A distribuição de solos na região é fortemente
sendo que, o pico tem altitude de 1538m no
marcada pela compartimentação do relevo e
Morro do Quiriri.
expressiva amplitude topográfica. “Os
principais mapeamentos pedológicos elaborados
para a área, em escala pequena e média,
indicam a predominância geral de cambissolos
para o conjunto da área da pesquisa” (Ribeiro &
Oliveira, 2014).
Segundo FATMA/GTZ (2002) os principais
tipos de solo encontrados na Bacia Hidrográfica
do Rio Cubatão Norte pertencem às seguintes
classes em ordem decrescente de ocorrência:
Cambissolos álico (ocorre na maior parte da
bacia), Podzólico vermelho amarelo álico
Figura 2 - Mapa Hipsométrico da Bacia do Cubatão Norte
(ocorre em altitudes superiores a 800 m, na
unidade de planalto, concentrado no extremo
A geologia da região é formada pelo Complexo norte e setor sul da bacia), Pozólico amarelo
Luis Alves, Silte Intrusivo da Serra do Mar, vermelho álico (ocorre somente no alto curso do
Bacia Vulcano Sedimentar de Campo Alegre, rio Cubatão), Litólico álico (encontrado
Depósito Fluvial e Depósito Paludial Estuarino. principalmente na escarpa, associado à
As litologias encontradas nesta bacia são: declividades superiores a 45%), Podzólico
Depósito aluvial, Depósito Coluvial, Depósito vermelho amarelo latossólico álico (ocorre
Fluvio Estuarino, Depósito Paludial, Gnaisses somente sobre os morros isolados da planície),
Granuliticos, Granitos, Ortoconglomerados, Solos hidromórficos que (ocorrem em planícies
Riolito e Soleiras de Diabásio, conforme Figura aluviais, próximo às calhas dos rios) e
3. Indiscriminados de mangue (situam-se nas área
baixas próximo a foz do rio, sofrendo influência
das marés), Figura 4.
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Figura 4 - Mapa Pedológico da Área de Estudo Figura 6 - Fluxograma de Atividades

A rede hidrográfica desta bacia pode ser Na etapa de Análise Preliminar da Geotecnia,
classificada como densa, Figura 5. concebeu a pesquisa introdutória sobre as
bases cartográficas acessíveis da Pedologia,
Geologia e Curvas de Nível correspondentes
à área de estudo. As bases cartográficas
utilizadas neste trabalho foram cedidas pelo
Comitê de Gerenciamentos das Bacias
Hidrográficas dos Rios Cubatão e Cachoeira
(CCJ), sendo estas, elaboradas pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,
2004) com escala de 1:50.000.
O mapa geotécnico preliminar foi composto
através do método de Davison Dias (1995),
que segundo Sbroglia (2015) é capaz de
Figura 5 - Mapa da Rede Hidrográfica caracterizar grandes áreas de solos tropicais,
onde não se tem a possibilidade de realizar
Segundo o CCJ, esta bacia possui hierarquia um grande volume de ensaios geotécnicos.
fluvial até 5ª ordem, com padrão de drenagem Tal método prevê o cruzamento dos mapas
dentrítico paralelo e o rio principal tem litológico, oriundo de um mapa geológico,
comprimento total de 88km. com o pedológico para a definição preliminar
das unidades geotécnicas com semelhante
comportamento do solo relacionando-o com a
3 MATERIAIS E MÉTODOS sua gênese, Figura 7.

Esta pesquisa pode ser caracterizada quanto a


sua natureza como sendo aplicada e foi
desenvolvida de forma exploratória. A
sequência metodológica realizada neste
trabalho pode ser observada através da Figura
6, que apresenta o fluxograma das atividades
desenvolvidas para a obtenção dos resultados.
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Quadro 2 – Siglas da Litologia segundo Higashi (2006)


Sigla Classificação Sigla Classificação
a Arenito g Granito
ag Argilito gl Granulito
an Andesito gn Gnaisse
ar Ardósia gd Granitóide
b Basalto ma Mármore
br Brecha p Pelito
c Conglomerado q Quartzito
cm¹ Complexo si Sienito
metamórfico(¹)
cr Carvão s Siltito
d Diorito sq Sedimentos
Figura 7 - Composição do Mapa Geotécnico Preliminar quaternários
segundo Sbroglia (2015) da Dacito st Sedimentos
Terciários
Segundo Davison Dias (1995) para cada f Folhelho x Xisto
unidade geotécnica, a geologia permite inferir
as características do horizonte de alteração da Os dados referentes aos aspectos físicos
rocha (horizonte saprolítico) e a pedologia (Coesão, Ângulo de Atrito e Peso Específico)
permite inferir características dos horizontes do solo foram obtidos através de pesquisa
superficiais dos seus perfis típicos. A documental, em trabalhos que apresentam
classificação de uma unidade geotécnica foi solos similares aos abordados nesse trabalho
estimada usando a nomenclatura pré- (Quadro 3), uma vez que, esta metodologia é
estabelecida por Davison Dias (1995), devidamente aceita e citado por Davison Dias
conforme os Quadros 1 e 2. (1995).

Quadro 1 – Siglas da Pedologia segundo Higashi (2006) Quadro 3 – Propriedades Físicas do Solo Utilizadas
Sigla Classificação Sigla Classificação neste Trabalho
A Aluviais P Podzóis  (kN/m3)
Longitude

Geoténica

Indiscriminados
c' (kPa)

Umidade
Unidade
Latitude

' ()

AQ Areia Quartzosa PB Podzólico Bruno- Natural

Fonte
Acidentado
AQ Areia Quartzosa PB Podzólico Bruno-
Acidentado
B Brunizém PE Podzólico Vermelho- Projeto
637490 6967166
Escuro Cde 2 36 18 32 Aptidão
BV Brunizém Vértico PL Planossolo Christ
C Cambissolo PLV Planossolo Vértico 748620 6942197 Cg 5 34 14 18 (2014)
CB Cambissolo Bruno PLP Planossolo Plíntico Projeto
GH Glei PT Plintossolo 710018 7042709 Cgn 14 22 15 42 Aptidão
HO Solo Orgânico PV Podzólico Vermelho-
Amarelo Projeto
727409 6937012
LA Latossolo Amarelo R Litólico Cgn 13 28 8 12 Aptidão
LB Latossolo Bruno TR Terra Roxa Regiane
Estruturada 703777 7031975 Pvc 5 29 17 34 Sbroglia
LBC Latossolo Bruno TB Terra Bruna- Projeto
Câmbico Estruturada 732582 6930070 PVg 39 22 15 8 Aptidão
LBR Latossolo Bruno- TBR Terra Bruna-Roxa
Projeto
Roxo
LE Latossolo TBV Terra Bruna
726205 6936673 PVgn 15 18 14 25 Aptidão
Vermelho-Escuro Podzólica Projeto
LR Latossolo Roxo V Vertissolo 733220 6926355 PVr 49 18 19 24 Aptidão
LV Latossolo Projeto
Vermelho-Amarelo 723578 7032281 Rgn 7 36 17 31 Aptidão
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A maior parte do banco de dados utilizado (1)


neste trabalho, é oriundo do Projeto Aptidão,
sendo este, desenvolvido pela Universidade onde:
Federal de Santa Catarina (UFSC) em
parceria com o Ministério das Cidades e visa - itensidade da chuva (mm)
- transmissividade do solo (m2/dia)
realizar o mapeamento geotécnico das a - área de contribuição ou área drenada a montante dada
cidades catarinenses (em especial no Vale do em m²
Itajaí), com intuito de reconhecer áreas aptas b - comprimento de contorno unitário (resolução do grid
(seguras) para ocupação urbana. Diante do dado em m)
exposto, cabe citar que tal projeto, possui um c - coesão efetiva do solo (kpa)
g - aceleração da gravidade (m/s2)
elevado banco de dados de ensaios z - espessura do solo (m)
geotecnicos, e que dentre eles, alguns tem - peso específico do solo (kg/m3)
características similares aos solos da área de - peso específico da água (kg/m3)
estudo do presente trabalho. - ângulo de atrito do solo dado em graus
Os deslizamentos translacionais, também - declividade medida em graus
denominados de planares ocorrem próximos
da superfície do relevo, sendo que, Fernandes A resolução da Equação 1, da origem a 7
e Amaral (1996) apud Reginato (2013) se classes de estabilidade (Tabela 1), sendo que,
referem aos escorregamentos translacionais estas expressam a probabilidade de ocorrência
como movimentos rasos por apresentarem de deslizamentos translacionais. Quanto menor
superfície de ruptura normalmente entre 0,5 e o valor do Log de q/T, maior a probabilidade de
5,0m de profundidade, portanto, para este ruptura da encosta. Cabe ainda, salientar que os
trabalho fixou-se a superfície de ruptura a valores oriundos desta equação, podem
uma profundidade constante de 3 metros para apresentar valores negativos, todavia, tais
todo o relevo analisado. valores (oriundos do modelo matemático
Para realizar o mapeamento de apresentado pela Equação 1) visam avaliar a
suscetibilidade à deslizamento translacional probabilidade da estabilidade à deslizamentos
da Bacia Hidrográfica do Rio Cubatão Norte, translacionais e não representam o rotineiro
aplicou-se o modelo matemático desenvolvido fator de segurança (Fs) definido pela Equação 2.
através da álgebra de mapas denominado
modelo SHALSTAB em ambiente SIG (Sistema
(2)
de Informação Geográfica), elaborado por
Dietrich e Montegomery (1998). Segundo Onde:
Reginato (2013) “o SHALSTAB compõe um
modelo eficiente na previsão e simulação de Fs – Fator de Segurança em relação à resistência
áreas suscetíveis a escorregamentos f – Resistência média ao cisalhamento do solo
translacionais, incorporando, em suas análises, d– Tensão de Cisalhamento média desenvolvida ao
longo da superfície potencial de ruptura
parâmetros topográficos, hidrológicos e
propriedades do solo”. Tabela 1 – Classes de Estabilidade
Após a espacialização dos dados geotécnicos, Classes de Estabilidade Valores Log q/T
resolveu-se a equação do SHALSTAB através Incondicionalmente estável 10 – 9,9
da ferramenta Raster Calculation disponível no > -2,2 -2,2 – 9,9
software ArcGis versão 10.3, sendo que, tal -2,5 - -2,2 -2,5 – -2,2
ferremanta foi modelada a partir de dois -2,8 - -2,5 -2,8 – -2,5
parâmetros hidológicos q e T, conforme -3,1 - -2,8 -3,1 – -2,8
apresentado na Equação 1. < -3,1 -9,9 – -3,1
Incondicionalmente instável -9,9 – -10
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A Tabela 1 apresenta as classes de estabilidade Tabela 2 – Quantificação das unidades geotécnicas


a deslizamentos translacionais das encostas Área Área
Sigla Unidade Geotécnica (km²) (%)
oriundos do SHALSTAB, sendo estes, Cambissolo
classificados entre 10 para o ambiente mais substrato depósito
seguros e –10 para os ambientes com maior Cde coluvial 7,06 1,44
probabilidade a deslizamento, ou seja, as áreas Cambissolo
que apresentem valores negativos, são os Cg substrato granito 75,96 15,49
Cambissolo
ambientes mais perigosos e devem ser evitados Cgn substrato gnaisse 96,80 19,74
quanto a sua ocupação urbana. Cambissolo
Cabe informar que, o ambiente SIG utilizado substrato depósito
neste trabalho foi o software ArcGis versão Csq1 aluvial 82,66 16,86
10.3, e que as ferramentas computacionais Cambissolo
substrato depósito
para o Geoprocessamento, denominadas de Csq2 flúvio estuarino 0,14 0,03
SIG, possibilitam análises complexas, ao Solo Orgânico
integrar dados de diversas fontes e ao criar (Mangue) substrato
banco de dados georreferenciados. Tornam HOsq3 depósito paludial 2,14 0,44
ainda possível automatizar a produção de Mancha
Urbana Mancha Urbana 9,05 1,85
documentos cartográficos (Higashi, 2002). Podzólico
Hidromórfico
substrato depósito
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS PHsq2 fluvio estuarino 4,33 0,88
RESULTADOS Podzólico Vermelho
substrato
PVc ortoconglomerado 6,99 1,43
Através da sobreposição entre a base Podzólico Vermelho
cartográfica de pedologia e geologia (litologia) PVg substrato granito 3,68 0,75
originou-se o Mapa Geotécnico Preliminar Podzólico Vermelho
(Figura 8), onde é possível observar que as PVgn substrato gnaisse 135,16 27,57
Podzólico Vermelho
unidades geotécnicas identificadas na área de PVr substrato riolito 0,47 0,10
estudo foram: Cambissolo substrato depósito Podzólico Vermelho
coluvial (Cde); Cambissolo substrato granito substrato de
(Cg); Cambissolo substrato gnaisse (Cgn); PVsq1 depósito aluvial 0,02 0,00
Cambissolo substrato depósito aluvial (Csq1); Podzólico Vermelho
substrato de
Cambissolo substrato depósito flúvio estuarino depósito fluvio
(Csq2); Solo Orgânico (Mangue) substrato PVsq2 estuarino 0,16 0,03
depósito paludial (HOsq3); Podzólico Litólico substrato
Hidromórfico substrato depósito fluvio Rgn gnaisse 65,65 13,39
estuarino (PHsq2); Podzólico Vermelho
substrato ortoconglomerado (PVc); Podzólico A partir da tabela 2, é possível afirmar que a
Vermelho substrato granito (PVg); Podzólico maior parte da Bacia Hidrográfica do
Vermelho substrato gnaisse (PVgn); Podzólico Cubatão do Norte é formada por solos
Vermelho substrato riolito (PVr); Podzólico cambicos, que compreende solos de origem
Vermelho substrato de depósito aluvial mineral, não hidromórficos, com horizonte B
(PVsq1); Podzólico Vermelho substrato de incipiente, ou seja, pouco desenvolvido, de
depósito fluvio estuarino (PVsq2) e Litólico textura franco-arenosa ou mais argilosa,
substrato gnaisse (Rgn), quantificadas na Tabela geralmente apresenta teores uniformes de
2, conforme cada unidade geotécnica. argila (EMBRAPA, 2009) apud
(SBROGLIA, 2015). Portanto cabe salientar
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que, para esta bacia há indícios de que os


deslizamentos concentrar-se-ão no horizonte
C, e desenvolver-se-ão como sendo
translacionais, pois, o citado horizonte estará
próximo à superfície devido a incipiência do
horizonte B.
O mapa geotécnico (Figura 8) permitiu a
formação de polígonos para um espaço, sendo
que, cada polígono corresponde ao
comportamento similar geomecânico de cada
unidade. Figura 9 - Mapa de Suscetibilidade

Figura 8 - Mapa Geotécnico Preliminar Figura 10 - Mapa de Declividade

As áreas geotécnias de depósitos (aluviais e Dentre as áreas urbanizadas identificadas no


estuarinos) não foram consideradas para o mapa de suscetibilidade, a que apresenta
mapa geotécnico preliminar (Figura 8), pois, maior preocupação quanto ao seu crescimento
são áreas planas e não apresentam riscos de é a área localizada à oeste, uma vez que,
deslizamentos. próximas a esta ocupação existem registros
O produto final elaborado por este trabalho foi o de áreas com suscetibilidade à
mapa de suscetibilidade a deslizamento escorregamentos, além dos vários registros de
translacional (Figura 9), onde através deste é deslizamentos no passado (Figura 11).
possível observar a sua relação direta para com
o fator declividade apresentado pela Figura 10.
Cabe ressaltar que as áreas de planície sem
composição de variações geomorfológicas,
não foram calculadas, uma vez que as
mesmas são consideradas estáveis para o
problema analisado neste trabalho e
apresentam-se em branco no mapa (Figura 9).

Figura 11 – Mapa de Suscetibilidade para Área


Urbanizada
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Na Figura 11 é possível observar o registro de REFERÊNCIAS


vários deslizamentos ocorridos no passado
que foram previamente mapeados pela DAVISON DIAS, R. (1995) Proposta de metodologia de
Defesa Civil de Joinville. É necessário definição de carta geotécnica básica em regiões
tropicais e subtropicais. Revista do Instituto
chamar a atenção, que para esta área deve Geológico, v. 16, n. special, p. 51–55. Disponível em:
haver o devido direcionamento da ocupação <http://www.gnresearch.org/doi/10.5935/0100-
desta região, pois há vários locais que 929X.19950011>.
apresentam alto índice de suscetibilidade a DE ABREU, A. E. S. (2007) Mapeamento Geotécnico
escorregamento associados a deslizamentos já para Gestão Municipal - Abordagem Combinando
Tres Métodos Distintos e sua Aplicação em
ocorridos no passado. Analandia (SP). p. 217. Disponível em:
<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/18/18132/t
de-26032010-101623/>. Acesso em: 3 fev. 2018.
5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS HIGASHI, R. A. R. (2006) Metodologia de Uso e
Ocupação dos Solos de Cidades Costeiras Brasileiras
Através de SIG com Base no Comportamento
Reconhecer as características físicas do Geotécnico e Ambiental. p. 486.
espaço é de fundamental importância para a FATMA – Fundação do Meio Ambiente de Santa
tomada de decisão no momento em que se Catarina, (2002). Atlas ambiental da região de
está realizando o planejamento urbano. Joinville: complexo hídrico da Baía da Babitonga.
Florianópolis: FATMA/GTZ.
Muitas vezes a devida observação do meio
HIGASHI, R. R. (2002) Utilização de um SIG no
físico pode minimizar os prejuízos desenvolvimento de um banco de dados geotécnicos
econômicos e sociais de uma determinada do norte do estado do Rio Grande do Sul. p. 155.
região. Disponível em:
De maneira geral é possível afirmar que a <http://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/8
4205>.
Bacia Hidrográfica do Rio Cubatão Norte
REGINATTO, G. M. P. (2013) Caracterização de
apresenta uma extensa região de planície que Movimentos de Massa na Bacia Hidrográfica de Rio
quando analisado apenas a suscetibilidade a Cunha, Rio dos Cedros – SC, co Ênfase em
deslizamentos translacionais, podem ser Escorregamentos Translacionais. 2013. 230 f.
ocupadas pela população local, uma vez que, Universidade Federal de Santa Catarina.
RIBEIRO, J. M. G.; OLIVEIRA, T. M. N. DE. (2017)
os locais que apresentam os maiores riscos de
Bacias Hidrográficas Dos Rios Cubatão ( Norte ) E
escorregamentos encontram-se nos locais Cachoeira. 1a ed ed. Joinville: [s.n.], 2014. v. 1.
com maior declividade. Disponível em:
Portanto a ocupação desta bacia deve evitar <http://www.cubataojoinville.org.br/_publicacoes/cart
as áreas com declividade muito acentuadas, ilha-geografica--bacias-hidrograficas-dos-rios-
cubatao-e-cachoeira.pdf>. Acesso em: 24 jul.
cabendo à Gestão Pública Municipal realizar ROSEMBERG, D.; AMARO, V. E. (2005) Mapeamento
o devido doutrinamento da ocupação urbana geoambiental do município de Galinhos / RN.
assim como a sua fiscalização. PublICa, v. 1, p. 1–7.
SBROGLIA, R. M. (2015) Mapeamento Geotécnico e
das Áreas Sscetíveis a Deslizamentos na Microbacia
do Ribeirão Baú, Ilhota/SC. 2015. 187 f.
AGRADECIMENTOS Universidade Federal de Santa Cataria.

A Doutoranda Regiane Sbroglia por auxiliar nas


pesquisas para aquisição do banco de dados
deste trabalho; ao LAMGEO por dispor o meio
físico e softwares necessários para elaboração
deste trabaho; a todos que participaram direta
ou indiretamente na composição deste trabalho.
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Melhoramento de Solo com Adição de PET Reciclado e Cimento


Portland.
Jonatas Kennedy Silva de Medeiros
Universidade Federal de Campina Grande, Pombal, Brasil, jonataskennedy@hotmail.com

Giovanna Feitosa de Lima


Centro Universitário do Vale do Ipojuca, Caruaru, Brasil, giovannafeitosa@gmail.com

Valéria Victória Pereira da Silva


Centro Universitário do Vale do Ipojuca, Caruaru, Brasil, valeriavictoria_@hotmail.com

Larissa Santana Batista


Universidade Federal de Campina Grande, Pombal, Brasil, larisantanabatista@gmail.com

Wily Santos Machado


Universidade Federal de Campina Grande, Pombal, Brasil, wilysantos1997.ws@gmail.com

Palloma Karolayne Santos Oliveira


Universidade Federal de Campina Grande, Pombal, Brasil, pkarolayne_@hotmail.com

Nayla Kelly Antunes de Oliveira


Universidade Federal de Campina Grande, Pombal, Brasil, nayla-oliveiira@hotmail.com

Damares de Sá Ramalho Neta


Universidade Federal de Campina Grande, Pombal, Brasil, damaresramalhon@gmail.com

RESUMO: Atualmente, o planeta enfrenta uma problemática relacionada aos resíduos. Na


pretensão de minimizar os impactos ambientais tem-se o campo da construção civil, que pode ser
indicado para incorporação dos resíduos. Logo, objetivou-se apresentar o comportamento de um
solo incorporado com resíduo de PET e Cimento Portland. Realizou-se os ensaios de caracterização
física do solo e ensaios mecânicos do solo-cimento, como também, adicionando 5%, 7% e 10% de
resíduo mantendo 5% constante de Cimento. Constatou-se que o solo é areia uniforme, não plástica
e que elevando-se os teores de resíduos na mistura, aumentam-se as umidades ótimas. Houve
acréscimo da resistência quando incorporado resíduo. O solo demonstrou melhores resultados para
expansão nos teores de 5% e 7%. Os valores de ISC’s finais aumentaram em 100% nos solos com
adição de resíduos. Portanto, com a adição de PET reciclado, o solo obtém um melhoramento nas
suas propriedades físicas e mecânicas.

PALAVRAS-CHAVE: Melhoramento, Solos, Resíduos, PET.

1 INTRODUÇÃO consideráveis (KUMAR et al, 2010). Os


processos industriais geram muitos resíduos e
O consumo de produtos plásticos ao longo dos subprodutos, como os resíduos obtidos de
anos vem produzindo grande número de garrafas recicladas compostas de cadeias de
resíduos desse material, os quais se acumulam polietileno tereftalato – PET (PELISSER et al.,
pelos aterros gerando problemas ambientais 2012).
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O PET é um polímero, conhecido por muitos unido a otimização da utilização dos recursos
anos simplesmente por poliéster ou fibra naturais.
(EHRIG, 1992). Segundo Mano (1999), o PET Almejando minimizar o descarte do PET
é um polímero produzido por condensação, por reciclado e a redução da utilização de recursos
meio da reação entre o ácido tereftálico (PTA) naturais na indústria de construção civil, torna-
ou, dimetil tereftalato (DMT) e, o etileno glicol se adequado sua aplicação nesse setor, pois de
(EG). acordo com Patricio (2015), nas ultimas
Quando nos referimos aos problemas décadas os polímeros têm sido cada vez mais
ambientais relacionados a esse material, utilizados nas diversas áreas da Engenharia. Por
Spinacé; Paoli, (2004) afirmam que eles não são sua versatilidade, os polímeros permitem a
causados pelos polímeros e sim pelo seu melhoria de propriedades especificas que
descarte de forma inadequada, sendo a melhor atendam a necessidade do projeto.
reciclagem sistemática a solução para Por fim, a utilização de soluções econômicas
minimizar esse impacto ambiental. e que permitam aproveitar resíduos no
O Décimo Censo da Reciclagem de PET no melhoramento do comportamento de solos
Brasil exibiu que 274 mil toneladas de apresenta interesse, do ponto de vista ambiental
embalagens PET são direcionadas à reciclagem, e técnico, particularmente em países com
ou seja, 51% do total (ABIPET, 2016). Sua menores recursos (SOUSA; GARDETE;
reciclagem potencializa os benefícios para o LUZIA, 2017).
meio ambiente, pois a matéria-prima reciclada Dessa forma, vê-se a imprescindibilidade de
substitui material virgem em muitos outros pesquisar alternativas que forneçam
produtos, economiza recursos naturais, água e desenvolvimento e avanço para a construção
energia (CASTILHO, 2017). civil, mas que também reduzam os impactos
Em contrapartida, no cenário da construção ambientais causados por ela. Nessa
civil nos deparamos com diversos problemas, perspectiva, este trabalho tem por objetivo
dentre eles, a grande heteregenoidade dos solos, apresentar o comportamento de um solo, a
com as mais distintas características, gerando partir da incorporação de materiais resultantes
consequentemente, suportes de cargas diferentes. do processo de reciclagem do resíduo de PET e
Na prática, nem todas as construções são o Cimento Portland, visando melhorar suas
beneficiadas com solos resistentes e de boa características físicas e mecânicas,
qualidade. Por esse motivo, faz-se necessária a proporcionando assim, mais segurança na
utilização de técnicas que tem como objetivo construção.
melhorar o solo, proporcionando a ele as
caraterísticas de suporte necessárias para resistir
aos esforços solicitantes.
2 METODOLOGIA
Nesse sentido que temos a inserção dos
resíduos, como material alternativo, nos O solo utilizado para execução dos ensaios foi
trabalhos geotécnicos, contribuindo para coletado em uma jazida localizada no
redução do consumo de recursos naturais, queda loteamento alto das sete luas, no bairro do Alto
dos custos e investimentos em pesquisa e do Moura, município de Caruaru, Pernambuco .
infraestrutura (GHAZI; CASAGRANDE; Para realização dos ensaios, foram retiradas
LOUZADA, 2015). pequenas quantidades de solo em pontos
De forma geral, a maior parte das técnicas de
estratégicos do perímetro da jazida, afim de
melhoramento de solos exigem matéria prima
obter informações representativas.
para sua utilização, ou seja, a extração de recursos
naturais. Entretanto, com os danos climáticos O polímero usado nos ensaios, Poli
existentes no planeta, provenientes de fatores (tereftalato de etileno) – PET, foi obtido através
como poluição, por exemplo, há uma preocupação da empresa DEPET, localizada em Campina
crescente acerca de reaproveitamento de materiais Grande-PB, que é responsável pela coleta e
reciclagem de embalagens plásticas.
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2.1 Ensaios Laboratoriais

Os ensaios laboratoriais foram divididos em


duas partes. A primeira refere-se a
caracterização física do solo e a segunda aos
ensaios mecânicos.

2.1.1 Caracterização do Solo


Figura 2. Material passante na peneira 4,8mm – PET
Os ensaios referentes a caracterização física
foram realizados com o solo puro, obedecendo 2.1.1.2 Umidade Higroscópica
as recomendações exigidas pela norma para
cada situação. A partir dos valores obtidos referentes a massa
seca e úmida do solo puro tornou-se possível
2.1.1.1 Preparação da Amostra calcular a umidade higroscópica do mesmo
através da Fórmula 1:
A preparação dos materiais, segundo a NBR
Ph−Ps
6457/1986, foi o passo inicial para a realização h= x 100% (1)
Ps
dos ensaios, iniciando o processo com a
preparação do solo puro, passando o mesmo na Onde:
peneira 4,8mm, conforme mostrado na Figura 1, h= umidade higroscópica
sendo descartados os materiais retidos. Ph= massa úmica
Ps= massa seca

A umidade higroscópica foi obtida através


do método da estufa, seguindo as orientações da
NBR 6457/1986.

2.1.1.3 Ensaio de Granulometria por


Peneiramento e Sedimentação

O ensaio de granulometria foi realizado a partir


das recomendações da NBR 7181/1984, que
Figura 1. Material passante na peneira 4,8mm – solo prescreve o método para análise granulométrica
do solo, realizada por peneiramento ou por
Em seguida, foi efetuada a preparação do combinação de sedimentação e peneiramento.
resíduo proveniente da lavagem do poli Esse ensaio foi executado com a amostra do
(tereftalato de etileno) – PET que não possuia solo puro, permitindo assim, a construção da
mais utilização, passando-se inicialmente o curva granulométrica correspondente.
material na peneira de 4,8mm, como exibe a
Figura 2, descartando o material que ficou 2.1.1.4 Limite de Plasticidade
retido.
Segundo as orientações da NBR 7180/1984,
para o ensaio de limite de plasticidade, separa-
se uma amostra de solo puro e adiciona-se água
até que a mesma esteja bem homogeneizada,
misturando sempre com o auxílio de uma
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espátula. compactação, cada camada recebeu 26 golpes,


Em seguida, molda-se uma pequena correspondendo a energia proctor normal.
quantidade da massa em forma cilindrica, com Com o intuito de obter mais pontos na curva
diâmetro de 3mm, verificando se há fissuras de compactação, o processo é repetido por mais
quando alcança-se as dimensões do gabarito. quatro vezes, desde o início, variando-se os
Repete-se o processo quantas vezes forem teores de água em 2% para cada mistura.
necessárias, medindo sempre o teor de umidade Com os valores referentes aos pesos das
das amostras. amostras de solo secas e úmidas, calcula-se o
O limite de plasticidade é encontrado através teor de umidade utilizando-se a Fórmula 1.
da média dos valores de umidades. Esses Para que torne-se possível o cálculo do peso
valores não devem se distanciar da média em especifico do solo seco, primeiro calcula-se o
mais de 5%. peso especifico do solo umedecido pela
Fórmula 2:
2.1.1.5 Limite de Liquidez
𝑃ℎ′
P(su)= 𝑉 (2)
De acordo com a NBR 6459/1984 para
determinação do limite de liquidez, faz-se a Onde:
homogeneização da massa de solo puro P(su)= Peso especifico do solo úmido (g/cm³);
transferindo-a, não em sua totalidade, para a Ph’= Peso do solo úmido após compactação (g);
concha do aparelho de Casagrande. Em seguida, V= Volume do cilindro .
são realizados os passos para determinação dos
teores de umidade e número de golpes para Em seguida é realizado o cálculo referente
cada amostra. ao peso especifico seco, pela Fórmula 3:
Posteriormente, deve-se realizar os cálculos
referentes aos teores de umidade das amostras 100
e, logo após, realizar o traçado do gráfico teor P (ss)= P (su) x (3)
100+h′
de umidade x número de golpes, onde, o limite
de liquidez será o valor, em porcentagem, da Onde:
umidade referente a 25 golpes. P (ss)= Peso especifico do solo seco (g/cm³);
P (su)= Peso especifico do solo úmido (g/cm³);
2.1.2 Ensaios Mecânicos h’= Teor de umidade do solo compactado .

Os ensaios mecânicos foram executados com o 2.1.2.2 Índice de Suporte Califórnia (ISC)
traço da mistura solo-cimento (com adição de
5% de Cimento Portland) e com o traço das Após o passo inicial que deu-se através do
misturas de solo incorporado o resíduo de poli processo de compactação das amostras de solo,
(tereftalato de polietileno) - PET nas proporções conforme a NBR 7182/1986, seguiu-se os
de 5%, 7% e 10% mantendo 5% de Cimento indicativos da NBR 9895/1987, que tem como
Portland constante para todos os traços utilizados. objetivo determinar o Índice de Suporte
Califórnia e a expansão de solos em laboratório.
2.1.2.1 Compactação Ao fim do processo de compactação do solo,
inverte-se o molde, onde coloca-se o papel filtro
Seguindo as etapas prescritas na NBR e os pesos anelares. Na sequência, encaixa-se o
7182/1986, a amostra de solo foi previamente tripé porta-extensômetro, como apresentado na
seca ao ar, destorroada e homogeneizada. Para a Figura 3.
moldagem, considerou-se 3 camadas e foram Posteriormente, os corpos de prova são
acrescentadas proporções iguais (1/3 do volume embebidos em tanque de água, como pode-se
do cilindro) de solo para cada camada. Para a ver na Figura 4, onde permanecem por 4 dias.
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São realizadas no total quatro leituras de Para cada traço proposto (5%, 7% e 10% de
expansão, sendo uma a cada 24 horas. PET e 5% de cimento, constante), foram
Por fim, o ensaio é finalizado com a retirada moldados 3 corpos de pova com subdivisões de
dos corpos de prova do tanque que, após 4 camadas iguais.
escoarem, são pesados e submetidos ao ensaio Na efetivação do desmolde, esperou-se 24
de penetração, utilizando-se a prensa. horas após a moldagem. Consecutivamente, as
amostras foram curadas durante sete dias
seguidos, como mostra abaixo (Figura 5):

Figura 5: Cura da Amostra

Utilizando-se a prensa hidráulica as amostras


foram submetidas a esforços de compressão até
Figura 3: Corpo de prova moldado na umidade ótima
que fissurassem, como demonstrado na Figura 6.
para ensaio de ISC.

Figura 6: Ensaio de compressão simples – Amostras


fissuradas (10% PET, 7% PET, 5% PET e solo-cimento,
respectivamente).

Figura 4: Corpo de prova embebido em tanque de água.


3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
2.2.7 Compressão Simples
3.1 Umidade Higroscópica
Na realização do ensaio de resistência a
compressão simples, utilizou-se uma
Segue abaixo a Tabela 1 referente a umidade
metodologia experimental, tomando como
higroscópica das amostras de solo ensaiadas.
referência a NBR 12025/1990 para execução do
ensaio de compressão simples em concretos, em Tabela 1. Resultados referentes a umidade higrocópica
que as massas de solo foram compactadas e Umidade Higroscópica
moldadas de forma a utilizar-se do soquete, que Peso Úmido Peso Seco Umidade
Amostras
pertence a aparelhagem do ensaio de (g) (g) (%)
compactação. 1 50 49,5 1,01
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2 50 48,5 3,09 solo é classificado como arenoso, pois possui


3 50 49,8 0,40 88% do tamanho das partículas entre 0,06mm e
Umidade Média 1,50
2mm.
Conforme o Sistema Unificado de
A umidade higroscópica tende a ser maior Classificação dos Solos – SUCS o material em
em solos mais argilosos, em nosso caso, a questão é representado pela sigla SP, onde S
umidade é de 1,50%, consideravelmente baixa, refere-se à areia e a letra P a solo uniforme, pois
dessa forma, percebe-se que de forma geral o através da análise granulométrica, observa-se
solo tem granulação grossa. que em sua constituição há, sobretudo, presença
uniforme de areia.
3.2 Granulometria por peneiramento e Segundo a classificação da AASHTO
sedimentação (American Association of State Highway and
Transportation Officials), o solo analisado está
A partir dos dados de umidades naturais e
dentro do grupo A-3, referente à areia fina,
higroscópicas das amostras, como também dos possuindo comportamento de excelente a bom
cálculos para obter o material passante e retido quando utilizado como subleito.
em cada peneira e os resultados da O solo uniforme representa um ponto
sedimentação, tornou-se possível a construção positivo, pois através dessa informação pode-se
da curva granulométrica do solo, que segue afirmar que o mesmo tende a possuir
abaixo (Figura 7):
características constantes, visto que a
composição de suas partículas não variam,
sendo assim, utilizados em obras de contenção.

3.3 Limite de Plasticidade

Com o solo estudado não foi possível a


moldagem de um cilindro de 3mm de diâmetro,
dessa forma, pode-se afirmar que não apresenta
limite de plasticidade, sendo classificado,
conforme a NBR 7180/1984, como não
plástico.
Figura 7: Curva granulométrica do solo segundo ABNT. O resultado apresentado é satisfatório,
porque, solos não plásticos, apresentam uma
Analisando o gráfico, percebe-se que o solo consistência mais definida, sendo melhores
apresenta uma granulometria uniforme, pois o quando o objeto de sua utilização é para fins de
valor do coeficiente de uniformidade (Cu), dado estabilização, tendo em vista que sofrem menos
pela divisão entre o diâmetro equivalente a 60% deformações.
do teor passante (0,08) pelo diâmetro referente
a 10% do teor que passa (0,06) resultou em 3.4 Limite de Liquidez
1,33, como 1,33 é menor que 5, então pode-se
classificá-lo como muito uniforme, de acordo Diante da natureza do solo analisado, sabendo-
com Caputo (1988). se que ele não apresenta Limite de Plasticidade,
Observa-se, através da curva granulométrica, torna-se desnecessário a realização do ensaio de
um solo basicamente granular arenoso, podendo Limite de Liquidez, pois na efetuação do
ser encontrado nele algumas características cálculo referente ao índice de plasticidade, a
como alta porosidade e permeabilidade, pouca NBR 7180/1984 afirma que quando não for
umidade, baixa compressibilidade e possível determinar o limite de liquidez ou limite
susceptibilidade alta à erosão. de plasticidade, deve-se anotar o índice de
De acordo com a classificação da ABNT, o plasticidade como não plástico (NP).
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natural, e 0,35%, em relação ao com adição de


3.5 Compactação 5%.
O último teor de resíduos de PET (10%)
Um dos principais resultados obtidos a partir da adicionado a mistura, resultou na umidade
realização desse ensaio é a curva de ótima de 12% e 1,762g/cm³ para a massa
compactação, Figura 8, gerada a partir dos específica aparente máxima do solo seco.
dados da umidade e da massa específica Nessa perspectiva, é possível observar que a
aparente do solo seco. Através dela é possível adição sucessiva de resíduo de PET provocou
determinar a umidade ótima e a massa uma diminuição na massa específica aparente
específica aparente seca máxima. seca máxima do solo. Isso pode ser devido a
densidade do PET que corresponde a 1,38g/cm³,
valor bem inferior quando comparada a massa
específica aparente seca máxima do solo sem
adição do resíduo.
Por fim, é notório que a medida em que se
aumentam os teores de resíduos, aumentam-se
também as umidades ótimas, nos levando a
concluir que os resíduos de PET exigiram do
solo maiores quantidades de água para tornar
possível a estabilização, mesmo que para as
amostras incorporadas de PET reciclado os
Figura 8: Curva de compactação do solo com e sem
teores não tenham variado em mais de 1% de
adição de resíduo de PET.
um para outro.
Com os resultados obtidos para o ensaio de
compactação sem adição de resíduo de PET 3.6 Índice de suporte Califórnia – ISC
foram encontrados o valor de,
aproximadamente, 1,83 g/cm³ para a massa Abaixo, na Tabela 2, segue os resultados das
específica aparente máxima do solo seco e 8% leituras de expansão do solo-cimento e do solo
para umidade ótima. Assim, conclui-se que o com os teores de adição de 5%, 7% e 10% de
solo necessita de uma quantidade significativa PET reciclado.
de água para garantir sua estabilidade.
Em relação ao solo com adições de PET em Tabela 2. Resultados das leituras de expansão
Expansão
5%, constatou-se o valor de, aproximadamente,
1,797g/cm³ para a massa específica aparente Teor de adição Teor de Expansão média
(%) Cimento (%)
máxima do solo seco e 11,4% para umidade (%)
ótima. Através dessa informação, leva-se a crer
que a adição do resíduo de PET ocasionou em 0 5 0.146
um acréscimo de água de 3,4%, quando 5 5 0,12
7 5 0,102
comparada a quantidade de água utilizada no
10 5 0,166
solo natural, para que a estabilidade fosse
garantida. Para melhor visualização, segue a Figura 9,
Quanto à amostra com adição de resíduo de
apresentando o gráfico com os valores da
PET em 7%, temos uma umidade ótima
expansão média, possibilitando uma
próxima a 11,75% e massa específica aparente
comparação mais específica entre os teores de
máxima do solo seco com valor de 1,795 g/cm³. adição de resíduo.
O resultado indicou que continuou a haver
aumento da quantidade de água necessária para
estabilizar o solo, de 3,75%, em relação ao
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Abaixo, na Figura 10, é possível visualizar


esses resultados, através do gráfico de barras que
demonstra o aumento dos valores de ISC’s finais
a medida que elevam os teores de adição do PET
reciclado.

Figura 9: Gráfico da expansão média

A partir dos resultados expostos, pôde-se


observar que, para o primeiro traço (5% de
resíduo de PET), houve uma diminuição da
expansão, em relação a amostra de solo-
cimento. No entanto, o comportamento do solo Figura 10: Gráfico de ISC’s finais
com adição não apresentou periodicidade, pois
para os traços de 7% e 10% foram encontrados Com base nos dados da Tabela 3 e Figura 10,
os valores de expansão média de 0,102% e referente aos ISC finais encontrados para as
0,166%, respectivamente. amostras com adição de resíduos de PET,
Isso quer dizer que os traços com menores verifica-se que há um crescimento proporcional,
teores de adição (5 e 7%) são uma boa pois, a medida em que os teores de resíduos
incorporação, pois apresentam resultados mais aumentam, maiores são os valores de ISC
satisfatórios quando o objetivo é diminuir a encontrados. Dessa forma, pode-se afirmar que
expansão, visto que obtiveram valores menores a utilização de resíduo de PET proporcionou ao
que os do solo sem adição. Contudo, mesmo solo uma melhora na sua capacidade de suporte
com o aumento, em relação aos demais traços, a de carga, devido a sua elevada resistência
mistura com 10% de PET reciclado ainda mecânica.
apresentou resultados satisfatórios, onde, com a
quantidade encontrada, poderia ser utilizado 3.7 Compressão Simples
para fins de pavimentação, por exemplo, devido
sua expansão não ultrapassar o 1% exigido para Diante dos quatro traços propostos, solo-
esse fim. cimento (5% cimento), solo-cimento-resíduo de
Para o ensaio CBR, foram encontrados os PET (5, 7 e 10% ) e 5% constante de Cimento
números que permitiram gerar a Tabela 3, Portland, foram obtidos os resultados expostos
possuindo os valores de ISC finais para cada na Tabela 4 para as resistências a compressão,
traço proposto, com adição de resíduos. em MPa, dos corpos de prova.

Tabela 3. ISC’s finais – Solos com adição de resíduo de Tabela 4. Resultados do Ensaio de resistência a
PET Compressão Simples.
CBR - Solo + Adição Resistência à Compressão Simples
Teor de adição ISC Teor de Teor de Água Resistência à
(%) Final (%) adição Cimento (%) Compressão
(%) (%) (MPa) - 7
dias
0 80 0 5 8 0.52
5 156 5 5 11 0,93
7 193 7 5 11,9 1,64
10 304 10 5 12 1,76
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A medida em que foram sendo aumentados concluir que o solo é classificado, segundo a
os teores de resíduos de PET na mistura de solo, ABNT, como uma areia uniforme, não
as resistências a compressão foram crescendo possuindo Limite de Liquidez e Limite de
proporcionalmente. Apresentando ganho de Plasticidade.
quase 100% em relação a amostra sem adição Sobre o Ensaio de Compactação, é possível
de resíduos de PET. Esse comportamento, pode afirmar que a medida em que os teores de adição
ser observado atráves do gráfico a seguir aumentaram, fez-se necessário uma maior
(Figura 11): quantidade de água a ser acrescentada nas
misturas, para assim, chegar a umidade ótima.
Logo, comparando-se com a amostra de solo
natural, os solos com adições de resíduo de Poli
(Tereftalato de Etileno) necessitam de mais
umidade para garantir sua trabalhabilidade.
Acerca da resistência a compressão, o solo
demonstrou um aumento significativo quando
adicionado resíduo de PET. Observou-se que o
acréscimo de resistência foi proporcional aos
teores de adição, ou seja, quanto maior o teor de
adição, maior a resistência a compressão. Dessa
forma, conclui-se que a adição de resíduo de PET
Figura 11: Gráfico de resistência a compressão
conferiu ao solo um ganho de resistência a
compressão.
Como observado na Tabela 4 e Figura 11, a Em relação a expansão, o solo já apresentou
resistência a compressão do solo-cimento é de desde seu estado inicial, excelentes resultados.
0,52 MPa. Com a incorporação de 5% de resíduo Solos com teores semelhantes a esses podem ser
houve um aumento satisfatório de 0,41MPa e ao utilizados para fins de pavimentação, por
adicionar 7%, obteve-se um acréscimo
possuirem expansão menor que 1%. Após adição
significativo de 1,12 MPa. A inserção de 10% do de resíduo de PET, o solo demonstrou melhores
PET reciclado proporcionou um crescimento de desempenhos para os teores de 5% e 7% de
1,24MPa quando comparado ao solo-cimento, adição, sendo suas expansões inferiores as do solo
porém, não foi observada uma mudança sem adição. Entretanto, para o teor de 10% de
considerável em comparação a adição de 7%. adição, identificou-se um aumento de expansão,
Essa evolução pode ser justificada pelo fato do
quando comparado ao solo-cimento, mesmo
material possuir uma excelente resistência assim, o teor de 10% também obteve um ótimo
mecânica, boas propriedades de barreira, alta resultado.
resistência à tração e à abrasão, suportando fortes A partir dos resultados obtidos através do
impactos, proporcionando estabilidade ao solo.
ensaio de ISC, pode-se afirmar que os solos com
Além disso, o PET possui boa resistência adição indicaram resultados satisfatórios, em
química, sendo capaz de suportar ambientes que o
comparação com a amostra sem adição, pois
levem ao contato com agentes agressivos. apresentaram um acréscimo maior que 100% nos
Dessa forma, vemos que o resultado é valores de ISC’s finais.
positivo, pois a resistência a compressão é um Portanto, pode-se concluir que a
dos fatores mais importantes na classificação do incorporação de resíduo de Poli (Tereftalato de
solo, possibilitando um aumento na capacidade Etileno) – PET no solo contribuiu para o
de suporte de cargas. melhoramento de suas características físicas e
mecânicas, sobretudo, quanto a capacidade de
suportar cargas. Além disso, diminuiu os
4 CONCLUSÃO impactos ambientais que seriam gerados pelo
descarte inadequado do PET, tornando-se uma
Ao final dos ensaios realizados, pode-se alternativa viável para utilização na engenheria
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Melhoria das Propriedades Mecânicas do Solo de Subleito


Mediante Utilização de Escória de Aciaria

Gabriella Melo de Deus Vieira


Universidade Católica de Brasília, Brasília, Brasil, gabriellamelojp@gmail.com

Pryscilla Morais de Oliveira


Universidade Católica de Brasília, Brasília, Brasil, prymorais3@gmail.com

Lucas Gabriel Lopes da Silva


Universidade Católica de Brasília, Brasília, Brasil, lukkasgabriel0@gmail.com

Ivonne Alejandra Maria Gutiérrez Góngora


Universidade Católica de Brasília, Brasília, Brasil, ivoncito25@gmail.com

RESUMO: A crescente quantidade de resíduos gerados pelas indústrias aumenta a necessidade de


se estudar usos sustentáveis para sua destinação. A Escória de Aciaria (EA) é um dos principais
resíduos gerado nas siderúrgicas e apresenta possibilidade de utilização em diversas áreas da
engenharia, como na pavimentação. Assim, neste estudo foram realizados ensaios de Caracterização
do Solo, Compactação e Índice de Suporte Califórnia da mistura Solo+EA para demonstrar as
possibilidades desse produto ser utilizado para o reforço de subleito. Foram considerados diferentes
percentuais de EA no processo de análise, com o objetivo de avaliar o comportamento mecânico da
mistura. Os resultados obtidos nos ensaios laboratoriais indicaram que a EA é uma alternativa
viável do ponto de vista técnico-econômico e ambiental.

PALAVRAS-CHAVE: Pavimentação, Subleito, Escória de Aciaria, Comportamento Mecânico.

1 INTRODUÇÃO (produtor de aço), somente a empresa produz


cerca de 86,2 kg de EA por tonelada de aço
Pavimentos rodoviários são constituídos de 4 líquido, o que representa em 415.000 toneladas
camadas: revestimento, base, sub-base e reforço ao ano. Dados do Instituto Aço Brasil são que
do subleito. Caso o terreno que irá receber a em 2016 a produção de aço brasileira foi de
pavimentação possua baixa capacidade de 31,3 milhões de toneladas (INSTITUTO AÇO
suporte, ou pretenda-se reduzir a espessura da BRASIL, 2016).
sub-base, é necessária a execução do seu A grande quantidade deste resíduo gerada
reforço. Tal tarefa consiste em realizar uma anualmente no país, e a utilização de apenas
camada de espessura constante, que deve 35% deste total há alguns anos (IBS, 1998)
possuir características técnicas superiores ao demonstra a necessidade de se pesquisar meios
material original e pode ser preparado com e tecnologias para o reaproveitamento do
diferentes tipos de mistura (BRASIL, 2017). material. Além disso, a Política Nacional de
Como é o caso da Escória de Aciaria (EA), que Resíduos Sólidos (PNRS -Lei 12.305),
é um subproduto oriundo de processo industrial publicada em 2010 ressalta a importância de o
que resulta da transformação do ferro gusa poder público, empresas e profissionais
líquido em aço. De acordo com informação proporem meios para a gestão de resíduos
obtida no site do grupo Arcelor Mittal (2015) industriais (gerados em processos produtivos e

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instalações industriais), cujas responsabilidades 1. Pesquisa de bibliográfica do tema proposto:


se tornam obrigatórias. A política determina os pesquisa do tema, de trabalhos publicados a
objetivos fundamentais para o correto respeito, para definição dos objetivos da
gerenciamento dos resíduos, que são: não- pesquisa.
geração, redução, reutilização, reciclagem, 2. Definição dos parâmetros de pesquisa: Nesta
tratamento e destinação final adequada. fase foram definidos o solo a ser utilizado, as
O que este trabalho propõe é um meio de proporções da mistura Solo+EA e os ensaios
reutilização da EA, em um setor da economia técnicos necessários para testar os objetivos
que possui distintas oportunidades de aplicação desejados.
do resíduo. De acordo com o Portal Brasil 3. Realização dos ensaios: foram realizados os
(2016), as rodovias pavimentadas no país seguintes ensaios de caracterização do solo e da
cresceram em 23% nos últimos 15 anos e já se mistura Solo+EA de acordo com o
possui trechos executados com EA há muitos procedimento descrito em suas respectivas
anos (REZENDE, 2010). Diversos países normas: Limite de Liquidez (NBR7180/1984),
(Austrália, Bélgica, Canadá, Estados Unidos, Limite de Plasticidade (NBR7180/1984), Massa
Finlândia, Holanda, Índia, Inglaterra e Suécia) Específica dos Grãos (NBR 6508/1984) e
já a empregam como um agregado para várias Granulometria por sedimentação (NBR
camadas de pavimentação (ROHDE, 2001). 7181/2016). Para determinação das
Diante destas informações, esta pesquisa tem propriedades mecânicas foram realizados os
por objetivo estudar o uso da EA para reforço ensaios de CBR – California Bearing Ratio
de subleito, considerando suas características (DNIT 172/2016 - ME) e Compactação (NBR
mecânicas e utilizando diferentes porcentagens 7182/2016).
para assim aumentar a qualidade das 4. Análise dos resultados e discussão: Os
pavimentações. Também contribuir em resultados obtidos para o solo natural foram
minimizar os impactos causados ao meio comparados às misturas.
ambiente, tanto pela disposição final deste 5. Conclusão: Após comparação foi possível
resíduo, como os provocados por extração de inferir sobre a aplicabilidade da EA para
outros componentes para reforço de camadas de pavimentação.
pavimentação. Os procedimentos foram realizados no
Laboratório de Geotecnia da Universidade
Católica de Brasília UCB, utilizando-se
2 METODOLOGIA tréplicas das proporções de 0%, 8%, 15% e 20%
de EA; quando possível foram realizadas outras
A metodologia do trabalho consistiu em 5 porcentagens para agregar aos resultados.
etapas (conforme Figura 1):

3 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS


E DISCUSSÃO
1. Pesquisa 2. Parâmetros de 3. Realização dos
Bibliográfica Pesquisa ensaios
3.1 Caracterização do solo
4. Análise dos
5. Conclusão
Resultados Os Limites de Plasticidade e Liquidez
diminuiram com a adição da EA (Figuras 2 e 3).
Consequentemente os resultados obtidos para o
Índice de Plasticidade indicam que a
Figura 1. Metodologia de pesquisa compressibilidade do solo diminuiu, conforme
apresentado na Figura 4.

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Tabela 1. Massa específica e Umidade higroscópica.


Amostra δ (g/cm³) w (%)
Solo 2,85 2,86
Solo+8%EA 2,75 6,01
Solo+10%EA 2,97 5,85
Solo+15%EA 2,69 5,44
Solo+20%EA 2,76 5,17

Os dados provenientes da análise


granulométrica, por sedimentação com
dispersante hexametafosfato de sódio, permitem
Figura 2. Resultados para Limite de Plasticidade. inferir que o solo analisado pode ser
classificado como silte de acordo com a NBR
6502/1995; pois os diâmetros das partículas
variam entre Ø0,002mm e Ø0,06mm. A
visualização da distribuição granulométrica está
apresentada na Figura 5:

Figura 3. Resultados para Limite de Liquidez.

Figura 5. Curvas Granulométricas obtidas.

3.2 CBR - California Bearing Ratio e


Compactação

Os valores de CBR aumentaram


significativamente de acordo com o teor de EA
acrescentada ao solo, alcançando os acréscimos
de 126% na amostra Solo+10%EA, 213% na
Figura 4. Índices de Plasticidade da mistura.
amostra Solo+15%EA e 235% na amostra
Os resultados para Massa Específica foram Solo+20%EA (Tabela 2).
considerados satisfatórios pois não diferiram Na compactação a umidade ótima diminui, à
mais que 0,02 g/cm³ por amostra (NBR medida que a massa específica aparente
6508/1984). Na Tabela 01 estão os dados aumenta, variando de acordo com as
obtidos: porcentagens.
Na tabela 2 também é possível verificar que os
valores de expansão da EA misturada ao solo
(passante na peneira 10 - 2mm) não foram
superiores a 2%, sendo aceitáveis de acordo

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com o DNIT –Departamento Nacional de 4 CONCLUSÃO


Trânsito (137/2010 ES).
Foi possível observar que a utilização da EA
Tabela 2. Resultados CBR e compactação para reforço de subleito é uma alternativa viável
Massa do ponto de vista técnico e ambiental. Pois além
Umidade Específica
CBR Expansão de apresentar uma solução ao problema de um
Amostra Ótima Aparente resíduo gerado em grandes quantidades e de
(%) (%)
(%) Seca
(g/cm³) difícil reciclagem e descarte, os resultados dos
Solo 43,62 25,4 1,500 0,44
ensaios demonstraram o aumento da resistência
mecânica das amostras comparadas ao solo
Solo+8%EA 54,88 23,36 1,552 1,67 natural. Os valores de CBR aferidos foram
Solo+15%EA 93,02 22,30 1,583 0,13 muito acima do recomendado pelo DNIT
Solo+20%EA 102,70 22,75 1,643 1,41 (138/2010-ES) para subleito, maiores que 2%, o
que indica que as amostras analisadas possuem
A Figura 6 apresenta as curvas obtidas para potencial para utilização em outras camadas de
CBR, e a Figura 7 para compactação, das pavimentação; como sub-base, que deve
amostras de Solo + EA: apresentar CBR≥20%. Porém, deve-se atentar
teor expansivo do resíduo.
De acordo com Raposo (2005) a expansão
advinda das EA’s é provocada pela hidratação
dos óxidos de cálcio e magnésio livres,
principalmente. Por isso, são necessárias
alternativas para redução dos índices de
expansão do material. Apesar de os valores
encontrados neste estudo estarem dentro do
permitido pelas normas vigentes, é de interesse
dos autores o desenvolvimento de análises do
comportamento das amostras, visando o
tratamento da EA e consequentemente a
Figura 6. Curvas de CBR das misturas Solo+EA. atenuação dos valores de expansão.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao suporte oferecido pela


Universidade Católica de Brasília para
realização deste trabalho e ao apoio logístico da
coordenadora do laborátorio de solos, Leidiane.
Agradecemos também ao Cnpq pela inclusão no
programa de iniciação científica na área em
estudo e por fim, reconhecemos a contribuição
dos amigos Matheus Viana e Maykon Silva.
Figura 7. Curvas de Compactação das misturas Solo+EA.

REFERÊNCIAS
ARCELOR MITTAL. Escória de Aciaria LD, 2015.
Disponivel em:

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p>. Acesso em: 22 fevereiro 2018. 2001. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-
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Disponivel em: Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2010.
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Disponível em:
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2016. Disponivel em:
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Acesso em: 22 fevereiro 2018.
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Terminologia. Rio de Janeiro/RJ, 1995.
______ABNT NBR 6508: SOLO – Determinação da
densidade real dos grãos. Rio de Janeiro/RJ, 1984.
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limite de plasticidade. Rio de Janeiro/RJ, 1984.
______ABNT NBR 7181: SOLO – Análise
granulométrica. Rio de Janeiro/RJ, 2016.
______ABNT NBR 7182: SOLO – Ensaio de
Compactação. Rio de Janeiro/RJ, 2016.
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______. NBR NM 248. Agregados – Determinação da
composição granulométrica. Rio de Janeiro, 2003.
DNIT 172. Departamento Nacional de Infraestrutura de
Transportes. Solos – Determinação do Índice de
Suporte Califórnia utilizando amostras não
trabalhadas – Método de ensaio, 2016.
DNIT 137-ES. Departamento Nacional de Infraestrutura
de Transportes. Pavimentação – Regularização do
subleito - Especificação de serviço, 2010.
DNIT 138-ES. Departamento Nacional de Infraestrutura
de Transportes. Pavimentos flexíveis – Reforço do
subleito - Especificação de serviço, 2010.
DNIT 139-ES. Pavimentos flexíveis – Sub-base
estabilizada granulometricamente - Especificação de
serviço,2010.
IBS – INSTITUTO BRASILEIRO DE SIDERURGIA
Escórias Siderúrgicas – Novas Tendências. Trabalho
apresentado na 9ª Reunião de Pavimentação Urbana,
Associação Brasileira de Pavimentação. Vitória, ES.
1998.

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Projeto de Remediação de Área Degradada pela Disposição


Inadequada de Resíduos Sólidos no Município de São José dos
Ausentes/RS
Acadêmica Amanda Bueno de Lima
Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, Brasil, ablima1@ucs.br

Docente Jaqueline Bonatto


Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, Brasil, jbonatto4@ucs.br

RESUMO: O trabalho buscou propor um projeto de remediação de área degradada (PRAD) para
uma área de disposição inadequada de resíduos no município de São José dos Ausentes. Através da
realização de diagnóstico no local, o trabalho traz uma análise do histórico do lixão e sua situação
nos dias de hoje, conduzindo a problemática a uma série de técnicas e alternativas atualmente
utilizadas na recuperação de áreas degradadas. O principal resultado foi um projeto de recuperação e
remediação com tratamento de água subterrânea com bombeamento e tratamento com injeção da
água tratada, bem como diretrizes necessárias para que os problemas causados pela disposição
irregular no terreno sejam mitigados e corrigidos.

PALAVRAS-CHAVE: área degradada, resíduos sólidos, projeto de remediação.

1 INTRODUÇÃO apresenta sinais de evolução e aprimoramento,


com a maioria dos resíduos coletados (58,7%)
O consumo excessivo e produção acelerada de sendo encaminhados para aterros sanitários,
produtos atrelados à rápida obsolescência destes que se constituem como unidades adequadas”
trouxeram diversas demandas no que diz (ABRELPE, 2015).
respeito ao tratamento e disposição final de Porém, ainda segundo a ABRELPE (2015),
resíduos sólidos urbanos. Além disso, as no Brasil 17,2% dos resíduos urbanos vão parar
crescentes concentrações humanas trazem um em lixões. Esta situação representa um grave
aumento de volume na geração de resíduos, e passivo ambiental com elevado potencial de
com a diversificação de compostos sintéticos e poluição e vem provocando impactos
metálicos utilizados nos produtos, estes ambientais irreversíveis na maioria dos
resíduos acabam tendo uma baixa municípios brasileiros. Somente no estado do
degradabilidade, permanecendo assim no meio Rio Grande do Sul no ano de 2015, 11,8% dos
ambiente. Estas situações, quando não tratadas resíduos sólidos urbanos coletados foram
devidamente podem trazer além de danos destinados para lixões, o que representa um
ambientais, riscos à saúde humana. total de 971 toneladas por dia. Diante disso, os
Mesmo com a implementação da Política municípios buscam como solução, a
Nacional do Meio Ambiente (BRASIL, 1981), e recuperação técnica, social e ambiental de áreas
com a ampliação de uma legislação de depósitos inadequados destes resíduos, que
disciplinadora do uso ambiental, a destinação segundo França e Ruaro (2008) é o principal
inadequada de resíduos sólidos urbanos está fator antrópico afetando assim a qualidade do
presente em todos os estados do Brasil. ar, do solo e das águas.
Segundo o Panorama dos Resíduos Sólidos no Diante do exposto, o presente trabalho tem
Brasil de 2015, “a disposição final de RSU como objetivo propor a remediação de uma área
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degradada, por consequência da disposição de recebimento de resíduos durante este período


inadequada de resíduos sólidos urbanos, a qual de funcionamento.
localiza-se no município de São José do
Ausentes, no distrito de Vila da Silveira, Rio
Grande do Sul. No local, de 2005 a 2007, a
prefeitura do município coletava os resíduos e
os dispunha sem quaisquer tipos de critérios
pois não havia contratação de uma empresa
especializada na prestação de serviço de coleta,
transporte e destino final. A quantidade
estimada depositada no período é de 1.440,00
m³ os quais contemplam resíduos domésticos,
orgânicos e recicláveis. Assim, este projeto Figura 1 - Localização e situação da área degradada em
São José dos Ausentes
busca indicar soluções ambientais e
economicamente viáveis, a fim de atenuar os Em 2007, após denúncias de moradores
impactos ambientais causados à área, minimizar vizinhos, a prefeitura municipal foi noticiada
os possíveis riscos à saúde pública e regularizar pelo órgão ambiental pela disposição
a área conforme exigências da legislação inadequada de resíduos sólidos. A partir de
vigente. então encerrou-se a atividade de recebimento de
resíduos no local e foi emitida uma licença para
2 DIAGNÓSTICO DA ÁREA remediação da área, porém não há evidências do
cumprimento dos itens constantes nesta LO.
2.1 Caracterização e Histórico da área Nas Figuras de 2 e 3 apresentam evidências
da disposição dos resíduos ainda nos anos de
A área a ser remediada está localizada no 2012 e 2013, indicando o abandono da área,
Distrito de Vila de Silveira, no município de ausência de critério de aterramento, resíduos
São José dos Ausentes, no estado do Rio compostos por materiais recicláveis e/ou de
Grande do Sul, na região dos Campos de Cima difícil degradabilidade, madeira, pneu, além de
da Serra. Segundo o IBGE (2015) possui uma resíduos perigosos como latas de tinta e
extensão territorial de 1.174 km² e uma resíduos eletrônicos.
população de 3.483 habitantes no ano de 2016.
Vila de Silveira é maior núcleo urbano depois
da sede no município com uma população
aproximada de 296 habitantes (IBGE, 2015).
No entorno da área a vizinhança é
caracterizada por agricultores sendo que a
principal atividade é o plantio de
hortifrutigranjeiros, batata, couve flor e
bovinocultura. Nas porções norte, leste e oeste
Figura 2 - Disposição nos resíduos como pneus e madeira
da área existe o plantio de Pinus elliottii e ao
sudeste existe a atividade de mineração, que
pertence à prefeitura, uma saibreira (Figura 1). Conforme se observa, o local objeto deste
A área degradada foi utilizada como lixão, trabalho permaneceu abandonado por 9 (nove)
recebendo resíduos sólidos urbanos durante três anos, onde somente após nova notificação do
anos, no período de 2005 a 2007. Não se teve órgão ambiental estadual em 2016, deu-se início
acesso a informações com relação ao projeto de a um novo processo de licenciamento do
aterro no local nem de como se dava a operação empreendimento e em 2017 foi emitida nova
Licença de Operação para remediação de área
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degradada. possibilidade para águas subterrâneas em rochas


com porosidade por fraturas. A área em questão,
está inserida no Sistema Aquífero Serra Geral
II, este sistema aquífero ocupa a parte oeste do
Estado, os limites das rochas vulcânicas com o
rio Uruguai e as litologias gonduânicas além da
extensa área nordeste do planalto associada com
os derrames da Unidade Hidroestratigráfica
Serra Geral. Suas litologias são
Figura 3 - Vista da disposição dos resíduos
predominantemente riolitos, riodacitos e em
menor proporção, basaltos fraturados. A
Após a notificação, ainda em 2016 foi capacidade específica é inferior a 0,5 m³/h.m,
realizado o cercamento e instalação de um entretanto, excepcionalmente em áreas mais
portão de acesso com placa de identificação, a fraturadas ou com arenitos na base do sistema,
qual sinaliza que é vetada a entrada no podem ser encontrados valores superiores a 2
empreendimento, por se tratar de uma área m³/h.m. As salinidades apresentam valores
degradada em processo de recuperação. Neste baixos, geralmente inferiores a 250 mg/L.
mesmo período também foi realizado o Valores maiores de pH, salinidade e teores de
recobrimento da massa de resíduos com uma sódio podem ser encontrados nas áreas
camada 15 cm de espessura de solo natural do influenciadas por descargas ascendentes do
próprio local (Figura 4). Sistema Aquífero Guarani (CPRM, 2005).
Quanto à quantidade estimada de resíduos No local, há a ocorrência de Neosolos
dispostos no local considerou-se a informação Litólicos, que segundo a EMBRAPA (2009),
constante na Licença de Operação emitida em caracterizam-se por serem solos rasos a muito
2017, a qual traz um volume de 1.440 m³, este rasos, bem drenados, textura média com
valor foi verificado por meio de sondagens sequência de horizontes A-R, podendo
realizadas na área no ano de 2007. apresentar saturação por bases baixa ou alta
Diante do exposto, observa-se como com ocorrência em relevo forte ondulado a
principais problemas ambientais no local, montanhoso. Apresentam baixo teor de carbono
resíduos sólidos de baixa degradabilidade orgânico no horizonte A e fases pedregosas e
expostos ao solo sem impermeabilização de rochosas, ocorrem em áreas dessecadas e
inferior e recobrimento na camada superior, íngremes.
ausência de drenos para coleta e tratamento de São solos com relevo de forte ondulado a
lixiviados e ausência de drenos de biogás. montanhoso e muitas vezes ocorrem
afloramentos rochosos. Assentes diretamente
sobre a rocha ou sobre um horizonte C ou Cr ou
sobre material com 90% (por volume) ou mais
de sua massa constituída por fragmentos de
rocha com diâmetro maior que 2 mm
(cascalhos, calhaus e matacões), que apresentam
um contato lítico típico ou fragmentário dentro
Figura 4 - Vista do local após limpeza e recobrimento de 50 cm da superfície do solo.

2.2 Caracterização Hidrogeológica e Pedológica 2.3 Investigação confirmatória

A região de São José do Ausentes possui um A etapa de investigação confirmatória


sistema de aquíferos com média a baixa encerra o processo de identificação de áreas
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contaminadas, tendo como objetivo principal da área. Estes deverão ter o mesmo perfil
confirmar ou não a existência de contaminação. construtivo, conforme Figura 5, sendo que o
A confirmação da contaminação em uma diâmetro de perfuração deverá de 450 mm e o
área dá-se basicamente pela tomada de amostras diâmetro de revestimento interno de 6”
e análises de solo e/ou água subterrânea, em executado com tubos de PVC reforçado.
pontos estrategicamente posicionados. Em
seguida, deve ser feita a interpretação dos
resultados pela comparação dos valores de
concentração obtidos com os valores de
concentração estabelecidos em listas de
padrões, definidas pelo órgão responsável pelo
gerenciamento de áreas contaminadas
(CETESB, 2001).
Conforme ABNT (1997), além da coleta nos
pontos onde ocorre a maior probabilidade de
existência de contaminação, devem ser
coletadas também amostras onde não ocorra a
influência das fontes suspeitas identificadas, ou
seja, onde ocorram valores naturais, para
comparação. Por exemplo, para a coleta de
águas subterrâneas recomenda-se no mínimo
três pontos de amostragem nos locais suspeitos
de contaminação e um para determinação da
qualidade natural dessas.
Desta forma, para a realização da
investigação confirmatória deverão ser alocados
quatro poços de monitoramento sendo um à
montante e três à jusante da área de disposição
dos resíduos. Para o projeto destes poços
utilizou-se a Norma ABNT NBR 13.895 (1997). Figura 5 - Perfil Construtivo Piezômetros
A perfuração dos mesmos deverá ser tipo
rotopneumática. O princípio do método roto- Segundo ALVES (2012), aterros de resíduos
pneumático é baseado numa percussão em alta sólidos constituem uma importante fonte de
frequência e de pequeno curso dado por um contaminação de águas subterrâneas. Ainda que
martelo (megadrill) em uma broca (bit) que, existam diversos casos de contaminação
concomitantemente, é rotacionado triturando e decorrentes da má operação de aterros
desgastando a rocha. O fluido é o próprio ar sanitários, esse impacto tende a apresentar
comprimido transmitido pelo compressor por maior magnitude em associação a vazadouros a
dentro da coluna de perfuração, passando por céu aberto ou lixões, uma vez que esses
dentro do martelo e da broca. Sua principal dispositivos são instalados sem qualquer
vantagem consiste na velocidade de perfuração, conhecimento hidrogeológico local e sem
método mais indicado quando se perfura poços quaisquer medidas que impeçam a chegada do
com pequenas coberturas de solo (CPRM, lixiviado às águas subterrâneas.
2005). A presença do lixiviado é de longe a mais
Os Poços terão denominação de PM 01, PM significante ameaça para as águas subterrâneas,
02, PM 03 e PM 04, sendo o PM 01 o poço uma vez que ele pode alcançar as camadas mais
localizado à montante e os outros três à jusante profundas dos aterros. O lixiviado também pode
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ter um fluxo de escoamento lateral para um efluentes com potencial de impacto ambiental
determinado ponto onde é descarregado para a por um período de 20 a 50 anos, ou mais.
superfície como uma infiltração, ou move-se Assim, este trabalho de remediação propõe a
através da base do aterro em direção a sub- utilização de várias técnicas associadas, as quais
superfície. Dependendo da natureza destas buscam minimizar os possíveis impactos que a
formações e da ausência do sistema de coleta do área degradada possa trazer ao meio ambiente,
lixiviado, este tem sido associado diretamente à além de reduzir os danos já ocorridos no local.
contaminação dos aquíferos abaixo da linha do Para fins deste projeto considerou-se
aterro, tornando-se alvo de extensas principalmente a localização e situação da área,
investigações há quatro décadas (ZANONI, custos de implantação, operação e manutenção e
1972 apud LIMA, 2003). tempo de encerramento do recebimento de
Segundo Araújo (1996, apud LIMA, 2003) resíduos.
nos EUA, a Agência de Proteção Ambiental Salienta-se que este projeto não prevê a
(EPA) realizou o cadastramento das principais remoção dos resíduos e do solo contaminado,
fontes de contaminação dos recursos hídricos, pois segundo BOSCOV (2008), a remoção e
dentre as várias fontes de contaminantes, os tratamento do solo só é indicada quanto os
lixões municipais constituem fonte poluidora contaminantes ainda não atingiram o nível
das águas subterrâneas em mais de 35 estados freático.
americanos, sendo que em 15 estados a Além disso, conforme verificado no
contaminação é considerada grave. diagnóstico, o local possui um solo raso e com
Diante do exposto e devido à ausência de fragmentos de rocha assentado diretamente no
sistemas de impermeabilização inferior e horizonte C, dificultando tecnicamente a
superior no local bem como de drenagem de remoção total deste tipo de solo por suas
lixiviados, permitindo a infiltração de águas características rochosas. Portanto optou-se pelo
provenientes das precipitações na massa de emprego da técnica de bombeamento e
resíduos e de qualquer relato de operação tratamento (pum and treat) para remoção dos
correta no aterramento no local, considerou-se contaminantes da zona saturada. Desta forma, o
que após coleta e análises das águas presente projeto prevê a utilização de
subterrâneas as mesmas apresentaram piezômetros para bombeamento das águas
contaminação do lençol freático pela percolação contaminadas até a superfície onde as mesmas
dos chorume gerados durante o período de deverão sofrer o tratamento utilizando reagente
funcionamento do local. Cabe ressaltar ainda, Fenton e posteriormente ser injetada no lençol
que durante 9 anos o local permaneceu freático.
abandonado sem qualquer tipo de A Tabela 1 apresenta as soluções adotadas
monitoramento ou controle dos gases e de para a área baseando-se no diagnóstico
lixiviados. apresentado.

3 TÉCNICAS ADOTADAS Tabela 1 - Técnicas adotadas para remediação da área


degradada por resíduos sólidos
Para descontaminação das águas
Segundo FEAM (2010), em função da grande subterrâneas, considerando a
possibilidade de ocorrência de problemas existência dos piezômetros instalados
ambientais, o simples abandono e fechamento na etapa de investigação, optou-se
Rede de
das áreas utilizadas para disposição final de pela configuração “Doublet”, ou seja,
poços de
resíduos sólidos urbanos deve ser descartado, um poço à montante para
extração
bombeamento e extração da água
devendo os municípios buscar técnicas que subterrânea contaminada e outro à
minimizem estes impactos. Além disso, jusante para a injeção da água após o
Reichert (2007) afirma um aterro pode gerar seu tratamento.
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Canais na forma de meia cana em Para que ocorra a reação de Fenton as


Sistema de
concreto simples e com encaixe tipo dosagens dos reagentes deverão seguir
drenagem
ponta e bolsa, de 600 mm de
superficial
diâmetro instalados por todo o
conforme apresentado na Tabela 2.
perímetro da área.
Instalação de uma geomembrana de Tabela 2 - Dosagem de reagente a ser utilizada
Sistema de PEAD (polietileno de alta densidade) Processo Reagente Dosagem
impermeabili de 1mm de espessura sobre toda a Até alcançar
Ajuste de pH H2SO4
zação extensão da área. Acima da pH 3-4
superior geomembrana deverá ser colocada 1 g H2O2/2 g
Oxidação H2O2
uma de 80 cm de solo natural. DQO
Drenos em seção quadrada com brita 3 g Fe2+/1 g
Oxidação FeSO4
n° 4 como meio drenante e uma H2O2
tubulação interna de geotubo de Neutralização/Coag Até alcançar
Sistema de Ca(OH)2
PEAD de 65mm, envoltos por uma ulação pH 7
drenagem de
manta geotêxtil permeável Bidim RT.
lixiviado
Deverão ser instalados através da Por fim, para a verificar a eficiência das
abertura de trincheiras há 4 metros de
profundidade.
tecnologias aplicadas, deverá ser instalado um
Acumulado em um tanque de sistema de monitoramento geotécnico e
armazenamento de 15 m³ e ambiental, composto por piezômetros e marcos
Tratamento
de lixiviado
posteriormente encaminhado para superficiais.
empresa terceirizada especializada
coletado nos
para o tratamento deste tipo de
drenos 3.1 Monitoramento ambiental e geotécnico da
resíduo, com uma periodicidade
inicial de coleta de 15 dias. área
Drenos verticais de diâmetro de 50
Sistema de
centímetros e em conformação O monitoramento geotécnico e ambiental tem
circular, de tubos de concreto para a função de fornecer informações para o controle,
drenagem de
coleta e transporte do gás até a
biogás respectivamente, da estabilidade estrutural e do
superfície e queimadores de gás do
tipo flare. impacto ambiental de um aterro de resíduos. É
O sistema deverá operar a uma vazão também útil para o avanço do conhecimento
média de projeto de 0,32 m³/dia, 8 sobre o comportamento geotécnico e ambiental
horas por dia de segunda-feira a dos resíduos e dos materiais utilizados na
sexta-feira. O modelo de bomba
construção dos diversos sistemas componentes
Sistema de escolhido para a sucção foi do tipo
bombeament submersa centrífuga, UPACHROM do aterro.
oe 100 -02 CC de 0,26 kw de potência, Já o monitoramento ambiental em obras de
tratamento da fabricante KSB Bombas. Para a remediação visa verificar a eficiência da
de águas injeção da água após o tratamento, solução adotada. A partir do diagnóstico de
subterrâneas optou-se realizar por gravidade, para
contaminação e do projeto de remediação, são
contaminada isso deverá ser utilizada uma bomba
s centrífuga horizontal pra bombear a construídos poços de monitoramento e
água do tanque de tratamento até o selecionados outros pontos de controle para
piezômetro à montante da área. O coleta de amostras de solo, ar, gases do solo,
modelo deverá ser MCI-RQ de 2 cv águas superficiais. O monitoramento em obras
de potência.
de remediação é desenvolvido para cada caso,
Optou-se pela utilização de Reagente
Tratamento pois decorre principalmente do diagnóstico. Os
Fenton, portanto o sistema de
de água elementos do monitoramento, porém, não
tratamento das águas subterrâneas
subterrânea
contaminada
contaminadas deverá ser composto diferenciam dos de monitoramento de aterros
por um tanque reator de 1,7 m³ e dois sanitários, sendo basicamente coleta de
por lixiviado
leitos de secagem.
amostras e realização de análises químicas
(BOSCOV, 2008).
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Portanto, indica-se o monitoramento da Quanto ao monitoramento dos recalques,


qualidade das águas subterrâneas e dos deverão ser instalados marcos de superfície na
recalques verticais. Para a área em questão o camada de cobertura final da área após a
monitoramento deverá ocorrer em duas etapas, conclusão do sistema de impermeabilização, a
uma durante o processo de remediação, o qual fim de acompanhar os movimentos verticais.
deverá ter uma duração de 8 meses e a outra Para construção destes, deverão ser feitas
após o seu término. Utilizou-se a NBR 15.849 estruturas pré-moldadas em concreto com um
(2010) e o indicado por Reichert (2007) para pino de metal engastado na face superior,
definição dos parâmetros a serem monitorados conforme Figura 6.
bem como a periodicidade, os quais estão
apresentados na Tabela 3. Mensalmente deverá
ser monitorado visualmente a área para
verificação de recalques ou formação de bolsões
de gases.
Cabe ressaltar que, para o monitoramento da
água subterrânea serão utilizados os
piezômetros instalados na etapa de investigação,
uma vez que estes estão localizados a montante
e a jusante da área.
Figura 6 - Marco de superfície a ser instalado no local
Tabela 3 - Monitoramento geotécnico e ambiental
Monitoramento durante a remediação
4. ANÁLISE DE VIABILIDADE
Periodicida
Meio Parâmetros ECONÔMICA E AMBIENTAL
de
Águas pH, nível de
subterrâneas água, A análise de viabilidade econômica e ambiental
diária
contaminadas e temperatura, trata-se da abordagem dos aspectos ambientais e
tratadas condutividade econômicos que trazem benefícios na execução
Águas OD, Al, Mg,
subterrâneas Fe, Mn, Cd,
de um projeto, bem como o apontamento de
contaminadas Cu, Ni, Pb, diferentes cenários que podem ser vislumbrados
mensal
Águas Zn, P, DQO, para um determinado local. Tem como
subterrâneas após DBO e principal objetivo auxiliar na tomada de decisão
o tratamento Nitratos. quanto à implantação de um projeto.
CH4, CO2, N2,
Gases mensal
O2
Monitoramento após a remediação 4.1 Benefícios tangíveis
pH,
condutividad Os benefícios tangíveis podem ser definidos
e, como sendo aqueles em que é possível valorar
temperatura,
ou quantificar. Em projetos de remediação de
nível de água
Águas áreas degradadas dificilmente existem
quadrimestral OD, Al, Mg,
subterrâneas benefícios tangíveis pois não possuem retorno
Fe, Mn, Cd,
Cu, Ni, Pb, financeiro além de proporcionar maiores
Zn, P, DQO, benefícios intangíveis como sociais e
DBO e
ambientais.
Nitratos.
CH4, CO2, Uma das formas de economia referentes a
Gases semestral este projeto, está relacionada ao fato de se
N2, O2
realizar a descontaminação das águas
subterrâneas, considerando que a área
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degradada se localiza em um distrito onde o um dos pontos turísticos mais procurados no


abastecimento de água totalmente via poços inverno.
artesianos, desta forma a aplicação da técnica
evita gastos com saúde pública e gastos com 4.3 Cenários
abertura de novos poços caso a contaminação
atinja estes que atendem a comunidade Para análise de viabilidade econômica deste
atualmente. projeto, foram propostos três cenários e
Outro benefício seria a valorização dos calculou-se os custos de implantação e
imóveis nos arredores do local, segundo monitoramento dos mesmos.
informações da prefeitura de São José dos Cenário 1 - Projeto de remediação de área
Ausentes hoje os imóveis nas adjacências do degradada. Para a análise deste cenário
antigo aterro, no distrito da Silveira transitam na considerou-se o projeto apresentado no Item 3
faixa de R$ 3.000,00 a R$ 4.100,00 por hectare, com o objetivo de remediar um lixão no
podendo passar a custar entre R$ 4.700,00 a R$ município de São José dos Ausentes.
5.650,00 por hectare caso o local seja O custo total de implantação calculado para
remediado. este projeto é de R$ 99.559,54. O custo de
Além destes citados, vale ressaltar o gasto a operação, manutenção e monitoramento no
ser evitado com multas, pois até o momento o primeiro ano, ou seja, durante a remediação é de
município não atendeu às licenças emitidas em R$ 112.972,86. E por fim, o custo de
2005, onde não seguiu com processo de licença monitoramento após a remediação é de R$
de instalação e 2007 com a não execução da 1.772,50 por ano. Desta forma o saldo final em
remediação da área. Portanto a execução deste VPL (Valor Presente Líquido) apresentado para
projeto atende o exigido na licença emitida em este cenário é de R$ 234.955,93.
2017 bem como a legislação ambiental. Cenário 2 – Remoção total dos resíduos,
transporte e destinação para aterro
4.2 Benefício intangíveis licenciado. Para análise deste cenário
considerou-se a remoção total dos resíduos mais
Os benefícios intangíveis podem ser 20% de solo contaminado, transporte e
definidos como sendo aqueles não passíveis de destinação final para um aterro sanitário
quantificação ou valoração, normalmente estão licenciado para recebimento destes resíduos.
associados a benefícios ambientais e sociais, Levou-se em consideração também a utilização
mas que ainda assim apresentam-se como de uma retroescavadeira para a remoção dos
vantagens na execução de um determinado resíduos e preenchimento da vala. O aterro mais
projeto. próximo que está e licenciado para recebimento
No presente projeto tem-se como principais destes resíduos está localizado no município de
benefícios a redução dos impactos ambientais Terra de Areia, distando cerca de 190 km de
futuros e restauração da qualidade das águas São José dos Ausentes.
subterrâneas do local. Estes benefícios trazem Para estimativa da quantidade de resíduos
consequências como melhores condições para o em toneladas considerou-se uma densidade dos
desenvolvimento da flora e fauna local bem a resíduos de 0,7 t/m³. Considerando que
garantia de não propagação da contaminação e conforme diagnóstico realizado, a área possui
garantia da qualidade de vida da comunidade. um volume de resíduos de 1.440 m³ tem-se
Um outro aspecto a se considerar é um 1.008 toneladas de resíduos mais 20% de solo
aumento da credibilidade do município, como contaminado, totalizando 1.209,06 toneladas de
figura pública, pois terá resolvido esse passivo resíduos a serem enviadas. Quanto ao
ambiental além de influenciar positivamente no transporte, considerou-se um máximo de 12
turismo para o local, visto que o município é toneladas por viajem, totalizando 100 viagens
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de ida e volta de São José dos Ausentes até considerando que o empreendimento não tem
Terra de Areia. receitas de valores significativos, apenas a
Em consulta ao aterro para o recebimento possível venda do terreno, mas que ainda assim
dos resíduos em Terra de Areia, o valor é um valor baixo quando comparado aos custos,
informado foi de R$ 95,00 por tonelada. foram analisados somente o saldo de caixa final
Considerando um valor de frete de R$ 950,00 dos cenários.
por frete, tem-se o custo total de implantação Através deste critério, o Cenário 3 seria o
deste cenário seria de R$ 230.841,21. mais viável economicamente, ou seja com
Quanto à contaminação da água subterrânea, menor custo total seguido do Cenário 1. O
propõe-se a utilização da técnica de atenuação Cenário 2 apresentou o maior saldo de caixa
natural monitorada, devendo o empreendimento final, porém não apresentou valores muito
realizar um monitoramento da contaminação. distantes do Cenário 1.
Assim para este cenário considerou-se uma Cabe ressaltar que embora o Cenário 3 seja o
periodicidade trimestral de coleta e análise das mais viável economicamente, este apresenta
águas subterrâneas no primeiro ano e nos anos riscos sociais e ambientais, principalmente no
seguintes anual. Portanto o custo de que tange a saúde pública. Pois este cenário
monitoramento deste cenário é de R$ 1.480,00 considera a remediação através da atenuação
no primeiro ano e R$ 1.190,00 nos anos natural monitorada, a qual possui como
seguintes. Desta forma o saldo final em VPL principal desvantagem a necessidade de
apresentado para este cenário é de R$ demonstração de que o processo é viável e
249.116,44. seguro ao longo do tempo. Além disso o
Cenário 3 – Projeto de remediação de área abastecimento de água do distrito Vila de
degradada sem descontaminação da água Silveira dá-se através de poços tubulares, sendo
subterrânea. Para a análise deste cenário, que segundo o Plano de Saneamento Básico de
desconsiderou-se o tratamento das águas São José dos Ausentes (2013), um desses poços
subterrâneas contaminadas, e propôs-se a está localizado em um nível topográfico mais
utilização do método de atenuação natural baixo que a maior parte do núcleo urbano,
monitorada. podendo portanto ocorrer contaminação dessas
O custo total de implantação calculado para águas por fluxos subterrâneos (fraturas) ou pelo
este cenário é de R$ 83.953,36. O custo de horizonte freático.
operação e monitoramento deste cenário levou Para o Cenário 2 observa-se a mesma
em consideração o envio e transporte de questão abordada com relação ao Cenário 3,
lixiviado para tratamento externo e uma visto que o mesmo não prevê a
periodicidade trimestral de coleta e análises de descontaminação das águas subterrâneas,
água subterrânea no primeiro ano e nos anos podendo portanto afetar a qualidade da água
seguintes uma periodicidade anual. Portanto no subterrânea de áreas adjacentes. Além disso,
primeiro ano este custo é de R$ 44.452,5. E o este foi o cenário que apresentou maior custo de
custo de monitoramento nos anos seguintes é de implantação dentre os três.
R$ 1.350,00 por ano. O Cenário 1, não foi o que apresentou menor
Desta forma o saldo final em VPL custo, porém dentre os propostos é o que
apresentado para este cenário é de R$ apresenta maior viabilidade técnica e ambiental,
146.458,02. pois estabelece menores riscos e condições de
propagação da contaminação gerada pelo lixão
4.4. Considerações finais sobre a análise de além da descontaminação das águas
viabilidade subterrâneas. Economicamente apresentada um
custo de operação maior que o de implantação,
Para comparação dos três cenários propostos, o que já se esperava se tratando de um sistema
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pump and treat, ainda assim não percebe-se solos. Brasília, 2009.
como sendo um projeto inviável de execução.
LIMA, José da Silva. AVALIAÇÃO DA
CONTAMINAÇÃO DO LENÇOL FREÁTICO DO
AGRADECIMENTOS LIXÃO MUNICIPIO DE SÃO PEDRO DA ALDEIA
-RJ. 2003. 87 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de
Agradecimento às professoras Jaqueline Engenharia Ambiental, Universidade do Estado do
Bonatto e Neide Pessin, e à Universidade de Rio de Janeiro – Uerj, Rio de Janeiro, 2003.
Disponível em:
Caxias do Sul. <http://www.peamb.eng.uerj.br/trabalhosconclusao/20
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ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS Municípios do Alto Irani (AMAI), Santa
TÉCNICAS. NBR nº13.895/1997 – Construção de Catarina. Ciência & Saúde Coletiva, Chapecó, p.01-
poços de monitoramento e amostragem. ABNT. Rio 05, 29 out. 2008. Disponível em:
de Janeiro: 1997. <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&p
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ALVES, Carlos Frederico de Castro. Geoquímica das 2017.
águas subterrâneas de um aterro de resíduos sólidos
em Araras, SP. 2012. 102 f. Dissertação (Mestrado) -
Curso de Hidrogeologia e Meio Ambiente, Usp, São
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BRASIL. Lei nº 6.938 de 31 de agosto de 1981. Institui a


Política Nacional de Meio Ambiete; e dá outras
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IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E


ESTATÍSTICA. Disponível em
<http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1
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CETESB - COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE


SANEAMENTO AMBIENTAL. Manual de
Gerenciamento de Áreas Contaminadas. Governo do
Estado de São Paulo – Secretaria do Meio Ambiente.
2ª Edição. São Paulo, SP. 2001.

CPRM – Serviço Geológico do Brasil. Mapa


Hidrogeológico do Rio Grande do Sul. 2005.
Disponível em: <
http://www.cprm.gov.br/publique/media/mapa_hidrog
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EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos (Rio


de Janeiro, RJ). Sistema Brasileiro de classificação de
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Redução da permeabilidade de amostras compactadas de solos


areno-argilosos com a percolação de água de produção de petróleo
devido à dispersão da argila.
Fernando Antonio Leite Vieira Lima
Universidade Federal da Bahia, Salvador, Brasil, fernando.vieira.lima@hotmail.com

Dr. Sandro Lemos Machado,


Universidade Federal da Bahia, Salvador, Brasil, sandrolemosmachado@gmail.com

RESUMO: Ao contrário do que é esperado durante a percolação de um fluido por um meio poroso,
em alguns casos, após a completa saturação, a permeabilidade não se mantém constante. Em
diversas áreas do conhecimento é conhecido o fenômeno da redução da permeabilidade (k) devido à
obstrução por dispersão da argila. Este trabalho utilizou ensaios de coluna realizados em amostras
compactadas de grandes dimensões com diferentes solos e sob diferentes condições de
compactação, mensurando ao longo da percolação a permeabilidade e analisando quimicamente o
fluido percolado coletado, permitindo a verificação da ocorrência de obstrução do meio poroso por
dispersão da argila. Os resultados obtidos indicam a obstrução do meio poroso pode reduzir a
permeabilidade do solo ao fluido em mais de mil vezes e que este fenômeno está relacionado à
concentração de sódio no fluido de percolação e à quantidade de argilo-mineral no solo.

PALAVRAS-CHAVE: Redução de permeabilidade, dispersão de argila, fluido de produção de


petróleo.

1 INTRODUÇÃO Além das causas citadas por estes autores,


também é citada na literatura, principalmente na
Em alguns casos, mesmo após a completa Agronomia e na Engenharia de Petróleo, a
saturação do meio poroso, a sua permeabilidade obstrução por dispersão da argila (GRAY E
(k) ao fluido de interesse não apresenta REX, 1966; REED, 1972; CURTIN ET AL.,
estabilização, sendo que por conta de mudanças 1994, MOGADHASI ET AL., 2004)
nas suas propriedades pode ocorrer tanto a Segundo o “United States Departament of
diminuição quanto o aumento do valor de k. Agriculture” ou U.S.D.A. (1954), o movimento
Tais mudanças podem ser oriundas de da água de chuva ou de irrigação através dos
fenômenos físicos, químicos ou biológicos solos é capaz de causar deterioração estrutural e
(VANDEVIVERE E BAVEYE, 1992C). diminuir a sua permeabilidade. De acordo com
Shackelford e Jefferis (2000) realizaram ensaios Curtin et al. (1994), a irrigação com águas que
com mistura de cimento e bentonita e água e apresentam altas concentrações de sódio (Na)
citam as seguintes causas para a redução da em relação a cátions bivalentes (ou seja, águas
permeabilidade: a) obstrução por deposição de sódicas) pode causar deterioração da estrutura
carbonato de cálcio nos poros do material; b) do solo. Quando as soluções diluídas são
obstrução por deposição de qualquer matéria em introduzidas no solo, a argila pode expandir e
suspensão presente na água e c) obstrução por dispersar e pode ser movida para baixo do perfil
atividades de bactérias e formação de biofilme. na solução percolante. Isto pode preencher
parcialmente ou bloquear poros e canais no solo
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e reduzir ainda mais a permeabilidade. Segundo Mogadhasi et al. (2004), meios


(ROWELL EL AL., 1969) porosos com baixa permeabilidade são mais
Pupisky e Shainberg (1979) realizaram suscetíveis à diminuição de permeabilidade por
ensaios de coluna utilizando uma areia argilo- dano de formação que meios porosos com alta
siltosa da região da costa de Israel e concluíram permeabilidade inicial.
que o expansão da argila não é a causa direta e O presente trabalho apresenta o uso de
principal da diminuição da condutividade ensaios de coluna realizados em amostras
hidráulica em solos poucos sódicos. Por outro compactadas de grandes dimensões com
lado, a dispersão e o movimento das partículas diferentes solos e sob diferentes condições de
de argila que podem então bloquear os poros compactação para avaliar o comportamento
condutores são provavelmente os principais hidráulico durante a percolação do fluido de
mecanismos que controlam a condutividade produção de poços de petróleo. O programa
hidráulica do solo. experimental proposto consistiu em realizar
Na área da produção de petróleo, Mohan et al ensaios de coluna, mensurando ao longo do
(1998) afirmam que a maioria das formações de tempo o k e analisando quimicamente o efluente
arenito com suporte de óleo contém argilas, coletado. As análises químicas do efluente
expansivas ou não. No decurso da perfuração e forneceram parâmetros como concentração de
recuperação de óleo, estas argilas causam uma cátions (Mg, magnésio; Ca, cálcio; K, potássio;
redução na permeabilidade das formações de Na, sódio), potencial de hidrogênio (pH),
arenito consolidadas devido ao contato com condutividade elétrica (CE) que, quando
fluídos de perfuração. comparados com o resultados obtidos para o
Segundo Gray e Rex (1966) a explicação fluido de entrada, permitiram calcular o balanço
para a dispersão das argilas seria que uma certa de cátions e a variação do pH e CE ao longo da
proporção das lâminas de mica de camada mista percolação. Além destas análises, para auxiliar
e cristais de caulinita crescem nas superfícies de o entendimento dos fenômenos estudados,
outros minerais, como o quartzo. Esses cristais foram realizados ensaios de caracterização dos
de argila seriam mantidos somente por forças solos como: caracterização geotécnica,
fracas de van der Waals e pela atração Coulomb determinação da curva de retenção, ensaio FRX
de laços compartilhados por cátions bivalentes, (Fluorecência de Raios-X) e e DRX (Difração
como o cálcio. de Raios-X). Com os resultados obtidos através
A substituição de cátions bivalentes pelos da análise dos fluidos e dos solos contaminados
monovalentes da solução, os quais são foi possível verificar se a hipótese da causa da
fortemente hidrolisáveis, faz com que as redução de k por dispersão da argila estaria
superfícies de silicato tornem-se mutuamente ocorrendo e quais as variáveis importantes que
repulsivas por causa de sua forte carga negativa podem influenciar este fenômeno.
(FOSTER, 1955). Esta repulsão mútua
forneceria as pressões necessárias para dispersar
as partículas e mantê-las em suspensão em um
estado de solução.
Gawel (2006) afirma que a agregação do solo
é destruída pela introdução de grandes
quantidades de íons de sódio na água. As altas
concentrações de sódio causam desequilíbrio na
capacidade de troca de cátions e promovem um
estado de dispersão. Quando a agregação é
destruída pelo sódio, ocorre a dispersão das
partículas do solo.
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2 METODOLOGIA dos ensaios de Difratometria de Raios-X


(DRX). Os dados obtidos nos ensaios DRX
2.1. Caracterização do Solo estão apresentados na Tabela 3 para cada solo:

Os ensaios de caracterização geotécnica do solo Tabela 3. Resultados do Ensaio DRX


foram realizados com o objetivo de determinar a Solo
distribuição granulométrica, o peso específico Composto (%) Solo Solo
das partículas sólidas, ρs, limite de liquidez, Vermelho
Solo Várzea
Piçarra
WL, limite de plasticidade, WP, permitindo a
Quartzo 47,42 20,36 7,25
classificação dos solos conforme o SUCS
(Sistema Unificado De Classificação Dos Clorita 20,42 0 0
Solos) e a NBR 6502 (1995), conforme Caulinita 0 14,21 28,14
apresentado nas Tabelas 1 e 2. Dickita 0 0 22,70
Nacrita 0 0 12,41
Tabela 1. Distribuição Granuométrica
Microlina 10,95 13,20 0
Descrição Ensaio de Granulometria (%)
ρs (g/ cm³) Titanita 6,37 0 0
do Solo P AG AM AF S A
Calcita 9,39 0 0
Solo
9 12 27 26 10 16 2,71 Macfalita 1,26 0 0
Vermelho
Solo Amorfo 21,20 35,20 29,50
1 4 18 28 14 35 2,73
Várzea
Solo Como última etapa da caracterização foram
22 9 11 18 12 28 2,79
Piçarra realizados ensaios de compactação para
determinar a umidade ótima de compactação
Legenda: (wot) e a massa específica seca máxima de
P = Pedregulho; AG = Areia Grossa; AM = Areia compactação (ρdmáx), conforme está
Média; AF = Areia Fina; S = Silte; A = Argila apresentado na Tabela 4 e na Figura 1.

Tabela 4. Energias de Compactação, Umidade Ótima e


Tabela 2. Classificação dos Solos. Peso Específico Seco por Tipo de Solo
Classificação Umidade
Descrição do Solo Descrição Energia de ρdmax
Grav. Ótima
SUCS NBR 6502 (1995) do Solo Compactação (g/cm³)
(%)
Areia argilo-siltosa com Solo Proctor
Solo Vermelho SC 8,92 2,003
pouco pedregulho Vermelho Modificado
Areia argilo-siltosa com
Solo Várzea SC Solo Várzea Proctor Normal 15,58 1,664
vestígios de pedregulho
Areia argilo-siltosa com
Solo Piçarra SC Proctor Normal 15,60 1,780
pedregulho

Legenda: E=9
Solo Piçarra 15,19 1,840
kgf·cm/cm³
SC = Areia Argilosa
Proctor
14,95 1,880
Intermediário
Além dos ensaios de caracterização
geotécnica, foram realizados ensaios de
caracterização mineralógica do solo através dos
ensaios de Fluorescência de Raios-X (FRX) e
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Tabela 5. Concentração de Cátions no Fluido de


Contaminação
K Mg Ca Na
Ensaios
(mg/L) (mg/L) (mg/L) (mg/L)

Vermelho
8,79 51,0 2,4 279
CP1 e CP2

Várzea
(CP1, CP2, 14,8 44,5 14,8 277
CP4)

Piçarra CP1 11,5 10,7 9,2 940

Figura 1: Curvas de Compactação dos Solos


Piçarra CP4 19,1 3,2 430,0 440
2.2. Determinação das Curvas de Retenção

Neste trabalho foram utilizados dois métodos Piçarra CP5 11,5 10,7 9,2 940
experimentais para a determinação/imposição
da sucção nas amostras de solo: a câmara de
pressão e método do ponto de orvalho “WP4 Piçarra CP6 0,3 1,0 13,6 417
Dewpoint Potencial Meter”. As curvas de
retenção obtidas foram modeladas ajustando os
Piçarra CP7
valores experimentais às equações de Van 122,2 0,9 4,5 498
e CP8
Genutchen (1980) e ao modelo Duplo Van
Genutchen (CADUCCI ET AL., 2011).
2.4. Ensaios de Coluna
2.3. Caracterização dos Fluidos
Os Ensaios de Coluna foram realizados em um
Os fluidos utilizados neste trabalho foram aparato composto pelos seguintes componentes:
caracterizados quimicamente, no Laboratório de torre, reservatório, colunas de percolação e
Estudos do Petróleo (Lepetro) determinando-se sondas. Os corpos de prova das colunas de
os seguintes parâmetros: concentração de percolação foram compactados com 40 cm de
cátions (Na, Ca, K e Mg) Condutividade altura e 19,2 cm de diâmetro em cilindros de
Elétrica (CE) e potencial de hidrogênio (pH). PVC. A ilustração do aparato está apresentada
A condutividade elétrica dos fluidos foi na Figura 2:
determinada de acordo com o método 2510 A/B Durante todo o ensaio foi monitorada,
("American Public Health Association", APHA, periodicamente, a altura da coluna do
2012) e variou de 1.780,00 μS/cm a 14.180,00S/cm a 14.180,00 reservatório. Deste modo, foi possível obter
μS/cm a 14.180,00S/cm. tanto a vazão do fluido no reservatório quanto a
O potencial de hidrogênio (pH) dos fluidos carga hidráulica aplicada (no caso dos ensaios
foi determinado de acordo com o método 4500- com pressão, utilizou-se também um
H+B (APHA, 2012) e variou de 5,54 a 8,07. manômetro analógico conectado ao sistema).
Na tabela 5 são apresentadas as Na base da coluna foi colocado um frasco de
concentrações dos cátions dos fluidos de vidro com capacidade de aproximadamente 250
entrada em cada amostra utilizada no estudo. cm³ com uma vedação incipiente através de
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uma tampa de pvc. No momento da coleta, a 2.6. Caracterização do Solo após o Ensaio
amostra de fluido e o frasco de vidro foram
pesados, permitindo a mensuração do volume e Foram realizados ensaios de Fluorescência de
da vazão no intervalo de tempo, e, em seguida, Raio-X (FRX) com o intuito de comparar as
foi colocada um papel-alumínio na tampa e o características do meio poroso antes e depois do
frasco foi fechado com uma tampa rosqueada. O ensaio. Assim, foram extraídas três alíquotas do
papel-alumínio foi utilizado de forma a isolar o topo do corpo de prova.
fluido e a tampa. Após o acondicionamento das
amostras, estas foram mantidas a 5º C até o
momento da caracterização química. As 3 ANÁLISE DOS RESULTADOS
análises foram realizadas com amostras de
aproximadamente 400 cm³. 3.1. Curvas de Retenção

Na tabela 6 são apresentados os parâmetros de


ajuste da curva de retenção para os solos
vermelho e várzea, nos ramos de secagem e
umedecimento e nas Figuras 3 e 4 estão
apresentadas graficamente as curvas.

Tabela 6. Parâmetros da Curva de Retenção pelo Modelo


de Van Genutchen (1980)
Solo Ramo Θsat α m n R²
Várzea Secagem 0,41 0,007 0,20 1,23 0,96
Vermelho Secagem 0,26 0,004 0,21 1,09 0,97
Várzea Umed. 0,38 0,010 0,21 1,26 0,95
Vermelho Umed. 0,25 0,012 0,18 1,22 0,99

Figura 2: Aparato Experimental utilizado para a


realização dos ensaios de coluna

2.5. Caracterização do Fluido Percolado

Com os fluidos percolados coletados foram


realizados os mesmos ensaios de caracterização
anteriormente executados com os fluidos de Figura 3: Curva de Retenção Solo Vermelho
entrada. Em função do pequeno volume obtido
no ensaio do solo vermelho, a determinação da
concentração de cátions ficou comprometida
para este solo.
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45
Modelagem
Umedecimento
40
Pontos
Experimentais
35 Umedecimento
Umidade Volumétrica (%)

Modelagem
30 Secagem
Pontos
25 Experimentais
Secagem
20

15

10

0
0,1 1 10 100 1000 10000 100000 1000000
Sucção (KPa)

Figura 4: Curva de Retenção – Solo Várzea Figura 5: Curvas de Retenção Solo Piçarra

Na modelagem das curvas de retenção do 3.2. Permeabilidade


solo piçarra nas diversas energias de
compactação, as equações de Van Genutchen A tabela 8 apresenta os valores de
(1980) não apresentaram um bom ajuste. Assim, permeabilidade inicial e final obtidos nos
foi adotada uma adaptação do o modelo de Van ensaios de coluna. As figuras 6 a 9 apresentam
Genutchen (1980) para solos com distribuição os resultados obtidos de forma gráfica. Observa-
bimodal de poros (CADUCCI ET AL., 2010). se que apenas para o caso do solo piçarra
Os parâmetros de ajuste obtidos são compactado na energia do Proctor Normal não
apresentados na tabela 7 e as curvas estão houve diminuição da permeabilidade.
representadas graficamente na Figura 5.
Tabela 8. Valores de k inicial e final e razão
Tabela 7. Parâmetros da Curva de Retenção pelo Modelo Corpo de k inicial k final k inicial
Modelo Duplo Van Genutchen Prova (cm/s) (cm/s) / k final
Parâm Proctor E=9 Proctor Vermelho
9,19E-07 2,32E-09 395,27
etro Nromal kgf.cm/cm³ Intermediário CP1
Vermelho
Sec. Umed. Sec. Umed. Sec. Umed. 1,30E-07 5,33E-09 24,27
CP2
Θsatsat 0,36 0,35 0,34 0,33 0,32 0,31 Várzea CP1 9,72E-06 5,46E-07 17,80
αest 0,04 0,11 0,04 0,09 0,025 0,06
Várzea CP2 6,52E-06 5,40E-07 12,08
mest 0,44 0,44 0,44 0,47 0,44 0,50
nest 1,80 1,80 1,80 1,90 1,80 2,00 Várzea CP3 1,21E-06 1,45E-07 8,35

Θsatpmp 0,25 0,23 0,26 0,24 0,26 ,024 Piçarra CP1 1,54E-04 1,71E-04 0,90
a 0,0001 0,00014 0,0001 0,00015 0,0001 0,00015
Piçarra CP8 1,46E-06 6,20E-09 236,06
m 2,00 2,25 2,00 2,18 2,00 2,10
n 0,50 0,56 0,50 0,54 0,50 0,52 Piçarra CP9 2,92E-06 1,66E-08 158,49

R² 0,98 0,95 0,98 0,98 0,98 0,95 Piçarra CP4 5,53E-06 4,90E-09 1130,11

Piçarra CP5 2,19E-07 6,53E-09 33,53

Piçarra CP6 7,41E-06 9,25E-09 806,94


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Figura 6: Variação de k ao longo do tempo – Solo Figura 9: Variação de k ao longo do tempo – Solo Piçarra
Vermelho (Energias Proctor Intermediário e 9 kgf.cm/cm³)

3.3. Verificação da Hipótese de Obstrução dos


Poros por Dispersão da Argila

De forma a melhor avaliar a hipótese de


obstrução dos poros por dispersão da argila,
foram determinadas as concentrações dos
cátions na fonte e no efluente ao longo do
tempo de ensaio (com exceção do solo
vermelho) assim como a composição atômica
do solo por FRX antes e após o ensaio.
Foram analisadas as curvas de redução de
permeabilidade dos ensaios bem como a
variação da concentração relativa (C/C0) dos
cátions nos fluidos coletados. É possível
Figura 7: Variação de k ao longo do tempo – Solo Várzea perceber dos dados experimentais que a redução
de k se concentrou no início da percolação do
contaminante. Também é perceptível que neste
trecho de maior redução, existe uma expulsão
(maior concentração nas amostras efluentes que
no fluido de entrada) dos cátions Mg, Ca e, em
alguns casos, K, o que é um forte indício da
ocorrência de dispersão da argila. Por outro
lado, o aumento de concentração do sódio (Na)
se desenvolve lentamente, o que sugere que este
cátion pode estar sendo absorvido em troca
catiônica. Nas figura 10 a 12, estão apresentadas
as curvas de concentração relativa dos cátions e
a curva de permeabilidade ao longo do volume
de poros percolados para os corpos de prova
CP2 Várzea, CP6 Piçarra e CP8 Piçarra.
Figura 8: Variação de k ao longo do tempo – Solo Piçarra
CP1 (Energia Proctor Normal)
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Comparando os dados apresentados nas


curvas de variação de k e C/C0 dos cátions, é
possível verificar que, para os os solos várzea e
piçarra (Proctor Intermediário e E = 9
kgf.cm/cm³), ainda os valores iniciais de k
sejam semelhantes, o comportamento ao longo
da percolação é distinto. Para o solo várzea
ocorre uma redução de permeabilidade mais
amena, variando de aproximadamente 8 a 18
vezes e valor máximo de C/C0 do cátion
expulso de aproximadamente 20. Por outro
lado, para o solo piçarra a redução é mais
acentuada, variando de aproximadamente 33 a
Figura 10: Variação de k ao longo do tempo e C/C0 dos 1130 vezes e valor máximo de C/C0 do cátion
cátions – Solo Várzea CP2 expulso variando de 30 a 120. Em uma análise
complementar, verifica-se que o fluido de
entrada dos corpos de prova do solo várzea
possui concentração de sódio inferior a dos
fluidos de entrada utilizados no corpos de prova
do solo piçarra. Além disto, baseado nos
resultados do ensaio DRX, é perceptível que a
concentração de argilominerais no solo piçarra
(Caulinita, 28,14%; Dickita, 22,70%; e Nacrita,
12,41%) é maior que no solo várzea (Caulinita,
14,21%), assim, este solo estaria mais propício
à obstrução dos poros por dispersão da argila.
Apresentando comportamento diferente dos
demais ensaios, o único corpo de prova que não
apresentou diminuição na permeabilidade
também não apresentou a expulsão dos cátions
Figura 11: Variação de k ao longo do tempo e C/C0 dos
cátions – Solo Piçarra CP6
Mg, Ca e K. Importante observar que este corpo
de prova apresentou valor de permeabilidade
inicial bastante superior aos demais. As curvas
de concentração relativa dos cátions e a curva
de permeabilidade em relação ao volume de
poros percolados para o CP1 do solo Piçarra
(energia Proctor Normal) está apresentada na
Figura 13.

Figura 12: Variação de k ao longo do tempo e C/C0 dos


cátions – Solo Piçarra CP8
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Tabela 9. Valores de concentração de Alumínio e Silício


antes e após ensaio
Concentração (%)
Solo Amostra
Al Si
Vermelho Original 7,39 33,17
Vermelho CP1 4,82 24,57
Vermelho CP2 5,76 29,55
Várzea Original 8,91 26,97
Várzea CP1 4,05 20,05
Várzea CP2 4,44 20,37
Várzea CP4 1,29 16,35
Figura 13: Variação de k ao longo do tempo e C/C0 dos
cátions – Solo Piçarra CP1 Piçarra Original 15,85 25,50
Piçarra CP1 11,71 23,78
Quanto ao pH e a condutividade elétrica não Piçarra CP4 9,46 22,46
foi possível detectar nenhuma correlação direta Piçarra CP5 13,05 23,35
com a redução de permeabilidade, como é
possível verificar na Figura 14 referente ao CP2 Piçarra CP6 12,06 22,55
do solo Várzea. Piçarra CP8 10,41 21,00
Piçarra CP9 7,68 18,09

Na Figura 15, está apresentada uma


fotografia dos frascos com o fluido percolado
coletado no ensaio do CP2 do solo várzea. É
possível perceber a presença de material fino no
fundo dos últimos frascos coletados, enquanto
nos primeiros frascos o fluido está menos
túrbido e não há finos visíveis.

Figura 14: Variação de k ao longo do tempo e CE e pH

Analisando o resultado dos ensaios FRX, foi


possível verificar que a quantidade de Alumínio
(Al) e Silício (Si) no topo do corpo de prova
reduziu após os ensaios, conforme dados
apresentados na Tabela 9. A redução destes
elementos se apresentou mais severa nos Figura 15: Fotografia de frascos com fluidos percolado
ensaios onde houve a redução de coletado
permeabilidade que no ensaio onde a
permeabilidade se manteve aproximadamente
constante.
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Associação Brasileira De Normas Técnicas (ABNT):


4 CONCLUSÕES NBR 6502 – Rochas e solos. Rio de Janeiro, ABNT
1995.
Carducci, C. E.; Oliveira, G. C.; Severiano, E. C.;
A partir das atividades realizadas neste trabalho Zeviani, W. M. Modelagem da curva de retenção de
foi obter as seguintes conclusões: água de Latossolos utilizando a equação duplo van
A redução da permeabilidade ao longo da Genuchten. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.
percolação da água de produção do petróleo por 35, n. 1, p. 77-86, 2011.
Curtin, D., Steppuhn, H. and Selles, F. 1994. Clay
corpos de prova de solos areno-argilosos dispersion in relation to sodicity, electrolyte
compactados se manifestou como um fenômeno concentration and mechanical effects. Soil Sci. Soc.
frequente (12 de 13 experimentos). Am. J. In Press.
Um fator importante para que o fenômeno da Foster, M. D. (1955) Relation between composition and
permeabilidade aconteça ao longo da percolação swelling in clays: Clays and Clay Minerals, Prec. 3rd
Conf., Natl. Acad. Sci.--Natl. Res. Council Pub. 395,
é que a permeabilidade inicial baixa. Caso o pp. 205-220.
contrário é provável que o fluxo seja priorizado Gawel, L. J. (2006) A Guide for Remediation of
pelos macroporos e que a obstrução não ocorra. Salt/Hydrocarbon Impacted Soil: North Dakota
As hipóteses de redução de permeabilidade Industrial Commission.; Oil and Gas Research
por dispersão da argila apresentaram fortes Council (N.D.)
Gray, D. H. and Rex, R. W. (1966) Formation damage in
indícios de ocorrência.
sandstones caused by clay dispersion and migration:
Provavelmente, a dispersão das argilas é Clays and Clay Minerals 14, 355-566.
proporcional à concentração de argilominerais Moghadasi, J., Muller-Steinhagen, H., Jamialahmadi, M.,
no solo e à concentração de sódio no fluido de Sharif, A., 2004. Theoretical and experimental study
percolação. of particle movement and deposition in porous media
during water injection. Journal of Petroleum Science
O entendimento do comportamento dos solos
and Engineering 43, 163–181
areno-argilosos quando percolados por águas Mohan et al., 1998 K. Krishna Mohan, Marion G. Reed,
com altas concentrações de sódio pode propiciar H. Scott Fogler Formation damage in smectitic
dimensionamentos de obras mais econômicas a sandstones by high ionic strength brines J. Colloids
partir da escolha correta do material bem como Surf., 154 (1998), pp. 249-257
as condições de compactação. Pupisky, H. And Shainberg, I., 1979. Salt effects on the
hydraulic conductivity of a sandy soil. Soil Sci. Soc.
Am. Proc., 43: 429-433.
Reed, M. G. (t972) Stabilization of formation clays with
hydroxy-aluminum solutions: J. Petrol. Techn. 253,
AGRADECIMENTOS 860-864.
Rowell, D.L.; Payne, D.; Ahmad, N., 1969. The effect of
the concentration and movement of solution on the
Ao laboratório de Geotecnia Ambiental da swelling, dispersion and movement of clay in saline
Universidade Federal da Bahia. and alkali soils. J. Soil Sci., 20: 176–188.
Ao laboratório de solos da Universidade Shackelford, C. D., Jefferis, S. A. Geoenvironmental
Católica de salvador. engineering for in situ remediation. In: GEOENG.
Á Petróleo Brasileiro S.A. Anais Eletrônico. Melbourne, Australia, 2000.
U.S. Salinity Laboratory Staff. 1954. L. A. Richards (ed.)
Diagnosis and improvement of saline and alkali soils.
Agric. Handbook nº 60, USDA U.S Goverment
Printing Office, Washington, D.C.
van Genutchen, M. Th. (1980). A closed-from equation
REFERÊNCIAS for predicting the hydraulic condutivity of unsaturated
soils, Soil Science Society of America Journal, Vol.
44, p. 892-898.
American Public Health Association (APHA) (2012) Vandevivere, P. & Baveye, P. 1992c Relationship
Standard method for examination of water and between transport of bacteria and their clogging
wastewater, 22st edn. APHA, AWWA, WPCF, efficiency in sand columns. Applied and
Washington Environmental Microbiology 58, 2523–2530.
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Remediação de um solo argiloso contaminado com cromo


hexavalente, utilizando nanopartículas de ferro zero valente
Cleomar Reginatto
Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Brasil, cleomarreginatto@hotmail.com

Iziquiel Cecchin
Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Brasil iziquielc@gmail.com

Marcos Mognon
Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Brasil, marcosmonhon@hotmail.com

karla Salvagni Heineck


Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, karla@ppgec.ufrgs.br

Antonio Thomé
Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Brasil, thome@upf.br

Krishna R. Reddy
University of Illinois at Chicago, Chicago, USA, kreddy@uic.edu

RESUMO: Os nanomateriais em especial as nanopartículas de ferro zero valente (nFeZ) tem sido
muito utilizadas para remediação de áreas contaminadas, em função de sua alta reatividade e baixa
toxicidade. Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar a eficiência na redução do cromo
hexavalente, testando diferentes relações de nFeZ em um solo residual de basalto. O solo
deformado, foi contaminado em laboratório com cromo hexavalente, (800 mg/kg em peso seco).
Diferentes relações de nano ferro para o contaminante (mg de nFez para cada mg de contaminante)
foram testadas. As amostras de solo contaminado, com a suspensão de nanopartículas, foram
homogeneizadas manualmente e analisadas após 24 horas. Os métodos USEPA 3060A e USEPA
7196a, foram utilizados para análise do teor residual do contaminate. Os resultados mostraram que
para a maior relação, se obteve uma eficiência de 98%. Assim, o uso de nanopartículas de ferro é
eficiente para a remediação ex situ de um solo argiloso contaminado com cromo (VI).

PALAVRAS-CHAVE: Nanoferro, Remediação, Solo Argiloso, Cromo Hexavalente.

1 INTRODUÇÃO Nos Estados Unidos, estima-se que existam


aproximadamente 350 mil áreas contaminadas e
O problema dos solos contaminados tem gerado que serão necessários mais de 30 anos para
grande preocupação dos órgãos ambientais conseguir realizar a remediação destes locais.
devido à existência de grande quantidade de Os investimentos em remediação necessários
locais poluídos, principalmente em áreas para descontaminar estes locais serão de
urbanas e industrializadas (HU et al., 2006). aproximadamente 8,3 bilhões de dólares/ano
No mundo estima-se, que existam em torno (USEPA, 2004).
de 20 milhões de hectares de solo contaminado Na Europa, mais de 342 mil áreas
somente por metais (LI et al.,2018) contaminadas foram identificadas e estima-se
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que existam 2,5 milhões de sítios no tratamento de couro. Outros processos


potencialmente contaminados. Para industriais que utilizam cromo podem ainda ser
descontaminação das áreas já identificadas, o citados, tais como o processo de produção de
custo previsto é de, aproximadamente, 6 bilhões circuitos impressos, o processo de preservação
de Euros/ano (PANAGOS et al., 2013). da madeira e em indústrias de alvejantes e
No Brasil, atualmente é desconhecido o detergentes (RUOTOLO, 2003; WENJUN et
número total de áreas contaminadas. Mas al., 2013; PADMAVATHY et al., 2016). Já o
esforços vêm sendo realizados pelos órgãos de cromo (III) é muito menos móvel e não tóxico
meio ambiente para obter esse quantitativo. Em (PADMAVATHY et al., 2016).
maio de 2002, a Companhia de Tecnologia de Tecnologias que fazem uso de materiais em
Saneamento Ambiental de São Paulo escala nanométrica para remedição de áreas
(CETESB) divulgou pela primeira vez a lista de contaminadas vêm sendo rapidamente
áreas contaminadas no Estado de SP, desenvolvidas nos últimos anos, principalmente
registrando a existência de 255 áreas na América do Norte e Europa (USEPA, 2012;
contaminadas. Esse registro vem sendo NANOREM, 2013). Os estudos vêm sendo
constantemente atualizado e, em 2017, atingiu o realizados, na sua grande maioria, em escala de
número de 5942 áreas contaminadas (CETESB, bancada. No entanto, alguns nanomateriais
2018). A grande maioria das áreas (NM) já estão sendo aplicados em escala de
contaminadas refere-se à contaminação por campo (KARN et at. 2011; MUELLER et al.,
postos de combustível, mostrando a ação que os 2012; CECCHIN et al., 2017).
órgãos ambientais vêm tendo nesta área. Karn et al., (2011) afirma que a remediação
No entanto, com a aprovação da resolução por nanomateriais tem o potencial de reduzir os
CONAMA 420 de 28 de dezembro de 2009, a custos de projetos de grandes áreas e, através de
qual dispõe sobre critérios e valores tratamento in situ, reduzir o tempo de
orientadores de qualidade de solo quanto à descontaminação, dispensar a necessidade de
presença de substâncias químicas e estabelece tratamento e disposição de solo contaminado e
diretrizes para o gerenciamento ambiental de reduzir a concentração do contaminante a
áreas contaminadas por decorrência de valores próximos a zero (REDDY et al.,2011).
atividades antrópicas, acredita-se que o cenário Além disso essa tecnologia pode ser aplicada
de diagnóstico de áreas contaminadas e a tanto para contaminantes orgânicos e
aplicação de técnicas de remediação terão inorgânicos (THOMÉ et al., 2015).
mudanças significativas no Brasil (THOMÉ et Dessa forma o objetivo deste trabalho foi
al., 2015). avaliar a remediação de um solo argiloso
Entre os diversos contaminantes proveniente contaminado com cromo hexavalente,
dos processos industriais, os resíduos contendo utilizando nanopartículas de ferro zero valente.
o cromo hexavalente, estão relacionados a
diversos danos clínicos tais como câncer no
pulmão, irritação e ulceração nasal, reações de 2 METODOLOGIA
hiper-sensibilidade e dermatite por contato,
além de possuir uma elevada mobilidade no 2.1 Solo e local de estudo
meio. (COTTON e WILKINSON, 1999;
MATOS, 2006). Os produtos químicos a base A pesquisa foi realizada no Laboratório de
de cromo (VI) corresponde a aproximadamente Geotecnia Ambiental, situado no Centro de
10 a 15% do cromo utilizado. As aplicações Tecnologia (CETEC) da Universidade de Passo
encontram-se principalmente em Fundo, no município de Passo Fundo, RS.
galvanoplastias (que utilizam H2Cr2O7), Foi utilizado solo deformado para os
indústrias para produção de tintas e corantes e experimentos, que foi coletado a a 1,2 metros de
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profundidade (horizonte B) em uma trincheira foi contaminado em laboratório a partir de uma


aberta no solo do campo experimental de solução comercial de cromo hexavalente. O
Geotecnia. A Figura 1, apresenta o perfil valor de contaminação foi de 800mg/Kg em
granulométrico do solo de estudo. base seca. Esse valor corresponde a uma
contaminação de 2 vezes o valor de intervenção
para áreas industriais segundo a resolução
CONAMA 420 (2009).

2.3 Nanopartículas de ferro zero valente


(nFeZ)

Para a realização dos ensaios de remediação, foi


adquirido o nano ferro em pó da empresa
NANOIRON s.r , com o nome comercial de
Nanofer Star. Seguindo as orientações do
fabricante, o mesmo foi ativado com água e
batendo em um dispersor com alta rotação
Figura 1 - Perfil granulométrico do solo de estudo (liquidificador industrial 800W) utilizando uma
relação de 100g de nano ferro para 400 ml de
O solo, é derivado de rocha basáltica e água, por 10 min, formando assim uma
apresenta como principais características: suspensão com 250 g/L (NANOREN, 2013).
Umidade natural: 34%, Peso Específico real dos Segundo o fabricante, o nFeZ utilizado
grãos: 26,7 kN/m³, Limite de liquidez: 53%, possui uma área superficial de 20-25m²/g, e
Limite de plasticidade: 42%, Grau de saturação: constituição em massa (%), de 65 a 80 de Ferro
75,7%, pH em H2O: 5,4, Matéria Orgânica: (fe) e 20 a 30 de Magnetita (Fe3O4). A Figura 2
<0,8% e apresenta também elevada apresenta o equipamento utilizado para a
percentagem de argila (68%). ativação e a suspensão de nano ferro ativada.
A classificação pedológica é de um A partir do nano ferro ativado, foram
Latossolo Vermelho Distrófico Húmico realizadas as diluições necessárias e
(unidade Passo Fundo). Do ponto de vista posteriormente os ensaios.
geotécnico, é classificado como CH, ou argila
de alta plasticidade (Streck , 2008).
O solo apresenta pH ácido, alto teor de
argila, baixo teor de matéria orgânica e baixa
capacidade de troca catiônica (CTC), típica de
solos com predominância do argilo-mineral
caulinita (Streck , 2008).
Para os ensaios o solo foi previamente
peneirado (#10), para evitar que partículas
maiores, ou outros resíduos, pudessem interferir
nos ensaios.

2.2 Contaminante Figura 2. Suspensão de nano ferro após ativada

O contaminante utilizado nos experimentos foi 2.4 Montagem do experimento em bancada


o cromo hexavalente (Cr VI), em função da sua
grande toxicidade e mobilidade no meio. O solo Foram testadas diferentes concentrações de
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nano ferro, para se chegar ao valor permitido 2.5 Análise do teor residual do contaminante
para solos de uso agrícola, conforme preconiza
a resolução 420, CONAMA (2009). As análises da quantidade de cromo hexavalente
As relações de nano ferro utilizadas foram nas amostras foram realizadas, através do
baseadas inicialmente em trabalhos que processo de extração do solo e posterior análise
avaliaram o seu uso para remediação de escórias colorimétrica do líquido por absorção visível
e solos contaminados (CAO E ZHANG, 2006). através da difenilcarbazida (C13H14N4O),
Nessa etapa, os ensaios foram realizados com o também chamada DFC.
solo desestruturado, para maior A extração do contaminante no solo seguiu a
homogeneização do contaminante e do agente norma USEPA 3060a (1996), em que, se realiza
redutor, pois a redução ocorre por uma reação uma digestão básica do solo, para extrair o
de contato entre eles. cromo hexavalente e evitar que ele se reduza em
As relações testadas de nano ferro para função do pH da solução, e assim preparar a
cromo hexavalente foram de: solução para a análise colorimétrica.
-1000mg de nFeZ para cada 11 mg de cromo; Na análise colorimétrica do cromo (VI),
-1000mg de nFeZ para cada 23 mg de cromo; foram seguidos os procedimentos descritos pela
-1000mg de nFeZ para cada 35 mg de cromo; USEPA 7196a (1992). Nessa análise, ocorre a
-1000mg de nFeZ para cada 70 mg de cromo; reação entre o cromato ou o dicromato e a DFC
-1000mg de nFeZ para cada 140 mg de cromo; (H4L), resulta na formação de um quelato de
Todos os ensaios, foram realizadas com 100 coloração violeta intensa ([Cr(HL)2]+). Esse
g de solo, com a umidade natural de 34%, quelato é constituído em cromo (III) e 1,5-
montados em Beckers de 250ml. Todas as difenilcarbazona (H2L).
relações foram realizadas em triplicata, para Após a reação e geração da cor, foi realizada
melhor confiabilidade nos resultados. a leitura em espectrofotômetro visível com
Após a contaminação do solo e comprimento de onda de 540 nm. Os valores de
homogeneização, o mesmo ficou parado por 24 absorbância lidos, foram então jogados em uma
horas e após esse tempo se colocou as diferentes curva padrão previamente lida, para se chegar
relações das nanopartículas de ferro, se aos valores de concentração do Cromo
homogeneizou novamente e após 24 horas em hexavalente nas amostras. A curva foi montada
repouso se fez as análises do contaminante com a mesma solução contaminante utilizada
residual no solo. nos demais ensaios, sendo representativa a
A Figura 3 demonstra um exemplo dos mesma com significância de 99%.
experimentos montados. Para melhor validação dos dados de todos os
ensaios e mais confiabilidade nos resultados,
fez-se a análise estatística dos mesmos. Os
resultados foram analisados a partir da análise
de variância (ANOVA) e pelo teste t de Tukey,
com nível de confiança de 95% (P < 0,05), para
comparar as médias entre os tratamentos, sendo
utilizado o software STATISTICA 5.5 (1999).

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Figura 3. Ensaio de redução de cromo (VI), em bancada Os resultados de redução do cromo hexavalente
para cada relação testada, estão apresentados na
Figura 4.
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Figura 4. Eficiência na Redução do cromo (VI) no solo

Pode-se observar que a redução do ocorre a partir do contato com as


contaminante, teve relação direta com a nanopartículas, sendo que no solo é necessária
quantidade de nanopartículas de ferro uma alta relação para se conseguir bons
adicionadas no meio, ou seja quanto mais resultados.
nanopartículas de ferro foram necessárias para Como o ferro de valência zero, é muito
reduzir um determinado valor de contaminante, reativo ele acaba se oxidando para Fe+2 ou Fe+3
maior demostrou a sua eficiência, decrescendo doando seus elétrons para o cromo hexavalente,
quanto menor foi a quantidade de nanoferro que por sua vez irá se reduzir para cromo
adicionado. Na relação mais alta de nano ferro trivalente, podendo formar um oxyhidróxido de
(1000 mg/11 mg), o valor da redução chegou a cromo reduzido e ferro oxidado.
98%. Na relação de 43,5 (1000/23), já se Segundo estudos de Wang et al.,(2010), a
consegue reduzir o contaminante ficando dentro concentração de cromo hexavalente no solo
do que estabelece a resolução Conama 420, para também influência na eficiência da remediação.
uma área agrícola que é de 150 mg/Kg, Quanto maior for o valor de concentração do
chegando a uma eficiência de 87%. contaminante no solo, maior serão os pontos de
A análise de variância dos resultados, com contato necessários para que ocorra a reação,
95% de certeza, demonstra que existe diferença porém conforme o Fe° vai sendo oxidado e
estatística entre os valores encontrados a partir causando a redução do contaminante, maior vai
de um valor P <10-6, sendo assim se comprova, ser a crosta de óxido formada, o que vai
que o teor de nanopartículas no meio é diminuir a eficiência da nanopartícula. Além
totalmente influente nos resultados encontrados disso o próprio cromo (VI) pode ser adsorvido
de redução do contaminante. na crosta de oxyhidróxido formado pelo Cr(III)
Se observa que além de uma baixa dispersão e o Fe (III), aumentando a crosta sobre a
nos valores, todas as relações utilizadas nanopartícula e diminuindo a eficiência
apresentam diferenças entre si. Como no ensaio (O’CARROL et al., 2013).
de bancada houve a completa homogeneização
do solo contaminado com o agente redutor, o
contato entre os dois foi facilitado, o que se
justifica nos valores encontrados.
A redução do cromo (VI) para Cromo III
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4 CONCLUSÕES 165-178.
Liu, L.; Wei, L.;Weiping, S.;Mingxin, G. (2018).
Remediation techniques for heavy metal-contaminated
As nanopartículas de ferro zero valente (nFeZ) soils: Principles and applicability. Science of The
são eficiêntes para reduzir o cromo hexavalente, Total Environment, Vol. 633, p. 206-219.
para o cromo trivalente. O teor de Matos, Wladiana O. (2006). Estudo de procedimentos
nanopartículas influência nos valores de analíticos para determinação de Cr(III) e Cr(VI) em
redução do contaminante, formando um amostras Sólidas. Dissertação (programa de pós-
graduação em química). Universidade Federal de São
oxyhidróxido de cromo trivalente, muito menos Carlos, São Paulo-SP.
móvel e muito menos tóxico. Para o solo as Mueller, N.C., Braun, J., Bruns, J., Cerník, M., Rissing,
quantidades do agente redutor possívelmente P., Rickerby, D., Nowack, B. (2012) - Application of
são maiores do que em meios liquidos, pois a nanoscale zero valent iron (nZVI) for groundwater
redução do contaminante ocorre pelo contato do remediation in Europe. Environ. Sci. Pollut. vol. 19,
p. 550-558.
agente redutor e o cromo hexavalente, e no NANOREM (2013). Nanotechnological Remediation
meio poroso a sua mobilidade pode ser mais Processes from Lab Scale to End User Applications
limitada. for the Restoration of a Clean Environment.
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Resistência ao Cisalhamento de Solo Arenoso com Fibras de


Politereftalato de Etileno Reciclado
Tayane Westermann Lopes Castilho
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mequita Filho”, Bauru, Brasil, tayanewest@uol.com.br

Roger Augusto Rodrigues


Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mequita Filho”, Bauru, Brasil, roger_ar@feb.unesp.br

RESUMO: A análise da influência da inclusão de fibras recicladas extraídas de garrafas constituídas


de politereftalato de etileno (PET) na resistência ao cisalhamento de um solo arenoso visa oferecer
uma alternativa tecnicamente viável para a melhoria do solo e que prioriza o reuso de material de
difícil degradação que prejudica o meio ambiente. Para tanto foram realizados ensaios de
compressão simples e cisalhamento direto em amostras de solos com e sem fibras em diferentes
comprimentos e teores, e em dois graus de compactação. Observou-se o acréscimo no intercepto de
coesão, e um decréscimo no ângulo de atrito interno. Esses resultados aplicados em casos
hipotéticos de estabilidade de taludes de aterros, com diferentes combinações de alturas e
inclinações, demonstram o efeito das fibras no aumento do fator de segurança. O trabalho colabora
para preservação ambiental, mas não só, pois promove ainda benefícios sociais e econômicos.

PALAVRAS-CHAVE: Solos com Fibras, Resistência ao Cisalhamento, Politereftalato de Etileno.

1 INTRODUÇÃO exigências de projeto, tendo entre as principais


técnicas para a melhoria de suas propriedades a
O sistema econômico atual é baseado na inclusão de elementos resistentes.
produção e consumo em massa, e um dos Na geotécnica moderna, a utilização do
grandes problemas relacionado a este consumo reforço planar vem crescendo e ganhando
é a administração dos resíduos gerados. A busca espaço, como o uso de tiras de metal e
por alternativas que priorizam o reuso de geossintéticos, muito provavelmente devido ao
materiais de difícil degradação que prejudicam avanço das indústrias químicas, consagração da
o ambiente em seu ciclo de vida, se torna uma utilização de materiais poliméricos em obras de
grande aliada para a diminuição dos impactos reforços e diversas vantagens como economia,
ambientais. segurança, praticidade e menores volumes de
Dentre os produtos de difícil degradação, as solo. No entanto, o reforço de solo com fibras
garrafas de politereftalato de etileno (PET) têm poliméricas discretas ainda é uma técnica
sido a grande preocupação dos ambientalistas, relativamente nova em projetos geotécnicos,
com projeções indicando crescimento do com metodologias de dosagem escassas, ainda
consumo. No Brasil, a indústria recicladora é mais as advindas de resíduos sólidos unrbanos,
economicamente viável, sustentável e funcional, não existindo padrões científicos ou técnicas
gerando impostos, empregos, renda e todos os especializadas para projetos de campo real.
demais benefícios de uma indústria de base As primeiras tentativas de descrever o papel
sólida (ABIPET, 2013; Santos, 2015). das fibras no aumento da resistência do solo
Simultaneamente, tem-se que o solo é um focaram a contribuição de uma única fibra para
material complexo e variável, sendo comum a resistência ao cisalhamento ao longo de uma
que não preencha total ou parcialmente as superfície predeterminada (e.g., Wu, 1976;
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Waldron, 1977). Evidências experimentais


foram reunidas mais tarde para justificar essa
abordagem (e.g., Gray & Ohashi, 1983; Maher
& Gray, 1990). Diversos trabalhos têm utilizado
ensaios uniaxiais, de cisalhamento direto e
triaxiais, e muitos dos resultados demonstraram
a eficácia do reforço de fibras (e.g., Al-Refeai,
1986, Ranjan, Vasan e Charan, 1996, Santoni,
Tingle e Webster, 2001), mas poucas
ferramentas preditivas foram desenvolvidas.
As inclusões polímericas distribuídas
Figura 1. Etapas da preparação das fibras PET.
aleatoriamente, tais como fibras de politeftalato
de etileno e polipropileno em fios, incorporados
2.1 Programa de Testes
nos solos, melhoram o seu comportamento
mecânico, conforme Trindade et al. (2006);
A caracterização das amostras de solo foi
Santos, Consoli e Baudet (2010); Botero, Ossa,
realizada através de ensaios de granulometria
Sherwell e Shelley (2015); Festugato, Menger,
seguindo as recomendações da ABNT NBR
Benezra, Kipper e Consoli, (2016). As fibras
7181/1984, limites de consistência conforme a
captam e redistribuem as cargas através de sua
NBR 6459/1984 (limite de liquidez) e NBR
resistência à tração, mobilizando uma massa
7180/1984 (limite de plasticidade),
maior de solo e, em seguida, melhorando a
compactação de acordo com as NBR 6457/2016
resposta mecânica do material.
e 7182/2016 e massa específica dos sólidos
Diante desse contexto, este trabalho
segundo a NBR 6508/1984.
apresenta uma análise da influência da inclusão
Para a avaliação da resistência não confinada
de fibras recicladas extraídas de garrafas
do solo com e sem fibras foram ensaiados
constituídas de PET na resistência ao
corpos de prova (CPs) moldados em três
cisalhamento de solo arenoso.
camadas, por compactação estática, no interior
de um molde cilíndrico com diâmetro de 5cm e
altura de 10cm, com os parâmetros ótimos
2 MATERIAIS E MÉTODOS
obtidos dos ensaios de compactação Proctor
normal do solo sem fibras.
2.1 Material Testado
A quantidade de fibras adicionada ao solo foi
determinada em relação à massa de solo seco,
As amostras de solo arenoso foram coletadas no
dada em porcentagens: 0; 0,25; 0,5; 0,75; 1,0;
campo experimental da Universidade Estadual
1,5 e 2%. E o peso de água, calculado em
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” UNESP,
relação ao peso total da mistura seca, solo mais
Campus de Bauru, município do centro-oeste do
fibra, para atingir a umidade ótima.
estado de São Paulo, Brasil, de coordenadas
A compressão do CP foi realizada
22º21'6.03''S; 49º01'57.68''O.
controlando a força aplicada à amostra e as
As fibras provêm de garrafas de dois litros de
deformações resultantes, até que se
PET da marca Coca-Cola® com espessuras
ultrapassasse o ponto máximo da curva tensão
médias de 0,2mm. Antes de serem cortadas nos
vs. deformação, isto é, até que fosse bem
comprimentos de interesse 10, 15, 20 e 30mm,
definida a ruptura do CP. Sendo ensaiados três
as garrafas foram higienizadas em água
CPs para cada combinação comprimento - teor
corrente, secas e passadas por um filetador,
de fibra, bem como para o solo sem fibras, a fim
facilitando sua transformação em fios de largura
de calular um valor médio, totalizando 75
1,5mm, conforme Figura 1.
ensaios.
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Os ensaios de cisalhamento direto foram 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO


realizados em amostras de solo arenoso sem
fibras, com graus de compactação (GC) 100% e 3.1 Caracterização do solo
95%, bem como para respectivas misturas com
a combinação, comprimento - teor de fibra, As dimensões das partículas compreendidas
responsável pelo maior aumento de resistência a entre determinados limites convencionais,
compressão simples, a fim de comparação. permitem designar a amostra do solo estudado
Ou seja, 8 envoltórias, uma para cada como uma areia média a fina pouco argilosa
combinação, sendo realizados 4 ensaios por marrom avermelhada, de acordo com a
envoltória, com cargas de 1, 2, 4 e 8kg, e mais 2 classificação adotada pela Associação Brasileira
para conferência com cargas aleatórias, logo, 24 de Normas Técnicas ABNT/ NBR 6502/95.
ensaios. As frações granulométricas, os limites de
Na moldagem dos corpos de prova adotou-se consistência, o valor de massa específica seca
a compactação estática, na qual um êmbolo máxima e dos sólidos, o ponto ótimo de
metálico personalizado é acoplado ao mesmo umidade e os índice de vazios e grau de
equipamento de compressão simples e saturação na compactação do solo estão
introduzido dentro do molde metálico do ensaio apresentados na Tabela 1.
de cisalhamento direto a uma velocidade
constante, compactando a quantidade de solo, Tabela 1. Propriedades do solo estudado.
fibra e água previamente calculada, pesada com Parâmetro Unidade Solo
Argila % 14,0
resolução de 0,01gf e homogeneizada, de forma Silte % 5,8
a obter a massa específica seca máxima e Areia % 80,2
umidade ótima conforme grau de compactação. Limite de liquidez % 15,5
Três leituras são tomadas durante o ensaio, Limite de plasticidade % -
esquematizado na Figura 2: deslocamento Não
Índice de Plasticidade -
Plástico
horizontal (δH), força cisalhante aplicada (Ft) e Massa específica seca máxima g/cm3 1,950
deslocamento vertical (δV), o qual fornecerá a Massa específica dos sólidos g/cm3 2,649
variação de volume do corpo de prova. Teor de umidade ótimo % 10,6
Dividindo-se a força cisalhante pela área do Índice de vazios na compactação - 0,358
corpo de prova (normalmente admitida como Grau de Saturação na compactação % 78,4
constante ao longo do ensaio) tem-se a tensão
cisalhante (τ), em cada instante do ensaio. As 3.2 Ensaio de Compressão Simples
deformações volumétricas são fornecidas pela
variação de altura do corpo de prova em relação Os valores médios de tensão de ruptura entre os
à altura inicial desse. três ensaios para cada combinação comprimento
- teor de fibras para o solo estudado estão
expostos na Tabela 2 e Figura 3.

Tabela 2. Resistência a compressão simples média (kPa).


0 0,25 0,50 0,75 1,00 1,50 2,00
% % % % % % %
10
56,7 73,7 79,8 86,4 90,5 98,0 91,9
mm
15
56,7 78,9 86,3 87,8 96,0 100,7 98,0
mm
20
56,7 81,1 93,2 99,1 105,8 109,3 103,6
mm
30
56,7 84,3 88,8 95,9 99,7 102,1 99,5
Figura 2. Esquema do Ensaio de Cisalhamento direto. mm
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Figura 4. Tensão Cisalhante vs. Deslocamento Horizontal


dos ensaios de cisalhamento direto do solo estudado com
Figura 3. Tensões de ruptura médias a compressão o teor de 1,5% de fibras PET de 20mm (S+F) e sem
simples (kPa) do solo estudado com e sem fibras fibras (S) com GC 100%.
constituídas de PET com diferentes combinações teor (%)
e comprimento de fibra (mm).

Assim, é possível visualizar que


comprimento de fibra L=20mm com teor de
1,5% em relação a massa de solo seco conduz
ao maior valor de resistência não confinada para
o solo estudado, representando um aumento
percentual da tensão de ruptura de 92,8% em
relação aos solos sem reforço.

3.3 Ensaio de Cisalhamento Direto

Os resultados gráficos dos ensaios de


cisalhamento direto, Tensão Cisalhante (τ) vs.
Deslocamento Horizontal (δH) e Variação
Volumétrica (ΔV) vs. Deslocamento Horizontal
(δH), do solo arenoso estudado com 1,5% PET
20mm (S + F) e sem fibras (S) com GC 100%
estão apresentados nas Figuras 4 e 5 Figura 5. Variação Volumétrica vs. Deslocamento
respectivamente e para GC 95% nas Figuras 6 e Horizontal dos ensaios de cisalhamento direto do solo
estudado com o teor de 1,5% de fibras PET de 20mm
7.
(S+F) e sem fibras (S) com GC 100%.
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aumentar a deformação (ruptura frágil) do que


com GC 95% (ruptura plástica).
Para tensões normais mais baixas,
ocorre o fenômeno de dilatância, maiores no
solo com fibras do que no sem, já para as
tensões confinantes mais altas, a tendência é de
diminuição de volume, sendo essa mais efetiva
para o GC 95% que no GC 100%.
Adotam-se como ruptura do solo os pontos
máximos das curvas de Tensão Cisalhante vs.
Deslocamento Horizontal, que conjugados com
as tensões normais (σ) correspondentes,
permitem a definição de pontos num diagrama
σxτ, Figura 8, o qual fornece os parâmetros de
resistência ao cisalhamento: coesão e ângulo de
Figura 6. Tensão Cisalhante vs. Deslocamento Horizontal
atrito.
dos ensaios de cisalhamento direto do solo estudado com
o teor de 1,5% de fibras PET de 20mm (S+F) e sem A análise dos parâmetros de resistência dos
fibras (S) com GC 95%. solos com 1,5% de fibras de 20mm e sem
fibras, ângulo de atrito interno (ϕ), e intercepto
coesivo (c), Tabela 3, definidos através das
envoltórias de ruptura, após ajuste linear dos
pontos (σ, τmáx), representados no diagrama
σxτ, revelam o aumento de 66,4% na coesão de
intercepto para o solo arenoso reforçado com
grau de compactação 100%, e de 55,5% com
grau de 95%, e redução de 3,5% no ângulo de
atrito interno com grau de 100% e de 1,7% com
grau de 95%.

Tabela 3. Parâmetros de resistência obtidos dos ensaios


de cisalhamento direto e suas variações.
Solo Arenoso
Grau de compactação GC (%) 100 95
Fbras PET 1,5% 20mm Sem Com Sem Com
Coesão c (kPa) 11,7 19,5 6,2 9,7
Variação de c (kPa) +7,8 +3,5
Variação de c (%) +66,4 +55,5
Ângulo de atrito interno ϕ (°) 31,4 30,3 31,9 31,3
Figura 7. Variação Volumétrica vs. Deslocamento Variação de ϕ (°) -1,1 -0,6
Horizontal dos ensaios de cisalhamento direto do solo Variação de ϕ (%) -3,5 -1.7
estudado com o teor de 1,5% de fibras PET de 20mm
(S+F) e sem fibras (S) com GC 95%.
Os resultados obtidos foram aplicados em
cálculos hipotéticos de estabilidade de um
Para o solo estudado com e sem fibras, talude de aterro pelo método de Equilíbrio
com GC 100%, depois de atingir o valor Limite (MEL), Bishop Simplificado, a fim de
máximo da tensão cisalhante (τmáx), a quantificar a influência dos parâmetros de
resistência cai mais acentuadamente ao se resistência dos solos com e sem fibra em cada
situação.
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Figura 8. Envoltórias dos ensaios de cisalhamento direto do solo arenoso estudado com 1,5% de fibras PET 20mm e
sem fibras (GC 100% e GC 95%.).

3.4 Simulação Numérica para a Estabilidade


de um Talude de Aterro

Os Métodos de Equilíbrio Limite (MEL)


empregados nas análises de estabilidade de
taludes, têm como premissa principal a
definição de uma superfície crítica de ruptura do
talude e, a partir disso, a verificação do
equilíbrio da massa de solo acima dessa
superfície, através da razão entre os esforços
resistentes definidos no contorno dessa
superfície e os esforços atuantes na tentativa de Figura 9. Discretização de um talude em lamelas.
desestabilizar a massa de solo no talude,
denominado fator de segurança (FS). O método de Bishop Simplificado (1955)
O equacionamento do equilíbrio varia em mostra-se um método iterativo, visto que a
função do método de análise adotado. O método incógnita do FS aparece no cálculo do
de Bishop Simplificado é oriundo do Método parâmetro ma, conforme Equações 1 e 2.
Sueco, e o equacionamento do equilíbrio é,
portanto, realizado para cada uma das lamelas, a
partir da razão entre a soma de seus esforços
resistentes e a soma de seus esforços
solicitantes. A discretização da seção de ruptura (1)
de um talude encontra-se na Figura 9.
(2)
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Em que, FS: Fator de segurança; c: Coesão Tabela 4. Fatores de segurança obtidos pelo método de
do solo, em kPa, referente à camada em que o Bishop Simplificado para cada uma das combinações
solo-fibra.
ponto médio da base da lamela está contido; b:
h=2 m h=5 m h=10 m
Largura da lamela; α: Ângulo de inclinação da θ GC
Fibras Δ Δ Δ
base da lamela; W: Peso da lamela para cada (°) (%) FS FS FS
(%) (%) (%)
metro de talude, em kN/m, em relação ao seu
Sem 2,607 1,973 1,679
eixo longitudinal, obtido pela soma dos 100 13,4 9,3 7,4
Com 2,957 2,156 1,803
produtos das áreas parciais da lamela pelos 30
respectivos pesos específicos de solo; u: Pressão Sem 2,301 1,777 1,563
95 8,6 6,9 4,3
neutra, em kPa, obtida pelo produto da altura Com 2,498 1,899 1,63
média de solo saturado existente na lamela e o Sem 2,235 1,589 1,294
peso específico da água; ϕ: Ângulo de atrito 100
Com 2,603
16,5
1,79
12,6
1,434
10,8
interno do solo, referente à camada em que o 45
Sem 1,89 1,34 1,071
ponto médio da base da lamela está contido. 95 12,0 13,3 12,9
A verificação dos FS é feita através de Com 2,116 1,518 1,209
tentativas de posicionamento da superfície de Sem 2,083 1,349 0,976
100 18,5 21,6 23,4
ruptura, a partir da variação de uma malha de Com 2,468 1,641 1,204
posições do centro e do raio de uma superfície 60
Sem 1,584 1,014 0,779
circular. Assim, a segurança é verificada através 95 23,6 20,9 15,9
Com 1,958 1,226 0,903
do menor valor obtido entre todas essas
análises.
O software Geoslope® foi utilizado nessas Observam-se maiores fatores de segurança
análises determinísticas. Para a simulação, quanto menos inclinado for o talude e quanto
foram considerados três taludes de aterro, com maior o grau de compactação. Ressaltam-se
alturas (h) de 2m, 5m e 10m, avaliadas com ainda aumentos nos FS dos taludes de aterro de
diferentes condições de inclinação (θ) 30°, 45° e solo estudado com fibras independente da
60°, compostos do solo estudado com 1,5% de geometria, de +4,3% a +23,4% em relação ao
fibras de PET e sem fibras, sendo γ = 21,15 sem fibra.
kN/m³, sobre o solo arenoso em condições
naturais, conforme Figura 10, com parâmetros,
γ = 15,9 kN/m³, c = 3 kPa, ϕ = 29,9º, segundo 4 CONCLUSÃO
Fagundes (2014), sem considerar a presença de
água. Os resultados obtidos são mostrados na A adição de fibras discretas recicladas extraídas
Tabela 4. de garrafas constituídas de PET ao solo arenoso
estudado propiciou o desenvolvimento de um
novo material geotécnico com características
próprias, observado pelo ganho de 66,4% na
coesão interceptada com grau de compactação
h 100% e 55,5% com grau de compactação 95%,
Talude de aterro
e reduções de 3,5% e 1,7% no ângulo de atrito
interno, quando dosado com o teor ótimo de
1,5% de fibras em relação à massa do solo seco,
Solo arenoso em condições naturais com comprimentos de 20mm. Representando
γ = 15,9 kN/m³; c = 3 kPa; φ = 29,9° aumento do fator de segurança em análises de
estabilidade de talude de casos hipotéticos.
Assim, o trabalho oferece uma alternativa para a
Figura 10. Esquema do talude considerado na simulação. melhoria do solo estudado viável tecnicamente
e que prioriza o reuso de garrafas PET,
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colaborando para preservação ambiental, mas Botero, E., Ossa, A., Sherwell, G., & Ovando-Shelley, E.
não só, pois a atividade promove ainda (2015). Stress-strain behavior of a silty soil reinforced
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- Ensaio de Compactação: NBR 7182. Origem:
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Revisão Bibliográfica dos Estudos Sobre a Utilização de Rejeito


de Minério de Ferro na Construção
Luisa Muniz Santos Sampaio
Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Brasil, luisaa.sampaio@gmail.com

Diogo Wagmacker Nascimento


Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Brasil, diogowagmacker@gmail.com

Cláudia Rodrigues Teles


Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Brasil, clauteles@hotmail.com

Geilma Lima Vieira


Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Brasil, geilma.vieira@gmail.com

RESUMO: O Brasil é o terceiro maior produtor de minério de ferro do mundo, o que mostra a
importância desta atividade para a econômia brasileira. Porém, no processo de extração e
beneficiamento do minério de ferro, são gerados resíduos, classificados como estéreis e rejeitos de
minério de ferro, que devem ter disposição final adequada, a fim de não prejudicar a qualidade
ambiental. Neste cenário, o presente trabalho avalia as perspectivas para o reaproveitamento de
rejeitos da mineração de ferro como materiais de construção civil. Desta forma, é apresentada uma
revisão sobre os vários métodos de incorporação do minério de ferro na construção civil, de forma a
fornecer subsídios para o seu reaproveitamento. Com a realização do trabalho pode-se perceber que
a composição e granulometria do rejeito de minério de ferro são eficazes para vários tipos de
reaproveitamento na construção civil, como tijolos, cerâmica, cimento, entre outros.

PALAVRAS-CHAVE: Minério de Ferro, Rejeito, Construção, Reciclagem, Meio Ambiente.

1 INTRODUÇÃO o DNPM (2016), Minas Gerais ocupa o


primeiro lugar na distribuição de reservas de
A importância econômica do minério de ferro minério de ferro em nível nacional, com cerca
pode ser vista no estilo de vida da sociedade de 67%. Em seguida, o Pará ocupa a segunda
moderna, devido ao aço produzido a partir do posição com 16%, seguido do Mato Grosso do
minério de ferro ser matéria prima para a Sul (15,5%). Os Estados Alagoas, Amazonas,
construção de pontes, carros, aviões, bicicletas, Bahia, Ceará, Goiás, Pernambuco, Rio Grande
eletrodomésticos e muitos outros produtos. do Norte e São Paulo somam 1,5%.
O Brasil é o terceiro maior produtor de Na produção do minério de ferro, desde a
minério de ferro do mundo, com uma produção extração até o seu beneficiamento, são gerados
estimada em 400 milhões de toneladas ao ano, uma grande quantidade de materiais de pouco
equivalente a 13,1% do total global, estando ou nenhum valor econômico. No processo de
atrás apenas da China e Austrália em termos de limpeza da área a ser explorada é retirado o solo
produção mundial (DNPN, 2014). Além disso, e rocha que não apresentam minério ou
o ferro é o principal produto mineral metálico possuem teor mineral muito baixo, este material
explorado no país, sendo que 61,7% desta é um resíduo classificado de estéreo. Além
produção total comercializada provem da deste resíduo, são produzidos também os
exploração de ferro. (DNPM, 2016). Conforme rejeitos, que são os materiais gerados no
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processo de beneficiamento que se apresentam trabalho visa apresentar uma revisão


em forma de lama ou pasta. Este resíduo bibliográfica das pesquisas feitas que
(estério e rejeito) corresponde a utilizaram o resíduo produzido pela mineração
aproximadamente 70% de todo material gerado do minério de ferro na construção civil.
no processo produtivo do minério de ferro
(DNPN, 2014). Gomes & Pereira (2002) apud
Russo (2007) citam que os processos de lavra e 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
beneficiamento do minério de ferro geram um
volume de rejeitos da ordem de 40% para 2.1 Caracterização tecnológica do minério de
minério de ferro. Todavia, este valor percentual ferro
dependerá muito do teor de ferro presente nas
jazidas e das condições de mercado. A caracterização tecnológica de minérios é uma
Ambos materiais necessitam de uma etapa fundamental para o máximo
disposição adequada, devido suas aproveitamento de um recurso mineral. É um
características, podendo conter substâncias ramo especializado aplicado ao beneficiamento
que alteram as características do meio de minérios e que estuda aspectos específicos
ambiente, como alta concentração de ferro, da mineralogia dos minérios. As informações
metais pesados, cianeto, com pH bastante obtidas são utilizadas para o desenvolvimento e
ácido (IBRAM, 2015). No geral, os estéreis e a otimização de processos, favorecendo o
os rejeitos são classificados como resíduos aproveitamento de subprodutos na prórpia usina
Classe IIA (não- inertes), devendo ser e viabilizando seu reuso. (Gomes, 1984).
utilizada uma forma de disposição que Espósito (2000) afirma que os rejeitos de
promova a proteção do solo no qual os minério de ferro são formados por hematita (de
resíduos serão dispostos, e uma drenagem 10 a 15% dos sólidos), cuja massa específica
eficiente, evitando assim que sejam gerados dos grãos (ρs) é em torno de 5,25g/cm3 , sendo
danos ao meio. o restante formado por quartzo (ρs entre 2,65 a
As barragens de rejeito são o principal tipo 2,70g/cm3 ). Ao realizar uma caracterização
de disposição para os resíduos gerados na mineralógica dos rejeitos dispostos na Mina do
mineração de ferro. Conceitualmente, Segundo Córrego do Feijão, Minas Gerais, Gomes
a NBR nº 13.028, uma barragem de rejeitos é (2009) verificou que praticamente todo o ferro
qualquer estrutura que forme uma parede de presente era proveniente da hematita e o
contenção de rejeitos, para sedimentos e/ou quartzo era responsável por praticamente toda
para formação do reservatório de água sílica existente nas amostras estudadas, sendo
(ABNT, 2006). Porém as barragens possuem os demais minerais presentes em baixos teores.
um risco de rompimento, e consequentemente Wolff (2009) caracterizou física e
provocando danos ambientais, sociais, e quimicamente rejeitos de sete usinas da VALE
perdas de vidas humanas. Recentemente o S.A., a saber: Brucutu, Córrego do Feijão,
rompimento de uma barragem no município de Conceição, Cauê, Fábrica Nova, Alegria IBII,
Fundão, em Minas Gerais gerou o maior Alegria IBIII e Carajás. O objetivo da autora
desastre ambiental do país, e o maior do era o de fornecer informações para o
mundo relacionado a barragens. Além do risco desenvolvimento de novos produtos e escolha
de rompimento, é importante ressaltar que a de técnicas de processamento mineral mais
etapa de disposição final de resíduos, como na adequada. Como resultados, os rejeitos
barragem de rejeitos, deve somente ser apresentaram granulometria ultrafina com D80
considerada quando não existe nenhuma forma variando entre 10 a 30µm. O teor de ferro
de reaproveitamento, conforme descrito na variou entre 44 e 64% e foi encontrado
Política Nacional de Resíduos Sólidos principalmente nas formas de hematita e
(BRASIL, 2010). Por esse motivo, o presente goethita. O fósforo e a alumina, provavelmente
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associados à estrutura da goethita, estão Tabela 1. Análise granulometrica das amostras de rejeito
também presentes em quantidades elevadas e de minério de ferro. (Gomes et al. 2011)
quanto mais fina as partículas maiores os teores
destes. Ainda de acordo com a autora, o rejeito
de Carajás é o que apresenta granulometria
mais fina, com D80 de 10µm, apresentando
64% de ferro e apenas 9% de minerais
considerados contaminantes, essencialmente
quartzo e gibbsita.
A Figura 1 apresenta os resultados do
trabalho de Gomes et al. (2011), onde exibe a
mineralogia de amostras dos finos coletadas por
furo de sondagem, estocados em barragem de
rejeito proveniente do tratamento de minério
ferro. As análises mineralógicas foram obtidas
difração de raios X, e os minerais de ferro
identificados foram hematita, martita, magnetita
e goethita e os minerais de ganga identificados Tabela 2. Análise química das amostras de rejeito de
foram quartzo, gibbisita e caolinita. minério de ferro. (Gomes et al. 2011)

Figura 1. Mineralogia de amostra de rejeito de minério de


ferro obtida por DFR-X. (Gomes et al. 2011)

Além da caracterização mineralógica,


Gomes et al. (2011) também realizou análises
granulométricas por peneiramento a úmido e Nas análises observou-se que 8,21% das
análises químicas por espectrometria de plasma partículas encontram-se retidas em 0,150mm e
das amostras (Tabela 1 e 2). 58,81% abaixo de 0,045mm e que os teores
médios de Fe, SiO2 e Al2O3, são,
respectivamente, 48,08%, 20,58% e 3,16%.

2.2 Beneficiamento da lama de rejeito de


minério de ferro

Técnicas convencionais para concentração dos


minérios de ferro não são tão eficientes
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(Prakash et al., 1999), mas a floculação seletiva, aproveitamento de finos de minério de ferro tem
separação magnética e a flotação por micro- no mundo, à medida que os minérios
bolhas são técnicas promissoras que vêm sendo aproveitados necessitam ser concentrados e isto
melhor investigadas para utilização na requer a sua redução de tamanho a
recuperação dos minerais de ferro das lamas. granulometrias inferiores a 0,200 mm. Como
Rodrigues e Rubio (2007) afirmam que a estes concentrados não podem ser usados nos
flotação convencional assistida por microbolhas altos-fornos e na redução direta, faz-se
(30-100 µm) encontra aplicação na recuperação necessário a sua aglomeração.
de partículas minerais finas (< 13 µm), tendo
em vista que a injeção de pequenas bolhas leva 2.3 Utilizações do rejeito de minério de ferro na
a melhorias gerais nos parâmetros de separação, construção civil
especialmente para as partículas ultrafinas de
minérios (< 5 µm). Dentre os tipos de usos do rejeito de minério na
Em estudo realizado em planta piloto para construção civil, pesquisas vêm mostrando o
a recuperação de partículas de minério de ferro reaproveitamento em tijolos, pavers, argamassa,
maiores do que 15 µm contidas em barragens de concretos, blocos para alvenaria e
rejeitos, Vieira e Ramos Neto (2008) utilizaram pavimentação, fabricação de argamassas para
a separação magnética de alta intensidade, com assentamento, produção de materiais cerâmicos,
o objetivo de separar o quartzo da hematita e etc. (Gama et al., 2014).
obter um produto concentrado com no máximo A utilização da fração ferrosa dos rejeitos
3,0% de SiO2. Os resultados em escala representa potencial ganho econômico para
industrial confirmaram a viabilidade da atividade mineradora, dado o alto valor
separação magnética em duas etapas, com uma agregado desse material, e o custo
recuperação de Fe acima de 85% e criação de relativamente baixo para seu reprocessamento e
um novo produto (pellet feed concentrado), recuperação (Peixoto et al., 2013).
com um considerável valor econômico, além de As características químicas destes resíduos,
contribuir para solucionar o problema ambiental por exemplo, são muito próximas às requeridas
da deposição de grandes quantidades de finos para fabricação de produtos de cerâmica. A
em barragens. fabricação de pavimento e substituição dos
Em relação aos processos de agregados para concreto são também opções
aglomeração, Moraes e Cassola (2007) afirmam para as quais a composição química não é muito
que a aglomeração por pelotização é o método rigorosa, tendo maior importância a
padrão aplicado para transformar as frações granulometria e a resistência do material e
finas (< 0,015 mm) de minério de ferro em um podem ser avaliados para utilização na
produto adequado (pelota) para alimentação do construção civil. Por fim, entre outros usos,
alto forno e dos fornos de redução direta, onde pode-se avaliar a aplicação dos rejeitos para
as pelotas serão transformadas em gusa ou ferro fabricação do cimento, uma vez que o alto teor
esponja. O processo de pelotização é de ferro no cimento pode eliminar a
essencialmente baseado na formação das incorporação do ferro em pó no cimento
pelotas pelo rolamento dos finos do minério ou convencional (Zhang et al., 2006).
concentrado, previamente misturado com os Yellishetty et al. (2008) analisaram a
aditivos (calcário, carvão) e o aglomerante adequação do estéreo e rejeito produzidos pela
como a bentonita. mineração de ferro de uma mina de ferro da
Sobre o processo de pelotização, Martins Índia para uso na construção civil. Neste
(2007) afirma também que este é, sem dúvida estudo, conclui-se que as partículas com
alguma, o mais importante processo de granulometria de 12,5 a 20 mm são bastante
aglomeração atualmente utilizado pelas adequadas para uso na fabricação de concreto.
indústrias, devido à importância que o As partículas com granulometria entre 4,75 a
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12,5 também foram avaliadas com êxito quando de referência da indústria, constituindo-se
utilizadas como agregado para obras de aceno favorável para o desenvolvimento desta
construção diversas. Por fim, as partículas tecnologia.
inferiores a 4,75 mm se mostraram bastante Silva (2014) avaliou a aplicação de rejeitos da
adequadas à fabricação de tijolos. mineração de ferro para produção de pavers –
O seu uso em substituição às matérias-primas blocos de concreto para pavimentação. A
naturais que fornecem SiO2, Al2O3, Fe2O3 e adição de rejeitos finos de concentração de
CaO para a confecção de piso e azulejos minério de ferro pode dificultar a desmoldagem
cerâmicos, foi relatado por Das et al. (2000) e dos blocos de concreto quando utilizados como
Kumar et al. (2006). Das et al. (2000) agregados, mas melhoram a resistência do
utilizaram rejeitos de minério de ferro com altas material. Além disso, a adição dos rejeitos aos
percentagens de sílica, o que contribuiu blocos de concreto não representa risco ao meio
vantajosamente para a formulação da ambiente, quando submetidos às intempéries,
composição das peças cerâmicas e suas fato comprovado por meio de ensaio de
propriedades. As peças apresentaram alta lixiviação.
resistência e dureza, e mostraram estar em Avaliando resíduos da mineração de ferro na
conformidade com os demais parâmetros produção de elementos de concreto para
exigidos pelas especificações. Além de pavimentação, Toffolo et al. (2014) também
substituir alguns dos mais caros minerais encontraram resultados satisfatórios. O estudo
utilizados na fabricação de materiais cerâmicos, comparativo das características físicas e
diminuindo assim o custo da produção, pelo mecânicas de blocos de concreto para
fato dos rejeitos de minério de ferro estarem em pavimentação fabricados com substituição dos
uma granulometria fina, requer-se menos tempo agregados artificiais pelos agregados naturais,
de moagem, tendo espaço assim para a em dosagens específicas, indica bons resultados
economia de energia. de resistência à compressão, expansibilidade,
Zhao et al. (2014) e Toffolo et al. (2014) em absorção de água e aponta a viabilidade do
estudo de rejeitos de barragens de rejeito, emprego de agregados artificiais provenientes
observaram que, do ponto de vista do da reciclagem do rejeito de mineração para a
comportamento mecânico, é viável a utilização fabricação destes blocos. Campanha (2011),
de rejeitos de minério de ferro para substituir realizou a caracterização do rejeito de minério
parcialmente a areia natural em concretos. Os de ferro para o uso em pavimentação, após
autores afirmam que rejeitos da mineração de investigadas em laboratório as características
ferro incluem várias fases inertes e que grande químicas, mineralógicas, mecânicas e
parte de suas partículas são maiores do que as geotécnicas, foi observado que os resultados de
do cimento, o que indica que ele pode ser CBR na energia intermediária bem como as
utilizado como agregado fino em concretos suas expansões foram compatíveis com a
convencionais e mesmo de alto desempenho, exigência com a sub-base de pavimentos
com intuito de aumentar sua resistência. flexíveis. As análises por difratometria
Resultados relevantes foram obtidos em apresentam presença de argilominerais não
estudo sobre a viabilidade técnica do expansivos. O modelo de melhor ajuste do
aproveitamento do rejeito de mineração de ferro módulo resiliente foi o composto em função da
como agregado na produção do concreto para a tensão desviadora e tensão confinante. Os
fabricação de elementos pré-fabricados rejeitos de mineração de ferro apresentaram
destinados à pavimentação. Segundo Costa et potencial para uso em pavimentação
al. (2014) as resistências características à especialmente quando melhorados com
compressão dos bloquetes produzidos com cimento.
rejeito da mineração de ferro apresentaram A aplicação de rejeitos da mineração de ferro
valores muito próximos às obtidas na produção na forma de pó foi estudada, também, para
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aplicação em argamassa de cimento Portland o intuito de avaliar o efeito na sua


por Aristimunho & Bertocini (2012). Moldaram microestrutura. Os resultados mostraram que a
corpos-de-prova com variadas proporções de adição do rejeito à massa argilosa altera
cimento, areia e pó de minério de ferro e, significantemente a microestrutura da cerâmica.
posteriormente, submeteram a ensaios físicos e Incorporações de até 10% do rejeito são
mecânicos. Os resultados demonstraram que as benéficas para a qualidade da cerâmica por
substituições de areia pelo resíduo (destaque meio da redução da porosidade aberta. Além da
para a substituição de 20%) melhoraram o vantagem ambiental, a incorporação desse
desempenho mecânico das argamassas, resíduo na cerâmica também confere vantagens
demonstrando a viabilidade técnica do material às suas características físicas. Rodrigues et al.
em estudo. (2014), estudaram os efeitos causados pela
Fontes et al. (2014) utilizaram resíduos da incorporação de rejeito de minério de manganês
mineração de ferro como matéria prima em formulações de cerâmicas argilosas, para
alternativa no desenvolvimento de argamassas avaliar até que ponto é possível incorporar o
de revestimento e assentamento, As argamassas referido rejeito sem que haja prejuízo das
foram dosadas segundo proporção 1:3 com propriedades dos produtos. Foram propostas
cimento, cal hidratada e agregados, natural e algumas formulações contendo quantidades
reciclado. Considerou-se que o rejeito in-natura variadas de rejeito. Os corpos-de-prova obtidos
não é o material ideal para a produção de por prensagem foram sintetizados de 1000°C a
argamassas especializadas, porém os resultados 1200ºC por 2h. Os resultados mostraram que o
alcançados permitiram avaliar que é possível rejeito atua como fundente, melhorando
usá-lo como matéria prima de forma técnica e propriedades do material, diminuindo a
ambientalmente adequada para a redução dos porosidade e absorção de água e aumentando a
impactos ambientais da mineração, com resistência mecânica das peças cerâmicas. Silva
produção de argamassas com agregados (2014) avaliou a incorporação de rejeitos da
reciclados. mineração de ferro para produção de cerâmica e
Bastos (2013) propôs a substituição de observou que a adição de rejeitos em materiais
agregado de argamassas e peças em concreto cerâmicos pode ser tecnicamente viável. Os
pré-fabricado como pavers para o revestimento resultados relativos às propriedades
de pavimentos por rejeitos da mineração de tecnológicas destes materiais apresentaram
ferro. Esses foram adicionados com substituição variações razoáveis na retração linear de
de até 80% de agregados natural por rejeitos de secagem e queima, absorção de água,
barragens de minério de ferro nos pavers e de porosidade aparente, massa específica aparente,
100% de substituição nas argamassas, resistência à flexão e perda ao fogo, gerando
produzindo significativas melhorias nas sempre resultados compatíveis com os
propriedades mecânicas e de durabilidade encontrados na literatura e dentro das normas
destes elementos. Este mesmo autor propôs, brasileiras.
ainda, a produção de argamassas mistas de Chen et al. (2011) avaliaram a possibilidade
cimento Portland em que utilizou-se rejeitos de de utilização de rejeitos da mineração de ferro
barragem de minerio de ferro como agregados e da China para construção de tijolos, que foram
como aglomerantes. As argamassas produzidas denominados tijolos ecológicos. Além dos
apresentaram viabilidade técnica e ambiental, rejeitos, foram adicionadas ao processo argila e
exibindo ainda características favoráveis a cinzas, obtidas de precipitadores eletrostáticos
produção de revestimentos. de uma usina térmica, para melhoria da
A indústria cerâmica tem grande papel qualidade do tijolo. A conclusão do estudo
ambiental quando o assunto é a reciclagem de demonstrou a viabilidade de se fabricar tijolos
rejeitos Souza et al. (2008), incorporaram o utilizando-se rejeitos da mineração de ferro,
rejeito de mineração em material cerâmico com podendo a porcentagem de rejeito utilizado ser
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de até 84% do peso total dos compostos, de barragem de minério de ferro que atendam
observando-se os teores de água, pressão, parâmetros normativos para resistência
tempo e temperatura. mecânica, e ainda que a mistura entre rejeitos
Estudo realizado por Vieira et al. (2006), com de barragem de minério de ferro e outros
objetivo de caracterizar rejeitos da mineração rejeitos granulares podem produzir uma mistura
de ferro e avaliar a influência de sua adição nas estabilizada granulometricamente de grande
propriedades físicas e mecânicas de uma típica capacidade mecânica. Também com vistas à
massa de cerâmica vermelha, demonstrou que a aplicação de rejeitos em pavimentos, análise
granulometria deste material é adequada para realizada com material coletado em barragem
incorporação em cerâmica vermelha, de rejeito do Quadrilátero Ferrífero, constatou
apresentando 96% das partículas com diâmetro grande potencial de uso do rejeito de minério de
esférico equivalente abaixo de 2 μm. Além ferro como material de enchimento alternativo,
disso, verificou-se que o rejeito incorporado na denominado filer, para concretos asfálticos. A
quantidade de 5% em peso melhorou a absorção incorporação deste material nas misturas
de água e a resistência mecânica da cerâmica. asfálticas demonstrou desempenho mecânico
Chaves (2009) avaliou o comportamento de satisfatório com ganhos de natureza ambiental
argila enriquecida com resíduos da mineração quando comparados aos agregados pétreos
de ferro do pólo cerâmico de Natal/RN, e (Silva, 2010).
obteve resultados satisfatórios de tensão de
ruptura à flexão, em todas as amostras, com até
10% de resíduos da mineração de ferro.Estes 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
resultados foram melhores se comparados aos
sem incorporação de resíduos. Por fim, Nociti Os estudos que avaliaram o uso de rejeito de
(2011) constatou que ao se agregar até 5,0% de minério de ferro na construção civil mostrou se
rejeitos finos à massa cerâmica para a eficaz quando relacionou a granulometria do
fabricação de tijolos maciços, os mesmos rejeito para fabricação de concreto, tijolos e
atendem aos valores do módulo de ruptura à agregados. Rejeitos ricos em sílica favoreceram
flexão exigida pelas normas. Valores superiores a resistência mecânica e redução de custo para
a este, provocam uma queda na resistência, não produção de cerâmicas. O atendimento ás
sendo favorável para tijolos estruturais. propriedades de resistência ao utilizar rejeito de
Os rejeitos da mineração de ferro podem ter, minério de ferro para construção de concreto
também, o uso viabilizado na área de para a fabricação de elementos pré-fabricados
pavimentação, como demostrado nos estudos para pavimentação, também foi satisfatória. A
descritos a seguir. Campanha (2011) e Oliveira melhora das propriedades físicas mediante a
(2013) revelaram que o material apresenta substituição de areia por rejeito de minério
características compatíveis com as exigências também foi constatada na produção de
para utilização em camadas de sub-base e base argamassa. Na construção de pavimentos o uso
em solo-cimento para pavimentos flexíveis. De de rejeito de minério de ferro é util
acordo com Silva (2013) o solo- cimento é uma principalmente no que diz respeito á redução de
mistura de solo com aglomerante hidráulico custos.
artificial, cimento Portland, de tal modo que Analisando o panorama apresentado, os
haja uma estabilidade entre estes dois materiais, impactos sociais e ambientais advindos da
melhorando as propriedades da mistura. Myrrha disposição final de rejeitos em barragens; a
(2003) apresenta o solo- cimento como um redução da disponibilidade e qualidade de
material alternativo de baixo custo que pode ser materiais naturais para empresas da mineração
utilizado como pavimentos. de ferro e de construção civil; e os resultados
Bastos et al. (2013) afirmam ser possível satisfatórios obtidos na utilização de rejeitos de
produzir camadas de pavimentos com rejeitos mineração de ferro como materiais da
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Revisão Sistemática de Pesquisas Relacionadas a Solos Contaminados por


Petróleo Bruto, Alto Grau de Salinidade e Ensaios de Toxicidade.

Thaynara Santana Rabelo


Universidade do Estado do Rio de Janeiro-UERJ, Rio de Janeiro, Brasil, thayrabelo@yahoo.com.br

Fabiana Pereira Coelho


UERJ/ Instituto SENAI de Tecnologia Ambiental, Rio de Janeiro, Brasil,fpcoelho@firjan.br

Daniele Maia Bila


UERJ, Rio de Janeiro, Brasil, danielebilauerj@gmail.com

Elisabeth Ritter
UERJ, Rio de Janeiro, Brasil, ritteruerj@gmail.com

RESUMO: O Sistema de produção de petróleo terrestre necessita a utilização de grandes áreas para
prospecção de petróleo bruto sendo comum o derramamento acidental de óleo e consequentemente
a geração de solos contaminados. Este trabalho visa realizar uma revisão sistemática de pesquisas
relacionadas a solos contaminados por petróleo bruto, alto grau de salinidade e ensaios de
toxicidade. Foram avaliados 52 artigos de 25 periódicos diferentes sobre contaminação de solos por
óleo bruto. Os artigos foram gerados em vários países produtores de petróleo e foram divididos em
artigos de diagnósticos e artigos de remediação. Tais estudos demonstraram os principais avanços
dos grupos de pesquisa e a necessidade de uma maior discussão sobre a influência das caraterísticas
do solo e da salinidade na interação solo contaminante. Os estudos ecotoxicológicos tem se
mostrado cada vez mais importante para garantir a reabilitação da biota local, mas ainda são pouco
explorados nos artigos avaliados.

PALAVRAS-CHAVE:Solos contaminados, Systematic Review, Óleo cru, salinidade, ecotoxicologia

1 INTRODUÇÃO hidrocarbonetos aromáticos, asfaltenos, resinas,


compostos não hidrocarbonetos, como frações
O Brasil é um dos produtores de petróleo do polares com heteroátomos de nitrogênio,
mundo, sendo explorados tanto em terra enxofre e oxigênio, água de formação e
(onshore), quanto em mar (offshore). Apesar da impurezas. Embora seja sem dúvida o recurso
maior produção das reservas offshore, existe mais importante da história moderna, a
atualmente 192 blocos exploratórios onshore contaminação do solo por petróleo tornou-se
sob concessão no Brasil, dos quais 75% se uma questão crítica como resultado de
encontram na Região Nordeste. De acordo com liberações durante a exploração, produção,
a Agencia Nacional de Petróleo (ANP), em manutenção, transporte, armazenamento e
2016, a produção de petróleo e gás natural acidentes, gerando uma série de impactos ao
terrestre atingiu o patamar de 300 mil barris de meio ambiente e representando uma ameaça
óleo por dia. substancial aos recursos humanos e à saúde.
O petróleo bruto é uma mistura complexa (URUM et al., 2006; LIANG et al., 2009).
composta principalmente por n-alcanos,
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A exploração onshore não é diferente e tem grau de salinidade decorrente do processo de


como padrão a utilização de grandes áreas para exploração de petróleo. Além da remediação
prospecção de petróleo bruto. Cai et al. (2016) tem se mostrado cada vez mais importante os
e Ebadi et al. (2017) demonstraram a relevância estudos ecotoxicológicos para garantir a
de estudos em solos contaminados visto que o reabilitação da biota local.
derramamento de óleo acidental é comum na O objetivo deste artigo é levantar os
indústria petrolífera. Ao considerarmos os solos principais trabalhos relacionados com a
tropicais brasileiros que costumam apresentar contaminação de solo por petróleo bruto e quais
um alto teor de argilominerais, a remediação os avanços relacionados ao papel da salinidade
destas áreas apresenta-se como um grande na remediação destes solos. Além disso,
desafio. levantou-se a importância dos ensaios
Este tipo de solo dificulta o processo de ecotoxicológicos nestes trabalhos e quais os
biodegradação, principalmente pela interação principais métodos utilizados.
dos hidrocarbonetos (HC) com as partículas de
argila. No entanto, empresas petrolíferas 2 METODOLOGIA
onshore adotam o tratamento biológico (método
de biopilha) para tratamento dos solos A metodologia adotada para este estudo foi o
contaminados por petróleo. Esta técnica é systematic review através das plataformas de
eficiente, porém possui limitações relacionadas pesquisa SCOPUS, Science Direct e Google
aos teores de hidrocarbonetos e da salinidade. Scholar. Foram inseridas as palavras chaves
São diversas as fontes de contaminação do para obtenção de artigos relacionados ao tema
solo em uma exploração onshore, é possível de interesse.
destacar: os eventuais vazamentos de tanques,
problemas nos poços de produção e 2.1 Contaminante de interesse
rompimento de dutos que transportam petróleo
(pós-processamento primário), água produzida Para esta revisão foi adotado o termo petróleo
e/ou o óleo bruto (composto pela emulsão de bruto (emulsão) para identificar o petróleo
água produzida e petróleo antes do extraído do reservatório e que ainda não sofreu
processamento primário). o processo primário de separação e por isso
A água produzida é o principal subproduto ainda está emulsionado com a água produzida.
da indústria de exploração e produção, podendo Foi adotado também o termo óleo cru para o
compor de 50% à próximo de 100% do petróleo petróleo pós-processamento primário e antes do
bruto que é extraído do reservatório (THOMAS, processo de refino.
2004). A composição da água de produção é Na literatura não foi encontrado um padrão
variável e depende do tipo de reservatório e da para chamar o petróleo bruto (emulsão). Em
maturidade do mesmo, mas em geral apresenta muitos dos trabalhos o “crude oil” referencia o
óleos dissolvidos, produtos químicos, sólidos, óleo pós-processamento primário e antes do
gases dissolvidos, metais e um alto teor de sais refino. Foram avaliados nessa revisão os artigos
dissolvidos que podem variar de 28 a 300g/L sobre contaminação de solo por óleo cru ou por
segundo a literatura (AIZENSHTAT et al., petróleo bruto (emulsão) e os efeitos da
1999; FERNANDES JÚNIOR, 2002; CAMPOS salinidade nesta contaminação (tanto a
et al, 2002; GOMES, 2009; salinidade proveniente do solo quanto a
WESCHENFELDER et al., 2015, VIEIRA, salinidade proveniente do contaminante).
2017).
Dessa forma, o setor petrolífero necessita
solucionar a questão de áreas contaminadas por
petróleo bruto em solos argilosos com o alto
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2.2 Critérios de Elegibilidade


Tabela 01: Quadro Resumo – Principais Periódicos e
Publicações do levantamento.
Para a inclusão de artigos neste estudo foram Número de
Periódicos
adotados os seguintes critérios de elegilibidade: Publicações
ser publicado em periódicos indexados, possuir Chemosphere 10
o contaminante de interesse, não estar incluso International Biodeterioration &
5
na lista de possível Predatory Journal, ter sido Biodegradation
publicado entre os anos de 2000 e 2018. Não Journal of Hazardous Materials 5
foram considerados os capítulos de livro, teses, Ecotoxicology and Environmental
3
dissertações, conference paper e artigos de Safety
Marine Polluiton Bulletin 3
revisão.
Applied Soil Ecology 2
Nesta etapa foram utilizadas as seguintes
Biochemical Engineering Journal 2
palavras chaves de forma individual e em
Ecological Indicators 2
grupos para triagem de artigos: “Crude oil”,
Environmental Pollution 2
“petroleum”, “salinity”, “soil”,
Journal of Environmental Sciences 2
“contamination”, “remediation”,
“ecotoxicology”. Pedosphere 2
Agriculture, Ecosystems and
1
Environment
2.2 Tratamento das Informações Applied Geochemistry 1
Bull Environ Contam Toxicol 1
Mediante as etapas de “screening” Environmental Technology 1
(Identificação, triagem e elegibilidade) e em Geoderma 1
consideração aos critérios foi realizado o Journal of Advanced Research 1
levantamento dos estudos relacionados com a
Journal of Geoscience and
temática trabalhada e os principais ensaios 1
Environment Protection
ecotoxicologicos utilizados. Pakistan J. Biol. Sci. 1
Com o auxilio das palavras chaves foram Practice Periodical of Hazardous,
identificados os artigos relacionados às Toxic, and Radioactive Waste 1
mesmas. A etapa de Triagem foi realizada com Management
base no título do trabalho, palavras chaves e Procedia Engineering 1
resumo. Nesta etapa foram selecionados 175 Science of the Total Environment 1
artigos. Estes artigos foram avaliados de acordo Separation and Purification
1
Technology
com os critérios de elegibilidade chegando num
Soil Biology & Biochemistry 1
total de 52 artigos elegíveis e avaliados para
Terra Latinoamericana 1
esse sistematic review.

3 PRINCIPAIS ASPECTOS Dentre as publicações é possível notar que


ocorreu aumento da quantidade de publicações
3.1 Visão Geral anuais com a temática abordada,
principalmente nos anos de 2015 e 2016 aonde
Durante o levantamento desta revisão foram foram publicados 07 artigos em cada ano, (vide
identificados 25 periódicos que publicaram 52 Figura 01). Vale ressaltar que até o momento o
artigos sobre contaminação do solo ou ano de 2018 já tem 06 publicações, podendo
sedimentos com óleo cru. O quadro resumo portanto superar os últimos 18 anos de
(Tabela 01) apresenta os principais periódicos e publicações.
o número de publicações relacionadas.
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Arábia Saudita contribuem com somente 4%,


enquanto os principais países com contribuição
científica são China (40%) e Estados Unidos
(13%).
O Brasil é o quarto maior contribuinte em
publicações científicas para a temática
abordada, apesar de o país ser um produtor de
Figura 01 – Produção Científica por ano. petróleo offshore, ainda possui alguns campos
localizados onshore principalmente na região
Os principais produtores onshore de petróleo nordeste. Ressalta-se que o país possui
mundial são Rússia, Árabia Saudita, Estados legislação e órgãos fiscalizadores atuantes de
Unidos, Irã e China. Durante o levantamento forma a ter interesse crescente na remediação
dos trabalhos observou-se uma grande de solos argilosos contaminados por
quantidade de artigos que abarcam proveniente hidrocarbonetos.
da China, 21 artigos. A figura 02 apresenta uma Em relação à Rússia, o maior país produtor
comparação entre o volume produzido em cada de hidrocarbonetos, não apresenta, na mesma
país e o número de artigos publicados. proporção, um quantitativo expressivo de
artigos científicos publicados com o tema em
questão. Isso sinaliza que não há grande
interesse em temas ambientais, como
remediação ambiental ou contaminação por
hidrocarbonetos. Já a China, independente do
volume de produção de petróleo, apresenta
interesse crescente em ampliar o conhecimento
cientifico em todo o território chinês.

2.2 Estudos de diagnóstico

Dentre os estudos levantados 13,5% tratam de


diagnóstico ambiental de áreas contaminadas
por óleo bruto (ADAMS et al., 2002; LIANG et
al, 2012; FU et al., 2014; PIETROSKI et al.,
2015; HESTER et al., 2016; GORDON et al.,
2018; FU et al., 2018). Não foi levantado
nenhum estudo na literatura que considerou a
contaminação por petróleo bruto (emulsão). A
questão da salinidade ainda não é tão explorada
nos artigos de diagnóstico de contaminação por
óleo bruto. Com exceção dos artigos em que
exista uma característica de salinidade do solo
não foi observada uma discussão sobre a
Figura 02 – Países Produtores de Petróleo e Contribuição
Científica. salinidade proveniente do contaminante. As
concentrações de contaminante foram expressas
Pode-se notar que a motivação para em massa de óleo bruto/kg de solo, TPH
contribuição científica não está relacionada (Hidrocarbonetos totais de petróleo) e HPA
apenas a interesses econômicos, pois os (Hidrocarbonetos poliaromáticos). A salinidade
principais produtores de petróleo a Rússia e a
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foi expressa em g/kg ou em função da Fu et al. (2018) relacionou a presença de


condutividade. HPA (hidrocarbonetos poliaromáticos) em áreas
Liang et al. (2012), levantou os solos próximas à poços de exploração com a idade
contaminados em diferentes regiões da China. dos poços. Segundo o autor, para os 16 HPA
Apesar de observar teores de salinidade avaliados, as concentrações apresentaram uma
expressivos em todos os solos contaminados tendência crescente com um aumento no tempo
(20 a 320g/kg) o autor não identificou uma de extração dos poços de petróleo próximos.
correlação direta entre o teor de salinidade e a Este é um resultado de suma importância para
concentração de HC no solo. A salinidade avaliação de risco e o licenciamento de áreas de
presente na contaminação por petróleo bruto exploração próximas a centros urbanos.
pode ser proveniente da água de produção. Uma Em relação ao intemperismo do óleo cru,
possibilidade de correlação que poderia ter sido Horel et al. (2014) afirma que durante o
explorada seria a quantidade água produzida intemperismo inicial dos hidrocarbonetos, os
(BSW) do reservatório de cada região e o teor compostos voláteis diminuem rapidamente em
de salinidade encontrado no solo. Outra concentração. Já os alcanos, de comprimento de
possibilidade seria a correlação entre os teores cadeia mais curtos a intermediários, são
de salinidade do solo e a maturidade dos degradados rapidamente por microorganismos,
reservatórios. Este último caso está relacionado e os alcanos de cadeia mais longa tendem a
ao fato de quanto mais maduro o reservatório biodegradar em taxas mais lentas. Estes
maior o percentual de água produzida no resultados são coerentes com o apresentado por
petróleo bruto e consequentemente a salinidade Pietroski (2015) que observou que solos de
da emulsão (THOMAS, 2004). pântanos costeiros que sofreram contaminação
Em contrapartida, Liang et al. (2012) recente por óleo cru apresentaram uma maior
observou uma correlação significativa entre a redução da comunidade microbiana do que
concentração de óleo e o teor de água (r = solos contaminados por óleo intemperizado (2
−0,58, P <0,01). Isto pode ser devido ao fato da semanas). Contudo, a exposição imediata de
temperatura do solo aumentar com a óleo cru fresco e intemperizado não mostrou
contaminação do óleo, que acelera a taxa de diferença significativa nas taxas de
evaporação da água; outra possibilidade é a dos desnitrificação sugerindo a necessidade de
hidrocarbonetos hidrofóbicos diminuirem a estudos mais detalhados sobre o efeito de óleos
porosidade e a permeabilidade do solo, brutos intemperizados no solo.
resultando em menor teor de água. No grupo de artigos de diagnóstico, a
Do ponto de vista geotécnico ainda é toxicidade foi pouco explorada. Apenas um dos
primária a discussão e a correlação das curvas diagnósticos realizado em várias regiõpes do
granulométricas do solo e as consequências na México realizou ensaio de toxicidade (ADAMS
biodispinibilidade e soluções de remediação et al., 2002) através de bioluminescência da
para as áreas contaminadas. Dentre os sete bactéria Vibrio fisheri (Microtox).
estudos levantados, apenas três realizaram
caracterização granulométrica simplificada e 3.2 Estudos de Remediação
um deles apresentou uma caracterização
pedológica. Não foi observada nos artigos a No meio ambiente, um dos principais processos
correlação dos resultados de caracterização do responsáveis pela mitigação passiva da
solo com os resultados de concentração de contaminação por petróleo é a biodegradação
hidrocarbonetos, apesar de discussões sobre dos hidrocarbonetos de petróleo por
intemperismo do óleo e consequente aumento microorganismos naturais. Esses
da hidrofobicidade do solo. microrganismos, encontrados em quase todos os
solos afetados por hidrocarbonetos (HC) os
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utilizam como fonte alternativa de alimento,


Figura 03 – Solos Estudados nos artigos
principalmente para produção de carbono e
energia de biomassa. O resultado geral deste
Pode-se observar que uma grande variedade de
processo na natureza é: 1) redução na
solos foi estudada na literatura com destaque
concentração de hidrocarbonetos de petróleo, 2)
para os solos arenosos e argilosos.
reduções na toxicidade geral da área, e 3)
redução na mobilidade dos hidrocarbonetos Tabela 02: Levantamento de artigos por técnica de remediação
remanescentes no ambiente (ADAMS et al., Técnicas de
Artigos
2002). Remediação
Assim, não é surpresa que a maioria dos Atenuação Natural Barth, 2003; Tang et al., 2012;Abed
artigos levantadados propõe, dentro dos seus et al., 2015; Cai et al., 2016.
estudos, o uso de biorremediação Bioremediação Loehr et al., 2001; COULON et al ,
(Bioestimulo e/ou 2005; Plaza et al., 2005; Trindade et
(bioremediação, bioestimulo, fitoremediação,
bioaumento) al, 2005; Abouseoud er al. 2010;
bioestimulo-biosurfactante) para tratamento de Abed et al., 2015; Minai-Tehrani et
solos contaminados por óleo cru (Tabela 02). al., 2006; WANG et al, 2008; Minai-
Os processos biológicos de tratamento dos solos Tehrani et al., 2009; Nie et al., 2009;
estão ganhando cada vez mais importância LIANG et al., 2009; Abouseoud er
mundialmente por serem métodos com baixos al., 2010; HUA et al., 2010; XU & LU,
2010; Wang et al., 2011a; WANG et
custos e baixo consumo de energia, mas
al., 2011b; Gong et al., 2012;
também devido ao fato de serem mais limpos, Kuyukina et al., 2013; Horel et al.,
de mais fácil aplicação em grande escala e por 2014; LIANG et al., 2014; Abed et
causarem poucas mudanças nas características al., 2015; Gao et al., 2015; Pietroski
físicas, químicas e biológicas do meio. et al., 2015b; Cai et al., 2016;
(BERGER, 2005; SEABRA, 2005). Chachina et al., 2016; Khasuri et al.
Assim como os artigos de diagnóstico, a 2016; Liu et al., 2016; Maddela et al,
2016; Shen et al, 2016; Ebadi et al.,
contaminação do solo foi expressa por 2017; MORALES-GUZMÁN et al.,
concentração de óleo no solo e/ou de TPH e/ou 2017; Xia et al, 2017; Alotaibi et al,
de PAH. Nos 45 artigos que avaliaram técnicas 2018.
de remediação foram estudados 96 solos. Em Bioeletroquímica Schmidt et al, 2007; Li et al., 2015;
apenas 10 artigos não foram realizadas algum Rocha et al., 2018.
tipo de ensaios de caracterização dos solos (15 Fitoremediação Nwoko, 2014; Cai et al., 2016; Tran
solos). Dos solos caracterizados, 63% et al., 2018; Rocha et al., 2018.
apresentaram classificação granulométrica. Os Lavagem de Solos Urum, K. e Pekdemir T., 2004; Urum
demais solos apresentaram classificação et al., 2006.
pedológica ou de área (estuarino, pântano, entre Ozonização LIANG et al., 2009.
outros). A figura 03 apresenta a frequência de Outras técnicas Trindade et al, 2005; Cai et al, 2017.
classes nos 51 solos caracterizados.
Gao et. al (2015) realizou estudos sobre a
influência da salinidade e da concentração de
hidrocarbonetos (HC) na biodegradabilidade do
solo de áreas costeiras. De acordo com os
resultados apresentados, a salinidade afetou
negativamente a biomassa microbiana total do
solo de carbono, enquanto a concentração de
HC não alterou os índices.
Barth (2003) realizou ensaios em regiões
estuarinas da Arábia Saudita e concluiu que em
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salinas poluídas por óleo, onde esta é a única amplamente investigada e discutida, estudos
ação de biorremediação, a erosão do petróleo é raramente abordaram os efeitos do
um processo muito lento, que pode levar uma envelhecimento na mudança das propriedades
ou duas décadas para remover completamente o do solo e toxicidade.
material oleoso. Diferentes estudos (URUM et al., 2006;
Além disso, Cai et al. (2016) reforça a WANG et al, 2008; ABOUSEOUD et al. 2010,
necessidade de estudos de biorremediação em EBADI et al., 2017) comprovaram que o
solos contaminados por óleo pesado e a bioestimulo (adição de nutrientes, surfactantes)
necessidade de caracterização e análise da auxília no aumento da eficiência dos processos
composição do solo ao longo do ensaio de de biorremediação. Hua et al. (2010), Kuyukina
tratabilidade. Para Loehr et al. (2001) é possível et al.(2013) e Horel et al. (2014) avaliaram os
prever a eficiencia de uma bioremediação microorganismos presentes no solo e uso da
baseada em informações simples de técnica de bioaumento no solo. Os resultados de
caracterização de hidrocarbonetos e o biaumento variaram em relação aos
intemperismo do óleo. microorganismos selecionados, comunidade
Por outro lado, Fodgen (2012) demonstra microbiana prévia, o teor de salinidade e o
a necessidade de estudos que detalhem a tempo de ensaio.
interação solo-petróleo bruto, principalmente Li et al. (2015) avaliou o uso de
quando se trata de partículas argilosas, de bioeletroquímica para tratamento de solos
maneira a prever de uma forma mais eficiente o contaminados e concluiu que tal método é mais
comportamento deste contaminante nos solos adequado para ser aplicado em solos arenosos,
argilosos. especialmente para a maioria dos campos de
Abed et. al (2015) trabalharam em solos petróleo costeiros com areia e sal condutivo
desérticos e demonstram a influência da suficientes no solo. O autor, inclusive, sugere a
temperatura e da salinidade no adição de areia aos solos para promover uuma
desenvolvimento de comunidades bacterianas menor resistência elétrica, maior
no solo contaminado por petróleo. Segundo permeabilidade, menor hidrofobicidade.
esses estudos, o aumento de temperatura
favorece a mineralização do óleo, mas, em 3.3 Estudos Ecotoxicológicos
contrapartida, o aumento da salinidade reduz a
biodegradação do mesmo. Este resultado é Os ensaios ecotoxicologicos são essenciais para
coerente com o encontrado por Rhykerd et. al garantir que o processo de bioremediação foi
(1995), que realizou pesquisa com diferentes eficiente na degradação de todos os compostos
tipos de solo, e comprovou que em meio tóxicos de um solo; entretanto, a realização
hipersalino o processo de biorremediação é destes ensaios em pesquisas realizados em solos
mais lento. Minai-Tehrani et al. (2009) e Minai- contaminados por óleo bruto ainda é insipiente.
Tehrani et al. (2006) observaram uma redução Dos 52 artigos levantados sobre remediação
de degradação de PAH e TPH em salinidades apenas 13 realizaram ensaios ecotoxicológicos,
superiores à 1%. o que corresponde a 25%. Os principais ensaios
Outro ponto que deve ser consuiderado realizados são apresentados na tabela 03.
refere-se ao fato que a poluição por petróleo Estudos recentes têm abordado os ensaios de
pode diminuir o conteúdo de água no solo, pois toxicidade com organismos teste Artemia
suas propriedades hidrofóbicas fazem com que salina, bioluminescência da bacteria Vibrio
os solos desenvolvam repelência à água severa fisheri, germinação de alface, germinação de
e persistente (Rowell, 1977 apud Nie et al, plantas superiores (Secale cereale L., Lactuca
2009). Segundo Tang et al. (2012) embora a sativa L., Zea mays L., Lepidiu msativu m L.,
biorremediação de TPH em solos tenha sido Triticu mvulgare L., Brassica oleracea L.), entre
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outros como uma forma de avaliar as condições indústria de petróleo. Uma avaliação dos
e qualidades do meio após aplicação das organismos indicados para ensaios de
técnicas de tratamento (Campos et al. (2002), ecotoxicidade na condição salina é necessária.
Coulon et. al (2005), Plaza et al (2005), Madela
et. al, (2016), Ebadi et al. (2017)). Nestes REFERÊNCIAS
ensaios são considerados: variações de
salinidade, variação de HC e o tempo de ensaio. ABED, R. M. M.; AL-KHARUSI, S.; AL-HINAI, M. Effect of
biostimulation, temperature and salinity on respiration
Tang et al., 2012 demonstrou que cada activities and bacterial community composition in an oil
microorganismo terá respostas de toxicidade polluted desert soil. International Biodeterioration and
independentes. Segundo o autor, os resultados Biodegradation, v. 98, p. 43–52, 2015.
ABOUSEOUD, M.; YATAGHENE, A.; AMRANE, A.;
do teste de toxicidade não foram consistentes MAACHI, R. Effect of pH and salinity on the emulsifying
entre os organismos utilizados (germinação de capacity and naphthalene solubility of a biosurfactant
sementes de milho e bactérias luminescentes). produced by Pseudomonas fluorescens. Journal of
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Tabela 03: Levantamento de artigos por ensaios AIZENSHTAT, Z.; MILOSLAVSKI, I.; ASCHENGRAU, D.;
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para uma variedade de concentração de sais wastewater treatment by combined microfiltration and
auxiliará na escolha de tratamentos mais biological processes. Water Research, v. 36, n. 1, p. 95–104,
2002.
adequados para cada caso. Fica claro então, que CHACHINA, S. B.; VORONKOVA, N. A.; BAKLANOVA, O.
a salinidade é um personagem ambiental N. Biological Remediation of the Petroleum and Diesel
importante em campos de petróleo, Contaminated Soil with Earthworms Eisenia Fetida.
Procedia Engineering, v. 152, p. 122–133, 2016.
especialmente os maduros e, por isso, são CIPULLO, S.; PRPICH, G.; CAMPO, P.; COULON, F.
necessárias informações mais detalhadas sobre Assessing bioavailability of complex chemical mixtures in
o efeito da contaminação por petróleo bruto e contaminated soils: Progress made and research needs.
sua consequente salinização do solo. A partir Science of the Total Environment, v. 615, p. 708–723,
2018.
disso, será possível realizar processos de COULON, F.; PELLETIER, E.; GOURHANT, L.; DELILLE,
bioremediação mais eficientes que irão auxiliar D. Effects of nutrient and temperature on degradation of
na redução dos impactos ambientais da petroleum hydrocarbons in contaminated sub-Antarctic soil.
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Sustentabilidade aplicada na remediação de áreas contaminadas


Caroline Visentin
Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Brasil, caroline.visentin.rs@gmail.com

Adan William da Silva Trentin


Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Brasil, adan_trentin@hotmail.com

Adeli Beatriz Braun


Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Brasil, adelibeatrizbraun@hotmail.com

Antonio Thomé
Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Brasil, thome@upf.br

RESUMO: Ao longo dos anos a sustentabilidade vem sendo inserida nos processo de remediação de
áreas contaminadas. Neste sentido, este estudo objetivou realizar uma análise sobre a evolução da
produção científica e da utilização do termo da remediação sustentável no contexto da gestão de
áreas contaminadas, e também da Análise do Ciclo de Vida (ACV) como um instrumento de
avaliação da sustentabilidade das tecnologias de remediação. Para tanto, foi realizada uma análise
sistemática e bibliométrica das publicações no campo da remediação sustentável e da ACV. A
pesquisa demonstrou que a remediação sustentável possui grande importância no contexto da gestão
de áreas contaminadas, consistindo em um tema ainda novo, mas em ascensão. Em relação à ACV,
observou-se que esta vem atuando como um instrumento de avaliação dos impactos ambientais das
tecnologias de remediação. Uma análise mais ampla da sustentabilidade está sendo realizada por
meio da combinação da ACV com outras ferramentas de avaliação.

PALAVRAS-CHAVE: Sustentabilidade; Remediação; Análise do Ciclo de Vida; Bibliometria.

1 INTRODUÇÃO Neste contexto surge a remediação


sustentável como uma abordagem ampla e
As contaminações ambientais, resultantes das holística, considerando igualmente as três
atividades humanas, representam um problema dimensões da sustentabilidade (ambiental,
ambiental, econômico e social, para tanto, sua econômica e social) na tomada de decisão sobre
remediação torna-se fundamental (Reddy; a remediação de áreas contaminadas, tanto os
Adams, 2015). impactos negativos quanto os benefícios da
A necessidade de remediação destas áreas aplicação das tecnologias de remediação (Rizzo
surge tanto no quesito legal, quanto na proteção et al., 2016).
da saúde pública e melhoria da qualidade de Portanto, a remediação sustentável não
vida da população. Inúmeras tecnologias de consiste em uma nova tecnologia de
remediação podem ser empregadas de forma a remediação, mas em uma nova forma de
descontaminar estes locais, no entanto, muitas considerar, avaliar e controlar as tomadas de
destas técnicas resultam em um alto consumo decisão no que se refere à escolha e
de energia, água e outros recursos naturais, implementação das tecnologias tradicionais de
gerando consequências que podem superar até remediação, considerando os conceitos da
mesmo os benefícios da sua implementação sustentabilidade neste contexto, ou seja,
(Reddy; Adams, 2015; Harclerode et al., 2015). avaliando e melhorando os seus aspectos
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ambientais, econômicos e sociais. Neste (Heijungs; Wiloso, 2014; Martins et al., 2017).
sentido, a sustentabilidade pode ser aplicada Deste modo, este estudo objetivou
para as mais diversas técnicas de remediação, caracterizar e analisar a abordagem da
para diferentes tipos de solo e contaminantes. remediação sustentável no contexto da gestão
Para uma técnica ser considerada sustentável, de áreas contaminadas, e também da ACV
inúmeros fatores devem ser levados em conta como um instrumento de avaliação da
nesta avaliação. Não basta analisar os impactos sustentabilidade das tecnologias de remediação.
e benefícios das diferentes tecnologias apenas
durante o processo de remediação. A
sustentabilidade é um processo mais amplo que 2 METODOLOGIA
deve englobar todos os aspectos ambientais,
sociais e econômicos do processo ao longo de O presente estudo foi desenvolvido a partir de
todo o seu ciclo de vida, considerando desde a uma pesquisa sistemática e bibliométrica
extração do material empregado na tecnologia temporal de cunho quantitativo e estatístico de
até a destinação final do material da remediação medição dos índices de produção e
(Rizzo et al., 2016). disseminação do conhecimento científico.
Neste sentido, torna-se fundamental a A pesquisa bibliométrica, de acordo com
utilização de métodos e ferramentas com a Marcelo e Hayashi (2013), é uma técnica que
finalidade de avaliar a sustentabilidade das surgiu no início do século XX como uma
técnicas de remediação, considerando todo o resposta a necessidade de estudos e avaliações
processo, em uma perspectiva do seu ciclo de da produção e comunicação científica, tendo
vida (Song, et al., 2018). como principais característica a elaboração de
As técnicas ou tecnologias de remediação índices de produção conhecimento científico.
correspondem aos processos empregados na Além disso, esta pesquisa proporciona a análise
descontaminação do solo, como por exemplo, da evolução teórica do tema, verificando os
soil washing, aeração, estabilização e autores e países com maior número de
solidificação (Reddy e Adams, 2015). Os publicações, além dos periódicos que são mais
métodos, por sua vez, correspondem à publicados, dentre outros índices.
metodologias orientativas com os As publicações analisadas são relacionadas à
procedimentos para analisara sustentabilidade Remediação Sustentável e Análise do Ciclo de
das tecnologias tradicionais de remediação de Vida aplicada na remediação de áreas
áreas contaminadas, antes, durante e após o contaminadas com o viés na sustentabilidade,
processo de implementação das mesmas. Já as representada pelos artigos científicos indexados
ferramentas são programas computacionais na base de dados Scopus, Web of Science
empregados para avaliar a sustentabilidade das (WOS), no período entre 1980 e 2017.
técnicas de remediação. A escolha pela utilização da base de dados
Dentre as inúmeras ferramentas empregadas Scopus se deve ao fato desta ser a maior base de
para avaliar a sustentabilidade na remediação de dados de resumos e citações de literatura
solos contaminados, a Análise do Ciclo de Vida revisada por pares, com ferramentas
(ACV) é bastante utilizada. A ACV consiste em bibliométricas para acompanhar, analisar e
um processo de avaliação e quantificação dos visualizar a pesquisa. A Scopus contém mais de
impactos ambientais gerados ao longo do ciclo 22.000 títulos de mais de 5.000 editores em
de vida de produtos e serviços, desde a extração todo o mundo, abrangendo diferentes áreas. A
até a disposição final, considerando todos os Scopus permite uma visão multidisciplinar da
fluxos de materiais e energia em todas as fases ciência e integra todas as fontes relevantes para
de vida do produto, ou da tecnologia de a pesquisa básica, aplicada e inovação
remediação, considerando o presente contexto tecnológica através de patentes, fontes da web
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de conteúdo científico, periódicos de acesso a ACV e sustentabilidade aplicada na


aberto, memórias de congressos e conferências, remediação. Foram consideradas as seguintes
além de ser atualizada diariamente (Scopus, variáveis: ano das publicações, países e autores.
2015). A pesquisa com as palavras-chave foi
A utilização da base de dados da WOS se realizada na forma de uma única expressão, e
deve ao fato da mesma ser o banco de dados tendo como critério a seleção dos seguintes
com o maior volume de dados que estão tópicos - todos os tipos de documentos, títulos,
disponíveis gratuitamente nas Universidades resumos e palavras-chaves.
Públicas Brasileiras através da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES) (Motta; Quintela, 2012) e por sua 3 REMEDIAÇÃO SUSTENTÁVEL
representatividade numérica de artigos de todas
as partes do mundo (Anastasiadis; Albuquerque, A incorporação da sustentabilidade na
2009). remediação de áreas contaminadas ocorreu de
Optou-se por utilizar como faixa de estudo o forma gradual nos últimos anos, sendo que, a
período entre os anos de 1980 e 2017 em função importância de sua abordagem já é destaque em
de que a percepção e a necessidade de se quadros políticos, agências e organizações de
enfrentar os problemas ambientais tiveram suas todo o mundo (Pollard et al., 2004).
primeiras iniciativas por volta dos anos 1980, Na primeira fase da pesquisa bibliométrica,
onde o desenvolvimento sustentável deixou de com o tópico “sustainable remediation”, foram
ser somente um ideal, para ser considerada uma encontradas 241 publicações na Scopus e 158
meta (IPCC, 2007). na WOS, sendo que sua distribuição referente
A pesquisa foi realizada em duas fases. A ao recorte temporal entre os anos de 1980 a
primeira analisou a distribuição temporal da 2017 está representada na Fig. 1.
remediação sustentável, por meio da palavra-
chave “Sustainable Remediation”. E a segunda
fase avaliou a aplicação da sustentabilidade na
ACV e na remediação de solos, com a entrada
dos termos: “ACV/Life Cycle Analyses, Life
Cicle Assessment, Sustainability, Remediation”.
Na primeira fase da pesquisa foram
analisadas as seguintes variáveis: ano das
publicações, países, autores, áreas temáticas e
periódicos em destaque na temática. As
informações obtidas foram apresentadas por
meio de quadros, gráficos e explanações Figura 1. Evolução temporal da produção científica sobre
complementares, com demonstração dos 10 Remediação Sustentável.
primeiros resultados da pesquisa, em uma
classificação hierárquica na ordem decrescente Observa-se que as primeiras publicações
de importância. iniciaram no ano de 1999 e a partir dos anos
Na segunda fase foram analisadas em 2000, onde, segundo Rizzo et al. (2016), houve
conjunto as publicações das bases de dados um crescente interesse em incorporar a
Scopus e Web of Science. Através de uma sustentabilidade nos processos de tomada de
análise de cada publicação, pode-se verificar decisão quanto à remediação de áreas
aquelas que encontravam-se em ambas as bases, contaminadas, por meio da disseminação do
excluindo da contagem, de forma a obter uma termo "remediação sustentável”, refletindo uma
resposta mais precisa das publicações referentes percepção de que as atividades de remediação
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podem trazer impactos ambientais, sociais e


econômicos, tanto positivos quanto negativos.
No período compreendido entre 1980 e 2017,
constatou-se que o número de publicações
aumentou gradativamente ao longo dos anos
analisados. Contudo, o período compreendido
entre 1999 e 2008 apresentou um
comportamento relativamente estável, sendo
que, a partir de 2009 o total de artigos
publicados começou a crescer, de forma
gradual, atingindo o ápice no ano de análise, Figura 3. Distribuição das publicações por países na base
de dados WOS
2016, com 40 publicações na Scopus e WOS.
Quando se comparam esses dois períodos,
O Brasil aparece com apenas 03 publicações
1999-2008 e 2009-2016, verifica-se que o
relacionadas ao tema pesquisado, em ambas as
número médio de publicações no primeiro
bases de dados.
período foi de aproximadamente 2 artigos/ano
Observa-se que as principais economias
na Scopus e WOS. Já o segundo período
globais são as que apresentam maior número de
apresentou uma média anual de 24 artigos
publicações. Segundo Hou et al. (2016a) o
publicados na Scopus e 16 na base de dados
cenário mundial apresenta disparidades quanto
WOS. Constata-se, portanto, uma taxa de
à adoção de medidas corretivas sustentáveis.
crescimento significativa do segundo período
Enquanto países como os Estados Unidos
em relação ao primeiro em ambas as bases de
(EUA) e o Reino Unido, por exemplo, já
dados, indicando que há uma forte tendência ao
apresentam altas taxas de conscientização e
crescimento de publicações sobre remediação
adoção da remediação sustentável, países em
sustentável para os próximos anos. Além disto,
desenvolvimento apresentam menor
verifica-se que o maior número de publicações
sensibilização em relação à adoção da
anual ocorre na base de dados Scopus.
sustentabilidade na remediação de áreas
Na segunda etapa da pesquida foi realizada
contaminadas.
uma análise dos países com maior número de
Um dos fatores que corrobaram com a
publicações nas bases de dados Scopus e WOS.
expansão das pesquisas e implementação da
O país que apresenta maior destaque em
sustentabilidade na remediação em diferentes
número de publicações, em ambas as bases de
países, foi a criação, no ano de 2006, do Fórum
dados é os Estados Unidos, com 101
de Remediação Sustentável (Sustainable
publicações na Scopus e 47 na WOS, conforme
Remediation Forum - SuRF). Consiste em um
Figura 2 e 3.
fórum internacional sem fins lucrativos,
formado por profissionais, pesquisadores e
indústria, que tem como objetivo promover o
uso de práticas sustentáveis na remediação.
Atualmente o SuRF tem organização fortemente
atuantes nos Estados Unidos e Reino Unido,
mas já possui redes espalhadas em diferentes
países, como Canadá, Holanda, Itália, China,
Nova Zelândia, Austrália e Brasil (Ridsdale e
Noble, 2016).
Na terceira etapa da bibliometria foi possível
Figura 2. Distribuição das publicações por países na base identificar os autores que mais publicaram sobre
de dados Scopus
a remediação sustentável no período analisado.
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Dentre os autores, destaca-se o pesquisador Tabela 1. Áreas temáticas com maior abordagem nas
Deyi Hou com 15 publicações na base de dados bases de dados Scopus e WOS.
Scopus
Scopus e 14 na WOS. A abordagem de Deyi Número
Hou, além de objetivar em apresentar a Área temática
de autores
sustentabilidade como um novo imperativo na Ciência ambiental 181
remediação de áreas contaminadas, tem o Engenharia química 27
enfoque maior de avaliar a tendência e a adoção Ciências da Terra e do Planeta 27
Engenharia 26
efetiva de comportamentos sustentáveis tanto Energia 25
em diferentes países, quanto por parte dos Bioquímica, Genética e Biologia
22
decisores envolvidos no processo de Molecular
remediação. Química 19
Paul Bardos, que vem logo em seguida, com Ciência Agrícola e Biológica 16
Ciências Sociais 10
09 publicações na Scopus e 06 na WOS, é visto Imunologia e Microbiologia 8
como o líder em tecnologias de remediação de WOS
terrenos contaminados e um dos inovadores por Número
Área temática
trás do conceito de remediação sustentável de autores
desde o final da década de 1990, o que pode Ciência ambiental e ecológica 96
Engenharia 51
justificar que o autor esteja entre os autores que Microbiologia aplicada a Biotecnologia 14
mais publiquem sobre o tema. Neste sentido, Ciência da tecnologia e outros temas 12
em sua maior parte, as publicações de Paul Química 11
Bardos vêm com intuito de apresentar o estado Recursos hídricos 11
da arte acerca da remediação sustentável, por Agricultura 10
meio da propagação de conceitos, princípios, Bioquímica e biologia molecular 5
Energia de combustíveis 5
progressos no cenário mundial e as justificativas Geofísica e Geoquímica 5
de sua aplicação na prática da remediação de
áreas contaminadas. Na base de dados da WOS temos as áreas de
Outros autores também possuem destaque ciências ambientais e ecologia, engenharia e
quanto às publicações, como por exemplo, Abir biotecnologia como sendo as três principais. A
Al-Tabbaa (com 7 publicações na Scopus e 6 na última análise correspondeu a quantidade de
WOS), Paul Favara (7 publicações na Scopus), publicações nos dez principais periódicos
David Woodward (6 pubicações na Scopus), (Tabela 2).
Jonathan Smith (5 publicações na WOS), Na base de dados da Scopus os periódicos de
Qingbao Gu (5 publicações na Scopus e 5 na remediação (remediation) estão em destaque,
WOF); Krishna Reddy (5 publicações na com 40 publicações. Outro destaque é a revista
Scopus), dentre outros. da Journal of environmental management, com
Em relação às áreas temáticas em que 17 publicações nas bases de dados Scopus e
ocorrem o maior número de publicações sobre a WOS.
remediação sustentável, verifica-se a
multidisciplinaridade na abordagem do tema
(Tabela 1). 4 ANÁLISE DO CICLO DE VIDA
A remediação sustentável vem sendo foco
principalmente da área de ciências ambientais, Na segunda fase desta pesquisa, foram
engenharia e ciências da terra e do planeta, encontradas 80 publicações, sendo destas 47 na
segundo a base de dados Scopus. base de dados da Scopus e 33 na WOS.
Excluindo os artigos repetidos foram
encontradas 61 publicações, conforme Figura 4.
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A distribuição destes artigos é referente ao através da publicação do primeiro estudo sobre


recorte temporal entre os anos de 1999 a 2017. análise do ciclo de vida da remediação.
(Kearney et al., 1999). Conforme verificado no
Tabela 2. Periódicos com maior número de publicações item anterior, enquanto que os conceitos da
na base de dados Scopus e WOS
Scopus
remediação sustentável foram sendo
Número de aprimorados ao longo dos anos, com diversas
Periódico
publicações publicações e diretrizes, a aplicação da ACV na
Remediation 40 remediação de áreas contaminadas teve o seu
Journal of Environmental Management 17 segundo estudo apenas em 2007.
Environmental Science and Pollution
Research
9 Em 2008 observa-se um aumento nos
Science of The Total Environment 8 estudos, com declínio em 2010 e 2012.
Chemosphere 7 Entretanto, a partir de 2013, observa-se um
Journal of Hazardous Materials 6 crescimento nas publicações, sendo que estas do
Land Contamination and Reclamation 5 período de 2013 a 2018 correspondem a 67% do
Biomass and Bioenergy 4
Journal of Cleaner Production 4
total. Este crescimento é explicado devido à
Journal of Geochemical Exploration 4 disseminação da aplicação da sustentabilidade
WOS tanto na remediação de solos quanto na ACV
Número de (Valdivia et al., 2012; Rizzo et al., 2016;
Periódico
publicações Trentin et al., 2017).
Journal of environmental management 17
Remediation the journal of
A ACV foi aplicada com sucesso em várias
environmental cleanup costs 11 áreas, auxiliando no desenvolvimento e
technologies techniques melhoria de produtos e processos, e também na
Environmental science and pollution tomada de decisões (Singh et al., 2008; Martins
9
research et al. 2017). Na remediação de solos, a ACV é
Science of the total environment 8
Chemosphere 7
geralmente usada para avaliar o desempenho de
Journal of hazardous materials 6 diferentes tecnologias, comparando os impactos
Biomass bioenergy 4 ambientais associados a cada técnica de
Journal of cleaner production 4 remediação.
Ecological engineering 3 Neste sentido, a maioria dos estudos indicam
Journal of geochemical exploration 3 que tecnologias que envolvem a escavação e o
tratamento ex situ, ou a destinação em aterros,
resultam em maiores impactos, em virtude do
transporte de caminhões, consumo de
combustível, geração de emissões atmosféricas,
maior impacto no tráfego local, etc. (Harbottle
et al., 2007; Harbottle et al., 2008; Cappuyns
2010; Hou et al. 2014a; Vigil et al., 2015; Hou
et al., 2016b; Song et al., 2018). Entretanto, as
técnicas de remediação in situ são muitas vezes
mais demorados, e demandam de mais energia
para a sua realização, além de haver muito mais
Figura 4. Evolução temporal da produção científica sobre
incertezas em relação ao prazo em que a
Análise do Ciclo de Vida, Sustentabilidade e remediação pode ser alcançada e a sua
Remediação. eficiência (Cappuyns, 2013). Ainda,
considerando uma análise de sustentabilidade, a
A aplicação dos conceitos da ACV na escavação do solo contaminado para tratamento
remediação de solos iniciou no ano de 1999, ex situ, resulta em maior exposição dos
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trabalhadores aos poluentes (Harbottle et al., resíduos, no transporte e consumo de matérias


2008). primas, do que a escavação e disposição final
Em um solo contaminado com em aterro, conforme verificado por Harbottle el
hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAH) al. (2007) através de uma ACV.
e metais pesados, incluindo Pb, As, Cu, Zn e Hou et al. (2014b) avaliou e comparou os
Ni, de uma antiga área industrial na China impactos ambientais da lavagem de solo com a
(Song et al., 2018), a alternativa de remediação escavação e disposição final em aterro do
envolvendo um tratamento múltiplo (lavagem sedimento do canal do Parque Olímpico de
de solo, dessorção termal e estabilização e Londres contaminado com hidrocarbonetos de
solodificação) demonstrou melhores resultados petróleo e PAH. A técnica de lavagem de solos
ambientais aplicando a ACV, do que a resultou em menores impactos ambientais do
alternativa de escavação e destinação em que a escavação e disposição final em aterro
aterros, resultando nos menores impactos na utilizando a ACV, nas categorias de qualidade
geração de resíduos, melhor segurança dos dos ecossistemas, saúde humana e consumo de
trabalhadores e impactos locais preferíveis, recursos (Hou et al., 2014b).
levando a maiores pontuações nos domínios A norma ISO 14.040, define a ACV como a
ambiental e socioeconômico (Song et al., 2018). "compilação e avaliação dos insumos, produtos
Outro exemplo, relatado por Amponsah et al. e potenciais impactos ambientais de um sistema
(2017) para um solo contaminado com de produtos em todo o seu ciclo de vida” (ISO,
compostos orgânicos e inorgânicos como 2006). Neste sentido, a maioria dos estudos
hidrocarbonetos de petróleo e poliaromáticos, analisados compreende a publicações que
bifenilas policloradas, dioxinas, metais pesados consideraram apenas a avaliação dos impactos
e outros compostos, duas técnicas de ambientais (Cappuyns, 2013; Ferdos; Rosén,
remediação foram selecionadas para serem 2013; Gallagher et al., 2013; Hou et al., 2014b;
avaliadas por meio da ACV. A alternativa de Brecheisen; Theis, 2015; Vigil et al., 2015; Hou
Bioventing resultou nos menos impactos et al., 2016; Vocciante et al., 2016). Entretanto,
ambientais nas categorias de saúde humana, muitas publicações ampliaram essa abordagem
qualidade dos ecossistemas e mudanças de avalição das tecnologias de remediação,
climáticas, quando comparada com a alternitiva considerando, além da ACV, outras ferramentas
de escavação e remediação utilizando a técnica de análise, de forma a avaliar conjuntamente, os
de biopilhas (Amponsah et al., 2017). aspectos ambientais e econômicos (Hou et al.,
Outro estudo de um solo agrícola 2014a; Harbottle et al., 2007; Martins et al.,
contaminado com mercúrio na China foi objeto 2017); e ambiental, econômico e social (Hou et
de avaliação dos impactos ambientais das al., 2014a; Goldenberg; Reddy, 2014;
técnicas de remediação por meio da ACV. A Søndergaard et al., 2017; Hou et al., 2017; Song
dessorção termal com baixas temperaturas, e a et al., 2018).
técnica de estabilização e solidificação (E/S) Considerando a tendência a inclusão da
utilizando carvão ativado com biochar mostram sustentabilidade na ACV, por meio de uma
ser processos com menores impactos ambientais abordagem mais ampla através da Análise do
do que configurações de E/S a base de carvão, e Ciclo de Vida Sustentável. A perspectiva para
dessorção termal com altas temperaturas (Hou as publicações é de uma análise abrangendo
et al., 2016b). além dos impactos ambientais das tecnologias
Em um solo grosseiro contaminado com de remediação, os impactos sociais e
compostos orgânicos como BTEX (benzeno, econômicos. Para isso, a combinação da ACV
tolueno, etilbenzeno e xileno) e hidrocarbonetos com outras ferramentas de avaliação é
de petróleo, o processo de E/S resultou em observada. As principais ferramentas
menores impactos ambientais na produção de empregadas em conjunto com ACV são a
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análise de custo benefício, análise atividades de remediação (Trentin et al., 2017).


socioeconômica e análise multicritérios,
conforme os estudos de Hou et al. (2014a),
Goldenberg e Reddy (2014), Søndergaard et al.
(2017), Hou et al. (2017) e Song et al. (2018).
Os autores que mais publicaram sobre a
ACV, sustentabilidade e remediação no período
analisado são Hou, D. (seis publicações), Al-
Tabbaa, A. (cinco publicações) e Cappuyns, V.
(quatro publicações). Em seguida os autores
com Harbottle, M. J., Gallagher, P. M., Favara,
P. e Brecheisen, T. com três publicações cada.
O pesquisador Hou, D. (Deyi Hou) consiste
Figura 5. Principais países da produção científica sobre
no principal autor das publicações referentes a Análise do Ciclo de Vida, Sustentabilidade e
ACV, sustentabilidade e remediação. As suas Remediação.
publicações podem ser divididas em estudos de
comparação dos impactos ambientais entre
diferentes tecnologias de remediação (Hou et 4 CONCLUSÕES
al., 2014a; Hou et al., 2014b; Hou et al., 2016b;
Hou et al., 2017; Song et al., 2018), e também O estudo bibliométrico proporciona uma visão
em uma análise detalhada sobre o crescimento geral dos estudos publicados sobre a
da remediação sustentável, bem como, a remediação sustentável, e também em relação à
proposta de um quadro para a avaliação da aplicação da Análise do Ciclo de Vida como um
sustentabilidade e a tomada de decisões (Hou; instrumento de avaliação dos impactos
Al-Tabbaa, 2014). ambinetais na remediação de áreas
Comparando os principais pesquisadores contaminadas. Estas informações trazem o
desta segunda fase da pesquisa, com aqueles conhecimento científico sobre a evolução destes
apresentados no item anterior, referente à temas, sua distribuição temporal, bem como, os
remediação sustentável, percebe-se que os principais autores e países destas publicações.
autores Deyi Hou e Al-Tabbaa configuram A pesquisa demonstrou que a remediação
também como principais autores nos estudos de sustentável possui grande importância no
ACV na remediação. contexto da gestão de áreas contaminadas,
O maior número de publicações é consistindo em um tema ainda novo, mas em
identificado nas principais economias globais, ascensão. Entretanto, ainda existem muitas
com EUA (19 publicações) e Reino Unido (oito barreiras que impedem a sua aplicação no
publicações), conforme Figura 5. Estes países cotidiano dos projetos de recuperação
apresentam altas taxas de conscientização e ambiental.
adoção da remediação sustentável, em A sustentabilidade na ACV e a remediação é
comparação com os países em um processo ainda novo, que vem avançando ao
desenvolvimento, os quais apresentam menor longo dos anos, conforme verificado pelo maior
sensibilização com a sustentabilidade de áreas número de publicações nos últimos cinco anos,
contaminadas (Trentin et al, 2017). A maior atingindo o ápice nos anos de 2013 e 2016.
preocupação dos países desenvolvidos com a Além disso, percebe-se que a ACV vem
remediação sustentável se dá em virtude da atuando como um instrumento de avaliação dos
existência de organizações e instituições impactos ambientais das tecnologias de
voltadas exclusivamente para a introdução e remediação. Promovendo além de informações
difusão dos conceitos de sustentabilidade nas referentes aos impactos ambientais das
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diferentes técnicas de remediação, formas de Case Studies. Remediation, v. 24, p. 77–98.


melhorar a sustentabilidade destes processos, de Gallagher, P. M.; Spatari, S. (2011). Life Cycle
Approaches for Brownfields Redevelopment.
modo a diminuir os impactos ambientais. Além Geotechnical Risk Assessment and Management.
disso, a ACV também é um mecanismo de ASCE, p. 736-746.
tomada de decisão. Goldenberg, M.; Reddy, K. R. (2014). Sustainability
Percebe-se um interesse na análise da Assessment of Excavation and Disposal versus In Situ
sustentabilidade como um todo, considerando Stabilization of Heavy Metal-Contaminated Soil at a
Superfund Site in Illinois. In: Geo-Congress 2014:
os impactos ambientais, sociais e econômicos Geo-characterization and Modeling for
das tecnologias de remediação, por meio da Sustainability, p. 2245-2254.
combinação da ACV com outras ferramentas de Harbottle, M. J.; Al-Tabbaa, A.; Evans, C. W. (2007). A
avaliação, como por exemplo, a análise de comparison of the technical sustainability of in situ
custos-benefício e a análise multicritério. stabilisation/solidification with disposal to landfill.
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da Universidade de Passo Fundo e à Estimating Social Impacts of a Remediation Project
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Nível Superior (CAPES) pelo fornecimento de Tools. Remediation Journal, [s.l.], v. 24, n. 1, p.5-20.
bolsas de estudos, o que permitiu a realização Heijungs, R.; Wiloso, E. I. (2014). Life cycle assessment
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deste estudo aprofundado, além da continuidade
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Utilização de Rejeitos de Demolição da Construção Civil (RDC)


em Concreto Asfáltico
Joel Carlos Moizinho
Professor, Universidade Federal de Roraima, Boa Vista, Brasil, joel.moizinho@ufrr.br

Francinelly Felix Cavalcante de Andrade


Engenheira Civil, Boa Vista, Brasil, francinelly_ffcda@hotmail.com

Adriano Frutuoso da Silva


Professor, Universidade Federal de Roraima, Boa Vista, Brasil, adriano.silva@bol.com.br

RESUMO: O artigo mostra o comportamento de agregados RDC em concreto asfáltico. Os


materiais utilizados foram: CAP 50-70, agregados graúdo e miúdo de rejeito de concreto estrutural e
cimento Portland. Para caracterização dos agregados realizou-se ensaios de: densidade real,
aparente, absorção, abrasão, adesividade, equivalente de areia e massa específica. Moldou-se corpos
de prova de CAUQ com 4,5%, 5,0%, 5,5%, 6,0% e 6,5% de ligante. Além dos parâmetros Marshall,
também foram determinados a resistência à tração e o desgaste Cântabro. Para o agregado graúdo, o
peso específico aparente e real determinados foram, respectivamente, 26,4kN/m3 e 23,4kN/m3,
absorção 4,81%, desgaste a abrasão de 42%. O agregado miúdo apresentou 85% de equivalente de
areia e adesividade satisfatória. O teor ideal de CAP foi de 5,5%, desgaste Cântabro de 10,5% e
resistência à tração de 0,81MPa, atendendo ao DNIT ES 031/2006. Os resultados apontam para a
viabilidade técnica do RCD pesquisado em concreto asfáltico.

PALAVRAS-CHAVE: Resíduos da Construção, Sustentabilidade Ambiental, RDC concreto.

1 INTRODUÇÃO trabalhando de forma sustentável, minimizando


as agressões ao meio ambiente.
O Brasil, segundo pesquisa CNT 2015, dispõe A produção de resíduos de construção e
de 1.691.522 quilômetros de rodovias, destes, demolição (RCD) é intensa em muitas cidades
apenas 203.599 km são pavimentados, que brasileiras devido aos fortes investimentos
representa 12,0% da malha. Diante da grande destinados à indústria da construção. Os RCD’s
área ainda a pavimentar e da grande demanda podem ser transformados em agregados
por agregados, que compõem cerca de 90% a reciclados e utilizados em obras de
95% das misturas asfálticas, há a necessidade de pavimentação, tanto como material de sub-base
pesquisas de fontes de materiais alternativos e base, quanto em agregados para misturas
para pavimentação. asfálticas.
Nas grandes e médias cidades se observa o O crescente consumo de agregados naturais
desperdício de um material que certamente juntamente com a crescente produção de RCD e
poderia ser utilizado como agregados graúdos, as diretrizes da resolução nº 307 do CONAMA
miúdos (areia) e filler em obras civis. Tais e da Política Nacional de Resíduos Sólidos
materiais são os Resíduos da Construção Civil e (PNRS), têm levado à consolidação de técnicas
de Demolições (RCD). Certamente ao se de reciclagem.
utilizar os RCD’s na composição do concreto Segundo Zhu, Wu e Wang (2012), o uso de
asfáltico nos pavimento, o homem estará agregados reciclados em misturas asfálticas tem
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sido um tema interessante para a proteção do


ambiente e desenvolvimento sustentável.
Sendo assim, a presente pesquisa torna-se
relevante ao apresentar como proposta a
avaliação das características e do desempenho
mecânico dos agregados reciclados procedentes
do RCD em misturas asfálticas. Ao mesmo
tempo, propõe-se uma análise comparativa de
desempenho entre tais agregados e os agregados
convencionais, quando utilizados em misturas
asfálticas.
Figura 1. Bloco de RCD obtidos em obra
3 METODOLOGIA

A metodologia foi elaborada a partir da


necessidade de caracterização dos agregados
oriundos de restos de demolições de vigas e
pilares de concreto, em termos de propriedades
físicas e mecânicas que justifique seu emprego
como material de construção. Todos os ensaios
foram realizados no laboratório de
pavimentação da Universidade Federal de
Roraima.

3.1 Agregados
Figura 2. RCD após a britagem
3.1.1 Agregados Graúdos e Miúdos
Os agregados oriundos do processo de
Os agregados graúdos e miúdos foram obtidos britagem foram separados em frações
de peças de pilares coletadas de uma antiga granulométricas e enquadrados na média da
edificação demolida para a construção de uma faixa C (DNIT ES 031/2006), de modo a
nova em um bairro da cidade de Boa Vista, propiciar mistura densa de CAUQ.
Capital do Estado de Roraima.
Tais materiais em formato de blocos, 3.1.2 Filer
mostrados na Figura 1, foram transportados para
o laboratório de solos da Universidade Federal Em uma mistura asfáltica convencional, os
de Roraima (UFRR), onde passaram pelo agregados graúdos têm seus vazios preenchidos
processo de quebra com marreta e posterior pelos agregados miúdos e faz-se necessário uma
redução de diâmetro usando britador de fração de pó mineral (filer), para diminuir os
mandíbula até atingir as dimensões que dos vazios da mistura asfáltica e melhorar as
permitisse o peneiramento e execução dos propriedades reológicas do CAP e da mistura
ensaios propostos na pesquisa. como um todo.
A Figura 2 mostra o material do resíduo de O pó produzido no processo de britagem do
concreto demolido( RCD ) após processo de RCD (agregado passando na peneira Nº 200),
britagem. foi utilizado como filer nesta pesquisa. Desta
forma, todo o agregado usado nas misturas
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asfálticas propostas foram oriundos de resíduos cimento asfáltico a serem empregados nas
de concreto estrutural. misturas asfálticas, através da compactação por
impacto de corpos de prova cilíndricos, onde é
3.1.3 Cimento Asfáltico de Petróleo (CAP) selecionado o número de golpes do soquete em
função do volume de tráfego estimado, tais
O ligante asfáltico utilizado foi o CAP 50/70, como: 50 e 75 golpes, por face do corpo de
produzido pela REMAN - Refinaria de Manaus prova, em que estas quantidades são referentes
da Petrobras e obtido no Estado de Roraima aos seguintes níveis de tráfego,
junto à Companhia Estadual de Meio Ambiente respectivamente, 104 < N < 106 e N > 106, onde
(COEMA). “N” é o número de repetições do eixo padrão
sobre o pavimento.
3.2 Ensaios Realizados com os Agregados O teor ótimo de cimento asfáltico das
misturas foi obtido por meio da análise de
Conforme mostrado na Tabela 1, os ensaios alguns parâmetros dos concretos asfálticos e de
para caracterização física e mecânica dos acordo com a ES 031/2006 DNIT, como:
agregados foram todos baseados em estabilidade; fluência; relação betume/vazios
metodologias do DNIT. (RBV); percentagem de vazios (VV); vazios do
agregado mineral (VAM) e massa específica
Tabela 1. Ensaios de caracterização física e mecânica aparente dos corpos de prova moldados.
para agregados de RCD Os corpos de provas dosados segundo a
Ensaio Norma Técnica
metodologia Marshall foram confeccionados
Densidade real, aparente e absorção
DNIT-ME 81/98 para a realização dos seguintes ensaios: Ensaio
do agregado graúdo Cântabro, compressão diametral, estabilidade e
Abrasão "Los Angeles" Faixa C DNIT-ME 035/98 fluência.
Equivalente de Areia DNIT-ME 054/97 A dosagem Marshall partiu da adoção de 5
Adesividade do agregado RCD ao (cinco) teores de CAP a serem analisados,
DNIT-ME 078/94
asfalto procurando-se determinar o teor ótimo que
confira a mistura parâmetros que atendam a ES
3.3 Ensaios Realizados com as Misturas 031/2006 DNIT. Para cada teor foram moldados
Asfálticas 9 (nove) CP´s, sendo três CP´s usados,
respectivamente, para realização dos ensaios de:
Para o CAUQ, foi aproveitada todas as frações Desgaste Cântabro, Resistência a tração
obtidas a partir da trituração do RDC, inclusive diâmetral e dosagem Marshall.
fração de areia e filer, evitando assim a A Figura 3 mostra alguns corpos-de-prova
produção de rejeitos. Os agregados, fruto do após a moldagem e extração.
produto da britagem, foram enquadrados na
faixa C da ES 031/2006 do DNIT. Esta faixa foi
escolhida por permitir maior flexibilidade
quanto ao uso de concretos betuminosos em
camadas de ligação e rolamento.

3.3.1 Ensaio Marshall em misturas betuminosas

Designado no Brasil pela Associação Brasileira


de Normas Técnicas (ABNT) sob a referência
NBR 12891/93 (1993), estabelece uma
metodologia de dosagem dos teores ótimos de Figura 3. Corpos-de-prova pós moldagem
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Após a extração e resfriamento dos corpos de a 300 revoluções da máquina. O desgaste


prova, para os ensaios de dosagem Marshall e Cântabro foi determinado com o uso da equação
resistência a tração foram medidos a altura e o 2.
diâmetro em quatro posições diametralmente
opostas, tomando-se a média destas. Também
foram obtidos os pesos ao ar e imerso de cada (2)
CP moldado.
Em que:
3.3.2 Ensaio de Resistência à Tração por
Compressão Diametral DC = Desgaste Cântabro (%)
P1 = peso do corpo de prova ao ar;
O ensaio de resistência a tração por compressão P2 = peso do corpo de prova após trezentas
diametral (RT) foi desenvolvido por Lobo revoluções na maquina “Los Angeles”.
Carneiro e Barcellos no Brasil, para
determinação da resistência à tração de corpos
de prova de concreto-cimento, por solicitações 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
estáticas.
É um ensaio de ruptura, onde o corpo de 4.1 Agregados
prova é posicionado horizontalmente e a carga é
aplicada progressivamente, com uma velocidade 4.1.1 Absorção, Densidade Real e Aparente do
de deformação de (0,8 ± 0,1) mm/s. As misturas Agregado Graúdo
asfálticas devem possuir flexibilidade suficiente
para suportar as solicitações do tráfego e Os resultados obtidos para densidade real e
resistência à tração adequada para evitar aparente foram, respectivamente, 26,4 kN/m3 e
rupturas precoces. A resistência a tração foi 23,4 kN/m3.A absorção foi de 4,81%.
determinada por meio da equação 1. Pode-se observar que a absorção apresenta um
valor um pouco elevado devido a porosidade
presente nos resíduos de concreto, pois além da
(1) brita, existe a pasta de cimento e areia aderida a
esta, contribuindo para aumento da absorção a
Em que: água do RCD.
RT = Resistência a tração ( MPa)
F= Força de rompimento do corpo de prova (N); 4.1.2. Abrasão “Los Angeles” Faixa C
D= Diâmetro médio do corpo de prova (cm);
H = Altura média do corpo de prova (cm). O agregado apresentou desgaste “Los Angeles”
de 42% (<50%). De acordo com as
3.3.3 Ensaio Cântabro especificações do DNIT ES 031/06, o material
poderá ser utilizado como agregado para
Esse ensaio é preconizado pelo DNIT-ME revestimentos asfálticos.
383/99 e foi desenvolvido originalmente para Observou-se a boa repetibilidade do ensaio
verificar o desgaste a abrasão de corpos de “Los Angeles” para o agregado RDC. Os
prova de misturas asfálticas porosas. Esse valores obtidos atendem a especificação do
ensaio dá a ideia de coesão da mistura, quanto DNIT para uso em misturas asfálticas de
menos coesa maior o desgaste. camada de rolamento. Apesar de criticado, esse
Para misturas porosas a norma limita o ensaio dar uma boa ideia da resistência a
desgaste a abrasão em 25%. O corpo de prova é abrasão dos agregados. O desgaste maior para o
colocado no tambor Los Angeles e é submetido RDC, em relação aos agregados tradicionais,
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deu-se principalmente pelo desprendimento da A Tabela 2, mostra os resultados obtidos na


argamassa da brita durante o impacto e abrasão avaliação do desgaste Cântabro das misturas
na maquina de ensaio. asfalticas em função do teor de CAP. A Figura
4 mostra a média dos resultados obtidos para o
4.1.3 Equivalente de Areia desgaste Cântabro em função do teor de ligante
usado na pesquisa.
Equivalente de areia nada mais é que a relação Apesar do ensaio ter sido originalmente
volumétrica que corresponde a proporção desenvolvido para avaliar desgaste de misturas
relativa de materiais do tipo argila ou pó em asfálticas do tipo porosas, a boa repetibilidade
agregados miúdos. serve também para se ter uma ideia do desgaste
De acordo com as especificações do DNIT ES em misturas tipo densa, onde se espera valores
031/06, para um agregado miúdo ser utilizado inferiores aos obtidos com misturas porosas.
em concreto asfáltico, o equivalente de areia Os resultados apresentados na Tabela 2 e
deve ser de pelo menos 55%. Assim, abaixo, resumidos na Figura 4, mostram a variação do
mostra que os resultados do material de RDC desgaste sofrido pelo agregado RDC em função
são satisfatórios para serem utilizados como do aumento do teor de CAP nas misturas
agregado de concreto asfáltico. pesquisadas.

 Amostra 1: EA = 86,41% Tabela 2. Resultados do ensaio Cântabro


 Amostra 2: EA = 82,11% Desgaste
Massa após
CP Massa (g) Cântabro
 Amostra 3: EA = 87,88% abrasão (g)
(%)
Porcentagem de 4,5%
Os finos gerados são devido principalmente
CP1 1213,6 983,8 18,94
ao cimento utilizado no traço original do RCD.
CP3 1235,3 964 21,96
CP7 1202,6 900,6 25,11
4.1.4 Adesividade do Agregado Graúdo
Porcentagem de 5,0%
O ensaio foi realizado utilizando agregado CP2 1226,2 1008,5 17,75
graúdo proveniente da britagem de RDC, CP5 1230,7 1089,5 11,47
passante na peneira de 19 mm e retido na 12,7 CP8 1232,2 1061,3 13,87
mm. Observou-se que nas três amostras Porcentagem de 5,5%
avaliadas, não houve deslocamento da película CP2 1224,1 1087 11,20
de asfalto. Sendo, portanto, considerada CP5 1232,2 1136,2 7,79
satisfatória a adesividade do RDC ao ligante CP9 1230,4 1071,5 12,91
asfáltico. Porcentagem de 6,0%
A rugosidade do RDC, o tipo de brita usado CP1 1234,2 1172,4 5,01
no concreto contribuíram para aderência do CP5 1228,2 1133 7,75
CAP ao agregado. Como a inspeção visual
CP7 1227,4 1157,1 5,73
mostrou resultados bem satisfatórios de
Porcentagem de 6,5%
adesividade, por esse critério, o agregado pode
CP1 1230,9 1198 2,67
ser utilizado na composição do concreto
CP3 1228,5 1200,8 2,25
asfáltico.
CP7 1228,9 1193,5 2,88
4.2 Mistura Betuminosa

4.2.1 Ensaio Cântabro


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camada de rolamento, quanto para camada de


ligação (Binder).

Tabela 3. Resistência a tração diametral em função do


teor de ligante das misturas pesquisadas

Carga RT
CP CAP RT (kgf/cm²)
(kgf) (MPa)

CP 6 735,00 6,307 0,62


CP 8 4,50% 759,00 6,342 0,62
CP 9 663,00 5,599 0,55
Figura 04. Desgaste Cântabro em função do teor de CP 4 860,00 7,387 0,72
ligante.
CP 6 5,00% 938,00 8,043 0,79
CP 7 876,00 7,491 0,73
O desgaste Cântabro, como já era esperado, CP 1 980,00 8,607 0,84
diminui em função do aumento do teor de CP 3 5,50% 880,00 7,729 0,76
ligante asfáltico. O aumento do CAP na mistura CP 8 973,00 8,463 0,83
provoca maior cimentação dos agregados, CP 2 1187,00 10,395 1,02
tornando a mistura mais coesa e menos CP 4 6,00% 994,00 8,800 0,86
susceptível ao desgaste por abrasão. Parte do CP 8 964,00 8,494 0,83
impacto gerado na máquina “Los Angeles” é
CP 4 1071,00 9,791 0,96
absorvida pela mistura que com mais ligante,
CP 5 6,50% 1024,00 9,199 0,90
protegem o agregado, absorvendo melhor os
CP 8 1147,00 10,234 1,00
impactos promovidos no ensaio.
D= diâmetro do CP; RT = resistência a tração
A análise das misturas pesquisadas feita a
partir do ensaio de desgaste Cântabro, mostra A Figura 5 mostra os valores médio de
que o comportamento é satisfatório. No teor resistência a tração de corpos de provas
ótimo de 5,5 % de CAP o desgaste foi de 10,5% confeccionados com RDC em função do teor de
inferior ao valor tido como de referência 25%. ligante.
Neste contexto os resultados estão de acordos
com os obtidos na literatura para misturas
asfálticas tipo densa, como por exemplo,
Lourenço, V.M.Q et al (2015) obteve 2% de
desgaste, Silva (2009) e Sinisterra (2014)
obtiveram desgaste, respectivamente, de 5,7 % e
6,7%.

4.2.2 Ensaio de Compressão Diametral

A Tabela 3 apresenta os resultados de


resistência a tração diametral, obtidos com as
misturas de restos de demolição de concreto Figura 05. Resistência à tração em função do teor de
ligante.
estrutural (RDC) em função do teor de ligante
asfáltico usado. De acordo com a Figura 5, as misturas com
De acordo com a norma do DNIT ES teores de CAP a partir de 4,5% superam o limite
031/2006, a resistência a tração mínima exigida mínimo de resistência a tração exigido pelo
para misturas asfáltica é de 0,65 MPa tanto para DNIT que é de 0,65MP.
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A resistência a tração das misturas asfálticas de 5 kN, a relação betume vazios (RBV) deve
tem sua importância no sentido dos esforços estar compreendida no intervalo 75 - 82 e os
horizontais que o tráfego provoca nos vazios da mistura entre 3% e 5%, a única
pavimentos flexíveis, bem como da tensão de percentagem de CAP que satisfaz a esta
tração na base do revestimento, que se superada condição é a 5,5%.
a do CAUQ, leva ao surgimento e propagação Embora a especificação do DNIT 031/2006
de trinca conduzindo o pavimento a fadiga. estabeleça que para camadas de rolamento,
utilizando a faixa C, sejam aceitos teores de
4.2.3 Parâmetros Marshall Obtidos com as ligante asfáltico variando de 4,5% a 9,0%, é
Misturas Pesquisadas evidente que quando comparado com os
agregados convencionalmente utilizados, 5,5%
A Tabela 4 apresenta os valores médios de três é um teor pouco elevado de ligante. Esse teor é
determinações para: Peso específico aparente consequência da composição do agregado de
(ϒap), Peso específico teórico (ϒt), volume de RCD que, consequentemente, confere ao
vazios (VV), vazios nos agregados minerais agregado maior porosidade e consequentemente
(VAM) e relação betume vazios (RBV) das maior absorção de ligante.
misturas asfáltica.

Tabela 4. Parâmetros Marshall obtidos com as misturas 4. CONCLUSÃO / COMENTÁRIOS FINAIS


estudadas em função do teor de asfalto.
Resultados - Média Todas as misturas contendo RDC (restos de
Teor de demolição de peças estruturais de concreto)
CAP
ϒap ϒt VV V.A.M R.B.V
(%) (kN/m 3
) (kN/m 3
) (%) (%) (%) apresentaram parâmetros volumétricos e
4,5 21,16 22,59 6,3 15,6 59,7 características mecânicas dentro dos limites
5 21,13 22,44 5,8 16,2 63,9 impostos pela norma do DNIT para produção de
5,5 21,54 22,30 3,4 15,1 77,2 concretos asfálticos, comprovando a viabilidade
6 21,69 22,16 2,1 14,9 85,9 técnica de utilização destes agregados em
6,5 21,94 22,03 0,4 14,4 97,3 pavimentos flexíveis.
Algumas misturas contendo agregado de RDC,
A Tabela 5 apresenta os resultados obtidos apresentaram propriedades mecânicas
para estabilidade e fluência das misturas. superiores à misturas contendo agregados
convencionais, fato este que é relativamente
Tabela 5. Resultados de Estabilidade e Fluência positivo, pois quando o concreto asfáltico
Resultados - Média apresenta valores muito elevados de
Teor de Estabilidade Fluência estabilidade e resistência à tração torna-se muito
Asfalto (%) (kN) (mm) rígidos, estando sujeito à formação de trincas.
4,5 26,08 5,1 Para os traços analisados nessa pesquisa
5 28,58 5,4 sugere-se a mistura de 94,5% de agregados
5,5 30,82 5,4 reciclados RDC e 5,5% de ligante asfáltico tipo
6 30,60 5,1 50/70.
6,5 26,20 5,4 O asfalto produzido com agregado reciclado
(resíduos de concreto estrutural) apesar de
Analisando os resultados mostrados nas Tabelas consumir mais ligante asfáltico (CAP) que o
4 e 5 e confrontando os resultados com as produzido com agregado natural, atendeu a
limitações impostas pela especificação de todas as especificações técnicas exigidas pela
serviço do DNIT 031/2006, onde estabilidade legislação vigente do DNIT 031/2006 e o
de misturas asfálticas devem atender o mínimo aumento do consumo de CAP pode ser
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compensado com a redução do valor de Cântabro, Método de Ensaio, Departamento Nacional


agregado reciclado. de Estradas e Rodagem, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes-
A utilização desses rejeitos nos pavimentos, DNIT ME 136/2010: Pavimentação asfáltica -
poderá acarretar a diminuição de seu Misturas asfálticas – Determinação da resistência à
lançamento de forma imprópria em aterros. tração por compressão diametral – Método de ensaio.
Rio de Janeiro, 2010.
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes -
DNIT ME 031/2006: Pavimentos Flexíveis –
AGRADECIMENTOS Concreto Asfáltico – Especificação de serviço. Rio de
Janeiro, 2006.
Agradecemos primeiramente e infinitamente a Lourenço, V. M. Q.; Cavalcante, E. H. (2015). Análise da
Deus, que é o nosso motivo e causa de que influência da capacidade da absorção do resíduo da
estamos aqui hoje. Nosso eterno agradecimento construção e demolição na determinação dos índices
volumétricos de misturas asfálticas. Anais da 44ª
a nossos familiares, amigos e mentores, que nos Reunião anual de pavimentação. Paraná: 2015. p. 2-4.
tornaram capazes de concluir esse artigo. Rio de Janeiro.
SILVA, C. A. R. (2009). Estudo do agregado reciclado de
construção civil em misturas betuminosas para vias
REFERÊNCIAS urbanas, Ouro Preto: Dissertação (Mestrado
Profissional em Engenharia Geotécnica da UFOP) –
Escola de Minas, Universidade Federal de Ouro Preto,
ABNT. NBR 6458:1984: Grãos De Pedregulho Retidos 2009.
Na Peneira De 4,8mm - determinação da massa Sinisterra, F. Q. (2014). Aplicabilidade de resíduos
especifica, da massa especifica aparente e da absorção reciclados da construção e demolição como agregados
de água. Associação Brasileira de Normas Técnicas, em misturas asfálticas. Tese de Doutorado -
Rio de Janeiro, 1984. Universidade de Brasília. Faculdade de Tecnologia.
ABNT. NBR 6465:1984: Agregados - Determinação da Departamento de Engenharia Civil.
abrasão "Los Angeles" de agregados. Associação Zhu, J., Wu, S., Wang, J. Z. D. (2012). Investigation of
Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, 1984. asphalt mixture containing demolition waste obtained
ABNT. NBR 12583:1992: Agregado graúdo - from earthquake-damaged buildings. Construction and
Verificação da adesividade a ligante betuminoso - Building Materials, 29, 466-475.
Método de ensaio. Associação Brasileira de Normas
Técnicas, Rio de Janeiro, 1992.
ABNT. NBR NM 53-2003: Agregado graúdo -
Determinação de massa específica, massa específica
aparente e absorção de água. Associação Brasileira de
Normas Técnicas, Rio de Janeiro, 2003.
Confederação Nacional do Transporte – CNT (2015).
Pesquisa CNT de rodovias 2015. Brasília. Disponível
em http://www.cnt.org.br
Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução nº. 307
de 5 de julho de 2002. Brasília, 2002. Disponível em:
http://www.cnt.org.br . Acesso em: 22/07/2017.
DNER-ME (1995) DNER-ME 043/95 – Misturas
betuminosas a quente – ensaio Marshall, Método de
Ensaio, Departamento Nacional de Estradas e
Rodagem, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
DNER-ME (1997) DNER-ME 054/97 – Equivalente de
Areia, Método de Ensaio, Departamento Nacional de
Estradas e Rodagem, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
DNER-ME (1998) DNER-ME 194/98 – Agregado miúdo
– determinação da massa específica real, Método de
Ensaio, Departamento Nacional de Estradas e
Rodagem, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
DNER-ME (1999) DNER-ME 383/99 – Desgaste por
abrasão de misturas betuminosas com asfalto – ensaio
 

TEMA:  
GEOTECNIA SOCIAL 
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Análise das Condições Geológicas-Geotécnicas de Vilas e Favelas


Gustavo Vinicius Gouveia
Universidade Federal de Ouro Preto, Belo Horizonte, Brasil, geogouveia@yahoo.com

Bruno Henrique Longuinho Gouveia


Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, brunolgouveia@gmail.com

Gabrielle Sperandio Malta


Universidade Federal de Ouro Preto, Belo Horizonte, Brasil, gabriellesperandiomalta@gmail.com

Cristina Santos Araújo


Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, crsantosaraujo@gmail.com

Ana Mara Araújo Torres


Universidade Federal de Ouro Preto, Belo Horizonte, Brasil, anamara_araujo100@hotmail.com

Karoline Rodrigues Costa


Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, karolrodriguescosta@gmail.com

RESUMO: Foram analisadas 17 vilas, favelas e bairros irregulares com o intuito da regularização
fundiária dos mesmos. A metodologia adotada baseou-se na elaboração de laudos geológicos-
geotécnicos de cada área, que possibilitaram levantar importantes aspectos geotécnicos, tais como as
condições topográficas e de declividade dos terrenos, a resistência dos materiais que compõem os
taludes vizinhos às moradias, a influência de construções adjacentes na estabilidade de cada
residência, a presença de feições de instabilizações, além dos impactos ambientais e da própria
interação moradores-terreno. Tendo em vista este cenário, relacionou-se as práticas comuns e
equivocadas, observadas a partir das apropriações irregulares. Destaca-se neste artigo os típicos
problemas geotécnicos que ocorrem nas regiões de vilas e favelas, sob a ótica de como a população
local é afetada pelas suas próprias atitudes e a de seus vizinhos e explanando sobre como os
governantes e a própria população podem remediar as condições de instabilização geradas.

PALAVRAS-CHAVE: Geotecnia de Vilas e Favelas, Análise Geotécnica Urbana, Município de


Ibirité.

1 INTRODUÇÃO declividade do terreno, a resistência dos


materiais que compõe os taludes vizinhos, a
O município de Ibirité, situado na região influência de construções adjacentes na
metropolitana de Belo Horizonte-MG (RMBH), estabilidade de cada residência, a presença de
investiu nos últimos dois anos em um grande feições de instabilizações, a surgência de água na
projeto de regularização fundiária o qual face do talude, a disposição dos esgotos
compõe, em parte das exigências, laudos domésticos e água servida, a proximidade de
geológico-geotécnicos de estabilidade. Assim, áreas de preservação permanente e a influência
foram avaliados, em campo, 17 territórios, da vegetação utilizada em cada encosta, entre
classificados como vilas, favelas e bairros outros aspectos.
irregulares, nos quais foram feitas inúmeras Observações relevantes foram feitas com base
observações sobre o padrão construtivo das na interação dos moradores com o terreno e pela
moradias, as condições topográficas, a ausência de conhecimento dos conceitos de
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geotecnia, o que acomete em grandes equívocos quanto ao Uso e Ocupação do Solo, a exemplo
como a escavação do pé de taludes, a da Lei Federal 6.766/1979. Dessa forma,
verticalização dos taludes adjacentes e muito encontra-se um ordenamento urbano inadequado
próximos às moradias, a delonga em construir urbanisticamente, possuindo edificações em
muros de contenção, o lançamento de esgoto e morros com declividade acima de 30%, vales
água servida na face dos taludes, o descarte de com presença de córregos ou sujeitos a
resíduos e entulhos sobre esses declives e a alagamentos e inundações, regiões com
intensa concentração de bananeiras que dispõem surgência d’água e/ou áreas de preservação
grande parte das encostas com maior permanente, dentre outras situações que
declividade. condicionam risco à segurança de habitabilidade.
Mediante tamanha disponibilidade de dados, As condições das edificações, de certo modo,
resumiu-se todas as práticas comuns e retratam a precariedade das condições de
equivocadas observadas em campo a fim de infraestrutura local, e, no que concerne a algum
relacioná-las com os típicos problemas potencial de risco são consideradas,
geotécnicos que ocorrem nas regiões de vilas e predominantemente, ruins a regulares, devido à
favelas e, assim, descrever como a população própria metodologia construtiva no sistema de
local é atingida pelas suas próprias atitudes e de corte e aterro, com fundações rasas e edificações
seus vizinhos. Além de como os governantes e a sem controle executivo, caracterizando em
própria população podem remediar as condições ambos os processos e etapas construtivas como
de instabilização. falhos em relação aos profissionais envolvidos e
Em suma, propõe-se a conscientização da a inexistência de projetos, o que se justifica pelas
população deste tipo de ocupação com a inúmeras carências e inadequações da própria
utilização de didáticas cartilhas informativas, opção de moradia.
que de maneira simplificada, utilizam de As áreas compostas por tais apropriações
conceitos da geotecnia propondo recomendações possuem infraestrutura de saneamento
de boas práticas para escavação e manuseio do insuficiente ou ausente, sistemas de drenagem
solo e dos taludes adjacentes, bem como, de falhos ou inexistentes, são mal servidas por
soluções simples, de baixo custo e eficientes sistemas de transporte, de coleta de lixo e de
contra alguns tipos de instabilizações. equipamentos públicos, além dos outros
condicionantes anteriormente citados.
2 ANÁLISE GEOLÓGICA GEOTÉCNICA Ressalta-se que a falta de acesso à moradia é,
hoje, um dos principais fatores na promoção da
2.1 Caracterização das Ocupações consolidação de habitações de baixo padrão
construtivo e em áreas de alta vulnerabilidade.
As regiões de Ibiritá-MG estudadas são Os superficiários, em geral, possuem baixa
conhecidas como, Vila Águia Dourada, Bairro instrução e pouca compreensão do
Boa Vista, Bairro Canoas, Bairro Lajinha, Vila comportamento mecânico do solo e das rochas,
Los Angeles, Vila Primavera, Vila Serra sendo os principais causadores de instabilizações
Dourada, Vista Alegre, Petrolina, Casa Branca, e situações problemáticas para a região.
Jardim das Flores, Vila Morada do Sol, Recanto
das Árvores, Residencial Palmira, Vila 3 PROBLEMAS GEOTÉCNICOS MAIS
Bulgarim, Vila Escorpião e Vila Petrolina. COMUNS
As ocupações apresentam características
semelhantes quanto às topografias. Como 3.1 Causas Naturais
referem-se a áreas que sofreram processos de
ocupação irregular e/ou desordenado, não foram Por se tratarem de áreas, em grande parte,
considerados aspectos normativos instituídos ocupadas ilegalmente, não foram realizados
pelas legislações federais, estaduais e municipais quaisquer estudos geológico-geotécnicos
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prévios às construções das moradias e da infra-


estrutura presente, ocasionando uma série de
problemas relacionados às características do
terreno. Dentre as instabilizações identificadas,
as mais comuns foram:
• Baixa resistência da fundação e dos maciços
adjacentes: Os terrenos possuem características
similares em todas as áreas estudadas, são
compostos, em sua maioria, por solos de
consistência rija, variando pontualmente para
consistência mole e texturas areno-argilosa à
silto-argilosa. Por vezes, apresentavam rochas
granito-gnáissicas saprolitizadas do Complexo
Belo Horizonte e xistos, também saprolitizados,
do Grupo Sabará, de resistência baixa. Essas
características conferem aos maciços uma
elevada suscetibilidade a erosões e a
possibilidade de desenvolverem movimentação
de massa e abaulamento do terreno (Figura 1).
Figura 2. Modelo digital de declividade (MDD) do bairro
Recanto das Árvores - Ibirité. Região possui declividade
bastante acentuada. (Imagem gerada no software ArcGIS
10.3)

• Alta suscetibilidade à erosões e movimentos


de massa: Ocorre em pequenas áreas isoladas ao
longo das vilas e podem vir a evoluir e se
interconectar, gerando assim grandes erosões
que, por sua vez, colocam os moradores em
perigo. Ela é causada por diversos fatores, entre
os mais agravantes estão, a baixa resistência do
terreno, a declividade acentuada, o imenso
volume de água infiltrada no terreno, as obras
Figura 1. Evidência da baixa resistência do solo causando irregulares e a disposição de bananeiras próximo
ruptura circular no pavimento, bairro Serra Dourada.
a encostas.
• Alta declividade: Como citado no ítem 2.1, as Os processos erosivos se apresentam em
edificações estão localizadas em regiões com diversas escalas, podendo ser desde pequenos
elevadas declividades (Figura 2). sulcos centimétricos nas ruas, até grandes
erosões decamétricas em encostas. É possível
ainda observar um padrão de ruptura circular do
solo (Figura 3), principalmente em regiões
asfaltadas, onde o abaulamento do pavimento é
intensamente perceptivel.
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pontuais, observar o risco de quedas de blocos


em residências adjacentes à estes taludes.

Figura 3. Erodibilidade do pavimento localizado no bairro


Morada do Sol. Erosão mostrando feições de ruptura
circular do solo sobre a casa de um morador.

• Proximidade a córregos e rios: Diversas


construções estão em regiões próximas a
córregos e rios. Além dos impactos ambientais
Figura 5. Devido a direção do corte do talude e as famílias
gerados por esta ação, há ainda o risco de de fraturas há a queda de blocos próximo a residência no
enchentes e alagamentos em períodos de chuvas bairro Canoas.
intensas (Figura 4).

3.2 Causas Antropizadas

Grande parte das instabilizações geotécnicas


encontradas nestas zonas, foram ocasionadas
pelos próprios superficiários, devido à falta de
conhecimento técnico e instruções básicas. Entre
os problemas observados, os mais comuns são:
• Verticalização de taludes: Com intuito de
aproveitar melhor o terreno, os moradores
realizam a verticalização dos taludes imediatos
as suas residências e, por vezes, escavam
também o pé do talude deixando-o inclinado
negativamente. Estes processos, torna instável e
Figura 4. Residência construída próxima a um pequeno aumenta o risco de erosões e movimentação do
córrego no bairro Residencial Palmira. Detalhe, em mesmo (Figura 6 e 7).
vermelho, das marcas do alcançe da água na parede da
casa, em períodos de chuva intensa.

• Quedas de blocos: Devido à direção do corte


de alguns taludes e a presença de famílias de
fraturas na rocha (Figura 5), é possível, em áreas
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Figura 6. Superficiário verticalizou o talude de sua Figura 8. Residências construídas próximas ao talude,
propriedade, instabilizando-o e ocasionando seu tanto a jusante (Vila Bulgarim) quanto a montante (bairro
desabamento sobre muro da propriedade à frente, na vila Recanto das Árvores).
Primavera.
• Lançamento direto do esgoto domiciliar nos
córregos/rios, encostas e ruas: Com o precário
sistema de saneamento básico de certas regiões,
alguns habitantes lançam o esgoto diretamente
em rios ou córregos ribeirinhos as suas
residências, contaminando o curso d’água e
aumentando o risco de doenças para toda a
comunidade. Há ainda casos de lançamento de
esgoto em encostas, que agravam os processos
de erosão das mesmas, e o lançamento direto nas
ruas (Figura 9), poluindo o solo e cursos d’água
e, contribuindo para acelerar a ruptura precoce
do pavimento.

Figura 7. Escavação do pé do talude com o intuito de


aprovetar melhor a área, localizado no bairro Canoas.

• Residências muito próximas à taludes: Um


fator agravante comumente observado nestas
regiões são as construções abeiradas, tanto a Figura 9. Esgoto in natura lançados em ruas, causando
jusante quanto a montate do talude, que por ruptura precoce do pavimento, no bairro Casa Branca.
vezes, encontra-se verticalizado (Figura 8).
• Lançamento de água servida diretamente nas
ruas: Semelhante ao citado anteriormente, a água
servida gera danos antecipados ao pavimento e
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escava o solo.
• Grande quantidade de bota-foras irregulares:
Mesmos em locais onde possuem a coleta de
resíduos, há presença de terrenos baldios e
encostas transformadas em bota-foras irregulares
(Figura 10 e 11). Além dos riscos à saúde da
população ao atrair animais peçonhentos e
roedores, estas áreas representam um passivo
ambiental.

Figura 12. Plantil de bananeira em terrenos acentuados, no


bairro Recanto das Árvores.

• Construção de residências próximas à áreas


de preservação permanente (APP) e/ou
adjacentes a nascentes e rios: A Figura 13 retrata
a disposição das ocupações e construções das
Figura 10. Falta de conscientização ambiental nas atitudes casas, onde não leva-se em conta nenhum
dos moradores. Detalhe na formação de bota-fora irregular
próximo ao local de coleta de lixo, na vila Primavera. aspecto do território. O Código Florestal
Brasileiro preve distância mínima de 30m para
construção próximo à áreas florestais, de 30m
para regiões de curso d’água e 50m de áreas de
nascentes e surgências. Estes valores são
variáveis de acordo com o tamanho e espessura
dos mesmos.

Figura 11. Ambientes locais com coleta de lixo reduzida,


causando acúmulo e criação de bota-foras irregulares, no
bairro Canoas.

• Disposição de bananeiras em zonas de


declividade acentuada: Com o intuito de conter
as erosão das encostas, os superficiários plantam
bananeiras, porém geram o efeito justamente Figura 13. Proprietário canalizou a nascente e criou uma
contrário, pois as mesmas retém água em suas piscina natural em sua residência, na vila Águia Dourada.
raízes, deixando o solo úmido e mais suscetível
a erosão (Figura 12). Há ainda problemas relacionados a gestão
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governamental e o principal deles é a falta de


saneamento básico. Por não possuírem um
sistema de esgotamento sanitário eficaz, a
população descarta-o de forma irregular, muitas
vezes em córregos (Figura 14), rios ou
diretamente nas vias urbanas.

Figura 15. Sistema de escoamento superficial precário, no


bairro Jardim das Flores.

4 MEDIDAS MITIGADORAS
RECOMENDADAS

4.1 População

A própria população local possui função


fundamental para reparar os danos e auxiliar na
prevenção e contenção de novos problemas. As
medidas sugeridas para que a população adote,
Figura 14. Encanamento clandestino despejando esgoto
foram:
diretamente no córrego, no bairro Los Angeles. • Suspensão do lançamento direto do esgoto
domiciliar nos córregos/rios e ruas e na face dos
O sistema de drenagem e escoamento taludes: O lançamento de esgoto nos declives
superficial é visivelmente precário. Geralmente, aceleram o processo de erosão dos mesmos e
nestas regiões, as vias não possuem sarjetas, causam sua instabilidade, tornando a área um
bocas de lobo, dentre outros dispositivos de risco em potencial.
drenagem, o que, juntamente com a • Retirada de todas as bananeiras, inclusive as
impermeabilização provinda da cobertura raízes, das áreas de risco: Locais que possuem
asfáltica, tornam as áreas mais à jusante evidências de erosão recente e plantil de
passíveis de alagamentos e enchentes. bananeiras nas proximidades, devem ser
As poucas bocas de lobo encontradas nestas retiradas, incluindo as raízes, pois as mesmas
regiões, estão parcialmente ou totalmente retêm muita água e agravam ainda mais os
obstruídas ou danificadas (Figura 15). As áreas processos erosivos.
de preservação permanente, ocupadas ao longo • Não escavar o material do pé dos taludes nem
de cursos d’água, também estão sujeitas a remover a massa de material escorregada: É
episódios de inundação e alagamento em muito comum que os superficiários queiram
períodos chuvosos, o que implica, em alguns ganhar mais espaço em suas residências e assim
casos, no estudo para remoção das famílias e escavam os taludes adjacentes e, geralmente,
para a recuperação ambiental. iniciam o processo pela base do talude. Outro
Há, notoriamente, falta de locais para despejo fato muito usual é que ao romper parcialmente o
e para coleta de residuos, o que contribuí, talude, o material projetado no pé torna-se muito
frequentemente, para a criação de bota-foras incomodo para os moradores que tendem a
irregulares. retirá-lo, suspostamente, “limpando o terreno”.
Ambas as práticas não são ideais pois geram
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condições de instabilidade para a encosta. nas margens das ruas e de novos bueiros, assim
• Não verticalizar os taludes: A verticalização como a desobstrução e manutenção constante
dos taludes, ou seja, tornar o mergulho da face dos poucos já existentes.
do talude igual ou próximo à 90°, confere uma • Instalação adequada de rede de esgotamento
geometria muito pouco estável, gerando assim, sanitário e de dispositivos para tratamento e
diversas feições erosivas nos mesmos, disposição de esgotos.
facilitando os processos de erosão e movimento • A remoção dos materiais descartados
de massa. O ideal é que os taludes apresentem incorretamente nos bota-foras irregulares, bem
sua geometria natural, sem a necessidade de como a recuperação dessas áreas afetadas pelos
escavação. despejos.
• Descartar os materiais de construção cívil e • Revitalização dos córregos e a realização de
lixo domiciliar em locais apropiados: Medida obras de proteção às margens que, geralmente,
para evitar a formação e agravamentos dos bota- possuem declividade bastante acentuada.
foras irregulares. O desenvolvimento de bota- Estudo e obras de contenção para as áreas que
foras irregulares é de grande risco ambiental e apresentam evidências recentes de
para a saúde de toda a comunidade local. movimentação do terreno e/ou erosão de grande
• Cuidado com o terreno do vizinho: Evitar porte. É fundamental, atentar-se às práticas
atitudes que possam por em risco os vizinhos, simples e não tão onerosas como o plantio de
como as verticalizações de taludes, vide Figura vegetações nos taludes e encostas, com
6, e atentar-se para atos que seus vizinhos tomam vegetação e gramíneas típicas da região ou a
que possam acarretar problemas, orientando-os adoção de espécies comprovadamente eficientes,
sempre que possível. a exemplo do capim Vetiver. E, sempre que
• Em regiões com trincas de tração e/ou com houver a modificação da geometria dos taludes,
taludes que apresentam alta erodibilidade, realizar cobertura vegetal com hidrossemeadura,
recomenda-se a cobertura imediata com lonas, a fim de evitar a exposição do material aos
para evitar a saturação do material e auxiliar na intempéries.
estabilidade do mesmo. • Em regiões passíveis de movimentação,
porém sem o estudo ou as evidências claras de
4.2 Ações do Poder Público ruptura, recomenda-se a instalação de um
sistema de monitoramento. Caso esta medida
Dentre as diversificadas formas de atuação do venha a apresentar indícios de movimentação,
poder municipal, estruturais e não estruturais, cumprir as medidas cabíveis para conteção.
destaca-se: • Treinar e instruir líderes comunitários a
efetuarem observações rotineiras em sua
• A instalação de unidades de recolhimento de comunidade, alertando os superficiários quanto
resíduos nas regiões vizinhas para recolher aos problemas identificados e, em casos mais
materiais recicláveis, não-recicláveis e resíduos graves, comunicar a defesa civil e/ou as
da construção civil, servindo como alternativa autoridades competentes.
aos bota-foras irregulares. • Em situações particulares e pontuais, nas
• Campanha de concientização da população quais forem constatadas a irreversibilidade do
sobre os riscos e malefícios de ações risco, bem como em áreas nas quais forem
inadequadas, como a verticalização de taludes, identificados impedimentos legais para a
despejo clandestino de esgoto e formação de ocupação, visando em ambas as situações a
bota-foras irregulares, todas previamentes promoção da segurança das familias, cabem
comentadas no tópico 3.2. estudos e propostas de reassentamento.
• Melhorias e adequações no sistema de
drenagem e escoamento superficial de água
pluviométrica, a partir da implantação de calhas
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4.3 Cartilha
 Não jogue esgoto ou água (servida ou
Como constatado que as instabilizações limpa) nos córregos, ruas, e
geotécnicas destas regiões são agravadas e/ou principalmente nas encostas;
ocasionadas pela falta de informação por parte  Evite e repare vazamentos de esgoto ou
da comunidade, propõe-se uma cartilha água com a maior urgência possível.
informativa para auxiliar e alertar quanto a estes  Não cultive bananeiras em terrenos
problemas, ajudando assim, a evitar e remediar muito íngremes e com sinais frequentes
futuras instabilizações e a promover a segurança de erosões. Caso necessário, remova as
das áreas e famílias que ali residem. bananeiras, inclusive as raízes, do seu
Tal cartilha foi elaborada com a linguagem terreno.
mais simples possivel, visto que, em geral, o  Ao escavar uma encosta, nunca comece
público-alvo não é familiarizado com o pelo pé. Procure sempre orientação
vocabulário técnico. profissional para realização deste
Para o melhor entedimento do leitor, dividiu- procedimento.
a em três seções. A primeira seção aborda o  Em caso de uma erosão, o material caído
conceito de risco geológico-geotécnico, sua serve como uma barreira para impedir
relação com a exposição das pessoas e seus bens que a encosta continue a cair, desta
aos eventos destrutivos. forma, não é aconselhável retirar esse
Posteriormente, na segunda seção, a temática material até a recomendação da defesa
são as práticas inadequadas e corriqueiras que os civil ou de profissional especialista.
próprios moradores realizam em seus terrenos e  A verticalização das encostas do terreno
que potencializam as instabilizações ou os exige a construção de uma contenção
aproxima destas, tais como: como, por exemplo, um muro de arrimo.
A delonga em se realizar a obra pode
 Construção de moradias próximas aos instabilizar o maciço de solo e provocar
cursos d‘água/rios e nascentes. sua ruptura.
 Presença de água (ou esgoto), através de  Não descarte entulhos e lixo em locais
lançamento ou vazamento, em cursos inadequados como lotes vagos e matas.
d’água e também nas ruas e nos taludes.  Nas épocas de chuva procure proteger as
 A presença de bananeiras em terrenos erosões e trincas presentes nos terrenos
íngremes e com sinais constante de queda com lonas para evitar a erosão e a
de material. percolação de água.
 Bueiros e calhas obstruídos aumentam as  O tombamento de cercas, muros ou
chances de enchentes nas regiões mais árvores e a presença de trincas no solo,
baixas. pois são sinais de movimentação.
 A disposição de lixo e entulho em locais
inadequados podem provocar
contaminações no solo ou na água, além 5 CONCLUSÃO
de estar relacionado com doenças,
roedores e animais venenosos. Com base em todas as condições retratadas, fica
 Escavações incorretas podem provocar a evidente que parte da população brasileira
instabilização da encosta e potencializar reside, atualmente, em áreas inadequadas, fato
riscos também para as casas vizinhas. atribuído à ilegalidade ou ao risco constante
decorrentes dessas ocupações irregulares.
Por fim, a terceira seção, apresenta algumas Após o estudo elaborado nas 17 zonas de
ações de conscientização que podem minimizar ocupações irregulares, na região metropolitana
a chance de ocorrência de diversos eventos de Belo Horizonte-MG, constatou-se que, na
perigosos, por exemplo:
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generalidade, as instabilizaões geotécnicas da CPRM/CODEMIG. 2013. Mapa Geológico do Estado


região são oriundas das ações e ocupações dos Minas Gerais, Escala 1:1.000.000, SIG, Belo
Horizonte.
próprios superficiários. Dentre os principais Silva A.B., Carvalho E.T., Fantinel L.M., Romano A.W.,
agravamentos, evidencia-se a verticalização de Viana C.S. 1995. Estudos geológicos, hidrogeológicos,
taludes, a criação de bota-foras irregulares e o geotécnicos e geoambientais integrados no município
plantio de bananeiras em encostas/barrancos. de Belo Horizonte – Belo Horizonte: Convênio PBH-
É importante ressaltar que, a região possui IGC-FUNDEP, 375p.
problemas de causas naturais como a baixa
resistência do solo, alto desnível topográfico e a
alta suscetibilidade natural do solo à erosão,
somados aos aspectos de infraestrutura que
podem agravar o grau dos riscos geológicos-
geotécnicos.
De forma prática e simplória, foram então
sugeridas algumas medidas mitigadoras que
podem ser executadas por parte da população e
por atuação dos governantes locais. É
fundamental que o principal produto deste
artigo, a cartilha informativa, ferramenta que
atuará diretamente na disseminação da temática
para auxiliar os moradores da região em relação
ao uso e ocupação do solo, seja ampla e
eficientemente divulgada e praticada.
Compreender essa problemática e atuar nas
tomadas de medidas emergênciais e preventivas
por parte dos responsáveis pela gestão do espaço
público é de fundamental relevância para
solucionar estes casos.

AGRADECIMENTOS

A prefeitura de Ibirité e a Geoline Engenharia,


por possibilitarem esta expêriencia e a
viabilização deste trabalho.

REFERÊNCIAS

Baltazar O.F., Baars F.J., Lobato L.M., Reis L.B.,


Achtschin A.B., Berni G.V., Silveira V.D. 2005. Mapa
Geológico Brumadinho, na Escala 1: 50.000 com Nota
Explicativa. In: Projeto Geologia do Quadrilátero
Ferrífero - Integração e Correção Cartográfica em SIG
com Nota Explicativa. CODEMIG. Belo Horizonte,
68p.
Campos L.C. 2011. Proposta de reanálise do risco
geológico-geotécnico de escorregamentos em Belo
Horizonte. MS Dissertation, Universidade Federal de
Minas Gerais, Belo Horizonte, 198p.
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Conscientização ambiental e geotécnica: o papel da universidade


na comunidade em um projeto de geoprevenção
Carla Vieira Pontes
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, carlavieirap97@gmail.com

Talita Gantus de Oliveira


Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, tgantus@gmail.com

Vítor Pereira Faro


Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, vitorpereirafaro@gmail.com

Roberta Bomfim Boszczowski


Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, roberta.boszczowski@gmail.com

RESUMO: Comunidades susceptíveis a desastres geotécnicos são, muitas vezes, desamparadas


educacional, social e economicamente. Tendo em vista a importância de atuação dos três pilares de
uma universidade pública – ensino, pesquisa e extensão –, o Grupo de Estudos em Geotecnia da
Universidade Federal do Paraná (GEGEO/UFPR) desenvolveu o projeto de extensão denominado
GeoPrevenção para conscientização de crianças e adultos residentes em áreas de riscos ambientais e
geotécnicos. Para tanto, foi elaborada uma cartilha infantil intitulada Consciência Ambiental e
Riscos Geotécnicos, na qual estão presentes definições e atividades sobre solo, encosta, infiltração,
dinâmica de ocorrência de deslizamentos de terra e inundações urbanas, erosões, assoreamentos,
tipos de lixo e noções sobre separação e descarte dos diversos tipos de resíduos sólidos urbanos. O
presente artigo tem como objetivo relatar a metodologia de elaboração e aplicação da cartilha em
uma escola municipal próxima à uma comunidade em área de risco, além de promover a discussão
sobre medidas educacionais mitigatórias de desastres ambientais.

PALAVRAS-CHAVE: riscos geotécnicos, educação ambiental, cartilha infantil, extensão


universitária.

1 INTRODUÇÃO socioeconomicamente vulneráveis.


A educação ambiental aplicada à população
Os deslizamentos de terra e as inundações são residente em áreas de risco tem se mostrado
os desastres naturais mais frequentes no Brasil. eficaz na mitigação de acidentes geotécnicos,
A apropriação desigual do terreno, associada ao pois a realocação desses moradores para lugares
intenso e desassistido processo de urbanização mais seguros é demorada, muitas vezes, devido
brasileiro que se iniciou no século XX, levaram, à burocracia que envolve a tomada de ações por
e ainda levam, grupos desfavorecidos parte do poder público. A implantação de obras
intelectual, social e economicamente a que previnam movimentos de massa e
ocuparem áreas de elevado risco geotécnico e, alagamentos, tais como a adequação de cortes e
até mesmo, áreas de preservação ambiental aterros, a construção de muros de contenção e
(ROSA et al, 2015). Assim, nas cidades, drenagens, também são inexistentes na grande
movimentos de massa e inundações acometem, parcela das comunidades residentes nesses
em sua grande maioria, populações locais. Assim, o entendimento acerca da

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dinâmica e dos mecanismos que provocam os áreas de risco são definidas da mesma maneira,
desastres geotécnicos, bem como as ações para sendo os eventos geológico-geotécnicos
evitá-los, surge como um meio eficaz de atenuar causadores de prejuízos patrimoniais e, até
suas consequências. mesmo, perda de vidas humanas principalmente
Nessa linha de raciocínio, e entendendo o em áreas de concentração demográfica –
papel da Extensão Universitária na divulgação destacam-se os meios urbanos (Carvalho et al.,
da produção intelectual e científica associada a 2007).
políticas sociais, o Grupo de Estudos em Sabe-se que as características geológicas e
Geotecnia da Universidade Federal do Paraná geomorfológicas do terreno são importantes
(GEGEO/UFPR) desenvolveu uma cartilha condicionantes para a ocorrência desses
infantil sobre consciência ambiental e riscos eventos. Todavia, ações antrópicas, como a
geotécnicos, contemplando as seguintes construção de casas com técnicas inadequadas
temáticas: definições de solo, encosta e em encostas declivosas, a ocupação de terrenos
drenagem; dinâmica de ocorrência de sem o devido respeito às áreas de planície de
deslizamentos de terra, enchentes, erosões e inundação dos rios, o acúmulo de lixo em
assoreamentos urbanos e rurais, tipos de lixo e bueiros e nas encostas, a poluição da água e do
informações sobre reciclagem e compostagem. solo e o assoreamento do canal fluvial, podem
A cartilha fez parte do projeto de extensão acelerar os processos de erosão acentuada
coordenado pelo GEGEO e intitulado (surgimento de ravina e voçoroca), de
GeoPrevenção, cujo objetivo é promover a movimentação de massa e de inundação urbana,
conscientização de crianças e adultos sobre a favorecendo a ocorrência de desastres
interface ser humano, meio ambiente e socioambientais (Bigarella, 2003; Carvalho et
geotecnia. al., 2007).
Visto isso, o presente artigo tem por
finalidade apresentar a metodologia de criação e 2.2 Educação Ambiental e sua Influência
aplicação da cartilha Consciência Ambiental e Geológico-Geotécnica no Meio Físico
Riscos Geotécnicos e seus objetivos, bem como
ressaltar na comunidade acadêmica a O gerenciamento de áreas urbanas com risco de
importância da extensão como uma das deslizamentos, enchentes e inundações é papel
ferramentas de transformação da sociedade. do poder público. Mas, para se manter um
Cabe aqui salientar que a Escola Municipal ambiente harmoniosamente equilibrado em seu
João Batista Stocco, situada na comunidade de caráter geológico-geotécnico, deve-se atentar
Vila Nova, no município de Colombo, Paraná, para a importância da tomada de consciência da
foi utilizada como escola piloto de aplicação da população envolvida para com a reflexão sobre
cartilha. o cuidado com a interface meio ambiente e
meio urbano.
Para tanto, a educação ambiental assume um
2 CONTEXTUALIZAÇÃO TEMÁTICA importante papel na preservação do meio físico,
levando em consideração os condicionantes
2.1 Inundações e Movimentos de Massa na geológicos, geomorfológicos e,
Área Urbana consequentemente, geotécnicos do meio em que
se vive.
A definição de áreas de risco geológico,
segundo a Lei 7.165 de 27 de agosto de 1996, 2.3 O Papel da Universidade na
associa-se às áreas passíveis de sediarem ou Comunidade
serem atingidas por um (ou mais) evento
geológico natural ou induzido. Na geotecnia, A extensão universitária é uma das funções que

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compõem os três pilares da universidade membros do Grupo de Estudos em Geotecnia


pública brasileira – pesquisa, ensino e extensão. (GEGEO) e alunos da Universidade Federal do
Na busca da superação da dimensão de Paraná – uniram-se em reuniões presenciais
prestação de serviços assistencialistas, a para discussão e definição dos temas e
extensão universitária é redimensionada com atividades abordadas.
ênfase na relação teoria-prática, na perspectiva Como se tratou da primeira cartilha
de uma relação dialógica entre universidade e produzida pelo grupo, optou-se abordar, de
sociedade, como oportunidade de troca de forma sucinta, diferentes temáticas
saberes. multidisciplinares em um só material.
Enxergando o papel da universidade na Dissertou-se sobre temas relacionados à
comunidade, e no que tange a aplicabilidade da geotecnia e ao meio ambiente, temática pouco
geotecnia, desenvolveu-se, pelo Grupo de difundida no ensino fundamental das escolas
Estudos em Geotecnia da Universidade Federal públicas brasileiras. Dentre esses, estão:
do Paraná (GEGEO/UFPR), o projeto de deslizamentos de terra, infiltração e inundações,
extensão denominado GeoPrevenção, para drenagem, erosão, assoreamento, compostagem
conscientização de crianças e, de lixo orgânico e lixo de descarte especial.
consequentemente, de adultos residentes em Em linhas gerais, a cartilha é introduzida
áreas susceptíveis aos desastres ambientais no com a definição de solo, enfatizando-o como
meio urbano. material de suporte à vida, à agricultura e às
Parte-se do pressuposto de que, trabalhando construções civis. Em seguida, definiu-se o
na base educacional, é possível formar adultos conceito de taludes e encostas para posterior
conscientes sobre seu papel na preservação do entendimento dos mecanismos de
meio em que reside, e, num âmbito maior, no deslizamentos de terra e da importância de se
meio ambiente como um todo. evitar a construção de moradias precárias nesses
terrenos.
Para explanar sobre o conceito de
3 METODOLOGIA deslizamentos de terra, foi abordada a temática
de influência da água das chuvas no solo,
O projeto de extensão GeoPrevenção, como mostrando, com isso, o mecanismo de
enunciado anteriormente, tem por objetivo percolação da água em meios porosos. Ao longo
promover a divulgação de conhecimento da cartilha, foram referenciados outros
ambiental e geotécnico para além dos muros da problemas que podem agravar ou deflagrar um
Universidade de forma direta, a fim de integrar movimento de massa, como a erosão e o
o ser humano na importante interface vida, acúmulo de lixo nas encostas.
solos, rochas e engenharia. No material, a definição de infiltração no
O primeiro produto do projeto é a cartilha solo se relacionou, também, com o ciclo
infantil Consciência Ambiental e Riscos hidrológico. Dada sua definição, foi possível
Geotécnicos, elaborada e aplicada durante o associar o excesso de urbanização presente nas
período de agosto de 2017 e maio de 2018. cidades – a maior causa da impermeabilização
do solo – à ocorrência de inundações. Tal
3.1 Elaboração da Cartilha abordagem teve como referência principal o
material produzido por Lelis e Carvalho (2012).
Para elaboração da cartilha, estudantes e No que tange a erosão, processo natural e
professores do curso de Engenharia Civil, do constante modificador do relevo, atentou-se
Programa de Pós Graduação em Engenharia de para as consequências da erosão acelerada pela
Construção Civil, subárea Geotecnia, e do ação humana no cenário urbano – dita erosão
Programa de Pós Graduação em Geologia – antrópica. Em excesso, ela pode acarretar na

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perda de nutrientes do solo, na formação de impactos causados pela ação antrópica no


voçorocas e atuar como agente deflagrador de terreno, salienta-se que sua elaboração realça o
deslizamentos de terra e inundações – esse paralelismo existente entre os processos que
último associado ao assoreamento (Bigarella, acometem o local e a temática abordada na
2003; Carvalho et al. 2007). cartilha.
Para tornar o texto compreensível para as É possível, desse modo, exemplificar os
crianças, a cada palavra supostamente nova ou assuntos tratados no programa de
de difícil assimilação, adicionou-se o tópico conscientização ambiental em riscos
“dicionário” com uma definição mais simples e geotécnicos com o próprio cenário da
didática, fomentando, por conseguinte, uma comunidade, como pode ser observado nas
reflexão sobre o tema que está sendo discutindo. Figura 1 a 6.
Fez-se uso, também, de atividades de fixação
ao longo do material para tornar mais divertido
o processo de aprendizagem. Utilizaram-se
atividades de colorir, enigma, recortar e colar,
caça-palavras, palavras cruzadas e enumeração
de nomes e figuras.
Ao final da elaboração, pedagogos foram
consultados para certificação de que a
linguagem utilizada era adequada para o público
alvo. De maneira também voluntária, designers
tornaram as ilustrações definidas pelo grupo
atrativas e originais.

3.1 Aplicação da Cartilha

O presente projeto, como supracitado, foi


desenvolvido tendo como piloto a comunidade
Vila Nova, pertencente à cidade de Colombo,
Paraná. Geomorfologicamente, a comunidade
situa-se em uma região marcada por um relevo
com formas de topos alongados e em cristas, e
vertentes retilinizadas e vales em “V”. Nas
partes superiores, o perfil das montanhas é Figura 1. Temática "Deslizamentos de terra" abordada na
cartilha.
convexo e as inclinações são íngremes
Mineropar (2006). O vale também é marcado
pela presença de um córrego pertencente à bacia
hidrográfica do Rio Atuba, o qual recebe muitos
dejetos dos residentes do seu entorno.
Sendo a comunidade marcada por um
cenário onde ocorrem severas inundações,
movimentações de massa gravitacionais e
erosivas – principalmente em épocas de
pluviosidade elevada –, acúmulo de rejeitos e
inexistência de esgotamento sanitário; e levando
em consideração que a cartilha deve atuar na
comunidade com o intuito de minimizar os

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Figura 2. Rachadura indicando a dinâmica de Figura 4. O processo de infiltração e inundação na


deslizamentos de terra na comunidade. comunidade.

Figura 5: Temática "O efeito do lixo nas encostas"


Figura 3. Temática "A infiltração e as enchentes" abordada na cartilha.
abordada na cartilha.

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Elaboraram-se perguntas quanto à


organização das ações na escola e questões
pessoais e subjetivas, como a aceitação das
professoras à visita e comentários das crianças a
respeito da iniciativa e do material. Um trecho
do formulário pode ser observado na Figura 7.

Figura 6. Acúmulo de lixo e entulho no solo da


comunidade.

A aplicação da cartilha foi realizada na


Escola Municipal João Batista Stocco, próxima
à comunidade Vila Nova, e direcionada aos
alunos do 3º, 4º e 5º ano do ensino fundamental,
seguindo recomendações pedagógicas. Foi
assegurado, junto às professoras, o manejo e a
leitura do material como atividade escolar da
disciplina Ciências, até o retorno dos
integrantes do GEGEO para a realização de
atividades práticas – experimentos e gincanas e
assimilação dos temas propostos na cartilha.

3.2 Avaliação da Eficácia do Projeto


Figura 7. Fomulário para feedback do corpo docente da
A fim de analisar a eficácia das intervenções na escola João Batista Stocco quanto à cartilha do GEGEO.
escola, elaborou-se um formulário online para
que a diretora, a coordenadora e as professoras
pudessem mensurar, a partir de suas análises, a 4 RESULTADOS
eficácia da GeoPrevenção. Com críticas e
sugestões, contribuíram para a melhoria da 4.1 A Cartilha
didática de atuação do projeto.
De maneira simples e direta, as perguntas A cartilha, bem como sua entrega aos alunos,
foram direcionadas à avaliação do material fazem parte do produto final do projeto
impresso quanto à importância das temáticas GeoPrevenção na Escola Municipal João
abordadas, visto a condição de vida dos alunos, Batista Sttoco. Trechos da cartilha para melhor
e à possível precariedade de ferramentas visualização estão presentes na Figura 8.
similares no programa pedagógico. Foram
analisas, também, a compreensão dos alunos
quanto aos temas propostos e à linguagem
empregada – se foi de fácil ou de difícil
assimilação.
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a c

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Figura 8. Cartilha Consciência Ambiental e Riscos


e Geotécnicos. (a) capa; (b) "O que é solo e encosta?", (c)
"Deslizamentos de terra"; (d) ciclo hidrológico: atividade
recortar e colar; (e) "Lixos recicláveis"; (f) palavras
cruzadas.

4.1 A Entrega do Material

A aplicação da cartilha na escola foi realizada


pelos membros do GEGEO no dia 03/05/2018,
durante período de aula dos alunos do 3º ao 5º
ano. A metodologia de aplicação – diálogo e
exposição do conteúdo presente no material –
pode ser observada na Figura 9.

f
b

Figura 9. Aplicação da cartilha na Escola Municipal João


Batista Stocco. (a) turma 1; (b) turma 2.

No momento da distribuição do material às


crianças, diálogos cheios de questionamentos
aos alunos, como “vocês sabem o que é solo?”
ou “vocês sabem quais são três tipos de lixo?”
descontraíram o momento ao mesmo tempo em
que instigaram a participação da turma.

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4.2 Feedback do Projeto atentar a academia para a importância da


realização de projetos similares, trabalhando
Até o momento da elaboração do presente como veículo incentivador para que, num futuro
artigo, as respostas do corpo docente da Escola próximo, adultos e crianças em situação de
Municipal João Batista Stocco, via formulário fragilidade socioeconômica e educacional sejam
online, quanto à importância, qualidade técnica instruídos sobre as causas, as consequências e
e aplicabilidade da cartilha não foram obtidas as medidas mitigadoras de desastres
devido ao curto período de tempo que socioambientais.
compreendeu a elaboração do presente artigo e
a disponibilização dos formulários às
educadoras. AGRADECIMENTOS

4.3 Próximos Passos Os autores agradecem aos demais escritores da


cartilha e integrantes do Grupo de Estudos em
No dia 22 do mesmo mês, o Grupo de Estudos Geotecnia (GEGEO/UFPR).
em Geotecnia retornou à escola para realização Agradecem, também, às ilustradoras Kiara
de atividades práticas relacionada às temáticas Cabral e Taciane Alice Ramos que deram cor e
da cartilha. alegria à cartilha. Faz-se necessário agradecer
Durante um dia todo, um modelo reduzido aos pedagogos Tatiana da Silva Bidinotto e
de uma encosta ocupada simularam um Gregório D. Grisa pelas contribuições didáticas
deslizamento de terra durante evento ao longo do material. À diretora Sandra Maria
pluviométrico. Essa e outras atividades foram Carvalho de Oliveira, à coordenadora Fernanda
aplicadas e reproduzidas para todas as crianças Carvalho de Oliveira Borges e às demais
que haviam recebido a cartilha. A metodologia professoras que abriram as portas da escola para
e os resultados dessa fase do projeto aplicação da GeoPrevenção.
GeoPrevenção constam como os próximos
passos do presente trabalho.
O acompanhamento do projeto – as REFERÊNCIAS
atividades realizadas e a cartilha em sua íntegra
– pode ser feito pelo site do GEGEO/UFPR: Bigarella, j. J. (2003). Estrutura e origem
www.gegeotecnia.wixsite.com/gegeoufpr. das paisagens tropicais e subtropicais.
Florianópolis: editora UFSC.
Carvalho, c. S.; Macedo, E. S.; Ogura, A. T.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS (2007) Mapeamento de riscos em
encostas e margem de rios. Brasília:
Tendo em vista a proposta do presente ministério das cidades.
estudo, o qual visa apresentar um plano de ação Mineropar, M. do P. (2006) Atlas
de conscientização ambiental no que diz geomorfológico do estado do paraná -
respeito aos riscos geotécnicos a que as escala base 1:250.000, modelos reduzidos
ocupações irregulares estão sujeitas, pretende-se 1:500.000. Curitiba.
que, numa esfera ainda crescente, as crianças Rosa, T. S.; Mendonça, M. B.; Monteiro, T.
sejam formadas de modo a entender parte da G.; Souza, R. M., Lucena, R. (2015) A
dinâmica natural do planeta Terra e a influência educação ambiental como estratégia para
do ser humano nesses processos. A partir daí, redução de riscos socioambientais,
toma-se consciência do nosso papel na gestão Ambiente e sociedade, Vol 18, nº 3, p.
do espaço. 211-230.
Ademais, este trabalho busca, também, Lelis, A. C.; Carvalho, J. C de. (2012)

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Cartilha meio ambiente: Infiltração.


Editora FT, Série Geotecnia UnB, Vol 3,
Brasília, 52 p.
Carvalho, J. C de.; Diniz, N. C. (2007)
Cartilha erosão. 3ª ed, FINATEC, Vol 3,
Brasília, 34 p.

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Mapeamento Geotécnico Preliminar e Análise do Meio Físico


como Instrumento de Auxílio ao Planejamento Urbano na Cidade
de Braço Do Norte/SC
Dayani Della Giustina Michels
Univseridade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil, dayani.della@gmail.com.

Rafael Augusto dos Reis Higashi


Univseridade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil, rrhigashi@gmail.com.

RESUMO: Frente aos problemas causados pelo acelerado processo de urbanização o mapeamento
geotécnico, juntamente com a topografia do local e a evolução da dinâmica urbana, surge como uma
ferramenta indispensável no planejamento do espaço urbano. As referidas informações possibilitam
a interpretação e avaliação das potencialidades e fragilidades de uma determinada área. Com
objetivo de contribuir com o planejamento urbano da cidade de Braço do Norte/SC, este trabalho
visa elaborar o mapa geotécnico preliminar através da metodologia de Davison Dias (1995).
Seguido de uma análise topográfica e histórica-espacial da evolução da mancha urbana entre os
cenários de 1987 e 2017. Como resultado foi produzido o mapa geotécnico preliminar, de
declividade e altimétrico da área urbana de Braço do Norte/SC e identificado os principais vetores
de crescimento urbano existentes.

PALAVRAS-CHAVE: SIG, planejamento urbano, mapeamento geotécnico, vetores de crescimento.

1 INTRODUÇÃO declividades acentuadas, de solos suscetíveis


aos processos dinâmicos e outras que colocam
O desenvolvimento das cidades no Brasil tem em risco a população e geram um pesado ônus
sido acentuado nas últimas décadas. Algumas ao poder público, além de promover o
políticas desenvolvimentistas intensificaram o desequilíbrio social e ambiental.
processo de urbanização. Entre elas podemos Neste contexto, o planejamento urbano
citar a intensificação do processo industrial, a definido com o auxílio de instrumentos técnicos
modernização do trabalho rural e a estrutura contribui de forma significativa para a
fundiária. Essas políticas resultaram em uma delimitação do uso e ocupação do solo, uma vez
carência de terras para a maioria dos que identifica as potencialidades e fragilidades
trabalhadores. de determinadas áreas. Exemplifica-se como
Diante das circunstâncias citadas em menos instrumentos de auxílio ao planejamento
de um século o país passou de rural para territorial urbano o mapeamento geotécnico, em
essencialmente urbano. Segundo Vieira et al. conjunto como a topografia e a identificação
(1993) e Serafim (1998) a ocupação dos vetores de crescimento urbano.
indiscriminada das cidades sem o devido Do ponto de vista geotécnico, existe a
planejamento resultou em processos negativos, preocupação para que haja um crescimento do
os quais as cidades sofrem até os dias atuais. centro urbano para áreas mais aptas à ocupação.
Podemos citar alguns exemplos resultantes das Sendo assim, o monitoramento e a
ocupações indiscriminadas das cidades sem o quantificação dos vetores de crescimento aliado
devido planejamento: a ocupação de áreas de com as características geotécnicas apresentam-
várzeas, áreas sujeitas a inundações, com se como um importante variável a ser
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considerada no planejamento e na gestão


urbana.
Apesar da extrema importância, muitas das
cidades brasileiras (entre elas a cidade de Braço
do Norte/SC) legislam sobre o uso e ocupação
do solo, através de seus planos diretores, sem o
uso de informações geotécnicas e topográficas.
Neste contexto, o objetivo da pesquisa é
contribuir para o desenvolvimento de
instrumentos que auxiliem no planejamento
urbano da cidade, sistematizando informações
de natureza geotécnica e topográfica em uma
base de dados digital e georreferenciada através
de mapas utilizando um Sistema de Informações
Geográficas (SIG). Além de identificar os
vetores de crescimento formulados a partir de
uma série histórico-espacial de evolução da
mancha urbana entre os cenários de 1987 e
2017.

2 ÁREA DE ESTUDO Figura 2 – Limite adminsitrativo do perímetro urbano e


bairros da munícipio de Braço do Norte/SC.

A cidade de Braço do Norte localiza-se na


3 MATERIAIS E MÉTODOS
região sul de Santa Catarina, figura 01. A
cidade conta com uma população estimada de
O Mapa de Declividade, segundo Higashi
32.648 habitantes e com uma área total de
(2006) e Thiesen (2016), utilizado em conjunto
211,864 km² (IBGE, 2018). A área estudada é a
com os demais mapas permite uma série de
polígono compreendido pelo perímetro urbano
análises, entre elas: a viabilidade de
do município, com área de 23,54 km² e 19
mobilização de equipamentos em um
bairros, figura 2.
determinado local, análise do risco de
deslizamentos do solo, ratificação de
informações de composição e origem dos solos.
Além disso, para Christ (2014), a partir da
declividade é possível melhorar a escala dos
mapas de solos, facilitando assim a delimitação
mais exata dos polígonos que formam as
unidades geotécnicas, especialmente quando se
trata da delimitação entre solos residuais e
sedimentares.
As características topográficas, altimetria e
declividade, foram extraídas do Modelo Digital
de Terreno (MDT) obtida do Levantamento
Aerofotogramétrico realizado pela Secretária de
Desenvolvimento Sustentável de Santa Catarina
Figura 1 - Localização da munícipio de Braço do (SDS) no ano de 2010.
Norte/SC.
Em ambiente SIG, o mapa de declividade foi
gerado por meio da ferramenta Slope da
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extensão Spatial Analyst Tools e classificado de foram reclassificados em ambiente SIG, na


acordo com a classe de relevo proposta pela tabela de atributos, adicionando as litologias
Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias correspondentes a cada unidade geológica,
– EMBRAPA (1999), descrita na tabela 1. conforme esquemático da tabela 2.

Tabela 1 - Classe do relevo segundo classificação da Tabela 2 - Classe do relevo segundo classificação da
EMBRAPA (1999). EMBRAPA (1999).
Intervalo de Geologia Simb. Litologia
Classe do relevo Formação Rio do Sul Prs Arenito
declividade (%)
Sedimentos
Plano 0a3 Depósitos Aluvionares QHa
quaternários
Suavemente Plano 3a8 Depósitos aluviais e Sedimentos
TQI
Ondulado 8 a 20 coluviais quaternários
Granito Santa Rosa de
Forte ondulado 20 a 45 Nrl Granitóides
Lima
Montanhoso 45 a 75 Granito Imaruí-
Ni Granito
Escarpado Maior que 75 Capivari

Na criação do mapa geotécnico Quanto ao mapa pedológico foi elaborado


empregando-se os princípios da metodologia de com base nos dados disponibilizados pela
Davison Dias (1995). A metodologia visa à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
estimativa das unidades geotécnicas (EMBRAPA) em escala 1:250.000 no formato
semelhantes, quanto às características físicas, shapefile.
morfológicas, comportamentos hidráulicos e Em um terceiro momento foi analisado a
mecânicos. dinâmica da ocupação urbana. Segundo Christ
A presente metodologia constitui-se pela (2014), é necessário determinar a mancha
sobreposição do mapa litológico, extraído do urbana com base em imagens em cenários
mapa geológico, do pedológico e do topográfico distintos para uma mesma área de estudos.
visando à estimativa das unidades geotécnicas Para Higashi (2006), na determinação dos
de uma determinada área e criando uma nova vetores de crescimento é necessário analisar a
carta. As unidades geotécnicas criadas são mancha urbana em três diferentes e
compostas por polígonos classificados segundo significativas épocas. As imagens de satélite,
a pedologia, horizontes superficiais, segundo Xavier (2010), são excelentes fontes de
representada por letras maiúsculas, e pela dados para a avaliação de fenômenos temporais,
geologia, a qual permite inferir características sendo possível identificar mudanças
de horizontes de alteração da rocha (horizonte morfológicas das cidades através das
saprolítico). Na classificação geológica é tonalidades e de textura das áreas.
considerada a rocha dominante na formação. O A metodologia proposta para identificação
mapa topográfico auxilia na delimitação das dos vetores de crescimento não está baseada no
unidades (DIAS, 1995). desenvolvimento de modelos complexos de
Como insumo para a aplicação do método foi simulação de crescimento urbano. Trata-se, de
gerado o mapa geológico a partir da Carta uma análise histórico-espacial das imagens de
Geológica (Folha SH.22-X-B) realizada pelo satélites entre os cenários de 1987 e 2018,
Programa de Levantamentos Geológicos totalizando sete imagens, onde serão observadas
Básicos do Brasil do Serviço Geológico do formas e colorações dos alvos, possibilitando a
Brasil (CPRM) em escala 1:250.000. identificação da urbanização do perímetro
O mapa litológico foi obtido partir de urbano. Com o auxílio de um Sistema de
interpretações do mapa geológico. Os polígonos Informações Geográficas – SIG será
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determinado os vetores de crescimento.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

As características topográficas do perímetro


urbano de Braço do Norte foram obtidas por
meio do Modelo Digital de Terreno (MDT)
conforme figura 3 e 4. A área de estudo
apresenta altitude variando de 46m a 220m,
com média de 81m e relevo plano (0% a 3%),
quantificado em área e porcentagem pela tabela
3.

Tabela 3 – Declividade do relevo.


Área Área
Declividade
(Km²) (%)
0% a 3% (plano) 12,43 52,82%
3 a 8% (suave ondulado) 2,07 8,80%
8 a 20% (ondulado) 4,42 18,78%
20 a 45% (forte ondulado) 0,50 2,12% Figura 4 – Mapa de declividade (classificação
45 a 75% (montanhoso) 2,82 11,96% EMBRAPA, 1999) e Modelo Digital do Terreno (MDT).
Mais que 75% (escarpado) 1,30 5,52%
Observa-se um maior percentual de áreas
com declividades inferiores a 3%, sendo que
metade da área apresenta relevo classificado
como plano. Nota-se também que apenas
4,12km² da área apresenta relevo igual ou
superior a 45%.
A Lei Federal de Parcelamento do solo, Lei
nº 6.766/79, estabelece o não parcelamento do
solo em terrenos com declividade igual ou
superior a 30%. Foi observado, a partir da
figura 4, que uma área de 5,25km² do perímetro
urbano apresenta declividade de 30% ou mais.
Após a elaboração do mapa litológico,
figuras 5, a partir da geologia predominante,
foram identificadas quatro unidades litológicas:
arenito, granito, granitoide e sedimentos
quaternários. Observa-se a predominância do
substrato granito na área de estudo, uma vez
que ocupa 59,39%, seguidos dos substratos
sedimentos quaternários em 22,09%, arenito em
13,25% e granitoide ocupando apenas 5,27% da
área.
Figura 3 - Mapa altimétrico do perímetro urbano de
Braço do Norte.
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classificação e edição, foi gerado o mapa


geotécnico preliminar, o qual compõem
polígonos que representam áreas de solos com
comportamento geomecânico semelhante.
Conforme representada na figura 7, foram
mapeadas no perímetro urbano oito unidades
geotécnicas, sendo elas: Cambissolo Háplico
substrato arenito (Ca), Cambissolo Háplico
substrato granito (Cg), Cambissolo Háplico
substrato granitoide (Cgd), Cambissolo Háplico
substrato sedimentos quaternários (Csq),
Argissolo Vermelho - Amarelo substrato arenito
(PVa), Argissolo Vermelho – Amarelo substrato
granito (PVg), Argissolo Vermelho – Amarelo
substrato granitoide (PVgd) e Argissolo
Vermelho – Amarelo de sedimentos
quaternários (PVsq). As respectivas unidades
geotécnicas quais compõem estudos
preliminares, sendo necessária investigação em
Figura 5 – Mapa Litológico. campo para a validação das unidades estimadas.
Quanto à pedologia, figura 6, foram
identificas duas unidades pedológicas:
Cambissolo Háplico e Argissolo Vermelho-
Amarelo, as quais se encontram em 11% e 89%
da área, respectivamente.

Figura 7 – Mapa Geotécnico Preliminar.

Diante do mapeamento geotécnico e


quantificação das unidades, tabela 4, fica visível
a expressividade das unidades geotécnicas
Figura 6 –Mapa Pedológico. Argissolo Vermelho-Amarelo de substrato
granito, quaternários e arenitos, as quais juntas
Após os processos de cruzamento, representam 88,75%.
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e) Entre 2008 e 2013 observa-se um


Tabela 4 – Unidades geotécnicas. crescimento uniforme ao longo da mancha
Unidade
urbana, bairro Rio Bonito em direção ao bairro
Área (Km²) Área (%) Sertão do Rio Bonito e no bairro Lado da União
Geotécnica
em direção às áreas de maior altitude e
PVg 13,29 56,46 declividade.
PVsq 5,03 21,37 f) Entre 2013 e 2017 o crescimento urbano
Pva 2,57 10,92 avança para os limites do perímetro urbano,
com um crescimento do São Januário para o
Cgd 1,11 4,72
bairro Bela Vista e do bairro Lado da União.
Cg 0,68 2,89
Ca 0,56 2,38
Csq 0,17 0,72
PVgd 0,13 0,55

Com a aplicação da metodologia proposta


para análise do crescimento urbano, foi
realizada a vetorização das imagens de satélite
no intervalo entre 1987 e 2017, conforme
observado na, figura 8, sendo possível realizar a
seguinte análise:
a) Nos anos de 1987 e 1992 a mancha urbana Ano de 1987 Ano de 1992
concentrava-se principalmente nos bairros
INSS, Vila Nova, Centro, São Basílio, Trevo,
Floresta, São Francisco e discretamente no
bairro Lado da União. Observa-se que a
ocupação se concentrava principalmente ao
longo do rio Braço do Norte e áreas com menor
altitude e declividade. No intervalo entre os dois
períodos analisados o crescimento não se
mostrou significativo, uma vez que se observa
apenas uma densificação na porção sul da
mancha urbana. Ano de 1998 Ano de 2003
b) Entre os anos de 1992 e 1998 observou-se
um crescimento a leste em direção ao bairro Rio
Bonito, em torno da Rodovia SC-370 e um
crescimento em direção ao bairro São Januário,
onde se localiza a Rodovia SC-108.
c) Entre 1998 e 2003 observou-se um discreto
crescimento na direção sudoeste da
urbanização, no bairro do Lado da União. E
iniciou-se a ocupação mais expressiva no bairro
Sertão do Rio Bonito
d) Entre 2003 e 2008, não se ressalta novos Ano de 2008 Ano de 2013
avanços de crescimento urbano, observa-se que
houve um modesto aumento das bordas da
mancha urbana.
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Através da análise entre a topografia,


mapeamento geotécnico preliminar e vetores de
crescimento observaram-se as seguintes
características:
a) A unidade Argissolo de substrato granito está
localizada a leste do perímetro urbano,
apresenta um relevo classificado como
suavemente ondulado (3% a 8%) e estão
situados nesta unidade três vetores de
crescimento: VC-01, VC-02 e VC-03.
Ano de 2017 b) A Argissolo de substrato sedimentos
Figura 8 - Monitoramento do crescimento da mancha quaternários está situada ao longo do Rio Braço
urbana entre os anos de 1987 e 2017. do Norte e Rio Bonito, principalmente nas cotas
mais baixas (entre 40m e 76m) e apresenta
Foi realizado o ajuste do polígono do ano de relevo plano, onde se encontra grande parte da
2017 com o mapa de ruas e lotes do município. mancha urbana.
Em seguida os polígonos foram sobrepostos e c) A unidade Cambissolo de substrato
analisados, permitindo assim identificar os granitoides localiza-se de maneira única a
principais vetores de crescimento entre os anos sudoeste do município, no bairro Lado da
de 1987 e 2017, figura 9. União, apresenta relevo elevado e ondulado (8%
a 20%). Nessa unidade há ocorrência de um
significativo vetor de crescimento, VC-04.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio do mapa geotécnico, mapa de


declividade e altimetria, pode-se evidenciar a
disposição das unidades geotécnicas e a forma
do relevo no perímetro urbano de Braço do
Norte/SC.
Em uma análise conjunta das unidades
geotécnicas e do crescimento da mancha
urbana, observa-se que ao longo dos vintes anos
o município adensou principalmente sob a
unidade geotécnica denominada PVsq tendendo
a leste para a PVg e sudoeste para Cgd. São de
extrema importância à caracterização dessas e
demais unidades geotécnicas quanto aos
comportamentos e solicitação mecânica, uma
Figura 9 - Vetores de crescimento. vez que são fundamentais quanto às decisões no
processo de planejamento territorial e também
É possível pontuar que no intervalo temporal como um subsídio valioso nas obras de
de vinte anos a mancha urbana cresceu 27,29%. engenharia.
O crescimento avançou de maneira mais Observou-se que os vetores de crescimento
acentuada na direção sudoeste com um vetor de apontam que a evolução urbana irá tender para
crescimento, sudeste com dois vetores e leste as áreas de relevo mais acidentado (região
com um vetor de crescimento. sudoeste e sudeste). Portanto, essas áreas
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requerem mapeamento de movimento de massa on Soil Mechanics and Geotechnical Engineering,


e instabilidade de encostas. Buenos Aires/Argentina. ISBN 978-1-61499-602-6
(print) ISBN 978-1-61499-603-3 (online).
Conclui-se que os mapas geotécnicos, de SERAFIM, C. R. (1999). Monitoramento do crescimento
declividade, altimétrico em conjunto com os urbano em áreas de risco à erosão na bacia hidrográfica
vetores de crescimento urbano são instrumentos do córrego Pararangaba no município de São José dos
de auxílio ao planejamento uma vez que Campos-SP. Dissertação de Mestrado em Planejamento
auxiliam na identificação das fragilidades e Urbano e Regional - UNIVAP, São José dos Campos.
99p.
potencialidades da área de estudo. Porém, VIEIRA, I.M.; KURKDJIAN, M.L.N.O. (1993).
ressalta-se que são necessárias explorações em Integração de dados de expansão urbana e dados
campo para verificação das unidades geotécnicos como subsídio ao estabelecimento de
geotécnicas pré-determinadas, uma vez que critérios de ocupação em áreas urbanas. In: Simpósio
apenas a sobreposição de mapas pode gerar Brasileiro de sensoriamento remoto. Curitiba, PR, 10-14
maio. Anais. Curitiba. v.1, p. 163-171.
dados de natureza duvidosa. XAVIER, S.V. (2010). O mapeamento geotécnico por
meio de geoprocessamento como instrumento de auxílio
REFERÊNCIAS ao planejamento do uso e ocupação do solo em cidades
costeiras: estudo de caso para pelotas (RS). Dissertação.
CHRIST. C.E. (2014) Mapeamento de áreas suscetíveis Pós-Graduação em Engenharia Oceânica. Universidade
ao colapso na bacia hidrográfica da Lagoa da Federal do Rio Grande. Rio Grande. 261p.
Conceição. Dissertação. Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Civil. Universidade Federal de Santa
Catarina, Florianópolis, 174p.
THIESEN, S. (2016). Aplicação de ferramenta SIG para
mapeamento geotécnico e cartas de aptidão para
fundação a partir de ensaios SPT: um estudo de caso em
Blumenau/SC.. Dissertação. Programa de Pós-Graduação
em Engenharia Civil. Universidade Federal de Santa
Catarina, Florianópolis, 207p
DAVISON DIAS, R. (1995) Proposta de metodologia de
definição de carta geotécnica básica em regiões tropicais
e subtropicais. In: Revista do Instituto Geológico. São
Paulo. p.51-55.
EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária. (1999). Sistema brasileiro de classificação
de solos. Brasília, Serviço de Produção de Informação,
1999. 412p.
EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária. (2004). Levantamento de reconhecimento
dos solos do Estado de Santa Catarina. Rio de Janeiro:
Embrapa Solos, 1 mapa, color, Escala 1:250.000.

IBGE. Instituto de Geografia e Estatística. O Brasil


município por município. Disponível em:
<http://www.cidades.ibge.gov.br/>. Acesso em: 20 de
fevereiro de 2018. IBGE
HIGASHI, R. A. R. (2006). Metodologia de uso e
ocupação dos solos de cidades costeiras brasileiras
através de SIG com base no comportamento geotécnico e
ambiental. Tese. Pós-Graduação em Engenharia Civil.
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.
486p.
SANTOS, J. V.; THIESEN, S.; HIGASHI, R. R. (2015).
Geographic Information System: Methodological
Proposal for the Development of Foundation Maps Based
on SPT Investigation. In: 15th Pan-American Conference
 

TEMA:  
INOVAÇÕES EM GEOTECNIA 
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A Técnica de Solos Transparentes Aplicada em Modelagem Física


Geotécnica
Luisa Muylaert de Menezes Póvoa
UENF, Campos dos Goytacazes, Brasil, lulumuylaert@hotmail.com

Vívian de Melo Fonseca


UENF, Campos dos Goytacazes, Brasil, vivian_me@yahoo.com.br

Paulo César de Almeida Maia


UENF, Campos dos Goytacazes, Brasil, paulomaiauenf@gmail.com

Fernando Saboya Albuquerque Júnior


UENF, Campos dos Goytacazes, Brasil, saboya@uenf.br.

Ana Carolina das Chagas Lopes


UENF, Campos dos Goytacazes, Brasil, carolinachagas14@gmail.com

RESUMO: A técnica de solos transparentes vem experimentando grande aceitação para modelagem
física geotécnica. O solo transparente é constituído de mistura de partículas sólidas e um fluido de
saturação que possuindo ambos o mesmo índice de refração, resulta em uma amostra transparente.
Neste sentido, o artigo apresenta os principais tipos, técnicas de medição e interpretação de solos
transparentes usados em modelos físicos reduzidos para investigar problemas geotécnicos. Para
isso, foi feito uma vasta revisão bibliográfica relatando os principais documentos onde são usados
solos transparentes. Os resultados revelaram que atualmente existem seis principais famílias de
materiais: pó de sílica amorfa, sílica gel, hidrogel, quartzo fundido, laponita e gelita. No Brasil,
especificamente na Uenf, vem sendo desenvolvido todo aparato experimental necessário para a
utilização dessa técnica. Conclui-se que os estudos fornecem os fundamentos necessários para a
utilização do solo transparente para analise qualitativa de problemas geotécnicos em ensaios não
invasivos.

PALAVRAS-CHAVE: solos transparentes; modelos físicos e ensaios de laboratório.

1 INTRODUÇÃO O solo transparente é constituído pela mistura


de partículas sólidas e um fluido de saturação
Os solos naturais são opacos para a luz que, possuindo ambos o mesmo índice de
visível, portanto a única forma de visualizar refração (IR), resulta em uma amostra
deformações internas e os caminhos de fluxo transparente. Os solos parcialmente saturados
internamente de solos é através de técnicas também podem ser estudados usando solos
complexas para ambientes educacionais e transparentes se for adotado uma adequada
aparelhos onerosos, como raios-X, tomografia correlação entre o grau de saturação e a perda
computadorizada (CT), ou câmeras de de transparência (Peters et al., 2011).
ressonância magnética (M. Iskander et al, Diferentes abordagens para visualizar a
2015). Com o intuito de superar as deformação com precisão de solos
desvantagens dos métodos existentes foi transparentes vêm sendo desenvolvidas,
desenvolvida a técnica de solos transparentes. podendo-se citar a técnica de interferometria
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speckle e a técnica da camada opaca tingidas com tinta negra não metálica para
(“embedded plane”). Na técnica de evitar qualquer tipo de refletância (Figura 2).
interferometria speckle uma interface é gerada Omidvar et al. (2015), Carvalho (2015) e
entre o laser e a matriz do solo (Kong et al., Chen et al. (2014) utilizaram a técnica da
2015), nessa interface ocorrem pontos onde camada opaca.
há distribuição de máximos e mínimos na
intensidade da luz. O agrupamento destes
padrões cujas as intensidades de luz variam ao
acaso é conhecido como efeito speckle (Da
Silva, 2007). Para aplicação da técnica é
necessário um aparato experimental
compreendendo uma câmera para aquisição
das imagens, um laser com capacidade
suficiente de “corta oticamente” o modelo, e
no mínimo uma lente cilíndrica utilizada para
gerar um plano vertical de luz laser, dessa
maneira, será gerado, na seção de interesse
para a captura das imagens, o efeito speckle
que é uma variação de máximos e mínimos na
intensidade da luz. A Figura 1, apresenta
esquematicamente, como trabalha a técnica de
interferometria speckle em solos
transparentes. Figura 2 - Amostra de solo transparente feita com o
uso da técnica da camada opaca, Fonte: Omidvar et al
(2015).

Para a quantificação dos deslocamentos é


necessário analisar as imagens obtidas em
diferentes fases dos ensaios. A ferramenta
mais comum utilizada é a correção digital de
imagens (DIC), embora receba vários nomes,
em particular, velocimetria de partículas por
imagem (PIV), quando os pares de imagens
são comparadas entre si para aquisição do
deslocamento relativo entre elas (Sui e Zheng,
2018). O DIC é amplamente utilizado em
diversos campos da engenharia, por exemplo,
para estudar as deformações do solo durante o
cisalhamento (por exemplo, Sadek et al. 2002;
Figura 1 – Esquema da técnica de interferometria
speckle em solos transparentes, (adaptado de Xiao,
White et al. 2003). A Figura 3 apresenta um
2016). resultado típico de uma análise DIC realizada
por Carvalho (2015).
A técnica da camada opaca (“embedded A técnica de solos transparentes associada
plane”) difere da anterior por não utilizar o a técnicas de correlação digital de imagens
laser e sim incorporar fisicamente um plano vem se desenvolvendo constantemente para a
no interior da amostra de solo transparente modelagem física de diferentes problemas
constituído de partículas opacas traçadoras geotécnicos, sobretudo para uma visualização
feitas do mesmo tipo de material granular dos mecanismos de interação solo-estrutura,
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processos térmicos, fluxo de contaminantes foi identificada por Wallace e Rutherford


(Welker et al. 1999; Iskander 2010; Peters et (2015). Um novo material transparente é
al, 2011; Sun e Liu, 2014; Siemens et al 2015; introduzido por Hakhamaneshi et al., 2016,
Kashuk and Iskander, 2015), deformações do pode ser considerado a sexta família de solos
solo devido a construção de túneis e testes em transparentes.
centrífugas. A Tabela 1 apresenta uma síntese das
Neste sentido, o artigo apresenta os propriedades físicas dos solos transparentes
principais tipos, técnicas de medição e atualmente disponíveis.
interpretação da técnica de solos transparentes
usados em modelos físicos reduzidos para 2.1 Pó de sílica amorfa
investigar as diferentes aplicações
geotécnicas. Para isso, foi feito uma vasta O pó de sílica amorfa é um pó extremamente
revisão bibliográfica relatando os documentos fino com diâmetros individuais das partículas
mais notáveis sobre modelagem com solos na ordem de 0,02 μm e atende os requisitos
transparentes. para representar as propriedades de
resistência, permeabilidade, e o
comportamento geotécnico de argilas de baixa
plasticidade (Iskander et al. 2002, Liu et al.,
2003).
Este material está sendo amplamente
utilizado no meio acadêmico, especialmente
por pesquisadores ingleses e australianos, e
têm sido utilizados em uma ampla gama de
problemas de fundações, como por exemplo:
a) penetração de estacas em argila (Lehane e
Gill 2004; Ni et al. 2010; Hird et al. 2011),b)
deformações próxima a penetrômetros, c)
âncoras helicoidais (Stanieret al., 2013), d)
Figura 3 - Resultado típico de uma análise DIC, colunas de areia (McKelveyet al., 2004), e)
Carvalho (2015).
interação solo estrutura e mecânica de grupo
em fundações de coluna britada (Kelly, 2014),
2 PRINCIPAIS FAMÍLIAS DE SOLOS
f) testes em centrífugas para modelar o
TRANSPARENTES E APLICAÇÕES
comportamento de fundações offshore (Song
et al., 2009, Black, 2015).
A modelagem de solos naturais utilizando
Destaca-se Black (2015) que descreveu
solos transparentes pode ser baseada em seis
que os testes utilizando solos sintéticos
famílias principais de materiais. Estas são
transparentes são tipicamente conduzidos em
agrupadas de acordo com a correspondência
modelos reduzidos a 1g, o que ocasiona
do índice de refração das partículas que
preocupações sobre o impacto da escala e
compõem o solo e o poro fluido para
com o nível de tensão. O autor reconhece essa
minimizar a refração da luz e por fim
limitação e apresenta o desenvolvimento de
tornarem-se transparentes.
uma melhor metodologia de testes em que o
As quatro últimas famílias de solos
solo transparente associado a técnica de
transparentes são mais recentes. A quarta
imagem a laser são introduzidos para
família, constituída por quartzo, foi
ambiente de centrifuga.
identificada por Iskander et al. 2010, porém,
só foi confirmada por Ezzein e Bathurst
(2011). Posteriormente, uma quinta família
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Tabela 1 - Propriedades físicas dos solos transparentes atualmente disponíveis.

PRIMEIRA SEGUNDA TERCEIRA QUARTA QUINTA SEXTA


FAMÍLIA FAMÍLIA FAMÍLIA FAMÍLIA FAMÍLIA FAMÍLIA

Iskander et al. Fernandez Wallance e


Sadek et al. Iskander et Hakhamaneh
Referências 2002, Liu et al., Serrano et al. Rutherford
2002 al. 2015 i et al., 2016,
2003 2011 (2015).

HIDROGEL
PÓ DE SÍLICA QUARTZO
PROPRIEDADES SÍLICA GEL (AQUABEAD LAPONITA GELITA
AMORFA FUNDIDO
S)

ÍNDICE DE
1,442 1,442 1,333 1,458 1,333
REFRAÇÃO

Fluxo de água
em solo /
Modelagem Modelagem
modelagem da
Modelagem de Modelagem de areia de depósitos Modelagem
APLICAÇÃO resistência de
argila de areia saturada e marinhos de argila
depósitos
não saturada fracos
marinhos
fracos

PESO ESPECÍFICO
9,4 – 16 11 – 14 10 13,4 – 16,4 10 9,81
SATURADO, kN/m³

Mistura de
óleos Mistura de
Mistura de óleos
PORO FLUIDO minerais Água óleos Água Água
minerais
sucrose, minerais
ISTS*

VISCOSIDADE DO
0,0085 Pa.s –
PORO FLUIDO A 0,0050 Pa.s 0,0050 Pa.s 0,0009 Pa.s 0,0009 Pa.s
0,2012 Pas
23 ºC

COEFICIENTE DE
1,5x10-4- 7x10-2- 1,3x10-5- 5,0x10-9-
PERMEABILIDADE 2,3x10-7- 2,5x10-5
7x10-3 2 x10-5 2,1x10-5 1,6x10-6
(CM/S)
ÂNGULO DE
19º-36º 29º- 42º - 44º-59º -
ATRITO DRENADO

COESÃO DRENADA 20 - 44 kPa 0 - 0 _

COESÃO NÃO
35-250 kPa 0 5-12kPa 0 0
DRENADA
Nota: *ISTS – Iodeto de sódio tratado com thiosulfeto de sódio
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A Figura 4 apresenta o conjunto do teste de solo para investigar deformações do solo devido à
transparente em centrifuga sob iluminação a construção de túneis (Ahmed E Iskander 2011a,
laser utilizado por Black 2015. 2011b).

2.3 Hidrogel (Aquabeads)

O hidrogel apresenta algumas vantagens em


relação as outras famílias de solo transparente, e
como é baseado na água, possui características
hidráulicas para solos naturais, além de
apresentar compatibilidade ótica com água,
óleo, sufactantes selecionados e álcoois. É um
material muito trabalhável e quando hidratado
pode ser facilmente modelada (Lo et al. 2008).
Os Aquabeads têm sido utilizados para
estudar fluxos multifásicos e fluxo de
sulfactantes em solos, eles só podem simular
sedimentos muito fracos (ex. sedimentos
marinhos) em estudos de deformação
(Fernandez Serrano et al. 2011).

2.4 Quartzo fundido

A fabricação do quartzo fundido, de alta pureza,


é feita pela fusão da sílica cristalina de
ocorrência natural em temperaturas na faixa de
2.000 ° C (M. Iskander et al. 2015). Segundo
Guzman e Iskander (2013); Cao et al. 2011, o
quartzo apresenta propriedades estáticas e
Figura 4 – Conjunto do teste de solo transparente em dinâmicas semelhantes à areia angular natural.
centrifuga sob iluminação a laser, Black (2015).
Diversos estudos recentes utilizaram quartzo
fundido para avaliar em modelos de aplicações
2.2 Sílica Gel
geotécnicas a resposta do solo e de rochas,
incluindo arrancamento de estacas (Kong et al.,
A sílica gel é um material inerte, poroso e
2015), penetração rápida de projétil em meios
encontrada em tamanhos que variam de 0,5 mm
granulares (Chen et al., 2014, Omidvar et al.
a 5 mm. É uma forma coloidal da sílica, feita
2015), interações solo-geogrelha (Ezzein e
por desidratação parcial do ácido metasilícico
Bathurst, 2014; Ferreira e Zornberg 2015) e
(S2SO3), possui uma vasta rede de poros
propagação de argamassa (Sui et al., 2015).
interligados, com diâmetro médio de 21, o que
faz com que tenha um alto índice de vazios
2.5 Laponita
internos. (Zhao e Ge, 2014). Segundo Sadek et
al. 2002, o gel de sílica tem sua melhor
A nova família de solo transparente é
utilização para modelar o meio para areias
constituída de Laponite com propriedades
transparentes grosseiras (Sadek et al., 2002).
semelhantes aos hidrogéis, como descrito por
Atualmente, a sílica gel tem sido usada para
Wallance e Rutherford (2015). Esta nova
modelar a penetração estacas (Iskander e Liu,
família foi utilizada para investigar as
2010), fundações rasas (Iskander e Liu 2010), e
superfícies de ruptura produzidas por quatro
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dispositivos de medição in situ de resistência ao 3 LABORATÓRIO DE SOLOS


cisalhamento (Chini et al. 2015). TRANSPARENTES DA UENF

2.6 Gelita No Brasil, o primeiro laboratório de solos


transparentes, está sendo desenvolvido na
Segundo Hakhamaneshi et al., 2016, a Gelita UENF, o espaço possui aparatos incluindo:
tem sido amplamente aplicada no campo da mesa anti - vibração, fonte laser, lente geradora
mecânica para testar projéteis e para simular o de plano, câmera fotográfica de alta resolução e
tecido humano, no entanto, esse material computados para processamento dos dados.
também pode ser utilizado para modelar um A Mesa anti - vibração: do fabricante
solo transparente de grão fino, argila, por NewPort Corporation (USA), tem como função
exemplo. A Gelita é constituída principalmente possibilitar alta estabilidade e captura de
de proteína (colágeno) e, quando misturada com imagens com qualidade, permitindo assim, o
água, moléculas de proteínas e hidrogênios são mínimo de interferência externa ao sistema.
formadas. O laser e lente cilíndrica são necessários
Alguns estudos fotoelásticos têm utilizado para se utilizar a técnica de Interferometria
modelos de gelatina para problemas de Speckle. O laser de alta potência gera um feixe
distribuição de tensão em Mecânica dos Solos, de luz necessário para cortar opticamente o solo
como na investigação da distribuição de tensões em seu interior, e a lente cilíndrica transforma o
em aterros e em fundações de barragens de feixe em um plano vertical de luz laser. O laser
gravidade. Os resultados obtidos desses presente nesse laboratório é do modelo 31425
experimentos têm colaborado para o Helium – Neon red do fabricante Research
entendimento do comportamento do solo sob Electo – Opticos, Inc. com nível de potência de
tensão. (Farquharson; Hennes, 1940). 35 mW e comprimento de onda de 633 nm.
A aquisição das imagens é feita através de
2.7 Preparação da amostra uma câmera Canon EOS Rebel Tli com
resolução de 15 megapixel, que capturara
No geral, independentemente do tipo de família inicialmente uma imagem de referência, antes
utilizada na fabricação do solo transparente o do processo de carregamento iniciar e, em
processo de preparação da amostra é seguida, uma sequência de fotos no decorrer do
semelhante. ensaio.
No primeiro passo, o material é O Computador e o Software são necessários
colocado dentro da caixa de teste, geralmente para o processamento das imagens: As imagens
esse procedimento é feito por pulverização, são processadas com o auxílio de um
para assim, garantir a densidade desejada do computador e a partir do software PivView
ensaio, em seguida, a saturação do material é (versão 2.4) licenciado pela empresa PivTec.
feita com poro fluido com mesmo índice de Em resumo o software funciona transformando
refração. Depois dessa etapa a amostra é as imagens selecionadas em matrizes que
colocada sob vácuo com o intuito de eliminar as variam conforme a intensidade da luz e
bolhas de ar que surgem na primeira fase e posteriormente comparando as imagens que
podem reduzir significamente a transparência foram tiradas no decorrer do processo a imagem
da mistura. O tempo de aplicação do vácuo de referência.
depende da quantidade de mostra e intensidade A Figura 5 mostra um resumo do
do equipamento que aplica o vácuo, o tempo funcionamento do software de processamento
não costuma ser inferior a 4 horas. (Iskander, de imagens por Take (2015).
2010; Guzman e Alfaro, 2016).
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garantir que poro fluido e material translucido


possuem mesmo índice de refração, é utilizado
um refratômetro portátil, cujo é possível medir
IR do poro fluido em condições normais de
temperatura e pressão, que posteriormente
foram comparados com os IR matérias
translúcidos.
Os ensaios são realizados em uma caixa
Figura 5 - Exemplo do funcionamento do software de de vidro 5 mm, não temperado que possui
processamento de imagens. (Take, 2015). dimensões internas de 27 cm de comprimento, 5
cm de largura e 15 cm de altura.
O princípio dos solos transparentes A Figura 6 apresenta o laboratório de
envolve a submersão de um material translúcido Solos transparentes da UENF assim como os
em um líquido com o mesmo índice de refração. aparatos presentes nele.
Isso permite que um material translúcido se
torne transparente quando saturado. Para

Figura 6 – Laboratório de solos transparentes da UENF.

O avanço do aparato experimental


necessário para os solos transparentes, na Uenf,
foi iniciado por Carvalho (2015). O laboratório
de solos transparentes desenvolve atualmente
pesquisas com o objetivo de estudar o processo
executivo de estacas do tipo hélice continua
usando solo transparente constituído por uma
mistura de sílica gel e um fluído mineral
(Figura 7).
A Figura 8 mostra os testes iniciais da Figura 7- – Foto do símbolo da UENF visto através de
simulação da etapa de perfuração do processo um container de acrílico de 5 cm de espessura contido
executivo de estacas do tipo hélice continua em em seu interior solo transparente feito de sílica gel com o
poro fluido mineral.
solo transparente.
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Figura 8 – Imagens da modelagem da etapa de perfuração do processo executivo de estacas do tipo hélice continua em
solo transparente na seção cortada pelo plano ótico, gerado pelo laser.

4 CONCLUSÕES Transparent Soil Models. J. Geotech. Geoenviron.


Eng., Vol. 137, No. 5, pp. 525–535.
Ahmed, M. and Iskander, M. (2011b) Evaluation of
As técnicas existentes para modelagens de Tunnel Face Stability by Transparent Soil Models.
problemas geotécnicos com observação não Tunnel. Undergr. Space Technol., Vol. 27, No. 1, pp.
intrusiva, antes do advento dos solos 101–110.
transparentes, necessitam de aparatos Black, J.A. (2015). Centrifuge modelling with
experimentais complexos e onerosos, transparent soil and laser aided imaging Geotechnical
Testing Journal.
apresentando assim limitações perceptíveis. Cao, Z.H., Liu, J.Y. and Liu, H.L., 2011. Transparent
Essas limitações foram superadas pelas fused silica to model natural sand. In Pan-Am CGS
vantagens da utilização de solos transparentes, Geotechnical Conference.
que permitem visualizar padrões de Carvalho T.G.B. (2015) Propriedades dos solos
deformações espaciais e características de fluxo transparentes e técnicas de correlação digital de
imagens para aplicação em modelagem física
no interior de modelos de solo, em ensaios não geotécnica. 254p. Tese (Doutorado) – Universidade
invasivos. Estadual do Norte Fluminense. Campos dos
Neste sentido, o artigo fornece uma síntese Goytacazes – RJ.
consistente de pesquisas anteriores no domínio Carvalho, T., Suescun, E., Omidvar, M., and Iskander,
dos solos transparentes, proporcionando, a M., (2015) A Water Based Transparent Soil for
Modeling Mechanical Response of Saturated Sand.
comunidade científica, o conhecimento da
Geotech. Test. J., Vol. 38, No. 5, (in this special
técnica e permitindo alcançar diferentes issue) pp. 1–7.
aplicações relevantes de modelos físicos Chen, Z., Omidvar, M., Iskander, M., and Bless, S.
geotécnicos, incluindo interação solo estrutura, (2014) Modelling of Projectile Penetration Into
medição da deformação do solo e problemas de Transparent Sand. Int. J. Phys. Model. Geotech., Vol.
14, No. 3, pp. 68–79.
fluxos.
Chini, C., Wallace, J., Rutherford, C., and Peschel, C. J.,
(2015) Shearing Failure Visualization Using Digital
5 REFERÊNCIAS Image Correlation and Particle Image Velocimetry in
Ahmed, M. and Iskander, M. (2011ª) Analysis of Soft Clay Using a Transparent Soil. Geotech. Test. J.,
Tunneling- Induced Ground Movements Using Vol. 38, No. 5, (in this special issue) pp. 1–17.
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Da Silva, E. R., Muramatsu, M., (2007). O fenômeno do Kong, G., Cao, Z., Zhou, H., and Sun, X. (2015)
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didático. Revista Brasileira de ensino em Física. 29 Transparent Soil Models. Geotech. Test. J., Vol. 38,
(2), São Paulo. No. 5, (in this special issue) pp. 1–14.
Ezzein, F. (2014) Investigation of Soil-Geogrid Lehane B. M., Gill D. R.. Displacement fields induced by
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Adequação de uma obra de estabilização de encosta na cidade do


Salvador-Ba, levando em consideração os conceitos de
sustentabilidade ambiental e interação com o meio.

Danilo Bastos Barbosa


Concreta Tecnologia em Engenharia Ltda, Salvador, Brasil, danilo.bastos@concreta.com.br

Márcio dos Santos Brito


Concreta Tecnologia em Engenharia Ltda, Salvador, Brasil, marcio.brito@concreta.com.br

Ronaldo Ramos de Oliveira


Maccaferri do Brasil, Salvador, Brasil, ronaldooliveira@maccaferri.com.br

Hélio Machado Baptista


Envgeo Engenharia Ltda, Salvador, Brasil, helio@envgeo.com.br

RESUMO: Este artigo aborda aspectos relevantes para justificativa de alteração de concepção de
projeto de engenharia, com o intuito de aplicação de técnica sustentável, em uma obra de
estabilização de encosta, executada na cidade do Salvador-Ba. O talude de intervenção possui área
com 2.500 m², com altura variando de 16 a 42 metros, inclinações entre 50° e 90°, localizado em
uma região de proteção ambiental, ao fundo de uma creche, com concepção arquitetônica elaborada
com conceitos de sustentabilidade. Tais fatores despertaram a necessidade da aplicação de uma
solução que possibilitasse, além dos fatores de segurança exigíveis por norma, a minimização de
interferências, custos e impactos que as intervenções de engenharia poderiam causar. Diante do
exposto, a concepção mais viável foi a implantação, ao longo do talude, de um solo grampeado com
revestimento vegetal de face verde, modificando a solução inicilmente concebida em solo
grampeado com face de concreto e cortina atirantada.

PALAVRAS-CHAVES: Sustentabilidade, Solo Grampeado com Face Verde, Preservação


Ambiental.

1 INTRODUÇÃO melhor resultado final.


Neste pensamento, este artigo aborda
A concepção dos projetos geotécnicos requer aspectos relevantes para justificativa de
um amplo estudo na busca de requisitos alteração de concepção de projeto, com o intuito
necessários para um bom desempenho da de aplicação de técnicas sustentáveis, visando
intervenção. A melhor técnica deve ser utilizada um melhor resultado no desempenho de uma
atendendo os aspectos de funcionalidade, de obra de estabilização de encosta, executada na
viabilidade financeira e de execução, e, sempre cidade do Salvador-Ba.
que possível, reduzir os impactos que tal A intervenção tornou-se necessária nesta área
intervenção possa gerar. Tais itens são em decorrência de escorregamentos recentes,
fundamentais para imprimir no projeto, evidenciados pelas rupturas desnudas ao longo
importantes conceitos de sustentabilidade que, do trecho inferior do talude (Figura 1) e por
atendidos em conjunto, avançam para um conta da instabilidade comprovada através de
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estudos e análises, em conformidade com a cristalino e a bacia sedimentar do recôncavo. Os


Norma Brasileira de Estabilidade de Encostas solos locais são fruto do intemperismo da rocha
(NBR 11.682). A preocupação com a segurança granulítica. É possível observar em campo a
da edificação, localizada à jusante da encosta, presença de descontinuidades reliquiares
fez com que esta área fizesse parte de um herdadas da rocha matriz, basicamente fraturas
contrato de obras de estabilização, firmado subverticais e inclinadas, que condicionam a
entre a Companhia de Desenvolvimento do ocorrência de pequenas rupturas superficiais
Estado da Bahia (CONDER) e o Consórcio (CONCRETA e ECLA, 2016).
Concreta-Ecla. Tais obras são financiadas pelo
Governo do Estado da Bahia, em parceria com o
Ministério da Integração Nacional.

Figura 2. Vista Geral do talude. Fonte: Elaborada pelos


autores (2017).

Figura 1. Sinais de escorregamentos do trecho inferior do Foi colhida na face do talude rompido uma
talude. Fonte: Elaborada pelos autores (2017). amostra indeformada que foi submetida a ensaio
de cisalhamento direto na umidade natural e
2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA inundada, cujos parâmetros obtidos são
apresentados na tabela 1:
O talude possui área aproximada de 2.500,00
m², com altura variando de 16 a 42 metros e Tabela 1. Parâmetros obtidos através do ensaio de
com inclinações entre 50° e 90°. cisalhamento direto
O talude está inserido no interior da Ensaio Coesão Âng. Peso Específico
poligonal correspondente à área de preservação (kPa) Atrito (º) (kN/m³)
ambiental do Parque São Bartolomeu, ao fundo Natural 39 39 14,5
da Creche “As Heroínas do Lar” que abriga
Inundado 11 36 14,7
diariamente em torno de 300 crianças. A área
possui vegetação natural densa, em regeneração,
por toda sua extensão, conforme pode ser vista Através da análise das sondagens a
na Figura 2, com excessão apenas de trechos em percursão, realizadas para a caraterização do
que existem sinais evidentes de escorregamento solo da área de estudo, é possível afirmar que a
recentes e trechos desnudos. camada superficial, com espessura variando
entre 0,75 m e 2,0 m, é constituída de um solo
2.1 Caracterização Geológico-Geotécnica fofo e de baixa resistência. Sob essas camadas é
possível verificar o solo natural, provavelmente
A intervenção está localizada no plano da de alteração do granulito, com camadas
escarpa da falha geológica de Salvador, região intercaladas de silte argiloso, com consistência
na zona de transição entre o embasamento média a rija, e silte arenoso medianamente
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compacto. O número de golpes no ensaio de Ao analisar a concepção incial, ficou claro


penetração foi variável entre 9 e 28 até uma que tal solução não se enquadrava nos padrões
profundidade de aproximadamente 15,0 m. Em ambientais, técnicos e sociais para a área em
nenhuma sondagem realizada foi observada a que se faria a intervenção. Tal conclusão foi
ocorrência de nível d’água. decorrente ao abordar alguns quesitos:
localização, interferências e harmonia com o
3 CONCEPÇÃO DO PROJETO entorno.

É possível verificar na figura 3, Arranjo Geral 3.1 Localização


do Anteprojeto proposto, a solução inicialmente
concebida: uma cortina atirantada em toda a O talude para intervenção está localizado às
parte baixa (linha amarela) com altura média de proximidades da Rua Jaqueline, próximo à
12 metros; na parte alta do talude (trecho cor Avenida Afrânio Peixoto (popularmente
cinza) um solo grampeado convencional com conhecida como Avenida Suburbana), principal
revestimento de concreto, um sistema de avenida do Subúrbio Ferroviário da Cidade do
drenagem pluvial (linha azul); na parte baixa da Salvador. A área está inserida em uma das
encosta e revestimento vegetal no platô extremidades do Parque São Bartolomeu,
remanescente que se formaria após uma grande conforme indicação da figura 4.
movimentação de terra. É evidenciado ainda,
nos trechos laranja, os locais que ocorreram
escorregamentos de terra recentes.

Figura 4. Indicação da localização da área de intervenção


(círculo vermelho). Fonte: Adaptada do Google Maps,
Figura 3. Arranjo Geral do Anteprojeto proposto. Fonte: acesso em fev. 2018.
Adaptada de Anteprojeto da Encosta Meta 08 – Creche
As Heroínas do Lar (2016). A localização da área de intervenção,
atrelada à conscientização acerca da questão
No entanto, na fase de estudos para ambiental, e importância histórica e religiosa
concepção do projeto básico, foram que tal trecho representa, foram pontos
considerados alguns fatores que foram considerados ao se avaliar a viabilidade da
determinantes para despertar a necessidade da concepção do projeto.
aplicação de uma solução sustentável, que O Parque São Bartolomeu é uma área
possibilitasse, além dos fatores de segurança reconhecida oficialmente em decreto municipal
exigidos por norma, a minimização de nº 5.363, de abril de 1978, por seus valores
interferências e impactos que as intervenções de científicos, ambientais, históricos, culturais,
engenharia poderiam causar nesta área. educativos, religiosos e turísticos. Além disso, o
decreto Estadual n° 7.970, de 05 de Junho de
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2001, publicado no Diário Oficial do Estado da Estudos mostram que interferências antrópicas
Bahia, cria a Àrea de Proteção Ambiental – APA nos centros urbanos fazem com que estas áreas
Bacia do Cobre/São Bartolomeu nos Municípios apresentem variações climáticas e sensações
de Salvador e Simões Filho, atualmente térmicas, maiores do que em áreas mais
administrada pelo Instituto do Meio Ambiente e afastadas. Isso se deve, principalmente, ao
Recursos Hídricos (Inema). A reserva natural é aumento da impermeabilização, diminuição de
considerada a maior reserva de Mata Atlântica áreas verdes e aumento da poluição. Este
urbana de Salvador, conforme é perceptível na fenômeno é conhecido como Ilhas de Calor.
figura 5. O Parque abriga centenas de espécies Alguns trabalhos técnicos enfatizam a
animais e vegetais, além de ter grande interferência de diferentes revestimentos nos
importância para a regulação do clima da centros urbanos e as consequências que estes
Cidade. proporcionam, principalmente na variação da
Por suas riquezas naturais, cachoeiras, temperatura e irradiação de calor.
córregos e árvores, esse cenário tropical foi o
MATOS et al (2010), por exemplo, verificou
mais propício ao culto do Candomblé e suas
a proporção entre o fluxo de irradiação solar
manifestações. Fica claro que o parque, para os
incidente em superfícies distintas encontradas
adeptos da religião africana, é um espaço sagrado
cujo conjunto de significações foi sendo
no meio urbano, no caso, o asfalto e grama
construído na experiência cotidiana dos grupos esmeralda, e o fluxo de irradiação que é
sociais e transmitido para seus descendentes refletido. Neste estudo, foi comprovado que o
(PINHA, 2016). material utilizado em revestimentos é uma das
variáveis responsáveis por alterações na
velocidade de condução e emissão do calor,
podendo influenciar nas condições de
desconforto dos usuários dos espaços urbanos.
O gráfico do estudo é apresentado na figura 6,
pode-se notar uma diferença de
aproximadamente 138 W/m², quando
comparada à irradiação emitida entre o asfalto e
a grama, por volta das 11h00.

Figura 5. Indicação das áreas naturais remanescentes na


cidade do Salvador. Parque São Bartolomeu indicado
com círculo vermelho. Adaptada de TEIXEIRA, 2014.

Além da importância ambiental e religiosa,


documentos oficiais e alguns trabalhos
acadêmicos enfatizam o valor histórico desse
território, sobretudo no que diz respeito ao fato de
Figura 6. Gráfico da relação entre a irradiação emitida
ter sediado batalhas importantes para a pela grama e a irradiação emitida pelo asfalto.
consolidação da emancipação política do Brasil, e FONTE: MATOS, 2010.
valores cívicos relacionados às lutas pela
Independência da Bahia. MASCARÓ (2012), ao analisar a
temperatura superficial de diferentes
3.2 Interferência com o entorno revestimentos expostos a diversas condições
ambientais, verificou um melhor
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comportamento do revestimento vegetal em concepção elaborada sob conceitos de


relação aos inertes (concreto, asfalto, blocos sustentabilidade. Sua estrutura, piso e escadas
intertravados de concreto). Ao comparar a em madeira apresenta um ambiente harmônico
diferença de temperatura superficial, por com o entorno em que está inserido. Além
exemplo, entre o concreto e o gramado, ambos disso, a arquitetura e padrão construtivo foram
ao sol, o autor constatou que havia uma projetados de forma que privilegiassem a livre
diferença de 12°C, diferença esta bastante circulação e a iluminação natural, na qual
significativa e que interfere diretamente na promove economia de energia e de recursos,
temperatura do entorno e no desconforto dos sem impactar na qualidade de vida de seus
usuários. ocupantes.
Em vista disso, ponderou-se que a execução Tais conceitos de sustentabilidade
de sistemas comumente utilizados em taludes contribuiram também para a busca de uma
de características similares, envolvendo a intervenção que mantivesse a harmonia do
aplicação de solução de solo grampeado e entorno com a construção, confirmando a
cortinas atirantadas, como estava previsto em necessidade de repensar a concepção de
Anteprojeto, com revestimento da encosta em estabilização inicialmente proposta.
concreto, aumentaria a incidência de calor para
a Creche, visto que está próxima da face da
encosta em cerca de 9 metros, prejudicando o
conforto térmico dos ambientes.
A figura 7, imagem adaptada do Google
Maps, demonstra a proximidade da área de
intervenção com a creche, evidenciando, diante
do que foi exposto, a preocupação na busca de
uma intervenção que minimize a interferência
da obra de estabilização com o entorno.
Figura 8. Vista frontal da Creche As Heroínas do Lar.
Fonte: Elaborada pelos autores (2017).

4 ESTRUTURA DE CONTENÇÃO
Área de intervenção
ALTERNATIVA

Diante dos itens analisados e expostos, na busca


de proporcionar um melhor conforto térmico
para os usuários da Creche, minimizar o
impacto ambiental, mitigar o uso dos recursos
Creche naturais e melhorar a integração com a área de
preservação em questão, o projeto de
estabilização foi elaborado também sob o
Figura 7. Indicação da proximidade entre a área de conceito de sustentabilidade, propondo-se a
intervenção e a Creche As Heroínas do Lar. Fonte:
Adaptada do Google Mapas, acesso em fev. 2018.
implantação, ao longo de todo o talude, de um
solo grampeado com revestimento vegetal (Solo
3.3 Concepção arquitetônica da Creche Grampeado com Face Verde).
Tal solução consiste na substituição do
O projeto arquitetônico e estrutural da Creche concreto, comumente utilizado no revestimento
“As Heroínas do Lar” (figura 8) possui uma de face dos solos grampeados convencionais,
pelo revestimento vegetal, com a aplicação de
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um geocomposto formado pela associação de


uma geomanta flexível, tridimensional, que
apresenta mais de 90% de vazios, fabricada a
partir de filamentos grossos de polipropileno
fundidos nos pontos de contato e, um reforço
metálico confeccionado com malha hexagonal
de dupla torção, que associado aos
chumbadores (chumbadores com Aço CA- 50
Ø20 mm), permite que estes elementos
trabalhem juntos, conferindo à solução uma
capacidade resistente de esforços de flexão
composta, tração e cisalhamento, e uma elevada
capacidade antierosiva que possibilitam as Figura 10 – Ruptura superficial entre grampos de um
talude, no município de Salvador-Ba. Fonte: Elaborada
estabilidades global e local, requeridas pela pelos autores (2017).
NBR 11.682. Dentre as funções desempenhadas
pelas telas metálicas está o revestimento do Em uma das obras foi avaliada a execução de
maciço, conservando, deste modo, a um revestimento de face, tendo-se optado pelo
estabilidade entre os chumbadores metálicos uso de uma tela metálica com geomanta
(MENEZES e CARDOSO, 2006). antierosiva (figura 11).
Em alguns empreendimentos nas cidades de
Salvador e Lauro de Freitas foram utilizadas
soluções com face verde, porém sem uso de tela
metálica na face, apenas chumbadores e
hidrossemeadura. Essas soluções não se
mostram eficazes devido a presença de
estruturas reliquiares, herdadas da rocha matriz
(granulito), com grande risco de quedas de
lascas e blocos, que é comandado pela geologia
estrutural, conforme descrito por Pinotti e
Carneiro (2013). As fotografias das figuras 9 e
10 mostram aspectos dessas rupturas Figura 11 – Implantação de tela metálica para contenção
superficiais, ocorridas em taludes da face de rupturas superficiais. Fonte: Elaborada pelos autores
oriental da península de salvador. (2017).

Segundo Franco (2016), tal estrutura


alternativa proposta para a estabilização do
trecho em questão, o uso de telas metálicas de
alta resistência com associação a coberturas
vegetais, é uma “solução relativamente nova no
Brasil, porém já consolidada no mundo. Esta
técnica de estabilização se restringe às
instabilidades superficiais, podendo atuar em
camadas com espessuras de até 3,0 m em
encostas íngremes de solos, mais ou menos
homogêneos, e rochas fortemente intemperizadas
Figura 9 – Ruptura de um bloco entre grampos profundos, ou fraturadas”. Metodologia desenvolvida com
no município de Lauro de Freitas, Ba. Fonte: Elaborada melhores propriedades físicas e de desempenho,
pelos autores (2017).
as tornam mais aptas para absorver maiores
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esforços quando comparadas às telas comuns,


bem como executam a transferência de forças
de modo mais efetivo para os reforços. A este
sistema de cobertura é ainda previsto o uso de
outros materiais constituintes, essenciais ao
funcionamento da obra, tais como elementos
conectores, placas de ancoragem e
possivelmente geomantas que auxiliem no
desenvolvimento da vegetação. (CALA et al.,
2012 apud DIRCKSEN, 2016).
Na perspectiva de DIRCKSEN (2016), a
intervenção em solo grampeado, com a
utilização das telas metálicas de alta resistência,
ao ser comparado com as coberturas em
Figura 13. Projeto executado para estabilização de talude
concreto convencional, se mostra mais com inclinação próxima a 90°. Fonte: Adaptada de
interessante por possibilitar “uma obra de DIRCKSEN (2016).
engenharia com feição natural conseguida por
introdução de cobertura vegetal, ou menos Existem ainda trabalhos acadêmicos que
carregada que uma obra resultante de muro de analisam o uso dessa técnica em diversos tipos
concreto”. de solos e geometrias variadas, comprovando a
A solução em Solo Grampeado com face sua ampla aplicação. Franco (2016) analisou o
flexível, fazendo uso de tela de alta resistência e comportamento do talude da cava da Mina de
plantio de vegetação é uma técnica amplamente Águas Claras, na Serra do Curral, que divide os
já utilizada por todo o mundo. No Brasil já municípios de Belo Horizonte e Nova Lima
temos diversas obras já executadas que fizeram (Figura 14), utilizando o “Solo Grampeado com
uso desta técnica. Dircksen (2016), em seu Faceamento Flexível de Alta Resistência”,
trabalho, apresenta dois exemplos importantes e chegando à conclusão que a técnica atende aos
que merecem destaque: emboque norte do túnel requisitos normativos de segurança de taludes e
sob o Morro Agudo, no município de Paulo “mostrou-se viável principalmente pelas
Lopes (Figura 12) e uma obra particular vantagens ambientais e estéticas”.
localizado na cidade de Carajás, no estado do
Pará (Figura 13).

Figura 14. Cava da Mina de Águas Claras. Fonte:


Adaptada de FRANCO (2016).
Figura 12. Obra de estabilização por solo grampeado e
cobertura com telas metálicas e vegetação DIRCKSEN (2016) afirma que não existe
em Paulo Lopes. Fonte: Adaptada de DIRCKSEN (2016). um valor fixo máximo para as inclinações dos
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taludes permitidas para utilização deste tipo de normalmente utilizada nestes tipos de obras. Os
revestimento flexível. O referido autor faz mesmos autores enfatizam que o uso deste
referência a algumas bibliografias que revestimento de face, além de melhorar a
especificam tal solução para angulações em estética da obra, pode diminuir
torno de 60° ou 70º (Giacon, 2011; Sobral et al., consideravelmente o seu custo global. Neste
2010). Outros autores (Geobrugg, 2015 apud pensamento, Dircksen (2016), reforça que é
Dircksen, 2016) não estipulam um valor esperado que intervenções deste tipo
máximo, porém recomendam malhas apresentem menores custos; porém definir a
específicas para situações de taludes muito margem de economia obtida não é possível
íngremes. Mesmo com as recomendações devido a diferentes metodologias de projeto
apresentadas, existem obras de sucesso no utilizadas, bem como diferentes tipos de telas
Brasil feitas com o uso de telas metálicas e envolvidas no processo, cada caso específico de
cobertura vegetal em inclinações com 80° ou terreno no que diz respeito as suas propriedades
mais, tal como ocorreu em talude próximo ao geotécnicas, topográficas, etc.
acesso do condomínio Vila Amalfi, em São
Paulo, inclinações de 80º e altura entre bermas 5 ANÁLISES DE ESTABILIDADES DO
de até 8,3 m (PITTA et al., 2003), como mostra TALUDE
a Figura 15.
Tendo em vista a inexistência de ocupações na
parte superior do talude e a existência de uma
boa cobertura vegetal, optou-se por considerar,
nas análises de estabilidade do talude, os
parâmetros saturados de resistência do solo
numa faixa superficial com, no mínimo, 3 m de
espessura, de modo a simular a presença de uma
frente de saturação do terreno em períodos
chuvosos. Abaixo desta camada, considerando
que o solo se apresenta mais consolidado e que
se observa uma elevação gradual da sua
resistência com a profundidade, foram
consideradas duas camadas de solo, sendo que
para a primeira, menos profunda, os parâmetros
de resistência foram adotados valores
intermediários, e para a inferior, os parâmetros
obtidos no ensaio da amostra na umidade
natural.
Para avaliação da estabilidade dos taludes foi
Figura 15. Exemplo de estabilização em solo grampeado
com paramento flexível: Cond. Vila Amalfi, utilizado o método de Bishop Simplificado,
Morumbi/SP. Fonte: PITTA et al., 2003. através do software SLIDE da RocScience Inc.
Em face da uniformidade geológico-geotécnica
Ao analisar o quesito custo das obras para e topográfica da encosta, o estudo para
este tipo de intervenção, Sobral et al. (2011) avaliação da estabilidade se fundamentou na
afirmam que ao utilizá-lo para a estabilização análise de uma seção transversal considerada
de um talude localizado em Angra dos Reis, crítica e representativa de toda a sua extensão,
conseguiu-se uma redução de cerca de 70% nos que permitiram a obtenção do fator de
custos em relação à solução trivial de segurança que possibilitaram analisar os
revestimento em concreto projetado resultados com a solução selecionada e indicar a
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distribuição e comprimento dos grampos para o


caso de solo grampeado. A seção analisada
(Figura 16) apresentou um Fator de Segurança
no valor de 1.51, atendendo aos requisitos
exigidos pela NBR 11.682 para este tipo de área
(≥ 1.50).

5.00 kN/m2 5.00 kN/m2 5.00 kN/m2


1.507

Figura 18. Situação após intervenção. Fonte: Elaborado


pelos autores (2018).

6 CONCLUSÃO

Contudo, é perceptível que todo o processo


de concepção levou em consideração os três
-60
Figura 16. Simulação para obtenção do fator de segurança
-50 -40 -30 -20 -10 0 10 20
pilares que formam o tripé da sustentabilidade:
30 40 50

(F.S.=1.51). Fonte: Adaptada de Projeto Básico – Meta o ecológico, o social e o econômico, sem
08 (2016). predominância de prioridade para qualquer um
deles, atendendo com isso padrões de
Na Figura 17 é apresentado o arranjo geral engenharia amplamente discutido e exigido nas
proposto em Projeto Básico. Com as construções atuais.
justificativas apresentadas, o mesmo foi É importante salientar que , mesmo com a
aprovado e executado em concordância com as literatura indicando esta solução para
exigências normativas e ambientais requeridas inclinações variando entre 60º e 70º e pequenas
para a execução deste tipo de intervenção na alturas, foi comprovado que esta pode ser
área de inserção. utilizada em taludes com inclinações de até 90°
com grandes alturas, como foi o caso da Obra
Meta 08, que apresentam trechos com até 42
metros.
Cabe salientar ainda, que, ao estudar, o
projeto atual, com a solução inicialmente
proposta, além da melhoria nos padrões
ambientais, técnicos e estéticos, este apresenta
uma execução menos onerosa e,
consequentemente, mais vantajosa
eocnomicamente para o financiador.

AGRADECIMENTOS
Figura 17. Arranjo geral proposto em Projeto Básico.
Fonte: Adaptada de Projeto Básico – Meta 08 (2016).
Os autores agradecem às empresas Concreta
Tecnologia em Engenharia Ltda. e Maccaferri
É apresentado na figura 18, o talude com as
do Brasil pelas informações disponibilizadas.
intervenções de estabilidade finalizada e em
processo de germinação da vegetação.
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gestor da APA Bacia do Cobre/São Bartolomeu.
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e Desenvolvimento Social, Universidade Católica do
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Terrae Didática. 9-2: 132-168. Universidade Estadual
de Campinas. São Paulo, 2013.
Pitta, C. A. et al. Solo grampeado: alguns detalhes
executivos, ensaios - casos de obras. In: Workshop
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Análise Da Inclusão De Fibras De Garrafa Pet Em Aterros De


Rodovias
Virna Iayane Montenegro de Carvalho
Centro Universitário de João Pessoa - UNIPÊ, João Pessoa, Brasil,
virna.montenegro.vm@gmail.com

Isabelly Cícera Dias Vasconcelos


Centro Universitário de João Pessoa - UNIPÊ, João Pessoa, Brasil, isabelly.vasconcelos@unipe.br

Glauton de Moura Macêdo


Centro Universitário de João Pessoa - UNIPÊ, João Pessoa, Brasil, glautonmm@outlook.com

Ravena Luzia Ferreira Lima


Centro Universitário de João Pessoa - UNIPÊ, João Pessoa, Brasil,
ravenaengenhariacivil@gmail.com

Tales Lourenço da Silva


Centro Universitário de João Pessoa - UNIPÊ, João Pessoa, Brasil, talesaltos@hotmail.com

RESUMO: A construção civil é um setor que ocasiona grandes problemas ambientais devido à
produção de resíduos sólidos acumulados ao longo da obra em construção. A ideia de
sustentabilidade abrange o uso e produção de materiais que exibam maior tempo de vida útil,
reduzindo o impacto ambiental e a utilização de recursos naturais. A utilização insustentável de
recursos naturais proporciona a procura constante por novas tecnologias e materiais diferentes para
a construção civil. O Politereftalato de Etileno (PET) é um poliéster, polímero termoplástico,
empregado na produção de garrafas de refrigerantes, sucos, água e outros. Esse material é utilizado
para proteger o produto, é considerado o melhor e mais resistente plástico. As embalagens de
garrafa PET são descartadas na natureza de forma incorreta, prejudicando o meio ambiente e apenas
uma pequena parcela é reciclada ou recolhida por catadores.
O solo é definido como um material resultante do intemperismo ou meteorização das rochas, através
da desintegração mecânica ou decomposição química. O solo é constituído por partículas sólidas,
líquidas e ar. A terraplenagem é definida como a prática de terraplenar, ou seja, escavar (corte) ou
aterrar (preencher com terra) determinada área, a fim de deixar o terreno plano. Sabe-se das
questões ambientais e a intenção de diminuir os impactos causados por resíduos sólidos, com isso é
possível utilizar novas soluções geotécnicas favorecendo a diminuição do uso de recursos naturais,
redução de custos e desenvolvimento em pesquisa e infraestrutura. O objetivo do estudo foi
verificar a resistência por meio do ensaio de California Bearing Ratio (CBR), de um solo siltoso
com adição de fibras de garrafa PET para utilização em camadas finais nos aterros de rodovias. A
pesquisa realizada foi de caráter bibliográfico, experimental, campo e quantitativo.
Foram realizados ensaios de caracterização física do material, compactação e CBR, posteriormente
classificado pelo Sistema de classificação rodoviária Highway Research Boar – HRB. As garrafas
PET foram cortadas em fibras menores com dimensões de 3 cm x 3 cm e inseridas ao solo com
proporções de 0,1%, 0,3% e 0,5%. Após a realização do ensaio de CBR para as porcentagens de
fibras citadas anteriormente, foi possível encontrar Índice de Suporte California (ISC) com valores
de 30,6%; 27,7% e 8,4%, respectivamente. O ISC encontrado para o solo sem acréscimo de fibras
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foi de 14,3%. Com isso, o material com adição de fibras possui condições adequadas para ser
utilizado como camada final em aterros de rodovias.

PALAVRAS-CHAVE: Melhoria de solos, PET, Aterros.

1 INTRODUÇÃO O pavimento é uma estrutura constituída


de revestimento, base e sub-base; sobreposta de
A construção civil tem atuado com um papel aterros (materiais compactados), fixado sobre o
significativo no desenvolvimento econômico e subleito do corpo da estrada, visando distribuir
social do país. Diariamente, escuta-se falar ao subleito os esforços provenientes dos
sobre o decréscimo do mercado da construção veículos e melhorar as condições de trânsito dos
civil e o quanto essas atividades afetam o meio mesmos (DITTRICH, 2011).
ambiente. Porém, é um setor que ocasiona As embalagens de garrafa pet demoram
grandes problemas devido à produção de anos para se decompor e são descartadas na
resíduos sólidos acumulados ao longo da obra natureza de forma incorreta, prejudicando o
em construção. A ideia de sustentabilidade meio ambiente e uma pequena parcela é
abrange o uso e produção de materiais que reciclada ou recolhida por catadores. Portanto,
exibam maior tempo de vida útil, reduzindo o neste estudo pretende-se verificar a resistência
impacto ambiental e a utilização de recursos de um solo siltoso com adição das fibras de
naturais (MATOS, 2009). garrafa PET para utilização em camada final
Uma das maneiras de diminuir o volume nos aterros de rodovias, por meio do ensaio
de resíduos sólidos urbanos utilizados nas California Bearing Ratio (CBR) e com isso,
cidades é a reciclagem. Esta possibilita a melhorar as propriedades físicas e mecânicas e
recuperação da matéria prima, formação de minimizar o impacto dos PETs ao meio
novos locais de trabalho gerando renda, reduzir ambiente.
energia e impacto ambiental. Além disso, uma
parcela de resíduos sólidos urbanos é produzida
através do descarte inadequado de garrafas 2 METODOLOGIA
Politereftalato de Etileno (PET) pelos cidadãos
(HAIGERT, 2009). Foi realizada a escolha dos métodos pelo
Segundo Vidal (2004 apud ABIPET, Departamento Nacional de Infraestrutura e
2004), o PET é um poliéster, polímero Transportes (DNIT) e materiais de acordo com
termoplástico, empregado na produção de o obejtivo do trabalho, que representa a análise
garrafas de refrigerantes, sucos, água e outros. geotécnica do solo siltoso, bem como a
Esse material é empregado para proteger o verificação da resistência com a inserção das
produto, é considerado o melhor e mais fibras.
resistente plástico, utilizado por apresentar Após a coleta do material, este foi levado
elevada resistência mecânica. ao laboratório e colocado para secar.
A estabilização de solos é uma técnica Posteriormente, foram realizados os ensaios de
utilizada para melhorar as propriedades físicas e caracterização física do solo, tais como:
mecânicas, tais como resistência, classificação granulométrica, limite de liquidez
deformabilidade, permeabilidade para o uso de e plasticidade. Visto que o trabalho tem ênfase
pavimentação e permite a utilização de outros em obras rodoviárias, é importante ressaltar que
solos, aglutinantes ou agentes químicos todos os ensaios seguiram as especificações do
(VIDAL, 2004). Departamento Nacional de Estradas e Rodagem
(DNER), atual DNIT: DNER 041/94 e DNER
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051/94, DNIT 122/94 e DNIT 082/94.


Em seguida, foram realizados os ensaios
de compactação e CBR, a fim de obter o Índice
de Suporte Califórnia (ISC) para solo sem e
com adição de fibras de PET. Foram utilizadas
as especificações DNIT 164/2013 e DNER
49/94, respectivamente.
O tamanho das fibras foi escolhido com
base em Reschetti (2008 apud Oliveira, 2016)
de modo que estas obtivem-se tamanhos
menores e conseguissem ser facilmente
homogeneizadas ao solo e reduzissem os
vazios. As fibras de garrafa PET foram cortadas
manualmente em um tamanho Figura 2. Amostra de solo utilizada no ensaio com adição
aproximadamente de 3 cm x 3 cm (Figura 1). de fibras de garrafa PET.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Análise dos resultados dos ensaios de


Figura 1. Representação da fibra de garrafa PET. caracterização física do solo

O objetivo do trabalho consiste em A Tabela 1 apresenta os resultados de


verificar a resistência de um solo siltoso com caracterização física do solo.
adição de fibras de garrafa pet para camada final
Tabela 1. Resultado dos ensaios de caracterização física
nos aterros de rodovias. Com isso, o ensaio de do solo.
compactação e CBR foram realizados utilizando
a energia de proctor intermediário. Ensaio Resultados
Foram utilizados 6 kg de solo, inseriram-
Granulometria (%) 44,7 passa na #200
se as fibras de uma única vez, colocou água e
homogenizou. Em seguida, a amostra foi Limite de liquidez (LL) (%) 29
compactada em 5 camadas de 26 golpes cada. O Limite de plasticidade (LP)
19
ensaio obteve os mesmos procedimentos para as (%)
seguintes quantidades de fibras de garrafa PET: Índice de plasticidade (IP)
10
0,1% (6 gramas); 0,3% (18 gramas) e 0,5% (%)
Índice de Grupo (IG) 2
(30g). A figura 2 representa a amostra de solo
com fibras.
De acordo com os resultados encontrados,
o solo foi classificado como solo siltoso (A-4)
pelo sistema de classificação rodoviária
Highway Research Boar – HRB e apresenta
plasticidade média.

3.2 Análise e comparação dos resultados dos


ensaios de compactação e CBR

3.2.1 Compactação
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3.2.2 CBR
De modo geral, a compactação é entendida
como a densificação do solo através da retirada A capacidade de suporte de um solo
do ar, por meio da utilização de equipamentos compactado pode ser verificado por meio do
mecânicos. Para construção de taludes Índice de Suporte Califórnia (ISC) ou do inglês
rodoviários ou outras estruturas de solos, ambos California Bearing Ratio (CBR). Esse ensaio é
devem ser compactados a fim de aumentar o realizado para determinar a resistência à
peso específico. A compactação intensifica a penetração de uma amostra compactada, ou
resistência do solo, diminui o recalque das seja, ISC e a expansão, ambos em porcentagem
estruturas e amplia a estabilidade de aterros (DNER, 1994).
(DAS, 2007). Esse ensaio é dividido nas seguintes
A compactação depende de dois fases: compactação do corpo de prova (utiliza a
procedimentos: energia aplicada e teor em água mesma energia do ensaio de compactação),
de compactação. A Tabela 2 apresenta os resistência à penetração e expansão. Para
resultados encontrados de umidade ótima e encontrar os resultados, é considerado as
massa específica seca máxima obtida por meio pressões lidas entre as penetrações de 2,54 e
do ensaio de compactação nas circunstâncias de 5,08 mm, respectivamente 6,90 e 10,35 MPa
solo com e sem mistura. (LPE, 2016).
A resistência à penetração é um meio de
Tabela 2. Resultados obtidos do ensaio de compactação. avaliação de resistência do material, essencial
para avaliar sua estabilidade no pavimento. O
Solo Solos Solo
Parâmetro
Solo Sem
+ + +
ensaio de ISC é um dos mais utilizados no
mistura dimensionamento de pavimentos flexíveis e
0,1% 0,3% 0,5%
Umidade muito empregado pelo orgãos rodoviários
13,6 14,8 13,8 15,6
ótima (%) (OLIVEIRA, 2016).
Massa Após a realização dos ensaios de
específica
seca 1,880 1,880 1,896 1,855
compactação, as amostras ficaram quatros dias
máxima no tanque. No quarto dia, os corpos de prova
(g/cm³) foram submetidos à pressão. Com isso, foi
possível determinar o ISC e a expansão das
Após adição de fibras de garrafa pet, foi amostras ensaiadas. A Tabela 3 apresenta os
possível verificar o aumento da úmidade ótima resultados encontrados.
e a variação na massa específica seca máxima.
A figura 3 apresenta as curvas de compactações Tabela 3. Resultados do ensaio de CBR.
dos solos ensaiados.
Solo Solos Solo
Solo Sem
Parâmetro + + +
mistura
0,1% 0,3% 0,5%
ISC (%) 14,3 30,6 27,7 8,4

Expansão
0,1 0,2 0,1 0,0
(%)

A Figura 4 representa em forma gráfica o


aumento de resistência com 0,1% e 0,3%, e em
seguida queda de resistência com 0,5%. E a
Figura 3. Curvas de compactação. expansão não houve grande alteração.
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De acordo com o objetivo proposto, foi


possível utilizar novas soluções geotécnicas
para o melhoramento de solos em camadas
finais nos aterros de rodovias, utilizando
materiais que prejudicam ao meio ambiente.
Outro aspecto a ser considerado neste estudo, é
que as misturas são favoráveis, mas depende do
tipo de solo a ser utilizando. Com base nos
resultados encontrados, acredita-se que há
possibilidade de continuar o estudo utilizando
Figura 4. ISC para as amostras ensaiadas.
solos com percentual de areia, com poucos finos
e analisá-los com inserção de fibras de garrafa
pet a fim de aumentar a resistência.
4 CONCLUSÃO

Os resultados encontrados apresentam REFERÊNCIAS


características adequadas para utilização do
material como camada final em aterros de ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE
PET (ABIPET). Censo da reciclagem do pet no
rodovias, seja do solo sem mistura ou com Brasil 1º edição. 2004. Disponível em: <
misturas. O solo ensaiado com energia proctor http://www.abipet.org.br/index.html?method=mostra
intermediário teve a intenção do possível rDownloads&categoria.id=3>. Acesso em: 30 jan de
melhoramento de solo e foi atendido, 2017.
transformando um material com ISC = 14,3% DAS, B. M. Fundamentos de Engenharia Geotécnica. 6
ed. Tradução All Tasks, revisão técnica Pérsio
utilizado para aterros e com a inserção de fibras Leister de Almeida Barro. São Paulo. 2007.
de garrafa pet de 0,1% e 0,3%, foi possível DITTRICH, A. C. Disponível em:
verificar um aumento de resistência, tornando <https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/
este material adequado para ser utilizado como 47306/Resumo_11631.pdf?sequence=1>.Acesso
sub base de rodovias, quanto a análise de ISC > em: 8 nov de 2016.
DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE
20% e expansão < 1,0%, porém o índice de RODAGEM (DNER). DNER: 51 – Análise
grupo é diferente de 0, e a especificação do granulométrica. 1994.
DNIT (2009), exige que o índice de grupo seja ______. DNER: 49 – Determinação do índice de Suporte
0. Sabendo que o índice de grupo está Califórnia utilizando amostras não trabalhadas.
relacionado à granulometria do solo e o 1994.
______. DNER: 122 – Determinação do limite de
resultado da amostra ensaiada foi diferente de 0, liquidez. 1994.
indica que o solo tem um alta proporção de ______. DNER: 82 – Determinação do limite de
finos. Para este caso, é adequado a realização de plasticidade. 1994.
novos ensaios com a inserção de um ______. DNER: 41 – Solo - preparação de amostras
porcentagem de areia, a fim de reduzir o para ensaios de caracterização. 1994.
DEPARTAMENTO NACIONAL DE
percentual de finos e encontrar índice de grupo INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES
0. (DNIT). DNIT: 108 – Aterros. Rio de Janeiro – RJ,
A proporção de 0,5% obteve ISC 2009.
inferior as outras amostras, visto que a energia ______. DNIT: 164 – Compactação utilizando amostras
não trabalhadas: método de ensaio. Rio de Janeiro
aplicada nessa mistura foi à mesma das demais,
– RJ, 2013.
mas foi considerada alta para essa amostra, uma ______. DNIT: pavimentos flexíveis – Sub-base
vez que as partículas começaram a quebrar e estabilizada granulometricamente - Especificação
perder a resistência. Este pode ser utilizado para de serviço: método de ensaio. Rio de Janeiro – RJ,
aterros, mas não houve um melhoramento. 2009.
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HAIGERT, F. C. Alternativas para reduzir os impactos


socioambientais do descarte de garrafa pet.
(Especialização) Universidade Federal do Rio
Grande do Sul. Porto Alegre – RS, 2009.
LPE Engenharia. Ensaio de Índice de Suporte Califórnia
– CBR. 2016. Disponível em: <
http://lpe.tempsite.ws/blog/index.php/ensaio-de-
indice-de-suporte-california-cbr/>. Acesso em: 10
ago de 2017.
MATOS, T. F. L. Avaliação da viabilidade de
reintegração de resíduos de PET pós-consumo ao
meio produtivo. Tese. Escola de Engenharia de São
Carlos. São Paulo – SP, 2009.
OLIVEIRA, T. G. Avaliação do uso de fibras de garras
PET como reforço de solos compactados. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE MECÂNICA
DOS SOLOS E ENGENHARIA GEOTÉCNICA
18. Belo Horizonte – BH, 2016.

VIDAL, F. X. R., et al. Resíduo da reciclagem de PET


(polietileno tereftalato) como material alternativo
na construção de reforço de subleito de rodovias.
CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA E
TECNOLOGIA EM RESÍDUOS E
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL - ICTR
2004. Florianópolis – Santa Catarina, 2004.
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Análise da interferência do tempo na técnica de inversão de


polaridade e a influência da porcentagem de sólidos, no processo
de desaguamento eletrocinético de um rejeito proveniente de
mineração de bauxita.
Ana Carolina Ferreira
Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, anacferreira.engcivil@gmail.com

Lucas Deleon Ferreira


Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, lucas@ufop.edu.br

Romero César Gomes


Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, romero@ufop.edu.br

RESUMO:
Atualmente, um dos grandes desafios da indústria da mineração é desenvolver técnicas para
aprimorar o gerenciamento dos rejeitos produzidos, possibilitando, assim, menores taxas de geração
e promovendo o armazenamento com maior segurança e gestão adequada desses resíduos. Nesse
sentido, um dos princípios recentemente investigado é promover o aumento da eficiência de
métodos convencionais de desaguamento de rejeitos através do processo de
desaguamento/adensamento eletrocinético, caracterizado pela aplicação de uma diferença de
potencial elétrico no interior da massa de rejeito. No presente trabalho utilizou-se um equipamento
de escala laboratorial denominado de célula eletrocinética, desenvolvido por Ferreira (2016),
durante os experimentos foram analisados os efeitos da técnica de inversão de polaridade no
processo de desaguamento eletrocinético. Os resultados obtidos foram satisfatórios, uma vez que, o
aumento do gradiente de potencial elétrico e o aumento do tempo de inversão de polaridade,
contribuíram significativamente para o aumento do teor de sólidos final do rejeito.

PALAVRAS-CHAVE: Desaguamento de rejeitos de mineração, fenômenos eletrocinéticos,


inversão de polaridade, adensamento eletrocinético.

1 INTRODUÇÃO processo de beneficiamento, normalmente


depositado em superfície em estruturas de
A mineração é um setor indispensável para o contenção como as barragens de rejeitos. Em
desenvolvimento socioeconômico do país, cujo virtude do período de aquecimento econômico
principal objetivo é a extração de minerais, vivenciado pela indústria minerária nacional na
envolvendo uma grande diversidade de primeira década dos anos 2000, resultando no
processos. A atividade mineradora é dividida aumento do processo produtivo e,
em três importantes etapas: a explotação, o consequentemente, uma elevação contínua da
beneficiamento e a disposição dos resíduos. geração de rejeitos, exigiu-se barragens cada
Os resíduos da mineração são classificados vez maiores e volumosas.
em duas categorias, sendo elas,os estéreis e Tais estruturas estão associadas ao
rejeitos. O primeiro resíduo, é extraído na lavra, armazenamento de resíduos na forma de polpa,
sem valor econômico e é disposto, comumente, ou seja, com consistência fluída devido aos
em pilhas. O rejeito é o resíduo resultante do baixos teores de sólidos. Essa característica, faz
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com que esses materiais necessitem de um Para tal, foram realizados ensaios utilizando três
tempo considerável para que os processos de níveis de gradiente de potencial elétrico (100,
sedimentação e adensamento sejam concluídos. 75 e 50 V/m). Com o segundo objetivo
Fato que resulta em elevadas taxas de ocupação almejava-se analisar o efeito do intervalo de
do solo, além de determinadas incertezas quanto tempo na técnica de inversão de polaridade,
ao ganho de resistência desses materiais ao para isso, foram utilizados intervalos de
longo do tempo. Dessa forma, o processo de inversão de 10, 30 e 60 minutos.
desaguamento dos rejeitos antes de sua
disposição está diretamente atrelado à
economia, segurança da estrutura de 2 ELETROCINÉTICA
armazenamento e a sustentabilidade do
empreendido, considerando o aumento da taxa 2.1 Fenômenos eletrocinéticos
de recuperação de água utilizada no processo e
a redução de áreas necessárias à disposição dos Eletrocinética é o termo utilizado para designar
resíduos. o movimento relativo entre fases eletricamente
Esforços têm sido mobilizados no intuito de carregadas e é caracterizada pela diferença de
promover o desaguamento do rejeito de maneira potencial em um dado sistema, ou pela
mais rápida e eficaz. Porém, a maioria dos aplicação de campo elétrico externo, fazendo
métodos atualmente aplicados possuem assim com que fluídos e/ou partículas se
algumas restrições, quanto à eficiência d movimentem (FERREIRA, 2016).
quando aplicados à rejeitos finos e ultrafinos, Segundo Alijjó (2014), os fenômenos
além de limitações devido ao transporte do eletrocinéticos em solos têm sido objeto de
material desaguado, tornando o investimento estudo desde o início do século XIX, quando F.
economicamente alto. Haja visto que o material F. Reuss publicou em 1809 os resultados de
em forma de polpa pode ser transportado por suas observações sobre a migração de partículas
gravidade em tubulações ou canais, o que coloidais de argila sujeitas a um campo elétrico
resulta em economia quando comparado à aplicado à solução em que se encontravam
outros processos. Por essas razões, novas dispersas. Contudo, somente em 1930
técnicas são estudadas em todo o mundo. Casagrande aplicou esse conceito no tratamento
Uma das alternativas que recentemente é de solos argilosos.
estudada em rejeitos de mineração que Conforme citado na tese de Ferreira (2016),
apresentam granulometria fina e em forma de quando se refere a resíduos da mineração, os
polpa, é a introdução de fenômenos primeiros trabalhos envolvendo a eletrocinese
eletrocinéticos (eletrosmose) em processos de ocorreram entre 1970 e 1980 (SPRUTE e
desaguamento tradicionalmente utilizados. O KELSH, 1975 e 1982) pela United States
princípio de funcionamento é baseado na Bureau of Mines (USBM) e pela organização de
aplicação de diferença de potencial em pesquisa Commonwealth Scientific and
eletrodos, ocorrendo assim movimentação da Industrial Research Organization na Austrália
água entre os polos (anodo e catodo), e dessa (LOCKHART, 1983a, 1983b, 1983c, e
forma ocorre o desaguamento do rejeito. LOCKHART e STICKLAND, 1984). Esse
O presente artigo tem como objetivo geral fenômeno tem gerado grande interesse em
avaliar a contribuição de processos diversas áreas da ciência. Pode- se destacar na
eletrocinéticos no desaguamento/adensamento engenharia sua aplicação nos processos de
eletrocinético de um rejeito de bauxita. E como adensamento de solos com baixa
objetivos específicos, avaliar o efeito do permeabilidade hidráulica, na remediação de
gradiente de potencial elétrico, da técnica de solos contaminados, e também em sistemas de
inversão de polaridade no processo de desaguamento de resíduos da mineração.
desaguamento/ adensamento eletrocinético.
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2.2 Mecanismo de transporte do tubo, assumindo que o transporte do fluido


no solo ocorre devido ao transporte de carga
Segundo Mitchell (2005), existem basicamente positiva em excesso na camada dupla difusa em
quatro fenômenos classificados como direção ao cátodo (NASCIMENTO, 2009).
eletrocinéticos: eletrosmose, eletroforese,
eletromigração e potencial de fluxo. 2.4 Parâmetros que interferem no processo de
E conforme Guimarães (2016), devido a desaguamento/adensamento eletrocinético
interação elétrica entre as partículas
constituintes do solo, a água, e os íons A corrosão dos eletrodos é algo de relevante
dissolvidos, existem alguns fatores que importância e que deve ser levada em
possuem maior influência nos fenômenos consideração, devido às reações eletroquímicas
eletrocinéticos no solo. São eles: a intensidade que surgem quando esses estão em contato com
da força motriz aplicada ao sistema e, o solo. Através do processo de hidrólise é
sobretudo, a forma como o solo se relaciona possível observar que na região próximo ao
com o líquido em seu meio. No artigo anodo ocorrerá uma redução do pH (potencial
apresentado, o fenômeno eletrocinético de hidrogeniônico), e consequentemente um
interesse é apenas a eletrosmose, por isso será aumento do pH quando se analisa o catodo.
mais detalhado. Com a corrosão dos eletrodos ocorre um retardo
no processo de adensamento, podendo não ser
2.3 Fluxo eletrosmótico economicamente viável tal operação
(FERREIRA, 2016). No anodo existem dois
“Os íons dissolvidos na solução que permeia o tipos de reações de oxidação: a oxidação do
solo possuem água de hidratação os próprio material anódico e/ou a oxidação da
envolvendo, conforme estes íons são água para produzir oxigênio. O material de
movimentados com o potencial elétrico, fabricação do anodo irá influenciar diretamente
carregam esta água de hidratação consigo, na sua degradação, conforme vários estudos
gerando o fluxo eletro-osmótico” comprovam, tal como o trabalho de
(GUIMARÃES, 2016, p.12). Glendinning, Jones e Lamont-Black(2005).
Algumas teorias foram descritas no intuito Mas, em função do material escolhido, existem
de explicar o fluxo eletrosmótico, mas nesse algumas limitações como o custo, e a baixa
contexto pode-se citar a teoria de Helmholtz- corrente elétrica.
Smoluchowski, que merece maior destaque por A inversão de polaridade, que foi uma das
ser tradicionalmente mais utilizada. técnicas avaliadas nesse trabalho, “é uma
(FERREIRA, 2016). técnica efetiva que previne a secagem excessiva
Segundo Helmholtz (1879 apud no ânodo e consequentemente diminui a
GUIMARÃES, 2016), nos locais onde as corrosão no eletrodo” (NASCIMENTO, 2009,
interações elétricas das partículas são mais p.53).Tal condição ocorre devido a uma
fortes, existirá uma camada de água confinada. alternância na direção do fluxo e das reações
À medida que a interação torna-se mais fraca, a eletroquímicas existentes, uma vez que o
água tem a capacidade de mover-se entre as eletrodo modifica sua polaridade em intervalos
partículas sólidas. Exatamente nesse momento de tempos. (Ferreira, 2016).
que o fluido se torna livre para movimentar, irá Mohamedelhassan (2001 apud FERREIRA,
influenciar nos fenômenos eletrocinéticos no 2016) apresentou em seu trabalho análises da
solo. Esta teoria considera o solo como tubos influência dos materiais que constituem o
capilares cheios de água e assume que a eletrodo. No estudo, foram utilizados eletrodos
velocidade do fluxo é controlada pelo balanço de cobre, carbono e aço inox. A menor queda
entre as forças elétricas que causam o de voltagem na interface dos eletrodos com o
movimento e a fricção entre o líquido e a parede solo em função da diferença de potencial
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aplicado entre eles, foi observada no eletrodo de


aço sendo crescentes para as interfaces com Tabela 1. Resumo dos ensaios de caracterização
tecnológica do rejeito.
eletrodos de cobre e carbono. Uma vez que,
esses materiais possuem menor potencial Propriedade Valores Unidade
eletroquímico, e por isso tendem a impor
Gs 2,67
menores perdas de voltagem na interface.
Devido ao deslocamento do eletrodo em wL 64,0 %
relação ao solo durante o processo de wP 30,9 %
adensamento, ocorre uma perda parcial de IP 33,1 %
potencial elétrico entre os eletrodos. Outro fator PCZ1 6,81
que influencia na perda de voltagem é a CTCe2 4,88 Cmol/kg
resistência elétrica oferecida pelo elemento CEE água
filtrante. Portanto, nem todo gradiente potencial 00129
intersticial3
é transferido ao solo, ocorrendo um decréscimo Difração de Raios X
como aumento do tempo, conforme constatado Gibsita ~ 67%
por Ferreira (2016).
Caulinita ~ 30%
Hematita ~ 3%
3 MATERIAIS E MÉTODOS Granulometria (%)
Ensaio Argila Silte Areia
3.1 Caracterização tecnológica do rejeito Com defloculante 49,1 48,8 2,0
Sem defloculante 2,5 89,8 7,7
O rejeito é proveniente do processo de
beneficiamento do minério de bauxita, e a 3.2 Metodologia dos ensaios
determinação da granulometria foi feita de
modos distintos: o primeiro utilizando O equipamento utilizado para a realização dos
hexametafosfato de sódio como defloculante e o experimentos, é denominado de célula
segundo utilizando somente água destilada. Um eletrocinética e foi desenvolvido por Ferreira
resumo dos resultados dos ensaios de (2016). A célula eletrocinética consiste de um
caracterizçaão estão indicados na Tabela 1. sistema com 30 cm de altura, 40 cm de largura e
O valor de PCZ apresentado na tabela foi 80 cm de comprimento de paredes em acrílico.
estimado pela equação 1, proposta por Keng e A figura 1 mostra um desenho esquemático do
Uehara (1974). equipamento.

(1)

O ensaio de difraçao de raios X e a análise


química do rejeito foram realizados nos
Laboratório de Difraçao de Raios X e
Laboratório de Geoquímica da Universidade
Federal de Ouro Preto, utilizando um
Espectrômetro de Emissão Óptica com Plasma
Indutivamente Acoplado (ICP). Analisando os
Figura 1. Célula eletrocinética desenvolvida por Ferreira
resultados foi possível notar uma presença mais (2016).
significativa dos elementos: ferro (Fe), alumínio
(Al), titânio (Ti), zircônio (Zr) e enxofre (S).
1 PCZ – Ponto de Carga Zero
2 CTCe – Capacidade de Troca Catiônica Efetiva
3 Condutividade Elétrica equivalente da água intersticial
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Segundo Ferreira (2016), a célula 4.1 Primeira Série: Corrente constante e


eletrocinética foi inspirada em um equipamento gradiente de potencial elétrico de 100, 75 e 50
desenvolvido por Mohamedelhassan e Shang V/m.
(2001).
Após a realização de todos os procedimentos Nessa série foram realizados ensaios com o
envolvidos na montagem do equipamento e objetivo de avaliar o efeito do gradiente de
após o preenchimento da célula com a amostra potencial elétrico no processo de adensamento
de rejeito, os sensores são fixados e inicia-se o eletrocinético. Desse modo foram realizados
ensaio (Figura 2). Todos os ensaios foram experimentos utilizando 20 cm de distância
conduzidos com duração de 48 horas. entre os eletrodos e 3 diferentes níveis para o
Em todos os experimentos foram utilizadas gradiente de potencial elétrico, sendo eles 100,
amostras de rejeito com um valor inicial de teor 75 e 50 V/m.
sólidos da ordem de 30% e todos procedimentos A tabela a seguir (tabela 2), mostra os
foram padronizados. Tais resultados serão valores iniciais e finais do percentual de sólidos
comparados aos ensaios realizados por Ferreira (Ψ0.e Ψf), o gradiente de potencial aplicado
(2016) que realizou experimentos com teor de (E0), bem como o volume total drenado em cada
sólidos inciais próximos à 40%. É importante experimento.
ressaltar que nos experimentos realizados pelo
trabalho citado foi adotado um período de 24 Tabela 2. Volume drenado e percentual de sólidos
horas de sedimentação do rejeito, situação que Anodo Catodo Total
V/m (%) (ml) (ml) (ml)
não foi repetida nos trabalhos realizados com
30% de sólidos. 100 - - - - -
75 31,6 60,9 7604 2134 9738
50 30,1 56,7 6048,5 2849 8897

A figura 3, apresenta a evolução do volume


drenado em cada um dos ensaios em função do
tempo.

Figura 2. Sensores instalados na célula eletrocinética em


contato com o rejeito bauxita.

4 ENSAIOS E RESULTADOS

Foram realizadas duas séries de ensaios: - 1ª Figura 3. Volume drenado em função do tempo.
série: com corrente constante e gradientes de
potencial elétrico (E0) iguais a 100, 75 e 50 Através da tabela 2, observa-se que no
V/m. Já a segunda série: inversão de Polaridade ensaio referente a 100 V/m, não foi possível
de 10, 30 e 60 minutos. Nos próximos tópicos obter conclusões a respeito, uma vez que ao
serão apresentados e analisados alguns dos realizá-lo obteve-se uma corrente elétrica acima
resultados obtidos durante a realização dos da máxima permitida pelos instrumentos de
ensaios laboratoriais. medida. Conclui-se que para ensaios cujo o teor
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de sólidos inferior ou igual a 30% e com eram uma próxima a cada eletrodo e uma na
gradiente de potencial elétrico, igual ou superior região central do corpo de prova, sendo ainda
a 100 V/m, será necessária uma nova adaptação coletadas amostras no topo e base do corpo de
do sistema de alimentação da célula prova. Os resultados serão apresentados na
eletrocinética. Portanto, todas as análises tabela abaixo (Tabela 3).
posteriores, serão consideradas somente as
relações entre os ensaios 1.2 (75 V/m) e 1.3 (50 Tabela 3. Teor de sólidos nas diferentes regiões.
V/m). Teor |Catodo Centro Anodo
sólidos (%) (%) (%)
O experimento 1.2 realizado com o maior
Topo
gradiente de potencial elétrico, obteve um Ensaio 58,4 55,6 61,30
volume drenado de aproximadamente 8,5% 75V/m
superior ao experimento com o potencial Ensaio 52,58 46,33 56,69
elétrico de 50 V/m. E em ambos os ensaios o 50V/m
volume drenado no ânodo foi relativamente Base
Ensaio 53,42 56,54 60,78
maior do que no cátodo, tal fato demonstra que 75V/m
o fluxo eletrosmótico se dá, de forma mais Ensaio 50,25 49,49 57,03
efetiva, nesse sentido. 50V/m
Através da figura 4, conclui-se que o ensaio
1.2, alcançou um teor de sólidos final superior a Percebe-se através da tabela 3, que a região
60%. Para amostras com o mesmo teor de próxima ao anodo apresenta os maiores teores
sólidos inicial, pode-se deduzir que o aumento ao final do experimento, apresentando valores
do potencial elétrico promove uma elevação do próximos à 57% e a 61% na base e no topo da
teor de sólidos final. amostra, respectivamente. A região central do
corpo de prova registrou valores compreendidos
entre 56 a 46% no topo da amostra e de 57 a
49% na base. À medida que o potencial elétrico
aumenta, a teor de sólidos torna-se maior nas
diferentes regiões da célula.

4.2 Primeira Série: Comparação entre os


ensaios com teor de 30% e 40% de sólidos.

Comparando os resultados dos ensaios com o


teor de sólidos inicial iguais à 30% e 40%
realizados por Ferreira (2016), pode-se observar
Figura 4. Variação do teor de sólidos em função do que em ambos ensaios, o volume drenado no
tempo. ânodo foi superior ao drenado no cátodo.
Porém, comparando os resultados de 75 V/m e
Os teores de sólidos apresentados na tabela 2 50 V/m nos diferentes teores de sólidos, pode-
e figura 4, foram apenas médias estimadas com se concluir que o volume drenado no ânodo e
base no volume total drenado. Sabe-se que cátodo foi consideravelmente maior no ensaio
devido ao sentido de fluxo imposto pela de 30% de sólidos. E consequentemente, a
eletrosmose, o teor de sólidos ao final do mesma análise pode ser concluída em relação
experimento será em função da posição ao volume total drenado.
analisada em relação aos eletrodos. Dessa As figuras 5 e 6 mostram as curvas
forma, ao final de todos os experimentos, foram relacionadas ao volume drenado no anodo e
realizadas medidas do teor de sólidos baseadas catado e o volume total.
no teor de umidade obtido em estufa em três
regiões distintas do corpo de prova. Tais regiões
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média 50% acima do volume drenado na


amostra com teor de 40% de sólidos.
A figura 7, apresenta uma comparação da
variação do teor de sólidos em função do tempo
para os ensaios realizados.

Figura 5. Volume drenado anodo e catodo.

Figura 7. Comparação teor de sólidos.

Os valores iniciais e finais do teor de sólidos


nos experimentos realizados são apresentados
na tabela 5.

Tabela 5. Teor de sólidos inicial e final.


Ensaios 100 V/m 75 V/m 50V/m
Figura 6. Volume drenado anodo e catodo.
40,9 31,6 41,5 30,2 39,0
Já a tabela 4 indica os valores relacionados
ao volume drenado nos dois experimentos (30% 61,1 60,9 59,1 30,2 39,0
e 40%). E em ambos os ensaios o volume
drenado no ânodo foi relativamente maior do A partir dos resultados o que se percebe é
que no cátodo, fato que demonstra que o fluxo que o aumento da eficiência de desaguamento é
eletrosmótico se dá, de forma mais efetiva, proporcional à diferença de potencial elétrico
nesse sentido. utilizado. No entanto, às séries não
apresentaram crescimentos semelhantes na
Tabela 4. Comparação entre o volume drenado e o teor de eficiência de desaguamento para os diferentes
sólidos 30% e 40%. níveis. Através da análise da figura 7 e da tabela
Vol. 100 75 50
Drenado V/m V/m V/m
5, pode-se concluir que o teor de sólidos em
ambos ensaios (teor de 30% e 40%) resultaram
(ml) em valores finais que se diferem em apenas 2%
Anodo 4796 7604 4280 6049 3531 no ensaio de 75 V/m, e de 4% no ensaio de 50
Catodo 206 2134 297 2849 863 V/m. Apesar da pequena variação no teor de
Total 5002 9738 4577 8898 4394
sólidos final, pode-se concluir que os ensaios
com percentual de sólidos inicial de 30%,
De acordo com a tabela 4, observa-se que o quando comparados com os ensaios realizados
aumento do volume drenado é proporcional ao por Ferreira (2016), resultaram em uma maior
aumento do potencial elétrico, em ambas eficiência no desaguamento e
porcentagens de sólidos. E nos ensaios com consequentemente em um maior volume
30% de sólidos o volume total drenado foi em drenado total.
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4.3 Segunda série: Inversão de polaridade – A figura 9 apresenta a variação do teor de


Intervalo de tempo: 10, 30 e 60 minutos. sólidos em função do tempo para os ensaios
dessa série.
A tabela 6 apresenta os valores de volume Através da análise da figura 9 e da tabela 6,
drenado em cada um dos ensaios realizados pode-se concluir que teor de sólidos em todos
com a técnica de inversão de polaridade. os ensaios (10 min, 30 e 60 min) resultaram em
valores finais que se diferem em menos de
Tabela 6. Tabela volume drenado total. 0,5%, sendo o valor final de aproximadamente
Anodo Catodo Total 46%.
(min) (%) (ml) (ml) (ml)
10 35 46 2084 2210 4295
30 34 45,7 2350 2300 4650
60 34 45,9 2612 2246 4859

A figura 8, apresenta o volume drenado em


função do tempo para cada um dos ensaios de
inversão de polaridade.

Figura 9. Teor de sólidos nos ensaios de inversão de


polaridade.

Pode-se observar, de acordo com a tabela 7,


que a média do teor de sólidos se manteve
maior no lado que inicialmente foi polarizado
como ânodo e menor no centro da célula.
Figura 8. Volume drenado no anodo em função do tempo. Porém, fazendo uma comparação entre os
ensaios, é possível observar que esses valores
Através da tabela 6 e da figura 8, observa-se são próximos, diferem de no máximo 1%
que o volume total drenado nos ensaios de quando analisados na mesma região.
polaridade inversa de 10 minutos, 30 minutos e
60 minutos, foram 4295 ml, 4650 ml, 4859 ml, Tabela 7. Teor de sólidos nas diferentes regiões.
Teor |Catodo Centro Anodo
respectivamente. Obtendo assim uma diferença sólidos (%) (%) (%)
de 11% entre o maior volume drenado e o Topo
menor volume. Ensaio 44,38 42,36 44,39
O que se verifica é que devido à técnica 10 min
utilizada, os volumes drenados são Ensaio 44,64 41,38 45,25
relativamente semelhantes. Porém, o aumento 30 min
Ensaio 44,59 42,85 45,55
do tempo da inversão de polaridade, foi
60 min
benéfica em relação ao desaguamento do Base
rejeito. Comparando-se o menor volume Ensaio 42,71 41,58 44,39
drenado para o menor intervalo de inversão (10 10 min
min), e o maior volume para o maior intervalo Ensaio 43,08 41,53 43,46
de inversão (60 min).Verifica-se que o ensaio 30 min
Ensaio 43,75 42,02 43,77
3.3 obteve-se um valor de 564 ml superior ao 60 min
ensaio 3.1.
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(R$ 0,54 por kWh) considerando a cobrança de


Outra observação importante, é que ao tarifa referente a bandeira vermelha.
analisar os resultados obtidos, nota-se que no
ensaio de inversão de polaridade, ocorre uma Tabela 8. Estimativa de custo energético.
Ensaio E EI(KW R$/m³
maior homogeneidade do percentual de sólidos (V/m) (KWh) h/m³dr drena
entre a proximidade dos eletrodos e o centro da (E-03) enado) do
célula. Os dados presentes na tabela 7 (V)
demostram tal homogeneidade. 1.1 - - - - -
1.2 15 8 5,75 0,76 0,41
1.3 10 5,7 2,74 0,45 0,24
2.1 20 9,6 9,25 1,93 1,04
5 CONSUMO ENERGÉTICO 2.2 15 7,4 5,37 1,25 0,68
2.3 10 5,1 2,42 0,69 0,37
O consumo energético será calculado com base 3.1 20 12,3 1,18 5,68 3,07
no cálculo da energia através do produto entre a 3.2 20 14,9 1,43 6,08 3,28
diferença de potencial elétrico aplicada (V0), a 3.3 20 12,1 1,17 4,46 2,41
corrente elétrica média (iméd), fator de
intermitência (α) e o tempo do experimento (t),
conforme a equação 2.
6 CONCLUSÃO
(2)
A primeira série de ensaios foi composta por
três experimentos realizados com diferentes
Sendo o fator de intermitência (α), obtido
gradientes de potencial elétrico, sendo eles 100,
pela relaçao entre os intervalos de tempo de
75 e 50V/m. Comprovou-se uma tendência de
energia ligada (tlig) e desligada (tdes) pela
elevação do volume drenado em função do
equação 3. Como em todos os experimentos
gradiente de potencial elétrico aplicado, não
utilizou-se corrente constante, ou seja, sem
sendo esse aumento diretamente proporcional à
intermitência o valor de α será igual a 1.
elevação de gradiente.
Comparados os resultados desse experimento
𝛼= (3) e o realizado por Ferreira (2016) com teor
inicial de 40% de sólidos, nota-se que o volume
O valor de energia elétrica consumida (E) foi total drenado no ensaio com teor de 30% de
relacionado ao volume de água drenada no sólidos, obteve um desaguamento duas vezes
anodo (E1) em cada experimento, e os valores superior aos ensaios realizados por Ferreira
constam na tabela 8. O gasto considerando o (2016). E que o aumento do gradiente de
metro cúbico de água drenada é denominado de potencial elétrico, em ambos os trabalhos,
custo. resultou em valores maiores no teor final de
Os ensaios 2.1, 2.2 e 2.3 foram realizados sólidos.
por Ferreira (2016), cujo os resultados foram A segunda série de experimentos foi
analisados e comparados anteriormente com as realizada com intuito de avaliar a técnica de
séries 1.1, 1.2 e 1.3 (100V/m, 75 V/m e 50 inversão de polaridade, no processo de
V/m). desaguamento e/ou adensamento dos rejeitos de
Com a finalidade de comparar os resultados mineração. O intervalo de inversão de 60
obtidos nesse trabalho com a tese de Ferreira minutos obteve maior destaque por apresentar
(2016), o cálculo do custo relacionado ao maior volume drenado. Porém, esse método
volume de água drenado, foi realizado com base comparado com o anterior, obteve resultados
no valor do kWh praticado pela concessionária inferiores, uma vez que o volume drenado em
CEMIG (Companhia Energética de Minas todos os ensaios foi muito inferior ao volume
Gerais S.A), referente ao mês de agosto de 2016 total drenado na série de gradiente de potencial.
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O teor de sólidos final foi no máximo 46% em GUIMARÃES, M. M. Análise de resistência de um solo
comparação à série anterior onde foram tropical remoldado após eletrocinética. 2017. 59f.
Trabalho de Graduação (Graduação em Engenharia
registrados valores que variam entre 57% a Civil) – UFRJ, Rio de Janeiro – RJ, 2016.
61%. LOCKHART, N., C. (1983a). Electroosmotic dewatering
Fazendo uma análise geral, o que se pode of clays I: Influence of voltage. Colloids and
perceber é que o consumo energético (Kwh/m³ Surfaces, 6, 229-238.
drenado) e o custo (R$/ m³drenado), tornou-se LOCKHART, N., C. (1983b). Electroosmotic dewatering
of clays II: Influence of salt, acid ad flocculants.
mais vantajoso com a diminuição do teor de Colloids and Surfaces, 6, 239-251.
sólidos da amostra. Isso pode ser confirmado ao LOCKHART, N., C. (1983c). Electroosmotic dewatering
analisar os resultados obtidos no ensaio 1.2 e of clays III: Influence of clay type, exchangeable
1.3 que foram 0,41 e 0,24 R$/m³ de água cations and electrode materials. Colloids and
drenada, comparados aos ensaios 2.2 e 2.3 Surfaces, 6, 253-269.
LOCKHART, N., C., STICKLAND, R., E. (1984).
realizados por Ferreira (2016) que foram 0,68 e Dewatering coal washery tailings ponds by
0,37 R$ /m³ de água drenada, respectivamente. electroosmosis. Powder Technology, 40, 215-221.
E apesar dos ensaios com inversão de MITCHELL, J. K. and SOGA, K. (2005). Fundamentals
polaridade possuírem vantagens, como por of Soil Behavior, 3nd Ed., Wiley and Sons Inc, New
exemplo, a redução de corrosão nos eletrodos e York, 577 p.
MOHAMEDELHASSAN, E., SHANG, J. Q., (2001a)
maior homogeneidade das amostras, o consumo Effects of electrode materials and current
energético é extremamente superior aos valores intermittence in electro-osmosis. Ground
discutidos nas séries anteriores, sendo que o Improvement 5, 3-11.
maior custo encontrado foi na série 3.2 (3,28 NASCIMENTO, A., J. Acelerção da consolidação em
R$/ m³ de água drenado). Por esse motivo a solos tropicais com drenos condutores elétricos.
2009. 252 f. Tese (Doutorado)- Universidade de
técnica de inversão de polaridade, pode-se Brasília, Faculdade de Tecnologia, Brasília-DF, 2009.
tornar inviável em algumas aplicações devido SPRUTE, R., H., and KELSH, D., J., (1975). Limited
ao seu alto custo. field tests in electrokinetic densification of mill
tailings. United States Bureau of Mines, USBM.
Report of Investigations No. 8034.
SPRUTE, R., H., and KELSH, D., J., (1982).
AGRADECIMENTOS Electrokinetic Densification of Solids in a Coal Mine
Sediment Pond – a Feasibility Study, United States
Agradecemos à Universidade Federal de Ouro Bureau of Mines, USBM. Report of Investigations No
Preto e CAPES por todo apoio concedido para a 8666.
realização desse trabalho.

REFERÊNCIAS

ALIJÓ,P.H. Dinâmica de íons em solução: efeitos de


tamanho e de correlação eletrostática. 2014. 175 f.
Tese (Doutorado)- Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro- RJ, 2014
FERREIRA, L., D. Desaguamento e adensamento de
rejeito de mineração utilizando processos
eletrocinéticos. 2016. 248 f. Tese (Doutorado)-
Universidade Federal de Ouro Preto, Núcleo de
Geotecnia/NUGEO,Ouro Preto-MG, 2016.
GLENDINNING, S., JONES, C. J. F. P., e LAMONT-
BLACK, J., (2005). The Use of Electrokinetic
Geosynthetics (EKG) to Improve Soft Soils. Ground
Improvement – Cases Histories, Editado por
INDRARATNA, B. e CHU, J., Volume 3, Elsevier
Publishers, p.1115 - Capítulo 35, pp. 997-1043.
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Análise da Variação dos Fatores de Segurança de Taludes com


Adição de Resíduos de Gesso
Laís Verissimo do Nascimento
Universidade de Fortaleza, Fortaleza, Brasil, laisverissimonascimento@gmail.com

Carla Beatriz Costa de Araújo


Universidade de Fortaleza, Fortaleza, Brasil, carlabeatriz@unifor.br

Tiago Alves Morais


Universidade de Fortaleza, Fortaleza, Brasil, tiagoalves@unifor.br

RESUMO: A análise da estabilidade de taludes é uma atividade muito importante em obras de terra
pelos graves riscos relacionados aos movimentos de massa em encostas naturais ou construídas pelo
homem. O melhoramento de solos é uma das técnicas encontradas para a proteção de superfícies
inclinadas, utilizando-se da adição de materiais ao solo para promover a melhoria de suas
características, principalmente, quanto a resistência ao cisalhamento. Em meio aos materiais
disponíveis a serem usados como incrementos ao solo, destaca-se a possibilidade de utilizar
resíduos recicláveis, como o resíduo de gesso da construção civil. Nesse contexto, o presente
trabalho analisou a estabilidade de uma seção tipo de um talude hipotético a partir do seu Fator de
Segurança (FS), primeiramente, sem adição do resíduo de gesso e, posteriormente, com incrementos
de 2%, 5% e 8%, considerando as metodologias de Bishop Simplificado e Morgenstern-Price. Para
a condição inicial, sem mistura, o FS foi igual a 1,3, não atendendo às exigências de projeto que
determinam um valor mínimo de 1,5. Entretanto, o FS foi, aproximadamente, igual a 1,8, 2,0 e 1,9
para as adições de 2%, 5% e 8% do resíduo em relação a massa total seca do solo, respectivamente.
Com isso, ao aplicar os resultados obtidos em estudos realizados com a mistura desses materiais, é
possivel notar que, de maneira geral, o resíduo de gesso apresentou resultados satisfatórios quando
misturado a uma amostra de solo areno-siltosa, aumentando sua resistência quando adicionado nas
proporções de 2% e 5% da massa total, assim como seu FS em uma aplicação prática de um
problema de engenharia.

PALAVRAS-CHAVE: Resíduos de Gesso, Taludes, Fatores de Segurança, Melhoramento do Solo.

1 INTRODUÇÃO superfícies inclinadas através da adição de


materiais ao solo como forma de promover uma
A análise da estabilidade de taludes é uma melhoria de suas características, principalmente,
prática muito comum e de grande importância quanto à resistência ao cisalhamento.
dentro da engenharia geotécnica, visto que os Em meio aos materiais disponíveis a serem
movimentos de massa em encostas naturais ou adicionados ao solo, destaca-se a possibilidade
construídas pelo homem podem causar graves de utilizar resíduos recicláveis, como uma
danos ambientais, econômicos e para a alternativa prática e econômica para contornar
população residente em áreas de risco. os problemas ambientais, econômicos e
Diante desse cenário, o número de pesquisas burocráticos envolvidos na extração de matéria-
voltadas para o melhoramento de solos crescem prima da natureza.
com o objetivo garantir a segurança dessas Os resíduos de construção e demolição
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(RCD) coletados no Brasil no ano de 2016 já 2.1 Resíduos Sólidos da Construção Civil
somavam 45,1 milhões de toneladas, com um
diminuição de apenas 0,08% em relação ao ano Os resíduos são originados a partir do momento
anterior (ABRELPE, 2016). Dentre os materiais que um material passa a não ter mais utilidade
que compõem o RCD, o gesso é popularmente ao fim para o qual ele foi criado. A crescente
conhecido na forma de placas pré-moldadas demanda de matéria-prima para a construção
utilizadas em revestimentos internos de paredes civil ameaça cada vez mais os recursos naturais
e tetos por seu baixo custo e fácil aplicação, e suas reservas, visto que as explorações
apesar das diversas aplicações desse material degradam o meio ambiente na tentativa de
em outros segmentos. suprir as necessidades do mercado, tornando
O gesso é um mineral semi-hidratado tais recursos escassos na natureza.
produzido mediante a calcinação de sua A Associação Brasileira de Empresas de
matéria-prima, a gipsita, composta por um Limpeza Pública e Resíduos Especiais
sulfato de cálcio hidratado (CaSO4.2H2O) (ABRELPE) analisou o crescimento da geração
encontrado em abundância na natureza. Os de RCD no país, como também em suas regiões,
principais minérios de gipsita estão associados através da comparação do total de RCD
às bacias sedimentares, destacando-se a Bacia coletado em 2016 em relação ao ano anterior,
Sedimentar do Araripe, economicamente mais como mostra a Figura 1. Para o ano de 2016,
vantajosa do Brasil, onde está localizado o com uma dimiuição de 0,08% em relação a
“Polo gesseiro do Araripe”, limitado pelos 2015. No entanto, esta situação exige uma
estados do Piauí, Ceará e Pernambuco, sendo atenção especial, uma vez que a quantidade
este último responsável 87,6% do total total desses resíduos é ainda maior, uma vez
produzido no país (DNPM, 2001; 2015). que os valorem configuram apenas os que foram
Em 2011, entrou em vigor a Resolução nº lançados ou abandonados nos logadouros
431 do Conselho Nacional do Meio Ambiente públicos (ABRELPE, 2016).
(CONAMA) que reclassificou o gesso da classe
C (resíduos para os quais não foram
desenvolvidas tecnologias ou aplicações
economicamente viáveis que permitam
reciclagem/recuperação) para a classe B,
identificando-o como resíduo reciclável. Essa
mudança cria uma nova perspectiva para a
construção civil, viabilizando o reuso do gesso,
consequentemente, minimizando os efeitos
causados à natureza em decorrência do seu
desperdício e proporcionando uma nova
aplicabilidade para o material de maneira Figura 1. Total de RCD Coletados no Brasil e Regiões
sustentável. (t/dia) (Fonte: Adaptado de ABRELPE, 2016).
Com isso, baseado na reclassificação do
gesso pelo CONAMA como resíduo reciclável, De acordo com o CONAMA, os resíduos
este trabalho analisou a estabilidade de uma gerados em processos construtivos, reformas,
seção tipo de um talude hipotético a partir do reparos e demolição são de responsabilidade da
seu Fator de Segurança (FS) com incrementos pessoa, física ou jurídica, públicas ou privadas
de gesso em diferentes porcentagens. que os produziram, além de estarem
comprometidas a priorizar a reciclagem e o
reuso dos materiais sempre que possível
2 REFERENCIAL TEÓRICO (CONAMA, 2002).
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Na Resolução nº 307/2002, O CONAMA com água, ocorre a formação de uma fina malha
classifica os resíduos de construção civil com cristalizada de sulfato hidratado através de uma
nomenclaturas: A, B, C e D, conforme descritas reação exotérmica que restitui o sulfato
a seguir: bihidratado original, conferindo um
endurecimento à mistura, conhecido como pega
I. Classe A: Corresponde aos materiais dos do gesso.
quais seus resíduos podem ser Para Silva (1985), as características que
reutilizados ou reciclados como atribuem qualidade ao material são: a
agregados, por exemplo, os resíduos resistência mecânica, a granulometria composta
de construção, demolição, reformas de grãos finos e velocidade do endurecimento
e reparos de obras de infraestrutura e das massas de gesso. Esta última está ligada a
de edificações; quatro fatores, sendo eles: temperatura e tempo
de calcinação, granulometria do material,
II. Classe B: Corresponde aos materiais quantidade de água e a presença de impurezas
dos quais seus resíduos podem ser ou aditivos na mistura (BAUER, 2000).
reciclados e receber uma outra Assim como os outros materiais
aplicação, sendo eles: plásticos, aglomerantes, a resistência do gesso está
papel, papelão, metais, vidros, diretamente relacionada ao tempo de pega e,
madeiras e gesso.; uma vez endurecido, pode atingir a resistência à
tração de, aproximadamente, 2 MPa com 40%
III. Classe C: Corresponde aos materiais de água e à compressão de 5 a 15 MPa. No
dos quais seus resíduos não podem entanto, a quantidade de água pode influenciar
ser reciclados ou recuperados por desfavoravelmente na resistência mecânica do
falta de tecnologias ou aplicações material. O gesso apresenta, entre outras
economicamente viáveis que propriedades, um bom isolamento térmico e
permitam sua inserção novamente acústico, pouco aderente à pedra, madeira e
dentro processo executivo; ferro, além de não tolerar altas temperaturas
(SILVA, 1985; VERÇOZA, 1987).
IV. Classe D: Corresponde aos resíduos No Brasil, as principais reservas minerais
perigosos ou contaminantes, que de gipsita encontram-se associadas à bacias
dependem do material do qual eles sedimentares, com destaque para a Bacia
são provenientes no processo Sedimentar do Araripe onde está localizado o
construtivo (tintas, solventes, óleos, Pólo Gesseiro do Araripe, o mais relevante
entre outros) e do tipo da obra na minério gipsífero do ponto de vista econômico e
qual serão executados os serviços de qualidade industrial, devido às altas
(clínicas radiológicas, instalações concentrações de sulfatos e desprezíveis
industriais, etc.), respectivamente. quantidades de impurezas em seus minerais
(DNPM, 2001).
2.2 Gesso Mais importante que o reuso e reciclagem
de um material é encontrar maneiras de prevenir
De acordo com Bauer (2000), o gesso é um a geração do resíduo, que pode ocasionar
termo genérico de uma família de aglomerantes severas consequências e impactos ao meio
simples obtidos pela calcinação da gipsita ambiente, uma que se trata de um material
natural, constituída de sulfato hidratado de tóxico que libera Ca2+ e SO42-,
cálcio geralmente acompanhado de uma certa consequentemente, criando reações químicas no
proporção de impurezas variando a um limite solo que produzem alterações em sua
máximo de aproximadamente 6%. Ao misturar alcalinidade e que contaminam os lençóis
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freáticos. Já o descarte sem controle em aterros  Expansões laterais;


favorece a reação do sulfato com a matéria  Escoamento (corridas);
orgânica, acarretando na liberação de gás  Complexos (combinação de dois ou mais
sulfídrico (CAVALCANTE e MIRANDA, tipos de movimento).
2011).

2.3 Estabilidade de Taludes 3 METODOLOGIA

Segundo Fiori e Carmignani (2009), talude é o 3.1 Mistura Solo-Gesso


termo dado a qualquer superfície com certa
declividade que, ao fazer um ângulo com a A amostra de solo deformada usada na mistura
horizontal, limita um maciço de terra, rocha ou foi coletada no trecho correspondente ao
de ambos. Ainda, podem ser naturais ou quilômetro 98 da obra de duplicação da CE-
artificiais, apresentando a terminologia 040, de Coordenadas UTM: 9523152.65S e
mostrada na Figura 2. 610845.72E, localizado entre os Municípios de
Beberibe e Fortim, Estado do Ceará.
Os resultados dos ensaios de caracterização
desse solo são apresentados na Tabela 1. De
acordo com Nascimento (2017), o solo é
classificado como uma areia siltosa (SM)
segundo ao Sistema Unificiado de Classificação
dos Solos (SUCS).

Tabela 1. Resultados de caracterização do solo (Fonte:


Figura 2. Terminologia Usada Para os Taludes de Terra. Adaptado de Nascimento, 2017).
(Fonte: Adaptada de Fiori e Carmignani, 2009). Propriedades Valor
Índice de Plasticidade NP
Um talude é considerado estável quando se Coeficiente de não uniformidade 4
Coeficiente de curvatura 1,77
tem o equilíbrio quando as forças resistentes são Umidade Higroscópica (%) 0,3
maiores que as forças solicitantes que o levam a Densidade real dos grãos (g/cm3) 2,48
ruptura. Uma vez que essa relação não é
atendida, ocorre a formação de uma superfície O resíduo de gesso utilizado para a mistura é
de cisalhamento contínua que favorece o proveniente de uma obra em andamento na
movimento de massa nessa região, cidade de Fortaleza, Estado do Ceará, o qual foi
consequentemente, ocasionando a ruptura do fornecido ainda na forma de placas.
talude (FIORI e CARMIGNANI, 2009; Posteriormente, para ser realizada a mistura
GERSCOVICH, 2016). com o solo, as placas foram trituradas até a
De acordo com Cruden e Varnes (1996 apud forma de pó, conforme a metodologia
FERRÃO et al., 2015), os deslizamentos podem desenvolvida no estudo de Nascimento (2017),
ocorrer de forma isolada ou em combinação de antes de serem realizados os ensaios de
dois ou mais tipos de movimento. Portanto, compactação Proctor Intermediário e
dependendo do tipo de movimento ocorrido, cisalhamento direto com velocidade de 0,1
estes podem ser classificados em cinco mm/min.
categorias, sendo elas: A Tabela 2 mostra os resultados obtidos em
 Quedas; ambos os ensaios supracitados com a mistura
 Tombamento; solo-gesso.
 Deslizamento (escorregamento);
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Tabela 2. Parâmetros da mistura solo-gesso (Fonte: e ângulo de atrito obtidos nos ensaios foram
Adaptado de Nascimento, 2017). utilizados para determinação das propriedades
Solo + Solo + Solo + Solo +
Parâmetros 0% 2% 5% 8%
do material do talude em questão.
Gesso Gesso Gesso Gesso
Umidade
8,3 8,2 8,6 8,0
ótima (%) 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Peso
específico
máximo seco
1,989 2,072 2,074 2,135 Os parâmetros de resistência da mistura solo-
(g/cm )3 gesso (Tabela 2) que foram obtidos no ensaio de
Ângulo de cisalhamento direto (ângulo de atrito e coesão)
39,87 39,58 41,56 36,76
atrito (º) foram utilizados como dados de entrada para a
Coesão (kPa) 6 16 19 21 análise da estabilidade do talude.
Através de um software, utilizando a
metodologia de cálculo de Bishop Simplificado
3.2 Análise da Estabilidade de uma Seção de e Morgenstern-Price, foram obtidas as
Talude Hipotético superfícies potenciais de ruptura e os fatores de
segurança da amostra de solo sem adição de
Com o intuito de avaliar a eficiência do resíduo resíduo de gesso apresentados nas Figuras 4 e 5.
de gesso no solo em um caso prático, os
resultados obtidos na fase experimental foram
usados em um software para a análise da
estabilidade de uma seção tipo de um talude
hipotético de 10 metros de altura com
inclinação de 1H:1V.
No programa, inicialmente, elaborou-se a
seção de talude, mostrada na Figura 3, que foi a
base para as análises realizadas.

Figura 4. Superfície crítica e FS do talude sem adição de


resíduo de gesso pelo método de Bishop.

Figura 3. Seção Transversal com Talude de Altura de 10


metros.

Para o cálculo do Fator de Segurança (FS)


foram considerados os métodos de: Bishop
Simplificado, que considera a força de interação
iguais entre as fatias, e Morgenstern-Price, que Figura 5. Superfície crítica e FS do talude sem adição de
satisfaz as condições de equilíbrio de momentos resíduo de gesso pelo método de Morgenstern-Price.
e forças para toda as fatias. Além disso, Os
valores de peso específico seco máximo, coesão As figuras mostram que há uma pequena
diferença entre os valores do FS calculados
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pelos dois métodos, que ao considerar apenas


uma casa decimal, tem-se que o solo natural
apresentou um FS igual a 1,3, não atendendo às
exigências de projeto que determinam um valor
mínimo de 1,5.
As Figuras 6 a 11 apresentam as superfícies
de ruptura do solo com adição de resíduo de
gesso calculadas pelos métodos supracitados.

Figura 8. Superfície crítica e FS do talude com adição de


5% de resíduo de gesso pelo método de Bishop.

Figura 6. Superfície crítica e FS do talude com adição de


2% de resíduo de gesso pelo método de Bishop.

Figura 9. Superfície crítica e FS do talude com adição de


5% de resíduo de gesso pelo método de Morgenstern-
Price.

Figura 7. Superfície crítica e FS do talude com adição de


2% de resíduo de gesso pelo método de Morgenstern-
Price.

Figura 10. Superfície crítica e FS do talude com adição de


8% de resíduo de gesso pelo método de Bishop.
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adição de 8%. Neste caso, o FS foi igual a,


aproximadamente, 1,9, mostrando-se ainda
eficaz a mistura dos resíduos com o solo
coletado.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho apresentou uma alternativa para o


reuso do gesso empregado na construção civil
através da sua aplicação no melhoramento de
Figura 11. Superfície crítica e FS do talude com adição de
8% de resíduo de gesso pelo método de Morgenstern- solos, baseado na sua reclassificação pelo
Price. CONAMA como resíduo reciclável. Para isso,
uma amostra de solo arenosa, classificada
A Tabela 2 apresenta os resultados obtidos através de ensaios de laboratório como uma
para os FS calculados para o solo natural e com areia siltosa (SM), foi misturada com teores de
os diferentes teores de adição do resíduo de 2%, 5% e 8% do pó resultante da trituração de
gesso para os dois métodos de cálculo adotados. uma placa de gesso aproveitada de uma obra
local.
Tabela 2. Fatores de segurança obtidos na análise da A análise da estabilidade do talude proposto,
estabilidade do talude. através dos fatores de segurança calculados a
Solo + Solo + Solo + Solo + partir das metodologias de Bishop Simplificado
Método 0% 2% 5% 8%
Gesso Gesso Gesso Gesso
e Morgerstern-Price, apresentou resultados
satisfatórios, visto que na condição sem adição
Bishop do resíduo, o FS calculado não atendeu às
1,342 1,816 2,106 1,872
Simplificado
exigências de projeto (FS ≥ 1,5), provavelmente
Morgenstern- acarretando em uma ruptura da massa na
1,334 1,804 2,004 1,862
Price superfície crítica. No entanto, a mistura do solo
coletado com o resíduo de gesso, para todos os
casos, apresentou valores superiores a 1,5,
Os fatores de segurança calculados pelos
atingindo seu valor máximo com a adição de
dois métodos não apresentaram grandes
5% em relação à massa seca total, na qual o FS
variações, sendo possível defini-los como
foi igual a 2,0.
iguais, uma vez que para este fator é
De maneira geral, o resíduo de gesso
considerado apenas o primeiro número logo
apresentou um bom desempenho quando
após a vírgula.
misturado a uma amostra de solo areno-siltosa,
Analisando os resultados obtidos através do
que agiu como agente cimentante entre as
software é possível perceber que a adição de
partículas, consequentemente, aumentando a
resíduo de gesso favoreceu a estabilidade do
coesão das partículas constituintes da mistura,
talude, que passou a atender o valor mínimo do
bem como o ângulo de atrito para os
FS exigido em projetos desde o primeiro
incrementos de resíduo de 2% e 5% em relação
incremento do material ao solo em questão.
a massa total seca. Além disso, favoreceu a
Em seguida, com a adição do teor de 5% do
estabilidade de um talude hipotético de 10 m
resíduo, o FS continuou aumentando, o que
com o aumento do FS, que passou a atender as
resultou no valor de 2,0. No entanto, para o
exigências de projeto.
último caso analisado, houve um decréscimo do
fator em questão, provavelmente ocasionado
pela diminuição do ângulo de atrito do solo com
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REFERÊNCIAS Verçoza, E. J. (1987) Materiais de Construção. 4ed. Porto


Alegre: Editora Sagra.
Associação Brasileira De Empresas De Limpeza Pública
E Resíduos Especiais (ABRELPE) (2014). Panorama
dos resíduos sólidos no Brasil - 2014. Disponível em:
<http://www.abrelpe.org.br/Panorama/panorama2014.
pdf>. Acesso em: 17 fev. 2017.
ABRELPE (2016). Panorama dos resíduos sólidos no
Brasil - 2016. Disponível em:
<http://www.abrelpe.org.br/Panorama/panorama2016.
pdf>. Acesso em: 17 fev. 2017.
Bauer, L. A. F. (2000) Materiais de Construção. 5ed. Rio
de Janeiro: LTC.
Cavalcante, C. F. B.; Miranda, A. C. P. (2011). Estudo
sobre alternativas para gestão dos resíduos de gesso
oriundos da construção civil. In: VII Encontro
Internacional de Produção Científica do Centro
Universitário de Maringá. Anais Maringá.
Conselho Nacional Do Meio Ambiente (CONAMA)
(2002). Resolução nº 307, de 5 de Julho de 2002.
Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res02/
res30702.html>. Acesso em: 15 fev. 2017.
CONAMA (2011). Resolução nº 431, de 24 de Maio de
2011. Disponível em: <https://goo.gl/ SbdNFn>.
Acesso em: 15 fev. 2017.
Departamento Nacional De Produção Mineral (DNPM)
(2001). Balanço Mineral Brasileiro 2001 – Gipsita.
Caderno publicado pelo DNPM de Pernambuco em
Outubro de 2002. Disponível em:
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mineral/ arquivos/balanco-mineral-brasileiro-2001-
gipsita>. Acesso em: 20 fev. 2017.
DNPM (2015). Sumário Anual – 2014. Volume n° 14,
publicado em Março de 2015. Disponível em:
<www.dnpm.gov.br/dnpm/sumarios/sumario-mineral-
2014> Acesso em: 20 fev. 2017.
Ferrão, G. V.; Bicalho, K. V.; Castro Jr., R. M.; Bortoloti,
F. D. (2015). Análise de estabilidade de taludes em
áreas urbanas: estudo de caso de um acidente de
deslizamento no centro de Vitória - ES. In: 15º
Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e
Ambiental. Bento Gonçalves.
Fiori, A. P.; Carmignani, L. (2009). Fundamentos de
mecânica dos solos e das rochas: aplicações na
estabilidade de taludes. 2ed. Curitiba: Ed. UFPR.
Gerscovich, D. M. S. (2016) Estabilidade de taludes. São
Paulo: Oficina de Textos.
Nascimento, L.V. (2017). Análise dos parâmetros de
resistência de uma amostra de solo com adição de
resíduos de gesso. Trabalho de Conclusão de Curso
(Bacharelado em Engenharia Civil – Centro de
Ciências Tecnológicas da Universidade de Fortaleza.
Fortaleza.
Silva, M. R. (1985) Materiais de Construção. São Paulo:
Editora PINI, 266p.
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ANÁLISE DA VIABILIDADE DO EMPREGO DE FIBRAS


NATURAIS DE SISAL COMO REFORÇO DE SOLOS
Hellen Evenyn Fonseca
Universidade Católica de Brasília, Brasília, Brasil, hevenyn1@gmail.com

Caio Soares Camargos


Universidade Católica de Brasília, Brasília, Brasil, caiocamargos1996@gmail.com

Dra. Ivonne M. A. G. Góngora


Universidade de Brasília, Cidade, Colômbia, ivonnegg_86@yahoo.com

Dr. Rideci de Jesus Farias


UCB / UniCEUB/ IesPlan/ Reforsolo Engenharia, Brasília, Brasil, rideci.reforsolo@gmail.com

RESUMO: Este trabalho analisa o desempenho do comportamento mecânico do solo argilo-siltoso


do Aterro Sanitário de Brasília, Brasil mediante a utilização de reforço com fibras naturais de sisal
nos comprimentos de 75 mm, 50 mm e 25 mm para um teor de 0,5% de fibra em relação ao volume
total de solo seco, buscando encontrar o comprimento ótimo de fibra para a porcentagem analisada.
A resistência mecânica conferida ao solo com o reforço será analisada pelos ensaios de CBR e
compressão simples, e os resultados serão comparados com os obtidos no solo natural. A avaliação
da deformação plástica e a redução do índice de vazios serão analisados através dos ensaios de
adensamento, para cada amostra. Esperava-se que a fibra de 75 mm de sisal apresentasse maior
viabilidade para o solo reforçado, contudo, a fibra de 50 mm apresentou maior resistência mecânica
e maior facilidade de homogeneização com o solo para este teor de 0,5% analisado.

PALAVRAS-CHAVE: Reforço de solo, Fibras de Sisal, Solo argilo-siltoso.

1 INTRODUÇÃO fora, além de altos custos econômicos dos


projetos com escavação e transporte do material
Para engenharia civil, o solo é um meio a ser removido.
multifásico composto por partículas sólidas, ar e Outra solução que pode ser empregada para
água. A interação físico-química entre essas porção de solo pouco resistente nas camadas de
fases resulta num material complexo, que pavimento é o melhoramento das propriedades
precisa de diferentes análises para o mecânicas do mesmo. Dessa forma, várias
entendimento de seu comportamento. Em pesquisas com fibras alternativas, especialmente
determinados tipos de projeto, as propriedades vegetais, foram realizadas a fim de obter o
do solo podem não atender à determinadas melhoramento das propriedades destes solos de
especificações resistentes do mesmo. Em obras forma econômica e sustentável, conforme o
de pavimentação, uma das formas de viabilizar trabalho de Santos (2010), que analisou o
o local do empreendimento que contém solo comportamento de solos reforçados com fibra
pouco resistente é a remoção da camada deste de coco. Uma confirmação obtida de estudos
solo e substituição por outro material adequado. experimentais de laboratório nesse ramo, é a de
Contudo, essa prática acarreta problemas que a presença das fibras modifica o
ambientais que estão relacionados com o bota- comportamento dos solos, gerando um material
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mais dúctil, coesivo e levemente mais melhor identificação do tipo de solo a fim de
compressível (BUENO,1996). melhor estabelecer a preparação dos ensaios de
Este trabalho verificará através de ensaios caracterização, apontou características de solo
laboratoriais realizados com o solo laterítico argiloso. O procedimento de reconhecimento
extraído do Aterro Sanitário de Brasília (ASB) tangeu-se em conformidade com a ABNT NBR
na região de Samambaia DF, o melhoramento 7250/1982.
das propriedades resistentes do mesmo na A fibra de sisal foi extraída corda feita de
presença das fibras de sisal nos tamanhos de sisal adquirida em Brasília. Durante o processo
25mm, 50mm e 75mm com teor de 0,5% de de desmanche, restos da planta do sisal
fibra em relação ao volume total de solo seco, eventualmente encontradas entre as fibras foram
comparando os resultados analisados na retirados, e então as fibras foram cortadas nos
amostra de solo natural. Analisar a viabilidade tamanhos de 25 mm, 50 mm e 75 mm e
do emprego da fibra no solo como elemento de separadas em sacos. Os diâmetros das fibras
reforço e analisar sua aplicação para camadas de variam entre 10 a 30 mm e a espessura da
sub-base e subleito em obras de pavimentação. parede celular varia entre 6 a 9 mm. A parede
Os comprimentos estabelecidos das fibras bem celular das fibras do sisal é constituída de várias
como o teor de fibra definidos foram obtidos camadas que se diferem entre si em função de
segundo Trindade (2015). sua estrutura e composição química, de acordo
Por tanto, será verificado através de análises com Martin (2009).
laboratoriais, o comportamento do solo na A mistura das fibras com o solo se deu de
presença de fibras de sisal, a comparação das maneira simples, onde se separou as fibras e se
propriedades obtidas dos ensaios de solo com e misturou as mesmas com o solo seco. Somente
sem adição de fibras, o tamanho de fibra ótimo após perceber a homogeneização destas com o
dos tamanhos de 25mm, 50mm e 75mm em um solo se adicionou água de acordo com a
teor de 0,5% de fibra do volume total de solo umidade ótima de cada amostra. Nas amostras
seco, e a determinação das características de solo-fibra 75 mm, percebeu-se um
resistentes das misturas elaboradas através de aglomerado entre as fibras, dificultando a
ensaios de CBR e compressão simples, e os homogeneização destas com o solo, tendo
índices de vazios analisados pelo ensaio de piorado na presença da água.
adensamento unidimensional. A Figura 1 apresenta os comprimentos de
fibra utilizados. O item a) contém a fibra de 75
mm; b) 50 mm e c) 25mm.
2 METODOLOGIA
a) b) c)
A determinação das características físicas e
mecânicas do solo bem como das fibras foram
obtidas por meio de ensaios no laboratório da
Universidade Católica de Brasília, em Águas
Claras. Deste modo, as amostras de solo foram
coletadas do Aterro Sanitário de Brasília (ASB)
situado na região de Samambaia Sul DF 180 -
Km 51, cujas coordenadas são 15°52’05’’S e
48°09’40’’W. O processo de coleta do solo se
deu em conformidade com o especificado na
Figura 1. Comprimentos das fibras de sial.
Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT) NBR 9604/1986. O ensaio tátil visual A preparação das amostras deformadas de solo
necessário para avaliação primária para uma para os ensaios de caracterização se deu em
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conformidade com a ABNT NBR 6457/1986. A Tabela 1.Classificação do solo pelo Índice de
caracterização do sisal foi obtida por meio do Plasticidade.
pentapicnômetro, conforme o especificado pela Ip=0 Não plástico
D5550-00 (ASTM, 200). I<IP<7 Pouco plástico
Os ensaios realizados no solo, na fibra de 7<IP<15 Plasticidade média
IP>15 Muito plástico
sisal e nas misturas solo-fibra foram realizados
conforme apresentado a seguir.
O preparo do solo para realização destes
2.1 Análise granulométrica ensaios, procedeu conforme o explicitado na
ABNT-NBR 6457.
A análise granulométrica do solo avalia a Os procedimentos e os materiais utilizados
distribuição das dimensões dos grãos para a realização dos ensaios de limite de
determinando os tamanhos dos diâmetros consistência no foram elaborados de acordo
equivalentes das partículas sólidas em conjunto com a norma regulamentadora ABNT-NBR
com a proporção de cada fração constituinte do 6459/1984 e ABNT-NBR 7180/1984 para
solo em relação ao peso de solo seco, Sampaio determinação do limite de liquidez e limite de
(2010). A análise granulométrica do mesmo foi plasticidade, respectivamente.
feita por sedimentação e peneiramento. A
execução da metodologia empregada bem como 2.3 Massa específica dos grãos do solo
os equipamentos utilizados para este ensaio,
foram realizados em conformidade ABNT-NBR O ensaio de massa específica dos grãos é
7181/1984. realizado para determinação do valor da massa
específica real do solo, através de um
2.2 Limites de Atterberg picnômetro calibrado, onde se mede a
temperatura ao fim do ensaio e o peso final do
Torres (2009) define o limite de liquidez como solo. A metodologia e a aparelhagem utilizada
o menor teor de umidade com que uma amostra neste ensaio foram feitas conforme o
de solo seja capaz de fluir, sendo o valor de estabelecido pela ABNT-NBR 6508/1984.
umidade em que o solo passa do estado líquido
para o estado plástico. 2.4 Massa Específica do Sisal
Torres (2009) também define o limite de
plasticidade como sendo a umidade de transição O ensaio de massa específica dos grãos é
entre o estado plástico e semissólido do solo. realizado para determinação do valor da massa
De acordo com Varela (2011), o índice de específica real do solo, através de um
plasticidade classifica o solo conforme sua picnômetro calibrado, onde se mede a
plasticidade, isto é, a quantidade de água temperatura ao fim do ensaio e o peso final do
necessária para que o solo passe do estado solo. A metodologia e a aparelhagem utilizada
plástico para o líquido. A obtenção do índice de neste ensaio foram feitas conforme o
plasticidade (IP) é dada pela subtração do limite estabelecido pela ABNT-NBR 6508/1984.
de liquidez (LL) pelo limite de plasticidade
(LP), como apresentado na Equação 1. 2.5 Resistência à tração do Sisal

IP = LL - LP (1) As amostras de sisal nos comprimentos de


25 mm, 50 mm e 75 mm foram ensaiadas na
O solo é classificado segundo o IP, conforme o Máquina de Ensaio Universal a uma velocidade
representado na Tabela 1 de 10mm/min. A metodologia de ensaio foi
realizada segundo a norma americana ASTM
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D2256-95a, onde foram ensaiadas 20 fibras para do material, Bernucci et. al. (2006).
cada amostra. Os CBRs foram feitos em tréplicas para
mitigação de eventuais erros durante a execução
2.6 Compactação dos ensaios. Essa técnica foi executada para
todos os tipos de misturas de solo analisado
A sensibilidade à compactação pode ser neste estudo.
avaliada com o ensaio Proctor, desenvolvido A metodologia de execução do ensaio de
pela engenharia civil. Este teste determina a CBR bem como a aparelhagem utilizada foram
umidade adequada para se adquirir a máxima realizadas conforme o especificado na ABNT-
compactação do solo na construção de estradas NBR 9895/1987.
(Vargas, 1977). Pode-se entender por uma
determinada umidade em que o solo se encontra 2.8 Compressão simples
mais passível à compactação.
Para o solo em questão, os procedimentos e Segundo o Departamento Nacional de Estrada e
execução do ensaio de compactação se Rodagem – DNER (004/1994), a resistência à
estabeleceu conforme o indicado pela ABNT - compressão de um solo coesivo é obtida pelo
NBR 7182/1984 -solo- Ensaio de compactação. valor da pressão correspondente à carga que
Se utilizou o cilindro metálico pequeno devido rompe um corpo-de-prova cilíndrico de solo
a passagem integral da amostra de solo na submetido à carregamento axial. A deformação
peneira 4,8mm, conforme o especificado pela específica também é medida pela relação entre o
norma. decréscimo de altura do corpo-de-prova pela
Para a compactação se utilizou o soquete aplicação da carga e sua altura inicial.
grande, conforme especificado na ABNT-NBR Se executou o ensaio pelo controle de
7182/1984, para energia Proctor intermediário - penetração do pistão. As deformações axiais e
21 golpes para cada 3 camadas de material. A horizontais foram medidas com extensômetros
escolha da energia é devida as camadas adaptados à máquina de compressão simple.
intermediárias do pavimento. O DNER-IE 004/94 apresenta o cálculo da
Conforme se utilizava um comprimento resistência ao cisalhamento ou coesão do solo
maior de fibra, maior a dificuldade em realizar ensaiado sendo a metade da resistência à
os procedimentos do ensaio. compressão obtido, conforme o apresentado na
Equação 2.
2.7 Índice de Suporte Califórnia

O Índice de Suporte Califórnia (ISC) ou


California Bearing Ratio (CBR) representa a (2)
capacidade de suporte do solo em função da
resistência à penetração de uma haste de cinco 2.9 Adensamento Unidimensional
centímetros de diâmetro em uma camada de
pedra britada, considerada como padrão um Segundo Lozano (2013), a determinação das
CBR = 100% (Machado et. al, 200). Também propriedades de adensamento do solo é
fornece a expansão de um solo sob um caracterizada pela velocidade e magnitude das
pavimento quando estiver saturado, fornecendo deformações aplicadas no corpo-de-prova,
indicações da perda de resistência do solo quando o mesmo é lateralmente confinado e
devido a esta saturação, conforme indicado na axialmente carregado e drenado. Este ensaio
norma ABNT-NBR 9895/1987. representa situações em que os carregamentos
A resistência do ensaio combina feitos na superfície provoquem no solo
indiretamente a coesão com o ângulo de atrito deformação causada apenas por compressão,
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não havendo deformações laterais. Tendo por A obtenção da curva granulométrica do solo é
objetivo a determinação das características do de extrema importância para análise da
solo quando este é submetido a pressões, distribuição dos grãos e para identificação do
simulando as transferências de carga das diâmetro dos mesmos para sua classificação
fundações para o solo. (Pinto, 2006).
De acordo com Lozano (2013), através da Por meio da determinação granulométrica
altura inicial do corpo-de-prova que os por sedimentação, é possível verificar que o
recalques podem ser calculados em função das mesmo possui distribuição bem graduada dos
tensões verticais atuantes. grãos que o constituem.
O anel utilizado para os ensaios é do tipo Segundo Pinto (2006), quando a fração fina
fixo, e a condição de ensaio em que o do solo é predominante, ele não será
adensamento foi realizado é sem inundação. O classificado em função da porcentagem das
coeficiente de adensamento foi determinado frações granulométricas de silte e argila, mas
conforme o método de Casagrande, e a pressão pelos índices de consistência que melhor
de pré-adensamento estabelecida segundo o indicam seu comportamento. Para uma melhor
método de Pacheco Silva. Os carregamentos e caracterização do solo para análises geotécnicas
descarregamentos foram feitos com as cargas de no contexto da engenharia civil, os ensaios dos
50kPa, 200kPa, 400kPa e 800kPa. Os limites de consistência de Attemberg são
carregamentos foram feitos a cada 24h e os importantes para a entender o comportamento
descarregamentos de forma análoga. das partículas argilosas mediante a presença de
Com o resultado de um ensaio de água.
adensamento, traçam-se as curvas tempo-
recalque para cada um dos estágios de 3.2 Limites de Atterberg
carregamento, na qual permitem a
determinação do coeficiente de adensamento
A média dos resultados encontrados no ensaio
e permeabilidade do solo (CAPUTO, 1988).
de Limite de Liquidez corresponde ao valor de
Os procedimentos de ensaios bem como o LL=44,47%
equipamento e cálculos foram feitos segundo
explicitado na ABNT NBR 12007/MB-3336. O ensaio de Limite de Plasticidade
apresentou a média dos valores de 34,99%
O Índice de Plasticidade obtido conforme a
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES Equação 1, é de 10,07%, por tanto, o solo é
possui plasticidade média, conforme os
3.1 Análise Granulométrica intervalos observados na Tabela 1.
Mediante o exposto pelo sistema de
A Figura 2 expõe a análise da curva classificação proposto pela American
granulométrica do solo em estudo. Association of State Highway and
Transportation Officials (AASHTO), o solo em
questão pode ser classificado como pertencente
ao grupo A7, sendo seu subgrupo A-7-5, pois
como o indicado na Equação 3, LL-30 = 14,47
> IP.

IP ≤ LL - 30
(3)
O solo pertence ao grupo A-7, sendo
Figura 2. Curva granulométrica do solo. inadequado como material de subleito para
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obras de pavimentação, mas segundo o DNIT fibra do sisal, maior a resistência atração
(2006), solos lateríticos podem apresentar IG ≠ exercida pela mesma.
0. De acordo com seu IG 18, este solo é
classificado como péssima qualidade como 3.6 Compactação
material de fundação para pavimentação.
Ao analisar o gráfico de compactação com as
De acordo com o Sistema Unificado de misturas de sisal e do solo natural, percebe-se
Classificação dos Solos (SUCS), este solo é que quanto maior o tamanho da fibra, menor
classificado com material fino com partículas de sua umidade ótima, devido a absorção de água
areia fina, sendo classificado como uma SM provocado pela mesma por se tratar de um
(areia siltosa). material não inerte, e maior a massa específica
seca máxima para o teor analisado. Todavia, a
3.3 Massa Específica do solo massa específica aparente seca da mistura solo-
fibra de 50mm é maior que o da mistura solo-
O resultado obtido após o ensaio de massa fibra de 75mm. A Figura 3 compila os gráficos
específica dos grãos com o picnômetro da compactação das misturas e do solo natural.
calibrado foi de 2,5 g/cm³

3.4 Massa específica do sisal

O relatório de resultados gerados pelo


pentapicnômetro estão apresentados na Tabela
2.

Tabela 2. Resultados do ensaio de massa específica do


sisal.
Dados Resultado Unidade
Tamanho da célula Média -
Volume da célula 59,8259 cm³
Figura 3. Compactação das misturas e solo natural.
Temperatura analisada 25,3 C
Volume médio 2,4566 cm³
3.7 Índice de Suporte Califórnia
Densidade média 1,8649 g/cm³
Coeficiente de variação 0,4079 %
A Figura 4 apresenta o gráfico com os
resultados do ISC realizado nas amostras com
3.5 Resistência à tração do Sisal
solo natural, e do solo com as fibras de 75mm,
50mm e 25mm de sisal para o teor avaliado de
Os resultados do ensaio de resistência à tração
0,5% de fibra em relação ao volume total de
no sisal estão apresentados na Tabela 3 a seguir.
solo seca de cada amostra.
Tabela 3. Resistência à tração do sisal.
Comprimento da Resistência à Alongamento
Fibra tração (MPa) (%)
25 mm 38,195 ± 18,51 0,41 ± 1
50 mm 83,95 ± 31,64 0,83 ± 1
75 mm 145,3 ± 51,05 1,25 ± 1

Mediante os resultados apresentados, pode-


se perceber que quanto maior o comprimento da
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Figura 4. Resultados do ISC.


Figura 5. Expansão das amostras.
Mediante os resultados obtidos do ensaio de
Índice de Suporte Califórnia, percebe-se que a Segundo Donizete (2015), os índices de
mistura solo-fibra que apresentou maior expansão afetam diretamente no
resistência à penetração foi a de 50mm. dimensionamento de pisos e pavimentos, e fazer
Esperava-se que a fibra de 75mm apresentasse sua avaliação é extremamente necessária, pois
maior resistência neste ensaio, mas devido à solos potencialmente expansivos podem
dificuldade de homogeneizar a fibra com o solo, provocar manifestações patológicas
a resistência à penetração não pôde ser irreparáveis. De acordo com o Departamento
devidamente avaliada pelos procedimentos Nacional de Infraestrutura de transportes
convencionais de compactação. (DNIT), em relação as expansões dos solos
De acordo com os resultados apresentados na encontradas, todas as misturas solo-fibra e solo
Figura 4, percebeu-se que, para uma natural podem ser usada para reforço de camada
porcentagem de 0,5% de fibra de sisal, o de sub-base em pavimentação, pois de acordo
comprimento de 50 mm é o tamanho de fibra com o DNIT, a expansão deve ser ≤ 1%.
ótimo, conferindo ao solo um incremento de
resistência de 203,14% em relação ao solo 3.8 Resistência à Compressão Simples
natural.
A Figura 5 compila os resultados das médias A Figura 6 compila o gráfico dos resultados
dos índices de expansões de cada amostra obtidos da compressão simples e das respectivas
ensaiada. Percebe-se que o incremento da fibra coesões.
de 75 mm e 25 mm aumenta a expansão do solo
se comparada com o solo natural, e que a
amostra com a fibra de 50 mm reduz teve sua
expansão reduzida a zero, o que a torna
vantajosa em uso de solos expansivos. Todavia,
recomenda-se o estudo da fibra de 50 mm em
solos potencialmente expansivos para fomentar
essa afirmação.

Figura 6. Gráfico de Compressão Simples e as respectivas


coesões de cada amostra.
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Os resultados do ensaio de compressão comportamento da mistura solo-fibra de 50 mm


simples são similares aos do ISC no que tange a também se mostrou mais eficiente, como nos
resistência conferida ao solo pela fibra de demais ensaios analisados.
50mm ser a maior dentre as demais misturas
solo fibra e solo natural. O mesmo vale para a
coesão. O acréscimo da fibra no solo provoca o 4 CONCLUSÃO
aumento da resistência e da coesão em realação
ao solo natural, tendo tido um aumento de Através dos resultados do solo com a mistura
130% de resistência à compressão e coesão da das fibras de sisal de 75 mm, 50 mm e 25 mm,
fibra de 50mm em relação ao solo natural. para um teor de 0,5% do volume total de solo, é
possível verificar o reforço e aumento da coesão
A dificuldade de homogeneização do solo
nas amostras em comparação com os resultados
com a fibra de 75 mm tornou a comprovação de
obtidos no solo natural, bem como a redução
sua eficácia como elemento de reforço
dos índices de vazios e aumento da plasticidade
prejudicada, por tanto, acredita-se que ao
no mesmo.
avaliar a mistura solo-fibra de 75 mm em um
A fibra de 50 mm atribuiu ao solo um
recipiente maior, proporcionando melhor
maior aumento nas propriedades mecânicas do
interação entre o solo e as fibras, resulte em
mesmo se comparada com os outros
uma resistência à compressão mais elevada.
comprimentos avaliados, atingindo pico em
Mas são necessários ensaios com outras
todos os ensaios de resistência, sendo ela o
técnicas de mistura para salientar essa
tamanho de fibra ótimo encontrado neste
afirmação.
estudo. Contudo, não se pode comprovar a
verdadeira eficácia do emprego da fibra de 75
3.9 Adensamento Unidimensional mm no solo devido sua dificuldade de
homogeneização durante os ensaios de
A Figura 7 compila o gráfico de Índices de compactação. Acredita-se que realizando
Vazios x Pressão (kPa) das amostras ensaiadas. ensaios na mistura solo-fibra em recipientes de
grande escala, pode-se obter melhores
resultados com o emprego desta mistura, porém
o com novas técnicas de homogeneização.
Mediante o ISC do solo natural e do solo
natural, percebe-se que o mesmo pode ser
empregado em camadas de subleito e que é
inviável para camada de sub-base de
pavimentação. Contudo, com a adição da fibra
de 50 mm, o ISC fornece resistência dentro dos
padrões normativos para aplicação nas camadas
Figura 7. Resultados do adensamento unidimensional. de sub-base de pavimentos, as expansões
também estão dentro dos limites permissíveis
Mediante o gráfico da Figura 7, percebe-se estabelecidos pela mesma. Percebe-se também
que a adição da fibra de sisal reduz o índice de que o emprego da fibra de sisal no comprimento
vazios e aumenta a plasticidade do mesmo em de 50 mm para um teor de 0,5% pode ser
comparação com o solo natural. Tornando-a boa utilizada como reforço geotécnico de baixo
alternativa para aplicação em solos em que se custo, por se tratar de uma fibra natural
deseja reduzir os índices de vazios e aumentar abundante no Brasil.
sua plasticidade.
Neste ensaio de adensamento, o
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AGRADECIMENTOS MACHADO, Sandro. Mecânica dos Solos I. Disponível


em :<
http://www.ct.ufpb.br/~celso/solos/material/teoria1>.
Os autores agradecem a Universidade Católica Acesso em: 06 set. 2017.
de Brasília, pela disponibilização do laboratório LOZANO, Mauro. Ensaio de Adensamento
tornando possível a realização deste estudo, e ao Unidimensional. 2010. Disponível em:<
David Lara pelo fornecimento do material. http://dynamisbr.com.br/19112010_Procedimento_En
saio_Edometrico.pdf>. Acesso em: 05 maio 2017
PINTO, C. S. Curso Básico de mecânica dos solos. 3th.
ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2006. 77 a 354.
REFERÊNCIAS TRINDADE, Amanda. Estudo de materiais alternativos
para utilização como novos materiais geotécnicos -
AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND aplicabilidade de fibras naturais de sisal como
MATERIALS. Standard Test Method for One- reforço de solos. Disponível em :< http://www.puc-
Dimensional Consolidation Properties of Soils. D rio.br/pibic/relatorio_resumo2016/resumos_pdf/ctc/CI
2435-96. V/Amanda%20Fernandes%20Nogueira%20Trindade.
AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND pdf>. Acesso em: 05 jul. 2017.
MATERIALS. Standard Test Method for Tensile VARGAS, M. Introdução à mecânica dos solos. São
Properties of Yarns by Single Strand Method. ASTM Paulo: USP, 1977.
D 2256a (1990).
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TÉCNICAS. NBR 6459: solo – determinação do
limite de liquidez. Rio de Janeiro, 1984.
______. NBR 6508: Grãos de solo que passam na peneira
de 4,8mm - determinação de massa específica. Rio de
Janeiro, 1984.
______. NBR 7181: Solo – análise granulométrica. Rio de
Janeiro, 1984.
______. NBR 7182: Solo – ensaio de compactação. Rio
de Janeiro, 1986.
______. NBR 7180: agregados – determinação do limite
de plasticidade. Rio de Janeiro, 1987.
______. NBR 9895: Solo – índice de suporte Califórnia.
Rio de Janeiro, 1987.
______. NBR 7250/1982 – Identificação e descrição de
amostras de solos obtidas em sondagens de simples
reconhecimento dos solos. Rio de Janeiro, 1982.
BUENO, B.S. Aspectos da estabilização de solos com
uso de aditivos químicos e de inclusões plásticas
aleatórias. 1996. Concurso Público (Livre Docência)
– Universidade de São Paulo, São Carlos, 1996.
CAPUTO, H. P. Mecânica dos solos e suas aplicações. 6.
ed. Rio de Janeiro: LTC, v. I, 1988.
DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADA E
RODAGEM. DNER – IE 004: Solos coesivos –
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1994.
DEPARTAMENTO NACIONAL DE
INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTE.
Pavimentos flexíveis – Sub-base estabilizada
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de Janeiro, 2009.
DONISETE, Igor. Ensaio de Índice de Suporte
Califórnia – CBR. Disponível em :<
http://lpe.tempsite.ws/blog/index.php/ensaio-de-
indice-de-suporte-california-cbr/>. Acesso em: 03
nov. 2017.
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Análise dos Parâmetros do Solo Misturado com Polietileno de


Baixa Densidade (PEBD) Reciclado
Caio Soares Camargos
Universidade Católica de Brasília, Brasília, Brasil, caiocamargos1996@gmail.com

Lorena Silva Pereira


Universidade Católica de Brasília, Brasília, Brasil, lorenna_silvap@outlook.com

Ivonne Alejandra Gutierrez Gongora


Universidade Católica de Brasília, Brasília, Brasil, ivonne.gongora@ucb.br

Hellen Evenyn Fonseca da Silva


Universidade Católica de Brasília, Brasília, Brasil, hevenyn1@gmail.com

RESUMO: No Brasil, a excessiva geração de resíduos plásticos representa um grande problema no


que tange a sua destinação final, sendo que muitas vezes estes resíduos não são descartados de
forma adequada. O presente estudo tem como objetivo analisar a aplicação do polietileno de baixa
densidade (PEBD) proveniente da reciclagem de resíduos plásticos como reforço do solo laterítico
de Brasília, buscando também uma nova forma de disposição destes resíduos. Além disso, foi
determinada a porcentagem ótima de PEBD nas misturas e verificada a possível aplicação destas
misturas nas camadas do pavimento. Para tanto, realizou-se uma análise comparativa dos
parâmetros de resistência do solo natural com três tipos de mistura (12%, 8% e 4% de PEBD). Os
ensaios necessários para obtenção dos parâmetros do solo, do PEBD e das misturas, foram
realizados conforme as respectivas normas regulamentadoras. As misturas obtiveram resultados
satisfatórios, sendo que as porcentagens de 8% e 4% de PEBD apresentaram as maiores resistências,
evidenciando uma aplicação do PEBD em pavimentação.

PALAVRAS-CHAVE: Sustentabilidade, PEBD, Reforço de Solo.

1 INTRODUÇÃO apropriados como adição para reforço do solo


depois de compactado.
Atualmente uma das grandes metas é aliar É comum a utilização de materiais como
crescimento econômico a responsabilidade cimento e cal para reforço de solos, neste
ambiental, buscando técnicas para redução do estudo, utilizou-se o polietileno de baixa
impacto ambiental causado pelo lançamento densidade (PEBD) proveniente da reciclagem
incorreto de resíduos. No Brasil, a excessiva de resíduos plásticos. Tal material é aplicado
geração de resíduos plásticos, configura um como filmes para embalagens industriais e
grande problema no que corresponde a sua agrícolas, filmes laminados e plastificados para
destinação final, sendo que na maioria das vezes alimentos, embalagens para produtos
estes resíduos não são descartados de forma farmacêuticos e hospitalares, filmes destinados
correta. O setor de pavimentação oferece a embalagens de alimentos líquidos e sólidos,
grandes possibilidades para a reutilização de brinquedos e utilidades domésticas,
alguns desses resíduos, aplicando os materiais revestimento de fios e cabos, tubos e
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mangueiras. (COUTINHO, MELLO, MARIA, Segundo o DNIT (2006, p. 37) “O ensaio de


2003). CBR consiste na determinação da relação entre
Um dos produtos provenientes desse material a pressão necessária para produzir uma
é a sacola plástica, a qual tem sido motivo de penetração de um pistão num corpo-de-prova de
grande preocupação devido aos problemas que solo, e a pressão necessária para produzir a
ocasiona ao ambiente. Segundo o Ministério do mesma penetração numa brita padronizada.”.
Meio Ambiente (MMA), o excessivo consumo Portanto realizou-se esse ensaio com o intuito
de sacolas plásticas no Brasil (cerca de 1,5 de adquirir dados referentes à resistência a
milhão de sacolas por hora) prejudica o meio penetração e expansão do material, fazendo uso
ambiente desde a sua produção, que consome do valor de umidade ótima obtido no ensaio de
grande quantidade de recursos naturais não- compactação.
renováveis e emite poluentes líquidos e gasosos,
até o seu descarte final, que majoritariamente
ocorre de forma incorreta, indo para as ruas e 2 METODOLOGIA
prejudicando o escoamento da água pluvial. As
sacolas e embalagens plásticas em geral, A metodologia deste artigo abordou ensaios
representam grandes porcentagens dos resíduos para a caracterização do PEBD e do solo, bem
plásticos, os quais demoram muito tempo para como os ensaios para obtenção dos parâmetros
se decompor prejudicando ainda mais o meio mecânicos do solo e das misturas.
ambiente. As amostras deformadas de solo foram
Segundo Coutinho, Mello e Maria (2003), o coletadas nas proximidades da Universidade
polietileno de baixa densidade (PEBD) Católica de Brasília (UCB), conforme a NBR
apresenta características como: flexibilidade, 9604/2016, utilizou-se pás, picaretas e enxadas,
alta resistência ao impacto, propriedades para auxílio na coleta. Em seguida, as amostras
elétricas, tenacidade, flexibilidade, boa foram levadas para o laboratório de Engenharia
processabilidade. Visto que o PEBD apresenta Civil (bloco O), para a preparação das amostras,
tais características, o presente estudo teve como de acordo com a NBR 6457/2016.
objetivo analisar a aplicação do PEBD para o
reforço do solo laterítico de Brasília, visando 2.1 Caracterização do Polietileno de Baixa
também encontrar uma nova forma de Densidade (PEBD) Reciclado
disposição deste resíduo. Além disso, foi
verificada a possível aplicação dessas misturas 2.1.1 Massa Específica pelo Frasco de Chapman
nas camadas do pavimento e determinada a
porcentagem ótima de PEBD nas misturas. Para Para a determinação da massa específica do
tanto, foi realizada uma análise comparativa dos PEBD, utilizou-se o método para agregados
parâmetros de resistência do solo natural com miúdos, por meio do frasco de Chapman
três tipos de mistura (12%, 8% e 4% de PEBD), (Figura 1). Os procedimentos deste ensaio
definidas através de pesquisas bibliográficas. foram realizados de acordo com DNER-ME
Com o intuito de classificar e conhecer as 194/1998.
características do solo e do PEBD, foram
realizados os devidos ensaios de caracterização
de ambos; além desses, realizou-se ainda ensaio
de compactação e Índice de Suporte Califórnia
(CBR). Todos os ensaios foram regidos
conforme as respectivas normas
regulamentadoras.
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Figura 2. Ensaio de Sedimentação, Amostras para as


Figura 1. Massa Específica pelo Frasco de Chapman. Leituras.

2.1.2 Análise Granulométrica 2.2.2 Limite de Liquidez (LL) e Limite de


Plasticidade (LP)
Para a determinação das porcentagens referentes
ao tamanho das partículas de PEBD, usou-se Para execução dos ensaios de limite de liquidez
como base a NBR 7181/2016, levando em (LL) e limite de plasticidade (LP), tomou-se
consideração as sequências para o peneiramento como base a NBR 6459/2016 e NBR
fino e grosso. 7180/2016, respectivamente. Como lembra o
DNIT (2006), o limite de liquidez (LL)
2.2 Caracterização do Solo representa a umidade em que o solo sai do
limite do estado líquido para o limite do estado
2.2.1 Análise Granulométrica plástico, e o limite de plasticidade (LP)
representa a umidade entre o limite do estado
De acordo com a NBR 7181/2016, realizou-se a plástico e o limite do estado semi-sólido, sendo
análise granulométrica do solo, com uma que quando o solo apresenta uma umidade
combinação de ensaios, por sedimentação e por muito elevada, pode-se dizer que ele está no
peneiramento. Segundo o DNIT (2006), a estado líquido, com a perda de umidade, o solo
análise granulométrica do solo determina a endurece, passando para o estado plástico,
porcentagem de cada tamanho das partículas, perdendo mais umidade por evaporação, o solo
em relação ao seu peso seco; onde os grãos passa para o estado semi-sólido. A Figura 3
menores que 0,075 mm são determinados pelo mostra o ensaio de limite de liquidez (LL).
ensaio de sedimentação (Figura 2), através de
uma relação entre tamanho dos grãos e a
velocidade de sedimentação (lei de Stokes), já
para os grãos maiores que 0,075 mm, a
determinação se dá por meio de peneiramento.
Este ensaio é importante para a classificação do
solo.

Figura 3. Limite de Liquidez (LL).


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2.2.3 Massa Específica dos Grãos

Para a execução do ensaio de massa específica


dos grãos, usou-se como base a NBR
6458/2016. Neste ensaio é considerado apenas
os grãos de sólidos, utilizou-se a bomba de
vácuo para a retirada do ar presente nos grãos
(Figura 4).
Figura 5. Proporções das Misturas com 12%, 8% e 4% de
PEBD, Respectivamente.

A respeito da relação entre as pressões


necessárias para a penetração em uma amostra
de solo e uma brita padronizada (CBR), o DNIT
(2006, p. 37) diz: “O valor dessa relação,
expressa em porcentagem, permite determinar,
por meio de equações empíricas, a espessura de
pavimento flexível necessária, em função do
tráfego.”. A Figura 6 mostra uma amostra
Figura 4. Picnômetros na Bomba de Vácuo. compactada da mistura de solo e PEBD, para o
ensaio de CBR.
2.3 Parâmetros de Resistência (Solo e
Misturas)

Na execução do ensaio de compactação e Índice


de Suporte Califórnia, usou-se como base as
respectivas normas, NBR 7182/2016 e DNIT
172/2016 - ME. Segundo Das e Sobhan (2014,
p.115), a compactação em obras geotécnicas,
eleva a resistência do solo, isso ocorre porque a
compactação remove o ar presente, aumentando
o seu peso específico seco, este processo
oferece maior resistência as estruturas que estão
apoiadas em sua superfície, além de aumentar a
estabilidade e reduzir possíveis recalques. A
Figura 5 mostra a proporção das misturas com Figura 6. Amostra Compactada da Mistura de Solo e
12%, 8% e 4% de PEBD, respectivamente. Os PEBD.
ensaios foram executados com energia
intermediária (proctor intermediário), visando a
aplicação nas camadas intermediárias do 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
pavimento.
As normas referentes a cada ensaio, são
empregadas no dia a dia para facilitar e
padronizar a realização dos ensaios, bem como
os procedimentos necessários para obtenção dos
resultados; para tanto, os resultados dos ensaios
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apresentados a seguir, foram realizados (MH). Já pela classificação AASHTO, o solo é


conforme a descrição prescrita nas mesmas. classificado como A-7-6(23), um solo argiloso
com IG = 23, como mostra Das e Sobhan (2014,
3.1 Polietileno de Baixa Densidade (PEBD) p.98,99). Segundo o DNIT (2006, p.58, grifo do
Reciclado autor) “Subgrupo A-7-6 - Inclui materiais com
elevados índices de plasticidade em relação aos
A Tabela 1 mostra o resultado do ensaio de limites de liquidez, podendo ser altamente
massa específica do PEBD, realizado pelo elástico e sujeito a elevadas mudanças de
método do frasco de Chapman. Percebe-se que volume.”.
este material possui uma densidade baixa,
comparado com o solo natural, que é de Tabela 2. Resultados dos Parâmetros de Caracterização
2,82 g/cm³. do Solo.
Parâmetro: Resultado:
Limite de Liquidez 52%
Tabela 1. Resultado de Massa Específica pelo Frasco de
Limite de Plasticidade 29,12%
Chapman.
Índice de Plasticidade 22,88%
Ensaio: Resultado:
Massa Específica dos Grãos 2,82 g/cm³
Massa Específica pelo Frasco de 0,87 g/cm³
Chapman
Como mostra o DNIT (2006, p.142), para
A Figura 7 mostra a distribuição base, limite de liquidez ≤ 25% e índice de
granulométrica do PEBD. Percebe-se que os plasticidade ≤ 6%; e para sub-base, IG = 0.
grãos do material são praticamente do mesmo Percebe-se que o solo analisado não atende aos
tamanho (granulometria uniforme), parâmetros exigidos pelo manual, por ser um
apresentando cerca de 99,9% do material retido solo laterítico, conter grandes quantidades de
na peneira com abertura de 2 mm. grãos finos, apresentar alto limite de liquidez e
alta plasticidade; geralmente os materiais que
apresentam IG = 0, são solos
predominantemente granulares.
A Figura 8 mostra as distribuições
granulométricas do solo, feitas sem defloculante
(curva vermelha) e com defloculante (curva
preta). O eixo X representa o diâmetro das
partículas e o eixo Y a porcentagem passante
das partículas. Comparando as curvas, percebe-
se que a curva com defloculante apresenta grãos
mais finos, aumentando a porcentagem passante
nas peneiras com menor abertura, isso ocorre
porque o defloculante desagrega as partículas
que estão aderidas entre si.
Figura 7. Análise Granulométrica do PEBD.

3.2 Caracterização do Solo

A Tabela 2 mostra os resultados dos parâmetros


de caracterização do solo. De acordo com Das e
Sobhan (2014, p.102,103,104), pela
classificação SUCS, identifica-se que o solo
analisado é um Silte com alta compressibilidade
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3.3 Parâmetros de Resistência (Solo Natural e


Misturas)

3.3.1 Compactação

As curvas de compactação do solo e das


misturas são mostradas na Figura 10. Observa-
se que as curvas tendem a se deslocar para a
esquerda em relação ao eixo X e para baixo em
relação ao eixo Y, de acordo com o aumento da
porcentagem de PEBD nas misturas,
apresentando então, uma redução na umidade e
na massa específica seca máxima.
Figura 8. Análise Granulométrica do Solo.

Para compreender as distribuições


granulométricas das misturas, realizou-se
combinações das curvas de análise
granulométrica do solo e do PEBD por meio de
proporções (Figura 9). Analisando tais
distribuições, pode-se dizer que conforme o
aumento da porcentagem de PEBD, a mistura
passa a ter maiores porcentagens de grãos com
maiores dimensões (retidos na peneira com
abertura de 2 mm); consequentemente há a
melhora na classificação do solo, pois no setor
de pavimentação os solos granulares apresentam
melhores características. Figura 10. Curvas de Compactação do Solo e das
Misturas.

3.3.2 Índice de Suporte Califórnia (CBR)

O DNIT (2006, p.142), especifica valores de


referência para cada camada do pavimento: o
subleito deve apresentar expansão ≤ 2% e CBR
≥ 2%; a sub-base, CBR ≥ 20% e expansão ≤
1%; para aplicação em base o CBR ≥ 80% e
expansão ≤ 0,5%, porém para N ≤ 5 * 106, o
CBR ≥ 60%.
A Tabela 3 mostra os resultados dos ensaios
de compactação e Índice de Suporte Califórnia
(CBR). Analisando a mesma, percebe-se que
Figura 9. Análise Granulométrica do Solo e das Misturas. para subleito e sub-base os parâmetros do solo
natural e das misturas estão de acordo com as
especificações. Para a camada de base, os
resultados de expansão estão dentro dos valores
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limites; porém os resultados de CBR não 4 CONCLUSÃO


atendem aos valores mínimos.
Em relação a análise combinada, entre a
Tabela 3. Resultados de Compactação e Índice de granulometria do solo e do PEBD, nota-se que
Suporte Califórnia (CBR). de acordo com o aumento da porcentagem de
Amostra W. ót. Mass. CBR Expansã
s: (%) Esp. (%) o (%)
PEBD, a mistura passa a ter maiores
(g/cm³) quantidades de grãos com diâmetros maiores,
Solo 28,15 1,424 23,26 0,44 melhorando a classificação do solo. Em
Natural contrapartida, pelos resultados encontrados no
12 % de 24,16 1,311 27,91 0,40 ensaio de CBR, percebe-se que a mistura que
PEBD
melhor contribuiu granulometricamente (maior
8 % de 24,35 1,357 30,14 0,39
PEBD quantidade de PEBD), não foi a que resultou
4 % de 26,6 1,388 30,51 0,44 nos melhores resultados, por isso a importância
PEBD dos ensaios feitos com as diferentes misturas,
possibilitando a compreensão do
Os resultados de CBR obtidos pelas misturas, comportamento da mistura.
apresentaram um aumento significativo em As características necessárias para cada
relação ao solo natural, e as misturas com 8% e camada do pavimento são estabelecidas para
4% de PEBD, obtiveram os melhores proporcionar aos usuários principalmente
resultados, chegando em valores de CBR acima conforto e segurança; quando essas
de 30%. Com isso, pode-se dizer que a características não são atendidas, é necessária a
porcentagem ótima do material utilizado como aplicação de reforço para melhorá-las. Os
adição está próxima desses valores. resultados obtidos com a adição de PEBD para
As colunas mostradas na Figura 11 o reforço de solos, apresentaram resultados
representam os valores de CBR do solo e das satisfatórios em todas as misturas, entretanto as
misturas. As misturas com 12%, 8% e 4 % de misturas que apresentaram maiores resistências
PEBD, apresentaram aumento em relação ao foram com as porcentagens de 8% e 4% de
solo, de 19,99%, 29,58% e 31,17%, PEBD, chegando em valores de CBR superiores
respectivamente. a 30%. Por essas porcentagens apresentarem
valores semelhantes, infere-se que a melhor
porcentagem de aplicação deste resíduo está
entre esse intervalo ou então bem próximo dele.
Comparando os valores exigidos em normas
em relação a expansão, o solo e as misturas
atendem aos valores especificados; em relação
ao CBR, apenas para a base os valores não
foram atendidos. Visto o comportamento da
resistência das misturas, a aplicação delas é
apropriada principalmente para sub-base, onde
os valores de CBR e expansão atendem aos
valores exigidos com uma certa folga. Em
relação ao Índice de Grupo, segundo o DNIT
139/2010 - ES (2010, p.3), para solos lateríticos
Figura 11. Resultados de Índice de Suporte Califórnia o valor pode ser diferente de 0. Portanto, a
(CBR). aplicação do PEBD para reforço de solos,
apresentou um considerável ganho de
resistência, além de propiciar benefício ao meio
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ambiente, por utilizar um material proveniente DNIT 139 - ES: Pavimentação – Sub-base estabilizada
da reciclagem de materiais plásticos. granulometricamente - Especificação de serviço. Rio
de Janeiro: IPR. p.3. Disponível em:<
http://ipr.dnit.gov.br/normas-e-
manuais/normas/especificacao-de-servicos-
AGRADECIMENTOS es/dnit139_2010_es.pdf>. Acesso em: 24 de abr. 2018
DEPARTAMENTO NACIONAL DE
Os autores agradecem a Universidade Católica INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES. (2016).
DNIT 172 - ME: Solos – Determinação do Índice de
de Brasília (UCB) e todos que cooperaram no Suporte Califórnia utilizando amostras não
desenvolvimento do artigo. trabalhadas – Método de ensaio.
______.DEPARTAMENTO NACIONAL DE
INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES. (2006).
REFERÊNCIAS Manual de Pavimentação. Rio de Janeiro.
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. O tamanho do
problema. Disponível em:<
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS http://www.mma.gov.br/responsabilidade-
TÉCNICAS. (2016). NBR 9604: Abertura de poço e socioambiental/producao-e-consumo-sustentavel/saco-
trincheira de inspeção em solo, com retirada de e-um-saco/saiba-mais>. Acesso em: 22 de set. 2017
amostras deformadas e indeformadas – Procedimento.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. (2016). NBR 6457: Amostras de solo –
Preparação para ensaios de compactação e ensaios de
caracterização.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. (2016). NBR 6458: Grãos de pedregulho
retidos na peneira de abertura 4,8 mm - Determinação
da massa específica, da massa específica aparente e da
absorção de água.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. (2016). NBR 7181: Solo - Análise
granulométrica.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. (2016). NBR 6459: Solo - Determinação
do limite de liquidez.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. (2016). NBR 7180: Solo – Determinação
do limite de plasticidade.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. (2016). NBR 7182: Solo - Ensaio de
compactação.
COUTINHO, Fernanda M. B.; MELLO, Ivanna L.;
MARIA, Luiz C. de Santa. (2002). Polietileno:
Principais Tipos, Propriedades e Aplicações. 13f.
Artigo de Divulgação - Universidade do Estado do
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2002. Disponível em:<
http://www.scielo.br/pdf/po/v13n1/15064>. Acesso
em: 19 de out. 2017
______.DAS, Braja M.; SOBHAN, Khaled. (2014).
Fundamentos de Engenharia Geotécnica. 8ª edição,
São Paulo: Cengage Learning.
DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE
RODAGEM. (1998). DNER-ME 194: Agregados –
determinação da massa específica de agregados
miúdos por meio do frasco de Chapman.
DEPARTAMENTO NACIONAL DE
INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES. (2010).
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Desaguamento de Rejeitos do Processamento de Minério de Ferro


Com Uso de Polímeros Superabsorventes
João Paulo Aparecido Arruda
Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, jotape_arruda@hotmail.com
Douglas Henrique Santos Sousa
Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil,douglashssousa@hotmail.com
Eleonardo Lucas Pereira
Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, eleonardo@ufop.edu.br
Romero César Gomes
Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, romero@ufop.edu.br
Augusto Cesar da Silva Bezerra
CEFET-MG, Belo Horizonte MG, Brasil, augustobezerra@des.cefetmg.br
Juarez Gonçalves Mesquita
Universidade Federal de Goiás, Catalão, Brasil, juarez.mesquita56@gmail.com

RESUMO: A necessidade do desaguamento dos rejeitos de usinas de concentração de fosfato


tornou-se necessária devido ao fato de que a capacidade de suas barragens estarem próximas a se
exaurirem, não havendo tempo hábil para aquisição das licenças necessárias e construção de uma
nova barragem sem a paralisação do empreendimento. Vários estudos buscam melhorar a eficiência
do desaguamento e reduzir os custos desta operação. Uma das soluções implementadas, é a
utilização de polímeros superabsorventes, que ao entrarem em contato com a água, estes passam
para um estado sólido/gelatinoso facilitando assim a evaporação da mesma, gerando uma massa
final com teores de sólidos por volume acima de 75%. O objetivo deste trabalho foi verificar se o
polímero superabsorvente é capaz de realizar a aglomeração e o desaguamento de rejeitos de
mineração. Foram realizados testes que apresenta concentração de 50% em volume sólido/líquido.
Observou-se que o desaguamento tem grande eficiência com a concentração do reagente na
proporção de 4 g/kg.

PALAVRAS-CHAVE: Solidificador de resíduos, desaguamento, rejeitos, barragem.

1 INTRODUÇÃO basicamente por água, partículas grosseiras e


lamas, além de reagentes adicionados ao longo do
As atividades de mineração, tem-se grande processo. A forma mais comum de disposição de
destaque na economia brasileira, desde a época do rejeitos ainda são as barragens de contenção:
Brasil Colônia, produzindo mais de 50 tipos de grandes estruturas construídas em locais
minerais, sendo de maior destaque o minério de favoráveis ao armazenamento, podendo
ferro, este responsável em colocar como a comportar vultosos volumes de material,
segunda economia mundial, exportadora desse chegando a ocupar extensas áreas (IBRAM,
mineral. 2016).
A disposição dos rejeitos nas atividades de Durante o processo de beneficiamento mineral,
mineração é um aspecto extremamente importante gera-se um grande volume de resíduos, os quais
para indústria mineral, requerendo muitos para minérios de ferro estão na ordem de 40%,
investimentos em áreas, licenciamentos e, enquanto para minerais encontrados na natureza
principalmente, em segurança. em baixas concentrações, podemos destacar o
Os rejeitos originam-se no processo de ouro, este podendo chegar a níveis de resíduos na
beneficiamento de minérios e são compostos ordem de 100% (Gomes e Pereira 2002).
A investigação geológico-geotécnica é de suma
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importância na disposição de rejeitos, pois além polímero superabsorvente em rejeitos de


de fatores característicos de construção e minério de ferro, determinação da porcentagem
segurança, pode ser solicitado que o reservatório e sólidos e da massa específica do material,
formado para envolver o material seja estanque, além dos testes de absorção de água com o
para evitar que ocorra a infiltração de efluentes solidificador de resíduos.
danosos a qualidade das águas, como soluções Os testes foram realizados no Núcleo de
contendo cianetos, metais pesados ou pH muito Geotécnia da Universidade Federal de Ouro
ácidos (SILVA et al., 2012). Preto/NUGEO e no Laboratório de
Devido ao processo de produção, uma das Modelamento e Pesquisa em Processamento
consequências da mineração é a alta geração
Mineral (LaMPPMin) da Universidade Federal
rejeitos, sendo na grande maioria, a disposição
de Goiás. As condições climáticas de realização
sendo realizada em barragens, nas quais estas
dos ensaios foram: temperatura média de 27° C,
tendem a serem implantadas próximas das usinas
de beneficiamento no intuito de diminuição dos umidade relativa média de 75%.
custos para disposição. Para a disposição deste Controlou-se tais variáveis com o objetivo de
material, tem-se o ônus ambiental, no qual pode simular uma situação de campo para a
ocorrer a destruição da vegetação, para que possa determinada região onde foi realizada a coleta
receber o material (Russo, 2007). de amostras para os ensaios.
As barragens, no entanto, oferecem potenciais O Ph da amostra foi aferido durante a coleta e
riscos ambientais e de segurança, pois o colapso após o transporte em tambores de 200 L, para
de uma barragem, seja por causas naturais (como aferição da não contaminação da polpa de
abalos sísmicos) ou por negligência da empresa rejeitos e assim não influenciar no processo de
responsável (ausência ou insuficiência de separação solido-liquido.
monitoramento), pode causar danos à sociedade e O valor encontrado de Ph em todas as
ao meio ambiente em proporções catastróficas, aferições foi de 7,1, indicando que não houve
como visto no recente desastre de Mariana – MG. contaminação das amostras durante o transporte
Além da pressão dos órgãos ambientais e da mantendo assim suas características
população, pela não liberação ou interdição dos conservadas.
empreendimentos que utilizam barragem como
forma de disposição de rejeitos. A preocupação
aumenta devido aos acidentes relatados nos 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
últimos anos, devido ao rompimento de
estruturas de armazenamento de rejeitos, nas O floculante utilizado neste trabalho (super-
quais provocaram impactos ambientais e sociais floculante) é caracterizado como um polímero
em proporções de âmbito nacional além de modificador de reologia de polpa, fornecido na
diversas perdas humanas forma de pó e com coloração branca. Este
Tem-se buscado caminhos para a disposição de material apresenta granulometria no qual possui
rejeitos de mineração que garantam maior 95% do material com partículas inferior a 1000
confiabilidade, segurança e até economicidade ao μm conforme a descrição fornecida pelo
processo. fabricante.
Dessa forma, o uso de um solidificador de O polímero superabsorvente é utilizado por
resíduos aplicado aos rejeitos da indústria mineral empresas produtoras de concentrado fosfático e
pode se mostrar uma excelente alternativa se de minério de ferro no desaguamento dos
demonstrada sua viabilidade técnica e econômica. rejeitos resultantes de suas operações,
considerando que o material normalmente se
apresenta na forma granular.
2 METODOLOGIA 3.1 RELAÇÃO CUSTO POLÍMERO
SUPERABSORVENTE.
Realizou-se, testes de relação custo entre um
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Tem-se a estimativa pelos diversos fornecedores proporcionalidade.


de polímeros superabsorventes, que o valor desse A massa específica do rejeito analisado
floculante gire em torno de R$18,60 o kg, sendo o apresenta-se densidade de 3,11 g/cm³, sendo
seu consumo unitário de 10 kg/t de rejeitos. este ensaio realizado conforme as
Dessa forma, para que seja tratada uma tonelada recomendações da Norma Brasileira NBR
de rejeitos, tem-se: 6508/1984a.

CS = 10,00 * R$18,60/t * kg (1) 3.3 TESTES DE DOSAGEM POLÍMEROS


SUPERABSORVENTES.
Onde CS é o custo do polímero
superabsorvente com a dosagem recomendada As misturas consistiram em 1kg de rejeitos de
pelo fabricante. mineração onde foram aplicadas as doses de 5g,
4g, 3g do solidificador de resíduos diretamente
Logo o custo estimado pelo fabricante é de sobre a mistura de rejeitos e em seguida o
R$186,00 por tonelada de material a ser mesmo foi homogeneizado.
desaguado. A homogeneização foi realizada de forma
O polímero superabsorvente é composto por manual, tendo como cuidado a não quebra dos
fibras vegetais e polímeros, entre outros. grãos durante o processo. Após a adição do
Apresenta-se na forma de um granulado branco, polímero, realizou-se a aferição do peso do
insolúvel e atóxico. Ele se solidifica e retém material durante o período de 120 horas.
líquidos, que não retornam ao estado original,
alterando somente a natureza física do resíduo e 3.4 DISCUSSÃO RESULTADOS.
diminuindo seus odores.
Utilizando-se a quantidade de solidificador de
resíduos na concentração de 5g/kg de rejeito,
3.2 PORCENTAGEM DE SOLIDO X percebeu-se a presença de cristais do mesmo
MASSA ESPECIFICA. após mistura e homogeneização do material,
podendo indicar, o excesso do polímero visto
Os rejeitos de mineração utilizados nos testes que o mesmo não foi processado durante o
foram armazenados para transporte em processo de absorção de agua da amostra,
tambores com volume de 200,0 litros os quais observa-se na Figura 01, os pontos com maior
manteve-se a concentração do material da brilho, são os quais os cristais ficaram em
forma que é descartado na barragem. Dessa excesso no rejeito.
forma para manter a porcentagem de sólidos
originais em todos os ensaios, agita-se a o
material até garantir que todas as partículas
estejam em suspensão.
Conforme as especificações técnicas da usina
que disponibilizaram as amostras, estas tinham
a concentração de 50% em volume de sólido-
líquido, o que foi aferido em ensaios de
provetas validando essa concentração
O procedimento de cálculo da concentração
leva se em conta a massa de material antes de
sedimentar e depois do mesmo passar pelo
processo de sedimentação em provetas. Com
base nas massas iniciais e finais, a porcentagem Figura 01. Material com a dosagem de 5g/kg, após 120
de sólidos é calculada pelo princípio da horas de ensaio.
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massa de água no material tem de estabilizar,


Devido a essa observação de cristais de independente da dosagem de polímero
polímero superabsorvente no rejeito optou-se superabsorvente. Analisando este fato tem-se
em diminuir a concentração desse polímero no como melhor tempo de ação do polímero
intuito de verificar a melhor dosagem. superabsorvente o valor de 96 horas.
Com essa concentração observa-se que o Com os resultados realizou-se uma nova
material tem perda de 40,30% de sua massa. estimativa de custo para utilização do polímero
Para a dosagem de 4g/kg, tem-se uma perda de superabsorvente, levando em consideração os
42,23% de sua massa, observou-se que nesse resultados da pesquisa ao invés da dosagem
material não obteve cristais do polímero após o recomendada pelo fabricante. Considerou-se a
processo de homogeneização e evaporação. dosagem de 4g/kg de rejeito como a melhor
Para a dosagem de 3g/kg de material, opção.
observou-se pela consistência da amostra existe
a falta do polímero, visto que no processo final CS = 4,00 * R$18,60/t * kg (2)
obteve-se uma perda de massa de 41,18%.
Obter-se um custo de R$74,60 de polímero
Tabela 1. Perda de massa mistura de acordo com as superabsorvente para realizar o dessecamento
diferentes dosagens de polímero superabsorventes.
de 1 tonelada de rejeitos de minério de ferro.
Este valor corresponde apenas 40,11% do
recomendado pelo fabricante obtendo-se maior
eficiência.
Observando a tabela 01, verifica-se que a
melhor dosagem polimérica é apresentada com
a concentração de 4g/kg de rejeito, sendo este 4 CONCLUSÕES
valor 2,5 vezes menor que o recomendado pelo
fabricante. Verifica-se que a quantidade de líquido
No Gráfico 01, observa-se as curvas desaguado não está linearmente relacionado
comparativas de perdas de massa, em diferentes com dosagem aplicada do polímero
dosagens de polímeros versus o tempo de superabsorvente, visto que o aumento deste, até
ensaio. um certo limite, não influência no
desaguamento.
1200 Com a análise dos resultados percebe-se a
1000 quanto maior a superfície de contato com a
Massa (g).

800 atmosfera, ocorre maior velocidade da


600 5 g Massa evaporação.
400
4 g Massa Foi observado que um fator importante em
200
3 g Massa relação a diluição, é a granulometria do
0
3600 7200 10800 14400 18000
polímero superabsorvente (que é, relativamente,
Tempo (segundos). alta). Acredita-se que com partículas menores e
maior diluição do produto, conseguir-se-á
melhores resultados de aplicação e
homogeneização e, consequentemente, uma
Gráfico 1. Curva comparativa das perdas de massa da
mistura de acordo com as diferentes dosagens de otimização da dosagem do mesmo.
polímero superabsorventes em diferentes dosagens do Em relação ao custo, mesmo tendo a
polímero. recomendação do fabricante para utilização do
polímero com rejeito na proporção de 12 kg/t, o
Observa-se que a partir do tempo de 14400 resultado alcançado com a dosagem de 4 kg/t
segundos (96 horas) de ensaio, a perda de apresenta capacidades de aglomeração e
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desaguamento satisfatórias. Assim, o custo com ambiental. 2012. 133 p. Tese (Doutorado, Programa
o uso do polímero superabsorvente reduz cerca de Pós-graduação em Engenharia Metalúrgica,
Materiais e de Minas) – Universidade Federal de
de 330%, uma vez que a relação de custo entre Minas Gerais, Belo Horizonte. 2012.
os dois compostos abaixa de 42,56 para 12,77. BRASIL. Lei nº.12.334, de 20 set. 2010. Estabelece a
Embora o custo com o uso do polímero Política Nacional de Segurança de Barragens
superabsorvente tenha um valor agregado destinadas à acumulação de água para quaisquer usos,
relativamente alto, os benefícios ambientais e à disposição final ou temporária de rejeitos e à
acumulação de resíduos industriais, cria o Sistema
questões relacionadas a segurança, indicam a Nacional de Informações sobre Segurança de
viabilidade de estudos para utilização do Barragens e altera a redação do art. 35 da Lei no
mesmo. 9.433, de 8 de janeiro de 1997, e do art. 4o da Lei no
Recomenda-se a realização de ensaios com 9.984, de 17 de julho de 2000. Disponível em:<
polímeros onde se tenha uma maior variação de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em: 01 Abril.
dosagens para quantificar a melhor dosagem a 2018.
ser adotada em uma planta de desaguamento CALLISTER-JR, W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e
com intuito de maior eficiência do polímero. engenharia de materiais: uma introdução. 8 ed. Rio de
Janeiro: LTC, 2013. 817p.
CASTIGLIA, M. C. C. P. Disposição subaquática de
rejeitos de dragagem: o caso do complexo lagunar de
AGRADECIMENTOS
Jacarepaguá. 2006. 152 p. Dissertação (Mestrado,
Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil) –
Os autores agradecem ao apoio financeiro, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de
imprescindível para o desenvolvimento do Janeiro. 2006.
presente trabalho, das agências brasileiras de CHAVES, A.P., LEAL FILHO, L.S. Flotação. In: LUZ,
A.B., SAMPAIO, J.A., de ALMEIDA, S.L.M.
fomento à pesquisa CNPq, CAPES, e a UFOP
Tratamento de Minérios. 4. ed. Rio de Janeiro, Cap.
Universidade Federal de Ouro Preto, pelo apoio 10, p. 411-455, 2004.
dado ao mesmo. D’AGOSTINO, L. F. Praias de Barragens de Rejeitos de
Mineração: Características e Análises da
Sedimentação. 2008. 374 p. Dissertação (Mestrado,
REFERÊNCIAS Engenharia Mineral) – Universidade de São Paulo,
São Paulo. 2008.
DIAS, V. P.; FERNANDES, E. Fertilizantes: uma visão
ABNT. Grãos de solo que passam na peneira de 4,8 mm global sintética. Rio de Janeiro: BNDES Setorial,
– Determinação da massa específica. NBR 6508. São n.24, p. 97-138, 2006.
Paulo: Associação Brasileira de Normas Técnicas, DUARTE, A. P. Classificação das barragens de
1984a. 8 p. contenção de rejeitos de mineração e de resíduos
ARAGÃO, G. A. S. Classificação de pilhas de estéril na industriais no estado de minas gerais em relação ao
mineração de ferro. 2008. 117 p. Dissertação potencial de risco. 2008. 280p. Dissertação
(Mestrado, Programa de Pós-graduação em (Mestrado, Programa de Pós-graduação em
Engenharia Mineral) – Universidade Federal de Ouro Engenharia em Saneamento, Meio Ambiente e
Preto, Ouro Preto. 2008. Recursos Hídricos) – Universidade Federal de Belo
ARAUJO, C. B. Contribuição ao estudo do Horizonte, Belo Horizonte. 2008.
comportamento de barragens de rejeito de mineração FALCUCCI, A. A influência de floculantes poliméricos
de ferro. 2006. 136 p. Dissertação (Mestrado, na formação de pastas minerais. 2007. 81 p.
Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil) – Dissertação (Mestrado, Programa de Pós-graduação
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de em Engenharia Metalúrgica, Materiais e de Minas) –
Janeiro. 2006. Universidade Federal de Minas Gerais, Belo
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS Horizonte. 2007.
TÉCNICAS (1993). NBR 13.028 – Elaboração e FIGUEIREDO, M. M. Estudo de metodologias
apresentação de projeto de disposição de rejeitos de alternativas de disposição de rejeitos para a mineração
beneficiamento, em barramento, em mineração. Rio Casa de Pedra – Congonhas/MG. 2007. 100 p.
de Janeiro, 1993. Dissertação (Mestrado, Programa de Pós-graduação
BARREDA, R. H. O. Desenvolvimento de equipamento em Engenharia Geotécnica) – Universidade Federal
produtor de pasta mineral para aproveitamento dos de Ouro Preto, Ouro Preto. 2007.
rejeitos de lamas calcárias e diminuição do impacto
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GONÇALVES, T. C. Avaliação da dosagem de coletor de minério de ferro nas consistências polpa e torta.
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Efeitos da Inclusão de PET Triturado em um Solo


Predominantemente Arenoso de Porto Alegre/RS
Angelo Mazzarolo Rigo
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil,
angelorigo1@gmail.com

João Paulo Louzada Nardin


Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil,
jplouzadanardin@gmail.com

Maurício Tellechea Martini


Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil,
mauriciotmartini@hotmail.com

Lysiane Menezes Pacheco


Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, lysiane@terra.com.br

RESUMO: A necessidade de melhorar o solo disponível no local de uma obra de engenharia,


devido à baixa resistência oferecida por ele, não é incomum. Nesta situação, o usual seria a remoção
deste, gerando bota-fora, e a importação de um solo com características compatíveis com a
necessidade, o que culmina em aumento nos gastos. Sendo assim, melhorar o solo local é
economicamente mais viável e ecologicamente correto. Este estudo avaliou o melhoramento do solo
com a utilização de Polietileno Tereftalato (PET) triturado graúdo e fino nos percentuais de 10 e
20% em relação à massa de solo. Foram realizados ensaios de compactação, Índice de Suporte
Califórnia (ISC) e limites de Atterberg. Através destes, foi possível identificar redução da
expansividade e aumento do ISC do solo-PET em relação ao solo puro, entretanto não há
possibilidade de empregar o material como sub-base. Foi identificada menor massa específica
aparente seca máxima à medida que se introduz PET e uma maior faixa de valores de teor de
umidade para se obter a massa específica aparente seca máxima, viabilizando o emprego em aterros.

PALAVRAS-CHAVE: PET triturado, solo, mistura.

1 INTRODUÇÃO Como alternativa, surgem os processos de


estabilização e de melhoramento de solos, a
Repetidamente o solo disponível no local de partir da inserção de materiais alternativos, que
execução de uma obra de engenharia não é muitas vezes seriam descartados de forma
condizente com os critérios de projeto. errônea na natureza. A estabilização do solo
Normalmente isso ocorre pela baixa capacidade local, segundo Kézdi (1979), pode ser por
de suporte do solo. Nestes casos, busca-se a sua métodos mecânicos, físicos ou químicos. Neste
substituição por um solo de maior resistência, sentido, muitas metodologias vêm sendo
menor compressibilidade e menor estudadas e aplicadas. O uso de resíduos
permeabilidade, entretanto esse processo pode alternativos inseridos no solo, como plástico,
tornar-se caro, pelas grandes distâncias de borracha e fibras de coco, por exemplo, podem
transporte e pela falta de bota-fora licenciado. ser uma opção mais viável economicamente
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para modificação de algumas propriedades. Specht (2000) associa o termo “melhoria de


Dentre os diversos tipos de resíduos solos” ao tratamento através de processos
existentes, destaca-se o resíduo plástico, em físicos e/ou químicos com a introdução de
especial o Polietileno Tereftalato (PET), que se cimento, cal ou emulsão asfáltica, por exemplo.
sobressai no impacto ambiental negativo, Já o termo “reforço de solos” está associado à
devido ao seu lento processo de decomposição, inclusão de elementos resistentes à tração, como
de aproximadamente 100 anos (Universidade geotêxteis, fibras, fitas, malhas metálicas, entre
Federal de São Paulo - UNIFESP, 2013). Além outros. Segundo o autor, ambos os
disso, de acordo com a Associação Brasileira da procedimentos buscam a melhoria do solo a
Indústria do PET – Abipet (2012) são reciclados partir do aumento da resistência e da
anualmente apenas 50% dos produtos PET diminuição da compressibilidade e
descartados, causando preocupação em relação permeabilidade.
ao destino dado ao restante desse material. Casagrande (2005) cita que quando há
O aproveitamento de resíduos de PET no melhorias nas propriedades mecânicas de um
solo é visto como uma inteligente solução para material, surge-se um novo, chamado de
resolver problemas atrelados ao descarte compósito. A autora associa o termo “melhoria
irregular e ao melhoramento do solo, além de de solos” a processos químicos de estabilização
outras diversas vantagens indiretas como e “reforço de solos” a processos físicos, como a
diminuição dos custos na execução das inserção de fibras na matriz do solo, por
empreitadas, maior rapidez na construção e o exemplo.
fim de problemas associados à logística de Assim como o uso de fibras, o crescente
movimentação de terras (DA GRAÇA, 2010). emprego de polímeros triturados como reforço
Neste sentido, o trabalho teve por objetivo de solo instiga a novas pesquisas. Diversos
avaliar os efeitos da inclusão de 10 e 20% de estudos foram feitos em laboratório a fim de
PET triturado graúdo (passante na peneira 3/8”) avaliar as melhorias no solo a partir da
e de 10 e 20% de PET triturado fino (passante introdução do PET.
na peneira nº 10 e retido na peneira nº 40) em Prasad et al. (2009) verificaram a influência
um solo predominantemente arenoso de Porto da adição de PET em tiras (12 mm x 6 mm x
Alegre/RS. Para atingir o propósio do trabalho 0,5 mm de espessura) em solo local na
foram realizados ensaios de: construção de camadas de sub-base em
a) granulometria pavimentos flexíveis. O percentual de resíduo
b) limites de Atterberg; usado foi de 0,3% em massa. Deste modo,
c) compactação com energia normal; obtiveram incremento no Índice de Suporte
d) Índice de Suporte Califórnia (ISC). Califórnia de 8% para 16% com a adição.
Também observaram melhoria na capacidade de
carga em carregamento cíclico, a partir de
2 REFERENCIAL TEÓRICO ensaios em uma uma pista experimental.
De Assis e De Mello (2012) fizeram uma
Na história da humanidade, sempre houve a pesquisa utilizando solo local da cidade de São
necessidade de recorrer ao uso do solo, Luís do Maranhão destinado à construção de
independente da complexidade da construção. aterros da obra de duplicação da BR-101 na
Ao passar do tempo, foi notado que por diversas Paraíba. Os autores denominam o material
vezes o solo apresentava características não adicionado ao solo como “pelete”, sendo este
suficientes em relação a sua resistência e, com o obtido em indústria de reciclagem de garrafas
objetivo de alterá-las, teve-se a necessidade de PET. O solo utilizado foi classificado segundo a
modificar tais propriedades, recorrendo ao seu AASHTO como A-2-4. As amostras estudadas
melhoramento (DA GRAÇA, 2010). foram misturas de solo com pelete, em
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proporções de 0,25%, 0,50%, 1%, 2% e 4% em calculadas em relação à massa do solo seco.


peso de solo seco. De acordo com os resultados
do ensaio de compactação com energia normal, 3.1 Solo
percebe-se uma tendência de redução da massa
específica aparente seca máxima com o O solo utilizado nos ensaios foi obtido de uma
incremento de teor de pelete. Segundo os pilha armazenada em um canteiro de obras do
autores, essa tendência podia se esperar, visto bairro Cristal, em Porto Alegre/RS. O material
que o solo é um material mais denso que o PET. tem sua origem de uma escavação para uma
Na figura 1 são apresentados os valores de edificação na Rua Miguel Couto, no bairro
Índice de Suporte Califórnia (ISC) obtidos Menino Deus. A figura 2 ilustra uma amostra
através dos ensaios com solo puro e misturas. do solo utilizado nos ensaios.
Neste experimento, pode-se concluir que nas
porcentagens entre 0,25% e 1% houve uma
melhor otimização do solo, enquanto que para
2% de pelete introduzido nas amostras, o ISC
foi o mesmo do solo puro. Com 4% houve
redução.

Figura 1. Tabela dos valores obtidos para ISC(%).


Fonte: adaptado de Assis e de Mello (2012) Figura 2. Solo utilizado na pesquisa.

Da Graça (2010) e Louzada (2015) também 3.2 PET Triturado


verificaram redução de massa específica ao se
adicionar PET ao solo, assim como maior ISC O PET triturado usado na pesquisa foi resultado
até um determinado teor de resíduo. Ainda foi de um processo de moagem através de um
verificada melhoria de resistência ao triturador existente no Laboratório de Materiais
cisalhamento, com aumento de ângulo de atrito (LAMAT) da Pontifícia Universidade Católica
e de coesão. do Rio Grande do Sul. O triturador utilizado é
da marca J. F. Máquinas Agrícolas Ltda., e seu
modelo é o JF 5.
3 MATERIAIS UTILIZADOS Foi necessário o recolhimento e a seleção de
um determinado tipo de PET transparente,
O programa de ensaios teve como objetivo usuais em garrafas de água e de refrigerante de
principal caracterizar e avaliar os efeitos da diversos tamanhos. Antecendendo o processo de
adição de resíduo de PET triturado nas moagem, as garrafas foram higienizadas e
propriedades de resistência de um solo arenoso cortadas em tiras de aproximadamente 2 cm de
de Porto Alegre/RS. As amostras utilizadas largura. A parte superior e inferior das
foram de solo puro, solo com adição 10 e 20% embalagens plásticas foram descartadas por
de PET triturado graúdo (passante na peneira incapacidade de torná-las tiras, o que
3/8”) e solo com adição de 10 e 20% de PET atrapalharia ao se colocar na máquina
triturado fino (passante na peneira nº 10 e retido trituradora. A figura 3 apresenta o PET triturado
na peneira nº 40). As porcentagens foram graúdo, passante na peneira nº 3/8”. Já a figura
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4 ilusta o PET triturado fino, passante na dos Solos (LMS) da Pontifícia Universidade
peneira nº 10 e retido na peneira nº 40. Para Católica do Rio Grande do Sul:
esse último, foi necessário passar no triturador a) Determinação do limite de liquidez (ABNT
três vezes o material PET para adquirir uma NBR 6459/2016);
amostra de granulometria desejada. b) Determinação do limite de plasticidade
(ABNT NBR 7180/2016);
c) Compactação utilizando energia Normal
(ABNT NBR 7182/2016);
d) Índice de Suporte Califórnia (ISC) –
Método de ensaio (ABNT NBR
9895/2016);
O ensaio de compactação foi realizado
com reutilização de material. Já o ensaio de ISC
foi realizado com as umidades ótimas obtidas
no ensaio de compactação.

5 RESULTADOS

Nos itens subsequentes, serão apresentados os


Figura 3. PET triturado graúdo, passante na peneira
nº3/8”.
resultados obtidos dos ensaios.

5.1 Ensaios PET Triturado

A distribuição granulométrica do PET triturado


graúdo é apresentada na figura 5.

Figura 4. PET triturado fino, passante na peneira nº 10 e


retido na peneira nº 40.
Figura 5. Distribuição granulométrica do PET triturado
graúdo.
4 METODOLOGIA
5.2 Ensaios de Caracterização Física do
Para alcançar o objetivo estipulado, foram feitos Solo Puro e das Misturas
ensaios de caracterização física e mecânica.
Todos os ensaios realizados, descritos a seguir, A massa específica real dos grãos do solo é de
foram efetuados no Laboratório de Mecânica 2,61g/cm³. Através da curva granulométrica do
solo puro, presente na figura 6, é possível
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verificar que ele é composto por Com estes resultados é possível verificar que
aproximadamente 33% de pedregulho, 40% de quando se insere PET no solo, o limite de
areia, 19% de silte e 8% de argila, tendo como plasticidade reduz, tendo a redução maior para
referência a tabela da norma da ABNT NBR 20% de PET, tanto para o PET graúdo quanto
7181/2016. Portanto é um solo para o fino. Já o limite de liquidez aumentou
predominantemente arenoso. com o acréscimo de PET no solo. De acordo
com Terzaghi e Peck (1967), pode-se associar o
limite de liquidez com o índice de compressão
(Cc), o qual é ligado com a possibilidade do
solo sofrer recalque. Neste sentido, quanto
maior for o limite de liquidez, mais
compressível o solo é. Pinto (2006) salienta que
essa correlação é estabelecida para solos
transportados e não para solos residuais.
O índice de plasticidade (IP), que por
sua vez representa a diferença entre o limite de
liquidez (LL) e o limite de plasticidade (LP),
também aumenta ao inserir PET triturado no
solo. Segundo Caputo (1987), quanto maior for
Figura 6. Distribuição granulométricado solo puro. o índice de plasticidade, maior é a tendência do
solo a ser compressível.
Na tabela 1 são apresentados os
resultados dos limites de Atterberg. 5.3 Ensaios de Caracterização Mecânica
Tabela 1 – Resultados do ensaio de limites de Atterberg
5.3.1 Ensaios de Compactação
Limite de Limite de Índice de
liquidez plasticidade plasticidade
(LL-LP) Na figura 7 são apresentadas as curvas de
Solo puro compactação obtidas para solo puro e para as
41% 28% 13%
misturas utilizando energia normal. Na tabela 2
Solo + pode-se observar os resultados obtido para
10% PET 54% 25% 29%
fino
massa específica aparente seca máxima e teor
Solo + de umidade ótimo.
20% PET 58% 22% 36% Com o ensaio de compactação, analisa-
fino se que quando se insere PET no solo, a massa
Solo + específica aparente seca máxima diminui. Isto
10% PET 45% 25% 21%
graúdo
se dá, visto que o PET possui uma massa
Solo + específica menor em relação ao solo puro. O
20% PET 43% 23 % 20% mesmo resultado foi observado por Da Silva
graudo (2007), Da Graça (2010) e Louzada (2015).
O valor de umidade ótima tende a
A partir da granulometria e dos índices de apresentar um aumento quando se adiciona PET
consistência, de acordo com o sistema de triturado no solo, com exceção da amostra de
classificação AASHTO o solo é A-2-6. Nesta solo+10% de PET graúdo. De Assis e De Mello
categoria, o solo tem como materiais (2012) também obtiveram um crescimento nos
constituintes: pedregulho ou areias siltosos ou valores de umidade ótima quando se adicionava
argilosos, para o qual o comportamento para PET no solo. Louzada (2015), por sua vez,
emprego em subleito é de excelente a bom. obteve resultados diferentes com a adição de
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PET no solo, tendo uma diminuição no teor de pode-se notar a redução da expansão à medida
umidade ao passo em que era aumentado o teor que o teor de PET era acrescentado. No caso do
de PET triturado. ISC, os valores foram mais altos na mistura de
solo com 10% de PET triturado. Em ambas as
misturas houve aumento comparado ao solo
puro, sendo estes aumentos 58% na adição de
10% de PET fino, 50% para adição de 20% de
PET fino, 87% para adição de 10% de PET
graúdo e 35% para adição de 20% de PET
graúdo.

Tabela 3 – Resultados dos ensaios de ISC


Expansão (%) ISC (%)
Solo puro 0,15 3,38

Solo + 10% de 0,15 5,80


PET fino
Figura 7 – Curvas de compactação das amostras. Solo + 20% de 0,08 5,50
PET fino
Tabela 2 – Resultados dos ensaios de compactação Solo + 10% de 0,13 6,31
Umidade Massa específica PET graúdo
Ótima (%) aparente seca Solo + 20% de 0,12 4,57
máxima (g/cm³) PET graúdo
Solo puro 15,2 1,79
Salienta-se que houve ganho de ISC, porém
Solo + 10% de 16,9 1,69 esse acréscimo foi no máximo 3 pontos
PET fino
Solo + 20% de 17,2 1,52
percentuais, o que não é um valor considerável.
PET fino Ressalta-se o solo melhorado com PET não
Solo + 10% de 14,7 1,67 poderia ser empregado como material de sub-
PET graúdo base de pavimentos, uma vez que não atingiu
Solo + 20% de 16,6 1,52 ISC de 20%, conforme preconiza DNIT (2006).
PET graúdo
Apesar de haver ganho de ISC, houve aumento
do limite de liquidez e do índice de plasticidade,
A partir da figura 7, observa-se que com
o que não é aconselhado para que o material
maior percentual de PET adicionado, tem-se
seja empregado como reforço de subleito.
curvas mais abauladas. Isso é um resultado
Em relação à execução de aterro, o solo puro
positivo, visto que com uma maior faixa de teor
já poderia ser empregado, uma vez que atende
de umidade, atinge-se a mesma massa
ao ISC mínimo de 2% e à expansão igual ou
específica. Ao contrário do solo puro, que
inferior à 4%, conforme condiciona a norma
quando há um aumento da umidade, reduz
DNIT ES 108/2009. Já o solo com 10% de PET
consideravelmente a massa específica.
graúdo poderia ser empregado como camada
final de aterro (últimos 60 cm), uma vez que seu
ISC supera 6%.
5.3.2 Ensaio de ISC

Os resultados obtidos nos ensaios de Índice de


5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Suporte Califórnia (ISC) estão representados na
tabela 3.
Com o intuito de encontrar um fim mais
Através dos ensaios de diferentes misturas,
prestativo para os descartes de PET, este
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trabalho visou e testou seu emprego em um REFERÊNCIAS


solo, a fim de avaliar as propriedades geradas
pela mistura. ABIPET (2012). Associação Brasileira da Indústria do
PET. São Paulo. Indústria PET no Brasil. Disponível
As seguintes conclusões foram feitas: em: <http://www.abipet.org.br>. Acesso em: 25 mar.
a) No ensaio de Limites de Atterberg pode 2017.
ser analisado que ao se adicionar PET ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
no solo o limite de plasticidade reduz, TÉCNICAS. NBR 6459. (2016): Solo: Determinação
tendo uma redução maior para 20% de do limite de liquidez. Rio de Janeiro. 5 p.
_____. NBR 7180. (2016): Solo: Determinação do limite
PET triturado, tanto para o PET graúdo de plasticidade. Rio de Janeiro.3p.
quanto para o fino. O limite de liquidez _____. NBR 7182. (2016): Solo: Ensaio de
aumentou com a introdução de PET no Compactação. Rio de Janeiro. 9 p.
solo, com maior aumento na adição de _____. NBR 9895. (2016): Solo: Índice de suporte
20% de PET triturado fino e também na Califórnia (ISC) – Método de ensaio. Rio de Janeiro.
14 p.
adição de 10% de PET triturado graúdo. CAPUTO, H.P. (1987). Mecânica dos solos e suas
O índice de plasticidade também aplicações. 6.ed. Rio de Janeiro. 219 p.
apresentou aumento ao se inserir PET. CASAGRANDE, M. D. T. (2005). Comportamento de
b) No ensaio de compactação observou-se solos reforçados com fibras submetidas a grandes
deformações. 219p. Tese (Doutorado em Engenharia)
que ao se acrescentar PET no solo, há
- Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil,
uma diminuição da massa específica Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
aparente seca da mistura, isto se deve ao Alegre.
fato do PET ter uma massa específica DE ASSIS, S. R. H.; DE MELO, R. A. (2012).
menor que a do solo. A umidade ótima Viabilidade técnica do uso de misturas de solos e PET
granulado em camadas de pavimentos. 10p. 18ª RPU -
apresentou um crescimento no valor, ao
Reunião de Pavimentação Urbana, São Luís.
passo em que era adicionado PET DEPARTAMENTO NACIONAL DE
triturado no solo. INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES. DNIT
c) No ensaio de ISC foi observado um (2006) IPR 719. Manual de Pavimentação. 3ª Edição.
aumento neste valor quando introduzido Rio de Janeiro.
DA GRAÇA, C. J. P. (2010). Micro-reforço de areias
o PET no solo, entretanto se não atingiu
com resíduos de PET da indústria de refrigerantes.
o valor mínimo de 20% para o material 96p. Dissertação (Mestrado em Geotecnia Aplicada) -
ser empregado como sub-base. Faculdade de Engenharia. Universidade da Beira
Interior, Covilhã.
Através dos resultados e de análises DA SILVA, C. C. (2007). Comportamento de solos
concluiu-se que a principal vantagem da siltosos quando reforçados com fibras e melhorados
com aditivos químicos e orgânicos. 157p. Dissertação
implementação de PET triturado no solo é a (Mestrado em Engenharia) - Curso de Pós-Graduação
diminuição da massa específica da mistura, em Construção Civil, Setor de Tecnologia,
contribuindo para o uso do solo-PET onde há Universidade Federal do Paraná, Curitiba.
necessidade de aterros mais leves, devido à KÉZDI, Á. (1979). Stabilized earth roads: developments
compressibilidade do solo subjacente. in geotechnical engineering. Amsterdam: Elsevier.
LOUZADA, N. S. L. (2015). Experimental study of soils
Tendo em vista o aumento do LL e do IP na reinforced with crushed polyethylene terephthalate
mistura solo-PET, sugere-se análise de (PET) residue. 127p. Dissertação (Mestrado em
compressbilidade do material, a partir de Engenharia) – Programa de Pós-Graduação em
ensaios oedométricos. Além disso, tendo em Engenharia Civil do Departamento de Engenharia
vista o uso em aterros, sugere-se a avaliação do Civil, Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro.
ganho de resistência ao cisalhamento (aumento PINTO, C. de S. (2006). Curso Básico de Mecânica dos
dos parâmetros de ângulo de atrito e de coesão), solos em 16 aulas/3ª Edição – São Paulo: Oficina de
a fim de analisar estabilidade, quando de aterros Textos.
muito altos. PRASAD, D. S. V.; RAJU, G. V. R. PRASADA;
KUMAR, M A. (2009). Utilization of Industrial
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
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Waste in Flexible Pavement Construction. Eletronic


Journal of Geotechnical Engineering. Vol 13. 12 pp.
SPECHT, L. P. (2000). Comportamento de misturas solo-
cimento-fibra submetidas a carregamentos estáticos e
dinâmicos visando a pavimentação. 151p. Dissertação
(Mestrado em Engenharia) - Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Civil, Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
TERZAGHI, K.; PECK, R. B. (1967). Soil mechanics in
engineering practice. New York. 729p.
UNIFESP. (2013). Universidade Federal de São Paulo.
Tempo de decomposição do PET. Disponível em:
<http://dgi.unifesp.br/ecounifesp/index.php?option=co
m_content&view=article&id=16&Itemid=11>.
Acesso em: 25 mar. 2017.
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

Estudo Comparativo dos Parâmetros de Resistência do Solo


Reforçado com Cal e Geogrelha
Hellen Evenyn Fonseca
Universidade Católica de Brasília, Brasília, Brasil, hevenyn1@gmail.com

Caio Soares Camargos


Universidade Católica de Brasília, Brasília, Brasil, caiocamargos1996@gmail.com

Matheus Viana de Souza


Universidade Católica de Brasília, Brasília, Brasil, matheusvianadesouza@hotmail.com

Dr. Rideci Farias


UCB/CEUB/IESPLAN/ReforSolo, Brasília, Brasil, rideci.reforsolo@gmail.com

RESUMO: Os geossintéticos são materiais industrializados com polímeros sintéticos ou naturais,


provenientes da indústria petroquímica, podendo ser empregados em diversas obras de engenharia,
como reforço de camadas rodoviárias, drenagem de vias e de áreas especiais, ganho de estabilidade
em talude, e outras, podendo desempenhar mais de uma finalidade. Este estudo visa avaliar o
emprego deste tipo de material, através de comparativos, com o solo natural, solo com adição de cal
hidratada, solo com geogrelha e ambos concomitantemente misturados, a fim de analisar o ganho de
resistência mecânica do solo e suas possíveis aplicações de reforço, com amostras do solo laterítico
de Brasília extraído da Universidade Católica de Brasília. Nas amostras com geogrelha, será
analisado o posicionamento desta entre a primeira e segunda, segunda e terceira camada de
compactação a fim de averiguar a localização que melhor confere resistência ao solo. Os ensaios
realizados para efetivar esses estudos foram o CBR e Compressão Simples.

PALAVRAS-CHAVE: Geogrelha, Solo-cal, Melhoria de Solos.

1 INTRODUÇÃO qualidade da estrada e tráfego seguro.


Segundo o Manual de Pavimentação do
O pavimento é constituído de diversas camadas, DNIT (2006, P.83) “Cal Hidráulica é o
cada uma possui suas especificações técnicas e aglomerante que resulta da calcinação e
desempenham diferentes funções, de modo que posterior pulverização por processos de imersão
garantam o bom funcionamento da estrada, ou suspensão em água, de calcários argilosos a
reduzindo problemas que são ocasionados por uma temperatura inferior à da fabricação dos
diversos fatores (tráfego muito pesado, cimentos”. Dentre os principais materiais
variações climáticas, etc.), por conseguinte, utilizados para o reforço do solo, está a cal.
diminuir também a quantidade de manutenção Quando a mistura solo-cal entra em contado
das mesmas, que em alguns casos são com a água, provoca uma reação química, que
ineficientes e demandam bastante dinheiro. A resulta em uma melhor estabilização do solo,
base é a camada que deve possuir maior reduzindo a expansão e proporcionando
resistência; por ser a mais próxima da aumento na resistência do mesmo. Em obras
superfície, deve suportar as tensões causadas geotécnicas é bastante comum o uso de
pelo tráfego dos veículos, assegurando a geossintéticos, por se tratar de uma classe de
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materiais com muita variedade, podendo ser gorda, por deviriar de calcários quase puros e
empregados para diversas finalidades. Para o com teores de carbotanto não infeior a 99%
reforço do solo, a geogrelha é bastante utilizada (Coutinho, 1988).
como solução técnica, onde suas características A porcentagem de cal estabelecida para este
provocam o melhoramento das propriedades estudo é de 3%. Segundo Balbo (2007), os
mecânicas do solo, ocasionando o aumento de critérios de dosagem do solo-cal variam de
sua resistência. acordo com o uso pretendido para mistura.
Visando um estudo para aplicação em sub- De acordo com Departamento de Estradas de
base de pavimentos, optou-se por combinar a Rodagem (2006), a porcentagem mínima de cal
estabilização química e mecânica, para tanto, a hidratada deve ser de 3% em massa seca de cal
metodologia consiste em realizar um estudo em relação a massa seca de solo, e a mistura
comparativo dos parâmetros de resistência do deve atender aos requisitos de resistência de
solo natural, solo misturado com cal, e ambos CBR≥ 30% e expansão ≤ 1,0% na energia
com a geogrelha posicionada entre a primeira e intermediária, conforme NBR 9895/1987, ou os
segunda camada, e segunda e terceira camada definidos em projeto para sub-base do
de solo compactado. Com o intuito de pavimento.
classificar o solo, serão realizados ensaios de As especificações da cal utilizada neste estudo
caracterização, além dos ensaios de estão em conformdiade com o estabelecido pelo
compactação, Índice de Suporte Califórnia DER ET-DE-P00/005.
(ISC) e resistência à compressão simples para
determinar a tensão de ruptura e coesão dos 2.2 Geogrelha
corpos de prova, todos os ensaios previstos
neste estudo foram realizados conforme as A geogrelha utilizada neste estudo possui
respectivas normas regulamentadoras. capacidade de 50 kN/m.

2.3 Preparação das Amostras de Solo


2 METODOLOGIA
As amostras deformadas de solo preparadas
Os ensaios laboratoriais realizados para este para o ensaio de caracterização foram realizadas
estudo consistem nas determinações das conforme o especificado pela ABNT NBR
características físicas e mecânicas do solo e das 6457/1986.
misturas de solo-cal. Para isso, amostras
deformadas de solo foram coletadas na 2.4 Análise Granulométrica
Universidade Católica de Brasília, cujo
procedimento da coleta se deu conforme o O solo a ser ensaiado foi submetido a uma
estabelecido pela NBR 9604/1986. A cal análise granulométrica para se obter o
hidratada CHI utilizada, seguiu os padrões conhecimento da distribuição dos grãos do solo.
normatizados pela NBR 7175/2002, segundo a Através deste ensaio se determinou a curva de
informação do fabricante. distribuição granulométrica, para classificação
do solo por combinação de peneiramento e
2.1 Cal Hidratada Cálcica sedimentação.
A cal é um aglomerante inorgânico, produzido a Os procedimentos de ensaios foram
partir de rochas carbonáticas, composto realizados em concordância com a ABNT NBR
basicamente por cálcio e magnésio, cujo 7181/84.
endurecimento ocorre por reação com o CO2
(Cincotto et al 2010). 2.5 Massa Específica
A cal hidratada CHI é donominada como
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A massa específica pode ser real ou aparente pela engenharia civil. Este teste determina a
conforme o volume a ser considerado, onde a umidade adequada para se adquirir a máxima
massa específica real está relacionada à compactação do solo na construção de estradas
natureza mineralógica e é dada pela relação (Vargas, 1977). Pode-se entender por uma
entre massa da parte sólida e volume de sólidos. determinada umidade em que o solo se encontra
A massa específica aparente do solo úmido é mais passível à compactação.
dada pela relação entre massa de solo úmido e As compactações foram feitas no solo
volume ocupado por esta; e a massa específica natural, e solo com cal para obtenção das
aparente do solo seco é dado pela relação entre umidades ótimas e massa específica destes por
massa de sólidos e volume total, Senço (2007). meio da energia Proctor intermediária.
O ensaio de massa específica foi realizado Os procedimentos de ensaios foram
conforme os procedimentos de ensaios realizados em conformidade com a ABNT NBR
explicitados pela ABNT NBR 6508/84. 7182/86

2.6 Limites de Atterberg 2.8 Índice de Suporte Califórnia

Segundo Alves (2010), plasticidade é a maior A resistência no ensaio de ISC combina


ou menor capacidade dos solos de serem indiretamente a coesão com o ângulo de atrito
moldados, sob certas condições de umidade, do material. Onde o ISC é expresso em
sem variação do volume. porcentagem, sendo definido como a relação
Os ensaios de limite de liquidez (LL) e limite entre a pressão necessária para produzir uma
de plasticidade (LP) foram realizados conforme penetração de um pistão num corpo-de-provar e
a NBR 6459/1984 e NBR 7180/1984, a pressão necessária para produzir a mesma
respectivamente. penetração no material padrão referencial,
O Limite de Liquidez se estabelece como Bernucci et al (2006).
limite entre o estado líquido, cuja umidade do O ISC foi realizado nas amostras de solo
solo se encontra elevada e apresentando-se natural, solo com 3% de cal, nas amostras de
como um fluido denso, Caputo (1988). solo natural com geogrelha posicionada entre a
Entende-se por Limite de Plasticidade a 1° e 2° camada de compactação, e amostras de
umidade para a qual o solo passa do estado solo natural com a geogrelha entre a 2ª e 3ª
semi-sólido para o estado plástico, e Índice de camada de compactação. Nas amostras de solo-
Plasticidade a quantidade de água necessária cal, a geogrelha também ficou posicionada entre
para que o solo passe do estado plástico para o a 1ª e 2ª camada de compactada e em amostras
líquido. de solo-cal posicionada entre 2ª e 3ª. O
A classificação dos solos pelo Índice de posicionamento das geogrelhas estão ilustrados
Plasticidade proposta por Jenkins é apresentado nas Figuras 1 e 2 a seguir.
na Tabela 1:

Tabela 1. Classificação do solo pelo IP.


IP Classificação
I<IP<7 Pouco plástico
7<IP<15 Plasticidade média
IP>15 Muito plástico

2.7 Compactação

A sensibilidade à compactação pode ser


avaliada com o ensaio Proctor, desenvolvido Figura 1. Esquema ilustrativo do posicionamento da
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geogrelha entre a 1ª e 2ª camada de compactação. empregado neste ensaio, as geogrelhas foram


posicionadas entre a 1ª e 2ª, e 2ª e 3ª camada
compactada, conforme ilustrado pelas Figuras 4
e 5.

Figura 2. Esquema ilustrativo do posicionamento da


geogrelha entre a 2ª e 3ª camada de compactação.

As geogrelhas tiveram 3 cm de sobra do Figura 4. Esquema ilustrativo do posicionamento da


diâmetro para ancoragem na camada superior, geogrelha entre a 1ª e 2ª camada de compactação.
conforme apresentado pela Figura 3.

Figura 5. Esquema ilustrativo do posicionamento da


geogrelha entre a 2ª e 3ª camada de compactação.

Folgas de 3 cm foram deixados pelas


Figura 3. Posicionamento da geogrelha no cilindro. geogrelhas a fim de garantir ancoragem das
mesmas nas camadas superiores.
2.9 Resistência à Compressão Simples A metodologia empregada para realização
deste ensaios se sucedeu em conformidade com
Segundo Bernucci et al (2006), a propriedade de o DNER-IE 004/94, e a norma americana
resistência ao cisalhamento é determinada ASTM D5102-96 para as misturas de solo cal.
aplicando-se um carregamento crescente de
compressão axial, sem tensão de confinamento,
em corpos-de-prova cilíndricos, no qual faz 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
parte dos ensaios que são empregados para
determinar algumas propriedades mecânicas de 3.1 Caracterização do solo
materiais para sub-base de pavimentos,
especialmente no caso de materiais cimentados A Tabela 2 mostra os resultados dos ensaios de
quimicamente, como o caso da cal empregado caracterização do solo. De acordo com Das e
deste estudo. Sobhan (2014), em relação ao sistema de
O ensaio de resistência à compressão simples classificação AASHTO, é possivel classificar o
foi realizados conforme dito nas amostras de solo como A-7-6(23), sendo um grupo de solos
ISC. Contudo, devido a dimensão do cilindro argilosos. Já pela classificação SUCS,
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identifica-se que o solo é um Silte elástico,


como mostra Das e Sobhan (2014). 3.2 Compactação

Tabela 2. Resultados de caracterização do solo. A umidade ótima (%) e massa específica seca
Ensaio: Resultado:
foram obtidos das curvas de compactação
Limite de liquidez 52% realizadas nas amostras de solo natural e solo-
Limite de plasticidade 29,12% cal. A compactação não foi realizada nas
Índice de plasticidade 22,88% amostras com geogrelha por se tratar de um
Massa específica dos grãos 2,82g/cm³ material inerte. A Tabela 3 apresenta os
resultados deste ensaio, realizado em
De acordo com a Tabela 1 por Jenkins, o solo conformidade com sua respectiva norma.
é classificado como muito plástico
Segundo o Manual de Pavimentação do DNIT Tabela 3. Resultados da Compactação.
(2006), para sub-base o IG = 0. Por ser tratar de
um solo laterítico argiloso, o presente solo Amostras Wót (%) Mass. Esp.(g/cm³)
apresenta um IG diferente de zero. Todavia, Solo natural 28,15 1,424
segundo DNIT-ES 139 (2010), solos lateríticos Solo + 3% CHI 28,9 1,411
podem apresentar IG ≠ 0.
As análises granulométricas são mostradas na Comparando o resultado da mistura solo-cal
Figura 6, dos ensaios feitos sem defloculante em relação ao solo natural, percebe-se que a
(curva vermelha) e com defloculante (curva adição de cal no solo provoca o aumento da
preta). Percebe-se que a curva com defloculante umiade ótima e diminuição da massa específica
possui maior porcentagem de material passante seca. Isso pode ter ocorrido devido as interações
em peneiras com aberturas menores, comparada químicas da com com o solo.
com sem defloculante; isso ocorre pelo fato do
defloculante desagregar as partículas que se 3.3 Índice de Suporte Califórnia
encontram aderidas.
O ensaio de ISC foi realizado dentro dos
padrões de sua respectiva norma. A Tabela 4
apresenta os resultados do ISC e expansão de
cada amostra obitdos neste ensaio.

Tabela 4. Resultados da Compactação.

Amostras ISC (%) Expansão(%)


Solo natural 23,26 0,44
Solo + Geogrelha entre
20,09 0,39
a 2ª e 3ª camada
Solo + Geogrelha entre
26,60 0,35
a 1ª e 2ª camada
Solo + Cal 3% CHI 35,91 0,09
Solo + Cal + Geogrelha
34,88 0,13
entre a 2ª e 3ª camada
Figura 6. Análise granulométrica. Solo + Cal + Geogrelha 38,49 0,13
entre a 1ª e 2ª camada
De acordo com a análise da distribuição das
partículas com defloculante, percebe-se que há De acordo com o Manual de Pavimentação do
uma maior quantidade de partículas de solos no DNIT (2006), os materiais de sub-base devem
intervalo que classifica o mesmo como um silte. apresentar o ISC ≥ 20% e expansão ≤ 1%, dessa
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forma, todas as amostras atendem a essa Tabela 5: Resultados de Compressão Simples e Coesão
especificação. Como análise comparativa dos
parâmetros de resistêcia do uso da Compressão Coesão
Amostras
Simples (kN/m²) (kN/m²)
estabailização mecânica, química e mecânica +
Solo natural 26,78 13,39
química, percebe-se que a combinação da
Solo + Geogrelha entre
melhoria química e mecânica são as que 34,65 17,325
a 2ª e 3ª camada
apresentam maior propriedade resistênte ao Solo + Geogrelha entre
39,32 19,66
solo. Todavia, as amostras de solo com a 1ª e 2ª camada
greogrelha posicionada entre a 2ª e 3ª camada Solo + Cal 3% CHI 34,77 17,385
Solo + Cal + Geogrelha
de compactação, apresentaram ISC menor que o 36,06 18,03
entre a 2ª e 3ª camada
solo natural, contudo, as amostras com solo e Solo + Cal + Geogrelha
geogrelha posicionada entre a 1ª e 2ª camada 42,24 21,12
entre a 1ª e 2ª camada
compactada apresentam ISC maior que a do
solo natural. O mesmo pode ser observado nas Por meio dos resutlados apresentados,
amostras com solo-cal e solo-cal e geogrelha. percebe-se o aumento na resistência à
Dentre as amostras analisadas, percebe-se compressão atribuido pelo solo-cal e geogrelha
que a combinação da melhoria química e entre a 1ª e 2ª camada de compactação de
mecânica de solo com 3% de CHI e geogrelha 57,73% em relação ao solo natural , obtendo o
posicionada entre a 1ª e 2ª camada compactada semelhante desempenho observado no ensaio de
apresenta maior resistência ao solo em ISC, o que serve para fomentar o melhor
comparação com as demais amostras. O ganho posicionamento da geogrelha nas camadas de
de resistência é de 65,48% em relação ao solo compactação avaliada neste estudo bem como a
natural. Isso pode ter acontecido devido a potencialização do reforço mecânico atribuido
combinação de 2 elementos de reforço ao solo pela adição concomitante da melhoria
potencializar a melhoria resistênte empregada mecânica e química atribuida pela cal e
ao solo. O mesmo foi observado no trabalho de geogrelha. Nas amostras somente com reforço
Pereira et al. (2017), que analisaram estudo mecânico, percebe-se um maior aumento na
comparativo do reforço de solo com a geogrelha resistência à compressão e coesão nas amostras
posicionada entre as 4 camadas de cuja geogrelha está posicionada entre a 1ª e 2ª
compactação. camada de compactação.
Quanto a análise das expansões das Analisando a Tabela 5, pode-se verificar que
amostras, percebe-se que o incremento de cal no não só a resistência à compressão simples foi
solo a reduz significativamente visto que ela é maior nas amostras de solo-cal e geogrelha
recomendada para melhoria das propriedades posicionada entre a 1ª e 2ª camada de
dos solos argilosos ou muito siltosos, que compactação em relação as demais amostras
possuam alta plasticidade e expansão, além de avaliadas, mas também apresentou o maior
baixa capacidade de suporte (Lima, 1984). aumento na coesão.

3.4 Resistência à Compressão Simples


4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Tabela 5 compila os resultados nas amostras
do ensaio de resistência à compressão e coesão, A prática de melhoria e estabilização de solos
sendo esta sido obtida segundo DNER-IE vem sido realizada a muitos anos na engenharia
004/94, conforme apresentado na Equação (1). geotécnica, como solução econômica e
c= (1) ambiental, buscando melhorar as prorpriedades
mecânicas resistêntes dos solos. Neste estudo, a
análise da melhoria química, mecânica e
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química e mecânica foram avaliadas, por meio ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS


da cal e geogrelha. Pôde-se perceber que a TÉCNICAS. (1986). NBR 9604: Abertura de poço e
trincheira de inspeção em solo, com retirada de
combinação da adição de cal e geogrelha amostras deformadas e indeformadas.
estando esta posicionada entre a 1ª e 2ª camada ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
de compactação, foram as que maior TÉCNICAS. (1986). NBR 6457: Amostras de solo –
apresentaram incremento na resistência preparação para ensaios de compactação e ensaios de
mecânica do solo avaliado pelos ensaios de ISC caracterização.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
e resistência à compressão simples, tornando-se TÉCNICAS. (2003). NBR 7175: Cal hidratada para
uma solução viável para reforço de solos para argamassas – Requisitos. Rio de Janeiro.
obras que não atendam as especificações ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
resistêntes, como reforço de sub-base em obras TÉCNICAS. (1984). NBR 6508: Grãos de solo que
de pavimentação. passam na peneira de 4,8 mm – determinação da
massa específica.
Por se tratar de um material analisado em ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
grande escala, acredita-se que o emprego da TÉCNICAS. (1984). NBR 7181: Solo – Análise
geogrelha como elemento de reforço ofereça granulométrica.
maior capacidade resistênte ao solo quando ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. (1984). NBR 6459: Solo –
analisada em recipientes maiores do quê nos
Determinação do limite de liquidez.
utilizados. Todavia, para as condições deste ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
estudo, a geogrelha posicionada entre a 1ª e 2ª TÉCNICAS. (1984). NBR 7180: Solo – Determinação
camada de compactação ofereceu um reforço de do limite de plasticidade.
14,36% em relação ao solo natural e de 65,48% ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. (1986). NBR 7182: Solo – Ensaio de
quando combinada com a cal nos ensaios de
compactação.
ISC, e um aumento na resistência à compressão ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
simples de 46,83% em relação ao solo natural e TÉCNICAS. (1987). NBR 9895: Solo – Índice de
de 57,73% quando combinada com a cal, Suporte Califórnia.
aumentando também os valores de coesão no Balbo, J.T. (2007). Pavimentação asfáltica: materiais,
projetos e restauração. São Paulo: Oficina de Textos,
solo.
p. 558.
Bernucci, L.B. et al. (2006). Pavimentação asfáltica:
formação básica para engenheiros. Rio de Janeiro:
AGRADECIMENTOS PETROBRAS: ABEDA, P. 351-504.
Caputo, J.P. (1988). Mecânica Dos Solos e suas
Aplicações. Rio de Janeiro: LTC, 234 p.
Os autores agradecem a Universidade Católica CINCOTTO, Maria Alba; QUARCIONI, Valdecir
de Brasília e a empresa ReforSolo Engenharia Ângelo; JOHN, Vanderley Moacyr. (2010). Cal na
por tornarem possível a realização deste estudo. Construção Civil. In: ISAIA, Geraldo Cechella.
(Org.). Materiais de Construção Civil e Princípios de
Ciência e Engenharia de Materiais. São Paulo:
IBRACON. Volume 1. p. 695 - 726.
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Documento Provisório, 1ª Parte. Disponível em:<
Alves, Lucas Máximo. (2010). Plasticidade e http://civil.fe.up.pt/pub/apoio/ano1/CienciaDosMateri
Consistência dos Solos. Disponível em:< ais/apontamentos/teorica_20022003/JSC_031a043.pd
https://lucasmaximoalves.files.wordpress.com/2010/0 f>. Acesso em: 01 de mai. 2018
3/mecsolosi-aula4- ______.DAS, Braja M.; SOBHAN, Khaled. (2014).
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determinação da compressão simples de amostras


indeformadas.
DEPARTAMENTO NACIONAL DE
INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTE. (2010).
DNIT-ES 139: Pavimentação – Sub-base estabilizada
granulometricamente - Especificação de serviço. Rio
de Janeiro: IPR. p.3. Disponível em:<
http://ipr.dnit.gov.br/normas-e-
manuais/normas/especificacao-de-servicos-
es/dnit139_2010_es.pdf>. Acesso em: 24 de abr. 2018
______.DEPARTAMENTO NACIONAL DE
INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTE. (2006).
Manual de Pavimentação. Rio de Janeiro.
LIMA, D. C. (1984). Estabilização Solo-Cal. In: 19ª
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Janeiro. Anais… p.67-82.
Pereira, Ítalo de Lima; Oliveira. Francisco Heber Lacerda
de; Aguiar, Marcos Fábio de. (2017). Estudo de
Camadas Granulares de Pvimentos Rodoviários
Refprçados com Geogrelha. In: 20ª Reunião de
Pavimentação Urbana. Anais. Disponível em:<
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mpleto_ITALODELIMAPEREIRA%20(1).pdf>.
Acesso em: 01 de mai. 2018
Senço, W. De. (2007). Manual de Técnicas de
Pavimentação: volumeI.2. ed. São Paulo: Pini, 1
v671p.
VARGAS, M. (1977). Introdução à mecânica dos solos.
São Paulo: USP.
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Estudo Comparativo Entre Fibras Naturais E Fibras Sintéticas


Empregadas Como Reforço de Latossolos
Luis Felipe dos Santos Ribeiro
Instituto Federal de Goiás, Formosa, Brasil, estudanteluis12@gmail.com

André Augusto Nobrega Dantas


Instituto Federal de Goiás e Universidade de Brasília, Formosa e Brasília, Brasil,
eng.andreaugusto@yahoo.com.br

RESUMO: O emprego de fibras naturais e sintéticas como reforço estrutural de solos é uma técnica
que tem evoluído constantemente ao longo dos últimos anos. Alguns exemplos de aplicabilidade para
essa técnica são obras de aterro para pavimentação, reforço de taludes, dentre outras. Uma vez que as
fibras proporcionam ganhos de resistência a tração, melhores propriedades físicas como maior Índice
de Suporte Califórnia (ISC) devido a característica da fibra de se comportar bem quando sujeita a
aplicação de carga e aos deslocamentos provenientes da aplicação. Em determinadas percentagens se
tem a redução da umidade ótima e a redução de expansibilidade ao se comparar aos solos naturais.
Assim sendo, o presente trabalho apresenta um estudo comparativo entre a utilização de fibras
naturais, Sisal e Pena de galinha e fibras sintéticas, Polipropileno, para reforços de latossolos. Desta
forma, por meio dos resultados obtidos, concluiu-se que as fibras proporcionam ganhos de até 30%
de ISC, para as naturais, e 15% para as sintéticas. Todavia, a umidade ótima sofre uma leve redução
em baixas porcentagens, mas aumenta à medida que se adicionam maiores quantidades de fibras
naturais, isso se explica pela higroscopicidade das mesmas. Quanto às fibras sintéticas, nota-se
variações muito pequenas na umidade ótima não passando de 1%. Ao se tratar da expansibilidade são
notadas reduções para a adição de fibras, mas, por serem valores muito pequenos, podem ser
desprezados, tais melhoras torna evidente a eficácia da técnica como reforço de latossolos.

PALAVRAS-CHAVE: Reforço de Latossolos, Melhoramento de Solos, Fibras Sintéticas, Fibras


Naturais.

1 INTRODUÇÃO geotêxteis e geomembranas. Outra técnica já


consolidada, porém em constante avanço, é a
O reforço de solos com fibras naturais é uma adição de fibras naturais a solos de modo a
técnica conhecida e utilizada pela humanidade a otimizar o comportamento do mesmo. Exemplos
bastante tempo. Indícios do emprego desta de fibras naturais são: Sisal, Pena de Galinha,
técnica também são encontrados em partes da Folha e Casca de Coqueiro, Folha e Bagaço de
Grande Muralha da China e em estradas Cana-de-Açúcar e Bambu. As fibras naturais
construídas pelos Incas, no Peru, empregando lã possuem diversas vantagens quanto a sua
de lhama como reforço (Palmeira, 1992). utilização no Brasil, pois há grande abundância
O reforço pode ser entendido como um de matéria prima o que resulta em baixo custo da
melhoria das características do solo por meio de aplicação desta técnica. Outra vantagem quanto
processos físicos ou químicos. Diversas técnicas ao uso de fibras naturais é a possibilidade de
podem ser empregadas com o intuito de modificá-las com agentes químicos, como há
aprimorar as características dos solos, como o casos de fibras de Sisal tratadas com
uso de geossintéticos como geogrelhas, impermeabilizantes de modo que reduza a
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capacidade de absorção das fibras e se tenha um sintéticas que podem ser utilizadas como reforço
maior controle da umidade ótima do fibrossolo de solos e as diferentes possibilidades já citadas
resultante. Dessa forma , as mesmas se tornam quanto ao uso das mesmas. Esse estudo visa
mais propícias para a utilização sem que haja a compreender e comparar diferentes tipos de
degradação do meio onde está sendo aplicada. fibras quando empregadas como reforço de
As fibras sintéticas possuem características de latossolos.
grande importância para a sua aplicação como
reforço de solos alguns exemplos de fibras
sintéticas com grande empregabilidade são: 2 MATERIAIS E MÉTODOS
Fibras de politereftalato de etileno (PET),
polipropileno, raspas de pneus, etc. A metodologia utilizada para a realização deste
Segundo Casagrande (2006), as fibras de trabalho consistiu em levantar artigos científicos
polipropileno possuem uma grande flexibilidade que abordam o uso fibras naturais como reforço
e tenacidade em função de sua composição. Em de solos e também levantar trabalhos que
conjunto dessas qualidades, as mesmas também abordam o uso de fibras sintéticas como reforço
possuem grande resistência ao ataque de diversas de solos. Após o levantamento dos mesmo,
substâncias químicas e aos álcalis. leitura e compreensão, foram realizados os
Segundo Vendruscolo (2003), o melhoramento estudos comparativos, por meio de gráficos e
das propriedades dos solos reforçados com fibras observações, entre 3 tipos de fibras, sendo elas:
sintéticas depende de algumas variáveis, tais Pena de Galinha, Sisal e Polipropileno.
como: comprimento, teor, resistência, módulo de Finalizou-se com a classificação dos solos
elasticidade, rugosidade e orientação do reforço. devido às suas novas propriedades e também
A evolução da técnica de reforço de solos por analisou-se as aplicabilidades dos materiais
meio da adição de fibras passa por inúmeros resultantes após o incremento das fibras.
avanços e cada dia se sabe mais sobre tal.
Trindade et al., 2004, Donato, 2004 e
Casagrande et al., 2002, são autores que 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
contribuem diretamente nesta evolução. Como
resultado de tais estudos, pode-se observar A seguir serão apresentadas as características
grande melhorias nos fibrossolos desenvolvidos. mais relevantes referentes às fibras naturais e as
Aumento do ISC, redução da umidade ótima, fibras sintéticas estudadas nesta pesquisa através
redução da expansibilidade, ganho de dos ensaios de ISC, Limite de Liquidez, Limite
resistência mecânica são alguns exemplos. de Plasticidade. As fibras foram adicionadas a
Portanto, é notório a eficiência do melhoramento diferentes tipos de solos localizados no Distrito
de solos com a adição das fibras. Federal, Ouro Preto e Ceará.
Sobre uma visão sustentável e as tendências
mundiais ao se pensar em conservação 3.1 Fibras Naturais
ambiental, pode-se observar o papel da técnica
de reforço estrutural com fibras, tanto naturais 3.1.1 Fibra de Pena de Galinha
quanto sintéticas, como uma forma de
reciclagem de certos compostos amplamente Os dados apresentados na tabela 1 representam o
produzidos no Brasil: PET’s, Penas de Galinhas, valores obtidos com os ensaios para
Borrachas de Pneu. Assim sendo, pode-se então determinação das propriedades antes e depois da
concluir que essa técnica é colaborativas ao se adição de penas de galinha a um solo da
tratar de sustentabilidade e conservação Universidade de Brasília, com o propósito de
ambiental. compreender as alterações sofridas pelo mesmo.
Considerando as diversas possibilidades
apresentadas nesta pesquisa de fibras naturais e
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Tabela 1. Valores de parâmetros de solo laterítico de Tabela 2. Valores de parâmetros de solo laterítico de Ouro
Brasília. Preto.
Propriedades Valor Propriedades Valor
Limite de Liquidez 48 % Limite de Liquidez 30,4 %
Limite de Plasticidade 31 % Limite de Plasticidade 18,5 %
Índice de Plasticidade 17 % Índice de Plasticidade 11,6 %
Umidade Ótima 28,3% Umidade Ótima 18,3 %

Após descobrir os valores para as propriedades Ainda sobre o viés da adição de fibras naturais,
preliminares do solo sem a adição das fibras, seguem os dados adquiridos para a análise da
foram adicionadas diferentes percentagens, em adição de fibras de Sisal a solos lateríticos:
massa, de fibras ao solo, resultando assim em A figura 2 mostra as alterações na umidade
diferentes amostras. A figura 1 representa as ótima e na massa específica aparente seca em
variações de Umidade Ótima e Massa Específica relação ao teor de fibra adicionado. Observa-se
Seca do solo ensaiado. Esta a redução da que para o caso das fibras de Sisal a umidade
umidade ótima e da massa específica seca. Após ótima aumenta resultando em uma diferença com
ultrapassar 0,75 % de fibras no solo a umidade as fibras de galinha, pois a adição da mesma
ótima começa a aumentar, dessa forma, não se resulta na redução da umidade ótima, mesmo que
torna interessante obter os valores de umidade em pequena escala. Tal diferença se dá devido à
ótima para teores acima de 0,75%. higroscopicidade das fibras de Sisal, tal
propriedade pode ser tratada por meio de
30 produtos impermeabilizantes, sendo este objeto
28,3
27,00
de estudo em pesquisas futuras.
26,1
25 26,00
21 20,6
20 20.5
14,6 20 20
15 19,6
13,9 19.5
19,0 19,5
10 19 19,0
18,4 18,6
0% 0,50% 0,75% 18,5
18.5
18,3
ϒs(kN/m³) Ho(%) 18
- 0,25% 0,5% 0,75% 1%
Figura 1. Variação da Umidade ótima, ISC e Massa
específica seca do solo com adição de penas de galinha. Ho (%) ϒs(kN/m³)

Figura 2. Variação de Umidade ótima e Massa específica


seca do solo com adição de fibras de Sisal.
3.1.2 Fibra de Sisal
Outro ponto observado é o ganho de
Os dados para o solo utilizado para estudar resistência mecânica do solo reforçado. A figura
as fibras de sisal estão presentes tabela 2. Eles 3 denota o aumento considerável de Índice de
representam o valores obtidos com os ensaios Suporte Califórnia na qual cada fibra
para determinação das propriedades antes e proporciona para os solos adicionados. Tal
depois da adição das fibras de penas de galinha a aumento se explica pelo principio dos
um solo da Universidade Federal de Ouro Preto, compositos na qual a características das fibras de
com o propósito de compreender as alterações resistir bem a flexão é compartilhada com o solo
sofridas pelo mesmo. proporcionando o ganho de flexão do mesmo.
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49 16 14,02 13,57 14,3 40


13,52 13,52
42 14 35
39 12 36 30
32 30,8 31,3
10 29,1 25
29
8 20
18,7 18,7 6 19,1 15
19
12,3 4 2,4 2,6 2,8 10
9 10 2 0,5 0,5 5
25% 50% 100% 0 0
ISC(%) (Penas) ISC(%) (Sisal) 0% 0,50% 1% 1,50% 2%
Figura 3. Ganho de ISC sofrido pelo solos quando
Ho Expansibilidade x 10 ISC
adicionado fibras de pena de galinha e fibras de Sisal.
Figura 4. Variações de Umidade ótima, Massa específica
3.2 Fibras Sintéticas seca e expansibilidade do solo quando adicionado fibras
de polipropileno.
3.2.1 Fibras de Polipropileno
Para o estudo abordado, o solo ensaiado é
Para o solo presente na região do Ceará, característico do estado do Ceará, e
utilizado para testar as melhorias proporcionadas considerando os teores de fibras ensaiados, o
pelas fibras de polipropileno, foram realizados valor ótimo para a adição das fibras está em torno
ensaios para determinar das suas propriedades dos 0,5%.
antes de se adicionar as fibras. Seguem os
valores obtidos:
4 CONCLUSÕES
Tabela 3. Valores de parâmetros de solo laterítico de
Brasília. O incremento de fibras naturais é eficiente em
Propriedades Valor diversos pontos: Baixo custo quando se
Limite de Liquidez 31,50 % comparado com os ganhos de resistência
Limite de Plasticidade 23,77 % mecânica, tração e cisalhamento, e melhorias
Índice de Plasticidade 7,73 % proporcionados. Possibilidade de tratamento das
Umidade Ótima 14,02 % fibras sem que haja danos ao meio ambiente e
sustentabilidade. Para o estudo na qual foi
Ao se analisar a adição de fibras de adicionado fibras de pena de galinha como
polipropileno, pode-se notar que não há tanta reforço estrutural de latossolos houve um ganho
variação ao se tratar da umidade ótima da de considerável de resistência à tração,
amostra ensaiada. Entretanto, para a linha que representado pelo aumento do ISC, que chegou a
representa o aumento do ISC pode-se notar um 32%. Todavia houve o aumento da umidade
grande aumento. Isso novamente se deve a ótima a partir do momento em que o teor de
característica de higroscopicidade da fibra, que fibras ultrapassou 0,5%, fenômeno explicado
nesse caso é baixa, não influenciando também pela higroscopicidade da fibra. Este
gravemente nos valores de umidade ótima. influenciará em todos os casos onde se tem fibras
Quanto a expansibilidade, é notório que há uma naturais, entretanto, pode se cogitar um
variação considerável, portanto, é observável tratamento de impermeabilização das fibras
que determinadas percentagem possuem baixo antes de usá-las. Ao se tratar de expansibilidade
grau de expansão, ou seja, essas são os valores não possuem relevância, pois os
recomendadas para serem usadas em obras mesmos encontram-se dentro dos valores
geotécnicas. estabelecidos segundo a classificação presente
no manual do DNIT (2006) para camadas de
pavimentos.
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Ao se considerar os resultados obtidos para os para as fibras sintéticas não se tem o mesmo
casos na qual se incrementou fibras naturais, fenômeno.
pode-se observar que o incremento de fibras Como sugestão para próximos estudos, pode-se
naturais e sintéticas resultou no ganho de ISC, pensar em formas de se aprimorar a questão da
implicando na possibilidade de se utilizar os higroscopicidade das fibras vegetais
fibrossolos resultantes como camada de sub-base
de pavimentação. 5 BIBLIOGRAFIA
O aumento da umidade ótima consignado ao
ganho de resistência mecânica, tendo em vista ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
que as fibras se comportam bem ao incremento TÉCNICAS. NBR 6459: solo – determinação do
limite de liquidez. Rio de Janeiro, 1984.
de carga, sem que se altere o seu comportamento ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
ao se tratar de expansão. Já o aumento de TÉCNICAS. NBR 6502: Rochas e solos. Rio de
umidade ótima se explica pela higroscopicidade Janeiro, 1995.
das fibras. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
Ao se pensar nas alterações sofridas pelo solo TÉCNICAS. NBR 6508: Grãos de solos que passam
na peneira de 4,8mm – Determinação da massa
quando se adicionado fibras de polipropileno, é específica. Rio de Janeiro, 1984.
notório o ganho de ISC, todavia para esse ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
material não houve grande aumento na umidade TÉCNICAS. NBR 7181: solo – análise
ótima, fator também explicado pela granulométrica.
higroscopicidade da fibra, que nesse caso, é Rio de Janeiro, 1984.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
muito baixa. Para esse caso, foi observado que o TÉCNICAS. NBR 7182: solo – ensaio de
teor ótimo, em massa, de fibras de polipropileno compactação. Rio de Janeiro, 1986.
é de 0,5%, pois há um ganho significante de ISC, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
porém se tem uma redução da umidade ótima e TÉCNICAS. NBR 9895: Solo – Índice de Suporte
o valor da expansibilidade é tão baixo a ponto de Califórnia. Rio de Janeiro, 1987.
AYALA, RJ Llanque; DE CARVALHO, J. Camapum;
ser desprezado. Nessa situação, o solo reforçado HERNÁNDEZ, Ana Laura Martínez. Melhoria de
com fibras de polipropileno se torna viável como Solos com Fibras Naturais–Penas de Frango. 2016.
material de sub-base de pavimento, tendo em Inovação e Tecnológica. Disponível em: Acesso em:
vista a tabela do DNER que recomenda solos 19 out. 2016.
com ISC maior ou igual a 20 % e CASAGRANDE, M.D.T.; Consoli, N.C. (2002). Estudo
do comportamento de um solo residual areno-siltoso
expansibilidade menor que 1% para tal camada. reforçado com fibras de polipropileno, Solos e
Solos com baixa expansibilidade são Rochas: Revista Latino-Americana de Geotecnia, Vol.
recomendáveis para utilização em taludes. 25, n.3, p. 223-230.
Os resultados obtidos e apresentados no CASAGRANDE, M. D. T., Coop, M. R.; Consoli, N. C.
artigos se mostraram eficazes mostrando o (2006). The behavior of a fiber-reinforced bentonite
at large shear displacements. Journal of
potencial das fibras como reforço de solos. As Geotechnical and Geoenvironmental Engineering, v.
fibras sintéticas merecem uma melhor atenção 132, p. 1505- 1508.
devido a higroscopicidade das mesmas. Já as CLAUMANN,C.D.S; Comportamento de solos siltosos
sintéticas, merecem atenção, pois as mesma são quando reforçados com fibras e melhorados com
grandes poluidoras do meio ambiente, sendo aditivos químicos e orgânicos. Curitiba, 2007.
Dissertação(Mestrado em Engenharia) – UFPR..
assim, usá-las como reforço estrutural é uma Geossintéticos 92... Brasília, p.1-12, 1992.
forma muito sustentável de se reutilizar as DEPARTAMENTO NACIONAL DE
mesmas tendo em vista que as mesmas também INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES. Manual
são eficazes ao se pensar em usá-las como de pavimentação. 3. ed. Rio de Janeiro: [s.n.], 2006.
reforço. A grande diferença até então entre as DONATO, M. ; Foppa, D.; Ceratti, J. A. P. ; Consoli, N.
C. (2004). Fibras de polipropileno como reforço para
fibras sintéticas e naturais, está na forma em que materiais geotécnicos. Solos e Rochas, v. 27, n. 2, p.
elas influenciam na umidade ótima, pois para as 161-176.
fibras vegetais se tem grandes variações, porém NOGAMI, J. S.; VILLIBOR, D. F. Os Solos Tropicais
Lateríticos e Saprolíticos e a Pavimentação. In: 18ª
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PALMEIRA,E. M. Geossintéticos: tipos e evolução nos


últimos anos. In: SEMINÁRIO SOBRE
APLICAÇÕES DE GEOSSINTÉTICOS EM
GEOTECNIA.
TRINDADE, T. P.; LASBIK, I.; LIMA, D. C.; SILVA,
C. H. C.; BARBOSA, P. S. A. Latossolo vermelho –
amarelo reforçado com fibras de polipropileno de
distribuição aleatória: estudo em laboratório. Minas
Gerais, p.6 ,2004.
VENDRUSCOLO, M.A. (2003). Comportamento de
ensaios de placa em camadas de solo melhoradas com
cimento e fibras de polipropileno. Porto Alegre, Tese
(Doutorado em Engenharia) - Programa de
Pós-Graduação em Engenharia Civil da UFRGS, 224
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Estudo do comportamento mecânico de um solo argila arenosa


estabilizado com casca de ovo galináceo calcinada.
Jaqueline dos Santos Santos
Universidade Federal do Pará, Belém, Brasil, santos.js@yahoo.com

Beatriz Ferreira Pantoja


Universidade Federal do Pará, Belém, Brasil, beatrizpantoja20@gmail.com

Luciana Carvalho Queiroz


Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, lucianacqueiroz@gmail.com

Augusto Bopsin Borges


Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, augusto.borges@ufrgs.br

RESUMO: Este trabalho tem por objetivo estudar o comportamento mecânico de um solo argilo-
arenoso, analisando a influência da adição de diferentes proporções (0%, 2%, 5% e 7%) da casca de
ovo calcinada e do tempo de cura para fins de estabilização. Esta investigação exibe um estudo
laboratorial dividido da seguinte forma: inicialmente foi coletado e executado o processo de
beneficiamento da casca de ovo branco através de calcinação a 800ºC por um período de 6 horas.
Em paralelo, foi realizada a caracterização do solo através dos ensaios de massa específica real dos
grãos, análise granulométrica, limites de Atterberg e ensaio de compactação. Já para as misturas de
solo e casca de ovo calcinada foram realizados os ensaios de limites de Atterberg, ensaios de
compactação e de compressão simples. Após análise observou-se uma diminuição do índice de
plasticidade diretamente com o aumento do teor de adição. O teor que apresentou melhores
resultados foi o de 5% de adição, e a partir de corpos de prova com esse teor percebeu-se um
aumento da capacidade de suporte acima de 300% com a mistura adicionada para um tempo de cura
de 14 dias.

PALAVRAS-CHAVE: Estabilização, Casca do Ovo, Óxido de Cálcio, Melhoramento do Solo.

1 INTRODUÇÃO compressibilidade.
Os efeitos dessa adição dependem das
Entre os principais métodos de estabilização reações químicas que acontecem entre o
existentes, podemos citar a estabilização estabilizador e os minerais presentes no solo.
mecânica – granulométrica, por compactação Os produtos das reações atuam no
ou por vibração - e a estabilização química feita preenchimento dos poros possibilitando a
a partir da adição de materiais ligantes, como o melhoria das propriedades do solo visando
cimento e/ou a cal. A compactação é a mais obter a resistência necessária do projeto. Entre
ocorrente e é responsável pela melhoria da os estabilizadores químicos mais usuais estão o
estabilidade mecânica do solo. No entanto, há cimento e a cal, porém o processo de obtenção
casos em que é indispensável a estabilização não renovável de tais materiais industrializados
química, onde a partir da adição de materiais contribui para a exploração do meio ambiente e
ligantes, há alteração da estrutura, fazendo com a escassez de suas matérias primas. Tal cenário
que o solo eleve sua capacidade de suporte e impulsiona a busca por materiais alternativos
diminua sua permeabilidade e que apresentem menor impacto ambiental,
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associado a um baixo custo de produção. o estudo do solo com adições de cal


Desta forma, pesquisadores têm utilizado industrializada, utilizando ensaios simples e
diferentes resíduos de origem industrial e convencionais no meio geotécnico para
agrícola que, ao passarem por processo de determinar a capacidade de suporte e outras
beneficiamento, apresentam propriedades propriedades mecânicas dessas misturas em
comparáveis às do cimento e/ou da cal. Com o períodos de cura variados.
objetivo de estudar materiais alternativos, este Tendo em vista as similaridades entre os
trabalho utiliza como fonte de calcário a casca estudos citados e o objeto de estudo desta
do ovo galináceo branco, material rico em pesquisa e da cal utilizada optou-se por tomar
carbonato de cálcio (CaCO3) que, ao ser estes trabalhos referencial para a metodologia
calcinado gera entre 40 a 60% de Óxido de deste artigo. Este trabalho então objetiva
Cálcio (CaO), principal componente da Cal estudar a influência da adição de diferentes
industrial utilizada na estabilização química de proporções da casca do ovo calcinada (COC) e
solos. do tempo de cura para fins de estabilização.
Na superfície das partículas de argilas Estas misturas foram comparadas a partir das
existem íons de hidrogênio livres que polarizam consistências que apresentavam e de sua
as partículas do solo, gerando uma atração entre capacidade de suporte.
elas (coesão). Sabe-se que a partir do momento
em que o Óxido de Cálcio é adicionado ao solo
começa a ocorrer entre o solo e o Óxido de 2 MATERIAIS E MÉTODOS
Cálcio Trocas iônicas, Floculação, Cimentação
e Carbonatação (Saberian e Khabiri, 2016; 2.1 Solo
Saberian e Rahgozar, 2016).
A aglutinação de íons cálcio na superfície A amostra usada no estudo é um solo argilo-
das partículas de argila, em substituição aos arenoso, de coloração amarela, classificado
íons de hidrogênio, provoca o aumento da força como CH (argila de alta plasticidade) (Sistema
de atração entre as mesmas, causando efeito Unificado de Classificação de Solo - SUCS),
físico semelhante a um aumento do diâmetro proveniente do município de Porto Trombetas
das partículas, e consequente acréscimo de localizado no Noroeste do Estado do Pará.
resistência por atrito entre as mesmas.
(Azevedo, 2010, p. 22).
Ao longo do tempo o conjunto floculado
tende a formar os compostos de silicatos
(Silicato de Cálcio Hidratado - CSH) e
aluminatos (Aluminato de Cálcio Hidratado -
CAH). Esse efeito cimentante acarreta um
aumento da capacidade de suporte do solo. Em
contra partida, o contato do dióxido de Carbono
(CO2) com a mistura Solo-Cal produz um
composto mais frágil de Carbonato de Cálcio,
fenômeno denominado Carbonatação. A
Carbonatação prejudica a formação dos
compostos cimentantes visto que reduz a
quantidade de Cal disponível para a produção
destes compostos (Azevedo et al., 1998, p. 17).
Consoli et al. (2012), Ghobadi et al. (2014),
Baldovino et al (2017) e Negawo et al. (2017)
Figura 1. Amostra de Solo estudada.
realizaram trabalhos que tinham como enfoque
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Optou-se por escolher esse material devido Figueira (2014) e Corrêa et al (2015).
ao seu alto teor de argila, conforme pode ser Basicamente inicia-se o processo com a
verificado na sua curva granulométrica moagem da casca, segundo o procedimento
apresentada na Figura 3, de modo que as recomendado pela norma NBR 11376 (1990).
reações solo-adição fossem evidentes.

Figura 2. Curva Granulométrica da Amostra.

Os ensaios realizados para a caracterização


do solo seguiram as diretrizes das normas do Figura 3. Cascas dos ovos após moagem.
Derpartamento Nacional de Estratas de
Rodagem (DNER). De acordo com a pesquisa de Rodrigues e
Os procedimentos para determinar os limites Ávila (2017) a decomposição térmica do
de Plasticidade (LP) e de Liquidez (LL) Carbonato de Cálcio ocorre em temperaturas
seguiram as diretrizes das normas DNER-ME superiores a 800°C (Figura 1). Logo esta foi a
082/94 e DNER-ME 122/94 respectivamente. O temperatura de calcinação utilizada neste estudo
ensaio de compactação e compressão simples
de amostras não confinadas seguiram a norma
DNER-ME 162/94 e ASTM D2166M - 16.
Neste trabalho a amostra será nomeada “Solo
Referencia”. É composta por 85,28% de argila,
4,73% de silte e 9,99% de areia, seguindo a
escala granulométrica de ABNT. Os resultados
de índice de consistência de suas propriedades
são apresentados na tabela 1.

Tabela 1. Caracterização do solo referência.


δ LL LP dmáx hót
(%) (%) (g/cm³) (%) Figura 4: Curva TG/DTG entre 25 °C e 1000 °C de casca
Solo R 2,648 77,7 39,2 1,275 34,40 de ovo de galinha branca (Fonte: Rodrigues e Ávila
(2017)
2.2 Casca do ovo calcinada (COC)
2.3 Mistura Solo-COC
As cascas de ovos brancos coletadas para os
Para as misturas do solo Referência com a COC
ensaios foram devidamente lavadas e secas em
optou-se pelos teores de COC de 2%, 5% e 7%
estufa por 24h à 100°C antes do seu
em relação a massa do solo. Com estas misturas
beneficiamento. O princípio do método
foram realizados os ensaios de limites de
empregado para o tratamento da COC provém
Atterberg, compactação e índice de suporte
dos trabalhos de Rodrigues e Ávila (2017),
Califórnia.
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3.2 Influência da Casca de Ovo Calcinada na


3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Compactação do Solo e da Mistura Solo-COC

3.1 Influência da Casca de Ovo Calcinada nos A figura 5 mostra as curvas resultantes dos
limites de Atterberg ensaios de Proctor normal da amostra referência
e das misturas.
Com os resultados, apresentados na figura 4,
observa-se a diminuição do Limite de Liquidez
a partir de adição de COC em relação à amostra
referência comportamento esperado uma vez
que estudos com cal também indicam a
diminuição deste limite. Analisando
isoladamente o LL nas amostras com adição
percebe-se um crescimento de valores.

Figura 6: Curvas de compactação do solo e das misturas.

Figura 5: Resultados dos ensaios de consistência (Teor de


Figura 7: Valores de Umidade Ótima e Densidade
Adição x Umidade).
Máxima Seca da amostra Referência e das misturas.

Os valores de LP para as amostras com


A figura 6 indica uma pequena variação da
adição se elevam a partir de acréscimos nos
umidade e peso específico aparente seco do
teores de COC. A diminuição do Índice de
solo para os diferentes teores de adição. A
Plasticidade (IP) mostra uma relação direta com
mistura solo R + 5% COC apresentou a curva
os acréscimos de COC. As porcentagens de 5%
com maior peso específico aparente seco e
e 7% exibem variações de LP e LL similares;
menor umidade ótima dentre as amostras
logo, estes teores possuem valores de IP
estudadas.
próximos, necessitando de estudos posteriores
As curvas resultantes indicam uma tendência
para averiguar se esta tendência continuará para
de aumento do peso específico com o aumento
maiores teores de adição.
de adição até o valor de 7% de COC, quando
Esta redução do IP é devida às reações de
apresenta queda no valor em relação aso 5%.
troca de Íons e Floculação que ocorrem
Em relação à umidade ótima ocorre um
imediatamente após a mistura. A ligação entre
aumento da necessidade de água para os solos
duas partículas de argila depende da carga e do
com mistura, isto é justificado devido à maior
tamanho dos íons na sua interface. Irá ocorrer
demanda de água para viabilização das reações
então uma atração de maior magnititude com a
entre os íons do Óxido de Cálcio e as partículas
presença de íons Ca+2 e, portanto, uma
argilosas do solo. Contudo, a mistura com 5%
floculação das partículas (Mitchell e Hooper,
de adição não apresenta este comportamento
1961 apud Azevedo, 2010).
exibindo uma umidade ótima inferior ao solo
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referência. AGRADECIMENTOS
Akinlolu et al. ( 2011) encontraram que a
adição do pó da casca de ovo modificava o Agradecemos ao LEMAC, Laboratório de Solos
comportamento no solo compactado de maneira e ao Laboratório de Processos de Fundição por
similar ao encontrado neste trabalho. disponibilizar os equipamentos e materiais
necessários para a realização da pesquisa.
3.3 Influência da Casca de Ovo Calcinada na
Compressão axial não confinada do Solo e da
Mistura Solo-COC REFERÊNCIAS

Os valores apresentados na imagem a seguir Associação Brasileira de Normas Técnicas. Moinho de


mostram que o solo Referência apresenta bolas, determinação do índice de trabalho: NBR
11376. Rio de Janeiro, 1990.
resistência menor que a do solo+5%COC após Azevedo, A. L. C. (2010). Estabilização de solos com
14 dias de cura. adição de cal [manuscrito]: um estudo a respeito
da reversibilidade das reações que acontecem após a
adição de cal, Dissertação de Mestrado Profissional,
Programa de Pós-Graduação em Geotecnia,
Departamento de Engenharia Civil, Universidade de
Federal de Ouro Preto, p. 22-30
DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE
RODAGEM. DNER-ME 228: Solos - Compactação
em Equipamento Miniatura, 1994.
DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE
RODAGEM. DNER-ME 254: Solos - Compactação
em Equipamento Miniatura - Mini-CBR e Expansão,
Figura 8: Valores de compressão axial simples da 1997.
amostra Referência e da mistura solo+5% COC. Baldovino JA, Moreira EB, Teixeira W, Izzo RLS, Rose
JL, Effects of lime addition on geotechnical
properties of sedimentary soil in Curitiba, Brazil,
Os valores obtidos de tensão última para o
Journal of Rock Mechanics and Geotechnical
solo Referência foi equivalente a 196 kPa, Engineering (2018),
enquanto que a mistura de solo+5%COC doi:10.1016/j.jrmge.2017.10.001.
apresentou aproximadamente 917 kPa. A Consoli NC, Dolla Rosa A, Gauer EA, dos Santos VR,
relação entre os valores revelam aumento na Moretto RL, Corte MB. Key parameters for tensile
capacidade de suporte do solo estabilizado de and compressive strength of silt-lime mixtures.
Geotechnique Letters 2012; 2(3): 81–5.
300%. Ghobadi MH, Abdilor Y, Babazadeh R. Stabilization of
clay soils using lime and effect of pH variations on
shear strength parameters. Bulletin of Engineering
4 CONCLUSÕES Geology and the Environment 2014; 73(2): 611–9.
Negawo WJ, Di Emidio G, Bezuijen A, Verastegui
Flores RD, François B. Limestabilisation of high
As conclusões feitas com o estudo experimental plasticity swelling clay from Ethiopia. European
são: A casca do ovo calcinada melhora as Journal of Environmental and Civil Engineering
propriedades do solo argiloso de maneira que o 2017.https://doi.org/10.1080/19648189.2017.130427
material possa ser usado para fins de 2.
estabilização; O teor ótimo de casca do ovo Saberian, M., and M. A. Rahgozar. (2016).
“Geotechnical Properties of Peat Soil Stabilised with
calcinada ao solo foi de 5% em relação à massa Shredded Waste Tyre Chips in Combination with
do solo; A plasticidade do solo é reduzido Gypsum, Lime or Cement.” Mires and Peat 18: 1–16.
diretamente com o teor de COC adicionado; A
cura do solo estabilizado com COC eleva a
capacidade de suporte do solo no decorrer do
tempo.
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Mapeamento da Voçoroca Contorno em Anápolis–GO por Meio


de Geotecnologias
Rafael Veloso de Moura
Universidade Estadual de Goiás, Anápolis, Brasil, rafaelv.go@gmail.com

Antônio Lazáro Ferreira Santos


Universidade Estadual de Goiás, Anápolis, Brasil, antoniolazaros@gmail.com

Leomar Rufino Alves Junior


Instituto Federal de Ciências e Tecnologia de Goiás, Goiânia, Brasil, leomar_jr@hotmail.com

RESUMO: A erosão pode atingir todos os tipos de terrenos, terrosos ou rochosos, tanto em meio
rural quanto urbano. Cronologicamente a erosão superficial desenvolve-se para sulcos, ravinas e
voçorocas, ocorrendo neste último estágio o afloramento de água do lençol freático.. Foi escolhida
para ser mapeada a Voçoroca Contorno, localizada na porção sudoeste da cidade de Anápolis,
situada no estado de Goiás. Há no mercado diversos métodos que utilizam geotecnologias aplicados
em áreas de erosões, neste trabalho empregou-se o Drone como ferramenta para a realizaçao dos
aerolevantametos e utilizou-se o software Photoscan® para o processamento digital das
aerofotografias, produzindo como resultados o MDS (Modelo Digital de Superfície), o MDT
(Modelo Digital do Terreno), o ortomosaico e as curvas de níveis do terreno.

PALAVRAS-CHAVE: Drone, Voçoroca, Solos.

1 INTRODUÇÃO geotecnologia de levantamento aéreo por


VANT (Veículos Aéreos Não Tripulados),
Erosões são processos de cunho natural ou por destacando-se o comumente conhecido por
ação antrópica, trata-se do processo de Drone. na tradução literal para a língua
formação de materiais detríticos provenientes portuguesa (Drone, 2015).
da decomposição e desagregação de solos e Aerolevantamentos utilizando VANT
rochas que depende de inúmeros fatores, tais possuem como vantagens agilidade no
como topografia, hidrologia, geomorfologia, aquisição de imagens, possibilidade de
ação antrópica, minerologia do solo, monitoramento da área em curtos intervalos de
desagregabilidade, erodibilidade, erosividade da tempo, captura de fotografias já
chuva, etc. (Camapum et al., 2006). georreferenciadas, facilidade de acesso em
A erosão do solo inicia-se, na maioria das terrenos hostis e tudo isso, a um relativo baixo
vezes, de forma imperceptível, mas ao longo do custo (Salgado, 2016).
tempo assume proporções irreversíveis, Com a obtenção das aerofotografias passa-se
causando diversos tipos de danos ao meio para a etapa de processamento das imagens
ambiente (Casanellas, 1994, apud Mafra, 1999). adquiridas que resume-se em preparar as
Há no mercado diversos métodos fotografias de forma que produzam modelos
geotecnológicos para serem aplicados em áreas digitais tridimensionais da área.
de erosão como suporte a ações de recuperação A Voçoroca Contorno foi escolhida devido
ou mitigação de danos provocados pela mesma. seu acelerado processo de crescimento e por ser
Uma ferramenta que vem popularizando-se é a uma erosão que já passou por uma tentativa de
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recuperação, mas sem êxito. Espera-se que o


mapeamento realizado sirva de aporte para 2.2 Aerolevantamento
trabalhos posteriores de recuperação da mesma
seu acelerado processo de crescimento e por ser Segundo Cordoba (2012), “Na fotogrametria
uma erosão que já passou por uma tentativa de aérea as fotografias são tomadas por uma
recuperação, mas sem êxito. Espera-se que o câmara de precisão montada numa aeronave ou
mapeamento realizado sirva de aporte para espaçonaves, onde o eixo ótico pode ser vertical
trabalhos posteriores de recuperação da mesma. ou oblíquo.”, ou seja, trata-se de um método de
aquisição de imagens.
Todas as qualidades já mencionadas
2 MATERIAIS E MÉTODOS referentes aos Drones o tornam uma poderosa
ferramenta para a tomada de decisões para
2.1 Área de Estudo controle e recuperação de voçorocas. As
informações adquiridas irão caracterizar a área
A Voçoroca Contorno está situada na margem da voçoroca e possibilitar estudos da evolução
leste da alta bacia urbana do Rio das Antas, na do processo erosivo devido ao alto nível de
porção sudoeste da cidade de Anápolis, situada detalhamento do levantamento (Salgado, 2016).
no estado de Goiás. A área de estudo está entre Para realizar o levantamento fotogramétrico
os paralelos 16°22'28.88"S e 16°22'44.17"S e aéreo uma determinada área, um plano de voo
entre os meridianos 48°57'35.94"O e deve ser primeiramente elaborado, geralmente
48°57'23.89"O. com voos em linhas paralelas de modo que as
imagens capturadas apresentem tanto
sobreposição longitudinal quanto lateral,
permitindo a composição de pares
estereoscópicos entre elas. Esta composição é
importante pois só se torna possível a
visualização tridimensional do terreno a partir
das diferentes visadas das imagens obtidas
(Ferreira, 2014). As Figuras 3 e 4 exemplificam
a sobreprosição de imagens.

Figura 1. Localização da Voçoroca Contorno no Estado


de Goiás.

Figura 3. Sobreposição lateral de fotografias capturadas


em detrimento da distância entre linhas de voo
(Adaptado, Ferreira, 2014).
Figura 2. Localização da Voçoroca Contorno.
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processamento e extração de características. Na


parte de pré-processamento utiliza-se de
técnicas que visam diminuir distorções, sejam
elas geométricas ou radiométricas, tentando-se
resgatar propriedades obscurecidas da etapa de
aquisição. Na etapa de pós-processamento são
utilizados métodos mais específicos para se
Figura 4. Sobreposição longitudinal de fotografias trabalhar a imagem, no intuito de fidelizar
capturadas em uma linha de voo (Adaptado, características dos objetos de interesse,
Ferreira,2014). podendo-se incluir, retirar, rotacionar e ou
alterar intensidade de luz em cada pixel. Após
2.3 Aerolevantamento imagens retificadas e preparadas utiliza-se de
metodologias para se extrair e enfatizar as
Veículo Aéreo Não Tripulado – VANT, é informações objetivadas no estudo (Brito et al.,
definido pela ANAC (2012) como uma 2007).
“Aeronave projetada para operar sem piloto a Com diminuição no valor dos computadores
bordo e que não seja utilizada para fins e o aumento da sua capacidade de
meramente recreativos. Nesta definição, processamento e armazenamento o
incluem-se todos os aviões, helicópteros e processamento digital de imagens popularizou-
dirigíveis controláveis nos três eixos, se no mercado. Programas computacionais de
excluindo-se, portanto, os balões tradicionais e fotogrametria, cada dia melhores, atualmente
os aeromodelos.” possibilitam a automação quase que total de
Há algumas formas de operação dos VANTs, todo o processo, desde a aquisição das imagens
podendo ser exercida diretamente por um piloto até a geração do ortomosaico. A união da
situado em uma estação remota de comando, câmera digital e Sistema de Navegação por
possibilitando intervenção do piloto a qualquer Satélite (Global Navigation Satellite System –
momento no voo; ou pode ser realizada GNSS) possibilitou a determinação imediata dos
indiretamente através de programação tornando parâmetros de orientação externa das
o voo autônomo, ou seja, não é provável a fotografias, reduzindo o número de pontos de
intervenção do piloto remoto durante o voo; ou controle e a execução, quase que perfeita, do
ainda pode ser feito de maneira semiautônoma, plano de voo pré-estabelecido. Outra ferramenta
funcionando como uma espécie de combinação que ampliou ainda mais a qualidade das
das duas maneiras de operação apresentadas fotografias foi a instalação do sistema inercial à
(Morgenthal; Hallermann, 2014 apud Melo, plataforma giro estabilizadora onde a câmera é
2016). acoplada (também conhecida como berço), de
O Drone utilizado neste trabalho é um modo que os movimentos da aeronave,
Phantom 4®. Trata-se de um quadricóptero indesejados devido a condições do meio, não
desenvolvido pela empresa DJI®, vendido já são repassados à câmera, garantindo aquisição
com câmera acoplada. de fotografias com mudanças de atitudes de no
máximo 3° (Rodrigues, 2016).
2.4 Processamento Digital de Imagens
2.5 Metodologia
Processamento digital de imagens abrange um
conjunto de técnicas e tecnologias com a As etapas da metodologias estão apresentadas
finalidade de colher informações de imagens na Figura 5.
digitais. O processamento pode ser
subdividindo em pré-processamento, pós-
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necessitando de intervenção somente na


filtragem para o MDT. Nesta etapa, o usuário
delimita que variações abruptas da declividade
no terreno sejam retiradas e haja uma nova
interpolação na região. Após a construção dos
modelos, pôde-se gerar o ortomosaico.
O processo de execução das curvas de nível
no MDT também é totalmente automatizado
atráves do PhotoScan®.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Figura 6 apresenta o Modelo Digital de


Superfície (MDS), neste modelo as cotas de
todos os objetos presentes na superfície do
terreno, como vegetação e edifícios, são
consideradas, enquanto que o Modelo Digital de
Terreno (MDT) mostrado na Figura 7, filtra os
objetos da superfície, nos apresentando somente
as cotas do terreno. Ambos os processamentos
foram realizados no software PhotoScan®,
sendo que para a geração do MDT,
primeiramente é necessário a modelagem do
MDS.

Figura 5. Fluxograma da metodologia utilizada.

Neste trabalho, realizou-se o planejamento


do voo no aplicativo Pix4D®, enquanto que a
execução do vôo foi efetuada no aplicativo DJI
GO®. Todo o aerolevantamento ocorreu à
altura de 80m acima do solo e com uma
sobreposição de imagens de 40% e 70%,
sobreposição lateral e longitudinal,
respectivamente. As imagens foram adquiridas
sem pontos de controle, utilizando-se somente
os parâmetros de orientação exterior oriundos
do sistema de navegação e do sistema inercial
instalados no Drone
A geração do ortomosaico, do MDS e do
MDT, foi realizada no programa Agisoft
PhotoScan® versão 1.2.5. O processamento é
Figura 6. Modelo Digital de Superfície.
todo automatizado até a geração do MDS,
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Figura 8. Ortomosaico.

Observamos algumas deformações nas


Figura 7. Modelo Digital de Terreno. bordas do ortomosaico e do MDS, isso é devido
à sobreposição das aerofotografias terem sido
Nota-se que ao retirar os objetos da cobertura insuficientes nestas áreas que coincidem
do terreno as cotas se alteram. Na porção mais a justamente com os pontos onde o Drone
Noroeste da área em estudo havia uma mata de realizava a mudança de direção de voo. As
galeria no MDS que foi suprimida para a deformações foram suavizadas no MDT pois no
elaboração do MDT, assim como algumas processo de filtragem do MDS há uma nova
árvores presentes na região. A vegetação é interpolação das cotas existentes, assim
melhor vista no ortomosaico da área de estudo corrigindo pequenas deformações.
mostrado na Figura 8. Buscando analisar a declividade do terreno
elaborou-se o mapa das curvas de nível no
MDT (Figura 9)
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aproximadamente 224.412,427 m² foi realizado


em 20 minutos e em alta qualidade. Vale
ressaltar que a utilização da ferramenta Drone
diminui a defasagem temporal entre
levantamentos, tornando-se uma importante
ferramenta para monitoramentos de grandes
áreas, podendo ser aplicado em diversos
campos de estudo. Notou-se que os dados
adquiridos com o processamento servem de
aporte para identificar pontos mais suscetíveis
ao processo erosivo, facilitando a escolha de
métodos mais eficazes no tratamento da erosão.

REFERÊNCIAS

ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC).


Instrução Suplementar - IS nº 21-002. Emissão de
Certificado de Autorização de Voo Experimental para
Veículos Aéreos Não Tripulados, 4 de outubro de
2012.
Brito, J.L.N.S.; Filho, L.C.T.C. (2007). Fotogrametria
Figura 9. Curvas de Nível no MDT. digital – Rio de Janeiro – RJ: EdUERJ, 196p.
Camapum de Carvalho, J; Sales, M.M.; Mortari, D.;
Fázio, J.A.; Motta, N.O.; Francisco, R.A. (2006).
Através da observação do mapa das curvas
Processos erosivos. In: Camapum de Carvalho, J.;
de nível, notamos uma equiditância horizontal Sales, M.M.; Souza, N.M.; Melo, M.T.S. (Orgs.).
entre a maioria delas, indicando uma Processos erosivos no Centro-oeste brasileiro.
declividade constante ao longo de grande parte Brasília: Universidade de Brasília: FINATEC. cap. 2.
da área de estudo, com exceção da região Córdoba, P.A.F (2012). Levantamento Fotogramétrico de
Monumentos Arquitetônicos. Estudo de Caso Palácio
central que apresenta uma declividade Itamaraty – Brasília, DF. Dissertação de Mestrado
ascentuada. Na região central é onde observa-se em Estruturas e Construção Civil, Publicação E.DM-
o afloramento de água e formação de barrancos 016A/12, Departamento de Engenharia Civil e
ao seu redor, sendo este um dos principais Ambiental, Universidade de Brasília, Brasília, DF,
fatores que caracteriza esta erosão como uma 156 p.
Drone. Michaelis Dicionário da Língua Portuguesa, 2015.
voçoroca. Disponível em http://michaelis.uol.com.br/moderno-
A declividade é um importante fator na portugues/busca/portugues-brasileiro/drone/. Acesso
erosão dos solos, pois influenciam na em 04 jan. 2017.
velocidade do escoamento e no volume do fluxo Brito, J.L.N.S.; Filho, L.C.T.C. (2007). Fotogrametria
hídrico. Por isso a declividade no cálculo de digital – Rio de Janeiro – RJ: EdUERJ, 196p.
Ferreira, A.M.R. (2014). Avaliação de câmara de
perda de solo é uma função exponencial. pequeno formato transportada por veículo aéreo não
(Villela e Matos, 1975). tripulado – VANT, para uso em aerolevantamentos.
Dissertação de Mestrado - Instituto de Geociências da
Universidade de Brasília, Brasília, DF, 92p.
4 CONCLUSÕES Mafra, N.M.C. (1999). Erosão e Planificação de Uso do
Solo. In: Guerra, A.J.T.; Silva, A.S.; Botelho, R.G.M.
(Orgs.) Erosão e conservação dos solos. Conceitos,
A utilização de Drones se destaca como uma Temas e Aplicações. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
importante ferramenta no estudo de erosões, 339p.
pois o levantamento de uma área de Melo, R.R.S. (2016); Diretrizes para inspeção de
segurança em canteiros de obra por meio de
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imageamento com veículo aéreo não tripulado


(VANT). Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Civil como requisito
parcial à obtenção do título de mestre em engenharia
civil, Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA,
159p.
Rodrigues, A. A. (2016); Uso de Veículos Aéreos não
Tripulados para Mapeamento e Avaliação de Erosão
Urbana – Goiânia, GO. Dissertação de Mestrado,
Publicação CXXXVI, 136 f.: il.,Instituto de Estudos
Socioambientais (Iesa), Universidade Federal de
Goiás, Goiânia, GO, 136p.
Salgado, J.G. Mapeamento de voçoroca utilizando
geotecnologia de levantamento por drone. In: II
Simpósio Mineiro de Geografia: Geografia e
Contemporaneidades iv Seminário de Pós-Graduação
em Geografia, 2016, Juiz de Fora. Resumos... Minas
Gerais, 2016. p. 91.
Villela, S. M. e Matos, A. Hidrografia Aplicada.
São Paulo: Mcgraw – Hill do Brasil, 1975.
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Utilização da técnica de melhoramento de solo típico da Serra


Gaúcha para uso em pavimentação
Suelen Menegotto
Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, Brasil, smenegotto@ucs.br

Jaqueline Bonatto
Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, Brasil, jbonatto4@ucs.br

RESUMO: A caracterização de materiais em pavimentação é bastante complexa, pois os


pavimentos estão expostos a fatores ambientais, magnitudes, frequência de cargas, estado de
tensões e o tempo de aplicação diferente. O melhoramento de solos com adição de cal, demostrando
seus benefícios quanto as suas características físicas e mecânicas usadas na engenharia. A cal é um
material econômico, de fácil aquisição e ecológico, permitindo um aproveitamento dos solos
existentes no local onde a obra esta implantada, reduzindo os impactos ambientais. O objetivo do
trabalho é avaliar os efeitos de diferentes dosagens de cal para melhoramento de solo em base de
pavimentos, verificando a analise desse solo argiloso em ensaio de Granulometria, Limite de
Consistência e Compactação Proctor Normal. Através dos ensaios em laboratório, verificou-se que
a mistura 92% solo + 8% cal apresentou o melhor resultado de compactação, em comparação com a
amostra 100% solo e a amostra 95% solo + 5% cal. Pelos resultados obtidos constata-se viabilidade
quanto à utilização da adição de cal no solo devido ao aumento de resistência e trabalhabilidade.

PALAVRAS-CHAVE: Melhoramento de solo. Solo-cal. Solos Argilosos.

1 INTRODUÇÃO floculação causando alteração na plasticidade, e


às reações pozolânicas, responsáveis pelos
As rodovias possuem obras de grande porte efeitos de cimentação que aumentam a
nas quais o solo deve atender seus requisitos resistência e a durabilidade da mistura (LIMA,
das soluções, sendo designado de solos 1995).
transportados de outras localidades. Esse A adição da cal em base de pavimentos tem
transporte de grande volume pode acarretar uma mostrado que há imersão de determinados
dispensa de solo pré-existente, gerando assim teores de cal no solo altera a rigidez, a
um alto custo na execução desse tipo de projeto resistência e o seu comportamento, com isso
e resistência. torna-se evidente a importância desses estudos
A técnica de melhoramento de solos é uma de técnicas de melhoramento de solo para as
alternativa para procedimentos que pode ser obras de engenharia (GUIMARÃES, 2002).
empregada corretamente considerando técnica e Sendo assim, uma solução é promover a
economia, tendo na sua mistura um dos estabilização de solo, para aperfeiçoar suas
materiais mais empregados nesse tipo de propriedades físicas e mecânicas com o intuito
melhoramento que é a cal. de proporcionar uma maior capacidade de
Para realizar essas misturas de solo-cal, resistência, trabalhabilidade e durabilidade.
consideram-se os solos de granulometria fina, Diante deste contexto, o presente trabalho
para que a cal seja utilizada como um agente busca analisar o desempenho mecânico da
estabilizador. A ação da cal nestes solos está estabilização do solo com adição de cal no uso
totalmente associada a fenômenos de trocas para pavimentação.
catiônicas, responsáveis por efeitos de
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2 METODOLOGIA previamente preparado. Após, adiciona-se o


solo dentro da peneira de maior abertura. As
2.1 Solo Típico de Bento Gonçalves - RS peneiras devem estar posicionadas em ordem
decrescente de aberturas: 3/4’’, 3/8’’, 4, 10, 16,
Para a realização dos ensaios de solo, foi 20, 30, 40, 60,80, 100 e 200, contendo um
efetuada a coleta do material no Bairro Distrito fundo metálico, como vemos na Figura 2.
Industrial, município de Bento Gonçalves-RS.
Na Figura 1 é possível visualizar o ponto onde
foi coletado o solo.

Figura 1. Localização do ponto de coleta do solo. Figura 2. Peneiras utilizadas para o ensaio.

A amostragem foi realizada com base na Após a fase de peneiramento, pesa-se, em


NBR 9604 (2016), a qual instrui sobre a retirada uma balança digital de precisão, separadamente
de amostras de solo. O material foi coletado cada fração de solo retida nas peneiras, para
com o auxílio de uma pá e foi acondicionado obter o percentual passante em cada peneira de
em sacos plásticos resistentes. tamanho granulométrico.

2.2 Ensaios de Caracterização 2.2.2 Limite de Liquidez (LL)

Para determinar as propriedades da amostra O ensaio do Limite de Liquidez deve ser


do solo proveniente do município de Bento realizado de acordo com a NBR 6459 (2016),
Gonçalves - RS foram executados os ensaios de utilizando o aparelho de Casagrande.
caracterização física e química no Laboratório Prepara-se uma mistura de solo com uma
de Solos e Pavimentação da Universidade de umidade abaixo da umidade líquida do solo.
Caxias do Sul - UCS. Com isso, transfere-se parte da mistura para a
Para a caracterização do solo típico foram concha, moldando-a de forma que na parte
realizados os seguintes ensaios: Granulometria, central a espessura seja da ordem, de 10 mm.
Limite de Liquidez, Limite de Plasticidade, Posteriormente, realizada a ranhura com o
Umidade Natural do Solo, Peso Específico, pH cinzel, anota-se o número de golpes necessários
e Compactação Proctor Normal. Todos esses para que as bordas inferiores da ranhura se
ensaios devem ser praparados de acordo com a unam. Transferir uma pequena quantidade de
NBR 6457 (2016). material para um recipiente, para determinação
do peso da amostra com umidade, como pode
2.2.1 Granulometria ser visto na Figura 3.

O ensaio de Granulometria é realizado de


acordo com a NBR 7181 (2016). Pesa-se uma
amostra de 500 g de solo seco e destorroado,
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2.2.4 Umidade Natural do Solo

O ensaio para determinar a umidade natural


do solo é realizado de acordo com a NBR 6457
(2016), onde a amostra de solo é inserida em
uma cápsula de porcelana. Pesa-se somente o
recipiente e depois o conjunto (cápsula +
amostra).
Coloca-se a cápsula em estufa, onde deve
permanecer até apresentar constância de massa.
Retira-se a cápsula da estufa e transfere-se para
o dessecador, onde deve permanecer até atingir
Figura 3. Aparelho de Casagrande com a amostra do solo
e ranhura na parte central. a temperatura ambiente. Pesa-se o conjunto.
Realizam-se três determinações do teor de
Repete-se este procedimento cinco vezes, umidade por amostra, como vemos na Figura 5.
com no mínimo dois pontos acima da umidade
líquida e dois pontos abaixo.

2.2.3 Limite de Plasticidade (LP)

O ensaio do Limite de Plasticidade deve ser


realizado de acordo com a NBR 7180 (2016),
onde esse limite de plasticidade é o teor de
Figura 5. P Pesagem da cápsula com solo antes e depois
umidade abaixo do qual o solo passa do estado da estufa.
plástico para o estado semissólido. Quando ele
chega a este estado, perde a capacidade de ser 2.2.5 Peso Específico dos Grãos
moldado e passa a ficar quebradiço.
Molda-se certa quantidade da massa em O ensaio para determinar a Massa Específica
forma elipsoidal rolando-a em seguida sobre a do solo é realizado de acordo com a NBR 6458
placa de vidro esmerilhado, como vemos na (2016). O peso específico dos grãos do solo é
Figura 4, até que fissure em pequenos definido como a relação entre o peso de sólidos
fragmentos quando essa atingir dimensões e o volume das partículas sólidas. Lava-se a
aproximadas de 3 mm de diâmetro e 10 cm de amostra na peneira de 4,8 mm para retirar o
comprimento. material fino e constituir uma amostra de solo a
Transferem-se os cilindros moldados para ser utilizada no ensaio.
cápsulas de alumínio para determinar a umidade Homogeneíza-se uma amostra de 50 g e
das amostras. pesa-se em uma balança de precisão. A amostra
Repete-se quatro vezes este procedimento. deve ser colocada em um copo dispersor com
água destilada e agitar. Transfer-se a amostra
para o picnômetro com um funil de vidro.
O picnômetro deve ser preenchido com água
destilada até que a base do menisco coincida
com a marca de referência do aparelho, como
vemos na Figura 6. Agita-se o picnômetro em
intervalos regulares de tempo para a remoção
total do ar aderente às partículas de solo.
Figura 4. Placa de vidro com os cilindros.
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denomina-se cal cálcica o produto com alto teor


em óxido de cálcio (GUIMARÃES, 1998).
Optou-se por essa cal devido suas
propriedades químicas que apresentam elevados
teores de óxido de cálcio (CaO). Proveniente do
estado de São Paulo. Tanto a bibliografia
nacional quanto a internacional especificam que
o bom desempenho das misturas com
incorporação de cal estão associados ao
Figura 6. Picnômetro + solo + água destilada. percentual de Ca(OH)2 que a compõe (NÚÑEZ,
2007).
2.2.6 pH Realizou-se o ensaio de massa especifica
real e percentual de material passante na peneira
Devido à ausência de uma Normativa 0,075 mm (n°200) da cal cálcica, obtendo-se
Brasileira para o ensaio de medição do pH em um valor de 97,48% de material passante na
solos, é possível utilizar a Norma ASTM 4972 peneira, resultou em uma massa especifica real
(2013). O pH é um parâmetro de extrema de 2,18g/cm³.
importância para o solo que possui
comportamentos de floculação e forças de
repulsão entre as partículas de argilas, mais 2.4 Preparo das Misturas
utilizados na análise de processos de
estabilização. Para execução do ensaio de compactação foi
Coloca-se 10 g de solo em dois desenvolvido misturas com distintos teores de
recipientes de vidro e adicionar 10 mL de água cal e de solo:
destilada em cada um. Misturar bem em cada - Amostra 01: 100% solo
recipiente a água destilada com a amostra de - Amostra 02: 95% solo + 5% cal
solo, e deixar repousar por 1 hora. Realiza-se a - Amostra 03: 92% solo + 8% cal
leitura do pH através do equipamento pHmetro. Foram utilizados esses dois valores com base
na bibliografia, onde esses dois teores foram os
2.3 Cal melhores resultados encontrados. Para cada
amostra foi adicionado à umidade ótima
A cal é um aglomerante aéreo que surge da encontrada e realizada a mistura no laboratório
calcinação de rochas carbonatadas. Sua de solos e pavimentações de Engenharia Civil
temperatura chega próximo a 1000º C, onde por da Universidade de Caxias do Sul.
sua vez são constituídas basicamente de
carbonato de cálcio ou carbonato de cálcio e 2.5 Ensaio de Compactação Proctor Normal
magnésio, tendo como produto final a cal viva e
cal hidratada (GUIMARÃES, 2002). O ensaio para realizar a compactação é
A cal é um dos principais produtos derivado determinado conforme a NBR 6457 (2016),
dos calcários, dolomitos e conchas calcárias. A devem-se compactar o solo com porcentagens
partir da calcinação dos carbonatos de cálcio e crescentes de umidade em um molde cilíndrico
de cálcio-magnesianos, respectivamente, de dimensões especificas. No geral, utiliza-se
obtém-se os óxidos de cálcio (CaO) e cálcio- esse ensaio para traçar a curva de umidade
magnesiano (CaO-MgO) denominado cal versus o peso especifico aparente seco.
virgem. A qualidade química da cal está A compactação é realizada através de
relacionada às características e impurezas camadas, aplicando-se 26 golpes em cada
contidas na rocha de origem. Desta forma, camada, com um soquete pequeno, deslizando a
30,5 cm de queda livre. Os golpes de soquete
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devem ser distribuídos uniformemente sobre a A classificação de faixas de tamanhos de


superfície de cada camada, sendo que as alturas partícula ocorre conforme a NBR 6502 (ABNT,
das camadas compactadas devem ser 1995). A composição da amostra pode ser
aproximadamente iguais. A compactação de estimada conforme a Tabela 1.
cada camada deve ser precedida de uma ligeira
escarificação da camada adjacente, como vemos Tabela 1. Composições das amostras de solo.
na Figura 7. Amostra Silte/Argila Areia Pedregulho
Retira-se a amostra do molde com auxílio do
Solo 5,31% 55,39% 39,3%
extrator, separando ao meio, coleta-se uma
pequena quantidade para a determinação da
umidade. Com base nos resultados da Tabela 1 e na
análise da Figura 8 é possível classificar a
amostra com uma composição predominate de
areia, especificadamente areia fina, tornando
esse solo uma areia pedregulhosa.

3.2 Limites de Consistência do Solo

Na Tabela 2 é possível visualizar os


resultados obtidos nos ensaios dos Limites de
Consistência do Solo.
Figura 7. Cilindro para a Compactação.
Tabela 2. Resultados dos limites de consistência do solo.
3 DISCUSSÕES E RESULTADOS Parâmetros do solo Valores

Limite de Liquidez (%) 44,5


3.1 Granulometria
Limite de Plasticidade (%) 28,7
Com os resultados obtidos no ensaio das Índice de Plasticidade (%) 15,7
peneiras foi possível traçar um gráfico
representando a curva granulométrica do solo Índice de Consistência 1,04
avaliado, tendo no eixo das abscissas o Índice de Liquidez 0
diâmetro das partículas, que corresponde à
abertura das peneiras, e no eixo das ordenadas o
percentual passante acumulado. A curva O Índice de Plasticidade determina se o solo
granulométrica é apresentada na Figura 8. está no estado plástico, pois quanto maior mais
plástico será esse solo. Pelo Índice de
Consistência é possível classificar o solo como
Duro, no estado sólido ou semi-sólido. Através
do resultado do Índice de Liquidez verifica-se
que a argila é pré-adensada.

3.3 Umidade Natural do Solo

Na Tabela 3 tem o resultado obtido no


ensaio de umidade do solo.

Figura 8. Distribuição granulométrica do solo


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Tabela 3. Resultados das umidades.


Amostra Umidade
Solo 28,03%

Conforme os resultados de umidade da


Tabela 3 é possível constatar que a amostra de
solo possui uma porcentagem significativa de Figura 9. Moldes resultantes dos ensaios de compactação
água, ou seja, o solo possui uma grande das diferentes misturas.
capacidade de retenção de água, devido a
presença de microporos que retém a água contra Nas Tabelas 6, 7 e 8 observam-se os
as forças da gravidade, porém possuem uma resultados proveninentes dos ensaios de
grande facilidade de ser compactados. compactação para a amostra 100% solo, 95%
solo + 5% cal e 92% solo + 8% cal,
3.4 Análise do pH respectivamente.

Os resultados obtidos nos ensaios de pH, Tabela 6. Resultados da compactação.


podem ser vistos na Tabela 4. Amostra 100% Solo
Massa Específica Seca (g/cm3) Umidade (%)
Tabela 4. Resultados das análises de pH.
1,25 36,09
Amostra pH
1,28 38,19
Solo 6,55
1,26 40,88
1,19 45,25
Verifica-se que o pH do solo analisado
1,15 47,55
apresenta um indicativo de estar neutro, mas
possuindo um princípio de acidez pelo fato de
não estar no pH 7. Tabela 7. Resultados da compactação.
Amostra 95% Solo + 5% Cal
3.4 Peso Específico dos Grãos
Massa Específica Seca (g/cm3) Umidade (%)
Os resultados obtidos nos ensaios de peso 1,33 25,75
específico dos Grãos podem ser analizados na 1,35 27,63
Tabela 5. 1,32 30,46
1,24 35,15
Tabela 5. Resultados dos pesos específicos.
1,21 36,00
Amostra Peso Específico (kN/m³)
Solo 25,60
Tabela 8. Resultados da compactação.
Amostra 92% Solo + 8% Cal
Constata-se que o solo possui um valor de Massa Específica Seca (g/cm3) Umidade (%)
peso específico adequado para essa região
1,34 20,88
estudada, com base na bibliografia.
1,38 22,67
3.5 Ensaio de Compactação Protor Normal 1,34 25,94
1,31 27,28
Na Figura 9 observam-se imagens com os 1,28 29,24
moldes provenientes dos ensaios de
compactação com as diferentes misturas.
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Com a análise é possível constatar que há um Com a necessidade de melhoramento de solo


acréscimo da massa específica aparente seca podemos obter resultados importantes para a
máxima conforme a adição de cal, ou seja, o área de mecânica dos solos com aspectos de
menor valor de massa específica seca máxima melhora de solo com adição de cal, e
corresponde à amostra de 100% solo, enquanto consequentemente utilizando alternativas menos
houve a influência de adição de cal teve um agressivas ao meio ambiente. O uso da adição
aumento continuo, onde o maior valor deste de cal acrescenta características estabilizantes
parâmetro é observado na amostra com 92% aos solos, sendo assim de grande interesse à
solo e 8% cal. pavimentação e garantindo uma maior
Na Figura 10 é possível observar as curvas resistência as cargas dinâmicas.
de compactação de cada mistura plotada em um O principal objetivo desta pesquisa foi
único gráfico. aprofundar os conhecimentos sobre o método
de estabilização de solos com a adição de cal e
verificar a sua influência nas características
mecânicas das amostras. A resistência à
compressão simples aumenta de forma linear
com o aumento do teor de cal para o tipo de
solo utilizado, pois com 5% de cal houve um
aumento de 71,78% na resistência a ruptura em
contrapartida com adição de 8% de cal houve
um aumento de 76,09% de resistência à ruptura.
Os resultados obtidos nos ensaios
executados no Laboratório de Solos e
Pavimentação observou-se que as amostras com
adição de cal apresentaram valores de massa
específica aparente seca superiores, comparado
Figura 10. Curvas de compactação de cada amostra. com os resultados da amostra de 100% solo.
O aumento da quantidade de cal gera valores
Observa-se na Tabela 9 os resultados das superiores de massa específica aparente seca, tal
massas específicas aparente seca e das fato ocorre devido a redução dos poros.
umidades ótimas. Também, constatou-se que a umidade ótima
reduz com a adição dessas misturas com cal.
Tabela 9. Resultados das massas específicas máximas e Os resultados atingidos foram satisfatórios,
umidade ótima de cada uma das amostras ensaidas.
ocorrendo variabilidade conforme o teor de
Massa específica W Ótima
Amostra adição de cal. Foi possível verificar uma
máxima (g/cm³) (%)
melhoria na compactação da massa reforçada
100% solo 1,28 38,19 com cal em relação à amostra 100% solo, logo
95% solo + 5% Cal 1,35 27,63 se determina a viabilidade da utilização desta
92% solo + 8% Cal 1,38 22,67 adição de cal na compactação.

Através da análise da Figura 10 e da Tabela REFERÊNCIAS


9 é possível constatar que a adição de cal na
amostra gera um aumento na massa específica AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND
MATERIALS. ASTM D 4972: Standard Test Method
aparente seca, além disso, minimiza a umidade for pH of Soils. Philadelphia, 2013.
ótima. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 6457 – Amostra de Solo – Preparação
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS para Ensaios de Compactação e Ensaios de
Caracterização. Rio de Janeiro: ABNT, 2016.
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. NBR 6458 – Grãos de solos que passam na


peneira de 4,8mm – Determinação da massa específica.
Rio de Janeiro: ABNT, 2016.
NBR 6459 - Solo – Determinação do Limite de
Liquidez. Rio de Janeiro: ABNT, 2016.
. NBR 6502 – Rochas e Solos. Rio de Janeiro:
ABNT, 1995.
. NBR 6508 – Grãos de Solo que Passam na
Peneira de 4,8mm – Determinação da Massa Específica.
Rio de Janeiro: ABNT, 1984.
. NBR 7175 – Cal Hidratada Para Argamassas –
Requisitos. Rio de Janeiro: ABNT, 2003.
. NBR 7180 – Solo – Determinação do Limite de
Plasticidade. Rio de Janeiro: ABNT, 2016.
. NBR 7181 – Solo - Análise Granulométrica.
Rio de Janeiro: ABNT, 2016.
. NBR 7182 – Solo – Ensaio de Compactação.
Rio de Janeiro: ABNT, 2016.
CAPUTO, H. P. Mecânica dos Solos e suas aplicações.
6ª Edição. Revisada e ampliada. Rio de Janeiro: LTC,
2000.
GUIMARÃES, J. E. P. A cal - Fundamentos e
Aplicações na Engenharia Civil. 1º Edição. São Paulo:
Pini, 1998.
GUIMARÃES, J. E. P. A Cal – Fundamentos e
Aplicações na Engenharia Civil. 2ª Edição. São Paulo:
Pini, 2002.
LIMA, D. C., SANTOS, M.F. e BUENO, B.S.
Estabilização dos solos com cal e betume. 6ª Reunião
Anual de Pavimentação. São Paulo: Santos, 1995.
NÚÑEZ, W. P.; CERATTI, J. A. P.;PERAÇA,
V.;TSUKUDA, R. S. Produzindo misturas asfálticas de
elevado desempenho com emprego de cal hidratada.
ABPv - 38ª Reunião Anual de Pavimentação - Manaus,
2007.
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Melhoramento de Solo Arenoso com Polímeros


Thiago Manes Barreto
Pontifícia Universidade Católica, Rio de Janeiro, Brasil, thiagobarreto@poli.ufrj.br

Lucas Mendes Repsold


Pontifícia Universidade Católica, Rio de Janeiro, Brasil, lucasrepsold@gmail.com

Michéle Dal Toé Casagrande


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, mdtcasagrande@unb.br

RESUMO: O presente estudo avalia o comportamento mecânico de uma areia estabilizada com
polímeros, em comparação à areia pura. Foram realizados ensaios de cisalhamento direto em
amostras de areia pura e desta com a adição de dois compostos distintos, na forma líquida: sílica
coloidal e o copolímero de butadieno e estireno modificado (XSBR). A sílica coloidal é um material
de baixa viscosidade, atóxico, apresentando em sua composição partículas de dióxido de silício. O
copolímero de butadieno e estireno é um elastômero composto de aproximadamente 75% de
butadieno e 25% de estireno, sendo muito utilizado na indústria automobilística, para a produção de
pneus. Pode ser produzido a partir dos processos de polimerização em emulsão ou polimerização
em solução. A escolha destes materiais está relacionada às suas propriedades serem compatíveis as
exigências para melhoramento de solos em obras geotécnicas. Foram constatadas melhorias nos
parâmetros de resistência das amostras de areia com adição do copolímero de butadieno e estireno,
em comparação aos parâmetros da areia pura, mostrando que a melhoria de solos com polímeros
dessa natureza é satisfatória para a aplicação em obras geotécnicas, como por exemplo: aterros
sobre solos moles, solos de fundações superficiais e para a estabilidade de taludes.

PALAVRAS-CHAVE: Melhoramento de Solos, Polímero, Sílica Coloidal, Cisalhamento Direto.

1 INTRODUÇÃO substituição das mesmas por um solo que


apresente os requisitos necessários ao projeto
O solo é um elemento comum a grande parte geotécnico. Contudo, esta solução pode se
das obras de engenharia, sendo parte de uma tornar inviável em casos que envolvam a
estrutura essencial na estabilidade da necessidade de remoção de grandes volumes de
construção, a fundação. Diante das grandes solo, ou até mesmo a inexistência de áreas de
variações que um solo pode apresentar, e da sua empréstimo/bota-fora próximas ao local de
importância para o processo construtivo, os realização da obra.
solos são submetidos a análises criteriosas, para Alternativamente, desenvolveram-se
a caracterização do meio e a determinação dos processos de estabilização/melhoramento de
parâmetros de resistência. solos, no intuido de melhorar as propriedades
Há situações em que o solo não se encontra dos solos existentes in situ de modo a poder
em condições adequadas para resistir a utilizá-los no projeto geotécnico. Tais processos
acréscimos de tensão quando comparadas ao podem ser realizados através de diversas
seu estado de equilíbrio natural. Uma solução metodologias, a variar de acordo com os
comumente utilizada na realização de obras em recursos disponíveis e com as especificações do
tais situações, é a remoção parcial/total das projeto.
camadas de solo pouco resistentes, seguido da
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De acordo com Vendruscolo (1996), a 2 MATERIAIS E MÉTODOS


estabilização de solos é uma técnica antiga,
desenvolvida principalmente para 2.1 Solo
pavimentação, e, ao mesmo tempo, sendo
largamente utilizado em diversas outras áreas, O solo utilizado nesse estudo foi coletado em
como fundações, contenção de taludes e um rio nas proximidades da região do Porto de
barragens. Em Vargas (1977), estabilização de Caxias, localizado no município de Itaboraí, no
solos é um processo que confere ao mesmo uma estado do Rio de Janeiro. A escolha deste tipo
maior resistência estável a cargas, desgaste ou de solo está relacionado ao fato de areias serem
erosão, através da compactação, correção relativamente inertes em comparação a outros
granulométrica e de sua plasticidade ou da solos. O uso de um solo argiloso poderia
adição de substâncias que lhe confiram uma dificultar a análise inicial do efeito dos
coesão proveniente da cimentação ou polímeros adicionados a ele, uma vez que um
aglutinação dos seus grãos. solo argiloso pode possuir uma maior variedade
Segundo Almeida (2016), dentre os de elementos não-inertes em sua composição. A
principais métodos de estabilização (mecânica, figura 1 apresenta uma amostra da areia pura
física e química), o processo de estabilização utilizada e a figura 2 apresenta o local de coleta
química é o que apresenta um número maior de da mesma.
reações entre o solo, o aditivo estabilizante e a
água, para obter um novo material com
características melhores do que o solo puro. É
natural que as características da estabilização
estejam muito relacionadas com o
comportamento e qualidade do solo, por ser o
componente de maior quantidade e o mais
heterogêneo da mistura.
Com o objetivo de apresentar soluções mais
sustentáveis, menos onerosas e tecnicamente
eficientes, estudos estão sendo desenvolvidos
para viabilizar a utilização de novos materiais Figura 1. Areia pura
nos processos de estabilização/reforço de solos.
Dentre eles, a utilização de cinzas de resíduos
sólidos urbanos, fibras de Polietileno
Tereftalato (PET), fibras naturais e polímeros,
visando o melhoramento das propriedades
mecânicas do solo, e consequentemente,
resultando no aumento da resistência,
durabilidade e redução da compressibilidade.
Diante desse cenário, o presente estudo consiste
na avaliação do comportamento mecânico de Figura 2. Localização da areia in situ
uma areia pura em comparação com duas
A figura 3 apresenta a distribuição
situações em que ocorre a mistura dessa mesma
granulométrica da areia pura, enquanto que a
areia com compostos químicos, nomeadamente:
tabela 1 apresenta seus índices físicos.
Areia-Sílica Coloidal e Areia-Copolímero de
Consoante o Sistema Unificado de
Butadieno e Estireno Modificado (XSBR).
Classificação dos Solos – SUCS, a areia em
questão pode ser classificada como uma areia
mal graduada.
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100

90
0

10
2.3 Copolímero de Butadieno e Estireno
80 20 Modificado (XSBR)
Porcentagem passante (%)

Porcentagem retida (%)


70 30

O Copolímero de Butadieno e Estireno


60 40

50 50

40 60 Modificado, comercializado sob o nome Latex


30

20
70

80
XSBR, foi adquirido através da empresa
10 90 Nitriflex como pode ser visto na figura 5. Na
0
0,01 0,1 1 10
100
100 forma líquida, apresenta densidade de 1,0g/mL,
Diâmetro dos Grãos (mm)
pH entre 8,5-9,5 e viscosidade Brookfield entre
Figura 3. Distribuição granulométrica da areia pura
50-350 cP. A técnica de obtenção de SBR
Tabela 1. Índices físicos da areia pura predominante é a de polimerização por
Índice Físico Valor emulsão, na qual os monômeros apresentam-se
Densidade dos grãos (Gs) 2.65 dispersos em água com um surfactante e sofrem
Diâmetro efetivo D10 0.22 mm a polimerização através de radicais livres que
Diâmetro médio D50 0.58 mm proveem da decomposição de um iniciador
Coeficiente de uniformidade (Cu) 3.27
Coeficiente de curvatura (Cc) 0.87
solúvel presente na mistura. Obtém-se então o
Índice de vazios máximo (emax) 0.96 látex, que é uma dispersão estável de um
Índice de vazios mínimo (emin) 0.71 polímero em meio aquoso (CHERN, 2006).

2.2 Sílica Coloidal

A sílica coloidal utilizada é um composto


químico nano estruturado de dióxido de silício
amorfo, fabricado na forma de suspensão
aquosa, sendo quimicamente e biologicamente
inerte, não apresentando riscos para a saúde
humana. A substância é comercializada por
Figura 5. Copolímero de Butadieno e Estireno
meio do nome LUDOX TM-50 (Colloidal Modificado (XSBR)
Silica – 50wt. % suspension in H2O) e foi
adquirida através da empresa Sigma-Aldrich, 2.4 Misturas
conforme apresentado na figura 4. Na forma
líquida, apresenta densidade de 1,4 g/mL, As misturas realizadas são compostas de areia
concentração de 50% em suspensão aquosa e pura, areia com adição de sílica coloidal e areia
pH de 9,0. com adição de copolímero de butadieno e
estireno modificado (XSBR). Todos os corpos
de prova foram moldados com teor de umidade
de 10% e densidade relativa de 50%,
considerados teores ótimos do solo utilizado
segundo resultados de pesquisas anteriores com
o mesmo solo.
Buscou-se analisar o desempenho mecânico
das misturas para proporções água/composto
diferentes, variando entre 1:1 e 1:4 e para
tempos de cura distintos, entre 24 e 72 horas.
Os procedimentos de preparação dos corpos de
Figura 4. Sílica Coloidal prova consistiram em misturar manualmente a
areia pura com os compostos químicos nas
devidas proporções água/composto, conforme
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apresenta a figura 6. Em seguida, foram Tabela 2. Misturas estudadas


moldados os corpos de prova nos teores ótimos Proporção Tempo
Condição
para serem posteriormente ensaiados, conforme Mistura Água/Polímero de Cura
de Cura
apresenta a figura 7. (em massa) (dias)
Areia Pura 1:0 - -
1:1 1 Confinada
Areia-Sílica
1:4 3 Ar livre
1:1 1 Confinada
1:1 3 Ar livre
Areia-XSBR
1:4 3 Ar livre
1:4 4 Ar livre

3. ENSAIO DE CISALHAMENTO DIRETO

O ensaio adotado para avaliar os parâmetros de


Figura 6. Preparação das amostras resistência das amostras foi o ensaio de
cisalhamento direto. Este ensaio tem como
principal objetivo determinar parâmetros de
resistência de amostras de solo, sejam elas
amolgadas ou indeformadas. Sendo um ensaio
rápido e simples, facilita os procedimentos
experimentais bem como o processamento de
dados. A figura 8 apresenta o equipamento de
cisalhamento direto disponível no laboratório
de geotecnia da PUC-Rio.

Figura 7. Corpo de prova

Para cada mistura, foram moldados 3 corpos


de prova para serem ensaiados. Os corpos de
prova apresentam tamanho padrão 10 cm x 10
cm x 2 cm, totalizando 200 cm³ de volume.
Com relação as condições de cura, foram
consideradas duas situações: cura confinada e
cura ao ar livre. Na condição de cura confinada,
a amostra realiza o processo de cura dentro do
equipamento de cisalhamento direto, com troca
gasosas muito reduzidas, sendo nesse caso,
Figura 8. Equipamento de Cisalhamento Direto
desconsideradas, enquanto na condição de cura
ao ar livre, o processo ocorre com as duas faces
do corpo de prova voltadas ao ar livre, em local O equipamento deste estudo dispõe de uma
com temperatura ambiente de 20°C e umidade caixa quadrada, denominada caixa de
relativa do ar constante de 70%. A tabela 2 cisalhamento, onde são colocados os corpos de
apresenta um resumo das misturas estudadas. prova. Sobre o corpo de prova é aplicada uma
tensão normal, produzida com o auxílio de
pesos, e transferidas através de um pendural,
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simulando tensões verticais em profundidade


provocadas por camadas de material
sobrepostas ou até mesmo a carga de uma
fundação. Para diminuir a quantidade de pesos
para uma mesma tensão, pode-se tomar partido
do braço de alavanca do equipamento que
amplia a carga aplicada ao deslocar o eixo de
aplicação da mesma em relação ao pendural.
O ensaio é dividido em duas fases:
adensamento e cisalhamento. A fase de
adensamente consiste em aplicar a carga sob o
corpo de prova e aguardar até que o os Figura 10. Corte Esquemático (Romanel, 2015)
deslocamentos verticais se estabilizem,
indicando a total dissipação dos excessos de Após a aplicação da carga, instala-se um
poro-pressão gerados pela aplicação do carrinho que afasta a metade superior da caixa
carregamento. Em se tratando de um solo de de cisalhamento em meio milímetro da metade
matriz arenosa, a fase de adensamento é inferior para que não haja atrito entre ambas as
praticamente instantânea. metades da caixa, conforme apresenta a figura
Em seguida, ocorre a fase de cisalhamento. 11.
A caixa de cisalhamento é dividida
horizontalmente em duas metades. Em uma das
metades é imposto um deslocamento horizontal
a uma velocidade constante, enquanto que na
outra metade o deslocamento é impedido
através do contato com um anel de carga, o que
gera solicitação de tensões cisalhantes no plano
horizontal que passa pelo centro da amostra.
Através da relação entre a força medida pelo
anel de carga e a área do plano horizontal que
passa pelo centro da amostra de solo é possível
obter a tensão cisalhante resistida pelo solo ao Figura 11. Instalação do carrinho
sofrer o deslocamento. A figura 9 apresenta
uma vista da caixa de cisalhamento e a figura Para cada mistura apresentada na tabela 2,
10 apresenta um corte esquemático da mesma. foram moldados e ensaiados 3 corpos de prova
idênticos, onde cada um foi ensaiado a uma
tensão normal diferente. As tensões normais
adotadas foram de 50kPa, 100kPa e 150kPa. O
equipamento deste estudo cisalha o corpo de
prova com deformação controlada. Assim
sendo, foi adotada uma velocidade de
deformação de 0,3057 mm/min,
suficientemente baixa para garantir a não-
geração de possíveis excessos de poro-pressão
ao longo do ensaio, uma vez que este
equipamento não é instrumentado para medí-
las. Todos os corpos de prova utilizados nesse
Figura 9. Caixa de cisalhamento estudo foram moldados e ensaiados sob as
mesmas condições de temperatura e umidade.
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A figura 12 apresenta o aspecto do corpo de 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES


prova após o cisalhamento, onde é possível
perceber o deslocamento relativo entra as duas Após a realização dos ensaios e processamento
metades do corpo de prova em relação ao plano de dados, foram elaborados gráficos de tensão
horizontal que passa pelo centro da mesma. cisalhante versus deslocamento horizontal.
Estes gráficos mostram que todas as amostras
apresentam comportamento plástico, sem um
pico definido, e a resistência ao atingir um valor
máximo permanece constante até o fim do
ensaio. Assim, adotou-se um deslocamento de
12mm para a tomada dos pontos de ensaio em
estado crítico, correspondente ao deslocamento
máximo da caixa de cisalhamento, sendo
portanto estes os pontos apresentados nas
envoltória de ruptura. A envoltória compreende
pares de tensão normal versus tensão cisalhante,
ou envoltória de resistência de Mohr-Coulomb.
Figura 12. Corpo de prova após cisalhamento Através delas, pode-se obter os parâmetros de
resistência do solo, nomeadamente o ângulo de
Segundo VIEIRA (2017), além da utilização atrito efetivo e o intercepto coesivo efetivo. Ao
do anel de carga, o ensaio também é final será apresentada a tabela 3 que expõe os
instrumentado para medir os deslocamentos parâmetros de resistência obtidos para as
horizontais e verticais sofridos na amostra misturas ensaiadas.
através transdutores de deslocamento. Sendo
assim, é possível plotar curvas de tensão 4.1 Areia-Sílica Coloidal
cisalhante versus deslocamento horizontal,
curvas de deslocamento vertical versus Os resultados dos ensaios de cisalhamento
deslocamento horizontal e curvas tensão normal direto feitos nas amostras de areia misturada
versus tensão cisalhante, denominada também com Sílica Coloidal, nas proporções
de envoltória de ruptura. água/polímero 1:1, com tempo de cura
A instrumentação presente no equipamento é confinada de 1 dia, indicam que este composto
conectada a um computador que dispõe de um químico misturado com areia neste teor e nestas
sistema de aquisição de dados. O programa condições de cura não conferem grandes
utilizado é o Catman Easy, software alterações no comportamento tensão-
desenvolvido pela empresa HBM para aquisição deformação do compósito, conduzindo a
de dados, permitindo a visualização, análise e parâmetros de resistência análogos ao da areia
armazenamento dos dados durante e depois da pura. Assim como observado por Rodríguez
realização do ensaio. (2004), quando concluiu que apenas para
incrementos insignificantes de tensão
cisalhante, foram observados os benefícios da
mistura solo/sílica coloidal.
Contudo é possível perceber um pequeno
aumento e sucessiva queda da tensão cisalhante
na amostra submetida a tensão normal de
100kPa. A figura 13 apresenta o gráfico tensão-
deslocamento das amostras de areia misturadas
com Sílica Coloidal e a figura 14 apresenta a
envoltória de ruptura.
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Contudo é possível perceber um pequeno


aumento inicial e sucessiva queda gradual da
tensão cisalhante nas amostras submetida as
tensões normais de 100kPa e 150kPa. A figura
15 apresenta o gráfico tensão-deslocamento das
amostras de areia misturadas com XSBR e a
figura 16 apresenta a envoltória de ruptura.

Figura 13. Tensão-deslocamento Areia-Sílica 1:1 – 1 dia

Figura 15. Tensão-deslocamento Areia-XSBR 1:1 – 1 dia

Figura 14. Envoltória Areia-Sílica 1:1 – 1 dia

Os corpos de prova de Areia-Sílica


moldados nas proporções água/composto 1:4,
com tempo de cura ao ar livre de 3 dias não
foram ensaiados, pois ao desmoldá-los para
serem transferidos ao equipamento de
cisalhamento direto, os mesmos se
desagregavam. O comportamento indica que Figura 16. Envoltória Areia-XSBR 1:1 – 1 dia
esta proporção de água/sílica pode não ser
adequada a metodologia de ensaio adotada Os resultados dos ensaios feitos nas amostras
neste trabalho, uma vez que os corpos de prova de areia misturada com XSBR, nas proporções
submetidos a cura ao ar livre requerem certo água/polímero 1:1, com tempo de cura ao ar
nível de coesão para serem desmoldados e livre de 3 dias, indicam que este composto
transferidos ao equipamento de cisalhamento químico misturado com areia neste teor e nestas
direto. condições de cura confere grandes alterações no
comportamento tensão-deformação do
4.2 Areia-XSBR compósito, conduzindo a parâmetros de
resistência superiores aos da areia pura.
Os resultados dos ensaios de cisalhamento
É possível perceber considerável aumento da
direto feitos nas amostras de areia misturada
tensão cisalhante nas amostras submetida as
com XSBR, nas proporções água/polímero 1:1,
tensões normais de 50kPa, 100kPa e 150kPa,
tempo de cura confinada de 1 dia, indicam que
sendo as duas primeiras mais expressivas que a
este composto químico misturado com areia
última. Isto indica que o XSBR altera as
neste teor e nestas condições de cura não impõe
propriedades de resistência do compósito a
grandes alterações no comportamento tensão-
depender do tempo e condições de cura. Dentre
deformação do compósito, conduzindo a
as misturas realizadas, esta está entre as que
parâmetros de resistência análogos ao da areia
apresenta melhores resultados uma vez que
pura.
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ocorre considerável aumento do intercepto resultados uma vez que ocorre expressivo
coesivo apesar da diminuição do ângulo de aumento do intercepto coesivo sem grande
atrito. A figura 17 apresenta o gráfico tensão- diminuição do ângulo de atrito. A figura 19
deslocamento das amostras de areia misturadas apresenta o gráfico tensão-deslocamento das
com XSBR e a figura 18 apresenta a envoltória amostras de areia misturadas com XSBR e a
de ruptura. figura 20 apresenta a envoltória de ruptura.

Figura 17. Tensão-deslocamento Areia-XSBR 1:1- 3 dias Figura 19. Tensão-deslocamento Areia-XSBR 1:4- 3 dias

Figura 18. Envoltória Areia-XSBR 1:1- 3 dias Figura 20. Envoltória Areia-XSBR 1:4- 3 dias

Os resultados dos ensaios feitos nas amostras Por fim, os resultados dos ensaios feitos nas
de areia misturada com XSBR, nas proporções amostras de areia misturada com XSBR, nas
água/polímero 1:4, com tempo de cura ao ar proporções água/polímero 1:4, com tempo de
livre de 3 dias, indicam que este composto cura ao ar livre de 4 dias, confirmam a
químico quando misturado com areia neste teor capacidade do XSBR de alterar as propriedades
e nestas condições de cura, impõe expressivas de resistência do compósito a depender do
alterações no comportamento tensão- tempo, condições de cura e também da
deformação do compósito, conduzindo a proporção água/polímero. Conforme
parâmetros de resistência superiores aos da apresentado em Ahmed (2013), em misturas de
areia pura. solo silte-arenoso com o polímero de butadieno
Constata-se um aumento significativo de e estireno foi constatado um aumento de 17,8%
tensão cisalhante nas amostras submetidas as dos parâmetros de resistência do solo. Nesse
tensões normais de 50kPa, 100kPa e 150kPa, preente estudo, é possível observar a tendência
indicando uma tendência de ganho de de ganho de resistência na medida em que o
resistência com o aumento do tempo de cura na tempo de cura aumenta para uma mesma
condição ao ar livre e também com o aumento condição de cura e mesmas proporções
da concentração do polímero. Entre as misturas água/composto. Dentre as misturas realizadas,
realizadas, esta também apresenta bons esta foi a que apresentou melhores resultados,
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uma vez que ocorre expressivo aumento do 5. CONCLUSÕES


intercepto coesivo e também do ângulo de
atrito. A figura 21 apresenta o gráfico tensão- A partir dos resultados obtidos, pode-se
deslocamento das amostras de areia misturadas concluir que as misturas de areia com o
com XSBR e a figura 22 apresenta a envoltória Copolímero de Butadieno e Estireno
de ruptura. modificado (XSBR) conduzem a melhores
resultados. A mistura nas proporções
água/composto químico 1:4, com tempo de cura
ao ar livre de 4 dias gerou um aumento do
ângulo de atrito de 33º da areia pura para 40º na
areia misturada, conferindo coesão aparente da
ordem de 43kPa.
Observou-se que a condição de cura ao ar
livre confere melhores resultados do que a
condição de cura confinada. Além disso,
Figura 21. Tensão-deslocamento Areia-XSBR 1:4- 4 dias constatou-se que quanto maior for o tempo de
cura, maior será o aumento dos parâmetros de
resistência do solo.
Com relação a proporção água-polímero,
verificou-se que, quanto maior for a proporção
água-polímero (1:4 > 1:1), melhor será o
desempenho do compósito.
As misturas de areia com sílica-coloidal nas
proporsões água-composto estudadas não
apresentaram resultados satisfatórios. Dessa
maneira, faz-se necessário avaliar outros teores
Figura 22. Envoltória Areia-XSBR 1:4- 4 dias
e condições de cura para melhor caracterizar a
possibilidade de utilização da sílica na
A tabela 3 apresenta um resumo dos estabilização de solos.
parâmetros de resistência obtidos em cada Nota-se que a cura em condição confinada
mistura. para tempo de cura de 1 dia em nenhum dos
casos provocou significativas alterações no
Tabela 3. Parâmetros de resistência obtidos comportamento tensão-deformação e
Parâmetros parâmetros de resistência das amostras
Proporção de
Água
Tempo
Condição ensaiadas. Estas considerações são de suma
Mistura de Cura Resistência
Polímero
(dias)
de Cura
φ' c'
importância ao se analisar as possibilidades de
(em massa) aplicação em campo, fazendo-se necessário
(º) (kPa)
Areia
1:0 - - 33 0
estudar a compatibilização dos resultados
Pura obtidos com parâmetros de projeto.
Areia
Sílica
1:1 1 Confinada 33 0 Os resultados obtidos comprovam a
1:1 1 Confinada 33 0 necessidade por maiores investimentos em
Areia 1:1 3 Ao ar 25 36 pesquisas voltadas ao tema, visto que a
XSBR 1:4 3 Ao ar 30 47 incorporação de substâncias desta natureza em
1:4 4 Ao ar 40 43 baixas quantidades, pode se apresentar como
uma alternativa técnica e economicamente
viável em processos de melhoramento de solos.
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AGRADECIMENTOS Vieira, C.G.M., Repsold, L.M. (2017) – Análise do


comportamento físico e mecânico de
Geopolímeros. Projeto Final de Graduação em
Os autores agradecem ao CNPq pelo apoio à Engenharia Civil – Pontifícia Universidade
pesquisa de mestrado do primeiro autor e ao Católica, PUC-Rio, Rio de Janeiro, 6.
laboratório de Geotecnia da PUC-Rio pelo
apoio físico e técnico durante a realização dos
ensaios necessários para o desenvolvimento da
pesquisa.

REFERÊNCIAS
Ahmed F.B, Atemimi Y.K, Ismail M.A.M (2013) –
Evaluation the Effects of Styrene Butadiene
Rubber Addition as a New Soil Stabilizer on
Geotechnical Properties, The Electronic Journal
of Geotechnical Engineering, 14p.
Almeida, G.B. de Oliveira (2016) – Avaliação da
resistência à compressão simples de misturas de
solo e escória de cobre aditivadas com cimento
Portland aplicadas à pavimentação, 18º Congresso
Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia
Geotécnica, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil,
7p.
Bagini M.S.,Ismail A, Karim M.R., Shokri F., Firoozi
A.A. (2014) - Effect of Styrene–Butadiene
Copolymer Latex on Properties and Durability of
Road Base stabilized with Portland Cement
Additive. Elsevier, Construction and Building
Materials, 10p.
Chern, C.S. (2006) – Emulsion Polymerization
Mechanisms and Kinectics. Progress in Polymer
Science 31, pp 443-486
Dave, K.K. et al (2010) -Development of Colloidal Silica
Grout using Different Reactants. Indian
Geotechnical Conference, Mumbay, pp. 569-572.
Rodríguez J.A.D, Izarraras V.M.A (2004) – Mitigation of
Liquefaction Risk using Colloidal Silica
Stabilizer, 13th World Conference on Earthquake
Engineering, Vancouver, Canada, 10p.
Romanel, C. Eng1211 - Mecânica dos solos. 01 mar.
2015, 30 nov. 2015. Notas de Aula.
Vargas, M. (1977) – Introdução à Mecânica dos Solos.
São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, Ed. da
Universidade de São Paulo, 509 p.
Vendruscolo, M.A. (1996) – Análise Numérica e
Experimental do Comportamento de Fundações
Superficiais Assentes em Solo Melhorado.
Dissertação de Mestrado em Engenharia –
Programa de Pós-Graduação em Engenharia
Civil da UFRGS, Porto Alegre, 141p.
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Monitoramento da velocidade de fluxo subsuperficial de uma


barragem de terra com o uso da tecnologia de fibra óptica
Marcelo Buras
Lactec, Curitiba, Brasil, marcelo.buras@lactec.org.br

Esther Dyck
Lactec, Curitiba, Brasil, esther.dyck@lactec.org.br

José Henrique Ferronato Pretto


Lactec, Curitiba, Brasil, jose.pretto@lactec.org.br

Joubert Weigert Favaro


Lactec, Curitiba, Brasil, joubert.favaro@lactec.org.br

Roberto Werneck Seara


Copel - Geração e Transmissão S.A., Curitiba, Brasil, seara@copel.com

Rodrigo Moraes da Silveira


Lactec, Curitiba, Brasil, rodrigo.silveira@lactec.org.br

RESUMO: Dados de monitoramento a partir de instrumentação geotécnica são utilizados para a


realização de monitoramento de fluxo de obras de terra e, consequentemente, para a realização de
análises de estabilidade, o que permite aos engenheiros responsáveis tomarem decisões que
mantenham a obra estável e dentro dos limites mínimos dos fatores de segurança. O Lactec em
conjunto com a COPEL S.A., desenvolveram um P&D no qual é monitorada a temperatura
subsuperficial de um maciço de terra com o uso da tecnologia distribuída de fibra óptica e a partir
da mesma, determinadas as condições de fluxo subsuperficial da barragem. O estudo de caso
apresentado neste artigo utilizou três cabos ópticos para o monitoramento da temperatura no tapete
drenante e no filtro vertical de uma barragem de terra. Até o momento, os resultados do
monitoramento com uso da tecnologia distribuída foram satisfatórios no entanto, como não houve
ainda o enchimento total do reservatório da barragem e o regime de fluxo ainda não foi
estabelecido, não é possível a comparação de resultados entre a velocidade prevista em projeto e o
obtido no monitoramento.

PALAVRAS-CHAVE: Fibra Óptica; Barragem de Terra; Monitoramento Geotécnico.

1 INTRODUÇÃO técnica de monitorameto geotécnico.


A usina hidrelétrica está em fase final de
A proposta deste artigo é apresentar a instalação construção, sendo que toda a parte geotécnica e
do sistema de monitoramento distribuído de civil já foram finalizadas e seu reservatório está
temperatura com tecnologia de fibra óptica na última etapa de enchimento. No que diz
instalado no interior de uma barragem de terra e respeito a barragem de terra, a obra foi
os primeiros resultados obtidos com esta construída em material argiloso com filtro e
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tapete drenante constituídos basicamente por foram realizadas em um trabalho conjunto


material arenoso. Especificamente nesta COPEL/LACTEC na UHE Fundão, em 2005,
barragem, o sistema de drenagem a jusante localizada nas proximidades da cidade de
estará permanentemente afogado. Candói – PR, (MOSER, et al., 2006; MOSER,
O monitoramento geotécnico é uma CHAMECKI e AUFLEGER, 2006).
importante ferramenta para avaliar as condições Medições distribuídas de temperatura com
de segurança e comportamentos futuros em fibra óptica são cada vez mais utilizadas para
obras de terra, bem como, avaliar os critérios de detectar e localizar infiltrações ou anomalias
segurança estabelecidos em projeto. em barragens, diques e aterros.
Atualmente, os monitoramentos de barragens O grupo de pesquisa da Universidade de
são realizados a partir de instrumentos Innsbruck, liderado pelo Professor Aufleger,
convencionais, podendo citar: os medidores de desempenha um papel fundamental no
vazão; os medidores de nível de água; os desenvolvimento e aplicação das medições
piezômetros e os inclinômetros. No entanto, distribuídas de temperatura com fibra óptica
estes instrumentos fornecem dados pontuais e, para o monitoramento de estruturas hidráulicas.
especificamente na barragem em questão, os Parte de seu trabalho é focado no
drenos de saída afogados inviabilizaram o uso desenvolvimento da medição distribuída da
de medidores de vazão tradicionais, o que velocidade de infiltração e do grau de
propiciou o desenvolvimeto do P&D e o uso de saturação. Os experimentos são baseados no
tecnologias inovadoras como a que se encontra método do aquecimento para medições
abordada nesse artigo. distribuídas de temperatuda, chamado “heat-
up”.
A aplicação de sensores de fibra óptica
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA distribuídos de temperatura utilizando-se o
método do aquecimento para a avaliação das
A instrumentação e o monitoramento de mudanças no grau de saturação, densidade ou
barragens são fundamentais para a avaliação frente de umedecimento em solo é baseado na
dos níveis de segurança apresentados pelas influência da água sobre a tranferência de calor
estruturas. Entre as ferramentas utilizadas em em materiais porosos, como os solos.
barragens, existe a tecnologia distribuída O método do aquecimento para medições
utilizando a tecnologia de fibra óptica. De distribuídas de temperatura parte do princípio
acordo com Koga et al. (2003), a primeira da transição da energia térmica de um corpo
aplicação desta tecnologia foi realizada na aquecido para um corpo com menor
barragem Miyagase, no Japão, onde foram temperatura, denomidado transferência de
monitoradas as temperaturas da estrutura com o calor, e que ocorre devido a compensação de
uso distribuído de cabos de fibra óptica. temperatura entre os dois corpos, do corpo com
As barragens de Birecik na Turquia (1997), a maior temperatura para o de menor. Entre as
Shimenzhi na China (2000), Wala e Mujin na formas de transferência de calor estão a
Jordânia (2001) (AUFLEGER et al., 2003), condução, convecção e radiação, além das
Sädva (1999), Aitik (2000), Aiaure (2001), combinações entre as citadas.
Vargfors (2001), Hylte (2002) e Suorva (2003), A transferência de calor por condução se dá
todas na Suécia (JOHANSSON e WATLEY, pela passagem de energia térmica do corpo de
2005), também foram executadas com maior temperatura para o de menor temperatura
instrumentação baseada na tecnologia de fibra através do cruzamento direto das moléculas
óptica. dentro de um meio ou entre meios com contato
As primeiras aplicações de fibras ópticas físico sem o fluxo do meio material. Já a
para monitoramento de barragens no Brasil, transferência de calor por convecção é dada
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pela movimentação de massas de líquidos ou deformações em que a fibra estiver submetida.


gases, quando o fluído é aquecido e levado a
sair de sua fonte de calor, esse leva a energia
consigo.
Se não existir percolação de água no solo, ou
se existir percolação muito lenta, o fenômeno
de condução de calor é dominante para
equilibrar as diferenças de temperatura. Quando
as velocidades de percolação são superiores a Figura 1. Unidade leitora DTS.
106 m/s, o fenômeno de transferência de calor
por convecção ganha maior influência. 3.2 Cabo de fibra óptica
No método do aquecimento é forçada uma
diferença de temperatura entre o cabo e o Usualmente, são utilizados dois métodos para
ambiente por meio do aquecimento do cabo de identificação de uma frente de umedecimento,
fibra óptica através da aplicação de tensão o método do aquecimento e o método gradiente
elétrica nos fios de cobre do cabo. Devido a de temperatura. Este segundo, no entanto, é
codutividade térmica provocada pela presença limitado no que diz respeito a problemas em
de água é possível estimar o grau de saturação que ocorrem pequenas ou nenhuma variação de
por avaliações do processo de transferência de temperatura da quantidade de água presente no
calor e, no caso de solos saturados submetidos a solo. Neste sentido, optou-se pela utilização do
efeito de fluxo de água, determinar a velocidade método de aquecimento, também chamado de
de fluxo devido a amplitude do aumento da método ativo.
temperatura no cabo (ΔT). O método de aquecimento requer um cabo
de fibra óptica especial, fabricado com uma
malha de cobre ou condutores elétricos
3 MATERIAIS E MÉTODOS posicionados no entorno da fibra óptica.
De acordo com as características necessárias
A seguir se encontram abordados os materiais e do projeto, tanto da parte óptica quanto das
os métodos utilizados para monitorar o fluxo da demandas relacionadas a parte elétrica,
barragem de terra. considerando também a questão física do cabo,
foi adquirido para o projeto o cabo híbrido
3.1 Interrogador DTS (fibra óptica e cobre) do fabricante Helucom,
modelo A-DSQ(ZN)2Y G50/125 + Cu 4 x
O interrogador DTS – Distributed Temperature 1,5mm² Part no. 82786. Este cabo é composto
Sensing (Figura 1) utiliza espalhamentos de luz por quatro condutores rígidos de cobre de seção
(espectros de Raman) transmitidos de uma transversal igual a 1,5 mm² cada, nas cores azul,
extremidade à outra de cabos ópticos. O pico de amarelo, marrom e cinza e quatro fibras
Raman é sensível à variações térmicas, por isso multimodos do tipo loose tube – tubo perdido
é a base do sensoriamento distribuído de na cor vermelha, onde as fibras ficam soltas
temperatura. O equipamento utilizado nos dentro de um tubo, conforme ilustrado na
monitoramentos realizados, fabricado pela Figura 2.
Sensornet, é capaz de realizar medições
distribuídas de temperatura em uma extensão
de até 10 km, com resolução de temperatura de
0,1°C a cada 1,0202 m de distância. O alcance
pode ser menor dependendo de algumas
condições de contorno como a temperatura e as
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Figura 2. Cabo de fibra óptica utilizado

Para análise e avaliação dos resultados foram


utilizadas as curvas de calibração dos cabos
ópticos apresentadas por Buras et al. (2017).

3.3 Sistema de aquecimento - Retificador

Um retificador é a fonte de energia utilizada


para aquecimento dos cabos elétricos presente
no cabo de fibra óptica (cargas utilizadas para o
ensaio de monitoramento de percolação de água
na barragem). O equipamento foi
acondicionado em um painel robusto e Figura 3. Sistema de controle do retificador instalado para
instalado em ambiente seguro e climatizado no o aquecimento dos cabos ópticos
interior da usina hidrelétrica em que se encontra
a barragem de terra monitorada. 3.4 Instalação da fibra no maciço
Internamente, o retificador idealizado possui
disjuntores individuais para alimentação geral e A instalação do cabo óptico foi realizada ao
para alimentação do controlador interno (seta longo da construção da obra por isso, foi
em verde – a esquerda) (Figura 3), no qual é necessária a divisão desta atividade em duas
possível visualizar a potência elétrica da etapas distintas: instalação do cabo óptico no
entrada. Também, é possível avaliar a potência tapete drenante e instalação do cabo óptico no
injetada a partir do potenciômetro indicado pela filtro vertical. A fim de evitar comprimentos
seta branca (central) e, por fim, a seta em excessivos que podem prejudicar o
amarelo (a direita) apresentada na Figura 3 monitoramento ao longo do tempo e necessitam
indica a chave seletora da carga que permite a de maior capacidade elétrica para o
seguinte configuração: aquecimento do sistema, na segunda etapa foi
• Posição 0: carga desconectada (posição necessário segmentar o cabo óptico em topo e
que a chave deverá ser selecionada base.
quando o equipamento não estiver sendo Inicialmente, os cabos foram trasportados
utilizado); em carreteis com o auxilio de caminhão munck
• Posição 1: Seleção do circuito tapete e posicionados em cavaletes nos locais de
drenante; maior elevação, o que facilitou a instalação. Na
• Posição 2: Seleção do circuito vertical sequencia foi realizada a locação do cabo de
topo; e fibra óptica e instaladas estacas espaçadas a
• Posição 3: Seleção do circuito vertical cada 20 m para demarcação. Nos três cabos
base. foram locados alguns pontos, definidos nos
loops do cabo. Esses pontos foram
georreferenciados para posterior sobreposição
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entre o metro do cabo óptico monitorado com a entre novamente em equilibrio com o meio (F).
unidade leitora DTS e o local onde este O valor que se busca a partir do ensaio é a
comprimento referente está posicionado no variação de temperatura que ocorre na fibra
interior da barragem. Ao final da instalação e óptica ou quando comparadas leituras em
reaterro das trincheiras, o cabo ficou instalado diferentes datas. Também podem ser utilizadas
conforme croqui apresentado na Figura 4. as temperaturas acumuladas.

Trajeto do cabo de fibra


óptica

Figura 5. Sistema de controle do retificador instalado para


Figura 4. Croqui com localização do cabo de fibra óptica aquecimento dos cabos ópticos
no tapete drenante

3.5 Procedimento para monitoramento 4 RESULTADOS

O monitoramento é realizado basicamente com Na Figura 5 é apresentado graficamente o


a aplicação de corrente para o aquecimento dos comportamento de dois pontos quaisquer, um
cabos ópticos e acompanhamento da dentro da barragem e outro fora da mesma,
temperatura ao longo do tempo. monitorados conforme os procedimentos
Na Figura 4 é apresentado um gráfico padrão descritos no item 3.5. Tratam-se da
do comportamento esperado para o apresentação de dados de apenas um
monitoramento em um ponto qualquer da fibra monitoramento realizado em condições do
óptica ao longo do processo de aquecimento e resevatório quase cheio.
desaquecimento da fibra óptica. A seguir, cada Analisando a Figura 5 observa-se o tempo de
uma das etapas apresentadas na Figura 5 serão aquecimento que foi de aproximadamente 10
melhor detalhadas. minutos. Decidiu-se por este período de tempo
A primeira etapa (A) refere-se a realização para que fosse mantida a integridade do cabo
do monitoramento do cabo óptico quando óptico, o qual apresentou valores de
aquecido, o qual se inicia com a aplicação de temperatura próxima ao limite de sua parcela
corrente elétrica pelo retificador (ponto B). Nos instalada (o limite de temperatura fornecido
primeiros instantes de tempo ocorrem as pelo fabricante de 60°C) na parte do cabo que
maiores variações de temperatura (C) até um se encontra fora da estrutura monitorada.
momento em que esse acréscimo paralisa ou se Na parte do cabo que se encontra instalado
torna constante, no entanto com aplitude muito no interior da barragem, mais precisamente no
reduzida (D). Quando verificado este tapete drenante, foi possível definir de maneira
comportamento linear do aquecimento o clara as 6 etapas pré-estabelecidas pelo
retificador é desligado e inicia o resfriamento procedimento idealizado, anteriormente
natural da fibra óptica (E) até que a mesma
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demontrado na Figura 5, agora confirmado na para cada metro de cabo óptico instalado no
Figura 6. Especificamente a curva azul, ponto tapete drenante da barragem de terra. Isto foi
localizado dentro da barragem e foco do possível porque toda a instalação em campo foi
monitoramento, é possível observar a primeira georeferenciada.
etapa de monitoramento até a repetição 10 (A),
o início do aquecimento (B) observado entre as
repetições de leitura 10 e 15 (C), a estabilização
do aquecimento entre os valores de 15 e 23 (D),
o desligamento do sistema elétrico e
desaquecimento dos cabos (E) e o
monitoramento final da temperatura com todo o
sistema desligado (F).
Além dos resultados apresentados na Figura
6, decidiu-se também pela apresentação dos
dados de monitoramento em gráficos de cores Figura 6. Gráfico temperatura do cabo x número de
(Figuras 7 e 8). Nestas Figuras são apresentados repetições
os mapas de cores sobrepostos no projeto
executivo da barragem com os acréscimos de
temperatura (ΔT). Estes dados foram obtidos

Figura 7. Mapa de cores obtido pelo monitoramento dos acréscimos de temperatura – Vista em corte do filtro vertical
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Figura 8. Mapa de cores obtido pelo monitoramento dos acréscimos de temperatura – Planta do tapete drenante

Como esperado, quando em contato com a comportamento semelhante aos obtidos em


água o cabo óptico tem um acréscimo de laboratório.
temperatura menor do que nos locais onde o A medida em que forem realizados os
mesmo se encontra em contato com o solo não monitoramentos sazonais pelas equipes de
saturado. Maiores diferenças de temperatura manutenção, as análises e casos pontuais de
são representadas por cores quentes, enquando variação da temperatura poderão ser
as menores diferenças são representadas por identificados e as decisões tomadas de maneira
cores frias. mais acertiva e localizada.
Para uma mesma cota da barragem, neste Isto tende a propiciar uma redução nos
caso analisando a Figura 8, é possível observar custos em caso de necessidade de intervenção
que na parcela monitorada e que está localizada da usina e, no caso da barragem monitorada
no trecho central (calha natural do rio) os com a tecnologia de fibra óptica, um controle
valores de temperatura foram menores do que importante do regime de fluxo no interior do
no trecho onde o monitoramento vai se maciço (sistemas de drenagem interno – filtro
aproximando da ombreira. Isto porque, a do tipo chaminé e tapete drenante).
velocidade de fluxo no centro central tende a
ser maior e, quanto mais próximo da margem
do rio (talude e bordas do reservatório), AGRADECIMENTOS
menores serão as velocidades e, com isto, maior
será a temperatura obtida com o Os autores agradecem ao CNPq pelo apoio
monitoramento. financeiro Processo DT (n° 312024/2017-7) e
pelos subsídios de importação, conforme lei de
incentivo 8010/90. Agradecem ainda a ANEEL;
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS a COPEL S.A. e ao Lactec por também
financiarem e fornecerem a infra-estrutura
A análise dos dados obtidos no monitoramento necessária para execução deste projeto.
apresentado neste artigo e com base nos ensaios
de laboratório, os quais foram apresentados por
Buras et al. (2017) mostrou-se confiável. REFERÊNCIAS
Mesmo que não haja um histórico de
monitoramento, ainda assim conclui-se que se AUFLEGER, M.; CONRAD, M; STROBL, T.;
tratam de dados confiáveis visto que há um MALKAWI, A.I.H; DUAN, Y. Distribuited Fiber
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Jordan and China. China, 2003.
AUFLEGER, M.; CONRAD, M.; PERZLMAIER, S.;
PORRAS, P.; STROBL, T. Distributed Fibre Optics
Temperature Measurement on it way to become an
ordinary tool in Dam Monitoring. Hydro Review
Wordwide, v. 13, HCI Publications, Kansas City,
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BURAS, M.; KLEINA, M. S.M.; MEDEIROS, B. L.;
PIROLLI, C. Apresentação de resultados de
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concrete dams. In: International Symposium on
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MOSER, D.; SOARES, M.A.; MARQUES FILHO, J.;
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MOSER, D.; CHAMECKI, P.R.; AUFLEGER, M.
Instrumentação por fibra ótica pelo método distribuído
- monitoramento de barragens de terra e de CCR. In:
XIII COBRAMSEG, Congresso Brasileiro de
Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica,
Curitiba - PR, 2006.
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Monitoramento geotécnico através da tecnologia de fibra óptica


para avaliação das deformações de uma encosta da Serra do Mar
catarinense
Joubert Weigert Favaro
Institutos Lactec, Curitiba, Brasil, joubert.favaro@lactec.org.br

José Henrique Ferronato Pretto


Institutos Lactec, Curitiba, Brasil, jose.pretto@lactec.org.br

Marcelo Buras
Institutos Lactec, Curitiba, Brasil, marcelo.buras@lactec.org.br

Lúcio Flávio Rocha Carvalho


Petrobras, Rio de Janeiro, Brasil, lucio.flavio@petrobras.com.br

Rodrigo Moraes da Silveira


Institutos Lactec, Curitiba, Brasil, rodrigo.silveira@lactec.org.br

RESUMO: Este artigo apresenta o método de instalação desenvolvido e os dados obtidos no


monitoramento da deformação, com o uso da tecnologia distríbuida de fibra óptica, de uma encosta
atravessada por um duto de insumos operado pela Transpetro. A área foi selecionada devido ao
histórico e aos indicativos de movimentos observados na encosta. A instalação foi realizada em
trincheiras escavadas manualmente com equipamentos de corte, com profundidade aproximada de
15 cm a 30 cm, nos sentidos transversais e longitudinais ao seu declive, e em pontos estáveis e
instáveis. Foram realizadas campanhas de monitoramento ao longo dos últimos 6 meses, sendo elas
distríbuídas mensalmente, e no caso de períodos chuvosos, quinzenalmente ou semanalmente. Os
resultados do monitoramento geotécnico apontam para deformações relativamente pequenas para os
trechos de interesse selecionados, da ordem de 1334,04 με a -1137,74 με para os trechos
longitudinais e da ordem de 940,62 με a -881,21 με para os trechos transversais.

PALAVRAS-CHAVE: Instabilidade de Encostas, Fibra Óptica, Monitoramento Geotécnico.

1 INTRODUÇÃO de encostas. Sobre rupturas de encostas, de


acordo com as análises da bibliografia nacional
O presente artigo enquadra-se no contexto de e internacional, identificam-se inúmeras
ocorrências de instabilidades a partir de rupturas publicações, mas poucas discutem ou
de encostas que possuem obras lineares apresentam os possíveis procedimentos de
instaladas (faixas de dutos, rodovias, ferrovias e análise que poderiam ser adotados de modo a
linhas de transmissão de energia elétrica), em prever as ocorrências (INTRIERI et al., 2012;
especial as que percorrem as encostas da Serra PARDESHI et al., 2013; RAMESH, 2014;
do Mar e da Serra Geral, desde o litoral do Rio BENOIT et al., 2015; WENKAI, 2015).
de Janeiro até o estado do Rio Grande do Sul. Os movimentos de massa estão intimamente
O relevo acidentado dessas regiões é relacionados a desastres ambientais, acarretando
fortemente suscetível a ocorrências de rupturas em danos econômicos, sociais e ambientais de
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grande impacto em sua maioria. Além dos dados de deformação, indícios de instabilidade.
problemas citados, não se pode descartar os
problemas ligados à falta de infraestrutura e de
planejamento de obras. 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Em decorrência de danos ambientais, 2.1 Informações básicas sobre
econômicos e sociais que os deslocamentos de instrumentação e monitoramento geotécnico
solo podem ocasionar, é necessário o
monitoramento de áreas suscetíveis a A utilização da instrumentação geotécnica
movimentos de massa, com o intuito de atuar de resulta em medições de parâmetros que podem
maneira preventiva, com o uso da estar relacionados tanto com a causa como com
instrumentação geotécnica (ZHU et al., 2014). o efeito dos eventos de movimentos de massa.
Segundo Sestrem (2012), o principal O monitoramento geotécnico, abrange fatores
objetivo de monitorar encostas utilizando de causa e de efeito e permitem desenvolver
instrumentação geotécnica, está na aquisição de uma relação entres esses parâmetros,
dados que auxiliem na interpretação do provocando medidas corretivas dos efeitos
comportamento de determinado maciço de solo indesejáveis para a remoção da causa da
ou rocha. A partir da utilização da fibra óptica instabilidade da encosta. A deformação, que é
como forma de monitoramento de encostas e considerada um efeito, por exemplo, é o
taludes são obtidos dados de deformação em parâmetro primário de maior interesse em
diversos pontos ao longo de uma única fibra estudos de estabilidade de taludes, contudo, a
óptica instalada. causa mais comum encontrada é a poropressão
A utilização da fibra óptica como forma de (DUNNICLIFF, 1988).
monitoramento geotécnico de encostas naturais, A implantação de um sistema de
barragens e etc., aponta uma série de vantagens instrumentação para a realização do
na sua utilização, dentre elas cita-se a monitoramento geotécnico de uma encosta tem
durabilidade prolongada, a melhoria na como principal objetivo a obtenção de
qualidade das medições, confiabilidade dos informações que possibilitem o aumento do
dados, monitoramento remoto, fácil instalação e entendimento do comportamento dos maciços.
manutenção (KUKURENKA et al., 2005; A aquisição de dados de instrumentação pode
GLISIC e INAUDI, 2007). auxiliar na determinação de prováveis
O presente artigo está inserido no contexto superfícies de ruptura e, também, na
de um P&D desenvolvido pelos Institutos identificação de movimentos verticais e
Lactec com o apoio financeiro da Petrobras. As horizontais de massa instáveis (SESTREM,
áreas de estudo do P&D consistem em regiões 2012).
por onde passam dutos instalados em encostas Para realizar o monitoramento do
que são operados pela companhia. Ainda, o comportamento dos processos de movimentação
presente artigo foi desenvolvido com base na de encostas e, também, a consequência destes
dissertação de mestrado de Favaro (2018) e no movimentos sobre as obras de engenharia,
modelo de instrumentação proposto por Buras vários são os instrumentos desenvolvidos que
(2013). podem vir a serem utilizados no monitoramento
de deformações. Segundo Dunnicliff (1988), em
1.2 Objetivo geral, desde o tipo do movimento envolvido até
a forma como ele se manifesta, determinam o
O objetivo deste artigo foi instrumentar uma tipo de instrumento a ser utilizado, sendo desde
encosta localizada na Serra do Mar utilizando a a vistoria até a utilização de algum instrumento
tecnologia distribuída de fibra óptica, com o geotécnico.
intuito de monitorar por meio da obtenção de
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2.2 Tecnologia de fibra óptica

A fibra óptica consiste em meio no qual a luz


pode ser transmitida com mínimas perdas por
longas distancias, por trajetos curvos ou
retilíneos. De acordo com Santos (1999) a
propagação da luz na fibra óptica ocorre em
virtude da reflexão interna total, reflexão essa
que ocorre na interface entre duas regiões no
interior da fibra, sendo elas o núcleo (core) e a
camada que o envolve, a camada de
revestimento primário (cladding) (Figura 1).
Figura 2. Interrogador DTSS desenvolvido pela
Sensornet. Fonte: Sensornet (2011).

A aquisição de dados pertinentes a


mensuração do espalhamento de Brillouin. O
interrogador DTSS mede as alterações na
frequência de Brillouin, que são proporcionais
às variações de temperatura e de deformação.
As reflexões ocorridas no interior da fibra
óptica compreendem dois componentes, a luz
Figura 1. Detalhamento dos componentes de uma fibra
óptica. Fonte: Wilcon (2016).
de Stokes e a luz de anti-Stokes, com
frequências distintas. Os principais efeitos do
2.4.1 Interrogador DTSS espalhamento de luz são Rayleigh, Raman e
Brillouin. Na Figura 3 se encontra apresentado
Segundo Hoepffner (2008) o DTSS (Distributed o retro espelhamento do espectro de luz que
Temperature and Strain Sensing) é composto de ocorre no interior de uma fibra óptica.
um interrogador formado por um sistema
processador de dados, um sensor óptico, fibra
óptica, e por um feixe de luz emitido ao longo
da fibra para a verificação das variações do seu
espectro de luz (Figura 2). O interrogador DTSS
utiliza da fibra óptica monomodo para a
obtenção dos dados de deformação.
Figura 3. Retro espelhamento do espectro de luz dentro
da fibra óptica. Fonte: adaptado de Glisic e Inaudi (2007).
Com o interrogador DTSS se mede o
espectro de Brillouin (deslocamento Brillouin e
a potência para a luz Stokes e anti-Stokes) a
cada 1,02 m ao longo de todo o comprimento da
fibra óptica. A análise dos dados permite que a
deformação e a temperatura sejam medidas de
maneira simultânea e independente em todos os
pontos ao longo da fibra. (PARKER et al.,
1997).
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3 APRESENTAÇÃO ÁREA DE ESTUDO

A área selecionada para estudo está situada no


estado do Paraná, próximo aos municípios de
Guaratuba/PR e Garuva/SC, às margens da BR-
376, no km 670 (Figura 4).

Figura 5. Estrutura de contenção presente na área de


estudo com indicativo de movimento (estrutura
deformada e desalinhada). Fonte: o autor (2018).

Como citado, a área de estudo está localizada


próximo ao município de Garuva/SC. Nos
meses em que foram realizadas leituras de
monitoramento foram registradas precipitações
médias da ordem de 79 mm/mês, 121 mm/mês e
159 mm/mês, respectivamente para os meses de
julho, setembro e dezembro. Para o
conhecimento das topografia da área de estudo,
foi realizado um levantamento topográfico,
fundamental para o conhecimento da geometria
da área.
Figura 4. Macrolocalização da área de estudo. Fonte: o
autor (2018).
4 MATERIAIS E MÉTODOS
Esta área foi selecionada para o estudo
devido ao histórico e aos indicativos de 4.1 Instalação do monitoramento
movimentos observados no maciços coluvionar.
O autor entende que estes movimentos se tratam Com base no levantamento topográfico da área
do tipo fluência, com velocidades muito lentas, de estudo procedeu-se com a elaboração do
de acordo com a classificação de Cruden e projeto de instrumentação geotécnica utilizando
Varnes (1996). Um exemplo destes indicativos a tecnologia distribuída de fibra óptica. O
está apresentado na (Figura 5), a qual apresenta projeto de instrumentação buscou abranger
uma estrutura de contenção presente no pé do áreas estáveis e áreas consideradas como
talude selecionado para o monitoramento com instáveis da encosta monitorada. Ainda, foram
deformações bem visiveis. definidos os locais por onde o cabo de fibra
óptica foi instalado. Para a definição destes
pontos alguns requisitos iniciais foram levados
em consideração, sendo eles:
I. a fibra óptica foi instalada em áreas com
indicações movimentos, tanto no sentido
transversal quanto no sentido longitudinal a
direção (declividade) principal da encosta;
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II. a fibra óptica foi instalada (ancorada) em ao analisar graficamente a deformação


locais (pontos) estáveis para que, o sistema ocasionada pela tração, foi possível
como um todo, pudesse monitorar locais correlacionar o comprimento nominal impresso
estáveis e instáveis; e no cabo com o comprimento observado no
III. evitou-se a instalação em locais que sistema do interrogador DTSS.
necessitavam curvatura elevada do cabo de fibra Foram instaladas 64 estacas nos pontos de
óptica, ou que apresentassem no terreno a cruzamento da fibra óptica e/ou entre 20 e 30 m
presença de blocos de rochas ou trechos com a de distância entre estacas ao longo de todo o
presença de muitas raízes, ocasionando danos percurso da fibra óptica.
futuros à instalação.
A instalação do cabo de fibra óptica teve
como base uma sequência de atividades prévias 5 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS
a serem seguidas e realizadas, sendo elas: RESULTADOS
limpeza do terreno; implantação de estacas
provisórias e identificação dos pontos de 5.1 Verificação da integridade física do cabo
ocorrência de blocos de rochas, árvores e raízes; óptico para medidas de deformação
demarcações e estaqueamento dos locais de
instalação do cabo de fibra óptica; abertura de Para as leituras de verificação foi utilizada uma
trincheiras (valas) com base no estaqueamento, extensão óptica monomodo de 50 m e a fibra
com dimensões padronizadas de 30 cm de óptica monomodo do cabo instalado. Por meio
profundidade e 20 cm de largura para todo o da comparação dos dados de OTDR com o
percurso; instalação do cabo de fibra óptica no comprimento do cabo óptico, foram
interior das trincheiras; cadastramento de 10 em identificadas as perdas ópticas e a qualidade do
10 m do cabo de fibra óptica, bem como, sinal. O comprimento total foi determinado
instalação dos tambores de referência e a observando-se o comprimento nominal final
instalação de marcos georreferenciados onde impresso nas duas extremidades e, logo,
ocorressem os cruzamentos do cabo de fibra realizando a sua subtração. Desse modo, ao
óptica; e por fim, a cobertura ou reaterro das realizar a substração dos dois valores, obteve-se
trincheiras. o comprimento total do cabo instalado
O cabo instalado/utilizado para a (2283 m).
instrumentação geotécnica da área de estudo foi Nas Figuras 6 e 7 estão apresentados os
produzido pela Sensornet. Em seu interior se gráficos referentes às leituras de verificação da
encontram dispostas 4 fibras ópticas: 2 fibras integridade física do cabo óptico, por meio do
ópticas do tipo monomodo e 2 fibras ópticas do interrogador DTSS. Salienta-se, conforme já
tipo multimodo. Para a realização do comentado, que no interior do interrogador
monitoramento dos dados de deformação com o DTSS o equipamento possui 407 m de fibra
interrogador DTSS foram utilizadas as fibras óptica.
ópticas monomodo.

4.2 Verificações das condições do cabo de


fibra óptica

Para a correlação da medida de comprimento


impresso no cabo óptico com a medida de
comprimento registrada pelo interrogador
DTSS, o cabo óptico foi tracionado
manualmente em cada estaca instalada. Assim,
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1,1
Perda óptica devida a
conexão com o DTSS

Perda óptica devida à


5.2 Monitoramento geotécnico utilizando a
0,9
emenda do conector
tecnologia distribuída de fibra óptica
0,7
Comprimento interno ao

Extensão = 50 m
A partir de uma leitura inicial foram obtidos os
equipamento = 407 m
OTDR (au)

0,5
Comprimento total do cabo
valores de deformação ao longo do cabo óptico
óptico lido com o DTSS = 2283 m
(2740 m - 407 m - 50 m)
instrumentado na área de estudo. Esses valores,
0,3 primeira leitura realizada, foi denominada como
leitura de referência. Foram elaborados gráficos
0,1
que indicaram a variação das deformações ao
0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 longo de cada campanha de monitoramento
-0,1
Comprimento do cabo óptico (m) realizada. Para a primeira campanha de
Figura 6. Verificação da integridade e qualidade do sinal monitoramento os valores de deformação foram
óptico (extremidade de ida do cabo óptico). Fonte: o considerados iguais a 0 (zero) με. Para as
autor (2018). campanhas seguintes foram subtraídos os
valores de deformação obtidos na primeira
Em relação às perdas ópticas, há dois tipos
campanha de monitoramento dos valores
que podem ocorrer sendo em emendas (fusões)
obtidos nas demais campanhas, haja visto que a
e conectores, denominadas perdas de retorno e
primeira campanha foi adotada como leitura de
perdas de inserção. A perda de retorno é a
referência. Para estes gráficos, devido ao
causada por defeitos na conexão, enquanto que
comprimento do cabo e consequentemente a
a perda causada por inserção ocorre pela
quantidade de leituras obtidas (uma resposta
inclusão de emendas e conectores no sistema.
para cada 1,02 m do cabo), foram selecionados
No sistema de cabo óptico instalado para as
pontos de interesse. Foram selecionados trechos
medidas de deformação, ocorreram apenas
longitudinais e transversais ao declive da
perdas por inserção, na conexão da fibra com o
encosta.
interrogador.
A partir da seleção dos pontos de interesse,
1,1 os gráficos foram elaborados mostrando um
Perda óptica devida a
conexão com o DTSS conjunto de leituras, ao longo do tempo,
Perda óptica devida à
0,9
emenda do conector subdivididos em longitudinal e transversal. Nos
gráficos, foram dispostos no eixo vertical a
Extensão = 50 m
0,7
deformação e a temperatura em graus Celsius,
Comprimento interno ao
equipamento = 407 m

registrados na seção de referência inicial do


OTDR (au)

Comprimento total do cabo


0,5
óptico lido com o DTSS = 2283 m
(2740 m - 407 m - 50 m) cabo óptico; e no eixo horizontal o período de
0,3
tempo decorrido.
Foram realizadas 4 campanhas de
0,1 monitoramento das deformações sofridas pelo
0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500
cabo de fibra óptica instalado superficialmente
-0,1
Comprimento do cabo óptico (m) na área de estudo. As leituras foram realizadas
Figura 7. Verificação da integridade e qualidade do sinal
no dias 7 de julho, 1 e 21 de setembro e 21 de
óptico (extremidade de volta do cabo óptico). Fonte: o dezembro de 2017.
autor (2018). Nas Figuras 8 a 11 estão ilustrados os valores
de deformação para os quatro trechos de
Após a análise gráfica, verificou-se que o interesse selecionados no sentido longitudinal
cabo óptico para as medidas de deformação em relação ao declive da encosta para a análise
encontrava-se íntegro e sem perdas ópticas das deformações ao longo do tempo. No sentido
pontuais ao longo do seu comprimento. longitudinal foram selecionados os seguintes
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trechos: estacas 28 a 34, 36 a 40, 42 a 47 e 48 a


52. Nas Figuras 12 a 14 estão apresentados os Data da leitura

14/06/2017

04/07/2017

24/07/2017

13/08/2017

02/09/2017

22/09/2017

12/10/2017

01/11/2017

21/11/2017

11/12/2017

31/12/2017
valores de deformação para os 3 trechos de
interesse selecionados no sentido transversal a 800 25
direção principal da encosta. Para os trechos 600
20

Deformação (µɛ)

Temperatura (°C)
400
transversais foram selecionados os 200 15

comprimentos de cabo compreendidos entre as 0 10


-200
estacas 30, 39, 43, 52 e 62; estacas 31, 38, 44 e -400
5

51; e estacas 32, 37, 45 e 50. -600 0


Estaca 28 Estaca 29 Estaca 30 Estaca 31
Na Tabela 1 se encontram apresentadas as Estaca 32 Estaca 33 Estaca 34 Temperatura (°C)
informações referentes aos trechos longitudinais Figura 8. Deformações registradas entre campanhas de
e transversais analisados, as respectivas estacas leitura e variação térmica (estacas 28 a 34). Fonte: o autor
e o comprimento do cabo de fibra óptica (2018).
monitorado.
Em ambos os gráficos, para os trechos
longitudinais e transversais, encontram-se As poucas variações dos valores de
apresentadas as deformações registradas entre deformação observadas, da ordem de 170,60 με
as campanhas de monitoramento e as a -245,24 με entre as campanhas iniciais de
respectivas variações térmicas. monitoramento, realizadas nos dias 07 de julho
A maior e a menor deformação, e 01 de setembro de 2017, ocorreram em
respectivamente, encontradas para os trechos de virtude da própria acomodação do cabo óptico
interesse selecionados, longitudinais ao declive no solo, haja vista que para a instalação foram
da encosta, foram de: 690,55 με e -363,95 με alteradas as condições inicias do terreno.
para as estacas 28 a 34; 767,11 με e -524,92 με
Data da leitura
para as estacas 36 a 40; 461,95 με e -1137,74 με
14/06/2017

04/07/2017

22/09/2017

12/10/2017

01/11/2017

21/11/2017
24/07/2017

13/08/2017

02/09/2017

11/12/2017

31/12/2017
para as estacas 42 a 47; e 1334,04 με e -458,93
με para as estacas 48 a 52. 1000 25
800
Deformação (µɛ)

20
Tabela 1. Informações dos trechos analisados

Temperatura (°C)
600
400
correspondentes as estacas e a metragem do cabo. Fonte: 15
200
o autor (2018). 0 10

Trecho Comprimento do cabo -200


5
Estacas Nº -400
analisado de fibra óptica -600 0

Estaca 36 Estaca 37 Estaca 38 Estaca 39 Estaca 40 Temperatura (°C)


28 a 34 680,47 m a 804,94 m Figura 9. Deformações registradas entre campanhas de
leitura e variação térmica (estacas 36 a 40). Fonte: o autor
36 a 40 845,75 m a 932,46 m (2018).
Longitudinal
42 a 47 978,37 m a 1071,21 m

48 a 52 1081,41 m a 1165,07 m

30, 39, 43,


1686,39 m a 1759,85 m
52 e 62
31, 38, 44 e
Transversal 1592,53 m a 1645,58 m
51
32, 37, 45 e
1504,8 m a 1554,78 m
50
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Data da leitura Data da leitura

02/09/2017

22/09/2017

12/10/2017

01/11/2017

21/11/2017

11/12/2017

31/12/2017
14/06/2017

04/07/2017

24/07/2017

13/08/2017

14/06/2017

24/07/2017

13/08/2017

22/09/2017

12/10/2017

21/11/2017

11/12/2017
04/07/2017

02/09/2017

01/11/2017

31/12/2017
600 25
900 25
Deformação (µɛ)

300 20 600
20

Deformação (µɛ)
Temperatura (°C)

Temperatura (°C)
0 300
15 15
-300 0
10 -300 10
-600
-600
-900 5 5
-900
-1200 0 -1200 0
Estaca 42 Estaca 43 Estaca 44 Estaca 45 Estaca 30 Estaca 39 Estaca 43
Estaca 46 Estaca 47 Temperatura (°C) Estaca 52 Estaca 62 Temperatura (°C)

Figura 10. Deformações registradas entre campanhas de Figura 12. Deformação registrada entre campanhas de
leitura e variação térmica (estacas 42 a 47). Fonte: o autor monitoramento e variação térmica (estacas 30, 39, 43, 52
(2018). e 62). Fonte: o autor (2018).
Data da leitura
14/06/2017

24/07/2017

02/09/2017

22/09/2017

01/11/2017

11/12/2017
04/07/2017

13/08/2017

12/10/2017

21/11/2017

31/12/2017

Data da leitura

24/07/2017

22/09/2017

12/10/2017

11/12/2017
14/06/2017

04/07/2017

13/08/2017

02/09/2017

01/11/2017

21/11/2017

31/12/2017
1500 25
1200
20 1200 25
Deformação (µɛ)

Temperatura (°C)

900
900
15 20
Deformação (µɛ)

600

Temperatura (°C)
600
300 10 15
300
0
5 0 10
-300
-300
-600 0 5
-600
Estaca 48 Estaca 49 Estaca 50
Estaca 51 Estaca 52 Temperatura (°C) -900 0
Estaca 31 Estaca 38 Estaca 44 Estaca 51 Temperatura (°C)
Figura 11. Deformações registradas entre campanhas de
leitura e variação térmica (estacas 48 a 52). Fonte: o autor Figura 13. Deformação registrada entre campanhas de
(2018). monitoramento e variação térmica (estacas 31, 38, 44 e
51). Fonte: o autor (2018).
A partir da terceira campanha de
monitoramento, realizada no dia 21 de Data da leitura
04/07/2017

13/08/2017

22/09/2017

01/11/2017

21/11/2017

31/12/2017
14/06/2017

24/07/2017

02/09/2017

12/10/2017

11/12/2017
setembro, foram verificados pontos de
tracionamento e relaxamento para os trechos
longitudinais. Foram observados pontos de 600 25

300
tracionamento, representados pelas estacas 28, 20 Temperatura (°C)
Deformação (µɛ)

0
29, 30, 32, 33, 34, 36, 38, 39, 40, 44 e 50, e -300
15

pontos de relaxamento do cabo óptico, -600


10

representadas pelas estacas 30, 37, 42, 47, e 51. -900 5

-1200 0
Estaca 32 Estaca 37 Estaca 45 Estaca 50 Temperatura (°C)

Figura 14. Deformação registrada entre campanhas de


monitoramento e variação térmica (estacas 32, 37, 45 e
50). Fonte: o autor (2018).

A maior e a menor deformação,


respectivamente, encontradas para os trechos de
interesse selecionados, transversais ao declive
da encosta, foram de: 754,13 με e -864,09 με
para as estacas 30, 39, 43, 52 e 62; 940,62 με e -
735,83 με para as estacas 31, 38, 44 e 51; e
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

489,90 με e -881,21 με para as estacas 32, 37, meses de monitoramento, estão relacionadas
45 e 50. com as variações de deformação observadas.
Conforme mencionado anteriormente, as Entende-se que a realização de campanhas de
poucas variações dos valores de deformação, da monitoramento com um período de tempo
ordem de 67,15 με a -199,19 με, para as superior ao realizado neste trabalho pode gerar
campanhas de monitoramento realizadas nos resultados mais satisfatórios quanto à obtenção
dias 07 de julho e 01 de setembro são de dados de deformação da encosta.
decorrentes da acomodação do cabo óptico no
terreno.
A partir da terceira campanha de AGRADECIMENTOS
monitoramento, r

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